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IMAGENS DO CORPO \"EDUCADO\": UM OLHAR SOBRE A GINÁSTICA NO SÉCULO XIX\n\nCarmen Lúcia Soares\nProfessora da Faculdade de Educação - UNICAMP\nDoutora em Educação - UNICAMP\n\nA afirmação de um projeto de educação corporal, de uma determinada estética corporal na sociedade ocidental moderna, sobretudo a partir do século XIX, é um tema que me desperta enorme interesse.\n\nNeste artigo, centro-me na análise de uma forma específica de educação do corpo na Europa do século XIX: a Ginástica e focalizo-a na França a partir da obra de um de seus fundadores, o Cel. Francisco Amoros.\n\nA obra de Amoros traz consigo imagens, heranças de outros tempos. Nos interditos de seu texto, em frases e palavras por vezes aparentemente desconectadas, tecida uma retórica da negação do circo, dos artistas de feira, das representações de rua, do corpo.\n\nÉ assim que, penso ser adequado inscrever a Ginástica num tempo/espaço de busca de afirmação de novos códigos, sentidos e significados, de novos modos de ser e de viver.\n\nAssim pensada, a Ginástica surge como uma imagem bem definida, apresentando nítidos contornos das marcas a serem imprimidas no corpo. Ela vai, de certo modo e em certa medida, dando visibilidade ao que poderíamos chamar de \"corpo educado\", compondo o denso registro de saberes que se constituem a partir da tomada do corpo como objeto de cuidados.\n\nA Ginástica incorpora, reelabora e dissemina os novos usos do corpo, o seu lugar na vida civil. Isto porque o corpo pode ser imaginado como um primeiro plano da sociabilidade humana e os modos como se torna visível, limitam/ampliam suas possibilidades de presença no mundo.\n\nRegistros escritos e iconográficos, essas marcas da cultura humana no tempo, revelam de modo sutil/explícito, formas requintadas/rudes de apresentar o corpo.\n\nA constatação de que \"o gesto não é só uma projeção exterior da emoção, e também o que a delegar\", parece constituir um dos vórtices mais densos na criação de formas tradicionais de educação do corpo. E o \"corpo educado\" é o resultado da paciente e lenta elaboração de formas distintas de intervenção dirigida do exterior com a intenção de atingir a alma humana.\n\nEstas formas distintas são também chamadas de pedagogias e, como assinala D. Vigarello,\n\n\"As pedagogias são portadoras de preceitos que dão aos corpos uma forma e os esquadrinham para submete-los às normas; seguramente mais ainda que o pensamento, imagens sugeridas, gestos esboçados induzindo, no silêncio, a posturas e comportamentos, frases andinas, onde palavras, sem parecer, desenham uma postura que mascarada uma elaboração sensível ao mesmo tempo que laboriosa; frases mais pesadas de ordens dadas fixam, com uma precisão analítica o solene, as aparências, os modos de ser e a postura\".\n\nA ideia de civilidade é materializada corporalmente. A vida civil não prescinde de uma singular educação do corpo e do gesto. Em 1530, Erasmo escreve \"Civilidade Pueril\", obra que revela uma estreita sintonia com tratados de literatura grega. As ideias de Erasmo nessa obra trazem uma generosa descrição de \"cuidados de si\" onde se encontra uma compreensão bem abrangente, um claro registro do lugar do corpo e dos gestos na constituição de uma vida civil.\n\nConforme observa Jacques Revel acerca da obra de Erasmo, \"os gestos são signos e podem organizar-se numa linguagem; expõem-se, à interpretação e permitem: um reconhecimento moral, psicológico e social da pessoa.\"\n\nA intervenção dirigida, consentida ou não, sobre o corpo e sobre aquilo que expressa, tem a clara intenção de forjar modos definidos/precisos para traduzir qualquer manifestação corporal. Talvez seja o corpo o lugar mais visível de inscrição da cultura humana, seu registro mais verdadeiro. Esta constatação leva a um alargamento de formas, modelos e técnicas específicas que viabilizem a \"educação do corpo\".\n\n1. A ginástica: modelo de educação no corpo\n\nNa Europa, ao longo de todo o século XIX, a Ginástica científica, afirma-se como parte significativa dos novos códigos de civilidade. Exibe um corpo milimetricamente reformatado, cujo porte ostenta uma simetria nunca antes vista. Nada está solo ou largo; Nada está fora do prumo. Este corpo fechado e empertigado desejou banir qualquer vestígio de exposição do orgânico e, sobretudo, qualquer indício de perda de fixe; qualquer sinal em um estado de mutação.\n\nForma-se no século XIX, de um modo mais preciso que em outros momentos da história do homem ocidental, uma pedagogia do gesto e da vontade configurando-se, assim, uma \"educação do corpo\" já reconhecida como importante.\n\nOs silêncios contidos nos gestos esboçam imagens que devem ser internalizadas, em posições e comportamentos. A Ginástica, com suas prescrições, enquadra-se nesta pedagogia e se faz portadora de preceitos e normas.\n\n\"O corpo é o primeiro lugar onde a mãe do adulto marca a criança, ele é o primeiro espaço onde se impõem os limites sociais e psicológicos que foram dados à sua conduta, ele é o emblema onde a cultura vem inscrever seus signos como também seus braços.\" Os corpos que se desviam dos padrões de uma normalidade utilitária não interessam. Desde a infância, ou melhor, sobretudo na, deve indicar uma educação que privilegie a retidão corporal; que mantenha os corpos aprumados, retos ou como sublinha, Vigarello, que os mantenha em verticalidade.\n\nO corpo reto e o porte rígido aparecem nas introduções dos estudos sobre a Ginástica no século XIX. Estes estudos, carregados de descrições detalhadas de exercícios físicos que podem moldar e adestrar o corpo imprimindo-lhe, este por sua vez, reivindicam como insistência seus vínculos com a ciência e se julgam capazes de instaurar uma ordem coletiva. Com estes indícios, a Ginástica assegura, neste momento, o seu lugar na sociedade burguesa.\n\nSua prática, em diferentes países da Europa, faz nascer um grande movimento que foi chamado, genericamente, de Movimento Ginástico Europeu. Como expressão da cultura, este movimento se constrói a partir das relações cotidianas, dos divertimentos e festas populares, dos espetáculos de rua, do circo, dos exercícios militares, bem como dos passatempos da aristocracia. Possui em seu interior princípios de ordem e disciplina coletiva que podem ser potencializados.\n\nPara sua aceitação, porém, estes princípios de disciplina – ordem não são suficientes. Ao movimento ginástico é exigido o preenchimento com seu núcleo primordial, cuja característica dominante se localiza no campo dos divertimentos.\n\nE, portanto, a gradativa aceitação dos princípios de ordem e disciplina formulados pelo Movimento Ginástico Europeu e o também afastamento de seu núcleo primordial que vai, pouco a pouco, afirmar a Ginástica como parte da educação dos indivíduos. Uma Ginástica que estará reformulando seus preceitos a partir da ciência, da técnica e das condições políticas de uma Europa que, no século XIX, se consolida como centro do Ocidente.\n\nPorém, é possível destacar que o reconhecimento da Ginástica pelos círculos intelectuais, é fator decisivo para sua aceitação por uma burguesia que a deseja transformada e, assim, devolvida à população como conjunto de preceitos e normas de bem viver. É a. partir deste reconhecimento que, de fato, a Ginástica passa a ser vista como prática capaz de potencializar a necessidade de utilidade das ações e dos gestos. Como prática capaz de permitir que o indivíduo venha internalizar uma noção de economia de tempo (de gasto de energia) e de cultivo à saúde como princípios organizadores do cotidiano.\n\nA partir de visões de mundo geradas no interior de teorias evolucionistas, organicistas e mecanicistas, o século XIX realiza a grande revolução científica dos laboratórios, da industrialização e do crescimento de disciplinas e instituições sociais.\n\nConforme observa Vovelle, a \"ideologia cientificista junto com uma filosofia biológica apoiam este sistema, que associa a explicação idealista (do progresso da razão) à explicação materialista e mecanicista (os triunfos da vida sobre a morte).\" A ciência, deste período, dirige um certo tipo de esquadrinhamento da vida em todas as suas dimensões; pretendendo estabelecer uma ordem lógica nas atividades e um adequado aproveitamento do tempo ou, mais precisamente, uma economia de energias.\n\nA Ginástica é constitutiva desta mentalidade. Destaca-se pelo seu caráter orientativo, disciplinador e metódico. É possível afirmar que ao longo do século XIX surgem inúmeras tentativas de estender sua prática ao conjunto da população urbana cada vez mais numerosa, potencialmente \"perigosa\" para os objetivos do capital. Havia ainda mais uma vantagem na aplicação da Ginástica: a suposta aquisição e preservação da saúde, compreendida já como conquista/responsabilidade individual, podia ocorrer como decorrência de sua prática sistemática, afirmavam higienistas e pedagogos como críticos dos \"excessos do corpo\" vividos por acrobatas e fâmulos.\n\nAbarcando uma enorme gama de práticas corporais, o termo GINÁSTICA, pertencente ao gênero feminino; de designação feminina e que historicamente se construiu a partir de atributos culturalmente definidos como masculinos: força, agilidade, virilidade, energia/tempera de caráter, entre outros, passa a compreender. diferentes práticas corporais. São exercícios militares de preparação para a guerra, são jogos populares da nobreza, acrobacias, saltos, corridas, equitação, esgrima, danças e canto.\n\nEm suas primeiras sistematizações na sociedade ocidental europeia, o termo Ginástica foi assim compreendido. Quando os círculos científicos se debruçam sobre o seu conteúdo deixam então aprisionar todas as formas/línguas das práticas corporais sob uma única denominação: GINÁSTICA.\n\nO Movimento Ginástico Europeu foi, portanto, um primeiro esboço deste esforço e o lugar de onde partiram as teorias da ligação denominada Educação Física no Ocidente. Balizou o pensamento moderno em torno das práticas corporais que se construíram fora do mundo do trabalho, trazendo a ideia de saúde, vigor, energia e moral coladas à sua aplicação.\n\nEste é o Movimento que pode ser pensado como o conjunto sistematizado pela ciência e pela técnica do que ocorreu em diferentes países ao longo do século XIX, especialmente na Alemanha, Suécia, Inglaterra e França. Assumido pelos Estados Nacionais, este \"movimento\" apresentava particularidades, do país de origem mais, de um modo geral, acentuava finalidades muito semelhantes como, por exemplo, regenerar a raça e promover a saúde numa sociedade marcada pelo alto índice de mortalidade. Se seu conteúdo altera as condições de vida e trabalho, num outro plano, as finalidades combinavam pelo desejo de desenvolver a vontade, a coragem, a força, a energia de viver, para servir à Pátria nas guerras e na indústria. Mas a finalidade maior foi, sobretudo, moralizar os indivíduos e a sociedade, intervindo radicalmente em modos de ser e de viver. Nos demais países europeus afirmou-se a Ginástica, cujo conteúdo básico fora definido a partir de parâmetros formulados pela cultura grega que compreendia ligada à ideia de saúde, beleza e força. Ciência e arte, então, explicitavam para esta cultura, as diferenças de aplicação, as possibilidades de classificação, bem como os efeitos dos exercícios sobre os indivíduos: Explicitavam, ainda, a relação direta que acreditava-se existir entre a Ginástica e o desenvolvimento do caráter (da moral e da virtude). Ciência e técnica parecem ter se escrito comparado para afirmar a Ginástica, como instrumento de aquisição de saúde, de formação estética e de treinamento do soldado. Compreendem, sobretudo, para revelar a Ginástica como protagonista do que é racional, experimentado e explicado. - É somente a partir da revelação do caráter científico da Ginástica que a burguesia do século XIX inicia um lento processo de tentativa de diferenciar sua aplicação entre os militares e a população civil. - Solicitava-se da ciência, então, o estabelecimento de diferenças, não de oposições e pensava-se: sobretudo, na preservação da disciplina e da ordem tão cara à instituição militar. A base de saberes que serviu para estruturar um conhecimento mais preciso sobre a Ginástica, localizou-se principalmente na Anatomia e Fisiologia, a partir do qual, meticulosamente, foi se estruturando um grande esboço do que se poderia chamar de \"teoria geral da ginástica\". Como se poder observar nos primeiros trabalhos sobre Ginástica, não há o menor descuido com a globalidade do corpo em ações específicas, nas quais, explicações também específicas para cada ação foram buscadas, nada escapando aos mil olhos da ciência; Autores como G. Demeny, E. Marey, F. Lagrange, renomados cientistas que se debruçavam sobre o estudo e o aperfeiçoamento do gesto no trabalho, elegem a Ginástica como instrumento privilegiado para treinar o gesto harmônico e econômico. Afinados com o Estado constituído, extoram a moral de classe (burguesa) afirmando em seus tratados sobre a Ginástica, o \"culto\" à saúde, ao corpo e à Pátria. \"Oculto\", contudo o raciocínio que cria os meios, bem mais profundos e maiores do que a Ginástica, para a obtenção da saúde. De misérias e degradantes a que estava sujeita a maioria da população que exercia algum tipo de \"trabalho livre\" na indústria, no comércio, nas revistas. A Ginástica científica se apresentava como contraponto aos usos do corpo com entretenimento, como simples espetáculo, pois trazia como princípio a utilidade de gestos e a economia de energia. - Desse modo, práticas corporais realizadas nas feiras, nos circos, onde palhaços, acrobatas, gigantes e anões despertavam sentimentos ambíguos de maravilhamento e medo passam a ser observados de perto pelas autoridades. - O circo é uma atividade que exerce grande fascínio na sociedade europeia do século XIX. Ali o corpo é o centro do espetáculo, de todas as \"variedades\" apresentadas pela multifacetada atuação de seus artistas. Conforme observa Catherine Strasser, nas duas últimas décadas do século XIX, o circo surgia como a encarnação do espetáculo moderno e seu sucesso era incrível nas diferentes classes sociais que, inclusive, assistiam ao mesmo espetáculo, porém, em dias e horários especiais. Nas artes plásticas, também, seu registro é singular: Seurat, Degas, Renoir, Toulouse-Lautrec trabalhavam em seus quadros toda a orgia de movimentos e cores que o circo oferecia. Mas tudo isso não impediu o crescente receio da família burguesa, de profissionais que \"cuidavam\" do corpo, por exemplo os médicos, bem como de higiênistas e filantropos, frente a este universo que se apresentava de modo tão encantador e, porque não dizer, \"perigoso\" para a ideia de disciplina e ordem burguesas, sobretudo no que se refere aos usos do corpo. A razão básica do crescente receio era a constatação de que o universo gestual próprio do circo apresentava uma total ausência de utilidade. O corpo aí exibido com movimento constante despertava o riso, o temor e, sobretudo, a liberdade. Havia uma inteireza lúdica na gestualidade: de cada personagem: o anão, o palhaço, o acrobata, a bailarina. Esta inteireza não cabia na sociedade cindida, fundada e erigida pelo pensamento burguês. A atividade física fora do mundo do trabalho, devia ser útil ao trabalho. A atividade livre e lúdica, encantatória do acrobata devia ser redesenhada no imaginário popular. Em seu lugar e' a partir. daquele universo gestual nasciam as \"séries de exercícios físicos\" pensados, exclusivamente, a partir de grupos musculares e de funções orgânicas, a serem aplicados com finalidades específicas, ditas e não como mero entretenimento.\n\nInstalava-se, também, com força nunca antes vista, um desejo de controlar o divertimento do povo, o tempo fora do trabalho.\nConforme observa Hobsbawm, no divertimento dos pobres, especialmente na 1ª metade do século XIX, vamos encontrar basicamente ... revistas de contos sentimentalóides, circos, pequenas exibições com uma atração principal, teatros mambembes e coisas semelhantes19.\n\nNos meios urbanos, são diferentes manifestações lúdicas de caráter popular realizadas com base nas atividades de artistas circenses que se impõem. Elas trazem ainda os restos de uma concepção de mundo popular ... a ambivalência característica da cultura popular da Idade Média e do Renascimento. De uma cultura não oficial e de um território e datas próprias: a praça pública, a rua e os dias de festa20.\n\nEquilibristas, fantoches, volantes, palhaços, bailarin... contorcionistas, anões, personagens que chegam e partem, transitorios, nômades.\n\nQual era o seu lugar? O seu lugar era o mundo inteiro conhecido, e principalmente, imaginado. Era sempre o lugar onde houvesse gente que se dispusesse a rir, a aplaudir, a se encomendar com as peripécias do corpo ... de um corpo ágil, alegre, cheio de vida porque expressão de liberdade e, sobretudo, resistente às regras e normas. Esses artistas viviam na contramão, fora da idéia de utilidade de ações. O seu mundo era desinteressado. Suas vidas se faziam mais de trajetos do que de lugares a se chegar e assim desterritorializavam a ordem do espaço21. Suas apresentações aproveitavam dias de festas, feiras, mantendo uma tradição de representar e de apresentar-se nos lugares onde houvesse concentração de pessoas do povo.\n\nArtistas, estrangeiros, errantes... Situados no limite da marginalidade fascinavam as pessoas fincadas em vidas metrificadas e fixas. Eram ao mesmo tempo elementos de barbarie e de civilização
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Nos interditos de seu texto, em frases e palavras por vezes aparentemente desconectadas, tecida uma retórica da negação do circo, dos artistas de feira, das representações de rua, do corpo.\n\nÉ assim que, penso ser adequado inscrever a Ginástica num tempo/espaço de busca de afirmação de novos códigos, sentidos e significados, de novos modos de ser e de viver.\n\nAssim pensada, a Ginástica surge como uma imagem bem definida, apresentando nítidos contornos das marcas a serem imprimidas no corpo. Ela vai, de certo modo e em certa medida, dando visibilidade ao que poderíamos chamar de \"corpo educado\", compondo o denso registro de saberes que se constituem a partir da tomada do corpo como objeto de cuidados.\n\nA Ginástica incorpora, reelabora e dissemina os novos usos do corpo, o seu lugar na vida civil. 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Vigarello,\n\n\"As pedagogias são portadoras de preceitos que dão aos corpos uma forma e os esquadrinham para submete-los às normas; seguramente mais ainda que o pensamento, imagens sugeridas, gestos esboçados induzindo, no silêncio, a posturas e comportamentos, frases andinas, onde palavras, sem parecer, desenham uma postura que mascarada uma elaboração sensível ao mesmo tempo que laboriosa; frases mais pesadas de ordens dadas fixam, com uma precisão analítica o solene, as aparências, os modos de ser e a postura\".\n\nA ideia de civilidade é materializada corporalmente. A vida civil não prescinde de uma singular educação do corpo e do gesto. Em 1530, Erasmo escreve \"Civilidade Pueril\", obra que revela uma estreita sintonia com tratados de literatura grega. 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A ginástica: modelo de educação no corpo\n\nNa Europa, ao longo de todo o século XIX, a Ginástica científica, afirma-se como parte significativa dos novos códigos de civilidade. Exibe um corpo milimetricamente reformatado, cujo porte ostenta uma simetria nunca antes vista. Nada está solo ou largo; Nada está fora do prumo. Este corpo fechado e empertigado desejou banir qualquer vestígio de exposição do orgânico e, sobretudo, qualquer indício de perda de fixe; qualquer sinal em um estado de mutação.\n\nForma-se no século XIX, de um modo mais preciso que em outros momentos da história do homem ocidental, uma pedagogia do gesto e da vontade configurando-se, assim, uma \"educação do corpo\" já reconhecida como importante.\n\nOs silêncios contidos nos gestos esboçam imagens que devem ser internalizadas, em posições e comportamentos. 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Como prática capaz de permitir que o indivíduo venha internalizar uma noção de economia de tempo (de gasto de energia) e de cultivo à saúde como princípios organizadores do cotidiano.\n\nA partir de visões de mundo geradas no interior de teorias evolucionistas, organicistas e mecanicistas, o século XIX realiza a grande revolução científica dos laboratórios, da industrialização e do crescimento de disciplinas e instituições sociais.\n\nConforme observa Vovelle, a \"ideologia cientificista junto com uma filosofia biológica apoiam este sistema, que associa a explicação idealista (do progresso da razão) à explicação materialista e mecanicista (os triunfos da vida sobre a morte).\" A ciência, deste período, dirige um certo tipo de esquadrinhamento da vida em todas as suas dimensões; pretendendo estabelecer uma ordem lógica nas atividades e um adequado aproveitamento do tempo ou, mais precisamente, uma economia de energias.\n\nA Ginástica é constitutiva desta mentalidade. 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Compreendem, sobretudo, para revelar a Ginástica como protagonista do que é racional, experimentado e explicado. - É somente a partir da revelação do caráter científico da Ginástica que a burguesia do século XIX inicia um lento processo de tentativa de diferenciar sua aplicação entre os militares e a população civil. - Solicitava-se da ciência, então, o estabelecimento de diferenças, não de oposições e pensava-se: sobretudo, na preservação da disciplina e da ordem tão cara à instituição militar. A base de saberes que serviu para estruturar um conhecimento mais preciso sobre a Ginástica, localizou-se principalmente na Anatomia e Fisiologia, a partir do qual, meticulosamente, foi se estruturando um grande esboço do que se poderia chamar de \"teoria geral da ginástica\". 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A Ginástica científica se apresentava como contraponto aos usos do corpo com entretenimento, como simples espetáculo, pois trazia como princípio a utilidade de gestos e a economia de energia. - Desse modo, práticas corporais realizadas nas feiras, nos circos, onde palhaços, acrobatas, gigantes e anões despertavam sentimentos ambíguos de maravilhamento e medo passam a ser observados de perto pelas autoridades. - O circo é uma atividade que exerce grande fascínio na sociedade europeia do século XIX. Ali o corpo é o centro do espetáculo, de todas as \"variedades\" apresentadas pela multifacetada atuação de seus artistas. Conforme observa Catherine Strasser, nas duas últimas décadas do século XIX, o circo surgia como a encarnação do espetáculo moderno e seu sucesso era incrível nas diferentes classes sociais que, inclusive, assistiam ao mesmo espetáculo, porém, em dias e horários especiais. Nas artes plásticas, também, seu registro é singular: Seurat, Degas, Renoir, Toulouse-Lautrec trabalhavam em seus quadros toda a orgia de movimentos e cores que o circo oferecia. Mas tudo isso não impediu o crescente receio da família burguesa, de profissionais que \"cuidavam\" do corpo, por exemplo os médicos, bem como de higiênistas e filantropos, frente a este universo que se apresentava de modo tão encantador e, porque não dizer, \"perigoso\" para a ideia de disciplina e ordem burguesas, sobretudo no que se refere aos usos do corpo. A razão básica do crescente receio era a constatação de que o universo gestual próprio do circo apresentava uma total ausência de utilidade. O corpo aí exibido com movimento constante despertava o riso, o temor e, sobretudo, a liberdade. Havia uma inteireza lúdica na gestualidade: de cada personagem: o anão, o palhaço, o acrobata, a bailarina. Esta inteireza não cabia na sociedade cindida, fundada e erigida pelo pensamento burguês. A atividade física fora do mundo do trabalho, devia ser útil ao trabalho. A atividade livre e lúdica, encantatória do acrobata devia ser redesenhada no imaginário popular. Em seu lugar e' a partir. daquele universo gestual nasciam as \"séries de exercícios físicos\" pensados, exclusivamente, a partir de grupos musculares e de funções orgânicas, a serem aplicados com finalidades específicas, ditas e não como mero entretenimento.\n\nInstalava-se, também, com força nunca antes vista, um desejo de controlar o divertimento do povo, o tempo fora do trabalho.\nConforme observa Hobsbawm, no divertimento dos pobres, especialmente na 1ª metade do século XIX, vamos encontrar basicamente ... revistas de contos sentimentalóides, circos, pequenas exibições com uma atração principal, teatros mambembes e coisas semelhantes19.\n\nNos meios urbanos, são diferentes manifestações lúdicas de caráter popular realizadas com base nas atividades de artistas circenses que se impõem. Elas trazem ainda os restos de uma concepção de mundo popular ... a ambivalência característica da cultura popular da Idade Média e do Renascimento. De uma cultura não oficial e de um território e datas próprias: a praça pública, a rua e os dias de festa20.\n\nEquilibristas, fantoches, volantes, palhaços, bailarin... contorcionistas, anões, personagens que chegam e partem, transitorios, nômades.\n\nQual era o seu lugar? O seu lugar era o mundo inteiro conhecido, e principalmente, imaginado. Era sempre o lugar onde houvesse gente que se dispusesse a rir, a aplaudir, a se encomendar com as peripécias do corpo ... de um corpo ágil, alegre, cheio de vida porque expressão de liberdade e, sobretudo, resistente às regras e normas. Esses artistas viviam na contramão, fora da idéia de utilidade de ações. O seu mundo era desinteressado. Suas vidas se faziam mais de trajetos do que de lugares a se chegar e assim desterritorializavam a ordem do espaço21. Suas apresentações aproveitavam dias de festas, feiras, mantendo uma tradição de representar e de apresentar-se nos lugares onde houvesse concentração de pessoas do povo.\n\nArtistas, estrangeiros, errantes... Situados no limite da marginalidade fascinavam as pessoas fincadas em vidas metrificadas e fixas. Eram ao mesmo tempo elementos de barbarie e de civilização