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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Câmara Brasileira do Livro SP Brasil Machado Adriana Marcondes Crianças de classe especial efeitos do encontro da saúde com a educação Adriana Marcondes Machado São Paulo Casa do Psicólogo 1994 Bibliografia ISBN858514334 1 Crianças Dificuldades de aprendizagem 2 Psicologia educacional I Título 941483 CDD 3701523 Índices para catálogo sistemático 1 Crianças Dificuldades de aprendizagem Psicologia educacional 3701523 Editor Anna Elisa de Villemor Amaral Güntert Capa Sergio Poato Preparação de originais Ruth Kluska Rosa Composição MCTProduções Gráficas psicologia e educação coleção dirigida por Lino de Macedo ADRIANA MARCONDES MACHADO Crianças de classe especial EFEITOS DO ENCONTRO DA SAÚDE COM A EDUCAÇÃO Casa do Psicólogo Intenções As dificuldades na tarefa de ensinar e aprender os alunos repetentes os alunos especiais os professores fracassados podem ser pensados como objetivações de uma série infinita de práticas como por exemplo formar uma classe 86 com alunos repetentes sem que haja professor interessado em trabalhar com essas crianças O sucesso em alfabetizar crianças que repetiram depende de desejar essa relação Dou outro exemplo Uma vez numa das escolas em que trabalho alguns professores achavam que quatro crianças que haviam repetido e que estavam de novo na 1ª série deveriam ser promovidas Essas crianças haviam professoras diferentes ao longo do ano não tendo havido nenhum trabalho com as crianças a respeito dessas mudanças Sabemos que isso intensifica a alienação Muitos têm sido os trabalhos que falam das práticas e das relações no cotidiano da Escola Pública Pato 1990 em seu livro A produção do fracasso escolar mostra que o fracasso escolar da maioria das crianças não pode ser justificado pela história individual das mesmas Estes fracassos acontecem nos cruzamentos nos atravessamentos de várias histórias a história da classe especial da professora da criança do projeto de ciclo básico dos artigos e livros que têm sido publicados da política educacional Pensar o desvio a diferença é pensar a classificação de pessoas na mente dos homens1 É pensar a mente dos homens Aluno especial mas afinal o que é isso Não são dois esses objetos Crianças de classe especial Reflexões ancoram psicólogos fazendo avaliações diagnósticas para encaminhamento professores entendendo os problemas das crianças como algo individual ou familiar a exigência de um laudo psicológico para a criança estar na classe especial Se são as práticas que engendram os objetos que lhes correspondem e esses objetos são correlatos dessas práticas me entendem e esses objetos são práticas que projetam objetivos que ressoa conhecer essa prática como especial ou por variedades de alunos especiais e realizar uma prática paralela a tantas outras práticas que existem Assim eu passava a fazer parte do circuito Não é só restituir a história mas me incluir na história da criança Incluir uma prática uma política uma experiência radical que pudesse atualizar relações e ideias cristalizadas isto é que está há muito tempo da mesma maneira Se em uma certa prática aquela criança é objetivada como uma especial em práticas paralelas a mesma criança pode ter outras objetivos O trabalho descrito no texto atravessou uma prática que não é só de professor criança e dificuldade psicológica registrada no Posto de Saúde psicologia da escola Nomeia recorta a criança do aluno transversaliza esse conhecimento buscando outras relações e outros papéis Fui visitar algumas classes especiais durante o ano de 1989 Busquei especialmente uma classe de cuja professora eu já muito havia ouvido falar devido a ela ter um compromisso pessoal muito grande com o trabalho que fazia Ela conhecia a história das famílias das crianças e acreditava na capacidade delas em aprender o que ela ensinava Nessas visitas pedia ao professor para observar um pouco a aula e depois conversar juntamente com o professor e com os alunos sobre algumas questões quais as diferenças entre classe especial e classe comum como os crianças eram encaminhadas para essa classe quanto tempo permaneceria lá para que você mesmo não mais se esquecesse Muitas das crianças nunca haviam pensado nessas questões Eu defendia a ideia de que esses temas fossem pensados em grupo Meu objetivo nessas conversas era intensificar as diferenças a estranheza e não buscar objetos gerais Em uma das visitas uma menina disse que Eu tô aqui porque aqui eu faço certinho Um menino que disse que esquece das coisas comentou que a diferença entre classe comum e classe especial é que a classe comum é chata Algumas crianças não entendiam minhas perguntas Nenhum deles se referiu à passagem para a classe especial ao movimento Eu acreditava que apontando a multiplicidade desses objetos todos como naturais problematizandoos combatia uma ação unificante da Escola e uma ação julgadora da psicologia Nas filosofias que pensam as diferenças como a filosofia de Foucault as perguntas são feitas sobre as relações e as práticas e não sobre os objetos Ao invés de perguntar por que a Escola Pública produz alunos especiais ou por que aqueles alunos não aprendem devese perguntar como as relações de aprendizagem e as relações diagnósticas fabricam alunos especiais Devese buscar o funcionamento Desta matéria compreendendo a realidade presente os atos da vida humana devolvese a história na criação histórica embora exista uma existência naturalizadora A loucura aparece no mundo contemporâneo como doença mental com a estatuet de objeto a ser visto como objeto Categorizar a natureza exige que em algum momento haja uma generalização Por exemplo a crença de alguns psicólogos na existência de tal classe especial com tal funcionamento para a qual a criança é encaminhada Existe sem esse lugar físico e seu funcionamento também o problema nosso Uma psicóloga que trabalhava na Saúde e que participou dos encontros quinzenais que realizamos durante 1990 desenvolveu um trabalho muito interessante em uma Escola Pública que havia encaminhado muitas crianças para serem avaliadas no Posto de Saúde Eram 57 crianças encaminhadas das quais 9 não estavam aprendendo a ler e a escrever Depois de realizado um trabalho com as crianças os professores e os pais nenhuma criança foi encaminhada para a classe especial Não questiono a eficiência dos diagnósticos e nem a existência de deficiências mas sim a postura dos encaminhamentos que alimentam a produção de fracasso escolar no ensino público Vejamos na cena descrita no início deste trabalho Clóvis fica como medo Medo de que De diretor contar para o pai o que ele fez Do olho de Sandra machucado Da borracha acertando no olho de Sandra De apanhar do pai e da mãe Os problemas inexistentes como por exemplo perguntar por que acontece isto e não aquilo aquilo que era igualmente possível Por que a criança não aprende ao invés de aprender Este desejo no grupo de crianças intensificar as diferenças conhecer os vários estilos um território no qual é possível um confronto que vai além de qualquer categorização Uma das intenções é coletivizar o trabalho e compartilhar minhas intenções tanto com as crianças como com seus pais O exemplo de que utilizarei aqui aconteceu numa intervenção que eu e mais dez estagiários fizemos no segundo semestre de 1990 numa outra Escola Pública Ficou decidido junto com o pessoal da Escola que trabalharíamos em pequenos grupos com 10 crianças da classe especial com 14 crianças da primeira série que não aprendiam a ler e escrever e com quatro professoras duas da 1ª série uma da classe especial e uma de Educação Física Eu organizei o cronograma de trabalho e fui às classes nas quais havia crianças que iriam participar dos grupos para contar o trabalho a ser feito Peço licença entre na classe me apresento brinco e faço perguntas Eu Me nome como A quem adivinha Dei um exemplo e logo aparece uma xará Eu Sou psicóloga trabalho aqui perto na Cidade Universitária Quem conhece Aparece alguma história de um tio que trabalhava por perto Eu Para que serve o psicólogo Alguém conta que já foi em um psicólogo Eu Eu vim aqui para contar a vocês o seguinte Falei com a professora outro dia e ela me disse que tem gente que está aprendendo a ler e a escrever e quem gente que não está aprendendo Quem está aprendendo Uns levantam a mão Eu E quem não está Outros levantam a mão Eu O que acontece que às vezes a gente não aprende Por causa de fazer bagunça uma menina fala Eu Qual o seu nome Raquel ela responde Eu Olha aí gente a Raquel acha que é por bagunça que a gente não aprende Quem aqui não está aprendendo e não é de fazer bagunça Sempre aparece alguém E assim continua a conversa Ficamos sem conseguir uma explicação única para não aprender Eu Acho que às vezes a gente não sabe por que não aprende ou por que não aprende alguma coisa que é o que acontece Às vezes a gente quer aprender e não aprende Eu Achou legal aprender a ler e a escrever Aqui quer aprender a ler e a escrever bastante coisa Todos dizem Eu eu Confesso que esses encontros com a classe toda me inspirou em alguns momentos nos recursos que aprendi trabalhando em animação de festas de crianças Sabemos que chamar algumas crianças para um trabalho com psicólogos pode ter efeitos de discriminação e paranoia Essa conversa com a classe foi das compartilhar o trabalho com as crianças e reduzir esses efeitos Eu conto que para entender melhor o que acontece a gente precisa fazer um grupo se encontrar para conversar brincar e se conhecer Convidei as crianças indicadas pela professora para uma conversa posterior Nessas conversas eu tento mostrar o que é saber ler e escrever e converso um pouco sobre elas Aos vezes antes de falar com a criança eu já me encontrei com a sua mãe Eu Escrever é alguma coisa Zé Carlos 7 anos Não sei escrever Eu Você sabe escrever o seu nome Zé Carlos Sei Eu Então escreve Ele escreveu Eu Enb quem tu gosta de andar a cavalo Sabe como é o nome dele Zézi Dá pra escrever como as letras do seu nome Pega este Zé aqui e escreve duas vezes Ele faz isso e magicamente aparece o Zezé Eu Saber fazer isto é saber escrever Então isso é legal Mostro a mágica ele teria que aprender o truque Essas cenas consideram a importância em se priorizar a queixa que faz com que a criança seja encaminhada para o psicólogo São frequentes os casos de crianças atendidas por psicólogos que embora programam no atendimento permanecem no mesmo estágio na escola Parece que o tempo no atendimento psicológico se desconhecerá o tempo na escola É comum em relação a certas coisas da vida em algumas relações ficarse equivocado impotente sobre algo que se quer e não se consegue Não conseguir algo que se quer Andreza diz na entrevista que ela tem idade mental de quatro anos Ela não parece uma menina de quatro anos O teste deu errado Ela teste Andreza perguntou com receio de perguntar se eu não O grupo com as crianças o grupo com os professores os encontros com os pais vão fazendo emergir todo um campo de forças presentes com inacabamentos com aberturas um campo virtual Existem forças que trabalhavam conjuntamente outras em oposição outras em paralelo É importante saber o que domina na alternância das forças perceber as relações que fortalecem e as que enfraquecem No processo de produção de subjetividade existem mecanismos que enfraquecem reduzem e padronizam a produção inconsciente em um processo de cristalização de captura do desejo Pensemos em alguns exemplos Uma criança lê um livro Eu pergunto o que você está fazendo ela diz Fazendo lição Ela realiza cumprir uma tarefa Onde ficou o desejo ler Em algum canto guardado no coração de quem achou interessante dar esse livro específico para as crianças lerem O desejo ler essa história fica capturado pelo dever ler Assim como uma norma reativa a ideia de sujeito ficar só por estar só isso melhorou a outro Quando como aluna entrego um trabalho para o professor e não sei se o trabalho está bom é porque esse saber não pode aprisionar minha opinião sobre o trabalho A captura do desejo é de quando o desejo acaba por encontrar apenas uma forma de se realizar impedindo novas sínteses Relacionar e definir quais as formas de efetuação das tendências aprisiona a diferença Como libertar essa produção Desejo jogar o jogo de percurso Regra cada criança deve na sua vez jogar o dado e percorrer com o seu pino o número de casas indicado pelo dado Durante o percurso existem tarefas inventadas junto com as crianças em determinadas casas tais como dar dois pulos fazer uma pergunta para alguém do jogo tirar um cartão e dizer o que está escrito escrever o nome da figura desenhada um dado e acertando andar duas casas e errando andar uma escolher o cami Uma criança uma vez respondeu Só se você me der dois chicletes Eu disse Depois você tem que contar para mim o que você achou de cada aula Dai eu topo os dois chicletes A criança disse Negócio fechado Nada mais justo FINALIZANDO