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14 João Pessoa janjun 2006 159 ANDRÉ VIDAL DE NEGREIROS A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DE UM HERÓI LEGITIMAMENTE PARAIBANO Ana Beatriz Ribeiro Barros Silva 1 Em sua obra intitulada Intrepida ab origine Margarida M S Dias constata a predominância de um determinado segmento de história presente na historiografia paraibana nos cursos de graduação em história da UFPB nas escolas de ensino fundamental e médio entre outros meios a história factual descritiva desprovida de análises que se limita a narrar o fato por si mesmo e principalmente que se dedica a exaltar indivíduos considerados importantes tidos por vezes como heróis e que seriam os condutores únicos da história Deste modo percebese quase que um predomínio da história oficial e suas versões nos mais variados âmbitos da sociedade Segundo a autora fazse necessária uma análise mais aprofundada acerca da elaboração da história local cujo poder de influência e alcance ainda não foram dimensionados Essa historiografia que parte da concepção oficial dos processos históricos factual de heróis mitificada dedicada aos grandes nomes feitos e monumentos escrita para contemplação e não para o engajamento foi produzida inicialmente pelo Instituto Histórico e Geográfico Paraibano ou grupos ligados a ele O IHGP foi fundado em 1905 com o objetivo maior de escrever a história da Paraíba escrita pelos próprios paraibanos visando demonstrar através desta a grandeza do estado e de seu povo Com um claro sentimento de vanguarda iniciouse a elaboração da história da Paraíba de forma mais abrangente e sistemática do que vinha sendo feito além da localização e catalogação de fontes cadastramento de arquivos etc que servissem para glorificar o passado paraibano Nesse sentido segundo a autora um elemento perpassa por toda a historiografia produzida pelo IHGP a partir de então a identidade paraibana criada pelo IHGP para conceituar uma personalidade específica circunscrita pelo espaço tido como paraibano e formado por algumas características e valores proporcionados pelo processo histórico particular2 A esta identidade paraibana a autora chama de paraibanidade formada segundo o IHGP ao longo de todo o processo histórico pelo qual o estado passou Posto isso destacamse três características do ser paraibano A primeira seria o caráter pacífico do seu povo que foi expresso desde o momento de fundação da capitania da Paraíba a 5 de agosto de 1585 afinal esta se deu por um acordo de paz firmado entre Piragybe chefe dos índios Tabajaras e João Tavares líder dos portugueses Outro componente do ser paraibano seria a bravura que se mostrara de forma inequívoca nos episódios de resistência e luta contra a dominação holandesa Por fim outra característica do paraibano seria o seu pendor para o republicanismo consideravelmente anterior à proclamação da república e ao surgimento de idéias republicanas em alhures 1 Graduada em História pela Universidade Federal da Paraíba 2 DIAS Margarida M S Intrepida ab origine o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e a produção da história local João Pessoa Almeida 1996 p 5051 160 14 João Pessoa jan jun 2006 No entanto tendo em vista o nosso objeto de análise um desses componentes da identidade paraibana nos interessa mais de perto o da resistência dos paraibanos às invasões holandesas Após o acordo de paz entre portugueses e Tabajaras este seria o segundo grande momento da história paraibana no qual outra característica da personalidade paraibana viria à tona a bravura Segundo Dias O período do domínio holandês retratado pelo IHGP serve também para acentuar a contraposição a Pernambuco visto que é considerado como um momento de desenvolvimento econômicosocial e cultural naquela Capitania sobretudo em Olinda e Recife onde até as obras de infraestrutura na cidade servem para justificar como benesses do estado holandês À Paraíba ficou a resistência3 Neste sentido já estaria muito claro desde o período holandês um componente essencial da paraibanidade o sentimento de nacionalidade Para o IHGP o que a invasão holandesa feriu foi o próprio sentimento de nação que já seria existente desde esse período e não as riquezas materiais E é também com o movimento contra a dominação holandesa que surgem os primeiros heróis paraibanos após o acordo de 05 de agosto de 1585 com destaque especial para André Vidal de Negreiros Segundo palavras de Irinêo Joffily Vidal à frente do exército restaurador foi o principal heróe brazileiro nos tempos coloniaes4 Hélio Zenaide destaca que Vidal foi um homemíntegro e o nomeia como o herói da guerra contra os holandeses em Pernambuco5 Esta concepção da existência de um sentimento de brasilidade e amor à terra paraibana demonstrado durante a guerra contra o domínio colonial holandês no Brasil e presente nas versões de história produzidas pelo IHGP fica clara na obra Vidal de Negreiros afirmação e grandeza de uma raça de Luiz Pinto que se propõe a realizar uma biografia de Vidal Devemos ressaltar que apesar de Vidal merecer honrosas menções em várias produções do IHGP sendo recorrente o seu título de maior herói paraibano a obra de Luiz Pinto foi a única que localizamos que se dedica a apresentar uma biografia mais detalhada de Vidal além de representar com bastante fidelidade os objetivos e escolhas do IHGP Conseqüentemente no presente artigo analisaremos esta obra mais de perto com vistas a melhor compreender o processo que levou à escolha de André Vidal de Negreiros como herói paraibano Para Luiz Pinto o domínio holandês no Brasil não teve outra significação senão a econômica tendo em vista o espírito mercenário e judaico da Companhia de rapina6 O mesmo para Pinto não se passava com os brasileiros e portugueses que defendiam a colonização lusa a bandeira que empunhavam contra a Holanda 3 DIAS Intrepida ab origine p 56 4 JOFFILY Irinêo A conquista do sertão In Notas sobre a Paraíba 2 ed facsimilar Brasília Thesaurus 1977 p 113 5 ZENAIDE Hélio Nóbrega Vidal de Negreiros o Padre Antonio Vieira e o cativeiro indígena no Maranhão Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba João Pessoa IHGP ano LXXXI 1995 p 139142 6 PINTO Luiz Vidal de Negreiros afirmação e grandeza de uma raça Rio de Janeiro Alba 1960 p 11 14 João Pessoa janjun 2006 161 seria a da religião católica contra os hereges calvinistas o que teria dado à guerra uma característica religiosa Segundo o autor foram as três raças de nossa etnia a branca a negra e a indígena representadas respectivamente por Vidal Henrique Dias e Camarão todos nascidos no Nordeste que deram corpo e sentido à guerra de expulsão E continua Vidal foi a alma da restauração o homem que nunca se curvou ao mêdo nem a conveniências nem se sobressaltou frente ao poderio inimigo de muitas vêses quase esmagado7 Entre as tropas arregimentadas na Paraíba para a libertação da Bahia do domínio holandês em 1624 já se encontrava como voluntário da sua terra André Vidal de Negreiros rapaz paraibano então com 18 anos de idade e filho de Francisco Vidal e d Catarina Ferreira Seu pai seria senhor do engenho S João Nas passagens a seguir podemos perceber a visão de um herói destemido um predestinado devotado à sua terra e à sua religião que Luiz Pinto visa construir Quando Matias de Albuquerque acudiu aos chamamentos e reclamos da Bahia arregimentando tropas para combater o invasor batavo um jovem paraibano vibrou de entusiasmo Queria lutar também seguir com os resultados de qualquer maneira acudir em defesa da sua pátria e da sua religião O rapaz André filho do velho Vidal era dos mais ardorosos Alistarase às suas custas E logo se transformou num propagandista e animador dos mais decididos e corajosos Moço desenvolvido ágil ouvindo as narrativas dos vencedores sentia estremecimentos desejando partir quanto antes em socorro daquele povo8 Percebese a onipresente questão da defesa da religião católica como o motivo principal de luta contra os flamengos Além disso o autor cria uma imagem por vezes emotiva da figura de Vidal que seria a de um jovem extremamente interessado e entusiasmado com a causa da restauração No entanto Vidal não só se destacou pela sua empolgação e devoção pela causa da expulsão dos holandeses também se destacou nas batalhas se tornando um dos soldados mais capazes e distinguidos pelos seus superiores Sem muita demora André Vidal enquadrouse à arte da guerra Os seus superiores hierárquicos começaram logo a distinguilo não só pela sua bravura indômita mas ainda pela sua conduta serena pelo seu instinto de soldado pela segurança dos seus planos e rapidez por que procurava executálos O principio do amor à terra nativa e à religião era a bandeira que se não ofuscava Isto determinava as mais cruéis represálias os mais atrozes combates Na alma de André Vidal era sacrossanto esse princípio Não se fez demorar o renome de André Vidal de Negreiros no seio da tropa Distinguido e disputado pelos superiores viuse durante a guerra na Bahia nos lugares mais arriscados marchando à frente como um predestinado E não se fez 7 PINTO Vidal de Negreiros p 13 8 PINTO Vidal de Negreiros p 3132 162 14 João Pessoa jan jun 2006 silêncio sobre os seus brios de soldado e bravura de patriota embora contra isso conspirasse a sua grande simplicidade e modéstia9 André Vidal que logo se fez destro e valente soldado não só lutou durante toda a fase da expulsão dos flamengos da Bahia como perseguiu a esquadra holandesa fugitiva até deixála fora do seu Estado natal 10 Diante de tantas qualidades o rei de Castela se fez informado das virtudes de Vidal que foi promovido ao posto de alferes então com 19 anos de idade Segundo Pinto André Vidal de Negreiros era uma vocação de soldado tanto pela firmeza moral quanto pela robustez física Dirseia que a terra de massapê da várzea do rio Paraíba o seu rio lhe dera essa seiva como ainda muita bravura e fidalguia11 Após a derrota de brasileiros e portugueses no Arraial do Bom Jesus optouse pelo sistema de guerrilhas e emboscadas a guerra irregular de extermínio tática esta que não foi bem aceita pelos prepotentes espanhóis No entanto André Vidal após oito anos de estudo na Europa estaria convencido de que aquele seria o melhor sistema para destruir o poderio flamengo Para Luiz Pinto o plano de Vidal seria realmente o mais indicado Além disso também teria sido concertado por Vidal o plano da chegada da esquadra de D Fernando de Mascarenhas conde da Torre que não logrou em sucesso Mais tarde com a vitória da restauração no Maranhão André Vidal foi nomeado governador da capitania É interessante perceber a forma que Luiz Pinto apresenta essa nomeação que a seu ver seria o pagamento de uma dívida do rei de Portugal Além disso fazse uma clara comparação entre Vidal que estaria no auge do seu prestígio e o Conde Maurício de Nassau que estava voltando para a Europa diante de uma conjuntura desfavorável para a continuação do domínio holandês Cumpriase assim um antigo compromisso do rei de Portugal para com o herói paraibano De modo que quando Nassau retornava à pátria européia André Vidal de Negreiros se fortificava para total execução dos seus planos traçados e alimentados desde 163212 Após assumir o governo do Maranhão em 1645 Vidal não permaneceu lá por muito tempo pois cabialhe tecer a teia sinistra da guerra Enquanto Teles da Silva despistava os holandeses com falsas promessas de armistício Vidal organizava os batalhões O que os flamengos não sabiam exatamente e isso é claro era que André Vidal tinha um plano concertado e que poria em prática de qualquer maneira dentro do seu alto patriotismo e fidelidade religiosa Vidal era firme e queria a guerra de expulsão ágil e violenta Mas Nassau não desconfiou das manobras do paraibano E tanto é que deixou transitar livremente por duas vezes tanto no Recife quanto na Paraíba E só através da sua primeira viagem a Recife quando retornou de Lisboa é que Vidal conseguiu firmar posição na capital da nova Holanda arregimentando para as suas hostes o capitalista João 9 PINTO Vidal de Negreiros p 33 10 PINTO Vidal de Negreiros p 29 11 PINTO Vidal de Negreiros p 34 12 PINTO Vidal de Negreiros p 65 14 João Pessoa janjun 2006 163 Fernandes Vieira senhor de Engenho da Várzea no Recife homem religioso e rico vaidoso e prepotente que se tornou um elemento nuclear na guerra13 Nesta passagem Vidal é mais uma vez colocado como peça central da guerra de restauração seu principal articulador que conseguiu de certo modo enganar Nassau que lhe concedeu livre trânsito pelas capitanias Vidal fez do Maranhão apenas um ponto de apoio para as suas incursões à Paraíba e Recife com o objetivo de colher adeptos planejar a guerra animar os fracos encorajar os medrosos14 E a figura de Vidal vai ficando cada vez mais relevante no tocante à guerra de restauração como fica evidente na seguinte passagem A libertação do Brasil do domínio colonial holandês cabe como já mostraram Varnhagen João Ribeiro Hermann Watjen Pandiá Calógeres e outros intérpretes da luta de restauração tal como a organização da revolta geral a epopéia pernambucana uma das maiores da história da pátria criação de guerrilhas emboscadas relâmpagos implantadoras de morte sem dúvida ao engenho extraordinário de André Vidal15 Neste sentido enquanto os dirigentes das duas partes se limitavam ao campo diplomático Vidal Henrique Dias Camarão entre outros preparavam o cerco do Recife encurralando a Nova Holanda D João IV queria a paz com a Holanda e ao mesmo tempo a luta de libertação Já a única paz que os nativos aceitavam era a conquistada pelas armas com a capitulação total do agressor Segundo Luiz Pinto o rei e o vicerei tentavam uma trégua É nesse passo da crônica que se verifica haver a restauração nascido da coragem da decisão e as firmeza de André Vidal16 Na tentativa de suspender a luta com os batavos o vicerei endereçou uma enérgica recomendação a Vidal que respondeu de forma altiva e patriótica Na carta os chefes rebeldes Vidal e Martins Soares Moreno demonstram que se o rei de Portugal continuasse com o propósito de dar trégua aos holandeses eles iriam à procura de qualquer príncipe católico a fim de auxiliálos relatando inclusive a perturbação e inquietação de muitos nativos ao saber que o rei consideraria ruins vassalos os que continuassem na luta contra os flamengos muitos chegando a pensar em matar suas filhas e esposas para não vêlas em poder do inimigo Esta carta seria um grito de rebeldia e de coragem contra a covardia lusa a frouxidão de D João IV preferindo perder 8 províncias da sua grande colônia a ter de lutar um pouco mais para desenraizar os flamengos invasores17 A esta altura Recife já estava sitiada Com a junção das tropas de Dias Camarão e Vieira Vidal assume a direção geral de chefe supremo das operações militares Na primeira batalha dos Guararapes Vidal ficou na reserva mas Pinto tem uma boa justificativa para isso Era o homem das horas difíceis o que traçava o que executava É interessante perceber que até em momentos em que Vidal ficou em 13 PINTO Vidal de Negreiros p 66 14 PINTO Vidal de Negreiros p 67 15 PINTO Vidal de Negreiros p 69 16 PINTO Vidal de Negreiros p 69 164 14 João Pessoa jan jun 2006 segundo plano o autor encontra uma solução para vangloriar ainda mais o seu herói Com o desenrolar do combate Vidal assumiu o comando Os flamengos foram derrotados na 1ª batalha dos Guararapes onde a bravura da raça brasileira em plena formação se marcava proficientemente E sobre a ação de Vidal afirma se A influência do mestre de campo André Vidal de Negreiros foi tão evidente não só no traçar planos certos e tática perfeita como no comandar e avançar à vanguarda com o destemor de um guerreiro romano18 Na 2ª batalha dos Guararapes Vidal foi o comandante dos terços Segundo Luiz Pinto antes da batalha discutiase o método de acometer o inimigo Várias opiniões surgiram mas foi vitorioso o ponto de vista de Vidal atacar o inimigo violentamente partindo do engenho velho dos Guararapes Na sua narrativa da batalha percebese claramente o entusiasmo do autor Os lusobrasileiros não perderam um momento atacam ferozmente Vidal avança alucinadamente pela encosta flanqueado por Antônio Silva e Cardoso Figueirôa intrépido na retaguarda Vieira audaz e valente firmase a raso sobre o Boqueirão com 800 homens flanqueado por Henrique Dias e Diogo Camarão sobrinho de Felipe Camarão que havia falecido Derrotados aniquilados mesmo os holandeses foram perseguidos até o fim sem nenhuma ação militar A vitória rolou dos montes Guararapes envolta nos farrapos dos pavilhões inimigos às pontas de lanças de Vidal Vieira Camarão e Henrique Dias19 Percebese neste trecho a necessidade de dizer que o inimigo foi aniquilado pelos patriotas utilizando uma evocação da famosa tetrarquia da restauração Vieira Vidal Camarão e Dias No entanto é interessante perceber que em geral Vieira é o primeiro nome a ser citado na maioria das fontes e obras sobre o domínio holandês No entanto Luiz Pinto no seu intuito de vangloriar o herói paraibano não só neste trecho como ao longo de seu livro coloca Vidal sempre em primeiro lugar invertendo a ordem da tão consolidada tetrarquia Após a 2ª batalha dos Guararapes a situação do Recife era muito difícil para ser sustentada pelos holandeses A Holanda ainda tentava um entendimento com Portugal mas já haviam passado quase três anos da última batalha Vidal estava inquieto Queria completar a obra de limpeza20 O auxílio do rei de Portugal estava tardando até que em fins de 1653 surgiu na costa a grande esquadra tão prometida e esperada Vidal insistia em terminar o que haviam iniciado expulsando definitivamente os holandeses de sua nação Vendo Barreto que a razão estava com Vidal resolveu com ele e outros companheiros ilustres traçar o plano de ataque Traçado e cumprido21 Poucos dias depois os holandeses capitularam É relevante perceber a mensagem incutida nestes últimos acontecimentos Ninguém estava disposto a continuar a luta pela restauração apenas Vidal sempre ele 17 PINTO Vidal de Negreiros p 71 18 PINTO Vidal de Negreiros p 80 19 PINTO Vidal de Negreiros p 8385 20 PINTO Vidal de Negreiros p87 21 PINTO Vidal de Negreiros p 88 14 João Pessoa janjun 2006 165 que queria continuar sua obra de limpeza Insistiu tanto nesta meta que foi atendido e mais uma vez estava certo pois a vitória dos lusobrasileiros patriotas e católicos foi definitivamente garantida Após longas negociações e forte pressão por parte dos holandeses finalmente um acordo de paz foi assinado em 1661 com vergonhosa situação para Portugal e prejuízo para o Brasil segundo Pinto Por intervenção da Inglaterra foram fixadas as seguintes condições indenização de 400000 cruzados por ano em dinheiro ou em açúcar sal e tabaco restituição às Províncias Unidas de toda a artilharia que se encontrasse no Brasil liberdade de comércio para os holandeses Ao Brasil coube uma indenização de 120000 cruzados além de 20000 para dote da infanta que se casou com Carlos II Essa condescendência de Portugal diante das pressões holandesas e inglesas segundo Pinto desvirtuou o sentido da vitória conquistada pela valentia dos brasileiros e que lhes custou vidas e imensas fortunas pois naquele momento preferiam a colonização lusa principalmente por motivos de religião Como não poderia deixar de ser Vidal não concordou com as injustas condições do acordo de paz Essa frouxa transigência que não foi dos nossos heróis desvirtuou a vitória das batalhas dos Guararapes Contra ela Vidal de Negreiros quis se opor mas era uma condição aceita pelos superiores lusos sob cuja cúpula vivia o Brasil e seria assim baldada qualquer indisciplina ou reação Se por esse miserável preço que os judeus holandeses exigiam com faca nos peitos conseguimos uma paz definitiva paz para eles na Europa pois a nossa se argamassou com sangue e ninguém seria capaz de alterála dentro das nossas fronteiras Valhanos ao menos esta certeza22 Neste último trecho percebemos a presença de duas idéias que permeiam toda a obra de Luiz Pinto a dos judeus holandeses os judeus da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais ou mesmo em referências de que os holandeses estariam mancomunados com os judeus para tirar proveito econômico das riquezas do Brasil Outra idéia é a de que todo o processo de resistência e restauração que culminou na capitulação dos holandeses foi argamassada com sangue custando aos brasileiros muitas vidas e riquezas Abordaremos estes aspectos com maior profundidade mais adiante No início de 1655 Vidal viajou a Lisboa Encontrou a Corte em festa não só pela vitória brasileira mas também pelo aniversário do rei D João fez questão de abraçar o mestre de campo da vitória estreitar nos braços o guerreiro impávido que derramou o sangue por várias vezes que à maturidade viase aleijado de uma perna mas altivo e varonil Pois dos 45 anos de idade quando se achava na Europa Vidal já contava 27 anos de guerra23 Após dias em Lisboa Vidal retornou ao governo do Maranhão Acerca do governo no Maranhão Sérgio Buarque de Holanda atribui a seguinte citação ao 22 PINTO Vidal de Negreiros p 90 23 PINTO Vidal de Negreiros p 92 166 14 João Pessoa jan jun 2006 padre Antonio Vieira Vidal é talvez o único antes de Gomes Freire que não procura explorar o braço indígena e que castiga os motins não por motivos pessoais como os outros mas por espírito público Vai logo embora Teria salvo a Índia diz o Padre24 Em face da ida de Barreto de Menezes para o governo da Bahia Vidal foi escolhido governador de Pernambuco Porém não tardou para que Vidal e Menezes entrassem em choque pois o paraibano não aceitava as imposições da Bahia Neste momento Portugal lutava contra a perspectiva de uma luta em Angola onde se encontrava Fernandes Vieira Assim foram trocados os governadores indo André Vidal para Angola onde rapidamente consolidou boa política de paz para Portugal Após mais uma vitória Vidal queria recolherse à vida privada Vidal tinha sido um homem de guerra um homem sem amor sem uma afeição feminina A guerra absorveuo totalmente na melhor fase da existência Perdera os pais de cujo contacto se afastara aos 18 anos as afeições que conquistara foram afeições de guerra Homem desprendido sem se preocupar com a sua vida particular achava ser tempo de afastar se da luta à tranqüilidade da velhice25 Todavia isto não lhe foi possível Pernambuco passava por uma luta política entre diversas classes de agricultores comerciantes e soldados Em 1666 Vidal assume pela segunda vez o governo de Pernambuco No interregno desses conflitos finalmente pôde Vidal despertar para a vida vivendo em paz os anos que lhe restavam Na sua velhice realizou uma verdadeira obra social deixando grande parte dos seus bens para o amparo à velhice à orfandade e aos desvalidos Vidal seria um herói sem empáfia que teria recusado todos os oferecimentos que lhe foram feitos posto à margem comendas prestígio glória tudo para ajudar aos mais necessitados o que ressaltaria ainda mais a sua compreensão de homem público e patriota26 Como forma de terminar a apresentação da obra de Luiz Pinto gostaria de destacar dois trechos dos mais significativos desta que demonstram a grandeza heroísmo patriotismo e amor à religião católica que o autor busca conferir a Vidal O seu amor concentrouse à pátria Foi um peregrino do civismo um mago da fé Fezse guia do seu povo sem nunca haver esmorecido nem recusado nem temido Enquanto sentia a pegada do inimigo no chão do Brasil aí esteve a cobrila a apagála Ou morreria na luta ou tangeria os invasores insolentes que menosprezavam a sua religião27 O destaque da personalidade de André Vidal avulta em todos os documentos históricos Fora um soldado brioso um homem feliz Sua vida é uma equação cívicomilitar um panorama de lealdade 24 HOLANDA Sérgio Buarque de org História geral da civilização brasileira Volume I a época colonial 3 ed São Paulo DIFEL sd 25 PINTO Vidal de Negreiros p 96 26 PINTO Vidal de Negreiros p 9799 27 PINTO Vidal de Negreiros p 98 14 João Pessoa janjun 2006 167 patriotismo e amor à fé É o que se sente ao traçar o roteiro da guerra holandesa no Brasil desde a invasão da Bahia até à de Pernambuco28 Para compreendermos melhor a concepção heróica que a historiografia paraibana buscou construir acerca da luta contra a invasão holandesa ao conceber este momento como um marco da nossa nacionalidade e conseqüentemente da paraibanidade fazze premente o estudo de alguns elementoschave Para tanto discutiremos a seguir a importância do imaginário na formação de identidades e a discussão do processo de construção da tetrarquia de heróis da restauração com especial interesse na figura de André Vidal Na obra intitulada Rubro veio Evaldo Cabral de Mello explora as deformações que o nativismo impôs à visão local da experiência holandesa Trabalhando com a idéia de imaginário social podese englobar uma ampla faixa de conteúdos ideológicos que inclui desde a invenção absoluta com a falsificação histórica até os simples deslocamentos de significado mediante os quais o simbólico linguagem do imaginário vai criando uma sucessão interminável de conotações29 Neste sentido são construídas variadas versões acerca dos acontecimentos históricos que nada mais refletem do que o desejo de um povo o que ele gostaria de ser ou de ter sido atribuindo à sua própria história fatos fantásticos grandes heróis entre outros elementos como forma de engrandecimento e formação de sua identidade Assim como o nativismo pernambucano estudado por Mello considerouse herdeiro da restauração momento no qual teria germinado o sentimento de liberdade entre os pernambucanos a restauração também foi um dos elementos fundadores para o ser paraibano Neste sentido uma visão recorrente nas construções posteriores à restauração é a de que esta havia sido alcançada como bem coloca Evaldo Cabral de Mello à custa de nosso sangue vidas e fazendas isto é mediante a mobilização exclusiva ou predominante dos recursos escassos da sociedade açucareira e escravocrata do Nordeste Tal idéia está presente também na obra de Luiz Pinto que como já abordamos defende que a restauração fora argamassada com sangue à custa de nossas vidas e riquezas Segundo Evaldo Cabral a noção segundo a qual a restauração fora empreendida e sustentada pela gente da terra representou o tópico fundamental a matriz ideológica a partir da qual se construiu toda a visão nativista do tempo dos flamengos Na narrativa de Luiz Pinto como vimos a questão religiosa parece ter sido um dos elementos fundamentais que levaram à reação dos lusobrasileiros Contudo como bem demonstra José Antônio Gonsalves de Mello em seu Tempo dos Flamengos os aspectos econômicos e a progressiva perda de apoio político por parte dos senhores de engenho parecem ter sido causas mais relevantes Além disso Luiz Pinto coloca a invasão holandesa como sendo resultado de uma mancomunação entre holandeses e judeus Em nenhum momento ele coloca que a maioria dos holandeses era calvinista e muito menos de que muitos empregados da WIC eram católicos e recusaramse a lutar contra seus irmãos de fé Como nos apresenta Gonsalves de Mello apesar de Nassau ter concedido liberdade de 28 PINTO Vidal de Negreiros p 91 29 MELLO Evaldo Cabral Rubro veio o imaginário da restauração pernambucana 2 ed Rio de Janeiro Topbooks 1997 p18 168 14 João Pessoa jan jun 2006 consciências para todos os habitantes da colônia holandesa as hostilidades e intolerância entre as várias religiões protestantes católicos e judeus marcaram o período Logo não houve apenas perseguições aos católicos como também aos calvinistas e judeus No entanto este tipo de perseguição não foi um privilégio do Brasil pois era uma tônica também na Europa haja vista as inquisições católicas e protestantes Luiz Pinto demonstra uma visão extremamente preconceituosa no que se refere aos judeus no período de dominação holandesa Como mostra Gonsalves de Mello após estudos variados sabese hoje do enorme valor da nação judaica do Recife holandês onde nasceu a cultura serfardínica na América Vultos da maior importância no mundo dos judeus ibéricos estiveram em Pernambuco fundando inclusive uma sinagoga É fato também que com a ocupação holandesa muitos judeus residentes encobertos em Pernambuco se declararam como tais mudaram os nomes cristãos para outros mais caracteristicamente judeus e circuncidaramse Foi tomando forma então o centro religioso israelita mais importante das Américas30 Destarte de acordo com a visão nativista a restauração não se alcançara apenas sem o Rei mas também contra o rei A justificativa para o ato de rebeldia de não acatar às ordens da metrópole seria a de que se resistiu ao Rei para melhor servir ao Rei Logo a expulsão dos holandeses só foi possível devido à ação dos grandes heróis da restauração a exemplo de João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros que foram ajudados pela nobreza dos nacionais da terra o que implica no fato de que a restauração seria uma conquista dos brasileiros que não haviam medido esforços e à custa de seu sangue vidas e fazendas haviam livrado sua terra dos hereges holandeses Após todo esse esforço patriótico segundo as versões lusobrasileiras produzidas logo após a restauração seus participantes não objetivariam lucro ou qualquer outro tipo de interesse além do bem de sua terra o que não se verificou na prática Além de ter sido alcançada à custa do sangue vidas e fazendas da gente da terra a restauração forjarase sobre a aliança dos grupos étnicos que compunham a população local não evidentemente em pé de igualdade mas sob a direção da nobreza da terra e dos reinóis radicados em Pernambuco Esta visão segundo Evaldo Cabral já estava consagrada pelo imaginário nativista nos começos do século XVIII mediante o simbolismo de uma tetrarquia de heróis que se devia o culto cívico tributado aos verdadeiros pais da pátria Há um claro sentido hierárquico nesta representação dos chefes militares da restauração o reinol Vieira oficialmente branco mas que tudo indica tenha sido mulato o mazombo Vidal branco o índio Camarão e o negro Henrique Dias A própria escolha destes indivíduos para compor a tetrarquia demonstra a exclusão da mestiçagem não se encontrando nela oficialmente a figura de um mestiço A invocação desses heróis desde o século XVIII obedeceu a uma ordem consagrada iniciandose com Vieira a que se sucedia o de Vidal e o posteriormente Camarão e Dias No entanto na Paraíba devido ao sentimento localista o nome de Vidal vem em primeiro lugar o 30 A análise da questão religiosa permeia muitas partes da obra mas o aspecto da intolerância religiosa se concentra no capítulo 5 Para tanto vide MELLO José Antonio Gonsalves Tempo dos flamengos influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil 4ed Rio de janeiro Topbooks Univer Cidade 2001 14 João Pessoa janjun 2006 169 que como já observamos se observa no texto de Luiz Pinto A invocação tetrárquica como coloca Cabral de Mello comportou uma dupla eliminação dos chefes da guerra de resistência tida como a guerra perdida e da dos que não fossem nascidos ou residissem na terra No entanto como o autor relata a concepção dessa tetrarquia foi resultado de um longo processo de decantação e seleção dos que a deveriam compor André Vidal por exemplo foi escolhido no lugar de Antonio Cavalcanti porque além de ser mazombo tinha a vantagem de ter militado na resistência e isto quando apenas saía da infância aos doze anos segundo Luiz Pinto ele teria dezoito anos na época Como coloca Evaldo Cabral Ao contrário de Cavalcanti Vidal participara de todos os grandes momentos de ambas fases da guerra as lutas em torno do Recife a retirada para o sul as incursões campanhistas contra o Brasil holandês a expedição de Luis Barbalho através do interior do Nordeste da baía de Touros a Salvador 1640 as articulações e intrigas urdidas na Bahia e em Pernambuco com vistas ao levante de 1645 a invasão da capitania em apoio aos insurretos à frente do seu próprio terço de veteranos a governação partilhada com Vieira da Guerra da Liberdade Divina a recusa a acatar a ordem régia de retirarse com suas tropas para a Bahia Casa Forte e as duas batalhas dos Guararapes a capitulação holandesa no Recife a missão que lhe confiara Barreto de comunicar oficialmente a D João IV a restauração de Pernambuco em resumo a mais longa densa e brilhante folha de serviços de que se poderia gabar um oficial lusobrasileiro que militasse nas guerras holandesas31 Comparado a Cavalcanti não pertencera pelo nascimento à nobreza da terra Seu pai fora um artilheiro de bombarda que na Paraíba transitara para lavrador de canas No entanto criouse uma tradição oral que apresentava o velho Francisco Vidal como um senhor de engenho da várzea do Paraíba O próprio Luiz Pinto defende esta idéia dizendo que o pai de Vidal seria dono do engenho São João Tal idéia pode ser justificada pelo próprio processo de construção do mito de um herói que afinal não poderia ter uma origem que não fosse nobre Contudo como um soldado de fortuna Vidal foi nobilitado pela Coroa e ingressou na açucocracia ao adquirir diversos engenhos na Várzea e na Paraíba Sem dúvida a restauração fez a fortuna de Vidal Outro fator que favoreceu Vidal a se tornar um dos membros da tetrarquia foram as crônicas produzidas sob encomenda por Vieira que colocavam o paraibano como um companheiro de armas de Vieira entre outras menções elogiosas Em comparação à figura de Vieira Vidal tinha um trunfo de que a deste primeiro carecia havia sido governador de Pernambuco por duas vezes após a restauração fazendo frente inclusive ao poder central na Bahia governada por Barreto de Menezes No tocante a este último cairá praticamente no esquecimento do nativismo sem dúvida suas disputas com Vidal foram um componente relevante Na análise do nativismo percebese inicialmente um acoplamento das figuras de Vidal e Vieira que haviam se completado como o sol e a lua durante as batalhas 31 MELLO Rubro veio p 202203 170 14 João Pessoa jan jun 2006 fornecendo a imagem de uma restauração bicéfala Camarão e Dias só foram adicionados posteriormente à tetrarquia32 Para a visão nativista ao passo que a ocupação holandesa seria uma punição divina devido aos pecados dos habitantes de Pernambuco e a resistência fora uma empresa destinada ao fracasso o movimento restaurador estava destinado ao triunfo cujo plano haveria sido colocado sob o patrocínio do Altíssimo em oposição à heresia calvinista A intervenção divina teria sido uma tônica desde os seus preparativos e como não poderia deixar de ser foram registrados nas narrativas acontecimentos sobrenaturais e milagres os mais diversos tais como aparições de santidades em pleno campo de batalha o que só confirmaria que Deus estaria ao lado dos lusobrasileiros Neste sentido buscavase comprovar de qualquer modo que a vitória dos restauradores teria contado com uma ajuda sobrenatural E essa ajuda logicamente se manifestou por exemplo na impotência das balas flamengas contra os chefes militares ou mesmo soldados lusobrasileiros Com relação a André Vidal são comuns na narrativa dos cronistas afirmações de que as balas não o atingiam e que quando o atingiam apenas feriam superficialmente Sem dúvida esse componente religioso buscava comprovar a inevitabilidade do sucesso da empresa alimentando conseqüentemente o culto aos heróis dos campos de batalha33 Como vimos para a historiografia paraibana a campanha contra a dominação holandesa foi um dos marcos fundadores do nosso patriotismo e por que não dizer da nossa paraibanidade Foi com a campanha de resistência e restauração que se firmou uma das principais características elaboradas pelo IHGP do que viria a ser o ser paraibano a bravura No entanto essa característica bem como a vitória da restauração pode ser personificada em um dos heróis da tetrarquia da restauração o paraibano André Vidal de Negreiros Luiz Pinto como vimos demonstra claramente a versão mais difundida de quem seria André Vidal um herói destemido patriota extremamente católico e defensor de sua terra Um exemplo bem acabado do que seria um paraibano Com sua coragem seu nacionalismo seu amor pela fé católica entre outros atributos se tornou para a história oficial o principal herói paraibano e por que não brasileiro do período colonial Ele teria sido a alma da restauração um homem da guerra que dedicou toda a sua vida aos objetivos cívicomilitares Concebiase então um verdadeiro herói com todas as significações que este termo acarreta Só que Vidal não foi um herói qualquer ele foi um herói paraibano 32 Toda esta análise acerca da elaboração de uma tetrarquia de restauradores encontrase no capítulo 5 de Rubro veio MELLO Rubro veio p 195239 33 MELLO Rubro veio p 283293 14 João Pessoa janjun 2006 171 RESUMO No presente artigo analisaremos a figura de André Vidal de Negreiros um dos líderes da campanha pela restauração das capitanias que ficaram sob o domínio holandês com o objetivo de examinar o processo de construção da figura heróica de Vidal especialmente pela historiografia tendo em vista a necessidade desta de realizar um resgate de um passado histórico paraibano como forma de demonstrar e construir a identidade paraibana como de um povo bravio e lutador Esse tipo de construção foi um dos pressupostos da formação do que chamamos de paraibanidade intentada sobretudo pelo Instituto Histórico e Geográfico Paraibano IHGP que desde a sua fundação se viu na obrigação de contar a História paraibana Nesse sentido fixarnos emos na figura de André Vidal sua participação na resistência e na restauração examinando a imagem heróica que se buscou construir deste e sua importância para a formação da identidade paraibana PalavrasChave Identidade Paraibana Historiografia Paraíba Colonial ABSTRACT In the present paper we analyse the image oh André Vidal de Negreiros one of the leaders of the campaign for the restoration of the Captaincies those of which were under the Dutch domain aimed to examine the process of the construction of the heroic image of André Vidal especially by the historiography having in mind the necessity that it has of retaking a historical past in the State of Paraíba as a way of showing and constructing the identity of the State of Paraíba allegedly being of a brave and fighting people This kind of construction was one of the assumptions in the formation of what we call paraibanidade intended among others by the Geographic and Historic Institute of Paraíba IHGP that since its foundation was obliged to tell the history of Paraíba Therefore we will focus our attention on the image of André Vidal his participation in the resistance and in the restoration examining the heroic image that was tried to be constructed and its importance to the formation of the identity of the State of Paraíba Keywords Paraíba Identity Historiography Colonial Paraíba