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LOPES Ruth Elisabeth Vasconcellos Uma proposta minimalista para o processo de aquisição da linguagem relações locais Campinas SP sn 1999 O problema se coloca no entanto na relação com a empiria As aparências indicam que há um processo de aquisição que ocorre em tempo real A decorrência disso é a necessidade de desenvolver uma teoria de aprendizagem que dê conta de tal processo A hipótese maturacional cf Bickerton 1989 Borer Wexler 1987 Felix 1984 Guilfoyle Noonan 1988 Lebeaux 1987 Meisel 1994 Radford 1990 dentre inúmeros outros atribui as mudanças empíricamente observadas a um processo de aquisição a um calendário maturacional Não vou contudo me estender sobre essa fase da hipótese na medida em que reflete uma noção incoerente do conceito de princípio já que o afasta de sua concepção original justamente o lugar da universalidade entre as línguas naturais além de equivocada como as evidências empíricas se encarregaram de mostrar perspectiva biológica na medida em que todos os processos biológicos já estão previstos e previamente existentes no código genético da espécie Dessarte uma tal visão não se sustenta quer no âmbito teórico do modelo gerativista quer na perspectiva biológica de desenvolvimento Entretanto um certo abrangamento dessa visão extremada tem sido usado como forma de dar conta de alguns dados empíricos Como apontamos acima além da visão de que os princípios não estariam prontos para a criança na GU há a visão de que não estariam operativos inicialmente ou a criança não teria acesso a eles por motivos maturacionais Nesta versão a GU restrigiria os sistemas iniciais portanto teria um papel desde o início do processo de aquisição porém de forma subspecificada e por subspecificada entendese exatamente que alguns princípios ou operações formais ainda não estariam disponíveis para a criança Esta é a proposta de Borer Wexler 1987 Segundo estes autores por exemplo os princípios subjacentes à emergência de passivas verbais plenas com byphrases dependem da maturação Eles afirmam que até atingirem um determinado nível de maturação as crianças não são capazes de produzir ou compreender tais estruturas Para eles a derivação de passivas por envolver a formação de cadeiasA ainda não estaria disponível para a criança nos primeiros anos Crain 1991 apresenta farta evidência contrária mostrando que crianças em situação de teste usam estruturas passivas Este autor atribui o problema a fatores de processamento Uma das consequências que se extrai desta visão da hipótese é que pelo menos nos estágios iniciais em que algumas propriedades formais do sistema ainda não estão operativas se atestem na fala de crianças pequenas estruturas que não são parte da gramática adulta que estão adquirindo ou até mesmo estruturas que não se encontram nas línguas naturais Rizzi 1994 explora essa possibilidade como potencial explicação para o fato de crianças de aproximadamente dois anos aparentemente em todas as línguas usarem infinitivos em cláusulas raiz um fenômeno até agora não atestado na gramática de nenhuma língua estudada Aos poucos os trabalhos que seguem a hipótese maturacional se voltaram para uma visão de parâmetros vinculada às categorias funcionais seguindo assim o curso de desenvolvimento da teoria da gramática Desta forma admitem que haja uma fase présintática durante o processo de aquisição da linguagem em que a criança não conta com as categorias funcionais Em termos operacionais as explicações para a fase présintática são de natureza diversa Admitemse pois que nesta primeira fase a criança se valha do módulo pragmático da linguagem cf Meisel 1994 por exemplo mas não do gramatical ou que tenha uma protolíngua com construções próximas de um pidgin cf Bickerton 1989 1990 dentre outros ou ainda que as formas sintáticas que emprega sejam de natureza léxicotemática a tese do truncanento segundo a qual a criança se utilizaria apenas de minioracões em outras palavras de subpartes da gramática adulta cf Radford 1990 Guilfoyle Noonan 1988 por exemplo O que há de comum em todos esses trabalhos é o fato de admitirem que a criança começa pelas categorias lexicais N V e aos poucos vai adquirindo as categorias funcionais A hipótese central que guia muitos desses trabalhos a partir de Lebeaux 1988 atribui a ordem observada no desenvolvimento como sendo um reflexo da ordem hierárquica das respectivas categorias funcionais na estrutura de uma determinada língua Por vezes encontramonos em um mesmo autor uma certa mistura de posições inclusive no que diz respeito ao papel da GU Senão vejamos Meisel 1994 afirma during an early phase children may not have access to grammar at all although they are clearly able to use semanticpragmatic principles to organize the form of their speech My claim is that early multiword utterances represent what Bickerton calls protolanguage According to Bickerton neurological maturation makes UG available to the child and this happens around age 20 approximately This is I want to argue where the principle of grammatical continuity comes into play once grammar is accessible categories and rules of child grammars are of the same type as those in their mature counterparts pp 9394 É interessante percebermos que Meisel apesar de ser um maturacionista por acreditar que as categorias funcionais cumprem um calendário de desenvolvimento chega com a afirmação acima a descartar qualquer papel da GU até uma certa idade da criança afinandose assim à versão mais forte da hipótese Da mesma forma apela ao princípio da continuidade após a GU se disponibilizar Contudo é preciso lembrar como veremos mais detalhadamente na seção seguinte que os contínuas pressupõem a presença da GU e de todos os seus princípios desde sempre Tomarei alguns trabalhos que seguem a linha maturacional apenas a título de exemplo Meisel op cit trabalhando com a aquisição bilíngue simultânea de francês e alemão toma o VERBO como categoria central a ser depreendida pois uma vez que a criança ainda não possui categorias funcionais sua sentença circunscrevese ao VP A ordenação entre os elementos que aparecem em VP ainda não é dependente da forma morfológica e também não é regulada por princípios gramaticais Antes a sequência deriva da relação temarema embora ele mostre que já se observem padrões específicos para cada língua o que se explicaria pela influência do input Conquanto o autor admita como vemos na citação acima que a criança passe por fases distintas de desenvolvimento primeiramente uma fase semânticopragmática e posteriormente uma fase em que a GU entra em ação ele não crê que haja qualquer tipo de dependência entre o processo que ocorria anteriormente e o que passa a ocorrer a partir da maturação em outras palavras não há gramatização de princípios semânticopragmáticos A emergência das formas finitas constituiuse nos dados cruciais evidenciando as afirmações acima Segundo o autor AGR seria o primeiro elemento a emergir de acordo com sua análise por ser o primeiro elemento que domina VP na hierarquia estrutural Essa análise encontra suporte teórico em Pollock 1989 e Kuroda 1988 A partir desse ponto em um período de seis meses a gramática infantil passa a apresentar o paradigma verbal do alemão Poderseia perguntar se essas formas representam efetivamente marcas de concordância o que o autor diz ocorrer quando começa a haver concordância pessoal com o sujeito Para o francês o dado crucial é o uso de sujeitos clíticos considerados realizações fonéticas de AGR já que os sufixos verbais são fonologicamente indistintos No alemão já por volta dos 2 anos a criança produz a ordem SVO ou SOV aparecendo o verbo no segundo caso sempre na forma nãofinite o que indiretamente poderia constituir evidência de que ela tinha passado a ter um conhecimento da gramática do alemão em que o verbo flexionado está em I e não em V Dado que a concordância é a primeira categoria gramatical que distingue formas verbais finitas de infinitivas na gramática infantil a segunda pergunta que Meisel coloca é quando TEMPO entra em ação já que também é um componente relacionado à finitude Seus resultados mostram que as marcas de tempo surgem só depois que a criança já apresenta todas as marcas de concordância pessoal e a maioria das concordâncias de número Mostram ainda que em alemão a aquisição de tempo se relaciona à emergência de construções perfectivas Assim como concordância é mais difícil de detectar o surgimento de TEMPO em francês por conta da falta de flexões aparentes no entanto o autor sugere que também nessa língua a distinção tempo se dê após a aquisição de concordância sujeitoverbo Finalmente Meisel coloca a questão teórica sobre a natureza da categoria funcional que se projeta sobre VP quer na gramática infantil quer na adulta Suas conclusões sugerem que AGR não seja uma categoria sintática projetandose maximamente O autor fica com o nódo tradicional IP e explica que o processo de maturação se deve à instânciação de traços a finitude é definida primeiramente em termos de concordância e posteriormente em tempo esse desenvolvimento aciona a implementação da categoria IP sobre VP CP é implementado posteriormente Conclusão oposta entretanto é apresentada por Kato 1995a analisando o fenômeno das cláusulas raízes nãofinitas em várias línguas Uma visão diferente da de Meisel quanto à passagem da fase semânticopragmática para a fase sintática pode ser encontrada em Koehn 1994 Para essa autora há uma certa dependência entre as fases Assim pesquisando a aquisição de morfologia de gênero e número no DP sua hipótese central é que a criança para adquirir marcas morfológicas realize algumas tarefas como a o desenvolvimento do conceito semântico subjacente para número um ou mais que um b o reconhecimento de que gênero e número são sistematicamente codificados em categorias sintáticas específicas c a aquisição das realizações morfológicas apropriadas desses traços e de fenômenos de concordância a eles relacionados Sua análise do fenômeno propriamente é bastante complexa e de pouco interesse aqui O que gostaria de retomar é justamente sua proposta em a acima em que um conceito semântico é tomado como alavanca para a aquisição da sintaxe O que se percebe nessas propostas é a pressuposição de que as dimensões semântica e pragmática da linguagem sejam mais simples e por esse motivo anteriores à sintaxe na medida em que não demandam da criança um refinado estágio de desenvolvimento A esse respeito cito Lemos 1986 em retrospectiva sobre a área de aquisição de linguagem role in allowing the child to increase the intake we can explain why the child plays attention to data that was previously ignored pp 456 Esse tipo de proposta suscita um outro problema do tipo ovogalinha Segundo Guilfoyle Noonan op cit It seems plausible to say that while both maturation and input data is relevant for the emergence of functional categories only input data is relevant for establishing the properties of those categories p 45 Sem dúvida as categorias funcionais constituem o espaço de variação entre as línguas e por conseguinte sua aquisição é dependente dos dados a que a criança é exposta Porém de acordo com essa proposta é preciso haver um amadurecimento para que a criança consiga lidar com os dados que são no fundo reveladores das propriedades das categorias Ela precisaria da categoria para lidar com os dados ou dos dados para chegar à categoria NominativoAcusativo só posteriormente fazendo a distinção AcusativoDativo Müller 1994 em artigo intitulado Parâmetros não podem ser relacionados a evidência através do desenvolvimento de COMP tenta mostrar que o reconhecimento de traços gramaticais é determinado por uma cronologia invariante que não depende do input mas é dada por um inventário universal havendo assim uma cronologia de acionamento paramétrico A proposta da impossibilidade de reacionamento paramétrico foi originalmente feita por Clahsen 1990 e a autora a segue em seu trabalho Sua questão segundo Clahsen baseiase na hipótese de que os dados a que a criança é exposta são por vezes contraditórios e isso poderia levála a acionar o valor de um mesmo parâmetro diferentemente inúmeras vezes nunca chegando ao valor adequado Segundo a autora além de se constituir em um problema teórico há evidências empíricas de que isto não ocorra Assim propôs que a GU contenha uma restrição para o acionamento paramétrico em seus termos que os valores dos parâmetros fixados não sejam reacionados durante o desenvolvimento linguístico Para evidenciar sua proposta Müller analisa os padrões de ordenação em orações encadeadas em alemão e francês em três crianças segundo a autora Aos poucos essa criança passa a analisar cada elemento em C separadamente integrandoos à gramática e consequentemente demonstrando a ordenação de palavras desejada para aquela língua Müller interpreta esse fato como evidência para a hipótese que está seguindo segundo a qual uma vez acionado o parâmetro não haverá reacionamento A questão no entanto é se o acionamento paramétrico é restrito pela GU e segue uma cronologia invariante por que as crianças passam por processos distintos Talvez fosse importante ressaltar que a variação no processo de aquisição e eventualmente na própria constituição da língual seja mesmo distinta de criança para criança o que se encaixaria perfeitamente na definição mais recente que Chomsky dá à língual como dentre outras coisas sendo individual no sentido estrito do termo O problema é coadunar esta visão com a hipótese maturacional Acreditamos entretanto que a resposta a esta questão esteja vinculada ao último ponto que discutiremos Aparentemente o maior problema que a hipótese maturacional apresenta está na confusão entre os níveis de descrição e explicação Jackendoff 1987 afirma que se admite três níveis em modelos cognitivos 1 o da implementação o físico o suporte neurofisiológico cerebral 2 o da representação o nível abstrato da representação de um determinado conhecimento bem como dos algoritmos envolvidos em seu funcionamento e 3 o da computação uma descrição de como 2 está operando em 1 Conquanto a hipótese maturacional se baseie totalmente em um modelo biológico portanto no nível da implementação toda a argumentação que a sustenta bem como as evidências que se buscam estão no nível da representação são fenômenos linguísticos O corolário disso é que o calendário maturacional se traduz em ordenação de categorias ou princípios formais da gramática reduzindo necessariamente o paralelo com a maturação biológica a uma metáfora Alguns autores cf Lebeaux 1987 examinam essa posição mais clara ao admitirem que o cronograma de desenvolvimento se baseia em princípios de ordenação internos à gramática nada tendo a ver com a maturação física da criança Nesse caso um determinado estágio de aquisição é entendido como dependente do anterior na medida em que se prevê que o ajuste do valor de um parâmetro P₂ por exemplo dependerá do ajuste do valor do Parâmetro P₁ Sobre esse ponto Clahsen 1989 afirma This approach reminds me of the rule orderings extrinsic or intrinsic in transformational theories during the seventies Similarly to the maturational schedules these theories contained a separate component where the order of application of syntactic rules had been fixed Modern linguistic theory has moved further away from ordering E de fato Meisel 1997 admite que a hipótese maturacional apresente uma ordenação intrínseca como modelo de desenvolvimento da linguagem ao restringila às propriedades parametrizáveis das gramáticas Mas chama a atenção para o fato de que em termos de aprendizagem a hipótese lança mão de uma ordenação extrínseca ao trazer para dentro do modelo a teoria da marcação e prever valores default para os parâmetros Segundo ele a marcação não é definida por critérios internos da gramática mas por alguns critérios externos Na melhor das hipóteses ela é justificada pelo princípio do subconjunto mas isto também constituiu um princípio da aprendizabilidade não da gramática Subconjunto eou da Teoria da Marcação para dar conta do processo de aprendizagem Segundo a Teoria da Marcação em S₀ os parâmetros estariam fixados em um valor padrão default fornecido pela GU portanto um valor possível para alguma língua natural Caso esse valor não seja o adequado para a gramáticaalvo que a criança está adquirindo então o valor teria que ser refixado O que se quer evitar com essa concepção é a visão bastante problemática de que os parâmetros em GU tinham valores abertos pois se assim fosse um tal sistema não poderia lidar com os dados do input como destaca Roberts 1993b Entretanto alguns problemas se colocam O primeiro deles é determinar qual seja o valor default para cada parâmetro O segundo diz respeito ao processamento De acordo com Berwick Weinberg 1984 os princípios e restrições que atuam nas gramáticas devem ser os mesmos que atuam no processamento sintático Assim se os parâmetros já vêm com um valor previamente fixado caso esse valor não corresponda ao valor adequado na língua que a criança está adquirindo ela não teria como processar sintaticamente estruturas que demandassem outro valor para o parâmetro portanto não teria como lidar com as evidências relevantes para o que refixar já que o processamento não lhe forneceria as informações necessárias para tanto Além disso é de se imaginar que além de estar adquirindo uma língua a criança também a está processando em alguma medida Para dar conta do primeiro ponto levantado isto é como determinar o valor default para cada parâmetro alguns autores propõem a junção da Teoria da Marcação ao Princípio do Subconjunto em outras palavras o valor default é sempre aquele que define uma gramática menor Como já tratamos disso anteriormente não vamos nos estender sobre o assunto Uma outra visão possível é que ambos os valores dos parâmetros estejam simultaneamente acessíveis em S₀ e a fixação paramétrica equivaleria à eliminação de uma das opções Essa alternativa elimina o problema apontado em relação ao processamento mas acaba caindo também no problema da ordenação Segundo a proposta de Lebeaux 1988 os valores embora acessíveis teriam uma ordem prevista que levaria a criança preferencialmente à gramática default No caso dessa gramática ser incompatível com a sua gramáticaalvo a criança então utilizaria a opção alternativa que se sobreporia ao valor default inibindoo Em que pese o problema anteriormente levantado sobre marcações default para os valores paramétricos essa parece ser a única solução em um tal modelo uma vez que não havendo nenhum tipo de restrição a criança não teria por que acionar parâmetros dado que sua gramática inicial caberia em um dos dois valores previstos Além disso como vimos anteriormente não há como retroceder a partir de dados positivos em gramáticas superespecificadas Embora Lebeaux trabalhe com a hipótese maturacionista um tal modelo de aprendizagem também cabe na hipótese continuísta que passamos a discutir As regras gramaticais da criança devem ser extraídas dos mesmos tipos básicos de regras e compostos de símbolos primitivos da mesma classe como as regras gramaticais atribuídas aos adultos p 7 apud Meisel 1997 23 Contudo quando se confrontam os resultados das pesquisas em aquisição eles parecem estabelecer um dilema ou o paradoxo a que Meisel se refere Muitos estudos apresentam evidências de que desde muito cedo já a partir dos enunciados de duas palavras as gramáticas infantis se aproximam da gramáticaalvo em vários aspectos Um dos tópicos mais discutidos nesse sentido tem sido o apagamento do sujeito e objeto Embora esse fenômeno se verifique em gramáticas infantis de quaisquer línguas sendo adquiridas de alguma forma ele se restringe ao feito da línguaalvo Na visão dos continuístas a aparente fase léxicotemática oculta categorias funcionais visíveis em certas regularidades na produção da criança Assim no francês o verbo sobe para a categoria I flexão quando a sentença é finita e permanece em VP quando o modo é infinitivo A diferença da posição da negação seria então uma pista para dizer se há ou não a categoria I na gramática da criança A abordagem da aprendizagem lexical é de Clahsen 1989 dentre outros Segundo ela as mudanças pelas quais a gramática infantil passa ao longo do desenvolvimento são atribuídas ao aumento do léxico da criança além do aumento de sua memória e capacidade de processamento Under this view the lexical and morphological items and their associated properties which the child has to learn for a particular language induce restructurings of hisher grammar Given the lexical learning hypothesis it is possible that while all of the UG principles are ready to apply from the start some must await the acquisition of certain lexical triggers before they can be successfully used Clahsen 1989 57 A despeito do aparente paradoxo as hipóteses contínuas parecem ser mais plausíveis como tentarei demonstrar rapidamente Em primeiro lugar levam muito seriamente em conta a perspectiva inatista Se se prevêem princípios inatos e isso é o pressuposto norteador do modelo gerativista então não se pode considerar que não tenham um papel preponderante na aquisição desde sempre o que certamente reflete com mais propriedade o problema de Platão Em segundo lugar não precisam propor mecanismos de aprendizagem que ordenem intrínseca ou extrinsecamente as categorias a serem adquiridas Para além disso não têm que justificar a natureza de uma gramática sem categorias que estabeleçam referência às estruturas Como aponta Kato 1995a pressupor que a criança não tem acesso à categoria funcional DP por exemplo significa em última instância assumir que a criança não esteja atribuindo referência a uma expressão nominal Como então pode utilizar argumentos O mesmo podese dizer sobre a relação IPV e sobre CP como atribuidor de estatuto de sentença a uma determinada estrutura se declarativa se interrogativa Finalmente garantem a uniformidade da faculdade da linguagem As diferenças encontradas nos diferentes estágios de desenvolvimento da gramática infantil explicamse por fatores externos como capacidade de processamento e falta de memória dentre outros mas não através de uma mudança qualitativa no teor da faculdade da linguagem Isso garante e respalda seu caráter modular e sua especificidade linguística além de sua interface com sistemas de performance tópico que exploraremos no quinto capítulo A única forma de preservar a tese inatista é admitir uma teoria seletiva contra uma instrutiva ambas emprestadas à biologia The core fact is that contrary to received wisdom there is no known process either in biology or in cognition that literally amounts to learning in the traditional instructive sense that is to a transfer of structure from the environment to the organism With no exception all the mechanisms of acquisition of stepwise complexification and of noveltygeneration that have been unravelled so far in biology and in the cognitive sciences are due to a process of internal selection PiatelliPalmarini 1989 2 grifos do autor Uma teoria instrutiva prevê que o organismo seja totalmente estruturado a partir do meio exterior enquanto que uma teoria seletiva prevê que um organismo seja altamente estruturado internamente tratando o meio externo a partir dessa estruturação interna De acordo com esta última teoria então além de a experiência externa ter que ser delimitada pelas possibilidades internas sua ação sobre o organismo também é limitada uma vez que só poderá agir sobre possibilidades já previamente estruturadas no organismo PiatelliPalmarini op cit estabelece um paralelo entre a aquisição da linguagem no modelo gerativista e processos imunológicos Segundo esse autor um organismo possui uma capacidade genética de gerar de fato e não apenas potencialmente um repertório de alguns milhões de tipos de anticorpos Esse repertório é tão vasto que qualquer tipo de molécula está fadada a encontrar pelo menos um anticorpo que a reconheça e se ligue a ela seletivamente O contato com o meio ambiente ou seja com os antígenos apenas alteram a demografia das células que produzem os vários tipos de anticorpos de acordo com a necessidade de sua atuação Nothing is ever new to the system the repertoire of existing antibodies constitutes a network an interactive system of internal images of all possible external forms a repertoire which is complete and closed p 17 A admissão de um sistema inato altamente rico e estruturado presente portanto antes de qualquer contato com o mundo exterior já descarta a ideia de aprendizagem no sentido lato do termo Se por um lado a teoria seletiva é a única compatível com o programa chomskyano por outro é também o único suporte possível para sustentar qualquer posição em relação à qualidade da experiência linguística que a criança recebe No entanto a discussão em torno do conceito de aprendizagem que poderia parecer apenas uma questão terminológica acaba gerando alguns conflitos em estudos de aquisição de linguagem Partindo de um modelo explanatório como o adotado por Lightfoot 1989 por exemplo em 1 abaixo 1 dado acionador genótipo fenótipo verificamos que há uma forte conexão com o modelo seletivo em que o dado acionador não é qualquer dado da experiência linguística da criança e sim um dado selecionado pelo genótipo Contudo para dar conta da passagem de S0 para S1 ou do genótipo para o fenótipo muitos acabem assumindo subliminarmente uma teoria desenvolvimentalista típica de modelos instrutivos one of the distinctive properties of UG is its plasticity the fact that it is compatible with many different mature states depending on the environmental factors a child is exposed to Lightfoot 1989 365 o sistema que selecionará estruturas diferenciadas entre as possibilidades prédeterminadas culminando em um vasto espaço para variabilidade individual e para a diversificação entre grupos Obviamente isso se traduz em nossos termos na variação paramétrica e na concepção de LínguaI ainda que a passagem de S0 para S1 seja vista por muitos linguistas como determinista cf Lightfoot 1998 Gibson Wexler 1994 dentre outros Como último ponto gostaria de ressaltar ainda o paralelo que se pode estabelecer entre a teoria seletiva e o significado que adquirir uma língua deve assumir De acordo com o que vimos anteriormente os repertórios inatos parecem ser imensos e se isso é verdadeiro como afirma PiattelliPalmorini recebemos muito mais ao nascer do que aquilo que utilizaremos na idade adulta Decorre daí então que atingir a competência de um falante adulto significa em última instância desaprender através de um processo de estabilização seletiva The key to the developmental problem is nowadays one of getting rid of the superfluous through internal selection and of generating more complex structures through a selective ontogenetic buildup PiattelliPalmorini 1989 12 A extensão da metáfora com a biologia pará contudo na definição de estável Assumese como coisa dada que o ápice do processo de aquisição se dá quando a criança atinge S1 o estágio estável Porém nunca se discute com profundidade essa concepção Encontramos assim na literatura apenas uma formalização da noção de estabilidade relativa ao acionamento de um dado parâmetro14 A parametersetting is stable to the degree that its expression in the input data is unambiguous Following Clark 1990 we will say that a parameter value py is expressed by an input sentence s just in case a grammar must have p set to value v in order to assign a wellformed representation to s An unstable parametersetting then is one whose expression is ambiguous Clark Roberts 1992 56 Já que a discussão envolve input passemos a este conceito 342 Input como dado acionador Há na literatura várias propostas sobre dados linguísticos primários e sua relação com a aquisição Exploraremos apenas as mais discutidas Lightfoot 1989 1991 tenta estabelecer uma correlação clara entre o input e o acionamento paramétrico para a constituição de uma gramática particular por parte da criança buscando na pobreza de estímulo os argumentos que lhe permitirá postular o que seja um dado acionador de parâmetro Segundo ele os dados são pobres em três aspectos a a experiência da criança é finita mas a capacidade que atinge tende a infinito devendo portanto incorporar alguma propriedade recursiva ausente da experiência b a experiência é parcialmente constituída de dados degenerados que não têm qualquer efeito sobre a capacidade emergente e c a experiência é falha no sentido de não prover os dados necessários para a criança chegar a certas generalizações presentes na gramática adulta 14 Estamos assumindo o ônus da prova Obviamente isso não quer dizer que não as há apenas que nós só encontramos uma Chomsky parece assumir estágio estável em contraposição a estágio final na medida em que supostamente nossas gramáticas podem sofrer algum tipo de variação ao longo de nossas vidas Desde O último ponto é o mais relevante em sua argumentação englobando o fato de que crianças não são expostas a dados negativos evidências translingüísticas ou correção sistemática da parte dos adultos Para Lightfoot então dados acionadores são necessariamente menores do que a experiência linguística total da criança de forma a que ela possa desconsiderar os dados degenerados mas por outro lado devem ser robustos uma função de saliência e frequência para que a criança não acione um parâmetro com base em dados produzidos por um hóspede da casa que não domine adequadamente a línguaalvo da criança por exemplo Dados frequentes são necessariamente dados simples the trigger consists only of simple unembedded material and that everything can be learned from structures of degree0 complexity where structural complexity is defined in terms of logical forms 1989 p 323 A justificativa para os dados de grau0 respaldase na teoria da gramática através das restrições de localidade incorporadas ao modelo de RL e que como veremos também estão presentes no Programa Minimalista segundo as quais grosso modo os processos sintáticos afetam apenas itens que não estejam distantes possivelmente na mesma oração Como vimos no capítulo anterior o próprio Lightfoot em trabalho posterior 1991 rendese às evidências de que grau0 apenas deixaria de fora uma série enorme de fenômenos e reforma sua proposta para grau0maisumpouco em que mais um pouco ora se define de maneira menos formalizada como um pedaço na frente de uma oração encaixada ora se define através de Domínio de Regência A proposta de Lightfoot entretanto é interessante no sentido de definir a acessibilidade ao dado acionador em termos estruturais Vale ressaltar contudo que se o dado relevante for tido como grau0maisumpouco isso implica que a criança desde sempre estabelece a distinção entre uma oração principal e uma encaixada Meisel 1997 questiona a necessidade de que os dados acionadores sejam robustos Segundo ele podese pensar em cada valor de parâmetro como uma fechadura na qual somente uma chave entra p 35 Nessa visão a fixação paramétrica é entendida como um processo desencadeado por um único fator detectado pela criança na estrutura gramatical que atribuiu aos dados Para o autor isso não exclui a possibilidade de um acionamento inadequado caso em que evidências conflitantes serviriam para diferenciar dois sistemas gramaticais Podese pensar aqui na definição de estabilização dada acima Em tais casos a gramática da criança ainda estaria instável já que a expressão do input é ambígua O interessante em sua proposta é que é tarefa do sistema estabelecer a correlação dado acionadorvalor do parâmetro Hipóteses de Aprendizagem No entanto esse parâmetro se é que se pode considerar ordem de elementos como parâmetro já que parecem ser uma consequência da interação entre traços nas diversas categorias funcionais não atua sozinho e dependerá de outras pistas como por exemplo a pista sobre a possibilidade de ocorrência das ordens VerboObjetoOV 3 VOOV VI para C Caso a criança encontre nos dados um verbo que se mova para C depois de passar ciclicamente em I ela saberá então que sua língua admite as duas ordens de elementos dependendo obviamente da finitude da sentença Uma vez mais a expressão desse fenômeno pode ser vista como consequência da interação entre traços nas diversas categorias funcionais Voltando contudo às propriedades arroladas acima vemos que fazem uso da ordenação entre parâmetros da Teoria da Marcação além de d expressar uma confusão entre aquilo que se propõe como descrição e um possível modelo explicativo da aquisição da linguagem Não é possível imaginar que a GU lide com o input de forma aleatória e indiscriminada Se fosse esse o caso o espaço de busca para a criança seria infinito e talvez ela nunca atingisse S Assim parece ser mesmo necessário prever em GU algum algoritmo que filtre o input para a criança Também não é difícil imaginar como Lightfoot que a natureza do dado acionador deva obedecer a alguns critérios como não ser dados complexos sob pena de não ocorrerem ou ocorrerem apenas marginalmente no input devem contrariamente à proposta de Meisel ser frequentes Porém é muito difícil imaginar que sejam específicos como a proposta do modelo de pistas Certamente o problema é muito complexo e não deve haver uma solução simples para ele No entanto seria importante chamar a atenção para o fato de que todas as propostas brevemente apresentadas usam artificiais externos à GU como algoritmo São algoritmos como vemos em 2 ou 3 da ordem da descrição dos fenômenos linguísticos e não propriamente intrínsecos à GU Em outras palavras são elementos que 80 Hipóteses de Aprendizagem descrevem a línguaExterna Por que não levantar a hipótese então de que o que quer que haja como função mapeadora do input à S só pode contar com propriedades do sistema e nada mais Essa será a hipótese que perseguiremos em nossa proposta e sobre esse tópico retornaremos portanto no capítulo 5 35 Finalizando Creio que pudemos constatar com a discussão feita neste capítulo que o dito problema lógico da aquisição é efetivamente um problema e não deve assim comportar soluções simplistas ou visões ingênuas sobre o processo No próximo capítulo apresentaremos o Programa Minimalista E como espero mostrar não se trata apenas de um formalismo diferente mas de uma nova concepção do objeto e da teoria que traz consigo uma nova concepção de GU também Mas como veremos os pressupostos delineados nas seções anteriores continuam valendo assim como as hipóteses de aprendizagem 81
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LOPES Ruth Elisabeth Vasconcellos Uma proposta minimalista para o processo de aquisição da linguagem relações locais Campinas SP sn 1999 O problema se coloca no entanto na relação com a empiria As aparências indicam que há um processo de aquisição que ocorre em tempo real A decorrência disso é a necessidade de desenvolver uma teoria de aprendizagem que dê conta de tal processo A hipótese maturacional cf Bickerton 1989 Borer Wexler 1987 Felix 1984 Guilfoyle Noonan 1988 Lebeaux 1987 Meisel 1994 Radford 1990 dentre inúmeros outros atribui as mudanças empíricamente observadas a um processo de aquisição a um calendário maturacional Não vou contudo me estender sobre essa fase da hipótese na medida em que reflete uma noção incoerente do conceito de princípio já que o afasta de sua concepção original justamente o lugar da universalidade entre as línguas naturais além de equivocada como as evidências empíricas se encarregaram de mostrar perspectiva biológica na medida em que todos os processos biológicos já estão previstos e previamente existentes no código genético da espécie Dessarte uma tal visão não se sustenta quer no âmbito teórico do modelo gerativista quer na perspectiva biológica de desenvolvimento Entretanto um certo abrangamento dessa visão extremada tem sido usado como forma de dar conta de alguns dados empíricos Como apontamos acima além da visão de que os princípios não estariam prontos para a criança na GU há a visão de que não estariam operativos inicialmente ou a criança não teria acesso a eles por motivos maturacionais Nesta versão a GU restrigiria os sistemas iniciais portanto teria um papel desde o início do processo de aquisição porém de forma subspecificada e por subspecificada entendese exatamente que alguns princípios ou operações formais ainda não estariam disponíveis para a criança Esta é a proposta de Borer Wexler 1987 Segundo estes autores por exemplo os princípios subjacentes à emergência de passivas verbais plenas com byphrases dependem da maturação Eles afirmam que até atingirem um determinado nível de maturação as crianças não são capazes de produzir ou compreender tais estruturas Para eles a derivação de passivas por envolver a formação de cadeiasA ainda não estaria disponível para a criança nos primeiros anos Crain 1991 apresenta farta evidência contrária mostrando que crianças em situação de teste usam estruturas passivas Este autor atribui o problema a fatores de processamento Uma das consequências que se extrai desta visão da hipótese é que pelo menos nos estágios iniciais em que algumas propriedades formais do sistema ainda não estão operativas se atestem na fala de crianças pequenas estruturas que não são parte da gramática adulta que estão adquirindo ou até mesmo estruturas que não se encontram nas línguas naturais Rizzi 1994 explora essa possibilidade como potencial explicação para o fato de crianças de aproximadamente dois anos aparentemente em todas as línguas usarem infinitivos em cláusulas raiz um fenômeno até agora não atestado na gramática de nenhuma língua estudada Aos poucos os trabalhos que seguem a hipótese maturacional se voltaram para uma visão de parâmetros vinculada às categorias funcionais seguindo assim o curso de desenvolvimento da teoria da gramática Desta forma admitem que haja uma fase présintática durante o processo de aquisição da linguagem em que a criança não conta com as categorias funcionais Em termos operacionais as explicações para a fase présintática são de natureza diversa Admitemse pois que nesta primeira fase a criança se valha do módulo pragmático da linguagem cf Meisel 1994 por exemplo mas não do gramatical ou que tenha uma protolíngua com construções próximas de um pidgin cf Bickerton 1989 1990 dentre outros ou ainda que as formas sintáticas que emprega sejam de natureza léxicotemática a tese do truncanento segundo a qual a criança se utilizaria apenas de minioracões em outras palavras de subpartes da gramática adulta cf Radford 1990 Guilfoyle Noonan 1988 por exemplo O que há de comum em todos esses trabalhos é o fato de admitirem que a criança começa pelas categorias lexicais N V e aos poucos vai adquirindo as categorias funcionais A hipótese central que guia muitos desses trabalhos a partir de Lebeaux 1988 atribui a ordem observada no desenvolvimento como sendo um reflexo da ordem hierárquica das respectivas categorias funcionais na estrutura de uma determinada língua Por vezes encontramonos em um mesmo autor uma certa mistura de posições inclusive no que diz respeito ao papel da GU Senão vejamos Meisel 1994 afirma during an early phase children may not have access to grammar at all although they are clearly able to use semanticpragmatic principles to organize the form of their speech My claim is that early multiword utterances represent what Bickerton calls protolanguage According to Bickerton neurological maturation makes UG available to the child and this happens around age 20 approximately This is I want to argue where the principle of grammatical continuity comes into play once grammar is accessible categories and rules of child grammars are of the same type as those in their mature counterparts pp 9394 É interessante percebermos que Meisel apesar de ser um maturacionista por acreditar que as categorias funcionais cumprem um calendário de desenvolvimento chega com a afirmação acima a descartar qualquer papel da GU até uma certa idade da criança afinandose assim à versão mais forte da hipótese Da mesma forma apela ao princípio da continuidade após a GU se disponibilizar Contudo é preciso lembrar como veremos mais detalhadamente na seção seguinte que os contínuas pressupõem a presença da GU e de todos os seus princípios desde sempre Tomarei alguns trabalhos que seguem a linha maturacional apenas a título de exemplo Meisel op cit trabalhando com a aquisição bilíngue simultânea de francês e alemão toma o VERBO como categoria central a ser depreendida pois uma vez que a criança ainda não possui categorias funcionais sua sentença circunscrevese ao VP A ordenação entre os elementos que aparecem em VP ainda não é dependente da forma morfológica e também não é regulada por princípios gramaticais Antes a sequência deriva da relação temarema embora ele mostre que já se observem padrões específicos para cada língua o que se explicaria pela influência do input Conquanto o autor admita como vemos na citação acima que a criança passe por fases distintas de desenvolvimento primeiramente uma fase semânticopragmática e posteriormente uma fase em que a GU entra em ação ele não crê que haja qualquer tipo de dependência entre o processo que ocorria anteriormente e o que passa a ocorrer a partir da maturação em outras palavras não há gramatização de princípios semânticopragmáticos A emergência das formas finitas constituiuse nos dados cruciais evidenciando as afirmações acima Segundo o autor AGR seria o primeiro elemento a emergir de acordo com sua análise por ser o primeiro elemento que domina VP na hierarquia estrutural Essa análise encontra suporte teórico em Pollock 1989 e Kuroda 1988 A partir desse ponto em um período de seis meses a gramática infantil passa a apresentar o paradigma verbal do alemão Poderseia perguntar se essas formas representam efetivamente marcas de concordância o que o autor diz ocorrer quando começa a haver concordância pessoal com o sujeito Para o francês o dado crucial é o uso de sujeitos clíticos considerados realizações fonéticas de AGR já que os sufixos verbais são fonologicamente indistintos No alemão já por volta dos 2 anos a criança produz a ordem SVO ou SOV aparecendo o verbo no segundo caso sempre na forma nãofinite o que indiretamente poderia constituir evidência de que ela tinha passado a ter um conhecimento da gramática do alemão em que o verbo flexionado está em I e não em V Dado que a concordância é a primeira categoria gramatical que distingue formas verbais finitas de infinitivas na gramática infantil a segunda pergunta que Meisel coloca é quando TEMPO entra em ação já que também é um componente relacionado à finitude Seus resultados mostram que as marcas de tempo surgem só depois que a criança já apresenta todas as marcas de concordância pessoal e a maioria das concordâncias de número Mostram ainda que em alemão a aquisição de tempo se relaciona à emergência de construções perfectivas Assim como concordância é mais difícil de detectar o surgimento de TEMPO em francês por conta da falta de flexões aparentes no entanto o autor sugere que também nessa língua a distinção tempo se dê após a aquisição de concordância sujeitoverbo Finalmente Meisel coloca a questão teórica sobre a natureza da categoria funcional que se projeta sobre VP quer na gramática infantil quer na adulta Suas conclusões sugerem que AGR não seja uma categoria sintática projetandose maximamente O autor fica com o nódo tradicional IP e explica que o processo de maturação se deve à instânciação de traços a finitude é definida primeiramente em termos de concordância e posteriormente em tempo esse desenvolvimento aciona a implementação da categoria IP sobre VP CP é implementado posteriormente Conclusão oposta entretanto é apresentada por Kato 1995a analisando o fenômeno das cláusulas raízes nãofinitas em várias línguas Uma visão diferente da de Meisel quanto à passagem da fase semânticopragmática para a fase sintática pode ser encontrada em Koehn 1994 Para essa autora há uma certa dependência entre as fases Assim pesquisando a aquisição de morfologia de gênero e número no DP sua hipótese central é que a criança para adquirir marcas morfológicas realize algumas tarefas como a o desenvolvimento do conceito semântico subjacente para número um ou mais que um b o reconhecimento de que gênero e número são sistematicamente codificados em categorias sintáticas específicas c a aquisição das realizações morfológicas apropriadas desses traços e de fenômenos de concordância a eles relacionados Sua análise do fenômeno propriamente é bastante complexa e de pouco interesse aqui O que gostaria de retomar é justamente sua proposta em a acima em que um conceito semântico é tomado como alavanca para a aquisição da sintaxe O que se percebe nessas propostas é a pressuposição de que as dimensões semântica e pragmática da linguagem sejam mais simples e por esse motivo anteriores à sintaxe na medida em que não demandam da criança um refinado estágio de desenvolvimento A esse respeito cito Lemos 1986 em retrospectiva sobre a área de aquisição de linguagem role in allowing the child to increase the intake we can explain why the child plays attention to data that was previously ignored pp 456 Esse tipo de proposta suscita um outro problema do tipo ovogalinha Segundo Guilfoyle Noonan op cit It seems plausible to say that while both maturation and input data is relevant for the emergence of functional categories only input data is relevant for establishing the properties of those categories p 45 Sem dúvida as categorias funcionais constituem o espaço de variação entre as línguas e por conseguinte sua aquisição é dependente dos dados a que a criança é exposta Porém de acordo com essa proposta é preciso haver um amadurecimento para que a criança consiga lidar com os dados que são no fundo reveladores das propriedades das categorias Ela precisaria da categoria para lidar com os dados ou dos dados para chegar à categoria NominativoAcusativo só posteriormente fazendo a distinção AcusativoDativo Müller 1994 em artigo intitulado Parâmetros não podem ser relacionados a evidência através do desenvolvimento de COMP tenta mostrar que o reconhecimento de traços gramaticais é determinado por uma cronologia invariante que não depende do input mas é dada por um inventário universal havendo assim uma cronologia de acionamento paramétrico A proposta da impossibilidade de reacionamento paramétrico foi originalmente feita por Clahsen 1990 e a autora a segue em seu trabalho Sua questão segundo Clahsen baseiase na hipótese de que os dados a que a criança é exposta são por vezes contraditórios e isso poderia levála a acionar o valor de um mesmo parâmetro diferentemente inúmeras vezes nunca chegando ao valor adequado Segundo a autora além de se constituir em um problema teórico há evidências empíricas de que isto não ocorra Assim propôs que a GU contenha uma restrição para o acionamento paramétrico em seus termos que os valores dos parâmetros fixados não sejam reacionados durante o desenvolvimento linguístico Para evidenciar sua proposta Müller analisa os padrões de ordenação em orações encadeadas em alemão e francês em três crianças segundo a autora Aos poucos essa criança passa a analisar cada elemento em C separadamente integrandoos à gramática e consequentemente demonstrando a ordenação de palavras desejada para aquela língua Müller interpreta esse fato como evidência para a hipótese que está seguindo segundo a qual uma vez acionado o parâmetro não haverá reacionamento A questão no entanto é se o acionamento paramétrico é restrito pela GU e segue uma cronologia invariante por que as crianças passam por processos distintos Talvez fosse importante ressaltar que a variação no processo de aquisição e eventualmente na própria constituição da língual seja mesmo distinta de criança para criança o que se encaixaria perfeitamente na definição mais recente que Chomsky dá à língual como dentre outras coisas sendo individual no sentido estrito do termo O problema é coadunar esta visão com a hipótese maturacional Acreditamos entretanto que a resposta a esta questão esteja vinculada ao último ponto que discutiremos Aparentemente o maior problema que a hipótese maturacional apresenta está na confusão entre os níveis de descrição e explicação Jackendoff 1987 afirma que se admite três níveis em modelos cognitivos 1 o da implementação o físico o suporte neurofisiológico cerebral 2 o da representação o nível abstrato da representação de um determinado conhecimento bem como dos algoritmos envolvidos em seu funcionamento e 3 o da computação uma descrição de como 2 está operando em 1 Conquanto a hipótese maturacional se baseie totalmente em um modelo biológico portanto no nível da implementação toda a argumentação que a sustenta bem como as evidências que se buscam estão no nível da representação são fenômenos linguísticos O corolário disso é que o calendário maturacional se traduz em ordenação de categorias ou princípios formais da gramática reduzindo necessariamente o paralelo com a maturação biológica a uma metáfora Alguns autores cf Lebeaux 1987 examinam essa posição mais clara ao admitirem que o cronograma de desenvolvimento se baseia em princípios de ordenação internos à gramática nada tendo a ver com a maturação física da criança Nesse caso um determinado estágio de aquisição é entendido como dependente do anterior na medida em que se prevê que o ajuste do valor de um parâmetro P₂ por exemplo dependerá do ajuste do valor do Parâmetro P₁ Sobre esse ponto Clahsen 1989 afirma This approach reminds me of the rule orderings extrinsic or intrinsic in transformational theories during the seventies Similarly to the maturational schedules these theories contained a separate component where the order of application of syntactic rules had been fixed Modern linguistic theory has moved further away from ordering E de fato Meisel 1997 admite que a hipótese maturacional apresente uma ordenação intrínseca como modelo de desenvolvimento da linguagem ao restringila às propriedades parametrizáveis das gramáticas Mas chama a atenção para o fato de que em termos de aprendizagem a hipótese lança mão de uma ordenação extrínseca ao trazer para dentro do modelo a teoria da marcação e prever valores default para os parâmetros Segundo ele a marcação não é definida por critérios internos da gramática mas por alguns critérios externos Na melhor das hipóteses ela é justificada pelo princípio do subconjunto mas isto também constituiu um princípio da aprendizabilidade não da gramática Subconjunto eou da Teoria da Marcação para dar conta do processo de aprendizagem Segundo a Teoria da Marcação em S₀ os parâmetros estariam fixados em um valor padrão default fornecido pela GU portanto um valor possível para alguma língua natural Caso esse valor não seja o adequado para a gramáticaalvo que a criança está adquirindo então o valor teria que ser refixado O que se quer evitar com essa concepção é a visão bastante problemática de que os parâmetros em GU tinham valores abertos pois se assim fosse um tal sistema não poderia lidar com os dados do input como destaca Roberts 1993b Entretanto alguns problemas se colocam O primeiro deles é determinar qual seja o valor default para cada parâmetro O segundo diz respeito ao processamento De acordo com Berwick Weinberg 1984 os princípios e restrições que atuam nas gramáticas devem ser os mesmos que atuam no processamento sintático Assim se os parâmetros já vêm com um valor previamente fixado caso esse valor não corresponda ao valor adequado na língua que a criança está adquirindo ela não teria como processar sintaticamente estruturas que demandassem outro valor para o parâmetro portanto não teria como lidar com as evidências relevantes para o que refixar já que o processamento não lhe forneceria as informações necessárias para tanto Além disso é de se imaginar que além de estar adquirindo uma língua a criança também a está processando em alguma medida Para dar conta do primeiro ponto levantado isto é como determinar o valor default para cada parâmetro alguns autores propõem a junção da Teoria da Marcação ao Princípio do Subconjunto em outras palavras o valor default é sempre aquele que define uma gramática menor Como já tratamos disso anteriormente não vamos nos estender sobre o assunto Uma outra visão possível é que ambos os valores dos parâmetros estejam simultaneamente acessíveis em S₀ e a fixação paramétrica equivaleria à eliminação de uma das opções Essa alternativa elimina o problema apontado em relação ao processamento mas acaba caindo também no problema da ordenação Segundo a proposta de Lebeaux 1988 os valores embora acessíveis teriam uma ordem prevista que levaria a criança preferencialmente à gramática default No caso dessa gramática ser incompatível com a sua gramáticaalvo a criança então utilizaria a opção alternativa que se sobreporia ao valor default inibindoo Em que pese o problema anteriormente levantado sobre marcações default para os valores paramétricos essa parece ser a única solução em um tal modelo uma vez que não havendo nenhum tipo de restrição a criança não teria por que acionar parâmetros dado que sua gramática inicial caberia em um dos dois valores previstos Além disso como vimos anteriormente não há como retroceder a partir de dados positivos em gramáticas superespecificadas Embora Lebeaux trabalhe com a hipótese maturacionista um tal modelo de aprendizagem também cabe na hipótese continuísta que passamos a discutir As regras gramaticais da criança devem ser extraídas dos mesmos tipos básicos de regras e compostos de símbolos primitivos da mesma classe como as regras gramaticais atribuídas aos adultos p 7 apud Meisel 1997 23 Contudo quando se confrontam os resultados das pesquisas em aquisição eles parecem estabelecer um dilema ou o paradoxo a que Meisel se refere Muitos estudos apresentam evidências de que desde muito cedo já a partir dos enunciados de duas palavras as gramáticas infantis se aproximam da gramáticaalvo em vários aspectos Um dos tópicos mais discutidos nesse sentido tem sido o apagamento do sujeito e objeto Embora esse fenômeno se verifique em gramáticas infantis de quaisquer línguas sendo adquiridas de alguma forma ele se restringe ao feito da línguaalvo Na visão dos continuístas a aparente fase léxicotemática oculta categorias funcionais visíveis em certas regularidades na produção da criança Assim no francês o verbo sobe para a categoria I flexão quando a sentença é finita e permanece em VP quando o modo é infinitivo A diferença da posição da negação seria então uma pista para dizer se há ou não a categoria I na gramática da criança A abordagem da aprendizagem lexical é de Clahsen 1989 dentre outros Segundo ela as mudanças pelas quais a gramática infantil passa ao longo do desenvolvimento são atribuídas ao aumento do léxico da criança além do aumento de sua memória e capacidade de processamento Under this view the lexical and morphological items and their associated properties which the child has to learn for a particular language induce restructurings of hisher grammar Given the lexical learning hypothesis it is possible that while all of the UG principles are ready to apply from the start some must await the acquisition of certain lexical triggers before they can be successfully used Clahsen 1989 57 A despeito do aparente paradoxo as hipóteses contínuas parecem ser mais plausíveis como tentarei demonstrar rapidamente Em primeiro lugar levam muito seriamente em conta a perspectiva inatista Se se prevêem princípios inatos e isso é o pressuposto norteador do modelo gerativista então não se pode considerar que não tenham um papel preponderante na aquisição desde sempre o que certamente reflete com mais propriedade o problema de Platão Em segundo lugar não precisam propor mecanismos de aprendizagem que ordenem intrínseca ou extrinsecamente as categorias a serem adquiridas Para além disso não têm que justificar a natureza de uma gramática sem categorias que estabeleçam referência às estruturas Como aponta Kato 1995a pressupor que a criança não tem acesso à categoria funcional DP por exemplo significa em última instância assumir que a criança não esteja atribuindo referência a uma expressão nominal Como então pode utilizar argumentos O mesmo podese dizer sobre a relação IPV e sobre CP como atribuidor de estatuto de sentença a uma determinada estrutura se declarativa se interrogativa Finalmente garantem a uniformidade da faculdade da linguagem As diferenças encontradas nos diferentes estágios de desenvolvimento da gramática infantil explicamse por fatores externos como capacidade de processamento e falta de memória dentre outros mas não através de uma mudança qualitativa no teor da faculdade da linguagem Isso garante e respalda seu caráter modular e sua especificidade linguística além de sua interface com sistemas de performance tópico que exploraremos no quinto capítulo A única forma de preservar a tese inatista é admitir uma teoria seletiva contra uma instrutiva ambas emprestadas à biologia The core fact is that contrary to received wisdom there is no known process either in biology or in cognition that literally amounts to learning in the traditional instructive sense that is to a transfer of structure from the environment to the organism With no exception all the mechanisms of acquisition of stepwise complexification and of noveltygeneration that have been unravelled so far in biology and in the cognitive sciences are due to a process of internal selection PiatelliPalmarini 1989 2 grifos do autor Uma teoria instrutiva prevê que o organismo seja totalmente estruturado a partir do meio exterior enquanto que uma teoria seletiva prevê que um organismo seja altamente estruturado internamente tratando o meio externo a partir dessa estruturação interna De acordo com esta última teoria então além de a experiência externa ter que ser delimitada pelas possibilidades internas sua ação sobre o organismo também é limitada uma vez que só poderá agir sobre possibilidades já previamente estruturadas no organismo PiatelliPalmarini op cit estabelece um paralelo entre a aquisição da linguagem no modelo gerativista e processos imunológicos Segundo esse autor um organismo possui uma capacidade genética de gerar de fato e não apenas potencialmente um repertório de alguns milhões de tipos de anticorpos Esse repertório é tão vasto que qualquer tipo de molécula está fadada a encontrar pelo menos um anticorpo que a reconheça e se ligue a ela seletivamente O contato com o meio ambiente ou seja com os antígenos apenas alteram a demografia das células que produzem os vários tipos de anticorpos de acordo com a necessidade de sua atuação Nothing is ever new to the system the repertoire of existing antibodies constitutes a network an interactive system of internal images of all possible external forms a repertoire which is complete and closed p 17 A admissão de um sistema inato altamente rico e estruturado presente portanto antes de qualquer contato com o mundo exterior já descarta a ideia de aprendizagem no sentido lato do termo Se por um lado a teoria seletiva é a única compatível com o programa chomskyano por outro é também o único suporte possível para sustentar qualquer posição em relação à qualidade da experiência linguística que a criança recebe No entanto a discussão em torno do conceito de aprendizagem que poderia parecer apenas uma questão terminológica acaba gerando alguns conflitos em estudos de aquisição de linguagem Partindo de um modelo explanatório como o adotado por Lightfoot 1989 por exemplo em 1 abaixo 1 dado acionador genótipo fenótipo verificamos que há uma forte conexão com o modelo seletivo em que o dado acionador não é qualquer dado da experiência linguística da criança e sim um dado selecionado pelo genótipo Contudo para dar conta da passagem de S0 para S1 ou do genótipo para o fenótipo muitos acabem assumindo subliminarmente uma teoria desenvolvimentalista típica de modelos instrutivos one of the distinctive properties of UG is its plasticity the fact that it is compatible with many different mature states depending on the environmental factors a child is exposed to Lightfoot 1989 365 o sistema que selecionará estruturas diferenciadas entre as possibilidades prédeterminadas culminando em um vasto espaço para variabilidade individual e para a diversificação entre grupos Obviamente isso se traduz em nossos termos na variação paramétrica e na concepção de LínguaI ainda que a passagem de S0 para S1 seja vista por muitos linguistas como determinista cf Lightfoot 1998 Gibson Wexler 1994 dentre outros Como último ponto gostaria de ressaltar ainda o paralelo que se pode estabelecer entre a teoria seletiva e o significado que adquirir uma língua deve assumir De acordo com o que vimos anteriormente os repertórios inatos parecem ser imensos e se isso é verdadeiro como afirma PiattelliPalmorini recebemos muito mais ao nascer do que aquilo que utilizaremos na idade adulta Decorre daí então que atingir a competência de um falante adulto significa em última instância desaprender através de um processo de estabilização seletiva The key to the developmental problem is nowadays one of getting rid of the superfluous through internal selection and of generating more complex structures through a selective ontogenetic buildup PiattelliPalmorini 1989 12 A extensão da metáfora com a biologia pará contudo na definição de estável Assumese como coisa dada que o ápice do processo de aquisição se dá quando a criança atinge S1 o estágio estável Porém nunca se discute com profundidade essa concepção Encontramos assim na literatura apenas uma formalização da noção de estabilidade relativa ao acionamento de um dado parâmetro14 A parametersetting is stable to the degree that its expression in the input data is unambiguous Following Clark 1990 we will say that a parameter value py is expressed by an input sentence s just in case a grammar must have p set to value v in order to assign a wellformed representation to s An unstable parametersetting then is one whose expression is ambiguous Clark Roberts 1992 56 Já que a discussão envolve input passemos a este conceito 342 Input como dado acionador Há na literatura várias propostas sobre dados linguísticos primários e sua relação com a aquisição Exploraremos apenas as mais discutidas Lightfoot 1989 1991 tenta estabelecer uma correlação clara entre o input e o acionamento paramétrico para a constituição de uma gramática particular por parte da criança buscando na pobreza de estímulo os argumentos que lhe permitirá postular o que seja um dado acionador de parâmetro Segundo ele os dados são pobres em três aspectos a a experiência da criança é finita mas a capacidade que atinge tende a infinito devendo portanto incorporar alguma propriedade recursiva ausente da experiência b a experiência é parcialmente constituída de dados degenerados que não têm qualquer efeito sobre a capacidade emergente e c a experiência é falha no sentido de não prover os dados necessários para a criança chegar a certas generalizações presentes na gramática adulta 14 Estamos assumindo o ônus da prova Obviamente isso não quer dizer que não as há apenas que nós só encontramos uma Chomsky parece assumir estágio estável em contraposição a estágio final na medida em que supostamente nossas gramáticas podem sofrer algum tipo de variação ao longo de nossas vidas Desde O último ponto é o mais relevante em sua argumentação englobando o fato de que crianças não são expostas a dados negativos evidências translingüísticas ou correção sistemática da parte dos adultos Para Lightfoot então dados acionadores são necessariamente menores do que a experiência linguística total da criança de forma a que ela possa desconsiderar os dados degenerados mas por outro lado devem ser robustos uma função de saliência e frequência para que a criança não acione um parâmetro com base em dados produzidos por um hóspede da casa que não domine adequadamente a línguaalvo da criança por exemplo Dados frequentes são necessariamente dados simples the trigger consists only of simple unembedded material and that everything can be learned from structures of degree0 complexity where structural complexity is defined in terms of logical forms 1989 p 323 A justificativa para os dados de grau0 respaldase na teoria da gramática através das restrições de localidade incorporadas ao modelo de RL e que como veremos também estão presentes no Programa Minimalista segundo as quais grosso modo os processos sintáticos afetam apenas itens que não estejam distantes possivelmente na mesma oração Como vimos no capítulo anterior o próprio Lightfoot em trabalho posterior 1991 rendese às evidências de que grau0 apenas deixaria de fora uma série enorme de fenômenos e reforma sua proposta para grau0maisumpouco em que mais um pouco ora se define de maneira menos formalizada como um pedaço na frente de uma oração encaixada ora se define através de Domínio de Regência A proposta de Lightfoot entretanto é interessante no sentido de definir a acessibilidade ao dado acionador em termos estruturais Vale ressaltar contudo que se o dado relevante for tido como grau0maisumpouco isso implica que a criança desde sempre estabelece a distinção entre uma oração principal e uma encaixada Meisel 1997 questiona a necessidade de que os dados acionadores sejam robustos Segundo ele podese pensar em cada valor de parâmetro como uma fechadura na qual somente uma chave entra p 35 Nessa visão a fixação paramétrica é entendida como um processo desencadeado por um único fator detectado pela criança na estrutura gramatical que atribuiu aos dados Para o autor isso não exclui a possibilidade de um acionamento inadequado caso em que evidências conflitantes serviriam para diferenciar dois sistemas gramaticais Podese pensar aqui na definição de estabilização dada acima Em tais casos a gramática da criança ainda estaria instável já que a expressão do input é ambígua O interessante em sua proposta é que é tarefa do sistema estabelecer a correlação dado acionadorvalor do parâmetro Hipóteses de Aprendizagem No entanto esse parâmetro se é que se pode considerar ordem de elementos como parâmetro já que parecem ser uma consequência da interação entre traços nas diversas categorias funcionais não atua sozinho e dependerá de outras pistas como por exemplo a pista sobre a possibilidade de ocorrência das ordens VerboObjetoOV 3 VOOV VI para C Caso a criança encontre nos dados um verbo que se mova para C depois de passar ciclicamente em I ela saberá então que sua língua admite as duas ordens de elementos dependendo obviamente da finitude da sentença Uma vez mais a expressão desse fenômeno pode ser vista como consequência da interação entre traços nas diversas categorias funcionais Voltando contudo às propriedades arroladas acima vemos que fazem uso da ordenação entre parâmetros da Teoria da Marcação além de d expressar uma confusão entre aquilo que se propõe como descrição e um possível modelo explicativo da aquisição da linguagem Não é possível imaginar que a GU lide com o input de forma aleatória e indiscriminada Se fosse esse o caso o espaço de busca para a criança seria infinito e talvez ela nunca atingisse S Assim parece ser mesmo necessário prever em GU algum algoritmo que filtre o input para a criança Também não é difícil imaginar como Lightfoot que a natureza do dado acionador deva obedecer a alguns critérios como não ser dados complexos sob pena de não ocorrerem ou ocorrerem apenas marginalmente no input devem contrariamente à proposta de Meisel ser frequentes Porém é muito difícil imaginar que sejam específicos como a proposta do modelo de pistas Certamente o problema é muito complexo e não deve haver uma solução simples para ele No entanto seria importante chamar a atenção para o fato de que todas as propostas brevemente apresentadas usam artificiais externos à GU como algoritmo São algoritmos como vemos em 2 ou 3 da ordem da descrição dos fenômenos linguísticos e não propriamente intrínsecos à GU Em outras palavras são elementos que 80 Hipóteses de Aprendizagem descrevem a línguaExterna Por que não levantar a hipótese então de que o que quer que haja como função mapeadora do input à S só pode contar com propriedades do sistema e nada mais Essa será a hipótese que perseguiremos em nossa proposta e sobre esse tópico retornaremos portanto no capítulo 5 35 Finalizando Creio que pudemos constatar com a discussão feita neste capítulo que o dito problema lógico da aquisição é efetivamente um problema e não deve assim comportar soluções simplistas ou visões ingênuas sobre o processo No próximo capítulo apresentaremos o Programa Minimalista E como espero mostrar não se trata apenas de um formalismo diferente mas de uma nova concepção do objeto e da teoria que traz consigo uma nova concepção de GU também Mas como veremos os pressupostos delineados nas seções anteriores continuam valendo assim como as hipóteses de aprendizagem 81