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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS X LETRAS LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS TEXTO E DISCURSO Discentes Andressa S Santos Juliana N Santos e Letícia B de Jesus Docentes Décio Bessa e Ramom Andrade Categorias de análise Índice 1 2 3 A Intertextualidade de um texto é a presença de elementos de outros textos nele e então potencialmente de outras vozes além da voz doa autora que podem estar relacionados discutidos assumidos rejeitados de várias maneiras Fairclough 2003 218 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE 1 INTRODUÇÃO cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva Bakthin 2003 297 O termo intertextualidade é de Kristeva 19661986 com base nas discussões de Bakhtin sobre gênero e principalmente sobre dialogismo INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE Dialética Os textos não se limitam apenas a copiar outros textos mas sim dialogar com eles É importante buscar identificar quais os textos e vozes estão presentes ou ausentes no texto e o que essa presença ou ausência significa INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE O texto é retirado de seu contexto original e colocado em um novo modificando o seu significado ou intenção Recontextualização INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE 01 02 Negações Implicam uma asserção verdade a outro texto Pressuposições Considera a presença de outro texto incorporado em preposições estabelecidas Marcas de intertextualidade INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE Marcas de intertextualidade 1 O novo fiscal de rendas continua estudando para concursos Pressuposto o fiscal estudava antes de passar 2 A espera dos candidatos pelo gabarito oficial acabou Pressuposto os candidatos estavam esperando o resultado EXEMPLOS Marcas de intertextualidade INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE 03 Marcas de intertextualidade Marcas de intertextualidade INTRODUÇÃO 1 Ironias ecoa o enunciado de outro texto expressando alguma atitude negativa CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE Classe Baixa Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula Porque eu acho Acho não tenho certeza de que ele vai ser bom mas muito bom mesmo pra nós A série Entendendo as Eleições 2006 apresenta Classes sociais e o voto A classe baixa busca a esperança em Lula INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE Classe média O escândalo do mensalão poderia ter ajudado a limpar o Brasil Mas foi só a investigação contra os petistas alcançarem também os tucanos e o que a gente viu foi uma pizza vergonhosa que se repete agora com os sanguessugas que têm suspeitos na situação e na oposição Então não dá pra votar no Alckmin nem no Lula Muito menos nos candidatos nanicos ou na esquerda radical e ideologicamente ultrapassada Francamente não sei o que fazer Não quero anular o voto porque seria omissão mas como cidadã eu INTRODUÇÃO 1 A série Entendendo as Eleições 2006 apresenta Classes sociais e o voto A classe média expressa desilusão com o sistema político CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE Classe Alta Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula ou com o Alckmin Porque eu acho Acho não tenho certeza de que eles vão ser bons mas muito bons mesmo pra nós INTRODUÇÃO 1 A série Entendendo as Eleições 2006 apresenta Classes sociais e o voto A classe alta se preocupa com a preservação de seus privilégios CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE REFERêNCIAS BESSA Décio SATO Denise Tamãe Borges Categorias de análise In BATISTA José Ribamar Lopes SATO Denise Tamãe Borges MELO Irã Ferreira de Org Análise de discurso crítico para linguistas e não linguistas 1 ed São Paulo Parábola 2018 p 142153 Obrigado pela atenção O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação mas aquilo por que pelo que se luta o poder do qual nos queremos apoderar Michel Foucault INTERTEXTUALIDADE A Intertextualidade de um texto é a presença de elementos de outros textos nele e então potencialmente de outras vozes além da voz doa autora que podem estar relacionados discutidos assumidos rejeitados de várias maneiras Fairclough 2003 218 Dessa forma a intertextualidade é quando um texto incorpora ou faz referências a outros textos Isso significa que o autor pode trazer ideias estilos conceitos de outros textos para dentro do seu texto O termo intertextualidade é de Kristeva 19661986 com base nas discussões de Bakhtin sobre gênero e principalmente sobre dialogismo Bakhtin traz que cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva Bakthin 2003 297 Assim o texto traz ecos de outros textos faz referência a outros textos mesmo que indiretamente Os enunciados que estão dentro da mesmo esfera de comunicação compartilham referências e significados um grupo ou uma comunidade que compartilham o mesmo contexto históricosocial Dialética Os textos não se limitam apenas a copiar outros textos mas sim dialogam com eles Nenhum texto existe isoladamente Cada obra é influenciada por outras estabelecendo um diálogo entre elas Essa rede de referências cria novos significados onde os autores se apropriam de vozes alheias reinterpretandoas e transformandoas essas referências Esses textos não se mistura de forma virar uma coisa só cada um mantém sua voz mas influência e acrescenta ao outro É importante buscar identificar quais os textos e vozes estão presentes ou ausentes no texto e o que essa presença ou ausência significa Na análise do discurso é interessante observar quais os textos ou vozes aparecem ou não no texto A escolha de incluir ou excluirocultar textos e vozes tem um propósito e um significado que ajuda a entender o que o autor quer comunicar Recontextualização O texto é retirado de seu contexto original e colocado em um novo modificando o seu significado ou intenção Nas charges eletrônicas por exemplo as falas dos personagens fazem referência ao mundo real Quando essas falas são alteradas ou inseridas nas charges sem mudança elas ganham uma nova interpretação que pode intensificar o significado ou reconfiguralo dependendo da intenção do autor no caso da charge seria humorística ou crítica por exemplo MARCAS DE INTERTEXTUALIDADE Negações Implicam uma asserção verdade a outro texto Tratase de um tipo de pressuposição pois incorpora outros textos apenas com objetivo de contradizelos ou rejeitalos Ironias Ecoa o enunciado de outro texto expressando alguma atitude negativa Ela envolve dizer algo mas significar o oposto havendo uma contradição do que está sendo dito o que realmente se quer comunicar Pressuposições Considera a presença de outro texto incorporado em preposições estabelecidas Consiste em deduzir algo a partir do enunciado a informação transmitida de forma não explicita pois o autor assume que o leitorouvinte já sabe 1 O novo fiscal de rendas continua estudando para concursos Pressuposto o fiscal estudava antes de passar 2 A espera dos candidatos pelo gabarito oficial acabou Pressuposto os candidatos estavam esperando o resultado CHARGE O homem do campo representando a classe baixa expressa uma visão de esperança e desilusão Sua afirmação de que nenhum deles vai acabar com a roubalheira é um eco de discursos populares que permeiam a cultura brasileira onde a corrupção é um tema recorrente principalmente no contexto político A escolha de apoiar Lula indica uma busca por mudança e uma crença na possibilidade de um futuro melhor Essa perspectiva reflete uma intertextualidade com as promessas de transformação social que marcaram o governo petista como o bolsa família indicando que apesar das falhas ele ainda é visto como uma figura capaz de representar os interesses da classe baixa A mulher da classe média traz à tona um discurso crítico e cético faz referência ao escândalo do mensalão e Operação sanguessuga A expressão pizza vergonhosa evoca não apenas descontentamento mas também uma crítica à falta de responsabilização dos políticos Por isso ela encontra dificuldades em votar Sua hesitação em anular o voto reflete uma intertextualidade com debates sobre cidadania e responsabilidade política revelando um dilema moral que ressoa com muitos participantes da classe média que se sentem traídos pelo sistema O banqueiro representando a classe alta apresenta uma visão pragmática e elitista onde ele apta pelo tanto faz Sua afirmação de que Lula ou Alckmin vão ser bons para nós indica um foco nos interesses econômicos e na manutenção do status quo Essa posição dialoga com narrativas históricas sobre como as elites frequentemente manipulam o sistema político para proteger seus interesses A intertextualidade aqui se manifesta na relação entre o poder econômico e político onde as promessas de ambos os candidatos são filtradas através das necessidades da classe alta revelando a desconexão entre suas preocupações e as realidades enfrentadas pelas classes mais baixas Apanhado Geral A charge ao reunir essas três vozes distintas cria um espaço intertextual rico em significados A classe baixa busca a esperança em Lula enquanto a classe média expressa desilusão com o sistema político a classe alta se preocupa com a preservação de suas privilégios Essa dinâmica revela não apenas as tensões sociais existentes mas também como cada classe interpreta e responde aos mesmos eventos políticos de maneiras profundamente diferentes É fundamental ressaltar que a intertextualidade não é apenas uma ferramenta analítica é um reflexo das complexidades da sociedade brasileira contemporânea As vozes dos personagens se entrelaçam em um discurso mais amplo sobre corrupção responsabilidade e representação política permitindo ao espectador refletir sobre seu próprio lugar nesse mosaico social Assim a acusação não apenas ilustra as diferenças entre as classes sociais mas também provoca uma reflexão crítica sobre o papel do eleitorado em um contexto marcado pela insatisfação e pela busca por mudanças significativas Direção ANDREIA CUSTÓDIO Capa e diagramação TELMA CUSTÓDIO Revisão PARÁBOLA EDITORIAL CIPBRASIL CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS RJ B169a Batista Jr José Ribamar Lopes 1980 Análise de discurso crítica para linguistas e não linguistas José Ribamar Lopes Batista Jr Denise Tamaê Borges Sato Iran Ferreira de Melo organização 1 ed São Paulo Parábola 2018 224 p 23 cm Linguagem 83 Inclui bibliografia ISBN 9788579341472 1 Discurso 2 Estudos da linguagem 3 Análise de discurso 3 Sentidos e discurso I Título II Série 1849097 CDD 40141 CDU 8142 Leandra Felix da Cruz Bibliotecária CRB76135 Direitos reservados à PARÁBOLA EDITORIAL Rua Dr Mário Vicente 394 Ipiranga 04270000 São Paulo SP pabx 11 50619262 50618075 fax 11 25899263 home page wwwparabolaeditorialcombr email parabolaparabolaeditorialcombr Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico ou mecânico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão por escrito da Parábola Editorial Ltda ISBN 9788579341472 do texto José Ribamar Lopes Batista Jr Denise Tamaê Borges Sato e Iran Ferreira de Melo 2018 da edição Parábola Editorial São Paulo agosto de 2018 CAPÍTULO 6 Categorias de análise Décio Bessa Denise Tamaê Borges Sato 1 O que analisar A análise de discurso crítica é uma ferramenta de investigação produtiva quando aplicada a pesquisas que visam desvendar as mudanças decorrentes do novo capitalismo processo de mundialização do comércio conhecido como globalização Para Fairclough 2006 a ADC compreende a globalização na medida em que promove a mudança social O processo de mudança social se relaciona ao conceito de hegemonia1 definido por Gramsci 1971 como equilíbrio instável baseado em arranjos vantajosos ainda que conflitantes do ponto de vista ideológico Ainda segundo Gramsci 1971 estabelecer o poder exige um processo de universalização de um interesse particular que exige o exercício da liderança Fairclough 2001 explica que a universalização de um objetivo de um interesse de um posicionamento tomados como comuns aos diferentes participantes só é alcançada pelo domínio econômico político e cultural por meio do poder ideológico2 sobre um grupo ou sociedade A ideologia estabelece sentidos e representações que trazem vantagens para grupos específicos contribuindo para que surjam ou se sustentem as relações de poder Trazendo os conceitos de ideologia e poder para a ADC Fairclough 2003 afirma que as representações são operacionalizadas pelo poder na constituição de processos de dominação e exploração a ponto de serem inculcadas em identidades estilos que repercutem nas formas de crençasvaloresdesejos e no próprio modo de agir Dessa forma a ideologia envolve o ser humano seu corpo seus gestos ganhando espaço nas vestimentas nos usos linguísticos nas práticas e em tudo o que envolve o ser com ela identificado Repetida e exaustivamente vivenciada em práticas distintas sob diferentes formas de manifestação a ideologia se naturaliza Nesse ponto o poder atinge o nível de compartilhamento e de universalização 1 Para maior detalhamento veja os capítulos 3 Conceitoschave em análise de discurso crítica e 5 Teoria social do discurso e evolução da análise de discurso crítica 2 Thompson 2002 define ideologia como as maneiras como o sentido age na sustentação ou estabelecimento das relações de dominação Para aprofundamento veja o capítulo 4 Discurso e prática social da hegemonia estabelecendose Ao estudar a globalização por meio de gêneros discursivos discursos e estilos conseguimos desvelar a partir de aspectos semióticos nuances da hegemonia A proposta de Fairclough é realizar uma análise consistente em termos de sustentação argumentativa com evidências em análise de práticas e construir um novo sentido para as ideologias naturalizadas dessa forma desvelando manifestações de poder A demonstração desses traços acontece por meio da constatação de aspectos semióticos e dialéticos nas diferentes formas de existir da ideologia situandoas em uma estrutura de poder Esse movimento passaria da análise de textos à análise de estruturas e de suas manifestações ou seja à explanacao explicação das funções do discurso nas produçõesreprodução do poder Fairclough 2006 apresenta as características da globalização Segundo ele a mídia e os meios de comunicação tratam o processo de formação de mercados internacionais em escala global como algo não provocado por agentes Sem a percepção das polaridades agentealvo das ações a população não tem a quem atribuir o poder senão a um sistema tão perverso quanto abstrato Em outro aspecto Fairclough 2006 chama a atenção para a estratégia de agências países e corporações internacionais na construção da mudança no consumo produção circulação e apropriação de recursos Ao produzir mudanças o discurso opera em sua constituição sustentação e propagação A construção discursiva da globalização por sua vez favorece a ocultação do processo neoliberal calcado na formação de mercados globais que interligam e disseminam as visões individuais e particulares de um grupo sobre os outros sob a capa de uma democracia ocidental baseada em estratégias comerciais de oferta e procura A partir do fortalecimento dos grupos econômicos e dos mercados os países são representados como não suficientes incapazes e desprovidos de recursos ante o crescimento da pobreza exceto por propostas inócuas de inclusão social Fairclough 2006 Nesse patamar a globalização dá solidez ao abuso de poder e à corrupção das políticas locais Outro estágio é a legitimação de políticas não populares como a ampliação da contribuição previdenciária a redução de direitos trabalhistas a propagação discursiva de um fatalismo segundo o qual se justifica a primazia da economia sobre o indivíduo São utilizadas narrativas e estratégias retóricas para a formação de uma ideologia da globalização Fairclough 2006 Considerandose as estratégias do neoliberalismo a ADC que estuda a linguagem em uso propõe identificar essas ferramentas de persuasão operadas no discurso e pelo discurso Cabe ao analista identificar o problema analisar práticas situadas e localizálas em um nível global A ADC ao desvelar estratégias de poder abre a possibilidade de transformar mecanismos de controle convidando os participantes à reconstrução de papéis sociais por meio da reflexividade com vistas à reorganização dos níveis de poder por meio de representações poderosas de grupos ou pessoas tanto quanto de suas redes discursivas 2 Primeiros passos como analisar A ADC tem como um de seus pilares a percepção de que os elementos das práticas sociais são relacionais3 e dialéticos As práticas articulam de modo relacional seus elementos Contudo cada prática se articula a outras práticas Esse é o aspecto relacional os elementos e as redes de práticas influenciamse de modo a fazer circular um conjunto de conhecimentos e crençasvaloresdesejos que compartilhados formam as ordens do discurso Nesse movimento cada elemento influencia e é influenciado pelos demais elementos compondo um organismo uma instabilidade que não reduz nenhum de seus elementos Essa mútua influência constitui o aspecto dialético4 A abordagem dialéticorelacional de Fairclough prevê a indissociabilidade entre linguagem e sociedade como construto teórico e também uma realidade da qual se pode depreender que ao analisar os textos os elementos linguísticos trazem marcas dos demais elementos facultando a compreensão da prática Por outro lado a ADC se firma na possibilidade da mudança tanto aquela promovida pelo contexto do neoliberalismo quanto aquelas originadas nos movimentos de resistência Dessa forma a ADC no bojo da análise do novo capitalismo se ocupa prioritariamente dos processos de mudanças socialmente materializados nas relações entre os gêneros discursivos elementos semióticos da atividade materialação os discursos elementos semióticos das representações que circulam nas práticas e os estilos manifestações semióticas dos indivíduos relacionadas às identidades Nas palavras de Fairclough 2012 309 A ADC é a análise das relações dialéticas entre semioses inclusive a língua e outros elementos das práticas sociais Essa disciplina preocupase particularmente com as mudanças radicais na vida social contemporânea no papel que a semiose tem dentro dos processos de mudança e nas relações entre semiose e outros elementos sociais dentro da rede de práticas São três as maneiras de atuação da semiose Primeiramente ela atua como parte da atividade social inserida em uma prática É parte do trabalho de um vendedor de loja por exemplo usar a língua de uma forma particular o mesmo acontecendo quando se governa um país Em segundo lugar a semiose atua nas representações Os atores sociais no curso de sua atividade produzem não só representações das práticas em que estão inseridos representações reflexivas como de outras recontextualizandoas Bernstein 1990 Chouliaraki Fairclough 1999 309310 e incorporandoas às suas próprias Além disso os atores sociais irão produzir representações de modo distinto dependendo da posição que ocupam dentro de suas práticas A representação é um processo de construção social das práticas incluindo a autoconstrução reflexiva as representações adentram e modelam os processos e práticas sociais Em terceiro lugar a semiose atua no desempenho de posições particulares As identidades de pessoas que operam em certas posições são apenas parcialmente determinadas pela prática em si As pessoas de diferentes classes sociais sexos nacionalidades etnias ou culturas com experiências de vida diversas produzem desempenhos distintos Para compreender tanto o aspecto dialéticorelacional quanto a mudança oa analista faz um movimento em que a identifica um problema social que tenha implicações para a ordem social b busca os elementos semióticos para a análise c volta seu olhar para a prática na busca por sua compreensão A sociedade produz a realidade Ao analisála compreendemos a sociedade suas articulações e hegemonias Dessa forma a análise nasce do social e volta a ele Para melhor visualizar esse movimento de análise a ADC traz uma metodologia proposta por Chouliaraki e Fairclough 1999 Estágio 1 Buscar o aspecto semiótico do problema Estágio 2 Identificar os obstáculos para que esse problema seja resolvido pela análise da rede de práticas das quais emerge o problema das relações entre a semiose do problema e os demais elementos de prática das relações da semiose com outros elementos dentro das práticas estrutura analítica a ordem de discurso análise interacional análise interdiscursiva e análise linguística e semiótica Estágio 3 Análise social considerar se a ordem social a rede de práticas é em algum sentido um problema ou não Estágio 4 Explanacao identificar maneiras possíveis de superar os obstáculos refletir criticamente sobre a análise Figura 1 Estágios da análise dialéticorelacional de Chouliaraki e Fairclough 1999 21 Sob a ótica da ADC o problema social corresponde aos efeitos vividos pelos indivíduos em face da nova ordem econômica A percepção de que o sistema não é abstrato e de que é passível de mudança requer um olhar crítico Tais problemas são evidenciados como algo que requer soluções atitudes emancipatórias por parte daqueles que sofrem desnivelamentos de poder Pessoas que carregam em suas vidas dificuldades em razão da classe sexo raça língua entre outros Esses problemas são mantidos e sustentados por redes de práticas Dessa forma no estágio 2 buscase visualizar os motivos pelos quais os problemas não foram superados Quais forças se relacionam e de que modo o problema é necessário para a manutenção hegemônica Nesse estágio os discursos e semioses estão imbricados operando relacionalmente com os demais elementos em uma rede de práticas que formam as estruturas ordens de discurso em seu aspecto semiótico O discurso traz os elementos de dominação ideológica que moldam a interação percebida como diferentes formas de contato ainda que não sincronizadas no tempo ou não circunscritas no espaço Textos orais escritos com ou sem imagens veiculados na internet na mídia em livros ou materiais que circulam em atividades específicas são considerados como meios de interação Na análise discursiva verificase que diferentes discursos estão presentes nas interações articulando os aspectos semióticos das práticas sociais gênero discurso e estilo Para localizálos utilizamos a análise linguística com base na proposta de Halliday 19852004 que traz categorias funcionais de análise que vinculam a análise linguística à análise social Por outro lado a análise de imagens por exemplo carece de outras categorias como a proposta da multimodalidade de Kress e van Leeuwen 2006 No estágio 3 voltamos nosso olhar para o social buscando interpretar se esse problema identificado encontra suas raízes na ordem social Nesse momento percebemos mais nitidamente a formação ideológica sustentando posições de poder Por fim no último estágio mudamos a polaridade da análise partindo do problema para as possíveis soluções por meio da mudança social São vulnerabilidades da estrutura hegemônica que uma vez desveladas contribuem para a mudança As lacunas do poder são formadas pelas divergências de interesses e pela resistência decorrente Igualmente a crítica explanatória nesse estágio revela a posição da ADC ante as ciências críticas como instrumento de ação reflexiva para a emancipação social inclusive em práticas acadêmicas 3 Categorias de análise A análise do problema e a elaboração do corpus dependem do desenho da pesquisa Durante o processo de investigação poderão ser demandadas categorias oriundas de outras áreas com possibilidade de articulação entre diferentes teorias como a teoria da polidez a teoria social do discurso a teoria das representações sociais entre outras Cabe aoa analista perceber possibilidades de apoio harmônico entre as muitas áreas existentes Contudo a base de análise é o texto O texto como unidade de análise pressupõe que a construção do corpus com dados coletados eou dados gerados5 propiciará a análise de textos de determinado gênero ou mais em um período sóciohistórico específico6 considerando as práticas sociais correlacionadas As descrições as análises as interpretações e as explicações são realizadas com base nas materialidades linguísticas presentes nos textos e embasadas nos estudos históricos sociais linguísticos que envolvem as questões de pesquisa Desse modo a análise de discurso crítica acontece na pesquisa de maneira textualmente orientada A definição central para texto neste capítulo vinculase à compreensão de Magalhães 2006 que compreende texto como a materialidade linguística e semiótica das práticas 5 Ver Bauer e Gaskell 2005 6 Geralmente da atualidade Alguns estudos podem envolver também diferentes períodos históricos sociais Também se considera a perspectiva de Chouliaraki e Fairclough 1999 144 que consideram um texto como um membro de um gênero Para exemplificar algumas das categorias de análise utilizaremos a pesquisa de Bessa 2007 como ilustração Em Fairclough 2001 e 2003 são elencadas categorias analíticas como coerência coesão controle interacional metáfora transitividade tema polidez modalidade avaliação relações semânticas relações gramaticais equivalências e diferenças representação de eventos sociais gênero discursivo intertextualidade significado das palavras representação dos atores sociais e interdiscursividade As cinco últimas categorias dessa relação serão discutidas e exemplificadas de maneira sintética neste capítulo 31 Gênero discursivo A análise do gênero discursivo se localiza no primeiro estágio de análise buscar os aspectos semióticos do problema a ser estudado vinculados às ações das pessoas em práticas sociais Tais ações são organizadas em rotinas que envolvem formas mais ou menos estáveis de interação As interações ocorrem por meio de diferentes textos Nesse sentido os gêneros discursivos são o modo pelo qual as pessoas participam ativamente no seio de uma prática específica Dentro de uma perspectiva de estudos da linguagem considerando todas as semioses apesar de privilegiar formas linguísticas Fairclough 2003 explica que o aspecto semiótico relacionado aos modos de agir e interagir socialmente são os gêneros7 que atuam na formação do significado acionai Nos trabalhos de 7 Uma das questões em debate em língua portuguesa é a especificação do termo gênero Em inglês distinguese genre de gender em português a tradução é idêntica gênero Temos a mesma nomenclatura para designar gênero discursivotextual e gênero social que se refere à sexualidade de agentes sociais Neste capítulo optamos pelo termo gênero discursivo em vez de gênero textual por compreendêlo não somente em seus aspectos estruturais internos mas além disso em sua correlação com as práticas sociais e como um elemento de ordem de discurso Em determinados momentos usamos simplesmente a palavra gênero tratando de gênero discursivo Esclarecemos que há pesquisadoras e pesquisadoras que preferem o termo gênero textual mesmo trabalhando com perspectiva discursiva semelhante ver Meurer Bonini MottaRoth 2005 Leeuwen 2006 mescla a linguagem às práticas Fairclough 2003 77 corrobora essa discussão salientando o processo de mudança associado aos gêneros um fator em mudança de gêneros é o desenvolvimento em tecnologias de comunicação o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação caminha junto com o desenvolvimento de novos gêneros Na obra de 2003 um dos autores que fundamenta a teorização de Fairclough sobre gênero é John Swales com seu livro Genre Analysis 1990 Entre outras considerações Fairclough adota de Swales o termo prégênero e discorda da definição de gênero como uma classe de eventos comunicativos porque o evento real não está no gênero mas na relação do gênero com uma rede de práticas sociais Para Magalhães 2004 os gêneros discursivos determinam os textos falados escritos ou visuais segundo um padrão sequencial e linguístico semiótico conferindolhes uma forma particular e convenções discursivas específicas De acordo com Fairclough 2003 há uma série de características que devem ser observadas nos gêneros A ênfase em determinadas características dependerá dos objetivos de pesquisa poderá ser uma descriçãodiscussão mais pormenorizada ou poderá aterse a alguns aspectos específicos Em relação ao corpus é possível apresentar o gênero de um modo geral identificando elementos distintivos perceptíveis em uma gama de textos do respectivo gênero mas é interessante considerar também os textos selecionados para análise no momento de caracterização até mesmo para verificar possíveis diferençasmudanças A obra utilizada como exemplo neste capítulo Charges eletrônicas das eleições 2006 uma análise de discurso crítica analisa o gênero charge eletrônica9 CE popularizado pela internet como ferramenta de crítica O gênero charge veicula conteúdos críticos com humor As charges estáticas em jornais passam a entrelaçarse ao 9 Um dos principais sites que apresenta charges eletrônicas é o wwwchargescombr Tomando como referência os textos que foram publicados no site wwwchargescombr a escala das CES é geralmente nacional em termos de audiência e conteúdo mas o acesso pode ser global via internet Para os dois itens seguintes estamos considerando níveis baixo médio e alto Sendo assim quanto à estabilização elas são de nível médio considerando a produção recepção e reconhecimento do gênero por parte de leitores e de leitoras A CE deriva da charge tradicional e conta com as possibilidades das novas tecnologias A homogeneização das CES é de nível médio Existem diferenças em comparação com outros sites ou programas de TV que as exibem Inovações podem ser observadas também no próprio site indicado wwwchargescombr por exemplo com a inserção de gravação de vídeo A figura 2 apresenta uma síntese Além de mesclar diferentes linguagens nos textos o gênero charge eletrônica apresenta transformações de gênero em gênero o que Fairclough 2003 denomina de cadeias de gênero A internet permitiu transformações que decorreram tanto da tecnologia quanto da instabilidade das redes de poder conferindo a cidadãs e a cidadãos jornalistas grupos ativistas entre outros a possibilidade de obtenção de voz no ambiente político As mudanças em cadeias de gênero como as que ocorrem com as CES demonstram o hibridismo recorrente em diversos gêneros dentro das práticas sociais na modernidade recente Giddens 1991 Chouliaraki e Fairclough 1999 Fairclough 2003 A figura 3 sintetiza características e elementos das CES A CE usa mídia eletrônica internet eou TV tem imagens caricaturadas representa a voz dos personagens com a acentuação das características prosódicas trata de fatos do cotidiano incluindo novelas esportes política etc usa humor tem animação computadorizada com ou sem som Há CES que contêm música e também inserções de gravação em vídeo Muitos textos de CES trabalham com representação de pessoas reais outros trazem personagens fictícios a estereotipia também é marcante Em termos de análise do gênero em relação à prática ainda podemos analisálo quanto a sua estrutura Fairclough conceitua gênero considerando prégêneros subgêneros e gêneros situados O prégênero se refere a uma categorização mais abstrata e ampla como a narrativa ou a conversação Além de considerálo é preciso observar as mudançasinovações de determinado gênero ou o surgimento de um novo atentando para a mescla de gêneros que subjazem a sua formação Dessa maneira podese perceber como ele se estabelece como um gênero situado dentro de uma prática social ou rede de práticas e quais são os subgêneros que se intersectam para sua formação de uma maneira mais abstrata Considerando que os personagens das ces estão sempre dialogando entre si ou diretamente com oa internauta entendese que o prégênero é a conversaçao Sendo a conversaçao o prégênero podese perceber que a narração a argumentação e até mesmo a descrição estão presentes nos textos atuando como subgêneros A ce é um gênero social e historicamente situado dentro de práticas sociais Uma correlação em diferentes níveis está registrada na figura 4 Figura 4 ce Prégênero subgênero gênero situado A análise de textos de ce precisa ser feita levando em conta as diferentes modalidades união de elementos escritos elementos imagéticos e também sonsmúsicasfalas e principalmente a relação entre elas O verbal por exemplo nem sempre coincide com o visual e essa é uma estratégia de construção dos textos Em relação à ênfase no aspecto semiótico do problema temos em Fairclough 2006 a orientação para a análise do contexto sempre que necessário Como no caso das ces sem a informação contextual não é possível depreender seu sentido completamente devido à forte carga humorística que exige o prévio conhecimento do assunto Igualmente do contexto emergem dados que elucidam parte dos problemas sociais por meio da visão da ordem social ou seja como o problema se relaciona ao novo capitalismo Fairclough 2003 77 observa Uma questão geral que surge ao analisar gêneros é perceber quais modalidades semióticas se esboçam e como elas se combinam As ces nesse sentido combinam imagens caricaturas10 cores ambientes desenhos ou vídeos e linguagem verbal com som eou registro gráfico semanticamente conectadas e em sequência de animação computadorizada A utilização de diferentes elementos semióticos abre à possibilidade de evocar diferentes discursos e práticas conexas assim uma gama maior de gêneros relacionase em cadeia A partir da figura 5 discutimos a cadeia de gêneros e o hibridismo de gêneros em textos Figura 5 Cadeia de gêneros e hibridismo nas ces A cadeia de gêneros no caso das ces pode ser observada na relação com os assuntos tratados pois as ces em sua maioria direta ou indiretamente relacionamse com jornais e revistas impressos ou eletrônicos por meio de gêneros como notícia reportagem crônica cartas Elas fazem recontextualizações trataremos desse item na parte de intertextualidade modificando ou criando um novo contexto para textos diferentes Essa cadeia de gêneros continua em conversas de leitores mensagens ao site comentários para as mensagens na possível reverberação em portadores de textos como jornais e revistas e em outros gêneros como em teses de doutorado ou neste livro por exemplo Assim a cadeia de gêneros se estabelece a priori e a posteriori em relação ao gênero em análise 10 As ces do site wwwchargescombr geralmente apresentam caricaturas leves e com aparência engraçada mas não exageram características de avaliação estética negativa como acontece com grande parte das charges impressas De forma mais objetiva é possível observar como se dá o hibridismo em textos com base em um gênero principal e gêneros secundários Fairclough 2003 observa que há uma intensificação do hibridismo na mídia e que fato e ficção notícia e entretenimento mesclamse muitas vezes A charge eletrônica faz isso de forma explícita é uma de suas características De modo geral seus textos apresentam um hibridismo com outros gêneros situados charge eletrônica série televisiva cesite de internet ceentrevista cepronunciamento de político cefilme ceparódia musical O hibridismo assim como a cadeia de gêneros pode indicar que houve alterações na prática A cadeia demonstra a quais novas áreas o gênero se relaciona e o hibridismo denota uma nova configuração de poder de funcionalidade Assim as ces permitem a não usuários de suportes tradicionais de poder comunicarem suas críticas em meio eletrônico influindo em eleições presidenciais por exemplo Essa nova fórmula deuse em razão a da introdução de novos participantes blogueiros e escritores de sites b da ascensão de discursos marginalizados de crítica ao poder estabelecido c da mudança em relação à posição de poder decorrente dos dois primeiros elementos Outro trabalho a ser realizado em relação ao gênero em sua perspectiva discursiva é identificar as atividades relações sociais e as tecnologias presentes O que as pessoas estão fazendo discursivamente Essa é uma pergunta fundamental de se fazer pois a produção e a leitura desses textos são atividades de eventos sociais que pertencem a práticas sociais prioritariamente discursivas percebese isso melhor se compararmos com atividades de mergulho que são bem menos discursivas Como os gêneros têm propósitos definidos cabe identificar quais são os propósitos dos textos para perceber que há uma hierarquia entre os propósitos uns estão explícitos outros implícitos De modo amplo e genérico as principais atividades envolvidas com a leitura de charges eletrônicas são entreter criticar informar obter audiência e comercializar No cenário das eleições um dos objetivos das atividades de produção e leitura de ces era fazer política influenciando a cultura acerca da própria prática política introduzir pessoas não afeitas ao tema na discussão enfim abrir caminhos para a criticidade O caráter informativo do jornalismo paira sobre a prática da produção de ces podendo conferir ao gênero um status de verdade A aceitação tácita do conteúdo de uma empresa voltada para o entretenimento como o site chargescombr lança luzes sobre a razão de se dar crédito a algo semelhante a uma piada a crítica ácida com base jornalística é vista como posicionamento crítico pertinente a detentores de conhecimento Logo a voz que ressoa no site chargescombr pode ser assumida e replicada por pessoas que a leem e divulgam em seus compartilhamentos As relações sociais estabelecidas entre texto e leitora ocorrem entre a organização chargescombr e indivíduos em um processo onde há distância organização escala nacional versus indivíduos lugares específicos e hierarquia social as organizações exercendo poder em relação aos indivíduos mesmo que a linguagem verbal e nãoverbal utilizada procure minimizar essa característica ao criar uma aparência de proximidade entre organização e indivíduo Quanto às tecnologias presentes no gênero os textos analisados são de comunicação eletronicamente mediada e em mão única não há troca de turno apenas a ce fala leitoras e leitores apenas emitem opiniões e comentários acerca do conteúdo a ce é veiculada de forma gratuita na internet e a apresentação da ce é dinâmica por meio de recursos programas e equipamentos de informática Fairclough 2003 destaca as práticas sociais articulam conjuntamente os seguintes elementos sociais discursivos e nãodiscursivos Ação e interação relações sociais pessoas com crenças atitudes histórias etc o mundo material discurso p 25 É possível dizer que o gênero que estamos analisando neste momento a ce é responsável pela ação e interação mediada por computador Isso propicia uma relação social virtual com a organização e com outras pessoas que visualizam esses textos as quais têm identidades diferentes e leem as ces por meio da tecnologia material necessária em espaços físicos semelhantes ou não no trabalho em casa etc e por fim têm contato com os discursos presentes nos textos A análise do gênero discursivo mantém relação com ações e atividades inerentes a uma prática específica ou seja ao significado acionai do discurso Uma vez analisadas passamos ao segundo estágio da proposta da adc identificar obstáculos para que esse problema seja resolvido pela análise a da rede de práticas na qual está inserido b das relações de semiose com outros elementos dentro das práticas particulares em questão c do discurso Assim passamos aos aspectos mais intimamente relacionados ao significado representacional que trabalha em um nível abstrato intermediário na busca pela compreensão das práticas sociais 32 Intertextualidade A intertextualidade de um texto é a presença de elementos de outros textos nele e então potencialmente de outras vozes além da voz doa autora que podem estar relacionados discutidos assumidos rejeitados de várias maneiras Fairclough 2003 218 Ao analisar os discursos temos em mente a qualidade dialética em que os elementos internalizam partes dos demais discursos sem se reduzirem uns aos outros Nesse sentido a intertextualidade evoca sentidos significados de outros elementos trazidos à ação por meio dos gêneros discursivos para participar da interação Interessa em termos de intertextualidade que sua utilização estabeleça uma relação entre o texto e outros textos discursos práticas ideologias sentidos imagens e assim por diante O termo intertextualidade é de Kristeva 19661986 com base nas discussões de Bakhtin sobre gênero e principalmente sobre dialogismo11 Bakhtin salienta por exemplo Cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva Bakhtin 2003 297 Uma das questões produtivas para a análise intertextual em adc é observar que textos e vozes estão presentes ou ausentes em determinado texto e o que essa presença ou ausência tem de significativa As ces às vezes ocultam o dito por meio do nãodito via ironia objetivando o humor e a crítica em outros momentos marcam explicitamente o intertexto dando ênfase a determinado aspectofatonotícia sobre o tema abordado Diferentes práticas sociais e representações de eventos sociais são incorporadas às ces12 Dessa forma elementos textuais mudam de contexto ocorrendo então uma recontextualização isso também pode ser percebido quando se estuda a cadeia de gêneros Diferentes textos de diferentes gêneros trazem textos e contextos para serem recontextualizados nas ces As falas das personagens fazem referência ao mundo real Quando são modificadas ou inseridas sem alterações recebem um enquadramento que geralmente exacerba o sentido ou o reconfigura com determinadas intenções humorísticas críticas por exemplo dentro das características do gênero discursivo Fairclough 2001 2003 destaca que as negações também implicam uma asserção em outro texto e por isso são marcas de intertextualidade Semelhantemente as ironias ecoam o enunciado de outro texto expressando alguma atitude negativa por exemplo de sarcasmo Há também a pressuposição que considera a presença de outro texto incorporado em proposições estabelecidas dadas se for dito que o risco de falência é ilusório isso indicará que há um risco de falência ou seja um outro texto Outra questão a considerar é que os textos que osas receptoresas trazem ao processo de interpretação se entrelaçam em uma perspectiva intertextual Fairclough 2001 Em 2006 houve uma série 11 Para os estudos críticos uma concepção fundamental de que todo texto dialoga com outros ou seja estabelece uma relação dialógica entre a voz doa autora e outras vozes que podem estar explícitas subentendidas ou mesmo apagadas 12 Em outros gêneros isso também acontece Nas ces isso é muito evidente intitulada Entendendo as eleições 2006 e um de seus textos recebeu o título Classes sociais e o voto Quirino 2006a13 Na figura 6 há uma degravação dessa ce com os elementos verbais e com a principal imagem vinculada às classes destacadas pelo autor Eleições Classes sociais e o voto CLASSE BAIXA Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula Porque eu acho Acho não tenho certeza de que ele vai ser bom mas muito bom mesmo pra nós CLASSE BAIXA CLASSE MÉDIA O escândalo do mensalão poderia ter ajudado a limpar o Brasil Mas foi só a investigação contra os petistas alcançarem também os tucanos e o que a gente viu foi uma pizza vergonhosa que se repete agora com os sanguessugas que têm suspeitos na situação e na oposição Então não dá pra votar no Alckmin nem no Lula Muito menos nos candidatos nanicos ou na esquerda radical e ideologicamente ultrapassada Francamente não sei o que fazer Não quero anular o voto porque seria omissão mas como cidadão eu CLASSE MÉDIA CLASSE ALTA Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula ou com o Alckmin Porque eu acho Acho não tenho certeza de que eles vão ser bons mas muito bons mesmo pra nós CLASSE ALTA Figura 6 Degravação da ce Classes sociais e o voto Quirino 2006a 13 Disponível em httpschargesuolcombr20060822eleicoesclassessociaiseovoto Dizer Acabar com a roubalheira nenhum deles vai evoca a intertextualidade do senso comum de que todo político é corrupto Assim a fala pode ser compreendida como primeiro todos os candidatos e todas as candidatas ou são corruptosas ou são coniventes acabam sendo corruptosas por extensão de sentido A segunda possibilidade interpretativa é a de que a roubalheira é tanta e tão estruturada que ninguém no campo político é capaz de erradicála Em uma interpretação ou outra esvaziase a possibilidade de mudança por conta dos pressupostos intertextualmente estabelecidos As ces também atraem o público pela condensação de seu conteúdo No site chargecombr as ces podem transmitir representações da voz ou opinião pública embora carreguem o ponto de vista do autor elas buscam traduzir de modo humorístico o que se vincula ao conhecimento público Pela condensação das informações na ce em análise temos a opinião de três classes Os muito pobres estariam cientes de que resolver a roubalheira nenhum deles iria porém com o candidato Lula as coisas ficariam bem melhores Nessa intertextualidade é possível depreender entre outras a voz da população beneficiada pelos programas sociais dentre os quais se destacava o Bolsa Família A classe média seria mais complexa A personagem faz referência ao Mensalão e à Operação Sanguessuga da Polícia Federal14 Considerando o envolvimento tanto de partidos da situação quanto de partidos de oposição a eleitora encontra dificuldades em votar A alusão à pizza aponta intertextualmente para as inúmeras investigações que não teriam avançado Por fim a classe alta optaria pelo tanto faz Lula ou Alckmin seriam igualmente bons uma intertextualidade com os índices de crescimento econômico da população muito rica no país Assim tanto o PT quanto o PSDB satisfariam quanto à política econômica 14 A Operação Sanguessuga também conhecida como máfia das ambulâncias iniciouse em 2006 devido à descoberta de uma quadrilha que tinha como objetivo desviar dinheiro público destinado à compra de ambulâncias Observando por meio da intertextualidade temos uma relação muito próxima entre eleições e aspectos econômicos do país que reposicionam e ressignificam os discursos das três classes sociais em termos de neocapitalismo e sistema de poder 33 Significado das palavras A escolha lexical tem relevância em estudos discursivos tornando produtiva a análise de determinadas palavras socialmente destacadas Fairclough 2001 Determinados itens lexicais atuam com uma extensão de sentido dicionarizada ou não exemplo engavatar15 ou recebem uma conotação metafórica sanguessugas ou ainda são criação nova mensalão16 Percebese assim o processo dinâmico nas relações sociais intensificado pela mídia por exemplo que rompe barreiras de dicionários e atende demandas linguísticodiscursivas prementes de acordo com interesses específicos A análise de vocabulário é produtiva para observar as representações levando em consideração que os discursos lexicalizam o mundo de maneiras particulares Fairclough 2003 129 Na perspectiva da análise de discurso textualmente orientada adto empreendida por Fairclough em sua abordagem dialéticorelacional da adc Fairclough 2001 2003 2009 a unidade de análise é o texto Sendo assim analisar itens lexicais utilizados em quaisquer corpora para discutir os significados das palavras será feito sempre na correlação textual o emprego de determinadas palavras em determinados contextos A parte exclusivamente verbal do texto da ce Classes sociais e o voto Quirino 2006a será apresentada a seguir para colaborar com as análises porém é relevante ver a ce na internet no site indicado wwwchargescombr 15 O conhecido termo engavatar processos é registrado verbalmente e representado graficamente em uma charge eletrônica na qual um expresidente segura uma porta que está quase se abrindo devido à quantidade de processos acumulados De engavatar vinculado principalmente à gaveta de uma mesa passase à porta de uma sala ver Quirino 2006b disponível no site wwwchargescombr situação vinculada ao governo do expresidente Fernando Henrique Cardoso 16 Referente a pagamentos mensais a deputados realizados de maneira irregular situação vinculada ao governo do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva A série Entendendo as Eleições 2006 apresenta Classes sociais e o voto CLASSE BAIXA Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula Porque eu acho Acho não tenho certeza de que ele vai ser bom mas muito bom mesmo pra nós CLASSE MÉDIA O escândalo do mensalão poderia ter ajudado a limpar o Brasil Mas foi só a investigação contra os petistas alcançarem também os tucanos e o que a gente viu foi uma pizza vergonhosa que se repete agora com os sanguessugas que têm suspeitos na situação e na oposição Então não dá pra votar no Alckmin nem no Lula Muito menos nos candidatos nanicos ou na esquerda radical e ideologicamente ultrapassada Francamente não sei o que fazer Não quero anular o voto porque seria omissão mas como cidadão eu CLASSE ALTA Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula ou com o Alckmin Porque eu acho Acho não tenho certeza de que eles vão ser bons mas muito bons mesmo pra nós Trabalhando com o texto destacamos os termos Mensalão e sanguessugas No primeiro caso tratase de criação de uma palavra por extensão de sentido a palavra mensalidade17 é reconfigurada com exagero usando o sufixo ão para mensalão Dessa forma o vocábulo criado representa um aumentativo com isso acentuando a compreensão de um alto valor que se receberia mensalmente A aplicação dessa nomenclatura aconteceu na denúncia de que pessoas diretamente ligadas ao governo Lula estariam pagando para deputadosas votarem de acordo com os interesses do governo eleito mas além desse problema outros correlacionados de mandatos anteriores inclusive em nível estadual foram alvos de investigação 17 Nesse caso ocorre a significação de pagamento ou recebimento mensal de dinheiro e também se associa à mesada de Inquérito CPI foi criada para averiguar a denúncia e assim foi designada CPI do Mensalão Independente do resultado das investigações o termo foi amplamente utilizado e foi inequivocamente relacionado à corrupção Mesmo quem negava a possibilidade de a denúncia ser verídica dizia que o mensalão não existiu ou seja empregava a designação O termo sanguessugas referese a parlamentares que estariam envolvidosas em fraudes no sistema público de saúde principalmente na utilização de emendas orçamentárias para a compra de ambulâncias superfaturadas para prefeituras e recebimento de propinas por essas operações A palavra também foi usada para nomear uma investigação a CPI dos sanguessugas Em uma relação metafórica com o animal as pessoas envolvidas passaram a pertencer à máfia dos sanguessugas A expressão limpar o Brasil remete à sujeira mas o termo é amplo Há a conotação de sujeira sob o tapete vinculada à aparência da limpeza Nesse sentido o caro financiamento privado de campanhas sustenta partidos em um jogo sujo Empresas financiam partidos e são beneficiadas por vantagens que também retornam a políticos por meio de propinas Destaquese a negatividade das escolhas lexicais Os termos roubalheira nenhum escândalo pizza vergonhosa sanguessugas anular convergem para a prática política situando o discurso a partir do viés da contestação da mesma em razão da não aceitação Por outro lado há conclusões divergentes Acho não tenho certeza de que eles vaivão ser bombons mas muito bombons mesmo pra nós Nesse ponto a crítica se volta para eleitoresas das classes baixa e alta que receberiam benefícios e assim sustentariam a relação de poder Nesse nível de análise o sistema hegemônico pode estabilizar as relações de dominação e poder por meio de um acordo tácito entre políticos e eleitoresas Um futuro governo daria a dominantes e dominadosas vantagens positivamente avaliadas enquanto um outro beneficiaria mais dominantes do que dominadosas Assim o sistema seguiria seu fluxo em detrimento da primazia do crescimento do país para o benefício de todo o povo com o combate efetivo de nossa grave desigualdade social 34 Representação dos atores sociais A representação dos atores sociais é relevante para o processo analítico por permitir identificar papéis perceber em quais enquadres osas participantes estão posicionados nos textos quais estão presentes e quais deveriam estar discutir os possíveis efeitos das formas de representação inclusive as que incluem atores nos textos e as que de maneira explícita ou subreptícia os excluem Fairclough 2003 sugere algumas maneiras por meio das quais se pode observar a representação de atores sociais18 Apresentamos a seguir uma exemplificação na figura 7 Inclusão ou exclusão Não mencionado Mencionado em alguma parte do texto mas inferido em outras A exclusão tem importância sociopolítica ou é questão de redundânciairrelevância Pronome ou nome Qual das duas formas Função gramatical Atua ou é afetado Cláudia ofendeu Pedro Aparece como nome possessivo ou pronome Amigo de Raquel nosso amigo Ativo ou Passivo Atua é afetado ou se beneficia Figura 7 Representação de atores sociais 18 A tradução como representação de agentes sociais empregada em Bessa 2014 não se vincula a masculino genérico e destaca a ação social das pessoas agentes Neste capítulo será mantida a tradução usual de Inquérito CPI foi criada para averiguar a denúncia e assim foi designada CPI do Mensalão Independente do resultado das investigações o termo foi amplamente utilizado e foi inequivocamente relacionado à corrupção Mesmo quem negava a possibilidade de a denúncia ser verídica dizia que o mensalão não existiu ou seja empregava a designação O termo sanguessugas referese a parlamentares que estariam envolvidosas em fraudes no sistema público de saúde principalmente na utilização de emendas orçamentárias para a compra de ambulâncias superfaturadas para prefeituras e recebimento de propinas por essas operações A palavra também foi usada para nomear uma investigação a CPI dos sanguessugas Em uma relação metafórica com o animal as pessoas envolvidas passaram a pertencer à máfia dos sanguessugas A expressão limpar o Brasil remete à sujeira mas o termo é amplo Há a conotação de sujeira sob o tapete vinculada à aparência da limpeza Nesse sentido o caro financiamento privado de campanhas sustenta partidos em um jogo sujo Empresas financiam partidos e são beneficiadas por vantagens que também retornam a políticos por meio de propinas Destaquese a negatividade das escolhas lexicais Os termos roubalheira nenhum escândalo pizza vergonhosa sanguessugas anular convergem para a prática política situando o discurso a partir do viés da contestação da mesma em razão da não aceitação Por outro lado há conclusões divergentes Acho não tenho certeza de que eles vaivão ser bombons mas muito bombons mesmo pra nós Nesse ponto a crítica se volta para eleitoresas das classes baixa e alta que receberiam benefícios e assim sustentariam a relação de poder Nesse nível de análise o sistema hegemônico pode estabilizar as relações de dominação e poder por meio de um acordo tácito entre políticos e eleitoresas Um futuro governo daria a dominantes e dominadosas vantagens positivamente avaliadas enquanto um outro beneficiaria mais dominantes do que dominadosas Assim o sistema seguiria seu fluxo em detrimento da primazia do crescimento do país para o benefício de todo o povo com o combate efetivo de nossa grave desigualdade social 34 Representação dos atores sociais A representação dos atores sociais é relevante para o processo analítico por permitir identificar papéis perceber em quais enquadres osas participantes estão posicionados nos textos quais estão presentes e quais deveriam estar discutir os possíveis efeitos das formas de representação inclusive as que incluem atores nos textos e as que de maneira explícita ou subreptícia os excluem Fairclough 2003 sugere algumas maneiras por meio das quais se pode observar a representação de atores sociais18 Apresentamos a seguir uma exemplificação na figura 7 Inclusão ou exclusão Não mencionado Mencionado em alguma parte do texto mas inferido em outras A exclusão tem importância sociopolítica ou é questão de redundânciairrelevância Pronome ou nome Qual das duas formas Função gramatical Atua ou é afetado Cláudia ofendeu Pedro Aparece como nome possessivo ou pronome Amigo de Raquel nosso amigo Ativo ou Passivo Atua é afetado ou se beneficia Figura 7 Representação de atores sociais 18 A tradução como representação de agentes sociais empregada em Bessa 2014 não se vincula a masculino genérico e destaca a ação social das pessoas agentes Neste capítulo será mantida a tradução usual Fairclough 2003 também indica que Van Leuween 1997 apresenta diversas outras variáveis Van Leuween 1997 2008 faz uma discussão mais ampla sobre o tema enfocando perspectivas sociológicas críticas e linguísticas e apresenta um quadro por ele nomeado de rede de sistemas da representação dos atores sociais no discurso A exclusão e a inclusão de agentes sociais são os elementos iniciais do sistema que se subdividem e ramificam Nessa rede estão englobadas e pormenorizadas as variáveis sugeridas por Fairclough 2003 A representação dos atores sociais mostrase produtiva por exemplo na análise das CES em tela por focalizar um processo eletoral no qual candidatas candidatos e respectivos partidoscoligações disputavam a preferência do eleitorado A forma como esses atores figuram na CE Classes sociais e o voto19 será observada a seguir Dois homens e uma mulher representam estratos da sociedade por meio de classificação genérica classe baixa classe média classe alta Ocorre assim uma referenciação impessoal resultado de uma estereotipia20 O pronome pessoal eu é um identificador de cada personagem pois para a função que eles exercem no texto não havia necessidade de nomeálos Nesse sentido o eu genérico equivale à utilização de nós e a gente no mesmo texto porque é um eu do estereótipo representando cada classe como um todo O uso de a gente tanto pode ser restrito à classe média quanto generalizado a todas as classes considerando que os fatos citados o escândalo do mensalão e da pizza vergonhosa tiveram ampla divulgação Todos os candidatos e todas as candidatas são classificadosas por meio de Nenhum deles Esses termos generalizam a impossibilidade de se acabar com a roubalheira utilizando o pronome indefinido nenhum ao mesmo tempo em que o circunscreve no âmbito da disputa presidencial Assim o pronome pessoal eles depreendido da contração de eles deles faz referência catafórica21 aos atores sociais políticos direta ou indiretamente mencionados ao longo do texto Lula e Alckmin são nomeados na CE Com certeza o fato de estarem à época em primeiro e segundo lugares nas pesquisas de intenção de voto foi determinante Na fala da classe média eles também são referenciados via classificações Lula petistas situação Alckmin tucanos oposição por meio das quais se estabelecem pontos de vínculo com a corrupção mensalão sanguessugas e impunidade uma pizza vergonhosa inviabilizando o recebimento do voto No entanto eles terminam se fortalecendo pelo desejo da classe média de não ser omissa Textualmente é dito que não dá pra votar no Alckmin nem no Lula muito menos nos demais Os outros seriam opções piores ou não seriam opção favorecendo assim as candidaturas com maior intenção de voto naquele momento A eleição presidencial de 2006 teve duas candidatas e seis candidatos Cinco desses nomes são classificados como nanicos numa generalização engloba em um mesmo grupo as candidaturas que obtinham um pequeno percentual nas pesquisas eleitorais Um dos efeitos ideológicos desse tipo de classificação considerando também o enunciado em que se encontra é o de cristalização de tendências Ora se as intenções indicam poucas possibilidades de disputa dessas candidaturas e elas são tachadas de nanicas passase a ideia de que a reversão é implausível Por seus efeitos construtivos a intenção de voto garante antecipadamente o resultado final Seria diferente se os termos fossem candidatos com baixa intenção de voto No texto os nanicos não estão nanicos são nanicos não se trata de uma circunstância é uma questão de classificação por meio do nome designativo Diante dessa realidade até o espaço democrático de debate é reduzido pois as emissoras de TV por exemplo abrem maior tempo e exposição aos candidatos e às candidatas bem classificadosas nas pesquisas A tese de que a melhor candidatura é aquela com mais chances de vencer combinada com a manutenção de práticas eleitorais discriminatórias fortalece as estruturas de poder e inviabiliza possibilidades de mudança A representação da esquerda radical e ideologicamente ultrapassada pode referirse também ao candidato Rui Costa Pimenta mas é mais provável que o grupo nominal remeta principalmente a Heloísa Helena uma vez que ela estava em terceiro lugar nas pesquisas e com índices nem tão pequenos na época 12 o segundo lugar tinha 21 pontos percentuais e o candidato Rui Costa tinha menos de 122 Os termos que levam à representação de Heloísa Helena são depreciativos e sua candidatura é carregada de um sentido anacrônico ideologicamente ultrapassada e politicamente inadequado radical Todas as discussões e propostas de ação de um processo de candidatura do qual participaram pessoas fortemente engajadas contra a corrupção e que não eram alvo de acusações de desvios são reduzidas negativamente adjetivadas Esses sujeitos são praticamente eliminados por meio de mecanismos discursivos e sociais Candidatos e candidatas da terceira posição em diante nas pesquisas foram incluídos no texto para serem excluídos da eleição Diante dessa CE restaria aos eleitores e às eleitoras o niilismo a perda da crença e convicções ou a busca de interesses individuais ou da classe a que pertencem O texto tem a característica de dar visibilidade a questões de classe social num período em que o determinismo econômico é forte mas não é o único Embora a provocação à reflexão esteja presente há um enfraquecimento nas aberturas para a mudança Parece que tudo está dado e não há o que fazer o que não é verdade O fatalismo e a situação inevitável com enfraquecimento do poder estatal são parte do projeto neoliberal de formação de blocos econômicos Uma vez representados os discursos que estavam na superfície do debate político temos na CE um retrato enviesado da opinião pública Desqualificar políticos que poderiam combater o sistema também é uma das formas de manipulação ideológica de expurgo do outro Assim a constatação de um quadro ruim leva a população ao conformismo e à falta de agência para a mudança 35 Interdiscursividade Considerando a complexidade das sociedades atuais e a multiplicidade de discursos que se diferenciam mas que também se mesclam modificandose ou propiciando a criação de novos discursos é importante na ADC tratar da análise da interdiscursividade a combinação de diferentes discursos Fairclough 2001 2003 Chouliaraki e Fairclough 1999 Diferentes discursos estão relacionados por exemplo a diferentes posições de pessoas no mundo e a diferentes formas de relações entre pessoas Dessa forma disputas por poder dominação competição cooperação desejo de mudança são recursos discursivos socialmente diferenciados Para identificar e analisar discursos como representaçãoconstrução de aspectos da vida social Fairclough 20032009 sugere levar em conta o grau de repetição de determinado discurso bem como uma relativa estabilidade ao longo do tempo e sua identificaçãocorrelação com determinados grupos de pessoas Uma palavra ou frase23 podem remeter a determinado discurso mas não o fazem por si sós é necessário atentar ao textocontexto para chegar a essa conclusão as relações semânticas estabelecidas colaboram com essa tarefa O autor salienta também que não há um discurso homogêneo por exemplo o discurso neoliberal24 guarda uma série de características comuns porém nem todas as nuances desse discurso são iguais na vida política Qualquer texto é constituído de diferentes discursos Mesmo aqueles que aparentemente apresentam um único discurso guardam relação implícita com um outro inclusive com discursos antagônicos Eles existem nas relações das práticas sociais e dessa maneira coexistem em uma perspectiva analítica no campo discursivo interdiscurso Segundo Fairclough 2003 diferentes discursos podem ser identificados por itens lexicais e relações entre itens lexicais bem como por relações metafóricas Como exemplo em Classes sociais e o voto25 há o discurso da estratificação econômicosocial26 o discurso da corrupção o discurso da cidadania e o discurso da impunidade Algumas marcas textuais dos discursos encontradas de forma explícita podem ser observadas na figura 8 Discursos remetem a práticas específicas O discurso da estratificação social por exemplo é utilizado em censos para monitoramento de políticas públicas de promoção da igualdade e diminuição da pobreza Esse discurso se vincula ao lado político contudo também é empregado em campanhas publicitárias entre elas as campanhas eleitorais Ao ser evocado na CE remonta a pesquisas de intenção de voto que tanto pode ser desenhada por regiões como por classes sociais Dois outros discursos relacionamse diretamente o da impunidade e o da corrupção Uma das críticas recorrentes ao âmbito político brasileiro é a impunidade O foco de certa forma é desviado da impunidade e da corrupção para o suposto favorecimento próprio de camadas estratificadas da população Demonstrase um fatalismo que propicia a manutenção do status quo Essa visão fatalista ante a corrupção encontra um quadro social que a sustenta Assim os discursos são operacionalizados em práticas situadas no tempo e no espaço Políticos envolvidos nos casos do mensalão e dos sanguessugas por exemplo voltaram ao Congresso via eleição Nesse ponto também seria um grande reducionismo dizer que é o povo que elege os corruptos O discurso da cidadania e o exercício do voto garantem a perspectiva do poder emanar do povo e de estarmos em um Estado Democrático de Direito A própria CE destaca que a omissão não seria a atitude mais adequada A CE evoca a situação anterior às eleições para ilustrarrepresentar a frustração pela pizza vergonhosa que no caso dos sanguessugas se repete Trabalhase no texto a metáfora da pizza do acabar em pizzaterminar em pizza uma aparência séria que termina na comemoração zombeteira da impunidade com a ingestão desse prato italiano A expressão é tão conhecida que apenas o uso da palavra pizza associado à política já remete à significação completa Ao observar os diferentes discursos evocados no texto vemos que as práticas das quais eles emergem estão relacionadas e constroem MARCUSE H Negations Essays in Critical Theory Boston Beacon Press 1968 MARTINS A R N 2011 A polêmica construída Racismo e discurso da imprensa sobre a política de cotas para negros Brasília Editora do Senado MARX K ENGELS F 2002 A ideologia alemã São Paulo Martins Fontes p 2425 MATTHIESSEN C 2009 Ideas and New Directions In HALLIDAY M WEBSTER J orgs 2009 Continuum Companion to Systemic Functional Linguistics London Continuum p 1258 MCLUHAN M 1977 A galáxia de Gutenberg a formação do homem tipográfico Trad L G de Carvalho e A Teixeira São Paulo Companhia Editora Nacional MELO I F 2012 Por uma análise crítica do discurso In MELO I F org Introdução aos estudos críticos do discurso teoria e prática Campinas Pontes p 5398 2013 Ativismo LGBT na imprensa brasileira análise crítica da representação de atores sociais na Folha de S Paulo Doutorado São Paulo Universidade de São Paulo MEURER J L BONINI A MOTTAROTH D orgs 2005 Gêneros teorias métodos debates São Paulo Parábola 2005 OLIVEIRA K C 2012 Jornal 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discurso crítica da publicidade Um estudo sobre a promoção de medicamentos no Brasil Covilhá Labcom Livros RAMALHO V V S RESENDE V M 2011 Análise de discurso para a crítica o texto como material de pesquisa Campinas Pontes REISIGL M 2001 Discourse and Discrimination Rhetorics of Racism and Antisemitism Nova York Routledge REISIGL M WODAK 2009 The DiscourseHistorical Approach DHA In WODAK R MEYER M Methods of Critical Discourse Analysis Londres Sage RESENDE V M 2008 Análise de discurso crítica e etnografia o movimento nacional de meninos e meninas de rua sua crise e o protagonista juvenil Tese Doutorado em Linguística Brasília Universidade de Brasília 2009 Análise de discurso crítica e realismo crítico implicações interdisciplinares Campinas Pontes RESENDE V M RAMALHO V 2006 Análise de discurso crítica São Paulo Contexto 2012 Análise de discurso crítica como interdisciplina para a crítica social uma introdução In MELO I F org Introdução aos estudos críticos do discurso teoria e método 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incorporados e reinterpretados em outro Esse conceito foi desenvolvido por Julia Kristeva com base nas ideias de dialogismo de Mikhail Bakhtin que defende que todo enunciado está em contato com outras vozes Na prática a intertextualidade funciona como uma teia de referências e relações em que múltiplos discursos se entrelaçam para construir sentidos complexos Na charge Classes sociais e o voto a intertextualidade desempenha um papel crucial ao expor as diferentes percepções políticas de três classes sociais baixa média e alta em relação às eleições de 2006 no Brasil Ao trazer ironia recontextualização e pressuposições a charge revela a relação dialética entre os interesses e os pontos de vista de cada classe social intensificando a crítica política e social do autor A Importância da Intertextualidade no Discurso A intertextualidade enriquece o discurso ao possibilitar uma interpretação mais ampla e profunda do texto Ao incorporar vozes e ideologias de outros discursos ela permite que o leitor identifique essas referências o que amplia o entendimento do contexto e traz à tona novas camadas de significados Esse recurso é essencial em textos críticos como charges e caricaturas pois ele pode questionar ironizar ou reforçar ideias de forma implícita o que leva o leitor a um estado de reflexão crítica Na charge Classes sociais e o voto a intertextualidade desempenha essa função ao representar o cenário político de forma ambígua e repleta de significados ocultos revelando as motivações e expectativas das diferentes classes sociais em relação ao processo eleitoral Como Analisar a Intertextualidade A análise da intertextualidade envolve a identificação dos pontos de ênfase no discurso explorando como elementos implícitos e explícitos constroem a mensagem do texto Na charge o uso de ironia recontextualização e pressuposições contribui para intensificar o efeito do discurso sobre o leitor que é levado a questionar as intenções subjacentes às falas das classes sociais Esses recursos criam um ambiente dialético em que ideias contrastantes entram em confronto evidenciando a complexidade do tema abordado e expondo os conflitos de interesses presentes no contexto político Exemplos e Análise dos Elementos Intertextuais na Charge Ironia A ironia é um recurso intertextual que expressa um juízo crítico ao ecoar enunciados de forma invertida ou sarcástica Na fala da classe baixa Então eu estou com o Lula Porque eu acho Acho não tenho certeza de que ele vai ser bom mas muito bom mesmo pra nós a ironia se manifesta de forma sutil Embora a frase pareça demonstrar confiança o tom e a escolha das palavras sugerem uma certa dúvida como se a certeza fosse forçada Essa ironia é percebida pelo leitor como um sarcasmo que questiona a credibilidade das promessas políticas feitas às classes mais pobres Essa expressão muito bom mesmo pra nós tornase assim uma crítica à vulnerabilidade da classe baixa que muitas vezes é seduzida por promessas que raramente são cumpridas O leitor é levado a questionar a validade das promessas eleitorais percebendo o sarcasmo na declaração e refletindo sobre a realidade das expectativas dessa classe A ironia também é evidente na fala da classe alta Então eu estou com o Lula ou com o Alckmin Porque eu acho Acho não tenho certeza de que eles vão ser bons mas muito bons mesmo pra nós Nesse caso a ironia destaca o pragmatismo da classe alta que se adapta facilmente a qualquer um dos candidatos pois ambos garantirão a manutenção de seus privilégios A frase muito bom mesmo pra nós revela a noção de que o voto da classe alta é guiado por um cálculo estratégico e não por convicção Assim a fala carrega uma crítica implícita ao sistema eleitoral sugerindo que para as elites qualquer resultado é satisfatório desde que mantenha seus interesses protegidos Recontextualização A recontextualização ocorre quando um discurso é retirado de seu contexto original e inserido em um novo modificando seu significado A fala da classe média é um exemplo claro disso Não dá pra votar no Alckmin nem no Lula Muito menos nos candidatos nanicos ou na esquerda radical e ideologicamente ultrapassada Essa declaração representa a visão de descrença da classe média recontextualizando o discurso comum de falta de alternativas políticas Ao expressar sua rejeição aos principais candidatos e a grupos minoritários a classe média exibe uma postura de frustração e neutralidade A frase não dá pra votar sugere a falta de confiança dessa classe nas opções políticas disponíveis e reflete um sentimento de alienação em relação ao processo eleitoral Além disso o uso do termo candidatos nanicos e esquerda radical recontextualiza o discurso político sugerindo que a classe média considera essas opções inviáveis o que evidencia sua sensação de abandono pelo sistema A recontextualização destaca o desapontamento da classe média com a política e reforça a ideia de que essa classe se sente sem representantes criando um discurso cético e distanciado Pressuposição A pressuposição é um recurso intertextual que incorpora significados implícitos obrigando o leitor a deduzir informações que não estão expressas de forma direta Na fala da classe alta Tenho certeza de que eles vão ser bons mas muito bons mesmo pra nós existe uma pressuposição de que qualquer candidato atenderá aos interesses dessa classe que vê o processo eleitoral como um meio de manter seus privilégios intactos Essa afirmação implica que o voto é calculado estrategicamente para garantir que o poder e o status da classe alta sejam preservados independentemente do vencedor Outro exemplo de pressuposição aparece na fala da classe baixa que apoia o candidato popular pressupondo que ele defenderá os interesses desse grupo O trecho pra nós contém o pressuposto de que Lula por ter origem popular será o candidato mais próximo das demandas da classe baixa Essa pressuposição reforça a expectativa de que as promessas feitas a essa classe sejam cumpridas mas ao mesmo tempo o leitor percebe a crítica implícita de que essas promessas são muitas vezes uma ilusão Efeitos da Intertextualidade no Leitor Os elementos intertextuais presentes na charge geram um efeito de reflexão crítica no leitor que é levado a identificarse com os discursos ou a questionar a sinceridade das falas A ironia ao destacar a desconfiança com as promessas políticas provoca uma sensação de ceticismo especialmente quando vista nas falas da classe baixa e da classe alta A recontextualização reforça o distanciamento da classe média que se vê sem alternativas no cenário político e as pressuposições fazem o leitor perceber a manutenção dos privilégios da classe alta mesmo com a alternância de poder Ao abordar as diferentes reações das classes ao processo eleitoral a charge explora a dialética intertextual ao colocar em confronto as visões e os interesses conflitantes Esse ambiente dialético permite ao leitor observar as contradições entre as expectativas de cada classe social e as realidades do sistema político incentivando uma reflexão sobre as limitações do processo eleitoral e as desigualdades implícitas Conclusão A intertextualidade na charge Classes sociais e o voto é uma ferramenta poderosa que permite construir um discurso multifacetado e crítico sobre as desigualdades sociais e as expectativas políticas das diferentes classes Ao utilizar ironia recontextualização e pressuposições o autor expõe os interesses e as contradições das classes sociais de forma implícita levando o leitor a uma reflexão crítica sobre o contexto político brasileiro Esse uso estratégico de intertextualidade amplia a complexidade do discurso e cria um diálogo entre as expectativas das classes sociais e a realidade das eleições Dessa maneira a intertextualidade não apenas conecta o leitor ao contexto social e político representado mas também o desafia a questionar a validade das promessas eleitorais e as estruturas de poder que sustentam as desigualdades Em última análise a charge utiliza a intertextualidade para construir uma crítica incisiva e convidar o leitor a refletir sobre o papel das classes sociais no cenário eleitoral
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS X LETRAS LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS TEXTO E DISCURSO Discentes Andressa S Santos Juliana N Santos e Letícia B de Jesus Docentes Décio Bessa e Ramom Andrade Categorias de análise Índice 1 2 3 A Intertextualidade de um texto é a presença de elementos de outros textos nele e então potencialmente de outras vozes além da voz doa autora que podem estar relacionados discutidos assumidos rejeitados de várias maneiras Fairclough 2003 218 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE 1 INTRODUÇÃO cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva Bakthin 2003 297 O termo intertextualidade é de Kristeva 19661986 com base nas discussões de Bakhtin sobre gênero e principalmente sobre dialogismo INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE Dialética Os textos não se limitam apenas a copiar outros textos mas sim dialogar com eles É importante buscar identificar quais os textos e vozes estão presentes ou ausentes no texto e o que essa presença ou ausência significa INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE O texto é retirado de seu contexto original e colocado em um novo modificando o seu significado ou intenção Recontextualização INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE 01 02 Negações Implicam uma asserção verdade a outro texto Pressuposições Considera a presença de outro texto incorporado em preposições estabelecidas Marcas de intertextualidade INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE Marcas de intertextualidade 1 O novo fiscal de rendas continua estudando para concursos Pressuposto o fiscal estudava antes de passar 2 A espera dos candidatos pelo gabarito oficial acabou Pressuposto os candidatos estavam esperando o resultado EXEMPLOS Marcas de intertextualidade INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE 03 Marcas de intertextualidade Marcas de intertextualidade INTRODUÇÃO 1 Ironias ecoa o enunciado de outro texto expressando alguma atitude negativa CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE Classe Baixa Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula Porque eu acho Acho não tenho certeza de que ele vai ser bom mas muito bom mesmo pra nós A série Entendendo as Eleições 2006 apresenta Classes sociais e o voto A classe baixa busca a esperança em Lula INTRODUÇÃO 1 CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE Classe média O escândalo do mensalão poderia ter ajudado a limpar o Brasil Mas foi só a investigação contra os petistas alcançarem também os tucanos e o que a gente viu foi uma pizza vergonhosa que se repete agora com os sanguessugas que têm suspeitos na situação e na oposição Então não dá pra votar no Alckmin nem no Lula Muito menos nos candidatos nanicos ou na esquerda radical e ideologicamente ultrapassada Francamente não sei o que fazer Não quero anular o voto porque seria omissão mas como cidadã eu INTRODUÇÃO 1 A série Entendendo as Eleições 2006 apresenta Classes sociais e o voto A classe média expressa desilusão com o sistema político CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE Classe Alta Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula ou com o Alckmin Porque eu acho Acho não tenho certeza de que eles vão ser bons mas muito bons mesmo pra nós INTRODUÇÃO 1 A série Entendendo as Eleições 2006 apresenta Classes sociais e o voto A classe alta se preocupa com a preservação de seus privilégios CATEGORIAs DE ANÁLISE INTERTEXTUALIDADE REFERêNCIAS BESSA Décio SATO Denise Tamãe Borges Categorias de análise In BATISTA José Ribamar Lopes SATO Denise Tamãe Borges MELO Irã Ferreira de Org Análise de discurso crítico para linguistas e não linguistas 1 ed São Paulo Parábola 2018 p 142153 Obrigado pela atenção O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação mas aquilo por que pelo que se luta o poder do qual nos queremos apoderar Michel Foucault INTERTEXTUALIDADE A Intertextualidade de um texto é a presença de elementos de outros textos nele e então potencialmente de outras vozes além da voz doa autora que podem estar relacionados discutidos assumidos rejeitados de várias maneiras Fairclough 2003 218 Dessa forma a intertextualidade é quando um texto incorpora ou faz referências a outros textos Isso significa que o autor pode trazer ideias estilos conceitos de outros textos para dentro do seu texto O termo intertextualidade é de Kristeva 19661986 com base nas discussões de Bakhtin sobre gênero e principalmente sobre dialogismo Bakhtin traz que cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva Bakthin 2003 297 Assim o texto traz ecos de outros textos faz referência a outros textos mesmo que indiretamente Os enunciados que estão dentro da mesmo esfera de comunicação compartilham referências e significados um grupo ou uma comunidade que compartilham o mesmo contexto históricosocial Dialética Os textos não se limitam apenas a copiar outros textos mas sim dialogam com eles Nenhum texto existe isoladamente Cada obra é influenciada por outras estabelecendo um diálogo entre elas Essa rede de referências cria novos significados onde os autores se apropriam de vozes alheias reinterpretandoas e transformandoas essas referências Esses textos não se mistura de forma virar uma coisa só cada um mantém sua voz mas influência e acrescenta ao outro É importante buscar identificar quais os textos e vozes estão presentes ou ausentes no texto e o que essa presença ou ausência significa Na análise do discurso é interessante observar quais os textos ou vozes aparecem ou não no texto A escolha de incluir ou excluirocultar textos e vozes tem um propósito e um significado que ajuda a entender o que o autor quer comunicar Recontextualização O texto é retirado de seu contexto original e colocado em um novo modificando o seu significado ou intenção Nas charges eletrônicas por exemplo as falas dos personagens fazem referência ao mundo real Quando essas falas são alteradas ou inseridas nas charges sem mudança elas ganham uma nova interpretação que pode intensificar o significado ou reconfiguralo dependendo da intenção do autor no caso da charge seria humorística ou crítica por exemplo MARCAS DE INTERTEXTUALIDADE Negações Implicam uma asserção verdade a outro texto Tratase de um tipo de pressuposição pois incorpora outros textos apenas com objetivo de contradizelos ou rejeitalos Ironias Ecoa o enunciado de outro texto expressando alguma atitude negativa Ela envolve dizer algo mas significar o oposto havendo uma contradição do que está sendo dito o que realmente se quer comunicar Pressuposições Considera a presença de outro texto incorporado em preposições estabelecidas Consiste em deduzir algo a partir do enunciado a informação transmitida de forma não explicita pois o autor assume que o leitorouvinte já sabe 1 O novo fiscal de rendas continua estudando para concursos Pressuposto o fiscal estudava antes de passar 2 A espera dos candidatos pelo gabarito oficial acabou Pressuposto os candidatos estavam esperando o resultado CHARGE O homem do campo representando a classe baixa expressa uma visão de esperança e desilusão Sua afirmação de que nenhum deles vai acabar com a roubalheira é um eco de discursos populares que permeiam a cultura brasileira onde a corrupção é um tema recorrente principalmente no contexto político A escolha de apoiar Lula indica uma busca por mudança e uma crença na possibilidade de um futuro melhor Essa perspectiva reflete uma intertextualidade com as promessas de transformação social que marcaram o governo petista como o bolsa família indicando que apesar das falhas ele ainda é visto como uma figura capaz de representar os interesses da classe baixa A mulher da classe média traz à tona um discurso crítico e cético faz referência ao escândalo do mensalão e Operação sanguessuga A expressão pizza vergonhosa evoca não apenas descontentamento mas também uma crítica à falta de responsabilização dos políticos Por isso ela encontra dificuldades em votar Sua hesitação em anular o voto reflete uma intertextualidade com debates sobre cidadania e responsabilidade política revelando um dilema moral que ressoa com muitos participantes da classe média que se sentem traídos pelo sistema O banqueiro representando a classe alta apresenta uma visão pragmática e elitista onde ele apta pelo tanto faz Sua afirmação de que Lula ou Alckmin vão ser bons para nós indica um foco nos interesses econômicos e na manutenção do status quo Essa posição dialoga com narrativas históricas sobre como as elites frequentemente manipulam o sistema político para proteger seus interesses A intertextualidade aqui se manifesta na relação entre o poder econômico e político onde as promessas de ambos os candidatos são filtradas através das necessidades da classe alta revelando a desconexão entre suas preocupações e as realidades enfrentadas pelas classes mais baixas Apanhado Geral A charge ao reunir essas três vozes distintas cria um espaço intertextual rico em significados A classe baixa busca a esperança em Lula enquanto a classe média expressa desilusão com o sistema político a classe alta se preocupa com a preservação de suas privilégios Essa dinâmica revela não apenas as tensões sociais existentes mas também como cada classe interpreta e responde aos mesmos eventos políticos de maneiras profundamente diferentes É fundamental ressaltar que a intertextualidade não é apenas uma ferramenta analítica é um reflexo das complexidades da sociedade brasileira contemporânea As vozes dos personagens se entrelaçam em um discurso mais amplo sobre corrupção responsabilidade e representação política permitindo ao espectador refletir sobre seu próprio lugar nesse mosaico social Assim a acusação não apenas ilustra as diferenças entre as classes sociais mas também provoca uma reflexão crítica sobre o papel do eleitorado em um contexto marcado pela insatisfação e pela busca por mudanças significativas Direção ANDREIA CUSTÓDIO Capa e diagramação TELMA CUSTÓDIO Revisão PARÁBOLA EDITORIAL CIPBRASIL CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS RJ B169a Batista Jr José Ribamar Lopes 1980 Análise de discurso crítica para linguistas e não linguistas José Ribamar Lopes Batista Jr Denise Tamaê Borges Sato Iran Ferreira de Melo organização 1 ed São Paulo Parábola 2018 224 p 23 cm Linguagem 83 Inclui bibliografia ISBN 9788579341472 1 Discurso 2 Estudos da linguagem 3 Análise de discurso 3 Sentidos e discurso I Título II Série 1849097 CDD 40141 CDU 8142 Leandra Felix da Cruz Bibliotecária CRB76135 Direitos reservados à PARÁBOLA EDITORIAL Rua Dr Mário Vicente 394 Ipiranga 04270000 São Paulo SP pabx 11 50619262 50618075 fax 11 25899263 home page wwwparabolaeditorialcombr email parabolaparabolaeditorialcombr Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico ou mecânico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão por escrito da Parábola Editorial Ltda ISBN 9788579341472 do texto José Ribamar Lopes Batista Jr Denise Tamaê Borges Sato e Iran Ferreira de Melo 2018 da edição Parábola Editorial São Paulo agosto de 2018 CAPÍTULO 6 Categorias de análise Décio Bessa Denise Tamaê Borges Sato 1 O que analisar A análise de discurso crítica é uma ferramenta de investigação produtiva quando aplicada a pesquisas que visam desvendar as mudanças decorrentes do novo capitalismo processo de mundialização do comércio conhecido como globalização Para Fairclough 2006 a ADC compreende a globalização na medida em que promove a mudança social O processo de mudança social se relaciona ao conceito de hegemonia1 definido por Gramsci 1971 como equilíbrio instável baseado em arranjos vantajosos ainda que conflitantes do ponto de vista ideológico Ainda segundo Gramsci 1971 estabelecer o poder exige um processo de universalização de um interesse particular que exige o exercício da liderança Fairclough 2001 explica que a universalização de um objetivo de um interesse de um posicionamento tomados como comuns aos diferentes participantes só é alcançada pelo domínio econômico político e cultural por meio do poder ideológico2 sobre um grupo ou sociedade A ideologia estabelece sentidos e representações que trazem vantagens para grupos específicos contribuindo para que surjam ou se sustentem as relações de poder Trazendo os conceitos de ideologia e poder para a ADC Fairclough 2003 afirma que as representações são operacionalizadas pelo poder na constituição de processos de dominação e exploração a ponto de serem inculcadas em identidades estilos que repercutem nas formas de crençasvaloresdesejos e no próprio modo de agir Dessa forma a ideologia envolve o ser humano seu corpo seus gestos ganhando espaço nas vestimentas nos usos linguísticos nas práticas e em tudo o que envolve o ser com ela identificado Repetida e exaustivamente vivenciada em práticas distintas sob diferentes formas de manifestação a ideologia se naturaliza Nesse ponto o poder atinge o nível de compartilhamento e de universalização 1 Para maior detalhamento veja os capítulos 3 Conceitoschave em análise de discurso crítica e 5 Teoria social do discurso e evolução da análise de discurso crítica 2 Thompson 2002 define ideologia como as maneiras como o sentido age na sustentação ou estabelecimento das relações de dominação Para aprofundamento veja o capítulo 4 Discurso e prática social da hegemonia estabelecendose Ao estudar a globalização por meio de gêneros discursivos discursos e estilos conseguimos desvelar a partir de aspectos semióticos nuances da hegemonia A proposta de Fairclough é realizar uma análise consistente em termos de sustentação argumentativa com evidências em análise de práticas e construir um novo sentido para as ideologias naturalizadas dessa forma desvelando manifestações de poder A demonstração desses traços acontece por meio da constatação de aspectos semióticos e dialéticos nas diferentes formas de existir da ideologia situandoas em uma estrutura de poder Esse movimento passaria da análise de textos à análise de estruturas e de suas manifestações ou seja à explanacao explicação das funções do discurso nas produçõesreprodução do poder Fairclough 2006 apresenta as características da globalização Segundo ele a mídia e os meios de comunicação tratam o processo de formação de mercados internacionais em escala global como algo não provocado por agentes Sem a percepção das polaridades agentealvo das ações a população não tem a quem atribuir o poder senão a um sistema tão perverso quanto abstrato Em outro aspecto Fairclough 2006 chama a atenção para a estratégia de agências países e corporações internacionais na construção da mudança no consumo produção circulação e apropriação de recursos Ao produzir mudanças o discurso opera em sua constituição sustentação e propagação A construção discursiva da globalização por sua vez favorece a ocultação do processo neoliberal calcado na formação de mercados globais que interligam e disseminam as visões individuais e particulares de um grupo sobre os outros sob a capa de uma democracia ocidental baseada em estratégias comerciais de oferta e procura A partir do fortalecimento dos grupos econômicos e dos mercados os países são representados como não suficientes incapazes e desprovidos de recursos ante o crescimento da pobreza exceto por propostas inócuas de inclusão social Fairclough 2006 Nesse patamar a globalização dá solidez ao abuso de poder e à corrupção das políticas locais Outro estágio é a legitimação de políticas não populares como a ampliação da contribuição previdenciária a redução de direitos trabalhistas a propagação discursiva de um fatalismo segundo o qual se justifica a primazia da economia sobre o indivíduo São utilizadas narrativas e estratégias retóricas para a formação de uma ideologia da globalização Fairclough 2006 Considerandose as estratégias do neoliberalismo a ADC que estuda a linguagem em uso propõe identificar essas ferramentas de persuasão operadas no discurso e pelo discurso Cabe ao analista identificar o problema analisar práticas situadas e localizálas em um nível global A ADC ao desvelar estratégias de poder abre a possibilidade de transformar mecanismos de controle convidando os participantes à reconstrução de papéis sociais por meio da reflexividade com vistas à reorganização dos níveis de poder por meio de representações poderosas de grupos ou pessoas tanto quanto de suas redes discursivas 2 Primeiros passos como analisar A ADC tem como um de seus pilares a percepção de que os elementos das práticas sociais são relacionais3 e dialéticos As práticas articulam de modo relacional seus elementos Contudo cada prática se articula a outras práticas Esse é o aspecto relacional os elementos e as redes de práticas influenciamse de modo a fazer circular um conjunto de conhecimentos e crençasvaloresdesejos que compartilhados formam as ordens do discurso Nesse movimento cada elemento influencia e é influenciado pelos demais elementos compondo um organismo uma instabilidade que não reduz nenhum de seus elementos Essa mútua influência constitui o aspecto dialético4 A abordagem dialéticorelacional de Fairclough prevê a indissociabilidade entre linguagem e sociedade como construto teórico e também uma realidade da qual se pode depreender que ao analisar os textos os elementos linguísticos trazem marcas dos demais elementos facultando a compreensão da prática Por outro lado a ADC se firma na possibilidade da mudança tanto aquela promovida pelo contexto do neoliberalismo quanto aquelas originadas nos movimentos de resistência Dessa forma a ADC no bojo da análise do novo capitalismo se ocupa prioritariamente dos processos de mudanças socialmente materializados nas relações entre os gêneros discursivos elementos semióticos da atividade materialação os discursos elementos semióticos das representações que circulam nas práticas e os estilos manifestações semióticas dos indivíduos relacionadas às identidades Nas palavras de Fairclough 2012 309 A ADC é a análise das relações dialéticas entre semioses inclusive a língua e outros elementos das práticas sociais Essa disciplina preocupase particularmente com as mudanças radicais na vida social contemporânea no papel que a semiose tem dentro dos processos de mudança e nas relações entre semiose e outros elementos sociais dentro da rede de práticas São três as maneiras de atuação da semiose Primeiramente ela atua como parte da atividade social inserida em uma prática É parte do trabalho de um vendedor de loja por exemplo usar a língua de uma forma particular o mesmo acontecendo quando se governa um país Em segundo lugar a semiose atua nas representações Os atores sociais no curso de sua atividade produzem não só representações das práticas em que estão inseridos representações reflexivas como de outras recontextualizandoas Bernstein 1990 Chouliaraki Fairclough 1999 309310 e incorporandoas às suas próprias Além disso os atores sociais irão produzir representações de modo distinto dependendo da posição que ocupam dentro de suas práticas A representação é um processo de construção social das práticas incluindo a autoconstrução reflexiva as representações adentram e modelam os processos e práticas sociais Em terceiro lugar a semiose atua no desempenho de posições particulares As identidades de pessoas que operam em certas posições são apenas parcialmente determinadas pela prática em si As pessoas de diferentes classes sociais sexos nacionalidades etnias ou culturas com experiências de vida diversas produzem desempenhos distintos Para compreender tanto o aspecto dialéticorelacional quanto a mudança oa analista faz um movimento em que a identifica um problema social que tenha implicações para a ordem social b busca os elementos semióticos para a análise c volta seu olhar para a prática na busca por sua compreensão A sociedade produz a realidade Ao analisála compreendemos a sociedade suas articulações e hegemonias Dessa forma a análise nasce do social e volta a ele Para melhor visualizar esse movimento de análise a ADC traz uma metodologia proposta por Chouliaraki e Fairclough 1999 Estágio 1 Buscar o aspecto semiótico do problema Estágio 2 Identificar os obstáculos para que esse problema seja resolvido pela análise da rede de práticas das quais emerge o problema das relações entre a semiose do problema e os demais elementos de prática das relações da semiose com outros elementos dentro das práticas estrutura analítica a ordem de discurso análise interacional análise interdiscursiva e análise linguística e semiótica Estágio 3 Análise social considerar se a ordem social a rede de práticas é em algum sentido um problema ou não Estágio 4 Explanacao identificar maneiras possíveis de superar os obstáculos refletir criticamente sobre a análise Figura 1 Estágios da análise dialéticorelacional de Chouliaraki e Fairclough 1999 21 Sob a ótica da ADC o problema social corresponde aos efeitos vividos pelos indivíduos em face da nova ordem econômica A percepção de que o sistema não é abstrato e de que é passível de mudança requer um olhar crítico Tais problemas são evidenciados como algo que requer soluções atitudes emancipatórias por parte daqueles que sofrem desnivelamentos de poder Pessoas que carregam em suas vidas dificuldades em razão da classe sexo raça língua entre outros Esses problemas são mantidos e sustentados por redes de práticas Dessa forma no estágio 2 buscase visualizar os motivos pelos quais os problemas não foram superados Quais forças se relacionam e de que modo o problema é necessário para a manutenção hegemônica Nesse estágio os discursos e semioses estão imbricados operando relacionalmente com os demais elementos em uma rede de práticas que formam as estruturas ordens de discurso em seu aspecto semiótico O discurso traz os elementos de dominação ideológica que moldam a interação percebida como diferentes formas de contato ainda que não sincronizadas no tempo ou não circunscritas no espaço Textos orais escritos com ou sem imagens veiculados na internet na mídia em livros ou materiais que circulam em atividades específicas são considerados como meios de interação Na análise discursiva verificase que diferentes discursos estão presentes nas interações articulando os aspectos semióticos das práticas sociais gênero discurso e estilo Para localizálos utilizamos a análise linguística com base na proposta de Halliday 19852004 que traz categorias funcionais de análise que vinculam a análise linguística à análise social Por outro lado a análise de imagens por exemplo carece de outras categorias como a proposta da multimodalidade de Kress e van Leeuwen 2006 No estágio 3 voltamos nosso olhar para o social buscando interpretar se esse problema identificado encontra suas raízes na ordem social Nesse momento percebemos mais nitidamente a formação ideológica sustentando posições de poder Por fim no último estágio mudamos a polaridade da análise partindo do problema para as possíveis soluções por meio da mudança social São vulnerabilidades da estrutura hegemônica que uma vez desveladas contribuem para a mudança As lacunas do poder são formadas pelas divergências de interesses e pela resistência decorrente Igualmente a crítica explanatória nesse estágio revela a posição da ADC ante as ciências críticas como instrumento de ação reflexiva para a emancipação social inclusive em práticas acadêmicas 3 Categorias de análise A análise do problema e a elaboração do corpus dependem do desenho da pesquisa Durante o processo de investigação poderão ser demandadas categorias oriundas de outras áreas com possibilidade de articulação entre diferentes teorias como a teoria da polidez a teoria social do discurso a teoria das representações sociais entre outras Cabe aoa analista perceber possibilidades de apoio harmônico entre as muitas áreas existentes Contudo a base de análise é o texto O texto como unidade de análise pressupõe que a construção do corpus com dados coletados eou dados gerados5 propiciará a análise de textos de determinado gênero ou mais em um período sóciohistórico específico6 considerando as práticas sociais correlacionadas As descrições as análises as interpretações e as explicações são realizadas com base nas materialidades linguísticas presentes nos textos e embasadas nos estudos históricos sociais linguísticos que envolvem as questões de pesquisa Desse modo a análise de discurso crítica acontece na pesquisa de maneira textualmente orientada A definição central para texto neste capítulo vinculase à compreensão de Magalhães 2006 que compreende texto como a materialidade linguística e semiótica das práticas 5 Ver Bauer e Gaskell 2005 6 Geralmente da atualidade Alguns estudos podem envolver também diferentes períodos históricos sociais Também se considera a perspectiva de Chouliaraki e Fairclough 1999 144 que consideram um texto como um membro de um gênero Para exemplificar algumas das categorias de análise utilizaremos a pesquisa de Bessa 2007 como ilustração Em Fairclough 2001 e 2003 são elencadas categorias analíticas como coerência coesão controle interacional metáfora transitividade tema polidez modalidade avaliação relações semânticas relações gramaticais equivalências e diferenças representação de eventos sociais gênero discursivo intertextualidade significado das palavras representação dos atores sociais e interdiscursividade As cinco últimas categorias dessa relação serão discutidas e exemplificadas de maneira sintética neste capítulo 31 Gênero discursivo A análise do gênero discursivo se localiza no primeiro estágio de análise buscar os aspectos semióticos do problema a ser estudado vinculados às ações das pessoas em práticas sociais Tais ações são organizadas em rotinas que envolvem formas mais ou menos estáveis de interação As interações ocorrem por meio de diferentes textos Nesse sentido os gêneros discursivos são o modo pelo qual as pessoas participam ativamente no seio de uma prática específica Dentro de uma perspectiva de estudos da linguagem considerando todas as semioses apesar de privilegiar formas linguísticas Fairclough 2003 explica que o aspecto semiótico relacionado aos modos de agir e interagir socialmente são os gêneros7 que atuam na formação do significado acionai Nos trabalhos de 7 Uma das questões em debate em língua portuguesa é a especificação do termo gênero Em inglês distinguese genre de gender em português a tradução é idêntica gênero Temos a mesma nomenclatura para designar gênero discursivotextual e gênero social que se refere à sexualidade de agentes sociais Neste capítulo optamos pelo termo gênero discursivo em vez de gênero textual por compreendêlo não somente em seus aspectos estruturais internos mas além disso em sua correlação com as práticas sociais e como um elemento de ordem de discurso Em determinados momentos usamos simplesmente a palavra gênero tratando de gênero discursivo Esclarecemos que há pesquisadoras e pesquisadoras que preferem o termo gênero textual mesmo trabalhando com perspectiva discursiva semelhante ver Meurer Bonini MottaRoth 2005 Leeuwen 2006 mescla a linguagem às práticas Fairclough 2003 77 corrobora essa discussão salientando o processo de mudança associado aos gêneros um fator em mudança de gêneros é o desenvolvimento em tecnologias de comunicação o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação caminha junto com o desenvolvimento de novos gêneros Na obra de 2003 um dos autores que fundamenta a teorização de Fairclough sobre gênero é John Swales com seu livro Genre Analysis 1990 Entre outras considerações Fairclough adota de Swales o termo prégênero e discorda da definição de gênero como uma classe de eventos comunicativos porque o evento real não está no gênero mas na relação do gênero com uma rede de práticas sociais Para Magalhães 2004 os gêneros discursivos determinam os textos falados escritos ou visuais segundo um padrão sequencial e linguístico semiótico conferindolhes uma forma particular e convenções discursivas específicas De acordo com Fairclough 2003 há uma série de características que devem ser observadas nos gêneros A ênfase em determinadas características dependerá dos objetivos de pesquisa poderá ser uma descriçãodiscussão mais pormenorizada ou poderá aterse a alguns aspectos específicos Em relação ao corpus é possível apresentar o gênero de um modo geral identificando elementos distintivos perceptíveis em uma gama de textos do respectivo gênero mas é interessante considerar também os textos selecionados para análise no momento de caracterização até mesmo para verificar possíveis diferençasmudanças A obra utilizada como exemplo neste capítulo Charges eletrônicas das eleições 2006 uma análise de discurso crítica analisa o gênero charge eletrônica9 CE popularizado pela internet como ferramenta de crítica O gênero charge veicula conteúdos críticos com humor As charges estáticas em jornais passam a entrelaçarse ao 9 Um dos principais sites que apresenta charges eletrônicas é o wwwchargescombr Tomando como referência os textos que foram publicados no site wwwchargescombr a escala das CES é geralmente nacional em termos de audiência e conteúdo mas o acesso pode ser global via internet Para os dois itens seguintes estamos considerando níveis baixo médio e alto Sendo assim quanto à estabilização elas são de nível médio considerando a produção recepção e reconhecimento do gênero por parte de leitores e de leitoras A CE deriva da charge tradicional e conta com as possibilidades das novas tecnologias A homogeneização das CES é de nível médio Existem diferenças em comparação com outros sites ou programas de TV que as exibem Inovações podem ser observadas também no próprio site indicado wwwchargescombr por exemplo com a inserção de gravação de vídeo A figura 2 apresenta uma síntese Além de mesclar diferentes linguagens nos textos o gênero charge eletrônica apresenta transformações de gênero em gênero o que Fairclough 2003 denomina de cadeias de gênero A internet permitiu transformações que decorreram tanto da tecnologia quanto da instabilidade das redes de poder conferindo a cidadãs e a cidadãos jornalistas grupos ativistas entre outros a possibilidade de obtenção de voz no ambiente político As mudanças em cadeias de gênero como as que ocorrem com as CES demonstram o hibridismo recorrente em diversos gêneros dentro das práticas sociais na modernidade recente Giddens 1991 Chouliaraki e Fairclough 1999 Fairclough 2003 A figura 3 sintetiza características e elementos das CES A CE usa mídia eletrônica internet eou TV tem imagens caricaturadas representa a voz dos personagens com a acentuação das características prosódicas trata de fatos do cotidiano incluindo novelas esportes política etc usa humor tem animação computadorizada com ou sem som Há CES que contêm música e também inserções de gravação em vídeo Muitos textos de CES trabalham com representação de pessoas reais outros trazem personagens fictícios a estereotipia também é marcante Em termos de análise do gênero em relação à prática ainda podemos analisálo quanto a sua estrutura Fairclough conceitua gênero considerando prégêneros subgêneros e gêneros situados O prégênero se refere a uma categorização mais abstrata e ampla como a narrativa ou a conversação Além de considerálo é preciso observar as mudançasinovações de determinado gênero ou o surgimento de um novo atentando para a mescla de gêneros que subjazem a sua formação Dessa maneira podese perceber como ele se estabelece como um gênero situado dentro de uma prática social ou rede de práticas e quais são os subgêneros que se intersectam para sua formação de uma maneira mais abstrata Considerando que os personagens das ces estão sempre dialogando entre si ou diretamente com oa internauta entendese que o prégênero é a conversaçao Sendo a conversaçao o prégênero podese perceber que a narração a argumentação e até mesmo a descrição estão presentes nos textos atuando como subgêneros A ce é um gênero social e historicamente situado dentro de práticas sociais Uma correlação em diferentes níveis está registrada na figura 4 Figura 4 ce Prégênero subgênero gênero situado A análise de textos de ce precisa ser feita levando em conta as diferentes modalidades união de elementos escritos elementos imagéticos e também sonsmúsicasfalas e principalmente a relação entre elas O verbal por exemplo nem sempre coincide com o visual e essa é uma estratégia de construção dos textos Em relação à ênfase no aspecto semiótico do problema temos em Fairclough 2006 a orientação para a análise do contexto sempre que necessário Como no caso das ces sem a informação contextual não é possível depreender seu sentido completamente devido à forte carga humorística que exige o prévio conhecimento do assunto Igualmente do contexto emergem dados que elucidam parte dos problemas sociais por meio da visão da ordem social ou seja como o problema se relaciona ao novo capitalismo Fairclough 2003 77 observa Uma questão geral que surge ao analisar gêneros é perceber quais modalidades semióticas se esboçam e como elas se combinam As ces nesse sentido combinam imagens caricaturas10 cores ambientes desenhos ou vídeos e linguagem verbal com som eou registro gráfico semanticamente conectadas e em sequência de animação computadorizada A utilização de diferentes elementos semióticos abre à possibilidade de evocar diferentes discursos e práticas conexas assim uma gama maior de gêneros relacionase em cadeia A partir da figura 5 discutimos a cadeia de gêneros e o hibridismo de gêneros em textos Figura 5 Cadeia de gêneros e hibridismo nas ces A cadeia de gêneros no caso das ces pode ser observada na relação com os assuntos tratados pois as ces em sua maioria direta ou indiretamente relacionamse com jornais e revistas impressos ou eletrônicos por meio de gêneros como notícia reportagem crônica cartas Elas fazem recontextualizações trataremos desse item na parte de intertextualidade modificando ou criando um novo contexto para textos diferentes Essa cadeia de gêneros continua em conversas de leitores mensagens ao site comentários para as mensagens na possível reverberação em portadores de textos como jornais e revistas e em outros gêneros como em teses de doutorado ou neste livro por exemplo Assim a cadeia de gêneros se estabelece a priori e a posteriori em relação ao gênero em análise 10 As ces do site wwwchargescombr geralmente apresentam caricaturas leves e com aparência engraçada mas não exageram características de avaliação estética negativa como acontece com grande parte das charges impressas De forma mais objetiva é possível observar como se dá o hibridismo em textos com base em um gênero principal e gêneros secundários Fairclough 2003 observa que há uma intensificação do hibridismo na mídia e que fato e ficção notícia e entretenimento mesclamse muitas vezes A charge eletrônica faz isso de forma explícita é uma de suas características De modo geral seus textos apresentam um hibridismo com outros gêneros situados charge eletrônica série televisiva cesite de internet ceentrevista cepronunciamento de político cefilme ceparódia musical O hibridismo assim como a cadeia de gêneros pode indicar que houve alterações na prática A cadeia demonstra a quais novas áreas o gênero se relaciona e o hibridismo denota uma nova configuração de poder de funcionalidade Assim as ces permitem a não usuários de suportes tradicionais de poder comunicarem suas críticas em meio eletrônico influindo em eleições presidenciais por exemplo Essa nova fórmula deuse em razão a da introdução de novos participantes blogueiros e escritores de sites b da ascensão de discursos marginalizados de crítica ao poder estabelecido c da mudança em relação à posição de poder decorrente dos dois primeiros elementos Outro trabalho a ser realizado em relação ao gênero em sua perspectiva discursiva é identificar as atividades relações sociais e as tecnologias presentes O que as pessoas estão fazendo discursivamente Essa é uma pergunta fundamental de se fazer pois a produção e a leitura desses textos são atividades de eventos sociais que pertencem a práticas sociais prioritariamente discursivas percebese isso melhor se compararmos com atividades de mergulho que são bem menos discursivas Como os gêneros têm propósitos definidos cabe identificar quais são os propósitos dos textos para perceber que há uma hierarquia entre os propósitos uns estão explícitos outros implícitos De modo amplo e genérico as principais atividades envolvidas com a leitura de charges eletrônicas são entreter criticar informar obter audiência e comercializar No cenário das eleições um dos objetivos das atividades de produção e leitura de ces era fazer política influenciando a cultura acerca da própria prática política introduzir pessoas não afeitas ao tema na discussão enfim abrir caminhos para a criticidade O caráter informativo do jornalismo paira sobre a prática da produção de ces podendo conferir ao gênero um status de verdade A aceitação tácita do conteúdo de uma empresa voltada para o entretenimento como o site chargescombr lança luzes sobre a razão de se dar crédito a algo semelhante a uma piada a crítica ácida com base jornalística é vista como posicionamento crítico pertinente a detentores de conhecimento Logo a voz que ressoa no site chargescombr pode ser assumida e replicada por pessoas que a leem e divulgam em seus compartilhamentos As relações sociais estabelecidas entre texto e leitora ocorrem entre a organização chargescombr e indivíduos em um processo onde há distância organização escala nacional versus indivíduos lugares específicos e hierarquia social as organizações exercendo poder em relação aos indivíduos mesmo que a linguagem verbal e nãoverbal utilizada procure minimizar essa característica ao criar uma aparência de proximidade entre organização e indivíduo Quanto às tecnologias presentes no gênero os textos analisados são de comunicação eletronicamente mediada e em mão única não há troca de turno apenas a ce fala leitoras e leitores apenas emitem opiniões e comentários acerca do conteúdo a ce é veiculada de forma gratuita na internet e a apresentação da ce é dinâmica por meio de recursos programas e equipamentos de informática Fairclough 2003 destaca as práticas sociais articulam conjuntamente os seguintes elementos sociais discursivos e nãodiscursivos Ação e interação relações sociais pessoas com crenças atitudes histórias etc o mundo material discurso p 25 É possível dizer que o gênero que estamos analisando neste momento a ce é responsável pela ação e interação mediada por computador Isso propicia uma relação social virtual com a organização e com outras pessoas que visualizam esses textos as quais têm identidades diferentes e leem as ces por meio da tecnologia material necessária em espaços físicos semelhantes ou não no trabalho em casa etc e por fim têm contato com os discursos presentes nos textos A análise do gênero discursivo mantém relação com ações e atividades inerentes a uma prática específica ou seja ao significado acionai do discurso Uma vez analisadas passamos ao segundo estágio da proposta da adc identificar obstáculos para que esse problema seja resolvido pela análise a da rede de práticas na qual está inserido b das relações de semiose com outros elementos dentro das práticas particulares em questão c do discurso Assim passamos aos aspectos mais intimamente relacionados ao significado representacional que trabalha em um nível abstrato intermediário na busca pela compreensão das práticas sociais 32 Intertextualidade A intertextualidade de um texto é a presença de elementos de outros textos nele e então potencialmente de outras vozes além da voz doa autora que podem estar relacionados discutidos assumidos rejeitados de várias maneiras Fairclough 2003 218 Ao analisar os discursos temos em mente a qualidade dialética em que os elementos internalizam partes dos demais discursos sem se reduzirem uns aos outros Nesse sentido a intertextualidade evoca sentidos significados de outros elementos trazidos à ação por meio dos gêneros discursivos para participar da interação Interessa em termos de intertextualidade que sua utilização estabeleça uma relação entre o texto e outros textos discursos práticas ideologias sentidos imagens e assim por diante O termo intertextualidade é de Kristeva 19661986 com base nas discussões de Bakhtin sobre gênero e principalmente sobre dialogismo11 Bakhtin salienta por exemplo Cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva Bakhtin 2003 297 Uma das questões produtivas para a análise intertextual em adc é observar que textos e vozes estão presentes ou ausentes em determinado texto e o que essa presença ou ausência tem de significativa As ces às vezes ocultam o dito por meio do nãodito via ironia objetivando o humor e a crítica em outros momentos marcam explicitamente o intertexto dando ênfase a determinado aspectofatonotícia sobre o tema abordado Diferentes práticas sociais e representações de eventos sociais são incorporadas às ces12 Dessa forma elementos textuais mudam de contexto ocorrendo então uma recontextualização isso também pode ser percebido quando se estuda a cadeia de gêneros Diferentes textos de diferentes gêneros trazem textos e contextos para serem recontextualizados nas ces As falas das personagens fazem referência ao mundo real Quando são modificadas ou inseridas sem alterações recebem um enquadramento que geralmente exacerba o sentido ou o reconfigura com determinadas intenções humorísticas críticas por exemplo dentro das características do gênero discursivo Fairclough 2001 2003 destaca que as negações também implicam uma asserção em outro texto e por isso são marcas de intertextualidade Semelhantemente as ironias ecoam o enunciado de outro texto expressando alguma atitude negativa por exemplo de sarcasmo Há também a pressuposição que considera a presença de outro texto incorporado em proposições estabelecidas dadas se for dito que o risco de falência é ilusório isso indicará que há um risco de falência ou seja um outro texto Outra questão a considerar é que os textos que osas receptoresas trazem ao processo de interpretação se entrelaçam em uma perspectiva intertextual Fairclough 2001 Em 2006 houve uma série 11 Para os estudos críticos uma concepção fundamental de que todo texto dialoga com outros ou seja estabelece uma relação dialógica entre a voz doa autora e outras vozes que podem estar explícitas subentendidas ou mesmo apagadas 12 Em outros gêneros isso também acontece Nas ces isso é muito evidente intitulada Entendendo as eleições 2006 e um de seus textos recebeu o título Classes sociais e o voto Quirino 2006a13 Na figura 6 há uma degravação dessa ce com os elementos verbais e com a principal imagem vinculada às classes destacadas pelo autor Eleições Classes sociais e o voto CLASSE BAIXA Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula Porque eu acho Acho não tenho certeza de que ele vai ser bom mas muito bom mesmo pra nós CLASSE BAIXA CLASSE MÉDIA O escândalo do mensalão poderia ter ajudado a limpar o Brasil Mas foi só a investigação contra os petistas alcançarem também os tucanos e o que a gente viu foi uma pizza vergonhosa que se repete agora com os sanguessugas que têm suspeitos na situação e na oposição Então não dá pra votar no Alckmin nem no Lula Muito menos nos candidatos nanicos ou na esquerda radical e ideologicamente ultrapassada Francamente não sei o que fazer Não quero anular o voto porque seria omissão mas como cidadão eu CLASSE MÉDIA CLASSE ALTA Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula ou com o Alckmin Porque eu acho Acho não tenho certeza de que eles vão ser bons mas muito bons mesmo pra nós CLASSE ALTA Figura 6 Degravação da ce Classes sociais e o voto Quirino 2006a 13 Disponível em httpschargesuolcombr20060822eleicoesclassessociaiseovoto Dizer Acabar com a roubalheira nenhum deles vai evoca a intertextualidade do senso comum de que todo político é corrupto Assim a fala pode ser compreendida como primeiro todos os candidatos e todas as candidatas ou são corruptosas ou são coniventes acabam sendo corruptosas por extensão de sentido A segunda possibilidade interpretativa é a de que a roubalheira é tanta e tão estruturada que ninguém no campo político é capaz de erradicála Em uma interpretação ou outra esvaziase a possibilidade de mudança por conta dos pressupostos intertextualmente estabelecidos As ces também atraem o público pela condensação de seu conteúdo No site chargecombr as ces podem transmitir representações da voz ou opinião pública embora carreguem o ponto de vista do autor elas buscam traduzir de modo humorístico o que se vincula ao conhecimento público Pela condensação das informações na ce em análise temos a opinião de três classes Os muito pobres estariam cientes de que resolver a roubalheira nenhum deles iria porém com o candidato Lula as coisas ficariam bem melhores Nessa intertextualidade é possível depreender entre outras a voz da população beneficiada pelos programas sociais dentre os quais se destacava o Bolsa Família A classe média seria mais complexa A personagem faz referência ao Mensalão e à Operação Sanguessuga da Polícia Federal14 Considerando o envolvimento tanto de partidos da situação quanto de partidos de oposição a eleitora encontra dificuldades em votar A alusão à pizza aponta intertextualmente para as inúmeras investigações que não teriam avançado Por fim a classe alta optaria pelo tanto faz Lula ou Alckmin seriam igualmente bons uma intertextualidade com os índices de crescimento econômico da população muito rica no país Assim tanto o PT quanto o PSDB satisfariam quanto à política econômica 14 A Operação Sanguessuga também conhecida como máfia das ambulâncias iniciouse em 2006 devido à descoberta de uma quadrilha que tinha como objetivo desviar dinheiro público destinado à compra de ambulâncias Observando por meio da intertextualidade temos uma relação muito próxima entre eleições e aspectos econômicos do país que reposicionam e ressignificam os discursos das três classes sociais em termos de neocapitalismo e sistema de poder 33 Significado das palavras A escolha lexical tem relevância em estudos discursivos tornando produtiva a análise de determinadas palavras socialmente destacadas Fairclough 2001 Determinados itens lexicais atuam com uma extensão de sentido dicionarizada ou não exemplo engavatar15 ou recebem uma conotação metafórica sanguessugas ou ainda são criação nova mensalão16 Percebese assim o processo dinâmico nas relações sociais intensificado pela mídia por exemplo que rompe barreiras de dicionários e atende demandas linguísticodiscursivas prementes de acordo com interesses específicos A análise de vocabulário é produtiva para observar as representações levando em consideração que os discursos lexicalizam o mundo de maneiras particulares Fairclough 2003 129 Na perspectiva da análise de discurso textualmente orientada adto empreendida por Fairclough em sua abordagem dialéticorelacional da adc Fairclough 2001 2003 2009 a unidade de análise é o texto Sendo assim analisar itens lexicais utilizados em quaisquer corpora para discutir os significados das palavras será feito sempre na correlação textual o emprego de determinadas palavras em determinados contextos A parte exclusivamente verbal do texto da ce Classes sociais e o voto Quirino 2006a será apresentada a seguir para colaborar com as análises porém é relevante ver a ce na internet no site indicado wwwchargescombr 15 O conhecido termo engavatar processos é registrado verbalmente e representado graficamente em uma charge eletrônica na qual um expresidente segura uma porta que está quase se abrindo devido à quantidade de processos acumulados De engavatar vinculado principalmente à gaveta de uma mesa passase à porta de uma sala ver Quirino 2006b disponível no site wwwchargescombr situação vinculada ao governo do expresidente Fernando Henrique Cardoso 16 Referente a pagamentos mensais a deputados realizados de maneira irregular situação vinculada ao governo do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva A série Entendendo as Eleições 2006 apresenta Classes sociais e o voto CLASSE BAIXA Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula Porque eu acho Acho não tenho certeza de que ele vai ser bom mas muito bom mesmo pra nós CLASSE MÉDIA O escândalo do mensalão poderia ter ajudado a limpar o Brasil Mas foi só a investigação contra os petistas alcançarem também os tucanos e o que a gente viu foi uma pizza vergonhosa que se repete agora com os sanguessugas que têm suspeitos na situação e na oposição Então não dá pra votar no Alckmin nem no Lula Muito menos nos candidatos nanicos ou na esquerda radical e ideologicamente ultrapassada Francamente não sei o que fazer Não quero anular o voto porque seria omissão mas como cidadão eu CLASSE ALTA Acabar com a roubalheira nenhum deles vai Então eu estou com o Lula ou com o Alckmin Porque eu acho Acho não tenho certeza de que eles vão ser bons mas muito bons mesmo pra nós Trabalhando com o texto destacamos os termos Mensalão e sanguessugas No primeiro caso tratase de criação de uma palavra por extensão de sentido a palavra mensalidade17 é reconfigurada com exagero usando o sufixo ão para mensalão Dessa forma o vocábulo criado representa um aumentativo com isso acentuando a compreensão de um alto valor que se receberia mensalmente A aplicação dessa nomenclatura aconteceu na denúncia de que pessoas diretamente ligadas ao governo Lula estariam pagando para deputadosas votarem de acordo com os interesses do governo eleito mas além desse problema outros correlacionados de mandatos anteriores inclusive em nível estadual foram alvos de investigação 17 Nesse caso ocorre a significação de pagamento ou recebimento mensal de dinheiro e também se associa à mesada de Inquérito CPI foi criada para averiguar a denúncia e assim foi designada CPI do Mensalão Independente do resultado das investigações o termo foi amplamente utilizado e foi inequivocamente relacionado à corrupção Mesmo quem negava a possibilidade de a denúncia ser verídica dizia que o mensalão não existiu ou seja empregava a designação O termo sanguessugas referese a parlamentares que estariam envolvidosas em fraudes no sistema público de saúde principalmente na utilização de emendas orçamentárias para a compra de ambulâncias superfaturadas para prefeituras e recebimento de propinas por essas operações A palavra também foi usada para nomear uma investigação a CPI dos sanguessugas Em uma relação metafórica com o animal as pessoas envolvidas passaram a pertencer à máfia dos sanguessugas A expressão limpar o Brasil remete à sujeira mas o termo é amplo Há a conotação de sujeira sob o tapete vinculada à aparência da limpeza Nesse sentido o caro financiamento privado de campanhas sustenta partidos em um jogo sujo Empresas financiam partidos e são beneficiadas por vantagens que também retornam a políticos por meio de propinas Destaquese a negatividade das escolhas lexicais Os termos roubalheira nenhum escândalo pizza vergonhosa sanguessugas anular convergem para a prática política situando o discurso a partir do viés da contestação da mesma em razão da não aceitação Por outro lado há conclusões divergentes Acho não tenho certeza de que eles vaivão ser bombons mas muito bombons mesmo pra nós Nesse ponto a crítica se volta para eleitoresas das classes baixa e alta que receberiam benefícios e assim sustentariam a relação de poder Nesse nível de análise o sistema hegemônico pode estabilizar as relações de dominação e poder por meio de um acordo tácito entre políticos e eleitoresas Um futuro governo daria a dominantes e dominadosas vantagens positivamente avaliadas enquanto um outro beneficiaria mais dominantes do que dominadosas Assim o sistema seguiria seu fluxo em detrimento da primazia do crescimento do país para o benefício de todo o povo com o combate efetivo de nossa grave desigualdade social 34 Representação dos atores sociais A representação dos atores sociais é relevante para o processo analítico por permitir identificar papéis perceber em quais enquadres osas participantes estão posicionados nos textos quais estão presentes e quais deveriam estar discutir os possíveis efeitos das formas de representação inclusive as que incluem atores nos textos e as que de maneira explícita ou subreptícia os excluem Fairclough 2003 sugere algumas maneiras por meio das quais se pode observar a representação de atores sociais18 Apresentamos a seguir uma exemplificação na figura 7 Inclusão ou exclusão Não mencionado Mencionado em alguma parte do texto mas inferido em outras A exclusão tem importância sociopolítica ou é questão de redundânciairrelevância Pronome ou nome Qual das duas formas Função gramatical Atua ou é afetado Cláudia ofendeu Pedro Aparece como nome possessivo ou pronome Amigo de Raquel nosso amigo Ativo ou Passivo Atua é afetado ou se beneficia Figura 7 Representação de atores sociais 18 A tradução como representação de agentes sociais empregada em Bessa 2014 não se vincula a masculino genérico e destaca a ação social das pessoas agentes Neste capítulo será mantida a tradução usual de Inquérito CPI foi criada para averiguar a denúncia e assim foi designada CPI do Mensalão Independente do resultado das investigações o termo foi amplamente utilizado e foi inequivocamente relacionado à corrupção Mesmo quem negava a possibilidade de a denúncia ser verídica dizia que o mensalão não existiu ou seja empregava a designação O termo sanguessugas referese a parlamentares que estariam envolvidosas em fraudes no sistema público de saúde principalmente na utilização de emendas orçamentárias para a compra de ambulâncias superfaturadas para prefeituras e recebimento de propinas por essas operações A palavra também foi usada para nomear uma investigação a CPI dos sanguessugas Em uma relação metafórica com o animal as pessoas envolvidas passaram a pertencer à máfia dos sanguessugas A expressão limpar o Brasil remete à sujeira mas o termo é amplo Há a conotação de sujeira sob o tapete vinculada à aparência da limpeza Nesse sentido o caro financiamento privado de campanhas sustenta partidos em um jogo sujo Empresas financiam partidos e são beneficiadas por vantagens que também retornam a políticos por meio de propinas Destaquese a negatividade das escolhas lexicais Os termos roubalheira nenhum escândalo pizza vergonhosa sanguessugas anular convergem para a prática política situando o discurso a partir do viés da contestação da mesma em razão da não aceitação Por outro lado há conclusões divergentes Acho não tenho certeza de que eles vaivão ser bombons mas muito bombons mesmo pra nós Nesse ponto a crítica se volta para eleitoresas das classes baixa e alta que receberiam benefícios e assim sustentariam a relação de poder Nesse nível de análise o sistema hegemônico pode estabilizar as relações de dominação e poder por meio de um acordo tácito entre políticos e eleitoresas Um futuro governo daria a dominantes e dominadosas vantagens positivamente avaliadas enquanto um outro beneficiaria mais dominantes do que dominadosas Assim o sistema seguiria seu fluxo em detrimento da primazia do crescimento do país para o benefício de todo o povo com o combate efetivo de nossa grave desigualdade social 34 Representação dos atores sociais A representação dos atores sociais é relevante para o processo analítico por permitir identificar papéis perceber em quais enquadres osas participantes estão posicionados nos textos quais estão presentes e quais deveriam estar discutir os possíveis efeitos das formas de representação inclusive as que incluem atores nos textos e as que de maneira explícita ou subreptícia os excluem Fairclough 2003 sugere algumas maneiras por meio das quais se pode observar a representação de atores sociais18 Apresentamos a seguir uma exemplificação na figura 7 Inclusão ou exclusão Não mencionado Mencionado em alguma parte do texto mas inferido em outras A exclusão tem importância sociopolítica ou é questão de redundânciairrelevância Pronome ou nome Qual das duas formas Função gramatical Atua ou é afetado Cláudia ofendeu Pedro Aparece como nome possessivo ou pronome Amigo de Raquel nosso amigo Ativo ou Passivo Atua é afetado ou se beneficia Figura 7 Representação de atores sociais 18 A tradução como representação de agentes sociais empregada em Bessa 2014 não se vincula a masculino genérico e destaca a ação social das pessoas agentes Neste capítulo será mantida a tradução usual Fairclough 2003 também indica que Van Leuween 1997 apresenta diversas outras variáveis Van Leuween 1997 2008 faz uma discussão mais ampla sobre o tema enfocando perspectivas sociológicas críticas e linguísticas e apresenta um quadro por ele nomeado de rede de sistemas da representação dos atores sociais no discurso A exclusão e a inclusão de agentes sociais são os elementos iniciais do sistema que se subdividem e ramificam Nessa rede estão englobadas e pormenorizadas as variáveis sugeridas por Fairclough 2003 A representação dos atores sociais mostrase produtiva por exemplo na análise das CES em tela por focalizar um processo eletoral no qual candidatas candidatos e respectivos partidoscoligações disputavam a preferência do eleitorado A forma como esses atores figuram na CE Classes sociais e o voto19 será observada a seguir Dois homens e uma mulher representam estratos da sociedade por meio de classificação genérica classe baixa classe média classe alta Ocorre assim uma referenciação impessoal resultado de uma estereotipia20 O pronome pessoal eu é um identificador de cada personagem pois para a função que eles exercem no texto não havia necessidade de nomeálos Nesse sentido o eu genérico equivale à utilização de nós e a gente no mesmo texto porque é um eu do estereótipo representando cada classe como um todo O uso de a gente tanto pode ser restrito à classe média quanto generalizado a todas as classes considerando que os fatos citados o escândalo do mensalão e da pizza vergonhosa tiveram ampla divulgação Todos os candidatos e todas as candidatas são classificadosas por meio de Nenhum deles Esses termos generalizam a impossibilidade de se acabar com a roubalheira utilizando o pronome indefinido nenhum ao mesmo tempo em que o circunscreve no âmbito da disputa presidencial Assim o pronome pessoal eles depreendido da contração de eles deles faz referência catafórica21 aos atores sociais políticos direta ou indiretamente mencionados ao longo do texto Lula e Alckmin são nomeados na CE Com certeza o fato de estarem à época em primeiro e segundo lugares nas pesquisas de intenção de voto foi determinante Na fala da classe média eles também são referenciados via classificações Lula petistas situação Alckmin tucanos oposição por meio das quais se estabelecem pontos de vínculo com a corrupção mensalão sanguessugas e impunidade uma pizza vergonhosa inviabilizando o recebimento do voto No entanto eles terminam se fortalecendo pelo desejo da classe média de não ser omissa Textualmente é dito que não dá pra votar no Alckmin nem no Lula muito menos nos demais Os outros seriam opções piores ou não seriam opção favorecendo assim as candidaturas com maior intenção de voto naquele momento A eleição presidencial de 2006 teve duas candidatas e seis candidatos Cinco desses nomes são classificados como nanicos numa generalização engloba em um mesmo grupo as candidaturas que obtinham um pequeno percentual nas pesquisas eleitorais Um dos efeitos ideológicos desse tipo de classificação considerando também o enunciado em que se encontra é o de cristalização de tendências Ora se as intenções indicam poucas possibilidades de disputa dessas candidaturas e elas são tachadas de nanicas passase a ideia de que a reversão é implausível Por seus efeitos construtivos a intenção de voto garante antecipadamente o resultado final Seria diferente se os termos fossem candidatos com baixa intenção de voto No texto os nanicos não estão nanicos são nanicos não se trata de uma circunstância é uma questão de classificação por meio do nome designativo Diante dessa realidade até o espaço democrático de debate é reduzido pois as emissoras de TV por exemplo abrem maior tempo e exposição aos candidatos e às candidatas bem classificadosas nas pesquisas A tese de que a melhor candidatura é aquela com mais chances de vencer combinada com a manutenção de práticas eleitorais discriminatórias fortalece as estruturas de poder e inviabiliza possibilidades de mudança A representação da esquerda radical e ideologicamente ultrapassada pode referirse também ao candidato Rui Costa Pimenta mas é mais provável que o grupo nominal remeta principalmente a Heloísa Helena uma vez que ela estava em terceiro lugar nas pesquisas e com índices nem tão pequenos na época 12 o segundo lugar tinha 21 pontos percentuais e o candidato Rui Costa tinha menos de 122 Os termos que levam à representação de Heloísa Helena são depreciativos e sua candidatura é carregada de um sentido anacrônico ideologicamente ultrapassada e politicamente inadequado radical Todas as discussões e propostas de ação de um processo de candidatura do qual participaram pessoas fortemente engajadas contra a corrupção e que não eram alvo de acusações de desvios são reduzidas negativamente adjetivadas Esses sujeitos são praticamente eliminados por meio de mecanismos discursivos e sociais Candidatos e candidatas da terceira posição em diante nas pesquisas foram incluídos no texto para serem excluídos da eleição Diante dessa CE restaria aos eleitores e às eleitoras o niilismo a perda da crença e convicções ou a busca de interesses individuais ou da classe a que pertencem O texto tem a característica de dar visibilidade a questões de classe social num período em que o determinismo econômico é forte mas não é o único Embora a provocação à reflexão esteja presente há um enfraquecimento nas aberturas para a mudança Parece que tudo está dado e não há o que fazer o que não é verdade O fatalismo e a situação inevitável com enfraquecimento do poder estatal são parte do projeto neoliberal de formação de blocos econômicos Uma vez representados os discursos que estavam na superfície do debate político temos na CE um retrato enviesado da opinião pública Desqualificar políticos que poderiam combater o sistema também é uma das formas de manipulação ideológica de expurgo do outro Assim a constatação de um quadro ruim leva a população ao conformismo e à falta de agência para a mudança 35 Interdiscursividade Considerando a complexidade das sociedades atuais e a multiplicidade de discursos que se diferenciam mas que também se mesclam modificandose ou propiciando a criação de novos discursos é importante na ADC tratar da análise da interdiscursividade a combinação de diferentes discursos Fairclough 2001 2003 Chouliaraki e Fairclough 1999 Diferentes discursos estão relacionados por exemplo a diferentes posições de pessoas no mundo e a diferentes formas de relações entre pessoas Dessa forma disputas por poder dominação competição cooperação desejo de mudança são recursos discursivos socialmente diferenciados Para identificar e analisar discursos como representaçãoconstrução de aspectos da vida social Fairclough 20032009 sugere levar em conta o grau de repetição de determinado discurso bem como uma relativa estabilidade ao longo do tempo e sua identificaçãocorrelação com determinados grupos de pessoas Uma palavra ou frase23 podem remeter a determinado discurso mas não o fazem por si sós é necessário atentar ao textocontexto para chegar a essa conclusão as relações semânticas estabelecidas colaboram com essa tarefa O autor salienta também que não há um discurso homogêneo por exemplo o discurso neoliberal24 guarda uma série de características comuns porém nem todas as nuances desse discurso são iguais na vida política Qualquer texto é constituído de diferentes discursos Mesmo aqueles que aparentemente apresentam um único discurso guardam relação implícita com um outro inclusive com discursos antagônicos Eles existem nas relações das práticas sociais e dessa maneira coexistem em uma perspectiva analítica no campo discursivo interdiscurso Segundo Fairclough 2003 diferentes discursos podem ser identificados por itens lexicais e relações entre itens lexicais bem como por relações metafóricas Como exemplo em Classes sociais e o voto25 há o discurso da estratificação econômicosocial26 o discurso da corrupção o discurso da cidadania e o discurso da impunidade Algumas marcas textuais dos discursos encontradas de forma explícita podem ser observadas na figura 8 Discursos remetem a práticas específicas O discurso da estratificação social por exemplo é utilizado em censos para monitoramento de políticas públicas de promoção da igualdade e diminuição da pobreza Esse discurso se vincula ao lado político contudo também é empregado em campanhas publicitárias entre elas as campanhas eleitorais Ao ser evocado na CE remonta a pesquisas de intenção de voto que tanto pode ser desenhada por regiões como por classes sociais Dois outros discursos relacionamse diretamente o da impunidade e o da corrupção Uma das críticas recorrentes ao âmbito político brasileiro é a impunidade O foco de certa forma é desviado da impunidade e da corrupção para o suposto favorecimento próprio de camadas estratificadas da população Demonstrase um fatalismo que propicia a manutenção do status quo Essa visão fatalista ante a corrupção encontra um quadro social que a sustenta Assim os discursos são operacionalizados em práticas situadas no tempo e no espaço Políticos envolvidos nos casos do mensalão e dos sanguessugas por exemplo voltaram ao Congresso via eleição Nesse ponto também seria um grande reducionismo dizer que é o povo que elege os corruptos O discurso da cidadania e o exercício do voto garantem a perspectiva do poder emanar do povo e de estarmos em um Estado Democrático de Direito A própria CE destaca que a omissão não seria a atitude mais adequada A CE evoca a situação anterior às eleições para ilustrarrepresentar a frustração pela pizza vergonhosa que no caso dos sanguessugas se repete Trabalhase no texto a metáfora da pizza do acabar em pizzaterminar em pizza uma aparência séria que termina na comemoração zombeteira da impunidade com a ingestão desse prato italiano A expressão é tão conhecida que apenas o uso da palavra pizza associado à política já remete à significação completa Ao observar os diferentes discursos evocados no texto vemos que as práticas das quais eles emergem estão relacionadas e constroem MARCUSE H Negations Essays in Critical Theory Boston Beacon Press 1968 MARTINS A R N 2011 A polêmica construída Racismo e discurso da imprensa sobre a política de cotas para negros Brasília Editora do Senado MARX K ENGELS F 2002 A ideologia alemã São Paulo Martins Fontes p 2425 MATTHIESSEN C 2009 Ideas and New Directions In HALLIDAY M WEBSTER J orgs 2009 Continuum Companion to Systemic Functional Linguistics London Continuum p 1258 MCLUHAN M 1977 A galáxia de Gutenberg a formação do homem tipográfico Trad L G de Carvalho e A Teixeira São Paulo Companhia Editora Nacional MELO I F 2012 Por uma análise crítica do discurso In MELO I F org Introdução aos estudos críticos do discurso teoria e prática Campinas Pontes p 5398 2013 Ativismo LGBT na imprensa brasileira análise crítica da representação de atores sociais na Folha de S Paulo Doutorado São Paulo Universidade de São Paulo MEURER J L BONINI A MOTTAROTH D orgs 2005 Gêneros teorias métodos debates São Paulo Parábola 2005 OLIVEIRA K C 2012 Jornal Correio Paulistano constituição e mudança do gênero anúncio de emprego 1854 a 1900 sob a perspectiva críticodiscursiva Tese Doutorado São Paulo FFLCHUniversidade de São Paulo São Paulo 2012 OLIVEIRA L A CARVALHO M A B 2013 Fairclough In OLIVEIRA L A org Estudos do discurso perspectivas teóricas São Paulo Parábola Editorial 2013 ORLANDI E P 1997 As formas do silenciamento no movimento dos sentidos São Paulo Brasiliense OTTONI M A R 2013 Dois casos de violência no Brasil a representação de fatos e de atores sociais em gêneros da mídia impressa In SATO D T B BATISTA JR J R L orgs Contribuições da análise de discurso crítica no Brasil uma homenagem a Izabel Magalhães Campinas Pontes p 6996 PARDO ABRIL N G 2013 Cómo hacer análisis crítico del discurso una perspectiva latinoamericana Poder discurso y sociedad 2 Bogotá Universidad Nacional de Colombia Instituto de Estudios en Comunicación y Cultura IECO PARDO M L 2011 Teoría y metodología de la investigación lingüística método sincrónicodiacrónico de análisis lingüístico de textos Buenos Aires Editorial Tersites 2015 El análisis del discurso su origen y expansión Correspondência pessoa por email em 30 abr 2015 PASSOS M V F 2012 O gênero meme em propostas de produção de textos implicações discursivas e multimodais In Anais do SIELP Vol 2 n 1 Uberlândia EDUFU PÊCHEUX M 1990 Análise automática do discurso In GADET F HAK T orgs Por uma análise automática do discurso uma introdução à obra de Michel Pêcheux Trad E Orlandi et alii Campinas Ed da Unicamp PEDRO E R 1997 Análise crítica do discurso aspectos teóricos metodológicos e analíticos In PEDRO E R org Análise crítica do discurso uma perspectiva sociopolítica e funcional Lisboa Gaminho p 1946 1997 Análise crítica do discurso uma perspectiva sociopolítica e funcional Lisboa Editorial Caminho PEDROSA C E F 2008 Análise crítica do discurso do linguístico ao social no gênero midiático interface Letras e Comunicação Social Aracaju Editora da UFS PONTES H 2009 A 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Campinas Pontes 2012 RESENDE V PEREIRA F H 2010 Práticas socioculturais e discurso uma apresentação In RESENDE V PEREIRA F H orgs Práticas socioculturais e discurso Debates transdisciplinares Covilhá LabCom Books p 17 REYES L C PARDO ABRIL N 1991 Un modelo lingüístico para el análisis integral de discursos propuesta metodológica aplicada a El otoño del patriarca Bogotá Instituto Caro y Cuervo RIBEIRO A E 2016 Textos multimodais leitura e produção São Paulo Parábola ROCHA H 2012 Um novo paradigma de revisão de texto discurso gênero e multimodalidade Tese de doutoramento Brasília Universidade de Brasília 2012 RODRIGUES E G 2001 Sobre a consciência e a crítica discurso reflexividade e identidade na formação de professoresas alfabetizadoresas Dissertação de mestrado Brasília Universidade de Brasília SAID E 2007 Orientalismo o Oriente como invenção do Ocidente São Paulo Companhia de Bolso SAMPAIO I S V 2004 Televisão publicidade e infância São Paulo Annablume Editora SAMPAIO R 2013 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incorporados e reinterpretados em outro Esse conceito foi desenvolvido por Julia Kristeva com base nas ideias de dialogismo de Mikhail Bakhtin que defende que todo enunciado está em contato com outras vozes Na prática a intertextualidade funciona como uma teia de referências e relações em que múltiplos discursos se entrelaçam para construir sentidos complexos Na charge Classes sociais e o voto a intertextualidade desempenha um papel crucial ao expor as diferentes percepções políticas de três classes sociais baixa média e alta em relação às eleições de 2006 no Brasil Ao trazer ironia recontextualização e pressuposições a charge revela a relação dialética entre os interesses e os pontos de vista de cada classe social intensificando a crítica política e social do autor A Importância da Intertextualidade no Discurso A intertextualidade enriquece o discurso ao possibilitar uma interpretação mais ampla e profunda do texto Ao incorporar vozes e ideologias de outros discursos ela permite que o leitor identifique essas referências o que amplia o entendimento do contexto e traz à tona novas camadas de significados Esse recurso é essencial em textos críticos como charges e caricaturas pois ele pode questionar ironizar ou reforçar ideias de forma implícita o que leva o leitor a um estado de reflexão crítica Na charge Classes sociais e o voto a intertextualidade desempenha essa função ao representar o cenário político de forma ambígua e repleta de significados ocultos revelando as motivações e expectativas das diferentes classes sociais em relação ao processo eleitoral Como Analisar a Intertextualidade A análise da intertextualidade envolve a identificação dos pontos de ênfase no discurso explorando como elementos implícitos e explícitos constroem a mensagem do texto Na charge o uso de ironia recontextualização e pressuposições contribui para intensificar o efeito do discurso sobre o leitor que é levado a questionar as intenções subjacentes às falas das classes sociais Esses recursos criam um ambiente dialético em que ideias contrastantes entram em confronto evidenciando a complexidade do tema abordado e expondo os conflitos de interesses presentes no contexto político Exemplos e Análise dos Elementos Intertextuais na Charge Ironia A ironia é um recurso intertextual que expressa um juízo crítico ao ecoar enunciados de forma invertida ou sarcástica Na fala da classe baixa Então eu estou com o Lula Porque eu acho Acho não tenho certeza de que ele vai ser bom mas muito bom mesmo pra nós a ironia se manifesta de forma sutil Embora a frase pareça demonstrar confiança o tom e a escolha das palavras sugerem uma certa dúvida como se a certeza fosse forçada Essa ironia é percebida pelo leitor como um sarcasmo que questiona a credibilidade das promessas políticas feitas às classes mais pobres Essa expressão muito bom mesmo pra nós tornase assim uma crítica à vulnerabilidade da classe baixa que muitas vezes é seduzida por promessas que raramente são cumpridas O leitor é levado a questionar a validade das promessas eleitorais percebendo o sarcasmo na declaração e refletindo sobre a realidade das expectativas dessa classe A ironia também é evidente na fala da classe alta Então eu estou com o Lula ou com o Alckmin Porque eu acho Acho não tenho certeza de que eles vão ser bons mas muito bons mesmo pra nós Nesse caso a ironia destaca o pragmatismo da classe alta que se adapta facilmente a qualquer um dos candidatos pois ambos garantirão a manutenção de seus privilégios A frase muito bom mesmo pra nós revela a noção de que o voto da classe alta é guiado por um cálculo estratégico e não por convicção Assim a fala carrega uma crítica implícita ao sistema eleitoral sugerindo que para as elites qualquer resultado é satisfatório desde que mantenha seus interesses protegidos Recontextualização A recontextualização ocorre quando um discurso é retirado de seu contexto original e inserido em um novo modificando seu significado A fala da classe média é um exemplo claro disso Não dá pra votar no Alckmin nem no Lula Muito menos nos candidatos nanicos ou na esquerda radical e ideologicamente ultrapassada Essa declaração representa a visão de descrença da classe média recontextualizando o discurso comum de falta de alternativas políticas Ao expressar sua rejeição aos principais candidatos e a grupos minoritários a classe média exibe uma postura de frustração e neutralidade A frase não dá pra votar sugere a falta de confiança dessa classe nas opções políticas disponíveis e reflete um sentimento de alienação em relação ao processo eleitoral Além disso o uso do termo candidatos nanicos e esquerda radical recontextualiza o discurso político sugerindo que a classe média considera essas opções inviáveis o que evidencia sua sensação de abandono pelo sistema A recontextualização destaca o desapontamento da classe média com a política e reforça a ideia de que essa classe se sente sem representantes criando um discurso cético e distanciado Pressuposição A pressuposição é um recurso intertextual que incorpora significados implícitos obrigando o leitor a deduzir informações que não estão expressas de forma direta Na fala da classe alta Tenho certeza de que eles vão ser bons mas muito bons mesmo pra nós existe uma pressuposição de que qualquer candidato atenderá aos interesses dessa classe que vê o processo eleitoral como um meio de manter seus privilégios intactos Essa afirmação implica que o voto é calculado estrategicamente para garantir que o poder e o status da classe alta sejam preservados independentemente do vencedor Outro exemplo de pressuposição aparece na fala da classe baixa que apoia o candidato popular pressupondo que ele defenderá os interesses desse grupo O trecho pra nós contém o pressuposto de que Lula por ter origem popular será o candidato mais próximo das demandas da classe baixa Essa pressuposição reforça a expectativa de que as promessas feitas a essa classe sejam cumpridas mas ao mesmo tempo o leitor percebe a crítica implícita de que essas promessas são muitas vezes uma ilusão Efeitos da Intertextualidade no Leitor Os elementos intertextuais presentes na charge geram um efeito de reflexão crítica no leitor que é levado a identificarse com os discursos ou a questionar a sinceridade das falas A ironia ao destacar a desconfiança com as promessas políticas provoca uma sensação de ceticismo especialmente quando vista nas falas da classe baixa e da classe alta A recontextualização reforça o distanciamento da classe média que se vê sem alternativas no cenário político e as pressuposições fazem o leitor perceber a manutenção dos privilégios da classe alta mesmo com a alternância de poder Ao abordar as diferentes reações das classes ao processo eleitoral a charge explora a dialética intertextual ao colocar em confronto as visões e os interesses conflitantes Esse ambiente dialético permite ao leitor observar as contradições entre as expectativas de cada classe social e as realidades do sistema político incentivando uma reflexão sobre as limitações do processo eleitoral e as desigualdades implícitas Conclusão A intertextualidade na charge Classes sociais e o voto é uma ferramenta poderosa que permite construir um discurso multifacetado e crítico sobre as desigualdades sociais e as expectativas políticas das diferentes classes Ao utilizar ironia recontextualização e pressuposições o autor expõe os interesses e as contradições das classes sociais de forma implícita levando o leitor a uma reflexão crítica sobre o contexto político brasileiro Esse uso estratégico de intertextualidade amplia a complexidade do discurso e cria um diálogo entre as expectativas das classes sociais e a realidade das eleições Dessa maneira a intertextualidade não apenas conecta o leitor ao contexto social e político representado mas também o desafia a questionar a validade das promessas eleitorais e as estruturas de poder que sustentam as desigualdades Em última análise a charge utiliza a intertextualidade para construir uma crítica incisiva e convidar o leitor a refletir sobre o papel das classes sociais no cenário eleitoral