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Ciências Econômicas ·
Formação Econômica do Brasil
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RESUMO Estudamse os preços dos escravos em quatro localidades do Vale do Paraíba pau lista com base na comparação de duas dis tintas fontes documentais no período 18721874 Para Cruzeiro e Lorena utili zouse a Lista de Classificação para Eman cipação Para Guaratinguetá e Silveiras lançouse mão das escrituras de compra e venda de cativos As semelhanças e di ferenças observadas refletem as caracte rísticas de cada uma das fontes aludidas As escrituras de compra e venda forne cem os preços dos escravos de forma mais próxima dos valores de mercado todavia abrangendo parcela não tão representati va da população cativa visàvisa Lista de Classificação Esta última por sua vez ao passo que caracterizada pela maior abran gência encerra maiores imprecisões quando se trata das avaliações individuais dos escravos arrolados Palavraschave preços dos escravos es cravidão economia cafeeira ABSTRACT We study slave prices in four localities of the Vale do Paraíba São Paulo based on a comparison of two distinct primary sources in the period 18721874 For Cru zeiro and Lorena we used the Lista de Classificação para Emancipação For Gua ratinguetá and Silveiras we used the es crituras de compra e venda de cativos The similarities and differences found reflec ted the characteristics of each source The escrituras give the slave prices nearest of the market values nevertheless they do not encompass the slave population as a whole On the other hand the Lista de Classificaçãobring the information for al most the totality of the slaves but is less accurate in the individual evaluations Keywords slave prices slavery coffee economy Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Renato Leite Marcondes1 Universidade de São Paulo José Flávio Motta2 Universidade de São Paulo R e v i s t a B r a s i l e i r a d e H i s t ó r i a São Paulo v 21 nº 42 p 4 INTRODUÇÃO Preocupamonos neste artigo com os preços dos escravos no Brasil Mais especificamente dedicamos nossa atenção a quatro localidades paulistas situa das no Vale do Paraíba Cruzeiro Lorena Guaratinguetá e Silveiras Os informes por nós trabalhados referemse ao triênio 18724 e provêm de dois distintos cor pus documentais Para Cruzeiro e Lorena lançamos mão da Lista de classifi cação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de Emancipa ção No que respeita a Guaratinguetá e Silveiras baseamonos em um conjunto de livros notariais destinados ao registro das transações de compra venda tro ca e dação in solutum de cativos Conduzimos pois a análise dos preços dos escravos mediante a comparação dos dados fornecidos pelos dois tipos de do cumentos mencionados Muito embora inexistisse um comportamento homogêneo de todos os mu nicípios que a integravam podese afirmar que a porção paulista do Vale do Pa raíba em seu conjunto vivenciava o auge da produção cafeeira na primeira me tade da década de 1870 Vale dizer ainda que os sinais da decadência começassem a se fazer sentir em algumas localidades o estabelecimento inequívoco da crise da cafeicultura valeparaibana demoraria ainda alguns lustros durante os quais o café aceleraria sua marcha em direção ao Oeste 3 Assim por exemplo Sergio Milliet observa que em 1854 a produção de ca fé da zona norte da província litoral norte e Vale do Paraíba alçavase a 2737639 arrobas equivalentes a mais de três quartos 775 da produção paulista no entanto em 1886 esse porcentual declinava para 200 queda ve rificada também em termos absolutos para 2074267 arrobas4 Dentre as lo calidades aqui contempladas provavelmente o caso de Guaratinguetá das quatro a localizada mais a Oeste é aquele em que o declínio se veria mais postergado De fato como afirma Lucila Hermann a produção do café em 1836 de 22442 arrobas elevase em 1854 a 100885 e em 1886 seu período áureo a 350000 arrobas decaindo sensivelmente depois 5 A população dos municípios objeto deste estudo em 1872 era de 38294 indivíduos livres 4189 em Cruzeiro 16485 em Guaratinguetá 7743 em Lore na e 9877 em Silveiras6 Essas pessoas correspondiam a cerca de um quinto 207 do contingente livre existente no Vale do Paraíba paulista Os escravos totalizavam 8528 indivíduos que representavam 183 da escravaria valepa raibana Eram 742 em Cruzeiro 4352 em Guaratinguetá 1338 em Lorena e 2096 em Silveiras Do aludido total de cativos 4627 eram homens 543 e 3901 eram mulheres 457 A razão de masculinidade assumia nas distintas localidades os valores seguintes 1341 em Cruzeiro 1111 em Guaratinguetá 1407 em Lorena e 1170 em Silveiras 496 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 AS FONTES O Fundo de Emancipação do qual trata o capítulo II do regulamento apro vado pelo Decreto nº 5135 de 13 de novembro de 1872 previa que a alocação dos recursos para emancipação obedecesse à seguinte ordem em primeiro lu gar libertarseiam os escravos participantes de relações familiares em seqüên cia os demais Na libertação por famílias estabeleciase a classificação seguin te 1º os cônjuges que fossem escravos de diferentes senhores 2º os cônjuges que tivessem filhos nascidos livres em virtude da lei de 28 de setembro de 1871 a Lei do VentreLivre e menores de oito anos 3º os cônjuges que tives sem filhos livres menores de vinte e um anos 4º os cônjuges com filhos meno res escravos 5º as mães com filhos menores escravos 6º os cônjuges sem fi lhos menores Os demais cativos eram também ordenados 1º mãe ou pai com filhos livres 2º os de doze a cinqüenta anos de idade começando pelos mais moços do sexo feminino e pelos mais velhos do sexo masculino 7 A Lista de classificação por nós utilizada referente aos municípios pau listas de Lorena e Cruzeiro que se acha preservada no Arquivo do Estado de São Paulo tem seu termo de encerramento datado aos 3 de maio de 1874 Dela cons ta como se pode inferir a partir dos critérios de classificação dos escravos aci ma explicitados a maior parte da população cativa daquelas localidades radi candose as maiores lacunas no contingente formado pelas pessoas com mais de 50 anos de idade Dessa forma se era de 2080 o número de escravos existen tes em Cruzeiro e Lorena no ano de 1872 alçouse a 2245 o total de cativos lis tados em maio de 1874 De outra parte para a maioria desses 2245 indivíduos é fornecido o preço decorrente de avaliação efetuada pela Junta de Classificação 8 Temos pois nesta fonte documental a avaliação de quase toda a escravaria Adicionalmente cons tam do arrolamento os nomes do cativo e de seu respectivo proprietário o nú mero de matrícula do escravo sua idade estado conjugal aptidão para o traba lho e profissão9 além de um campo intitulado pessoa de família no qual se faz referência aos nomes dos pais ou de filhos menores ou ainda apenas ao no me da mãe e alternativamente à condição de marido mulher isto é esposa ou mãe No caso de Guaratinguetá servimonos de um livro notarial destinado uni camente ao lançamento das escrituras de compras vendas trocas e de dação in solutum de escravos que tiverem de serem passadas pelo se gundo Tabelião desta cidade e seu termo Este documento guardado no Arquivo Judiciário de Guaratinguetá no Museu Frei Galvão contém o registro de transações que cobrem o período de 15 de dezembro de 1872 a 2 de novem bro de 1874 Para Silveiras coletamos os dados no 1º Cartório de Cachoeira 497 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 Paulista a partir de três livros similares àquele concernente a Guaratingue tá e cujos termos de abertura estão datados respectivamente aos 27 de julho de 1871 28 de julho de 1873 e 28 de setembro de 1874 10 As informações disponíveis em tais escrituras são as seguintes data do re gistro nomes do vendedor do comprador e de seus procuradores quando hou ver local de moradia e títulos ou patentes militares do vendedor e do compra dor idade sexo estado conjugal origem naturalidade cor e eventualmente caracteres físicos atividade produtiva e forma prévia de aquisição dos escra vos transacionados preço dos cativos observação quanto à forma de quitação informe sobre o recolhimento do imposto de meia sisa transcrição dos dados da matrícula dos escravos e em alguns lançamentos da procura ção passada por vendedor eou comprador nomes das testemunhas e quando for o caso das pessoas que assinam a rogo de uma ou das duas partes con tratantes em razão destas não saberem escrever fecho do tabelião e assina turas A HISTORIOGRAFIA Os preços dos escravos foram objeto da preocupação de diversos dentre os estudiosos do passado brasileiro 11 Assim por exemplo Jacob Gorender observa que idade sexo e robustez constituíram fatores de influência permanente na determi nação do preço de compra do escravo A par das qualidades intrínsecas ou em outras palavras do valor de uso influíam no preço do escravo fatores propria mente mercantis atuantes no lado da oferta e no lado da demanda em sua osci lante correlação12 Tais fatores nas seções subseqüentes deste artigo têm seu impacto eviden ciado para os casos das localidades valeparaibanas examinadas sobretudo aque les de influência permanente uma vez que nos concentramos no período de tempo relativamente curto 18721874 coberto pelas fontes documentais compulsadas Em nossa historiografia uma das verificações mais recorrentes no que res peita aos preços dos cativos é a de valores mais elevados para indivíduos do se xo masculino A título ilustrativo para o caso de Vassouras RJ no período de 1861 a 1886 lemos em trabalho de Pedro C de Mello o seguinte em todos os anos com apenas duas exceções os preços dos escravos homens 498 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 foram superiores aos das mulheres 13 O efeito da variável sexo é evidente imbricavase entre outros àquele decorrente da variável idade do escravo Des sa forma por exemplo para Guaratinguetá e Silveiras no decurso das primeira e segunda metades da década de 1870 percebemos que regra geral nos dois períodos e para todas as faixas etárias consideradas menos de 10 10 14 15 24 25 34 35 44 45 54 55 e mais anos os pre ços médios dos homens superaram os das mulheres 14 Mais ainda nes se último estudo mencionado realizado com base em escrituras de compra e venda de cativos computamos as maiores freqüências de indivíduos transacio nados em ordem decrescente nas faixas etárias dos 15 aos 24 dos 10 aos 14 e dos 25 aos 34 anos e verificamos que nesses mesmos intervalos etários encontravamse os escra vos mais caros fossem homens ou mulheres quanto mais jovens ou mais ve lhos mais baratos eles eram em comparação àqueles em idades correspondentes ao maior vigor físico15 Claro está que o aludido impacto sobre os preços de algumas das caracte rísticas demográficas dos escravos sexo e idade válido para a generalidade dos casos poderia eventualmente modificarse sob a ação de condicionantes outros a exemplo da atividade produtiva por eles desempenhada Assim traba lhando este último informe para a freguesia do Pilar da cidade de Salvador na província da Bahia de 1838 a 1882 Marcílio et alii verificaram que para a ocupação lavoura conquanto o preço médio dos homens 685710 fosse maior do que o das mulheres 615319 esta diferença não se revelou estatisticamente significante Este resultado suge re que uma vez presente a ocupação lavoura o sexo deixa de ser rele vante 16 Já para os cativos baianos de profissão doméstica as diferenças ob servadas entre o preço médio dos homens Rs 882096 e o das escravas Rs 772915 mostrouse significante do ponto de vista estatístico Muito embora os resultados encontrados para a freguesia do Pilar não se jam generalizáveis 17 é evidente a relevância da variável atividade produtiva do escravo na determinação de seu preço mormente para os casos envolvendo maior especialização Por exemplo para Guaratinguetá e Silveiras na década de 1870 os preços médios dos indivíduos utilizados no serviço da lavoura foram na maior parte dos casos inferiores aos preços mé dios calculados nas atividades produtivas demandantes de maior qua lificação De outra parte considerando conjuntamente as variáveis atividade produtiva e idade dos cativos Carlos Lima baseandose em um conjunto de in 499 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 ventários postmortem da cidade do Rio de Janeiro no período de 1789 a 1839 observa Os auges dos preços dos homens com ofícios artesanais em conjunto eram subs tancialmente mais tardios que os de todas as outras categorias refletindo perío dos mais longos de aprendizado Artesãos pouco qualificados ficavam prontos ao atingir idades próximas dos trinta anos ao passo que os de ocupações mais sofis ticadas só o faziam quase com quarenta18 Por fim duas referências adicionais à historiografia devem ser feitas no que tange aos fatores propriamente mercantis mencionados por Gorender Tais re ferências permitemnos melhor compreender o pano de fundo das experiências históricas tratadas nas seções seguintes deste artigo Em primeiro lugar os anos de 1872 a 1874 inseremse num período de tendência crescente dos preços dos escravos o que pode ser ilustrado uma vez mais com o recurso ao estudo de Pedro C de Mello Com base em 986 escrituras de vendas disponíveis para a lo calidade de Vassouras RJ no período 186186 observa o autor que de um modo geral os preços caem de 1861 a 1864 dado que em fins da década de 1850 tinha havido uma alta considerável dos preços De 1865 a 1881 há uma ten dência de alta com flutuações A partir desse ano os preços começam a cair conti nuamente embora o pequeno número de observações a partir de 1884 não per mita uma confiável definição quanto à representatividade dos preços médios apurados19 Em segundo lugar e comparados à metade derradeira do decênio de 1870 os anos de 1872 a 1874 conformam um período anterior ao movimento de in tensificação do tráfico interprovincial de cativos direcionado também ao Vale do Paraíba paulista e originado nas províncias ditas do Norte 20 OS ESCRAVOS Apresentamos na Tabela 1 a distribuição dos escravos objeto deste estudo segundo sexo e de acordo com cinco faixas etárias Com base nas escrituras de compra e venda disponíveis para Guaratinguetá e Silveiras verificamos terem si do transacionados 163 cativos no período 18724 sendo 83 homens 509 e 80 mulheres 491 A composição sexual dos escravos transacionados mostra se pois mais equilibrada do que a observada a partir da lista de classificação de Cruzeiro e Lorena na qual os porcentuais correlatos igualamse respectivamen 500 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 te a 557 e 443 1250 cativos do sexo masculino e 995 escravas De fato co mo informamos na Introdução em 1872 nestas duas últimas localidades com putaramse razões de masculinidade da população escrava mais elevadas visà vis as calculadas para Guaratinguetá e Silveiras TABELA 1 DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS SEGUNDO SEXO E FAIXAS ETÁRIAS Por outro lado entre os cativos comercializados é patente o predomínio da queles com idades entre 15 e 39 anos 530 dos homens e 563 das mulheres Na lista de classificação ainda que seja esta mesma faixa etária a que contém o maior número de escravos os porcentuais correspondentes são mais baixos 440 e 521 Claramente o informe da lista reflete com maior proximidade o resultado do evolver demográfico da população cativa o qual abrange não ape nas o fluxo de indivíduos que integra o tráfico interno de escravos mas igual mente o crescimento vegetativo sobre este cumpre referir incide o impacto da família cativa Assim em comparação aos informes para Guaratinguetá e Sil veiras em Cruzeiro e Lorena têm maior importância relativa tanto as crianças menores de 10 anos como e principalmente os escravos integrantes da quarta faixa etária de 40 a 59 anos Neste último caso ademais os porcentuais computados na lista de classificação encontramse subestimados tendo em vis ta os critérios de arrolamento dos indivíduos isolados concentrado naqueles Escrituras de compra e venda Lista de classificação Guaratinguetá e Silveiras 187274 Cruzeiro e Lorena 1874 Faixas etárias Homens Mulheres Homens Mulheres menores de 10 7 84 13 162 197 158 187 188 10 a 14 16 193 13 162 165 132 113 114 15 a 39 44 530 45 563 550 440 519 521 40 a 59 12 145 7 88 320 256 165 166 60 ou mais 4 48 2 25 18 14 11 11 Total 83 1000 80 1000 1250 1000 995 1000 501 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 com idades entre 12 e 50 anos Esses mesmos critérios ressaltemos explicam os porcentuais mais elevados para os cativos com 60 anos ou mais calculados a partir das escrituras de compra e venda OS PREÇOS DOS ESCRAVOS Na Tabela 2 fornecemos o número absoluto e o preço médio dos escravos segundo o sexo e de acordo com distintas faixas etárias Agrupamse uma vez mais de um lado os informes provenientes das escrituras de compra e venda de cativos e de outro os oriundos da lista de classificação dos escravos para emancipação Como se pode observar foi possível obter o informe do preço pa ra apenas 57 687 dos 83 homens e 41 513 das 80 mulheres comerciali zadas o que decorre do fato de que para a maior parte das escrituras concer nentes à venda de dois ou mais cativos o preço constante do registro corresponder ao conjunto dos escravos Na lista de classificação explicitouse o preço de 1004 803 dos 1250 homens e 745 749 das 995 mulheres neste último docu mento não se informou o preço para nenhum dos indivíduos que apareciam apenas como filhoa de outros cativos o que explica a inexistência de informa ções de preços de escravos para Cruzeiro e Lorena na primeira das faixas etá rias Considerando os dados da Tabela 2 conforme o sexo dos cativos percebe mos de imediato que invariavelmente nos dois tipos de fontes documentais e em todas as faixas etárias consideradas os preços dos homens superavam o das escravas Assim por exemplo tomada a totalidade dos cativos transacionados o preço médio das mulheres 920854 correspondia a cerca de dois terços 655 do preço médio dos cativos do sexo masculino 1405877 levando em conta a faixa etária dos 15 aos 39 anos isoladamente o porcentual correlato igualase a 627 Na lista de classificação o preço médio das 745 mulheres elevouse a mais de quatro quintos 833 do preço médio dos 1004 homens levandose em conta tãosomente os escravos com idades entre 15 e 39 anos essa propor ção se mantém 812 21 O confronto entre os distintos manuscritos compulsados apresenta discrepâncias que nos interessam discutir Verificamos que com uma única exceção os homens na faixa etária dos 40a 59 anos os preços médios informados na lista de classifica ção são maiores do que os computados com base nas escrituras de compra e venda de cativos Tomandose os indivíduos dos sexo masculino em seu conjunto esse diferen cial atinge a casa dos 107 Não obstante alçase a 323 na faixa etária dos 10 aos 14 anos e a 3500 entre os escravos com 60 ou mais anos 22Na faixa etária que concen 502 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 tra o maior número de cativos o diferencial em questão igualase a 75 As discre pâncias em favor da lista de classificação são ainda mais significativas no caso das es cravas O preço médio das 745 mulheres listadas foi 408 maior que o preço médio das 41 cativas transacionadas Este porcentual igualase a 763 na faixa etária dos 10 a 14 anos a 392 na dos 15 a 39 anos e a 1302 na dos 40 a 59 anos TABELA 2 NÚMERO ABSOLUTO E PREÇO MÉDIO DE ESCRAVOS HOMENS E DE ESCRAVAS SEGUNDO FAIXAS ETÁRIAS Se partirmos da hipótese de que os preços lançados nas escrituras de com Escrituras de compra e venda Lista de classificação Guaratinguetá e Silveiras 187274 Cruzeiro e Lorena 1874 Sexo Faixas etárias Número Preço médio réis Número Preço médio réis HOMENS menores de 10 3 733333 10 a 14 14 1146429 124 1516935 15 a 39 33 1635909 542 1758118 40 a 59 6 1300000 320 1291407 60 ou mais 1 100000 18 450000 Total 57 1405877 1004 1556126 MULHERES menores de 10 2 475000 10 a 14 8 784375 77 1383117 15 a 39 29 1025173 494 1426923 40 a 59 2 400000 164 920731 60 ou mais 10 375000 Total 41 920854 745 1296845 503 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 pra e venda são representativos das condições de mercado no momento em que as transações foram efetivadas então nossos informes estariam apontando para a existência de uma superestimação das avaliações que compõem a lista de classificação dos cativos para emancipação De fato tudo indica que essas considerações são procedentes De um lado o das escrituras a existência de um imposto a ser pago por ocasião do registro a meia sisa poderia decerto inibir muitas vezes a própria feitura desse registro 23 todavia uma vez efetuado o lan çamento o valor do tributo independentemente do preço do escravo não ten deria a afetar este último no sentido de uma subestimação com vistas a dimi nuir o imposto a ser pago 24 No que respeita à lista de classificação são vários os indícios da superesti mação dos preços dos cativos Em primeiro lugar a grande freqüência de pre ços iguais para escravos de mesma idade Não obstante não tenhamos dúvida de que a idade fosse uma das principais determinantes do valor do cativo a re petição em demasia parecenos indicar que mesmo na classificação realizada nos anos 1870 acabouse por usar ainda que informalmente algo parecido com a tabela de preços máximos que acompanha a regulamentação da classificação dos anos 1880 Como conseqüência não apenas as avaliações da lista estariam superestimadas mas igualmente se perderiam em boa medida os efeitos das características individuais dos cativos Não deixa de ser também por esse moti vo que tais avaliações embora se mostrem em geral superiores aos preços veri ficados nas escrituras de compra e venda não se mostrem igualmente superio res em todos os casos Tomemos como exemplo os indivíduos com 18 anos Há 40 mulheres com essa idade na lista de classificação de Cruzeiro e Lorena Para 11 delas não dis pomos do informe sobre o preço uma está avaliada em Rs 1300000 uma em Rs 1500000 e 27 em Rs 1400000 Vale dizer mais de dois terços 675 das escravas de 18 anos mais de nove décimos 931 se considerarmos ape nas aquelas para as quais há o informe do preço foram avaliadas em Rs 1400000 Para os homens as cifras correspondentes são as seguintes há 53 deles com 18 anos 9 avaliados em Rs 1700000 42 em Rs 1800000 e 2 sem avaliação Portanto quase quatro quintos 793 dos cativos homens com aque la idade proporção que se eleva a 824 se desconsiderarmos os dois homens sem preço foram avaliados em Rs 1800000 Parecenos muito pouco razoá vel supor que nenhum desses 42 escravos e analogamente nenhuma das 27 cativas às quais se atribuiu um preço comum fosse portador de algum atri buto individual que implicasse um preço diferenciado dos demais Adicionalmente há que considerar serem os recursos do Fundo de Eman cipação uma indenização paga aos escravistas pela libertação de seus cativos E que as Juntas de Classificação seriam sem dúvida formadas por indivíduos de 504 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 escol pertencentes à sociedade local Mais ainda mesmo que fosse como de fato era largo o espectro da distribuição da propriedade escrava decerto os maiores dentre os proprietários de cativos estariam entre os mais destacados integrantes das elites locais Em outras palavras não seria de forma alguma um absurdo sugerir a possibilidade de uma certa identidade de classe entre os componentes das ditas juntas e aqueles identificados como os beneficiários dos pagamentos realizados pelo aludido fundo Talvez fossem efetivamente as mes mas pessoas A lista de classificação por nós analisada por exemplo vai assina da pelos seguintes indivíduos Praxedes Luís Gonçalves escrivão da Junta Mu nicipal de Emancipação José Neves Gonçalves da Silva Maciel presidente da Junta de Classificação Manoel Thomaz Pinto Pacca promotor público e Anto nio Bruno de Godoy Bueno coletor Escravos pertencentes aos dois últimos es tão arrolados no documento por eles assinado o promotor público possuía dois cativos e o coletor detinha um plantel formado por oito escravos Por fim a superestimação das avaliações constantes da lista de classifica ção vêse corroborada quando recorremos a um terceiro tipo de fonte documen tal os inventários postmortem Conquanto sejam vários os casos identifica dos servirnosemos de um único exemplo para ilustrar este ponto Há 21 cativos na lista cujo proprietário declarado era Joaquim Pinto Ribeiro 17 deles com o informe do preço Possuímos outrossim o inventário desse escravista de feve reiro de 1873 no qual sua viúva Rita de Jesus do Nascimento figurava como in ventariante Do arrolamento de bens constam 26 cativos Conseguimos identifi car no inventário todos os 17 cativos listados com preço pela Junta de Classificação Em um único caso as avaliações foram idênticas Os valores dos outros 16 indivíduos são menores no inventário Os diferenciais variam muito os preços na lista são de 67 a 2600 mais elevados visàvis os do inventá rio Ademais a variedade de preços neste último documento é maior 9 cifras diferentes versus 7 na lista de classificação 25 OS PREÇOS DOS ESCRAVOS SEXO E ATIVIDADE PRODUTIVA Nas Tabelas 3 e 4 apresentamos o número absoluto e o preço médio dos es cravos de acordo com o sexo e a atividade produtiva declarada Na primeira des sas tabelas estão os informes das escrituras de compra e venda Guaratinguetá e Silveiras A presença simultânea das duas informações mencionadas preço e atividade produtiva ocorreu para 61 dos cativos transacionados 37 homens e 24 mulheres Na Tabela 4 estão os dados da lista de classificação Cruzeiro e Lo rena para 1702 escravos 976 homens e 726 mulheres coletamos a informa ção do preço e também a da atividade produtiva 505 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 aq Da observação das tabelas referidas percebemos de pronto a existência de uma certa correspondência entre o sexo e a atividade produtiva Nas escrituras as cozinheiras eram todas do sexo feminino aí computadas as três que além da co zinha também trabalhavam no serviço da roça de outra parte eram homens o padeiro o pagem o pedreiro e o escravo carreiro que também labutava na roça Mesmo nas atividades mais comuns ainda que não de forma absoluta manteve se a correspondência com o sexo Assim dos 34 escravos vendidos cuja atividade era o serviço da roça 31 912 eram homens e dos 15 cativos empregados no serviço doméstico 13 867 eram mulheres TABELA 3 NÚMERO ABSOLUTO E PREÇO MÉDIO DE ESCRAVOS SEGUNDO SEXO E ATIVIDADE PRODUTIVA DECLARADA NAS ESCRITURAS DE COMPRA E VENDA GUARATINGUETÁ E SILVEIRAS 187274 Homens Mulheres Atividades produtivas Número Preço médio réis Número Preço médio réis serviço da roça 31 1483871 3 700000 serviço doméstico 2 1800000 13 1117308 cozinheira 5 980000 serviço da roça e cozinha 3 1066667 padeiro 1 1050000 pagem 1 2050000 pedreiro 1 1900000 carreiro e da roça 1 1800000 506 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 TABELA 4 NÚMERO ABSOLUTO E PREÇO MÉDIO DE ESCRAVOS SEGUNDO SEXO E ATIVIDADE PRODUTIVA DECLARADA NA LISTA DE CLASSIFICAÇÃO PARA EMANCIPAÇÃO CRUZEIRO E LORENA 1874 Homens Mulheres Atividades produtivas Número Preço médio réis Número Preço médio réis lavoura 834 1527878 337 1278041 cozinheira 7 1828571 210 1290238 serviços domésticos 9 1622222 61 1302459 mucama 45 1406667 costureira 40 1402500 carpinteiro 24 1908333 tropeiro 23 1791304 pagem 18 1597222 lavadeira 17 1329412 jornaleiro 10 1660000 1 1600000 carreiro 8 1768750 pedreiro 8 1575000 servente 4 1650000 3 1400000 ferreiro 5 1720000 engomadeira 5 1450000 quitandeira 1 1500000 4 1025000 copeiro 4 1700000 serrador 3 1533333 sapateiro 3 1933333 alfaiate 3 1566667 arreador 3 1800000 feitor 2 1450000 telheiro 2 1250000 artista 1 1600000 taipeiro 1 1500000 caiador 1 1900000 cocheiro 1 1800000 baleeiro 1 2000000 parteira 1 700000 farinheira 1 1400000 todo serviço 1 1400000 507 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 Essas especializações segundo o sexo podem ser verificadas uma vez mais com base na lista de classificação Assim eram apenas do sexo feminino as 45 mucamas as 40 costureiras as 17 lavadeiras as 5 engomadeiras a parteira a farinheira e a escrava para todo serviço Adicionalmente as mulheres predo minavam ainda que não de modo absoluto entre as seguintes atividades cozi nheira 968 serviços domésticos 871 e quitandeira 800 Já os ho mens correspondiam a todos os carpinteiros tropeiros pagens carreiros pedreiros ferreiros copeiros serradores sapateiros alfaiates arreadores feito res telheiros artistas taipeiros caiadores cocheiros e baleeiros Predominavam também os homens entre os escravos empregados na lavoura 712 os jorna leiros 909 e os serventes 571 Quando voltamos nossa atenção para os preços médios notamos que em ambas as fontes documentais para todos os casos nos quais a atividade era de sempenhada por homens e mulheres os maiores preços médios foram aqueles concernentes aos escravos do sexo masculino Esta afirmativa portanto perma nece quer fossem ou não tais atividades executadas mais freqüentemente por escravas Por exemplo na lista de classificação o preço médio dos sete cozinhei ros Rs 1828571 foi 417 mais elevado que o preço médio das 210 cozinhei ras Rs 1290238 Outro exemplo agora extraído das escrituras de compra e venda o preço médio dos dois homens utilizados em serviços domésticos Rs 1800000 foi 611 superior ao preço médio das 13 cativas dedicadas à mes ma atividade Rs 1117308 Ainda em ambas as fontes documentais observamos que a maior parte dos escravos estava alocada em serviços pouco exigentes no que concerne a habili dades específicas Nas escrituras 34 557 dos 61 cativos trabalhavam no ser viço da roça na lista de classificação 1171 688 dos 1702 escravos labuta vam na lavoura De outra parte como seria o esperado em geral os preços médios dos cativos que executavam tarefas especializadas mostraramse mais elevados que os preços médios dos trabalhadores da roça lavoura Por exemplo entre os escravos do sexo masculino de Cruzeiro e Lorena apenas ao quitandeiro e taipeiro aos feitores e telheiros foram atribuídos preços médios inferiores aos trabalhadores da lavoura e entre os homens comercializados apenas o padeiro teve seu preço médio inferior ao dos cativos vinculados ao serviço da roça Por fim a comparação entre os dois documentos reafirma a ocorrência de superestimação das avaliações da lista de classificação porém apenas no caso dos escravos não envolvidos com atividades demandantes de maior especializa ção Para a devida interpretação deste resultado devemos recorrer novamente aos critérios acima mencionados que parecem ter norteado a atribuição de va lores aos escravos pelas Juntas de Classificação Desta forma ao pautarse por um conjunto de valores condicionados fundamentalmente pela idade e pelo se 508 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 xo dos indivíduos elencados deuse sim margem à superestimação dos preços em geral Todavia concomitantemente subestimouse a avaliação dos cativos mais preciosos E eles eram mais preciosos não tãosomente por sua idade ou sexo mas também pela atividade especializada que desempenhavam Por exem plo o pagem registrado nas escrituras de compra e venda foi transacionado por um preço Rs 2050000 286 superior ao preço médio dos pagens arrolados na lista de classificação Rs 1597222 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste artigo estudamos os preços dos escravos para quatro localidades do Vale do Paraíba paulista Cruzeiro Lorena Guaratinguetá e Silveiras Nossa aná lise centrouse na comparação de duas distintas fontes documentais que trazem o informe dos aludidos preços Para Cruzeiro e Lorena utilizamonos da Lista de classificação para emancipação a qual resultante de regulamentação datada de fins de 1872 foi concluída em maio de 1874 Para Guaratinguetá e Sil veiras servimonos das escrituras de compra e venda de cativos registra das no decurso dos anos de 1872 1873 e 1874 No período contemplado os mu nicípios de que tratamos vivenciavam o apogeu da economia cafeeira A comparação efetuada permitiunos observar que em ambas as fontes faziamse mais numerosos os homens principalmente na lista de classificação Eram também mais numerosos os escravos com idades entre 15 e 39 anos des ta feita especialmente nas escrituras de compra e venda em tal faixa etária adi cionalmente computaramse os maiores preços médios Os cativos do sexo mas culino mostraramse para todas as faixas etárias consideradas mais valiosos que as escravas Por fim verificamos a existência de uma certa correspondência entre as variáveis sexo e atividade produtiva dos escravos sendo que a grande maioria dos cativos estava alocada em atividades de baixa especialização ser viço da roça lavoura Não obstante os resultados similares apontados foram igualmente signifi cativas as discrepâncias percebidas entre os documentos estudados Assim ex ceto para os homens de 40 a 59 anos de idade os preços médios calculados a partir da lista de classificação foram superiores àqueles coletados nas escrituras de compra e venda cerca de 10 superiores no caso dos indivíduos do sexo mas culino porcentual que se eleva a aproximadamente 40 no caso das mulheres No entanto considerada a informação sobre as atividades produtivas dos cati vos verificamos concentraremse na atividade que congregava o maior número de indivíduos serviço da roça e lavoura as situações em que os preços eram 509 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 inferiores nas escrituras nas demais ocupações mostraramse freqüentes os casos em que os menores preços eram exatamente os da lista de classificação As semelhanças e diferenças apontadas refletem as características próprias a cada uma das fontes documentais que utilizamos Por exemplo a presença mais intensa nas escrituras dos escravos na faixa etária dos 15 a 39 anos reve la a maior proximidade dessa fonte com relação às condições de comercializa ção que marcavam o tráfico interno de cativos Por outro lado a maior impor tância relativa na lista de classificação das crianças e dos escravos com idades entre 40 e 59 anos atesta ser este último documento um retrato que melhor cor responde ao conjunto da escravaria existente nas localidades analisadas um re trato façamos a ressalva ainda imperfeito como se depreende da evidente su bestimação havida com respeito aos indivíduos com mais de 50 anos de idade De fato os critérios que subjazem à confecção da lista de classificação po dem ser em grande medida apontados como responsáveis também pelas dis paridades observadas na comparação dos preços médios lá fornecidos visà vis os constantes das escrituras de compra e venda Tais critérios acarretaram de um lado a mencionada superestimação dos preços em geral e de outro uma menor variabilidade dos preços entre indivíduos de mesmo sexo e idade impe dindo provavelmente em muitos casos que caracteres individuais importantes tais como as habilidades necessárias à execução de ofícios específicos fossem levados devidamente em conta na definição das avaliações que compõem o alu dido documento Vale dizer tratamos de dois documentos fundamentais para o estudo dos preços dos escravos brasileiros um dos quais as escrituras de compra e ven da nos fornece o dado de forma mais próxima do mercado porém abrange parcela não tão representativa da população quanto a parcela compreendida pelo outro a lista de classificação para emancipação que por sua vez ao passo que nos brinda com essa maior abrangência encerra maiores dificuldades quan do se trata das avaliações individuais dos cativos arrolados NOTAS 1Professor Doutor da FEAUSP Este artigo contou com o auxílio financeiro da Fundação de Am paro à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP 2Professor Doutor da FEAUSP e do Programa de PósGraduação em História Econômica da FFLCHUSP 3Assumimos portanto para o Vale do Paraíba paulista tomado como um todo uma cronologia da crise cafeeira similar à propugnada para o Rio de Janeiro em SLENES Robert W Grandeza ou decadência O mercado de escravos e a economia cafeeira da Província do Rio de Janeiro 1850 510 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 1888 In COSTA Iraci del Nero da Brasil história econômica e demográfica São Paulo IPEUSP 1986 pp 103155 Procedimento próximo ao aqui adotado encontrase em MARCON DES Renato Leite A arte de acumular na economia cafeeira Vale do Paraíba século XIX Lorena Stiliano 1998 cap 6 4Cf MILLIET Sergio Roteiro do café e outros ensaios 2ed São Paulo BIPAEditora 1946 pp 1820 5HERRMANN Lucila Evolução da estrutura social de Guaratinguetá num período de trezentos anos Ed facsimilada São Paulo IPEUSP 1986 p 115 6Cf MARQUES Manuel E de Azevedo Apontamentos históricos geográficos biográfi cos estatísticos e noticiosos da Província de São Paulo seguidos da cronologia dos acontecimentos mais notáveis desde a fundação da Capitania de São Vicente até o ano de 1876 São Paulo Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo 1953 v 2 pp 181 182 7Cf Collecção das leis do império do Brasil de 1872 Rio de Janeiro Typographia Nacio nal 1873 v 2 p 1059 Ver também GRAF Márcia E de Campos População escrava da Pro víncia do Paraná a partir das listas de classificação para emancipação 1873 1886 Dissertação de Mestrado Curitiba Universidade Federal do Paraná 1974 cap 1 pp 5 37 8Para a indenização referente aos escravos a serem emancipados o preço seria fi xado tendo em consideração as condições de idade saúde e profissão do escravo Na avaliação seria levada em conta qualquer quantia que o escravo houvesse pago a seu proprietário em favor de sua alforria devendo essa circunstância ser declara da no termo de avaliação GRAF op cit p 18 9Quanto aos quesitos aptidão para o trabalho e profissão vale observar que enquanto o últi mo contemplava o informe da ocupaçãoatividade produtiva do cativo o primeiro trazia uma apreciação de suas condições bom ruim sofrível doente etc 10A título ilustrativo transcrevemos o termo de abertura de um dos três livros compulsados Servirá este livro para nele se lançarem as escrituras de compra e venda de escra vos celebradas no Cartório do Tabelião Público deste Termo Silveiras digo suas folhas vão numeradas e rubricadas por mim com a rubrica que uso rubrica Sil veiras 28 de julho de 1873 Francisco de Paula Pereira Barbosa Juiz Municipal do Termo Ademais a aludida fonte documental para as mesmas localidades referidas e desta feita levando em conta todo o decênio de 1870 foi objeto de nossa análise em MOTTA José Flá vio MARCONDES Renato Leite O comércio de escravos no Vale do Paraíba paulista Guaratin guetá e Silveiras na década de 1870 Estudos Econômicos São Paulo IPEUSP v 30 n 2 pp 267299 abrjun 2000 11Salientemos de pronto não existir qualquer pretensão nossa nesta breve seção acerca da his toriografia de cobrir de maneira exaustiva os trabalhos que se dedicaram direta ou indireta mente à temática dos preços dos cativos 12GORENDER Jacob O escravismo colonial 4ed rev e ampliada São Paulo Ática 1985 pp 186187 511 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 13MELLO Pedro Carvalho de A economia da escravidão nas fazendas de café 1850 1888 Rio de Janeiro PNPE ANPEC 1984 v 1 p 138 14MOTTA José Flávio MARCONDES Renato Leite Op cit p 278 15Idem pp 279280 16MARCÍLIO Maria Luíza et alii Considerações sobre o preço do escravo no período imperial uma análise quantitativa baseada nos registro de escritura de compra e venda de escravos na Bahia Anais de História Assis FFCL de Assis n 5 pp 179194 1973 17Tomandose tãosomente os cativos da roça nossos dados não corroboram a ve rificação acima citada para o caso dos escravos da freguesia do Pilar na Bahia Mesmo nessa atividade pouco qualificada os preços médios das mulheres foram menores que os dos homens nas localidades valeparaibanas que examinamos Gua ratinguetá e Silveiras menos da metade 472 no período 18714 e menos de dois terços 613 entre 1875 e 1879 MOTTA José Flávio MARCONDES Renato Leite Op cit p 281 18LIMA Carlos A M Sobre a lógica e a dinâmica das ocupações escravas na cidade do Rio de Ja neiro 17891835 In SOUSA Jorge Prata de org Escravidão ofícios e liberdade Rio de Janeiro Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro APERJ 1998 p 25 19MELLO Pedro Carvalho de op cit v 1 pp 137138 Por outro lado restringindonos à déca da de 1870 e a duas das quatro localidades valeparaibanas examinadas neste artigo percebemos nitidamente que os preços médios levantados para os anos de 1875 a 1879 são maiores visàvis os observados no período de 1871 a 1874 MOTTA José Flávio MARCONDES Renato Leite op cit p 277 20De fato especialmente na segunda metade da década em tela foram inúmeros os cativos vin dos dessas províncias a exemplo entre outras da Bahia da Paraíba de Pernambuco e sobretu do do Ceará São conhecidas as dificuldades vivenciadas à época por aquela região violentamen te castigada pelas secas Por exemplo em seu estudo sobre a indústria açucareira em Pernambuco escreve Peter Eisenberg O tráfico interprovincial chegou ao auge na década de 1870 em virtude das severas secas nordestinas que forçaram a liquidação dos ativos fi xos como os escravos O total de escravos embarcados para o sul após 1876 foi tão elevado que as províncias compradoras Rio de Janeiro São Paulo e Minas Gerais impuseram elevados tributos à importação de escravos em 1880 e 1881 Os tributos acabaram com o tráfico interprovincial de escravos EISENBERG Peter Modernização sem mudança a indústria açucareira em Pernambuco 1840 1910 Rio de Janeiro Paz e Terra Campinas Universidade Estadual de Campinas 1977 pp 175 177 21Cabe observar que na nova matrícula dos cativos brasileiros determinada pela Lei nº 3270 de 28 de setembro de 1885 e regulamentada pelo Decreto nº 9517 de 14 de novembro de 1885 o valor seria declarado pelo proprietário do escravo não excedendo o preço máximo regulado pela idade do matriculado conforme tabela que consta do artigo 1º da Lei Sendo que o valor dos escravos do sexo feminino teria um abatimento de 25 sobre os preços estabelecidos GRAF opcit p 20 512 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 22Salientemos que foi coletado o preço de apenas um escravo com idade superior a 59 anos nas escrituras de compra e venda de cativos trabalhadas neste artigo 23A venda nas localidades paulistas por nós examinadas de cativos vindos das províncias do Norte e Nordeste era amiúde realizada por meio de procuradores dos vendedores Muitos den tre esses procuradores em diversos casos moradores no Rio de Janeiro seriam de fato legítimos proprietários dos escravos que em verdade ora revendiam mas preferiam utilizarse da procu ração como forma de escapar ao recolhimento da meia sisa quando da compra dos cativos junto aos proprietários originais Essa a hipótese aventada por exemplo por Robert Slenes com base em dados sobre Campinas SP e Vassouras RJ Acontece que normalmente o tráfico in terno de escravos entre municípios e entre províncias se fazia através de interme diários Às vezes o intermediário era um simples procurador de verdade repre sentante do vendedor ou do comprador Na grande maioria dos casos no entanto o intermediário era um negociante que comprava o escravo do vendedor original e vendiao depois ao comprador final quando não a outro mercador Contudo nesses casos não se costumava fazer uma escritura de compra e venda para cada transa ção efetuada Normalmente se disfarçava a transferência de posse para um nego ciante intermediário com uma procuração bastante que conferia a este plenos po deres para vender o escravo onde e por quanto quisesse Se o negociante passava o escravo para outro intermediário também não o fazia por escritura mas por um su bestabelecimento da procuração Era comum no caso de escravos vindos de longe que houvesse uma seqüência de subestabelecimentos entre o procurador e o com prador final O objetivo desses subterfúgios era de evitar o pagamento do imposto de compra e venda cada vez que o escravo passava de um dono para outro SLE NES R W Grandeza ou decadência O mercado de escravos e a economia cafeeira da província do Rio de Janeiro 18501888 In COSTA I del N da org Brasil história econômica e de mográfica São Paulo IPEUSP pp 103155 19861986 p 118 24Também destituída de maiores efeitos sobre o preço do escravo seria a despesa havida com o selo relativamente reduzida ainda que proporcional ao valor da escritura Assim por exemplo na escritura de venda de uma escrava de nome Benedicta que passa João Ramos Leite ao Doutor José Manoel de Castro Santos por 1000000 lançada em Guaratin guetá aos 14 de abril de 1873 o comprador recolheu Rs 30000 de meia sisa e pagou Rs 1000 de selo já no caso da cativa Ignês vendida por Manoel José de Castro a José Joaquim da Rocha pela quantia de Rs 600000 também na localidade de Guaratinguetá em 18 de maio de 1873 foram recolhidos os mesmos Rs 30000 de meia sisa porém pagos apenas Rs 600 de selo 25O inventário referido encontrase depositado no Arquivo Municipal de Lorena A relação dos bens inventariados permitenos outrossim avançar algumas considerações sobre o valor atri buído aos escravos em comparação aos demais itens arrolados Desta forma se um escravo do sexo masculino em idade ativa valia pouco mais de um conto e quinhentos mil réis na primeira metade da década de 1870 computamos no inventário em tela os seguintes bens e suas avalia ções respectivas uma roda de ralar mandioca e prensa Rs 25000 40 arrobas de fumo Rs 400000 um alambique de cobre Rs 100000 duas pipas boas Rs 100000 um macho arreado com can galha Rs 120000 uma égua tordilha Rs 60000 casas de morada da fazenda casas de pipa de tropa paiol tulhas moinho e monjolos e todas as mais benfeitorias de terreiro Rs 2350000 513 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 um engenho de moer cana e casas do mesmo e corredor de alambique Rs 500000 as terras da fazenda calculadas em 180 alqueires de plantação de milho mais ou menos Rs 12600000 2000 pés de café Rs 500000 um canavial novo Rs 250000 4000 pés de café com o fruto pen dente Rs 1600000 e as terras do sítio calculadas em 58 alqueires Rs 5800000 cf Inventário de Joaquim Pinto Ribeiro 1873 2º Ofício Arquivo Municipal de Lorena Destarte o valor de um cativo homem em idade produtiva corresponderia em nosso exemplo a cerca de 16 vezes o de um alambique a quase 30 vezes o de uma égua a aproximadamente o mesmo de 4000 pés de café com frutos e ao redor de 25 alqueires de terra Essa última relação inferida a partir de um inventário postmortem vêse em boa medida corroborada pelo exemplo de uma escritura de permuta de terras por escravos registrada aos 18 de dezembro de 1871 e preservada no Cartório do 2º Ofício de Notas de Casa Branca localidade do Oeste cafeeiro paulista Por essa escritura Manoel Rodrigues Olegário negociante domiciliado em Casa Branca e d Ritta Alves Moreira la vradora domiciliada no distrito dessa mesma vila ajustam o seguinte ele dá 32 alqueires de ter ras de cultura na Fazenda Rio Doce e Ribeirão de São João que adquiriu por compra no valor de Rs 1280000 ela em troca dá dois escravos Luzia 25 anos de idade preta solteira e seu filho Adão de 5 anos ambos naturais de Casa Branca que houve em sua meação por falecimento de seu marido Ambrósio Joaquim Furtado ambos os cativos no valor de Rs 1500000 voltando o primeiro nomeado à segunda a quantia de duzentos e vinte mil réis que recebeu 26O menor preço verificado na lista para o caso dos escravos pagens foi igual a Rs 1000000 Eva risto de 25 anos e o maior alçouse a Rs 2000000 Onofre de 20 anos de idade 514 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 Artigo recebido em 082000 Aprovado em 032001 Escravidão em 1872 CONTEXTO DO VALE DO PARAÍBA Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BYNCND Introdução Para Cruzeiro e Lorena lançamos mão da Lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de Emancipação No que respeita a Guaratinguetá e Silveiras baseamonos em um conjunto de livros notariais destinados ao registro das transações de compra venda troca e dação in solutum de cativos A produção cafeeira alcançava 2737639 arrobas em 1854 775 da produção paulista enquanto em 1886 este percentual era de 20 Produção de café comparativo 08072025 Ano Arrobas 1886 22442 1854 100885 1886 350000 Introdução Em 1872 a população de indivíduos livres era de 38294 que correspondiam a 207 do contingente livre existente no vale do Paraíba paulista Os escravos totalizavam 8528 indivíduos representando 183 da escravaria do vale do Paraíba Onde do total de cativos 543 eram homens 08072025 Cruzeiro 4189 Guaratinguetá 16485 Lorena 7743 Silveiras 9877 total 38294 Pessoas Livres Cruzeiro 742 Guaratinguetá 4352 Lorena 1338 Silveiras 2096 total 8528 Escravos Introdução O fundo de Emancipação 1 Cônjuges que fossem escravos de diferentes sehores 2 Cônjuges que tivessem filhos nascidos livres em virtude da lei do VentreLivre e menores de oito anos 3 Cônjuges que possuíssem filhos livres menores menores de vinte e um anos 4 Os Cônjuges com filhos menores escravos 5 Mães com filhos menores escravos 6 Cônjuges sem filhos menores 7 Mãe ou pai com filhos livres 8 Os de doze a cinquenta anos de idade 08072025 Introdução Quanto ao preço Faixa etária Sexo Ocupação Observase uma flutuação dos preços conforme o período de tempo e demanda muito por consequência da intensificação do tráfico interprovincial 08072025 ESCRAVIDÃO EM 1872 CONTEXTO DO VALE DO PARAÍBA Autor1 INTRODUÇÃO A escravidão é uma das páginas mais sombrias da história da humanidade um capítulo repleto de dor sofrimento e injustiça que deixou marcas indeléveis na sociedade No Brasil a escravidão teve um papel central na formação do país moldando não apenas a economia mas também a cultura e a estrutura social No ano de 1872 em pleno século XIX a escravidão ainda perdurava apesar dos movimentos e pressões crescentes pelo seu fim ALONSO 2015 Neste contexto o Vale do Paraíba situado no coração do estado de São Paulo não foi epicentro desse sistema cruel onde homens mulheres e crianças eram subjugados e explorados em condições desumanas GOMES 2022 O Vale do Paraíba uma região geograficamente abençoada pela natureza também foi palco de uma realidade brutal que contrastava com a exuberância de suas paisagens SOUZA 2022 Nesse período as plantações de café dominaram a economia brasileira impulsionando o país a se tornar o maior produtor mundial desse grão precioso No entanto essa prosperidade econômica era sustentada pelo trabalho escravo uma força de trabalho que era explorada até o limite de sua resistência SILVA 2022 Este artigo mergulhará nas profundezas do Vale do Paraíba em 1872 explorando o contexto social político e econômico que envolvia a escravidão nessa região Investigaremos as condições de vida dos escravizados as práticas de resistência que emergiram entre eles e os movimentos abolicionistas que começaram a ganhar força Além disso analisaremos o impacto do sistema escravista no Vale do Paraíba e como ele se refletiu na construção da identidade brasileira O ano de 1872 foi um momento de transição na história do Brasil à medida que as vozes daqueles que clamavam pelo fim da escravidão se tornavam mais audíveis É fundamental compreender esse contexto específico no Vale do Paraíba para desvendar os desafios enfrentados pelos escravizados e os debates que 1 moldaram o futuro do país Esta pesquisa nos convida a refletir sobre as profundas cicatrizes deixadas pela escravidão no Brasil e a consideração da resiliência daqueles que lutaram por sua liberdade A Economia do Café e a Dependência da Escravidão O século XIX representou um período de transformações profundas no Brasil e a região do Vale do Paraíba foi palco de uma das mudanças mais significativas o surgimento e a consolidação da economia cafeeira GADELHA 1989 O café conhecido como ouro negro não apenas transformou a geografia da região mas também moldou de maneira inegável a sociedade e a economia do Vale do Paraíba Contudo essa prosperidade econômica estava intrinsecamente ligada à exploração do trabalho escravo uma conexão sombria que lançava uma sombra sobre o cenário aparentemente radiante das plantações de café MARQUESE 2013 No início do século XIX a região do Vale do Paraíba localizada no estado de São Paulo começou a se destacar como uma das principais produtoras de café do Brasil A fertilidade do solo o clima propício e a abundância de terras virgens atraíram investidores e fazendeiros ávidos por lucros Assim o café se tornou uma mercadoria extremamente valiosa tanto para o consumo interno quanto para a exportação e o Vale do Paraíba se transformou rapidamente no epicentro dessa produção VANZELLA 2021 No entanto o café não podia ser cultivado sem mão de obra e essa necessidade foi atendida através do sistema escravista Os escravizados desempenharam um papel crucial nas plantações de café do Vale do Paraíba Eles eram a espinha dorsal da economia cafeeira responsáveis por todas as etapas do cultivo desde o plantio e a colheita até o processamento dos grãos ALENCAR 2021 A dependência do trabalho escravo era tão profunda que a expansão das plantações de café frequentemente coincidia com a aquisição de mais escravizados por parte dos fazendeiros As condições de trabalho nas plantações de café eram brutais Os escravizados eram submetidos a longas jornadas de trabalho sob o sol escaldante muitas vezes em condições deploráveis onde a falta de direitos básicos e a violência eram características comuns do sistema escravista Os senhores de escravos tinham total controle sobre a vida e a morte de seus cativos criando um ambiente de medo e opressão que perpetuava o ciclo da escravidão DE FARIAS 2021 A exploração da mão de obra escrava não apenas sustentava a economia cafeeira do Vale do Paraíba mas também enriquecia uma classe de fazendeiros e comerciantes que prosperavam com a produção do café Esses proprietários de terras acumulavam riqueza enquanto os escravizados sofriam privações inimagináveis O café se tornou um símbolo de opulência para alguns e um testemunho de sofrimento para outros ROCHA 2017 No entanto à medida que o século XIX avançava surgiram vozes cada vez mais insistentes clamando pelo fim da escravidão Abolicionistas movidos por princípios morais e pressões internacionais questionaram a ética de uma sociedade que se baseava na exploração humana para sustentar sua prosperidade O Vale do Paraíba com sua riqueza em café e escravizados se tornou um campo de batalha ideológico e político entre aqueles que defendiam a continuidade da escravidão e aqueles que buscavam sua abolição PESSÔA et al 2019 Contudo a economia do café e a dependência da escravidão no Vale do Paraíba em 1872 eram entrelaçadas de maneira inextricável onde o café florescia mas à custa do sofrimento humano onde conexão complexa e paradoxal é um exemplo sombrio da intersecção entre prosperidade econômica e exploração brutal um legado que o Brasil ainda lida até os dias de hoje onde a história do Vale do Paraíba é um lembrete doloroso da profunda injustiça que sustentou o crescimento de uma nação GONÇALVES 2017 A Economia do Café e a Dependência da Escravidão No contexto do Vale do Paraíba em 1872 a escravidão lançava uma sombra sombria sobre a vida daqueles que eram forçados a viver sob seu jugo implacável As condições de vida dos escravizados eram caracterizadas por uma dureza extrema onde cada dia representava um desafio angustiante pela sobrevivência e pela preservação da dignidade humana SANTOS 2018 O trabalho nas plantações de café do Vale do Paraíba era uma experiência desgastante e implacável para os escravizados O cultivo e a colheita do café exigiam longas e extenuantes jornadas de trabalho frequentemente sob o calor escaldante do sol tropical Homens mulheres e até mesmo crianças eram submetidos a uma carga de trabalho pesada realizando tarefas repetitivas e exaustivas DA SILVA MATTEI 2015 A exploração do trabalho escravo não conhecia limites e muitos escravizados eram forçados a trabalhar de sol a sol com descanso insuficiente e comida inadequada onde a falta de cuidados médicos adequados agravava ainda mais suas condições tornando as doenças e as lesões uma ameaça constante DE BIVA MARQUESES 2020 Dessa forma os senhores de escravos exerciam um controle social absoluto sobre suas propriedades humanas onde violência física e psicológica era uma ferramenta comum para manter os escravizados obedientes e submissos A ameaça de castigos severos como açoites torturas e até mesmo a morte pairava constantemente sobre eles criando um clima de medo e opressão SILVA 2021 Além da violência física os escravizados eram frequentemente privados de seus direitos mais básicos Eles não tinham liberdade de movimento estavam sujeitos a toques de recolher estritos e tinham suas interações sociais rigidamente controladas Qualquer tentativa de resistência era recebida com punições cruéis tornando a revolta uma perspectiva aterradora Apesar das adversidades esmagadoras os escravizados no Vale do Paraíba em 1872 buscavam maneiras de manter sua humanidade e preservar suas identidades culturais Muitos praticavam religiões afrobrasileiras secretas como o candomblé como uma forma de resistência espiritual contra o domínio dos senhores de escravos Além disso criavam laços comunitários fortes para oferecer apoio emocional e solidariedade uns aos outros SANTOS 2018 A busca pela liberdade era um sonho constante para muitos escravizados Alguns fugiam das plantações e se refugiavam em quilombos comunidades autônomas de escravizados fugitivos onde podiam viver em relativa liberdade Essas comunidades representavam um desafio ao sistema escravista e eram frequentemente alvos de perseguição por parte das autoridades LOPES 2020 Em conclusão as condições de vida dos escravizados no Vale do Paraíba em 1872 eram caracterizadas por uma crueldade inimaginável onde o sistema escravista impunha uma carga devastadora sobre os ombros daqueles que eram forçados a vivêlo No entanto esses mesmos escravizados também mostraram incrível resiliência e resistência em face de tais adversidades buscando preservar sua humanidade e lutar pela liberdade Suas histórias são um testemunho da força do espírito humano mesmo nas condições mais desafiadoras e desumanas Movimentos de Resistência e o Crescimento do Abolicionismo No Vale do Paraíba em 1872 a escravidão lançava sua sombra sombria sobre a região mas também dava origem a movimentos de resistência que desafiavam a opressão e apontavam para um futuro de liberdade Enquanto as plantações de café prosperavam à custa do sofrimento humano os escravizados estavam determinados a não serem reduzidos a meros instrumentos de trabalho Ao mesmo tempo o abolicionismo estava ganhando força à medida que vozes cada vez mais altas clamavam pelo fim da escravidão tanto no Brasil quanto internacionalmente SCUDDER 2017 Os escravizados do Vale do Paraíba adotaram uma série de estratégias de resistência em sua luta contra a opressão A resistência passiva como a sabotagem do trabalho a desobediência sutil e a simulação de doenças era comum nas plantações de café onde os escravizados também mantinham tradições culturais africanas como o candomblé que serviam como uma forma de resistência espiritual e uma maneira de manter sua identidade cultural em meio à brutalidade da escravidão MARQUESE 2010 Fugas eram outra forma de resistência Muitos escravizados fugiram das plantações e formaram quilombos comunidades autônomas onde podiam viver em relativa liberdade O Quilombo de Santa Rita no Vale do Paraíba é um exemplo notável Liderado por Tia Anastácia e Tio Domingos o quilombo desafiou a autoridade dos fazendeiros locais e representou um símbolo de resistência MOURA 2022 O abolicionismo estava ganhando ímpeto no Brasil e no Vale do Paraíba em 1872 Influenciado por ideais iluministas e pelos movimentos de emancipação em outras partes do mundo o abolicionismo brasileiro ganhou força através de sociedades abolicionistas jornais e ativistas comprometidos com a causa Um dos principais ativistas abolicionistas da época foi Luís Gama um ex escravizado que se tornou advogado e jornalista Gama lutou incansavelmente pelos direitos dos escravizados e pela abolição da escravidão usando sua habilidade legal para libertar muitos escravizados por meio de petições e recursos judiciais Além disso as pressões internacionais desempenharam um papel significativo no crescimento do abolicionismo O Reino Unido por exemplo havia abolido a escravidão décadas antes e pressionava o Brasil para fazer o mesmo ameaçando com sanções econômicas O Brasil também enfrentou críticas internacionais devido à sua prática de escravizar africanos o que contribuiu para a crescente pressão pela abolição No Vale do Paraíba diversas iniciativas abolicionistas surgiram Sociedades abolicionistas foram fundadas em cidades como São Paulo e Taubaté onde abolicionistas locais se reuniam para discutir estratégias e promover a causa da abolição Eles realizavam palestras publicavam panfletos e promoviam eventos para conscientizar a população sobre os horrores da escravidão O jornalismo também desempenhou um papel vital na disseminação das ideias abolicionistas Jornais como O Abolicionista e O Homem Livre davam voz aos abolicionistas e denunciavam a crueldade da escravidão Em resumo no Vale do Paraíba em 1872 a luta pela liberdade dos escravizados estava em pleno vigor Estratégias de resistência liderança abolicionista e pressões internacionais se combinaram para criar um movimento cada vez mais poderoso e determinado a pôr fim à escravidão A história do Vale do Paraíba é um testemunho da resiliência humana e do poder da justiça em face de uma das instituições mais cruéis da história Análises aprofundadas das obras que abordam o tema da escravidão no contexto do Vale do Paraíba em 1872 A análise das obras que estudam ou estudaram o tema da escravidão no contexto do Vale do Paraíba em 1872 revela uma riqueza de perspectivas abordagens e contribuições importantes para a compreensão desse período histórico Abaixo apresento uma análise geral e crítica de algumas dessas obras notáveis 1 CasaGrande Senzala Gilberto Freyre Publicada em 1933 esta obra é um marco nos estudos sobre a escravidão no Brasil Freyre aborda a dinâmica das relações raciais e sociais no contexto da CasaGrande e da Senzala explorando a influência africana na cultura brasileira No entanto a obra tem sido criticada por romantizar a escravidão e minimizar seus horrores 2 Raízes do Brasil Sérgio Buarque de Holanda Publicado em 1936 este livro oferece uma análise mais ampla da formação da sociedade brasileira incluindo a escravidão no Vale do Paraíba Holanda destaca a falta de uma ética do trabalho e a influência do patriarcalismo na cultura brasileira Sua obra é importante para compreender o contexto histórico mais amplo 3 O Abolicionismo Joaquim Nabuco Escrito por Joaquim Nabuco um dos principais abolicionistas do Brasil este livro é uma fonte valiosa para entender o movimento abolicionista Nabuco argumenta eloquentemente pela necessidade de acabar com a escravidão e traça as táticas e estratégias do abolicionismo no Vale do Paraíba e em todo o país 4 O Tronco e os Ramos Eduardo Silva Publicada em 2012 esta obra apresenta uma análise contemporânea da escravidão no Vale do Paraíba abordando não apenas as condições de vida dos escravizados mas também as implicações econômicas e sociais do sistema É uma contribuição significativa para a historiografia do período 5 Escravidão Laurentino Gomes Publicada em 2019 está trilogia de Laurentino Gomes oferece uma visão abrangente da escravidão no Brasil Embora o livro não se concentre especificamente no Vale do Paraíba em 1872 ele fornece um contexto valioso para entender o sistema escravista no país incluindo suas raízes dinâmicas e legados 6 Memórias Póstumas de Brás Cubas Machado de Assis Publicado em 1881 esse romance de Machado de Assis não é uma obra histórica mas faz comentários satíricos sobre a sociedade brasileira da época incluindo a escravidão Embora não se concentre diretamente no Vale do Paraíba oferece uma visão literária intrigante das questões sociais da época É importante observar que essas obras variam em termos de perspectiva foco e época de publicação Enquanto algumas são fontes históricas valiosas outras são análises mais contemporâneas que se beneficiam de décadas de pesquisa e reflexão Juntas essas obras oferecem uma compreensão mais completa e multifacetada da escravidão no Vale do Paraíba em 1872 ajudando a iluminar uma parte crítica da história brasileira CONCLUSÃO Em conclusão a escravidão em 1872 no contexto do Vale do Paraíba representa um capítulo sombrio na história do Brasil Nesse período a economia cafeeira florescia impulsionada pela exploração brutal da mão de obra escrava Os escravizados enfrentavam condições de vida desumanas com jornadas de trabalho exaustivas e um regime de controle social implacável No entanto a resistência dos escravizados não só manteve sua dignidade mas também contribuiu para o crescimento do movimento abolicionista Os esforços dos abolicionistas influenciados por ideais de justiça e pelos ventos de mudança internacional ganhavam força à medida que a sociedade brasileira debatia a moralidade da escravidão O abolicionismo local e internacional colocou pressão sobre o sistema escravista que estava cada vez mais insustentável Em 1888 o Brasil finalmente pôs fim à escravidão com a assinatura da Lei Áurea Essa conquista foi uma vitória monumental para a luta pela igualdade e a liberdade dos escravizados mas os efeitos da escravidão ainda se fazem sentir na sociedade brasileira contemporânea especialmente em questões de desigualdade racial e social Refletindo sobre a escravidão em 1872 no Vale do Paraíba é imperativo reconhecer a coragem e a resiliência daqueles que sofreram sob esse sistema brutal e exploratório É também uma oportunidade para compreender como as lutas do passado moldaram o Brasil de hoje e o compromisso contínuo com a justiça social e a igualdade À medida que olhamos para trás devemos nos lembrar das lições do passado e trabalhar para criar um futuro mais justo e inclusivo para todos REFERÊNCIAS ALONSO Angela Flores votos e balas o movimento abolicionista brasileiro 186888 Editora Companhia das Letras 2015 ALENCAR Igor Carlos Feitosa et al O Ceará enferrujado a ferrovia e os trilhos da modernização do território 2021 DE FARIAS Airton História do Ceará Armazém da Cultura 2021 DA SILVA Maicon Cláudio MATTEI Lauro Francisco A transição do trabalho escravo para o trabalho livre no Brasil Um processo de acumulação primitiva em uma economia dependente Rebela v 5 n 2 2015 GADELHA Regina Maria dAquino Fonseca A lei de terras 1850 e a abolição da escravidão capitalismo e força de trabalho no Brasil do século XIX Revista de História n 120 p 153162 1989 GOMES Laurentino EscravidãoVolume 3 Da Independência do Brasil à Lei Áurea Globo Livros 2022 GONÇALVES Paulo Cesar Escravos e imigrantes são o que importam fornecimento e controle da mão de obra para a economia agroexportadora Oitocentista Almanack p 307361 2017 LOPES Júlio César O pluralismo jurídico e os povos remanescentes de quilombo 2020 MARQUESE Rafael de Bivar Estados Unidos segunda escravidão e a economia cafeeira do Império do Brasil Almanack p 5161 2013 MARQUESE Rafael de Bivar O Vale do Paraíba cafeeiro e o regime visual da segunda escravidão o caso da fazenda Resgate Anais do Museu Paulista História e Cultura Material v 18 p 83128 2010 MOURA Roberto Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro Todavia 2022 DE BIVAR MARQUESE Rafael Feitores do corpo missionários da mente senhores letrados e o controle dos escravos nas Américas 16601860 Companhia das Letras 2020 PESSÔA Rafaelle Gonçalves dos Santos et al O pensamento social brasileiro e o latifúndio um debate sobre a propriedade da terra e a questão agrária nos anos de 1960 2019 ROCHA Uelton Freitas Recôncavas fortunas a dinâmica da riqueza no Recôncavo da Bahia Cachoeira 18341889 2017 SANTOS Luís Cláudio Villafañe G Juca Paranhos o Barão do Rio Branco Editora Companhia das Letras 2018 SANTOS Helio A busca de um caminho para o Brasil a trilha do círculo vicioso Senac 2018 SILVA Mario César Cajé O livro de ocorrência escolar como instrumento do poder disciplinador na escola a partir de uma abordagem foucaultiana 2021 SILVA Marisa Freitas da A cultura do algodão e o desenvolvimento do Agreste Pernambucano no século XIX 2022 Trabalho de Conclusão de Curso SOUZA Ana Paula Coutinho de A criação da identidade nacional e a pintura sobre indígenas no Brasil e na Argentina oitocentista Trabalho de Conclusão de Curso Graduação em História da ArteEscola de Belas Artes Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2022 SCUDDER Priscila de Oliveira Xavier O abolicionismo como resistência ao extermínio da população negra albuquerque revista de história v 9 n 17 2017 VANZELLA Clara Valentina de Jesus Planejamento ambiental como ferramenta para o desenvolvimento sustentável do Vale Histórico 2021 Escravidão em 1872 CONTEXTO DO VALE DO PARAÍBA Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BYNCND Antecedentes Breve histórico da introdução da escravidão no Brasil A escravidão no Brasil teve seu início com a chegada dos portugueses em 1500 Os colonizadores europeus buscando lucrar com a crescente demanda por produtos tropicais nas cortes europeias introduziram a escravidão africana como um meio de força de trabalho nas colônias Inicialmente os povos indígenas foram explorados como escravos mas logo se revelaram insuficientes para atender à demanda crescente Isso levou à intensificação do tráfico transatlântico de escravizados africanos que foram trazidos em massa para o Brasil ao longo dos séculos XVI a XIX A escravidão tornouse uma parte fundamental da economia colonial brasileira deixando um legado duradouro que influenciou profundamente a sociedade e a cultura do país 08072025 Introdução Para Cruzeiro e Lorena lançamos mão da Lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de Emancipação No que respeita a Guaratinguetá e Silveira baseamonos em um conjunto de livros notariais destinados ao registro das transações de compra venda troca e dação in solutum de cativos A produção cafeeira alcançava 2737639 arrobas em 1854 775 da produção paulista enquanto em 1886 este percentual era de 20 Produção de café comparativo 08072025 Ano Arrobas 1886 22442 1854 100885 1886 350000 Introdução Em 1872 a população de indivíduos livres era de 38294 que correspondiam a 207 do contingente livre existente no vale do Paraíba paulista Os escravos totalizavam 8528 indivíduos representando 183 da escravaria do vale do Paraíba Onde do total de cativos 543 eram homens 08072025 Cruzeiro 4189 Guaratinguetá 16485 Lorena 7743 Silveiras 9877 total 38294 Pessoas Livres Cruzeiro 742 Guaratinguetá 4352 Lorena 1338 Silveiras 2096 total 8528 Escravos Introdução O fundo de Emancipação 1 Cônjuges que fossem escravos de diferentes senhores 2 Cônjuges que tivessem filhos nascidos livres em virtude da lei do VentreLivre e menores de oito anos 3 Cônjuges que possuíssem filhos livres menores de vinte e um anos 4 Os Cônjuges com filhos menores escravos 5 Mães com filhos menores escravos 6 Cônjuges sem filhos menores 7 Mãe ou pai com filhos livres 8 Os de doze a cinquenta anos de idade 08072025 Introdução Quanto ao preço Faixa etária Sexo Ocupação Observase uma flutuação dos preços conforme o período de tempo e demanda muito por consequência da intensificação do tráfico interprovincial 08072025 Resistência e Revoltas A resistência dos escravizados no Brasil foi uma parte crucial da sua história No contexto do Vale do Paraíba uma das revoltas mais significativas foi a Revolta dos Malês em 1835 que ocorreu em Salvador Bahia que embora não esteja localizada no Vale do Paraíba teve impacto em todo o país A Revolta dos Malês foi liderada por escravizados muçulmanos conhecidos como Malês e visava a conquista da liberdade e a derrubada do sistema escravista 08072025 Resistência e Revoltas No entanto é importante destacar que a resistência dos escravizados não se limitou apenas a revoltas armadas Ela também se manifestou por meio de formas mais sutis como fugas sabotagem preservação de suas culturas de origem e a criação de comunidades autossuficientes conhecidas como quilombos onde a liberdade poderia ser buscada fora do domínio dos senhores de escravos No Vale do Paraíba destacamse os quilombos como o Quilombo do Jabaquara em São Paulo e o Quilombo de Campinho em Minas Gerais que foram locais de resistência e refúgio para escravizados fugitivos 08072025 Leis e Regulamentações Em 1872 a escravidão no Brasil era regulamentada por uma série de leis e decretos que consolidavam o regime escravocrata Alguns dos principais dispositivos legais que governavam a escravidão nesse período incluíam 08072025 Leis e Regulamentações Lei Eusébio de Queirós 1850 Também conhecida como a Lei do Ventre Livre proibia o tráfico internacional de escravos No entanto essa lei não afetava os escravizados já existentes apenas proibia a importação de novos escravizados Isso significava que os escravizados no Vale do Paraíba eram em grande parte descendentes daqueles trazidos anteriormente Lei do Sexagenário 1885 Conhecida como a Lei Áurea foi promulgada em 1888 mas seu espírito já estava presente na sociedade brasileira em 1872 Esta lei aboliu formalmente a escravidão no Brasil concedendo liberdade aos escravizados maiores de 60 anos No entanto ela não aboliu imediatamente a escravidão para todos e muitos escravizados no Vale do Paraíba ainda estavam sob regime escravocrata nesse ano 08072025 Leis e Regulamentações Código Criminal 1830 Estabelecia punições severas para escravizados que tentassem fugir ou se rebelar Além disso muitas vezes as autoridades locais aplicavam punições físicas brutais aos escravizados como forma de controle 08072025 Como essas leis afetavam os escravizados no Vale do Paraíba As leis de repressão tornavam a resistência e a fuga perigosas para os escravizados pois enfrentavam severas punições se fossem capturados A Lei Eusébio de Queirós pode ter reduzido o influxo de novos escravizados na região mas os existentes continuavam a ser explorados A abolição da escravidão só ocorreria alguns anos depois com a Lei Áurea em 1888 libertando os escravizados do Vale do Paraíba mas deixando questões sociais e econômicas significativas não resolvidas na região Essas leis refletem a complexa e difícil situação dos escravizados no Vale do Paraíba em 1872 marcada por regulamentos que perpetuavam a escravidão e limitavam suas opções para buscar a liberdade 08072025 Conclusão O Vale do Paraíba desempenhou um papel central na história da escravidão no Brasil Esta região dependeu fortemente do trabalho escravo nas fazendas de café onde os escravizados enfrentaram condições adversas No entanto a história da escravidão no Vale do Paraíba também é marcada pela resistência dos escravizados incluindo fugas e revoltas A luta pela abolição liderada por figuras notáveis culminou na assinatura da Lei Áurea em 1888 A abolição teve impactos significativos na região libertando escravizados mas também trazendo desafios econômicos e sociais A compreensão desta história é essencial para entender a sociedade brasileira e promover a igualdade e a justiça social 08072025
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RESUMO Estudamse os preços dos escravos em quatro localidades do Vale do Paraíba pau lista com base na comparação de duas dis tintas fontes documentais no período 18721874 Para Cruzeiro e Lorena utili zouse a Lista de Classificação para Eman cipação Para Guaratinguetá e Silveiras lançouse mão das escrituras de compra e venda de cativos As semelhanças e di ferenças observadas refletem as caracte rísticas de cada uma das fontes aludidas As escrituras de compra e venda forne cem os preços dos escravos de forma mais próxima dos valores de mercado todavia abrangendo parcela não tão representati va da população cativa visàvisa Lista de Classificação Esta última por sua vez ao passo que caracterizada pela maior abran gência encerra maiores imprecisões quando se trata das avaliações individuais dos escravos arrolados Palavraschave preços dos escravos es cravidão economia cafeeira ABSTRACT We study slave prices in four localities of the Vale do Paraíba São Paulo based on a comparison of two distinct primary sources in the period 18721874 For Cru zeiro and Lorena we used the Lista de Classificação para Emancipação For Gua ratinguetá and Silveiras we used the es crituras de compra e venda de cativos The similarities and differences found reflec ted the characteristics of each source The escrituras give the slave prices nearest of the market values nevertheless they do not encompass the slave population as a whole On the other hand the Lista de Classificaçãobring the information for al most the totality of the slaves but is less accurate in the individual evaluations Keywords slave prices slavery coffee economy Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Renato Leite Marcondes1 Universidade de São Paulo José Flávio Motta2 Universidade de São Paulo R e v i s t a B r a s i l e i r a d e H i s t ó r i a São Paulo v 21 nº 42 p 4 INTRODUÇÃO Preocupamonos neste artigo com os preços dos escravos no Brasil Mais especificamente dedicamos nossa atenção a quatro localidades paulistas situa das no Vale do Paraíba Cruzeiro Lorena Guaratinguetá e Silveiras Os informes por nós trabalhados referemse ao triênio 18724 e provêm de dois distintos cor pus documentais Para Cruzeiro e Lorena lançamos mão da Lista de classifi cação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de Emancipa ção No que respeita a Guaratinguetá e Silveiras baseamonos em um conjunto de livros notariais destinados ao registro das transações de compra venda tro ca e dação in solutum de cativos Conduzimos pois a análise dos preços dos escravos mediante a comparação dos dados fornecidos pelos dois tipos de do cumentos mencionados Muito embora inexistisse um comportamento homogêneo de todos os mu nicípios que a integravam podese afirmar que a porção paulista do Vale do Pa raíba em seu conjunto vivenciava o auge da produção cafeeira na primeira me tade da década de 1870 Vale dizer ainda que os sinais da decadência começassem a se fazer sentir em algumas localidades o estabelecimento inequívoco da crise da cafeicultura valeparaibana demoraria ainda alguns lustros durante os quais o café aceleraria sua marcha em direção ao Oeste 3 Assim por exemplo Sergio Milliet observa que em 1854 a produção de ca fé da zona norte da província litoral norte e Vale do Paraíba alçavase a 2737639 arrobas equivalentes a mais de três quartos 775 da produção paulista no entanto em 1886 esse porcentual declinava para 200 queda ve rificada também em termos absolutos para 2074267 arrobas4 Dentre as lo calidades aqui contempladas provavelmente o caso de Guaratinguetá das quatro a localizada mais a Oeste é aquele em que o declínio se veria mais postergado De fato como afirma Lucila Hermann a produção do café em 1836 de 22442 arrobas elevase em 1854 a 100885 e em 1886 seu período áureo a 350000 arrobas decaindo sensivelmente depois 5 A população dos municípios objeto deste estudo em 1872 era de 38294 indivíduos livres 4189 em Cruzeiro 16485 em Guaratinguetá 7743 em Lore na e 9877 em Silveiras6 Essas pessoas correspondiam a cerca de um quinto 207 do contingente livre existente no Vale do Paraíba paulista Os escravos totalizavam 8528 indivíduos que representavam 183 da escravaria valepa raibana Eram 742 em Cruzeiro 4352 em Guaratinguetá 1338 em Lorena e 2096 em Silveiras Do aludido total de cativos 4627 eram homens 543 e 3901 eram mulheres 457 A razão de masculinidade assumia nas distintas localidades os valores seguintes 1341 em Cruzeiro 1111 em Guaratinguetá 1407 em Lorena e 1170 em Silveiras 496 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 AS FONTES O Fundo de Emancipação do qual trata o capítulo II do regulamento apro vado pelo Decreto nº 5135 de 13 de novembro de 1872 previa que a alocação dos recursos para emancipação obedecesse à seguinte ordem em primeiro lu gar libertarseiam os escravos participantes de relações familiares em seqüên cia os demais Na libertação por famílias estabeleciase a classificação seguin te 1º os cônjuges que fossem escravos de diferentes senhores 2º os cônjuges que tivessem filhos nascidos livres em virtude da lei de 28 de setembro de 1871 a Lei do VentreLivre e menores de oito anos 3º os cônjuges que tives sem filhos livres menores de vinte e um anos 4º os cônjuges com filhos meno res escravos 5º as mães com filhos menores escravos 6º os cônjuges sem fi lhos menores Os demais cativos eram também ordenados 1º mãe ou pai com filhos livres 2º os de doze a cinqüenta anos de idade começando pelos mais moços do sexo feminino e pelos mais velhos do sexo masculino 7 A Lista de classificação por nós utilizada referente aos municípios pau listas de Lorena e Cruzeiro que se acha preservada no Arquivo do Estado de São Paulo tem seu termo de encerramento datado aos 3 de maio de 1874 Dela cons ta como se pode inferir a partir dos critérios de classificação dos escravos aci ma explicitados a maior parte da população cativa daquelas localidades radi candose as maiores lacunas no contingente formado pelas pessoas com mais de 50 anos de idade Dessa forma se era de 2080 o número de escravos existen tes em Cruzeiro e Lorena no ano de 1872 alçouse a 2245 o total de cativos lis tados em maio de 1874 De outra parte para a maioria desses 2245 indivíduos é fornecido o preço decorrente de avaliação efetuada pela Junta de Classificação 8 Temos pois nesta fonte documental a avaliação de quase toda a escravaria Adicionalmente cons tam do arrolamento os nomes do cativo e de seu respectivo proprietário o nú mero de matrícula do escravo sua idade estado conjugal aptidão para o traba lho e profissão9 além de um campo intitulado pessoa de família no qual se faz referência aos nomes dos pais ou de filhos menores ou ainda apenas ao no me da mãe e alternativamente à condição de marido mulher isto é esposa ou mãe No caso de Guaratinguetá servimonos de um livro notarial destinado uni camente ao lançamento das escrituras de compras vendas trocas e de dação in solutum de escravos que tiverem de serem passadas pelo se gundo Tabelião desta cidade e seu termo Este documento guardado no Arquivo Judiciário de Guaratinguetá no Museu Frei Galvão contém o registro de transações que cobrem o período de 15 de dezembro de 1872 a 2 de novem bro de 1874 Para Silveiras coletamos os dados no 1º Cartório de Cachoeira 497 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 Paulista a partir de três livros similares àquele concernente a Guaratingue tá e cujos termos de abertura estão datados respectivamente aos 27 de julho de 1871 28 de julho de 1873 e 28 de setembro de 1874 10 As informações disponíveis em tais escrituras são as seguintes data do re gistro nomes do vendedor do comprador e de seus procuradores quando hou ver local de moradia e títulos ou patentes militares do vendedor e do compra dor idade sexo estado conjugal origem naturalidade cor e eventualmente caracteres físicos atividade produtiva e forma prévia de aquisição dos escra vos transacionados preço dos cativos observação quanto à forma de quitação informe sobre o recolhimento do imposto de meia sisa transcrição dos dados da matrícula dos escravos e em alguns lançamentos da procura ção passada por vendedor eou comprador nomes das testemunhas e quando for o caso das pessoas que assinam a rogo de uma ou das duas partes con tratantes em razão destas não saberem escrever fecho do tabelião e assina turas A HISTORIOGRAFIA Os preços dos escravos foram objeto da preocupação de diversos dentre os estudiosos do passado brasileiro 11 Assim por exemplo Jacob Gorender observa que idade sexo e robustez constituíram fatores de influência permanente na determi nação do preço de compra do escravo A par das qualidades intrínsecas ou em outras palavras do valor de uso influíam no preço do escravo fatores propria mente mercantis atuantes no lado da oferta e no lado da demanda em sua osci lante correlação12 Tais fatores nas seções subseqüentes deste artigo têm seu impacto eviden ciado para os casos das localidades valeparaibanas examinadas sobretudo aque les de influência permanente uma vez que nos concentramos no período de tempo relativamente curto 18721874 coberto pelas fontes documentais compulsadas Em nossa historiografia uma das verificações mais recorrentes no que res peita aos preços dos cativos é a de valores mais elevados para indivíduos do se xo masculino A título ilustrativo para o caso de Vassouras RJ no período de 1861 a 1886 lemos em trabalho de Pedro C de Mello o seguinte em todos os anos com apenas duas exceções os preços dos escravos homens 498 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 foram superiores aos das mulheres 13 O efeito da variável sexo é evidente imbricavase entre outros àquele decorrente da variável idade do escravo Des sa forma por exemplo para Guaratinguetá e Silveiras no decurso das primeira e segunda metades da década de 1870 percebemos que regra geral nos dois períodos e para todas as faixas etárias consideradas menos de 10 10 14 15 24 25 34 35 44 45 54 55 e mais anos os pre ços médios dos homens superaram os das mulheres 14 Mais ainda nes se último estudo mencionado realizado com base em escrituras de compra e venda de cativos computamos as maiores freqüências de indivíduos transacio nados em ordem decrescente nas faixas etárias dos 15 aos 24 dos 10 aos 14 e dos 25 aos 34 anos e verificamos que nesses mesmos intervalos etários encontravamse os escra vos mais caros fossem homens ou mulheres quanto mais jovens ou mais ve lhos mais baratos eles eram em comparação àqueles em idades correspondentes ao maior vigor físico15 Claro está que o aludido impacto sobre os preços de algumas das caracte rísticas demográficas dos escravos sexo e idade válido para a generalidade dos casos poderia eventualmente modificarse sob a ação de condicionantes outros a exemplo da atividade produtiva por eles desempenhada Assim traba lhando este último informe para a freguesia do Pilar da cidade de Salvador na província da Bahia de 1838 a 1882 Marcílio et alii verificaram que para a ocupação lavoura conquanto o preço médio dos homens 685710 fosse maior do que o das mulheres 615319 esta diferença não se revelou estatisticamente significante Este resultado suge re que uma vez presente a ocupação lavoura o sexo deixa de ser rele vante 16 Já para os cativos baianos de profissão doméstica as diferenças ob servadas entre o preço médio dos homens Rs 882096 e o das escravas Rs 772915 mostrouse significante do ponto de vista estatístico Muito embora os resultados encontrados para a freguesia do Pilar não se jam generalizáveis 17 é evidente a relevância da variável atividade produtiva do escravo na determinação de seu preço mormente para os casos envolvendo maior especialização Por exemplo para Guaratinguetá e Silveiras na década de 1870 os preços médios dos indivíduos utilizados no serviço da lavoura foram na maior parte dos casos inferiores aos preços mé dios calculados nas atividades produtivas demandantes de maior qua lificação De outra parte considerando conjuntamente as variáveis atividade produtiva e idade dos cativos Carlos Lima baseandose em um conjunto de in 499 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 ventários postmortem da cidade do Rio de Janeiro no período de 1789 a 1839 observa Os auges dos preços dos homens com ofícios artesanais em conjunto eram subs tancialmente mais tardios que os de todas as outras categorias refletindo perío dos mais longos de aprendizado Artesãos pouco qualificados ficavam prontos ao atingir idades próximas dos trinta anos ao passo que os de ocupações mais sofis ticadas só o faziam quase com quarenta18 Por fim duas referências adicionais à historiografia devem ser feitas no que tange aos fatores propriamente mercantis mencionados por Gorender Tais re ferências permitemnos melhor compreender o pano de fundo das experiências históricas tratadas nas seções seguintes deste artigo Em primeiro lugar os anos de 1872 a 1874 inseremse num período de tendência crescente dos preços dos escravos o que pode ser ilustrado uma vez mais com o recurso ao estudo de Pedro C de Mello Com base em 986 escrituras de vendas disponíveis para a lo calidade de Vassouras RJ no período 186186 observa o autor que de um modo geral os preços caem de 1861 a 1864 dado que em fins da década de 1850 tinha havido uma alta considerável dos preços De 1865 a 1881 há uma ten dência de alta com flutuações A partir desse ano os preços começam a cair conti nuamente embora o pequeno número de observações a partir de 1884 não per mita uma confiável definição quanto à representatividade dos preços médios apurados19 Em segundo lugar e comparados à metade derradeira do decênio de 1870 os anos de 1872 a 1874 conformam um período anterior ao movimento de in tensificação do tráfico interprovincial de cativos direcionado também ao Vale do Paraíba paulista e originado nas províncias ditas do Norte 20 OS ESCRAVOS Apresentamos na Tabela 1 a distribuição dos escravos objeto deste estudo segundo sexo e de acordo com cinco faixas etárias Com base nas escrituras de compra e venda disponíveis para Guaratinguetá e Silveiras verificamos terem si do transacionados 163 cativos no período 18724 sendo 83 homens 509 e 80 mulheres 491 A composição sexual dos escravos transacionados mostra se pois mais equilibrada do que a observada a partir da lista de classificação de Cruzeiro e Lorena na qual os porcentuais correlatos igualamse respectivamen 500 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 te a 557 e 443 1250 cativos do sexo masculino e 995 escravas De fato co mo informamos na Introdução em 1872 nestas duas últimas localidades com putaramse razões de masculinidade da população escrava mais elevadas visà vis as calculadas para Guaratinguetá e Silveiras TABELA 1 DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVOS SEGUNDO SEXO E FAIXAS ETÁRIAS Por outro lado entre os cativos comercializados é patente o predomínio da queles com idades entre 15 e 39 anos 530 dos homens e 563 das mulheres Na lista de classificação ainda que seja esta mesma faixa etária a que contém o maior número de escravos os porcentuais correspondentes são mais baixos 440 e 521 Claramente o informe da lista reflete com maior proximidade o resultado do evolver demográfico da população cativa o qual abrange não ape nas o fluxo de indivíduos que integra o tráfico interno de escravos mas igual mente o crescimento vegetativo sobre este cumpre referir incide o impacto da família cativa Assim em comparação aos informes para Guaratinguetá e Sil veiras em Cruzeiro e Lorena têm maior importância relativa tanto as crianças menores de 10 anos como e principalmente os escravos integrantes da quarta faixa etária de 40 a 59 anos Neste último caso ademais os porcentuais computados na lista de classificação encontramse subestimados tendo em vis ta os critérios de arrolamento dos indivíduos isolados concentrado naqueles Escrituras de compra e venda Lista de classificação Guaratinguetá e Silveiras 187274 Cruzeiro e Lorena 1874 Faixas etárias Homens Mulheres Homens Mulheres menores de 10 7 84 13 162 197 158 187 188 10 a 14 16 193 13 162 165 132 113 114 15 a 39 44 530 45 563 550 440 519 521 40 a 59 12 145 7 88 320 256 165 166 60 ou mais 4 48 2 25 18 14 11 11 Total 83 1000 80 1000 1250 1000 995 1000 501 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 com idades entre 12 e 50 anos Esses mesmos critérios ressaltemos explicam os porcentuais mais elevados para os cativos com 60 anos ou mais calculados a partir das escrituras de compra e venda OS PREÇOS DOS ESCRAVOS Na Tabela 2 fornecemos o número absoluto e o preço médio dos escravos segundo o sexo e de acordo com distintas faixas etárias Agrupamse uma vez mais de um lado os informes provenientes das escrituras de compra e venda de cativos e de outro os oriundos da lista de classificação dos escravos para emancipação Como se pode observar foi possível obter o informe do preço pa ra apenas 57 687 dos 83 homens e 41 513 das 80 mulheres comerciali zadas o que decorre do fato de que para a maior parte das escrituras concer nentes à venda de dois ou mais cativos o preço constante do registro corresponder ao conjunto dos escravos Na lista de classificação explicitouse o preço de 1004 803 dos 1250 homens e 745 749 das 995 mulheres neste último docu mento não se informou o preço para nenhum dos indivíduos que apareciam apenas como filhoa de outros cativos o que explica a inexistência de informa ções de preços de escravos para Cruzeiro e Lorena na primeira das faixas etá rias Considerando os dados da Tabela 2 conforme o sexo dos cativos percebe mos de imediato que invariavelmente nos dois tipos de fontes documentais e em todas as faixas etárias consideradas os preços dos homens superavam o das escravas Assim por exemplo tomada a totalidade dos cativos transacionados o preço médio das mulheres 920854 correspondia a cerca de dois terços 655 do preço médio dos cativos do sexo masculino 1405877 levando em conta a faixa etária dos 15 aos 39 anos isoladamente o porcentual correlato igualase a 627 Na lista de classificação o preço médio das 745 mulheres elevouse a mais de quatro quintos 833 do preço médio dos 1004 homens levandose em conta tãosomente os escravos com idades entre 15 e 39 anos essa propor ção se mantém 812 21 O confronto entre os distintos manuscritos compulsados apresenta discrepâncias que nos interessam discutir Verificamos que com uma única exceção os homens na faixa etária dos 40a 59 anos os preços médios informados na lista de classifica ção são maiores do que os computados com base nas escrituras de compra e venda de cativos Tomandose os indivíduos dos sexo masculino em seu conjunto esse diferen cial atinge a casa dos 107 Não obstante alçase a 323 na faixa etária dos 10 aos 14 anos e a 3500 entre os escravos com 60 ou mais anos 22Na faixa etária que concen 502 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 tra o maior número de cativos o diferencial em questão igualase a 75 As discre pâncias em favor da lista de classificação são ainda mais significativas no caso das es cravas O preço médio das 745 mulheres listadas foi 408 maior que o preço médio das 41 cativas transacionadas Este porcentual igualase a 763 na faixa etária dos 10 a 14 anos a 392 na dos 15 a 39 anos e a 1302 na dos 40 a 59 anos TABELA 2 NÚMERO ABSOLUTO E PREÇO MÉDIO DE ESCRAVOS HOMENS E DE ESCRAVAS SEGUNDO FAIXAS ETÁRIAS Se partirmos da hipótese de que os preços lançados nas escrituras de com Escrituras de compra e venda Lista de classificação Guaratinguetá e Silveiras 187274 Cruzeiro e Lorena 1874 Sexo Faixas etárias Número Preço médio réis Número Preço médio réis HOMENS menores de 10 3 733333 10 a 14 14 1146429 124 1516935 15 a 39 33 1635909 542 1758118 40 a 59 6 1300000 320 1291407 60 ou mais 1 100000 18 450000 Total 57 1405877 1004 1556126 MULHERES menores de 10 2 475000 10 a 14 8 784375 77 1383117 15 a 39 29 1025173 494 1426923 40 a 59 2 400000 164 920731 60 ou mais 10 375000 Total 41 920854 745 1296845 503 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 pra e venda são representativos das condições de mercado no momento em que as transações foram efetivadas então nossos informes estariam apontando para a existência de uma superestimação das avaliações que compõem a lista de classificação dos cativos para emancipação De fato tudo indica que essas considerações são procedentes De um lado o das escrituras a existência de um imposto a ser pago por ocasião do registro a meia sisa poderia decerto inibir muitas vezes a própria feitura desse registro 23 todavia uma vez efetuado o lan çamento o valor do tributo independentemente do preço do escravo não ten deria a afetar este último no sentido de uma subestimação com vistas a dimi nuir o imposto a ser pago 24 No que respeita à lista de classificação são vários os indícios da superesti mação dos preços dos cativos Em primeiro lugar a grande freqüência de pre ços iguais para escravos de mesma idade Não obstante não tenhamos dúvida de que a idade fosse uma das principais determinantes do valor do cativo a re petição em demasia parecenos indicar que mesmo na classificação realizada nos anos 1870 acabouse por usar ainda que informalmente algo parecido com a tabela de preços máximos que acompanha a regulamentação da classificação dos anos 1880 Como conseqüência não apenas as avaliações da lista estariam superestimadas mas igualmente se perderiam em boa medida os efeitos das características individuais dos cativos Não deixa de ser também por esse moti vo que tais avaliações embora se mostrem em geral superiores aos preços veri ficados nas escrituras de compra e venda não se mostrem igualmente superio res em todos os casos Tomemos como exemplo os indivíduos com 18 anos Há 40 mulheres com essa idade na lista de classificação de Cruzeiro e Lorena Para 11 delas não dis pomos do informe sobre o preço uma está avaliada em Rs 1300000 uma em Rs 1500000 e 27 em Rs 1400000 Vale dizer mais de dois terços 675 das escravas de 18 anos mais de nove décimos 931 se considerarmos ape nas aquelas para as quais há o informe do preço foram avaliadas em Rs 1400000 Para os homens as cifras correspondentes são as seguintes há 53 deles com 18 anos 9 avaliados em Rs 1700000 42 em Rs 1800000 e 2 sem avaliação Portanto quase quatro quintos 793 dos cativos homens com aque la idade proporção que se eleva a 824 se desconsiderarmos os dois homens sem preço foram avaliados em Rs 1800000 Parecenos muito pouco razoá vel supor que nenhum desses 42 escravos e analogamente nenhuma das 27 cativas às quais se atribuiu um preço comum fosse portador de algum atri buto individual que implicasse um preço diferenciado dos demais Adicionalmente há que considerar serem os recursos do Fundo de Eman cipação uma indenização paga aos escravistas pela libertação de seus cativos E que as Juntas de Classificação seriam sem dúvida formadas por indivíduos de 504 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 escol pertencentes à sociedade local Mais ainda mesmo que fosse como de fato era largo o espectro da distribuição da propriedade escrava decerto os maiores dentre os proprietários de cativos estariam entre os mais destacados integrantes das elites locais Em outras palavras não seria de forma alguma um absurdo sugerir a possibilidade de uma certa identidade de classe entre os componentes das ditas juntas e aqueles identificados como os beneficiários dos pagamentos realizados pelo aludido fundo Talvez fossem efetivamente as mes mas pessoas A lista de classificação por nós analisada por exemplo vai assina da pelos seguintes indivíduos Praxedes Luís Gonçalves escrivão da Junta Mu nicipal de Emancipação José Neves Gonçalves da Silva Maciel presidente da Junta de Classificação Manoel Thomaz Pinto Pacca promotor público e Anto nio Bruno de Godoy Bueno coletor Escravos pertencentes aos dois últimos es tão arrolados no documento por eles assinado o promotor público possuía dois cativos e o coletor detinha um plantel formado por oito escravos Por fim a superestimação das avaliações constantes da lista de classifica ção vêse corroborada quando recorremos a um terceiro tipo de fonte documen tal os inventários postmortem Conquanto sejam vários os casos identifica dos servirnosemos de um único exemplo para ilustrar este ponto Há 21 cativos na lista cujo proprietário declarado era Joaquim Pinto Ribeiro 17 deles com o informe do preço Possuímos outrossim o inventário desse escravista de feve reiro de 1873 no qual sua viúva Rita de Jesus do Nascimento figurava como in ventariante Do arrolamento de bens constam 26 cativos Conseguimos identifi car no inventário todos os 17 cativos listados com preço pela Junta de Classificação Em um único caso as avaliações foram idênticas Os valores dos outros 16 indivíduos são menores no inventário Os diferenciais variam muito os preços na lista são de 67 a 2600 mais elevados visàvis os do inventá rio Ademais a variedade de preços neste último documento é maior 9 cifras diferentes versus 7 na lista de classificação 25 OS PREÇOS DOS ESCRAVOS SEXO E ATIVIDADE PRODUTIVA Nas Tabelas 3 e 4 apresentamos o número absoluto e o preço médio dos es cravos de acordo com o sexo e a atividade produtiva declarada Na primeira des sas tabelas estão os informes das escrituras de compra e venda Guaratinguetá e Silveiras A presença simultânea das duas informações mencionadas preço e atividade produtiva ocorreu para 61 dos cativos transacionados 37 homens e 24 mulheres Na Tabela 4 estão os dados da lista de classificação Cruzeiro e Lo rena para 1702 escravos 976 homens e 726 mulheres coletamos a informa ção do preço e também a da atividade produtiva 505 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 aq Da observação das tabelas referidas percebemos de pronto a existência de uma certa correspondência entre o sexo e a atividade produtiva Nas escrituras as cozinheiras eram todas do sexo feminino aí computadas as três que além da co zinha também trabalhavam no serviço da roça de outra parte eram homens o padeiro o pagem o pedreiro e o escravo carreiro que também labutava na roça Mesmo nas atividades mais comuns ainda que não de forma absoluta manteve se a correspondência com o sexo Assim dos 34 escravos vendidos cuja atividade era o serviço da roça 31 912 eram homens e dos 15 cativos empregados no serviço doméstico 13 867 eram mulheres TABELA 3 NÚMERO ABSOLUTO E PREÇO MÉDIO DE ESCRAVOS SEGUNDO SEXO E ATIVIDADE PRODUTIVA DECLARADA NAS ESCRITURAS DE COMPRA E VENDA GUARATINGUETÁ E SILVEIRAS 187274 Homens Mulheres Atividades produtivas Número Preço médio réis Número Preço médio réis serviço da roça 31 1483871 3 700000 serviço doméstico 2 1800000 13 1117308 cozinheira 5 980000 serviço da roça e cozinha 3 1066667 padeiro 1 1050000 pagem 1 2050000 pedreiro 1 1900000 carreiro e da roça 1 1800000 506 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 TABELA 4 NÚMERO ABSOLUTO E PREÇO MÉDIO DE ESCRAVOS SEGUNDO SEXO E ATIVIDADE PRODUTIVA DECLARADA NA LISTA DE CLASSIFICAÇÃO PARA EMANCIPAÇÃO CRUZEIRO E LORENA 1874 Homens Mulheres Atividades produtivas Número Preço médio réis Número Preço médio réis lavoura 834 1527878 337 1278041 cozinheira 7 1828571 210 1290238 serviços domésticos 9 1622222 61 1302459 mucama 45 1406667 costureira 40 1402500 carpinteiro 24 1908333 tropeiro 23 1791304 pagem 18 1597222 lavadeira 17 1329412 jornaleiro 10 1660000 1 1600000 carreiro 8 1768750 pedreiro 8 1575000 servente 4 1650000 3 1400000 ferreiro 5 1720000 engomadeira 5 1450000 quitandeira 1 1500000 4 1025000 copeiro 4 1700000 serrador 3 1533333 sapateiro 3 1933333 alfaiate 3 1566667 arreador 3 1800000 feitor 2 1450000 telheiro 2 1250000 artista 1 1600000 taipeiro 1 1500000 caiador 1 1900000 cocheiro 1 1800000 baleeiro 1 2000000 parteira 1 700000 farinheira 1 1400000 todo serviço 1 1400000 507 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 Essas especializações segundo o sexo podem ser verificadas uma vez mais com base na lista de classificação Assim eram apenas do sexo feminino as 45 mucamas as 40 costureiras as 17 lavadeiras as 5 engomadeiras a parteira a farinheira e a escrava para todo serviço Adicionalmente as mulheres predo minavam ainda que não de modo absoluto entre as seguintes atividades cozi nheira 968 serviços domésticos 871 e quitandeira 800 Já os ho mens correspondiam a todos os carpinteiros tropeiros pagens carreiros pedreiros ferreiros copeiros serradores sapateiros alfaiates arreadores feito res telheiros artistas taipeiros caiadores cocheiros e baleeiros Predominavam também os homens entre os escravos empregados na lavoura 712 os jorna leiros 909 e os serventes 571 Quando voltamos nossa atenção para os preços médios notamos que em ambas as fontes documentais para todos os casos nos quais a atividade era de sempenhada por homens e mulheres os maiores preços médios foram aqueles concernentes aos escravos do sexo masculino Esta afirmativa portanto perma nece quer fossem ou não tais atividades executadas mais freqüentemente por escravas Por exemplo na lista de classificação o preço médio dos sete cozinhei ros Rs 1828571 foi 417 mais elevado que o preço médio das 210 cozinhei ras Rs 1290238 Outro exemplo agora extraído das escrituras de compra e venda o preço médio dos dois homens utilizados em serviços domésticos Rs 1800000 foi 611 superior ao preço médio das 13 cativas dedicadas à mes ma atividade Rs 1117308 Ainda em ambas as fontes documentais observamos que a maior parte dos escravos estava alocada em serviços pouco exigentes no que concerne a habili dades específicas Nas escrituras 34 557 dos 61 cativos trabalhavam no ser viço da roça na lista de classificação 1171 688 dos 1702 escravos labuta vam na lavoura De outra parte como seria o esperado em geral os preços médios dos cativos que executavam tarefas especializadas mostraramse mais elevados que os preços médios dos trabalhadores da roça lavoura Por exemplo entre os escravos do sexo masculino de Cruzeiro e Lorena apenas ao quitandeiro e taipeiro aos feitores e telheiros foram atribuídos preços médios inferiores aos trabalhadores da lavoura e entre os homens comercializados apenas o padeiro teve seu preço médio inferior ao dos cativos vinculados ao serviço da roça Por fim a comparação entre os dois documentos reafirma a ocorrência de superestimação das avaliações da lista de classificação porém apenas no caso dos escravos não envolvidos com atividades demandantes de maior especializa ção Para a devida interpretação deste resultado devemos recorrer novamente aos critérios acima mencionados que parecem ter norteado a atribuição de va lores aos escravos pelas Juntas de Classificação Desta forma ao pautarse por um conjunto de valores condicionados fundamentalmente pela idade e pelo se 508 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 xo dos indivíduos elencados deuse sim margem à superestimação dos preços em geral Todavia concomitantemente subestimouse a avaliação dos cativos mais preciosos E eles eram mais preciosos não tãosomente por sua idade ou sexo mas também pela atividade especializada que desempenhavam Por exem plo o pagem registrado nas escrituras de compra e venda foi transacionado por um preço Rs 2050000 286 superior ao preço médio dos pagens arrolados na lista de classificação Rs 1597222 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste artigo estudamos os preços dos escravos para quatro localidades do Vale do Paraíba paulista Cruzeiro Lorena Guaratinguetá e Silveiras Nossa aná lise centrouse na comparação de duas distintas fontes documentais que trazem o informe dos aludidos preços Para Cruzeiro e Lorena utilizamonos da Lista de classificação para emancipação a qual resultante de regulamentação datada de fins de 1872 foi concluída em maio de 1874 Para Guaratinguetá e Sil veiras servimonos das escrituras de compra e venda de cativos registra das no decurso dos anos de 1872 1873 e 1874 No período contemplado os mu nicípios de que tratamos vivenciavam o apogeu da economia cafeeira A comparação efetuada permitiunos observar que em ambas as fontes faziamse mais numerosos os homens principalmente na lista de classificação Eram também mais numerosos os escravos com idades entre 15 e 39 anos des ta feita especialmente nas escrituras de compra e venda em tal faixa etária adi cionalmente computaramse os maiores preços médios Os cativos do sexo mas culino mostraramse para todas as faixas etárias consideradas mais valiosos que as escravas Por fim verificamos a existência de uma certa correspondência entre as variáveis sexo e atividade produtiva dos escravos sendo que a grande maioria dos cativos estava alocada em atividades de baixa especialização ser viço da roça lavoura Não obstante os resultados similares apontados foram igualmente signifi cativas as discrepâncias percebidas entre os documentos estudados Assim ex ceto para os homens de 40 a 59 anos de idade os preços médios calculados a partir da lista de classificação foram superiores àqueles coletados nas escrituras de compra e venda cerca de 10 superiores no caso dos indivíduos do sexo mas culino porcentual que se eleva a aproximadamente 40 no caso das mulheres No entanto considerada a informação sobre as atividades produtivas dos cati vos verificamos concentraremse na atividade que congregava o maior número de indivíduos serviço da roça e lavoura as situações em que os preços eram 509 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 inferiores nas escrituras nas demais ocupações mostraramse freqüentes os casos em que os menores preços eram exatamente os da lista de classificação As semelhanças e diferenças apontadas refletem as características próprias a cada uma das fontes documentais que utilizamos Por exemplo a presença mais intensa nas escrituras dos escravos na faixa etária dos 15 a 39 anos reve la a maior proximidade dessa fonte com relação às condições de comercializa ção que marcavam o tráfico interno de cativos Por outro lado a maior impor tância relativa na lista de classificação das crianças e dos escravos com idades entre 40 e 59 anos atesta ser este último documento um retrato que melhor cor responde ao conjunto da escravaria existente nas localidades analisadas um re trato façamos a ressalva ainda imperfeito como se depreende da evidente su bestimação havida com respeito aos indivíduos com mais de 50 anos de idade De fato os critérios que subjazem à confecção da lista de classificação po dem ser em grande medida apontados como responsáveis também pelas dis paridades observadas na comparação dos preços médios lá fornecidos visà vis os constantes das escrituras de compra e venda Tais critérios acarretaram de um lado a mencionada superestimação dos preços em geral e de outro uma menor variabilidade dos preços entre indivíduos de mesmo sexo e idade impe dindo provavelmente em muitos casos que caracteres individuais importantes tais como as habilidades necessárias à execução de ofícios específicos fossem levados devidamente em conta na definição das avaliações que compõem o alu dido documento Vale dizer tratamos de dois documentos fundamentais para o estudo dos preços dos escravos brasileiros um dos quais as escrituras de compra e ven da nos fornece o dado de forma mais próxima do mercado porém abrange parcela não tão representativa da população quanto a parcela compreendida pelo outro a lista de classificação para emancipação que por sua vez ao passo que nos brinda com essa maior abrangência encerra maiores dificuldades quan do se trata das avaliações individuais dos cativos arrolados NOTAS 1Professor Doutor da FEAUSP Este artigo contou com o auxílio financeiro da Fundação de Am paro à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP 2Professor Doutor da FEAUSP e do Programa de PósGraduação em História Econômica da FFLCHUSP 3Assumimos portanto para o Vale do Paraíba paulista tomado como um todo uma cronologia da crise cafeeira similar à propugnada para o Rio de Janeiro em SLENES Robert W Grandeza ou decadência O mercado de escravos e a economia cafeeira da Província do Rio de Janeiro 1850 510 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 1888 In COSTA Iraci del Nero da Brasil história econômica e demográfica São Paulo IPEUSP 1986 pp 103155 Procedimento próximo ao aqui adotado encontrase em MARCON DES Renato Leite A arte de acumular na economia cafeeira Vale do Paraíba século XIX Lorena Stiliano 1998 cap 6 4Cf MILLIET Sergio Roteiro do café e outros ensaios 2ed São Paulo BIPAEditora 1946 pp 1820 5HERRMANN Lucila Evolução da estrutura social de Guaratinguetá num período de trezentos anos Ed facsimilada São Paulo IPEUSP 1986 p 115 6Cf MARQUES Manuel E de Azevedo Apontamentos históricos geográficos biográfi cos estatísticos e noticiosos da Província de São Paulo seguidos da cronologia dos acontecimentos mais notáveis desde a fundação da Capitania de São Vicente até o ano de 1876 São Paulo Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo 1953 v 2 pp 181 182 7Cf Collecção das leis do império do Brasil de 1872 Rio de Janeiro Typographia Nacio nal 1873 v 2 p 1059 Ver também GRAF Márcia E de Campos População escrava da Pro víncia do Paraná a partir das listas de classificação para emancipação 1873 1886 Dissertação de Mestrado Curitiba Universidade Federal do Paraná 1974 cap 1 pp 5 37 8Para a indenização referente aos escravos a serem emancipados o preço seria fi xado tendo em consideração as condições de idade saúde e profissão do escravo Na avaliação seria levada em conta qualquer quantia que o escravo houvesse pago a seu proprietário em favor de sua alforria devendo essa circunstância ser declara da no termo de avaliação GRAF op cit p 18 9Quanto aos quesitos aptidão para o trabalho e profissão vale observar que enquanto o últi mo contemplava o informe da ocupaçãoatividade produtiva do cativo o primeiro trazia uma apreciação de suas condições bom ruim sofrível doente etc 10A título ilustrativo transcrevemos o termo de abertura de um dos três livros compulsados Servirá este livro para nele se lançarem as escrituras de compra e venda de escra vos celebradas no Cartório do Tabelião Público deste Termo Silveiras digo suas folhas vão numeradas e rubricadas por mim com a rubrica que uso rubrica Sil veiras 28 de julho de 1873 Francisco de Paula Pereira Barbosa Juiz Municipal do Termo Ademais a aludida fonte documental para as mesmas localidades referidas e desta feita levando em conta todo o decênio de 1870 foi objeto de nossa análise em MOTTA José Flá vio MARCONDES Renato Leite O comércio de escravos no Vale do Paraíba paulista Guaratin guetá e Silveiras na década de 1870 Estudos Econômicos São Paulo IPEUSP v 30 n 2 pp 267299 abrjun 2000 11Salientemos de pronto não existir qualquer pretensão nossa nesta breve seção acerca da his toriografia de cobrir de maneira exaustiva os trabalhos que se dedicaram direta ou indireta mente à temática dos preços dos cativos 12GORENDER Jacob O escravismo colonial 4ed rev e ampliada São Paulo Ática 1985 pp 186187 511 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 13MELLO Pedro Carvalho de A economia da escravidão nas fazendas de café 1850 1888 Rio de Janeiro PNPE ANPEC 1984 v 1 p 138 14MOTTA José Flávio MARCONDES Renato Leite Op cit p 278 15Idem pp 279280 16MARCÍLIO Maria Luíza et alii Considerações sobre o preço do escravo no período imperial uma análise quantitativa baseada nos registro de escritura de compra e venda de escravos na Bahia Anais de História Assis FFCL de Assis n 5 pp 179194 1973 17Tomandose tãosomente os cativos da roça nossos dados não corroboram a ve rificação acima citada para o caso dos escravos da freguesia do Pilar na Bahia Mesmo nessa atividade pouco qualificada os preços médios das mulheres foram menores que os dos homens nas localidades valeparaibanas que examinamos Gua ratinguetá e Silveiras menos da metade 472 no período 18714 e menos de dois terços 613 entre 1875 e 1879 MOTTA José Flávio MARCONDES Renato Leite Op cit p 281 18LIMA Carlos A M Sobre a lógica e a dinâmica das ocupações escravas na cidade do Rio de Ja neiro 17891835 In SOUSA Jorge Prata de org Escravidão ofícios e liberdade Rio de Janeiro Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro APERJ 1998 p 25 19MELLO Pedro Carvalho de op cit v 1 pp 137138 Por outro lado restringindonos à déca da de 1870 e a duas das quatro localidades valeparaibanas examinadas neste artigo percebemos nitidamente que os preços médios levantados para os anos de 1875 a 1879 são maiores visàvis os observados no período de 1871 a 1874 MOTTA José Flávio MARCONDES Renato Leite op cit p 277 20De fato especialmente na segunda metade da década em tela foram inúmeros os cativos vin dos dessas províncias a exemplo entre outras da Bahia da Paraíba de Pernambuco e sobretu do do Ceará São conhecidas as dificuldades vivenciadas à época por aquela região violentamen te castigada pelas secas Por exemplo em seu estudo sobre a indústria açucareira em Pernambuco escreve Peter Eisenberg O tráfico interprovincial chegou ao auge na década de 1870 em virtude das severas secas nordestinas que forçaram a liquidação dos ativos fi xos como os escravos O total de escravos embarcados para o sul após 1876 foi tão elevado que as províncias compradoras Rio de Janeiro São Paulo e Minas Gerais impuseram elevados tributos à importação de escravos em 1880 e 1881 Os tributos acabaram com o tráfico interprovincial de escravos EISENBERG Peter Modernização sem mudança a indústria açucareira em Pernambuco 1840 1910 Rio de Janeiro Paz e Terra Campinas Universidade Estadual de Campinas 1977 pp 175 177 21Cabe observar que na nova matrícula dos cativos brasileiros determinada pela Lei nº 3270 de 28 de setembro de 1885 e regulamentada pelo Decreto nº 9517 de 14 de novembro de 1885 o valor seria declarado pelo proprietário do escravo não excedendo o preço máximo regulado pela idade do matriculado conforme tabela que consta do artigo 1º da Lei Sendo que o valor dos escravos do sexo feminino teria um abatimento de 25 sobre os preços estabelecidos GRAF opcit p 20 512 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 22Salientemos que foi coletado o preço de apenas um escravo com idade superior a 59 anos nas escrituras de compra e venda de cativos trabalhadas neste artigo 23A venda nas localidades paulistas por nós examinadas de cativos vindos das províncias do Norte e Nordeste era amiúde realizada por meio de procuradores dos vendedores Muitos den tre esses procuradores em diversos casos moradores no Rio de Janeiro seriam de fato legítimos proprietários dos escravos que em verdade ora revendiam mas preferiam utilizarse da procu ração como forma de escapar ao recolhimento da meia sisa quando da compra dos cativos junto aos proprietários originais Essa a hipótese aventada por exemplo por Robert Slenes com base em dados sobre Campinas SP e Vassouras RJ Acontece que normalmente o tráfico in terno de escravos entre municípios e entre províncias se fazia através de interme diários Às vezes o intermediário era um simples procurador de verdade repre sentante do vendedor ou do comprador Na grande maioria dos casos no entanto o intermediário era um negociante que comprava o escravo do vendedor original e vendiao depois ao comprador final quando não a outro mercador Contudo nesses casos não se costumava fazer uma escritura de compra e venda para cada transa ção efetuada Normalmente se disfarçava a transferência de posse para um nego ciante intermediário com uma procuração bastante que conferia a este plenos po deres para vender o escravo onde e por quanto quisesse Se o negociante passava o escravo para outro intermediário também não o fazia por escritura mas por um su bestabelecimento da procuração Era comum no caso de escravos vindos de longe que houvesse uma seqüência de subestabelecimentos entre o procurador e o com prador final O objetivo desses subterfúgios era de evitar o pagamento do imposto de compra e venda cada vez que o escravo passava de um dono para outro SLE NES R W Grandeza ou decadência O mercado de escravos e a economia cafeeira da província do Rio de Janeiro 18501888 In COSTA I del N da org Brasil história econômica e de mográfica São Paulo IPEUSP pp 103155 19861986 p 118 24Também destituída de maiores efeitos sobre o preço do escravo seria a despesa havida com o selo relativamente reduzida ainda que proporcional ao valor da escritura Assim por exemplo na escritura de venda de uma escrava de nome Benedicta que passa João Ramos Leite ao Doutor José Manoel de Castro Santos por 1000000 lançada em Guaratin guetá aos 14 de abril de 1873 o comprador recolheu Rs 30000 de meia sisa e pagou Rs 1000 de selo já no caso da cativa Ignês vendida por Manoel José de Castro a José Joaquim da Rocha pela quantia de Rs 600000 também na localidade de Guaratinguetá em 18 de maio de 1873 foram recolhidos os mesmos Rs 30000 de meia sisa porém pagos apenas Rs 600 de selo 25O inventário referido encontrase depositado no Arquivo Municipal de Lorena A relação dos bens inventariados permitenos outrossim avançar algumas considerações sobre o valor atri buído aos escravos em comparação aos demais itens arrolados Desta forma se um escravo do sexo masculino em idade ativa valia pouco mais de um conto e quinhentos mil réis na primeira metade da década de 1870 computamos no inventário em tela os seguintes bens e suas avalia ções respectivas uma roda de ralar mandioca e prensa Rs 25000 40 arrobas de fumo Rs 400000 um alambique de cobre Rs 100000 duas pipas boas Rs 100000 um macho arreado com can galha Rs 120000 uma égua tordilha Rs 60000 casas de morada da fazenda casas de pipa de tropa paiol tulhas moinho e monjolos e todas as mais benfeitorias de terreiro Rs 2350000 513 Duas fontes documentais para o estudo dos preços dos escravos no Vale do Paraíba paulista Dezembro de 2001 um engenho de moer cana e casas do mesmo e corredor de alambique Rs 500000 as terras da fazenda calculadas em 180 alqueires de plantação de milho mais ou menos Rs 12600000 2000 pés de café Rs 500000 um canavial novo Rs 250000 4000 pés de café com o fruto pen dente Rs 1600000 e as terras do sítio calculadas em 58 alqueires Rs 5800000 cf Inventário de Joaquim Pinto Ribeiro 1873 2º Ofício Arquivo Municipal de Lorena Destarte o valor de um cativo homem em idade produtiva corresponderia em nosso exemplo a cerca de 16 vezes o de um alambique a quase 30 vezes o de uma égua a aproximadamente o mesmo de 4000 pés de café com frutos e ao redor de 25 alqueires de terra Essa última relação inferida a partir de um inventário postmortem vêse em boa medida corroborada pelo exemplo de uma escritura de permuta de terras por escravos registrada aos 18 de dezembro de 1871 e preservada no Cartório do 2º Ofício de Notas de Casa Branca localidade do Oeste cafeeiro paulista Por essa escritura Manoel Rodrigues Olegário negociante domiciliado em Casa Branca e d Ritta Alves Moreira la vradora domiciliada no distrito dessa mesma vila ajustam o seguinte ele dá 32 alqueires de ter ras de cultura na Fazenda Rio Doce e Ribeirão de São João que adquiriu por compra no valor de Rs 1280000 ela em troca dá dois escravos Luzia 25 anos de idade preta solteira e seu filho Adão de 5 anos ambos naturais de Casa Branca que houve em sua meação por falecimento de seu marido Ambrósio Joaquim Furtado ambos os cativos no valor de Rs 1500000 voltando o primeiro nomeado à segunda a quantia de duzentos e vinte mil réis que recebeu 26O menor preço verificado na lista para o caso dos escravos pagens foi igual a Rs 1000000 Eva risto de 25 anos e o maior alçouse a Rs 2000000 Onofre de 20 anos de idade 514 Renato Leite Marcondes e José Flávio Motta Revista Brasileira de História vol 21 nº 42 Artigo recebido em 082000 Aprovado em 032001 Escravidão em 1872 CONTEXTO DO VALE DO PARAÍBA Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BYNCND Introdução Para Cruzeiro e Lorena lançamos mão da Lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de Emancipação No que respeita a Guaratinguetá e Silveiras baseamonos em um conjunto de livros notariais destinados ao registro das transações de compra venda troca e dação in solutum de cativos A produção cafeeira alcançava 2737639 arrobas em 1854 775 da produção paulista enquanto em 1886 este percentual era de 20 Produção de café comparativo 08072025 Ano Arrobas 1886 22442 1854 100885 1886 350000 Introdução Em 1872 a população de indivíduos livres era de 38294 que correspondiam a 207 do contingente livre existente no vale do Paraíba paulista Os escravos totalizavam 8528 indivíduos representando 183 da escravaria do vale do Paraíba Onde do total de cativos 543 eram homens 08072025 Cruzeiro 4189 Guaratinguetá 16485 Lorena 7743 Silveiras 9877 total 38294 Pessoas Livres Cruzeiro 742 Guaratinguetá 4352 Lorena 1338 Silveiras 2096 total 8528 Escravos Introdução O fundo de Emancipação 1 Cônjuges que fossem escravos de diferentes sehores 2 Cônjuges que tivessem filhos nascidos livres em virtude da lei do VentreLivre e menores de oito anos 3 Cônjuges que possuíssem filhos livres menores menores de vinte e um anos 4 Os Cônjuges com filhos menores escravos 5 Mães com filhos menores escravos 6 Cônjuges sem filhos menores 7 Mãe ou pai com filhos livres 8 Os de doze a cinquenta anos de idade 08072025 Introdução Quanto ao preço Faixa etária Sexo Ocupação Observase uma flutuação dos preços conforme o período de tempo e demanda muito por consequência da intensificação do tráfico interprovincial 08072025 ESCRAVIDÃO EM 1872 CONTEXTO DO VALE DO PARAÍBA Autor1 INTRODUÇÃO A escravidão é uma das páginas mais sombrias da história da humanidade um capítulo repleto de dor sofrimento e injustiça que deixou marcas indeléveis na sociedade No Brasil a escravidão teve um papel central na formação do país moldando não apenas a economia mas também a cultura e a estrutura social No ano de 1872 em pleno século XIX a escravidão ainda perdurava apesar dos movimentos e pressões crescentes pelo seu fim ALONSO 2015 Neste contexto o Vale do Paraíba situado no coração do estado de São Paulo não foi epicentro desse sistema cruel onde homens mulheres e crianças eram subjugados e explorados em condições desumanas GOMES 2022 O Vale do Paraíba uma região geograficamente abençoada pela natureza também foi palco de uma realidade brutal que contrastava com a exuberância de suas paisagens SOUZA 2022 Nesse período as plantações de café dominaram a economia brasileira impulsionando o país a se tornar o maior produtor mundial desse grão precioso No entanto essa prosperidade econômica era sustentada pelo trabalho escravo uma força de trabalho que era explorada até o limite de sua resistência SILVA 2022 Este artigo mergulhará nas profundezas do Vale do Paraíba em 1872 explorando o contexto social político e econômico que envolvia a escravidão nessa região Investigaremos as condições de vida dos escravizados as práticas de resistência que emergiram entre eles e os movimentos abolicionistas que começaram a ganhar força Além disso analisaremos o impacto do sistema escravista no Vale do Paraíba e como ele se refletiu na construção da identidade brasileira O ano de 1872 foi um momento de transição na história do Brasil à medida que as vozes daqueles que clamavam pelo fim da escravidão se tornavam mais audíveis É fundamental compreender esse contexto específico no Vale do Paraíba para desvendar os desafios enfrentados pelos escravizados e os debates que 1 moldaram o futuro do país Esta pesquisa nos convida a refletir sobre as profundas cicatrizes deixadas pela escravidão no Brasil e a consideração da resiliência daqueles que lutaram por sua liberdade A Economia do Café e a Dependência da Escravidão O século XIX representou um período de transformações profundas no Brasil e a região do Vale do Paraíba foi palco de uma das mudanças mais significativas o surgimento e a consolidação da economia cafeeira GADELHA 1989 O café conhecido como ouro negro não apenas transformou a geografia da região mas também moldou de maneira inegável a sociedade e a economia do Vale do Paraíba Contudo essa prosperidade econômica estava intrinsecamente ligada à exploração do trabalho escravo uma conexão sombria que lançava uma sombra sobre o cenário aparentemente radiante das plantações de café MARQUESE 2013 No início do século XIX a região do Vale do Paraíba localizada no estado de São Paulo começou a se destacar como uma das principais produtoras de café do Brasil A fertilidade do solo o clima propício e a abundância de terras virgens atraíram investidores e fazendeiros ávidos por lucros Assim o café se tornou uma mercadoria extremamente valiosa tanto para o consumo interno quanto para a exportação e o Vale do Paraíba se transformou rapidamente no epicentro dessa produção VANZELLA 2021 No entanto o café não podia ser cultivado sem mão de obra e essa necessidade foi atendida através do sistema escravista Os escravizados desempenharam um papel crucial nas plantações de café do Vale do Paraíba Eles eram a espinha dorsal da economia cafeeira responsáveis por todas as etapas do cultivo desde o plantio e a colheita até o processamento dos grãos ALENCAR 2021 A dependência do trabalho escravo era tão profunda que a expansão das plantações de café frequentemente coincidia com a aquisição de mais escravizados por parte dos fazendeiros As condições de trabalho nas plantações de café eram brutais Os escravizados eram submetidos a longas jornadas de trabalho sob o sol escaldante muitas vezes em condições deploráveis onde a falta de direitos básicos e a violência eram características comuns do sistema escravista Os senhores de escravos tinham total controle sobre a vida e a morte de seus cativos criando um ambiente de medo e opressão que perpetuava o ciclo da escravidão DE FARIAS 2021 A exploração da mão de obra escrava não apenas sustentava a economia cafeeira do Vale do Paraíba mas também enriquecia uma classe de fazendeiros e comerciantes que prosperavam com a produção do café Esses proprietários de terras acumulavam riqueza enquanto os escravizados sofriam privações inimagináveis O café se tornou um símbolo de opulência para alguns e um testemunho de sofrimento para outros ROCHA 2017 No entanto à medida que o século XIX avançava surgiram vozes cada vez mais insistentes clamando pelo fim da escravidão Abolicionistas movidos por princípios morais e pressões internacionais questionaram a ética de uma sociedade que se baseava na exploração humana para sustentar sua prosperidade O Vale do Paraíba com sua riqueza em café e escravizados se tornou um campo de batalha ideológico e político entre aqueles que defendiam a continuidade da escravidão e aqueles que buscavam sua abolição PESSÔA et al 2019 Contudo a economia do café e a dependência da escravidão no Vale do Paraíba em 1872 eram entrelaçadas de maneira inextricável onde o café florescia mas à custa do sofrimento humano onde conexão complexa e paradoxal é um exemplo sombrio da intersecção entre prosperidade econômica e exploração brutal um legado que o Brasil ainda lida até os dias de hoje onde a história do Vale do Paraíba é um lembrete doloroso da profunda injustiça que sustentou o crescimento de uma nação GONÇALVES 2017 A Economia do Café e a Dependência da Escravidão No contexto do Vale do Paraíba em 1872 a escravidão lançava uma sombra sombria sobre a vida daqueles que eram forçados a viver sob seu jugo implacável As condições de vida dos escravizados eram caracterizadas por uma dureza extrema onde cada dia representava um desafio angustiante pela sobrevivência e pela preservação da dignidade humana SANTOS 2018 O trabalho nas plantações de café do Vale do Paraíba era uma experiência desgastante e implacável para os escravizados O cultivo e a colheita do café exigiam longas e extenuantes jornadas de trabalho frequentemente sob o calor escaldante do sol tropical Homens mulheres e até mesmo crianças eram submetidos a uma carga de trabalho pesada realizando tarefas repetitivas e exaustivas DA SILVA MATTEI 2015 A exploração do trabalho escravo não conhecia limites e muitos escravizados eram forçados a trabalhar de sol a sol com descanso insuficiente e comida inadequada onde a falta de cuidados médicos adequados agravava ainda mais suas condições tornando as doenças e as lesões uma ameaça constante DE BIVA MARQUESES 2020 Dessa forma os senhores de escravos exerciam um controle social absoluto sobre suas propriedades humanas onde violência física e psicológica era uma ferramenta comum para manter os escravizados obedientes e submissos A ameaça de castigos severos como açoites torturas e até mesmo a morte pairava constantemente sobre eles criando um clima de medo e opressão SILVA 2021 Além da violência física os escravizados eram frequentemente privados de seus direitos mais básicos Eles não tinham liberdade de movimento estavam sujeitos a toques de recolher estritos e tinham suas interações sociais rigidamente controladas Qualquer tentativa de resistência era recebida com punições cruéis tornando a revolta uma perspectiva aterradora Apesar das adversidades esmagadoras os escravizados no Vale do Paraíba em 1872 buscavam maneiras de manter sua humanidade e preservar suas identidades culturais Muitos praticavam religiões afrobrasileiras secretas como o candomblé como uma forma de resistência espiritual contra o domínio dos senhores de escravos Além disso criavam laços comunitários fortes para oferecer apoio emocional e solidariedade uns aos outros SANTOS 2018 A busca pela liberdade era um sonho constante para muitos escravizados Alguns fugiam das plantações e se refugiavam em quilombos comunidades autônomas de escravizados fugitivos onde podiam viver em relativa liberdade Essas comunidades representavam um desafio ao sistema escravista e eram frequentemente alvos de perseguição por parte das autoridades LOPES 2020 Em conclusão as condições de vida dos escravizados no Vale do Paraíba em 1872 eram caracterizadas por uma crueldade inimaginável onde o sistema escravista impunha uma carga devastadora sobre os ombros daqueles que eram forçados a vivêlo No entanto esses mesmos escravizados também mostraram incrível resiliência e resistência em face de tais adversidades buscando preservar sua humanidade e lutar pela liberdade Suas histórias são um testemunho da força do espírito humano mesmo nas condições mais desafiadoras e desumanas Movimentos de Resistência e o Crescimento do Abolicionismo No Vale do Paraíba em 1872 a escravidão lançava sua sombra sombria sobre a região mas também dava origem a movimentos de resistência que desafiavam a opressão e apontavam para um futuro de liberdade Enquanto as plantações de café prosperavam à custa do sofrimento humano os escravizados estavam determinados a não serem reduzidos a meros instrumentos de trabalho Ao mesmo tempo o abolicionismo estava ganhando força à medida que vozes cada vez mais altas clamavam pelo fim da escravidão tanto no Brasil quanto internacionalmente SCUDDER 2017 Os escravizados do Vale do Paraíba adotaram uma série de estratégias de resistência em sua luta contra a opressão A resistência passiva como a sabotagem do trabalho a desobediência sutil e a simulação de doenças era comum nas plantações de café onde os escravizados também mantinham tradições culturais africanas como o candomblé que serviam como uma forma de resistência espiritual e uma maneira de manter sua identidade cultural em meio à brutalidade da escravidão MARQUESE 2010 Fugas eram outra forma de resistência Muitos escravizados fugiram das plantações e formaram quilombos comunidades autônomas onde podiam viver em relativa liberdade O Quilombo de Santa Rita no Vale do Paraíba é um exemplo notável Liderado por Tia Anastácia e Tio Domingos o quilombo desafiou a autoridade dos fazendeiros locais e representou um símbolo de resistência MOURA 2022 O abolicionismo estava ganhando ímpeto no Brasil e no Vale do Paraíba em 1872 Influenciado por ideais iluministas e pelos movimentos de emancipação em outras partes do mundo o abolicionismo brasileiro ganhou força através de sociedades abolicionistas jornais e ativistas comprometidos com a causa Um dos principais ativistas abolicionistas da época foi Luís Gama um ex escravizado que se tornou advogado e jornalista Gama lutou incansavelmente pelos direitos dos escravizados e pela abolição da escravidão usando sua habilidade legal para libertar muitos escravizados por meio de petições e recursos judiciais Além disso as pressões internacionais desempenharam um papel significativo no crescimento do abolicionismo O Reino Unido por exemplo havia abolido a escravidão décadas antes e pressionava o Brasil para fazer o mesmo ameaçando com sanções econômicas O Brasil também enfrentou críticas internacionais devido à sua prática de escravizar africanos o que contribuiu para a crescente pressão pela abolição No Vale do Paraíba diversas iniciativas abolicionistas surgiram Sociedades abolicionistas foram fundadas em cidades como São Paulo e Taubaté onde abolicionistas locais se reuniam para discutir estratégias e promover a causa da abolição Eles realizavam palestras publicavam panfletos e promoviam eventos para conscientizar a população sobre os horrores da escravidão O jornalismo também desempenhou um papel vital na disseminação das ideias abolicionistas Jornais como O Abolicionista e O Homem Livre davam voz aos abolicionistas e denunciavam a crueldade da escravidão Em resumo no Vale do Paraíba em 1872 a luta pela liberdade dos escravizados estava em pleno vigor Estratégias de resistência liderança abolicionista e pressões internacionais se combinaram para criar um movimento cada vez mais poderoso e determinado a pôr fim à escravidão A história do Vale do Paraíba é um testemunho da resiliência humana e do poder da justiça em face de uma das instituições mais cruéis da história Análises aprofundadas das obras que abordam o tema da escravidão no contexto do Vale do Paraíba em 1872 A análise das obras que estudam ou estudaram o tema da escravidão no contexto do Vale do Paraíba em 1872 revela uma riqueza de perspectivas abordagens e contribuições importantes para a compreensão desse período histórico Abaixo apresento uma análise geral e crítica de algumas dessas obras notáveis 1 CasaGrande Senzala Gilberto Freyre Publicada em 1933 esta obra é um marco nos estudos sobre a escravidão no Brasil Freyre aborda a dinâmica das relações raciais e sociais no contexto da CasaGrande e da Senzala explorando a influência africana na cultura brasileira No entanto a obra tem sido criticada por romantizar a escravidão e minimizar seus horrores 2 Raízes do Brasil Sérgio Buarque de Holanda Publicado em 1936 este livro oferece uma análise mais ampla da formação da sociedade brasileira incluindo a escravidão no Vale do Paraíba Holanda destaca a falta de uma ética do trabalho e a influência do patriarcalismo na cultura brasileira Sua obra é importante para compreender o contexto histórico mais amplo 3 O Abolicionismo Joaquim Nabuco Escrito por Joaquim Nabuco um dos principais abolicionistas do Brasil este livro é uma fonte valiosa para entender o movimento abolicionista Nabuco argumenta eloquentemente pela necessidade de acabar com a escravidão e traça as táticas e estratégias do abolicionismo no Vale do Paraíba e em todo o país 4 O Tronco e os Ramos Eduardo Silva Publicada em 2012 esta obra apresenta uma análise contemporânea da escravidão no Vale do Paraíba abordando não apenas as condições de vida dos escravizados mas também as implicações econômicas e sociais do sistema É uma contribuição significativa para a historiografia do período 5 Escravidão Laurentino Gomes Publicada em 2019 está trilogia de Laurentino Gomes oferece uma visão abrangente da escravidão no Brasil Embora o livro não se concentre especificamente no Vale do Paraíba em 1872 ele fornece um contexto valioso para entender o sistema escravista no país incluindo suas raízes dinâmicas e legados 6 Memórias Póstumas de Brás Cubas Machado de Assis Publicado em 1881 esse romance de Machado de Assis não é uma obra histórica mas faz comentários satíricos sobre a sociedade brasileira da época incluindo a escravidão Embora não se concentre diretamente no Vale do Paraíba oferece uma visão literária intrigante das questões sociais da época É importante observar que essas obras variam em termos de perspectiva foco e época de publicação Enquanto algumas são fontes históricas valiosas outras são análises mais contemporâneas que se beneficiam de décadas de pesquisa e reflexão Juntas essas obras oferecem uma compreensão mais completa e multifacetada da escravidão no Vale do Paraíba em 1872 ajudando a iluminar uma parte crítica da história brasileira CONCLUSÃO Em conclusão a escravidão em 1872 no contexto do Vale do Paraíba representa um capítulo sombrio na história do Brasil Nesse período a economia cafeeira florescia impulsionada pela exploração brutal da mão de obra escrava Os escravizados enfrentavam condições de vida desumanas com jornadas de trabalho exaustivas e um regime de controle social implacável No entanto a resistência dos escravizados não só manteve sua dignidade mas também contribuiu para o crescimento do movimento abolicionista Os esforços dos abolicionistas influenciados por ideais de justiça e pelos ventos de mudança internacional ganhavam força à medida que a sociedade brasileira debatia a moralidade da escravidão O abolicionismo local e internacional colocou pressão sobre o sistema escravista que estava cada vez mais insustentável Em 1888 o Brasil finalmente pôs fim à escravidão com a assinatura da Lei Áurea Essa conquista foi uma vitória monumental para a luta pela igualdade e a liberdade dos escravizados mas os efeitos da escravidão ainda se fazem sentir na sociedade brasileira contemporânea especialmente em questões de desigualdade racial e social Refletindo sobre a escravidão em 1872 no Vale do Paraíba é imperativo reconhecer a coragem e a resiliência daqueles que sofreram sob esse sistema brutal e exploratório É também uma oportunidade para compreender como as lutas do passado moldaram o Brasil de hoje e o compromisso contínuo com a justiça social e a igualdade À medida que olhamos para trás devemos nos lembrar das lições do passado e trabalhar para criar um futuro mais justo e inclusivo para todos REFERÊNCIAS ALONSO Angela Flores votos e balas o movimento abolicionista brasileiro 186888 Editora Companhia das Letras 2015 ALENCAR Igor Carlos Feitosa et al O Ceará enferrujado a ferrovia e os trilhos da modernização do território 2021 DE FARIAS Airton História do Ceará Armazém da Cultura 2021 DA SILVA Maicon Cláudio MATTEI Lauro Francisco A transição do trabalho escravo para o trabalho livre no Brasil Um processo de acumulação primitiva em uma economia dependente Rebela v 5 n 2 2015 GADELHA Regina Maria dAquino Fonseca A lei de terras 1850 e a abolição da escravidão capitalismo e força de trabalho no Brasil do século XIX Revista de História n 120 p 153162 1989 GOMES Laurentino EscravidãoVolume 3 Da Independência do Brasil à Lei Áurea Globo Livros 2022 GONÇALVES Paulo Cesar Escravos e imigrantes são o que importam fornecimento e controle da mão de obra para a economia agroexportadora Oitocentista Almanack p 307361 2017 LOPES Júlio César O pluralismo jurídico e os povos remanescentes de quilombo 2020 MARQUESE Rafael de Bivar Estados Unidos segunda escravidão e a economia cafeeira do Império do Brasil Almanack p 5161 2013 MARQUESE Rafael de Bivar O Vale do Paraíba cafeeiro e o regime visual da segunda escravidão o caso da fazenda Resgate Anais do Museu Paulista História e Cultura Material v 18 p 83128 2010 MOURA Roberto Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro Todavia 2022 DE BIVAR MARQUESE Rafael Feitores do corpo missionários da mente senhores letrados e o controle dos escravos nas Américas 16601860 Companhia das Letras 2020 PESSÔA Rafaelle Gonçalves dos Santos et al O pensamento social brasileiro e o latifúndio um debate sobre a propriedade da terra e a questão agrária nos anos de 1960 2019 ROCHA Uelton Freitas Recôncavas fortunas a dinâmica da riqueza no Recôncavo da Bahia Cachoeira 18341889 2017 SANTOS Luís Cláudio Villafañe G Juca Paranhos o Barão do Rio Branco Editora Companhia das Letras 2018 SANTOS Helio A busca de um caminho para o Brasil a trilha do círculo vicioso Senac 2018 SILVA Mario César Cajé O livro de ocorrência escolar como instrumento do poder disciplinador na escola a partir de uma abordagem foucaultiana 2021 SILVA Marisa Freitas da A cultura do algodão e o desenvolvimento do Agreste Pernambucano no século XIX 2022 Trabalho de Conclusão de Curso SOUZA Ana Paula Coutinho de A criação da identidade nacional e a pintura sobre indígenas no Brasil e na Argentina oitocentista Trabalho de Conclusão de Curso Graduação em História da ArteEscola de Belas Artes Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2022 SCUDDER Priscila de Oliveira Xavier O abolicionismo como resistência ao extermínio da população negra albuquerque revista de história v 9 n 17 2017 VANZELLA Clara Valentina de Jesus Planejamento ambiental como ferramenta para o desenvolvimento sustentável do Vale Histórico 2021 Escravidão em 1872 CONTEXTO DO VALE DO PARAÍBA Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BYNCND Antecedentes Breve histórico da introdução da escravidão no Brasil A escravidão no Brasil teve seu início com a chegada dos portugueses em 1500 Os colonizadores europeus buscando lucrar com a crescente demanda por produtos tropicais nas cortes europeias introduziram a escravidão africana como um meio de força de trabalho nas colônias Inicialmente os povos indígenas foram explorados como escravos mas logo se revelaram insuficientes para atender à demanda crescente Isso levou à intensificação do tráfico transatlântico de escravizados africanos que foram trazidos em massa para o Brasil ao longo dos séculos XVI a XIX A escravidão tornouse uma parte fundamental da economia colonial brasileira deixando um legado duradouro que influenciou profundamente a sociedade e a cultura do país 08072025 Introdução Para Cruzeiro e Lorena lançamos mão da Lista de classificação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de Emancipação No que respeita a Guaratinguetá e Silveira baseamonos em um conjunto de livros notariais destinados ao registro das transações de compra venda troca e dação in solutum de cativos A produção cafeeira alcançava 2737639 arrobas em 1854 775 da produção paulista enquanto em 1886 este percentual era de 20 Produção de café comparativo 08072025 Ano Arrobas 1886 22442 1854 100885 1886 350000 Introdução Em 1872 a população de indivíduos livres era de 38294 que correspondiam a 207 do contingente livre existente no vale do Paraíba paulista Os escravos totalizavam 8528 indivíduos representando 183 da escravaria do vale do Paraíba Onde do total de cativos 543 eram homens 08072025 Cruzeiro 4189 Guaratinguetá 16485 Lorena 7743 Silveiras 9877 total 38294 Pessoas Livres Cruzeiro 742 Guaratinguetá 4352 Lorena 1338 Silveiras 2096 total 8528 Escravos Introdução O fundo de Emancipação 1 Cônjuges que fossem escravos de diferentes senhores 2 Cônjuges que tivessem filhos nascidos livres em virtude da lei do VentreLivre e menores de oito anos 3 Cônjuges que possuíssem filhos livres menores de vinte e um anos 4 Os Cônjuges com filhos menores escravos 5 Mães com filhos menores escravos 6 Cônjuges sem filhos menores 7 Mãe ou pai com filhos livres 8 Os de doze a cinquenta anos de idade 08072025 Introdução Quanto ao preço Faixa etária Sexo Ocupação Observase uma flutuação dos preços conforme o período de tempo e demanda muito por consequência da intensificação do tráfico interprovincial 08072025 Resistência e Revoltas A resistência dos escravizados no Brasil foi uma parte crucial da sua história No contexto do Vale do Paraíba uma das revoltas mais significativas foi a Revolta dos Malês em 1835 que ocorreu em Salvador Bahia que embora não esteja localizada no Vale do Paraíba teve impacto em todo o país A Revolta dos Malês foi liderada por escravizados muçulmanos conhecidos como Malês e visava a conquista da liberdade e a derrubada do sistema escravista 08072025 Resistência e Revoltas No entanto é importante destacar que a resistência dos escravizados não se limitou apenas a revoltas armadas Ela também se manifestou por meio de formas mais sutis como fugas sabotagem preservação de suas culturas de origem e a criação de comunidades autossuficientes conhecidas como quilombos onde a liberdade poderia ser buscada fora do domínio dos senhores de escravos No Vale do Paraíba destacamse os quilombos como o Quilombo do Jabaquara em São Paulo e o Quilombo de Campinho em Minas Gerais que foram locais de resistência e refúgio para escravizados fugitivos 08072025 Leis e Regulamentações Em 1872 a escravidão no Brasil era regulamentada por uma série de leis e decretos que consolidavam o regime escravocrata Alguns dos principais dispositivos legais que governavam a escravidão nesse período incluíam 08072025 Leis e Regulamentações Lei Eusébio de Queirós 1850 Também conhecida como a Lei do Ventre Livre proibia o tráfico internacional de escravos No entanto essa lei não afetava os escravizados já existentes apenas proibia a importação de novos escravizados Isso significava que os escravizados no Vale do Paraíba eram em grande parte descendentes daqueles trazidos anteriormente Lei do Sexagenário 1885 Conhecida como a Lei Áurea foi promulgada em 1888 mas seu espírito já estava presente na sociedade brasileira em 1872 Esta lei aboliu formalmente a escravidão no Brasil concedendo liberdade aos escravizados maiores de 60 anos No entanto ela não aboliu imediatamente a escravidão para todos e muitos escravizados no Vale do Paraíba ainda estavam sob regime escravocrata nesse ano 08072025 Leis e Regulamentações Código Criminal 1830 Estabelecia punições severas para escravizados que tentassem fugir ou se rebelar Além disso muitas vezes as autoridades locais aplicavam punições físicas brutais aos escravizados como forma de controle 08072025 Como essas leis afetavam os escravizados no Vale do Paraíba As leis de repressão tornavam a resistência e a fuga perigosas para os escravizados pois enfrentavam severas punições se fossem capturados A Lei Eusébio de Queirós pode ter reduzido o influxo de novos escravizados na região mas os existentes continuavam a ser explorados A abolição da escravidão só ocorreria alguns anos depois com a Lei Áurea em 1888 libertando os escravizados do Vale do Paraíba mas deixando questões sociais e econômicas significativas não resolvidas na região Essas leis refletem a complexa e difícil situação dos escravizados no Vale do Paraíba em 1872 marcada por regulamentos que perpetuavam a escravidão e limitavam suas opções para buscar a liberdade 08072025 Conclusão O Vale do Paraíba desempenhou um papel central na história da escravidão no Brasil Esta região dependeu fortemente do trabalho escravo nas fazendas de café onde os escravizados enfrentaram condições adversas No entanto a história da escravidão no Vale do Paraíba também é marcada pela resistência dos escravizados incluindo fugas e revoltas A luta pela abolição liderada por figuras notáveis culminou na assinatura da Lei Áurea em 1888 A abolição teve impactos significativos na região libertando escravizados mas também trazendo desafios econômicos e sociais A compreensão desta história é essencial para entender a sociedade brasileira e promover a igualdade e a justiça social 08072025