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5ª edição José Octávio História da Paraíba EDITORA UNIVERSITÁRIA UFPB II CAPÍTULO CONSOLIDAÇÃO E DEFESA DA TERRA AS INVASÕES HOLANDESAS Sumário 21 Comércio internacional mar fechado e mar aberto os holandeses 22 O apoio judaizante os tapuias 23 Tentativas de desembarque e controle da capital 24 Nova organização política social e econômica administração holandesa 25 A resistência antiholandesa Vidal de Negreiros 26 Os escravos penetrações holandesas e triunfo nativista 27 Cultura e contribuição holandesas 45 No início do século XVII que se estende de 1600 a 1699 a Paraíba experimentava lento mas seguro crescimento Em 1601 o número de colonos subia a oitocentos contra catorze mil índios aldeiados pelos franciscanos Os primeiros responsabilizavamse por catorze engenhos de açúcar e os últimos por grandes roçados de mantimentos Em 1612 os engenhos movidos a boi e água enviavam anualmente a Pernambuco vinte e dois barcos de açúcar que rendiam dízimo de quatro contos de réis A Fortaleza de Santa Catarina já se encontrava artilhada e as despesas administrativas repartiamse entre Igreja empregados do fisco e milícia A safra de açúcar faziase remuneradora graças às várzeas e engenhos onde se verificava o concurso de índios e negros empregados nos partidos de cana e moendas Vinte e dois anos depois em 1634 o paubrasil das matas de Baía da Traição e do Mamanguape era explorado mais intensamente enquanto o curso inferior desse rio enchiase de currais representando fazendas para criação de gado O número de engenhos subia a dezoito dos quais apenas dois na área de Mamanguape junto aos rios Camaratuba e Miriri Os demais distribuíamse pelo vale do Paraíba aproveitando a extensa rede de afluentes deste Tibiri Tambiá Inhobim Gargaú alguns dos quais navegáveis Ao sul da capital junto aos rios Mumbaba e Gramame já se localizavam aldeias indígenas e criação de bois carneiros cabras e porcos 21 Comércio internacional mar fechado e mar aberto os holandeses Afora índios e negros a população rural que ultrapassava a cidade de Felipéia de Nossa Senhora das Neves compreendia lavradores que plantavam cana para os engenhos e proprietários rurais também senhores de canaviais e escravos Com isso o vale do rio Paraíba entre as futuras cidades de Santa Rita e Pilar tornouse zona de monocultura açucareira responsável pela primeira forma de ocupação da capitania Com a maior parte de território localizado na região seca do chamado semiárido a Paraíba não se trata de unidade açucareira como Pernambuco e Alagoas mas a região litorânea de que 47 estamos tratando o é Em razão disso é que em princípios do século XVII o Varadouro já registrava passos isto é armazéns equipados com balança para pesagem de açúcar evitandose o contrabando Nessa época a agroindústria do açúcar coexistia com a criação de gado da qual posteriormente se apartaria A primeira tratavase da principal riqueza da capitania e do nascente Nordeste Neste as capitanias de Pernambuco Itamaracá e Paraíba rendiam mais para a coroa portuguesa que todo comércio com as Índias Seria natural que riqueza desse tipo atraísse olhares cobiçosos A questão precipitouse não só porque a decadência de Portugal ensejava o surgimento de nações mais aptas ao domínio dos mares como porque a monarquia espanhola senhora de Portugal desde 1580 estava dificultando a ação dos comerciantes flamengos e cristãosnovos judeus convertidos Eram esses dois grupos que frequentando os portos portugueses e emprestando dinheiro asseguravam apetrechamento técnico e financeiro bem como a comercialização do açúcar brasileiro Com Felipe II isso não mais seria possível porque em guerra com os Países Baixos que então compreendiam Holanda e Bélgica os holandeses estavam proibidos de frequentar os portos da Península Ibérica Simultaneamente em 1612 foi revogada lei anteriormente favorável ao exercício do comércio pelos cristãosnovos na colônia Na base de tudo isso residia questão ainda mais delicada Tratavase da utilização dos mares por onde circulava a economia comercial do mercantilismo Enquanto Portugal e Espanha beneficiários das disposições do Tratado de Tordesilhas defendiam o mare clausum isto é o mar fechado do monopólio dos mares por suas frotas nações mais dinâmicas como Inglaterra e Holanda sustentavam a doutrina do mare librum isto é a liberdade dos mares Como resultado o início do século XVII registrou intensificação da pirataria por via da qual navegadores a serviço de nações partidárias da liberdade dos mares procuravam contornar o monopólio ibérico Antes mesmo de começar o século em 1595 o corsário inglês Jaime Lancaster reuniu seus navios à altura do Cabo Branco na Paraíba para em seguida saquear o porto do Recife Os holandeses possuíam pretensões mais ambiciosas Originários do norte da Europa onde se dedicavam à pesca que os conduziam aos mares transformaramse rapidamente em povo de avançada organização econômica e financeira rivalizando com suecos e ingleses Suas praças de Antuérpia e Amsterdam plenamente capitalistas dispunham de bancos bolsas de valores e sociedades por ações montadas sobre capitais particulares Duas dessas últimas as Companhias das Índias Orientais e das Índias Ocidentais pretendiam estender o domínio a todo orbe 22 O apoio judaizante os tapuias Essa expansão que logo conduziria os holandeses ao Nordeste então uma das regiões mais ricas do globo também interessava nas terras controladas por portugueses e espanhóis aos judeus Na Paraíba os chamados marranos ou sefardins já se haviam estabelecido em bom número como senhores de engenho e lavradores no vale do Paraíba e comerciantes na Felipéia Acossados pelo Tribunal do Santo Ofício encaravam com simpatia a presença dos holandeses que pertencentes ao ramo calvinista da religião protestante acenavam com a liberdade de consciência Por meio desta cada cidadão disporia do direito de professar a própria crença religiosa fora das imposições da Igreja Católica Os cristãosnovos precederam desta forma aos holandeses no Nordeste e Paraíba Influentes e letrados coubelhes transmitir informações para elaboração dos planos invasores Nesse sentido os judeus representavam peça do projeto flamengo de dominação internacional que incluía o Brasil Neste os holandeses voltaram suas vistas para vasta região entre o Amazonas e Bahia o que incluía a Paraíba São Salvador era por essa época a capital do Brasil e fezse o primeiro objetivo da invasão holandesa em 1624 A área compreendia os engenhos de açúcar do Recôncavo cujos habitantes animados pelo bispo Dom Marcos Teixeira defenderamse na base da guerrilha Sem conseguir apossarse do interior os invasores terminaram cercados na capital de onde se retiraram em 1625 De volta à Europa suas esquadras tocaram na Baía da Traição onde procuraram se reabastecer e recuperar os enfermos Alertadas as autoridades da Felipéia convergiram para a área de onde os holandeses foram expulsos Ao reembarcar conduziram consigo alguns índios como Pedro Poti e Antônio Paraupaba que reeducados na Holanda voltariam anos depois como servidores dos flamengos Estes contariam com o valioso apoio dos tapuias 23 Das tentativas de desembarque e controle da capital Por três vezes os holandeses arremeteram contra a Paraíba antes de subjugar a capital em 1634 Em todas elas as lutas se verificaram na foz do rio Paraíba junto aos fortes de Santa Catarina e Santo Antônio Na primeira em dezembro de 1631 poderosa expedição de dois mil homens sob o comando do coronel Calenfels chocouse com resistência que paralisou o avanço holandês As chamadas chuvas de caju próprias da época aumentavam o sofrimento da soldadesca de um lado e de outro Como nas demais expedições as pelejas travaramse em campo aberto mediante a tática de entrincheiramento a que recorreram atacantes e defensores Os primeiros procurando aproximarse dos fortins para o assalto e os últimos buscando repelilos no perímetro externo das fortalezas Do lado da defesa avultou frei Manoel da Piedade que incentivava os companheiros com um crucifixo até tombar atingido por um balaço Derrotados os holandeses retiraramse para o Recife antes de terminar o ano O segundo assalto holandês contra a Paraíba motivou um mês de lutas entre fevereiro e março de 1634 A força atacante conduzida pelos navios do almirante Lichthardt incluía corpo de desembarque às ordens de experimentado oficial o coronel Segismundo Van Schkoppe A rápida retirada dessa formação motivou o entendimento de que os holandeses estavam dessa feita procedendo a uma finta isto é avaliando as defesas para nelas descobrir pontos fracos antes do golpe decisivo Este ocorreu em novembro quando Lichthardt e Van Schkoppe contaram com o reforço de corpos de artilharia de campo e infantaria chefiados pelos coronéis Artchofsky e Hinderson Desembarcando na enseada do pequeno Rio Jaguaribe os holandeses distribuíramse por várias colunas uma das quais tomou o fortim da ilha da Restinga enquanto outras se deslocaram por via fluvial utilizando lanchões e por terra O plano atacante também visava ao isolamento da Fortaleza de Santa Catarina que se renderia à falta de víveres e munições Para impedir sua concretização entraram em cena os irmãos Antônio e Francisco Perez Calhau que à custa da própria vida lograram romper o cerco Antônio o primeiro a tombar recusouse a ferido passar o remo ao irmão sob alegação de que possuía irmão mais próximo o outro braço Quando este também foi arrancado Francisco preferiu a assistir o irmão de sangue conduzir a embarcação à fortaleza onde ingressou já moribundo com os mantimentos A superioridade tática e militar dos invasores era porém tão manifesta que nem o heroísmo dos defensores logrou deterlhes o passo A 19 de dezembro capitulou a Fortaleza de Cabedelo Quatro dias depois o Forte de Santo Antônio O caminho para a Felipéia estava livre e nela os holandeses subindo o rio Tambiá ingresaram na véspera do Natal a 24 de dezembro de 1634 Antes o conde Bagnoulo que comandava terço de mercenários napolitanos retirouse para o Recife deixando atrás de si destruição e incertezas A artilharia do forte do Varadouro foi desmantelada casas e depósitos de mercadorias incendiados e muitos habitantes da capital fugiram para o interior Ia começar o domínio holandês 24 Nova organização política social e econômica administração holandesa A preocupação inicial dos holandeses consistiu em montar defesas para estabilizar a conquista e atrair a simpatia dos habitantes da Paraíba cuja capital teve a denominação mudada para Frederica A Fortaleza de Santa Catarina no Cabedelo foi rebatizada como Margareth Para impedir possível rebelião os holandeses tanto fortificaram a Igreja de São Francisco e o convento de Santo Antônio a cujas portas instalaram entrincheiramentos e bateria quanto ocuparam a inacabada Igreja de São Bento na Rua Nova Além disso os caminhos de acesso à Felipéia foram empiquetados por tropas frescas chegadas do Recife Quando os religiosos franciscanos tentaram desobedecer as ordens dos novos senhores foram expulsos da Capitania No plano políticoadministrativo conservouse parte da antiga administração subordinada porém ao diretor geral função inicialmente ocupada pelo conselheiro Servaes Carpentier Funcionários denominados escabinos e escoltetos encarregaramse de administrar justiça e cobrar impostos Na área econômicosocial os holandeses mantiveram a escravidão Com esse objetivo ocuparam preliminarmente a província portuguesa de Angola na África principal fonte de fornecimento dos cativos Introduzindo aperfeiçoamentos técnicos como moendas metálicas no lugar das antigas feitas de madeira ofereceram empréstimos aos proprietários de engenhos A maior parte destes liderados por Duarte Gomes da Silveira aceitou a oferta Senhores do mar aferrados à capital e de olho nas várzeas do interior uma das primeiras proclamações holandesas visava a tranquilizar a classe dominante com cujo apoio contavam Para tanto ofereceram anistia liberdade de consciência e de culto manutenção do regime de propriedade proteção aos negócios e observância das leis portuguesas nas pendências entre os naturais da terra Tais recomendações surtiram efeito daí porque não foram poucos os que aderiram aos invasores O padre jesuíta Manoel Morais abjurou a fé cristã e embarcou para a Holanda onde se fez calvinista e casou A principal colaboração recebida pelos holandeses proveio dos índios Potiguaras enquadrados pelos caciques Pedro Poti e Paraupaba Física e culturalmente diferenciados dos tupis os tapuias compreendiam o grupo tarairiu que chefiado pelo cacique Janduí denominação possivelmente retirada de outro grupo tapuia fraternizou com os flamengos cujas fileiras integraram Em troca os holandeses chegaram a realizar assembléia de índios para a qual os principais do Ceará e Pernambuco enviaram representantes à vila de Itapessica em Pernambuco Esse um dos expedientes utilizados pelos invasores atrair os habitantes da terra em troca de algumas liberdades principalmente de organização Com tal finalidade também fizeram realizar no Recife em 1640 assembléia com representantes de todas as capitanias A Paraíba enviou delegação da qual fazia parte Duarte da Silveira A aproximação dos holandeses com os tapuias por eles conduzidos até a África e o Chile levou o viajante alemão Roulox Baro que esteve à época na Paraíba a escrever o preciso Viagem ao País dos Tapuias reeditação com tradução e notas da historiadora Léda Boechat Rodrigues Outrossim a rivalidade entre tapuias e tupis fez com que grupo indoholandês chefiado por Pedro Poti e às ordens do aventureiro Jacó Rabi se responsabilizasse pelo chamado massacre do Engenho Cunhaú na Capitania do Rio Grande do Norte em 1645 Isso ocorreu quando lusobrasileiros e tupis participavam de missa e festas O morticínio foi completo dele somente escapando a filha do senhor de engenho André Dias de Figueiredo sacrificado na ocasião 25 A resistência antiholandesa Vidal de Negreiros O controle holandês sobre a Paraíba durou apenas vinte anos de 1634 a 1654 e nunca se fez total Isso porque desde cedo os que não o aceitaram partiram para a luta armada que assolou a várzea do Paraíba Nesta os flamengos nunca conseguiram firmarse Já em 1636 o segundo diretor geral Ippo Eyssens tido como arbitrário foi morto numa emboscada quando assistia a farinada no engenho Santo Antônio O principal responsável foi o capitão Francisco Rebello o Rabellinho Reagindo os holandeses procuraram apresentar combate no Tibiri o que foi evitado pelos lusobrasileiros que preferiram retrairse e recorrer a ataques rápidos e de surpresa Era a guerrilha Por conta desta os holandeses nunca se sentiram seguros na Paraíba salvo durante algum tempo na capital e mais tarde no interior da Fortaleza de Santa Catarina A repressão holandesa caracterizouse pela brutalidade Seus soldados a maioria dos quais mercenários entregaramse ao saque enquanto a Companhia das Índias Ocidentais decidiu aumentar a contribuição dos que não colaboravam Alguns engenhos e propriedades foram confiscados A pena capital foi igualmente aplicada e em 1645 o diretor geral Paul Linge responsável por enforcamentos mandou arrastar pela cidade o corpo de condenado que morrera na prisão A tensão somente amainou entre 1638 e 1644 durante a administração dos diretores Elias Herckman s e Gisberth Wirth Por essa época chegou ao Brasil o conde Maurício de Nassau que se instalou no Recife com artistas cientistas e estudiosos do melhor nível A capital pernambucana denominada Mauristadt Mauricéia cidade de Maurício foi embelezada com pontes palácios e jardins Seus chamados sobrados magros datam dessa época Visando a consolidar o Brasil neerlandês Nassau marchou para o sul da Capitania de Pernambuco a fim de tomando Porto Calvo destroçar o foco de onde partiam incursões sobre Pernambuco e Paraíba Os holandeses obtiveram então acesso aos campos de Sergipe onde estimulando o criatório melhoraram o abastecimento de carne da zona por eles dominada Atento à fome que atormentava os compatriotas Nassau procurou incentivar o cultivo de mandioca nos engenhos cujos proprietários foram obrigados a reservar áreas ao plantio desse vegetal Alguns autores nisso enxergam a primeira tentativa de reforma agrária no Brasil visto tratarse de providência destinada a limitar a monocultura açucareira O próprio Nassau esteve por duas vezes na Paraíba a segunda para dela despedirse em 1644 Na primeira em 1637 atribuiu à capitania brasão com seis pães de açúcar por reconhecer a excelência do dulcissimo açúcar paraibano Determinou a reconstrução do Forte de Cabedelo a melhoria do molhe e edificação de alguns armazéns no Varadouro mas foi só Protestantes calvinistas os holandeses não construíram Igrejas e menos ainda túneis fantásiosos entre a capital e Cabedelo como posteriormente propagado pela imaginação popular A contribuição material dos holandeses à Paraíba não equivaleu à que deram ao Recife Ainda assim o chamado período nassoviano significou fase de relativa estabilidade Os engenhos safrejavam e apesar das oscilações do preço do açúcar nos mercados internacionais os dízimos desse produto aumentaram em 1641 e 1642 Emancipados da Espanha em 1640 os portugueses encontravamse com as finanças abaladas de modo que alguns conselheiros do Rei como o padre Antônio Vieira o maior sábio do mundo luso da época elaboraram documento que propunha a preservação de todo Norte pelos holandeses que se absteriam de invadir o restante do Brasil e as possessões lusas no Oriente Esse documento ganhou a denominação de papel forte tão convincentes pareciam suas razões Na Paraíba os proprietários e altos funcionários beneficiários da invasão flamenga concordavam com seus termos Não foi esse porém o caso do jovem André Vidal de Negreiros Paraibano filho de proprietários portugueses participou da campanha antiholandesa de 1624 na Bahia onde sentou praça Em 1630 encontravase em Olinda quando os flamengos dominaram a cidade Novamente na Paraíba entre 1634 e 1636 nunca pactuou com invasor que o respeitava De 1636 a 1644 permaneceu em Portugal onde debalde tentou mobilizar os espíritos em prol da resistência Sem conseguir o intento retornou ao Brasil desembarcando na praia pernambucana de Tamandaré acima da qual em Santo Antônio do Cabo fez junção com as tropas pernambucanas de João Fernandes Vieira A luta doravante iria travarse em campo aberto e nela Vidal de Negreiros revelaria dons de estrategista Participante das duas batalhas dos Montes Guararapes figurou entre os chefes que receberam a rendição holandesa na Campina da Taborda Anteriormente não hesitara em atear fogo aos canaviais do próprio pai na Paraíba Sua carreira foi uma sucessão de êxitos Escolhido para levar a Portugal os resultados da insurreição contra os holandeses foi nomeado governador dos estados do Maranhão e Grão Pará que constituíam territórios independentes do restante do Brasil Em 1662 designaramno governador de Angola onde fortificou a capital Luanda Ao falecer em 1680 seus restos mortais foram depositados na Igreja Matriz de Goiana de onde foram translados para a Igreja dos Prazeres nos montes Guararapes Considerado um dos maiores Paraibanos de todos os tempos Vidal de Negreiros fezse indiscutível chefe da Guerra de Libertação Nacional que a insurreição contra os holandeses representou Com o afastamento dos espanhóis e retraimento dos portugueses a contenda ganhou feição nacionalista nela se verificando a primitiva formação da Pátria 26 Os escravos penetrações holandesas e triunfo brasileiro Há um refrão segundo o qual quando os de cima se havêm os debaixo se desavêm Foi o que aconteceu com as invasões holandesas no Nordeste Como atacantes e defensores não se dispusessem a alterar a ordem escravista os próprios negros aproveitaram as divergências dos dominadores para rebelarse Isso explica o surgimento durante a dominação flamenga do Quilombo dos Palmares que acossado pelos bandeirantes de Domingos Jorge Velho resistiria até as primeiras décadas do século XVIII Ao contrário do que se supõe os palmarinos não se limitaram à Serra da Barriga no atual Estado de Alagoas Irradiandose por toda zona da mata nordestina também constituíram centros de resistência e preservação da cultura africana na Paraíba Nesta em 1635 os holandeses já asseguravam aos moradores a manutenção de armas para defesa de quilombos e alevantados o que pressupõe a multiplicação dos núcleos de rebeldia As instruções governamentais de 1691 destinadas a acudir Domingos Jorge Velho e as recomendações de 1698 e 1741 revelam o temor dos possuidores em face da revolta dos despossuídos Vanguarda destes os escravos reuniramse no sítio denominado Cumbe nas proximidades do Espírito Santo Esse quilombo originário das guerras holandesas somente seria destruído em 1701 Também derivadas das invasões holandesas foram as primeiras tentativas de adentramento pela terra Notese que os holandeses não se fixaram no interior Mas realizaram penetrações por meio das quais tanto ultrapassaram a serra da Copaoba como alcançaram as vizinhanças da futura vila e cidade de Areia Para alguns autores o já referido Rouloux Baro subindo o curso do rio Paraíba chegou às nascentes deste no atual município de Monteiro onde entrou em contato com os grupos indígenas de Elias Herckmans objeto em 1982 de duas reedições ambas em João Pessoa Geógrafo poeta e cartógrafo Herckmans que na condição de Diretor da Companhia das Índias Ocidentais governou a Paraíba de 1636 a 1639 elaborou documento verdadeiramente modelar A primeira parte é dedicada à capital a segunda aos engenhos da várzea do Paraíba e a terceira aos costumes dos índios Tapuias Geografia Urbana Economia e Antropologia combinamse dessa forma harmoniosamente Todos esses relatos foram aproveitados por Gaspar Barleu biógrafo do conde Maurício de Nassau e historiador oficial da dominação holandesa no Nordeste Embora sem haver estado no Brasil Barleu teve seu livro História dos Feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil amplamente divulgado Outras precisas descrições da primeira metade do século XVII foram legadas pelos pintores flamengos entre os quais Zacarias Wagner não passava de medíocre Não foi esse o caso de Franz Post cujo estilo paisagista assegurou retratação de engenhos mangues e caminhos além de no caso da capital paraibana Fortaleza de Santa Catarina Varadouro e cercanias do Convento de Santo Antônio Outro grande pintor Eckhout retratista e detalhista fixouse nos tipos étnicos de negros e indígenas que constituíam a grande massa da população Um dos primeiros mapas da Paraíba foi de autoria do cartógrafo geógrafo e naturalista alemão Jorge Marcgrave que integrou a comitiva de Maurício de Nassau Espécie de assistente do médico holandês Guilherme Piso cuja extraordinária História natural e médica da Índia Ocidental em cinco livros lançou as bases da medicina tropical Marcgrave empreendeu com Piso pesquisas sobre plantas e animais que prepararam as teorias evolucionistas das Ciências Naturais no século XIX BIBLIOGRAFIA BÁSICA 1 RODRIGUES José Honório Civilização holandesa no Brasil S Paulo Companhia Editora Nacional 1940 e Historiografia e bibliografia do domínio holandês Rio de Janeiro Departamento de Imprensa Nacional 1949 o primeiro dos quais com a colaboração de Joaquim Ribeiro Considerado o mais paraibano dos escritores não paraibanos o que decorreu da penetração nessa parte do Brasil de teses particularmente ampliadas pelo Grupo José Honório Rodrigues duas obras de José Honório interessam de perto à Paraíba Em Civilização holandesa no Brasil flui a questão da liberdade dos mares básica para a expansão capitalista neerlandesa Já Historiografia e bibliografia do domínio holandês analisa os autores que se ocuparam da invasão flamenga figurando entre eles o paraibano Irineu Pinto patrono do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano 2 PRADO J F de Almeida A conquista da Paraíba São Paulo Companhia Editora Nacional 1965 Embora eivado de incorreções esse livro cresce quando se debruça sobre problemas internacionais como a presença dos barcos do sindicato Ango no litoral paraibano no século XVI e a posterior invasão holandesa da Paraíba tema de onze de seus vinte e um capítulos Situa com destaque a participação dos judeus nos preparativos da presença flamenga e problemas econômicos e políticoadministrativos desta 3 Série I Os Rios do Açúcar do Nordeste Oriental ANDRADE Manuel Correia de II O Rio Mamanguape Recife IJNPS 1957 e Andrade Gilberto Osório da III O Rio Paraiba do Norte Recife IJNPS 1959 Como no restante do Brasil e no mundo os rios tornaramse fundamentais para estabelecimento das civilizações A Paraíba litorânea viuse polarizada por dois cursos dágua o Paraíba e o Mamanguape como agentes da fixação do homem através de engenhos e penetração por meio de currais Estudando esses rios em toda amplitude desde o início da colonização até o século XX Manuel Correia de Andrade diante do Mamanguape e Gilberto Osório em face do Paraíba perfizeram duas monografias da mais alta significação 4 MONTEIRO Vilma dos Santos Cardoso Pequena História da Paraíba João Pessoa Editora UniversitáriaUFPB 1975 Recorrendo a temática econômicosocial quase ausente de estudos anteriores como a História da Fortaleza de Santa Catarina 1972 Cardoso Monteiro legounos já falecida estudo de boa qualidade Parcela de História da Paraíba que deixou incompleta o livro ocupase dos holandeses em seis das dez unidades 5 MELLO José Octávio de Arruda Org et al Capítulos de História da Paraíba João Pessoa Secretaria de EducaçãoO Norte 1987 Os estudos de Terezinha Pordeus De 1580 a 1640 a Paraíba Felipina Balila Palmeira Roteiro do Domínio Holandês Wellington Aguiar A ocupação Flamenga 163454 Aspectos SócioEconômicos e Culturais e Luiz Bronzeado Elias Herckman o Pioneiro cobrem a primeira metade do século XVII na coletânea intitulada Capítulos de História da Paraíba Resultante de edição especial de O Norte a 5 de agosto de 1985 em homenagem ao IV Centenário da Paraíba sob a coordenação de Evandro Nóbrega os Capitulos dotados de uma introdução quatro livros treze partes dezesseis unidades cento e quinze colaborações e seiscentas e sessenta páginas constituem o maior repositório de informações sobre a Paraíba e obra dificilmente encontrada no conjunto da Historiografia brasileira 6 COSTA Cláudio Santa Cruz Aspectos econômicos da ocupação holandesa na Paraíba João Pessoa A Imprensa 1957 As motivações açucareiras da invasão holandesa no quadro das relações internacionais do capitalismo mercantil constituem o fulcro dessa monografia do antigo catedrático de Economia Política de escolas superiores da Paraíba Recorrendo a historiadores e cronistas que se ocuparam da presença flamenga no Nordeste Santa Cruz Costa registra a sociedade da época e as contradições econômicosociais que opuseram burguesia rural nativista e prestamistas holandeses 7 HERCKMANS Elias Descrição geral da capitania da Paraiba João Pessoa A União Cia Editora 1982 Um dos mais importantes documentos referentes à Paraíba em todos os tempos o relatório do diretor da Companhia das Índias Ocidentais distinguese por caráter simultaneamente geográfico e urbano econômico e antropológico Em 1982 a Descrição motivou além da publicação acima indicada a cargo da dupla Marcus Odilon Ribeiro Coutinho Wellington Aguiar bem cuidada edição da Procuradoria da Justiça do Estado sob coordenação do então procurador Luís Bronzeado 8 AQUINO Aécio Vilar de Felipeía Frederica Paraíba Os cem primeiros anos de vida social de uma cidade João Pessoa Fundação Casa de José Américo 1988 Como embutido nos título e subtítulo estuda a capital paraibana quando seu nome variou de Felipeía de Nossa Senhora das Neves na fundação para Frederica com o domínio holandês e Paraíba depois da restauração portuguesa De feição social e antropológica detémse sobre os Antecedentes da Fundação da Cidade Da Cidade e dos seus Arredores e Dos habitantes da cidade e cercanias Premiado em concurso do IV Centenário da Paraíba mereceu outra publicação em 1988 a cargo do Banco do Nordeste do Brasil 9 MEDEIROS FILHO Olavo No rastro dos flamengos Natal Fundação José Augusto 1989 Historiador do Rio Grande do Norte pertence ao Instituto Histórico local e autor de livros de importância para a região como Velhas famílias do Seridó 1981 e Índios do Seridó e do Açú 1984 Medeiros Filho incorporouse à Historiografia paraibana com a monografia acima Nela sequenciando Coriolano de Medeiros em Os holandeses como exploradores da Paraíba preparado para Congresso de História da América do IHGB em 1922 reconstitui o trajeto das penetrações holandesas à serra da Copaoba e região do Cariri bem como a ânsia dos flamengos por riquezas minerais e peripécias de Roulox Baro e Jacob Rabbi 10 MELLO José Octávio de Arruda A Escravidão na Paraíba Historiografia e História preconceitos e racismo numa produção cultural João Pessoa A União Superintendência de Imprensa e Editora 1988 Nessa monografia destinada ao estudo histórico e ideológico da Paraíba a partir da escravidão e prevenções argüidas contra o negro o século XVII ganha capítulo intitulado A Visão Holandesa Com base nos cronistas historiadores pintores e antropólogos da época demonstrase que os holandeses empenhados em otimizar a produção açucareira jamais tencionaram suprimir o trabalho servil Tanto assim que antes de invadir o Brasil ocuparam Angola como principal fonte de suprimento de escravos BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 1 ANDRADE Manuel Correia de A terra e o homem no Nordeste 2ª ed São Paulo Editora Brasiliense 1964 2 BRANDÃO Ambrósio Fernandes Diálogos das Grandezas do Brasil com introdução e notas de José Antônio Gonçalves de Mello Neto Recife Editora Universitária 1966 3 MELLO NETO José Antônio Gonsalves de Tempo dos flamengos 2ª ed Recife BNBSECPE 1974 4 CAVALCANTI Manoel Tavares Epitome de história da Paraíba Parahyba Imprensa Oficial 1914 5 AQUINO Aécio Vilar de Três capitanias do Brasil rendem mais que o comércio com a Índia In Correio das Artes suplemento literário de A União nº 205 João Pessoa 10 de setembro de 1983 p6 com reedição a 2 de dezembro de 1983 6 MOREAU Pierre e BARO Rouloux Histórias das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses e relação da viagem ao país dos Tapuias com tradução e notas de Léda Boechat Rodrigues São PauloBelo Horizonte EDUSP Livraria Itatiaia 1976 7 XAVIER Lauro e MELLO José Octávio de Arruda A agricultura paraibana de Irineu Pinto aos dias atuais in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano nº 25 João Pessoa UFPBEditora Universitária 1991 8 LIMA José Fernandes de A lealdade e o heroísmo do índio potiguara Pedro Poti João Pessoa 1990 9 FREIRE Maria das Neves Padilha do Prado Baía da Traição A Acajutibirá dos Potiguara João Pessoa 1985 10 ZENAIDE Hélio Vidal de Negreiros o Bravo dos Bravos Vidal de Negreiros o íntegro governador do Maranhão e GrãoPará Mas afinal onde nasceu André Vidal de Negreiros e O primeiro marajá da Paraíba era português in respectivamente O Norte de 8 e 19 de fevereiro de 1975 O Momento de 15 de outubro de 1989 e O Norte de 19 de maio de 1991 o último dos quais referente a João Fernandes Vieira O que os holandeses legaram à Paraíba que perdura até nossos dias No início do século XVII a Paraíba estava experimentando um crescimento lento mas estável em 1601 havia cerca de oitocentos colonos e catorze mil índios aldeiados pelos franciscanos na região os colonos eram responsáveis por quatorze engenhos de açúcar enquanto os índios cuidavam das plantações de alimentos os engenhos enviavam vinte e dois barcos de açúcar anualmente para Pernambuco gerando uma receita significativa a Fortaleza de Santa Catarina já estava equipada com armas e as despesas administrativas eram divididas entre a Igreja funcionários do governo e a milícia o cultivo de canadeaçúcar era lucrativo devido às terras férteis e à mão de obra indígena e escrava utilizada nas plantações e moendas Vinte e dois anos depois em 1634 a exploração do paubrasil se intensificou nas matas da Baía da Traição e do Mamanguape enquanto a região inferior do rio Mamanguape era utilizada para a criação de gado o número de engenhos aumentou para dezoito sendo apenas dois na área de Mamanguape perto dos rios Camaratuba e Miriri os outros estavam espalhados pelo vale do Paraíba aproveitando a extensa rede de afluentes alguns dos quais eram navegáveis ao sul da capital perto dos rios Mumbaba e Gramame já existiam aldeias indígenas e criação de gado incluindo bois carneiros cabras e porcos No contexto do comércio internacional havia uma disputa entre os holandeses e as potências ibéricas Portugal e Espanha Enquanto Portugal e Espanha defendiam o conceito de mar fechado e o monopólio de suas frotas nações como Inglaterra e Holanda defendiam a ideia de mares abertos e a liberdade de comércio os holandeses em particular estavam proibidos de frequentar os portos da Península Ibérica devido a conflitos com a monarquia espanhola A riqueza açucareira do Brasil despertava o interesse dos holandeses que buscavam contornar o monopólio ibérico e expandir seu domínio marítimo Os holandeses possuíam uma organização econômica e financeira avançada e pretendiam estender seu domínio globalmente Além disso a presença holandesa na região nordeste do Brasil era atraente para os judeus sefarditas que já haviam estabelecidose na Paraíba eles eram adeptos do calvinismo que promovia a liberdade de consciência religiosa o que era favorável aos cristãosnovos judeus convertidos que estavam sob a ameaça do Tribunal do Santo Ofício os cristãos novos na Paraíba viram nos holandeses a possibilidade de maior liberdade religiosa Os holandeses fizeram várias tentativas de desembarque assim estabeleceram uma guarda de soldados no convento dos franciscanos Além disso eles promoveram medidas para garantir o controle da economia e explorar os recursos da região a administração holandesa trouxe mudanças significativas para a Paraíba foram estabelecidos impostos sobre a produção e comércio do açúcar visando obter lucros e fortalecer a economia holandesa os engenhos de açúcar foram requisitados e colocados sob administração holandesa enquanto os proprietários portugueses foram forçados a pagar tributos Eles investiram na expansão da produção de canadeaçúcar buscando aumentar a rentabilidade da colônia Além disso eles incentivaram a imigração de colonos holandeses oferecendo terras e benefícios fiscais para atrair novos habitantes No aspecto político a Paraíba foi incorporada ao domínio da Companhia das Índias Ocidentais uma das companhias comerciais mais poderosas da época os holandeses estabeleceram um governo centralizado com a nomeação de um governadorgeral e a criação de uma estrutura administrativa para controlar a região Os habitantes locais tanto os brancos como os indígenas e negros tiveram que se adaptar às novas condições impostas pelos holandeses houve resistência por parte da população nativa principalmente dos tapuias que se sentiram ameaçados pela presença dos invasores essa presença holandesa na Paraíba durou cerca de 24 anos até 1654 quando a região foi retomada pelos portugueses Durante esse período os holandeses deixaram sua marca na cultura na economia e na história da Paraíba mas também enfrentaram desafios e conflitos com a população local a dominação holandesa na Paraíba faz parte de um contexto mais amplo de disputas entre as potências coloniais europeias pelo controle das riquezas e rotas comerciais das Américas esses eventos históricos tiveram um impacto significativo no desenvolvimento do Brasil colonial e na formação de sua identidade nacional
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5ª edição José Octávio História da Paraíba EDITORA UNIVERSITÁRIA UFPB II CAPÍTULO CONSOLIDAÇÃO E DEFESA DA TERRA AS INVASÕES HOLANDESAS Sumário 21 Comércio internacional mar fechado e mar aberto os holandeses 22 O apoio judaizante os tapuias 23 Tentativas de desembarque e controle da capital 24 Nova organização política social e econômica administração holandesa 25 A resistência antiholandesa Vidal de Negreiros 26 Os escravos penetrações holandesas e triunfo nativista 27 Cultura e contribuição holandesas 45 No início do século XVII que se estende de 1600 a 1699 a Paraíba experimentava lento mas seguro crescimento Em 1601 o número de colonos subia a oitocentos contra catorze mil índios aldeiados pelos franciscanos Os primeiros responsabilizavamse por catorze engenhos de açúcar e os últimos por grandes roçados de mantimentos Em 1612 os engenhos movidos a boi e água enviavam anualmente a Pernambuco vinte e dois barcos de açúcar que rendiam dízimo de quatro contos de réis A Fortaleza de Santa Catarina já se encontrava artilhada e as despesas administrativas repartiamse entre Igreja empregados do fisco e milícia A safra de açúcar faziase remuneradora graças às várzeas e engenhos onde se verificava o concurso de índios e negros empregados nos partidos de cana e moendas Vinte e dois anos depois em 1634 o paubrasil das matas de Baía da Traição e do Mamanguape era explorado mais intensamente enquanto o curso inferior desse rio enchiase de currais representando fazendas para criação de gado O número de engenhos subia a dezoito dos quais apenas dois na área de Mamanguape junto aos rios Camaratuba e Miriri Os demais distribuíamse pelo vale do Paraíba aproveitando a extensa rede de afluentes deste Tibiri Tambiá Inhobim Gargaú alguns dos quais navegáveis Ao sul da capital junto aos rios Mumbaba e Gramame já se localizavam aldeias indígenas e criação de bois carneiros cabras e porcos 21 Comércio internacional mar fechado e mar aberto os holandeses Afora índios e negros a população rural que ultrapassava a cidade de Felipéia de Nossa Senhora das Neves compreendia lavradores que plantavam cana para os engenhos e proprietários rurais também senhores de canaviais e escravos Com isso o vale do rio Paraíba entre as futuras cidades de Santa Rita e Pilar tornouse zona de monocultura açucareira responsável pela primeira forma de ocupação da capitania Com a maior parte de território localizado na região seca do chamado semiárido a Paraíba não se trata de unidade açucareira como Pernambuco e Alagoas mas a região litorânea de que 47 estamos tratando o é Em razão disso é que em princípios do século XVII o Varadouro já registrava passos isto é armazéns equipados com balança para pesagem de açúcar evitandose o contrabando Nessa época a agroindústria do açúcar coexistia com a criação de gado da qual posteriormente se apartaria A primeira tratavase da principal riqueza da capitania e do nascente Nordeste Neste as capitanias de Pernambuco Itamaracá e Paraíba rendiam mais para a coroa portuguesa que todo comércio com as Índias Seria natural que riqueza desse tipo atraísse olhares cobiçosos A questão precipitouse não só porque a decadência de Portugal ensejava o surgimento de nações mais aptas ao domínio dos mares como porque a monarquia espanhola senhora de Portugal desde 1580 estava dificultando a ação dos comerciantes flamengos e cristãosnovos judeus convertidos Eram esses dois grupos que frequentando os portos portugueses e emprestando dinheiro asseguravam apetrechamento técnico e financeiro bem como a comercialização do açúcar brasileiro Com Felipe II isso não mais seria possível porque em guerra com os Países Baixos que então compreendiam Holanda e Bélgica os holandeses estavam proibidos de frequentar os portos da Península Ibérica Simultaneamente em 1612 foi revogada lei anteriormente favorável ao exercício do comércio pelos cristãosnovos na colônia Na base de tudo isso residia questão ainda mais delicada Tratavase da utilização dos mares por onde circulava a economia comercial do mercantilismo Enquanto Portugal e Espanha beneficiários das disposições do Tratado de Tordesilhas defendiam o mare clausum isto é o mar fechado do monopólio dos mares por suas frotas nações mais dinâmicas como Inglaterra e Holanda sustentavam a doutrina do mare librum isto é a liberdade dos mares Como resultado o início do século XVII registrou intensificação da pirataria por via da qual navegadores a serviço de nações partidárias da liberdade dos mares procuravam contornar o monopólio ibérico Antes mesmo de começar o século em 1595 o corsário inglês Jaime Lancaster reuniu seus navios à altura do Cabo Branco na Paraíba para em seguida saquear o porto do Recife Os holandeses possuíam pretensões mais ambiciosas Originários do norte da Europa onde se dedicavam à pesca que os conduziam aos mares transformaramse rapidamente em povo de avançada organização econômica e financeira rivalizando com suecos e ingleses Suas praças de Antuérpia e Amsterdam plenamente capitalistas dispunham de bancos bolsas de valores e sociedades por ações montadas sobre capitais particulares Duas dessas últimas as Companhias das Índias Orientais e das Índias Ocidentais pretendiam estender o domínio a todo orbe 22 O apoio judaizante os tapuias Essa expansão que logo conduziria os holandeses ao Nordeste então uma das regiões mais ricas do globo também interessava nas terras controladas por portugueses e espanhóis aos judeus Na Paraíba os chamados marranos ou sefardins já se haviam estabelecido em bom número como senhores de engenho e lavradores no vale do Paraíba e comerciantes na Felipéia Acossados pelo Tribunal do Santo Ofício encaravam com simpatia a presença dos holandeses que pertencentes ao ramo calvinista da religião protestante acenavam com a liberdade de consciência Por meio desta cada cidadão disporia do direito de professar a própria crença religiosa fora das imposições da Igreja Católica Os cristãosnovos precederam desta forma aos holandeses no Nordeste e Paraíba Influentes e letrados coubelhes transmitir informações para elaboração dos planos invasores Nesse sentido os judeus representavam peça do projeto flamengo de dominação internacional que incluía o Brasil Neste os holandeses voltaram suas vistas para vasta região entre o Amazonas e Bahia o que incluía a Paraíba São Salvador era por essa época a capital do Brasil e fezse o primeiro objetivo da invasão holandesa em 1624 A área compreendia os engenhos de açúcar do Recôncavo cujos habitantes animados pelo bispo Dom Marcos Teixeira defenderamse na base da guerrilha Sem conseguir apossarse do interior os invasores terminaram cercados na capital de onde se retiraram em 1625 De volta à Europa suas esquadras tocaram na Baía da Traição onde procuraram se reabastecer e recuperar os enfermos Alertadas as autoridades da Felipéia convergiram para a área de onde os holandeses foram expulsos Ao reembarcar conduziram consigo alguns índios como Pedro Poti e Antônio Paraupaba que reeducados na Holanda voltariam anos depois como servidores dos flamengos Estes contariam com o valioso apoio dos tapuias 23 Das tentativas de desembarque e controle da capital Por três vezes os holandeses arremeteram contra a Paraíba antes de subjugar a capital em 1634 Em todas elas as lutas se verificaram na foz do rio Paraíba junto aos fortes de Santa Catarina e Santo Antônio Na primeira em dezembro de 1631 poderosa expedição de dois mil homens sob o comando do coronel Calenfels chocouse com resistência que paralisou o avanço holandês As chamadas chuvas de caju próprias da época aumentavam o sofrimento da soldadesca de um lado e de outro Como nas demais expedições as pelejas travaramse em campo aberto mediante a tática de entrincheiramento a que recorreram atacantes e defensores Os primeiros procurando aproximarse dos fortins para o assalto e os últimos buscando repelilos no perímetro externo das fortalezas Do lado da defesa avultou frei Manoel da Piedade que incentivava os companheiros com um crucifixo até tombar atingido por um balaço Derrotados os holandeses retiraramse para o Recife antes de terminar o ano O segundo assalto holandês contra a Paraíba motivou um mês de lutas entre fevereiro e março de 1634 A força atacante conduzida pelos navios do almirante Lichthardt incluía corpo de desembarque às ordens de experimentado oficial o coronel Segismundo Van Schkoppe A rápida retirada dessa formação motivou o entendimento de que os holandeses estavam dessa feita procedendo a uma finta isto é avaliando as defesas para nelas descobrir pontos fracos antes do golpe decisivo Este ocorreu em novembro quando Lichthardt e Van Schkoppe contaram com o reforço de corpos de artilharia de campo e infantaria chefiados pelos coronéis Artchofsky e Hinderson Desembarcando na enseada do pequeno Rio Jaguaribe os holandeses distribuíramse por várias colunas uma das quais tomou o fortim da ilha da Restinga enquanto outras se deslocaram por via fluvial utilizando lanchões e por terra O plano atacante também visava ao isolamento da Fortaleza de Santa Catarina que se renderia à falta de víveres e munições Para impedir sua concretização entraram em cena os irmãos Antônio e Francisco Perez Calhau que à custa da própria vida lograram romper o cerco Antônio o primeiro a tombar recusouse a ferido passar o remo ao irmão sob alegação de que possuía irmão mais próximo o outro braço Quando este também foi arrancado Francisco preferiu a assistir o irmão de sangue conduzir a embarcação à fortaleza onde ingressou já moribundo com os mantimentos A superioridade tática e militar dos invasores era porém tão manifesta que nem o heroísmo dos defensores logrou deterlhes o passo A 19 de dezembro capitulou a Fortaleza de Cabedelo Quatro dias depois o Forte de Santo Antônio O caminho para a Felipéia estava livre e nela os holandeses subindo o rio Tambiá ingresaram na véspera do Natal a 24 de dezembro de 1634 Antes o conde Bagnoulo que comandava terço de mercenários napolitanos retirouse para o Recife deixando atrás de si destruição e incertezas A artilharia do forte do Varadouro foi desmantelada casas e depósitos de mercadorias incendiados e muitos habitantes da capital fugiram para o interior Ia começar o domínio holandês 24 Nova organização política social e econômica administração holandesa A preocupação inicial dos holandeses consistiu em montar defesas para estabilizar a conquista e atrair a simpatia dos habitantes da Paraíba cuja capital teve a denominação mudada para Frederica A Fortaleza de Santa Catarina no Cabedelo foi rebatizada como Margareth Para impedir possível rebelião os holandeses tanto fortificaram a Igreja de São Francisco e o convento de Santo Antônio a cujas portas instalaram entrincheiramentos e bateria quanto ocuparam a inacabada Igreja de São Bento na Rua Nova Além disso os caminhos de acesso à Felipéia foram empiquetados por tropas frescas chegadas do Recife Quando os religiosos franciscanos tentaram desobedecer as ordens dos novos senhores foram expulsos da Capitania No plano políticoadministrativo conservouse parte da antiga administração subordinada porém ao diretor geral função inicialmente ocupada pelo conselheiro Servaes Carpentier Funcionários denominados escabinos e escoltetos encarregaramse de administrar justiça e cobrar impostos Na área econômicosocial os holandeses mantiveram a escravidão Com esse objetivo ocuparam preliminarmente a província portuguesa de Angola na África principal fonte de fornecimento dos cativos Introduzindo aperfeiçoamentos técnicos como moendas metálicas no lugar das antigas feitas de madeira ofereceram empréstimos aos proprietários de engenhos A maior parte destes liderados por Duarte Gomes da Silveira aceitou a oferta Senhores do mar aferrados à capital e de olho nas várzeas do interior uma das primeiras proclamações holandesas visava a tranquilizar a classe dominante com cujo apoio contavam Para tanto ofereceram anistia liberdade de consciência e de culto manutenção do regime de propriedade proteção aos negócios e observância das leis portuguesas nas pendências entre os naturais da terra Tais recomendações surtiram efeito daí porque não foram poucos os que aderiram aos invasores O padre jesuíta Manoel Morais abjurou a fé cristã e embarcou para a Holanda onde se fez calvinista e casou A principal colaboração recebida pelos holandeses proveio dos índios Potiguaras enquadrados pelos caciques Pedro Poti e Paraupaba Física e culturalmente diferenciados dos tupis os tapuias compreendiam o grupo tarairiu que chefiado pelo cacique Janduí denominação possivelmente retirada de outro grupo tapuia fraternizou com os flamengos cujas fileiras integraram Em troca os holandeses chegaram a realizar assembléia de índios para a qual os principais do Ceará e Pernambuco enviaram representantes à vila de Itapessica em Pernambuco Esse um dos expedientes utilizados pelos invasores atrair os habitantes da terra em troca de algumas liberdades principalmente de organização Com tal finalidade também fizeram realizar no Recife em 1640 assembléia com representantes de todas as capitanias A Paraíba enviou delegação da qual fazia parte Duarte da Silveira A aproximação dos holandeses com os tapuias por eles conduzidos até a África e o Chile levou o viajante alemão Roulox Baro que esteve à época na Paraíba a escrever o preciso Viagem ao País dos Tapuias reeditação com tradução e notas da historiadora Léda Boechat Rodrigues Outrossim a rivalidade entre tapuias e tupis fez com que grupo indoholandês chefiado por Pedro Poti e às ordens do aventureiro Jacó Rabi se responsabilizasse pelo chamado massacre do Engenho Cunhaú na Capitania do Rio Grande do Norte em 1645 Isso ocorreu quando lusobrasileiros e tupis participavam de missa e festas O morticínio foi completo dele somente escapando a filha do senhor de engenho André Dias de Figueiredo sacrificado na ocasião 25 A resistência antiholandesa Vidal de Negreiros O controle holandês sobre a Paraíba durou apenas vinte anos de 1634 a 1654 e nunca se fez total Isso porque desde cedo os que não o aceitaram partiram para a luta armada que assolou a várzea do Paraíba Nesta os flamengos nunca conseguiram firmarse Já em 1636 o segundo diretor geral Ippo Eyssens tido como arbitrário foi morto numa emboscada quando assistia a farinada no engenho Santo Antônio O principal responsável foi o capitão Francisco Rebello o Rabellinho Reagindo os holandeses procuraram apresentar combate no Tibiri o que foi evitado pelos lusobrasileiros que preferiram retrairse e recorrer a ataques rápidos e de surpresa Era a guerrilha Por conta desta os holandeses nunca se sentiram seguros na Paraíba salvo durante algum tempo na capital e mais tarde no interior da Fortaleza de Santa Catarina A repressão holandesa caracterizouse pela brutalidade Seus soldados a maioria dos quais mercenários entregaramse ao saque enquanto a Companhia das Índias Ocidentais decidiu aumentar a contribuição dos que não colaboravam Alguns engenhos e propriedades foram confiscados A pena capital foi igualmente aplicada e em 1645 o diretor geral Paul Linge responsável por enforcamentos mandou arrastar pela cidade o corpo de condenado que morrera na prisão A tensão somente amainou entre 1638 e 1644 durante a administração dos diretores Elias Herckman s e Gisberth Wirth Por essa época chegou ao Brasil o conde Maurício de Nassau que se instalou no Recife com artistas cientistas e estudiosos do melhor nível A capital pernambucana denominada Mauristadt Mauricéia cidade de Maurício foi embelezada com pontes palácios e jardins Seus chamados sobrados magros datam dessa época Visando a consolidar o Brasil neerlandês Nassau marchou para o sul da Capitania de Pernambuco a fim de tomando Porto Calvo destroçar o foco de onde partiam incursões sobre Pernambuco e Paraíba Os holandeses obtiveram então acesso aos campos de Sergipe onde estimulando o criatório melhoraram o abastecimento de carne da zona por eles dominada Atento à fome que atormentava os compatriotas Nassau procurou incentivar o cultivo de mandioca nos engenhos cujos proprietários foram obrigados a reservar áreas ao plantio desse vegetal Alguns autores nisso enxergam a primeira tentativa de reforma agrária no Brasil visto tratarse de providência destinada a limitar a monocultura açucareira O próprio Nassau esteve por duas vezes na Paraíba a segunda para dela despedirse em 1644 Na primeira em 1637 atribuiu à capitania brasão com seis pães de açúcar por reconhecer a excelência do dulcissimo açúcar paraibano Determinou a reconstrução do Forte de Cabedelo a melhoria do molhe e edificação de alguns armazéns no Varadouro mas foi só Protestantes calvinistas os holandeses não construíram Igrejas e menos ainda túneis fantásiosos entre a capital e Cabedelo como posteriormente propagado pela imaginação popular A contribuição material dos holandeses à Paraíba não equivaleu à que deram ao Recife Ainda assim o chamado período nassoviano significou fase de relativa estabilidade Os engenhos safrejavam e apesar das oscilações do preço do açúcar nos mercados internacionais os dízimos desse produto aumentaram em 1641 e 1642 Emancipados da Espanha em 1640 os portugueses encontravamse com as finanças abaladas de modo que alguns conselheiros do Rei como o padre Antônio Vieira o maior sábio do mundo luso da época elaboraram documento que propunha a preservação de todo Norte pelos holandeses que se absteriam de invadir o restante do Brasil e as possessões lusas no Oriente Esse documento ganhou a denominação de papel forte tão convincentes pareciam suas razões Na Paraíba os proprietários e altos funcionários beneficiários da invasão flamenga concordavam com seus termos Não foi esse porém o caso do jovem André Vidal de Negreiros Paraibano filho de proprietários portugueses participou da campanha antiholandesa de 1624 na Bahia onde sentou praça Em 1630 encontravase em Olinda quando os flamengos dominaram a cidade Novamente na Paraíba entre 1634 e 1636 nunca pactuou com invasor que o respeitava De 1636 a 1644 permaneceu em Portugal onde debalde tentou mobilizar os espíritos em prol da resistência Sem conseguir o intento retornou ao Brasil desembarcando na praia pernambucana de Tamandaré acima da qual em Santo Antônio do Cabo fez junção com as tropas pernambucanas de João Fernandes Vieira A luta doravante iria travarse em campo aberto e nela Vidal de Negreiros revelaria dons de estrategista Participante das duas batalhas dos Montes Guararapes figurou entre os chefes que receberam a rendição holandesa na Campina da Taborda Anteriormente não hesitara em atear fogo aos canaviais do próprio pai na Paraíba Sua carreira foi uma sucessão de êxitos Escolhido para levar a Portugal os resultados da insurreição contra os holandeses foi nomeado governador dos estados do Maranhão e Grão Pará que constituíam territórios independentes do restante do Brasil Em 1662 designaramno governador de Angola onde fortificou a capital Luanda Ao falecer em 1680 seus restos mortais foram depositados na Igreja Matriz de Goiana de onde foram translados para a Igreja dos Prazeres nos montes Guararapes Considerado um dos maiores Paraibanos de todos os tempos Vidal de Negreiros fezse indiscutível chefe da Guerra de Libertação Nacional que a insurreição contra os holandeses representou Com o afastamento dos espanhóis e retraimento dos portugueses a contenda ganhou feição nacionalista nela se verificando a primitiva formação da Pátria 26 Os escravos penetrações holandesas e triunfo brasileiro Há um refrão segundo o qual quando os de cima se havêm os debaixo se desavêm Foi o que aconteceu com as invasões holandesas no Nordeste Como atacantes e defensores não se dispusessem a alterar a ordem escravista os próprios negros aproveitaram as divergências dos dominadores para rebelarse Isso explica o surgimento durante a dominação flamenga do Quilombo dos Palmares que acossado pelos bandeirantes de Domingos Jorge Velho resistiria até as primeiras décadas do século XVIII Ao contrário do que se supõe os palmarinos não se limitaram à Serra da Barriga no atual Estado de Alagoas Irradiandose por toda zona da mata nordestina também constituíram centros de resistência e preservação da cultura africana na Paraíba Nesta em 1635 os holandeses já asseguravam aos moradores a manutenção de armas para defesa de quilombos e alevantados o que pressupõe a multiplicação dos núcleos de rebeldia As instruções governamentais de 1691 destinadas a acudir Domingos Jorge Velho e as recomendações de 1698 e 1741 revelam o temor dos possuidores em face da revolta dos despossuídos Vanguarda destes os escravos reuniramse no sítio denominado Cumbe nas proximidades do Espírito Santo Esse quilombo originário das guerras holandesas somente seria destruído em 1701 Também derivadas das invasões holandesas foram as primeiras tentativas de adentramento pela terra Notese que os holandeses não se fixaram no interior Mas realizaram penetrações por meio das quais tanto ultrapassaram a serra da Copaoba como alcançaram as vizinhanças da futura vila e cidade de Areia Para alguns autores o já referido Rouloux Baro subindo o curso do rio Paraíba chegou às nascentes deste no atual município de Monteiro onde entrou em contato com os grupos indígenas de Elias Herckmans objeto em 1982 de duas reedições ambas em João Pessoa Geógrafo poeta e cartógrafo Herckmans que na condição de Diretor da Companhia das Índias Ocidentais governou a Paraíba de 1636 a 1639 elaborou documento verdadeiramente modelar A primeira parte é dedicada à capital a segunda aos engenhos da várzea do Paraíba e a terceira aos costumes dos índios Tapuias Geografia Urbana Economia e Antropologia combinamse dessa forma harmoniosamente Todos esses relatos foram aproveitados por Gaspar Barleu biógrafo do conde Maurício de Nassau e historiador oficial da dominação holandesa no Nordeste Embora sem haver estado no Brasil Barleu teve seu livro História dos Feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil amplamente divulgado Outras precisas descrições da primeira metade do século XVII foram legadas pelos pintores flamengos entre os quais Zacarias Wagner não passava de medíocre Não foi esse o caso de Franz Post cujo estilo paisagista assegurou retratação de engenhos mangues e caminhos além de no caso da capital paraibana Fortaleza de Santa Catarina Varadouro e cercanias do Convento de Santo Antônio Outro grande pintor Eckhout retratista e detalhista fixouse nos tipos étnicos de negros e indígenas que constituíam a grande massa da população Um dos primeiros mapas da Paraíba foi de autoria do cartógrafo geógrafo e naturalista alemão Jorge Marcgrave que integrou a comitiva de Maurício de Nassau Espécie de assistente do médico holandês Guilherme Piso cuja extraordinária História natural e médica da Índia Ocidental em cinco livros lançou as bases da medicina tropical Marcgrave empreendeu com Piso pesquisas sobre plantas e animais que prepararam as teorias evolucionistas das Ciências Naturais no século XIX BIBLIOGRAFIA BÁSICA 1 RODRIGUES José Honório Civilização holandesa no Brasil S Paulo Companhia Editora Nacional 1940 e Historiografia e bibliografia do domínio holandês Rio de Janeiro Departamento de Imprensa Nacional 1949 o primeiro dos quais com a colaboração de Joaquim Ribeiro Considerado o mais paraibano dos escritores não paraibanos o que decorreu da penetração nessa parte do Brasil de teses particularmente ampliadas pelo Grupo José Honório Rodrigues duas obras de José Honório interessam de perto à Paraíba Em Civilização holandesa no Brasil flui a questão da liberdade dos mares básica para a expansão capitalista neerlandesa Já Historiografia e bibliografia do domínio holandês analisa os autores que se ocuparam da invasão flamenga figurando entre eles o paraibano Irineu Pinto patrono do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano 2 PRADO J F de Almeida A conquista da Paraíba São Paulo Companhia Editora Nacional 1965 Embora eivado de incorreções esse livro cresce quando se debruça sobre problemas internacionais como a presença dos barcos do sindicato Ango no litoral paraibano no século XVI e a posterior invasão holandesa da Paraíba tema de onze de seus vinte e um capítulos Situa com destaque a participação dos judeus nos preparativos da presença flamenga e problemas econômicos e políticoadministrativos desta 3 Série I Os Rios do Açúcar do Nordeste Oriental ANDRADE Manuel Correia de II O Rio Mamanguape Recife IJNPS 1957 e Andrade Gilberto Osório da III O Rio Paraiba do Norte Recife IJNPS 1959 Como no restante do Brasil e no mundo os rios tornaramse fundamentais para estabelecimento das civilizações A Paraíba litorânea viuse polarizada por dois cursos dágua o Paraíba e o Mamanguape como agentes da fixação do homem através de engenhos e penetração por meio de currais Estudando esses rios em toda amplitude desde o início da colonização até o século XX Manuel Correia de Andrade diante do Mamanguape e Gilberto Osório em face do Paraíba perfizeram duas monografias da mais alta significação 4 MONTEIRO Vilma dos Santos Cardoso Pequena História da Paraíba João Pessoa Editora UniversitáriaUFPB 1975 Recorrendo a temática econômicosocial quase ausente de estudos anteriores como a História da Fortaleza de Santa Catarina 1972 Cardoso Monteiro legounos já falecida estudo de boa qualidade Parcela de História da Paraíba que deixou incompleta o livro ocupase dos holandeses em seis das dez unidades 5 MELLO José Octávio de Arruda Org et al Capítulos de História da Paraíba João Pessoa Secretaria de EducaçãoO Norte 1987 Os estudos de Terezinha Pordeus De 1580 a 1640 a Paraíba Felipina Balila Palmeira Roteiro do Domínio Holandês Wellington Aguiar A ocupação Flamenga 163454 Aspectos SócioEconômicos e Culturais e Luiz Bronzeado Elias Herckman o Pioneiro cobrem a primeira metade do século XVII na coletânea intitulada Capítulos de História da Paraíba Resultante de edição especial de O Norte a 5 de agosto de 1985 em homenagem ao IV Centenário da Paraíba sob a coordenação de Evandro Nóbrega os Capitulos dotados de uma introdução quatro livros treze partes dezesseis unidades cento e quinze colaborações e seiscentas e sessenta páginas constituem o maior repositório de informações sobre a Paraíba e obra dificilmente encontrada no conjunto da Historiografia brasileira 6 COSTA Cláudio Santa Cruz Aspectos econômicos da ocupação holandesa na Paraíba João Pessoa A Imprensa 1957 As motivações açucareiras da invasão holandesa no quadro das relações internacionais do capitalismo mercantil constituem o fulcro dessa monografia do antigo catedrático de Economia Política de escolas superiores da Paraíba Recorrendo a historiadores e cronistas que se ocuparam da presença flamenga no Nordeste Santa Cruz Costa registra a sociedade da época e as contradições econômicosociais que opuseram burguesia rural nativista e prestamistas holandeses 7 HERCKMANS Elias Descrição geral da capitania da Paraiba João Pessoa A União Cia Editora 1982 Um dos mais importantes documentos referentes à Paraíba em todos os tempos o relatório do diretor da Companhia das Índias Ocidentais distinguese por caráter simultaneamente geográfico e urbano econômico e antropológico Em 1982 a Descrição motivou além da publicação acima indicada a cargo da dupla Marcus Odilon Ribeiro Coutinho Wellington Aguiar bem cuidada edição da Procuradoria da Justiça do Estado sob coordenação do então procurador Luís Bronzeado 8 AQUINO Aécio Vilar de Felipeía Frederica Paraíba Os cem primeiros anos de vida social de uma cidade João Pessoa Fundação Casa de José Américo 1988 Como embutido nos título e subtítulo estuda a capital paraibana quando seu nome variou de Felipeía de Nossa Senhora das Neves na fundação para Frederica com o domínio holandês e Paraíba depois da restauração portuguesa De feição social e antropológica detémse sobre os Antecedentes da Fundação da Cidade Da Cidade e dos seus Arredores e Dos habitantes da cidade e cercanias Premiado em concurso do IV Centenário da Paraíba mereceu outra publicação em 1988 a cargo do Banco do Nordeste do Brasil 9 MEDEIROS FILHO Olavo No rastro dos flamengos Natal Fundação José Augusto 1989 Historiador do Rio Grande do Norte pertence ao Instituto Histórico local e autor de livros de importância para a região como Velhas famílias do Seridó 1981 e Índios do Seridó e do Açú 1984 Medeiros Filho incorporouse à Historiografia paraibana com a monografia acima Nela sequenciando Coriolano de Medeiros em Os holandeses como exploradores da Paraíba preparado para Congresso de História da América do IHGB em 1922 reconstitui o trajeto das penetrações holandesas à serra da Copaoba e região do Cariri bem como a ânsia dos flamengos por riquezas minerais e peripécias de Roulox Baro e Jacob Rabbi 10 MELLO José Octávio de Arruda A Escravidão na Paraíba Historiografia e História preconceitos e racismo numa produção cultural João Pessoa A União Superintendência de Imprensa e Editora 1988 Nessa monografia destinada ao estudo histórico e ideológico da Paraíba a partir da escravidão e prevenções argüidas contra o negro o século XVII ganha capítulo intitulado A Visão Holandesa Com base nos cronistas historiadores pintores e antropólogos da época demonstrase que os holandeses empenhados em otimizar a produção açucareira jamais tencionaram suprimir o trabalho servil Tanto assim que antes de invadir o Brasil ocuparam Angola como principal fonte de suprimento de escravos BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 1 ANDRADE Manuel Correia de A terra e o homem no Nordeste 2ª ed São Paulo Editora Brasiliense 1964 2 BRANDÃO Ambrósio Fernandes Diálogos das Grandezas do Brasil com introdução e notas de José Antônio Gonçalves de Mello Neto Recife Editora Universitária 1966 3 MELLO NETO José Antônio Gonsalves de Tempo dos flamengos 2ª ed Recife BNBSECPE 1974 4 CAVALCANTI Manoel Tavares Epitome de história da Paraíba Parahyba Imprensa Oficial 1914 5 AQUINO Aécio Vilar de Três capitanias do Brasil rendem mais que o comércio com a Índia In Correio das Artes suplemento literário de A União nº 205 João Pessoa 10 de setembro de 1983 p6 com reedição a 2 de dezembro de 1983 6 MOREAU Pierre e BARO Rouloux Histórias das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses e relação da viagem ao país dos Tapuias com tradução e notas de Léda Boechat Rodrigues São PauloBelo Horizonte EDUSP Livraria Itatiaia 1976 7 XAVIER Lauro e MELLO José Octávio de Arruda A agricultura paraibana de Irineu Pinto aos dias atuais in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano nº 25 João Pessoa UFPBEditora Universitária 1991 8 LIMA José Fernandes de A lealdade e o heroísmo do índio potiguara Pedro Poti João Pessoa 1990 9 FREIRE Maria das Neves Padilha do Prado Baía da Traição A Acajutibirá dos Potiguara João Pessoa 1985 10 ZENAIDE Hélio Vidal de Negreiros o Bravo dos Bravos Vidal de Negreiros o íntegro governador do Maranhão e GrãoPará Mas afinal onde nasceu André Vidal de Negreiros e O primeiro marajá da Paraíba era português in respectivamente O Norte de 8 e 19 de fevereiro de 1975 O Momento de 15 de outubro de 1989 e O Norte de 19 de maio de 1991 o último dos quais referente a João Fernandes Vieira O que os holandeses legaram à Paraíba que perdura até nossos dias No início do século XVII a Paraíba estava experimentando um crescimento lento mas estável em 1601 havia cerca de oitocentos colonos e catorze mil índios aldeiados pelos franciscanos na região os colonos eram responsáveis por quatorze engenhos de açúcar enquanto os índios cuidavam das plantações de alimentos os engenhos enviavam vinte e dois barcos de açúcar anualmente para Pernambuco gerando uma receita significativa a Fortaleza de Santa Catarina já estava equipada com armas e as despesas administrativas eram divididas entre a Igreja funcionários do governo e a milícia o cultivo de canadeaçúcar era lucrativo devido às terras férteis e à mão de obra indígena e escrava utilizada nas plantações e moendas Vinte e dois anos depois em 1634 a exploração do paubrasil se intensificou nas matas da Baía da Traição e do Mamanguape enquanto a região inferior do rio Mamanguape era utilizada para a criação de gado o número de engenhos aumentou para dezoito sendo apenas dois na área de Mamanguape perto dos rios Camaratuba e Miriri os outros estavam espalhados pelo vale do Paraíba aproveitando a extensa rede de afluentes alguns dos quais eram navegáveis ao sul da capital perto dos rios Mumbaba e Gramame já existiam aldeias indígenas e criação de gado incluindo bois carneiros cabras e porcos No contexto do comércio internacional havia uma disputa entre os holandeses e as potências ibéricas Portugal e Espanha Enquanto Portugal e Espanha defendiam o conceito de mar fechado e o monopólio de suas frotas nações como Inglaterra e Holanda defendiam a ideia de mares abertos e a liberdade de comércio os holandeses em particular estavam proibidos de frequentar os portos da Península Ibérica devido a conflitos com a monarquia espanhola A riqueza açucareira do Brasil despertava o interesse dos holandeses que buscavam contornar o monopólio ibérico e expandir seu domínio marítimo Os holandeses possuíam uma organização econômica e financeira avançada e pretendiam estender seu domínio globalmente Além disso a presença holandesa na região nordeste do Brasil era atraente para os judeus sefarditas que já haviam estabelecidose na Paraíba eles eram adeptos do calvinismo que promovia a liberdade de consciência religiosa o que era favorável aos cristãosnovos judeus convertidos que estavam sob a ameaça do Tribunal do Santo Ofício os cristãos novos na Paraíba viram nos holandeses a possibilidade de maior liberdade religiosa Os holandeses fizeram várias tentativas de desembarque assim estabeleceram uma guarda de soldados no convento dos franciscanos Além disso eles promoveram medidas para garantir o controle da economia e explorar os recursos da região a administração holandesa trouxe mudanças significativas para a Paraíba foram estabelecidos impostos sobre a produção e comércio do açúcar visando obter lucros e fortalecer a economia holandesa os engenhos de açúcar foram requisitados e colocados sob administração holandesa enquanto os proprietários portugueses foram forçados a pagar tributos Eles investiram na expansão da produção de canadeaçúcar buscando aumentar a rentabilidade da colônia Além disso eles incentivaram a imigração de colonos holandeses oferecendo terras e benefícios fiscais para atrair novos habitantes No aspecto político a Paraíba foi incorporada ao domínio da Companhia das Índias Ocidentais uma das companhias comerciais mais poderosas da época os holandeses estabeleceram um governo centralizado com a nomeação de um governadorgeral e a criação de uma estrutura administrativa para controlar a região Os habitantes locais tanto os brancos como os indígenas e negros tiveram que se adaptar às novas condições impostas pelos holandeses houve resistência por parte da população nativa principalmente dos tapuias que se sentiram ameaçados pela presença dos invasores essa presença holandesa na Paraíba durou cerca de 24 anos até 1654 quando a região foi retomada pelos portugueses Durante esse período os holandeses deixaram sua marca na cultura na economia e na história da Paraíba mas também enfrentaram desafios e conflitos com a população local a dominação holandesa na Paraíba faz parte de um contexto mais amplo de disputas entre as potências coloniais europeias pelo controle das riquezas e rotas comerciais das Américas esses eventos históricos tiveram um impacto significativo no desenvolvimento do Brasil colonial e na formação de sua identidade nacional