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Os flamengos os holandeses a América contribuições neerlandesas no novo mundo Anderson Leon Almeida de Araújo Bom é Jesus Cristo Melhor é o Comércio1 Para o início da dissertação explicase o que são holandeses e o que são flamengos dois tipos apresentados num paradoxo são semelhantes e diferentes convergentes e divergentes ao mesmo tempo Para entender esses dois tipos característicos é preciso entender como se dá o próprio processo histórico dos Países Baixos antiga Províncias Unidas Flamengos e holandeses tem a origem em comum porém através das transformações históricas acabam por se dissolver em duas identidades opostas politicamente e religiosamente mas que muito tem em comum culturalmente De certo modo é preciso explicitar que flamengos são todos aqueles vindos da parte sul do reinado borgonhês católicos aliados a Felipe II e a Espanha presentes nas Américas exercendo variadas funções desde trabalhos da manufatura até altos cargos públicos holandeses são aqueles habitantes do norte do reinado borgonhês calvinistas separados do domínio espanhol que estarão de fato colonizando três áreas principais das Américas a América do norte Manhattan o Caribe Antilhas Holandesas Aruba Bonaire Curaçao Saba Sant Eustatios e Sant Martten e a América do Sul Suriname Berbice Essequibo Demerara e Brasil Mesmo que exista essa distância principalmente no aspecto políticoreligioso flamengos e holandeses ao se tratar de América estavam unidos através da língua e de certos aspectos culturais O que precisa ser entendido é que os flamengos e os holandeses mantinham entre si uma relação de amizade em territórios espanhóis e portugueses muitos desses laços eram formados apenas pelo fato do encontro entre semelhantes advindos de uma mesma terra que falam a mesma língua ou tem muito de sua cultura e história em comum Eis duas grandes ousadias a primeira flamenga onde esse povo aventurase em terras ibéricas na América estando sempre sob os olhares estranhos e principalmente sob o olhar da 1 CORDOBA BELLO Eleazar Compoñias holandesas de navegación agentes de la colonizacion neerlandesa Sevilla Escuela de Estudios Hispanoamericanos 1964 p 122 santa inquisição que via nos neerlandeses um inimigo relativamente perigoso a fé católica e ao processo de colonização americano de certo nem o colono espanhol e nem o colono português apreciavam a presença de colonizadores estrangeiros em posses ibéricas A segunda grande ousadia parte dos holandeses que após a reforma protestante se separam da casa imperial dos Habsburgos fundando um governo baseado no liberalismo econômico muito advindo da visão calvinista daquela sociedade lançase ao mar em busca daquilo que lhe foi restringido uma fatia no comércio americano e nas rotas atlânticas impondo sempre sua ótica liberal nessa relação mercantilista Percebese e buscase mostrar nessa pesquisa como os neerlandeses flamengos e holandeses participaram agiram e transformaram a história americana A conjuntura Neerlandesa préamericana A construção do agente colonizador Para iniciar o estudo sobre a presença flamenga e colonização holandesa nas Américas é de essencial importância entender quem eram os holandeses e que eram os flamengos e que aglomeração humana era essa com significada importância nas navegações pelos oceanos e nas explorações e comércios mundo afora De início não podemos falar de um Estado unificado e conciso com um governo central estabilizado como era Portugal no século XV e XVI Os Países Baixos como se pensa e concebe se hoje é uma criação contemporânea de meados do século XIX Não é possível nem sequer usar o termo Países Baixos que atualmente designa apenas o território holandês esse termo não abrange a outra área da pesquisa a atual Bélgica O que podemos dizer é que essa região que atualmente conhecemos por Bélgica Holanda Luxemburgo e partes da Alemanha e França em uma certa época há alguns séculos atrás formavam um bloco de ducados e principados que se viram unidos sob o pavilhão da casa borgonhesa e subsequentemente ao pavilhão da casa Austríaca dos Habsburgos Tais principados e ducados que mantinham certas relações de semelhanças mantinham também relações de diferenças Até tentouse formar um reino borgonhês unificado e conciso aos moldes do que seria feito na Espanha pelos reis católicos mas a partir de encontros e desencontros apenas causados pelas metamorfoses do processo histórico a unificação Neerlandesa acabou por não acontecer fazendo surgir dois dos objetos da pesquisa o flamengo e o holandês dois tipos tão distintos quanto semelhantes de certo modo irmãos que separados na Europa em alguns casos voltaram a ser aliados em terras novas Não se pode negar o processo de pensamento erasmiano das terras neerlandesas2 não há como negar toda uma tradição renascentista presente nos artífices de flandres e províncias vizinhas Eis que são duas identidades irmãs que separadas por questões burocráticas na Europa manteriam contato estrito e muitas vezes restrito construindo novas experiências no Novo Mundo De pequenos condados a casa Imperial de Habsburgo Geograficamente durante a idade média os Países Baixos estavam compreendidos pelas terras ao redor dos estuários do Reno Mosa e Escalda3 tais terras atualmente são divididas pela Holanda Bélgica Luxemburgo e áreas da França e Alemanha Esse grande território estava dividido politicamente em um grande número de condados ducados e principados4 onde na alta idade média florescem importantes cidades e centros comerciais como Flandres Depois de um largo período de desordem social e política a casa monárquica borgonhesa unifica parte desse território no final do século XIV particularmente em 1384 com o Duque de Borgonha Felipe II O temerário Vêse a unificação de Flandres Artois Nevers Francocondado Antuérpia e Malines Seus sucessores ampliaram a herança que em 1433 incluía Holanda e Zelândia5 Ainda no século XV surge em terras borgonhesas uma grande industria naval famosa por suas urcas e os centros comerciais floresceram como Amsterdã Haarlem Haia Delft e Roterdã6 Porém apenas Carlos o temerário tentou de fato construir um Estado neerlando borgonhês7 o que não conseguiu realizar devido à sua morte em 1477 nesse episódio todos os 2 Durante toda a pesquisa buscase mostrar essa diferença política entre flamengos e holandeses diferença essa que interfere no modo como os ambos participaram da colonização americana porém em muitos textos historiográficos flamengos e holandeses são tratados como uma unidade Alguns textos discorrem sobre holandeses e simultaneamente trocamse os termos e passase a utilizar o termo flamengos Certo afirmar que holandeses e flamengos não formavam uma unidade política mas para os olhos dos próprios holandeses e flamengos e para todos aqueles europeus que mantiveram contato com esses tipos característicos durante os séculos XVI a XVIII flamengos e holandeses constituíam a mesma cultura o mesmo povo Ou seja a divergência existia de fato interferia em suas relações políticas porém pelo censo comum holandeses e flamengos formavam uma pseudounidade caracterizada sempre pelo tino comercial técnico e humanista Por isso evitarseá nesse trabalho usar ambos os termos de modo displicente para não gerar confusões ou discrepâncias Em caso geral o termo a ser utilizado para designar ambos os tipos será neerlandeses termo esse que sintetiza tal cultura 3 LOYNHR Org Países Baixos IN Dicionário da Idade Média Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed1997 p 285 4 Ibidem p 285 5 Ibidem p 286 6 Ibidem p 286 7 LOYNHR Org Flandres IN Dicionário da Idade Média Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed1997 p 149 territórios pertencentes a casa de Borgonha passaram a sua filha Maria de Borgonha que neste momento já estava casada com Maximiliano da Áustria fato que une definitivamente as casas imperiais de Borgonha e Habsburgo A partir daí a unificação NeerlandoBorgonhesa não seria mais possível Da casa de Habsburgo e da dominação espanhola aos tratados de Atrecht e Utrecht divisão política FlamengosHolandeses Da união entre Maria de Borgonha e Maximiliano da Áustria nasce o Herdeiro da casa imperial dos Habsburgos o Arqueduque Felipe o belo Joana a louca princesa moça da casa dos reis católicos da Espanha casase com o Arqueduque Felipe selando enfim a união da casa de Castela e Aragão com a casa dos reis de Áustria e das terras neerlandesas Após uma sucessão de tragédias na linha sucessória da casa dos reis católicos a coroa recai sobre a cabeça de Joana E apenas após a morte da rainha Isabel no final de 1504 Joana e Felipe regressam definitivamente a Castela chegando no porto de La coruña em 26 de abril de 1506 Alguns meses após a coroação e com um reinado recheado de intrigas com a corte espanhola o ArqueDuque Felipe falece em 25 de setembro de 1506 Pelo grave estado mental de Joana o governo Espanhol e das terras Neerlandesas esteve nas mãos do rei Fernando de Aragão até a maioridade do príncipe Carlos primeiro filho de Joana e Felipe nascido no ano de 1500 em Gante uma das cidades neerlandesas Carlos príncipe e herdeiro de um grande império permaneceu na corte borgonhesa e foi educado ali por cavalheiros flamengos escolhidos pelo seu avô o imperador Maximiliano8 Carlos herda todo o império Espanhol e suas colônias além mar em 1516 após a morte de seu avô Fernando e em março do mesmo ano Carlos e sua mãe são coroados como reis católicos em Bruxelas Em Castela foi coroado passando a ser chamado por Carlos V A casa de BorgonhaHabsburgo tomara sua posse das terras Espanholas e assim abrese o caminho para a presença Neerlandesa nas Américas Neste momento os Habsburgos tomam posse de grande parte da Europa o que torna a missão de governar simplesmente algo impossível Não se tinha o controle sobre as terras na Europa e sofriase grande pressão por parte dos outros Estados no próprio continente E a partir daí é gerado um descontentamento generalizado no interior e no exterior do império gerando conflitos e dissoluções Felipe II em 1556 herda de seu pai Carlos V a Espanha parte da Itália e as terras Neerlandesas Sempre usando da força e da violência para controle social principalmente após a 8 Ibidem P 149 reforma protestante onde tornouse virtualmente impossível separar o poder político das tendências religiosas existente nas rivalidades que assolaram o continente nesse período9 Felipe II educado em corte Espanhola adotara um caráter de defensor da fé católica infligindo assim pulso forte quanto a questão protestante no interior do império porém ele não levou em consideração a vastidão deste território as diversas culturas e no caso neerlandês não respeitou a posição calvinista daquela comunidade Essa posição firme quanto à questão calvinista é vista principalmente na característica da administração eclesiástica que possibilitou a Felipe II vigiar fortemente a Igreja nos Países Baixos Com isso ele não só interveio em questões religiosas como também cortou privilégios da alta nobreza10 Felipe II criou novos impostos e colocou tropas espanholas em solo neerlandês causando insatisfação entre a população que se revolta em 1561 Começa assim uma guerra entre o rei e seus súditos resistentes entre o catolicismo e o calvinismo As províncias católicas do sul composta pela população Flamengo Valôna acordaram em 1579 com o rei Felipe II um tratado onde selavam o compromisso de fidelidade ao soberano e a fé católica tal tratado chamase União de Atrecht Assinado no mesmo ano a União de Utrecht separava sete províncias do norte das terras neerlandesas do resto das províncias flamengas ou seja separavase assim o reino Neerlandês composto por 17 províncias e ao mesmo tempo abalavase a situação com a corte Espanhola As províncias do norte calvinistaburguesas criaram sua própria união a República Unida da Holanda Na prática isso significou a separação da Espanha Oficialmente porém as Províncias Unidas só proclamaram sua autonomia em relação à monarquia espanhola a 26 de julho de 1581 num manifesto publicado em Haia11chamado Ata de Abjuração estava iniciado o processo de ruptura com a corte espanhola que perdurou durante toda Guerra dos trinta anos até a assinatura do Tratado de paz de Vestfália em 1648 em que a coroa Espanhola reconhece a soberania das 7 Províncias unidas do norte Os Países Baixos do Norte e do Sul serão reagrupados novamente apenas após a primeira parte das guerras napoleônicas com o fim da primeira coligação ambos territórios tornaramse República da Batávia e com a revolta holandesa de 1813 a jovem república passa a 9 KENNEDY Paul Ascenção e queda das grandes potências Transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000 Tradução de Waltensir Dutra Rio de Janeiro Elsevier 1989 16 reimprenssão p41 10 GESSAT Rachel 1581 Holanda se liberta da Espanha httpwwwdwworlddedwarticle0214431968600html visitado em 10112009 às 2138hs 11 Ibidem httpwwwdwworlddedwarticle0214431968600html visitado em 10112009 às 2138hs ser reconhecida com Reino dos Países Baixos porém com as várias revoluções acontecidas na década de 1830 a atual Bélgica Países Baixos do Sul separase mais uma vez da Holanda Do ideal separatista a unificação nacional O antagonismo do comércio De certo os motivos para a formulação dessa nova formação políticosocial poderá ser interpretada de duas formas a primeira esta baseada na idéia de que a Holanda era formada por uma sociedade protestante unificada entendendo aí como uma unidade políticareligiosa pela qual os holandeses lutaram pela separação da Espanha grosso modo podemos dizer que esse fator possa ter contribuído para a separação dos Países Baixos mas ao analisar a colonização holandesa nas Américas percebese que a religião não era o eixo central capaz de influenciar o ato de separação da coroa espanhola Os ideais calvinistas como uma economia liberal foram de encontro com uma sociedade baseada nas relações comerciais dadas em Flandres durante a idade média ou seja o calvinismo encontrou um terreno fértil para instalar suas raízes ou partindo de outra perspectiva os comerciantes e banqueiros neerlandeses encontraram uma religião que apoiava os ideais liberais de comércio e empréstimo bancário fundamentados pelo processo histórico da região Desta forma o calvinismo aparece apenas como um elo fortalecedor dos ideais comerciais daquela cultura Concluindo a corte espanhola ao perseguir os protestantes neerlandeses infringindo altos tributos fiscais estavam ao mesmo tempo entrando em conflito com uma burguesia local forte e influente que em certo momento busca a separação As sociedades com fracos aparelhos estatais como o Império e os Países Baixos independentes encontraram num conjunto de formas culturais compartilhadas entre os seus respectivos habitantes um elemento cultural decisivo de unidade12 que quanto aos holandeses mostra um estudo recente que muito poucos correspondiam ao tão reiterado estereótipo do burguês poupado austero e puritano mas que ao invés formavam uma sociedade muito heterogênea onde a sobriedade e o esforço conviviam com o excesso de anarquia13 Ou seja culturalmente os holandeses se mostravam unidos em torno de uma prática comercial desenvolvida na idade média e não numa unidade religiosa Tal identidade comercial engrandeceu as cidades neerlandesas quando ao passo que se dá a reforma encontram se nestas 12 PUJOL Xavier Gil Centralismo e localismo Sobre as relações políticas e culturais entre capital e territórios nas monarquias européias dos séculos XVI e XVII IN HESPANHA A M ORG Penélope Fazer e Desfazer História Edição Cosmos n 6 1991 p 141 13 Ibidem p 141 novas doutrinas religiosas a base para o desenvolvimento comercial liberal na Europa e nos oceanos O principal porto neerlandês e principal centro econômico da região era o localizado na cidade de Amberres vizinha a Flandres Com a pressão espanhola e consequentemente as guerras religiosas e separatistas fazem com que este centro econômico seja transferido de Amberres para Amsterdã Não foi apenas o porto que migrou para o norte também a grande malha burguesa flamenga de cidades como Bruxelas Gante Flandres e a própria Amberres simpatizantes dos ideais calvinistas e do progresso que essa religião pudesse causar em suas relações comerciais migraram para as províncias de Amsterdã Holanda e Zelândia Formando em si um Estado sintetizado pela força exercida pelos burgueses capitalistas14 que muitas das vezes e como muitas vezes será visto neste trabalho os interesses econômicos em busca do lucro estão acima dos ideais de defesa da nação recém construída visto que comerciantes da cidade de Amsterdã durante e após as guerras de religião vendem material bélico para a Espanha e para a França grandes inimigas das Províncias Unidas A Monarquia fundada pela casa dos príncipes de Orange conduz os holandeses à unidade e consequentemente a noção de defesa nacional porém em nada a monarquia poderá fazer para frear o liberalismo econômico presente principalmente nas sociedades de ações que permitiam a participação de todo e qualquer comerciante inclusive daqueles comerciantes advindos de países declarados inimigos da nação holandesa Sendo assim os flamengos do sul assim como Portugal e Brasil desde 1580 continuaram subjugados a Espanha e ao governo dos Felipes E as Províncias Unidas Holandesas do norte tornaramse inimigas da corte Espanhola e consequentemente da portuguesa e da brasileira e de todos os vicereinados espanhóis em América e todas as possessões e feitorias em África e Ásia Os flamengos do sul católicos participaram da colonização espanhola e portuguesa nas Américas Já os holandeses do norte calvinistas buscam através da grande industria naval e do seu tino comercial a conquista e colonização independente nas Américas Caribe América do Sul e América do Norte Identificar esses povos neerlandeses na presença e na colonização da América e como foi tal relação com Espanha e Portugal são os temas dos próximos capítulos 14CORDOBABELLO Eleazar Companhias holandesas de Navegação agentes da colonização neerlandesa Sevilla Escuela de Estúdios HispanoAmericanos 1964 Compañias Holandesas de Navegación agentes de la colonización neerlandesa Os flamengos nas colônias dos Felipes No capítulo anterior foi traçado o caminho dos Países Baixos e das 17 províncias Neerlandesas através das relações com a casa dos Habsburgos e consequentemente com o reino espanhol tal relação traumática divide o reino Neerlandês em dois o sul católico e aliado à Espanha flamengos e o norte rebelde calvinista e separado do reino espanhol holandeses O que buscaremos nesse capítulo é a presença flamenga ou seja aqueles aliados à Espanha nas Américas espanhola e portuguesa Tais flamengos serão encontrados em maior número nos vicereinados espanhóis na América mas não será raro encontrar flamengos em missões católicas no Brasil ou então trabalhando nas rotas comerciais da América portuguesa Precisase ter em pensamento o caráter conservador e religioso da corte espanhola principalmente quanto aos domínios nas Américas Ao passo que se dá o descobrimento da América a rainha Isabel proíbe a entrada ou o comércio com todos aqueles não espanhóis tal medida não encontra eficácia e os flamengos chegam em terras do novo mundo onde passam a constituir famílias e se fincar socialmente para reverter essa situação a coroa espanhola toma algumas medidas uma forma de permitir aos estrangeiros permanecerem nas Índias foi por meio de um pagamento ao tesouro fórmula que se chamou de composición Esta composición requeria cumprir alguns requisitos como ter uma permanência prolongada no lugar de residência e ter se casado com uma mulher natural ou residente nas índias15 Aqueles que estivessem de acordo com o critério legislativo deveriam pagar uma quantia em dinheiro para receber a autorização de permanência e aqueles que não estivessem de acordo com tal legislação deveriam ser deportados de volta a Europa o que nem sempre aconteceu pelo caráter flexível dos vicereinados Poucos também foram os flamengos que participaram da composición provando a ineficiência do programa De fato antes mesmo do tratado de Atrecht os flamengos já pisavam em solo hispanoamericano principalmente pela influência de Carlos V e com a assinatura do tratado de Atrecht e o tratado de Utrecht tal relação sustentase no paradoxo de amizade e desconfiança Na teoria os flamengos continuavam aliados mas na prática todo flamengo era visto como um holandês herético isso não impede as 15 CHAMOT Eduardo Dargent Presença Flamenga na América do Sul colonialUniversidad San Martin de Porres Lima Peru 2001 p27 Presencia Flamenca em la Sudamérica colonial relações comerciais entre colonos espanhóis e flamengos e não impede também que flamengos alcancem cargos privilegiados como é o caso do governador da província cubana Santiago de Cuba e da província Venezuelana de Nova Andaluzia Carlos de Sucre y Pardo nascido em Flandres e do Vice Rei do Peru Teodoro Francisco de Croix também nascido em Flandres Poucos são os flamengos de que se têm relatos porém aqueles presentes nos relatos desempenharam papéis de certa importância para os vicereinados estando ativos em várias funções desde marinheiros mercadores mineiros e artesãos até padres artistas e o vicerei já citado De certo modo os colonos e o próprio governo vicereinal procuravam sempre nos flamengos o caráter técnico não encontrado entre os espanhóis vemos quando os artilheiros flamengos eram buscados e selecionados pelos espanhóis graças a sua habilidade no ofício16 Sobre esse assunto é importante ter em mente o caráter mercenário presente nos exércitos típico das monarquias absolutistas que não visavam armar seus cidadãos e por isso contratavam soldados e marinheiros nascidos em outras partes da Europa inclusive dentre os flamengos Ao permitir a entrada de um flamengo no exército espanhol ou em terras espanholas nas Américas ou quando se tratava de um matrimônio entre um flamengo e uma colona espanhola ou qualquer que seja o cargo ou função em alguma possessão espanhola o requisito mínimo e mais importante era ser praticante da fé católica Em caso de dúvida quanto à fé do estrangeiro um novo batismo era realizado aos olhos dos espanhóis pois não se confiava no batismo feito em terras neerlandesas de certo modo esse exemplo é apenas um reflexo de como se olha com desconfiança todo e qualquer estrangeiro No caso dos flamengos esse novo batismo era mais frequente dado o caráter desconfiado com todos aqueles que vinham de terras neerlandesas e que podiam ter alguma ligação com a ideologia calvinista De certa maneira os flamengos não eram os mais fiéis súditos do reino espanhol e da fé católica visto os diversos piratas flamengos a serviço da coroa britânica Um relato bastante interessante é o do guardião Flamengo da ponte que cruzava o rio Apurímac estrutura de importância estratégica transcendental para o vice reinado já que era a via que unia Lima a Cusco17 não se sabe seu nome sua origem ou o porque de ocupar tal cargo sabese apenas que se tratava de um flamengo que contribuiu com preciosas informações aos corsários holandeses quando estes começaram a rondar as terras espanholas na América o ponto chave desse relato é o fator lingüístico que unia os 16 CHAMOT Eduardo Dargent Presença Flamenga na América do Sul colonialUniversidad San Martin de Porres Lima Peru 2001 p52 Presencia Flamenca em la Sudamérica colonial 17 CHAMOT Eduardo Dargent Presença Flamenga na América do Sul colonialUniversidad San Martin de Porres Lima Peru 2001 p61 Presencia Flamenca em la Sudamérica colonial pichilingues18 como eram chamados os holandeses pelos espanhóis e os seus vizinhos flamengos Além dos piratas flamengos servindo aos interesses britânicos e dos flamengos espiões que vão formar laços com seus irmãos holandeses ainda há o caso daqueles que renegavam a fé católica ou eram considerado hereges o próprio vicerei Teodoro de Croix quando ainda residia no México ocupando um importante cargo público foi intimado pelo tribunal da inquisição por ler alguns livros proibidos aos católicos O caso do flamengo residente no Panamá Juan de Bernal acusado de ser luterano que ao manter se fiel a sua fé não seguindo os conselhos de seu advogado e enfrentando o tribunal acabou queimado vivo em 1581 Mas nem sempre a igreja católica agiu de forma abrupta com os nobres flamengos visto que vários deles foram recebidos em terras da colônia seguindo os princípios religiosos de ordens católicas para catequisar construir arquitetar ensinar e constituir um grande legado para as gerações futuras principalmente nos estudos e nas artes Através das missões flamengos chegaram a terras espanholas trazendo além das tradições católicas a ilustração erasmiana digna dos Países Baixos e da região de Flandres Um desses flamengos importantes para o processo histórico das terras americanas é o franciscano Joost Rijcke ou Jodoco Ricke natural de Malinas chegou à cidade americana de Tumbes em 1535 e em 1536 funda as bases para o monastério franciscano em Quito A fama de civilizador de Rikce é tão grande que ao ler tudo o que se diz é impossível descartar a ideia de que se está de frente a um herói mítico civilizador no qual se mescla a realidade com a fantasia É atribuída a Ricke no Equador a introdução do arado de bois dos ladrilhos e das telhas de varias plantas comestíveis entre as quais se destaca o trigo ao que outros opinam que foi o centeio Guardava se em Quito uma copa na qual segundo a tradição trousse o frade o cereal Há aqueles que asseguram que foi Frei Jodoco que construiu a primeira cervejaria do novo mundo algo que não nos deva surpreender por ser esta bebida muito de acordo com os gostos flamengos19 Além das funções religiosas esses padres vão ser essenciais para a colonização cultural da América implantando estilos artísticos arquitetura e transmitindo o pensamento do humanismo clássico por onde passavam Outros flamengos importantes em solo americano são aqueles que vão estar a serviço do exercito e da marinha os conhecimentos tecnológicos presentes na sociedade neerlandesa fazem com que marinheiros sejam buscados nessas terras fora o caráter do exército mercenário muito 18 Ibidem p61 19 CHAMOT Eduardo Dargent Presença Flamenga na América do Sul colonialUniversidad San Martin de Porres Lima Peru 2001 p8283 Presencia Flamenca em la Sudamérica colonial próprio dessa época Esses mesmos conhecimentos tecnológicos levam artífices para a América espanhola e portuguesa onde terão funções de suma importância Vêse também uma ligação comercial entre colonos brasileiros e flamengos Inicialmente há o relato de um banqueiro da cidade de Antuérpia flamengo e que possuía um engenho de açúcar chamado São Jorge e localizado na capitania hereditária de São Vicente estava intimamente ligado com o comércio de açúcar como todos os flamengos e holandeses Os colonos portugueses na América utilizavam naus flamengas e holandesas que eram mais capazes20 são as conhecidas urcas flamengas ou até holandesas e zelandesas que depois de 1575 vão adquirir papel cada vez mais assinalado no comércio com o Brasil21 Visto que as urcas neerlandesas eram mais eficazes para o trabalho de ligação entre a metrópole e a colônia eram essas naus na maioria das vezes as escolhidas para tal trajeto colocandose de lado as caravelas lusitanas isso provoca a preocupação do rei que em 1605 proíbe através de uma lei régia essas viagens feitas por estrangeiros com intuito comercial para a América portuguesa o grande medo era que as caravelas portuguesas tornassem se inutilizáveis e quando fosse necessária a utilização destas não haveria homens hábeis para o manuseio além do medo que esses estrangeiros pudessem levar informações acerca da América ibérica para territórios inimigos principalmente depois do tratado de utrecht em que os países baixos tornaramse inimigos das possessões ibéricas Em todo caso temiamse mais os holandeses que os flamengos já que estes últimos permaneciam aliados à coroa espanhola e sob o jugo dos Felipes Porém através desse fato percebemos que as terras neerlandesas possuíam um aparato de marinharia ativo que poderia realizar trajetos como os das rotas atlânticas O resultado obtido nessa operação é que o comércio entre Brasil flamengos e holandeses ficou abalado Mesmo assim o comércio com urcas flamengas e holandesas continuou a fazer o trajeto entre Brasil e os Países Baixos do Norte as províncias unidas neerlandesas atendendo a pedido de mercadores lusitanos estabelecidos em Amsterdã e considerando que seria de interesse das províncias unidas prosseguirem num comércio altamente lucrativo confirmaram em junho de 1581 uma decisão já anterior que possibilitara o referido intercâmbio Por essa medida a todo e qualquer português que assim o desejasse era dado sem risco para a sua vida ou propriedade livre trânsito nos Países Baixos do Norte assim como residência e prática ali no comércio Nova 20 HOLANDA Sérgio Buarque de PANTALEÃO Olga Franceses holandeses e ingleses no Brasil quinhentista In HOLANDA Sérgio Buarque de ORG História geral da civilização brasileira Tomo I A época colonial Volume I Do descobrimento a expansão territorial Bertrand Brasil Rio de Janeiro 2003 13 Edição p 184 21 Ibidem p184 confirmação obtiveramna os mercadores dos Estados Gerais em fevereiro de 1588 extensivas agora aos portugueses domiciliados não apenas em Antuérpia isto é nos Países Baixos Espanhóis mas também em outras terras22 Sobre essa atividade marinheira e intercâmbios comerciais participativos na colonização das Américas será discutido nos próximos capítulos De todo modo flamengo e holandeses estiveram presentes nas colônias ibéricas em América mas até esse ponto eles não praticaram ativamente uma colonização no sentido amplo do termo Colonização holandesa nas Américas Foi observado no capítulo anterior que os flamengos estiveram ativamente presentes em solo americano em colônias espanholas e portuguesas mas podese perceber também que os holandeses mesmo não se firmando em solo ibérico na América como os flamengos estiveram ativos nessa relação EuropaAmérica Utilizando sua arte de navegar os holandeses aproveitaram o seu dom comercial para firmarse em solo americano Durante as próximas passagens serão esclarecidos esses dois pontos principais que caracterizam a colonização holandesa a navegação e o comércio Desde muito antes da descoberta das Américas a Holanda estava ligada à água salgada as aventuras no mar a pesca a tecnologia marítima e a arte da guerra naval Da mesma forma o interesse comercial interligava diretamente os diversos territórios do mundo europeu através do que foi chamado por associações comerciais De fato o crescimento desse aporte navegador atendido por essa sede comercial faz com que os holandeses conheçam o atlântico o índico e o pacífico e colonizem várias paragens mar afora Compreendese que o lançarse ao mar holandês não foi em sentido de aventura a busca de novos territórios ou de realizar uma colonização com cunho religioso Mas pelo contrário todas as rotas galgadas através dos oceanos pelos holandeses já constavam como de conhecimento dos mesmos já tinham sido descobertas nelas já havia feitorias e vilas portuguesas e espanholas Ou seja a Holanda apenas seguiu uma colonização já feita inicialmente por outros colonizadores buscando sempre espaços já colonizados onde já havia uma base de produção e comércio formado Buscavam sempre núcleos de povoamento ou um 22 Ibidem P 185186 forte abandonado uma estrutura físicasocial préconstruída ou então dependendo da ambição e do lucro uma capital já estruturada O Mar holandês Durante grande parte do processo histórico holandês a sua economia estava voltada para o mar inicialmente para a pesca e depois para as ligações comerciais que iam do Mar Báltico a Cabo Verde entrando pelo mediterrâneo até as costas da Turquia e Palestina Muitas dessas viagens eram organizadas por mercadores neerlandeses das cidades de Amberres e de Amsterdã Em outros casos os barcos eram contratados por mercadores de várias outras nacionalidades dessa forma alugando as ótimas embarcações para transporte de cargas a serviço de portugueses e espanhóis que os navegadores holandeses chegaram às terras além dos mares europeus Conhecendo as rotas os sistemas de ventos e navegação e os territórios formados os holandeses preparados com as mais bem feitas embarcações e apoiados segundo as companhias comerciais daquele país lançamse ao mar em busca de um objetivo único comercializar Mar de Arenques A economia neste trecho do norte da Europa em períodos que a agricultura não florescia e que o inverno secava a terra dirigiase ao mar mas especificamente para a pesca de arenques e outros pescados O arenque de certa maneira tornouse um símbolo holandês e sua produção e conservação dependiam do sal extraído da salina portuguesa de Setúbal Tal pesca exigia um grande grau técnico visto que o mar norte impunha difícil navegação no inverno Desta forma a navegação neerlandesa surgiu e se especializou Mar Tecnológico Quanto a essa especialização a partir do século XVI é sabido que com o desenvolvimento da pesca e do comércio os neerlandeses em seus estaleiros vão construir barcos específicos para cada tipo de atividade existia o barco para pesca na Groelândia os grandes barcos comerciais que deveriam estar preparados para suportar o frio da Sibéria e o calor da costa africana as pequenas embarcações pesqueiras da região as naus de guerra De certo é afirmar que na Holanda fomentouse um incrível desenvolvimento tecnológico da navegação superando em larga escala o grau de desenvolvimento visto nas naus portuguesas Mar de Serviços Esses barcos não eram somente produzidos para satisfazer a navegação e o comércio Holandês eles eram contratados por outras nações para o transporte de mercadorias Essa prestação de serviços efetuada pelos holandeses iniciase com o próprio comércio pelos mares da Europa No final do século XVI com uma demanda de navegação colonial crescente aumentase o fluxo de contratação dos barcos holandeses É necessário ter em mente que capitão e tripulação presente nesses navios eram de origem neerlandesa Dessa forma os holandeses conheceram as feitorias e postos comerciais europeus nos novos mundos e finalmente tiveram contato com as cartas geográficas secretas pertencentes a Portugal divulgandoas pelos Países Baixos Assim as companhias são criadas para a participação ativa dos holandeses nesse comércio transoceânico repetindo principalmente a rota de colonização portuguesa estabelecendo feitorias próximas às feitorias deste Império em África e Ásia Mar de Guerras A Holanda foi mais temida no mar que em terra para as nações colonialistas dos séculos XVI e XVII23 bem visto o impressionante número de 16000 mil embarcações holandesas pelos mares do mundo sendo a Holanda vista no início do século XVII como a maior potencia mundial Podese observar que a guerra contra a Espanha beneficia o exército e a navegação holandeses 1 O crescimento tecnológico das urcas holandesas especializadas na arte da guerra 2 Espanha sai enfraquecida dessa guerra com a legitimidade da independência holandesa o seu poder decresce na Europa 3 Durante a guerra uma das estratégias era interceptar todo e qualquer navio espanhol em qualquer mar do planeta ao acontecer tal fato nas rotas AméricaEuropa os holandeses colocavam suas mãos sobre os preciosos baús de ouro e prata espanhóis extraídos das minas sulamericanas Mar dos Marinheiros e dos Mercenários Nas embarcações holandesas formaramse os principais marinheiros da Europa estes que eram contratados para participar de expedições de reconhecimento e exploração dos territórios recém descobertos pelas duas nações ibéricas da mesma forma por muito tempo os especializados guerreiros holandeses do mar foram contratados como mercenários por Portugal e Espanha para que se fizesse a defesa dos seus respectivos territórios coloniais Esses marinheiros e mercenários levaram muito desse conhecimento sobre tais terras para os Países Baixos A sedutora América e as sociedades de Ações 23 CORDOVABELLO Eleazar Compañias Holandesas de Navegación agentes de la colonización neerlandesa Sevilla Escuela de Estúdios HispanoAmericanos 1964 P18 Agora se sabe como as Províncias Unidas descobrem as colônias europeias em América e outras feitorias pelo mundo E ao usar a sua ampla capacidade navegadora modificaram as relações entre metrópole e colônia e interferiram de modo direto nas colonizações portuguesas e espanholas De certo após a fixação das colônias ibéricas em América todos os outros países europeus que vão começar a se dedicar a este objetivo colonizador acabam por interferir direta e indiretamente no processo histórico dessas possessões bem estruturadas Holandeses ingleses e franceses principais agentes da colonização americana após espanhóis e portugueses modificam a paisagem de territórios não ocupados por estes últimos constroem fortificações implantam comércio agricultura algumas vezes pirataria contrabando e cada vez mais criam conflitos que ora estendem se no sentido EuropaAmérica ora no sentido AméricaEuropa Grosso modo essa é uma época de transformações na América há momentos de vacas gordas e outros de depressão que transformam a cara das colônias Na Europa a formação dos Estados as guerras religiosas seguidas pelas revoluções inglesa francesa e as guerras napoleônicas abalam as estruturas políticas das metrópoles todavia não procurarseá aqui discutir as transformações políticas da Europa apenas quando essas transformações alteram as relações existentes nas Américas Em especial a colonização holandesa de início foi efetivada através de um sistema de pirataria e em seguida adotase o sistema das companhias comerciais das índias ocidentais tal Cia deveria dedicarse a colonização baseada principalmente da realizada no Brasil porém observase que na maioria dos casos a colonização holandesa seguiu sempre em direção ao lucro algumas vezes dá se a entender que os holandeses buscavam hostilizar a Espanha outras vezes a colonização holandesa mostrase bem estruturada politicamente mas na maioria das vezes tal processo mostrase desleixado a metrópole não se interessa em construir um império povoar ou simplesmente produzir em terras americanas não se interessam pela agricultura e muito menos em implantar a sua cultura e religião nas colônias Aos poucos através dos próximos relatos poderá ser visto como a colonização holandesa se dá de modo tão diferente de norte a sul das Américas O filibusterismo Pirataria lucrativa e defesa dos interesses nacionais A partir dos serviços prestados aos ibéricos os holandeses alcançam a América e junto com eles o desejo pelo comércio e pelo lucro muito construído pelos relatos das magníficas terras além mar terás que produziam ouro prata e madeira para construção de navios onde poderiam se comercializar com indígenas e colonos desprovidos de auxilio de suas respectivas coroas E assim a sedutora América encanta os burgueses das Províncias Unidas que vão a busca de riquezas rápidas no mar atlântico Estava feito assim o convite assim como uma sereia conduz o navio e sua tripulação para o naufrágio os holandeses foram se enamorando pelo Novo Mundo E então pequenas frotas dedicamse ao filibusterismo ou seja não eram apenas operações piratas que se dedicavam ao simples assalto em busca de presas mas além disso buscavam defender os interesses políticos do Estado A guerra ainda ativa com a Espanha leva a interceptação dos galeões com bandeira espanhola e com o saque destes encontramse os tão desejados metais preciosos que eram repartidos conforme um código secreto Assim ao mesmo tempo o filibusterismo intimidava e enfraquecia o poder espanhol na Europa e na América A primeira Companhia das Índias Ocidentais e os ideais de Guillermo de Uselinx Em 1551 ainda em terras neerlandesas abrese uma bolsa de valores que aceitava investimentos de mercadores de todas as nações sem restrições e mesmo após a guerra de separação tal medida continua em vigor Além da bolsa surgem as primeiras sociedades de ações em terras holandesas sendo a primeira a Moscovie Company em 1554 formada por 240 ações de 25 libras cada realizava viagens comerciais com destino a Prússia os lucros eram divididos em partes iguais Esse tipo de sociedade não estimulava a competição mas sim algo mais lucrativo o auxílio mútuo entre comerciantes Assim as primeiras companhias comerciais começaram a ser fundadas sendo uma delas a Companhia das Índias Ocidentais idealizada por Guillermo de Uselinx comerciante navegador que esteve em solo americano diversas vezes A princípio Guillermo acreditava que no Novo mundo pudessem ser criados colônias de agricultores com o objetivo de sustentar a Europa para ele o grande exemplo a ser seguido era a colônia portuguesa do Brasil acreditava também que a riqueza não estava em metais preciosos mas na produção de gêneros básicos a subsistência Uselinx propunha então a tomada de possessões espanholas e portuguesas dava o exemplo da tomada da Guiana com o objetivo de povoála com famílias alemãs e dos Países Bálticos sugestão essa que não foi aprovada pelo Estado Holandês que na época queria manter a trégua dos doze anos para ele a nova colônia estava destinada a ser um bem para os perseguidos um refúgio para a honra das mulheres e filhas dos expulsos de seus países pela guerra e pelo fantasma religioso e uma benção para o homem do povo e para todo o mundo protestante24 Sobre o trabalho empregado nessas colônias Uselinx pensara num sistema em que 24 CORDOVABELLO Eleazar Compañias Holandesas de Navegación agentes de la colonización neerlandesa Sevilla Escuela de Estúdios HispanoAmericanos 1964 P203 os ameríndios seriam trabalhadores assalariados e pela sua análise sobre as colonizações na América ele percebe que nas Índias se executam a maior parte do trabalho por meio de escravos que custam muito trabalham com resistência e morrem logo que sofrem maus tratos de seus amos estava seguro de que seria muito proveitoso o uso de um povo livre Além do mais o escravo não deixa outro proveito que seu trabalho porque sendo desnudo nada adquire e nem necessita das industrias25 Essas eram as idéias de Guillerme de Uselinx militante calvinista que tinha por objetivo ver uma colonização holandesa nas Américas de certo modo a Cia saiu do papel a 3 de Julho de 1621 porém seus ideais não foram alcançados e nem se tentou colocálos em prática Os fracassos das ideias de Uselinx se dão porque o que seria produzido em colônias holandesas poderia ser comprado da Espanha e de Portugal a um menor custo que o processo de colonização por essa febre do lucro a Holanda de fins do século XVI e do XVII desperdiçou na América a oportunidade que brindava a sua organização naval e seus incalculáveis recursos econômicos para assentar as bases de um império colonial26 assim a pirataria continuaria sendo a atividade mais lucrativa para os holandeses apenas entre os anos de 1632 e 1636 a Cia Capturou 542 barcos inimigos para esse bom serviço estavam a serviço da Cia 800 barcos e 67000 marinheiros e soldados Além disso para a colonização ser efetuada teriam que lidar com os indígenas americanos não tão desenvolvidos socialmente quanto os asiáticos e que o clima tropical americano não servia para a produção das especiarias asiáticas Tabaco e açúcar eram os principais produtos cultivados nesse clima Ainda assim durante os séculos XVI XVII XVIII e princípios do XIX as índias ocidentais eram mais valiosas que as índias orientais além desses mesmos produtos cultivados em solo americano a viagem a esse continente era mais rápida que às índias asiáticas faziase ali a interceptação de galeões espanhóis e realizavase o apresamento de seus carregamentos era também o lugar de escoamento para a produção holandesa não consumida no oriente e o lucrativo comércio de escravos visto que no oriente não se compravam escravos Portanto apesar do não seguimento dos ideais de Guillermo de Uselinx a companhia das índias ocidentais agiram no atlântico de melhor forma que a Companhia das índias orientais agiram no índico e no pacífico Lembrase aqui que a Companhia das índias ocidentais agia tanto 25Ibidem P203 26 Ibidem P34 em solo americano quanto em solo africano fornecendo escravos para as colônias no Novo Mundo África feitorias e comércio escravo nas Américas Desde o século XVI neerlandeses freqüentavam a costa africana e com o aumento da circulação em mares atlânticos no início do século XVII a Holanda toma posse de um pequeno trecho na Guiné onde neste local construíram o forte Nassau a partir daí holandeses passam a ocupar diversos locais no litoral da África durante a ocupação do Brasil na década de 1630 se conquistaram importantes territórios como São Jorge de Minas a ilha de São Tomé e Angola de certo a posse de terras na África gerou inúmeros conflitos entre as nações colonizadoras porém não cabe aqui se estender nesse assunto O importante é perceber que a partir desse ato inicial a Holanda passa a ser um importante distribuidor de escravos africanos no Novo Mundo ou seja o comércio de escravos será um dos motores principais para a colonização da América Existiram três rotas principais do comércio escravo Holandês Uma rota que seguia para Curaçau onde dali partiam os escravos para a Guiana Venezuela Colômbia Costa Rica e Caribe o trato nesta área aumenta em consequência da retirada holandesa do Brasil Uma outra rota ia a direção do Brasil esta permaneceu ativa até 1654 ano de expulsão dos holandeses de Pernambuco E uma terceira era vista na Nova Amsterdã que também servia de entreposto comercial para os colonos ingleses da Virgínia Esses escravos foram deveras usados nas colônias holandesas principalmente no Brasil quando em meados de 1630 os colonos naturais da Holanda conservavam certa aversão escravidão um tanto influenciados pelos ideais liberais do comércio assim como o visto no pensamento de Guillermo de Uselinx e também pelos ideais calvinistas Porém com o tempo a escravidão em território holandês era vista como uma característica comum àquela sociedade os grandes exemplos estão explícitos na quantidade de escravos presentes no Suriname e em Curaçau A Nova Amsterdã Utopia em Manhattan É interessante observar a descoberta feita pelos holandeses da Companhia das Índias Orientais Holandesas efetuada no mesmo ano em que ocupam o trecho da Guiné no litoral africano Em 1612 uma pequena frota das Províncias Unidas liderada pelo Capitão inglês Henry Hudson procurando uma rota mais segura ao oriente do que o Cabo da Boa Esperança adentra pelo rio que atualmente têm o nome em sua homenagem Antes da ocupação da região em 1620 os comerciantes holandeses começaram o trato de escravos com produtores ingleses de tabaco instalados na Virgínia Esse exemplo mostra o caráter comercial da colonização exercida pelas Províncias Unidas na América Os próximos a entrar nesse enlace comercial foram os indígenas na região não havia ouro e nenhum tipo de metal precioso mas o que chamava a atenção dos ostentosos holandeses era a grande quantidade e a maravilhosa qualidade das peles adquiridas nessa localidade Precedendo as 13 colônias inglesas este território foi comprado pela companhia das índias ocidentais por um preço ínfimo acordado com os indígenas da região sendo a partir daí conhecido como Nova Amsterdã A pequena ilha de Manhattan em particular era uma região inóspita desértica selvagem e nada convidativa um verdadeiro pântano insalubre Porém detinha uma importância geográfica singular ocupava a foz do rio Hudson formado a partir dos Grandes lagos e era um excelente porto natural Controlar a foz do rio significava controlar a entrada de produtos com destino ao interior da mesma forma este território permaneceu sendo um entreposto comercial holandês entre África e as colônias inglesas do sul E é a partir de 1625 começa uma rápida ocupação holandesa na região que se estendia desde do que é atualmente a cidade de Albany ao norte até a baía de Delaware ao sul o que hoje é reconhecido pelos estados norteamericanos de New York New Jersey Connecticut Pensilvânia e Delaware Desde cedo a colonização foi feita com o assentamento de famílias holandesas e de outros povos europeus O número de estrangeiros chegou a conformar 50 da população dando vida a uma verdadeira Babel que reunia além dos holandeses os ingleses escoceses dinamarqueses suecos noruegueses e alemães Porém essa colônia saía da rota lucrativa do filibusterismo contra galeões espanhóis por isso mostravase não ser muito vantajosa aos interesses da metrópole e negava o constante caráter de guerra contra a bandeira da Espanha ou seja a colônia na América do norte não servia aos interesses imediatos das Províncias Unidas e então aos poucos a colônia passou a ser abandonada pela Companhia das índias e pelo governo holandês Os imigrantes começaram a fazer uma ocupação mais ofensiva e começam a surgir as constantes desavenças entre calvinistas e luteranos Em 1664 os ingleses tomam Nova Amsterdã chamandoa de Nova York em 1665 começa a segunda guerra angloholandesa dando motivos para que em 1667 as Províncias Unidas cedessem efetivamente a colônia de Nova Amsterdã aos Ingleses através da Paz de Breda Acabavase aí a utopia do povoamento em Manhattan porém a população das 13 colônias inglesas durante o século XVII e início do XVIII continuou sendo ¼ composta de estrangeiros na maioria deles holandeses e suecos Saberes adquiridos na Nova Holanda Conquista e colonização do Brasil Países Baixos e Portugal sempre mantiveram um bom contato comercial até o momento em que os reis espanhóis durante a união ibérica bloquearam o comércio entre os dois países com a trégua dos doze anos 1609 1621 o comércio foi restabelecido e os holandeses puderam novamente entrar em contato legal com terras brasileiras aumentando assim o número de embarcações neerlandesas em portos principalmente os da Bahia e de Pernambuco grandes centros comerciais da época e ao mesmo tempo grandes produtores de açúcar Durante esse período 50000 caixas de açúcar foram levados de terras portuguesas aos Países Baixos do Norte E em 1621 ao final da trégua e retomada da guerra e consequentemente do bloqueio imposto pela Espanha e da criação da Companhia das Índias Ocidentais os holandeses decidem tomar o Brasil Numa ação planejada27 os holandeses atacam a Bahia em 1624 porém são logo expulsos por forças espanholas e portuguesas o mesmo não acontece no ataque a Pernambuco em 1630 a principal e mais rica região produtora de açúcar no mundo de então Existiam aí e nas capitanias vizinhas mais de 120 engenhos que nas melhores safras davam mais de mil toneladas do produto28 ocupamse Olinda e Recife facilmente mas na zona rural onde habitavam os grandes produtores a conquista se da com dificuldade da mesma forma na restauração a zona rural é rapidamente anexada pelos portugueses ainda em 1645 enquanto que a zona urbana só será restaurada em 1654 A colônia de Nova Holanda continuou a sua expansão no Brasil sob a administração do Governador Capitão e AlmiranteGeneral das terras conquistadas ou ainda por conquistar pela Companhia das Índias Ocidentais no Brasil assim como todas as forças de terra e mar que a Companhia aí tiver29 ou apenas Conde João Maurício de Nassau onde além de Pernambuco outras mediações foram conquistadas como Sergipe e Maranhão 27 GONSALVES DE MELLO José Antônio O domínio holandês na Bahia e no Nordeste IN HOLANDA Sérgio Buarque de ORG História geral da civilização brasileira Tomo I A época colonial Volume I Do descobrimento a expansão territorial Bertrand Brasil Rio de Janeiro Bertrand Brasil Ltda 2003 13 Edição P 262 28 Ibidem p 262 29 Ibidem p 264 De certo um grande administrador mente renascentista tolerante com católicos foi comparado a santo Antônio tolerou estrangeiros e portugueses A tolerância aos costumes portugueses como o catolicismo e a escravidão foi motivada pelo simples fato de que não seria possível mudar as relações sociais de uma forma tão brusca então concessões foram feitas aos costumes e práticas lusitanas principalmente no meio urbano Quanto aos judeus mesmo que se mostrasse uma certa repulsa por parte de católicos e protestantes nada estes últimos poderiam fazer já que os israelitas estavam sob a proteção do governo holandês por formarem uma comunidade economicamente muito poderosa tão poderosa que tal repulsa acreditase não seja causada por motivos religiosos mas por motivos da ordem econômica já que ao chegar no Brasil os Judeus começaram a montar suas bancas de empréstimo e comércio disputando assim a clientela holandesa A colonização teve um caráter comercial não que isso tenha evitado o crescimento da produção de açúcar porém na colonização portuguesa a aristocracia rural detém maior destaque na pirâmide social do Brasil O que não é visto na colonização holandesa onde os setores comerciais urbanos alcançam um maior status na sociedade De certo há um investimento em Recife Olinda e na Cidade Maurícia construída e planejada pelos holandeses construíramse pontes diques praças jardins públicos tudo no modelo holandês apenas fugia a regra uma igreja francesa e o governador fez o zoológico o museu de belas artes o jardim botânico incentivou as ciências e artes reformandose assim aquilo que os holandeses chamaram de Burgos Tristes30 A escravidão foi mantida mesmo contra os princípios calvinistas e durante 1630 e 1635 enquanto se colocava em prática a ocupação holandesa instalouse na colônia o que se chamou de Estado Anárquico31 ou seja uma fuga em massa de escravos para os mocambos principalmente os mocambos dos palmares Nada foi feito a favor dos escravos sabese que até a expulsão dos holandeses grande parte do trato de escravos realizado pelos mesmos tinha como único destino à Nova Holanda Brasileira Depois de inúmeras batalhas para defesa da colônia e com a entrada da Holanda na primeira guerra contra a Inglaterra em 1652 pelas rotas comerciais na América surge em 1654 a grande oportunidade de tomada do Brasil pelas forças portuguesas os holandeses não mostram 30 GONSALVES DE MELLO José Antônio Tempo dos Flamengos Influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil Rio de Janeiro Topbooks UNIVERSIDADE Editora 2001 4edição P 39 31 Ibidem P 186 resistências e da colônia em Pernambuco só sobram as experiências e saberes adquiridos sobre a plantação cultivo e refino do açúcar que brevemente serão utilizados no Caribe holandês Curaçau O coração rubro nas Américas e as outras pequenas Antilhas Em 1499 1500 os holandeses passaram pela primeira vez diante da ilha de Curaçau e viuse nela o que futuramente seria o seu objeto de desejo Como já discutido aqui para a produção de Arenque os holandeses necessitavam do sal vindo de Setúbal em Portugal com o bloqueio comercial imposto pela Espanha os holandeses não puderam buscar o tão estimado sal português então lembraram das Antilhas de uma em especial na costa venezuelana chamada pelos portugueses de Curaçau contase que ali marinheiros moribundos de um navio português foram tratados e ficaram de repouso alcançando assim a cura Curação este é o primeiro nome da ilha que após dominação espanhola e holandesa passou ser conhecida como Curaçau As pequenas ilhas caribenhas ou anteilhasantilhas não foram valorizadas pelos espanhóis primeiramente por não oferecer ouro depois pelo fato da grande agressividade indígena dessa região os índios Arawaks e Ciboney eram mais temidos que os índios das grandes ilhas além de não possuírem água potável todas as forças e energias espanholas estavam dirigidas as conquistas no continente São seis as ilhas colonizadas pelos holandeses as ilhas de barlavento ou ABC Aruba Bonaire e Curaçau e as ilhas de sotavento San Martten Saba e Sant Eustáquio De fato a partir de 1625 iniciase a colonização das pequenas Antilhas pelos franceses ingleses e holandeses A primeira ilha a ser conquistada pelos zelandêses é a de Sant Eustáquio em 1632 logo após em 1634o navegador holandês Johannes Van Welberck tomou Curaçau a conquista se deu facilmente já que haviam apenas 32 espanhóis e alguns indígenas na ilha era de certo um dos melhores portos da região e um ótimo ponto para combate aos espanhóis fortificaram a ilha e em 1636 tomaram as ilhas vizinhas de Aruba e Bonaire Em 1640 conquistam a ilha de Saba esta não possuía porto mas penhascos que ajudavam na defesa e por último em 1648 tomaram a ilha de San Martten muito valorizada com ótimas salinas e de fácil penetração foi dividida entre holandeses e franceses Pensaram tomar também a ilha de Sant Thomaz mas voltaram atrás pela falta de defesa da ilha Em 1642 já residiam nas Antilhas 100000 europeus Os ingleses e franceses buscam na América uma nova oportunidade de vida um refúgio para a liberdade de religião porém os holandeses no entanto vieram como comerciantes e intermediários Eles não tinham um desejo real de constituir novos lares ou mesmo um império já haviam lutado pela liberdade e pela tolerância na Europa e haviam vencido Mas desejavam encontrar um mercado para o seu comércio crescente e um meio de utilizar o seu poderio marítimo que havia crescido enormemente durante a sua longa luta contra a Espanha32 De fato a chave para entender a importância das Antilhas para a Holanda é o comércio Exemplificando em 1601 108 urcas neerlandesas dirigiramse a Curaçau e a costa venezuelana mas especificamente na região das salinas de Cumaná buscavam o sal mas ao mesmo tempo contrabandeavam produtos europeus para essa região e como um coração holandês no centro da América bombeava produtos para toda região do Caribe É preciso entender que durante este período havia pouca vigilância espanhola nos mares daquela região ao mesmo tempo a Espanha não fazia uma distribuição comercial freqüente para os colonos Grosso modo estava unido então o útil ao agradável os holandeses traziam produtos vindos da Europa e da África como tecidos e escravos E assim Curaçau e as Antilhas tornaramse verdadeiros centros distribuidores de contrabando para a América espanhola portuguesa e inglesa Usavam a insatisfação dos crioulos para manter o contínuo contrabando desarticulando as províncias forneciam material bélico para rebeliões em posses espanholas Muitas vezes as patrulhas venezuelanas entravam em combate com os contrabandistas holandeses mas se sabe que o contrabando chegou a constituir uma instituição fonte de corrupção das autoridades metropolitanas encarregadas da vigilância na América33 Curaçau também se tornou um estaleiro para a construção de navios de guerra aumentando assim o número de ataques à costa venezuelana não como filibusterismo mas como expedições armadas para a tomada das regiões inabitadas forma se uma influência naval muito forte sobre os territórios espanhóis do caribe tanto que quando os espanhóis procuram defender seus territórios e repreender o contrabando através das chamadas patrulhas venezuelanas os próprios comerciantes crioulos não aprovam tal medida pois estes obtinham muitas vantagens em manter o comércio com os holandeses Vêse então que o contrabando atingiu escalas estratosféricas a Venezuela fornecia produtos agrícolas como cacau e couro e Curaçau produtos industrializados até que em 1638 32 HANSON HISS Philip Índias ocidentais holandesas Curaçau e Surinam IN LANDHEER Bartholomeus ORG A Holanda Rio de Janeiro Seção de livros da empresa gráfica O Cruzeiro SA 1947 P 382 33 CORDOBABELLO Eleazar Compañias Holandesas de Navegación agentes de la colonización neerlandesa Sevilla Escuela de Estúdios HispanoAmericanos 1964 P115 Curaçau passa a ser o principal centro distribuidor de mão de obra escrava no Caribe entre 1650 e 1750 chegaram a Curaçau vindo da Angola e da Guiné 20000 escravos por ano Até o ano de 1654 Curaçau figurava apenas como intermediário no mar caribenho entre a África e o norte da América do sul Costa Rica e Santo Domingo quando holandeses e judeus portugueses expulsos do Brasil aportam nas pequenas ilhas trazendo consigo o cultivo do açúcar desenvolveram a agricultura e o comércio e com o assentamento de famílias começa o trabalho escravo novamente nada se faz a favor do escravo a igreja calvinista procura convertêlos e durante os séculos XVII e XVIII chegam à ilha jesuítas e franciscanos venezuelanos que instalaram o matrimonium clandestinum já que aos escravos era proibido o matrimônio mas nada mudaria a situação social do escravo até que em 1795 realizase uma revolução escrava aos moldes da ocorrida no Haiti porém não alcança sucesso Interessante expor que nas Antilhas havia dois tipos de escravos os particulares empregados em serviços domésticos e na agricultura e os escravos do Rei empregados na desgastante exploração das salinas e nos serviços públicos No momento da abolição da escravatura em 1863 havia 6751 escravos em Curaçau Em 1775 durante a independência das colônias inglesas na América do norte as ilhas de Sant Eustáquio e Curaçau desempenharam importante papel como porto de transbordo de insurretos e de abastecimento das colônias rebeldes tal iniciativa levou a um grande progresso a essas ilhas porém a ilha de Sant Kitts que fica a vista do porto da ilha de Sant Eustáquio era uma possessão inglesa e de lá os ingleses perceberam o indesejado comércio com navios de bandeira Norteamericana de início a Inglaterra não assumiu a guerra prontamente de fato já estavam ocupados demais com as guerras com os Estados Unidos e a França mas em 1780 iniciase a quarta guerra angloholandesa onde as Antilhas Holandesas foram tomadas pelos ingleses Ao desembarcar no porto de Sant Eustáquio e espantado com a quantidade de contrabando o governador inglês da ilha de Sant Kitts Almirante Roodney exclamou Se não fosse Sant Eustáquio a revolução Americana não poderia se manter34 Com o fim da guerra angloholandesa as Antilhas e o Suriname ficaram destruídos e tornaramse posses britânicas começa então as guerras napoleônicas e com a conquista francesa sobre os holandeses formase a República da Batávia levando o antigo Caribe holandês às mãos francesas Já em 1806 Luiz Bonaparte tornase Rei dos Países Baixos em 1813 após a revolta da Holanda Guillerme de 34 HANSON HISS Philip Índias ocidentais holandesas Curaçau e Surinam IN LANDHEER Bartholomeus ORG A Holanda Rio de Janeiro Seção de livros da empresa gráfica O Cruzeiro SA 1947 P 389 Orange é coroado Rei Guillerme I com a assinatura em 1814 do tratado de Paris as Antilhas e o Suriname voltam a ser possessões holandesas nas Américas porém sem aquele vigor de antes Com o comércio arruinado e a queda de produtividade abandonamse as fazendas e Curaçau passa por uma grave crise de fome em 1816 que termina com a abolição do comércio escravo em 1819 Domando a Costa Brava Suriname um mosaico étnico na Américas A costa brava foi descoberta por aventureiros espanhóis que seguiam a rota de Colombo e foi no ano de 1593 sob boatos de fabulosas riquezas que Domingo de Vera toma posse das Guianas em nome da coroa espanhola a partir daí até 1683 a costa brava permanece indomada A área da costa brava estendiase desde o Orinoco e o Rio Negro a oeste ao sul com o Amazonas ao norte e leste com o atlântico e obteve o título de brava pelo simples fato de ser baixa e insalubre impossibilitando a colonização no litoral De fato durante esse grande espaço de tempo algumas povoações foram fundadas com Berbice em 1627 e Esequibo em 1632 todas nas margens de rios nunca no litoral propriamente dito Em 1615 os primeiros holandeses desembarcam perto da foz do rio Surinam e constroem uma pequena feitoria mas logo abandonam a região o mesmo aconteceu com os ingleses em 1630 e 1650 com os franceses em 1640 e com os Judeus portugueses que chegam em 1666 trazendo com eles o cultivo do tabaco e do açúcar Após a segunda guerra angloholandesa iniciada em 1665 e da Paz de Breda em 1667 é acordado que toda a costa brava passa a ser posse das Províncias Unidas mas particularmente da província holandesa da Zelândia enquanto a Nova Amsterdã na foz do rio Hudson tornase colônia britânica Então neste mesmo ano ao dia 26 de fevereiro o capitão holandês Abraham Crijnssen conduz a sua frota pelo rio Surinam A segunda Companhia das Índias Ocidentais compra a costa brava dos zelandêses no ano de 1682 e cede terça parte do direito da colonização à cidade de Amsterdã e terça parte à família Van Aerssen Em 1683 embarca rumo a Guiana o futuro governador Aerssen Van Sommeldjik e até a sua morte em 1698 a costa brava encontravase domada Ao chegar naquele mesmo ano na América do sul deparouse com uma colônia composta por 27 casas sendo mais da metade lojas de bebida e o forte Zelândia ocupado por marinheiros e soldados que viviam umas vidas sossegadas O governador então começou sua grande revolução organizou expedições fazendo com que a Companhia se instalasse de fato em todas quatro principais regiões Surinam Esequibo Demerara e Berbice venceu as guerras contra os indígenas expandiu a colonização fundou núcleos de povoamento e fomentou a imigração Na década de 1680 começa então uma relação de amor e ódio entre holandeses e índios caribes os primeiros realizavam ataques planejados contra embarcações com bandeiras espanhola e portuguesa para cativar os indígenas e estes vendiam escravos capturados em guerras tribais principalmente contra os Poytos para os holandeses Isto gera um clima de amistosidade entre ambas as partes e por muito tempo holandeses e caribes seguem aliados na escravização de indígenas Os caribes passam a viver nas periferias das plantações holandesas capturando escravos que tentassem a fuga Porém a sede de lucro e a ganância holandesa fazem com que o estoque de mão de obra escrava seja desviado para o contrabando com o Brasil começa então o processo de escravidão dos índios caribes Esta atitude gera descontentamento e diversos ataques são realizados contra os holandeses enfim estoura uma verdadeira guerra civil que termina com a morte do governador Sommeldjik em 1698 Ao final da luta há um notável decréscimo da população indígena e um grande aumento da população escrava africana vinda da Angola do Congo e de Senegal ao mesmo tempo em que se implanta o cultivo de algodão Em 1712 a capital Paramaribo é tomada pelos franceses liderados pelo capitão Jacques Cassard tal ato tornase oportunidade para fuga e revolta escrava indígena e africana aos colonos holandeses altos impostos são cobrados todos esses fatores contribuem para o abandono das propriedades pelos seus proprietários Porém no mesmo ano é pago o resgate em mercadorias e escravos avaliado em 747350 florins Os escravos fugidos começaram a partir de 1730 a intensificar as insurreições contra os colonos e estes em menor porcentagem demográfica acumularam derrotas em condições humilhantes Em 1749 assinaram a paz com os Saramaccas quilombolas africanos assentados à margem do rio Saramacca e em 1760 após fugirem para o forte assinaram a paz prometendo pagar tributos aos líderes dos Aukaners estes em troca deveriam prometer lealdade e a devolução de novos fugitivos formando patrulhas e prestando serviços contra novas insurreições contra este mal além das patrulhas de exescravos um verdadeiro exército mercenário foi contratado seria então a brigada escocesa Com as guerras napoleônicas de fim do século XVIII a derrota da primeira coligação faz com que as Províncias Unidas passem a formar a República da Batávia e consequentemente tornamse uma posse francesa com a conformação da segunda coligação os britânicos buscam conquistar os territórios sob jugo francês fora da América inclusive o Suriname no ano de 1799 três anos depois a partir da Paz de Amiens o Suriname volta a ser posse holandesa o que não dura muito tempo pois dois anos mais tarde em 1804 os britânicos tomam posse mais uma vez das Guianas impondo o fim do comércio escravo em 1806 Com o Tratado de Paris em 1814 o Suriname volta a ser colônia holandesa porém ao mesmo tempo o Tratado de Londres transforma Berbice Demerara e Esequibo em colônias inglesas A colonização holandesa persistiu em 1863 os 36484 escravos que ainda havia no Suriname foram libertos e a partir da década de 90 do mesmo século ainda sob pavilhão holandês começam a chegar os primeiros imigrantes asiáticos sendo na maioria deles hindus chineses de Hong Kong e javaneses muçulmanos formando assim um mosaico étnico único nas Américas que persiste até hoje América abandonada Com o início do século XIX a América holandesa se vê abandonada Além do final da rixa Províncias UnidasEspanha que cede espaço para guerras maiores como as napoleônicas descobrese o real valor do açúcar de beterraba europeu rival direto do açúcar produzido a partir da cana tropical Outros fatores para o abandono da América são a modernização dos navios que passam a ser a vapor e a abertura do canal de Suez em 1869 ambas inovações encurtam o tempo da viagem entre Holanda e o oriente Enfim todos os motivos comerciais e ideológicos que causaram a colonização holandesa nas Américas não existiam mais e assim as Antilhas e o Suriname únicas colônias restantes são abandonadas enquanto em plena expansão imperialista a Holanda volta seus olhos para o Oriente Conclusão História apenas esta palavra descreve o que aconteceram aqueles ducados e principados reunidos e depois separados que hoje reconhecemos por Bélgica e Holanda e que modificaram e participaram de um processo tão importante como a colonização americana De certo estiveram presentes pirateando contrabandeando conquistando comercializando cultivando escravizando espionando ou apenas montando a primeira cervejaria das Américas Trouxeram progresso domaram a costa brava construíram o zoológico e o jardim botânico com os iroqueses comercializaram peles com os caribes escravos Participaram da exploração das minas de Potosí procuraram entre diversas ilhas o precioso sal pois além do sal encontraram açúcar o tabaco a laranja o algodão o anis e o licor Curaçau No Suriname montaram uma sociedade cheia de negros silvícolas que ainda se comportam como se estivessem na África e a ilha de Sant Eustáquio manteve abastecida a independência dos Estados Unidos em Pernambuco construíram a ponte na Nova Recife e em Manhattan construíram a base para o que hoje é Nova York E hoje ao chegar no Suriname ou nas Antilhas últimos redutos puros de colonização holandesa deparase com uma excentricidade guardada para o final do último ato Uma língua crioula diferente de tudo que se há no mundo o papiamento até hoje os linguistas se digladiam para entender tal dialeto uns falam que se trata de um Português corrompido35 vindo dos escravos africanos de antigas feitorias portuguesas outros dizem que é uma mistura entre espanhol holandês e línguas africanas O Papiamento é o perfeito exemplo da colonização holandesa sem compromissos de fato os holandeses não mostraram nenhum interesse em impor sua língua aos povos conquistados36 como sua língua não impuseram sua religião de modo arbitrário no fim das contas a colonização holandesa tem um sinônimo o comércio Kantika de pleizir Ta Kasá bo kier kasa Mata kamarón lo bo kome tur hende ta bin bisámi kusimi kasa ma ta kumarón lo mi kome Canto de placer Casar quieres casarte Pero comerás camarones Todos vienes a decirme Que si me caso Camarones comeré37 35 CORDOVABELLO Op Cit P124 36 Ibidem P 124 37 Ibidem P 125 Referências Bibliográficas A Guiana e Curaçau A Holanda na América New York Publicação do escritório de informações holandesas Não consta autor e data ANDERSON Perry Linhagens do Estado Absolutista São Paulo Brasiliense1995 AZEVEDO Antonio Carlos do Amaral Dicionário de nomes termos e conceitos históricos 3 Edição ampliada e atualizada Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 CHAMOT Eduardo Dargent Presença Flamenga na América do Sul colonial Lima Universidad San Martin de Porres 2001 Presencia Flamenca em la Sudamérica colonial COMMAGER Henry Steele LEUCHTENBURG WE MORISON Samuel Eliot Breve história dos Estados Unidos Faustino Ballvé Juan José Utrilla Odón Durán DOion Tradutores México FCE 2003 Breve historia de los Estados Unidos CORDOBABELLO Eleazar Compañias Holandesas de Navegación agentes de la colonización neerlandesa Sevilla Escuela de Estúdios HispanoAmericanos 1964 GESSAT Rachel 1581 Holanda se liberta da Espanha httpwwwdwworlddedwarticle0214431968600html visitado em 10112009 às 2138hs GOMES Flávio Palmares Escravidão e liberdade no Atlântico Sul Contexto 2005 GONSALVES DE MELLO José Antônio Tempo dos Flamengos Influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil Rio de Janeiro Topbooks UNIVERSIDADE Editora 2001 4edição HANSON HISS Philip Índias ocidentais holandesas Curaçau e Surinam IN LANDHEER Bartholomeus ORG A Holanda Rio de Janeiro Seção de livros da empresa gráfica O Cruzeiro SA 1947 HOLANDA Sérgio Buarque de História geral da civilização brasileira Tomo I A época colonial Volume I Do descobrimento a expansão territorial Bertrand Brasil Rio de Janeiro Bertrand Brasil Ltda 2003 13 Edição KENNEDY Paul Ascenção e queda das grandes potências Transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000 Tradução de Waltensir Dutra Rio de Janeiro Elsevier 1989 16 reimprenssão LOYNHR Org Dicionário da Idade Média Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed1997 SHORTO Russel A ilha no centro do mundo A história épica da Manhattan holandesa e da colônia esquecida que formou a América Tradução de José Roberto OShea Rio de Janeiro Obejativa 2004 VIEIRA FILHO José O expansionismo comercial e econômico da Holanda no século XVII Rio de Janeiro Jornal do commercio 1941 Os flamengos e os holandeses têm origens comuns mas se tornaram identidades políticas e religiosas opostas Apesar disso mantinham uma relação próxima na América compartilhando a língua e aspectos culturais Os flamengos eram católicos aliados à Espanha e ocupavam cargos importantes nas Américas Os holandeses calvinistas colonizaram áreas como Manhattan Caribe e Brasil Essas duas identidades irmãs separadas na Europa se uniram novamente no Novo Mundo Os Países Baixos eram um território dividido em condados ducados e principados unificados sob a Casa de Borgonha e depois sob a Casa de Habsburgo A dominação espanhola e os tratados de Atrecht e Utrecht dividiram politicamente os flamengos e os holandeses A presença neerlandesa nas Américas foi possibilitada pela posse dos territórios espanhóis pelos Habsburgos A pesquisa busca explorar a participação e influência desses dois grupos neerlandeses na história americana destacando suas origens a construção do agente colonizador e a divisão política entre flamengos e holandeses REFERÊNCIA ARAÚJO Anderson Os flamengos os holandeses a América contribuições neerlandesas no novo mundo UFRRJ Disponível em httpwwwufrrjbrgraduacaoprodocenciapublicacoesperspectivashistoricas artigos09pdf Acesso em 10 jun 2023
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Texto de pré-visualização
Os flamengos os holandeses a América contribuições neerlandesas no novo mundo Anderson Leon Almeida de Araújo Bom é Jesus Cristo Melhor é o Comércio1 Para o início da dissertação explicase o que são holandeses e o que são flamengos dois tipos apresentados num paradoxo são semelhantes e diferentes convergentes e divergentes ao mesmo tempo Para entender esses dois tipos característicos é preciso entender como se dá o próprio processo histórico dos Países Baixos antiga Províncias Unidas Flamengos e holandeses tem a origem em comum porém através das transformações históricas acabam por se dissolver em duas identidades opostas politicamente e religiosamente mas que muito tem em comum culturalmente De certo modo é preciso explicitar que flamengos são todos aqueles vindos da parte sul do reinado borgonhês católicos aliados a Felipe II e a Espanha presentes nas Américas exercendo variadas funções desde trabalhos da manufatura até altos cargos públicos holandeses são aqueles habitantes do norte do reinado borgonhês calvinistas separados do domínio espanhol que estarão de fato colonizando três áreas principais das Américas a América do norte Manhattan o Caribe Antilhas Holandesas Aruba Bonaire Curaçao Saba Sant Eustatios e Sant Martten e a América do Sul Suriname Berbice Essequibo Demerara e Brasil Mesmo que exista essa distância principalmente no aspecto políticoreligioso flamengos e holandeses ao se tratar de América estavam unidos através da língua e de certos aspectos culturais O que precisa ser entendido é que os flamengos e os holandeses mantinham entre si uma relação de amizade em territórios espanhóis e portugueses muitos desses laços eram formados apenas pelo fato do encontro entre semelhantes advindos de uma mesma terra que falam a mesma língua ou tem muito de sua cultura e história em comum Eis duas grandes ousadias a primeira flamenga onde esse povo aventurase em terras ibéricas na América estando sempre sob os olhares estranhos e principalmente sob o olhar da 1 CORDOBA BELLO Eleazar Compoñias holandesas de navegación agentes de la colonizacion neerlandesa Sevilla Escuela de Estudios Hispanoamericanos 1964 p 122 santa inquisição que via nos neerlandeses um inimigo relativamente perigoso a fé católica e ao processo de colonização americano de certo nem o colono espanhol e nem o colono português apreciavam a presença de colonizadores estrangeiros em posses ibéricas A segunda grande ousadia parte dos holandeses que após a reforma protestante se separam da casa imperial dos Habsburgos fundando um governo baseado no liberalismo econômico muito advindo da visão calvinista daquela sociedade lançase ao mar em busca daquilo que lhe foi restringido uma fatia no comércio americano e nas rotas atlânticas impondo sempre sua ótica liberal nessa relação mercantilista Percebese e buscase mostrar nessa pesquisa como os neerlandeses flamengos e holandeses participaram agiram e transformaram a história americana A conjuntura Neerlandesa préamericana A construção do agente colonizador Para iniciar o estudo sobre a presença flamenga e colonização holandesa nas Américas é de essencial importância entender quem eram os holandeses e que eram os flamengos e que aglomeração humana era essa com significada importância nas navegações pelos oceanos e nas explorações e comércios mundo afora De início não podemos falar de um Estado unificado e conciso com um governo central estabilizado como era Portugal no século XV e XVI Os Países Baixos como se pensa e concebe se hoje é uma criação contemporânea de meados do século XIX Não é possível nem sequer usar o termo Países Baixos que atualmente designa apenas o território holandês esse termo não abrange a outra área da pesquisa a atual Bélgica O que podemos dizer é que essa região que atualmente conhecemos por Bélgica Holanda Luxemburgo e partes da Alemanha e França em uma certa época há alguns séculos atrás formavam um bloco de ducados e principados que se viram unidos sob o pavilhão da casa borgonhesa e subsequentemente ao pavilhão da casa Austríaca dos Habsburgos Tais principados e ducados que mantinham certas relações de semelhanças mantinham também relações de diferenças Até tentouse formar um reino borgonhês unificado e conciso aos moldes do que seria feito na Espanha pelos reis católicos mas a partir de encontros e desencontros apenas causados pelas metamorfoses do processo histórico a unificação Neerlandesa acabou por não acontecer fazendo surgir dois dos objetos da pesquisa o flamengo e o holandês dois tipos tão distintos quanto semelhantes de certo modo irmãos que separados na Europa em alguns casos voltaram a ser aliados em terras novas Não se pode negar o processo de pensamento erasmiano das terras neerlandesas2 não há como negar toda uma tradição renascentista presente nos artífices de flandres e províncias vizinhas Eis que são duas identidades irmãs que separadas por questões burocráticas na Europa manteriam contato estrito e muitas vezes restrito construindo novas experiências no Novo Mundo De pequenos condados a casa Imperial de Habsburgo Geograficamente durante a idade média os Países Baixos estavam compreendidos pelas terras ao redor dos estuários do Reno Mosa e Escalda3 tais terras atualmente são divididas pela Holanda Bélgica Luxemburgo e áreas da França e Alemanha Esse grande território estava dividido politicamente em um grande número de condados ducados e principados4 onde na alta idade média florescem importantes cidades e centros comerciais como Flandres Depois de um largo período de desordem social e política a casa monárquica borgonhesa unifica parte desse território no final do século XIV particularmente em 1384 com o Duque de Borgonha Felipe II O temerário Vêse a unificação de Flandres Artois Nevers Francocondado Antuérpia e Malines Seus sucessores ampliaram a herança que em 1433 incluía Holanda e Zelândia5 Ainda no século XV surge em terras borgonhesas uma grande industria naval famosa por suas urcas e os centros comerciais floresceram como Amsterdã Haarlem Haia Delft e Roterdã6 Porém apenas Carlos o temerário tentou de fato construir um Estado neerlando borgonhês7 o que não conseguiu realizar devido à sua morte em 1477 nesse episódio todos os 2 Durante toda a pesquisa buscase mostrar essa diferença política entre flamengos e holandeses diferença essa que interfere no modo como os ambos participaram da colonização americana porém em muitos textos historiográficos flamengos e holandeses são tratados como uma unidade Alguns textos discorrem sobre holandeses e simultaneamente trocamse os termos e passase a utilizar o termo flamengos Certo afirmar que holandeses e flamengos não formavam uma unidade política mas para os olhos dos próprios holandeses e flamengos e para todos aqueles europeus que mantiveram contato com esses tipos característicos durante os séculos XVI a XVIII flamengos e holandeses constituíam a mesma cultura o mesmo povo Ou seja a divergência existia de fato interferia em suas relações políticas porém pelo censo comum holandeses e flamengos formavam uma pseudounidade caracterizada sempre pelo tino comercial técnico e humanista Por isso evitarseá nesse trabalho usar ambos os termos de modo displicente para não gerar confusões ou discrepâncias Em caso geral o termo a ser utilizado para designar ambos os tipos será neerlandeses termo esse que sintetiza tal cultura 3 LOYNHR Org Países Baixos IN Dicionário da Idade Média Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed1997 p 285 4 Ibidem p 285 5 Ibidem p 286 6 Ibidem p 286 7 LOYNHR Org Flandres IN Dicionário da Idade Média Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed1997 p 149 territórios pertencentes a casa de Borgonha passaram a sua filha Maria de Borgonha que neste momento já estava casada com Maximiliano da Áustria fato que une definitivamente as casas imperiais de Borgonha e Habsburgo A partir daí a unificação NeerlandoBorgonhesa não seria mais possível Da casa de Habsburgo e da dominação espanhola aos tratados de Atrecht e Utrecht divisão política FlamengosHolandeses Da união entre Maria de Borgonha e Maximiliano da Áustria nasce o Herdeiro da casa imperial dos Habsburgos o Arqueduque Felipe o belo Joana a louca princesa moça da casa dos reis católicos da Espanha casase com o Arqueduque Felipe selando enfim a união da casa de Castela e Aragão com a casa dos reis de Áustria e das terras neerlandesas Após uma sucessão de tragédias na linha sucessória da casa dos reis católicos a coroa recai sobre a cabeça de Joana E apenas após a morte da rainha Isabel no final de 1504 Joana e Felipe regressam definitivamente a Castela chegando no porto de La coruña em 26 de abril de 1506 Alguns meses após a coroação e com um reinado recheado de intrigas com a corte espanhola o ArqueDuque Felipe falece em 25 de setembro de 1506 Pelo grave estado mental de Joana o governo Espanhol e das terras Neerlandesas esteve nas mãos do rei Fernando de Aragão até a maioridade do príncipe Carlos primeiro filho de Joana e Felipe nascido no ano de 1500 em Gante uma das cidades neerlandesas Carlos príncipe e herdeiro de um grande império permaneceu na corte borgonhesa e foi educado ali por cavalheiros flamengos escolhidos pelo seu avô o imperador Maximiliano8 Carlos herda todo o império Espanhol e suas colônias além mar em 1516 após a morte de seu avô Fernando e em março do mesmo ano Carlos e sua mãe são coroados como reis católicos em Bruxelas Em Castela foi coroado passando a ser chamado por Carlos V A casa de BorgonhaHabsburgo tomara sua posse das terras Espanholas e assim abrese o caminho para a presença Neerlandesa nas Américas Neste momento os Habsburgos tomam posse de grande parte da Europa o que torna a missão de governar simplesmente algo impossível Não se tinha o controle sobre as terras na Europa e sofriase grande pressão por parte dos outros Estados no próprio continente E a partir daí é gerado um descontentamento generalizado no interior e no exterior do império gerando conflitos e dissoluções Felipe II em 1556 herda de seu pai Carlos V a Espanha parte da Itália e as terras Neerlandesas Sempre usando da força e da violência para controle social principalmente após a 8 Ibidem P 149 reforma protestante onde tornouse virtualmente impossível separar o poder político das tendências religiosas existente nas rivalidades que assolaram o continente nesse período9 Felipe II educado em corte Espanhola adotara um caráter de defensor da fé católica infligindo assim pulso forte quanto a questão protestante no interior do império porém ele não levou em consideração a vastidão deste território as diversas culturas e no caso neerlandês não respeitou a posição calvinista daquela comunidade Essa posição firme quanto à questão calvinista é vista principalmente na característica da administração eclesiástica que possibilitou a Felipe II vigiar fortemente a Igreja nos Países Baixos Com isso ele não só interveio em questões religiosas como também cortou privilégios da alta nobreza10 Felipe II criou novos impostos e colocou tropas espanholas em solo neerlandês causando insatisfação entre a população que se revolta em 1561 Começa assim uma guerra entre o rei e seus súditos resistentes entre o catolicismo e o calvinismo As províncias católicas do sul composta pela população Flamengo Valôna acordaram em 1579 com o rei Felipe II um tratado onde selavam o compromisso de fidelidade ao soberano e a fé católica tal tratado chamase União de Atrecht Assinado no mesmo ano a União de Utrecht separava sete províncias do norte das terras neerlandesas do resto das províncias flamengas ou seja separavase assim o reino Neerlandês composto por 17 províncias e ao mesmo tempo abalavase a situação com a corte Espanhola As províncias do norte calvinistaburguesas criaram sua própria união a República Unida da Holanda Na prática isso significou a separação da Espanha Oficialmente porém as Províncias Unidas só proclamaram sua autonomia em relação à monarquia espanhola a 26 de julho de 1581 num manifesto publicado em Haia11chamado Ata de Abjuração estava iniciado o processo de ruptura com a corte espanhola que perdurou durante toda Guerra dos trinta anos até a assinatura do Tratado de paz de Vestfália em 1648 em que a coroa Espanhola reconhece a soberania das 7 Províncias unidas do norte Os Países Baixos do Norte e do Sul serão reagrupados novamente apenas após a primeira parte das guerras napoleônicas com o fim da primeira coligação ambos territórios tornaramse República da Batávia e com a revolta holandesa de 1813 a jovem república passa a 9 KENNEDY Paul Ascenção e queda das grandes potências Transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000 Tradução de Waltensir Dutra Rio de Janeiro Elsevier 1989 16 reimprenssão p41 10 GESSAT Rachel 1581 Holanda se liberta da Espanha httpwwwdwworlddedwarticle0214431968600html visitado em 10112009 às 2138hs 11 Ibidem httpwwwdwworlddedwarticle0214431968600html visitado em 10112009 às 2138hs ser reconhecida com Reino dos Países Baixos porém com as várias revoluções acontecidas na década de 1830 a atual Bélgica Países Baixos do Sul separase mais uma vez da Holanda Do ideal separatista a unificação nacional O antagonismo do comércio De certo os motivos para a formulação dessa nova formação políticosocial poderá ser interpretada de duas formas a primeira esta baseada na idéia de que a Holanda era formada por uma sociedade protestante unificada entendendo aí como uma unidade políticareligiosa pela qual os holandeses lutaram pela separação da Espanha grosso modo podemos dizer que esse fator possa ter contribuído para a separação dos Países Baixos mas ao analisar a colonização holandesa nas Américas percebese que a religião não era o eixo central capaz de influenciar o ato de separação da coroa espanhola Os ideais calvinistas como uma economia liberal foram de encontro com uma sociedade baseada nas relações comerciais dadas em Flandres durante a idade média ou seja o calvinismo encontrou um terreno fértil para instalar suas raízes ou partindo de outra perspectiva os comerciantes e banqueiros neerlandeses encontraram uma religião que apoiava os ideais liberais de comércio e empréstimo bancário fundamentados pelo processo histórico da região Desta forma o calvinismo aparece apenas como um elo fortalecedor dos ideais comerciais daquela cultura Concluindo a corte espanhola ao perseguir os protestantes neerlandeses infringindo altos tributos fiscais estavam ao mesmo tempo entrando em conflito com uma burguesia local forte e influente que em certo momento busca a separação As sociedades com fracos aparelhos estatais como o Império e os Países Baixos independentes encontraram num conjunto de formas culturais compartilhadas entre os seus respectivos habitantes um elemento cultural decisivo de unidade12 que quanto aos holandeses mostra um estudo recente que muito poucos correspondiam ao tão reiterado estereótipo do burguês poupado austero e puritano mas que ao invés formavam uma sociedade muito heterogênea onde a sobriedade e o esforço conviviam com o excesso de anarquia13 Ou seja culturalmente os holandeses se mostravam unidos em torno de uma prática comercial desenvolvida na idade média e não numa unidade religiosa Tal identidade comercial engrandeceu as cidades neerlandesas quando ao passo que se dá a reforma encontram se nestas 12 PUJOL Xavier Gil Centralismo e localismo Sobre as relações políticas e culturais entre capital e territórios nas monarquias européias dos séculos XVI e XVII IN HESPANHA A M ORG Penélope Fazer e Desfazer História Edição Cosmos n 6 1991 p 141 13 Ibidem p 141 novas doutrinas religiosas a base para o desenvolvimento comercial liberal na Europa e nos oceanos O principal porto neerlandês e principal centro econômico da região era o localizado na cidade de Amberres vizinha a Flandres Com a pressão espanhola e consequentemente as guerras religiosas e separatistas fazem com que este centro econômico seja transferido de Amberres para Amsterdã Não foi apenas o porto que migrou para o norte também a grande malha burguesa flamenga de cidades como Bruxelas Gante Flandres e a própria Amberres simpatizantes dos ideais calvinistas e do progresso que essa religião pudesse causar em suas relações comerciais migraram para as províncias de Amsterdã Holanda e Zelândia Formando em si um Estado sintetizado pela força exercida pelos burgueses capitalistas14 que muitas das vezes e como muitas vezes será visto neste trabalho os interesses econômicos em busca do lucro estão acima dos ideais de defesa da nação recém construída visto que comerciantes da cidade de Amsterdã durante e após as guerras de religião vendem material bélico para a Espanha e para a França grandes inimigas das Províncias Unidas A Monarquia fundada pela casa dos príncipes de Orange conduz os holandeses à unidade e consequentemente a noção de defesa nacional porém em nada a monarquia poderá fazer para frear o liberalismo econômico presente principalmente nas sociedades de ações que permitiam a participação de todo e qualquer comerciante inclusive daqueles comerciantes advindos de países declarados inimigos da nação holandesa Sendo assim os flamengos do sul assim como Portugal e Brasil desde 1580 continuaram subjugados a Espanha e ao governo dos Felipes E as Províncias Unidas Holandesas do norte tornaramse inimigas da corte Espanhola e consequentemente da portuguesa e da brasileira e de todos os vicereinados espanhóis em América e todas as possessões e feitorias em África e Ásia Os flamengos do sul católicos participaram da colonização espanhola e portuguesa nas Américas Já os holandeses do norte calvinistas buscam através da grande industria naval e do seu tino comercial a conquista e colonização independente nas Américas Caribe América do Sul e América do Norte Identificar esses povos neerlandeses na presença e na colonização da América e como foi tal relação com Espanha e Portugal são os temas dos próximos capítulos 14CORDOBABELLO Eleazar Companhias holandesas de Navegação agentes da colonização neerlandesa Sevilla Escuela de Estúdios HispanoAmericanos 1964 Compañias Holandesas de Navegación agentes de la colonización neerlandesa Os flamengos nas colônias dos Felipes No capítulo anterior foi traçado o caminho dos Países Baixos e das 17 províncias Neerlandesas através das relações com a casa dos Habsburgos e consequentemente com o reino espanhol tal relação traumática divide o reino Neerlandês em dois o sul católico e aliado à Espanha flamengos e o norte rebelde calvinista e separado do reino espanhol holandeses O que buscaremos nesse capítulo é a presença flamenga ou seja aqueles aliados à Espanha nas Américas espanhola e portuguesa Tais flamengos serão encontrados em maior número nos vicereinados espanhóis na América mas não será raro encontrar flamengos em missões católicas no Brasil ou então trabalhando nas rotas comerciais da América portuguesa Precisase ter em pensamento o caráter conservador e religioso da corte espanhola principalmente quanto aos domínios nas Américas Ao passo que se dá o descobrimento da América a rainha Isabel proíbe a entrada ou o comércio com todos aqueles não espanhóis tal medida não encontra eficácia e os flamengos chegam em terras do novo mundo onde passam a constituir famílias e se fincar socialmente para reverter essa situação a coroa espanhola toma algumas medidas uma forma de permitir aos estrangeiros permanecerem nas Índias foi por meio de um pagamento ao tesouro fórmula que se chamou de composición Esta composición requeria cumprir alguns requisitos como ter uma permanência prolongada no lugar de residência e ter se casado com uma mulher natural ou residente nas índias15 Aqueles que estivessem de acordo com o critério legislativo deveriam pagar uma quantia em dinheiro para receber a autorização de permanência e aqueles que não estivessem de acordo com tal legislação deveriam ser deportados de volta a Europa o que nem sempre aconteceu pelo caráter flexível dos vicereinados Poucos também foram os flamengos que participaram da composición provando a ineficiência do programa De fato antes mesmo do tratado de Atrecht os flamengos já pisavam em solo hispanoamericano principalmente pela influência de Carlos V e com a assinatura do tratado de Atrecht e o tratado de Utrecht tal relação sustentase no paradoxo de amizade e desconfiança Na teoria os flamengos continuavam aliados mas na prática todo flamengo era visto como um holandês herético isso não impede as 15 CHAMOT Eduardo Dargent Presença Flamenga na América do Sul colonialUniversidad San Martin de Porres Lima Peru 2001 p27 Presencia Flamenca em la Sudamérica colonial relações comerciais entre colonos espanhóis e flamengos e não impede também que flamengos alcancem cargos privilegiados como é o caso do governador da província cubana Santiago de Cuba e da província Venezuelana de Nova Andaluzia Carlos de Sucre y Pardo nascido em Flandres e do Vice Rei do Peru Teodoro Francisco de Croix também nascido em Flandres Poucos são os flamengos de que se têm relatos porém aqueles presentes nos relatos desempenharam papéis de certa importância para os vicereinados estando ativos em várias funções desde marinheiros mercadores mineiros e artesãos até padres artistas e o vicerei já citado De certo modo os colonos e o próprio governo vicereinal procuravam sempre nos flamengos o caráter técnico não encontrado entre os espanhóis vemos quando os artilheiros flamengos eram buscados e selecionados pelos espanhóis graças a sua habilidade no ofício16 Sobre esse assunto é importante ter em mente o caráter mercenário presente nos exércitos típico das monarquias absolutistas que não visavam armar seus cidadãos e por isso contratavam soldados e marinheiros nascidos em outras partes da Europa inclusive dentre os flamengos Ao permitir a entrada de um flamengo no exército espanhol ou em terras espanholas nas Américas ou quando se tratava de um matrimônio entre um flamengo e uma colona espanhola ou qualquer que seja o cargo ou função em alguma possessão espanhola o requisito mínimo e mais importante era ser praticante da fé católica Em caso de dúvida quanto à fé do estrangeiro um novo batismo era realizado aos olhos dos espanhóis pois não se confiava no batismo feito em terras neerlandesas de certo modo esse exemplo é apenas um reflexo de como se olha com desconfiança todo e qualquer estrangeiro No caso dos flamengos esse novo batismo era mais frequente dado o caráter desconfiado com todos aqueles que vinham de terras neerlandesas e que podiam ter alguma ligação com a ideologia calvinista De certa maneira os flamengos não eram os mais fiéis súditos do reino espanhol e da fé católica visto os diversos piratas flamengos a serviço da coroa britânica Um relato bastante interessante é o do guardião Flamengo da ponte que cruzava o rio Apurímac estrutura de importância estratégica transcendental para o vice reinado já que era a via que unia Lima a Cusco17 não se sabe seu nome sua origem ou o porque de ocupar tal cargo sabese apenas que se tratava de um flamengo que contribuiu com preciosas informações aos corsários holandeses quando estes começaram a rondar as terras espanholas na América o ponto chave desse relato é o fator lingüístico que unia os 16 CHAMOT Eduardo Dargent Presença Flamenga na América do Sul colonialUniversidad San Martin de Porres Lima Peru 2001 p52 Presencia Flamenca em la Sudamérica colonial 17 CHAMOT Eduardo Dargent Presença Flamenga na América do Sul colonialUniversidad San Martin de Porres Lima Peru 2001 p61 Presencia Flamenca em la Sudamérica colonial pichilingues18 como eram chamados os holandeses pelos espanhóis e os seus vizinhos flamengos Além dos piratas flamengos servindo aos interesses britânicos e dos flamengos espiões que vão formar laços com seus irmãos holandeses ainda há o caso daqueles que renegavam a fé católica ou eram considerado hereges o próprio vicerei Teodoro de Croix quando ainda residia no México ocupando um importante cargo público foi intimado pelo tribunal da inquisição por ler alguns livros proibidos aos católicos O caso do flamengo residente no Panamá Juan de Bernal acusado de ser luterano que ao manter se fiel a sua fé não seguindo os conselhos de seu advogado e enfrentando o tribunal acabou queimado vivo em 1581 Mas nem sempre a igreja católica agiu de forma abrupta com os nobres flamengos visto que vários deles foram recebidos em terras da colônia seguindo os princípios religiosos de ordens católicas para catequisar construir arquitetar ensinar e constituir um grande legado para as gerações futuras principalmente nos estudos e nas artes Através das missões flamengos chegaram a terras espanholas trazendo além das tradições católicas a ilustração erasmiana digna dos Países Baixos e da região de Flandres Um desses flamengos importantes para o processo histórico das terras americanas é o franciscano Joost Rijcke ou Jodoco Ricke natural de Malinas chegou à cidade americana de Tumbes em 1535 e em 1536 funda as bases para o monastério franciscano em Quito A fama de civilizador de Rikce é tão grande que ao ler tudo o que se diz é impossível descartar a ideia de que se está de frente a um herói mítico civilizador no qual se mescla a realidade com a fantasia É atribuída a Ricke no Equador a introdução do arado de bois dos ladrilhos e das telhas de varias plantas comestíveis entre as quais se destaca o trigo ao que outros opinam que foi o centeio Guardava se em Quito uma copa na qual segundo a tradição trousse o frade o cereal Há aqueles que asseguram que foi Frei Jodoco que construiu a primeira cervejaria do novo mundo algo que não nos deva surpreender por ser esta bebida muito de acordo com os gostos flamengos19 Além das funções religiosas esses padres vão ser essenciais para a colonização cultural da América implantando estilos artísticos arquitetura e transmitindo o pensamento do humanismo clássico por onde passavam Outros flamengos importantes em solo americano são aqueles que vão estar a serviço do exercito e da marinha os conhecimentos tecnológicos presentes na sociedade neerlandesa fazem com que marinheiros sejam buscados nessas terras fora o caráter do exército mercenário muito 18 Ibidem p61 19 CHAMOT Eduardo Dargent Presença Flamenga na América do Sul colonialUniversidad San Martin de Porres Lima Peru 2001 p8283 Presencia Flamenca em la Sudamérica colonial próprio dessa época Esses mesmos conhecimentos tecnológicos levam artífices para a América espanhola e portuguesa onde terão funções de suma importância Vêse também uma ligação comercial entre colonos brasileiros e flamengos Inicialmente há o relato de um banqueiro da cidade de Antuérpia flamengo e que possuía um engenho de açúcar chamado São Jorge e localizado na capitania hereditária de São Vicente estava intimamente ligado com o comércio de açúcar como todos os flamengos e holandeses Os colonos portugueses na América utilizavam naus flamengas e holandesas que eram mais capazes20 são as conhecidas urcas flamengas ou até holandesas e zelandesas que depois de 1575 vão adquirir papel cada vez mais assinalado no comércio com o Brasil21 Visto que as urcas neerlandesas eram mais eficazes para o trabalho de ligação entre a metrópole e a colônia eram essas naus na maioria das vezes as escolhidas para tal trajeto colocandose de lado as caravelas lusitanas isso provoca a preocupação do rei que em 1605 proíbe através de uma lei régia essas viagens feitas por estrangeiros com intuito comercial para a América portuguesa o grande medo era que as caravelas portuguesas tornassem se inutilizáveis e quando fosse necessária a utilização destas não haveria homens hábeis para o manuseio além do medo que esses estrangeiros pudessem levar informações acerca da América ibérica para territórios inimigos principalmente depois do tratado de utrecht em que os países baixos tornaramse inimigos das possessões ibéricas Em todo caso temiamse mais os holandeses que os flamengos já que estes últimos permaneciam aliados à coroa espanhola e sob o jugo dos Felipes Porém através desse fato percebemos que as terras neerlandesas possuíam um aparato de marinharia ativo que poderia realizar trajetos como os das rotas atlânticas O resultado obtido nessa operação é que o comércio entre Brasil flamengos e holandeses ficou abalado Mesmo assim o comércio com urcas flamengas e holandesas continuou a fazer o trajeto entre Brasil e os Países Baixos do Norte as províncias unidas neerlandesas atendendo a pedido de mercadores lusitanos estabelecidos em Amsterdã e considerando que seria de interesse das províncias unidas prosseguirem num comércio altamente lucrativo confirmaram em junho de 1581 uma decisão já anterior que possibilitara o referido intercâmbio Por essa medida a todo e qualquer português que assim o desejasse era dado sem risco para a sua vida ou propriedade livre trânsito nos Países Baixos do Norte assim como residência e prática ali no comércio Nova 20 HOLANDA Sérgio Buarque de PANTALEÃO Olga Franceses holandeses e ingleses no Brasil quinhentista In HOLANDA Sérgio Buarque de ORG História geral da civilização brasileira Tomo I A época colonial Volume I Do descobrimento a expansão territorial Bertrand Brasil Rio de Janeiro 2003 13 Edição p 184 21 Ibidem p184 confirmação obtiveramna os mercadores dos Estados Gerais em fevereiro de 1588 extensivas agora aos portugueses domiciliados não apenas em Antuérpia isto é nos Países Baixos Espanhóis mas também em outras terras22 Sobre essa atividade marinheira e intercâmbios comerciais participativos na colonização das Américas será discutido nos próximos capítulos De todo modo flamengo e holandeses estiveram presentes nas colônias ibéricas em América mas até esse ponto eles não praticaram ativamente uma colonização no sentido amplo do termo Colonização holandesa nas Américas Foi observado no capítulo anterior que os flamengos estiveram ativamente presentes em solo americano em colônias espanholas e portuguesas mas podese perceber também que os holandeses mesmo não se firmando em solo ibérico na América como os flamengos estiveram ativos nessa relação EuropaAmérica Utilizando sua arte de navegar os holandeses aproveitaram o seu dom comercial para firmarse em solo americano Durante as próximas passagens serão esclarecidos esses dois pontos principais que caracterizam a colonização holandesa a navegação e o comércio Desde muito antes da descoberta das Américas a Holanda estava ligada à água salgada as aventuras no mar a pesca a tecnologia marítima e a arte da guerra naval Da mesma forma o interesse comercial interligava diretamente os diversos territórios do mundo europeu através do que foi chamado por associações comerciais De fato o crescimento desse aporte navegador atendido por essa sede comercial faz com que os holandeses conheçam o atlântico o índico e o pacífico e colonizem várias paragens mar afora Compreendese que o lançarse ao mar holandês não foi em sentido de aventura a busca de novos territórios ou de realizar uma colonização com cunho religioso Mas pelo contrário todas as rotas galgadas através dos oceanos pelos holandeses já constavam como de conhecimento dos mesmos já tinham sido descobertas nelas já havia feitorias e vilas portuguesas e espanholas Ou seja a Holanda apenas seguiu uma colonização já feita inicialmente por outros colonizadores buscando sempre espaços já colonizados onde já havia uma base de produção e comércio formado Buscavam sempre núcleos de povoamento ou um 22 Ibidem P 185186 forte abandonado uma estrutura físicasocial préconstruída ou então dependendo da ambição e do lucro uma capital já estruturada O Mar holandês Durante grande parte do processo histórico holandês a sua economia estava voltada para o mar inicialmente para a pesca e depois para as ligações comerciais que iam do Mar Báltico a Cabo Verde entrando pelo mediterrâneo até as costas da Turquia e Palestina Muitas dessas viagens eram organizadas por mercadores neerlandeses das cidades de Amberres e de Amsterdã Em outros casos os barcos eram contratados por mercadores de várias outras nacionalidades dessa forma alugando as ótimas embarcações para transporte de cargas a serviço de portugueses e espanhóis que os navegadores holandeses chegaram às terras além dos mares europeus Conhecendo as rotas os sistemas de ventos e navegação e os territórios formados os holandeses preparados com as mais bem feitas embarcações e apoiados segundo as companhias comerciais daquele país lançamse ao mar em busca de um objetivo único comercializar Mar de Arenques A economia neste trecho do norte da Europa em períodos que a agricultura não florescia e que o inverno secava a terra dirigiase ao mar mas especificamente para a pesca de arenques e outros pescados O arenque de certa maneira tornouse um símbolo holandês e sua produção e conservação dependiam do sal extraído da salina portuguesa de Setúbal Tal pesca exigia um grande grau técnico visto que o mar norte impunha difícil navegação no inverno Desta forma a navegação neerlandesa surgiu e se especializou Mar Tecnológico Quanto a essa especialização a partir do século XVI é sabido que com o desenvolvimento da pesca e do comércio os neerlandeses em seus estaleiros vão construir barcos específicos para cada tipo de atividade existia o barco para pesca na Groelândia os grandes barcos comerciais que deveriam estar preparados para suportar o frio da Sibéria e o calor da costa africana as pequenas embarcações pesqueiras da região as naus de guerra De certo é afirmar que na Holanda fomentouse um incrível desenvolvimento tecnológico da navegação superando em larga escala o grau de desenvolvimento visto nas naus portuguesas Mar de Serviços Esses barcos não eram somente produzidos para satisfazer a navegação e o comércio Holandês eles eram contratados por outras nações para o transporte de mercadorias Essa prestação de serviços efetuada pelos holandeses iniciase com o próprio comércio pelos mares da Europa No final do século XVI com uma demanda de navegação colonial crescente aumentase o fluxo de contratação dos barcos holandeses É necessário ter em mente que capitão e tripulação presente nesses navios eram de origem neerlandesa Dessa forma os holandeses conheceram as feitorias e postos comerciais europeus nos novos mundos e finalmente tiveram contato com as cartas geográficas secretas pertencentes a Portugal divulgandoas pelos Países Baixos Assim as companhias são criadas para a participação ativa dos holandeses nesse comércio transoceânico repetindo principalmente a rota de colonização portuguesa estabelecendo feitorias próximas às feitorias deste Império em África e Ásia Mar de Guerras A Holanda foi mais temida no mar que em terra para as nações colonialistas dos séculos XVI e XVII23 bem visto o impressionante número de 16000 mil embarcações holandesas pelos mares do mundo sendo a Holanda vista no início do século XVII como a maior potencia mundial Podese observar que a guerra contra a Espanha beneficia o exército e a navegação holandeses 1 O crescimento tecnológico das urcas holandesas especializadas na arte da guerra 2 Espanha sai enfraquecida dessa guerra com a legitimidade da independência holandesa o seu poder decresce na Europa 3 Durante a guerra uma das estratégias era interceptar todo e qualquer navio espanhol em qualquer mar do planeta ao acontecer tal fato nas rotas AméricaEuropa os holandeses colocavam suas mãos sobre os preciosos baús de ouro e prata espanhóis extraídos das minas sulamericanas Mar dos Marinheiros e dos Mercenários Nas embarcações holandesas formaramse os principais marinheiros da Europa estes que eram contratados para participar de expedições de reconhecimento e exploração dos territórios recém descobertos pelas duas nações ibéricas da mesma forma por muito tempo os especializados guerreiros holandeses do mar foram contratados como mercenários por Portugal e Espanha para que se fizesse a defesa dos seus respectivos territórios coloniais Esses marinheiros e mercenários levaram muito desse conhecimento sobre tais terras para os Países Baixos A sedutora América e as sociedades de Ações 23 CORDOVABELLO Eleazar Compañias Holandesas de Navegación agentes de la colonización neerlandesa Sevilla Escuela de Estúdios HispanoAmericanos 1964 P18 Agora se sabe como as Províncias Unidas descobrem as colônias europeias em América e outras feitorias pelo mundo E ao usar a sua ampla capacidade navegadora modificaram as relações entre metrópole e colônia e interferiram de modo direto nas colonizações portuguesas e espanholas De certo após a fixação das colônias ibéricas em América todos os outros países europeus que vão começar a se dedicar a este objetivo colonizador acabam por interferir direta e indiretamente no processo histórico dessas possessões bem estruturadas Holandeses ingleses e franceses principais agentes da colonização americana após espanhóis e portugueses modificam a paisagem de territórios não ocupados por estes últimos constroem fortificações implantam comércio agricultura algumas vezes pirataria contrabando e cada vez mais criam conflitos que ora estendem se no sentido EuropaAmérica ora no sentido AméricaEuropa Grosso modo essa é uma época de transformações na América há momentos de vacas gordas e outros de depressão que transformam a cara das colônias Na Europa a formação dos Estados as guerras religiosas seguidas pelas revoluções inglesa francesa e as guerras napoleônicas abalam as estruturas políticas das metrópoles todavia não procurarseá aqui discutir as transformações políticas da Europa apenas quando essas transformações alteram as relações existentes nas Américas Em especial a colonização holandesa de início foi efetivada através de um sistema de pirataria e em seguida adotase o sistema das companhias comerciais das índias ocidentais tal Cia deveria dedicarse a colonização baseada principalmente da realizada no Brasil porém observase que na maioria dos casos a colonização holandesa seguiu sempre em direção ao lucro algumas vezes dá se a entender que os holandeses buscavam hostilizar a Espanha outras vezes a colonização holandesa mostrase bem estruturada politicamente mas na maioria das vezes tal processo mostrase desleixado a metrópole não se interessa em construir um império povoar ou simplesmente produzir em terras americanas não se interessam pela agricultura e muito menos em implantar a sua cultura e religião nas colônias Aos poucos através dos próximos relatos poderá ser visto como a colonização holandesa se dá de modo tão diferente de norte a sul das Américas O filibusterismo Pirataria lucrativa e defesa dos interesses nacionais A partir dos serviços prestados aos ibéricos os holandeses alcançam a América e junto com eles o desejo pelo comércio e pelo lucro muito construído pelos relatos das magníficas terras além mar terás que produziam ouro prata e madeira para construção de navios onde poderiam se comercializar com indígenas e colonos desprovidos de auxilio de suas respectivas coroas E assim a sedutora América encanta os burgueses das Províncias Unidas que vão a busca de riquezas rápidas no mar atlântico Estava feito assim o convite assim como uma sereia conduz o navio e sua tripulação para o naufrágio os holandeses foram se enamorando pelo Novo Mundo E então pequenas frotas dedicamse ao filibusterismo ou seja não eram apenas operações piratas que se dedicavam ao simples assalto em busca de presas mas além disso buscavam defender os interesses políticos do Estado A guerra ainda ativa com a Espanha leva a interceptação dos galeões com bandeira espanhola e com o saque destes encontramse os tão desejados metais preciosos que eram repartidos conforme um código secreto Assim ao mesmo tempo o filibusterismo intimidava e enfraquecia o poder espanhol na Europa e na América A primeira Companhia das Índias Ocidentais e os ideais de Guillermo de Uselinx Em 1551 ainda em terras neerlandesas abrese uma bolsa de valores que aceitava investimentos de mercadores de todas as nações sem restrições e mesmo após a guerra de separação tal medida continua em vigor Além da bolsa surgem as primeiras sociedades de ações em terras holandesas sendo a primeira a Moscovie Company em 1554 formada por 240 ações de 25 libras cada realizava viagens comerciais com destino a Prússia os lucros eram divididos em partes iguais Esse tipo de sociedade não estimulava a competição mas sim algo mais lucrativo o auxílio mútuo entre comerciantes Assim as primeiras companhias comerciais começaram a ser fundadas sendo uma delas a Companhia das Índias Ocidentais idealizada por Guillermo de Uselinx comerciante navegador que esteve em solo americano diversas vezes A princípio Guillermo acreditava que no Novo mundo pudessem ser criados colônias de agricultores com o objetivo de sustentar a Europa para ele o grande exemplo a ser seguido era a colônia portuguesa do Brasil acreditava também que a riqueza não estava em metais preciosos mas na produção de gêneros básicos a subsistência Uselinx propunha então a tomada de possessões espanholas e portuguesas dava o exemplo da tomada da Guiana com o objetivo de povoála com famílias alemãs e dos Países Bálticos sugestão essa que não foi aprovada pelo Estado Holandês que na época queria manter a trégua dos doze anos para ele a nova colônia estava destinada a ser um bem para os perseguidos um refúgio para a honra das mulheres e filhas dos expulsos de seus países pela guerra e pelo fantasma religioso e uma benção para o homem do povo e para todo o mundo protestante24 Sobre o trabalho empregado nessas colônias Uselinx pensara num sistema em que 24 CORDOVABELLO Eleazar Compañias Holandesas de Navegación agentes de la colonización neerlandesa Sevilla Escuela de Estúdios HispanoAmericanos 1964 P203 os ameríndios seriam trabalhadores assalariados e pela sua análise sobre as colonizações na América ele percebe que nas Índias se executam a maior parte do trabalho por meio de escravos que custam muito trabalham com resistência e morrem logo que sofrem maus tratos de seus amos estava seguro de que seria muito proveitoso o uso de um povo livre Além do mais o escravo não deixa outro proveito que seu trabalho porque sendo desnudo nada adquire e nem necessita das industrias25 Essas eram as idéias de Guillerme de Uselinx militante calvinista que tinha por objetivo ver uma colonização holandesa nas Américas de certo modo a Cia saiu do papel a 3 de Julho de 1621 porém seus ideais não foram alcançados e nem se tentou colocálos em prática Os fracassos das ideias de Uselinx se dão porque o que seria produzido em colônias holandesas poderia ser comprado da Espanha e de Portugal a um menor custo que o processo de colonização por essa febre do lucro a Holanda de fins do século XVI e do XVII desperdiçou na América a oportunidade que brindava a sua organização naval e seus incalculáveis recursos econômicos para assentar as bases de um império colonial26 assim a pirataria continuaria sendo a atividade mais lucrativa para os holandeses apenas entre os anos de 1632 e 1636 a Cia Capturou 542 barcos inimigos para esse bom serviço estavam a serviço da Cia 800 barcos e 67000 marinheiros e soldados Além disso para a colonização ser efetuada teriam que lidar com os indígenas americanos não tão desenvolvidos socialmente quanto os asiáticos e que o clima tropical americano não servia para a produção das especiarias asiáticas Tabaco e açúcar eram os principais produtos cultivados nesse clima Ainda assim durante os séculos XVI XVII XVIII e princípios do XIX as índias ocidentais eram mais valiosas que as índias orientais além desses mesmos produtos cultivados em solo americano a viagem a esse continente era mais rápida que às índias asiáticas faziase ali a interceptação de galeões espanhóis e realizavase o apresamento de seus carregamentos era também o lugar de escoamento para a produção holandesa não consumida no oriente e o lucrativo comércio de escravos visto que no oriente não se compravam escravos Portanto apesar do não seguimento dos ideais de Guillermo de Uselinx a companhia das índias ocidentais agiram no atlântico de melhor forma que a Companhia das índias orientais agiram no índico e no pacífico Lembrase aqui que a Companhia das índias ocidentais agia tanto 25Ibidem P203 26 Ibidem P34 em solo americano quanto em solo africano fornecendo escravos para as colônias no Novo Mundo África feitorias e comércio escravo nas Américas Desde o século XVI neerlandeses freqüentavam a costa africana e com o aumento da circulação em mares atlânticos no início do século XVII a Holanda toma posse de um pequeno trecho na Guiné onde neste local construíram o forte Nassau a partir daí holandeses passam a ocupar diversos locais no litoral da África durante a ocupação do Brasil na década de 1630 se conquistaram importantes territórios como São Jorge de Minas a ilha de São Tomé e Angola de certo a posse de terras na África gerou inúmeros conflitos entre as nações colonizadoras porém não cabe aqui se estender nesse assunto O importante é perceber que a partir desse ato inicial a Holanda passa a ser um importante distribuidor de escravos africanos no Novo Mundo ou seja o comércio de escravos será um dos motores principais para a colonização da América Existiram três rotas principais do comércio escravo Holandês Uma rota que seguia para Curaçau onde dali partiam os escravos para a Guiana Venezuela Colômbia Costa Rica e Caribe o trato nesta área aumenta em consequência da retirada holandesa do Brasil Uma outra rota ia a direção do Brasil esta permaneceu ativa até 1654 ano de expulsão dos holandeses de Pernambuco E uma terceira era vista na Nova Amsterdã que também servia de entreposto comercial para os colonos ingleses da Virgínia Esses escravos foram deveras usados nas colônias holandesas principalmente no Brasil quando em meados de 1630 os colonos naturais da Holanda conservavam certa aversão escravidão um tanto influenciados pelos ideais liberais do comércio assim como o visto no pensamento de Guillermo de Uselinx e também pelos ideais calvinistas Porém com o tempo a escravidão em território holandês era vista como uma característica comum àquela sociedade os grandes exemplos estão explícitos na quantidade de escravos presentes no Suriname e em Curaçau A Nova Amsterdã Utopia em Manhattan É interessante observar a descoberta feita pelos holandeses da Companhia das Índias Orientais Holandesas efetuada no mesmo ano em que ocupam o trecho da Guiné no litoral africano Em 1612 uma pequena frota das Províncias Unidas liderada pelo Capitão inglês Henry Hudson procurando uma rota mais segura ao oriente do que o Cabo da Boa Esperança adentra pelo rio que atualmente têm o nome em sua homenagem Antes da ocupação da região em 1620 os comerciantes holandeses começaram o trato de escravos com produtores ingleses de tabaco instalados na Virgínia Esse exemplo mostra o caráter comercial da colonização exercida pelas Províncias Unidas na América Os próximos a entrar nesse enlace comercial foram os indígenas na região não havia ouro e nenhum tipo de metal precioso mas o que chamava a atenção dos ostentosos holandeses era a grande quantidade e a maravilhosa qualidade das peles adquiridas nessa localidade Precedendo as 13 colônias inglesas este território foi comprado pela companhia das índias ocidentais por um preço ínfimo acordado com os indígenas da região sendo a partir daí conhecido como Nova Amsterdã A pequena ilha de Manhattan em particular era uma região inóspita desértica selvagem e nada convidativa um verdadeiro pântano insalubre Porém detinha uma importância geográfica singular ocupava a foz do rio Hudson formado a partir dos Grandes lagos e era um excelente porto natural Controlar a foz do rio significava controlar a entrada de produtos com destino ao interior da mesma forma este território permaneceu sendo um entreposto comercial holandês entre África e as colônias inglesas do sul E é a partir de 1625 começa uma rápida ocupação holandesa na região que se estendia desde do que é atualmente a cidade de Albany ao norte até a baía de Delaware ao sul o que hoje é reconhecido pelos estados norteamericanos de New York New Jersey Connecticut Pensilvânia e Delaware Desde cedo a colonização foi feita com o assentamento de famílias holandesas e de outros povos europeus O número de estrangeiros chegou a conformar 50 da população dando vida a uma verdadeira Babel que reunia além dos holandeses os ingleses escoceses dinamarqueses suecos noruegueses e alemães Porém essa colônia saía da rota lucrativa do filibusterismo contra galeões espanhóis por isso mostravase não ser muito vantajosa aos interesses da metrópole e negava o constante caráter de guerra contra a bandeira da Espanha ou seja a colônia na América do norte não servia aos interesses imediatos das Províncias Unidas e então aos poucos a colônia passou a ser abandonada pela Companhia das índias e pelo governo holandês Os imigrantes começaram a fazer uma ocupação mais ofensiva e começam a surgir as constantes desavenças entre calvinistas e luteranos Em 1664 os ingleses tomam Nova Amsterdã chamandoa de Nova York em 1665 começa a segunda guerra angloholandesa dando motivos para que em 1667 as Províncias Unidas cedessem efetivamente a colônia de Nova Amsterdã aos Ingleses através da Paz de Breda Acabavase aí a utopia do povoamento em Manhattan porém a população das 13 colônias inglesas durante o século XVII e início do XVIII continuou sendo ¼ composta de estrangeiros na maioria deles holandeses e suecos Saberes adquiridos na Nova Holanda Conquista e colonização do Brasil Países Baixos e Portugal sempre mantiveram um bom contato comercial até o momento em que os reis espanhóis durante a união ibérica bloquearam o comércio entre os dois países com a trégua dos doze anos 1609 1621 o comércio foi restabelecido e os holandeses puderam novamente entrar em contato legal com terras brasileiras aumentando assim o número de embarcações neerlandesas em portos principalmente os da Bahia e de Pernambuco grandes centros comerciais da época e ao mesmo tempo grandes produtores de açúcar Durante esse período 50000 caixas de açúcar foram levados de terras portuguesas aos Países Baixos do Norte E em 1621 ao final da trégua e retomada da guerra e consequentemente do bloqueio imposto pela Espanha e da criação da Companhia das Índias Ocidentais os holandeses decidem tomar o Brasil Numa ação planejada27 os holandeses atacam a Bahia em 1624 porém são logo expulsos por forças espanholas e portuguesas o mesmo não acontece no ataque a Pernambuco em 1630 a principal e mais rica região produtora de açúcar no mundo de então Existiam aí e nas capitanias vizinhas mais de 120 engenhos que nas melhores safras davam mais de mil toneladas do produto28 ocupamse Olinda e Recife facilmente mas na zona rural onde habitavam os grandes produtores a conquista se da com dificuldade da mesma forma na restauração a zona rural é rapidamente anexada pelos portugueses ainda em 1645 enquanto que a zona urbana só será restaurada em 1654 A colônia de Nova Holanda continuou a sua expansão no Brasil sob a administração do Governador Capitão e AlmiranteGeneral das terras conquistadas ou ainda por conquistar pela Companhia das Índias Ocidentais no Brasil assim como todas as forças de terra e mar que a Companhia aí tiver29 ou apenas Conde João Maurício de Nassau onde além de Pernambuco outras mediações foram conquistadas como Sergipe e Maranhão 27 GONSALVES DE MELLO José Antônio O domínio holandês na Bahia e no Nordeste IN HOLANDA Sérgio Buarque de ORG História geral da civilização brasileira Tomo I A época colonial Volume I Do descobrimento a expansão territorial Bertrand Brasil Rio de Janeiro Bertrand Brasil Ltda 2003 13 Edição P 262 28 Ibidem p 262 29 Ibidem p 264 De certo um grande administrador mente renascentista tolerante com católicos foi comparado a santo Antônio tolerou estrangeiros e portugueses A tolerância aos costumes portugueses como o catolicismo e a escravidão foi motivada pelo simples fato de que não seria possível mudar as relações sociais de uma forma tão brusca então concessões foram feitas aos costumes e práticas lusitanas principalmente no meio urbano Quanto aos judeus mesmo que se mostrasse uma certa repulsa por parte de católicos e protestantes nada estes últimos poderiam fazer já que os israelitas estavam sob a proteção do governo holandês por formarem uma comunidade economicamente muito poderosa tão poderosa que tal repulsa acreditase não seja causada por motivos religiosos mas por motivos da ordem econômica já que ao chegar no Brasil os Judeus começaram a montar suas bancas de empréstimo e comércio disputando assim a clientela holandesa A colonização teve um caráter comercial não que isso tenha evitado o crescimento da produção de açúcar porém na colonização portuguesa a aristocracia rural detém maior destaque na pirâmide social do Brasil O que não é visto na colonização holandesa onde os setores comerciais urbanos alcançam um maior status na sociedade De certo há um investimento em Recife Olinda e na Cidade Maurícia construída e planejada pelos holandeses construíramse pontes diques praças jardins públicos tudo no modelo holandês apenas fugia a regra uma igreja francesa e o governador fez o zoológico o museu de belas artes o jardim botânico incentivou as ciências e artes reformandose assim aquilo que os holandeses chamaram de Burgos Tristes30 A escravidão foi mantida mesmo contra os princípios calvinistas e durante 1630 e 1635 enquanto se colocava em prática a ocupação holandesa instalouse na colônia o que se chamou de Estado Anárquico31 ou seja uma fuga em massa de escravos para os mocambos principalmente os mocambos dos palmares Nada foi feito a favor dos escravos sabese que até a expulsão dos holandeses grande parte do trato de escravos realizado pelos mesmos tinha como único destino à Nova Holanda Brasileira Depois de inúmeras batalhas para defesa da colônia e com a entrada da Holanda na primeira guerra contra a Inglaterra em 1652 pelas rotas comerciais na América surge em 1654 a grande oportunidade de tomada do Brasil pelas forças portuguesas os holandeses não mostram 30 GONSALVES DE MELLO José Antônio Tempo dos Flamengos Influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil Rio de Janeiro Topbooks UNIVERSIDADE Editora 2001 4edição P 39 31 Ibidem P 186 resistências e da colônia em Pernambuco só sobram as experiências e saberes adquiridos sobre a plantação cultivo e refino do açúcar que brevemente serão utilizados no Caribe holandês Curaçau O coração rubro nas Américas e as outras pequenas Antilhas Em 1499 1500 os holandeses passaram pela primeira vez diante da ilha de Curaçau e viuse nela o que futuramente seria o seu objeto de desejo Como já discutido aqui para a produção de Arenque os holandeses necessitavam do sal vindo de Setúbal em Portugal com o bloqueio comercial imposto pela Espanha os holandeses não puderam buscar o tão estimado sal português então lembraram das Antilhas de uma em especial na costa venezuelana chamada pelos portugueses de Curaçau contase que ali marinheiros moribundos de um navio português foram tratados e ficaram de repouso alcançando assim a cura Curação este é o primeiro nome da ilha que após dominação espanhola e holandesa passou ser conhecida como Curaçau As pequenas ilhas caribenhas ou anteilhasantilhas não foram valorizadas pelos espanhóis primeiramente por não oferecer ouro depois pelo fato da grande agressividade indígena dessa região os índios Arawaks e Ciboney eram mais temidos que os índios das grandes ilhas além de não possuírem água potável todas as forças e energias espanholas estavam dirigidas as conquistas no continente São seis as ilhas colonizadas pelos holandeses as ilhas de barlavento ou ABC Aruba Bonaire e Curaçau e as ilhas de sotavento San Martten Saba e Sant Eustáquio De fato a partir de 1625 iniciase a colonização das pequenas Antilhas pelos franceses ingleses e holandeses A primeira ilha a ser conquistada pelos zelandêses é a de Sant Eustáquio em 1632 logo após em 1634o navegador holandês Johannes Van Welberck tomou Curaçau a conquista se deu facilmente já que haviam apenas 32 espanhóis e alguns indígenas na ilha era de certo um dos melhores portos da região e um ótimo ponto para combate aos espanhóis fortificaram a ilha e em 1636 tomaram as ilhas vizinhas de Aruba e Bonaire Em 1640 conquistam a ilha de Saba esta não possuía porto mas penhascos que ajudavam na defesa e por último em 1648 tomaram a ilha de San Martten muito valorizada com ótimas salinas e de fácil penetração foi dividida entre holandeses e franceses Pensaram tomar também a ilha de Sant Thomaz mas voltaram atrás pela falta de defesa da ilha Em 1642 já residiam nas Antilhas 100000 europeus Os ingleses e franceses buscam na América uma nova oportunidade de vida um refúgio para a liberdade de religião porém os holandeses no entanto vieram como comerciantes e intermediários Eles não tinham um desejo real de constituir novos lares ou mesmo um império já haviam lutado pela liberdade e pela tolerância na Europa e haviam vencido Mas desejavam encontrar um mercado para o seu comércio crescente e um meio de utilizar o seu poderio marítimo que havia crescido enormemente durante a sua longa luta contra a Espanha32 De fato a chave para entender a importância das Antilhas para a Holanda é o comércio Exemplificando em 1601 108 urcas neerlandesas dirigiramse a Curaçau e a costa venezuelana mas especificamente na região das salinas de Cumaná buscavam o sal mas ao mesmo tempo contrabandeavam produtos europeus para essa região e como um coração holandês no centro da América bombeava produtos para toda região do Caribe É preciso entender que durante este período havia pouca vigilância espanhola nos mares daquela região ao mesmo tempo a Espanha não fazia uma distribuição comercial freqüente para os colonos Grosso modo estava unido então o útil ao agradável os holandeses traziam produtos vindos da Europa e da África como tecidos e escravos E assim Curaçau e as Antilhas tornaramse verdadeiros centros distribuidores de contrabando para a América espanhola portuguesa e inglesa Usavam a insatisfação dos crioulos para manter o contínuo contrabando desarticulando as províncias forneciam material bélico para rebeliões em posses espanholas Muitas vezes as patrulhas venezuelanas entravam em combate com os contrabandistas holandeses mas se sabe que o contrabando chegou a constituir uma instituição fonte de corrupção das autoridades metropolitanas encarregadas da vigilância na América33 Curaçau também se tornou um estaleiro para a construção de navios de guerra aumentando assim o número de ataques à costa venezuelana não como filibusterismo mas como expedições armadas para a tomada das regiões inabitadas forma se uma influência naval muito forte sobre os territórios espanhóis do caribe tanto que quando os espanhóis procuram defender seus territórios e repreender o contrabando através das chamadas patrulhas venezuelanas os próprios comerciantes crioulos não aprovam tal medida pois estes obtinham muitas vantagens em manter o comércio com os holandeses Vêse então que o contrabando atingiu escalas estratosféricas a Venezuela fornecia produtos agrícolas como cacau e couro e Curaçau produtos industrializados até que em 1638 32 HANSON HISS Philip Índias ocidentais holandesas Curaçau e Surinam IN LANDHEER Bartholomeus ORG A Holanda Rio de Janeiro Seção de livros da empresa gráfica O Cruzeiro SA 1947 P 382 33 CORDOBABELLO Eleazar Compañias Holandesas de Navegación agentes de la colonización neerlandesa Sevilla Escuela de Estúdios HispanoAmericanos 1964 P115 Curaçau passa a ser o principal centro distribuidor de mão de obra escrava no Caribe entre 1650 e 1750 chegaram a Curaçau vindo da Angola e da Guiné 20000 escravos por ano Até o ano de 1654 Curaçau figurava apenas como intermediário no mar caribenho entre a África e o norte da América do sul Costa Rica e Santo Domingo quando holandeses e judeus portugueses expulsos do Brasil aportam nas pequenas ilhas trazendo consigo o cultivo do açúcar desenvolveram a agricultura e o comércio e com o assentamento de famílias começa o trabalho escravo novamente nada se faz a favor do escravo a igreja calvinista procura convertêlos e durante os séculos XVII e XVIII chegam à ilha jesuítas e franciscanos venezuelanos que instalaram o matrimonium clandestinum já que aos escravos era proibido o matrimônio mas nada mudaria a situação social do escravo até que em 1795 realizase uma revolução escrava aos moldes da ocorrida no Haiti porém não alcança sucesso Interessante expor que nas Antilhas havia dois tipos de escravos os particulares empregados em serviços domésticos e na agricultura e os escravos do Rei empregados na desgastante exploração das salinas e nos serviços públicos No momento da abolição da escravatura em 1863 havia 6751 escravos em Curaçau Em 1775 durante a independência das colônias inglesas na América do norte as ilhas de Sant Eustáquio e Curaçau desempenharam importante papel como porto de transbordo de insurretos e de abastecimento das colônias rebeldes tal iniciativa levou a um grande progresso a essas ilhas porém a ilha de Sant Kitts que fica a vista do porto da ilha de Sant Eustáquio era uma possessão inglesa e de lá os ingleses perceberam o indesejado comércio com navios de bandeira Norteamericana de início a Inglaterra não assumiu a guerra prontamente de fato já estavam ocupados demais com as guerras com os Estados Unidos e a França mas em 1780 iniciase a quarta guerra angloholandesa onde as Antilhas Holandesas foram tomadas pelos ingleses Ao desembarcar no porto de Sant Eustáquio e espantado com a quantidade de contrabando o governador inglês da ilha de Sant Kitts Almirante Roodney exclamou Se não fosse Sant Eustáquio a revolução Americana não poderia se manter34 Com o fim da guerra angloholandesa as Antilhas e o Suriname ficaram destruídos e tornaramse posses britânicas começa então as guerras napoleônicas e com a conquista francesa sobre os holandeses formase a República da Batávia levando o antigo Caribe holandês às mãos francesas Já em 1806 Luiz Bonaparte tornase Rei dos Países Baixos em 1813 após a revolta da Holanda Guillerme de 34 HANSON HISS Philip Índias ocidentais holandesas Curaçau e Surinam IN LANDHEER Bartholomeus ORG A Holanda Rio de Janeiro Seção de livros da empresa gráfica O Cruzeiro SA 1947 P 389 Orange é coroado Rei Guillerme I com a assinatura em 1814 do tratado de Paris as Antilhas e o Suriname voltam a ser possessões holandesas nas Américas porém sem aquele vigor de antes Com o comércio arruinado e a queda de produtividade abandonamse as fazendas e Curaçau passa por uma grave crise de fome em 1816 que termina com a abolição do comércio escravo em 1819 Domando a Costa Brava Suriname um mosaico étnico na Américas A costa brava foi descoberta por aventureiros espanhóis que seguiam a rota de Colombo e foi no ano de 1593 sob boatos de fabulosas riquezas que Domingo de Vera toma posse das Guianas em nome da coroa espanhola a partir daí até 1683 a costa brava permanece indomada A área da costa brava estendiase desde o Orinoco e o Rio Negro a oeste ao sul com o Amazonas ao norte e leste com o atlântico e obteve o título de brava pelo simples fato de ser baixa e insalubre impossibilitando a colonização no litoral De fato durante esse grande espaço de tempo algumas povoações foram fundadas com Berbice em 1627 e Esequibo em 1632 todas nas margens de rios nunca no litoral propriamente dito Em 1615 os primeiros holandeses desembarcam perto da foz do rio Surinam e constroem uma pequena feitoria mas logo abandonam a região o mesmo aconteceu com os ingleses em 1630 e 1650 com os franceses em 1640 e com os Judeus portugueses que chegam em 1666 trazendo com eles o cultivo do tabaco e do açúcar Após a segunda guerra angloholandesa iniciada em 1665 e da Paz de Breda em 1667 é acordado que toda a costa brava passa a ser posse das Províncias Unidas mas particularmente da província holandesa da Zelândia enquanto a Nova Amsterdã na foz do rio Hudson tornase colônia britânica Então neste mesmo ano ao dia 26 de fevereiro o capitão holandês Abraham Crijnssen conduz a sua frota pelo rio Surinam A segunda Companhia das Índias Ocidentais compra a costa brava dos zelandêses no ano de 1682 e cede terça parte do direito da colonização à cidade de Amsterdã e terça parte à família Van Aerssen Em 1683 embarca rumo a Guiana o futuro governador Aerssen Van Sommeldjik e até a sua morte em 1698 a costa brava encontravase domada Ao chegar naquele mesmo ano na América do sul deparouse com uma colônia composta por 27 casas sendo mais da metade lojas de bebida e o forte Zelândia ocupado por marinheiros e soldados que viviam umas vidas sossegadas O governador então começou sua grande revolução organizou expedições fazendo com que a Companhia se instalasse de fato em todas quatro principais regiões Surinam Esequibo Demerara e Berbice venceu as guerras contra os indígenas expandiu a colonização fundou núcleos de povoamento e fomentou a imigração Na década de 1680 começa então uma relação de amor e ódio entre holandeses e índios caribes os primeiros realizavam ataques planejados contra embarcações com bandeiras espanhola e portuguesa para cativar os indígenas e estes vendiam escravos capturados em guerras tribais principalmente contra os Poytos para os holandeses Isto gera um clima de amistosidade entre ambas as partes e por muito tempo holandeses e caribes seguem aliados na escravização de indígenas Os caribes passam a viver nas periferias das plantações holandesas capturando escravos que tentassem a fuga Porém a sede de lucro e a ganância holandesa fazem com que o estoque de mão de obra escrava seja desviado para o contrabando com o Brasil começa então o processo de escravidão dos índios caribes Esta atitude gera descontentamento e diversos ataques são realizados contra os holandeses enfim estoura uma verdadeira guerra civil que termina com a morte do governador Sommeldjik em 1698 Ao final da luta há um notável decréscimo da população indígena e um grande aumento da população escrava africana vinda da Angola do Congo e de Senegal ao mesmo tempo em que se implanta o cultivo de algodão Em 1712 a capital Paramaribo é tomada pelos franceses liderados pelo capitão Jacques Cassard tal ato tornase oportunidade para fuga e revolta escrava indígena e africana aos colonos holandeses altos impostos são cobrados todos esses fatores contribuem para o abandono das propriedades pelos seus proprietários Porém no mesmo ano é pago o resgate em mercadorias e escravos avaliado em 747350 florins Os escravos fugidos começaram a partir de 1730 a intensificar as insurreições contra os colonos e estes em menor porcentagem demográfica acumularam derrotas em condições humilhantes Em 1749 assinaram a paz com os Saramaccas quilombolas africanos assentados à margem do rio Saramacca e em 1760 após fugirem para o forte assinaram a paz prometendo pagar tributos aos líderes dos Aukaners estes em troca deveriam prometer lealdade e a devolução de novos fugitivos formando patrulhas e prestando serviços contra novas insurreições contra este mal além das patrulhas de exescravos um verdadeiro exército mercenário foi contratado seria então a brigada escocesa Com as guerras napoleônicas de fim do século XVIII a derrota da primeira coligação faz com que as Províncias Unidas passem a formar a República da Batávia e consequentemente tornamse uma posse francesa com a conformação da segunda coligação os britânicos buscam conquistar os territórios sob jugo francês fora da América inclusive o Suriname no ano de 1799 três anos depois a partir da Paz de Amiens o Suriname volta a ser posse holandesa o que não dura muito tempo pois dois anos mais tarde em 1804 os britânicos tomam posse mais uma vez das Guianas impondo o fim do comércio escravo em 1806 Com o Tratado de Paris em 1814 o Suriname volta a ser colônia holandesa porém ao mesmo tempo o Tratado de Londres transforma Berbice Demerara e Esequibo em colônias inglesas A colonização holandesa persistiu em 1863 os 36484 escravos que ainda havia no Suriname foram libertos e a partir da década de 90 do mesmo século ainda sob pavilhão holandês começam a chegar os primeiros imigrantes asiáticos sendo na maioria deles hindus chineses de Hong Kong e javaneses muçulmanos formando assim um mosaico étnico único nas Américas que persiste até hoje América abandonada Com o início do século XIX a América holandesa se vê abandonada Além do final da rixa Províncias UnidasEspanha que cede espaço para guerras maiores como as napoleônicas descobrese o real valor do açúcar de beterraba europeu rival direto do açúcar produzido a partir da cana tropical Outros fatores para o abandono da América são a modernização dos navios que passam a ser a vapor e a abertura do canal de Suez em 1869 ambas inovações encurtam o tempo da viagem entre Holanda e o oriente Enfim todos os motivos comerciais e ideológicos que causaram a colonização holandesa nas Américas não existiam mais e assim as Antilhas e o Suriname únicas colônias restantes são abandonadas enquanto em plena expansão imperialista a Holanda volta seus olhos para o Oriente Conclusão História apenas esta palavra descreve o que aconteceram aqueles ducados e principados reunidos e depois separados que hoje reconhecemos por Bélgica e Holanda e que modificaram e participaram de um processo tão importante como a colonização americana De certo estiveram presentes pirateando contrabandeando conquistando comercializando cultivando escravizando espionando ou apenas montando a primeira cervejaria das Américas Trouxeram progresso domaram a costa brava construíram o zoológico e o jardim botânico com os iroqueses comercializaram peles com os caribes escravos Participaram da exploração das minas de Potosí procuraram entre diversas ilhas o precioso sal pois além do sal encontraram açúcar o tabaco a laranja o algodão o anis e o licor Curaçau No Suriname montaram uma sociedade cheia de negros silvícolas que ainda se comportam como se estivessem na África e a ilha de Sant Eustáquio manteve abastecida a independência dos Estados Unidos em Pernambuco construíram a ponte na Nova Recife e em Manhattan construíram a base para o que hoje é Nova York E hoje ao chegar no Suriname ou nas Antilhas últimos redutos puros de colonização holandesa deparase com uma excentricidade guardada para o final do último ato Uma língua crioula diferente de tudo que se há no mundo o papiamento até hoje os linguistas se digladiam para entender tal dialeto uns falam que se trata de um Português corrompido35 vindo dos escravos africanos de antigas feitorias portuguesas outros dizem que é uma mistura entre espanhol holandês e línguas africanas O Papiamento é o perfeito exemplo da colonização holandesa sem compromissos de fato os holandeses não mostraram nenhum interesse em impor sua língua aos povos conquistados36 como sua língua não impuseram sua religião de modo arbitrário no fim das contas a colonização holandesa tem um sinônimo o comércio Kantika de pleizir Ta Kasá bo kier kasa Mata kamarón lo bo kome tur hende ta bin bisámi kusimi kasa ma ta kumarón lo mi kome Canto de placer Casar quieres casarte Pero comerás camarones Todos vienes a decirme Que si me caso Camarones comeré37 35 CORDOVABELLO Op Cit P124 36 Ibidem P 124 37 Ibidem P 125 Referências Bibliográficas A Guiana e Curaçau A Holanda na América New York Publicação do escritório de informações holandesas Não consta autor e data ANDERSON Perry Linhagens do Estado Absolutista São Paulo Brasiliense1995 AZEVEDO Antonio Carlos do Amaral Dicionário de nomes termos e conceitos históricos 3 Edição ampliada e atualizada Rio de Janeiro Nova Fronteira 1999 CHAMOT Eduardo Dargent Presença Flamenga na América do Sul colonial Lima Universidad San Martin de Porres 2001 Presencia Flamenca em la Sudamérica colonial COMMAGER Henry Steele LEUCHTENBURG WE MORISON Samuel Eliot Breve história dos Estados Unidos Faustino Ballvé Juan José Utrilla Odón Durán DOion Tradutores México FCE 2003 Breve historia de los Estados Unidos CORDOBABELLO Eleazar Compañias Holandesas de Navegación agentes de la colonización neerlandesa Sevilla Escuela de Estúdios HispanoAmericanos 1964 GESSAT Rachel 1581 Holanda se liberta da Espanha httpwwwdwworlddedwarticle0214431968600html visitado em 10112009 às 2138hs GOMES Flávio Palmares Escravidão e liberdade no Atlântico Sul Contexto 2005 GONSALVES DE MELLO José Antônio Tempo dos Flamengos Influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil Rio de Janeiro Topbooks UNIVERSIDADE Editora 2001 4edição HANSON HISS Philip Índias ocidentais holandesas Curaçau e Surinam IN LANDHEER Bartholomeus ORG A Holanda Rio de Janeiro Seção de livros da empresa gráfica O Cruzeiro SA 1947 HOLANDA Sérgio Buarque de História geral da civilização brasileira Tomo I A época colonial Volume I Do descobrimento a expansão territorial Bertrand Brasil Rio de Janeiro Bertrand Brasil Ltda 2003 13 Edição KENNEDY Paul Ascenção e queda das grandes potências Transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000 Tradução de Waltensir Dutra Rio de Janeiro Elsevier 1989 16 reimprenssão LOYNHR Org Dicionário da Idade Média Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed1997 SHORTO Russel A ilha no centro do mundo A história épica da Manhattan holandesa e da colônia esquecida que formou a América Tradução de José Roberto OShea Rio de Janeiro Obejativa 2004 VIEIRA FILHO José O expansionismo comercial e econômico da Holanda no século XVII Rio de Janeiro Jornal do commercio 1941 Os flamengos e os holandeses têm origens comuns mas se tornaram identidades políticas e religiosas opostas Apesar disso mantinham uma relação próxima na América compartilhando a língua e aspectos culturais Os flamengos eram católicos aliados à Espanha e ocupavam cargos importantes nas Américas Os holandeses calvinistas colonizaram áreas como Manhattan Caribe e Brasil Essas duas identidades irmãs separadas na Europa se uniram novamente no Novo Mundo Os Países Baixos eram um território dividido em condados ducados e principados unificados sob a Casa de Borgonha e depois sob a Casa de Habsburgo A dominação espanhola e os tratados de Atrecht e Utrecht dividiram politicamente os flamengos e os holandeses A presença neerlandesa nas Américas foi possibilitada pela posse dos territórios espanhóis pelos Habsburgos A pesquisa busca explorar a participação e influência desses dois grupos neerlandeses na história americana destacando suas origens a construção do agente colonizador e a divisão política entre flamengos e holandeses REFERÊNCIA ARAÚJO Anderson Os flamengos os holandeses a América contribuições neerlandesas no novo mundo UFRRJ Disponível em httpwwwufrrjbrgraduacaoprodocenciapublicacoesperspectivashistoricas artigos09pdf Acesso em 10 jun 2023