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441 Psicologia Teoria e Pesquisa OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 A Fenomenologia como Método de Investigação nas Filosofias da Existência e na Psicologia Ana Maria Lopez Calvo Feijoo1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Cristine Monteiro Mattar Universidade Federal Fluminense RESUMO Este artigo visa primeiramente explicitar como o método fenomenológico idealizado por Husserl encontrase presente no pensamento de Heidegger Sartre e MerleauPonty Temas como consciência intencionalidade e percepção tratados por esses filósofos serão apresentados buscando destacar os três momentos presentes em Husserl imprescindíveis para uma investigação fenomenológica a redução fenomenológica a descrição dos vetores internos ao fenômeno e a explicitação da experiência Em um segundo momento indo ao encontro das considerações de Giorgi e Goto pretendese defender que a psicologia ao apropriarse do método fenomenológico em suas investigações deve considerando o contexto de sua área de estudo manterse fiel aos três momentos constitutivos do método fenomenológico Palavraschave fenomenologia método filosofias da existência psicologia The Phenomenological Research Method in the Philosophies of Existence and in the Psychology ABSTRACT This article aims first to explain how the phenomenological method devised by Husserl is present in the thought of Heidegger Sartre and MerleauPonty Themes addressed by the philosophy as conscience intencionality and perception will be discussed in order to show the three indispensable moments for a phenomenological research highlighted by Husserl phenomenological reduction description of internal vectors to the phenomenon and explanation of experiences On the second it going to meet the considerations of Giorgi and Goto it argue that the Psychology the ownership of the phenomenological method in their investigations should considering the context of your study area remain faithful at the three constituent moments of the phenomenological method Keywords phenomenology method philosophies of existence psychology 1 Endereço para correspondência Instituto de Psicologia Fenomenológico Existencial do Rio de Janeiro Rua Barão de Piracinunga 62 Tijuca Rio de Janeiro RJ Brasil CEP 20521170 Email anamariafeijoo gmailcom O presente estudo sobre fenomenologia e método pretende primeiramente explicitar como o método fenomenológico idealizado por Edmund Husserl 1859 1938 encontrase presente nas filosofias da existência mais especificamente em Heidegger Sartre e MerleauPonty ao desenvolverem seus estudos sobre as temáticas existenciais E ainda a partir da fenomenologia e da filosofia da existência visase também mostrar como a psicologia em uma tentativa de distanciarse das referências científiconaturais segue o caminho do método fenomenológico tal como ocorreu com as filosofias da existência como se pode notar no trabalho de dois autores contemporâneos Giorgi 2006 e Goto 2008 A escolha dos filósofos da existência Heidegger Sartre e MerleauPonty ocorreu pelo fato de que os três apontam para a importância da máxima da fenomenologia de Husserl que consiste em ir às coisas mesmas quando se pretende investigar um fenômeno Os três recebem essa definição pelo fato de manterem a pretensão de se afastarem dos critérios idealistas e realistas estabelecendo assim um marco diferenciador entre as filosofias que se preocupam com a essência imutável das coisas e as filosofias que pretendem retornar ao âmbito onde a existência mesma se dá Cabe ressaltar que com o termo existencial não se pretende referir como é comum no âmbito da psicologia ao efetivamente presente Se assim fosse recairseia em uma hipostasia do espaço Existencial tal como tomado pelos filósofos que pensam o espaço de realização do existir diz respeito às possibilidades mais originárias daquele que existe no seu encontro também originário com o mundo A eleição dos filósofos da existência Heidegger Sartre e MerleauPonty devese ao fato de que os três em suas diferentes perspectivas encontraram na fenomenologia fundada por Husserl um método que poderia conduzilos à estrutura ou a dinâmica em que o fluxo da vida acontece em sua cotidianidade Nesse sentido é que se irá buscar aqui o método fenomenológico em seus três momentos constitutivos a redução fenomenológica a descrição dos vetores internos ao fenômeno e a explicitação das experiências como aparecem no pensamento filosófico de Martin Heidegger 18891976 JeanPaul Sartre 19051980 e Maurice MerleauPonty 19081961 como eles mesmos testemunharam Assim buscarseá em Heidegger a sua adesão à fenomenologia quando ele confessa em Meu caminho 442 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 AMLC Feijoo CM Mattar para a fenomenologia 19631991 como esse encontro aconteceu Em Ser e tempo 19271989 na analítica do Dasein Heidegger já procede à investigação sobre o sentido do ser de modo fenomenológico Sartre 19472005 por sua vez assume a defesa do projeto da fenomenologia em Uma ideia fundamental da intencionalidade de Husserl e prossegue utilizando o método em muitos de seus escritos como ocorre por exemplo em Esboço para uma teoria das emoções MerleauPonty 19451994 inicia o prefácio de Fenomenologia da percepção com a questão O que é fenomenologia e nessa mesma obra assume que segue os passos de Husserl para investigar a percepção Este filósofo mostra uma íntima e estreita aproximação com a existência concreta quando por exemplo apresenta A dúvida de Cézanne MerleauPonty 19452012 em uma perspectiva totalmente fenomenológica sobre a percepção e a expressão do artista O mesmo podese afirmar a respeito das peças e romances sartrianos e dos seminários realizados por Heidegger na cidade de Zollikon ao longo de dez anos Para explicitar o modo como cada um dos filósofos existenciais acima mencionados articula o método fenomenológico à investigação de suas temáticas é importante ressaltar que a fenomenologia nasce de uma inspiração de Husserl frente ao problema da busca do elemento universal presente nas filosofias modernas Estas pressupunham que era possível conhecer a verdade essencial e portanto universal das coisas E assim na tentativa de alcançar a determinação das coisas faziase necessária a presença daquele que pode alcançar essas determinações A ideia que mantém por um lado aquele que é capaz de conhecer alcançando as determinações do objeto ou seja o sujeito e por outro lado o objeto que tem suas determinações como coisa opera uma cisão do sujeito que pergunta e da coisa investigada A dúvida com relação à crença de que se pode alcançar a verdade universal por meio do sujeito que conhece ofereceu um momento propício para o surgimento da fenomenologia Com a fenomenologia Husserl pretende superar as epistemologias realistas e idealistas e é nessa superação que se encontra a gênese do projeto fenomenológico também presente em Heidegger Sartre e MerleauPonty Essa tentativa se faz presente também nas chamadas perspectivas fenomenológicoexistenciais em psicologia quando pretendem investigar as temáticas existenciais ou as vivências tais como consciência tédio medo dentre outras não como substâncias que sustentam as determinações em si mesmas nem como determinações de uma interioridade psíquica mas como atos que se constituem na cooriginariedade homemmundo E é da perspectiva do ato que mostraremos como Heidegger Sartre e MerleauPonty investigam o fenômeno da consciência operando na verdade sua desconstrução mostrando fidelidade ao caminho proposto e seguido por Husserl na sua fenomenologia Esse caminho pode ser acompanhado nos desdobramentos das investigações de Husserl 19012007 sobre a consciência onde podemos apreender três momentos fundamentais a redução fenomenológica a descrição dos vetores internos ao fenômeno e a explicitação das experiências como apresentados anteriormente Acrescentase ainda que é justamente o interesse pela investigação das vivências que aproxima as filosofias da existência da psicologia existencial A primeira realiza sua tarefa pela reflexão filosófica a segunda centrase na materialidade da existência em sua realidade concreta Logo a consciência a angústia a liberdade a percepção o tédio o medo a cólera como atos interessam não só à filosofia como à psicologia O segundo objetivo desse estudo como referido acima diz respeito à defesa do modo como as pesquisas em psicologia devem tomar o método fenomenológico na investigação das suas temáticas Há algum tempo ocorre uma tentativa por parte dos pesquisadores da perspectiva fenomenológica em psicologia de articular o método idealizado pelo filósofo com as bases da psicologia fenomenológica Neste estudo serão apresentados os argumentos desenvolvidos por Amadeo Giorgi e Tommy Akira Goto que tratam de viabilizar a articulação do método da filosofia com o da psicologia No entanto Giorgi 2006 ressalta que para fazermos essa articulação é necessário que o investigador oriundo da psicologia tenha domínio da fenomenologia de Husserl e que em suas investigações não prescinda de três momentos indispensáveis para que a pesquisa mantenha o referencial fenomenológico São eles adotar a atitude fenomenológica encontrar o fenômeno que interessa estudar e usar o processo de variação livre da imaginação para determinar sua essência e por fim descrever cuidadosamente a essência da descoberta Goto 2008 aponta que a psicologia fenomenológica nova disciplina proposta por Husserl em seus últimos escritos pretende ser um fundamento metodológico sobre o qual se pode erguer uma psicologia cientificamente rigorosa Essa psicologia foi concebida por Husserl como uma psicologia racional pura isto é não experimental no estudo da subjetividade Para Husserl toda psicologia precisa partir da psicologia fenomenológica a fim de garantir o rigor Goto 2008 faz uma crítica aos autores que simplesmente transportam a fenomenologia para a psicologia sem os devidos cuidados Esse autor se refere à definição de Husserl de que a psicologia fenomenológica consiste numa nova disciplina paralela à fenomenologia filosófica que não se distingue dela a princípio e que seria o fundamento metódico sobre o qual se pode erguer uma psicologia empírica cientificamente rigorosa Ou seja Husserl citado por Goto 2008 postula que para se fazer psicologia é preciso partir de uma psicologia fenomenológica que seria uma descrição das estruturas psíquicas descrição essa que é etapa indispensável para a constituição da própria fenomenologia Afirma Goto 2008 Se com seu método a fenomenologia favoreceu o encontro rigoroso com a subjetividade de forma evidente e apodíctica será também a partir dela que a psicologia poderá ter acesso direto à subjetividade enquanto tal e assim transcender a crise das ciências retomando o sentido da existência como motivação originária p 212 A fim de atender aos objetivos deste trabalho será apresentada inicialmente a fenomenologia husserliana para em seguida serem trazidos os filósofos da existência em suas relações com o método fenomenológico Por fim será defendida a utilização do método fenomenológico como um 443 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 O Método Fenomenológico na Filosofia e na Psicologia caminho de investigação em psicologia desde que seguidas as condições estabelecidas por Husserl Fenomenologia e método em Husserl Dois elementos foram centrais no processo de gênese da fenomenologia a concepção de método e a noção de intencionalidade Husserl 19012007 inicia esclarecendo que é com a atitude fenomenológica por meio da suspensão das hipostasias que pretende alcançar aquilo que subjaz a determinação das coisas Referese à hipostasia realista como um modo de pensar as estruturas como reais e que possuem determinações que podem ser alcançadas pelo método e à hipostasia idealista como sendo atitude em que se acredita que a determinação das coisas se encontra na interioridade do sujeito que conhece Logo Husserl utilizouse do método fenomenológico para investigar o fenômeno da consciência Para tanto primeiramente ele suspendeu de início todas as teorias acerca da consciência fossem essas empíricas ou logicamente fundadas suprimindo todas as perspectivas naturalizantes e assumindo uma postura antinatural frente ao fenômeno mesmo da consciência Em um segundo momento ao prescindir da ideia de uma substancialidade subjetiva subjacente aos atos esse filósofo alcançou a essência do fenômeno pelo exercício do pensamento acompanhando descritivamente a própria constituição da consciência em ato Deste modo encontrou a essência da intencionalidade como espaço de dação dos objetos ou seja os fenômenos Ao acompanhar o caminho descrito acima tal como percorrido por Husserl 19012007 na investigação da consciência podese observar os seguintes momentos 1 redução fenomenológica em que o investigador suspende de início todas as teorias acerca da consciência seja essa teoria empírica ou logicamente fundada Ao suprimir as perspectivas naturalizantes Husserl assume uma postura antinatural frente ao fenômeno 2 descrição dos vetores internos ao fenômeno na medida em que o investigador acompanha a própria constituição da consciência em ato e 3 explicitação da experiência alcançando assim a sua essência ou seja no caso da consciência a intencionalidade Logo nas Investigações lógicas 19012007 Husserl utilizando o método fenomenológico para investigar o fenômeno da consciência alcança a essência desse fenômeno a intencionalidade como espaço de dação dos objetos fenômeno e concebe a consciência intencional como síntese incessante do fluxo temporal das experiências Assim intencionalidade diz respeito ao incessante transcender de si mesmo rompendo com o pressuposto de que é o sujeito que posiciona as coisas ou de que as coisas existem independentemente da consciência Estruturas intencionais dizem sempre do caráter de cooriginariedade sujeito e objeto ou seja quando um dos pólos aparece o outro imediatamente acontece sem nenhum intervalo espaçotemporal entre eles Eliminase assim a ideia de intervalo espaçotemporal e consequentemente de qualquer estrutura de causalidade A consciência é para este filósofo transcendente nunca se retém em si mesma mas se vê projetada por seus próprios atos para o campo dos objetos correlatos Na medida em que a consciência se realiza através de seus atos ela sempre transcende o campo de realização desses atos Em síntese duas considerações se fazem pertinentes com relação à filosofia de Husserl Primeiro que seu interesse incidia na investigação da consciência porém ele acreditava que o modo pelo qual esse fenômeno vinha sendo investigado em meio às hipóstases não alcançava a sua estrutura mais originária Segundo por não estar de acordo com os métodos realistas e idealistas de investigação da consciência Husserl elabora outro caminho de acesso ao fenômeno que denominou fenomenológico o qual consistia em acompanhar o fenômeno da consciência em seu campo de mostração para que dessa forma o mesmo aparecesse em sua essencialidade Como se demonstrará a seguir seu projeto influenciará de forma marcante as filosofias de Heidegger Sartre e MerleauPonty A investigação fenomenológica da estrutura da intencionalidade em Heidegger Sartre e Merleau Ponty Explicitarseá agora de que modo Heidegger Sartre e MerleauPonty que são referências constantes nos estudos sobre fenomenologia existencial assumem a fenomenologia de Husserl como caminho para suas investigações Os três ao se posicionarem filosoficamente vão ao encontro do pensamento de Husserl no que diz respeito à suspenção das hipostasias realistas e idealistas E será fenomenologicamente que Heidegger Sartre e MerleauPonty irão proceder na investigação dos fenômenos da existência ou seja aqueles que acontecem no espaço de realização da existência Heidegger por meio do método fenomenológico radicaliza a noção de intencionalidade abandonando qualquer referência à consciência passando então investigar o Dasein seraí Sartre atémse a estruturas que foram anteriormente temas da psicologia tais como a consciência a emoção e a imaginação porém tomados como objetos a serem pesquisados de modo a poder descobrir as leis que regiam seus movimentos Sartre então aponta para a necessidade de se ater às estruturas intencionais desses fenômenos MerleauPonty também crítico do modo como a psicologia experimental estudava as variáveis psicológicas vai buscar na fenomenologia especialmente na noção de intencionalidade tal como postulada por Husserl elementos para uma revisão das noções de consciência na psicologia Assim MerleauPonty aponta em seus estudos para outro modo de proceder na investigação do fenômeno das expressões do homem Primeiramente será mostrado como esses filósofos compartilharam com Husserl da crítica às filosofias realistas e idealistas Depois para ilustrar como esses três filósofos se mantêm nos três momentos imprescindíveis na investigação fenomenológica tal como encontrados em Husserl a redução fenomenológica a descrição dos vetores internos ao fenômeno e a explicitação das experiências será apresentado como Heidegger Sartre e MerleauPonty caminharam em suas investigações 444 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 AMLC Feijoo CM Mattar O caminho de Heidegger para a fenomenologia e o desvelamento do Dasein Heidegger escreveu em 1963 Meu caminho para a fenomenologia para ser publicado em uma tiragem privada em homenagem a Hermann Niemeyer1 Nesse escrito Heidegger 19631991 confessa que chegou a Husserl por meio das Investigações Lógicas as quais ele diz que precisou ler por aproximadamente dez vezes para começar a entendêlas Durante a leitura se perguntava Em que consiste o elemento individualizador da Fenomenologia já que não é nem a Lógica nem a Psicologia Manifestase aqui uma disciplina filosófica inteiramente nova e que possui dignidade e nível próprios 1991 p496 Na tentativa de responder às questões que ele mesmo formulara Heidegger se entrega a leitura das Investigações e da obra Ideias para uma fenomenologia pura No entanto as dúvidas só começam a se esclarecer quando o filósofo da Floresta Negra assiste às aulas de Husserl Diz Heidegger 19631991 A atividade docente de Husserl consistia no progressivo exercício e na aprendizagem do ver fenomenológico ele exigia tanto a renúncia a todo uso não crítico de conhecimentos filosóficos como impunha não trazerse para o diálogo a autoridade dos grandes pensadores p 497 Heidegger começava a entender a fenomenologia porém quanto mais ouvia Husserl mais se sentia próximo aos pensadores gregos principalmente Aristóteles Foram os estudos da Sexta Investigação na qual Husserl distingue a intuição sensível da categorial que levaram Heidegger a entender o porquê dela remeterse a Aristóteles Tratavase de entender o alcance para a determinação do significado múltiplo do ente Heidegger 19631991 p497 Heidegger conclui então que aquilo que para Husserl consistia em ato da consciência para Aristóteles era Aletheia desvelamento do que se apresenta Aquilo que as Investigações redescobriram como a atitude básica do pensamento revelase como traço fundamental do pensamento grego quando não da Filosofia como tal Heidegger 19631991 p 498 O filósofo de Ser e tempo 19271989 vai analisar a questão do sentido do ser por meio do método fenomenológico Para tanto inicia com a investigação indo ao fenômeno da existência tal como ela se mostra no seu campo de mostração ou seja na medianidade cotidiana Prescindindo de todas as filosofias da subjetividade primeiramente suspendeu as hipostasias realistas ou idealistas e acompanhando os vetores ou seja a dinâmica existencial em que a existência se dá em sua medianidade alcançou a explicitação da experiência a qual denominou Dasein como a estrutura mais original da intencionalidade Importa realçar que mesmo tendo como ponto de partida a fenomenologia de seu mestre Husserl a quem dedica Ser e tempo 19271989 Heidegger em sua analítica com a concepção de Dasein rompe totalmente com a categoria da consciência tal qual a entendia a tradição filosófica Em 1 Hermann Niemayer 17541828 nascido na Alemanha foi professor de teologia escritor e poeta Em 1807 foi deportado para Paris por Napoleão Seminários de Zollikon2 afirma o filósofo que difere de Husserl e de sua fenomenologia por não elaborar com sua analítica somente as estruturas de ser do Dasein mas por colocar expressamente o serhomem de modo geral como Dasein diferentemente das determinações do homem como subjetividade e como consciência do eu transcendental Heidegger 2001 Diz ainda que a fenomenologia de Husserl permanece fenomenologia da consciência impedindo a visão clara da hermenêutica fenomenológica do Dasein A relação de Dasein e consciência necessitaria segundo Heidegger de uma discussão especial pois ela é assinalada pela pergunta da relação fundamental entre serno mundo como Dasein e intencionalidade da consciência De acordo com Heidegger 2001 pelo fato da consciência ter se tornado uma representação fundamental da filosofia moderna e a fenomenologia de Husserl também se manter nessa mesma linha de pensamento a fenomenologia de Husserl ainda se encontra na tradição moderna com o objetivo de descrever a consciência Heidegger diferentemente de Husserl considera em suas análises o mundo como horizonte histórico de sentidos e ainda que é o mundo que torna possível que algo se mostre como algo pela experiência fenomenológica Sartre e sua ideia fundamental de intencionalidade Sartre 19472005 apresenta em Uma ideia fundamental da intencionalidade de Husserl a sua imersão na fenomenologia de forma intensa Ao tecer a crítica ao modo como o idealismo postula como se dá o conhecimento Sartre cria a imagem da digestão em que o processo de assimilação produz uma transformação radical daquilo que se conhece No idealismo o ato de conhecer a coisa faz com que essa se transforme não permanecendo a mesma Já ao referirse ao modo de conhecer do realismo Sartre 19472005 utilizase da imagem da aranha que come com os olhos encontrando nas teias da razão a objetividade para então determinar aquilo que cai na teia No interior do realismo a coisa é interpretada como uma realidade em si mesma prescindindo totalmente da consciência Tanto na perspectiva idealista quanto na realista abrese um fosso entre o sujeito e o objeto No idealismo prevalece a ideia do substrato subjetivo e do sujeito egóico E é esse sujeito que posiciona o mundo No realismo o sujeito permanece totalmente isento diante das coisas cabendolhe apenas descrevêlas A consciência é uma espécie de cera em que a realidade por meio da experiência vai produzindo marcas que se estruturam como conhecimento Sartre 19472005 Diferentemente do modo de se posicionar do idealismo e do realismo Sartre 19472005 defende que em uma postura fenomenológica nós apreendemos o que se mostra sem transformálo e sem prescindir da visada apenas acompanhando os vetores daquilo que se apresenta 2 Seminários organizados anualmente por Medard Boss entre 1959 e 1969 na cidade suíça de Zollikon ao longo dos quais Heidegger procurou exercitar o olhar fenomenológico junto a uma assistência de médicos e psicoterapeutas 445 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 O Método Fenomenológico na Filosofia e na Psicologia acompanhando a mobilidade estrutural do fenômeno Outra expressão marcante neste mesmo manuscrito referese ao ver fenomenológico como um abrir de olhos A percepção fenomenologicamente pensada abre espaço para que a coisa percebida apareça como tal no seu horizonte de mostração suprimindo assim a ideia de realidade objetiva ou subjetiva A percepção dessa forma não é concebida como objetiva ou empírica e também não é uma faculdade que se encontra em uma interioridade A percepção é ato de perceber e assim acontece no interior das relações intencionais Nesse caso a ação de ver se dá cooriginariamente com o visto O ato de ver é uma celebração do acontecimento do fenômeno É por meio da atitude fenomenológica que Sartre investiga a consciência como explosão Ser é explodir para dentro do mundo 19472005 p56 O filósofo utiliza a metáfora da explosão para descrever a unidade originária consciênciamundo que libera o horizonte de conhecimento A consciência não é interna não é fechada em si mesma a consciência é imediatamente pura exterioridade Assim sujeito e objeto não estão em relação sujeito e objeto são eles mesmos a relação A consciência é fluxo dinâmica explosão A essência da consciência é intencionalidade um fora que se coloca junto à coisa sem que a coisa possa ser assimilada Sartre em Esboço para uma teoria das emoções 1948 inicia por colocar em questão as teorias psicológicas que pressupõem o afeto como advindo de uma consciência reflexiva E assim procede à redução fenomenológica primeira etapa da investigação fenomenológica suspendendo as hipostasias psicologizantes Nestas o afeto consistiria em um sentimento fato ou estado da consciência Sartre imerso nas posições husserlianas acerca da consciência busca na sua aparição seu caráter irrefletido e não posicional Considerando a intencionalidade husserliana atenta para o fato de que o afeto é ato e como tal o sujeito afetado e o objeto que afeta são indissociáveis cooriginários O afeto consiste em certo modo de apreender o mundo Sartre referese a diferentes modos de afetos ou emoções Em um segundo momento considerando os vetores internos ao fenômeno e descrevendoos com relação à emoção de medo por exemplo diz ele que o homem que tem medo teme algo que se mostra como efetivamente temeroso seja uma rua deserta seja o escuro por fim alguma situação que aponta para algo que se mostra ameaçador a sua existência Sartre exemplifica a expressão de um verdadeiro sentido do medo na ação de fuga frente a uma situação ameaçadora quando o lutador de boxe fecha os olhos ao atacar o adversário Diz ele é uma consciência que trata de negar através de um comportamento mágico um objeto do mundo exterior e que chegará até esconderse e esconder o objeto 1948 p61 Por fim Sartre explicita a experiência da expressão do homem pelo modo como o mundo se apresenta a ele sem a necessidade de uma consciência reflexiva pelo contrário ocorre um fluxo contínuo de intencionalidade Ou seja o ato como tal se dá no espaço em que homem e mundo estão em jogo MerleauPonty e o reposicionamento das essências na existência MerleauPonty fiel a crítica de Husserl ao idealismo e ao realismo e na mesma direção de Heidegger e de Sartre defende que a fenomenologia é uma luta constante contra o idealismo kantiano que pressupõe uma subjetividade transcendental a qual possui as leis fundamentais que tornam possível o conhecimento Nessa perspectiva o que conhecemos é um objeto que se mostra no campo da experiência no entanto este é posicionado pelas estruturas do sujeito MerleauPonty 19451994 no prefácio de Fenomenologia da percepção apresenta a fenomenologia iniciando o texto com a seguinte questão O que é fenomenologia 1994 p1 e reponde A fenomenologia é o estudo das essências e todos os problemas segundo ela resumemse em definir essências a essência da percepção a essência da consciência por exemplo 1994 p1 Merleau Ponty nessa obra pretende chegar à essência da percepção fenomenologicamente Referese à fenomenologia como uma filosofia transcendental que ao suspender as afirmações da atitude natural repõe as essências na existência p1 Em síntese conclui que investigar fenomenologicamente consiste em uma descrição direta de nossa experiência tal como ela é e sem nenhuma deferência à sua gênese psicológica e às explicações causais que o cientista o historiador ou o sociólogo dela possam fornecer Merleau Ponty 1994 p12 E é pela compreensão do homem e do mundo em sua facticidade que esse filósofo investigará o fenômeno da percepção Mundo aqui compreendido como presença inalienável conjunto das relações objetivas tal como articuladas pela consciência MerleauPonty 1990 após reduzir todas as teorias idealistas acerca da percepção e da consciência parte para buscar os vetores internos ao fenômeno que lhe possibilitam ver o fenômeno em outras perspectivas e conclui É por meu corpo que compreendo o outro assim como é por meu corpo que percebo coisas Assim compreendido o sentido do gesto não está atrás dele ele se confunde com a estrutura do mundo que o gesto desenha MerleauPonty 19451994 p25 A relação entre a percepção e a arte é abordada por este filósofo em sua obra O olho e o espírito composto por três ensaios e especificamente no ensaio intitulado A dúvida de Cézanne em que MerleauPonty 19452012 acompanhando atentamente a trajetória do pintor afirma que a arte é uma operação da expressão p 119 Logo nessa mesma obra conclui MerleauPonty que não são as leis da geometria nem as leis da consciência que conduzem o gesto do pintor O que faz a pintura é o motivo da expressão do artista em sua totalidade e plenitude MerleauPonty 2012 explicita a experiência da expressão concluindo que os sentidos dos gestos não têm determinações dadas a priori tal como defendiam as perspectivas idealistas seja na filosofia seja na psicologia pois somente podem ser compreendidos em ato A arte de 446 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 AMLC Feijoo CM Mattar Cézanne por exemplo se dá em uma experiência perceptiva e não pelo reconhecimento das leis que governam o comportamento de pintar Da mesma forma ao compreender a arte do outro não o fazemos pelo conhecimento das leis e das formas em que a pintura se expressa Assim Merleau Ponty dá relevo à experiência sensível que fora totalmente abandonada pelos idealistas sem recair em um realismo que mesmo mantendo a experiência subtrai totalmente o sentido da experiência que é dado justamente no espaço de intencionalidade No seu percurso filosófico o filósofo constrói argumentos a favor da tese de que é a percepção a modalidade original da consciência Neste sentido toda consciência é consciência perceptiva mesmo a consciência de nós mesmos MerleauPonty 1990 p42 MerleauPonty toma a percepção como um abrir espaço para que o percebido apareça como ele é Com o exposto acima podese acompanhar de que modo Heidegger Sartre e Merleau Ponty tomaram a fenomenologia em suas investigações sobre a consciência e como os três fenomenólogos assumem o método de Husserl preservando os momentos imprescindíveis para que aconteça uma investigação fenomenológica Concluise que os três mantiveramse fiéis as exigências metodológicas impostas pelo mestre da fenomenologia uma vez que assumiram a atitude fenomenológica ao reduzir tanto o empírico quanto as leis do pensar ao fenomenológico Por isso tomaram os fenômenos que pretendiam investigar de forma totalmente distinta do modo empírico ou lógico deixando que o fenômeno aparecesse no seu campo de mostração E após assumirem a aparição do fenômeno pela descrição dos vetores internos ao mesmo deixaram que esses vetores internos ao fenômeno se mostrassem por si mesmos Por fim descreveram aquilo que constitui a essência da descoberta Assim Heidegger em uma postura totalmente radical reduz a intencionalidade ao Dasein como abertura ou seja horizonte de mostração das coisas Sartre por sua vez defendeu que a estrutura das emoções não se encontra em uma interioridade mas na articulação consciência e mundo intencionalidade Merleau Ponty rearticula a intencionalidade de modo a alcançar a sua essência na experiência da percepção referindose à consciência perceptiva Por fim pensar na fenomenologia seja de Heidegger Sartre ou MerleauPonty permite compreender do que se trata numa atitude fenomenológica de investigação o que possibilita que se tenha em mente os pressupostos fenomenológicos presentes no projeto husserliano tais como foram sistematizados anteriormente No entanto cabe ainda pensar em como apropriarse do método fenomenológico para as investigações em psicologia A Fenomenologia como método de investigação em Psicologia Sabese que atualmente as investigações em psicologia têm buscado inspiração no método fenomenológico Muitos estudiosos do tema realizam uma apropriação da fenomenologia para a psicologia assim como os filósofos apresentados anteriormente o fizeram para seus estudos filosóficos Estudiosos da psicologia fenomenológica nos advertem sobre o risco que corremos quando fazemos tal transposição Giorgi 2006 Castro Gomes 2011 sem considerar o elemento mesmo da psicologia e então confundi lo com aquilo que é pertinente à filosofia Acerca disso defende Giorgi 2006 p 354 Consequentemente algum senso da disciplina em questão tem de ser considerado e articulado aos procedimentos filosóficos Castro e Gomes 2011 referemse a três modelos de transposição do método fenomenológico da filosofia para a psicologia são eles psicologia empíricofenomenológica fenomenologia experimental e neurofenomenologia Estes autores no entanto comentam que por diferentes motivos esses três modelos vislumbrados de transposição da lógica transcendental husserliana para a prática empíricocientífica não aparentam ter alcançado ou mesmo almejado uma reforma epistêmica sólida 2011 p 237 Com essas advertências podese concluir que se não forem tomados os devidos cuidados correse o risco de se afirmar que se faz pesquisa fenomenológica em psicologia sem que efetivamente o método fenomenológico possa ser aplicado Tendo em vista que a adoção rigorosa da fenomenologia por Heidegger Sartre e MerleauPonty foi o que permitiu o delineamento da filosofia em outras bases existenciais operando a desconstrução da visão de psiquismo atos mentais e consciência como objetos naturais a serem explorados podese concluir que a fenomenologia deverá ser o caminho metodológico trilhado na investigação em psicologia ao menos em uma psicologia que se propõe a evitar que o espírito fique subordinado à vida natural como um simples derivado desta Mantendose fiel às considerações rigorosas defendidas por Husserl a psicologia poderá alcançar aquilo que Castro e Gomes 2011 p 239 denominaram de uma reforma epistêmica sólida Para tanto acreditase que inspirandose nos passos apropriados pela filosofia na utilização do método sem que no entanto pretenda chegar à fenomenologia transcendental a psicologia deve aterse no mínimo aos seguintes momentos a redução fenomenológica a descrição dos vetores internos ao fenômeno e a explicitação das experiências À psicologia bastam as reduções fenomenológica e psicológica com a suspensão da crença em um mundo em si e em uma subjetividade em si a fim de acessar os fenômenos psicológicos em seu mostrarse originário Se os dois primeiros passos se conjugam com aqueles que Giorgi 2006 considerou imprescindíveis na filosofia a atitude fenomenológica e a variação imaginativa o terceiro parece se afinar mais com o contexto próprio a psicologia pois que diz respeito às descrições das experiências dos indivíduos singulares tais como apreendidas pelo investigador Nesse aspecto com o retorno da fenomenologia ao solo originário a partir do qual é possível toda episteme inclusive da própria psicologia esta ao aliarse ao método fenomenológico poderá reformular seu modo de acesso ao fenômeno que a interessa mais de perto a existência concreta indo ao encontro da proposta de uma reforma epistêmica radical Castro Gomes 2011 Psicólogo estudioso da obra de Husserl no Brasil Goto 2008 afirma que o matemático e filosofo alemão passou a elaborar uma psicologia fenomenológica dentro da fenomenologia filosófica possibilitando a formação de 447 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 O Método Fenomenológico na Filosofia e na Psicologia uma nova abordagem na ciência psicológica A psicologia fenomenológica não constitui apenas uma abordagem fenomenológica enquanto compreensão e visão de mundo mas sim fundamento para a psicologia científica Toda psicologia deve ser precedida de uma psicologia fenomenológica no sentido de um esforço reflexivo pelo qual no contato com a nossa própria experiência elaboramos as noções fundamentais de que a psicologia se serve a cada momento Os últimos escritos de Husserl mostram o caminho para a subjetividade transcendental partindo do mundo da vida e da psicologia A vida humana é vista como estrutura espiritual que é suporte constituinte do sentido do mundo Na volta às coisas primeiras retornase à própria subjetividade o que pode ser feito através de três vias possíveis cartesiana psicológica e transcendental Enquanto a evidenciação da subjetividade transcendental como estrutura primeira e fundamental de toda existência se opõe ao objetivismo da ciência a via psicológica se lhe constitui como um caminho necessário de passagem para a fenomenologia transcendental sendo essa via para os psicólogos o ponto de partida para uma investigação dos fenômenos existenciais com base na fenomenologia Ainda de acordo com Goto 2008 a psicologia fenomenológica de Husserl tem o intuito de expor a expressividade psíquica p211 da subjetividade transcendental sendo portanto o fundamento metódico sobre o qual se pode por princípio erguerse uma psicologia empírica cientificamente rigorosa p 211 Isto significa que o interesse do psicólogo fenomenólogo voltase para as expressões existenciais que têm como condição de possibilidade o solo originário comum a todos os homens exposto nas evidências prélógicas e précientíficas que Husserl chamou de subjetividade transcendental Considerações Finais O artigo buscou explicitar inicialmente a importância do método fenomenológico concebido por Edmund Husserl como condição de possibilidade para investigações filosóficoexistenciais como foram as de Heidegger Sartre e MerleauPonty Em seguida apontou para a viabilidade da metodologia fenomenológica nas investigações em psicologia Destacou que uma psicologia que se pretenda fenomenológica deverá buscar até as últimas consequências as condições necessárias para legitimar esse caminho de investigação dos fenômenos psicológicos Tentouse assim responder às dúvidas que insistentemente se repetem é possível articular filosofia e psicologia Em outras palavras é possível que um método próprio de investigação em filosofia possa ser abarcado pela psicologia Para seguir envolvendo se com essas questões é preciso dar continuidade ao estudo da fenomenologia de Husserl e aos estudos dos psicólogos com base fenomenológica que também se inquietam com essas provocações Além disso fazse necessário investigar no âmbito da psicologia fenomenológica as conclusões de pesquisas que conferem legitimidade à utilização do método fenomenológico em psicologia sem deixar de ficar atento àquelas que apontam para as contradições e inadequações no uso desse método Por esse caminho poderseá buscar as bases sólidas para efetivar a fenomenologia como método de investigação dos fenômenos psíquicos Referências Castro T G Gomes W B 2011 Movimento fenomenológico controvérsias e perspectivas na pesquisa psicológica Psicologia Teoria e Pesquisa 272 233240 Giorgi A 2006 Difficulties encountered in the application of the phenomenological method in the social sciences Análise Psicológica 324 353361 Goto T A 2008 Introdução à psicologia fenomenológica A nova psicologia de Edmundo Husserl São Paulo Paulus Heidegger M 1989 Ser e tempo parte I M S Cavalcante Trad 8ª ed Petrópolis Vozes Trabalho original publicado em 1927 Heidegger M 2001 Seminários de Zollikon G Arnhold M F Almeida Prado Trads São Paulo EDUC Petrópolis Vozes Trabalho original publicado em 1987 Heidegger M 1991 Meu caminho para a fenomenologia E Stein Trad In Os pensadores São Paulo Nova Cultural Trabalho original publicado em 1963 Heidegger M 1989 Ser e tempo Petrópolis Vozes Trabalho original publicado em 1927 Husserl E 2007 Investigações lógicas P Alves C Marujão Trad Vols 12 Lisboa Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa Trabalho original publicado em 1901 MerleauPonty M 1994 Fenomenologia da percepção C A de Moura Trad São Paulo Martins Fontes Trabalho original publicado em 1945 MerleauPonty M 1990 O primado da percepção e suas consequências filosóficas C M Cesar Trad Campinas Papirus MerleauPonty M 2012 A dúvida de Cézanne M E Pereira P Neves Trads In O olho e o espírito São Paulo Cosacnaify Trabalho original publicado em 1945 Sartre JP 2005 Situações I críticas literárias C Prado Trad São Paulo Cosac Naify Trabalho original publicado em 1947 Sartre JP 1948 Esquisse d une théorie des Emotions Paris Hermann et Cie Recebido em 04072013 Primeira decisão editorial em 13032014 Versão final em 01042014 Aceito em 30042014 n
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441 Psicologia Teoria e Pesquisa OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 A Fenomenologia como Método de Investigação nas Filosofias da Existência e na Psicologia Ana Maria Lopez Calvo Feijoo1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Cristine Monteiro Mattar Universidade Federal Fluminense RESUMO Este artigo visa primeiramente explicitar como o método fenomenológico idealizado por Husserl encontrase presente no pensamento de Heidegger Sartre e MerleauPonty Temas como consciência intencionalidade e percepção tratados por esses filósofos serão apresentados buscando destacar os três momentos presentes em Husserl imprescindíveis para uma investigação fenomenológica a redução fenomenológica a descrição dos vetores internos ao fenômeno e a explicitação da experiência Em um segundo momento indo ao encontro das considerações de Giorgi e Goto pretendese defender que a psicologia ao apropriarse do método fenomenológico em suas investigações deve considerando o contexto de sua área de estudo manterse fiel aos três momentos constitutivos do método fenomenológico Palavraschave fenomenologia método filosofias da existência psicologia The Phenomenological Research Method in the Philosophies of Existence and in the Psychology ABSTRACT This article aims first to explain how the phenomenological method devised by Husserl is present in the thought of Heidegger Sartre and MerleauPonty Themes addressed by the philosophy as conscience intencionality and perception will be discussed in order to show the three indispensable moments for a phenomenological research highlighted by Husserl phenomenological reduction description of internal vectors to the phenomenon and explanation of experiences On the second it going to meet the considerations of Giorgi and Goto it argue that the Psychology the ownership of the phenomenological method in their investigations should considering the context of your study area remain faithful at the three constituent moments of the phenomenological method Keywords phenomenology method philosophies of existence psychology 1 Endereço para correspondência Instituto de Psicologia Fenomenológico Existencial do Rio de Janeiro Rua Barão de Piracinunga 62 Tijuca Rio de Janeiro RJ Brasil CEP 20521170 Email anamariafeijoo gmailcom O presente estudo sobre fenomenologia e método pretende primeiramente explicitar como o método fenomenológico idealizado por Edmund Husserl 1859 1938 encontrase presente nas filosofias da existência mais especificamente em Heidegger Sartre e MerleauPonty ao desenvolverem seus estudos sobre as temáticas existenciais E ainda a partir da fenomenologia e da filosofia da existência visase também mostrar como a psicologia em uma tentativa de distanciarse das referências científiconaturais segue o caminho do método fenomenológico tal como ocorreu com as filosofias da existência como se pode notar no trabalho de dois autores contemporâneos Giorgi 2006 e Goto 2008 A escolha dos filósofos da existência Heidegger Sartre e MerleauPonty ocorreu pelo fato de que os três apontam para a importância da máxima da fenomenologia de Husserl que consiste em ir às coisas mesmas quando se pretende investigar um fenômeno Os três recebem essa definição pelo fato de manterem a pretensão de se afastarem dos critérios idealistas e realistas estabelecendo assim um marco diferenciador entre as filosofias que se preocupam com a essência imutável das coisas e as filosofias que pretendem retornar ao âmbito onde a existência mesma se dá Cabe ressaltar que com o termo existencial não se pretende referir como é comum no âmbito da psicologia ao efetivamente presente Se assim fosse recairseia em uma hipostasia do espaço Existencial tal como tomado pelos filósofos que pensam o espaço de realização do existir diz respeito às possibilidades mais originárias daquele que existe no seu encontro também originário com o mundo A eleição dos filósofos da existência Heidegger Sartre e MerleauPonty devese ao fato de que os três em suas diferentes perspectivas encontraram na fenomenologia fundada por Husserl um método que poderia conduzilos à estrutura ou a dinâmica em que o fluxo da vida acontece em sua cotidianidade Nesse sentido é que se irá buscar aqui o método fenomenológico em seus três momentos constitutivos a redução fenomenológica a descrição dos vetores internos ao fenômeno e a explicitação das experiências como aparecem no pensamento filosófico de Martin Heidegger 18891976 JeanPaul Sartre 19051980 e Maurice MerleauPonty 19081961 como eles mesmos testemunharam Assim buscarseá em Heidegger a sua adesão à fenomenologia quando ele confessa em Meu caminho 442 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 AMLC Feijoo CM Mattar para a fenomenologia 19631991 como esse encontro aconteceu Em Ser e tempo 19271989 na analítica do Dasein Heidegger já procede à investigação sobre o sentido do ser de modo fenomenológico Sartre 19472005 por sua vez assume a defesa do projeto da fenomenologia em Uma ideia fundamental da intencionalidade de Husserl e prossegue utilizando o método em muitos de seus escritos como ocorre por exemplo em Esboço para uma teoria das emoções MerleauPonty 19451994 inicia o prefácio de Fenomenologia da percepção com a questão O que é fenomenologia e nessa mesma obra assume que segue os passos de Husserl para investigar a percepção Este filósofo mostra uma íntima e estreita aproximação com a existência concreta quando por exemplo apresenta A dúvida de Cézanne MerleauPonty 19452012 em uma perspectiva totalmente fenomenológica sobre a percepção e a expressão do artista O mesmo podese afirmar a respeito das peças e romances sartrianos e dos seminários realizados por Heidegger na cidade de Zollikon ao longo de dez anos Para explicitar o modo como cada um dos filósofos existenciais acima mencionados articula o método fenomenológico à investigação de suas temáticas é importante ressaltar que a fenomenologia nasce de uma inspiração de Husserl frente ao problema da busca do elemento universal presente nas filosofias modernas Estas pressupunham que era possível conhecer a verdade essencial e portanto universal das coisas E assim na tentativa de alcançar a determinação das coisas faziase necessária a presença daquele que pode alcançar essas determinações A ideia que mantém por um lado aquele que é capaz de conhecer alcançando as determinações do objeto ou seja o sujeito e por outro lado o objeto que tem suas determinações como coisa opera uma cisão do sujeito que pergunta e da coisa investigada A dúvida com relação à crença de que se pode alcançar a verdade universal por meio do sujeito que conhece ofereceu um momento propício para o surgimento da fenomenologia Com a fenomenologia Husserl pretende superar as epistemologias realistas e idealistas e é nessa superação que se encontra a gênese do projeto fenomenológico também presente em Heidegger Sartre e MerleauPonty Essa tentativa se faz presente também nas chamadas perspectivas fenomenológicoexistenciais em psicologia quando pretendem investigar as temáticas existenciais ou as vivências tais como consciência tédio medo dentre outras não como substâncias que sustentam as determinações em si mesmas nem como determinações de uma interioridade psíquica mas como atos que se constituem na cooriginariedade homemmundo E é da perspectiva do ato que mostraremos como Heidegger Sartre e MerleauPonty investigam o fenômeno da consciência operando na verdade sua desconstrução mostrando fidelidade ao caminho proposto e seguido por Husserl na sua fenomenologia Esse caminho pode ser acompanhado nos desdobramentos das investigações de Husserl 19012007 sobre a consciência onde podemos apreender três momentos fundamentais a redução fenomenológica a descrição dos vetores internos ao fenômeno e a explicitação das experiências como apresentados anteriormente Acrescentase ainda que é justamente o interesse pela investigação das vivências que aproxima as filosofias da existência da psicologia existencial A primeira realiza sua tarefa pela reflexão filosófica a segunda centrase na materialidade da existência em sua realidade concreta Logo a consciência a angústia a liberdade a percepção o tédio o medo a cólera como atos interessam não só à filosofia como à psicologia O segundo objetivo desse estudo como referido acima diz respeito à defesa do modo como as pesquisas em psicologia devem tomar o método fenomenológico na investigação das suas temáticas Há algum tempo ocorre uma tentativa por parte dos pesquisadores da perspectiva fenomenológica em psicologia de articular o método idealizado pelo filósofo com as bases da psicologia fenomenológica Neste estudo serão apresentados os argumentos desenvolvidos por Amadeo Giorgi e Tommy Akira Goto que tratam de viabilizar a articulação do método da filosofia com o da psicologia No entanto Giorgi 2006 ressalta que para fazermos essa articulação é necessário que o investigador oriundo da psicologia tenha domínio da fenomenologia de Husserl e que em suas investigações não prescinda de três momentos indispensáveis para que a pesquisa mantenha o referencial fenomenológico São eles adotar a atitude fenomenológica encontrar o fenômeno que interessa estudar e usar o processo de variação livre da imaginação para determinar sua essência e por fim descrever cuidadosamente a essência da descoberta Goto 2008 aponta que a psicologia fenomenológica nova disciplina proposta por Husserl em seus últimos escritos pretende ser um fundamento metodológico sobre o qual se pode erguer uma psicologia cientificamente rigorosa Essa psicologia foi concebida por Husserl como uma psicologia racional pura isto é não experimental no estudo da subjetividade Para Husserl toda psicologia precisa partir da psicologia fenomenológica a fim de garantir o rigor Goto 2008 faz uma crítica aos autores que simplesmente transportam a fenomenologia para a psicologia sem os devidos cuidados Esse autor se refere à definição de Husserl de que a psicologia fenomenológica consiste numa nova disciplina paralela à fenomenologia filosófica que não se distingue dela a princípio e que seria o fundamento metódico sobre o qual se pode erguer uma psicologia empírica cientificamente rigorosa Ou seja Husserl citado por Goto 2008 postula que para se fazer psicologia é preciso partir de uma psicologia fenomenológica que seria uma descrição das estruturas psíquicas descrição essa que é etapa indispensável para a constituição da própria fenomenologia Afirma Goto 2008 Se com seu método a fenomenologia favoreceu o encontro rigoroso com a subjetividade de forma evidente e apodíctica será também a partir dela que a psicologia poderá ter acesso direto à subjetividade enquanto tal e assim transcender a crise das ciências retomando o sentido da existência como motivação originária p 212 A fim de atender aos objetivos deste trabalho será apresentada inicialmente a fenomenologia husserliana para em seguida serem trazidos os filósofos da existência em suas relações com o método fenomenológico Por fim será defendida a utilização do método fenomenológico como um 443 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 O Método Fenomenológico na Filosofia e na Psicologia caminho de investigação em psicologia desde que seguidas as condições estabelecidas por Husserl Fenomenologia e método em Husserl Dois elementos foram centrais no processo de gênese da fenomenologia a concepção de método e a noção de intencionalidade Husserl 19012007 inicia esclarecendo que é com a atitude fenomenológica por meio da suspensão das hipostasias que pretende alcançar aquilo que subjaz a determinação das coisas Referese à hipostasia realista como um modo de pensar as estruturas como reais e que possuem determinações que podem ser alcançadas pelo método e à hipostasia idealista como sendo atitude em que se acredita que a determinação das coisas se encontra na interioridade do sujeito que conhece Logo Husserl utilizouse do método fenomenológico para investigar o fenômeno da consciência Para tanto primeiramente ele suspendeu de início todas as teorias acerca da consciência fossem essas empíricas ou logicamente fundadas suprimindo todas as perspectivas naturalizantes e assumindo uma postura antinatural frente ao fenômeno mesmo da consciência Em um segundo momento ao prescindir da ideia de uma substancialidade subjetiva subjacente aos atos esse filósofo alcançou a essência do fenômeno pelo exercício do pensamento acompanhando descritivamente a própria constituição da consciência em ato Deste modo encontrou a essência da intencionalidade como espaço de dação dos objetos ou seja os fenômenos Ao acompanhar o caminho descrito acima tal como percorrido por Husserl 19012007 na investigação da consciência podese observar os seguintes momentos 1 redução fenomenológica em que o investigador suspende de início todas as teorias acerca da consciência seja essa teoria empírica ou logicamente fundada Ao suprimir as perspectivas naturalizantes Husserl assume uma postura antinatural frente ao fenômeno 2 descrição dos vetores internos ao fenômeno na medida em que o investigador acompanha a própria constituição da consciência em ato e 3 explicitação da experiência alcançando assim a sua essência ou seja no caso da consciência a intencionalidade Logo nas Investigações lógicas 19012007 Husserl utilizando o método fenomenológico para investigar o fenômeno da consciência alcança a essência desse fenômeno a intencionalidade como espaço de dação dos objetos fenômeno e concebe a consciência intencional como síntese incessante do fluxo temporal das experiências Assim intencionalidade diz respeito ao incessante transcender de si mesmo rompendo com o pressuposto de que é o sujeito que posiciona as coisas ou de que as coisas existem independentemente da consciência Estruturas intencionais dizem sempre do caráter de cooriginariedade sujeito e objeto ou seja quando um dos pólos aparece o outro imediatamente acontece sem nenhum intervalo espaçotemporal entre eles Eliminase assim a ideia de intervalo espaçotemporal e consequentemente de qualquer estrutura de causalidade A consciência é para este filósofo transcendente nunca se retém em si mesma mas se vê projetada por seus próprios atos para o campo dos objetos correlatos Na medida em que a consciência se realiza através de seus atos ela sempre transcende o campo de realização desses atos Em síntese duas considerações se fazem pertinentes com relação à filosofia de Husserl Primeiro que seu interesse incidia na investigação da consciência porém ele acreditava que o modo pelo qual esse fenômeno vinha sendo investigado em meio às hipóstases não alcançava a sua estrutura mais originária Segundo por não estar de acordo com os métodos realistas e idealistas de investigação da consciência Husserl elabora outro caminho de acesso ao fenômeno que denominou fenomenológico o qual consistia em acompanhar o fenômeno da consciência em seu campo de mostração para que dessa forma o mesmo aparecesse em sua essencialidade Como se demonstrará a seguir seu projeto influenciará de forma marcante as filosofias de Heidegger Sartre e MerleauPonty A investigação fenomenológica da estrutura da intencionalidade em Heidegger Sartre e Merleau Ponty Explicitarseá agora de que modo Heidegger Sartre e MerleauPonty que são referências constantes nos estudos sobre fenomenologia existencial assumem a fenomenologia de Husserl como caminho para suas investigações Os três ao se posicionarem filosoficamente vão ao encontro do pensamento de Husserl no que diz respeito à suspenção das hipostasias realistas e idealistas E será fenomenologicamente que Heidegger Sartre e MerleauPonty irão proceder na investigação dos fenômenos da existência ou seja aqueles que acontecem no espaço de realização da existência Heidegger por meio do método fenomenológico radicaliza a noção de intencionalidade abandonando qualquer referência à consciência passando então investigar o Dasein seraí Sartre atémse a estruturas que foram anteriormente temas da psicologia tais como a consciência a emoção e a imaginação porém tomados como objetos a serem pesquisados de modo a poder descobrir as leis que regiam seus movimentos Sartre então aponta para a necessidade de se ater às estruturas intencionais desses fenômenos MerleauPonty também crítico do modo como a psicologia experimental estudava as variáveis psicológicas vai buscar na fenomenologia especialmente na noção de intencionalidade tal como postulada por Husserl elementos para uma revisão das noções de consciência na psicologia Assim MerleauPonty aponta em seus estudos para outro modo de proceder na investigação do fenômeno das expressões do homem Primeiramente será mostrado como esses filósofos compartilharam com Husserl da crítica às filosofias realistas e idealistas Depois para ilustrar como esses três filósofos se mantêm nos três momentos imprescindíveis na investigação fenomenológica tal como encontrados em Husserl a redução fenomenológica a descrição dos vetores internos ao fenômeno e a explicitação das experiências será apresentado como Heidegger Sartre e MerleauPonty caminharam em suas investigações 444 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 AMLC Feijoo CM Mattar O caminho de Heidegger para a fenomenologia e o desvelamento do Dasein Heidegger escreveu em 1963 Meu caminho para a fenomenologia para ser publicado em uma tiragem privada em homenagem a Hermann Niemeyer1 Nesse escrito Heidegger 19631991 confessa que chegou a Husserl por meio das Investigações Lógicas as quais ele diz que precisou ler por aproximadamente dez vezes para começar a entendêlas Durante a leitura se perguntava Em que consiste o elemento individualizador da Fenomenologia já que não é nem a Lógica nem a Psicologia Manifestase aqui uma disciplina filosófica inteiramente nova e que possui dignidade e nível próprios 1991 p496 Na tentativa de responder às questões que ele mesmo formulara Heidegger se entrega a leitura das Investigações e da obra Ideias para uma fenomenologia pura No entanto as dúvidas só começam a se esclarecer quando o filósofo da Floresta Negra assiste às aulas de Husserl Diz Heidegger 19631991 A atividade docente de Husserl consistia no progressivo exercício e na aprendizagem do ver fenomenológico ele exigia tanto a renúncia a todo uso não crítico de conhecimentos filosóficos como impunha não trazerse para o diálogo a autoridade dos grandes pensadores p 497 Heidegger começava a entender a fenomenologia porém quanto mais ouvia Husserl mais se sentia próximo aos pensadores gregos principalmente Aristóteles Foram os estudos da Sexta Investigação na qual Husserl distingue a intuição sensível da categorial que levaram Heidegger a entender o porquê dela remeterse a Aristóteles Tratavase de entender o alcance para a determinação do significado múltiplo do ente Heidegger 19631991 p497 Heidegger conclui então que aquilo que para Husserl consistia em ato da consciência para Aristóteles era Aletheia desvelamento do que se apresenta Aquilo que as Investigações redescobriram como a atitude básica do pensamento revelase como traço fundamental do pensamento grego quando não da Filosofia como tal Heidegger 19631991 p 498 O filósofo de Ser e tempo 19271989 vai analisar a questão do sentido do ser por meio do método fenomenológico Para tanto inicia com a investigação indo ao fenômeno da existência tal como ela se mostra no seu campo de mostração ou seja na medianidade cotidiana Prescindindo de todas as filosofias da subjetividade primeiramente suspendeu as hipostasias realistas ou idealistas e acompanhando os vetores ou seja a dinâmica existencial em que a existência se dá em sua medianidade alcançou a explicitação da experiência a qual denominou Dasein como a estrutura mais original da intencionalidade Importa realçar que mesmo tendo como ponto de partida a fenomenologia de seu mestre Husserl a quem dedica Ser e tempo 19271989 Heidegger em sua analítica com a concepção de Dasein rompe totalmente com a categoria da consciência tal qual a entendia a tradição filosófica Em 1 Hermann Niemayer 17541828 nascido na Alemanha foi professor de teologia escritor e poeta Em 1807 foi deportado para Paris por Napoleão Seminários de Zollikon2 afirma o filósofo que difere de Husserl e de sua fenomenologia por não elaborar com sua analítica somente as estruturas de ser do Dasein mas por colocar expressamente o serhomem de modo geral como Dasein diferentemente das determinações do homem como subjetividade e como consciência do eu transcendental Heidegger 2001 Diz ainda que a fenomenologia de Husserl permanece fenomenologia da consciência impedindo a visão clara da hermenêutica fenomenológica do Dasein A relação de Dasein e consciência necessitaria segundo Heidegger de uma discussão especial pois ela é assinalada pela pergunta da relação fundamental entre serno mundo como Dasein e intencionalidade da consciência De acordo com Heidegger 2001 pelo fato da consciência ter se tornado uma representação fundamental da filosofia moderna e a fenomenologia de Husserl também se manter nessa mesma linha de pensamento a fenomenologia de Husserl ainda se encontra na tradição moderna com o objetivo de descrever a consciência Heidegger diferentemente de Husserl considera em suas análises o mundo como horizonte histórico de sentidos e ainda que é o mundo que torna possível que algo se mostre como algo pela experiência fenomenológica Sartre e sua ideia fundamental de intencionalidade Sartre 19472005 apresenta em Uma ideia fundamental da intencionalidade de Husserl a sua imersão na fenomenologia de forma intensa Ao tecer a crítica ao modo como o idealismo postula como se dá o conhecimento Sartre cria a imagem da digestão em que o processo de assimilação produz uma transformação radical daquilo que se conhece No idealismo o ato de conhecer a coisa faz com que essa se transforme não permanecendo a mesma Já ao referirse ao modo de conhecer do realismo Sartre 19472005 utilizase da imagem da aranha que come com os olhos encontrando nas teias da razão a objetividade para então determinar aquilo que cai na teia No interior do realismo a coisa é interpretada como uma realidade em si mesma prescindindo totalmente da consciência Tanto na perspectiva idealista quanto na realista abrese um fosso entre o sujeito e o objeto No idealismo prevalece a ideia do substrato subjetivo e do sujeito egóico E é esse sujeito que posiciona o mundo No realismo o sujeito permanece totalmente isento diante das coisas cabendolhe apenas descrevêlas A consciência é uma espécie de cera em que a realidade por meio da experiência vai produzindo marcas que se estruturam como conhecimento Sartre 19472005 Diferentemente do modo de se posicionar do idealismo e do realismo Sartre 19472005 defende que em uma postura fenomenológica nós apreendemos o que se mostra sem transformálo e sem prescindir da visada apenas acompanhando os vetores daquilo que se apresenta 2 Seminários organizados anualmente por Medard Boss entre 1959 e 1969 na cidade suíça de Zollikon ao longo dos quais Heidegger procurou exercitar o olhar fenomenológico junto a uma assistência de médicos e psicoterapeutas 445 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 O Método Fenomenológico na Filosofia e na Psicologia acompanhando a mobilidade estrutural do fenômeno Outra expressão marcante neste mesmo manuscrito referese ao ver fenomenológico como um abrir de olhos A percepção fenomenologicamente pensada abre espaço para que a coisa percebida apareça como tal no seu horizonte de mostração suprimindo assim a ideia de realidade objetiva ou subjetiva A percepção dessa forma não é concebida como objetiva ou empírica e também não é uma faculdade que se encontra em uma interioridade A percepção é ato de perceber e assim acontece no interior das relações intencionais Nesse caso a ação de ver se dá cooriginariamente com o visto O ato de ver é uma celebração do acontecimento do fenômeno É por meio da atitude fenomenológica que Sartre investiga a consciência como explosão Ser é explodir para dentro do mundo 19472005 p56 O filósofo utiliza a metáfora da explosão para descrever a unidade originária consciênciamundo que libera o horizonte de conhecimento A consciência não é interna não é fechada em si mesma a consciência é imediatamente pura exterioridade Assim sujeito e objeto não estão em relação sujeito e objeto são eles mesmos a relação A consciência é fluxo dinâmica explosão A essência da consciência é intencionalidade um fora que se coloca junto à coisa sem que a coisa possa ser assimilada Sartre em Esboço para uma teoria das emoções 1948 inicia por colocar em questão as teorias psicológicas que pressupõem o afeto como advindo de uma consciência reflexiva E assim procede à redução fenomenológica primeira etapa da investigação fenomenológica suspendendo as hipostasias psicologizantes Nestas o afeto consistiria em um sentimento fato ou estado da consciência Sartre imerso nas posições husserlianas acerca da consciência busca na sua aparição seu caráter irrefletido e não posicional Considerando a intencionalidade husserliana atenta para o fato de que o afeto é ato e como tal o sujeito afetado e o objeto que afeta são indissociáveis cooriginários O afeto consiste em certo modo de apreender o mundo Sartre referese a diferentes modos de afetos ou emoções Em um segundo momento considerando os vetores internos ao fenômeno e descrevendoos com relação à emoção de medo por exemplo diz ele que o homem que tem medo teme algo que se mostra como efetivamente temeroso seja uma rua deserta seja o escuro por fim alguma situação que aponta para algo que se mostra ameaçador a sua existência Sartre exemplifica a expressão de um verdadeiro sentido do medo na ação de fuga frente a uma situação ameaçadora quando o lutador de boxe fecha os olhos ao atacar o adversário Diz ele é uma consciência que trata de negar através de um comportamento mágico um objeto do mundo exterior e que chegará até esconderse e esconder o objeto 1948 p61 Por fim Sartre explicita a experiência da expressão do homem pelo modo como o mundo se apresenta a ele sem a necessidade de uma consciência reflexiva pelo contrário ocorre um fluxo contínuo de intencionalidade Ou seja o ato como tal se dá no espaço em que homem e mundo estão em jogo MerleauPonty e o reposicionamento das essências na existência MerleauPonty fiel a crítica de Husserl ao idealismo e ao realismo e na mesma direção de Heidegger e de Sartre defende que a fenomenologia é uma luta constante contra o idealismo kantiano que pressupõe uma subjetividade transcendental a qual possui as leis fundamentais que tornam possível o conhecimento Nessa perspectiva o que conhecemos é um objeto que se mostra no campo da experiência no entanto este é posicionado pelas estruturas do sujeito MerleauPonty 19451994 no prefácio de Fenomenologia da percepção apresenta a fenomenologia iniciando o texto com a seguinte questão O que é fenomenologia 1994 p1 e reponde A fenomenologia é o estudo das essências e todos os problemas segundo ela resumemse em definir essências a essência da percepção a essência da consciência por exemplo 1994 p1 Merleau Ponty nessa obra pretende chegar à essência da percepção fenomenologicamente Referese à fenomenologia como uma filosofia transcendental que ao suspender as afirmações da atitude natural repõe as essências na existência p1 Em síntese conclui que investigar fenomenologicamente consiste em uma descrição direta de nossa experiência tal como ela é e sem nenhuma deferência à sua gênese psicológica e às explicações causais que o cientista o historiador ou o sociólogo dela possam fornecer Merleau Ponty 1994 p12 E é pela compreensão do homem e do mundo em sua facticidade que esse filósofo investigará o fenômeno da percepção Mundo aqui compreendido como presença inalienável conjunto das relações objetivas tal como articuladas pela consciência MerleauPonty 1990 após reduzir todas as teorias idealistas acerca da percepção e da consciência parte para buscar os vetores internos ao fenômeno que lhe possibilitam ver o fenômeno em outras perspectivas e conclui É por meu corpo que compreendo o outro assim como é por meu corpo que percebo coisas Assim compreendido o sentido do gesto não está atrás dele ele se confunde com a estrutura do mundo que o gesto desenha MerleauPonty 19451994 p25 A relação entre a percepção e a arte é abordada por este filósofo em sua obra O olho e o espírito composto por três ensaios e especificamente no ensaio intitulado A dúvida de Cézanne em que MerleauPonty 19452012 acompanhando atentamente a trajetória do pintor afirma que a arte é uma operação da expressão p 119 Logo nessa mesma obra conclui MerleauPonty que não são as leis da geometria nem as leis da consciência que conduzem o gesto do pintor O que faz a pintura é o motivo da expressão do artista em sua totalidade e plenitude MerleauPonty 2012 explicita a experiência da expressão concluindo que os sentidos dos gestos não têm determinações dadas a priori tal como defendiam as perspectivas idealistas seja na filosofia seja na psicologia pois somente podem ser compreendidos em ato A arte de 446 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 AMLC Feijoo CM Mattar Cézanne por exemplo se dá em uma experiência perceptiva e não pelo reconhecimento das leis que governam o comportamento de pintar Da mesma forma ao compreender a arte do outro não o fazemos pelo conhecimento das leis e das formas em que a pintura se expressa Assim Merleau Ponty dá relevo à experiência sensível que fora totalmente abandonada pelos idealistas sem recair em um realismo que mesmo mantendo a experiência subtrai totalmente o sentido da experiência que é dado justamente no espaço de intencionalidade No seu percurso filosófico o filósofo constrói argumentos a favor da tese de que é a percepção a modalidade original da consciência Neste sentido toda consciência é consciência perceptiva mesmo a consciência de nós mesmos MerleauPonty 1990 p42 MerleauPonty toma a percepção como um abrir espaço para que o percebido apareça como ele é Com o exposto acima podese acompanhar de que modo Heidegger Sartre e Merleau Ponty tomaram a fenomenologia em suas investigações sobre a consciência e como os três fenomenólogos assumem o método de Husserl preservando os momentos imprescindíveis para que aconteça uma investigação fenomenológica Concluise que os três mantiveramse fiéis as exigências metodológicas impostas pelo mestre da fenomenologia uma vez que assumiram a atitude fenomenológica ao reduzir tanto o empírico quanto as leis do pensar ao fenomenológico Por isso tomaram os fenômenos que pretendiam investigar de forma totalmente distinta do modo empírico ou lógico deixando que o fenômeno aparecesse no seu campo de mostração E após assumirem a aparição do fenômeno pela descrição dos vetores internos ao mesmo deixaram que esses vetores internos ao fenômeno se mostrassem por si mesmos Por fim descreveram aquilo que constitui a essência da descoberta Assim Heidegger em uma postura totalmente radical reduz a intencionalidade ao Dasein como abertura ou seja horizonte de mostração das coisas Sartre por sua vez defendeu que a estrutura das emoções não se encontra em uma interioridade mas na articulação consciência e mundo intencionalidade Merleau Ponty rearticula a intencionalidade de modo a alcançar a sua essência na experiência da percepção referindose à consciência perceptiva Por fim pensar na fenomenologia seja de Heidegger Sartre ou MerleauPonty permite compreender do que se trata numa atitude fenomenológica de investigação o que possibilita que se tenha em mente os pressupostos fenomenológicos presentes no projeto husserliano tais como foram sistematizados anteriormente No entanto cabe ainda pensar em como apropriarse do método fenomenológico para as investigações em psicologia A Fenomenologia como método de investigação em Psicologia Sabese que atualmente as investigações em psicologia têm buscado inspiração no método fenomenológico Muitos estudiosos do tema realizam uma apropriação da fenomenologia para a psicologia assim como os filósofos apresentados anteriormente o fizeram para seus estudos filosóficos Estudiosos da psicologia fenomenológica nos advertem sobre o risco que corremos quando fazemos tal transposição Giorgi 2006 Castro Gomes 2011 sem considerar o elemento mesmo da psicologia e então confundi lo com aquilo que é pertinente à filosofia Acerca disso defende Giorgi 2006 p 354 Consequentemente algum senso da disciplina em questão tem de ser considerado e articulado aos procedimentos filosóficos Castro e Gomes 2011 referemse a três modelos de transposição do método fenomenológico da filosofia para a psicologia são eles psicologia empíricofenomenológica fenomenologia experimental e neurofenomenologia Estes autores no entanto comentam que por diferentes motivos esses três modelos vislumbrados de transposição da lógica transcendental husserliana para a prática empíricocientífica não aparentam ter alcançado ou mesmo almejado uma reforma epistêmica sólida 2011 p 237 Com essas advertências podese concluir que se não forem tomados os devidos cuidados correse o risco de se afirmar que se faz pesquisa fenomenológica em psicologia sem que efetivamente o método fenomenológico possa ser aplicado Tendo em vista que a adoção rigorosa da fenomenologia por Heidegger Sartre e MerleauPonty foi o que permitiu o delineamento da filosofia em outras bases existenciais operando a desconstrução da visão de psiquismo atos mentais e consciência como objetos naturais a serem explorados podese concluir que a fenomenologia deverá ser o caminho metodológico trilhado na investigação em psicologia ao menos em uma psicologia que se propõe a evitar que o espírito fique subordinado à vida natural como um simples derivado desta Mantendose fiel às considerações rigorosas defendidas por Husserl a psicologia poderá alcançar aquilo que Castro e Gomes 2011 p 239 denominaram de uma reforma epistêmica sólida Para tanto acreditase que inspirandose nos passos apropriados pela filosofia na utilização do método sem que no entanto pretenda chegar à fenomenologia transcendental a psicologia deve aterse no mínimo aos seguintes momentos a redução fenomenológica a descrição dos vetores internos ao fenômeno e a explicitação das experiências À psicologia bastam as reduções fenomenológica e psicológica com a suspensão da crença em um mundo em si e em uma subjetividade em si a fim de acessar os fenômenos psicológicos em seu mostrarse originário Se os dois primeiros passos se conjugam com aqueles que Giorgi 2006 considerou imprescindíveis na filosofia a atitude fenomenológica e a variação imaginativa o terceiro parece se afinar mais com o contexto próprio a psicologia pois que diz respeito às descrições das experiências dos indivíduos singulares tais como apreendidas pelo investigador Nesse aspecto com o retorno da fenomenologia ao solo originário a partir do qual é possível toda episteme inclusive da própria psicologia esta ao aliarse ao método fenomenológico poderá reformular seu modo de acesso ao fenômeno que a interessa mais de perto a existência concreta indo ao encontro da proposta de uma reforma epistêmica radical Castro Gomes 2011 Psicólogo estudioso da obra de Husserl no Brasil Goto 2008 afirma que o matemático e filosofo alemão passou a elaborar uma psicologia fenomenológica dentro da fenomenologia filosófica possibilitando a formação de 447 Psic Teor e Pesq Brasília OutDez 2014 Vol 30 n 4 pp 441447 O Método Fenomenológico na Filosofia e na Psicologia uma nova abordagem na ciência psicológica A psicologia fenomenológica não constitui apenas uma abordagem fenomenológica enquanto compreensão e visão de mundo mas sim fundamento para a psicologia científica Toda psicologia deve ser precedida de uma psicologia fenomenológica no sentido de um esforço reflexivo pelo qual no contato com a nossa própria experiência elaboramos as noções fundamentais de que a psicologia se serve a cada momento Os últimos escritos de Husserl mostram o caminho para a subjetividade transcendental partindo do mundo da vida e da psicologia A vida humana é vista como estrutura espiritual que é suporte constituinte do sentido do mundo Na volta às coisas primeiras retornase à própria subjetividade o que pode ser feito através de três vias possíveis cartesiana psicológica e transcendental Enquanto a evidenciação da subjetividade transcendental como estrutura primeira e fundamental de toda existência se opõe ao objetivismo da ciência a via psicológica se lhe constitui como um caminho necessário de passagem para a fenomenologia transcendental sendo essa via para os psicólogos o ponto de partida para uma investigação dos fenômenos existenciais com base na fenomenologia Ainda de acordo com Goto 2008 a psicologia fenomenológica de Husserl tem o intuito de expor a expressividade psíquica p211 da subjetividade transcendental sendo portanto o fundamento metódico sobre o qual se pode por princípio erguerse uma psicologia empírica cientificamente rigorosa p 211 Isto significa que o interesse do psicólogo fenomenólogo voltase para as expressões existenciais que têm como condição de possibilidade o solo originário comum a todos os homens exposto nas evidências prélógicas e précientíficas que Husserl chamou de subjetividade transcendental Considerações Finais O artigo buscou explicitar inicialmente a importância do método fenomenológico concebido por Edmund Husserl como condição de possibilidade para investigações filosóficoexistenciais como foram as de Heidegger Sartre e MerleauPonty Em seguida apontou para a viabilidade da metodologia fenomenológica nas investigações em psicologia Destacou que uma psicologia que se pretenda fenomenológica deverá buscar até as últimas consequências as condições necessárias para legitimar esse caminho de investigação dos fenômenos psicológicos Tentouse assim responder às dúvidas que insistentemente se repetem é possível articular filosofia e psicologia Em outras palavras é possível que um método próprio de investigação em filosofia possa ser abarcado pela psicologia Para seguir envolvendo se com essas questões é preciso dar continuidade ao estudo da fenomenologia de Husserl e aos estudos dos psicólogos com base fenomenológica que também se inquietam com essas provocações Além disso fazse necessário investigar no âmbito da psicologia fenomenológica as conclusões de pesquisas que conferem legitimidade à utilização do método fenomenológico em psicologia sem deixar de ficar atento àquelas que apontam para as contradições e inadequações no uso desse método Por esse caminho poderseá buscar as bases sólidas para efetivar a fenomenologia como método de investigação dos fenômenos psíquicos Referências Castro T G Gomes W B 2011 Movimento fenomenológico controvérsias e perspectivas na pesquisa psicológica Psicologia Teoria e Pesquisa 272 233240 Giorgi A 2006 Difficulties encountered in the application of the phenomenological method in the social sciences Análise Psicológica 324 353361 Goto T A 2008 Introdução à psicologia fenomenológica A nova psicologia de Edmundo Husserl São Paulo Paulus Heidegger M 1989 Ser e tempo parte I M S Cavalcante Trad 8ª ed Petrópolis Vozes Trabalho original publicado em 1927 Heidegger M 2001 Seminários de Zollikon G Arnhold M F Almeida Prado Trads São Paulo EDUC Petrópolis Vozes Trabalho original publicado em 1987 Heidegger M 1991 Meu caminho para a fenomenologia E Stein Trad In Os pensadores São Paulo Nova Cultural Trabalho original publicado em 1963 Heidegger M 1989 Ser e tempo Petrópolis Vozes Trabalho original publicado em 1927 Husserl E 2007 Investigações lógicas P Alves C Marujão Trad Vols 12 Lisboa Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa Trabalho original publicado em 1901 MerleauPonty M 1994 Fenomenologia da percepção C A de Moura Trad São Paulo Martins Fontes Trabalho original publicado em 1945 MerleauPonty M 1990 O primado da percepção e suas consequências filosóficas C M Cesar Trad Campinas Papirus MerleauPonty M 2012 A dúvida de Cézanne M E Pereira P Neves Trads In O olho e o espírito São Paulo Cosacnaify Trabalho original publicado em 1945 Sartre JP 2005 Situações I críticas literárias C Prado Trad São Paulo Cosac Naify Trabalho original publicado em 1947 Sartre JP 1948 Esquisse d une théorie des Emotions Paris Hermann et Cie Recebido em 04072013 Primeira decisão editorial em 13032014 Versão final em 01042014 Aceito em 30042014 n