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Botânica

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CAPÍTULO 4 capítulo 4 Nomenclatura Botânica Neste Capítulo você irá conhecer as principais disposições do Código Internacional de Nomenclatura Botânica apren dendo a utilizálas corretamente na denominação dos dife rentes táxons No text to extract in this image 63 Nomenclatura Botânica 41 Introdução Como você já sabe a prática de se utilizar nomes latinos teve início em épocas medie vais quando o latim era a língua dos eruditos À medida que o sistema se desenvolveu os organismos foram primeiramente agrupados em gêneros e depois identificados por curtas frases descritivas em latim conhecidas como polinômios Por volta do fim do século XVII a primeira palavra do polinômio designava o gê nero ou grupo ao qual a planta pertencia As sim todas as rosas eram identificadas por po linômios que começavam com a palavra Rosa Rosa sylvestris alba cum rubore folio glabro era o nome da rosa silvestre todas as frases que descreviam os salgueiros começavam com a palavra Salix e aquelas que se referiam aos carvalhos iniciavam com Quercus sendo to dos esses nomes gêneros Uma simplificação nesse sistema de denomi nação dos seres vivos foi feita pelo professor médico e naturalista sueco do século XVIII Carolus Linnaeus cuja ambição era classifi car de acordo com seus gêneros todos os tipos de plantas e animais conhecidos Em sua obra Species plantarum anteriormente já re ferida Lineu utilizou as descrições polinomiais das espécies mas Veja nos exemplos a seguir a interpretação equi vocada que pode nos trazer o uso de nomes po pulares na medicina caseira Por se tratarem de plantas largamente utilizadas pela população muitas destas recebem denominações regionais as mais diversas podendo acarretar erros de in terpretação As confusões se devem principal mente ao fato de plantas diferentes apresenta rem o mesmo nome popular Exemplos Cymbopogon citratus conhecida como ervacidreira Melissa officinalis conhecida como ervacidreira Aloysia triphylla conhecida como ervacidreira Ou então uma mesma planta pode apresentar nomes populares distintos Exemplo Cymbopogon citratus também conhe cida como ervacidreira capimlimão capimci dró cidreira e cidró 64 Sistemática Vegetal II introduziu uma única palavra a qual ao lado do nome genérico constituía para as espécies uma conveniente designação abre viada A conveniência desse sistema era óbvia de modo que os nomes próprios das plantas logo foram substituídos por nomes abreviados Estava criado assim o Sistema binário ou Sistema binomial de nomenclatura botânica Veja o nome de uma planta conhecida como nepeta na época de Lineu Nepeta floribus interrupte spicatis pedunculatis Tratase de um polinô mio que significa Nepeta com flores dispostas em espigas verticiladas e pedunculadas Lineu manteve a descrição mas colocou o nome cataria ao lado O nome atual dessa planta é Nepeta cataria As regras de nomenclatura tais como hoje as conhecemos fo ram sendo estabelecidas a partir desse início e ampliadas e aper feiçoadas à medida que se ampliava o número de organismos conhecidos bem como as áreas de estudo e exploração desses or ganismos constando hoje do Código Internacional de Nomen clatura Botânica que estabelece os princípios regras e recomen dações sobre a nomenclatura botânica O estudo da legislação nomenclatural e as propostas de modificações no Código Internacional de Nomenclatura Botânica são discutidos e aprova dos em congressos internacionais de Botânica O primeiro foi realizado em Paris em 1867 em que se aprovou uma série de recomendações que fica ram conhecidas como o Código de Paris A partir daí congressos interna cionais vêm se realizando em intervalos mais ou menos regulares desde 1905 todos contribuindo para aperfeiçoamentos do código e seus neces sários ajustes ao dinamismo da Ciência 42 Principais Regras do Código de Nomenclatura a A nomenclatura botânica é independente da zoológica b Nomes científicos são latinos ou latinizados Figura 41 Sida rhombifolia Figura 42 Sida spinosa Duas espécies diferentes de plantas da família Malvaceae gênero Sida ambas conhecidas popularmente como guanxuma ou vassourinharelógio 65 Nomenclatura Botânica c O nome científico de uma espécie é sempre um binômio Ex Pimpinella anisum L ervadoce nome genérico epíteto específico nome científico Observações 1 Fazse distinção entre um nome e um epíteto nome é a designação científica aplicada a um membro de qualquer táxon como Pinus é o nome científico de um gênero particular Pinus nigra é o nome de uma espécie do gênero e P nigra var ca ramanica é o nome de uma variedade desta espécie Um epíteto é a designação final de um membro de um grupo nigra é o epíteto específico e caramanica é o epíteto varietal 2 O termo táxon é usado de forma generalizada para designar qualquer entidade ou grupo taxonômico d Os nomes do gênero e da espécie devem ser sempre destaca dos em negrito itálico ou sublinhado e O nome genérico é sempre escrito com inicial maiúscula e o epíteto específico com inicial minúscula f O nome do autor logo após o nome da espécie não deve ser separado por nenhum tipo de pontuação gráfica e pode ser abreviado ou escrito por extenso Ex Malva parviflora L ou Malva parviflora Linnaeus g Princípio da Prioridade uma espécie não pode ter mais que um nome científico Quando ocorre a atribuição de dois ou mais nomes para uma mesma espécie vale apenas o mais anti go desde que este esteja de acordo com as regras internacionais de nomenclatura botânica Os demais nomes são considerados sinônimos ou sinonímia h Nomina conservanda certos nomes mesmo não atendendo às re gras nomenclaturais são conservados em virtude de terem sido usados por muito tempo tornandose usuais Exemplo a família Gramineae não termina em aceae terminação que identifica o nome das famílias quando o correto seria Poacae originário do gênero Poa 66 Sistemática Vegetal II i A publicação de um nome só é válida se foi efetivamente pu blicada e distribuída à comunidade científica constando no artigo uma descrição do táxon acompanhada de uma breve diagnose latina j Tipificação é denominado tipo nomenclatural ou typus plu ral typi o exemplar que foi utilizado pelo pesquisador para descrever e denominar a espécie Tratase em geral de um ma terial depositado em um herbário oficial sendo também deno minado de holótipo ou holotypus e deve ser citado no traba lho científico em que o autor publica sua diagnose k O nome do autor não faz parte do nome científico da planta sendo citado para fim de maior precisão Essa citação não é feita em itálico ou negrito e podemos encontrar casos como os seguintes exemplos Lilium superbum Linnaeus ou Lilium superbum L significa que Lineu denominou assim e esse nome permanece até hoje Capparis lasiantha R Br ex DC Robert Brown denominou a espécie escrevendo o nome na folha de herbário mas não publicou qualquer descrição da mesma DC De Candolle posteriormente concordou com Brown descrevendo e publi cando a nova espécie e mantendo o nome dado por Brown Tsuga canadensis L Carrière Lineu descreveu sob a deno minação de Pinus canadensis aquilo que hoje sabemos tratar se de uma espécie do gênero Tsuga Ao perceber o equívoco Carrière fez a alteração necessária Quando estudos posteriores sugerem uma modificação no táxon ao qual pertence a planta estudada o nome do autor original deve ser mantido entre pa rênteses seguido do nome do autor que efetuou a mudança l Na escrita do nome de uma planta híbrida o sinal X precede o epíteto específico Exemplo Mentha X piperita hortelã Se o híbrido for experimental e os pais conhecidos colocase o nome da mãe X o nome do pai Exemplo Axonopus compressus X Axonopus affinis O Código Internacional de Nomenclatura das Plantas Cultivadas mais conhecido por ICNP In ternational Code of No menclature for Culti vated Plants é com plemento do Código Internacional de Nomen clatura Botânica Além do holotypus ho lotipo existem outras categorias de tipos como o isotypus duplicata do holótipo em geral de positada em outra insti tuição como garantia para os casos de perda ou extravio do holotipo iso igual e o paratypus amostras de outras co letas também utilizadas pelo pesquisador duran te seu estudo e citadas na publicação para ao lado de A citação do material examinado pelo autor deve conter informa ções sobre local e data da coleta nome do co letor e nº de coleta e entre parênteses a si gla do herbário onde o mesmo encontrase depositado 67 Nomenclatura Botânica m O nome científico que não for escrito de acordo com as nor mas é considerado ilegítimo e deve ser rejeitado nomina re jiciendum Incluemse aqui os tautônimos casos em que o epíteto específico repete o nome genérico Exemplo Strobus strobus L Small Em Botânica são ilegítimos e portanto de vem ser rejeitados Entretanto essa repetição de epítetos ocorre em casos de varie dades ou subespécies como neste exemplo Cypripedium calceolus é uma orquídea européia conhecida popularmente como sapati nhodevênus Mais tarde uma orquídea americana foi considera da como uma variedade dessa mesma espécie sendo denominada Cypripedium calceolus var pubescens Nesse caso a anterior em ní vel de variedade fica sendo denominada C calceolus var calceolus O pessegueiro é classificado como Prunus persica var persica enquanto P persica var nectarina é um outro variante Observe que as variedades são também escritas em itálico e a primeira considerandose cronologicamente é a repetição do nome da espécie 43 Unidades de Classificação Cada indivíduo pertence a uma espécie e é enquadrado em di versas categorias taxonômicas As principais categorias são espé cie gênero família ordem classe e divisão Ex Divisão Magnoliophyta Angiospermae Classe Magnoliopsida Dicotyledoneae Subclasse Rosidae Ordem Rosales Família Rosaceae Subfamília Rosoideae Gênero Rosa Espécie Rosa gallica 68 Sistemática Vegetal II A grafia dos nomes de algumas categorias taxonômicas obedece a terminações obrigatórias A abreviatura é também utilizada para algumas categorias ver Quadro 41 categoria abreviatura terminação Reino vegetal Regnum vegetabile Divisão Phyllum divisio Phyta Subdivisão Phytina Classe Classis Opsida Subclasse Idae Ordem Ordo Ales Subordem Ineae Família Familia Aceae Tribo Tribus Eae Subtribo Ineae Gênero Genus gen Subgênero Sgen Secção Sectio sect Subsecção Ssect Série Series ser Subsérie sser Espécie Species sp Subespécie ssp Variedade Varietas var Subvariedade svar Forma f Subforma sf Híbridos X Quadro 41 Terminações O nome da família derivase do nome do gênero típico Typus dessa família seguido da terminação aceae O gênero típico é o nome dado ao primeiro gênero descrito para determinada família Nesse caso há exceções de alguns nomes que embora não sejam 69 Nomenclatura Botânica derivados do respectivo gênero típico já foram consagrados pelo uso como você pode ver no quadro 42 Nome conservado Nome alternativo Cactaceae Opuntiaceae Compositae Asteraceae Cruciferae Brassicaceae Gramineae Poaceae Gutiferae Clusiaceae Labiatae Lamiaceae Leguminosae Fabaceae Palmae Arecaceae Umbelliferae Apiaceae Quadro 42 Famílias É importante registrar que nos trabalhos mais recentes de Filo genia as regras de nomenclatura no que diz respeito à hierarquia dos grupos taxonômicos nem sempre têm sido seguidas Acima de gênero apenas ordem e família são usadas enquanto que as cate gorias mais amplas do sistema Lineano vão perdendo a importân cia Isso porque para seguir essa hierarquia a espécie precisa ser enquadrada em todo um sistema que tem pouco sentido evolutivo Segundo Souza e Lorenzi 2005 nesta fase de explosão de novos conhecimentos na área taxonômica as regras nomenclaturais de vem ser urgentemente revistas e embora reconhecendo que não devam ser totalmente ignoradas reconhecem que não há hoje uma aplicação universal e adequada que possa ser seguida 70 Sistemática Vegetal II 44 Resumo Os Biólogos desenvolveram métodos para designar e classificar os seres vivos que lhes possibilitam designar com bastante precisão os organismos com os quais estão trabalhando o que constitui um fator essencial na comunicação científica As plantas são identifi cadas cientificamente por dois nomes isto é um binômio em que a primeira palavra é o gênero e a segunda denomina a espécie O binômio completo é o nome da espécie que por vezes subdivide se em variedades Os gêneros se agrupam em famílias as famílias em ordens as ordens em classes e as classes em divisões às vezes denominadas filos As divisões agrupamse em reinos os quais constituem a maior unidade usada na classificação do mundo vivo Modernos sistemas de classificação muitas vezes não utilizam essas categorias superiores por entender que as mesmas não evidenciam as verdadeiras afinidades evolutivas dos grupos As normas e reco mendações sobre a denominação correta das plantas encontramse no Código Internacional de Nomenclatura Botânica 45 Bibliografia Comentada International Code of Botanical Nomenclature Disponível em wwwbgbmfuberlinde Esse site disponibiliza a versão completa e comentada do Có digo Internacional de Nomenclatura Botânica Site em alemão e inglês International Code of Botanical Nomenclature Electronic Version Disponí vel em wwwbgbmfuberlinde Acesso em 18 set 2009 71 Nomenclatura Botânica 46 Referências BEZERRA P FERNANDES A Fundamentos de taxonomia ve getal Fortaleza Universidade Federal do Ceará Brasília PRO ED 1984 LAWRENCE E G H M Taxonomia das plantas vasculares Lis boa Fundação Calouste Gulbenkian 1973 v1 RAVEN P H EVERT R F CURTIS H Biologia Vegetal Rio de Janeiro Guanabara Dois 1978 SOUZA V C LORENZI H Botânica Sistemática Guia Ilus trado para identificação das famílias de Fanerógamas nativas e exóticas no Brasil baseado em APG II 2ª ed Nova Odessa SP Instituto Plantarum 2008 CAPÍTULO 5 capítulo 5 Taxonomia das Angiospermas Neste Capítulo você irá conhecer os sistemas de classifica ção mais comumente utilizados para as Angiospermas bem como reconhecer algumas características e exemplos de famí lias mais representativas alocandoas dentro desses sistemas CAPÍTULO 6 75 Taxonomia das Angiospermas 51 Introdução A elaboração de Sistemas de Classificação que levem em conta as afinidades genéticas e evolutivas entre as plantas não é recente As denominações MonocotiledôneaDicotiledônea que todos nós utilizamos de maneira tão generalizada são provenientes das pri meiras tentativas de agrupamento das Angiospermas de acordo com o grau de evolução e parentesco destas Entretanto a expres são Sistema de Classificação Filogenético ganhou nova dimen são na segunda metade do século XX com a utilização de recursos tecnológicos e estatísticos criandose sistemas cada vez mais ade quados para a classificação dos vegetais 52 Classificação das Angiospermas 521 Os sistemas filogenéticos de Engler e Cronquist De acordo com o Sistema Filogenético de Engler de 1936 as Angiospermas são divididas em duas classes Divisão Angiospermae Classe 1 Dicotyledoneae Subclasse Archiclamydeae Nessa subclasse há 37 ordens com suas respectivas famílias Subclasse Metachlamydeae ou Sympetalae Nessa subclasse há 11 ordens com suas respectivas famílias A descrição morfológi ca das plantas envolve muitos termos técnicos de origem latina ou gre ga A maioria dos termos aqui utilizados quando não explicados no pró prio texto constam do apêndice Archi antigo Veja assim a clara preocupação em se organizar as Angiospermas de acordo com seu grau de evolução 76 Sistemática Vegetal II Classe 2 Monocotyledoneae Essa classe não é dividida em subclasses tratase de 14 ordens com suas respectivas famílias Cronquist 1981 propõe um sistema de classificação também baseado em afinidades filogenéticas mas utilizando recursos mais modernos para agrupar eou separar as famílias Utiliza também a nomenclatura prescrita pelo Código Internacional de Nomencla tura veja as terminações propostas para os diferentes táxons no Capítulo 4 sobre Nomenclatura Botânica Divisão Magnoliophyta angiosperma Classe 1 Magnoliopsida Dicotiledônea Subclasse 1 Magnoliidae com 8 ordens Subclasse 2 Hammamelidae com 11 ordens Subclasse 3 Caryophyllidae com 3 ordens Subclasse 4 Dillenidae com 13 ordens Subclasse 5 Rosidae com 18 ordens Subclasse 6 Asteridae com 11 ordens Classe 2 Liliopsida Monocotiledônea Subclasse 1 Alismatidae com 4 ordens Subclasse 2 Arecidae com 4 ordens Subclasse 3 Commelinidae com 7 ordens Subclasse 4 Zingiberidae com 2 ordens Subclasse 5 Liliidae com 2 ordens Essas duas classes das Angiospermas Dicotyledoneae Mag noliopsida e Monocotyledoneae Liliopsida apresentam em ní vel morfológico diferenças significativas como você pode ver no quadro 51 e ilustrações a seguir 77 Taxonomia das Angiospermas classe Dicotiledônea Monocotiledônea Caule Haste ou tronco Estipe colmo rizoma bulbo Flor Heteroclamídea tetrâmera ou pentâmera Homoclamídea trímera Folha Comprimento longitudinal proporcional ao transversal Comprimento longitudinal maior que o transversal Hábito Cerca da metade é lenhosa em geral ramificadas Em sua maioria são herbáceas em geral não ramificadas Nervuras Peninérveas reticuladas Paralelinérveas Raiz Axial Fasciculada Sementes Com 2 cotilédones Com 1 cotilédone Magnoliopsida 5 Rosidae 6 Asteridae 4 Dilieniidae 3 Caryophyllidae 1 Magnoliidae 2 Hamamelidae 4 Zingiberidae 3 Commelinidae 2 Arecidae 1 Alismatidae 5 Liliidae Liliopsida Figura 51 Arranjo evolutivo das Angiospermas segundo Cronquist 1981 78 Sistemática Vegetal II Quadro 51 Divisão Angiospermae Em feixe fascicula da Pivotante ou axial Normalmente sem crescimento em es pessura herbáceos colmos bulbos e ri zomas Normalmente com crescimento em es pessura São comuns caules lenhosos Feixes vasculares dis postos irregularmen te Feixes Vasculares dis postos em círculo Bainha geralmente desenvolvida Nervu ras paralelas Bainha quase sempre reduzida Nervuras reticuladas Sépalas e pétalas em geral organizadas em base 3 trímeras Sépalas e pétalas ge ralmente organizadas em base 5 pentâme ras Mais raramente 2 ou 4 Um cotilédone reduzi do sem reserva Dois cotilédones com ou sem reserva Raiz Caule Folha Flor Semente Monocotiledôneas e Dicotiledôneas Diferenças entre Mono e Dicotiledôneas quanto à morfologia externa Órgão Monocotiledôneas Dicotiledôneas Cotilédones Feijão 5 sépalas 5 pétalas Rizoma Colmo Tronco Bainha Nervuras paralelas Bainha 3 sépalas 3 pétalas Cotilédone Milho 79 Taxonomia das Angiospermas Figura 52 Diferenças entre Monocotiledôneas e Dicotiledôneas Diagrama de Nicotiana tabacum L fumo Flor heteroclamídea pentâmera gamopétala Dicotyledoneae Fórmula K5 C5 A5 G2 Figura 55 Diagrama floral de uma flor pentâmera de Dicotiledônea Diagrama Floral e corte transversal de uma flor trímera de monocotiledônea Fórmula K3 C3 A6 G3 Figura 56 Diagrama floral e corte transversal do ovário de uma flor trímera de Monocotiledônea 522 As inovações trazidas por APG II As pesquisas em nível molecular desenvolvidas nos últimos 20 anos através da metodologia denominada cladística descrita no Capítulo 2 demonstram que as monocotiledôneas são de fato um grupo monofilético As dicotiledôneas entretanto seriam na verdade um grupo bas tante heterogêneo englobando distintas linhas evolutivas Portan Figura 53 Dicotiledônea Hibiscus sp Figura 54 Monocotiledônea Lilium sp monofilético Grupo homogêneo originário de uma única linha evolutiva 80 Sistemática Vegetal II to o grupo conhecido como Dicotiledôneas não poderia constituir um único táxon e assim foi dividido em subgrupos Angiospermas basais ou Páleoervas Eudicotiledôneas e Eudicotiledôneas core Cladística e Nomenclatura Observe o Cladograma apresentado por APG II fig 57 a árvore evolutiva é totalmente assimétrica pois segundo esses estudos foi assim que ocor reu a evolução dos grupos Assim as categorias taxonômicas atualmente previstas no Código de Nomenclatura seriam insuficientes para enquadrar todos esses ramos Utilizase aqui portanto entre as categorias superiores apenas Ordem e Família Veja comentário no Capítulo anterior 53 Caracterização de algumas famílias de Angiospermas Seguindo essa tendência mais atual apresentaremos as famí lias divididas em três grupos no primeiro famílias consideradas Angiospermas basais incluindo as Magnoliídeas no segundo fa mílias de Monocotiledôneas e no terceiro as Eudicotiledôneas A organização das famílias segue a sequência evolutiva das mesmas conforme proposto por APG II tendo sido selecionadas algumas de reconhecida importância na flora brasileira 531 Angiospermas Basais Magnoliídeas Família Lauraceae As Lauráceas são muito bem representadas na flora brasilei ra especialmente na Mata Atlântica e em florestas da Região Sul ocorrendo também na região Amazônica São árvores e arbustos de folhas inteiras e alternas coriáceas Na folhas e na casca ge ralmente há um óleo volátil que confere às espécies odores ca racterísticos Flores trímeras diclamídeas homoclamídeas 1 a 3 verticilos de três estames com anteras caracteristicamente valva res Família com muitas espécies fornecedoras de madeira de lei como a imbuia Ocotea porosa o sassafrás Ocotea odorifera as canelas nome popular atribuído a várias espécies de Nectandra homoclamídea pétalas e sépalas de aspecto semelhante Não confundir Cinnamomum com a planta conhecida popularmente como Cinamomo muito cultivada pela sombra e flores e que pertence à família Meliaceae a mesma do cedro e do mogno 81 Taxonomia das Angiospermas Angiospermas Monocotiledôneas Eudicotiledôneas Eudicotiledôneas core Rosídeas Asterídeas Cornales Ericales Garryales Gentianales Lamiales Solanales Aquifoliales Apiales Asterales Dipsacales Crossosomatales Geraniales Myrtales Celastrales Malpighiales Oxalidales Fabales Rosales Cucurbitales Fagales Brassicales Malvales Sapindales Gunnerales Aextoxicaceae Berberidopsidaceae Dilleniaceae Caryophyllales Santalales Saxifragales Ranunculales Sabiaceae Proteales Buxaceae Trochodendraceae Ceratophyllales Acorales Alismatales Aspargales Dioscoreales Liliales Pandanales Dasypogonaceae Arecales Poales Commelinales Zingiberales Amborellaceae Nymphaeaceae Austrobaileyales Chloranthaceae Canellales Piperales Laurales Magnoliales Magnoliídeas Commelinóides Eurosídeas I Eurosídeas II Euasterídeas I Euasterídeas II Figura 57 Cladograma de APG II 82 Sistemática Vegetal II Ocotea Cinnamomum e outros gêneros A canela utilizada como condimento é obtida da casca e dos ramos de Cinnamomum zeyla nicuym referida também como C verum o abacateiro é Persea americana e o louro é Laurus nobilis A holoparasita conhecida como cipóchumbo que se destaca sobre as árvores hospedeiras pelos ramos afilos e amarelados é Cassytha filiformis A B Figura 59 a Ocotea porosa Imbuia aspecto geral da planta b Detalhe de ramo florido Figura 510 Cassyta filiformis Família Magnoliaceae Árvores ou arbustos de folhas alternas simples com estípulas terminais Flores grandes e vistosas com perigônio de disposição espiralada sendo os mais externos sepaloides e os mais internos petaloides Gineceu dialicarpelar No Brasil ocorrem quatro espé cies de Magnolia M ovata a mais comum conhecida como ba guaçu ou pinhadobrejo a magnólia cultivada como ornamental M grandiflora M liliflora magnóliaroxa e M champaca mag nóliaamarela além da tulipeira Liriodendron tulipifera Esse louro é um arbusto de origem mediterrânea usado nos tempos remotos para coroas de glória Não deve ser confundido com o nosso lourosilvestre fornecedor de madeira e que pertence à família Boraginaceae a mesma família do confrei e do miosótis Valva Figura 58 Antera valvar perigônio nome utilizado para denominar sépalas e pétalas quando estas não são perfeitamente distinguíveis entre si sepaloide semelhante a sépalas petaloide semelhante a pétalas 83 Taxonomia das Angiospermas A família Magnoliaceae é considerada no sistema de Classificação de Cronquist como sendo a família nãofóssil que reuniria as características mais semelhantes às das primeiras Angiospermas 532 Monocotiledôneas Família Araceae Plantas terrestres ou epífitas de folhas bem desenvolvidas que quando novas são enroladas e protegidas por uma estípula bem desenvolvida Flores reunidas em espigas características denomi nadas espádices protegidas por uma bráctea branca ou colorida a espata São muito utilizadas como plantas ornamentais destacan dose o copodeleite Zantedeschia aethiopi ca o líriodapaz Spathiphyllum spp os an túrios Anthurium spp o tinhorão Caladium bicolor e outras espécies Além desses há o comigoninguémpode Dieffenbachia sp que embora ornamental é planta altamente tóxica devido à presença de oxalato de cálcio nas fo lhas Pertencem ainda à família Araceae as ji bóias Scindapsus aureus a bananaimbé os filodendros ornamentais Philodendron spp a costeladeadão Monstera sp A taioba Xan thosoma sagittifolium e o inhame Colocasia esculenta possuem rizomas ricos em amido sendo por isso utilizadas na alimentação En tre as plantas aquáticas encontramos a Pistia strtatiotes conhecida como repolhodágua Os gêneros Wolffia e Lemna que tradicionalmente eram considerados como uma família à parte Lemnaceae também são aquáticos sendo que a lentilhadágua Lemna é considerada a me nor planta entre as Angiospermas Figura 511 Magnolia sp A B C Figura 512 A Caladium sp B Monstera deliciosa C Philodendron sp 84 Sistemática Vegetal II Família Orchidaceae Considerada a maior família das Angiospermas em número de espécies Alguns autores citam até 40 mil sem incluir híbridos e variedades produzidos por orquidófilos ocorrendo no Brasil cerca de 200 gêneros e 2500 espécies Plantas sempre herbáceas terres tres ou epífitas algumas vezes trepadeiras As formas aéreas pos suem raízes adaptadas na captação da água da chuva ou mesmo da umidade do ambiente através de um tecido denominado velame As folhas são mais ou menos suculentas e as flores são fortemente zigomorfas ver Apêndice com as três peças mais externas iguais e das três internas duas são iguais entre si e a terceira é totalmente diferente denominase labelo protege as estruturas reprodutivas e assume os mais variados aspectos nas diferentes espécies adap tandoas aos mais variados agentes de polinização O androceu é bastante modificado com os grãos de pólen reu nidos em estruturas denominadas políneas A utilidade industrial das orquídeas é relativamente pequena apenas o gênero Vanilla fornece a baunilha comercial hoje já produzida artificialmente mas pela beleza de suas flores alcançam alto valor como orna mentais Destas os gêneros mais conhecidos são Laelia Cattleya Dendrobium e Oncidium Pétalas Pétalas Sépalas Sépalas Labelo Labelo Antera Antera Estigma Estigma Óvulo Ovário Ovario Estilete e Filetes unidos Figura 514 Comparação entre uma flor de orquídea à esquerda com uma flor de simetria radial à direita O labelo é uma pétala modificada que protege as estruturas reprodutivas e serve de pouso para insetos Figura 513 Orquídea do gênero Cattleya Muitas espécies de or quídeas de característi cas bastante diferentes quando postas em con tato podem produzir hí bridos férteis Estes tam bém podem ser cruza dos com outras espécies produzindo novas ge rações de híbridos Este fato se constitui por um lado em um desafio para os estudiosos no que diz respeito ao conceito de espécie e por outro em um triunfo para os orqui dicultores que podem misturar suas espécies e obter infinitas combina ções de cores e formas 85 Taxonomia das Angiospermas Família Arecaceae Palmae Nesta família encontramos representantes arbustivos e arbóre os na sua quase totalidade As palmeiras possuem caule típico do tipo estipe que não tem ramificações e cujas folhas se inserem nas porções terminais As folhas adultas são compostas palmadas ou pinadas às vezes flabeliformes em forma de leque Flores reu nidas em enormes panículas protegidas por uma grande bráctea muitas vezes lenhosa e em forma de canoa Frequentes entre nós e de grande importância econômica temos o babaçu Orbignya martiana o dendê Elaeis guineensis o cocodabaía Cocos nu cifera a carnaubeira Copernicia cerifera os palmiteiros Euterpe edulis no sul e E oleraceae na Amazônia onde também é chama do de açaí os buritis Mauritia spp Entre as palmeiras ornamen tais destacase a palmeiraimperial ou palmeirareal Oreodoxa oleracea a palmeiradeleque Washingtonia sp a arecabambu Chrysalidocarpus sp e as tamareiras Phoenix spp Epicarpo Mesocarpo Endocarpo Endosperma celular sólido Endosperma celular líquido Embrião Figura 515 Cocodabaía Cocus nucifera Detalhes do fruto Família Bromeliaceae Plantas em geral acaules com folhas rígidas de margens geral mente espinhosas densamente imbricadas na base dando origem a uma roseta em que se acumula água das chuvas e assim forman do pequenos reservatórios nos quais podem ser encontradas algas pequenos animais e uma grande quantidade de larvas de mosqui tos entre as quais de alguns anofelinos transmissores da malária 86 Sistemática Vegetal II motivo que levou em épocas passadas a uma grande depreda ção das bromélias Há numerosas espécies terrestres mas também muitas epífitas que ocorrem especialmente em árvores do interior das florestas As flores trímeras como em todas as monocotile dôneas formam inflorescências em espigas ou panículas muitas vezes coloridas e vistosas o que atribui bastante valor ornamental a essas plantas especialmente dos gêneros Bromelia Vriesia e Ae chmea A barbadevelho Tillandsia usneoides comum em ecos sistemas florestais e mesmo em árvores e até postes de zonas urba nizadas com seus ramos acinzentados e pendentes difere bastante do aspecto típico das demais bromeliáceas O abacaxi e o ananás são variedades da Ananas comosus cujo fruto é na verdade uma infrutescência pois resulta do concrescimento das várias flores dispostas na inflorescência de uma maneira muito densa e cujos ovários se fundem após a fecundação O gênero Neoglaziovia o caroá do nordeste brasileiro fornece fibra usada para fabricação de cordas sacos etc Algumas Bromeliáceas são também conheci das como gravatás ou caraguatás B A Figura 516 A Nidularium procerum B Bromelia antiacantha Família Poaceae Gramineae Uma das maiores famílias de Angiospermas e provavelmente a de maior importância econômica para o homem São na maioria ervas de pequeno porte com caule denominado colmo formado por nós e entrenós mais ou menos equidistantes e bem demarca dos e que podem ser eretos rasteiros ou subterrâneos As folhas têm disposição alterna possuindo além da lâmina foliar uma bainha que se localiza na base envolvendo parcialmente o caule Entre a bainha e a lâmina há um pequeno apêndice denominado 87 Taxonomia das Angiospermas lígula que pode ser membranáceo ou piloso As flores apresen tam uma organização estrutural bastante típica possuindo uma terminologia diferenciada o cálice e a corola são reduzidos a dois pequenos apêndices denominados lodículas o androceu é for mado por três estames podendo à vezes ser formado por apenas 1 2 ou até 6 o gineceu uniovulado possui um estilete bifurcado e dois estigmas plumosos Cada conjunto desses é protegido por duas brácteas o lema e a pálea e todo esse conjunto também denominado antécio é a flor das gramíneas Lema e pálea são es truturas muitas vezes bastante semelhantes sendo reconhecidas principalmente em função de sua posição o lema é mais externo e a pálea mais interna Um ou mais antécios envolvidos por mais duas brácteas estéreis denominadas glumas formam uma espi gueta ou espiguilha que é a inflorescência básica das gramíneas As espiguetas podem se reunir em grupos formando espigas ou panículas Os frutos muitas vezes tratados como sementes são se cos e unisseminados do tipo cariopse A essa família pertencem os cereais o arroz Oryza sativa o trigo Triticum aestivum o milho Zea mays a cevada Hordeum vulgare o centeio Secale cereale e a aveia Avena sativa Grande número de representantes da família Poaceae é uti lizado como forragem para animais destacandose os gêneros Brachiaria Pennisetum Paspalum e Panicum Para utilização em gramados destacamse a gramainglesa Stenottaphrum secunda tum a gramaforquilha Paspalum notatum a gramaazul Poa pratensis entre outras Muitas gramíneas são invasoras de lavou ras de calçadas ou outros locais citandose o capimtouceirinha Sporobolus indicus o capimraboderaposa Setaria geniculata o capimcarrapicho Cenchrus spp o capimgordura Melinis mi nutiflora entre tantas outras As folhas aromáticas do capimci dró Cymbopogon citratus são utilizadas como chá calmante e a canadeaçúcar Saccharum officinarum fornece além do açúcar a pinga o rum e o álcool este último atualmente muito valoriza do como alternativa para combustível A citronela utilizada como repelente de insetos é Cymbopogon martinii Entre as espécies de maior porte encontramse os bambus Bambusa spp e as taquaras Merostachys spp Você sabia O nome cereal foi dado em homenagem à deu sa Ceres da agricultura a quem era atribuído o su cesso das plantações 88 Sistemática Vegetal II Espigueta Lâmina Lema Sem arista Espigueta Colmo e inflorescência Gramaazul anual Poa annua Flor bissexual dentro do antécio Em muitas espécies de gramíneas o lema é menor que as glumas A gluma mais inferior da Espigueta é normalmente chamada de primeira gluma Bainha envolve o colmo Acima do nó Em muitas espécies de gramíneas o lema possui uma cerda longa a arista As glumas e antécios estão acima do pedicelo ao longo de um eixo chamado ráquila Lema do antécio Mais longa que as glumas Gluma permanece no antécio após a ântese Gluma Pedicelo Nervura Quilha Ao longo da nervura central Nervura Pálea Antécio Lema Grão Bainha Antera Filete Estigma plumoso Lodícula Ovário uniseminado Figura 517 Poa annua Lema Lodícula Antera Estigma Filete Pálea Ráquila Ráquila Lodícula Pálea Lema Ráquila Gluma Pedúnculo ma Pá Rá Rá Lo e m t era ma B C A Figura 518 A inflorescência B espigueta isolada C flor hermafrodita sem brácteas lema e pálea 89 Taxonomia das Angiospermas B A Figura 519 Milho Zea mays A Inflorescência feminina B Inflorescência masculina Família Cyperaceae Essa família muitas vezes é popularmente confundida com as gramíneas especialmente pelo aspecto semelhante das espiguetas Diferem entretanto pelos caules caracteristicamente triangulares e as bainhas fechadas envolvendo totalmente o caule Quanto ao fruto difere por ser um aquênio Os representantes dessa família são todos herbáceos a maioria crescendo em locais brejosos ou alagadiços mas encontrados também em locais mais secos e até na areia Não têm valor forrageiro e a presença de certas espécies dos gêneros Carex e Scirpus são indicativas de solo excessivamente ácido Nas pastagens a presença de ciperáceas demonstra péssima qualidade forrageira A tiririca erva daninha invasora de jardins e hortas em geral é Cyperus rotundus ou C sesquiflorus C giganteus e outras espécies também de tamanho maior são muitas vezes cul tivadas como ornamentais ainda do mesmo gênero C papyrus é originária da África Tropical e fornecia a partir da medula de seu caule o papiro usado como papel pelos egípcios na antiguidade O pinheirinhodapraia Remirea maritima é erva pequena que ocorre nas areias das praias em toda a costa brasileira com folhas rígidas e pontiagudas e Scirpus cernuus conhecida popularmente como junco é planta comum nas margens de lagoas brasileiras Nas bordas de florestas podem ser encontradas espécies de Rhynchospora e de Scleria cujas folhas de margem finamente aculeadoserreadas podem produzir cortes profundos em pessoas Figura 520 Cebolinhade jardim Cyperus rotundus Figura 521 Papiro Cyperus papyrus 90 Sistemática Vegetal II que inadvertidamente passam por elas sendo tais plantas por isso denominadas de capimnavalha Veja a questão da nomenclatura popular O gênero Juncus com espécies também de locais brejosos pertence à pequena família Juncaceae sem muita expressão entre nós e os chamados móveis de junco tão populares são feitos com longos ramos de espécies de chorão que são dicotiledôneas arbóreas da família Salicaceae Família Musaceae As bananeiras são monocotiledôneas de caule subterrâneo do tipo rizoma sendo que a parte aérea que tem aparência de caule na verdade são as bainhas das folhas sobrepostas e enroladas As flores formam inflorescências que embora costumeiramente chamadas de cachos na verdade são dicásios protegidos por grandes brácteas Os frutos da bananei ra desenvolvemse por partenocarpia isto é não ocorre fecundação A maioria das bananas comestíveis provém da espécie Musa paradi siaca e de seus numerosos híbridos Há várias espécies ornamentais nessa família como a bananeiravermelha Musa coccinea e a ba naneiradaabissínia Ensette ventricosum Musa ornata é uma espécie asiática ornamen tal atualmente encontrada como invasora em alguns trechos da Mata Atlântica Algumas es pécies ornamentais são atualmente colocadas em famílias distintas como as dos gêneros Ra venala e Strelitzia atualmente Strelitziaceae e o gênero nativo Heliconia Heliconiaceae Figura 522 Banana Musa paradisiaca Figura 523 Bananafigo Musa sapientum Note as grandes brácteas vermelhas que envolvem os grupos de flores 91 Taxonomia das Angiospermas 533 Eudicotiledôneas Família Cactaceae Opuntiaceae Plantas suculentas com folhas completa mente reduzidas quase sempre transformadas em espinhos ou mamilos há exceções como no gênero Pereskia de modo que o caule sem pre clorofilado além de acumular água exerce a função que seria típica das folhas a fotossín tese flores em geral vistosas com ovário quase sempre ínfero Apresentando importante adap tação à escassez de água as cactáceas são bas tante comuns nas regiões áridas e semiáridas No Brasil a maior variedade é encontrada na região da caatinga do Nordeste bem como em certas de regiões de costões rochosos ao longo da costa atlântica Grande número de espécies é cultivado como ornamental destacandose as dos gêneros Opuntia Cereus Mammilaria Melocactus entre outras Rhipsalis spp são epífitas de árvores das matas e o gênero Lopho phora ou Anhalonium nativo do México e conhecido como peiote produz efeito alucinógeno pela presença do alcalóide mescalina sendo utilizado em rituais religiosos naquela região Família Crassulaceae Ervas ou subarbustos suculentos de flores geralmente vistosas com ovário caracteristicamente dialicarpelar cujo número de car pelos é igual ao número de pétalas 4 ou 5 havendo na base de cada O mandacaru pertence ao gênero Cereus e a palma utilizada na alimentação do gado é uma espécie inerme do gênero Opuntia Figura 524 Mandacaru Cereus sp Figura 525 Palma Opuntia sp Figura 526 Flor de Opuntia bergeriana Figura 527 Orapronobis Pereskia aculeata suculentos vegetais com órgãos vegetativos grossos e carnosos em geral por acúmulo de água 92 Sistemática Vegetal II carpelo pequenas glândulas nectaríferas No Brasil é citada apenas Crassula peduncularis como nativa do Rio Grande do Sul mas ou tras espécies se tornaram subespontâneas como Kalanchoe crenata K brasiliensis muito comum em formações abertas inclusive dunas litorâneas e a qual é conhecida popularmente como fortuna K blossfeldiana e outras espécies desse gênero são apreciadas como ornamentais sendo de fácil propagação pela presença de gemas fo liares que permitem a reprodução a partir de uma única folha B A Figura 528 A Kalanchoe sp B Observe gemas foliares em outra espécie de Kalanchoe Família Myrtaceae Árvores ou arbustos cujo tronco é facilmen te reconhecido pela casca esfoliante Folhas in teiras coriáceas ou subcoriáceas com pontu ações translúcidas pela presença de pequenas células glandulares que produzem essências aromáticas as quais conferem aromas típicos Essa família possui dois grandes centros de dispersão as Américas e a Austrália As espé cies americanas possuem folhas opostas e o fruto carnoso do tipo baga As espécies austra lianas têm folhas alternas e fruto seco do tipo cápsula Alguns exemplos de espécies nativas goiabeira Psidium guajava araçás P grandiflorum P variabile P cattleianum jaboticabeira Myrciaria cauliflora Pitangueira cereja nacional uvaia Eugenia spp jambeiro Syzigium jambos guabiroba araçá Campomanesia sp Entre as espécies cultivadas O epíteto específico referese à caulifloria termo utilizado para referir que as flores nascem diretamente nos caules Figura 529 Jabuticaba Myrciaria sp ramos com caulifloria 93 Taxonomia das Angiospermas merece destaque o eucalipto Eucalyptus globulus E saligna E citriodora E rostrata E resinifera e muitas outras espécies In troduzidas inicialmente no Brasil para a utilização da madeira na construção das estradas de ferro as diferentes espécies de Eucalyp tus têm atualmente utilizações variadas desde o fornecimento de madeiras para postes e dormentes até celulose e papel indústria de detergentes e desinfetantes perfumaria etc Outra espécie de cultivo mais recente no Brasil é o cravodaíndia Syzygium aro maticum cujos botões florais colhidos ainda verdes são utiliza dos como condimento e aromatizante Família Euphorbiaceae Família bastante numerosa mais ou menos 300 gêneros e re ferências a 6000 ou até 9000 espécies formando um grupo ta xonômico complexo e morfologicamente diverso Ervas arbustos árvores trepadeiras às vezes áfilas desprovidas de folhas e seme lhantes a cactáceas Folhas alternas inteiras ou partidas muitas B A Figura 530 Cravodaíndia Syzygium aromaticum A ramo com botões florais B botões florais secos prontos para consumo Figura 531 Eucalyptus globulus ramo florífero Figura 532 Eucalyptus sp ramo com frutos Figura 533 Pitangueira Eugenia uniflora fruto 94 Sistemática Vegetal II apresentam látex às vezes tóxico Inflorescência cimosa ou race mosa às vezes reduzida a uma estrutura denominada ciátio que tem aspecto de uma flor isolada mas na verdade tratase de um agrupamento de flores que tiveram suas partes reduzidas Flores unissexuais em geral monoclamídeas plantas monóicas ou diói cas às vezes envolvidas por brácteas vistosas Fruto geralmente em forma de uma cápsula tricoca dividida em três carpelos Se mentes frequentemente carunculadas e com endosperma abun dante muitas vezes oleaginosas O gênero Manihot constitui as vá rias espécies de aipim e mandioca Ricinus communis é a mamona ou rícino cujo óleo de valor comercial é extraído das sementes A seringueira da Amazônia pertence à espécie Hevea brasiliensis Há diversas espécies utilizadas como ornamentais embora evidente mente o aspecto ornamental seja conferido pelas brácteas colori das ou mesmo pelas folhas já que as flores são pequenas e pouco vistosas Dentre as espécies utilizadas como ornamentais temos flordepapagaio Euphorbia pulcherrima cróton Codiaeum va riegatum acalifa ou rabodegato Acalypha spp coroadecristo Euphorbia millii esta última usada como ornamental e como cerca viva pela presença de espinhos e por possuir látex branco e espesso bastante tóxico Outras espécies desse gênero bem como do gênero Phyllanthus são conhecidas popularmente como que brapedras Os quebrapedras usados como medicinais pertencem ao gênero Phyllanthus sendo importante muita cautela ao se utili zar popularmente essas plantas como medicamentos pois a iden tificação incorreta poderá levar a problemas graves dada a toxidez de algumas espécies especialmente as do gênero Euphorbia B A Figura 534 Bicodepapagaio Euphorbia pulcherrima A aspecto geral da planta B nesta planta nativa do México as flores são pequenas esverdeadas e agrupadas formando uma inflorescência denominada ciátio o qual possui cada um um grande nectário amarelo Longas brácteas vermelhas envolvem o ciátio ciátio tipo de pseudanto falsa flor caracterizado por um invólucro de brácteas coloridas que abriga várias flores masculinas cada uma reduzida a um único estame e apenas uma flor feminina central aclamídea O gênero Phyllanthus cujas espécies conheci das como quebrapedras são largamente utiliza das na medicina popular foi tradicionalmente en quadrado na família Eu phorbiaceae Trabalhos recentes em filogenia colocam esse gênero em uma família distinta Phyllantaceae 95 Taxonomia das Angiospermas Família Fabaceae Leguminosae Uma das famílias mais numerosas com mais de 18000 espé cies sendo muito rica em plantas utilizadas pelo homem e com inúmeros representantes na maioria dos ecossistemas brasileiros São plantas de habitus muito variado desde altas árvores até ar bustos ervas rasteiras e trepadeiras As folhas são compostas e de disposição alterna Nas raízes das leguminosas formamse peque nos nódulos produzidos por bactérias simbiontes fixadoras de ni trogênio do gênero Rhizobium daí a importância da família na agricultura adubação verde É típico das leguminosas o fruto em forma de legume ou vagem A vagem é um fruto seco deiscente por duas valvas com muitas sementes podendo apresentar algu mas variações o amendoim por exemplo é seco e indeiscente a orelhademacaco é uma vagem enrolada com forma de uma orelha escura e a tipuana árvore utilizada como ornamental tem apenas uma semente alada em cada fruto As leguminosas são tradicionalmente divididas em três subfamí lias observe nos diagramas florais a seguir as diferenças entre es ses tipos de flores que podem ser distinguidas pela seguinte chave 1a Flores actinomorfas simetria radial pétalas valvares Subfamília Mimosoideae 1b Flores zigomorfas simetria bilateral pétalas imbricadas 2 2a Imbricação das pétalas ascendente a mais interna fica por cima Subfamília Caesalpinioideae 2b Imbricação das pétalas descendente a mais interna fica por baixo Subfamília Papillionoideae ou Faboideae Mimosoideae Caesalpiniodeae Faboideae Figura 535 Diagramas florais das três subfamílias de Fabaceae 96 Sistemática Vegetal II Apresentamos a seguir algumas informações e exemplos des sas subfamílias Subfamília Mimosoideae a maioria é for mada por árvores e arbustos raramente ervas com as folhas bipinadas As flores actinomorfas geralmente possuem as pétalas e sépalas peque nas sendo os estames em geral numerosos bas tante coloridos e vistosos representando mui tas vezes a parte mais evidente da flor As flores são reunidas em inflorescências densas e globo sas muitas altamente ornamentais como o to petedecardeal ou cabelodeanjo Calliandra spp a acáciamimosa Acacia podaliriifolia e outras espécies deste gênero como as mimosas a bratacatinga e o maricá Mimosa spp Das es pécies de valor comercial podemos citar Piptadenia rigida e outras espécies desse gênero cuja madeira é comercializada com o nome popular de angico e o barbatimão Stryphnodendron considerado uma planta com propriedades medicinais e cuja casca rica em ta ninos é aproveitada na indústria do curtume Subfamília Caesalpinioideae são na maio ria também árvores e arbustos com folhas paripinadas e folíolos muitas vezes relativa mente grandes Os estames são em número de dez muitas vezes longos e curvados às vezes de tamanhos diferentes ou ainda com alguns reduzidos e estéreis Entre as árvores brasilei ras podemos citar a copaífera ou copaíba ou ainda pauóleo que são várias espécies do gê nero Copaifera e fornecem o óleo de copaíba utilizado na indústria de vernizes de papel e também na farmacologia além de boa madeira O jatobá ou jataí Hymenaea spp também fornece uma resina utilizada na medi cina popular Entre as diferentes espécies de Cassia tanto nativas como cultivadas temos a canafístula a chuvadeouro o guarapu vu ou garapuvu Schizolobium parahybum o flamboyant Delonix regia a flordepavão Caesalpinia pulcherrima A este último Figura 536 Mimosoideae Caliandra tweediei topete decardeal Figura 537 Caesalpinioideae Parkinsonia sp 97 Taxonomia das Angiospermas gênero pertence o paubrasil C echinata árvore tropical cuja madeira vermelha já foi muito usada para tingimentos e que nos tempos coloniais constituiu um dos mais importantes produtos de exportação brasileira tendo dado o nome ao país Subfamília Faboideae Papilionoideae é a maior das três subfamílias cerca de 400 gêneros e 8000 espécies As folhas podem ser pinadas ou trifolioladas mas nunca são bipinadas O nome papilionoideae caracteriza bem esse grupo papilio borbo leta uma vez que a pétala superior da flor permanece levemente dobrada pelo seu eixo mediano tomando um aspecto que lembra uma borboleta Pertencem a essa subfamília todos os nossos le gumes tais como o feijão Phaseolus vulgaris a ervilha Pisum sativum a lentilha Lens esculenta ou Lens culinaris a fava Vi cia faba a soja Glycine max o grãodebico Cicer arietinum o amendoim Arachis hypogaea Entre as espécies arbóreas cita se o jacarandá gêneros Dalbergia e Machaerium este segundo também conhecido como pauferro o angelim Andira a sucu pira Bowdichia virgilioides e a sucupirabaraquim ou pauripa Ormosia nitida usada na indústria de móveis e que substitui o verdadeiro paumarfim Das plantas utilizadas como forrageiras destacamse a alfafa gêneros Medicago e Melilotus Na recupera ção de solos empobrecidos são utilizadas espécies de Crotalaria Glycine e Dolicho que aumentam o conteúdo de compostos nitro genados para outras culturas Entre as plantas ornamentais estão as glicínias Wisteria Glycine a ervilhadecheiro Lathirus odo ratus as corticeiras Erithrina spp a giesta Spartium sp O ani leiro utilizado como corante azul provém do gênero Indigofera Estudos recentes têm mostrado algumas inconsistências no posiciona mento dessas subfamílias Alguns autores dentre os quais Cronquist 1988 consideram as três subfamílias como famílias diferentes denominadas en tão Mimosaceae Caesalpinaceae e Papilionaceae ou Fabaceae Ou tros autores sugerem uma quarta subfamília Cercideae formada por dois gêneros retirados de Caesalpinioideae Bauhinia e Cercis ambos com fo lhas bifolioladas sendo os dois folíolos fundidos Bauhinia é um gênero nativo no Brasil popularmente conhecido como patadevaca B A Figura 538 Faboideae A Erythrina speciosa B Erythrina sp flor dissecada O paumarfim verdadeiro pertence à família Rutaceae gênero Balfourodendron 98 Sistemática Vegetal II Família Rosaceae Uma das maiores famílias de Angiospermas com cerca de 100 gêneros e 3000 espécies e uma das principais do ponto de vis ta econômico Árvores arbustos ervas ou lianas com acúleos ou espinhos folhas alternas simples ou compostas muitas vezes de margem serreada Cálice dialissépalo e corola dialipétala ambos pentâmeros Estames numerosos e livres entre si Ovário súpero ou ínfero O fruto das rosáceas geralmente é seco aquênio folícu lo ou drupa e frequentemente outras partes da flor desenvolvem se durante a frutificação formando pseudofrutos Na maçã Malus sylvestris e na pêra Pyrus communis o pseudofruto denomina se pomo Fazem parte ainda dessa família a cereja o abricó a amêndoa a ameixa o pêssego a nectarina diferentes espécies do gênero Prunus a ameixaamarela ou nêspera Eryobotria japoni ca o morango Fragaria vesca O gênero Rosa destacase entre as ornamentais mas o buquêdenoiva Spiraea spp também é mui to cultivado Entre as espécies nativas Rubus rosaefolius é muito comum nas bordas de mato e seus frutos muito apreciados como morangos silvestres ou framboesas silvestres Família Brassicaceae Cruciferae Ervas arbustos ou árvores de pequeno porte Flores diclamí deas corola com 4 pétalas e estames em número de 4 6 ou mui tos quando em número de seis são tetradínamos Essa família tem grande importância econômica pelo apreciável número de plantas utilizadas na alimentação destacandose o gênero Brassi ca especialmente a espécie B oleraceae e dentre suas diferentes acúleo formação epidérmica com aspecto de espinho encontrada em caules pex na roseira ou em folhas pex no joá Solanum sp distinguese do espinho por não ter posição definida no órgão por ser facilmente removível e porque os espinhos possuem elementos condutores espinho elemento pontiagudo resultante da modificação de um ramo folha estípula ou raiz difere dos acúleos entre outros caracteres por ser mais firmemente preso à planta p ex na laranjeira Figura 539 Pyrus sp Figura 540 Pêra Pyrus communis Figura 541 Framboesa Rubus sp tetradínamos estames de dois tamanhos diferentes sendo dois menores e quatro maiores 99 Taxonomia das Angiospermas variedades estão a couve B oleracea var acephala o repolho B oleracea var capitata a couveflor B oleracea var botrytis a couvedebruxelas B oleracea var gemmifera o brócolis B ole racea var italica Brassica napus é o nabobranco e a canola B napus var canola é uma variedade deste O gênero Capparis que fornece as famosas alcaparras era colocado em uma família à parte Capparaceae tida como muito próxima da família Brassicaceae e foi incluída nesta conforme o arranjo filogenético recentemente proposto por APG II Tropaeolum majus conhecido popularmente como chagas ou capuchinho é uma erva ornamental de flores amarelas e alaranjadas Seus botões florais são preparados em conservas e também consu midos como alcaparras As flores de T majus atu almente têm sido incorporadas à culinária sendo comercializadas também com o nome popular de nastúrcio Essa espécie porém pertence à família Tropaeolaceae Figura 542 Capuchinho ou nastúrcio Tropaeolum majus Figura 543 Alcaparra Capparis spinosa Figura 544 Mostarda Brassica nigra Família Malvaceae Herbáceas arbustivas e arbóreas com folhas alternas e presença de estípulas essa família possui flores vistosas muitas vezes com presença de androginóforo Apresentam abaixo do cálice um androginóforo estrutura cilíndrica presente na flor que sustenta e eleva o conjunto de androceu e gineceu 100 Sistemática Vegetal II conjunto de brácteas que formam um pseudocálice calículo ou epicálice Entre as malváceas de interesse econômico destacase o algodão Gosypium spp o quiabo Abelmoschus esculentus e as ornamentais hibisco Hibiscus spp malvavisco Malvaviscus pen duliflorus e lanternajaponesa Abutilon spp As guanxumas Sida spp são invasoras de culturas e nas bordas dos manguezais des tacase a Hibiscus pernambucensis com flores amarelas e vistosas Atualmente foram incorporados à família Malvaceae o africano baobá Adansonia digitata as várias espécies de paineiras Cho risia e Ceiba spp e outras que formavam a família Bombacaceae Igualmente foram aqui agrupados os membros da família Ster culiaceae entre os quais se encontram o cacau Theobroma cacao o cupuaçu Theobroma grandiflorum a ornamental astrapéia Dombeya spp e o gênero Cola o qual é africano e introduzido na América do Sul e cujas sementes contêm vários alcalóides estimulantes Finalmente a família Tiliaceae está aqui incorporada citandose o açoitacavalo árvore comum nas matas brasileiras Luehea divari cata e outras espécies e o carrapichodecarneiro Triumfetta spp B A Figura 545 Gosypium sp A plantação de algodoeiro B flor do algodão Família Rutaceae Formada por arbustos e árvores frequentemente com espinhos as plantas dessa família apresentam em suas folhas pontos trans lúcidos visíveis contra a luz que correspondem a glândulas pro dutoras de óleos voláteis os quais exalam odores característicos O gênero Citrus é o mais importante da família face ao enorme número de espécies frutíferas cujas denominações científicas são às vezes confusas devido ao grande número de variedades e culti 101 Taxonomia das Angiospermas vares além de serem espécies melhoradas geneticamente para fins de produtividade e comércio Tudo isso torna difícil muitas vezes determinar a abrangência e variabilidade da espécie A presente de nominação das espécies segue Schultz 1990 a laranjeira Citrus sinensis a laranjaazeda C auranticum usada na preparação de doces e geléias e para extração do óleo usado em perfumaria o limão C limon a mexerica C aurantifolia conhecida também como tangerina bergamota e laranjacravo os nomes populares são incrivelmente variados de região para região o pomelo ou grapefruit C paradisi A conhecida arruda Ruta graveolens é originária da região mediterrânea e algumas espécies de Pilocar pus conhecidas popularmente como jaborandi são medicinais fornecendo a popular pilocarpina de uso farmacológico Família Rubiaceae Ervas arbustos ou árvores de folhas quase sempre opostas às vezes verticiladas e com estípulas interpeciolares algumas vezes transformadas em espinhos Inflorescências cimosas às vezes for mando glomérulos ou então flores isoladas Estames em número igual ao das pétalas inseridos no tubo da corola Ovário ínfero O café Coffea arabica é a principal espécie pelo interesse econômi co mas também pertencem a essa família o jenipapo Genipa ame ricana o paumulato Calycophyllum spruceanum e várias espé cies ornamentais como o jasmimdocabo Gardenia jaminoides e a ixora Ixora spp As poaias espécies dos gêneros Borreria Ri chardia e Diodia são invasoras de culturas e as ervasderato gê neros Psychotria e Palicourea podem causar intoxicações no gado B A Figura 549 Coffea arabica A ramo de cafezeiro com flores B Fruto do café Figura 546 Flor de laranjeira Citrus sp Figura 547 Jasmimdocabo Gardenia jaminoides sp Figura 548 Poaia Diodia sp 102 Sistemática Vegetal II Família Verbenaceae A maioria das plantas dessa família é formada por árvores e arbustos com muitas espécies campestres e várias ornamentais e medicinais As flores são levemente zigomorfas e de colorido variado e as folhas muitas vezes de consistência áspera às vezes possuem essências que conferem a essas plantas odores caracterís ticos São comuns as várias espécies do gênero Lantana sendo a mais comum L camara e Verbena como V litoralis V officinalis e outras ervas e subarbustos conhecidos como camará cambará e verbena Lippia citriodora é uma das plantas conhecidas como ervacidreira de uso medicinal sendo do mesmo gênero a planta denominada como sálvia utilizada como condimento B A Figura 551 Siriuba Avicennia schaueriana A aspecto geral da planta florida B plântula Família Lamiaceae Labiatae Essa família pode à primeira vista ser con fundida com as verbenáceas uma vez que am bas têm flores zigomorfas com 2 ou 4 estames folhas opostascruzadas e glândulas aromáti cas nas folhas Diferem entretanto pela posição caracterís tica do gineceu nas lamiáceas em geral é gi nobásico e nas verbenáceas é terminal como é comum na maioria das plantas Além disso a simetria da flor nessa família é acentuadamen te zigomorfa com a corola tomando o aspecto característico de dois lábios daí a denomina ção Labiada no aspecto vegetativo o caule das lamiáceas é carac teristicamente quadrangular embora também isso possa ocorrer Figura 550 Camaradinha Verbena bonariensis Figura 552 Exemplar florido de Vitex megapotamica 103 Taxonomia das Angiospermas nas verbenáceas Família extremamente rica em espécies medi cinais e aromáticas como por exemplo o alecrim Rosmarinus officinalis a sálvia Salvia officinalis a melissa ou ervacidreira Melissa officinalis a mangerona Origanum majorana o tomi lho Thymus vulgaris a hortelã Mentha piperita a alfavaca o manjericão Ocimum basilicum O brasiliensis O guianensis a lavanda Lavandula sp o patchuli Pogostemum sp Entre as or namentais podemos citar o sanguedeadão ou alegriadejardim Salvia splendens e o cordãodefrade Leonotis sp Estudos recentes em Filogenia evidenciaram que alguns gêneros tradicio nalmente reconhecidos em Verbenaceae teriam maior afinidade com La miaceae tais como Aegiphila Clerodendron trepadeira ornamental po pularmente conhecida como lágrimadecristo e Vitex árvore conhecida como tarumã Desse modo o estilete terminal nas verbenáceas deixaria de ser uma característica de distinção entre essas duas famílias Família Bignoniaceae Família de fácil reconhecimento pelas flo res digitaliformes em forma de dedos muito vistosas e frutos do tipo síliqua de formas va riáveis e cheios de sementes providas de asas membranáceas que as tornam ótimas plana doras e facilitam sua dispersão São árvores arbustos e cipós com folhas compostas opos tas e muitas vezes apresentando gavinhas para fixação A família é essencialmente tropical com ocorrência bastante generalizada no Bra sil onde os exemplos mais comuns são os ipês e pausdarco per tencentes ao gênero Tabebuia entre os quais está o ipêamarelo referido muitas vezes como a árvore símbolo do Brasil a caroba e o jacarandámimoso Jacaranda spp com flores azularroxeadas que além da excelente madeira são utilizadas como ornamentais A flordesãojoão o cipóunhadegato e o pentedemacaco são trepadeiras de diferentes espécies dessa família Entre as cultiva das destacase Spathodea sp árvore originária da África tropical cultivada como ornamental em ruas e praças pela beleza de suas B A Figura 553 Ovários com estilete terminal e ginobásico Lembrese O jacarandá verdadeiro madeira de reconhecido valor na indústria de móveis é uma leguminosa da subfamília Papilionoideae Figura 554 Ipêamarelo Tabebuia chrysotricha 104 Sistemática Vegetal II grandes flores alaranjadas conhecidas em algumas regiões como tulipa africana O quiri Paulownia tomentosa originário da Ásia e cultivado como or namental e em reflorestamentos que fazia parte da circunscrição des sa família tem sido referido modernamente como uma família à parte a Paulowniaceae Família Solanaceae Família com a maioria dos representantes herbáceos ou arbus tivos com ou sem espinhos folhas alternas inteiras ou partidas às vezes bastante grandes O maior gênero desta família Solanum apresenta uma particularidade seus estames abremse através de poros apicais característicos anteras poricidas Nos demais como é o mais comum as anteras liberam o grão de pólen através de fendas longitudinais Nesse gênero encontramse entre outras as espécies a batatainglesa S tuberosum a berinjela S melonge na o joá S nigrum a jurubeba S paniculatum e o matacavalo S ciliatum Outros exemplos da família o fumo Nicotiana ta bacum o tomate Lycopersicum esculentum as pimentas e o pi mentão Capsicum spp e algumas ornamentais como as petúnias Petunia spp a primavera ou manacá Brunfelsia grandiflora e as damasdanoite Cestrum spp Atropa beladona fornece os alcaloi des atropina hiosciamina e escopolamina utilizados em medicina Figura 557 Lobeira Solanum lycocarpum Figura 558 Petunia sp Figura 555 Detalhes da planta e estrutura morfológica de Tecoma sp Poros Antera poricida Você sabia A batatadoce a quarta hortaliça mais cultivada no Brasil pertence à fa mília Convolvulaceae e a batatasalsa ou batata baroa é uma Umbellife rae Apiaceae Figura 556 Antera poricida do gênero Solanum 105 Taxonomia das Angiospermas Família Asteraceae Compositae Com mais de 20000 espécies é tida como a maior família das dicotiledôneas sendo formada por arbustos ervas trepadeiras e raramente árvores Apesar de as folhas e partes vegetativas serem bastante variadas as flores são todas agrupadas em inflorescên cias muito peculiares os capítulos que parecem representar uma flor individual porque as flores além de relativamente pequenas e muito próximas são rodeadas por um invólucro de brácteas ge ralmente verdes que tomam o aspecto de um cálice As flores são sempre pentâmeras com cinco estames unidos pelas anteras e o ovário é sempre ínfero Podem ser hermafroditas ou unissexuais A corola sempre gamopétala pode ter diferentes formas radiada tubulosa ou ligulada As flores que compõem cada capítulo podem ser todas iguais capítulos isomorfos ou podem ser de dois tipos capítulos heteromorfos O fruto é um aquênio com um papilho ou papus geralmente persistente que auxilia a dispersão Esta pode ser anemófila dispersa pelo vento ou zoófila dispersa por Flor do disco Flor do raio Corte Longitudinal Do Capítulo Estigma Anteras Fundidas Corola Ovário Pappus Sépala Modificada A B C D Figura 559 A Organização de um capítulo Note no detalhe que as flores do disco são tubulosas e de simetria radial e as flores do raio são fortemente zigomorfas com um dos lados da corola se projetando como uma língua corola ligulada B Girassol Helianthus annuus C Centaurea sp D Margaridinhatrepadeira Calea serrata 106 Sistemática Vegetal II animais dependendo do tipo de papilho Alguns exemplos da fa mília das compostas usadas como medicinais o guaco Mikania spp a carqueja Baccharis spp a arnica Arnica montana o pi cão Bidens pilosa a camomila Matricaria chamomilla Entre as espécies utilizadas na alimentação temos a alface Lactuca sativa o almeirão a chicória Cichorium sp a alcachofra Cynara scoly mus A ornamental mais conhecida é a margarida Leucanthe mum vulgare havendo também os crisântemos Chrysanthemum spp o girassol Helianthus annuus a zínia ou zabumba Zinia sp entre muitas outras Há muitas plantas ruderais que crescem em terrenos baldios como as mariamoles as vassouras a roseta Entre elas algumas apresentam valor por serem melíferas outras são tóxicas para o gado invasoras etc O steviosídeo um glicosídeo bastante utilizado como adoçante é retirado da Stevia rebaudiana 54 Resumo As plantas floríferas da divisão Angiospermae ou Magnolio phyta compõemse de cerca de 241000 espécies e tradicional mente dividemse em duas classes Dicotyledoneae ou Magno liopsida com cerca de 189000 espécies e Monocotyledoneae ou Liliopsida com aproximadamente 52000 espécies Embora esses dois grupos constituam unidades facilmente reconhecíveis estu dos filogenéticos recentes sugerem que nesses grupos especial mente no das denominadas dicotiledôneas estão agrupadas espé cies de origens evolutivas diferentes Nesse sentido percebese que a Sistemática Vegetal moderna está passando por um período de intensas modificações no que se refere aos caminhos evolutivos das plantas Entretanto ao mesmo tempo em que tais avanços vêm modificar substancialmente os sistemas de classificação por outro lado as características morfológicas não se alteram de modo que as descrições morfológicas continuam tendo importante papel na identificação das espécies compostas forma aportuguesada de Compositae assim como falamos leguminosas Leguminosae brassicáceas Brassicaceae etc 107 Taxonomia das Angiospermas 55 Bibliografia Comentada Botânica Sistemática Souza Vinicius C Lorenzi Harri Esta é a referência mais atual em língua portuguesa sobre a classificação das plantas Os autores organizam as famílias de fane rógamas ocorrentes no Brasil 224 nativas e 46 introduzidas cul tivadas ou subespontâneas de acordo com os modernos conceitos filogenéticos estabelecidos a partir de conclusões de APG II As descrições das famílias são acompanhadas de ótimas ilustrações e fornecem referências bibliográficas para identificação dos gêneros e espécies Inclui chaves para identificação das famílias SOUZA VINICIUS C LORENZI HARRI Botânica Sistemática Guia Ilustrado para identificação das famílias de Fanerógamas nativas e exóti cas no Brasil baseado em APG II 2ª ed Nova Odessa São Paulo Instituto Plantarum 2005 Angiosperm Phylogeny Website P F Stevens Tratase de um trabalho bastante complexo e detalhado sobre as recentes modificações da Taxonomia conforme estudos do An giosperm Phylogeny Group APG II e que vem subsidiando as pu blicações mais recentes desta área da Botânica STEVENS P F Angiosperm Phylogeny Website Online Versão 9 jun 2008 Disponível em httpwwwmobotorgMOBOTresearchAPWeb Acesso em 4 abr 2009 56 Referências CRONQUIST AThe evolution and classification of flowering plants New York The New York Botanical Garden 1988 An integrated system of classification of flowering plants New York Columbia University Press 1981 JOLY A B Botânica Introdução à taxonomia vegetal São Paulo Ed Nacional 1983 108 Sistemática Vegetal II RAVEN P H EVERT R F EICHHORN S E Biologia Vegetal 5ª ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 1996 SCHULTZ A Introdução à Botânica Sistemática 6ª ed Porto Alegre SagraEditora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 1990 v 2 Souza Vinicius C Lorenzi Harri Botânica Sistemática Guia Ilustrado para identificação das famílias de Fanerógamas nativas e exóticas no Brasil baseado em APG II 2ª ed Nova Odessa SP Instituto Plantarum 2008 STEVENS P F Angiosperm Phylogeny Website Online Ver são 9 jun 2008 Disponível em httpwwwmobotorgMO BOTresearchAPWeb Acesso em 4 abr 2009 CAPÍTULO 6 CAPÍTULO 6 capítulo 6 A evolução das plantas Neste Capítulo vamos discutir aspectos sobre a evolução das plantas evidenciando os princípios gerais que determi naram essa evolução com ênfase para as adaptações evoluti vas das Angiospermas Como trocar esquema alternativo para deixar o EPG prevalente 1 Em Acesso ao Menu pressione Opcões 2 Selecione Programação Favorita 3 Selecione Filtro Favorito e pressione BOTÃO OK 4 Selecione Esquema Alternativo e pressione BOTÃO OK 5 Selecione Deixar o EPG Prevalecer e pressione BOTÃO OK 113 A evolução das plantas 61 Introdução Evidências indicam que plantas vasculares evoluíram a partir das algas verdes pela adaptação destas ao ambiente terrestre ten do esses processos adaptativos se iniciado no período Ordovicia no ou seja há aproximadamente 450 milhões de anos A forma filamentosa ou laminar do talo das algas é muito fa vorável para a vida aquática pois as trocas com o meio são favo recidas pela grande superfície em relação ao volume Entretanto no ambiente terrestre este caráter é desvantajoso por possibilitar grande transpiração Assim adaptações importantes para ambien tes deficientes em água incluem a formação de tecidos com mui tas camadas de células aumento do tamanho do corpo vegetativo e redução da superfície com relação ao volume Esses caracteres criaram condições que favoreceram também a retenção de água O aumento do tamanho do corpo vegetativo e sua adaptação ao ambiente com pouca água exigiram a formação de tecidos de con dução xilema e floema bem como um sistema radicular para fixar a planta e buscar a água em locais com maior disponibilidade Esse evento marcou o surgimento das plantas vasculares Outro avanço importante foi o aparecimento da cutícula cons tituindose em barreira contra a perda de água O surgimento da cutícula entretanto dificultou a realização de trocas gasosas prin cipalmente dos subprodutos da fotossíntese e da respiração CO2 e O2 Isso levou ao surgimento e à evolução dos estômatos 114 Sistemática Vegetal II A formação de esporos com paredes resistentes foi um passo importante pois essa estrutura possibilitou às plantas não somen te vencer períodos secos como também a dispersão da espécie pela superfície terrestre através do vento Houve ainda uma progressiva redução da geração gametofíti ca haploide com o gametófito tornandose cada vez mais pro tegido pelo esporófito e dele dependente Nas algas por exemplo não existe uma regra clara para a dominância de uma ou de outra o que varia de grupo para grupo Nas briófitas a planta verde que encontramos na natureza é o gametófito sendo essa planta portan to a geração mais representativa com o esporófito se constituindo apenas em um apêndice da planta verde Já em todas as plantas vasculares o esporófito é a fase dominante do ciclo de vida sen do maior e estruturalmente mais complexo que o gametófito Finalmente uma das inovações mais conspícuas apresentadas pelas plantas vasculares é a semente que permite que o jovem es porófito o embrião permaneça inativo protegido pelo tegumen to e com uma reserva de alimentos até que as condições para a germinação sejam favoráveis Assim a semente pode sobreviver à seca ao frio à geada ou a outras condições ambientais desfavo ráveis garantindo suprimento de nutrientes para manter a nova planta até que ela se torne independente 62 Evolução e adaptações nas Angiospermas A evolução ocorre por uma sucessão de mutações que vão se so mando e permitindo que os organismos tenham maior ou menor sucesso na ocupação de determinados nichos De acordo com esse modelo linear de evolução a especiação surgiria apenas por mu tações e não através de hibridação entre dois organismos preexis tentes evolução reticulada Enquanto que na maioria dos grupos de animais a especiação reticulada é inexpressiva para as plantas ela foi de expressiva importância na diversificação biológica 115 A evolução das plantas Árvores arbustos gramados jardins plantações de trigo e milho as flores silvestres frutas e legumes nos mercados os pontos coloridos nas vitrines das floriculturas gerânios e cravinas nas jardineiras enfim aonde quer que você vá ali existirão plantas floríferas as Angiospermas constituem a maior parte do mundo visível das plantas atuais Em carta a um amigo Charles Darwin referiuse ao surgimento aparentemente repentino deste grande grupo de plantas como um mistério abominável Os primeiros registros de Angiospermas são de grãos de pólen do Cretáceo há cerca de 125 milhões de anos sendo aceito atual mente que estes tenham evoluído a partir de alguma gimnosper ma primitiva provavelmente de um arbusto sendo que diferentes linhas evolutivas foram desenvolvendo uma série de adaptações O Quadro 61 a seguir apresenta a correlação entre o surgimento dos diferentes grupos vegetais e a escala do tempo geológico Era período Época Idade milhões de anos correspondência fitológica Neozóica Quaternária Holoceno Pleistoceno 2 Predomínio das Angiospermas Cenozóica Terciária Neógeno Paleógeno Plioceno Mioceno Oligoceno Eoceno Paleoceno 63 Declínio das Gimnospermas Expansão e apogeu das Angiospermas Mezozóica Secundária Cretáceo Jurássico Triássico 230 Predomínio das Gimnospermas A partir do Triássico possivelmente iniciouse o desenvolvimento das Angiospermas Paleozóica Primária Permiano Carbonífero Devoniano Siluriano Ordoviciano Cambriano 600 Aparecimento de Briófitas e Pteridófitas no Devoniano Advento das plantas com semente Pteridospermas Arqueozóica Primitiva Algoquiano Arqueano Pré cambriano 4000 Registro fóssil de vegetais inferiores bactérias cianofícias e algas calcáreas Quadro 61 Surgimento de grupos vegetais e tempo geológico segundo Bezerra e Fernandes 1984 116 Sistemática Vegetal II Figura 61 Durante o período Devoniano inferior há 400 milhões de anos plantas vasculares primitivas começaram a surgir e a se instalar fora da água Figura 62 Durante o período Carbonífero há 395 milhões de anos as plantas já atingiam porte maior com ramificações surgindo as primeiras plantas com sementes Figura 63 Período Carbonífero Fóssil de samambaia Figura 64 Durante o período Permiano há 250 milhões de anos tiveram origem as coníferas cicadáceas e ginkgoales declínio das primeiras florestas 117 A evolução das plantas Entre os autores mais tradicionais há uma propensão bastante generalizada de considerar que existe uma tendência evolutiva no sentido de proteção redução e fusão Assim por exemplo um ová rio ínfero seria mais evoluído que um ovário súpero proteção uma corola gamopétala mais derivada que uma corola dialipétala fusão uma flor com poucos estames mais derivada que uma flor com mui tos estames redução Essas tendências ocorreriam em um longo pe ríodo podendo eventualmente ocorrer o inverso ou seja um cará ter passar de um estado mais evoluído apomórfico para um estado mais primitivo plesiomórfico Além disso nem sempre a evolução atinge concomitantemente vários órgãos ou vários aspectos de uma mesma planta e sendo assim muitas vezes podese observar espé cies com algumas características que sugerem primitividade ao lado de estruturas evoluídas e bem adaptadas ao ambiente Dessa forma a Taxonomia Vegetal vem se mostrando cada dia mais complexa no que se refere à origem e interrelações evoluti vas entre os diferentes grupos de Angiospermas Alguns aspectos entretanto possuem reconhecida importância na evolução das Angiospermas as partes vegetativas são enormemente variadas e adaptadas a diferentes ambientes Assim por exemplo adaptações ao frio e à seca incluíram caducidade foliar re dução e rigidez das folhas sementes duras e re sistentes rizomas tubérculos e outras formas de armazenar nutrientes ciclo de vida anual Com relação à composição química verifica se que certos grupos de Angiospermas desenvol veram alcalóides óleos essenciais glicosódeos cristais e outros compostos que as protegem de certos herbívoros eou as associam a outros En tretanto as flores e os frutos especialmente atra vés de adaptações a diferentes situações de dis persão são sem dúvida os grandes responsáveis pela evolução dessas plantas 621 As Flores Aceitase hoje que o processo de estaucamento diminui ção dos entrenós é uma tendência evolutiva Assim duas folhas B C A Figura 65 Plantas tóxicas A Cânhamo ou maconha Cannabis sativa B Comigoninguémpode Dieffenbachia sp C Peiote Lophophora williamsii 118 Sistemática Vegetal II opostas teriam tomado essa posição por uma aproximação entre ambas decorrente desse processo Portanto a condição de folhas opostas demonstraria uma condição mais evoluída com relação a das folhas alternadas ou espiraladas Considerandose que as flo res são originadas a partir de folhas modificadas por esse mesmo raciocínio podemos dizer que as flores com seus elementos péta las estames etc dispostos espiraladamente são mais primitivas Isso ocorre na família Magnoliaceae na qual se observa a inser ção espiralada sendo os elementos mais externos ainda verdes as sépalas Mais para o interior tais elementos vão se tornando mais coloridos formando as pétalas depois os estames ainda pouco diferenciados chamados de petalóides A família Winteraceae representada no Brasil pela cascadanta Drymis brasiliensis também está nesse grupo Sua madeira não possui elementos de vaso apenas traqueídeos como nas gimnospermas sendo mais um motivo para que sejam consideradas Angiospermas primitivas próximas em parentesco às gimnospermas Figura 67 Comparação de flor de magnólia atual com um fóssil Figura 66 Flor de magnólia Magnolia sp Figura 68 Magnólia folha fóssil 119 A evolução das plantas Na família Cactaceae as flores são semiespiraladas com os verticilos externos sépalas e pétalas dispostos espiraladamente e com o androceu formando um verticilo cíclico Igualmente as Annonaceae família do araticum da nona e da graviola são se miespiraladas as sépalas e pétalas são cíclicas e os elementos do androceu e do gineceu são espiralados Finalmente na maioria das espécies as flores são cíclicas ou verticiladas As flores passaram a desenvolver grande variabilidade nas cores formas da corola presença e posição de nectários posição do ová rio estrutura do pólen adaptandose assim a diferentes poliniza dores entomofilia insetos ornitofilia pássaros anemofilia ven to Assim por exemplo flores polinizadas por abelhas melitofilia possuem pétalas vistosas brilhantemente coloridas em geral azuis ou amarelas jamais de um vermelho puro que não é visível para estes insetos e com nectários estrategicamente situados Flores que evoluíram concomitantemente com mariposas de hábitos noturnos em geral são brancas e com odor adocicado emitido após o pôr do sol como a damadanoite Existe grande correspondência entre o comprimento da tromba de uma dada espécie de mariposa ou bor boleta e o tubo da corola das espécies que estas visitam Flores ver melhas e inodoras inconspícuas para os insetos são habitualmente polinizadas por pássaros como os beijaflores As Angiospermas polinizadas pelo vento em geral não oferecem vantagem nutritiva para seus visitantes como néctar mas possuem estames bem ex postos facilmente deslocáveis pelo vento Algumas espécies cujos estames possuem conectivos bem de senvolvidos rostrados indicam polinização por coleópteros vora zes que se alimentam dessas estruturas cantarofilia Apesar de não se locomoverem como a maioria dos animais as Angiosper mas desenvolveram uma série de características que lhes permitem movi mentarse à procura do outro sexo através de características florais como atrair insetos e outros animais bem como desenvolver mecanismos que fa vorecem a fecundação cruzada levando à xenogamia que se constitui em fator fundamental na diversidade genética desses organismos 120 Sistemática Vegetal II 622 Os Frutos Os frutos são tão diversificados quanto às flores das quais de rivam e essa variabilidade está diretamente relacionada com as diferentes síndromes de dispersão os frutos Anemocóricos são leves alados plumosos ou de sementes pequenas pulverulentas os Zoocóricos que podem ser Endozoocóricos e nesse caso são carnosos doces coloridos ou Sinzoocóricos Os frutos Hidrocó ricos são pouco densos e possuem envoltórios resistentes como o cocodabaía Cocos nucifera que se espalha facilmente pelas praias de todo mundo pois seus frutos podem flutuar por longos períodos até encontrar solo para germinar o fruto reveja a figura 515 é fibroso e a semente possui um endosperma líquido a água decoco A chuva também se constitui em um meio de dissemi nação de frutos e sementes particularmente importante para as plantas que habitam encostas e arredores de morros Quando os frutos não estão maduros geralmente são verdes de tal maneira que não se destacam entre as folhas ficando um tanto escondidos de pássaros mamíferos e insetos Igualmente seu sa bor em geral ácido desencoraja os animais a comêlos antes que as sementes neles contidas amadureçam A mudança de coloração a elevação do conteúdo de açúcar e o amolecimento geral do fruto mediante a decomposição de substâncias pécticas constituem a indicação de que o fruto está pronto para ser comido e as sementes maduras e aptas para a dispersão O fluxo gênico das espécies e portanto a área de abrangência destas é em grande parte influenciado pelos mecanismos de dispersão dos frutos e das sementes No caso de endozoocoria o tempo de permanência da se mente no trato digestivo vai significar maior distância percorrida pelo ani mal portanto maior distância da planta mãe 63 Primitividade e evolução nas Angiospermas Como já vimos os sistemas modernos de classificação dos organis mos procuram agrupálos ou separálos de acordo com sua origem seus processos evolutivos e seus caracteres primitivos e derivados anemocoria dispersão pelo vento endozoocoria as sementes passam pelo trato digestivo do animal sinzoocoria a semente é carregada pelos animais sem passar pelo trato intestinal Pode ser devolvida por regurgitamento apenas a polpa do fruto permanece no estômago ou conduzida presa ao corpo do animal através de ganchos espinhos viscos Figura 69 Dispersão dos frutos de cocodabaía Cocos nucifera 121 A evolução das plantas Segundo Sporne apud LAWRENCE 1973 característica pri mitiva é aquela que possuída por algumas famílias atuais perten ceu também a seus antepassados e família primitiva é uma família atual que conserva um número relativamente grande de caracteres primitivos e que divergiu muito pouco de sua ascendência As ca racterísticas no Quadro 62 a seguir mostram segundo Lawrence 1973 aspectos relacionados à primitividade e à evolução condição primitiva condição evoluída Carpelos livres Carpelos fundidos Carpelos numerosos Poucos carpelos Dicotiledôneas Monocotiledôneas Estames completamente livres Estames concrescidos Estames numerosos Poucos estames Feixes vasculares em anel concêntrico Feixes vasculares difusos Flores acíclicas Flores hemicíclicas flores cíclicas Flores actinomorfas Flores zigomorfas Flores com muitos elementos Flores com elementos definidos não numerosos Flores com pétalas Flores sem pétalas Flores em inflorescência Flores isoladas Flores entomófilas não especializadas Flores entomófilas especializadas ou anemófilas Flores hermafroditas Flores unissexuais Flores hipóginas ovário súpero Flores períginas epíginas ovário ínfero Folhas com estípulas Folhas sem estípulas Folhas espiraladas alternas Folhas opostas ou verticiladas Folhas perenes Folhas decíduas Folhas simples Folhas compostas Fruto tipo folículo Outros tipos de frutos Frutos simples Frutos múltiplos Hábito perene Hábito bianual ou anual Pétalas livres Pétalas soldadas 122 Sistemática Vegetal II Placentação laminar Outros tipos de placentação Ex central Plantas lenhosas Plantas trepadeiras e herbáceas Plantas monóicas Plantas dióicas Plantas terrestres Plantas aquáticas epífitas ou parasitas Plantas tropicais Plantas de regiões temperadas Presença de perigônio Presença de perianto Sementes grandes embrião pequeno endosperma abundante Sementes pequenas sem endosperma ou escasso embrião grande Quadro 62 Características de primitividade e evolução É importante registrar entretanto que nem sempre a evolução atinge concomitantemente vários órgãos ou vários aspectos de uma mesma planta Muitas vezes portanto podese observar es pécies com algumas características que sugerem primitividade ao lado de estruturas evoluídas e bem adaptadas ao ambiente 64 Resumo As plantas terrestres evoluíram a partir de algas que foram progres sivamente se adaptando a ambientes mais secos através de formação de tecidos e órgãos especializados tais como vasos de condução raízes para absorção e fixação e tecidos de revestimento As Angiospermas que constituem atualmente o grupo dominante de plantas vasculares surgiram há aproximadamente 125 milhões de anos seguindo dife rentes linhas evolutivas que levaram a uma grande variabilidade de espécies adaptadas aos mais diferentes ambientes As possíveis razões para seu sucesso evolutivo englobam adaptações para a resistência à seca o que inclui a evolução do hábito decíduo como forma de passar a cada ano por períodos ou situações desfavoráveis como frio em excesso A flor desempenhou significativo papel evolutivo bem como os frutos que delas se originam A evolução bioquímica também con tribuiu para o sucesso evolutivo do grupo uma vez que a produção de compostos vegetais secundários tais como os alcaloides protege as plantas da maior parte dos herbívoros Alguns destes no entanto 123 A evolução das plantas em geral os de hábitos alimentares mais restritos podem associarse a tais plantas excluindo seus competidores Esse exemplo constitui uma indicação segura de que ocorreu também um padrão de intera ção evolutiva entre plantas e animais 65 Bibliografia Comentada Biologia Vegetal Raven P H Evert R F Eichhorn S E Como já foi referido anteriormente esta obra apresenta diferentes aspectos sobre as plantas contemplando assuntos abordados em vá rios capítulos do presente livro No que se refere a adaptações evolu tivas oferece interessantes considerações sobre este complexo tema RAVEN P H EVERT R F EICHHORN S E Biologia Vegetal 5ª ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 1996 66 Referências BEZERRA P FERNANDES A Fundamentos de taxonomia ve getal Fortaleza Universidade Federal do Ceará Brasília PRO ED 1984 LAWRENCE E G H M Taxonomia das plantas vasculares Lis boa Fundação Calouste Gulbenkian 1973 1 v PEREIRA A B Introdução ao estudo das pteridófitas Canoas Editora da ULBRA 1999 RAVEN P H EVERT R F EICHHORN S E Biologia Vegetal 5ª ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 1996 CURTIS H Biologia Vegetal 2ª ed Rio de Ja neiro Guanabara Dois 1978 SOUZA Vinicius C LORENZI Harri Botânica Sistemática Guia Ilustrado para identificação das famílias de Fanerógamas nativas e exóticas no Brasil baseado em APG II 2ª ed Nova Odessa São Paulo Instituto Plantarum 2005 Para consultar o Manual do usuário acesse httpwwwxu o texto está incompleto