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Karl Marx Ler O capital Francisco de Oliveira Esse é o título da edição brasileira do célebre texto de Louis Althusser e Étienne Balibar com as devidas desculpas pelo plágio proposital pois não encontro melhor forma de recomendar este clássico de Marx a todos os leitores incluindo os do amplo contingente lusófono Ivana Jinkings e nossa sem sentido de propriedade privada pequena e brava Boitempo prestam mais um serviço àqueles que têm ou necessitam urgentemente ter que recorrer ao texto mais completo de Marx sobre o capitalismo na sequência dos clássicos de Marx e Engels que a Boitempo vem editando com evidentes sacrifícios pois não são textos de fácil venda Ela reuniu um time formidável encabeçado por José Arthur Giannotti sem favor um dos melhores conhecedores de Marx entre nós a quem não falta a capacidade teórica de apontar as lacunas do clássico de Triers bem acompanhado de introduções de Althusser e Jacob Gorender Rubens Enderle é o tradutor na sequência de outras traduções de Marx e Engels que ele vem fazendo revisões de cada capítulo foram confiadas a expoentes de nossa esquerda marxista Enfim Ivana não mediu esforços e como uma brincadeira que faço com ela com tal feito já garantiu seu lugar no céu dos comunistassocialistas brasileiros As últimas edições em portuguêsbrasileiro de que me recordo deveramse à antiga Civilização Brasileira liderada então pelo saudoso Ênio Silveira tradução que esteve a cargo de Reginaldo SantAnna 1968 depois na coleção Os Pensadores Paul Singer subscreveu outra tradução As obras de Marx e Engels tornaramse acessíveis ao público brasileiro graças aos esforços da antiga Editorial Vitória uma espécie de braço editorial do Partido Comunista Brasileiro PCB mas sempre foram fragmentadas nunca se atrevendo à edição integral de O capital Além disso e da repressão ditatorial quase regra no nosso século XX a circulação sempre enfrentou notáveis dificuldades poucos livreiros se atreviam a ter em suas estantes as obras da Editorial Vitória Somandose tudo as edições eram graficamente pobres e mesmo assim prestaram um enorme serviço à cultura brasileira de que a esquerda sempre foi uma notável propulsora O capital não é um livro de leitura mas de estudo e reflexão Apesar do estilo sarcástico e irônico de Marx sobretudo dirigido aos sicofantas do liberalismo da livre iniciativa e do livre mercado três construções ideológicas de notável força em que o Mouro se eleva por vezes à altura dos grandes clássicos que ele amava Homero Shakespeare e Dante para citar apenas esses gigantes O capital é de leitura difícil às vezes quase intransponível em parte devido à própria aridez da matéria que trata Quem espera que 4 KARL MARX este livro comece pelo exame do capital preparese para um anticlímax Marx examina antes de tudo a mercadoria e sua formação pois o capitalismo continua a ser mesmo em sua fase amplamente financeirizada um modo de produção de mercadorias Na grande tradição de que talvez Maquiavel seja o mais emblemático deslocando a ciência da política do terreno da busca do bem comum tão cara a Aristóteles e aos tomistas e trazendoa para o lugar concreto das lutas pelo poder Marx opera o deslocamento da economia política para a luta de classes segundo ele a chave para a compreensão da sociedade particularmente a sociedade capitalista sem abandonar posto que era um revolucionário mas não um iconoclasta vulgar as grandes contribuições dos clássicos Adam Smith e David Ricardo sobretudo este último como os fundadores da ciência que podia decifrar a vida contemporânea Colocando o corpo do capitalismo sobre a lápide fria da realidade Marx procede como um anatomista abre o interior do sistema para uma sistemática exploração e deparase com a simultânea maravilha do corpo e de sua miséria no sentido de sua intrínseca e fatal deterioração o horror na célebre frase de Marlon Brando em Apocalypse Now de Francis Ford Coppola Em muitas partes essa minuciosa descrição contém as passagens mais difíceis e mais áridas do texto diante das quais não se deve recuar O capital não é uma bíblia nem sequer talvez um método mas como o próprio subtítulo que Marx lhe deu uma contribuição à crítica da economia política Esse é o caminho e certamente como crítica ele não aborda senão tangencialmente algumas das principais estruturas do capitalismo contemporâneo seus problemas e pontos de superação Mas como um dos textos fundamentais da modernidade ele abre as portas para sua compreensão no contexto das lutas de classes de nosso tempo tarefa para a qual são chamadas as mulheres e os homens empenhados na transformação esse trabalho de Sísifo ao qual estamos condenados até o raiar de uma nova era 5 SUMÁRIO NOTA DA EDITORA TEXTOS INTRODUTÓRIOS Apresentação Jacob Gorender Advertência aos leitores do Livro I dO capital Louis Althusser Considerações sobre o método José Arthur Giannotti O CAPITAL Crítica da economia política LIVRO I O processo de produção do capital Prefácio da primeira edição Posfácio da segunda edição Prefácio da edição francesa Posfácio da edição francesa Prefácio da terceira edição alemã Prefácio da edição inglesa Prefácio da quarta edição alemã Seção I Mercadoria e dinheiro Capítulo 1 A mercadoria 1 Os dois fatores da mercadoria valor de uso e valor substância do valor grandeza do valor 2 O duplo caráter do trabalho representado nas mercadorias 3 A forma de valor Wertform ou o valor de troca A A forma de valor simples individual ou ocasional B A forma de valor total ou desdobrada C A forma de valor universal D A formadinheiro 4 O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo Capítulo 2 O processo de troca Capítulo 3 O dinheiro ou a circulação de mercadorias 1 Medida dos valores 2 O meio de circulação a A metamorfose das mercadorias b O curso do dinheiro c A moeda O signo do valor 3 Dinheiro a Entesouramento b Meio de pagamento c O dinheiro mundial Seção II 6 A transformação do dinheiro em capital Capítulo 4 A transformação do dinheiro em capital 1 A fórmula geral do capital 2 Contradições da fórmula geral 3 A compra e a venda de força de trabalho Seção III A produção do maisvalor absoluto Capítulo 5 O processo de trabalho e o processo de valorização 1 O processo de trabalho 2 O processo de valorização Capítulo 6 Capital constante e capital variáve Capítulo 7 A taxa do maisvalor 1 O grau de exploração da força de trabalho 2 Representação do valor do produto em partes proporcionais do produto 3 A última hora de Senior 4 O maisproduto Capítulo 8 A jornada de trabalho 1 Os limites da jornada de trabalho 2 A avidez por maistrabalho O fabricante e o boiardo 3 Ramos da indústria inglesa sem limites legais à exploração 4 Trabalho diurno e noturno O sistema de revezamento 5 A luta pela jornada normal de trabalho Leis compulsórias para o prolongamento da jornada de trabalho da metade do século XIV ao final do século XVII 6 A luta pela jornada normal de trabalho Limitação do tempo de trabalho por força de lei A legislação fabril inglesa de 1833 a 1864 7 A luta pela jornada normal de trabalho Repercussão da legislação fabril inglesa em outros países Capítulo 9 Taxa e massa do maisvalor Seção IV A produção do maisvalor relativo Capítulo 10 O conceito de maisvalor relativo Capítulo 11 Cooperação Capítulo 12 Divisão do trabalho e manufatura 1 A dupla origem da manufatura 2 O trabalhador parcial e sua ferramenta 3 As duas formas fundamentais da manufatura manufatura heterogênea e manufatura orgânica 4 Divisão do trabalho na manufatura e divisão do trabalho na sociedade 5 O caráter capitalista da manufatura Capítulo 13 Maquinaria e grande indústria 1 Desenvolvimento da maquinaria 2 Transferência de valor da maquinaria ao produto 3 Efeitos imediatos da produção mecanizada sobre o trabalhador a Apropriação de forças de trabalho subsidiárias pelo capital Trabalho feminino e infantil b Prolongamento da jornada de trabalho c Intensificação do trabalho 7 4 A fábrica 5 A luta entre trabalhador e máquina 6 A teoria da compensação relativa aos trabalhadores deslocados pela maquinaria 7 Repulsão e atração de trabalhadores com o desenvolvimento da indústria mecanizada Crises da indústria algodoeira 8 O revolucionamento da manufatura do artesanato e do trabalho domiciliar pela grande indústria a Suprassunção da cooperação fundada no artesanato e na divisão do trabalho b Efeito retroativo do sistema fabril sobre a manufatura e o trabalho domiciliar c A manufatura moderna d O trabalho domiciliar moderno e Transição da manufatura e do trabalho domiciliar modernos para a grande indústria Aceleração dessa revolução mediante a aplicação das leis fabris a esses modos de produzir Betriebsweisen 9 Legislação fabril cláusulas sanitárias e educacionais Sua generalização na Inglaterra 10 Grande indústria e agricultura Seção V A produção do maisvalor absoluto e relativo Capítulo 14 Maisvalor absoluto e relativo Capítulo 15 Variação de grandeza do preço da força de trabalho e do maisvalor I Grandeza da jornada de trabalho e intensidade do trabalho constantes dadas força produtiva do trabalho variável II Jornada de trabalho constante força produtiva do trabalho constante intensidade do trabalho variável III Força produtiva e intensidade do trabalho constantes jornada de trabalho variável IV Variações simultâneas na duração força produtiva e intensidade do trabalho Capítulo 16 Diferentes fórmulas para a taxa de maisvalor Seção VI O salário Capítulo 17 Transformação do valor ou preço da força de trabalho em salário Capítulo 18 O salário por tempo Capítulo 19 O salário por peça Capítulo 20 Diversidade nacional dos salários Seção VII O processo de acumulação do capital Capítulo 21 Reprodução simples Capítulo 22 Transformação de maisvalor em capital 1 O processo de produção capitalista em escala ampliada Conversão das leis de propriedade que regem a produção de mercadorias em leis da apropriação capitalista 2 Concepção errônea por parte da economia política da reprodução em escala ampliada 3 Divisão do maisvalor em capital e renda A teoria da abstinência 4 Circunstâncias que independentemente da divisão proporcional do maisvalor em capital e renda determinam o volume da acumulação grau de exploração da força de trabalho força produtiva do trabalho diferença crescente entre capital aplicado e capital consumido grandeza do capital adiantado 5 O assim chamado fundo de trabalho Capítulo 23 A lei geral da acumulação capitalista 8 1 Demanda crescente de25 força de trabalho com a acumulação conservandose igual a composição do capital 2 Diminuição relativa da parte variável do capital à medida que avançam a acumulação e a concentração que a acompanha 3 Produção progressiva de uma superpopulação relativa ou exército industrial de reserva 4 Diferentes formas de existência da superpopulação relativa A lei geral da acumulação capitalista 5 Ilustração da lei geral da acumulação capitalista a Inglaterra de 1846 a 1866 b As camadas mal remuneradas da classe trabalhadora industrial britânica c A população nômade d Efeitos das crises sobre a parcela mais bem remunerada da classe trabalhadora e O proletariado agrícola britânico f Irlanda Capítulo 24 A assim chamada acumulação primitiva 1 O segredo da acumulação primitiva 2 Expropriação da terra pertencente à população rural 3 Legislação sanguinária contra os expropriados desde o final do século XV Leis para a compressão dos salários 4 Gênese dos arrendatários capitalistas 5 Efeito retroativo da revolução agrícola sobre a indústria Criação do mercado interno para o capital industrial 6 Gênese do capitalista industrial 7 Tendência histórica da acumulação capitalista Capítulo 25 A teoria moderna da colonização253 APÊNDICE Carta de Karl Marx a Friedrich Engels Carta de Karl Marx a Vera Ivanovna Zasulitch ÍNDICE DE NOMES LITERÁRIOS BÍBLICOS E MITOLÓGICOS BIBLIOGRAFIA GLOSSÁRIO DA TRADUÇÃO TABELA DE EQUIVALÊNCIAS DE PESOS MEDIDAS E MOEDAS CRONOLOGIA RESUMIDA DE MARX E ENGELS Ebooks da Boitempo Editorial 9 NOTA DA EDIÇÃO O primeiro livro de O capital crítica da economia política Das Kapital Kritik der politischen Ökonomie intitulado O processo de produção do capital Der Produktionsprozess des Kapitals é o único volume da principal obra de maturidade de Karl Marx publicado durante a vida do autor morto em 1883 Seu lançamento pela Boitempo num investimento editorial de dois anos marca a 16ª publicação da coleção MarxEngels e é parte do ambicioso projeto de traduzir toda a obra dos pensadores alemães a partir das fontes originais com o auxílio de especialistas renomados Em 1862 Marx mudase para a Inglaterra a fim de ver de perto o que seria o estágio mais avançado do capitalismo de então e dessa forma decifrar suas leis fundamentais Enfermo e depauperado passa os dias mergulhado em livros na biblioteca do Museu Britânico e no ano seguinte retoma o projeto de escrever O capital sua obra mais sistemática trabalho de fôlego de análise da estrutura da sociedade capitalista O Livro I centrado no processo de produção do capital e finalizado em 1866 foi publicado em Hamburgo em 1867 mas os seguintes não puderam ser concluídos por Marx em vida Seus estudos para a magistral obra foram editados pelo parceiro e amigo Engels e publicados em 1885 Livro II e 1894 Livro III Esta tradução da Boitempo se insere em um histórico esforço intelectual coletivo de trazer ao público brasileiro em seu todo ou em versões reduzidas a principal obra marxiana de crítica da economia política Desde a década de 1930 circularam pelo Brasil ao menos quinze edições de O capital em geral incompletas e traduzidas de outros idiomas que não o original alemão Reconhecemos nas palavras do sociólogo Francisco de Oliveira em depoimento à editora a importância dessas edições geralmente lançadas em situações políticas adversas As obras de Marx e Engels tornaramse acessíveis ao público brasileiro graças aos esforços da antiga Editorial Vitória uma espécie de braço editorial do Partido Comunista Brasileiro PCB mas sempre foram fragmentadas nunca se atrevendo à edição integral de O capital Além disso e da repressão ditatorial a circulação dessas publicações enfrentou dificuldades poucos livreiros se atreviam a ter em suas estantes as obras da Editorial Vitória e as edições eram graficamente muito pobres Mesmo assim prestaram um enorme serviço à cultura brasileira de que a esquerda sempre foi uma notável propulsora As últimas traduções de O capital para o português brasileiro de que me recordo deveramse à antiga editora Civilização Brasileira liderada então por Ênio Silveira a cargo de Reginaldo SantAnna 1968 depois na coleção Os Pensadores da Abril Cultural Paul Singer coordenou outra tradução 1983 de Regis Barbosa e Flávio Kothe A presente tradução tem como base a quarta edição alemã editada por Engels e publicada em Hamburgo em 18901 O estabelecimento do texto segue a edição da MarxEngelsGesamtausgabe MEGA2 Todas as citações em língua estrangeira são reproduzidas de acordo com o original acompanhadas de sua tradução em nota ou entre colchetes As notas do autor são igualmente reproduzidas em sua numeração 10 original Para o estabelecimento das notas da edição alemã o tradutor baseouse também na edição da MarxEngelsWerke MEW As notas de cada edição são identificadas pelas abreviações N E A MEW e N E A MEGA As citações no corpo do texto foram mantidas entre aspas preservando os comentários de Marx intercalados a elas As supressões em citações foram feitas pelo próprio Marx e estão indicadas por O uso de aspas e itálicos segue em geral as normas internas da Boitempo Por se basear na edição alemã a numeração de capítulos difere das edições de O capital que seguem a publicação francesa Abrem a edição três textos introdutórios assinados por Jacob Gorender Louis Althusser e José Arthur Giannotti Por um lado são análises complementares que abordam o livro sob perspectivas diversas metodológica histórica e filosoficamente Por outro lado contradizemse algumas vezes o que dá uma pequena mostra da pluralidade de leituras dessa obra fundamental com impacto marcante na história da humanidade Estão ainda incluídos os prefácios da primeira 1867 segunda 1873 terceira 1883 e quarta 1890 edições os dois últimos assinados por Engels além do prefácio e do posfácio da edição francesa respectivamente 1872 e 1875 e do prefácio da edição inglesa 1886 assinado por Engels O apêndice traz duas cartas escritas por Marx uma a Engels Fred de 16 de agosto de 1867 e outra à revolucionária russa Vera Ivanovna Zasulitch de 8 de março de 1881 Essa segunda carta inédita até 1924 responde a indagações de Zasulitch sobre as perspectivas do desenvolvimento histórico da Rússia e em especial sobre o destino das comunas aldeãs A breve resposta de Marx reafirma que de acordo com sua teoria a fatalidade histórica de uma transformação revolucionária para além do capital limitavase aos países da Europa ocidental que já haviam realizado a transição da propriedade privada fundada no trabalho pessoal para a propriedade privada capitalista A presente edição traz ainda um índice de nomes literários bíblicos e mitológicos a bibliografia dos escritos citados por Marx e Engels uma tabela de equivalência de pesos medidas e moedas e uma cronologia resumida de Marx e Engels que contém aspectos fundamentais da vida pessoal da militância política e da obra teórica de ambos com informações úteis ao leitor iniciado ou não na obra marxiana A Boitempo Editorial agradece ao tradutor Rubens Enderle aos professores Agnaldo dos Santos Emir Sader Lincoln Secco Marcio Bilharinho Naves Mario Duayer e Ruy Braga que se dividiram na leitura dos capítulos a Francisco de Oliveira Jacob Gorender José Arthur Giannotti e Louis Althusser por meio de seu espólio autores dos textos de capa e de introdução ao ilustrador Cássio Loredano ao diagramador Antonio Kehl e às revisoras Mariana Echalar e Thaisa Burani Agradece ainda ao tradutor Nélio Schneider que conferiu os trechos em grego à professora de química Rogéria Noronha pela consultoria a respeito de fórmulas e nomenclaturas e aos integrantes da MEGA2 Gerald Hubmann e Michael Heinrich A dedicação e o trabalho de cada um deles assim como os da equipe da Boitempo Bibiana Leme Livia Campos Alicia Toffani e João 11 Alexandre Peschanski foram indispensáveis para esta realização editorial basilar para a qual lembra Althusser no texto introdutório aqui publicado Marx sacrificou os últimos anos de sua existência Março de 2013 Nota da tradução Na tradução de termos e conceitos empregados por Marx com um sentido específico e inusual como por exemplo naturwüchsig sachlich dinglich Materiatur inserimos notas explicativas e sempre que necessário o termo original entre colchetes Na p 878 o leitor encontrará um glossário da tradução dos termos mais importantes A tradução do verbo aufheben impôs alguns cuidados pois ele possui três sentidos principais 1 levantar sustentar erguer 2 suprimir anular destruir revogar cancelar suspender superar 3 conservar poupar preservar 2 Em O capital Marx emprega a palavra principalmente na segunda acepção mas muitas vezes também do mesmo modo que Hegel e Schiller como uma combinação da segunda e da terceira acepções Aqui traduzimos aufheben aufgehoben e Aufhebung por suprimir suprimido supressão quando o termo aparece apenas na segunda acepção e por suprassumir suprassumido suprassunção acompanhado do original entre colchetes quando parece evidente se tratar de um amálgama da segunda com a terceira acepção Assim por exemplo falase da suprassunção da cooperação do artesanato e do trabalho domiciliar pela grande indústria como forma superior da cooperação ou da suprassunção da atividade artesanal pela maquinaria como princípio regulador da produção social como princípio superior de regulação Em alguns dados estatísticos apresentados nas tabelas entre as páginas 74953 e 770 83 o leitor eventualmente notará algumas variantes entre os números aqui apresentados e os de outras edições que se baseiam no texto da MEW R E 12 NOTA DA EDIÇÃO ELETRÔNICA Com a finalidade de aprimorar a experiência de leitura no formato digital e manter a coerência entre a versão eletrônica em suas diversas plataformas de leitura e a versão impressa deste livro optouse por manter a numeração de páginas da versão impressa nas remissões desta edição eletrônica Desta forma procurouse manter unidade para fins de referência e citação entre versão eletrônica e impressa É possível que o leitor perceba sutis diferenças de numeração entre as remissões e as numerações apresentadas pela plataforma de leitura Advertese portanto que o conteúdo original do livro se mantém integralmente reproduzido 13 APRESENTAÇÃOa Jacob Gorender Em 1867 vinha à luz na Alemanha a primeira parte de uma obra intitulada O capital Karl Marx o autor viveu então um momento de plena euforia raro em sua atribulada existência Durante quase vinte anos penara duramente a fim de chegar a este momento o de apresentar ao público conquanto de maneira ainda parcial o resultado de suas investigações no campo da economia política Não se tratava contudo de autor estreante À beira dos cinquenta anos já imprimira o nome no frontispício de livros suficientes para lhe assegurar destacado lugar na história do pensamento Àquela altura sua produção intelectual abrangia trabalhos de filosofia teoria social historiografia e também economia política Quem já publicara Miséria da filosofia Manifesto do Partido Comunista As lutas de classes na França de 1848 a 1850 O 18 de brumário de Luís Bonaparte e Para a crítica da economia política podia avaliar com justificada sobranceria o próprio currículo No entanto Marx afirmava que até então apenas escrevera bagatelas Sentiase por isso autor estreante e demais aliviado de um fardo que lhe vinha exaurindo as forças Também os amigos e companheiros sobretudo Engels exultavam com a publicação pois se satisfazia afinal a expectativa tantas vezes adiada Na verdade pouquíssimos livros dessa envergadura nasceram em condições tão difíceis I Do liberalismo burguês ao comunismo Esse homem que vivia um intervalo de consciência pacificada e iluminação subjetiva em meio a combates políticos perseguições e decepções nascera em 1818 em Trier Trêves à francesa sul da Alemanha Duas circunstâncias lhe marcaram a origem e a primeira educação Trier localizase na Renânia então província da Prússia limítrofe da França e por isso incisivamente influenciada pela Revolução Francesa Ao contrário da maior parte da Alemanha dividida em numerosos Estados os camponeses renanos haviam sido emancipados da servidão da gleba e das antigas instituições feudais não restava muita coisa na província Firmavamse nela núcleos da moderna indústria fabril em torno da qual se polarizavam as duas novas classes da sociedade capitalista o proletariado e a burguesia A essa primeira e poderosa circunstância social se vinculava uma outra As ideias do Iluminismo francês contavam com muitos adeptos nas camadas cultas da Renânia O pai de Marx tal a segunda circunstância existencial era um desses adeptos A família Marx pertencia à classe média de origem judaica Hirschel Marx fizera brilhante carreira de jurista e chegara a conselheiro da Justiça A ascensão à magistratura 14 obrigarao a submeterse a imposições legais de caráter antissemita Em 1824 quando o filho Karl tinha seis anos Hirschel converteu a família ao cristianismo e adotou o nome mais germânico de Heinrich Para um homem que professava o deísmo desvinculado de toda crença ritualizada o ato de conversão não fez mais do que sancionar a integração no ambiente intelectual dominado pelo laicismo Karl que perdeu o pai aos vinte anos em 1838 recebeu dele orientação formadora vigorosa da qual guardaria recordação sempre grata Durante o curso de direito iniciado na Universidade de Bonn e prosseguido na de Berlim o estudante Karl encontrou um ambiente de grande vivacidade cultural e política O supremo mentor ideológico era Hegel mas uma parte dos seus seguidores os jovens hegelianos interpretava a doutrina no sentido do liberalismo e do regime constitucional democrático podando os fortes aspectos conservadores do sistema do mestre em especial sua exaltação do Estado Marx fez a iniciação filosófica e política com os jovens hegelianos o que o levou ao estudo preferencial da filosofia clássica alemã e da filosofia em geral Essa formação filosófica teve influência espiritual duradoura e firmou um dos eixos de sua produção intelectual Se foi hegeliano o que é inegável nunca chegou a sêlo de maneira estrita Não só já encontrou a escola hegeliana numa fase de cisão adiantada como ao seu espírito inquieto e inclinado a ideias anticonservadoras na atmosfera opressiva da monarquia absolutista prussiana o sistema do mestre consagrado devia parecer uma camisa de força Em carta ao pai já em 1837 escrevia a partir do idealismo fui levado a procurar a Ideia na própria realidade A esse respeito também é sintomático que escolhesse a relação entre os filósofos gregos materialistas Demócrito e Epicuro para tema de tese de doutoramento defendida na Universidade de Iena Embora inspirada nas linhas mestras da concepção hegeliana da história da filosofia desponta na tese um impulso para transcendêla num sentido que somente mais tarde se tornaria claro Em 1841 Ludwig Feuerbach dava a público A essência do cristianismo O livro teve forte repercussão pois constituía a primeira investida franca e sem contemplações contra o sistema de Hegel O idealismo hegeliano era desmistificado e se propunha em seu lugar uma concepção materialista que assumia a configuração de antropologia naturista O homem enquanto ser natural fruidor dos sentidos físicos e sublimado pelo amor sexual colocavase no centro da natureza e devia voltarse para si mesmo Estava porém impedido de fazêlo pela alienação religiosa Tomando de Hegel o conceito de alienação Feuerbach invertia os sinais A alienação em Hegel era objetivação e por consequência enriquecimento A Ideia se tornava seroutro na natureza e se realizava nas criações objetivas da história humana A recuperação da riqueza alienada identificava Sujeito e Objeto e culminava no Saber Absoluto Para Feuerbach ao contrário a alienação era empobrecimento O homem projetava em Deus suas melhores qualidades de ser genérico de gênero natural e dessa maneira a divindade criação do homem apropriavase da essência do criador e o submetia A fim de recuperar tal essência e fazer cessar o estado de alienação e empobrecimento o homem precisava 15 substituir a religião cristã por uma religião do amor à humanidade Causador de impacto e recebido com entusiasmo o humanismo naturista de Feuerbach foi uma revelação para Marx Apetrechouo da visão filosófica que lhe permitia romper com Hegel e transitar do idealismo objetivo deste último em direção ao materialismo Não obstante assim como nunca chegou à plenitude de hegeliano tampouco se tornou inteiramente feuerbachiano Apesar de jovem e inexperiente era dotado de excepcional inteligência crítica que o levava sempre ao exame sem complacência das ideias e das coisas Ao contrário de Feuerbach que via na dialética hegeliana apenas fonte de especulação mistificadora Marx intuiu que essa dialética devia ser o princípio dinâmico do materialismo o que viria a resultar na concepção revolucionária do materialismo como filosofia da prática Entre 1842 e 1843 Marx ocupou o cargo de redatorchefe da Gazeta Renana jornal financiado pela burguesia A orientação liberal do diário impôslhe frequentes atritos com a censura prussiana que culminaram em seu fechamento arbitrário Mas a experiência jornalística foi muito útil para Marx pois o aproximou da realidade cotidiana Ganhou conhecimento de questões econômicas geradoras de conflitos sociais e se viu diante do imperativo de pronunciarse acerca das ideias socialistas de vários matizes que vinham da França e se difundiam na Alemanha por iniciativa entre outros de Weitling e Moses Hess Tanto com relação às questões econômicas como às ideias socialistas o redatorchefe da Gazeta Renana confessou com lisura sua ignorância e esquivouse de comentários improvisados e infundados Assim foi a atividade política no exercício do jornalismo que o impeliu ao estudo em duas direções marcantes a da economia política e a das teorias socialistas Em 1843 Marx casouse com Jenny von Westphalen originária de família recém aristocratizada cujo ambiente confortável trocaria por uma vida de penosas vicissitudes na companhia de um líder revolucionário Marx se transferiu então a Paris onde em janeiro de 1844 publicou o único número duplo dos Anais FrancoAlemães editados em colaboração com Arnold Ruge figura destacada da esquerda hegeliana A publicação dos Anais visava a dar vazão à produção teórica e política da oposição democrática radical ao absolutismo prussiano Naquele número único veio à luz um opúsculo de Engels intitulado Esboço de uma crítica da economia políticab acerca do qual Marx manifestaria sempre entusiástica apreciação chegando a classificálo de genial Friedrich Engels 18201895 era filho de um industrial têxtil que pretendia fazêlo seguir a carreira dos negócios e por isso afastarao do curso universitário Dotado de enorme curiosidade intelectual que lhe daria saber enciclopédico Engels completou sua formação como aluno ouvinte de cursos livres e incansável autodidata Viveu curto período de hegeliano de esquerda e também sentiu o impacto da irrupção materialista feuerbachiana Mas antes de Marx aproximouse do socialismo e da economia política O que ocorreu na Inglaterra onde esteve a serviço dos negócios paternos e entrou em contato com os militantes operários do Partido Cartista Daí ao estudo dos economistas clássicos ingleses foi um passo 16 O Esboço de Engels focalizou as obras desses economistas como expressão da ideologia burguesa da propriedade privada da concorrência e do enriquecimento ilimitado Ao enfatizar o caráter ideológico da economia política negoulhe significação científica Em especial recusou a teoria do valortrabalho e por conseguinte não lhe reconheceu o estatuto de princípio explicativo dos fenômenos econômicos Se essas e outras posições seriam reformuladas ou ultrapassadas o Esboço também continha teses que se incorporaram de maneira definitiva ao acervo marxiano Entre elas a argumentação contrária à Lei de Say e à teoria demográfica de Malthus Mais importante que tudo porém foi que o opúsculo de Engels transmitiu a Marx provavelmente o germe da orientação principal de sua atividade teórica a crítica da economia política enquanto ciência surgida e desenvolvida sob inspiração do pensamento burguês O s Anais FrancoAlemães assim intitulados com o objetivo de burlar a censura prussiana estamparam dois ensaios de Marx Crítica da filosofia do direito de Hegel Introdução e Sobre a questão judaica Ambos marcam a virada de perspectiva que consistiu na transição do liberalismo burguês ao comunismo Nos anos em que se gestavam as condições para a eclosão da revolução burguesa na Alemanha o jovem ensaísta identificou no proletariado a classeagente da transformação mais profunda que deveria abolir a divisão da sociedade em classes Contudo o procedimento analítico e a formulação literária dessas ideias mostravam que o autor ainda não adquirira ferramentas discursivas e linguagem expositiva próprias tomandoas de Hegel e de Feuerbach Do primeiro os giros dialéticos e a concepção teleológica da história humana Do segundo o humanismo naturista A novidade residia na introdução de um terceiro componente que seria o fator mais dinâmico da evolução do pensamento do autor a ideia do comunismo e do papel do proletariado na luta de classes O passo seguinte dessa evolução foi assinalado por um conjunto de escritos em fase inicial de elaboração que deveriam resultar ao que parece em vasto ensaio Este ficou só em projeto e Marx nunca fez qualquer alusão aos textos que sob o título de Manuscritos econômicofilosóficos de 1844 teriam publicação somente em 1932 na União Soviética Sob o aspecto filosófico tais textos contêm uma crítica incisiva do idealismo hegeliano ao qual se contrapõe a concepção materialista ainda nitidamente influenciada pela antropologia naturista de Feuerbach Mas ao contrário deste último Marx reteve de Hegel o princípio dialético e começou a elaborálo no sentido da criação da dialética materialista Sob o aspecto das questões econômicas os Manuscritos reproduzem longas citações de vários autores sobretudo Smith Say e Ricardo acerca das quais são montados comentários e dissertações No essencial Marx seguiu a linha diretriz do Esboço de Engels e rejeitou a teoria do valortrabalho considerandoa inadequada para fundamentar a ciência da economia política A situação do proletariado que representa o grau final de desapossamento tem o princípio explicativo no seu oposto a propriedade privada Esta é engendrada e incrementada mediante o processo 17 generalizado de alienação que permeia a sociedade civil esfera das necessidades e relações materiais dos indivíduos Transfigurado ao passar de Hegel a Feuerbach o conceito de alienação sofria nova metamorfose ao passar deste último a Marx Pela primeira vez a alienação era vista enquanto processo da vida econômica O processo por meio do qual a essência humana dos operários se objetivava nos produtos do seu trabalho e se contrapunha a eles por serem produtos alienados e convertidos em capital A ideia abstrata do homem autocriado pelo trabalho recebida de Hegel concretizavase na observação da sociedade burguesa real Produção dos operários o capital dominava cada vez mais os produtores à medida que crescia por meio da incessante alienação de novos produtos do trabalho Evidenciase portanto que Marx ainda não podia explicar a situação de desapossamento da classe operária por um processo de exploração no lugar do qual o trabalho alienado constitui em verdade um processo de expropriação Daí a impossibilidade de superar a concepção ética não científica do comunismo Nos Manuscritos por conseguinte alienação é a palavrachave Deixaria de sêlo nas obras de poucos anos depois Contudo reformulada e num contexto avesso ao filosofar especulativo se incorporaria definitivamente à concepção socioeconômica marxiana Materialismo histórico socialismo científico e economia política Em 1844 em Paris Marx e Engels deram início à colaboração intelectual e política que se prolongaria durante quatro decênios Dotado de exemplar modéstia Engels nunca consentiu que o considerassem senão o segundo violino junto a Marx Mas este sem dúvida ficaria longe de criar uma obra tão impressionante pela complexidade e extensão se não contasse no amigo e companheiro com um incentivador consultor e crítico Para Marx excluído da vida universitária desprezado nos meios cultos e vivendo numa época em que Proudhon Blanqui e Lassalle eram os ideólogos influentes das correntes socialistas Engels foi mais do que interlocutor colocado em pé de igualdade representou conforme observou Paul Lafargue o verdadeiro público com o qual Marx se comunicava público exigente para cujo convencimento não poupava esforços As centenas de cartas do epistolário recíproco registram um intercâmbio de ideias como poucas vezes ocorreu entre dois pensadores explicitando ao mesmo tempo a importância da contribuição de Engels e o respeito de Marx às críticas e conselhos do amigo Escrita em 1844 e publicada em princípios de 1845 A sagrada família foi o primeiro livro em que Marx e Engels apareceram na condição de coautores Tratase de obra caracteristicamente polêmica que assinala o rompimento com a esquerda hegeliana O título sarcástico identifica os irmãos Bruno Edgar e Egbert Bauer e dá o tom do texto Enquanto a esquerda hegeliana depositava as esperanças de renovação da Alemanha nas camadas cultas aptas a alcançar uma consciência crítica o que negava aos trabalhadores Marx e Engels enfatizaram a impotência da consciência crítica que não se tornasse a consciência dos trabalhadores E nesse caso só poderia ser uma consciência 18 socialista O livro contém abrangente exposição da história do materialismo na qual se percebe o progresso feito no domínio dessa concepção filosófica e a visão original que os autores iam formando a respeito dela embora ainda não se houvessem desprendido do humanismo naturista de Feuerbach Aspecto peculiar do livro reside na defesa de Proudhon com o qual Marx mantinha amiúde encontros pessoais em Paris Naquele momento o texto de A sagrada família fazia apreciação positiva da crítica da sociedade burguesa pelo já famoso autor de O que é a propriedade então o de maior evidência na corrente que Marx e Engels mais tarde chamariam de socialismo utópico e da qual consideravam Owen SaintSimon e Fourier os expoentes clássicos No processo de absorção e superação de ideias Marx e Engels haviam alcançado um estágio em que julgaram necessário passar a limpo suas próprias ideias De 1845 a 1846 em contato com as seitas socialistas francesas e envolvidos com os emigrados alemães na conspiração contra a monarquia prussiana encontraram tempo para se concentrar na elaboração de um livro de centenas de páginas densas que recebeu o título de A ideologia alemã Iniciada em Paris a redação do livro se completou em Bruxelas onde Marx se viu obrigado a buscar refúgio pois o governo de Guizot pressionado pelas autoridades prussianas o expulsou da França sob acusação de atividades subversivas O livro não encontrou editor e só foi publicado em 1932 também na União Soviética Em 1859 Marx escreveria que de bom grado ele e Engels entregaram o manuscrito à crítica roedora dos ratos dandose por satisfeitos com terem posto ordem nas próprias ideias Na verdade A ideologia alemã encerra a primeira formulação da concepção históricosociológica que receberia a denominação de materialismo histórico Tratase pois da obra que marca o ponto de virada ou na expressão de Althusser o corte epistemológico na evolução do pensamento dos fundadores do marxismo A formulação do materialismo histórico desenvolvese no corpo da crítica às várias manifestações ideológicas de maior consistência que disputavam então a consciência da sociedade germânica às vésperas de uma revolução democráticoburguesa A crítica dirigese a um elenco que vai de Hegel a Stirner A parte mais importante é a inicial dedicada a Feuerbach O rompimento com este se dá sob o argumento do caráter abstrato de sua antropologia filosófica O homem para Feuerbach é ser genérico natural suprahistórico e não ser social determinado pela história das relações sociais por ele próprio criadas Daí o caráter contemplativo do materialismo feuerbachiano quando o proletariado carecia de ideias que o levassem à prática revolucionária da luta de classes Uma síntese dessa argumentação encontrase nas Teses sobre Feuerbach escritas por Marx como anotações para uso pessoal e publicadas por Engels em 1888 A última e undécima tese é precisamente aquela que declara que a filosofia se limitara a interpretar o mundo de várias maneiras quando era preciso transformálo A ideologia é assim uma consciência equivocada falsa da realidade Desde logo 19 porque os ideólogos acreditam que as ideias modelam a vida material concreta dos homens quando se dá o contrário de maneira mistificada fantasmagórica enviesada as ideologias expressam situações e interesses radicados nas relações materiais de caráter econômico que os homens agrupados em classes sociais estabelecem entre si Não são portanto a Ideia Absoluta o Espírito a Consciência Crítica os conceitos de Liberdade e Justiça que movem e transformam as sociedades Os fatores dinâmicos das transformações sociais devem ser buscados no desenvolvimento das forças produtivas e nas relações que os homens são compelidos a estabelecer entre si ao empregar as forças produtivas por eles acumuladas a fim de satisfazer suas necessidades materiais Não é o Estado como pensava Hegel que cria a sociedade civil ao contrário é a sociedade civil que cria o Estado A concepção materialista da história implicava a reformulação radical da perspectiva do socialismo Este seria vão e impotente enquanto se identificasse com utopias propostas às massas que deveriam passivamente aceitar seus projetos prontos e acabados O socialismo só seria efetivo se fosse criação das próprias massas trabalhadoras com o proletariado à frente Ou seja se surgisse do movimento histórico real de que participa o proletariado na condição de classe objetivamente portadora dos interesses mais revolucionários da sociedade Mas de que maneira substituir a utopia pela ciência Por onde começar Nenhum registro conhecido existe que documente esse momento crucial na progressão do pensamento marxiano Não obstante a própria lógica da progressão sugere que tais indagações se colocavam com força no momento preciso em que alcançada a formulação original do materialismo histórico surgia a incontornável tarefa de ultrapassar o socialismo utópico O que não se conseguiria pela negativa retórica e sim pela contraposição de uma concepção baseada na ciência social Ora conforme a tese ontológica fundamental do materialismo histórico a base sobre a qual se ergueria o edifício teria de ser a ciência das relações materiais de vida a economia política Esta já fora criada pelo pensamento burguês e atingira com Ricardo a culminância do refinamento No entanto Marx e Engels haviam rejeitado a economia política vendo nela tão somente a ideologia dos interesses capitalistas Como se deu que houvessem repensado a economia política e aceito o seu núcleo lógico a teoria do valortrabalho Cabe supor que a superação da antropologia feuerbachiana teve o efeito de desimpedir o caminho no sentido de nova visão da teoria econômica Em particular tal superação permitia pôr em questão o estatuto do conceito de alienação como princípio explicativo da situação da classe operária Não obstante esse aspecto isolado não nos esclarece acerca da virada de orientação do pensamento marxiano É sabido que a partir de 1844 Marx concentrou sua energia intelectual no estudo dos economistas De referências posteriores ressalta a sugestão de que a mudança de orientação acerca dos economistas clássicos foi mediada pelos ricardianos de esquerda Neles certamente descobriu Marx a leitura socialista de Ricardo Assim como 20 Feuerbach abriu caminho à leitura materialista de Hegel e à elaboração da dialética materialista Hodgskin Ravenstone Thompson Bray e Edmonds permitiram a leitura socialista de Ricardo e daí começaria a elaboração da economia política marxiana de acordo com o princípio ontológico do materialismo histórico e tendo em vista a fundamentação científica do socialismo Os ricardianos de esquerda eram inferiores ao próprio Ricardo sob o aspecto da força teórica porém a perspectiva socialista conquanto impregnada de ideias utópicas os encaminhou a interpretar a teoria ricardiana do valortrabalho e da distribuição do produto social no sentido da demonstração de que a exploração do proletariado constituía o eixo do sistema econômico da sociedade burguesa A significação do conhecimento desses publicistas na evolução do pensamento marxiano é salientada por Mandel que a tal respeito assinala o quanto deve ter sido proveitosa a temporada passada por Marx na Inglaterra em 1845 Ali não só pôde certificarse da defesa da teoria do valortrabalho pelos ricardianos ligados ao movimento operário como ao revés o abandono dela pelos epígonos burgueses do grande economista clássico Em 1846 Proudhon publicou o livro Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria no qual atacou a luta dos operários por objetivos políticos e reivindicações salariais colocando em seu lugar o projeto do intercâmbio harmônico entre pequenos produtores e da instituição de bancos do povo que fariam empréstimos sem juros aos trabalhadores Tudo isso apoiado na explicação da evolução histórica inspirada num hegelianismo malassimilado e retardatário Marx respondeu no ano seguinte com Miséria da filosofia que escreveu em francês À parte a polêmica devastadora contra Proudhon resumindo a crítica ao socialismo utópico em geral o livro marcou a plena aceitação da teoria do valortrabalho na formulação ricardiana Sob esse aspecto Miséria da filosofia constituiu ponto de virada tão significativo na evolução do pensamento marxiano quanto A ideologia alemã Não importa que Marx também houvesse aceitado na ocasião as teses de Ricardo sobre o dinheiro e sobre a renda da terra das quais se tornaria depois renitente opositor O fato de consequências essencialíssimas consistiu em que o materialismo histórico encontrava afinal o fundamento da economia política o que vinha definir o caminho da elaboração do socialismo científico Na própria Miséria da filosofia a aquisição desse fundamento resultou numa exposição muito mais avançada e precisa do materialismo histórico do que em A ideologia alemã Com base na teoria de Ricardo interpretada pelos seguidores de tendência socialista Marx empenhouse na proposição de uma tática de reivindicações salariais para o movimento operário o que expôs nas conferências proferidas em 18471848 mais tarde publicadas em folheto sob o título de Trabalho assalariado e capital Marx e Engels haviam ingressado numa organização de emigrados alemães denominada Liga dos Comunistas e receberam dela a incumbência de redigir um manifesto que apresentasse os objetivos socialistas dos trabalhadores A incumbência teve aceitação entusiástica ainda mais por se avolumarem os indícios da eclosão de 21 uma onda revolucionária no Ocidente europeu Publicado no começo de 1848 o Manifesto do Partido Comunista foi com efeito logo submergido pela derrocada da monarquia de Luís Filipe na França seguida pelos eventos insurrecionais na Alemanha Hungria Áustria Itália e Bélgica Embora a repercussão de sua primeira edição ficasse abafada por acontecimentos de tão grande envergadura o Manifesto alcançaria ampla difusão e sobrevivência duradoura tornandose uma das obras políticas mais conhecidas em numerosas línguas Num estilo que até hoje brilha pelo vigor e concisão o Manifesto condensou o labor teórico dos autores em termos de estratégia e tática políticas de tal maneira que o texto se tornou um marco na história do movimento operário mundial Na Alemanha as lutas de massa forçaram a monarquia prussiana a fazer a promessa de uma constituição e a aceitar o funcionamento de uma assembleia parlamentar em Frankfurt Marx e Engels regressaram de imediato à sua pátria e se lançaram por inteiro no combate Marx fundou e dirigiu o diário Nova Gazeta Renana que até o fechamento em maio de 1849 defendeu a perspectiva proletária socialista no decurso de uma revolução democráticoburguesa Depois de ter sido um dos redatores do jornal Engels engajouse no exército dos insurretos em cujas fileiras empunhou armas até a derrota definitiva que lhe impôs o refúgio na Suíça Diante da repressão exacerbada também Marx se retirou da Alemanha Os governos da França e da Bélgica lhe consentiram pouco tempo de permanência em seus territórios o que o levou a exilarse em Londres nos fins de 1849 ali residindo até a morte Em 1850 veio à luz As lutas de classes na França de 1848 a 1850 Em 1852 O 18 de brumário de Luís Bonaparte Em ambas as obras o método do materialismo histórico recémcriado foi posto à prova na interpretação a quente de acontecimentos da atualidade imediata A brevidade da perspectiva temporal não impediu que Marx produzisse duas obras historiográficas capazes de revelar as conexões subjacentes aos fatos visíveis e de enfocálos à luz da tese sociológica da luta de classes Em particular essas obras desmentem a frequente acusação ao economicismo marxiano Nelas são realçados não só fatores econômicos mas também fatores políticos ideológicos institucionais e até estritamente concernentes às pessoas dos protagonistas dos eventos históricos II Os tormentos da criação Ao aceitar a teoria de Ricardo sobre o valortrabalho e a distribuição do produto social Marx não perdeu de vista a necessidade da crítica da economia política embora não mais sob o enfoque estrito de Engels no seu Esboço precursor Ricardo dera à teoria econômica a elaboração mais avançada nos limites do pensamento burguês Os ricardianos de esquerda ultrapassaram tais limites porém não avançaram na solução dos impasses teóricos salientados precisamente pela interpretação socialista aplicada à obra do mestre clássico À onda revolucionária desencadeada em 1848 seguirase o refluxo das lutas 22 democráticas e operárias Por toda a Europa triunfava a reação burguesa e aristocrática Marx relacionou o refluxo à nova fase de prosperidade que sucedia à crise econômica de 18471848 e considerou ser preciso esperar a crise seguinte a fim de recolocar na ordem do dia objetivos revolucionários imediatos Com uma paixão obsessiva entregou se à tarefa que se tornaria a mais absorvente de sua vida a de elaborar a crítica da economia política enquanto ciência mediada pela ideologia burguesa e apresentar uma teoria econômica alternativa a partir das conquistas científicas dos economistas clássicos A residência em Londres favorecia tal empresa pois constituía o melhor ponto de observação do funcionamento do modo de produção capitalista e de uma formação social tão efetivamente burguesa quanto nenhuma outra do continente europeu Além disso o British Museum do qual Marx se tornou frequentador assíduo propiciava a consulta a um acervo bibliográfico de incomparável riqueza Em contrapartida as condições materiais de vida foram durante anos a fio muito ásperas e às vezes simplesmente tétricas para o líder revolucionário e sua família Não raro faltaram recursos para satisfação das necessidades mais elementares e o exilado alemão se viu às bordas do desespero Sobretudo não podia dedicar tempo integral às pesquisas econômicas conforme desejaria vendose forçado a aceitar tarefas de colaboração jornalística entre as quais a mais regular foi a correspondência política para um jornal de Nova York mantida até 1862 Além disso as intrigas que a seu respeito urdiam os órgãos policiais da Alemanha e de outros países obrigavamno a desviar a atenção dos estudos teóricos Durante quase todo o ano de 1860 por exemplo a maior parte de suas energias se gastou na refutação das calúnias difundidas por Karl Vogt que o acoimara de chefe de um bando de chantagistas e delatores Exmembro esquerdista do Parlamento de Frankfurt em 1848 Vogt se radicou na Suíça como professor de geologia e se tornou expoente da versão mais vulgar do materialismo mecanicista é dele a célebre afirmação de que os pensamentos têm com o cérebro a mesma relação que a bílis com o fígado ou a urina com os rins Envolvido em intrigas de projeção internacional nos meios democráticos e socialistas aceitou o que depois se comprovou o papel de escriba mercenário pago pelo serviço secreto de Napoleão III Apesar de calejado diante de insultos e calúnias a dose passara dessa vez a medida do suportável e Marx se esfalfou na redação de grosso volume que recebeu o título sumário de Herr Vogt À parte os aspectos polêmicos circunstanciais hoje sem maior interesse o livro oferece um quadro rico da política internacional europeia em meados do século XIX tema explorado com os recursos exuberantes do estilo de um grande escritor A situação de Marx seria insustentável e sua principal tarefa científica decerto irrealizável se não fosse a ajuda material de Engels Este fixara residência em Manchester passando a gerir ali os interesses da firma paterna associada a uma empresa têxtil inglesa Durante os vinte anos de atividade comercial a produção intelectual não pôde deixar de se reduzir Mas Engels achava gratificante sacrificar a própria criatividade contanto que fornecesse a Marx recursos financeiros que o sustentassem e à 23 família e lhe permitissem dedicar o máximo de tempo às investigações econômicas Demais disso Engels incumbiuse de várias pesquisas especializadas solicitadas pelo amigo A circunstância de residirem em cidades diferentes deu lugar a copiosa correspondência que registrou quase passo a passo a tormentosa via de elaboração dO capital No decorrer das investigações conquanto se mantivesse claro e inalterado o objetivo visado foi mudando e ganhando novas formas a ideia da obra final Rosdolsky rastreou na documentação marxiana entre 1857 e 1868 nada menos de catorze esboços e notas de planos dessa obra De acordo com o plano inicial deveria constar de seis livros dedicados aos seguintes temas 1 o capital 2 a propriedade territorial 3 o trabalho assalariado 4 o Estado 5 o comércio internacional 6 o mercado mundial e as crises À parte um livro especial faria a história das doutrinas econômicas dando ao estudo da realidade empírica o acompanhamento de suas expressões teóricas A deflagração de nova crise econômica em 1857 levou Marx a apressarse em pôr no papel o resultado de suas investigações motivado pela expectativa de que nova onda revolucionária voltaria a agitar a Europa e exigiria dele todo o tempo disponível Da sofreguidão nesse empenho resultou não mais do que um rascunho com imprecisões e lapsos de redação Fruto de um trabalho realizado entre outubro de 1857 e março de 1858 o manuscrito só teve publicação na União Soviética entre 1939 e 1941 Recebeu o título de Esboços dos fundamentos da crítica da economia política porém ficou mais conhecido pela palavra alemã Grundrisse esboços dos fundamentos Vindos à luz já sob o fogo da Segunda Guerra Mundial os Grundrisse não despertaram atenção Somente nos anos 1960 suscitaram estudos e comentários destacandose nesse particular o trabalho pioneiro de Rosdolsky Embora se trate de um rascunho os Grundrisse possuem extraordinária relevância pelas ideias que no todo ou em parte só nele ficaram registradas e sobretudo pelas informações de natureza metodológica Uma dessas ideias é a de que o desenvolvimento das forças produtivas pelo modo de produção capitalista chegaria a um ponto em que a contribuição do trabalho vivo se tornaria insignificante em comparação com a dos meios de produção de tal maneira que perderia qualquer propósito aplicar a lei do valor como critério de produtividade do trabalho e de distribuição do produto social Ora sem lei do valor carece de sentido a própria valorização do capital Assim o capitalismo deverá extinguirse não pelo acúmulo de deficiências produtivas porém ao contrário em virtude da pletora de sua capacidade criadora de riqueza Encontrase nessa ideia um dos traços característicos da elaboração discursiva marxiana certos fatores são isolados e desenvolvidos até o extremo de tal maneira que venha a destacarse o máximo de suas virtualidades O resultado não constitui todavia a previsão de um curso inelutável pois o próprio Marx revela adiante o jogo contraditório entre os vários fatores postos em interação o que altera os resultados extraídos da abstração do desenvolvimento isolado de um deles Tema de destaque nos Grundrisse abordado em apreciações dispersas e em toda 24 uma seção especial é o das formas que precedem a separação entre o agente do processo de trabalho e a propriedade dos meios de produção Tal separação constitui condição prévia indispensável ao surgimento do modo de produção capitalista e lhe marca o caráter de organização social historicamente transitória Isso porque somente tal separação permite que o agente do processo de trabalho como pura força de trabalho subjetiva desprovida de posses objetivas se disponha ao assalariamento regular enquanto para os proprietários dos meios de produção e de subsistência a exploração da força de trabalho assalariada é a condição básica da acumulação do capital mediante relações de produção já de natureza capitalista As categorias específicas do modo de produção capitalista não constituíam expressão de uma racionalidade suprahistórica de leis naturais inalteráveis conforme pensavam os economistas clássicos mas ao contrário seu surgimento tinha data recente e sua vigência marcaria não mais que certa época histórica delimitada Em algumas dezenas de páginas que têm sido editadas separadamente sob o título de Formas que precederam a produção capitalista foram compendiadas a partir do exame de vasto material historiográfico sugestões de extraordinária fecundidade às quais o autor infelizmente não pôde dar seguimento delas fazendo emprego esparso nO capital Nessa obra a opção metodológica consistiu em concentrar o estudo da acumulação originária nas condições históricas da Inglaterra O s Grundrisse compõemse de dois longos capítulos dedicados ao dinheiro e ao capital Com formulações menos precisas e sem a mesma organicidade aí encontramos parte da temática dos Livros I e II dO capital Seria contudo incorreto passar por alto o avanço propriamente teórico cumprido entre os dois textos Basta ver por exemplo que na questão do dinheiro Marx ainda se mostra nos Grundrisse preso a alguns aspectos da teoria ricardiana contra a qual travará polêmica resoluta logo em seguida em Para a crítica da economia política De maneira idêntica a caracterização do escravismo plantacionista americano como anomalia capitalista sofrerá radical reformulação nO capital em cujas páginas a escravidão a antiga e a moderna é sempre incompatível com o modo de produção capitalista A riqueza peculiar dos Grundrisse reside nas numerosas explicitações metodológicas pouco encontradiças nO capital Por se tratar de rascunho os Grundrisse exibem os andaimes metodológicos depois retirados do texto definitivo E esses andaimes denunciam a forte impregnação hegeliana do pensamento do autor Precisamente durante a redação do rascunho Marx releu a Lógica de Hegel conforme escreveu a Engels Não surpreende por isso que a própria linguagem seja em várias passagens moldada por termos e giros discursivos do mestre da filosofia clássica alemã A tal ponto que a certa altura ficou anotado o propósito de dar nova redação ao trecho a fim de libertálo da forma idealista de exposição Enquanto a crise econômica passava sem convulsionar a ordem política europeia Marx conseguiu chegar à redação final dos dois capítulos de Para a crítica da economia política publicada em 18591 Segundo o plano então em mente o terceiro capítulo 25 dedicado ao capital seria a continuação da Crítica um segundo volume dela Mas o que apareceu afinal oito anos depois foi algo bem diverso resultante de substancial mudança de plano Em janeiro de 1866 Marx já possuía em rascunho todo o arcabouço de teses tal qual se tornaram conhecidas nos três livros dO capital desde o capítulo inicial sobre a mercadoria até a teoria da renda da terra passando pelas teorias da maisvaliac da acumulação do capital do exército industrial de reserva da circulação e reprodução do capital social total da transformação do valor em preço de produção da queda tendencial da taxa média de lucro dos ciclos econômicos e da distribuição da mais valia nas formas particulares de lucro industrial lucro comercial juro e renda da terra Nesses três livros que formariam uma obra única seriam abordados os temas não só do capital mas também do trabalho assalariado e da propriedade territorial que deixaram de constituir objeto de volumes especiais O Estado o comércio internacional o mercado mundial e as crises planejados também para livros especiais ficavam postergados A nova obra seria intitulada o capital e somente como subtítulo é que compareceria a repetida Crítica da economia política Por último copiosos comentários e dissertações já estavam redigidos para o também projetado livro sobre a história das doutrinas econômicas O autor podia por conseguinte lançarse à redação final de posse de completo conjunto teórico que devia formar nas suas palavras um todo artístico Em 1865 a redação dO capital foi considerada tarefa prioritária acima do comparecimento ao Primeiro Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores realizado em Genebra sem a presença de Marx Este a conselho de Engels decidiuse à publicação isolada do Livro I concentrandose na sua redação final Em setembro de 1867 o Livro I vinha a público na Alemanha lançado pelo editor hamburguês Meissner Graças em boa parte aos esforços publicitários de Engels a conspiração do silêncio que cercava os escritos marxianos nos meios cultos começou a ser quebrada Curiosamente a primeira resenha aliás favorável de um professor universitário foi a de Eugen Dühring o mesmo contra o qual Engels dez anos depois travaria implacável polêmica Elogios calorosos chegaram de Ruge o antigo companheiro da esquerda hegeliana e de Feuerbach o respeitado filósofo que marcara momento tão importante na evolução do pensamento marxiano Embora a tradução inglesa não se concretizasse na ocasião decepcionando as expectativas do autor houve a compensação da tradução russa já em 1872 lançada com notável êxito de venda No seu parecer a censura czarista declarou tratarse de livro sem dúvida socialista mas inacessível à maioria em virtude da forma matemática de demonstração científica motivo por que não seria possível perseguilo diante dos tribunais Em seguida veio editada em fascículos a tradução francesa da qual o próprio autor fez a revisão com o que a tradução ganhou valor de original Em 1873 foi publicada a segunda edição alemã que trouxe um posfácio muito importante pelos esclarecimentos de caráter metodológico Embora a segunda fosse a última em vida do 26 autor a edição definitiva é considerada a quarta de 1890 na qual Engels introduziu modificações expressamente indicadas por Marx Faltava no entanto a redação final dos Livros II e III Marx trabalhou neles até 1878 sem completar a tarefa À ânsia insaciável de novos conhecimentos e de rigorosa atualização com os acontecimentos da vida real já não correspondia a habitual capacidade de trabalho Marx ficava impedido de qualquer esforço durante longos períodos debilitado por doenças crônicas agravadas Além disso absorviamno as exigências da política prática De 1864 a 1873 empenhouse nas articulações e campanhas da Associação Internacional dos Trabalhadores que passou à história como a Primeira Internacional Em 1865 pronunciou a conferência de publicação póstuma intitulada Salário preço e lucro Um esforço intenso lhe exigiram no seio da Associação as divergências com os partidários de Proudhon e de Bakunin Em 1871 chefiou a solidariedade internacional à Comuna de Paris e acerca de sua experiência política escreveu A guerra civil na França Ocuparamno em seguida os problemas da socialdemocracia alemã liderada in loco por Bebel e Liebknecht A fusão dos adeptos da socialdemocracia de orientação marxista com os seguidores de Lassalle num partido operário único ensejou a Marx em 1875 a redação de notas de fundamental significação para a teoria do comunismo reunidas no pequeno volume intitulado Crítica do Programa de Gotha Em 18811882 após as escassas páginas em que foram escritas as Glosas marginais ao Tratado de economia política de Adolfo Wagner a pena de Marx que deslizara através de assombrosa quantidade de folhas de papel colocava o definitivo ponto final Esgotado e abatido pela morte da esposa e de uma das filhas apagouse em 1883 o cérebro daquele que Engels na oração fúnebre disse ter sido o maior pensador do seu tempo Nos doze anos em que sobreviveu ao amigo Engels continuou criativo até os últimos dias produzindo obras da altura de Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã Sobre os seus ombros pesava a responsabilidade de coordenar o movimento socialista internacional o que lhe impunha crescente carga de trabalho No meio de toda essa atividade nunca deixou de ter por tarefa primordial a de trazer a público os dois livros dO capital ainda inéditos E cumpriu a tarefa com exemplar competência e probidade Os manuscritos de Marx encontravamse em diversos graus de preparação Só a menor parte ganhara redação definitiva Havia porém longas exposições com lacunas e desprovidas de vínculos mediadores Vários assuntos tinham sido abordados tão somente em notas soltas Por fim um capítulo imprescindível apenas contava com o título Tudo isso sem falar na péssima caligrafia dos manuscritos às vezes incompreensível até para o autor A tarefa por conseguinte ia muito além do que em regra se atribui a um editor Seria preciso que Engels assumisse certo grau de coautoria o que fez não obstante com o máximo escrúpulo Conforme explicou minuciosamente nos prefácios evitou substituir a redação de Marx pela sua própria em qualquer parte Não queria que sua redação superposta aos manuscritos originais suscitasse discussões acerca da autenticidade do pensamento marxiano Limitouse a ordenar os manuscritos de acordo 27 com as indicações do plano do autor preenchendo as óbvias lacunas e introduzindo trechos de ligação ou de atualização sempre entre chaves e identificados pelas iniciais F E também presentes nas notas de rodapé destinadas a informações adicionais ou mesmo a desenvolvimentos teóricos Igualmente assinado com as iniciais F E escreveu por inteiro o capítulo 4 do Livro III sobre a rotação do capital e sua respectiva influência na taxa de lucro Escreveu ainda vários prefácios admiráveis pelo tratamento de problemas básicos e pela força polêmica bem como dois suplementos ao Livro III sobre a lei do valor e formação da taxa média de lucro e sobre a Bolsa Se dessa maneira foi possível salvar o legado de Marx e editar o Livro II em 1885 e o Livro III em 1894 é evidente que estes não poderiam apresentar a exposição acabada e brilhante do Livro I Mas Engels ao morrer pouco depois de publicado o último livro havia cumprido a tarefa Restavam os manuscritos sobre a história das doutrinas econômicas que deveriam constituir o Livro IV Ordenouos e editouos Kautsky sob o título de Teorias da maisvalia entre 1905 e 1910 O Instituto de MarxismoLeninismo originalmente Instituto MarxEngels fundado por D Riazanov e responsável pela publicação dos manuscritos marxianos na União Soviética lançou nova edição em 1954 expurgada das intervenções arbitrárias de Kautsky Em 1933 o mesmo Instituto havia publicado o texto de um capítulo inédito planejado para figurar no Livro I dO capital e que Marx resolvera suprimir Numerado como sexto e sob o título de Resultados do processo imediato da produçãod o capítulo contém uma síntese do Livro I e serviria também de transição ao Livro II III Unificação interdisciplinar das ciências humanas Em primeiro lugar O capital é sem qualquer dúvida uma obra de economia política A amplitude de sua concepção dessa ciência supera porém os melhores clássicos burgueses e contrasta com a estrita especialização em que o marginalismo pretendeu confinar a análise econômica É que O capital constitui por excelência uma obra de unificação interdisciplinar das ciências humanas com vistas ao estudo multilateral de determinada formação social Unificação entre a economia política e a sociologia a historiografia a demografia a geografia econômica e a antropologia As categorias econômicas ainda quando analisadas em níveis elevados de abstração se enlaçam de momento a momento com os fatores extraeconômicos inerentes à formação social O Estado a legislação civil e penal em especial a legislação referente às relações de trabalho a organização familial as formas associativas das classes sociais e seu comportamento em situações de conflito as ideologias os costumes tradicionais de nacionalidades e regiões a psicologia social tudo isso é focalizado com riqueza de detalhes sempre que a explicação dos fenômenos propriamente econômicos adquira na interação com fenômenos de outra ordem categorial uma iluminação indispensável ou um enriquecimento cognoscitivo Assim ao contrário do que pretendem críticas tão reiteradas o enfoque marxiano da instância econômica não é 28 economicista uma vez que não a isola da trama variada do tecido social O que convém enfatizar não representa incoerência mas ao contrário perfeita coerência com a concepção do materialismo histórico enquanto teoria sociológica geral a concepção segundo a qual a instância econômica sendo a base da vida social dos homens não existe senão permeada por todos os aspectos dessa vida social os quais por sua vez sob modalidades diferenciadas são instâncias da superestrutura possuidoras de desenvolvimento autônomo relativo e influência retroativa sobre a estrutura econômica Obra de economia política e de sociologia O capital também é obra de historiografia A tese de que o modo de produção capitalista tem existência histórica de que nasceu de determinadas condições criadas pelo desenvolvimento social e de que criará ele próprio as condições para o seu desaparecimento e substituição por um novo modo de produção essa tese já por si mesma também exige abordagem histórica e por conseguinte implica o tratamento por meio de procedimentos característicos da historiografia Antes de tudo sem dúvida tratase de historiografia econômica que abrange exposições eruditas sobre o desenvolvimento das forças produtivas estudos especializados sobre questões de tecnologia pesquisas inovadoras sobre o comércio o crédito as formas de propriedade territorial e a gênese da renda da terra e com destaque particular sobre a formação da moderna classe operária Mas em relação mesmo com a história econômica temos outrossim a história das instituições políticas a evolução das normas jurídicas vejase o estudo pioneiro sobre a legislação trabalhista a história das relações internacionais Os estudos sobre a lei da população do modo de produção capitalista bem como sobre migrações e colonização focalizam temas de evidente contato entre a economia política e a demografia Por fim encontramos incursões e sugestões nos âmbitos da geografia econômica e da antropologia A decidida rejeição do geodeterminismo não conduz ao desconhecimento dos condicionamentos geográficos cuja influência no desenvolvimento das forças produtivas e das formações sociais é posta em destaque Em contrapartida acentuase a ação transformadora do meio geográfico pelo homem de tal maneira que as condições geográficas se humanizam à medida que se tornam prolongamento do próprio homem Mas a humanização da natureza nem sempre tem sido um processo harmônico Marx foi dos primeiros a apontar o caráter predador da burguesia com reiteradas referências por exemplo à destruição dos recursos naturais pela agricultura capitalista Sob esse aspecto merece ser considerado precursor dos modernos movimentos de defesa da ecologia em benefício da vida humana Do ponto de vista da Antropologia o que sobreleva é a relação do homem com a natureza por meio do trabalho e a humanização sob o aspecto de autocriação do homem no processo de transformação da natureza pelo trabalho As mudanças nas formas de trabalho constituem os indicadores básicos da mudança das relações de produção e das formas sociais em geral do intercurso humano O trabalho é portanto o fundamento antropológico das relações econômicas e sociais em geral Ou seja em 29 resumo o que Marx propõe é a Antropologia do homo faber Embora de maneira de todo inconvencional O capital se credencia como realização filosófica basilar Como sugeriu Jelezny o livro marxiano faz parte das obras que assinalaram inovações essenciais na orientação lógica e metodológica do pensamento Sem qualquer exposição sistemática porém aplicandoa em tudo e por tudo Marx desenvolveu a metodologia do materialismo dialético e se situou a justo título a par com aqueles criadores de ideias que marcaram época no pensamento sobre o pensamento de Aristóteles a Descartes Bacon Locke Leibniz Kant e Hegel Para este último com o qual Marx teve relação direta de sequência e superação a lógica por si mesma se identifica à ontologia a Ideia Absoluta é o próprio Ser Assim a ontologia só podia ter caráter idealista e especulativo obrigando a dialética máxima conquista da filosofia hegeliana a abrir caminho em meio a esquemas préconstruídos Com semelhante configuração a dialética era imprestável ao trabalho científico e por isso mesmo foi sepultada no olvido pelos cientistas que a preteriram em favor do positivismo Quando deu à dialética a configuração materialista necessária Marx expurgoua das propensões especulativas e adequoua ao trabalho científico Ao invés de subsumir a ontologia na lógica são as categorias econômicas e sua história concreta que põem à prova as categorias lógicas e lhes imprimem movimento A lógica não se identifica à ontologia o pensamento não se identifica ao ser A consciência é consciência do ser práticomaterial que é o homem A dialética do pensamento se torna a reprodução teórica da dialética originária inerente ao ser reprodução isenta de esquemas préconstruídos e impostos de cima pela ontologia idealista Mas ao contrário de reprodução passiva de reflexo especular do ser o pensamento se manifesta através da ativa intervenção espiritual que realiza o trabalho infindável do conhecimento Trabalho criador de hipóteses categorias teoremas modelos teorias e sistemas teóricos Método e estrutura dO capital A esta altura chegamos a uma questão crucial nas discussões marxistas e marxológicas a da influência de Hegel sobre Marx Quando estudava a Ciência da lógica surpreendeuse Lenin com o máximo de materialismo ao longo da mais idealista das obras de Hegel Com ênfase peculiar afirmou que não poderia compreender O capital quem não fizesse o prévio estudo da Lógica hegeliana Oposta foi a posição de Stalin Considerou a filosofia hegeliana representativa da aristocracia reacionária e minimizou sua influência na formação do marxismo A desfiguração stalinista da dialética se consumou num esquema petrificado para aplicação sem mediações a qualquer nível da realidade Enquanto Rosdolsky ressaltou por meio de análise minuciosa dos Grundrisse a relação entre Hegel e Marx quase ao mesmo tempo Althusser que nunca deu importância aos Grundrisse enfatizou a suposta ausência do hegelianismo na formação 30 de Marx e a inexistência de traços hegelianos na obra marxiana acima de tudo em O capital Dentro de semelhante orientação Althusser não se furtaria de louvar Stalin por haver depurado o materialismo dialético da excrescência hegeliana tão embaraçosa quanto a negação da negação Segundo Godelier esta seria uma categoria apenas aceita por Engels e não por Marx Demais Godelier considerou embaraçosa a própria contradição dialética e propôs sua subordinação ao conceito de limite estrutural o que na prática torna a contradição dialética dispensável ao processo discursivo A análise da estrutura lógica dO capital feita por Jelezny confirma não menos que a de Rosdolsky o enfoque de Lenin e não o de Stalin É impossível captar o jogo das categorias na obra marxiana sem dominar o procedimento da derivação dialética a partir das contradições internas dos fenômenos ou seja a partir de um procedimento lógico inaugurado com caráter sistemático por Hegel Sem dúvida é preciso frisar também que Marx rejeitou a identidade hegeliana dos contrários distinguindo tal postulado idealista de sua própria concepção materialista da unidade dos contrários a esse respeito tem razão Godelier quando aponta a confusão em certas formulações de Lenin e Mao TséTung sobre a identidade dos contrários A derivação dialética materialista é aplicada em todo o trajeto da exposição marxiana porém provoca impacto logo no capítulo inicial sobre a mercadoria por isso mesmo causador de tropeços aos leitores desprovidos de familiaridade com o método dialético Contudo a derivação dialética que opera com as contradições imanentes nos fenômenos não suprime a derivação dedutiva própria da lógica formal baseada justamente no princípio da não contradição Em O capital são correntes as inferências dedutivas acompanhadas de exposições por via lógicoformal Daí aliás o recurso frequente aos modelos matemáticos demonstrativos que revelam dentro de estruturas categoriais definidas o dinamismo das modificações quantitativas e põem à luz suas leis internas Conquanto considerasse falsas as premissas das quais Marx partiu Bôhm Bawerk não deixou de manifestar admiração pela força lógica do adversário Não obstante seja frisado a lógica formal está para a lógica dialética na obra marxiana assim como a mecânica de Newton está para a teoria da relatividade de Einstein Ou seja a primeira aplicase a um nível inferior do conhecimento da realidade com relação à segunda Marx distinguiu entre investigação e exposição A investigação exige o máximo de esforço possível no domínio do material fatual O próprio Marx não descansava enquanto não houvesse consultado todas as fontes informativas de cuja existência tomasse conhecimento O fim último da investigação consiste em se apropriar em detalhe da matéria investigada analisar suas diversas formas de desenvolvimento e descobrir seus nexos internos Somente depois de cumprida tal tarefa seria possível passar à exposição isto é à reprodução ideal da vida da matéria A essa altura advertiu Marx que se isso for conseguido então pode parecer que se está diante de uma construção a priori Por que semelhante advertência É que a exposição deve figurar um todo artístico Suas diversas partes precisam se 31 articular de maneira a constituírem uma totalidade orgânica e não um dispositivo em que os elementos se justapõem como somatório mecânico Ora a realização do todo artístico ou da totalidade orgânica pressupunha a aplicação do modo lógico e não do modo histórico de exposição Ou seja as categorias deveriam comparecer não de acordo com a sucessão efetiva na história real porém conforme as relações internas de suas determinações essenciais no quadro da sociedade burguesa Por conseguinte o tratamento lógico da matéria faz da exposição a forma organizacional apropriada do conhecimento a nível categorialsistemático e resulta na radical superação do historicismo entendido o historicismo na acepção mais ampla como a compreensão da história por seu fluxo singular consubstanciado na sucessão única de acontecimentos ou fatos sociais A exposição lógica afirma a orientação antihistoricista na substituição da sucessão histórica pela articulação sistemática entre categorias abstratas de acordo com suas determinações intrínsecas Daí que possa assumir a aparência de construção imposta à realidade de cima e por fora Na verdade tratase apenas de impressão superficial contra a qual é preciso estar prevenido Porque se supera o histórico o lógico não o suprime Em primeiro lugar se o lógico é o fio orientador da exposição o histórico não pode ser dispensado na condição de contraprova Daí a passagem frequente de níveis elevados de abstração a concretizações fatuais em que a demonstração dos teoremas assume procedimentos historiográficos Em segundo lugar porém com ainda maior importância porque o tratamento histórico se torna imprescindível nos processos de gênese e transição sem os quais a história será impensável Em tais processos o tratamento puramente lógico conduziria aos esquemas arbitrários divorciados da realidade fatual Por isso mesmo temas como os da acumulação originária do capital e da formação da moderna indústria fabril foram expostos segundo o modo histórico inserindose em O capital na qualidade de estudos historiográficos de caráter monográfico Em suma o lógico não constitui o resumo do histórico nem há paralelismo entre um e outro conforme pretendeu Engels porém entrelaçamento cruzamento circularidade A interpretação althusseriana conferiu estatuto privilegiado ao modo de exposição e atribuiu às partes históricas dO capital o caráter de mera ilustração empirista Se bem que com justificadas razões pusesse em relevo a sistematicidade marxiana Althusser fez dela uma estrutura formal desprendida da história concreta o que o próprio Marx explicitamente rejeitou O tratamento lógico é também o que melhor possibilita e no mais fundamental o único que possibilita alcançar aquele nível da essência em que se revelam as leis do movimento da realidade objetiva Porque nO capital a finalidade do autor consistiu em desvendar a lei econômica da sociedade burguesa ou em diferente formulação as leis do nascimento desenvolvimento e morte do modo de produção capitalista Numa época em que prevalecia a concepção mecanicista nas ciências físicas Marx foi capaz de desvencilharse dessa concepção e formular as leis econômicas precipuamente como leis tendenciais Ou seja como leis determinantes do curso dos 32 fenômenos em meio a fatores contrapostos que provocam oscilações desvios e atenuações provisórias As leis tendenciais não são nem por isso leis estatísticas probabilidades em grandes massas porém leis rigorosamente causais A lei tendencial sintetiza a manifestação direcionada constante e regular não ocasional da interação e oposição entre fatores imanentes na realidade fenomenal Como já observamos o plano da estrutura dO capital foi longamente trabalhado e sofreu modificações à medida que o autor ganhava maior domínio da matéria O resultado é uma arquitetura imponente cheia de sutilezas imperceptíveis à primeira vista cujo estudo já instigou abordagens especializadas Sob a perspectiva de conjunto há uma linha divisória entre os Livros I e II de um lado e o Livro III de outro Linha divisória que não diz respeito à separação entre questões microeconômicas e macroeconômicas pois nos três livros encontramos umas e outras conquanto se possa afirmar que o Livro II é o mais voltado à macroeconomia A distinção estrutural obedece a critério diferente Os dois primeiros livros são dedicados ao capital em geral ao capital em sua identidade uniforme O Livro III aborda a concorrência entre os capitais concretos diferenciados pela função específica e pela modalidade de apropriação da maisvalia O capital em geral é segundo Marx a quintessência do capital aquilo que identifica o capital enquanto capital em qualquer circunstância No Livro I tratase do capital em sua relação direta de exploração da força de trabalho assalariada Por isso mesmo o locus preferencial é a fábrica e o tema principal é o processo de criação e acumulação da maisvalia A modalidade exponencial do capital é o capital industrial pois somente ele atua no processo de criação da maisvalia No Livro II tratase da circulação e da reprodução do capital social total O capital é sempre plural múltiplo mas circula e se reproduz como se fosse um só capital social de acordo com exigências que se impõem em meio a inumeráveis flutuações e que dão ao movimento geral do capital uma forma cíclica No Livro III os capitais se diferenciam se individualizam e o movimento global é enfocado sob o aspecto da concorrência entre os capitais individuais Por isso mesmo é a essa altura que se aborda o tema da formação da taxa média ou geral do lucro e da transformação do valor em preço de produção De acordo com as funções específicas que desempenham no circuito total da economia capitalista na produção na circulação e no crédito os capitais individuais apropriamse de formas distintas de maisvalia lucro industrial lucro comercial juros cabendo à propriedade territorial a renda da terra também ela uma forma particular da maisvalia A lei dinâmica direcionadora desse embate concorrencial entre os capitais individuais pela apropriação da maisvalia é a lei da queda tendencial da taxa média de lucro A estrutura dO capital segundo Friedrich Lange foi montada de acordo com um plano que parte do nível mais alto de abstração no qual se focalizam fatores isolados ou no menor número possível daí procedendo por concretização progressiva à medida que se acrescentam novos fatores no sentido da aproximação cada vez maior e multilateral 33 com a realidade fatual A essa interpretação no geral correta acrescentamos que o trânsito do abstrato ao concreto se faz em todo o percurso a começar pelo Livro I Já nele encontramos o jogo dialético da passagem do abstrato ao concreto real e vice versa Jacob Gorender nascido em 1923 é um dos mais importantes historiadores marxistas brasileiros Autodidata foi laureado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade da Bahia e atuou como professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo IEAUSP Autor entre outros livros de O escravismo colonial 5 ed Perseu Abramo 2011 34 ADVERTÊNCIA AOS LEITORES DO LIVRO I DO CAPITALa Louis Althusser O que é O capital É a grande obra de Marx à qual ele dedicou toda a sua vida desde 1850 e sacrificou em provações cruéis a maior parte de sua existência pessoal e familiar Esta é a obra pela qual Marx deve ser julgado Por ela apenas não por suas obras de juventude ainda idealistas 18411844 não por obras ainda muito ambíguas como A ideologia alemã ou mesmo os Grundrisse esboços traduzidos para o francês com o título errôneo de Fondements de la critique de léconomie politique Fundamentos da crítica da economia política1 nem pelo célebre Prefácio à Contribuição à crítica da economia política 18592 em que Marx define em termos muito ambíguos porque hegelianos a dialética da correspondência e da não correspondência entre as forças produtivas e as relações de produção Esta obra gigantesca que é O capital contém simplesmente uma das três grandes descobertas científicas de toda a história humana a descoberta do sistema de conceitos portanto da teoria científica que abre ao conhecimento científico aquilo que podemos chamar de ContinenteHistória Antes de Marx dois continentes de importância comparável já haviam sido abertos ao conhecimento científico o Continente Matemáticas pelos gregos do século V aC e o ContinenteFísica por Galileu Estamos ainda muito longe de apreender a dimensão dessa descoberta decisiva e extrair todas as suas consequências teóricas Em particular os especialistas que trabalham no campo das ciências humanas e no campo menor das ciências sociais ou seja economistas historiadores sociólogos psicossociólogos psicólogos historiadores da arte e da literatura da religião e de outras ideologias e até mesmo linguistas e psicanalistas todos esses especialistas devem saber que não podem produzir conhecimentos verdadeiramente científicos em suas especialidades sem reconhecer que a teoria fundada por Marx lhes é indispensável Essa é a teoria que a princípio abre ao conhecimento científico o continente em que eles trabalham em que até agora produziram apenas uns poucos conhecimentos iniciais a linguística a psicanálise uns poucos elementos ou rudimentos de conhecimento a história a sociologia e eventualmente a economia ou ilusões puras e simples que são abusivamente chamadas de conhecimentos Somente os militantes da luta de classe proletária extraíram as conclusões dO capital reconhecendo nele os mecanismos da exploração capitalista e unindose em organizações de luta econômica os sindicatos e política os partidos socialistas e depois comunistas que aplicam uma linha de massas na luta pela tomada do poder 35 de Estado uma linha fundada na análise concreta da situação concreta Lenin em que devem combater análise esta efetuada por uma aplicação justa dos conceitos científicos de Marx à situação concreta É um paradoxo que especialistas intelectuais altamente cultos não tenham compreendido um livro que contém a teoria de que necessitam em suas disciplinas e que por outro lado esse mesmo livro tenha sido compreendido apesar de suas grandes dificuldades pelos militantes do movimento operário A explicação desse paradoxo é simples e é dada com toda a clareza por Marx em O capital e por Lenin em suas obras3 Se os operários compreenderam tão facilmente O capital é porque este fala em termos científicos da realidade cotidiana com a qual eles lidam a exploração de que são objeto por conta do sistema capitalista É por isso que O capital se tornou tão rapidamente como disse Engels em 1886 a Bíblia do movimento operário internacional Por outro lado se os especialistas em história economia política sociologia psicologia etc tiveram e ainda têm tanta dificuldade para compreender O capital é porque estão submetidos à ideologia dominante a da classe dominante que intervém diretamente em sua prática científica para falsear seu objeto sua teoria e seus métodos Salvo poucas exceções eles não suspeitam não podem suspeitar do extraordinário poder e variedade do domínio ideológico a que estão submetidos em sua própria prática Salvo poucas exceções são incapazes de criticar por si mesmos as ilusões em que vivem e que ajudam a manter porque elas literalmente os cegam Salvo poucas exceções são incapazes de realizar a revolução ideológica e teórica indispensável para reconhecer na teoria de Marx a teoria mesma de que sua prática necessita para enfim tornarse científica Quando se fala da dificuldade dO capital é necessário fazer uma distinção da mais alta importância A leitura dessa obra apresenta de fato dois tipos de dificuldades que não têm absolutamente nada a ver um com o outro A dificuldade n 1 absoluta e maciçamente determinante é uma dificuldade ideológica logo em última instância política Há dois tipos de leitores diante dO capital aqueles que têm experiência direta da exploração capitalista sobretudo os proletários ou operários assalariados da produção direta mas também com nuances de acordo com seu lugar dentro do sistema produtivo os trabalhadores assalariados não proletários e aqueles que não têm experiência direta da exploração capitalista mas por outro lado estão dominados em sua prática e em sua consciência pela ideologia da classe dominante a ideologia burguesa Os primeiros não têm dificuldade políticoideológica para compreender O capital porque este simplesmente fala de sua vida concreta Os segundos experimentam uma extrema dificuldade para compreender O capital ainda que sejam muito eruditos eu diria sobretudo se forem muito eruditos porque há uma incompatibilidade política entre o conteúdo teórico do livro e as ideias que eles têm na cabeça ideias que eles reencontram porque ali as depositam em suas práticas Por isso a dificuldade n 1 dO capital é em última instância uma dificuldade política 36 Mas O capital apresenta outra dificuldade que não tem absolutamente nada a ver com a primeira a dificuldade n 2 ou dificuldade teórica Diante dessa dificuldade os mesmos leitores se dividem em dois novos grupos Aqueles que têm o hábito do pensamento teórico logo os verdadeiros eruditos não experimentam ou não deveriam experimentar dificuldade para ler esse livro teórico que é O capital Aqueles que não estão habituados às obras teóricas os trabalhadores e muitos intelectuais que mesmo que tenham cultura não têm cultura teórica devem ou deveriam experimentar grandes dificuldades para ler uma obra de teoria pura como essa Utilizo como se pode notar condicionais não deveriamdeveriam Faço isso para evidenciar um fato ainda mais paradoxal do que o precedente mesmo indivíduos sem prática com textos teóricos como os operários experimentaram menos dificuldades diante dO capital do que indivíduos habituados à prática da teoria pura como os eruditos ou pseudoeruditos muito cultos Isso não deve nos eximir de dizer umas poucas palavras sobre um tipo muito particular de dificuldade presente nO capital enquanto obra de teoria pura tendo sempre em mente o fato fundamental de que não são as dificuldades teóricas mas as dificuldades políticas que são determinantes em última instância para qualquer leitura dO capital e de seu Livro I Todos sabem que sem teoria científica correspondente não pode existir prática científica isto é prática que produza conhecimentos científicos novos Toda ciência repousa sobre sua teoria própria O fato de essa teoria mudar se complicar e se modificar de acordo com o desenvolvimento da ciência considerada não altera em nada a questão Ora o que é essa teoria indispensável a toda ciência É um sistema de conceitos científicos de base Basta enunciar essa simples definição para que se destaquem dois aspectos essenciais de toda teoria científica 1 os conceitos de base e 2 seu sistema Esses conceitos são conceitos ou seja noções abstratas Primeira dificuldade da teoria habituarse à prática da abstração Essa aprendizagem pois se trata de uma verdadeira aprendizagem comparável à de uma prática qualquer por exemplo a da serralheria é realizada antes de tudo em nosso sistema escolar pela matemática e pela filosofia Marx nos adverte desde o prefácio do Livro I que a abstração é não apenas a existência da teoria mas também seu método de análise As ciências experimentais dispõem do microscópio a ciência marxista não tem microscópio ela deve se servir da abstração para substituílo Atenção a abstração científica não é em absoluto abstrata ao contrário Exemplo quando Marx fala do capital social total ninguém pode tocálo com as mãos quando Marx fala do maisvalor total ninguém pode tocálo com as mãos ou contálo contudo esses dois conceitos abstratos designam realidades efetivamente existentes O que torna científica a abstração é justamente o fato de ela designar uma realidade concreta que existe realmente mas que não podemos tocar com as mãos ou ver com 37 os olhos Todo conceito abstrato fornece portanto o conhecimento de uma realidade cuja existência ele revela conceito abstrato quer dizer então fórmula aparentemente abstrata mas na realidade terrivelmente concreta pelo objeto que designa Esse objeto é terrivelmente concreto porque é infinitamente mais concreto mais eficaz do que os objetos que podemos tocar com as mãos ou ver com os olhos contudo não podemos tocálo com as mãos ou vêlo com os olhos Daí o conceito de valor de troca o conceito de capital social total o conceito de trabalho socialmente necessário etc Tudo isso pode ser facilmente esclarecido Outro ponto os conceitos de base existem na forma de um sistema e é isso que os torna uma teoria Uma teoria é com efeito um sistema rigoroso de conceitos científicos de base Numa teoria científica os conceitos de base não existem numa ordem qualquer mas numa ordem rigorosa Portanto é preciso conhecêla e aprender passo a passo a prática do rigor O rigor sistemático não é uma fantasia ou um luxo formal mas uma necessidade vital para qualquer ciência para qualquer prática científica É isso que em seu prefácio Marx chama de rigor da ordem de exposição de uma teoria científica Dito isso é preciso saber ainda qual é o objeto dO capital em outras palavras qual é o objeto analisado no Livro I dO capital Marx diz é o modo de produção capitalista e as relações de produção e de circulação que lhe correspondem Ora tratase de um objeto abstrato De fato e apesar das aparências Marx não analisa uma sociedade concreta nem mesmo a Inglaterra da qual ele fala insistentemente no Livro I mas o MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA e nada mais Esse objeto é abstrato isso significa que ele é terrivelmente real e nunca existe em estado puro porque só existe em sociedades capitalistas Simplesmente para poder analisar essas sociedades capitalistas concretas Inglaterra França Rússia etc é necessário saber que elas são dominadas por essa realidade terrivelmente concreta e invisível a olhos nus que é o modo de produção capitalista Invisível portanto abstrata Naturalmente isso não acontece sem malentendidos e devemos estar extremamente atentos para evitar as falsas dificuldades que eles causam Por exemplo não devemos pensar que Marx analisa a situação concreta da Inglaterra quando fala dela Marx fala dela apenas para ilustrar sua teoria abstrata do modo de produção capitalista Em resumo há realmente uma dificuldade de leitura dO capital e essa dificuldade é teórica Está ligada à natureza abstrata e sistemática dos conceitos de base da teoria ou da análise teórica Devemos ter em conta que se trata de uma dificuldade real objetiva que só pode ser superada por uma aprendizagem da abstração e do rigor da ciência É preciso ter em conta que essa aprendizagem não se faz de um dia para o outro Daí um primeiro conselho de leitura ter sempre em mente que O capital é uma obra de teoria cujo objeto são os mecanismos do modo de produção capitalista e apenas dele Daí um segundo conselho de leitura não buscar nO capital um livro de história concreta ou um livro de economia política empírica no sentido em que os 38 historiadores e os economistas entendem esses termos mas um livro de teoria que analisa o MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA A história concreta e a economia empírica têm outros objetos Daí este terceiro conselho de leitura ao encontrar uma dificuldade de leitura de ordem teórica levar isso em consideração e tomar as medidas necessárias Não se apressar mas sim voltar para trás cuidadosa e lentamente e não avançar até que as coisas estejam claras Ter em conta que a aprendizagem da teoria é indispensável para ler uma obra teórica Entender que é andando que se aprende a andar desde que as condições citadas sejam escrupulosamente respeitadas Entender que não se aprende a andar na teoria logo na primeira tentativa súbita e definitivamente mas pouco a pouco com paciência e humildade Esse é o preço do sucesso Na prática isso quer dizer que para ser compreendido o Livro I precisa ser relido quatro ou cinco vezes consecutivas Esse é o tempo necessário para aprender a andar na teoria A presente advertência destinase a guiar os primeiros passos dos leitores na teoria Mas antes devo dizer algumas palavras sobre o público que lerá o Livro I dO capital Quem naturalmente vai compor esse público 1 Proletários ou assalariados diretamente empregados na produção de bens materiais 2 Trabalhadores assalariados não proletários desde os simples empregados até os administradores de empresas de médio e alto escalão engenheiros pesquisadores professores etc 3 Artesãos urbanos e rurais 4 Profissionais liberais 5 Estudantes universitários e do ensino médio Entre os proletários ou assalariados que lerão o Livro I dO capital figuram certamente homens e mulheres para os quais a prática da luta de classes em organizações sindicais e políticas deu uma ideia da teoria marxista Essa ideia pode ser mais ou menos correta conforme se vá dos proletários aos assalariados não proletários ela não está fundamentalmente falseada Entre as outras categorias que lerão o Livro I dO capital figuram certamente homens e mulheres que também têm certa ideia da teoria marxista Por exemplo os universitários e em especial os historiadores os economistas e numerosos ideólogos de disciplinas diversas pois como se sabe hoje em dia todos se declaram marxistas nas ciências humanas Ora 90 das ideias que esses intelectuais têm acerca da teoria marxista são falsas Essas ideias falsas foram expostas enquanto Marx ainda vivia e desde então têm sido incansavelmente repetidas sem nenhum esforço notável de imaginação Essas ideias têm sido inventadas e defendidas há um século por todos os economistas e ideólogos burgueses e pequenoburgueses4 para refutar a teoria marxista Essas ideias não encontraram nenhuma dificuldade para ganhar um amplo público 39 porque este já estava ganho por conta de seus preconceitos ideológicos antissocialistas e antimarxistas Esse amplo público é composto antes de tudo por intelectuais mas não por operários pois como disse Engels eles não se deixam levar mesmo quando não conseguem penetrar as demonstrações mais abstratas dO capital Por outro lado mesmo os intelectuais e os estudantes mais generosamente revolucionários se deixam levar de uma maneira ou de outra porque estão maciçamente submetidos aos preconceitos da ideologia pequenoburguesa sem a contrapartida da experiência direta da exploração Assim nesta advertência sou obrigado a considerar conjuntamente 1 as duas ordens de dificuldades já assinaladas dificuldade n 1 política dificuldade n 2 teórica 2 a distribuição do público em dois grupos essenciais público operárioassalariado de um lado e público intelectual de outro levando em conta ainda que esses grupos se sobrepõem em sua margem alguns assalariados são ao mesmo tempo trabalhadores intelectuais 3 a existência no mercado ideológico de refutações pretensamente científicas dO capital que afetam mais ou menos profundamente conforme sua origem de classe certas partes desse público Considerados todos esses dados minha advertência assumirá a seguinte forma Ponto I conselhos de leitura para evitar provisoriamente as dificuldades mais ásperas Esse item será breve e claro Espero que os proletários o leiam porque foi escrito sobretudo para eles ainda que se dirija a todos Ponto II indicações sobre a natureza das dificuldades teóricas do Livro I dO capital para as quais apelam todas as refutações da teoria marxista Esse item será necessariamente mais árduo em razão das dificuldades teóricas de que trata e dos argumentos das refutações da teoria marxista que se apoiam em tais dificuldades Ponto I As maiores dificuldades tanto teóricas como de outros tipos que impedem uma leitura fácil do Livro I dO capital estão concentradas infelizmente ou felizmente no início do livro mais especificamente na seção I Mercadoria e dinheiro Dessa forma meu conselho é o seguinte deixar PROVISORIAMENTE ENTRE PARÊNTESES TODA A SEÇÃO I e COMEÇAR A LEITURA PELA SEÇÃO II A transformação do dinheiro em capital A meu ver só se pode começar e apenas começar a compreender a seção I depois de ler e reler todo o Livro I a partir da seção II Esse conselho é mais do que um conselho é uma recomendação que me permito apresentar com todo o respeito que devo aos meus leitores como uma recomendação imperativa Cada um pode fazer a experiência na prática Se o leitor começar a leitura do Livro I pelo começo isto é pela seção I ou não a compreenderá e desistirá ou então pensará que a compreendeu e isso é pior porque 40 existe grande possibilidade de que tenha compreendido algo muito diferente do que há ali para compreender A partir da seção II A transformação do dinheiro em capital as coisas aparecem às claras O leitor penetra diretamente no coração do Livro I Esse coração é a teoria do maisvalor que os proletários compreendem sem nenhuma dificuldade já que é simplesmente a teoria científica daquilo que eles experimentam no dia a dia a exploração de classe Vêm em seguida duas seções muito densas mas muito claras e decisivas para a luta de classes ainda nos dias atuais a seção III e a seção IV Elas tratam das duas formas fundamentais do maisvalor de que a classe capitalista dispõe para levar ao máximo a exploração da classe operária aquilo que Marx chama de maisvalor absoluto seção III e maisvalor relativo seção IV O maisvalor absoluto seção III diz respeito à duração da jornada de trabalho Marx explica que a classe capitalista inexoravelmente faz pressão para aumentar a duração da jornada de trabalho e que o objetivo da luta de classe operária mais do que centenária é conseguir uma redução da duração da jornada de trabalho lutando CONTRA esse aumento As etapas históricas dessa luta são conhecidas jornada de 12 horas de 10 horas depois de 8 horas e finalmente com a Frente Popular a semana de 40 horas Todos os proletários conhecem por experiência própria aquilo que Marx demonstra na seção III a tendência irresistível do sistema capitalista ao máximo aumento da exploração por meio do prolongamento da duração da jornada de trabalho ou da semana de trabalho Esse resultado é obtido ou a despeito da legislação existente as 40 horas semanais nunca foram aplicadas de fato ou por intermédio da legislação existente por exemplo as horas extras As horas extras parecem custar muito caro aos capitalistas já que eles pagam 25 50 ou mesmo 100 a mais por elas do que pagam pelas horas normais de trabalho Mas na realidade elas são vantajosas para eles porque possibilitam que as máquinas cuja vida é cada vez mais curta por conta dos rápidos progressos da tecnologia funcionem 24 horas ininterruptas Em outras palavras as horas extras permitem aos capitalistas extrair o máximo de lucro da produtividade Marx mostra claramente que a classe capitalista não paga e jamais pagará horas extras aos trabalhadores para lhes fazer um agrado ou para permitir que complementem sua renda em detrimento de sua saúde mas para explorálos ainda mais O maisvalor relativo seção IV cuja existência pode ser observada em segundo plano na questão das horas extras é sem dúvida a forma número 1 da exploração contemporânea É uma forma muito mais sutil porque é menos perceptível do que a extensão da duração do trabalho Os proletários entretanto reagem por instinto se não contra ele ao menos como veremos contra seus efeitos O maisvalor relativo diz respeito à intensificação da mecanização da produção industrial e agrícola e portanto ao crescimento da produtividade que daí resulta A automação é a sua tendência atual Produzir o máximo de mercadorias pelo preço mais 41 baixo para extrair daí o máximo de lucro é a tendência irresistível do capitalismo Naturalmente ela vem junto com uma exploração crescente da força de trabalho Há uma tendência em falar de mutação ou revolução na tecnologia contemporânea Na realidade Marx afirma desde o Manifesto Comunistab e demonstra nO capital que o modo de produção capitalista se caracteriza por uma revolução ininterrupta dos meios de produção sobretudo dos instrumentos de produção tecnologia Temse anunciado grandiosamente como sem precedentes o que aconteceu nos últimos dez ou quinze anos e é verdade que recentemente as coisas avançaram mais rápido do que antes Mas é uma simples diferença de grau não de natureza A história do capitalismo é toda ela a história de um prodigioso desenvolvimento da produtividade por meio do desenvolvimento da tecnologia Isso resulta hoje como também no passado na introdução de máquinas cada vez mais aperfeiçoadas no processo de trabalho que permitem produzir a mesma quantidade de produtos em tempo duas três ou quatro vezes menor e portanto num desenvolvimento manifesto da produtividade Mas correlativamente isso tem efeitos precisos no agravamento da exploração da força de trabalho aceleração do ritmo de trabalho supressão de empregos e postos de trabalho não apenas para os proletários mas também para os trabalhadores assalariados não proletários inclusive certos técnicos até mesmo de alto escalão que não estão mais atualizados com o progresso técnico e portanto não têm mais valor de mercado daí o desemprego subsequente É disso que Marx trata com extremo rigor e precisão na seção IV A produção do maisvalor relativo Ele desmonta os mecanismos de exploração pelo desenvolvimento da produtividade em suas formas concretas Demonstra assim que o desenvolvimento da produtividade nunca pode beneficiar espontaneamente a classe operária mas ao contrário é feito precisamente para aumentar sua exploração Demonstra assim de maneira irrefutável que a classe operária não pode esperar nenhum benefício do desenvolvimento da produtividade moderna antes de derrubar o capitalismo e tomar o poder de Estado através de uma revolução socialista Demonstra que daqui até a tomada revolucionária do poder que abra a via do socialismo a classe operária não pode ter outro objetivo logo também não tem outro recurso a não ser lutar contra os efeitos da exploração gerados pelo desenvolvimento da produtividade para limitar esses efeitos luta contra a aceleração do ritmo de trabalho contra a arbitrariedade dos bônus de produtividade contra as horas extras contra a supressão de postos de trabalho contra o desemprego causado pela produtividade Luta essencialmente defensiva e não ofensiva Aconselho o leitor que chegou ao fim da seção IV que deixe provisoriamente de lado a seção V A produção do maisvalor absoluto e relativo e passe diretamente para a luminosa seção VI sobre o salário Nela os proletários estão literalmente em casa porque Marx examina além da mistificação burguesa que declara que o trabalho do operário é pago de acordo com seu valor as diferentes formas de salário primeiro o salário por tempo e depois o 42 salário por peça ou seja as diferentes armadilhas em que a burguesia tenta prender a consciência operária para destruir toda a vontade de luta de classes organizada Aqui os proletários reconhecerão que sua luta de classe só pode se opor de maneira antagônica à tendência de agravamento da exploração capitalista Reconhecerão que no que diz respeito ao salário ou como dizem os ministros e seus respectivos economistas no que diz respeito ao nível de vida ou à renda a luta de classe econômica dos proletários e de outros assalariados só pode ter um sentido uma luta defensiva contra a tendência objetiva do sistema capitalista ao aumento da exploração em todas as suas formas Digo claramente luta defensiva e portanto luta contra a diminuição do salário É claro que toda luta contra a diminuição do salário é ao mesmo tempo uma luta para aumentar o salário existente Mas falar apenas de luta para aumentar o salário é designar o efeito da luta arriscandose a ocultar sua causa e seu objetivo Diante da tendência inexorável do capitalismo à diminuição do salário a luta para aumentar o salário é por seu princípio mesmo uma luta defensiva contra a tendência do capitalismo de diminuir o salário Está perfeitamente claro então como Marx aponta na seção VI que a questão do salário não pode de modo algum se resolver por si mesma através da distribuição entre operários e outros trabalhadores assalariados dos benefícios do desenvolvimento ainda que espetacular da produtividade A questão do salário é uma questão de luta de classe Ela se resolve não por si mesma mas pela luta de classe sobretudo pelas diversas formas de greve que mais cedo ou mais tarde levam à greve geral Que essa greve geral seja puramente econômica e portanto defensiva defesa dos interesses materiais e morais dos trabalhadores luta contra a dupla tendência capitalista ao aumento da duração do trabalho e à diminuição do salário ou tome uma forma política e portanto ofensiva luta pela conquista do poder de Estado a revolução socialista e a construção do socialismo todos os que conhecem as distinções de Marx Engels e Lenin sabem que diferença separa a luta de classe política da luta de classe econômica A luta de classe econômica sindical é defensiva porque é econômica contra as duas grandes tendências do capitalismo A luta de classe política é ofensiva porque é política para a tomada do poder pela classe operária e seus aliados É preciso distinguir bem essas duas lutas embora na prática elas se confundam entre si mais ou menos segundo a conjuntura Uma coisa é certa e a análise que Marx faz das lutas de classe econômicas na Inglaterra no Livro I é a prova disto uma luta de classe que queira deliberadamente se restringir ao campo da luta econômica é e sempre será defensiva portanto sem esperança de derrubar o regime capitalista Essa é a maior tentação dos reformistas fabianos tradeunionistas de que fala Marx e de maneira geral da tradição social democrata da Segunda Internacional Somente uma luta política pode mudar o rumo e superar esses limites portanto deixar de ser defensiva e se tornar ofensiva Podemos ler 43 essa conclusão nas entrelinhas dO capital e podemos lêla com todas as letras nos textos políticos do próprio Marx de Engels e de Lenin É a questão número 1 do movimento operário internacional desde que ele se fundiu com a teoria marxista Os leitores poderão passar em seguida à seção VII O processo de acumulação do capital que é muito clara Marx explica que a tendência do capitalismo é reproduzir e alargar a própria base do capital já que consiste em transformar em capital o maisvalor extorquido dos proletários e já que o capital vira uma bola de neve para extorquir cada vez mais maistrabalho maisvalor dos proletários E Marx o mostra em uma magnífica ilustração concreta a Inglaterra de 1846 a 1866 Quanto ao capítulo 24c A assim chamada acumulação primitiva que encerra o livrod ele traz a segunda grande descoberta de Marx A primeira foi a do maisvalor A segunda é a dos meios incríveis pelos quais a acumulação primitiva se realiza graças aos quais e mediante a existência de uma massa de trabalhadores livres isto é desprovida de meios de trabalho e de descobertas tecnológicas o capitalismo pôde nascer e se desenvolver nas sociedades ocidentais Esses meios são a mais brutal violência o roubo e os massacres que abriram para o capitalismo sua via régia na história humana Esse último capítulo contém riquezas prodigiosas que não foram ainda exploradas em especial a tese que devemos desenvolver de que o capitalismo nunca deixou de empregar e continua a empregar em pleno século XX nas margens de sua existência metropolitana isto é nos países coloniais e excoloniais os meios da mais brutal violência Aconselho insistentemente portanto o seguinte método de leitura 1 deixar deliberadamente de lado em uma primeira leitura a seção I Mercadoria e dinheiro 2 começar a leitura do Livro I pela seção II A transformação do dinheiro em capital 3 ler com atenção as seções II A transformação do dinheiro em capital III A produção do maisvalor absoluto e IV A produção do maisvalor relativo 4 deixar de lado a seção V A produção do maisvalor absoluto e relativo 5 ler atentamente as seções VI O salário VII O processo de acumulação do capital e o capítulo 24 A assim chamada acumulação primitiva 6 começar a ler enfim com infinitas precauções a seção I Mercadoria e dinheiro sabendo que ela continuará extremamente difícil de ser compreendida mesmo depois de várias leituras das outras seções se não houver ajuda de um certo número de explicações aprofundadas Garanto que os leitores que quiserem observar escrupulosamente essa ordem de leitura lembrandose do que foi dito sobre as dificuldades políticas e teóricas de qualquer leitura dO capital não se arrependerão Ponto II Passo a tratar agora das dificuldades teóricas que impedem uma leitura rápida ou 44 mesmo em certos pontos uma leitura mais atenta do Livro I dO capital Lembro que é apoiandose nessas dificuldades que a ideologia burguesa tenta se convencer mas consegue realmente de que ela refutou há muito tempo a teoria de Marx A primeira dificuldade é de ordem muito geral Ela se refere ao simples fato de que o Livro I é somente o primeiro de uma obra composta de quatro livros Eu disse bem quatro Se é conhecida a existência dos Livros I II e III e mesmo que tenham sido lidos há um silêncio em geral sobre o Livro IV supondose ao menos que se suspeite de sua existência O misterioso Livro IV só é misterioso para os que pensam que Marx é um historiador entre outros autor de uma História das doutrinas econômicas5 porque foi com esse título aberrante que Molitor traduziu se é que se pode chamar assim uma determinada obra profundamente teórica denominada na verdade Teorias do mais valor Sem dúvida o Livro I dO capital é o único que Marx publicou em vida os Livros II e III foram publicados depois de sua morte em 1883 por Engels e o Livro IV por Kautsky6 Em 1886 no prefácio à edição inglesa Engels pôde dizer que o Livro I é um todo em si mesmo De fato como não se dispunha dos livros seguintes era preciso considerálo uma obra independente Não é mais o caso hoje Dispomos com efeito dos quatro livros em alemão7 e em francês8 Observo àqueles que podem que é de seu interesse reportarse constantemente ao texto alemão para controlar a tradução não só do Livro IV que está cheio de erros graves mas também dos Livros II e III algumas dificuldades terminológicas nem sempre foram bem resolvidas e do Livro I traduzido por Roy em uma versão que o próprio Marx revisou por completo retificandoa e até mesmo aumentandoa significativamente em algumas passagens Marx duvidando da capacidade teórica dos leitores franceses em algumas passagens atenuou perigosamente a clareza das expressões conceituais originais O conhecimento dos três outros livros permite resolver muitas das grandes dificuldades teóricas do Livro I sobretudo as que se encontram na terrível seção I Mercadoria e dinheiro em torno da famosa teoria do valortrabalho Preso a uma concepção hegeliana da ciência para Hegel só há ciência filosófica e por isso toda verdadeira ciência deve fundar seu próprio começo Marx pensava que em qualquer ciência todo começo é difícil De fato a seção I do Livro I apresenta uma ordem de exposição cuja dificuldade se deve em grande medida a esse preconceito hegeliano Além disso Marx redigiu esse começo uma dezena de vezes antes de lhe dar forma definitiva como se lutasse contra uma dificuldade que não era apenas de simples exposição e não sem razão Dou em poucas palavras o princípio da solução A teoria do valortrabalho de Marx que todos os economistas e ideólogos burgueses criticaram com condenações ridículas é inteligível mas só é inteligível como 45 um caso particular de uma teoria que Marx e Engels chamaram de lei do valor ou lei de repartição da quantidade de força de trabalho disponível segundo os diversos ramos da produção repartição indispensável à reprodução das condições da produção Até uma criança a compreenderia diz Marx em 1868 em termos que desmentem portanto o inevitável difícil começo de toda ciência Sobre a natureza dessa lei remeto entre outros textos às cartas de Marx a Kugelman de 6 de março e 11 de julho de 18689 A teoria do valortrabalho não é o único ponto difícil no Livro I É necessário mencionar naturalmente a teoria do maisvalor o pesadelo dos economistas e dos ideólogos burgueses que a acusam de ser metafísica aristotélica inoperacional etc Ora a teoria do maisvalor só é inteligível como um caso particular de uma teoria mais vasta a teoria do maistrabalho O maistrabalho existe em toda sociedade Nas sociedades sem classe ele é uma vez separada a parte necessária à reprodução das condições da produção repartido entre os membros da comunidade primitiva comunista Nas sociedades de classes ele é uma vez separada a parte necessária à reprodução das condições da produção extorquida das classes exploradas pelas classes dominantes Na sociedade de classes capitalista na qual pela primeira vez na história a força de trabalho se torna mercadoria o maistrabalho extorquido assume a forma do maisvalor Mais uma vez não vou desenvolver a questão limitome a indicar o princípio da solução cuja demonstração exigiria argumentos detalhados O Livro I contém ainda outras dificuldades teóricas vinculadas às precedentes ou a outros problemas Por exemplo a teoria da distinção que deve ser introduzida entre o valor e a forma de valor a teoria da quantidade de trabalho socialmente necessário a teoria do trabalho simples e do trabalho complexo a teoria das necessidades sociais etc Por exemplo a teoria da composição orgânica do capital ou a famosa teoria do fetichismo da mercadoria e de sua ulterior generalização Todas essas questões e muitas outras ainda constituem dificuldades reais objetivas às quais o Livro I dá soluções ou provisórias ou parciais Por que essa insuficiência É preciso saber que quando publicou o Livro I dO capital Marx já tinha escrito o Livro II e parte do Livro III este último na forma de rascunho De todo modo como prova sua correspondência com Engels10 ele tinha tudo na cabeça ao menos no fundamental Mas era materialmente impossível que pudesse pôr tudo isso no Livro I de uma obra que devia comportar quatro livros Além disso embora tivesse tudo na cabeça Marx não tinha todas as respostas para as questões que ele tinha em mente e isso se percebe em certos pontos do Livro I Não é por acaso que somente em 1868 portanto um ano depois da publicação do Livro I Marx escreva que a compreensão da lei do valor da qual depende a compreensão da seção I está ao alcance de uma criança O leitor do Livro I deve se convencer de um fato perfeitamente compreensível se 46 consideramos que Marx desbravava pela primeira vez na história do pensamento humano um continente virgem o Livro I contém algumas soluções de problemas que só serão colocados nos Livros II III e IV e certos problemas cujas soluções só serão demonstradas nesses volumes É essencialmente a esse caráter de suspense ou se se preferir de antecipação que se deve a maior parte das dificuldades objetivas do Livro I Portanto é preciso ter isso em mente e assumir as consequências isto é ler o Livro I levando em conta os Livros II III e IV Existe no entanto uma segunda ordem de dificuldades que constituem um obstáculo real à leitura do Livro I e dizem respeito não mais ao fato de que O capital compreende quatro livros mas aos resquícios na linguagem e mesmo no pensamento de Marx da influência do pensamento de Hegel Talvez o leitor saiba que recentemente11 tentei defender a ideia de que o pensamento de Marx é fundamentalmente diferente do pensamento de Hegel e portanto há entre Hegel e Marx um verdadeiro corte ou se se preferir ruptura Quanto mais o tempo passa mais penso que essa tese é justa No entanto devo reconhecer que dei uma ideia demasiado rígida dessa tese defendendo que tal ruptura poderia ter ocorrido em 1845 Teses sobre Feuerbach A ideologia alemãe Na verdade algo decisivo começa em 1845 mas foi necessário que Marx fizesse um longuíssimo trabalho de revolucionarização para chegar a formular em conceitos verdadeiramente novos a ruptura com o pensamento de Hegel O famoso Prefácio de 1859 à Crítica da economia política é ainda profundamente hegelianoevolucionista Os Grundrisse que datam dos anos 18571859 também são bastante marcados pelo pensamento de Hegel do qual Marx tinha relido com admiração a Grande lógica em 1858 Quando é lançado o Livro I dO capital 1867 ele ainda apresenta vestígios da influência hegeliana Estes só desaparecerão totalmente mais tarde a Crítica do Programa de Gotha 187512 assim como as Glosas marginais ao Tratado de economia política de Adolfo Wagner 1882 13 são total e definitivamente destituídos de qualquer vestígio de influência hegeliana Para nós portanto é da maior importância saber de onde vinha Marx ele vinha do neohegelianismo que era um retorno de Hegel a Kant e Fichte em seguida do feuerbachismo puro e do feuerbachismo impregnado de Hegel os Manuscritos de 184414 antes de reencontrar Hegel em 1858 E também interessa saber para onde ele ia A tendência de seu pensamento o levava irresistivelmente a abandonar radicalmente como se vê na Crítica do Programa de Gotha de 1875 e nas Glosas marginais ao Tratado de economia política de Adolfo Wagner de 1882 qualquer sombra de influência hegeliana Mesmo abandonando irreversivelmente qualquer influência de Hegel Marx reconhecia uma dívida importante com ele a de ter concebido pela primeira vez a história como um processo sem sujeito É levando em conta essa tendência que podemos apreciar como vestígios prestes a 47 desaparecer os traços de influência hegeliana que subsistem no Livro I Já identifiquei tais vestígios no problema tipicamente hegeliano do difícil começo de toda ciência do qual a seção I do Livro I é a manifestação clara Mais precisamente essa influência hegeliana pode ser localizada no vocabulário que Marx emprega nessa seção I no fato de que ele fala de duas coisas completamente diferentes a utilidade social dos produtos e o valor de troca desses mesmos produtos em termos que só têm uma palavra em comum a palavra valor de um lado valor de uso de outro valor de troca Se Marx expõe ao ridículo com o vigor que conhecemos o tal Wagner esse vir obscurus nas Glosas marginais de 1882 é porque Wagner finge acreditar que como Marx utiliza nos dois casos a mesma palavra valor o valor de uso e o valor de troca provêm de uma cisão hegeliana do conceito de valor O fato é que Marx não tomou o cuidado de eliminar a palavra valor da expressão valor de uso e falar simplesmente como deveria de utilidade social dos produtos É por isso que em 1873 no posfácio à segunda edição alemã dO capital Marx pôde voltar atrás e reconhecer que havia corrido o risco de no capítulo sobre a teoria do valor justamente a seção I coquetear aqui e ali com seus modos peculiares de Hegel de expressão Devemos assumir as consequências disso o que pressupõe no limite reescrever a seção I dO capital de modo que ela se torne um começo que não seja difícil mas simples e fácil A mesma influência hegeliana se encontra na imprudente fórmula do item 7 do capítulo 24 do Livro If no qual Marx falando da expropriação dos expropriadores declara é a negação da negação Imprudente porque ainda faz estragos a despeito de Stalin ter tido razão de suprimir por conta própria a negação da negação das leis da dialética se bem que em proveito de outros erros ainda mais graves Último vestígio da influência hegeliana e dessa vez flagrante e extremamente prejudicial já que todos os teóricos da reificação e da alienação encontraram nele com o que fundar suas interpretações idealistas do pensamento de Marx a teoria do fetichismo O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo quarto item do capítulo 1 da seção I Compreendese que eu não possa me estender aqui sobre esses diferentes pontos que exigiriam uma ampla demonstração Apenas os assinalo porque com o mui equivocado e célebre infelizmente prefácio à Contribuição à crítica da economia política o hegelianismo e o evolucionismo sendo o evolucionismo o hegelianismo do pobre que os impregnam fizeram grandes estragos na história do movimento operário marxista Assinalo que nem por um instante sequer Lenin cedeu à influência dessas páginas hegelianoevolucionistas do contrário não teria conseguido combater a traição da Segunda Internacional construir o partido bolchevique conquistar à frente das massas populares russas o poder de Estado para instaurar a ditadura do proletariado e engajarse na construção do socialismo Assinalo também que para a infelicidade do mesmo movimento comunista internacional Stalin fez do prefácio de 1859 seu texto de referência como se pode 48 constatar na História do Partido Comunista bolcheviqueg no capítulo intitulado Materialismo histórico e materialismo dialético 1938 o que explica muitas coisas daquilo que se chama por um termo que não tem nada de marxista o período do culto da personalidade Voltaremos a essa questão em outro lugar Acrescento ainda uma palavra para evitar ao leitor do Livro I um grande mal entendido que dessa vez não tem nada a ver com as dificuldades que acabei de expor mas referese à necessidade de ler com muita atenção o texto de Marx Esse malentendido concerne ao objeto tratado a partir da seção II do Livro I A transformação do dinheiro em capital Marx fala ali da composição orgânica do capital dizendo que na produção capitalista há para todo capital dado uma fração digamos 40 que constitui o capital constante matériaprima edifícios máquinas instrumentos e outra digamos 60 que constitui o capital variável despesa com a compra da força de trabalho O capital constante é chamado desse modo porque permanece constante no processo de produção capitalista ele não produz um novo valor portanto permanece constante O capital variável é chamado de variável porque produz um valor novo superior ao seu valor anterior pelo jogo da extorsão do mais valor que ocorre no uso da força de trabalho Ora a imensa maioria dos leitores inclusive é claro os economistas que ouso dizer são fadados a esse equívoco por sua deformação profissional como técnicos da política econômica burguesa acredita que Marx elabora ao abordar a composição orgânica do capital uma teoria da empresa ou para empregar termos marxistas uma teoria da unidade da produção No entanto Marx diz exatamente o contrário ele fala sempre da composição orgânica do capital social total mas na forma de um exemplo aparentemente concreto quando dá cifras por exemplo sobre 100 milhões capital constante 40 milhões 40 e capital variável 60 milhões 60 Portanto Marx não trata nesse exemplo cifrado de uma ou outra empresa mas de uma fração do capital total Ele raciocina para a comodidade do leitor e para fixar as ideias com um exemplo concreto com cifras portanto mas esse exemplo concreto serve simplesmente de exemplo para falar do capital social total Desse ponto de vista assinalo que não se encontra em lugar algum nO capital uma teoria da unidade de produção ou uma teoria da unidade de consumo capitalistas Sobre esses dois pontos a teoria de Marx ainda deve ser completada Assinalo também a importância política dessa confusão que foi definitivamente dissipada por Lenin em sua teoria do imperialismo15 Sabese que Marx planejava tratar nO capital do mercado mundial isto é da extensão tendencial ao mundo inteiro das relações de produção capitalistas Essa tendência encontrou sua forma acabada no imperialismo É muito importante pesar a importância política decisiva dessa tendência que Marx e a Primeira Internacional perceberam perfeitamente Com efeito se é verdade que a exploração capitalista extorsão do maisvalor existe nas empresas capitalistas onde são contratados os operários assalariados e os operários são suas vítimas e portanto suas testemunhas imediatas essa exploração local somente 49 existe como uma simples parte de um sistema de exploração generalizado que se estende gradualmente das grandes empresas industriais urbanas para as empresas capitalistas agrárias e depois para as formas complexas dos outros setores artesanato urbano e rural empreendimentos agrofamiliares empregados e funcionários etc não somente em um país capitalista mas no conjunto dos países capitalistas e por fim ao resto do mundo primeiro pela exploração colonial direta apoiada na ocupação militar colonialismo e depois pela indireta sem ocupação militar neocolonialismo Existe portanto uma verdadeira internacional capitalista de fato que desde o fim do século XIX se tornou a internacional imperialista à qual o movimento operário e seus grandes dirigentes Marx e depois Lenin responderam com uma internacional operária a Primeira a Segunda e a Terceira Internacional Os militantes operários reconhecem esse fato em sua prática do internacionalismo proletário Concretamente isso significa que eles sabem muito bem que 1 são diretamente explorados na empresa unidade de produção capitalista em que trabalham 2 não podem travar a luta unicamente no plano de sua própria empresa mas devem travála também no plano da produção nacional correspondente federações sindicais da metalurgia da construção dos transportes etc em seguida no plano do conjunto nacional dos diferentes ramos da produção por exemplo Confederação Geral dos Trabalhadores e depois no plano mundial por exemplo Federação Sindical Mundial Isso no que diz respeito à luta de classe econômica Ocorre o mesmo naturalmente no que diz respeito à luta de classe política apesar do desaparecimento formal da Internacional Essa é a razão por que se deve ler o Livro I à luz não somente do Manifesto Proletários de todos os países univos mas também dos estatutos da Primeira da Segunda e da Terceira Internacional e é claro à luz da teoria leninista do imperialismo Dizer isso não significa de modo algum sair do Livro I dO capital e começar a fazer política a propósito de um livro que parece tratar somente de economia política Muito pelo contrário significa levar a sério o fato de que Marx por meio de uma descoberta prodigiosa abriu ao conhecimento científico e à prática consciente dos homens um novo continente o ContinenteHistória e como a descoberta de toda nova ciência essa descoberta se prolongou na história dessa ciência e na prática dos homens que se reconheceram nela Se Marx não conseguiu escrever o capítulo dO capital que planejava escrever com o título de Mercado mundial fundamento do internacionalismo proletário em resposta à internacional capitalista e depois imperialista a Primeira Internacional fundada por Marx em 1864 já tinha começado a escrever nos fatos três anos antes da publicação do Livro I dO capital esse mesmo capítulo cuja continuação Lenin escreveu em seguida não só em seu livro Imperialismo estágio superior do capitalismo mas também na fundação da Terceira Internacional 1919 Tudo isso é claro ou é incompreensível ou é ao menos muito difícil de 50 compreender quando se é um economista ou mesmo um historiador e mais ainda quando se é um simples ideólogo da burguesia Em compensação tudo isso é muito fácil de compreender quando se é um proletário isto é um operário assalariado empregado na produção capitalista urbana ou agrária Por que essa dificuldade Por que essa relativa facilidade Creio poder responder a essas perguntas seguindo textos do próprio Marx e esclarecimentos que Lenin faz quando comenta O capital de Marx nos primeiros tomos de suas Obrash O que acontece é que os intelectuais burgueses ou pequenoburgueses têm um instinto de classe burguês ou pequenoburguês ao passo que os proletários têm um instinto de classe proletário Os primeiros cegos pela ideologia burguesa que faz de tudo para escamotear a exploração de classes não conseguem ver a exploração capitalista Os segundos ao contrário apesar da ideologia burguesa e pequenoburguesa que pesa terrivelmente sobre eles não conseguem não ver a exploração capitalista já que ela constitui sua vida cotidiana Para compreender O capital e portanto seu Livro I é preciso adotar as posições de classe proletárias isto é situarse no único ponto de vista que torna visível a realidade da exploração da força de trabalho assalariada que forma todo o capitalismo Guardadas as devidas proporções e desde que lutem contra a ideologia burguesa e pequenoburguesa que pesa sobre eles isso é relativamente fácil para os operários Como eles têm por natureza um instinto de classe formado pela rude escola da exploração cotidiana basta uma educação suplementar política e teórica para que compreendam objetivamente o que pressentem de forma subjetiva instintiva O capital dá esse suplemento de educação teórica na forma de explicação e demonstração objetivas o que os ajuda a passar do instinto de classe proletário a uma posição objetiva de classe proletária Mas isso é extremamente difícil para os especialistas e outros intelectuais burgueses e pequenoburgueses inclusive estudantes Uma simples educação de suas consciências não é suficiente tampouco uma simples leitura dO capital Eles devem realizar uma verdadeira ruptura uma verdadeira revolução em suas consciências para passar do instinto de classe necessariamente burguês ou pequenoburguês para posições de classe proletárias Isso é extremamente difícil mas não é impossível A prova é o próprio Marx filho da boa burguesia liberal pai advogado e Engels da alta burguesia capitalista e durante vinte anos capitalista em Manchester Toda a história intelectual de Marx pode e deve ser compreendida deste modo como uma longa difícil e dolorosa ruptura para passar do instinto de classe pequenoburguesa para posições de classe proletárias que ele próprio contribuiu para definir de modo decisivo nO capital Um exemplo sobre o qual podemos e devemos meditar levando em consideração outros exemplos ilustres em primeiro lugar o de Lenin filho de um pequenoburguês esclarecido professor progressista que se tornou dirigente da Revolução de Outubro e do proletariado mundial no estágio do imperialismo o estágio supremo isto é o último do capitalismo 51 Março de 1969 Louis Althusser 19181990 filósofo marxista e um dos principais autores do estruturalismo francês foi professor da École Normale Supérieure de Paris São de sua autoria as obras Pour Marx Maspero 1965 e Lire Le capital Maspero 1965 entre outras 52 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO1 José Arthur Giannotti I O primeiro volume dO capital Crítica da economia política foi publicado em 1867 na Alemanha Embora seu autor Karl Marx já tivesse emigrado para Londres em 1850 ele continuava a manter profundas relações com os alemães e os líderes dos movimentos operários que participavam das políticas revolucionárias espalhadas por toda a Europa O capital não foi escrito com intenções meramente teóricas não se propunha a elaborar uma nova visão dos acontecimentos econômicos nem aspirava ser mais uma notável publicação do mercado editorial o que a obra pretendia era criticar um modo de produção da riqueza essencialmente ancorado no mercado isto é na troca de produtos sob a forma mercantil Como é possível que uma troca que equalize produtos possa sistematicamente produzir excedente econômico Criar tanto riqueza como pobreza Em sua análise Marx pretende mostrar que esse excedente provém da diferença entre o valor da força de trabalho e o valor que o trabalhador cria ao pôla em movimento Espera assim provar cientificamente a especificidade da exploração do trabalho pelo capital inserida num modo de produção que leva ao extremo o tradicional conflito de classes que marca toda a história No limite esse conflito não teria condições de ser superado No entanto se o livro desde logo é arma política não é por isso que foge dos padrões mais rigorosos que regem as publicações universitárias O fato de nem sempre ter sido bem acolhido pelos pensadores acadêmicos não quer dizer que sua composição e seus passos analíticos deixem de seguir uma metodologia rigorosa e cuidadosamente traçada buscando uma nova interpretação que pudesse pôr em xeque o pensamento estabelecido Essa intenção crítica já se evidencia no subtítulo da obra A economia política foi o primeiro esboço daquela ciência que hoje conhecemos sob o nome de economia Como veremos haverá uma ruptura de paradigma entre essa forma antiga e a nova que a disciplina assume no século XX Tal ciência nasce estudando como se constrói e se mantém a riqueza das nações como se desenvolvem o comércio o crédito o juro o sistema bancário o imposto o Estado e assim por diante Lembremos que o Estado como formação política separada da totalidade da pólis somente se configura de modo pleno no Ocidente a partir do Renascimento De certo modo a economia política é a primeira forma de pensar as relações de produção o metabolismo do homem com a natureza retomando a linguagem favorita do jovem Marx que as desliga de intervenções políticas diretas Notese que o Estado sempre esteve presente no desenvolvimento capitalista mas o mercado principalmente na sua fase adulta recusa 53 essa interferência acreditando ser mais eficaz do que qualquer intervenção pública Nos meados do século XIX observa o próprio Marx a nova ciência se apresentava como um bom raciocínio formal a produção é a universalidade a distribuição e a troca a particularidade e o consumo a singularidade na qual o todo se unifica2 Encadeamento superficial porque deixa de lado a história Esse comentário aparece numa famosa introdução de 1857 que acompanharia o livro Contribuição à crítica da economia política o qual pretendia estudar à parte o método da nova ciência inspirandose na lógica hegeliana cujo debate estava aceso entre os alemães mas deixou de ser publicado por causa de sua complexidade Paradoxalmente porém tornouse um dos textos clássicos da dialética materialista Somente veio à luz de forma definitiva na coletânea de escritos inéditos conhecida como Grundrisse der Kritik der politischen Ökonomie Esboços da crítica da economia política Ao lêlo desde logo percebemos que Marx critica seus pares não apenas porque desenvolvem teorias incompatíveis com os dados empíricos mas sobretudo porque aceitam uma visão errônea da natureza do próprio fenômeno econômico tomando como real o que não passa de ilusão criada pelo próprio capital Vamos tentar mostrar os primeiros passos dessa crítica de natureza lógica e ontológica que por ser a mais radical muitas vezes tem sido deixada de lado Por sua complexidade por certo exigirá do leitor um esforço suplementar II O estudo da produção distribuição troca e consumo segue em geral as linhas de um raciocínio correto mas deixa de lado a íntima conexão das atividades elencadas3 Em particular ignora o lado histórico da produção cuja forma varia ao longo do tempo conforme se moldam seus meios Além do mais se a estrutura das atividades econômicas depende de seu tempo não é por isso que elas seguem uma evolução linear Depois da quebra do comunismo primitivo os sistemas produtivos se articularam em modos conforme se configurou a propriedade dos meios de produção Somente no capitalismo todos os seus fatores assumem a forma de mercadoria o que logo desafia o pensamento como um sistema nessas condições quando as partes são trocadas por seus valores pode gerar um excedente econômico A mercadoria não se confunde com um objeto de troca tribal situação em que por exemplo um saco de alimentos não pode ser trocado por uma canoa embora esta possa ser trocada por uma mulher Nem se confunde com o escambo Suas primeiras formas se encontram nas trocas regulares e por dinheiro entre comunidades separadas Uma análise dos fenômenos econômicos deve capturar as diferentes formas dessas trocas de um ponto de vista histórico Ao dotar os conceitos de historicidade Marx atenta para as diferentes vias de suas particularizações assim como para as diversas maneiras pelas quais o universal e o particular se relacionam Se não há produção em geral também não há igualmente produção universal A produção é sempre um ramo particular da produção por exemplo agricultura pecuária manufatura etc ou uma totalidade Mas a economia 54 política não é tecnologia4 Essa observação é muito importante para compreender o sentido da totalidade tal como é pensada por Marx Já lembramos que uma das origens de seu pensamento foi a dialética do idealismo absoluto É sintomático que durante a redação do primeiro livro dO capital ele tenha relido a Ciência da lógica de Hegel O vocabulário e a inspiração desse livro que funde lógica e ontologia provocam nos comentadores de Marx as maiores dores de cabeça e os maiores desatinos Para Hegel um conceito geral como mesa não é apenas o que um olhar captura como propriedades comuns de várias mesas Também não se particulariza somando determinações propriedades predicáveis mesa de escrever mesa de comer O conceito fruta por exemplo não é o conjunto das propriedades inscritas em geral nas frutas O conceito hegeliano já traz em si o princípio de sua diferenciação Nada tem a ver com o freguês que ao comprar frutas recusa laranjas peras e figos porque não encontra em cada coisa a universalidade que as engloba Este exemplo a relação entre o gênero da fruta e suas espécies assemelhase à relação da produção em geral e suas particularizações Os gêneros vivos passam a existir mobilizando duas forças contrapostas o masculino e o feminino que geram indivíduos igualmente polarizados Não acontece o mesmo com a produção que se realiza na agricultura na pecuária na indústria cada uma negando a outra de tal modo que se separam na medida em que conformam a unidade geral Um modo de produção como um todo produção distribuição troca e consumo não tem suas partes ligadas por essa mesma negatividade produtora E o mesmo não acontece com os diversos atos de produzir que se diferenciam desde que possam ser igualizados por um padrão tecnológico comum que se expressa no valor Por sua vez não forma uma estrutura dotada de temporalidade própria Mas se ao criticar a economia política positiva tal como se configurava até o século XIX Marx se inspira na dialética hegeliana não é por isso que aceita mergulhar nos mares do idealismo Seria muito estranho que um materialista pudesse acreditar que tudo o que é venha ser manifestação do Espírito Absoluto Marx que tinha formação de jurista também passara pela crítica que os neohegelianos de esquerda haviam feito a seu mestre O desafio era dar peso ao real quando a dialética tudo reduz ao discurso do Espírito III No posfácio dos Grundrisse Marx explicita sua concepção de concreto o qual insiste seria a síntese de várias determinações isto é de propriedades atribuídas a algo posto como sujeito de predicações Não é por isso que o real resultaria do pensamento como se brotasse do cérebro mas é o pensar por meio de suas representações que isola na totalidade do real aspectos que essa própria totalidade diferenciou O conceito deve pois nascer do próprio jogo do real acompanhado pelo olhar do cientista A mais simples categoria econômica o valor de troca pressupõe a população uma população produzindo em determinadas condições e também certos tipos de famílias 55 comunidades ou Estados O erro dos lógicos formais e dos economistas é duplo Primeiro fazer do valor de troca uma propriedade de um objeto trocável em qualquer situação histórica deixando de diferenciar a troca de presentes entre certas etnias indígenas a troca de indivíduos por dinheiro num mercado de escravos e assim por diante Aqui cabe investigar como o valor de troca de cada um desses produtos está ligado ao todo do processo produtivo É preciso em contrapartida sublinhar que somente no modo capitalista de produção todos os seus insumos estão sob a forma de mercadoria Mas isso somente se torna possível do ponto de vista da formação histórica quando aparece no mercado uma força de trabalho desligada de qualquer outro vínculo social No entanto do ponto de vista formal cada objeto conformado para ser mercadoria é posto em comparação com qualquer outro que venha ao mercado em busca de uma medida interna de trocabilidade Numa situação de mercado os valores de um escravo trazido de Angola e de outro trazido da China podem ser traduzidos na mesma moeda mas todo o processo de capturálos e transportálos pressiona para que eles tenham medidas diferentes Não é o que tende a acontecer num modo de produção em que todos os insumos provenham da forma da mercadoria Nesse sistema o valor de uso do produto fica bloqueado enquanto estiver no circuito das trocas e seu valor de troca passa a ser expresso nos termos de qualquer outro produto que costuma aparecer no mercado O valor de uso de um pé de alface que produzo para a venda precisa se exprimir numa certa quantidade de valor correspondente a cada um dos objetos que comparecem ao mercado Todos os produtos se tornam assim comparáveis Notese que essa abstração que captura a determinação valor de troca é feita pelo próprio processo de troca o pensamento apenas recolhe a distinção feita Além do mais esse valor assim constituído contradiz a existência do valor de uso no qual se assenta O valor de troca depende do valor de uso mas o nega bloqueia seu exercício colocao entre parênteses Para chegar até o consumo a fruta deixa de ser comida para se consumir como objeto de troca objeto cuja produção foi financiada em vista de sua comercialização Para Marx embora o concreto o real oposto ao pensamento humano se apresente como síntese de determinações estas não são aspectos que os observadores encontrariam na realidade sensível para serem em seguida alinhavados numa coisa pensada Por todos os lados assistimos a relações de troca mas o cientista precisa levar em conta que essa relação depende de produtores que vivem e operam segundo certos costumes nos quais os indivíduos sempre socializados estão ligados a famílias e a outras unidades sociais Sabemos que antigamente as relações de troca mercantil apareciam entre as comunidades quando essas relações sociais deixavam de operar Somente no capitalismo é que elas fazem parte do sistema como um todo e se dão em sua pureza formal Ao introduzir a categoria de modo de produção Marx rompe definitivamente com o paradigma seguido pelos economistas de sua época Se a economia política pretendia estudar como se gera a riqueza social acreditavase que ela deveria começar estudando 56 o ato produtivo mais simples o ato de trabalho Mas o homem é um ser eminentemente histórico e social cada totalidade produtiva situa o ato de trabalho num lugar muito determinado Esse é um princípio de que Marx não abre mão Desse modo imaginar que o processo produtivo pudesse se fundar no ato individual de trabalho equivale a considerar a atividade de Robinson Crusoé isolado em sua ilha como a matriz da produção de riqueza social Mas o próprio Crusoé não trabalha segundo moldes que ele aprendeu na Inglaterra de seu tempo Não podemos pois perder de vista que o ato de trabalho se integra na totalidade do processo produtivo segundo a trama das outras determinações primárias distribuição troca e consumo A trama categorial define a totalidade do processo Ademais como veremos nem todo ato de trabalho numa empresa vem a ser socialmente produtivo do ponto de vista da criação de valor IV A riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma enorme coleção de mercadorias e a mercadoria singular como sua forma elementar Nossa investigação começa por isso com a análise da mercadoriaa Essa é a primeira frase dO capital Notese o caráter histórico da análise que supõe o conceito de modo de produção Mas a forma deixa de lado toda a história de sua gênese Não são diferentes as condições em que o sistema capitalista se instala na Europa nos Estados Unidos e nos países periféricos muitos dos quais aliás retomaram a escravidão Não é necessário distinguir assim o movimento das categorias que se repõem a si mesmas e as condições históricas nas quais vêm a ser Essa dualidade não afeta a própria concepção de história esboçada por Marx Cabe então ter o cuidado de não confundir os dois tipos de determinação Os aspectos formais não são vazios mas sim aqueles que se reproduzem no ciclo produtivo Insistimos que no processo capitalista de produção todos os insumos já aparecem sob a forma de mercadoria sua conjunção resulta na produção de uma quantidade de mercadorias Daí ser necessário explicar essa categoria antes de perguntar como nasce o excedente Cabe então elucidar como se forma o valor No primeiro capítulo do livro Marx segue os passos da interpretação do valor elaborada por David Ricardo que no livro Princípios de economia política e tributação pensa a mercadoria no cruzamento de dois fatores o valor de uso e o valor de troca Mas a projeta no jogo dialético das determinações hegelianas Um dado valor de uso de 10 bananas por exemplo se relaciona no mercado com 2 pés de alface com 100 gramas de pó de café com 1x de um casaco com 1y de uma casa e assim por diante O primeiro passo consiste em tomar uma quantidade de valor de uso e relacionála representativamente a qualquer outro objeto que venha ao mercado numa quantidade determinada O segundo indicar que entre essas quantidades percola um igual que passa a ser denominado valor Qual sua medida Visto que o trabalho é o que essas quantidades de objetos possuem em comum essa projeção coloca o valor como uma quantidade de trabalho abstrato porque indiferente às 57 peculiaridades do ato produtivo morto porque inscrito no objeto trocável e socialmente necessário porque o consumo mostrará o que necessita a sociedade como um todo Notese que não é o observador o responsável pela abstração mas o próprio processo de troca em sua generalidade Nessas condições o dinheiro representa essa espécie de valor que se reproduz a si mesmo no fim de cada ciclo Cabe ainda observar que no funcionamento da mercadoria tal como ocorre em outros modos de produção importa apenas o que está sendo reposto pelo próprio sistema No fundo Marx segue os passos de David Ricardo mas tendo em vista uma objeção crucial somente formulada em Teorias da maisvalia Esse texto haveria de compor o quarto livro dO capital publicado postumamente e reuniria os estudos das teorias econômicas mais relevantes de seu tempo A objeção é a seguinte ele e seus discípulos não percebem que todas as mercadorias enquanto valores de troca constituem apenas expressões relativas do tempo do trabalho social sendo que sua relatividade não reside na relação em que se trocam mutuamente mas na relação de todas com o trabalho social como sua substância5 Como bom empirista inglês Ricardo considera que os valores de troca se relacionam uns com os outros e se esgotam nessa relação não precisando encontrar um fundamento Não leva em consideração que o relacionamento somente se mantém num plano social se possuir uma âncora comum a substância valor como algo que se esconde em cada uma de suas determinações singulares Na filosofia clássica a substância é o fundo que recebe todas as predicações as determinações que as ampara e as preserva das invasões de seus outros É a garantia da mesmidade duma coisa seja ela qual for Hegel formula esse conceito de substância de um modo muito especial No parágrafo 151 da pequena lógica que inicia a Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio rompendo com a tradição ele define substância como uma relação que totaliza os acidentes nos quais ela se revela por sua negatividade absoluta isto é que a distingue de tudo o que é outro A substância da maçã não é aquela energia permanente que irrompe em cada flor da macieira para transformála numa fruta específica mas aquilo que faz com que esse fruto seja o que foi o que é e o que sempre será É o processo de demarcar o que na maçã é especificamente revelado pelo dizer da palavra fruta revelando que ela resulta de uma flor particular que recebe um pólen especial diferente de todos os outros seres vivos vindo a ser em si e para si na medida em que exclui nega qualquer diferença de modo radical Não é o que precisamente acontece com o valor Ele é a mesmidade de todos os valores de troca que como tais estão negando impedindo em particular que se exerçam os valores de uso correspondentes Uma mesmidade porém que vale como tal porque renega qualquer outra determinação que não está sendo reposta pelo ciclo produtivo Essa crítica tem enorme importância Muito se fala sobre o fetichismo da mercadoria mas em geral não se leva em conta em que condições ele pode ser pensado e aceito como um fenômeno social O fetichismo da mercadoria não é uma determinação indutiva nem uma hipótese a ser verificada empiricamente Por certo se percebe que a mercadoria opera no mercado como se fosse dotada de energia própria A análise 58 científica de Ricardo mostra que ela é medida pelo tempo de trabalho morto abstrato socialmente necessário à sua produção É como se numa sociedade durante um ano todas as horas de trabalho desenvolvidas segundo um mesmo padrão tecnológico fossem somadas e repartidas entre os produtos que os membros dessa sociedade consumiriam de fato Essa massa confere medida de valor a cada produto e faz com que este pareça resultar daquela Marx salienta a exterioridade que essa medida necessita assumir diante de cada coisa produzida Ela não é neutra funciona como se a fruta fosse responsável pela identidade de cada maçã de cada pera como se a medida constituísse o mensurado A igualdade dos trabalhos humanos assume a forma material da igual objetividade de valor dos produtos do trabalho a medida do dispêndio de força humana de trabalho por meio de sua duração assume a forma da grandeza de valor dos produtos do trabalho finalmente as relações entre os produtores nas quais se efetivam aquelas determinações sociais de seu trabalho assumem a forma de uma relação social entre os produtos do trabalhob A igualdade dos atos a medida das forças gastas e a sociabilidade de tais atos aparecem como se fossem meras propriedades dos objetos postos em ação amarrados como estão pelo jogo formal das mercadorias encontrando suas medidas num equivalente que deixa de ser uma delas O valor é uma substância mas uma substância enganosa A dialética hegeliana captura a aparência reificada das relações capitalistas mas não é por isso que tais relações são de fato para sempre o que parecem Esse engano porém permite que o trabalho compareça na produção como coisa vendável a força de trabalho independente da individualidade de cada trabalhador Para os trabalhadores o primeiro passo propriamente político contra essa reificação consiste em colocar em questão as condições sociais em que operam Por certo a crítica marxiana não se exerce apenas do ponto de vista mais amplo da lógica dialética Em muitos momentos Marx raciocina como um economista examina e critica o funcionamento dos mercados Isso lhe assegura um lugar de destaque entre os fundadores da nova ciência Mas levar em conta somente essa dimensão de sua crítica é deixar de lado seu projeto maior a crítica da sociedade burguesa capaz de enriquecer o movimento revolucionário contra o capital Examina como as formas de dominação e as relações desiguais operantes no mercado de trabalho dependem da reificação das relações sociais cuja base é o fetichismo da mercadoria mas se completam nas formas mais desenvolvidas do capital V O capital é mais do que uma relação mercantil Se a mercadoria individual é a forma elementar do produto obtido segundo o modo de produção capitalista é preciso dar mais um passo formal no entanto historicamente determinado para que o capital revele seu segredo Uma análise meramente histórica não basta Marx mostrará como o desenvolvimento do comércio provocou o acúmulo de riqueza monetária o que permitiu a compra de uma nova mercadoria a força de trabalho que se encontrava no mercado por causa da falência do sistema de produção feudal Isso pelo menos na 59 Europa O servo fugia para a cidade e lá não se vendia como escravo mas como trabalhador a ser pago pelo tempo de trabalho que passava para as mãos do comprador No entanto essa condição histórica não explica a origem do excedente que o sistema necessita e começa a produzir Durante as aventuras marítimas o lucro provinha da diferença entre o preço do material comprado num país distante e sua venda perto do consumo O modo de produção capitalista porém é circular visto que todos os seus insumos já devem estar sob a forma mercantil todos devem provir de diversas relações de compra e venda Se ele de fato instala a escravatura do negro na sua periferia sobretudo nas Américas só se completa realmente criando um capital total quando a destrói no século XIX Mas se conforma a circularidade de um sistema produtor de mercadorias por meio de mercadorias de onde brotaria o excedente sem o qual esse sistema não funciona Somente se num dado momento desse circuito a objetidade de um valor particular o fetiche de ele ser uma coisa expressa em dinheiro se quebra para se mostrar como atividade criadora Obviamente essa mercadoria é a força de trabalho Como isso se processa formalmente A troca formal entre as mercadorias mediadas pelo dinheiro MDM poderia continuar indefinidamente Mas M agora é uma contradição entre valor de uso e valor O que Marx entende por ela Muitas vezes em seus textos não há uma divisão rígida entre contrariedade e contradição e na lógica hegeliana a primeira naturalmente se desenvolve na segunda pois ambas fazem parte do devir da ideia Na linguagem corrente costumamos dizer que branco e preto são contrários já que se colocam opostamente no sistema das cores dando lugar contudo a cores intermediárias entre elas Mas branco e não branco são contraditórios porque um sendo o outro não pode existir de modo algum Mas essas oposições são por excelência válidas no plano das proposições pois é nelas que a questão da existência aparece No plano da linguagem é fácil distinguir contrariedade de contradição duas proposições contrárias Toda maçã é azul e Toda maçã não é azul têm sentido embora sejam falsas Mas duas proposições contraditórias Alguma maçã é vermelha e Nenhuma maçã é vermelha se uma é verdadeira a outra necessariamente é falsa É como se a falsidade de uma corroesse integralmente a verdade da outra Hegel pretende encontrar no real essa negação integralmente corrosiva mas para isso toda a natureza passa a ser considerada como alienação do logos da razão universal No jogo de suas oposições a própria natureza se transformaria em espírito que por conservar em seu seio os dois momentos anteriores o logos e a natureza se mostra então como Espírito Absoluto Essa trindade do real completo é representada pelo cristianismo no mistério da unidade do Pai do Filho e do Espírito Santo Na lógica hegeliana tais diferenças vão se adensando até formar uma contradição que se resolve constituindose numa totalidade superior A contradição se superaria guardando os elementos anteriores modificados É a famosa Aufhebung Mesmo do ponto de vista idealista isto é de que todo o real é logos espírito a solução hegeliana não deixa de levantar problemas F W Schelling que na juventude foi amigo íntimo de 60 Hegel e na velhice se tornou seu mais ferrenho adversário sempre sustentou que uma contradição nunca se resolveria sem deixar restos Por certo ambos não advogam a mesma noção da negatividade Obviamente a dialética marxiana não poderia almejar um escopo tão vasto Continua buscando no concreto uma negatividade capaz de transformar as oposições em particular as lutas de classe numa contradição em que um dos termos fosse capaz de sobrepujar o outro e por fim aniquilálo por completo ainda que conservasse o conteúdo das partes Esse é o sentido mais profundo da revolução O capital não estuda a história da luta de classes mas procura deslindar as articulações do modo de produção capitalista como um todo Seu objetivo seu projeto é conduzir as diversas categorias geradas pelo desenvolvimento do comando do capital sobre o trabalho até aquela contradição máxima entre o capital social total e o trabalhador geral Essa desenharia o campo de batalha em que os adversários reduzidos às expressões mais simples poderiam enfrentar o combate final em que eles mesmos perderiam sua identidade e fechariam o processo de conformação do ser humano que por ser a história da servidão se abriria como história da liberdade Marx afirma que toda história é a história da luta de classes No contexto de seu pensamento maduro essa tese encontra guarida na crise do sistema capitalista e espera que a crítica da economia política confirme suas teses de juventude Ao capital total corresponderia o proletário total o proletariado organizado em classe revolucionária mas o desenho dessa figura depende do funcionamento da alienação principalmente quando ela se desenvolve nas figuras mais complexas do capital e do próprio trabalho Em sua forma plena o capital se mostra um processo autônomo no qual ele mesmo gera naturalmente lucro a terra renda e o trabalho salário Numa das páginas mais belas do Livro III dO capital a alienação da mercadoria assume a forma de uma lei natural Do investimento brota o lucro do mesmo modo que o cogumelo brota da terra fresca Adquire tal autonomia que o dinheiro investido num banco produz juros muitas vezes sem relacionamento direto com o funcionamento da economia como um todo A crise do sistema financeiro atual que o diga A relação direta entre trabalho e salário encobre o fato de que esse trabalho deve entrar no sistema como mercadoria e que somente é produtivo de valor sob o comando do capital na medida em que produz mais valor Desse modo o trabalho do capitalista e de todos os serviços não são produtivos desse ponto de vista a despeito de serem indispensáveis A mesma aula é produtiva de valor ao ser proferida numa escola particular que visa o lucro mas deixa de o ser quando ministrada numa escola pública Só podemos apontar essas linhas em que se assenta a crítica marxista da sociedade capitalista Mas convém retomar alguns problemas levantados pelo próprio desdobramento das formas categoriais No plano do pensamento meramente abstrato é fácil passar do modo de produção simples de mercadoria MDMD para o modo de produção capitalista Basta cortar a sequência e começar pelo dinheiro DMD Mas o processo mudou completamente de sentido O proprietário de D não é um 61 entesourador mas alguém que acumula dinheiro para investilo em busca de lucro Sempre tendo um sistema legal a seu lado A sequência se mostra então como DMD MD em que cada representa um delta um acréscimo ao dinheiro investido ou melhor do capital De onde surge esse delta Os fisiocratas achavam que a diferença nasceria da produção agrícola e o próprio Marx na juventude acompanhou aqueles que viam o maisvalor êmbolo do processo brotando do próprio comércio A teoria do valor de Ricardo lhe permitiu explicar a diferença entre o capital investido e o capital recebido como fruto do exercício da força de trabalho Em termos muito gerais podemos dizer que tendo o capitalista comprado essa força por seu valor vale dizer pela quantidade de trabalho abstrato socialmente necessária para sua produção e reprodução cria as condições do excedente ao deixar que o trabalho morto o valor da força da mercadoria força de trabalho se transforme em trabalho vivo A atividade do trabalhador se faz sob o comando do capital segundo suas leis e o produto lhe pertence de jure O maisvalor ou maisvalia resulta pois da transformação do valor de uma mercadoria que vem a ser pago depois que seu valor de uso sob o comando do capital recria o antigo valor de troca como uma substância capaz de aumentar por si mesma Notese que no plano formal categorial a criação do excedente fica na dependência de que a mercadoriatrabalho se mantenha reificada como fetiche No plano histórico porém esse crescimento aparentemente automático depende da acumulação de riqueza capaz de comprar força de trabalho livre num mercado que na Europa se cria com a crise do sistema feudal Mas essa solução teórica tem resultados políticos extraordinários Engels e seus companheiros dirão que Marx descobriu a lei da exploração capitalista pondo assim a nu a natureza econômica e política da exploração da classe trabalhadora E todo o movimento operário aos poucos foi sendo conquistado por essa ideia Na verdade essa prova teórica não basta para alimentar uma política que não esteja associada a uma situação de crise Em condições normais a venda e compra da força de trabalho se dá como um intercâmbio justo e juridicamente perfeito em particular nas condições de subemprego Além do mais a mera consciência de que o sistema capitalista produz tanto grande riqueza como a mais triste miséria não cria por si só movimentos revolucionários Daí a importância da crise do próprio capital a disfunção e disjunção do sistema para gerar condições políticas capazes de afetar o funcionamento da produção capitalista É sintomático que os teóricos da revolução sempre tenham sublinhado a necessidade de lideranças que proviessem de fora da classe operária Não é essa uma das teses de Lenin Mesmo do ponto de vista político entretanto é preciso ter uma visão panorâmica do modo de produção capitalista para que se compreenda o sentido pleno de sua contradição Rosa Luxemburgo costumava salientar em suas lutas contra o leninismo que os líderes marxistas se contentavam em ler apenas o Livro I dO capital deixando de lado as formas mais refinadas da reificação Se este livro na verdade junta capítulos mais formais com outros de mera investigação histórica termina estudando a lei geral 62 da acumulação capitalista sem adentrarse nas condições de suas crises O Livro II analisa o processo de circulação do capital e o terceiro é que faz o balanço completo do processo Neste se examinam as relações da mercadoria e do dinheiro a transformação do dinheiro em capital a produção do maisvalor absoluto assim como do maisvalor relativo a transformação do valor em salário e outros momentos formais muito mais próximos da experiência concreta de quem vive as grandezas e as misérias do mundo capitalista Mas não se fecha numa teoria da revolução A política marxista foi construída na base de outros textos de Marx e de Engels e como sempre foi posta a serviço da revolução não é estranho que vários autores reclamem da ausência de uma análise mais completa do jogo político como tal E nesse campo as divergências se multiplicam Marx só publicou o Livro I dO capital Ao falecer em 1883 deixou uma fabulosa quantidade de material que passou a ser trabalhada por Engels em 1885 este publicou o Livro II e em 1894 o Livro III É nesse último que as condições da crise do sistema deveriam eclodir pois é na sua totalidade que as contrariedades básicas se conformariam em contradições produtivas Já no Livro I Marx havia mostrado que a constituição do valor da mercadoria depende de que todos os agentes terminem tendo acesso aos progressos tecnológicos que potencializam a produtividade do trabalho Somente assim é possível que se crie uma única medida do trabalho abstrato socialmente necessário operando em qualquer ramo produtivo Sem esse pressuposto os mercados não tenderiam a se unificar o alinhavo dos diferentes capitais explodiria em direções diversas por sua vez o movimento proletário perderia sua dimensão unificadora internacional No Livro III Max introduz a noção de maisvalor relativo aquele excedente de que o capitalista se apropria antes que seus concorrentes consigam ter acesso a novas tecnologias Conforme se desenvolve o capital se associa ao desenvolvimento tecnológico e à transformação das ciências em forças produtivas Somente mantendo o pressuposto de que no final do processo todos os capitalistas teriam acesso às inovações tecnológicas é que se cria a tendência a uma redução da taxa de lucro Essa tendência seria o ponto nevrálgico em que explodiria a contradição Marx sempre apostou nesse pressuposto mas o capítulo em que trabalha tal questão descobre tantos fatores que freiam essa tendência que nem todos os intérpretes chegam a uma conclusão definitiva Até que ponto o maisvalor relativo começa a emperrar a reposição do sistema O próprio Marx logo toma consciência dessas forças dissolventes Já nos Grundrisse escreve à medida que a grande indústria se desenvolve a criação da riqueza efetiva passa a depender menos do tempo de trabalho e do quantum de trabalho empregado que do poder dos agentes postos em movimento durante o tempo de trabalho poder que sua poderosa efetividade por sua vez não tem nenhuma relação com o tempo de trabalho imediato que custa sua produção mas que depende ao contrário do nível geral da ciência e do progresso da tecnologia ou da aplicação dessa ciência à produção6 Depois de mais de 150 anos dessa observação depois da revolução da informática 63 depois que a própria ciência se transforma em força produtiva que efeito pode ter o desenvolvimento das ciências na conformação unificadora do capital Até mesmo a noção de propriedade privada passa a ser corroída Conforme o sistema se torna mais complexo as categorias fundamentais começam a fibrilar E o monopólio se concentra e mantém relações ambíguas com o Estado Reproduz uma nova aristocracia financeira nova espécie de parasitas na figura de projetistas fundadores e meros diretores nominais fraudadores e mentirosos no que respeita aos empreendimentos despesas de comércio com ações É a produção privada sem o controle da propriedade privada7 Estaria o próprio desenvolvimento do capital colocando em xeque suas bases primordiais isto é a homogeneidade do trabalho abstrato socialmente necessário responsável pela determinação do valor de um lado e a própria noção de propriedade privada de outro A crise do sistema depende da eclosão de um núcleo contraditório ou vai se alinhavando aos poucos pela fibrilação de suas categorias principais Não é um dos momentos em que se coloca o dilema reforma ou revolução O capital este livro extraordinário que ajudou a desenhar o espectro do comunismo que rondou a Europa até o final do século XX que até hoje nos ajuda a ver a pujança da economia de mercado e os desastres de sua atuação a força que empresta ao desenvolvimento da tecnociência e as aberrações de uma sociedade consumista também não nos convida a repensar sua problemática pela raiz VI A partir de 1917 com a vitória da Revolução Russa e a derrota dos outros processos revolucionários europeus e do momento que o internacionalismo dos movimentos proletários se subordinou à política da Terceira Internacional em que a União Soviética tinha absoluta hegemonia as obras de Marx e de Engels foram reunidas num sistema fechado As idas e vindas de um pensamento vivo e desafiador pouco a pouco tenderam a dar lugar a uma visão de mundo esclerosada Enquanto durou a União Soviética o marxismo foi ensinado como ideologia oficial e a economia planificada pelo comitê central apresentada como se fosse bom exemplo de uma economia sem mercado Isso durou até que a União Soviética se desintegrasse e os outros sistemas socialistas passassem a incorporar formas de produção mercantil Ainda hoje se ouve o mote socialismo ou barbárie mas a palavra socialismo é aí empregada nas acepções mais diversas Voltar aos textos de Marx não é o primeiro passo de quem pretende repensar essas questões O capital foi publicado em 1867 Mas já em 1871 Stanley Jevon publica Theory of Political Economy montando uma explicação do valor levando em conta as preferências pessoais pelo uso dos objetos Nessa mesma década Carl Menger e Léon Walras aperfeiçoam um novo equipamento conceitual que termina por ser aceito pela maioria dos economistas A economia passa a funcionar apoiandose num paradigma diferente do que aquele em que se apoiava a economia política Os novos economistas além dos 64 custos de produção passam também a considerar graus de demanda e de satisfação moral do consumo construindo instrumentos matemáticos capazes de medir o valor marginal Um turista perdido no deserto pagará muito mais por um copo de água do que o cidadão que o compra num bar Essas diferenças marginais podem ser tabeladas ou expressas por curvas de preferência Nasce assim a economia marginalista que rompe inteiramente com a clássica economia política Rompimento considerável pois coloca no centro do processo o agente racional sempre capaz de escolher os meios para atingir seus fins otimizando suas satisfações O homo economicus substitui o trabalhador isolado de John Stuart Mill ou o homem social de Marx Desse ponto de vista Marx seria considerado apenas um dos precursores da ciência econômica Mas ele próprio junto com Engels já se empenhara em combater outras interpretações do capital e do projeto revolucionário PierreJoseph Proudhon foi eleito o adversário mais perigoso e Mikhail Bakunin o político mais deletério Por fim a Revolução Russa de 1917 assume a teoria marxista como parâmetro de uma economia que pretendia substituir os mecanismos de mercado por uma administração racional operada pelo Comitê Central Desde aí pelo menos em tese na teoria econômica passaram a se enfrentar comunistas socialdemocratas e liberais A derrocada da União Soviética alterou esse quadro O paradigma do valor trabalho quase desapareceu do pensamento econômico Até mesmo doutrinas que se inspiravam em Marx não o conservaram É o caso da teoria crítica também conhecida por Escola de Frankfurt na qual se destacam Theodor Adorno Max Horkheimer Walter Benjamin e Jürgen Habermas Seja como for se a ciência econômica hoje em dia se alicerça em outros paradigmas e nada impede que se volte ao antigo embora seja difícil uma virada tão espetacular nunca a obra de Marx perdeu seu interesse e sua relevância a despeito das idas e vindas das modas atuais do pensar Como explicar essa permanência Pareceme que isso ocorre porque ela é mais do que um texto científico Ao salientar a especificidade das relações fetichizadas do capital a análise retoma a antiga questão do ser social e de sua historicidade Mesmo um investigador do porte de Martin Heidegger um dos maiores de nosso século embora tenha se deixado encantar pelo nazismo não deixa de incluir Marx entre os grandes filósofos do século XIX que contribuíram para a compreensão do sentido da história No entanto a questão hoje em dia é mais do que teórica A grande crise pela qual estamos passando coloca na pauta a alienação do capital em particular do capital financeiro e a necessidade de alguma regulamentação internacional dos mercados No fim das contas que futuro queremos ter É possível colocar essa questão sem levar em conta as análises deste livro chamado O capital Janeiro de 2013 65 José Arthur Giannotti é professor emérito do departamento de Filosofia da USP e coordenador da área de Filosofia e Política do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento Cebrap 66 Hugo Gellert O capital de Karl Marx em litografias Nova York 1934 67 O CAPITAL CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA LIVRO I O processo de produção do capital 68 Dedicado a meu inesquecível amigo o impávido fiel e nobre paladino do proletariado WILHELM WOLFF Nascido em Tarnau a 21 de junho de 1809 Falecido no exílio em Manchester a 9 de maio de 1864 69 Prefácio da primeira edição A obra cujo primeiro volume apresento ao público é a continuação de meu escrito Contribuição à crítica da economia políticaa publicado em 1859 A longa pausa entre começo e continuação se deve a uma enfermidade que me acometeu por muitos anos e interrompeu repetidas vezes meu trabalho O conteúdo daquele texto está resumido no primeiro capítulo deste volumeb e isso não só em nome de uma maior coerência e completude A exposição foi aprimorada Na medida em que as circunstâncias o permitiram pontos que antes eram apenas indicados foram aqui desenvolvidos ao passo que inversamente aspectos que lá foram desenvolvidos em detalhes são aqui apenas indicados As seções sobre a história da teoria do valor e do dinheiro foram naturalmente suprimidasc No entanto o leitor do texto anterior encontrará novas fontes para a história daquela teoria nas notas do primeiro capítulo Todo começo é difícil e isso vale para toda ciência Por isso a compreensão do primeiro capítulo em especial da parte que contém a análise da mercadoria apresentará a dificuldade maior No que se refere mais concretamente à análise da substância e da grandeza do valor procurei popularizálas o máximo possíveld A forma de valor cuja figura acabada é a formadinheiro é muito simples e desprovida de conteúdo Não obstante o espírito humano tem procurado elucidála em vão há mais de 2 mil anos ao mesmo tempo que obteve êxito ainda que aproximado na análise de formas muito mais complexas e plenas de conteúdo Por quê Porque é mais fácil estudar o corpo desenvolvido do que a célula que o compõe Além disso na análise das formas econômicas não podemos nos servir de microscópio nem de reagentes químicos A força da abstração Abstraktionskraft deve substituirse a ambos Para a sociedade burguesa porém a formamercadoria do produto do trabalho ou a forma de valor da mercadoria constitui a forma econômica celular Para o leigo a análise desse objeto parece se perder em vãs sutilezas Tratase com efeito de sutilezas mas do mesmo tipo daquelas que interessam à anatomia micrológica Desse modo com exceção da seção relativa à forma de valor não se poderá acusar esta obra de ser de difícil compreensão Pressuponho naturalmente leitores desejosos de aprender algo de novo e portanto de pensar por conta própria O físico observa processos naturais em que eles aparecem mais nitidamente e menos obscurecidos por influências perturbadoras ou quando possível realiza experimentos em condições que asseguram o transcurso puro do processo O que pretendo nesta obra investigar é o modo de produção capitalista e suas correspondentes relações de produção e de circulação Sua localização clássica é até o momento a I nglaterra Essa é a razão pela qual ela serve de ilustração principal à minha exposição teórica mas se o leitor alemão encolher farisaicamente os ombros ante a situação dos trabalhadores industriais ou agrícolas ingleses ou se for tomado 70 por uma tranquilidade otimista convencido de que na Alemanha as coisas estão longe de ser tão ruins então terei de gritarlhe De te fabula narratur A fábula referese a tie Na verdade não se trata do grau maior ou menor de desenvolvimento dos antagonismos sociais decorrentes das leis naturais da produção capitalista Tratase dessas próprias leis dessas tendências que atuam e se impõem com férrea necessidade O país industrialmente mais desenvolvido não faz mais do que mostrar ao menos desenvolvido a imagem de seu próprio futuro Mas deixemos isso de lado Onde a produção capitalista se instalou plenamente entre nós por exemplo nas fábricas propriamente ditas as condições são muito piores que na I nglaterra pois aqui não há o contrapeso das leis fabris Em todas as outras esferas atormentanos do mesmo modo como nos demais países ocidentais do continente europeu não só o desenvolvimento da produção capitalista mas também a falta desse desenvolvimento Além das misérias modernas afligenos toda uma série de misérias herdadas decorrentes da permanência vegetativa de modos de produção arcaicos e antiquados com o seu séquito de relações sociais e políticas anacrônicas Padecemos não apenas por causa dos vivos mas também por causa dos mortos Le mort saisit le vif O morto se apoderado vivo Comparada com a inglesa a estatística social da Alemanha e dos demais países ocidentais do continente europeu ocidental é miserável Não obstante ela levanta suficientemente o véu para deixar entrever atrás dele uma cabeça de Medusa Ficaríamos horrorizados ante nossa própria situação se nossos governos e parlamentos como na I nglaterra formassem periodicamente comissões para investigar as condições econômicas se a essas comissões fossem conferidas a mesma plenitude de poderes para investigar a verdade de que gozam na I nglaterra se para essa missão fosse possível encontrar homens tão competentes imparciais e inflexíveis como os inspetores de fábrica na I nglaterra seus relatores médicos sobre public health saúde pública seus comissários de inquérito sobre a exploração de mulheres e crianças sobre as condições habitacionais e nutricionais etc Perseu necessitava de um elmo de névoa para perseguir os monstros Nós puxamos o elmo de névoa sobre nossos olhos e ouvidos para poder negar a existência dos monstros Não podemos nos iludir sobre isso Assim como a guerra de independência americana do século XVI I I fez soar o alarme para a classe média europeia a guerra civil americana do século XI X fez soar o alarme para a classe trabalhadora europeia Na I nglaterra o processo revolucionário é tangível Quando atingir certo nível haverá de repercutir no continente Ali há de assumir formas mais brutais ou mais humanas conforme o grau de desenvolvimento da própria classe trabalhadora Prescindindo de motivos mais elevados os interesses mais particulares das atuais classes dominantes obrigamnas à remoção de todos os obstáculos legalmente controláveis que travem o desenvolvimento da classe trabalhadora É por isso que neste volume reservei um espaço tão amplo à história ao conteúdo e aos resultados da legislação inglesa relativa às fábricas Uma nação deve e pode aprender com as outras Ainda que uma sociedade tenha descoberto a lei natural de seu desenvolvimento e a finalidade última desta obra é desvelar a lei econômica do movimento da sociedade moderna ela não pode saltar suas fases naturais de desenvolvimento nem suprimilas por decreto Mas pode 71 sim abreviar e mitigar as dores do parto Para evitar possíveis erros de compreensão ainda algumas palavras De modo algum retrato com cores róseas as figuras do capitalista e do proprietário fundiário Mas aqui só se trata de pessoas na medida em que elas constituem a personificação de categorias econômicas as portadoras de determinadas relações e interesses de classes Meu ponto de vista que apreende o desenvolvimento da formação econômica da sociedade como um processo históriconatural pode menos do que qualquer outro responsabilizar o indivíduo por relações das quais ele continua a ser socialmente uma criatura por mais que subjetivamente ele possa se colocar acima delas No domínio da economia política a livre investigação científica não só se defronta com o mesmo inimigo presente em todos os outros domínios mas também a natureza peculiar do material com que ela lida convoca ao campo de batalha as paixões mais violentas mesquinhas e execráveis do coração humano as fúrias do interesse privado A Alta I greja da I nglaterraf por exemplo perdoaria antes o ataque a 38 de seus 39 artigos de fé do que a 139 de suas rendas em dinheiro Atualmente o próprio ateísmo é uma culpa levis pecado venial se comparado com a crítica às relações tradicionais de propriedade Nesse aspecto contudo não se pode deixar de reconhecer certo avanço Remeto por exemplo ao Livro Azulg publicado há poucas semanas Correspondence with her Majestys Missions Abroad Regarding I ndustrial Questions and Trade Unions Os representantes da Coroa inglesa no exterior afirmam aqui sem rodeios que na Alemanha na França numa palavra em todos os países civilizados do continente europeu a transformação das relações vigentes entre o capital e o trabalho é tão perceptível e inevitável quanto na I nglaterra Ao mesmo tempo do outro lado do Atlântico o sr Wade vicepresidente dos Estados Unidos da América do Norte declarava em reuniões públicas depois da abolição da escravidão passa à ordem do dia a transformação das relações entre o capital e a propriedade da terra São sinais dos tempos que não se deixam encobrir por mantos de púrpura nem por sotainas negrash Eles não significam que amanhã hão de ocorrer milagres mas revelam que nas próprias classes dominantes já aponta o pressentimento de que a sociedade atual não é um cristal inalterável mas um organismo capaz de transformação e em constante processo de mudança O segundo volume deste escrito tratará do processo de circulação do capital Livro I I e das configurações do processo global Livro I I I o terceiro Livro I V da história da teoriai Todos os julgamentos fundados numa crítica científica serão bemvindos Diante dos preconceitos da assim chamada opinião pública à qual nunca fiz concessões tomo por divisa como sempre o lema do grande florentino Segui il tuo corso e lascia dir le genti Segue o teu curso e deixa a gentalha falarj Londres 25 de julho de 1867 72 Capa da primeira edição alemã publicada em 1867 73 Posfácio da segunda ediçãoa Aos leitores da primeira edição tenho primeiramente de apresentar esclarecimentos quanto às modificações realizadas nesta segunda edição Salta aos olhos a subdivisão mais clara do livro Todas as notas adicionais estão indicadas como notas à segunda edição Com relação ao texto em si eis o mais importante No capítulo 1 item 1 a dedução do valor mediante a análise das equações nas quais se exprime todo valor de troca é efetuada com maior rigor científico do mesmo modo é expressamente destacado o nexo apenas indicado na primeira edição entre a substância do valor e a determinação da grandeza deste último por meio do tempo de trabalho socialmente necessário O capítulo 1 item 3 A forma de valor foi integralmente reelaborado o que já o exigia a exposição dupla da primeira edição Observo de passagem que aquela exposição foime sugerida por meu amigo dr L Kugelmann de Hanover Encontravame de visita em sua casa na primavera de 1867 quando as primeiras provas de impressão chegaram de Hamburgo ele convenceume então de que uma discussão suplementar e mais didática da forma do valor seria necessária para a maioria dos leitores A última seção do primeiro capítulo O caráter fetichista da mercadoria etc foi em grande parte modificada O capítulo 3 item 1 Medida dos valores foi cuidadosamente revisto porquanto essa parte fora negligenciada na primeira edição com uma simples remissão à discussão já feita em Contribuição à crítica da economia política Berlim 1859 O capítulo 7 especialmente a parte 2 foi consideravelmente reelaborado Seria inútil discorrer detalhadamente sobre as modificações com frequência apenas estilísticas que realizamos em passagens do texto Elas se encontram dispersas por todo o livro Porém após ter revisado a tradução francesa que se está publicando em Paris creio que várias partes do original alemão teriam exigido aqui uma reelaboração mais profunda ali uma revisão estilística mais detalhada ou uma supressão mais cuidadosa de eventuais imprecisões Para tanto faltoume o tempo necessário pois a notícia de que o livro se havia esgotado e a impressão da segunda edição teria de começar já em janeiro de 1872 chegoume apenas no outono de 1871 quando me encontrava ocupado com outros trabalhos urgentes A acolhida que O capital rapidamente obteve em amplos círculos da classe trabalhadora alemã é a melhor recompensa de meu trabalho Num folhetoa publicado durante a Guerra FrancoAlemã o sr Mayer industrial vienense economicamente situado do ponto de vista burguês afirmou corretamente que o grande senso teórico que é tido como um patrimônio alemão abandonara completamente as ditas classes cultas da Alemanha para ao contrário ressuscitar na sua classe trabalhadora Na Alemanha a economia política continua a ser até o momento atual uma ciência estrangeira Em Exposição histórica do comércio dos ofícios etc e especialmente nos dois primeiros volumes de sua obra publicados em 1830 Gustav von Güllich já 74 havia mencionado as circunstâncias históricas que entre nós inibiam o desenvolvimento do modo de produção capitalista e por conseguinte também a formação da moderna sociedade burguesa Faltava portanto o terreno vivo da economia política Esta foi importada da I nglaterra e da França como mercadoria acabada os professores alemães dessa ciência jamais ultrapassaram a condição de discípulos Em suas mãos a expressão teórica de uma realidade estrangeira transformouse numa coleção de dogmas que eles interpretavam quer dizer distorciam de acordo com o mundo pequenoburguês que os circundava A sensação de impotência científica impossível de ser completamente reprimida assim como a má consciência por ter de lecionar numa área de fato estranha buscava ocultarse sob o fausto de uma erudição históricoliterária ou por meio da mistura de um material estranho tomado de empréstimo das assim chamadas ciências cameraisc uma mixórdia de conhecimentos por cujo purgatório tem de passar o esperançosod candidato à burocracia alemã Desde 1848 a produção capitalista tem se desenvolvido rapidamente na Alemanha e hoje já se encontra no pleno florescer de suas fraudese Mas para nossos especialistas a sorte continuou adversa como antes Enquanto podiam praticar a economia política de modo imparcial faltavam à realidade alemã as relações econômicas modernas Assim que essas relações surgiram isso se deu sob circunstâncias que já não permitiam seu estudo imparcial dentro do horizonte burguês Por ser burguesa isto é por entender a ordem capitalista como a forma última e absoluta da produção social em vez de um estágio historicamente transitório de desenvolvimento a economia política só pode continuar a ser uma ciência enquanto a luta de classes permanecer latente ou manifestarse apenas isoladamente Tomemos o caso da I nglaterra Sua economia política clássica coincide com o período em que a luta de classes ainda não estava desenvolvida Seu último grande representante Ricardo converte afinal conscientemente a antítese entre os interesses de classe entre o salário e o lucro entre o lucro e a renda da terra em ponto de partida de suas investigações concebendo essa antítese ingenuamente como uma lei natural da sociedade Com isso porém a ciência burguesa da economia chegara a seus limites intransponíveis Ainda durante a vida de Ricardo e em oposição a ele a crítica a essa ciência apareceu na pessoa de Sismondi1 A época seguinte de 1820 a 1830 destacase na I nglaterra pela vitalidade científica no domínio da economia política Foi o período tanto da vulgarização e difusão da teoria ricardiana quanto de sua luta contra a velha escola Celebraramse magníficos torneios O que então foi realizado é pouco conhecido no continente europeu pois a polêmica está dispersa em grande parte em artigos de revistas escritos ocasionais e panfletos O caráter imparcial dessa polêmica ainda que a teoria de Ricardo também sirva excepcionalmente como arma de ataque contra a economia burguesa explica se pelas circunstâncias da época Por um lado a própria grande indústria apenas começava a sair da infância como o comprova o simples fato de que o ciclo periódico de sua vida moderna só se inaugura com a crise de 1825 Por outro lado a luta de classes entre capital e trabalho ficou relegada ao segundo plano politicamente pela contenda entre o grupo formado por governos e interesses feudais congregados na 75 Santa Aliança e a massa popular conduzida pela burguesia economicamente pela querela entre o capital industrial e a propriedade aristocrática da terra que na França se ocultava sob o antagonismo entre a propriedade parcelada e a grande propriedade fundiária e que na I nglaterra irrompeu abertamente com as leis dos cereais Nesse período a literatura da economia política na I nglaterra lembra o período de Sturm und Drang tempestade e ímpetof econômico ocorrido na França após a morte do dr Quesnay mas apenas como um veranico de maio lembra a primavera No ano de 1830 tem início a crise decisiva Na França e na I nglaterra a burguesia conquistara o poder político A partir de então a luta de classes assumiu teórica e praticamente formas cada vez mais acentuadas e ameaçadoras Ela fez soar o dobre fúnebre pela economia científica burguesa Não se tratava mais de saber se este ou aquele teorema era verdadeiro mas se para o capital ele era útil ou prejudicial cômodo ou incômodo se contrariava ou não as ordens policiais O lugar da investigação desinteressada foi ocupado pelos espadachins a soldo e a má consciência e as más intenções da apologética substituíram a investigação científica imparcial De qualquer forma mesmo os importunos opúsculos lançados aos quatro ventos pela AntiCorn Law League Liga Contra a Lei dos Cereaisg tendo à frente os fabricantes Cobden e Bright ainda possuíam um interesse se não científico ao menos histórico por sua polêmica contra a aristocracia fundiária Mas a legislação livrecambista a partir de sir Robert Peelh arrancou à economia vulgar este último esporão crítico A revolução continental de 18451849i repercutiu também na I nglaterra Homens que ainda reivindicavam alguma relevância científica e que aspiravam ser algo mais do que meros sofistas e sicofantas das classes dominantes tentaram pôr a economia política do capital em sintonia com as exigências do proletariado que não podiam mais ser ignoradas Daí o surgimento de um sincretismo desprovido de espírito cujo melhor representante é Stuart Mill Tratase de uma declaração de falência da economia burguesa tal como o grande erudito e crítico russo N Tchernichevski já esclarecera magistralmente em sua obra Lineamentos da economia política segundo Mill Na Alemanha portanto o modo de produção capitalista chegou à maturidade depois que seu caráter antagonístico por meio de lutas históricas já se havia revelado ruidosamente na França e na I nglaterra num momento em que o proletariado alemão já possuía uma consciência teórica de classe muito mais firme do que a burguesia desse país Quando pareceu que uma ciência burguesa da economia política seria possível aqui tal ciência se tornara uma vez mais impossível Nessas circunstâncias seus portavozes se dividiram em duas colunas Uns sagazes ávidos de lucro e práticos congregaramse sob a bandeira de Bastiat o representante mais superficial e por isso mesmo mais bemsucedido da apologética economia vulgar os outros orgulhosos da dignidade professoral de sua ciência seguiram J S Mill na tentativa de conciliar o inconciliável Tal como na época clássica da economia burguesa também na época de sua decadência os alemães continuaram a ser meros discípulos repetidores e imitadores pequenos mascates do grande atacado estrangeiro O desenvolvimento histórico peculiar da sociedade alemã excluía portanto a 76 Num primeiro momento os portavozes eruditos e não eruditos da burguesia alemã procuraram abafar O capital sob um manto de silência do mesmo modo como haviam logrado fazer com meus escritos anteriores Assim que essa tática deixou de corresponder às condições da época passaram a publicar sob o pretexto de criticar meu livro instruções para tranquilizar a consciência burguesa encontraram na imprensa operária vejam por exemplo os artigos de Joseph Dietzgen ou Volksstätt paladinos superiores aos quais deviam uma resposta até hoje política Berlim 1859 p I VVI I na qual apresento a fundamentação materialista do meu método prossegue o senhor autor Para Marx apenas uma coisa é importante descobrir a lei dos fenômenos com cuja investigação ele se ocupa E importalhe não só a lei que os rege uma vez que tenham adquirido uma forma acabada e se encontrem numa interrelação que se pode observar num período determinado Para ele importa sobretudo a lei de sua modificação de seu desenvolvimento isto é a transição de uma forma a outra de uma ordem de interrelação a outra Tão logo tenha descoberto essa lei ele investiga em detalhes os efeitos por meio dos quais ela se manifesta na vida social Desse modo o esforço de Marx se volta para um único objetivo demonstrar mediante escrupulosa investigação científica a necessidade de determinadas ordens das relações sociais e na medida do possível constatar de modo irrepreensível os fatos que lhe servem de pontos de partida e de apoio Para tanto é plenamente suficiente que ele demonstre juntamente com a necessidade da ordem atual a necessidade de outra ordem para a qual a primeira tem inevitavelmente de transitar sendo absolutamente indiferente se os homens acreditam nisso ou não se têm consciência disso ou não Marx concebe o movimento social como um processo históriconatural regido por leis que não só são independentes da vontade consciência e intenção dos homens mas que pelo contrário determinam sua vontade consciência e intenções Se o elemento consciente desempenha papel tão subalterno na história da civilização é evidente que a crítica que tem por objeto a própria civilização está impossibilitada mais do que qualquer outra de ter como fundamento uma forma ou resultado qualquer da consciência Ou seja o que lhe pode servir de ponto de partida não é a ideia mas unicamente o fenômeno externo A crítica terá de limitarse a cotejar e confrontar um fato não com a ideia mas com outro fato O que importa para ela é que se examinem ambos os fatos com a maior precisão possível e que estes constituam uns em relação aos outros diversas fases de desenvolvimento mas importalhe acima de tudo que as séries de ordens a sucessão e a concatenação em que estas se apresentam nas etapas de desenvolvimento sejam investigadas com a mesma precisão Dirseá porém que as leis gerais da vida econômica são as mesmas sejam elas aplicadas no presente ou no passado Isso é precisamente o que Marx nega Para ele tais leis abstratas não existem De acordo com sua opinião ao contrário cada período histórico possui suas próprias leis Tão logo a vida tenha esgotado um determinado período de desenvolvimento passando de um estágio a outro ela começa a ser regida por outras leis Numa palavra a vida econômica nos oferece um fenômeno análogo ao da história da evolução em outros domínios da biologia Os antigos economistas equivocaramse sobre a natureza das leis econômicas ao comparálas às leis da física e da química Uma análise mais profunda dos fenômenos demonstra que os organismos sociais se distinguem entre si tão radicalmente quanto os organismos vegetais se distinguem dos organismos animais Sim um e mesmo fenômeno é regido por leis totalmente diversas em decorrência da estrutura geral diversa desses organismos da diferenciação de alguns de seus órgãos da diversidade das condições em que funcionam etc Marx nega por exemplo que a lei da população seja a mesma em todas as épocas e em todos os lugares Ao contrário ele assegura que cada etapa de desenvolvimento tem sua própria lei da população Com o desenvolvimento diverso da força produtiva alteramse as condições e as leis que as regem Ao propor a si mesmo a meta de investigar e elucidar a partir desse ponto de vista a ordem econômica do capitalismo Marx apenas formula de modo rigorosamente científico a meta que se deve propor toda investigação exata da vida econômica O valor científico de tal investigação reside na elucidação das leis particulares que regem o nascimento a existência o desenvolvimento e a morte de determinado organismo social e sua substituição por outro superior ao primeiro E este é de fato o mérito do livro de Marx Ao descrever de modo tão acertado meu verdadeiro método bem como a aplicação pessoal que faço deste último que outra coisa fez o autor senão descrever o método dialético Sem dúvida devese distinguir o modo de exposição segundo sua forma do modo de investigação A investigação tem de se apropriar da matéria Stoff em seus detalhes analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e rastrear seu nexo interno Somente depois de consumado tal trabalho é que se pode expor adequadamente o movimento real Se isso é realizado com sucesso e se a vida da matéria é agora refletida idealmente o observador pode ter a impressão de se encontrar diante de uma construção a priori Meu método dialético em seus fundamentos não é apenas diferente do método hegeliano mas exatamente seu oposto Para Hegel o processo de pensamento que ele 78 sob o nome de I deia chega mesmo a transformar num sujeito autônomo é o demiurgo do processo efetivo o qual constitui apenas a manifestação externa do primeiror Para mim ao contrário o ideal não é mais do que o material transposto e traduzido na cabeça do homem Critiquei o lado mistificador da dialética hegeliana há quase trinta anoss quando ela ainda estava na moda Mas quando eu elaborava o primeiro volume de O capital os enfadonhos presunçosos e medíocres epígonost que hoje pontificam na Alemanha culta acharamse no direito de tratar Hegel como o bom Moses Mendelssohn tratava Espinosa na época de Lessing como um cachorro morto Por essa razão declareime publicamente como discípulo daquele grande pensador e no capítulo sobre a teoria do valor cheguei até a coquetear aqui e ali com seus modos peculiares de expressão A mistificação que a dialética sofre nas mãos de Hegel não impede em absoluto que ele tenha sido o primeiro a expor de modo amplo e consciente suas formas gerais de movimento Nele ela se encontra de cabeça para baixo É preciso desvirála a fim de descobrir o cerne racional dentro do invólucro místico Em sua forma mistificada a dialética esteve em moda na Alemanha porque parecia glorificar o existente Em sua configuração racional ela constitui um escândalo e um horror para a burguesia e seus portavozes doutrinários uma vez que na intelecção positiva do existente inclui ao mesmo tempo a intelecção de sua negação de seu necessário perecimento Além disso apreende toda forma desenvolvida no fluxo do movimento portanto incluindo o seu lado transitório porque não se deixa intimidar por nada e é por essência crítica e revolucionária O movimento da sociedade capitalista repleto de contradições revelase ao burguês prático de modo mais contundente nas vicissitudes do ciclo periódico que a indústria moderna perfaz e em seu ponto culminante a crise geral Esta já se aproxima novamente embora ainda se encontre em seus estágios iniciais e graças à ubiquidade de seu cenário e à intensidade de seus efeitos há de inculcar a dialética até mesmo nos parvenus novos ricos do novo Sacro Império PrussianoGermânico Karl Marx Londres 24 de janeiro de 1873 79 O capital de Sergei Eisenstein filme idealizado e nunca concluído pelo cineasta russo 80 Prefácio da edição francesa Ao cidadão Maurice La Châtre Estimado cidadão Aplaudo vossa ideia de publicar a tradução de O capital em fascículos Sob essa forma o livro será mais acessível à classe trabalhadora e para mim essa consideração é mais importante do que qualquer outra Esse é o belo lado de vossa medalha mas eis seu lado reverso o método de análise que empreguei e que ainda não havia sido aplicado aos assuntos econômicos torna bastante árdua a leitura dos primeiros capítulos e é bem possível que o público francês sempre impaciente por chegar a uma conclusão ávido por conhecer a relação dos princípios gerais com as questões imediatas que despertaram suas paixões venha a se desanimar pelo fato de não poder avançar imediatamente Eis uma desvantagem contra a qual nada posso fazer a não ser prevenir e premunir os leitores ávidos pela verdade Não existe uma estrada real para a ciência e somente aqueles que não temem a fadiga de galgar suas trilhas escarpadas têm chance de atingir seus cumes luminosos Recebei caro cidadão as garantias de meu mais devotado apreço Karl Marx Londres 18 de março de 1872 81 Carta de Marx ao editor francês Maurice La Châtre 82 Posfácio da edição francesa Aviso ao leitor O sr J Roy propôsse realizar uma tradução tão exata e mesmo literal quanto possível ele cumpriu plenamente sua tarefa mas justamente seu rigor obrigoume a modificar a redação com a finalidade de tornála mais acessível ao leitor Esses remanejamentos feitos aos poucos pois o livro era publicado em fascículos foram realizados com uma atenção desigual o que gerou discrepâncias de estilo Após a conclusão desse trabalho de revisão fui levado a aplicálo também no texto original a segunda edição alemã simplificando alguns desenvolvimentos completando outros apresentando materiais históricos ou estatísticos adicionais acrescentando observações críticas etc Sejam quais forem as imperfeições literárias dessa edição francesa ela possui um valor científico independente do original e deve ser consultada mesmo pelos leitores familiarizados com a língua alemã Reproduzo a seguir as partes do posfácio da segunda edição alemã que tratam do desenvolvimento da economia política na Alemanha e do método empregado nesta obra Karl Marx Londres 28 de abril de 1875 83 Capa de uma edição resumida por Gabriel Deville de O capital Paris Flammarion 1883 84 Prefácio da terceira edição alemã Não foi possível a Marx aprontar esta terceira edição para ser impressa O colossal pensador ante cuja grandeza se curvam até seus próprios adversáriosa morreu no dia 14 de março de 1883 Sobre mim que perdi com ele o amigo de quatro décadas o melhor e mais constante dos amigos a quem devo mais do que se pode expressar com palavras recai agora o dever de preparar esta terceira edição bem como a do segundo volume deixado em manuscrito Cabeme aqui prestar contas ao leitor de como cumpri a primeira parte desse dever I nicialmente Marx planejava reelaborar extensamente o texto do volume I formular de modo mais preciso diversos pontos teóricos acrescentar outros novos e complementar o material histórico e estatístico com dados atualizados Seu estado precário de saúde e a ânsia de concluir a redação definitiva do volume I I obrigaramno a renunciar a esse plano Deviase modificar apenas o estritamente necessário e incorporar tão somente os acréscimos já contidos na edição francesa Le capital Par Karl Marx Paris Lachâtre 1873b publicada nesse ínterim No espólio encontrouse um exemplar da edição alemã corrigido por Marx em alguns trechos e com referências à edição francesa encontrouse também um exemplar da edição francesa com indicações precisas das passagens a serem utilizadas Essas modificações e acréscimos se limitam com poucas exceções à última parte do livro à seção O processo de acumulação do capital Nesse caso o texto publicado até agora seguia mais que em outros o plano original ao passo que as seções anteriores haviam sofrido uma reelaboração mais profunda O estilo era por isso mais vivo mais resoluto mas também mais descuidado salpicado de anglicismos e em certas passagens obscuro o percurso da exposição apresentava lacunas aqui e ali posto que alguns pontos importantes haviam sido apenas esboçados Quanto ao estilo o próprio Marx submetera vários capítulos a uma cuidadosa revisão que juntamente com frequentes indicações transmitidas oralmente forneceramme a medida de até onde eu poderia ir na supressão de termos técnicos ingleses e outros anglicismos Sem dúvida Marx teria reelaborado os acréscimos e complementos substituindo o francês polido pelo seu próprio alemão conciso tive de me contentar em traduzilos ajustandoos o máximo possível ao texto original Nesta terceira edição portanto nenhuma palavra foi alterada sem que eu não tivesse a certeza de que o próprio autor o faria J amais sequer me ocorreu introduzir em O capital o jargão corrente em que se costumam expressar os economistas alemães uma mixórdia que por exemplo chama de Arbeitgeber dador de trabalho aquele que mediante pagamento em dinheiro faz com que outrem lhe forneça trabalho e Arbeitnehmer receptor de trabalho aquele de quem o trabalho é tomado em troca do salárioc Também em francês se emprega a palavra travail na linguagem corrente no 85 sentido de ocupação Mas os franceses taxariam de louco e com razão o economista que quisesse chamar o capitalista de donneur de travail e o trabalhador de receveur de travail Tampouco tomei a liberdade de reduzir a seus equivalentes alemães atuais as unidades inglesas de moeda pesos e medidas usadas no texto Quando da publicação da primeira edição havia na Alemanha tantos tipos de pesos e medidas quanto dias no ano e além disso circulavam dois tipos de marco àquela época o Reichsmarkd só valia na cabeça de Soetbeer que o inventara no fim dos anos 1830 dois tipos de florim e ao menos três de táler entre os quais havia um denominado novo dois terçosneue Zweidrittele Nas ciências naturais prevalecia o sistema métrico no mercado mundial os pesos e medidas ingleses Nessas circunstâncias as unidades inglesas de medida se impunham necessariamente a uma obra cujos dados factuais tinham de se basear quase exclusivamente nas condições industriais inglesas E essa última razão permanece decisiva ainda hoje tanto mais que as condições referidas não sofreram maiores modificações no mercado mundial e particularmente nas indústrias mais significativas ferro e algodão prevalecem até hoje quase exclusivamente pesos e medidas inglesesf Por fim uma última palavra sobre o método pouco compreendido que Marx emprega na realização de citações Quando se trata de dados e descrições puramente factuais as citações como as dos Livros Azuis ingleses servem evidentemente como simples referências comprobatórias O mesmo não ocorre quando são citadas teorias de outros economistas Nesse caso a única finalidade da citação é a de estabelecer onde quando e por quem foi enunciado claramente pela primeira vez um pensamento econômico mencionado no decorrer da exposição A única coisa que importa nesses casos é que a ideia econômica em questão tenha relevância para a história da ciência que seja a expressão teórica mais ou menos adequada da situação econômica de sua época Mas o fato de ser citado não implica de modo algum que esse enunciado tenha valor absoluto ou relativo do ponto de vista do autor ou que já se encontre historicamente ultrapassado Tais citações pois não constituem mais do que um comentário ao texto tomado da história da ciência econômica e registram cada um dos progressos mais importantes da teoria econômica de acordo com a data e o autor E isso era muito necessário numa ciência cujos historiadores até hoje se destacam apenas pela ignorância tendenciosa quase digna de arrivistas Compreenderseá então por que Marx em sintonia com o posfácio da segunda edição apenas muito excepcionalmente cita economistas alemães Espero que o segundo volume possa ser publicado no transcorrer do ano de 1884 Friedrich Engels Londres 7 de novembro de 1883 86 Edição inglesa traduzida por Samuel Moore e Edward Aveling 87 Prefácio da edição inglesaa A publicação de uma edição inglesa de O capital dispensa qualquer apologia Pelo contrário poderseia esperar por uma explicação de por que tal edição inglesa foi postergada até agora visto que há vários anos as teorias defendidas neste livro têm sido constantemente citadas atacadas defendidas interpretadas e distorcidas na imprensa periódica e na literatura cotidiana tanto da Inglaterra quanto da América Quando pouco após a morte do autor em 1883 ficou claro que uma edição inglesa desta obra era realmente necessária o sr Samuel Moore há muitos anos amigo de Marx e deste que vos escreve e que talvez tem mais familiaridade com o próprio livro do que qualquer outra pessoa consentiu em realizar a tradução que os testamenteiros literários de Marx ansiavam por apresentar ao público Acertouse que eu deveria cotejar o manuscrito com a obra original e sugerir as alterações que me parecessem aconselháveis Quando pouco a pouco revelouse que as ocupações profissionais do sr Moore o impediam de concluir a tradução com a rapidez que desejávamos aceitamos com prazer a oferta do dr Aveling de assumir uma parte do trabalho ao mesmo tempo a sra Aveling a filha mais jovem de Marx ofereceuse para conferir as citações e restaurar o texto original das inúmeras passagens de autores ingleses e dos Livros Azuis traduzidas por Marx para o alemão I sso foi plenamente realizado com exceção de alguns poucos casos inevitáveis O dr Aveling traduziu as seguintes partes do livro 1 os capítulos 10 A jornada de trabalho e 11 Taxa e massa de maisvalor 2 a seção VI O salário do capítulo 19 até o 22 3 do capítulo 24 seção I V Circunstâncias que etc até o final do livro abrangendo a última parte do capítulo 24 o capítulo 25 e toda a seção VIII do capítulo 26 até o 33 4 os dois prefácios do autorb O restante do livro foi traduzido pelo sr Moore Se cada um dos tradutores é responsável apenas por sua parte a mim recai a responsabilidade pelo conjunto da obra A terceira edição alemã na qual se baseou inteiramente nosso trabalho foi preparada por mim em 1883 com auxílio dos apontamentos deixados pelo autor nos quais ele indicava as passagens da segunda edição que se deviam substituir por determinadas passagens do texto francês publicado em 18733 As alterações assim efetuadas no texto da segunda edição coincidiam de modo geral com as mudanças prescritas por Marx numa série de instruções manuscritas para uma tradução inglesa que se planejara publicar na América dez anos atrás mas que fora abandonada principalmente por falta de um tradutor capaz e adequado Esse manuscrito nos foi colocado à disposição por nosso velho amigo o sr F A Sorge de Hoboken Nova J ersey Nele se encontram indicações adicionais de trechos da edição francesa a serem inseridos no textofonte da nova tradução porém sendo esse manuscrito anterior em muitos anos às últimas instruções deixadas por Marx para a terceira edição não me julguei autorizado a fazer uso delas a não ser em raras ocasiões especialmente quando 88 nos ajudavam a superar dificuldades Do mesmo modo o texto francês foi referido na maioria das passagens difíceis como um indicador daquilo que o próprio autor estava disposto a sacrificar sempre que algo do sentido integral do texto original tivesse de ser sacrificado na tradução Há no entanto uma dificuldade da qual não pudemos poupar o leitor o uso de certos termos num sentido diferente daquele que eles possuem não só na vida cotidiana mas também na economia política corrente Mas isso foi inevitável Cada novo aspecto de uma ciência implica uma revolução de seus termos técnicos I sso é mais bem evidenciado na química cuja terminologia inteira se modifica radicalmente a cada período de mais ou menos vinte anos e na qual dificilmente se pode encontrar um único composto orgânico que não tenha recebido uma série de nomes diferentes A economia política geralmente tem se limitado a tomar os termos da vida comercial e industrial tal como eles se apresentam e a operar com eles sem se dar conta de que com isso confinase a si mesma no círculo estreito das ideias expressas por aqueles termos Assim mesmo a economia política clássica embora perfeitamente consciente de que tanto o lucro quanto a renda não são mais do que subdivisões fragmentos daquela parte não paga do produto que o trabalhador tem de fornecer ao patrão seu primeiro apropriador ainda que não seu possuidor último e exclusivo jamais foi além das noções correntes de lucro e renda jamais examinou essa parte não paga do produto que Marx chama de maisproduto em sua integridade como um todo e por isso jamais atingiu uma compreensão clara seja de sua origem e natureza seja das leis que regulam a distribuição subsequente de seu valor De modo semelhante toda indústria que não seja agrícola ou artesanal está indiscriminadamente compreendida no termo manufatura com o que se apaga a distinção entre dois grandes períodos essencialmente diversos da história econômica o período da manufatura propriamente dita baseado na divisão do trabalho manual e o período da indústria moderna baseado na maquinaria É evidente no entanto que uma teoria que considera a moderna produção capitalista como um mero estágio transitório na história econômica da humanidade tem de empregar termos distintos daqueles normalmente usados pelos autores que encaram esse modo de produção como imperecível e definitivo Talvez ainda convenha dizer uma palavra sobre o método empregado pelo autor na realização de citações Na maioria das vezes as citações servem como é usual de evidência documental em apoio às asserções feitas no texto Em muitos casos porém transcrevemse passagens de autores economistas a fim de indicar quando onde e por quem determinada proposição foi enunciada claramente pela primeira vez I sso ocorre quando a proposição citada é importante como expressão mais ou menos adequada das condições sociais de produção e de troca prevalecentes numa dada época independentemente do fato de Marx aceitála ou mesmo de sua validade geral Tais citações portanto suplementam o texto com um comentário corrente extraído da história da ciência Nossa tradução compreende apenas o primeiro volume da obra mas este é em grande medida um todo em si mesmo e foi por vinte anos considerado uma obra autônoma J á o segundo volume que editei em alemão em 1885 fica decididamente 89 incompleto sem o terceiro que não poderá ser publicado antes do final de 1887 Assim quando o Livro I I I aparecer no original alemão teremos tempo suficiente para pensar em preparar uma edição inglesa de ambos No continente europeu O capital costuma ser chamado de a Bíblia da classe trabalhadora Que as conclusões obtidas nesta obra tornamse cada vez mais os princípios fundamentais do grande movimento da classe trabalhadora não só na Alemanha e na Suíça mas também na França na Holanda na Bélgica na América e até mesmo na I tália e na Espanha que em todos os lugares a classe trabalhadora reconhece nessas conclusões cada vez mais a expressão mais adequada de sua condição e de suas aspirações é algo que ninguém que esteja a par desse movimento haverá de negar E também na I nglaterra neste momento as teorias de Marx exercem uma poderosa influência sobre o movimento socialista que se propaga nas fileiras das pessoas cultas não menos que naquelas da classe trabalhadora Mas isso não é tudo Rapidamente se aproxima o tempo em que uma investigação minuciosa da situação econômica da I nglaterra haverá de se impor como uma irresistível necessidade nacional A engrenagem do sistema industrial deste país impossível sem uma expansão rápida e constante da produção e portanto dos mercados está prestes a emperrar O livrecâmbio exauriu seus recursos até mesmo Manchester passa a duvidar desse seu antigo evangelho econômico4 A indústria estrangeira desenvolvendose rapidamente desafia a produção inglesa por toda parte não só em mercados protegidos mas também em mercados neutros e até mesmo deste lado do canal Enquanto a força produtiva aumenta em progressão geométrica a expansão dos mercados se dá quando muito em progressão aritmética O ciclo decenal de estagnação prosperidade superprodução e crise sempre recorrente de 1825 a 1867 parece de fato ter se esgotado mas apenas para nos deixar no lodaçal de desesperança de uma depressão crônica e permanente O almejado período de prosperidade tarda em chegar toda vez que acreditamos vislumbrar os sintomas que o anunciam estes desaparecem de novo no ar Entrementes cada novo inverno recoloca a grande questão que fazer com os desempregados Mas ao mesmo tempo que o número de desempregados continua a aumentar a cada ano ninguém se habilita a responder a essa pergunta e quase podemos calcular o momento em que os desempregados perdendo a paciência tomarão seu destino em suas próprias mãos Sem dúvida num tal momento deverseia ouvir a voz de um homem cuja teoria inteira é o resultado de toda uma vida de estudos da história e da situação econômica da I nglaterra estudos que o levaram à conclusão de que ao menos na Europa a I nglaterra é o único país onde a inevitável revolução social poderia ser realizada inteiramente por meios pacíficos e legais Certamente ele jamais se esqueceu de acrescentar que considerava altamente improvável que as classes dominantes inglesas se submetessem a essa revolução pacífica e legal sem promover uma proslavery rebellion rebelião em favor da escravaturac Friedrich Engels 5 de novembro de 1886 90 Prefácio da quarta edição alemã A quarta edição exigiume uma configuração a mais definitiva possível tanto do texto quanto das notas A seguir algumas palavras sobre como respondi a essa exigência Depois de renovadas consultas à edição francesa e às notas manuscritas de Marx inseri no texto alemão alguns acréscimos tomados da primeira Eles se encontram na p 130 3 ed p 88 p 51719 3 ed p 50910 p 61013 3 ed p 600 p 6557 3 ed p 644 e na nota 79 da p 660 3 ed p 648a Do mesmo modo seguindo os precedentes das edições francesa e inglesa agreguei ao texto 4 ed p 51925b a longa nota sobre os trabalhadores das minas 3 ed p 50915 As demais modificações de pouca importância têm natureza puramente técnica Formulei além disso algumas notas explicativas principalmente quando as circunstâncias históricas alteradas pareciam exigilo Todas essas notas adicionais estão colocadas entre colchetes e assinaladas com minhas iniciais ou com D Hc Uma revisão completa das numerosas citações fezse necessária em virtude da publicação nesse ínterim da edição inglesa Para essa edição Eleanor a filha mais jovem de Marx deuse ao trabalho de cotejar com os originais todas as passagens citadas de modo que nas citações de fontes inglesas de longe as mais numerosas não se apresenta uma retradução do alemão mas o próprio texto original inglês Ao consultar esse texto para a quarta edição nele pude encontrar diversas passagens com pequenas imprecisões como indicações errôneas de páginas em parte cometidas na transcrição dos cadernos em parte devidas à acumulação de erros de impressão ao longo de três edições Aspas ou reticências fora de lugar o que é inevitável quando se realiza um número tão grande de citações a partir de cadernos de notas Aqui e ali uma escolha não muito feliz na tradução de uma palavra Certas citações tomadas dos velhos cadernos de Paris 18431845 uma época em que Marx não sabia inglês e lia os economistas ingleses em traduções francesas nesses casos à dupla tradução correspondia uma leve mudança de colorido por exemplo em Steuart Ure entre outros em comparação com o texto inglês que agora foi utilizado E mais uma série de pequenos lapsos e inexatidões desse tipo Quem quer que compare esta quarta edição com as anteriores verá que todo esse laborioso processo de correção nada modificou no livro que valha a pena mencionar Uma única citação não pôde ser localizada a de Richard J ones 4 ed p 562 nota 47d Marx provavelmente se equivocou ao transcrever o título do livro Todas as outras citações em sua forma atual exata conservam ou reforçam seu pleno poder comprobatório Mas vejome aqui forçado a voltar a uma velha história Conheço apenas um caso em que a correção de uma citação de Marx foi posta em dúvida mas como esse caso continuou a circular mesmo depois de sua morte não posso deixálo passar em branco aquie A 7 de março de 1872 no Concórdia órgão berlinense da União dos Fabricantes 91 Alemães apareceu um artigo anônimo intitulado Wie Karl Marx citirt Como Karl Marx cita Nele se afirmava com uma afetada ostentação de indignação moral e de expressões indecorosas que a citação tomada do discurso pronunciado por Gladstone a 16 de abril de 1863 teria sido falseada na mensagem inaugural da Associação I nternacional dos Trabalhadores de 1864 e repetida nO capital Livro I 4 ed p 617 3 ed p 6701f No relatório estenográfico oficioso do Hansardg não constaria nem uma única palavra da frase esse aumento inebriante de riqueza e poder está inteiramente restrito às classes possuidoras Lêse no artigo Essa frase não se encontra porém em parte alguma do discurso de Gladstone O que nele se afirma é exatamente o contrário E em negrito Marx interpolou e deturpou essa frase formal e materialmente Marx a quem se enviou esse número do Concórdia no mês de maio seguinte respondeu ao autor anônimo no Volksstaat de 1º de junho Como não se lembrava mais de que notícia jornalística havia extraído a citação Marx limitouse num primeiro momento a apresentar duas publicações inglesas que reproduziam exatamente a mesma frase e em seguida citou o relato do Times segundo o qual Gladstone dissera That is the state of the case as regards the wealth of this country I must say for one I should look almost with apprehension and with pain upon this intoxicating augmentation of wealth and power if it were my belief that it was confined to classes who are in easy circunstances This takes no cognizance at all of the condition of the labouring population The augmentation I have described and which is founded I think upon accurate returns is an augmentation entirely confined to classes of propertyh O que Gladstone diz portanto é que ele lamentaria que assim fosse mas que é assim que esse inebriante aumento de riqueza e poder é inteiramente restrito às classes possuidoras E no tocante ao oficioso Hansard Marx acrescenta Nesta sua edição posteriormente remendada o sr Gladstone foi esperto o suficiente para escamotear a passagem que seria certamente comprometedora na boca de um ministro do Tesouro inglês Tratase de resto de um procedimento consagrado no Parlamento britânico não sendo de modo algum uma invenção do pequeno Lasker contra Bebeli O anônimo se enfurece cada vez mais Em sua réplica no Concórdia de 4 de julho deixando de lado as fontes de segunda mão ele sugere de modo vergonhoso que é de praxe citar discursos parlamentares conforme o registro estenográfico mas também que o relato do Times no qual se encontra a frase interpolada e deturpada e o do Hansard no qual ela não se encontra coincidem plenamente no sentido material além do fato de que o relato do Times conteria exatamente o contrário do que se diz naquela famigerada passagem do discurso inaugural com o que nosso bom homem cuidadosamente omite que juntamente com esse pretenso contrário ele traz expressamente aquela famigerada passagem Apesar de tudo o autor anônimo sente que está atolado e que somente um novo subterfúgio pode salválo Assim enquanto criva seu artigo este sim pululante de mendacidade audaz como mostramos há pouco de edificantes vitupérios como mala fides máfé desonestidade afirmação mentirosa aquela citação mentirosa mendacidade audaz uma citação completamente falseada esta falsificação simplesmente infame etc considera necessário levar a polêmica para outro terreno e por isso promete explicar num segundo artigo o significado que nós o não mentiroso 92 anônimo damos ao conteúdo das palavras de Gladstone Como se essa sua opinião absolutamente desimportante tivesse alguma coisa a ver com o assunto Esse segundo artigo apareceu no Concórdia de 11 de julho Marx respondeu mais uma vez no Volksstaat de 7 de agosto desta feita apresentando também as passagens constantes dos relatos do Morning Star e do Morning Advertiser de 17 de abril de 1863 De acordo com ambos Gladstone diz que veria com apreensão etc esse inebriante aumento de riqueza e poder se acreditasse estar ele restrito às classes abastadas classes in easy circumstances Mas que esse aumento é inteiramente restrito às classes possuidoras de propriedades entirely confined to classes possessed of property De modo que também esses relatos reproduzem quase literalmente a frase supostamente interpolada e deturpada Além disso cotejando os textos do Times e o do Hansard Marx constatou que a referida frase constava como autêntica e com a mesma redação nos relatos de três jornais independentes entre si e publicados na manhã seguinte ao discurso faltando ela apenas no texto do Hansard e justamente porque este fora corrigido segundo a conhecida praxe ou seja porque Gladstone nas palavras de Marx a escamoteara posteriormente por fim declarava não ter mais tempo para perder com o anônimo Este ao que parece também se deu por satisfeito ao menos não foram enviados a Marx edições novas do Concórdia Com isso o assunto parecia estar morto e enterrado No entanto desde então nos chegaram uma ou duas vezes por pessoas que tinham relações com a Universidade de Cambridge misteriosos rumores acerca de um inominável crime literário que teria sido cometido por Marx em O capital porém apesar de todas as nossas investigações foi absolutamente impossível apurar algo de mais concreto Mas eis que a 29 de novembro de 1883 oito meses depois da morte de Marx apareceu no Times uma carta enviada do Trinity College de Cambridge e assinada por Sedley Taylor na qual esse homenzinho que chafurda no mais manso cooperativismo lançou inopinadamente uma luz não só sobre os rumores de Cambridge como também sobre o anônimo do Concórdia O que parece deveras estranho diz o homúnculo do Trinity College é que estivesse reservado ao professor Brentano àquela época em Breslau hoje em Estrasburgo revelar a evidente mala fides com que o discurso de Gladstone fora citado na mensagem inaugural O sr Karl Marx que tentou defender a citação teve a audácia de afirmar em meio aos espasmos mortais deadly shifts a que os ataques magistrais de Brentano o lançaram de imediato que o sr Gladstone teria retocado o relato de seu discurso publicado no Times de 17 de abril de 1863 antes que ele aparecesse no Hansard a fim de escamotear uma passagem um tanto comprometedora para um ministro do Tesouro inglês Quando Brentano por meio de um cotejamento detalhado dos textos demonstrou que os relatos do Times e do Hansard coincidiam em excluir inteiramente o sentido que a citação capciosamente isolada imputava às palavras de Gladstone Marx bateu em retirada sob o pretexto de falta de tempo Era essa então a verdade por detrás de tudo E com que glória se refletia na fantasia cooperativista de Cambridge a campanha anônima do sr Brentano no Concórdia Assim se erguia brandindo sua lâminaj num ataque magistral esse São J orge da Liga dos Fabricantes Alemães enquanto o dragão dos infernos Marx agonizava aos seus pés em meio a espasmos mortais Mas toda essa narração épica digna de um Ariosto serve apenas para encobrir os 93 subterfúgios de nosso São J orge Aqui já não se fala de interpolação e deturpação de falsificação mas de citação capciosamente isolada craftily isolated quotation A questão inteira fora deslocada e São J orge e seu escudeiro de Cambridge sabiam muito bem por quê Tendo o Times se recusado a publicar a réplica Eleanor Marx encaminhoua à revista mensal ToDay em fevereiro de 1884 e assim reconduziu o debate ao único ponto de que se tratava havia Marx interpolado e deturpado aquela frase ou não O sr Sedley Taylor treplicou A questão de se uma determinada frase foi ou não pronunciada no discurso do sr Gladstone era na sua opinião de importância muito secundária na controvérsia entre Marx e Brentano se comparada com a questão de se a referida citação fora realizada com o propósito de reproduzir ou de desfigurar o sentido original a ela conferido por Gladstone E admite então que o relato do Times contém de fato uma contradição nas palavras porém porém que o resto do texto interpretado corretamente isto é no sentido liberalgladstoniano revelaria aquilo que o sr Gladstone havia querido dizer ToDay março de 1884 O mais cômico nisso tudo é que agora o nosso homúnculo de Cambridge empenhase em citar o discurso não de acordo com o Hansard como segundo o anônimo Brentano seria de praxe mas com o relato do Times que o mesmo Brentano qualificara de necessariamente malfeito É claro já que no Hansard falta a frase fatídica Eleanor Marx não teve nenhuma dificuldade em reduzir a pó esses argumentos no mesmo número do ToDay Ou bem o sr Taylor lera a controvérsia de 1872 e nesse caso punhase agora a deturpar não só interpolando mas também suprimindo ou simplesmente não a lera e então tinha a obrigação de calar a boca De todo modo ficava claro que em nenhum momento ele se atreveu a manter de pé a acusação de seu amigo Brentano segundo a qual Marx teria interpolado e deturpado uma frase Pelo contrário agora é dito que Marx teria não acrescentado mentiras mas suprimido uma frase importante Ocorre porém que essa mesma frase é citada na página 5 da Mensagem inaugural poucas linhas acima da frase supostamente interpolada e deturpada E quanto à contradição no discurso de Gladstone não foi exatamente Marx que na nota 105 à p 618k dO capital 3 ed p 672 referiuse às sucessivas e gritantes contradições nos discursos de Gladstone sobre o orçamento de 1863 e 1864 Ocorre que Marx à diferença de Sedley Taylor não ousa diluir tais contradições em complacências liberais E assim arremata Eleanor Marx Ao contrário Marx nem ocultou nada digno de menção nem interpolou e deturpou uma única palavra O que ele fez foi restabelecer e tirar do esquecimento uma determinada frase do discurso de Gladstone a qual foi indubitavelmente pronunciada mas que de um jeito ou de outro ficou de fora da versão do Hansard Com isso também o sr Sedley Taylor se deu por satisfeito e o resultado de todo esse conluio de catedráticos tramado ao longo de duas décadas e em duas grandes nações foi o de que não mais se ousou pôr em dúvida a probidade literária de Marx ao mesmo tempo que o sr Sedley Taylor a partir de então haverá de confiar tão pouco nos boletins literários de batalha do sr Brentano quanto este último na infalibilidade papal do Hansard 94 Friedrich Engels Londres 25 de junho de 1890 95 Seção I MERCADORIA E DINHEIRO Capítulo 1 A mercadoria 1 Os dois fatores da mercadoria valor de uso e valor substância do valor grandeza do valor A riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma enorme coleção de mercadorias1 e a mercadoria individual como sua forma elementar Nossa investigação começa por isso com a análise da mercadoria A mercadoria é antes de tudo um objeto externo uma coisa que por meio de suas propriedades satisfaz necessidades humanas de um tipo qualquer A natureza dessas necessidades se por exemplo elas provêm do estômago ou da imaginação não altera em nada a questão2 Tampouco se trata aqui de como a coisa satisfaz a necessidade humana se diretamente como meio de subsistência Lebensmittel isto é como objeto de fruição ou indiretamente como meio de produção Toda coisa útil como ferro papel etc deve ser considerada sob um duplo ponto de vista o da qualidade e o da quantidade Cada uma dessas coisas é um conjunto de muitas propriedades e pode por isso ser útil sob diversos aspectos Descobrir esses diversos aspectos e portanto as múltiplas formas de uso das coisas é um ato histórico3 Assim como também é um ato histórico encontrar as medidas sociais para a quantidade das coisas úteis A diversidade das medidas das mercadorias resulta em parte da natureza diversa dos objetos a serem medidos e em parte da convenção A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso4 Mas essa utilidade não flutua no ar Condicionada pelas propriedades do corpo da mercadoria Warenkörper ela não existe sem esse corpo Por isso o próprio corpo da mercadoria como ferro trigo diamante etc é um valor de uso ou um bem Esse seu caráter não depende do fato de a apropriação de suas qualidades úteis custar muito ou pouco trabalho aos homens Na consideração do valor de uso será sempre pressuposta sua determinidade Bestimmtheit quantitativa como uma dúzia de relógios 1 braça de linho 1 tonelada de ferro etc Os valores de uso das mercadorias fornecem o material para uma disciplina específica a merceologia5 O valor de uso se efetiva apenas no uso ou no consumo Os valores de uso formam o conteúdo material da riqueza qualquer que seja a forma social desta Na forma de sociedade que iremos analisar eles constituem ao mesmo tempo os suportes materiais stofflische Träger do valor de troca O valor de troca aparece inicialmente como a relação quantitativa a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo6 uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço Por isso o valor de troca parece algo acidental e puramente relativo um valor de troca intrínseco imanente à mercadoria valeur intrinsèque portanto uma contradictio in adjecto contradição nos próprios termos7 Vejamos a coisa mais de perto Certa mercadoria 1 quartera de trigo por exemplo é trocada por x de graxa de 97 sapatos ou por y de seda ou z de ouro etc em suma por outras mercadorias nas mais diversas proporções O trigo tem assim múltiplos valores de troca em vez de um único Mas sendo x de graxa de sapatos assim como y de seda e z de ouro etc o valor de troca de 1 quarter de trigo então x de graxa de sapatos y de seda e z de ouro etc têm de ser valores de troca permutáveis entre si ou valores de troca de mesma grandeza Disso se segue em primeiro lugar que os valores de troca vigentes da mesma mercadoria expressam algo igual Em segundo lugar porém que o valor de troca não pode ser mais do que o modo de expressão a forma de manifestação Erscheinungsform de um conteúdo que dele pode ser distinguido Tomemos ainda duas mercadorias por exemplo trigo e ferro Qualquer que seja sua relação de troca ela é sempre representável por uma equação em que uma dada quantidade de trigo é igualada a uma quantidade qualquer de ferro por exemplo 1 quarter de trigo a quintaisb de ferro O que mostra essa equação Que algo comum de mesma grandeza existe em duas coisas diferentes em 1 quarter de trigo e em a quintais de ferro Ambas são portanto iguais a uma terceira que em si mesma não é nem uma nem outra Cada uma delas na medida em que é valor de troca tem portanto de ser redutível a essa terceira Um simples exemplo geométrico ilustra isso Para determinar e comparar as áreas de todas as figuras retilíneas é preciso decompôlas em triângulos O próprio triângulo é reduzido a uma expressão totalmente distinta de sua figura visível a metade do produto de sua base pela sua altura Do mesmo modo os valores de troca das mercadorias têm de ser reduzidos a algo em comum com relação ao qual eles representam um mais ou um menos Esse algo em comum não pode ser uma propriedade geométrica física química ou qualquer outra propriedade natural das mercadorias Suas propriedades físicas importam apenas na medida em que conferem utilidade às mercadorias isto é fazem delas valores de uso Por outro lado parece claro que a abstração dos seus valores de uso é justamente o que caracteriza a relação de troca das mercadorias Nessa relação um valor de uso vale tanto quanto o outro desde que esteja disponível em proporção adequada Ou como diz o velho Barbon Um tipo de mercadoria é tão bom quanto outro se seu valor de troca for da mesma grandeza Pois não existe nenhuma diferença ou possibilidade de diferenciação entre coisas cujos valores de troca são da mesma grandeza8 Como valores de uso as mercadorias são antes de tudo de diferente qualidade como valores de troca elas podem ser apenas de quantidade diferente sem conter portanto nenhum átomo de valor de uso Prescindindo do valor de uso dos corpos das mercadorias resta nelas uma única propriedade a de serem produtos do trabalho Mas mesmo o produto do trabalho já se transformou em nossas mãos Se abstraímos seu valor de uso abstraímos também os componentes Bestandteilen e formas corpóreas que fazem dele um valor de uso O produto não é mais uma mesa uma casa um fio ou qualquer outra coisa útil Todas as suas qualidades sensíveis foram apagadas E também já não é mais o produto do carpinteiro do pedreiro do fiandeiro ou de qualquer outro trabalho produtivo determinado Com o caráter útil dos produtos do trabalho desaparece o caráter útil 98 dos trabalhos neles representados e portanto também as diferentes formas concretas desses trabalhos que não mais se distinguem uns dos outros sendo todos reduzidos a trabalho humano igual a trabalho humano abstrato Consideremos agora o resíduo dos produtos do trabalho Deles não restou mais do que uma mesma objetividade fantasmagórica uma simples geleia Gallerte de trabalho humano indiferenciado ie de dispêndio de força de trabalho humana sem consideração pela forma de seu dispêndio Essas coisas representam apenas o fato de que em sua produção foi despendida força de trabalho humana foi acumulado trabalho humano Como cristais dessa substância social que lhes é comum elas são valores valores de mercadorias Na própria relação de troca das mercadorias seu valor de troca apareceunos como algo completamente independente de seus valores de uso No entanto abstraindose agora o valor de uso dos produtos do trabalho obteremos seu valor como ele foi definido anteriormente O elemento comum que se apresenta na relação de troca ou valor de troca das mercadorias é portanto seu valor A continuação da investigação nos levará de volta ao valor de troca como o modo necessário de expressão ou forma de manifestação do valor mas este tem de ser por ora considerado independentemente dessa forma Assim um valor de uso ou bem só possui valor porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano abstrato Mas como medir a grandeza de seu valor Por meio da quantidade de substância formadora de valor isto é da quantidade de trabalho nele contida A própria quantidade de trabalho é medida por seu tempo de duração e o tempo de trabalho possui por sua vez seu padrão de medida em frações determinadas de tempo como hora dia etc Poderia parecer que se o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho despendido durante sua produção quanto mais preguiçoso ou inábil for um homem tanto maior o valor de sua mercadoria pois ele necessitará de mais tempo para produzila No entanto o trabalho que constitui a substância dos valores é trabalho humano igual dispêndio da mesma força de trabalho humana A força de trabalho conjunta da sociedade que se apresenta nos valores do mundo das mercadorias vale aqui como uma única força de trabalho humana embora consista em inumeráveis forças de trabalho individuais Cada uma dessas forças de trabalho individuais é a mesma força de trabalho humana que a outra na medida em que possui o caráter de uma força de trabalho social média e atua como tal força de trabalho social média portanto na medida em que para a produção de uma mercadoria ela só precisa do tempo de trabalho em média necessário ou tempo de trabalho socialmente necessário Tempo de trabalho socialmente necessário é aquele requerido para produzir um valor de uso qualquer sob as condições normais para uma dada sociedade e com o grau social médio de destreza e intensidade do trabalho Após a introdução do tear a vapor na I nglaterra por exemplo passou a ser possível transformar uma dada quantidade de fio em tecido empregando cerca da metade do trabalho de antes Na verdade o tecelão manual inglês continuava a precisar do mesmo tempo de trabalho para essa produção mas agora o produto de sua hora de trabalho individual representava apenas metade da hora de trabalho social e por isso 99 seu valor caiu para a metade do anterior Portanto é apenas a quantidade de trabalho socialmente necessário ou o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de um valor de uso que determina a grandeza de seu valor9 A mercadoria individual vale aqui somente como exemplar médio de sua espécie10 Por essa razão mercadorias em que estão contidas quantidades iguais de trabalho ou que podem ser produzidas no mesmo tempo de trabalho têm a mesma grandeza de valor O valor de uma mercadoria está para o valor de qualquer outra mercadoria assim como o tempo de trabalho necessário para a produção de uma está para o tempo de trabalho necessário para a produção de outra Como valores todas as mercadorias são apenas medidas determinadas de tempo de trabalho cristalizado11 Assim a grandeza de valor de uma mercadoria permanece constante se permanece igualmente constante o tempo de trabalho requerido para sua produção Mas este muda com cada mudança na força produtiva do trabalho Essa força produtiva do trabalho é determinada por múltiplas circunstâncias dentre outras pelo grau médio de destreza dos trabalhadores o grau de desenvolvimento da ciência e de sua aplicabilidade tecnológica a organização social do processo de produção o volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais Por exemplo a mesma quantidade de trabalho produz numa estação favorável 8 alqueiresc de trigo mas apenas 4 alqueires numa estação menos favorável A mesma quantidade de trabalho extrai mais metais em minas ricas do que em pobres etc Os diamantes muito raramente se encontram na superfície da terra e por isso encontrálos exige muito tempo de trabalho Em consequência eles representam muito trabalho em pouco volume J acob duvida que o ouro tenha alguma vez pago seu pleno valord I sso vale ainda mais para o diamante Segundo Eschwege oitenta anos de exploração das minas de diamante brasileiras não havia atingido em 1823 o preço do produto médio de um ano e meio das plantações brasileiras de açúcar ou café embora ela representasse muito mais trabalho portanto mais valor Com minas mais ricas a mesma quantidade de trabalho seria representada em mais diamantes e seu valor cairia Se com pouco trabalho fosse possível transformar carvão em diamante seu valor poderia cair abaixo do de tijolos Como regra geral quanto maior é a força produtiva do trabalho menor é o tempo de trabalho requerido para a produção de um artigo menor a massa de trabalho nele cristalizada e menor seu valor I nversamente quanto menor a força produtiva do trabalho maior o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo e maior seu valor Assim a grandeza de valor de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade de trabalho que nela é realizado e na razão inversa da força produtiva desse trabalhoe Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor É esse o caso quando sua utilidade para o homem não é mediada pelo trabalho Assim é o ar a terra virgem os campos naturais a madeira bruta etc Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano sem ser mercadoria Quem por meio de seu produto satisfaz sua própria necessidade cria certamente valor de uso mas não mercadoria Para produzir mercadoria ele tem de produzir não apenas valor de uso mas valor de uso para outrem valor de uso social E não somente para outrem O camponês medieval produzia a talha para o 100 senhor feudal o dízimo para o padre mas nem por isso a talha ou o dízimo se tornavam mercadorias Para se tornar mercadoria é preciso que o produto por meio da troca seja transferido a outrem a quem vai servir como valor de uso11a Por último nenhuma coisa pode ser valor sem ser objeto de uso Se ela é inútil também o é o trabalho nela contido não conta como trabalho e não cria por isso nenhum valor 2 O duplo caráter do trabalho representado nas mercadorias I nicialmente a mercadoria apareceunos como um duplo Zwieschlächtiges de valor de uso e valor de troca Mais tarde mostrouse que também o trabalho na medida em que se expressa no valor já não possui os mesmos traços que lhe cabem como produtor de valores de uso Essa natureza dupla do trabalho contido na mercadoria foi criticamente demonstrada pela primeira vez por mim12 Como esse ponto é o centro em torno do qual gira o entendimento da economia política ele deve ser examinado mais de perto Tomemos duas mercadorias por exemplo um casaco e 10 braças de linho Consideremos que a primeira tenha o dobro do valor da segunda de modo que se 10 braças de linho V o casaco 2V O casaco é um valor de uso que satisfaz uma necessidade específica Para produzi lo é necessário um tipo determinado de atividade produtiva a qual é determinada por seu escopo modo de operar objeto meios e resultado O trabalho cuja utilidade se representa assim no valor de uso de seu produto ou no fato de que seu produto é um valor de uso chamaremos aqui resumidamente de trabalho útil Sob esse ponto de vista ele será sempre considerado em relação a seu efeito útil Assim como o casaco e o linho são valores de uso qualitativamente distintos também o são os trabalhos que os produzem alfaiataria e tecelagem Se essas coisas não fossem valores de uso qualitativamente distintos e por isso produtos de trabalhos úteis qualitativamente distintos elas não poderiam de modo algum se confrontar como mercadorias O casaco não é trocado por casaco um valor de uso não se troca pelo mesmo valor de uso No conjunto dos diferentes valores de uso ou corpos de mercadorias Warenkörper aparece um conjunto igualmente diversificado dividido segundo o gênero a espécie a família e a subespécie de diferentes trabalhos úteis uma divisão social do trabalho Tal divisão é condição de existência da produção de mercadorias embora esta última não seja inversamente a condição de existência da divisão social do trabalho Na antiga comunidade indiana o trabalho é socialmente dividido sem que os produtos se tornem mercadorias Ou para citar um exemplo mais próximo em cada fábrica o trabalho é sistematicamente dividido mas essa divisão não implica que os trabalhadores troquem entre si seus produtos individuais Apenas produtos de trabalhos privados separados e mutuamente independentes uns dos outros confrontamse como mercadorias Viuse portanto que no valor de uso de toda mercadoria reside uma determinada atividade produtiva adequada a um fim ou trabalho útil Valores de uso não podem se 101 confrontar como mercadorias se neles não residem trabalhos úteis qualitativamente diferentes Numa sociedade cujos produtos assumem genericamente a forma da mercadoria isto é numa sociedade de produtores de mercadorias essa diferença qualitativa dos trabalhos úteis executados separadamente uns dos outros como negócios privados de produtores independentes desenvolvese como um sistema complexo uma divisão social do trabalho Para o casaco é indiferente se ele é usado pelo alfaiate ou pelo freguês do alfaiate uma vez que em ambos os casos ele funciona como valor de uso Tampouco a relação entre o casaco e o trabalho que o produziu é alterada pelo fato de a alfaiataria se tornar uma profissão específica um elo independente no interior da divisão social do trabalho Onde a necessidade de vestirse o obrigou o homem costurou por milênios e desde muito antes que houvesse qualquer alfaiate Mas a existência do casaco do linho e de cada elemento da riqueza material não fornecido pela natureza teve sempre de ser mediada por uma atividade produtiva especial direcionada a um fim que adapta matérias naturais específicas a necessidades humanas específicas Como criador de valores de uso como trabalho útil o trabalho é assim uma condição de existência do homem independente de todas as formas sociais eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e portanto da vida humana Os valores de uso casaco linho etc em suma os corpos das mercadorias são nexos de dois elementos matéria natural e trabalho Subtraindose a soma total de todos os diferentes trabalhos úteis contidos no casaco linho etc o que resta é um substrato material que existe na natureza sem a interferência da atividade humana Ao produzir o homem pode apenas proceder como a própria natureza isto é pode apenas alterar a forma das matérias13 Mais ainda nesse próprio trabalho de formação ele é constantemente amparado pelas forças da natureza Portanto o trabalho não é a única fonte dos valores de uso que ele produz a única fonte da riqueza material O trabalho é o pai da riqueza material como diz William Petty e a terra é a mãe Passemos então da mercadoria como objeto de uso para o valormercadoria De acordo com nossa suposição o casaco tem o dobro do valor do linho Essa é porém apenas uma diferença quantitativa que por ora ainda não nos interessa Recordemos por isso que se o valor de um casaco é o dobro de 10 braças de linho então 20 braças de linho têm a mesma grandeza de valor de um casaco Como valores o casaco e o linho são coisas de igual substância expressões objetivas do mesmo tipo de trabalho Mas alfaiataria e tecelagem são trabalhos qualitativamente distintos Há no entanto circunstâncias sociais em que a mesma pessoa costura e tece alternadamente de modo que esses dois tipos distintos de trabalho são apenas modificações do trabalho do mesmo indivíduo e ainda não constituem funções fixas específicas de indivíduos diferentes assim como o casaco que nosso alfaiate faz hoje e as calças que ele faz amanhã pressupõem somente variações do mesmo trabalho individual A evidência nos ensina além disso que em nossa sociedade capitalista a depender da direção cambiante assumida pela procura de trabalho uma dada porção de trabalho humano será alternadamente oferecida sob a forma da alfaiataria e da tecelagem Essa variação de forma do trabalho mesmo que não possa se dar sem 102 atritos tem necessariamente de ocorrer Abstraindose da determinidade da atividade produtiva e portanto do caráter útil do trabalho resta o fato de que ela é um dispêndio de força humana de trabalho Alfaiataria e tecelagem embora atividades produtivas qualitativamente distintas são ambas dispêndio produtivo de cérebro músculos nervos mãos etc humanos e nesse sentido ambas são trabalho humano Elas não são mais do que duas formas diferentes de se despender força humana de trabalho No entanto a própria força humana de trabalho tem de estar mais ou menos desenvolvida para poder ser despendida desse ou daquele modo Mas o valor da mercadoria representa unicamente trabalho humano dispêndio de trabalho humano Ora assim como na sociedade burguesa um general ou um banqueiro desempenham um grande papel ao passo que o homem comum desempenha ao contrário um papel muito miserável14 o mesmo ocorre aqui com o trabalho humano Ele é dispêndio da força de trabalho simples que em média toda pessoa comum sem qualquer desenvolvimento especial possui em seu organismo corpóreo O próprio trabalho simples médio varia decerto seu caráter em diferentes países e épocas culturais porém é sempre dado numa sociedade existente O trabalho mais complexo vale apenas como trabalho simples potenciado ou antes multiplicado de modo que uma quantidade menor de trabalho complexo é igual a uma quantidade maior de trabalho simples Que essa redução ocorre constantemente é algo mostrado pela experiência Mesmo que uma mercadoria seja o produto do trabalho mais complexo seu valor a equipara ao produto do trabalho mais simples e desse modo representa ele próprio uma quantidade determinada de trabalho simples15 As diferentes proporções em que os diferentes tipos de trabalho são reduzidos ao trabalho simples como sua unidade de medida são determinadas por meio de um processo social que ocorre pelas costas dos produtores e lhes parecem assim ter sido legadas pela tradição Para fins de simplificação de agora em diante consideraremos todo tipo de força de trabalho diretamente como força de trabalho simples com o que apenas nos poupamos o esforço de redução Assim como nos valores casaco e linho está abstraída a diferença entre seus valores de uso também nos trabalhos representados nesses valores não se leva em conta a diferença entre suas formas úteis a alfaiataria e a tecelagem Assim como os valores de uso casaco e linho constituem nexos de atividades produtivas orientadas a um fim e realizadas com o tecido e o fio ao passo que os valores casaco e linho são ao contrário simples geleias de trabalho também os trabalhos contidos nesses valores não valem pela relação produtiva que guardam com o tecido e o fio mas tão somente como dispêndio de força humana de trabalho Alfaiataria e tecelagem são elementos formadores dos valores de uso casaco e linho precisamente devido a suas diferentes qualidades constituem substâncias do valor do casaco e do valor do linho apenas na medida em que se abstraem suas qualidades específicas e ambas possuem a mesma qualidade a qualidade do trabalho humano Casaco e linho não são apenas valores em geral mas valores de determinada grandeza e de acordo com nossa suposição o casaco tem o dobro do valor de 10 braças de linho De onde provém essa diferença de suas grandezas de valor Do fato de que o linho contém somente a metade do trabalho contido no casaco pois para a 103 produção do último requerse um dispêndio de força de trabalho durante o dobro do tempo necessário à produção do primeiro Portanto se em relação ao valor de uso o trabalho contido na mercadoria vale apenas qualitativamente em relação à grandeza de valor ele vale apenas quantitativamente depois de ter sido reduzido a trabalho humano sem qualquer outra qualidade Lá tratase do como e do quê do trabalho aqui tratase de seu quanto de sua duração Como a grandeza do valor de uma mercadoria expressa apenas a quantidade de trabalho nela contida as mercadorias devem em dadas proporções ser sempre valores de mesma grandeza Mantendose inalterada a força produtiva digamos de todos os trabalhos úteis requeridos para a produção de um casaco a grandeza de valor do casaco aumenta com sua própria quantidade Se um casaco contém x dias de trabalho dois casacos contêm 2x e assim por diante Suponha porém que o trabalho necessário à produção de um casaco dobre ou caia pela metade No primeiro caso um casaco tem o mesmo valor que antes tinham dois casacos no segundo caso dois casacos têm o mesmo valor que antes tinha apenas um casaco embora nos dois casos um casaco continue a prestar os mesmos serviços e o trabalho útil nele contido conserve a mesma qualidade Alterou se porém a quantidade de trabalho despendida em sua produção Uma quantidade maior de trabalho constitui por si mesma uma maior riqueza material dois casacos em vez de um Com dois casacos podemse vestir duas pessoas com um casaco somente uma etc No entanto ao aumento da massa da riqueza material pode corresponder uma queda simultânea de sua grandeza de valor Esse movimento antitético resulta do duplo caráter do trabalho Naturalmente a força produtiva é sempre a força produtiva de trabalho útil concreto e determina na verdade apenas o grau de eficácia de uma atividade produtiva adequada a um fim num dado período de tempo O trabalho útil se torna desse modo uma fonte mais rica ou mais pobre de produtos em proporção direta com o aumento ou a queda de sua força produtiva Ao contrário por si mesma uma mudança da força produtiva não afeta em nada o trabalho representado no valor Como a força produtiva diz respeito à forma concreta e útil do trabalho é evidente que ela não pode mais afetar o trabalho tão logo se abstraia dessa sua forma concreta e útil Assim o mesmo trabalho produz nos mesmos períodos de tempo sempre a mesma grandeza de valor independentemente da variação da força produtiva Mas ele fornece no mesmo espaço de tempo diferentes quantidades de valores de uso uma quantidade maior quando a produtividade aumenta e menor quando ela diminui A mesma variação da força produtiva que aumenta a fertilidade do trabalho e com isso a massa dos valores de uso por ele produzida diminui a grandeza de valor dessa massa total aumentada ao reduzir a quantidade de tempo de trabalho necessário à sua produção E viceversa Todo trabalho é por um lado dispêndio de força humana de trabalho em sentido fisiológico e graças a essa sua propriedade de trabalho humano igual ou abstrato ele gera o valor das mercadorias Por outro lado todo trabalho é dispêndio de força humana de trabalho numa forma específica determinada à realização de um fim e nessa qualidade de trabalho concreto e útil ele produz valores de uso16 104 3 A forma de valor Wertform ou o valor de troca As mercadorias vêm ao mundo na forma de valores de uso ou corpos de mercadorias como ferro linho trigo etc Essa é sua forma natural originária Porém elas só são mercadorias porque são algo duplo objetos úteis e ao mesmo tempo suportes de valor Por isso elas só aparecem como mercadorias ou só possuem a forma de mercadorias na medida em que possuem esta dupla forma a forma natural e a forma de valor A objetividade do valor das mercadorias é diferente de Mistress Quicklyf na medida em que não se sabe por onde agarrála Exatamente ao contrário da objetividade sensível e crua dos corpos das mercadorias na objetividade de seu valor não está contido um único átomo de matéria natural Por isso podese virar e revirar uma mercadoria como se queira e ela permanece inapreensível como coisa de valor Wertding Lembremonos todavia de que as mercadorias possuem objetividade de valor apenas na medida em que são expressões da mesma unidade social do trabalho humano pois sua objetividade de valor é puramente social e por isso é evidente que ela só pode se manifestar numa relação social entre mercadorias Partimos do valor de troca ou da relação de troca das mercadorias para seguir as pegadas do valor que nelas se esconde Temos agora de retornar a essa forma de manifestação do valor Qualquer um sabe mesmo que não saiba mais nada além disso que as mercadorias possuem uma forma de valor em comum que contrasta do modo mais evidente com as variegadas formas naturais que apresentam seus valores de uso a formadinheiro Cabe aqui realizar o que jamais foi tentado pela economia burguesa a saber provar a gênese dessa formadinheiro portanto seguir de perto o desenvolvimento da expressão do valor contida na relação de valor das mercadorias desde sua forma mais simples e opaca até a ofuscante formadinheiro Com isso desaparece ao mesmo tempo o enigma do dinheiro A relação mais simples de valor é evidentemente a relação de valor de uma mercadoria com uma única mercadoria distinta dela não importando qual seja A relação de valor entre duas mercadorias fornece assim a mais simples expressão de valor para uma mercadoria A A forma de valor simples individual ou ocasional x mercadorias A y mercadorias B ou x mercadorias A têm o valor de y mercadorias B 20 braças de linho 1 casaco ou 20 braças de linho têm o valor de 1 casaco 1 Os dois polos da expressão do valor forma de valor relativa e forma de equivalente O segredo de toda forma de valor reside em sua forma de valor simples Sua análise oferece por isso a verdadeira dificuldade Aqui duas mercadorias diferentes A e B em nosso exemplo o linho e o casaco desempenham claramente dois papéis distintos O linho expressa seu valor no casaco este serve de material para essa expressão de valor A primeira mercadoria 105 desempenha um papel ativo a segunda um papel passivo O valor da primeira mercadoria se apresenta como valor relativo ou encontrase na forma de valor relativa A segunda mercadoria funciona como equivalente ou encontrase na forma de equivalente Forma de valor relativa e forma de equivalente são momentos inseparáveis inter relacionados e que se determinam reciprocamente mas ao mesmo tempo constituem extremos mutuamente excludentes isto é polos da mesma expressão de valor elas se repartem sempre entre mercadorias diferentes relacionadas entre si pela expressão de valor Não posso por exemplo expressar o valor do linho em linho 20 braças de linho 20 braças de linho não é nenhuma expressão de valor A equação diz antes o contrário 20 braças de linho não são mais do que 20 braças de linho uma quantidade determinada do objeto de uso linho O valor do linho só pode assim ser expresso relativamente isto é por meio de outra mercadoria A forma de valor relativa do linho pressupõe portanto que uma outra mercadoria qualquer se confronte com ela na forma de equivalente Por outro lado essa outra mercadoria que figura como equivalente não pode estar simultaneamente contida na forma de valor relativa Ela não expressa seu valor apenas fornece o material para a expressão do valor de outra mercadoria De fato a expressão 20 braças de linho 1 casaco ou 20 braças de linho valem 1 casaco também inclui as relações inversas 1 casaco 20 braças de linho ou 1 casaco vale 20 braças de linho Mas então tenho de inverter a equação para expressar relativamente o valor do casaco e assim o fazendo o linho é que se torna o equivalente em vez do casaco A mesma mercadoria não pode portanto aparecer simultaneamente em ambas as formas na mesma expressão do valor Essas formas se excluem antes como polos opostos Se uma mercadoria se encontra na forma de valor relativa ou na forma contrária a forma de equivalente é algo que depende exclusivamente de sua posição eventual na expressão do valor isto é se num dado momento ela é a mercadoria cujo valor é expresso ou a mercadoria na qual o valor é expresso 2 A forma de valor relativa a Conteúdo da forma de valor relativa Para descobrir como a expressão simples do valor de uma mercadoria está contida na relação de valor entre duas mercadorias é preciso inicialmente considerar essa relação de modo totalmente independente de seu aspecto quantitativo Na maioria das vezes percorrese o caminho contrário e se vislumbra na relação de valor apenas a proporção em que quantidades determinadas de dois tipos de mercadoria se equiparam Negligenciase que as grandezas de coisas diferentes só podem ser comparadas quantitativamente depois de reduzidas à mesma unidade Somente como expressões da mesma unidade são elas grandezas com um denominador comum e portanto grandezas comensuráveis17 Se 20 braças de linho 1 casaco ou 20 ou x casacos isto é se uma dada quantidade de linho vale muitos ou poucos casacos independentemente de qual seja 106 essa proporção ela sempre implica que linho e casaco como grandezas de valor sejam expressões da mesma unidade coisas da mesma natureza A igualdade entre linho e casaco é a base da equação Mas as duas mercadorias qualitativamente igualadas não desempenham o mesmo papel Apenas o valor do linho é expresso E como Por meio de sua relação com o casaco como seu equivalente ou com seu permutável Austauschbar Nessa relação o casaco vale como forma de existência do valor como coisa de valor pois apenas como tal ele é o mesmo que o linho Por outro lado o próprio ser do valor Wertsein do linho se revela ou alcança uma expressão independente pois apenas como valor o linho pode se relacionar com o casaco como equivalente ou algo com ele permutável Assim o ácido butanoico é um corpo diferente do formiato de propila Ambos são formados no entanto pelas mesmas substâncias químicas carbono C hidrogênio H e oxigênio O e combinados na mesma porcentagem a saber C4H8O2 Ora se o ácido butanoico fosse equiparado ao formiato de propila este último seria considerado em primeiro lugar como uma mera forma de existência de C4H8O2 e em segundo lugar poderseia dizer que o ácido butanoico também é composto de C4H8O2 Desse modo a equação do formiato de propila com o ácido butanoico seria a expressão de sua substância química em contraste com sua forma corpórea Como valores as mercadorias não são mais do que geleias de trabalho humano por isso nossa análise as reduz à abstração de valor mas não lhes confere qualquer forma de valor distinta de suas formas naturais Diferente é o que ocorre na relação de valor de uma mercadoria com outra Seu caráter de valor manifestase aqui por meio de sua própria relação com outras mercadorias Quando o casaco é equiparado ao linho como coisa de valor o trabalho nele contido é equiparado com o trabalho contido no linho Ora a alfaiataria que faz o casaco é um tipo de trabalho concreto diferente da tecelagem que faz o linho Mas a equiparação com a tecelagem reduz a alfaiataria de fato àquilo que é realmente igual nos dois trabalhos a seu caráter comum de trabalho humano Por esse desvio dizse então que também a tecelagem na medida em que tece valor não possui nenhuma característica que a diferencie da alfaiataria e é portanto trabalho humano abstrato Somente a expressão de equivalência de diferentes tipos de mercadoria evidenciao caráter específico do trabalho criador de valor ao reduzir os diversos trabalhos contidos nas diversas mercadorias àquilo que lhes é comum o trabalho humano em geral17a Mas não basta expressar o caráter específico do trabalho que cria o valor do linho A força humana de trabalho em estado fluido ou trabalho humano cria valor mas não é ela própria valor Ela se torna valor em estado cristalizado em forma objetiva Para expressar o valor do linho como geleia de trabalho humano ela tem de ser expressa como uma objetividade materialmente dinglichg distinta do próprio linho e simultaneamente comum ao linho e a outras mercadorias Assim a tarefa está resolvida Na relação de valor com o casaco o linho vale como seu equivalente qualitativo como coisa da mesma natureza porque ele é um valor Desse modo ele vale como 107 uma coisa na qual se manifesta o valor ou que em sua forma natural palpável representa valor Na verdade o casaco o corpo da mercadoria casaco é um simples valor de uso Um casaco expressa tão pouco valor quanto a melhor peça de linho I sso prova apenas que ele significa mais quando se encontra no interior da relação de valor com o linho do que fora dela assim como alguns homens significam mais dentro de um casaco agaloado do que fora dele Na produção do casaco houve de fato dispêndio de força humana de trabalho na forma da alfaiataria Portanto trabalho humano foi nele acumulado Por esse lado o casaco é suporte de valor embora essa sua qualidade não se deixe entrever nem mesmo no casaco mais puído E na relação de valor com o linho ele só é considerado segundo esse aspecto isto é como valor corporificado como corpo de valor Apesar de seu aspecto abotoado o linho reconhece nele a bela alma de valor que lhes é originariamente comum O casaco em relação ao linho não pode representar valor sem que para o linho o valor assuma simultaneamente a forma de um casaco Assim o indivíduo A não pode se comportar para com o indivíduo B como para com uma majestade sem que para A a majestade assuma a forma corpórea de B e desse modo seus traços fisionômicos seus cabelos e muitas características se modifiquem de acordo com o soberano em questão Portanto na relação de valor em que o casaco constitui o equivalente do linho a forma de casaco vale como forma de valor O valor da mercadoria linho é assim expresso no corpo da mercadoria casaco sendo o valor de uma mercadoria expresso no valor de uso da outra Como valor de uso o linho é uma coisa fisicamente distinta do casaco como valor ele é casacoidêntico Rockgleiches e aparenta pois ser um casaco Assim o linho recebe uma forma de valor diferente de sua forma natural Seu ser de valor aparece em sua igualdade com o casaco assim como a natureza de carneiro do cristão em sua igualdade com o Cordeiro de Deus Como se vê tudo o que a análise do valor das mercadorias nos disse anteriormente é dito pelo próprio linho assim que entra em contato com outra mercadoria o casaco A única diferença é que ele revela seus pensamentos na língua que lhe é própria a língua das mercadorias Para dizer que seu próprio valor foi criado pelo trabalho na qualidade abstrata de trabalho humano ele diz que o casaco na medida em que lhe equivale ou seja na medida em que é valor consiste do mesmo trabalho que o linho Para dizer que sua sublime objetividade de valor é diferente de seu corpo entretelado ele diz que o valor tem a aparência de um casaco e com isso que ele próprio como coisa de valor é tão igual ao casaco quanto um ovo é ao outro Notese de passagem que a língua das mercadorias além do hebraico tem também muitos outros dialetos mais ou menos corretos Por exemplo o termo alemão Wertseinser valor expressa de modo menos certeiro do que o verbo românico valere valer valoir o fato de que a equiparação da mercadoria B com a mercadoria A é a própria expressão de valor da mercadoria A Paris vaut bien une messe Paris vale bem uma missah Por meio da relação de valor a forma natural da mercadoria B convertese na forma de valor da mercadoria A ou o corpo da mercadoria B se converte no espelho do valor da mercadoria A18 Ao relacionarse com a mercadoria B como corpo de valor como 108 materialização de trabalho humano a mercadoria A transforma o valor de uso de B em material de sua própria expressão de valor O valor da mercadoria A assim expresso no valor de uso da mercadoria B possui a forma do valor relativo b A determinidade quantitativa da forma de valor relativa Toda mercadoria cujo valor deve ser expresso é um objeto de uso numa dada quantidade 15 alqueires de trigo 100 libras de café etc Essa dada quantidade de mercadoria contém uma quantidade determinada de trabalho humano A forma de valor tem portanto de expressar não só valor em geral mas valor quantitativamente determinado ou grandeza de valor Na relação de valor da mercadoria A com a mercadoria B do linho com o casaco não apenas a espécie de mercadoria casaco é qualitativamente equiparada ao linho como corpo de valor em geral mas uma determinada quantidade de linho por exemplo 20 braças é equiparada a uma determinada quantidade do corpo de valor ou equivalente por exemplo a 1 casaco A equação 20 braças de linho 1 casaco ou 20 braças de linho valem 1 casaco pressupõe que 1 casaco contém tanta substância de valor quanto 20 braças de linho que portanto ambas as quantidades de mercadorias custam o mesmo trabalho ou a mesma quantidade de tempo de trabalho Mas o tempo de trabalho necessário para a produção de 20 braças de linho ou 1 casaco muda com cada alteração na força produtiva da tecelagem ou da alfaiataria A influência de tais mudanças na expressão relativa da grandeza de valor tem por isso de ser investigada mais de perto I O valor do linho varia19 enquanto o valor do casaco permanece constante Se o tempo de trabalho necessário à produção do linho dobra por exemplo em consequência da crescente infertilidade do solo onde o linho é cultivado dobra igualmente seu valor Em vez de 20 braças de linho 1 casaco teríamos 20 braças de linho 2 casacos pois 1 casaco contém agora a metade do tempo de trabalho contido em 20 braças de linho Se ao contrário o tempo de trabalho necessário para a produção do linho cai pela metade graças por exemplo à melhoria dos teares cai também pela metade o valor do linho Temos agora 20 braças de linho ½ casaco Assim o valor relativo da mercadoria A isto é seu valor expresso na mercadoria B aumenta e diminui na proporção direta da variação do valor da mercadoria A em relação ao valor constante da mercadoria B I I O valor do linho permanece constante enquanto varia o valor do casaco Se dobra o tempo de trabalho necessário à produção do casaco por exemplo em consequência de tosquias desfavoráveis temos em vez de 20 braças de linho 1 casaco agora 20 braças de linho ½ casaco Ao contrário se cai pela metade o valor do casaco temos 20 braças de linho 2 casacos Permanecendo constante o valor da mercadoria A aumenta ou diminui portanto seu valor relativo expresso na mercaria B em proporção inversa à variação de valor de B Ao compararmos os diferentes casos sob I e I I concluímos que a mesma variação de grandeza do valor relativo pode derivar de causas absolutamente opostas Assim a equação 20 braças de linho 1 casaco se transforma em 1 a equação 20 braças de linho 2 casacos seja porque o valor do linho dobrou seja porque o valor dos casacos caiu pela metade e 2 a equação 20 braças de linho ½ casaco seja porque o valor do 109 linho caiu pela metade seja porque dobrou o valor do casaco I I I As quantidades de trabalho necessárias à produção de linho e casaco podem variar ao mesmo tempo na mesma direção e na mesma proporção Nesse caso como antes 20 braças de linho 1 casaco sejam quais forem as mudanças ocorridas em seus valores Sua variação de valor é descoberta tão logo o casaco e o linho sejam comparados com uma terceira mercadoria cujo valor permaneceu constante Se os valores de todas as mercadorias aumentassem ou diminuíssem ao mesmo tempo e na mesma proporção seus valores relativos permaneceriam inalterados Sua variação efetiva de valor seria inferida do fato de que no mesmo tempo de trabalho passaria agora a ser produzida uma quantidade de mercadorias maior ou menor do que antes Os tempos de trabalho necessários à produção do linho e do casaco respectivamente e com isso seus valores podem variar simultaneamente na mesma direção porém em graus diferentes ou em direção contrária etc A influência de todas as combinações possíveis sobre o valor relativo de uma mercadoria resulta da simples aplicação dos casos I II e III As variações efetivas na grandeza de valor não se refletem nem inequívoca nem exaustivamente em sua expressão relativa ou na grandeza do valor relativo O valor relativo de uma mercadoria pode variar embora seu valor se mantenha constante Seu valor relativo pode permanecer constante embora seu valor varie e finalmente variações simultâneas em sua grandeza de valor e na expressão relativa dessa grandeza não precisam de modo algum coincidir entre si20 3 A forma de equivalente Vimos quando uma mercadoria A o linho expressa seu valor no valor de uso de uma mercadoria diferente B o casaco ela imprime nesta última uma forma peculiar de valor a forma de equivalente A mercadoria linho expressa seu próprio valor quando o casaco vale o mesmo que ela sem que este último assuma uma forma de valor distinta de sua forma corpórea Portanto o linho expressa sua própria qualidade de ter valor na circunstância de que o casaco é diretamente permutável com ele Consequentemente a forma de equivalente de uma mercadoria é a forma de sua permutabilidade direta com outra mercadoria No fato de que um tipo de mercadoria como o casaco vale como equivalente de outro tipo de mercadoria como o linho com o que os casacos expressam sua propriedade característica de se encontrar em forma diretamente permutável com o linho não está dada de modo algum a proporção em que casacos e linho são permutáveis Tal proporção depende da grandeza de valor dos casacos já que a grandeza de valor do linho é dada Se o casaco é expresso como equivalente e o linho como valor relativo ou inversamente o linho como equivalente e o casaco como valor relativo sua grandeza de valor permanece tal como antes determinada pelo tempo de trabalho necessário à sua produção e portanto independente de sua forma de valor Mas quando o tipo de mercadoria casaco assume na expressão do valor o lugar de equivalente sua grandeza de valor não obtém nenhuma expressão como grandeza de valor Na equação de valor ela figura antes como quantidade determinada de uma 110 coisa Por exemplo 40 braças de linho valem o quê 2 casacos Como o tipo de mercadoria casaco desempenha aqui o papel do equivalente o valor de uso em face do linho como corpo de valor uma determinada quantidade de casacos é também suficiente para expressar uma determinada quantidade de valor do linho Portanto dois casacos podem expressar a grandeza de valor de 40 braças de linho porém jamais podem expressar sua própria grandeza de valor a grandeza de valor dos casacos A interpretação superficial desse fato de que o equivalente sempre possui na equação de valor apenas a forma de uma quantidade simples de uma coisa confundiu Bailey assim como muitos de seus predecessores e sucessores fazendoo ver na expressão do valor uma relação meramente quantitativa Ao contrário a forma de equivalente de uma mercadoria não contém qualquer determinação quantitativa de valor A primeira peculiaridade que se sobressai na consideração da forma de equivalente é esta o valor de uso se torna a forma de manifestação de seu contrário do valor A forma natural da mercadoria tornase forma de valor Porém nota bene esse quiproquó se dá para uma mercadoria B casaco trigo ou ferro etc apenas no interior da relação de valor em que outra mercadoria A qualquer linho etc a confronta apenas no âmbito dessa relação Como nenhuma mercadoria se relaciona consigo mesma como equivalente e portanto tampouco pode transformar sua própria pele natural em expressão de seu próprio valor ela tem de se reportar a outra mercadoria como equivalente ou fazer da pele natural de outra mercadoria a sua própria forma de valor I sso pode ser ilustrado com o exemplo de uma medida que se aplica aos corpos de mercadorias como tais isto é como valores de uso Um pão de açúcari por ser um corpo é pesado e tem portanto um peso mas não se pode ver ou sentir o peso de nenhum pão de açúcar Tomemos então diferentes pedaços de ferro cujo peso foi predeterminado A forma corporal do ferro considerada por si mesma é tão pouco a forma de manifestação do peso quanto o é a forma corporal do pão de açúcar No entanto a fim de expressar o pão de açúcar como peso estabelecemos uma relação de peso entre ele e o ferro Nessa relação o ferro figura como um corpo que não contém nada além de peso Quantidades de ferro servem desse modo como medida de peso do açúcar e representam diante do corpo do açúcar simples figura do peso forma de manifestação do peso Tal papel é desempenhado pelo ferro somente no interior dessa relação quando é confrontado com o açúcar ou outro corpo qualquer cujo peso deve ser encontrado Se as duas coisas não fossem pesadas elas não poderiam estabelecer essa relação e por conseguinte uma não poderia servir de expressão do peso da outra Quando colocamos as duas sobre os pratos da balança vemos que como pesos elas são a mesma coisa e por isso têm também o mesmo peso em determinada proporção Como medida de peso o ferro representa quando confrontado com o pão de açúcar apenas peso do mesmo modo como em nossa expressão de valor o corpo do casaco representa quando confrontado com o linho apenas valor Mas aqui acaba a analogia Na expressão do peso do pão de açúcar o ferro representa uma propriedade natural comum a ambos os corpos seu peso ao passo que o casaco representa na expressão de valor do linho uma propriedade 111 supernatural seu valor algo puramente social Como a forma de valor relativa de uma mercadoria por exemplo o linho expressa sua qualidade de ter valor como algo totalmente diferente de seu corpo e de suas propriedades como algo igual a um casaco essa mesma expressão esconde em si uma relação social O inverso ocorre com a forma de equivalente que consiste precisamente no fato de que um corpo de mercadoria como o casaco essa coisa imediatamente dada expressa valor e assim possui por natureza forma de valor É verdade que isso vale apenas no interior da relação de valor na qual a mercadoria casaco se confronta como equivalente com a mercadoria linho21 Mas como as propriedades de uma coisa não surgem de sua relação com outras coisas e sim apenas atuam em tal relação também o casaco aparenta possuir sua forma de equivalente sua propriedade de permutabilidade direta como algo tão natural quanto sua propriedade de ser pesado ou de reter calor Daí o caráter enigmático da forma de equivalente a qual só salta aos olhos míopes do economista político quando lhe aparece já pronta no dinheiro Então ele procura escamotear o caráter místico do ouro e da prata substituindoos por mercadorias menos ofuscantes e com prazer sempre renovado põese a salmodiar o catálogo inteiro da populaça de mercadorias que em épocas passadas desempenharam o papel de equivalente de mercadorias Ele nem sequer suspeita que uma expressão de valor tão simples como 20 braças de linho 1 casaco já forneça a solução do enigma da forma de equivalente O corpo da mercadoria que serve de equivalente vale sempre como incorporação de trabalho humano abstrato e é sempre o produto de um determinado trabalho útil concreto Esse trabalho concreto se torna assim expressão do trabalho humano abstrato Se o casaco por exemplo é considerado mera efetivação Verwirklichung então a alfaiataria que de fato nele se efetiva é considerada mera forma de efetivação de trabalho humano abstrato Na expressão de valor do linho a utilidade da alfaiataria não consiste em fazer roupas logo também pessoasj mas sim em fazer um corpo que reconhecemos como valor e portanto como geleia de trabalho que não se diferencia em nada do trabalho objetivado no valor do linho Para realizar tal espelho de valor a própria alfaiataria não tem de espelhar senão sua qualidade abstrata de ser trabalho humano Tanto na forma da alfaiataria quanto na da tecelagem força humana de trabalho é despendida Ambas possuem portanto a propriedade universal do trabalho humano razão pela qual em determinados casos por exemplo na produção de valor elas só podem ser consideradas sob esse ponto de vista Nada disso é misterioso Mas na expressão de valor da mercadoria a coisa é distorcida Por exemplo para expressar que a tecelagem cria o valor do linho não em sua forma concreta como tecelagem mas em sua qualidade universal como trabalho humano ela é confrontada com a alfaiataria o trabalho concreto que produz o equivalente do linho como a forma palpável de efetivação do trabalho humano abstrato Assim constitui uma segunda propriedade da forma de equivalente que o trabalho concreto tornese forma de manifestação de seu contrário trabalho humano abstrato Mas porque esse trabalho concreto a alfaiataria vale como mera expressão de trabalho humano indiferenciado ele possui a forma da igualdade com outro trabalho 112 aquele contido no linho e por isso embora seja trabalho privado como todos os outros trabalho que produz mercadorias ele é trabalho em forma imediatamente social J ustamente por isso ele se apresenta num produto que pode ser diretamente trocado por outra mercadoria Assim uma terceira peculiaridade da forma de equivalente é que o trabalho privado convertase na forma de seu contrário trabalho em forma imediatamente social As duas peculiaridades por último desenvolvidas da forma de equivalente tornam se ainda mais tangíveis se recorremos ao grande estudioso que pela primeira vez analisou a forma de valor assim como tantas outras formas de pensamento de sociedade e da natureza Este é Aristóteles De início Aristóteles afirma claramente que a formadinheiro da mercadoria é apenas a figura ulteriormente desenvolvida da forma de valor simples isto é da expressão do valor de uma mercadoria em outra mercadoria qualquer pois ele diz que 5 divãsk 1 casa Klínai pénte Ãntì oÏkíav não se diferencia de 5 divãs certa soma de dinheiro Klínai pénte Ãntì ösou aï pénte klínai Além disso ele vê que a relação de valor que contém essa expressão de valor condiciona por sua vez que a casa seja qualitativamente equiparada ao divã e que sem tal igualdade de essências essas coisas sensivelmente distintas não poderiam ser relacionadas entre si como grandezas comensuráveis A troca diz ele não pode se dar sem a igualdade mas a igualdade não pode se dar sem a comensurabilidade o3tH Ïsótjv mb o3sjv summetríav Aqui porém ele se detém e abandona a análise subsequente da forma de valor No entanto é na verdade impossível to mèn o5n Ãljqeíà Ãdúnaton que coisas tão distintas sejam comensuráveis isto é qualitativamente iguais Essa equiparação só pode ser algo estranho à verdadeira natureza das coisas não passando portanto de um artifício para a necessidade prática O próprio Aristóteles nos diz o que impede o desenvolvimento ulterior de sua análise a saber a falta do conceito de valor Em que consiste o igual das Gleiche isto é a substância comum que a casa representa para o divã na expressão de valor do divã Algo assim não pode na verdade existir diz Aristóteles Por quê A casa confrontada com o divã representa algo igual na medida em que representa aquilo que há de efetivamente igual em ambas no divã e na casa E esse igual é o trabalho humano O fato de que nas formas dos valores das mercadorias todos os trabalhos são expressos como trabalho humano igual e desse modo como dotados do mesmo valor é algo que Aristóteles não podia deduzir da própria forma de valor posto que a sociedade grega se baseava no trabalho escravo e por conseguinte tinha como base natural a desigualdade entre os homens e suas forças de trabalho O segredo da expressão do valor a igualdade e equivalência de todos os trabalhos porque e na medida em que são trabalho humano em geral só pode ser decifrado quando o conceito de igualdade humana já possui a fixidez de um preconceito popular Mas isso 113 só é possível numa sociedade em que a formamercadoria Warenform é a forma universal do produto do trabalho e portanto também a relação entre os homens como possuidores de mercadorias é a relação social dominante O gênio de Aristóteles brilha precisamente em sua descoberta de uma relação de igualdade na expressão de valor das mercadorias Foi apenas a limitação histórica da sociedade em que ele vivia que o impediu de descobrir em que na verdade consiste essa relação de igualdade 4 O conjunto da forma de valor simples A forma de valor simples de uma mercadoria está contida em sua relação de valor com uma mercadoria de outro tipo ou na relação de troca com esta última O valor da mercadoria A é expresso qualitativamente por meio da permutabilidade direta da mercadoria B com a mercadoria A Ele é expresso quantitativamente por meio da permutabilidade de uma determinada quantidade da mercadoria B por uma dada quantidade da mercadoria A Em outras palavras o valor de uma mercadoria é expresso de modo independente por sua representação como valor de troca Quando no começo deste capítulo dizíamos como quem expressa um lugarcomum que a mercadoria é valor de uso e valor de troca isso estava para ser exato errado A mercadoria é valor de uso ou objeto de uso e valor Ela se apresenta em seu ser duplo na medida em que seu valor possui uma forma de manifestação própria distinta de sua forma natural a saber a forma do valor de troca e ela jamais possui essa forma quando considerada de modo isolado mas sempre apenas na relação de valor ou de troca com uma segunda mercadoria de outro tipo Uma vez que se sabe isso no entanto aquele modo de expressão não causa dano mas serve como abreviação Nossa análise demonstrou que a forma de valor ou a expressão de valor da mercadoria surge da natureza do valor das mercadorias e não ao contrário que o valor e a grandeza de valor sejam derivados de sua expressão como valor de troca Esse é no entanto o delírio tanto dos mercantilistas e de seus entusiastas modernos como Ferrier Ganilh22 etc quanto de seus antípodas os modernos commisvoyageursl do livrecâmbio como Bastiat e consortes Os mercantilistas priorizam o aspecto qualitativo da expressão do valor e por conseguinte a forma de equivalente da mercadoria que alcança no dinheiro sua forma acabada já os mascates do livre câmbio que têm de dar saída à sua mercadoria a qualquer preço acentuam ao contrário o aspecto quantitativo da forma de valor relativa Consequentemente para eles não existem nem valor nem grandeza de valor das mercadorias além de sua expressão mediante a relação de troca ou seja além do boletim diário da lista de preços O escocês Macleod em sua função de aclarar do modo mais erudito possível o emaranhado confuso das noções que povoam a Lombard Streetm opera a síntese bem sucedida entre os mercantilistas supersticiosos e os mascates esclarecidos do livre câmbio A análise mais detalhada da expressão de valor da mercadoria A contida em sua relação de valor com a mercadoria B mostrou que no interior dessa mesma expressão de valor a forma natural da mercadoria A é considerada apenas figura de valor de uso e a forma natural da mercadoria B apenas como forma de valor ou figura de valor 114 Wertgestalt A oposição interna entre valor de uso e valor contida na mercadoria é representada assim por meio de uma oposição externa isto é pela relação entre duas mercadorias sendo a primeira cujo valor deve ser expresso considerada imediata e exclusivamente valor de uso e a segunda na qual o valor é expresso imediata e exclusivamente como valor de troca A forma de valor simples de uma mercadoria é portanto a forma simples de manifestação da oposição nela contida entre valor de uso e valor O produto do trabalho é em todas as condições sociais objeto de uso mas o produto do trabalho só é transformado em mercadoria numa época historicamente determinada de desenvolvimento uma época em que o trabalho despendido na produção de uma coisa útil se apresenta como sua qualidade objetiva isto é como seu valor Seguese daí que a forma de valor simples da mercadoria é simultaneamente a formamercadoria simples do produto do trabalho e que portanto também o desenvolvimento da formamercadoria coincide com o desenvolvimento da forma de valor O primeiro olhar já mostra a insuficiência da forma de valor simples essa forma embrionária que só atinge a formapreço Preisform através de uma série de metamorfoses A expressão numa mercadoria qualquer B distingue o valor da mercadoria A apenas de seu próprio valor de uso e a coloca assim numa relação de troca com uma mercadoria qualquer de outro tipo em vez de representar sua relação de igualdade qualitativa e proporcionalidade quantitativa com todas as outras mercadorias A forma de equivalente individual de outra mercadoria corresponde à forma de valor simples e relativa de uma mercadoria Assim o casaco possui na expressão relativa de valor do linho apenas a forma de equivalente ou a forma de permutabilidade direta no que diz respeito a esse tipo individual de mercadoria o linho Todavia a forma individual de valor se transforma por si mesma numa forma mais completa Mediante essa forma o valor de uma mercadoria A só é expresso numa mercadoria de outro tipo Mas de que tipo é essa segunda mercadoria se ela é casaco ou ferro ou trigo etc é algo totalmente indiferente Conforme ela entre em relação de valor com este ou aquele outro tipo de mercadoria surgem diferentes expressões simples de valor de uma mesma mercadoria22a O número de suas expressões possíveis de valor só é limitado pelo número dos tipos de mercadorias que dela se distinguem Sua expressão individualizada de valor se transforma assim numa série sempre ampliável de suas diferentes expressões simples de valor B A forma de valor total ou desdobrada z mercadoria A u mercadoria B ou v mercadoria C ou w mercadoria D ou x mercadoria E ou etc 20 braças de linho 1 casaco ou 10 libras de chá ou 40 libras de café ou 1 quarter de trigo ou 2 onças de ouro ou ½ tonelada de ferro ou etc 1 A forma de valor relativa e desdobrada O valor de uma mercadoria do linho por exemplo é agora expresso em inúmeros outros elementos do mundo das mercadorias Cada um dos outros corpos de 115 mercadorias tornase um espelho do valor do linho23 Pela primeira vez esse mesmo valor aparece verdadeiramente como geleia de trabalho humano indiferenciado Pois o trabalho que o cria é agora expressamente representado como trabalho que equivale a qualquer outro trabalho humano indiferentemente da forma natural que ele possua e portanto do objeto no qual ele se incorpora se no casaco ou no trigo ou no ferro ou no ouro etc Por meio de sua forma de valor o linho se encontra agora em relação social não mais com apenas outro tipo de mercadoria individual mas com o mundo das mercadorias Como mercadoria ele é cidadão desse mundo Ao mesmo tempo a série infinita de suas expressões demonstra que para o valor das mercadorias é indiferente a forma específica do valor de uso na qual o linho se manifesta Na primeira forma 20 braças de linho 1 casaco pode ser acidental que essas duas mercadorias sejam permutáveis numa determinada relação quantitativa Na segunda forma ao contrário evidenciase imediatamente um fundamento essencialmente distinto da manifestação acidental e que a determina O valor do linho permanece da mesma grandeza seja ele representado no casaco ou café ou ferro etc em inúmeras mercadorias diferentes que pertencem aos mais diferentes possuidores A relação acidental entre dois possuidores individuais de mercadorias desaparece Tornase evidente que não é a troca que regula a grandeza de valor da mercadoria mas inversamente é a grandeza de valor da mercadoria que regula suas relações de troca 2 A forma de equivalente particular Na expressão de valor do linho cada mercadoria seja ela casaco chá trigo ferro etc é considerada como equivalente e portanto como corpo de valor A forma natural determinada de cada uma dessas mercadorias é agora uma forma de equivalente particular ao lado de muitas outras Do mesmo modo os vários tipos de trabalho determinados concretos e úteis contidos nos diferentes corpos de mercadorias são considerados agora como tantas outras formas de efetivação ou de manifestação particulares de trabalho humano como tal 3 Insuficiências da forma de valor total ou desdobrada Em primeiro lugar a expressão de valor relativa da mercadoria é incompleta pois sua série de representações jamais se conclui A cadeia em que uma equiparação de valor se acrescenta a outra permanece sempre prolongável por meio de cada novo tipo de mercadoria que se apresenta fornecendo assim o material para uma nova expressão de valor Em segundo lugar ela forma um colorido mosaico de expressões de valor desconexas e variegadas E finalmente se o valor relativo de cada mercadoria for devidamente expresso nessa forma desdobrada a forma de valor relativa de cada mercadoria será uma série infinita de expressões de valor diferente da forma de valor relativa de qualquer outra mercadoria As insuficiências da forma de valor relativa e desdobrada se refletem na sua correspondente forma de equivalente Como a forma natural de todo tipo de mercadoria individual é aqui uma forma de equivalente particular ao lado de inúmeras outras formas de equivalentes particulares concluise 116 que existem apenas formas de equivalentes limitadas que se excluem mutuamente Do mesmo modo o tipo de trabalho determinado concreto e útil contido em cada equivalente particular de mercadorias é uma forma apenas particular e portanto não exaustiva de manifestação do trabalho humano De fato este possui sua forma completa ou total de manifestação na cadeia plena dessas formas particulares de manifestação Porém assim ele não possui qualquer forma de manifestação unitária A forma de valor relativa e desdobrada consiste no entanto apenas de uma soma de expressões simples e relativas de valor ou de equações da primeira forma como 20 braças de linho 1 casaco 20 braças de linho 10 libras de chá etc Mas cada uma dessas equações também contém em contrapartida a equação idêntica 1 casaco 20 braças de linho 10 libras de chá 20 braças de linho etc De fato se alguém troca seu linho por muitas outras mercadorias e com isso expressa seu valor numa série de outras mercadorias os muitos outros possuidores de mercadorias também têm necessariamente de trocar suas mercadorias pelo linho e desse modo expressar os valores de suas diferentes mercadorias na mesma terceira mercadoria o linho Se portanto invertemos a série 20 braças de linho 1 casaco ou 10 libras de chá ou etc isto é se expressamos a relação inversa já contida na própria série obtemos C A forma de valor universal 1 casaco 10 libras de chá 40 libras de café 1 quarter de trigo 2 onças de ouro ½ tonelada de ferro x mercadoria A etc mercadoria 20 braças de linho 1 Caráter modificado da forma de valor Agora as mercadorias expressam seus valores 1 de modo simples porque numa mercadoria singular e 2 de modo unitário porque na mesma mercadoria Sua forma de valor é simples e comum a todas e por conseguinte universal As formas I e I I só foram introduzidas para expressar o valor de uma mercadoria como algo distinto de seu próprio valor de uso ou de seu corpo de mercadoria A primeira forma resultou em equações de valor como 1 casaco 20 braças de linho 10 libras de chá ½ tonelada de ferro etc O valor casaco é expresso como igual ao linho o valorchá como igual ao ferro etc mas as igualdades com o linho e com o ferro essas expressões de valor do casaco e do chá são tão distintas quanto o linho e o ferro Tal forma só se revela na prática nos primórdios mais remotos quando os 117 produtos do trabalho são transformados em mercadorias por meio da troca contingente e ocasional A segunda forma distingue o valor de uma mercadoria de seu próprio valor de uso mais plenamente do que a primeira pois o valor do casaco por exemplo confrontase com sua forma natural em todas as formas possíveis como igual ao linho igual ao ferro igual ao chá etc mas não como igual ao casaco Por outro lado toda expressão comum do valor das mercadorias está aqui diretamente excluída pois na expressão de valor de cada mercadoria todas as outras aparecem agora na forma de equivalentes A forma de valor desdobrada se mostra pela primeira vez apenas quando um produto do trabalho por exemplo o gado passa a ser trocado por outras mercadorias diferentes não mais excepcional mas habitualmente A nova forma obtida expressa os valores do mundo das mercadorias num único tipo de mercadoria separada das outras por exemplo no linho e assim representa os valores de todas as mercadorias mediante sua igualdade com o linho Como algo igual ao linho o valor de cada mercadoria é agora não apenas distinto de seu próprio valor de uso mas de qualquer valor de uso sendo justamente por isso expresso como aquilo que ela tem em comum com todas as outras mercadorias Essa forma é portanto a primeira que relaciona efetivamente as mercadorias entre si como valores ou que as deixa aparecer umas para as outras como valores de troca As duas formas anteriores expressam cada uma o valor de uma mercadoria seja numa única mercadoria de tipo diferente seja numa série de muitas mercadorias diferentes dela Nos dois casos dar a si mesma uma forma de valor é algo que por assim dizer pertence ao foro privado da mercadoria individual e ela o realiza sem a ajuda de outras mercadorias Estas representam diante dela o papel meramente passivo do equivalente A forma universal do valor só surge ao contrário como obra conjunta do mundo das mercadorias Uma mercadoria só ganha expressão universal de valor porque ao mesmo tempo todas as outras expressam seu valor no mesmo equivalente e cada novo tipo de mercadoria que surge tem de fazer o mesmo Com isso revelase que a objetividade do valor das mercadorias por ser a mera existência social dessas coisas também só pode ser expressa por sua relação social universal allseitige e sua forma de valor por isso tem de ser uma forma socialmente válida Na forma de iguais ao linho todas as mercadorias aparecem agora não só como qualitativamente iguais como valores em geral mas também como grandezas de valor quantitativamente comparáveis Por espelharem suas grandezas de valor num mesmo material o linho essas grandezas de valor se espelham mutuamente Por exemplo 10 libras de chá 20 braças de linho e 40 libras de café 20 braças de linho Portanto 10 libras de chá 40 libras de café Ou em 1 libra de café está contida apenas ¼ da substância de valor de trabalho contida em 1 libra de chá A forma de valor relativa e universal do mundo das mercadorias imprime na mercadoria equivalente que dele é excluída no linho o caráter de equivalente universal Sua própria forma natural é a figura de valor comum a esse mundo sendo o linho por isso diretamente permutável por todas as outras mercadorias Sua forma corpórea é considerada a encarnação visível a crisalidação social e universal de todo trabalho humano A tecelagem o trabalho privado que produz o linho encontrase ao 118 mesmo tempo na forma social universal a forma da igualdade com todos os outros trabalhos As inúmeras equações em que consiste a forma de valor universal equiparam sucessivamente o trabalho efetivado no linho com todo trabalho contido em outra mercadoria e desse modo transformam a tecelagem em forma universal de manifestação do trabalho humano como tal Assim o trabalho objetivado no valor das mercadorias não é expresso apenas negativamente como trabalho no qual são abstraídas todas as formas concretas e propriedades úteis dos trabalhos efetivos Sua própria natureza positiva se põe em destaque ela se encontra na redução de todos os trabalhos efetivos à sua característica comum de trabalho humano ao dispêndio de força humana de trabalho A forma de valor universal que apresenta os produtos do trabalho como meras geleias de trabalho humano mostra por meio de sua própria estrutura que ela é a expressão social do mundo das mercadorias Desse modo ela revela que no interior desse mundo o caráter humano universal do trabalho constitui seu caráter especificamente social 2 A relação de desenvolvimento entre a forma de valor relativa e a forma de equivalente Ao grau de desenvolvimento da forma de valor relativa corresponde o grau de desenvolvimento da forma de equivalente Porém devese ressaltar que o desenvolvimento da forma de equivalente é apenas expressão e resultado do desenvolvimento da forma de valor relativa A forma de valor relativa simples ou isolada de uma mercadoria transforma outra mercadoria em equivalente individual A forma desdobrada do valor relativo essa expressão do valor de uma mercadoria em todas as outras mercadorias imprime nestas últimas a forma de equivalentes particulares de diferentes tipos Por fim um tipo particular de mercadoria recebe a forma de equivalente universal porque todas as outras mercadorias fazem dela o material de sua forma de valor unitária universal Mas na mesma medida em que se desenvolve a forma de valor em geral desenvolvese também a oposição entre seus dois polos a forma de valor relativa e a forma de equivalente A primeira forma 20 braças de linho 1 casaco já contém essa oposição porém não explicitada Conforme a mesma equação seja lida numa direção ou noutra cada um dos dois extremos de mercadorias como linho e casaco encontrase na mesma medida ora na forma de valor relativa ora na forma de equivalente Compreender a oposição entre os dois polos demandanos ainda um certo esforço Na forma I I cada tipo de mercadoria só pode desdobrar totalmente seu valor relativo ou só possui ela mesma a forma de valor relativa desdobrada porque e na medida em que todas as outras mercadorias se confrontam com ela na forma de equivalente Não se pode mais aqui inverter os dois lados da equação de valor como 20 braças de linho 1 casaco ou 10 libras de chá ou 1 quarter de trigo etc sem alterar seu caráter global e transformála de forma de valor total em forma de valor universal 119 Por fim a última forma a forma I I I dá ao mundo das mercadorias a forma de valor relativa e sociouniversal porque e na medida em que todas as mercadorias que a ela pertencem são com uma única exceção excluídas da forma de equivalente universal Uma mercadoria o linho encontrase portanto na forma da permutabilidade direta por todas as outras mercadorias ou na forma imediatamente social porque e na medida em que todas as demais mercadorias não se encontram nessa forma24 I nversamente a mercadoria que figura como equivalente universal está excluída da forma de valor relativa unitária e portanto universal do mundo das mercadorias Para que o linho isto é uma mercadoria qualquer que se encontre na forma de equivalente universal pudesse tomar parte ao mesmo tempo na forma de valor relativa universal ele teria de servir de equivalente a si mesmo Teríamos então 20 braças de linho 20 braças de linho uma tautologia em que não se expressa valor nem grandeza de valor Para expressar o valor relativo do equivalente universal temos antes de inverter a forma I I I Ele não possui qualquer forma de valor relativa em comum com outras mercadorias mas seu valor é expresso relativamente na série infinita de todos os outros corpos de mercadorias Assim a forma de valor relativa e desdobrada ou forma II aparece agora como a forma de valor relativa específica da mercadoria equivalente 3 Transição da forma de valor universal para a formadinheiro Geldform A forma de equivalente universal é uma forma do valor em geral e pode portanto expressarse em qualquer mercadoria Por outro lado uma mercadoria encontrase na forma de equivalente universal forma I I I apenas porque e na medida em que ela é excluída por todas as demais mercadorias na qualidade de equivalente E é somente no momento em que essa exclusão se limita definitivamente a um tipo específico de mercadoria que a forma de valor relativa unitária do mundo das mercadorias ganha solidez objetiva e validade social universal Agora o tipo específico de mercadoria em cuja forma natural a forma de equivalente se funde socialmente tornase mercadoriadinheiro Geldware ou funciona como dinheiro Desempenhar o papel do equivalente universal no mundo das mercadorias tornase sua função especificamente social e assim seu monopólio social Entre as mercadorias que na forma I I figuram como equivalentes particulares do linho e que na forma I I I expressam conjuntamente no linho seu valor relativo uma mercadoria determinada conquistou historicamente esse lugar privilegiado o ouro Assim se na forma I I I substituirmos a mercadoria linho pela mercadoria ouro obteremos D A formadinheiro 20 braças de linho 1 casaco 10 libras de chá 40 libras de café 1 quarter de trigo ½ tonelada de ferro x mercadoria A 2 onças de ouro 120 Alterações essenciais ocorrem na transição da forma I para a forma I I e da forma I I para a forma I I I Em contrapartida a forma I V não se diferencia em nada da forma I I I a não ser pelo fato de que agora em vez do linho é o ouro que possui a forma de equivalente universal O ouro se torna na forma I V aquilo que o linho era na forma I I I equivalente universal O progresso consiste apenas em que agora por meio do hábito social a forma da permutabilidade direta e geral ou a forma de equivalente universal amalgamouse definitivamente à forma natural específica da mercadoria ouro O ouro só se confronta com outras mercadorias como dinheiro porque já se confrontava com elas anteriormente como mercadoria I gual a todas as outras mercadorias ele também funcionou como equivalente seja como equivalente individual em atos isolados de troca seja como equivalente particular ao lado de outros equivalentesmercadorias Warenäquivalenten Com o tempo ele passou a funcionar em círculos mais estreitos ou mais amplos como equivalente universal Tão logo conquistou o monopólio dessa posição na expressão de valor do mundo das mercadorias ele tornouse mercadoriadinheiro e é apenas a partir do momento em que ele já se tornou mercadoriadinheiro que as formas I V e I I I passam a se diferenciar uma da outra ou que a forma de valor universal se torna formadinheiro A expressão de valor relativa simples de uma mercadoria por exemplo do linho na mercadoria que funciona como mercadoriadinheiro por exemplo o ouro é a formapreço Preisform A formapreço do linho é portanto 20 braças de linho 2 onças de ouro ou se 2 for a denominação monetária de 2 onças de ouro 20 braças de linho 2 A dificuldade no conceito da formadinheiro se restringe à apreensão conceitual da forma de equivalente universal portanto da forma de valor universal como tal a forma I I I A forma I I I se decompõe em sentido contrário na forma I I a forma de valor desdobrada e seu elemento constitutivo é a forma I 20 braças de linho 1 casaco ou x mercadoria A y mercadoria B A formamercadoria simples é desse modo o germe da formadinheiro 4 O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo Uma mercadoria aparenta ser à primeira vista uma coisa óbvia trivial Sua análise resulta em que ela é uma coisa muito intricada plena de sutilezas metafísicas e melindres teológicos Quando é valor de uso nela não há nada de misterioso quer eu a considere do ponto de vista de que satisfaz necessidades humanas por meio de suas propriedades quer do ponto de vista de que ela só recebe essas propriedades como produto do trabalho humano É evidente que o homem por meio de sua atividade altera as formas das matérias naturais de um modo que lhe é útil Por exemplo a forma da madeira é alterada quando dela se faz uma mesa No entanto a mesa continua sendo madeira uma coisa sensível e banal Mas tão logo aparece como mercadoria ela se transforma numa coisa sensívelsuprassensíveln Ela não só se 121 mantém com os pés no chão mas põese de cabeça para baixo diante de todas as outras mercadorias e em sua cabeça de madeira nascem minhocas que nos assombram muito mais do que se ela começasse a dançar por vontade própria25 O caráter místico da mercadoria não resulta portanto de seu valor de uso Tampouco resulta do conteúdo das determinações de valor pois em primeiro lugar por mais distintos que possam ser os trabalhos úteis ou as atividades produtivas é uma verdade fisiológica que eles constituem funções do organismo humano e que cada uma dessas funções seja qual for seu conteúdo e sua forma é essencialmente dispêndio de cérebro nervos músculos e órgãos sensoriais humanos etc Em segundo lugar no que diz respeito àquilo que se encontra na base da determinação da grandeza de valor a duração desse dispêndio ou a quantidade do trabalho a quantidade é claramente diferenciável da qualidade do trabalho Sob quaisquer condições sociais o tempo de trabalho requerido para a produção dos meios de subsistência havia de interessar aos homens embora não na mesma medida em diferentes estágios de desenvolvimento26 Por fim tão logo os homens trabalham uns para os outros de algum modo seu trabalho também assume uma forma social De onde surge portanto o caráter enigmático do produto do trabalho assim que ele assume a formamercadoria Evidentemente ele surge dessa própria forma A igualdade dos trabalhos humanos assume a forma material da igual objetividade de valor dos produtos do trabalho a medida do dispêndio de força humana de trabalho por meio de sua duração assume a forma da grandeza de valor dos produtos do trabalho finalmente as relações entre os produtores nas quais se efetivam aquelas determinações sociais de seu trabalho assumem a forma de uma relação social entre os produtos do trabalho O caráter misterioso da formamercadoria consiste portanto simplesmente no fato de que ela reflete aos homens os caracteres sociais de seu próprio trabalho como caracteres objetivos dos próprios produtos do trabalho como propriedades sociais que são naturais a essas coisas e por isso reflete também a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social entre os objetos existente à margem dos produtores É por meio desse quiproquó que os produtos do trabalho se tornam mercadorias coisas sensíveissuprassensíveis ou sociais A impressão luminosa de uma coisa sobre o nervo óptico não se apresenta pois como um estímulo subjetivo do próprio nervo óptico mas como forma objetiva de uma coisa que está fora do olho No ato de ver porém a luz de uma coisa de um objeto externo é efetivamente lançada sobre outra coisa o olho Tratase de uma relação física entre coisas físicas J á a forma mercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho em que ela se representa não tem ao contrário absolutamente nada a ver com sua natureza física e com as relações materiais dinglichen que dela resultam É apenas uma relação social determinada entre os próprios homens que aqui assume para eles a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas Desse modo para encontrarmos uma analogia temos de nos refugiar na região nebulosa do mundo religioso Aqui os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria como figuras independentes que travam relação umas com as outras e com os homens Assim se apresentam no mundo das mercadorias os produtos da mão humana A isso eu chamo de fetichismo que se cola 122 aos produtos do trabalho tão logo eles são produzidos como mercadorias e que por isso é inseparável da produção de mercadorias Esse caráter fetichista do mundo das mercadorias surge como a análise anterior já mostrou do caráter social peculiar do trabalho que produz mercadorias Os objetos de uso só se tornam mercadorias porque são produtos de trabalhos privados realizados independentemente uns dos outros O conjunto desses trabalhos privados constitui o trabalho social total Como os produtores só travam contato social mediante a troca de seus produtos do trabalho os caracteres especificamente sociais de seus trabalhos privados aparecem apenas no âmbito dessa troca Ou dito de outro modo os trabalhos privados só atuam efetivamente como elos do trabalho social total por meio das relações que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e por meio destes também entre os produtores A estes últimos as relações sociais entre seus trabalhos privados aparecem como aquilo que elas são isto é não como relações diretamente sociais entre pessoas em seus próprios trabalhos mas como relações reificadaso entre pessoas e relações sociais entre coisas Somente no interior de sua troca os produtos do trabalho adquirem uma objetividade de valor socialmente igual separada de sua objetividade de uso sensivelmente distinta Essa cisão do produto do trabalho em coisa útil e coisa de valor só se realiza na prática quando a troca já conquistou um alcance e uma importância suficientes para que se produzam coisas úteis destinadas à troca e portanto o caráter de valor das coisas passou a ser considerado no próprio ato de sua produção A partir desse momento os trabalhos privados dos produtores assumem de fato um duplo caráter social Por um lado como trabalhos úteis determinados eles têm de satisfazer uma determinada necessidade social e desse modo conservar a si mesmos como elos do trabalho total do sistema naturalespontâneop da divisão social do trabalho Por outro lado eles só satisfazem as múltiplas necessidades de seus próprios produtores na medida em que cada trabalho privado e útil particular é permutável por qualquer outro tipo útil de trabalho privado portanto na medida em que lhe é equivalente A igualdade toto coelo plena dos diferentes trabalhos só pode consistir numa abstração de sua desigualdade real na redução desses trabalhos ao seu caráter comum como dispêndio de força humana de trabalho como trabalho humano abstrato O cérebro dos produtores privados reflete esse duplo caráter social de seus trabalhos privados apenas nas formas em que se manifestam no intercâmbio prático na troca dos produtos o caráter socialmente útil de seus trabalhos privados na forma de que o produto do trabalho tem de ser útil e precisamente para outrem o caráter social da igualdade dos trabalhos de diferentes tipos na forma do caráter de valor comum a essas coisas materialmente distintas os produtos do trabalho Portanto os homens não relacionam entre si seus produtos do trabalho como valores por considerarem essas coisas meros invólucros materiais de trabalho humano de mesmo tipo Ao contrário Porque equiparam entre si seus produtos de diferentes tipos na troca como valores eles equiparam entre si seus diferentes trabalhos como trabalho humano Eles não sabem disso mas o fazem27 Por isso na testa do valor não está escrito o que ele éq O valor converte antes todo produto do trabalho num hieróglifo social Mais tarde os homens tentam decifrar o sentido desse hieróglifo 123 desvelar o segredo de seu próprio produto social pois a determinação dos objetos de uso como valores é seu produto social tanto quanto a linguagem A descoberta científica tardia de que os produtos do trabalho como valores são meras expressões materiais do trabalho humano despendido em sua produção fez época na história do desenvolvimento da humanidade mas de modo algum elimina a aparência objetiva do caráter social do trabalho O que é válido apenas para essa forma particular de produção a produção de mercadorias isto é o fato de que o caráter especificamente social dos trabalhos privados independentes entre si consiste em sua igualdade como trabalho humano e assume a forma do caráter de valor dos produtos do trabalho continua a aparecer para aqueles que se encontram no interior das relações de produção das mercadorias como algo definitivo mesmo depois daquela descoberta do mesmo modo como a decomposição científica do ar em seus elementos deixou intacta a forma do ar como forma física corpórea O que na prática interessa imediatamente aos agentes da troca de produtos é a questão de quantos produtos alheios eles obtêm em troca por seu próprio produto ou seja em que proporções os produtos são trocados Assim que essas proporções alcançam uma certa solidez habitual elas aparentam derivar da natureza dos produtos do trabalho como se por exemplo 1 tonelada de ferro e 2 onças de ouro tivessem o mesmo valor do mesmo modo como 1 libra de ouro e 1 libra de ferro têm o mesmo peso apesar de suas diferentes propriedades físicas e químicas Na verdade o caráter de valor dos produtos do trabalho se fixa apenas por meio de sua atuação como grandezas de valor Estas variam constantemente independentemente da vontade da previsão e da ação daqueles que realizam a troca Seu próprio movimento social possui para eles a forma de um movimento de coisas sob cujo controle se encontram em vez de eles as controlarem É preciso que a produção de mercadorias esteja plenamente desenvolvida antes que da própria experiência emerja a noção científica de que os trabalhos privados executados independentemente uns dos outros porém universalmente interdependentes como elos naturaisespontâneos da divisão social do trabalho são constantemente reduzidos à sua medida socialmente proporcional porque nas relações de troca contingentes e sempre oscilantes de seus produtos o tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção se impõe com a força de uma lei natural reguladora assim como a lei da gravidade se impõe quando uma casa desaba sobre a cabeça de alguém28 A determinação da grandeza de valor por meio do tempo de trabalho é portanto um segredo que se esconde sob os movimentos manifestos dos valores relativos das mercadorias Sua descoberta elimina dos produtos do trabalho a aparência da determinação meramente contingente das grandezas de valor mas não elimina em absoluto sua forma reificada sachlich A reflexão sobre as formas da vida humana e assim também sua análise científica percorre um caminho contrário ao do desenvolvimento real Ela começa post festum muito tarde após a festa e por conseguinte com os resultados prontos do processo de desenvolvimento As formas que rotulam os produtos do trabalho como mercadorias e portanto são pressupostas à circulação das mercadorias já possuem a solidez de formas naturais da vida social antes que os homens procurem esclarecerse não sobre o caráter histórico dessas formas que eles antes já consideram imutáveis 124 mas sobre seu conteúdo Assim somente a análise dos preços das mercadorias conduziu à determinação da grandeza do valor e somente a expressão monetária comum das mercadorias conduziu à fixação de seu caráter de valor Porém é justamente essa forma acabada a formadinheiro do mundo das mercadorias que vela materialmente sachlich em vez de revelar o caráter social dos trabalhos privados e com isso as relações sociais entre os trabalhadores privados Quando digo que o casaco a bota etc se relacionam com o linho sob a forma da incorporação geral de trabalho humano abstrato salta aos olhos a sandice dessa expressão Mas quando os produtores de casaco bota etc relacionam essas mercadorias ao linho ou com o ouro e a prata o que não altera em nada a questão como equivalente universal a relação de seus trabalhos privados com seu trabalho social total lhes aparece exatamente nessa forma insana Ora são justamente essas formas que constituem as categorias da economia burguesa Tratase de formas de pensamento socialmente válidas e portanto dotadas de objetividade para as relações de produção desse modo social de produção historicamente determinado a produção de mercadorias Por isso todo o misticismo do mundo das mercadorias toda a mágica e a assombração que anuviam os produtos do trabalho na base da produção de mercadorias desaparecem imediatamente tão logo nos refugiemos em outras formas de produção Como a economia política ama robinsonadas29 lancemos um olhar sobre Robinson em sua ilha Apesar de seu caráter modesto ele tem diferentes necessidades a satisfazer e por isso tem de realizar trabalhos úteis de diferentes tipos fazer ferramentas fabricar móveis domesticar lhamas pescar caçar etc Não mencionamos orar e outras coisas do tipo pois nosso Robinson encontra grande prazer nessas atividades e as considera uma recreação Apesar da variedade de suas funções produtivas ele tem consciência de que elas são apenas diferentes formas de atividade do mesmo Robinson e portanto apenas diferentes formas de trabalho humano A própria necessidade o obriga a distribuir seu tempo com exatidão entre suas diferentes funções Se uma ocupa mais espaço e outra menos em sua atividade total depende da maior ou menor dificuldade que se tem de superar para a obtenção do efeito útil visado A experiência lhe ensina isso e eis que nosso Robinson que entre os destroços do navio salvou relógio livro comercial tinta e pena põese logo como bom inglês a fazer a contabilidade de si mesmo Seu inventário contém uma relação dos objetos de uso que ele possui das diversas operações requeridas para sua produção e por fim do tempo de trabalho que lhe custa em média a obtenção de determinadas quantidades desses diferentes produtos Aqui todas as relações entre Robinson e as coisas que formam sua riqueza por ele mesmo criada são tão simples que até mesmo o sr M Wirthr poderia compreendêlas sem maior esforço intelectual E no entanto nelas já estão contidas todas as determinações essenciais do valor Saltemos então da iluminada ilha de Robinson para a sombria I dade Média europeias Em vez do homem independente aqui só encontramos homens dependentes servos e senhores feudais vassalos e suseranos leigos e clérigos A dependência pessoal caracteriza tanto as relações sociais da produção material quanto as esferas da vida erguidas sobre elas Mas é justamente porque as relações pessoais 125 de dependência constituem a base social dada que os trabalhos e seus produtos não precisam assumir uma forma fantástica distinta de sua realidade Eles entram na engrenagem social como serviços e prestações in natura A forma natural do trabalho sua particularidade e não como na base da produção de mercadorias sua universalidade é aqui sua forma imediatamente social A corveia é medida pelo tempo tanto quanto o é o trabalho que produz mercadorias mas cada servo sabe que o que ele despende a serviço de seu senhor é uma quantidade determinada de sua força pessoal de trabalho O dízimo a ser pago ao padre é mais claro do que a bênção do padre J ulguemse como se queiram as máscarast atrás das quais os homens aqui se confrontam o fato é que as relações sociais das pessoas em seus trabalhos aparecem como suas próprias relações pessoais e não se encontram travestidas em relações sociais entre coisas entre produtos de trabalho Para a consideração do trabalho coletivo isto é imediatamente socializado não precisamos remontar à sua forma naturalespontânea que encontramos no limiar histórico de todos os povos civilizados30 Um exemplo mais próximo é o da indústria rural e patriarcal de uma família camponesa que para seu próprio sustento produz cereais gado fio linho peças de roupa etc Essas coisas diversas se defrontam com a família como diferentes produtos de seu trabalho familiar mas não umas com as outras como mercadorias Os diferentes trabalhos que criam esses produtos a lavoura a pecuária a fiação a tecelagem a alfaiataria etc são em sua forma natural funções sociais por serem funções da família que do mesmo modo como a produção de mercadorias possui sua própria divisão naturalespontânea do trabalho As diferenças de sexo e idade assim como das condições naturais do trabalho variáveis de acordo com as estações do ano regulam a distribuição do trabalho na família e do tempo de trabalho entre seus membros individuais Aqui no entanto o dispêndio das forças individuais de trabalho medido por sua duração aparece desde o início como determinação social dos próprios trabalhos uma vez que as forças de trabalho individuais atuam desde o início apenas como órgãos da força comum de trabalho da família Por fim imaginemos uma associação de homens livres que trabalham com meios de produção coletivos e que conscientemente despendem suas forças de trabalho individuais como uma única força social de trabalho Todas as determinações do trabalho de Robinson reaparecem aqui mas agora social e não individualmente Todos os produtos de Robinson eram seus produtos pessoais exclusivos e por isso imediatamente objetos de uso para ele O produto total da associação é um produto social e parte desse produto serve por sua vez como meio de produção Ela permanece social mas outra parte é consumida como meios de subsistência pelos membros da associação o que faz com que tenha de ser distribuída entre eles O modo dessa distribuição será diferente de acordo com o tipo peculiar do próprio organismo social de produção e o correspondente grau histórico de desenvolvimento dos produtores Apenas para traçar um paralelo com a produção de mercadoria suponha que a cota de cada produtor nos meios de subsistência seja determinada por seu tempo de trabalho o qual desempenharia portanto um duplo papel Sua distribuição socialmente planejada regula a correta proporção das diversas funções de trabalho de 126 acordo com as diferentes necessidades Por outro lado o tempo de trabalho serve simultaneamente de medida da cota individual dos produtores no trabalho comum e desse modo também na parte a ser individualmente consumida do produto coletivo As relações sociais dos homens com seus trabalhos e seus produtos de trabalho permanecem aqui transparentemente simples tanto na produção quanto na distribuição Para uma sociedade de produtores de mercadorias cuja relação social geral de produção consiste em se relacionar com seus produtos como mercadorias ou seja como valores e nessa forma reificada sachlich confrontar mutuamente seus trabalhos privados como trabalho humano igual o cristianismo com seu culto do homem abstrato é a forma de religião mais apropriada especialmente em seu desenvolvimento burguês como protestantismo deísmo etc Nos modos de produção asiáticos antigos etc a transformação do produto em mercadoria e com isso a existência dos homens como produtores de mercadorias desempenha um papel subordinado que no entanto tornase progressivamente mais significativo à medida que as comunidades avançam em seu processo de declínio Povos propriamente comerciantes existem apenas nos intermúndios do mundo antigo como os deuses de Epicurou ou nos poros da sociedade polonesa como os judeus Esses antigos organismos sociais de produção são extraordinariamente mais simples e transparentes do que o organismo burguês mas baseiamse ou na imaturidade do homem individual que ainda não rompeu o cordão umbilical que o prende a outrem por um vínculo natural de gênero Gattungszusammenhangs ou em relações diretas de dominação e servidão Eles são condicionados por um baixo grau de desenvolvimento das forças produtivas do trabalho e pelas relações correspondentemente limitadas dos homens no interior de seu processo material de produção da vida ou seja pelas relações limitadas dos homens entre si e com a natureza Essa limitação real se reflete idealmente nas antigas religiões naturais e populares O reflexo religioso do mundo real só pode desaparecer quando as relações cotidianas da vida prática se apresentam diariamente para os próprios homens como relações transparentes e racionais que eles estabelecem entre si e com a natureza A figura do processo social de vida isto é do processo material de produção só se livra de seu místico véu de névoa quando como produto de homens livremente socializados encontrase sob seu controle consciente e planejado Para isso requerse uma base material da sociedade ou uma série de condições materiais de existência que por sua vez são elas próprias o produto naturalespontâneo de uma longa e excruciante história de desenvolvimento É verdade que a economia política analisou mesmo que incompletamente31 o valor e a grandeza de valor e revelou o conteúdo que se esconde nessas formas Mas ela jamais sequer colocou a seguinte questão por que esse conteúdo assume aquela forma e por que portanto o trabalho se representa no valor e a medida do trabalho por meio de sua duração temporal na grandeza de valor do produto do trabalho32 Tais formas em cuja testa está escrito que elas pertencem a uma formação social em que o processo de produção domina os homens e não os homens o processo de produção são consideradas por sua consciência burguesa como uma necessidade 127 natural tão evidente quanto o próprio trabalho produtivo Por essa razão as formas préburguesas do organismo social de produção são tratadas por ela mais ou menos do modo como as religiões précristãs foram tratadas pelos Padres da Igrejav 33 O quanto uma parte dos economistas é enganada pelo fetichismo que se cola ao mundo das mercadorias ou pela aparência objetiva das determinações sociais do trabalho é demonstrado entre outros pela fastidiosa e absurda disputa sobre o papel da natureza na formação do valor de troca Como este último é uma maneira social determinada de expressar o trabalho realizado numa coisa ele não pode conter mais matéria natural do que por exemplo a taxa de câmbio Como a formamercadoria é a forma mais geral e menos desenvolvida da produção burguesa razão pela qual ela já aparece desde cedo ainda que não com a predominância que lhe é característica em nossos dias seu caráter fetichista parece ser relativamente fácil de se analisar Em formas mais concretas desaparece até mesmo essa aparência de simplicidade De onde vêm as ilusões do sistema monetário Para ele o ouro e a prata ao servir como dinheiro não expressam uma relação social de produção mas atuam na forma de coisas naturais dotadas de estranhas propriedades sociais E quanto à teoria econômica moderna que arrogantemente desdenha do sistema monetário não se torna palpável seu fetichismo quando ela trata do capital Há quanto tempo desapareceu a ilusão fisiocrata de que a renda fundiária nasce da terra e não da sociedade Para não nos anteciparmos basta que apresentemos aqui apenas mais um exemplo relativo à própria formamercadoria Se as mercadorias pudessem falar diriam é possível que nosso valor de uso tenha algum interesse para os homens A nós como coisas ele não nos diz respeito O que nos diz respeito materialmente dinglich é nosso valor Nossa própria circulação como coisasmercadorias Warendinge é a prova disso Relacionamonos umas com as outras apenas como valores de troca Escutemos então como o economista fala expressando a alma das mercadorias Valor valor de troca é qualidade das coisas riqueza valor de uso é qualidade do homem Valor nesse sentido implica necessariamente troca riqueza não34 Riqueza valor de uso é um atributo do homem valor um atributo das mercadorias Um homem ou uma comunidade é rico uma pérola ou um diamante é valiosa Uma pérola ou um diamante tem valor como pérola ou diamante35 Até hoje nenhum químico descobriu o valor de troca na pérola ou no diamante Mas os descobridores econômicos dessa substância química que se jactam de grande profundidade crítica creem que o valor de uso das coisas existe independentemente de suas propriedades materiais sachlichen ao contrário de seu valor que lhes seria inerente como coisasx Para eles a confirmação disso está na insólita circunstância de que o valor de uso das coisas se realiza para os homens sem a troca ou seja na relação imediata entre a coisa e o homem ao passo que seu valor ao contrário só se realiza na troca isto é num processo social Quem não se lembra aqui do bom e velho Dogberry a doutrinar o vigia noturno Seacoal Uma boa aparência é dádiva da sorte mas saber ler e escrever é dom da naturezaw 36 128 Capítulo 2 O processo de troca As mercadorias não podem ir por si mesmas ao mercado e trocarse umas pelas outras Temos portanto de nos voltar para seus guardiões os possuidores de mercadorias Elas são coisas e por isso não podem impor resistência ao homem Se não se mostram solícitas ele pode recorrer à violência em outras palavras pode tomá las à força37 Para relacionar essas coisas umas com as outras como mercadorias seus guardiões têm de estabelecer relações uns com os outros como pessoas cuja vontade reside nessas coisas e que agir de modo tal que um só pode se apropriar da mercadoria alheia e alienar a sua própria mercadoria em concordância com a vontade do outro portanto por meio de um ato de vontade comum a ambos Eles têm portanto de se reconhecer mutuamente como proprietários privados Essa relação jurídica cuja forma é o contrato seja ela legalmente desenvolvida ou não é uma relação volitiva na qual se reflete a relação econômica O conteúdo dessa relação jurídica ou volitiva é dado pela própria relação econômica38 Aqui as pessoas existem umas para as outras apenas como representantes da mercadoria e por conseguinte como possuidoras de mercadorias Na sequência de nosso desenvolvimento veremos que as máscaras econômicas das pessoas não passam de personificações das relações econômicas como suporte Träger das quais elas se defrontam umas com as outras O possuidor de mercadorias se distingue de sua própria mercadoria pela circunstância de que para ela o corpo de qualquer outra mercadoria conta apenas como forma de manifestação de seu próprio valor Leveller niveladoraa e cínica de nascença ela se encontra por isso sempre pronta a trocar não apenas sua alma mas também seu corpo com qualquer outra mercadoria mesmo que esta seja munida de mais inconveniências do que Maritornesb Se à mercadoria falta esse sentido para a percepção da concretude dos corpos de mercadorias o possuidor de mercadorias preenche essa lacuna com seus cinco ou mais sentidos Sua mercadoria não tem para ele nenhum valor de uso imediato Do contrário ele não a levaria ao mercado Ela tem valor de uso para outrem Para ele o único valor de uso que ela possui diretamente é o de ser suporte de valor de troca e portanto meio de troca39 Por essa razão ele quer alienála por uma mercadoria cujo valor de uso o satisfaça Todas as mercadorias são nãovalores de uso para seus possuidores e valores de uso para seus nãopossuidores Portanto elas precisam universalmente mudar de mãos Mas essa mudança de mãos constitui sua troca e essa troca as relaciona umas com as outras como valores e as realiza como valores Por isso as mercadorias têm de se realizar como valores antes que possam se realizar como valores de uso Por outro lado elas têm de se conservar como valores de uso antes que possam se realizar como valores pois o trabalho humano que nelas é despendido só conta na medida em que seja despendido numa forma útil para outrem Se o trabalho é útil para outrem ou seja se seu produto satisfaz necessidades alheias é algo que somente 129 a troca pode demonstrar Cada possuidor de mercadorias só quer alienar sua mercadoria em troca de outra mercadoria cujo valor de uso satisfaça sua necessidade Nessa medida a troca é para ele apenas um processo individual Por outro lado ele quer realizar sua mercadoria como valor portanto em qualquer outra mercadoria do mesmo valor que seja de seu agrado não importando se sua mercadoria tem ou não valor de uso para o possuidor da outra mercadoria Nessa medida a troca é para ele um processo social geral Mas não é possível que simultaneamente para todos os possuidores de mercadorias o mesmo processo seja exclusivamente individual e ao mesmo tempo exclusivamente social geral Observando a questão mais de perto vemos que todo possuidor de mercadorias considera toda mercadoria alheia como equivalente particular de sua mercadoria e por conseguinte sua mercadoria como equivalente universal de todas as outras mercadorias Mas como todos os possuidores de mercadorias fazem o mesmo nenhuma mercadoria é equivalente universal e por isso tampouco as mercadorias possuem qualquer forma de valor relativa geral na qual possam se equiparar como valores e se comparar umas com as outras como grandezas de valor Elas não se confrontam portanto como mercadorias mas apenas como produtos ou valores de uso Em sua perplexidade nossos possuidores de mercadorias pensam como Fausto Era no início a açãoc Por isso eles já agiram antes mesmo de terem pensado As leis da natureza das mercadorias atuam no instinto natural de seus possuidores os quais só podem relacionar suas mercadorias umas com as outras como valores e desse modo como mercadorias na medida em que as relacionam antagonicamente com outra mercadoria qualquer como equivalente universal Esse é o resultado da análise da mercadoria Mas somente a ação social pode fazer de uma mercadoria determinada um equivalente universal A ação social de todas as outras mercadorias exclui uma mercadoria determinada na qual todas elas expressam universalmente seu valor Assim a forma natural dessa mercadoria se converte em forma de equivalente socialmente válida Ser equivalente universal tornase por meio do processo social a função especificamente social da mercadoria excluída E assim ela se torna dinheiro Illi unum consilium habent et virtutem et potestatem suam bestiae tradunt Et ne quis possit emere aut vendere nisi qui habet characterem aut nomen bestiae aut numerum nomisis ejusd O cristal monetário Geldkristall é um produto necessário do processo de troca no qual diferentes produtos do trabalho são efetivamente equiparados entre si e desse modo transformados em mercadorias A expansão e o aprofundamento históricos da troca desenvolvem a oposição entre valor de uso e valor que jaz latente na natureza das mercadorias A necessidade de expressar externamente essa oposição para o intercâmbio impele a uma forma independente do valor da mercadoria e não descansa enquanto não chega a seu objetivo final por meio da duplicação da mercadoria em mercadoria e dinheiro Portanto na mesma medida em que se opera a metamorfose dos produtos do trabalho em mercadorias operase também a metamorfose da mercadoria em dinheiro40 130 A troca direta de produtos tem por um lado a forma da expressão simples do valor e por outro lado ainda não a tem Aquela forma era x mercadoria A y mercadoria B A forma da troca imediata de produtos é x objeto de uso A y objeto de uso B41 Aqui antes da troca as coisas A e B ainda não são mercadorias mas tornamse mercadorias apenas por meio dela O primeiro modo como um objeto de uso pode ser valor é por meio de sua existência como nãovalor de uso como quantidade de valor de uso que ultrapassa as necessidades imediatas de seu possuidor As coisas são por si mesmas exteriores äusserlich ao homem e por isso são alienáveis veräusserlich Para que essa venda Veräusserung seja mútua os homens necessitam apenas se confrontar tacitamente como proprietários privados daquelas coisas alienáveis e precisamente por meio delas como pessoas independentes umas das outras No entanto tal relação de alheamento Fremdheit mútuo não existe para os membros de uma comunidade naturalespontânea tenha ela a forma de uma família patriarcal uma comunidade indiana antiga um Estado inca etc A troca de mercadorias começa onde as comunidades terminam no ponto de seu contato com comunidades estrangeiras ou com membros de comunidades estrangeiras A partir de então as coisas que são mercadorias no estrangeiro também se tornam mercadorias na vida interna da comunidade Sua relação quantitativa de troca é a princípio inteiramente acidental Elas são permutáveis por meio do ato volitivo de seus possuidores de alienálas mutuamente Ao mesmo tempo a necessidade de objetos de uso estrangeiros se consolida paulatinamente A constante repetição da troca transformaa num processo social regular razão pela qual no decorrer do tempo ao menos uma parcela dos produtos do trabalho tem de ser intencionalmente produzida para a troca Desse momento em diante confirmase por um lado a separação entre a utilidade das coisas para a necessidade imediata e sua utilidade para a troca Seu valor de uso se aparta de seu valor de troca Por outro lado a relação quantitativa na qual elas são trocadas tornase dependente de sua própria produção O costume as fixa como grandezas de valor Na troca direta de produtos cada mercadoria é diretamente meio de troca para seu possuidor e equivalente para seu nãopossuidor mas apenas enquanto ela é valor de uso para ele O artigo de troca ainda não assume nenhuma forma de valor independente de seu próprio valor de uso ou da necessidade individual dos agentes da troca A necessidade dessa forma se desenvolve com o número e a variedade crescentes das mercadorias que entram no processo de troca O problema surge simultaneamente aos meios de sua solução Uma circulação em que os proprietários de mercadorias comparam mutuamente seus artigos e os trocam por outros artigos diferentes jamais ocorre sem que em sua circulação diferentes mercadorias de diferentes possuidores de mercadorias sejam trocadas e comparadas como valores com uma única terceira mercadoria Essa terceira mercadoria por servir de equivalente de diversas outras mercadorias tornase imediatamente mesmo que em estreitos limites a forma de equivalente universal ou social Essa forma de equivalente universal surge e se esvai com o contato social momentâneo que a trouxe à vida De modo alternado e transitório ela se realiza nesta ou naquela mercadoria Porém com o desenvolvimento da troca de mercadorias ela se fixa exclusivamente em tipos 131 particulares de mercadorias ou se cristaliza na formadinheiro Em que tipo de mercadoria ela permanece colada é de início algo acidental No entanto duas circunstâncias são em geral decisivas A formadinheiro se fixa ou nos artigos de troca mais importantes vindos do estrangeiro que na verdade são formas naturais espontâneas de manifestação do valor de troca dos produtos domésticos ou no objeto de uso que constitui o elemento principal da propriedade doméstica alienável como por exemplo o gado Os povos nômades são os primeiros a desenvolver a forma dinheiro porque todos os seus bens se encontram em forma móvel e por conseguinte diretamente alienável e também porque seu modo de vida os põe constantemente em contato com comunidades estrangeiras com as quais eles são chamados a trocar seus produtos Frequentemente os homens converteram os próprios homens na forma de escravos em matéria monetária original mas jamais fizeram isso com o solo Tal ideia só pôde surgir na sociedade burguesa já desenvolvida Ela data do último terço do século XVI I mas sua implementação em escala nacional só foi tentada um século mais tarde na revolução burguesa dos franceses Na mesma proporção em que a troca de mercadorias dissolve seus laços puramente locais e o valor das mercadorias se expande em materialidadee do trabalho humano em geral a formadinheiro se encarna em mercadorias que por natureza prestamse à função social de um equivalente universal os metais preciosos Ora que o ouro e a prata não sejam por natureza dinheiro embora o dinheiro seja por natureza de ouro e prata42 demonstra uma harmonia entre suas propriedades naturais e suas funções43 Até aqui no entanto conhecemos apenas a função do dinheiro de servir como forma de manifestação do valor das mercadorias ou como o material no qual as grandezas de valor das mercadorias se expressam socialmente A forma adequada de manifestação do valor ou da materialidade do trabalho humano abstrato e portanto igual só pode ser encontrada numa matéria cujos exemplares possuam todos a mesma qualidade uniforme Por outro lado como a diferença das grandezas de valor é puramente quantitativa a mercadoriadinheiro tem de ser capaz de expressar diferenças puramente quantitativas podendo ser dividida e ter suas partes novamente reunidas como se queira O ouro e a prata possuem essas propriedades por natureza O valor de uso da mercadoriadinheiro duplica Ao lado de seu valor de uso particular como mercadoria como o uso do ouro no preenchimento de cavidades dentárias como matériaprima de artigos de luxo etc ela adquire um valor de uso formal que deriva de suas funções sociais específicas Como todas as mercadorias são apenas equivalentes particulares do dinheiro que é seu equivalente universal elas se relacionam com o dinheiro como mercadorias particulares com a mercadoria universal44 Vimos que a formadinheiro é apenas o reflexo concentrado numa única mercadoria das relações de todas as outras mercadorias Que o dinheiro seja mercadoria45 é portanto uma descoberta que só realiza aquele que toma sua forma pronta para a partir dela empreender uma análise mais profunda desse objeto O processo de troca confere à mercadoria que ele transforma em dinheiro não seu valor mas sua forma de valor específica A confusão entre essas duas determinações gerou o 132 equívoco de considerar o valor do ouro e da prata como imaginário46 Do fato de o dinheiro em funções determinadas poder ser substituído por simples signos de si mesmo derivou outro erro segundo o qual ele seria um mero signo Zeichen Por outro lado nisso residia a noção de que a formadinheiro da coisa é externa a ela mesma não sendo mais do que a forma de manifestação de relações humanas que se escondem por trás dela Nesse sentido cada mercadoria seria um signo uma vez que como valor ela é tão somente um invólucro reificado sachliche do trabalho humano nela despendido47 Mas considerar como meros signos os caracteres sociais que num determinado modo de produção aplicamse às coisas ou aos caracteres reificados sachlich que as determinações sociais do trabalho recebem nesse modo de produção significa considerálas ao mesmo tempo produtos arbitrários da reflexão Reflexion dos homens Esse foi o modo iluminista pelo qual no século XVI I I costumouse tratar das formas enigmáticas das relações humanas cujo processo de formação ainda não podia ser decifrado a fim de eliminar delas ao menos provisoriamente sua aparência estranha J á observamos anteriormente que a forma de equivalente de uma mercadoria não inclui a determinação quantitativa de sua grandeza de valor Se sabemos que o ouro é dinheiro e por essa razão é imediatamente permutável não sabemos com isso o valor de por exemplo 10 libras de ouro Como qualquer outra mercadoria o dinheiro só pode expressar seu valor de modo relativo confrontandose com outras mercadorias Seu próprio valor é determinado pelo tempo de trabalho requerido para sua produção e se expressa numa dada quantidade de qualquer outra mercadoria em que esteja incorporado o mesmo tempo de trabalho48 Essa determinação de sua grandeza relativa de valor ocorre na fonte de sua produção na permuta Tauschhandel direta Quando entra em circulação como dinheiro seu valor já está dado Quando já no início da análise do valor nos últimos decênios do século XVI I concluiuse que o dinheiro era mercadoria tal conhecimento dava apenas seus primeiros passos A dificuldade não está em compreender que dinheiro é mercadoria mas em descobrir como por que e por quais meios a mercadoria é dinheiro49 Vimos como já na mais simples expressão de valor x mercadoria A y mercadoria B a coisa em que se representa a grandeza de valor de outra coisa parece possuir sua forma de equivalente independentemente dessa relação como uma qualidade social de sua natureza J á acompanhamos de perto a consolidação dessa falsa aparência Ela se consuma no momento em que a forma de equivalente universal se mescla com a forma natural de um tipo particular de mercadoria ou se cristaliza na formadinheiro Uma mercadoria não parece se tornar dinheiro porque todas as outras mercadorias representam nela seus valores mas ao contrário estas é que parecem expressar nela seus valores pelo fato de ela ser dinheiro O movimento mediador desaparece em seu próprio resultado e não deixa qualquer rastro Sem qualquer intervenção sua as mercadorias encontram sua própria figura de valor já pronta no corpo de uma mercadoria existente fora e ao lado delas Essas coisas o ouro e a prata tal como surgem das entranhas da terra são ao mesmo tempo a encarnação imediata de todo trabalho humano Decorre daí a mágica do dinheiro O comportamento meramente atomístico dos homens em seu processo social de produção e com isso a figura 133 reificada sachliche de suas relações de produção independentes de seu controle e de sua ação individual consciente manifestamse de início no fato de que os produtos de seu trabalho assumem universalmente a forma da mercadoria Portanto o enigma do fetiche do dinheiro não é mais do que o enigma do fetiche da mercadoria que agora se torna visível e ofusca a visão 134 Este manuscrito está desaparecido Tratase da primeira página dO capital escrita à mão retrabalhada por Marx entre dezembro de 1871 e janeiro de 1872 quando preparava a segunda edição do Livro I Há nesses escritos uma espécie de comentário a respeito da teoria de valor que não pode ser encontrado nem na primeira nem na segunda edição do livro É portanto também em si um importante original de Marx 135 Capítulo 3 O dinheiro ou a circulação de mercadorias 1 Medida dos valores Neste escrito para fins de simplificação pressuponho sempre o ouro como a mercadoriadinheiro A primeira função do ouro é de fornecer ao mundo das mercadorias o material de sua expressão de valor ou de representar os valores das mercadorias como grandezas de mesmo denominador qualitativamente iguais e quantitativamente comparáveis Desse modo ele funciona como medida universal dos valores sendo apenas por meio dessa função que o ouro a mercadoriaequivalente específica tornase inicialmente dinheiro As mercadorias não se tornam comensuráveis por meio do dinheiro Ao contrário é pelo fato de todas as mercadorias como valores serem trabalho humano objetivado e assim serem por si mesmas comensuráveis entre si que elas podem medir conjuntamente seus valores na mesma mercadoria específica e desse modo convertê la em sua medida conjunta de valor isto é em dinheiro O dinheiro como medida de valor é a forma necessária de manifestação da medida imanente de valor das mercadorias o tempo de trabalho50 A expressão de valor de uma mercadoria em ouro x mercadoria A y mercadoria dinheiro é sua formadinheiro ou seu preço Uma única equação tal como 1 tonelada de ferro 2 onças de ouro basta agora para expressar o valor do ferro de modo socialmente válido A equação não precisa mais marchar na mesma fileira das equações de valor das outras mercadorias porque a mercadoriaequivalente o ouro já possui o caráter de dinheiro A forma de valor relativa universal das mercadorias volta a ter agora a configuração de sua forma de valor relativa originária isto é sua forma de valor relativa simples ou singular Por outro lado a expressão relativa de valor desdobrada ou a série infinita de expressões relativas do valor tornase a forma de valor especificamente relativa da mercadoriadinheiro Porém agora essa série já está dada socialmente nos preços das mercadorias Basta ler de trás para a frente as cotações numa lista de preços para encontrar a grandeza de valor do dinheiro expressa em todas as mercadorias possíveis J á o dinheiro ao contrário não tem preço Para tomar parte nessa forma de valor relativa unitária das outras mercadorias ele teria de se confrontar consigo mesmo como seu próprio equivalente O preço ou a formadinheiro das mercadorias é como sua forma de valor em geral distinto de sua forma corpórea real e palpável portanto é uma forma apenas ideal ou representada O valor do ferro do linho do trigo etc apesar de invisível existe nessas próprias coisas ele é representado por sua igualdade com o ouro numa relação que só assombra no interior de suas cabeças Por isso a fim de informar seus preços ao mundo exterior o detentor das mercadorias tem ou de passar a língua em suas 136 cabeças ou nelas fixar etiquetas51 Como a expressão dos valores das mercadorias em ouro é ideal nessa operação só pode ser aplicado o ouro representado ou ideal Todo portador de mercadorias sabe que ele não dourou suas mercadorias pelo simples fato de dar a seu valor a forma do preço ou a forma representada do ouro e que ele não necessita da mínima quantidade de ouro real para avaliar em ouro os valores das mercadorias Em sua função de medida de valor o ouro serve portanto apenas como dinheiro representado ou ideal Essa circunstância deu vazão às mais loucas teorias52 Embora apenas o dinheiro representado sirva à função de medida do valor o preço depende inteiramente do material real do dinheiro O valor isto é a quantidade de trabalho humano que por exemplo está contida em 1 tonelada de ferro é expresso numa quantidade representada da mercadoriadinheiro que contém a mesma quantidade de trabalho Por isso a depender do fato de a medida do valor ser o ouro a prata ou o cobre o valor da tonelada de ferro obtém expressões de preço totalmente distintas ou é representado em quantidades totalmente diferentes de ouro prata ou cobre Portanto se duas mercadorias por exemplo o ouro e a prata servem simultaneamente como medidas de valor então todas as mercadorias possuem duas expressões distintas de preço o preçoouro e o preçoprata que coexistem tranquilamente enquanto a relação de valor entre o ouro e a prata permanece inalterada por exemplo 115 Mas qualquer alteração nessa relação de valor perturba a relação entre o preçoouro e o preçoprata das mercadorias e assim prova de fato que a duplicação da medida de valor contradiz sua função53 As mercadorias dotadas de preços apresentamse todas na seguinte forma b mercadoria B x ouro c mercadoria C z ouro d mercadoria D y ouro etc em que b c e d representam determinadas quantidades dos tipos de mercadorias B C e D e x z e y representam determinadas quantidades de ouroa Os valores das mercadorias são assim convertidos em diferentes quantidades representadas de ouro e portanto apesar da variedade confusa dos corpos das mercadorias em grandezas de mesmo denominador grandezas de ouro Na forma de diferentes quantidades de ouro essas grandezas se comparam e se medem umas com as outras e desenvolvese tecnicamente a necessidade de referilas a uma quantidade fixa de ouro como sua unidade de medida Tal unidade de medida é por sua vez desenvolvida em padrão de medida por meio de sua repartição em partes alíquotas Antes de sua transformação em dinheiro o ouro a prata e o cobre já possuem tais padrões de medida em seus pesos metálicos de modo que por exemplo 1 libra serve como unidade de medida e pode por um lado ser dividida em onças etc e por outro ser multiplicada para formar 1 quintal etc54 razão pela qual em toda circulação metálica os nomes dos padrões de peso formam também os nomes do padrão monetário ou padrão de medida dos preços Como medida dos valores e padrão dos preços o ouro desempenha dois papéis completamente distintos Ele é medida de valor por ser a encarnação social do trabalho humano e padrão de preços por ser um peso metálico estipulado Como medida de valor ele serve para transformar as diversas mercadorias em preços em quantidades representadas de ouro como padrão de preços ele mede essas 137 quantidades de ouro Pela medida de valor se medem as mercadorias como valores já pelo padrão de preços ao contrário quantidades de ouro se medem por determinada quantidade de ouro e não o valor de uma quantidade de ouro pelo peso de outra quantidade Para o padrão de preços é preciso que determinado peso de ouro seja fixado como unidade de medida Aqui como em todas as outras determinações de medida de grandezas de mesmo denominador a fixidez das relações de medida é decisiva de maneira que o padrão de preços cumpre tanto melhor sua função quanto mais imutavelmente uma e a mesma quantidade de ouro sirva como unidade de medida O ouro só pode servir como medida de valor porque ele próprio é produto do trabalho e portanto um valor que pode ser alterado55 Ora é claro que uma mudança no valor do ouro não afeta de modo algum sua função como padrão de preços I ndiferentemente da variação que o valor do ouro possa sofrer diferentes quantidades de ouro continuam sempre na mesma relação de valor umas com as outras Se o valor do ouro caísse em 1000 12 onças de ouro continuariam a valer 12 vezes mais do que 1 onça de ouro pois o os preços representam apenas as relação de diferentes quantidades de ouro entre si Por outro lado assim como a queda ou o aumento do valor de 1 onça de ouro não muda em absoluto seu peso ela tampouco altera o peso de suas partes alíquotas de modo que o ouro como padrão fixo dos preços cumpre sempre a mesma função indiferentemente das alterações em seu valor A mudança de valor do ouro tampouco impede sua função como medida de valor Ela atinge todas as mercadorias ao mesmo tempo e caeteris paribus os demais fatores permanecendo constantes mantém inalterados seus valores relativos recíprocos mesmo que estes agora se expressem em preços de ouro maiores ou menores do que antes Tal como na representação do valor de uma mercadoria no valor de uso de uma outra mercadoria qualquer também na valoração das mercadorias em ouro é pressuposto apenas que numa época determinada a produção de uma quantidade determinada de ouro custe uma dada quantidade de trabalho Quanto ao movimento dos preços das mercadorias em geral valem as leis da expressão relativa simples do valor que expusemos anteriormente Mantendose igual o valor do dinheiro os preços das mercadorias só podem aumentar generalizadamente se os valores das mercadorias sobem mantendose iguais os valores das mercadorias eles só podem aumentar se o valor do dinheiro cai I nversamente mantendose igual o valor do dinheiro os preços das mercadorias só podem cair em geral se os valores das mercadorias caem mantendose iguais os valores das mercadorias eles só podem cair se o valor do dinheiro sobe Disso não se segue em absoluto que o valor crescente do dinheiro condicione uma queda proporcional dos preços das mercadorias e que o valor decrescente do dinheiro condicione um aumento proporcional desses preços I sso vale somente para mercadorias de valor inalterado Por exemplo aquelas mercadorias cujo valor aumenta na mesma medida do e simultaneamente com o valor do dinheiro conservam os mesmos preços Se seu valor aumentar mais devagar ou mais rápido do que o valor do dinheiro a queda ou o aumento de seus preços será determinada pela diferença entre 138 o movimento de seu valor e o movimento do dinheiro etc Voltemos agora à análise da forma do preço As denominações monetárias dos pesos metálicos se separam progressivamente de suas denominações originais por razões diversas dentre as quais se podem citar como historicamente decisivas 1 a introdução de dinheiro estrangeiro em povos pouco desenvolvidos como na Roma Antiga onde as moedas de prata e de ouro circulavam inicialmente como mercadorias estrangeiras 2 com o desenvolvimento da riqueza o metal menos nobre perdeu sua função de medida de valor para o metal mais nobre O cobre cedeu à prata a prata ao ouro por mais que essa sequência possa contradizer toda cronologia poéticab 56 A libra por exemplo era a denominação monetária para 1 libra de prata Assim que o ouro tomou o lugar da prata como medida de valor o mesmo nome passou a significar cerca de 115 de 1 libra de ouro a depender da relação de valor entre o ouro e a prata Desde então a libra como denominação monetária e como medida de peso do ouro estão separadas uma da outra57 3 a falsificação do dinheiro realizada por séculos pelos príncipes fez com que as moedas não conservassem de seu peso original mais do que o nome58 Esses processos históricos transformaram em hábito popular a separação entre a denominação monetária dos pesos metálicos e os nomes de suas medidas habituais de peso Como o padrão monetário é por um lado puramente convencional mas por outro necessita de validade universal ele é por fim regulado por lei Uma porção determinada de peso de um metal precioso por exemplo 1 onça de ouro é oficialmente dividida em partes alíquotas que a lei batiza com nomes tais como libra táler etc Essa parte alíquota que então passa a valer como a verdadeira unidade de medida do dinheiro é subdividida em outras partes alíquotas que a lei batiza com outros nomes como xelim penny etc59 Tal como antes determinados pesos metálicos continuam a ser padrão do dinheiro metálico O que mudou foi a divisão das partes alíquotas e os nomes adotados Os preços ou as quantidades de ouro em que os valores das mercadorias foram idealmente convertidos são agora expressos nas denominações monetárias ou nas denominações contábeis legalmente válidas do padrão de medida do ouro Na I nglaterra em vez de se dizer que 1 quarter de trigo é igual a 1 onça de ouro dirseia que ele é igual a 3 17 xelins e 10 12 pence Assim as mercadorias declaram em suas denominações monetárias o quanto elas valem e o dinheiro serve como unidade de conta na medida em que vale para fixar uma coisa como valor e com isso expressála na formadinheiro60 O nome de algo é totalmente exterior à sua natureza Não sei nada de um homem quando sei apenas que ele se chama J acó Do mesmo modo nas denominações monetárias libra táler franco ducado etc desaparece todo sinal da relação de valor A confusão sobre o sentido oculto desses símbolos cabalísticos é tanto maior porque as denominações monetárias expressam o valor das mercadorias e ao mesmo tempo partes alíquotas de um peso metálico do padrão monetário61 Por outro lado é necessário que o valor em contraste com os variados corpos do mundo das mercadorias desenvolvase nessa forma material desprovida de conceito mas também simplesmente social62 139 O preço é a denominação monetária do trabalho objetivado na mercadoria Por isso a equivalência entre a mercadoria e a quantidade de dinheiro cujo nome é seu preço é uma tautologia63 assim como a expressão relativa de valor de uma mercadoria é sempre a expressão da equivalência entre duas mercadorias Mas se o preço como exponente da grandeza de valor da mercadoria é exponente de sua relação de troca com o dinheiro disso não se conclui a relação inversa isto é que o exponente de sua relação de troca com o dinheiro seja necessariamente o exponente de sua grandeza de valor Consideremos que uma mesma grandeza de trabalho socialmente necessário esteja expressa em 1 quarter de trigo e em 2 aproximadamente ½ onça de ouro As 2 são assim a expressão monetária da grandeza de valor do quarter de trigo ou seu preço Ora se as circunstâncias permitirem que essa expressão monetária seja remarcada para 3 ou exija que ela seja reduzida para 1 concluise que 1 ou 3 como expressões da grandeza de valor do trigo são pequenas ou grandes demais porém constituem de qualquer forma os preços do trigo pois em primeiro lugar elas são sua forma de valor dinheiro e em segundo lugar são exponentes de sua relação de troca com o dinheiro Em condições constantes de produção ou de produtividade constante do trabalho é necessário tal como antes que a mesma quantidade de tempo de trabalho social seja despendida para a reprodução do quarter de trigo Essa circunstância independe da vontade tanto do produtor do trigo quanto dos outros possuidores de mercadorias A grandeza de valor da mercadoria expressa portanto uma relação necessária e imanente ao seu processo constitutivo com o tempo de trabalho social Com a transformação da grandeza de valor em preço essa relação necessária aparece como relação de troca entre uma mercadoria e a mercadoriadinheiro existente fora dela Nessa relação porém é igualmente possível que se expresse a grandeza de valor da mercadoria como o mais ou o menos pelo qual ela vendável sob dadas circunstâncias A possibilidade de uma incongruência quantitativa entre preço e grandeza de valor ou o desvio do preço em relação à grandeza de valor reside portanto na própria forma preço I sso não é nenhum defeito dessa forma mas ao contrário aquilo que faz dela a forma adequada a um modo de produção em que a regra só se pode impor como a lei média do desregramento que se aplica cegamente Mas a formapreço permite não apenas a possibilidade de uma incongruência quantitativa entre grandeza de valor e preço isto é entre a grandeza de valor e sua própria expressão monetária mas pode abrigar uma contradição qualitativa de modo que o preço deixe absolutamente de ser expressão de valor embora o dinheiro não seja mais do que a forma de valor das mercadorias Assim coisas que em si mesmas não são mercadorias como a consciência a honra etc podem ser compradas de seus possuidores com dinheiro e mediante seu preço assumir a formamercadoria de modo que uma coisa pode formalmente ter um preço mesmo sem ter valor A expressão do preço se torna aqui imaginária tal como certas grandezas da matemática Por outro lado também a formapreço imaginária como o preço do solo não cultivado que não tem valor porque nele nenhum trabalho humano está objetivado abriga uma relação efetiva de valor ou uma relação dela derivada Do mesmo modo que a forma de valor relativa em geral o preço expressa o valor de 140 uma mercadoria por exemplo 1 tonelada de ferro permitindo que determinada quantidade de equivalente por exemplo 1 onça de ouro seja imediatamente permutável pelo ferro mas de modo nenhum em sentido inverso de modo que o ferro seja imediatamente permutável pelo ouro A fim de exercer praticamente o efeito de um valor de troca a mercadoria tem de se despojar de seu corpo natural transformandose de ouro apenas representado em ouro real mesmo que essa transubstanciação possa serlhe mais amarga do que o é para o conceito hegeliano a transição da necessidade à liberdade ou para uma lagosta a perfuração de sua couraça ou para São J erônimo a supressão do velho Adão64 No preço a mercadoria pode possuir ao lado de sua forma real ferro etc uma figura de valor ideal ou uma formaouro representada porém não pode ser a um só tempo realmente ferro e realmente ouro Para o estabelecimento de seu preço basta equiparála ao ouro representado mas para servir a seu possuidor como equivalente universal ela tem de ser substituída realmente pelo ouro Se por exemplo o possuidor do ferro se encontrasse diante do possuidor de outra mercadoria qualquer e lhe referisse o preço do ferro que se encontra na formadinheiro ele lhe responderia tal como São Pedro respondeu a Dante no Paraíso depois deste último terlhe recitado o credo Assai bene è trascorsa Desta moneta già la lega el peso Ma dimmi se tu lhai nella tua borsac A formapreço inclui a possibilidade da venda das mercadorias por dinheiro e a necessidade dessa venda Por outro lado o ouro funciona como medida ideal de valor apenas porque ele já se estabeleceu como mercadoriadinheiro no processo de troca Sob a medida ideal dos valores escondese à espreita o dinheiro vivo 2 O meio de circulação a A metamorfose das mercadorias Vimos que o processo de troca das mercadorias inclui relações contraditórias e mutuamente excludentes O desenvolvimento da mercadoria não elimina essas contradições porém cria a forma em que elas podem se mover Esse é em geral o método com que se solucionam contradições reais É por exemplo uma contradição o fato de que um corpo seja atraído por outro e ao mesmo tempo afastese dele constantemente A elipse é uma das formas de movimento em que essa contradição tanto se realiza como se resolve Na medida em que o processo de troca transfere mercadorias das mãos em que elas não são valores de uso para as mãos em que elas são valores de uso ele é metabolismo social O produto de um modo útil de trabalho substitui o produto de outro Quando passa a servir de valor de uso a mercadoria transita da esfera da troca de mercadorias para a esfera do consumo Aqui interessanos apenas a primeira dessas esferas Temos assim de considerar o processo inteiro segundo o aspecto formal isto é apenas a mudança de forma ou a metamorfose das mercadorias que medeia o metabolismo social 141 A concepção inteiramente defeituosa dessa mudança de forma se deve desconsiderandose a falta de clareza sobre o próprio conceito de valor à circunstância de que toda mudança de forma de uma mercadoria se consuma na troca entre duas mercadorias uma mercadoria comum e a mercadoriadinheiro Se nos concentramos exclusivamente nesse momento material na troca de mercadoria por ouro ignoramos justamente aquilo que se deve ver a saber o que se passa com a forma I gnoramos assim que o ouro como simples mercadoria não é dinheiro e que em seus preços as outras mercadorias relacionamse com o ouro como com sua própria figura monetária I nicialmente as mercadorias entram no processo de troca sem serem douradas nem açucaradas mas tal como vieram ao mundo Esse processo gera uma duplicação da mercadoria em mercadoria e dinheiro uma antítese externa na qual elas expressam sua antítese imanente entre valor de uso e valor Nessa antítese as mercadorias como valores de uso confrontamse com o dinheiro como valor de troca Por outro lado ambos os polos da antítese são mercadorias portanto unidades de valor de uso e valor Mas essa unidade de diferentes se expressa em cada um dos polos de modo inverso e com isso expressa ao mesmo tempo sua relação recíproca A mercadoria é realmente reell valor de uso seu valor se manifesta apenas idealmente ideell no preço que a reporta ao ouro situado no polo oposto como sua figura de valor real I nversamente o material do ouro vale apenas como materialidade de valor Wertmateriatur dinheiro Ele é por isso realmente valor de troca Seu valor de uso aparece apenas idealmente na série das expressões relativas de valor na qual ele se relaciona com as mercadorias a ele contrapostas como o círculo de suas figuras reais de uso Essas formas antitéticas das mercadorias são as formas efetivas de movimento de seu processo de troca Acompanhemos agora um possuidor qualquer de mercadorias por exemplo nosso velho conhecido tecelão de linho à cena do processo de troca o mercado Sua mercadoria 20 braças de linho tem um preço determinado e seu preço é 2 Ele a troca por 2 e sendo um homem de grande virtude troca novamente as 2 por uma Bíblia familiar de mesmo preço O linho que para ele é apenas mercadoria objeto portador de valor é alienado por ouro sua figura de valor e a partir dessa figura é novamente alienado por outra mercadoria a Bíblia que no entanto deve ser levada à casa do tecelão e lá satisfazer a elevadas necessidades O processo de troca da mercadoria se consuma portanto em duas metamorfoses contrapostas e mutuamente complementares conversão da mercadoria em dinheiro e reconversão do dinheiro em mercadoria65Os momentos da metamorfose das mercadorias são simultaneamente transações dos possuidores de mercadorias venda troca da mercadoria por dinheiro compra troca do dinheiro por mercadoria e a unidade dos dois atos vender para comprar Se agora o tecelão de linho considera o resultado da barganha ele possui uma Bíblia em vez de linho isto é em vez de sua mercadoria original ele possui outra de mesmo valor porém de utilidade diferente Desse mesmo modo ele se apropria de seus outros meios de subsistência e de produção De seu ponto de vista o processo inteiro medeia apenas a troca do produto de seu trabalho pelo produto do trabalho de outros isto é a troca de produtos 142 O processo de troca da mercadoria se consuma portanto na seguinte mudança de forma MercadoriaDinheiroMercadoria MDM Segundo seu conteúdo material o movimento é MM isto é troca de mercadoria por mercadoria ou metabolismo do trabalho social em cujo resultado extinguese o próprio processo MD Primeira metamorfose da mercadoria ou venda O salto que o valor da mercadoria realiza do corpo da mercadoria para o corpo do ouro tal como demonstrei em outro lugard é o salto mortale salto mortal da mercadoria Se esse salto dá errado não é a mercadoria que se esborracha mas seu possuidor A divisão social do trabalho torna seu trabalho tão unilateral quanto multilaterais suas necessidades Exatamente por isso seu produto servelhe apenas de valor de troca Mas ele só obtém a forma de equivalente universal socialmente válida como dinheiro e este encontrase no bolso de outrem Para apoderarse dele é preciso que a mercadoria seja sobretudo valor de uso para o possuidor do dinheiro de modo que o trabalho nela despendido esteja incorporado numa forma socialmente útil ou se confirme como elo da divisão social do trabalho Mas a divisão do trabalho é um organismo naturalespontâneo da produção cujos fios foram e continuam a ser tecidos pelas costas dos produtores de mercadorias Talvez a mercadoria seja o produto de um novo modo de trabalho que se destina à satisfação de uma necessidade recémsurgida ou pretende ela própria engendrar uma nova necessidade O que até ontem era uma função entre muitas de um e mesmo produtor de mercadorias hoje pode gerar uma nova modalidade particular de trabalho que separada desse conjunto autonomizada manda seu produto ao mercado como mercadoria independente As circunstâncias podem estar ou não maduras para esse processo de separação O produto satisfaz hoje uma necessidade social Amanhã é possível que ele seja total ou parcialmente deslocado por outro tipo de produto semelhante Mesmo que o trabalho de nosso tecelão de linho seja um elo permanente da divisão social do trabalho com isso não está de modo algum garantido o valor de uso de suas 20 braças de linho Se a demanda social de linho e tal demanda tem uma medida como as outras coisas for satisfeita por tecelões concorrentes o produto de nosso amigo será excedente supérfluo e portanto inútil De cavalo dado não se olham os dentes mas ele não vai ao mercado para distribuir presentes Suponhamos porém que o valor de uso de seu produto se confirme e assim o dinheiro seja atraído por sua mercadoria Perguntase então quanto dinheiro A resposta já está antecipada no preço da mercadoria no expoente de sua grandeza de valor Desconsideremos eventuais erros de cálculo puramente subjetivos do possuidor de mercadorias erros que no mercado são imediata e objetivamente corrigidos Suponhamos que ele despendeu em seu produto somente a média socialmente necessária de tempo de trabalho Desse modo o preço da mercadoria é apenas a denominação monetária da quantidade de trabalho social nela objetivado No entanto sem a autorização e pelas costas de nosso tecelão as condições de produção 143 da tecelagem de linho já há muito estabelecidas entraram em ebulição O que até ontem era sem dúvida tempo de trabalho socialmente necessário à produção de 1 braça de linho hoje deixa de sêlo tal como o possuidor de dinheiro o demonstra prontamente exibindo ao tecelão as cotações de preços de seus diversos concorrentes Para sua desgraça há muitos tecelões no mundo Suponhamos por fim que cada peça de linho existente no mercado contenha apenas o tempo de trabalho socialmente necessário Apesar disso a soma total dessas peças pode conter tempo de trabalho despendido de modo supérfluo Se o estômago do mercado não consegue absorver a quantidade total de linho pelo preço normal de 2 xelins por braça isso prova que foi despendida uma parte maior de tempo de trabalho socialmente necessário na forma da tecelagem de linho O efeito é o mesmo que se obteria se cada tecelão individual tivesse aplicado em seu produto individual mais do que o tempo de trabalho socialmente necessário Aqui vale o provérbio apanhados juntos enforcados juntos mitgefangen mitgehangen Todo linho no mercado vale como se fosse um artigo único sendo cada peça apenas uma parte alíquota desse todo E de fato também o valor de cada braça individual é apenas a materialidade da mesma quantidade socialmente determinada de trabalho humano de mesmo tipoe Como se pode ver a mercadoria ama o dinheiro mas the course of true love never does run smooth em tempo algum teve um tranquilo curso o verdadeiro amorf Tão naturalmente contingente quanto o qualitativo é o nexo quantitativo do organismo social de produção que apresenta seus membra disjecta membros amputados no sistema da divisão do trabalho Nossos possuidores de mercadorias descobrem assim que a mesma divisão do trabalho que os transforma em produtores privados independentes também torna independente deles o processo social de produção e suas relações nesse processo e que a independência das pessoas umas da outras se consuma num sistema de dependência material sachlich universal A divisão do trabalho converte o produto do trabalho em mercadoria e com isso torna necessária sua metamorfose em dinheiro Ao mesmo tempo ela transforma o sucesso ou insucesso dessa transubstanciação em algo acidental Aqui no entanto o fenômeno deve ser considerado em sua pureza razão pela qual pressupomos o seu curso normal Além disso quando ele enfim se processa portanto quando a mercadoria não é invendável sua mudança de forma ocorre sempre ainda que nessa mudança de forma possa ocorrer um acréscimo ou uma diminuição anormal de substância de grandeza de valor O vendedor tem sua mercadoria substituída pelo ouro e o comprador tem seu ouro substituído por uma mercadoria O fenômeno que aqui se evidencia é a mudança de mãos ou de lugar entre a mercadoria e o ouro entre 20 braças de linho e 2 isto é sua troca Mas pelo que se troca a mercadoria Por sua própria figura geral de valor E pelo que se troca o ouro Por uma figura particular de seu valor de uso Por que o ouro se defronta com o linho como dinheiro Porque seu preço de 2 ou a denominação monetária do linho já o coloca em relação com o ouro como dinheiro A alienação Entäusserung da forma original da mercadoria se consuma mediante a venda Veräusserung da mercadoria isto é no momento em que seu valor de uso atrai efetivamente o ouro que em seu preço era apenas representado Desse modo a 144 realização do preço ou da forma de valor apenas ideal da mercadoria é ao mesmo tempo e inversamente a realização do valor de uso apenas ideal do dinheiro a conversão de mercadoria em dinheiro e simultaneamente de dinheiro em mercadoria Tratase de um processo bilateral do polo do possuidor de mercadorias é venda do polo do possuidor de dinheiro compra Ou em outras palavras venda é compra e M D é igual a DM66 Até o momento não conhecemos nenhuma relação econômica dos homens senão aquela entre possuidores de mercadorias uma relação em que cada um só apropria o produto do trabalho alheio na medida em que aliena entfremden seu próprio produto Por conseguinte um possuidor de mercadorias só pode se defrontar com outro como possuidor de dinheiro porque seu produto possui por natureza a formadinheiro portanto é materialdinheiro Geldmaterial ouro etc ou porque sua própria mercadoria muda de pele despojandose de sua forma de uso original Para funcionar como dinheiro o ouro tem naturalmente de ingressar no mercado em algum ponto Tal ponto se encontra em sua fonte de produção onde ele é trocado como produto imediato de trabalho por outro produto de trabalho do mesmo valor Mas a partir desse momento ele passa a representar preços realizados de mercadorias67 Excetuando o momento da troca de ouro por mercadoria em sua fonte de produção o ouro é nas mãos de cada possuidor de mercadorias a figura alienada entäusserte de sua mercadoria alienada veräusserten o produto da venda ou da primeira metamorfose das mercadorias MD68 O ouro tornouse dinheiro ideal ou medida de valor porque todas as mercadorias passaram a medir seus valores por ele convertendoo assim no oposto representado de sua figura de uso isto é em sua figura de valor Ele se torna dinheiro real porque as mercadorias por meio de sua venda universal allseitige Veräusserung fazem dele sua figura de uso efetivamente alienada ou transformada e desse modo sua efetiva figura de valor Em sua figura de valor a mercadoria se despoja de todo traço de seu valor de uso naturalespontâneo e do trabalho útil particular ao qual ela deve sua origem a fim de se crisalidar na materialidade social e uniforme do trabalho humano indiferenciado Não se percebe no dinheiro de que qualidade é a mercadoria que foi nele transformada Em sua forma dinheiro uma mercadoria tem a mesma aparência que a outra Por isso o dinheiro pode ser lixo embora lixo não seja dinheiro Suponha que as duas moedas de ouro em troca das quais nosso tecelão de linho aliena sua mercadoria sejam a figura transformada de 1 quarter de trigo A venda do linho MD é simultaneamente sua compra DM Como venda do linho esse processo dá início a um movimento que termina com seu oposto com a compra da Bíblia como compra do linho ele conclui um movimento que começou com seu contrário a venda do trigo MD linho dinheiro essa primeira fase de MDM linhodinheiroBíblia é ao mesmo tempo D M dinheirolinho a última fase de um último movimento MDM trigodinheiro linho A primeira metamorfose de uma mercadoria sua conversão da forma mercadoria em dinheiro é sempre ao mesmo tempo uma segunda metamorfose contrária de outra mercadoria sua reconversão de formadinheiro em mercadoria69 DM Segunda e conclusiva metamorfose da mercadoria a compra Sendo o dinheiro a figura alienada de todas as outras mercadorias ou o produto de sua venda 145 universal ele é a mercadoria absolutamente vendável Ele lê todos os preços de trás para a frente e assim espelhase em todos os corpos de mercadorias como no material que se oferece a seu próprio tornarse mercadoria Warenwerdung Ao mesmo tempo os preços os olhos amorosos com que as mercadorias lhe lançam uma piscadela revelam o limite de sua capacidade de transformação a saber sua própria quantidade Como a mercadoria desaparece ao se transformar em dinheiro neste não se percebe como ele chegou às mãos de seu possuidor ou qual mercadoria foi nele transformada Non olet não fedeg seja qual for sua origem Se por um lado ele representa mercadoria vendida por outro representa mercadorias compráveis70 DM a compra é ao mesmo tempo venda MD por isso a última metamorfose de uma mercadoria é também a primeira metamorfose de outra mercadoria Para nosso tecelão de linho a biografia de sua mercadoria se conclui com a Bíblia na qual ele transformou as 2 Mas o vendedor da Bíblia converte em aguardente as 2 gastas pelo tecelão de linho DM a fase final de MDM linhodinheiroBíblia é simultaneamente MD a primeira fase de MDM Bíbliadinheiroaguardente Como o produtor de mercadorias produz apenas um único tipo de produto ele o vende frequentemente em grandes quantidades ao passo que suas múltiplas necessidades o obrigam constantemente a fragmentar em muitas compras o preço realizado ou a soma de dinheiro recebida Uma venda resulta por isso em muitas compras de diversas mercadorias De modo que a metamorfose final de uma mercadoria constitui uma soma das primeiras metamorfoses de outras mercadorias Ora se considerarmos a metamorfose total de uma mercadoria por exemplo do linho veremos primeiramente que ela consiste em dois movimentos antitéticos e mutuamente complementares MD e DM Essas duas mutações antitéticas da mercadoria se realizam em dois processos sociais antitéticos do possuidor de mercadorias e se refletem em dois caracteres econômicos antitéticos desse possuidor Como agente da venda ele se torna vendedor e como agente da compra comprador Mas como em toda mutação da mercadoria suas duas formas a formamercadoria e a formadinheiro só existem ocupando polos antitéticos também o mesmo possuidor de mercadorias como vendedor confrontase com outro comprador e como comprador com outro vendedor Como a mesma mercadoria percorre sucessivamente as duas mutações inversas passando de mercadoria a dinheiro e de dinheiro a mercadoria assim o mesmo possuidor de mercadorias desempenha alternadamente os papéis de vendedor e comprador Estes não são fixos mas antes personagens Charaktere constantemente desempenhados por pessoas Personen alternadas no interior da circulação de mercadorias A metamorfose total de uma mercadoria envolve em sua forma mais simples quatro extremos e três personae dramatis atores Primeiramente o dinheiro se defronta com a mercadoria como sua figura de valor que no além no bolso alheio possui sólida realidade material sachlich Desse modo um possuidor de dinheiro se defronta com o possuidor de mercadorias Assim que a mercadoria se converte em dinheiro este se torna a forma de equivalente evanescente daquela cujo valor de uso ou conteúdo existe no aquém nos corpos das outras mercadorias Como ponto de chegada da primeira mutação da mercadoria o dinheiro é ao mesmo tempo o ponto 146 de partida da segunda mutação Assim o vendedor do primeiro ato tornase comprador no segundo onde um terceiro possuidor de mercadorias confrontase com ele como vendedor71 Os dois movimentos inversos da metamorfose da mercadoria formam um ciclo formamercadoria despojamento da formamercadoria retorno à formamercadoria No entanto a própria mercadoria é aqui determinada de maneira antitética No ponto de partida ela é não valor de uso no ponto de chegada é valor de uso para seu possuidor Assim o dinheiro aparece primeiramente como o sólido valor cristalizado em que se transforma a mercadoria mas o faz apenas para num segundo momento diluirse como simples forma de equivalente dela As duas metamorfoses que formam o ciclo de uma mercadoria formam ao mesmo tempo as metamorfoses parciais inversas de duas outras mercadorias A mesma mercadoria linho inaugura a série de suas próprias metamorfoses e finaliza a metamorfose total de outra mercadoria o trigo No curso de sua primeira mutação a venda ela desempenha esses dois papéis em sua própria pessoa J á como crisálida de ouro forma sob a qual ela própria segue o caminho de toda carne ela completa ao mesmo tempo a primeira metamorfose de uma terceira mercadoria O ciclo percorrido pela série de metamorfoses de uma mercadoria se entrelaça inextricavelmente com os ciclos de outras mercadorias O processo inteiro se apresenta como circulação de mercadorias A circulação de mercadorias distinguese da troca direta de produtos não só formalmente mas também essencialmente Lancemos um olhar retrospectivo sobre o percurso O tecelão de linho trocou incondicionalmente o linho pela Bíblia a mercadoria própria por uma mercadoria alheia Mas esse fenômeno só é verdadeiro para ele O vendedor de Bíblias que prefere o quente ao frioh não pensou em trocar a Bíblia por linho assim como o tecelão de linho não sabe que seu linho foi trocado por trigo etc A mercadoria de B substitui a mercadoria de A mas A e B não trocam mutuamente suas mercadorias É possível de fato que A e B comprem alternadamente um do outro mas tal relação particular não é de modo algum condicionada pelas condições gerais da circulação de mercadorias Vemos por um lado como a troca de mercadorias rompe as barreiras individuais e locais da troca direta de produtos e desenvolve o metabolismo do trabalho humano Por outro desenvolvese um círculo completo de conexões que embora sociais impõemse como naturais gesellschaftlicher Naturzusammenhänge não podendo ser controladas por seus agentes O tecelão só pode vender o linho porque o camponês já vendeu o trigo o esquentadoi só pode vender a Bíblia porque o tecelão já vendeu o linho o destilador só pode vender a aguardente porque o outro já vendeu a água da vida eterna etc Por isso diferentemente da troca direta de produtos o processo de circulação não se extingue com a mudança de lugar ou de mãos dos valores de uso O dinheiro não desaparece pelo fato de no final ficar de fora da série de metamorfoses de uma mercadoria Ele sempre se precipita em algum lugar da circulação deixado desocupado pelas mercadorias Por exemplo na metamorfose completa do linho linhodinheiro Bíblia é o linho que primeiramente sai de circulação entrando o dinheiro em seu lugar e então a Bíblia sai de circulação e o dinheiro toma seu lugar A substituição de 147 uma mercadoria por outra sempre faz com que o dinheiro acabe nas mãos de um terceiro72 A circulação transpira dinheiro por todos os poros Nada pode ser mais tolo do que o dogma de que a circulação de mercadorias provoca um equilíbrio necessário de vendas e compras uma vez que cada venda é uma compra e viceversa Se isso significa que o número das vendas efetivamente realizadas é o mesmo das compras tratase de pura tautologia Mas ele pretende provar que o vendedor leva seu próprio comprador ao mercado Venda e compra são um ato idêntico como relação mútua entre duas pessoas situadas em polos contrários o possuidor de mercadorias e o possuidor de dinheiro Como ações da mesma pessoa eles constituem dois atos frontalmente opostos Desse modo a identidade de compra e venda implica que a mercadoria se torna inútil se uma vez lançada na retorta alquímica da circulação ela não resulta desse processo como dinheiro se não é vendida pelo possuidor de mercadorias e portanto não é comprada pelo possuidor de dinheiro Além disso essa identidade implica que o processo quando bemsucedido constitui um ponto de repouso um período da vida da mercadoria que pode durar mais ou menos Como a primeira metamorfose da mercadoria é simultaneamente venda e compra esse processo parcial é ao mesmo tempo um processo autônomo O comprador tem a mercadoria o vendedor tem o dinheiro isto é uma mercadoria que conserva a forma adequada à circulação independentemente se mais cedo ou mais tarde ela volta a aparecer no mercado Ninguém pode vender sem que outro compre Mas ninguém precisa comprar apenas pelo fato de ele mesmo ter vendido A circulação rompe as barreiras temporais locais e individuais da troca de produtos precisamente porque provoca uma cisão na identidade imediata aqui existente entre o dar em troca o próprio produto do trabalho e o receber em troca o produto do trabalho alheio transformando essa identidade na antítese entre compra e venda Dizer que esses dois processos independentes e antitéticos formam uma unidade interna significa dizer que sua unidade interna se expressa em antíteses externas Se completandose os dois polos um ao outro a autonomização externa do internamente dependente avança até certo ponto a unidade se afirma violentamente por meio de uma crise A antítese imanente à mercadoria entre valor de uso e valor na forma do trabalho privado que ao mesmo tempo tem de se expressar como trabalho imediatamente social do trabalho particular e concreto que ao mesmo tempo é tomado apenas como trabalho geral abstrato da personificação das coisas e coisificação das pessoas essa contradição imanente adquire nas antíteses da metamorfose da mercadoria suas formas desenvolvidas de movimento Por isso tais formas implicam a possibilidade de crises mas não mais que sua possibilidade O desenvolvimento dessa possibilidade em efetividade requer todo um conjunto de relações que ainda não existem no estágio da circulação simples de mercadorias73 Como mediador da circulação de mercadorias o dinheiro exerce a função de meio de circulação b O curso do dinheiro A mudança de forma em que se realiza o metabolismo dos produtos do trabalho MD 148 M exige que o mesmo valor como mercadoria constitua o ponto de partida do processo e retorne ao mesmo ponto como mercadoria Esse movimento das mercadorias é por isso um ciclo Por outro lado a mesma forma exclui o ciclo do dinheiro e seu resultado é o afastamento constante do dinheiro de seu ponto de partida e não seu retorno a este último Enquanto o vendedor retém a figura transformada de sua mercadoria o dinheiro a mercadoria encontrase no estágio da primeira metamorfose ou apenas percorreu a primeira metade de sua circulação Quando o processo de vender para comprar está consumado o dinheiro é novamente removido das mãos de seu possuidor original É verdade que o tecelão de linho depois de ter comprado a Bíblia vende uma nova peça de linho e desse modo o dinheiro retorna a suas mãos Mas ele não retorna por meio da circulação das primeiras 20 braças de linho mediante a qual o dinheiro passou das mãos do tecelão para as do vendedor da Bíblia Ele só retorna por meio da renovação ou repetição para a nova mercadoria do mesmo processo de circulação com o que ele chega ao mesmo resultado do processo anterior Essa forma de movimento imediatamente conferida ao dinheiro pela circulação de mercadorias é pois a de seu distanciamento constante do ponto de partida sua passagem das mãos de um possuidor de mercadorias às de outro ou seu curso currency cours de la monnaie O curso do dinheiro mostra uma repetição constante monótona do mesmo processo A mercadoria está sempre do lado do vendedor o dinheiro sempre do lado do comprador como meio de compra Ele funciona como meio de compra na medida em que realiza o preço da mercadoria Ao realizálo ele transfere a mercadoria das mãos do vendedor para as do comprador enquanto ao mesmo tempo afastase das mãos do comprador para as do vendedor a fim de repetir o mesmo processo com outra mercadoria Que essa forma unilateral do movimento do dinheiro nasce do movimento formal bilateral da mercadoria é algo que permanece oculto A natureza da própria circulação das mercadorias gera a aparência contrária A primeira metamorfose da mercadoria é visível não somente como movimento do dinheiro mas como seu próprio movimento sua segunda metamorfose no entanto só é visível como movimento do dinheiro Na primeira metade de sua circulação a mercadoria troca de lugar com o dinheiro Com isso sua forma de uso sai da circulação e entra no consumo74 e sua figura de valor ou larva monetária Geldlarve ocupa o seu lugar A segunda metade de sua circulação ela percorre não mais em sua própria pele natural mas na pele do ouro Desse modo a continuidade do movimento recai inteiramente do lado do dinheiro e o mesmo movimento que para a mercadoria engloba dois processos antitéticos também engloba como movimento próprio do dinheiro sempre o mesmo processo a sua troca de lugar com uma mercadoria sempre distinta O resultado da circulação de mercadorias a substituição de uma mercadoria por outra não parece ser mediado por sua própria mudança de forma mas pela função do dinheiro como meio de circulação que faz circular mercadorias que por si mesmas são imóveis transferindoas das mãos em que elas são nãovalores de uso para as mãos em que elas são valores de uso e nesse processo movendose sempre em sentido contrário ao seu próprio curso O dinheiro remove constantemente as mercadorias da esfera da circulação assumindo seus lugares e assim distanciandose 149 de seu próprio ponto de partida Por essa razão embora o movimento do dinheiro seja apenas a expressão da circulação de mercadorias é esta última que ao contrário aparece simplesmente como resultado do movimento do dinheiro75 Por outro lado o dinheiro só desempenha a função de meio de circulação por ser o valor autonomizado das mercadorias Razão pela qual seu movimento como meio de circulação é na verdade apenas o movimento próprio da forma delas Por isso tal movimento tem também de se refletir sensivelmente no curso do dinheiro Por exemplo o linho transforma primeiramente sua formamercadoria em sua forma dinheiro O último extremo de sua primeira metamorfose MD a formadinheiro tornase então o primeiro extremo de sua última metamorfose DM sua reconversão na Bíblia Mas cada uma dessas duas mudanças de forma operase por meio de uma troca entre mercadoria e dinheiro por sua troca mútua de lugar As mesmas peças monetárias chegam às mãos do vendedor como figura alienada entäusserte da mercadoria e deixam suas mãos como figura absolutamente alienável veräusserliche da mercadoria Elas trocam duas vezes de lugar A primeira metamorfose do linho traz essas peças monetárias para o bolso do tecelão a segunda retiraas de seu bolso As duas mudanças antitéticas de forma da mesma mercadoria se refletem assim na dupla troca de lugar do dinheiro que ocorre em sentidos contrários Se ao contrário há apenas metamorfoses unilaterais das mercadorias seja a simples venda ou a simples compra o mesmo dinheiro também só troca de lugar uma única vez Sua segunda troca de lugar expressa sempre a segunda metamorfose da mercadoria sua reconversão em dinheiro A frequente repetição da troca de lugar das mesmas peças monetárias reflete não apenas a série de metamorfoses de uma única mercadoria mas também o entrelaçamento das inúmeras metamorfoses que ocorrem no mundo das mercadorias em geral De resto é absolutamente evidente que tudo isso vale apenas para a forma da circulação simples de mercadorias que aqui examinamos Toda mercadoria em seu primeiro passo na circulação ao sofrer sua primeira mudança de forma sai de circulação e dá lugar a uma nova mercadoria Ao contrário o dinheiro como meio de circulação habita continuamente a esfera da circulação e transita sempre no seu interior Surge então a questão de quanto dinheiro essa esfera constantemente absorve Num país ocorrem todos os dias ao mesmo tempo e de modo contíguo numerosas metamorfoses unilaterais de mercadorias ou em outras palavras simples vendas de um lado simples compras de outro Em seus preços as mercadorias são previamente igualadas a determinadas quantidades representadas de dinheiro E como a forma imediata de circulação aqui considerada contrapõe sempre a mercadoria ao dinheiro de modo palpável a primeira no polo da venda o segundo no polo da compra concluímos que a massa de meios de circulação requerida para o processo de circulação do mundo das mercadorias é determinada de antemão pela soma dos preços das mercadorias Na verdade o dinheiro não faz mais do que representar realmente a quantidade de ouro que já está expressa idealmente na soma dos preços das mercadorias Por isso é evidente a igualdade dessas duas somas Sabemos no entanto que mantendose constantes os valores das mercadorias seus preços variam de acordo com o valor do ouro do material do dinheiro aumentando na proporção 150 em que ele diminui e diminuindo na proporção em que ele aumenta Assim conforme a soma dos preços das mercadorias aumente ou diminua também a quantidade de dinheiro em circulação tem de aumentar ou diminuir na mesma medida De fato a variação na quantidade do meio de circulação surge aqui do próprio dinheiro mas não de sua função como meio de circulação e sim de sua função como medida de valor Primeiramente o preço das mercadorias varia em proporção inversa ao valor do dinheiro em segundo lugar a quantidade de meio de circulação varia em proporção direta ao preço das mercadorias O mesmo fenômeno ocorreria se por exemplo em vez da queda do valor do ouro tivéssemos a sua substituição pela prata como medida de valor ou se em vez de a prata aumentar seu valor o ouro lhe tomasse sua função de medida de valor No primeiro caso seria preciso haver mais prata em circulação do que havia ouro anteriormente no segundo mais ouro do que prata Em ambos os casos terseia alterado o valor do material do dinheiro isto é o valor da mercadoria que funciona como medida dos valores e por conseguinte o valor da expressão de preço dos valores das mercadorias assim como a quantidade de dinheiro que circula e serve à realização desses preços Vimos que a esfera da circulação das mercadorias tem uma abertura através da qual o ouro ou a prata em suma o material do dinheiro nela adentra como mercadoria de um dado valor Esse valor é pressuposto na função do dinheiro como medida de valor e portanto com a determinação do preço Se por exemplo diminui o valor da própria medida de valor isso se manifesta primeiramente na variação de preço daquelas mercadorias que na fonte de produção dos metais preciosos são trocadas imediatamente por eles como mercadorias Especialmente em condições menos desenvolvidas da sociedade burguesa ocorre que uma grande parte de todas as outras mercadorias continua por mais tempo a ser estimada de acordo com o valor da antiga medida de valor tornado obsoleto e ilusório Ocorre que uma mercadoria contagia a outra por meio da relação de valor entre elas de modo que seus preços expressos em ouro ou em prata são gradualmente equalizados nas proporções determinadas por seus próprios valores até que por fim os valores de todas as mercadorias são estimados de acordo com o novo valor do metal monetário Esse processo de equalização é acompanhado pelo aumento contínuo dos metais preciosos que afluem em substituição às mercadorias que por eles são diretamente trocadas Assim na mesma medida em que se universaliza o processo de conferir às mercadorias seus preços corretos ou em que seus valores são estimados de acordo com o valor até certo ponto decrescente do metal já está dada de antemão a quantidade de metal necessária para a realização desses novos preços No século XVI I e principalmente no século XVI I I uma observação unilateral dos fatos que se seguiram à descoberta das novas fontes de ouro e prata levou à conclusão equivocada de que os preços das mercadorias haviam aumentado pelo fato de que uma quantidade maior de ouro e prata havia passado a funcionar como meio de circulação Daqui em diante pressuporemos o valor do ouro tal como ele está efetivamente dado no momento da determinação do preço de uma mercadoria Sob esse pressuposto pois a quantidade do meio de circulação é determinada pela soma dos preços das mercadorias a serem realizados Além disso se pressupomos como dado o preço de todo tipo de mercadoria a soma dos preços das mercadorias 151 depende nitidamente da quantidade de mercadorias que se encontra em circulação Não é preciso quebrar muito a cabeça para compreender que se 1 quarter de trigo custa 2 então 100 quarters custam 200 200 quarters 400 etc de modo que com a quantidade do trigo cresce também a quantidade de dinheiro que troca de lugar com ele em sua venda Uma vez pressuposta como dada a quantidade de mercadorias a quantidade do dinheiro em circulação varia de acordo com as flutuações nos preços das mercadorias Ela aumenta ou diminui na proporção em que a soma dos preços das mercadorias sobem ou caem em consequência da variação desses preços Mas não é de modo nenhum necessário que os preços de todas as mercadorias subam ou caiam ao mesmo tempo O aumento dos preços de um dado número de artigos mais importantes num caso ou sua diminuição num outro é o bastante para elevar ou diminuir a soma dos preços de todas as mercadorias e portanto para pôr mais ou menos dinheiro em circulação Se a variação nos preços das mercadorias reflete uma variação efetiva de valor ou meras flutuações nos preços de mercado o efeito sobre a quantidade do meio de circulação permanece o mesmo Suponha um número de vendas ou de metamorfoses parciais que ocorrem de modo conjunto simultâneo e desse modo espacialmente contíguo como as vendas de 1 quarter de trigo 20 braças de linho 1 Bíblia e 4 galõesj de aguardente Se o preço de cada artigo é 2 e portanto a soma dos preços a serem realizados é 8 então é preciso que uma quantidade de dinheiro de 8 entre em circulação Se ao contrário as mesmas mercadorias constituem elos da série de metamorfoses que já nos é conhecida 1 quarter de trigo 2 20 braças de linho 2 1 Bíblia 2 4 galões de aguardente 2 então 2 faz com que as diferentes mercadorias circulem uma atrás da outra realizando seus preços sucessivamente e com isso também a soma de seus preços 8 até que por fim encontrem seu repouso nas mãos do destilador As 2 percorrem assim 4 cursos Essa mudança repetida de posição das mesmas peças monetárias representa a dupla mudança de forma da mercadoria seu movimento através de dois estágios antitéticos da circulação e o entrelaçamento das metamorfoses de diferentes mercadorias76 As fases antitéticas e reciprocamente complementares que esse processo percorre não podem se justapor no espaço mas apenas se suceder no tempo Os intervalos de tempo formam assim a medida de sua duração ou seja o número de cursos que as mesmas peças monetárias percorrem num dado tempo mede a velocidade da circulação do dinheiro Suponha que o processo de circulação daquelas quatro mercadorias dure um dia Assim a soma dos preços a serem realizados no dia é 8 o número dos cursos das mesmas peças monetárias durante o dia é 4 e a quantidade do dinheiro em circulação é 2 ou para um dado intervalo de tempo do processo de circulação soma dos preços das mercadoriasnúmeros de cursos das mesmas peças monetárias quantidade do dinheiro que funciona como meio de circulação O processo de circulação de um país num dado intervalo de tempo compreende sem dúvida muitas vendas ou compras ou metamorfoses parciais dispersas simultâneas e espacialmente contíguas nas quais as mesmas peças monetárias trocam de lugar apenas uma vez ou completam apenas um curso mas também compreende por outro lado muitas séries de metamorfoses mais ou menos encadeadas em parte adjacentes 152 em parte entrelaçadas nas quais as mesmas peças monetárias perfazem um número maior ou menor de cursos Porém o número total dos cursos de todas as peças monetárias que se encontram em circulação expressa o número médio dos cursos da peça monetária individual ou a velocidade média do curso do dinheiro A quantidade de dinheiro lançada por exemplo no começo do processo diário de circulação é naturalmente determinada pela soma dos preços das mercadorias que circulam de modo simultâneo e contíguo Mas no interior do processo uma peça monetária se torna por assim dizer responsável pela outra Se uma acelera sua velocidade de circulação ela retarda a velocidade da outra ou sai inteiramente da esfera da circulação pois esta pode absorver apenas uma dada quantidade de ouro que multiplicada pelo número de cursos de cada um de seus elementos singulares é igual à soma dos preços a serem realizados Assim aumentando o número de cursos das peças monetárias diminui sua quantidade em circulação Diminuindo o número de seus cursos sua quantidade aumenta Porque a quantidade de dinheiro que pode funcionar como meio de circulação é determinada por certa velocidade média de curso da moeda basta pôr em circulação uma determinada quantidade de notas de 1 para tirar de circulação a mesma quantia de sovereignsk um truque bem conhecido de todos os bancos Assim como no curso do dinheiro em geral aparece apenas o processo de circulação das mercadorias isto é sua passagem por uma série de metamorfoses contrárias também na velocidade do curso do dinheiro aparece apenas a velocidade de sua mudança de forma o entrelaçamento contínuo das séries de metamorfoses a pressa do metabolismo a rápida desaparição das mercadorias da esfera da circulação e sua igualmente rápida substituição por novas mercadorias Na velocidade do curso do dinheiro se manifesta portanto a unidade fluida das fases contrárias e mutuamente complementares a conversão da figura de uso em figura de valor e a reconversão da figura de valor em figura de uso ou os dois processos da venda e da compra I nversamente na desaceleração do curso do dinheiro manifestase a dissociação e a autonomização antitética desses processos a estagnação da mudança de forma e com isso do metabolismo De onde provém essa estagnação é algo que naturalmente a própria circulação não nos informa Ela se limita a mostrar o fenômeno razão pela qual o senso comum que com a desaceleração do curso do dinheiro vê o dinheiro aparecer e desaparecer com menos frequência em todos os pontos periféricos da circulação atribui o fenômeno à quantidade insuficiente do meio de circulação77 A quantidade total do dinheiro que funciona como meio de circulação em cada período é portanto determinada por um lado pela soma dos preços do mundo de mercadorias em circulação e por outro pelo fluxo mais lento ou mais rápido de seus processos antitéticos de circulação Da velocidade desse fluxo depende a proporção em que aquela soma de preços pode ser realizada por cada peça monetária singular Mas a soma dos preços das mercadorias depende tanto da quantidade quanto dos preços de cada tipo de mercadoria Além disso os três fatores o movimento dos preços a quantidade de mercadorias em circulação e por fim a velocidade do curso do dinheiro podem variar em diferentes sentidos e diferentes proporções de modo que a soma dos preços a realizar e a quantidade dos meios de circulação por ela condicionada podem 153 se apresentar em inúmeras combinações Enumeramos a seguir apenas as combinações mais importantes na história dos preços das mercadorias Quando os preços das mercadorias permanecem constantes a quantidade do meio de circulação pode aumentar em consequência do aumento da quantidade de mercadorias em circulação da diminuição da velocidade do curso do dinheiro ou da combinação de ambos A quantidade do meio de circulação pode ao contrário diminuir em razão da quantidade decrescente de mercadorias ou da velocidade crescente da circulação Com um aumento geral nos preços das mercadorias a quantidade do meio de circulação pode permanecer constante desde que a quantidade das mercadorias em circulação diminua na mesma proporção em que aumentam seus preços ou que a velocidade do curso do dinheiro aumente tanto quanto aumentam seus preços mantendose constante a quantidade das mercadorias em circulação A quantidade do meio de circulação pode diminuir seja porque a quantidade de mercadorias tornase menor seja porque a velocidade do curso tornase maior do que os preços Ocorrendo uma baixa geral dos preços das mercadorias a quantidade de meios de circulação pode permanecer igual se a massa de mercadorias crescer na mesma proporção em que o seu preço baixa ou se a velocidade do curso do dinheiro diminuir na mesma proporção que os preços Ela pode crescer no caso de a quantidade de mercadorias crescer mais rapidamente ou se a velocidade de circulação diminuir mais rapidamente do que a queda dos preços das mercadorias As variações dos diferentes fatores podem se compensar mutuamente de modo que não obstante sua contínua instabilidade a quantidade total dos preços das mercadorias a serem realizados permaneça constante e com ela também o volume de dinheiro em circulação É por isso que especialmente na observação de períodos mais longos encontramos um nível médio mais constante do volume de dinheiro em circulação em cada país e muito menos desvios desse nível médio do que poderíamos esperar à primeira vista com exceção de fortes perturbações que surgem periodicamente das crises da produção e do comércio ou mais raramente de uma flutuação no valor do dinheiro A lei segundo a qual a quantidade do meio de circulação é determinada pela soma dos preços das mercadorias em circulação e pela velocidade média do curso do dinheiro78 também pode ser expressa dizendose que considerandose uma dada soma de valor das mercadorias e uma dada velocidade média de suas metamorfoses o volume de dinheiro ou do material do dinheiro em movimento depende de seu próprio valor Ao contrário a ilusão de que os preços das mercadorias são determinados pela quantidade do meio de circulação e de que esta última é por sua vez determinada pela quantidade de material de dinheiro que se encontra num país79 tem suas raízes em seus primeiros representantes na hipótese absurda de que ao entrarem em circulação as mercadorias não possuem preços e o dinheiro não possui valor de modo que uma parte alíquota do mingau das mercadorias é trocada por uma parte alíquota da montanha de metais80 c A moeda O signo do valor 154 Da função do dinheiro como meio de circulação deriva sua figura como moeda A fração de peso do ouro representada no preço ou na denominação monetária das mercadorias tem de se defrontar com estas na circulação como peças ou moedas de ouro de mesmo nome Assim como a determinação do padrão dos preços também a cunhagem de moedas é tarefa que cabe ao Estado Nos diferentes uniformes nacionais que o ouro e a prata vestem mas dos quais voltam a se despojar no mercado mundial manifestase a separação entre as esferas internas ou nacionais da circulação das mercadorias e a esfera universal do mercado mundial As moedas de ouro e o ouro em barras diferenciamse assim apenas por sua fisionomia e o ouro pode ser constantemente transformado de uma forma em outra81 O caminho pelo qual a moeda deixa a cunhagem é o mesmo que a leva ao forno de fundição Pois na circulação as moedas de ouro se desgastam umas mais outras menos Título de ouro e substância de ouro conteúdo nominal e conteúdo real iniciam seu processo de separação Moedas de ouro de mesma denominação passam a ter valores diferentes pois diferem em seu peso O ouro como meio de circulação diverge do ouro como padrão dos preços e com isso deixa também de ser o equivalente efetivo das mercadorias cujos preços ele realiza A história dessas confusões forma a história monetária da I dade Média e da época moderna até o século XVI I I A tendência naturalespontânea do processo de circulação de transformar o ser ouro Goldsein da moeda em aparência de ouro ou de converter a moeda num símbolo de seu conteúdo metálico oficial é reconhecida pelas leis mais modernas que fixam o grau de perda do metal suficiente para invalidar ou desmonetizar uma moeda de ouro Se o próprio curso do dinheiro separa o conteúdo real da moeda de seu conteúdo nominal sua existência metálica de sua existência funcional ele traz consigo de modo latente a possibilidade de substituir o dinheiro metálico por moedas de outro material ou por símbolos As dificuldades de cunhagem de moedas muito pequenas de ouro ou de prata e a circunstância de que metais inferiores foram originalmente usados como medida de valor no lugar dos metais de maior valor prata em vez de ouro cobre em vez de prata e desse modo circularam até serem destronados pelos metais mais preciosos esclarecem historicamente o papel das moedas de prata e cobre como substitutas das moedas de ouro Tais metais substituem o ouro naquelas esferas da circulação das mercadorias em que a moeda circula com mais rapidez e por isso inutilizase de modo mais rápido isto é onde as compras e as vendas se dão continuamente numa escala muito pequena Para impedir que esses metais satélites tomem definitivamente o lugar do ouro determinamse por lei as proporções muito ínfimas em que eles podem ser usados no lugar desse metal Naturalmente as esferas particulares em que circulam os diferentes tipos de moedas penetramse reciprocamente A moeda divisionária é introduzida paralelamente ao ouro para o pagamento de frações da moeda de ouro de menor valor o ouro entra constantemente na circulação varejista porém é igualmente dela retirado mediante sua troca por moedas divisionárias82 O peso metálico das senhas Marken de prata ou de cobre é determinado arbitrariamente pela lei Em seu curso elas se desgastam ainda mais rapidamente do que as moedas de ouro De modo que sua função como moeda se torna na prática 155 totalmente independente de seu peso isto é de todo valor Assim a existência do ouro como moeda se separa radicalmente de sua substância de valor Coisas relativamente sem valor como notas de papel podem portanto funcionar como moeda em seu lugar Nas senhas metálicas o caráter puramente simbólico ainda se encontra de certo modo escondido No papelmoeda ele se mostra com toda evidência Como se vê ce nest que le premier pas que coûte difícil é apenas o primeiro passo Tratase aqui apenas de papelmoeda emitido pelo Estado e de circulação compulsória Ele surge imediatamente da circulação metálica O dinheiro creditício Kreditgeld implica por outro lado condições que nos são totalmente desconhecidas do ponto de vista da circulação simples de mercadorias Cabe apenas observar de passagem que assim como o papelmoeda surge da função do dinheiro como meio de circulação também o dinheiro creditício possui suas raízes naturaisespontâneas na função do dinheiro como meio de pagamento83 Cédulas de dinheiro nas quais se imprimem denominações monetárias como 1 5 etc são lançadas no processo de circulação a partir de fora pelo Estado Enquanto circulam realmente em lugar da quantidade de ouro de mesma denominação elas não fazem mais do que refletir em seu movimento as leis do próprio curso do dinheiro Uma lei específica da circulação das cédulas de dinheiro só pode surgir de sua relação de representação com o ouro E tal lei é simplesmente aquela que diz que a emissão de papelmoeda deve ser limitada à quantidade de ouro ou prata simbolicamente representada pelas cédulas que teria efetivamente de circular É verdade que a quantidade de ouro que a esfera da circulação é capaz de absorver oscila constantemente acima ou abaixo de certo nível médio Mas o volume do meio de circulação num dado país jamais diminui abaixo de um certo mínimo facilmente fixado pela experiência Que essa quantidade mínima mude constantemente seus componentes isto é que ela seja sempre substituída por outras peças de ouro não altera em nada sua grandeza e seu movimento constante na esfera da circulação Desse modo ela pode ser substituída por símbolos de papel Se hoje todos os canais da circulação fossem preenchidos com papelmoeda até o máximo de sua capacidade de absorção amanhã eles poderiam ter esse limite excedido em virtude das oscilações da circulação das mercadorias Perderseia então toda medida Mas se o papelmoeda ultrapassasse a sua medida isto é a quantidade de moedas de ouro da mesma denominação que poderia estar em circulação ele representaria abstraindo do perigo de descrédito geral apenas a quantidade de ouro determinada pelas leis da circulação das mercadorias portanto apenas a quantidade de ouro que pode ser representada pelo papelmoeda Se a quantidade total de cédulas de papel passasse a representar por exemplo 2 onças de ouro em vez de 1 onça então 1 se tornaria por exemplo a denominação monetária de 18 de onça de em vez de 14 O efeito seria o mesmo que se obteria caso o ouro sofresse uma alteração em sua função como medida dos preços Os mesmos valores que antes se expressavam no preço de 1 seriam agora expressos no preço de 2 O papelmoeda é signo do ouro ou signo de dinheiro Sua relação com os valores das mercadorias consiste apenas em que estes estão idealmente expressos nas mesmas quantidades de ouro simbólica e sensivelmente representadas pelo papel O dinheiro 156 de papel só é signo de valor na medida em que representa quantidades de ouro que como todas as outras mercadorias são também quantidades de valor84 Perguntase por fim como pode o ouro ser substituído por simples signos de si mesmo destituídos de valor Porém como vimos ele só é substituível na medida em que é isolado ou autonomizado em sua função como moeda ou meio de circulação Ora a autonomização dessa função não ocorre com todas as moedas de ouro singulares embora ela se manifeste nas moedas desgastadas que continuam a circular Cada peça de ouro é simples moeda ou meio de circulação apenas na medida em que circula efetivamente Todavia o que não vale para as moedas de ouro singulares vale para a quantidade mínima de ouro que é substituível por papelmoeda Ela permanece constantemente na esfera da circulação funciona continuamente como meio de circulação e assim existe exclusivamente como portadora dessa função Seu movimento expressa portanto a alternância contínua dos processos antitéticos da metamorfose das mercadorias MDM na qual a mercadoria se confronta com sua figura de valor apenas para voltar a desaparecer imediatamente A existência autônoma do valor de troca da mercadoria é aqui apenas um momento fugaz Logo em seguida ela é substituída por outra mercadoria De modo que a mera existência simbólica do dinheiro é o suficiente nesse processo que o faz passar de uma mão a outra Sua existência funcional absorve por assim dizer sua existência material Como reflexo objetivo e transiente dos preços das mercadorias ele funciona apenas como signo de si mesmo podendo por isso ser substituído por outros signos85 Mas o signo do dinheiro necessita de sua própria validade objetivamente social e esta é conferida ao símbolo de papel por meio de sua circulação forçada Essa obrigação estatal vale apenas no interior dos limites de uma comunidade ou na esfera da circulação interna mas é somente aqui que o dinheiro corresponde plenamente à sua função de meio de circulação ou de moeda e pode assim assumir no papelmoeda um modo de existência meramente funcional apartado de sua substância metálica 3 Dinheiro A mercadoria que funciona como medida de valor e desse modo também como meio de circulação seja em seu próprio corpo ou por meio de um representante é dinheiro O ouro ou a prata é portanto dinheiro Ele funciona como dinheiro por um lado quando tem de aparecer em sua própria corporeidade dourada ou prateada isto é como mercadoriadinheiro nem de modo meramente ideal como em sua função de medida de valor nem como capaz de ser representado como em sua função de meio de circulação por outro lado quando em virtude de sua função seja ela realizada em sua própria pessoa ou por um representante ele se fixa exclusivamente na figura de valor a única forma adequada de existência do valor de troca em oposição a todas as outras mercadorias como meros valores de uso a Entesouramento O contínuo movimento cíclico das duas metamorfoses contrapostas da mercadoria ou a alternância constante entre a venda e a compra se manifesta no ininterrupto curso do 157 dinheiro ou em sua função como perpetuum mobile móvel perpétuo da circulação Mas assim que se interrompem as séries de metamorfoses e a venda deixa de ser suplementada pela compra subsequente ele é imobilizado ou como diz Boisguillebert transformase de meuble em immeuble móvel em imóvel de moeda em dinheiro Com o primeiro desenvolvimento da circulação das mercadorias desenvolvese também a necessidade e a paixão de reter o produto da primeira metamorfose a figura transformada da mercadoria ou sua crisálida de ouro86 A mercadoria é vendida não para comprar mercadoria mas para substituir a formamercadoria pela forma dinheiro De simples meio do metabolismo essa mudança de forma convertese em fim de si mesma A figura alienada entäusserte da mercadoria é impedida de funcionar como sua figura absolutamente alienável veräusserliche ou como sua formadinheiro apenas evanescente Com isso o dinheiro se petrifica em tesouro e o vendedor de mercadorias se torna um entesourador Nos estágios iniciais da circulação das mercadorias apenas o excedente de valores de uso é transformado em dinheiro O ouro e a prata se tornam por si mesmos expressões sociais da superfluidade ou da riqueza Essa forma ingênua de entesouramento se eterniza em povos em que o modo de produção tradicional e orientado à autossubsistência corresponde a um círculo rigidamente fechado de necessidades É o caso dos asiáticos sobretudo dos indianos Vanderlint que fantasia que os preços das mercadorias sejam determinados pela massa do ouro e da prata existente num país perguntase por que as mercadorias indianas são tão baratas A resposta é porque os indianos enterram seu dinheiro Ele observa que de 1602 a 1734 eles enterraram 150 milhões em prata vindas originariamente da América para a Europa87 De 1856 a 1866 portanto em dez anos a I nglaterra exportou para a Índia e a China grande parte do metal exportado para a China flui de volta para a Índia 120 milhões em prata que anteriormente fora trocada por ouro australiano À medida que a produção de mercadorias se desenvolve todo produtor de mercadorias tem de assegurarse do nervus rerum do penhor social88 Suas necessidades se renovam incessantemente e requerem a compra incessante de mercadorias alheias ao passo que a produção e a venda de suas próprias mercadorias demandam tempo e dependem das circunstâncias Para comprar sem vender ele tem antes de ter vendido sem comprar Essa operação realizada em escala universal parece contradizer a si mesma Porém em suas fontes de produção os metais preciosos são trocados diretamente por outras mercadorias Aqui ocorre a venda do lado do possuidor de mercadorias sem a compra do lado do possuidor de ouro e prata89 E vendas subsequentes sem serem seguidas por compras têm como efeito apenas a distribuição ulterior dos metais preciosos entre todos os possuidores de mercadorias Desse modo em todos os pontos do intercâmbio surgem tesouros de ouro e prata dos mais variados tamanhos Com a possibilidade de reter a mercadoria como valor de troca ou o valor de troca como mercadoria surge a cobiça pelo ouro Com a expansão da circulação das mercadorias cresce o poder do dinheiro a forma absolutamente social da riqueza sempre pronta para o uso O ouro é uma coisa maravilhosa Quem o possui é senhor de tudo o que deseja 158 Com o ouro podese até mesmo conduzir as almas ao paraíso Colombo em sua carta da Jamaica 1503 Como no dinheiro não se pode perceber o que foi nele transformado tudo seja mercadoria ou não transformase em dinheiro Tudo se torna vendável e comprável A circulação se torna a grande retorta social na qual tudo é lançado para dela sair como cristal de dinheiro A essa alquimia não escapam nem mesmo os ossos dos santos e menos ainda as mais delicadas res sacrosanctae extra commercium hominum coisas sagradas que não são objeto do comércio dos homens90 Como no dinheiro está apagada toda diferença qualitativa entre as mercadorias também ele por sua vez apaga como leveller radical todas as diferenças91 Mas o dinheiro é ele próprio uma mercadoria uma coisa externa que pode se tornar a propriedade privada de qualquer um Assim a potência social tornase potência privada da pessoa privada A sociedade antiga o denuncia por isso como a moeda da discórdia de sua ordem econômica e moral92 A sociedade moderna que já na sua infância arrancou Pluto das entranhas da terra pelos cabelos93 saúda no Graal de ouro a encarnação resplandecente de seu princípio vital mais próprio A mercadoria como valor de uso satisfaz a uma necessidade particular e constitui um elemento particular da riqueza material Todavia o valor da mercadoria mede o grau de sua força de atração sobre todos os elementos da riqueza material e portanto a riqueza social de seu possuidor Para um possuidor de mercadorias barbaramente simples e mesmo para um camponês da Europa Ocidental o valor é inseparável da forma de valor e por isso o aumento do tesouro de ouro e prata é para ele aumento de valor No entanto o valor do dinheiro aumenta seja em consequência de sua própria variação de valor seja em consequência da variação do valor das mercadorias Mas isso não impede por um lado que 200 onças de ouro continuem a conter mais valor que 100 300 mais que 200 etc ou que por outro lado a forma metálica natural dessa coisa continue a ser a forma de equivalente geral de todas as mercadorias a encarnação diretamente social de todo trabalho humano O impulso para o entesouramento é desmedido por natureza Seja qualitativamente seja segundo sua forma o dinheiro é desprovido de limites quer dizer ele é o representante universal da riqueza material pois pode ser imediatamente convertido em qualquer mercadoria Ao mesmo tempo porém toda quantia efetiva de dinheiro é quantitativamente limitada sendo por isso apenas um meio de compra de eficácia limitada Tal contradição entre a limitação quantitativa e a ilimitação qualitativa do dinheiro empurra constantemente o entesourador de volta ao trabalho de Sísifo da acumulação Com ele ocorre o mesmo que com o conquistador do mundo que com cada novo país conquista apenas mais uma fronteira a ser transposta Para reter o ouro como dinheiro e desse modo como elemento do entesouramento ele tem de ser impedido de circular ou de se dissolver como meio de compra em meio de fruição Ao fetiche do ouro o entesourador sacrifica assim seu prazer carnal Ele segue à risca o evangelho da renúncia Por outro lado ele só pode retirar da circulação na forma de dinheiro aquilo que ele nela colocou na forma de mercadorias Quanto mais ele produz tanto mais ele pode vender Trabalho árduo parcimônia e avareza constituem assim suas virtudes cardeais e vender muito e 159 comprar pouco são a suma de sua economia política94 A forma imediata do tesouro é acompanhada de sua forma estética a posse de mercadorias de ouro e prata Tal posse aumenta com a riqueza da sociedade civil Soyons riches ou paraissons riches Sejamos ou pareçamos ricosl Assim se forma por um lado um mercado cada vez mais ampliado para o ouro e a prata independentemente de suas funções como dinheiro e por outro uma fonte latente de oferta de dinheiro que flui principalmente em períodos de convulsão social O entesouramento cumpre diferentes funções na economia da circulação metálica A função mais imediata deriva das condições de circulação das moedas de ouro e de prata Vimos que a quantidade de dinheiro em circulação sofre altas e baixas em razão das oscilações constantes que a circulação das mercadorias apresenta quanto à sua extensão seus preços e sua velocidade Portanto ela tem de ser capaz de contração e expansão Ora o dinheiro tem de ser atraído como moeda ora é preciso repelilo Para que a quantidade de dinheiro efetivamente corrente possa saturar constantemente o poder de absorção da esfera da circulação é necessário que a quantidade de ouro ou prata num país seja maior que a quantidade absorvida pela função monetária Essa condição é satisfeita pela forma que o dinheiro assume como tesouro As reservas servem ao mesmo tempo como canais de afluxo e refluxo do dinheiro em circulação o qual assim regulado jamais extravasa seus canais de circulação95 b Meio de pagamento Na forma imediata da circulação de mercadorias que consideramos até o momento a mesma grandeza de valor esteve presente sempre de um modo duplo como mercadorias num polo e como dinheiro no outro Os possuidores de mercadorias portanto só entravam em contato entre si como representantes de equivalentes mutuamente existentes Mas com o desenvolvimento da circulação das mercadorias desenvolvemse condições por meio das quais a alienação da mercadoria é temporalmente apartada da realização de seu preço Basta aqui indicar a mais simples dessas condições Para ser produzido um tipo de mercadoria requer mais tempo e outro menos A produção de diferentes mercadorias está ligada a diferentes estações do ano Uma mercadoria é feita para um mercado local ao passo que outra tem de ser transportada até um mercado distante Por conseguinte um possuidor de mercadorias pode surgir como vendedor antes que o outro se apresente como comprador Com a repetição constante das mesmas transações entre as mesmas pessoas as condições de venda das mercadorias regulamse de acordo com suas condições de produção Por outro lado a utilização de certos tipos de mercadorias como uma casa é vendida por um período de tempo determinado Somente após o término desse prazo o comprador obtém efetivamente o valor de uso da mercadoria Ele a compra portanto antes de têla pagado Um possuidor de mercadorias vende mercadorias que já existem o outro compra como mero representante do dinheiro ou como representante de dinheiro futuro O vendedor se torna credor e o comprador devedor Como aqui se altera a metamorfose da mercadoria ou o desenvolvimento de sua forma de valor também o dinheiro recebe outra função Tornase meio de 160 pagamento96 O papel de credor ou devedor resulta aqui da circulação simples de mercadorias Sua modificação de forma imprime no vendedor e no comprador esse novo rótulo I nicialmente tratase de papéis tão evanescentes e alternadamente desempenhados pelos mesmos agentes da circulação como os de vendedor e de comprador Mas agora a antítese parece menos cômoda e suscetível de uma maior cristalização97 Os mesmos personagens também podem se apresentar em cena independentemente da circulação de mercadorias A luta de classes no mundo antigo por exemplo apresentase fundamentalmente sob a forma de uma luta entre credores e devedores e concluise em Roma com a ruína do devedor plebeu que é substituído pelo escravo Na I dade Média a luta tem fim com a derrocada do devedor feudal que perde seu poder político juntamente com sua base econômica Entretanto a formadinheiro e a relação entre credor e devedor possui a forma de uma relação monetária reflete aqui apenas o antagonismo entre condições econômicas de existência mais profundas Voltemos à esfera da circulação de mercadorias Deixou de existir a aparição simultânea dos equivalentes mercadoria e dinheiro nos dois polos do processo da venda Agora o dinheiro funciona primeiramente como medida de valor na determinação do preço da mercadoria vendida Seu preço estabelecido por contrato mede a obrigação do comprador isto é a soma de dinheiro que ele deve pagar num determinado prazo Em segundo lugar funciona como meio ideal de compra Embora exista apenas na promessa de dinheiro do comprador ele opera na troca de mãos da mercadoria É apenas no vencimento do prazo que o meio de pagamento entra efetivamente em circulação isto é passa das mãos do comprador para as do vendedor O meio de circulação converteuse em tesouro porque o processo de circulação se interrompeu logo após a primeira fase ou porque a figura transformada da mercadoria foi retirada de circulação O meio de pagamento entra na circulação mas depois que a mercadoria já saiu dela O dinheiro não medeia mais o processo Ele apenas o conclui de modo independente como forma de existência absoluta do valor de troca ou mercadoria universal O vendedor converteu mercadoria em dinheiro a fim de satisfazer uma necessidade por meio do dinheiro o entesourador para preservar a mercadoria na formadinheiro o devedor para poder pagar Se ele não paga seus bens são confiscados e vendidos A figura de valor da mercadoria o dinheiro tornase agora o fim próprio da venda e isso em virtude de uma necessidade social que deriva do próprio processo de circulação O comprador volta a transformar dinheiro em mercadoria antes de ter transformado mercadoria em dinheiro ou efetua a segunda metamorfose das mercadorias antes da primeira A mercadoria do vendedor circula realiza seu preço porém apenas na forma de um título de direito privado que garante a obtenção futura do dinheiro Ela se converte em valor de uso antes de se ter convertido em dinheiro A consumação de sua primeira metamorfose se dá apenas posteriormente98 Em cada fração de tempo do processo de circulação as obrigações vencidas representam a soma de preços das mercadorias cuja venda gerou aquelas obrigações A quantidade de dinheiro necessária à realização dessa soma de preços depende inicialmente da velocidade do curso dos meios de pagamento Ela é condicionada por 161 duas circunstâncias o encadeamento das relações entre credor e devedor de modo que A que recebe dinheiro de seu devedor B paga ao seu credor C etc e a distância temporal que separa os dois prazos de pagamento A cadeia de pagamentos em processo ou das primeiras e posteriores metamorfoses distinguese essencialmente do entrelaçamento das séries de metamorfoses de que tratamos anteriormente No curso do meio de circulação a conexão entre vendedores e compradores não é apenas expressa A própria conexão tem sua origem no curso do dinheiro e só existe em seu interior O movimento do meio de pagamento ao contrário exprime uma conexão social que já estava dada antes dele A simultaneidade e a justaposição das compras limitam a substituição das moedas em virtude da velocidade da circulação Elas constituem inversamente uma nova alavanca na economia dos meios de pagamento Com a concentração dos pagamentos no mesmo lugar desenvolvemse espontaneamente instituições e métodos próprios para sua liquidação Assim por exemplo os virements transferências na Lyon medieval As dívidas de A para com B de B para com C de C para com A e assim por diante precisam apenas ser confrontadas umas com as outras para que se anulem mutuamente até um determinado grau como grandezas positivas e negativas Resta assim apenas um saldo devedor a compensar Quanto maior for a concentração de pagamentos menor será esse saldo e portanto a quantidade dos meios de pagamento em circulação A função do dinheiro como meio de pagamento traz em si uma contradição direta Na medida em que os pagamentos se compensam ele funciona apenas idealmente como moeda de conta Rechengeld ou medida dos valores Quando se trata de fazer um pagamento efetivo o dinheiro não se apresenta como meio de circulação como mera forma evanescente e mediadora do metabolismo mas como a encarnação individual do trabalho social existência autônoma do valor de troca mercadoria absoluta Essa contradição emerge no momento das crises de produção e de comércio conhecidas como crises monetárias99 Ela ocorre apenas onde a cadeia permanente de pagamentos e um sistema artificial de sua compensação encontramse plenamente desenvolvidos Ocorrendo perturbações gerais nesse mecanismo venham elas de onde vierem o dinheiro abandona repentina e imediatamente sua figura puramente ideal de moeda de conta e convertese em dinheiro vivo Ele não pode mais ser substituído por mercadorias profanas O valor de uso da mercadoria se torna sem valor e seu valor desaparece diante de sua forma de valor própria Ainda há pouco o burguês com a típica arrogância pseudoesclarecida de uma prosperidade inebriante declarava o dinheiro como uma loucura vã Apenas a mercadoria é dinheiro Mas agora se clama por toda parte no mercado mundial apenas o dinheiro é mercadoria Assim como o cervo brame por água fresca também sua alma brame por dinheiro a única riquezam 100 Na crise a oposição entre a mercadoria e sua figura de valor o dinheiro é levada até a contradição absoluta Por isso a forma de manifestação do dinheiro é aqui indiferente A fome de dinheiro é a mesma quer se tenha de pagar em ouro em dinheiro creditício ou em cédulas bancárias etc101 Se considerarmos agora a quantidade total do dinheiro em circulação num período determinado veremos que dada a velocidade do curso do meio de circulação e dos 162 meios de pagamentos ela é igual à soma dos preços das mercadorias a serem realizados mais a soma dos pagamentos devidos menos os pagamentos que se compensam uns aos outros e finalmente menos o número de ciclos que a mesma peça monetária percorre funciona ora como meio de circulação ora como meio de pagamento Por exemplo o camponês vende seu cereal por 2 que servem assim como meio de circulação Em seguida ele usa essa soma para pagar o linho que o tecelão lhe fornecera As mesmas 2 funcionam agora como meio de pagamento Então o tecelão compra uma Bíblia com dinheiro vivo e as 2 passam novamente a funcionar como meio de circulação e assim por diante Mesmo sendo dados os preços a velocidade do curso e o equilíbrio dos pagamentos a quantidade de dinheiro deixa de coincidir com a quantidade de mercadorias em circulação durante um certo período por exemplo um dia Continua em curso o dinheiro que representa mercadorias há muito tempo saídas de circulação Circulam mercadorias cujo equivalente em dinheiro só aparecerá numa data futura Por outro lado os débitos contraídos a cada dia e os pagamentos com vencimento no mesmo dia são grandezas absolutamente incomensuráveis102 O dinheiro creditício surge diretamente da função do dinheiro como meio de pagamento quando certificados de dívida relativos às mercadorias vendidas circulam a fim de transferir essas dívidas para outrem Por outro lado quando o sistema de crédito se expande o mesmo ocorre com a função do dinheiro como meio de pagamento Nessa função ele assume formas próprias de existência nas quais circula à vontade pela esfera das grandes transações comerciais enquanto as moedas de ouro e prata são relegadas fundamentalmente à esfera do comércio varejista103 Quando a produção de mercadorias atingiu certo grau de desenvolvimento a função do dinheiro como meio de pagamento ultrapassa a esfera da circulação das mercadorias Ele se torna a mercadoria universal dos contratos104 Rendas impostos etc deixam de ser fornecimentos in natura e se tornam pagamentos em dinheiro O quanto essa transformação é condicionada pela configuração geral do processo de produção é demonstrado por exemplo pela tentativa duas vezes fracassada do I mpério Romano de arrecadar todos os tributos em dinheiro A miséria atroz da população rural francesa sob Luís XI V tão eloquentemente denunciada por Boisguillebert Marschall Vauban etc teve sua causa não apenas no aumento dos impostos mas também na transformação do imposto pago in natura em imposto pago em dinheiro105 Por outro lado quando a forma natural da renda do solo que na Ásia constitui o elemento fundamental do imposto estatal baseiase em relações de produção que se reproduzem com a imutabilidade de condições naturais aquela forma de pagamento conserva retroativamente a antiga forma de produção Tal forma constitui um dos segredos da autoconservação do I mpério Turco Se o comércio exterior imposto ao J apão pela Europa acarretar a transformação da renda in natura em renda monetárian será o fim de sua agricultura exemplar Suas estreitas condições econômicas de existência acabarão por se dissolver Em todos os países são estabelecidos certos prazos gerais de pagamento Essas datas dependem abstraindose de outros ciclos da reprodução de condições naturais da produção vinculadas às estações do ano Elas também regulam os pagamentos que 163 não derivam diretamente da circulação de mercadorias tais como impostos rendas etc A quantidade de dinheiro requerida para esses pagamentos disseminados por toda a superfície da sociedade e espalhados ao longo do ano provoca perturbações periódicas porém totalmente superficiais na economia dos meios de pagamento106 Da lei sobre a velocidade do curso dos meios de pagamento podemos concluir que a quantidade de meios de pagamento requerida para todos os pagamentos periódicos sejam quais forem suas fontes está em proporção inversao à extensão desses períodos de pagamento107 O desenvolvimento do dinheiro como meio de pagamento torna necessária a acumulação de dinheiro para a compensação das dívidas nos prazos de vencimento Assim se por um lado o progresso da sociedade burguesa faz desaparecer o entesouramento como forma autônoma de enriquecimento ela o faz crescer por outro lado na forma de fundos de reserva de meios de pagamento c O dinheiro mundial Ao deixar a esfera da circulação interna o dinheiro se despe de suas formas locais de padrão de medida dos preços de moeda de moeda simbólica e de símbolo de valor e retorna à sua forma original de barra de metal precioso No comércio mundial as mercadorias desdobram seu valor universalmente Por isso sua figura de valor autônoma as confronta aqui como dinheiro mundial Somente no mercado mundial o dinheiro funciona plenamente como a mercadoria cuja forma natural é ao mesmo tempo a forma imediatamente social de efetivação do trabalho humano in abstracto Sua forma de existência tornase adequada a seu conceito Na esfera da circulação interna apenas uma mercadoria pode servir como medida de valor e desse modo como dinheiro No mercado mundial temse o domínio de uma dupla medida de valor o ouro e a prata108 O dinheiro mundial funciona como meio universal de pagamento meio universal de compra e materialidade absolutamente social da riqueza universal universal wealth O que predomina é sua função como meio de pagamento para o ajuste das balanças internacionais Daí a palavrachave dos mercantilistas balança comercial109 O ouro e a prata servem como meios internacionais de compra essencialmente naqueles períodos em que o equilíbrio do metabolismo entre as diferentes nações é repentinamente desfeito Por fim ele serve como materialidade social da riqueza em que não se trata nem de compra nem de pagamento mas da transferência da riqueza de um país a outro mais precisamente nos casos em que essa transferência na forma das mercadorias é impossibilitada seja pelas conjunturas do mercado seja pelo próprio objetivo que se busca realizar110 Assim como para sua circulação interna todo país necessita de um fundo de reserva para a circulação no mercado mundial As funções dos tesouros derivam portanto em parte da função do dinheiro como meio da circulação e dos pagamentos internos em parte de sua função como dinheiro mundial110a Para essa última função sempre se requer a genuína mercadoriadinheiro o ouro e a prata corpóreos razão pela qual J ames Steuart caracteriza expressamente o ouro e a prata como money of the 164 world dinheiro do mundo em contraste com seus representantes apenas locais O movimento da corrente de ouro e prata é um movimento duplo Por um lado ele parte de sua fonte e se espalha por todo o mercado mundial onde ele é absorvido em graus variados pelas diferentes esferas nacionais da circulação a fim de preencher seus canais internos de circulação substituir moedas de ouro e prata desgastadas fornecer material para mercadorias de luxo e petrificarse como tesouro111 Esse primeiro movimento é mediado pela troca direta dos trabalhos que as nações realizam nas mercadorias pelo trabalho que é incorporado nos metais preciosos pelos países produtores de ouro e prata Por outro lado o ouro e a prata fluem constantemente de um lado para o outro entre as diferentes esferas nacionais de circulação movimento que segue as oscilações ininterruptas do câmbio112 Países onde a produção burguesa é desenvolvida limitam os tesouros massivamente concentrados nas reservas bancárias ao mínimo necessário ao cumprimento de suas funções específicas113 Com algumas exceções o excesso dessas reservas acima de seu nível médio é sinal de estancamento na circulação de mercadorias ou de uma interrupção no fluxo de suas metamorfoses114 165 Karl Marx no trabalho desenho do artista gráfico russo Nikolai Zhukov 166 Seção II A TRANSFORMAÇÃO DO DINHEIRO EM CAPITAL 167 Capítulo 4 A transformação do dinheiro em capital 1 A fórmula geral do capital A circulação de mercadorias é o ponto de partida do capital Produção de mercadorias e circulação desenvolvida de mercadorias o comércio formam os pressupostos históricos a partir dos quais o capital emerge O comércio e o mercado mundiais inauguram no século XVI a história moderna do capital Se abstrairmos do conteúdo material da circulação das mercadorias isto é da troca dos diversos valores de uso e considerarmos apenas as formas econômicas que esse processo engendra encontraremos como seu produto final o dinheiro Esse produto final da circulação das mercadorias é a primeira forma de manifestação do capital Historicamente o capital em seu confronto com a propriedade fundiária assume invariavelmente a forma do dinheiro da riqueza monetária dos capitais comerciala e usurário1 Mas não é preciso recapitular toda a gênese do capital para reconhecer o dinheiro como sua primeira forma de manifestação pois a mesma história se desenrola diariamente diante de nossos olhos Todo novo capital entra em cena isto é no mercado seja ele de mercadorias de trabalho ou de dinheiro como dinheiro que deve ser transformado em capital mediante um processo determinado I nicialmente o dinheiro como dinheiro e o dinheiro como capital se distinguem apenas por sua diferente forma de circulação A forma imediata da circulação de mercadorias é MDM conversão de mercadoria em dinheiro e reconversão de dinheiro em mercadoria vender para comprar Mas ao lado dessa forma encontramos uma segunda especificamente diferente a forma DM D conversão de dinheiro em mercadoria e reconversão de mercadoria em dinheiro comprar para vender O dinheiro que circula deste último modo transformase torna se capital e segundo sua determinação já é capital Analisemos mais de perto a circulação DMD Ela atravessa como a circulação simples de mercadorias duas fases contrapostas na primeira DM a compra o dinheiro é convertido em mercadoria e na segunda MD a mercadoria volta a se converter em dinheiro Porém a unidade das duas fases é o movimento inteiro da troca de dinheiro por mercadoria e desta última novamente por dinheiro o movimento da compra da mercadoria para vendêla ou caso se desconsiderem as diferenças formais entre compra e venda da compra de mercadoria com dinheiro e de dinheiro com mercadoria2 O resultado no qual o processo inteiro se apaga é a troca de dinheiro por dinheiro DD Se compro 2 mil libras de algodão por 100 e revendo as 2 mil libras de algodão por 110 o que faço no fim das contas é trocar 100 por 110 dinheiro por dinheiro Ora é evidente que o processo de circulação DMD seria absurdo e vazio se a intenção fosse realizar percorrendo seu ciclo inteiro a troca de um mesmo valor em 168 dinheiro pelo mesmo valor em dinheiro ou seja 100 por 100 Muito mais simples e seguro seria o método do entesourador que conserva suas 100 em vez de expôlas aos perigos da circulação Por outro lado se o mercador revende por 110 o algodão que comprou por 100 ou se é forçado a liquidálo por 100 ou mesmo por 50 de qualquer modo seu dinheiro percorreu um movimento peculiar e original de um tipo totalmente distinto do movimento que ele percorre na circulação simples de mercadorias por exemplo nas mãos do camponês que vende o cereal e com o dinheiro assim obtido compra roupas Temos portanto de examinar as características distintivas das formas dos ciclos DMD e MDM Com isso revelarseá ao mesmo tempo a diferença de conteúdo que se esconde atrás dessas diferenças formais Vejamos antes de tudo o que essas formas têm em comum As duas formas se decompõem nas duas fases antitéticas MD venda e DM compra Em cada uma das duas fases confrontamse um com o outro os mesmos dois elementos reificados sachlichen mercadoria e dinheiro e as mesmas duas pessoas portando as mesmas máscaras econômicas um comprador e um vendedor Cada um dos dois ciclos é a unidade das mesmas fases contrapostas e nos dois casos essa unidade é mediada pela intervenção de três partes contratantes das quais uma apenas vende outra apenas compra e a terceira compra e vende alternadamente Mas o que realmente diferencia entre si os dois ciclos MDM e DMD é a ordem invertida de sucessão das mesmas fases antitéticas de circulação A circulação simples de mercadorias começa com a venda e termina com a compra ao passo que a circulação do dinheiro como capital começa com a compra e termina com a venda Na primeira o ponto de partida e de chegada do movimento é a mercadoria na segunda é o dinheiro Na primeira forma o que medeia o curso inteiro da circulação é o dinheiro na segunda é a mercadoria Na circulação MDM o dinheiro é enfim transformado em mercadoria que serve como valor de uso e é portanto gasto de modo definitivo J á na forma contrária DM D o comprador desembolsa o dinheiro com a finalidade de receber dinheiro como vendedor Na compra da mercadoria ele lança dinheiro na circulação para dela retirá lo novamente por meio da venda da mesma mercadoria Ele liberta o dinheiro apenas com a ardilosa intenção de recapturálo O dinheiro é portanto apenas adiantado3 Na forma MDM a mesma peça monetária muda duas vezes de lugar O vendedor a recebe do comprador e a passa a outro vendedor O processo inteiro que começa com o recebimento de dinheiro em troca de mercadoria concluise com o dispêndio de dinheiro por mercadoria O inverso ocorre na forma DMD Aqui não é a mesma peça monetária que muda duas vezes de lugar mas a mesma mercadoria e o comprador a recebe das mãos do vendedor e a passa às mãos de outro comprador Assim como na circulação simples de mercadorias as duas mudanças de lugar da mesma peça monetária implicam a passagem definitiva de uma mão a outra também aqui a dupla mudança de lugar da mesma mercadoria implica o refluxo do dinheiro a seu primeiro ponto de partida O refluxo do dinheiro a seu ponto de partida não depende de a mercadoria ser vendida mais cara do que foi comprada Essa circunstância afeta apenas a grandeza da quantia de dinheiro que reflui O fenômeno do refluxo propriamente dito ocorre assim 169 que a mercadoria comprada é revendida ou seja assim que o ciclo DMD é completado Temos aqui portanto uma diferença palpável entre a circulação do dinheiro como capital e sua circulação como mero dinheiro O ciclo MDM está inteiramente concluído tão logo o dinheiro obtido com a venda de uma mercadoria é novamente empregado na compra de outra mercadoria Se no entanto ocorre um refluxo de dinheiro a seu ponto de partida isso só pode acontecer por meio da renovação ou repetição do percurso inteiro Se vendo 1 quarter de cereal por 3 e com essa quantia compro roupas as 3 estão definitivamente gastas para mim Não tenho mais nenhuma relação com elas Elas agora pertencem ao comerciante de roupas Ora se vendo mais 1 quarter de cereal então o dinheiro retorna para mim mas não em consequência da primeira transação e sim apenas de sua repetição E ele volta a se separar de mim assim que completo a segunda transação e volto a comprar Na circulação MDM portanto o gasto do dinheiro não tem nenhuma relação com seu refluxo J á em DMD ao contrário o refluxo do dinheiro é condicionado pelo modo como ele é gasto Sem esse refluxo a operação está fracassada ou o processo está interrompido ou ainda não concluído faltando ainda sua segunda fase a da venda que completa e conclui a compra O ciclo MDM parte do extremo de uma mercadoria e concluise com o extremo de uma outra mercadoria que abandona a circulação e ingressa no consumo O consumo a satisfação de necessidades em suma o valor de uso é assim seu fim último O ciclo DMD ao contrário parte do extremo do dinheiro e retorna por fim ao mesmo extremo Sua força motriz e fim último é desse modo o próprio valor de troca Na circulação simples de mercadorias os dois extremos têm a mesma forma econômica Ambos são mercadorias Eles são também mercadorias de mesma grandeza de valor Porém são valores de uso qualitativamente diferentes por exemplo cereal e roupas A troca de produtos a variação das matérias nas quais o trabalho social se apresenta é o que constitui aqui o conteúdo do movimento Diferentemente do que ocorre na circulação DMD À primeira vista ela parece desprovida de conteúdo por ser tautológica mas ambos os extremos têm a mesma forma econômica Ambos são dinheiro portanto nãovalores de uso qualitativamente distintos uma vez que o dinheiro é justamente a figura transformada das mercadorias na qual estão apagados seus valores de uso específicos Trocar 100 por algodão e em seguida voltar a trocar esse mesmo algodão por 100 ou seja trocar dinheiro por dinheiro o mesmo pelo mesmo parece ser uma operação tão despropositada quanto absurda4 Uma quantia de dinheiro só pode se diferenciar de outra quantia de dinheiro por sua grandeza Assim o processo DMD não deve seu conteúdo a nenhuma diferença qualitativa de seus extremos pois ambos são dinheiro mas apenas à sua distinção quantitativa Ao final do processo mais dinheiro é tirado da circulação do que nela fora lançado inicialmente O algodão comprado por 100 é revendido por 100 10 ou por 110 A forma completa desse processo é portanto DMD onde D D ΔD isto é à quantia de dinheiro inicialmente adiantada mais um incremento Esse incremento ou excedente sobre o valor original chamo de maisvalor surplus value O valor originalmente adiantado não se limita assim a conservarse na circulação mas nela modifica sua grandeza de valor acrescenta a essa grandeza um maisvalor ou 170 se valoriza E esse movimento o transforma em capital Certamente também em MDM é possível que os dois extremos MM digamos cereal e roupas sejam grandezas de valor quantitativamente distintas O camponês pode vender seu cereal acima de seu valor ou comprar roupas abaixo de seu valor Ele pode por outro lado ser ludibriado pelo vendedor de roupas No entanto para a forma da circulação que agora consideramos tal diferença de valor é puramente acidental O fato de o cereal e as roupas serem equivalentes não priva o processo de seu sentido como ocorre com o processo DMD A equivalência de seus valores é antes uma condição necessária para seu curso normal A repetição ou renovação da venda para comprar encontra sua medida tal como esse processo mesmo num fim último situado fora dela a saber o consumo a satisfação de determinadas necessidades Na compra para vender ao contrário o início e o fim são o mesmo dinheiro valor de troca e desse modo o movimento é interminável Sem dúvida D se torna D ΔD e 100 se torna 100 10 Porém consideradas de modo puramente qualitativo 110 são o mesmo que 100 ou seja dinheiro E consideradas quantitativamente 110 são uma quantia limitada de dinheiro tanto quanto 100 Se as 100 fossem gastas como dinheiro elas deixariam de desempenhar seu papel Deixariam de ser capital Retiradas da circulação elas se petrificariam como tesouro e nem um centavo lhes seria acrescentado ainda que permanecessem nesse estado até o dia do J uízo Final Se então o objetivo é a valorização do valor há tanta necessidade da valorização de 110 quanto de 100 pois ambas são expressões limitadas do valor de troca e têm portanto a mesma vocação para se aproximarem da riqueza por meio da expansão de grandeza É verdade que por um momento o valor originalmente adiantado de 100 se diferencia do maisvalor de 10 que lhe é acrescentado mas essa diferença se esvanece imediatamente No final do processo não obtemos de um lado o valor original de 100 e de outro lado o maisvalor de 10 O que obtemos é um valor de 110 que exatamente do mesmo modo como as 100 originais encontrase na forma adequada a dar início ao processo de valorização Ao fim do movimento o dinheiro surge novamente como seu início5 Assim o fim de cada ciclo individual em que a compra se realiza para a venda constitui por si mesmo o início de um novo ciclo A circulação simples de mercadorias a venda para a compra serve de meio para uma finalidade que se encontra fora da circulação a apropriação de valores de uso a satisfação de necessidades A circulação do dinheiro como capital é ao contrário um fim em si mesmo pois a valorização do valor existe apenas no interior desse movimento sempre renovado O movimento do capital é por isso desmedido6 Como portador consciente desse movimento o possuidor de dinheiro se torna capitalista Sua pessoa ou melhor seu bolso é o ponto de partida e de retorno do dinheiro O conteúdo objetivo daquela circulação a valorização do valor é sua finalidade subjetiva e é somente enquanto a apropriação crescente da riqueza abstrata é o único motivo de suas operações que ele funciona como capitalista ou capital personificado dotado de vontade e consciência Assim o valor de uso jamais pode ser considerado como finalidade imediata do capitalista7 Tampouco pode sêlo o lucro isolado mas apenas o incessante movimento do lucro8 Esse impulso absoluto de 171 enriquecimento essa caça apaixonada ao valor9 é comum ao capitalista e ao entesourador mas enquanto o entesourador é apenas o capitalista ensandecido o capitalista é o entesourador racional O aumento incessante do valor objetivo que o entesourador procura atingir conservando seu dinheiro fora da circulação10 é atingido pelo capitalista que mais inteligente lança sempre o dinheiro de novo em circulação10a As formas independentes as formasdinheiro que o valor das mercadorias assume na circulação simples servem apenas de mediação para a troca de mercadorias e desaparecem no resultado do movimento Na circulação DMD ao contrário mercadoria e dinheiro funcionam apenas como modos diversos de existência do próprio valor o dinheiro como seu modo de existência universal a mercadoria como seu modo de existência particular por assim dizer disfarçado11 O valor passa constantemente de uma forma a outra sem se perder nesse movimento e com isso transformase no sujeito automático do processo Ora se tomarmos as formas particulares de manifestação que o valor que se autovaloriza assume sucessivamente no decorrer de sua vida chegaremos a estas duas proposições capital é dinheiro capital é mercadoria12 Na verdade porém o valor se torna aqui o sujeito de um processo em que ele por debaixo de sua constante variação de forma aparecendo ora como dinheiro ora como mercadoria altera sua própria grandeza e como maisvalor repele abstösst a si mesmo como valor originário valoriza a si mesmo Pois o movimento em que ele adiciona maisvalor é seu próprio movimento sua valorização é portanto autovalorização Por ser valor ele recebeu a qualidade oculta de adicionar valor Ele pare filhotes ou pelo menos põe ovos de ouro Como sujeito usurpador de tal processo no qual ele assume ora a forma do dinheiro ora a forma da mercadoria porém conservandose e expandindose nessa mudança o valor requer sobretudo uma forma independente por meio da qual sua identidade possa ser constatada E tal forma ele possui apenas no dinheiro Este constitui por isso o ponto de partida e de chegada de todo processo de valorização Ele era 100 e agora é 110 etc Mas o próprio dinheiro vale aqui apenas como uma das duas formas do valor Se não assume a forma da mercadoria o dinheiro não se torna capital Portanto o dinheiro não se apresenta aqui em antagonismo com a mercadoria como ocorre no entesouramento O capitalista sabe que toda mercadoria por mais miserável que seja sua aparência ou por pior que seja seu cheiro é dinheiro não só em sua fé mas também na realidade que ela é internamente um judeu circuncidado e além disso um meio milagroso de se fazer mais dinheiro a partir do dinheiro Se na circulação simples o valor das mercadorias atinge no máximo uma forma independente em relação a seus valores de uso aqui ele se apresenta de repente como uma substância em processo que move a si mesma e para a qual mercadorias e dinheiro não são mais do que meras formas E mais ainda Em vez de representar relações de mercadorias ele agora entra por assim dizer numa relação privada consigo mesmo Como valor original ele se diferencia de si mesmo como maisvalor tal como Deus Pai se diferencia de si mesmo como Deus Filho sendo ambos da mesma idade e constituindo na verdade uma única pessoa pois é apenas por meio do 172 maisvalor de 10 que as 100 adiantadas se tornam capital e assim que isso ocorre assim que é gerado o filho e por meio do filho o pai desaparece sua diferença e eles são apenas um 110 O valor se torna assim valor em processo dinheiro em processo e como tal capital Ele sai da circulação volta a entrar nela conservase e multiplicase em seu percurso sai da circulação aumentado e começa o mesmo ciclo novamente13 DD dinheiro que cria dinheiro money which begets money é a descrição do capital na boca de seus primeiros intérpretes os mercantilistas Comprar para vender ou mais acuradamente comprar para vender mais caro D MD parece ser apenas um tipo de capital a forma própria do capital comercial Mas também o capital industrial é dinheiro que se transforma em mercadoria e por meio da venda da mercadoria retransformase em mais dinheiro Eventos que ocorram entre a compra e a venda fora da esfera da circulação não alteram em nada essa forma de movimento Por fim no capital a juros a circulação DMD aparece abreviada de modo que seu resultado se apresenta sem a mediação ou dito em estilo lapidar como DD dinheiro que é igual a mais dinheiro ou valor que é maior do que ele mesmo Na verdade portanto DMD é a fórmula geral do capital tal como ele aparece imediatamente na esfera da circulação 2 Contradições da fórmula geral A forma que a circulação assume quando o dinheiro se transforma em capital contradiz todas as leis que investigamos anteriormente sobre a natureza da mercadoria do valor do dinheiro e da própria circulação O que a distingue da circulação simples de mercadorias é a ordem inversa dos dois processos antitéticos a venda e a compra E como poderia uma diferença puramente formal como essa alterar a natureza desses processos como que por mágica E mais ainda Essa inversão só existe para uma das três partes negociantes que fazem comércio umas com as outras Como capitalista compro mercadorias de A e as revendo a B ao passo que como simples possuidor de mercadorias vendo mercadorias a B e compro mercadorias de A Para os negociantes A e B não existe essa distinção Eles aparecem apenas como compradores ou vendedores de mercadorias Eu mesmo me confronto com eles como simples possuidor ora de dinheiro ora de mercadorias como comprador ou como vendedor e além disso em cada uma dessas transações confrontome com uma pessoa apenas como comprador com outra apenas como vendedor com a primeira apenas como dinheiro com a segunda apenas como mercadorias e com nenhuma delas como capital ou capitalista ou como representante de qualquer coisa que seja mais do que dinheiro ou mercadorias ou que possa surtir qualquer efeito além daquele do dinheiro ou das mercadorias Para mim a compra de A e a venda a B constituem uma série Mas a conexão entre esses dois atos só existe para mim A não se preocupa com minha transação com B e tampouco B com minha transação com A E se eu quisesse explicar a eles o mérito particular de minha ação que consiste em inverter a série eles me diriam que estou enganado quanto à própria série e que a transação completa não começa com uma compra e concluise com uma 173 venda mas inversamente começa com uma venda e concluise com uma compra De fato meu primeiro ato a compra é do ponto de vista de A uma venda e meu segundo ato a venda é do ponto de vista de B uma compra Não satisfeitos com isso A e B argumentarão que a série inteira foi supérflua e não passou de um mero truque A venderá a mercadoria diretamente a B e B a comprará diretamente de A Com isso a transação inteira se reduz a um ato unilateral da circulação usual de mercadorias sendo do ponto de vista de A um simples ato de venda e do ponto de vista de B um simples ato de compra Assim a inversão da série não nos conduz para fora da esfera da circulação simples de mercadorias de modo que temos antes de investigar se nessa circulação simples existe algo a permitir uma expansão do valor que entra na circulação e por conseguinte a criação de maisvalor Tomemos o processo de circulação na forma em que ele se apresenta como mera troca de mercadorias Esse é sempre o caso quando dois possuidores de mercadoria compram mercadorias um do outro e no dia do ajuste de contas as quantias mutuamente devidas são iguais e cancelam uma à outra O dinheiro serve nesse caso como moeda de conta para expressar o valor das mercadorias em seus preços porém não se confronta materialmente com as próprias mercadorias Na medida em que se trata de valores de uso é claro que ambas as partes que realizam a troca podem ganhar Ambas alienam mercadorias que lhes são inúteis como valores de uso e recebem em troca mercadorias de cujo valor de uso elas necessitam E essa vantagem pode não ser a única A que vende vinho e compra cereal produz talvez mais vinho do que o agricultor B poderia produzir no mesmo tempo de trabalho assim como o agricultor B poderia produzir mais cereal do que o agricultor A de modo que A recebe pelo mesmo valor de troca mais cereal e B recebe mais vinho do que a quantidade de vinho e cereal que cada um dos dois teria de produzir para si mesmo sem a troca Com respeito ao valor de uso portanto podese dizer que a troca é uma transação em que ambas as partes saem ganhando14 Mas o mesmo não ocorre com o valor de troca Um homem que possui muito vinho e nenhum cereal negocia com outro homem que possui muito cereal e nenhum vinho e entre eles é trocado trigo no valor de 50 por vinho no mesmo valor de 50 Tal troca não constitui um aumento do valor de troca para nenhuma das partes pois antes da troca cada um deles já possuía um valor igual àquele que foi criado por meio dessa operação15 O resultado não se altera em nada se o dinheiro é introduzido como meio de circulação entre as mercadorias e se os atos de compra e venda são separados um do outro16 O valor das mercadorias é expresso em seus preços antes de elas entrarem em circulação sendo portanto o pressuposto e não o resultado desta última17 Considerado abstratamente isto é prescindindo das circunstâncias que não decorrem imediatamente das leis imanentes da circulação simples de mercadorias o que ocorre na troca além da substituição de um valor de uso por outro não é mais do que uma metamorfose uma mera mudança de forma da mercadoria O mesmo valor ie a mesma quantidade de trabalho social objetivado permanece nas mãos do mesmo possuidor de mercadorias primeiramente como sua própria mercadoria em seguida como dinheiro pelo qual ela foi trocada e por fim como mercadoria que ele compra com esse dinheiro Essa mudança de forma não implica qualquer alteração na grandeza do valor mas a mudança que o valor da mercadoria sofre nesse processo é 174 limitada a uma mudança em sua formadinheiro Ela existe primeiramente como preço da mercadoria à venda em seguida como uma quantia de dinheiro que no entanto já estava expressa no preço por fim como o preço de uma mercadoria equivalente Essa mudança de forma implica em si mesma tão pouco uma alteração na grandeza do valor quanto a troca de uma nota de 5 por sovereigns meio sovereign e xelins Assim na medida em que a circulação da mercadoria opera tão somente uma mudança formal de seu valor ela implica quando o fenômeno ocorre livre de interferências a troca de equivalentes Mesmo a economia vulgar que não sabe praticamente nada sobre o valor reconhece quando deseja considerar o fenômeno em sua pureza que a oferta e a demanda são iguais isto é que seu efeito é nulo Mas se no que diz respeito ao valor de uso tanto o comprador quanto o vendedor podem igualmente ganhar o mesmo não ocorre quando se trata do valor de troca Nesse caso dizse antes Onde há igualdade não há lucro18 É verdade que as mercadorias podem ser vendidas por preços que não correspondem a seus valores mas esse desvio tem de ser considerado como uma infração da lei da troca de mercadorias19 Em sua forma pura ela é uma troca de equivalentes não um meio para o aumento do valor20 Por trás das tentativas de apresentar a circulação de mercadorias como fonte do maisvalor escondese na maioria das vezes um quiproquó uma confusão de valor de uso com valor de troca Por exemplo diz Condillac Não é verdade que na troca de mercadorias trocase um valor igual por outro valor igual Ao contrário Cada um dos dois contratantes dá sempre um valor menor em troca de um valor maior Se valores iguais fossem trocados não haveria ganho algum para nenhum dos contratantes mas as duas partes obtêm um ganho ou pelo menos deveriam obtêlo Por quê O valor das coisas consiste meramente em sua relação com nossas necessidades O que para um vale mais para outro vale menos e viceversa Não colocamos à venda artigos que são indispensáveis para nosso próprio consumo Abrimos mão de uma coisa inútil para nós em troca de uma coisa que nos é necessária queremos dar menos por mais É natural julgar que na troca dáse um valor igual por outro valor igual sempre que cada uma das coisas trocadas vale a mesma quantidade de ouro Mas outra consideração tem de entrar nesse cálculo a questão é se cada uma das partes troca algo supérfluo por algo necessário21 Vêse como Condillac não apenas confunde valor de uso com valor de troca como de modo verdadeiramente pueril afirma que numa sociedade em que a produção de mercadorias é bem desenvolvida cada produtor produz seus próprios meios de subsistência e só põe em circulação o excedente sobre sua própria necessidade o supérfluo22 Mesmo assim o argumento de Condillac é frequentemente repetido por economistas modernos principalmente quando se trata de mostrar que a forma desenvolvida da troca de mercadorias o comércio é produtora de maisvalor O comércio diz ele por exemplo adiciona valor aos produtos pois os mesmos produtos têm mais valor nas mãos do consumidor do que nas mãos do produtor e por isso ele tem de ser considerado estritamente strictly um ato de produção23 Mas não se paga duas vezes pelas mercadorias uma vez por seu valor de uso e outra vez por seu valor E se o valor de uso da mercadoria é mais útil para o comprador do que para o vendedor sua formadinheiro é mais útil para o vendedor do que para o comprador Se assim não fosse ele a venderia Com a mesma razão poderseia dizer que o comprador realiza estritamente strictly um ato de produção quando por 175 exemplo transforma as meias do mercador em dinheiro Se são trocadas mercadorias ou mercadorias e dinheiro de mesmo valor de troca portanto equivalentes é evidente que cada uma das partes não extrai da circulação mais valor do que nela lançou inicialmente Não há então criação de maisvalor Ocorre que em sua forma pura o processo de circulação de mercadorias exige a troca de equivalentes Mas as coisas não se passam com tal pureza na realidade Por isso admitamos uma troca de não equivalentes Em todo caso no mercado de mercadorias confrontamse apenas possuidores de mercadorias e o poder que essas pessoas exercem umas sobre as outras não é mais do que o poder de suas mercadorias A variedade material das mercadorias é a motivação material para a troca e torna os possuidores de mercadorias dependentes uns dos outros uma vez que nenhum deles tem em suas mãos o objeto de suas próprias necessidades e que cada um tem em suas mãos o objeto da necessidade do outro Além dessa diferença material de seus valores de uso existe apenas mais uma diferença entre as mercadorias a diferença entre sua forma natural e sua forma modificada entre a mercadoria e o dinheiro Assim os possuidores de mercadorias se distinguem simplesmente como vendedores possuidores de mercadoria e compradores possuidores de dinheiro Suponha então que por algum privilégio inexplicável seja permitido ao vendedor vender a mercadoria acima de seu valor por exemplo por 110 quando ela vale 100 portanto com um acréscimo nominal de 10 em seu preço O vendedor embolsa assim um maisvalor de 10 Mas depois de ter sido vendedor ele se torna comprador E eis que um terceiro possuidor de mercadorias confrontase com ele como vendedor e usufrui por sua vez do privilégio de vender a mercadoria 10 mais cara do que seu valor Nosso homem ganhou 10 como vendedor apenas para perder 10 como comprador24 Assim cada um dos possuidores de mercadorias vende seus artigos aos outros possuidores de mercadorias a um preço 10 acima de seu valor o que na verdade produz o mesmo resultado que se obteria se cada um deles vendesse as mercadorias pelos seus valores O mesmo efeito de tal aumento nominal dos preços das mercadorias seria obtido se os valores das mercadorias fossem expressos em prata em vez de ouro As denominações monetárias isto é os preços das mercadorias aumentariam mas suas relações de valor permaneceriam inalteradas Agora suponha ao contrário que o comprador disponha do privilégio de comprar as mercadorias abaixo de seu valor Não precisamos aqui recordar que o comprador se tornará vendedor Ele o era antes de se tornar comprador Ele perdeu 10 como vendedor antes de ganhar 10 como comprador25 Tudo permanece como estava Portanto a criação de maisvalor e por conseguinte a transformação de dinheiro em capital não pode ser explicada nem pelo fato de que uns vendem as mercadorias acima de seu valor nem pelo fato de que outros as compram abaixo de seu valor26 O problema não é de modo nenhum simplificado com a introdução de elementos estranhos como faz o coronel Torrens A demanda efetiva consiste no poder e na inclinação dos consumidores seja por meio da troca imediata ou mediata a dar pelas mercadorias uma porção de ingredientes do capital numa quantidade maior do que o custo de produção dessas mesmas mercadorias27 176 Na circulação produtores e consumidores se confrontam apenas como vendedores e compradores Dizer que o maisvalor obtido pelos produtores tem origem no fato de que os consumidores compram a mercadoria acima de seu valor é apenas mascarar algo que é bastante simples como vendedor o possuidor de mercadorias dispõe do privilégio de vender mais caro O próprio vendedor produziu suas mercadorias ou representa seus produtores mas também o comprador produziu as mercadorias representadas em seu dinheiro ou representa seus produtores Assim um produtor se confronta com outro e o que os diferencia é que um compra e o outro vende Que o possuidor de mercadorias no papel de produtor vende a mercadoria acima de seu valor e no papel de consumidor paga mais caro por ela é algo aqui irrelevante28 Em nome da coerência os representantes da ideia de que o maisvalor provém de um aumento nominal dos preços ou de um privilégio de que o vendedor dispõe de vender a mercadoria mais cara do que seu valor teriam de admitir a existência de uma classe que apenas compra sem vender portanto que apenas consome sem produzir A existência de tal classe é ainda inexplicável neste estágio de nossa exposição a saber o da circulação simples Todavia podemos antecipar algumas ideias O dinheiro com que tal classe constantemente compra tem de fluir para ela diretamente dos bolsos dos possuidores de mercadorias de modo constante sem nenhuma troca gratuitamente seja pelo direito ou pela força Para essa classe vender mercadorias acima de seu valor significa apenas reembolsar gratuitamente parte do dinheiro previamente gasto29 É assim que as cidades da Ásia Menor pagavam um tributo em dinheiro à Roma Antiga Com esse dinheiro Roma comprava mercadorias dessas cidades e as comprava mais caras do que seu valor Desse modo as províncias ludibriavam os romanos surrupiando aos conquistadores por meio do comércio uma parte do tributo anteriormente pago No entanto os conquistados permaneciam sendo os verdadeiros ludibriados Suas mercadorias eram pagas com seu próprio dinheiro e esse não é o método correto para enriquecer ou criar maisvalor Mantenhamonos portanto nos limites da troca de mercadorias em que vendedores são compradores e compradores vendedores Talvez nossa dificuldade provenha do fato de termos tratado os atores apenas como categorias personificadas e não individualmente O possuidor de mercadorias A pode ser esperto o suficiente para ludibriar seus colegas B ou C de um modo que estes não possam oferecer uma retaliação apesar de terem toda a vontade de fazêlo A vende vinho a B pelo valor de 40 e na troca compra cereais pelo valor de 50 A transformou suas 40 em 50 menos dinheiro em mais dinheiro e sua mercadoria em capital Observemos a transação mais detalhadamente Antes da troca tínhamos vinho no valor de 40 nas mãos de A e cereais no valor de 50 nas mãos de B o que forma um total de 90 Após a troca temos o mesmo valor total de 90 O valor em circulação não aumentou seu tamanho em nem um átomo mas alterouse sua distribuição entre A e B O que aparece como maisvalor para um lado é menosvalor para o outro o que aparece como mais para um é menos para outro A mesma mudança teria ocorrido se A sem o eufemismo formal da troca tivesse roubado diretamente 10 de B Está claro que a soma do valor em circulação não pode ser aumentada por nenhuma mudança em sua distribuição 177 tão pouco quanto um judeu pode aumentar a quantidade de metal precioso num país ao vender um farthing da época da rainha Ana por um guinéub A totalidade da classe capitalista de um país não pode se aproveitar de si mesma30 Podese virar e revirar como se queira e o resultado será o mesmo Da troca de equivalentes não resulta maisvalor e tampouco da troca de não equivalentes resulta maisvalor31 A circulação ou a troca de mercadorias não cria valor nenhum32 Compreendese assim por que em nossa análise da forma básica do capital forma na qual ele determina a organização econômica da sociedade moderna deixamos inteiramente de considerar suas formas populares e por assim dizer antediluvianas o capital comercial e o capital usurário É no genuíno capital comercial que a forma DMD comprar para vender mais caro aparece de modo mais puro Por outro lado seu movimento inteiro ocorre no interior da esfera da circulação Mas como é impossível explicar a transformação de dinheiro em capital isto é a criação do maisvalor a partir da própria circulação o capital comercial aparenta ser impossível uma vez que se baseia na troca de equivalentes33 de modo que ele só pode ter sua origem na dupla vantagem obtida tanto sobre o produtor que compra quanto sobre o produtor que vende pelo mercador que se interpõe como um parasita entre um e outro Nesse sentido diz Franklin Guerra é roubo comércio é trapaça34 Se é evidente que a valorização do capital comercial não pode ser explicada pela mera trapaça entre os produtores de mercadorias um tratamento devido dessa questão exigiria uma longa série de elos intermediários de que carecemos no presente estágio de nossa exposição ainda dedicado inteiramente à circulação de mercadorias e seus momentos simples O que dissemos sobre o capital comercial vale ainda mais para o capital usurário No capital comercial os dois extremos o dinheiro que é lançado no mercado e o capital que é retirado do mercado são ao menos mediados pela compra e venda pelo movimento da circulação J á no capital usurário a forma DMD é simplificada nos extremos imediatos DD como dinheiro que se troca por mais dinheiro uma forma que contradiz a natureza do dinheiro e por isso é inexplicável do ponto de vista da troca de mercadorias Diz Aristóteles Porque a crematística é uma dupla ciência a primeira parte pertencendo ao comércio a segunda à economia sendo esta última necessária e louvável ao passo que a primeira se baseia na circulação e é desaprovada com razão por não se fundar na natureza mas na trapaça mútua o usurário é odiado com a mais plena justiça pois aqui o próprio dinheiro é a fonte do ganho e não é usado para a finalidade para a qual ele foi inventado pois ele surgiu para a troca de mercadorias ao passo que o juro transforma dinheiro em mais dinheiro Isso explica seu nome tókov juro e prole pois os filhos são semelhantes aos genitores Mas o juro é dinheiro de dinheiro de maneira que de todos os modos de ganho esse é o mais contrário à natureza35 No curso de nossa investigação veremos que tanto o capital comercial como o capital a juros são formas derivadas ao mesmo tempo veremos por que elas surgem historicamente antes da moderna forma básica do capital Mostrouse que o maisvalor não pode ter origem na circulação sendo necessário portanto que pelas suas costas ocorra algo que nela mesma é invisível36 Mas pode o maisvalor surgir de alguma outra fonte que não a circulação Esta é a soma de todas as relações de mercadoriasc travadas entre os possuidores de mercadorias Fora da circulação o possuidor de mercadorias encontrase em relação apenas com sua própria 178 mercadoria No que diz respeito a seu valor essa relação se limita ao fato de que a mercadoria contém uma quantidade de seu próprio trabalho quantidade que é medida segundo determinadas leis sociais Tal quantidade de trabalho se expressa na grandeza de valor de sua mercadoria e uma vez que a grandeza de valor se exprime em moeda de conta num preço de por exemplo 10 Porém seu trabalho não se expressa no valor da mercadoria acompanhado de um excedente acima de seu próprio valor num preço de 10 que é ao mesmo tempo um preço de 11 isto é num valor que é maior do que ele mesmo O possuidor de mercadorias pode por meio de seu trabalho criar valores mas não valores que valorizam a si mesmos Ele pode aumentar o valor de uma mercadoria acrescentando ao valor já existente um novo valor por meio de novo trabalho por exemplo transformando o couro em botas O mesmo material tem agora mais valor porque contém uma quantidade maior de trabalho Por isso as botas têm mais valor do que o couro mas o valor do couro permanece como era Ele não se valorizou não incorporou um maisvalor durante a fabricação das botas Assim encontrandose o produtor de mercadorias fora da esfera da circulação sem travar contato com outros possuidores de mercadorias é impossível que ele valorize o valor e por conseguinte transforme dinheiro ou mercadoria em capital Portanto o capital não pode ter origem na circulação tampouco pode não ter origem circulação Ele tem de ter origem nela e ao mesmo tempo não ter origem nela Temos assim um duplo resultado A transformação do dinheiro em capital tem de ser explicada com base nas leis imanentes da troca de mercadorias de modo que a troca de equivalentes seja o ponto de partida37 Nosso possuidor de dinheiro que ainda é apenas um capitalista em estado larval tem de comprar as mercadorias pelo seu valor vendêlas pelo seu valor e no entanto no final do processo retirar da circulação mais valor do que ele nela lançara inicialmente Sua crisalidação Schmetterlingsentfaltung tem de se dar na esfera da circulação e não pode se dar na esfera da circulação Essas são as condições do problema Hic Rhodus hic saltad 3 A compra e a venda de força de trabalho A mudança de valor do dinheiro destinado a se transformar em capital não pode ocorrer nesse mesmo dinheiro pois em sua função como meio de compra e de pagamento ele realiza apenas o preço da mercadoria que ele compra ou pela qual ele paga ao passo que mantendose imóvel em sua própria forma ele se petrifica como um valor que permanece sempre o mesmo38 Tampouco pode a mudança ter sua origem no segundo ato da circulação a revenda da mercadoria pois esse ato limitase a transformar a mercadoria de sua forma natural em sua formadinheiro A mudança tem portanto de ocorrer na mercadoria que é comprada no primeiro ato DM porém não em seu valor pois equivalentes são trocados e a mercadoria é paga pelo seu valor pleno Desse modo a mudança só pode provir de seu valor de uso como tal isto é de seu consumo Para poder extrair valor do consumo de uma mercadoria nosso possuidor de dinheiro teria de ter a sorte de descobrir no mercado no interior da esfera da circulação uma mercadoria cujo próprio valor de uso possuísse a 179 característica peculiar de ser fonte de valor cujo próprio consumo fosse portanto objetivação de trabalho e por conseguinte criação de valor E o possuidor de dinheiro encontra no mercado uma tal mercadoria específica a capacidade de trabalho ou força de trabalho Por força de trabalho ou capacidade de trabalho entendemos o complexo Inbegriff das capacidades físicas e mentais que existem na corporeidade Leiblichkeit na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento sempre que produz valores de uso de qualquer tipo No entanto para que o possuidor de dinheiro encontre a força de trabalho como mercadoria no mercado é preciso que diversas condições estejam dadas A troca de mercadorias por si só não implica quaisquer outras relações de dependência além daquelas que resultam de sua própria natureza Sob esse pressuposto a força de trabalho só pode aparecer como mercadoria no mercado na medida em que é colocada à venda ou é vendida pelo seu próprio possuidor pela pessoa da qual ela é a força de trabalho Para vendêla como mercadoria seu possuidor tem de poder dispor dela portanto ser o livre proprietário de sua capacidade de trabalho de sua pessoa39 Ele e o possuidor de dinheiro se encontram no mercado e estabelecem uma relação mútua como iguais possuidores de mercadorias com a única diferença de que um é comprador e o outro vendedor sendo ambos portanto pessoas juridicamente iguais A continuidade dessa relação requer que o proprietário da força de trabalho a venda apenas por um determinado período pois se ele a vende inteiramente de uma vez por todas vende a si mesmo transformase de um homem livre num escravo de um possuidor de mercadoria numa mercadoria Como pessoa ele tem constantemente de se relacionar com sua força de trabalho como sua propriedade e assim como sua própria mercadoria e isso ele só pode fazer na medida em que a coloca à disposição do comprador apenas transitoriamente oferecendoa ao consumo por um período determinado portanto sem renunciar no momento em que vende sua força de trabalho a seus direitos de propriedade sobre ela40 A segunda condição essencial para que o possuidor de dinheiro encontre no mercado a força de trabalho como mercadoria é que seu possuidor em vez de poder vender mercadorias em que seu trabalho se objetivou tenha antes de oferecer como mercadoria à venda sua própria força de trabalho que existe apenas em sua corporeidade viva Para que alguém possa vender mercadorias diferentes de sua força de trabalho ele tem de possuir evidentemente meios de produção por exemplo matériasprimas instrumentos de trabalho etc Ele não pode fabricar botas sem couro Necessita além disso de meios de subsistência Ninguém nem mesmo um músico do futuro pode viver de produtos do futuro tampouco portanto de valores de uso cuja produção ainda não esteja acabada e tal como nos primeiros dias de sua aparição sobre o palco da Terra o homem tem de consumir a cada dia tanto antes como no decorrer de seu ato de produção Se os produtos são produzidos como mercadorias eles têm de ser vendidos depois de produzidos e somente depois de sua venda eles podem satisfazer as necessidades dos produtores O tempo necessário para a sua venda é adicionado ao tempo necessário para a sua produção 180 Para transformar dinheiro em capital o possuidor de dinheiro tem portanto de encontrar no mercado de mercadorias o trabalhador livre e livre em dois sentidos de ser uma pessoa livre que dispõe de sua força de trabalho como sua mercadoria e de por outro lado ser alguém que não tem outra mercadoria para vender livre e solto carecendo absolutamente de todas as coisas necessárias à realização de sua força de trabalho Por que razão esse trabalhador livre se confronta com ele na esfera da circulação é algo que não interessa ao possuidor de dinheiro para o qual o mercado é uma seção particular do mercado de mercadorias No momento essa questão tampouco tem interesse para nós Ocupamonos da questão teoricamente assim como o possuidor de dinheiro ocupase dela praticamente Uma coisa no entanto é clara a natureza não produz possuidores de dinheiro e de mercadorias de um lado e simples possuidores de suas próprias forças de trabalho de outro Essa não é uma relação históriconatural naturgeschichtliches tampouco uma relação social comum a todos os períodos históricos mas é claramente o resultado de um desenvolvimento histórico anterior o produto de muitas revoluções econômicas da destruição de toda uma série de formas anteriores de produção social Também as categorias econômicas que consideramos anteriormente trazem consigo as marcas da história Na existência do produto como mercadoria estão presentes determinadas condições históricas e para se tornar mercadoria o produto não pode ser produzido como meio imediato de subsistência para o próprio produtor Se tivéssemos avançado em nossa investigação e posto a questão sob que circunstâncias todos os produtos ou apenas a maioria deles assumem a forma da mercadoria teríamos descoberto que isso só ocorre sobre a base de um modo de produção específico o modo de produção capitalista No entanto tal investigação estaria distante da análise da mercadoria A produção e a circulação de mercadorias podem ocorrer mesmo quando a maior parte dos produtos é destinada à satisfação das necessidades imediatas de seus próprios produtores quando não é transformada em mercadoria e portanto quando o valor de troca ainda não dominou o processo de produção em toda sua extensão e profundidade A apresentação do produto como mercadoria pressupõe uma divisão do trabalho tão desenvolvida na sociedade que a separação entre valor de uso e valor de troca que tem início no escambo já tem de estar realizada No entanto tal grau de desenvolvimento é comum às mais diversas e historicamente variadas formações econômicas da sociedade Por outro lado se consideramos o dinheiro vemos que ele pressupõe um estágio definido da troca de mercadorias As formas específicas do dinheiro seja como mero equivalente de mercadorias ou como meio de circulação seja como meio de pagamento tesouro ou dinheiro mundial remetem de acordo com a extensão e a preponderância relativa de uma ou outra função a estágios muito distintos do processo social de produção No entanto uma circulação de mercadorias relativamente pouco desenvolvida é suficiente para a constituição de todas essas formas diferentemente do que ocorre com o capital Suas condições históricas de existência não estão de modo algum dadas com a circulação das mercadorias e do dinheiro Ele só surge quando o possuidor de meios de produção e de subsistência 181 encontra no mercado o trabalhador livre como vendedor de sua força de trabalho e essa condição histórica compreende toda uma história mundial O capital anuncia portanto desde seu primeiro surgimento uma nova época no processo social de produção41 Temos agora de analisar mais de perto essa mercadoria peculiar a força de trabalho Como todas as outras mercadorias ela possui um valor42 Como ele é determinado O valor da força de trabalho como o de todas as outras mercadorias é determinado pelo tempo de trabalho necessário para a produção e consequentemente também para a reprodução desse artigo específico Como valor a força de trabalho representa apenas uma quantidade determinada do trabalho social médio nela objetivado A força de trabalho existe apenas como disposição do indivíduo vivo A sua produção pressupõe portanto a existência dele Dada a existência do indivíduo a produção da força de trabalho consiste em sua própria reprodução ou manutenção Para sua manutenção o indivíduo vivo necessita de certa quantidade de meios de subsistência Assim o tempo de trabalho necessário à produção da força de trabalho corresponde ao tempo de trabalho necessário à produção desses meios de subsistência ou dito de outro modo o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à manutenção de seu possuidor Porém a força de trabalho só se atualiza verwirklicht por meio de sua exteriorização só se aciona por meio do trabalho Por meio de seu acionamento o trabalho gastase determinada quantidade de músculos nervos cérebro etc humanos que tem de ser reposta Esse gasto aumentado implica uma renda aumentada43 Se o proprietário da força de trabalho trabalhou hoje ele tem de poder repetir o mesmo processo amanhã sob as mesmas condições no que diz respeito a sua saúde e força A quantidade dos meios de subsistência tem portanto de ser suficiente para manter o indivíduo trabalhador como tal em sua condição normal de vida As próprias necessidades naturais como alimentação vestimenta aquecimento habitação etc são diferentes de acordo com o clima e outras peculiaridades naturais de um país Por outro lado a extensão das assim chamadas necessidades imediatas assim como o modo de sua satisfação é ela própria um produto histórico e por isso depende em grande medida do grau de cultura de um país mas também depende entre outros fatores de sob quais condições e por conseguinte com quais costumes e exigências de vida se formou a classe dos trabalhadores livres num determinado local44 Diferentemente das outras mercadorias a determinação do valor da força de trabalho contém um elemento histórico e moral No entanto a quantidade média dos meios de subsistência necessários ao trabalhador num determinado país e num determinado período é algo dado O proprietário da força de trabalho é mortal Portanto para que sua aparição no mercado de trabalho seja contínua como pressupõe a contínua transformação do dinheiro em capital é preciso que o vendedor de força de trabalho se perpetue como todo indivíduo vivo se perpetua pela procriação45 As forças de trabalho retiradas do mercado por estarem gastas ou mortas têm de ser constantemente substituídas no mínimo por uma quantidade igual de novas forças de trabalho A quantidade dos 182 meios de subsistência necessários à produção da força de trabalho inclui portanto os meios de subsistência dos substitutos dos trabalhadores isto é de seus filhos de modo que essa peculiar raça de possuidores de mercadorias possa se perpetuar no mercado46 Para modificar a natureza humana de modo que ela possa adquirir habilidade e aptidão num determinado ramo do trabalho e se torne uma força de trabalho desenvolvida e específica fazse necessária uma formação ou um treinamento determinados que por sua vez custam uma soma maior ou menor de equivalentes de mercadorias Esses custos de formação variam de acordo com o caráter mais ou menos complexo da força de trabalho Assim os custos dessa educação que são extremamente pequenos no caso da força de trabalho comum são incluídos no valor total gasto em sua produção O valor da força de trabalho se reduz ao valor de uma quantidade determinada de meios de subsistência e varia portanto com o valor desses meios de subsistência isto é de acordo com a magnitude do tempo de trabalho requerido para a sua produção Uma parte dos meios de subsistência por exemplo a alimentação o aquecimento etc é consumida diariamente e tem de ser reposta diariamente Outros meios de subsistência como roupas móveis etc são consumidos em períodos mais longos e por isso só precisam ser substituídos em intervalos maiores de tempo Algumas mercadorias têm de ser compradas ou pagas diariamente outras semanalmente trimestralmente e assim por diante Porém independentemente de como se divida a soma desses gastos no período de por exemplo um ano ela deve ser coberta diariamente pela receita média Se a quantidade de mercadorias requeridas para a produção da força de trabalho por um dia A por uma semana B e por um trimestre C e assim por diante então a média diária dessas mercadorias seria 365A 52B 4C etc365 Supondose que nessa quantidade de mercadorias necessárias à jornada média de trabalho estão incorporadas 6 horas de trabalho social então objetivase diariamente na força de trabalho meia jornada de trabalho social médio ou dito de outro modo meia jornada de trabalho é requerida para a produção diária da força de trabalho Essa quantidade de trabalho requerida para sua produção diária forma o valor diário da força de trabalho ou o valor da força de trabalho diariamente reproduzida Se meia jornada de trabalho social média é expressa numa quantidade de ouro de 3 xelins ou 1 táler então 1 táler é o preço correspondente ao valor diário da força de trabalho Se o possuidor da força de trabalho a coloca à venda pelo preço de 1 táler por dia então seu preço de venda é igual a seu valor e de acordo com nosso pressuposto o possuidor de dinheiro ávido por transformar seu táler em capital paga esse valor O limite último ou mínimo do valor da força de trabalho é constituído pelo valor de uma quantidade de mercadorias cujo fornecimento diário é imprescindível para que o portador da força de trabalho o homem possa renovar seu processo de vida tal limite é constituído portanto pelo valor dos meios de subsistência fisicamente indispensáveis Se o preço da força de trabalho é reduzido a esse mínimo ele cai abaixo de seu valor pois em tais circunstâncias a força de trabalho só pode se manter e se desenvolver de forma precária Mas o valor de toda mercadoria é determinado 183 pelo tempo de trabalho requerido para fornecêla com sua qualidade normal É de um sentimentalismo extraordinariamente barato afirmar que esse método de determinação do valor da força de trabalho que decorre da natureza da coisa é um método brutal e em coro com Rossi lamuriarse Captar a capacidade de trabalho puissance de travail ao mesmo tempo que fazemos abstração dos meios de subsistência do trabalho durante o processo de produção significa captar uma quimera mental être de raison Quem diz trabalho ou capacidade de trabalho diz ao mesmo tempo trabalhador e meios de subsistência trabalhador e salário47 Dizer capacidade de trabalho não é o mesmo que dizer trabalho assim como dizer capacidade de digestão não é o mesmo que dizer digestão Para a realização do processo digestório é preciso mais do que um bom estômago Quem diz capacidade de trabalho não faz abstração dos meios necessários a sua subsistência O valor destes últimos é antes expresso no valor da primeira Se não é vendida ela não serve de nada para o trabalhador que passa a ver como uma cruel necessidade natural o fato de que a produção de sua capacidade de trabalho requer uma quantidade determinada de meios de subsistência quantidade que tem de ser sempre renovada para sua reprodução Ele descobre então com Sismondi A capacidade de trabalho não é nada quando não é vendida48 Da natureza peculiar dessa mercadoria específica a força de trabalho resulta que com a conclusão do contrato entre comprador e vendedor seu valor de uso ainda não tenha passado efetivamente às mãos do comprador Seu valor como o de qualquer outra mercadoria estava fixado antes de ela entrar em circulação pois uma determinada quantidade de trabalho social foi gasta na produção da força de trabalho porém seu valor de uso consiste apenas na exteriorização posterior dessa força Por essa razão a alienação da força e sua exteriorização efetiva isto é sua existência como valor de uso são separadas por um intervalo de tempo Mas em tais mercadorias49 em que a alienação formal do valor de uso por meio da venda e sua transferência efetiva ao comprador não são simultâneas o dinheiro do comprador funciona na maioria das vezes como meio de pagamento Em todos os países em que reina o modo de produção capitalista a força de trabalho só é paga depois de já ter funcionado pelo período fixado no contrato de compra por exemplo ao final de uma semana Desse modo o trabalhador adianta ao capitalista o valor de uso da força de trabalho ele a entrega ao consumo do comprador antes de receber o pagamento de seu preço e com isso dá um crédito ao capitalista Que esse crédito não é nenhuma alucinação vã é demonstrado não apenas pela perda ocasional do salário quando da falência do capitalista50 mas também por uma série de efeitos mais duradouros51 No entanto se o dinheiro funciona como meio de compra ou meio de pagamento isso é algo que não altera em nada a natureza da troca de mercadorias O preço da força de trabalho está fixado por contrato embora ele só seja realizado posteriormente como o preço do aluguel de uma casa A força de trabalho está vendida embora ela só seja paga posteriormente Para uma clara compreensão da relação entre as partes pressuporemos provisoriamente que o possuidor da força de trabalho ao realizar sua venda recebe imediatamente o preço estipulado por contrato Sabemos agora como é determinado o valor que o possuidor de dinheiro paga ao 184 O possuidor dessa mercadoria peculiar a força de trabalho O valor de uso que o possuidor de dinheiro recebe na troca mostrase apenas na utilização efetiva no processo de consumo da força de trabalho O possuidor de dinheiro compra no mercado todas as coisas necessárias a esse processo como matériasprimas etc e por elas paga seu preço integral O processo de consumo da força de trabalho é simultaneamente o processo de produção da mercadoria e do maisvalor O consumo da força de trabalho assim como o consumo de qualquer outra mercadoria tem lugar fora do mercado ou da esfera da circulação Deixemos portanto essa esfera rumorosa onde tudo se passa à luz do dia ante os olhos de todos e acompanhamos os possuidores de dinheiro e de força de trabalho até o terreno oculto da produção em cuja entrada se lê No admittance except on business Página manuscrita de O capital Seção III A PRODUÇÃO DO MAISVALOR ABSOLUTO 187 Capítulo 5 O processo de trabalho e o processo de valorização 1 O processo de trabalho A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho O comprador da força de trabalho a consome fazendo com que seu vendedor trabalhe Desse modo este último se torna actu em ato aquilo que antes ele era apenas potentia em potência a saber força de trabalho em ação trabalhador Para incorporar seu trabalho em mercadorias ele tem de incorporálo antes de mais nada em valores de uso isto é em coisas que sirvam à satisfação de necessidades de algum tipo Assim o que o capitalista faz o trabalhador produzir é um valor de uso particular um artigo determinado A produção de valores de uso ou de bens não sofre nenhuma alteração em sua natureza pelo fato de ocorrer para o capitalista e sob seu controle razão pela qual devemos de início considerar o processo de trabalho independentemente de qualquer forma social determinada O trabalho é antes de tudo um processo entre o homem e a natureza processo este em que o homem por sua própria ação medeia regula e controla seu metabolismo com a natureza Ele se confronta com a matéria natural como com uma potência natural Naturmacht A fim de se apropriar da matéria natural de uma forma útil para sua própria vida ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua corporeidade seus braços e pernas cabeça e mãos Agindo sobre a natureza externa e modificandoa por meio desse movimento ele modifica ao mesmo tempo sua própria natureza Ele desenvolve as potências que nela jazem latentes e submete o jogo de suas forças a seu próprio domínio Não se trata aqui das primeiras formas instintivas animalescas tierartig do trabalho Um incomensurável intervalo de tempo separa o estágio em que o trabalhador se apresenta no mercado como vendedor de sua própria força de trabalho daquele em que o trabalho humano ainda não se desvencilhou de sua forma instintiva Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz respeito unicamente ao homem Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão e uma abelha envergonha muitos arquitetos com a estrutura de sua colmeia Porém o que desde o início distingue o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua mente antes de construíla com a cera No final do processo de trabalho chegase a um resultado que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo portanto um resultado que já existia idealmente I sso não significa que ele se limite a uma alteração da forma do elemento natural ele realiza neste último ao mesmo tempo seu objetivo que ele sabe que determina como lei o tipo e o modo de sua atividade e ao qual ele tem de subordinar sua vontade E essa subordinação não é um ato isolado Além do esforço dos órgãos que trabalham a atividade laboral exige a vontade orientada a um fim que se manifesta como atenção do trabalhador durante a realização de sua tarefa e isso tanto mais quanto menos esse 188 trabalho pelo seu próprio conteúdo e pelo modo de sua execução atrai o trabalhador portanto quanto menos este último usufrui dele como jogo de suas próprias forças físicas e mentais Os momentos simples do processo de trabalho são em primeiro lugar a atividade orientada a um fim ou o trabalho propriamente dito em segundo lugar seu objeto e em terceiro seus meios A terra que do ponto de vista econômico também inclui a água que é para o homem uma fonte originária de provisões de meios de subsistência prontos1 preexiste independentemente de sua interferência como objeto universal do trabalho humano Todas as coisas que o trabalho apenas separa de sua conexão imediata com a totalidade da terra são por natureza objetos de trabalho preexistentes Assim é o peixe quando pescado e separado da água seu elemento vital ou a madeira que se derruba na floresta virgem ou o minério arrancado de seus veios Quando ao contrário o próprio objeto do trabalho já é por assim dizer filtrado por um trabalho anterior então o chamamos de matériaprima como por exemplo o minério já extraído da mina e que agora será lavado Toda matériaprima é objeto do trabalho mas nem todo objeto do trabalho é matériaprima O objeto de trabalho só é matéria prima quando já sofreu uma modificação mediada pelo trabalho O meio de trabalho é uma coisa ou um complexo de coisas que o trabalhador interpõe entre si e o objeto do trabalho e que lhe serve de guia de sua atividade sobre esse objeto Ele utiliza as propriedades mecânicas físicas e químicas das coisas para fazêlas atuar sobre outras coisas de acordo com o seu propósito2 O objeto de que o trabalhador se apodera imediatamente desconsiderandose os meios de subsistência encontrados prontos na natureza como as frutas por exemplo em cuja coleta seus órgãos corporais servem como únicos meios de trabalho é não o objeto do trabalho mas o meio de trabalho É assim que o próprio elemento natural se converte em órgão de sua atividade um órgão que ele acrescenta a seus próprios órgãos corporais prolongando sua forma natural apesar daquilo que diz a Bíblia Do mesmo modo como a terra é seu armazém original de meios de subsistência ela é também seu arsenal originário de meios de trabalho Ela lhe fornece por exemplo a pedra para que ele a arremesse ou a use para moer comprimir cortar etc A própria terra é um meio de trabalho mas pressupõe para servir como tal na agricultura toda uma série de outros meios de trabalho e um grau relativamente alto de desenvolvimento da força de trabalho3 Mal o processo de trabalho começa a se desenvolver e ele já necessita de meios de trabalho previamente elaborados Nas mais antigas cavernas encontramos ferramentas e armas de pedra Além de pedra madeira ossos e conchas trabalhados também os animais domesticados desempenharam um papel fundamental como meios de trabalho nos primeiros estágios da história humana4 O uso e a criação de meios de trabalho embora já existam em germe em certas espécies de animais é uma característica específica do processo de trabalho humano razão pela qual Franklin define o homem como a toolmaking animal um animal que faz ferramentas A mesma importância que as relíquias de ossos têm para o conhecimento da organização das espécies de animais extintas têm também as relíquias de meios de trabalho para a compreensão de formações socioeconômicas extintas O que diferencia as épocas 189 econômicas não é o que é produzido mas como com que meios de trabalho5 Estes não apenas fornecem uma medida do grau de desenvolvimento da força de trabalho mas também indicam as condições sociais nas quais se trabalha Entre os próprios meios de trabalho os de natureza mecânica que formam o que podemos chamar de sistema de ossos e músculos da produção oferecem características muito mais decisivas de uma época social de produção do que aqueles meios de trabalho que servem apenas de recipientes do objeto do trabalho e que podemos agrupar sob o nome de sistema vascular da produção como tubos barris cestos jarros etc Apenas na fabricação química tais instrumentos passam a desempenhar um papel importante5a Num sentido mais amplo o processo de trabalho inclui entre seus meios além das coisas que medeiam o efeito do trabalho sobre seu objeto e assim servem de um modo ou de outro como condutores da atividade também todas as condições objetivas que em geral são necessárias à realização do processo Tais condições não entram diretamente no processo mas sem elas ele não pode se realizar ou o pode apenas de modo incompleto O meio universal de trabalho desse tipo é novamente a terra pois ela fornece ao trabalhador o locus standi local e a seu processo de trabalho o campo de atuação field of employment Meios de trabalho desse tipo já mediados pelo trabalho são por exemplo oficinas de trabalho canais estradas etc No processo de trabalho portanto a atividade do homem com ajuda dos meios de trabalho opera uma transformação do objeto do trabalho segundo uma finalidade concebida desde o início O processo se extingue no produto Seu produto é um valor de uso um material natural adaptado às necessidades humanas por meio da modificação de sua forma O trabalho se incorporou a seu objeto Ele está objetivado e o objeto está trabalhado O que do lado do trabalhador aparecia sob a forma do movimento agora se manifesta do lado do produto como qualidade imóvel na forma do ser Ele fiou e o produto é um fio Gespinsta Se consideramos o processo inteiro do ponto de vista de seu resultado do produto tanto o meio como o objeto do trabalho aparecem como meios de produção6 e o próprio trabalho aparece como trabalho produtivo7 Quando um valor de uso resulta do processo de trabalho como produto nele estão incorporados como meios de produção outros valores de uso produtos de processos de trabalho anteriores O mesmo valor de uso que é produto desse trabalho constitui o meio de produção de um trabalho ulterior de modo que os produtos são não apenas resultado mas também condição do processo de trabalho Com exceção da indústria extrativa cujo objeto de trabalho é dado imediatamente pela natureza tal como a mineração a caça a pesca etc a agricultura apenas na medida em que num primeiro momento explora a terra virgem todos os ramos da indústria manipulam um objeto a matériaprima isto é um objeto de trabalho já filtrado pelo trabalho ele próprio produto de um trabalho anterior tal como a semente na agricultura Animais e plantas que se costumam considerar como produtos naturais são em sua presente forma não apenas produtos do trabalho digamos do ano anterior mas o resultado de uma transformação gradual realizada sob controle humano ao longo de muitas gerações e mediante o trabalho humano No 190 que diz respeito aos meios de trabalho a maioria deles evidencia mesmo ao olhar mais superficial os traços do trabalho anterior A matériaprima pode constituir a substância principal de um produto ou tomar parte nele apenas como matéria auxiliar Esta pode ser consumida pelos meios de trabalho como o carvão pela máquina a vapor o óleo pela engrenagem o feno pelo cavalo ou ser adicionada à matériaprima a fim de nela produzir alguma modificação como o cloro é adicionado ao linho ainda não alvejado o carvão ao ferro a tintura à lã ou pode ainda auxiliar na realização do próprio trabalho como por exemplo as matérias utilizadas na iluminação e no aquecimento da oficina de trabalho A diferença entre matéria principal e matéria auxiliar desaparece na fabricação química propriamente dita porque nela nenhuma das matériasprimas utilizadas reaparece como substância do produto8 Como toda coisa possui várias qualidades e consequentemente é capaz de diferentes aplicações úteis o mesmo produto pode servir como matériaprima de processos de trabalho muito distintos O cereal por exemplo é matériaprima para o moleiro para o fabricante de goma para o destilador para o criador de gado etc Como semente ele se torna matériaprima de sua própria produção Também o carvão é tanto produto como meio de produção da indústria de mineração O mesmo produto pode no mesmo processo de trabalho servir de meio de trabalho e de matériaprima Na engorda do gado por exemplo o animal é ao mesmo tempo a matériaprima trabalhada e o meio de obtenção do adubo Um produto que existe numa forma pronta para o consumo pode se tornar matéria prima de outro produto tal como a uva se torna matériaprima do vinho Em outros casos o trabalho elabora seu produto em formas tais que ele só pode ser reutilizado como matériaprima A matériaprima se chama então produto semifabricado e seria melhor denominála produto intermediário tal como o algodão o fio o estame etc Embora já seja produto a matériaprima original pode ter de passar por toda uma série de diferentes processos nos quais sob forma cada vez mais alterada ela funciona sempre de novo como matériaprima até chegar ao último processo de trabalho que a entrega como meio acabado de subsistência ou meio acabado de trabalho Vemos assim que o fato de um valor de uso aparecer como matériaprima meio de trabalho ou produto final é algo que depende inteiramente de sua função determinada no processo de trabalho da posição que ele ocupa nesse processo e com a mudança dessa posição mudam também as determinações desse valor de uso Ao ingressar como meios de produção em novos processos de trabalho os produtos perdem seu caráter de produtos Agora eles funcionam simplesmente como fatores objetivos do trabalho vivo O fiandeiro trata o fuso apenas como meio da fiação e o linho apenas como objeto dessa atividade É verdade que não se pode fiar sem fusos e sem a matériaprima da fiação A existência desses produtosb é portanto pressuposta ao se começar a fiar Mas nesse processo é indiferente se o linho e os fusos são produtos de trabalhos anteriores do mesmo modo como no ato da alimentação é indiferente que o pão seja o produto dos trabalhos anteriores do agricultor do moleiro do padeiro etc Ao contrário é geralmente por suas 191 imperfeições que os meios de produção deixam entrever no processo de trabalho seu caráter de produtos de trabalhos anteriores Uma faca que não corta um fio que constantemente arrebenta etc fazemnos lembrar do ferreiro A e do fiandeiro E Ao passo que no produto bem elaborado apagase o fato de que suas propriedades úteis nos chegam mediadas por trabalhos anteriores Uma máquina que não serve no processo de trabalho é inútil Além disso ela se torna vítima das forças destruidoras do metabolismo natural O ferro enferruja a madeira apodrece O fio que não é tecido ou enovelado é algodão desperdiçado O trabalho vivo tem de apoderarse dessas coisas e despertálas do mundo dos mortos convertêlas de valores de uso apenas possíveis em valores de uso reais e efetivos Uma vez tocadas pelo fogo do trabalho apropriadas como partes do corpo do trabalho animadas pelas funções que por seu conceito e sua vocação exercem no processo laboral elas serão sim consumidas porém segundo um propósito como elementos constitutivos de novos valores de uso de novos produtos aptos a ingressar na esfera do consumo individual como meios de subsistência ou em um novo processo de trabalho como meios de produção Portanto se por um lado os produtos existentes são não apenas resultados mas também condições de existência do processo de trabalho por outro lado sua entrada nesse processo seu contato com o trabalho vivo é o único meio de conservar e realizar como valores de uso esses produtos de um trabalho anterior O trabalho consome seus elementos materiais seu objeto e seu meio ele os devora e é assim processo de consumo Esse consumo produtivo se diferencia do consumo individual pelo fato de que este último consome os produtos como meios de subsistência do indivíduo vivo ao passo que o primeiro os consome como meios de subsistência do trabalho da força ativa de trabalho do indivíduo O produto do consumo individual é por isso o próprio consumidor mas o resultado do consumo produtivo é um produto distinto do consumidor Na medida em que seu meio e objeto são eles próprios produtos o trabalho digere produtos a fim de criar produtos ou consome produtos como meios de produção de outros produtos Mas como o processo de trabalho tem lugar originalmente apenas entre o homem e a terra que lhe é preexistente nele continuam a servirlhe meios de produção fornecidos diretamente pela natureza e que não apresentam qualquer combinação de matéria natural com trabalho humano O processo de trabalho como expusemos em seus momentos simples e abstratos é atividade orientada a um fim a produção de valores de uso apropriação do elemento natural para a satisfação de necessidades humanas condição universal do metabolismo entre homem e natureza perpétua condição natural da vida humana e por conseguinte independente de qualquer forma particular dessa vida ou melhor comum a todas as suas formas sociais Por isso não tivemos necessidade de apresentar o trabalhador em sua relação com outros trabalhadores e pudemos nos limitar ao homem e seu trabalho de um lado e à natureza e suas matérias de outro Assim como o sabor do trigo não nos diz nada sobre quem o plantou tampouco esse processo nos revela sob quais condições ele se realiza se sob o açoite brutal do feitor de escravos ou sob o olhar ansioso do capitalista se como produto das poucas jugerac 192 de terra cultivadas por Cincinnatus ou da ação do selvagem que abate uma fera com uma pedra9 Voltemos agora a nosso capitalista in spe aspirante Quando o deixamos ele havia acabado de comprar no mercado todos os fatores necessários ao processo de trabalho tanto seus fatores objetivos os meios de produção quanto seu fator pessoal ou a força de trabalho Com o olhar arguto de um experto ele selecionou a força de trabalho e os meios de produção adequados a seu negócio seja ele a fiação seja a fabricação de botas etc Nosso capitalista põese então a consumir a mercadoria por ele comprada a força de trabalho isto é faz com que o portador da força de trabalho o trabalhador consuma os meios de produção mediante seu trabalho Obviamente a natureza universal do processo de trabalho não se altera em nada pelo fato de o trabalhador realizálo para o capitalista e não para si mesmo Tampouco o modo determinado como se fabricam as botas ou se fiam os fios é imediatamente alterado pela intervenção do capitalista Ele tem inicialmente de tomar a força de trabalho tal como ele a encontra no mercado e portanto tem também de aceitar o trabalho tal como ele se originou num período em que ainda não havia capitalistas A transformação do próprio modo de produção por meio da subordinação do trabalho ao capital só pode ocorrer posteriormente razão pela qual deve ser tratada mais adiante Como processo de consumo da força de trabalho pelo capitalista o processo de trabalho revela dois fenômenos característicos O trabalhador labora sob o controle do capitalista a quem pertence seu trabalho O capitalista cuida para que o trabalho seja realizado corretamente e que os meios de produção sejam utilizados de modo apropriado a fim de que a matériaprima não seja desperdiçada e o meio de trabalho seja conservado isto é destruído apenas na medida necessária à consecução do trabalho Em segundo lugar porém o produto é propriedade do capitalista não do produtor direto do trabalhador O capitalista paga por exemplo o valor da força de trabalho por um dia Portanto sua utilização como a de qualquer outra mercadoria por exemplo um cavalo que ele aluga por um dia pertencelhe por esse dia Ao comprador da mercadoria pertence o uso da mercadoria e o possuidor da força de trabalho ao ceder seu trabalho cede na verdade apenas o valor de uso por ele vendido A partir do momento em que ele entra na oficina do capitalista o valor de uso de sua força de trabalho portanto seu uso o trabalho pertence ao capitalista Mediante a compra da força de trabalho o capitalista incorpora o próprio trabalho como fermento vivo aos elementos mortos que constituem o produto e lhe pertencem igualmente De seu ponto de vista o processo de trabalho não é mais do que o consumo da mercadoria por ele comprada a força de trabalho que no entanto ele só pode consumir desde que lhe acrescente os meios de produção O processo de trabalho se realiza entre coisas que o capitalista comprou entre coisas que lhe pertencem Assim o produto desse processo lhe pertence tanto quanto o produto do processo de fermentação em sua adega10 2 O processo de valorização 193 O produto a propriedade do capitalista é um valor de uso como o fio as botas etc Mas apesar de as botas por exemplo constituírem de certo modo a base do progresso social e nosso capitalista ser um progressista convicto ele não as fabrica por elas mesmas Na produção de mercadorias o valor de uso não é de modo algum a coisa quon aime pour luimême que se ama por ela mesma Aqui os valores de uso só são produzidos porque e na medida em que são o substrato material os suportes do valor de troca E para nosso capitalista tratase de duas coisas Primeiramente ele quer produzir um valor de uso que tenha um valor de troca isto é um artigo destinado à venda uma mercadoria Em segundo lugar quer produzir uma mercadoria cujo valor seja maior do que a soma do valor das mercadorias requeridas para sua produção os meios de produção e a força de trabalho para cuja compra ele adiantou seu dinheiro no mercado Ele quer produzir não só um valor de uso mas uma mercadoria não só valor de uso mas valor e não só valor mas também maisvalor Porque se trata aqui da produção de mercadorias consideramos até este momento apenas um aspecto do processo Assim como a própria mercadoria é unidade de valor de uso e valor seu processo de produção tem de ser a unidade de processo de trabalho e o processo de formação de valor Vejamos agora o processo de produção também como processo de formação de valor Sabemos que o valor de toda mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho materializado em seu valor de uso pelo tempo de trabalho socialmente necessário a sua produção I sso vale também para o produto que reverte para nosso capitalista como resultado do processo de trabalho A primeira tarefa é portanto calcular o trabalho objetivado nesse produto Tomemos como exemplo o fio Para a produção do fio foi necessária primeiramente sua matériaprima por exemplo 10 libras de algodão Nesse caso não precisamos investigar o valor do algodão pois supomos que o capitalista o tenha comprado no mercado pelo valor de digamos 10 xelins No preço do algodão o trabalho requerido para sua produção já está incorporado como trabalho socialmente necessário Suponhamos além disso que a quantidade de fusos consumida no processamento do algodão que representa para nós todos os outros meios de trabalhos empregados nessa produção tenha um valor de 2 xelins Se uma quantidade de ouro de 12 xelins é o produto de 24 horas de trabalho ou de 2 jornadas de trabalho concluise então que no fio estão objetivadas duas jornadas de trabalho Não podemos nos deixar confundir pela circunstância de o algodão ter alterado sua forma e uma determinada quantidade de fusos ter desaparecido completamente De acordo com a lei geral do valor se o valor de 40 libras de fio ao valor de 40 libras de algodão o valor de um fuso inteiro isto é se o mesmo tempo de trabalho é necessário para produzir cada um dos dois lados dessa equação então 10 libras de fio equivalem a 10 libras de algodão e 14 de fuso Nesse caso o mesmo tempo de trabalho se expressa de um lado no valor de uso do fio e de outro nos valores de uso do algodão e do fuso O valor permanece o mesmo não importando onde ele aparece se no fio no fuso ou no algodão O fato de que o fuso e o algodão em vez de 194 permanecerem em repouso um ao lado do outro integrem conjuntamente o processo de fiação que modifica suas formas de uso e os transforma em fio afeta tão pouco seu valor quanto seria o caso se eles tivessem sido trocados por um equivalente em fio O tempo de trabalho requerido para a produção do algodão que é a matériaprima do fio é parte do tempo de trabalho requerido para a produção do fio e por isso está contido neste último O mesmo se aplica ao tempo de trabalho requerido para a produção da quantidade de fusos cujo desgaste ou consumo é indispensável à fiação do algodão11 Assim quando se considera o valor do fio ou o tempo de trabalho requerido para sua produção todos os diferentes processos particulares de trabalho que separados no tempo e no espaço têm de ser realizados para primeiramente produzir o próprio algodão e a quantidade de fusos necessária à fiação e posteriormente para obter o fio a partir do algodão e dos fusos podem ser considerados fases diferentes e sucessivas de um e mesmo processo de trabalho Todo o trabalho contido no fio é trabalho passado Que o tempo de trabalho requerido para a produção de seus elementos constitutivos tenha ocorrido anteriormente que ele se encontre no tempo maisque perfeito enquanto o trabalho imediatamente empregado no processo final na fiação encontrase mais próximo do presente no passado perfeito é uma circunstância totalmente irrelevante Se uma quantidade determinada de trabalho por exemplo 30 jornadas de trabalho é necessária para a construção de uma casa o fato de que a última jornada de trabalho seja realizada 29 dias depois da primeira jornada é algo que não altera em nada a quantidade total de tempo de trabalho incorporado na casa E desse modo o tempo de trabalho contido no material e nos meios de trabalho pode ser considerado como se tivesse sido gasto num estágio anterior do processo de fiação antes de iniciado o trabalho final sob a forma da fiação propriamente dita Os valores dos meios de produção isto é do algodão e do fuso expressos no preço de 12 xelins são assim componentes do valor do fio ou do valor do produto Apenas duas condições têm de ser satisfeitas Em primeiro lugar é necessário que o algodão e o fuso tenham servido efetivamente à produção de um valor de uso É preciso que no caso presente eles tenham sido transformados em fio Para o valor é indiferente qual valor de uso particular o fio possui ele tem no entanto de possuir algum valor de uso Em segundo lugar pressupõese que o tempo de trabalho empregado não ultrapasse o tempo necessário de trabalho sob dadas condições sociais de produção Portanto se apenas 1 libra de algodão é necessária para fiar 1 libra de fio então não se deve consumir mais do que 1 libra de algodão na produção de 1 libra de fio A mesma regra se aplica ao fuso Mesmo que o capitalista tenha a fantasia de em vez de fusos de ferro empregar fusos de ouro na produção o único trabalho que conta no valor do fio é o trabalho socialmente necessário isto é o tempo de trabalho necessário para a produção de fusos de ferro Sabemos agora qual a parte do valor do fio que é formada pelos meios de produção pelo algodão e pelo fuso Ela soma 12 xelins ou a materialização de duas jornadas de trabalho Tratase agora de determinar a parte do valor que o trabalho do próprio fiandeiro acrescenta ao algodão Devemos aqui considerar esse trabalho sob um aspecto totalmente distinto 195 daquele que ele assume durante o processo de trabalho Lá tratavase da atividade orientada à transformação do algodão em fio Quanto mais o trabalho é orientado a esse fim tanto melhor é o fio pressupondose inalteradas todas as demais circunstâncias O trabalho do fiandeiro é especificamente distinto dos outros trabalhos produtivos e a diferença se revela subjetiva e objetivamente na finalidade particular do ato de fiar em seu modo particular de operação na natureza particular de seus meios de produção no valor de uso particular de seu produto Algodão e fuso servem como meios de subsistência do trabalho de fiação mas com eles não se podem produzir canhões Na medida em que o trabalho do fiandeiro cria valor isto é é fonte de valor ele não difere em absolutamente nada do trabalho do produtor de canhões ou para empregar um exemplo que nos é mais próximo do trabalho incorporado nos meios de produção do fio dos plantadores de algodão e dos produtores de fusos É apenas em razão dessa identidade que o plantio de algodão a fabricação de fusos e a fiação podem integrar o mesmo valor total o valor do fio como partes que se diferenciam umas das outras apenas quantitativamente Não se trata mais aqui da qualidade do caráter e do conteúdo específicos do trabalho mas apenas de sua quantidade É apenas esta última que cabe calcular Supomos aqui que o trabalho de fiação é trabalho simples trabalho social médio Veremos posteriormente que a suposição contrária não altera em nada a questão Durante o processo de trabalho este passa constantemente da forma da inquietude Unruhe à forma do ser da forma de movimento para a de objetividade Ao final de 1 hora o movimento da fiação está expresso numa certa quantidade de fio o que significa que uma determinada quantidade de trabalho 1 hora de trabalho está objetivada no algodão Dizemos hora de trabalho isto é dispêndio da força vital do fiandeiro durante 1 hora pois o trabalho de fiação só tem validade aqui como dispêndio de força de trabalho e não como trabalho específico de fiação Durante o processo isto é durante a transformação do algodão em fio é de extrema importância que não seja consumido mais do que o tempo de trabalho socialmente necessário Se sob condições sociais normais de produção isto é médias uma quantidade de a libras de algodão é transformada em b libras de fio durante 1 hora de trabalho só se pode considerar como jornada de trabalho de 12 horas aquela em que 12 a libras de algodão são transformadas em 12 b libras de fio pois apenas o tempo de trabalho socialmente necessário é computado na formação do valor Assim como o próprio trabalho também a matériaprima e o produto aparecem aqui de um modo totalmente distinto daquele em que se apresentam no processo de trabalho propriamente dito A matériaprima é considerada aqui apenas como matéria que absorve uma quantidade determinada de trabalho Por meio dessa absorção ela se transforma de fato em fio porque a força de trabalho na forma da fiação é despendida e adicionada a ela Mas o produto o fio é agora nada mais do que uma escala de medida do trabalho absorvido pelo algodão Se em 1 hora 123 libra de algodão é fiada e transformada em 123 libra de fio então 10 libras de fio indicam a absorção de 6 horas de trabalho Quantidades determinadas de produto fixadas pela experiência não representam agora mais do que quantidades determinadas de trabalho massas determinadas de tempo de trabalho cristalizado Não são mais do 196 que a materialização de 1 hora 2 horas 1 dia de trabalho social Que o trabalho seja a fiação seu material o algodão e seu produto o fio é aqui tão indiferente quanto o fato de o material do trabalho ser ele próprio um produto e portanto matériaprima Se o trabalhador em vez de fiar trabalhasse na mineração de carvão o material do trabalho o carvão seria fornecido pela natureza No entanto uma quantidade determinada de carvão minerado por exemplo 1 quintal representaria uma quantidade determinada de trabalho absorvido Ao tratar da venda da força de trabalho supusemos que o valor diário da força de trabalho 3 xelins e que nele estão incorporadas 6 horas de trabalho sendo esta portanto a quantidade de trabalho requerida para produzir a quantidade média dos meios de subsistência diários do trabalhador Assim se em 1 hora de trabalho nosso fiandeiro transforma 123 libra de algodão em 123 de fio12 em 6 horas de trabalho ele transformará 10 libras de algodão em 10 libras de fio Durante o processo de fiação portanto o algodão absorve 6 horas de trabalho Esse mesmo tempo de trabalho é expresso numa quantidade de ouro de 3 xelins Assim por meio da fiação acrescenta se ao algodão um valor de 3 xelins Vejamos então o valor total do produto as 10 libras de fio nas quais estão objetivadas 2½ jornadas de trabalho 2 jornadas de trabalho contidas no algodão e nos fusos mais ½ jornada absorvida no processo de fiação O mesmo tempo de trabalho representase em 15 xelins de ouro Desse modo o preço adequado às 10 libras de fio é 15 xelins e o preço de 1 libra de fio é 1 xelim e 6 pence Nosso capitalista fica perplexo O valor do produto é igual ao valor do capital adiantado O valor adiantado não se valorizou não gerou maisvalor e portanto não se transformou em capital O preço das 10 libras de fio é 15 xelins e 15 xelins foram desembolsados no mercado em troca dos elementos constitutivos do produto ou o que é o mesmo dos fatores do processo de trabalho 10 xelins pelo algodão 2 xelins pelos fusos e 3 xelins pela força de trabalho O valor dilatado do fio não serve para nada pois seu valor é apenas a soma dos valores anteriormente distribuídos no algodão nos fusos e na força de trabalho e do valor obtido com essa simples adição jamais poderia resultar um maisvalor13 Tais valores estão concentrados agora numa única coisa mas eles já o estavam na soma de 15 xelins antes que esta se fragmentasse em três compras de mercadorias Não há na realidade nada estranho nesse resultado Como o valor de 1 libra de fio é 1 xelim e 6 pence por 10 libras de fio o capitalista teria de pagar 15 xelins no mercado Quer ele compre sua casa pronta no mercado que a mande construir nenhuma dessas operações fará crescer o dinheiro investido na aquisição da casa É possível que o capitalista instruído pela economia vulgar diga que adiantou seu dinheiro com a intenção de fazer mais dinheiro Mas o caminho para o inferno é pavimentado com boas intenções e sua intenção poderia ser igualmente a de fazer dinheiro sem produzir nada14 Ele ameaça todo tipo de coisa e está resolvido a não se deixar apanhar novamente De agora em diante em vez de ele próprio fabricála comprará a mercadoria pronta no mercado Mas se todos os seus irmãos capitalistas fizerem o mesmo onde ele encontrará mercadoria no mercado E dinheiro ele não pode comer Prega então um sermão Diz que é preciso levar em conta sua 197 abstinência Ele poderia ter desbaratado seus 15 xelins Em vez disso consumiuos produtivamente e transformouos em fio e justamente por isso ele possui agora o fio e não a consciência pesada Ele não precisa se rebaixar ao papel do entesourador que já nos mostrou a que fim leva tal ascetismo Além disso como diz o provérbio onde não há elrei o perde Qualquer que seja o mérito de sua abstinência não há nada com o que se possa recompensála pois o valor do produto que resulta do processo não é mais do que a soma dos valores das mercadorias lançadas na produção Portanto que ele se contente com o pensamento de que a virtude compensa Em vez disso ele continua a importunar O fio diz não lhe serve de nada Ele o produziu para a venda Que assim seja então Que ele venda o fio ou ainda mais simplesmente que ele produza de agora em diante apenas coisas para sua própria necessidade uma receita que seu médico MacCulloch já lhe havia prescrito como meio comprovado contra a epidemia da superprodução Ele se empertiga desafiante apoiandose nas patas traseiras Poderia o trabalhador apenas com seus próprios meios corporais criar no éter configurações do trabalho mercadorias Não é verdade que ele nosso capitalista forneceu ao trabalhador os materiais com os quais e nos quais ele pode dar corpo a seu trabalho E considerandose que a maior parte da sociedade consiste de tais pés rapados Habenichtsen não prestou ele um inestimável serviço à sociedade por meio de seus meios de produção seu algodão e seus fusos para não falar do serviço prestado ao próprio trabalhador a quem ele além de tudo ainda guarneceu dos meios de subsistência E não deve ele cobrar por esse serviço prestado Além do mais não se trata aqui de serviços15 Um serviço nada mais é do que o efeito útil de um valor de uso seja da mercadoria seja do trabalho16 Mas aqui se trata do valor de troca O capitalista pagou ao trabalhador o valor de 3 xelins e este lhe retribuiu com um equivalente exato o valor de 3 xelins adicionado ao algodão Trocouse valor por valor E eis que nosso amigo até aqui tão soberbo assume repentinamente a postura modesta de seu próprio trabalhador Ele próprio o capitalista não trabalhou Não realizou ele o trabalho de controle e supervisão do tecelão E esse seu trabalho também não gera valor Mas seu próprio overlooker supervisor e seu gerente dão de ombros Enquanto isso ele já assumiu com um largo sorriso sua fisionomia usual Ele nos rezou toda essa ladainha mas não dá por ela nem um tostão Esses e outros subterfúgios e truques baratos ele deixa aos professores de economia política que são pagos para isso J á ele ao contrário é um homem prático que nem sempre sabe o que diz quando se encontra fora de seu negócio mas sabe muito bem o que faz dentro dele Vejamos a questão mais de perto O valor diário da força de trabalho é de 3 xelins porque nela própria está objetivada meia jornada de trabalho isto é porque os meios de subsistência necessários à produção diária da força de trabalho custam meia jornada de trabalho Mas o trabalho anterior que está incorporado na força de trabalho e o trabalho vivo que ela pode prestar isto é seus custos diários de manutenção e seu dispêndio diário são duas grandezas completamente distintas A primeira determina seu valor de troca a segunda constitui seu valor de uso O fato de que meia jornada de trabalho seja necessária para manter o trabalhador vivo por 24 horas de modo algum o impede de trabalhar uma jornada inteira O valor da força de 198 trabalho e sua valorização no processo de trabalho são portanto duas grandezas distintas É essa diferença de valor que o capitalista tem em vista quando compra a força de trabalho Sua qualidade útil sua capacidade de produzir fio ou botas é apenas uma conditio sine qua non condição indispensável já que o trabalho para criar valor tem necessariamente de ser despendido de modo útil Mas o que é decisivo é o valor de uso específico dessa mercadoria o fato de ela ser fonte de valor e de mais valor do que aquele que ela mesma possui Esse é o serviço específico que o capitalista espera receber dessa mercadoria e desse modo ele age de acordo com as leis eternas da troca de mercadorias Na verdade o vendedor da força de trabalho como o vendedor de qualquer outra mercadoria realiza seu valor de troca e aliena seu valor de uso Ele não pode obter um sem abrir mão do outro O valor de uso da força de trabalho o próprio trabalho pertence tão pouco a seu vendedor quanto o valor de uso do óleo pertence ao comerciante que o vendeu O possuidor de dinheiro pagou o valor de um dia de força de trabalho a ele pertence portanto o valor de uso dessa força de trabalho durante um dia isto é o trabalho de uma jornada A circunstância na qual a manutenção diária da força de trabalho custa apenas meia jornada de trabalho embora a força de trabalho possa atuar por uma jornada inteira e consequentemente o valor que ela cria durante uma jornada seja o dobro de seu próprio valor diário tal circunstância é certamente uma grande vantagem para o comprador mas de modo algum uma injustiça para com o vendedor Nosso capitalista previu esse estado de coisas e o caso o faz rird O trabalhador encontra na oficina os meios de produção necessários não para um processo de trabalho de 6 mas de 12 horas Assim como 10 libras de algodão absorveram 6 horas de trabalho e se transformaram em 10 libras de fio 20 libras de algodão absorverão 12 horas de trabalho e se transformarão em 20 libras de fio Consideremos o produto do processo prolongado de trabalho Nas 20 libras de fio estão objetivadas agora 5 jornadas de trabalho das quais 4 foram empregadas na produção do algodão e dos fusos e 1 foi absorvida pelo algodão durante o processo de fiação A expressão em ouro das 5 jornadas de trabalho é 30 xelins ou 1 e 10 xelins Esse é portanto o preço das 20 libras de fio A libra de fio continua a custar 1 xelim e 6 pence mas a quantidade de valor das mercadorias lançadas no processo soma 27 xelins O valor do fio é de 30 xelins O valor do produto aumentou 19 sobre o valor adiantado em sua produção Desse modo 27 xelins transformaramse em 30 xelins criando um maisvalor de 3 xelins No final das contas o truque deu certo O dinheiro converteuse em capital Todas as condições do problema foram satisfeitas sem que tenha ocorrido qualquer violação das leis da troca de mercadorias Trocouse equivalente por equivalente Como comprador o capitalista pagou o devido valor por cada mercadoria algodão fusos força de trabalho Em seguida fez o mesmo que costuma fazer todo comprador de mercadorias consumiu seu valor de uso Do processo de consumo da força de trabalho que é ao mesmo tempo processo de produção da mercadoria resultou um produto de 20 libras de fio com um valor de 30 xelins Agora o capitalista retorna ao mercado mas não para comprar como antes e sim para vender mercadoria Ele vende a libra de fio por 1 xelim e 6 pence nem um centavo acima ou abaixo de seu valor E no entanto ele tira de circulação 3 xelins a mais do que a quantia que nela 199 colocou Esse ciclo inteiro a transformação de seu dinheiro em capital ocorre no interior da esfera da circulação e ao mesmo tempo fora dela Ele é mediado pela circulação porque é determinado pela compra da força de trabalho no mercado Mas ocorre fora da circulação pois esta apenas dá início ao processo de valorização que tem lugar na esfera da produção E assim está tout pour le mieux dans le meilleur des mondes possibles Tudo ocorre da melhor maneira ao melhor dos mundos possíveise Ao transformar o dinheiro em mercadorias que servem de matérias para a criação de novos produtos ou como fatores do processo de trabalho ao incorporar força viva de trabalho à sua objetividade morta o capitalista transforma o valor o trabalho passado objetivado morto em capital em valor que se autovaloriza um monstro vivo que se põe a trabalhar como se seu corpo estivesse possuído de amorf Ora se compararmos o processo de formação de valor com o processo de valorização veremos que este último não é mais do que um processo de formação de valor que se estende para além de certo ponto Se tal processo não ultrapassa o ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído por um novo equivalente ele é simplesmente um processo de formação de valor Se ultrapassa esse ponto ele se torna processo de valorização Se além disso compararmos o processo de formação de valor com o processo de trabalho veremos que este último consiste no trabalho útil que produz valores de uso O movimento é aqui considerado qualitativamente em sua especificidade segundo sua finalidade e conteúdo O mesmo processo de trabalho se apresenta no processo de formação de valor apenas sob seu aspecto quantitativo Aqui o que importa é apenas o tempo que o trabalho necessita para a sua operação ou o período durante o qual a força de trabalho é despendida de modo útil As mercadorias que tomam parte no processo também deixam de importar como fatores materiais funcionalmente determinados da força de trabalho que atua orientada para um fim Elas importam tão somente como quantidades determinadas de trabalho objetivado Se contido nos meios de produção ou adicionado pela força de trabalho o trabalho só importa por sua medida temporal Ele dura tantas horas dias etc No entanto o trabalho só importa na medida em que o tempo gasto na produção do valor de uso é socialmente necessário o que implica diversos fatores A força de trabalho tem de funcionar sob condições normais Se a máquina de fiar é o meio de trabalho dominante na fiação seria absurdo fornecer ao trabalhador uma roda de fiar Ou em vez de algodão de qualidade normal fornecerlhe um refugo de algodão que a toda hora arrebenta Em ambos os casos seu trabalho ocuparia um tempo de trabalho maior do que o tempo socialmente necessário para a produção de 1 libra de fio mas esse trabalho excedente não geraria valor ou dinheiro Contudo o caráter normal dos fatores objetivos de trabalho não depende do trabalhador e sim do capitalista Uma outra condição é o caráter normal da própria força de trabalho No ramo de produção em que é empregada ela tem de possuir o padrão médio de habilidade eficiência e celeridade Mas aqui supomos que nosso capitalista comprou força de trabalho de qualidade normal Tal força tem de ser aplicada com a quantidade média de esforço e com o grau de intensidade socialmente usual e o capitalista controla o trabalhador para que este não desperdice nenhum segundo de trabalho Ele comprou a força de 200 trabalho por um período determinado e insiste em obter o que é seu Não quer ser furtado Por fim e é para isso que esse mesmo senhor possui seu próprio code penal código penal é vedado qualquer consumo desnecessário de matériaprima e meios de trabalho pois material e meios de trabalho desperdiçados representam o dispêndio desnecessário de certa quantidade de trabalho objetivado portanto trabalho que não conta e não toma parte no produto do processo de formação de valor17 Vêse que a diferença anteriormente obtida com a análise da mercadoria entre o trabalho como valor de uso e o mesmo trabalho como criador de valor apresentase agora como distinção dos diferentes aspectos do processo de produção O processo de produção como unidade dos processos de trabalho e de formação de valor é processo de produção de mercadorias como unidade dos processos de trabalho e de valorização ele é processo de produção capitalista forma capitalista da produção de mercadorias Observamos anteriormente que para o processo de valorização é completamente indiferente se o trabalho apropriado pelo capitalista é trabalho social médio não qualificado ou trabalho complexo dotado de um peso específico mais elevado O trabalho que é considerado mais complexo e elevado do que o trabalho social médio é a exteriorização de uma força de trabalho com custos mais altos de formação cuja produção custa mais tempo de trabalho e que por essa razão tem um valor mais elevado do que a força simples de trabalho Como o valor dessa força é mais elevado ela também se exterioriza num trabalho mais elevado trabalho que cria no mesmo período de tempo valores proporcionalmente mais altos do que aqueles criados pelo trabalho inferior Mas qualquer que seja a diferença de grau entre o trabalho de fiação e de joalheria a porção de trabalho com a qual o trabalhador joalheiro apenas repõe o valor de sua própria força de trabalho não se diferencia em nada em termos qualitativos da porção adicional de trabalho com a qual ele cria maisvalor Tal como antes o maisvalor resulta apenas de um excedente quantitativo de trabalho da duração prolongada do mesmo processo de trabalho num caso do processo de produção do fio noutro do processo de produção de joias18 Por outro lado em todo processo de formação de valor o trabalho superior tem sempre de ser reduzido ao trabalho social médio por exemplo uma jornada de trabalho superior tem de ser reduzida a x jornadas de trabalho simples19 Poupase com isso uma operação supérflua e simplificase a análise por meio do pressuposto de que o trabalhador empregado pelo capital realiza o trabalho social médio não qualificado 201 Capítulo 6 Capital constante e capital variável Os diferentes fatores do processo de trabalho participam de diferentes modos na formação do valor dos produtos O trabalho adiciona novo valor ao objeto do trabalho por meio da adição de uma quantidade determinada de trabalho não importando o conteúdo determinado a finalidade e o caráter técnico de seu trabalho Por outro lado os valores dos meios de produção consumidos reaparecem como componentes do valor dos produtos por exemplo os valores do algodão e dos fusos incorporados no valor do fio Desse modo o valor dos meios de produção é conservado por meio de sua transferência ao produto a qual ocorre durante a transformação dos meios de produção em produto isto é no processo de trabalho e é mediada pelo trabalho Mas como O trabalhador não trabalha duas vezes ao mesmo tempo uma vez para acrescentar valor ao algodão outra para conservar seu valor anterior ou o que é o mesmo para transferir ao produto o fio o valor do algodão que ele trabalha e o valor dos fusos com os quais ele trabalha Pelo contrário é pelo mero acréscimo de novo valor que ele conserva o valor anterior Mas como a adição de novo valor ao objeto de trabalho e a conservação dos valores anteriores incorporados no produto são dois resultados completamente distintos que o trabalhador atinge ao mesmo tempo durante o qual ele trabalha no entanto uma única vez concluise que essa duplicidade do resultado só pode ser explicada pela duplicidade de seu próprio trabalho Um lado do trabalho tem de criar valor ao mesmo tempo que seu outro lado tem de conservar ou transferir valor De que maneira cada trabalhador adiciona tempo de trabalho e consequentemente valor Evidentemente apenas na forma de seu modo peculiar de trabalho produtivo O fiandeiro só adiciona tempo de trabalho quando fia o tecelão quando tece o ferreiro quando forja É portanto por meio de uma forma determinada da adição de trabalho e de valor novo isto é por meio da fiação da tecelagem da forjadura etc que os meios de produção o algodão e o fuso o fio e a máquina de fiar o ferro e a bigorna se tornam elementos formadores de um produto um novo valor de uso20 A antiga forma de seu valor de uso desaparece mas apenas para reaparecer numa nova forma Ora ao tratarmos do processo de formação do valor vimos que quando um valor de uso é efetivamente consumido na produção de um novo valor de uso o tempo de trabalho necessário à produção de um valor de uso já consumido constitui parte do tempo necessário à produção do novo valor de uso e é portanto o tempo de trabalho transferido ao novo produto pelo meio de produção consumido Assim se o trabalhador conserva os valores dos meios de produção consumidos ou os transfere ao produto como seus componentes de valor ele não o faz por meio da adição de trabalho em geral mas por meio do caráter particularmente útil desse trabalho adicional por meio de sua específica forma produtiva É na forma de uma 202 atividade produtiva orientada a um determinado fim como a fiação a tecelagem ou a forjadura que o trabalho por seu simples contato com os meios de produção despertaos do mundo dos mortos animaos em fatores do processo de trabalho e se combina com eles para formar novos produtos Se o trabalho produtivo específico do trabalhador não fosse a fiação ele não poderia transformar o algodão em fio e portanto tampouco transferir ao fio os valores do algodão e dos fusos Se ao contrário o mesmo trabalhador trocar de ramo e se tornar carpinteiro ele continuará a adicionar valor a seu material por meio de uma jornada de trabalho Ele adiciona valor ao material por meio de seu trabalho não como trabalho de fiação ou de carpintaria mas como trabalho abstrato trabalho social em geral e adiciona uma grandeza determinada de valor não porque seu trabalho tenha um conteúdo útil particular mas porque dura um tempo determinado Portanto é por sua qualidade abstrata geral como dispêndio de força humana de trabalho que o trabalho do fiandeiro adiciona um valor novo aos valores do algodão e dos fusos e é em sua qualidade concreta particular e útil como processo de fiação que ele transfere ao produto o valor desses meios de produção e com isso conserva seu valor no produto Daí decorre a duplicidade de seu resultado no mesmo tempo Por meio da adição meramente quantitativa de trabalho um valor novo é adicionado por meio da qualidade do trabalho adicionado os valores antigos dos meios de produção são conservados no produto Esse efeito duplo do mesmo trabalho decorrência de seu caráter duplo pode ser detectado em vários fenômenos Suponha que em consequência de uma invenção qualquer o fiandeiro possa fiar em 6 horas a mesma quantidade de algodão que ele antes fiava em 36 horas Como atividade adequada a um fim útil e produtiva seu trabalho sextuplicou sua força Seu produto é seis vezes maior 36 libras de fio em vez de 6 Mas as 36 libras de algodão absorvem agora apenas o mesmo tempo de trabalho antes absorvido por 6 libras A quantidade de trabalho novo que lhes é adicionada é 6 vezes menor do que com o método antigo portanto apenas 16 do valor anterior Por outro lado o valor de algodão agora contido no produto é 6 vezes maior isto é 36 libras Nas 6 horas de fiação é conservado e transferido ao produto um valor de matériaprima 6 vezes maior embora à mesma matériaprima seja adicionado um novo selo 6 vezes menor I sso revela a diferença essencial entre as duas propriedades do trabalho que agem simultaneamente uma conservando a outra criando valor Quanto mais tempo de trabalho necessário é incorporado na mesma quantidade de algodão durante a fiação maior é o valor novo adicionado ao algodão porém quanto mais libras de algodão são fiadas no mesmo tempo de trabalho maior é o valor antigo conservado no produto Suponha ao contrário que a produtividade do trabalho de fiação se mantenha inalterada e que o fiandeiro continuasse a necessitar do mesmo tempo de trabalho que antes para transformar 1 libra de algodão em fio Mas suponha também que ocorra uma variação no valor de troca do algodão de modo que o preço de 1 libra de algodão aumente ou caia 6 vezes Em ambos os casos o fiandeiro continuará a adicionar o mesmo tempo de trabalho e assim o mesmo valor à mesma quantidade de algodão e em ambos os casos ele produzirá a mesma quantidade de fio no mesmo tempo No entanto o valor que ele transferirá do algodão ao fio será ou um sexto do 203 valor anterior ou seu sêxtuplo O mesmo ocorreria se o valor dos meios de trabalho aumentasse ou caísse porém continuando a prestar o mesmo serviço no processo de trabalho Se as condições técnicas do processo de fiação permanecerem as mesmas e não ocorrer nenhuma variação de valor nos meios de produção o fiandeiro continuará a consumir no mesmo tempo de trabalho a mesma quantidade de matériaprima e maquinaria cujos valores permanecem os mesmos O valor que ele conserva no produto permanece na razão direta do novo valor que ele adiciona a este Em duas semanas ele incorpora ao produto o dobro de trabalho e assim o dobro de valor de uma semana de trabalho ao mesmo tempo ele consome o dobro de material que vale o dobro e desgasta duas vezes mais maquinaria que também vale o dobro de maneira que no produto de duas semanas ele conserva o dobro de valor que é conservado no produto de uma semana Sob condições invariáveis de produção o trabalhador conserva tanto mais valor quanto mais valor ele adiciona mas conserva mais valor não porque adiciona mais valor e sim porque o adiciona sob condições invariáveis e independentes de seu próprio trabalho Em certo sentido podese dizer que o trabalhador sempre conserva valores anteriores na mesma proporção em que adiciona novo valor Se o algodão aumenta de 1 para 2 xelins ou cai para 6 pence o trabalhador continua a conservar no produto de 1 hora de trabalho apenas a metade do valor do algodão que ele conserva no produto de 2 horas de trabalho independentemente da variação daquele valor Se além disso a produtividade de seu próprio trabalho variar seja para cima ou para baixo ele poderá fiar mais ou menos algodão que antes e desse modo conservar no produto de 1 hora de trabalho mais ou menos valor em algodão Contudo em duas horas de trabalho ele conservará o dobro de valor do que em uma O valor se desconsideramos sua expressão meramente simbólica nos signos de valor existe apenas num valor de uso numa coisa O próprio homem considerado como mera existência de força de trabalho é um objeto natural uma coisa embora uma coisa viva autoconsciente sendo o próprio trabalho a exteriorização material dessa força Por isso a perda do valor de uso implica a perda do valor Com a perda de seu valor de uso os meios de produção não perdem ao mesmo tempo seu valor uma vez que por meio do processo de trabalho eles só perdem a figura originária de seu valor de uso para no produto ganhar a figura de outro valor de uso Mas do mesmo modo que para o valor é importante que ele exista num valor de uso qualquer também lhe é indiferente em qual valor determinado ele existe como fica evidente na metamorfose das mercadorias Disso se segue que no processo de trabalho o valor do meio de produção só se transfere ao produto na medida em que o meio de produção perde juntamente com seu valor de uso independente também seu valor de troca Ele só cede ao produto o valor que perde como meio de produção A esse respeito porém nem todos os fatores objetivos do processo de trabalho se comportam do mesmo modo O carvão que serve de combustível para a máquina desaparece sem deixar rastros do mesmo modo que o óleo usado na lubrificação da engrenagem As tintas e outras matérias auxiliares também se consomem porém reaparecem como propriedades do 204 produto A matériaprima constitui a substância do produto mas sua forma foi modificada Desse modo a matériaprima e as matérias auxiliares perdem a figura independente com que ingressaram no processo de trabalho como valores de uso diferentemente do que ocorre com os meios de trabalho propriamente ditos Uma ferramenta uma máquina o edifício de uma fábrica um barril etc servem no processo de trabalho apenas na medida em que conservam sua configuração original podendo entrar amanhã no processo de trabalho com a mesma forma com que entraram ontem Depois de sua morte os meios de trabalho conservam sua figura independente em relação ao produto tanto quanto a conservavam durante sua vida isto é ao longo do processo de trabalho Os cadáveres das máquinas ferramentas edifícios industriais etc continuam a existir separados dos produtos que eles mesmos ajudaram a criar Ora se considerarmos o período inteiro durante o qual tal meio de trabalho serve na produção desde sua introdução na oficina até o dia de seu banimento ao depósito de sucata veremos que durante esse período seu valor de uso foi integralmente consumido pelo trabalho e portanto seu valor de troca foi completamente transferido ao produto Se por exemplo uma máquina de fiar durou 10 anos deduzse que durante esse processo de trabalho seu valor total foi gradualmente transferido ao produto desses 10 anos O tempo de vida de um meio de trabalho compreende portanto sua repetida utilização num número maior ou menor de processos de trabalho sucessivos E com o meio de trabalho ocorre o mesmo que com o homem Todo homem morre 24 horas a cada dia Porém apenas olhando para um homem não é possível perceber com exatidão quantos dias ele já morreu o que no entanto não impede que companhias de seguros baseandose na expectativa média de vida dos homens possam chegar a conclusões muito seguras e mais ainda muito lucrativas O mesmo ocorre com o meio de trabalho A experiência nos ensina quanto tempo dura em média um meio de trabalho por exemplo uma máquina de certo tipo Suponha que seu valor de uso no processo de trabalho dure apenas 6 dias Desse modo a cada dia de trabalho ele perde em média 16 de seu valor de uso e por conseguinte transfere 16 de seu valor a seu produto diário Assim é calculada a depreciação de todos os meios de trabalho isto é por exemplo sua perda diária de valor de uso e sua correspondente transferência diária de valor ao produto Esse exemplo demonstra claramente que um meio de produção jamais transfere ao produto mais valor do que o valor que ele perde no processo de trabalho por meio da destruição de seu valor de uso Se não tivesse valor algum a perder isto é se ele mesmo não fosse produto do trabalho humano o meio de produção não poderia transferir qualquer valor ao produto Ele serviria de criador de valor de uso sem servir de criador de valor de troca Tal é o caso de todos os meios de produção que preexistem na natureza sem a intervenção humana tais como a terra o vento a água o ferro nos veios das rochas a madeira nas florestas virgens etc Aqui outro fenômeno interessante se apresenta Suponha que uma máquina tenha por exemplo o valor de 1000 e se consuma em 1000 dias Nesse caso 11000 do valor da máquina é transferido diariamente a seu produto Ao mesmo tempo a máquina inteira continua a atuar embora com vitalidade decrescente no processo de trabalho Evidenciase assim que um fator do processo de trabalho um meio de produção 205 entra inteiramente no processo de trabalho mas apenas parcialmente no processo de valorização A diferença entre processo de trabalho e processo de valorização se reflete aqui em seus fatores objetivos uma vez que no mesmo processo de produção o meio de produção atua de modo inteiro como elemento do processo de trabalho e de modo apenas fracionado como elemento da formação de valor21 Por outro lado um meio de produção pode entrar de modo inteiro no processo de valorização embora entre apenas de modo fracionado no processo de trabalho Suponha que no processo de fiação para cada 115 libras de algodão diariamente utilizadas sejam desperdiçadas 15 libras que não se transformam em fio mas em devils dusta No entanto na medida em que esse resíduo é considerado como um elemento normal e inseparável da fiação em suas condições médias essas 15 libras embora não constituam elemento do fio passam a compor o valor do fio tanto quanto as 100 libras que constituem sua substância O valor de uso de 15 libras de algodão tem de ser transformado em pó para que sejam produzidas 100 libras de fio A destruição desse algodão é portanto uma condição necessária para a produção do fio e é justamente por isso que ele transfere seu valor ao fio I sso vale para todos os detritos do processo de trabalho ao menos na medida em que tais detritos não constituem novos meios de produção e por conseguinte valores de uso novos e independentes Tal uso de detritos pode ser observado nas grandes fábricas de máquinas de Manchester onde montanhas de resíduos de ferro reduzido a pequenas lascas por máquinas ciclópicas à noite são transportados em grandes vagões até o forno de fundição e no dia seguinte retornam à fábrica como barras maciças de ferro Os meios de produção só transferem valor à nova figura do produto na medida em que durante o processo de trabalho perdem valor na figura de seus antigos valores de uso O máximo de perda de valor que eles podem suportar no processo de trabalho é claramente limitado pela grandeza de valor original com a qual ingressaram no processo de trabalho ou em outras palavras pelo tempo de trabalho requerido para sua própria produção Por isso os meios de produção jamais podem adicionar ao produto um valor maior do que o que eles mesmos possuem independentemente do processo de trabalho no qual tomam parte Por mais útil que possa ser um material de trabalho uma máquina um meio de produção custe ele 150 ou digamos 500 jornadas de trabalho ele jamais poderá adicionar ao produto total mais do que 150 Seu valor é determinado não pelo processo de trabalho no qual ele entra como meio de produção mas pelo processo de trabalho do qual ele resulta como produto No processo de trabalho ele serve apenas como valor de uso como coisa dotada de propriedades úteis que não poderia transferir nenhum valor ao produto se já não possuísse valor antes de sua entrada no processo22 Quando o trabalho produtivo transforma os meios de produção em elementos constituintes de um novo produto o valor desses meios de produção sofre uma metempsicose Ele transmigra do corpo consumido ao novo corpo criado Mas essa metempsicose se dá como que por trás das costas do trabalho efetivo O trabalhador não pode adicionar novo trabalho criar novo valor sem conservar valores antigos pois ele tem sempre de adicionar trabalho numa forma útil determinada e não tem como adicionálo numa forma útil sem transformar os produtos em meios de produção de 206 um novo produto e desse modo transferir ao novo produto o valor desses meios de produção A capacidade de conservar valor ao mesmo tempo que adiciona valor é um dom natural da força de trabalho em ação do trabalho vivo um dom que não custa nada ao trabalhador mas é muito rentável para o capitalista na medida em que conserva o valor existente do capital22a Enquanto o negócio vai bem a atenção do capitalista está absorvida demais na criação de lucro para que ele perceba essa dádiva gratuita do trabalho Apenas interrupções violentas do processo de trabalho crises tornamno sensível a esse fato23 O que é realmente consumido nos meios de produção é seu valor de uso e é por meio desse consumo que o trabalho cria produtos Seu valor não é de fato consumido24 e tampouco pode ser reproduzido Ele é conservado não porque ele próprio seja objeto de uma operação no processo de trabalho mas porque o valor de uso no qual ele originalmente existia desaparece embora apenas para se incorporar em outro valor de uso O valor dos meios de produção reaparece assim no valor do produto porém não se pode dizer que ele seja reproduzido O que é produzido é o novo valor de uso no qual reaparece o antigo valor de troca25 Diferente é o que ocorre com o fator subjetivo do processo de trabalho a força de trabalho em ação Enquanto o trabalho mediante sua forma orientada a um fim transfere ao produto o valor dos meios de produção e nele o conserva cada momento de seu movimento cria valor adicional valor novo Suponha por exemplo que o processo de produção seja interrompido no momento em que o trabalhador tenha produzido um equivalente do valor de sua própria força de trabalho tendo adicionado ao produto em 6 horas de trabalho digamosum valor de 3 xelins Tal valor constitui o excedente do valor do produto acima da parcela desse valor que é devida aos meios de produção Ele é o único valor original surgido no interior desse processo a única parte do valor do produto criada pelo próprio processo Não podemos nos esquecer é claro de que esse novo valor não faz mais do que repor o dinheiro desembolsado pelo capitalista na compra de força de trabalho e gasto pelo trabalhador em meios de subsistência Quanto aos 3 xelins gastos o novo valor de 3 xelins aparece apenas como reprodução mas ele é efetivamente reproduzido e não apenas aparentemente como ocorre com o valor dos meios de produção A substituição de um valor por outro é mediada aqui por uma nova criação de valor J á sabemos no entanto que o processo de trabalho pode durar além do tempo necessário para reproduzir e incorporar no objeto de trabalho um mero equivalente do valor da força de trabalho Em vez de 6 horas que aqui seriam suficientes para essa reprodução o processo dura digamos 12 horas Assim por meio da ação da força de trabalho não apenas seu próprio valor se reproduz mas também se produz um valor excedente Esse maisvalor constitui o excedente do valor do produto sobre o valor dos elementos formadores do produto isto é dos meios de produção e da força de trabalho Em nossa exposição dos diferentes papéis desempenhados pelos diversos fatores do processo de trabalho na formação do valor do produto caracterizamos as funções dos diversos componentes do capital em seu próprio processo de valorização O excedente do valor total do produto sobre a soma dos valores de seus elementos 207 formadores é o excedente do capital valorizado sobre o valor do capital originalmente desembolsado Meios de produção de um lado e força de trabalho de outro não são mais do que diferentes formas de existência que o valor do capital originário assume ao se despojar de sua formadinheiro e se converter nos fatores do processo de trabalho Portanto a parte do capital que se converte em meios de produção isto é em matériasprimas matérias auxiliares e meios de trabalho não altera sua grandeza de valor no processo de produção Por essa razão denominoa parte constante do capital ou mais sucintamente capital constante Por outro lado a parte do capital constituída de força de trabalho modifica seu valor no processo de produção Ela não só reproduz o equivalente de seu próprio valor como produz um excedente um maisvalor que pode variar sendo maior ou menor de acordo com as circunstâncias Essa parte do capital transformase continuamente de uma grandeza constante numa grandeza variável Denominao por isso parte variável do capital ou mais sucintamente capital variável Os mesmos componentes do capital que do ponto de vista do processo de trabalho distinguemse como fatores objetivos e subjetivos como meios de produção e força de trabalho distinguemse do ponto de vista do processo de valorização como capital constante e capital variável O conceito do capital constante não exclui em absoluto uma revolução no valor de seus componentes Suponha que 1 libra de algodão custe hoje 6 pence e amanhã passe a custar 1 xelim em consequência de uma queda na colheita de algodão O algodão comprado por 6 pence a libra e que continua a ser trabalhado após o aumento de seu valor adiciona ao produto agora o valor de 1 xelim Do mesmo modo o algodão já fiado antes do aumento e que talvez já circule no mercado como fio adiciona ao produto o dobro de seu valor original Vêse no entanto que essas mudanças de valor são independentes da valorização do algodão no próprio processo de fiação Se o antigo algodão ainda não tivesse sido introduzido no processo de trabalho ele poderia agora ser revendido por 1 xelim em vez de 6 pence Ao contrário quanto menos processos de trabalho o algodão tiver de percorrer tanto mais certo será esse resultado Por isso constitui uma lei da especulação em tais revolução do valor especular com a matériaprima em sua forma menos trabalhada portanto com o fio mais do que com o tecido e com o próprio algodão mais do que com o fio A alteração no valor tem origem aqui no processo que produz o algodão e não no processo em que ele funciona como meio de produção e por conseguinte como capital constante O valor de uma mercadoria é de fato determinado pela quantidade de trabalho nela contido mas essa própria quantidade é socialmente determinada A alteração no tempo de trabalho socialmente necessário para a sua produção e a mesma quantidade de algodão por exemplo incorpora uma quantidade maior de trabalho em colheitas desfavoráveis do que em favoráveis exerce um efeito retroativo sobre a antiga mercadoria que vale sempre como exemplo singular de sua espécie26 cujo valor é sempre medido pelo trabalho socialmente necessário isto é pelo trabalho necessário para sua produção sob as condições sociais presentes Tal como o valor da matériaprima o valor dos meios de produção da maquinaria etc que servem no processo de produção pode variar e com ele também a parte de 208 valor que transferem ao produto Se por exemplo em consequência de uma nova invenção maquinaria do mesmo tipo é reproduzida com menor dispêndio de trabalho a velha maquinaria se desvaloriza em maior ou menor grau e assim transfere relativamente menos valor ao produto Mas também aqui a mudança no valor tem origem fora do processo de produção em que a máquina funciona como meio de produção Nesse processo ela jamais cede um valor maior do que o que ela possui independentemente dele Assim como uma mudança no valor dos meios de produção mesmo que ocorrendo posteriormente à atuação destes últimos no processo não altera seu caráter como capital constante tampouco uma mudança na proporção entre capital constante e variável afeta as respectivas funções dessas duas formas de capital As condições técnicas do processo de trabalho podem ser revolucionadas de modo que por exemplo se antes dez trabalhadores usando dez ferramentas de baixo valor trabalhavam uma quantidade relativamente pequena de matériaprima agora apenas um trabalhador usando uma máquina mais cara trabalha uma quantidade de matéria prima cem vezes maior Nesse caso temse um grande aumento de capital constante isto é da quantidade de valor dos meios de produção empregados e uma grande diminuição da parte variável do capital investida na força de trabalho Tal mudança no entanto altera apenas a relação quantitativa entre o capital constante e o variável ou a proporção em que o capital total se decompõe em seus componentes constante e variável mas não afeta em nada a diferença entre os dois 209 Capítulo 7 A taxa do maisvalor 1 O grau de exploração da força de trabalho O maisvalor que o capital adiantado C gerou no processo de produção ou em outras palavras a valorização do valor de capital Kapitalwert adiantado C apresentase de início como excedente do valor do produto sobre a soma de valor de seus elementos de produção O capital C decompõese em duas partes uma quantia de dinheiro c gasta com meios de produção e uma quantia v gasta com a força de trabalho c representa a parte do valor transformada em capital constante e v a parte transformada em capital variável Originalmente portanto C c v de modo que se o capital adiantado é digamos 500 temos 500 410 const 90 var Ao final do processo de produção resulta uma mercadoria cujo valor é c v m onde m representa o maisvalor por exemplo 410 const 90 var 90 maisval O capital original C transformouse em C de 500 ele passou a 590 A diferença entre os dois é m um maisvalor de 90 Como o valor dos elementos de produção é igual ao valor do capital adiantado é uma mera tautologia dizer que o excedente do valor do produto sobre o valor de seus elementos de produção é igual à valorização do capital adiantado ou ao maisvalor produzido Essa tautologia requer no entanto uma análise mais detalhada O que é comparado com o valor dos produtos é o valor dos elementos consumidos em sua produção Ora vimos que a parte do capital constante investido que é constituída de meios de trabalho transfere apenas uma porção de seu valor ao produto ao passo que outra porção é conservada em sua antiga forma de existência Como esta última não desempenha nenhum papel na formação do valor ela pode aqui ser deixada de lado Sua inclusão no cálculo não faria nenhuma diferença Tomemos nosso exemplo anterior segundo o qual c 410 e suponha que essa quantia consista de 312 de matériaprima 44 de matéria auxiliar e 54 do desgaste da maquinaria usada no processo sendo o valor total da maquinaria empregada 1054 Como valor adiantado para a formação do valor do produto temos de calcular assim apenas as 54 que a maquinaria perde devido a seu funcionamento e desse modo transfere ao produto Se calculássemos nessa soma as 1000 que continuam a existir em sua forma antiga como máquina a vapor etc também teríamos de calculála como parte do valor adiantado de modo que ela apareceria nos dois lados da equação do lado do valor adiantado e do lado do valor do produto26a e obteríamos respectivamente 1500 e 1590 A diferença ou o maisvalor seria tal como antes 90 Por capital constante adiantado para a produção de valor entendemos sempre salvo exceções evidentes o valor dos meios de produção consumidos na produção Dito isso retornemos à fórmula C c v que vimos se transformar em C c v 210 m de modo que C se transformou em C Sabese que o valor do capital constante apenas reaparece no produto O produto de valor Wertprodukt efetivamente criado no processo é portanto diferente do valor do produto Prokutenwert que resulta do processo ele não é como parece à primeira vista c v m ou 410 const 90 var 90 maisval mas v m ou 90 var 90 maisval não 590 mas 180 Se c o capital constante fosse 0 em outras palavras se existisse algum ramo da indústria em que o capitalista não empregasse nenhum meio de produção produzido nem matériaprima nem matérias auxiliares nem instrumentos de trabalho mas tão somente matérias preexistentes na natureza e mais força de trabalho não haveria nenhuma parte de valor constante a ser transferida ao produto Esse elemento do valor do produto que em nosso exemplo soma 410 seria eliminado mas o produto de valor de 180 que contém 90 de maisvalor permaneceria com a mesma grandeza que teria se c representasse o maior valor imaginável Teríamos C 0 v v e C o capital valorizado v m e desse modo C C seria tal como antes m Se ao contrário m 0 ou em outras palavras se a força de trabalho cujo valor é adiantado na forma de capital variável não produzisse mais do que um equivalente então C c v e C o valor do produto c v 0 de modo que C C O capital adiantado não se teria então valorizado J á sabemos que o maisvalor é uma mera consequência de uma mudança de valor de v a parte do capital transformada em força de trabalho e que portanto v m v Δv v mais um incremento de v Mas a verdadeira mudança de valor bem como as condições dessa mudança é obscurecida pelo fato de que em consequência do crescimento de seu componente variável temse também um crescimento do capital total adiantado Ele era 500 e agora é 590 A análise pura do processo exige portanto que se faça total abstração da parte do valor do produto em que apenas reaparece o valor do capital constante ela exige que se pressuponha o capital constante c 0 e se aplique uma lei da matemática adequada a casos em que se opera com grandezas variáveis e constantes e em que estas só estejam ligadas entre si por meio da adição e da subtração Outra dificuldade resulta da forma original do capital variável No exemplo anterior C 410 de capital constante 90 de capital variável 90 de maisvalor Mas 90 são uma grandeza dada e portanto constante razão pela qual parece absurdo tratála como grandeza variável Mas 90 ou 90 de capital variável são aqui na verdade tão somente um símbolo do processo que esse valor percorre A parte do capital adiantada na compra da força de trabalho é uma quantidade determinada de trabalho objetivado portanto uma grandeza constante de valor como o valor da força de trabalho comprada No próprio processo de produção porém o lugar das 90 adiantadas é ocupado pela força de trabalho em ação o trabalho morto é substituído pelo trabalho vivo e uma grandeza imóvel e constante cede lugar a uma grandeza fluida e variável O resultado é a reprodução de v mais o incremento de v Do ponto de vista da produção capitalista esse ciclo inteiro é o movimento espontâneo do valor originalmente constante transformado em força de trabalho I mputase a esse valor tanto o processo quanto seu resultado de modo que se as expressões 90 de capital variável ou valor que valoriza a si mesmo parecem contraditórias elas expressam 211 apenas uma contradição imanente à produção capitalista À primeira vista parece estranho igualar o capital constante a 0 No entanto é o que fazemos constantemente no dia a dia Se por exemplo queremos calcular o lucro obtido pela I nglaterra com a indústria de algodão temos de começar por descontar os valores pagos pelo algodão aos Estados Unidos à Índia ao Egito etc isto é temos de igualar a 0 o valor do capital que apenas reaparece no valor do produto Certamente a relação do maisvalor não apenas com a parte do capital de onde ele resulta diretamente e cuja mudança de valor ele representa mas também com o capital total adiantado é de extrema importância econômica Por isso trataremos detalhadamente dessa relação no Livro I I I desta obra Para valorizar uma parte do capital por meio de sua transformação em força de trabalho outra parte do capital tem de ser transformada em meios de produção Para que o capital variável funcione o capital constante tem de ser adiantado nas proporções devidas de acordo com o caráter técnico determinado do processo de trabalho No entanto a circunstância de que para um processo químico sejam necessárias retortas e outros tipos de recipientes não obriga o químico a incluir esses meios no resultado da análise Se observarmos a criação e a variação do valor em si mesmas isto é em sua pureza veremos que os meios de produção essas formas materiais do capital constante fornecem apenas a matéria em que se deve fixar a força fluida criadora de valor A natureza dessa matéria é por isso indiferente se algodão ou ferro Também o valor dessa matéria é indiferente Ela tem apenas de existir em volume suficiente para absorver a quantidade de trabalho a ser despendido durante o processo de produção Dado esse volume seu valor pode aumentar ou diminuir ou ela pode não ter valor como a terra e o mar e isso não afetará em nada o processo de criação e de mudança do valor27 I nicialmente portanto igualamos a 0 a parte constante do capital Desse modo o capital adiantado é reduzido de c v a apenas v e o valor do produto c v m ao produto de valor v m Dado o produto de valor 180 no qual está representado o trabalho despendido durante todo processo de produção temos de descontar o valor do capital variável 90 para obter o maisvalor 90 O valor de 90 m expressa aqui a grandeza absoluta do maisvalor produzido mas sua grandeza proporcional isto é a proporção em que se valorizou o capital variável é obviamente determinada pela relação entre o maisvalor e o capital variável sendo expressa em mv No exemplo anterior portanto essa proporção é de 9090 100 Essa valorização proporcional do capital variável ou grandeza proporcional do maisvalor denomino taxa de mais valor28 Vimos que o trabalhador durante uma parte do processo de trabalho produz apenas o valor de sua força de trabalho isto é o valor dos meios necessários à sua subsistência Produzindo sob condições baseadas na divisão social do trabalho ele produz seus meios de subsistência não diretamente mas na forma de uma mercadoria particular por exemplo do fio um valor igual ao valor de seus meios de subsistência ou ao dinheiro com o qual ele os compra A parte de sua jornada de trabalho que ele precisa para isso pode ser maior ou menor a depender do valor de seus meios de subsistência diários médios ou o que é o mesmo do tempo médio de trabalho diário requerido para sua produção Se o valor de seus meios diários de subsistência 212 representa em média 6 horas de trabalho objetivado o trabalhador tem de trabalhar em média 6 horas diárias para produzilos Se não trabalhasse para o capitalista mas para si mesmo independentemente ele continuaria a dedicar mantendose iguais as demais circunstâncias a mesma média diária de horas de sua jornada à produção do valor de sua força de trabalho e desse modo à obtenção dos meios de subsistência necessários à sua manutenção ou reprodução contínua Mas como na parte de sua jornada de trabalho em que produz o valor diário da força de trabalho digamos 3 xelins o trabalhador produz apenas um equivalente do valor já pago pelo capitalista28a e desse modo apenas repõe por meio do novo valor criado o valor do capital variável adiantado essa produção de valor aparece como mera reprodução Portanto denomino tempo de trabalho necessário a parte da jornada de trabalho em que se dá essa reprodução e trabalho necessário o trabalho despendido durante esse tempo29 Ele é necessário ao trabalhador porquanto é independente da forma social de seu trabalho e é necessário ao capital e seu mundo porquanto a existência contínua do trabalhador forma sua base O segundo período do processo de trabalho em que o trabalhador trabalha além dos limites do trabalho necessário custalhe de certo trabalho dispêndio de força de trabalho porém não cria valor algum para o próprio trabalhador Ele gera maisvalor que para o capitalista tem todo o charme de uma criação a partir do nada A essa parte da jornada de trabalho denomino tempo de trabalho excedente Surplusarbeitszeit e ao trabalho nela despendido denomino maistrabalho Mehrarbeit surplus labour Do mesmo modo como para a compreensão do valor em geral é indispensável entendêlo como mero coágulo de tempo de trabalho como simples trabalho objetivado é igualmente indispensável para a compreensão do mais valor entendêlo como mero coágulo de tempo de trabalho excedente como simples maistrabalho objetivado O que diferencia as várias formações econômicas da sociedade por exemplo a sociedade da escravatura daquela do trabalho assalariado é apenas a forma pela qual esse maistrabalho é extraído do produtor imediato do trabalhador30 Como por um lado o valor do capital variável é igual ao valor da força de trabalho por ele comprada e o valor dessa força de trabalho determina a parte necessária da jornada de trabalho enquanto o maisvalor por outro lado é determinado pela parte excedente da jornada de trabalho concluímos que o maisvalor está para o capital variável como o maistrabalho está para o trabalho necessário ou em outras palavras que a taxa de maisvalor mv maistrabalhotrabalho necessário Ambas as proporções expressam a mesma relação de modo diferente uma na forma de trabalho objetivado a outra na forma de trabalho fluido A taxa de maisvalor é assim a expressão exata do grau de exploração da força de trabalho pelo capital ou do trabalhador pelo capitalista30a De acordo com nossa suposição o valor do produto é 410 const 90 var 90 maisval e o capital adiantado é 500 Como o maisvalor é 90 e o capital adiantado é 500 teríamos de acordo com o modo habitual de cálculo uma taxa de maisvalor geralmente confundida com a taxa de lucro 18 um taxa suficientemente baixa para deixar emocionado o sr Carey e outros harmonistasa Na realidade porém a taxa 213 de maisvalor não é mC ou mc m mas mv portanto não 90500 mas 9090 100 mais do que o quíntuplo do grau aparente de exploração Embora no caso em questão sejanos desconhecida a grandeza absoluta da jornada de trabalho bem como o período do processo de trabalho dia semana etc e tampouco saibamos o número de trabalhadores que põem em movimento o capital variável de 90 a taxa de maisvalor mv nos mostra com exatidão por meio de sua convertibilidade em maistrabalhotrabalho necessário a relação mútua entre as duas partes da jornada de trabalho Ela é de 100 De modo que o trabalhador trabalha metade da jornada para si e a outra metade para o capitalista O método de cálculo da taxa de maisvalor pode portanto ser resumido da seguinte forma tomamos o valor total do produto e igualamos a zero o capital constante que meramente reaparece nesse produto A soma de valor restante é o único produto de valor efetivamente criado no processo de produção da mercadoria Estando dado o maisvalor temos então de deduzilo desse produto de valor a fim de encontrarmos o capital variável Se ao contrário dispomos deste último temos então de encontrar o maisvalor Se ambos estão dados basta realizar a operação final isto é o cálculo da relação do maisvalor com o capital variável mv Por simples que seja esse método parecenos recomendável exercitar o leitor na aplicação de seus princípios por meio de alguns exemplos Comecemos pelo exemplo de uma fiação dotada de 10000 fusos de mule e que fabrica o fio n 32 a partir do algodão americano produzindo semanalmente 1 libra de fio por fuso O resíduo é de 6 Portanto a cada semana são trabalhadas 10600 libras de algodão que são transformadas em 10000 libras de fio e 600 libras de resíduo Em abril de 1871 esse algodão custava 734 pence a libra de modo que o preço arredondado de 10600 libras é de 342 Os 10000 fusos incluindo a maquinaria preparatória da fiação e a máquina a vapor custam 1 por fuso portanto 10000 no total Sua depreciação é de 10 desse valor isto é 1000 ou 20 semanais O aluguel do edifício da fábrica é 300 ou 6 semanais O carvão consumido 4 libras por hora e por cavalo vapor a 100 cavalosvapor indicador e 60 horas por semana inclusive o aquecimento do edifício que chega a 11 tons toneladas por semana ao preço de 8 xelins e 6 pence por tonelada custa em valores arredondados 412 por semana gás 1 por semana óleo 412 por semana de modo que todas as matérias auxiliares somam um total de 10 por semana A parte constante do valor é de 378 por semana O salário custa 52 por semana O preço do fio é de 1214 pence por libra ou 10000 libras 510 sendo o maisvalor portanto 510 430 80 I gualamos a zero a parte constante do valor que é de 378 pois ela não participa na formação semanal de valor Resta o produto semanal de valor de 132 52 var 80 maisval A taxa de maisvalor é assim 8052 1531113 Para uma jornada de trabalho média de 10 horas o resultado é trabalho necessário 33133 horas e maisvalor 6233 horas31 J acob nos apresenta para o ano de 1815 o seguinte cálculo que devido à compensação prévia de vários itens é bastante defeituoso mas serve a nosso propósitob Ele supõe um preço do trigo de 80 xelins por quarter e uma colheita média de 22 alqueires por acre de modo que cada acre produz 11 214 Valor produzido por acre Sementes trigo 1 9 xelins Dízimos rates taxes taxas impostos 1 1 xelim Adubo 2 10 xelins Renda 1 8 xelins Salário 3 10 xelins Lucro e juros do fazendeiro 1 2 xelins Total 7 9 xelins Total 3 11 xelins O maisvalor sempre pressupondo que o preço do produto é igual a seu valor é distribuído aqui entre as diferentes rubricas lucro juros dízimos etc Tais rubricas nos são indiferentes Somandoas obtemos um maisvalor de 3 11 xelins Os 3 19 xelins gastos em sementes e adubo como parte constante do capital igualamos a zero Resta o valor que foi adiantado o capital variável de 3 10 xelins em lugar do qual foi produzido um novo valor de 3 10 xelins 3 11 xelins Temos assim mv 3 11 xelins3 10 xelins mais de 100 O trabalhador emprega mais da metade de sua jornada de trabalho para produzir um maisvalor que pessoas diversas sob pretextos diversos repartem entre si31a 2 Representação do valor do produto em partes proporcionais do produto Voltemos agora ao exemplo que nos mostrou como o capitalista transforma dinheiro em capital O trabalho necessário de seu fiandeiro era de 6 horas o maistrabalho era o mesmo de modo que o grau de exploração da força de trabalho era 100 O produto da jornada de trabalho de 12 horas são 20 libras de fio com um valor de 30 xelins Não menos que 810 do valor desse fio 24 xelins são formados pelo valor dos meios de produção consumidos 20 libras de algodão a 20 xelins fusos etc por 4 xelins que apenas reaparecem no valor do produto e constituem assim o capital constante Os 210 restantes são o novo valor de 6 xelins surgido durante o processo de fiação e do qual uma metade repõe o valor adiantado de um dia da força de trabalho ou seja o capital variável e a outra metade constitui um maisvalor de 3 xelins O valor total das 20 libras de fio se compõe portanto do modo seguinte 30 xelins de fio 24 xelins const 3 xelins var 3 xelins maisval Como esse valor total se representa no produto total de 20 libras de fio também deve ser possível representar os diferentes elementos desse valor em partes proporcionais do produto Se o valor de 30 xelins está contido em 20 libras de fio então 810 desse valor ou sua parte constante de 24 xelins está contida em 810 do produto ou em 16 libras de fio Destas 1313 libras representam o valor da matériaprima o algodão fiado por 20 xelins e 22 3 libras representam o valor de 4 xelins referente às matérias auxiliares e meios de trabalho consumidos no processo como fusos etc 215 Assim 1313 libras de fio representam o algodão fiado no produto total de 20 libras de fio isto é a matériaprima do produto total porém nada mais do que isso Nesse produto total estão contidas é verdade apenas 1313 libras de algodão no valor de 1313 xelins mas seu valor adicional de 623 xelins constitui um equivalente do algodão consumido na fiação das 623 libras de fio restantes É como se destas últimas se houvesse arrancado o algodão e todo o algodão do produto total tivesse sido comprimido nas 1313 libras de fio Ao contrário essas 1313 libras de fio não contêm agora nenhum átomo do valor das matérias auxiliares e dos meios de trabalho nem tampouco do novo valor criado no processo de fiação Do mesmo modo as 223 libras de fio nas quais está incorporado o que resta do capital constante 4 xelins representam apenas o valor das matérias auxiliares e dos meios de trabalho despendidos no produto total das 20 libras de fio Assim 810 do produto ou 16 libras de fio ainda que se considerados do ponto de vista físico como valor de uso como fio sejam um resultado do trabalho de fiação tanto quanto o são as partes restantes do produto não contêm nesse contexto nenhum trabalho de fiação nenhum trabalho que tenha sido absorvido durante o próprio processo de fiação É como se tivessem se transformado em fio sem terem sido fiados e como se sua figura de fio fosse pura enganação De fato quando o capitalista os vende por 24 xelins e com esse valor repõe seus meios de produção evidenciase que as 16 libras de fio não são mais do que um disfarce do algodão dos fusos do carvão etc I nversamente agora os 810 restantes do produto ou 4 libras de fio representam apenas o novo valor de 6 xelins produzido no processo de fiação de 12 horas O que eles continham do valor das matériasprimas e meios de trabalho consumidos nessas 4 libras de fio já foi extirpado e incorporado às 16 libras de fio iniciais O trabalho incorporado nas 20 libras de fio está concentrado em 210 do produto É como se o fiandeiro tivesse produzido 4 libras de fio a partir do nada ou os tivesse fiado com algodão e fusos que preexistentes na natureza e inalterados pelo trabalho humano não transferissem nenhum valor ao produto Das 4 libras de fio que contêm o produto de valor total do processo diário de fiação metade representa apenas o valor de reposição da força de trabalho consumida ou seja o capital variável de 3 xelins e a outra metade o maisvalor de 3 xelins Se 12 horas de trabalho do fiandeiro se objetivam em 6 xelins concluise que em 30 xelins de fio estão objetivadas 60 horas de trabalho Essa quantidade de tempo de trabalho existe em 20 libras de fio das quais 810 ou 16 libras são a materialização de 48 horas de trabalho anteriores ao processo de fiação isto é do trabalho objetivado nos meios de produção do fio e 210 ou 4 libras são a materialização das 12 horas de trabalho despendidas no próprio processo de fiação Vimos anteriormente que o valor do fio é igual à soma do novo valor criado em sua produção mais o valor que já existia anteriormente em seus meios de produção Agora verificouse como os diversos componentes do valor do produto componentes que se distinguem de acordo com sua função ou seu conceito podem ser representados em partes proporcionais do próprio produto 216 Essa decomposição do produto resultado do processo de produção numa quantidade de produto que representa apenas o trabalho contido nos meios de produção ou a parte constante do capital em outra quantidade que representa apenas o trabalho necessário adicionado durante o processo de produção ou a parte variável do capital e numa última quantidade que representa apenas o maistrabalho adicionado durante esse mesmo processo ou o maisvalor tal decomposição é tão simples quanto importante como ficará claro mais adiante quando for aplicada a problemas complicados e ainda não resolvidos J á pudemos observar o produto total como o resultado da jornada de trabalho de 12 horas Mas também é possível acompanhar esse produto ao longo de seu processo de formação e no entanto representar os produtos parciais como partes do produto funcionalmente distintas O fiandeiro produz 20 libras de fio em 12 horas ou 123 libra em 1 hora e 1313 libras em 8 horas ou seja um produto parcial do valor total do algodão fiado durante a jornada inteira de trabalho Do mesmo modo o produto parcial do período seguinte de 1 hora e 36 minutos é 223 libras de fio e representa o valor dos meios de trabalho consumidos durante as 12 horas de trabalho No período seguinte de 1 hora e 12 minutos o fiandeiro produz 2 libras de fio 3 xelins um valor do produto igual ao produto de valor inteiro que ele cria em 6 horas de trabalho necessário Por fim nas últimas 65 horas ele produz outras 2 libras de fio cujo valor é igual ao maisvalor gerado por sua meia jornada de maistrabalho Esse modo de calcular serve ao fabricante inglês para seu uso doméstico demonstrando por exemplo que nas primeiras 8 horas ou 23 da jornada de trabalho o fabricante repõe o valor de seu algodão etc Como vemos a fórmula é correta na verdade é a mesma fórmula anterior com a única diferença de que em vez de aplicada ao espaço onde as partes do produto encontramse prontas uma ao lado da outra é aplicada ao tempo onde elas se sucedem Mas essa mesma fórmula também pode estar acompanhada de noções muito bárbaras especialmente no cérebro daqueles cujo interesse prático no domínio do processo de valorização não fica abaixo do interesse teórico em compreendêlo mal Assim podese imaginar por exemplo que nosso fiandeiro nas primeiras 8 horas de sua jornada de trabalho produz ou repõe o valor do algodão no período seguinte de 1 hora e 36 minutos repõe o valor dos meios de trabalho consumidos no período subsequente de 1 hora e 12 minutos repõe o valor do salário até chegar enfim à famigerada última hora que ele dedica ao patrão à produção do maisvalor Desse modo o fiandeiro é sobrecarregado com a tarefa de realizar o duplo milagre de produzir algodão fusos máquina a vapor carvão óleo etc ao mesmo tempo que com eles fia e de transformar uma jornada de trabalho de dado grau de intensidade em cinco dessas jornadas Pois no exemplo que aqui consideramos a produção de matériaprima e de meios de trabalho demanda 246 4 jornadas de trabalho de 12 horas e a conversão deles em fio demanda mais uma jornada de 12 horas Que a rapacidade creia em tais milagres e que nunca falte doutrinário sicofanta para proválo é o que mostraremos agora com ajuda de um exemplo célebre na história 217 3 A última hora de Senior Numa bela manhã do ano de 1836 Nassau W Senior célebre por sua ciência económica e seu belo estilo praticamente o Clauren dos economistas ingleses foi transferido de Oxford para Manchester a fim de aprender economia política nesta cidade em vez de ensinála em Oxford Os fabricantes o elegeram seu espadachim não só contra a Factory Act recentemente promulgada mas também contra a crescente agitação pela jornada de 10 horas Com sua perspicácia prática habitual eles perceberam que o sr professor wanted a good deal of finishing precisava de um bom polimento final Por isso enviaramno a Manchester O sr professor por sua vez estituzou a lição recebida dos fabricantes de Manchester num panfleto intitulado Letters on the Factory Act as it affects the cotton manufacture Londres 1837 Nele podese ler entre outras o seguinte trecho edificante Sobre al lei atual numa fábrica que emprega pessoas menores de 18 anos pode ultrapassar 11½ horas diárias de produção isto é 12 horas durante os primeiros 5 dias da semana e 9 horas ao sábado A análise seguinte mostra que numa tal fábrica o lucro líquido total é derivado da última hora trabalhada Um fabricante desembolsa 100000 sendo 80000 em edifícios fabris e máquinas 20000 em matériasprimas e salários A venda anual da fábrica pressupondose que o capital gire uma vez por ano e o lucro bruto seja de 15 consiste em mercadorias no valor de 115000 Dessa 115000 cada uma das 23 meias horas de trabalho produz diariamente 515 ou 123 Dessas 2323 que constituem o total das 115000 constituting the whole 115000 2023 isto é 100000 das 115000 apenas repõem o capital 123 ou 5000 do lucro bruto de 15000 repõem o desgaste da fábrica e da maquinaria Os 223 restantes às duas últimas horas da jornada de trabalho produziriam 1¼ hora Ganharíeis portanto tanto quanto perderíeis No futuro vossos trabalhadores desperdiçarão 1¼ hora menos para reproduzir ou repor o valor do capital adiantado Se ao contrário não acreditasse nas palavras desses fabricantes como como experto julgasse necessária uma análise da questão então ele teria de solicitarlhes sobretudo por se tratar de uma questão que diz respeito exclusivamente à relação do ganho líquido com a grandeza da jornada de trabalho que não embaraçasse a maquinaria os edifícios a matériaprima e a produção e que o capital tivesse em jogo tanto a dívida quanto a objeção do lado e o capital lucro líquido na última hora Ora como ele produz valores iguais em períodos iguais o produto da penúltima hora tem o mesmo valor do da última Além disso ele só produz valor na medida em que despende trabalho e a quantidade de seu trabalho é medida pelo seu tempo de trabalho Este último totaliza segundo vossos números 1112 horas diárias Uma parte dessas 1112 ele aplica na produção ou reposição de seu salário e a outra parte na produção de vosso lucro líquido E não faz mais nada além disso durante a jornada de trabalho Porém como de acordo com esses números o seu salário e o maisvalor que ele cria têm o mesmo valor é evidente que ele produz seu salário em 534 horas e vosso lucro líquido em outras 534 horas E como além disso o valor do fio produzido em 2 horas é igual à soma de valor de seu salário mais o vosso lucro líquido a medida do valor desse fio tem de ser de 1112 jornadas de trabalho das quais 534 horas medem o valor do fio produzido na penúltima hora e 534 o valor do fio produzido na última hora Chegamos assim a um ponto crucial Portanto atenção A penúltima hora de trabalho é tal como a primeira uma hora comum de trabalho Ni plus ni moins nem mais nem menos Assim como pode o fiandeiro em 1 hora de trabalho produzir uma quantidade de fio cujo valor representa 534 horas de trabalho Ele não opera de fato nenhum milagre O valor de uso que ele produz em 1 hora de trabalho é uma determinada quantidade de fio O valor desse fio é medido por 534 horas de trabalho das quais 434 se encontram sem sua interferência nos meios de produção consumidos por hora no algodão na maquinaria etc e somente o 44 restante ou 1 hora é adicionado ao produto pelo fiandeiro Portanto como seu salário é produzido em 534 horas e o produto de 1 hora de fiação também contém 534 horas de trabalho não é absolutamente nenhuma bruxaria que o produto de valor de suas 534 horas de fiação seja igual ao valor do produto de 1 hora de fiação Mas enganaivos se pensais que ele perde um único átomo de tempo de sua jornada de trabalho com a reprodução ou a reposição dos valores do algodão da maquinaria etc É por seu trabalho de produzir fio a partir do algodão e do fuso isto é por sua atividade de fiar que o valor do algodão e do fuso é transferido por si mesmo ao fio Isso se deve à qualidade de seu trabalho não à quantidade De fato em 1 hora ele transferirá mais valor do algodão etc ao fio do que em 12 hora mas isso apenas porque em 1 hora ele fia mais algodão do que em 12 hora Compreendeis portanto vossa expressão de que o trabalhador produz na penúltima hora de trabalho o valor de seu salário e na última hora vosso lucro líquido corresponde a dizer que no fio produzido em 2 horas de sua jornada de trabalho não importando se essas 2 horas se encontram no início ou no fim da jornada estão incorporadas 1112 horas de trabalho exatamente a mesma quantidade de horas que formam sua jornada inteira de trabalho E a expressão de que o fiandeiro produz seu salário nas primeiras 534 horas e vosso lucro líquido nas últimas 534 horas corresponde por sua vez a dizer que pagais ao fiandeiro as primeiras 534 horas mas não lhe pagais as últimas 534 horas Se falo de pagamento do trabalho e não de pagamento da força de trabalho é apenas para me expressar em vosso jargão Ora senhores se examinardes agora a relação entre o tempo de trabalho que pagais e o que não pagais vereis que eles estão um para o outro como meia jornada está para meia jornada portanto numa proporção de 100 que é de fato uma bela porcentagem Tampouco resta a mínima dúvida de que se explorardes sua mão de obra por 13 horas em vez de 1112 e o que vos parece tão semelhante quanto um ovo a outro juntardes simplesmente a 112 hora excedente ao maistrabalho então este último aumentará de 534 horas para 714 horas e a taxa de maisvalor de 100 para 126223 Mas seríeis demasiadamente otimistas se esperásseis que adicionando 112 hora à jornada de trabalho a taxa de maisvalor aumentasse de 100 para 200 e até mesmo ultrapassasse os 200 isto é fosse mais do que duas vezes maior Por outro lado e o coração do homem é algo fascinante sobretudo quando ele o traz na bolsa sois demasiado pessimistas se temeis que com a redução da jornada de trabalho de 1112 para 1012 horas vosso inteiro lucro líquido será perdido De modo algum Mantendose inalteradas as demais circunstâncias o maistrabalho cairá de 534 para 434 horas o que continua a gerar uma taxa de maisvalor bastante lucrativa 821423 Mas a fatídica última hora sobre a qual tendes fabulado mais do que os quiliastasd sobre o fim do mundo é all bosh pura bobagem A perda dessa última hora nem vos custará o lucro líquido nem roubará a pureza da alma às crianças de ambos os sexos que explorais à exaustão32a Quando vossa última horazinha realmente soar pensai em vosso professor de Oxford E então espero poder compartilhar de vossa inestimável companhia no além Addio Adeus33 O sinal da última hora descoberto por Senior em 1836 voltou a soar no London Economist em 15 de abril de 1848 por um dos principais mandarins da economia James Wilson num ataque à lei da jornada de 10 horas 4 O maisproduto Chamamos de maisproduto surplus produce produit net a parte do produto 110 de 219 20 ou 2 de fio no exemplo apresentado no item 2 deste capítulo em que se representa o maisvalor Assim como a taxa de maisvalor é determinada por sua relação não com a soma total mas com o componente variável do capital também a grandeza do maisproduto é determinada por sua relação não com o resto do produto total mas com a parte do produto em que está incorporado o trabalho necessário Como a produção de maisvalor é o objetivo determinante da produção capitalista o que mede o grau de riqueza não é a grandeza absoluta do produto mas a grandeza relativa do maisproduto34 A soma do trabalho necessário e do maistrabalho isto é dos períodos em que o trabalhador produz o valor de reposição de sua força de trabalho e o maisvalor constitui a grandeza absoluta de seu tempo de trabalho a jornada de trabalho working day 220 Capítulo 8 A jornada de trabalho 1 Os limites da jornada de trabalho Partimos do pressuposto de que a força de trabalho é comprada e vendida pelo seu valor o qual como o de qualquer outra mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho necessário à sua produção Se portanto a produção dos meios de subsistência médios diários do trabalhador requer 6 horas de trabalho então ele tem de trabalhar 6 horas por dia para produzir diariamente sua força de trabalho ou para reproduzir o valor recebido em sua venda A parte necessária de sua jornada de trabalho soma então 6 horas e é assim mantendose inalteradas as demais circunstâncias uma grandeza dada Mas com isso ainda não está dada a grandeza da própria jornada de trabalho Suponha que a linha ab represente a duração ou a extensão do tempo de trabalho necessário digamos 6 horas Conforme o trabalho seja prolongado em 1 3 ou 6 horas obtemos 3 outras linhas que representam jornadas de trabalho de 7 9 e 12 horas Jornada de trabalho I abc Jornada de trabalho II abc Jornada de trabalho III abc O prolongamento bc representa a duração do maistrabalho Como a jornada de trabalho ab bc ou ac ela varia com a grandeza variável bc Como ab é dado a relação de bc com ab pode ser sempre medida Na jornada de trabalho I ela é 16 na jornada de trabalho I I 36 e na jornada de trabalho I I I 66 de ab Além disso como a proporção tempo de maistrabalhotempo de trabalho necessário determina a taxa de maisvalor esta é dada por aquela proporção Nas três diferentes jornadas de trabalho ela é de respectivamente 1623 50 e 100 I nversamente a taxa de maisvalor só não nos daria a grandeza da jornada de trabalho Se por exemplo ela fosse de 100 a jornada de trabalho poderia ser de 8 10 12 horas etc Ela indicaria que os dois componentes da jornada de trabalho o trabalho necessário e o maistrabalho são iguais mas não a grandeza de cada uma dessas partes A jornada de trabalho não é portanto uma grandeza constante mas variável Uma de suas partes é de fato determinada pelo tempo de trabalho requerido para a reprodução contínua do próprio trabalhador mas sua grandeza total varia com a 221 extensão ou duração do maistrabalho A jornada de trabalho é pois determinável mas é em verdade indeterminada35 Embora a jornada de trabalho não seja uma grandeza fixa mas fluida ela só pode variar dentro de certos limites Seu limite mínimo é no entanto indeterminável É verdade que se igualamos a zero a linha bc ou o maistrabalho obtemos um limite mínimo isto é a parte do dia que o trabalhador tem necessariamente de trabalhar para sua autoconservação Porém com base no modo de produção capitalista o trabalho necessário só pode constituir uma parte de sua jornada de trabalho de modo que esta jamais pode ser reduzida a esse mínimo Por outro lado a jornada de trabalho possui um limite máximo não podendo ser prolongada para além de certo limite Esse limite máximo é duplamente determinado Em primeiro lugar pela limitação física da força de trabalho Durante um dia natural de 24 horas uma pessoa despende apenas uma determinada quantidade de força vital Do mesmo modo um cavalo pode trabalhar apenas 8 horas diárias Durante uma parte do dia essa força tem de descansar dormir durante outra parte do dia a pessoa tem de satisfazer outras necessidades físicas como alimentarse limparse vestirse etc Além desses limites puramente físicos há também limites morais que impedem o prolongamento da jornada de trabalho O trabalhador precisa de tempo para satisfazer as necessidades intelectuais e sociais cuja extensão e número são determinados pelo nível geral de cultura de uma dada época A variação da jornada de trabalho se move assim no interior de limites físicos e sociais porém ambas as formas de limites são de natureza muito elástica e permitem as mais amplas variações Desse modo encontramos jornadas de trabalho de 8 10 12 14 16 18 horas ou seja das mais distintas durações O capitalista comprou a força de trabalho por seu valor diário A ele pertence seu valor de uso durante uma jornada de trabalho Ele adquiriu assim o direito de fazer o trabalhador trabalhar para ele durante um dia Mas o que é uma jornada de trabalho36 Em todo caso menos que um dia natural de vida Quanto menos O capitalista tem sua própria concepção sobre essa ultima thulea o limite necessário da jornada de trabalho Como capitalista ele é apenas capital personificado Sua alma é a alma do capital Mas o capital tem um único impulso vital o impulso de se autovalorizar de criar maisvalor de absorver com sua parte constante que são os meios de produção a maior quantidade possível de maistrabalho37 O capital é trabalho morto que como um vampiro vive apenas da sucção de trabalho vivo e vive tanto mais quanto mais trabalho vivo suga O tempo durante o qual o trabalhador trabalha é o tempo durante o qual o capitalista consome a força de trabalho que comprou do trabalhador38 Se este consome seu tempo disponível para si mesmo ele furta o capitalista39 O capitalista se apoia portanto na lei da troca de mercadorias Como qualquer outro comprador ele busca tirar o maior proveito possível do valor de uso de sua mercadoria Mas eis que de repente erguese a voz do trabalhador que estava calada no frenesib do processo de produção A mercadoria que eu te vendi distinguese da massa das outras mercadorias pelo fato de seu uso criar valor e mais do que isso um valor maior do que aquele que ela mesma custou Foi por isso que a compraste O que do teu lado aparece como valorização do capital do meu lado aparece como dispêndio excedente de força de 222 trabalho Tu e eu só conhecemos no mercado uma lei a da troca de mercadorias E o consumo da mercadoria pertence não ao vendedor que a aliena mas ao comprador que a adquire A ti pertence por isso o uso de minha força de trabalho diária Mas por meio do preço que a vendo diariamente eu tenho de reproduzila a cada dia pois só assim posso vendêla novamente Desconsiderando o desgaste natural pela idade etc tenho de ser capaz de trabalhar amanhã com o mesmo nível normal de força saúde e disposição que hoje Não cansas de pregarme o evangelho da parcimônia e da abstinência Pois bem Desejo como um administrador racional e parcimonioso gerir meu próprio patrimônio a força de trabalho abstendome de qualquer desperdício irrazoável desta última Quero a cada dia fazêla fluir pôla em movimento apenas na medida compatível com sua duração normal e seu desenvolvimento saudável Por meio de um prolongamento desmedido da jornada de trabalho podes em um dia fazer fluir uma quantidade de minha força de trabalho maior do que a que posso repor em três dias O que assim ganhas em trabalho eu perco em substância do trabalho A utilização de minha força de trabalho e o roubo dessa força são coisas completamente distintas Se o período médio que um trabalhador médio pode viver executando uma quantidade razoável de trabalho é de 30 anos o valor de minha força de trabalho que me pagas diariamente é de 1365 30 ou 110950 de seu valor total Mas se a consomes em 10 anos pagasme diariamente 110950 em vez de 13650 de seu valor total portanto apenas 13 de seu valor diário e me furtas assim diariamente 23 do valor de minha mercadoria Pagasme pela força de trabalho de um dia mas consomes a de 3 dias Isso fere nosso contrato e a lei da troca de mercadorias Exijo portanto uma jornada de trabalho de duração normal e a exijo sem nenhum apelo a teu coração pois em assuntos de dinheiro cessa a benevolência Podes muito bem ser um cidadão exemplar até mesmo membro da Sociedade para a Abolição dos MausTratos aos Animais e viver em odor de santidade mas o que representas diante de mim é algo em cujo peito não bate um coração O que ali parece ecoar é o batimento de meu próprio coração Exijo a jornada de trabalho normal porque como qualquer outro vendedor exijo o valor de minha mercadoria40 Vemos que abstraindo de limites extremamente elásticos a natureza da própria troca de mercadorias não impõe barreira alguma à jornada de trabalho e portanto nenhuma limitação ao maistrabalho O capitalista faz valer seus direitos como comprador quando tenta prolongar o máximo possível a jornada de trabalho e transformar onde for possível uma jornada de trabalho em duas Por outro lado a natureza específica da mercadoria vendida implica um limite de seu consumo pelo comprador e o trabalhador faz valer seu direito como vendedor quando quer limitar a jornada de trabalho a uma duração normal determinada Temse aqui portanto uma antinomia um direito contra outro direito ambos igualmente apoiados na lei da troca de mercadorias Entre direitos iguais quem decide é a força E assim a regulamentação da jornada de trabalho se apresenta na história da produção capitalista como uma luta em torno dos limites da jornada de trabalho uma luta entre o conjunto dos capitalistas ie a classe capitalista e o conjunto dos trabalhadores ie a classe trabalhadora 2 A avidez por maistrabalho O fabricante e o boiardo O capital não inventou o maistrabalho Onde quer que uma parte da sociedade detenha o monopólio dos meios de produção o trabalhador livre ou não tem de adicionar ao tempo de trabalho necessário a sua autoconservação um tempo de trabalho excedente a fim de produzir os meios de subsistência para o possuidor dos meios de produção41 seja esse proprietário o kalóv kÃgaqóv belo e bomc ateniense o teocrata etrusco o civis romanus cidadão romano o barão normando o escravocrata americano o boiardo valáquio o landlord senhor rural moderno ou o capitalista42 No entanto é evidente que em toda formação econômica da sociedade onde predomina não o valor de troca mas o valor de uso do produto o maistrabalho é limitado por um círculo mais amplo ou mais estreito de necessidades mas nenhum 223 carecimento descomedido de maistrabalho surge do próprio caráter da produção Razão pela qual na Antiguidade o sobretrabalho só é repudiado quando seu objetivo é obter o valor de troca em sua figura autônoma de dinheiro na produção de ouro e prata O trabalho forçado até a morte é aqui a forma oficial de sobretrabalho Basta ler Diodoro Sículo43 Mas essas são exceções no mundo antigo Assim que os povos cuja produção ainda se move nas formas inferiores do trabalho escravo da corveia etc são arrastados pela produção capitalista e pelo mercado mundial que faz da venda de seus produtos no exterior o seu principal interesse os horrores bárbaros da escravidão da servidão etc são coroados com o horror civilizado do sobretrabalho I sso explica por que o trabalho dos negros nos estados sulistas da União Americana conservou certo caráter patriarcal enquanto a produção ainda se voltava sobretudo às necessidades locais imediatas Mas à medida que a exportação de algodão tornouse o interesse vital daqueles estados o sobretrabalho dos negrose por vezes o consumo de suas vidas em sete anos de trabalho converteuse em fator de um sistema calculado e calculista O objetivo já não era extrair deles uma certa quantidade de produtos úteis O que importava agora era a produção do próprio maisvalor Algo semelhante ocorreu com a corveia por exemplo nos Principados do Danúbio A comparação da avidez por maistrabalho nos Principados do Danúbio com a mesma avidez nas fábricas inglesas tem um interesse especial visto que o mais trabalho na corveia apresenta uma forma independente palpável Suponha que a jornada de trabalho seja de 6 horas de trabalho necessário e 6 horas de maistrabalho Assim o trabalhador livre fornece ao capitalista semanalmente 6 6 ou 36 horas de maistrabalho É o mesmo que se obteria se ele trabalhasse semanalmente 3 dias para si e 3 dias gratuitamente para o capitalista Mas isso não é visível O maistrabalho e o trabalho necessário confundemse um com o outro É possível exprimir a mesma relação por exemplo dizendo que o trabalhador em cada minuto trabalha 30 segundos para si e 30 segundos para o capitalista etc Com a corveia no entanto é diferente O trabalho necessário que por exemplo o camponês valáquio realiza para sua autossubsistência está espacialmente separado de seu mais trabalho para o boiardo Um ele realiza em seu próprio campo o outro no campo de seu senhor As duas partes do tempo de trabalho existem por isso de modo independente uma ao lado da outra Na forma da corveia o maistrabalho está nitidamente separado do trabalho necessário mas essa forma distinta de manifestação não altera em nada a relação quantitativa entre maistrabalho e trabalho necessário Três dias de maistrabalho na semana continuam a ser três dias de trabalho que não cria equivalente algum para o próprio trabalhador seja esse trabalho chamado de corveia ou de trabalho assalariado Mas a avidez do capitalista por maistrabalho se manifesta como ímpeto por um prolongamento ilimitado da jornada de trabalho ao passo que a do boiardo mais simplesmente como caça direta por dias de corveia44 Nos Principados do Danúbio a corveia estava vinculada a rendas naturais e a outras formas acessórias de servidão porém constituía o tributo mais importante pago à classe dominante Onde esse é o caso a corveia raramente teve origem na servidão ao contrário foi a servidão que na maior parte das vezes teve origem na corveia44a Foi o que ocorreu nas províncias romenas Seu modo original de produção estava 224 fundado na propriedade comum do solo mas não em sua forma eslava e muito menos indiana Uma parte das terras era cultivada de modo independente como propriedade privada livre pelos membros da comunidade outra parte o ager publicus campo público era cultivada em comum Os produtos desse trabalho em comum serviam em parte como fundo de reserva para colheitas perdidas ou outras casualidades e em parte como tesouro estatal para cobrir os custos de guerra religião e outras despesas da comunidade Com o tempo dignitários militares e eclesiásticos passaram a usurpar juntamente com a propriedade comum também as prestações devidas a ela O trabalho dos camponeses livres sobre sua terra comunal se converteu na corveia para os ladrões da terra comunal Com isso desenvolveramse ao mesmo tempo relações de servidão ainda que apenas de fato não de direito até que a Rússia a libertadora do mundo legalizou essas relações sob o pretexto de abolir a servidão O código da corveia proclamado em 1831 pelo general russo Kisselev foi naturalmente ditado pelos próprios boiardos Assim a Rússia conquistou com um só golpe os magnatas dos Principados do Danúbio e o aplauso dos liberais cretinos de toda a Europa De acordo com o Règlement organiqued que é como se intitula o código da corveia todo camponês valáquio deve ao assim chamado proprietário da terra além de uma determinada quantidade de pagamentos in natura 1 12 jornadas de trabalho geral 2 1 jornada de trabalho no campo e 3 1 jornada para o carregamento de lenha Summa summarum no total 14 dias por ano Um olhar mais aprofundado na economia política nos mostra no entanto que a jornada de trabalho não é considerada em seu sentido comum mas como a jornada de trabalho necessária para a elaboração de um produto médio diário ocorre que o produto médio diário é determinado de maneira tão ladina que nem mesmo um ciclope conseguiria produzilo em 24 horas Nas secas palavras da mais legítima ironia russa o próprio Règlement declara que 12 dias de trabalho significam na verdade 36 dias de trabalho manual 1 dia de trabalho no campo 3 dias e 1 dia de carregamento de madeira do mesmo modo 3 dias Summa total 42 dias de corveia A isso ainda se acrescenta o assim chamado jobagie um serviço que deve ser prestado ao senhor em ocasiões extraordinárias Em proporção ao tamanho de sua população cada aldeia tem de fornecer anualmente um determinado contingente de trabalhadores para o jobagie Essa corveia adicional é estimada em 14 dias para cada camponês valáquio Assim a corveia prescrita soma 56 jornadas anuais Mas o ano agrícola na Valáquia em razão das más condições climáticas é de apenas 210 dias dos quais ainda se devem subtrair 40 dias para os domingos e feriados e em média 30 dias de intempérie ou seja 70 dias no total Restam 140 jornadas de trabalho A proporção entre a corveia e o trabalho necessário que é de 5684 ou 6623 expressa uma taxa de maisvalor muito menor do que aquela que regula o trabalho agrícola ou fabril do trabalhador inglês I sso se refere no entanto apenas à corveia legalmente prescrita E num espírito ainda mais liberal do que a legislação fabril inglesa o Règlement organique soube deixar aberto o caminho para sua própria transgressão Depois de ter transformado 12 dias em 54e ele volta a definir o trabalho diário nominal de cada uma dessas 54 jornadas de corveia de tal modo que uma porção dele tem de ser completada no dia seguinte Por exemplo digamos que em um dia 225 deva ser ceifada uma área que sobretudo nas plantações de milho exige o dobro desse tempo Em alguns tipos de trabalhos agrícolas o dia de trabalho legal pode ser interpretado como começando em maio e terminando em outubro Na Moldávia as condições são ainda mais duras Os 12 dias de corveia do Règlement organique exclamou um boiardo extasiado correspondem aos 365 dias do ano45 Se o Règlement organique dos Principados do Danúbio foi uma expressão positiva da avidez por maistrabalho legalizada a cada parágrafo as Factory Acts inglesas são uma expressão negativa dessa mesma avidez Essas leis refreiam o impulso do capital por uma sucção ilimitada da força de trabalho mediante uma limitação compulsória da jornada de trabalho pelo Estado e mais precisamente por um Estado dominado pelo capitalista e pelo landlord Abstraindo de um movimento dos trabalhadores que se torna a cada dia mais ameaçador a limitação da jornada de trabalho nas fábricas foi ditada pela mesma necessidade que forçou a aplicação do guano nos campos ingleses A mesma rapacidade cega que num caso exauriu o solo no outro matou na raiz a força vital da nação Epidemias periódicas são aqui tão eloquentes quanto a diminuição da altura dos soldados na Alemanha e na França46 O Factory Act de 1850 ainda hoje 1867 em vigor estabelece para os dias de semana uma jornada de trabalho média de 10 horas isto é 12 horas para cada um dos primeiros 5 dias da semana das 6 horas da manhã às 6 da tarde descontandose por lei 12 hora para o café da manhã e 1 hora para o almoço de modo que restam 1012 horas de trabalho aos sábados 8 horas de trabalho das 6 da manhã às 2 da tarde descontandose 12 hora para o café da manhã Sobram 60 horas de trabalho 1012 para os primeiros 5 dias da semana 712 para o último dia47 São nomeados os guardiões dessa lei os inspetores de fábrica diretamente subordinados ao Ministério do I nterior e cujos relatórios são publicados semestralmente por ordem do Parlamento Tais relatórios fornecem uma estatística contínua e oficial da avidez capitalista por mais trabalho Ouçamos por um momento o que dizem os inspetores de fábrica48 O fabricante fraudulento inicia o trabalho ¼ de hora antes das 6 da manhã às vezes antes às vezes depois e o termina ¼ de hora após as 6 da tarde às vezes antes às vezes depois Ele subtrai 5 minutos tanto no início como no final da ½ hora nominalmente reservada ao café da manhã e mais 10 minutos tanto no início como no final da hora destinada ao almoço Aos sábados ele trabalha até ¼ de hora depois das 2 da tarde às vezes mais às vezes menos Desse modo seu ganho é de Antes das 6 horas da manhã 15 minutos Soma em 5 dias 300 minutos Depois das 6 horas da tarde 15 Na hora do café da manhã 10 Na hora do almoço 20 Total 60 minutos Aos sábados Antes das 6 horas da manhã 15 minutos Total do ganho semanal 340 minutos Na hora do café da manhã 10 226 Depois 2 horas da tarde 15 Total do ganho semanal 340 minutos Os 5 horas e 40 minutos por semana o que multiplicado por 50 semanas de trabalho no ano de subtraídas 2 semanas relativas às feridas e interrupções eventuais totaliza 27 jornadas de trabalho Se a jornada de trabalho prolongada anualmente em 5 minutos além da sua duração normal obtémse no ano um acréscimo de 22½ dias de produção 1 hora adicional por dia ganha com o furto de um pequeno intervalo de tempo aqui outro pequeno intervalo ali converte os 12 meses do ano em 13 As crises em que a produção é interrompida e as fábricas trabalham apenas por pouco tempo durante alguns dias na semana não afetam em nada naturalmente o empenho pelo prolongamento da jornada de trabalho Quanto menos negócios são feitos maior deve ser o ganho sobre o negócio feito Quanto menos tempo se trabalha a fábrica sobre o período da crise de 18571858 Podese julgar como uma inconsequência o fato de haver qualquer problema numa época em que os inscripriculos apresentam tais transgressões com isso elas extremam um lucro Ao mesmo tempo que diz Leonard Horner 122 fábricas em meu distrito interromperam suas atividades 143 continuam a produzir e as restantes trabalham por pouco tempo o sobretabalho acima do tempo legalmente determinado continua a ocorrer normalmente Embora diz o sr Howell na maioria das fábricas em virtude da depressão do comércio trabalhese apenas meio período continua a receber a mesma quantidade habitual de queixas que de ½ hora ou ¾ horas diárias 3 Ramos da indústria inglesa sem limites legais à exploração Até aqui nosso tratamento do impulso de prolongamento da jornada de trabalho da voracidade de lobbismo por maistrabalho limitouse a uma área em que abusos desmedidos que não dizer de um economista burguês da Inglaterra não ficaram aquém das crueldades dos espanhóis contra os pelevermelhas da América fizeram com que o capital fosse submetido aos grilhões da regulação legal Lançemos agora um olhar sobre aqueles ramos da produção em que a sucção da força de trabalho ocorre livremente até nossos dias ou assim ocorria até muito recentemente O sr Broughton county magistrate magistrado municipal declarou como presidente de uma assembléia ocorrida na Câmara Municipal de Nottingham em 14 de janeiro de 1860 que entre a população ocupada com a fabricação de rendas reina um grau de sofrimento e privação inéditos no restante do mundo civilizado Crianças entre 9 e 10 anos de idade são arrancadas de suas camas imundas às 2 3 4 horas da manhã e forçadas a trabalhar para sua mera subsistência até às 10 11 12 horas da noite enquanto seus membros se atrofiavam pois porque definham suas faces desbotam e sua essência humana se enrije inteiramente num torpor pétreo cuja mira visão já é algo terrível Não nos surpreende que o sr Mallet e outros fabricantes se manifestem em protesto sobre esse assunto O sistema que não enriquece Montagu Valpy e descreve em vez disso a grande responsabilidade pública perante os homens desde seu nascimento até sua morte nos seres humanos que ocorrem em Virginia e Carolina Mas será esta a última lamentação do público para provocar a boca dos seres humanos que ocorrem se fabrique em colheitas e que beneficiem dos capitalistas65 Ao longo dos últimos 22 anos as olarias pottteries de Staffordshire foram objeto de três inquéritos parlamentares Os resultados foram apresentados no relatório do sr Scriven aos Childrens Employment Commissioners 1841 no relatório do sr Long publicado em 1860 por ordem do departamento médico do Privy Council Public Health 3rd Report I 112113 e por fim no relatório do sr Long em junho de 1863 Para meu propósito bastam alguns testemunhos fornecidos pelas próprias crianças exploradas nos relatórios de 1860 e 1863 A partir da situação das crianças podemos ter uma ideia do que se passa com os adultos principalmente moças e mulheres num ramo da indústria que faz atividades como a ação de algo e outras semelhantes parecem negócios muito agradáveis e saudáveis Wilhelm Wood de 9 anos de idade tinha 7 anos e 10 meses quando começou a trabalhar Desde o começo ele ran moulds carregava as mercadorias já moldadas para a sala de escoge e voltava trazendo os moldes vazios Chega ao trabalho todos os dias às 6 horas da manhã e o deixa por volta das 9 da noite Trabalho até às 9 horas da noite todos os dias da semana Assim foi por exemplo durante as últimas 7 ou 8 semanas Portanto 15 horas de trabalho para uma criança de 7 anos J Murray um I run moulds and turn jigger giro a roda Chego às 6 às vezes às 4 horas da manhã Trabalhei esta noite inteira até as 6 horas da manhã de hoje Não dormi desde a última noite Além de mim outros 8 ou 9 meninos trabalharam a noite inteira sem parar Todos com exceção de um voltaram ao trabalho nesta manhã Recebo 3 xelins e 6 pence 1 táler e 5 centavos por semana Quando trabalho a noite inteira não recebo nada a mais por isso Na última semana trabalhei duas noites sem parar Fernyhough um menino de 10 anos Nem sempre tenho 1 hora inteira para o almoço com frequência apenas meia hora às quintas sextas e sábados67 O dr Grennhow afirma que a expectativa média de vida nos distritos das olarias de StokeuponTrent e Wolstanton é extraordinariamente curta Embora no distrito de Stoke apenas 366 e em Wolstanton apenas 304 da população masculina acima de 20 anos esteja empregada nas olarias no primeiro distrito mais da metade e no segundo cerca de 25 do total de óbitos entre homens dessa faixa etária são devidos às doenças pulmonares que acometem os oleiros O dr Boothroyd médico prático em Haley diz Cada geração sucessiva de oleiros é mais raquítica e fraca do que a anterior Outro médico o sr McBean declara Desde que há 25 anos comecei a exercer a medicina entre os oleiros evidenciouse uma progressiva degeneração dessa classe sob a forma de uma diminuição de estatura e peso Essas declarações são extraídas do relatório do dr Greenhow de 186068 No relatório dos comissários de 1863 o dr J T Arledge médicochefe do hospital de North Staffordshire diz Como classe os oleiros homens e mulheres representam uma população degenerada tanto física como moralmente Eles são em regra raquíticos mal constituídos e apresentam com frequência uma máformação dos pulmões Envelhecem prematuramente e têm vida curta fleumáticos e anêmicos denunciam a fraqueza de sua constituição com pertinazes ataques de dispepsia problemas hepáticos e renais e reumatismo Mas sofrem sobretudo de doenças pulmonares como pneumonia tuberculose bronquite e asma Um tipo de asma lhes é peculiar sendo conhecida como asma de oleiro ou tísica de oleiro A escrofulose que atinge as amígdalas os ossos ou outras partes do corpo acomete mais de dois terços dos oleiros A degeneração degenerescence das populações deste distrito só não é maior graças ao recrutamento constante de trabalhadores nos distritos rurais adjacentes e a sua miscigenação com raças mais saudáveis O sr Charles Parsons até pouco tempo atrás house surgeon médico cirurgião desse mesmo hospital escreve numa carta ao comissário Longe entre outras coisas Posso falar apenas com base em minhas observações pessoais e não estatisticamente mas não hesito em afirmar que minha indignação cresceu cada vez mais ao olhar para essas pobres crianças cuja saúde foi sacrificada para satisfazer a cupidez de seus pais e de seus empregadores Ele enumera as causas das doenças dos oleiros e conclui a lista com as palavras long hours longas horas de trabalho O relatório da comissão fabril espera que uma manufatura que ocupa uma posição tão proeminente aos olhos do mundo não queira mais carregar a mácula de ter seu grande sucesso acompanhado pela degradação física por amplos sofrimentos corporais e pela morte prematura de sua população trabalhadora por meio de cujo trabalho e habilidade tão grandes resultados foram atingidos69 E o que vale para as olarias da Inglaterra vale também para as da Escócia70 A manufatura de palitos de fósforo data de 1833 quando se inventou o método de aplicação do fósforo no palito Desde 1845 essa manufatura desenvolveuse rapidamente na I nglaterra e depois de se espalhar pelas partes densamente povoadas 229 rapidamente na Inglaterra e depois de se espalhar pelas densamente povoadas de Londres expandiuse principalmente para Manchester Birmingham Liverpool Bristol Norwich Newcastle e Glasgow levando consigo o tétano que já em 1845 um médico de Viena detectara como doença peculiar aos fosforeiros A metade dos trabalhadores são crianças menores de 13 e jovens menores de 18 anos Em virtude da insalubridade e repugnância a manufatura é tão malafamada que apenas a parte mais miserável da classe trabalhadora como viúvas semilêmicas etc entregam seus filhos a essas fábricas crianças esfarrapadas semiafemininas totalmente desamparadas e sem instrução71 Das testemunhas ouvidas pelo comissário White 1863 270 eram menores de 18 anos 40 eram menores de 10 anos 10 tinham apenas 8 anos e 5 apenas 6 anos de idade A jornada de trabalho variava entre 12 14 e 15 horas com trabalho noturno e horários irregulares de refeições normalmente realizadas no próprio local de trabalho empestado por fósforo Nessa manufatura Dante veria superadas suas fantasias mais cruéis sobre o inferno Na fábrica de papéis de parede os tipos mais grossos são impressos com máquinas e os mais finos manualmente block printing O período de atividade mais intensa é de outubro a o fim de abril quando esse trabalho é realizado quase sem interrupção das 6 horas da manhã às 10 da noite ou ainda mais tarde J Leach declara No último inverno 1862 das 19 moças foram dispensadas em decorrência de doenças provocadas por excesso de trabalho Para mantêlas acordadas tenho de gritar em seus ouvidos W Duffy Frequentemente as crianças estavam tão cansadas que não podiam manter seus olhos abertos durante o trabalho na verdade nós mesmos quase não conseguimos J Lightbourne Tenho 13 anos Durante o inverno passado trabalhamos até às 9 horas da noite no inverno anterior até às 10 da noite No último inverno quase todas as noites eu custava gritar de dor em meus pés machucados G Aspden Quando este meu filho tinha 7 anos de idade eu costumava carregálo nas costas para toda parte ao atravessar a neve e ele costumava trabalhar 16 horas por dia Frequentemente eu tinha de delegarme para aliviálo enquanto ele permanecia junto à máquina pois não era próprio de criança abandonálo para lá Smith o sóciodiretor de uma fábrica de Manchester Nós que éramos apenas de uma obra trabalhamos sem interrupção para as refeições de modo que o trabalho diário de 10 horas e meia é concluído às 4 e meia da tarde e o que ultrapassa esse tempo é computado como hora extra72 Será verdade que esse sr Smith fica sem refeições durante 10 horas e meia Nós c como mesmo Smith raramente paramos antes das 6 horas da tarde ele se refere ao consumo de nossas máquinas de força do trabalho de maneira que nós iterum Crispinus Eis outra vez Crispinus na realidade trabalhamos além da jornada normal durante todo o ano Tanto as crianças quanto adolescentes menores de 18 anos e 16 adultos trabalham igualmente até mesmo desde o fim do mês de maio deste ano 1863 a média foi maior 8 jornadas ou até mais de 10 perder tempo isto é o tempo de apropriação do trabalho alheio e desse modo perder lucro não é razão suficiente para fazer com que crianças menores de 13 e jovens menores de 18 anos que trabalham de 12 a 16 horas por dia sejam privados de suas refeições tampouco justifica que elas sejam alimentadas durante o próprio processo de produção como se suas refeições fossem mera matéria auxiliar do meio de trabalho tal como o carvão e a água servem à máquina a vapor o sabão à lã o óleo à engrenagem etc73 Nenhum ramo da indústria na I nglaterra não levamos em conta a maquinaria recentemente introduzida na fabricação de pão conservou até nossos dias um modo de produção tão arcaico até mesmo précristão como revelam os poetas do I mpério Romano quanto a panificação Mas o capital como dissemos anteriormente é de início indiferente ao caráter técnico do processo de trabalho do qual se apossa No começo ele o toma tal como o encontra A inacreditável adulteração do pão especialmente em Londres foi revelada pela primeira vez pelo comitê da House of Commons Câmara dos Comuns sobre a adulteração de alimentos 18551856 e pela obra do dr Hassall Adulterations detected74 A consequência dessas revelações foi a lei de 6 de agosto de 1860 for preventing the adulteration of articles of food and drink pela prevenção da adulteração de produtos alimentícios e bebidas uma lei inócua pois como é natural trata com a mais terna delicadeza todo freetrader livrecambista que demonstra comprar e vender mercadorias adulteradas to turn an honest penny para ganhar um centavo honesto75 O próprio comitê formulou de modo mais ou menos ingênuo sua convicção de que o livrecomércio significa essencialmente o comércio com matérias falsificadas ou como os ingleses a elas se referem jocosamente matérias sofisticadas Na verdade esse tipo de sofística sabe melhor que Protágoras como fazer do branco preto e do preto branco e melhor que os eleatash sabe demonstrar ad oculos aos olhos a mera aparência de todo real76 De todo modo o comitê abriu os olhos do público para o seu pão de cada dia e com isso também para a panificação Ao mesmo tempo em reuniões públicas e em petições ao Parlamento ouviuse o clamor dos oficiais padeiros de Londres denunciando sobretrabalho etc O clamor tornouse tão intenso que o sr H S Tremenheere membro da muitas vezes citada comissão de 1863 foi nomeado comissário real de inquérito Seu relatório77 juntamente com testemunhos tocou não o coração mas o estômago do público O inglês tão apegado à Bíblia sabia que o homem quando não se torna capitalista proprietário rural ou sinecurista pela Graça Divina é vocacionado a comer seu pão com o suor de seu rosto mas ele não sabia que esse homem em seu pão diário tinha de comer certa quantidade de suor humano misturada com supurações de abscessos teias de aranha baratas mortas e fermento podre alemão além de alume arenito e outros agradáveis ingredientes minerais Sem qualquer consideração por sua santidade o Free Trade a panificação livre até então livre foi submetida à supervisão de inspetores estatais final da legislatura de 1863 e pela mesma lei foi proibido o horário de trabalho de 9 horas da noite até as 5 da manhã aos oficiais padeiros menores de 18 anos A última cláusula do relatório vale por volumes inteiros quanto ao sobretrabalho nesse ramo de negócio que nos é tão 231 patriarcalmente familiar O trabalho de um oficial padeiro londrino começa geralmente às 11 horas da noite Nesse horário ele faz a massa um processo muito laborioso que dura de meia hora até 45 minutos conforme o tamanho da fornada e seu grau de elaboração Ele deitase então sobre a tábua de amassar que serve ao mesmo tempo como tampa da amassadeira onde é feita a massa e dorme algumas horas tendo um saco de farinha sob a cabeça e outro a cobrir seu corpo Em seguida dá início a um frenético e ininterrupto trabalho de 5 horas jogar a massa pesála modelá la levála ao forno retirála do forno etc A temperatura numa padaria varia de 75 a 90 grausi sendo ainda maior nas pequenas padarias Terminado o trabalho de feitura dos pães pãezinhos etc começa a sua distribuição e uma porção considerável dos trabalhadores depois de realizado o árduo trabalho noturno acima descrito distribui ao longo do dia o pão em cestos ou em carrinhos de mão de porta em porta muitas vezes trabalhando na padaria entre uma viagem e outra A depender da estação do ano e do volume de negócios o trabalho termina entre 1 e 6 horas da tarde enquanto outros oficiais padeiros continuam ocupados na padaria até o fim da tarde78 Durante a assim chamada London seasonj os trabalhadores das padarias de West End que vendem pão a preço integral começam a trabalhar regularmente às 11 horas da noite e se ocupam da panificação até as 8 horas da manhã seguinte realizando apenas uma ou duas pausas bastante curtas Em seguida são encarregados da entrega do pão até 4 5 6 horas da tarde e mesmo até 7 horas da noite ou às vezes permanecem na padaria para a produção de biscoitos Depois de concluído o trabalho desfrutam de 6 horas de sono mas frequentemente de apenas 5 ou 4 horas Às sextasfeiras o trabalho começa sempre mais cedo cerca de 10 horas da noite e prossegue sem interrupção seja na preparação do pão seja em sua distribuição até as 8 horas da noite do sábado seguinte mas na maior parte das vezes até as 4 ou 5 horas da manhã de domingo Também nas padarias de luxo que vendem pão por seu preço integral os oficiais padeiros são obrigados a executar aos domingos 4 a 5 horas de trabalho preparatório para o dia seguinte Os oficiais padeiros que trabalham para underselling masters que vendem o pão abaixo de seu preço e estes constituem como observamos anteriormente mais de 34 dos oficiais padeiros londrinos têm jornadas de trabalho ainda mais longas mas seu trabalho é quase inteiramente limitado ao interior da padaria pois seus mestres com exceção do fornecimento a pequenas mercearias vendem apenas em seu próprio estabelecimento Ao final da semana isto é na quintafeira o trabalho começa às 10 horas da noite e prossegue apenas com uma ou outra pequena interrupção até bem tarde no domingo à noite79 Até o intelecto burguês entende a posição dos underselling masters o trabalho não pago dos oficiais the unpaid labour of the men constitui a base de sua concorrência80 E o full priced baker denuncia seus concorrentes underselling à Comissão de Inquérito como ladrões de trabalho alheio e falsificadores Eles só têm sucesso fraudando o público e extraindo 18 horas de seus oficiais por um salário de 12 horas81 A adulteração do pão e a formação de uma classe de padeiros que vendem o pão abaixo de seu preço integral desenvolveramse na I nglaterra desde o início do século XVI I I tão logo decaiu o caráter corporativo desse ofício e o capitalista na figura do moleiro ou do comerciante de farinha passou a atuar por trás do mestrepadeiro nominal82 Com isso estava preparado o terreno para a produção capitalista para o prolongamento desmedido da jornada de trabalho e para o trabalho noturno embora este último só se tenha firmado mesmo em Londres a partir de 182483 Pelo que foi dito anteriormente podese compreender por que o relatório da comissão classifica os oficiais padeiros entre os trabalhadores de vida curta que quando têm a sorte de escapar à normal dizimação das crianças que aflige todas as partes da classe trabalhadora dificilmente chegam à idade de 42 anos E mesmo assim a indústria de pães está sempre abarrotada de novos candidatos As fontes de oferta dessas forças de trabalho para Londres são a Escócia os distritos agrícolas do Oeste da Inglaterra e a Alemanha Nos anos 18581860 os oficiais padeiros da I rlanda organizaram por sua própria conta grandes manifestações contra o trabalho noturno e dominical O público como 232 conta grandes manifestações contra o trabalho noturno e dominical O público como ocorreu por exemplo na manifestação de maio de 1860 em Dublin apoiouos com entusiasmo irlandês Por meio desse movimento conseguiuse estabelecer de fato a exclusividade do trabalho diurno em Wexford Kilkenny Clonmel Waterford etc Em Limerick onde é sabido que os sofrimentos dos oficiais assalariados ultrapassaram todas as medidas esse movimento fracassou diante da oposição dos mestres padeiros especialmente dos padeirosmoleiros O exemplo de Limerick levou ao recuo em Ennis e Tipperary Em Cork onde a indignação pública se manifestou com mais força os mestres conseguiram derrotar o movimento por meio de seu poder de demitir os oficiais Em Dublin os mestres opuseram a mais decidida resistência e perseguindo os oficiais que lideravam o movimento obrigaram os restantes a capitular a conformarse com o trabalho noturno e dominical84 A comissão do governo inglês que na I rlanda estava armado até os dentes protestou amargamente contra os impávidos mestres padeiros de Dublin Limerick Cork etc O comitê acredita que as horas de trabalho são limitadas por leis naturais que não podem ser violadas impunemente Os mestres ao usar a ameaça de demissão como meio para forçar seus trabalhadores a violarem suas convicções religiosas a desobedecerem às leis de seu país e a desprezarem a opinião pública isso tudo se refere ao trabalho dominical instauram a discórdia entre o capital e o trabalho e dão um exemplo perigoso para a religião a moralidade e a ordem pública O comitê acredita que o prolongamento da jornada de trabalho além de 12 horas é um atentado usurpador à vida privada e doméstica do trabalhador e conduz a resultados morais desastrosos interferindo na vida doméstica de um homem e no cumprimento de suas obrigações familiares como filho irmão marido e pai O trabalho além da jornada de 12 horas tende a minar a saúde dos trabalhadores provocando seu envelhecimento precoce e morte prematura para a desgraça de suas famílias que assim são roubadas are deprived do cuidado e do apoio do chefe da família no momento em que mais necessitam deles85 Estivemos há pouco na I rlanda Do outro lado do canal na Escócia o trabalhador agrícola o homem do arado denuncia sua jornada de trabalho de 13 até 14 horas no mais rigoroso dos climas com um trabalho adicional de 4 horas aos domingos nesse país de sabatistas86 enquanto ao mesmo tempo encontramse perante um Grand J ury de Londres três trabalhadores ferroviários um condutor um maquinista e um sinalizador Um grande desastre ferroviário despachou centenas de passageiros para o outro mundo A displicência dos trabalhadores ferroviários é a causa do desastre Eles declaram unanimemente perante os jurados que há 10 ou 12 anos sua jornada de trabalho era de apenas 8 horas Mas durante os últimos 5 ou 6 anos ela foi aumentada para 14 18 20 horas e muitas vezes em épocas de fluxo muito intenso de viajantes como nos períodos dos trens de excursões chegava a 40 ou 50 horas ininterruptas Eles são homens comuns não ciclopes dizem Além de certo ponto sua força de trabalho começa a falhar O torpor os domina seu cérebro para de pensar e seus olhos param de ver O totalmente respectable British Juryman respeitável jurado britânico responde com um veredito que os manda para o banco dos réus acusados de manslaughter homicídio e num suave adendo expressa o piedoso desejo de que no futuro os senhores magnatas capitalistas da ferrovia sejam mais pródigos na compra do número necessário de forças de trabalho e mais parcimoniosos ou abstinentes ou econômicos no ato de sugar a força de trabalho paga87 Da variegada multidão de trabalhadores de todas as profissões idades e sexos que nos atropelam com mais sofreguidão do que as almas dos mortos a Ulisses e nos quais se reconhece à primeira vista sem que tragam sob seus braços os Blue Books as 233 prova que diante do capital todos os seres humanos são iguais uma modista e um ferreiro Nas últimas semanas de junho de 1863 todos os jornais londrinos trouxeram um parágrafo com a sensational manchete Death from simple Overwork morte por simples sobretrabalho Tratavase da morte da modista Mary Anne Walkley de 20 anos de idade empregada numa manufatura de modas deveras respeitável fornecedora da Corte e explorada por uma senhora com o agradável nome de Elise A velha história muitas vezes contada foi agora redescoberta88 e nos diz que essas moças cumprem uma jornada de em média 1612 horas e durante a season chegam frequentemente a trabalhar 30 horas ininterruptas quando sua evanescente força de trabalho costuma ser reanimada com a oferta eventual de xerez vinho do Porto ou café E estavase justamente no ponto alto da season Era necessário concluir num piscar de olhos os vestidos luxuosos das nobres damas para o baile em honra da recémimportada Princesa de Gales Mary Anne Walkley trabalhara 2612 sem interrupção juntamente com outras 60 moças divididas em dois grupos de 30 cada grupo num quarto cujo tamanho mal chegava para conter 13 do ar necessário enquanto à noite partilhavam duas a duas uma cama num dos buracos sufocantes onde tábuas de madeira serviam como divisórias de cada quarto de dormir89 E essa era uma das melhores casas de moda de Londres Mary Anne Walkley adoeceu na sextafeira e morreu no domingo sem que para a surpresa da sra Elise tivesse terminado a última peça O médico sr Keys chamado tarde demais ao leito de morte testemunhou perante o Coroners J uryk com áridas palavras Mary Anne Walkley morreu devido às longas horas de trabalho numa oficina superlotada e por dormir num cubículo demasiadamente estreito e mal ventilado Para dar ao médico uma lição de boas maneiras o Coroners J ury declarou A falecida morreu de apoplexia mas há razões para suspeitar que sua morte tenha sido apressada pelo sobretrabalho numa oficina superlotada etc Nossos escravos brancos clamou o Morning Star órgão dos livrecambistas Cobden e Bright nossos escravos brancos são conduzidos ao túmulo pelo trabalho e definham e morrem sem canto nem glória90 Trabalhar até a morte está na ordem do dia não apenas nas oficinas das modistas mas em milhares de outros lugares na verdade em todo lugar em que o negócio prospera Tomemos como exemplo o ferreiro Se nos é dado acreditar nos poetas não existe nenhum homem tão cheio de vida e alegre quanto o ferreiro Ele levanta cedo e já produz suas faíscas antes do sol ele come bebe e dorme como nenhum outro homem Considerado do ponto de vista puramente físico ele se encontra por trabalhar moderadamente num das melhores posições humanas Mas se o seguirmos até a cidade veremos a sobrecarga de trabalho que recai sobre esse homem forte e o lugar que ele ocupa na estatística de mortalidade em nosso país Em Marylebone um dos maiores bairros de Londres os ferreiros morrem numa proporção anual de 31 por 1000 ou 11 acima da média de mortalidade dos homens adultos na Inglaterra A ocupação uma arte quase instintiva da humanidade irrepreensível em si mesma convertese devido ao excesso de trabalho em destruidora do homem Ele pode dar tantas marteladas por dia caminhar tantos passos respirar tantas vezes realizar tanto trabalho e viver em média digamos 50 anos Mas ele é diariamente forçado a martelar tantas vezes mais a caminhar tantos passos a mais a respirar com mais frequência e tudo isso faz com que seu dispêndio vital seja diariamente aumentado em 14 Ele cumpre a meta e o resultado é que por um período limitado realiza 14 a mais de trabalho e morre aos 37 anos em vez de aos 5091 4 Trabalho diurno e noturno O sistema de revezamento 234 O capital constante os meios de produção considerados do ponto de vista do processo de valorização só existem para absorver trabalho e com cada gota de trabalho uma quantidade proporcional de maistrabalho Se não fazem isso sua simples existência constitui uma perda negativa para o capitalista uma vez que durante o tempo em que estão ociosos eles representam um desembolso inútil de capital e essa perda se torna positiva tão logo a interrupção torne necessária a realização de gastos adicionais para o reinício do trabalho O prolongamento da jornada de trabalho além dos limites do dia natural adentrando a madrugada funciona apenas como paliativo pois não faz mais do que abrandar a sede vampírica por sangue vivo do trabalho Apropriarse de trabalho 24 horas por dia é assim o impulso imanente da produção capitalista Mas como é fisicamente impossível sugar as mesmas forças de trabalho continuamente dia e noite ela necessita a fim de superar esse obstáculo físico do revezamento entre as forças de trabalho consumidas de dia e de noite o qual admite métodos distintos podendo por exemplo ser organizado de tal modo que uma parte dos operários realize numa semana o trabalho diurno noutra o trabalho noturno etc Sabemos que esse sistema de revezamento essa economia de alternância prevalecia no florescente período juvenil da indústria inglesa do algodão etc e que atualmente ele floresce por exemplo nas fiações de algodão do distrito de Moscou Como sistema esse processo de produção de 24 horas existe ainda hoje em muitos ramos industriais britânicos que eram até agora livres como altosfornos forjas oficinas de laminagem e outras manufaturas metalúrgicas da I nglaterra País de Gales e Escócia Aqui além das 24 horas dos 6 dias úteis da semana o processo de trabalho compreende também em muitos casos as 24 horas do domingo Os trabalhadores consistem em adultos e crianças de ambos os sexos A idade das crianças e jovens percorre todos os estágios intermediários desde 8 em alguns casos desde 6 até 18 anos92 Em alguns ramos meninas e mulheres trabalham também no turno da noite com o pessoal masculino93 Abstraindo dos efeitos nocivos gerais do trabalho noturno94 a duração ininterrupta do processo de produção por 24 horas oferece a oportunidade altamente bemvinda de ultrapassar os limites da jornada nominal de trabalho Por exemplo nos ramos da indústria extremamente fatigantes que citamos anteriormente a jornada de trabalho oficial é na maioria das vezes de 12 horas noturnas ou diurnas Em muitos casos porém o sobretrabalho além desse limite é para usar a expressão do relatório oficial inglês realmente aterrador truly fearful95 Nenhuma mente humana diz esse documento pode conceber a quantidade de trabalho que segundo testemunhos é realizada por crianças de 9 a 12 anos sem chegar à inevitável conclusão de que não se pode mais permitir esse abuso de poder dos pais e dos empregadores96 O método de fazer meninos trabalhar alternadamente de dia e de noite leva ao prolongamento maléfico da jornada de trabalho tanto em períodos de pressão sobre os negócios quanto no curso normal das coisas Esse prolongamento é em muitos casos não apenas cruel mas simplesmente inacreditável É inevitável que vez ou outra uma criança falte ao revezamento por algum motivo Então um ou mais dos meninos presentes que já concluíram sua jornada de trabalho têm de preencher essa ausência Esse sistema é tão conhecido que o gerente de uma fábrica de laminagem respondeu da seguinte forma à minha pergunta de como a posição dos meninos ausentes seria preenchida Sei que o senhor sabe disso tão bem quanto eu e não hesitou em reconhecer o fato97 Numa fábrica de laminagem onde a jornada nominal de trabalho era das 6 horas da manhã às 512 da tarde um menino trabalhava 4 noites toda semana no mínimo até as 812 da noite do dia seguinte e isso durante 6 meses Outro de 9 anos de idade trabalhava às vezes 3 turnos seguidos de 12 horas cada e quando atingiu a 235 menino trabalhava 4 noites toda semana no mínimo até as 812 da noite do dia seguinte e isso durante 6 meses Outro de 9 anos de idade trabalhava às vezes 3 turnos seguidos de 12 horas cada e quando atingiu a idade de 10 anos passou a trabalhar 2 dias e 2 noites consecutivos Um terceiro agora com 10 anos trabalhava das 6 horas da manhã até a meianoite por 3 noites seguidas e até as 9 horas da noite durante as outras noites Um quarto agora com 13 anos trabalhava durante toda a semana das 6 horas da tarde até as 12 horas do dia seguinte e às vezes em 3 turnos seguidos por exemplo da manhã de segundafeira até a noite de terçafeira Um quinto agora com 12 anos trabalhava numa fundição de ferro em Stavely das 6 horas da manhã até a meia noite durante 14 dias e não conseguiu continuar George Allinworth de nove anos relata Vim para cá na sexta feira passada No dia seguinte tivemos de começar às 3 horas da manhã Por isso fiquei aqui a noite inteira Moro a 5 milhas daqui Dormi no chão sobre um avental e coberto com uma pequena jaqueta Nos dois outros dias cheguei aqui às 6 horas da manhã Sim Este lugar aqui é quente Antes de vir para cá trabalhei durante um ano inteiro num altoforno uma grande usina no campo Lá eu também começava às 3 horas da manhã de sábado mas pelo menos podia ir dormir em casa porque era perto Nos outros dias eu começava às 6 horas da manhã e terminava às 6 ou 7 da noite etc98 Ouçamos agora como o próprio capital concebe esse sistema de 24 horas Ele silencia naturalmente sobre os excessos do sistema sobre seu abuso em direção a um prolongamento cruel e inacreditável da jornada de trabalho Ele fala apenas do sistema em sua forma normal Os senhores Naylor e Vickers fabricantes de aço que empregam de 600 a 700 pessoas dentre as quais apenas 10 menores de 18 anos e destas não mais do que 20 meninos no trabalho noturno declaram o seguinte Os rapazes não sofrem em absoluto com o calor A temperatura varia provavelmente entre 86 e 90l Nas forjas e oficinas de laminagem a mão de obra trabalha dia e noite em sistema de revezamento mas todos os demais trabalhos são ao contrário diurnos das 6 horas da manhã às 6 da tarde Na forja trabalhase do meiodia à meianoite Uma parte da mão de obra trabalha continuamente no horário noturno sem revezamento entre os turnos diurno e noturno Não achamos que o trabalho diurno ou o noturno tenham alguma diferença com relação à saúde dos senhores Naylor e Vickers e é provável que as pessoas durmam melhor quando gozam do mesmo período de descanso do que quando ele varia Cerca de 20 rapazes menores de 18 anos trabalham com a turma da noite Não teríamos como fazer bem not well do sem o trabalho noturno de rapazes menores de 18 anos Nossa objeção é ao aumento dos custos de produção Mãos habilidosas e chefes de departamento são difíceis de achar mas jovens se conseguem tantos quantos se queira Naturalmente considerandose a escassa proporção de jovens que empregamos qualquer limitação do trabalho noturno seria de pouca importância ou interesse para nós99 O sr J Ellis da firma dos senhores J ohn Brown Co usinas de aço e ferro que empregam 3 mil homens e adolescentes dos quais parte realiza o trabalho pesado com aço e ferro de dia e de noite por revezamento declara que no trabalho pesado nas usinas de aço há 1 ou 2 adolescentes para cada homem adulto Em seu negócio são empregados 500 rapazes menores de 18 anos dos quais cerca de 13 ou 170 são menores de 13 anos Com relação à proposta de alteração da lei o sr Ellis observa Não creio que seria muito objetável very objectionable a proposta de proibir que qualquer pessoa menor de 18 anos trabalhe mais do que 12 horas em cada 24 Mas tampouco creio que se possa traçar uma linha qualquer para dispensar do trabalho noturno jovens maiores de 12 anos Uma lei que proibisse o emprego de qualquer jovem menor de 13 anos ou até mesmo menor de 15 anos ainda nos seria preferível a uma proibição de utilizar durante a noite os jovens que já temos Os jovens que trabalham no turno do dia também têm de trabalhar alternadamente no turno da noite pois os homens não podem realizar apenas trabalho noturno isso arruinaria sua saúde Cremos no entanto que o trabalho noturno em semanas alternadas não causa dano algum Já os senhores Naylor e Vickers em consonância com os interesses de seu negócio acreditavam que o trabalho noturno com revezamento podia causar mais danos do que o trabalho noturno contínuo 236 noturno são feitas levandose em conta o aumento da despesa mas essa é também a única razão Que cínica ingenuidade Cremos que um tal aumento seria maior do que aquele que o negócio the trade poderia razoavelmente suportar levandose em devida consideração a sua realização bemsucedida As the trade with due regard to etc could fairly bear Que fraseologia pastosa O trabalho aqui é raro e poderia tornarse insuficiente sob uma tal regulação isto é Ellis Brown Co poderiam se ver na incômoda situação de serem obrigadas a pagar integralmente o valor da força de trabalho100 As usinas da Cyclops Ferro e Aço dos senhores Cammel Co atuam na mesma escala das supracitadas usinas de J ohn Brown Co O diretorgerente apresentou seu testemunho por escrito ao comissário governamental White mas depois achou que convinha extraviar o manuscrito que lhe fora devolvido para revisão No entanto o sr White tem uma boa memória Ele se lembra muito bem de que para esses senhores ciclopes a proibição do trabalho noturno para crianças e adolescentes seria algo impossível praticamente o mesmo que parar suas usinas mesmo considerando que seu negócio conta com pouco mais do que 6 de jovens menores de 18 e apenas 1 de menores de 13 anos101 Sobre o mesmo objeto declara o sr E F Sanderson da firma Sanderson Bros Co com usinas de aço laminagem e forja em Attercliffe Grandes dificuldades resultariam da proibição do trabalho noturno para jovens menores de 18 anos sendo a principal delas o aumento dos custos que acarretaria necessariamente uma substituição do trabalho dos meninos pelo trabalho de homens adultos Quanto isso custaria não posso dizer mas provavelmente não seria tanto a permitir que o fabricante aumentasse o preço do aço o que faria com que o prejuízo recaísse sobre ele já que os trabalhadores que povo insolente naturalmente se recusariam a suportálo O sr Sanderson não sabe quanto ele paga às crianças mas talvez isso dê a soma de 4 a 5 xelins por cabeça semanalmente O trabalho dos meninos é de um tipo para o qual geralmente generally é claro que nem sempre especialmente a força dos jovens é suficiente de modo que da força maior dos trabalhadores adultos não resultaria um ganho capaz de compensar o prejuízo a não ser nos poucos casos em que o metal é muito pesado Os trabalhadores adultos também não gostariam muito de não ter meninos entre seus subordinados pois os adultos são menos obedientes Além disso os jovens têm de começar cedo para aprender o ofício A limitação dos jovens ao simples trabalho diurno não cumpriria essa finalidade E por que não Por que os jovens não podem aprender seu ofício no turno do dia Suas razões Porque os homens adultos que trabalham em semanas alternadas ora de dia ora de noite ficariam separados dos jovens de seu turno durante o mesmo tempo e assim seriam privados de metade do lucro que extraem deles A orientação que eles dão aos jovens é calculada como parte do salário desses jovens e possibilita aos adultos obterem o trabalho dos jovens por um preço menor Cada adulto perderia a metade de seu lucro Em outras palavras os senhores Sanderson teriam de pagar de seu próprio bolso uma parte do salário dos trabalhadores adultos em vez de pagála com o trabalho noturno dos jovens Nesse caso o lucro dos senhores Sanderson cairia um pouco e essa é a boa razão sandersoniana por que os jovens não podem aprender seu ofício no turno do dia102 Ademais isso faria com que esse trabalho noturno regular recaísse sobre os adultos que agora se revezariam com os jovens e aqueles não o suportariam Em suma as dificuldades seriam tão grandes que provocariam muito provavelmente a supressão total do trabalho noturno No que diz respeito à produção de aço propriamente dita diz E F Sanderson isso não faria porém a menor diferença Mas os senhores Sanderson têm mais o que fazer do que fabricar aço A produção de aço é mero pretexto para a produção de maisvalor Os fornos de fundição as oficinas 237 de laminagem etc os edifícios a maquinaria o ferro o carvão etc têm mais a fazer do que se transformar em aço Eles estão lá para sugar maistrabalho e naturalmente sugamno mais em 24 horas do que em 12 Na realidade eles dão aos Sanderson em nome de Deus e do Direito um cheque no valor do tempo de trabalho de determinada mão de obra por todas as 24 horas do dia com o que perdem seu caráter de capital e tão logo sua função de sugar trabalho seja interrompida transformamse em puro prejuízo para os Sanderson Mas então haveria o prejuízo de uma maquinaria tão cara permanecer ociosa por metade do tempo e para obter a mesma quantidade de produtos que somos capazes de fabricar com o sistema atual teríamos de duplicar as instalações e as máquinas das usinas o que duplicaria os gastos Mas por que reivindicam esses Sanderson um privilégio em relação aos demais capitalistas que só podem empregar trabalhadores no trabalho diurno e cujos edifícios maquinaria e matériaprima permanecem por isso ociosos durante a noite É verdade responde E F Sanderson em nome de todos os Sanderson é verdade que esse prejuízo proveniente da maquinaria ociosa atinge todas as manufaturas em que só se trabalha durante o dia Mas o consumo dos fornos de fundição causaria em nosso caso um prejuízo adicional Se a maquinaria é mantida em funcionamento desperdiçase combustível agora em vez disso é a matéria vital dos trabalhadores que é desperdiçada e se não é mantida em funcionamento há perda de tempo para reacender os fornos e alcançar o grau necessário de calor enquanto a perda de tempo de sono mesmo para crianças de 8 anos é ganho de tempo de trabalho para o clã dos Sanderson e os próprios fornos sofreriam avarias com a variação de temperatura enquanto esses mesmos fornos nada sofrem com o revezamento do trabalho diurno e noturno103 5 A luta pela jornada normal de trabalho Leis compulsórias para o prolongamento da jornada de trabalho da metade do século XIV ao final do século XVII Que é uma jornada de trabalho Quão longo é o tempo durante o qual o capital pode consumir a força de trabalho cujo valor diário ele paga Por quanto tempo a jornada de trabalho pode ser prolongada além do tempo de trabalho necessário à reprodução da própria força de trabalho A essas questões como vimos o capital responde a jornada de trabalho contém 24 horas inteiras deduzidas as poucas horas de repouso sem as quais a força de trabalho ficaria absolutamente incapacitada de realizar novamente seu serviço Desde já é evidente que o trabalhador durante toda sua vida não é senão força de trabalho razão pela qual todo o seu tempo disponível é por natureza e por direito tempo de trabalho que pertence portanto à autovalorização do capital Tempo para a formação humana para o desenvolvimento intelectual para o cumprimento de funções sociais para relações sociais para o livre jogo das forças vitais físicas e intelectuais mesmo o tempo livre do domingo e até mesmo no país do sabatismo104 é pura futilidade Mas em seu impulso cego e desmedido sua voracidade de lobisomem por maistrabalho o capital transgride não apenas os limites morais da jornada de trabalho mas também seus limites puramente físicos Ele usurpa o tempo para o crescimento o desenvolvimento e a manutenção saudável do corpo Rouba o tempo requerido para o consumo de ar puro e de luz solar Avança sobre o horário das refeições e os incorpora sempre que possível ao processo de 238 corpo Rouba o tempo requerido para o consumo de ar puro e de luz solar Avança sobre o horário das refeições e os incorpora sempre que possível ao processo de produção fazendo com que os trabalhadores como meros meios de produção sejam abastecidos de alimentos do mesmo modo como a caldeira é abastecida de carvão e a maquinaria de graxa ou óleo O sono saudável necessário para a restauração renovação e revigoramento da força vital é reduzido pelo capital a não mais do que um mínimo de horas de torpor absolutamente imprescindíveis ao reavivamento de um organismo completamente exaurido Não é a manutenção normal da força de trabalho que determina os limites da jornada de trabalho mas ao contrário o maior dispêndio diário possível de força de trabalho não importando quão insalubre compulsório e doloroso ele possa ser é que determina os limites do período de repouso do trabalhador O capital não se importa com a duração de vida da força de trabalho O que lhe interessa é única e exclusivamente o máximo de força de trabalho que pode ser posta em movimento numa jornada de trabalho Ele atinge esse objetivo por meio do encurtamento da duração da força de trabalho como um agricultor ganancioso que obtém uma maior produtividade da terra roubando dela sua fertilidade Assim a produção capitalista que é essencialmente produção de maisvalor sucção de maistrabalho produz com o prolongamento da jornada de trabalho não apenas a debilitação da força humana de trabalho que se vê roubada de suas condições normais morais e físicas de desenvolvimento e atuação Ela produz o esgotamento e a morte prematuros da própria força de trabalho105 Ela prolonga o tempo de produção do trabalhador durante certo período mediante o encurtamento de seu tempo de vida Mas o valor da força de trabalho inclui o valor das mercadorias requeridas para a reprodução do trabalhador ou para a procriação da classe trabalhadora Assim se o prolongamento antinatural naturwidrige da força de trabalho que o capital tem necessariamente por objetivo em seu impulso desmedido de autovalorização encurta o tempo de vida do trabalhador singular e com isso a duração de sua força de trabalho tornase necessária uma substituição mais rápida dos trabalhadores que foram desgastados e portanto a inclusão de custos de depreciação maiores na reprodução da força de trabalho do mesmo modo como a parte do valor a ser diariamente reproduzida de uma máquina é tanto maior quanto mais rapidamente ela se desgaste Uma jornada de trabalho normal parece assim ser do próprio interesse do capital O senhor de escravos compra seu trabalhador como compra seu cavalo Se perde seu escravo ele perde um capital que tem de ser reposto por meio de um novo gasto no mercado de escravos Mas os campos de arroz da Geórgia e os pântanos do Mississípi podem fatalmente exercer uma ação destrutiva sobre a constituição humana no entanto esse desperdício de vida humana não é tão grande que não possa ser compensado pelas abundantes reservas da Virgínia e do Kentucky Precauções econômicas que poderiam oferecer uma espécie de segurança para o tratamento humano do escravo porquanto identificam o interesse do senhor em sua conservação transformamse após a introdução do tráfico escravista em razões para a mais extrema deterioração do escravo pois a partir do momento em que seu lugar pode ser preenchido por contingentes das reservas estrangeiras de negros a duração de sua vida passa a ser menos importante do que sua produtividade enquanto ela durar Por isso é uma máxima da economia escravagista em países importadores de escravos que a economia mais eficaz está em extrair do gado humano human chattle a maior quantidade possível 239 inescrupulosa É a agricultura das Índias Ocidentais há séculos o berço de uma fabulosa riqueza que tem devorado milhões de indivíduos da raça africana É atualmente em Cuba onde as rendas somam milhões e os plantadores são verdadeiros príncipes que podemos ver além da alimentação mais grosseira e da labuta mais extenuante e interminável uma grande parte da classe escrava ser diretamente destruída a cada ano pela lenta tortura do sobretrabalho e da falta de sono e de descanso106 Mutato nomine de te fabula narratur A fábula fala de ti só que com outro nomem Basta ler no lugar de mercado de escravos mercado de trabalho no lugar de Kentucky e Virgínia I rlanda e distritos agrícolas da I nglaterra Escócia e País de Gales e no lugar de África Alemanha Ouvimos como o sobretrabalho dizima os padeiros em Londres e ainda assim o mercado de trabalho londrino está sempre abarrotado de alemães e outros candidatos à morte nas padarias A olaria como vimos é um dos ramos industriais em que a vida é mais curta Faltam por isso oleiros Em 1785 Josiah Wedgwood o inventor da olaria moderna um simples trabalhador de origem declarou perante à Câmara dos Comuns que a manufatura inteira empregava de 15 a 20 mil pessoas107 Em 1861 só a população das sedes urbanas dessa indústria na Grã Bretanha chegava a 101302 pessoas A indústria do algodão existe há 90 anos Em três gerações da raça inglesa ela devorou nove gerações de trabalhadores algodoeiros108 É verdade que em algumas épocas de prosperidade febril o mercado de trabalho mostrou falhas preocupantes como em 1834 Mas então os senhores fabricantes propuseram aos Poor Law Commissioners comissários da Lei dos Pobres deslocar para o Norte o excesso de população dos distritos agrícolas com o argumento de que lá os fabricantes os absorveriam e consumiriam Tais foram exatamente suas palavras109 Agentes foram designados para Manchester com a anuência dos Poor Law Commissioners Listas de trabalhadores agrícolas foram preparadas e entregues a esses agentes Os fabricantes vinham aos escritórios e depois de escolherem os trabalhadores que lhes convinham as famílias eram despachadas do sul da Inglaterra Esses pacotes de gente eram transportados com etiquetas como fardos de mercadorias por via fluvial ou em vagões de carga alguns iam a pé e muitos erravam semifamélicos pelos distritos industriais Isso se tornou um verdadeiro ramo de comércio A Câmara dos Comuns terá dificuldade em acreditar nisso Esse comércio regular esse regateio de carne humana prosseguiu e essa gente foi comprada e vendida pelos agentes de Manchester aos fabricantes dessa cidade com tanta regularidade quanto os negros eram vendidos aos plantadores de algodão dos Estados sulinos O ano de 1860 marca o zênite da indústria do algodão Novamente houve escassez de mão de obra Os fabricantes voltaram a procurar os agentes de carne humana e estes esquadrinharam as dunas de Dorset os cerros de Devon e as planícies de Wilts mas a população excedente já havia sido devorada O Bury Guardian lastimou que com a conclusão do acordo comercial anglofrancês 10 mil braços adicionais poderiam ser absorvidos e não tardaria até que outros 30 ou 40 mil se fizessem necessários Em 1860 depois que os agentes e subagentes do comércio de carne humana varreram os distritos agrícolas quase sem resultado uma delegação de fabricantes dirigiuse ao sr Villiers presidente do Poor Law Board Conselho da Lei dos Pobres com a solicitação de que se voltasse a permitir o fornecimento de crianças pobres e órfãs saídas das workhousesn110 O que a experiência mostra aos capitalistas é em geral uma constante superpopulação isto é um excesso de população em relação às necessidades momentâneas de valorização do capital embora esse fluxo populacional seja formado por gerações de seres humanos atrofiados de vida curta que se substituem uns aos 240 outros rapidamente e são por assim dizer colhidos antes de estarem maduros No entanto a experiência mostra ao observador atento por outro lado rápida e profundamente a produção capitalista que em escala histórica data quase de ontem tem afetado a força do povo em sua raiz vital como a degeneração da população industrial só é retarda pela absorção contínua de elementos vitais naturalespontâneos do campo e como mesmo os trabalhadores rurais apesar do puro e do principle of natural selection princípio da seleção natural que reina tão soberano entre eles e os permite a sobrevivência dos indivíduos mais fortes já começam a aparecer O capital que tem tão boas razões para os sofrimentos das gerações de trabalhadores que o cercam é em seu movimento prático tão pouco condicionado pela perspectiva do apodrecimento futuro da humanidade e seu irreversível despovoamento final quanto pela possível queda da Terra sobre o Sol Em qualquer manobra ardilosa no mercado acionário ninguém ignora que uma hora ou outra a tempestade chegará mas cada um espera que o raio atinja a cabeça do próximo depois de próprio ter colhido a chuva de ouro e o guardado em segurança Après moi le déluge Depois de mim o dilúvio é o lema de todo capitalista e toda nação capitalista O capital não tem por isso a mínima consideração pela saúde e duração da vida do trabalhador a menos que seja forçado pela sociedade a ter essa consideração As queixas sobre a degradação física e mental a morte prematura a tortura do sobretabralho ele responde deveria esse mártir não martirizar ele que aumenta nosso gozo o lucro De modo geral no entanto isso tampouco depende da boa ou má vontade do capitalista individual A livreconcorrência impõe ao capitalista individual como leis externas inexoráveis as leis imanentes da produção capitalista A consolidação de uma jornada de trabalho normal é o resultado de uma luta de 400 anos entre capitalista e trabalhador Mas a história desta luta mostra duas correntes antagônicas Comparese por exemplo a legislação fabril inglesa da nossa época com os estatutos ingleses do trabalho desde o século XIV até meados do século XVIII Enquanto a moderna legislação fabril encerra compulsoriamente a jornada de trabalho aqueles estatutos a prolongam de forma igualmente compulsória Decreto as pretensões do capital em estado embrionário quando em seu processo de formação ele garante seu direito à absorção de uma quantidade suficiente de maistrabalho não apenas mediante a simples força das relações econômicas mas também por meio da ajuda do poder estatal parecem ser muito modestas se comparadas com as concessões que ele rosnando e relutando é obrigado a fazer quando adulto Foi preciso esperar séculos para que o trabalhador livre em consequência de um modo de produção capitalista desenvolvido aceitasse livremente isto é fosse socialmente coagido a vender a totalidade de seu tempo ativo de vida até mesmo sua própria capacidade de trabalho pelo preço mais baixo de subsistência que lhe são habituais e sua primogenitura por uma parte de lentilhas É natural assim que o prolongamento da jornada de trabalho que o capital desde o século XIV até o fim do século XVI procurou impor aos trabalhadores adultos por meio de coação estatal coincide aproximadamente com a limitação de tempo de trabalho na segundo modo do século XIX pois imposta aqui e ali pelo Estado para impedir a transformação do sangue das crianças em capital O que hoje por exemplo no estado de Massachusetts até O primeiro Statute of Labourer Estatuto dos Trabalhadores 23 Eduardo II 1349 teve como pretexto imediato não sua causa pois esse tipo de legislação durou por séculos depois de desaparecido o pretexto de seu surgimento na grande p que dizia a população ao ponto de como diz um escritor tory a dificuldade de se empregar trabalhadores por preços razoáveis isto é por preços que deixem a seus empregados uma quantidade razoável de maistrabalho ter se tornado de fato intolerável com exceção dos trabalhadores agrícolas por meio do pagamento do valor semanal da força de trabalho O fato de que conseguiam viver uma semana inteira com o salário de 4 dias não parecia aos trabalhadores uma razão suficiente para que ainda trabalhassem mais dois dias para os capitalistas Uma parte dos economistas ingleses em nome dos interesses do capital denunciou furiosamente essa contumácia e outra parte defendeu os trabalhadores Ouçamos por exemplo a polêmica entre Postlethwayt cujo Dicionário do Comércio gozava à época da mesma fama de que hoje gozam escritos semelhantes de MacCulloch e MacGregor e o já citado autor do Essay on Trade and Commerce121 Postlethwayt diz entre outras coisas Não posso concluir essas poucas observações sem registrar a opinião trivial na boca de muitos de que se o trabalhador industrious poor pobre industrioso conseguir obter em cinco dias o suficiente para viver ele não trabalhará os seis dias completos A partir disso eles inferem a necessidade de encarecer os meios de subsistência mediante impostos ou qualquer outra medida para forçar o artesão e o trabalhador da manufatura a trabalhar seis dias seguidos na semana Peço licença para discordar desses grandes políticos que lutam pela escravidão perpétua da população trabalhadora desse reino the perpetual slavery of the working people eles esquecem o ditado de que all work and no play apenas trabalho e nenhuma recreação imbeciliza Não se jactam os ingleses da genialidade e habilidade de seus artesãos e trabalhadores nas manufaturas que até agora trouxeram crédito e fama em geral às mercadorias britânicas A que circunstância se deveu isso Provavelmente a nenhuma outra que não o modo como nosso povo trabalhador sabe se divertir à sua maneira Se estivessem obrigados a trabalhar o ano inteiro todos os seis dias na semana repetindo continuamente a mesma operação não acabaria isso por sufocar sua genialidade e tornálos estúpidos e lerdos em vez de atentos e hábeis E em decorrência dessa eterna escravidão não perderiam nossos trabalhadores sua reputação em vez de conservála Que tipo de habilidade artística poderíamos esperar de tais animais extenuados hard driven animals Muitos deles realizam em quatro dias a mesma quantidade de trabalho que um francês realiza em cinco ou seis dias Mas se os ingleses devem ser eternos trabalhadores forçados há razões para temer que eles ainda venham a se degenerar degenerate mais do que os franceses Se nosso povo é célebre por sua valentia na guerra não dizemos que isso se deve por um lado ao bom rosbife e pudim ingleses em seu corpo mas por outro também ao nosso espírito constitucional de liberdade E por que não se deveria atribuir a maior genialidade energia e destreza de nossos artesãos e trabalhadores nas manufaturas à liberdade com que se divertem à sua maneira Espero que eles jamais percam esses privilégios tampouco a boa vida da qual decorrem na mesma medida sua habilidade no trabalho e sua coragem122 A isso responde o autor de Essay on Trade and Commerce Se descansar no sétimo dia da semana é uma instituição divina isso significa que os demais dias pertencem ao trabalho ele quer dizer ao capital como logo se verá e não se pode considerar como crueldade a obrigação de cumprir esse mandamento de Deus Que a humanidade em geral se incline por natureza à comodidade e ao ócio é algo que podemos verificar fatalmente no comportamento de nossa plebe manufatureira que em média não trabalha mais do que 4 dias por semana a não ser no caso de um encarecimento dos meios de subsistência Suponha que 1 alqueire de trigo no valor de 5 xelins represente todos os meios de subsistência do trabalhador e que este último receba 1 xelim diariamente por seu trabalho Ele só precisa trabalhar então 5 dias na semana e apenas 4 se o alqueire custar 4 xelins Mas como o salário neste reino está muito mais alto se comparado com o preço dos meios de subsistência o trabalhador da manufatura que trabalha apenas 4 dias dispõe de um excedente de dinheiro com o qual vive ociosamente o resto da semana Espero ter dito o suficiente para deixar claro que o trabalho moderado durante os 6 dias da semana não é nenhuma escravidão Nossos trabalhadores agrícolas fazem isso e são segundo toda aparência os mais felizes dos trabalhadores labouring poor123 também os holandeses fazem o mesmo nas manufaturas e aparentam ser um povo muito feliz Os franceses o fazem quando não há muitos feriados interpostos124 Mas nossa populaça encasquetou a ideia de que por serem ingleses possuem por direito de nascença o privilégio de ser mais livres e independentes do que o povo trabalhador em qualquer outro país da Europa Ora essa ideia porquanto afeta a valentia de nossos soldados pode ser de alguma utilidade mas quanto menos ela influenciar os trabalhadores das manufaturas tanto melhor para eles mesmos e para o Estado Os trabalhadores jamais deveriam considerarse independentes de seus superiores independent of their superiors É extraordinariamente perigoso encorajar a plebe num Estado comercial como o nosso onde talvez 78 da população total disponha de pouca ou nenhuma propriedade125 A cura não estará completa até que nossos pobres operários aceitem trabalhar 6 dias pela 243 mesma quantia que eles agora recebem por 4 dias de trabalho126 Para esse fim e para a extirpação da preguiça da licenciosidade e do devaneio romântico de liberdade ditto para a redução do número de pobres o fomento do espírito da indústria e a diminuição do preço do trabalho nas manufaturas nosso fiel Eckart do capital propõe este instrumento de eficácia comprovada trancafiar esses trabalhadores que dependem da beneficência pública numa palavra os paupers numa casa ideal de trabalho an ideal workhouse Tal workhouse ideal deve ser transformada numa Casa do Terror House of Terror127 Nessa Casa do Terror esse ideal de uma casa de trabalho workhouse devemse trabalhar 14 horas diárias inclusive o tempo reservado às refeições de modo que restem 12 horas completas de trabalho128 12 horas de trabalho diário numa workhouse ideal na Casa do Terror de 1770 Sessenta e três anos mais tarde em 1833 quando o Parlamento inglês reduziu em quatro ramos da indústria a jornada de trabalho de crianças de 13 a 18 anos para 12 horas completas de trabalho foi como se a hora do J uízo Final tivesse soado para a indústria inglesa Em 1852 quando L Bonaparte tentando consolidar sua posição com relação à burguesia interferiu na jornada legal de trabalho o povor francês gritou numa só voz A lei que reduz a jornada de trabalho para 12 horas é o único bem que nos restou da legislação da República129 Em Zurique o trabalho de crianças maiores de 10 anos é limitado a 12 horas na Argóvia em 1862 o trabalho de crianças entre 13 e 16 anos foi reduzido de 1212 para 12 horas na Áustria em 1860 ele foi igualmente reduzido a 12 horas para crianças entre 14 e 16 anos130 Que progresso desde 1770 bradaria Macaulay com exultation A Casa do Terror para paupers com a qual a alma do capital ainda sonhava em 1770 ergueuse alguns anos mais tarde como uma gigante casa de trabalho para os próprios trabalhadores da manufatura Chamouse fábrica E dessa vez o ideal empalideceu diante da realidade 6 A luta pela jornada normal de trabalho Limitação do tempo de trabalho por força de lei A legislação fabril inglesa de 1833 a 1864 Depois de o capital ter levado séculos para prolongar a jornada de trabalho até seu limite normal e então ultrapassálo até o limite do dia natural de 12 horas131 ocorreu desde o nascimento da grande indústria no último terço do século XVI I I um violento e desmedido desmoronamento qual uma avalanche Derrubaramse todas as barreiras erguidas pelos costumes e pela natureza pela idade e pelo sexo pelo dia e pela noite Mesmo os conceitos de dia e noite de uma simplicidade rústica nos antigos estatutos tornaramse tão complicados que ainda em 1860 um juiz inglês precisava de uma sagacidade talmúdica para explicar judicialmente o que era dia e o que era noite132 O capital celebrou suas orgias Assim que a classe trabalhadora inicialmente aturdida pelo ruído da produção recobrou em alguma medida seus sentidos teve início sua resistência começando pela 244 Assim que a classe trabalhadora inicialmente aturdida pelo ruído da produção recobrou em alguma medida seus sentidos teve início sua resistência começando pela terra natal da grande indústria a I nglaterra Por três décadas no entanto as concessões obtidas pela classe trabalhadora permaneceram puramente nominais De 1802 a 1833 o Parlamento aprovou cinco leis trabalhistas mas foi esperto o bastante para não destinar nem um centavo para sua aplicação compulsória para a contratação dos funcionários necessários ao cumprimento das leis etc133 Estas permaneceram letra morta O fato é que antes da lei de 1833 crianças e adolescentes eram postos a trabalhar were worked a noite toda o dia todo ou ambos ad libitum à vontade134 Somente com a lei fabril de 1833 que incluía as indústrias de algodão lã linho e seda foi instituída na indústria moderna uma jornada normal de trabalho Nada caracteriza melhor o espírito do capital do que a história da legislação fabril inglesa de 1833 a 1864 A lei de 1833 estabelece que a jornada normal de trabalho na fábrica deve começar às 5 e meia da manhã e terminar às 8 e meia da noite e que dentro desses limites num período de 15 horas é legalmente permitido empregar adolescentes isto é pessoas entre 13 e 18 anos para trabalhar em qualquer hora do dia sempre sob o pressuposto de que um mesmo adolescente não trabalhe mais que 12 horas num dia com exceção de casos especiais A sexta seção da lei determina que no decorrer de cada dia para cada pessoa um mínimo de 1 hora e meia desse tempo de trabalho deve ser reservado para as refeições Fica proibido o emprego de crianças menores de 9 anos com exceções que mencionaremos mais adiante e o trabalho de crianças entre 9 e 13 anos é limitado a 8 horas diárias O trabalho noturno isto é segundo essa lei o trabalho entre 8 e meia da noite e 5 e meia da manhã fica proibido para toda pessoa entre 9 e 18 anos Os legisladores estavam tão longe de querer tocar na liberdade do capital de sugar a força de trabalho adulto ou como eles a chamavam a liberdade do trabalho que conceberam um sistema especial para prevenir as consequências tão horrendas da lei fabril O grande mal do sistema fabril tal como ele se configura no presente lêse no primeiro relatório do Conselho Central da comissão de 25 de junho de 1833 está no fato de ele criar a necessidade de expandir o trabalho infantil até a duração máxima da jornada de trabalho dos adultos O único remédio para esse mal sem que se tenha de limitar o trabalho dos adultos o que provocaria um mal ainda maior do que aquele que se pretende evitar parece ser o plano de empregar turmas duplas de crianças Sob o nome de sistema de revezamento system of relays relay significa tanto em inglês como em francês a troca dos cavalos de correio em diferentes estações esse plano foi portanto realizado de tal forma que por exemplo uma turma de crianças de 9 a 13 anos era atrelada ao trabalho das 5 e meia da manhã à 1 e meia da tarde outra turma de 1 e meia da tarde às 8 e meia da noite etc Como recompensa pelo fato de nos últimos 22 anos os senhores fabricantes terem ignorado do modo mais insolente todas as leis promulgadas sobre o trabalho infantil a pílula foilhes então dourada O parlamento decretou que depois de 1º de março de 1834 nenhuma criança menor de 11 anos depois de 1º de março de 1835 nenhuma criança menor de 12 anos e depois de 1º de março de 1836 nenhuma criança menor de 245 Carlisle sir B Brodie sir C Bell o sr Guthrie etc em suma os mais distintos physicians and surgeons médicos e cirurgiões de Londres declararam em seus testemunhos perante a Câmara dos Comuns que havia periculum in mora perigo na demoras O dr Farre se expressou de modo ainda mais grosseiro A legislação é igualmente necessária para a prevenção da morte em todas as formas em que ela pode ser prematuramente infligida e esse o modo da fábrica tem certamente de ser considerado como um dos métodos mais cruéis de infligila135 O mesmo parlamento reformado que em sua delicada consideração pelos senhores fabricantes condenou crianças menores de 13 anos por longos anos ao inferno de 72 horas de trabalho semanal na fábrica por outro lado estabeleceu na Lei de Emancipação que também concedia a liberdade gota a gota que os plantadores ficavam doravante proibidos de fazer seus escravos negros trabalharem por mais de 45 horas semanais De modo algum pacificado o capital deu início então a uma longa e rumorosa agitação Esta girava principalmente em torno da idade das categorias que sob a rubrica crianças estavam limitadas a 8 horas de trabalho e submetidas a certa obrigação escolar De acordo com a antropologia capitalista a idade infantil acabava aos 10 ou no máximo aos 11 anos Quanto mais se aproximava a data estipulada para a vigência plena da lei fabril o ano fatídico de 1836 tanto mais se agitava a turba dos fabricantes Eles conseguiram de fato intimidar o governo ao ponto que este em 1835 propôs reduzir o limite de idade da infância de 13 para 12 anos No entanto a pressure from without pressão vinda de fora aumentou assumindo proporções ameaçadoras Faltou coragem à Câmara Baixa que se recusou a lançar sob as rodas do carro de Jagrenát do capital crianças de 13 anos por mais de 8 horas diárias e assim a lei de 1833 entrou em pleno vigor permanecendo inalterada até junho de 1844 Durante o decênio em que esta lei regulou o trabalho fabril primeiro parcialmente depois totalmente os relatórios oficiais dos inspetores de fábrica transbordaram de queixas sobre a impossibilidade de sua aplicação Como a lei de 1833 na realidade reservava aos senhores do capital a determinação de quando no período de 15 horas entre 5 e meia da manhã e 8 e meia da noite cada adolescente e cada criança deveria iniciar interromper e encerrar a jornada de respectivamente 12 e 8 horas de trabalho assim como a determinação de horários de refeições distintos para pessoas distintas esses senhores não tardaram a descobrir um novo sistema de revezamento no qual os cavalos de trabalho não são trocados em estações determinadas mas sempre novamente atrelados em estações alternadas Não nos demoraremos mais na beleza desse sistema pois teremos de retornar a ele mais adiante À primeira vista porém fica claro que ele aboliu por completo a lei fabril não só em seu espírito mas também em sua letra Com uma contabilidade tão complicada como poderiam os inspetores de fábrica forçar o cumprimento do tempo de trabalho e dos horários de refeições determinados por lei para cada criança e adolescente singulares Em grande parte das fábricas o velho e brutal abuso voltou a florescer impune Numa reunião com o ministro do I nterior 1844 os inspetores de fábrica demonstraram a impossibilidade de qualquer controle sob o sistema de revezamento recentemente urdido136 Nesse ínterim porém as circunstâncias mudaram muito Os trabalhadores 246 das fábricas especialmente depois de 1838 fizeram da Lei das 10 Horas sua palavra de ordem econômica como fizeram da peoples charter carta do povou sua palavra de ordem política Mesmo uma parte dos fabricantes que haviam regulado o trabalho em suas fábricas de acordo com a lei de 1833 inundou o Parlamento com petições contra a concorrência imoral dos falsos irmãos aos quais uma maior insolência ou circunstâncias locais mais afortunadas permitiam a violação da lei Além disso por mais que o fabricante individual quisesse dar rédea larga à sua antiga rapacidade os portavozes e líderes políticos da classe dos fabricantes ordenavam uma atitude e uma linguagem diferentes diante dos trabalhadores Eles haviam iniciado a campanha pela abolição das leis dos cereais e necessitavam da ajuda dos trabalhadores para a vitória Por isso prometeramlhes não apenas a duplicação do tamanho do pãov mas a adoção da Lei das 10 Horas sob o milênio do free trade137 Não lhes era permitido portanto combater uma medida cuja única finalidade era tornar efetiva a lei de 1833 Os tories vendose ameaçados em seu mais sagrado interesse a renda fundiária terminaram por bradar com indignação filantrópica contra as práticas infames138 de seus inimigos Assim surgiu a lei fabril adicional de 7 de junho de 1844 que entrou em vigor em 10 de setembro desse mesmo ano Ela acolhia uma nova categoria de trabalhadores entre os protegidos as mulheres maiores de 18 anos Estas foram equiparadas aos adolescentes em todos os aspectos seu tempo de trabalho foi limitado a 12 horas o trabalho noturno lhes foi vetado etc Pela primeira vez a legislação se viu compelida a controlar direta e oficialmente também o trabalho dos adultos No relatório de fábrica de 18441845 dizse ironicamente Não nos foi apresentado nem um único caso em que mulheres adultas tivessem se queixado de uma tal interferência em seus direitos139 O trabalho de crianças menores de 13 anos foi reduzido para 6 horas e meia e sob certas condições para 7 horas diárias140 Para eliminar os abusos do falso sistema de revezamento a lei estabeleceu entre outras regras importantes como esta A jornada de trabalho para crianças e adolescentes deverá ser contada a partir do horário em que qualquer criança ou adolescente começar a trabalhar na fábrica no turno da manhã Desse modo se A por exemplo começa a trabalhar às 8 horas da manhã e B às 10 horas a jornada de trabalho de B tem de qualquer forma de terminar no mesmo horário da jornada de trabalho de A O começo da jornada de trabalho deve ser regulado por um relógio público por exemplo o relógio da estação ferroviária mais próxima de acordo com o qual os relógios da fábrica devem ser acertados O fabricante é obrigado a afixar na fábrica um aviso impresso em letras grandes no qual são informados os horários de início fim e pausas da jornada de trabalho As crianças que começam seu trabalho da manhã antes do meiodia não podem continuar a trabalhar depois da 1 da tarde O turno da tarde tem portanto de ser preenchido por crianças diferentes das do turno da manhã A pausa de 1 hora e meia para a refeição tem de ser concedida a todos os trabalhadores protegidos nos mesmos períodos do dia pelo menos 1 hora antes das 3 horas da tarde Crianças ou adolescentes não podem ser empregados por mais de 5 horas antes da 1 hora da tarde sem que tenham 247 dia pelo menos 1 hora antes das 3 horas da tarde Crianças ou adolescentes não podem ser empregados por mais de 5 horas antes da 1 hora da tarde sem que tenham pelo menos uma pausa de meia hora para a refeição Durante o horário de qualquer uma das refeições crianças jovens ou mulheres não podem permanecer em nenhuma instalação da fábrica onde esteja em curso qualquer processo de trabalho etc Vimos que essas determinações minuciosas que regulam com uma uniformidade militar os horários os limites as pausas do trabalho de acordo com o sino do relógio não foram de modo algum produto das lucubrações parlamentares Elas se desenvolveram paulatinamente a partir das circunstâncias como leis naturais do modo de produção moderno Sua formulação seu reconhecimento oficial e sua proclamação estatal foram o resultado de longas lutas de classes Uma de suas consequências imediatas foi que na prática também a jornada de trabalho dos operários masculinos adultos foi submetida aos mesmos limites uma vez que a cooperação de crianças jovens e mulheres era indispensável à maioria dos processos de produção E assim durante o período entre 1844 e 1847 a jornada de trabalho de 12 horas foi implementada geral e uniformemente em todos os ramos da indústria submetidos à legislação fabril Mas os fabricantes não permitiram esse progresso sem exigir um retrocesso como recompensa Por eles pressionada a Câmara Baixa reduziu a idade mínima das crianças aptas a serem exploradas de 9 para 8 anos visando assegurar o fornecimento adicional de crianças de fábrica Fabrikkinder141 a que o capital tem direito segundo a lei de Deus e dos homens Os anos 18461847 marcaram época na história econômica da I nglaterra Revogaramse as leis dos cereais aboliramse as tarifas de importação de algodão e outras matériasprimas proclamouse o livrecâmbio como estrelaguia da legislação Em suma foi a chegada do milênio Por outro lado nesses mesmos anos o movimento cartista e a agitação pela Lei das 10 Horas atingiram seu auge Eles encontraram aliados nos tories ávidos por vingança Apesar da resistência fanática do exército dos livrecambistas perjuradores liderados por Bright e Cobden a Lei das 10 Horas por tanto tempo almejada foi aprovada pelo Parlamento A nova lei fabril de 8 de junho de 1847 determinou que a partir de 1º de julho de 1847 haveria uma redução preliminar da jornada de trabalho dos jovens de 13 a 18 anos e de todas as trabalhadoras para 11 horas e que em 1º maio de 1848 entraria em vigor a limitação definitiva em 10 horas De resto a lei não era mais que uma emenda às leis de 1833 e 1844 O capital deu início então a uma campanha prévia para impedir a plena aplicação da lei em 1º de maio de 1848 E caberia aos próprios trabalhadores supostamente escaldados pela experiência ajudar a destruir sua própria obra O momento fora habilmente escolhido Devese recordar que em consequência da terrível crise de 18461847 abateuse uma grande miséria entre os trabalhadores fabris já que muitas fábricas passaram a operar apenas em tempo reduzido muitas delas estando completamente paralisadas Um número considerável de trabalhadores encontravase assim na mais difícil situação e muitos deles endividados Por essa razão podiase presumir com um certo grau de certeza que eles prefeririam uma jornada de trabalho mais longa pois assim poderiam se recuperar das perdas passadas talvez saldar suas dívidas resgatar seus móveis da casa de penhores repor os bens vendidos ou adquirir novas roupas 248 meio de uma redução geral dos salários em 10 I sso se deu por assim dizer para celebrar o advento da nova era do livrecâmbio Seguiuse então mais uma redução de 813 assim que a jornada de trabalho foi reduzida para 11 horas e do dobro assim que foi definitivamente reduzida para 10 horas Onde as circunstâncias o permitiram houve uma redução salarial de no mínimo 25143 Sob condições tão favoravelmente preparadas teve início entre os trabalhadores o movimento pela revogação da lei de 1847 Mentira suborno ameaça nenhum meio foi poupado para esse fim porém tudo em vão Quanto à meia dúzia de petições em que os trabalhadores foram obrigados a se queixar de sua opressão pela lei os próprios peticionários atestaram em interrogatório oral que suas assinaturas haviam sido obtidas à força Eles eram oprimidos mas por algum outro que não a lei fabril144 Como os fabricantes não conseguiam fazer com que os trabalhadores falassem o que eles queriam eles próprios passaram a gritar ainda mais alto na imprensa e no Parlamento em nome dos trabalhadores Denunciaram os inspetores de fábricas como uma espécie de comissários da Convençãox que sacrificavam impiedosamente os desditosos trabalhadores a seus delírios de reforma do mundo Também essa manobra fracassou O inspetor de fábrica Leonard Horner colheu pessoalmente e por meio de seus subinspetores inúmeros depoimentos de testemunhas nas fábricas de Lancashire Cerca de 70 dos trabalhadores ouvidos declararamse pelas 10 horas uma porcentagem muito menor pelas 11 horas e uma minoria absolutamente insignificante pelas velhas 12 horas145 Outra amigável manobra foi a de deixar que operários masculinos adultos trabalhassem de 12 até 15 horas e então declarar esse fato como a melhor expressão dos mais profundos desejos proletários Mas o implacável inspetor de fábrica Leonard Horner estava novamente de prontidão A maioria dos que trabalham horas adicionais declarou que preferiria muito mais trabalhar 10 horas por um salário menor porém não tinha escolha havia tantos deles desempregados tantos fiandeiros forçados a trabalhar como meros piecers trabalhadores por peças que se rejeitassem o tempo de trabalho mais longo outros ocupariam imediatamente seu lugar de modo que a questão para eles era ou trabalhar por mais tempo ou ficar na rua146 A campanha prévia do capital malogrou e a Lei das 10 Horas entrou em vigor em 1º de maio de 1848 Nesse ínterim porém o fiasco do partido cartista com seus líderes encarcerados e sua organização fragmentada já havia abalado a autoconfiança da classe trabalhadora inglesa Logo depois disso a insurreição de J unho em Paris e sua sangrenta repressão provocaram na I nglaterra do mesmo modo que na Europa continental a união de todas as frações das classes dominantes proprietários fundiários e capitalistas chacais das bolsas de valores e varejistas protecionistas e livrecambistas governo e oposição padres e livrespensadores jovens prostitutas e velhas freiras sob a bandeira comum da salvação da propriedade da religião da família e da sociedade A classe trabalhadora foi por toda parte execrada proscrita submetida à loi des suspects lei sobre os suspeitosw Os senhores fabricantes já não tinham mais por que se constranger Revoltaramse abertamente não só contra a Lei das 10 Horas mas contra toda a legislação que desde 1833 procurava de algum modo restringir a livre exploração da força de trabalho Foi uma rebelião proslavery pró 249 escravidão em miniatura conduzida por mais de dois anos com um cínico despudor e uma energia terrorista ambos tanto mais banalizados quanto o capitalista rebelde não arriscava nada além da pele de seus trabalhadores Para a compreensão do que se segue devemos recordar que as leis fabris de 1833 1844 e 1847 estavam todas em vigor porquanto uma não emendara a outra que nenhuma delas restringia a jornada de trabalho do operário masculino maior de 18 anos e que desde 1833 o período de 15 horas entre as 5 e meia da manhã e as 8 e meia da noite fora fixado como o dia legal em cujos limites tinham de ser realizadas primeiramente as 12 e mais tarde as 10 horas de trabalho dos adolescentes e das mulheres de acordo com as condições prescritas Os fabricantes começaram aqui e ali a dispensar uma parte às vezes a metade dos adolescentes e trabalhadoras por eles empregados e em contrapartida restabeleceram o já quase extinto trabalho noturno entre os operários masculinos adultos A Lei das 10 Horas clamavam não lhes deixava outra alternativa147 O segundo passo foi relativo às pausas legais para as refeições Ouçamos o que dizem os inspetores de fábrica Desde a limitação da jornada de trabalho em 10 horas os fabricantes embora ainda não tenham levado seu ponto de vista até as últimas consequências afirmam que por exemplo quando se trabalha de 9 horas da manhã às 7 da noite eles cumprem os preceitos legalmente estabelecidos ao concederem 1 hora para a refeição antes das 9 horas da manhã e meia hora após as 7 da noite perfazendo portanto um total de 1 hora e meia para as refeições Em alguns casos eles permitem meia hora ou 1 hora inteira para o almoço mas insistem que não são de modo algum obrigados a incluir qualquer parte da 1 hora e meia no decorrer da jornada de trabalho de 10 horas148 Os senhores fabricantes sustentavam portanto que as determinações extremamente detalhadas da lei de 1844 sobre as refeições davam aos trabalhadores apenas a permissão para comer e beber antes de sua entrada na fábrica e depois de sua saída ou seja em casa E por que não podiam os trabalhadores almoçar antes das 9 horas da manhã Os juristas da Coroa decidiram que as refeições prescritas devem ser realizadas nas pausas durante a jornada de trabalho sendo ilegal permitir que se trabalhe 10 horas consecutivas das 9 horas da manhã às 7 da noite sem intervalo149 Após essas amigáveis demonstrações o capital dirigiu sua revolta por um caminho que correspondia à letra da lei de 1844 sendo portanto legal A lei de 1844 proibia que crianças de 8 a 13 anos que tivessem sido ocupadas pela manhã antes das 12 horas voltassem a ser ocupadas depois de 1 hora da tarde Mas ela não regulava de modo algum as 6 horas e meia de trabalho das crianças cuja jornada de trabalho começava ao meiodia ou mais tarde Desse modo crianças de 8 anos se começassem a trabalhar ao meiodia podiam ser empregadas das 12 horas à 1 da tarde 1 hora das 2 às 4 da tarde 2 horas e das 5 às 8 e meia da noite 3 horas e meia no total as 6 horas e meia determinadas por lei Ou melhor ainda A fim de fazer seu trabalho coincidir com o dos trabalhadores masculinos adultos até as 8 e meia da noite os fabricantes precisavam apenas não dar a elas nenhum trabalho antes das 2 horas da tarde podendo a partir de então mantêlas na fábrica ininterruptamente até as 8 e meia da noite E agora é expressamente admitido que em razão da ganância dos fabricantes que querem manter sua maquinaria em funcionamento por mais de 10 horas introduziuse na Inglaterra a prática de empregar crianças de 8 a 13 anos de ambos os sexos até as 8 e meia da noite ao lado de homens adultos após todos os adolescentes 250 E agora é expressamente admitido que em razão da ganância dos fabricantes que querem manter sua maquinaria em funcionamento por mais de 10 horas introduziuse na Inglaterra a prática de empregar crianças de 8 a 13 anos de ambos os sexos até as 8 e meia da noite ao lado de homens adultos após todos os adolescentes e mulheres terem deixado a fábrica150 Trabalhadores e inspetores de fábrica protestaram por razões higiênicas e morais Mas o capital respondeu Que os meus atos me caiam na cabeça Só reclamo a aplicação da lei a pena justa cominada na letra já venciday Na verdade estatísticas apresentadas à Câmara Baixa em 26 de julho de 1850 mostram que apesar de todos os protestos em 15 de julho de 1850 havia 3732 crianças submetidas a essa prática em 257 fábricas151 E ainda não era o bastante O olhar de lince do capital descobriu que a lei de 1844 não permitia que se trabalhasse 5 horas antes do meiodia sem uma pausa de no mínimo 30 minutos para descanso mas não prescrevia nada nesse sentido para o trabalho após o meiodia Dessa forma o capital exigiu e teve o prazer não apenas de esfalfar crianças trabalhadoras de 8 anos de idade das 2 da tarde às 8 e meia da noite sem nenhum intervalo como também de fazêlas passar fome durante esse tempo Sim o peito tal como está na letraz 152 Mas esse apego shylockiano à letra da lei de 1844 na parte que regula o trabalho infantil era apenas o prenúncio de uma revolta aberta contra essa mesma lei na parte que regula o trabalho de jovens e mulheres É importante lembrar que a abolição do falso sistema de revezamento era o escopo e o conteúdo principal dessa lei Os fabricantes iniciaram sua revolta com a simples declaração de que as partes da lei de 1844 que proibiam o abuso indiscriminado de adolescentes e mulheres em pequenas frações da jornada arbitrariamente estabelecidas pelo empregador eram comparativamente inócuas comparatively harmless porquanto o tempo de trabalho estava limitado a 12 horas Mas sob a Lei das 10 Horas elas representam um sofrimento hardship insuportável153 Com a mais extrema frieza deixaram claro aos inspetores que se colocavam acima da letra da lei e reimplantariam o antigo sistema por sua própria conta154 E diziam agir no interesse dos próprios malaconselhados trabalhadores a fim de poder pagar lhes salários maiores É o único plano possível para manter a supremacia industrial da GrãBretanha sob a Lei das 10 Horas155 Pode ser um pouco difícil descobrir irregularidades sob o sistema de revezamento mas e daí what of that Deve o grande interesse fabril deste país ser tratado como algo secundário apenas para poupar um pouquinho de incômodo some little trouble aos inspetores e subinspetores de fábrica156 Naturalmente todo esse falatório não serviu para nada Os inspetores de fábrica apelaram aos tribunais Mas logo uma tal nuvem de petições dos fabricantes foi dirigida ao ministro do I nterior o sr George Grey que recomendou aos inspetores numa circular de 5 de agosto de 1848 em geral não autuar por violação da letra da lei enquanto não houvesse infração comprovada do sistema de revezamento com a finalidade de fazer adolescentes e mulheres trabalhar mais de 10 horas Como consequência o inspetor de fábrica J Stuart autorizou o assim chamado sistema de revezamento durante o período de 15 horas da jornada fabril em toda a Escócia onde logo voltou a florescer em sua velha forma J á os inspetores de fábrica 251 proslavery Mas para que servia todas aquelas intimações ao tribunal se estes os county magistrates157 os absolviam Nesses tribunais os próprios senhores fabricantes sentavamse para julgar a si mesmos Um exemplo Um certo Eskrigge fabricante de fios de algodão da firma Kershaw Leese Co apresentara ao inspetor de fábrica de seu distrito a planilha de um sistema de revezamento elaborado para sua fábrica Ao receber uma recusa comportouse de início passivamente Alguns meses mais tarde um indivíduo de nome Robinson também fabricante de fios de algodão e se não seu SextaFeira de todo modo um parente de Eskrigge apresentouse aos Borough Justices juízes de paz locais em Stockport sob acusação de haver implementado um sistema de revezamento idêntico ao de Eskrigge Quatro juízes formaram o tribunal entre eles três fabricantes de fios de algodão tendo à frente o infalível Eskrigge Este último absolveu Robinson e declarou que o que era de direito para Robinson era justo para Eskrigge Baseado em sua própria decisão judicial implementou imediatamente o sistema em sua fábrica158 Certamente a composição desses tribunais já era por si só uma violação aberta da lei159 Esse tipo de farsas judiciais exclamou o inspetor Howell clama urgentemente por um remédio que a lei seja alterada para se adequar a essas sentenças ou que seja administrada por um tribunal menos falível cujas decisões sejam conformes à lei em todos os casos desse tipo Que bom seria se tivéssemos um juiz remunerado160 Os juristas da Coroa declararam como absurda as interpretações que os fabricantes faziam da lei de 1848 mas os salvadores da sociedade não se deixaram intimidar Depois de haver tentado relata Leonard Horner por meio de 10 ações em 7 diferentes comarcas forçar a aplicação da lei e tendo recebido o apoio dos magistrados apenas em um caso considero inúteis ações subsequentes por infrações à lei A parte da lei elaborada para promover a uniformidade nas horas de trabalho já deixou de existir em Lancashire Tampouco possuo com meus subagentes quaisquer meios de assegurar que fábricas onde vigora o assim chamado sistema de revezamento não ocupem adolescentes e mulheres por mais de 10 horas No final de abril de 1849 114 fábricas em meu distrito já trabalhavam de acordo com esse método e seu número aumentou fortemente nos últimos tempos Em geral eles trabalham agora 13 horas e meia das 6 horas da manhã às 7 e meia da noite em alguns casos 15 horas das 5 e meia da manhã às 8 e meia da noite161 J á em dezembro de 1848 possuía Leonard Horner uma lista de 65 fabricantes e 29 supervisores que declaravam unanimemente que nenhum sistema de fiscalização poderia evitar a prática do mais extensivo sobretrabalho sob esse sistema de revezamento162 As mesmas crianças e adolescentes eram deslocados shifted ora da fiação para a tecelagem etc ora de uma fábrica para outra por 15 horas163 Como controlar um sistema que abusa da palavra revezamento para embaralhar os operários como cartas em infinitas combinações alterando diariamente as horas de trabalho e de descanso dos diferentes indivíduos de tal modo que um mesmo sortimento completo de braços jamais atue em conjunto no mesmo lugar e ao mesmo tempo164 Porém abstraindo inteiramente do sobretrabalho real esse assim chamado sistema de revezamento era um aborto da fantasia do capital que nem mesmo Fourier em seus esboços humorísticos das courtes séances sessões curtasaa conseguiu superar com a única diferença de que a atração do trabalho foi transformada na 252 atração do capital Vejase por exemplo os esquemas daqueles fabricantes que a boa imprensa louvava como modelo daquilo que um grau razoável de cuidado e método pode realizar what a reasonable degree of care and method can accomplish Os trabalhadores foram às vezes divididos a categorias que por sua vez trocavam constantemente seus componentes Durante o período de 15 horas da jornada fabril o capital ocupava o trabalhador ora por 30 minutos ora por 1 hora e voltava a dispensá lo a fim de empregálo na fábrica e depois dispensálo novamente empurrandoo de lá para cá em porções fragmentadas de tempo sem jamais deixar de têlo sob seu domínio até que estivessem completas as 10 horas de trabalho Como sobre o palco as mesmas pessoas tinham de atuar alternadamente nas diversas cenas dos diversos atos Mas assim como um ator pertence ao palco durante toda a duração do drama também os trabalhadores pertenciam à fábrica durante as 15 horas da jornada de trabalho sem incluir o tempo de ida e volta As horas de descanso se transformaram assim em horas de ócio forçado que empurravam os jovens para a taberna e as jovens trabalhadoras para o bordel A cada novo plano tramado diariamente pelo capitalista para manter sua maquinaria funcionando por 12 ou 15 horas sem aumento de pessoal o trabalhador se via forçado a engolir sua refeição ora nesse pedaço de tempo não utilizado ora noutro À época da agitação das 10 horas os fabricantes gritavam que a malta dos trabalhadores fazia petições na esperança de receber um salário de 12 horas por 10 horas de trabalho Agora eles haviam invertido a medalha e pagavam um salário de 10 horas por 12 a 15 horas de disposição sobre as forças de trabalho165 Esse era o xis da questão essa era a versão que os fabricantes apresentavam da Lei das 10 Horas Eram os mesmos melífluos livrecambistas exalando amor à humanidade que por 10 anos inteiros durante a anticorn law agitation movimento contra a lei dos cereais haviam assegurado aos trabalhadores calculando até o último tostão que com a livre importação de cereais e com os meios da indústria inglesa apenas 10 horas de trabalho seriam suficientes para enriquecer os capitalistas166 A revolta do capital que durou dois anos foi finalmente coroada pela sentença de um dos quatro tribunais superiores da I nglaterra a Court of Exchequer que num dos casos levados a ela decidiu em 8 de fevereiro de 1850 que os fabricantes haviam agido de fato contra o sentido da lei de 1844 mas que essa mesma lei continha certas palavras que a tornavam sem sentido Com essa decisão a Lei das 10 Horas estava revogada167 Uma massa de fabricantes que até então receara aplicar o sistema de revezamento a adolescentes e trabalhadoras agora se agarrara a ele com as duas mãos168 Mas a esse triunfo aparentemente definitivo do capital seguiuse imediatamente uma reviravolta Os trabalhadores haviam até então oferecido uma resistência passiva ainda que inflexível e diariamente renovada Eles protestavam agora em ameaçadores comícios em Lancashire e Yorkshire A suposta Lei das 10 Horas era para eles mera impostura uma trapaça parlamentar e jamais teria existido Os inspetores de fábricas alertaram urgentemente o governo de que o antagonismo de classes chegara a um grau de tensão inacreditável Uma parte dos próprios fabricantes murmurou Devido às decisões contraditórias dos magistrados reina um estado de coisas totalmente anormal e anárquico 253 murmurou Devido às decisões contraditórias dos magistrados reina um estado de coisas totalmente anormal e anárquico Uma lei vigora em Yorkshire outra em Lancashire outra lei numa paróquia de Lancashire outra em sua vizinhança imediata O fabricante nas grandes cidades pode burlar a lei o das áreas rurais não encontra a mão de obra necessária para o sistema de revezamento e menos ainda para o deslocamento dos trabalhadores de uma fábrica para outra etc E a igual exploração da força de trabalho é o primeiro direito humano do capital Sob essas circunstâncias fabricantes e trabalhadores chegaram a um compromisso que recebeu o selo parlamentar na nova lei fabril adicional de 5 de agosto de 1850 A jornada de trabalho para jovens e mulheres foi prolongada nos primeiros cinco dias da semana de 10 para 10 horas e meia e diminuída para 7 horas e meia aos sábados O trabalho deve ser realizado no período entre 6 horas da manhã e 6 da tarde169 com 1 hora e meia de pausas para as refeições que devem ser as mesmas para todos e em conformidade com as regras de 1844 Com isso pôsse fim de uma vez por todas ao sistema de revezamento170 Para o trabalho infantil continuou em vigor a lei de 1844 Dessa vez tal como antes uma categoria de fabricantes garantiu para si direitos senhoriais especiais sobre as crianças proletárias Tal categoria foi a dos fabricantes de seda No ano de 1833 eles haviam uivado ameaçadoramente que se fossem privados da liberdade de explorar crianças de qualquer idade por 10 horas diárias isso paralisaria suas fábricas if the liberty of working children of any age for 10 hours a day was taken away it would stop their works Argumentavam que lhes seria impossível comprar um número suficiente de crianças maiores de 13 anos E assim lograram extorquir o privilégio desejado Numa investigação posterior esse pretexto se revelou como pura mentira171 mas isso não os impediu de durante toda uma década fabricar fios de seda 10 horas por dia com o sangue de crianças pequenas que para poderem trabalhar tinham de ser colocadas em pé em cima de cadeiras172 Se a lei de 1844 lhes roubara a liberdade de fazer crianças de 11 anos trabalharem por mais do que 6 horas e meia ela lhes garantira em contrapartida o privilégio de explorar crianças de 11 a 13 anos por 10 horas diárias cassando a obrigatoriedade escolar prescrita para todas as outras crianças de fábricas Dessa vez o pretexto foi de que a delicadeza do tecido requeria uma leveza de toque que só poderia ser garantida por meio de uma admissão prematura nessas fábricas173 Pela delicadeza de seus dedos crianças foram completamente sacrificadas como o gado no sul da Rússia é sacrificado por sua pele e seu sebo Finalmente em 1850 o privilégio concedido em 1844 foi limitado aos departamentos de torcedura e enrolamento da seda mas aqui a título de compensação da liberdade roubada ao capital o tempo de trabalho das crianças de 11 a 13 anos de idade foi elevado de 10 para 10 horas e meia Pretexto Nas fábricas de seda o trabalho é mais leve que nas outras fábricas e de modo algum é tão prejudicial à saúde174 Mais tarde uma investigação médica oficial demonstrou que ao contrário a taxa média de mortalidade nos distritos produtores de seda é excepcionalmente alta e entre a população feminina chega a ser maior do que nos distritos algodoeiros de Lancashire175 Apesar dos repetidos protestos semestrais dos inspetores de fábricas o abuso 254 Durante a discussão da lei os inspetores de fábrica apresentaram ao Parlamento uma estatística sobre os abusos infames cometidos graças àquela anomalia Mas em vão No fundo escondiase a intenção de voltar a elevar para 15 horas em anos de prosperidade a jornada dos trabalhadores adultos com a ajuda das crianças submetidas a leis específicas das quais a primeira proibia entre outras coisas o trabalho noturno de 8 horas da noite às 6 da manhã para crianças jovens e mulheres e a segunda o emprego de oficiais padeiros menores de 18 anos entre 9 horas da noite e 5 da manhã Voltaremos mais adiante às propostas posteriores da citada comissão que com exceção da agricultura das minas e dos meios de transporte ameaçavam roubar a liberdade a todos os ramos importantes da indústria inglesa185a 7 A luta pela jornada normal de trabalho Repercussão da legislação fabril inglesa em outros países O leitor se recorda que a produção de maisvalor ou a extração de maistrabalho constitui o conteúdo e a finalidade específicos da produção capitalista abstraindo das transformações do próprio modo de produção decorrentes da subordinação do trabalho ao capital Recordase que segundo o que foi exposto até agora apenas o trabalhador independente e portanto legalmente emancipado pode como vendedor de mercadorias firmar contrato com o capitalista Assim se em nosso esboço histórico desempenham um papel central de um lado a indústria moderna e de outro o trabalho daqueles que são física e juridicamente menores a primeira se apresenta apenas como uma esfera especial e o segundo como exemplo particularmente convincente da exploração do trabalho Sem antecipar o subsequente desenvolvimento de nossa investigação a simples conexão entre os fatos históricos nos mostra Primeiro nas indústrias inicialmente revolucionadas pela força da água do vapor e da maquinaria nessas primeiras criações do moderno modo de produção nas fiações e tecelagens de algodão lã linho e seda o impulso do capital para a prolongação a todo custo da jornada de trabalho é primeiramente satisfeito O modo de produção material modificado ao qual correspondem as relações sociais modificadas entre os produtores186 engendra de início abusos desmedidos e provocam como reação o controle social que limita regula e uniformiza legalmente a jornada de trabalho e suas pausas Por isso durante a primeira metade do século XI X esse controle aparece como mera legislação de exceção187 Mal essa legislação se aplicara sobre o terreno original do novo modo de produção e se verificou que nesse ínterim não apenas muitos outros ramos da produção se haviam incorporado ao regime propriamente fabril mas que manufaturas com métodos de funcionamento mais ou menos obsoletos tais como olarias vidrarias etc ofícios arcaicos como panificação e por fim mesmo o trabalho esparso chamado de trabalho domiciliar como a fabricação de agulhas etc188 há muito já haviam caído sob a exploração capitalista tanto quanto a fábrica A legislação foi por isso obrigada a livrarse progressivamente de seu caráter excepcional ou onde ela é aplicada segundo a casuística romana como na I nglaterra a declarar arbitrariamente como fábrica factory toda e qualquer casa onde algum trabalho é executado189 Segundo a história da regulação da jornada de trabalho em alguns modos de produção bem como a luta que em outros ainda se trava por essa regulação provam palpavelmente que quando o modo de produção capitalista atinge certo grau de amadurecimento o trabalhador isolado o trabalhador como livre vendedor de sua 256 palpavelmente que quando o modo de produção capitalista atinge certo grau de amadurecimento o trabalhador isolado o trabalhador como livre vendedor de sua força de trabalho sucumbe a ele sem poder de resistência A criação de uma jornada normal de trabalho é por isso o produto de uma longa e mais ou menos oculta guerra civil entre as classes capitalista e trabalhadora Como a luta teve início no âmbito da indústria moderna ela foi travada inicialmente na pátria dessa indústria a Inglaterra190 Os trabalhadores fabris ingleses foram os paladinos não apenas da classe trabalhadora inglesa mas da classe trabalhadora em geral assim como seus teóricos foram os primeiros a desafiar a teoria do capital191 Por essa razão o filósofo da fábrica Ure denuncia como um irremediável opróbrio para a classe trabalhadora inglesa que ela tenha inscrito em sua bandeira a escravidão das leis fabris opondo se ao capital que lutava de modo viril pela liberdade plena do trabalho192 A França se arrasta claudicante atrás da I nglaterra Foi necessária a Revolução de Fevereiro para trazer à luz a Lei das 12 Horas193 muito mais defeituosa que a original inglesa Apesar disso o método revolucionário francês também mostra suas vantagens peculiares De um só golpe ele estabelece para todos os ateliês e fábricas sem distinção os mesmos limites da jornada de trabalho ao passo que a legislação inglesa cede à pressão das circunstâncias ora nesse ponto ora noutro e está no melhor caminho para se perder em meio a novos imbróglios jurídicos194 Por outro lado a lei francesa proclama como um princípio aquilo que a I nglaterra conquistou apenas em nome das crianças dos menores e das mulheres e que apenas recentemente foi reivindicado como um direito universal195 Nos Estados Unidos da América do Norte todo movimento operário independente ficou paralisado durante o tempo em que a escravidão desfigurou uma parte da república O trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro Mas da morte da escravidão brotou imediatamente uma vida nova e rejuvenescida O primeiro fruto da guerra civil foi o movimento pela jornada de trabalho de 8 horas que percorreu com as botas de sete léguas da locomotiva do Atlântico até o Pacífico da Nova I nglaterra à Califórnia O Congresso Geral dos Trabalhadores em Baltimore agosto de 1866ab declarou A primeira e maior exigência do presente para libertar o trabalho deste país da escravidão capitalista é a aprovação de uma lei que estabeleça uma jornada de trabalho normal de 8 horas em todos os Estados da União americana Estamos decididos a empenhar todas as nossas forças até que esse glorioso resultado seja alcançado196 Ao mesmo tempo início de setembro de 1866 o Congresso da Associação I nternacional dos Trabalhadores em Genebra decidiu por proposta do Conselho Geral de Londres Declaramos a limitação da jornada de trabalho como uma condição prévia sem a qual todos os demais esforços pela emancipação estão fadados ao fracasso Propomos 8 horas de trabalho como limite legal da jornada de trabalho Assim em ambos os lados do Oceano Atlântico o movimento dos trabalhadores tendo crescido instintivamente a partir das próprias relações de produção endossou as palavras do inspetor de fábrica inglês R J Saunders nenhum passo adiante em direção à reforma da sociedade pode ser dado com qualquer perspectiva de sucesso a menos que a jornada de trabalho seja limitada e o cumprimento do limite prescrito 257 de quando nele entrou No mercado ele como possuidor da mercadoria força de trabalho aparece diante de outros possuidores de mercadorias possuidor de mercadoria diante de possuidores de mercadorias O contrato pelo qual ele vende sua força de trabalho ao capitalista prova por assim dizer põe o preto no branco que ele dispõe livremente de si mesmo Fechado o negócio descobrese que ele não era nenhum agente livre que o tempo de que livremente dispõe para vender sua força de trabalho é o tempo em que é forçado a vendêla198 que na verdade seu parasita Sauger não o deixará enquanto houver um músculo um nervo uma gota de sangue para explorar199 Para se proteger contra a serpente de suas afliçõesac os trabalhadores têm de se unir e como classe forçar a aprovação de uma lei uma barreira social intransponível que os impeça a si mesmos de por meio de um contrato voluntário com o capital vender a si e a suas famílias à morte e à escravidão200 No lugar do pomposo catálogo dos direitos humanos inalienáveis temse a modesta Magna Chartaad de uma jornada de trabalho legalmente limitada que afinal deixa claro quando acaba o tempo que o trabalhador vende e quando começa o tempo que lhe pertence201 Quantum mutatus ab illo Quanto se mudou do que eraae 258 Capítulo 9 Taxa e massa do maisvalor Neste capítulo como anteriormente o valor da força de trabalho isto é da parte da jornada de trabalho necessária para a reprodução ou conservação da força de trabalho será suposto como uma grandeza constante dada Pressuposto isso com a taxa é dada ao mesmo tempo a massa de maisvalor que o trabalhador individual fornece ao capitalista num determinado período de tempo Se por exemplo o trabalho necessário é de 6 horas diárias expressas numa quantidade de ouro de 3 xelins 1 táler então o táler é o valor diário de uma força de trabalho ou o valor do capital adiantado na compra de uma força de trabalho Se além disso a taxa de maisvalor é de 100 esse capital variável de 1 táler produz uma massa de mais valor de 1 táler ou o trabalhador fornece diariamente uma massa de maistrabalho igual a 6 horas Mas o capital variável é a expressão monetária do valor total de todas as forças de trabalho que o capitalista emprega simultaneamente Seu valor é assim igual ao valor médio de uma força de trabalho multiplicado pelo número de forças de trabalho empregadas Dado o valor da força de trabalho a grandeza do capital variável está pois na razão direta ao número de trabalhadores simultaneamente empregados Se o valor diário de uma força de trabalho 1 táler um capital de 100 táleres precisa ser desembolsado para explorar 100 e de n táleres para explorar n forças de trabalho diariamente Da mesma forma se um capital variável de 1 táler o valor diário de uma força de trabalho produz um maisvalor diário de 1 táler um capital variável de 100 táleres produz um maisvalor diário de 100 e um de n táleres produzirá um maisvalor diário de 1 táler n A massa do maisvalor produzido é assim igual ao maisvalor fornecido pela jornada de trabalho do trabalhador individual multiplicado pelo número de trabalhadores empregados Mas como além disso dado um certo valor da força de trabalho a massa do maisvalor produzido pelo trabalhador individual é determinada pela taxa de maisvalor seguese a primeira lei a massa do mais valor produzido é igual à grandeza do capital variável adiantado multiplicada pela taxa de maisvalor ou é determinada pela relação composta entre o número das forças de trabalho simultaneamente exploradas pelos mesmos capitalistas e o grau de exploração da força de trabalho individuala Chamemos portanto M a massa do maisvalor m o maisvalor fornecido pelo trabalhador individual no dia médio v o capital variável diariamente adiantado na compra da força de trabalho individual V a soma total do capital variável f o valor de uma força de trabalho média aa trabalho excedentetrabalho necessário o seu grau de exploração e n o número de trabalhadores empregados Temos então mv V 259 f x aa n Aqui está pressuposto não apenas que o valor de uma força de trabalho média é constante mas que os trabalhadores empregados por um capitalista se reduzem aos trabalhadores médios Em casos excepcionais o maisvalor produzido não aumenta na mesma proporção do número dos trabalhadores explorados mas então tampouco o valor da força de trabalho permanece constante Na produção de uma dada massa de maisvalor portanto a diminuição de um fator pode ser compensada pelo aumento do outro Se o capital variável diminui e ao mesmo tempo a taxa de maisvalor aumenta na mesma proporção a massa do mais valor produzido se mantém inalterada Se conforme nossa suposição anterior o capitalista adianta 100 táleres para explorar diariamente 100 trabalhadores e se a taxa de maisvalor é de 50 esse capital variável de 100 táleres gera então um maisvalor de 50 táleres ou 100 3 horas de trabalho Se a taxa de maisvalor dobra ou a jornada de trabalho é aumentada não de 6 para 9 mas de 6 para 12 horas então o capital variável agora reduzido à metade 50 táleres gera igualmente um maisvalor de 50 táleres ou 50 6 horas de trabalho A diminuição do capital variável é assim compensável por um aumento proporcional no grau de exploração da força de trabalho ou em outras palavras a diminuição no número de trabalhadores empregados é compensável por um prolongamento proporcional da jornada de trabalho Dentro de certos limites a oferta de trabalho que o capital pode explorar se torna pois independente da oferta de trabalhadores202 Por outro lado uma queda na taxa de maisvalor deixa inalterada a massa do maisvalor produzido toda vez que a grandeza do capital variável ou o número dos trabalhadores empregados aumente na mesma proporção No entanto a compensação do número de trabalhadores empregados ou da grandeza do capital variável por meio de um aumento da taxa de maisvalor ou do prolongamento da jornada de trabalho tem limites insuperáveis Qualquer que seja o valor da força de trabalho se o tempo de trabalho necessário para sustentar o trabalhador é de 2 ou 10 horas o valor total que um trabalhador pode produzir diariamente é sempre menor do que o valor em que estão incorporadas 24 horas de trabalho menos do que 12 xelins ou 4 táleres sendo 12 xelins a expressão monetária de 24 horas de trabalho objetivado Segundo nossa suposição anterior de acordo com a qual 6 horas diárias de trabalho são necessárias para reproduzir a própria força de trabalho ou repor o valor do capital adiantado em sua compra um capital variável de 500 táleres que emprega 500 trabalhadores a uma taxa de maisvalor de 100 ou com uma jornada de trabalho de 12 horas produz diariamente um maisvalor de 500 táleres ou 6 500 horas de trabalho Um capital de 100 táleres que empregue diariamente 100 trabalhadores a uma taxa de maisvalor de 200 ou com uma jornada de trabalho de 18 horas produzirá apenas uma massa de maisvalor de 200 táleres ou 12 100 horas de trabalho E seu produto de valor total equivalente ao capital variável adiantado mais o maisvalor jamais poderá alcançar a soma de 400 táleres ou 24 100 horas de trabalho O limite absoluto da jornada média de trabalho que é por natureza sempre menor do que 24 horas constitui um limite absoluto à reposição do capital variável 260 reduzido por meio de uma taxa aumentada de maisvalor ou em outras palavras da redução do número de trabalhadores explorados por meio de um aumento no grau de exploração da força de trabalho Essa segunda lei mais palpável é importante para o esclarecimento de muitos fenômenos que decorrem da tendência do capital que analisaremos mais adiante de reduzir ao máximo o número de trabalhadores por ele empregados ou seu componente variável convertido em força de trabalho e isso em contradição com sua outra tendência de produzir a maior massa possível de mais valor I nversamente se a massa das forças de trabalho empregadas ou a grandeza do capital variável cresce mas não na mesma proporção da queda na taxa de maisvalor diminui a massa do maisvalor produzido A terceira lei resulta da determinação da massa do maisvalor produzido pelos dois fatores taxa de maisvalor e grandeza do capital variável adiantado Dados a taxa de maisvalor ou o grau de exploração da força de trabalho e o valor da força de trabalho ou a grandeza do tempo de trabalho necessário é evidente que quanto maior o capital variável tanto maior a massa do valor e do maisvalor produzidos Se o limite da jornada de trabalho é dado assim como o limite de seu componente necessário a massa de valor e maisvalor que um capitalista individual produz depende exclusivamente da massa de trabalho que ele põe em movimento Esta no entanto depende sob dados pressupostos da massa da força de trabalho ou do número de trabalhadores que ele explora e esse número por sua vez é determinado pela grandeza do capital variável por ele adiantado Dados a taxa do maisvalor e o valor da força de trabalho as massas do maisvalor produzido estarão na razão direta da grandeza dos capitais variáveis adiantados Ora sabese que o capitalista divide seu capital em duas partes Uma parte ele aplica em meios de produção e essa é a parte constante de seu capital A outra parte ele investe em força viva de trabalho e essa parte constitui seu capital variável Num mesmo modo de produção ocorre em diferentes ramos da produção uma divisão diferente entre as partes constante e variável do capital No interior do mesmo ramo de produção essa proporção varia conforme a modificação da base técnica e da combinação social do processo de produção Mas independentemente do modo como um dado capital venha a se decompor em suas partes constante e variável seja a proporção da última para a primeira de 1 por 2 1 por 10 ou 1 por x a lei que acabamos de formular não é afetada em nada pois de acordo com a análise anterior o valor do capital constante reaparece no valor do produto porém não integra o novo produto de valor criado Para empregar mil fiandeiros decerto são necessários mais matériasprimas fusos etc do que para empregar cem Mas o valor desses meios de produção adicionais pode subir cair manterse inalterado ser grande ou pequeno e ainda assim ele permanece sem influência alguma sobre o processo de valorização das forças de trabalho que os põem em movimento A lei há pouco enunciada assume assim a seguinte forma as massas de valor e maisvalor produzidas por diferentes capitais com dado valor da força de trabalho e o grau de exploração desta última sendo igual estão na razão direta da grandeza dos componentes variáveis desses capitais isto é de seus componentes convertidos em força viva de trabalho Essa lei contradiz flagrantemente toda a experiência baseada na aparência 261 Qualquer um sabe que um fiador de algodão que calculando a porcentagem do capital total aplicado emprega muito capital constante e pouco capital variável não embolsa por causa disso um lucro ou maisvalor menor do que um padeiro que põe em movimento muito capital variável e pouco capital constante Para a solução dessa contradição aparente são necessários muitos elos intermediários do mesmo modo como do ponto de vista da álgebra elementar muitos elos intermediários são necessários para se compreender que 00 pode representar uma grandeza real A economia clássica embora jamais tenha formulado essa lei apegase a ela instintivamente porque é uma consequência necessária da lei do valor em geral Ela tenta salvála por meio de uma abstração forçada das contradições do fenômeno Veremos mais adiante203 como a escola ricardiana tropeçou nessa pedra A economia vulgar que realmente não aprendeu nadab apegase aqui como em tudo à aparência Schein contra a lei do fenômeno Erscheinung Em oposição a Espinosa ela acredita que a ignorância é uma razão suficientec O trabalho posto diariamente em movimento pelo capital total de uma sociedade pode ser considerado uma única jornada de trabalho Se por exemplo o número dos trabalhadores é de 1 milhão e a jornada de trabalho média de um trabalhador é de 10 horas a jornada de trabalho social será de 10 milhões de horas Com uma dada duração dessa jornada de trabalho sejam seus limites traçados física ou socialmente a massa do maisvalor só pode ser aumentada por meio do aumento do número de trabalhadores isto é da população trabalhadora O crescimento dessa população constitui aqui o limite matemático da produção do maisvalor por meio do capital social total I nversamente com uma dada grandeza da população trabalhadora esse limite será constituído pelo prolongamento possível da jornada de trabalho204 No próximo capítulo verseá que essa lei vale apenas para a forma de maisvalor de que tratamos até este momento Da consideração da produção do maisvalor que realizamos até agora resulta que nem toda quantia de dinheiro ou valor pode ser convertida em capital pois para isso pressupõese antes um determinado mínimo de dinheiro ou de valor de troca nas mãos do possuidor individual de dinheiro ou mercadorias O mínimo de capital variável é o preço de custo de uma força de trabalho individual que para a obtenção de maisvalor é consumida dia a dia durante o ano inteiro Se esse trabalhador possuísse seu próprio meio de produção e se contentasse em viver como trabalhador bastarlheia o tempo de trabalho necessário para a reprodução de seus meios de subsistência digamos 8 horas por dia Ele só precisaria portanto dos meios de produção para 8 horas de trabalho J á o capitalista que o põe para executar além dessas 8 horas digamos um maistrabalho de 4 horas necessita de uma quantidade de dinheiro adicional para o fornecimento dos meios de produção adicionais Segundo nossa suposição no entanto ele teria de empregar dois trabalhadores para poder viver do maisvalor apropriado diariamente como um trabalhador isto é para poder satisfazer suas necessidades básicas Nesse caso a finalidade de sua produção seria a mera subsistência e não o aumento da riqueza e esta última é o pressuposto da produção capitalista Para que pudesse viver duas vezes melhor do que um trabalhador comum e reconverter a metade do maisvalor produzido em capital ele 262 teria de multiplicar por oito tanto o número de trabalhadores quanto o mínimo do capital adiantado No entanto ele mesmo pode tal como seu trabalhador tomar parte diretamente no processo de produção mas então ele será apenas um intermediário entre o capitalista e o trabalhador um pequeno patrão Certo grau de desenvolvimento da produção capitalista impõe que o capitalista possa aplicar todo o tempo durante o qual ele funciona como capitalista isto é como capital personificado à apropriação e assim ao controle do trabalho alheio e à venda dos produtos desse trabalho205 As corporações de ofício da I dade Média procuraram impedir pela força a transformação do mestreartesão em capitalista limitando a um máximo muito exíguo o número de trabalhadores que um mestre individual podia empregar O possuidor de dinheiro ou de mercadorias só se transforma realmente num capitalista quando a quantidade desembolsada para a produção ultrapassa em muito o máximo medieval Aqui como na ciência da natureza mostrase a exatidão da lei descoberta por Hegel em sua Lógica de que alterações meramente quantitativas tendo atingido um determinado ponto convertemse em diferenças qualitativas205a O mínimo de quantidade de valor que o possuidor individual de dinheiro ou mercadorias tem de dispor para se metamorfosear num capitalista varia de acordo com os diferentes estágios de desenvolvimento da produção capitalista e é num dado estágio diferente em diferentes esferas da produção de acordo com suas condições técnicas específicas Certas esferas da produção requerem já nos primórdios da produção capitalista um mínimo de capital que ainda não se encontra nas mãos dos indivíduos isolados Isso leva em parte ao subsídio estatal a tais particulares como na França de Colbert e em muitos Estados alemães até a nossa época e em parte à formação de sociedades com monopólio legal para explorar certos ramos da indústria e do comércio206 as precursoras das modernas sociedades por ações Não nos ocuparemos em detalhes com as modificações que a relação entre capitalista e trabalhador assalariado sofreu no curso do processo de produção tampouco com as determinações subsequentes do próprio capital Cabe apenas aqui destacar alguns pontos principais No interior do processo de produção o capital se desenvolveu para assumir o comando sobre o trabalho isto é sobre a força de trabalho em atividade ou em outras palavras sobre o próprio trabalhador O capital personificado o capitalista cuida para que o trabalhador execute seu trabalho ordenadamente e com o grau apropriado de intensidade O capital desenvolveuse ademais numa relação coercitiva que obriga a classe trabalhadora a executar mais trabalho do que o exigido pelo círculo estreito de suas próprias necessidades vitais E como produtor da laboriosidade alheia extrator de maistrabalho e explorador de força de trabalho o capital excede em energia desmedida e eficiência todos os sistemas de produção anteriores baseados no trabalho direto compulsório I nicialmente o capital subordina o trabalho conforme as condições técnicas em que historicamente o encontra Portanto ele não altera imediatamente o modo de 263 produção Razão pela qual a produção de maisvalor na forma como a consideramos até agora mostrouse independente de qualquer mudança no modo de produção Ela não era menos efetiva nas obsoletas padarias do que nas modernas fiações de algodão Observandose o processo de produção do ponto de vista do processo de trabalho o trabalhador se relaciona com os meios de produção não como capital mas como mero meio e material de sua atividade produtiva orientada para um fim Num curtume por exemplo ele trata as peles como seu mero objeto de trabalho Não é para o capitalista que ele curte a pele Diferentemente de quando observamos o processo de produção do ponto de vista do processo de valorização Os meios de produção convertemse imediatamente em meios para a sucção de trabalho alheio Não é mais o trabalhador que emprega os meios de produção mas os meios de produção que empregam o trabalhador Em vez de serem consumidos por ele como elementos materiais de sua atividade produtiva são eles que o consomem como fermento de seu próprio processo vital e o processo vital do capital não é mais do que seu movimento como valor que valoriza a si mesmo Fornos de fundição e oficinas que permanecem parados à noite sem sugar trabalho vivo são simples perda mere loss para o capitalista Por isso fornos de fundição e oficinas de trabalho constituem um direito de exigir trabalho noturno das forças de trabalho A simples transformação do dinheiro em fatores objetivos do processo de produção em meios de produção converte estes últimos em títulos legais e compulsórios ao trabalho e maistrabalho alheios De que maneira essa inversão peculiar e característica da produção capitalista essa distorção da relação entre trabalho morto e vivo entre valor e força criadora de valor refletese na consciência dos cérebros capitalistas é finalmente evidenciada por mais um exemplo Durante a revolta dos fabricantes ingleses de 18481850 um cavalheiro extremamente inteligente chefe da fiação de linho e algodão em Paisley uma das firmas mais antigas e respeitáveis do oeste da Escócia a companhia Carlyle Filhos Cia que existe desde 1752 e é dirigida pela mesma família geração após geração publicou no Glasgow Daily Mail de 25 de abril de 1849 uma carta207 sob o título O sistema de revezamento em que se podem ler entre outras a seguinte passagem grotescamente ingênua Vejamos agora os males que decorrem de uma redução do tempo de trabalho de 12 para 10 horas Eles chegam ao dano mais sério das perspectivas e da propriedade do fabricante Se ele quer dizer sua mão de obra trabalhava 12 horas e é limitado a 10 então cada 12 máquinas ou fusos em seu estabelecimento encolhem para 10 then every 12 machines or spindles in his establishment shrink to 10 e se ele quisesse vender sua fábrica eles seriam avaliados apenas como 10 de modo que em todo o país uma sexta parte do valor de cada fábrica seria subtraída208 Para esse cérebro hereditariamente capitalista do oeste da Escócia o valor dos meios de produção dos fusos etc confundese tanto com sua capacidade de como capital valorizar a si mesmo ou engolir diariamente uma determinada quantidade de trabalho alheio gratuito que o chefe da casa Carlyle Cia realmente imagina que com a venda de sua fábrica lhe será pago não o valor dos fusos mas além dele sua valorização ou seja não só o trabalho neles contido e necessário para a produção de fusos do mesmo tipo mas também o maistrabalho que eles ajudam a extrair diariamente dos bravos escoceses ocidentais de Paisley e justamente por isso ele 264 pensa que se a jornada de trabalho encolher 2 horas o preço de venda de 12 máquinas também será reduzido para o preço de 10 265 Extrato de um dos cadernos de Marx com anotações em inglês 266 Seção IV A PRODUÇÃO DO MAISVALOR RELATIVO 267 Capítulo 10 O conceito de maisvalor relativo A parte da jornada de trabalho que produz apenas um equivalente do valor da força de trabalho pago pelo capital foi tratada até este momento da exposição como uma grandeza constante o que ela de fato o é sob dadas condições de produção e num dado grau de desenvolvimento econômico da sociedade Além desse tempo de trabalho necessário o trabalhador podia trabalhar 2 3 4 6 etc horas A taxa de mais valor e a duração da jornada de trabalho dependiam da grandeza desse prolongamento Se o tempo de trabalho necessário era constante a jornada de trabalho total era ao contrário variável Suponha agora uma jornada de trabalho com uma dada duração e divisão entre trabalho necessário e maistrabalho Se a linha ac a b c representa por exemplo uma jornada de trabalho de 12 horas a seção ab 10 horas de trabalho necessário e a seção bc 2 horas de maistrabalho ora como pode a produção de maisvalor aumentar isto é como se pode prolongar o mais trabalho sem ou independente de qualquer prolongamento de ac Não obstante os limites dados da jornada de trabalho ac bc parece ser prolongável sem que se tenha de estendêlo além de seu ponto final c que é igualmente o ponto final da jornada de trabalho ac mas deslocando seu ponto inicial b em sentido contrário em direção a a Suponha que bb em abbc seja igual à metade de bc ou seja igual a 1 hora de trabalho Se na jornada de trabalho de 12 horas ac deslocamos o ponto b para b bc se prolonga em bc o maistrabalho aumenta uma metade de 2 para 3 horas embora a jornada de trabalho continue a durar 12 horas Mas essa extensão do maistrabalho de bc para bc de 2 para 3 horas é obviamente impossível sem a simultânea contração do trabalho necessário de ab para ab de 10 para 9 horas Ao prologamento do maistrabalho corresponderia o encurtamento do trabalho necessário ou em outras palavras a parte do tempo de trabalho que o trabalhador até agora utilizava para si mesmo é convertida em tempo de trabalho para o capitalista A mudança estaria não na duração da jornada de trabalho mas em sua divisão em trabalho necessário e maistrabalho Por outro lado com dada grandeza da jornada de trabalho e dado valor da força de trabalho a grandeza do maistrabalho é evidentemente dada O valor da força de trabalho isto é o tempo de trabalho requerido para sua produção determina o tempo de trabalho necessário para a reprodução de seu valor Se 1 hora de trabalho se representa numa quantidade de ouro de 12 xelim ou 6 pence e se o valor diário da força de trabalho é de 5 xelins o trabalhador tem de trabalhar 10 horas diárias para repor o valor diário que o capital lhe pagou por sua força de trabalho ou para produzir um equivalente do valor dos meios de subsistência que lhe são diariamente necessários Com o valor de seus meios de subsistência está dado o valor de sua força de trabalho1 e com o valor de sua força de trabalho está dada a grandeza de seu tempo de trabalho necessário A duração do maistrabalho no entanto é obtida subtraindo da jornada de 268 trabalho total o tempo de trabalho necessário 10 horas subtraídas de 12 resultam em 2 horas e não se vê como nas condições dadas podese prolongar o maistrabalho mais do que 2 horas Certamente o capitalista pode pagar ao trabalhador em vez de 5 xelins apenas 4 xelins e 6 pence ou menos ainda Para a reprodução desse valor de 4 xelins e 6 pence bastariam 9 horas de trabalho obtendose assim 3 horas de mais trabalho em vez de 2 e aumentandose o próprio maisvalor de 1 xelim para 1 xelim e 6 pence Mas só se chegaria a tal resultado por meio da compressão do salário do trabalhador abaixo do valor de sua força de trabalho Com os 4 xelins e 6 pence que produz em 9 horas o trabalhador dispõe de 110 menos meios de subsistência do que antes o que resulta na reprodução atrofiada de sua força de trabalho Nesse caso o maistrabalho só seria prolongado se ultrapassasse seus limites normais seus domínios só seriam expandidos mediante a invasão usurpatória do domínio do tempo de trabalho necessário Apesar do importante papel que desempenha no movimento real do salário esse método é aqui excluído pelo pressuposto de que as mercadorias portanto também a força de trabalho sejam compradas e vendidas por seu valor integral Partindose desse pressuposto o tempo de trabalho necessário para a produção da força de trabalho ou para a reprodução de seu valor pode ser reduzido não porque o salário do trabalhador cai abaixo do valor de sua força de trabalho mas apenas porque esse próprio valor cai Dada a duração da jornada de trabalho o prolongamento do maistrabalho tem de resultar da redução do tempo de trabalho necessário em vez de ao contrário a redução do tempo de trabalho necessário resultar do prolongamento do maistrabalho Em nosso exemplo é preciso que o valor da força de trabalho caia efetivamente em 110 para que o tempo de trabalho necessário diminua em 110 de 10 para 9 horas e com isso o maistrabalho seja prolongado de 2 para 3 horas Mas tal queda do valor da força de trabalho em 110 exige por sua vez que a mesma massa de meios de subsistência que antes era produzida em 10 horas seja agora produzida em 9 horas Ocorre que isso é impossível sem uma elevação da força produtiva do trabalho Por exemplo suponha que um sapateiro com dados meios fabrique um par de botas numa jornada de trabalho de 12 horas Para fabricar dois pares de botas no mesmo tempo a força produtiva de seu trabalho tem de ser duplicada e ela não pode ser duplicada sem que se alterem seus meios de trabalho ou seu método de trabalho ou ambos É preciso portanto que ocorra uma revolução nas condições de produção de seu trabalho isto é em seu modo de produção e assim no próprio processo de trabalho Por elevação da força produtiva do trabalho entendemos precisamente uma alteração no processo de trabalho por meio da qual o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de uma mercadoria é reduzido de modo que uma quantidade menor de trabalho é dotada da força para produzir uma quantidade maior de valor de uso2 Assim enquanto na produção de maisvalor na forma até aqui considerada o modo de produção foi pressuposto como dado para a produção de maisvalor por meio da transformação do trabalho necessário em mais trabalho é absolutamente insuficiente que o capital se apodere do processo de trabalho tal como ele foi historicamente herdado ou tal como ele já existe limitandose 269 a prolongar a sua duração Para aumentar a produtividade do trabalho reduzir o valor da força de trabalho por meio da elevação da força produtiva do trabalho e assim encurtar parte da jornada de trabalho necessária para a reprodução desse valor ele tem de revolucionar as condições técnicas e sociais do processo de trabalho portanto revolucionar o próprio modo de produção O maisvalor obtido pelo prolongamento da jornada de trabalho chamo de mais valor absoluto o maisvalor que ao contrário deriva da redução do tempo de trabalho necessário e da correspondente alteração na proporção entre as duas partes da jornada de trabalho chamo de maisvalor relativo Para reduzir o valor da força de trabalho o aumento da força produtiva tem de afetar os ramos da indústria cujos produtos determinam o valor da força de trabalho portanto aqueles ramos que ou pertencem ao círculo dos meios de subsistência habituais ou podem substituílos por outros meios Porém o valor de uma mercadoria não é determinado apenas pela quantidade de trabalho que lhe confere sua forma última mas também pela massa de trabalho contida em seus meios de produção O valor de uma bota por exemplo não é determinado apenas pelo trabalho do sapateiro mas também pelo valor do couro do piche do cordão etc Portanto a queda no valor da força de trabalho também é causada por um aumento na força produtiva do trabalho e por um correspondente barateamento das mercadorias naquelas indústrias que fornecem os elementos materiais do capital constante isto é os meios e os materiais de trabalho para a produção dos meios de subsistência Em contrapartida nos ramos de produção que não fornecem nem meios de subsistência nem meios de produção para fabricálos a força produtiva aumentada deixa intocado o valor da força de trabalho Naturalmente a mercadoria mais barata diminui o valor da força de trabalho apenas pro tanto isto é na proporção em que essa mercadoria participa na reprodução da força de trabalho Camisas por exemplo constituem meios necessários de subsistência mas apenas um dentre muitos Seu barateamento reduz apenas o gasto do trabalhador com camisas No entanto a totalidade dos meios necessários de subsistência compõese de várias mercadorias cada uma delas o produto de uma indústria distinta e o valor de cada uma dessas mercadorias constitui uma alíquota do valor da força de trabalho Tal valor diminui com o tempo de trabalho necessário para sua reprodução cuja redução total é igual à soma de suas reduções em cada um dos ramos particulares da produção Esse resultado geral é tratado aqui como se fosse o resultado e a finalidade imediatos em cada caso singular Se por exemplo um capitalista individual barateia camisas por meio do aumento da força produtiva do trabalho isso de modo algum implica que ele tenha em vista reduzir o valor da força de trabalho e com isso o tempo de trabalho necessário pro tanto mas na medida em que acaba por contribuir para esse resultado ele contribui para aumentar a taxa geral do maisvalor3 É preciso que as tendências gerais e necessárias do capital sejam diferenciadas de suas formas de manifestação Não nos ocuparemos por ora do modo como as leis imanentes da produção capitalista se manifestam no movimento externo dos capitais impondose como leis compulsórias da concorrência e apresentandose à mente do capitalista individual 270 como a força motriz de suas ações Porém esclareçamos de antemão só é possível uma análise científica da concorrência depois que se apreende a natureza interna do capital assim como o movimento aparente dos corpos celestes só pode ser compreendido por quem conhece seu movimento real apesar de sensorialmente imperceptível No entanto para que se compreenda a produção do maisvalor relativo com base apenas nos resultados já obtidos devemos proceder às seguintes observações Se 1 hora de trabalho se representa numa quantidade de ouro de 6 pence ou 12 xelim numa jornada de trabalho de 12 horas será produzido um valor de 6 xelins Suponha que com dada força produtiva do trabalho sejam produzidas 12 peças de mercadorias nessas 12 horas de trabalho E que seja de 6 pence o valor dos meios de produção matériaprima etc gastos em cada peça Nessas circunstâncias cada mercadoria custa 1 xelim sendo 6 pence pelo valor dos meios de produção e 6 pence pelo valor novo adicionado em sua confecção Agora suponha que um capitalista consiga duplicar a força produtiva do trabalho e desse modo produzir durante as mesmas 12 horas de trabalho 24 peças dessa mercadoria em vez de 12 Permanecendo inalterado o valor dos meios de produção o valor de cada mercadoria cai agora para 9 pence sendo 6 pence pelo valor dos meios de produção e 3 pence pelo valor novo agregado pelo último trabalho Mesmo com a força produtiva duplicada a jornada de trabalho continua a criar como antes apenas um novo valor de 6 xelins que agora se distribui no entanto sobre duas vezes mais produtos Desse valor total cada produto incorpora apenas 124 em vez de 112 3 pence em vez de 6 ou o que é o mesmo apenas meia hora de trabalho em vez de 1 hora inteira é agora adicionada aos meios de produção em sua transformação em cada produto singular O valor individual dessa mercadoria se encontra agora abaixo de seu valor social isto é ela custa menos tempo de trabalho do que a grande quantidade do mesmo artigo produzida em condições sociais médias Cada peça custa em média 1 xelim ou representa 2 horas de trabalho social sob o modo alterado de produção ela custa apenas 9 pence ou contém apenas 1 hora e meia de trabalho Mas o valor efetivo de uma mercadoria não é seu valor individual mas seu valor social isto é ele não é medido pelo tempo de trabalho que ela de fato custa ao produtor em cada caso singular mas pelo tempo de trabalho socialmente requerido para sua produção Assim se o capitalista que emprega o novo método vende sua mercadoria por seu valor social de 1 xelim ele a vende 3 pence acima de seu valor individual e desse modo realiza um maisvalor adicional de 3 pence Por outro lado agora a jornada de trabalho de 12 horas se representa para ele em 24 artigos em vez de 12 De modo que para vender o produto de uma jornada de trabalho ele necessita do dobro da demanda ou de um mercado duas vezes maior Mantendose inalteradas as demais circunstâncias suas mercadorias só conquistarão uma fatia maior do mercado por meio da contração de seus preços Ele as venderá por isso acima de seu valor individual porém abaixo de seu valor social digamos por 10 pence cada uma Desse modo ele ainda obtém de cada produto um maisvalor adicional de 1 penny Esse aumento do maisvalor é igualmente obtido mesmo que sua mercadoria não esteja entre os itens que compõem os meios básicos de subsistência isto é mesmo que ela não seja parte determinante do valor total da força de trabalho 271 I ndependentemente desta última circunstância existem para cada capitalista individual razões para baratear a mercadoria mediante o aumento da força produtiva do trabalho Mesmo nesse caso no entanto a produção aumentada de maisvalor é decorrente da redução do tempo de trabalho necessário e do correspondente prolongamento do maistrabalho3a Suponha que 10 horas sejam o tempo de trabalho necessário 5 xelins o valor diário da força de trabalho 2 horas o tempo de maistrabalho e 1 xelim o mais valor produzido diariamente Mas nosso capitalista produz agora 24 peças que ele vende a 10 pence cada uma ou por um valor total de 20 xelins Como o valor dos meios de produção é de 12 xelins 1425 peças da mercadoria apenas repõem o capital constante adiantado A jornada de trabalho de 12 horas se representa nas 935 peças restantes Como o preço da força de trabalho 5 xelins o tempo de trabalho necessário se incorpora em 6 peças e o maistrabalho em 335 peças A proporção entre o trabalho necessário e o maistrabalho que nas condições sociais médias é de 5 para 1 é agora de 5 para 3 O mesmo resultado é obtido da seguinte forma o valor do produto da jornada de trabalho de 12 horas é 20 xelins Desta soma 12 xelins pertencem ao valor dos meios de produção que apenas reaparece no produto final Restam assim 8 xelins como expressão monetária do valor no qual a jornada de trabalho se representa Essa expressão monetária é maior do que a do trabalho social médio de mesmo tipo 12 horas desse trabalho se representam em apenas 6 xelins O trabalho excepcionalmente produtivo atua como trabalho potenciado ou cria no mesmo tempo valores maiores do que o trabalho social médio do mesmo tipo Mas nosso capitalista continua a pagar como antes apenas 5 xelins pelo valor diário da força de trabalho Por isso agora o trabalhador necessita em vez das 10 horas de antes apenas de 712 horas para reproduzir esse valor Seu maistrabalho aumenta assim 212 horas e o maisvalor por ele produzido de 1 para 3 xelins O capitalista que emprega o modo de produção aperfeiçoado é portanto capaz de apropriarse de uma parte maior da jornada de trabalho para o maistrabalho do que os demais capitalistas no mesmo ramo de produção Ele realiza individualmente o que o capital realiza em larga escala na produção do maisvalor relativo Por outro lado esse maisvalor adicional desaparece assim que o novo modo de produção se universaliza e apagase a diferença entre o valor individual das mercadorias barateadas e seu valor social A mesma lei da determinação do valor pelo tempo de trabalho que se apresentou ao capitalista juntamente com o novo método de produção sob a forma de que ele é obrigado a vender sua mercadoria abaixo de seu valor social força seus concorrentes como lei coercitiva da concorrência a aplicar o novo modo de produção4 Desse modo o processo inteiro só afeta a taxa geral do maisvalor se o aumento da força produtiva do trabalho afetar os diferentes ramos da produção e portanto baratear as mercadorias que integram o círculo dos meios básicos de subsistência e por isso constituem elementos do valor da força de trabalho O valor das mercadorias é inversamente proporcional à força produtiva do trabalho e o mesmo vale para o valor da força de trabalho por ser determinado pelos valores das mercadorias J á o maisvalor relativo ao contrário é diretamente 272 Na produção capitalista portanto a economia do trabalho por meio do desenvolvimento de sua força produtiva não visa em absoluto a redução da jornada de trabalho Seu objetivo é apenas a redução do tempo de trabalho necessário para a produção de determinada quantidade de mercadorias trabalho que o trabalhador tem de trabalhar para si mesmo precisamente para prolongar a parte da jornada de trabalho durante a qual ele pode trabalhar gratuitamente para o capitalista Em que medida esse resultado também pode ser obtido sem o barateamento das mercadorias será mostrado nos métodos particulares de produção do maisvalor relativo a cujo exame passaremos a seguir 274 Capítulo 11 Cooperação Como vimos a produção capitalista só começa de fato quando o mesmo capital individual emprega simultaneamente um número maior de trabalhadores quando portanto o processo de trabalho aumenta seu volume e fornece produtos numa escala quantitativa maior que antes A atividade de um número maior de trabalhadores ao mesmo tempo e no mesmo lugar ou se se preferir no mesmo campo de trabalho para a produção do mesmo tipo de mercadoria sob o comando do mesmo capitalista tal é histórica e conceitualmente o ponto de partida da produção capitalista Com relação ao próprio modo de produção a manufatura por exemplo em seus primórdios mal se diferencia da indústria artesanal da corporação a não ser pelo número maior de trabalhadores simultaneamente ocupados pelo mesmo capital A oficina do mestreartesão é apenas ampliada I nicialmente portanto a diferença é meramente quantitativa Vimos que a massa do maisvalor produzida por um dado capital é igual ao maisvalor gerado pelo trabalhador individual multiplicado pelo número de trabalhadores simultaneamente ocupados Por si só esse número não altera em nada a taxa do maisvalor ou o grau de exploração da força de trabalho e no que diz respeito à produção de valor da mercadoria em geral toda mudança qualitativa do processo de trabalho parece indiferente I sso se segue da natureza do valor Se uma jornada de trabalho de 12 horas se objetiva em 6 xelins 1200 de tais jornadas se objetivarão em 6 xelins 1200 Num caso incorporamse ao produto 12 horas de trabalho e no outro 12 1200 horas Na produção de valor um conjunto de trabalhadores conta apenas como tantos indivíduos Para a produção de valor é indiferente se 1200 trabalhadores produzem isoladamente ou unificados sob o comando do mesmo capital No entanto ocorre uma modificação dentro de certos limites O trabalho objetivado em valor é trabalho de qualidade social média e portanto a exteriorização de uma força de trabalho média Mas uma grandeza média só existe como média de diferentes grandezas individuais da mesma espécie Em cada ramo da indústria o trabalhador individual Pedro ou Paulo difere mais ou menos do trabalhador médio Esses desvios individuais que matematicamente se chamam erros compensamse mutuamente e desaparecem assim que se considere um número maior de trabalhadores Edmund Burke o célebre sofista e sicofanta tem a pretensão de saber a partir de suas experiências práticas como arrendatário que num pelotão tão ínfimo como o de cinco servos rurais toda diferença individual do trabalho já desaparece de modo que um grupo qualquer de cinco servos rurais ingleses no melhor da idade adulta executarão em conjunto no mesmo tempo a mesma quantidade de trabalho que quaisquer outros grupos de cinco servos rurais ingleses8 Seja como for está claro que a jornada de trabalho total de um número maior de trabalhadores empregados simultaneamente dividida pelo número desses 275 trabalhadores resulta numa jornada de trabalho social média Digamos que a jornada de trabalho do indivíduo seja de 12 horas A jornada de trabalho total dos doze homens simultaneamente empregados será então de 144 horas e mesmo que o trabalho de cada um dos doze homens possa se desviar mais ou menos do trabalho social médio pois cada um consome mais ou menos tempo para realizar a mesma operação ainda assim a jornada de trabalho de cada indivíduo como 112 da jornada de trabalho total de 144 horas possuirá a qualidade social média Mas para o capitalista que emprega uma dúzia de trabalhadores o que existe é a jornada de trabalho como jornada de trabalho total da dúzia A jornada de trabalho de cada indivíduo existe como parte alíquota da jornada de trabalho total não importando se os doze homens cooperam uns com os outros no trabalho ou se a conexão entre seus trabalhos se resume ao fato de trabalharem para o mesmo capitalista Se ao contrário os doze homens forem empregados em seis pares por seis pequenos mestres será mero acidente se cada um desses mestres produzir a mesma massa de valor e consequentemente realizar a taxa geral do maisvalor Ocorreriam desvios individuais Se um trabalhador consumisse significativamente mais tempo na produção de uma mercadoria do que o socialmente necessário se o tempo de trabalho de que ele individualmente necessita se desviasse significativamente do tempo de trabalho socialmente necessário ou tempo de trabalho médio seu trabalho não seria considerado trabalho médio tampouco sua força de trabalho como força de trabalho média Esta não seria vendida ou o seria apenas abaixo do valor médio da força de trabalho Um determinado mínimo de eficiência do trabalho é portanto pressuposto e veremos posteriormente que a produção capitalista encontra meios para medir esse mínimo Tampouco esse mínimo deixa de se desviar da média embora por outro lado o valor médio da força de trabalho tenha de ser pago Logo dos seis pequenos mestres um obteria mais outro menos que a taxa geral do maisvalor As desigualdades se compensariam para a sociedade mas não para o mestre individual Assim a lei geral da valorização só se realiza plenamente para o produtor individual quando ele produz como capitalista emprega muitos trabalhadores simultaneamente e desse modo põe em movimento desde o início o trabalho social médio9 Mesmo quando o modo de trabalho permanece o mesmo o emprego simultâneo de um número maior de trabalhadores opera uma revolução nas condições objetivas do processo de trabalho Edifícios onde muitos trabalham juntos depósitos de matérias primas etc recipientes instrumentos aparelhos etc que servem a muitos de forma simultânea ou alternada em suma uma parte dos meios de produção é agora consumida em comum no processo de trabalho Por um lado o valor de troca das mercadorias e portanto também dos meios de produção não aumenta em decorrência de uma exploração qualquer aumentada de seu valor de uso Por outro cresce a escala dos meios de produção utilizados em comum Uma sala em que trabalham vinte tecelões com seus vinte teares tem de ser mais ampla do que a sala em que trabalham um único tecelão independente e seus dois ajudantes Mas como a produção de uma oficina para vinte pessoas custa menos trabalho do que a produção de dez oficinas para cada duas pessoas o valor dos meios de produção coletivos e massivamente concentrados não aumenta em geral na proporção de seu volume e 276 efeito útil Meios de produção consumidos em comum transferem uma parte menor de seu valor ao produto individual em parte porque o valor total que transferem é simultaneamente repartido por uma massa maior de produtos e em parte porque em comparação com meios de produção isolados entram no processo de produção com um valor certamente maior em termos absolutos porém relativamente menor quando se considera seu raio de ação Com isso diminui não apenas um componente do capital constante como também na proporção de sua grandeza o valor total da mercadoria O efeito é o mesmo que se obteria caso os meios de produção da mercadoria fossem produzidos de forma mais barata Essa economia na utilização dos meios de produção deriva apenas de seu consumo coletivo no processo de trabalho de muitos indivíduos e estes assumem tal caráter de condições do trabalho social ou condições sociais do trabalho em contraste com os meios de produção dispersos e de custo relativamente alto de trabalhadores autônomos isolados ou pequenos mestres mesmo quando os muitos indivíduos apenas trabalham no mesmo local sem trabalhar uns com os outros Parte dos meios de trabalho assume esse caráter social antes que o próprio processo de trabalho o faça A economia no uso dos meios de produção deve ser considerada em geral sob um duplo ponto de vista Em primeiro lugar como barateamento de mercadorias e com isso diminuição do valor da força de trabalho Em segundo como modificação da relação do maisvalor com o capital total adiantado isto é com a soma de valor de seus componentes constante e variável Este último ponto só será examinado na primeira seção do Livro I I I desta obra na qual em nome do conjunto também trataremos de outros assuntos que aqui se fariam pertinentes O curso da análise impõe essa quebra do objeto a qual corresponde igualmente ao espírito da produção capitalista Como aqui as condições de trabalho de fato se confrontam com o trabalhador de forma autônoma também a economia dessas condições aparece como uma operação particular que não lhe diz respeito e é por isso separada dos métodos que fazem aumentar sua produtividade pessoal A forma de trabalho dentro da qual muitos indivíduos trabalham de modo planejado uns ao lado dos outros e em conjunto no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes porém conexos chamase cooperação10 Assim como o poder ofensivo de um esquadrão de cavalaria ou o poder defensivo de um regimento de infantaria são essencialmente diferentes dos poderes ofensivos e defensivos de cada um dos cavaleiros ou soldados de infantaria tomados individualmente também a soma total das forças mecânicas exercidas por trabalhadores isolados difere da força social gerada quando muitas mãos atuam simultaneamente na mesma operação indivisa por exemplo quando se trata de erguer um fardo pesado girar uma manivela ou remover um obstáculo11 Nesses casos o efeito do trabalho combinado ou não poderia em absoluto ser produzido pelo trabalho isolado ou o poderia apenas em um período de tempo muito mais longo ou em escala muito reduzida Aqui não se trata somente do aumento da força produtiva individual por meio da cooperação mas da criação de uma força produtiva que tem de ser por si mesma uma força de massas11a Sem considerar a nova potência que surge da fusão de muitas forças numa força 277 conjunta o simples contato social provoca na maior parte dos trabalhos produtivos emulação e excitação particular dos espíritos vitais animal spirits que elevam o rendimento dos trabalhadores individuais fazendo com que uma dúzia de indivíduos forneça numa jornada de trabalho simultânea de 144 horas um produto total muito maior que o de doze trabalhadores isolados cada um deles trabalhando 12 horas ou que o de um trabalhador que trabalhe 12 dias consecutivos12 A razão disso está em que o homem é por natureza se não um animal político como diz Aristóteles em todo caso um animal social13 Embora muitos indivíduos possam executar simultânea e conjuntamente a mesma tarefa ou o mesmo tipo de tarefa o trabalho de cada um como parte do trabalho total pode representar diferentes fases do próprio processo de trabalho fases que o objeto do trabalho percorre com maior rapidez graças à cooperação Por exemplo quando pedreiros formam uma fila de mãos para levar tijolos da base até o alto do andaime cada um deles realiza a mesma tarefa mas as ações individuais constituem partes contínuas de uma ação conjunta fases particulares que cada tijolo tem de percorrer no processo de trabalho e mediante as quais por exemplo as 24 mãos do trabalhador coletivo o transportam com mais rapidez do que o fariam as duas mãos de cada trabalhador individual que tivesse de subir e descer o andaime14 O objeto de trabalho percorre o mesmo espaço em menos tempo Por outro lado uma combinação de trabalho ocorre quando por exemplo uma construção é executada simultaneamente por diferentes lados embora também nesse caso os trabalhadores que cooperam realizem tarefas iguais ou da mesma espécie A jornada de trabalho combinada de 144 horas que ataca o objeto de trabalho por vários lados pois nela o trabalhador combinado ou coletivo tem olhos e mãos na frente e atrás sendo em certa medida onipresente faz avançar o produto total mais rapidamente do que 12 jornadas de trabalho de 12 horas de trabalhadores mais ou menos isolados e que tenham de realizar sua obra de modo mais unilateral As partes do produto separadas no espaço amadurecem ao mesmo tempo Ressaltamos anteriormente que os muitos indivíduos que se complementam de forma mútua realizam tarefas iguais ou da mesma espécie o que demonstra que essa forma mais simples do trabalho coletivo desempenha um grande papel mesmo na forma mais elaborada da cooperação Se o processo de trabalho é complexo a simples massa dos que trabalham em conjunto permite distribuir as diferentes operações entre diferentes braços e desse modo executálas simultaneamente encurtando assim o tempo de trabalho necessário para a fabricação do produto total15 Em muitos ramos da produção há momentos críticos isto é épocas determinadas pela própria natureza do processo de trabalho nas quais se devem obter certos resultados do trabalho Por exemplo se é preciso tosquiar um rebanho de ovelhas ou ceifar e colher uma dada plantação de trigo a quantidade e a qualidade do produto dependem de a operação começar e terminar num determinado momento Nesse caso o período de tempo que o processo de trabalho deve ocupar é um período prescrito tal como ocorre por exemplo na pesca do arenque Um indivíduo não pode recortar de seu dia uma jornada de trabalho maior que digamos 12 horas mas a cooperação de 100 indivíduos por exemplo expande uma jornada de 12 horas a uma jornada de 278 trabalho de 1200 horas A brevidade do prazo de trabalho é compensada pela grande massa de trabalho que no momento decisivo é lançada no campo de produção A realização da tarefa no tempo apropriado depende aqui da aplicação simultânea de muitas jornadas de trabalho combinadas a amplitude do efeito útil depende do número de trabalhadores sendo tal número porém sempre menor do que o número de trabalhadores que realizariam isoladamente a mesma quantidade de trabalho no mesmo período de tempo16 É por falta dessa cooperação que na parte oeste dos Estados Unidos uma grande quantidade de cereal é anualmente desperdiçada o mesmo ocorre com o algodão naquelas partes da Índia Oriental onde o domínio inglês destruiu o antigo sistema comunal17 Por um lado a cooperação possibilita estender o âmbito espacial do trabalho razão pela qual é exigida em certos processos devido à própria configuração espacial do objeto de trabalho como na drenagem da terra no represamento na irrigação na construção de canais estradas ferrovias etc Por outro lado ela torna possível em proporção à escala da produção o estreitamento espacial da área de produção Essa limitação do âmbito espacial do trabalho e a simultânea ampliação de sua esfera de atuação que poupa uma grande quantidade de falsos custos faux frais é resultado da conglomeração dos trabalhadores da reunião de diversos processos de trabalho e da concentração dos meios de produção18 Comparada com uma quantidade igual de jornadas de trabalho isoladas e individuais a jornada de trabalho combinada produz uma massa maior de valor de uso reduzindo assim o tempo de trabalho necessário para a produção de determinado efeito útil Se a jornada de trabalho combinada obtém essa força produtiva mais elevada por meio da intensificação da potência mecânica do trabalho ou pela expansão de sua escala espacial de atuação ou pelo estreitamento da área de produção em relação à escala da produção ou porque no momento crítico ela mobiliza muito trabalho em pouco tempo ou desperta a concorrência entre os indivíduos e excita seus espíritos vitais Lebensgeister ou imprime às operações semelhantes de muitos indivíduos a marca da continuidade e da multiplicidade ou executa diversas operações simultaneamente ou economiza os meios de produção por meio de seu uso coletivo ou confere ao trabalho individual o caráter de trabalho social médio de qualquer forma a força produtiva específica da jornada de trabalho combinada é força produtiva social do trabalho ou força produtiva do trabalho social Ela deriva da própria cooperação Ao cooperar com outros de modo planejado o trabalhador supera suas limitações individuais e desenvolve sua capacidade genérica Gattungsvermögen19 Se os trabalhadores não podem cooperar diretamente uns com os outros sem estar juntos de modo que sua aglomeração num determinado local é condição de sua cooperação os trabalhadores assalariados não podem cooperar sem que o mesmo capital o mesmo capitalista os empregue simultaneamente comprando ao mesmo tempo portanto suas forças de trabalho O valor total dessas forças de trabalho ou a soma dos salários dos trabalhadores por um dia uma semana etc tem pois de estar reunido no bolso do capitalista antes de as próprias forças de trabalho serem reunidas no processo de produção O pagamento de 300 trabalhadores de uma vez ainda que 279 por um só dia exige um dispêndio maior de capital do que o pagamento de poucos trabalhadores semanalmente durante o ano inteiro Portanto o número de trabalhadores que cooperam ou a escala da cooperação depende inicialmente da grandeza do capital que o capitalista individual pode desembolsar na compra de força de trabalho isto é da medida em que cada capitalista dispõe dos meios de subsistência de muitos trabalhadores E com o capital constante dáse o mesmo que com o capital variável O gasto com matériaprima por exemplo é 30 vezes maior para um capitalista que emprega 300 trabalhadores do que para cada um dos 30 capitalistas que empregam 10 trabalhadores de cada vez Ainda que o volume de valor e a massa material dos meios de trabalho utilizados coletivamente não cresçam na mesma proporção do número de trabalhadores empregados esse crescimento consideravelmente A concentração de grandes quantidades de meios de produção nas mãos de capitalistas individuais é pois a condição material para a cooperação de trabalhadores assalariados e a extensão da cooperação ou a escala da produção depende do grau dessa concentração Num primeiro momento certa grandeza mínima de capital individual pareceu ser necessária para que o número de trabalhadores simultaneamente explorados e consequentemente a massa do maisvalor produzido fosse suficiente para libertar o próprio empregador do trabalho manual para convertêlo de um pequeno patrão num capitalista e assim estabelecer formalmente a relação capitalista Agora essa grandeza mínima aparece como condição material para a transformação de muitos processos de trabalho individuais dispersos e mutuamente independentes num processo de trabalho social e combinado Do mesmo modo o comando do capital sobre o trabalho parecia inicialmente ser apenas uma decorrência formal do fato de o trabalhador trabalhar não para si mas para o capitalista e portanto sob o capitalista Com a cooperação de muitos trabalhadores assalariados o comando do capital se converte num requisito para a consecução do próprio processo de trabalho numa verdadeira condição da produção O comando do capitalista no campo de produção tornase agora tão imprescindível quanto o comando do general no campo de batalha Todo trabalho imediatamente social ou coletivo em grande escala requer em maior ou menor medida uma direção que estabeleça a harmonia entre as atividades individuais e cumpra as funções gerais que resultam do movimento do corpo produtivo total em contraste com o movimento de seus órgãos autônomos Um violinista isolado dirige a si mesmo mas uma orquestra requer um regente Essa função de direção supervisão e mediação tornase função do capital assim que o trabalho a ele submetido se torna cooperativo Como função específica do capital a direção assume características específicas Primeiramente o motivo que impulsiona e a finalidade que determina o processo de produção capitalista é a maior autovalorização possível do capital20 isto é a maior produção possível de maisvalor e portanto a máxima exploração possível da força de trabalho pelo capitalista Conforme a massa dos trabalhadores simultaneamente ocupados aumenta aumenta também sua resistência e com ela a pressão do capital para superála O comando do capitalista não é apenas uma função específica 280 proveniente da natureza do processo social de trabalho e portanto peculiar a esse processo mas ao mesmo tempo uma função de exploração de um processo social de trabalho sendo por isso determinada pelo antagonismo inevitável entre o explorador e a matériaprima de sua exploração Da mesma forma com o volume dos meios de produção que se apresentam ao trabalhador assalariado como propriedade alheia aumenta também a necessidade do controle sobre sua utilização adequada21 A cooperação dos assalariados é além disso um mero efeito do capital que os emprega simultaneamente A interconexão de suas funções e sua unidade como corpo produtivo total reside fora deles no capital que os reúne e os mantêm unidos Por isso a conexão entre seus trabalhos aparece para os trabalhadores idealmente como plano preconcebido e praticamente como autoridade do capitalista como o poder de uma vontade alheia que submete seu agir ao seu próprio objetivo Se a direção capitalista é dúplice em seu conteúdo em razão da duplicidade do próprio processo de produção a ser dirigido que é por um lado processo social de trabalho para a produção de um produto e por outro processo de valorização do capital ela é despótica em sua forma Com o desenvolvimento da cooperação em maior escala esse despotismo desenvolve suas formas próprias Assim como o capitalista é inicialmente libertado do trabalho manual tão logo seu capital tenha atingido aquela grandeza mínima com a qual tem início a produção verdadeiramente capitalista agora ele transfere a função de supervisão direta e contínua dos trabalhadores individuais e dos grupos de trabalhadores a uma espécie particular de assalariados Do mesmo modo que um exército necessita de oficiais militares uma massa de trabalhadores que coopera sob o comando do mesmo capital necessita de oficiais dirigentes gerentes e suboficiais capatazes foremen overlookers contre maîtres industriais que exerçam o comando durante o processo de trabalho em nome do capital O trabalho de supervisão tornase sua função fixa e exclusiva Ao comparar o modo de produção de camponeses independentes ou de artesãos autônomos com a economia das plantações baseada na escravidão o economista político computa esse trabalho de supervisão como parte dos faux frais de production21a J á quando considera o modo de produção capitalista ao contrário ele identifica a função de direção proveniente da natureza do processo coletivo de trabalho com a mesma função porém condicionada pelo caráter capitalista e por isso antagônico desse processo22 O capitalista não é capitalista por ser diretor da indústria ao contrário ele se torna chefe da indústria por ser capitalista O comando supremo na indústria tornase atributo do capital do mesmo modo como no feudalismo o comando supremo na guerra e no tribunal era atributo da propriedade fundiária22a O trabalhador é o proprietário de sua força de trabalho enquanto barganha a venda desta última com o capitalista e ele só pode vender aquilo que possui sua força de trabalho individual isolada Esse estado de coisas não se altera de modo algum pelo fato de o capitalista comprar cem forças de trabalho em vez de uma ou contratar cem trabalhadores independentes entre si em vez de apenas um Ele pode empregar os cem trabalhadores sem fazêlos cooperar Desse modo o capitalista paga o valor das cem forças de trabalho independentes mas não paga a força de trabalho combinada dessa centena Como pessoas independentes os trabalhadores são indivíduos 281 isolados que entram numa relação com o mesmo capital mas não entre si Sua cooperação começa apenas no processo de trabalho mas então eles já não pertencem mais a si mesmos Com a entrada no processo de trabalho são incorporados ao capital Como cooperadores membros de um organismo laborativo eles próprios não são mais do que um modo de existência específico do capital A força produtiva que o trabalhador desenvolve como trabalhador social é assim força produtiva do capital A força produtiva social do trabalho se desenvolve gratuitamente sempre que os trabalhadores se encontrem sob determinadas condições e é o capital que os coloca sob essas condições Pelo fato de a força produtiva social do trabalho não custar nada ao capital e por outro lado não ser desenvolvida pelo trabalhador antes que seu próprio trabalho pertença ao capital ela aparece como força produtiva que o capital possui por natureza como sua força produtiva imanente O efeito da cooperação simples se apresenta de modo colossal nas obras gigantescas dos antigos asiáticos egípcios etruscos etc Em épocas passadas ocorreu que esses Estados asiáticos depois do custeio de seus gastos civis e militares encontraramse em posse de um excedente de meios de subsistência que podiam empregar em obras de suntuosidade ou utilidade Seu comando sobre as mãos e os braços de quase toda a população não agrícola e a exclusividade que o monarca e os sacerdotes detinham na gerência de tal excedente garantiramlhes os meios para a construção daqueles portentosos monumentos com os quais cobriram o país No deslocamento de estátuas colossais e massas enormes cujo transporte causa assombro empregouse quase exclusivamente trabalho humano e com grande prodigalidade O número de trabalhadores e a concentração de seus esforços eram suficientes Do mesmo modo vemos enormes recifes de corais emergindo das profundezas do oceano formando ilhas e se constituindo em terra firme embora cada depositante depositary individual seja ínfimo débil e desprezível Os trabalhadores não agrícolas de uma monarquia asiática têm muito pouco a contribuir para uma obra além de seus esforços físicos individuais mas seu número é sua força e foi o poder da direção sobre essas massas que originou aquelas obras prodigiosas O que possibilitou tais empreendimentos foi a concentração em uma ou poucas mãos das rendas das quais vivem os trabalhadores23 Na sociedade moderna esse poder dos reis asiáticos e egípcios ou teocratas etruscos etc migrou para o capitalista quer ele se apresente como capitalista isolado quer como nas sociedades por ações como capitalista combinado A cooperação no processo de trabalho tal como a encontramos predominantemente nos primórdios da civilização humana entre os povos caçadores ou por exemplo na agricultura da comunidade indiana baseiase por um lado na propriedade comum das condições de produção e por outro no fato de que o indivíduo isolado desvencilhouse tão pouco do cordão umbilical da tribo ou da comunidade quanto uma abelha da colmeia Essas duas características distinguem essa cooperação da cooperação capitalista A aplicação esporádica da cooperação em grande escala no mundo antigo na I dade Média e nas colônias modernas repousa sobre relações imediatas de domínio e servidão principalmente sobre a escravidão A forma capitalista ao contrário pressupõe desde o início o trabalhador assalariado livre que vende sua força de trabalho ao capital Historicamente porém ela se desenvolve em oposição à economia camponesa e à produção artesanal independente assumindo esta última a forma da guilda ou não24 Diante delas não é a cooperação capitalista que aparece como uma forma histórica específica da cooperação mas ao contrário é a própria cooperação que aparece como uma forma histórica peculiar do modo de produção capitalista como algo que o distingue especificamente 282 Assim como a força produtiva social do trabalho desenvolvida pela cooperação aparece como força produtiva do capital também a própria cooperação aparece como uma forma específica do processo de produção capitalista contraposta ao processo de produção de trabalhadores autônomos e isolados ou mesmo de pequenos mestres É a primeira alteração que o processo de trabalho efetivo experimenta em sua subsunção ao capital Tal alteração ocorre natural e espontaneamente Seu pressuposto a ocupação simultânea de um número maior de trabalhadores assalariados no mesmo processo de trabalho constitui o ponto de partida da produção capitalista que por sua vez coincide com a existência do próprio capital Se portanto o modo de produção capitalista se apresenta por um lado como uma necessidade histórica para a transformação do processo de trabalho num processo social essa forma social do processo de trabalho se apresenta por outro lado como um método empregado pelo capital para explorálo de maneira mais lucrativa por meio do aumento de sua força produtiva Em sua configuração simples que consideramos até o momento a cooperação coincide com a produção em maior escala porém não constitui uma forma fixa característica de um período particular de desenvolvimento do modo de produção capitalista No máximo ela se aproxima dessa forma nos primórdios ainda artesanais da manufatura25 e em toda espécie de grande agricultura que corresponde ao período manufatureiro e só se distingue essencialmente da economia camponesa pela quantidade de trabalhadores simultaneamente empregados e pelo volume de meios de produção concentrados A cooperação simples continua a predominar naqueles ramos de produção em que o capital opera em grande escala sem que a divisão do trabalho ou a maquinaria desempenhem um papel significativo A cooperação continua a ser a forma básica do modo de produção capitalista embora sua própria configuração simples apareça como forma particular ao lado de suas formas mais desenvolvidas 283 Capítulo 12 Divisão do trabalho e manufatura 1 A dupla origem da manufatura A cooperação fundada na divisão do trabalho assume sua forma clássica na manufatura Como forma característica do processo de produção capitalista ela predomina ao longo do período propriamente manufatureiro que em linhas gerais estendese da metade do século XVI até o último terço do século XVIII A manufatura surge de dois modos No primeiro reúnemse numa mesma oficina sob o controle de um mesmo capitalista trabalhadores de diversos ofícios autônomos por cujas mãos tem de passar um produto até seu acabamento final Uma carruagem por exemplo era o produto total dos trabalhos de um grande número de artesãos independentes como segeiro seleiro costureiro serralheiro correeiro torneiro passamaneiro vidraceiro pintor envernizador dourador etc A manufatura de carruagens reúne todos esses diferentes artesãos numa oficina onde eles trabalham simultaneamente e em colaboração mútua É verdade que não se pode dourar uma carruagem antes de ela estar feita mas se muitas carruagens são feitas ao mesmo tempo uma parte pode passar constantemente pelo douramento enquanto outra parte percorre uma fase anterior do processo de produção Até aqui permanecemos ainda no terreno da cooperação simples que encontra já dado seu material humano e de coisas Mas logo ocorre uma modificação essencial O costureiro o ferreiro o correeiro etc que se dedicam apenas à fabricação de carruagens perdem gradualmente com o costume a capacidade de exercer seu antigo ofício em toda sua amplitude Por outro lado sua atividade tornada unilateral assume agora a forma mais adequada para sua esfera restrita de atuação Originalmente a manufatura de carruagens apareceu como uma combinação de ofícios independentes Pouco a pouco ela se transformou em divisão da produção de carruagens em suas diversas operações específicas processo no qual cada operação se cristalizou como função exclusiva de um trabalhador sendo sua totalidade executada pela união desses trabalhadores parciais Desse mesmo modo surgiram a manufatura de tecidos e toda uma série de outras manufaturas da combinação de diversos ofícios sob o comando do mesmo capital26 Mas a manufatura por outro lado também surge por um caminho oposto Muitos artesãos que fabricam produtos iguais ou da mesma espécie como papel tipos para imprensa ou agulhas são reunidos pelo mesmo capital simultaneamente e na mesma oficina Temse aqui a cooperação em sua forma mais simples Cada um desses artesãos talvez com um ou dois ajudantes produz a mercadoria inteira executando sucessivamente todas as diversas operações requeridas para sua fabricação Ele continua a trabalhar conforme seu antigo modo artesanal mas circunstâncias externas logo fazem com que a concentração dos trabalhadores no mesmo local e a 284 simultaneidade de seus trabalhos sejam utilizadas de outro modo Uma quantidade maior de mercadorias acabadas deve por exemplo ser fornecida num determinado prazo e por esse motivo o trabalho é dividido Em vez de o mesmo artesão executar as diversas operações numa sequência temporal elas são separadas umas das outras isoladas justapostas espacialmente sendo cada uma delas confiada a um artesão diferente e executadas ao mesmo tempo pelos trabalhadores em cooperação Essa divisão acidental se repete exibe as vantagens que lhe são próprias e se ossifica gradualmente numa divisão sistemática do trabalho De produto individual de um artesão independente que faz várias coisas a mercadoria convertese no produto social de uma união de artesãos em que cada um executa continuamente apenas uma e sempre a mesma operação parcial As mesmas operações que se conectavam umas às outras como atos sucessivos do fabricante de papel nas guildas alemãs tornaramse mais tarde independentes na manufatura holandesa de papel como operações parciais executadas uma ao lado das outras por muitos trabalhadores em cooperação O agulheiro das guildas de Nuremberg é o elemento fundamental da manufatura inglesa de agulhas Mas enquanto aquele agulheiro isolado executava uma série de talvez vinte operações sucessivas na I nglaterra não tardou até que houvesse vinte agulheiros um ao lado do outro cada um executando apenas uma das vinte operações que em consequência de experiências ulteriores ainda seriam muito mais subdivididas isoladas e autonomizadas como funções exclusivas de trabalhadores individuais O modo de surgimento da manufatura sua formação a partir do artesanato é portanto duplo Por um lado ela parte da combinação de ofícios autônomos e diversos que são privados de sua autonomia e unilateralizados até o ponto em que passam a constituir meras operações parciais e mutuamente complementares no processo de produção de uma única e mesma mercadoria Por outro lado ela parte da cooperação de artesãos do mesmo tipo decompõe o mesmo ofício individual em suas diversas operações particulares isolandoas e autonomizandoas até que cada uma delas se torne uma função exclusiva de um trabalhador específico Por um lado portanto a manufatura introduz a divisão do trabalho num processo de produção ou desenvolve a divisão do trabalho já existente por outro ela combina ofícios que até então eram separados Mas seja qual for seu ponto de partida particular sua configuração final é a mesma um mecanismo de produção cujos órgãos são seres humanos Para o correto entendimento da divisão do trabalho na manufatura é essencial apreender os seguintes pontos primeiramente a análise do processo de produção em suas fases particulares coincide plenamente com a decomposição de uma atividade artesanal em suas diversas operações parciais Composta ou simples a execução permanece artesanal e portanto continua a depender da força da destreza da rapidez e da segurança do trabalhador individual no manuseio de seu instrumento O trabalho artesanal permanece sendo a base e essa base técnica limitada exclui uma análise verdadeiramente científica do processo de produção pois cada processo parcial que o produto percorre tem de ser executável como trabalho parcial artesanal É justamente porque a habilidade artesanal permanece como a base do processo de produção que 285 cada trabalhador passa a dedicarse exclusivamente a uma função parcial e sua força de trabalho é então transformada em órgão vitalício dessa função parcial Por fim essa divisão do trabalho é um tipo particular da cooperação e várias de suas vantagens resultam da essência geral da cooperação e não dessa sua forma particular 2 O trabalhador parcial e sua ferramenta Adentrando agora nos detalhes dessa questão é desde logo claro que um trabalhador que executa uma mesma operação simples durante toda sua vida transforma seu corpo inteiro num órgão automaticamente unilateral dessa operação e consequentemente precisa de menos tempo para executála do que o artesão que executa alternadamente toda uma série de operações Mas o trabalhador coletivo combinado que constitui o mecanismo vivo da manufatura consiste de muitos desses trabalhadores parciais e unilaterais Por isso em comparação com o ofício autônomo produzse mais em menos tempo ou a força produtiva do trabalhador é aumentada27 Também o método do trabalho parcial se aperfeiçoa depois de estar autonomizado como função exclusiva de uma pessoa Como a experiência o demonstra a contínua repetição da mesma ação limitada e a concentração da atenção nessa ação ensinam a atingir o efeito útil visado com o mínimo de dispêndio de força Mas como diferentes gerações de trabalhadores convivem simultaneamente e cooperam nas mesmas manufaturas os artifícios Kunstgriffe técnicos assim obtidos se consolidam se acumulam e são transmitidos com rapidez28 A manufatura produz com efeito a virtuosidade do trabalhador detalhista quando no interior da oficina reproduz e leva sistematicamente ao extremo a diferenciação naturalespontânea dos ofícios Por outro lado sua transformação do trabalho parcial em vocação Beruf da vida de um homem corresponde à tendência presente em sociedades anteriores de tornar hereditários os ofícios petrificálos em castas ou no caso de determinadas condições históricas produzirem nos indivíduos uma variabilidade em contradição com o sistema de castas ossificálos em corporações Castas e corporações têm origem na mesma lei natural que rege a distinção de plantas e animais em espécies e subespécies com a única diferença de que num certo grau de desenvolvimento a hereditariedade das castas ou a exclusividade das corporações é decretada como lei social29 As musselinas de Dakka em sua finura as chitas e outros tecidos de Coromandel em esplendor e durabilidade das cores jamais foram superados E no entanto eles são produzidos sem capital maquinaria divisão do trabalho ou qualquer um dos outros meios que tantas vantagens atribuem à fabricação na Europa O tecelão é um indivíduo isolado que fabrica o tecido por encomenda de um cliente e com um tear da mais simples construção muitas vezes consistindo apenas de hastes de madeira unidas de modo grosseiro Ele nem sequer dispõe de um mecanismo para puxar a corrente o que faz com que o tear tenha de permanecer esticado em todo seu comprimento tornandose assim tão disforme e longo que não encontra lugar no casebre do produtor que por isso tem de executar seu trabalho ao ar livre onde é interrompido por qualquer intempérie30 É apenas a destreza acumulada de geração a geração e legada de pai para filho que confere ao indiano assim como à aranha essa virtuosidade E no entanto tal tecelão executa um trabalho muito mais complicado do que o da maioria dos trabalhadores da manufatura 286 Um artesão que executa sucessivamente os diversos processos parciais da produção de um artigo é obrigado a mudar ora de lugar ora de instrumentos A passagem de uma operação para outra interrompe o fluxo de seu trabalho formando em certa medida poros em sua jornada de trabalho Tais poros se fecham assim que ele passa a executar continuamente uma única e mesma operação o dia inteiro ou desaparecem à medida que diminuem as mudanças de sua operação A força produtiva aumentada se deve aqui ou ao dispêndio crescente de força de trabalho num dado período de tempo portanto à intensidade crescente do trabalho ou ao decréscimo do consumo improdutivo de força de trabalho O excesso de dispêndio de força exigido em cada passagem do repouso ao movimento é compensado pela duração maior da velocidade normal depois de esta ter sido alcançada Por outro lado a continuidade de um trabalho uniforme aniquila a força tensional e impulsiva dos espíritos vitais que encontram na própria mudança de atividade seu descanso e estímulo A produtividade do trabalho depende não apenas da virtuosidade do trabalhador mas também da perfeição de suas ferramentas Ferramentas do mesmo tipo como instrumentos para cortar perfurar pilar bater etc são utilizadas em diversos processos de trabalho e no mesmo processo de trabalho o mesmo instrumento serve para diferentes operações Mas assim que as diferentes operações de um processo de trabalho são dissociadas umas das outras e cada operação parcial adquire nas mãos do trabalhador parcial a forma mais adequada possível e portanto exclusiva tornase necessário modificar as ferramentas que anteriormente serviam para outros fins diversos A direção que assume sua mudança de forma é resultado da experiência das dificuldades específicas provocadas pela forma inalterada A diferenciação dos instrumentos de trabalho por meio da qual instrumentos de mesmo tipo assumem formas particulares e fixas para cada aplicação útil particular e sua especialização que faz com que cada um desses instrumentos especiais só funcione em toda plenitude nas mãos de trabalhadores parciais específicos caracterizam a manufatura Apenas em Birmingham são produzidas cerca de quinhentas variedades de martelos e muitas delas servem não só a um processo particular de produção mas com frequência a diferentes operações no interior de um mesmo processo O período da manufatura simplifica melhora e diversifica as ferramentas de trabalho por meio de sua adaptação às funções específicas e exclusivas dos trabalhadores parciais 31 Com isso ela cria ao mesmo tempo uma das condições materiais da maquinaria que consiste numa combinação de instrumentos simples O trabalhador detalhista e seu instrumento formam os elementos simples da manufatura Voltemonos agora à sua figura inteira 3 As duas formas fundamentais da manufatura manufatura heterogênea e manufatura orgânica A articulação da manufatura possui duas formas fundamentais que não obstante seu eventual entrelaçamento compõem duas espécies essencialmente distintas e que desempenham papéis totalmente diferentes especialmente na transformação posterior da manufatura em grande indústria movida pela maquinaria Esse duplo 287 Uma locomotiva por exemplo consiste de mais de 5 mil partes independentes Ela não pode porém servir de exemplo para a primeira espécie de manufatura propriamente dita porquanto é um produto da grande indústria mas sim o relógio de que também se serviu William Petty para ilustrar a divisão do trabalho na manufatura De obra individual de um artesão de Nuremberg o relógio transformouse no produto social de um semnúmero de trabalhadores parciais como o fazedor das peças brutas o fazedor das molas o fazedor dos mostradores o fazedor da corda o fazedor das mancais para pedras e os rubis das alavancas o fazedor dos ponteiros o fazedor da caixa o fazedor dos parafusos o dourador e com muitas subdivisões como o fazedor de rodas rodas de latão e de aço também separadas o fazedor do rotor o fazedor do eixo dos ponteiros o acheveur de pignon aquele que faz as rodas no trem de engrenagens e pelos e facetas o fazedor do pivô o planteur de finissage que monta diversas rodas e carretas na máquina o finisseur de barillette que entalha os dentes nas rodas ajusta as dimensões dos furos aperta as posições e travas o fazedor da âncora o fazedor do cilindro para a âncora o fazedor da roda de escape o fazedor do volante o fazedor da roda de balanço o fazedor da coroa mecanismo com que se regula o relógio o planteur déchappement que faz o escapamento o repasseur de barillette que finaliza a caixa da mola e a posição o polidor do aço o polidor das rodas o polidor dos parafusos o pintor dos números o esmaltador do mostrador que aplica o esmalte o fazedor de pendants que faz apenas as argolas do relógio o finisseur de charnière que coloca o eixo de latão no centro da caixa etc o faiseur de secret que coloca na caixa as molas que fazem abrir a tampa o graveur gravador o ciseleur cinzelador o polisseur de boîte polidor da caixa etc etc e finalmente o repasseur que monta todo o relógio e o entrega funcionando A penas algumas poucas partes do relógio passam por diversas mãos e todos esses membros dispostos são reunidos nas mãos que finalmente os combinam num todo mecânico Aqui como em outras fabricação semelhantes essa relação exterior do produto acabado com seus diferentes elementos torna acidental a combinação dos trabalhadores parciais na mesma oficina Tanto é possível a execução dos trabalhos parciais como ofícios independentes entre si como ocorre por exemplo em Genebra onde há grandes manufaturas de relógios Também no último caso é raro que mostrador mola e caixa sejam feitos na própria manufatura A empresa manufatureira combinada não é só lucrativa aqui sob condições excepcionais já que a concorrência entre os trabalhadores que querem trabalhar em casa é extrema o fracionamento da produção em inúmeros processos heterogêneos permite pouca aplicação de meios coletivos de trabalho e o capitalista com a fabricação fragmentada economiza os gastos com instalações fábricas etc fases interconexas de desenvolvimento uma sequência de processos graduais como o arame que na manufatura de agulhas de costura passa pelas mãos de 72 e até 92 trabalhadores parciais específicos Ao combinar ofícios originalmente dispersos tal manufatura reduz a separação espacial entre as fases particulares de produção do artigo O tempo de sua passagem de um estágio para outro é reduzido assim como o trabalho que medeia essa passagem34 Em comparação com o artesanato obtémse com isso um acréscimo de força produtiva sendo tal acréscimo derivado na verdade do caráter cooperativo geral da manufatura Por outro lado seu princípio peculiar da divisão de trabalho provoca um isolamento das diferentes fases de produção que como diversos outros trabalhos parciais artesanais se autonomizam mutuamente Estabelecer e manter a conexão entre as funções isoladas exige o transporte constante do artigo de uma mão para outra e de um processo para outro Do ponto de vista da grande indústria isso se revela uma limitação característica dispendiosa e imanente ao princípio da manufatura35 Quando observamos uma quantidade determinada de matériaprima por exemplo de trapos na manufatura de papel ou de arame na manufatura de alfinetes vemos que ela percorre nas mãos dos diferentes trabalhadores parciais uma série cronológica de fases de produção até atingir sua forma final Mas quando ao contrário observamos a oficina como um mecanismo total vemos que a matériaprima encontrase simultaneamente em todas as suas fases de produção Com uma parte de suas muitas mãos munidas de instrumentos o trabalhador coletivo resultado da combinação de trabalhadores detalhistas puxa o arame ao mesmo tempo que com outras mãos e outras ferramentas o estica com outras o corta o aponta etc De uma sucessão temporal os diversos processos graduais se convertem numa justaposição espacial Disso resulta o fornecimento de mais mercadorias acabadas no mesmo espaço de tempo36 Se é verdade que essa simultaneidade decorre da forma cooperativa geral do processo total a manufatura não se limita a encontrar dadas condições para a cooperação mas as cria em parte mediante a decomposição da atividade artesanal Por outro lado ela só alcança essa organização social do processo de trabalho ao soldar o mesmo trabalhador ao mesmo detalhe Por ser o produto parcial de cada trabalhador parcial apenas um grau particular de desenvolvimento do mesmo artigo cada trabalhador ou grupo de trabalhadores fornece ao outro sua matériaprima No resultado do trabalho de um está o ponto de partida para o trabalho do outro Assim um trabalhador ocupa diretamente o outro O tempo de trabalho necessário para se obter o efeito útil visado em cada processo parcial é fixado conforme a experiência e o mecanismo inteiro da manufatura repousa sobre o pressuposto de que em dado tempo de trabalho obtémse um dado resultado Apenas sob esse pressuposto os processos de trabalho diferentes e mutuamente complementares podem prosseguir justapostos espacialmente de modo simultâneo e ininterrupto É evidente que essa dependência imediata dos trabalhos e por conseguinte dos trabalhadores entre si força cada indivíduo a empregar em sua função não mais do que o tempo necessário gerandose assim uma continuidade uniformidade regularidade ordenamento37 e mais ainda uma intensidade de 289 trabalho absolutamente distintos daqueles vigentes no ofício autônomo ou mesmo no regime de cooperação simples Que numa mercadoria seja aplicado apenas o tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção é algo que aparece na produção de mercadorias em geral como coerção externa da concorrência dado que expresso superficialmente cada produtor individual é obrigado a vender a mercadoria pelo seu preço de mercado Na manufatura ao contrário o fornecimento de uma dada quantidade de produtos em dado tempo de trabalho tornase uma lei técnica do próprio processo de produção38 Ocorre que operações diferentes exigem períodos desiguais de tempo e por isso fornecem no mesmo intervalo de tempo quantidades desiguais de produtos parciais Portanto se o mesmo trabalhador deve executar sempre a mesma operação dia após dia então é preciso que em operações diferentes sejam empregados números proporcionalmente diferentes de trabalhadores por exemplo que numa manufatura de tipos de imprensa sejam empregados quatro fundidores e dois quebradores para um polidor e que o fundidor funda 2 mil tipos por hora o quebrador quebre 4 mil e o polidor pula 8 mil Aqui reaparece o princípio da cooperação em sua forma mais simples a da ocupação simultânea de muitos indivíduos que executam operações da mesma espécie porém agora como expressão de uma relação orgânica A divisão manufatureira do trabalho portanto não só simplifica e diversifica os órgãos qualitativamente diferentes do trabalhador coletivo social como também cria uma proporção matemática fixa para a extensão quantitativa desses órgãos isto é para o número relativo de trabalhadores ou grandeza relativa dos grupos de trabalhadores em cada função específica Ela desenvolve com a subdivisão qualitativa do processo de trabalho social a regra quantitativa e a proporcionalidade desse processo Estando fixada pela experiência a proporção mais adequada dos diferentes grupos de trabalhadores parciais para uma determinada escala da produção esta só pode ser ampliada por meio do emprego de um múltiplo de cada grupo particular de trabalhadores39 A isso se acrescenta que o mesmo indivíduo pode executar igualmente bem certos trabalhos em maior ou menor escala como o trabalho de supervisão o transporte dos produtos parciais de uma fase de produção para outra etc A autonomização dessas funções ou sua atribuição a trabalhadores específicos só passa a representar uma vantagem com a ampliação do número de trabalhadores ocupados e desde que essa ampliação atinja de imediato e de maneira proporcional todos os grupos O grupo individual um número de trabalhadores que executam a mesma função parcial consiste de elementos homogêneos e forma um órgão particular do mecanismo total Nas diferentes manufaturas porém o próprio grupo é um corpo articulado de trabalho enquanto o mecanismo total é formado pela repetição ou multiplicação desses organismos produtivos elementares Consideremos por exemplo a manufatura de garrafas de vidro Ela se decompõe em três fases essencialmente distintas Primeiramente há a fase preparatória que consiste na preparação da composição do vidro mistura de areia cal etc e na fundição dessa composição numa massa fluida de vidro40 Nessa primeira fase diferentes trabalhadores parciais se ocupam tanto quanto na fase final em retirar as garrafas dos 290 fornos de secagem selecionálas embalálas etc No meio das duas fases é que está a feitura propriamente dita do vidro ou a elaboração de sua massa fluida Na mesma boca de forno trabalha um grupo na I nglaterra chamado de hole buraco e constituído por um bottle maker fazedor de garrafas ou finisher acabador um blower soprador um gatherer coletor um putter up carregador ou whetter off separador e um taker entregador Esses cinco trabalhadores parciais formam outros tantos órgãos particulares de um único corpo de trabalho que só pode atuar como uma unidade isto é por meio da cooperação direta de todos os seus cinco membros Na ausência de um desses membros ele fica paralisado Mas o mesmo forno de vidro tem várias aberturas na I nglaterra por exemplo elas variam de quatro a seis cada uma delas com um cadinho de barro contendo massa fluida de vidro no qual trabalha um grupo de trabalhadores igualmente composto de cinco membros A articulação de cada grupo individual fundase aqui diretamente na divisão do trabalho ao passo que o vínculo entre os diversos grupos do mesmo tipo é a cooperação simples que economiza meios de produção no caso presente o forno de vidro mediante seu consumo coletivo Tal forno de vidro reúne de quatro a seis grupos de trabalhadores e constitui uma vidraria uma manufatura de vidro é formada por uma multiplicidade de tais vidrarias juntamente com as instalações e os trabalhadores necessários para as fases preparatórias e finais da produção Finalmente uma vez que a manufatura tem origem na combinação de diversos ofícios ela pode se desenvolver numa combinação de diversas manufaturas As maiores vidrarias inglesas por exemplo fabricam elas próprias seus cadinhos de barro pois da qualidade desses instrumentos depende essencialmente o sucesso ou insucesso da produção A manufatura de um meio de produção é vinculada aqui à manufatura do produto I nversamente é também possível que a manufatura do produto se vincule a manufaturas às quais ele serve por sua vez de matériaprima ou a cujos produtos ele é acoplado posteriormente Assim por exemplo a manufatura de flint glass é combinada com a do polimento de vidro e a da fundição de latão este último sendo utilizado para a moldura metálica de diversos artigos de vidro de modo que as diferentes manufaturas combinadas formam no interior de uma manufatura total departamentos mais ou menos separados espacialmente e ao mesmo tempo processos de produção autônomos cada um com sua própria divisão de trabalho Não obstante algumas vantagens oferecidas pela manufatura combinada ela jamais chega a adquirir uma verdadeira unidade técnica sobre seu próprio fundamento Tal unidade só ocorre com sua transformação em indústria mecanizada O período da manufatura que logo proclama como seu princípio41 consciente a diminuição do tempo de trabalho necessário para a produção de mercadorias também desenvolve eventualmente o uso de máquinas sobretudo em certos processos iniciais e simples que têm de ser executados massivamente e com grande aplicação de força Assim por exemplo a manufatura de papel começa com a trituração de trapos realizada por moinhos específicos e na metalurgia o britamento do minério é feito pelos assim chamados moinhos de pilões42 A forma elementar de toda maquinaria foinos transmitida pelo I mpério romano com o moinho dágua43 O período do artesanato deixou como legado grandes invenções a bússola a pólvora a impressão 291 de livros e o relógio automático Em geral no entanto a maquinaria exerce aquela função secundária que Adam Smith lhe atribui ao lado da divisão do trabalho44 Muito importante tornouse o uso esporádico da maquinaria no século XVI I na medida em que ela oferecia aos grandes matemáticos daquela época pontos de apoio práticos e estímulos para a criação da mecânica moderna A maquinaria específica do período da manufatura permanece sendo o próprio trabalhador coletivo que resulta da combinação de muitos trabalhadores parciais As diversas operações que o produtor de uma mercadoria executa alternadamente e que se entrelaçam na totalidade de seu processo de trabalho colocamlhe exigências diferentes Numa ele tem de desenvolver mais força noutra mais destreza numa terceira mais concentração mental etc e o mesmo indivíduo não dispõe dessas qualidades no mesmo grau Depois da separação autonomização e isolamento das diferentes operações os trabalhadores são separados classificados e agrupados de acordo com suas qualidades predominantes Se suas especificidades naturais constituem a base sobre a qual se ergue a divisão do trabalho a manufatura uma vez introduzida desenvolve forças de trabalho que por natureza servem apenas para funções específicas unilaterais O trabalhador coletivo dispõe agora de todas as qualidades produtivas no mesmo grau de virtuosidade e as despende ao mesmo tempo do modo mais econômico concentrando todos os seus órgãos individualizados em trabalhadores ou grupos de trabalhadores especializados no desempenho exclusivo de suas funções específicas45 A unilateralidade e mesmo a imperfeição do trabalhador parcial convertemse em sua perfeição como membro do trabalhador coletivo46 O hábito de exercer uma função unilateral transforma o trabalhador parcial em órgão natural e de atuação segura dessa função ao mesmo tempo que sua conexão com o mecanismo total o compele a operar com a regularidade de uma peça de máquina47 Como as diferentes funções do trabalhador coletivo podem ser mais simples ou mais complexas inferiores ou superiores seus órgãos as forças de trabalho individuais requerem diferentes graus de formação e possuem por isso valores muito diferentes A manufatura desenvolve assim uma hierarquia das forças de trabalho a que corresponde uma escala de salários Se de um lado o trabalhador individual é apropriado e anexado vitaliciamente a uma função unilateral de outro as diferentes operações laborais daquela hierarquia são adaptadas às suas habilidades naturais e adquiridas48 Todo processo de produção requer no entanto certas operações simples que qualquer ser humano é normalmente capaz de executar Também tais operações são agora destacadas de sua conexão fluida com os momentos mais plenos de conteúdo da atividade e ossificadas em funções exclusivas Em todo ofício de que se apodera a manufatura cria portanto uma classe dos chamados trabalhadores não qualificados antes rigorosamente excluídos pelo artesanato Ao mesmo tempo que desenvolve à custa da capacidade total de trabalho a especialidade totalmente unilateralizada que chega ao ponto da virtuosidade ela já começa a transformar numa especialidade a falta absoluta de desenvolvimento J untamente com a gradação hierárquica surge a simples separação dos trabalhadores em qualificados e não qualificados Para estes últimos os custos de aprendizagem 292 desaparecem por completo e para os primeiros esses custos são menores em comparação com o artesão devido à função simplificada Em ambos os casos diminui o valor da força de trabalho49 Exceções ocorrem na medida em que a decomposição do processo de trabalho gera funções novas e abrangentes que no artesanato não existiam ou pelo menos não na mesma extensão A desvalorização relativa da força de trabalho decorrente da eliminação ou redução dos custos de aprendizagem implica imediatamentente uma maior valorização do capital pois tudo o que encurta o tempo de trabalho necessário para a reprodução da força de trabalho estende ao mesmo tempo os domínios do maistrabalho 4 Divisão do trabalho na manufatura e divisão do trabalho na sociedade Começamos nossa análise pela origem da manufatura passando por seus elementos simples o trabalhador parcial e sua ferramenta até chegar a seu mecanismo total Trataremos agora brevemente da relação entre a divisão manufatureira e a divisão social do trabalho que constitui a base geral de toda a produção de mercadorias Se tomamos em consideração apenas o trabalho podemos caracterizar a separação da produção social em seus grandes gêneros agricultura indústria etc como divisão do trabalho no universal a diferenciação desses gêneros de produção em espécies e subespécies como divisão do trabalho no particular e a divisão do trabalho no interior de uma oficina como divisão do trabalho no singular50 A divisão do trabalho na sociedade e a correspondente limitação dos indivíduos a esferas profissionais particulares se desenvolve como a divisão do trabalho na manufatura a partir de pontos opostos Numa família ou com o desenvolvimento ulterior numa tribo surge uma divisão naturalespontânea do trabalho fundada nas diferenças de sexo e de idade portanto sobre uma base puramente fisiológica que amplia seu material com a expansão da comunidade com o aumento da população e especialmente com o conflito entre as diversas tribos e a subjugação de uma tribo por outra Por outro lado como observei anteriormentea a troca de produtos surge nos pontos em que diferentes famílias tribos e comunidades entram mutuamente em contato pois nos primórdios da civilização são famílias tribos etc que se defrontam de forma autônoma e não pessoas privadas Comunidades diferentes encontram em seu ambiente natural meios diferentes de produção e de subsistência Por isso também são diferentes seu modo de produção seu modo de vida e seus produtos e é essa diferenciação naturalespontânea que no contato entre as comunidades provoca a troca dos produtos recíprocos e por conseguinte a transformação progressiva desses produtos em mercadorias A troca não cria a diferença entre as esferas de produção mas coloca em relação esferas de produção diferentes e as transforma assim em ramos mais ou menos interdependentes de uma produção social total A divisão social do trabalho surge aqui da troca entre esferas de produção originalmente distintas e independentes entre si No primeiro caso em que a divisão fisiológica do trabalho é o ponto de partida os órgãos particulares de um todo imediatamente compacto desprendemse uns dos outros decompõemse e o impulso principal para esse 293 processo de decomposição é dado pela troca de mercadorias com comunidades estrangeiras que faz com que esses órgãos se autonomizem ao ponto de que o nexo entre os diferentes trabalhos passa a ser mediado pela troca dos produtos como mercadorias Num caso temse o tornar dependente Verunselbständigung daquilo que antes era independente no outro temse a independentização do que antes era dependente A base de toda divisão do trabalho desenvolvida e mediada pela troca de mercadorias é a separação entre cidade e campo51 Podese dizer que a história econômica inteira da sociedade está resumida no movimento dessa antítese da qual no entanto não trataremos aqui Assim como a divisão do trabalho na manufatura tem como pressuposto material um certo número de trabalhadores empregados simultaneamente a divisão do trabalho na sociedade tem como pressuposto material a grandeza da população e sua densidade que ocupa aqui o lugar da aglomeração na mesma oficina52 Mas tal densidade é relativa Um país de povoamento relativamente esparso com meios de comunicação desenvolvidos possui um povoamento mais denso do que um país mais povoado porém com meios de comunicação pouco desenvolvidos de modo que por exemplo os Estados setentrionais da União Americana são mais densamente povoados do que a Índia53 Como a produção e a circulação de mercadorias é o pressuposto geral do modo de produção capitalista a divisão manufatureira do trabalho requer uma divisão do trabalho amadurecida até certo grau de desenvolvimento no interior da sociedade I nversamente por efeito retroativo a divisão manufatureira do trabalho desenvolve e multiplica aquela divisão social do trabalho Com a diferenciação dos instrumentos de trabalho diferenciamse cada vez mais os ofícios que produzem esses instrumentos54 Se a empresa manufatureira se apossa de um ofício que até então se conectava a outros como ofício principal ou acessório e era exercido pelo mesmo produtor ocorre sua imediata separação e independentização Se ela se apossa de um estágio particular da produção de uma mercadoria seus diferentes estágios de produção se convertem em ofícios distintos e independentes J á observamos que quando o artigo consiste meramente de um composto de produtos parciais unidos de modo mecânico os trabalhos parciais podem se autonomizar por sua vez como ofícios próprios Para efetuar mais perfeitamente a divisão do trabalho numa manufatura o mesmo ramo de produção é segundo a diversidade de suas matériasprimas ou das diferentes formas que essa matériaprima pode assumir dividido em manufaturas diversas e em parte inteiramente novas Assim já na primeira metade do século XVI I I somente na França se produziam mais de cem variedades de seda e em Avignon por exemplo era lei que todo aprendiz só podia se dedicar a uma única espécie de fabricação não lhe sendo permitido aprender a confecção de vários tipos de tecido ao mesmo tempo A divisão territorial do trabalho que concentra ramos particulares de produção em distritos particulares de um país obtém um novo impulso da indústria manufatureira que explora todas as particularidades55 A ampliação do mercado mundial e o sistema colonial que integram as condições gerais de existência do período da manufatura fornecem a este último um rico material para o desenvolvimento da divisão do 294 trabalho na sociedade Não cabe aqui prosseguirmos com a demonstração de como essa divisão se apossa não apenas da esfera econômica mas de todas as outras esferas da sociedade firmando por toda parte as bases para aquele avanço da especialização das especialidades de um parcelamento do homem que já levara A Ferguson professor de A Smith a exclamar Estamos criando uma nação de hilotas e já não há homens livres entre nós56 Mas apesar das inúmeras analogias e nexos entre a divisão do trabalho na sociedade e a divisão do trabalho na oficina a diferença entre elas é não apenas de grau mas de essência A analogia se evidencia do modo mais cabal onde um vínculo interno entrelaça diferentes ramos de negócios O criador de gado produz peles que o curtidor transforma em couro que o sapateiro transforma em botas Cada um deles produz aqui um produto gradual e a configuração final acabada é o produto combinado de seus trabalhos específicos A isso se acrescentam os múltiplos ramos de trabalho que fornecem os meios de produção ao criador de gado ao curtidor e ao sapateiro Decerto podemos imaginar com A Smith que essa divisão social do trabalho se distingue da divisão manufatureira apenas subjetivamente em especial para aquele que ao observar esta última vislumbra no mesmo espaço a variedade dos trabalhos parciais ao passo que na observação da primeira essa conexão é obscurecida por sua dispersão por grandes áreas e pelo grande número de trabalhadores ocupados em cada ramo específico57 Mas o que estabelece a conexão entre os trabalhos autônomos do criador de gado do curtidor e do sapateiro A existência de seus respectivos produtos como mercadorias O que caracteriza ao contrário a divisão manufatureira do trabalho Que o trabalhador parcial não produz mercadoria58 Apenas o produto comum dos trabalhadores parciais convertese em mercadoria58a Enquanto a divisão do trabalho na sociedade é mediada pela compra e venda dos produtos de diferentes ramos de trabalho a conexão dos trabalhos parciais na manufatura o é pela venda de diferentes forças de trabalho ao mesmo capitalista que as emprega como força de trabalho combinada Enquanto a divisão manufatureira do trabalho pressupõe a concentração dos meios de produção nas mãos de um capitalista a divisão social do trabalho pressupõe a fragmentação dos meios de produção entre muitos produtores de mercadorias independentes entre si Diferentemente da manufatura onde a lei de bronze da proporção ou da proporcionalidade submete determinadas massas de trabalhadores a determinadas funções na sociedade é o diversificado jogo do acaso e do arbítrio que determina a distribuição dos produtores de mercadorias e de seus meios de produção entre os diferentes ramos sociais de trabalho É verdade que as diferentes esferas de produção procuram constantemente pôrse em equilíbrio uma com as outras já que por um lado se cada produtor de mercadorias tem de produzir um valor de uso e portanto satisfazer uma necessidade social particular o âmbito dessas necessidades é quantitativamente distinto e um vínculo interno concatena as diferentes massas de necessidades num sistema naturalespontâneo ao passo que por outro lado a lei do valor das mercadorias determina quanto do tempo total de trabalho disponível a sociedade pode gastar na produção de cada tipo particular de mercadoria Mas essa tendência constante das diferentes esferas de produção de se pôr em equilíbrio é 295 exercida apenas como reação contra a constante supressão desse mesmo equilíbrio A regra a priori e planejadamente seguida na divisão do trabalho no interior da oficina atua na divisão do trabalho no interior da sociedade apenas a posteriori como necessidade natural interna muda que controla o arbítrio desregrado dos produtores de mercadorias e pode ser percebida nas flutuações barométricas dos preços do mercado A divisão manufatureira do trabalho supõe a autoridade incondicional do capitalista sobre homens que constituem meras engrenagens de um mecanismo total que a ele pertence a divisão social do trabalho confronta produtores autônomos de mercadorias que não reconhecem outra autoridade senão a da concorrência da coerção que sobre eles é exercida pela pressão de seus interesses recíprocos assim como no reino animal o bellum omnium contra omnes guerra de todos contra todosb preserva em maior ou menor grau as condições de existência de todas as espécies Por essa razão a mesma consciência burguesa que festeja a divisão manufatureira do trabalho a anexação vitalícia do trabalhador a uma operação detalhista e a subordinação incondicional dos trabalhadores parciais ao capital como uma organização do trabalho que aumenta a força produtiva denuncia com o mesmo alarde todo e qualquer controle e regulação social consciente do processo social de produção como um ataque aos invioláveis direitos de propriedade liberdade e à genialidade autodeterminante do capitalista individual É muito característico que os mais entusiasmados apologistas do sistema fabril não saibam dizer nada mais ofensivo contra toda organização geral do trabalho social além de que ela transformaria a sociedade inteira numa fábrica Se na sociedade do modo de produção capitalista a anarquia da divisão social do trabalho e o despotismo da divisão manufatureira do trabalho se condicionam mutuamente as formas sociais anteriores nas quais a particularização dos ofícios se desenvolve espontaneamente depois cristalizamse e por fim consolidamse por lei apresentam por um lado o quadro de uma organização do trabalho social submetida a um planejamento e a uma autoridade enquanto por outro excluem inteiramente a divisão do trabalho na oficina ou só a desenvolvem numa escala ínfima ou ainda apenas de forma esporádica acidental59 Por exemplo aquelas pequenas comunidades indianas extremamente antigas algumas das quais continuam a existir até hoje baseiamse na posse comum da terra na conexão direta entre agricultura e artesanato e numa divisão fixa do trabalho que serve de plano e esquema geral no estabelecimento de novas comunidades Cada uma delas forma um todo autossuficiente de produção cuja área produtiva varia de 100 a alguns milhares de acres A maior parte dos produtos é destinada à subsistência imediata da comunidade e não como mercadoria de modo que a própria produção independe da divisão do trabalho mediada pela troca de mercadorias que impera no conjunto da sociedade indiana Apenas o excedente dos produtos é transformado em mercadoria e uma parte dele somente depois de chegar às mãos do Estado para o qual flui desde tempos imemoriais certa quantidade desses produtos como renda natural Diferentes regiões da Índia apresentam diferentes formas de comunidades Naquelas cuja forma é mais simples a terra é cultivada em comum e seus produtos são distribuídos entre seus membros enquanto cada família exerce a fiação a 296 tecelagem etc como indústrias domésticas subsidiárias Ao lado dessa massa ocupada com as mesmas tarefas encontramos o habitante principal que reúne numa só pessoa as funções de juiz polícia e coletor de impostos o guardalivros que faz a contabilidade do cultivo cadastrando e registrando tudo o que lhe diz respeito um funcionário a quem cabe perseguir criminosos e proteger viajantes estrangeiros escoltandoos de uma aldeia a outra o guarda de fronteira que vigia os limites entre sua comunidade e as comunidades vizinhas o inspetor de águas que distribui para a irrigação agrícola a água dos reservatórios comunais o brâmane responsável pelo culto religioso o mestreescola que ensina as crianças da comunidade a ler e a escrever na areia o brâmane do calendário que como astrólogo indica as épocas favoráveis para a semeadura a colheita e os bons e maus momentos para todos o trabalhos agrícolas particulares um ferreiro e um carpinteiro que produzem e consertam todos os instrumentos agrícolas o ceramista que confecciona todos os vasilhames da aldeia o barbeiro o lavador de roupas o ourives da prata um ou outro poeta que em algumas comunidades assume o lugar do ourives de prata e em outras do mestreescola Essa dúzia de pessoas é sustentada a expensas de toda a comunidade Aumentando a população uma nova comunidade se assenta em terras não cultivadas conforme o modelo da anterior O mecanismo comunal apresenta uma divisão planejada do trabalho mas sua divisão manufatureira é impossibilitada pelo fato de o mercado do ferreiro do carpinteiro etc permanecer inalterado de modo que a depender do tamanho da aldeia podemos encontrar no máximo em vez de um ferreiro um oleiro etc dois ou três deles60 A lei que regula a divisão do trabalho comunal atua aqui com a autoridade inquebrantável de uma lei natural ao passo que cada artesão particular como o ferreiro etc executa todas as operações referentes a seu ofício de modo tradicional porém independente e sem reconhecer qualquer autoridade em sua oficina O organismo produtivo simples dessas comunidades autossuficientes que se reproduzem constantemente da mesma forma e sendo ocasionalmente destruídas voltam a ser construídas61 no mesmo lugar com os mesmos nomes fornece a chave para o segredo da imutabilidade das sociedades asiáticas que contrasta de forma tão acentuada com a contínua dissolução e reconstrução dos Estados asiáticos e com as incessantes mudanças dinásticas A estrutura dos elementos econômicos fundamentais da sociedade permanece intocada pelas tormentas que agitam o céu da política As leis das corporações como já observamos impediam deliberadamente por meio da mais estrita limitação do número de ajudantes que um único mestre de corporação podia empregar a transformação deste último em capitalista Além disso só lhe era permitido empregar ajudantes naquele ofício exclusivo em que ele próprio era mestre A corporação repelia zelosamente qualquer intrusão do capital comercial a única forma livre de capital com que ela se defrontava O mercador podia comprar todas as mercadorias menos o trabalho como mercadoria Ele era aceito unicamente como distribuidor dos produtos artesanais Como as circunstâncias externas clamavam por uma progressiva divisão do trabalho as corporações existentes cindiramse em subespécies ou novas corporações foram criadas ao lado das antigas mas sem a concentração de diferentes ofícios numa mesma oficina Assim a organização 297 corporativa por mais que sua especialização seu isolamento e o aperfeiçoamento dos ofícios componham as condições materiais de existência do período de manufatura excluía a divisão manufatureira do trabalho Em geral o trabalhador e seus meios de produção permaneciam colados um ao outro como o caracol e sua concha faltando assim a base principal da manufatura a independentização dos meios de produção como capital diante do trabalhador Enquanto a divisão do trabalho no todo de uma sociedade seja ela mediada ou não pela troca de mercadorias encontrase nas mais diversas formações socioeconômicas a divisão manufatureira do trabalho é uma criação absolutamente específica do modo de produção capitalista 5 O caráter capitalista da manufatura Um número maior de trabalhadores sob o comando do mesmo capital constitui o ponto de partida naturalespontâneo tanto da cooperação em geral quanto da manufatura Por outro lado a divisão manufatureira do trabalho transforma numa necessidade técnica o aumento do número de trabalhadores empregados O mínimo de trabalhadores que um capitalista individual tem de empregar é agora prescrito pela divisão do trabalho previamente dada Por outro lado as vantagens de uma divisão ulterior são condicionadas pelo aumento do número de trabalhadores que só pode ser realizado por múltiplos Mas com a parte variável também tem de crescer a parte constante do capital e não só o volume das condições comuns de produção como instalações fornos etc mas também e principalmente a matériaprima cuja demanda cresce muito mais aceleradamente do que o número de trabalhadores A quantidade de capital constante consumida num dado tempo por uma dada quantidade de trabalho apresenta um crescimento proporcional ao da força produtiva do trabalho em decorrência da divisão deste último O aumento crescente do volume mínimo de capital em mãos de capitalistas individuais ou a transformação crescente dos meios sociais de subsistência e dos meios de produção em capital é assim uma lei decorrente do caráter técnico da manufatura62 Na manufatura tal como no regime de cooperação simples o corpo de trabalho em funcionamento é uma forma de existência do capital O mecanismo social de produção integrado por muitos trabalhadores parciais individuais pertence ao capitalista Por isso a força produtiva que nasce da combinação dos trabalhos aparece como força produtiva do capital A manufatura propriamente dita não só submete ao comando e à disciplina do capital o trabalhador antes independente como também cria uma estrutura hierárquica entre os próprios trabalhadores Enquanto a cooperação simples deixa praticamente intocado o modo de trabalho dos indivíduos a manufatura o revoluciona desde seus fundamentos e se apodera da força individual de trabalho em suas raízes Ela aleija o trabalhador converteo numa aberração promovendo artificialmente sua habilidade detalhista por meio da repressão de um mundo de impulsos e capacidades produtivas do mesmo modo como nos Estados de La Plata um animal inteiro é abatido apenas para a retirada da pele ou do sebo Não só os trabalhos parciais específicos são distribuídos entre os diversos indivíduos como o 298 próprio indivíduo é dividido e transformado no motor automático de um trabalho parcial63 conferindo assim realidade à fábula absurda de Menênio Agripac que representa um ser humano como mero fragmento de seu próprio corpo64 Se o trabalhador vende inicialmente sua força de trabalho ao capital porque lhe faltam os meios materiais para a produção de uma mercadoria agora sua força individual de trabalho falha no cumprimento de seu serviço caso não seja vendida ao capital Ela só funciona num contexto que existe apenas depois de sua venda na oficina do capitalista Por sua própria natureza incapacitado para fazer algo autônomo o trabalhador manufatureiro só desenvolve atividade produtiva como elemento acessório da oficina do capitalista65 Assim como na fronte do povo eleito estava escrito ser propriedade de J eová também a divisão do trabalho marca o trabalhador manufatureiro a ferro em brasa como propriedade do capital Os conhecimentos a compreensão e a vontade que o camponês ou artesão independente desenvolve ainda que em pequena escala assim como aqueles desenvolvidos pelo selvagem que exercita toda a arte da guerra como astúcia pessoal passam agora a ser exigidos apenas pela oficina em sua totalidade As potências intelectuais da produção ampliando sua escala por um lado desaparecem por muitos outros lados O que os trabalhadores parciais perdem concentrase defronte a eles no capital66 É um produto da divisão manufatureira do trabalho oporlhes as potências intelectuais do processo material de produção como propriedade alheia e como poder que os domina Esse processo de cisão começa na cooperação simples em que o capitalista representa diante dos trabalhadores individuais a unidade e a vontade do corpo social de trabalho Ele se desenvolve na manufatura que mutila o trabalhador fazendo dele um trabalhador parcial e se consuma na grande indústria que separa do trabalho a ciência como potência autônoma de produção e a obriga a servir ao capital67 Na manufatura o enriquecimento do trabalhador coletivo e por conseguinte do capital em sua força produtiva social é condicionado pelo empobrecimento do trabalhador em suas forças produtivas individuais A ignorância é mãe tanto da indústria quanto da superstição A reflexão e a imaginação estão sujeitas ao erro mas o hábito de mover o pé ou a mão não depende nem de uma nem de outra Por essa razão as manufaturas prosperam mais onde mais se prescinde do espírito de modo que a oficina pode ser considerada uma máquina cujas partes são homens68 De fato algumas manufaturas na metade do século XVI I I tinham preferência por empregar indivíduos semiidiotas em certas operações simples mas que constituíam segredos de fábrica69 Diz A Smith A mente da grande maioria dos homens desenvolvese necessariamente a partir e por meio de suas ocupações diárias Um homem que consome toda a sua vida na execução de umas poucas operações simples não tem nenhuma oportunidade de exercitar sua inteligência Ele se torna em geral tão estúpido e ignorante quanto é possível a uma criatura humana E depois de descrever a estupidificação do trabalhador parcial Smith prossegue A uniformidade de sua vida estacionária também corrompe naturalmente a coragem de sua mente Ela aniquila até mesmo a energia de seu corpo e o torna incapaz de empregar sua força de modo vigoroso e duradouro a não ser na operação detalhista para a qual foi adestrado Sua destreza em seu ofício particular parece 299 assim ter sido obtida à custa de suas virtudes intelectuais sociais e guerreiras Mas em toda sociedade industrial e civilizada é esse o estado a que necessariamente tem de se degradar o pobre que trabalha the labouring poor isto é a grande massa do povo70 Como modo de evitar a degeneração completa da massa do povo decorrente da divisão do trabalho A Smith recomendava o ensino popular a cargo do Estado embora em doses cautelosamente homeopáticas Quem polemizou de modo consistente contra essa ideia foi seu tradutor e comentador francês G Garnier que no Primeiro I mpério francês metamorfoseouse em senador O ensino popular contraria as leis primeiras da divisão do trabalho com ele nosso sistema social inteiro seria proscrito Como todas as outras divisões do trabalho aquela entre o trabalho manual e o intelectual71 tornase mais evidente e resoluta à medida que a sociedade ele aplica corretamente essa expressão para designar o capital a propriedade da terra e o Estado que lhes corresponde se torna mais rica Essa divisão do trabalho como qualquer outra é efeito de progressos passados e causa de progressos futuros Sendo assim pode o governo contrariar essa divisão do trabalho e detêla em seu curso natural Pode ele utilizar parte da receita pública para tentar confundir e misturar duas classes de trabalho que se esforçam por sua divisão e separação72 Certo atrofiamento espiritual e corporal é inseparável mesmo da divisão do trabalho em geral na sociedade Mas como o período manufatureiro leva muito mais longe essa cisão social dos ramos de trabalho e por outro lado somente por meio dessa divisão peculiar consegue alcançar o indivíduo em suas raízes vitais ele é o primeiro a fornecer o material e o impulso para a patologia industrial73 Subdividir um homem é o mesmo que executálo caso mereça a pena de morte ou assassinálo caso não a mereça A subdivisão do trabalho é o assassínio de um povo74 A cooperação fundada na divisão do trabalho ou a manufatura é em seus primórdios uma formação naturalespontânea Tão logo tenha adquirido alguma consistência e amplitude de existência ela se converte na forma consciente planejada e sistemática do modo de produção capitalista A história da manufatura propriamente dita revela como inicialmente sua divisão peculiar do trabalho assume por meio da experiência e como que operando por detrás dos agentes as formas adequadas mas depois tal como o artesanato corporativo visa conservar tradicionalmente a forma uma vez descoberta e em casos isolados logra fazêlo por séculos Essa forma excetuando seus aspectos secundários só se altera graças a uma revolução nos instrumentos de trabalho A manufatura moderna não me refiro aqui à grande indústria baseada na maquinaria ou encontra os disjecta membra poetae os membros dispersos do poetad já prontos como é o caso por exemplo da confecção de vestuário nas grandes cidades onde a manufatura surge e tem apenas de juntálos de sua dispersão ou o princípio da divisão é evidente e as diferentes operações da produção artesanal por exemplo da encadernação são atribuídas exclusivamente a trabalhadores específicos Nem uma semana de experiência é necessária para descobrir em tais casos a proporção de braços necessários para cada função75 A divisão manufatureira do trabalho cria por meio da análise da atividade artesanal da especificação dos instrumentos de trabalho da formação dos trabalhadores parciais de seu agrupamento e combinação num mecanismo total a articulação qualitativa e a proporcionalidade quantitativa dos processos sociais de 300 produção portanto uma determinada organização do trabalho social desenvolvendo assim ao mesmo tempo uma nova força produtiva social do trabalho Como forma especificamente capitalista do processo de produção social e sobre as bases preexistentes ela não podia se desenvolver de outra forma que não a capitalista tal divisão é apenas um método particular de produzir maisvalor relativo ou aumentar a autovalorização do capital que também pode ser chamada de riqueza social Wealth of Nations etc a expensas dos trabalhadores Ela não só desenvolve a força produtiva social do trabalho exclusivamente para o capitalista em vez de para o trabalhador como o faz por meio da mutilação do trabalhador individual Ela produz novas condições de dominação do capital sobre o trabalho E assim ela aparece por um lado como progresso histórico e momento necessário de desenvolvimento do processo de formação econômica da sociedade e por outro como meio para uma exploração civilizada e refinada A economia política que só surge como ciência própria no período da manufatura considera a divisão social do trabalho do ponto de vista exclusivo da divisão manufatureira do trabalho76 isto é como meio de produzir mais mercadorias com a mesma quantidade de trabalho e por conseguinte baratear as mercadorias e acelerar a acumulação do capital Na mais estrita oposição a essa acentuação da quantidade e do valor de troca os escritores da Antiguidade clássica dedicamse exclusivamente à qualidade e ao valor de uso77 Em decorrência da separação dos ramos sociais da produção as mercadorias são mais bemfeitas os diversos impulsos e talentos dos homens escolhem suas esferas correspondentes de atuação78 pois sem limitação nada significativo pode ser realizado em parte alguma79 Assim o produto e o produtor são aperfeiçoados pela divisão do trabalho Quando eventualmente se alude também o aumento da quantidade de produtos é apenas em relação ao volume maior do valor de uso Não se faz qualquer menção ao valor de troca ao barateamento das mercadorias Esse ponto de vista do valor de uso é predominante tanto em Platão80 que trata a divisão do trabalho como a base da divisão social dos estamentos como em Xenofonte81 que com seu instinto caracteristicamente burguês já se aproxima da divisão do trabalho na oficina A República de Platão na medida em que nela a divisão do trabalho é desenvolvida como o princípio formador do Estado não é mais do que uma idealização ateniense do sistema de castas do antigo Egito que servia como país industrial modelar também para outros contemporâneos como por exemplo Isócrates82 e até mesmo para os gregos da era do Império romano83 Durante o período manufatureiro propriamente dito isto é o período em que a manufatura foi a forma dominante do modo de produção capitalista a plena realização de suas tendências próprias se chocou com vários tipos de obstáculos Embora como vimos ela tenha criado ao lado do encadeamento hierárquico dos trabalhadores uma divisão simples entre trabalhadores qualificados e não qualificados a quantidade destes últimos permaneceu muito restrita em razão da influência predominante dos primeiros Mesmo ajustando as operações específicas aos diversos graus de maturidade força e desenvolvimento dos seus órgãos vivos de trabalho e assim induzindo à exploração produtiva de mulheres e crianças essa tendência fracassou no geral em consequência dos hábitos e da resistência dos 301 trabalhadores masculinos Embora a decomposição da atividade artesanal tenha reduzido os custos de formação do trabalhador e com isso o valor deste último continuou a ser necessário para o trabalho detalhista de maior dificuldade um tempo maior de aprendizagem e mesmo quando este último se tornava supérfluo os trabalhadores insistiam zelosamente em preserválo Na I nglaterra por exemplo encontramos as laws of apprenticeship leis de aprendizagem com seus sete anos de instrução em pleno vigor até o fim do período da manufatura e descartadas apenas pela grande indústria E como a habilidade artesanal permanece a base da manufatura e o mecanismo global que nela funciona não possui qualquer esqueleto objetivo independente dos próprios trabalhadores o capital trava uma luta constante com a insubordinação deles A fraqueza da natureza humana exclama o amigo Ure é tão grande que quanto mais hábil é o trabalhador mais voluntarioso e intratável ele se torna causando assim grandes danos ao mecanismo global em razão de seus caprichos insolentes84 A queixa sobre a falta de disciplina dos trabalhadores atravessa então todo o período da manufatura85 e se não tivéssemos os testemunhos dos escritores da época os simples fatos de que do século XVI até a época da grande indústria o capital não havia conseguido se apoderar da totalidade do tempo disponível dos trabalhadores manufatureiros que as manufaturas tinham vida curta e conforme a imigração ou emigração os trabalhadores tinham de deixar um país para se instalar em outro já falariam por bibliotecas inteiras A ordem tem de ser estabelecida de uma maneira ou de outra exclama em 1770 o autor repetidamente citado de Essay on Trade and Commerce E 66 anos mais tarde a palavra ordem volta a ecoar da boca do dr Andrew Ure para quem ordem foi o que faltou na manufatura fundada no dogma escolástico da divisão do trabalho E acrescenta Arkwright criou a ordeme Ao mesmo tempo a manufatura nem podia se apossar da produção social em toda a sua extensão nem revolucionála em suas bases Como obra de arte econômica ela se erguia apoiada sobre o amplo pedestal do artesanato urbano e da indústria doméstica rural Sua própria base técnica estreita tendo atingido certo grau de desenvolvimento entrou em contradição com as necessidades de produção que ela mesma criara Um de seus produtos mais acabados foi a oficina para a produção dos próprios instrumentos de trabalho e especialmente dos aparelhos mecânicos mais complexos que já começavam a ser utilizados Essa oficina diz Ure exibia a divisão do trabalho em suas múltiplas gradações A furadeira o cinzel o torno tinham cada um seus próprios trabalhadores hierarquicamente articulados conforme o grau de sua habilidadef Esse produto da divisão manufatureira do trabalho produziu por sua vez máquinas Estas suprassumem aufheben a atividade artesanal como princípio regulador da produção social Por um lado portanto é removido o motivo técnico da anexação vitalícia do trabalhador a uma função parcial Por outro caem as barreiras que o mesmo princípio ainda erguia contra o domínio do capital 302 CAPÍTULO 13 Maquinária e grande indústria 1 Desenvolvimento da maquinaria John Stuart Mill em seus Princípios da economia política observa É questionável que todas as invenções mecânicas já feitas tenham servido para aliviar a faina diária de algum ser humano Mas essa não é em absoluto a finalidade da maquinária utilizada de modo capitalista Como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva do trabalho ela deve baratear mercadorias e encurtar a parte da jornada de trabalho que o trabalhador necessita para si mesmo a fim de prolongar a outra parte de sua jornada que ele dá gratuitamente para o capitalista Ela é meio para a produção de maisvalor Na manufatura o revolucionamento do modo de produção começa com a força de trabalho na grande indústria com o meio de trabalho Devemos começar portanto examinando de que modo o meio de trabalho é transformado em ferramenta em máquina ou em que a máquina difere do instrumento artesanal Tratase aqui apenas dos traços característicos mais evidentes universais pois as épocas da história da sociedade são tão pouco demarcadas por limites abstraentemente rigorosos quanto as épocas da história da Terra Matemáticos e mecânicos e isso é repetido aqui e ali por economistas ingleses definem ferramenta como uma máquina simples e máquina como uma ferramenta composta Não detectam aí nenhuma diferença essencial e chegam ao ponto de chamar de máquinas as simples potências mecânicas como a alavanca o plano inclinado o parafuso a cunha etc De fato toda máquina é constituída de classes potências simples independentemente do disfarce sob o qual se apresentam e do modo como são combinadas Do ponto de vista econômico no entanto a definição não tem qualquer validade pois carece do elemento histórico Por outro lado procurase a diferença entre ferramenta e máquina no fato de que na ferramenta o homem seria a força motriz ao passo que a máquina seria movida por uma força natural diferente da humana como aquela derivada do animal da água do vento etc De modo que um arado puxado por bois pertencente às mais diversas épocas da produção seria uma máquina mas o circular loom tear circular de Claussen que movido pelas mãos de um único trabalhador confecciona 96 malhas por minuto seria uma mera ferramenta Sim o mesmo loom seria ferramenta se movido manualmente e máquina se movido a vapor Sendo a utilização de força animal uma das mais antigas invenções da humanidade a produção com máquinas teria precedido a produção artesanal Quando em 1735 John Wyatt anunciou sua máquina de fiar e com ela a revolução industrial do século XVIII em nenhum momento insinuou que em vez de um homem seria um burro a mover a máquina e não obstante esse papel acabaria por recair sobre o burro Tratavase apenas segundo seu proposto de uma máquina para fiar sem os dedos89 Toda maquinaria desenvolvida consiste em três partes essencialmente distintas a máquina motriz o mecanismo de transmissão e por fim a máquinaferramenta ou máquina de trabalho A máquina motriz atua como força motora do mecanismo inteiro Ela gera sua própria força motora como a máquina a vapor a máquina calóricaa a máquina eletromagnética etc ou recebe o impulso de uma força natural já existente e externa a ela como a rodadágua o recebe da quedadágua as pás do moinho do vento etc O mecanismo de transmissão composto de volantes eixos rodas dentadas polias hastes cabos correias mancais e engrenagens dos mais variados tipos regula o movimento modifica sua forma onde é necessário por exemplo de perpendicular em circular e o distribui e transmite à máquina ferramenta Ambas as partes do mecanismo só existem para transmitir o movimento à máquinaferramenta por meio do qual ela se apodera do objeto de trabalho e o modifica conforme a uma finalidade É dessa parte da maquinaria a máquina ferramenta que nasce a revolução industrial no século XVI I I Ela continua a constituir um ponto de partida diariamente e em constante renovação sempre que o artesanato ou a manufatura se convertem em indústria mecanizada Ora se examinamos mais detalhadamente a máquinaferramenta ou máquina de trabalho propriamente dita nela reencontramos no fim das contas ainda que frequentemente sob forma muito modificada os aparelhos e ferramentas usados pelo artesão e pelo trabalhador da manufatura porém não como ferramentas do homem mas ferramentas de um mecanismo ou mecânicas Ou a máquina inteira é uma edição mecânica mais ou menos modificada do antigo instrumento artesanal como no tear mecânico90 ou os órgãos ativos anexados à armação da máquina de trabalho são velhos conhecidos como os fusos na máquina de fiar as agulhas no tear para a confecção de meias as serras na máquina de serrar as lâminas na máquina de picar etc A diferença entre essas ferramentas e o corpo propriamente dito da máquina de trabalho existe desde o nascimento delas pois continuam em sua maior parte a ser produzidas de modo artesanal ou manufatureiro e apenas posteriormente são afixadas no corpo da máquina de trabalho o qual é o produto da maquinaria91 A máquina ferramenta é assim um mecanismo que após receber a transmissão do movimento correspondente executa com suas ferramentas as mesmas operações que antes o trabalhador executava com ferramentas semelhantes Se a força motriz provém do homem ou de uma máquina portanto é algo que não altera em nada a essência da coisa A partir do momento em que a ferramenta propriamente dita é transferida do homem para um mecanismo surge uma máquina no lugar de uma mera ferramenta A diferença salta logo à vista ainda que o homem permaneça como o primeiro motor O número de instrumentos de trabalho com que ele pode operar simultaneamente é limitado pelo número de seus instrumentos naturais de produção seus próprios órgãos corporais Na Alemanha tentouse inicialmente fazer com que um fiandeiro movesse duas rodas de fiar o que o obrigava a trabalhar simultaneamente com as duas mãos e os dois pés mas isso era cansativo demais Mais tarde inventouse uma roda de fiar com pedal e dois fusos mas os virtuoses da fiação capazes de fiar dois fios ao mesmo tempo eram quase tão raros quanto homens com duas cabeças A 304 Jennyb ao contrário fia desde seu surgimento com 12 a 18 fusos e o tear para confecção de meias tricoteia com muitos milhares de agulhas de uma só vez etc O número de ferramentas que a máquinaferramenta manipula simultaneamente está desde o início emancipado dos limites orgânicos que restringem a ferramenta manual de um trabalhador Em muitas ferramentas manuais a diferença entre o homem como mera força motriz e como trabalhador ou operador propriamente dito manifesta uma existência corpórea à parte Na roda de fiar por exemplo o pé atua apenas como força motriz enquanto a mão que trabalha no fuso puxa e torce executando a operação de fiar propriamente dita É exatamente dessa última parte do instrumento artesanal que a Revolução I ndustrial se apropria em primeiro lugar deixando para o homem além do novo trabalho de vigiar a máquina com os olhos e corrigir os erros dela com as mãos o papel puramente mecânico de força motriz Ao contrário as ferramentas em que o homem atua desde o início apenas como simples força motriz por exemplo ao girar a manivela de um moinho92 ou bombear ou mover para cima e para baixo o braço de um fole ou bater com um pilão etc suscitam primeiro a utilização de animais de água de vento93 como forças motrizes Elas ascendem em parte no período manufatureiro e esporadicamente já muito antes dele à condição de máquinas mas não revolucionam o modo de produção Que em sua forma artesanal elas já sejam máquinas é algo que se evidencia no período da grande indústria Por exemplo as bombas hidráulicas com que os holandeses em 18361837 drenaram o lago de Harlem eram construídas segundo os princípios das bombas comuns com a única diferença de que seus pistões eram movidos por ciclópicas máquinas a vapor em vez de mãos humanas Na I nglaterra o comum e muito imperfeito fole do ferreiro ainda é ocasionalmente transformado numa bomba de ar mecânica mediante a simples conexão de seu braço com uma máquina a vapor A própria máquina a vapor tal como foi inventada no fim do século XVII no período da manufatura e tal como continuou a existir até o começo dos anos 178094 não provocou nenhuma revolução industrial O que se deu foi o contrário a criação das máquinasferramentas é que tornou necessária a máquina a vapor revolucionada Tão logo o homem em vez de atuar com a ferramenta sobre o objeto de trabalho passa a exercer apenas o papel de força motriz sobre uma máquinaferramenta o fato de a força de trabalho se revestir de músculos humanos tornase acidental e o vento a água o vapor etc podem assumir seu lugar I sso não exclui é claro que tal mudança exija frequentemente grandes modificações técnicas no mecanismo originalmente construído apenas para a força motriz humana Nos dias de hoje todas as máquinas que ainda precisam abrir caminho como as máquinas de costura as máquinas panificadoras etc quando sua própria natureza não exclui sua aplicação em pequena escala são construídas para a força motriz humana e ao mesmo tempo puramente mecânica A máquina da qual parte a Revolução I ndustrial substitui o trabalhador que maneja uma única ferramenta por um mecanismo que opera com uma massa de ferramentas iguais ou semelhantes de uma só vez e é movido por uma única força motriz qualquer que seja sua forma95 Temos aqui a máquina mas apenas como elemento simples da produção mecanizada 305 O aumento do tamanho da máquina de trabalho e da quantidade de suas ferramentas simultaneamente operantes requer um mecanismo motor mais volumoso tal mecanismo a fim de vencer sua própria resistência necessita de uma força motriz mais possante do que a humana desconfiandose do fato de que o homem é um instrumento muito imperfeito para a produção de um movimento contínuo e uniforme Pressupõese que ele atue tão somente com simples força motriz e que portanto sua ferramenta dê lugar a uma máquinaferramenta forças naturais também podem agora substituílo como nessa função De todas as grandes forças motrizes legadas pelo período da manufatura a força do cavalo foi a pior em parte porque um cavalo tem sua própria cabeça em parte por conta de seu alto custo e do âmbito limitado em que pode ser utilizado nas fábricas E no entanto o cavalo é frequentemente utilizado durante a infância da grande indústria como o demonstra além das lamúrias dos agrônomos da época a expressão até hoje tradicional da força mecânica em cavalovapor O vento era demasiado inconstante e incontrolável e além disso no período mencionado a utilização da força hidráulica já predominava na Inglaterra berço da grande indústria Já no século XVII realizaramse tentativas d colocar em movimento duas correias e portanto também dois pares de mós com uma única roda hidráulica Mas o tamanho aumentado do mecanismo de transmissão entrou porém em conflito com a força hidráulica tornada insuficiente e foi essa uma das circunstâncias que conduziram à investigação mais aprofundada das leis da fricção Do mesmo modo a irregularidade da força motriz nos moinhos movidos pelo empurrar e puxar de pistões levou à teoria e à aplicação da roda volante que mais tarde desempenhará papel tão importante na grande indústria Assim o período da manufatura apresenta os primeiros elementos científicos e técnicos da grande indústria A fixação como tróste de Arkwright foi inicialmente movida à água mas também o uso da força hidráulica como força motriz predominantemente apresentava suas dificuldades Ela não podia ser aumentada à vontade e a falta de água não podia ser às vezes ela faltava e sobretudo era de natureza puramente local Somente com a segunda máquina a vapor de Watt a assim chamada máquina a vapor de ação dupla encontrouse um primeiro motor capaz de produzir sua própria força motriz por meio do consumo de carvão e água um motor cuja potência encontrase plenamente sob controle humano que é móvel e um meio de locomoção e que ao contrário da roda dágua é urbano e não rural permitindo a concentração da produção nas cidades ao invés de dispersála pelo interior Além disso é universal em sua aplicação tecnológica e sua instalação depende relativamente pouco de circunstâncias locais O grande gênio de Watt se evidencia na especificação da patente onde a máquina a vapor a que sua máquina a vapor é descrita não como uma invenção patética mas como agente universal da grande indústria Nesse sentido suas aplicações já seriam introduzidas mais de mil vezes tanto em sua utilização como em sua aplicabilidade redundando a sua patente numa notável obra de articulação Somente depois que ferramentas se transformaram de organismo humano em ferramentas de um aparelho mecânico isto é em máquina ferramenta também a máquina motriz adquiriu uma forma autônoma totalmente emancipada dos limites da força humana Com isso a máquinaferramenta individual que examinamos até aqui é reduzida a um simples elemento da produção mecanizada Uma máquina motriz podia agora mover muitas máquinas de trabalho ao mesmo tempo Com o número das máquinas de trabalho movidas simultaneamente crescem também a máquina motriz e o mecanismo de transmissão que por sua vez se transforma num aparelho de grandes proporções É preciso agora distinguir entre a cooperação de muitas máquinas de um mesmo tipo e o sistema de maquinaria No primeiro caso o produto inteiro é feito pela mesma máquina de trabalho a qual realiza todas as diversas operações que antes um artesão realizava com sua ferramenta por exemplo o tecelão com seu tear ou que artesãos executavam sucessivamente com ferramentas diferentes seja de modo autônomo ou como membros de uma manufatura100 Por exemplo na manufatura moderna de envelopes um trabalhador dobrava o papel com a dobradeira outro passava a cola um terceiro dobrava a aba sobre a qual se imprime a divisa um quarto gravava a divisa etc e para cada uma dessas operações parciais era preciso que cada envelope trocasse de mãos Uma única máquina de fazer envelopes realiza todas essas operações de uma só vez e produz 3 mil envelopes ou mais em 1 hora Uma máquina americana para a produção de sacolas de papel apresentada na exposição industrial de Londres de 1862 corta cola dobra o papel e faz 300 peças por minuto O processo inteiro dividido e realizado no interior da manufatura numa dada sequência é aqui realizado por uma máquina de trabalho que opera mediante a combinação de diferentes ferramentas Ora se tal máquina de trabalho é apenas o renascimento mecânico de uma ferramenta manual mais complexa ou a combinação de diferentes instrumentos mais simples particularizados pela manufatura na fábrica isto é na oficina baseada na utilização da máquina a cooperação simples reaparece antes de mais nada abstraímos aqui o trabalhador sob a forma da conglomeração espacial de máquinas de trabalho do mesmo tipo e que operam simultaneamente em conjunto Assim uma tecelagem é formada pela justaposição de muitos teares mecânicos e uma fábrica de costuras pela justaposição de muitas máquinas de costura no mesmo local de trabalho Aqui porém existe uma unidade técnica uma vez que as muitas máquinas de trabalho do mesmo tipo recebem seu impulso simultaneamente e na mesma medida das pulsações do primeiro motor comum por intermédio do mecanismo de transmissão que em parte é também comum a todos elas pois dele ramificamse apenas saídas individuais para cada máquinaferramenta Do mesmo modo como muitas ferramentas constituem os órgãos de uma máquina de trabalho muitas máquinas de trabalho constituem agora simples órgãos do mesmo tipo de um mesmo mecanismo motor Mas um sistema de máquinas propriamente dito só assume o lugar da máquina autônoma individual onde o objeto de trabalho percorre uma sequência conexa de diferentes processos gradativos e realizados por uma cadeia de máquinasferramentas diversificadas porém mutuamente complementares Aqui por meio da divisão do 307 trabalho reaparece a cooperação peculiar à manufatura mas agora como combinação de máquinas de trabalho parciais As ferramentas específicas dos diferentes trabalhadores parciais na manufatura da lã por exemplo a do batedor do cardador do tosador do fiandeiro etc transformamse agora em ferramentas de máquinas de trabalho especializadas cada uma delas constituindo um órgão particular para uma função particular no sistema do mecanismo combinado de ferramentas Em geral a própria manufatura fornece ao sistema da maquinaria nos ramos em que este é primeiramente introduzido a base naturalespontânea da divisão e por conseguinte da organização do processo de produção101 Aqui se introduz no entanto uma diferença essencial Na manufatura os trabalhadores individualmente ou em grupos têm de executar cada processo parcial específico com sua ferramenta manual Se o trabalhador é adaptado ao processo este último também foi previamente adaptado ao trabalhador Esse princípio subjetivo da divisão deixa de existir na produção mecanizada O processo total é aqui considerado objetivamente por si mesmo e analisado em suas fases constitutivas e o problema de executar cada processo parcial e de combinar os diversos processos parciais é solucionado mediante a aplicação técnica da mecânica da química etc102 com o que naturalmente a concepção teórica precisa também nesse caso ser aperfeiçoada em larga escala pela experiência prática acumulada Cada máquina parcial fornece à máquina seguinte sua matériaprima e uma vez que todas atuam simultaneamente o produto encontrase tanto nos diversos estágios de seu processo de formação como na transição de uma fase da produção a outra Assim como na manufatura a cooperação direta dos trabalhadores parciais cria determinadas proporções entre os grupos particulares de trabalhadores também o sistema articulado da maquinaria no qual uma máquina parcial é constantemente empregada por outra cria uma relação determinada entre seu número seu tamanho e sua velocidade A máquina de trabalho combinada agora um sistema articulado que reúne tanto máquinas de trabalho individuais de vários tipos quanto diversos grupos dessas máquinas é tanto mais perfeita quanto mais contínuo for seu processo total quer dizer quanto menos interrupções a matériaprima sofrer ao passar de sua primeira à sua última fase e portanto quanto mais essa passagem de uma fase a outra for efetuada não pela mão humana mas pela própria maquinaria Se na manufatura o isolamento dos processos particulares é um princípio dado pela própria divisão de trabalho na fábrica desenvolvida predomina ao contrário a continuidade dos processos particulares Um sistema de maquinaria seja ele fundado na mera cooperação de máquinas de trabalho do mesmo tipo como na tecelagem ou numa combinação de tipos diferentes como na fiação passa a constituir por si mesmo um grande autômato tão logo seja movido por um primeiro motor semovente Mas o sistema inteiro pode ser movido por exemplo pela máquina a vapor embora ainda ocorra que máquinasferramentas singulares precisem do trabalhador para certos movimentos como aquele que antes da introdução da selfacting mule máquina automática de fiar era necessário para dar partida à mule máquina de fiar e que ainda se faz necessário na fiação fina ou então que determinadas partes da máquina necessitem para realizar sua função de ser manejadas pelo trabalhador como uma ferramenta manual tal como ocorria na 308 construção de máquinas antes da transformação do slide rest torno em selfactor A partir do momento em que a máquina de trabalho executa todos os movimentos necessários ao processamento da matériaprima sem precisar da ajuda do homem mas apenas de sua assistência temos um sistema automático de maquinaria capaz de ser continuamente melhorado em seus detalhes Assim por exemplo o aparelho que freia automaticamente a máquina de fiar assim um único fio se rompe e o selfacting stop freio automático que paraliza o tear a vapor quando acaba o fio na bobina da lançadeira são invenções absolutamente modernas Como exemplo tanto da continuidade da produção quanto da implementação do princípio da automação podemos recorrer à moderna fábrica de papel Na produção de papel em geral é possível estudar em seus pormenores não apenas o que distingue os diferentes modos de produção fundados em diferentes meios de produção como também a conexão entre as relações sociais de produção e esses modos de produção uma vez que a antiga produção além de papel nos forneço o modelo da produção artesanal a Inglaterra moderna o modelo da fabricação automática nesse ramo além da existência na China e na Índia de duas antigas formas asiáticas da mesma indústria Como sistema articulado de máquinas de trabalho movidas por um automático central através de uma maquinaria de transmissão a produção mecanizada atinge sua forma mais desenvolvida No lugar da máquina isolada surge aqui um monstro mecânico cujo corpo ocupa fábricas inteiras e cuja força demoníaca inicialmente escondido sob o movimento que somente concedido de seus membros gigantescos irrompe no turbilhão furioso e febril de seus incentivos de trabalho propriamente ditos Havia mulas máquinas a vapor etc antes de haver quaisquer trabalhadores ocupados exclusivamente com a construção de máquinas a vapor mules etc assim como o homem vusa horácio antes de existirem alferes Mas as invenções de Vaucanson Arkwright Watt etc só puderam ser realizadas porque esses inventores encontraram à sua disposição previamente fornecida pelo período manufatureiro uma quantidade considerável de hábeis trabalhadores mecânicos Uma parte desses trabalhadores era formada de artesãos autônomos de diversas profissões e outra parte já se encontrava reunida em manufaturas onde como já mencionado a divisão do trabalho dominava com rigor especial Com o aumento das invenções e a demanda cada vez maior por máquinas recéminventadas desenvolveuse progressivamente por um lado a compartimentação da fabricação de máquinas em diversos ramos autônomos e por outro a divisão do trabalho no interior das próprias máquinas Na manufatura portanto vemos o base técnica imediata da indústria A qualidade da maquinaria com a qual esta supremacia aufhob dos sistemas artesanais e manufatureiros nas esferas de produção já primeiro se encontrava como um meio a de modo naturalespontâneo era até ínfima pois era insuficiente Ao atingir certo grau de desenvolvimento ele se transforma de maneira a tornála própria a própria força do trabalho ao se elevar à própria forma e se engajando no trabalho ao se desviar de maneira apropriada a si seu próprio modo de produção Assim como a máquina isolada permaneceu limitada enquanto foi movida apenas por homens e assim como o sistema da maquinaria não pôde se desenvolver livremente até que a máquina a vapor tomasse o lugar das forças motrizes preexistentes animal vento e até mesmo água também a grande indústria foi retardada em seu desenvolvimento enquanto seu meio característico de produção a própria máquina existiu graças à força e à habilidade pessoais dependendo assim do desenvolvimento muscular da acuidade visual e da virtuosidade da mão com que o trabalhador parcial na manufatura e o artesão fora dela operavam seu instrumento limitado Abstraindo do encarecimento das máquinas em consequência desse seu modo de surgimento circunstância que domina o capital como sua motivação consciente a expansão da indústria já movida a máquina e a penetração da maquinaria em novos ramos de produção continuaram inteiramente condicionadas pelo crescimento de uma categoria de trabalhadores que dada a natureza semiartística de seu negócio só podia ser aumentada de modo gradual e não aos saltos Em certo grau de desenvolvimento porém a grande indústria entrou também tecnicamente em conflito com sua base artesanal e manufatureira A ampliação do tamanho das máquinas motrizes do mecanismo de transmissão e das máquinasferramentas a maior complexidade multiformidade e a regularidade mais rigorosa de seus componentes à medida que a máquinaferramenta se distanciava do modelo artesanal que originalmente dominava sua construção e assumia uma forma livre103 determinada apenas por sua tarefa mecânica o aperfeiçoamento do sistema automático e a aplicação cada vez mais inevitável de um material difícil de ser trabalhado como o ferro em vez da madeira a solução de todas essas tarefas espontaneamente surgidas chocouse por toda parte com as limitações pessoais que mesmo os trabalhadores combinados na manufatura só conseguiam superar até certo grau mas não em sua essência Máquinas como a impressora o tear a vapor e a máquina de cardar modernos não podiam ser fornecidas pela manufatura O revolucionamento do modo de produção numa esfera da indústria condiciona seu revolucionamento em outra I sso vale antes de mais nada para os ramos da indústria isolados pela divisão social do trabalho cada um deles produzindo por isso uma mercadoria autônoma porém entrelaçados como fases de um processo global Assim a fiação mecanizada tornou necessário mecanizar a tecelagem e ambas tornaram necessária a revolução mecânicoquímica no branqueamento na estampagem e no tingimento Por outro lado a revolução na fiação do algodão provocou a invenção da gin para separar a fibra do algodão da semente o que finalmente possibilitou a produção de algodão na larga escala agora exigida104 Mas a revolução no modo de produção da indústria e da agricultura provocou também uma revolução nas condições gerais do processo de produção social isto é nos meios de comunicação e transporte Como os meios de comunicação e de transporte de uma sociedade cujo pivô para usar uma expressão de Fourier eram a pequena agricultura com sua indústria doméstica auxiliar e o artesanato urbano já não podiam atender absolutamente às necessidades de produção do período da manufatura com sua divisão ampliada do trabalho social sua concentração de meios de trabalho e trabalhadores e seus mercados coloniais razão pela qual eles também foram de fato 310 revolucionados assim também os meios de transporte e de comunicação legados pelo período manufatureiro logo se transformaram em insuportáveis estorvos para a grande indústria com sua velocidade febril de produção sua escala maciça seu constante deslocamento de massas de capital e de trabalhadores de uma esfera da produção para a outra e suas recémcriadas conexões no mercado mundial Assim abstraindo da construção de veleiros que foi inteiramente revolucionada o sistema de comunicação e transporte foi gradualmente ajustado ao modo de produção da grande indústria por meio de um sistema de navios fluviais transatlânticos a vapor ferrovias e telégrafos Entretanto as terríveis quantidades de ferro que tinham de ser forjadas soldadas cortadas furadas e moldadas exigiam por sua vez máquinas ciclópicas cuja criação estava além das possibilidades da construção manufatureira de máquinas A grande indústria teve pois de se apoderar de seu meio característico de produção a própria máquina e produzir máquinas por meio de máquinas Somente assim ela criou sua base técnica adequada e se firmou sobre seus próprios pés Com a crescente produção mecanizada das primeiras décadas do século XI X a maquinaria se apoderou gradualmente da fabricação de máquinasferramentas No entanto foi apenas nas últimas décadas que a colossal construção de ferrovias e a navegação oceânica a vapor deram à luz as ciclópicas máquinas empregadas na construção dos primeiros motores A condição mais essencial de produção para a fabricação de máquinas por meio de máquinas era uma máquina motriz capaz de gerar qualquer potência e que fosse ao mesmo tempo inteiramente controlável Ela já existia na máquina a vapor mas ainda faltava produzir mecanicamente as rigorosas formas geométricas necessárias às partes individuais da máquina como a linha o plano o círculo o cilindro o cone e a esfera Esse problema foi resolvido por Henry Maudslay na primeira década do século XI X com a invenção do sliderest suporte móvel originalmente destinado ao torno mas que sob forma modificada foi automatizado e adaptado a outras máquinas de construção Esse dispositivo mecânico não substitui nenhuma ferramenta específica mas a própria mão humana que produz uma forma determinada por meio da aproximação ajuste e condução da lâmina de instrumentos cortantes etc contra ou sobre o material de trabalho por exemplo o ferro possibilitando assim produzir as formas geométricas das peças das máquinas com um grau de facilidade precisão e rapidez que nem a experiência acumulada da mão do mais hábil trabalhador poderia alcançar105 Se examinarmos agora a parte da maquinaria aplicada à construção de máquinas que constitui a máquinaferramenta propriamente dita veremos reaparecer o instrumento artesanal porém em dimensão ciclópica A parte operante da perfuratriz por exemplo é uma broca colossal movida por uma máquina a vapor e sem a qual inversamente não se poderiam produzir os cilindros das grandes máquinas a vapor e das prensas hidráulicas O torno mecânico é o renascimento ciclópico do torno comum de pedal e a acepilhadora é um carpinteiro de ferro que trabalha o ferro com as mesmas ferramentas com que o carpinteiro trabalha a madeira a ferramenta que corta chapas nos estaleiros londrinos é uma gigantesca navalha de barbear a ferramenta da máquina de cortar que corta o ferro como a tesoura do alfaiate corta o pano é uma 311 monstruosa tesoura e o martelo a vapor opera com uma cabeça comum de martelo porém de peso tal que nem mesmo Thor seria capaz de brandilo106 Por exemplo um desses martelos a vapor inventados por Nasmyth pesa mais de 6 toneladas e cai perpendicularmente de uma altura de 7 pés sobre uma bigorna de 36 toneladas Ele pulveriza sem qualquer dificuldade um bloco de granito mas nem por isso é menos capaz de enfiar um prego na madeira macia com uma sequência de golpes leves107 Como maquinaria o meio de trabalho adquire um modo de existência material que condiciona a substituição da força humana por forças naturais e da rotina baseada na experiência pela aplicação consciente da ciência natural Na manufatura a articulação do processo social de trabalho é puramente subjetiva combinação de trabalhadores parciais no sistema da maquinaria a grande indústria é dotada de um organismo de produção inteiramente objetivo que o trabalhador encontra já dado como condição material da produção Na cooperação simples e mesmo na cooperação especificada pela divisão do trabalho a suplantação do trabalhador isolado pelo socializado aparece ainda como mais ou menos acidental A maquinaria com algumas exceções a serem mencionadas posteriormente funciona apenas com base no trabalho imediatamente socializado ou coletivo O caráter cooperativo do processo de trabalho se converte agora portanto numa necessidade técnica ditada pela natureza do próprio meio de trabalho 2 Transferência de valor da maquinaria ao produto Vimos que as forças produtivas que decorrem da cooperação e da divisão do trabalho não custam nada ao capital São forças naturais do trabalho social Forças naturais como o vapor a água etc que são apropriadas para uso nos processos produtivos também não custam nada mas assim como o homem necessita de um pulmão para respirar ele também necessita de uma criação da mão humana para poder consumir forças da natureza de modo produtivo A rodadágua é necessária para explorar a força motriz da água a máquina a vapor para explorar a elasticidade do vapor O que sucede com as forças da natureza sucede igualmente com a ciência Uma vez descobertas a lei que regula a variação da agulha magnética no campo de ação de uma corrente elétrica ou a lei da indução do magnetismo no ferro em torno do qual circula uma corrente elétrica já não custam mais um só centavo108 Mas para que essas leis sejam exploradas pela telegrafia etc fazse necessária uma aparelhagem muito custosa e extensa Como vimos a ferramenta não é eliminada pela máquina De uma ferramenta limitada do organismo humano ela se transforma em dimensão e número na de um mecanismo criado pelo homem Em vez de uma ferramenta manual agora o capital põe o trabalhador para operar uma máquina que maneja por si mesma suas próprias ferramentas Contudo se à primeira vista está claro que a grande indústria tem de incrementar extraordinariamente a força produtiva do trabalho por meio da incorporação de enormes forças naturais e das ciências da natureza ao processo de produção ainda não está de modo algum claro por outro lado que essa força produtiva ampliada não seja obtida mediante um dispêndio aumentado de trabalho Como qualquer outro componente do capital constante a maquinaria não 312 cria valor nenhum mas transfere seu próprio valor ao produto para cuja produção ela serve Na medida em que tem valor e por isso transfere valor ao produto ela se constitui num componente deste último Ao invés de barateálo ela o encarece na proporção de seu próprio valor E é evidente que a máquina e a maquinaria sistematicamente desenvolvidas o meio de trabalho característico da grande indústria contêm desproporcionalmente mais valor do que os meios de trabalho da empresa artesanal e manufatureira Agora devemos observar inicialmente que a maquinaria entra sempre por inteiro no processo de trabalho e apenas parcialmente no processo de valorização Ela jamais adiciona um valor maior do que aquele que perde em média devido a seu próprio desgaste de modo que há uma grande diferença entre o valor da máquina e a parcela de valor que ela transfere periodicamente ao produto Ou seja há uma grande diferença entre a máquina como formadora de valor e como elemento formador do produto e essa diferença é tanto maior quanto mais longo for o período durante o qual a mesma maquinaria serve repetidamente no mesmo processo de trabalho Como vimos anteriormente todo meio de trabalho ou de produção propriamente dito entra sempre por inteiro no processo de trabalho ao passo que no processo de valorização ele entra sempre por partes na proporção de seu desgaste diário médio Mas essa diferença entre uso e desgaste é muito maior na maquinaria do que na ferramenta primeiramente porque por ser construída com material mais duradouro a primeira vive por mais tempo em segundo lugar porque sua utilização sendo regulada por rígidas leis científicas permite uma maior economia no desgaste de seus componentes e meios de consumo e finalmente porque seu âmbito de produção é incomparavelmente maior do que o da ferramenta Se subtraímos de ambas da maquinaria e da ferramenta seus custos médios diários ou a porção de valor que agregam ao produto por meio de seu desgaste médio diário e o consumo de matérias acessórias como óleo carvão etc veremos então que elas atuam de graça exatamente como as forças naturais que preexistem à intervenção do trabalho humano Quanto maior a esfera de atuação produtiva da maquinaria em relação ao da ferramenta tanto maior a esfera de seu serviço não remunerado em comparação com o da ferramenta É somente na grande indústria que o homem aprende a fazer o produto de seu trabalho anterior já objetivado atuar gratuitamente em larga escala como uma força da natureza109 Da análise da cooperação e da manufatura resultou que certas condições gerais de produção como os edifícios etc se comparadas com as de produção dispersas de trabalhadores isolados são economizadas mediante o consumo coletivo e por isso encarecem menos o produto Na maquinaria não só o corpo de uma máquina de trabalho é coletivamente consumido por suas múltiplas ferramentas mas a mesma máquina motriz além de ser uma parte do mecanismo de transmissão é coletivamente consumida por muitas máquinas de trabalho Dada a diferença entre o valor da maquinaria e a parcela de valor transferido a seu produto diário o grau em que essa parcela de valor o encarece depende antes de tudo da dimensão dele assim como de sua superfície Numa conferência publicada em 1875 o sr Baynes de Blackburn calcula que cada cavalovapor mecânico e real109a 313 impulsiona 450 fusos da selfacting mule e seus acessórios ou 200 fusos de throstle ou 15 teares para 40 inch cloth pano de 40 polegadas de largura incluindo seus acessórios para levantar a urdidura desenredar o fio etcc Os custos diários de 1 cavalovapor e o desgaste da maquinaria que por ele é posta em movimento se repartem no primeiro caso no produto de 450 fusos de mule no segundo no de 200 fusos de throstle no terceiro no de 15 teares mecânicos de modo que em razão disso apenas uma parcela ínfima de valor é transferida a 1 onça de fio ou a 1 vara de tecido O mesmo ocorre no exemplo anterior com o martelo a vapor Como seu desgaste diário consumo de carvão etc se repartem pelas enormes massas de ferro que ele martela diariamente a cada quintal de ferro só é agregado uma parcela ínfima de valor que seria muito grande se esse instrumento ciclópico fosse utilizado para inserir pequenos pregos Portanto dada a escala de ação da máquina de trabalho o número de suas ferramentas ou em se tratando de força dado seu tamanho a massa de produtos dependerá da velocidade com que ela opera isto é por exemplo da velocidade com que gira o fuso ou do número de golpes que o martelo dá em 1 minuto Muitos desses martelos colossais dão 70 golpes por minuto e a máquina de forjar patenteada por Ryder que emprega martelos a vapor menores para forjar fusos dá 700 golpes Dada a proporção em que a maquinaria transfere valor ao produto a grandeza dessa parcela de valor depende de sua própria grandeza de valor110 Quanto menos trabalho ela contém em si tanto menor é o valor que agrega ao produto Quanto menos valor transfere tanto mais produtiva ela é e tanto mais seu serviço se aproxima daquele prestado pelas forças naturais Todavia a produção de maquinaria por meio da maquinaria reduz seu valor em relação a sua extensão e eficácia Uma análise comparativa entre os preços das mercadorias produzidas de modo artesanal ou manufatureiro e os preços das mesmas mercadorias como produtos da maquinaria resulta em geral que no produto da maquinaria o componente do valor derivado do meio de trabalho cresce em termos relativos mas decresce em termos absolutos I sso significa que sua grandeza absoluta diminui mas sua grandeza aumenta em relação ao valor total do produto por exemplo 1 libra de fio111 É claro que ocorre um mero deslocamento do trabalho portanto que a soma total do trabalho requerido para a produção de uma mercadoria não é diminuída ou a força produtiva do trabalho não é aumentada quando a produção de uma máquina custa a mesma quantidade de trabalho que se economiza em sua aplicação Mas a diferença entre o trabalho que ela custa e o trabalho que economiza ou o grau de sua produtividade não depende evidentemente da diferença entre seu próprio valor e o valor da ferramenta que ela substitui A diferença dura tanto tempo quanto os custos de trabalho da máquina de modo que a parcela de valor por ela adicionada ao produto permanece menor do que o valor que o trabalhador com sua ferramenta adiciona ao objeto do trabalho A produtividade da máquina é medida assim pelo grau em que ela substitui a força humana de trabalho De acordo com o sr Baynes são necessários 25 trabalhadores112 para os 450 fusos de mule e seus acessórios que são movidos por 1 cavalovapor e com cada selfacting mule spindle são fiadas em 10 horas de trabalho diário 13 onças de fio em média portanto 36558 libras de fio semanalmente por 25 314 trabalhadores Em sua transformação em fio cerca de 366 libras de algodão para fins de simplificação desconsideramos o desperdício absorvem assim apenas 150 horas de trabalho ou 15 dias de trabalho de 10 horas enquanto com a roda de fiar caso o fiandeiro manual fornecesse 13 onças de fio em 60 horas a mesma quantidade de algodão absorveria 2700 jornadas de trabalho de 10 horas ou 27 mil horas de trabalho113 Onde o velho método do blockprinting ou da estampagem manual de tecidos foi substituído pela impressão mecânica uma única máquina assistida por um homem adulto ou mesmo um rapaz estampa tanta chita de quatro cores quanto antigamente o faziam duzentos homens114 Antes de Ely Whitney ter inventado em 1793 a cottongin debulhadora de algodão separar 1 libra de algodão da semente consumia uma jornada média de trabalho Sua invenção tornou possível obter diariamente com o trabalho de uma negra 100 libras de algodão com o que a eficiência da gin foi desde então consideravelmente aumentada 1 libra de fibra de algodão antes produzida a 50 cents passa a ser vendida a 10 cents com um lucro maior isto é com a inclusão de mais trabalho não remunerado Na Índia para separar a fibra da semente empregase um instrumento semimecânico a churca com a qual um homem e uma mulher debulham diariamente 28 libras Com a nova churca inventada há alguns anos pelo dr Forbes um homem adulto e um rapaz produzem 250 libras diárias onde bois vapor ou água são usados como forças motrizes exigemse apenas poucos rapazes e moças como feeders que alimentam a máquina com material Dezesseis dessas máquinas movidas por bois executam num dia a tarefa média que antigamente era executada no mesmo período de tempo por 750 pessoas115 Como já mencionado em 1 hora a máquina a vapor realiza no arado a vapor a um custo de 3 pence ou 14 de xelim a mesma obra que antes era realizada por 66 homens a um custo de 15 xelins por hora Retorno a esse exemplo a fim de refutar uma ideia falsa Os 15 xelins não são de modo algum a expressão do trabalho realizado durante 1 hora pelos 66 homens Sendo de 100 a proporção entre o maisvalor e o trabalho necessário esses 66 trabalhadores produziram por hora um valor de 30 xelins ainda que num equivalente para eles mesmos isto é em seu salário de 15 xelins não estejam representadas mais que 33 horas Supondose portanto que uma máquina custa tanto quanto o salário anual de 150 trabalhadores por ela substituídos digamos 3000 esse valor não é de modo algum a expressão monetária do trabalho fornecido por 150 trabalhadores e agregado ao objeto do trabalho mas tão somente a expressão da parcela de seu trabalho anual que se apresenta a eles mesmos como salário Por outro lado o valor monetário da máquina de 3000 expressa todo o trabalho realizado durante sua produção seja qual for a relação com base na qual esse trabalho gere salário para o trabalhador e maisvalor para o capitalista Se portanto a máquina custa tanto quanto a força de trabalho por ela substituída então o trabalho que nela mesma está objetivado é sempre muito menor do que o trabalho vivo por ela substituído116 Considerada exclusivamente como meio de barateamento do produto o limite para o uso da maquinaria está dado na condição de que sua própria produção custe menos trabalho do que o trabalho que sua aplicação substitui Para o capital no entanto esse limite se expressa de forma mais estreita Como ele não paga o trabalho aplicado mas o valor da força de trabalho aplicada o uso da máquina lhe é restringido pela diferença 315 entre o valor da máquina e o valor da força de trabalho por ela substituída Considerandose que a divisão da jornada de trabalho em trabalho necessário e mais trabalho é diversa em diferentes países assim como no mesmo país em diferentes períodos ou durante o mesmo período em diferentes ramos de negócios e considerandose além disso que o verdadeiro salário do trabalhador ora cai abaixo do valor de sua força de trabalho ora aumenta acima dele a diferença entre o preço da maquinaria e o preço da força de trabalho a ser por ela substituída pode variar muito mesmo que a diferença entre a quantidade de trabalho necessário à produção da máquina e a quantidade total de trabalho por ela substituído continue igual116a Mas é apenas a primeira diferença que determina os custos de produção da mercadoria para o próprio capitalista e o influencia mediante as leis coercitivas da competição I sso explica por que hoje na I nglaterra são inventadas máquinas que só encontram aplicação na América do Norte assim como na Alemanha dos séculos XVI e XVI I inventaramse máquinas que só foram utilizadas pela Holanda ou como várias invenções francesas do século XVI I I que só foram exploradas na I nglaterra Em países há mais tempo desenvolvidos a própria máquina produz por meio de sua aplicação em alguns ramos de negócios uma tal superabundância de trabalho redundancy of labour diz Ricardo em outros ramos que a queda do salário abaixo do valor da força de trabalho impede aí o uso da maquinaria tornandoo supérfluo e frequentemente impossível do ponto de vista do capital cujo lucro provém da diminuição não do trabalho aplicado mas do trabalho pago Ao longo dos últimos anos em alguns ramos da manufatura inglesa de lã diminuiu muito o trabalho infantil tendo sido quase suprimido em alguns lugares Por quê A lei fabril tornou necessários dois turnos de crianças dos quais uma trabalha 6 horas e a outra 4 ou 5 horas por turno Mas os pais não aceitavam vender os halftimes meiosturnos mais baratos do que anteriormente o s fulltimes turnos inteiros Daí a substituição dos halftimes pela maquinaria117 Antes da proibição do trabalho de mulheres e crianças menores de 10 anos nas minas o capital considerava o método de utilizarse de mulheres e moças nuas frequentemente unidas aos homens em tão perfeito acordo com seu código moral e sobretudo com seu livrocaixa que somente depois de sua proibição ele recorreu à maquinaria Os ianques inventaram máquinas britadeiras mas os ingleses não as utilizam porque o miserável wretch é a expressão que a economia política inglesa emprega para o trabalhador agrícola que executa esse trabalho recebe como pagamento uma parte tão ínfima de seu trabalho que a maquinaria encareceria a produção para o capitalista118 Na I nglaterra ocasionalmente ainda se utilizam em vez de cavalos mulheres para puxar etc os barcos nos canais119 porque o trabalho exigido para a produção de cavalos e máquinas é uma quantidade matematicamente dada ao passo que o exigido para a manutenção das mulheres da população excedente está abaixo de qualquer cálculo Por essa razão em nenhum lugar se encontra um desperdício mais desavergonhado de força humana para ocupações miseráveis do que justamente na Inglaterra o país das máquinas 3 Efeitos imediatos da produção mecanizada sobre o trabalhador 316 A revolução do meio de trabalho constitui como vimos o ponto de partida da grande indústria e o meio de trabalho revolucionado assume sua forma mais desenvolvida no sistema articulado de máquinas da fábrica Antes de vermos como a esse organismo objetivo se incorpora material humano examinemos algumas repercussões gerais dessa revolução sobre o próprio trabalhador a Apropriação de forças de trabalho subsidiárias pelo capital Trabalho feminino e infantil À medida que torna prescindível a força muscular a maquinaria convertese no meio de utilizar trabalhadores com pouca força muscular ou desenvolvimento corporal imaturo mas com membros de maior flexibilidade Por isso o trabalho feminino e infantil foi a primeira palavra de ordem da aplicação capitalista da maquinaria Assim esse poderoso meio de substituição do trabalho e de trabalhadores transformouse prontamente num meio de aumentar o número de assalariados submetendo ao comando imediato do capital todos os membros da família dos trabalhadores sem distinção de sexo nem idade O trabalho forçado para o capitalista usurpou não somente o lugar da recreação infantil mas também o do trabalho livre no âmbito doméstico dentro de limites decentes e para a própria família120 O valor da força de trabalho estava determinado pelo tempo de trabalho necessário à manutenção não só do trabalhador adulto individual mas do núcleo familiar Ao lançar no mercado de trabalho todos os membros da família do trabalhador a maquinaria reparte o valor da força de trabalho do homem entre sua família inteira Ela desvaloriza assim sua força de trabalho É possível por exemplo que a compra de uma família parcelada em quatro forças de trabalho custe mais do que anteriormente a compra da força de trabalho de seu chefe mas em compensação temos agora quatro jornadas de trabalho no lugar de uma e o preço delas cai na proporção do excedente de maistrabalho dos quatro trabalhadores em relação ao maistrabalho de um Para que uma família possa viver agora são quatro pessoas que têm de fornecer ao capital não só trabalho mas maistrabalho Desse modo a maquinaria desde o início amplia juntamente com o material humano de exploração ou seja com o campo de exploração propriamente dito do capital121 também o grau de exploração Além disso a maquinaria revoluciona radicalmente a mediação formal da relação capitalista o contrato entre trabalhador e capitalista Com base na troca de mercadorias o primeiro pressuposto era de que capitalista e trabalhador se confrontassem como pessoas livres como possuidores independentes de mercadorias sendo um deles possuidor de dinheiro e de meios de produção e o outro possuidor de força de trabalho Agora porém o capital compra menores de idade ou pessoas desprovidas de maioridade plena Antes o trabalhador vendia sua própria força de trabalho da qual dispunha como pessoa formalmente livre Agora ele vende mulher e filho Tornase mercador de escravos122 A demanda por trabalho infantil assemelhase com frequência também em sua forma à demanda por escravos negros como se costumava ler em anúncios de jornais americanos Chamou minha atenção diz por exemplo um inspetor de fábrica inglês um 317 anúncio na folha local de uma das mais importantes cidades manufatureiras de meu distrito que aqui reproduzo precisase de 12 a 20 garotos crescidos o suficiente para que possam se passar por 13 anos Salário 4 por semana Contatar etc123 A frase possam se passar por 13 anos referese a que conforme o Factory Act crianças menores de 13 anos só podem trabalhar 6 horas Um médico oficialmente qualificado certifying surgeon tem de certificar a idade O fabricante exige por isso jovens que aparentem já ter 13 anos Segundo o depoimento dos inspetores de fábrica a diminuição às vezes súbita do número de crianças menores de 13 anos ocupadas pelos fabricantes deviase em grande parte à atuação dos certifying surgeons que aumentavam a idade das crianças de acordo com o afã explorador dos capitalistas e a necessidade de barganha dos pais No malafamado distrito londrino de Bethnal Green tem lugar todas as segundas e terçasfeiras pela manhã um mercado público onde crianças de ambos os sexos a partir de 9 anos de idade alugam a si mesmas para as manufaturas de seda londrinas As condições habituais são 1 xelim e 8 pence por semana soma que pertence aos pais e 2 pence para mim mesmo além de chá Os contratos valem apenas por uma semana As cenas e o linguajar durante o funcionamento desse mercado são verdadeiramente revoltantes124 Na I nglaterra ainda ocorre de mulheres pegarem crianças da workhouse e as alugarem para qualquer comprador por 2 xelins e 6 pence por semana125 Apesar da legislação pelo menos 2 mil adolescentes continuam a ser vendidos por seus próprios pais como máquinas vivas para a limpeza de chaminés embora existam máquinas para substituílos126 A revolução que a maquinaria provocou na relação jurídica entre comprador e vendedor de força de trabalho de modo que a transação inteira perdeu até mesmo a aparência de um contrato entre pessoas livres conferiu ao Parlamento inglês posteriormente a escusa jurídica para a ingerência estatal no sistema fabril Toda vez que a lei fabril limita a 6 horas o trabalho infantil em ramos da indústria até então intocados voltam sempre a ecoar as lamúrias dos fabricantes que parte dos pais retiraria as crianças da indústria agora regulamentada a fim de vendêlas naquelas em que ainda reina a liberdade do trabalho isto é onde crianças menores de 13 anos são forçadas a trabalhar como adultos e podem por conseguinte ser vendidas a um preço maior Mas como o capital é um leveller nivelador por natureza isto é exige em todas as esferas da produção como seu direito humano inato condições iguais para a exploração do trabalho a limitação legal do trabalho infantil num ramo da indústria tornase a causa de sua limitação em outro J á mencionamos a deterioração física das crianças e dos adolescentes bem como das trabalhadoras adultas que a maquinaria submete à exploração do capital primeiro diretamente nas fábricas que se erguem sobre seu fundamento e em seguida indiretamente em todos os outros ramos industriais Por isso detemonos aqui num único ponto a monstruosa taxa de mortalidade de filhos de trabalhadores em seus primeiros anos de vida Na I nglaterra há 16 distritos de registro civil que apresentam na média anual apenas 9085 casos de óbito em um distrito apenas 7047 para cada 100 mil crianças vivas com menos de 1 ano de idade em 24 distritos entre 10 e 11 mil em 39 distritos entre 11 e 12 mil em 48 distritos entre 12 e 13 mil em 22 distritos mais de 20 mil em 25 distritos mais de 21 mil em 17 mais de 22 mil em 11 mais de 318 inculto sem estragar sua capacidade de desenvolvimento sua própria fecundidade natural acabou por obrigar até mesmo o Parlamento inglês a fazer do ensino elementar a condição legal para o uso produtivo de crianças menores de 14 anos em todas as indústrias sujeitas à lei fabril O espírito da produção capitalista resplandece com toda claridade na desleixada redação das assim chamadas cláusulas educacionais das leis fabris na falta de um aparato administrativo sem o qual esse ensino compulsório se torna em grande parte ilusório na oposição dos fabricantes até mesmo a essa lei do ensino e nos subterfúgios e trapaças práticas a que recorrem para burlála A culpa cabe unicamente ao poder legislativo por ter aprovado uma lei enganosa delusive law que sob a aparência de cuidar da educação das crianças não contém um único dispositivo que assegure o cumprimento desse pretenso objetivo Nada determina salvo que as crianças durante certa quantidade de horas diárias 3 horas devem permanecer encerradas entre as quatro paredes de um lugar chamado escola e que o patrão da criança deve receber semanalmente um certificado emitido por uma pessoa que assina na qualidade de professor ou professora136 Antes que se promulgasse a lei fabril emendada de 1844 não era raro que os certificados de frequência escolar viessem assinados com uma cruz pelo professor ou professora pois eles mesmos não sabiam escrever Ao visitar uma escola que expedia tais certificados impressionoume tanto a ignorância do professor que lhe perguntei Desculpe mas o senhor sabe ler Sua resposta foi Bom alguma coisa summat Para se justificar acrescentou De qualquer modo estou à frente de meus alunos Durante a elaboração da lei de 1844 os inspetores de fábrica denunciaram a situação vergonhosa dos locais chamados de escolas e cujos certificados eles tinham de aceitar como plenamente válidos do ponto de vista legal Tudo o que lograram foi que a partir de 1844 os números no certificado escolar tinham de ser preenchidos pelo próprio professor que também tinha de assinálo com seu nome e sobrenome137 Sir J ohn Kincaid inspetor de fábrica na Escócia relata experiências semelhantes no exercício de sua função A primeira escola que visitamos era mantida por uma tal de Mrs Ann Killin Respondendo à minha solicitação de que soletrasse seu nome ela logo cometeu um deslize ao começar com a letra C mas corrigindose de pronto disse que seu sobrenome é que começava com K Olhando sua assinatura nos livros de certificados escolares reparei no entanto que ela o escrevia de diferentes maneiras ao mesmo tempo que sua caligrafia não deixava qualquer dúvida acerca de sua inépcia para o magistério Ela própria reconheceu que não sabia preencher o registro Numa segunda escola encontrei uma sala de aula de 15 pés de comprimento e 10 pés de largura e contei nesse espaço 75 crianças a grunhir algo incompreensível138 No entanto não é apenas nesses antros lamentáveis que as crianças recebem certificados escolares sem nenhuma instrução pois em muitas outras escolas apesar de o professor ser competente seus esforços fracassam quase que por completo em meio à turba desnorteante de crianças de todas as idades a partir de 3 anos Seus ganhos miseráveis no melhor dos casos dependem inteiramente do número de pence que ele recebe do maior número possível de crianças que possam ser espremidas numa sala A isso se acrescenta o módico mobiliário escolar a falta de livros e outros materiais didáticos e o efeito deprimente que exerce sobre as pobres crianças uma atmosfera viciada e fétida Estive em muitas dessas escolas onde vi turmas inteiras de crianças fazendo absolutamente nada e isso é atestado como frequência escolar e tais crianças figuram na estatística oficial como educadas educated139 Na Escócia os fabricantes procuram na medida do possível excluir as crianças obrigadas a frequentar a escola o que basta para evidenciar o grande repúdio dos fabricantes contra as cláusulas educacionais140 320 23 mil em Hoo Wolverhampton AshtonunderLyne e Preston mais de 24 mil Nottingham Stockport e Bradford mais de 25 mil em Wisbeach 26001 e em Manchester 26125127 Como evidenciado uma investigação médica oficial em 1861 desconsiderandose as circunstâncias locais as altas taxas de mortalidade se devem preferencialmente à ocupação extradiciliar das mães que acarreta o descuido e os maustratos infligidos às crianças aí incluindo entre outras coisas uma alimentação inadequada ou a falta dela a administração de opiatos etc além do imatural estranhamento da mãe em relação a seus filhos que resulta em sua esmaecimento e envenenamento intencionais Já nos distritos agrícolas em que a ocupação feminina é mínima a taxa de mortalidade é ao contrário a menor de todas Porém a comissão de inquérito de 1861 chegou ao resultado inesperado de que em distritos puramente agrícolas situados na costa do mar do Norte a taxa de mortalidade de crianças menores de 1 ano quase alcançou a dos distritos fabris de pior fama Isso foi contado como o dr Julian Hunter fosse incumbido de investigar esse fenômeno in loco Seu relatório está incorporado ao VI Report on Public Health Até então supunhase que a malária e outras doenças típicas de áreas baixas e pantanosas eram as responsáveis pela dizimação das crianças A investigação revelou exatamente o contrário a saber que a mesma causa que erradicou a malária isto é a transformação do solo pantanoso durante o inverno e de áridas pastagens durante o verão em terra fértil para a plantação de cereais provocou a extraordinária taxa de mortalidade entre os lactantes Os 70 clínicos gerais ouvidos pelo dr Hunter naqueles distritos foram impressionantemente unânimes quanto a esse ponto Com a revolução no cultivo do solo houve a completa destruição do sistema industrial Mulheres casadas que dividiam em bandos trabalhavam junto com homens e rapazes são postas à disposição do canteiro de obra tornandose como o mestre do bando Gangmeister que aluga o bando interior por certa quantia Esses bandos costumam de deslocar muitas milhas para longe das aldeias podendo ser encontradas pelas estradas rurais da manhã a anoitecer as mulheres vestindo saias curtas e botas correspondentes e às vezes calças muito fortes e saudáveis na aparência mas arruinadas pela depravação habitual e indiferentes às consequências nefastas que sua predileção por esse modo de vida ativo e independente acarreta a seus rebentos que definhavam em casa I sso se mostra de maneira grotesca e repulsiva nas estamparias de chita etc que são regulamentadas por uma lei fabril própria Conforme os dispositivos dessa lei toda criança para que possa ser empregada numa dessas estamparias precisa ter frequentado a escola por pelo menos 30 dias e por não menos de 150 horas durante os 6 meses imediatamente anteriores ao primeiro dia de seu emprego Ao longo do período de seu emprego na estamparia ela também precisa frequentar a escola por um período de 30 dias e de 150 horas a cada semestre letivo A frequência à escola tem de ocorrer entre 8 horas da manhã e 6 horas da tarde Nenhuma frequência inferior a 212 horas nem superior a 5 horas no mesmo dia deve ser computada como parte das 150 horas Em circunstâncias normais as crianças frequentam a escola pela manhã e à tarde por 30 dias 5 horas por dia e decorridos os 30 dias atingido o total estatuído de 150 horas quando para falar sua própria língua elas terminaram seu livro retornam à estamparia onde permanecem de novo por 6 meses até que vença o próximo prazo de frequência escolar quando então retornam à escola e lá permanecem até que o livro esteja novamente terminado Muitos jovens que frequentam a escola durante as 150 horas regulamentares ao retornar à escola após a permanência de 6 meses na estamparia encontramse no mesmo ponto em que estavam no começo Naturalmente perderam tudo que haviam adquirido com sua frequência escolar anterior Em outras estamparias de chita a frequência escolar é tornada inteiramente dependente das necessidades de trabalho na fábrica O número requerido de horas é preenchido ao longo de cada período semestral em prestações de 3 a 5 horas por vez que podem ser dispersas pelos 6 meses Por exemplo num dia a escola é frequentada das 8 às 11 horas da manhã noutro dia da 1 às 4 horas da tarde e depois que a criança se ausenta por alguns dias consecutivos retorna subitamente à escola das 3 às 6 horas da tarde é possível que ela compareça então por 3 a 4 dias consecutivos ou por 1 semana mas apenas para voltar a desaparecer por 3 semanas ou por 1 mês inteiro retornando apenas por algumas horas poupadas nos dias restantes caso seu empregador não necessite dela e assim a criança é por assim dizer chutada buffeted da escola para a fábrica da fábrica para a escola até que se tenha cumprido a soma de 150 horas141 Com a incorporação massiva de crianças e mulheres ao pessoal de trabalho combinado a maquinaria termina por quebrar a resistência que na manufatura o trabalhador masculino ainda opunha ao despotismo do capital142 b Prolongamento da jornada de trabalho Se a maquinaria é o meio mais poderoso de incrementar a produtividade do trabalho isto é de encurtar o tempo de trabalho necessário à produção de uma mercadoria ela se converte como portadora do capital nas indústrias de que imediatamente se apodera no meio mais poderoso de prolongar a jornada de trabalho para além de todo limite natural Ela cria por um lado novas condições que permitem ao capital soltar as rédeas dessa sua tendência constante e por outro novos incentivos que aguçam sua voracidade por trabalho alheio Primeiramente na maquinaria adquirem autonomia em face do operário o movimento e a atividade operativa do meio de trabalho Este se transforma por si mesmo num perpetuum mobile industrial que continuaria a produzir ininterruptamente se não se chocasse com certos limites naturais inerentes a seus auxiliares humanos debilidade física e vontade própria Como capital e como tal o autômato tem no capitalista consciência e vontade a maquinaria é movida pela tendência a reduzir ao mínimo as barreiras naturais humanas resistentes porém elásticas143 Tal resistência é de todo modo reduzida pela aparente facilidade do trabalho na máquina e pela maior ductibilidade e flexibilidade do elemento feminino e infantil144 A produtividade da maquinaria como vimos é inversamente proporcional à grandeza da parcela de valor por ela transferida ao produto Quanto mais tempo ela funciona maior é a massa de produtos sobre a qual se reparte o valor por ela 321 adicionado e menor é a parcela de valor que ela adiciona à mercadoria individual Mas o tempo de vida ativa da maquinaria é claramente determinado pela duração da jornada de trabalho ou do processo de trabalho diário multiplicado pelo número de dias em que ele se repete Entre o desgaste das máquinas e seu tempo de uso não existe em absoluto uma correspondência matematicamente exata E mesmo partindose desse pressuposto uma máquina que funciona 16 horas por dia durante 7 anos e abrange um período de produção tão grande e adiciona ao produto tanto valor quanto a mesma máquina o faria se funcionasse apenas 8 horas por dia durante 15 anos No primeiro caso porém o valor da máquina seria reproduzido duas vezes mais rapidamente do que no segundo e por meio dela o capitalista teria apropriado em 7 anos e meio tanto mais trabalho quanto no segundo caso em 15 anos O desgaste material da máquina é duplo Um deles decorre de seu uso como moedas se desgastam com a circulação o outro de seu não uso como uma espada inativa enferruja na bainha Esse é seu consumo pelos elementos O desgaste do primeiro tipo se dá na proporção mais ou menos direta de seu uso o segundo até certo ponto na proporção inversa a seu uso145 Mas além do desgaste material a máquina sofre por assim dizer um desgaste moral Ela perde valor de troca na medida em que máquinas de igual construção podem ser reproduzidas de forma mais barata ou que máquinas melhores passam a lhe fazer concorrência146 Em ambos os casos seu valor por mais jovem e vigorosa que a máquina ainda possa ser já não é determinado pelo tempo de trabalho efetivamente objetivado nela mesma mas pelo tempo de trabalho necessário à sua própria reprodução ou à reprodução da máquina aperfeiçoada É isso que a desvaloriza em maior ou menor medida Quanto mais curto o período em que seu valor total é reproduzido tanto menor o perigo da depreciação moral e quanto mais longa a jornada de trabalho tanto mais curto é aquele período À primeira introdução da maquinaria em qualquer ramo da produção seguemse gradativamente novos métodos para o barateamento de sua reprodução147 além de aperfeiçoamentos que afetam não apenas partes ou mecanismos isolados mas sua estrutura inteira Razão pela qual em seu primeiro período de vida esse motivo especial para se prolongar a jornada de trabalho atua de maneira mais intensa148 Permanecendo inalteradas as demais circunstâncias e com uma jornada de trabalho dada a exploração do dobro de trabalhadores exige igualmente a duplicação da parcela do capital constante investida em maquinaria e edifícios assim como daquela investida em matériaprima matérias auxiliares etc Com a jornada de trabalho prolongada ampliase a escala da produção enquanto o capital investido em maquinaria e edifícios permanece inalterado149 Por isso não só cresce o maisvalor como decrescem os gastos necessários para sua extração É verdade que isso também ocorre em maior ou menor medida em todo prolongamento da jornada de trabalho mas aqui ele tem um peso mais decisivo porquanto a parte do capital transformada em meio de trabalho é em geral mais importante150 Com efeito o desenvolvimento da produção mecanizada fixa uma parte sempre crescente do capital numa forma em que ele por um lado pode ser continuamente valorizado e por outro perde valor de 322 uso e valor de troca tão logo seu contato com o trabalho vivo seja interrompido Quando um trabalhador agrícola ensina o sr Ashworth magnata inglês do algodão ao professor Nassau W Senior põe de lado sua pá ele torna inútil por esse período um capital de 18 pence Quando um dos nossos isto é um dos operários fabris abandona a fábrica ele torna inútil um capital que custou 100000151 Ora onde já se viu Tornar inútil mesmo que por um instante apenas um capital que custou 100000 É de fato uma atrocidade que um de nossos homens abandone a fábrica por uma única vez O volume crescente da maquinaria como o adverte Senior doutrinado por Ashworth torna desejável um prolongamento cada vez maior da jornada de trabalho152 A máquina produz maisvalor relativo não só ao desvalorizar diretamente a força de trabalho e indiretamente baratear esta última por meio do barateamento das mercadorias que entram em sua reprodução mas também porque em sua primeira aplicação esporádica ela transforma o trabalho empregado pelo dono das máquinas em trabalho potenciado eleva o valor social do produto da máquina acima de seu valor individual e assim possibilita ao capitalista substituir o valor diário da força de trabalho por uma parcela menor de valor do produto diário Durante esse período de transição em que a indústria mecanizada permanece uma espécie de monopólio os ganhos são extraordinários e o capitalista procura explorar ao máximo esse primeiro tempo do jovem amore por meio do maior prolongamento possível da jornada de trabalho A grandeza do ganho aguça a voracidade por mais ganho Com a generalização da maquinaria num mesmo ramo de produção o valor social do produto da máquina decresce até atingir seu valor individual e assim estabelece a lei de que o maisvalor não provém das forças de trabalho que o capitalista substituiu pela máquina mas inversamente das forças de trabalho que ele emprega para operar esta última O maisvalor provém unicamente da parcela variável do capital e vimos que a massa do maisvalor é determinada por dois fatores a taxa do maisvalor e o número de trabalhadores simultaneamente ocupados Dada a extensão da jornada de trabalho a taxa de maisvalor é determinada pela proporção em que a jornada de trabalho se divide em trabalho necessário e maistrabalho O número de trabalhadores simultaneamente ocupados depende por sua vez da proporção entre as partes variável e constante do capital Ora é claro que a indústria mecanizada por mais que à custa do trabalho necessário expanda o maistrabalho mediante o aumento da força produtiva do trabalho só chega a esse resultado ao diminuir o número de trabalhadores ocupados por um dado capital Ela transforma em maquinaria isto é em capital constante que não produz maisvalor uma parcela do capital que antes era variável isto é que antes se convertia em força de trabalho viva É impossível por exemplo extrair de 2 trabalhadores o mesmo maisvalor que de 24 Se cada um dos 24 trabalhadores fornece somente 1 hora de maistrabalho em 12 horas eles fornecem em conjunto 24 horas de maistrabalho ao passo que 24 horas é o tempo de trabalho total dos 2 trabalhadores Na aplicação da maquinaria à produção de maisvalor reside portanto uma contradição imanente já que dos dois fatores que compõem o mais valor fornecido por um capital de dada grandeza um deles a taxa de maisvalor aumenta somente na medida em que reduz o outro fator o número de trabalhadores Essa contradição imanente se manifesta assim que com a generalização da maquinaria 323 num ramo industrial o valor da mercadoria produzida mecanicamente se converte no valor social que regula todas as mercadorias do mesmo tipo e é essa contradição que por sua vez impele o capital sem que ele tenha consciência disso153 a prolongar mais intensamente a jornada de trabalho a fim de compensar a diminuição do número proporcional de trabalhadores explorados por meio do aumento não só do mais trabalho relativo mas também do absoluto Se portanto o emprego capitalista da maquinaria cria por um lado novos e poderosos motivos para o prolongamento desmedido da jornada de trabalho revolucionando tanto o modo de trabalho como o caráter do corpo social de trabalho e assim quebrando a resistência a essa tendência ela produz por outro lado em parte mediante o recrutamento para o capital de camadas da classe trabalhadora que antes lhe eram inacessíveis em parte liberando os trabalhadores substituídos pela máquina uma população operária redundante154 obrigada a aceitar a lei ditada pelo capital Daí este notável fenômeno na história da indústria moderna a saber de que a máquina joga por terra todas as barreiras morais e naturais da jornada de trabalho Daí o paradoxo econômico de que o meio mais poderoso para encurtar a jornada de trabalho se converte no meio infalível de transformar todo o tempo de vida do trabalhador e de sua família em tempo de trabalho disponível para a valorização do capital Sonhava Aristóteles o maior pensador da Antiguidade se cada ferramenta obedecendo a nossas ordens ou mesmo pressentindoas pudesse executar a tarefa que lhe é atribuída do mesmo modo como os artefatos de Dédalo se moviam por si mesmos ou como as trípodes de Hefesto se dirigiam por iniciativa própria ao trabalho sagrado se assim as lançadeiras tecessem por si mesmas nem o mestreartesão necessitaria de ajudantes nem o senhor necessitaria de escravos155 E Antípatro poeta grego da época de Cícero elogiava a invenção do moinho hidráulico para a moagem de cereais essa forma elementar de toda maquinaria produtiva como libertadora das escravas e criadora da I dade do Ouro156 Os pagãos sim os pagãos Como descobriu o sagaz Bastiat e antes dele o ainda mais arguto MacCulloch esses pagãos não entendiam nada de economia política nem de cristianismo Não entendiam entre outras coisas que a máquina é o meio mais eficaz para o prolongamento da jornada de trabalho J ustificavam ocasionalmente a escravidão de uns como meio para o pleno desenvolvimento humano de outros Mas pregar a escravidão das massas como meio para transformar alguns arrivistas toscos ou semicultos em eminent spinners fiandeiros proeminentes extensive sausagemakers grandes fabricantes de embutidos e influential shoe black dealers influentes comerciantes de graxa de sapatos para isso lhes faltava o órgão especificamente cristão c Intensificação do trabalho O prolongamento desmedido da jornada de trabalho que a maquinaria provoca em mãos do capital suscita mais adiante como vimos uma reação da sociedade ameaçada em sua raízes vitais e com isso a fixação de uma jornada normal de trabalho legalmente limitada Com base nesta última desenvolvese um fenômeno de importância decisiva com que já nos deparamos anteriormente a intensificação do trabalho Na análise do maisvalor absoluto tratavase inicialmente da grandeza 324 extensiva do trabalho ao passo que seu grau de intensidade era pressuposto como dado Cabe examinar agora a transformação da grandeza extensiva em grandeza intensiva ou de grau É evidente que com o progresso do sistema da maquinaria e a experiência acumulada de uma classe própria de operadores de máquinas aumenta natural espontaneamente a velocidade e com ela a intensidade do trabalho Assim na I nglaterra o prolongamento da jornada de trabalho andou durante meio século de mãos dadas com a intensificação crescente do trabalho fabril Contudo é facilmente compreensível que no caso de um trabalho constituído não de paroxismos transitórios mas de uma uniformidade regular repetida dia após dia é preciso alcançar um ponto nodal em que o prolongamento da jornada de trabalho e a intensidade do trabalho se excluam reciprocamente de modo que o prolongamento da jornada de trabalho só seja compatível com um grau menor de intensidade do trabalho e inversamente um grau maior de intensidade só seja compatível com a redução da jornada de trabalho Assim que a revolta crescente da classe operária obrigou o Estado a reduzir à força o tempo de trabalho e a impor à fábrica propriamente dita uma jornada normal de trabalho ou seja a partir do momento em que a produção crescente de maisvalor mediante o prolongamento da jornada de trabalho estava de uma vez por todas excluída o capital lançouse com todo seu poder e plena consciência à produção de maisvalor relativo por meio do desenvolvimento acelerado do sistema da maquinaria Ao mesmo tempo operouse uma modificação no caráter do maisvalor relativo Em geral o método de produção do maisvalor relativo consiste em fazer com que o trabalhador por meio do aumento da força produtiva do trabalho seja capaz de produzir mais com o mesmo dispêndio de trabalho no mesmo tempo O mesmo tempo de trabalho agrega ao produto total o mesmo valor de antes embora esse valor de troca inalterado se incorpore agora em mais valores de uso provocando assim uma queda no valor da mercadoria individual Diferente porém é o que ocorre quando a redução forçada da jornada de trabalho juntamente com o enorme impulso que ela imprime no desenvolvimento da força produtiva e à redução de gastos com as condições de produção impõe no mesmo período de tempo um dispêndio aumentado de trabalho uma tensão maior da força de trabalho um preenchimento mais denso dos poros do tempo de trabalho isto é impõe ao trabalhador uma condensação do trabalho num grau que só pode ser atingido com uma jornada de trabalho mais curta Essa compressão de uma massa maior de trabalho num dado período de tempo mostrase agora como ela é uma quantidade maior de trabalho Ao lado da medida do tempo de trabalho como grandeza extensiva apresentase agora a medida de seu grau de condensação157 A hora mais intensa da jornada de trabalho de 10 horas encerra tanto ou mais trabalho isto é força de trabalho despendida que a hora mais porosa da jornada de trabalho de 12 horas Seu produto tem por isso tanto ou mais valor que o produto da 115 hora mais porosa Desconsiderando a elevação do maisvalor relativo pela força produtiva aumentada do trabalho podemos dizer por exemplo que 313 horas de maistrabalho sobre 623 horas de trabalho necessário fornecem agora ao capitalista a mesma massa de valor que antes lhe era fornecida por 4 horas de maistrabalho sobre 8 horas de trabalho 325 força num tempo dado passa a ser imposta por lei a máquina se converte nas mãos do capitalista no meio objetivo e sistematicamente aplicado de extrair mais trabalho no mesmo período de tempo I sso se dá de duas maneiras pela aceleração da velocidade das máquinas e pela ampliação da escala da maquinaria que deve ser supervisionada pelo mesmo operário ou do campo de trabalho deste último A construção aperfeiçoada da maquinaria é em parte necessária para que se possa exercer uma maior pressão sobre o trabalhador e em parte acompanha por si mesma a intensificação do trabalho uma vez que a limitação da jornada de trabalho obriga o capitalista a exercer o mais rigoroso controle sobre os custos de produção O aperfeiçoamento da máquina a vapor aumenta o número de golpes que seu pistão dá por minuto ao mesmo tempo que torna possível por meio de uma maior economia de força acionar com o mesmo motor um mecanismo maior e com um consumo igual ou até menor de carvão O aperfeiçoamento do mecanismo de transmissão diminui o atrito e o que distingue com tanta evidência a maquinaria moderna da antiga reduz progressivamente o diâmetro e o peso das árvores de transmissão grandes e pequenas Por último os aperfeiçoamentos da maquinaria de trabalho ao mesmo tempo que aumentam sua velocidade e eficácia diminuem seu tamanho como no caso do moderno tear a vapor ou aumentam juntamente com o tamanho do corpo da máquina o volume e o número de ferramentas que ela opera como no caso da máquina de fiar ou ainda ampliam a mobilidade dessas ferramentas por meio de imperceptíveis modificações de detalhes como aquelas que na metade dos anos 1850 aumentaram em 15 a velocidade dos fusos da selfacting mule Na I nglaterra a redução da jornada de trabalho para 12 horas data de 1832 J á em 1836 declarava um fabricante inglês comparado com o de outrora o trabalho que agora se executa nas fábricas cresceu muito em virtude da atenção e da atividade maiores que a velocidade aumentada da maquinaria exige do operário164 Em 1844 lord Ashley hoje conde de Shaftesbury realizou na Câmara dos Comuns a seguinte exposição baseada em documentos O trabalho realizado pelos ocupados nos processos fabris é agora três vezes maior do que quando da introdução dessas operações Sem dúvida a maquinaria tem realizado uma tarefa que substitui os tendões e músculos de milhões de seres humanos mas também tem aumentado prodigiosamente prodigiously o trabalho daqueles submetidos a seu terrível movimento Em 1815 o trabalho de acompanhar por 12 horas o vaivém de um par de mules a fiar o fio Ne 40f requeria caminhar uma distância de 8 milhas Em 1832 acompanhar um par de mules a produzir por 12 horas o fio de mesmo título exigia percorrer 20 milhas ou mais Em 1825 o fiandeiro tinha de realizar no período de 12 horas 820 tiradas em cada mule o que resultava num total de 1640 tiradas em 12 horas Em 1832 durante sua jornada de trabalho de 12 horas ele tinha de realizar 2200 tiradas em cada mule o que dava um total de 4400 tiradas em 1844 2400 em cada mule num total de 4800 sendo que em alguns casos o montante de trabalho amount of labor exigido é ainda maior Disponho aqui de um outro documento de 1842 que prova que o trabalho aumenta progressivamente não só porque é preciso percorrer uma distância maior mas porque a quantidade de mercadorias produzidas aumenta enquanto diminui proporcionalmente a mão de obra e além disso porque agora o algodão é frequentemente de qualidade inferior exigindo mais trabalho para sua fiação No setor de cardagem também houve um grande aumento de trabalho Uma pessoa executa agora o trabalho que antes era compartilhado por duas Na tecelagem que emprega um grande número de pessoas sobretudo do sexo feminino o trabalho cresceu nos últimos anos no mínimo 10 em consequência da maior velocidade da maquinaria Em 1838 o número de hanks novelas fiados semanalmente era de 18 mil em 1843 ele alcançou 21 mil Em 1819 o número de picks passadas na lançadeira no tear a vapor era de 60 por minuto em 1842 era de 140 o que indica um grande aumento de trabalho165 Diante da notável intensidade que o trabalho atingira já em 1844 sob a vigência da 327 Agora perguntase como o trabalho é intensificado O primeiro efeito da jornada de trabalho reduzida decorre da lei óbvia de que a eficiência da força de trabalho é inversamente proporcional a seu tempo de operação Assim dentro de certos limites o que se perde em duração ganhase no grau de esforço realizado Mas o capital assegura mediante o método de pagamento que o trabalhador efetivamente movimente mais força de trabalho Em manufaturas como na olharia onde a maquinaria desempenha papel nenhum ou insignificante a introdução da lei fabril demonstrou de modo cabal que a mera redução da jornada de trabalho provoca um admirável aumento da regularidade uniformidade ordem continuidade e energia de trabalho Esse efeito parecia no entanto algo duvidoso na fábrica propiamente dita pois nela a dependência do trabalhador em relação ao movimento contínuo e uniforme da máquina já criara a mais rigorosa disciplina Por isso em 1844 quando se discutiu a redução da jornada de trabalho para menos de 12 horas os fabricantes declararam quase unanimemente que seus capatazes vigiavam cuidadosamente nas diversas dependências de trabalho para que a mão de obra não perdesse um só instante dificilmente se poderia aumentar o grau de vigilância e atenção por parte dos trabalhadores the extent of vigilance and attention on the part of the workmen e que pressupondose como constantes todas as demais circunstâncias tais como o funcionamento da maquinaria etc seria portanto absurdo esperar nas fábricas bem administradas qualquer resultado importante derivado de uma maior atenção etc por parte dos trabalhadores Essa afirmação foi refutada por diversos experimentos Em suas duas grandes fábricas em Preston o sr R Gardner determinou a partir de 20 de abril de 1844 que se trabalhasse apenas 11 horas por dia Transcorrendo um prazo de mais ou menos um ano o resultado foi que se obteve mais do que antes em 12 exclusivamente por causa da maior constância e uniformidade no trabalho dos operários e à maior economia de seu tempo Enquanto estes recebiam o mesmo salário e ganhavam 1 hora de tempo livre o capitalista obtinha a mesma massa de produtos e poupava 1 hora de trabalho com carvão gás etc Experiências semelhantes foram realizadas com igual êxito nas fábricas dos senhores Horrocks e Jacskon Tão logo a redução da jornada de trabalho que cria condição subjetiva para a economia de seu tempo pelo que poupava um trabalhador de exteriorizar mais esforços é que se se deve confundir com aquela ignorância natural onde se deixou expor o que é em si realmente necessário lei das 12 horas pareceu justificada naquela ocasião a declaração dos fabricantes ingleses segundo a qual seria impossível realizar qualquer progresso ulterior nessa direção de modo que qualquer nova diminuição do tempo de trabalho equivaleria doravante à redução da produção A aparente correção de seu raciocínio é demonstrada da melhor forma pelas seguintes afirmações feitas na mesma época por seu intrépido censor o inspetor de fábrica Leonard Horner Como a quantidade produzida é regulada sobretudo pela velocidade da maquinaria é necessariamente do interesse do fabricante fazêla funcionar com o grau máximo de velocidade o que impõe as seguintes condições preservação da maquinaria contra desgaste precoce conservação da qualidade do artigo fabricado e capacidade do operário de acompanhar o movimento das máquinas sem um esforço maior do que pode realizar continuamente Ocorre com frequência que o fabricante em sua pressa acelera demais o movimento Com isso as quebras e o trabalho malfeito contrapesam a velocidade e ele é obrigado a moderar o ritmo da maquinaria Considerando que um fabricante ativo e inteligente encontra por fim o máximo exequível chego à conclusão de que é impossível produzir em 11 horas tanto quanto em 12 Suponho além disso que o operário pago por peça se esforça ao máximo enquanto pode suportar de modo contínuo o mesmo grau de trabalho166 Horner conclui assim que apesar dos experimentos de Gardner etc uma redução ulterior da jornada de trabalho abaixo de 12 horas teria de diminuir a quantidade do produto167 Ele mesmo cita 10 anos mais tarde suas reflexões de 1845 como prova de quão pouco ele compreendia àquela época a elasticidade da maquinaria e da força de trabalho humana ambas estendidas ao máximo pela redução forçada da jornada de trabalho Passemos agora ao período que se segue à introdução em 1847 da Lei das 10 Horas nas fábricas inglesas de algodão lã seda e linho O aumento da velocidade dos fusos nas throstles foi de 500 e nas mules de mil rotações por minuto quer dizer a velocidade dos fusos das throstles que era de 4500 rotações por minuto em 1839 atinge agora 1862 5 mil e a dos fusos de mule que era de 5 mil atinge agora 6 mil rotações por minuto o que representa no primeiro caso uma velocidade adicional de 110 e no segundo de 15168 J ames Nasmyth o célebre engenheiro civil de Patricroft nos arredores de Manchester expôs em 1852 numa carta a Leonard Horner os aperfeiçoamentos introduzidos de 1848 a 1852 na máquina a vapor Depois de observar que a força em cavalosvapor que nas estatísticas fabris são estimados sempre de acordo com o rendimento dessas máquinas em 1828169 é apenas um valor nominal e não pode servir senão de índice de sua força real ele afirma entre outras coisas Não resta dúvida de que maquinaria a vapor de mesmo peso e muitas vezes máquinas idênticas nas quais apenas foram adaptados os aperfeiçoamentos modernos executam em média 50 mais trabalho do que antes e de que em muitos casos as mesmas máquinas a vapor que nos tempos da velocidade limitada a 228 pés por minuto forneciam 50 cavalos de força hoje com consumo menor de carvão fornecem mais de 100 A moderna máquina a vapor com a mesma potência nominal em cavalosvapor funciona com uma potência maior do que antes em virtude dos aperfeiçoamentos realizados em sua construção do tamanho menor e da disposição da caldeira etc Por isso ainda que proporcionalmente aos cavalosvapor nominais empreguese o mesmo número de trabalhadores que antes menos braços são agora utilizados em relação à maquinaria de trabalho170 Em 1850 as fábricas do Reino Unido utilizavam 134217 cavalosvapor nominais para mover 25638716 fusos e 301445 teares Em 1856 o número de fusos e de teares era respectivamente de 33503580 e 369205 Se a potência exigida tivesse permanecido a mesma que em 1850 seriam necessários em 1856 175000 cavalos vapor Porém de acordo com os dados oficiais ela só chegava a 161435 portanto mais 328 de 10 mil cavalosvapor a menos do que a estimativa feita sobre a base de 1850171 Os fatos constatados pelo último return de 1856 estatística oficial dão conta que o sistema fabril se expande com enorme velocidade que o número de operários diminuiu em proporção à maquinaria que a máquina a vapor graças à economia de força e a outros métodos movimenta um peso mecânico maior e que se produz em maior quantidade por conta das máquinas de trabalho aperfeiçoadas dos métodos modificados de fabricação da velocidade mais elevada da maquinaria e de muitos outros fatores172 As grandes melhorias introduzidas em máquinas de todo tipo aumentaram em muito sua força produtiva Não resta dúvida de que a redução da jornada de trabalho deu o impulso para esses aperfeiçoamentos Estes últimos e o esforço mais intenso do trabalhador fazem com que seja fornecido ao menos tanto produto durante a jornada de trabalho reduzida em 2 horas ou 16 quanto anteriormente durante a jornada de trabalho mais longa173 Que o enriquecimento dos fabricantes aumentou com a exploração mais intensiva da força de trabalho é demonstrado já pela circunstância de que no período entre 1838 e 1850 o crescimento médio das fábricas inglesas de algodão etc foi de 32 por ano ao passo que entre 1850 e 1856 ele foi de 86 por anog Por maior que tenha sido o progresso da indústria inglesa nos 8 anos entre 1848 e 1856 sob o regime da jornada de trabalho de 10 horas ele foi superado de longe nos 6 anos seguintes de 1856 a 1862 Na fabricação de seda por exemplo havia em 1856 1093799 fusos em 1862 1388544 em 1856 havia 9260 teares em 1862 10709 Em contrapartida o número de operários era de 56137 em 1856 e de 52429 em 1862 I sso significa um aumento de 269 no número de fusos e de 156 no de teares contra uma redução simultânea de 7 no número de operários Em 1850 as fábricas de worsted estame empregavam 875830 fusos em 1856 1324549 aumento de 512 e em 1862 1289172 diminuição de 27 Porém deduzidos os fusos de torcer que figuram no censo de 1856 mas não no de 1862 o número de fusos permaneceu aproximadamente estacionário desde 1856 Desde 1850 no entanto a velocidade dos fusos e teares foi em muitos casos duplicada O número de teares a vapor na fabricação de worsted era em 1850 de 32617 em 1856 38956 e em 1862 43048 Nessa indústria estavam ocupadas em 1850 79737 pessoas em 1856 87794 e em 1862 86063 entre elas porém as crianças menores de 14 anos somavam em 1850 9956 em 1856 11228 e em 1862 13178 Não obstante o número muito maior de teares a comparação de 1862 com 1856 mostra que o número global de operários ocupados diminuiu e o de crianças exploradas aumentou174 A 27 de abril de 1863 declarava o deputado Ferrand na Câmara Baixa Delegados dos trabalhadores de 16 distritos de Lancashire e Cheshire em nome dos quais eu falo informaram me que o trabalho nas fábricas em razão do aperfeiçoamento da maquinaria tem aumentado constantemente Onde antes uma pessoa com ajudantes cuidava de dois teares agora ela cuida sem ajudantes de três e não é nada incomum que uma pessoa chegue a cuidar de quatro teares etc Dos fatos informados se depreende pois que 12 horas de trabalho são agora espremidas em menos de 10 horas Evidenciase assim em que proporção monstruosa aumentou a faina dos operários fabris nos últimos anos175 Por isso embora os inspetores de fábrica não se cansem de elogiar e com toda razão os resultados favoráveis das leis fabris de 1844 e 1850 eles reconhecem que a redução da jornada de trabalho provocou uma intensificação do trabalho perniciosa à saúde dos trabalhadores e portanto à própria força de trabalho Na maioria das fábricas de algodão de worsted e de seda o extenuante estado de agitação necessário para o trabalho na maquinaria cujo movimento nos últimos anos foi acelerado de modo tão extraordinário parece ser 329 uma das causas do excesso de mortalidade por doenças pulmonares fato que o dr Greenhow comprovou em seu mais recente e tão admirável relatório176 Não resta a mínima dúvida de que a tendência do capital tão logo o prolongamento da jornada de trabalho lhe esteja definitivamente vedado por lei de ressarcirse mediante a elevação sistemática do grau de intensidade do trabalho e transformar todo aperfeiçoamento da maquinaria em meio de extração de um volume ainda maior de força de trabalho não tardará a atingir um ponto crítico em que será inevitável uma nova redução das horas de trabalho177 Por outro lado a enérgica marcha da indústria inglesa de 1848 até os dias de hoje isto é no período da jornada de trabalho de 10 horas superou o período de 1833 a 1837 ou seja o período da jornada de trabalho de 12 horas numa proporção muito maior do que o último período superara o meio século transcorrido desde a introdução do sistema fabril ou seja o período da jornada de trabalho ilimitada178 4 A fábrica No início deste capítulo tratamos do corpo da fábrica da articulação do sistema de máquinas Vimos então como a maquinaria apropriandose do trabalho de mulheres e crianças aumenta o material humano sujeito à exploração pelo capital de que maneira ela confisca todo o tempo vital do operário mediante a expansão desmedida da jornada de trabalho e como seu progresso que permite fornecer um produto imensamente maior num tempo cada vez mais curto acaba por servir como meio sistemático de liberar em cada momento uma quantidade maior de trabalho ou de explorar a força de trabalho cada vez mais intensamente Passemos agora à consideração do conjunto da fábrica precisamente em sua forma mais desenvolvida O dr Ure o Píndaro da fábrica automática descrevea de um lado como a cooperação de diversas classes de trabalhadores adultos e menores que com destreza e diligência vigiam um sistema de maquinaria produtiva movido ininterruptamente por uma força central o primeiro motor e de outro como um autômato colossal composto por inúmeros órgãos mecânicos dotados de consciência própria e atuando de modo concertado e ininterrupto para a produção de um objeto comum de modo que todos esses órgãos estão subordinados a uma força motriz semovente Essas duas descrições não são de modo nenhum idênticas Na primeira o trabalhador coletivo combinado ou corpo social de trabalho aparece como sujeito dominante e o autômato mecânico como objeto na segunda o próprio autômato é o sujeito e os operários só são órgãos conscientes pelo fato de estarem combinados com seus órgãos inconscientes estando subordinados juntamente com estes últimos à força motriz central A primeira descrição vale para qualquer aplicação possível da maquinaria em grande escala a outra caracteriza sua aplicação capitalista e por conseguinte o moderno sistema fabril Esta é a razão pela qual Ure também gosta de apresentar a máquina central da qual parte o movimento não só como autômato mas como autocrata Nessas grandes oficinas a potência benigna do vapor reúne suas miríades de súditos em torno de si179 Com a ferramenta de trabalho também a virtuosidade em seu manejo é transferida 330 do trabalhador para a máquina A capacidade de rendimento da ferramenta é emancipada das limitações pessoais da força humana de trabalho Com isso superase a base técnica sobre a qual repousa a divisão do trabalho na manufatura No lugar da hierarquia de trabalhadores especializados que distingue a manufatura surge na fabrica automática a tendência à equiparação ou nivelamento dos trabalhos que os auxiliares da maquinaria devem executar180 no lugar das diferenças geradas artificialmente entre os trabalhadores vemos predominar as diferenças naturais de idade e sexo A divisão do trabalho que reaparece na fábrica automática consiste antes de mais nada na distribuição dos trabalhadores entre as máquinas especializadas bem como de massas de trabalhadores que entretanto não chegam a formar grupos articulados entre os diversos departamentos da fábrica onde trabalham em máquinas ferramentas do mesmo tipo enfileiradas uma ao lado da outra de modo que entre eles ocorre apenas a cooperação simples O grupo articulado da manufatura é substituído pela conexão entre o trabalhador principal e alguns poucos auxiliares A distinção essencial é entre operários que se ocupam efetivamente com as máquinas ferramentas a eles se adicionam alguns operários para vigiar ou abastecer a máquina motriz e meros operários subordinados quase exclusivamente crianças a esses operadores de máquinas Entre os operários subordinados incluemse em maior ou menor grau todos os feeders que apenas alimentam as máquinas com o material de trabalho Ao lado dessas classes principais figura um pessoal numericamente insignificante encarregado do controle de toda a maquinaria e de sua reparação constante como engenheiros mecânicos carpinteiros etc Tratase de uma classe superior de trabalhadores com formação científica ou artesanal situada à margem do círculo dos operários fabris e somente agregada a eles181 Essa divisão de trabalho é puramente técnica Todo trabalho na máquina exige instrução prévia do trabalhador para que ele aprenda a adequar seu próprio movimento ao movimento uniforme e contínuo de um autômato Como a própria maquinaria coletiva constitui um sistema de máquinas diversas que atuam simultânea e combinadamente a cooperação que nela se baseia exige também uma distribuição de diferentes grupos de trabalhadores entre as diversas máquinas Mas a produção mecanizada suprime a necessidade de fixar essa distribuição à maneira como isso se realizava na manufatura isto é por meio da designação permanente do mesmo trabalhador ao exercício da mesma função182 Como o movimento total da fábrica não parte do trabalhador e sim da máquina é possível que ocorra uma contínua mudança de pessoal sem a interrupção do processo de trabalho A prova mais contundente disso nos é fornecida pelo sistema de revezamento Relaissystem que começou a funcionar na I nglaterra durante a revolta dos fabricantes ingleses de 1848 a 1850h Por fim a velocidade com que o trabalho na máquina é aprendido na juventude descarta também a necessidade de empregar uma classe especial de trabalhadores exclusivamente no trabalho mecânico183 Na fábrica os serviços dos simples ajudantes podem em parte ser substituídos por máquinas184 e em parte permitem em virtude de sua total simplicidade a troca rápida e constante das pessoas condenadas a essa faina 331 Embora a maquinaria descarte tecnicamente o velho sistema da divisão do trabalho este persiste na fábrica num primeiro momento como tradição da manufatura fixada no hábito até que sob uma forma ainda mais repugnante ele acaba reproduzido e consolidado de modo sistemático pelo capital como meio de exploração da força de trabalho Da especialidade vitalícia em manusear uma ferramenta parcial surge a especialidade vitalícia em servir a uma máquina parcial Abusase da maquinaria para transformar o trabalhador desde a tenra infância em peça de uma máquina parcial185 Desse modo não apenas são consideravelmente reduzidos os custos necessários à reprodução do operário como também é aperfeiçoada sua desvalida dependência em relação ao conjunto da fábrica e portanto ao capitalista Aqui como em toda parte é preciso distinguir entre a maior produtividade que resulta do desenvolvimento do processo social de produção e aquela que resulta da exploração capitalista desse desenvolvimento Na manufatura e no artesanato o trabalhador se serve da ferramenta na fábrica ele serve à máquina Lá o movimento do meio de trabalho parte dele aqui ao contrário é ele quem tem de acompanhar o movimento Na manufatura os trabalhadores constituem membros de um mecanismo vivo Na fábrica temse um mecanismo morto independente deles e ao qual são incorporados como apêndices vivos A morna rotina de um trabalho desgastante e sem fim drudgery no qual se repete sempre e infinitamente o mesmo processo mecânico assemelhase ao suplício de Sísifo o peso do trabalho como o da rocha recai sempre sobre o operário exausto186 Enquanto o trabalho em máquinas agride ao extremo o sistema nervoso ele reprime o jogo multilateral dos músculos e consome todas as suas energias físicas e espirituais187 Mesmo a facilitação do trabalho se torna um meio de tortura pois a máquina não livra o trabalhador do trabalho mas seu trabalho de conteúdo Toda produção capitalista por ser não apenas processo de trabalho mas ao mesmo tempo processo de valorização do capital tem em comum o fato de que não é o trabalhador quem emprega as condições de trabalho mas ao contrário são estas últimas que empregam o trabalhador porém apenas com a maquinaria essa inversão adquire uma realidade tecnicamente tangível Transformado num autômato o próprio meio de trabalho se confronta durante o processo de trabalho com o trabalhador como capital como trabalho morto a dominar e sugar a força de trabalho viva A cisão entre as potências intelectuais do processo de produção e o trabalho manual assim como a transformação daquelas em potências do capital sobre o trabalho consumase como já indicado anteriormente na grande indústria erguida sobre a base da maquinaria A habilidade detalhista do operador de máquinas individual esvaziado desaparece como coisa diminuta e secundária perante a ciência perante as enormes potências da natureza e do trabalho social massivo que estão incorporadas no sistema da maquinaria e constituem com este último o poder do patrão master Por isso em casos conflituosos esse patrão em cujo cérebro estão inextricavelmente ligados a maquinaria e seu monopólio sobre ela proclama à mão de obra repleno de desdém Os operários fabris fariam muito bem em guardar na memória o fato de que seu trabalho é na realidade uma espécie inferior de trabalho qualificado e que não há nenhum outro trabalho que seja mais fácil de se dominar 332 nem que considerandose sua qualidade seja mais bem pago que nenhum outro trabalho pode ser suprido tão rápida e abundantemente com um rápido treinamento dos menos experientes A maquinaria do patrão desempenha de fato um papel muito mais importante no negócio da produção do que o trabalho e a destreza do operário trabalho que se pode ensinar em seis meses de instrução e que qualquer peão pode aprender188 A subordinação técnica do trabalhador ao andamento uniforme do meio de trabalho e a composição peculiar do corpo de trabalho constituído de indivíduos de ambos os sexos e pertencentes às mais diversas faixas etárias criam uma disciplina de quartel que evolui até formar um regime fabril completo no qual se desenvolve plenamente o já mencionado trabalho de supervisão e portanto a divisão dos trabalhadores em trabalhadores manuais e capatazes em soldados rasos da indústria e suboficiais industriais Na fábrica automática a principal dificuldade estava na disciplina necessária para fazer com que os indivíduos renunciassem a seus hábitos inconstantes de trabalho e se identificassem com a regularidade invariável do grande autômato Mas inventar um código de disciplina fabril adequado às necessidades e à velocidade do sistema automático e aplicálo com êxito foi uma tarefa digna de Hércules e nisso consiste a nobre obra de Arkwright Mesmo hoje quando o sistema está organizado em toda sua perfeição é quase impossível encontrar entre os trabalhadores que atingiram a idade adulta auxiliares úteis para o sistema automático189 O código fabril em que não figura a divisão de poderes tão prezada pela burguesia e tampouco seu ainda mais prezado sistema representativo de modo que o capital como um legislador privado e por vontade própria exerce seu poder autocrático sobre seus trabalhadores é apenas a caricatura capitalista da regulação social do processo de trabalho regulação que se torna necessária com a cooperação em escala ampliada e o uso de meios coletivos de trabalho especialmente a maquinaria No lugar do chicote do feitor de escravos surge o manual de punições do supervisor fabril Todas as punições se convertem naturalmente em multas pecuniárias e descontos de salário e a sagacidade legislativa desses Licurgos fabris faz com que a transgressão de suas leis lhes resulte sempre que possível mais lucrativa do que sua observância190 Apontamos aqui apenas as condições materiais nas quais o trabalho fabril é realizado Todos os órgãos dos sentidos são igualmente feridos pela temperatura artificialmente elevada pela atmosfera carregada de resíduos de matériaprima pelo ruído ensurdecedor etc para não falar do perigo mortal de se trabalhar num ambiente apinhado de máquinas que com a regularidade das estações do ano produz seus boletins de batalha industrial190a Ao mesmo tempo a economia nos meios sociais de produção que no sistema de fábrica atingiu pela primeira vez sua maturidade transformase nas mãos do capital em roubo sistemático das condições de vida do operário durante o trabalho roubo de espaço ar luz e meios de proteção pessoal contra as circunstâncias do processo de produção que apresentem perigo para a vida ou sejam insalubres para não falar de instalações destinadas a aumentar a comodidade do trabalhador191 Não tinha razão Fourier quando chamava as fábricas de bagnos mitigadosi 192 5 A luta entre trabalhador e máquina A luta entre capitalista e trabalhador assalariado começa com a própria relação capitalista e suas convulsões atravessam todo o período manufatureiro193 Mas é só a 333 partir da introdução da maquinaria que o trabalhador luta contra o próprio meio de trabalho contra o modo material de existência do capital Ele se revolta contra essa forma determinada do meio de produção como base material do modo de produção capitalista Durante o século XVI I quase toda a Europa presenciou revoltas de trabalhadores contra a assim chamada Bandmühle também chamada de Schnurmühle ou Mühlenstuhl uma máquina de tecer fitas e galões194 No final do primeiro terço do século XVI I uma máquina de serrar movida por um moinho de vento e instalada nos arredores de Londres por um holandês sucumbiu em virtude dos excessos da ralé Pöbel Ainda no começo do século XVI I I na I nglaterra as máquinas hidráulicas de serrar só superaram com muita dificuldade a resistência popular respaldada pelo Parlamento Quando em 1758 Everet construiu a primeira máquina de tosquiar movida a água ela foi queimada pelas 100 mil pessoas que deixara sem trabalho Os scribbling mills moinhos de cardar e as máquinas de cardar de Arkwright provocaram uma petição ao Parlamento apresentada pelos 50 mil trabalhadores que até então viviam de cardar lã A destruição massiva de máquinas que sob o nome de ludismoj ocorreu nos distritos manufatureiros ingleses durante os quinze primeiros anos do século XI X e que foi provocada sobretudo pela utilização do tear a vapor ofereceu ao governo antijacobino de um Sidmouth Castlereagh etc o pretexto para a adoção das mais reacionárias medidas de violência Foi preciso tempo e experiência até que o trabalhador distinguisse entre a maquinaria e sua aplicação capitalista e com isso aprendesse a transferir seus ataques antes dirigidos contra o próprio meio material de produção para a forma social de exploração desse meio195 As lutas por salário no interior da manufatura pressupunham esta última e não se voltavam de modo algum contra sua existência Se a formação das manufaturas foi combatida isso ocorreu por parte dos mestres das corporações e das cidades privilegiadas não dos trabalhadores assalariados Por isso os escritores do período manufatureiro geralmente concebem a divisão do trabalho como meio de substituição virtual dos trabalhadores mas não de deslocálos efetivamente Essa diferença é evidente Quando se diz por exemplo que na I nglaterra seriam necessárias 100 milhões de pessoas para fiar com a velha roda de fiar a quantidade de algodão que agora 500 mil pessoas bastam para fiar com a máquina isso naturalmente não significa que a máquina tomou o lugar desses milhões que nunca existiram Significa apenas que muitos milhões de trabalhadores seriam necessários para substituir a maquinaria de fiação Quando se diz ao contrário que na I nglaterra o tear a vapor pôs 800 mil tecelões no olho da rua não se trata aqui de uma maquinaria existente que teria de ser substituída por determinado número de trabalhadores mas de um número de trabalhadores existentes que foram efetivamente substituídos ou deslocados por uma determinada maquinaria Durante o período da manufatura a produção artesanal continuou a ser a base ainda que desagregada Em razão do número relativamente baixo de trabalhadores urbanos legados pela I dade Média as demandas dos novos mercados coloniais não podiam ser satisfeitas ao mesmo tempo que as manufaturas propriamente ditas abriam novas áreas de produção à população rural expulsa da terra com a dissolução do feudalismo Nessa época portanto destacouse mais o 334 aspecto positivo da divisão do trabalho e da cooperação nas oficinas graças às quais os trabalhadores ocupados se tornavam mais produtivos196 Em alguns países muito antes do período da grande indústria a cooperação e a combinação dos meios de trabalho em mãos de alguns poucos provocaram aplicadas à agricultura grandes súbitas e violentas revoluções no modo de produção e por conseguinte nas condições de vida e nos meios de ocupação da população rural Mas essa luta travase originalmente mais entre grandes e pequenos proprietários fundiários do que entre capital e trabalho assalariado por outro lado quando os trabalhadores são deslocados pelos meios de trabalho como ovelhas cavalos etc atos diretos de violência passam a constituir em primeira instância o pressuposto da Revolução I ndustrial Primeiro os trabalhadores são expulsos das terras e em seguida vêm as ovelhas O roubo de terras em grande escala como na I nglaterra cria para a grande agricultura pela primeira vez seu campo de aplicação196a Em sua fase inicial esse revolucionamento da agricultura tem mais a aparência de uma revolução política Como máquina o meio de trabalho logo se converte num concorrente do próprio trabalhador197 A autovalorização do capital por meio da máquina é diretamente proporcional ao número de trabalhadores cujas condições de existência ela aniquila O sistema inteiro da produção capitalista baseiase no fato de que o trabalhador vende sua força de trabalho como mercadoria A divisão do trabalho unilateraliza tal força convertendoa numa habilidade absolutamente particularizada de manusear uma ferramenta parcial Assim que o manuseio da ferramenta é transferido para a máquina extinguese juntamente com o valor de uso o valor de troca da força de trabalho O trabalhador se torna invendável como o papelmoeda tirado de circulação A parcela da classe trabalhadora que a maquinaria transforma em população supérflua isto é não mais diretamente necessária para a autovalorização do capital sucumbe por um lado na luta desigual da velha produção artesanal e manufatureira contra a indústria mecanizada e por outro inunda todos os ramos industriais mais acessíveis abarrota o mercado de trabalho reduzindo assim o preço da força de trabalho abaixo de seu valor Um grande lenitivo para os trabalhadores pauperizados deve ser acreditar que por um lado seu sofrimento seja apenas temporário a temporary inconvenience e por outro que a maquinaria só se apodere gradualmente de um campo inteiro da produção o que contribui para reduzir o tamanho e a intensidade de seu efeito destruidor Um lenitivo anula o outro Onde a máquina se apodera pouco a pouco de um setor da produção se produz uma miséria crônica nas camadas operárias que concorrem com ela Onde a transição é rápida seu efeito é massivo e agudo A história mundial não oferece nenhum espetáculo mais aterrador do que a paulatina extinção dos tecelões manuais de algodão ingleses processo que se arrastou por décadas até ser consumado em 1838 Muitos deles morreram de fome enquanto outros vegetaram por muitos anos com suas famílias vivendo com 25 pence por dia198 I gualmente agudos foram os efeitos da maquinaria algodoeira inglesa sobre as Índias Orientais cujo governadorgeral constatava em 18341835 Dificilmente uma tal miséria encontra paralelo na história do comércio As ossadas dos tecelões de algodão alvejam as planícies da Índia Sem dúvida despachando esses tecelões deste mundo temporal a máquina não 335 fazia mais do que lhes ocasionar uma inconveniência temporária Além do mais o efeito temporário da maquinaria é permanente porquanto se apodera constantemente de novas áreas da produção A figura autonomizada e estranhada que o modo de produção capitalista em geral confere às condições de trabalho e ao produto do trabalho em contraposição ao trabalhador desenvolvese com a maquinaria até converterse numa antítese completa199 Daí que a revolta brutal do trabalhador contra o meio de trabalho irrompa pela primeira vez juntamente com maquinaria O meio de trabalho liquida o trabalhador Sem dúvida esta antítese direta aparece de modo mais evidente quando a maquinaria recémintroduzida concorre com a tradicional produção artesanal ou manufatureira No interior da própria grande indústria no entanto o melhoramento constante da maquinaria e o desenvolvimento do sistema automático produzem efeitos análogos O objetivo permanente da maquinaria aperfeiçoada é diminuir o trabalho manual ou completar um elo na cadeia da produção fabril substituindo aparelhos humanos por aparelhos de ferro200 A aplicação da força do vapor ou da água à maquinaria que até então era movida manualmente é um evento corriqueiro Os pequenos aperfeiçoamentos na maquinaria que visam economizar força motriz melhorar o produto aumentar a produção no mesmo tempo ou substituir o trabalho de uma criança de uma mulher ou de um homem são constantes e embora não pareçam ter grande peso seus resultados são todavia consideráveis201 Onde quer que uma operação exija muita habilidade e uma mão segura ela é retirada o mais rápido possível das mãos do trabalhador demasiado qualificado e com frequência inclinado a irregularidades de toda espécie para ser confiada a um mecanismo específico tão bem regulado que uma criança é capaz de vigiálo202 No sistema automático o talento do trabalhador é progressivamente suprimidok203 O aperfeiçoamento da maquinaria não só exige a diminuição do número de trabalhadores adultos ocupados para obter um resultado determinado como substitui uma classe de indivíduos por outra classe uma classe mais qualificada por uma menos qualificada adultos por crianças homens por mulheres Todas essas alterações causam flutuações constantes no nível do salário204 A maquinaria expulsa incessantemente trabalhadores adultos da fábrical205 A extraordinária elasticidade do sistema da maquinaria por conta da experiência prática acumulada da escala preexistente dos meios mecânicos e do progresso constante da técnica foinos evidenciada por sua enérgica marcha sob a pressão de uma jornada de trabalho reduzida Mas quem em 1860 ano do zênite da indústria inglesa do algodão poderia ter previsto os aperfeiçoamentos galopantes da maquinaria e o correspondente deslocamento do trabalho manual que os três anos seguintes provocariam sob o aguilhão da guerra civil americana Sobre esse ponto basta citar alguns exemplos fornecidos pelos informes oficiais dos inspetores de fábrica ingleses Um fabricante de Manchester declara Em vez de 75 máquinas de cardar agora necessitamos de apenas 12 que fornecem a mesma quantidade de produtos de qualidade igual se não superior A economia em salários é de 10 por semana e o desperdício de algodão caiu 10 Numa fiação fina de Manchester mediante a aceleração do movimento e da introdução de diversos processos selfacting automáticos afastouse 14 do pessoal de um departamento mais da metade em outro ao mesmo tempo que a substituição da máquina de pentear pela segunda máquina de cardar reduziu consideravelmente a mão de obra até então empregada na oficina de cardagem Outra fiação estima em 10 sua economia geral de mão de obra Os senhores Gilmore proprietários de uma fiação em Manchester declaram 336 Em nosso blowing department departamento de sopro estimamos em 13 a economia de mão de obra e salários obtida graças à nova maquinaria No jack frame e drawing frame room salas de máquinas de bobinar e estirar o feno cerca de 13 a menos de gastos e mão de obra na oficina de fiação cerca de 13 a menos em gastos Mas isso não é tudo quando nosso fio vai para os tecelões sua qualidade é tão superior graças ao emprego da nova maquinaria que eles produzem mais tecidos e de melhor qualidade do que com o fio das máquinas antigas206 Sobre isso observa o inspetor de fábrica A Redgrave A redução do número de trabalhadores acompanhada do aumento da produção avança rapidamente nas fábricas de lã há pouco teve início uma nova redução da mão de obra que continua a minguar há poucos dias um mestreescola residente nos arredores de Rochdale disseme que a grande evasão nas escolas para moças não se deve apenas à pressão da crise mas também às modificações efetuadas na maquinaria das fábricas de lã em consequência das quais houve uma redução média de 70 operários de meia jornada207 A tabela a seguir mostra o resultado total dos aperfeiçoamentos mecânicos introduzidos na indústria algodoeira em virtude da guerra civil americanam Número de fábricas 1856 1861 1868 Inglaterra e País de Gales 2046 2715 2405 Escócia 152 163 131 Irlanda 12 9 13 Reino Unido 2210 2887 2549 Número de teares a vapor 1856 1861 1868 Inglaterra e País de Gales 275590 368125 344719 Escócia 21624 30110 31864 Irlanda 1633 1757 2746 Reino Unido 298847 399992 379329 Número de fusos 1856 1861 1868 Inglaterra e País de Gales 25818576 28352125 30478228 Escócia 2041129 1915398 1397546 Irlanda 150512 119944 124240 Reino Unido 28010217 30387467 32000014 Número de pessoas empregadas 1856 1861 1868 Inglaterra e País de Gales 341170 407598 357052 Escócia 34698 41237 39809 Irlanda 3345 2734 4203 Reino Unido 379213 452569 401064 De 1861 a 1868 desapareceram assim 338 fábricas de algodão o que significa que uma maquinaria mais produtiva e potente concentrouse nas mãos de um número menor de capitalistas O número de teares a vapor diminuiu em 20663 ao mesmo 337 tempo porém seu produto aumentou de modo que um tear aperfeiçoado produzia agora mais do que um antigo Por fim o número de fusos aumentou em 1612547 enquanto o número de trabalhadores ocupados diminuiu em 50505 O progresso rápido e constante da maquinaria intensificou e consolidou assim a miséria temporária com que a crise algodoeira oprimiu os trabalhadores Mas a maquinaria não atua apenas como concorrente poderoso sempre pronto a tornar supérfluo o trabalhador assalariado O capital de maneira aberta e tendencial proclama e maneja a maquinaria como potência hostil ao trabalhador Ela se converte na arma mais poderosa para a repressão das periódicas revoltas operárias greves etc contra a autocracia do capital208 De acordo com Gaskell a máquina a vapor foi desde o início um antagonista da força humana o rival que permitiu aos capitalistas esmagar as crescentes reivindicações dos trabalhadores que ameaçavam conduzir à crise o incipiente sistema fabril209 Poderseia escrever uma história inteira dos inventos que a partir de 1830 surgiram meramente como armas do capital contra os motins operários Recordemos sobretudo a selfacting mule pois ela inaugura uma nova era do sistema automático210 Em seu depoimento perante a Trades Union Comission Nasmyth o inventor do martelo a vapor informa o seguinte sobre os aperfeiçoamentos por ele introduzidos na maquinaria em consequência da grande e longa greve dos operários de máquinas em 1851 O traço característico de nossos modernos aperfeiçoamentos mecânicos é a introdução de máquinasferramentas automáticas O que agora um operário mecânico tem de fazer e pode ser feito por qualquer menino não é ele próprio trabalhar mas vigiar o belo trabalho da máquina Toda a classe de trabalhadores que depende exclusivamente de sua própria habilidade está atualmente marginalizada Antes eu empregava 4 meninos para cada mecânico Graças a essas novas combinações mecânicas pude reduzir o número de operários adultos de 1500 para 750 A consequência foi um considerável aumento de meu lucron A respeito de uma máquina para estampar chita diz Ure Por fim os capitalistas buscaram se libertar dessa escravidão insuportável ou seja das condições contratuais dos trabalhadores incômodas para os capitalistas invocando o auxílio dos recursos da ciência e logo estavam restabelecidos em seus legítimos direitos os da cabeça sobre as demais partes do corpo Referindose a uma invenção para preparar urdiduras e que fora imediatamente motivada por uma greve diz ele A horda dos descontentes que se imaginava invencível entrincheirada atrás das velhas linhas da divisão do trabalho viuse então assaltada pelos flancos e suas defesas foram aniquiladas pela moderna tática mecânica Tiveram de renderse incondicionalmente Acerca da invenção da self acting mule diz ele Ela estava destinada a restaurar a ordem entre as classes industriais Tal invenção confirma a doutrina já desenvolvida por nós de que o capital quando põe a ciência a seu serviço constrange sempre à docilidade o braço rebelde do trabalho211 Embora tenha sido publicado em 1835 portanto na época de um sistema fabril ainda relativamente pouco desenvolvido o escrito de Ure permanece como a expressão clássica do espírito fabril não só por seu franco cinismo mas também pela ingenuidade com que deixa escapar as contradições irrefletidas que habitam o cérebro do capital Depois de por exemplo desenvolver a doutrina de que o capital com o auxílio da ciência por ele posta a soldo constrange sempre à 338 docilidade o braço rebelde do trabalho mostrase indignado porque há quem acuse a ciência físicomecânica de servir ao despotismoo dos ricos capitalistas e de se oferecer como meio de opressão das classes pobresp Depois de pregar aos quatro ventos o quão vantajoso é para os operários o rápido desenvolvimento da maquinaria ele os adverte de que com sua resistência suas greves etc só fazem acelerar o desenvolvimento dela Revoltas violentas dessa natureza diz ele evidenciam a miopia humana em seu caráter mais desprezível o caráter de um homem que se converte em seu próprio carrasco Poucas páginas antes ele diz o contrário Não fossem os violentos conflitos e interrupções causados pelas ideias errôneas dos trabalhadores e o sistema fabril terseia desenvolvido com muito mais rapidez e de modo muito mais útil para todas as partes interessadas Mais adiante ele volta a exclamar Felizmente para a população dos distritos fabris da GrãBretanha os aperfeiçoamentos realizados na maquinaria só ocorrem aos poucos Injustamente diz acusamse as máquinas de reduzirem o salário dos adultos desempregando parte deles com o que seu número acaba por exceder a necessidade de trabalho Mas elas aumentam a demanda de trabalho infantil e com ela a taxa salarial dos adultos O mesmo consolador defende por outro lado o nível baixo dos salários das crianças pois graças a isso os pais se abstêm de enviar seus filhos prematuramente às fábricas Seu livro inteiro é uma apologia da jornada ilimitada de trabalho e quando a legislação proíbe esgotar crianças de menos de 13 anos por mais de 12 horas diárias a alma liberal de Ure a compara com os tempos mais sombrios da I dade Média Mas isso não o impede de exortar os trabalhadores fabris a elevarem uma oração de graças à Providência que por meio da maquinaria proporcionoulhes o ócio necessário para meditar sobre seus interesses imortais212 6 A teoria da compensação relativa aos trabalhadores deslocados pela maquinaria Uma série inteira de economistas burgueses como J ames Mill MacCulloch Torrens Senior J ohn Stuart Mill etc sustenta que toda maquinaria que desloca trabalhadores sempre libera simultânea e necessariamente um capital adequado para ocupar esses mesmos trabalhadores213 Suponha por exemplo que um capitalista empregue cem trabalhadores numa manufatura de papel de parede cada homem a 30 por ano O capital variável anualmente gasto por ele importa portanto em 3 mil Suponha agora que ele dispense cinquenta trabalhadores e empregue os cinquenta restantes com uma maquinaria que lhe custe 1500 A título de simplificação não levaremos em conta as construções o carvão etc Além disso admitamos que a matériaprima anualmente consumida custe sempre 3 mil214 Mediante essa metamorfose algum capital foi liberado No sistema industrial anterior a soma total despendida era de 6 mil sendo metade constituída de capital constante metade de capital variável Ela totaliza agora 4500 de capital constante 3 mil para a matériaprima e 1500 para maquinaria e 1500 de capital variável Em vez de metade a parte do capital variável ou a parcela investida em força de trabalho viva constitui apenas um quarto do capital 339 total Em vez da liberação temos aqui a sujeição do capital a uma forma em que ele cessa de se intercambiar com força de trabalho isto é a transformação de capital variável em capital constante Mantendose inalteradas as demais circunstâncias agora o capital de 6 mil não poderá ocupar mais de cinquenta trabalhadores A cada aperfeiçoamento da maquinaria ele ocupará cada vez menos trabalhadores Se a maquinaria recémintroduzida custa menos do que a soma da força de trabalho e das ferramentas de trabalho por ela deslocadas por exemplo somente 1000 em vez de 1500 então um capital variável de 1000 se converterá em capital constante ou permanecerá vinculado ao passo que um capital de 500 será liberado Este último supondose que se mantenha inalterado o salário anual constituiria um fundo para dar ocupação a cerca de dezesseis trabalhadores quando cinquenta é o número de trabalhadores despedidos na realidade para muito menos do que 16 trabalhadores já que para serem transformadas em capital as 500 têm novamente de ser convertidas em parte em capital constante de modo que também só possam ser transformadas parcialmente em força de trabalho Mas mesmo supondo que a construção da nova maquinaria ocupe um número maior de mecânicos isso é alguma compensação para os produtores de papel de parede postos na rua Na melhor das hipóteses sua fabricação ocupa menos trabalhadores do que o números daqueles deslocados por sua utilização A quantia de 1500 que representava apenas o salário dos produtores de papel de parede dispensados representa agora na figura da maquinaria 1 o valor dos meios de produção necessários para sua fabricação 2 o salário dos mecânicos que a fabricam 3 o maisvalor que cabe a seu patrão Ademais uma vez pronta a máquina não precisa mais ser renovada até sua morte Portanto para ocupar de maneira duradoura o número adicional de trabalhadores mecânicos será necessário que sucessivos fabricantes de papéis de parede desloquem trabalhadores por meio de máquinas De fato tais apologistas não se referem a essa espécie de liberação de capital O que eles têm em mente são os meios de subsistência dos trabalhadores liberados Não se pode negar que no caso anterior por exemplo a maquinaria não só libera cinquenta trabalhadores tornandoos assim disponíveis como ao mesmo tempo suprime a conexão desses trabalhadores com meios de subsistência no valor de 1500 e desse modo libera esses meios O fato simples e de modo algum novo de que a maquinaria libera os trabalhadores de sua dependência em relação aos meios de subsistência significa apenas em termos econômicos que a maquinaria libera meios de subsistência para o trabalhador ou converte esses meios em capital para lhe dar emprego Como vemos tudo depende do modo de expressão Nominibus mollire licet mala é lícito atenuar com palavras o malq De acordo com essa teoria os meios de subsistência no valor de 1500 eram um capital valorizado por meio do trabalho dos cinquenta produtores de papel de parede dispensados Consequentemente esse capital perde sua ocupação assim que os cinquenta estejam de folga e não sossega enquanto não encontrar uma nova aplicação em que esses trabalhadores possam voltar a consumilo produtivamente Assim mais cedo ou mais tarde capital e trabalho têm de se reencontrar e é então que ocorre a compensação Os sofrimentos dos trabalhadores deslocados pela 340 maquinaria são portanto tão transitórios quanto as riquezas deste mundo Os meios de subsistência no valor de 1500 jamais se confrontaram na forma de capital com os trabalhadores dispensados O que se confrontou com estes últimos como capital foram as 1500 agora transformadas em maquinaria Consideradas mais de perto essas 1500 representam apenas uma parte dos papéis de parede produzidos anualmente pelos cinquenta trabalhadores dispensados e que seu empregador lhes entregava como salário sob a forma de dinheiro em vez de in natura Com os papéis de parede transformados em 1500 eles adquiriam meios de subsistência da mesma importância Estes portanto existiam para eles não como capital mas como mercadorias e eles mesmos existiam para essas mercadorias não como assalariados mas como compradores A circunstância de que a maquinaria se tenha liberado dos meios de compra transforma esses trabalhadores de compradores em não compradores Decorre daí a procura menor por aquelas mercadorias Voilà tout isso é tudo Se essa demanda diminuída não é compensada com uma demanda aumentada em outro setor cai o preço de mercado das mercadorias Se essa situação se prolonga e ganha maior amplitude ocorre um deslocamento dos trabalhadores ocupados na produção daquelas mercadorias Parte do capital que antes produzia meios necessário de subsistência passa a ser reproduzida de outro modo Durante a queda dos preços de mercado e o deslocamento de capital também os trabalhadores ocupados na produção dos meios necessários de subsistência são liberados de parte de seu salário Assim em vez de provar que a maquinaria ao liberar os trabalhadores dos meios de subsistência transforma estes últimos ao mesmo tempo em capital para o emprego dos primeiros o sr Apologista prova com a inquestionável lei da oferta e da demanda que a maquinaria põe trabalhadores na rua e não só no ramo da produção em que é introduzida mas também nos ramos da produção em que não é introduzida Os fatos reais travestidos pelo otimismo econômico são estes os trabalhadores deslocados pela maquinaria são jogados da oficina para o mercado de trabalho engrossando o número de forças de trabalho já disponíveis para a exploração capitalista Na seção VI I desta obra mostraremos que esse efeito da maquinaria que aqui se nos apresenta como uma compensação para a classe trabalhadora atinge o trabalhador ao contrário como o mais terrível dos suplícios Por ora basta o seguinte os operários expulsos de um ramo da indústria podem sem dúvida procurar emprego em qualquer outro ramo Se o encontram e com isso reatase o vínculo entre eles e os meios de subsistência com eles liberados isso se dá por meio de um capital novo suplementar que busca uma aplicação mas de modo algum por meio do capital que já funcionava anteriormente e agora se converteu em maquinaria E mesmo assim que perspectiva miserável têm eles Mutilados pela divisão do trabalho esses pobres diabos valem tão pouco fora de seu velho círculo de atividade que só logram o acesso a alguns poucos ramos laborais inferiores e por isso constantemente saturados e sub remunerados215 Ademais cada ramo da indústria atrai a cada ano um novo afluxo de seres humanos que lhe fornece o contingente necessário para substituir as baixas e crescer de modo regular Assim que a maquinaria libera uma parte dos trabalhadores até então ocupados em determinado ramo industrial distribuise também o pessoal de reserva que é absorvido em outros ramos de trabalho enquanto as vítimas originais 341 definham e sucumbem em sua maior parte durante o período de transição É um fato indubitável que a maquinaria não é por si mesma responsável por liberar os trabalhadores de sua dependência em relação aos meios de subsistência Ela barateia o produto e aumenta sua quantidade no ramo de que se apodera deixando intocada num primeiro momento a massa de meios de subsistência produzida em outros ramos da indústria Depois de sua introdução portanto a sociedade dispõe de tantos ou mais meios de subsistência para os trabalhadores deslocados do que dispunha antes e isso sem considerar a enorme parcela do produto anual que é dilapidada pelos não trabalhadores E esse é o argumento central da apologética econômica As contradições e os antagonismos inseparáveis da utilização capitalista da maquinaria inexistem porquanto têm origem não na própria maquinaria mas em sua utilização capitalista Como portanto considerada em si mesma a maquinaria encurta o tempo de trabalho ao passo que utilizada de modo capitalista ela aumenta a jornada de trabalho como por si mesma ela facilita o trabalho ao passo que utilizada de modo capitalista ela aumenta sua intensidade como por si mesma ela é uma vitória do homem sobre as forças da natureza ao passo que utilizada de modo capitalista ela subjuga o homem por intermédio das forças da natureza como por si mesma ela aumenta a riqueza do produtor ao passo que utilizada de modo capitalista ela o empobrece etc o economista burguês declara simplesmente que a observação da maquinaria considerada em si mesma demonstra com absoluta precisão que essas contradições palpáveis não são mais do que a aparência da realidade comum não existindo por si mesmas e portanto tampouco na teoria Ele se poupa assim da necessidade de continuar a quebrar a cabeça e além disso imputa a seu adversário a tolice de combater não a utilização capitalista da maquinaria mas a própria maquinaria O economista burguês não nega em absoluto que com isso surjam também alguns inconvenientes temporários mas que medalha haverá sem seu reverso Para ele é impossível outra utilização da maquinaria que não a capitalista A exploração do trabalhador pela máquina é a seu ver idêntica à exploração da máquina pelo trabalhador De modo que quem revela o que ocorre na realidade com a utilização capitalista da maquinaria é alguém que se opõe a sua utilização em geral é um inimigo do progresso social216 Exatamente igual ao raciocínio do célebre degolador Bill Sikes Senhores jurados Sem dúvida esse caixeiroviajante teve sua garganta cortada Desse fato porém não é minha a culpa e sim da faca Deveríamos em razão de tais inconvenientes temporários abolir o uso da faca Refleti sobre isso Que seria da agricultura e do artesanato sem a faca Não é ela tão benéfica na cirurgia quanto sábia na anatomia E além disso uma auxiliar tão prestimosa em alegres festins Eliminai a faca e lançarnoseis de volta à mais profunda barbárie216a Apesar de a maquinaria necessariamente deslocar trabalhadores nos ramos de atividade em que é introduzida ela pode no entanto gerar um aumento da ocupação em outros ramos do trabalho Mas esse efeito nada tem em comum com a assim chamada teoria da compensação Como todo produto da máquina por exemplo uma vara de tecido é mais barato do que o produto manual similar por ele deslocado seguese como lei absoluta que se a quantidade total do artigo produzido 342 mecanicamente permanece igual à quantidade total do artigo substituído pelo primeiro produzido manual ou artesanalmente então a soma total do trabalho aplicado diminui O aumento de trabalho exigido para a produção do próprio meio de trabalho maquinaria carvão etc tem de ser menor do que a diminuição de trabalho ocasionada pela utilização da maquinaria Não fosse assim o produto da máquina seria tão ou mais caro do que o produto manual Porém em vez de permanecer igual a massa total do artigo confeccionado à máquina por um número reduzido de trabalhadores aumenta de fato muito além da massa total do artigo artesanal deslocado Suponha que 400 mil varas de tecido feito à máquina sejam produzidas por menos trabalhadores do que 100 mil varas de tecido feito à mão O produto quadruplicado contém quatro vezes mais matériaprima e a produção desta tem portanto de ser quadruplicada Mas no que concerne aos meios de trabalho consumidos como construções carvão máquinas etc o limite dentro do qual se pode acrescentar o trabalho adicional necessário à sua produção varia com a diferença entre a massa do produto feito pela máquina e a massa do produto manual que pode ser fabricado pelo mesmo número de trabalhadores Assim com a expansão do sistema fabril num ramo industrial aumenta inicialmente a produção em outros ramos que lhe fornecem seus meios de produção Até que ponto isso provocará o crescimento da massa de trabalhadores ocupados depende dadas a duração da jornada de trabalho e a intensidade do trabalho da composição dos capitais aplicados isto é da proporção entre seus componentes constante e variável Essa proporção por sua vez varia muito com a extensão na qual a maquinaria já se apoderou ou venha a se apoderar desses mesmos ramos O número de homens condenados a trabalhar nas minas de carvão e de metal cresceu enormemente com o progresso do sistema inglês da maquinaria embora nas últimas décadas esse crescimento tenha se tornado mais lento em razão do uso de nova maquinaria para a mineração217 Com a máquina nasce uma nova espécie de trabalhador seu produtor J á sabemos que a indústria mecanizada se apoderou mesmo desse ramo da produção e em escala cada vez maior218 Além disso quanto à matériaprima219 não resta dúvida por exemplo de que a marcha acelerada da fiação de algodão alavancou artificialmente a cultura de algodão nos Estados Unidos e com ela não só incentivou o tráfico de escravos africanos como ao mesmo tempo fez da criação de negros o principal negócio dos assim chamados estados escravagistas fronteiriçosr Quando em 1790 realizouse nos Estados Unidos o primeiro censo de escravos o número deles era de 697 mil em 1861 eles chegavam a 4 milhões Por outro lado não é menos certo que o florescimento da fábrica mecanizada de lã com a transformação progressiva das terras antes cultivadas em pastagens para ovelhas provocou a expulsão em massa dos trabalhadores agrícolas e sua transformação em supranumerários Überzähligmachung Ainda em nossos dias a I rlanda atravessa o processo de ver sua população já reduzida quase à metade desde 1845 diminuir ainda mais até atingir a exata medida correspondente às necessidades de seus landlords proprietários fundiários e dos senhores fabricantes de lã ingleses Quando a maquinaria se apodera dos graus preliminares ou intermediários que um objeto de trabalho tem de percorrer até sua forma final o aumento do material de 343 trabalho é acompanhado do aumento da demanda de trabalho naquelas atividades ainda exploradas sobre uma base artesanal ou manufatureira nas quais é agora introduzido o produto fabricado à máquina A fiação mecânica por exemplo fornecia o fio a um preço tão baixo e com tal abundância que os tecelões manuais podiam inicialmente trabalhar em tempo integral e sem grandes despesas Com isso sua renda aumentou220 Daí o afluxo de pessoal para a tecelagem de algodão que duraria até que os 800 mil tecelões de algodão que na I nglaterra haviam encontrado ocupação graças à J enny ao throstle e à mule fossem novamente liquidados pelo tear a vapor Do mesmo modo a abundância de gêneros de vestuário produzidos à máquina fez crescer o número de alfaiates modistas costureiras etc até surgir a máquina de costura À medida que a indústria mecanizada com um número de trabalhadores relativamente menor fornece uma massa cada vez maior de matériasprimas produtos semiacabados instrumentos de trabalho etc a elaboração dessas matérias primas e produtos intermediários se divide em inúmeras subespécies e incrementa assim a diversidade dos ramos da produção social A indústria mecanizada impulsiona a divisão social do trabalho muito mais do que a manufatura pois amplia em grau incomparavelmente maior a força produtiva dos setores de que se apodera O resultado imediato da maquinaria é aumentar o maisvalor e ao mesmo tempo a massa de produtos em que ele se representa portanto aumentar também juntamente com a substância de que a classe dos capitalistas e seus sequazes se alimentam essas próprias camadas sociais Sua riqueza crescente e a diminuição relativamente constante do número de trabalhadores requeridos para a produção dos meios de subsistência geram ao mesmo tempo além de novas necessidades de luxo também novos meios para sua satisfação Uma parcela maior do produto social é transformada em produto excedente e uma parcela maior deste último é reproduzida e consumida sob formas mais refinadas e variadas Em outras palavras cresce a produção de artigos de luxo221 O refinamento e a diversificação dos produtos provêm igualmente das novas relações do mercado mundial criadas pela grande indústria Não só se troca uma quantidade maior de artigos de luxo estrangeiros por produtos locais mas uma massa maior de matériasprimas ingredientes produtos semiacabados etc estrangeiros ingressa na indústria doméstica como meio de produção A par dessas relações do mercado mundial aumenta a demanda de trabalho na indústria do transporte que por sua vez dividese em inúmeras subespécies novas222 O aumento dos meios de produção e de subsistência acompanhado da diminuição relativa do número de trabalhadores leva à expansão do trabalho em ramos da indústria cujos produtos como canais docas túneis pontes etc só trazem retorno num futuro mais distante Eles se formam seja diretamente sobre a base da maquinaria seja em consequência da revolução industrial geral que ela provoca como ramos inteiramente novos da produção e portanto como novos campos de trabalho O espaço que lhes corresponde na produção total não é de modo algum significativo mesmo nos países mais desenvolvidos O número de trabalhadores ocupados nesses ramos aumenta na proporção direta em que se reproduz a necessidade de trabalho 344 manual mais rudimentar Atualmente podemse considerar como indústrias principais desse tipo as usinas de gás o telégrafo a fotografia a navegação a vapor e o sistema ferroviário Segundo o censo de 1861 para I nglaterra e País de Gales na indústria de gás usinas de gás produção dos aparelhos mecânicos agentes das companhias de gás etc trabalham 15211 pessoas no telégrafo 2399 na fotografia 2366 no serviço de navegação a vapor 3570 e nas ferrovias 70599 entre as quais há cerca de 28000 trabalhadores não qualificados empregados de modo mais ou menos permanente em obras de terraplanagem além de todo o pessoal administrativo e comercial Portanto o número total de indivíduos nessas cinco indústrias novas é de 94145 Por último o extraordinário aumento da força produtiva nas esferas da grande indústria acompanhado como é de uma exploração intensiva e extensivamente ampliada da força de trabalho em todas as outras esferas da produção permite empregar de modo improdutivo uma parte cada vez maior da classe trabalhadora e desse modo reproduzir massivamente os antigos escravos domésticos agora rebatizados de classe serviçal como criados damas de companhia lacaios etc Segundo o censo de 1861 a população total da I nglaterra e do País de Gales somava 20066224 pessoas sendo 9776259 do sexo masculino e 10289965 do sexo feminino Descontandose disso os muito velhos ou muitos jovens para o trabalho todas as mulheres adolescentes e crianças improdutivos seguidos dos estamentos ideológicos como governo clero juristas militares etc além de todos aqueles cuja ocupação exclusiva é consumir trabalho alheio sob a forma de renda da terra juros etc e por fim os indigentes vagabundos delinquentes etc restam então num cálculo aproximado 8 milhões de pessoas de ambos os sexos e das mais variadas idades inclusive todos os capitalistas que de uma maneira ou de outra desempenham funções na produção no comércio nas finanças etc Esses 8 milhões são assim distribuídos Trabalhadores agrícolas inclusive pastores bem como peões e criadas que vivem nas casas dos arrendatários 1098261 Todos os ocupados na fabricação de algodão lã estame linho cânhamo seda e juta e na confecção mecanizada de meias e fabricação de rendas 642607223 Todos os ocupados em minas de carvão e de metais 565835 Todos os ocupados em usinas metalúrgicas altosfornos laminações etc e em manufaturas metalúrgicas de toda espécie 396998224 Classe serviçal 1208648225 Se considerarmos os ocupados em todas as fábricas têxteis somados ao pessoal das minas de carvão e de metais teremos 1208442 e se aos primeiros agregarmos o pessoal de todas as metalúrgicas e manufaturas de metais o total será de 1039605 em ambos os casos pois um número menor do que o de escravos domésticos modernos Que edificante resultado da maquinaria explorada de modo capitalista 7 Repulsão e atração de trabalhadores com o 345 desenvolvimento da indústria mecanizada Crises da indústria algodoeira Todos os representantes responsáveis da economia política admitem que a primeira introdução da maquinaria age como uma peste sobre os trabalhadores dos artesanatos e manufaturas tradicionais com os quais ela inicialmente concorre Quase todos deploram a escravidão do operário fabril E qual é o grande trunfo que todos eles põem à mesa Que a maquinaria depois dos horrores de seu período de introdução e desenvolvimento termina por aumentar o número dos escravos do trabalho ao invés de diminuílo Sim a economia política se regozija com o abjeto teorema abjeto para qualquer filantropo que acredite na eterna necessidade natural do modo de produção capitalista de que mesmo a fábrica fundada na produção mecanizada depois de certo período de crescimento depois de um maior ou menor período de transição esfola mais trabalhadores do que ela inicialmente pôs na rua226 Certamente alguns casos já demonstravam como por exemplo o das fábricas inglesas de estame e de seda que quando a expansão extraordinária de ramos fabris alcança certo grau de desenvolvimento tal processo pode estar acompanhado não só de uma redução relativa do número de trabalhadores ocupados como de uma redução em termos absolutoss Em 1860 quando se realizou por ordem do Parlamento um censo especial de todas as fábricas do Reino Unido a seção dos distritos fabris de Lancashire Cheshire e Yorkshire adjudicada ao inspetor fabril R Baker contava com 652 fábricas destas 570 continham 85622 teares a vapor 6819146 fusos excluindo os fusos de torcer 27439 cavalosvapor em máquinas a vapor 1390 em rodasdágua e 94119 pessoas ocupadas Em 1865 em contrapartida as mesmas fábricas dispunham de 95163 teares a vapor 7025031 fusos 28925 cavalosvapor em máquinas a vapor 1445 em rodasdágua e 88913 pessoas ocupadas De 1860 a 1865 portanto ocorreu nessas fábricas um aumento de 11 em teares a vapor 3 em fusos 5 em cavalos vapor ao passo que o número de pessoas ocupadas diminuiu 55227 Entre 1852 e 1862 assistiuse a um considerável crescimento da fabricação inglesa de lã enquanto o número de trabalhadores empregados permaneceu quase estacionário I sso mostra em que grande medida a maquinaria recémintroduzida havia deslocado o trabalho de épocas anteriores228 Em certos casos empíricos o aumento de trabalhadores fabris ocupados é com frequência apenas aparente isto é não se deve à expansão da fábrica já fundada na produção mecanizada mas à anexação gradual de ramos auxiliares Por exemplo entre 1838 e 1858 nas fábricas da indústria algodoeira britânica o aumento dos teares mecânicos e dos trabalhadores fabris neles ocupados foi ocasionado simplesmente pela expansão desse ramo de atividades nas outras fábricas ao contrário isso se deveu à introdução da força do vapor nos teares de tapetes fitas linho etc cuja força motriz era até então a força muscular humana229 De modo que o aumento desses operários fabris não era mais do que a expressão de uma redução do número total de trabalhadores ocupados Por fim não levamos em conta aqui o fato de que por toda parte com exceção das fábricas metalúrgicas trabalhadores adolescentes menores de 18 anos mulheres e crianças constituem o elemento amplamente preponderante do 346 pessoal fabril Compreendese porém não obstante a massa trabalhadora deslocada de fato e virtualmente substituída pela indústria maquinizada que com o crescimento desta última expresso no número aumentado de fábricas da mesma espécie ou nas dimensões ampliadas das fábricas existentes os operários fabris possam ser no fim das contas mais numerosos do que os trabalhadores manufatureiros ou os artesãos por eles deslocados Suponha que no velho modo de produção o capital de 500 aplicado semanalmente consista por exemplo em 25 de capital constante e 35 de capital variável isto é que 200 sejam investidas em meios de produção 300 em força de trabalho digamos à razão de 1 por trabalhador Com a produção mecanizada a composição do capital total se transforma Este se decompõe agora por exemplo numa parte constante de 45 e numa parte variável de 15 ou dito de outro modo apenas 100 são investidas em força de trabalho Portanto 23 dos trabalhadores anteriormente ocupados são dispensados Se essa indústria fabril se expandir e o capital total investido permanecendo inalteradas as demais condições de produção aumentar de 500 para 1500 teremos trezentos trabalhadores ocupados tantos quantos antes da Revolução I ndustrial Se o capital aplicado aumentar até 2 mil então quatrocentos trabalhadores serão empregados portanto 13 a mais que no antigo modo de produção Em termos absolutos o número de trabalhadores empregados aumentou em 100 em termos relativos isto é em proporção ao capital total adiantado ele caiu em 800 uma vez que no antigo modo de produção o capital de 2 mil teria ocupado 1200 em vez de quatrocentos trabalhadores A diminuição relativa do número de trabalhadores é assim compatível com seu aumento absoluto Anteriormente partimos do pressuposto de que ao crescer o capital total sua composição permanecia constante pois tampouco se modificavam as condições de produção Mas já sabemos que a cada progresso do sistema da maquinaria aumenta a parte constante do capital isto é a parte composta de maquinaria matériaprima etc ao mesmo tempo que diminui o capital variável investido em força de trabalho e sabemos também que em nenhum outro modo de produção o aperfeiçoamento é tão constante e por isso a composição do capital total é tão variável Essa mudança contínua é no entanto interrompida de modo igualmente constante por intervalos de parada e por uma expansão meramente quantitativa sobre uma dada base técnica Com isso aumenta o número de trabalhadores ocupados Assim por exemplo o número de todos os operários nas fábricas de algodão lã estame linho e seda no Reino Unido somava em 1835 apenas 354684 enquanto em 1861 só o número de tecelões operando teares a vapor de ambos os sexos e das mais diferentes idades a partir dos 8 anos chegava a 230654 De fato esse crescimento não parece tão grande quando se leva em conta que em 1838 os tecelões manuais britânicos de algodão juntamente com os familiares que eles ocupavam somavam 800 mil230 para não mencionar os tecelões deslocados na Ásia e no continente europeu Nas poucas observações que ainda nos restam fazer sobre esse ponto trataremos em parte de relações puramente fatuais ainda não alcançadas por nossa exposição teórica 347 Enquanto a produção mecanizada se expande num ramo industrial à custa do artesanato ou da manufatura tradicionais seus sucessos são tão seguros quanto seriam os de um exército armado com fuzis de agulha contra um exército de arqueiros Esse período inicial em que a máquina conquista pela primeira vez seu campo de ação é de importância decisiva devido aos extraordinários lucros que ajuda a produzir Esses não só constituem por si mesmos uma fonte de acumulação acelerada como atraem à esfera favorecida da produção grande parte do capital social adicional que se forma constantemente e busca novas aplicações Importação anual média quarters 1096373 2389729 2843865 8776552 Exportação anual média quarters 225263 251770 139056 155461 Excedente da importação sobre a exportação nas médias anuais 871110 2137959 2704809 8621091 População anual média em cada período 24621107 25929507 27262559 27797598 Média de grãos etc em quarters acima da produção doméstica consumida anualmente por habitante em divisão igual entre a população 0036 0082 0099 0310 18511855 18561860 18611865 1866 Importação anual média quarters 8345237 10913612 15009871 16457340 Exportação anual média quarters 307491 341150 302754 216218 Excedente da importação sobre a exportação nas médias anuais 8037746 10572462 14707117 216218 População anual média em cada período 27572923 28391544 29381760 29935404 Média de grãos etc em quarters acima da produção doméstica consumida anualmente por habitante em divisão igual entre a população 0291 0372 0501 0543 A enorme capacidade própria do sistema fabril de expandirse aos saltos e sua dependência do mercado mundial geram necessariamente uma produção em ritmo febril e a consequente saturação dos mercados cuja contração acarreta um período de estagnação A vida da indústria se converte numa sequência de períodos de vitalidade mediana prosperidade superprodução crise e estagnação A insegurança e a instabilidade a que a indústria mecanizada submete a ocupação e com isso a condição de vida do trabalhador tornamse normais com a ocorrência dessas oscilações periódicas do ciclo industrial Descontadas as épocas de prosperidade grassa entre os capitalistas a mais encarniçada luta por sua participação individual no mercado Tal participação é diretamente proporcional ao baixo preço do produto Além da rivalidade que essa luta provoca pelo uso de maquinaria aperfeiçoada substitutiva de força de trabalho e pela aplicação de novos métodos de produção chegase sempre a um ponto em que se busca baratear a mercadoria por meio da redução forçada dos salários abaixo do valor da força de trabalho235 O crescimento do número de trabalhadores fabris é portanto condicionado pelo crescimento proporcionalmente muito mais rápido do capital total investido nas fábricas Mas esse processo só se realiza nos períodos de alta e baixa do ciclo industrial Ademais ele é constantemente interrompido pelo progresso técnico que ora substitui virtualmente os trabalhadores ora os desloca de fato Essa mudança qualitativa na indústria mecanizada expulsa constantemente trabalhadores da fábrica ou cerra seus portões ao novo afluxo de recrutas ao mesmo tempo que a expansão meramente quantitativa das fábricas absorve juntamente com aqueles expulsos novos contingentes de trabalhadores Desse modo os trabalhadores são continuamente repelidos e atraídos jogados de um lado para outro e isso em meio a uma mudança 349 constante no que diz respeito ao sexo idade e destreza dos recrutados As vicissitudes do operário fabril serão melhor evidenciadas por meio de uma rápida análise das vicissitudes da indústria algodoeira inglesa De 1770 a 1815 a indústria algodoeira esteve em depressão ou estagnação por 5 anos Durante esse primeiro período de 45 anos os fabricantes ingleses desfrutavam do monopólio da maquinaria e do mercado mundial De 1815 a 1821 depressão em 1822 e 1823 prosperidade em 1824 são abolidas as leis de coalizãou grande expansão geral das fábricas em 1825 crise em 1826 grande miséria e levantes entre os trabalhadores do algodão em 1827 leve melhora em 1828 grande aumento dos teares a vapor e das exportações em 1829 a exportação particularmente para a Índia supera a de todos os anos anteriores em 1830 mercados saturados grande calamidade de 1831 a 1833 depressão contínua a Companhia das Índias Orientais é privada do monopólio do comércio com o Extremo Oriente Índia e China Em 1834 grande incremento de fábricas e maquinaria escassez de mão de obra A nova Lei dos Pobres promove o êxodo dos trabalhadores agrícolas para os distritos fabris Grande busca de crianças nos condados rurais Tráfico de escravos brancos Em 1835 grande prosperidade Ao mesmo tempo os tecelões manuais de algodão morrem de fome Em 1836 grande prosperidade Em 1837 e 1838 depressão e crise Em 1839 recuperação Em 1840 grande depressão insurreições intervenção do Exército Em 1841 e 1842 terríveis sofrimentos dos operários fabris Em 1842 os fabricantes expulsam os operários das fábricas a fim de forçar a revogação das leis dos cereais Milhares de trabalhadores vão para Yorkshire onde são repelidos pelo Exército e seus líderes sendo levados a julgamento em Lancaster Em 1843 grande miséria Em 1844 recuperação Em 1845 grande prosperidade Em 1846 primeiramente ascensão contínua em seguida sintomas de reação Revogação das leis dos cereais Em 1847 crise Redução geral dos salários em 10 ou mais para a festa do big loaf duplicação do tamanho do pão Em 1848 continua a depressão Manchester sob ocupação militar Em 1849 recuperação Em 1850 prosperidade Em 1851 preço das mercadorias em baixa salários baixos greves frequentes Em 1852 tem início um processo de melhora Continuam as greves os fabricantes ameaçam importar trabalhadores estrangeiros Em 1853 exportações em alta Greve de oito meses e grande miséria em Preston Em 1854 prosperidade saturação dos mercados Em 1855 chegam notícias de falências provenientes dos Estados Unidos do Canadá e dos mercados da Ásia oriental Em 1856 grande prosperidade Em 1857 crise Em 1858 melhora Em 1859 grande prosperidade aumento das fábricas Em 1860 apogeu da indústria algodoeira inglesa Os mercados indiano australiano e de outros países encontramse tão saturados que ainda em 1863 mal haviam conseguido absorver todo o encalhe Tratado comercial com a França Enorme crescimento das fábricas e da maquinaria Em 1861 a melhora continua por algum tempo reação Guerra Civil Americana escassez de algodão De 1862 a 1863 colapso total A história da escassez de algodão é característica demais para que não nos ocupemos dela por um instante Os indicadores das condições do mercado mundial de 1860 a 1861 mostram que a crise do algodão foi oportuna e parcialmente vantajosa para os fabricantes fato reconhecido nos relatórios da Câmara de Comércio de Manchester 350 proclamado no Parlamento por Palmerston e Derby e confirmado pelos acontecimentos236 Certamente em 1836 muitas dentre as 2887 fábricas algodoeiras do Reino Unido eram pequenas Segundo o relatório do inspetor de fábrica A Redgrave cujo distrito administrativo compreendia 2109 dessas 2887 fábricas 392 delas ou seja 19 empregavam menos de 10 cavalosvapor 345 delas ou 16 empregavam entre 10 e 20 cavalosvapor ao passo que 1372 empregavam 20 ou mais cavalosvapor237 A maioria das pequenas fábricas eram tecelagens construídas a partir de 1858 durante o período de prosperidade a maior parte delas por especuladores dos quais um fornecia o fio outro a maquinaria e um terceiro o prédio sob a direção de antigos overlookers capatazes ou de outras pessoas desprovidas de recursos A maior parte desses pequenos fabricantes se arruinou O mesmo destino lhes teria reservado a crise comercial evitada pela crise algodoeira Embora constituíssem um terço do número de fabricantes suas fábricas absorviam uma parte incomparavelmente menor do capital investido na indústria algodoeira Quanto à magnitude da paralisação segundo estimativas fidedignas 603 dos fusos e 58 dos teares estavam parados em outubro de 1862 I sso se refere a todo o ramo industrial e naturalmente modificavase muito em cada distrito individual Apenas algumas poucas fábricas trabalhavam em tempo integral 60 horas semanais as demais trabalhavam com interrupções Mesmo no que diz respeito aos poucos trabalhadores ocupados em tempo integral e que habitualmente recebiam por peça seu salário semanal era necessariamente reduzido devido à substituição do algodão de melhor qualidade pelo pior das Sea I slandsv pelo egípcio nas fiações finas do americano e egípcio pelo surat das Índias Orientais e do algodão puro por misturas de restos de algodão com surat A fibra mais curta do algodão surat a impureza que lhe é natural a maior fragilidade das fibras e a substituição da farinha a fim de engomar os fios da urdidura etc por todo tipo de ingredientes mais pesados diminuíam a velocidade da maquinaria ou o número de teares que um tecelão podia vigiar aumentando o trabalho destinado a corrigir os erros da máquina e reduzindo juntamente com a quantidade menor dos produtos a remuneração por peça Com o uso de surat e o trabalho em tempo integral a perda do trabalhador aumentou em 2030 e até mais Porém a maioria dos fabricantes também rebaixou a taxa de salário por peça em 5 75 e 10 Compreendese portanto a situação daqueles que só estavam ocupados por 3 312 ou 4 dias por semana ou apenas 6 horas por dia Em 1863 já depois de uma melhoria relativa os salários semanais dos tecelões fiandeiros etc eram de 3 xelins e 4 pence 3 xelins e 10 pence 4 xelins e 6 pence 5 xelins e 1 peeny etc238 Mesmo nessas condições angustiosas não se esgotava o espírito inventivo do fabricante em matéria de descontos salariais Estes eram impostos em parte como multas por defeitos no produto provocados pela má qualidade do algodão maquinaria inadequada etc Mas onde o fabricante era o proprietário dos cottages casebres dos trabalhadores ele cobrava os aluguéis por meio de descontos no salário nominal O inspetor de fábrica Redgrave narra o caso de selfacting minders que supervisionam várias selfacting mules que ao término de 14 dias de trabalho integral recebiam 8 xelins e 11 pence de cuja soma se descontava o aluguel da casa ainda que o fabricante lhes devolvesse a metade como presente de modo que os minders levavam para casa 6 xelins e 11 pence 351 Ao final de 1862 o salário semanal dos tecelões variava de 2 xelins e 6 pence para cima239 Mesmo quando a mão de obra trabalhava apenas em horário reduzido o aluguel era frequentemente descontado de seus salários240 Não é de admirar portanto que em alguns distritos de Lancashire se alastrasse uma espécie de peste de fome Mas o mais característico de tudo isso é como o revolucionamento do processo de produção se realizou à custa do trabalhador Assistiuse a verdadeiros experimenta in corpore vili experimentos num corpo sem valor como aqueles que os anatomistas realizam em rãs Embora diz o inspetor de fábrica Redgrave eu tenha informado as quantias de fato recebidas pelos operários em muitas fábricas disso não se deve concluir que eles recebam a mesma quantia a cada semana Os operários estão à mercê das maiores flutuações em razão das constantes experimentações experimentalizing dos fabricantes As remunerações dos trabalhadores aumentam ou diminuem segundo a qualidade da mistura do algodão ora ficam 15 abaixo de seus ganhos antigos ora caem duas semanas depois a 50 ou 60 daquele valor241 Esses experimentos não eram feitos somente à custa dos meios de subsistência dos trabalhadores Eles tinham de pagar por isso com todos os seus cinco sentidos Os trabalhadores ocupados em abrir os fardos de algodão informaram que o odor insuportável lhes causava náuseas Nas oficinas de mistura scribbling carminado e cardagem o pó e a sujeira que se desprendem irritam todos os orifícios da cabeça provocam tosse e dificultam a respiração Como a fibra é muito curta engomála requer a adição de uma grande quantidade de material e todo tipo de substitutos para a farinha anteriormente usada Isso provoca náusea e dispepsia nos tecelões Por causa do pó a bronquite está generalizada assim como a inflamação da garganta e também uma doença da pele causada pela irritação provocada pela sujeira contida no surat Por outro lado os substitutos da farinha aumentando o peso do fio eram para os senhores fabricantes uma sacola de Fortunatox Eles faziam 15 libras de matéria prima pesarem 20 libras depois de tecidas242 No relatório dos inspetores de fábrica de 30 de abril de 1864 lêse A indústria explora atualmente essa fonte auxiliar numa proporção de fato indecente Sei de fonte confiável que um tecido de 8 libras é fabricado com 514 libras de algodão e 234 libras de goma Outro tecido de 514 libras continha 2 libras de goma Tratavase neste caso de shirtings tecido para camisas ordinários para exportação Em gêneros de outros tipos agregase por vezes 50 de goma de forma que os fabricantes podem se vangloriar e realmente o fazem de que enriquecem com a venda de tecidos por um preço menor do que custa o fio contido neles nominalmente243 Mas não apenas os operários tiveram de sofrer com as experimentações dos fabricantes nas fábricas e das municipalidades fora das fábricas com a redução de salários e com o desemprego com a escassez e as esmolas com os discursos laudatórios dos lordes e dos membros da Câmara dos Comuns I nfortunadas mulheres desempregadas em decorrência da crise do algodão tornaramse párias da sociedade e continuaram a sêlo O número de jovens prostituídas cresceu mais do que nos últimos 25 anos244 Portanto nos primeiros 45 anos da indústria algodoeira britânica de 1770 a 1815 encontramos apenas cinco anos de crise e estagnação mas esse foi o período de seu monopólio mundial O segundo período ou seja os 48 anos que vão de 1815 a 1863 conta apenas vinte anos de recuperação e prosperidade contra 28 de depressão e estagnação De 1815 a 1830 tem início a concorrência com a Europa continental e os 352 Estados Unidos A partir de 1833 a expansão dos mercados asiáticos se impõe por meio da destruição da raça humana Desde a revogação das leis dos cereais de 1846 a 1863 houve outros anos de vitalidade e prosperidade médias contra nove de depressão e estagnação A nota que inserimos abaixo permite julgar a situação dos trabalhadores masculinos adultos nas fábricas algodoeiras mesmo durante as épocas de prosperidade metamorfose permanece a mais difícil na qual a produção manufatureira do artigo não inclui qualquer sequência de processos de desenvolvimento mas uma multiplicidade de processos diferentes Tal foi por exemplo o grande obstáculo à fabricação de penas de aço No entanto há uns 15 anos já foi inventado um autômato que executa 6 processos distintos ao mesmo tempo Em 1820 a produção artesanal forneceu as primeiras 12 dúzias de penas de aço ao preço de 7 e 4 xelins em 1830 a manufatura já as fornecia a 8 xelins e hoje a fábrica as fornece ao comércio atacadista a um preço entre 2 a 6 pence249 b Efeito retroativo do sistema fabril sobre a manufatura e o trabalho domiciliar Com o desenvolvimento do sistema fabril e o conseguinte revolucionamento da agricultura não só se amplia a escala da produção nos demais ramos da indústria como também se modifica seu caráter Por toda parte tornase determinante o princípio da produção mecanizada a saber analisar o processo de produção em suas fases constitutivas e resolver os problemas assim dados por meio da aplicação da mecânica da química etc em suma das ciências naturais Logo a maquinaria se impõe ora neste ora naquele processo parcial no interior das manufaturas Com isso a cristalização rígida da organização manufatureira que tem origem na velha divisão do trabalho é dissolvida e dá lugar a uma modificação incessante Além disso a composição do trabalhador coletivo ou do pessoal combinado de trabalho é revolucionada desde seus fundamentos Contrariamente ao período da manufatura agora o plano da divisão do trabalho se baseia sempre que possível na utilização do trabalho feminino do trabalho de crianças de todas as idades de trabalhadores não qualificados em suma do cheap labour o trabalho barato como o inglês o denomina de modo tão característico I sso vale não só para toda a produção combinada em larga escala quer empregue maquinaria ou não mas também para a assim chamada indústria domiciliar tenha ela lugar nas residências privadas dos trabalhadores ou em pequenas oficinas Essa assim chamada indústria domiciliar moderna nada tem a ver exceto pelo nome com a indústria domiciliar antiga que pressupunha um artesanato urbano e uma economia camponesa independentes além de sobretudo um lar da família trabalhadora Atualmente essa indústria se converteu no departamento externo da fábrica da manufatura ou da grande loja Além dos trabalhadores fabris dos trabalhadores manufatureiros e dos artesãos que ele concentra espacialmente em grandes massas e comanda diretamente o capital movimenta por fios invisíveis um outro exército o dos trabalhadores domiciliares espalhados pelas grandes cidades e pelo campo Exemplo a fábrica de camisas do sr Tillie em Londonderry I rlanda que emprega mil trabalhadores na fábrica e 9 mil trabalhadores domiciliares dispersos pelo campo250 A exploração de forças de trabalho baratas e imaturas tornase mais inescrupulosa na manufatura moderna do que na fábrica propriamente dita pois a base técnica existente nesta última a substituição da força muscular por máquinas e a facilidade do trabalho é algo que inexiste em grande parte na primeira que ao mesmo tempo 354 submete o corpo de mulheres e crianças com a maior naturalidade à influência de substâncias tóxicas etc Essa exploração se torna ainda mais inescrupulosa no assim chamado trabalho domiciliar do que na manufatura porque a capacidade de resistência dos trabalhadores diminui em consequência de sua dispersão porque toda uma série de parasitas rapaces se interpõe entre o verdadeiro patrão e o trabalhador porque o trabalho domiciliar compete em toda parte e no mesmo ramo da produção com a indústria mecanizada ou ao menos manufatureira porque a pobreza rouba do trabalhador as condições de trabalho mais essenciais como espaço luz ventilação etc porque cresce a instabilidade do emprego e finalmente porque a concorrência entre os trabalhadores atinge necessariamente seu grau máximo nesses últimos refúgios daqueles que a grande indústria e a grande agricultura transformaram em supranumerários überzählig A economia dos meios de produção que a produção mecanizada desenvolve sistematicamente pela primeira vez e que consiste ao mesmo tempo no desperdício mais inescrupuloso de força de trabalho e no roubo dos pressupostos normais da função do trabalho revela agora tanto mais esse seu aspecto antagônico e homicida quanto menos estiverem desenvolvidas num ramo industrial a força produtiva social do trabalho e a base técnica dos processos combinados de trabalho c A manufatura moderna I lustrarei agora com alguns exemplos as proposições anteriormente enunciadas O leitor já conhece uma massiva documentação apresentada na seção sobre a jornada de trabalho As manufaturas metalúrgicas em Birmingham e adjacências empregam em grande parte para trabalhos muito pesados 30 mil crianças e adolescentes além de 10 mil mulheres Aí podemos encontrálos nas insalubres fundições de latão fábricas de botões oficinas de esmaltação galvanização e laqueamento251 O excesso de trabalho para maiores e menores de idade garantiu a diversas gráficas de jornais e livros de Londres a honrosa alcunha de matadouro251a Os mesmos excessos cujas vítimas são principalmente mulheres moças e crianças ocorrem no ramo da encadernação de livros Trabalho pesado para menores nas cordoarias trabalho noturno em salinas em manufaturas de velas e outras manufaturas químicas utilização assassina de adolescentes como força motriz de teares nas tecelagens de seda não movidas mecanicamente252 Um dos trabalhos mais infames abjetos e mal pagos para o qual são preferencialmente empregados rapazes e mulheres é o de classificar farrapos É sabido que a GrãBretanha além de seus inúmeros esfarrapadosa próprios constitui o empório para o comércio de farrapos do mundo inteiro Eles afluem do J apão dos mais longínquos Estados da América do Sul e das ilhas Canárias Mas as principais fontes de suprimento são Alemanha França Rússia I tália Egito Turquia Bélgica e Holanda Servem como adubo para a fabricação de estofo para roupa de cama shoddy lã artificial e como matériaprima do papel Os classificadores de farrapos servem como transmissores de varíola e de outras epidemias cujas primeiras vítimas são eles mesmos253 Como exemplo clássico de sobretrabalho trabalho pesado e inadequado e da consequente brutalização dos trabalhadores consumidos desde a 355 infância podemos citar além da mineração e da produção de carvão a fabricação de tijolos ramos nos quais na I nglaterra a máquina recéminventada só é usada esporadicamente 1866 Entre maio e setembro o trabalho dura de 5 horas da manhã até 8 da noite e onde a secagem é feita ao ar livre ele com frequência se estende de 4 horas da manhã às 9 da noite A jornada de trabalho de 5 horas da manhã às 7 da noite é considerada reduzida moderada Crianças de ambos os sexos são empregadas a partir do sexto ou até mesmo do quarto ano de idade Elas trabalham o mesmo número de horas dos adultos e frequentemente mais do que eles O trabalho é árduo e o calor do verão aumenta ainda mais o cansaço Numa olaria em Mosley por exemplo uma moça de 24 anos fabricava diariamente 2 mil tijolos tendo por auxiliares duas moças menores de idade que traziam a argila e empilhavam os tijolos Essas moças carregavam 10 toneladas de argila por dia percorrendo um trajeto de 210 pés por um aclive escorregadio de uma escavação de 30 pés de profundidade É impossível que uma criança passe pelo purgatório de uma olaria sem experimentar uma grande degradação moral A linguagem indigna que ela tem de ouvir desde a mais terna infância os hábitos obscenos indecentes e desavergonhados entre os quais as crianças crescem ignorantes e até selvagens fazem delas para o resto da vida pessoas desaforadas vis e dissolutas Uma terrível fonte de desmoralização são as condições em que moram Cada moulder moldador o trabalhador verdadeiramente qualificado e chefe de um grupo de trabalho fornece a seu grupo de sete pessoas alojamento e refeições em seu casebre ou cottage Pertencendo ou não a sua família dormem em seu casebre homens adolescentes e moças O casebre consiste em dois excepcionalmente três quartos todos térreos com pouca ventilação Os corpos estão tão exaustos pela grande transpiração durante o dia que não se observam quaisquer regras de higiene limpeza ou decência Muitos desses casebres são verdadeiros modelos de desordem sujeira e pó O maior mal desse sistema que emprega moças nesse tipo de trabalho está em que ele geralmente as agrilhoa desde a infância e por toda a vida à corja mais depravada Elas se convertem em rapazes rudes e desbocados rough foulmouthed boys antes mesmo que a natureza lhes tenha ensinado que são mulheres Vestidas com uns poucos farrapos imundos pernas desnudas até bem acima dos joelhos cabelos e rostos tisnados aprendem a desdenhar de todos os sentimentos de decência e recato Durante as horas das refeições deitamse pelos campos ou espiam os rapazes que se banham num canal próximo Por fim concluída sua árdua faina cotidiana vestem trajes melhores e acompanham os homens às tabernas Nada mais natural do que a enorme ocorrência de alcoolismo já desde a infância nessa classe inteira O pior é que o oleiros desesperam de si mesmos Um dos melhores desses trabalhadores declarou ao vicário de Southallfield é tão fácil conseguir educar e melhorar o diabo quanto o oleiro senhor You might as well try to raise and improve the devil as a brickie Sir254 Sobre o modo como os capitalistas economizam condições de trabalho na manufatura moderna que inclui aqui todos as oficinas em larga escala com exceção das fábricas propriamente ditas encontrase farto material oficial nos Public Health Reports I V 1861 e VI 1864 A descrição dos workshops ateliês de trabalho especialmente o dos impressores e alfaiates londrinos vai além das fantasias mais repulsivas de nossos romancistas As consequências sobre o estado de saúde dos trabalhadores é evidente O dr Simon o mais graduado funcionário médico do Privy Councilz e editor oficial dos Public Health Reports diz entre outras coisas Em meu quarto relatório 1861 mostrei como é praticamente impossível para os trabalhadores obter o cumprimento daquilo que é seu primeiro direito em matéria de saúde a saber que o trabalho qualquer que seja a atividade para a qual os trabalhadores são reunidos esteja livre de todas as condições insalubres que possam ser evitadas pelo empregador Demonstrei que enquanto os trabalhadores forem praticamente incapazes de impor eles mesmos essa justiça sanitária não poderão obter nenhuma ajuda eficaz dos funcionários nomeados da polícia sanitária Atualmente a vida de miríades de trabalhadores e trabalhadoras é inutilmente torturada e abreviada 356 Número de pessoas de todas as faixas etárias empregadas na indústria 958265 Agricultores na Inglaterra e no País de Gales 22301 homens 12377 mulheres 13803 Impressores de Londres Indústrias comparadas no que diz respeito à saúde Taxa de mortalidade por cada 100 mil homens nas respectivas indústrias e nas faixas etárias indicadas 25 a 35 anos 35 a 45 anos 45 a 55 anos 743 805 1145 958 1262 2093 894 1747 2367 O lace finishing acabamento da renda é realizado como trabalho domiciliar seja nas assim chamadas mistresses houses casas de mestras ou por mulheres que trabalham em suas próprias casas sozinhas ou com seus filhos As mulheres que mantêm as mistresses houses são igualmente pobres O local de trabalho é uma parte de sua residência privada Elas recebem encomendas de fabricantes proprietários de grandes lojas etc e empregam mulheres moças e crianças pequenas conforme o tamanho dos aposentos disponíveis e a demanda flutuante do negócio O número de trabalhadoras ocupadas varia de vinte a quarenta em alguns locais e de dez a vinte em outros Seis anos é a média da idade mínima com que as crianças começam a trabalhar mas algumas o fazem com menos de 5 anos O tempo de trabalho habitual é de 8 horas da manhã às 8 da noite com 1 hora e meia para as refeições demais de modo irregular e muitas vezes nos próprios buracos fétidos onde se trabalha Se os negócios vão bem o trabalho costuma durar das 8 horas às vezes das 6 horas da manhã até 10 11 ou 12 horas da noite Nas casernas inglesas o espaço regularmente de cada soldado é de 500 a 600 pés cúbicos nos lazaretos militares é de 1200 Naqueles buracos de trabalho em contrapartida cada pessoa dispõe de 67 a 100 pés cúbicos Ao mesmo tempo a iluminação a gás consome o oxigênio do ambiente Para manter as rendas limpas as crianças têm frequentemente de tirar os sapatos mesmo no inverno sendo o assoalho revestido de lajota ou ladrilho agrícolas ingleses o distrito rendeiro de Honiton que ocupa de 20 a 30 milhas ao longo da costa meridional de Devonshire e inclui uns poucos lugares de North Devon e outro distrito que se estende sobre grande parte dos condados de Buckingham Bedford Northampton e as localidades vizinhas de Oxfordshire e Huntingdonshire Os cottages dos diaristas agrícolas constituem geralmente os locais de trabalho Alguns donos de manufatura chegam a empregar mais de 3 mil desses trabalhadores domiciliares sobretudo crianças e adolescentes unicamente do sexo feminino Aqui se repetem as condições descritas no lace finishing A diferença é que no lugar das mistresses houses surgem as assim chamadas lace schools escolas de rendado mantidas por mulheres pobres em seus casebres As crianças trabalham nessas escolas a partir dos 5 anos de idade às vezes menos até os 12 ou 15 anos durante o primeiro ano os mais jovens trabalham de 4 a 8 horas depois das 6 horas da manhã até as 8 ou 10 horas da noite Os recintos são geralmente salas de estar comuns de pequenos cottages com a chaminé tapada para evitar correntes de ar os ocupantes mantendose aquecidos também no inverno apenas por seu próprio calor animal Em outros casos essas assim chamadas salas de aula são pequenas despensas sem lareira A superlotação desses buracos e a poluição do ar assim causada são frequentemente extremas Acrescentase a isso o efeito nocivo dos canais de esgotos latrinas substâncias em decomposição e de outras imundícies que se acumulam nas vias de acesso aos cottages menores Com relação ao espaço Numa escola de rendado 18 moças e a mestra 33 pés cúbicos por pessoa em outra onde o mau cheiro era insuportável 18 pessoas 245 pés cúbicos por cabeça Nessa atividade podemos encontrar crianças de 2 e 25 anos de idade261 Onde acaba a renda de bilros nos condados rurais de Buckingham e Bedford começa o entrançado de palha Ele compreende grande parte de Hertfordshire e regiões ocidentais e setentrionais de Essex Em 1861 havia 48043 pessoas ocupadas no entrançado de palha e na confecção de chapéus de palha sendo 3815 do sexo masculino em todas as faixas etárias e as demais do sexo feminino das quais 14913 menores de 20 anos de idade e 7 mil delas crianças No lugar das escolas de rendado surgem as straw plait schools escolas de entrançado de palha Nelas as crianças aprendem a entrançar a palha a partir dos 4 anos de idade às vezes entre os 3 e os 4 anos Educação é claro elas não recebem nenhuma As próprias crianças chamam as escolas primárias de natural schools escolas naturais para diferenciálas dessas instituições sugadoras de sangue nas quais são obrigadas a trabalhar até que concluam a tarefa geralmente 30 jardas por dia exigida por suas mães semifamélicas Essas mães costumam fazêlas trabalhar em casa até as 10 11 12 horas da noite A palha lhes corta os dedos e a boca com a qual a umedecem constantemente Segundo o ponto de vista comum aos funcionários médicos de Londres resumido pelo dr Ballard o espaço mínimo para cada pessoa num dormitório ou sala de trabalho é de 300 pés cúbicos Nas escolas de entrançado de palha porém o espaço é distribuído ainda mais escassamente do que nas escolas de rendado variando entre 1223 17 1812 e 22 pés cúbicos por pessoa Os menores desses números diz o comissário White representam um espaço menor do que aquele que uma criança ocuparia se empacotada numa caixa de 3 pés em 359 Em Nottingham não é nada incomum encontrar de quinze a vinte crianças amontoadas num cubículo de talvez não mais de 12 pés quadrados ocupadas durante 15 a 24 horas do dia num trabalho por si mesmo extremamente por seu lastro e monotonia além disso executadas as condições mais insustentáveis possíveis Mesmo as crianças mais jovens trabalham com atenção redobrada e numa velocidade espantosa quase não podendo descansar seus olhos de movimentose mais lentamente Quando se lhes pergunta algo jamais erguem os olhos do serviço por receio de perder um só instante todas as dimensões Assim desfrutam da vida essas crianças até os 12 ou 14 anos de idade Os pais miseráveis e degradados só pensam em arrancar o máximo possível de seus filhos Estes por sua vez quando crescidos não dão mais a mínima para seus pais e os abandonam Não admira que a ignorância e o vício abundem numa população criada dessa maneira Sua moralidade está no mais baixo nível Grande parte das mulheres têm filhos ilegítimos e muitas numa idade tão precoce que até mesmo os familiarizados com estatística criminal ficam horrorizados262 E a pátria dessas famíliasmodelos segundo afirma o conde de Montalembert sem dúvida autoridade competente em matéria de cristianismo é o país cristão modelar da Europa O salário que já é miserável nos ramos de atividades que abordamos anteriormente o salário máximo excepcionalmente pago às crianças nas escolas de entrançado de palha é de 3 xelins é ainda reduzido a muito menos do que seu montante nominal por meio do truck system sistema de pagamento com bônus que prepondera de modo geral nos distritos rendeiros263 e Transição da manufatura e do trabalho domiciliar modernos para a grande indústria Aceleração dessa revolução mediante a aplicação das leis fabris a esses modos de produzir Betriebsweisen O barateamento da força de trabalho por meio do simples abuso de forças de trabalho femininas e imaturas do roubo de todas as condições normais de trabalho e de vida e da brutalidade nua e crua do trabalho excessivo e do trabalho noturno acaba por se chocar contra certas barreiras naturais que já não se podem transpor assim como ocorre com o barateamento das mercadorias e a exploração capitalista em geral que repousam sobre esses fundamentos Assim que esse ponto é finalmente alcançado e isso demora bastante soa a hora para a introdução da maquinaria e a transformação agora rápida da produção domiciliar dispersa ou inclusive da manufatura em produção fabril O mais colossal exemplo desse movimento nos é fornecido pela produção de wearing apparel acessórios de vestuário Segundo a classificação da Childrens Employment Commission essa indústria compreende produtores de chapéus de palha e de chapéus femininos produtores de gorros alfaiates milliners e dressmakers264 camiseiros e costureiras espartilheiros luveiros sapateiros além de muitos ramos menores como a fabricação de gravatas colarinhos etc O pessoal feminino ocupado nessas indústrias na I nglaterra e no País de Gales chegava em 1861 a 586298 pessoas das quais pelo menos 115242 eram menores de 20 anos e 16560 menores de 15 anos O número dessas trabalhadoras no Reino Unido 1861 era de 750334 A quantidade de trabalhadores do sexo masculino ocupados à mesma época na confecção de chapéus calçados luvas e alfaiataria na I nglaterra e no País de Gales era de 437969 dos quais 14964 menores de 15 anos 89285 entre 15 a 20 anos e 333117 maiores de 20 anos de idade Nesses dados não figuram muitos ramos menores que aí deveriam 360 estar incluídos Porém se tomamos esses números tal como eles se apresentam o resultado é só para a I nglaterra e o País de Gales segundo o censo de 1861 uma soma de 1024267 pessoas portanto aproximadamente tantas quantas são absorvidas pela agricultura e pela criação de gado Começamos a entender por que a maquinaria ajuda a criar como num passe de mágica massas tão enormes de produtos e a liberar massas tão enormes de trabalhadores A produção de wearing apparel é realizada por manufaturas que apenas reproduziram em seu interior a divisão do trabalho cujos membra disjecta já encontraram prontos por mestresartesãos menores que já não trabalham como antigamente para consumidores individuais mas para manufaturas e grandes lojas de modo que cidades e regiões inteiras do país frequentemente se especializam em tais atividades como fabricação de calçados etc por fim e em maior medida pelos assim chamados trabalhadores domiciliares que constituem o departamento exterior das manufaturas das grandes lojas e mesmo dos mestresartesãos265 As massas de material de trabalho matériaprima produtos semiacabados etc são fornecidas pela grande indústria e a massa do material humano barato taillable à merci et miséricorde disposta como bem se aprouver é composta por pessoas liberadas pela grande indústria e agricultura As manufaturas dessa esfera devem seu nascimento principalmente à necessidade do capitalista de ter à sua disposição um exército sempre preparado para entrar em ação em qualquer flutuação da demanda266 Essas manufaturas no entanto deixam que a seu lado subsista como sua ampla base a dispersa produção artesanal e domiciliar A grande produção de maisvalor nesses ramos de trabalho juntamente com o barateamento progressivo de seus artigos foi e é devida principalmente ao fato de que o salário é o mínimo necessário para vegetar de modo miserável ao mesmo tempo que o tempo de trabalho é o máximo humanamente possível Foi precisamente o baixo preço de sangue e suor humanos transformados em mercadoria que expandiu constantemente e continua a expandir a cada dia o mercado de escoamento dos produtos e para a I nglaterra em particular também o mercado colonial onde além de tudo predominam os hábitos e gostos ingleses Chegouse por fim a um ponto nodal A base do velho método a mera exploração brutal do material de trabalho acompanhada em maior ou menor medida de uma divisão do trabalho sistematicamente desenvolvida já não bastava a um mercado em expansão e à concorrência cada vez mais acirrada entre os capitalistas Era chegada a hora da maquinaria A máquina decisivamente revolucionária que se apodera indistintamente de todos os inumeráveis ramos dessa esfera da produção como as confecções de trajes finos a alfaiataria a fabricação de sapatos a costura a chapelaria etc é a máquina de costura Seu efeito imediato sobre os trabalhadores é mais ou menos o de toda maquinaria que no período da grande indústria conquista novos ramos de atividade Crianças muito pequenas são excluídas O salário dos operários mecânicos se eleva comparativamente ao dos trabalhadores domiciliares muitos dos quais pertencem aos mais pobres dos pobres the poorest of the poor Cai o salário dos artesãos mais bem colocados com os quais a máquina concorre Os novos operários mecânicos são exclusivamente meninas e moças Com ajuda da força mecânica elas acabam com o 361 monopólio do trabalho masculino em tarefas pesadas e expulsam das tarefas mais leves multidões de mulheres idosas e crianças imaturas A concorrência avassaladora abate os trabalhadores manuais mais fracos Em Londres ao longo da última década o horrendo aumento da morte por inanição death from starvation transcorreu paralelamente à expansão da costura à máquina267 As novas operárias que trabalham com máquinas de costura movidas por elas com o pé e a mão ou só com a mão operação que elas realizam sentadas ou em pé segundo o peso o tamanho e a especialidade da máquina despendem uma força de trabalho considerável Sua ocupação se torna insalubre por conta da duração do processo embora esta seja geralmente menor do que no sistema anterior Onde quer que invada oficinas já por si acanhadas e superlotadas como na confecção de calçados espartilhos chapéus etc a máquina de costura multiplica as influências insalubres O efeito diz o comissário Lord que se experimenta ao adentrar essas oficinas de teto baixo onde trinta a quarenta operários mecânicos trabalham juntos é intolerável E é horrível o calor em parte por causa dos fogões a gás usados para aquecer os ferros de passar Mesmo quando em tais locais prevalecem horários de trabalho tidos por moderados isto é das 8 horas da manhã às 6 da tarde é normal a ocorrência de desmaios de três a quatro pessoas por dia268 O revolucionamento do modo social de produzir esse resultado necessário da transformação do meio de produção consumase num emaranhado caótico de formas de transição Elas variam de acordo com o grau em que a máquina de costura se apodera de um ou outro ramo industrial com o período em que tal processo ocorre com a situação preexistente dos trabalhadores com a preponderância da manufatura do artesanato ou da produção domiciliar com o aluguel dos locais de trabalho269 etc Por exemplo na confecção de trajes finos em que o trabalho na maioria das vezes já se encontrava organizado principalmente sobre a base da cooperação simples a máquina de costura constitui de início apenas um novo fator da produção manufatureira Na alfaiataria na camisaria na confecção de calçados etc todas as formas se entrecruzam Aqui há produção fabril propriamente dita Lá os intermediários recebem do capitalista en chef em chefe a matériaprima e agrupam de dez a cinquenta ou mais assalariados em câmaras ou sótãos ao redor de máquinas de costura Por fim como no caso de toda maquinaria que não constitui um sistema articulado e só pode ser utilizada em escala diminuta artesãos ou trabalhadores domiciliares também empregam com ajuda da própria família ou alguns poucos trabalhadores estranhos máquinas de costura que pertencem a eles mesmos270 De fato atualmente prevalece na I nglaterra o sistema no qual o capitalista concentra um número maior de máquinas em suas instalações e então reparte o produto das máquinas entre o exército de trabalhadores domiciliares para sua elaboração ulterior271 A diversidade das formas de transição não esconde porém a tendência à transformação dessas formas em sistema fabril propriamente dito Essa tendência é fomentada pelo caráter da própria máquina de costura cuja multiplicidade de aplicações induz à unificação no mesmo prédio e sob o comando do mesmo capital de ramos de atividade anteriormente separados em virtude das circunstâncias em que os trabalhos de costura preparatórios e algumas outras operações são executadas de modo mais adequado no local onde se encontra a máquina e por fim por causa da 362 inevitável expropriação dos artesãos e trabalhadores domiciliares que produzem com suas próprias máquinas Em parte esse fado já se abateu sobre eles atualmente A massa cada vez maior de capital investido em máquinas de costura272 fomenta a produção e provoca a saturação do mercado que fazem soar o sinal para que os trabalhadores domiciliares vendam suas máquinas de costura A própria superprodução de tais máquinas obriga seus produtores ávidos de encontrar escoamento para seu produto a alugálas por um pagamento semanal273 criando com isso uma concorrência fatal para os pequenos proprietários de máquinas As constantes alterações na construção e o barateamento das máquinas depreciam de modo igualmente constante seus modelos antigos e fazem com que estes só sejam lucrativos quando comprados a preços irrisórios são utilizados em massa por grandes capitalistas Por último como em todos os processos similares de revolucionamento o elemento decisivo é aqui a substituição do homem pela máquina a vapor A aplicação da força do vapor se choca inicialmente com obstáculos puramente técnicos como a vibração das máquinas as dificuldades em controlar sua velocidade o desgaste acelerado das máquinas mais leves etc obstáculos que em sua totalidade a experiência logo ensina a superar274 Se por um lado a concentração de muitas máquinas de trabalho em grandes manufaturas promove a aplicação da força do vapor por outro a concorrência do vapor com a musculatura humana acelera a concentração de operários e máquinas de trabalho em grandes fábricas Assim atualmente a I nglaterra vivencia tanto na colossal esfera de produção de wearing apparel como na maior parte dos setores da indústria o revolucionamento da manufatura do artesanato e do trabalho domiciliar em sistema fabril depois de todas essas formas inteiramente modificadas decompostas e desfiguradas sob a influência da grande indústria já terem reproduzido e até mesmo ampliado há muito tempo todas as monstruosidades do sistema fabril porém sem os momentos positivos de seu desenvolvimento275 Essa revolução industrial que transcorre de modo naturalespontâneo é artificialmente acelerada pela expansão das leis fabris a todos os ramos da indústria em que trabalhem mulheres adolescentes e crianças A regulamentação compulsória da jornada de trabalho em relação a sua duração pausas início e término o sistema de revezamento para crianças a exclusão de toda criança abaixo de certa idade etc exigem por um lado o incremento da maquinaria276 e a substituição de músculos pelo vapor como força motriz277 Por outro para ganhar em espaço o que se perde em tempo temse a ampliação dos meios de produção utilizados em comum os fornos os edifícios etc portanto em suma uma maior concentração dos meios de produção e por conseguinte uma maior aglomeração de trabalhadores A objeção principal repetida de modo inflamado por toda manufatura ameaçada pela lei fabril é em verdade a da necessidade de um investimento maior de capital para que o negócio se mantenha em sua escala anterior Porém no que diz respeito tanto às formas intermediárias entre a manufatura e a produção domiciliar quanto a esta última propriamente a verdade é que o solo sobre a qual elas se alicerçam afunda quando se limitam a jornada de trabalho e o trabalho infantil A exploração ilimitada de forças de trabalho a baixo preço constitui o único fundamento de sua competitividade 363 A condição essencial do sistema fabril sobretudo quando submetido à regulação da jornada de trabalho é uma segurança normal do resultado isto é da produção de determinada quantidade de mercadoria ou do efeito útil intencionado num dado espaço de tempo As pausas fixadas por lei em sua regulação da jornada de trabalho pressupõem além disso que o trabalho seja interrompido súbita e periodicamente sem prejuízo para o artigo que se encontra em produção Naturalmente essa segurança quanto ao resultado e a capacidade de interrupção do trabalho são mais fáceis de se alcançar em atividades puramente mecânicas do que naquelas em que processos químicos e físicos desempenham um papel importante como na olaria na branquearia na tinturaria na panificação e na maioria das manufaturas metalúrgicas Com a prática da jornada de trabalho ilimitada do trabalho noturno e da livre devastação de seres humanos todo obstáculo naturalespontâneo é logo considerado uma eterna barreira natural Naturschranke à produção Nenhum veneno elimina pragas com mais segurança do que a lei fabril remove tais barreiras naturais Ninguém vociferou com tanta força sobre impossibilidades quanto os donos das cerâmicas Em 1864 foilhes imposta a lei fabril e dezesseis meses mais tarde já haviam desaparecido todas as impossibilidades O método aperfeiçoado que consistia em preparar a pasta de argila slip por pressão e não por evaporação na construção de novos fornos para secagem das peças não queimadas etc todas essas melhorias introduzidas pela lei fabril são acontecimentos de grande importância na arte da cerâmica e que evidenciam um progresso com que o século anterior não pôde rivalizar Reduziuse consideravelmente a temperatura dos fornos com uma considerável redução no consumo de carvão e ação mais rápida sobre a mercadoria278 Não obstante todas as profecias não houve aumento do preço de custo dos artigos de cerâmica mas sim da massa dos produtos ao ponto de a exportação dos doze meses entre dezembro de 1864 e dezembro de 1865 ter resultado num excedente de valor de 138628 acima da média dos três anos anteriores Na fabricação de palitos de fósforos consideravase uma lei natural que os adolescentes ao mesmo tempo que engoliam seu almoço molhassem os palitos num composto de fósforo quente cujo vapor venenoso lhes subia até o rosto Premida pela necessidade de economizar tempo a lei fabril 1864 forçou a criação de uma dipping machine máquina de imersão cujos vapores não atingem o trabalhador279 Assim nos ramos da manufatura de rendas ainda não sujeitos à lei fabril afirmase agora que os horários das refeições não podem ser regulares uma vez que são diferentes os intervalos de tempo que diferentes materiais rendeiros necessitam para secar variando de 3 minutos a 1 hora e até mais A isso respondem os comissários da Childrens Employment Commission As circunstâncias desse caso são as mesmas da estamparia de papéis de parede Alguns dos principais fabricantes nesse ramo afirmavam veementemente que a natureza dos materiais empregados e a diversidade dos processos que eles percorrem não permitiriam qualquer interrupção súbita do trabalho sem que isso acarretasse uma grande perda De acordo com a 6ª cláusula da 6ª seção da Factory Acts Extension Act Lei de Extensão da Lei Fabril 1864 foilhes concedido um prazo de dezoito meses a partir da data de promulgação da lei depois do qual teriam de se ajustar às pausas para descanso especificadas pela lei fabril280 364 Mal a lei recebera a sanção parlamentar e os senhores fabricantes também descobriram Os males que esperávamos da introdução da lei fabril não se efetivaram Não achamos que a produção esteja de modo algum paralisada Na verdade produzimos mais no mesmo tempo281 Como se vê o Parlamento inglês a quem certamente ninguém há de acusar de genialidade chegou por meio da experiência à conclusão de que uma lei coercitiva pode simplesmente remover todas as assim chamadas barreiras naturais da produção contrárias à limitação e regulamentação da jornada de trabalho razão pela qual com a introdução da lei fabril num ramo industrial é fixado um prazo de 6 a 18 meses dentro do qual o fabricante é incumbido de eliminar os obstáculos técnicos O dito de Mirabeau Impossible Ne me dites jamais ce bête de mot I mpossível J amais me digam esta palavra imbecil vale particularmente para a tecnologia moderna Mas se desse modo a lei fabril acelera artificialmente a maturação dos elementos materiais necessários à transformação da produção manufatureira em fabril ela ao mesmo tempo acelera em virtude da necessidade de um dispêndio aumentado de capital a ruína dos pequenos mestres e a concentração do capital282 Além dos obstáculos puramente técnicos e tecnicamente superáveis a regulamentação da jornada de trabalho se choca com hábitos irregulares dos próprios trabalhadores especialmente onde predomina o salário por peça e onde o desperdício de tempo numa parte do dia ou da semana pode ser compensado posteriormente por trabalho adicional ou trabalho noturno método que embrutece o trabalhador masculino adulto e arruína seus companheiros de idade imatura ou do sexo feminino283 Embora essa irregularidade no dispêndio de força de trabalho seja uma reação primitiva e naturalespontânea contra o fastio próprio de um trabalho monótono e maçante ela também surge em grau incomparavelmente maior da anarquia da própria produção que por sua vez pressupõe uma exploração desenfreada da força de trabalho pelo capital Além das variações periódicas gerais do ciclo industrial e das oscilações particulares do mercado em cada ramo de produção ocorrem também a assim chamada temporada Saison regulada seja pela periodicidade das estações do ano mais favoráveis à navegação seja pela moda e a urgência de atender no menor prazo possível a encomendas surgidas repentinamente O hábito dessas encomendas súbitas se expande com as ferrovias e a telegrafia A expansão do sistema ferroviário por todo o país diz por exemplo um fabricante londrino estimulou muito o hábito das encomendas de curto prazo Agora os compradores vêm de Glasgow Manchester e Edimburgo a cada duas semanas ou então compram por atacado nos grandes armazéns da City aos quais fornecemos as mercadorias Fazem encomendas que têm de ser atendidas imediatamente em vez de comprarem as mercadorias do estoque como antes era o costume Em anos anteriores sempre conseguíamos adiantar o serviço durante a estação baixa para a demanda da temporada seguinte mas agora ninguém pode prever qual será então o objeto da demanda284 Nas fábricas e manufaturas ainda não sujeitas à lei fabril reina periodicamente durante a assim chamada temporada o mais terrível sobretrabalho realizado num fluxo intermitente em decorrência de encomendas súbitas No departamento exterior da fábrica da manufatura ou do grande estabelecimento comercial na esfera do trabalho domiciliar por sua própria natureza totalmente irregular e para a obtenção de matériaprima e de encomendas completamente dependente do humor do 365 capitalista o qual se encontra aqui livre de qualquer preocupação com a valorização de prédios máquinas etc e não arrisca senão a pele do próprio trabalhador criase sistematicamente um exército industrial de reserva sempre disponível dizimado durante parte do ano pelo mais desumano trabalho forçado e durante a outra parte degradado pela falta de trabalho Os empregadores diz a Child Empl Comm exploram a irregularidade habitual do trabalho domiciliar para nos períodos em que se faz necessário trabalho adicional forçaremno a prosseguir noite adentro até 2 horas da madrugada ou como se costuma dizer por horas a fio e isso em locais onde o fedor é suficiente para vos desfalecer the stench is enough to knock you down Podeis ir talvez até a porta e abrila mas recuaríeis apavorados em vez de prosseguir285 Gente esquisita esses nossos patrões diz um sapateiro uma das testemunhas ouvidas pensam que a um rapaz não lhe causa mal algum se ele se mata trabalhando durante metade do ano e na outra metade é quase obrigado a vagabundear286 Como no caso dos obstáculos técnicos esses assim chamados hábitos do negócio usages which have grown with the growth of trade foram e são declarados por capitalistas interessados como barreiras naturais opostas à produção um clamor predileto dos lordes algodoeiros à época em que a lei fabril os ameaçava pela primeira vez Embora sua indústria mais do que qualquer outra esteja fundada no mercado mundial e portanto na navegação a experiência prática os desmentiu Desde então todo pretenso obstáculo ao negócio é tratado pelos inspetores de fábrica ingleses como pura impostura287 As investigações profundamente conscienciosas da Child Empl Comm demonstram de fato que em algumas indústrias a regulamentação da jornada de trabalho não fez mais do que distribuir uniformemente ao longo de todo o ano a massa de trabalho já empregada288 que tal regulação foi o primeiro freio racional aplicado aos volúveis caprichos da moda289 homicidas carentes de sentido e por sua própria natureza incompatíveis com o sistema da grande indústria que o desenvolvimento da navegação transoceânica e dos meios de comunicação em geral suprassumiu a base propriamente técnica do trabalho sazonal290 que todas as demais circunstâncias pretensamente incontroláveis são varridas pela construção de novos edifícios pelo incremento de maquinaria pelo aumento do número de trabalhadores simultaneamente empregados291 e pelo efeito retroativo que isso gera sobre o sistema do comércio atacadista292 Entretanto o capital como ele mesmo reiteradamente declara pela boca de seus representantes só consente em tal revolucionamento sob a pressão de uma lei geral do Parlamento293 que regule coercitivamente a jornada de trabalho 9 Legislação fabril cláusulas sanitárias e educacionais Sua generalização na Inglaterra A legislação fabril essa primeira reação consciente e planejada da sociedade à configuração naturalespontânea de seu processo de produção é como vimos um produto tão necessário da grande indústria quanto o algodão as selfactors e o telégrafo elétrico Antes de tratarmos de sua generalização na I nglaterra temos de mencionar brevemente algumas cláusulas da lei fabril inglesa não relacionadas ao número de horas da jornada de trabalho Além de sua redação que facilita ao capitalista transgredilas as cláusulas 366 sanitárias são extremamente exíguas limitandose na verdade a estabelecer regras para o branqueamento das paredes e algumas outras medidas de limpeza ventilação e proteção contra máquinas perigosas No Livro I I I voltaremos a examinar a luta fanática dos fabricantes contra a cláusula que lhes impõe um pequeno desembolso para a proteção dos membros de sua mão de obra Aqui volta a se confirmar de maneira brilhante o dogma librecambista de que numa sociedade com interesses antagônicos cada um promove o bem comum ao buscar sua própria vantagem Basta citar um exemplo Sabemos que durante os últimos vinte anos a indústria do linho e com ela as scutching mills fábricas para bater e quebrar o linho aumentaram consideravelmente na I rlanda Em 1864 havia naquele país cerca de 1800 dessas mills Periodicamente no outono e no inverno retiramse do trabalho no campo sobretudo adolescentes e mulheres filhos filhas e mulheres dos pequenos arrendatários das localidades vizinhas em suma pessoas que nada sabem de maquinaria para que alimentem com linho as máquinas laminadoras das scutching mills Em dimensão e intensidade os acidentes são absolutamente sem precedentes na história da maquinaria Numa única scutching mill em Kildinan nos arredores de Cork foram registrados de 1852 a 1856 seis acidentes fatais e sessenta mutilações graves ocorrências que poderiam ter sido evitadas por meio dos mais simples dispositivos ao preço de poucos xelins O dr W White certifying surgeon cirurgião certificado das fábricas de Downpatrick afirma num relatório oficial de 16 de dezembro de 1865 Os acidentes nas scutching mills são da natureza mais terrível Em muitos casos um quarto do corpo é arrancado do tronco A morte ou um futuro de miserável invalidez e sofrimento são as consequências habituais dos ferimentos A multiplicação das fábricas neste país certamente ampliará esses resultados aterradores Estou convencido de que grandes sacrifícios de vidas e corpos poderiam ser evitados por meio de uma adequada fiscalização estatal das scutching mills294 O que poderia caracterizar melhor o modo de produção capitalista do que a necessidade de lhe impor as mais simples providências de higiene e saúde por meio da coação legal do Estado A Lei Fabril de 1864 caiou e limpou nas olarias mais de duzentas oficinas algumas das quais não passavam por uma operação desse tipo há vinte anos e outras a experimentavam pela primeira vez essa é a abstinência do capital e isso em locais onde estão ocupados 27878 trabalhadores Até então estes respiravam durante seu excessivo trabalho diurno e muitas vezes noturno uma atmosfera mefítica que impregnava de doença e morte uma atividade que não fosse por isso seria comparativamente inócua A lei melhorou muito os meios de ventilação295 Ao mesmo tempo esse ramo da lei fabril mostra de modo contundente como o modo de produção capitalista segundo sua essência exclui a partir de certo ponto toda melhoria racional Observamos reiteradamente que os médicos ingleses declaram em uníssono que 500 pés cúbicos de ar por pessoa constituem o mínimo parcamente suficiente em condições de trabalho continuado Pois bem Se a lei fabril por meio de todas as suas medidas coercitivas acelera indiretamente a transformação das oficinas menores em fábricas interferindo assim indiretamente no direito de propriedade dos capitalistas menores e garantindo o monopólio aos grandes a imposição legal do volume de ar necessário para cada trabalhador na oficina expropriaria diretamente de um só golpe milhares de pequenos capitalistas Ela atingiria a raiz do modo de produção capitalista isto é a autovalorização do capital seja grande ou pequeno por 367 meio da livre compra e o consumo da força de trabalho Por isso diante desses 500 pés cúbicos de ar a lei fabril perde o fôlego As autoridades sanitárias as comissões de inquérito industrial os inspetores de fábrica repetem reiteradamente a necessidade dos 500 pés cúbicos e a impossibilidade de impôlos ao capital Com isso eles declaram na realidade que a tuberculose e outras doenças pulmonares que atingem os trabalhadores são condições vitais do capital296 Por mais mesquinhas que pareçam quando tomadas em conjunto as cláusulas educacionais da lei fabril proclamam o ensino primário como condição obrigatória para o trabalho297 Seu sucesso demonstrou antes de mais nada a viabilidade de conjugar o ensino e a ginástica298 com o trabalho manual e portanto também o trabalho manual com o ensino e a ginástica Os inspetores de fábrica logo descobriram com base em depoimentos de mestresescolas que as crianças das fábricas apesar de só receberem a metade do ensino oferecido a alunos regulares de tempo integral aprendem tanto quanto estes e às vezes até mais A questão é simples Aqueles que só permanecem metade do dia na escola estão sempre vivazes e quase sempre capacitados e dispostos a receber instrução O sistema dividido em metade trabalho e metade escola converte cada uma dessas atividades em descanso e recreação em relação à outra e por conseguinte muito mais adequadas para a criança do que uma única dessas atividades exercida de modo ininterrupto Um menino que desde manhã fica sentado na escola não pode rivalizar especialmente quando faz calor com outro que chega animado e plenamente disposto de seu trabalho299 Documentos adicionais podem ser encontrados no discurso de Senior durante o Congresso de Sociologia realizado em Edimburgo em 1863 em ele mostra entre outras coisas como a jornada escolar unilateral improdutiva e prolongada das crianças das classes mais elevadas e média aumenta inutilmente o trabalho dos professores enquanto ele desperdiça o tempo a saúde e a energia das crianças de um modo não só infrutífero como absolutamente prejudicial300 Do sistema fabril como podemos ver em detalhe na obra de Robert Owen brota o germe da educação do futuro que há de conjugar para todas as crianças a partir de certa idade o trabalho produtivo com o ensino e a ginástica não só como forma de incrementar a produção social mas como único método para a produção de seres humanos desenvolvidos em suas múltiplas dimensões Como vimos ao mesmo tempo que a grande indústria suprime tecnicamente a divisão manufatureira do trabalho e sua anexação vitalícia de um ser humano inteiro a uma operação detalhista a forma capitalista da grande indústria reproduz aquela divisão do trabalho de maneira ainda mais monstruosa na fábrica propriamente dita por meio da transformação do trabalhador em acessório autoconsciente de uma máquina parcial e em todos os outros lugares em parte mediante o uso esporádico das máquinas e do trabalho mecânico301 em parte graças à introdução de trabalho feminino infantil e não qualificado como nova base da divisão do trabalho A contradição entre a divisão manufatureira do trabalho e a essência da grande indústria impõese com toda sua força Ela se manifesta entre outras coisas no fato terrível de que grande parte das crianças empregadas nas fábricas e manufaturas modernas agrilhoadas desde a mais tenra idade às manipulações mais simples sejam exploradas por anos a fio sem que lhes seja ensinado um trabalho sequer que as torne úteis mais 368 tarde mesmo permanecendo nessa mesma manufatura ou fábrica Nas gráficas inglesas por exemplo antigamente ocorria que em conformidade com o sistema da velha manufatura e do artesanato os aprendizes passavam dos trabalhos mais fáceis para os mais complicados Cumpriam todo um ciclo de aprendizagem até se transformarem em impressores de pleno direito Saber ler e escrever era para todos eles uma exigência do ofício Tudo isso mudou com a máquina impressora Ela emprega dois tipos de trabalhadores um adulto o supervisor da máquina e assistentes jovens a maioria de 11 a 17 anos de idade cuja tarefa consiste exclusivamente em introduzir na máquina uma folha de papel ou retirar dela a folha impressa Sobretudo em Londres eles executam essa faina por 14 15 16 horas ininterruptas durante vários dias da semana e frequentemente por 36 horas consecutivas tendo apenas 2 horas de descanso para comer e dormir302 Grande parte deles não sabe ler e em geral são criaturas absolutamente embrutecidas e anormais Para capacitálos a executar sua tarefa não se requer nenhum tipo de formação intelectual eles têm poucas oportunidades para o exercício da habilidade e menos ainda do juízo o salário embora comparativamente alto para adolescentes não cresce na mesma proporção de seu próprio crescimento e a grande maioria não tem qualquer perspectiva de chegar ao posto de supervisor de máquina mais bem pago e de maior responsabilidade já que para cada máquina há apenas um supervisor e frequentemente quatro rapazes303 Assim que se tornam velhos demais para esse trabalho pueril ou seja no mais tardar aos 17 anos são despedidos da gráfica tornandose recrutas do crime Diversas tentativas de arranjarlhes ocupação em outro lugar fracassam por causa de sua ignorância seu embrutecimento e sua degradação física e espiritual O que é válido para a divisão manufatureira do trabalho na oficina vale também para a divisão do trabalho na sociedade Enquanto artesanato e manufatura constituem a base geral da produção social a subsunção do produtor a um ramo exclusivo da produção a supressão da diversidade original de suas ocupações304 é um momento necessário do desenvolvimento Sobre essa base cada ramo particular da produção encontra empiricamente a configuração técnica que lhe corresponde aperfeiçoaa lentamente e num certo grau de maturidade cristalizaa rapidamente Além dos novos materiais de trabalho fornecidos pelo comércio a única coisa que provoca modificações aqui e ali é a variação gradual do meio de trabalho Uma vez alcançada a forma adequada à experiência também ela se ossifica como o comprova sua transmissão muitas vezes milenar de uma geração a outra É característico que no século XVI I I ainda se denominassem mysteries mystères mistérios305 os diversos ofícios em cujos arcanos só podia penetrar o iniciado por experiência e por profissão A grande indústria rasgou o véu que ocultava aos homens seu próprio processo social de produção e que convertia os diversos ramos da produção que se haviam particularizado de modo naturalespontâneo em enigmas uns em relação aos outros e inclusive para o iniciado em cada um desses ramos O princípio da grande indústria a saber o de dissolver cada processo de produção propriamente dito em seus elementos constitutivos e antes de tudo fazêlo sem nenhuma consideração para com a mão humana criou a mais moderna ciência da tecnologia As formas variegadas aparentemente desconexas e ossificadas do processo social de produção se dissolveram de acordo com o efeito útil almejado nas aplicações conscientemente 369 planificadas e sistematicamente particularizadas das ciências naturais A tecnologia descobriu as poucas formas fundamentais do movimento sob as quais transcorre necessariamente apesar da diversidade dos instrumentos utilizados toda ação produtiva do corpo humano exatamente do mesmo modo como a mecânica não deixa que a maior complexidade da maquinaria a faça perder de vista a repetição constante das potências mecânicas simples A indústria moderna jamais considera nem trata como definitiva a forma existente de um processo de produção Sua base técnica é por isso revolucionária ao passo que a de todos os modos de produção anteriores era essencialmente conservadora306 Por meio da maquinaria de processos químicos e outros métodos ela revoluciona continuamente com a base técnica da produção as funções dos trabalhadores e as combinações sociais do processo de trabalho Desse modo ela revoluciona de modo igualmente constante a divisão do trabalho no interior da sociedade e não cessa de lançar massas de capital e massas de trabalhadores de um ramo de produção a outro A natureza da grande indústria condiciona assim a variação do trabalho a fluidez da função a mobilidade pluridimensional do trabalhador Por outro lado ela reproduz em sua forma capitalista a velha divisão do trabalho com suas particularidades ossificadas Vimos como essa contradição absoluta suprime toda tranquilidade solidez e segurança na condição de vida do trabalhador a quem ela ameaça constantemente com privarlhe juntamente com o meio de trabalho de seu meio de subsistência307 como juntamente com sua função parcial ela torna supérfluo o próprio trabalhador como essa contradição desencadeia um rito sacrificial ininterrupto da classe trabalhadora o desperdício mais exorbitante de forças de trabalho e as devastações da anarquia social Esse é o aspecto negativo Mas se agora a variação do trabalho impõese apenas como lei natural avassaladora e com o efeito cegamente destrutivo de uma lei natural que se choca com obstáculos por toda parte308 a grande indústria precisamente por suas mesmas catástrofes converte em questão de vida ou morte a necessidade de reconhecer como lei social geral da produção a mudança dos trabalhos e consequentemente a maior polivalência possível dos trabalhadores fazendo ao mesmo tempo com que as condições se adaptem à aplicação normal dessa lei Ela transforma numa questão de vida ou morte a substituição dessa realidade monstruosa na qual uma miserável população trabalhadora é mantida como reserva pronta a satisfazer as necessidades mutáveis de exploração que experimenta o capital pela disponibilidade absoluta do homem para cumprir as exigências variáveis do trabalho a substituição do indivíduo parcial mero portador de uma função social de detalhe pelo indivíduo plenamente desenvolvido para o qual as diversas funções sociais são modos alternantes de atividade Uma fase desse processo de revolucionamento constituída espontaneamente com base na grande indústria é formada pelas escolas politécnicas e agronômicas e outra pelas écoles denseignement professionnel escolas profissionalizantes em que filhos de trabalhadores recebem alguma instrução sobre tecnologia e manuseio prático de diversos instrumentos de produção Se a legislação fabril essa primeira concessão penosamente arrancada ao capital não vai além de conjugar o ensino fundamental com o trabalho fabril não resta dúvida de que a inevitável conquista do poder político pela classe trabalhadora garantirá ao ensino teórico e prático da tecnologia seu devido 370 À medida que a jornada avança as mistresses usam de uma vara longa para incentivar as rendeiras a manterem o ritmo de trabalho Ao final de sua longa prisão numa atividade monótona prejudicial à visão e estafante por causa da uniformidade da postura corporal as crianças se cansam cada vez mais tornandose inquietas como pássaros É um verdadeiro trabalho escravo Their work is like slavery indivíduos de ambos os sexos e das mais diversas faixas etárias que em sua forma capitalista naturalespontânea e brutal em que o trabalhador existe para o processo de produção e não o processo de produção para o trabalhador é uma fonte pestífera de degeneração e escravidão pode se converter sob as condições adequadas em fonte de desenvolvimento humano312 A necessidade de generalizar a lei fabril transformandoa de uma lei de exceção para fiações e tecelagens essas primeiras criações da indústria mecanizada numa lei para toda a produção social decorre como vimos do curso histórico de desenvolvimento da grande indústria em cuja esteira é inteiramente revolucionada a configuração tradicional da manufatura do artesanato e do trabalho domiciliar a manufatura transformase progressivamente em fábrica o artesanato em manufatura e por último as esferas do artesanato e do trabalho domiciliar se transfiguram num prazo que em termos relativos é assombrosamente curto em antros miseráveis em que grassam livremente as mais espantosas monstruosidades da exploração capitalista Duas são as circunstâncias que em última análise tornamse decisivas primeiro a experiência sempre renovada de que o capital tão logo seja submetido ao controle estatal em alguns pontos da periferia social ressarce a si mesmo tanto mais desenfreadamente nos demais pontos313 segundo a gritaria dos próprios capitalistas por igualdade nas condições de concorrência isto é por limitações iguais à exploração do trabalho314 Ouçamos a esse respeito dois gritos saídos do imo peito Os senhores W Cooksley fabricantes de pregos correntes etc em Bristol introduziram voluntariamente a regulamentação fabril em seu negócio Como o sistema antigo e irregular continua a vigorar nas oficinas vizinhas os senhores Cooksley ficam expostos ao prejuízo de que seus jovens trabalhadores sejam tentados enticed a seguir trabalhando noutro local após as 6 horas da tarde Isto dizem eles com naturalidade é uma injustiça contra nós e uma perda já que esgota parte da força desses jovens da qual devemos usufruir plenamente315 O sr J Simpson Paperbox bag maker fabricante de caixas de papelão e sacolas de papel de Londres declara aos comissários da Child Empl Comm que subscreveria qualquer petição pela implantação das leis fabris Pois de qualquer modo após fechar sua oficina ele jamais consegue repousar à noite he always felt restless at night tomado pelo pensamento de que outros põem seus operários para trabalhar por mais tempo e assim lhe privam de suas encomendas diante de seu nariz316 Seria uma injustiça sintetiza a Child Empl Comm para com os empregadores maiores submeter suas fábricas à regulamentação quando em seu próprio ramo de atividade a pequena empresa não está sujeita a nenhuma limitação legal do tempo de trabalho E à injustiça derivada de condições desiguais de concorrência em relação às horas de trabalho caso as oficinas menores permanecessem isentas desse controle somarseia ainda outra desvantagem para os grandes fabricantes a de que seu suprimento de trabalho juvenil e feminino seria desviado para as oficinas poupadas da legislação Por fim isso daria impulso à multiplicação das oficinas menores que quase sem exceção são as que menos favorecem a saúde comodidade educação e melhoria geral do povo317 Em seu relatório final a Childrens Employment Commission propõe submeter à lei fabril mais de 14 milhão de crianças adolescentes e mulheres das quais aproximadamente a metade é explorada pela pequena empresa e pelo trabalho domiciliar318 Se o Parlamento diz o relatório aceitasse nossa proposta em toda sua amplitude é indubitável que tal legislação exerceria a mais benéfica influência não só sobre os jovens e os fracos que constituem seus objetos mais imediatos mas também sobre a massa ainda maior de trabalhadores adultos que se encontrariam em sua esfera 372 Onde as mulheres trabalham em casa com seus próprios filhos isto é em sentido moderno num quarto alugado frequentemente num sótão as condições são quando isso é possível ainda piores Esse tipo de trabalho é distribuído num raio de 80 milhas em torno de Nottingham Quando a criança ocupada nos estabelecimentos comerciais deixa o trabalho às 9 ou 10 horas da noite é comum que ela ainda receba um pacote para aponte em casa O farsuel capitalista representado por um de seus lacaíos assalariados faz isso com naturalidade proferindo a untuosa frase isto é para a mamãe porém plenamente consciente de que a pobre criança terá de ajudar no trabalho direta mulheres e indireta homens de influência Ela os forçaria a cumprir um horário de trabalho regular e moderado economizaria e incrementaria essas reservas de força física das quais tanto depende seu próprio bem estar e o do país protegeria a nova geração desse esforço excessivo realizado em idade imatura que mina sua constituição e leva à decadência prematura por fim assegurarlhesia ao menos até os 13 anos de idade a oportunidade de receberem educação elementar e desse modo pôr um fim a essa incrível ignorância tão fielmente descrita nos relatórios da comissão e que não se pode considerar sem experimentar o sofrimento mais torturante e um sentimento profundo de degradação nacional319 No discurso do trono de 5 de fevereiro de 1867 o ministério tory anunciou ter formulado como billsprojetos de lei as recomendações319a da comissão de inquérito industrial Para tanto ele tivera de realizar vinte anos de experimentum in corpore vili experimentos num corpo sem valor J á em 1840 fora nomeada uma comissão parlamentar para investigar o trabalho infantil Seu relatório de 1842 apresentava segundo as palavras de N W Senior o quadro mais aterrador de avareza egoísmo e crueldade por parte dos capitalistas e pais de miséria degradação e aniquilamento de crianças e adolescentes que jamais se apresentou aos olhos do mundo Há quem possa supor que o relatório descreva horrores de uma era passada Infelizmente certos relatos evidenciam que esses horrores continuam mais intensos do que nunca Uma brochura publicada há dois anos por Hardwicke afirma que os abusos denunciados em 1842 encontramse hoje 1863 em plena florescência Esse relatório de 1842 foi ignorado por 20 anos período no qual se permitiu que aquelas crianças que cresceram sem a mínima noção daquilo a que chamamos moral carentes de formação escolar religião e afeto familiar natural se tornassem os pais da geração atual320 Nesse ínterim a situação social haviase modificado O Parlamento não ousou rechaçar as propostas da comissão de 1863 como o fizera anteriormente com as de 1842 Por isso já em 1864 mal a comissão publicara parte de seus relatórios e a indústria de cerâmica inclusive as olarias a confecção de papéis de paredes palitos de fósforos cartuchos e estopins bem como a aparação de veludo foram submetidas às leis que se aplicavam à indústria têxtil No discurso do trono de 5 de fevereiro de 1867 o gabinete tory de então anunciou outros bills baseados nas propostas finais da comissão que entrementes em 1866 concluíra sua tarefa A 15 de agosto de 1867 a coroa sancionou a Factory Acts Extension Act e a 21 de agosto a Workshops Regulation Act Lei para regulamentação das oficinas a primeira lei regulamenta os grandes a segunda os pequenos ramos de negócio A Factory Acts Extension Act regulamenta os altosfornos usinas de ferro e de cobre fundições fábricas de máquinas oficinas metalúrgicas fábricas de gutapercha papel vidro tabaco além de gráficas oficinas de encadernação e em geral todas as oficinas industriais desse tipo nas quais estejam ocupadas cinquenta ou mais pessoas ao mesmo tempo durante pelo menos cem dias por ano Para dar uma ideia do âmbito abrangido por essa lei seguem aqui algumas das definições nela estabelecidas Por artesanato se entende nessa lei qualquer trabalho manual exercido como negócio ou como fonte de ganho ou ocasionalmente a confecção reforma ornamentação conserto ou acabamento para a venda de qualquer artigo ou de parte dele Por oficina se entende qualquer quarto ou local coberto ou ao ar livre no qual qualquer criança trabalhador adolescente ou mulher exerça um trabalho artesanal e sobre o qual tenha o direito de acesso e controle aquele que empregue tal criança trabalhador adolescente ou mulher Por empregado se entende aquele que trabalha num artesanato em troca de salário ou não sob um patrão ou um dos pais como mais baixo é definido de modo mais pormenorizado Por pais se entende o pai a mãe o tutor ou outra pessoa que detenha a tutela ou controle sobre qualquer 373 O modo de interrogar as testemunhas lembra ali os cross examinations inquéritos cruzados perante os tribunais ingleses nos quais o advogado por meio de perguntas oblíquas desavergonhadas e capciosas procura confundir a testemunha distorcendo o sentido de suas palavras Os advogados são aqui os próprios inquiridores parlamentares entre os quais figuram proprietários e exploradores de minas as testemunhas são trabalhadores mineiros geralmente de minas de carvão Toda essa farsa caracteriza o espírito do capital de modo tão perfeito que não podemos deixar de ilustrála aqui com alguns extratos Para facilitar a visão geral apresento os resultados do inquérito etc em rubricas Lembro que nos Blue Books ingleses a pergunta e a resposta obrigatória são numeradas e que as testemunhas cujos depoimentos são aqui citados são trabalhadores empregados em minas de carvão 1 Ocupação de jovens a partir dos 10 anos nas minas O trabalho incluindo o tempo gasto em ir às minas e voltar delas dura normalmente de 14 a 15 horas excepcionalmente mais Começa às 3 4 5 horas da manhã e se estende até 4 ou 5 da tarde n 6 452 83 Os operários adultos trabalham em dois turnos ou seja 8 horas mas para economizar custos nenhum revezamento é feito entre os jovens n 80 203 204 As crianças pequenas são empregadas principalmente na tarefa de abrir e fechar as portas de ventilação nos diversos compartimentos da mina as crianças mais velhas em trabalho mais pesado como o transporte de carvão etc n 122 739 740 O horário prolongado de trabalho debaixo da terra dura até que os jovens cumpram 18 ou 22 anos quando passam a realizar o trabalho de mineração propriamente dito n 161 Hoje em dia as crianças e os adolescentes são mais duramente esfalfados do que em qualquer período anterior n 16631667 Os mineiros reivindicam quase unanimemente uma lei parlamentar que proíba o trabalho nas minas aos menores de 14 anos E então pergunta Hussey Vivian ele mesmo um explorador de minas Essa reivindicação não depende da maior ou menor pobreza dos pais E o Mr Bruce Não seria excessivamente rigoroso estando o pai morto ou mutilado etc tirar da família esses recursos E no entanto é preciso haver uma regra geral Quereis proibir em todos os casos a ocupação das crianças menores de 14 anos em trabalhos subterrâneos Resposta Em todos os casos n 107110 Vivian Se o trabalho nas minas fosse proibido até os catorze anos isso não faria com que os pais enviassem as crianças para fábricas etc Em regra geral não n 174 Um trabalhador Abrir e fechar as portas parece fácil Mas é um trabalho muito penoso Além da constante corrente de ar o jovem fica aprisionado exatamente como se estivesse num calabouço escuro O burguês Vivian O jovem não pode ler enquanto vigia a porta caso possua uma luz Em primeiro lugar ele teria de comprar as velas Mas além disso isso não lhe seria permitido Ele está ali para atentar em sua tarefa tem um dever a cumprir Jamais vi um jovem a ler dentro da mina n 139 141160 2 Educação Os mineiros reivindicam uma lei para o ensino obrigatório das crianças como nas fábricas Consideram como puramente ilusória a cláusula da lei de 1860 que institui a exigência de certificado escolar para o emprego de meninos de 10 a 12 anos de idade O embaraçoso procedimento interrogativo dos juízes de instrução capitalistas assume aqui uma feição verdadeiramente cômica n 115 A lei é mais necessária contra os patrões ou contra os pais Contra os dois n 116 Mais contra um que contra o outro Como devo responder a isso n 137 Mostram os patrões algum desejo de adequar o horário de trabalho ao ensino escolar Jamais n 211 Os mineiros melhoram posteriormente sua educação Em geral pioram adquirem maus hábitos entregamse à bebida ao jogo e coisas semelhantes e sucumbem totalmente n 454 Por que não enviam as crianças a escolas noturnas Na maioria dos distritos carvoeiros tais escolas não existem Mas o principal é que elas estão tão exaustas devido ao excesso de trabalho que seus olhos se fecham de cansaço Mas então conclui o burguês sois contra o ensino De forma alguma mas etc n 375 443 Os donos das minas etc não estão obrigados pela lei de 1860 a exigir certificado escolar quando empregam crianças entre 10 e 12 anos Pela lei sim mas os patrões não o fazem n 444 Em sua opinião essa cláusula legal não é geralmente aplicada Ela não é aplicada jamais n 717 Os mineiros se interessam muito pela questão educacional A grande maioria n 718 Desejam ansiosamente a aplicação da lei A grande maioria n 720 Por que então eles não forçam sua aplicação Muitos deles gostariam que fossem recusadas crianças sem certificado escolar mas ele se torna um homem marcado a marked man n 721 Marcado por quem Por seu patrão n 722 Acreditais por acaso que os patrões perseguiriam um homem por sua obediência à lei Creio que o fariam n 723 Por que os trabalhadores não se negam a empregar tais jovens Isso não é deixado à escolha deles n 1634 Exigis a intervenção do Parlamento Se algo eficaz deve ser feito pela educação dos filhos dos mineiros terá de ser compulsoriamente por uma lei do Parlamento n 1636 Isso deve ser feito para os filhos de todos os trabalhadores da GrãBretanha ou apenas para os trabalhadores das minas Estou aqui para falar em nome dos trabalhadores das minas n 1638 Por que distinguir entre as crianças das minas e as outras Porque elas constituem uma exceção à regra n 1639 Em que sentido Em sentido físico n 1640 Por que a educação seria mais preciosa para elas do que para os meninos de outras classes Não digo que seja mais preciosa para elas mas por causa de seu excesso de trabalho nas minas elas têm menos chance de obter educação nas escolas diurnas e dominicais n 1644 Não é verdade que é impossível tratar questões dessa natureza de uma maneira absoluta n 1646 Há escolas suficientes nos distritos Não n 1647 Se o Estado exigisse que toda criança fosse mandada à escola de onde sairiam então escolas para todas as crianças Creio que assim que as circunstâncias o imponham as escolas surgirão por si mesmas A grande maioria não só das crianças mas também dos mineiros adultos não sabe ler nem escrever n 705 726 3 Trabalho feminino Desde 1842 já não se empregam mulheres em trabalho subterrâneo mas sim na superfície para carregar carvão etc arrastar as cubas até os canais ou vagões ferroviários selecionar o carvão etc Seu emprego aumentou muito nos últimos 3 ou 4 anos n 1727 Em sua maior parte são esposas filhas ou viúvas de mineiros e suas idades variam de 12 até 50 ou 60 anos n 647 1779 1781 n 648 O que pensam os mineiros do emprego de mulheres nas minas Em geral eles o condenam n 649 Por quê Consideramno degradante para o sexo Elas vestem uma roupa de tipo masculino Em muitos casos todo pudor é deixado de lado Várias mulheres fumam O trabalho é tão sujo quanto o que se efetua no subterrâneo Muitas delas são mulheres casadas que não conseguem cumprir suas obrigações domésticas n 651s 701 n 709 Poderiam as viúvas encontrar em outro lugar ocupação tão rentável de 8 a 10 xelins semanais Nada sei dizer a esse respeito n 710 E ainda assim coração de pedra estais dispostos a cortar lhes esse meio de vida Certamente n 1715 De onde vem essa disposição Nós os mineiros temos demasiado respeito pelo belo sexo para vêlo condenado à mina de carvão Esse trabalho é em sua maior parte muito pesado Muitas dessas moças erguem 10 toneladas por dia n 1732 Credes que as trabalhadoras ocupadas nas minas são mais imorais do que as ocupadas nas fábricas A percentagem das depravadas Schlechten é maior do que entre as moças das fábricas n 1733 Mas também não estais satisfeito com o nível de moralidade nas fábricas Não n 1734 Quereis então que também se proíba o trabalho feminino nas fábricas Não eu não quero n 1735 Por que não Porque é uma ocupação mais honrada e adequada para o sexo feminino n 1736 Apesar disso ela é prejudicial à moralidade delas como dizeis Não não tanto quanto o trabalho na mina Aliás não falo só de razões morais mas também físicas e sociais A degradação social das moças é deplorável e extrema Quando se tornam esposas de mineiros os homens padecem muito sob essa degradação e isso os leva a abandonar a casa e entregarse à bebida n 1737 Mas o mesmo não seria igualmente válido para as mulheres ocupadas nas usinas siderúrgicas Não posso falar por outros ramos de atividade n 1740 Mas que diferença há entre as mulheres empregadas em usinas siderúrgicas e as empregadas em minas Não me ocupei dessa questão n 1741 Poderíeis descobrir alguma diferença entre uma classe e outra Não estou certo de que exista mas conheço por minhas visitas de casa em casa o deplorável estado de coisas em nosso distrito n 1750 Não vos causaria um grande prazer abolir a ocupação feminina onde quer que ela seja degradante Sim os melhores sentimentos das crianças têm de vir da criação materna n 1751 Mas isso também se aplica à ocupação agrícola de mulheres Esta só dura duas estações do ano ao passo que nas minas elas trabalham as quatro estações muitas vezes dia e noite totalmente encharcadas com sua constituição debilitada e a saúde alquebrada n 1753 Não estudastes a questão isto é da ocupação feminina de modo geral Tenho olhado ao meu redor e o que posso dizer é que em nenhum lugar encontrei nada que se compare à ocupação feminina nas minas de carvão n 1793 1794 1808 É um trabalho para homens e para homens fortes A melhor classe dos mineiros que procura se elevar e humanizar em vez de encontrar algum apoio em suas mulheres são empurradas por elas para baixo 376 Depois de os burgueses terem continuado a inquirir em todas as direções revelase finalmente o segredo de sua compaixão pelas viúvas pelas pobres famílias etc O proprietário da mina de carvão designa certos gentlemen cavalheiros para a tarefa de supervisão e a política destes últimos a fim de colherem aplausos dos patrões consiste em fazer tudo do modo mais econômico possível As moças ocupadas recebem de 1 xelim a 1 xelim e 6 pence por dia ao passo que um homem teria de receber 2 xelins e 6 pence n 1816 4 Júris de autópsias n 360 No que diz respeito aos coroners inquests inquéritos em casos de óbito em vossos distritos estão os trabalhadores satisfeitos com o processo judicial em caso de acidentes Não não estão n 361375 Por que não Antes de tudo porque as pessoas que se nomeiam para os júris não sabem absolutamente nada de minas Trabalhadores nunca são convocados salvo como testemunhas Em geral são escolhidos os merceeiros das vizinhanças que se encontram sob a influência dos proprietários das minas seus clientes e que não compreendem sequer os termos técnicos empregados pelas testemunhas Reivindicamos que os mineiros formem parte dos júris Em grande parte dos casos a sentença está em contradição com os depoimentos das testemunhas n 378 Mas os júris não devem ser imparciais Sim n 379 Os trabalhadores o seriam Não vejo motivos para que não sejam imparciais Eles têm conhecimento de causa n 310 Mas eles não teriam a tendência de emitir sentenças injustamente severas no interesse dos trabalhadores Não não o creio 5 Pesos e medidas falsos etc Os trabalhadores reivindicam pagamento semanal em vez de a cada catorze dias que a medição seja feita por peso e não pela medida de capacidade das cubas proteção contra o uso de pesos falsos etc n 1071 Se as cubas são aumentadas fraudulentamente não pode o trabalhador abandonar a mina após catorze dias de aviso prévio Sim mas se for para outro lugar ele encontrará a mesma situação n 1072 Mas não pode ele abandonar o local onde a injustiça é cometida Essa injustiça existe por toda parte n 1073 Mas não é verdade que o trabalhador pode deixar seu posto depois de 14 dias de aviso prévio Sim É o suficiente 6 I nspeção de minas Os trabalhadores não sofrem apenas com os acidentes causados por explosões de gases n 234s Temos igualmente de reclamar da má ventilação das galerias das minas de carvão dentro das quais as pessoas mal podem respirar os operários se tornam assim incapazes de qualquer tipo de ocupação Por exemplo agora mesmo no setor em que trabalho o ar pestilento pôs muitas pessoas de cama durante semanas As galerias principais são em geral suficientemente ventiladas mas não os lugares onde trabalhamos Se algum trabalhador apresenta queixa ao inspetor quanto à ventilação é despedido e se torna um homem marcado que não encontrará ocupação em outros lugares A Mining Inspection Act de 1860 não é mais do que um pedaço de papel O inspetor e o número de inspetores é pequeno demais realiza quando muito uma visita formal a cada sete anos Nosso inspetor é um homem absolutamente incapaz de 70 anos encarregado de mais de 130 minas de carvão Além de mais inspetores precisamos de subinspetores n 280 Deveria o governo então manter um tal exército de inspetores que pudesse fazer sozinho sem informações dos operários tudo o que exigis Isso é impossível mas deveriam vir buscar as informações nas próprias minas n 285 Não credes que o resultado seria transferir aos funcionários governamentais a responsabilidade pela ventilação etc responsabilidade que hoje é dos proprietários das minas De modo nenhum sua tarefa deveria ser exigir o cumprimento das leis já vigentes n 294 Quando falais de subinspetores vos referis a pessoas com salário menor e de caráter inferior ao dos atuais inspetores De modo algum os desejaria inferiores se podeis conseguir melhores n 295 Quereis mais inspetores ou um tipo de gente inferior aos inspetores Precisamos de gente disposta a entrar efetivamente nas minas gente que não tema arriscar a própria pele n 297 Se fosse atendido vosso desejo de que se nomeiem inspetores de um tipo inferior sua falta de habilitação para a tarefa não criaria perigos etc Não é atribuição do governo nomear sujeitos aptos Ao final esse tipo de interrogatório se tornou estúpido demais até mesmo para o presidente da comissão de inquérito O que quereis intervém ele é gente prática que observem pessoalmente o que se passa nas minas e relatem 377 aos inspetores que poderão então aplicar sua ciência superior n 531 A ventilação de todas essas velhas minas não acarretaria muitas despesas Sim é possível que as despesas aumentassem mas vidas humanas seriam protegidas n 581 Um mineiro de carvão protesta contra a 17ª seção da Lei de 1860 Atualmente quando o inspetor de minas encontra uma parte da mina fora das condições de trabalho ele tem de relatar o fato ao proprietário da mina e ao ministro do Interior Depois disso o proprietário da mina tem 20 dias para meditar sobre o assunto ao cabo dos 20 dias ele pode recusar qualquer alteração Ao fazêlo porém ele tem de escrever ao ministro do Interior e indicarlhe cinco engenheiros de minas entre os quais cabe ao ministro escolher os árbitros Afirmamos que nesse caso o proprietário da mina praticamente nomeia seus próprios juízes n 586 O examinador burguês ele mesmo proprietário de minas Esta é uma objeção puramente especulativa n 588 Quer dizer que tendes em tão pouca conta a integridade dos engenheiros de minas O que digo é que isso é muito iníquo e injusto n 589 Não possuem os engenheiros de minas uma espécie de caráter público que eleva suas decisões acima da parcialidade que temeis Recusome a responder a perguntas sobre o caráter pessoal dessas pessoas Tenho a convicção de que em muitos casos eles atuam de modo muito parcial e que esse poder lhes deveria ser retirado sempre que vidas humanas estejam em jogo O mesmo burguês ainda tem o desplante de perguntar Não credes que também os proprietários de minas têm prejuízos com as explosões Por fim n 1042 Não poderíeis vós os trabalhadores cuidar de vossos próprios interesses sem recorrer à ajuda do Governo Não Em 1865 havia 3217 minas de carvão na GrãBretanha e doze inspetores Até mesmo um proprietário de minas de Yorkshire Times 26 jan de 1867 calcula que sem considerar as atividades puramente burocráticas dos inspetores que absorvem todo o tempo deles cada mina só poderia ser inspecionada uma vez a cada dez anos Não é de admirar portanto que as catástrofes tenham aumentado cada vez mais nos últimos anos sobretudo em 1866 e 1867 tanto em número quanto em magnitude às vezes com o sacrifício de 200 a 300 trabalhadores São essas as maravilhas da livre produção capitalista Em todo caso a Lei de 1872 por defeituosa que seja é a primeira a regulamentar o horário de trabalho das crianças ocupadas nas minas e que em certa medida responsabiliza os exploradores e proprietários das minas pelos assim chamados acidentes A comissão real de 1867 cuja tarefa era investigar a ocupação de crianças adolescentes e mulheres na agricultura publicou alguns relatórios muito significativos Diversas tentativas foram feitas de aplicar à agricultura sob forma modificada os princípios da legislação fabril mas até agora todas elas fracassaram totalmente Mas cabe chamar a atenção aqui para a existência de uma tendência irresistível à universalização desses princípios Se a universalização da legislação fabril tornouse inevitável como meio de proteção física e espiritual da classe trabalhadora tal universalização por outro lado e como já indicamos anteriormente universaliza e acelera a transformação de processos laborais dispersos realizados em escala diminuta em processos de trabalho combinados realizados em larga escala em escala social ela acelera portanto a concentração do capital e o império exclusivo do regime de fábrica Ela destrói todas as 378 formas antiquadas e transitórias embaixo das quais a domínio do capital ainda se esconde em parte e as substitui por seu domínio direto indisfarçado Com isso ela também generaliza a luta direta contra esse domínio Ao mesmo tempo que impõe nas oficinas individuais uniformidade regularidade ordem e economia a legislação fabril por meio do imenso estímulo que a limitação e a regulamentação da jornada de trabalho dão à técnica aumenta a anarquia e as catástrofes da produção capitalista em seu conjunto assim como a intensidade do trabalho e a concorrência da maquinaria com o trabalhador J untamente com as esferas da pequena empresa e do trabalho domiciliar ela aniquila os últimos refúgios dos supranumerários e com eles a válvula de segurança até então existente de todo o mecanismo social Amadurecendo as condições materiais e a combinação social do processo de produção ela também amadurece as contradições e os antagonismos de sua forma capitalista e assim ao mesmo tempo os elementos criadores de uma nova sociedade e os fatores que revolucionam a sociedade velha322 10 Grande indústria e agricultura A revolução que a grande indústria acarreta na agricultura e nas condições sociais de seus agentes de produção só será examinada mais adiante Por ora basta antecipar brevemente alguns resultados Se o uso da maquinaria na agricultura está em grande parte isento dos prejuízos físicos que ela acarreta ao trabalhador fabril323 não é menos verdade que no que diz respeito a tornar supranumerários os trabalhadores ela atua de modo ainda mais intenso e sem nenhum contrapeso como veremos em detalhes mais à frente Nos condados de Cambridge e Suffolk por exemplo a área cultivada cresceu muito nos últimos vinte anos enquanto a população rural no mesmo período decresceu não só em termos relativos mas também absolutos Nos Estados Unidos da América do Norte por enquanto as máquinas agrícolas só substituem os trabalhadores virtualmente ou seja permitem que o produtor cultive uma superfície maior mas sem expulsar os trabalhadores efetivamente ocupados Na I nglaterra e no País de Gales em 1861 o número de pessoas que participavam na fabricação de máquinas agrícolas era de 1034 ao passo que o número de trabalhadores agrícolas ocupados no manejo de máquinas a vapor e de trabalho era de apenas 1205 É na esfera da agricultura que a grande indústria atua do modo mais revolucionário ao liquidar o baluarte da velha sociedade o camponês substituindo o pelo trabalhador assalariado Desse modo as necessidades sociais de revolucionamento e os antagonismos do campo são niveladas às da cidade O método de produção mais rotineiro e irracional cede lugar à aplicação consciente e tecnológica da ciência O modo de produção capitalista consume a ruptura do laço familiar original que unia a agricultura à manufatura e envolvia a forma infantilmente rudimentar de ambas Ao mesmo tempo porém ele cria os pressupostos materiais de uma nova síntese superior entre agricultura e indústria sobre a base de suas configurações antiteticamente desenvolvidas Com a predominância sempre crescente da população urbana amontoada em grandes centros pela produção capitalista esta 379 por um lado acumula a força motriz histórica da sociedade e por outro lado desvirtua o metabolismo entre o homem e a terra isto é o retorno ao solo daqueles elementos que lhe são constitutivos e foram consumidos pelo homem sob forma de alimentos e vestimentas retorno que é a eterna condição natural da fertilidade permanente do solo Com isso ela destrói tanto a saúde física dos trabalhadores urbanos como a vida espiritual dos trabalhadores rurais324 Mas ao mesmo tempo que destrói as condições desse metabolismo engendradas de modo inteiramente naturalespontâneo a produção capitalista obriga que ele seja sistematicamente restaurado em sua condição de lei reguladora da produção social e numa forma adequada ao pleno desenvolvimento humano Na agricultura assim como na manufatura a transformação capitalista do processo de produção aparece a um só tempo como martirológio dos produtores o meio de trabalho como meio de subjugação exploração e empobrecimento do trabalhador a combinação social dos processos de trabalho como opressão organizada de sua vitalidade liberdade e independência individuais A dispersão dos trabalhadores rurais por áreas cada vez maiores alquebra sua capacidade de resistência tanto quanto a concentração em grandes centros industriais aumenta a dos trabalhadores urbanos Assim como na indústria urbana na agricultura moderna o incremento da força produtiva e a maior mobilização do trabalho são obtidos por meio da devastação e do esgotamento da própria força de trabalho E todo progresso da agricultura capitalista é um progresso na arte de saquear não só o trabalhador mas também o solo pois cada progresso alcançado no aumento da fertilidade do solo por certo período é ao mesmo tempo um progresso no esgotamento das fontes duradouras dessa fertilidade Quanto mais um país como os Estados Unidos da América do Norte tem na grande indústria o ponto de partida de seu desenvolvimento tanto mais rápido se mostra esse processo de destruição325 Por isso a produção capitalista só desenvolve a técnica e a combinação do processo de produção social na medida em que solapa os mananciais de toda a riqueza a terra e o trabalhador 380 Seção V A PRODUÇÃO DO MAISVALOR ABSOLUTO E RELATIVO 381 Capítulo 14 Maisvalor absoluto e relativo I nicialmente consideramos o processo de trabalho de modo abstrato ver capítulo 5 independente de suas formas históricas como processo entre homem e natureza Lá dissemos Se consideramos o processo inteiro do ponto de vista de seu resultado do produto tanto o meio como o objeto do trabalho aparecem como meios de produção e o próprio trabalho aparece como trabalho produtivo E na nota 7 como complemento Essa determinação do trabalho produtivo tal como ela resulta do ponto de vista do processo simples de trabalho não é de modo nenhum suficiente para ser aplicada ao processo capitalista de produção É esse o ponto que cabe desenvolver aqui Enquanto o processo de trabalho permanece puramente individual o mesmo trabalhador reúne em si todas as funções que mais tarde se apartam umas das outras Em seu ato individual de apropriação de objetos da natureza para suas finalidades vitais ele controla a si mesmo Mais tarde ele é que será controlado O homem isolado não pode atuar sobre a natureza sem o emprego de seus próprios músculos sob o controle de seu próprio cérebro Assim como no sistema natural a cabeça e as mãos estão interligadas também o processo de trabalho conecta o trabalho intelectual ao trabalho manual Mais tarde eles se separam até formar um antagonismo hostil O produto que antes era o produto direto do produtor individual transformase num produto social no produto comum de um trabalhador coletivo isto é de um pessoal combinado de trabalho cujos membros se encontram a uma distância maior ou menor do manuseio do objeto de trabalho Desse modo a ampliação do caráter cooperativo do próprio processo de trabalho é necessariamente acompanhada da ampliação do conceito de trabalho produtivo e de seu portador o trabalhador produtivo Para trabalhar produtivamente já não é mais necessário fazêlo com suas próprias mãos basta agora ser um órgão do trabalhador coletivo executar qualquer uma de suas subfunções A definição original do trabalho produtivo citada mais acima derivada da própria natureza da produção material continua válida para o trabalhador coletivo considerado em seu conjunto Mas já não é válida para cada um de seus membros tomados isoladamente Por outro lado o conceito de trabalho produtivo se estreita A produção capitalista não é apenas produção de mercadoria mas essencialmente produção de maisvalor O trabalhador produz não para si mas para o capital Não basta por isso que ele produza em geral Ele tem de produzir maisvalor Só é produtivo o trabalhador que produz maisvalor para o capitalista ou serve à autovalorização do capital Se nos for permitido escolher um exemplo fora da esfera da produção material diremos que um mestreescola é um trabalhador produtivo se não se limita a trabalhar a cabeça das crianças mas exige trabalho de si mesmo até o esgotamento a fim de enriquecer o patrão Que este último tenha investido seu capital numa fábrica de ensino em vez de numa fábrica de salsichas é algo que não altera em nada a relação Assim o conceito 382 de trabalhador produtivo não implica de modo nenhum apenas uma relação entre atividade e efeito útil entre trabalhador e produto do trabalho mas também uma relação de produção especificamente social surgida historicamente e que cola no trabalhador o rótulo de meio direto de valorização do capital Ser trabalhador produtivo não é portanto uma sorte mas um azar No Livro I V desta obra que trata da história da teoria veremos mais detalhadamente que a economia política clássica sempre fez da produção de maisvalor a característica decisiva do trabalhador produtivo Alterandose sua concepção da natureza do maisvalor alterase por conseguinte sua definição de trabalhador produtivo Razão pela qual os fisiocratas declaram que somente o trabalho agrícola seria produtivo pois só ele forneceria mais valor Mas para os fisiocratas o maisvalor existe exclusivamente na forma da renda fundiária A extensão da jornada de trabalho além do ponto em que o trabalhador teria produzido apenas um equivalente do valor de sua força de trabalho acompanhada da apropriação desse maistrabalho pelo capital nisso consiste a produção do maisvalor absoluto Ela forma a base geral do sistema capitalista e o ponto de partida da produção do maisvalor relativo Nesta última a jornada de trabalho está desde o início dividida em duas partes trabalho necessário e maistrabalho Para prolongar o maistrabalho o trabalho necessário é reduzido por meio de métodos que permitem produzir em menos tempo o equivalente do salário A produção do maisvalor absoluto gira apenas em torno da duração da jornada de trabalho a produção do mais valor relativo revoluciona inteiramente os processos técnicos do trabalho e os agrupamentos sociais Ela supõe portanto um modo de produção especificamente capitalista que com seus próprios métodos meios e condições só surge e se desenvolve naturalmente sobre a base da subsunção formal do trabalho sob o capital O lugar da subsunção formal do trabalho sob o capital é ocupado por sua subsunção real Basta aqui uma simples alusão a formas híbridas em que o maisvalor não se extrai do produtor por coerção direta e que tampouco apresentam a subordinação formal do produtor ao capital Nesses casos o capital ainda não se apoderou diretamente do processo de trabalho Ao lado dos produtores independentes que exercem seus trabalhos artesanais ou cultivam a terra de modo tradicional patriarcal surge o usurário ou o comerciante o capital usurário ou comercial que os suga parasitariamente O predomínio dessa forma de exploração numa sociedade exclui o modo de produção capitalista ao mesmo tempo que como na Baixa Idade Média pode servir de transição para ele Por último como mostra o exemplo do trabalho domiciliar moderno certas formas híbridas são reproduzidas aqui e ali na retaguarda da grande indústria mesmo que com uma fisionomia completamente alterada Se por um lado para a produção do maisvalor absoluto basta a subsunção meramente formal do trabalho sob o capital por exemplo que artesãos que antes trabalhavam para si mesmos ou como oficiais de um mestre de corporação passem a atuar como trabalhadores assalariados sob o controle direto do capitalista vimos por outro que os métodos para a produção do maisvalor relativo são ao mesmo tempo métodos para a produção do maisvalor absoluto Mais ainda a extensão 383 desmedida da jornada de trabalho mostrase como o produto mais genuíno da grande indústria Em geral tão logo se apodera de um ramo da produção e mais ainda quando se apodera de todos os ramos decisivos da produção o modo de produção especificamente capitalista deixa de ser um simples meio para a produção do mais valor relativo Ele se converte agora na forma geral socialmente dominante do processo de produção Como método particular para a produção do maisvalor relativo ele atua em primeiro lugar apoderandose de indústrias que até então estavam subordinadas apenas formalmente ao capital ou seja atua em sua propagação em segundo lugar na medida em que as mudanças nos métodos de produção revolucionam continuamente as indústrias que já se encontram em sua esfera de ação Visto sob certo ângulo toda diferença entre maisvalor absoluto e maisvalor relativo parece ilusória O maisvalor relativo é absoluto pois condiciona uma extensão absoluta da jornada de trabalho além do tempo de trabalho necessário à existência do próprio trabalhador O maisvalor absoluto é relativo pois condiciona um desenvolvimento da produtividade do trabalho que possibilita limitar o tempo de trabalho necessário a uma parte da jornada de trabalho Mas quando observamos o movimento do maisvalor desfazse essa aparência de identidade Tão logo o modo de produção capitalista esteja constituído e se tenha tornado o modo geral de produção a diferença entre maisvalor absoluto e relativo tornase perceptível assim que se trate de aumentar a taxa de maisvalor em geral Pressupondose que a força de trabalho seja remunerada por seu valor vemonos então diante da seguinte alternativa por um lado dada a força produtiva de trabalho e seu grau normal de intensidade a taxa de maisvalor só pode ser aumentada mediante o prolongamento absoluto da jornada de trabalho por outro lado com uma dada limitação da jornada de trabalho a taxa de maisvalor só pode ser aumentada por meio de uma mudança relativa da grandeza de suas partes constitutivas do trabalho necessário e do maistrabalho o que por sua vez pressupõe para que o salário não caia abaixo do valor da força de trabalho uma mudança na produtividade ou intensidade do trabalho Se o trabalhador necessita de todo seu tempo para produzir os meios de subsistência necessários ao seu próprio sustento e o de sua descendência Race não lhe sobra tempo algum para trabalhar gratuitamente para um terceiro Sem um certo grau de produtividade do trabalho não haverá esse tempo disponível para o trabalhador sem esse tempo excedente não haverá maistrabalho e por conseguinte nenhum capitalista tampouco senhor de escravos barão feudal numa palavra nenhuma classe de grandes proprietários1 Podemos pois falar de uma base natural do maisvalor mas apenas no sentido muito geral de que nenhuma barreira natural absoluta impede um indivíduo de dispensar a si mesmo do trabalho necessário a sua própria existência e jogálo sobre os ombros de outrem tampouco como obstáculos naturais absolutos impedem alguém de servirse da carne de outrem como alimento1a De forma alguma cabe associar como aconteceu ocasionalmente concepções místicas a essa produtividade natural espontânea do trabalho Somente depois de a humanidade ter superado pelo trabalho suas primitivas condições de animalidade depois portanto de seu próprio trabalho já 384 estar socializado num certo grau é que surgem as condições para que o maistrabalho de um transformese em condição de existência do outro Nos primórdios da civilização as forças produtivas adquiridas do trabalho são exíguas mas o são também as necessidades que se desenvolvem simultaneamente aos meios empregados para satisfazêlas Ademais nesses primórdios a proporção dos setores da sociedade que vivem do trabalho alheio é insignificante quando comparada à massa dos produtores diretos Com o progresso da força produtiva social do trabalho essa proporção aumenta tanto absoluta como relativamente2 A relação capitalista de resto nasce num terreno econômico que é o produto de um longo processo de desenvolvimento A produtividade preexistente do trabalho que lhe serve de fundamento não é uma dádiva da natureza mas o resultado de uma história que compreende milhares de séculos I ndependentemente da forma mais ou menos desenvolvida da produção social a produtividade do trabalho permanece vinculada a condições naturais Todas elas podem ser reduzidas à natureza do próprio homem como raça etc e à natureza que o rodeia As condições naturais externas se dividem do ponto de vista econômico em duas grandes classes a riqueza natural em meios de subsistência isto é fertilidade do solo águas ricas em peixe etc e a riqueza natural em meios de trabalho como quedas dágua rios navegáveis madeira metais carvão etc Nos primórdios da civilização o primeiro tipo de riqueza natural é o decisivo uma vez alcançados níveis superiores de desenvolvimento o segundo passa a predominar Comparemos por exemplo a I nglaterra com a Índia ou no mundo antigo Atenas e Corinto com os países situados na costa do mar Negro Quanto menor o número de necessidades naturais a serem imperiosamente satisfeitas e quanto maiores a fertilidade natural do solo e a excelência do clima tanto menor é o tempo de trabalho necessário para a manutenção e reprodução do produtor E tanto maior portanto pode ser o excedente de seu trabalho para outros isto é o trabalho que excede aquele que ele realiza para si mesmo J á observava Diodoro a respeito dos antigos egípcios É absolutamente incrível quão pouco esforço e custos lhes exige a criação de seus filhos Preparamlhes a comida mais simples e mais fácil de obter dãolhes também para comer a parte inferior do caule do papiro desde que possam tostála ao fogo e as raízes e talos de plantas pantanosas em parte crus em parte cozidos ou assados A maioria das crianças anda descalça e desnuda já que o clima é muito ameno Por isso uma criança não custa a seus pais até que esteja adulta mais que 20 dracmas Isso explica o fato de a população ser tão numerosa no Egito e como tantas grandes obras puderam ser ali executadas3 No entanto as grandes construções do antigo Egito se devem menos ao volume de sua população do que à grande proporção em que esta se encontrava disponível Assim como o trabalhador individual pode fornecer uma quantidade tanto maior de maistrabalho quanto menor seja seu tempo de trabalho necessário assim também quanto menor for a parte da população trabalhadora exigida para a produção dos meios de subsistência necessários tanto maior será a parte dela disponível para outras obras Uma vez pressuposta a produção capitalista e uma dada duração da jornada de trabalho a grandeza do maistrabalho variará mantendose inalteradas as demais 385 circunstâncias de acordo com as condições naturais do trabalho sobretudo com a fertilidade do solo Mas disso não se segue de modo nenhum inversamente que o solo mais fértil seja o mais adequado ao crescimento do modo de produção capitalista Este supõe o domínio do homem sobre a natureza Uma natureza demasiado pródiga conduz o homem com as mãos como uma criança em andadeirasa Ela não faz do desenvolvimento do próprio homem uma necessidade natural4 A pátria do capital não é o clima tropical com sua vegetação exuberante mas a zona temperada Não a fertilidade absoluta do solo mas sua diferenciação a diversidade de seus produtos naturais é que constitui o fundamento natural da divisão social do trabalho e incita o homem pela variação das condições naturais em que ele vive à diversificação de suas próprias necessidades capacidades meios de trabalho e modos de trabalhar É a necessidade de controlar socialmente uma força natural de poupála de apropriarse dela ou dominála em grande escala mediante obras feitas pela mão do homem o que desempenha o papel mais decisivo na história da indústria Assim foi por exemplo com a regulação das águas no Egito5 na Lombardia Holanda etc Ou na Índia Pérsia etc onde a irrigação mediante canais artificiais não só leva ao solo a água indispensável mas também com a lama arrastada por ela o adubo mineral das montanhas A canalização foi o segredo do florescimento industrial da Espanha e da Sicília sob o domínio árabe6 A excelência das condições naturais limitase a fornecer a possibilidade jamais a realidade do maistrabalho portanto do maisvalor ou do maisproduto A diversidade das condições naturais do trabalho faz com que em países diferentes a mesma quantidade de trabalho satisfaça a diferentes massas de necessidades7 que por conseguinte sob condições de resto análogas o tempo de trabalho necessário seja diferente Tais condições só atuam sobre o maistrabalho como barreira natural isto é determinando o ponto em que pode ter início o trabalho para outrem Na mesma medida em que a indústria avança essa barreira natural retrocede Em plena sociedade europeia ocidental na qual o trabalhador só adquire a permissão para trabalhar para sua própria subsistência quando oferece em troca o maistrabalho é fácil imaginar que o fornecimento de um produto excedente seja uma qualidade inata do trabalho humano8 Mas consideremos por exemplo o habitante das ilhas orientais do arquipélago asiático onde o sagu cresce espontaneamente nas matas Quando os habitantes depois de abrir um buraco na árvore se convencem de que a medula está madura derrubam o tronco e cortamno em vários pedaços raspam a medula misturamna com água e a filtram desse modo obtêm farinha de sagu pronta para o uso Uma árvore rende geralmente 300 libras e às vezes de 500 a 600 libras Assim eles vão à floresta e cortam seu pão do mesmo modo que vamos ao bosque cortar nossa lenha9 Suponha que um desses cortadores asiáticos de pão necessite de 12 horas de trabalho por semana para a satisfação de todas as suas necessidades O que o favor da natureza lhe dá diretamente é muito tempo de ócio Para que ele possa utilizar esse tempo de forma produtiva em benefício próprio é requerida toda uma série de circunstâncias históricas para que o gaste em maistrabalho para estranhos é necessária a coação externa Se a produção capitalista fosse introduzida nosso bravo homem talvez tivesse de trabalhar 6 dias por semana para se apropriar do produto de uma jornada de trabalho O favor da natureza não explica por que ele agora trabalha 6 386 dias por semana ou por que ele fornece 5 dias de maistrabalho Ele explica apenas por que seu tempo de trabalho necessário é restrito a 1 dia por semana Mas em nenhum caso seu maisproduto tem origem numa qualidade oculta inata ao trabalho humano Tanto as forças produtivas historicamente desenvolvidas sociais quanto as forças produtivas do trabalho condicionadas pela natureza aparecem como forças produtivas do capital ao qual o trabalho é incorporado Ricardo jamais se interessa pela origem do maisvalor Ele o trata como algo inerente ao modo de produção capitalista que é a seus olhos a forma natural da produção social Quando ele fala da produtividade do trabalho não identifica nela a causa da existência do maisvalor mas tão somente a causa que determina sua grandeza Em contrapartida sua escola proclamou bem alto que é a força produtiva do trabalho que gera o lucro leiase maisvalor Em todo caso isso é um progresso em relação aos mercantilistas para os quais o excedente do preço dos produtos acima de seus custos de produção deriva da troca da venda acima de seu valor Apesar disso também a escola de Ricardo limitouse a contornar o problema sem solucionálo Com efeito esses economistas burgueses percebiam instintivamente e de modo correto que seria deveras perigoso investigar a fundo a questão candente da origem do mais valor Mas o que dizer quando meio século depois de Ricardo o sr J ohn Stuart Mill constata solenemente sua superioridade sobre os mercantilistas repetindo erroneamente os débeis subterfúgios dos primeiros vulgarizadores de Ricardo Mill diz A causa do lucro está naquilo que o trabalho produz mais do que o necessário para seu sustento Até aqui nada mais que a velha cantilena mas Mill quer também acrescentar algo da própria lavra Ou para variar a forma da sentença a razão pela qual o capital rende um lucro é que a alimentação as vestimentas as matériasprimas e os meios de trabalho duram mais do que o exigido para sua produção Mill confunde nesse trecho a duração do tempo de trabalho com a duração de seus produtos Segundo essa opinião um padeiro cujos produtos duram apenas 1 dia jamais poderia extrair de seus assalariados o mesmo lucro que um construtor de máquinas cujos produtos duram 20 anos ou mais De fato se os ninhos dos pássaros não durassem um tempo maior do que o necessário para sua construção os pássaros teriam de se arranjar sem eles Estabelecida essa verdade básica Mill assegura sua superioridade sobre os mercantilistas Vemos assim que o lucro não provém do incidente das trocas mas da força produtiva do trabalho o lucro total de um país é sempre determinado pela força produtiva do trabalho independentemente da existência ou não do intercâmbio Sem a divisão das ocupações não haveria compra nem venda mas continuaria a haver o lucro Aqui pois o intercâmbio a compra e a venda condições gerais da produção capitalista não são mais que um mero incidente e o lucro continua a existir mesmo sem compra e venda da força de trabalho Adiante se a totalidade dos trabalhadores de um país produz 20 a mais do que a soma de seus salários os lucros serão de 20 seja qual for o preço das mercadorias I sso é por um lado uma tautologia das mais bemsucedidas pois se os trabalhadores produzem um maisvalor de 20 para seus capitalistas é evidente que 387 os lucros estarão para o salário total dos trabalhadores numa razão de 20100 Por outro lado é absolutamente falso que os lucros serão de 20 Eles têm de ser sempre menores pois são calculados sobre a soma total do capital adiantado Digamos por exemplo que o capitalista tenha adiantado 500 das quais 400 em meios de produção e 100 em salários Se a taxa de maisvalor for como suposto anteriormente de 20 então a taxa de lucro será de 20500 isto é 4 e não 20 Segue uma prova reluzente de como Mill trata as diferentes formas históricas da produção social Pressuponho por toda parte o estado atual de coisas que com poucas exceções predomina por toda parte isto é o fato de que o capitalista faz todos os adiantamentos inclusive o pagamento do trabalhador Que estranha ilusão óptica a de ver por toda parte um estado de coisas que até agora só predomina na Terra como exceção Mas sigamos em frente Mill é bom o suficiente para admitir que não é uma necessidade absoluta que assim o sejab Ao contrário Se tivesse os meios necessários para sua manutenção o trabalhador poderia aguardar o pagamento mesmo de seu salário inteiro até que o trabalho estivesse pronto mas nesse caso ele seria de certo modo um capitalista que investe capital no negócio fornecendo parte dos fundos necessários para sua continuação Com a mesma razão Mill poderia dizer que o trabalhador que adianta para si mesmo não só os meios de subsistência como também os meios de trabalho seria na realidade seu próprio assalariado Ou que o camponês americano seria seu próprio escravo que trabalha para si próprio em vez de para um senhor alheio Depois de ter demonstrado com tamanha clareza que a produção capitalista ainda que não existisse sempre existiria Mill é agora bastante coerente para demonstrar que essa produção capitalista não existe ainda que exista E mesmo no caso anterior quando o capitalista adianta ao assalariado a totalidade de seus meios de subsistência o trabalhador pode ser considerado sob o mesmo ângulo isto é como um capitalista Pois ao vender seu trabalho abaixo do preço de mercado ele pode ser considerado como se adiantasse a diferença a seu empregador etc9a Na realidade dos fatos o trabalhador adianta gratuitamente seu trabalho ao capitalista durante uma semana etc para no final da semana etc receber o preço de mercado desse trabalho isso o converte segundo Mill num capitalista Na planície até pequenos montes de terra parecem colinas e podemos medir a banalidade de nossa burguesia atual pelo calibre de seus grandes espíritos 388 Capítulo 15 Variação de grandeza do preço da força de trabalho e do maisvalor O valor da força de trabalho é determinado pelo valor dos meios habitualmente necessários à subsistência do trabalhador médio A massa desses meios de subsistência embora sua forma possa variar é dada numa certa época de determinada sociedade e portanto deve ser tratada como uma grandeza constante O que varia é o valor dessa massa Dois fatores adicionais entram na determinação do valor da força de trabalho Por um lado seus custos de desenvolvimento que se alteram com o modo de produção por outro lado sua diferença natural se masculina ou feminina madura ou imatura O emprego dessas diferentes forças de trabalho por sua vez condicionado pelo modo de produção provoca uma grande diferença nos custos de reprodução da família trabalhadora e no valor do trabalhador masculino adulto Ambos os fatores no entanto ficam de fora da presente investigação9b Suponha que 1 as mercadorias sejam vendidas por seu valor 2 o preço da força de trabalho suba eventualmente acima de seu valor porém jamais caia abaixo dele I sso suposto vimos que as grandezas relativas do preço da força de trabalho e do maisvalor estão condicionadas por três circunstâncias 1 a duração da jornada de trabalho ou a grandeza extensiva do trabalho 2 a intensidade normal do trabalho ou sua grandeza intensiva de modo que determinada quantidade de trabalho é gasta num tempo determinado 3 e finalmente a força produtiva do trabalho de forma que dependendo do grau de desenvolvimento das condições de produção a mesma quantidade de trabalho fornece uma quantidade maior ou menor de produto no mesmo tempo Evidentemente combinações muito diferentes são possíveis conforme um dos três fatores seja constante e os demais variáveis ou dois fatores constantes e o terceiro variável ou por fim os três igualmente variáveis Tais combinações são ainda multiplicadas pelo fato de que em caso de variação simultânea dos diversos fatores a grandeza e a direção de tal variação podem ser diferentes A seguir limitamonos a apresentar as combinações principais I Grandeza da jornada de trabalho e intensidade do trabalho constantes dadas força produtiva do trabalho variável Sob esse pressuposto o valor da força de trabalho e o maisvalor são determinados por três leis Primeira lei a jornada de trabalho de grandeza dada representase sempre no mesmo produto de valor seja qual for a variação da produtividade do trabalho a correspondente massa de produtos e portanto o preço da mercadoria individual O produto de valor de uma jornada de trabalho de 12 horas é por exemplo 6 389 xelins ainda que a massa dos valores de uso produzidos varie com a força produtiva do trabalho e portanto o valor de 6 xelins se distribua entre mais ou menos mercadorias Segunda lei o valor da força de trabalho e o maisvalor variam em sentido inverso Variando a força produtiva do trabalho seu aumento ou diminuição atuam em sentido inverso sobre o valor da força de trabalho e em sentido direto sobre o maisvalor O produto de valor da jornada de trabalho de 12 horas é uma grandeza constante por exemplo 6 xelins Essa grandeza constante é igual ao maisvalor somado ao valor da força de trabalho que o trabalhador substitui por um equivalente É evidente que das duas partes de uma grandeza constante nenhuma pode aumentar sem que a outra diminua O valor da força de trabalho não pode subir de 3 para 4 xelins sem que o maisvalor caia de 3 para 2 xelins e o maisvalor não pode subir de 3 para 4 xelins sem que o valor da força de trabalho caia de 3 para 2 xelins Sob essas circunstâncias portanto é impossível que haja qualquer variação na grandeza absoluta seja do valor da força de trabalho seja do maisvalor sem uma variação simultânea de suas grandezas relativas ou proporcionais É impossível que ambas aumentem ou diminuam simultaneamente Ademais o valor da força de trabalho não pode diminuir e portanto o maisvalor não pode aumentar sem que aumente a força produtiva do trabalho por exemplo no caso anterior o valor da força de trabalho não pode cair de 3 xelins para 2 sem que a força produtiva aumentada do trabalho permita produzir em 4 horas a mesma massa de meios de subsistência cuja produção antes exigia 6 horas Por outro lado o valor da força de trabalho não pode subir de 3 para 4 xelins sem que a força produtiva do trabalho caia e que portanto sejam exigidas 8 horas para produzir a mesma massa de meios de subsistência que antes se produzia em 6 horas Disso se segue que o aumento na produtividade do trabalho faz cair o valor da força de trabalho e com isso aumenta o maisvalor assim como em sentido inverso a diminuição da produtividade eleva o valor da força de trabalho e reduz o maisvalor Ao formular essa lei Ricardo negligenciou uma circunstância do fato de uma variação na grandeza do maisvalor ou do maistrabalho condicionar uma variação inversa na grandeza do valor da força de trabalho ou do trabalho necessário não se segue de modo algum que elas variem na mesma proporção Elas aumentam ou diminuem na mesma grandeza mas a proporção em que cada parte do produto de valor ou da jornada de trabalho aumenta ou diminui depende da divisão original anterior à mudança ocorrida na força produtiva do trabalho Se o valor da força de trabalho era de 4 xelins ou o tempo de trabalho necessário de 8 horas sendo o mais valor de 2 xelins ou o maistrabalho de 4 horas e se em decorrência do incremento da força produtiva do trabalho o valor da força de trabalho caiu para 3 xelins ou o trabalho necessário para 6 horas então o maisvalor aumentou para 3 xelins ou o maistrabalho para 6 horas A mesma grandeza de 2 horas ou de 1 xelim é adicionada lá e subtraída aqui mas a variação proporcional de grandeza é nos dois lados diferente Enquanto o valor da força de trabalho passou de 4 xelins para 3 ou seja diminuiu 14 ou 25 o maisvalor passou de 2 xelins para 3 portanto aumentou em 12 ou 50 Seguese pois que o aumento ou diminuição proporcionais do maisvalor 390 em consequência de uma mudança na força produtiva do trabalho são tanto maiores ou tanto menores quanto menor ou maior tenha sido originalmente a parte da jornada de trabalho que se representa no maisvalor Terceira lei o aumento ou a diminuição do maisvalor é sempre efeito e jamais causa do aumento ou diminuição correspondentes do valor da força de trabalho10 Como a jornada de trabalho é uma grandeza constante e se representa numa grandeza constante de valor de modo que a cada variação da grandeza do maisvalor corresponde uma variação inversa da grandeza do valor da força de trabalho e como o valor da força de trabalho só pode variar mediante uma mudança na força produtiva do trabalho seguese evidentemente que toda variação da grandeza do maisvalor decorre de uma variação inversa da grandeza do valor da força de trabalho Assim se vimos não ser possível nenhuma variação absoluta de grandeza no valor da força de trabalho e do maisvalor sem uma variação de suas grandezas relativas seguese agora que nenhuma variação de suas grandezas relativas de valor é possível sem uma variação na grandeza absoluta de valor da força de trabalho De acordo com a terceira lei a variação da grandeza do maisvalor pressupõe um movimento do valor da força de trabalho causado pela variação na força produtiva do trabalho O limite daquela variação é determinado pelo novo limite do valor da força de trabalho É possível no entanto mesmo quando as circunstâncias permitem que a lei atue a realização de movimentos intermediários Se por exemplo em decorrência do aumento da força produtiva do trabalho o valor da força de trabalho cai de 4 para 3 xelins ou o tempo de trabalho necessário de 8 para 6 horas o preço da força de trabalho só poderia cair para 3 xelins e 8 pence 3 xelins e 6 pence 3 xelins e 2 pence etc ao passo que o maisvalor só poderia aumentar para 3 xelins e 4 pence 3 xelins e 6 pence 3 xelins e 10 pence etc O grau da queda cujo limite mínimo são 3 xelins depende do peso relativo que de um lado a pressão do capital de outro a resistência do trabalhador exercem no prato da balança O valor da força de trabalho é determinado pelo valor de certa quantidade de meios de subsistência O que varia com a força produtiva do trabalho é o valor desses meios de subsistência não sua massa A própria massa com o aumento da força produtiva do trabalho pode crescer ao mesmo tempo e na mesma proporção para o capitalista e o trabalhador sem qualquer variação de grandeza entre o preço da força de trabalho e o maisvalor Se 3 xelins fosse o valor original da força de trabalho e 6 horas o tempo de trabalho necessário e também o maisvalor fosse de 3 xelins ou o maistrabalho somasse 6 horas uma duplicação na força produtiva do trabalho mantendose igual a divisão da jornada de trabalho deixaria inalterados o preço da força de trabalho e o maisvalor Mas cada um deles estaria representado no dobro de valores de uso porém relativamente barateados Embora nesse caso o preço da força de trabalho permanecesse inalterado ele teria subido acima de seu valor Se o preço da força de trabalho caísse mas não até o limite mínimo de 112 xelim dado pelo seu novo valor e sim para 2 xelins e 10 pence 2 xelins e 6 pence etc esse preço decrescente continuaria a representar uma massa crescente de meios de subsistência Com o aumento da força produtiva do trabalho o preço da força de trabalho poderia cair continuamente acompanhado de um crescimento simultâneo e contínuo da massa dos meios de 391 subsistência do trabalhador Relativamente porém isto é comparado com o mais valor o valor da força de trabalho diminuiria continuamente ampliando assim o abismo entre as condições de vida do trabalhador e as do capitalista11 Ricardo foi o primeiro a formular de modo rigoroso as três leis anteriormente enunciadas Os defeitos de sua exposição são 1 ele considera condições evidentes por si mesmas gerais e exclusivas da produção capitalista as condições particulares nas quais vigoram aquelas leis Ele desconhece qualquer variação seja da extensão da jornada de trabalho seja da intensidade do trabalho de modo que para ele a produtividade do trabalho se converte por si mesma no único fator variável 2 Porém e isso falsifica sua análise em grau muito mais elevado ele investigou o mais valor como tal tão pouco quanto os outros economistas isto é não o investigou independentemente de suas formas particulares como lucro renda fundiária etc Daí que ele confunda diretamente as leis sobre a taxa do maisvalor com as leis sobre a taxa de lucro Como já indicamos a taxa de lucro é a proporção entre o maisvalor e o capital total adiantado ao passo que a taxa de maisvalor é a proporção entre o mais valor e a parte meramente variável desse capital Suponha que um capital de 500 C se divide em matériasprimas meios de trabalho etc num total de 400 c e em 100 de salários v sendo o maisvalor 100 m A taxa de maisvalor será então mv 100100 100 Mas a taxa de lucro mC 100 500 20 É evidente além disso que a taxa de lucro pode depender de circunstâncias que não afetam em absoluto a taxa de maisvalor Mais tarde no Livro I I I desta obra demonstrarei que a mesma taxa de maisvalor pode se expressar nas mais diversas taxas de lucro assim como as mais diversas taxas de maisvalor sob determinadas circunstâncias na mesma taxa de lucro II Jornada de trabalho constante força produtiva do trabalho constante intensidade do trabalho variável A intensidade cada vez maior do trabalho supõe um dispêndio aumentado de trabalho no mesmo espaço de tempo A jornada de trabalho mais intensiva se incorpora em mais produtos do que a jornada menos intensiva de igual número de horas Com uma força produtiva aumentada a mesma jornada de trabalho fornece mais produtos No último caso porém o valor do produto singular cai pelo fato de custar menos trabalho que antes no primeiro caso ele se mantém inalterado porque o produto custa a mesma quantidade de trabalho de antes O número de produtos aumenta aqui sem que caia seu preço Com seu número aumenta também a soma de seus preços ao passo que no outro caso a mesma soma de valor se representa numa massa aumentada de produtos Se o número de horas se mantém constante a jornada de trabalho mais intensiva se incorpora num produto de valor mais alto se o valor do dinheiro se mantém constante ela se incorpora em mais dinheiro Seu produto de valor varia com os desvios que sua intensidade apresenta em relação ao grau socialmente normal A mesma jornada de trabalho não se representa portanto num produto de valor constante como antes mas num produto de valor variável a jornada de trabalho mais intensiva de 12 horas representase digamos em 7 xelins 8 xelins etc em vez de 6 xelins como era o caso da jornada de trabalho de 12 horas de 392 intensidade usual É claro que se o produto de valor da jornada de trabalho varia por exemplo de 6 para 8 xelins ambas as partes desse produto de valor o preço da força de trabalho e o maisvalor podem aumentar ao mesmo tempo seja em grau igual ou desigual Se o produto de valor sobe de 6 para 8 xelins o preço da força de trabalho e o maisvalor podem ambos aumentar de 3 para 4 xelins O aumento do preço da força de trabalho não implica aqui necessariamente um aumento de seu preço acima de seu valor Ao contrário ele pode vir acompanhado de uma queda abaixo de seu valora Esse é o caso sempre que a elevação do preço da força de trabalho não compensa seu desgaste acelerado Sabemos que com exceções transitórias uma variação na produtividade do trabalho só provoca uma variação na grandeza do valor da força de trabalho e por conseguinte na grandeza do maisvalor se os produtos dos ramos industriais afetados entram no consumo habitual do trabalhador Essa limitação desaparece aqui Se a grandeza do trabalho varia extensiva ou intensivamente à sua variação de grandeza corresponde uma variação na grandeza de seu produto de valor independentemente da natureza do artigo no qual esse valor se representa Se a intensidade do trabalho aumentasse em todos os ramos industriais ao mesmo tempo e na mesma medida o novo grau de intensidade mais elevado se converteria no grau normal fixado socialmente no costume e deixaria assim de ser contado como grandeza extensiva Contudo mesmo os graus médios de intensidade do trabalho continuariam a ser diferentes nas diversas nações e ajustariam portanto a aplicação da lei do valor às diversas jornadas de trabalho nacionais A jornada de trabalho mais intensiva de um país se representa numa expressão monetária mais alta que a da jornada menos intensiva de outro12 III Força produtiva e intensidade do trabalho constantes jornada de trabalho variável A jornada de trabalho pode variar em dois sentidos Ela pode ser reduzida ou prolongada 1 A redução da jornada de trabalho sob as condições dadas isto é mantendose constantes a força produtiva e a intensidade do trabalho deixa inalterado o valor da força de trabalho e por conseguinte o tempo de trabalho necessário Ela reduz o mais trabalho e o maisvalor Com a grandeza absoluta deste último cai também sua grandeza relativa isto é sua grandeza em proporção à grandeza de valor constante da força de trabalho Apenas reduzindo o preço desta última abaixo de seu valor poderia o capitalista escapar do prejuízo Todas as fraseologias tradicionais contra a redução da jornada de trabalho supõem que o fenômeno ocorra sob as circunstâncias aqui pressupostas ao passo que na realidade as variações na produtividade e intensidade do trabalho ou são anteriores à redução da jornada de trabalho ou a sucedem imediatamente13 2 Prolongamento da jornada de trabalho suponha que o tempo de trabalho necessário seja de 6 horas ou que o valor da força de trabalho seja de 3 xelins assim como o maistrabalho de 6 horas e o maisvalor somem 3 xelins A jornada de trabalho 393 será então de 12 horas e representarseá num produto de valor de 6 xelins Se a jornada de trabalho for prolongada em 2 horas e o preço da força de trabalho se mantiver inalterado aumentará juntamente com a grandeza absoluta do maisvalor sua grandeza relativa Embora a grandeza de valor da força de trabalho permaneça inalterada em termos absolutos ela cairá em termos relativos Sob as condições indicadas no ponto I a grandeza relativa de valor da força de trabalho não poderia variar sem que variasse sua grandeza absoluta Aqui ao contrário a variação relativa de grandeza no valor da força de trabalho resulta de uma variação absoluta de grandeza do maisvalor Como o produto de valor no qual se representa a jornada de trabalho aumenta com o próprio prolongamento desta última o preço da força de trabalho e o maisvalor podem aumentar simultaneamente seja com um incremento igual ou desigual Esse crescimento simultâneo é possível em dois casos o de um prolongamento absoluto da jornada de trabalho e o de uma intensidade crescente do trabalho sem aquele prolongamento Com a jornada de trabalho prolongada o preço da força de trabalho pode cair abaixo de seu valor embora nominalmente se mantenha igual ou mesmo suba Lembremos que o valor diário da força de trabalho é calculado com base em sua duração média ou na duração normal da vida de um trabalhador e na correspondente transformação normal ajustada à natureza humana de substância vital em movimento14 Até certo ponto o desgaste maior da força de trabalho inseparável do prolongamento da jornada de trabalho pode ser compensado com uma remuneração maior Além desse ponto porém o desgaste aumenta em progressão geométrica ao mesmo tempo que se destroem todas as condições normais de reprodução e atuação da força de trabalho O preço da força de trabalho e o grau de sua exploração deixam de ser grandezas reciprocamente comensuráveis IV Variações simultâneas na duração força produtiva e intensidade do trabalho Aqui evidentemente um grande número de combinações é possível Dois fatores quaisquer podem variar e um permanecer constante ou podem variar os três simultaneamente Podem variar em grau igual ou desigual na mesma direção ou em direção contrária de modo que suas variações se compensem umas às outras parcial ou totalmente Contudo a análise de todos os casos possíveis conforme os resultados obtidos nos pontos I I I e I I I não apresenta dificuldades Para chegar ao resultado de toda combinação possível devemos considerar sucessivamente cada fator como variável e os outros como constantes Não podemos aqui ir além de uma breve menção a dois casos importantes 1 Força produtiva decrescente do trabalho com simultâneo prolongamento da jornada de trabalho Por força produtiva decrescente do trabalho entendemos aqui os ramos de trabalho cujos produtos determinam o valor da força de trabalho portanto por exemplo a força produtiva decrescente do trabalho em virtude de uma infertilidade 394 crescente do solo e o correspondente encarecimento dos produtos agrícolas Suponha que a jornada de trabalho seja de 12 horas seu produto de valor seja de 6 xelins e que metade dessa soma reponha o valor da força de trabalho e a outra metade seja seu maisvalor Desse modo a jornada de trabalho se decompõe em 6 horas de trabalho necessário e 6 horas de maistrabalho Suponha que em virtude do encarecimento dos produtos do solo o valor da força de trabalho aumente de 3 para 4 xelins e o tempo de trabalho necessário de 6 para 8 horas Se a jornada de trabalho permanecer inalterada o maistrabalho cairá então de 6 para 4 horas e o maisvalor de 3 para 2 xelins Se a jornada de trabalho for prolongada em 2 horas portanto de 12 para 14 horas o mais trabalho continuará sendo de 6 horas e o maisvalor de 3 xelins mas a grandeza deste último terá sido reduzida em comparação com o valor da força de trabalho medido pelo trabalho necessário Se a jornada de trabalho for prolongada em 4 horas de 12 para 16 horas as grandezas proporcionais do maisvalor e do valor da força de trabalho do maistrabalho e do trabalho necessário permanecerão inalteradas mas a grandeza absoluta do maisvalor terá crescido de 3 para 4 xelins e a do maistrabalho de 6 para 8 horas de trabalho ou seja terá aumentado em 13 ou 3313 Em caso de decréscimo da força produtiva do trabalho e concomitante prolongamento da jornada de trabalho a grandeza absoluta do maisvalor pode permanecer inalterada ainda que diminua sua grandeza proporcional sua grandeza proporcional pode permanecer inalterada ainda que sua grandeza absoluta aumente e a depender do grau do prolongamento ambas podem aumentar No período entre 1799 e 1815 os crescentes preços dos meios de subsistência na I nglaterra provocaram um aumento nominal dos salários apesar de os salários reais expressos em meios de subsistência terem diminuído Desse fato West e Ricardo concluíram que a diminuição da produtividade do trabalho agrícola teria acarretado uma queda da taxa de maisvalor e converteram tal suposição válida unicamente no reino de suas fantasias num ponto de partida para importantes análises sobre a proporção da grandeza relativa do salário do lucro e da renda fundiária Mas graças à intensidade aumentada do trabalho e do prolongamento forçado do tempo de trabalho o maisvalor aumentara então absoluta e relativamente Foi esse o período em que adquiriu direito de cidadania o prolongamento desmedido da jornada de trabalho15 período caracterizado especialmente pelo aumento acelerado de um lado do capital de outro do pauperismo16 2 I ntensidade e força produtiva do trabalho crescentes e simultânea redução da jornada de trabalho A força produtiva aumentada do trabalho e sua intensidade crescente atuam uniformemente na mesma direção Ambas ampliam a massa de produtos obtida em cada período de tempo Ambas reduzem assim a parte da jornada de trabalho necessária para que o trabalhador produza seus meios de subsistência ou o equivalente a eles O limite mínimo absoluto da jornada de trabalho é formado em geral por essa sua parte constitutiva necessária mas que pode ser contraída Se a jornada de trabalho inteira encolhesse até esse limite o que é impossível sob o regime do capital o maistrabalho desapareceria A supressão da forma capitalista de produção permite restringir a jornada de trabalho ao trabalho necessário Mas este 395 último mantendose inalteradas as demais circunstâncias ampliaria seu espaço Por um lado porque as condições de vida do trabalhador tornarseiam mais ricas e suas exigências vitais maiores Por outro porque uma parcela do maistrabalho atual contaria como trabalho necessário isto é como o trabalho que se requer para a criação de um fundo social de reserva e acumulação Quanto mais cresce a força produtiva do trabalho tanto mais se pode reduzir a jornada de trabalho e quanto mais se reduz a jornada de trabalho tanto mais pode crescer a intensidade do trabalho Considerada socialmente a produtividade do trabalho cresce também com sua economia Esta implica não apenas que se economizem os meios de produção mas também que se evite todo trabalho inútil Ao mesmo tempo que o modo de produção capitalista impõe a economia em cada empresa individual seu sistema anárquico de concorrência gera o desperdício mais desenfreado dos meios de produção e das forças de trabalho sociais além de inúmeras funções atualmente indispensáveis mas em si mesmas supérfluas Dadas a intensidade e a força produtiva do trabalho a parte da jornada social de trabalho necessária para a produção material será tanto mais curta e portanto tanto mais longa a parcela de tempo disponível para a livre atividade intelectual e social dos indivíduos quanto mais equitativamente o trabalho for distribuído entre todos os membros capazes da sociedade e quanto menos uma camada social puder esquivarse da necessidade natural do trabalho lançandoa sobre os ombros de outra camada O limite absoluto para a redução da jornada de trabalho é nesse sentido a generalização do trabalho Na sociedade capitalista produzse tempo livre para uma classe transformando todo o tempo de vida das massas em tempo de trabalho 396 Capítulo 16 Diferentes fórmulas para a taxa de maisvalor Vimos que a taxa de maisvalor se representa nas fórmulas I maisvalorcapital variável mv maisvalorvalor da força de trabalho maistrabalhotrabalho necessário As duas primeiras fórmulas apresentam como relação de valores o que a terceira apresenta como relação entre os tempos nos quais esses valores são produzidos Essas fórmulas substituíveis entre si são conceitualmente rigorosas Razão pela qual podemos encontrálas quanto a seu conteúdo na economia política clássica embora não conscientemente elaboradas Nela encontramos ao contrário as seguintes fórmulas derivadas II maistrabalhojornada de trabalho maisvalorvalor do produto maisprodutoproduto total Aqui a mesma proporção se expressa alternadamente sob a forma dos tempos de trabalho dos valores nos quais eles se incorporam e dos produtos nos quais esses valores existem Supõese naturalmente que por valor do produto se deva entender apenas o produto de valor da jornada de trabalho excluindose porém a parte constante do valor do produto Em todas essas fórmulas o grau efetivo de exploração do trabalho ou a taxa de maisvalor está expresso de modo falso Suponhamos uma jornada de trabalho de 12 horas Mantendose os demais pressupostos de nosso exemplo anterior o grau efetivo de exploração do trabalho se apresenta nesse caso nas seguintes proporções 6 h de maistrabalho6 h de trabalho necessário maisvalor de 3 xelinscapital variável de 3 xelins 100 Segundo as fórmulas II obtemos ao contrário 6 horas de maistrabalhojornada de trabalho de 12h maisvalor de 3 xelinsproduto de valor de 6 xelins 50 Essas fórmulas derivadas exprimem na verdade a proporção em que a jornada de trabalho ou seu produto de valor se divide entre o capitalista e o trabalhador Por conseguinte se fossem válidas como expressões diretas do grau de autovalorização alcançado pelo capital valeria esta falsa lei o maistrabalho ou o maisvalor jamais pode chegar a 10017 Como o maistrabalho constitui sempre uma parte alíquota da jornada de trabalho e o maisvalor sempre uma parte alíquota do produto de valor o maistrabalho é sempre necessariamente menor do que a jornada de trabalho ou o maisvalor é sempre menor do que o produto de valor Mas para que se relacionassem na proporção 100100 eles teriam de ser iguais Para que o maistrabalho absorvesse 397 integralmente a jornada de trabalho tratase aqui da jornada média da semana do ano etc de trabalho o trabalho necessário teria de se reduzir a zero Mas desaparecendo o trabalho necessário desapareceria também o maistrabalho já que este último não é mais do que uma função do primeiro A proporção maistrabalhojornada de trabalho maisvalorproduto de valor jamais pode alcançar o limite de 100100 e menos ainda se elevar a 100 x100 Mas pode sim alcançar a taxa do maisvalor ou o grau efetivo de exploração de trabalho Consideremos por exemplo as estimativas do sr L de Lavergne segundo as quais o trabalhador agrícola inglês recebe somente 14 enquanto o capitalista arrendatário recebe 34 do produto18 ou de seu valor independentemente de como o butim seja posteriormente dividido entre o capitalista e o proprietário da terra etc Desse modo o maistrabalho do trabalhador rural inglês está para seu trabalho necessário na proporção de 31 uma taxa de exploração de 300 O método da escola que consiste em tomar a jornada de trabalho como grandeza constante foi consolidado pela aplicação das fórmulas I I porquanto nelas o mais trabalho é sempre comparado com uma jornada de trabalho de grandeza dada O mesmo ocorre quando se examina exclusivamente a divisão do produto de valor A jornada de trabalho já objetivada num produto de valor é sempre uma jornada de trabalho de limites dados A representação do maisvalor e do valor da força de trabalho como frações do produto de valor representação que deriva de resto do próprio modo de produção capitalista e cujo significado será investigado posteriormente oculta o caráter específico da relação capitalista a saber o intercâmbio entre o capital variável e a força de trabalho viva e a correspondente exclusão do trabalhador do produto Em seu lugar surge a falsa aparência de uma relação associativa na qual o trabalhador e o capitalista repartem o produto entre si conforme a proporção de seus diferentes fatores constitutivos19 De resto as fórmulas I I podem ser sempre reconvertidas nas fórmulas I Se temos por exemplo maistrabalho de 6 horasjornada de trabalho de 12 horas então o tempo de trabalho necessário jornada de trabalho de 12 horas menos maistrabalho de 6 horas o que dá o seguinte resultado maistrabalho de 6 horastrabalho necessário de 6 horas 100100 A terceira fórmula que já antecipei em outra ocasião é III maisvalorvalor da força de trabalho maistrabalhotrabalho necessário trabalho não pago trabalho pago O malentendido a que a fórmula trabalho não pagotrabalho pago poderia conduzir de que o capitalista pagaria o trabalho e não a força de trabalho desaparece pelo que foi antes exposto trabalho não pagotrabalho pago é apenas a expressão mais popular para mais trabalhotrabalho necessário O capitalista paga o valor da força de trabalho ou seu preço divergente de seu valor e recebe em troca o direito de dispor da força viva de trabalho Seu usufruto dessa força de trabalho é decomposto em dois períodos 398 Durante um deles o trabalhador não produz mais que um valor que é igual ao valor de sua força de trabalho portanto apenas um equivalente Em troca do preço adiantado da força de trabalho o capitalista recebe pois um produto de mesmo preço É como se ele tivesse adquirido o produto já pronto no mercado No período do maistrabalho ao contrário o usufruto da força de trabalho gera valor para o capitalista sem que esse valor lhe custe um substituto de valor20 Ele obtém gratuitamente essa realização da força de trabalho Nesse sentido o maistrabalho pode ser chamado de trabalho não pago O capital portanto não é apenas o comando sobre o trabalho como diz A Smith Ele é em sua essência o comando sobre o trabalho não pago Todo maisvalor qualquer que seja a forma particular em que mais tarde se cristalize como o lucro a renda etc é com relação à sua substância a materialização Materiatur de tempo de trabalho não pago O segredo da autovalorização do capital se resolve no fato de que este pode dispor de uma determinada quantidade de trabalho alheio não pago 399 Seção VI O SALÁRIO Capítulo 17 Transformação do valor ou preço da força de trabalho em salário Na superfície da sociedade burguesa o salário do trabalhador aparece como preço do trabalho como determinada quantidade de dinheiro paga por determinada quantidade de trabalho Falase aqui do valor do trabalho e sua expressão monetária é denominada seu preço necessário ou natural Por outro lado falase dos preços de mercado do trabalho isto é de preços que oscilam acima ou abaixo de seu preço necessário Mas o que é o valor de uma mercadoria A forma objetiva do trabalho social gasto em sua produção E como medimos a grandeza de seu valor Pela grandeza do trabalho nela contido Como podemos determinar o valor por exemplo de uma jornada de trabalho de 12 horas Pelas 12 horas de trabalho contidas numa jornada de trabalho de 12 horas o que é uma absurda tautologia21 Para ser vendido no mercado como mercadoria o trabalho teria ao menos de existir antes de ser vendido Mas se o trabalhador pudesse dar ao trabalho uma existência independente o que ele venderia seria uma mercadoria e não trabalho22 Abstraindo dessas contradições uma troca direta de dinheiro isto é de trabalho objetivado por trabalho vivo ou anularia a lei do valor que só se desenvolve livremente com base na produção capitalista ou anularia a própria produção capitalista fundada precisamente no trabalho assalariado Suponha por exemplo que a jornada de trabalho se represente num valor monetário de 6 xelins Havendo troca de equivalentes o trabalhador receberá 6 xelins pelo trabalho de 12 horas O preço de seu trabalho será igual ao preço de seu produto Nesse caso ele não produzirá nenhum maisvalor para o comprador de seu trabalho os 6 xelins não se transformarão em capital e o fundamento da produção capitalista se desvanecerá mas é precisamente sobre esse fundamento que o trabalhador vende seu trabalho e que este é trabalho assalariado Ou então ele recebe por 12 horas de trabalho menos de 6 xelins isto é menos de 12 horas de trabalho Nesse caso 12 horas de trabalho se trocam por 10 ou 6 horas de trabalho etc Essa equiparação de grandezas desiguais não se limita a suprimir a determinação do valor Tal contradição que suprime a si mesma não pode ser de modo algum enunciada ou formulada como lei23 De nada adianta deduzir essa troca de mais trabalho por menos trabalho da diferença formal que nos esclarece que num caso ele é trabalho objetivado e no outro é trabalho vivo24 I sso é tanto mais absurdo pelo valor de uma mercadoria não ser determinado pela quantidade de trabalho realmente objetivado nela mas pela quantidade de trabalho vivo necessário para sua produção Digamos que uma mercadoria represente 6 horas de trabalho Caso surjam invenções que permitam produzila em 3 horas o valor da mercadoria já produzida também se reduzirá pela metade Ela representa agora 3 horas de trabalho social necessário em vez das 6 401 horas de antes O que determina sua grandeza de valor é portanto a quantidade de trabalho requerido para sua produção e não sua forma objetivada No mercado o que se contrapõe diretamente ao possuidor de dinheiro não é na realidade o trabalho mas o trabalhador O que este último vende é sua força de trabalho Mal seu trabalho tem início efetivamente e a força de trabalho já deixou de lhe pertencer não podendo mais portanto ser vendida por ele O trabalho é a substância e a medida imanente dos valores mas ele mesmo não tem valor nenhum25 Na expressão valor do trabalho o conceito de valor não só se apagou por completo mas converteuse em seu contrário É uma expressão imaginária como valor da terra Essas expressões imaginárias surgem no entanto das próprias relações de produção São categorias para as formas em que se manifestam relações essenciais Que em sua manifestação as coisas frequentemente se apresentem invertidas é algo conhecido em quase todas as ciências menos na economia política26 A economia política clássica tomou emprestada à vida cotidiana de modo acrítico a categoria preço do trabalho para em seguida perguntarse como esse preço é determinado Ela logo reconheceu que a variação na relação entre oferta e demanda nada esclarece acerca do preço do trabalho assim como de que qualquer outra mercadoria além de sua variação isto é a oscilação dos preços de mercado abaixo ou acima de certa grandeza Se oferta e demanda coincidem cessa mantendose iguais as demais circunstâncias a oscilação de preço Mas então oferta e demanda cessam também de explicar qualquer coisa Quando oferta e demanda coincidem o preço do trabalho é determinado independentemente da relação entre procura e oferta quer dizer é seu preço natural que desse modo tornouse o objeto que realmente se deveria analisar Ou ela tomou um período mais longo de oscilações do preço de mercado por exemplo um ano e verificou que suas altas e baixas se compensavam numa grandeza média uma grandeza constante Esta última tinha naturalmente de ser determinada de outro modo que não por suas próprias oscilações que se compensam umas às outras Esse preço que predomina sobre os preços acidentais obtidos pelo trabalho no mercado e os regula o preço necessário fisiocratas ou preço natural do trabalho Adam Smith só podia ser como no caso das outras mercadorias seu valor expresso em dinheiro E assim por meio dos preços acidentais do trabalho a economia política acreditou poder penetrar em seu valor Como no caso das demais mercadorias esse valor continuou a ser determinado pelos custos de produção Mas em que consistem os custos de produção do trabalhador isto é os custos para produzir ou reproduzir o próprio trabalhador I nconscientemente essa questão assumiu para a economia política o lugar da questão original já que no que diz respeito aos custos de produção do trabalho enquanto tais ela girava num círculo vicioso e não progredia um passo sequer Portanto o que ela chama de valor do trabalho value of labour é na verdade o valor da força de trabalho que existe na personalidade do trabalhador e é tão diferente de sua função o trabalho quanto uma máquina de suas operações Ocupada com a diferença entre os preços de mercado do trabalho e seu assim chamado valor com a relação entre esse valor e a taxa de lucro e entre ele e os valoresmercadoria produzidos mediante o trabalho etc a economia política nunca descobriu que o curso da análise não só tinha evoluído dos preços do 402 trabalho no mercado a seu valor presumido mas chegara a dissolver novamente esse mesmo valor do trabalho no valor da força de trabalho A inconsciência acerca desse resultado de sua própria análise a aceitação acrítica das categorias valor do trabalho preço natural do trabalho etc como expressões adequadas e últimas da relação de valor considerada enredou a economia política clássica como veremos mais adiante em confusões e contradições insolúveis ao mesmo tempo que ofereceu à economia vulgar uma base segura de operações para sua superficialidade fundada no princípio do culto das aparências Vejamos em primeiro lugar como o valor e os preços da força de trabalho se apresentam nessa forma transformada como salário Sabemos que o valor diário da força de trabalho é calculado sobre a base de certa duração da vida do trabalhador a qual corresponde a certa duração da jornada de trabalho Suponha que a jornada de trabalho habitual seja de 12 horas e o valor diário da força de trabalho seja de 3 xelins expressão monetária de um valor em que se representam 6 horas de trabalho Se o trabalhador recebe 3 xelins ele recebe o valor de sua força de trabalho mantida em funcionamento durante 12 horas Ora se esse valor diário da força de trabalho for expresso como valor do trabalho realizado durante uma jornada teremos a fórmula o trabalho de 12 horas tem um valor de 3 xelins O valor da força de trabalho determina assim o valor do trabalho ou expresso em dinheiro o preço necessário do trabalho Se ao contrário o preço da força de trabalho diferir de seu valor o mesmo ocorrerá com o preço do trabalho em relação ao seu assim chamado valor Dado que o valor do trabalho é apenas uma expressão irracional para o valor da força de trabalho concluise evidentemente que o valor do trabalho tem de ser sempre menor que seu produto de valor pois o capitalista sempre faz a força de trabalho funcionar por mais tempo do que o necessário para a reprodução do valor desta última No exemplo anterior o valor da força de trabalho mantida em funcionamento durante 12 horas é de 3 xelins valor para cuja reprodução ela precisa de 6 horas Seu produto de valor em contrapartida é de 6 xelins pois ela funciona na realidade durante 12 horas e seu produto de valor não depende de seu próprio valor mas da duração de seu funcionamento Chegamos assim ao resultado à primeira vista absurdo de que um trabalho que cria um valor de 6 xelins tem um valor 3 xelins27 Vemos além disso o valor de 3 xelins em que se representa a parte paga da jornada de trabalho isto é o trabalho de 6 horas aparece como valor ou preço da jornada de trabalho total de 12 horas que contém 6 horas não pagas A formasalário extingue portanto todo vestígio da divisão da jornada de trabalho em trabalho necessário e maistrabalho em trabalho pago e trabalho não pago Todo trabalho aparece como trabalho pago Na corveia o trabalho do servo para si mesmo e seu trabalho forçado para o senhor da terra se distinguem de modo palpavelmente sensível tanto no espaço como no tempo No trabalho escravo mesmo a parte da jornada de trabalho em que o escravo apenas repõe o valor de seus próprios meios de subsistência em que portanto ele trabalha de fato para si mesmo aparece como trabalho para seu senhor Todo seu trabalho aparece como trabalho não pago28 No 403 trabalho assalariado ao contrário mesmo o maistrabalho ou trabalho não pago aparece como trabalho pago No primeiro caso a relação de propriedade oculta o trabalho do escravo para si mesmo no segundo a relação monetária oculta o trabalho gratuito do assalariado Compreendese assim a importância decisiva da transformação do valor e do preço da força de trabalho na formasalário ou em valor e preço do próprio trabalho Sobre essa forma de manifestação que torna invisível a relação efetiva e mostra precisamente o oposto dessa relação repousam todas as noções jurídicas tanto do trabalhador como do capitalista todas as mistificações do modo de produção capitalista todas as suas ilusões de liberdade todas as tolices apologéticas da economia vulgar Se a história universal precisa de muito tempo para descobrir o segredo do salário não há em contrapartida nada mais fácil de compreender do que a necessidade as raisons dêtre razões de ser dessa forma de manifestação I nicialmente o intercâmbio entre capital e trabalho apresentase à percepção exatamente do mesmo modo como a compra e a venda de todas as outras mercadorias O comprador dá certa soma de dinheiro e o vendedor um artigo diferente do dinheiro Nesse fato a consciência jurídica reconhece quando muito uma diferença material expressa em fórmulas juridicamente equivalentes do ut des do ut facias facio ut des e facio ut faciasa Além disso como o valor de troca e o valor de uso são em si mesmos grandezas incomensuráveis as expressões valor do trabalho e preço do trabalho não parecem ser mais irracionais do que as expressões valor do algodão e preço do algodão Acrescentese a isso o fato de que o trabalhador é pago depois de ter fornecido seu trabalho Em sua função como meio de pagamento o dinheiro realiza porém a posteriori o valor ou o preço do artigo fornecido ou seja no caso presente o valor ou o preço do trabalho fornecido Finalmente o valor de uso que o trabalhador fornece ao capitalista não é na realidade sua força de trabalho mas sua função um determinado trabalho útil como o trabalho do alfaiate do sapateiro do fiandeiro etc Que esse mesmo trabalho sob outro ângulo seja o elemento geral criador de valor elemento que o distingue das demais mercadorias é algo que está fora do alcance da consciência ordinária Se nos colocarmos do ponto de vista do trabalhador que em troca de 12 horas de trabalho recebe por exemplo o produto de valor de 6 horas de trabalho digamos 3 xelins veremos que para ele seu trabalho de 12 horas é na verdade o meio que lhe permite comprar os 3 xelins O valor de sua força de trabalho pode variar com o valor de seus meios habituais de subsistência de 3 para 4 xelins de 3 para 2 xelins ou permanecendo igual o valor de sua força de trabalho seu preço em decorrência da relação variável entre a oferta e a demanda pode aumentar a 4 xelins ou diminuir a 2 xelins mas o trabalhador fornece sempre 12 horas de trabalho razão pela qual toda variação na grandeza do equivalente que ele recebe aparecelhe necessariamente como variação do valor ou preço de suas 12 horas de trabalho I nversamente essa circunstância induziu Adam Smith que considerava a jornada de trabalho como uma grandeza constante29 a sustentar que o valor do trabalho é constante embora o valor 404 dos meios de subsistência varie e a mesma jornada de trabalho se represente por isso em mais ou menos dinheiro para o trabalhador Se por outro lado consideramos o capitalista vemos que ele quer obter o máximo possível de trabalho pela menor quantidade possível de dinheiro Do ponto de vista prático portanto interessalhe somente a diferença entre o preço da força de trabalho e o valor criado por seu funcionamento Mas ele procura comprar todas as mercadorias o mais barato possível acreditando encontrar a razão de seu lucro no simples logro no ato de comprar abaixo do valor e vender acima dele Daí que ele não compreenda que se existisse realmente algo como o valor do trabalho e se ele pagasse realmente esse valor não existiria nenhum capital e seu dinheiro não se transformaria em capital Além disso o movimento efetivo do salário apresenta fenômenos que parecem demonstrar que o que é pago não é a força de trabalho mas o valor de sua função do próprio trabalho Podemos reduzir esses fenômenos a duas grandes classes Primeira variação do salário quando varia a duração da jornada de trabalho Poderseia concluir do mesmo modo que o que é pago não é o valor da máquina mas o de sua operação pois custa mais alugar uma máquina por uma semana do que por um dia Segunda a diferença individual entre os salários de diversos trabalhadores que executam a mesma função Essa diferença individual encontrase também mas sem motivo para ilusões no sistema escravista no qual a própria força de trabalho é vendida franca e livremente sem floreios A única diferença é que a vantagem de uma força de trabalho superior à média ou a desvantagem de uma força de trabalho inferior à média recai no sistema escravista sobre o proprietário de escravos ao passo que no sistema do trabalho assalariado ela recai sobre o próprio trabalhador pois nesse último caso sua força de trabalho é vendida por ele mesmo e no primeiro caso por uma terceira pessoa De resto com a forma de manifestação valor e preço do trabalho ou salário em contraste com a relação essencial que se manifesta isto é com o valor e o preço da força de trabalho ocorre o mesmo que com todas as formas de manifestação e seu fundo oculto As primeiras se reproduzem de modo imediatamente espontâneo como formas comuns e correntes de pensamento o segundo tem de ser primeiramente descoberto pela ciência A economia política clássica chega muito próximo à verdadeira relação das coisas porém sem formulála conscientemente Ela não poderá fazêlo enquanto estiver coberta com sua pele burguesa 405 Capítulo 18 O salário por tempo O próprio salário assume por sua vez formas muito variadas circunstância que não se pode reconhecer por meio de compêndios econômicos que com seu tosco interesse pelo material negligenciam toda diferença de forma Mas uma exposição de todas essas formas pertence à teoria especial do trabalho assalariado e não portanto a esta obra Em contrapartida aqui cabe desenvolver brevemente as duas formas básicas predominantes Como podemos recordar a venda da força de trabalho ocorre sempre por determinados períodos de tempo A forma transformada em que se representa diretamente o valor diário semanal etc da força de trabalho é portanto a do salário por tempo isto é do salário diário etc De início devemos observar que as leis que regem a variação de grandeza do preço da força de trabalho e do maisvalor leis que foram expostas no capítulo 15 transformamse mediante uma simples mudança de forma em leis do salário Do mesmo modo a distinção entre o valor de troca da força de trabalho e a massa dos meios de subsistência em que se converte esse valor reaparece agora como distinção entre o salário nominal e o salário real Seria inútil repetir com respeito à forma de manifestação o que já expusemos acerca da forma essencial Limitarnosemos por isso a indicar alguns poucos pontos que caracterizam o salário por tempo A soma de dinheiro30 que o trabalhador recebe por seu trabalho diário semanal etc constitui a quantia de seu salário nominal ou do seu salário estimado segundo o valor Porém é claro que conforme a extensão da jornada de trabalho quer dizer conforme a quantidade de trabalho diariamente fornecida pelo trabalhador o mesmo salário diário semanal etc pode representar um preço muito diferente do trabalho isto é quantias de dinheiro muito diferentes para a mesma quantidade de trabalho31 Assim ao considerarmos o salário por tempo temos de distinguir por sua vez entre a quantia total do salário diário semanal etc e o preço do trabalho Mas como encontrar esse preço isto é o valor monetário de uma dada quantidade de trabalho O preço médio do trabalho é obtido ao dividirmos o valor diário médio da força de trabalho pelo número de horas da jornada média de trabalho Se por exemplo o valor diário da força de trabalho for de 3 xelins o produto de valor de 6 horas de trabalho e a jornada de trabalho for de 12 horas o preço de 1 hora de trabalho será 3 xelins12 3 pence O preço da hora de trabalho assim obtido serve de unidade de medida para o preço do trabalho Depreendese daí que o salário diário semanal etc pode permanecer o mesmo ainda que o preço do trabalho caia continuamente Se por exemplo a jornada de trabalho usual for de 10 horas e o valor diário da força de trabalho for de 3 xelins o preço da hora de trabalho será de 335 pence ele cairá para 3 pence quando a jornada de trabalho aumentar para 12 horas e para 225 pence quando for de 15 horas Mesmo 406 assim o salário diário ou semanal permaneceriam inalterados Por outro lado o salário diário ou semanal podem aumentar ainda que o preço do trabalho permaneça constante ou até mesmo caia Se por exemplo a jornada de trabalho fosse de 10 horas e 3 xelins fosse o valor diário da força de trabalho o preço de 1 hora de trabalho seria de 335 pence Se em virtude de crescente ocupação e supondose que o preço de trabalho permaneça igual o operário trabalhar 12 horas seu salário diário aumentará para 3 xelins e 715 pence sem que haja variação do preço do trabalho O mesmo resultado poderia ser obtido aumentandose a grandeza intensiva do trabalho em vez de sua grandeza extensiva32 A elevação do valor nominal do salário diário ou semanal pode pois ser acompanhada de um preço constante ou decrescente do trabalho O mesmo vale para a receita da família trabalhadora tão logo a quantidade de trabalho fornecida pelo chefe da família seja acrescida do trabalho dos membros da família Existem portanto métodos para reduzir o preço do trabalho sem a necessidade de rebaixar o valor nominal do salário diário ou semanal33 Concluise como lei geral estando dada a quantidade de trabalho diário semanal etc o salário diário ou semanal dependerá do preço do trabalho que por sua vez varia com o valor da força de trabalho ou com os desvios de seu preço em relação a seu valor Ao contrário estando dado o preço do trabalho o salário diário ou semanal dependerá da quantidade de trabalho diário ou semanal A unidade de medida do salário por tempo o preço da hora de trabalho é o quociente do valor diário da força de trabalho dividido pelo número de horas da jornada de trabalho habitual Suponha que esta última seja de 12 horas e que o valor diário da força de trabalho seja de 3 xelins isto é o produto de valor de 6 horas de trabalho Nessas circunstâncias o preço da hora de trabalho será de 3 pence e seu produto de valor somará 6 pence Ora se o trabalhador estiver ocupado menos de 12 horas por dia ou menos de 6 dias por semana por exemplo somente 6 ou 8 horas ele receberá mantendose esse preço do trabalho um salário diário de apenas 2 ou 112 xelins34 Como segundo o pressuposto que adotamos ele tem de trabalhar uma média diária de 6 horas para produzir apenas um salário correspondente ao valor de sua força de trabalho e como segundo esse mesmo pressuposto de cada hora ele trabalha somente meia hora para si mesmo e outra meia hora para o capitalista é claro que não poderá obter o produto de valor de 6 horas se estiver ocupado por menos de 12 horas Se anteriormente vimos as consequências destruidoras do sobretrabalho aqui descobrimos as fontes dos sofrimentos que para o trabalhador decorrem de seu subemprego Se o salário por hora é fixado de maneira que o capitalista não se vê obrigado a pagar um salário diário ou semanal mas somente as horas de trabalho durante as quais ele decida ocupar o trabalhador ele poderá ocupálo por um tempo inferior ao que serviu originalmente de base para o cálculo do salário por hora ou para a unidade de medida do preço do trabalho Sendo essa unidade de medida determinada pela proporção valor diário da força de trabalhojornada de trabalho de um dado número de horas ela perde naturalmente todo sentido assim que a jornada de trabalho deixa de contar um número determinado de horas A conexão entre o trabalho pago e o não pago é 407 suprimida O capitalista pode agora extrair do trabalhador uma determinada quantidade de maistrabalho sem concederlhe o tempo de trabalho necessário para sua autoconservação Pode eliminar toda regularidade da ocupação e de acordo com sua comodidade arbítrio e interesse momentâneo fazer com que o sobretrabalho mais monstruoso se alterne com a desocupação relativa ou total Pode sob o pretexto de pagar o preço normal do trabalho prolongar anormalmente a jornada de trabalho sem que haja qualquer compensação correspondente para o trabalhador I sso explica a rebelião 1860 absolutamente racional dos trabalhadores londrinos empregados no setor de construção contra a tentativa dos capitalistas de imporlhes esse salário por hora A limitação legal da jornada de trabalho põe fim a esse abuso embora não naturalmente ao subemprego resultante da concorrência da maquinaria da variação na qualidade dos trabalhadores empregados e das crises parciais e gerais Com o salário diário ou semanal crescente é possível que o preço do trabalho se mantenha nominalmente constante e apesar disso caia abaixo de seu nível normal I sso ocorre sempre que permanecendo constante o preço do trabalho ou da hora de trabalho a jornada de trabalho é prolongada além de sua duração habitual Se na fração valor diário da força de trabalhojornada de trabalho aumentar o denominador o numerador aumentará ainda mais rapidamente O valor da força de trabalho aumenta de acordo com seu desgaste isto é com a duração de seu funcionamento e de modo proporcionalmente mais acelerado do que o incremento da duração de seu funcionamento Por isso em muitos ramos industriais em que predomina o salário por tempo e inexistem limites legais para o tempo de trabalho surgiu naturalmente o costume de só considerar normal a jornada de trabalho que se prolonga até certo ponto por exemplo até o término da décima hora de trabalho normal working day jornada de trabalho normal the days work trabalho de um dia the regular hours of work horário regular de trabalho Além desse limite o tempo de trabalho constitui tempo extraordinário overtime e se tomamos a hora como unidade de medida é mais bem pago extra pay embora frequentemente numa proporção ridiculamente pequena35 A jornada normal de trabalho existe aqui como fração da jornada efetiva de trabalho e esta última frequentemente ocupa mais tempo durante o ano inteiro do que a primeira36 O aumento do preço do trabalho decorrente do prolongamento da jornada de trabalho além de certo limite normal assume em diversos ramos industriais britânicos a forma de que o baixo preço do trabalho durante o assim chamado horário normal obriga o trabalhador se quer obter um salário suficiente a trabalhar um tempo extraordinário mais bem remunerado37 A limitação legal da jornada de trabalho põe um fim a esse divertimento38 É um fato geralmente conhecido que quanto mais longa é a jornada de trabalho num ramo da indústria mais baixo é o salário39 O inspetor de fábricas A Redgrave ilustra esse fato mediante um resumo comparativo do período de duas décadas entre 1839 e 1859 que mostra que o salário aumentou nas fábricas submetidas à Lei das 10 Horas ao mesmo tempo que diminuiu nas fábricas nas quais se trabalha de 14 a 15 horas por dia40 Da lei segundo a qual estando dado o preço do trabalho o salário diário ou semanal depende da quantidade de trabalho fornecida concluímos que quanto 408 menor seja o preço do trabalho tanto maior terá de ser a quantidade de trabalho ou tanto mais longa a jornada de trabalho para que o trabalhador assegure ao menos um mísero salário médio A exiguidade do preço do trabalho atua aqui como estímulo para o prolongamento do tempo de trabalho41 Por outro lado porém o prolongamento do tempo de trabalho produz por sua vez uma queda no preço do trabalho e por conseguinte no salário diário ou semanal A determinação do preço do trabalho segundo a fórmula valor diário da força de trabalhojornada de trabalho de dado número de horas demonstra que o mero prolongamento da jornada de trabalho quando não há uma compensação reduz o preço do trabalho Mas as circunstâncias que permitem ao capitalista prolongar a jornada de trabalho de modo duradouro são as mesmas que inicialmente permitemlhe e por fim obrigam no a reduzir também o preço nominal do trabalho até que diminua o preço total do número aumentado de horas e portanto também o salário diário ou semanal Basta aqui referir duas circunstâncias Se um homem executa o trabalho de 112 ou de 2 homens a oferta de trabalho aumenta ainda que permaneça constante a oferta de forças de trabalho que se acham no mercado A concorrência que assim se produz entre os trabalhadores permite ao capitalista comprimir o preço do trabalho enquanto por outro lado o preço decrescente do trabalho lhe permite aumentar ainda mais o tempo de trabalho42 Rapidamente porém essa disposição de quantidades anormais de trabalho não pago isto é de quantidades que ultrapassam o nível social médio convertese em meio de concorrência entre os próprios capitalistas Uma parte do preço da mercadoria é composta do preço do trabalho No cálculo do preço da mercadoria não é preciso incluir a parte não paga do preço do trabalho Ela pode ser presenteada ao comprador da mercadoria Esse é o primeiro passo que impele a concorrência O segundo passo que ela obriga a tomar consiste em excluir do preço de venda da mercadoria pelo menos uma parte do maisvalor anormal produzido pelo prolongamento da jornada de trabalho Desse modo constituise primeiro esporadicamente e em seguida paulatinamente de maneira fixa um preço de venda anormalmente baixo para a mercadoria preço que se torna daí em diante a base constante de um salário miserável e de uma desmedida jornada de trabalho do mesmo modo como originalmente ele era o produto dessas circunstâncias Limitamo nos apenas a mencionar esse movimento já que a análise da concorrência não tem lugar aqui Mas deixemos por um momento que fale o próprio capitalista Em Birmingham a concorrência entre os patrões é tão grande que muitos de nós somos obrigados como empregadores a fazer o que nos envergonharíamos de fazer em outra situação e não obstante não se obtém mais dinheiro and yet no more money is made mas é apenas o público que leva vantagem com isso43 Lembremonos dos dois tipos de padeiros londrinos um vende o pão pelo preço integral the fullpriced backers o outro o vende abaixo de seu preço normal the underpriced the undersellers Os fullpriced denunciam seus concorrentes perante a comissão parlamentar de inquérito nos seguintes termos Eles só existem porque primeiro enganam o público falsificando a mercadoria e segundo arrancam de seus trabalhadores 18 horas de trabalho pelo salário de 12 O trabalho não pago the unpaid labour dos trabalhadores é o meio de que se servem na luta da concorrência A concorrência entre os mestrespadeiros é a causa da dificuldade em suprimir o trabalho noturno Um vendedor que vende seu pão abaixo do preço de custo 409 variável de acordo com o preço da farinha escapa do prejuízo extraindo mais trabalho de seus trabalhadores Se extraio apenas 12 horas de trabalho de meus empregados mas meu vizinho em contrapartida extrai 18 ou 20 horas ele tem necessariamente de me derrotar no preço de venda Pudessem os trabalhadores insistir no pagamento do tempo extraordinário e rapidamente essa manobra teria um fim Grande parte dos empregados dos vendedores abaixo do preço de custo são estrangeiros rapazes e outras pessoas forçadas a aceitar qualquer salário que possam obter44 Essa jeremiada é interessante também porque mostra como no cérebro dos capitalistas se reflete apenas a aparência das relações de produção O capitalista não sabe que também o preço normal do trabalho encerra determinada quantidade de trabalho não pago e que precisamente esse trabalho não pago é a fonte normal de seu lucro A categoria de tempo de maistrabalho não existe de modo algum para ele pois esse tempo está incluído na jornada normal de trabalho que ele acredita pagar quando paga o salário diário Mas o que existe bem para ele é sim o tempo extraordinário o prolongamento da jornada de trabalho além do limite correspondente ao preço usual do trabalho Diante de seu concorrente que vende abaixo do preço de custo ele defende até mesmo um pagamento extra extra pay por esse tempo excedente Ele não sabe uma vez mais que nesse pagamento extra também está incluído o trabalho não pago assim como o preço da hora usual de trabalho Por exemplo o preço de 1 hora da jornada de trabalho de 12 horas é 3 pence o produto de valor de metade da hora de trabalho enquanto o preço da hora extraordinária de trabalho é 4 pence o produto de valor de 23 da hora de trabalho No primeiro caso o capitalista se apropria gratuitamente da metade de uma hora de trabalho no segundo de sua terça parte 410 Capítulo 19 O salário por peça O salário por peça não é senão uma forma modificada do salário por tempo assim como o salário por tempo a forma modificada do valor ou preço da força de trabalho No salário por peça temos a impressão à primeira vista de que o valor de uso vendido pelo trabalhador não é função de sua força de trabalho trabalho vivo mas trabalho já objetivado no produto e de que o preço desse trabalho não é determinado como no salário por tempo pela fração valor diário da força de trabalhojornada de trabalho de dado número de horas mas pela capacidade de produção do produtor45 De imediato a confiança dos que acreditam nessa aparência teria de ser fortemente abalada pelo fato de que ambas as formas do salário existem ao mesmo tempo uma ao lado da outra nos mesmos ramos industriais Por exemplo Os tipógrafos de Londres trabalham geralmente por peça enquanto o salário por tempo constitui a exceção entre eles O contrário ocorre com os tipógrafos nas províncias onde o salário por tempo é a regra e o salário por peça a exceção Os carpinteiros navais no porto de Londres são pagos por peça nos demais portos ingleses por tempo46 Nas mesmas correarias de Londres ocorre frequentemente que pelo mesmo trabalho se pague salário por peça aos franceses e salário por tempo aos ingleses Nas fábricas propriamente ditas nas quais o salário por peça predomina de modo geral diversas funções de trabalho são excluídas por razões técnicas desse tipo de medida e por conseguinte são pagas por tempo47 Fica claro no entanto que a diferença de forma no pagamento do salário não modifica em nada a essência deste último ainda que uma forma possa ser mais favorável que a outra para o desenvolvimento da produção capitalista Suponha que a jornada normal de trabalho seja de 12 horas das quais 6 sejam pagas e 6 não pagas e que seu produto de valor seja de 6 xelins de modo que o produto de 1 hora de trabalho seja portanto de 6 pence Suponha ainda que a experiência demonstre que um trabalhador trabalhando com um grau médio de intensidade e habilidade e empregando apenas o tempo de trabalho socialmente necessário na produção de um artigo forneça 24 peças em 12 horas sejam elas partes discretas ou mensuráveis de um produto contínuo Assim o valor dessas 24 peças descontada a parte constante do capital nelas contida é de 6 xelins sendo 3 pence o valor da peça singular O trabalhador recebe 112 penny por peça e ganha portanto 3 xelins em 12 horas Assim como no caso do salário por tempo é indiferente supor que o trabalhador trabalhe 6 horas para si mesmo e 6 para o capitalista ou que de cada hora ele trabalhe metade para si mesmo e metade para o capitalista aqui também é indiferente dizer que de cada peça singular metade está paga e metade não paga ou que o preço de 12 peças repõe apenas o valor da força de trabalho enquanto nas outras 12 peças se incorpora o maisvalor A forma do salário por peça é tão irracional quanto a do salário por tempo Enquanto por exemplo duas peças de mercadoria depois de descontado o valor dos 411 meios de produção não consumidos valem 6 pence como produto de 1 hora de trabalho o trabalhador recebe por elas um preço de 3 pence Na realidade o salário por peça não expressa diretamente nenhuma relação de valor Não se trata de medir o valor da peça pelo tempo de trabalho nela incorporado mas ao contrário de medir o trabalho gasto pelo trabalhador pelo número de peças por ele produzido No salário por tempo o trabalho se mede por sua duração imediata no salário por peça pela quantidade de produtos em que o trabalho se condensa durante um tempo determinado O preço do próprio tempo de trabalho é por fim determinado pela equação valor do trabalho de um dia valor diário da força de trabalho O salário por peça portanto não é mais do que uma forma modificada do salário por tempo Observemos mais de perto agora as peculiaridades que caracterizam o salário por peça A qualidade do trabalho é controlada aqui pelo próprio produto que tem de possuir uma qualidade média para que se pague integralmente o preço de cada peça Sob esse aspecto o salário por peça se torna a fonte mais fértil de descontos salariais e de fraudes capitalistas Ele proporciona ao capitalista uma medida plenenamente determinada para a intensidade do trabalho Apenas o tempo de trabalho que se incorpore numa quantidade de mercadorias previamente determinada e fixada por experiência vale como tempo de trabalho socialmente necessário e é remunerado como tal Por isso nas grandes alfaiatarias de Londres certa peça de trabalho por exemplo um colete etc é chamada de uma hora meia hora etc a 6 pence por hora A prática nos permite estabelecer a quantidade média de produto de 1 hora de trabalho Com o surgimento de novas modas consertos etc instalase um conflito entre empregador e trabalhador acerca de se determinada peça é 1 hora etc até que também nesse caso a experiência decide Algo semelhante ocorre nas mercadorias etc de Londres Se c trabalhando carece da capacidade média de rendimento e por isso não consegue fornecer um mínimo determinado de trabalho diário ele é dispensado É igualmente do interesse pessoal do trabalhador prolongar a jornada de trabalho pois assim aumenta seu salário diário ou semanal Com isso ocorre a reação já descrita no caso do salário por tempo abstraindo do fato de que o prolongamento da jornada de trabalho mesmo mantendose constante a taxa do salário por peça implica por si mesmo uma redução no preço do trabalho No salário por tempo prevalece com poucas exceções o salário igual para funções iguais ao passo que no salário por peça o preço do tempo de trabalho determinado quantidade de produtos mas o salário diário ou semanal ao contrário apenas o mínimo de produto num dado tempo o outro a média e o terceiro mais do que a média No que respeita à receita real surgem aqui grandes diferenças conforme os distintos níveis de destreza força energia resistência etc dos trabalhadores individuais Isso não altera naturalmente em nada a relação geral entre capital e trabalho assalariado Em primeiro lugar as diferenças individuais se compensam na totalidade da oficina de modo que num tempo determinado de trabalho ela fornece o produto médio e o salário total que nela é pago equivale ao salário médio desse ramo industrial Em segundo lugar a proporção entre o salário e o maisvalor se mantém inalterada pois o salário individual do trabalhador isolado corresponde a massa de maisvalor individualmente fornecido por ele Mas o maior a diferença entre o preço do trabalho pago pelo capitalista e a parte desse preço que eles deixam gerar efetivamente ao trabalhador Esse sistema é caracteristicamente chamado na Inglaterra de sweatingsystem sistema sudorífero Por outro lado o salário por peça permite ao capitalista firmar com o trabalhador principal na manufatura como de um grupo nas minas com o picador de carvão etc na fábrica com o trabalhador mecânico propriamente dito um contrato de trabalho de peça a um preço pelo qual o próprio trabalhador principal se encarrega de contratar e pagar seus auxiliares A exploração dos trabalhadores pelo capital se efetiva aqui mediante a exploração do trabalhador pelo trabalhador 18131814 e Reports from the Lords Committee on the State of the Growth of Commerce and Consumption of Grain and all Laws Relating Thereto legislatura d 18141815 Encontrase aqui a prova documental da redução continua do preço do trabalho desde o começo da guerra antijacobina Na tecelagem por exemplo o salário por peça cai tanto que o salário diário apesar da jornada de trabalho muito prolongada era agora mais baixo que antes O ganho real do tecelão é muito menor que antes sua superioridade sobre o trabalhador comum que antes era muito grande desapareceu quase por completo De fato a diferença entre os salários do trabalho qualificado e do trabalho comum é agora muito mais insignificante do que em qualquer período anterior produto e não sua força de trabalho e se rebela portanto contra um rebaixamento do salário que não corresponde ao rebaixamento do preço de venda da mercadoria Os trabalhadores vigiam cuidadosamente o preço da matériaprima e dos bens fabricados e são assim capazes de calcular com precisão os lucros de seus patrões61 O capital com razão descarta tal sentençab como um erro crasso acerca da natureza do trabalho assalariado62 Ele roga contra a pretensão de impor obstáculos ao progresso da indústria e declara rotundamente que a produtividade do trabalhadorc é algo que não concerne de modo algum ao trabalhador63 415 Capítulo 20 Diversidade nacional dos salários No capítulo 15 examinamos as múltiplas combinações que podem produzir uma variação na grandeza absoluta ou relativa isto é comparada com o maisvalor do valor da força de trabalho enquanto por outro lado a quantidade de meios de subsistência em que se realiza o preço da força de trabalho pode percorrer um movimento diferente ou independente64 da variação desse preço Como já observamos a simples tradução do valor ou conforme o caso do preço da força de trabalho na forma exotérica do salário faz com que todas aquelas leis se transformem em leis do movimento do salário O que no interior desse movimento aparece como combinação variável pode aparecer em países diferentes como diversidade simultânea dos salários nacionais Por isso ao compararmos salários nacionais devemos considerar todos os momentos determinantes da variação na grandeza de valor da força de trabalho preço e volume das necessidades vitais elementares natural e historicamente desenvolvidas custos da educação do trabalhador papel do trabalho feminino e infantil produtividade do trabalho sua grandeza extensiva e intensiva Mesmo a comparação mais superficial exige de imediato reduzir a jornadas de trabalho de mesma grandeza o salário diário médio que vigora nos mesmos ofícios em diversos países Após essa equiparação dos salários diários é preciso que se traduza novamente o salário por tempo em salário por peça pois apenas este último é um indicador tanto do grau de produtividade como da grandeza intensiva do trabalho Em cada país vigora certa intensidade média do trabalho abaixo da qual o trabalho para a produção de uma mercadoria consome mais do que o tempo socialmente necessário e por isso não conta como trabalho de qualidade normal Apenas um grau de intensidade que se eleva acima da média nacional modifica numa dada nação a medida do valor pela mera duração do tempo de trabalho O mesmo não ocorre no mercado mundial cujas partes integrantes são os diversos países A intensidade média do trabalho varia de país a país sendo aqui maior lá menor Essas médias nacionais constituem pois uma escala cuja unidade de medida é a unidade média do trabalho universal Assim comparado com o menos intensivo o trabalho nacional mais intensivo produz em tempo igual mais valor que se expressa em mais dinheiro Mas a lei do valor em sua aplicação internacional é ainda mais modificada pelo fato de no mercado mundial o trabalho nacional mais produtivo também contar como mais intensivo sempre que a nação mais produtiva não se veja forçada pela concorrência a reduzir o preço de venda de sua mercadoria a seu valor Uma vez que a produção capitalista encontrase desenvolvida num país também se elevam aí acima do nível internacional a intensidade e a produtividade nacional do trabalho64a As diferentes quantidades de mercadorias do mesmo tipo produzidas em diferentes países no mesmo tempo de trabalho têm portanto valores internacionais desiguais que se expressam em preços diferentes isto é em quantias diferentes de 416 dinheiro de acordo com os valores internacionais O valor relativo do dinheiro será portanto menor na nação com modo de produção capitalista mais desenvolvido do que naquela em que é menos desenvolvido Disso concluímos portanto que o salário nominal o equivalente da força do trabalho expresso em dinheiro será também mais alto na primeira nação que na segunda o que não quer dizer em absoluto que isso também valha para o salário efetivo isto é para os meios de subsistência postos à disposição do trabalhador Porém mesmo sem levar em conta essa diferença relativa do valor do dinheiro em diferentes países encontraremos com frequência que o salário diário semanal etc na primeira nação é mais elevado que na segunda ao passo que o preço relativo do trabalho isto é o preço do trabalho em relação tanto ao maisvalor quanto ao valor do produto é mais alto na segunda nação do que na primeira65 J W Cowell membro da Comissão Fabril de 1833 após uma meticulosa investigação da indústria de fiação concluiu que na I nglaterra os salários são geralmente mais baixos para o fabricante do que no continente europeu ainda que para o trabalhador possam ser mais altos Ure p 314 No relatório fabril de 31 de outubro de 1866 o inspetor de fábricas inglês Alexander Redgrave demonstra por meio de uma estatística comparativa com os Estados continentais que apesar do salário mais baixo e do tempo de trabalho muito mais longo o trabalho continental é proporcionalmente ao produto mais caro que o inglês Um diretor inglês manager de uma fábrica de algodão em Oldenburg declara que lá o horário de trabalho se estende das 5 e meia da manhã às 8 horas da noite incluindo os sábados e que os trabalhadores locais quando trabalham sob capatazes ingleses não produzem durante esse tempo tanto quanto os ingleses durante 10 horas mas muito menos ainda quando trabalham sob capatazes alemães O salário é muito inferior que na I nglaterra em muitos casos 50 mas o número de operários em proporção à maquinaria é muito mais alto alcançando em diversos departamentos a proporção de 5 para 3 O sr Redgrave dá detalhes muito precisos sobre as fábricas russas de algodão Os dados lhe foram fornecidos por um gerente fabril inglês até recentemente ainda ocupado naquele país Sobre esse solo russo tão fértil em todo tipo de infâmias também florescem plenamente os velhos horrores que caracterizaram o período da infância das factories fábricas inglesas Os dirigentes são naturalmente ingleses já que o capitalista russo nativo não serve para o negócio fabril Apesar de todo o sobretrabalho do contínuo trabalho diurno e noturno e da mais vergonhosa sub remuneração dos trabalhadores o produto russo só consegue vegetar graças à proibição dos produtos estrangeiros Por fim reproduzo ainda uma sinopse comparativa do sr Redgrave sobre o número médio de fusos por fábrica e por fiandeiro em diferentes países da Europa O próprio sr Redgrave observa ter reunido esses números há alguns anos e que desde então teria havido um aumento no tamanho das fábricas e no número de fusos por trabalhador na I nglaterra Mas ele pressupõe um progresso proporcionalmente igual nos países continentais enumerados de modo que os números teriam conservado seu valor comparativo Número médio de fusos por fábrica 417 Inglaterra 12600 Suíça 8000 Áustria 7000 Saxônia 4500 Bélgica 4000 França 1500 Prússia 1500 Número médio de fusos por pessoa França 14 Rússia 28 Prússia 37 Baviera 46 Áustria 49 Bélgica 50 Saxônia 50 Pequenos Estados alemães 55 Suíça 55 GrãBretanha 74 Essa comparação diz o sr Redgrave é ainda mais desfavorável para a GrãBretanha além de outras razões porque lá existe grande número de fábricas em que a tecelagem mecânica está combinada com a fiação e o cálculo não desconta as pessoas que trabalham nos teares Em contrapartida a maioria das fábricas estrangeiras são simples fiações Se pudéssemos comparar coisas iguais eu poderia enumerar muitas fiações de algodão em meu distrito em que mules com 2200 fusos estão a cargo de um único homem minder e de duas mulheres suas auxiliares nessas mules são fabricadas diariamente 220 libras de fio de 400 milhas inglesas de comprimento Reports of Insp of Fact 31st Oct 1866 p 317 passim Na Europa oriental e na Ásia como é sabido companhias inglesas encarregaramse da construção de ferrovias e além de trabalhadores nativos empregaram também certo número de trabalhadores ingleses Embora compelidas pela necessidade prática a levar em conta as diferenças nacionais quanto à intensidade do trabalho isso não lhes trouxe prejuízo algum Sua experiência ensina que mesmo que o nível do salário corresponda em maior ou menor medida à intensidade média do trabalho o preço relativo deste último em proporção ao produto movese geralmente em sentido contrário E m Ensaio sobre a taxa do salário66 um de seus primeiros escritos econômicos H Carey procura demonstrar que os diferentes salários nacionais se relacionam diretamente de acordo com os graus de produtividade das jornadas de trabalho nacionais visando extrair dessa relação internacional a conclusão de que o salário em geral aumenta e diminui conforme a produtividade do trabalho Nossa análise inteira 418 da produção do maisvalor comprova o absurdo dessa conclusão ainda que Carey tivesse demonstrado sua premissa em vez de como lhe é habitual embaralhar acrítica e superficialmente o material estatístico recolhido de modo aleatório O melhor de tudo é que ele não afirma que a coisa se comporta realmente como deveria se comportar de acordo com a teoria A intromissão do Estado falseou com efeito a relação econômica natural Por isso temos de calcular os salários nacionais como se a parte deles que cabe ao Estado como tributo coubesse ao próprio trabalhador Não deveria o sr Carey continuar sua reflexão e perguntar se esses custos estatais não seriam também frutos naturais do desenvolvimento capitalista O raciocínio é plenamente digno do homem que primeiro declarou as relações capitalistas de produção como leis eternas da Natureza e da Razão cujo jogo livremente harmônico só seria perturbado pela intromissão estatal para depois descobrir que a influência diabólica da I nglaterra sobre o mercado mundial influência que aparentemente não deriva das leis naturais da produção capitalista torna necessária a intromissão estatal mais precisamente a proteção estatal daquelas leis da Natureza e da Razão em outras palavras o sistema protecionista Além disso descobriu que os teoremas de Ricardo etc em que estão formuladas as antíteses e contradições sociais existentes não são o produto ideal do movimento econômico real mas que ao contrário as antíteses reais da produção capitalista na I nglaterra e em outros lugares são o resultado das teorias ricardianas etc Descobriu por fim que é o comércio em última instância que destrói as belezas e harmonias inatas do modo de produção capitalista Um passo a mais e ele talvez descubra que o único defeito da produção capitalista é o próprio capital Somente um homem tão espantosamente desprovido de senso crítico e dotado de tal erudição de faux aloi falso conteúdo mereceria apesar de sua heresia protecionista converterse na fonte secreta da sabedoria harmônica de um Bastiat e de todos os outros livrecambistas otimistas do presente 419 Marx por autor desconhecido Gravura do último quartel do séc XIX 420 Seção VII O processo de acumulação do capital 421 A transformação de uma quantia de dinheiro em meios de produção e força de trabalho é o primeiro movimento realizado pela quantidade de valor que deve funcionar como capital Ela age no mercado na esfera de circulação A segunda fase do movimento o processo de produção é concluída assim que os meios de produção estão convertidos em mercadorias cujo valor supera o valor de suas partes constitutivas e portanto contém o capital originalmente adiantado acrescido de um maisvalor Em seguida essas mercadorias têm por sua vez de ser lançadas novamente na esfera da circulação O objetivo é vendêlas realizar seu valor em dinheiro converter esse dinheiro novamente em capital e assim consecutivamente Esse ciclo percorrendo sempre as mesmas fases sucessivas constitui a circulação do capital A primeira condição da acumulação é que o capitalista tenha conseguido vender suas mercadorias e reconverter em capital a maior parte do dinheiro assim obtido Em seguida pressupõese que o capital percorra seu processo de circulação de modo normal A análise mais detalhada desse processo pertence ao Livro II desta obra O capitalista que produz o maisvalor isto é que suga trabalho não pago diretamente dos trabalhadores e o fixa em mercadorias é decerto o primeiro apropriador porém de modo algum o último proprietário desse maisvalor Ele tem ainda de dividilo com capitalistas que desempenham outras funções na totalidade da produção social com o proprietário fundiário etc O maisvalor se divide assim em diversas partes Seus fragmentos cabem a diferentes categorias de pessoas e recebem formas distintas independentes entre si como o lucro o juro o ganho comercial a renda fundiária etc Tais formas modificadas do maisvalor só poderão ser tratadas no Livro III Aqui supomos por um lado que o capitalista que produz a mercadoria a vende pelo seu valor e não nos ocupamos mais com o retorno do capitalista ao mercado ou com as novas formas que se aderem ao capital na esfera da circulação tampouco com as condições concretas da reprodução ocultas sob essas formas Por outro lado tomamos o produtor capitalista como proprietário do maisvalor inteiro ou se assim se prefere como representante de todos os seus coparticipantes no butim Portanto consideramos de início a acumulação abstratamente isto é como mero momento do processo imediato de produção De resto na medida em que se realiza a acumulação o capitalista consegue vender a mercadoria produzida e reconverter em capital o dinheiro com ela obtido Além disso o fracionamento do maisvalor em diversas partes não altera em nada sua natureza nem as condições necessárias sob as quais ela se converte no elemento da acumulação Seja qual for a proporção de maisvalor que o produtor capitalista retenha para si mesmo ou ceda a outros ele sempre será o primeiro a se apropriar dela O que pressupomos em nossa exposição da acumulação é pois aquilo que está pressuposto em seu processo efetivo Por outro lado o fracionamento do maisvalor e o movimento mediador da circulação obscurecem a forma básica simples do processo de acumulação Sua análise pura por conseguinte requer que abstraiamos provisoriamente de todos os fenômenos que ocultam o jogo interno de seu mecanismo 422 Capítulo 21 Reprodução simples Seja qual for a forma social do processo de produção ele tem de ser contínuo ou percorrer periodicamente sempre de novo os mesmos estágios Assim como uma sociedade não pode deixar de consumir tampouco pode deixar de produzir Portanto considerado do ponto de vista de uma interdependência contínua e do fluxo contínuo de sua renovação todo processo social de produção é simultaneamente processo de reprodução As condições da produção são ao mesmo tempo as condições da reprodução Nenhuma sociedade pode produzir continuamente isto é reproduzir sem reconverter continuamente uma parte de seus produtos em meios de produção ou elementos da nova produção Mantendose iguais as demais circunstâncias essa sociedade só pode reproduzir ou conservar sua riqueza na mesma escala se substitui os meios de produção in natura isto é os meios de trabalho matériasprimas e matérias auxiliares consumidos por exemplo durante um ano por uma quantidade igual de exemplares novos separados da massa anual de produtos e incorporados novamente ao processo de produção Uma quantidade determinada do produto anual pertence pois à produção Destinada desde o início ao consumo produtivo tal quantidade existe em grande parte sob formas naturais que excluem por si mesmas o consumo individual Se a produção tem forma capitalista também o tem a reprodução Como no modo de produção capitalista o processo de trabalho aparece apenas como um meio para o processo de valorização também a reprodução aparece tão somente como um meio de reproduzir como capital o valor adiantado isto é como valor que se valoriza Por conseguinte a máscaraa econômica do capitalista só se adere a um homem pelo fato de que seu dinheiro funciona continuamente como capital Se por exemplo a quantia adiantada de 100 se transforma este ano em capital e produz um maisvalor de 20 ela terá de repetir a mesma operação no ano seguinte e assim por diante Como incremento periódico do valor do capital ou fruto periódico do capital em processamento o maisvalor assume a forma de uma renda Revenue proveniente do capital1 Se essa renda serve ao capitalista apenas como fundo de consumo ou é gasta com a mesma periodicidade com que é obtida então ocorre permanecendo iguais as demais circunstâncias a reprodução simples Ora embora esta não seja mais do que a repetição do processo de produção na mesma escala essa mera repetição ou continuidade imprime ao processo certas características novas ou antes dissolve as características aparentes que ele ostentava quando transcorria de maneira isolada O processo de produção é introduzido com a compra da força de trabalho por um tempo determinado e essa introdução é constantemente renovada tão logo esteja vencido o prazo de venda do trabalho decorrido um determinado período de produção semana mês etc Porém o trabalhador só é pago depois de sua força de 423 trabalho ter atuado e realizado tanto seu próprio valor como o maisvalor em mercadorias J untamente com o maisvalor que por enquanto consideramos apenas como fundo de consumo do capitalista o trabalhador produz portanto o fundo de seu próprio pagamento o capital variável antes que este lhe retorne sob a forma de salário e ele só permanece ocupado enquanto o reproduz continuamente Daí a fórmula dos economistas mencionada no capítulo 16 item I I que expressa o salário como participação no próprio produto2 O que reflui continuamente para o trabalhador na formasalário é uma parte do produto continuamente reproduzido por ele mesmo Sem dúvida o capitalista lhe paga em dinheiro o valor das mercadorias mas o dinheiro não é mais do que a forma transformada do produto do trabalho Enquanto o trabalhador converte uma parte dos meios de produção em produto uma parte de seu produto anterior se reconverte em dinheiro É com seu trabalho da semana anterior ou do último semestre que será pago seu trabalho de hoje ou do próximo semestre A ilusão gerada pela formadinheiro desaparece de imediato assim que consideramos não o capitalista e o trabalhador individuais mas a classe capitalista e a classe trabalhadora A classe capitalista entrega constantemente à classe trabalhadora sob a formadinheiro títulos sobre parte do produto produzido por esta última e apropriado pela primeira De modo igualmente constante o trabalhador devolve esses títulos à classe capitalista e assim dela obtém a parte de seu próprio produto que cabe a ele próprio A formamercadoria do produto e a formadinheiro da mercadoria disfarçam a transação O capital variável é pois apenas uma forma histórica particular de manifestação do fundo dos meios de subsistência ou fundo de trabalho de que o trabalhador necessita para sua autoconservação e reprodução e que ele mesmo tem sempre de produzir e reproduzir em todos os sistemas de produção social Se o fundo de trabalho só aflui constantemente para ele sob a forma de meios de pagamento por seu trabalho é porque seu próprio produto se distancia constantemente dele sob a forma do capital Mas essa forma de manifestação do fundo de trabalho em nada altera o fato de que o capitalista adianta ao trabalhador o próprio trabalho objetivado deste último3 Suponha o caso de um camponês sob o sistema de corveia Digamos que ele trabalhe com seus próprios meios de produção em seu próprio campo 3 dias por semana Nos outros 3 dias da semana ele realiza a corveia no domínio senhorial Esse camponês reproduz continuamente seu próprio fundo de trabalho e este jamais assume em relação a ele a forma de meios de pagamento adiantados por um terceiro para remunerar seu trabalho Em compensação seu trabalho forçado não pago jamais assume a forma de trabalho voluntário e pago Se amanhã o senhor feudal se apropriasse da terra dos animais de tração das sementes em suma dos meios de produção do camponês submetido à corveia este teria doravante de vender sua força de trabalho ao senhor Permanecendo iguais as demais circunstâncias ele trabalharia como antes 6 dias por semana 3 dias para si mesmo e 3 dias para o exsenhor feudal agora convertido em senhor salarial Tal como antes ele continuaria a consumir os meios de produção como meios de produção e a transferir seu valor ao produto Tal como antes determinada parte do produto continuaria a ingressar na reprodução mas assim como a corveia assume a forma de trabalho assalariado também o fundo 424 de trabalho que tal como antes continua a ser produzido e reproduzido pelo servo assume a forma de um capital que o senhor feudal adianta ao servo O economista burguês cujo cérebro limitado não consegue distinguir entre a forma de manifestação e o que nela se manifesta cerra os olhos para o fato de que ainda hoje o fundo de trabalho só excepcionalmente aparece sobre o globo terrestre na forma de capital4 Sem dúvida o capital variável só perde o significado de um valor adiantado a partir do fundo próprio do capitalista4a quando consideramos o processo capitalista de produção no fluxo constante de sua renovação Mas esse processo tem de ter começado em algum lugar e em algum momento Do ponto de vista que desenvolvemos até aqui portanto é provável que o capitalista se tenha convertido em possuidor de dinheiro em virtude de uma acumulação originária independente de trabalho alheio não pago e que por isso tenha podido se apresentar no mercado como comprador de força de trabalho No entanto a mera continuidade do processo capitalista de produção ou a reprodução simples opera também outras mudanças notáveis que afetam não apenas o capital variável mas também o capital total Se o maisvalor produzido de maneira periódica por exemplo anualmente com um capital de 1000 for de 200 e se esse maisvalor for consumido anualmente é claro que depois de 5 anos de repetição desse mesmo processo a quantia do mais valor consumido será igual a 5 200 ou igual ao valor do capital originalmente adiantado de 1000 Se o maisvalor fosse consumido apenas parcialmente por exemplo apenas pela metade o resultado seria o mesmo após 10 anos de repetição do processo de produção já que 10 100 1000 Em linhas gerais o valor do capital adiantado dividido pelo maisvalor anualmente consumido resulta no número de anos ou de períodos de reprodução ao término dos quais o capital originalmente adiantado foi consumido pelo capitalista e portanto desapareceu A representação do capitalista de que ele consome o produto do trabalho alheio não pago o maisvalor e conserva o capital original é algo que não pode alterar absolutamente em nada a realidade das coisas Transcorrido certo número de anos o valor do capital que ele possui é igual à quantia de maisvalor apropriada sem equivalente durante esses mesmos anos e a quantia de valor consumido por ele é igual ao valor do capital original Ele conserva decerto um capital nas mãos cuja grandeza não se alterou e do qual uma parte edifícios máquinas etc já existia quando ele pôs em marcha seu negócio Porém se trata aqui do valor do capital e não de seus componentes materiais Se alguém consome todos os seus bens contraindo dívidas que se igualam ao valor desses bens então a totalidade desses bens representa apenas a soma total de suas dívidas Do mesmo modo quando o capitalista consumiu o equivalente de seu capital adiantado o valor desse capital representa tão somente a soma total do mais valor do qual ele se apropriou gratuitamente Nem um átomo de valor de seu antigo capital continua a existir Abstraindose inteiramente de toda acumulação a mera continuidade do processo de produção ou a reprodução simples após um período mais ou menos longo converte necessariamente todo capital em capital acumulado ou maisvalor capitalizado Ainda que no momento em que entrou no processo de produção esse capital fosse propriedade adquirida mediante o trabalho pessoal daquele que o aplica 425 mais cedo ou mais tarde ele se converteria em valor apropriado sem equivalente em materialização seja em formadinheiro ou outra de trabalho alheio não pago No capítulo 4 vimos que para transformar dinheiro em capital não bastava a existência da produção de valor e da circulação de mercadoriasb Primeiramente era necessário que se confrontassem nos respectivos papéis de comprador e vendedor de mercadoria de um lado o possuidor de valor ou dinheiro de outro o possuidor da substância criadora de valor aqui o possuidor de meios de produção e de subsistência lá o possuidor de nada mais que a força de trabalho A separação entre o produto do trabalho e o próprio trabalho entre as condições objetivas e a força subjetiva de trabalho era portanto a base efetivamente dada o ponto de partida do processo capitalista de produção Mas o que inicialmente era apenas ponto de partida é produzido sempre de novo por meio da mera continuidade do processo da reprodução simples perpetuandose como resultado próprio da produção capitalista Por um lado o processo de produção transforma continuamente a riqueza material em capital em meio de valorização e de fruição para o capitalista Por outro o trabalhador sai do processo sempre como nele entrou como fonte pessoal de riqueza porém despojado de todos os meios para tornar essa riqueza efetiva para si Como antes de entrar no processo seu próprio trabalho já está alienado dele ihm selbst entfremdet apropriado pelo capitalista e incorporado ao capital esse trabalho se objetiva continuamente no decorrer do processo em produto alheio Sendo processo de produção e ao mesmo tempo processo de consumo da força de trabalho pelo capitalista o produto do trabalhador transformase continuamente não só em mercadoria mas em capital em valor que suga a força criadora de valor em meios de subsistência que compram pessoas em meios de produção que se utilizam dos produtores5 Por conseguinte o próprio trabalhador produz constantemente a riqueza objetiva como capital como poder que lhe é estranho que o domina e explora e o capitalista produz de forma igualmente contínua a força de trabalho como fonte subjetiva de riqueza separada de seus próprios meios de objetivação e efetivação abstrata existente na mera corporeidade do trabalhador numa palavra produz o trabalhador como assalariado6 Essa constante reprodução ou perpetuação do trabalhador é a sine qua non da produção capitalista O consumo do trabalhador tem uma dupla natureza Na própria produção ele consome por meio de seu trabalho meios de produção transformandoos em produtos de valor maior que o do capital adiantado Esse é seu consumo produtivo Ao mesmo tempo ele é consumo de sua força de trabalho pelo capitalista que a comprou Por outro lado o trabalhador gasta em meios de subsistência o dinheiro pago na compra da força de trabalho esse é seu consumo individual O consumo produtivo e o consumo individual do trabalhador diferem portanto inteiramente No primeiro o trabalhador atua como força motriz do capital e pertence ao capitalista no segundo ele pertence a si mesmo e executa funções vitais à margem do processo de produção O resultado de um é a vida do capitalista o do outro é a vida do próprio trabalhador No exame da jornada de trabalho etc tivemos a oportunidade de mostrar que o trabalhador é frequentemente forçado a converter seu consumo individual em mero incidente do processo de produção Nesse caso ele se abastece de meios de 426 subsistência para manter sua força de trabalho em funcionamento do mesmo modo como se abastece de carvão e água a máquina a vapor e de óleo a roda Seus meios de consumo são então simples meios de um meio de produção e seu consumo individual é consumo imediatamente produtivo I sso se mostra no entanto como um abuso não essencial ao processo de produção capitalista7 A questão assume outro aspecto assim que passamos a considerar não o capitalista individual e o trabalhador individual mas a classe capitalista e a classe trabalhadora não o processo isolado de produção da mercadoria mas o processo de produção capitalista em seu fluxo e em sua escala social Quando o capitalista converte parte de seu capital em força de trabalho ele valoriza com isso seu capital total e mata dois coelhos de uma cajadada Ele lucra não apenas com o que recebe do trabalhador mas também com o que lhe dá O capital que foi alienado em troca da força de trabalho é convertido em meios de subsistência cujo consumo serve para reproduzir os músculos os nervos os ossos o cérebro dos trabalhadores existentes e para produzir novos trabalhadores Dentro dos limites do absolutamente necessário portanto o consumo individual da classe trabalhadora é a reconversão dos meios de subsistência alienados pelo capital em troca da força de trabalho em nova força de trabalho a ser explorada pelo capital Tal consumo é produção e reprodução do meio de produção mais indispensável ao capitalista o próprio trabalhador O consumo individual do trabalhador continua a ser assim um momento da produção e reprodução do capital quer se efetue dentro quer fora da oficina da fábrica etc e quer se efetue dentro quer fora do processo de trabalho exatamente como ocorre com a limpeza da máquina seja ela realizada durante o processo de trabalho ou em determinadas pausas deste último O fato de o trabalhador realizar seu consumo individual por amor a si mesmo e não ao capitalista não altera em nada a questão Do mesmo modo o consumo do animal de carga não deixa de ser um elemento necessário do processo de produção pelo fato de o próprio animal se satisfazer com o que come A manutenção e reprodução constantes da classe trabalhadora continuam a ser uma condição constante para a reprodução do capital O capitalista pode abandonar confiadamente o preenchimento dessa condição ao impulso de autoconservação e procriação dos trabalhadores Ele apenas se preocupa em limitar ao máximo o consumo individual dos trabalhadores mantendoo nos limites do necessário e está muito longe daquela rusticidade sulamericana que obriga o trabalhador a ingerir alimentos mais nutritivos em vez de outros menos nutritivos8 É por isso que o capitalista e seu ideólogo o economista político entendem como produtiva apenas a parte do consumo individual do trabalhador exigida para a perpetuação da classe trabalhadora isto é aquela parte que de fato tem de ser consumida para que o capital consuma a força de trabalho tudo o que além dessa parte o trabalhador possa consumir para seu próprio prazer é consumo improdutivo9 Se a acumulação do capital provocasse um aumento do salário e portanto um incremento dos meios de consumo do trabalhador sem ser acompanhada de um maior consumo de força de trabalho pelo capital o capital adicional teria sido consumido improdutivamente10 De fato o consumo individual do trabalhador é improdutivo para ele mesmo posto que apenas reproduz o indivíduo necessitado e é produtivo para o capitalista e para o Estado pois é produção da força produtora de riqueza 427 Malthus observou àquela época em relação aos fatos publicados pelo Parlamento Confesso que vejo com desgosto a grande difusão da prática do salário por peça Um trabalho efetivamente duro que se estenda por 12 ou 14 horas por dia ou por períodos ainda mais longos é demasiada para um ser humano Nas oficinas submetidas à lei fabril o salário por peça tornase regra geral pois lá o capital só podia ampliar a jornada de trabalho no que diz respeito à sua intensidade Com a produtividade variada do trabalho a mesma quantidade de produtos representa tempo variável de trabalho Portanto varia também o salário por peça já que este é a expressão do preço de um tempo determinado de trabalho O tempo a um dois talvez três anos produzirá a quantidade necessária Gostaria então de perguntar se essa indústria merece ser preservada se não é válido o esforço de manter em ordem sua maquinaria quer dizer as máquinas vivas de trabalho e se não é uma loucura extrema pensar em abandonála Creio que sim Concedo que os trabalhadores não são propriedades I allow that the workers are not a property que não são propriedade de Lancashire e seus patrões mas eles são a força de ambos a força espiritual e instruída que não se pode substituir numa geração em contrapartida a outra maquinaria com que trabalham opiniões que deles dependem confinados nos distritos algodoeiros e como consequência necessária reprimir pela força o seu descontentamento e alentálos em soluções tudo isso em nome da possibilidade de que um dia as partes algodoeiras voltem a necessitar deles E chegado a hora de que a grande opinião pública dessas ilhas faça algo para salvar essa força de trabalho daqueles que querem tratarla como tratam o carvão o ferro e o algodão isto é save this working power from those who would deal with it as they deal with iron coal and cotton O artigo do Times não passava de um jeu desprit jogo de espírito A grande opinião pública na realidade compartilhava da opinião do sr Potter de que os trabalhadores fabris eram acessórios móveis das fábricas Confirmaramse os trabalhadores na workhouse moral dos distritos algodoeiros onde continuam a ser a força the strength dos patroes algodoeiros de Lancashire Capítulo 22 Transformação de maisvalor em capital 1 O processo de produção capitalista em escala ampliada Conversão das leis de propriedade que regem a produção de mercadorias em leis da apropriação capitalista Anteriormente tivemos de examinar como o maisvalor surge do capital agora veremos como o capital surge do maisvalor A aplicação de maisvalor como capital ou a reconversão de maisvalor em capital se chama acumulação de capital21 Vejamos primeiro esse processo do ponto de vista do capitalista individual Suponha que um fiandeiro por exemplo tenha desembolsado um capital de 10 mil sendo 45 dessa soma gasta em algodão máquinas etc e o último 15 em salário Suponha ainda que ele produza anualmente 240 mil libras de fio no valor de 12 mil A uma taxa de mais valor de 100 o maisvalor está incorporado no maisproduto ou produto líquido de 40 mil libras de fio 16 do produto bruto no valor de 2 mil que será realizado na venda Uma quantia de valor de 2 mil é uma quantia de valor de 2 mil Pelo cheiro e pela aparência não se pode saber se esse dinheiro é maisvalor O caráter de um valor como maisvalor mostra como ele chegou a seu possuidor porém não altera em nada a natureza do valor ou do dinheiro Portanto para transformar em capital a quantia recémadicionada de 2 mil o fiandeiro mantendose inalteradas as demais circunstâncias adiantará 45 dessa quantia na compra de algodão etc e 15 na aquisição de novos trabalhadores fiandeiros que encontrarão no mercado os meios de subsistência cujo valor o capitalista lhes adiantou Com isso o novo capital de 2 mil passa a operar na fiação e proporciona por sua parte um maisvalor de 400 O valor do capital foi originalmente adiantado na forma de dinheiro já o mais valor ao contrário existe desde o início como valor de uma parte determinada do produto bruto Se este é vendido convertido em dinheiro o valor do capital readquire sua forma primitiva mas o maisvalor transforma seu modo originário de existência A partir desse momento porém tanto o valor do capital como o maisvalor são quantias de dinheiro e sua reconversão em capital se efetua exatamente do mesmo modo O capitalista aplica tanto um como o outro na aquisição de mercadorias que o capacitem a recomeçar a fabricação de seu artigo e desta vez numa escala ampliada Mas para adquirir essas mercadorias é preciso que ele as encontre prontas no mercado Seus próprios fios só circulam porque ele leva ao mercado seu produto anual tal como o fazem todos os demais capitalistas com suas mercadorias Entretanto antes de chegarem ao mercado essas mercadorias já integravam o fundo de produção anual isto é a massa total dos objetos de toda sorte em que se transforma ao longo do ano a massa total dos capitais individuais ou o capital social total do qual cada capitalista 431 singular possui apenas uma parte alíquota As transações no mercado não fazem mais do que efetivar a transferência dos componentes singulares da produção anual fazendoos passar de uma mão à outra mas não podem incrementar a produção anual total nem modificar a natureza dos objetos produzidos O uso que se faz do produto anual total portanto depende de sua própria composição mas de modo algum da circulação A produção anual tem de começar por fornecer todos os objetos valores de uso com os quais se devem repor os componentes materiais do capital consumidos no decorrer do ano Deduzidos esses objetos resta o produto líquido ou o maisproduto no qual está contido o maisvalor E de que é formado esse maisproduto De coisas destinadas a satisfazer às necessidades e caprichos da classe capitalista e que integram assim seu fundo de consumo Se isso fosse tudo o maisvalor seria gasto até a última migalha e não haveria mais do que a mera reprodução simples Para acumular é necessário transformar uma parte do maisproduto em capital Sem fazer milagres só podemos transformar em capital aquilo que é utilizável no processo de trabalho isto é os meios de produção e além deles aquilo com que o trabalhador pode sustentarse isto é os meios de subsistência Por conseguinte é preciso empregar uma parte do maistrabalho anual na fabricação de meios de produção e de subsistência adicionais numa quantidade acima daquela requerida para a reposição do capital adiantado Numa palavra o maisvalor só pode ser convertido em capital porque o maisproduto do qual ele é o valor já traz em si os componentes materiais de um novo capital21a Ora para fazer com que esses componentes funcionem efetivamente como capital a classe capitalista necessita de uma quantidade adicional de trabalho Se a exploração dos trabalhadores já ocupados não aumenta extensiva ou intensivamente é necessário empregar forças de trabalho adicionais O mecanismo da produção capitalista já cuidou desse problema reproduzindo a classe trabalhadora como classe dependente do salário isto é como classe cujo salário habitual basta não somente para garantir sua conservação mas também sua multiplicação Para realizar a transformação do maisvalor em capital este precisa apenas incorporar essas forças de trabalho suplementares e de diversas faixas etárias que a classe trabalhadora lhe fornece anualmente aos meios de produção adicionais já contidos na produção anual Concretamente considerada a acumulação não é mais do que a reprodução do capital em escala progressiva O ciclo da reprodução simples se modifica e se transforma segundo a expressão de Sismondi perfazendo uma espiral21b Voltemos agora ao nosso exemplo É a velha história Abraão gerou I saque I saque gerou J acó etc O capital original de 10 mil gera um maisvalor de 2 mil que é capitalizado O novo capital de 2 mil gera um maisvalor de 400 este igualmente capitalizado ou seja transformado num segundo capital adicional gera um novo maisvalor de 80 e assim por diante Abstraímos aqui da parte do maisvalor consumida pelo capitalista No momento tampouco é relevante se os capitais adicionais se incorporam ao capital original ou dele se separam para se valorizarem de modo independente se quem os explora é o mesmo capitalista que os acumulou ou se este os transfere a outrem Só não podemos 432 esquecer que ao lado dos capitais recémformados o capital original continua a se reproduzir e produzir maisvalor e que o mesmo se aplica a todo capital acumulado em relação ao capital adicional por ele gerado O capital original se formou pelo desembolso de 10 mil De onde o possuidor as obteve De seu próprio trabalho e do de seus antepassados respondemnos em uníssono os portavozes da economia política21c e essa suposição parece ser de fato a única de acordo com as leis da produção de mercadorias Totalmente diverso é o que ocorre com o capital adicional de 2 mil Conhecemos com plena exatidão seu processo de surgimento Tratase de maisvalor capitalizado Desde sua origem ele não contém um só átomo de valor que não derive de trabalho alheio não pago Os meios de produção aos quais se incorpora a força de trabalho adicional assim como os meios de subsistência com os quais ele se mantém não são mais do que componentes do maisproduto do tributo anualmente arrancado da classe trabalhadora pela classe capitalista Quando esta última com uma parte do tributo compra força de trabalho adicional da primeira ainda que lhe pague seu preço integral de tal modo que seja trocado equivalente por equivalente ela continua a agir segundo o velho procedimento do conquistador que compra as mercadorias dos vencidos com o dinheiro que roubou destes últimos Quando o capital adicional ocupa seu próprio produtor este tem não só de continuar a valorizar o capital original como além disso comprar de volta o produto de seu trabalho anterior com mais trabalho do que o empregado em sua fabricação Numa dada transação entre a classe capitalista e a classe trabalhadora é irrelevante o fato de que se empreguem trabalhadores adicionais com o trabalho não pago dos trabalhadores ocupados até o presente Pode ocorrer também de o capitalista transformar o capital adicional numa máquina que ponha na rua o produtor do capital adicional substituindoo por algumas crianças Em todos os casos foi a classe trabalhadora que criou com seu maistrabalho realizado neste ano o capital que no próximo ano ocupará trabalho adicional22 I sso é o que se denomina gerar capital por meio de capital O pressuposto da acumulação do primeiro capital adicional de 2 mil foi uma quantia de valor de 10 mil adiantada pelo capitalista e pertencente a ele por força de seu trabalho original O pressuposto do segundo capital adicional de 400 ao contrário não é senão a acumulação precedente do primeiro das 2 mil cujo mais valor capitalizado constitui precisamente esse segundo capital adicional A propriedade do trabalho pretérito não pago se manifesta agora como a única condição para a apropriação atual de trabalho vivo não pago em escala cada vez maior Quanto mais o capitalista tiver acumulado mais ele poderá acumular Na medida em que o maisvalor de que se compõe o capital adicional n 1 resultou da compra da força de trabalho por uma parte do capital original compra que obedeceu às leis da troca de mercadorias e que do ponto de vista jurídico pressupõe apenas da parte do trabalhador a livre disposição sobre suas próprias capacidades e da parte do possuidor de dinheiro ou de mercadorias a livre disposição sobre os valores que lhe pertencem na medida em que o capital adicional n 2 etc não é mais do que o resultado do capital adicional n 1 e portanto a consequência daquela 433 primeira relação na medida em que cada transação isolada obedece continuamente à lei da troca de mercadorias segundo a qual o capitalista sempre compra a força de trabalho e o trabalhador sempre a vende e supomos aqui por seu valor real é evidente que a lei da apropriação ou lei da propriedade privada fundada na produção e na circulação de mercadorias transformase obedecendo a sua dialética própria interna e inevitável em seu direto oposto A troca de equivalentes que aparecia como a operação original torceuse ao ponto de que agora a troca se efetiva apenas na aparência pois em primeiro lugar a própria parte do capital trocada por força de trabalho não é mais do que uma parte do produto do trabalho alheio apropriado sem equivalente em segundo lugar seu produtor o trabalhador não só tem de repôla como tem de fazêlo com um novo excedente A relação de troca entre o capitalista e o trabalhador se converte assim em mera aparência pertencente ao processo de circulação numa mera forma estranha ao próprio conteúdo e que apenas o mistifica A contínua compra e venda da força de trabalho é a forma O conteúdo está no fato de que o capitalista troca continuamente uma parte do trabalho alheio já objetivado do qual ele não cessa de se apropriar sem equivalente por uma quantidade maior de trabalho vivo alheio Originalmente o direito de propriedade apareceu diante de nós como fundado no próprio trabalho No mínimo esse suposto tinha de ser admitido porquanto apenas possuidores de mercadorias com iguais direitos se confrontavam uns com os outros mas o meio de apropriação da mercadoria alheia era apenas a alienação Veräußerung de sua mercadoria própria e esta só se podia produzir mediante o trabalho Agora ao contrário a propriedade aparece do lado do capitalista como direito a apropriarse de trabalho alheio não pago ou de seu produto do lado do trabalhador como impossibilidade de apropriarse de seu próprio produto A cisão entre propriedade e trabalho tornase consequência necessária de uma lei que aparentemente tinha origem na identidade de ambos23 Portanto por mais que o modo capitalista de apropriação pareça violar as leis originais da produção de mercadorias ele não se origina em absoluto da violação mas ao contrário da observância dessas leis Um breve olhar retrospectivo à sequência das fases do movimento cujo ponto de chegada é a acumulação capitalista bastará para esclarecer novamente essa questão Vimos primeiramente que a transformação original de uma quantia de valor em capital se efetuava inteiramente de acordo com as leis da troca Uma das partes contratantes vende sua força de trabalho a outra a compra A primeira recebe o valor de sua mercadoria cujo valor de uso o trabalho é desse modo alienado à segunda Esta por sua vez emprega o trabalho que agora lhe pertence na transformação dos meios de produção que já lhe pertenciam e com isso obtém um novo produto que por direito também lhe pertence O valor desse produto inclui primeiro o valor dos meios de produção consumidos em sua produção O trabalho útil não pode consumir esses meios de produção sem transferir seu valor ao novo produto mas para que este seja vendável é preciso que a força de trabalho possa fornecer trabalho útil naquele ramo industrial em que ela deve ser empregada O valor do novo produto inclui além disso o equivalente do valor da força de 434 trabalho e um maisvalor E isso precisamente porque a força de trabalho vendida por um determinado período de tempo dia semana etc possui um valor menor do que o valor que seu uso cria durante esse tempo Mas o trabalhador obteve como pagamento o valor de troca de sua força de trabalho e assim alienou veräussert seu valor de uso como é o caso em toda compra e venda O fato de que essa mercadoria particular a força de trabalho tenha o valor de uso peculiar de fornecer trabalho e portanto de criar valor não pode alterar em nada a lei geral da produção de mercadorias Portanto se a quantia de valor adiantada em salário não ressurge no produto pura e simplesmente mas sim aumentada de um maisvalor isso não resulta de que se tenha ludibriado o vendedor pois este recebeu efetivamente o valor de sua mercadoria mas do consumo dessa mercadoria pelo comprador A lei da troca só exige igualdade entre os valores de troca das mercadorias que são alienadas reciprocamente Ela exige até mesmo desde o início a desigualdade de seus valores de uso e não guarda nenhuma relação com seu consumo que só começa depois de o negócio estar concluído A transformação original do dinheiro em capital consumase portanto na mais rigorosa harmonia com as leis econômicas da produção de mercadorias e com o direito de propriedade delas derivado Mas apesar disso ela tem por resultado 1 que o produto pertence ao capitalista e não ao trabalhador 2 que o valor desse produto além do valor do capital adiantado inclui um mais valor o qual embora tenha custado trabalho ao trabalhador e nada ao capitalista tornase propriedade legítima deste último 3 que o trabalhador conservou consigo sua força de trabalho e pode vendêla de novo sempre que encontrar um comprador A reprodução simples não é mais do que repetição periódica dessa primeira operação voltase sempre de novo a transformar dinheiro em capital A lei não é pois violada ao contrário ela apenas obtém a oportunidade de atuar duradouramente Plusieurs échanges successifs nont fait du dernier que le représentant du premiera Sismondi cit p 70 E no entanto vimos que a reprodução simples é suficiente para conferir a essa primeira operação apreendida como processo isolado um caráter totalmente diferente Parmi ceux qui se partagent le revenu national les uns y acquièrent chaque année un nouveau droit par un noveau travail les autres y ont acquis antérieurement un droit permanent par un travail primitifb Sismondi cit p 1101 O reino do trabalho como é sabido não é o único onde a primogenitura opera milagres Tampouco importa se a reprodução simples cede lugar à reprodução em escala ampliada à acumulação Na primeira o capitalista dissipa o maisvalor inteiro na segunda ele dá provas de sua virtude burguesa consumindo apenas uma parte e transformando o resto em dinheiro O maisvalor é sua propriedade não tendo jamais pertencido a outrem Se o adianta para a produção o que ele faz é um adiantamento de seus próprios fundos 435 exatamente como fez no dia em que pôs os pés no mercado pela primeira vez Que agora esse fundo tenha origem no trabalho não pago de seus trabalhadores é algo que não altera absolutamente em nada a questão Se o trabalhador B é ocupado com o maisvalor produzido pelo trabalhador A temos de considerar primeiro que A forneceu esse maisvalor sem que se rebaixasse nem um centavo do preço justo de sua mercadoria e segundo que esse negócio não diz respeito de modo algum a B O que B exige e tem direito de exigir é que o capitalista lhe pague o valor de sua força de trabalho Tous deux gagnaient encore louvrier parce quon lui avançait les fruits de son travail o certo seria du travail gratuit dautres ouvriers avant quil fût fait o certo seria avant que le sien ait porté de fruit le maître parce que le travail de cet ouvrier valait plus que le salaire o certo seria produisait plus de valeur que celle de son salairec Sismondi cit p 135 Certamente o quadro é inteiramente diferente quando consideramos a produção capitalista no fluxo ininterrupto de sua renovação e em vez do capitalista individual e o trabalhador individual consideramos a totalidade a classe capitalista e diante dela a classe trabalhadora Com isso porém introduziríamos um padrão de medida totalmente estranho à produção de mercadorias Na produção de mercadorias confrontamse independentes um do outro apenas o vendedor e o comprador Suas relações recíprocas chegam ao fim quando do vencimento do contrato concluído entre eles Se o negócio se repete é em consequência de um novo contrato que não guarda nenhuma relação com o anterior e no qual somente o acaso reúne novamente o mesmo comprador e o mesmo vendedor Portanto se a produção de mercadorias ou qualquer outro processo a ela pertencente devem ser julgados segundo suas próprias leis econômicas será necessário considerar cada ato de troca por si mesmo à margem de qualquer conexão com o ato de troca que o precedeu e com o que o sucede E como as compras e as vendas são efetuadas apenas entre indivíduos singulares é inadmissível que nelas busquemos relações entre classes sociais inteiras Por mais longa que seja a sequência das reproduções periódicas e das acumulações precedentes percorridas pelo capital atualmente em funcionamento este conserva sempre sua virgindade original Enquanto em cada ato de troca tomado isoladamente são conservadas as leis da troca o modo de apropriação pode sofrer um revolucionamento total sem que o direito de propriedade adequado à produção de mercadorias se veja afetado de alguma forma Esse mesmo direito segue em vigor tanto no início quando o produto pertencia ao produtor e este trocando equivalente por equivalente só podia enriquecer mediante seu próprio trabalho como também no período capitalista quando a riqueza social se torna em proporção cada vez maior a propriedade daqueles em condições de se apropriar sempre de novo do trabalho não pago de outrem Esse resultado se torna inevitável assim que o próprio trabalhador vende livremente a força de trabalho como mercadoria Mas é também somente a partir de então que a produção de mercadorias se generaliza tornandose a forma típica da produção somente a partir de então cada produto passa a ser produzido desde o 436 início para a venda e toda a riqueza produzida percorre os canais da circulação É apenas quando o trabalho assalariado constitui sua base que a produção de mercadorias se impõe a toda a sociedade mas é também somente então que ela desdobra todas as suas potências ocultas Dizer que a interferência do trabalho assalariado falseia a produção de mercadorias equivale a dizer que a produção de mercadorias se deseja preservar intacta sua autenticidade não se deve desenvolver Na mesma medida em que de acordo com suas próprias leis imanentes ela se desenvolve até se converter em produção capitalista as leis de propriedade que regulam a produção de mercadorias se convertem em leis da apropriação capitalista24 Vimos que mesmo na reprodução simples todo o capital adiantado independentemente de como tenha sido obtido transformase em capital acumulado ou maisvalor capitalizado No fluxo da produção porém todo capital originalmente adiantado se torna em geral uma grandeza evanescente magnitudo evanescens em sentido matemático em comparação com o capital acumulado diretamente isto é com o maisvalor ou o maisproduto reconvertido em capital funcione ele agora nas mãos de quem o acumulou ou em mãos alheias Razão pela qual a economia política geralmente apresenta o capital como riqueza acumulada maisvalor ou renda transformada que se emprega de novo na produção de maisvalor25 ou o capitalista como possuidor do maisproduto26 O mesmo ponto de vista se revela apenas sob outra forma na expressão todo capital existente é juro acumulado ou capitalizado pois o juro não é mais do que uma fração do maisvalor27 2 Concepção errônea por parte da economia política da reprodução em escala ampliada Antes de passarmos à análise de algumas determinações mais detalhadas da acumulação ou da reconversão do maisvalor em capital é preciso remover um equívoco criado pela economia clássica Assim como as mercadorias que o capitalista compra com uma parte do maisvalor para seu próprio consumo não lhe servem como meios de produção e valorização tampouco o trabalho que ele compra para a satisfação de suas necessidades naturais e sociais é trabalho produtivo Por meio da compra dessas mercadorias e desse trabalho em vez de transformar o maisvalor em capital ele o consome ou gasta como renda Diante da mentalidade da velha aristocracia que como diz Hegel acertadamente consiste no consumo do existented e que também se expande sobretudo no luxo dos serviços pessoais era de importância decisiva para a economia burguesa anunciar a acumulação do capital como o primeiro dever cívico e pregar infatigavelmente que não se pode acumular quando se devora toda a renda em vez de despender boa parte dela na contratação de trabalhadores produtivos adicionais que rendem mais do que custam Por outro lado ela tinha de polemizar contra o preconceito popular que confunde a produção capitalista com o entesouramento28 e por isso imagina que a riqueza acumulada seja a riqueza subtraída à destruição isto é a riqueza que conserva sua forma natural preexistente subtraise do consumo e salvase da circulação Aferrolhar o dinheiro para que ele não circule seria exatamente o oposto de sua 437 valorização como capital e acumular mercadorias para entesourálas pura sandice28a A acumulação de mercadorias em grandes quantidades resulta do estancamento da circulação ou da superprodução29 Certamente na imaginação popular se apresenta de um lado a imagem dos bens acumulados no fundo de consumo dos ricos bens que se consomem lentamente e de outro lado a formação de reservas fenômeno que ocorre em todos os modos de produção e do qual nos ocuparemos brevemente na análise do processo de circulação A economia clássica está certa portanto quando acentua como momento característico do processo de acumulação o consumo do maisproduto por trabalhadores produtivos em vez de por improdutivos Mas aqui começa também o seu erro Foi A Smith quem criou a moda de representar a acumulação meramente como consumo do maisproduto por trabalhadores produtivos ou a capitalização do maisvalor como a mera conversão deste último em força de trabalho Ouçamos por exemplo o que diz Ricardo Devemos compreender que todos os produtos de um país são consumidos mas faz uma enorme diferença se são consumidos por aqueles que reproduzem outro valor ou por aqueles que não o reproduzem Quando dizemos que a renda é poupada e agregada ao capital queremos dizer que a parte da renda da qual se diz ter sido agregada ao capital é consumida por trabalhadores produtivos e não por improdutivos Não existe erro maior que o de supor que o capital é aumentado pelo não consumo30 Não existe erro maior que o de A Smith repetido por Ricardo e todos os economistas posteriores de que a parte da renda que se considera ter sido agregada ao capital é consumida por trabalhadores produtivos Segundo essa noção todo o maisvalor que se transformasse em capital converterseia em capital variável Em vez disso porém ele se reparte como o valor original adiantado em capital constante e capital variável em meios de produção e força de trabalho A força de trabalho é a forma em que o capital variável existe no interior do processo de produção Nesse processo ela própria é consumida pelo capitalista Por meio de sua função o trabalho ela consome meios de produção Ao mesmo tempo o dinheiro pago na aquisição da força de trabalho convertese em meios de subsistência que são consumidos não pelo trabalho produtivo mas pelo trabalhador produtivo Por meio de uma análise fundamentalmente equivocada A Smith chega ao resultado absurdo de que mesmo que todo capital individual se divida em parte constante e parte variável o capital social é composto unicamente de capital variável ou seja é gasto exclusivamente no pagamento de salários Um fabricante de panos por exemplo transforma 2 mil em capital Uma parte do dinheiro ele aplica na aquisição de tecelões a outra parte em fios de lã maquinaria etc Mas as pessoas das quais ele compra os fios e a maquinaria usam parte do dinheiro obtido para pagar o trabalho etc até que todas as 2 mil sejam gastas no pagamento de salários ou seja até que o produto representado pelas 2 mil tenha sido inteiramente consumido por trabalhadores produtivos Como vemos todo o peso desse argumento reside na palavra etc que nos remete de Pôncio até Pilatos Na verdade A Smith interrompe a investigação precisamente no ponto onde começa sua dificuldade31 Enquanto consideramos apenas o fundo da produção total anual o processo de reprodução anual é facilmente compreensível Mas todos os componentes da produção 438 anual têm de ser levados ao mercado e aí tem início a dificuldade Os movimentos dos capitais singulares e das rendas pessoais se entrecruzam entremesclam perdemse numa troca geral de posições na circulação da riqueza social que confunde a visão e coloca à investigação problemas muito complexos para resolver Na terceira seção do Livro I I procederei à análise das conexões efetivas O grande mérito dos fisiocratas é o de terem realizado em seu Tableau économiquee a primeira tentativa de elaborar um quadro da produção anual na configuração sob a qual ela emerge da circulação32 De resto é evidente que a economia política no interesse da classe capitalista não deixou de explorar a tese de A Smith segundoa qual a classe da trabalhadora consome toda a parte do produto líquido transformada em capital 3 Divisão do maisvalor em capital e renda A teoria da abstinência No capítulo anterior consideramos o maisvalor ou o maisproduto tão somente como fundo de consumo individual do capitalista neste capítulo até aqui o consideramos apenas como fundo de acumulação Mas ele não é um ou outro exclusivamente mas ambos ao mesmo tempo Uma parte do maisvalor é consumida pelo capitalista como renda33 outra parte é aplicada como capital ou é acumulada Dada uma massa de maisvalor uma dessas partes será tanto maior quanto menor for a outra Mantendose inalteradas as demais circunstâncias a proporção em que se realiza essa divisão é que determina a grandeza da acumulação Mas quem opera essa divisão é o proprietário do maisvalor o capitalista Ela é portanto um ato de sua vontade Acerca da parte do tributo que ele recolhe e acumula dizemos que é poupada porque ele não a consome isto é porque exerce sua função de capitalista a saber a função de se enriquecer Apenas como capital personificado o capitalista tem um valor histórico e dispõe daquele direito histórico à existência de que como diz o espirituoso Lichnovski nenhuma data não dispõef Somente nesse caso sua própria necessidade transitória está incluída na necessidade transitória do modo de produção capitalista Ainda assim porém sua força motriz não é o valor de uso e a fruição mas o valor de troca e seu incremento Como fanático da valorização do valor o capitalista força inescrupulosamente a humanidade à produção pela produção e consequentemente a um desenvolvimento das forças produtivas sociais e à criação de condições materiais de produção que constituem as únicas bases reais possíveis de uma forma superior de sociedade cujo princípio fundamental seja o pleno e livre desenvolvimento de cada indivíduo O capitalista só é respeitável como personificação do capital Como tal ele partilha com o entesourador o impulso absoluto de enriquecimento Mas o que neste aparece como mania individual no capitalista é efeito do mecanismo social no qual ele não é mais que uma engrenagem Além disso o desenvolvimento da produção capitalista converte em necessidade o aumento progressivo do capital investido numa empresa industrial e a concorrência impõe a cada capitalista individual como leis coercitivas externas as leis imanentes do modo de produção capitalista Obrigao a ampliar continuamente seu capital a fim de conserválo e ele não pode ampliálo 439 senão por meio da acumulação progressiva Por conseguinte na medida em que suas ações são apenas uma função do capital que nele está dotado de vontade e consciência seu próprio consumo privado apresentase a ele como um roubo contra a acumulação de seu capital assim como na contabilidade italiana os gastos privados figuram na coluna daquilo que o capitalista deve ao capital A acumulação é a conquista do mundo da riqueza social Juntamente com a massa de material humano explorado ela amplia o domínio direto e indireto do capitalista34 Mas o pecado original age em toda parte Com o desenvolvimento do modo de produção capitalista e o aumento da acumulação e da riqueza o capitalista deixa de ser mera encarnação do capital Ele sente uma comoção humanag por seu próprio Adãoh e se civiliza ao ponto de ridicularizar a paixão pela ascese como preconceito do entesourador arcaico Enquanto o capitalista clássico estigmatizava o consumo individual como pecado contra sua função e como uma abstinência da acumulação o capitalista moderno está em condições de conceber a acumulação como renúncia ao seu impulso de fruição Vivemlhe duas almas ah no seio Querem trilhar em tudo opostas sendasi Nos primórdios da história do modo de produção capitalista e todo neófito capitalista percorre individualmente esse estágio histórico o impulso de enriquecimento e a avareza predominam como paixões absolutas Entretanto o progresso da produção capitalista não cria apenas um mundo de desfrutes Ele abre com a especulação e o sistema de crédito milhares de fontes de enriquecimento repentino A certa altura do desenvolvimento o desventurado capitalista deve praticar até mesmo como uma necessidade do negócio um determinado grau convencional de esbanjamento que é ao mesmo tempo ostentação de riqueza e por isso meio de crédito O luxo entra nos custos de representação do capital Além disso o capitalista não enriquece como o fazia o entesourador em proporção ao seu trabalho e nãoconsumo Nichtkonsum pessoais mas quando suga força de trabalho alheia e obriga o trabalhador a renunciar a todos os desfrutes da vida Por isso embora o esbanjamento do capitalista não tenha jamais o caráter de bona fide boafé do esbanjamento do pródigo senhor feudal nele subjazendo antes a mais sórdida avareza e o cálculo mais angustioso sua prodigalidade aumenta contudo a par de sua acumulação sem que uma tenha de prejudicar a outra Com isso ao mesmo tempo se desenvolve no coração do capitalista um conflito fáustico entre os impulsos da acumulação e do desfrute A indústria de Manchester lêse numa obra publicada em 1795 pelo dr Aikin pode ser dividida em quatro períodos No primeiro os fabricantes se viam obrigados a trabalhar duro por seu sustento Enriqueciamse especialmente furtando os pais que lhes confiavam seus filhos como apprentices aprendizes e tinham de pagar altas somas por isso enquanto os aprendizes morriam de fome Por outro lado a média de lucros era baixa e a acumulação exigia grande economia Eles viviam como entesouradores e não consumiam nem mesmo os juros de seu capital No segundo período eles começaram a adquirir pequenas fortunas mas continuavam a trabalhar tão duramente como antes pois a exploração direta do trabalho custa trabalho como o sabe todo capataz de escravos e 440 seguiam como antes o mesmo estilo de vida frugal No terceiro período teve início o luxo e o negócio foi ampliado mediante o envio de cavaleiros commis voyageurs caixeirosviajantes montados que recebiam ordens em todas as cidades mercantis do reino É provável que antes de 1690 existissem muito poucos capitais de 3 mil a 4 mil adquiridos na indústria ou mesmo nenhum Porém nessa época ou talvez um pouco mais tarde os industriais já haviam acumulado dinheiro e começaram a construir casas de pedra em vez das de madeira e argamassa Ainda nos primeiros decênios do século XVIII um fabricante de Manchester que oferecesse um pint de vinho estrangeiro a seus hóspedes expunhase aos comentários e murmúrios de todos os seus vizinhos Antes do surgimento da maquinaria o consumo dos fabricantes nas tabernas onde se reuniam com seus confrades jamais ultrapassava numa noite 6 pence por um copo de ponche e 1 penny por um rolo de tabaco Apenas em 1758 e esse fato fez época viu se uma pessoa efetivamente engajada nos negócios que possuía sua própria carruagem O quarto período o último terço do século XVI I I foi de grande luxo e esbanjamento fundados na ampliação dos negócios35 Que diria o bom dr Aikin se ressuscitasse na Manchester de hoje Acumulai acumulai Eis Moisés e os profetasj A indústria provê o material que a poupança acumula36 Portanto poupai poupai isto é reconvertei em capital a maior parte possível do maisvalor ou do maisproduto A acumulação pela acumulação a produção pela produção nessa fórmula a economia clássica expressou a vocação histórica do período burguês Em nenhum instante ela se enganou sobre as dores de parto da riqueza37 mas de que adianta lamentarse diante da necessidade histórica Se para a economia clássica o proletário não era mais que uma máquina para a produção de maisvalor também o capitalista para ela era apenas uma máquina para a transformação desse maisvalor em maiscapital Ela leva rigorosamente a sério a função histórica do capitalista Para livrar seu peito do terrível conflito entre os impulsos de desfrute e de enriquecimento Malthus defendeu no começo dos anos 1820 uma divisão do trabalho que atribuía ao capitalista efetivamente engajado na produção o negócio da acumulação e aos outros participantes do maisvalor a aristocracia rural os sinecuristas estatais e eclesiásticos etc o negócio do esbanjamento É da maior importância diz ele que se conservem separadas a paixão pelo gasto e a paixão pela acumulação the passion for expenditure and the passion for accumulation38 Os senhores capitalistas há muito convertidos em usufruidores e homens do mundo protestaram O quê exclamou um de seus portavozes um ricardiano o sr Malthus defende rendas elevadas da terra pesados impostos etc e isso para que os industriais sejam continuamente pressionados pelos consumidores improdutivos Certamente o schibbolethk é produção produção em escala cada vez mais ampliada mas a produção mediante esse processo é mais obstruída do que fomentada Tampouco é inteiramente justo nor is it quite fair manter na ociosidade certo número de pessoas apenas para pressionar outras de cujo caráter cabe inferir who are likely from their characters que se fosse possível obrigálas a funcionar elas o fariam com êxito39 Do mesmo modo como lhe parece injusto aguilhoar o capitalista industrial para que acumule tirandolhe a carne da sopa também lhe parece necessário limitar o trabalhador ao menor salário possível a fim de que ele se conserve laborioso Tampouco oculta em nenhum momento que a apropriação de trabalho não pago é o segredo da produção de maisvalor 441 Uma demanda ampliada da parte dos trabalhadores não significa mais do que sua disposição para tomar menos de seu próprio produto para si mesmos e deixar uma parte maior para seus patrões e quando se diz que isso ao reduzir o consumo da parte dos trabalhadores gera uma glut saturação do mercado superprodução podemos apenas responder que glut é sinônimo de lucro elevado40 A erudita controvérsia sobre como o capitalista industrial e o ocioso proprietário fundiário etc deveriam repartir o botim extraído do trabalhador do modo mais proveitoso para a acumulação emudeceu diante da Revolução de J ulhol Pouco tempo depois em Lyon o proletariado urbano fez soar o alarme e o proletariado rural na I nglaterra ateou fogo nas fazendas Desse lado do canal grassava o owenismo do outro lado o saintsimonismo e o fourierismo Soara a hora da economia vulgar Exatamente um ano antes de ter descoberto em Manchester que o lucro do capital incluído o juro é produto da última hora não paga da jornada de trabalho a décima segunda hora Nassau W Senior anunciou ao mundo outra descoberta Eu asseverou solenemente substituo a palavra capital considerado instrumento de produção pela palavra abstinência abstenção41 Eis aí uma insuperável demonstração das descobertas da economia vulgar O que ela faz é substituir uma categoria econômica por uma frase própria de sicofantas Voilá tout I sso é tudo Quando o selvagem faz arcos ensina Senior ele exerce uma indústria mas não pratica a abstinência I sso nos explica como e por que em condições sociais anteriores instrumentos de trabalho foram fabricados sem a abstinência do capitalista Quanto mais a sociedade progride tanto mais abstinência ela exige42 especialmente daqueles que exercem a indústria de se apropriar da indústria alheia e de seu produto Todas as condições do processo de trabalho se transformam doravante em outras tantas práticas de abstinência exercidas pelo capitalista Que o trigo seja não apenas comido mas também semeado é a abstinência exercida pelo capitalista Que ao vinho seja dado o tempo necessário para sua fermentação é abstinência exercida pelo capitalista43 O capitalista rouba a seu próprio Adão quando empresta ao trabalhador os instrumentos de produção ou melhor quando os valoriza como capital mediante a incorporação de força de trabalho em vez de se alimentar de máquinas a vapor algodão ferrovias adubo cavalos de tração etc ou como imagina infantilmente o economista vulgar de dilapidar seu valor em luxo e outros meios de consumo44 Como a classe capitalista poderia fazer isso é um segredo que até aqui foi obstinadamente guardado pela economia vulgar Basta dizer que o mundo vive unicamente da automortificação do capitalista esse moderno penitente de Vishnum Não apenas a acumulação mas a simples conservação de um capital exige um esforço constante para resistir à tentação de consumilo45 O humanitarismo mais elementar clama portanto que libertemos o capitalista do martírio e da tentação do mesmo modo como há pouco tempo a abolição da escravatura libertou o senhor de escravos da Geórgia do doloroso dilema dissipar alegremente em champanha todo o mais produto arrancado a chicotadas de seus escravos negros ou reconvertêlo ainda que parcialmente em mais negros e mais terras Nas formações socioeconômicas mais diversas deparamonos não só com a reprodução simples mas ainda que em grau diferente com a reprodução em escala ampliada Produzse progressivamente mais e se consome mais de modo que também 442 uma quantidade maior de produto é transformada em meios de produção Porém esse processo não se apresenta como acumulação de capital e consequentemente tampouco como função do capitalista uma vez que os meios de produção do trabalhador e por conseguinte tampouco seu produto e seus meios de subsistência ainda não se confrontam com ele sob a forma de capital46 Richard J ones falecido há alguns anos sucessor de Malthus na cátedra de economia política no Colégio da Companhia das Índias Orientais em Haileybury trata dessa questão com muita propriedade partindo de dois grandes fatos Como a parte mais numerosa do povo indiano é composta de camponeses autônomos seu produto seus meios de trabalho e de subsistência jamais existem sob a forma in the shape de um fundo poupado da renda alheia saved from Revenue e que percorreu portanto um processo prévio de acumulação a previous process of acumulation47 Por outro lado nas províncias onde a dominação inglesa dissolveu em menor grau o velho sistema os trabalhadores não agrícolas são ocupados diretamente pelos grandes proprietários para os quais reflui como tributo ou renda fundiária uma parcela do maisproduto rural Os grandes proprietários consomem in natura uma parte desse produto recebem a outra parte transformada pelos trabalhadores em meios de luxo e outros artigos de consumo e o que resta constitui o salário dos trabalhadores que são proprietários de seus meios de trabalho A produção e a reprodução em escala ampliada seguem aqui seu curso sem qualquer ingerência daquele santo milagroso o cavaleiro da triste figura o capitalista abstinente 4 Circunstâncias que independentemente da divisão proporcional do maisvalor em capital e renda determinam o volume da acumulação grau de exploração da força de trabalho força produtiva do trabalho diferença crescente entre capital aplicado e capital consumido grandeza do capital adiantado Pressupondose como dada a proporção em que o maisvalor se cinde em capital e renda é evidente que a grandeza do capital acumulado há de regerse pela grandeza absoluta do maisvalor Suponha que 80 sejam capitalizados e 20 consumidos o capital acumulado será então de 2400 ou de 1200 conforme o maisvalor total tenha sido de 3000 ou 1500 Por conseguinte todas as circunstâncias que determinam a massa do maisvalor contribuem para determinar a grandeza da acumulação Resumiremos aqui uma vez mais essas circunstâncias mas somente na medida em que nos ofereçam novos pontos de vista em relação à acumulação Recordarseá que a taxa de maisvalor depende em primeira instância do grau de exploração da força de trabalho A economia política confere tanta dignidade a esse papel que chega ocasionalmente a identificar a aceleração da acumulação que resulta do aumento da força produtiva do trabalho com sua aceleração derivada do aumento da exploração do trabalhador48 Nas seções dedicadas à produção de maisvalor partimos sempre do pressuposto de que o salário era pelo menos igual ao valor da 443 força de trabalho Mas a redução forçada do salário abaixo desse valor desempenha um papel importante demais no movimento prático para que não nos dediquemos a ela por um momento De fato ela transforma dentro de certos limites o fundo necessário de consumo do trabalhador num fundo de acumulação de capital Os salários diz J S Mill não têm força produtiva eles são o preço de uma força produtiva os salários não contribuem ao lado do próprio trabalho para a produção de mercadorias tampouco para o preço da própria maquinaria Se fosse possível obter o trabalho sem comprálo os salários seriam supérfluos49 Mas se os trabalhadores pudessem viver de ar tampouco seria possível comprálos por preço algum Sua gratuidade Nichtkosten é portanto um limite em sentido matemático sempre inalcançável ainda que sempre aproximável É uma tendência constante do capital reduzir os trabalhadores a esse nível niilista Um escritor do século XVI I I que costumo citar com frequência o autor do Essay on Trade and Commerce não faz mais do que trair o segredo mais íntimo da alma do capital inglês quando declara que a missão vital histórica da I nglaterra é rebaixar o salário inglês ao nível do francês e do holandês50 Ingenuamente ele diz entre outras coisas Mas se nossos pobres termo técnico para trabalhadores querem viver de modo luxuoso é evidente que seu trabalho tem de ser caro Basta considerar a horripilante massa de superfluidades heap of superfluities que nossos trabalhadores manufatureiros consomem como aguardente gim chá açúcar frutas importadas cerveja forte lenços estampados rapé e tabaco etc51 Ele cita o escrito de um fabricante de Northamptonshire que mirando o céu lamenta Na França o trabalho é 13 mais barato que na I nglaterra pois os franceses pobres trabalham duramente e economizam na alimentação e no vestuário sua dieta é composta principalmente de pão frutas verduras raízes e peixe salgado pois comem carne muito raramente e estando caro o trigo muito pouco pão52 E ainda é preciso acrescentar prossegue o ensaísta que sua bebida consiste em água ou licores fracos de modo que na realidade gastam muito pouco dinheiro Tal estado de coisas é certamente difícil de implantar mas não é inalcançável como o demonstra cabalmente sua existência tanto na França como na Holanda53 Duas décadas mais tarde um impostor americano o ianque baronizado Benjamin Thompson conde Rumford seguiu a mesma linha filantrópica com grande complacência perante Deus e os homens Seus Essays são um livro de culinária com receitas de toda espécie que oferecem sucedâneos aos caros alimentos habituais do trabalhador Uma receita particularmente bemsucedida desse estranho filósofo é a seguinte Com 5 libras de cevada 5 libras de milho 3 pence de arenque 1 penny de sal 1 penny de vinagre 2 pence de pimenta e ervas totalizando 2034 pence preparase uma sopa para 64 pessoas considerandose o preço médio do cereal o custo pode ser abatido a 14 de penny menos de 3 Pfennig por cabeça54 Com o progresso da produção capitalista a falsificação de mercadorias tornou supérfluos os ideais de Thompson55 No final do século XVI I I e nas primeiras décadas do século XI X os arrendatários e senhores rurais ingleses impuseram o salário mínimo absoluto pagando aos jornaleiros agrícolas menos que o mínimo sob a forma de salário e o resto como assistência paroquial Vejamos um exemplo da bufonaria encenada pelos Dogberries 444 Quando os senhores proprietários rurais fixaram os salários para Speenhamland em 1795 eles já haviam almejado consideravelmente pensar que os trabalhadores não necessitavam desses Decidiram que o salário semanal fosse de 3 xelins por pessoa enquanto o pão de 8 libras e 11 onças custasse 1 xelim e que a remuneração devia aumentar regularmente até que esse pão custasse 1 xelim e 5 pence Assim que ultrapassasse esse preço o salário devia diminuir proporcionalmente até que o preço do pão chegasse a 2 xelins desse modo a alimentação do trabalhador seria 15 menor que antes Perante a comissão de inquérito da House of Lords Câmara dos Lordes em 1814 perguntouse a um certo A Bennett grande arrendatário magistrado administrador do trabalho Existe alguma relação entre o trabalho diário e a assistência paroquial aos trabalhadores Resposta A receita é completamente acima do seu salário nominal até o pão de 1 galão 8 libras de farinha durante a semana e que os 3 pence sejam para vestuário no caso de a paróquia preferir fornecer eles na mesma os pratos desciamse os 3 pence primeiro dia da produção convergem aqui o homem e a natureza isto é os formadores Bildner originais do produto e portanto também os formadores dos elementos materiais do capital Graças à elasticidade da força de trabalho a área de acumulação se ampliou sem o aumento prévio do capital constante Na agricultura é impossível ampliar a terra cultivada sem um adiantamento de sementes e adubos adicionais Mas uma vez realizado esse adiantamento o cultivo puramente mecânico do solo exerce um efeito prodigioso sobre a quantidade do produto Desse modo um maior volume de trabalho executado pelo mesmo número de trabalhadores eleva a fertilidade sem exigir um novo adiantamento de meios de trabalho Uma vez mais é a ação direta do homem sobre a natureza que se converte sem interferência de novo capital em fonte direta de uma maior acumulação Por fim na indústria propriamente dita todo gasto adicional de trabalho pressupõe o correspondente gasto adicional de matériasprimas mas não necessariamente de meios de trabalho E como a indústria extrativa e a agricultura fornecem à indústria fabril suas próprias matériasprimas e a de seus meios de trabalho esta se beneficia também do acréscimo de produtos que aquelas realizaram sem nenhum acréscimo de capital Resultado geral o capital ao incorporar os dois formadores originais da riqueza a força de trabalho e a terra adquire uma força expansiva que lhe permite estender os elementos de sua acumulação além dos limites aparentemente fixados por sua própria grandeza limites estabelecidos pelo valor e pela massa dos meios de produção já produzidos nos quais o capital tem sua existência Outro fator importante na acumulação do capital é o grau de produtividade do trabalho social Com a força produtiva do trabalho cresce a massa de produtos na qual se representa um valor determinado e portanto também um maisvalor de dada grandeza Se a taxa de maisvalor se mantém constante ou mesmo decrescente sempre que ela diminui mais lentamente do que aumenta a força produtiva do trabalho cresce a massa do maisproduto Assim mantendose inalterada a divisão do maisproduto em renda e capital adicional o consumo do capitalista pode aumentar sem que diminua o fundo de acumulação A grandeza proporcional desse fundo pode inclusive crescer à custa do fundo de consumo enquanto o barateamento das mercadorias põe à disposição do capitalista uma quantidade igual ou maior de meios de satisfação do que antes Porém a produtividade crescente do trabalho acompanha como vimos o barateamento do trabalhador e portanto uma taxa crescente de mais valor mesmo quando o salário real aumenta Este nunca aumenta na mesma proporção da produtividade do trabalho Portanto o mesmo valor de capital variável põe em movimento mais força de trabalho e por conseguinte também mais trabalho O mesmo valor de capital constante se representa em mais meios de produção isto é mais meios de trabalho material de trabalho e matérias auxiliares fornecendo assim tanto mais formadores de produto como mais formadores de valor ou absorvedores de trabalho Se o valor do capital adicional se mantém constante ou mesmo decrescente ocorre pois uma acumulação acelerada Não apenas se amplia materialmente a escala da reprodução mas a produção do maisvalor cresce mais 446 rapidamente que o valor do capital adicional O desenvolvimento da força produtiva do trabalho reage também sobre o capital original ou capital que já se encontra no processo de produção Uma parcela do capital constante em funcionamento é composta de meios de trabalho como maquinaria etc que apenas em períodos mais longos são consumidos e assim reproduzidos ou substituídos por novos exemplares do mesmo tipo A cada ano no entanto uma parte desses meios de trabalho perece ou atinge a meta final de sua função produtiva Consequentemente essa parte encontrase anualmente na fase de sua reprodução periódica ou de sua reposição por novos exemplares do mesmo tipo Se nos lugares de nascimento desses meios de trabalho a força produtiva do trabalho foi ampliada e continua a se ampliar com o fluxo ininterrupto da ciência e da técnica as máquinas ferramentas aparelhos etc velhos são substituídos por outros mais eficazes e considerando o volume de seu rendimento mais baratos O capital antigo é reproduzido de uma forma mais produtiva abstraindo das contínuas alterações de detalhes nos meios de trabalho existentes A outra parte do capital constante composta de matériaprima e matérias auxiliares é reproduzida continuamente no decorrer do ano e a parte procedente da agricultura se reproduz em sua maior parte anualmente Portanto toda introdução de métodos etc aperfeiçoados exerce aqui um efeito quase simultâneo sobre o capital adicional e o capital já em funcionamento Cada progresso da química multiplica não só o número das matérias úteis e as aplicações úteis dos materiais já conhecidos e assim amplia com o crescimento do capital as esferas de aplicação deste último mas ensina ao mesmo tempo a lançar de volta ao ciclo do processo de reprodução os excrementos dos processos de produção e de consumo criando dessa forma sem gasto prévio de capital nova matéria para o capital Tal como no caso de uma exploração aumentada das riquezas naturais mediante o simples aumento na distensão da força de trabalho a ciência e a técnica constituem uma potência de ampliação do capital em funcionamento independente da grandeza determinada que esse capital alcançou Essa potência reage ao mesmo tempo sobre a parte do capital original que ingressou em seu estágio de renovação Em sua nova forma o capital incorpora gratuitamente o progresso social realizado por detrás de sua forma antiga Por certo esse desenvolvimento da força produtiva é ao mesmo tempo acompanhado de uma depreciação parcial dos capitais em funcionamento Na medida em que essa depreciação se torna mais aguda em razão da concorrência o peso principal recai sobre o trabalhador com cuja exploração aumentada o capitalista procura se ressarcir O trabalho transfere ao produto o valor dos meios de produção por ele consumidos Por outro lado o valor e a massa dos meios de produção postos em movimento por dada quantidade de trabalho crescem na proporção em que o trabalho se torna mais produtivo Portanto ainda que a mesma quantidade de trabalho agregue sempre a seus produtos a mesma soma de valor novo o valor do antigo capital simultaneamente transferido aos produtos por aquela quantidade de trabalho aumenta com a produtividade crescente do trabalho Se um fiandeiro inglês e um chinês por exemplo trabalhassem o mesmo número de horas com a mesma intensidade ambos produziriam numa semana valores iguais 447 Apesar dessa igualdade há uma enorme diferença entre o valor do produto semanal do inglês que trabalha com uma poderosa máquina automática e o do chinês que dispõe apenas de uma roda de fiar No mesmo intervalo de tempo em que o chinês fia 1 libra de algodão o inglês fia várias centenas de libras Uma soma de valores anteriores várias centenas de vezes maior incha o valor do produto do fiandeiro inglês produto no qual tais valores são conservados sob uma nova forma útil e podem assim funcionar novamente como capital Em 1782 informanos F Engels toda a produção de lã tosquia dos três anos precedentes continuava na I nglaterra em estado bruto por falta de operários e assim permaneceria se as novas invenções mecânicas não houvessem tornado possível a sua fiação59 É claro que o trabalho objetivado sob a forma de maquinaria não colheu diretamente da terra nenhum homem mas permitiu a um reduzido número de trabalhadores mediante o acréscimo de relativamente pouco trabalho vivo não apenas consumir de maneira produtiva a lã e agregarlhe valor novo mas também conservar sob a forma de fios etc seu valor antigo Com isso ele forneceu ao mesmo tempo um meio e um estímulo para a reprodução ampliada da lã Conservar valor velho enquanto cria valor novo é um dom natural do trabalho vivo Com o aumento da eficiência do volume e do valor de seus meios de produção ou seja com a acumulação que acompanha o desenvolvimento de sua força produtiva o trabalho conserva e perpetua sob formas sempre novas um valor de capital em crescimento constante60 Essa força natural do trabalho aparece como força de autoconservação do capital no qual ela está incorporada exatamente do mesmo modo que suas forças produtivas sociais aparecem como propriedades desse capital e a apropriação constante do maistrabalho pelo capitalista aparece como autovalorização contínua do capital Todas as forças do trabalho se projetam como forças do capital assim como todas as formas de valor se projetam como formas de dinheiro Com o aumento do capital aumenta a diferença entre o capital empregado e o consumido Em outras palavras aumentam as massas de valor e de material dos meios de trabalho como edifícios maquinaria tubos de drenagem animais de trabalho aparelhos de todo tipo que por períodos maiores ou menores em processos de produção constantemente repetidos funcionam em todo seu volume ou servem para obter determinados efeitos úteis desgastandose apenas gradativamente e portanto perdendo seu valor por frações ou seja transferindoo também ao produto apenas de modo fracionado Na mesma proporção em que esses meios de trabalho servem como formadores de produtos sem lhes agregar valor isto é na mesma proporção em que são empregados em sua totalidade porém consumidos apenas parcialmente eles prestam como indicamos anteriormente o mesmo serviço gratuito das forças naturais como a água o vapor o ar a eletricidade etc Esse serviço gratuito do trabalho passado quando capturado e animado pelo trabalho vivo acumulase à medida que se amplia a escala da acumulação Como o trabalho passado se disfarça sempre em capital isto é como o passivo do trabalho de A B C etc tornase o ativo do não trabalhador X burgueses e economistas políticos se desmancham em louvores aos méritos do trabalho passado que segundo o gênio escocês MacCulloch deve inclusive receber um soldo juros lucro etc61 O 448 peso sempre crescente do trabalho passado que coopera no processo vivo de trabalho sob a forma de meios de produção é atribuído assim à sua figura de capital isto é à figura que foi alienada do próprio trabalhador e consiste em trabalho passado e não pago deste último Os agentes práticos da produção capitalista e seus tagarelas ideológicos são tão incapazes de conceber o meio de produção separadamente da máscara social antagônica que hoje adere em seu rosto quanto um escravista o é de conceber o próprio trabalhador separadamente de seu caráter de escravo Dado o grau de exploração da força de trabalho a massa de maisvalor é determinada pelo número de trabalhadores simultaneamente explorados número que corresponde ainda que em proporção variável à grandeza do capital Portanto quanto mais cresça o capital por meio de acumulações sucessivas tanto mais crescerá também a soma de valor que se cinde em fundo de consumo e fundo de acumulação O capitalista pode assim viver mais prodigamente e ao mesmo tempo absterse mais E por último todas as molas da produção atuam tanto mais energicamente quanto mais se amplia sua escala com o aumento da massa do capital adiantado 5 O assim chamado fundo de trabalho No decorrer desta investigação pudemos verificar que o capital não é uma grandeza fixa mas uma parte elástica da riqueza social parte esta que flutua constantemente com a divisão do maisvalor em renda e capital adicional Verificamos além disso que mesmo com uma dada grandeza do capital em funcionamento a força de trabalho a ciência e a terra e por terra entendemos do ponto de vista econômico todos os objetos de trabalho fornecidos pela natureza sem a intervenção humana nele incorporadas constituem potências elásticas do capital potências que dentro de certos limites deixam a ele uma margem de ação independente de sua própria grandeza Abstraímos então de todas as circunstâncias do processo de circulação que propiciam graus muito diversos de eficácia à mesma quantidade de capital E como tomamos como pressuposto os limites da produção capitalista ou seja uma figura puramente naturalespontânea do processo social de produção abstraímos de qualquer modo mais racional de se combinar os meios de produção e as forças de trabalho existentes o qual seria realizável de modo direto e planejado À economia clássica sempre aprouve conceber o capital social como uma grandeza fixa e dotada de um grau fixo de eficiência Mas o preconceito só foi fixado em dogma pelo arquifilisteu J eremy Bentham esse oráculo insipidamente pedante e fanfarrão do senso comum burguês do século XI X62 Bentham está para os filósofos como Martin Tupper para os poetas Ambos só podiam ter sido fabricados na I nglaterra63 O dogma de Bentham torna inteiramente incompreensíveis os fenômenos mais banais do processo de produção como suas expansões e contrações súbitas e inclusive a acumulação64 O dogma foi abusado para fins apologéticos tanto pelo próprio Bentham como por Malthus J ames Mill MacCulloch etc especialmente para representar como grandeza fixa uma parte do capital a parte variável ou conversível em força de trabalho A existência material do capital variável isto é a massa de meios de subsistência que ele representa para o trabalhador ou o chamado fundo de trabalho foi imaginativamente convertida numa 449 parte especial da riqueza social cingida por barreiras naturais infranqueáveis Para pôr em movimento a parte da riqueza social que há de funcionar como capital constante ou dito materialmente como meios de produção requerse de uma massa determinada de trabalho vivo Está é dada tecnologicamente Mas não é dado nem o número de trabalhadores requerido para movimentar essa massa de trabalho pois tal número varia com o grau de exploração da força de trabalho individual nem o preço dessa força de trabalho mas tão somente seu limite mínimo que além de tudo é bastante elástico O dogma repousa sobre os seguintes fatos em primeiro lugar o trabalhador não deve ter voz na partilha da riqueza social em meios de fruição para os não trabalhadores de um lado e em meios de produção de outro em segundo lugar apenas em casos excepcionalmente favoráveis é que o trabalhador pode ampliar o chamado fundo de trabalho às expensas das renda dos ricos A absurda tautologia a que se chega ao imaginar que os limites capitalistas do fundo de trabalho constituem sua barreira natural social mostranos entre outros o professor Fawcett O capital circulante de um país diz ele é seu fundo de trabalho Para isso para calcular o salário médio em dinheiro que cada trabalhador recebe basta simplesmente dividir esse capital pelo número de membros da população trabalhadora Capítulo 23 A lei geral da acumulação capitalista 1 Demanda crescente de25 força de trabalho com a acumulação conservandose igual a composição do capital Neste capítulo examinamos a influência que o aumento do capital exerce sobre o destino da classe trabalhadora O fator mais importante nessa investigação é a composição do capital e as alterações que ela sofre durante o processo de acumulação A composição do capital deve ser considerada em dois sentidos Sob o aspecto do valor ela se determina pela proporção em que o capital se reparte em capital constante ou valor dos meios de produção e capital variável ou valor da força de trabalho a soma total dos salários Sob o aspecto da matéria isto é do modo como esta funciona no processo de produção todo capital se divide em meios de produção e força viva de trabalho essa composição é determinada pela proporção entre a massa dos meios de produção empregados e a quantidade de trabalho exigida para seu emprego Chamo a primeira de composição de valor e a segunda de composição técnica do capital Entre ambas existe uma estreita correlação Para expressála chamo a composição de valor do capital porquanto é determinada pela composição técnica do capital e reflete suas modificações de composição orgânica do capital Onde se fala simplesmente de composição do capital entendase sempre sua composição orgânica Os diversos capitais individuais que se aplicam num determinado ramo da produção têm composições mais ou menos distintas entre si A média de suas composições individuais nos dá a composição do capital total desse ramo da produção Por fim a média total das composições médias de todos os ramos da produção nos dá a composição do capital social de um país e é essencialmente apenas a esta última que nos referiremos nas páginas seguintes O crescimento do capital implica o crescimento de seu componente variável ou seja daquele componente que se converte em força de trabalho Uma parte do mais valor transformado em capital adicional tem de se reconverter sempre em capital variável ou fundo adicional de trabalho Supondose que permanecendo iguais as demais circunstâncias a composição do capital se mantenha inalterada ou seja que para pôr em movimento determinada massa de meios de produção ou de capital constante seja necessária sempre a mesma massa de força de trabalho é evidente que a demanda de trabalho e o fundo de subsistência dos trabalhadores crescerão proporcionalmente ao capital e tanto mais rapidamente quanto mais rapidamente cresça este último Como o capital produz anualmente um maisvalor do qual uma parte é anualmente adicionada ao capital original como esse incremento mesmo aumenta a cada ano com o volume crescente do capital já em funcionamento e como por fim sob o acicate particular do impulso de enriquecimento como a abertura de novos mercados de novas esferas para a aplicação de capital em decorrência de 451 necessidades sociais recémdesenvolvidas etc a escala da acumulação pode ser subitamente ampliada por uma mudança na divisão do maisvalor ou do maisproduto em capital e renda as necessidades da acumulação do capital podem sobrepujar o crescimento da força de trabalho ou do número de trabalhadores e a demanda de trabalhadores pode sobrepujar sua oferta acarretando com isso o aumento dos salários É isso que enfim tem de ocorrer permanecendo inalterado o pressuposto anterior Como a cada ano mais trabalhadores estão empregados do que no ano precedente cedo ou tarde há de se chegar ao ponto em que as necessidades da acumulação comecem a ultrapassar a oferta habitual de trabalho ocasionando o aumento do salário Na I nglaterra ressoaram queixas sobre essa situação durante todo o século XV e a primeira metade do século XVI I I Mas as circunstâncias mais ou menos favoráveis em que os assalariados se mantêm e se multiplicam em nada alteram o caráter fundamental da produção capitalista Assim como a reprodução simples reproduz continuamente a própria relação capitalista capitalistas de um lado assalariados de outro a reprodução em escala ampliada ou seja a acumulação reproduz a relação capitalista em escala ampliada de um lado mais capitalistas ou capitalistas maiores de outro mais assalariados A reprodução da força de trabalho que tem incessantemente de se incorporar ao capital como meio de valorização que não pode desligarse dele e cuja submissão ao capital só é velada pela mudança dos capitalistas individuais aos quais se vende constitui na realidade um momento da reprodução do próprio capital Acumulação do capital é portanto multiplicação do proletariado70 A economia clássica compreendeu tão bem essa tese que A Smith Ricardo etc como mencionamos anteriormente chegaram a identificar falsamente a acumulação com o consumo por trabalhadores produtivos de toda aquela parte do maisproduto capitalizada ou com sua transformação em assalariados suplementares Dizia J ohn Bellers já em 1696 Se alguém dispusesse de 100 mil acres de terra e de igual número de libras em dinheiro e em gado o que seria esse homem rico sem o trabalhador senão ele mesmo um trabalhador E porque os trabalhadores tornam os homens ricos seguese que quanto mais trabalhadores houver tanto mais ricos haverá O trabalho dos pobres é a mina dos ricos71 E Bernard de Mandeville no começo do século XVIII Onde quer que a propriedade esteja suficientemente protegida seria mais fácil viver sem dinheiro do que sem pobres pois do contrário quem faria o trabalho Assim como se deve cuidar para que os trabalhadoresa não morram de fome também não se lhes deve dar nada que valha a pena ser poupado Se aqui e ali alguém da classe mais baixa mediante um esforço incomum e apertando o cinto consegue elevarse acima das condições em que se criou ninguém deve impedilo sim não se pode negar que o plano mais sábio para cada pessoa privada para cada família na sociedade é ser frugal mas é do interesse de todas as nações ricas que a maior parte dos pobres jamais esteja inativa e no entanto gaste continuamente o que ganha Os que ganham a vida com seu trabalho diário não têm nada que os estimule a serem serviçais senão suas necessidades que é prudente mitigar mas insensato curar A única coisa que pode tornar diligente o homem trabalhador é um salário moderado Um pequeno demais o torna a depender de seu temperamento desanimado ou desesperançado um grande demais o torna insolente e preguiçoso Do que expusemos até aqui segue que numa nação livre em que escravos não sejam permitidos a riqueza mais segura está numa multidão de pobres laboriosos Além de constituírem uma inesgotável fonte de homens para a marinha e o exército sem eles não haveria qualquer satisfação e nenhum produto de nenhum país seria valorizável Para fazer feliz a sociedade que naturalmente é formada de não trabalhadores e satisfazer ao povo mesmo nas circunstâncias mais adversas é necessário que a grande maioria 452 permaneça tão ignorante quanto pobre O conhecimento expande e multiplica nossos desejos e quanto menos um homem deseja tanto mais facilmente se podem satisfazer suas necessidades72 O que Mandeville homem honesto e cérebro lúcido ainda não compreende é que o próprio mecanismo do processo de acumulação aumenta juntamente com o capital a massa dos pobres laboriosos isto é dos assalariados que convertem sua força de trabalho em crescente força de valorização do capital crescente e justamente por isso têm de perpetuar sua relação de dependência para com seu próprio produto personificado no capitalista Sobre essa relação de dependência observa sir F M Eden em seu A situação dos pobres ou História da classe trabalhadora na Inglaterra Nossa zona exige trabalho para a satisfação das necessidades e por isso é necessário que ao menos uma parte da sociedade trabalhe sem trégua Há alguns que não trabalham e no entanto têm à sua disposição os produtos do esforço Mas isso tais proprietários têm a agradecer somente à civilização e à ordem eles não passam de criaturas das instituições burguesas73 Pois estas reconheceram que também é possível que nos apropriemos dos frutos do trabalho de outro modo que por meio do trabalho Pessoas dotadas de fortuna independente devem sua fortuna quase inteiramente ao trabalho de outrem e não à sua própria habilidade que de modo algum é superior à dos outros o que distingue os ricos dos pobres não é a propriedade de terras e o dinheiro mas o comando sobre o trabalho the command of labour Ao pobre convém não uma situação abjeta ou servil mas um estado de dependência tranquila e liberal a state of easy and liberal dependence e aos proprietários convêm ter influência e autoridade suficiente sobre aqueles que trabalham para eles Tal estado de dependência como o sabe todo aquele que conhece a natureza humana é necessário para o conforto do próprio trabalhador74 b Sir F M Eden digase de passagem é o único discípulo de Adam Smith que no século XVIII realizou algo significativo75 Sob as condições de acumulação até aqui supostas como as mais favoráveis aos trabalhadores a relação de subordinação destes ao capital aparece sob formas toleráveis ou como diz Eden tranquilas e liberais Ao invés de se tornar mais intensa com o crescimento do capital essa relação de dependência tornase apenas mais extensa quer dizer a esfera de exploração e dominação do capital não faz mais do que ampliarse juntamente com as próprias dimensões desse capital e com o número de seus súditos Do próprio maisproduto crescente desses súditos crescentemente transformado em capital adicional reflui para eles uma parcela maior sob a forma de meios de pagamento de modo que podem ampliar o âmbito de seus desfrutes guarnecer melhor seu fundo de consumo de vestuário mobília etc e formar um pequeno fundo de reserva em dinheiro Mas assim como a melhoria de vestuário alimentação tratamento e um pecúlio maior não suprimem a relação de dependência e a exploração do escravo tampouco suprimem as do assalariado O aumento do preço do trabalho que decorre da acumulação do capital significa apenas que na realidade o tamanho e o peso dos grilhões de ouro que o trabalhador forjou para si mesmo permitem tornálas menos constringentes Nas controvérsias sobre essa questão deixouse geralmente de ver o principal a saber a differentia specifica diferença específica da produção capitalista A força de trabalho é comprada aqui não para satisfazer mediante seu serviço ou produto às necessidades pessoais do comprador O objetivo perseguido por este último é a valorização de seu capital a produção de mercadorias que contenham mais trabalho do que o que ele paga ou seja que contenham uma parcela de valor que nada custa ao comprador e que ainda assim realizase mediante a venda de mercadorias A produção de maisvalor ou criação de excedente é a lei absoluta desse modo de produção A força de trabalho só é vendável 453 na medida em que conserva os meios de produção como capital reproduz seu próprio valor como capital e fornece uma fonte de capital adicional em trabalho não pago76 Portanto as condições de sua venda sejam elas favoráveis ao trabalhador em maior ou menor medida incluem a necessidade de sua contínua revenda e a constante reprodução ampliada da riqueza como capital O salário como vimos condiciona sempre por sua natureza o fornecimento de determinada quantidade de trabalho não pago por parte do trabalhador Abstraindo totalmente da elevação do salário acompanhada de uma baixa do preço do trabalho etc o aumento dos salários denota no melhor dos casos apenas a diminuição quantitativa do trabalho não pago que o trabalhador tem de executar Tal diminuição jamais pode alcançar o ponto em que ameace o próprio sistema Sem levar em conta os conflitos violentos em torno da taxa do salário e Adam Smith já demonstrou que em tal conflito de modo geral o patrão sempre permanece patrão uma elevação do preço do trabalho derivada da acumulação do capital pressupõe a seguinte alternativa Ou o preço do trabalho continua a subir porque seu aumento não perturba o progresso da acumulação e nisso não há nada de surpreendente pois como diz A Smith mesmo se os lucros diminuem os capitais continuam a aumentar e até crescem com mais rapidez do que antes Um grande capital ainda que os lucros sejam menores cresce geralmente mais rapidamente do que um capital pequeno cujo lucro seja grande ibidem p 189 É evidente nesse caso que uma redução do trabalho não pago não prejudica de modo nenhum a ampliação do domínio exercido pelo capital Ou então e este é o outro termo da alternativa a acumulação se afrouxa graças ao preço crescente do trabalho que embota o acicate do lucro A acumulação decresce porém ao decrescer desaparece a causa de seu decréscimo a saber a desproporção entre capital e força de trabalho explorável O próprio mecanismo do processo de produção capitalista remove assim os empecilhos que ele cria transitoriamente O preço do trabalho cai novamente para um nível compatível com as necessidades de valorização do capital seja esse nível inferior superior ou igual ao que se considerava normal antes do advento do aumento salarial Vemos que no primeiro caso não é a diminuição no crescimento absoluto ou proporcional da força de trabalho ou da população operária que torna excessivo o capital mas por outro lado é o aumento do capital que torna insuficiente a força de trabalho explorável No segundo caso não é o aumento no crescimento absoluto ou proporcional da força de trabalho ou da população trabalhadora que torna insuficiente o capital mas ao contrário é a diminuição do capital que torna excessiva a força de trabalho explorável ou antes seu preço São esses movimentos absolutos na acumulação do capital que se refletem como movimentos relativos na massa da força de trabalho explorável e por isso parecem obedecer ao movimento próprio desta última Para empregar uma expressão matemática a grandeza da acumulação é a variável independente a grandeza do salário a variável dependente e não o contrário Assim por exemplo na fase de crise do ciclo industrial a baixa geral dos preços das mercadorias se expressa como aumento do valor relativo do dinheiro ao passo que na fase de prosperidade a alta geral dos preços das mercadorias se expressa como queda do valor relativo do dinheiro A partir desse fato a assim chamada Escola Monetáriac conclui que com 454 preços altos circula dinheiro de menos e com preços baixos dinheiro demaisd Sua ignorância e total desconhecimento dos fatos77 encontram um paralelo à altura nos economistas que interpretam esses fenômenos da acumulação dizendo que num caso há assalariados demais e noutro de menos A lei da produção capitalista que subjaz à pretensa lei natural da população resulta simplesmente nisto a relação entre capital acumulação e taxa salarial não é nada mais que a relação entre o trabalho não pago transformado em capital e o trabalho adicional requerido para pôr em movimento o capital adicional Não se trata portanto de modo nenhum de uma relação de duas grandezas entre si independentes de um lado a grandeza do capital e de outro o tamanho da população trabalhadora mas antes em última instância da relação entre os trabalhos não pago e pago da mesma população trabalhadora Se a quantidade de trabalho não pago fornecida pela classe trabalhadora e acumulada pela classe capitalista cresce com rapidez suficiente de modo a permitir sua transformação em capital com apenas um acréscimo extraordinário de trabalho pago o salário aumenta e mantendose constante as demais circunstâncias o trabalho não pago diminui proporcionalmente Mas tão logo essa redução atinja o ponto em que o maistrabalho que alimenta o capital já não é mais oferecido na quantidade normal ocorre uma reação uma parte menor da renda é capitalizada a acumulação desacelera e o movimento ascensional do salário recebe um contragolpe O aumento do preço do trabalho é confinado portanto dentro dos limites que não só deixam intactos os fundamentos do sistema capitalista mas asseguram sua reprodução em escala cada vez maior Na realidade portanto a lei da acumulação capitalista mistificada numa lei da natureza expressa apenas que a natureza dessa acumulação exclui toda a diminuição no grau de exploração do trabalho ou toda elevação do preço do trabalho que possa ameaçar seriamente a reprodução constante da relação capitalista sua reprodução em escala sempre ampliada E não poderia ser diferente num modo de produção em que o trabalhador serve às necessidades de valorização de valores existentes em vez de a riqueza objetiva servir às necessidades de desenvolvimento do trabalhador Assim como na religião o homem é dominado pelo produto de sua própria cabeça na produção capitalista ele o é pelo produto de suas próprias mãos77a 2 Diminuição relativa da parte variável do capital à medida que avançam a acumulação e a concentração que a acompanha De acordo com os próprios economistas o que acarreta a alta dos salários não é o volume existente da riqueza social tampouco a grandeza do capital já adquirido mas apenas o crescimento contínuo da acumulação e a velocidade desse crescimento A Smith livro I capítulo 8 Consideramos até aqui apenas uma fase particular desse processo aquela em que o crescimento adicional de capital ocorre sem que varie a composição técnica deste último Mas o processo vai além dessa fase Uma vez dados os fundamentos gerais do sistema capitalista no curso da acumulação chegase sempre a um ponto em que o desenvolvimento da produtividade 455 do trabalho social se converte na mais poderosa alavanca da acumulação A mesma causa que eleva os salários diz A Smith ou seja o aumento do capital tende a incrementar as capacidades produtivas do trabalho e permite que uma quantidade menor de trabalho produza uma quantidade maior de produtose Abstraindo das condições naturais como fertilidade do solo etc e da destreza de produtores que trabalham independente e isoladamente que no entanto evidenciase mais qualitativa do que quantitativamente mais na excelência do produto do que em sua massa o grau social de produtividade do trabalho se expressa no volume relativo dos meios de produção que um trabalhador transforma em produto durante um tempo dado com a mesma tensão da força de trabalho A massa dos meios de produção com que ele opera aumenta com a produtividade de seu trabalho Esses meios de produção desempenham nisso um duplo papel O crescimento de uns é consequência o de outros é condição da produtividade crescente do trabalho Por exemplo com a divisão manufatureira do trabalho e o emprego da maquinaria mais matériaprima é processada no mesmo espaço de tempo e portanto uma massa maior de matériaprima e de matérias auxiliares ingressa no processo de trabalho Essa é a consequência da produtividade crescente do trabalho Por outro lado a massa da maquinaria empregada dos animais de trabalho do adubo mineral das tubulações de drenagem etc é condição da produtividade crescente do trabalho Também o é a massa dos meios de produção concentrados em prédios altosfornos meios de transporte etc Seja ele condição ou consequência o volume crescente dos meios de produção em comparação com a força de trabalho neles incorporada expressa a produtividade crescente do trabalho O aumento desta última aparece portanto na diminuição da massa de trabalho proporcionalmente à massa de meios de produção que ela movimenta ou na diminuição do fator subjetivo do processo de trabalho em comparação com seus fatores objetivos Essa alteração na composição técnica do capital o aumento da massa dos meios de produção comparada à massa da força de trabalho que a põe em atividade refletese na composição de valor do capital no aumento do componente constante do valor do capital à custa de seu componente variável Se de um dado capital por exemplo calculandose percentualmente investiase originalmente 50 em meios de produção e 50 em força de trabalho posteriormente com o desenvolvimento do grau de produtividade do trabalho investemse 80 em meios de produção e 20 em força de trabalho etc Essa lei do aumento crescente da parte constante do capital em relação à sua parte variável é corroborada a cada passo como já exposto pela análise comparativa dos preços das mercadorias comparandose diferentes épocas econômicas de uma única nação ou nações diferentes numa mesma época Enquanto a grandeza relativa do elemento do preço que representa apenas o valor dos meios de produção consumidos ou seja a parte constante do capital estará na razão direta a grandeza relativa do outro elemento do preço que representa a parte que paga o trabalho ou a parte variável do capital estará na razão inversa do progresso da acumulação No entanto a diminuição da parte variável do capital em relação à parte constante ou a composição modificada do valor do capital indica apenas aproximadamente a 456 mudança na composição de seus componentes materiais Se hoje por exemplo 78 do valor do capital investido na fiação é constante e 18 variável ao passo que no começo do século XVI I I essa proporção era de 12 constante e 12 variável isso significa que ao contrário a massa de matériaprima meios de trabalho etc hoje consumida por uma determinada quantidade de trabalho é muitas centenas de vezes maior do que no começo do século XVI I I A razão disso é simplesmente que com a crescente produtividade do trabalho não apenas aumenta o volume dos meios de produção por ele utilizados mas o valor deles diminui em comparação com seu volume Seu valor aumenta portanto de modo absoluto mas não proporcionalmente a seu volume O aumento da diferença entre capital constante e capital variável é por conseguinte muito menor do que o da diferença entre a massa dos meios de produção e a massa da força de trabalho em que são convertidos respectivamente o capital constante e o variável A primeira diferença aumenta com a última mas em grau menor Além disso ainda que o progresso da acumulação diminua a grandeza relativa da parte variável do capital ele não exclui de modo algum com isso o aumento de sua grandeza absoluta Suponha que o valor de um capital se decomponha inicialmente em 50 de capital constante e 50 de variável e posteriormente em 80 de capital constante e 20 de variável Se nesse ínterim o capital original digamos 6 mil aumentou para 18 mil seu componente variável também terá aumentado 15 De suas 3 mil anteriores ela chega agora a 3600 Mas se antes teria bastado um crescimento de 20 de capital para aumentar a demanda de trabalho em 20 agora isso requer a triplicação do capital original Na seção I V mostramos como o desenvolvimento da força produtiva social do trabalho pressupõe a cooperação em larga escala e como apenas partindo desse pressuposto se podem organizar a divisão e a combinação do trabalho poupar meios de produção mediante sua concentração massiva criar materialmente meios de trabalho utilizáveis apenas coletivamente como o sistema de maquinaria etc pôr a serviço da produção forças colossais da natureza e consumar a transformação do processo de produção na aplicação tecnológica da ciência Sobre o fundamento da produção de mercadorias na qual os meios de produção são propriedade privada de indivíduos e o trabalhador manual por conseguinte ou produz mercadorias de maneira isolada e autônoma ou vende sua força de trabalho como mercadoria porque lhe faltam os meios para produzir por sua própria conta aquele pressuposto só se realiza mediante o aumento dos capitais individuais ou na medida em que os meios sociais de produção e subsistência se transformam em propriedade privada de capitalistas O solo da produção de mercadorias só tolera a produção em larga escala na forma capitalista Certa acumulação de capital nas mãos de produtores individuais de mercadorias constitui por isso o pressuposto do modo específico de produção capitalista razão pela qual tivemos de pressupôla na passagem do artesanato para a produção capitalista Podemos chamála de acumulação primitiva pois em vez de resultado ela é o fundamento histórico da produção especificamente capitalista De que modo ela surge é algo que ainda não precisamos examinar aqui Basta dizer que ela constitui o ponto de partida Devemos assinalar no entanto que todos os métodos 457 para aumentar a força produtiva social do trabalho surgidos sobre esse fundamento são ao mesmo tempo métodos para aumentar a produção de maisvalor ou mais produto que por sua vez forma o elemento constitutivo da acumulação Portanto tais métodos servem ao mesmo tempo para produzir capital mediante capital ou para sua acumulação acelerada A contínua reconversão de maisvalor em capital apresentase como grandeza crescente do capital que entra no processo de produção Este se torna por sua vez o fundamento de uma escala ampliada da produção dos métodos nela empregados para o aumento da força produtiva do trabalho e a aceleração da produção de maisvalor Se portanto certo grau da acumulação do capital aparece como condição do modo de produção especificamente capitalista este último provoca em reação uma acumulação acelerada do capital Com a acumulação do capital desenvolvese assim o modo de produção especificamente capitalista e com ele a acumulação do capital Esses dois fatores econômicos provocam de acordo com a conjugação dos estímulos que eles exercem um sobre o outro a mudança na composição técnica do capital o que faz com que a seu componente variável se torne cada vez menor em comparação ao componente constante Cada capital individual é uma concentração maior ou menor de meios de produção e dotada de comando correspondente sobre um exército maior ou menor de trabalhadores Cada acumulação se torna meio de uma nova acumulação J untamente com a massa multiplicada da riqueza que funciona como capital ela amplia sua concentração nas mãos de capitalistas individuais e portanto a base da produção em larga escala e dos métodos de produção especificamente capitalistas O crescimento do capital social se consuma no crescimento de muitos capitais individuais Pressupondo se inalteradas as demais circunstâncias crescem os capitais individuais e com eles a concentração dos meios de produção na proporção em que constituem partes alíquotas do capital social total Ao mesmo tempo partes dos capitais originais se descolam e passam a funcionar como novos capitais independentes Nisso desempenha um grande papel com outros fatores a divisão do patrimônio das famílias capitalistas Portanto com a acumulação do capital aumenta em maior ou menor proporção o número dos capitalistas Dois pontos caracterizam esse tipo de concentração que repousa diretamente sobre a acumulação ou antes é idêntica a ela Primeiro a concentração crescente dos meios sociais de produção nas mãos de capitalistas individuais é mantendose inalteradas as demais circunstâncias limitada pelo grau de crescimento da riqueza social Segundo a parte do capital social localizada em cada esfera particular da produção está repartida entre muitos capitalistas que se confrontam como produtores de mercadorias autônomos e mutuamente concorrentes Portanto a acumulação e a concentração que a acompanha estão não apenas fragmentadas em muitos pontos mas o crescimento dos capitais em funcionamento é atravessado pela formação de novos capitais e pela cisão de capitais antigos de maneira que se a acumulação se apresenta por um lado como concentração crescente dos meios de produção e do comando sobre o trabalho ela aparece por outro lado como repulsão mútua entre muitos capitais individuais Essa fragmentação do capital social total em muitos capitais individuais ou a repulsão mútua entre seus fragmentos é contraposta por sua atração Essa já não é a 458 concentração simples idêntica à acumulação de meios de produção e de comando sobre o trabalho É concentração de capitais já constituídos supressão Aufhebung de sua independência individual expropriação de capitalista por capitalista conversão de muitos capitais menores em poucos capitais maiores Esse processo se distingue do primeiro pelo fato de pressupor apenas a repartição alterada dos capitais já existentes e em funcionamento sem que portanto seu terreno de ação esteja limitado pelo crescimento absoluto da riqueza social ou pelos limites absolutos da acumulação Se aqui o capital cresce nas mãos de um homem até atingir grandes massas é porque acolá ele se perde nas mãos de muitos outros homens Tratase da centralização propriamente dita que se distingue da acumulação e da concentração As leis dessa centralização dos capitais ou da atração do capital pelo capital não podem ser desenvolvidas aqui Bastará uma breve indicação dos fatos A luta concorrencial é travada por meio do barateamento das mercadorias O baixo preço das mercadorias depende caeteris paribus da produtividade do trabalho mas esta por sua vez depende da escala da produção Os capitais maiores derrotam portanto os menores Recordemos ademais que com o desenvolvimento do modo de produção capitalista cresce o volume mínimo de capital individual requerido para conduzir um negócio sob condições normais Os capitais menores buscam por isso as esferas da produção das quais a grande indústria se apoderou apenas esporádica ou incompletamente A concorrência aflora ali na proporção direta da quantidade e na proporção inversa do tamanho dos capitais rivais Ela termina sempre com a ruína de muitos capitalistas menores cujos capitais em parte passam às mãos do vencedor em parte se perdem Abstraindo desse fato podemos dizer que com a produção capitalista constituise uma potência inteiramente nova o sistema de crédito que em seus primórdios insinuase sorrateiramente como modesto auxílio da acumulação e por meio de fios invisíveis conduz às mãos de capitalistas individuais e associados recursos monetários que se encontram dispersos pela superfície da sociedade em massas maiores ou menores mas logo se converte numa arma nova e temível na luta concorrencial e por fim num gigantesco mecanismo social para a centralização dos capitais Na mesma medida em que se desenvolvem a produção e a acumulação capitalistas desenvolvemse também a concorrência e o crédito as duas alavancas mais poderosas da centralização Paralelamente o progresso da acumulação aumenta o material centralizável isto é os capitais individuais ao mesmo tempo que a ampliação da produção capitalista cria aqui a necessidade social acolá os meios técnicos daqueles poderosos empreendimentos industriais cuja realização está vinculada a uma centralização prévia do capital Hoje portanto a força de atração mútua dos capitais individuais e a tendência à centralização são mais fortes do que qualquer época anterior Mas mesmo que a expansão relativa e a energia do movimento centralizador sejam determinadas até certo ponto pelo volume já alcançado pela riqueza capitalista e pela superioridade do mecanismo econômico de modo nenhum o progresso da centralização depende do crescimento positivo do volume do capital social E é especialmente isso que distingue a centralização da concentração que não é mais do que outra expressão para a reprodução em escala ampliada A centralização é possível 459 por meio da mera alteração na distribuição de capitais já existentes da simples modificação do agrupamento quantitativo dos componentes do capital social Se aqui o capital pode crescer nas mãos de um homem até formar massas grandiosas é porque acolá ele é retirado das mãos de muitos outros homens Num dado ramo de negócios a centralização teria alcançado seu limite último quando todos os capitais aí aplicados fossem fundidos num único capital individual77b Numa dada sociedade esse limite seria alcançado no instante em que o capital social total estivesse reunido nas mãos seja de um único capitalista seja de uma única sociedade de capitalistas A centralização complementa a obra da acumulação colocando os capitalistas industriais em condições de ampliar a escala de suas operações Se esse último resultado é uma consequência da acumulação ou da centralização se a centralização se dá pelo caminho violento da anexação quando certos capitais se convertem em centros de gravitação tão dominantes para outros que rompem a coesão individual destes últimos e atraem para si seus fragmentos isolados ou se a fusão ocorre a partir de uma multidão de capitais já formados ou em vias de formação mediante o simples procedimento da formação de sociedades por ações o efeito econômico permanece o mesmo A extensão aumentada de estabelecimentos industriais constitui por toda parte o ponto de partida para uma organização mais abrangente do trabalho coletivo para um desenvolvimento mais amplo de suas forças motrizes materiais isto é para a transformação progressiva de processos de produção isolados e fixados pelo costume em processos de produção socialmente combinados e cientificamente ordenados Mas é evidente que a acumulação o aumento gradual do capital por meio da reprodução que passa da forma circular para a espiral é um procedimento extremamente lento se comparado com a centralização que só precisa alterar o agrupamento quantitativo dos componentes do capital social O mundo ainda careceria de ferrovias se tivesse de ter esperado até que a acumulação possibilitasse a alguns capitais individuais a construção de uma estrada de ferro Mas a centralização por meio das sociedades por ações concluiu essas construções num piscar de olhos E enquanto reforça e acelera desse modo os efeitos da acumulação a centralização amplia e acelera ao mesmo tempo as revoluções na composição técnica do capital que aumentam a parte constante deste último à custa de sua parte variável reduzindo com isso a demanda relativa de trabalho As massas de capital fundidas entre si da noite para o dia por obra da centralização se reproduzem e multiplicam como as outras só que mais rapidamente convertendo se com isso em novas e poderosas alavancas da acumulação social Por isso quando se fala do progresso da acumulação social nisso se incluem hoje tacitamente os efeitos da centralização Os capitais adicionais formados no decorrer da acumulação normal ver capítulo 22 item 1 servem preferencialmente como veículos para a exploração de novos inventos e descobertas ou aperfeiçoamentos industriais em geral Com o tempo porém também o velho capital chega ao momento em que se renova da cabeça aos pés troca de pele e renasce na configuração técnica aperfeiçoada em que uma massa menor de trabalho basta para pôr em movimento uma massa maior de maquinaria e 460 matériasprimas Evidentemente o decréscimo absoluto da demanda de trabalho que decorre necessariamente daí tornase tanto maior quanto mais já estejam acumulados graças ao movimento centralizador os capitais submetidos a esse processo de renovação Por um lado o capital adicional formado no decorrer da acumulação atrai proporcionalmente a seu volume cada vez menos trabalhadores Por outro lado o velho capital reproduzido periodicamente numa nova composição repele cada vez mais trabalhadores que ele anteriormente ocupava 3 Produção progressiva de uma superpopulação relativa ou exército industrial de reserva A acumulação de capital que originalmente aparecia tão somente como sua ampliação quantitativa realizase como vimos numa contínua alteração qualitativa de sua composição num acréscimo constante de seu componente constante à custa de seu componente variável77c O modo de produção especificamente capitalista o desenvolvimento a ele correspondente da força produtiva do trabalho e a alteração que esse desenvolvimento ocasiona na composição orgânica do capital não apenas acompanham o ritmo do progresso da acumulação ou o crescimento da riqueza social Avançam com rapidez incomparavelmente maior porque a acumulação simples ou a ampliação absoluta do capital total é acompanhada pela centralização de seus elementos individuais e a revolução técnica do capital adicional é acompanhada pela revolução técnica do capital original Com o avanço da acumulação modificase portanto a proporção entre as partes constante e variável do capital se originalmente era de 11 agora ela passa a 21 31 41 51 71 etc de modo que à medida que cresce o capital em vez de 12 de seu valor total convertemse em força de trabalho progressivamente apenas 13 14 15 16 18 etc ao passo que se convertem em meios de produção 23 34 45 56 78 etc Como a demanda de trabalho não é determinada pelo volume do capital total mas por seu componente variável ela decresce progressivamente com o crescimento do capital total em vez de como pressupomos anteriormente crescer na mesma proporção dele Essa demanda diminui em relação à grandeza do capital total e em progressão acelerada com o crescimento dessa grandeza Ao aumentar o capital global também aumenta na verdade seu componente variável ou seja a força de trabalho nele incorporada porém em proporção cada vez menor Os períodos em que a acumulação atua como mera ampliação da produção sobre uma base técnica dada tornamse mais curtos Para absorver um número adicional de trabalhadores de uma dada grandeza ou mesmo por causa da metamorfose constante que o capital antigo sofre a fim de manter ocupados os trabalhadores já em funcionamento requerse não apenas uma acumulação acelerada do capital total em progressão crescente Essa acumulação e centralização crescentes por sua vez convertemse numa fonte de novas variações na composição do capital ou promovem a diminuição novamente acelerada de seu componente variável em comparação com o componente constante Por outro lado essa diminuição relativa de seu componente variável acelerada pelo crescimento do 461 capital total e numa proporção maior que o próprio crescimento deste último aparece inversamente como um aumento absoluto da população trabalhadora aumento que é sempre mais rápido do que o do capital variável ou dos meios que este possui para ocupar aquela A acumulação capitalista produz constantemente e na proporção de sua energia e seu volume uma população trabalhadora adicional relativamente excedente isto é excessiva para as necessidades médias de valorização do capital e portanto supérflua Se consideramos o capital social total ora o movimento de sua acumulação provoca uma variação periódica ora seus elementos se distribuem simultaneamente entre as diferentes esferas da produção Em algumas dessas esferas ocorre em decorrência da mera concentraçãof uma variação na composição do capital sem crescimento de sua grandeza absoluta em outras o crescimento absoluto do capital está vinculado ao decréscimo absoluto de seu componente variável ou da força de trabalho por ele absorvida em outras ora o capital continua a crescer sobre sua base técnica dada e atrai força de trabalho suplementar em proporção ao seu próprio crescimento ora ocorre uma mudança orgânica e seu componente variável se contrai em todas as esferas o crescimento da parte variável do capital e portanto do número de trabalhadores ocupados vinculase sempre a violentas flutuações e à produção transitória de uma superpopulação quer esta adote agora a forma mais notória da repulsão de trabalhadores já ocupados anteriormente quer a forma menos evidente mas não menos eficaz de uma absorção mais dificultosa da população trabalhadora suplementar mediante os canais habituais78 J untamente com a grandeza do capital social já em funcionamento e com o grau de seu crescimento com a ampliação da escala de produção e da massa dos trabalhadores postos em movimento com o desenvolvimento da força produtiva de seu trabalho com o fluxo mais amplo e mais pleno de todos os mananciais da riqueza ampliase também a escala em que uma maior atração dos trabalhadores pelo capital está vinculada a uma maior repulsão desses mesmos trabalhadores aumenta a velocidade das mudanças na composição orgânica do capital e em sua forma técnica e dilatase o âmbito das esferas da produção que são atingidas por essas mudanças ora simultânea ora alternadamente Assim com a acumulação do capital produzida por ela mesma a população trabalhadora produz em volume crescente os meios que a tornam relativamente supranumerária79 Essa lei de população é peculiar ao modo de produção capitalista tal como de fato cada modo de produção particular na história tem suas leis de população particulares historicamente válidas Uma lei abstrata de população só é válida para as planta e os animais e ainda assim apenas enquanto o ser humano não interfere historicamente nesses domínios Mas se uma população trabalhadora excedente é um produto necessário da acumulação ou do desenvolvimento da riqueza com base capitalista essa superpopulação se converte em contrapartida em alavanca da acumulação capitalista e até mesmo numa condição de existência do modo de produção capitalista Ela constitui um exército industrial de reserva disponível que pertence ao capital de maneira tão absoluta como se ele o tivesse criado por sua própria conta Ela fornece a suas necessidades variáveis de valorização o material humano sempre pronto para ser 462 explorado independentemente dos limites do verdadeiro aumento populacional Com a acumulação e o consequente desenvolvimento da força produtiva do trabalho aumenta a súbita força de expansão do capital e não só porque aumentam a elasticidade do capital em funcionamento e a riqueza absoluta da qual o capital não constitui mais do que uma parte elástica não só porque o crédito sob todo tipo de estímulos particulares e num abrir e fechar de olhos põe à disposição da produção como capital adicional uma parte extraordinária dessa riqueza mas porque as condições técnicas do próprio processo de produção a maquinaria os meios de transporte etc possibilitam em maior escala a transformação mais rápida de mais produto em meios de produção suplementares A massa da riqueza social superabundante e transformável em capital adicional graças ao progresso da acumulação precipitase freneticamente sobre os velhos ramos da produção cujo mercado se amplia repentinamente ou em ramos recémabertos como o das ferrovias etc cuja necessidade decorre do desenvolvimento dos ramos passados Em todos esses casos é preciso que grandes massas humanas estejam disponíveis para serem subitamente alocadas nos pontos decisivos sem que com isso ocorra uma quebra na escala de produção alcançada em outras esferas A superpopulação provê essas massas O curso vital característico da indústria moderna a forma de um ciclo decenal interrompido por oscilações menores de períodos de vitalidade média produção a todo vapor crise e estagnação repousa sobre a formação constante sobre a maior ou menor absorção e sobre a reconstituição do exército industrial de reserva ou superpopulação Por sua vez as oscilações do ciclo industrial conduzem ao recrutamento da superpopulação e com isso convertemse num dos mais enérgicos agentes de sua reprodução Esse currículo peculiar da indústria moderna que não se encontra em nenhuma época anterior da humanidade era também impossível na infância da produção capitalista A composição do capital só se modificava gradualmente e à sua acumulação correspondia no geral um crescimento proporcional da demanda de trabalho Tal crescimento tão lento quanto o progresso da acumulação do capital se comparado com o da época moderna chocavase com barreiras naturais da população trabalhadora explorável as quais só podiam ser removidas pelos meios violentos que mencionaremos mais tarde A expansão súbita e intermitente da escala de produção é o pressuposto de sua contração repentina esta última por sua vez provoca uma nova expansão a qual é impossível na ausência de material humano disponível isto é se o número dos trabalhadores não aumenta independentemente do crescimento absoluto da população Ela é criada pelo simples processo que libera constantemente parte dos trabalhadores por métodos que reduzem o número de trabalhadores ocupados em relação à produção aumentada Toda a forma de movimento da indústria moderna deriva portanto da transformação constante de uma parte da população trabalhadora em mão de obra desempregada ou semiempregada A superficialidade da economia política se mostra entre outras coisas no fato de ela converter a expansão e a contração do crédito que é o mero sintoma dos períodos de mudança do ciclo industrial em causa destes últimos Tão logo iniciam esse movimento de expansão e contração alternadas ocorre com a 463 produção exatamente o mesmo que com os corpos celestes os quais uma vez lançados em determinado movimento repetemno sempre Os efeitos por sua vez convertem se em causas e as variações de todo o processo que reproduz continuamente suas próprias condições assumem a forma da periodicidadeg Uma vez consolidada essa forma até mesmo a economia política compreende que produzir uma população excedente relativa isto é excedente em relação à necessidade média de valorização do capital é uma condição vital da indústria moderna Suponha diz H Merivale exprofessor de economia política em Oxford e posteriormente funcionário do Ministério das Colônias da Inglaterra que por ocasião de algumas dessas crises a nação realizasse um grande esforço para se livrar mediante a emigração de algumas centenas de milhares de trabalhadores supérfluos qual seria a consequência Que com o primeiro ressurgimento da demanda de trabalho haveria uma escassez Por célere que seja a reprodução dos homens ela precisa em todo caso do intervalo de uma geração para repor a perda de trabalhadores adultos Ora os lucros de nossos fabricantes dependem principalmente do poder de explorar o momento favorável de demanda mais intensa e com isso ressarcirse dos períodos de paralisia Esse poder só lhes é assegurado pelo comando sobre a maquinaria e o trabalho manual Eles têm de encontrar mão de obra disponível estar em condições de redobrar ou reduzir a intensidade de suas operações de acordo com a situação do mercado do contrário será absolutamente impossível manter a superioridade na encarniçada corrida da concorrência sobre a qual repousa a riqueza de seu país80 Até mesmo Malthus reconhece na superpopulação que ele a seu modo tacanho entende como consequência de um excessivo crescimento absoluto da população trabalhadora e não da conversão desta última em população relativamente supranumerária uma necessidade da indústria moderna Diz ele Hábitos prudenciais com relação ao casamento se observados em grau exagerado pela classe trabalhadora de um país que dependa principalmente da manufatura e do comércio poderia prejudicar esse país Conforme a natureza da população um acréscimo de trabalhadores não pode ser fornecido ao mercado em decorrência de uma demanda particular antes de decorridos 16 ou 18 anos e a conversão de renda em capital por meio da poupança pode ocorrer muito mais rapidamente um país está sempre exposto à possibilidade de que seu fundo de trabalho cresça mais rápido do que a população81 Depois de ter assim explicado a produção constante de uma superpopulação relativa de trabalhadores como uma necessidade da acumulação capitalista a economia política desempenhando o adequado papel de uma velha solteirona põe na boca do beau ideal belo ideal de seu capitalista as seguintes palavras dirigidas aos supérfluos postos na rua por sua própria criação de capital adicional Nós fabricantes fazemos por vós o que podemos multiplicando o capital de que necessitais para subsistir e a vós cabei fazer o restante ajustando vosso número aos meios de subsistência82 À produção capitalista não basta de modo algum a quantidade de força de trabalho disponível fornecida pelo crescimento natural da população Ela necessita para assegurar sua liberdade de ação de um exército industrial de reserva independente dessa barreira natural Até aqui foi pressuposto que o acréscimo ou decréscimo do capital variável corresponde exatamente ao acréscimo ou decréscimo do número de trabalhadores ocupados Exercendo o comando de um número igual ou até decrescente de trabalhadores o capital variável cresce no entanto se o trabalhador individual fornece mais trabalho e 464 com isso aumenta seu salário ainda que o preço do trabalho se mantenha igual ou caia só que num ritmo mais lento do que o do aumento da massa de trabalho O crescimento do capital variável tornase então o índice de mais trabalho mas não de mais trabalhadores ocupados Todo capitalista tem interesse absoluto em extrair uma determinada quantidade de trabalho de um número menor de trabalhadores em vez de extraílo por um preço igual ou até mesmo mais barato de um número maior de trabalhadores No último caso o dispêndio de capital constante aumenta na proporção da massa de trabalho posta em movimento no primeiro caso ele aumenta muito mais lentamente Quanto maior a escala da produção tanto mais decisivo é esse motivo Seu peso aumenta com a acumulação do capital Vimos que o desenvolvimento do modo de produção capitalista e da força produtiva do trabalho simultaneamente causa e efeito da acumulação capacita o capitalista a movimentar com o mesmo dispêndio de capital variável mais trabalho mediante uma maior exploração extensiva ou intensiva das forças de trabalho individuais Vimos além disso que ele com capital do mesmo valor compra mais forças de trabalho ao substituir progressivamente trabalhadores mais qualificados por menos qualificados maduros por imaturos masculinos por femininos ou adultos por adolescentes ou infantis Por um lado portanto com o avanço da acumulação um capital variável maior põe mais trabalho em movimento sem recrutar mais trabalhadores por outro um capital variável do mesmo tamanho põe mais trabalho em movimento com a mesma massa de força de trabalho e por fim mais forças de trabalho inferiores mediante a substituição de forças de trabalho superiores A produção de uma superpopulação relativa ou a liberação de trabalhadores avança com rapidez ainda maior do que a já acelerada com o progresso da acumulação revolução técnica do processo de produção e a correspondente redução proporcional da parte variável do capital em relação à parte constante Se os meios de produção crescendo em volume e eficiência tornamse meios de ocupação dos trabalhadores em menor grau essa mesma relação é novamente modificada pelo fato de que à medida que cresce a força produtiva do trabalho o capital eleva mais rapidamente sua oferta de trabalho do que sua demanda de trabalhadores O sobretrabalho da parte ocupada da classe trabalhadora engrossa as fileiras de sua reserva ao mesmo tempo que inversamente esta última exerce mediante sua concorrência uma pressão aumentada sobre a primeira forçandoa ao sobretrabalho e à submissão aos ditames do capital A condenação de uma parte da classe trabalhadora à ociosidade forçada em razão do sobretrabalho da outra parte e vice versa tornase um meio de enriquecimento do capitalista individual83 ao mesmo tempo que acelera a produção do exército industrial de reserva num grau correspondente ao progresso da acumulação social A importância desse fator na formação da superpopulação relativa o demonstra por exemplo o caso da I nglaterra Seus meios técnicos para economizar trabalho são colossais no entanto se amanhã o trabalho fosse reduzido de modo geral a uma medida racional e fosse graduado de acordo com as diferentes camadas da classe trabalhadora conforme a idade e o sexo a população trabalhadora existente seria absolutamente insuficiente para conduzir 465 adiante a produção nacional em sua escala atual A grande maioria dos trabalhadores atualmente improdutivos teria de ser transformada em produtivos Grosso modo os movimentos gerais do salário são regulados exclusivamente pela expansão e contração do exército industrial de reserva que se regem por sua vez pela alternância periódica do ciclo industrial Não se determinam portanto pelo movimento do número absoluto da população trabalhadora mas pela proporção variável em que a classe trabalhadora se divide em exército ativo e exército de reserva pelo aumento ou redução do tamanho relativo da superpopulação pelo grau em que ela é ora absorvida ora liberada De fato para a indústria moderna com seu ciclo decenal e suas fases periódicas que além disso no transcurso da acumulação são atravessadas por oscilações irregulares que se sucedem cada vez mais rapidamente seria uma bela lei a que regulasse a demanda e a oferta de trabalho não pela expansão e contração do capital ou seja por suas necessidades ocasionais de valorização de modo que o mercado pareça estar relativamente vazio quando o capital se amplia e novamente supersaturado quando se contrai mas ao contrário fizesse a dinâmica do capital depender do movimento absoluto do tamanho da população Este é porém o dogma econômico De acordo com ele o salário aumenta em consequência da acumulação do capital O incremento do salário estimula um aumento mais rápido da população trabalhadora aumento que prossegue até que o mercado de trabalho esteja supersaturado ou seja até que o capital se torne insuficiente em relação à oferta de trabalho O salário diminui e então temos o reverso da medalha A baixa salarial dizima pouco a pouco a população trabalhadora de modo que em relação a ela o capital se torna novamente superabundante ou como outros o explicam a baixa salarial e a correspondente exploração redobrada do trabalhador aceleram por sua vez a acumulação ao mesmo tempo que o salário baixo põe em xeque o crescimento da classe trabalhadora Reconstituise assim a relação em que a oferta de trabalho é mais baixa do que a demanda de trabalho o que provoca o aumento do salário e assim por diante Belo método de movimento este para a produção capitalista desenvolvida Mas muito antes que o aumento salarial pudesse motivar qualquer crescimento positivo da população efetivamente apta para o trabalho já estaria vencido o prazo em que a campanha industrial teria de ser conduzida e a batalha travada e decidida Entre 1849 e 1859 simultaneamente à queda dos preços dos cereais ocorreu nos distritos agrícolas ingleses um aumento salarial que na prática foi apenas nominal Em Wiltshire por exemplo o salário semanal aumentou de 7 para 8 xelins em Dorsetshire de 7 ou 8 para 9 xelins etc I sso foi uma consequência da evasão extraordinária da superpopulação agrícola causada pela demanda bélicah e pela expansão massiva das construções de ferrovias fábricas minas etc Quanto menor o salário tanto maior será a expressão percentual de qualquer elevação dele por mais insignificante que seja Se o salário semanal é por exemplo de 20 xelins e sobe para 22 ele se eleva em 10 se no entanto é de apenas 7 xelins e sobe para 9 ele se eleva em 2847 o que parece bastante considerável Seja como for os arrendatários gritaram de indignação e até o Economist84 de Londres tagarelou com absoluta seriedade sobre a general and substantial advance um avanço geral e substancial com relação a esses salários de fome O que fizeram então os arrendatários 466 Esperaram até que os trabalhadores rurais graças a essas remunerações esplêndidas tivessem se multiplicado tanto que seu salário teria novamente de cair tal como costuma ocorrer no cérebro do economista dogmático Eles introduziram mais maquinaria e num piscar de olhos os trabalhadores voltaram a ser supranumerários numa proporção suficiente até mesmo para os arrendatários Agora havia mais capital investido na agricultura do que antes e de forma mais produtiva Com isso a demanda de trabalho caiu não apenas de modo relativo mas absoluto Essa ficção econômica confunde as leis que regem o movimento geral do salário ou a relação entre a classe trabalhadora isto é a força de trabalho em seu conjunto e o capital total da sociedade com as leis que distribuem a população trabalhadora entre as esferas particulares da produção Se por exemplo em decorrência de uma conjuntura favorável a acumulação é especialmente intensa numa determinada esfera da produção fazendo com que os lucros sejam aí maiores do que os lucros médios e atraindo para ela o capital adicional então ocorre naturalmente um aumento da demanda de trabalho e do salário O salário mais alto atrai uma parte maior da população trabalhadora para a esfera favorecida até que ela esteja saturada de força de trabalho e o salário caia novamente para o nível médio anterior ou caso o afluxo tenha sido grande demais para um nível abaixo dele Nesse caso a imigração de trabalhadores para o ramo de atividades em questão não apenas é interrompida como dá até mesmo lugar à sua emigração Aqui o economista político crê vislumbrar onde e como com o incremento do salário ocorre um incremento absoluto de trabalhadores e com o incremento absoluto de trabalhadores uma redução do salário mas na verdade ele só enxerga a oscilação local do mercado de trabalho de uma esfera específica da produção nada mais do que fenômenos da distribuição da população trabalhadora nas diferentes esferas de investimento do capital conforme suas necessidades mutáveis Nos períodos de estagnação e prosperidade média o exército industrial de reserva pressiona o exército ativo de trabalhadores nos períodos de superprodução e paroxismo ele barra suas pretensões A superpopulação relativa é assim o pano de fundo sobre o qual se move a lei da oferta e da demanda de trabalho Ela reduz o campo de ação dessa lei a limites absolutamente condizentes com a avidez de exploração e a mania de dominação próprias do capital É oportuno aqui retornarmos a uma das proezas da apologética econômica Recordemos que quando a introdução de maquinaria nova ou a ampliação de maquinaria antiga faz com que uma parcela do capital variável seja transformada em capital constante o apologista econômico interpreta essa operação que vincula capital e por isso mesmo libera trabalhadores de modo invertido como se ela liberasse capital para o trabalhador Apenas agora podemos apreciar plenamente a impudência do apologista O que é liberado são não apenas os trabalhadores diretamente substituídos pela máquina mas também sua equipe de reserva e com a expansão habitual do negócio sobre sua velha base o contingente adicional regularmente absorvido Eles estão agora liberados e todo novo capital que deseje entrar em funcionamento pode dispor deles Atraia ele esses trabalhadores ou outros o efeito sobre a demanda geral de 467 trabalho será nulo sempre que esse capital for suficiente para livrar o mercado da mesma quantidade de trabalhadores que nele foi lançado pelas máquinas Se um número menor é empregado aumenta a quantidade dos supranumerários se emprega um número maior a demanda geral de trabalho aumenta apenas na medida em que os ocupados excedem os liberados Em todo caso o impulso que não fossem essas as circunstâncias os capitais adicionais em busca de aplicação teriam dado à demanda geral de trabalho neutralizase na medida em que os trabalhadores postos na rua pelas máquinas são suficientes I sso significa portanto que o mecanismo da produção capitalista vela para que o aumento absoluto de capital não seja acompanhado de um aumento correspondente da demanda geral de trabalho E a isso o apologista chama de uma compensação pela miséria sofrimentos e possível morte dos trabalhadores deslocados durante o período de transição que os expulsa para as fileiras do exército industrial de reserva A demanda de trabalho não é idêntica ao crescimento do capital e a oferta de trabalho não é idêntica ao crescimento da classe trabalhadora como se fossem duas potências independentes a se influenciar mutuamente Les dés sont pipés os dados estão viciados O capital age sobre os dois lados ao mesmo tempo Se por um lado sua acumulação aumenta a demanda de trabalho por outro sua liberação aumenta a oferta de trabalhadores ao mesmo tempo que a pressão dos desocupados obriga os ocupados a pôr mais trabalho em movimento fazendo com que até certo ponto a oferta de trabalho seja independente da oferta de trabalhadores O movimento da lei da demanda e oferta de trabalho completa sobre essa base o despotismo do capital Tão logo os trabalhadores desvendam portanto o mistério de como é possível que na mesma medida em que trabalham mais produzem mais riqueza alheia de como a força produtiva de seu trabalho pode aumentar ao mesmo tempo que sua função como meio de valorização do capital se torna cada vez mais precária para eles tão logo descobrem que o grau de intensidade da concorrência entre eles mesmos depende inteiramente da pressão exercida pela superpopulação relativa tão logo portanto procuram organizar mediante trades unions etc uma cooperação planificada entre empregados e os desempregados com o objetivo de eliminar ou amenizar as consequências ruinosas que aquela lei natural da produção capitalista acarreta para sua classe o capital e seu sicofanta o economista político clamam contra a violação da eterna e por assim dizer sagrada lei da oferta e demanda Toda solidariedade entre os ocupados e os desocupados perturba com efeito a ação livre daquela lei Por outro lado assim que nas colônias por exemplo surgem circunstâncias adversas que impedem a criação do exército industrial de reserva e com ele a dependência absoluta da classe trabalhadora em relação à classe capitalista o capital juntamente com seu Sancho Pança dos lugarescomuns rebelase contra a lei sagrada da oferta e demanda e tenta dominála por meios coercitivos 4 Diferentes formas de existência da superpopulação relativa A lei geral da acumulação capitalista A superpopulação relativa existe em todos os matizes possíveis Todo trabalhador a integra durante o tempo em que está parcial ou inteiramente desocupado Sem 468 levarmos em conta as grandes formas periodicamente recorrentes que a mudança de fases do ciclo industrial lhe imprime fazendo com que ela apareça ora de maneira aguda nas crises ora de maneira crônica nos períodos de negócios fracos a superpopulação relativa possui continuamente três formas flutuante latente e estagnada Nos centros da indústria moderna fábricas manufaturas fundições e minas etc os trabalhadores são ora repelidos ora atraídos novamente em maior volume de modo que em linhas gerais o número de trabalhadores ocupados aumenta ainda que sempre em proporção decrescente em relação à escala da produção A superpopulação existe aqui sob a forma flutuante Tanto nas fábricas propriamente ditas como em todas as grandes oficinas em que a maquinaria constitui um fator ou onde ao menos é aplicada a moderna divisão do trabalho requerse uma grande massa de trabalhadores masculinos que ainda se encontrem em idade juvenil Uma vez atingido esse ponto resta apenas um número muito reduzido que ainda pode ser empregado no mesmo ramo de atividade ao passo que a maioria é regularmente dispensada Essa maioria constitui um elemento da superpopulação flutuante que cresce com o tamanho da indústria Uma parte dela emigra e na realidade não faz mais do que seguir os passos do capital emigrante Uma das consequências é que a população feminina cresce mais rapidamente que a masculina teste testemunhao a I nglaterra Que o aumento natural da massa trabalhadora não satisfaça plenamente às necessidades de acumulação do capital e no entanto ao mesmo tempo as ultrapasse é uma contradição de seu próprio movimento Ele necessita de massas maiores de trabalhadores em idade juvenil e de massas menores de trabalhadores masculinos adultos A contradição não é mais flagrante do que a outra a de que haja reclamações quanto à falta de mão de obra ao mesmo tempo que muitos milhares estão na rua porque a divisão de trabalho os acorrenta a um determinado ramo da indústria85 Além disso o consumo da força de trabalho pelo capital é tão rápido que na maioria das vezes o trabalhador de idade mediana já está mais ou menos acabado Ou engrossa as fileiras dos supranumerários ou é empurrado de um escalão mais alto para um mais baixo É justamente entre os trabalhadores da grande indústria que nos deparamos com a duração mais curta de vida Dr Lee funcionário de saúde pública de Manchester comprovou que nessa cidade a duração média de vida na classe abastada é de 38 anos ao passo que na classe operária é de apenas 17 anos Em Liverpool é de 35 anos para a primeira e 15 para a segunda Disso se conclui portanto que a classe privilegiada tem uma expectativa de vida have a lease of life mais de duas vezes maior do que a de seus concidadãos menos favorecidos85a Nessas circunstâncias o crescimento absoluto dessa fração do proletariado requer uma forma que aumente o número de seus elementos ainda que estes se desgastem rapidamente É necessária portanto uma rápida renovação das gerações de trabalhadores Essa mesma lei não vale para as demais classes da população Tal necessidade é satisfeita por meio de casamentos precoces consequência necessária das condições em que vivem os trabalhadores da grande indústria e graças ao abono que a exploração dos filhos dos trabalhadores agrega à sua produção Assim que a produção capitalista se apodera da agricultura ou de acordo com o grau em que se tenha apoderado dela a demanda de população trabalhadora rural 469 decresce em termos absolutos na mesma proporção em que aumenta a acumulação do capital em funcionamento nessa esfera e isso sem que a repulsão desses trabalhadores seja complementada por uma maior atração como ocorre na indústria não agrícola Uma parte da população rural se encontra por isso continuamente em vias de se transferir para o proletariado urbano ou manufatureiro e à espreita de circunstâncias favoráveis a essa metamorfose Manufatureiro aqui no sentido de toda a indústria não agrícola86 Essa fonte da superpopulação relativa flui portanto continuamente mas seu fluxo constante para as cidades pressupõe a existência no próprio campo de uma contínua superpopulação latente cujo volume só se torna visível a partir do momento em que os canais de escoamento se abrem excepcionalmente em toda sua amplitude O trabalhador rural é por isso reduzido ao salário mínimo e está sempre com um pé no lodaçal do pauperismo A terceira categoria da superpopulação relativa a estagnada forma uma parte do exército ativo de trabalhadores mas com ocupação totalmente irregular Desse modo ela proporciona ao capital um depósito inesgotável de força de trabalho disponível Sua condição de vida cai abaixo do nível médio normal da classe trabalhadora e é precisamente isso que a torna uma base ampla para certos ramos de exploração do capital Suas características são o máximo de tempo de trabalho e o mínimo de salário J á nos deparamos com sua configuração principal sob a rubrica do trabalho domiciliar Ela recruta continuamente trabalhadores entre os supranumerários da grande indústria e da agricultura e especialmente também de ramos industriais decadentes em que a produção artesanal é superada pela manufatura e esta última pela indústria mecanizada Seu volume se amplia à medida que avança com o volume e a energia da acumulação a transformação dos trabalhadores em supranumerários Mas ela constitui ao mesmo tempo um elemento da classe trabalhadora que se reproduz e perpetua a si mesmo e participa no crescimento total dessa classe numa proporção maior do que os demais elementos De fato não só a massa dos nascimentos e óbitos mas também a grandeza absoluta das famílias está na razão inversa do nível do salário e portanto à massa dos meios de subsistência de que dispõem as diversas categorias de trabalhadores Essa lei da sociedade capitalista soaria absurda entre selvagens ou mesmo entre colonos civilizados Ela remete à reprodução em massa de espécies animais individualmente fracas e avidamente perseguidas87 O sedimento mais baixo da superpopulação relativa habita por fim a esfera do pauperismo Abstraindo dos vagabundos delinquentes prostitutas em suma do lumpemproletariado propriamente dito essa camada social é formada por três categorias Em primeiro lugar os aptos ao trabalho Basta observar superficialmente as estatísticas do pauperismo inglês para constatar que sua massa engrossa a cada crise e diminui a cada retomada dos negócios Em segundo lugar os órfãos e os filhos de indigentes Estes são candidatos ao exército industrial de reserva e em épocas de grande prosperidade como por exemplo em 1860 são rápida e massivamente alistados no exército ativo de trabalhadores Em terceiro lugar os degradados maltrapilhos incapacitados para o trabalho Tratase especialmente de indivíduos que sucumbem por sua imobilidade causada pela divisão do trabalho daqueles que ultrapassam a idade normal de um trabalhador e finalmente das vítimas da indústria 470 aleijados doentes viúvas etc cujo número aumenta com a maquinaria perigosa a mineração as fábricas químicas etc O pauperismo constitui o asilo para inválidos do exército trabalhador ativo e o peso morto do exército industrial de reserva Sua produção está incluída na produção da superpopulação relativa sua necessidade na necessidade dela e juntos eles formam uma condição de existência da produção capitalista e do desenvolvimento da riqueza O pauperismo pertence aos faux frais custos mortos da produção capitalista gastos cuja maior parte no entanto o capital sabe transferir de si mesmo para os ombros da classe trabalhadora e da pequena classe média Quanto maiores forem a riqueza social o capital em funcionamento o volume e o vigor de seu crescimento e portanto também a grandeza absoluta do proletariado e a força produtiva de seu trabalho tanto maior será o exército industrial de reserva A força de trabalho disponível se desenvolve pelas mesmas causas que a força expansiva do capital A grandeza proporcional do exército industrial de reserva acompanha pois o aumento das potências da riqueza Mas quanto maior for esse exército de reserva em relação ao exército ativo de trabalhadores tanto maior será a massa da superpopulação consolidada cuja miséria está na razão inversa do martírio de seu trabalho Por fim quanto maior forem as camadas lazarentas da classe trabalhadora e o exército industrial de reserva tanto maior será o pauperismo oficial Essa é a lei geral absoluta da acumulação capitalista Como todas as outras leis ela é modificada em sua aplicação por múltiplas circunstâncias cuja análise não cabe realizar aqui É compreensível a insensatez da sabedoria econômica que prega aos trabalhadores que ajustem seu número às necessidades de valorização do capital O mecanismo da produção e acumulação capitalistas ajusta constantemente esse número a essas necessidades de valorização A primeira palavra desse ajuste é a criação de uma superpopulação relativa ou exército industrial de reserva a última palavra a miséria de camadas cada vez maiores do exército ativo de trabalhadores e o peso morto do pauperismo A lei segundo a qual uma massa cada vez maior de meios de produção graças ao progresso da produtividade do trabalho social pode ser posta em movimento com um dispêndio progressivamente decrescente de força humana é expressa no terreno capitalista onde não é o trabalhador quem emprega os meios de trabalho mas estes o trabalhador da seguinte maneira quanto maior a força produtiva do trabalho tanto maior a pressão dos trabalhadores sobre seus meios de ocupação e tanto mais precária portanto a condição de existência do assalariado que consiste na venda da própria força com vistas ao aumento da riqueza alheia ou à autovalorização do capital Em sentido capitalista portanto o crescimento dos meios de produção e da produtividade do trabalho num ritmo mais acelerado do que o da população produtiva se expressa invertidamente no fato de que a população trabalhadora sempre cresce mais rapidamente do que a necessidade de valorização do capital Na seção I V ao analisarmos a produção do maisvalor relativo vimos que no interior do sistema capitalista todos os métodos para aumentar a força produtiva social do trabalho aplicamse à custa do trabalhador individual todos os meios para o desenvolvimento da produção se convertem em meios de dominação e exploração do 471 produtor mutilam o trabalhador fazendo dele um ser parcial degradamno à condição de um apêndice da máquina aniquilam o conteúdo de seu trabalho ao transformálo num suplício alienam ao trabalhador as potências espirituais do processo de trabalho na mesma medida em que a tal processo se incorpora a ciência como potência autônoma desfiguram as condições nas quais ele trabalha submetem no durante o processo de trabalho ao despotismo mais mesquinho e odioso transformam seu tempo de vida em tempo de trabalho arrastam sua mulher e seu filho sob a roda do carro de J agrenái do capital Mas todos os métodos de produção do maisvalor são ao mesmo tempo métodos de acumulação e toda expansão da acumulação se torna em contrapartida um meio para o desenvolvimento desses métodos Seguese portanto que à medida que o capital é acumulado a situação do trabalhador seja sua remuneração alta ou baixa tem de piorar Por último a lei que mantém a superpopulação relativa ou o exército industrial de reserva em constante equilíbrio com o volume e o vigor da acumulação prende o trabalhador ao capital mais firmemente do que as correntes de Hefesto prendiam Prometeu ao rochedo Ela ocasiona uma acumulação de miséria correspondente à acumulação de capital Portanto a acumulação de riqueza num polo é ao mesmo tempo a acumulação de miséria o suplício do trabalho a escravidão a ignorância a brutalização e a degradação moral no polo oposto isto é do lado da classe que produz seu próprio produto como capital Esse caráter antagônico da acumulação capitalista88 foi expresso de diferentes formas pelos economistas políticos embora eles o confundam com fenômenos em parte análogos sem dúvida porém essencialmente diferentes que ocorrem nos modos de produção précapitalistas O monge veneziano Ortes um dos grandes escritores econômicos do século XVI I I concebe o antagonismo da produção capitalista como uma lei natural e universal da riqueza social O bem e o mal econômicos numa nação sempre se mantêm em equilíbrio il bene ed il male economico in una nazione sempre allistessa misura a abundância dos bens para uns é sempre igual à falta desses bens para outros la copia dei beni in alcuni sempre eguale alla mancanza di essi in altri A grande riqueza de alguns é sempre acompanhada da absoluta privação do necessário para muitos outros A riqueza de uma nação corresponde à sua população e sua miséria corresponde à sua riqueza A laboriosidade de uns exige a ociosidade de outros Os pobres e os ociosos são um fruto necessário dos ricos e ativos etc89 Cerca de 10 anos depois de Ortes o ministro anglicano Townsend glorificava de modo absolutamente grosseiro a pobreza como condição necessária da riqueza A coação legal para trabalhar está acompanhada de muitos transtornos violência e gritaria ao mesmo tempo que a fome não só constitui uma pressão mais pacífica silenciosa e incessante como também é o motivo mais natural para a indústria e o trabalho provocando os esforços mais intensos O que importa pois é tornar a fome permanente entre os membros da classe trabalhadora e para isso serve segundo Townsend o princípio populacional particularmente ativo entre os pobres Parece ser uma lei natural que os pobres até certo ponto sejam imprevidentes improvident quer dizer tão imprevidentes que vêm ao mundo sem uma colher de ouro na boca de modo que sempre haja alguns that there may always be some para o desempenho das funções mais servis sórdidas e abjetas da comunidade Com isso aumentase em muito o fundo de felicidade humana the fund of human happiness os mais delicados the 472 Se o mundo veneziano encontrava no fado que perpetua a miséria a razão de ser da caridade cristã do celibato dos conventos e das fundações pias já o prebendado protestante vê nisso um pretexto para condenar as leis que concediam ao pobre o direito a uma minguada assistência pública Crescimento percentual anual da população da Inglaterra e do País de Gales em números decimais 18111821 1533 18211831 1446 18311841 1326 18411851 1216 18511861 1141 Examinemos agora por outro lado o crescimento da riqueza O ponto de referência mais seguro nos é oferecido aqui pelo movimento dos lucros das rendas das terras etc sujeitos ao imposto de renda Na I nglaterra o aumento dos lucros tributáveis sem incluir os arrendatários e algumas outras rubricas foi entre 1853 e 1864 de 5047 ou 458 na média anual94 o aumento da população no mesmo período foi de cerca de 12 O aumento das rendas tributáveis da terra inclusive casas ferrovias minas pesqueiras etc foi entre 1853 e 1864 de 38 ou seja de 3512 por ano e foi provocado principalmente pelas seguintes rubricas Excedente do rendimento anual de 1864 em relação a 185395 Aumento anual Casas Pedreiras Minas Fundições Pesqueiras Usinas de gás Ferrovias 3860 8476 6885 3992 5737 12602 8329 350 770 626 363 521 1145 757 Comparando os quadriênios entre 1853 a 1864 vemos que o grau de aumento dos rendimentos cresce continuamente Para os rendimentos provenientes dos lucros por exemplo ele é anualmente de 173 entre 1853 e 1857 274 entre 1857 e 1861 e 930 entre 1861 e 1864 A soma global dos rendimentos sujeitos ao imposto de renda no Reino Unido foi em 1856 307068898 em 1859 328127416 em 1862 351745241 em 1863 359142897 em 1864 362462279 em 1865 38553002096 A acumulação do capital veio acompanhada de sua concentração e centralização Embora inexistisse qualquer estatística agrícola oficial para a I nglaterra mas existia para a I rlanda ela foi fornecida voluntariamente por 10 condados Esses números mostraram que de 1851 a 1861 os arrendamentos abaixo de 100 acres diminuíram de 31583 para 26567 ou seja 5016 deles foram fundidos com arrendamentos maiores97 De 1815 a 1825 nenhuma fortuna mobiliária acima de 1 milhão caiu na malha do imposto sobre heranças já entre 1825 e 1855 no entanto houve 8 ocorrências e entre 1855 e junho de 1859 isto é em 4 anos e meio 4 ocorrências98 A centralização pode ser mais bem percebida no entanto com uma breve análise do imposto de renda para a rubrica D lucros excluindo arrendatários etc nos anos de 1864 e 1865 Cabe 474 observar de antemão que rendimentos oriundos dessa fonte pagam income tax imposto de renda a partir de 60 Na I nglaterra País de Gales e Escócia esses rendimentos tributáveis atingiam em 1864 95844222 e em 1865 10543578799 sendo o número dos tributados em 1864 de 308416 pessoas numa população total de 23891009 e em 1865 de 332431 pessoas numa população total de 24127003 A tabela a seguir mostra a repartição dos rendimentos nesses dois anos Ano terminando em 5 de abril de 1864 Ano terminando em 5 de abril de 1865 Rendimento por lucro Pessoas Rendimento por lucro Pessoas Rendimento total do qual do qual do qual do qual 95844222 57028290 36415225 22809781 8744762 308416 22334 3619 822 91 105435787 64554297 42535576 27555313 11077238 332431 24075 4021 973 107 No Reino Unido foram produzidas em 1855 61453079 toneladas de carvão no valor de 16113267 em 1864 92787873 toneladas no valor de 23197968 em 1855 3218154 toneladas de ferro gusa no valor de 8045385 em 1864 4767951 toneladas no valor de 11919877 Em 1854 a extensão das ferrovias em funcionamento no Reino Unido atingia 8054 milhas com capital realizado de 286068794 em 1864 a extensão chegava a 12789 milhas com capital realizado de 425719613 Em 1854 o total das exportações e importações do Reino Unido atingia 268210145 em 1865 489923285 A seguinte tabela mostra o movimento da exportação 1847 58842377 1849 63596052 1856 115826948 1860 135842817 1865 165862402 1866 188917563100 Com base nesses poucos dados compreendese o brado triunfal do diretor do Registro Civil britânico por mais rápido que a população tenha crescido ela não acompanhou o ritmo do progresso da indústria e da riqueza101 Voltemonos agora para os agentes imediatos dessa indústria ou seja os produtores dessa riqueza a classe operária Uma das características mais melancólicas da situação social do país diz Gladstone é que a diminuição da capacidade de consumo do povo e o aumento das privações e da miséria da classe trabalhadora é acompanhada ao mesmo tempo de uma acumulação constante de riqueza nas classes superiores e de um crescimento constante de capital102 Assim falou esse untuoso ministro na Câmara dos Comuns a 13 de fevereiro de 1843 A 16 de abril de 1863 20 anos mais tarde ele proferiu as seguintes palavras no 475 O progresso da riqueza social diz Storch gera aquela classe útil da sociedade que exerce as ocupações mais fastidiosas abjetas e repugnantes numa palavra a classe que carrega sobre os ombros tudo aquilo que a vida tem de desagradável e servil e que precisamente por meio disso proporciona às demais classes o tempo a serenidade de espírito e a convencional cest bon isto é bom dignidade de caráter Não nego naturalmente que o salário monetário tenha se elevado com esse aumento do capital nos últimos decênios mas essa vantagem aparenta e não é nova pois muitas necessidades viárias encarecem constantemente ele disse que isso se devia à queda no valor dos mais pobres famílias mais saudáveis e em condições relativamente melhores O resultado geral foi que somente numa das classes de trabalhadores urbanos investigadas a ingestão média de nitrogênio superou um pouco a medida mínima absoluta abaixo da qual ocorrem doenças por causa da fome que em duas classes havia carência e numa delas uma enorme deficiência de nutrientes contendo nitrogênio e carbono que das famílias de trabalhadores agrícolas investigadas mais de 15 obtinha menos da quantidade indispensável de nutrientes contendo carbono e mais de 13 obtinha menos do que a quantidade indispensável de nutrientes contendo nitrogênio e que em três condados Berkshire Oxfordshire e Somersetshire prevalecia em média uma carência de um mínimo de nutrientes contendo nitrogênio109 Entre os trabalhadores agrícolas os mais malnutridos eram os da I nglaterra a região mais rica do Reino Unido110 A subnutrição entre os trabalhadores agrícolas atingia principalmente mulheres e crianças pois o homem precisa comer para efetuar seu trabalho Deficiência ainda maior grassava entre as categorias de trabalhadores urbanos investigadas Estão tão malnutridos que tem de ocorrer muitos casos de atroz privação nisso consiste a renúncia do capitalismo ou seja a renúncia ao pagamento dos meios de subsistência indispensáveis para a mera vegetação de sua mão de obra prejudicial à saúde111 A tabela a seguir compara a situação nutricional das categorias de trabalhadores puramente citadinos supramencionados com a medida mínima adotada pelo dr Smith e com a alimentação dos trabalhadores algodoeiros durante a época de sua maior penúria Ambos os sexos Média semanal de carbono grãos Média semanal de nitrogênio grãos Cinco ramos da indústria urbana 28876 1192 Trabalhadores fabris desempregados de Lancashire 29211 1295 Quantidade mínima proposta para os trabalhadores de Lancashire para uma quantidade igual de homens e mulheres 28600 1330112 Aproximadamente metade isto é 60125 das categorias de trabalhadores industriais investigadas não consumia absolutamente cerveja 28 não consumia leite A média semanal dos alimentos líquidos nas famílias variava de 7 onças entre as costureiras até 2434 onças entre os tecelões de meias A maioria dos trabalhadores que jamais consumiam leite era formada pelas costureiras de Londres A quantidade de pão consumida semanalmente variava de 734 libras entre as costureiras até 1114 libras entre os sapateiros num total de 99 libras semanais por adulto O açúcar melaço etc variava de 4 onças semanais entre os luveiros em couro até 11 onças entre os tecelões de meias a média semanal para todas as categorias era de 8 onças por adulto A média semanal de manteiga gordura etc por adulto era de 5 onças A média semanal de carne toucinho etc por adulto oscilava de 7¼ onças entre os tecelões de seda até 1814 onças entre os luveiros em couro a média total para todas as categorias era de 136 onças O custo semanal da alimentação por adulto apresentava os seguintes números médios gerais tecelões de seda 2 xelins e 212 pence costureiras 2 xelins e 7 pence 478 luveiros em couro 2 xelins e 9½ pence sapateiros 2 xelins e 734 pence tecelões de meias 2 xelins e 614 pence Entre os tecelões de seda de Macclesfield a média semanal era de apenas de 1 xelim e 812 pence As categorias mais malnutridas eram as costureiras os tecelões de seda e os luveiros em couro113 Em seu relatório geral sobre a saúde pública diz o dr Simon a respeito dessa situação alimentar Todo aquele que esteja familiarizado com a assistência médica a indigentes ou a pacientes de hospitais sejam eles internados ou pacientes externos confirmará que são inúmeros os casos em que a deficiência nutricional causa ou agrava doenças No entanto aqui se acrescenta do ponto de vista sanitário outra circunstância decisiva É preciso lembrar que a privação de alimentos só é tolerada com a maior relutância e que em regra geral uma dieta muito pobre só se apresenta quando precedida por outras privações Muito antes que a insuficiência nutricional gravite no plano sanitário muito antes que o fisiólogo pense em contar os grãos de nitrogênio e carbono entre os quais oscilam a vida ou a morte por inanição o lar já terá sido privado de todo conforto material O vestuário e o aquecimento escassearão ainda mais do que a comida Nenhuma proteção suficiente contra o rigor do inverno redução do espaço da habitação a um grau que gera doenças ou as agrava ausência quase absoluta de utensílios domésticos ou de móveis a própria limpeza terseá tornado cara ou difícil E se por um sentimento de dignidade pessoal ainda se tenta mantêla cada uma dessas tentativas representará novos suplícios de fome O lar será onde o teto for mais barato em bairros onde a polícia sanitária colhe os menores frutos onde o saneamento básico é mais deplorável a circulação é menor a imundície pública é maior o suprimento de água é o menor ou o pior em cidades onde há maior escassez de luz e de ar Tais são os perigos do ponto de vista sanitário a que a pobreza inevitavelmente está exposta quando essa pobreza inclui a deficiência nutricional Se a soma desses males constitui um perigo de terrível magnitude para a vida a mera carência nutricional já é em si algo espantoso São reflexões penosas estas especialmente quando se recorda que a pobreza que as motiva não é a merecida pobreza da indolência É a pobreza dos trabalhadores Sim no que diz respeito aos trabalhadores urbanos o trabalho mediante o qual se compra o escasso bocado de alimento é na maioria das vezes prolongado além de toda medida E no entanto apenas em sentido muito restrito se pode dizer que esse trabalho é suficiente para o autossustento do trabalhador Em escala muito ampla esse autossustento nominal não pode ser mais do que um atalho mais ou menos longo em direção ao pauperismo114 O nexo interno entre o tormento da fome que atinge as camadas operárias mais laboriosas e o consumo perdulário grosseiro ou refinado dos ricos baseado na acumulação capitalista só se desvela com o conhecimento das leis econômicas O mesmo não ocorre com as condições habitacionais Qualquer observador imparcial pode perceber que quanto mais massiva a concentração dos meios de produção tanto maior é a consequente aglomeração de trabalhadores no mesmo espaço que portanto quanto mais rápida a acumulação capitalista tanto mais miseráveis são para os trabalhadores as condições habitacionais É evidente que as melhorias improvements das cidades que acompanham o progresso da riqueza e são realizadas mediante a demolição de bairros mal construídos a construção de palácios para bancos grandes casas comerciais etc a ampliação de avenidas para o tráfego comercial e carruagens de luxo a introdução de linhas de bondes urbanos etc expulsam os pobres para refúgios cada vez piores e mais superlotados Por outro lado qualquer um sabe que o alto preço das moradias está na razão inversa de sua qualidade e que as minas da miséria são exploradas por especuladores imobiliários com lucros maiores e custos menores do que jamais o foram as de Potosí O caráter antagônico da acumulação capitalista e por conseguinte das relações capitalistas de propriedade em geral115 tornase aqui tão palpável que mesmo nos relatórios oficiais ingleses sobre esse assunto abundam invectivas bastante heterodoxas contra a propriedade e seus direitos Esse mal acompanhou de tal modo o desenvolvimento 479 da indústria a acumulação do capital o crescimento e embelezamento das cidades que o mero temor de doenças infecciosas cujo contágio não poupa as pessoas respeitáveis gerou de 1847 a 1864 a promulgação de não menos que 10 leis parlamentares de política sanitária e em algumas cidades como Liverpool Glasgow etc a aterrorizada burguesia foi levada a intervir na situação por meio de sua municipalidade Não obstante o dr Simon em seu relatório de 1865 exclama Para falar de modo geral as condições insalubres não estão sob controle na I nglaterra Em 1864 por ordem do Privy Council realizouse uma pesquisa sobre as condições de moradia entre os trabalhadores rurais e em 1865 sobre as das classes mais pobres nas cidades Os trabalhos magistrais do dr J ulian Hunter se encontram no sétimo e oitavo relatórios sobre public health Dos trabalhadores rurais tratarei mais tarde Quanto às condições habitacionais urbanas anteciparei uma observação geral do dr Simon Embora meu ponto de vista oficial diz ele seja exclusivamente médico o sentimento humanitário mais comum não me permite ignorar o outro lado desse mal Em seu mais alto grau ele provoca quase necessariamente uma tal negação de toda delicadeza uma confusão tão sórdida de corpos e funções corporais uma exposição tal de nudez sexual que mais do que humana é bestial Estar sujeito a essas influências é uma degradação que se torna mais profunda quanto mais perdura sua obra Para as crianças nascidas sob essa maldição ele é um batismo na infâmia baptism into infamy E mais do que tudo é inútil esperar que pessoas em tais circunstâncias se esforcem em outros aspectos por ascender àquela atmosfera da civilização que tem sua essência na pureza física e moral116 O primeiro lugar em habitações superlotadas ou mesmo absolutamente inadequadas como moradia humana é ocupado por Londres Dois pontos diz o dr Hunter estão claros o primeiro é que em Londres existem cerca de 20 grandes colônias cada uma composta de cerca de 10 mil pessoas cuja condição miserável que resulta quase inteiramente de suas más condições de moradia ultrapassa tudo que já se tenha sido visto em qualquer outro lugar da Inglaterra o segundo é que a superlotação e decadência das casas que formam essas colônias são muito piores que há 20 anos117 Não é exagerado dizer que em certas partes de Londres e Newcastle a vida é um inferno118 Também a parcela mais bem situada da classe trabalhadora londrina juntamente com pequenos comerciantes e outros elementos da pequena classe média cai cada vez mais sob a maldição dessas condições habitacionais indignas à medida que se realizam melhorias e com eles a demolição de ruas e casas antigas à medida que aumentam as fábricas e o afluxo humano para a metrópole e por fim à medida que aumentam os aluguéis com a renda fundiária urbana Os aluguéis se tornaram tão exorbitantes que poucos trabalhadores têm condições de pagar mais do que um quarto119 Em Londres não há praticamente nenhuma propriedade imobiliária que não esteja sobrecarregada por um semnúmero de middlemen intermediários O preço do solo em Londres é sempre altíssimo em comparação com o rendimento anual que ele gera pois todo comprador especula com a possibilidade de mais cedo ou mais tarde desfazerse da propriedade por um jury price taxa fixada por juramentados em caso de expropriação ou de obter um aumento extraordinário de valor graças à proximidade de algum grande empreendimento Consequência disso é um comércio regular baseado na compra de contratos de locação prestes a expirar Dos gentlemen que se dedicam a esse negócio só se pode esperar que atuem como atuam arrancando tudo o que podem dos inquilinos e deixando a casa nas piores 480 condições possíveis para seus sucessores120 Os aluguéis são semanais e os senhorios não correm nenhum risco Em decorrência da construção de estradas de ferro dentro da cidade avistouse recentemente na zona leste de Londres certo número de famílias expulsas de suas antigas moradias a vagar num sábado à noite carregando nas costas seus poucos bens terrenos sem outro paradeiro além da workhouse121 As workhouses já estão superlotadas e as melhorias já aprovadas pelo Parlamento estão apenas no começo de sua execução Se os trabalhadores são expulsos pela demolição de suas velhas casas eles não abandonam sua paróquia ou no melhor dos casos instalamse em seus limites ou na paróquia mais próxima Eles procuram naturalmente residir o mais próximo possível de seus locais de trabalho A consequência é que em vez de dois quartos a família pode alugar apenas um Mesmo com aluguel mais alto a nova moradia é pior do que aquela já ruim da qual foram desalojados Metade dos trabalhadores do Strand tem agora de viajar duas milhas até o local de trabalho Esse Strand cuja rua principal causa aos estrangeiros uma impressão imponente da riqueza de Londres pode servir de exemplo do empacotamento humano nessa cidade Numa das paróquias londrinas o vigilante sanitário contou 581 pessoas por acre embora nessa área estivesse incluída a metade do Tâmisa É evidente que toda medida sanitária que como tem ocorrido até o presente em Londres expulsa os trabalhadores de um bairro pela demolição de casas inabitáveis serve apenas para amontoálos ainda mais densamente em outro bairro Ou todo esse procedimento tem de ser necessariamente suspenso por se tratar de um absurdo diz o dr Hunter ou a simpatia pública tem de acordar para o que agora podemos chamar sem exagero de um dever nacional a saber o de arranjar teto para aqueles que por falta de capital não podem arranjálo por si mesmos mas que mediante pagamento periódico podem recompensar os locadores122 Admiremos a justiça capitalista O proprietário fundiário o dono de casas o homem de negócios quando expropriados em razão de improvements como ferrovias abertura de ruas etc recebem não apenas indenização total mas por sua renúncia forçada tem ainda ser consolados por Deus e pela J ustiça com um lucro considerável O trabalhador é jogado na rua com sua mulher filhos e haveres e caso acorra em massa para bairros onde a municipalidade zela pela decência é perseguido pela polícia sanitária Com exceção de Londres no início do século XI X nenhuma cidade na I nglaterra tinha mais de 100 mil habitantes Apenas cinco cidades tinham mais de 50 mil Hoje existem 28 cidades com mais de 50 mil habitantes O resultado dessa mudança foi não apenas um enorme acréscimo da população urbana mas a transformação das antigas cidadezinhas densamente povoadas em centros cercados de construções por todos os lados sem nenhum acesso livre de ar Como já não são agradáveis para os ricos estes as abandonam por subúrbios mais aprazíveis Os sucessores desses ricos ocupam as casas maiores à razão de uma família para cada aposento e frequentemente com sublocatários Desse modo uma população é comprimida em casas que não lhe estavam destinadas e para cuja finalidade são totalmente inadequadas num ambiente verdadeiramente degradante para os adultos e ruinoso para as crianças123 Quanto mais rapidamente se acumula o capital numa cidade industrial ou comercial tanto mais rápido é o afluxo do material humano explorável e tanto mais miseráveis são as moradias improvisadas dos trabalhadores NewcastleuponTyne 481 como centro de um distrito carbonífero e de mineração cuja produção é cada vez maior ocupa depois de Londres o segundo lugar no inferno da moradia Não menos de 34 mil pessoas vivem lá em moradias de um só cômodo Por serem absolutamente prejudiciais à comunidade a polícia recentemente ordenou a demolição de um grande número de casas em Newcastle e Gateshead O avanço da construção de novas casas é muito lento mas o dos negócios é muito rápido razão pela qual em 1865 a cidade estava mais superlotada do que nunca Praticamente não havia um único quarto para alugar O dr Embleton do hospital de Newcastle para o tratamento de febres afirma Não há dúvidas de que a causa da continuação e propagação do tifo reside no amontoamento de seres humanos e na falta de higiene em suas habitações As casas em que os trabalhadores frequentemente vivem situamse em becos e pátios estreitos Quanto a luz ar espaço e limpeza tais casas são verdadeiros modelos de insuficiência e insalubridade uma vergonha para qualquer país civilizado Nelas durante a noite homens mulheres e crianças deitam amontoados Quanto aos homens o turno da noite sucede ao turno do dia em fluxo ininterrupto de maneira que as camas quase não têm tempo de esfriar As casas são mal supridas de água e pior ainda de latrinas são imundas mal ventiladas pestilentas124 O aluguel semanal dessas bibocas varia de 8 pence a 3 xelins NewcastleuponTyne diz o dr Hunter oferece o exemplo de uma das mais belas linhagens de nossos compatriotas submergida numa degradação quase selvagem devido a circunstâncias externas de moradia e de rua125 Em razão do fluxo e refluxo de capital e trabalho as condições habitacionais de uma cidade industrial podem ser hoje suportáveis e amanhã tornarse abjetas Ou pode ocorrer que os conselheiros municipais se mobilizem finalmente para eliminar as irregularidades mais graves Mas eis que amanhã migra para ela um enxame de gafanhotos de irlandeses maltrapilhos ou de trabalhadores agrícolas ingleses degradados Eles são enfiados em porões e celeiros ou a casa do trabalhador antes respeitável é transformada num alojamento que muda tão rapidamente de inquilinos como as casernas durante a Guerra dos Trinta Anos por exemplo Bradford onde o filisteu estava ocupado precisamente com a reforma urbana Além disso em 1861 havia lá ainda 1751 casas desocupadas Mas eis que chega a época dos bons negócios recentemente cacarejada com tanta graça pelo sr Forster esse terno liberal e amigo dos negros Com os bons negócios também chega naturalmente a inundação provocada pelas ondas do sempre agitado exército de reserva ou superpopulação relativa As repugnantes moradias em porões e quartinhos registradas na lista126 que o dr Hunter obteve do agente de uma companhia de seguros eram habitadas na maioria das vezes por trabalhadores bem pagos Estes declararam que pagariam de bom grado por moradias melhores se elas estivessem disponíveis Enquanto isso degradavamse e adoeciam um após o outro ao mesmo tempo que o terno liberal Forster M P membro da Câmara dos Comuns jorrava lágrimas sobre as bênçãos do livrecâmbio e os lucros obtidos pelas eminentes cabeças de Bradford dedicadas à fabricação de worsted estame No relatório de 5 de setembro de 1865 dr Bell um dos médicos dos indigentes de Bradford explica a terrível mortalidade dos doentes de febre a partir de suas condições habitacionais Num porão de 1500 pés cúbicos moram 10 pessoas As ruas Vincent Green Air Place e The Leys abrigam 223 casas com 1450 habitantes 435 camas e 36 latrinas As camas e por esse termo entendo qualquer amontoado de trapos sujos ou um punhado de gravetos abrigam cada uma em média de 33 pessoas e muitas 482 delas de 4 a 6 Muitos dormem sem cama sobre o solo nu com suas roupas homens e mulheres jovens casados e solteiros todos promiscuamente misturados Será preciso acrescentar que essas habitações são em geral covas malcheirosas escuras úmidas sujas absolutamente inadequadas para a habitação humana São esses os focos de onde se irradiam a doença e a morte que também colhem suas vítimas entre as pessoas bem situadas of good circumstances que permitiram que esses carbúnculos pestilentos se espalhassem em nosso meio127 Depois de Londres Bristol ocupa o terceiro lugar em miséria habitacional Aqui numa das cidades mais ricas da Europa a maior abundância ao lado da mais pura pobreza blank poverty e miséria habitacional128 c A população nômade Voltamonos agora para uma camada da população de origem rural e cuja ocupação é em grande parte industrial Ela constitui a infantaria ligeira do capital que segundo suas próprias necessidades ora a manobra para este lado ora para aquele Quando não está em marcha ela acampa O trabalho nômade é empregado em diversas operações de construção e drenagem na fabricação de tijolos queima de cal construção de ferrovias etc Coluna ambulante da pestilência ela importa para os lugares em cujos arredores instala seu acampamento varíola tifo cólera escarlatina etc129 Em empreendimentos com aplicação considerável de capital como construção de ferrovias etc o próprio empresário costuma fornecer a seu exército choças de madeira ou materiais semelhantes vilarejos improvisados sem nenhuma instalação sanitária à margem do controle das autoridades locais e muito lucrativas para o sr contratista que explora duplamente os trabalhadores como soldados da indústria e como inquilinos Conforme a choça de madeira contenha 1 2 ou 3 buracos seu ocupante terraplenador etc tem de pagar 2 3 ou 4 xelins semanalmente130 Basta um exemplo Em setembro de 1864 relata o dr Simon o ministro do I nterior sir George Grey recebeu do presidente do Nuisance Removal Comittee Comitê para a Eliminação das Moléstias da paróquia de Sevenoaks a seguinte denúncia A varíola era completamente desconhecida nesta paróquia até cerca de 12 meses atrás Pouco antes dessa época iniciaramse aqui os trabalhos de construção de uma ferrovia de Lewisham a Tunbridge Além de as principais obras terem sido executadas na vizinhança imediata dessa cidade aqui também se instalou o depósito principal de toda a obra Desse modo um grande número de pessoas foi aqui empregado Sendo impossível acomodar todos em cottages o contratante sr Jay mandou erguer cabanas em diversos pontos ao longo da linha do trem para abrigo dos trabalhadores Essas cabanas careciam de ventilação e esgoto além de estarem necessariamente superlotadas pois cada inquilino tinha de acolher outros moradores por mais numerosa que fosse sua própria família e ainda que cada cabana tivesse somente dois quartos Conforme o relatório médico que recebemos a consequência era que durante a noite essa pobre gente tinha de suportar todos os tormentos da asfixia para evitar os vapores pestilentos da água suja e parada e das latrinas situadas logo abaixo das janelas Finalmente foram encaminhadas reclamações a nosso comitê por um médico que teve a oportunidade de visitar essas cabanas Ele falava da situação dessas assim chamadas moradias usando as expressões mais severas e temia consequências muito sérias caso algumas medidas sanitárias não fossem adotadas Há cerca de um ano ppn Jay se comprometeu a construir uma casa para a qual seus empregados pudessem ser imediatamente removidos no caso da irrupção de doenças contagiosas Ele reiterou essa promessa ao final de julho último mas nunca deu um único passo para seu cumprimento embora desde essa data tenham ocorrido diversos casos de varíola resultando em duas mortes Em 9 de setembro o médico Kelson relatoume outros casos de varíola nas mesmas cabanas e descreveu sua situação como terrível Para sua do ministro informação devo acrescentar que nossa paróquia possui uma casa isolada a assim chamada casa da peste onde são tratados os paroquianos que sofrem de doenças contagiosas Desde alguns meses essa casa se encontra continuamente superlotada de pacientes Numa família cinco crianças morreram de varíola e febre De 1º de abril a 1º de setembro deste ano houve não menos que 10 mortes por varíola quatro delas nas já referidas cabanas os focos da peste É impossível determinar o número de 483 Os trabalhadores nas minas de carvão e outras minas pertencem às categorias mais bem pagas do proletariado britânico A que preço eles compram seu salário já foi mostrado numa passagem anterior 132 Lançamos aqui um rápido olhar sobre suas condições habitacionais Em regra o explorador da mina seja seu proprietário ou arrendatário construiu uma série de cottages para seus operários Estes recebem gratuitamente tanto o casebre como o carvão para a calefação que constituem uma parte do salário pago in natura Os que não podem ser alojados dessa maneira recebem 4 anuais a título de compensação Os distritos mineiros atraem rapidamente uma grande população composta da própria população mineira e de artesãos comerciantes etc agrupados ao redor dela Como em todo lugar onde a população é densa a renda fundiária é aqui alta Por isso o empresário de minas procura erguer ao redor da mina ao espaço mais estreito possível tantos casebres quantos forem necessários para amontar seus operários e suas famílias Quando novas minas são abertas nos arredores ou velhas minas são reativadas aumenta a superlotação Na construção dos casebres vigoram apenas um critério a renúncia do capitalista a toda dispêndio de dinheiro que não seja absolutamente inevitável trabalhadores etc que o empreendimento atrai que ainda que ele tivesse a intenção de agir liberalmente nessa matéria ela seria frustrada pelo proprietário fundiário Este com efeito tenderia a exigir imediatamente uma renda adicional exorbitante em troca do privilégio de construir sobre a superfície do solo uma aldeia decente e confortável para abrigar os trabalhadores da propriedade subterrânea Esse preço proibitivo se não é proibição de fato atemoriza do mesmo modo outros que estariam dispostos a construir Não pretendo continuar a examinar o valor dessa desculpa tampouco investigar sobre quem recairia em última instância a despesa adicional para construir habitações decentes se sobre o proprietário fundiário o arrendatário da mina o trabalhador ou o público Mas em vista de fatos tão vergonhosos como os revelados nos relatórios anexos dos doutores Hunter Stevens etc é preciso que seja aplicado um remédio Títulos de propriedade da terra são usados desse modo para perpetrar uma grande injustiça pública Em sua qualidade de proprietário da mina o senhor da terra convida uma colônia industrial para trabalhar em seu domínio e em seguida em sua qualidade de proprietário da superfície da terra impossibilita aos trabalhadores por ele reunidos de encontrar habitações adequadas indispensáveis a suas vidas O arrendatário da mina o explorador capitalista não tem qualquer interesse do ponto de vista pecuniário em resistir a essa divisão do negócio pois ele sabe bem que ainda que as pretensões do proprietário sejam exorbitantes as consequências não recairão sobre ele sabe também que seus trabalhadores sobre os quais elas recaem não são suficientemente educados para conhecer seus direitos sanitários e que nem a mais obscena moradia nem a mais podre água de beber jamais serão motivo para provocar uma greve135 d Efeitos das crises sobre a parcela mais bem remunerada da classe trabalhadora Antes de passar aos trabalhadores agrícolas propriamente ditos é preciso mostrar mediante um exemplo como as crises afetam até mesmo a parcela mais bem remunerada da classe trabalhadora sua aristocracia Lembremos que o ano de 1857 trouxe consigo uma das grandes crises com que invariavelmente se encerra o ciclo industrial O prazo seguinte expirou em 1866 Antecipada já nos distritos fabris propriamente ditos pela escassez de algodão que deslocou muito capital das esferas habituais de investimento para as grandes sedes centrais do mercado monetário a crise assumiu nessa ocasião um caráter predominantemente financeiro Sua irrupção em maio de 1866 foi assinalada pela falência de um gigantesco banco londrino seguida imediatamente pela derrocada de inúmeras sociedades praticantes de fraudes financeiras Um dos grandes ramos de negócios londrinos afetado pela catástrofe foi o da construção de navios de ferro Durante o período das fraudes financeiras os magnatas desse negócio haviam não só produzido em demasia mas além disso assumido enormes contratos de fornecimento especulando que a fonte de crédito continuaria a jorrar com a mesma abundância de antes Deuse recentemente uma terrível reação que ainda no momento atual final de março de 1867 continua a afetar outras indústrias londrinas136 Para caracterizar a situação dos trabalhadores reproduzimos a seguir uma passagem extraída de um detalhado relatório de um correspondente do Morning Star que no começo de 1867 visitou os principais centros da calamidade No leste de Londres nos distritos de Poplar Millwall Greenwich Deptford Limehouse e Canning Town encontramse ao menos 15 mil trabalhadores com suas famílias numa situação de extrema miséria entre eles mais de 3 mil mecânicos qualificados Seus fundos de reserva estão esgotados após 6 a 8 meses de desemprego Tive de me esforçar muito para chegar ao portão da workhouse de Poplar pois uma multidão faminta o cercava Esperavam bônus para o pão mas ainda não chegara a hora da distribuição O pátio forma um grande quadrado com uma meiaágua ao largo dos muros Densos montes de neve cobriam o piso no meio do pátio Havia ali certos espaços pequenos fechados com cercas de vime como currais de ovelhas onde os homens trabalhavam quando o tempo estava bom No dia de minha visita os currais estavam tão cheios de neve que ninguém podia permanecer neles Os homens no entanto protegidos pela meiaágua ocupavamse com macadamizar paralelepípedos Cada 485 homem se sentava sobre uma grande pedra e batia com um pesado martelo contra o granito coberto de gelo até quebrar 5 bushels Então ele havia cumprido seu trabalho diário e recebia 3 pence 2 Silbergroschen 6 Pfennige e um bônus para o pão Em outra parte do pátio havia um raquítico casebre de madeira Ao abrir a porta encontramolo repleto de homens apinhados ombro a ombro para aquecerem uns aos outros Destrançavam maroma e disputavam entre si qual deles podia trabalhar mais tempo com um mínimo de comida pois resistência era o point dhonneur ponto de honra Apenas nessa workhouse recebiam sustento 7 mil homens dentre eles várias centenas que 6 ou 8 meses atrás ganhavam os maiores salários pagos a trabalhadores qualificados neste país Seu número seria o dobro se não houvesse tantos que mesmo depois de terem esgotado todas as suas economias ainda assim se recusavam a recorrer à paróquia enquanto dispunham de algo para empenhar Deixando a workhouse dei uma volta pelas ruas a maioria delas margeada por casas de um andar tão numerosas em Poplar Meu guia era um membro da Comissão para os Desempregados A primeira casa em que entramos era de um metalúrgico desempregado há 27 semanas Encontrei o homem com toda a família num quarto dos fundos sentados O quarto não estava inteiramente desprovido de mobília e havia fogo na lareira Isso era necessário para proteger do congelamento os pés descalços das crianças pois era um dia terrivelmente frio Num pratoo em frente ao fogo havia uma quantidade de estopa que a mulher e as crianças desfiavam em troca do pão da workhousep O homem trabalhava num dos pátios anteriormente descritos em troca de um bônus para o pãoq e 3 pence ao dia Ele acabara de retornar à casa para almoçar muito faminto como nos relatou com um sorriso amargo e seu almoço consistia em algumas fatias de pão com banha e uma xícara de chá sem leite A próxima porta em que batemos foi aberta por uma mulher de meiaidade que sem pronunciar uma só palavra conduziunos a um pequeno quarto dos fundos onde se sentava toda a sua família em silêncio com os olhos fixos num fogo mirrado prestes a se extinguir Era tal a desolação o desespero em torno dessas pessoas e seu quartinho que espero jamais voltar a ver uma cena como aquela Não ganharam nada meu senhor disse a mulher apontando para seus filhos por 26 semanas e todo nosso dinheiro se foi todo o dinheiro que eu e o pai economizamos nas épocas mais favoráveis na ilusão de garantir o sustento quando os negócios piorassem Veja gritou ela quase fora de si buscando uma caderneta bancária com todas as anotações regulares do dinheiro depositado e retirado de maneira que podíamos comprovar como seu pequeno patrimônio começara com o primeiro depósito de 5 xelins aumentara pouco a pouco até chegar a 20 e depois voltara a minguar passando de libras a xelins até que o último registro convertia a caderneta em algo tão sem valor quanto um pedaço de papel em branco Essa família recebia uma escassa refeição diária da workhouse Nossa visita seguinte foi à esposa de um irlandês exoperário nos estaleiros navais Encontramola doente por falta de alimentação deitada com suas roupas sobre um colchão mal coberta por um pedaço de tapete pois toda a roupa de cama fora penhorada As crianças miseráveis a cuidavam embora parecessem necessitar eles de cuidados maternos Dezenove semanas de inatividade forçada haviamna reduzido a esse estado e enquanto nos contava a história do amargo passado lamentavase como se tivesse perdido toda esperança num futuro melhor Ao sairmos dessa casa alcançounos um jovem que corria atrás de nós e pediunos que fossemos à sua casa para vermos se alguma coisa podia ser feita por ele Uma jovem esposa duas belas crianças um punhado de recibos de penhor e um quarto totalmente vazio era tudo o que tinha para mostrar Sobre os sofrimentos que se seguiram à crise de 1866 oferecemos aqui o seguinte extrato retirado de um jornal tory Não se pode esquecer que a parte leste de Londres da qual aqui se trata é a sede não só dos construtores de navios de ferro mencionados no texto mas também de um assim chamado trabalho domiciliar invariavelmente remunerado abaixo do mínimo Um espetáculo aterrador se deu ontem numa parte da metrópole Embora os milhares de desempregados da parte leste da cidade não tenham desfilado em massa com suas bandeiras negras a torrente humana foi assaz imponente Recordemos o que sofre essa população Ela morre de fome Esse é o fato simples e terrível Há 40 mil deles Em nossa presença num bairro desta metrópole maravilhosa imediatamente ao lado da mais enorme acumulação de riqueza que o mundo já viu há 40 mil pessoas desamparadas morrendo de fome Esses milhares irrompem agora em outros bairros esses homens que estiveram sempre meio mortos de fome gritam sua aflição em nossos ouvidos clamam aos céus falamnos de seus lares tomados pela miséria que lhes é impossível encontrar trabalho e inútil mendigar Os contribuintes locais obrigados a pagar o imposto de beneficência vêmse eles mesmos arrastados para a beira do pauperismo pelos encargos paroquiais Standard 5 abr 1867 Como entre os capitalistas ingleses está na moda descrever a Bélgica como o paraíso do trabalhador pois dizse que lá a liberdade do trabalho ou o que é o mesmo a liberdade do capital não seria violada nem pelo despotismo das trades 486 unions nem por leis fabris digamos aqui algumas palavras sobre a felicidade do trabalhador belga Seguramente ninguém estava mais profundamente iniciado nos mistérios dessa felicidade do que o falecido sr Ducpétiaux inspetorgeral das prisões e instituições de beneficência belgas e membro da Comissão Central de Estatística Belga Tomemos sua obra Budgets économiques des classes ouvrières en Belgique Bruxelas 1855 Nela encontramos entre outras coisas uma família trabalhadora normal belga cujas despesas e ganhos são calculados segundo dados muito precisos e cujas condições nutricionais são então comparadas com as dos soldados dos marinheiros e dos presidiários A família é constituída por pai mãe e quatro filhos Dessas seis pessoas quatro podem ser ocupadas de modo útil o ano inteiro pressupondose que entre elas não haja doentes nem incapacitados para o trabalho nem despesas para finalidades religiosas morais e intelectuais excetuando um gasto muito módico com assentos na igreja nem aportes a cadernetas de poupança ou de aposentadoria nem gastos com luxo ou outras despesas supérfluas Contudo ao pai e ao primogênito lhes é permitido fumar tabaco e ir à taberna aos domingos para o que se lhes destinam nada menos que 86 cêntimos semanais Da combinação total dos salários pagos aos trabalhadores dos diversos ramos da indústria inferese que a média mais alta de salário diário é 156 franco para os homens 89 cêntimos para as mulheres 56 cêntimos para os rapazes e 55 cêntimos para as moças Calculados sobre essa base os rendimentos da família chegariam no máximo a 1068 francos anuais No orçamento doméstico considerado típico incluímos todas as fontes de receita possíveis Mas ao atribuirmos um salário à mãe privamos a administração doméstica de seu comando quem cuida da casa quem cuida das crianças pequenas Quem deve cozinhar lavar remendar a roupa Esse dilema se apresenta cotidianamente aos trabalhadores O orçamento da família é o seguinte o pai o pai 300 dias de trabalho a 156 franco 46800 francos a mãe 089 26700 o rapaz 056 16800 a moça 055 16500 Total 106800 A despesa anual da família e seu déficit seriam caso o trabalhador tivesse a mesma alimentação do marinheiro 1828 francos Déficit de 760 francos do soldado 1473 405 do presidiário 1172 44 Vemos que poucas famílias de trabalhadores podem obter a alimentação nem dizemos do marinheiro ou do soldado mas mesmo do presidiário Em média cada preso na Bélgica custou diariamente de 1847 a 1849 63 cêntimos o que dá em relação aos custos diários de manutenção do trabalhador uma diferença de 13 cêntimos Os custos de administração e vigilância se compensam em contrapartida pelo fato de que o presidiário não paga aluguel Mas como é possível então que um grande número e poderíamos dizer a grande maioria dos trabalhadores viva em condições ainda mais econômicas Só podem fazêlo recorrendo a expedientes cujo segredo apenas o trabalhador conhece reduzindo sua ração diária comendo pão de centeio em vez de pão de 487 trigo comendo pouca carne ou até mesmo nenhuma fazendo o mesmo com a manteiga e os condimentos amontoando a família em uma ou duas peças onde moças e rapazes dormem juntos frequentemente sobre o mesmo colchão de palha economizando no vestuário na roupa de baixo nos meios de limpeza renunciando aos lazeres dominicais em suma dispondose às mais dolorosas privações Uma vez alcançado esse limite extremo o aumento mais ínfimo nos preços dos meios de subsistência um desemprego uma doença multiplicam a miséria do trabalhador e o arruínam por completo As dívidas se acumulam o crédito é recusado as roupas os móveis mais necessários são recolhidos pela casa de penhores e por fim a família solicita sua inscrição na lista dos indigentes137 De fato nesse paraíso dos capitalistas a menor variação nos preços dos meios de subsistência mais necessários é seguida por uma variação no número de óbitos e delitos Ver Manifesto dos Maatschappij De Vlamingen Vooruit Bruxelas 1860 p 12 A Bélgica inteira conta com 930 mil famílias das quais segundo a estatística oficial 90 mil famílias ricas eleitoras 450 mil pessoas 390 mil famílias de classe média baixa em cidades e vilarejos grande parte das quais sendo continuamente rebaixada ao proletariado 1950 milhão de pessoas Por fim 450 mil famílias de trabalhadores 2250 milhões de pessoas entre as quais as famílias modelares desfrutam da felicidade descrita por Ducpétiaux Das 450 mil famílias trabalhadoras mais de 200 mil estão na lista dos indigentes e O proletariado agrícola britânico Em nenhuma outra parte o caráter antagônico da produção e da acumulação capitalista se manifesta mais brutalmente do que no progresso da agricultura inglesa pecuária incluída e no retrocesso do trabalhador agrícola inglês Antes de examinar a situação atual deste último lancemos um breve olhar retrospectivo A agricultura moderna data na I nglaterra de meados do século XVI I I embora o revolucionamento das relações de propriedade fundiária que constitui a base e o ponto de partida do modo de produção modificado seja muito anterior Se tomamos os dados de Arthur Young observador rigoroso ainda que pensador superficial referentes ao trabalhador agrícola de 1771 veremos que este desempenha um papel muito miserável se comparado com seu antecessor do final do século XI V quando o trabalhador podia viver na abundância e acumular riqueza138 para não falar do século XV a idade de ouro do trabalhador inglês na cidade e no campo Não precisamos porém recuar tão longe no tempo Num escrito muito substancioso de 1777 lêse O grande arrendatárior se elevou quase ao nível do gentleman enquanto o pobre trabalhador rurals foi rebaixado quase ao chão Sua situação desafortunada se mostra claramente por uma análise comparativa entre suas condições atuais e as de 40 anos atrás Proprietário fundiário e arrendatário atuam em conjunto na opressão do trabalhador139 Em seguida demonstrase em detalhes que no campo o salário real caiu de 1737 a 1777 cerca de 14 ou 25 A política moderna diz na mesma época o dr Richard Price favorece as classes superiores da população e a consequência será que mais cedo ou mais tarde o reino todo será composto unicamente de cavalheiros e mendigos ou de senhores e escravos140 Não obstante a situação do trabalhador rural inglês entre 1770 e 1780 tanto no que diz respeito a suas condições alimentares e habitacionais quanto a sua dignidade 488 pessoal suas diversões etc constitui um ideal nunca mais alcançado posteriormente Expresso em pints de trigo seu salário médio chegava de 1770 a 1771 a 90 pints no tempo de Eden 1797 apenas 65 mas em 1808 60141 J á nos referimos anteriormente à situação do trabalhador rural no final da guerra antijacobina durante a qual se enriqueceram tão extraordinariamente os aristocratas fundiários arrendatários fabricantes comerciantes banqueiros especuladores da Bolsa provedores do exército etc O salário nominal aumentou em parte por causa da depreciação dos bilhetes bancários em parte por conta do aumento independente dessa depreciação sofrido pelos preços dos gêneros de primeira necessidade Todavia a variação real dos salários pode ser comprovada de maneira muito simples sem necessidade de recorrer a detalhes que não cabem ser tratados aqui A Lei dos Pobres e sua administração eram as mesmas em 1795 e 1814 Recordese de como essa lei era aplicada no campo sob a forma de esmolas a paróquia completava a diferença entre o salário nominal e a soma nominal necessária à manutenção da mera vida vegetativa do trabalhador A relação entre o salário pago pelo arrendatário e o déficit salarial coberto pela paróquia nos mostra duas coisas primeiro a queda do salário abaixo de seu mínimo segundo a que ponto o trabalhador rural era um composto de assalariado e indigente ou o grau em que fora transformado em servo de sua paróquia Escolhamos um condado que representa a situação média de todos os demais Em 1795 o salário semanal médio em Northamptonshire chegava a 7 xelins e 6 pence o gasto total por ano de uma família de 6 pessoas era de 36 12 xelins e 5 pence sua receita total era de 29 e 18 xelins e o déficit coberto pela paróquia era de 6 14 xelins e 5 pence No mesmo condado em 1814 o salário semanal era de 12 xelins e 2 pence o gasto total anual de uma família de 5 pessoas alcançava 54 18 xelins e 4 pence sua receita total era de 36 e 2 xelins e o déficit coberto pela paróquia era de 18 6 xelins e 4 pence142 em 1795 o déficit não chegava a 14 do salário em 1814 ele era mais da metade Nessas circunstâncias é evidente que em 1814 houvessem desaparecido as parcas comodidades que Eden ainda encontrara no cottage do trabalhador rural143 De todos os animais mantidos pelo arrendatário o trabalhador o instrumentum vocale instrumento falante tornouse a partir de então o mais extenuado o pior alimentado e o que recebe o tratamento mais brutal O mesmo estado de coisas se prolongou tranquilamente até que em 1830 as revoltas de Swingt nos revelaram isto é às classes dominantes à luz dos montes de palha incendiados que a miséria e o sombrio descontentamento sedicioso ardiam de modo igualmente incontrolável tanto sob a superfície da I nglaterra agrícola quanto da industrial144 Naquela ocasião na Câmara Baixa Sadler batizou os trabalhadores rurais de escravos brancos white slaves e um bispo repetiu esse epíteto na Câmara Alta O mais importante economista político daquele período E G Wakefield observa O trabalhador rural do sul da Inglaterra não é escravo nem homem livre é indigente145 A época imediatamente anterior à revogação das leis dos cereais lançou nova luz sobre a situação dos trabalhadores rurais Por um lado interessava aos agitadores burgueses demonstrar quão pouco essas leis protecionistas protegiam o verdadeiro produtor de cereal Por outro lado a burguesia industrial espumava de raiva ante as 489 denúncias que os aristocratas rurais faziam das condições fabris em face da simpatia que esses ociosos degenerados frios e refinados afetavam pelos sofrimentos do trabalhador urbano e diante de seu zelo diplomático pela lei fabril Um velho ditado inglês diz que quando dois ladrões se engalfinham algo de bom sempre ocorre E de fato a rumorosa e apaixonada peleja entre as duas facções da classe dominante para saber qual das duas explorava mais desavergonhadamente o trabalhador tornouse de um lado e de outro a parteira da verdade O conde de Shaftesbury cognome lord Ashley era o paladino da campanha filantrópica dos aristocratas rurais contra as fábricas I sso explica sua conversão em 1844 e 1845 num dos temas prediletos das revelações que o Morning Chronicle fazia sobre as condições de vida dos trabalhadores agrícolas Esse jornal à época o mais importante órgão liberal enviou aos distritos rurais comissários próprios que não se contentavam com descrições gerais e dados estatísticos mas publicavam os nomes tanto das famílias operárias examinadas quanto de seus proprietários fundiários A lista seguinte apresenta os salários pagos em três vilarejos na vizinhança de Blandford Wimbourne e Poole Os vilarejos são propriedades do sr G Bankes e do conde de Shaftesbury Notarseá que esse papa da low churchu esse líder dos pietistas ingleses embolsa novamente a título de aluguel imobiliário uma parte considerável dos salários de cão dos trabalhadores do mesmo modo que o referido Bankes 490 146 A revogação das leis dos cereais deu enorme impulso à agricultura inglesa Drenagem em larga escala147 novo sistema de alimentação do gado nos currais e de cultivo de forragens artificiais in trodução de adubadoras mecânicas novo tratamento do solo argiloso maior uso de adubos minerais aplicação da máquina a vapor e todo tipo de nova maquinaria de trabalho etc e o cultivo mais intensivo em geral caracterizam essa época O presidente da Sociedade Real de Agricultura sr Pusey afirma que graças à maquinaria recémintroduzida os custos relativos da produção foram reduzidos quase à metade Por outro lado o rendimento positivo do solo aumentou rapidamente Uma maior aplicação de capital por acre e portanto uma concentração acelerada dos arrendamentos era a condição fundamental do novo método148 Ao mesmo tempo de 1846 a 1856 a área cultivada se ampliou em 464119 acres para não falar das grandes áreas dos condados do leste que como num passe de mágica foram transformadas de viveiros de coelhos e pobres pastagens em férteis campos de cereais J á sabemos que ao mesmo tempo diminuiu o número total de pessoas ocupadas na agricultura No que diz respeito aos lavradores propriamente 491 As moradias dos mineiros e outros trabalhadores vinculados às minas de Northumberland e Durham diz o dr Julian Hunter talvez sejam em média o pior e mais caro que a Inglaterra oferece em larga escala nesse gênero excetuando porém distritos semelhantes em Monmouthshire A péssima qualidade consiste no número elevado de pessoas por habitação nas pequenas dimensões do terreno sobre o qual são erguidas uma grande quantidade de casas na falta de água e na ausência de latrinas no método frequentemente empregado de construir uma casa sobre a outra ou divididaem flats de modo que diferentes casebres constituem andares sobrepostos uns aos outros O empresário trata toda a colônia como se ela apenas acamasse não residisse135 Segundo as instruções diz o dr Stevens visitei as grandes ilhas menores de Durham Union com pouquíssimas exceções de todas as que se pode assegurar a saída dos moradores por negligência Todos os mineiros de carvão estavam vinculados bound expressão que como bond servidão veio da época da gleba por dois meses ao arrendatário leased ou proprietário da mina Caso os mineiros deem vago a sua intenção e não compareçam à mina os mesmos são punidos com um remanescente ao lado de seus nomes no livro de supervisão e os dispensam no novo recrutamento anula Pareceme que nenhum tipo de truck system sistema de pagamento com bônus pode ser pior do que o que impõe nessas distritos densamente povoados O trabalhador vêse obrigado a receber como parte de seu salário uma casa cercada de emanações pestilenciais Não pode ajudar a si mesmo Para todos de seu proprietário nas este último leva em conta antes de tudo seu balanço e o resultado é praticamente nulo A partir das tabelas anexadas ao primeiro volume do relatório organizouse o seguinte quadro comparativo Importe nutricional semanal158a Ingredientes com nitrogênio Ingredientes sem nitrogênio Ingredientes minerais Total Onças Onças Onças Onças Criminosos na prisão de Portland 2895 15006 468 18369 Marinheiro da Marinha Real 2963 15291 452 18706 Soldado 2555 11449 394 14398 Construtor de carruagens trabalhador 2453 16206 423 19082 Tipógrafo 2124 10083 312 12519 Trabalhador rural 1773 11806 329 13908 O leitor já conhece o resultado geral a que chegou a comissão médica que em 1863 investigou as condições nutricionais das classes populares mais mal alimentadas Ele se recordará de que a dieta de uma grande parcela das famílias de trabalhadores rurais encontrase abaixo do mínimo necessário à prevenção de doenças ocasionadas pela fome Esse é o caso principalmente em todos os distritos puramente agrícolas de Cornwall Devon Somerset Wilts Stafford Oxford Berks e Herts A alimentação que o trabalhador rural obtém diz o dr Smith é maior do que a indicada pela quantidade média pois ele mesmo recebe uma parte de meios de subsistência muito maior do que a dos demais membros da família parte esta indispensável para seu trabalho e que nos distritos mais pobres consiste quase inteiramente de carne e bacon A quantidade de alimentos que cabe à mulher assim como às crianças em sua fase de crescimento é em muitos casos e em quase todos os condados deficiente principalmente em nitrogênio159 Os criados e as criadas que moram com os arrendatários são alimentados em abundância Seu número caiu de 288277 em 1851 para 204962 em 1861 O trabalho das mulheres nos campos diz o dr Smith sejam quais forem os inconvenientes que sempre o acompanham é sob as atuais circunstâncias de grande vantagem para a família pois lhes proporciona os meios para providenciar calçados roupas e pagar o aluguel e assim permite que ela se alimente melhor160 Um dos resultados mais notáveis dessa investigação foi que o trabalhador agrícola da I nglaterra é muito pior alimentado do que o das outras partes do Reino Unido is considerably the worst fed como mostra a tabela seguinte Consumo semanal de carbono e nitrogênio do trabalhador rural médio Carbono grãos Nitrogênio grãos Inglaterra País de Gales Escócia Irlanda 40673 48354 48980 43366 1594 2031 2348 2434161 493 Cada página do relatório do dr Hunter diz o dr Simon em seu relatório sanitário oficial fornece testemunho da quantidade insuficiente e da qualidade miserável das moradias de nosso trabalhador rural E há muitos anos sua situação tem piorado progressivamente nesse sentido Agora tornouse muito mais difícil para ele encontrar uma habitação e quando a encontra ela corresponde muito menos a suas necessidades do que talvez era o caso há séculos atrás Especialmente nos últimos vinte ou trinta anos o mal se intensificou com grande rapidez e as condições habitacionais do homem do campo são hoje deploráveis no mais alto grau Exceto quando aqueles que se enriquecem com seu trabalho consideram valer a pena tratálo com uma espécie de compassiva indulgência o trabalhador rural se encontra totalmente desamparado nesse ponto Se ele encontra moradia na terra que cultiva se ela é adequada a seres humanos ou a porcos se dispõe ou não de um pequeno jardim que tanto alivia a pressão da pobreza tudo isso não depende de preferência ou capacidade de pagar um aluguel razoável mas do uso que outros queiram fazer de seu direito de fazer o que quiser com sua propriedade Por maior que seja um arrendamento nenhuma lei estabelece que nele deve haver determinado número de moradias para trabalhadores e muito menos que elas tenham de ser decentes do mesmo modo a lei não reserva ao trabalhador o mínimo direito ao solo para o qual seu trabalho é tão necessário como a chuva e o sol Uma circunstância notória lança ainda um grave peso na balança contra ele a influência da Lei dos Pobres com suas disposições sobre domicílio e encargos de beneficência162 Sob sua influência cada paróquia tem um interesse pecuniário em restringir a um mínimo o número de trabalhadores rurais nela residentes pois infelizmente o trabalho agrícola em vez de garantir uma independência segura e permanente ao homem laborioso e a sua família conduz apenas na maior parte do casos e por um percurso mais longo ou mais breve ao pauperismo Um pauperismo que durante todo o caminho está tão próximo que toda doença ou falta transitória de ocupação obrigam a recorrer imediatamente à assistência paroquial razão pela qual todo assentamento de uma população agrícola numa paróquia signifique evidentemente um aumento em seus encargos de beneficência Aos grandes proprietários fundiários163 basta decidir que em suas propriedades não devem ser construídas moradias para trabalhadores e assim eles se livram imediatamente de metade de sua responsabilidade em relação aos pobres Em que medida a constituição e a lei inglesas têm como objetivo sancionar essa espécie de propriedade irrestrita do solo graças à qual um landlord que faz o que quer com o que é seu pode tratar os agricultores como forasteiros e expulsálos de sua propriedade é uma questão que escapa aos limites de minha investigação Esse poder de desalojar não existe só na teoria Ele se exerce na prática na mais ampla escala Ele é uma das circunstâncias que regem as condições habitacionais do trabalhador rural A extensão do mal pode ser julgada pelo último censo segundo o qual durante os últimos 10 anos apesar da maior demanda local por moradia a demolição de casas progrediu em 821 diferentes distritos da Inglaterra de modo que sem levar em conta as pessoas forçadas a se tornar não residentes isto é não residentes nas paróquias em que trabalham em 1861 comparado com 1851 uma população 513 maior foi comprimida num espaço 412 menor Quando o processo de despovoamento tiver alcançado sua meta diz o dr Hunter o resultado será um vilarejo de cenografia showvillage onde os cottages terão sido reduzidos a uns poucos e onde ninguém terá permissão para viver a não ser pastores de ovelhas jardineiros ou guardas florestais servidores regulares que recebem de seus magnânimos senhores o bom tratamento habitualmente dispensado a essas classes164 Mas a terra exige cultivo e não se pode esquecer que os trabalhadores nela ocupados não são inquilinos do proprietário fundiário mas procedem de um vilarejo aberto situado talvez a três milhas de distância onde uma numerosa classe de pequenos proprietários de casas os abrigaram após a destruição de seus cottages nos vilarejos fechados Quando as coisas tendem a esse resultado os cottages costumam testemunhar com sua aparência miserável o destino a que estão condenados Podemos encontrálos em seus vários estágios de decadência natural Enquanto o teto não vem abaixo permitese ao trabalhador pagar aluguel e ele fica geralmente muito contente em poder fazêlo mesmo tendo de pagar o mesmo preço de uma boa moradia Mas não se realiza nenhum conserto nenhuma melhoria exceto os que possam ser providenciados pelo inquilino sem tostão E por fim quando se torna totalmente inabitável temse apenas um cottage destruído a mais e um imposto de beneficência a menos Enquanto os grandes proprietários se livram dessa maneira do imposto de beneficência despovoando as terras por eles controladas o povoamento ou o vilarejo aberto mais próximo recebe os trabalhadores expulsos o mais próximo digo eu mas esse mais próximo pode muito bem estar a três ou quatro milhas da fazenda onde o trabalhador tem de se esfalfar dia após dia Assim à sua labuta diária é adicionada como se fosse pouca coisa a necessidade de marchar de seis a oito milhas diárias para poder ganhar seu pão de cada dia Todo o trabalho agrícola executado por sua mulher e filhos se efetua sob as mesmas circunstâncias agravantes E esse não é todo o mal que a distância lhe causa No vilarejo aberto especuladores imobiliários compram retalhos de terreno que eles semeiam tão densamente quanto possível com as mais baratas espeluncas que se possam conceber E nessas habitações miseráveis que mesmo quando dão para o campo aberto compartilham das características mais monstruosas das piores moradias urbanas amontoamse os trabalhadores agrícolas da Inglaterra165 Por outro lado não se deve imaginar que o trabalhador alojado na mesma terra que cultiva encontra uma moradia que faça jus à sua vida de produtiva industriosidade Mesmo nas propriedades rurais mais principescas seu cottage costuma ser da mais lamentável espécie Há landlords que acreditam que um estábulo é bom o suficiente para seus trabalhadores e 494 respectivas famílias e que mesmo assim não desdenham extrair de seu aluguel todo o dinheiro possível166 Ainda que se trate de uma cabana em ruínas com apenas um dormitório sem fogão sem latrina sem janelas que possam ser abertas sem água corrente exceto a da fossa sem jardim o trabalhador está desamparado contra a injustiça E nossas leis de polícia sanitária The Nuissances Removal Acts são letra morta Sua aplicação é confiada justamente aos proprietários que alugam esses buracos É necessário que não nos deixemos ofuscar por cenas mais resplandecentes porém excepcionais deixando de atentar para a preponderância acachapante de fatos que constituem uma mácula vergonhosa para a civilização inglesa Terrível deve ser com efeito o estado de coisas quando apesar da notória monstruosidade das habitações atuais observadores competentes chegam à conclusão unânime de que mesmo a indignidade geral das moradias é um mal infinitamente menos premente do que sua mera escassez numérica Há anos a superlotação das moradias dos trabalhadores rurais tem sido um objeto de profunda preocupação não só para aqueles que se importam com a saúde mas para todos que valorizam uma vida decente e moral Pois repetidas vezes com expressões tão uniformes que parecem estereotipadas os autores dos relatórios sobre a propagação de doenças epidêmicas nos distritos rurais denunciam a superlotação habitacional como causa que frustra por inteiro toda tentativa de conter uma epidemia já iniciada E repetidas vezes foi demonstrado que apesar das muitas influências saudáveis da vida rural a aglomeração que tanto acelera a propagação de doenças contagiosas favorece também o surgimento de doenças não contagiosas E as pessoas que denunciaram essa situação não silenciaram sobre outro mal Mesmo quando seu tema original se limitava ao cuidado com a saúde elas foram praticamente obrigadas a se ocupar de outros aspectos do problema Ao mostrar o quão frequentemente adultos de ambos os sexos casados e solteiros são amontoados huddled em dormitórios estreitos seus relatórios tinham necessariamente de gerar a convicção de que nas circunstâncias descritas o sentimento de pudor e a decência se degradam do modo mais grosseiro provocando quase necessariamente a ruína de toda moralidade167 Por exemplo no apêndice de meu último relatório o dr Ord em seu informe sobre a epidemia de febre em Wing em Buckinghamshire menciona como chegou a esse lugar um jovem de Wingrave com febre Nos primeiros dias de sua enfermidade ele dormiu num quarto com nove outras pessoas Em duas semanas várias dessas pessoas foram afetadas e no curso de poucas semanas cinco das nove apresentaram febre e uma delas morreu Ao mesmo tempo o dr Harvey do hospital de Saint George que por motivo de sua prática privada visitara Wing durante o período da epidemia fezme um relato no mesmo sentido Uma jovem mulher com sintoma de febre dormia à noite no mesmo quarto que seu pai sua mãe seu filho bastardo seus 2 jovens irmãos e suas 2 irmãs cada uma com um filho bastardo totalizando 10 pessoas Poucas semanas antes 13 crianças dormiam na mesma peça168 O dr Hunter investigou 5375 cottages de trabalhadores rurais não apenas nos distritos puramente agrícolas mas em todos os condados da I nglaterra Desses 5375 2195 tinham um único quarto de dormir que frequentemente também servia de sala de estar 2930 apenas dois e 250 mais de dois Oferecemos a seguir um breve florilégio correspondente a uma dúzia de condados 1 Bedfordshire Wrestlingworth dormitórios de cerca de 12 pés de comprimento e 10 de largura embora muitos sejam menores O pequeno casebre de um só piso costuma ser dividido com tapumes em dois quartos de dormir é comum colocar uma cama numa cozinha de 5 pés e 6 polegadas de altura O aluguel é de 3 Os locatários têm de construir suas próprias latrinas o proprietário da casa não fornece mais do que uma fossa Sempre que alguém constrói uma latrina esta é utilizada por toda a vizinhança Uma casa denominada Richardson era de uma beleza inigualável Suas paredes de argamassa se arqueavam como um vestido feminino em genuflexão Uma águamestra era convexa a outra côncava e sobre a última havia de modo infeliz uma chaminé um cano torto feito de argila e madeira e semelhante a uma tromba de elefante Um varapau servia de escora para evitar a queda da chaminé A porta e a janela tinham forma romboide De 17 casas visitadas apenas 4 dispunham de mais de 1 quarto de dormir e todas as 4 estavam superlotadas Os cots cottages de um piso com 1 único 495 quarto de dormir abrigavam 3 adultos e 3 crianças 1 casal com 6 filhos etc Dunton aluguéis elevados entre 4 a 5 sendo 10 xelins o salário semanal dos homens Esperam obter o dinheiro para o aluguel com o entrançado de palha efetuado pela família Quanto mais elevado o aluguel tanto maior o número de pessoas que tem de se reunir para pagálo Seis adultos e quatro crianças num único dormitório pagam um aluguel de 3 e 10 xelins A casa mais barata em Dunton com medidas externas de 15 pés de comprimento por 10 de largura estava alugada por 3 Apenas uma das 14 casas investigadas tinha 2 dormitórios Pouco antes do vilarejo havia uma casa cujos moradores estercaram suas paredes externas umas 9 polegadas da parte inferior da porta havia desaparecido carcomida num simples processo de putrefação à noite o buraco é engenhosamente tapado com alguns tijolos recobertos com uma esteira Metade de uma janela incluindo vidro e moldura já havia percorrido o caminho de toda carnev Aqui privados de móveis amontoavamse três adultos e cinco crianças Dunton não é pior que o resto da Biggleswade Union 2 Berkshire Beenham em junho de 1864 um homem sua mulher e quatro filhos viviam num cot cottage de um piso Uma filha que trabalhava como serviçal voltou para casa com escarlatina Morreu Uma criança adoeceu e morreu A mãe e um filho sofriam de tifo quando o dr Hunter foi chamado O pai e uma das crianças dormiam fora da casa mas a dificuldade de assegurar o isolamento ficou aqui evidente pois a roupa da casa atingida pela febre se amontoava à espera de ser lavada no apinhado mercado do miserável vilarejo O aluguel da casa de H 1 xelim por semana 1 dormitório para um casal e seis crianças Uma casa alugada a 8 pence semanais 14 pés e 6 polegadas de comprimento 7 pés de largura cozinha de 6 pés de altura o dormitório sem janela sem lareira sem porta nem abertura que não uma única para o corredor e nenhum jardim Nela um homem vivera há pouco com duas filhas adultas e um filho em crescimento pai e filho dormiam na cama as moças no corredor Enquanto a família aí viveu cada uma teve um filho mas uma foi para a workhouse para o parto e depois voltou para casa 3 Buckinghamshire Trinta cottages sobre mil acres de terreno abrigam de 130 a 140 pessoas A paróquia de Brandenham abrange mil acres em 1851 ela tinha 36 casas e uma população de 84 pessoas do sexo masculino e 54 do sexo feminino Essa desigualdade entre os sexos foi sanada em 1861 quando havia 98 homens e 87 mulheres o que corresponde a um aumento em 10 anos de 14 homens e 33 mulheres Entrementes o número de casas havia diminuído em uma unidade Winslow grande parte do vilarejo foi recémconstruída em bom estilo a demanda de casas parece ser importante já que cots muito miseráveis são alugados por 1 xelim e por 1 xelim e 3 pence por semana 496 Water Eaton aqui os proprietários em vista do crescimento populacional demoliram cerca de 20 das casas existentes Um pobre trabalhador que tinha de andar umas 4 milhas até seu local de trabalho respondeu à pergunta se não encontraria um cot mais perto Não eles vão evitar a todo custo alojar um homem com uma família grande como a minha Tinkers End em Winslow um dormitório habitado por 4 adultos e 5 crianças com 11 pés de comprimento 9 pés de largura 6 pés e 5 polegadas de altura no ponto mais elevado outro com 11 pés e 7 polegadas de comprimento 9 pés de largura 5 pés e 10 polegadas de altura abrigava 6 pessoas Cada uma dessas famílias tinha menos espaço do que o necessário para um condenado às galés Nenhuma casa dispunha de mais de um dormitório e nenhuma tinha porta dos fundos Água muito raramente O aluguel semanal era de 1 xelim e 4 pence até 2 xelins Em 16 das casas examinadas apenas um único homem ganhava 10 xelins por semana No caso anteriormente mencionado o volume de ar de que cada pessoa dispunha era equivalente ao que ela teria se passasse a noite encerrada numa caixa de 4 pés cúbicos J á os velhos casebres certamente oferecem uma boa quantidade de ventilação natural 4 Cambridgeshire Gamblingay pertence a diversos proprietários e contém os mais miseráveis cots que podem ser encontrados em qualquer lugar Muito entrançado de palha Uma lassidão mortal uma resignação desalentada à imundície imperam em Gamblingay A negligência no centro do vilarejo se converte em tortura em seus extremos norte e sul onde as casas caem aos pedaços apodrecidas Os donos das terras ausentes sangram com avidez a miserável aldeola Os aluguéis são muito altos de oito a nove pessoas vivem comprimidas num quarto onde só caberia uma pessoa em dois casos seis adultos cada um com uma ou duas crianças compartilham um pequeno dormitório 5 Essex Nesse condado em muitas paróquias correm paralelas a redução do número de pessoas e de cottages Em não menos de 22 paróquias no entanto a demolição de casas não conteve o crescimento populacional ou em outras palavras não provocou a expulsão que sob o nome de migração para as cidades ocorre por toda parte Em Fingringhoe uma paróquia de 3443 acres havia em 1851 145 casas em 1861 apenas 110 mas o povo se recusou a deixar o lugar e logrou aumentar seu número mesmo encontrandose sob tal tratamento Em Ramsden Crays em 1851 havia 252 pessoas em 61 casas mas em 1861 262 pessoas se espremiam em 49 casas Em Basildon viviam em 1851 sobre uma área de 1827 acres 157 pessoas em 35 casas ao final do decênio havia 180 pessoas em 27 casas Nas paróquias de Fingringhoe South Fambridge Widford Basildon e Ramsden Crays viviam em 1851 sobre uma área de 8449 acres 1392 pessoas em 316 casas em 1861 sobre a mesma área havia 1473 pessoas em 249 casas 497 6 Herefordshire Esse pequeno condado sofreu mais com o espírito de desalojamento do que qualquer outro na I nglaterra Em Madley os cottages superlotados a maioria com dois dormitórios pertencem em grande parte aos arrendatários Estes não encontram dificuldade em alugálos por 3 ou 4 por ano e pagam um salário semanal de 9 xelins 7 Huntingdonshire Em 1851 Hartford tinha 87 casas pouco depois 19 cottages foram destruídos nessa pequena paróquia de 1720 acres população em 1831 452 pessoas em 1851 382 e em 1861 341 Foram investigados 14 cots de 1 dormitório Num deles 1 casal com 3 filhos adultos 1 filha adulta 4 crianças num total de 10 pessoas em outro 3 adultos 6 crianças Um desses quartos onde dormiam 8 pessoas tinha 12 pés e 10 polegadas de comprimento 12 pés e 2 polegadas de largura 6 pés e 9 polegadas de altura a altura média sem descontar as saliências era de 130 pés cúbicos por cabeça Nos 14 dormitórios 34 adultos e 33 crianças Esses cottages eram raramente providos de hortas mas muitos dos moradores podiam arrendar um pequeno lote de terra a 10 ou 12 xelins por rood 14 de acre Esses allotments loteamentos ficam longe das casas desprovidas de latrinas A família tem optar entre ir até seu lote para lá depositar seus excrementos ou digamos com a devida vênia tem de encher com eles a gaveta de um armário Assim que está cheia retiramna e despejam seu conteúdo onde ele é necessário No Japão o ciclo das condições de vida transcorre com mais asseio 8 Lincolnshire Langtoft um homem vive aqui na casa de Wright com a mulher a sogra e cinco filhos a casa tem cozinha frontal copa dormitório sobre a cozinha frontal a cozinha frontal e o dormitório medem 12 pés e 2 polegadas de comprimento 9 pés e 5 polegadas de largura a área inteira tem 21 pés e 3 polegadas de comprimento 9 pés e 5 polegadas de largura O dormitório é uma águafurtada As paredes convergem no teto no formato de um pão de açúcar e uma janela de alçapão se abre na fachada Por que ele morava ali Horta Extraordinariamente minúscula Aluguel Alto 1 xelim e 3 pence por semana Perto de seu trabalho Não 6 milhas distante de modo que ele tinha de andar 12 milhas diárias entre ida e volta Ele morava ali porque era um cot alugável e porque queria ter um cot só para si em qualquer lugar a qualquer preço em qualquer estado de conservação Segue a estatística de 12 casas em Langtoft com 12 dormitórios 38 adultos e 36 crianças 12 casas em Langtoft 498 9 Kent Kennington tristemente superlotada em 1859 ano em que surgiu a difteria e o médico da paróquia efetuou uma investigação oficial sobre a situação das classes populares mais pobres Verificouse que nessa localidade onde era necessário muito trabalho diversos cots haviam sido destruídos e nenhum novo construído Num distrito havia quatro casas chamadas de birdcages gaiolas de pássaros cada uma dispondo de 4 cômodos com as seguintes dimensões em pés e polegadas Cozinha 95 811 66 Copa 86 46 66 Dormitório 85 510 63 Dormitório 83 84 63 10 Northamptonshire Brixworth Pitsford e Floore nesses vilarejos durante o inverno de 20 a 30 homens vagabundeiam pelas ruas por falta de trabalho Os arrendatários nem sempre cultivam suficientemente as terras apropriadas ao plantio de cereais e tubérculos e o landlord considerou conveniente fundir todos os seus arrendamentos em 2 ou 3 Daí decorre a falta de ocupação Enquanto de um lado do fosso o campo clama por trabalho do outro lado os trabalhadores ludibriados lançamlhe olhares ansiosos Febrilmente sobrecarregados de trabalho no verão e meio mortos de fome no inverno não é de admirar que em seu próprio dialeto digam que the parson and gentlefolks seem frit to death at them o cura e os nobres parecem ter conjurado para acossálos até a morte Em Floore há exemplos de casais com 4 5 6 crianças num dormitório dos mais exíguos idem 3 adultos com 5 crianças idem 1 casal com o avô e 6 crianças com escarlatina etc em 2 casas com 2 dormitórios 2 famílias formadas por 8 e 9 adultos respectivamente 499 Um aspecto perturbador é a constante transformação dos trabalhadores rurais em supraumanitários por meio de concentração dos arrendatários a transformação de lavouras em pastagens a maquinização etc e o constante deslocamento da população rural pela destruição dos cottages andam de mãos dadas Quanto mais despojado o distrito tanto maiores sua superpopulação relativa e a pressão que esta última exerce sobre os meios de ocupação tanto maior o excedente absoluto da população rural em relação a seus meios habitacionais e tanto maiores portanto a superpopulação local e o amontoados mais pestilencial de seres humanos nos vilarejos O condenamento do aglomerado humano em pequenos vilarejos e povoados esparsos corresponde ao violento esvaziamento populacional da área rural A interrompida transformação dos trabalhadores rurais em supraumanitários apesar de seu número decrescente e de sua massa crescente de seu produto é o berço de seu pauperismo Seu pauperismo eventual é um dos motivos que se invocam para seu desalojamento e a fonte principal de sua matéria habitacional que quebra sua última capacidade de resistência e os converte em moradores escravos dos senhores fundiários e arrendatários de modo que o mínimo de salário se consolida para eles como a lei natural Por outro lado o campo em que pese sua superpopulação relativa está ao mesmo tempo subpovoado Isso se mostra não só localmente através pontos de fluxo humano pra cidades nas construções de ferrovias etc avança com demasiada rapidez mas também em toda parte tanto na Os trabalhadores agrícolas são sempre em número excedente para as necessidades médias e sempre em número insuficiente para as necessidades excepcionais ou temporárias da lavoura170 Por isso nos documentos oficiais encontramse queixas contraditórias procedentes das mesmas localidades acerca da falta de trabalho e excesso de trabalho ao mesmo tempo A falta temporária ou localizada de mão de obra não suscita nenhum aumento de salário mas pressiona mulheres e crianças ao trabalho na lavoura e o recrutamento de trabalhadores de faixas etárias cada vez mais baixas Tão logo a exploração de mulheres e crianças ganha maior espaço ela se torna por sua vez um novo meio de transformar trabalhadores rurais masculinos em suprimenurários e de manter o baixo nível de seus salários Na parte oriental da Inglaterra vigeja um belo fruto desse cercle vicieux círculo vicioso o assim chamado gangsystem sistema de turmas ou bandos ao qual dedicaremos aqui algumas considerações171 O sistema de turmas funciona quase exclusivamente em Lincolnshire Huntingdonshire Cambridgeshire Norfolk Suffolk e Nottinghamshire esporadicamente nos condados vizinhos de Northampton Bedford e Rutland Tomemos aqui como exemplo Lincolnshire Grande parte deste condado é formada por terras novas antigos pântanos ou como em outros condados orientais a que aludimos por terras recémconquistadas ao mar A máquina a vapor operou milagres quanto a drenagem O que antes era pântano e solo arenoso agora exibe um abundante mar de trigo e as mais elevadas rendas fundiárias O mesmo se aplica às terras de rurais conquistadas artificialmente como na ilha de Axholme e nas demais paróquias às margens do Trent À medida que foram surgindo novos arrendamentos não só não foram construídos novos cottages mas muitos dos antigos foram demolidos a oferta de trabalho era obtida nos vilarejos abertos distantes várias milhas e situados à margem das estradas rurais que serpenteiam pelas encostas das colinas Tais vilarejos eram o único abrigo que a população encontrava contra as demoras enchentes de inverno Nos arrendamentos de 400 a 1000 acres os trabalhadores aqui chamados de confined labourers trabalhadores confinados servem exclusivamente para o trabalho agrícola pesado e permanente efetuado com cavalos Para cada 100 acres 1 acre 4049 ares ou 1584 Morgen prussianos há em média apenas um cottage Um arrendatário de fenland terra conquistada aos pântanos há de clara à Comissão de Inquérito Meu arrendamento cobre 320 acres todos os terras para o plantio de cereais Não há nenhum cottage Um trabalhador mora atualmente em minha casa Tenho quatro homens que trabalham com os cavalos e residem nos arredores O trabalho leve para o qual são necessários muitos braços é realizado por turmas172 de todos está o gangmaster chefe de turma sempre um trabalhador agrícola comum geralmente um assim chamado mau sujeito pervertido inconstante bêbado mas dotado de certo espírito empreendedor e savoirfaire Ele recruta a turma que trabalha sob suas ordens não sob as do arrendatário Com este último ele estabelece um acordo baseado na maioria das vezes no pagamento por peça e seu ganho que em média não se eleva muito acima do de um trabalhador rural comum173 depende quase inteiramente de sua habilidade em fazer com que sua turma ponha em movimento no menor tempo a maior quantidade possível de trabalho Os arrendatários descobriram que as mulheres só trabalham ordenadamente sob ditadura masculina mas que mulheres e crianças uma vez em movimento como já o sabia Fourier gastam sua energia vital de modo verdadeiramente impetuoso ao passo que o trabalhador masculino adulto é tão malandro que a economiza o máximo que pode O chefe de turma se transfere de uma fazenda a outra e assim ocupa seu bando de 6 a 8 meses por ano Ser seu cliente é por isso muito mais rentável e seguro para as famílias trabalhadoras do que ser cliente do arrendatário individual que só ocasionalmente ocupa crianças Essa circunstância reforça sua influência nas localidades abertas a tal ponto que na maioria das vezes é apenas por seu intermédio que crianças podem ser contratadas A exploração individual destas últimas separadas da turma constitui seu negócio acessório Os pontos fracos do sistema são o sobretrabalho das crianças e dos jovens as enormes marchas que fazem diariamente para ir e vir de fazendas situadas a 5 6 e às vezes 7 milhas de distância e por fim a desmoralização da turma Embora o chefe de turma que em algumas regiões é denominado the driver o feitor esteja munido de uma longa vara ele só a emprega muito raramente e queixas quanto a tratamento brutal são exceção Tratase de um imperador democrático ou de uma espécie de flautista de Hamelinx Necessita pois da popularidade entre seus súditos e os seduz por meio da vida boêmia que floresce sob seus auspícios Uma licenciosidade crua um descomedimento alegre e a audácia mais obscena dão asas à turma Na maioria das vezes o chefe de turma efetua os pagamentos numa taberna e mais tarde volta para casa cambaleando sustentado à direita e à esquerda por robustas mulheres e seguido por um cortejo de crianças e adolescentes que alvoroçam e entoam cantigas zombeteiras e obscenas No caminho de volta impera aquilo que Fourier chama de fanerogamiaw É comum que mocinhas de 13 a 14 anos engravidem de seus companheiros de mesma idade Os vilarejos abertos que fornecem o contingente da turma convertemse em Sodomas e Gomorras174 e geram duas vezes mais nascimentos ilegítimos do que o resto do reino J á indicamos anteriormente como as moças criadas nessa escola procedem quando casadas no terreno da moralidade Seus filhos se o ópio não os liquida são recrutas natos da turma A turma na forma clássica que descrevemos anteriormente chamase turma pública comum ou ambulante public comon or tramping gang Há também com efeito turmas privadas private gangs Estas são formadas como a turma comum mas são menos numerosas e em vez de trabalharem sob as ordens do chefe de turma fazemno sob o comando de um velho criado rural que o arrendatário não sabe como utilizar melhor Aqui o espírito boêmio desaparece mas conforme todos os 502 A propriedade garantida por lei aos camponeses empobrecidos de uma parte dos dízimos da Igreja foi tacitamente confiscada195 Pauper ubique jacet exclamou a rainha Elizabeth após um giro pela Inglaterra No 43º ano de seu reinado não havia mais como impedir o reconhecimento oficial do pauperismo mediante a introdução dos impostos de beneficiência Os autores dessa lei se envergonharam de enunciar suas razões e por isso violando toda tradição lançaramna ao mundo sem nenhum preamble exposição de motivos196 A lei 16 Carolus I 4 estabeleceu a perpetuidade desse imposto e na realidade desde 1834 ela recebia uma nova forma mais rígida197 Esses efeitos indéditos da Reforma não foram os mais perduráveis A propriedade da Igreja constituía o baluarte religioso das antigas regras de propriedade da terra Com a ruína daquela então não podiam se manter198 Ainda nas últimas décadas do século XVII ayeomanry uma classe de camponeses independentes era mais numerosa que a classe dos arrendatários Ela constitui a força principal de Cromwell e como reconhece o próprio Macaulay era superior aos sórdidos fidalgos bêbados e seus lacaíos obrigados a deparar a criada favorita do senhor Os assalariados rurais ainda eram propriedades da propriedade comunal Em torno de 1750 a ayeomanry havia desaparecido199 e nas últimas décadas do século XVIII o último resquício de propriedade comunal do lavradores Abstraímos aqui as forças motrizes puramente econômicas da revolução agrícola O que procuramos são meios violentos pela empregados Sob a restauração dos Stuarts os proprietários fundiários instituíram legalmente uma usurpação que em todo o continente também foi realizada sem formalidades legais Eles aboliram o regime feudal da propriedade da terra isto é liberaram esta última de seus encargos estatais indenizaram o Estado por meio de impostos sobre os camponeses e o restante da massa do povo reivindicaram a moderna propriedade privada de bens sobre os quais só possuíam títulos feudais e por fim outorgaram essas leis de assentamento laws of settlement que mutatis mutandis tiveram sobre os lavradores iguais ou os mesmos efeitos que o édito do tártaros Boris Godunov sobre os testemunhos o pagamento e o tratamento das crianças pioram O sistema de turmas que nos últimos anos se tem ampliado de maneira constante175 não existe evidentemente para agradar ao chefe de turma Existe para enriquecer os grandes arrendatários176 ou dependendo do caso os senhores fundiários177 Para o arrendatário não há método mais engenhoso que o permita manter seus trabalhadores muito abaixo do nível normal e não obstante ter sempre disponível para todo trabalho extra a mão de obra necessária assim como para extrair o máximo de trabalho178 com o mínimo de dinheiro e tornar supranumerário o trabalhador masculino adulto A partir da discussão anterior compreendese que por um lado admitase a maior ou menor desocupação do homem do campo e por outro declarese como necessário o sistema de turmas em razão da falta de mão de obra masculina e de seu êxodo para as cidades179 O campo livre de ervas daninhas e a danação humana de Lincolnshire etc são o polo e o contrapolo da produção capitalista180 f Irlanda Para concluir esta seção temos de nos voltar brevemente à I rlanda Primeiro vejamos os fatos que aqui nos interessam A população da I rlanda aumentara em 1841 a 8222664 pessoas em 1851 reduziu se a 6623985 em 1861 5850309 e em 1866 512 milhões isto é aproximadamente a seu nível de 1801 O decréscimo começou com o ano da fome de 1846 de maneira que em menos de 20 anos a I rlanda perdeu mais de 516 de sua população181 O número total da emigração de maio de 1851 a julho de 1865 foi de 1591487 pessoas sendo que a emigração durante os últimos 5 anos 18611865 foi de mais de meio milhão O número de casas habitadas diminuiu de 1851 a 1861 em 52990 De 1851 a 1861 o número de arrendamentos de 15 a 30 acres aumentou em 61 mil e o de arrendamentos acima de 30 acres em 109 mil enquanto o número total de arrendamentos diminuiu em 120 mil uma queda que se deve portanto exclusivamente à aniquilação de arrendamentos de menos de 15 acres ou seja à sua concentração Naturalmente a decréscimo populacional se fez acompanhar em linhas gerais de um decréscimo da massa de produtos Para nosso propósito basta considerar os 5 anos de 1861 a 1865 durante os quais mais de meio milhão de pessoas emigraram e a número absoluto de habitantes caiu em mais de 18 de milhão ver tabela A Tabela A Animais de criação Ano Equinos Bovinos Total Diminuição Aumento Total Diminuição Aumento 1860 619811 3606374 1861 614232 5579 3471688 134686 1862 602894 11338 3254890 216798 1863 579978 22916 3144231 110659 503 1864 562158 17820 3262294 118063 1865 547867 14291 3493414 231120 Ano Ovinos Suínos Total Diminuição Aumento Total Diminuição Aumento 1860 3542080 1271072 1861 3556050 13970 1102042 169030 1862 3456132 99918 1154324 52282 1863 3308204 147928 1067458 86866 1864 3366941 58737 1058480 8978 1865 3688742 321801 1299893 241413 Da tabela anterior resulta Equinos Bovinos Ovinos Suínos Diminuição absoluta Diminuição absoluta Aumento absoluto Aumento absoluto 71944 112960 146662 28821182 Passemos agora à agricultura que fornece os meios de subsistência para animais e seres humanos Na tabela seguinte calculase o acréscimo ou decréscimo registrado a cada ano em relação ao ano imediatamente anterior A coluna dos cereais abrange trigo aveia cevada centeio feijão e ervilha a das hortaliças compreende batata turnips nabos acelga beterraba repolho cenoura parsnips chirivias ervilhaca etc Tabela B Aumento ou diminuição da terra usada para o cultivo e como pastagens em acres 504 Em 1865 sob a rubrica pastagens foram agregados mais 127470 acres principalmente porque a área sob a rubrica terra desértica não utilizada e bog turfeiras diminui 101543 acres Comparando o ano de 1865 com 1864 temos uma redução de 246667 quarters de cereais dos quais 48999 correspondem ao trigo 166605 à aveia 29892 à cevada etc o decréscimo na produção de batatas embora a área de seu cultivo tenha crescido em 1865 foi de 446398 toneladas etc ver tabela C Tabela C Aumento ou diminuição na área de solo cultivado de produto por acre e do produto total Ano de 1865 comparado com 1864183 505 Ver nota Pedras de 14 libras N E A MEW Do movimento da população e da produção agrícola da I rlanda passemos ao movimento no bolso de seus landlords grandes arrendatários e capitalistas industriais Tal movimento se reflete nas altas e baixas do imposto de renda Para compreender a tabela seguinte observese que a rubrica D lucros com exceção dos lucros dos arrendatários também inclui os assim chamados lucros profissionais isto é os rendimentos de advogados médicos etc mas as rubricas C e E que não incluímos em separado em nossa tabela abrangem os rendimentos de funcionários oficiais militares sinecuristas do Estado credores do Estado etc Tabela D Rendimentos sujeitos ao imposto de renda em libras esterlinas184 1860 1861 1862 1863 1864 1865 Rubrica A Renda fundiária 12893829 13003554 13308938 13494091 13470700 13801616 Rubrica B Lucro do arrendatário 2765387 2773644 2937899 2938923 2930874 2946072 Rubrica D Lucros industriais etc 4891652 4836203 4858800 4846497 4546147 4850199 Todas as rubricas de A a E 22962885 22998394 23597574 23658631 23236298 23930340 Na rubrica D o aumento anual médio de 1853 a 1864 foi de apenas 093 enquanto no mesmo período na GrãBretanha ele foi de 458 A tabela seguinte mostra a distribuição dos lucros excluindo os lucros dos arrendatários nos anos de 1864 e 1865 506 Tabela E Rubrica D Rendimentos por lucros acima de 60 na Irlanda185 Libras esterlinas Repartido entre pessoas Libras esterlinas Repartido entre pessoas Total dos rendimentos anuais 4368610 17467 4669979 18081 Rendimento anual entre 60 e 100 238726 5015 222575 4703 Do total de rendimentos anuais 1979066 11321 2028571 12184 Resto dos rendimentos anuais 2150818 1131 2418833 1194 Dos quais 1073906 1010 1097927 1044 1076912 121 1320906 150 430535 95 584458 122 646377 26 736448 28 262819 3 274528 3 A I nglaterra um país de produção capitalista desenvolvida e preponderantemente industrial terseia extinguido caso tivesse sofrido uma hemorragia populacional como a irlandesa Atualmente porém a I rlanda não é mais do que um distrito agrícola da I nglaterra da qual é separada por um largo fosso de água à qual fornece cereais lã gado e recrutas industriais e militares O despovoamento fez com que muitas terras deixassem de ser cultivadas reduziu muito o produto agrícola186 e apesar da ampliação da área para a criação de gado ocasionou uma diminuição absoluta em alguns de seus ramos e em outros um progresso que mal merece ser citado interrompido por retrocessos constantes Não obstante com a queda da massa populacional subiram continuamente a renda da terra e os lucros dos arrendatários embora estes não de maneira tão constante quanto aquela A razão é facilmente compreensível Por um lado com a fusão dos arrendamentos e a transformação de lavouras em pastagens uma parte maior do produto total se converteu em maisproduto O maisproduto cresceu embora o produto total do qual ele é uma fração tenha diminuído Por outro lado o valor monetário desse maisproduto cresceu ainda mais rapidamente do que sua massa por causa do aumento que nos últimos vinte anos e principalmente na última década sofreram no mercado inglês os preços da carne da lã etc Os meios de produção dispersos que servem aos próprios produtores como meios de ocupação e subsistência sem que se valorizem mediante a incorporação de trabalho alheio é tão pouco capital quanto o produto consumido por seu próprio produtor é mercadoria Ainda que com a massa populacional também tenha diminuído a massa dos meios de produção empregados na agricultura a massa de capital nela empregada aumentou já que uma parte dos meios de produção antes dispersos foi transformada 507 em capital O capital total que na I rlanda é investido fora da agricultura na indústria e no comércio acumulouse lentamente durante as últimas duas décadas e sofreu grandes e constantes flutuações Em contrapartida a concentração de seus componentes individuais desenvolveuse com grande rapidez Finalmente por pequeno que tenha sido de qualquer modo seu crescimento em termos absolutos quando considerado em termos relativos isto é em proporção à massa populacional decrescente vemos que esse capital aumentou Aqui se desenrola sob nossos olhos e em larga escala um processo como a economia ortodoxa não o poderia desejar mais formoso para manter em pé seu dogma segundo o qual a miséria deriva da superpopulação absoluta e o equilíbrio é restabelecido mediante o despovoamento Esse é um experimento de importância muito maior do que a da peste de meados do século XI V tão glorificada pelos malthusianos Uma observação de passagem se querer aplicar às relações de produção e às correspondentes condições populacionais do século XI X o padrão do século XI V já era de uma ingenuidade escolar essa ingenuidade negligenciava além do mais que se aquela peste e a dizimação por ela acarretada foram seguidas pela libertação e enriquecimento da população rural deste lado do Canal da Mancha do outro lado na França elas provocaram uma maior servidão e uma miséria aumentada186a Em 1846 a fome liquidou na I rlanda mais de um milhão de pessoas mas só pobresdiabos Não acarretou o menor prejuízo à riqueza do país O êxodo ocorrido nas duas décadas seguintes e que ainda continua a aumentar não dizimou como foi o caso na Guerra dos Trinta Anos junto com os homens seus meios de produção O gênio irlandês inventou um método totalmente novo para transportar como por obra de encantamento um povo pobre a uma distância de milhares de milhas do cenário de sua miséria A cada ano os emigrantes assentados nos Estados Unidos enviam dinheiro para casa meios que possibilitam a viagem dos que ficaram para trás Cada tropa que emigra este ano atrai outra tropa que emigrará no ano seguinte Em vez de custar algo à I rlanda a emigração constitui assim um dos ramos mais rentáveis de seus negócios de exportação Ela é por fim um processo sistemático que não se limita a furar um buraco transitório na massa populacional mas que dela extrai anualmente um número maior de pessoas do que aquele reposto pelos nascimentos de modo que o nível populacional absoluto cai a cada ano186b Quais foram as consequências para os trabalhadores irlandeses que permaneceram em seu país de terem sido liberados da superpopulação Que a superpopulação relativa é hoje tão grande quanto antes de 1846 que o salário se mantém no mesmo nível baixo que o trabalho é hoje mais extenuante que antes que a miséria no campo conduz a uma nova crise As causas são simples A revolução na agricultura se deu no mesmo ritmo da emigração A produção da superpopulação relativa ultrapassou o despovoamento absoluto Um olhar à tabela B mostra como os efeitos da transformação de lavouras em pastagens tendem a ser mais agudos na I rlanda do que na I nglaterra Nesta a criação de gado provoca um aumento no cultivo de verduras e naquela uma redução Enquanto grandes extensões de terras anteriormente cultivadas são mantidas em alqueive ou transformadas em pastagens 508 permanentes grande parte da terra baldia e das turfeiras antes não utilizadas serve para a expansão da pecuária Os pequenos e médios arrendatários incluo aí todos os que não cultivam mais de 100 acres continuam a ser aproximadamente 810 do total186c Eles são progressivamente oprimidos num grau muito maior do que antes pela concorrência da agricultura praticada de modo capitalista e por isso não cessam de fornecer novos recrutas à classe dos trabalhadores assalariados A única grande indústria da I rlanda a fabricação de linho requer relativamente poucos homens adultos e em geral ocupa em que pese sua expansão desde o encarecimento do algodão entre 1861 e 1866 apenas uma parte proporcionalmente insignificante da população Como toda grande indústria a do linho por meio de oscilações contínuas não cessa de produzir uma superpopulação relativa em sua própria esfera mesmo com o crescimento absoluto da massa humana por ela absorvida A miséria da população rural constitui o alicerce de gigantescas fábricas de camisas etc cujo exército de trabalhadores se encontra em sua maior parte disperso pelo campo Aqui voltamos a nos deparar com o sistema descrito anteriormente do trabalho domiciliar que tem na subremuneração e no sobretrabalho seus meios de produção de supranumerários Por fim embora os efeitos do despovoamento não tenham sido tão destrutivos como seria o caso num país de produção capitalista desenvolvida ele não transcorreu sem repercussões constantes sobre o mercado interno O vazio deixado pela emigração tem como efeito o estreitamento não só da demanda local de trabalho mas também dos rendimentos dos pequenos comerciantes artesãos e pequenos industriais em geral I sso explica o retrocesso nos rendimentos entre 60 e 100 apresentado na tabela E Uma exposição clara da situação dos diaristas rurais na I rlanda encontrase nos relatórios dos inspetores da administração irlandesa de beneficência 1870186d Funcionários de um governo que só se mantém por força das baionetas e pelo estado de sítio ora declarado ora dissimulado precisam observar as precauções de linguagem que seus colegas ingleses desprezam apesar disso não permitem que seu governo acalente ilusões Segundo eles o nível salarial no campo que continua muito baixo elevouse nos últimos 20 anos entre 50 a 60 e é agora em média de 6 a 9 xelins por semana Por trás dessa aparente alta se esconde porém uma queda real do salário pois ela nem sequer compensa o aumento dos preços dos meios de subsistência como o demonstra o seguinte extrato dos cálculos oficiais de uma workhouse irlandesa Média semanal dos custos de manutenção por pessoa Período Alimentação Vestuário Soma 29 set 1848 a 29 set 1849 29 set 1868 a 29 set 1869 1 xelim e 314 pence 2 xelins e 714 pence 03 xelim 06 xelim 1 xelim e 614 pence 3 xelins e 114 pence O preço dos meios de subsistência é portanto quase o dobro de vinte anos atrás e o do vestuário é exatamente o dobro Mas mesmo se desconsiderarmos essa desproporção a mera comparação das taxas 509 salariais expressas em dinheiro ainda não nos permitiria chegar a um resultado correto Antes do surto de fome a maior parte dos salários rurais era paga in natura e em dinheiro só a menor parte atualmente a regra geral é o pagamento em dinheiro Já a partir disso se segue que qualquer que fosse o movimento do salário real sua taxa monetária haveria de subir Antes do surto de fome o diarista agrícola possuía uma pequena parcela de terra onde cultivava batatas e criava porcos e aves Hoje ele não só tem de comprar todos seus meios de subsistência como também perdeu os rendimentos que obtinha com a venda de porcos aves e ovos187 De fato antigamente os trabalhadores agrícolas se confundiam com os pequenos arrendatários e em sua maior parte formavam apenas a retaguarda dos arrendamentos médios e grandes nos quais encontravam ocupação Somente a partir da catástrofe de 1846 é que começaram a constituir uma fração da classe dos assalariados puros um estamento particular vinculado a seus patrões unicamente por relações monetárias Sabemos qual eram suas condições habitacionais em 1846 Desde então ela piorou ainda mais Parte dos diaristas agrícolas cujo número diminui no entanto dia após dia ainda vive nas terras dos arrendatários em cabanas superlotadas cujos horrores superam de longe o pior que nos apresentam os distritos rurais ingleses nesse gênero E isso vale de modo geral com exceção de algumas faixas de terra em Ulster no sul nos condados de Cork Limerick Kikenny etc no leste em Wicklow Wexford etc no centro no Kings e no Queens Countyz em Dublin etc no norte em Down Antrim Tyrone etc no oeste em Sligo Roscommon Mayo Galway etc É uma vergonha exclama um dos inspetores para a religião e a civilização deste paísPara tornar mais toleráveis aos trabalhadores diaristas as condições habitacionais de suas covas confiscase sistematicamente o pedacinho de terra que desde tempos imemoriais era sua parte integrante A consciência dessa espécie de banimento que lhes é imposto pelos proprietários fundiários e seus administradores provocou nos trabalhadores diaristas rurais sentimentos correspondentes de antagonismo e ódio contra aqueles que os tratam como uma raça sem direitos187a O primeiro ato da revolução agrária realizado na maior escala possível e como obedecendo a um comando recebido do alto foi o de varrer os casebres localizados nos campos de trabalho Desse modo muitos trabalhadores foram obrigados a procurar abrigo nos vilarejos e nas cidades Como se fossem velhos trastes eles foram ali jogados em sótãos buracos porões e nos covis dos piores bairros Milhares de famílias irlandesas que conforme o testemunho até mesmo de ingleses presos a preconceitos nacionais distinguiamse por sua rara dedicação ao lar por sua jovialidade despreocupada e pela pureza de suas virtudes domésticas encontraramse assim repentinamente transplantadas para as incubadoras do vício Os homens têm agora de procurar trabalho com os arrendatários vizinhos e só são contratados por dia portanto na forma salarial mais precária além disso agora eles têm de percorrer longas distâncias para ir ao arrendamento e voltar frequentemente encharcados como ratos e sujeitos a outras inclemências que costumam provocar fraqueza doenças e com isso privações187b 510 As cidades tinham de receber ano após ano o que se considerava como o excedente de trabalhadores nos distritos rurais187c e depois há ainda quem se admire de que nas cidades e vilarejos haja um excesso e no campo uma escassez de trabalhadores187d A verdade é que essa escassez só é sentida na época de trabalhos agrícolas urgentes na primavera e no outono ao passo que durante o resto do ano muitos braços ficam ociosos187e que depois da colheita de outubro até a primavera não há quase ocupação para eles187f e que também durante o tempo em que estão ocupados costumam perder dias inteiros e estão sujeitos a todo tipo de interrupções no trabalho187g Essas consequências da revolução agrícola isto é da transformação de lavouras em pastagens da utilização da maquinaria de uma economia mais severa de trabalho etc são aguçadas ainda mais por esses proprietários fundiários modelares que em vez de consumir suas rendas no estrangeiro são condescendentes ao ponto de viver na I rlanda em seus domínios Para que a lei da oferta e da demanda se mantenha plenamente impoluta agora esses cavalheiros satisfazem quase toda a sua necessidade de trabalho com seus pequenos arrendatários que desse modo veemse obrigados a trabalhar para seus proprietários fundiários por um salário geralmente inferior ao do trabalhador diarista comum e além disso sem qualquer consideração para com os desconfortos e prejuízos decorrentes de terem de negligenciar seus próprios campos nas épocas críticas da semeadura ou da colheita187h A insegurança e a irregularidade da ocupação a frequente repetição e a longa duração das paralisações do trabalho em suma todos esses sintomas de uma superpopulação relativa figuram nos relatórios dos inspetores da administração de beneficência como outras tantas queixas do proletariado agrícola irlandês Recordese de que encontramos fenômenos semelhantes quando tratamos do proletariado agrícola inglês Mas a diferença é que na I nglaterra país industrial a indústria recruta sua reserva no campo enquanto na I rlanda país agrário a agricultura recruta sua reserva nas cidades nos refúgio dos trabalhadores agrícolas expulsos do campo Lá os supranumerários da agricultura se transformam em trabalhadores fabris aqui aqueles que foram expulsos para as cidades ao mesmo tempo que exercem pressão sobre o salário urbano continuam a ser trabalhadores rurais e são constantemente rechaçados de volta ao campo em busca de trabalho Os informantes oficiais resumem assim a situação dos diaristas rurais Embora vivam na mais extrema frugalidade seu salário mal chega para garantir alimentação e moradia a eles e a suas famílias para o vestuário eles necessitam de receitas adicionais A atmosfera de suas moradias somada a outras privações torna essa classe especialmente suscetível ao tifo e à tuberculose187i Por isso não é de admirar que conforme o testemunho unânime dos informantes as fileiras dessa classe estejam impregnadas de um descontentamento sombrio que desejem retornar ao passado que abominem o presente desesperem do futuro entreguemse a influências perversas de demagogos e tenham apenas uma ideia fixa emigrar para a América Esta é a terra encantada em que a grande panaceia malthusiana o despovoamento transformou a verdejante Erinaa Para atestar o conforto em que vivem os trabalhadores manufatureiros da I rlanda basta um exemplo Em minha recente inspeção ao norte da Irlanda diz o inspetor de fábrica inglês Robert Baker surpreendeu me o esforço de um operário qualificado irlandês para dar educação a seus filhos apesar de sua escassez de meios Reproduzo literalmente seu depoimento em suas próprias palavras Que se trata de um trabalhador qualificado é algo que se pode pelo simples fato de que ele é empregado na confecção de artigos destinados ao mercado de Manchester Johnson Sou um beetler acabador e trabalho das 6 horas da manhã às 11 da noite de segunda a 511 sextafeira aos sábados trabalhamos até as 6 horas da tarde e temos 3 horas para refeições e descanso Tenho cinco filhos Por esse trabalho ganho 10 xelins e 6 pence por semana minha mulher também trabalha e ganha 5 xelins por semana A filha mais velha de 12 anos cuida da casa Ela é nossa cozinheira e única ajudante É ela quem prepara os irmãos menores para ir à escola Minha mulher se levanta comigo e saímos juntos Uma menina que passa diante de nossa casa nos desperta às 5 e meia da manhã Não comemos nada antes de ir para o trabalho A menina de 12 anos cuida dos menores durante todo o dia Tomamos o café da manhã às 8 horas e para isso vamos para casa Temos chá uma vez por semana nos outros dias temos um mingau stirabout às vezes de farinha de aveia às vezes de farinha de milho dependendo do que conseguimos arranjar No inverno adicionamos um pouco de açúcar e água à nossa farinha de milho No verão colhemos algumas batatas por nós mesmos plantadas num pedacinho de terra e quando elas acabam voltamos ao mingau E assim prosseguimos dia após dia aos domingos e dias úteis o ano todo À noite quando termino o serviço do dia estou sempre muito cansado Um pedaço de carne vemos excepcionalmente mas é muito raro Três de nossos filhos vão à escola e para isso pagamos semanalmente 1 pence por cabeça Nosso aluguel é de 9 pence por semana e a turfa e o fogo não custam menos que 1 xelim e 6 pence por quinzena188 Eis os salários irlandeses eis a vida irlandesaab De fato a miséria da I rlanda está novamente na ordem do dia na I nglaterra No final de 1866 e início de 1867 lord Dufferin um dos magnatas rurais irlandeses anunciou no Times a solução que se devia dar ao problema Que gesto tão humano da parte deste grande senhorac Na tabela E vimos que durante o ano de 1864 de um lucro total de 4368610 três extratores de maisvalor embolsaram apenas 262819 em contrapartida os mesmos três virtuoses da renúncia embolsaram em 1865 274528 do lucro total de 4669979 em 1864 26 extratores de maisvalor 646377 em 1865 28 extratores de maisvalor 736448 em 1864 121 extratores de maisvalor 1076912 em 1864 1131 extratores de maisvalor 2150818 quase a metade do lucro total anual e em 1865 1194 extratores de maisvalor 2418833 mais da metade do lucro total anual Mas a parte do leão que um número ínfimo de magnatas rurais devora do produto nacional anual na I nglaterra Escócia e I rlanda é tão monstruosa que a sabedoria política inglesa achou conveniente não fornecer sobre a distribuição da renda da terra os mesmos materiais estatísticos fornecidos no caso da distribuição do lucro Lord Dufferin é um desses magnatas rurais Sustentar que os registros de rendas fundiárias e de lucros possam jamais ser supranumerários ou que sua pletora esteja de algum modo vinculada à pletora da miséria popular é naturalmente uma concepção tão desrespeitosa quanto malsã unsound Ele se atém aos fatos e o fato é que à medida que diminui o tamanho da população da I rlanda aumentam os registros de terra neste país que o despovoamento faz bem ao proprietário fundiário logo também ao solo logo também ao povo que não é mais do que um acessório do solo Ele declara pois que a I rlanda continua superpovoada e que a corrente emigratória ainda flui com demasiado vagar Para ser plenamente feliz a I rlanda ainda teria de liberar ao menos 13 de milhão de trabalhadores Não se presuma que esse lord além de tudo poeta seja um médico da escola de Sangradoad aquele que mal verificava que seus pacientes não haviam apresentado melhora e logo prescrevia uma sangria e mais uma e assim por diante até que o paciente perdesse junto com o sangue também a doença Lord Dufferin pede uma nova sangria de apenas 13 de milhão em vez de uma de cerca de 2 milhões sem a qual é verdade o Milênio não se poderá estabelecer em Erin A prova é fácil de fornecer 512 Número e extensão dos arrendamentos na Irlanda em 1864 1 Arrendamentos de até 1 acre 2 Arrendamentos entre 1 e 5 acres 3 Arrendamentos entre 5 e 15 acres 4 Arrendamentos entre 15 e 30 acres Número Acres Número Acres Número Acres Número Acres 40653 25394 82037 288916 176368 1836310 136578 3051343 5 Arrendamentos entre 30 e 50 acres 6 Arrendamentos entre 50 e 100 acres 7 Arrendamentos com mais de 100 acres 8 Área total188a Número Acres Número Acres Número Acres Acres 71961 2906274 54247 3983880 31927 8277807 20319924 De 1851 a 1861 a centralizaçãoae eliminou principalmente arrendamentos das três primeiras categorias entre 1 e 15 acres São elas que antes de tudo têm de desaparecer I sso perfaz 307058 arrendatários supranumerários calculando família com base na baixa média de quatro indivíduos temos um total 1228232 pessoas Partindo do extravagante pressuposto de que 14 dessas pessoas pudessem ser reabsorvidas após a realização da revolução agrícola ainda restariam 921174 pessoas por emigrar As categorias 4 5 e 6 entre 15 e 100 acres são como há muito tempo se sabe na I nglaterra pequenas demais para o cultivo capitalista de cereais e para a criação de ovinos podem ser consideradas quase insignificantes De acordo com os mesmos pressupostos de antes teremos pois outras 788761 pessoas destinadas à emigração No total 1709532 pessoas E comme lappétit vient en mangeant af os olhos do registro de renda fundiária logo descobrirão que a I rlanda com 35 milhões de habitantes continuará sempre miserável porque superpovoada e que portanto seu despovoamento tem de ir muito além para que o país realize sua verdadeira vocação de ser pastagem de ovelhas e gado para a Inglaterra188b Esse lucrativo método como tudo o que é bom neste mundo tem seus inconvenientes A acumulação da renda fundiária na I rlanda ocorre no mesmo ritmo da acumulação de irlandeses na América O irlandês deslocado por vacas e ovelhas reaparece como fenianoag do outro lado do oceano E perante a antiga Rainha do Mar levantase cada vez mais ameaçadora a jovem e gigantesca república Acerba fata Romanos agunt Scelusque fraternae necisah 513 Capítulo 24 A assim chamada acumulação primitiva 1 O segredo da acumulação primitiva Vimos como o dinheiro é transformado em capital como por meio do capital é produzido maisvalor e do maisvalor se obtém mais capital Porém a acumulação do capital pressupõe o maisvalor o maisvalor a produção capitalista e esta por sua vez a existência de massas relativamente grandes de capital e de força de trabalho nas mãos de produtores de mercadorias Todo esse movimento parece portanto girar num círculo vicioso do qual só podemos escapar supondo uma acumulação primitiva previous accumulation em Adam Smith prévia à acumulação capitalista uma acumulação que não é resultado do modo de produção capitalista mas seu ponto de partida Essa acumulação primitiva desempenha na economia política aproximadamente o mesmo papel do pecado original na teologia Adão mordeu a maçã e com isso o pecado se abateu sobre o gênero humano Sua origem nos é explicada com uma anedota do passado Numa época muito remota havia por um lado uma elite laboriosa inteligente e sobretudo parcimoniosa e por outro uma súcia de vadios a dissipar tudo o que tinham e ainda mais De fato a legenda do pecado original teológico nos conta como o homem foi condenado a comer seu pão com o suor de seu rosto mas é a história do pecado original econômico que nos revela como pode haver gente que não tem nenhuma necessidade disso Seja como for Deuse assim que os primeiros acumularam riquezas e os últimos acabaram sem ter nada para vender a não ser sua própria pele E desse pecado original datam a pobreza da grande massa que ainda hoje apesar de todo seu trabalho continua a não possuir nada para vender a não ser a si mesma e a riqueza dos poucos que cresce continuamente embora há muito tenham deixado de trabalhar São trivialidades como essas que por exemplo o sr Thiers com a solenidade de um estadista continua a ruminar aos franceses outrora tão sagazes como apologia da proprietéa Mas tão logo entra em jogo a questão da propriedade tornase dever sagrado sustentar o ponto de vista da cartilha infantil como o único válido para todas as faixas etárias e graus de desenvolvimento Na história real como se sabe o papel principal é desempenhado pela conquista a subjugação o assassínio para roubar em suma a violência J á na economia política tão branda imperou sempre o idílio Direito e trabalho foram desde tempos imemoriais os únicos meios de enriquecimento excetuandose sempre é claro este ano Na realidade os métodos da acumulação primitiva podem ser qualquer coisa menos idílicos Num primeiro momento dinheiro e mercadoria são tão pouco capital quanto os meios de produção e de subsistência Eles precisam ser transformados em capital Mas essa transformação só pode operarse em determinadas circunstâncias que 514 contribuem para a mesma finalidade é preciso que duas espécies bem diferentes de possuidores de mercadorias se defrontem e estabeleçam contato de um lado possuidores de dinheiro meios de produção e meios de subsistência que buscam valorizar a quantia de valor de que dispõem por meio da compra de força de trabalho alheia de outro trabalhadores livres vendedores da própria força de trabalho e por conseguinte vendedores de trabalho Trabalhadores livres no duplo sentido de que nem integram diretamente os meios de produção como os escravos servos etc nem lhes pertencem os meios de produção como no caso por exemplo do camponês que trabalha por sua própria conta etc mas estão antes livres e desvinculados desses meios de produção Com essa polarização do mercado estão dadas as condições fundamentais da produção capitalista A relação capitalista pressupõe a separação entre os trabalhadores e a propriedade das condições da realização do trabalho Tão logo a produção capitalista esteja de pé ela não apenas conserva essa separação mas a reproduz em escala cada vez maior O processo que cria a relação capitalista não pode ser senão o processo de separação entre o trabalhador e a propriedade das condições de realização de seu trabalho processo que por um lado transforma em capital os meios sociais de subsistência e de produção e por outro converte os produtores diretos em trabalhadores assalariados A assim chamada acumulação primitiva não é por conseguinte mais do que o processo histórico de separação entre produtor e meio de produção Ela aparece como primitiva porque constitui a préhistória do capital e do modo de produção que lhe corresponde A estrutura econômica da sociedade capitalista surgiu da estrutura econômica da sociedade feudal A dissolução desta última liberou os elementos daquela O produtor direto o trabalhador só pôde dispor de sua pessoa depois que deixou de estar acorrentado à gleba e de ser servo ou vassalo de outra pessoa Para converter se em livre vendedor de força de trabalho que leva sua mercadoria a qualquer lugar onde haja mercado para ela ele tinha além disso de emanciparse do jugo das corporações de seus regulamentos relativos a aprendizes e oficiais e das prescrições restritivas do trabalho Com isso o movimento histórico que transforma os produtores em trabalhadores assalariados aparece por um lado como a libertação desses trabalhadores da servidão e da coação corporativa e esse é único aspecto que existe para nossos historiadores burgueses Por outro lado no entanto esses recém libertados só se convertem em vendedores de si mesmos depois de lhes terem sido roubados todos os seus meios de produção assim como todas as garantias de sua existência que as velhas instituições feudais lhes ofereciam E a história dessa expropriação está gravada nos anais da humanidade com traços de sangue e fogo Os capitalistas industriais esses novos potentados tiveram por sua vez de deslocar não apenas os mestresartesãos corporativos mas também os senhores feudais que detinham as fontes de riquezas Sob esse aspecto sua ascensão se apresenta como o fruto de uma luta vitoriosa contra o poder feudal e seus privilégios revoltantes assim como contra as corporações e os entraves que estas colocavam ao livre desenvolvimento da produção e à livre exploração do homem pelo homem Mas se os cavaleiros da indústria desalojaram os cavaleiros da espada isso só foi possível porque os primeiros exploraram acontecimentos nos quais eles não tinham a menor 515 culpa Sua ascensão se deu por meios tão vis quanto os que outrora permitiram ao liberto romano converterse em senhor de seu patronus patrono O ponto de partida do desenvolvimento que deu origem tanto ao trabalhador assalariado como ao capitalista foi a subjugação do trabalhador O estágio seguinte consistiu numa mudança de forma dessa subjugação na transformação da exploração feudal em exploração capitalista Para compreendermos sua marcha não precisamos remontar a um passado tão remoto Embora os primórdios da produção capitalista já se nos apresentem esporadicamente nos séculos XI V e XV em algumas cidades do Mediterrâneo a era capitalista só tem início no século XVI Nos lugares onde ela surge a supressão da servidão já está há muito consumada e o aspecto mais brilhante da Idade Média a existência de cidades soberanas há muito já empalideceu Na história da acumulação primitiva o que faz época são todos os revolucionamentos que servem de alavanca à classe capitalista em formação mas acima de tudo os momentos em que grandes massas humanas são despojadas súbita e violentamente de seus meios de subsistência e lançadas no mercado de trabalho como proletários absolutamente livres A expropriação da terra que antes pertencia ao produtor rural ao camponês constitui a base de todo o processo Sua história assume tonalidades distintas nos diversos países e percorre as várias fases em sucessão diversa e em diferentes épocas históricas Apenas na I nglaterra e por isso tomamos esse país como exemplo tal expropriação se apresenta em sua forma clássicab 189 2 Expropriação da terra pertencente à população rural Na I nglaterra a servidão havia praticamente desaparecido na segunda metade do século XI V A maioria da população190 consistia naquela época e mais ainda no século XV em camponeses livres economicamente autônomos qualquer que fosse o rótulo feudal a encobrir sua propriedade Nos domínios senhoriais maiores o arrendatário livre tomara o lugar do bailiff bailio ele mesmo servo em outras épocas Os assalariados agrícolas consistiam em parte em camponeses que empregavam seu tempo livre trabalhando para os grandes proprietários em parte numa classe de trabalhadores assalariados propriamente ditos classe essa independente e pouco numerosa tanto em termos relativos como absolutos Ao mesmo tempo também estes últimos eram de fato camponeses economicamente autônomos pois além de seu salário recebiam terras de 4 ou mais acres para o cultivo além de cottages Ademais junto com os camponeses propriamente ditos desfrutavam das terras comunais sobre as quais pastava seu gado e que lhes forneciam também combustíveis como lenha turfa etc191 Em todos os países da Europa a produção feudal se caracteriza pela partilha do solo entre o maior número possível de vassalos O poder de um senhor feudal como o de todo soberano não se baseava na extensão de seu registro de rendas mas no número de seus súditos e este dependia da quantidade de camponeses economicamente autônomos192 I sso explica por que o solo inglês que depois da conquista normanda se dividiu em gigantescos baronatos um único dos quais costumava incluir 900 dos antigos senhorios anglosaxônicos era entremeado de pequenas propriedades camponesas apenas aqui e ali interrompidas 516 por domínios senhoriais maiores Tais condições somadas ao florescimento simultâneo das cidades que caracteriza o século XV permitiam aquela riqueza popular que o chanceler Fortescue descreve com tanta eloquência em seu Laudibus Legum Angliae mas excluíam a riqueza capitalista O prelúdio da revolução que criou as bases do modo de produção capitalista ocorreu no último terço do século XV e nas primeiras décadas do século XVI Uma massa de proletários absolutamente livres foi lançada no mercado de trabalho pela dissolução dos séquitos feudais que como observou corretamente sir J ames Steuart por toda parte lotavam inutilmente casas e castelosc Embora o poder real ele mesmo um produto do desenvolvimento burguês em sua ânsia pela conquista da soberania absoluta tenha acelerado violentamente a dissolução desses séquitos ele não foi de modo algum a causa exclusiva dessa dissolução Ao contrário foi o grande senhor feudal que na mais tenaz oposição à Coroa e ao Parlamento criou um proletariado incomparavelmente maior tanto ao expulsar brutalmente os camponeses das terras onde viviam e sobre as quais possuíam os mesmos títulos jurídicos feudais que ele quanto ao usurparlhes as terras comunais O impulso imediato para essas ações foi dado na I nglaterra particularmente pelo florescimento da manufatura flamenga de lã e o consequente aumento dos preços da lã A velha nobreza feudal fora aniquilada pelas grandes guerras feudais a nova nobreza era uma filha de sua época para a qual o dinheiro era o poder de todos os poderes Sua divisa era por isso transformar as terras de lavoura em pastagens de ovelhas Em sua Description of England Prefixed to Holinsheds Chronicles Harrison descreve como a expropriação dos pequenos camponeses significa a ruína do campo What care our great incroachers Mas o que isso importa a nossos grandes usurpadores As habitações dos camponeses e os cottages dos trabalhadores foram violentamente demolidos ou abandonados à ruína Se consultamos diz Harrison os inventários mais antigos de cada domínio senhorial vemos que inúmeras casas e pequenas propriedades camponesas desapareceram que o campo alimenta muito menos gente que muitas cidades estão arruinadas embora algumas novas floresçam Eu teria algo a contar sobre cidades e aldeias que foram destruídas para ceder lugar a pastagens de ovelhas e onde só restaram as casas dos antigos senhores As queixas dessas velhas crônicas são invariavelmente exageradas mas ilustram exatamente a impressão que a revolução nas condições de produção provocou nos homens daquela época Uma comparação dos escritos do chanceler Fortescue com os de Thomas More evidencia o abismo entre os séculos XV e XVI De sua idade de ouro como diz Thornton corretamente a classe trabalhadora inglesa decaiu sem qualquer fase de transição à idade de ferro A legislação se aterrorizou com esse revolucionamento Ela ainda não havia alcançado aquele ápice civilizacional em que a wealth of the nation isto é a formação do capital e a exploração e empobrecimento inescrupulosos das massas populares são considerados a última Thule de toda a sabedoria de Estado Em sua história de Henrique VII diz Bacon Naquele tempo 1489 aumentaram as queixas sobre a transformação de terras de lavoura em pastagens para criação de ovelhas etc fáceis de vigiar com poucos pastores e as propriedades arrendadas temporária vitalícia 517 ou anualmente dos quais vivia grande parte dos yeomend foram transformados em domínios senhoriais Isso provocou uma decadência do povo e em decorrência uma decadência das cidades igrejas dízimos Na cura desse mal foi admirável naquela época a sabedoria do rei e do Parlamento Adotaram medidas contra essa usurpação que despovoava os domínios comunais depopulating inclosures e o despovoador regime de pastagens depopulating pasture que o acompanhava Uma lei de Henrique VI I de 1489 c 19e proibiu a destruição de toda casa camponesa que tivesse pelo menos 20 acres de terra Numa lei 25f de Henrique VI I I confirmase a disposição legal anterior Dizse entre outras coisas que muitos arrendamentos e grandes rebanhos de gado especialmente de ovelhas concentramse em poucas mãos provocando um aumento considerável das rendas fundiárias e ao mesmo tempo uma grande diminuição das lavouras tillage e a demolição de igrejas e casas de maneira que enormes massas populares se veem impossibilitadas de sustentar a si mesmas e a suas famílias A lei ordena por isso a reconstrução das propriedades rurais arruinadas determina a proporção entre campos de cereais e pastagens etc Um decreto de 1533 se queixa de que um número considerável de proprietários possuíam 24 mil ovelhas e restringe seu número a 2 mil193 As queixas populares e a legislação que desde Henrique VI I e durante 150 anos condenou a expropriação dos pequenos arrendatários e camponeses foram igualmente infrutíferas O segredo de seu fracasso nos é revelado por Bacon sem que ele se aperceba disso A lei de Henrique VII diz ele em seus Essays Civil and Moral seção 29 foi profunda e admirável por ter estabelecido explorações agrícolas e casas rurais de determinado padrão isto é por ter garantido aos lavradores uma parcela de terra que os capacitava a trazer ao mundo súditos dotados de uma riqueza suficiente e de condição não servil conservando o arado nas mãos de proprietários e não de trabalhadores mercenários to keep the plough in the hand of the owners and not hirelings193a O que o sistema capitalista exigia ao contrário era uma posição servil das massas populares a transformação destas em trabalhadores mercenários e a de seus meios de trabalho em capital Durante esse período de transição a legislação procurou também conservar os 4 acres de terra contíguos ao cottage do assalariado agrícola e proibiulhe abrigar subinquilinos em seu cottage Ainda em 1627 sob Carlos I Roger Crocker de Fontmill foi condenado por ter construído no solar de Fontmill um cottage desprovido dos 4 acres de terra como anexo permanente ainda em 1638 sob Carlos I nomeouse uma comissão real para a implementação das velhas leis especialmente a que estabelece os 4 acres de terra também Cromwell proibiu a construção de qualquer casa num raio de 4 milhas ao redor de Londres que não estivesse dotada de 4 acres de terra Ainda na primeira metade do século XVI I I havia queixas quando o cottage do trabalhador agrícola não dispunha como complemento de 1 ou 2 acres de terra Hoje tal trabalhador está feliz quando sua casa é dotada de uma pequena horta ou quando pode arrendar longe dela umas poucas varas de terra Os proprietários fundiários e os arrendatários diz o dr Hunter agem nesse caso de comum acordo Uns poucos acres no cottage tornariam os trabalhadores demasiado independentes194 Um novo e terrível impulso ao processo de expropriação violenta das massas populares foi dado no século XVI pela Reforma e em consequência dela pelo roubo colossal dos bens da I greja Na época da Reforma a I greja católica era a proprietária feudal de grande parte do solo inglês A supressão dos monastérios etc lançou seus 518 principescos da oligarquia inglesa202 Os capitalistas burgueses favoreceram a operação entre outros motivos para transformar o solo em artigo puramente comercial ampliar a superfície da grande exploração agrícola aumentar a oferta de proletários absolutamente livres provenientes do campo etc Além disso a nova aristocracia fundiária era aliada natural da nova bancocracia das altas finanças recém saídas do ovo e dos grandes manufatureiros que então se apoiavam sobre tarifas protecionistas A burguesia inglesa atuava em defesa de seus interesses tão acertadamente quanto os burgueses suecos que ao contrário em aliança com seu baluarte econômico o campesinato apoiaram os reis na retomada violenta das terras da Coroa em mãos da oligarquia desde 1604 mais tarde nos reinados de Carlos X e Carlos XI A propriedade comunal absolutamente distinta da propriedade estatal anteriormente considerada era uma antiga instituição germânica que subsistiu sob o manto do feudalismo Vimos como a violenta usurpação dessa propriedade comunal em geral acompanhada da transformação das terras de lavoura em pastagens tem início no final do século XV e prossegue durante o século XVI Nessa época porém o processo se efetua por meio de atos individuais de violência contra os quais a legislação lutou em vão durante 150 anos O progresso alcançado no século XVI I I está em que a própria lei se torna agora o veículo do roubo das terras do povo embora os grandes arrendatários também empreguem paralelamente seus pequenos e independentes métodos privados203 A forma parlamentar do roubo é a das Bills for Inclosures of Commons leis para o cercamento da terra comunal decretos de expropriação do povo isto é decretos mediante os quais os proprietários fundiários presenteiam a si mesmos como propriedade privada com as terras do povo Sir Francis Morton Eden refuta sua própria argumentação espirituosa de advogado na qual procura apresentar a propriedade comunal como propriedade privada dos latifundiários que assumiram o lugar dos senhores feudais quando exige uma lei parlamentar geral para o cercamento das terras comunais admitindo com isso ser necessário um golpe de Estado parlamentar para transformar essas terras em propriedade privada e por outro lado quando reivindica ao poder legislativo uma indenização para os pobres expropriados204 Enquanto o lugar dos yeomen independentes foi ocupado por tenantsatwill arrendatários menores sujeitos a ser desalojados com um aviso prévio de um ano isto é um bando servil e dependente do arbítrio do landlord o roubo sistemático da propriedade comunal ao lado do roubo dos domínios estatais ajudou especialmente a inchar aqueles grandes arrendamentos que no século XVI I I eram chamados de fazendas de capital205 ou arrendamentos de mercador206 e a liberar a população rural para a indústria como proletariado No entanto o século XVI I I ainda não compreendia na mesma medida que a compreendeu o século XI X a identidade entre riqueza nacional e pobreza do povo Disso resulta a mais encarniçada polêmica na literatura econômica da época em torno d o inclosure of commons Cercamento de terras comuns Da grande quantidade de material de que disponho apresento aqui algumas poucas passagens pois assim será possível obter uma ideia viva das circunstâncias 520 O escravo que fugir e permanecer ausente por 14 dias será condenado a escravidão perpétua e deverá ser marcado a ferro na testa ou na face com a letra S se fugir pela terceira vez será executado por alta traição Seu dono pode vendêlo legálo a herdeiros ou alugálo como escravo tal como qualquer outro bem móvel ou gado doméstico Os escravos que tentarem qualquer ação contra os senhores também deverão ser executados Os juízes de paz assim que informados deverão perseguir os velhacos Quando se descobrir que um vagabundo esteve vagando por 3 dias ele deverá ser conduzido à sua terra natal marcado com um ferro em brasa no peito com a letra V e acorrentado para trabalhar nas estradas ou ser utilizado em outras tarefas Se o vagabundo informar um lugar de nascimento falso seu castigo será o de se tornar escravo vitalício dessa localidade de seus habitantes ou da corporação além de ser marcado a ferro com um S Todas as pessoas têm o direito de tomar os filhos dos vagabundos e mantêlos como aprendizes os rapazes até 24 anos as moças até 20 Se fugirem deverá até atingir essa idade ser escravos dos mestres que poderão acorrentálos acitálos etc como bem o quiserem Todo amo tem permissão para pôr um anel de ferro no pescoço nos braços ou nas pernas de seu escravo para poder reconhecêlo melhor e estar mais seguro de sua posse221 A última parte desse estatuto prevê que certos pobres devem ser empregados pela localidade ou pelos indivíduos que lhes deem de comer e de beber e queiram encontrar trabalho para eles Esse tipo de escravos paroquiais substituiu na Inglaterra até o avançar do século XIX sob o nome de roundsmens circulantes Elizabeth 1572 mendigos sem licença e com menos de 14 anos de idade devem ser tomados a serviço por 2 anos em caso de reincidência serão executados senão mais de 18 anos de idade devem ser executados caso ninguém quiser tomálos a serviço por 2 anos na segunda reincidência serão executados em misericórdia como traidores do Estado Estatutos similares 13 Elizabeth c 130 e os do ano 1597221 Jaime I alguém que vagueie e mendigue será declarado um desocupado e vagabundo Os juízes de paz nas Petty Sessions têm autorização para mandar agitalos em público e encarcerálos na primeira ocorrência por 6 meses e na segunda por 2 anos Durante esse tempo na prisão serão açoitados tanto e tantas vezes quanto os juízes de paz considerarem conveniente Os vagabundos incorrigíveis e perigosos devem ser marcados a ferro no ombro esquerdo com a letra Rq e condenados a trabalho forçado e se forem apanhados de novo mendigando devem ser executados sem perdão Essas disposições legais vigentes até o começo do século XVIII só foram revogadas por 172 Ana c 23 Em muitas paróquias de Hertfordshire escreve uma pena indignada 24 arrendamentos cada um deles com uma média de 50 a 150 acres foram fundidos em 3 arrendamentos207 Em Northamptonshire e Lincolnshire tem predominado o cercamento das terras comunais e a maior parte dos novos senhorios surgidos dos cercamentos foi convertida em pastagens em razão disso hoje muitos senhorios não têm 50 acres sob o arado onde antes eram arados 1500 acres Ruínas de antigas habitações celeiros currais etc são os únicos vestígios dos antigos habitantes Em alguns lugares 100 casas e famílias foram reduzidas a 8 ou 10 Na maioria das paróquias em que o cercamento se deu há apenas 15 ou 20 anos o número de proprietários fundiários é muito pequeno em comparação com o daqueles que cultivavam a terra no regime de campos abertos Não é nada incomum ver 4 ou 5 ricos pecuaristas usurparem senhorios recémcercados que antes encontravamse em mãos de 20 a 30 arrendatários e outros tantos pequenos proprietários e camponeses Estes últimos e suas famílias foram expulsos de suas propriedades juntamente com muitas outras famílias que eram por eles ocupadas e mantidas208 O que o landlord vizinho anexava sob o pretexto do cercamento não era apenas terra alqueivada mas eram frequentemente terras cultivadas comunalmente ou mediante um determinado pagamento à comunidade Refirome aqui ao cercamento de campos abertos e terras já cultivadas Mesmo os autores que defendem os inclosures admitem que estes últimos aumentam o monopólio dos grandes arrendamentos elevam os preços dos meios de subsistência e provocam despovoamento e mesmo o cercamento de terras desertas como o praticam agora despoja os pobres de uma parte de seus meios de subsistência e incha arrendamentos que já são grandes demais209 Quando diz o dr Price a terra cai em mãos de alguns poucos grandes arrendatários os pequenos arrendatários anteriormente caracterizados por ele como uma multidão de pequenos proprietários e arrendatários que se mantêm a si mesmos e a suas famílias com o produto das terras cultivadas por eles mesmos e com as ovelhas aves porcos etc que criam nas terras comunais tendo assim pouca necessidade de comprar meios de subsistência se transformam em pessoas que têm de obter sua subsistência trabalhando para outrem e que são forçadas a ir ao mercado para obter tudo de que precisam É possível que mais trabalho seja realizado porque há mais compulsão para isso Cidades e manufaturas crescerão porque mais pessoas em busca de trabalho serão impelidas para elas Essa é a forma como a concentração dos arrendamentos naturalmente opera e o modo como efetivamente tem operado neste reino há muitos anos210 Assim ele resume o efeito global dos inclosures Em termos gerais a situação das classes inferiores do povo tem piorado em quase todos os sentidos os pequenos proprietários fundiários e arrendatários foram rebaixados à condição de jornaleiros e trabalhadores mercenários ao mesmo tempo que se tornou cada vez mais difícil ganhar a vida nessa condição211 Com efeito a usurpação da terra comunal e a conseguinte revolução da agricultura surtem efeitos tão agudos sobre os trabalhadores agrícolas que segundo o próprio Eden entre 1765 e 1780 o salário desses trabalhadores começou a cair abaixo do mínimo e a ser complementado pela assistência oficial aos pobres Seu salário diz ele já não bastava para satisfazer as necessidades vitais mais elementares Ouçamos ainda por um instante um defensor dos enclosures e adversário do dr Price Não é correto concluir que haja despovoamento pelo fato de não se ver mais gente desperdiçando seu trabalho em campo aberto Se após a conversão dos pequenos camponeses em gente que tem de trabalhar para outrem mais trabalho é posto em movimento isso constitui de fato uma vantagem que a nação à qual os convertidos naturalmente não pertencem deve desejar O produto será maior se seu trabalho combinado for empregado num só arrendamento desse modo formarseá produto excedente para as manufaturas e por meio deste as manufaturas uma das minas de ouro desta nação se multiplicarão em proporção à quantidade de cereais produzida212 A imperturbabilidade estoica com que o economista político encara as violações mais inescrupulosas do sagrado direito de propriedade e os atos de violência mais grosseiros contra as pessoas sempre que estes sejam necessários para produzir as 521 bases do modo de produção capitalista demonstranos entre outros o filantrópico sir F M Eden que além de tudo apresenta certa tendência tory Toda a série de pilhagens horrores e opressão que acompanha a expropriação violenta do povo do último terço do século XV até o fim do século XVI I I induz Eden apenas a esta confortável reflexão final Era necessário estabelecer a proporção correta due entre as terras de lavoura e de pastagens Ainda durante o século XIV e na maior parte do século XV para cada acre de pastagens havia 2 3 e até mesmo 4 acres de lavoura Em meados do século XVI essa proporção transformouse em 2 acres de pastagens para 2 acres de lavoura mais tarde 2 acres de pastagens para 1 acre de lavoura até que por fim alcançouse a proporção correta de 3 acres de pastagens para 1 acre de lavoura No século XI X naturalmente perdeuse até mesmo a lembrança do nexo entre o lavrador e a propriedade comunal Para não falar de tempos posteriores que farthing de indenização recebeu alguma vez a população rural pelos 3511770 acres de terras comunais que lhes foram roubados entre 1810 e 1831 e que os landlords presentearam aos landlords mediante o parlamento O último grande processo de expropriação que privou os lavradores da terra foi a assim chamada clearing of estates clareamento das propriedades rurais o que significa na verdade varrêlas de seres humanos Todos os métodos ingleses até agora observados culminaram no clareamento Como vimos na parte anterior ao descrevermos a situação moderna agora quando já não há camponeses independentes a serem varridos passouse ao clareamento dos cottages de modo que os trabalhadores agrícolas já não encontram o espaço necessário para suas moradias nem mesmo sobre o solo cultivado por eles Mas o real significado de clearing of estates só se pode aprender na terra prometida da moderna literatura de romance na alta Escócia Lá o processo se distingue por seu caráter sistemático pela magnitude da escala em que foi executado com um só golpe na I rlanda os senhores fundiários o implementaram ao ponto de varrer várias aldeias ao mesmo tempo na alta Escócia tratase de áreas do tamanho de ducados alemães e finalmente pela forma particular da propriedade fundiária subtraída Os celtas da alta Escócia formavam clãs sendo cada um deles o proprietário do solo em que se assentava O representante do clã seu chefe ou grande homem era apenas o proprietário titular desse solo do mesmo modo como a rainha da I nglaterra é a proprietária titular do solo nacional inteiro Quando o governo inglês logrou reprimir as guerras intestinas desses grandes homens e suas contínuas incursões nas planícies da baixa Escócia os chefes dos clãs não abandonaram de modo nenhum seu velho ofício de bandoleiros apenas modificaram a forma Por conta própria transformaram seu direito titular de propriedade em direito de propriedade privada e como os membros do clã impusessem resistência decidiram expulsálos por meios violentos Com o mesmo direito um rei da I nglaterra poderia ser autorizado a lançar seus súditos ao mar diz o prof Newman213 Essa revolução que teve início na Escócia depois do último levante do pretendentek pode ser acompanhada em suas primeiras fases nas obras de sir J ames Steuart214 e J ames Anderson215 No século XVI I I proibiuse também a emigração dos gaélicos expulsos de suas terras a fim de impeli 522 los violentamente para Glasgow e outras cidades fabris216 Como exemplo dos métodos dominantes no século XI X217 bastam aqui os clareamentos realizados por ordem da duquesa de Sutherland Essa pessoa instruída em matérias econômicas decidiu logo ao assumir o governo aplicar um remédio econômico radical transformando em pastagens de ovelhas o condado inteiro cuja população já fora reduzida a 15 mil em consequência de processos de tipo semelhante De 1814 até 1820 esses 15 mil habitantes aproximadamente 3 mil famílias foram sistematicamente expulsos e exterminados Todos os seus vilarejos foram destruídos e incendiados todos os seus campos transformados em pastagens Soldados britânicos foram incumbidos da execução dessa tarefa e entraram em choque com os nativos Uma anciã morreu queimada na cabana que ela se recusara a abandonar Desse modo a duquesa se apropriou de 794 mil acres de terras que desde tempos imemoriais pertenciam ao clã Aos nativos expulsos ela designou cerca de 6 mil acres de terras 2 acres por família na orla marítima Até então esses 6 mil acres haviam permanecido ermos e seus proprietários não haviam obtido renda nenhuma com eles Movida por seu nobre sentimento a duquesa chegou ao ponto de arrendar o acre de terra por 2 xelins e 6 pence às pessoas do clã que por séculos haviam vertido seu sangue pela família Sutherland Toda a terra roubada ao clã foi dividida em 29 grandes arrendamentos destinados à criação de ovelhas cada arrendamento era habitado por uma só família em sua maioria servos ingleses de arrendatários No ano de 1825 os 15 mil gaélicos já haviam sido substituídos por 131 mil ovelhas A parte dos aborígines jogada na orla marítima procurou viver da pesca Tornaramse anfíbios vivendo como diz um escritor inglêsl metade sobre a terra metade na água e no fim das contas apenas metade em ambas218 Mas os bravos gaélicos deviam pagar ainda mais caro por sua idolatria romântica de montanheses pelos grandes homens do clã O cheiro de peixe subiu ao nariz dos grandes homens Estes farejaram algo lucrativo nesse assunto e arrendaram a orla marítima aos grandes comerciantes de peixes de Londres Os gaélicos foram expulsos pela segunda vez219 Por último no entanto uma parte das pastagens para ovelhas foi reconvertida em reserva de caça Na I nglaterra como é sabido não há florestas propriamente ditas Os animais que vagam pelos parques dos grandes são inquestionavelmente gado doméstico gordo como os aldermen conselheiros municipais londrinos A Escócia é assim o último asilo da nobre paixão Nas Terras Altas diz Somers em 1848 as áreas florestais se ampliaram muito Aqui temos de um lado de Gaick a nova floresta de Glenfeshie e lá do outro lado a nova floresta de Ardverikie Na mesma linha temos o BleakMount um imenso deserto recéminaugurado De leste a oeste das vizinhanças de Aberdeen até os penhascos de Oban há uma linha contínua de florestas ao passo que em outras regiões das Terras Altas encontramse as novas florestas de Loch Archaig Glengarry Glenmoriston etc A transformação de sua terra em pastagens de ovelhas impeliu os gaélicos para terras estéreis Agora o veado começa a substituir a ovelha e lança os gaélicos numa miséria ainda mais massacrante As florestas de caça219a e o povo não podem existir um ao lado do outro Um ou outro tem inevitavelmente de ceder espaço Se no próximo quarto de século deixarmos que as florestas de caça continuem a crescer em número e tamanho como ocorreu no último quarto de século logo não se encontrará mais nenhum gaélico em sua terra natal Esse movimento entre os proprietários das Terras Altas se deve por um lado à moda aos pruridos aristocráticos à paixão pela caça etc por outro lado porém eles praticam o comércio da caça exclusivamente com um olho no lucro Pois é fato que uma parte das terras montanhosas convertida em reserva de caça é em muitos casos incomparavelmente mais lucrativa do que 523 se convertida em pastagens de ovelhas O aficionado que procura uma reserva de caça só limita sua oferta pelo tamanho de sua bolsa Nas Terras Altas foram impostos sofrimentos não menos cruéis do que aqueles impostos à Inglaterra pela política dos reis normandos Aos veados foi dado mais espaço enquanto os seres humanos foram acossados num círculo cada vez mais estreito Roubouse do povo uma liberdade atrás da outra E a opressão ainda cresce diariamente Clareamento e expulsão do povo são seguidos pelos proprietários como princípios inexoráveis como uma necessidade agrícola do mesmo modo como são varridos as árvores e os arbustos nas florestas da América e da Austrália e a operação segue sua marcha tranquila adequada aos negócios220 O roubo dos bens da I greja a alienação fraudulenta dos domínios estatais o furto da propriedade comunal a transformação usurpatória realizada com inescrupuloso terrorismo da propriedade feudal e clânica em propriedade privada moderna foram outros tantos métodos idílicos da acumulação primitiva Tais métodos conquistaram o campo para a agricultura capitalista incorporaram o solo ao capital e criaram para a indústria urbana a oferta necessária de um proletariado inteiramente livre 3 Legislação sanguinária contra os expropriados desde o final do século XV Leis para a compressão dos salários Expulsos pela dissolução dos séquitos feudais e pela expropriação violenta e intermitente de suas terras esse proletariado inteiramente livre não podia ser absorvido pela manufatura emergente com a mesma rapidez com que fora trazido ao mundo Por outro lado os que foram repentinamente arrancados de seu modo de vida costumeiro tampouco conseguiam se ajustar à disciplina da nova situação Converteramse massivamente em mendigos assaltantes vagabundos em parte por predisposição mas na maioria dos casos por força das circunstâncias I sso explica o surgimento em toda a Europa ocidental no final do século XV e ao longo do século XVI de uma legislação sanguinária contra a vagabundagem Os pais da atual classe trabalhadora foram inicialmente castigados por sua metamorfose que lhes fora imposta em vagabundos e paupers A legislação os tratava como delinquentes voluntários e supunha depender de sua boa vontade que eles continuassem a trabalhar sob as velhas condições já inexistentes Na Inglaterra essa legislação teve início no reinado de Henrique VII Henrique VI I I 1530 mendigos velhos e incapacitados para o trabalho recebem uma licença para mendigar Em contrapartida açoitamento e encarceramento para os vagabundos mais vigorosos Estes devem ser amarrados a um carro e açoitados até sangrarem em seguida devem prestar juramento de retornarem à sua terra natal ou ao lugar onde tenham residido durante os últimos três anos e de se porem a trabalhar to put himself to labour Que ironia cruel Na lei 27 Henrique VI I Im reitera se o estatuto anterior porém diversas emendas o tornam mais severo Em caso de uma segunda prisão por vagabundagem o indivíduo deverá ser novamente açoitado e ter a metade da orelha cortada na terceira reincidência porém o réu deve ser executado como grave criminoso e inimigo da comunidade Eduardo VI um estatuto do primeiro ano de seu reinado 1547 estabelece que quem se recusar a trabalhar deverá ser condenado a se tornar escravo daquele que o denunciou como vadio O amo deve alimentar seu escravo com pão e água caldos fracos e os restos de carne que lhe pareçam convenientes Ele tem o direito de forçálo 524 das Províncias Unidas de 25 de julho de 1649 etc Assim a população rural depois de ter sua terra violentamente expropriada sendo dela expulsa e entregue à vagabundagem viuse obrigada a se submeter por meio de leis grotescas e terroristas e por força de açoites ferros em brasa e torturas a uma disciplina necessária ao sistema de trabalho assalariado Não basta que as condições de trabalho apareçam num polo como capital e no outro como pessoas que não têm nada para vender a não ser sua força de trabalho Tampouco basta obrigálas a se venderem voluntariamente No evolver da produção capitalista desenvolvese uma classe de trabalhadores que por educação tradição e hábito reconhece as exigências desse modo de produção como leis naturais e evidentes por si mesmas A organização do processo capitalista de produção desenvolvido quebra toda a resistência a constante geração de uma superpopulação relativa mantém a lei da oferta e da demanda de trabalho e portanto o salário nos trilhos convenientes às necessidades de valorização do capital a coerção muda exercida pelas relações econômicas sela o domínio do capitalista sobre o trabalhador A violência extraeconômica direta continua é claro a ser empregada mas apenas excepcionalmente Para o curso usual das coisas é possível confiar o trabalhador às leis naturais da produção isto é à dependência em que ele mesmo se encontra em relação ao capital dependência que tem origem nas próprias condições de produção e que por elas é garantida e perpetuada Diferente era a situação durante a gênese histórica da produção capitalista A burguesia emergente requer e usa a força do Estado para regular o salário isto é para comprimilo dentro dos limites favoráveis à produção de maisvalor a fim de prolongar a jornada de trabalho e manter o próprio trabalhador num grau normal de dependência Esse é um momento essencial da assim chamada acumulação primitiva A classe dos assalariados surgida na segunda metade do século XI V constituía nessa época e também no século seguinte apenas uma parte muito pequena da população cuja posição era fortemente protegida no campo pela economia camponesa independente e na cidade pela organização corporativa No campo e na cidade mestres e trabalhadores estavam socialmente próximos A subordinação do trabalho ao capital era apenas formal isto é o próprio modo de produção não possuía ainda um caráter especificamente capitalista O elemento variável do capital preponderava consideravelmente sobre o constante Por isso a demanda de trabalho assalariado crescia rapidamente com cada acumulação do capital enquanto a oferta de trabalho assalariado a seguia apenas lentamente Grande parte do produto nacional mais tarde convertida em fundo de acumulação do capital ainda integrava nessa época o fundo de consumo do trabalhador A legislação sobre o trabalho assalariado desde sua origem cunhada para a exploração do trabalhador e à medida de seu desenvolvimento sempre hostil a ele222 foi iniciada na I nglaterra em 1349 pelo Statute of Labourers Estatuto dos trabalhadores de Eduardo I I I A ele corresponde na França a ordenança de 1350 promulgada em nome do rei J oão As legislações inglesa e francesa seguem um curso paralelo e são idênticas quanto ao conteúdo Na medida em que os estatutos dos trabalhadores procuram impor o prolongamento da jornada de trabalho não voltarei a 526 eles pois esse ponto já foi examinado anteriormente capítulo 8 item 5 O Statute of Labourers foi promulgado em razão das reclamações insistentes da Câmara dos Comuns Antes diz ingenuamente um tory os pobres exigiam salários tão altos que ameaçavam a indústria e a riqueza Hoje seu salário é tão baixo que igualmente ameaça a indústria e a riqueza mas de outra maneira e talvez com muito maior perigo do que então223 Uma tarifa legal de salários foi estabelecida para a cidade e para o campo para o trabalho por peça e por dia Os trabalhadores rurais deviam ser contratados por ano e os da cidade no mercado aberto Proibiase sob pena de prisão pagar salários mais altos do que o determinado por lei mas quem recebia um salário mais alto era punido mais severamente do que quem o pagava Assim as seções 18 e 19 do Estatuto dos Aprendizes da rainha Elizabeth impunham 10 dias de prisão para quem pagasse um salário mais alto e 21 dias para quem o recebesse Um estatuto de 1360 tornava mais rigorosas as penas e inclusive autorizava o patrão a empregar a coação física para extorquir trabalho pela tarifa legal de salário Todas as combinações convênios juramentos etc pelos quais pedreiros e carpinteiros se vinculavam entre si eram declarados nulos e sem valor Desde o século XI V até 1825 ano da revogação das leis anticoalizão consideravase crime grave toda coalizão de trabalhadores O espírito do estatuto trabalhista de 1349 e de seus descendentes se revela muito claramente no fato de que o Estado impõe um salário máximo mas de modo algum um mínimo No século XVI como se sabe a situação dos trabalhadores piorou consideravelmente O salário em dinheiro subiu mas não na proporção da depreciação do dinheiro e ao consequente aumento dos preços das mercadorias Na realidade portanto o salário caiu Todavia permaneceram em vigor as leis voltadas a seu rebaixamento acompanhadas dos cortes de orelhas e das marcações a ferro daqueles que ninguém quis tomar a seu serviço O estatuto dos aprendizes 5 Elizabeth c 3 autorizou os juízes de paz a fixar certos salários e a modificálos de acordo com as estações do ano e os preços das mercadorias J aime I estendeu essa regulação do trabalho aos tecelões fiandeiros e a todas as categorias possíveis de trabalhadores224 e Jorge II estendeu as leis anticoalizão a todas as manufaturas No período manufatureiro propriamente dito o modo de produção capitalista estava suficientemente fortalecido para tornar a regulação legal do salário tão inaplicável como supérflua mas se preferiu conservar para o caso de necessidade as armas do velho arsenal A lei 8 J orge I I ainda proibia que os oficiais de alfaiataria recebessem em Londres e arredores salários acima de 2 xelins e 712 pence por dia salvo em casos de luto público a lei 13 J orge I I I c 68 transferiu aos juízes de paz a regulamentação dos salários dos tecelões de seda em 1796 foram necessárias duas sentenças dos tribunais superiores para decidir se os mandatos dos juízes de paz sobre salários também valiam para os trabalhadores não agrícolas em 1799 uma lei do Parlamento confirmou que o salário dos mineiros da Escócia devia ser regulado por uma lei da época da rainha Elizabeth e por duas leis escocesas de 1661 e 1671 O quanto as condições se haviam alterado nesse ínterim o demonstra um fato inaudito ocorrido na Câmara Baixa inglesa Aqui onde há mais de 400 anos se haviam fabricado leis fixando o máximo que o salário não deveria em nenhum caso ultrapassar 527 Whitbread propôs que se fixasse um salário mínimo legal para os jornaleiros agrícolas Pitt opôsse porém admitiu que a situação dos pobres era cruel cruel Por fim em 1813 as leis de regulação dos salários foram revogadas Elas eram uma ridícula anomalia desde que o capitalista passara a regular a fábrica por meio de sua legislação privada deixando que o imposto de benificência complementasse o salário do trabalhador rural até o mínimo indispensável As disposições do Estatuto do Trabalho sobre contratos entre patrões e assalariados prazos para demissões e questões análogas que permitem apenas uma ação civil contra o patrão por quebra contratual não uma ação criminal contra o trabalhador que cometer essa mesma infração permanecem em pleno vigor até o momento atual As cruzadas antissindicais caíram em 1825 diante da atitude ameaçadora do proletariado A pesar disso caíram apenas parcialmente Alguns restos residuais dos velhos estatutos desapareceram somente em 1859 Finalmente a lei parlamentar de 29 de junho de 1871 pretendia eliminar os últimos vestígios dessa legislação classista reconhecendo legalmente as trades unions Mas uma lei parlamentar da mesma data An act to amend the criminal law relating to violence threats and molestations restaurou de fato a situação anterior sob nova forma Por meio dessa escamoteação parlamentar os meios que os trabalhadores podem recorrer numa greve ou lockout greve dos fabricantes coligados realizada mediante o fechamento simultâneo de suas fábricas são subtraídos ao direito comum e submetidos a uma legislação penal de exceção cuja interpretação cabe aos próprios fabricantes em sua condição de juízes de paz Dois anos antes na mesma Câmara dos Comuns o mesmo Sr Gladstone com a proverbia honradez que os distingue haviam apresentado um projeto de lei que abolida todas as leis penais de exceção contra a classe trabalhadora Porém jamais se permitiu que tal projeto chegasse a uma segunda leitura e assim a questão foi protegida até que o grande partido liberal por meio de uma aliança com os tories ganhou finalmente a coragem de se voltar resolutamente contra o mesmo proletariado que o conduziria ao poder Não satisfeito com essa traição o grande partido liberal autorizou os juízes ingleses sempre a abanar o rabo a serviço das classes dominantes a desenterar as proscritas leis sobre conspirações e a aplicálas às coalizões de trabalhadores Como vemos o parlamento inglês só renunciou às leis contra as greves e trades unions contra sua vontade e sob a pressão das massas depois de ele mesmo ter assumido por cinco séculos e com desavergonhado egoísmo a posição de uma permanente trades union dos capitalistas contra os trabalhadores Já no início da tormenta revolucionária a burguesia francesa ousou despojar o movimento os trabalhadores de seu recémconquistado direito de associação O decreto de 14 de junho de 1791 declarou toda a coalizão de trabalhadores como um crime atentado à liberdade e a Declaração dos Direitos Humanos punível com uma multa de 500 libras e privação por um ano dos direitos de cidadania ativa Essa lei que por meio da polícia espiã sobrevivia à revoluções e mudanças dinásticas Sobre o sistema colonial cristão afirma W Howitt um homem que faz do cristianismo uma especialidade As barbaridades e as íncias crueldades perpetradas pelas assim chamadas raças cristãs em todas as regiões do salário ultrapasse seu nível atual para que desse modo aquele que o receba escape dessa dependência absoluta condicionada pela privação dos meios de primeira necessidade que é quase a dependência da escravidão os trabalhadores não devem ser autorizados contudo a pôrse de acordo sobre seus interesses a agir em comum e por meio disso a mitigar sua dependência absoluta que é quase a dependência da escravidão porque assim feririam a a liberdade de seus cidevant maîtres antigos amos dos atuais empresários a liberdade de manter os trabalhadores na escravidão e porque uma coalizão contra o despotismo dos antigos mestres das corporações adivinhe equivaleria a restaurar as corporações abolidas pela constituição francesa226 4 Gênese dos arrendatários capitalistas Depois de termos analisado a violenta criação do proletariado inteiramente livre a disciplina sanguinária que os transforma em assalariados a sórdida ação do Estado que por meios policiais eleva o grau de exploração do trabalho e com ele a acumulação do capital perguntamonos de onde se originam os capitalistas Pois a expropriação da população rural diretamente cria apenas grandes proprietários fundiários No que diz respeito à gênese do arrendatário poderíamos por assim dizer tocála com a mão pois se trata de um processo lento que se arrasta por muitos séculos Os próprios servos e ao lado deles também pequenos proprietários livres encontravamse submetidos a relações de propriedade muito diferentes razão pela qual também foram emancipados sob condições econômicas muito diferentes Na I nglaterra a primeira forma de arrendatário é a do bailiff ele mesmo um servo da gleba Sua posição é análoga a do villicusu da Roma Antiga porém com um raio de ação mais estreito Durante a segunda metade do século XI V ele é substituído por um arrendatário a quem o landlord provê sementes gado e instrumentos agrícolas Sua situação não é muito distinta da do camponês Ele apenas explora mais trabalho assalariado Não tarda em se converter em metayer meeiro meio arrendatário Ele investe uma parte do capital agrícola o landlord a outra Ambos repartem entre si o produto global em proporção determinada por contrato Essa forma desaparece rapidamente na I nglaterra e dá lugar ao arrendatário propriamente dito que valoriza seu capital próprio por meio do emprego de trabalhadores assalariados e paga ao landlord como renda da terra uma parte do maisproduto em dinheiro ou in natura No século XV enquanto o camponês independente e o servo agrícola que trabalha ao mesmo tempo como assalariado e para si mesmo se enriquecem com seu próprio trabalho a situação do arrendatário e seu campo de produção continuam medíocres A revolução agrícola que ocorre no último terço do século XV e se estende por quase todo o século XVI com exceção porém de suas últimas décadas enriqueceu o arrendatário com a mesma rapidez com que empobreceu a população rural227 A usurpação das pastagens comunais etc permitelhe aumentar quase sem custos o número de suas cabeças de gado ao mesmo tempo que o gado lhe fornece uma maior quantidade de adubo para o cultivo do solo No século XVI a isso se soma mais um elemento de importância decisiva Naquela 529 época os contratos de arrendamento eram longos frequentemente por 99 anos A contínua queda no valor dos metais nobres e por conseguinte do dinheiro rendeu frutos de ouro ao arrendatário Ela reduziu abstraindo as demais circunstâncias anteriormente expostas o nível do salário Uma fração deste último foi incorporada ao lucro do arrendatário O constante aumento dos preços do cereal da lã da carne em suma de todos os produtos agrícolas inchou o capital monetário do arrendatário sem o concurso deste último enquanto a renda da terra que ele tinha de pagar estava contratualmente fixada em valores monetários ultrapassados 228 Desse modo ele se enriquecia a um só tempo à custa de seus trabalhadores assalariados e de seu landlord Não é de admirar pois que a I nglaterra no fim do século XVI possuísse uma classe de arrendatários capitalistas consideravelmente ricos para os padrões da época229 5 Efeito retroativo da revolução agrícola sobre a indústria Criação do mercado interno para o capital industrial A intermitente e sempre renovada expropriação e expulsão da população rural forneceu à indústria urbana como vimos massas cada vez maiores de proletários totalmente estranhos às relações corporativas uma sábia circunstância que faz o velho Adam Anderson não confundir com J ames Anderson em sua história do comércio crer numa intervenção direta da Providência Temos de nos deter ainda por um momento no exame desse elemento da acumulação primitiva À rarefação da população rural independente que cultivava suas próprias terras correspondeu um condensamento do proletariado industrial do mesmo modo como segundo Geoffroy SaintHilaire o condensamento da matéria cósmica em um ponto se explica por sua rarefação em outro230 Em que pese o número reduzido de seus cultivadores o solo continuava a render tanta produção quanto antes ou ainda mais porque a revolução nas relações de propriedade fundiária era acompanhada de métodos aperfeiçoados de cultivo de uma maior cooperação da concentração dos meios de produção etc e porque não só os assalariados agrícolas foram obrigados a trabalhar com maior intensidade231 mas também o campo de produção sobre o qual trabalhavam para si mesmos se contraiu cada vez mais Com a liberação de parte da população rural liberamse também seus meios alimentares anteriores Estes se transformam agora em elemento material do capital variável O camponês deixado ao léu tem de adquirir de seu novo senhor o capitalista industrial e sob a forma de salário o valor desses meios alimentares O que ocorre com os meios de subsistência também ocorre com as matériasprimas agrícolas locais da indústria Elas se convertem em elemento do capital constante Suponha por exemplo que uma parte dos camponeses da Vestfália que no tempo de Frederico I I fiavam linho ainda que não de seda fosse violentamente expropriada e expulsa da terra enquanto a parte restante fosse transformada em jornaleiros de grandes arrendatários Ao mesmo tempo ergueramse grandes fiações e tecelagens de linho nas quais os liberados passaram a trabalhar agora por salários O linho tem exatamente o mesmo aspecto de antes Não se modificou nem uma única de suas 530 fibras mas uma nova alma social instalouse em seu corpo Ele constitui agora uma parte do capital constante dos patrões manufatureiros Antes ele era repartido entre inúmeros pequenos produtores que com suas famílias o cultivavam e fiavam em pequenas porções agora ele se concentra nas mãos de um capitalista que coloca outros para fiar e tecer para ele Anteriormente o trabalho extra gasto na fiação do linho resultava em receita complementar para inúmeras famílias camponesas ou à época de Frederico I I em impostos pour le roi de Prusse para o rei da Prússia Ele se realiza agora no lucro de poucos capitalistas Os fusos e teares antes esparsos pelo interior agora se concentram em algumas grandes casernas de trabalho do mesmo modo que os trabalhadores e a matériaprima E fusos teares e matériaprima que antes constituíam meios de existência independentes para fiandeiros e tecelões de agora em diante se transformam em meios de comandálos232 e de deles extrair trabalho não pago Quando se observa as grandes manufaturas bem como os grandes arrendamentos não se percebe que são constituídos de muitos pequenos centros de produção nem que se formaram pela expropriação de muitos pequenos produtores independentes No entanto um olhar imparcial não se deixa enganar À época de Mirabeau o leão da revolução as grandes manufaturas ainda eram chamadas de manufactures réunies oficinas reunidas assim como falamos de lavouras reunidas Veemse apenas diz Mirabeau as grandes manufaturas onde centenas de seres humanos trabalham sob as ordens de um diretor e que são habitualmente chamadas de manufaturas reunidas manufactures réunies Já aquelas onde há um número muito grande de operários trabalhando de modo disperso e cada um por sua própria conta quase não merecem atenção São colocadas em segundo plano Tratase de um erro grave pois só estas últimas constituem um componente realmente importante da riqueza do povo A fábrica reunida fabrique réunie enriquece prodigiosamente um ou dois empresários mas os trabalhadores são apenas jornaleiros melhor ou pior remunerados e não têm qualquer participarão no bemestar do empresário Na fábrica separada fabrique séparée ao contrário ninguém fica rico mas uma porção de trabalhadores se encontra em situação confortável O número de trabalhadores aplicados e parcimoniosos crescerá pois eles mesmos reconhecem que uma vida baseada na prudência e na atividade é um meio de melhorar substancialmente sua situação em vez de obter um pequeno aumento salarial que nunca poderá significar algo importante para o futuro e cujo único resultado será no máximo que os homens vivam um pouco melhor mas sempre com uma mão na frente e outra atrás As manufaturas individuais e separadas geralmente vinculadas à pequena agricultura são as únicas livres233 A expropriação e expulsão de uma parte da população rural não só libera trabalhadores para o capital industrial e com eles seus meios de subsistência e seu material de trabalho mas cria também o mercado interno De fato os acontecimentos que transformam os pequenos camponeses em assalariados e seus meios de subsistência e de trabalho em elementos materiais do capital criam para este último ao mesmo tempo seu mercado interno Anteriormente a família camponesa produzia e processava os meios de subsistência e matériasprimas que ela mesma em sua maior parte consumia Essas matériasprimas e meios de subsistência converteramse agora em mercadorias o grande arrendatário as vende e encontra seu mercado nas manufaturas Fios panos tecidos grosseiros de lã coisas cujas matériasprimas se encontravam no âmbito de toda família camponesa e que eram fiadas e tecidas por ela para seu consumo próprio transformamse agora em artigos de manufatura cujos mercados são formados precisamente pelos distritos rurais A numerosa clientela dispersa até então condicionada por uma grande 531 quantidade de pequenos produtores trabalhando por conta própria concentrase agora num grande mercado abastecido pelo capital industrial234 Desse modo a expropriação dos camponeses que antes cultivavam suas próprias terras e agora são apartados de seus meios de produção acompanha a destruição da indústria rural subsidiária o processo de cisão entre manufatura e agricultura E apenas a destruição da indústria doméstica rural pode dar ao mercado interno de um país a amplitude e a sólida consistência de que o modo de produção capitalista necessita No entanto o período manufatureiro propriamente dito não provocou uma transformação radical Recordemos que a manufatura só se apodera muito fragmentariamente da produção nacional e tem sempre como sua ampla base de sustentação o artesanato urbano e a indústria subsidiária doméstica e rural Toda vez que a manufatura destrói essa indústria doméstica em uma de suas formas em ramos particulares de negócio e em determinados pontos ela provoca seu ressurgimento em outros pois tem necessidade dela até certo grau para o processamento da matéria prima Ela produz assim uma nova classe de pequenos lavradores que cultivam o solo como atividade subsidiária e exercem como negócio principal o trabalho industrial para a venda dos produtos à manufatura diretamente ou por meio do comerciante Essa é uma causa embora não a principal de um fenômeno que inicialmente desconcerta o investigador da história inglesa A partir do último terço do século XV tal pesquisador encontra reclamações contínuas interrompidas apenas durante certos intervalos sobre o avanço da economia capitalista no campo e a aniquilação progressiva do campesinato Por outro lado volta sempre a reencontrar este campesinato ainda que em menor número e em situação cada vez pior235 A causa principal é a seguinte a I nglaterra é predominantemente ora cultivadora de trigo ora criadora de gado em períodos alternados e com essas atividades varia o tamanho da empresa camponesa Somente a grande indústria proporciona com as máquinas o fundamento constante da agricultura capitalista expropria radicalmente a imensa maioria da população rural e consuma a cisão entre a agricultura e a indústria doméstica rural cujas raízes a fiação e a tecelagem ela extirpa236 Portanto é só ela que conquista para o capital industrial todo o mercado interno237 6 Gênese do capitalista industrial A gênese do capitalista industrial238 não se deu de modo tão gradativo como a do arrendatário Sem dúvida muitos pequenos mestres corporativos e mais ainda pequenos artesãos independentes ou também trabalhadores assalariados transformaramse em pequenos capitalistas e por meio da exploração paulatina do trabalho assalariado e da correspondente acumulação em capitalistas sans phrase sem floreios Durante a infância da produção capitalista as coisas se deram muitas vezes como na infância do sistema urbano medieval quando a questão de saber qual dos servos fugidos devia se tornar mestre ou criado era geralmente decidida com base na data mais ou menos recente de sua fuga Entretanto a marcha de lesma desse método não correspondia em absoluto às necessidades comerciais do novo mercado mundial 532 que fora criado pelas grandes descobertas do fim do século XV Mas a Idade Média havia legados duas formas distintas do capital que amadureceram nas mais diversas formações socioeconômicas e antes da era do modo de produção capitalista já valiam como capital quand même em geral o capital usurário e o capital comercial Hoje em dia toda a riqueza da sociedade passa primeiro pelas mãos do capitalista ele paga a renda ao proprietário da terra o salário ao trabalhador ao coletor de imposto e dízimo aquilo que estes reclamam e guarda para si mesmo uma parte grande que na realidade é maior e além disso aumenta a cada dia do produto anual do trabalho O capitalista pode agora ser considerado o primeiro proprietário de toda a riqueza social ainda que nenhuma lei lhe tenha concedido o direito a essa propriedade Essa mudança na propriedade foi realizada para que o presente processo mediante leis contra a usura O poder do capitalismo que não leu os direitos de leis foi elevado a direitos de domínio O autor deveria ter dito que revoluções não se fazem por meio de leis O regime feudal no campo e a constituição corporativa nas cidades impediram o capital monetário constituído pela usura e pelo comércio de se converter em capital industrial Essas barreiras caíram com a dissolução dos séquitos feudais e com a expropriação e a parcial expulsão da população rural A nova manufatura se instalou nos portos marítimos exportadores ou em pontos do campo não sujeitos ao controle do velho regime urbano e de sua constituição corporativa Na Inglaterra se assistiu por isso a uma amarga luta das corporate towns contra essas novas incubadoras industriais A descoberta das terras auríferas e argentíferas na América o exterminio a escravização e o soterramento da população nativa nas minas o começo da conquista e saqueio das Índias Orientais a transformação da África numa reserva para a caça comercial de peles negras caracterizam a aurora da era do produção capitalista Esses processos idílicos constituem momentos fundamentais da acumulação primitiva A eles se segue imediatamente a guerra comercial entre as nações europeias tendo o globo terrestre como palco Ela é inaugurada pelo levante dos Países Baixos contra a dominação espanhola assume proporções gigantescas na guerra antijacobina inglesa e prossegue ainda hoje nas guerras do ópio contra a China etc Os diferentes momentos da acumulação primitiva repartemse agora numa sequência mais ou menos cronológica principalmente entre Espanha Portugal Holanda França e Inglaterra Na Inglaterra no fim do século XVII esses momentos foram combinados de modo sistêmico dando origem ao sistema colonial ao sistema da dívida pública ao moderno sistema tributário e ao sistema protecionista Tal métodos como por exemplo o sistema colonial baseiamse em parte na violência mais brutal Todos eles porém lançaram mão do poder do Estado da violência concentrada e organizada da sociedade para impulsionar artificialmente o processo de transformação do modo de produção feudal em capitalista e abreviar a transição de um para o outro A violência é parte de toda sociedade velha que está plena de uma sociedade nova Ela mesma é uma potência econômica Sobre o sistema colonial cristão afirma W Howitt um homem que faz do cristianismo uma especialidade As barbaridades e as íncias crueldades perpetradas pelas assim chamadas raças cristãs em todas as regiões do mundo e contra todos os povos que conseguiram subjugar não encontram paralelo em nenhuma era da história universal e em nenhuma raça por mais selvagem e inculta por mais desapiedada e inescrupulosa que fosse241 A história da economia colonial holandesa e a Holanda foi a nação capitalista modelar do século XVI I apresentanos um quadro insuperável de traição suborno massacre e infâmia242 Nada é mais característico que seu sistema de roubo de pessoas aplicado nas ilhas Celebes para obter escravos para J ava Os ladrões de pessoas eram treinados para esse objetivo O ladrão o intérprete e o vendedor eram os principais agentes nesse negócio e os príncipes nativos eram os principais vendedores Os jovens sequestrados eram mantidos escondidos nas prisões secretas das ilhas Celebes até que estivessem maduros para serem enviados aos navios de escravos Um relatório oficial diz Esta cidade de Macassar por exemplo está repleta de prisões secretas uma mais abominável que a outra abarrotadas de miseráveis vítimas da cobiça e da tirania acorrentados arrancados violentamente de suas famílias Para se apoderar de Málaca os holandeses subornaram o governador português Este em 1641 deixouos entrar na cidade Os invasores apressaramse à casa do governador e o assassinaram a fim de se absterem de pagarlhe as 21875 prometidas como suborno Onde pisavam seguiamnos a devastação e o despovoamento Banjuwangi uma província de J ava contava em 1750 com mais de 80 mil habitantes em 1811 apenas 8 mil Eis o doux commerce doce comércio É sabido que a Companhia I nglesa das Índias Orientais obteve além do domínio político nas Índias Orientais o monopólio do comércio de chá bem como do comércio chinês em geral e do transporte de produtos para a Europa Mas a navegação costeira na Índia e entre as ilhas assim como o comércio no interior da Índia tornaramse monopólio dos altos funcionários da Companhia Os monopólios de sal ópio bétel e outras mercadorias eram minas inesgotáveis de riqueza Os próprios funcionários fixavam os preços e espoliavam à vontade o infeliz indiano O governadorgeral participava nesse comércio privado Seus favoritos obtinham contratos em condições mediante as quais mais astutos que os alquimistas criavam ouro do nada Grandes fortunas brotavam de um dia para o outro como cogumelos a acumulação primitiva realizavase sem o adiantamento de 1 único xelim O processo judicial de Warren Hastings está pleno de tais exemplos Eis um caso A certo Sullivan é atribuído um contrato de fornecimento de ópio e isso no momento de sua partida em missão oficial para uma região da Índia totalmente afastada dos distritos de ópio Sullivan vende seu contrato por 40000 a certo Binn Este por sua vez vendeo no mesmo dia por 60000 e o último comprador e executor do contrato declara que depois disso tudo ainda obteve um lucro enorme Segundo uma lista apresentada ao Parlamento de 1757 a 1766 a Companhia e seus funcionários deixaramse presentear pelos indianos com 6 milhões Entre 1769 e 1770 os ingleses provocaram um surto de fome por meio da compra de todo arroz e pela recusa de revendêlo a não ser por preços fabulosos243 O tratamento dispensado aos nativos era naturalmente o mais terrível nas plantações destinadas exclusivamente à exportação como nas Índias Ocidentais e nos países ricos e densamente povoados entregues à matança e ao saqueio como o México e as Índias Orientais Tampouco nas colônias propriamente ditas se desmentia o 534 caráter cristão da acumulação primitiva Esses austeros e virtuosos protestantes os puritanos da Nova Inglaterra estabeleceram em 1703 por decisão de sua assembly assembleia um prêmio de 40 para cada escalpo indígena e cada pelevermelha capturado em 1720 um prêmio de 100 para cada escalpo em 1744 depois de MassachusettsBay ter declarado certa tribo como rebelde os seguintes preços 100 da nova moeda para o escalpo masculino a partir de 12 anos de idade 105 para prisioneiros masculinos 50 para mulheres e crianças capturadas 50 para escalpos de mulheres e crianças Algumas décadas mais tarde o sistema colonial vingouse nos descendentes que nesse interím haviam se tornado rebeldes dos piedosos pilgrim fathers pais peregrinos Um incentivo e pagamento inglês foram mortos a golpes de tomahawk O Parlamento britânico declarou os cães de caça e o escalpelamento como meios que Deus e a Natureza puseram em suas mãos O sistema colonial amadureceu o comércio e a navegação como plantas num hibernáculo As sociedades Monopoly Lutero foram alavancas poderosas da concentração de capital As manufaturas em ascensão as colônias garantiam um mercado de escoamento e uma acumulação potencial pelo monopólio do mercado Os tesouros espoliados fora da Europa diretamente mediante o saqueio a escravização e o latrocinio refutam à metrópole e lá se transformaram em capital A Holanda primeiro país a desenvolver plenamente o sistema colonial encontravase já em 1648 no ápice de sua grandeza comercial Encontravase de posse quase exclusiva do comércio com as Índias Orientais e do tráfico entre o sudeste e o nordeste europeu Sua pesca frutas e manufaturas sobrepujavam as de qualquer outro país Os capitais da República eram talvez mais consideráveis que os de todo o resto da Europa somadas Guilich se esquece de acrescer em 1648 a massa do povo holandês já estava mais sobrecarregada da riqueza mais empobrecida e brutalmente oprimida do que as massas populares do resto da Europa somadas Hoje em dia a supremacia industrial traz consigo a supremacia comercial que é o predominio industrial Daí o papel preponderante que o sistema colonial desempenhava nessa época Ele era o deus estranho que se colocou sobre o altar ao lado dos velhos ídolos da Europa e que um belo dia lançouos por terra com um só golpe Tal sistema proclamou a produção de maisvalor com finalidade última e única da humanidade O sistema de crédito público isto é das dívidas públicas cujas origens encontramos em Gênova e Veneza já na Idade Média tomou conta de toda a Europa durante o período manufatureiro O sistema colonial com seu comércio marítimo e suas guerras comerciais serviulhe de incubadora Assim ele se consolidou primeiramente na Holanda A dívida pública isto é a alienação Veräusserung do Estado seja ele despotítico constitucional ou republicano inspira uma resposta sobre a era capitalista A única parte de assim chamada liberdade é sob um novo regime o controle coerente e moderno segundo a qual um povo se torna tanto mais rico quanto mais se subrecita E crédito público se converte no crédito do capital ao surgir o endividamento do Estado o pecado contra o Espírito Santo para o qual não há perdão cede seu lugar para a falta de fé na dívida pública A dívida pública tornase uma das alavancas mais poderosas da acumulação primitiva Como com um toque de varinha mágica ela infunde força criadora no dinheiro improdutivo e o transforma assim em capital sem que para isso tenha necessidade de se expor aos esforços e riscos inseparáveis da aplicação industrial e mesmo usurária Na realidade os credores do Estado não dão nada pois a soma emprestada se converte em títulos da dívida facilmente transferíveis que em suas mãos continuam a funcionar como se fossem a mesma soma de dinheiro vivo Porém ainda sem levarmos em conta a classe de rentistas ociosos assim criada e a riqueza improvisada dos financistas que desempenham o papel de intermediários entre o governo e a nação e abstraindo também a classe dos coletores de impostos comerciantes e fabricantes privados aos quais uma boa parcela de cada empréstimo estatal serve como um capital caído do céu a dívida pública impulsionou as sociedades por ações o comércio com papéis negociáveis de todo tipo a agiotagem numa palavra o jogo da Bolsa e a moderna bancocracia Desde seu nascimento os grandes bancos condecorados com títulos nacionais não eram mais do que sociedades de especuladores privados que se colocavam sob a guarda dos governos e graças aos privilégios recebidos estavam em condições de emprestarlhes dinheiro Por isso a acumulação da dívida pública não tem indicador mais infalível do que a alta sucessiva das ações desses bancos cujo desenvolvimento pleno data da fundação do Banco da I nglaterra l694 Esse banco começou emprestando seu dinheiro ao governo a um juro de 8 ao mesmo tempo que o Parlamento o autorizava a cunhar dinheiro com o mesmo capital voltando a emprestá lo ao público sob a forma de notas bancárias Com essas notas ele podia descontar letras conceder empréstimos sobre mercadorias e adquirir metais preciosos Não demorou muito para que esse dinheiro de crédito fabricado pelo próprio banco se convertesse na moeda com a qual o Banco da I nglaterra tomava empréstimos ao Estado e por conta deste último pagava os juros da dívida pública Não lhe bastava dar com uma mão para receber mais com a outra o banco enquanto recebia continuava como credor perpétuo da nação até o último tostão adiantado E assim ele se tornou pouco a pouco o receptáculo imprescindível dos tesouros metálicos do país e o centro de gravitação de todo o crédito comercial À mesma época em que na I nglaterra deixouse de queimar bruxas começouse a enforcar falsificadores de notas bancárias Nos escritos dessa época por exemplo nos de Bolingroke podese apreciar claramente o efeito que produziu nos contemporâneos o aparecimento súbito dessa malta de bancocratas financistas rentistas corretores stockjobbers bolsistas e leões da Bolsa243b Com as dívidas públicas surgiu um sistema internacional de crédito que frequentemente encobria uma das fontes da acumulação primitiva neste ou naquele povo Desse modo as perversidades do sistema veneziano de rapina constituíam um desses fundamentos ocultos da riqueza de capitais da Holanda à qual a decadente Veneza emprestou grandes somas em dinheiro O mesmo se deu entre a Holanda e a I nglaterra J á no começo do século XVI I I as manufaturas holandesas estavam 536 amplamente ultrapassadas e o país deixará de ser a nação comercial e industrial dominante Um dos seus negócios principais entre 1701 e 1776 foi o empréstimo de enormes somas de capital especialmente a sua poderosa concorrente a Inglaterra Algo semelhante ocorre hoje entre Inglaterra e Estados Unidos Uma grande parte do capitais que atualmente ingressam nos Estados Unidos sem certidão de nascimento é sangue de crianças que acabou de ser capitalizado na Inglaterra Como a dívida pública se respalda nas receitas estatais que têm de cobrir os juros e demais pagamentos anuais etc o moderno sistema tributário se converteu num complemento necessário do sistema de empréstimos públicos Os empréstimos capacitam o governo a cobrir os gastos extraordinários sem que o contribuinte o perceba de imediato mas exigem em contrapartida um aumento de impostos Por outro lado o aumento de impostos causado pela acumulação de dívidas contraídas sucessivamente obriga o governo a recorrer sempre a novos empréstimos para cobrir os novos gastos extraordinários O regime fiscal moderno cujo eixo é formado pelos impostos sobre os nativos de subsistência mais imprescindíveis portanto pelo encarceramento desses meios traz em si portanto o germe da progressão automática A sobrecarga tributária não é pois um incidente mas antes um princípio Razão pela qual na Holanda onde esse sistema foi primeiramente aplicado o grande patriota de Witt o celebrou em suas máximas como o melhor sistema para fazer do trabalhador assalariado uma pessoa submissa frugal aplicada e sobrecarregada de trabalho A sua influência destrutiva que esse sistema exerce sobre a situação dos trabalhadores assalariados importanos aqui no entanto menos que a violenta expropriação do camponês do artesão em suma de todos os componentes da pequena classe média Sobre isso não há divergência nem mesmo entre os economistas burgueses Sua eficácia expropriada é ainda reforçada pelo sistema protecionista uma de suas partes integrantes O grande papel que a dívida pública o sistema de capitalização da riqueza e da expropriação das massas levou um bom número de escritores como Cobbett Doubleday e outros a procurar erroneamente naquela a causa principal da miséria dos povos modernos O sistema protecionista foi um meio artificial de fabricar fabricantes de expropriar trabalhadores independentes de capitalizar os meios de produção e de subsistência nacionais de abreviar violentamente a transição do modo de produção antigo para o moderno A patente desse invento foi ferozmente disputada pelos Estados europeus que a serviço dos extratores de maisvalor perseguiram esse objetivo não só saqueando seu próprio povo tanto direta por meio de tarifas protecionistas quanto indiretamente por meio de prêmios de exportação etc mas também extirpando violentamente toda a indústria dos países que lhes eram contíguos e deles dependiam No continente europeu também seguiu o modelo de Colbert o processo foi simplificado antes do próprio capital industrial passar a fluir diretamente do Estado Por que exclamou Mirabeau procurar tão longe a causa do fulgor manufactureirc da Saxônia antes da Guerra dos Sete Anos 180 milhões de dívidas públicas244 Sistema colonial dívidas públicas impostos escorchantes protecionismo guerras comerciais etc esses rebanhos do período manufatureiro propriamente dito cresceram gigantescamente durante a infância da grande indústria O nascimento desta última é celebrado pelo grande rapto herodiano dos inocentes Como a marinha real as fábricas recrutam por meio da coerção Sir F M Eden tão impassível diante dos horrores da expropriação da população rural que se viu despojada de suas terras desde o último terço do século XV até a época desse autor isto é o final do século XVIII e que tão vaidosamente se regozijava com esse processo por ele considerado necessário para estabelecer a agricultura capitalista e a proporção devida entre lavoura e pastagem não dá provas no entanto da mesma compreensão econômica no que diz respeito à necessidade do roubo de crianças e da escravidão infantil para a transformação da empresa manufatureira em empresa fabril e o estabelecimento da devida proporção entre capital e força de trabalho Diz ele Talvez mereça a atenção pública a questão de uma manufatura que para ser operada do modo mais eficiente tenha de buscar cottages e workhouses em busca de crianças pobres que seriam divididas em turmas esfalfadas durante a maior parte da noite e levarseá descanso roubado uma manufatura que além disso amontoa uma multidão de pessoas de ambos os sexos de diferentes idades e inclinações de tal modo que a contaminação do exemplo tem necessariamente de levar à depravação e à licenciosidade se tal manufatura pode aumentar a soma da felicidade nacional e individual245 Em Derbyshire Nottinghamshire e especialmente em Lancashire diz Fielden a maquinaria recéminventada foi empregada em grandes fábricas instaladas junto a correntes capazes de girar a rodadágua Nesses lugares afastados das cidades requeriamse subitamente milhares de braços e principalmente Lancashire até então comparativamente pouco povoado e infértil agora necessitava entre mais de uma população O que mais se requisitava eram edemas de pequenos e ágeis Logo surgiu o costume de buscar aprendizes nas várias fábricas Capacazes eram designados para a criança O interesse desses feitores de escravos era buscar as crianças da trabalho pois a remuneração destes primeiros era proporcional à quantidade de produto que se conseguia extrair da criança A consequência natural foi a crueldade Em diversos hospitais fabris especialmente de Lancashire essas crianças inecificadas e desvalidas consagradas aos senhores de fábricas foram submetidas a torturas muito pungentes Foram assaltadas até à morte por excesso de trabalho formando aquietadas acorrentadas e torturadas com os mais requintes de crueldade em muitos casos foram esfoleadas até restarlhes só pele e ossos enquanto o choquete as mantinha no trabalho Sim em alguns casos foram levadas ao suicídio Os principais lados de Derbyshire Nottinghamshire e Lancashire ocultos ao olhar do público converteramse em lugares ergas de tortura e com frequência de assassinato Mas isso só aguçava mais sua vocação da lobbysmo Implementaram o trabalho noturno isto é deixos de testemunho que operários pelo trabalho diurno isto é dispunham de outro grupo pronto para o trabalho noturno o grupo portanto acabara de existir e viceversa Em Lancashire disto deixaram na tradição popular Outros com o grupo nunca antes escrivaram248 com 4800 negros por ano I sso proporcionava ao mesmo tempo uma cobertura oficial para o contrabando britânico Liverpool teve um crescimento considerável graças ao tráfico de escravos Esse foi seu método de acumulação primitiva e até hoje a respeitabilidade de Liverpool é o Píndaro do tráfico de escravos que cf o escrito citado do dr Aikin de 1795 eleva até a paixão o espírito de empreendimento comercial forma navegantes afamados e rende quantias enormes de dinheiroac Em 1730 Liverpool empregava 15 navios no tráfico de escravos em 1751 53 em 1760 74 em 1770 96 e em 1792 132 Enquanto introduzia a escravidão infantil na I nglaterra a indústria do algodão dava ao mesmo tempo o impulso para a transformação da economia escravista dos Estados Unidos antes mais ou menos patriarcal num sistema comercial de exploração Em geral a escravidão disfarçada dos assalariados na Europa necessitava como pedestal da escravidão sans phrase do Novo Mundo247 Tantae molis erat tanto esforço se fazia necessárioad para trazer à luz as eternas leis naturais do modo de produção capitalista para consumar o processo de cisão entre trabalhadores e condições de trabalho transformando num dos polos os meios sociais de produção e subsistência em capital e no polo oposto a massa do povo em trabalhadores assalariados em pobres laboriosos livres esse produto artificial da história moderna248 Se o dinheiro segundo Augier vem ao mundo com manchas naturais de sangue numa de suas faces249 o capital nasce escorrendo sangue e lama por todos os poros da cabeça aos pés250 7 Tendência histórica da acumulação capitalista No que resulta a acumulação primitiva do capital isto é sua gênese histórica Na medida em que não é transformação direta de escravos e servos em trabalhadores assalariados ou seja mera mudança de forma ela não significa mais do que a expropriação dos produtores diretos isto é a dissolução da propriedade privada fundada no próprio trabalho A propriedade privada como antítese da propriedade social coletiva só existe onde os meios e as condições externas do trabalho pertencem a pessoas privadas Mas conforme essas pessoas sejam os trabalhadores ou os não trabalhadores a propriedade privada tem também outro caráter Os infinitos matizes que ela exibe à primeira vista refletem apenas os estágios intermediários que existem entre esses dois extremos A propriedade privada do trabalhador sobre seus meios de produção é o fundamento da pequena empresa e esta última é uma condição necessária para o desenvolvimento da produção social e da livre individualidade do próprio trabalhador É verdade que esse modo de produção existe também no interior da escravidão da servidão e de outras relações de dependência mas ele só floresce só libera toda a sua energia só conquista a forma clássica adequada onde o trabalhador é livre proprietário privado de suas condições de trabalho manejadas por ele mesmo o camponês da terra que cultiva o artesão dos instrumentos que manuseia como um virtuoso Esse modo de produção pressupõe o parcelamento do solo e dos demais meios de 539 produção Assim como a concentração destes últimos ele também exclui a cooperação a divisão do trabalho no interior dos mesmos processos de produção a dominação e a regulação sociais da natureza o livre desenvolvimento das forças produtivas sociais Ele só é compatível com os estreitos limites naturaisespontâneos da produção e da sociedade Querer eternizálo significaria como diz Pecqueur com razão decretar a mediocridade geralae Ao atingir certo nível de desenvolvimento ele engendra os meios materiais de sua própria destruição A partir desse momento agitamse no seio da sociedade forças e paixões que se sentem travadas por esse modo de produção Ele tem de ser destruído e é destruído Sua destruição a transformação dos meios de produção individuais e dispersos em meios de produção socialmente concentrados e por conseguinte a transformação da propriedade nanica de muitos em propriedade gigantesca de poucos portanto a expropriação que despoja grande massa da população de sua própria terra e de seus próprios meios de subsistência e instrumentos de trabalho essa terrível e dificultosa expropriação das massas populares tudo isso constitui a préhistória do capital Esta compreende uma série de métodos violentos dos quais passamos em revista somente aqueles que marcaram época como métodos da acumulação primitiva do capital A expropriação dos produtores diretos é consumada com o mais implacável vandalismo e sob o impulso das paixões mais infames abjetas e mesquinhamente execráveis A propriedade privada constituída por meio do trabalho próprio fundada por assim dizer na fusão do indivíduo trabalhador isolado independente com suas condições de trabalho cede lugar à propriedade privada capitalista que repousa na exploração de trabalho alheio mas formalmente livre251 Tão logo esse processo de transformação tenha decomposto suficientemente em profundidade e extensão a velha sociedade tão logo os trabalhadores se tenham convertido em proletários e suas condições de trabalho em capital tão logo o modo de produção capitalista tenha condições de caminhar com suas próprias pernas a socialização ulterior do trabalho e a transformação ulterior da terra e de outros meios de produção em meios de produção socialmente explorados e por conseguinte em meios de produção coletivos assim como a expropriação ulterior dos proprietários privados assumem uma nova forma Quem será expropriado agora não é mais o trabalhador que trabalha para si próprio mas o capitalista que explora muitos trabalhadores Essa expropriação se consuma por meio do jogo das leis imanentes da própria produção capitalista por meio da centralização dos capitais Cada capitalista liquida muitos outros Paralelamente a essa centralização ou à expropriação de muitos capitalistas por poucos desenvolvese a forma cooperativa do processo de trabalho em escala cada vez maior a aplicação técnica consciente da ciência a exploração planejada da terra a transformação dos meios de trabalho em meios de trabalho que só podem ser utilizados coletivamente a economia de todos os meios de produção graças a seu uso como meios de produção do trabalho social e combinado o entrelaçamento de todos os povos na rede do mercado mundial e com isso o caráter internacional do regime capitalista Com a diminuição constante do número de magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as vantagens desse processo de transformação 540 aumenta a massa da miséria da opressão da servidão da degeneração da exploração mas também a revolta da classe trabalhadora que cada vez mais numerosa é instruída unida e organizada pelo próprio mecanismo do processo de produção capitalista O monopólio do capital se converte num entrave para o modo de produção que floresceu com ele e sob ele A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho atingem um grau em que se tornam incompatíveis com seu invólucro capitalista O entrave é arrebentado Soa a hora derradeira da propriedade privada capitalista e os expropriadores são expropriados O modo de apropriação capitalista que deriva do modo de produção capitalista ou seja a propriedade privada capitalista é a primeira negação da propriedade privada individual fundada no trabalho próprio Todavia a produção capitalista produz com a mesma necessidade de um processo natural sua própria negação É a negação da negação Ela não restabelece a propriedade privada mas a propriedade individual sobre a base daquilo que foi conquistado na era capitalista isto é sobre a base da cooperação e da posse comum da terra e dos meios de produção produzidos pelo próprio trabalho A transformação da propriedade privada fragmentária baseada no trabalho próprio dos indivíduos em propriedade capitalista é naturalmente um processo incomparavelmente mais prolongado duro e dificultoso do que a transformação da propriedade capitalista já fundada de fato na organização social da produção em propriedade social Lá tratavase da expropriação da massa do povo por poucos usurpadores aqui tratase da expropriação de poucos usurpadores pela massa do povo252 541 Capítulo 25 A teoria moderna da colonização253 A economia política tem como princípio a confusão entre dois tipos muito diferentes de propriedade privada das quais uma se baseia no próprio trabalho do produtor e a outra na exploração do trabalho alheio Ela esquece que a última não só constitui a antítese direta da primeira como cresce unicamente sobre seu túmulo Na Europa ocidental a pátria da economia política o processo da acumulação primitiva está consumado em maior ou menor medida Aqui ou o regime capitalista submeteu diretamente toda a produção nacional ou onde as condições ainda não estão desenvolvidas controla ao menos indiretamente as camadas sociais que decadentes pertencentes ao modo de produção antiquado continuam a existir ao seu lado O economista político aplica a esse mundo já pronto do capital as concepções de direito e propriedade vigentes no mundo précapitalista e o faz com um zelo tanto mais ansioso e com unção tanto maior quanto mais fatos desmascaram suas ideologias O mesmo não ocorre nas colônias Nelas o regime capitalista chocase por toda parte contra o obstáculo do produtor que como possuidor de suas próprias condições de trabalho enriquece a si mesmo por seu trabalho e não ao capitalista A contradição desses dois sistemas econômicos diametralmente opostos se efetiva aqui de maneira prática na luta entre eles Onde o capitalista é respaldado pelo poder da metrópole ele procura eliminar à força o modo de produção e apropriação fundado no trabalho próprio O mesmo interesse que na metrópole leva o sicofanta do capital o economista político a tratar teoricamente o modo de produção capitalista com base em seu oposto levao aqui to make a clean breast of it a falar sinceramente e a proclamar em alto e bom som a antítese entre os dois modos de produção Para tanto ele demonstra como o desenvolvimento da força produtiva social do trabalho a cooperação a divisão do trabalho a aplicação da maquinaria em larga escala etc são impossíveis sem a expropriação dos trabalhadores e a correspondente metamorfose de seus meios de produção em capital No interesse da assim chamada riqueza nacional ele sai em busca de meios artificiais que engendrem a pobreza do povo e assim sua armadura apologética se dilacera pedaço por pedaço como lenha podre O grande mérito de E G Wakefield não é o de ter descoberto algo novo sobre as colônias254 mas o de ter descoberto nas colônias a verdade sobre as relações capitalistas da metrópole Assim como o sistema protecionista em seus primórdios255 visava à fabricação de capitalistas na metrópole a teoria da colonização de Wakefield que a I nglaterra procurou durante certo tempo aplicar legalmente visa à fabricação de trabalhadores assalariados nas colônias A isso Wakefield denomina systematic colonization colonização sistemática I nicialmente Wakefield descobriu nas colônias que a propriedade de dinheiro meios de subsistência máquinas e outros meios de produção não confere a ninguém a 542 condição de capitalista se lhe falta o complemento o trabalhador assalariado o outro homem forçado a vender a si mesmo voluntariamente Ele descobriu que o capital não é uma coisa mas uma relação social entre pessoas intermediada por coisas256 O sr Peel lastima ele levou consigo da I nglaterra para o rio Swan na Nova Holandaa meios de subsistência e de produção num total de 50 mil Ele foi tão cauteloso que também levou consigo 3 mil pessoas da classe trabalhadora homens mulheres e crianças Quando chegaram ao lugar de destino o sr Peel ficou sem nenhum criado para fazer sua cama ou buscarlhe água do rio257 Desditoso sr Peel que previu tudo menos a exportação das relações inglesas de produção para o rio Swanb Para a compreensão dos descobrimentos seguintes de Wakefield fazemse necessárias duas observações prévias Sabemos que os meios de produção e de subsistência como propriedades do produtor direto não são capital Eles só se tornam capital em condições sob as quais servem simultaneamente como meios de exploração e de dominação do trabalhador Na cabeça do economista político porém essa alma capitalista dos meios de produção e subsistência está tão intimamente unida a sua substância material que ele os batiza em todas as circunstâncias como capital mesmo quando eles são exatamente o contrário Assim ocorre com Wakefield Além disso a fragmentação dos meios de produção como propriedade individual de muitos trabalhadores independentes uns dos outros e que trabalham por própria conta é por ele denominada repartição igual do capital Com o economista político se passa o mesmo que com o jurista feudal Também este último colava seus rótulos jurídicos feudais nas relações puramente monetárias Se o capital diz Wakefield estivesse repartido em porções iguais entre todos os membros da sociedade ninguém se interessaria em acumular uma quantidade maior de capital do que aquela que pudesse empregar com suas próprias mãos Esse é caso até certo ponto nas novas colônias americanas onde a paixão pela propriedade fundiária impede a existência de uma classe de trabalhadores assalariados258 Portanto enquanto o trabalhador pode acumular para si mesmo o que ele pode fazer na medida em que permanece como proprietário de seus meios de produção a acumulação capitalista e o modo capitalista de produção são impossíveis Falta a classe dos trabalhadores assalariados imprescindíveis para esse fim Como então produziu se na velha Europa a expropriação do trabalhador a subtração de suas condições de trabalho e por conseguinte o capital e o trabalho assalariado Resposta por meio de um contrat social contrato social de tipo totalmente original A humanidade adotou um método simples para promover a acumulação do capital que naturalmente lhe parecia desde os tempos de Adão o fim último e único de sua existência ela se dividiu em proprietários de capital e proprietários de trabalho essa divisão foi o resultado de consentimento e combinação voluntários259 Numa palavra a massa da humanidade expropriou a si mesma para a glória da acumulação do capital Ora deverseia acreditar que o instinto desse fanatismo autoabstinente teria de se manifestar livremente sobretudo nas colônias pois apenas nelas existem homens e circunstâncias capazes de trasladar um contrat social do reino dos sonhos para o mundo da realidade Mas para que então a colonização sistemática em oposição à colonização naturalespontânea Porém Nos Estados setentrionais da União norteamericana é duvidoso que um décimo da população pertença à categoria dos trabalhadores assalariados Na I nglaterra a grande 543 massa do povo é composta de trabalhadores assalariados260 Sim o impulso de autoexpropriação da humanidade trabalhadora para a glória do capital existe tão pouco que a escravidão mesmo segundo Wakefield é o único fundamento naturalespontâneo da riqueza colonial Sua colonização sistemática é um mero pis aller paliativo já que ele tem de se haver com homens livres não com escravos Os primeiros colonos espanhóis em Santo Domingo não obtiveram trabalhadores da Espanha Mas sem trabalhadores isto é sem escravidão o capital teria sucumbido ou pelo menos terseia contraído reduzindo se às pequenas quantidades que qualquer indivíduo pode empregar com suas próprias mãos Isso ocorreu efetivamente na última colônia fundada pelos ingleses onde um grande capital em sementes gado e instrumentos pereceu por falta de trabalhadores assalariados e onde nenhum colono possui capital numa quantidade maior do que aquela que ele pode empregar com suas próprias mãos261 Vimos que a expropriação da massa do povo que é despojada de sua terra constitui a base do modo de produção capitalista A essência de uma colônia livre consiste por outro lado em que a maior parte do solo continua a ser propriedade do povo e que cada povoador pode transformar uma parte desse solo em sua propriedade privada e em meio individual de produção sem impedir com isso que os colonos posteriores realizem essa mesma operação262 Esse é o segredo tanto do florescimento das colônias quanto do câncer que as arruína sua resistência à radicação do capital Onde a terra é muito barata e todos os homens são livres onde qualquer um pode à vontade obter para si mesmo um pedaço de terra não só o trabalho é muito caro no que concerne à participação do trabalhador em seu próprio produto mas é difícil conseguir trabalho combinado seja pelo preço que for263 Como nas colônias ainda não existe a separação entre o trabalhador e suas condições de trabalho entre ele e sua raiz a terra ou existe apenas esporadicamente ou dotada de um campo de ação muito restrito e como também não existe a cisão entre a agricultura e a indústria nem a destruição da indústria doméstica rural perguntase de onde então haveria de surgir o mercado interno para o capital Nenhuma parte da população da América é exclusivamente agrícola com exceção dos escravos e seus donos que combinam o capital e o trabalho para realizar grandes obras Os americanos livres que cultivam o solo por si mesmos exercem ao mesmo tempo muitas outras ocupações É comum que eles mesmos fabriquem os móveis e as ferramentas que utilizam Eles constroem com frequência suas próprias casas e levam o produto de sua própria indústria ao mercado por mais distante que seja São fiandeiros e tecelões fabricam sabão e velas sapatos e roupas para seu próprio uso Na América a agricultura constitui muitas vezes a atividade subsidiária de um ferreiro um moleiro ou um merceeiro264 Entre essa gente tão estranha onde sobra espaço para o campo de abstinência do capitalista A grande beleza da produção capitalista consiste em que ela não apenas reproduz constantemente o assalariado como assalariado mas em relação à acumulação do capital produz sempre uma superpopulação relativa de assalariados Desse modo a lei da oferta e demanda de trabalho é mantida em seus devidos trilhos a oscilação dos salários é confinada em limites adequados à exploração capitalista e por fim é assegurada a dependência social tão indispensável do trabalhador em relação ao capitalista uma relação de dependência absoluta que o economista político em sua casa na metrópole pode disfarçar com um mentiroso tartamudeio numa relação contratual livre entre comprador e vendedor entre dois possuidores de mercadorias 544 igualmente independentes o possuidor da mercadoria capital e o da mercadoria trabalho Mas nas colônias essa bela fantasia se faz em pedaços A população absoluta cresce aqui muito mais rapidamente que na metrópole pois muitos trabalhadores chegam ao mundo já maduros e ainda assim o mercado de trabalho está sempre subabastecido A lei da oferta e demanda de trabalho desmorona Por um lado o velho mundo introduz constantemente capital ávido por exploração necessitado de abstinência por outro lado a reprodução regular dos assalariados como assalariados se choca com os obstáculos mais rudes e em parte insuperáveis E isso sem falar da produção de assalariados supranumerários em relação à acumulação do capital O assalariado de hoje se torna amanhã um camponês ou artesão independente que trabalha por conta própria Ele desaparece do mercado de trabalho mas não retorna à workhouse Essa constante transformação dos assalariados em produtores independentes que trabalham para si mesmos em vez de trabalhar para o capital e enriquecem a si mesmos em vez de enriquecer o senhor capitalista repercute por sua vez de uma forma completamente prejudicial sobre as condições do mercado de trabalho Não só o grau de exploração do assalariado permanece indecorosamente baixo Este último ainda perde junto com a relação de dependência o sentimento de dependência em relação ao capitalista abstinente Daí surgem todos os males que nosso E G Wakefield descreve de modo tão corajoso eloquente e pungente A oferta de trabalho assalariado reclama Wakefield não é nem constante nem regular nem suficiente Ela é sempre não só pequena demais mas incerta265 Embora o produto a ser dividido entre o trabalhador e o capitalista seja grande o trabalhador se apropria de uma parte tão grande que ele logo se converte em capitalista Em contrapartida são poucos os que mesmo chegando a uma idade excepcionalmente avançada podem acumular grandes riquezas266 Os trabalhadores simplesmente não permitem que o capitalista se abstenha de pagarlhes a maior parte de seu trabalho De nada serve ao capitalista ser muito astuto e importar com seu próprio capital seus próprios assalariados da Europa Eles logo deixam de ser assalariados e se transformam em camponeses independentes ou até mesmo em concorrentes de seus antigos patrões no próprio mercado de trabalho267 I maginem que horror O honrado capitalista importou da Europa com seu próprio bom dinheiro seus próprios concorrentes em pessoa I sso é o fim do mundo Não admira que Wakefield lamente que entre os assalariados das colônias inexistam relações e sentimento de dependência Em virtude dos altos salários diz seu discípulo Merivale existe nas colônias a busca apaixonada por trabalho mais barato e mais submisso por uma classe para a qual o capitalista possa ditar as condições em vez de ter de aceitar aquelas que essa classe lhe impõe Nos países de antiga civilização o trabalhador apesar de livre depende do capitalista por uma lei da natureza nas colônias essa dependência tem de ser criada por meios artificiais268 Ora qual é segundo Wakefield a consequência dessa situação calamitosa nas colônias Um sistema bárbaro de dispersão dos produtores e do patrimônio nacional269 A fragmentação dos meios de produção entre um semnúmero de proprietários que trabalham por conta própria elimina com a centralização do capital toda a base do trabalho combinado Todo empreendimento de grande fôlego que se 545 prolongue por vários anos e exija um investimento de capital fixo tropeça em obstáculos à sua execução Na Europa o capital não hesita um só instante pois a classe trabalhadora constitui seu acessório vivo sempre superabundante sempre disponível Mas nos países coloniais Wakefield relata uma anedota extremamente dolorosa Tratase de uma conversa que ele travou com alguns capitalistas do Canadá e do estado de Nova York onde além do mais as ondas imigratórias frequentemente estancam e deixam um sedimento de trabalhadores supranumerários Nosso capital suspira um dos personagens do melodrama já estava pronto para muitas operações que requerem um prazo considerável para serem consumadas mas como podíamos efetuar tais operações com trabalhadores que bem o sabíamos logo nos dariam as costas Se tivéssemos a certeza de que poderíamos reter o trabalho desses imigrantes têloíamos engajado imediatamente com prazer e por um alto preço E têloíamos engajado mesmo estando certos de que ao fim eles nos deixariam se tivéssemos a certeza de um novo suprimento de acordo com a nossa necessidade270 Depois de contrastar ostensivamente a agricultura capitalista inglesa e seu trabalho combinado com a dispersa economia camponesa americana Wakefield deixa escapar também o reverso da medalha A massa do povo americano é descrita como próspera independente empreendedora e relativamente culta ao passo que o trabalhador agrícola inglês é um farrapo miserável miserable wretch um pauper Em que país exceto a América do Norte e algumas colônias novas os salários pagos ao trabalho livre empregado no campo superam numa proporção digna de menção o valor dos meios de subsistência indispensáveis ao trabalhador Sem dúvida na Inglaterra os cavalos de lavoura por serem uma propriedade valiosa são muito mais bem alimentados do que o lavrador271 M as never mind uma vez mais a riqueza nacional é idêntica por sua própria natureza à miséria do povo Como curar então o câncer anticapitalista das colônias Se se quisesse transformar de um só golpe toda a terra que hoje é propriedade do povo em propriedade privada destruirseia a raiz da doença mas também a colônia A proeza está em matar dois coelhos de uma só cajadada O governo deve conferir à terra virgem por decreto um preço artificial independente da lei da oferta e da demanda que obrigue o imigrante a trabalhar como assalariado por um período maior antes que este possa ganhar dinheiro suficiente para comprar sua terra272 e transformarse num camponês independente O fundo resultante da venda das terras a um preço relativamente proibitivo para o assalariado isto é esse fundo de dinheiro extorquido do salário mediante a violação da sagrada lei da oferta e da demanda deve ser usado pelo governo por outro lado para importar numa quantidade proporcional ao crescimento do próprio fundo pobresdiabos da Europa para as colônias e assim manter o mercado de trabalho assalariado sempre abastecido para o senhor capitalista Nessas circunstâncias tout sera pour le mieux dans le meilleur des mondes possiblesc Esse é o grande segredo da colonização sistemática Segundo esse plano exclama Wakefield triunfante a oferta de trabalho tem de ser constante e regular em primeiro lugar porque como nenhum trabalhador é capaz de conseguir terra para si antes de ter trabalhado por dinheiro todos os trabalhadores imigrantes pelo fato de trabalharem combinadamente por salário produziriam para seus patrões capital para o emprego de mais trabalho em segundo lugar porque todo aquele que abandonasse o trabalho assalariado e se tornasse proprietário de terra asseguraria precisamente por meio da compra da terra a existência de um fundo para o traslado de novo trabalho para as colônias273 546 Naturalmente o preço da terra imposto pelo Estado tem de ser suficiente sufficient price isto é tão alto que impeça os trabalhadores de se tornarem camponeses independentes até que outros cheguem para preencher seu lugar no mercado de trabalho assalariado274 Esse preço suficiente da terra não é mais do que um circunlóquio eufemístico para descrever o resgate que o trabalhador paga ao capitalista para que este lhe permita retirarse do mercado de trabalho assalariado e estabelecerse no campo Primeiro ele tem de criar capital para o senhor capitalista para que este possa explorar mais trabalhadores e pôr no mercado de trabalho um substituto que o governo à custa do trabalhador que se retira manda buscar para o senhor capitalista do outro lado do oceano É altamente característico que o governo inglês tenha aplicado durante muitos anos esse método de acumulação primitiva expressamente prescrito pelo sr Wakefield para seu uso em países coloniais O fiasco foi naturalmente tão vexaminoso quanto o da lei bancária de Peeld O fluxo emigratório apenas se desviou das colônias inglesas para os Estados Unidos Nesse intervalo de tempo o progresso da produção capitalista na Europa somado à crescente pressão do governo tornou supérflua a receita de Wakefield Por um lado o enorme e contínuo afluxo de pessoas que a cada ano se dirigem à América deixa sedimentos estagnados no leste dos Estados Unidos porquanto a onda emigratória da Europa lança mais pessoas no mercado de trabalho do que o pode absorver a onda emigratória para o oeste Por outro lado a guerra civil americana teve como consequência uma enorme dívida pública e com ela uma sobrecarga tributária o surgimento da mais ordinária das aristocracias financeiras a doação de uma parte imensa das terras públicas a sociedades de especuladores dedicadas à exploração de ferrovias minas etc em suma a mais rápida centralização do capital A grande República deixou assim de ser a terra prometida dos trabalhadores emigrantes A produção capitalista avança ali a passos de gigante mesmo que o rebaixamento dos salários e a dependência do assalariado ainda estejam longe de alcançar os níveis normais na Europa O inescrupuloso malbarateamento do solo virgem das colônias da Austrália275 pelo governo inglês doado a aristocratas e capitalistas fato denunciado pelo próprio Wakefield com tanta veemência juntamente com o afluxo de pessoas atraídas pelos golddiggings jazidas de ouro e a concorrência que a importação de mercadorias inglesas significa mesmo para o menor dos artesãos tudo isso produziu uma suficiente superpopulação relativa de trabalhadores de modo que quase todo naviocorreio traz a má notícia do abarrotamento do mercado de trabalho australiano glut of the Australian labourmarket o que também explica por que em certos lugares da Austrália a prostituição floresce tão exuberantemente quanto no Haymarket londrino Porém não nos concerne aqui a situação das colônias O que nos interessa é apenas o segredo que a economia política do Velho Mundo descobre no Novo Mundo e proclama bem alto a saber o de que o modo capitalista de produção e acumulação e portanto a propriedade privada capitalista exige o aniquilamento da propriedade privada fundada no trabalho próprio isto é a expropriação do trabalhador 547 APÊNDICE Carta de Karl Marx a Friedrich Engelsa 2 horas da manhã 16 de agosto de 1867 Dear Fred Acabei de corrigir a última folha 49ª do livro O apêndice Forma de valor impresso em fonte reduzida abrange 114 folhas Ontem foi enviado o prefácio corrigido Assim este volume está pronto Apenas a ti devo agradecer que isso tenha sido possível Sem teu sacrifício por mim eu jamais teria conseguido realizar o gigantesco trabalho desses três volumes I embrace you full of thanksb Anexadas 2 folhas das provas de impressão As 15 foram recebidas com a máxima gratidão Salut meu caro precioso amigo Teu K Marx Só precisarei das provas de impressão de volta quando o livro já estiver publicado 550 Dear Fred from the long letters 4 This means continuing the order information text begins with 1 long If you can see from the last body part of the you can now begin I wish you much success friendliness and harmony in your endeavors Yours sincerely H Marks Carta de Karl Marx a Vera Ivanovna Zasulitcha 8 de março de 1881 41 Maitland Park Road Londres NW Cara cidadã Uma doença nervosa que me acomete periodicamente há dez anos impossibilitoume de responder mais cedo à vossa carta de 16 de fevereirob Lamento não poder oferecer vos uma explanação sucinta destinada ao público da indagação da qual me concedeis a honra de ser o destinatário Há meses prometi um escrito sobre o mesmo assunto ao Comitê de São Petersburgoc Espero no entanto que algumas linhas sejam suficientes para livrarvos de qualquer dúvida sobre o malentendido acerca de minha assim chamada teoria Ao analisar a gênese da produção capitalista afirmo Na base do sistema capitalista reside portanto a separação radical entre o produtor e seus meios de produção a base de toda essa evolução é a expropriação dos agricultores cultivateurs Ela só se realizou de um modo radical na Inglaterra Mas todos os outros países da Europa ocidental percorrem o mesmo processo mouvementd Portanto a fatalidade histórica desse processo está expressamente restrita aos países da Europa ocidental A razão dessa restrição é indicada na seguinte passagem do capítulo 32 A propriedade privada fundada no trabalho pessoal é suplantada pela propriedade privada capitalista fundada na exploração do trabalho de outrem sobre o trabalho assalariadoe Nesse processo ocidental o que ocorre é a transformação de uma forma de propriedade privada numa outra forma de propriedade privada J á no caso dos camponeses russos ao contrário seria preciso transformar sua propriedade comunal proprieté commune em propriedade privada Desse modo a análise apresentada nO capital não oferece razões nem a favor nem contra a vitalidade da comuna rural mas o estudo especial que fiz dessa questão sobre a qual busquei os materiais em suas fontes originais convenceume de que essa comuna é a alavanca point dappui da regeneração social da Rússia mas para que ela possa funcionar como tal seria necessário primeiramente eliminar as influências deletérias que a assaltam de todos os lados e então assegurarlhe as condições normais de um desenvolvimento espontâneof Tenho a honra cara cidadã de ser vosso fiel devoto Karl Marx 552 Chers collègues mes salutations Je voudrais donner quelques points capable je voudrais dire que de faire ce travail Limportance de la lecture et limportance même des à ce visiteur est Mais je pense que vous pouvez comprendre mon point de vue Je reste à votre disposition croyez bien que je Karl Marx ÍNDICE DE NOMES LITERÁRIOS BÍBLICOS E MITOLÓGICOS Abel Personagem do Antigo Testamento filho de Adão 819 Abraão Personagem do Antigo Testamento patriarca dos hebreus 657 Adão Personagem do Antigo Testamento 177 668 672 693 785 837 Anteu Gigante da mitologia grega antiga filho de Poseidon e Gaia enquanto estava próximo à mãe a Terra ninguém podia vencêlo Hércules arrancouo da terra e o estrangulou 668 Busíris Segundo a mitologia grega um cruel rei egípcio que mandava matar todos os estrangeiros que pisavam em seu território Isócrates o apresenta como exemplo de virtude 441 Caco Na mitologia grega um gigante que cuspia fogo e vivia numa caverna do monte Aventino Filho de Hefesto Caco foi morto por Hércules depois de terlhe roubado o gado 668 Caim Personagem do Antigo Testamento filho de Adão 819 Cupido O deus romano do amor 693 Dédalo Na mitologia grega arquiteto que construiu o labirinto de Creta Pai de Ícaro 480 Dogberry Em Muito barulho por nada de Shakespeare um oficial de polícia cuja comicidade reside em seu uso constante de paronímias 158 851 Dom Quixote Personagem de Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes 157 Eckart Personagem das sagas germânicas onde representa um desinteressado e fiel ajudante Geralmente referido como o fiel Eckart getreue Eckart 348 Fausto Personagem da tragédia homônima de J W Goethe 161 Fortunato Personagem de um livro popular alemão do século XVI Fortunato possui uma sacola de dinheiro que nunca se esgota e um chapéu que o leva para onde ele deseja 529 723 Gerião Na mitologia grega um dos gigantes Seu mito está ligado ao de Hércules a quem coube num dos seus trabalhos roubarlhe os bois e por quem acaba morto a flechadas 668 Gobseck Personagem agiota e avarento da Comédia humana de Balzac 664 Hefesto Deus grego do fogo e da fundição 481 721 Hércules Herói da mitologia grega filho de Zeus e da mortal Alcmena Depois de ter matado a sua própria família Hércules numa tentativa de penitência tornouse servo do rei de Micenas aceitando cumprir tarefas os doze trabalhos impossíveis para qualquer mortal 496 668 Isaque Personagem do Antigo Testamento Filho de Abraão 657 Jacó Personagem do Antigo Testamento Filho de Isaque 657 Jeová Denominação de Deus no Antigo Testamento 435 Jesus 332 Júpiter Deus supremo da mitologia romana 438 652 Kalb Marechal de corte von Kalb Personagem do drama Kabale und Liebe Intriga e amor de Schiller 650 Moisés Personagem do Antigo Testamento patriarca dos hebreus 448 670 841 Maritornes Personagem de Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes 160 Medusa Na mitologia grega monstro que transformava em pedra todos aqueles que a olhavam 79 Mistress Quickly Personagem de quatro peças de Shakespeare Mistress Quickly é uma taberneira que nega ser prostituta Marx emprega o nome em tradução alemã Wittib Hurtig 125 Moloch Deus assírio e fenício da natureza ao qual os amomitas sacrificavam seus recémnascidos jogandoos em uma fogueira Mais tarde o nome passou a significar qualquer poder cruel e irresistível que sacrifica um número incontável de vítimas 732 Paulo Personagem do Novo Testamento apóstolo 694 Pedro Personagem do Novo Testamento apóstolo 178 Perseu Personagem da mitologia grega filho de Zeus 79 Pluto Deus grego da riqueza e do reino dos mortos 206 553 Prometeu Personagem da mitologia grega por ter roubado o fogo de Zeus para dar aos homens foi acorrentado a um rochedo e condenado a suplícios eternos Na modernidade simboliza a afirmação iluminista das capacidades infinitas do homem contra a superstição religiosa 721 Robinson Crusoé Personagem de um romance homônimo de Daniel Defoe 1513 361 Sabala Na mitologia indiana deusa que aparece aos homens sob a forma de uma vaca 652 Sancho Pança Personagem de Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes 716 Sangrado Personagem do romance Gil Blas de Santillane de Lesage médico 782 Seacoal Personagem de Muito barulho por nada de Shakespeare guarda noturno 158 SextaFeira Personagem do romance Robinson Crusoé de Daniel Defoe 361 São Jorge Santo e mártir cristão representado como um cavaleiro que sobre um cavalo branco mata com sua lança um dragão 109 Shylock Personagem de O mercador de Veneza de Shakespeare agiota impiedoso judeu 757 Bill Sikes Personagem do romance Oliver Twist de Charles Dickens assassino 514 Sísifo Personagem da mitologia grega rei de Corinto que por sua traição aos deuses foi condenado ao suplício eterno de empurrar morro acima um enorme bloco de pedra que sempre acaba por rolar novamente para baixo 206 494 Thor Na mitologia germânica deus do trovão seu martelo retornava a sua mão a cada vez que era lançado 458 Ulisses Herói principal da Odisseia poema épico de Homero 327 Vishnu Um dos principais deuses do hinduísmo 673 554 Cofre projetado por Jean Fallon imitando uma edição em capa dura dO capital 555 BIBLIOGRAFIA Os escritos citados por Marx e Engels quando foi possível localizálos são aqui listados de acordo com as edições provavelmente utilizadas pelos autores Em alguns casos especialmente em referências de fontes e obras literárias gerais nenhuma edição determinada é referida Leis e documentos apenas são elencados quando expressamente citados na obra Algumas fontes não puderam ser identificadas I Obras e artigos inclusive autores anônimos ADDINGTON Stephen The Advantages of the EastIndia Trade to England Londres 1720 An Inquiry into the Reasons for and against Inclosing OpenFields 2 ed Coventry Londres 1772 AIKIN John A Description of the Country from Thirty to Forty Miles Round Manchester Londres 1795 ALIGHIERI Dante A divina comédia ANDERSON Adam An Historical and Chronological Deduction of the Origin of Commerce from the Earliest Accounts to the Present Time Containing an History of the Great Commercial Interests of the British Empire With an appendi x Londres 1764 v 12 ANDERSON James Observations on the Means of Exciting a Spirit of National Industry Chiefly Intended to Promote the Agriculture Commerce Manufactures and Fisheries of Scotland In a Series of Letters to a Friend Written in the Year 1775 Edimburgo 1777 The Bee or Literary Weekly Intelligence Edimburgo 1791 v 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Be Printed 11 Feb 1862 Factories Return to an address of the Honourable the House of Commons 5 Dec 1867 Ordered by the House of Commons to Be Printed 22 July 1868 First Report from the Select Committee on Adulteration of Food etc with the Minutes of Evidence and Appendix Ordered by the House of Commons to be printed 27 July 1855 Fourth Report of the Commissioners of Her Majestys Inland Revenue on the Inland Revenue Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1860 General Laws of the Commonwealth of Massachusetts Passed Subsequently to the Revised Statutes Boston 1854 v 1 Hansards Parliamentary Debates 3rd Series Commencing with the Acceasion of William IV Comprising the Period from the Second Day of February to the Twentyseventh Day of February 1843 Londres 1843 v 66 Comprising the period from the twentyseventh day of March to the twentyeighth day of May 1863 Londres 1863 v 170 Comprising the period from the fifteenth day of March to the third day of May 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Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Dublin 1870 Reports of the inspectors of Factories to Her Majestys Principal Secretary of State for the Home Department For the Half year Ending the 31st December 1841 also the Joint Report of the Inspectors of Factories for the Same Period Presented by command of Her Majesty Ordered by the House of Commons to be printed 16 February 1842 For the Quarter Ending 30th September 1844 and from 1st October 1844 to 30th April 1845 Presented to Both Houses of Parliament by command of Her Majesty Londres 1845 For the Half Year Ending 31st October 1846 Londres 1847 For the Half Year Ending 30th April 1848 Londres 1848 For the Half Year Ending 31st October 1848 Londres 1849 For the Half Year Ending 30th April 1849 Londres 1849 For the Half Year Ending 31st October 1849 Londres 1850 For the Half Year Ending 30th April 1850 Londres 1850 For the Half Year Ending 31st October 1850 Londres 1851 For the Half Year Ending 30th April 1852 Londres 1852 For the Half Year Ending 30th April 1853 Londres 1853 For the Half Year Ending 31st October 1853 Londres 1854 For the Half Year Ending 30th April 1855 Londres 1855 For the Half Year Ending 31st October 1855 Londres 1856 For the Half Year Ending 31st October 1856 Londres 1857 For the Half Year Ending 30th April 1857 Londres 1857 For the Half Year Ending 31st October 1857 Londres 1857 For the Half Year Ending 30th April 1858 Londres 1858 For the Half Year Ending 31st October 1858 Londres 1859 For the Half Year Ending 30th April 1859 Londres 1859 For the Half Year Ending 31st October 1859 Londres 1860 For the Half Year Ending 30th April 1860 Londres 1860 For the Half Year Ending 31st October 1860 Londres 1860 For the Half Year Ending 30th April 1861 Londres 1861 For the Half Year Ending 31st October 1861 Londres 1862 For the Half Year Ending 31st October 1862 Londres 1863 For the Half Year Ending 30th April 1863 Londres 1863 For the Half Year Ending 31st October 1863 Londres 1864 For the Half Year Ending 30th April 1864 Londres 1864 For the Half Year Ending 31st October 1864 Londres 1865 For the Half Year Ending 31st October 1865 Londres 1866 For the Half Year Ending 31st October 1866 Londres 1867 Reports Respecting Grain and the Corn Laws Viz First and Second Reports from the Lords Committees Appointed to Enquire into the State of the Growth Commerce and Consumption of Grain and All Laws relating Thereto Ordered by the House of Commons to be presented 23 November 1814 The Revised Statutes of the State of Rhode Island and Providence Plantations to Which Are Prefixed the Constitutions of the United States and of the State Providence 1857 Royal Commission on Railways Report of the Commissioners Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1867 Second Report Addressed to Her Maiestys Principal Secretary of State for the Home Department Relative to the Grievances Complained of by the Journeyman Bakers Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1863 Statistical Abstract for the United Kingdom in Each of the Last Fifteen Years from 1846 to 1860 Londres 1861 n 8 Statistical Abstract for the United Kingdom in Each of the Last Fifteen Years from 1851 to 1865 Londres 1866 n 13 Tenth Report of the Commissioners Appointed to Inquire into the Organization and Rules of Trades Unions and Other Asiations Together with Minutes of Evidence Presented to Both Houses of Parliament by command of Her Majesty 28th July 1868 Londres 1868 Tenth Report of the Commissioners of Her Majestys Inland Revenue on the Inland Revenue Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1866 570 TwentySecond Annual Report of the Registrargeneral of Births Deaths and Marriages in England Presented to Both Houses of Parliament by command of Her Majesty Londres 1861 III Periódicos The Bengal Hurkaru Calcutá 22 jul 1861 Bury Gaardian 12 maio 1860 Concordia Zeitschrift für die Arbeiterfrage Berlim 7 mar 1872 4 jul 1872 1 jul 1872 The Daily Telegraph Londres 17 jan 1860 Demokratisches Wochenblatt Organ der deutschen Volkspartei Leipzig 1 ago 1868 22 ago 1868 29 ago 1868 5 ago 1868 DeutschFranzösische Jahrbücher Hrsg von Arnold Ruge und Karl Marx 1 und 2 Lfg Paris 1844 The Econst Weekly Commercial Times Bankers Gazette and Railway Monitor a Political Literary and General Newspaper Londres 29 mar 1845 15 abr 1848 19 jul 1851 21 jan 1860 2 jun 1866 The Evening Standard Londres 1 nov 1886 The Glasgow Daily Mail 25 abr 1849 Journal des Économistes Paris julago 1872 Journal of the Society of Arts and of the Institutions in Union Londres 9 dez 1859 17 abr 1860 23 mar 1866 5 jan 1872 Macmillans Magazine Ed by David Masson LondresCambridge ago 1863 The Manchester Guardian 15 jan 1875 The Morning Advertiser Londres 17 abr 1863 The Morning Chronicle Londres 18441845 The Morning Star Londres 17 abr 1863 23 jun 1863 7 jan 1867 Neue Rheinische Zeitung Organ der Demokratie Köln 7 abr 1849 Neue Rheinische Zeitung Politischökonomische Revue H 4 LondresHamburgoNova York 1850 NewYork Daily Tribune 9 fev 1853 The Observer Londres 24 abr 1864 The Pall Mall Gazette Londres La Philosophie Positive Revue ditigée par E Littré G Wyroubog Paris n 3 novdez 1868 Siehe auch Anm 9 The Portfolio Diplomatic review New series Londres Révolutions de Paris 1118 jun 1791 Reynoldss Newspaper A Weekly Journal of Politics History Literature and General Intelligence Londres 2 jan 1866 4 fev 1866 20 jan 1867 SanktPetersburgskie Vedomosti 820 abr 1872 The Saturday Review of Politics Literature Science and Art Londres 18 jan 1868 The Social Science Review Londres 18 jul 1863 571 The Spectator Londres 26 maio 1866 The Standard Londres 26 out 1861 15 ago 1863 5 abr 1867 The Times Londres 14 fev 1843 5 nov 1861 26 nov 1862 24 mar 1863 17 abr 1863 2 jul 1863 26 fev 1864 26 jan 1867 3 set 1873 29 nov 1883 ToDay Londres fev 1884 mar 1884 Der Volksstaat Organ der socialdemokratischen Arbeiterpartei und der Internationalen Gewerksgenossenschaften Leipzig jun 1872 7 ago 1872 The Westminster Review Londres Vestnik Evropy Correio europeu São Petersburgo 1872 n 5 The Workmans Advocate Londres 13 jan 1866 572 GLOSSÁRIO DA TRADUÇÃO Abstraktionskraft força da abstração Äquivalentform forma de equivalente an und für sich por si mesmoa em si mesmoa aussaugen Aussaugung sugar sucção absorver absorção extrair extração Bestimmtheit determinidade Charaktermasken máscaras dinglich material materialmente reificadoa entäußert Entäußerung alienadoa alienação entfremden alienar estranhar sich erscheinen Erscheinung aparecer manifestarse manifestação Erscheinungsform forma de manifestação Gebrauchswert valor de uso Geldform formadinheiro Geldnamen denominações monetárias Geldware mercadoriadinheiro Kapitalgeld capital monetário Kapitalwert valor de capital Kreditgeld dinheiro creditício Lebensmittel meios de subsistência Leiblichkeit corporeidade Materiatur materialidade Mehrarbeit maistrabalho Mehrprodukt maisproduto Mehrwert maisvalor Naturmacht potência natural naturwüchsig naturalespontâneo ökonomische Charaktermasken máscaras econômicas Phantasie imaginação Preisform formapreço Produktenwert valor do produto Rechengeld moeda de conta sachlich material materialmente reificadoa Staatsschulden dívidas públicas Surplusarbeit trabalho excedente Surplusprodukt produto excedente Tauschwert valor de troca Träger suportes portadoresas Trieb impulso Überarbeit sobretrabalho Überproduktion superprodução verausgaben Verausgabung despender dispêndio gastar gasto veräußert Veräußerung veräußerlich vendidoa venda alienação alienável vorstellen Vorstellung representar representação Warendinge coisasmercadorias Warenform formamercadoria Warenkörper corpos de mercadorias corpos das mercadorias Wertding coisa de valor Wertform forma de valor Wertgestalt figura de valor Wertprodukt produto de valor Wertsein valor 573 Zusatzarbeit trabalho adicional 574 TABELA DE EQUIVALÊNCIAS DE PESOS MEDIDAS E MOEDAS Pesos Tonelada ton 20 quintais hundredweights 101605 kg Quintal hundredweight cwt 112 libras 50802 kg Quarter qrtr qrs 28 libras 12700 kg Pedra stone 14 libras 6350 kg Libra pound 16 onças 453592 g Onça ounce 28349 g Peso troy para pedras e metais preciosos e medicamentos Libra troy troy pound 12 onças 372242 g Onça troy troy ounce 31103 g Grão grain 0065 g Medidas de comprimento Milha britânica British mile 5280 pés 1609329 m Jarda 3 pés 91439 cm Pé foot 12 polegadas 30480 cm Polegada inch 2540 cm Braça Elle prussiana 66690 cm Medidas de superfície Acre 4 roods 40467 m2 Rood 10117 m2 Vara Rute 1421 m2 Are 100 m2 Jugerum plural jugera 2523 m2 Medidas de volume Alqueire bushel 8 galões 36349 litros Galão gallon 8 pints 4544 litros Pint 0568 litro Moedas1 Libra esterlina 20 xelins 2043 marcos alemães Xelim shilling 12 pence 102 marco alemão Penny plural pence 4 farthing 851 Pfennig Farthing 14 penny 212 Pfennig Guiné guinea 21 xelins 2145 marcos alemães 575 Sovereign moeda de ouro inglesa 1 2043 marcos Franco 100 cêntimos 80 Pfennig Cêntimo moeda francesa 08 Pfennig Libras livres moeda francesa de prata 1 franco 80 Pfennig Cent moeda americana cerca de 42 Pfennig Dracma moeda de prata da Grécia antiga Ducado moeda de ouro na Europa originalmente na Itália cerca de 9 marcos alemães Maravedi moeda espanhola cerca de 6 Pfennig Rei Reis moeda portuguesa cerca de 045 Pfennig 576 CRONOLOGIA RESUMIDA Karl Marx Friedrich Engels 1818 Em Trier capital da província alemã do Reno nasce Karl Marx 5 de maio o segundo de oito filhos de Heinrich Marx e de Enriqueta Pressburg Trier na época era influenciada pelo liberalismo revolucionário francês e pela reação ao Antigo Regime vinda da Prússia 1820 Nasce Friedrich Engels 28 de novembro primeiro dos oito filhos de Friedrich Engels e Elizabeth Franziska Mauritia van Haar em Barmen Alemanha Cresce no seio de uma família de industriais religiosa e conservadora 1824 O pai de Marx nascido Hirschel advogado e conselheiro de Justiça é obrigado a abandonar o judaísmo por motivos profissionais e políticos os judeus estavam proibidos de ocupar cargos públicos na Renânia Marx entra para o Ginásio de Trier outubro 1830 Inicia seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm em Trier 1834 Engels ingressa em outubro no Ginásio de Elberfeld 1835 Escreve Reflexões de um jovem perante a escolha de sua profissão Presta exame final de bacharelado em Trier 24 de setembro Inscrevese na Universidade de Bonn 1836 Estuda Direito na Universidade de Bonn Participa do Clube de Poetas e de associações de estudantes No verão fica noivo em segredo de Jenny von Westphalen sua vizinha em Trier Em razão da oposição entre as famílias casarseiam apenas sete anos depois Matriculase na Universidade de Berlim Na juventude fica impressionado com a miséria em que vivem os trabalhadores das fábricas de sua família Escreve Poema 1837 Transferese para a Universidade de Berlim e estuda com mestres como Gans e Savigny Escreve Canções selvagens e Transformações Em carta ao pai descreve sua relação contraditória com o hegelianismo doutrina predominante na época Por insistência do pai Engels deixa o ginásio e começa a trabalhar nos negócios da família Escreve História de um pirata 1838 Entra para o Clube dos Doutores encabeçado por Bruno Bauer Perde o interesse pelo Direito e entregase com paixão ao estudo da Filosofia o que lhe compromete a saúde Morre seu pai Estuda comércio em Bremen Começa a escrever ensaios literários e sociopolíticos poemas e panfletos filosóficos em periódicos como o Hamburg Journal e o Telegraph für Deutschland entre eles o poema O beduíno setembro sobre o espírito da liberdade 1839 Escreve o primeiro trabalho de envergadura Briefe aus dem Wupperthal Cartas de Wupperthal sobre a vida operária em Barmen e na vizinha Elberfeld Telegraph für Deutschland primavera Outros viriam como Literatura popular alemã Karl Beck e Memorabilia de Immermann Estuda a filosofia de Hegel 1840 K F Koeppen dedica a Marx o seu estudo Friedrich der Grosse und seine Widersacher Frederico o Grande e seus adversários Engels publica Réquiem para o Aldeszeitung alemão abril Vida literária moderna no Mitternachtzeitung marçomaio e Cidade natal de Siegfried dezembro 1841 Com uma tese sobre as diferenças entre as filosofias de Demócrito e Epicuro Marx recebe em Iena o título de doutor em Filosofia 15 de abril Volta a Trier Bruno Bauer acusado de ateísmo é expulso da cátedra de Teologia da Universidade de Bonn com isso Marx perde a oportunidade de atuar como docente nessa universidade Publica Ernst Moritz Arndt Seu pai o obriga a deixar a escola de comércio para dirigir os negócios da família Engels prosseguiria sozinho seus estudos de filosofia religião literatura e política Presta o serviço militar em Berlim por um ano Frequenta a Universidade de Berlim como ouvinte e conhece os jovens hegelianos Critica intensamente o conservadorismo na figura de Schelling com os escritos Schelling em Hegel Schelling e a revelação e Schelling filósofo em Cristo 1842 Elabora seus primeiros trabalhos como publicista Começa a colaborar com o jornal Rheinische Zeitung Gazeta Renana publicação da burguesia em Colônia do qual mais tarde seria redator Conhece Engels que na ocasião visitava o jornal Em Manchester assume a fiação do pai a Ermen Engels Conhece Mary Burns jovem trabalhadora irlandesa que viveria com ele até a morte Mary e a irmã Lizzie mostram a Engels as dificuldades da vida operária e ele inicia estudos sobre os efeitos do capitalismo no operariado inglês Publica artigos no Rheinische Zeitung entre eles Crítica às leis de imprensa prussianas e Centralização e liberdade 1843 Sob o regime prussiano é fechado o Rheinische Zeitung Marx casase com Jenny von Westphalen Recusa convite do governo prussiano para ser redator no diário oficial Passa a lua de mel em Kreuznach onde se dedica ao estudo de diversos autores com destaque para Hegel Redige os manuscritos que viriam a ser conhecidos como Crítica da filosofia do direito de Hegel Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie Em outubro vai a Paris onde Moses Hess e George Herwegh o apresentam às sociedades secretas socialistas e comunistas e às associações operárias alemãs Conclui Sobre a questão judaica Zur Judenfrage Substitui Arnold Ruge na direção dos Engels escreve com Edgar Bauer o poema satírico Como a Bíblia escapa milagrosamente a um atentado impudente ou O triunfo da fé contra o obscurantismo religioso O jornal Schweuzerisher Republicaner publica suas Cartas de Londres Em Bradford conhece o poeta G Weerth Começa a escrever para a imprensa cartista Mantém contato com a Liga dos Justos Ao longo desse período suas cartas à irmã favorita Marie revelam seu amor pela natureza e por música livros pintura viagens esporte vinho cerveja e tabaco 577 DeutschFranzösische Jahrbücher Anais FrancoAlemães Em dezembro inicia grande amizade com Heinrich Heine e conclui sua Crítica da filosofia do direito de Hegel Introdução Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie Einleitung 1844 Em colaboração com Arnold Ruge elabora e publica o primeiro e único volume dos DeutschFranzösische Jahrbücher no qual participa com dois artigos A questão judaica e Introdução a uma crítica da filosofia do direito de Hegel Escreve os Manuscritos econômicofilosóficos Ökonomisch philosophische Manuskripte Colabora com o Vorwärts Avante órgão de imprensa dos operários alemães na emigração Conhece a Liga dos Justos fundada por Weitling Amigo de Heine Leroux Blanc Proudhon e Bakunin inicia em Paris estreita amizade com Engels Nasce Jenny primeira filha de Marx Rompe com Ruge e desligase dos DeutschFranzösische Jahrbücher O governo decreta a prisão de Marx Ruge Heine e Bernays pela colaboração nos DeutschFranzösische Jahrbücher Encontra Engels em Paris e em dez dias planejam seu primeiro trabalho juntos A sagrada família Die heilige Familie Marx publica no Vorwärts artigo sobre a greve na Silésia Em fevereiro Engels publica Esboço para uma crítica da economia política Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie texto que influenciou profundamente Marx Segue à frente dos negócios do pai escreve para os Deutsch Französische Jahrbücher e colabora com o jornal Vorwärts Deixa Manchester Em Paris tornase amigo de Marx com quem desenvolve atividades militantes o que os leva a criar laços cada vez mais profundos com as organizações de trabalhadores de Paris e Bruxelas Vai para Barmen 1845 Por causa do artigo sobre a greve na Silésia a pedido do governo prussiano Marx é expulso da França juntamente com Bakunin Bürgers e Bornstedt Mudase para Bruxelas e em colaboração com Engels escreve e publica em Frankfurt A sagrada família Ambos começam a escrever A ideologia alemã Die deutsche Ideologie e Marx elabora As teses sobre Feuerbach Thesen über Feuerbach Em setembro nasce Laura segunda filha de Marx e Jenny Em dezembro ele renuncia à nacionalidade prussiana As observações de Engels sobre a classe trabalhadora de Manchester feitas anos antes formam a base de uma de suas obras principais A situação da classe trabalhadora na Inglaterra Die Lage der arbeitenden Klasse in England publicada primeiramente em alemão a edição seria traduzida para o inglês 40 anos mais tarde Em Barmen organiza debates sobre as ideias comunistas junto com Hess e profere os Discursos de Elberfeld Em abril sai de Barmen e encontra Marx em Bruxelas Juntos estudam economia e fazem uma breve visita a Manchester julho e agosto onde percorrem alguns jornais locais como o Manchester Guardian e o Volunteer Journal for Lancashire and Cheshire Lançada A situação da classe trabalhadora na Inglaterra em Leipzig Começa sua vida em comum com Mary Burns 1846 Marx e Engels organizam em Bruxelas o primeiro Comitê de Correspondência da Liga dos Justos uma rede de correspondentes comunistas em diversos países a qual Proudhon se nega a integrar Em carta a Annenkov Marx critica o recémpublicado Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria Système des contradictions économiques ou Philosophie de la misère de Proudhon Redige com Engels a Zirkular gegen Kriege Circular contra Kriege crítica a um alemão emigrado dono de um periódico socialista em Nova York Por falta de editor Marx e Engels desistem de publicar A ideologia alemã a obra só seria publicada em 1932 na União Soviética Em dezembro nasce Edgar o terceiro filho de Marx Seguindo instruções do Comitê de Bruxelas Engels estabelece estreitos contatos com socialistas e comunistas franceses No outono ele se desloca para Paris com a incumbência de estabelecer novos comitês de correspondência Participa de um encontro de trabalhadores alemães em Paris propagando ideias comunistas e discorrendo sobre a utopia de Proudhon e o socialismo real de Karl Grün 1847 Filiase à Liga dos Justos em seguida nomeada Liga dos Comunistas Realiza se o primeiro congresso da associação em Londres junho ocasião em que se encomenda a Marx e Engels um manifesto dos comunistas Eles participam do congresso de trabalhadores alemães em Bruxelas e juntos fundam a Associação Operária Alemã de Bruxelas Marx é eleito vicepresidente da Associação Democrática Conclui e publica a edição francesa de Miséria da filosofia Misère de la philosophie Bruxelas julho Engels viaja a Londres e participa com Marx do I Congresso da Liga dos Justos Publica Princípios do comunismo Grundsätze des Kommunismus uma versão preliminar do Manifesto Comunista Manifest der Kommunistischen Partei Em Bruxelas junto com Marx participa da reunião da Associação Democrática voltando em seguida a Paris para mais uma série de encontros Depois de atividades em Londres volta a Bruxelas e escreve com Marx o Manifesto Comunista 1848 Marx discursa sobre o livrecambismo numa das reuniões da Associação Democrática Com Engels publica em Londres fevereiro o Manifesto Comunista O governo revolucionário francês por meio de Ferdinand Flocon convida Marx a morar em Paris depois que o governo belga o expulsa de Bruxelas Expulso da França por suas atividades políticas chega a Bruxelas no fim de janeiro Juntamente com Marx toma parte na insurreição alemã de cuja derrota falaria quatro anos depois em Revolução e contrarrevolução na Alemanha Revolution und Konterevolution in Deutschland Engels Redige com Engels Reivindicações do Partido Comunista da Alemanha Forderungen der Kommunistischen Partei in Deutschland e organiza o regresso dos membros alemães da Liga dos Comunistas à pátria Com sua família e com Engels mudase em fins de maio para Colônia onde ambos fundam o jornal Neue Rheinische Zeitung Nova Gazeta Renana cuja primeira edição é publicada em 1º de junho com o subtítulo Organ der Demokratie Marx começa a dirigir a Associação Operária de Colônia e acusa a burguesia alemã de traição Proclama o terrorismo revolucionário como único meio de amenizar as dores de parto da nova sociedade Conclama ao boicote fiscal e à resistência armada exerce o cargo de editor do Neue Rheinische Zeitung recém criado por ele e Marx Participa em setembro do Comitê de Segurança Pública criado para rechaçar a contrarrevolução durante grande ato popular promovido pelo Neue Rheinische Zeitung O periódico sofre suspensões mas prossegue ativo Procurado pela polícia tenta se exilar na Bélgica onde é preso e depois expulso Mudase para a Suíça 1849 Marx e Engels são absolvidos em processo por participação nos distúrbios de Colônia ataques a autoridades publicados no Neue Rheinische Zeitung Ambos defendem a liberdade de imprensa na Alemanha Marx é convidado a deixar o país mas ainda publicaria Trabalho assalariado e capital Lohnarbeit und Kapital O periódico em difícil situação é extinto maio Marx em Em janeiro Engels retorna a Colônia Em maio toma parte militarmente na resistência à reação À frente de um batalhão de operários entra em Elberfeld motivo pelo qual sofre sanções legais por parte das autoridades prussianas enquanto Marx é convidado a deixar o país Publicado o último número do Neue 578 condição financeira precária vende os próprios móveis para pagar as dívidas tenta voltar a Paris mas impedido de ficar é obrigado a deixar a cidade em 24 horas Graças a uma campanha de arrecadação de fundos promovida por Ferdinand Lassalle na Alemanha Marx se estabelece com a família em Londres onde nasce Guido seu quarto filho novembro Rheinische Zeitung Marx e Engels vão para o sudoeste da Alemanha onde Engels envolvese no levante de Baden Palatinado antes de seguir para Londres 1850 Ainda em dificuldades financeiras organiza a ajuda aos emigrados alemães A Liga dos Comunistas reorganiza as sessões locais e é fundada a Sociedade Universal dos Comunistas Revolucionários cuja liderança logo se fraciona Edita em Londres a Neue Rheinische Zeitung Nova Gazeta Renana revista de economia política bem como Lutas de classe na França Die Klassenkämpfe in Frankreich Morre o filho Guido Publica A guerra dos camponeses na Alemanha Der deutsche Bauernkrieg Em novembro retorna a Manchester onde viverá por vinte anos e às suas atividades na Ermen Engels o êxito nos negócios possibilita ajudas financeiras a Marx 1851 Continua em dificuldades mas graças ao êxito dos negócios de Engels em Manchester conta com ajuda financeira Dedicase intensamente aos estudos de economia na biblioteca do Museu Britânico Aceita o convite de trabalho do New York Daily Tribune mas é Engels quem envia os primeiros textos intitulados Contrarrevolução na Alemanha publicados sob a assinatura de Marx Hermann Becker publica em Colônia o primeiro e único tomo dos Ensaios escolhidos de Marx Nasce Francisca 28 de março quinta de seus filhos Engels juntamente com Marx começa a colaborar com o Movimento Cartista Chartist Movement Estuda língua história e literatura eslava e russa 1852 Envia ao periódico Die Revolution de Nova York uma série de artigos sobre O 18 de brumário de Luís Bonaparte Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte Sua proposta de dissolução da Liga dos Comunistas é acolhida A difícil situação financeira é amenizada com o trabalho para o New York Daily Tribune Morre a filha Francisca nascida um ano antes Publica Revolução e contrarrevolução na Alemanha Revolution und Konterevolution in Deutschland Com Marx elabora o panfleto O grande homem do exílio Die grossen Männer des Exils e uma obra hoje desaparecida chamada Os grandes homens oficiais da Emigração nela atacam os dirigentes burgueses da emigração em Londres e defendem os revolucionários de 18489 Expõem em cartas e artigos conjuntos os planos do governo da polícia e do judiciário prussianos textos que teriam grande repercussão 1853 Marx escreve tanto para o New York Daily Tribune quanto para o Peoples Paper inúmeros artigos sobre temas da época Sua precária saúde o impede de voltar aos estudos econômicos interrompidos no ano anterior o que faria somente em 1857 Retoma a correspondência com Lassalle Escreve artigos para o New York Daily Tribune Estuda o persa e a história dos países orientais Publica com Marx artigos sobre a Guerra da Crimeia 1854 Continua colaborando com o New York Daily Tribune dessa vez com artigos sobre a revolução espanhola 1855 Começa a escrever para o Neue Oder Zeitung de Breslau e segue como colaborador do New York Daily Tribune Em 16 de janeiro nasce Eleanor sua sexta filha e em 6 de abril morre Edgar o terceiro Escreve uma série de artigos para o periódico Putman 1856 Ganha a vida redigindo artigos para jornais Discursa sobre o progresso técnico e a revolução proletária em uma festa do Peoples Paper Estuda a história e a civilização dos povos eslavos A esposa Jenny recebe uma herança da mãe o que permite que a família mude para um apartamento mais confortável Acompanhado da mulher Mary Burns Engels visita a terra natal dela a Irlanda 1857 Retoma os estudos sobre economia política por considerar iminente nova crise econômica europeia Fica no Museu Britânico das nove da manhã às sete da noite e trabalha madrugada adentro Só descansa quando adoece e aos domingos nos passeios com a família em Hampstead O médico o proíbe de trabalhar à noite Começa a redigir os manuscritos que viriam a ser conhecidos como Grundrisse der Kritik der Politischen Ökonomie Esboços de uma crítica da economia política e que servirão de base à obra Para a crítica da economia política Zur Kritik der Politischen Ökonomie Escreve a célebre Introdução de 1857 Continua a colaborar no New York Daily Tribune Escreve artigos sobre JeanBaptiste Bernadotte Simón Bolívar Gebhard Blücher e outros na New American Encyclopaedia Nova Enciclopédia Americana Atravessa um novo período de dificuldades financeiras e tem um novo filho natimorto Adoece gravemente em maio Analisa a situação no Oriente Médio estuda a questão eslava e aprofunda suas reflexões sobre temas militares Sua contribuição para a New American Encyclopaedia Nova Enciclopédia Americana versando sobre as guerras faz de Engels um continuador de Von Clausewitz e um precursor de Lenin e Mao TséTung Continua trocando cartas com Marx discorrendo sobre a crise na Europa e nos Estados Unidos 1858 O New York Daily Tribune deixa de publicar alguns de seus artigos Marx dedicase à leitura de Ciência da lógica Wissenschaft der Logik de Hegel Agravamse os problemas de saúde e a penúria Engels dedicase ao estudo das ciências naturais 1859 Publica em Berlim Para a crítica da economia política A obra só não fora publicada antes porque não havia dinheiro para postar o original Marx comentaria Seguramente é a primeira vez que alguém escreve sobre o dinheiro com tanta falta dele O livro muito esperado foi um fracasso Nem seus companheiros mais entusiastas como Liebknecht e Lassalle o compreenderam Escreve mais artigos no New York Daily Tribune Começa a colaborar com o periódico londrino Das Volk contra o grupo de Edgar Bauer Marx polemiza com Karl Vogt a quem acusa de ser subsidiado pelo bonapartismo Blind e Freiligrath Faz uma análise junto com Marx da teoria revolucionária e suas táticas publicada em coluna do Das Volk Escreve o artigo Po und Rhein Pó e Reno em que analisa o bonapartismo e as lutas liberais na Alemanha e na Itália Enquanto isso estuda gótico e inglês arcaico Em dezembro lê o recémpublicado A origem das espécies The Origin of Species de Darwin 1860 Vogt começa uma série de calúnias contra Marx e as querelas chegam aos Engels vai a Barmen para o sepultamento de seu pai 20 de 579 tribunais de Berlim e Londres Marx escreve Herr Vogt Senhor Vogt março Publica a brochura Savoia Nice e o Reno Savoyen Nizza und der Rhein polemizando com Lassalle Continua escrevendo para vários periódicos entre eles o Allgemeine Militar Zeitung Contribui com artigos sobre o conflito de secessão nos Estados Unidos no New York Daily Tribune e no jornal liberal Die Presse 1861 Enfermo e depauperado Marx vai à Holanda onde o tio Lion Philiph concorda em adiantarlhe uma quantia por conta da herança de sua mãe Volta a Berlim e projeta om Lassalle um novo periódico Reencontra velhos amigos e visita a mãe em Trier Não consegue recuperar a nacionalidade prussiana Regressa a Londres e participa de uma ação em favor da libertação de Blanqui Retoma seus trabalhos científicos e a colaboração com o New York Daily Tribune e o Die Presse de Viena 1862 Trabalha o ano inteiro em sua obra científica e encontrase várias vezes com Lassalle para discutirem seus projetos Em suas cartas a Engels desenvolve uma crítica à teoria ricardiana sobre a renda da terra O New York Daily Tribune justificandose com a situação econômica interna norteamericana dispensa os serviços de Marx o que reduz ainda mais seus rendimentos Viaja à Holanda e a Trier e novas solicitações ao tio e à mãe são negadas De volta a Londres tenta um cargo de escrevente da ferrovia mas é reprovado por causa da caligrafia 1863 Marx continua seus estudos no Museu Britânico e se dedica também à matemática Começa a redação definitiva de O capital Das Kapital e participa de ações pela independência da Polônia Morre sua mãe novembro deixandolhe algum dinheiro como herança Morre em Manchester Mary Burns companheira de Engels 6 de janeiro Ele permaneceria morando com a cunhada Lizzie Esboça mas não conclui um texto sobre rebeliões camponesas 1864 Malgrado a saúde continua a trabalhar em sua obra científica É convidado a substituir Lassalle morto em duelo na Associação Geral dos Operários Alemães O cargo entretanto é ocupado por Becker Apresenta o projeto e o estatuto de uma Associação Internacional dos Trabalhadores durante encontro internacional no Saint Martins Hall de Londres Marx elabora o Manifesto de Inauguração da Associação Internacional dos Trabalhadores Engels participa da fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores depois conhecida como a Primeira Internacional Tornase coproprietário da Ermen Engels No segundo semestre contribui com Marx para o SozialDemokrat periódico da socialdemocracia alemã que populariza as ideias da Internacional na Alemanha 1865 Conclui a primeira redação de O capital e participa do Conselho Central da Internacional setembro em Londres Marx escreve Salário preço e lucro Lohn Preis und Profit Publica no SozialDemokrat uma biografia de Proudhon morto recentemente Conhece o socialista francês Paul Lafargue seu futuro genro Recebe Marx em Manchester Ambos rompem com Schweitzer diretor do SozialDemokrat por sua orientação lassalliana Suas conversas sobre o movimento da classe trabalhadora na Alemanha resultam em artigo para a imprensa Engels publica A questão militar na Prússia e o Partido Operário Alemão Die preussische Militärfrage und die deutsche Arbeiterpartei 1866 Apesar dos intermináveis problemas financeiros e de saúde Marx conclui a redação do primeiro livro de O capital Prepara a pauta do primeiro Congresso da Internacional e as teses do Conselho Central Pronuncia discurso sobre a situação na Polônia Escreve a Marx sobre os trabalhadores emigrados da Alemanha e pede a intervenção do Conselho Geral da Internacional 1867 O editor Otto Meissner publica em Hamburgo o primeiro volume de O capital Os problemas de Marx o impedem de prosseguir no projeto Redige instruções para Wilhelm Liebknecht recémingressado na Dieta prussiana como representante socialdemocrata Engels estreita relações com os revolucionários alemães especialmente Liebknecht e Bebel Envia carta de congratulações a Marx pela publicação do primeiro volume de O capital Estuda as novas descobertas da química e escreve artigos e matérias sobre O capital com fins de divulgação 1868 Piora o estado de saúde de Marx e Engels continua ajudandoo financeiramente Marx elabora estudos sobre as formas primitivas de propriedade comunal em especial sobre o mir russo Correspondese com o russo Danielson e lê Dühring Bakunin se declara discípulo de Marx e funda a Aliança Internacional da SocialDemocracia Casamento da filha Laura com Lafargue Engels elabora uma sinopse do primeiro volume de O capital 1869 Liebknecht e Bebel fundam o Partido Operário SocialDemocrata alemão de linha marxista Marx fugindo das polícias da Europa continental passa a viver em Londres com a família na mais absoluta miséria Continua os trabalhos para o segundo livro de O capital Vai a Paris sob nome falso onde permanece algum tempo na casa de Laura e Lafargue Mais tarde acompanhado da filha Jenny visita Kugelmann em Hannover Estuda russo e a história da Irlanda Correspondese com De Paepe sobre o proudhonismo e concede uma entrevista ao sindicalista Haman sobre a importância da organização dos trabalhadores Em Manchester dissolve a empresa Ermen Engels que havia assumido após a morte do pai Com um soldo anual de 350 libras auxilia Marx e sua família com ele mantém intensa correspondência Começa a contribuir com o Volksstaat o órgão de imprensa do Partido SocialDemocrata alemão Escreve uma pequena biografia de Marx publicada no Die Zukunft julho Lançada a primeira edição russa do Manifesto Comunista Em setembro acompanhado de Lizzie Marx e Eleanor visita a Irlanda 1870 Continua interessado na situação russa e em seu movimento revolucionário Em Genebra instalase uma seção russa da Internacional na qual se acentua a oposição entre Bakunin e Marx que redige e distribui uma circular confidencial sobre as atividades dos bakunistas e sua aliança Redige o primeiro comunicado da Internacional sobre a guerra francoprussiana e exerce a partir do Conselho Central uma grande atividade em favor da Engels escreve História da Irlanda Die Geschichte Irlands Começa a colaborar com o periódico inglês Pall Mall Gazette discorrendo sobre a guerra francoprussiana Deixa Manchester em setembro acompanhado de Lizzie e instalase em Londres para promover a causa comunista Lá continua escrevendo para o Pall Mall Gazette dessa vez sobre o desenvolvimento das 580 República francesa Por meio de Serrailler envia instruções para os membros da Internacional presos em Paris A filha Jenny colabora com Marx em artigos para A Marselhesa sobre a repressão dos irlandeses por policiais britânicos oposições É eleito por unanimidade para o Conselho Geral da Primeira Internacional O contato com o mundo do trabalho permitiu a Engels analisar em profundidade as formas de desenvolvimento do modo de produção capitalista Suas conclusões seriam utilizadas por Marx em O capital 1871 Atua na Internacional em prol da Comuna de Paris Instrui Frankel e Varlin e redige o folheto Der Bürgerkrieg in Frankreich A guerra civil na França É violentamente atacado pela imprensa conservadora Em setembro durante a Internacional em Londres é reeleito secretário da seção russa Revisa o primeiro volume de O capital para a segunda edição alemã Prossegue suas atividades no Conselho Geral e atua junto à Comuna de Paris que instaura um governo operário na capital francesa entre 26 de março e 28 de maio Participa com Marx da Conferência de Londres da Internacional 1872 Acerta a primeira edição francesa de O capital e recebe exemplares da primeira edição russa lançada em 27 de março Participa dos preparativos do V Congresso da Internacional em Haia quando se decide a transferência do Conselho Geral da organização para Nova York Jenny a filha mais velha casase com o socialista Charles Longuet Redige com Marx uma circular confidencial sobre supostos conflitos internos da Internacional envolvendo bakunistas na Suíça intitulado As pretensas cisões na Internacional Die angeblichen Spaltungen in der Internationale Ambos intervêm contra o lassalianismo na socialdemocracia alemã e escrevem um prefácio para a nova edição alemã do Manifesto Comunista Engels participa do Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores 1873 Impressa a segunda edição de O capital em Hamburgo Marx envia exemplares a Darwin e Spencer Por ordens de seu médico é proibido de realizar qualquer tipo de trabalho Com Marx escreve para periódicos italianos uma série de artigos sobre as teorias anarquistas e o movimento das classes trabalhadoras 1874 Negada a Marx a cidadania inglesa por não ter sido fiel ao rei Com a filha Eleanor viaja a Karlsbad para tratar da saúde numa estação de águas Prepara a terceira edição de A guerra dos camponeses alemães 1875 Continua seus estudos sobre a Rússia Redige observações ao Programa de Gotha da socialdemocracia alemã Por iniciativa de Engels é publicada Crítica do Programa de Gotha Kritik des Gothaer Programms de Marx 1876 Continua o estudo sobre as formas primitivas de propriedade na Rússia Volta com Eleanor a Karlsbad para tratamento Elabora escritos contra Dühring discorrendo sobre a teoria marxista publicados inicialmente no Vorwärts e transformados em livro posteriormente 1877 Marx participa de campanha na imprensa contra a política de Gladstone em relação à Rússia e trabalha no segundo volume de O capital Acometido novamente de insônias e transtornos nervosos viaja com a esposa e a filha Eleanor para descansar em Neuenahr e na Floresta Negra Conta com a colaboração de Marx na redação final do Anti Dühring Herrn Eugen Dührings Umwälzung der Wissenschaft O amigo colabora com o capítulo 10 da parte 2 Da história crítica discorrendo sobre a economia política 1878 Paralelamente ao segundo volume de O capital Marx trabalha na investigação sobre a comuna rural russa complementada com estudos de geologia Dedicase também à Questão do Oriente e participa de campanha contra Bismarck e Lothar Bücher Publica o AntiDühring e atendendo a pedido de Wolhelm Bracke feito um ano antes publica pequena biografia de Marx intitulada Karl Marx Morre Lizzie 1879 Marx trabalha nos volumes II e III de O capital 1880 Elabora um projeto de pesquisa a ser executado pelo Partido Operário francês Tornase amigo de Hyndman Ataca o oportunismo do periódico SozialDemokrat alemão dirigido por Liebknecht Escreve as Randglossen zu Adolph Wagners Lehrbuch der politischen Ökonomie Glosas marginais ao tratado de economia política de Adolph Wagner Bebel Bernstein e Singer visitam Marx em Londres Engels lança uma edição especial de três capítulos do Anti Dühring sob o título Socialismo utópico e científico Die Entwicklung des Socialismus Von der Utopie zur Wissenschaft Marx escreve o prefácio do livro Engels estabelece relações com Kautsky e conhece Bernstein 1881 Prossegue os contatos com os grupos revolucionários russos e mantém correspondência com Zasulitch Danielson e Nieuwenhuis Recebe a visita de Kautsky Jenny sua esposa adoece O casal vai a Argenteuil visitar a filha Jenny e Longuet Morre Jenny Marx Enquanto prossegue em suas atividades políticas estuda a história da Alemanha e prepara Labor Standard um diário dos sindicatos ingleses Escreve um obituário pela morte de Jenny Marx 8 de dezembro 1882 Continua as leituras sobre os problemas agrários da Rússia Acometido de pleurisia visita a filha Jenny em Argenteuil Por prescrição médica viaja pelo Mediterrâneo e pela Suíça Lê sobre física e matemática Redige com Marx um novo prefácio para a edição russa do Manifesto Comunista 1883 A filha Jenny morre em Paris janeiro Deprimido e muito enfermo com problemas respiratórios Marx morre em Londres em 14 de março É sepultado no Cemitério de Highgate Começa a esboçar A dialética da natureza Dialektik der Natur publicada postumamente em 1927 Escreve outro obituário dessa vez para a filha de Marx Jenny No sepultamento de Marx profere o que ficaria conhecido como Discurso diante da sepultura de Marx Das Begräbnis von Karl Marx Após a morte do amigo publica uma edição inglesa do primeiro volume de O capital imediatamente depois prefacia a terceira edição alemã da obra e já começa a preparar o segundo volume 1884 Publica A origem da família da propriedade privada e do Estado Der Ursprung der Familie des Privateigentum und des Staates 1885 Editado por Engels é publicado o segundo volume de O capital 1894 Também editado por Engels é publicado o terceiro volume de O capital O mundo acadêmico ignorou a obra por muito tempo embora os principais grupos políticos logo tenham começado a estudála Engels publica os textos Contribuição à história do cristianismo primitivo Zur Geschischte des Urchristentums e A questão camponesa na França e na Alemanha Die Bauernfrage 581 in Frankreich und Deutschland 1895 Redige uma nova introdução para As lutas de classes na França Após longo tratamento médico Engels morre em Londres 5 de agosto Suas cinzas são lançadas ao mar em Eastbourne Dedicouse até o fim da vida a completar e traduzir a obra de Marx ofuscando a si próprio e a sua obra em favor do que ele considerava a causa mais importante 582 Copyright desta edição Boitempo Editorial 2013 Copyright da ilustração da p 168 Rossiiskii gosudarstvennyi arkhiv sotsialnopoliticheskoi istorii RGASPI Coordenação editorial Ivana Jinkings Editoraadjunta Bibiana Leme Assistência editorial Alícia Toffani e Livia Campos Tradução Rubens Enderle textos de Karl Marx e Friedrich Engels Celso Naoto Kashiura Jr e Márcio Bilharinho Naves texto de Louis Althusser Preparação Jean Xavier textos de Karl Marx e Friedrich Engels Mariana Echalar texto de Louis Althusser Revisão João Alexandre Peschanski e Thaisa Burani Diagramação e capa Antonio Kehl sobre desenho de Loredano Produção Livia Campos Versão eletrônica Produção Kim Doria Diagramação Schäffer Editorial CIPBRASIL CATALOGAÇÃONAFONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS RJ M355c v1 Marx Karl 18181883 O capital recurso eletrônico crítica da economia política Livro I o processo de produção do capital Karl Marx tradução de Rubens Enderle São Paulo Boitempo 2013 recurso digital MarxEngels Tradução de Das Kapital kritik der politischen ökonomie Formato ePub Requisitos do sistema Adobe Digital Editions Modo de acesso World Wide Web ISBN 9788575593219 recurso eletrônico 1 Economia 2 Capital Economia 3 Capitalismo 4 Livros eletrônicos I Título II Série 130472 CDD 3354 CDU 33085 É vedada a reprodução de qualquer parte deste livro sem a expressa autorização da editora Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de 2009 583 1a edição março de 2013 BOITEMPO EDITORIAL wwwboitempoeditorialcombr wwwboitempoeditorialwordpresscom wwwfacebookcomboitempo wwwtwittercomeditoraboitempo wwwyoutubecomuserimprensaboitempo Jinkings Editores Associados Ltda Rua Pereira Leite 373 05442000 São Paulo SP Telfax 11 38757250 38726869 editorboitempoeditorialcombr 584 EBOOKS DA BOITEMPO EDITORIAL ENSAIOS 18 crônicas e mais algumas formato ePub MARIA RITA KEHL A educação para além do capital formato PDF ISTVÁN MÉSZÁROS A era da indeterminação formato PDF FRANCISCO DE OLIVEIRA E CIBELE RIZEK ORGS A finança mundializada formato PDF FRANÇOIS CHESNAIS A hipótese comunista formato ePub ALAIN BADIOU A indústria cultural hoje formato PDF FABIO DURÃO ET AL A linguagem do império formato PDF DOMENICO LOSURDO A nova toupeira formato PDF EMIR SADER A obra de Sartre formato ePub ISTVÁN MÉSZÁROS A política do precariado formato ePub RUY BRAGA A potência plebeia formato PDF ÁLVARO GARCÍA LINERA A revolução de outubro formato PDF LEON TROTSKI A rima na escola o verso na 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texto originalmente publicado na edição dO capital pela coleção Os Economistas da Abril Cultural 1983 coordenada por Paul Singer é aqui reproduzido em versão reduzida até Método e estrutura dO capital com autorização do autor N E b Em José Paulo Netto org Engels São Paulo Ática Col Grandes Cientistas Sociais v 17 1981 N E 1 Ver Jacob Gorender Introdução em Karl Marx Para a crítica da economia política São Paulo Abril Cultural 1982 Col Os Economistas c Mantivemos o uso de maisvalia como tradução de Mehrwert nesta apresentação por ser a forma consagrada na época em que foi escrita Na tradução dos textos do próprio Marx porém optamos pelo uso de maisvalor que melhor exprime o significado real do termo Para mais informações sobre essa questão terminológica ver Mario Duayer Apresentação em Grundrisse manuscritos econômicos de 18571858 Esboços da crítica da economia política São Paulo Boitempo 2011 N E d Kark Marx Capítulo sexto inédito de O Capital resultados do processo de produção imediata São Paulo Moraes sd N E 592 a Publicado originalmente em Karl Marx Le capital Livre 1 Paris GarnierFlammarion 1969Tradução de Celso Naoto Kashiura Jr e Márcio Bilharinho Naves N E 1 Karl Marx Grundrisse Paris Anthropos 1967 2 v ed bras Grundrisse manuscritos econômicos de 18571858 Esboços da crítica da economia política São Paulo Boitempo 2011 2 Idem Préface à la Contribution à la critique de léconomie politique 1859 Paris Éditions Sociales 1957 Edições brasileiras pelas editoras Martins Fontes e Expressão Popular com sucessivas reedições 3 Ver por exemplo o início do texto de Lenin LÉtat et la révolution Paris Éditions Sociales sd Há diversas edições brasileiras com sucessivas reedições das quais destacamos as das editoras Expressão Popular e Hucitec N T 4 Essas fórmulas não são polêmicas mas conceitos científicos elaborados pelo próprio Marx nO capital b São Paulo Boitempo 1998 N E c O capítulo 24 deste volume que tem por base a edição alemã corresponde à seção VIII da edição francesa N T d A presente edição encerrase com o capítulo 25 A teoria moderna da colonização N T 5 Karl Marx Histoire des doctrines économiques Paris Costes 19241925 6 O Livro II foi publicado em 1885 o Livro III em 1894 e o Livro IV em 1905 7 Edições Dietz Berlim 8 Éditions Sociales para os livros I II III e Éditions Costes para o livro IV Em português temos o livro I na edição da Boitempo os livros I II e III na edição da Nova Cultural e os livros I II III e IV na edição da Civilização Brasileira N T 9 Ver Karl Marx e Friedrich Engels Lettres sur le Capital Paris Éditions Sociales sd p 197 229 10 Idem 11 Ver Louis Althusser Pour Marx Paris Maspero 1965 ed bras A favor de Marx Rio de Janeiro Zahar 1979 e Karl Marx Ad Feuerbach em Karl Marx e Friedrich Engels A ideologia alemã São Paulo Boitempo 2007 p 533 N E 12 Karl Marx Critique du programme de Gotha Paris Éditions Sociales 1966 ed bras Crítica do Programa de Gotha São Paulo Boitempo 2012 13 Idem Le capital Paris Éditions Sociales sd t III p 24153 ed bras Karl Marx Glosas marginais ao Tratado de economia política de Adolfo Wagner trad Evaristo Colmán Serviço Social em Revista Londrina v 13 n 2 janjun 2011 14 Idem Manuscrits économicophilosophiques Paris Éditions Sociales sd ed bras Manuscritos econômico filosóficos São Paulo Boitempo 2004 f O item 7 corresponde ao capítulo 32 da seção VIII da edição francesa N T g Partido Comunista Comitê Central História do Partido Comunista bolchevique da URSS Rio de Janeiro Vitória 1945 N E 15 Vladimir I Lenin Limpérialisme stade suprême du capitalisme Paris Éditions Sociales 1945 ed bras Imperialismo estágio superior do capitalismo São Paulo Expressão Popular 2012 h São Paulo AlfaÔmega 19882004 3 v N E 593 1 Devo a cuidadosa avaliação deste texto a Pedro Paulo Poppovic assim como correções de linguagem a Lidia Goldenstein Luciano Codato e Marco Giannotti Meus agradecimentos a todos 2 Karl Marx Grundrisse manuscritos econômicos de 18571858 Esboços da crítica da economia política São Paulo Boitempo 2011 p 44 3 Esta é certamente uma conexão mas uma conexão superficial idem 4 Ibidem p 41 a Ver p 113 deste volume N E 5 Karl Marx Theorien über den Mehrwert Berlim Dietz 1959 v 2 p 159 b Ver p 147 deste volume N E 6 Karl Marx Grundrisse cit p 5878 7 Idem Das Kapital Buch III Der Gesamtprozess der kapitalistischen Produktion Werke 25 Berlim Dietz 2003 p 454 594 a Karl Marx Zur Kritik der politschen Ökonomie Berlim 1859 ed bras Contribuição à crítica da economia política São Paulo Expressão Popular 2008 b Marx referese aqui ao primeiro capítulo da primeira edição 1867 que trazia o título de Mercadoria e dinheiro Para a segunda edição Marx reelaborou o volume e alterou sua estrutura O antigo primeiro capítulo foi desmembrado em três capítulos independentes que agora sob o mesmo título passaram a constituir a primeira seção N E A MEW c Marx referese às seções Elementos históricos para a análise da mercadoria e Teorias sobre o meio de circulação e o dinheiro de sua obra Contribuição à crítica da economia política Durante a redação do manuscrito de 18631865 Marx desistiu de sua intenção inicial de adicionar a cada capítulo teórico um excurso sobre a história da teoria e em contrapartida planejou concentrar toda a exposição histórica no Livro IV de O capital cujos rascunhos formam as Teorias do maisvalor N E A MEGA d Isso pareceu tanto mais necessário porquanto até mesmo o ensaio de F Lassalle contra SchulzeDelitzsch na parte em que ele pretende expor a quintessência intelectual de minhas ideias sobre esses temas contém graves equívocos En passant que F Lassalle tenha tomado de minhas obras quase textualmente e sem citar as fontes todas as teses teóricas gerais de seus trabalhos econômicos como as teses sobre o caráter histórico do capital sobre o nexo entre as relações de produção e o modo de produção etc etc e tenha até mesmo utilizado a terminologia criada por mim é um procedimento que se explica por razões propagandísticas Não me refiro é evidente a suas explicações de detalhes e de aplicações práticas com as quais nada tenho a ver O ensaio de Lassale citado por Marx é Herr Bastiat Schulze von Delitzsch der ökonomische Julian oder Capital und Arbeit Berlim 1864 N E A MEGA e Mutato nomine de te fabula narratur Sob outro nome a fábula referese a ti Horácio Sátiras livro I verso 69 N T f Igreja Alta da Inglaterra High Church ou também AngloCatholic designa os setores da Igreja Anglicana que conservaram uma série de práticas hierárquicas e litúrgicas próprias do catolicismo romano N T g Livros Azuis Blue Books é a designação geral das publicações de materiais do Parlamento inglês e documentos diplomáticos do Ministério das Relações Exteriores Os Livros Azuis assim chamados em virtude da cor de suas capas são publicados na Inglaterra desde o século XVII constituindo a fonte oficial mais importante para a história da economia e diplomacia desse país N E A MEW h Referência aos versos do poema Die Albigenser de Nicolaus Lenaus Nem a luz do céu nem a aurora podemse apagar com mantos de púrpura ou hábitos sombrios N T i Marx não pôde realizar seu plano Após sua morte em 1883 o Livro II e III foram publicados por Engels como volumes II e III dO capital respectivamente em 1885 e 1894 Engels faleceu antes da planejada publicação do Livro IV dO capital que só apareceria em 19051910 editado por Kautsky sob o título Theorien über den Mehrwert Teorias do maisvalor N T j Citação modificada de Dante Alighieri A divina comédia Purgatório canto V N E A MEW Ed bras São Paulo Editora 34 2009 595 a Na quarta edição do Livro I dO capital 1890 foram excluídos os quatro primeiros parágrafos deste prefácio No presente volume o prefácio é publicado integralmente N E A MEW b Referência ao panfleto de Sigmund Mayer intitulado Die sociale Frage in Wien Studie eines Arbeitgebers Dem Niederösterreichischen Gewerbeverein gewidmet Viena 1871 N T c Kameralwissenschaften ciências camerais ou cameralísticas assim eram chamadas as ciências que abrangiam os conhecimentos necessários ao exercício de funções administrativas nos pequenos Estados absolutistas alemães do século XVIII e XIX N T d Na terceira e quarta edições desesperançado N E A MEW e No original Schwindelblüte literalmente floração de fraudes O termo é empregado por Marx para designar o mesmo fenômeno que na Inglaterra da época já se chamava de bolha econômica ou economia de bolha bubble economy isto é o inflacionamento artificial dos preços do mercado por meio da especulação financeira e de operações fraudulentas N T 1 Ver meu escrito Zur Kritik der politschen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 39 f Referência ao movimento préromântico que dominou a literatura alemã entre as décadas de 1760 e 1780 e ao qual pertenceram Herder Goethe e Schiller entre outros N T g Essa união livrecambista fundada em 1838 em Manchester e dirigida pelos grandes fabricantes Cobden e Bright visava abolir as assim chamadas leis dos cereais que haviam sido introduzidas na Inglaterra em 1815 e limitavam quando não proibiam a importação de trigo estrangeiro Em sua luta contra os grandes latifundiários a liga procurou obter por meio de promessas demagógicas o apoio dos trabalhadores ingleses As leis combatidas pelos livrecambistas foram abolidas parcialmente em 1842 e totalmente em junho de 1846 Depois disso a liga se dissolveu N E A MEW Na GrãBretanha da época a palavra corn em alemão Korn possuía o significado mais genérico de cereal principalmente trigo na Inglaterra e aveia na Escócia N T h Nos anos 1842 e 1844 o então primeiroministro britânico Robert Peel promoveu uma reforma financeira que aboliu ou reduziu todas as tarifas de exportação e as tarifas alfandegárias sobre matériasprimas e produtos semifabricados Como substituição para a queda da receita estatal foi introduzido um imposto de renda Em 1853 foram extintas todas as tarifas alfandegárias sobre matériasprimas e produtos semifabricados N E A MEGA i Na terceira e quarta edições 1848 N E A MEW j Marx referese aqui sobretudo à Contribuição à crítica da economia política cuja publicação em 1859 foi praticamente ignorada pelos jornais alemães à época N E A MEGA k A resenha de J Dietzgen Das Kapital Kritik der politischen Öekonomie von Karl Marx Hamburgo 1867 foi publicada no Demokratischen Wochenblatt n 31 34 35 e 36 De 1869 a 1876 esse jornal apareceu com o título de Der Volksstaat N E A MEW 2 Os gaguejantes falastrões da economia vulgar alemã reprovam o estilo e o modo de exposição do meu livro Ninguém pode julgar mais severamente do que eu as deficiências literárias de O capital No entanto para proveito e alegria desses senhores e de seu público cito aqui um juízo inglês e um russo O Saturday Review totalmente hostil às minhas ideias afirmou em seu anúncio da primeira edição alemã o modo de exposição confere certo encanto charm até mesmo às mais áridas questões econômicas O Jornal de São Petersburgo em seu número de 20 de abril de 1872 observa entre outras coisas A exposição salvo umas poucas partes excessivamente especializadas distinguese por ser acessível a todos pela clareza e apesar da elevação científica do objeto por uma vivacidade incomum Nesse aspecto o autor nem de longe se assemelha à maior parte dos eruditos alemães que escreve seus livros numa linguagem tão obscura e árida a ponto de romper a cabeça dos mortais comuns Porém o que se rompe nos leitores da literatura professoral nacionalliberal alemã contemporânea é algo muito distinto da cabeça l La Philosophie Positive Revue Revista publicada em Paris de 1867 a 1883 No n 3 novdez 1868 incluíase uma breve recensão sobre o primeiro volume dO capital escrita por Eugen De Roberty discípulo de Auguste Comte N E A MEW m Nikolai Sieber Teoríia tsénnosti i kapitala D Ricardo v sviazi s pózdñeishimi dopolñéñiiami i raziasñéñiiami Kiev 1871 p 170 N E A MEW n Os teóricos do socialismo na Alemanha Extrato do Jornal dos Economistas julho e agosto de 1872 N T o Par cet ouvrage M Marx se classe parmi les esprits analytiques les plus éminents et noun navons quun regret cest quil ait suivi une fausse direction Com essa obra o sr Marx se classifica entre os espíritos analíticos mais eminentes 596 e só lamentamos que ele tenha tomado uma falsa direção N E A MEGA p Referência às resenhas dO capital por Julius Faucher no Vierteljahrschrift für Volkswirtschaft und Kulturgeschichte Berlim 1868 v 20 p 216 e de Eugen Dühring no Ergänzungsblättern zur Kenntniss der Gegenwart Hilburghausen v 3 1867 n 3 p 182 N E A MEGA q Tratase de Ilarión Ignátievich Kaufmann economista russo professor na Universidade de São Petersburgo N E A MEW r De modo semelhante Marx escrevera a Kugelmann em 1868 Ele Dühring sabe muito bem que meu método de desenvolvimento não é o hegeliano pois sou materialista e Hegel idealista A dialética de Hegel é a forma fundamental de toda dialética mas apenas depois de despida de sua forma mística e é exatamente isso que distingue o meu método N E A MEGA s Cf Karl Marx Crítica da filosofia do direito de Hegel São Paulo Boitempo 2005 N E t Marx referese aqui aos filósofos Ludwig Büchner Friedrich Albert Lange Eugen Karl Dühring Gustav Theodor Fechner entre outros N E A MEGA 597 a Por exemplo o Kölnische Zeitung n 75 16 mar 1883 escreveu Nossa escola mais recente de economia política tem um pé calcado sobre os ombros de Marx que exerceu sobre a política interna de todos os Estados civilizados uma influência mais permanente que qualquer de seus contemporâneos N E A MEGA b A edição francesa do volume I dO capital foi publicada em fascículos de 1872 a 1875 em Paris N E A MEW c Antes de 1867 Marx escrevera em seu manuscrito para o primeiro volume dO capital No alemão atual o capitalista a personificação das coisas aquele que toma o trabalho é denominado Arbeitgeber e o verdadeiro trabalhador que dá o trabalho Arbeit giebt é chamado de Arbeitnehmer MEGA II41 p 82 N E A MEGA d Somente a partir de 1876 o Reichsmark marco imperial se tornaria a unidade monetária única do Império alemão com o valor equivalente a 036 gramas de ouro N T e Moeda de prata no valor de 23 de táler em circulação em diversos Estados alemães entre o fim do século XVII e a metade do século XIX N E A MEW f Cf tabela de conversão de pesos e medidas N T 598 a Traduzido do original inglês N T b A numeração dos capítulos da edição inglesa do volume I dO capital não coincide com a numeração das edições alemãs mas com a da edição francesa Nesta os três subcapítulos do capítulo 4 da segunda edição alemã se convertem em capítulos 4 5 e 6 o mesmo ocorre com os sete subcapítulos do capítulo 24 que formam os capítulos 26 a 32 na edição inglesa N E A MEW 3 Le Capital par Karl Marx Traduction de M J Roy entièrement revisée par lauteur Paris Lachâtre Essa tradução especialmente em sua última seção contém consideráveis alterações e acréscimos ao texto da segunda edição alemã 4 Na reunião trimestral da Câmara de Comércio de Manchester celebrada nesta tarde deuse uma acalorada discussão acerca do livrecâmbio Apresentouse uma resolução segundo a qual uma vez que se esperou em vão durante quarenta anos que outras nações seguissem o exemplo de livrecâmbio oferecido pela Inglaterra esta câmara entende que chegou a hora de reconsiderar essa posição A resolução foi rejeitada por apenas um voto sendo o resultado da votação 21 votos a favor 22 votos contra Evening Standard 1º de novembro de 1886 c Revolta desencadeada pelos donos de escravos do sul dos Estados Unidos e que levou à Guerra Civil de 18611865 N E A MEW 599 a Na presente edição ver p 18990 5625 65962 7024 7067 nota 79 N T b Na presente edição ver p 56570 N T c D H Die Herausgeber os editores N T Na presente edição as notas de Engels encontramse sempre entre chaves e indicadas com F E N E A MEW d Na presente edição ver p 624 nota 47 N T e Em 1891 num volume intitulado In Sachen Brentano contra Marx wegen angeblicher Citatsfälschung Geschichtserzählung und Dokumente A questão Brentano contra Marx em torno de uma suposta falsificação de citações Exposição e documentos Engels publicou as acusações de Brentano e Taylor Siedley contra Marx seguidas das respectivas réplicas de Marx Engels e Eleanor Marx N T f Na presente edição ver p 7267 N T g Nome dado às transcrições dos debates do parlamento britânico A palavra deriva de Thomas Curson Hansard o primeiro editor desses documentos N T h Tal é o estado de coisas no que diz respeito à riqueza deste país De minha parte devo dizer que eu veria quase com apreensão e dor esse aumento inebriante de riqueza e poder se eu acreditasse estar ele restrito às classes abastadas Isso não leva em conta de modo algum as condições da população trabalhadora O aumento que acabo de descrever e que segundo creio se fundamenta em dados fidedignos é um aumento inteiramente restrito às classes proprietárias N T i Na sessão parlamentar do Reichstag de 8 de novembro de 1871 o deputado liberalnacionalista Lasker numa polêmica contra Bebel declarou que se os trabalhadores alemães resolvessem imitar o exemplo dos membros da Comuna de Paris o cidadão honesto e proprietário os matariam a pauladas Mas o orador não se decidiu a publicar essas expressões e no registro estenográfico figuram em vez de matariam a pauladas as palavras o refreariam com suas próprias forças Bebel descobriu essa falsificação Lasker tornouse objeto de chacota entre os trabalhadores Em virtude de sua pequena estatura aplicouselhe o apelido de pequeno Lasker N E A MEW j Engels parafraseia aqui as palavras de Falstaff Here I lay and thus I bore my point no Henrique IV parte I ato 2 cena 4 de Shakespeare N T k Na presente edição ver nota 105 p 7278 N T 600 1 Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Berlim 1859 p 3 ed bras Contribuição à crítica da economia política São Paulo Expressão Popular 2008 2 Desire implies want it is the appetite of the mind and as natural as hunger to the body the greatest number of things have their value from supplying the wants of the mind O desejo faz parte das necessidades ele é o apetite do espírito e tão naturalmente como a fome para o corpo a maioria das coisas tem seu valor porque satisfaz as necessidades do espírito Nicholas Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter In Answer to Mr Lockes Considerations Londres p 23 3 Things have an intrinsick vertue which in all places have the same vertue as the loadstone to attract iron As coisas têm uma intrinsick vertue virtude intrínseca este é para Barbon o traço específico do valor de uso que é igual em toda a parte tal como a do ímã é atrair o ferro ibidem p 6 A propriedade do ímã de atrair o ferro só se tornou útil quando por intermédio dessa mesma propriedade se descobriu a polaridade magnética 4 The natural worth of anything consists in its fitness to supply the necessities or serve the conveniences of human life O worth natural de cada coisa consiste em sua propriedade de satisfazer necessidades ou de servir às conveniências da vida humana John Locke Some Considerations of the Consequences of the Lowering of Interest 1691 em Works Londres 1777 v II p 28 No século XVII ainda encontramos com muita frequência nos escritores ingleses a palavra worth para valor de uso e value para valor de troca plenamente no espírito de uma língua que gosta de expressar as questões imediatas de modo germânico e as questões abstratas reflektierte de modo românico 5 Na sociedade burguesa predomina a fictio juris ficção jurídica de que todo homem possui como comprador de mercadorias um conhecimento enciclopédico sobre elas 6 La valeur consiste dans le rapport déchange qui se trouve entre telle chose et telle autre entre telle mesure dune production et telle mesure dune autre O valor consiste na relação de troca que se estabelece entre uma coisa e outra entre a quantidade de um produto e a quantidade de outro Le Trosne De lintérêt social em E Daire ed Physiocrates Paris 1846 p 889 7 Nothing can have an intrinsick value Nada pode ter um valor intrínseco N Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter cit p 6 Ou como diz Butler The value of a thing Is just as much as it will bring O valor de uma coisa é exatamente o quanto ela renderá a Medida inglesa para cereais equivalente a 8 alqueires bushels N T b No original Zentner antiga unidade de medida de peso equivalente a 50 quilos A palavra também é normalmente empregada para traduzir o hundredweight inglês que equivale a 508 quilos N T 8 One sort of wares are as good as another if the value be equal There is no difference or distinction in things of equal value One hundred pounds worth of lead or iron is of as great a value as one hundred pounds worth of silver and gold Chumbo ou ferro no valor de 100 têm o mesmo valor de troca de prata e ouro no valor de 100 N Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter cit p 53 e 7 9 Nota à segunda edição The value of them the necessaries of life when they are exchanged the one for another is regulated by the quantity of labour necessarily required and commonly taken in producing them O valor deles dos meios de subsistência quando são trocados uns pelos outros é regulado pela quantidade de trabalho necessariamente requerida para sua produção e geralmente nela empregada Some Thoughts on the Interest of Money in General and Particularly in the Public Funds p 367 Esse notável escrito anônimo do século passado não traz qualquer data A partir de seu conteúdo no entanto podese inferir que ele tenha sido escrito sob o reinado de George II no ano de 1739 ou 1740 10 Toutes les productions dun même genre ne forment proprement quune masse dont le prix se détermine en général et sans égard aux circonstances particulières Todos os produtos do mesmo tipo formam de fato uma única massa cujo preço é determinado em geral e sem consideração às circunstâncias particulares Le Trosne De lintérêt social cit p 893 11 K Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 6 c No original bushel unidade de medida inglesa de capacidade para secos equivalente a 363687 litros N T d William Jacob An Historical Inquiry into the Production and Consumption of the Precious Metals Londres 1831 N E A MEW e Na primeira edição o texto prossegue da seguinte forma Conhecemos agora a substância do valor Ela é o 601 trabalho Conhecemos sua medida de grandeza Ela é o tempo de trabalho Resta analisar sua forma que fixa o valor precisamente como valor de troca Antes porém é preciso desenvolver com mais precisão as determinações já encontradas N E A MEW 11a Nota à quarta edição acrescentei o texto entre chaves para evitar a confusão muito frequente de que para Marx todo produto consumido por outro que não o produtor seria considerado mercadoria F E 12 K Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 123 passim 13 Tutti i fenomeni dell universo sieno essi prodotti della mano delluomo ovvero delle universali leggi della fisica non ci danno idea di attuale creazione ma unicamente di una modificazione della materia Accostare e separare sono gli unici elementi che lingegno umano ritrova analizzando lidea della riproduzione e tanto è riproduzione di valores e di ricchezza se la terra laria e lacqua ne campi si trasmutino in grano come se colla mano dell uomo il glutine di un insetto si trasmuti in velluto ovvero alcuni pezzetti di metallo si organizzino a formare una ripetizione Todos os fenômenos do universo sejam eles produzidos pelas mãos do homem ou pelas leis gerais da física não são na verdade criações novas mas apenas uma transformação da matéria dada Aglutinar e separar são os únicos elementos que o espírito humano encontra continuamente na análise da reprodução e o mesmo se dá com a reprodução do valor valor de uso embora aqui em sua polêmica contra os fisiocratas Verri não saiba exatamente a que tipo de valor ele se refere e da riqueza quando a terra o ar e a água se transformam em cereal nos campos ou quando pelas mãos do homem a secreção de um inseto se transforma em seda ou alguns pequenos pedaços de metal se conjugam para formar um relógio Pietro Verri Meditazione sulla economia politica primeira edição de 1771 na edição dos economistas italianos realizada por Custodi t XV parte moderna p 212 14 Cf G W F Hegel Philosophie des Rechts Filosofia do direito Berlim 1840 p 250 190 15 O leitor deve notar que não se trata aqui da remuneração ou do valor que o trabalhador recebe por digamos uma jornada de trabalho mas sim do valor das mercadorias nas quais sua jornada se objetiva A categoria do salário ainda não existe em absoluto nesse estágio de nossa exposição 16 Nota à segunda edição Para provar que apenas o trabalho é a medida definitiva e real pela qual o valor de todas as mercadorias em todos os tempos pode ser avaliado e comparado diz A Smith Quantidades iguais de trabalho têm em todas as épocas e lugares de ter o mesmo valor para o próprio trabalhador Em sua condição normal de saúde força e atividade e com o grau médio de destreza que ele pode possuir o trabalhador tem sempre de fornecer a porção devida de seu descanso de sua liberdade e de felicidade Wealth of Nations A riqueza das nações livro I c V p 1045 Por um lado A Smith confunde aqui não em toda parte a determinação do valor por meio da quantidade de trabalho despendido na produção da mercadoria com a determinação dos valores das mercadorias por meio do valor do trabalho e procura assim provar que quantidades iguais de trabalho têm sempre o mesmo valor Por outro lado ele pensa que o trabalho na medida em que se incorpora no valor das mercadorias vale apenas como dispêndio de força de trabalho porém apreende esse dispêndio como mero sacrifício de descanso liberdade e felicidade mas não também como atividade vital normal Todavia ele tem em vista o moderno trabalhador assalariado Com mais precisão diz o precursor anônimo de A Smith citado na nota 9 p 117 One man has employed himself a week in providing this necessary of life and he that gives him some other in exchange cannot make a better estimate of what is a proper equivalent than by computing what cost him just as much labour and time which in effect is no more than exchanging one mans labour in one thing for a time certain for another mans labour in another thing for the same time Um homem utilizou uma semana para a produção de um objeto útil e outro homem que em troca desse objeto lhe dá um outro não tem outro modo de avaliar corretamente a equivalência de valor senão pelo cálculo do labour e do tempo que sua produção lhe custou Isso significa na verdade a troca do labour empregado por um homem num determinado tempo e num determinado objeto pelo labour de outro homem empregado no mesmo tempo num outro objeto Some Thoughts on the Interest of Money in General etc p 39 Nota à quarta edição A língua inglesa tem a vantagem de ter duas palavras para esses dois diferentes aspectos do trabalho O trabalho que cria valores de uso e é determinado qualitativamente é chamado de work em oposição a labour o trabalho que cria valor e só é medido quantitativamente se chama labour em oposição a work Ver nota do editor na p 14 da edição inglesa F E f Mistress Quickly em alemão Wittib Hurtig personagem de diversas peças de Shakespeare é uma taberneira que nega ser prostituta Nessa passagem Marx referese ao seguinte diálogo de Henrique IV Falstaff Por quê Por não ser nem carne nem peixe a gente não sabe por onde pegála Estalajadeira És injusto falando por esse modo como todo mundo sabes muito bem por onde pegarme Velhaco em Peças históricas trad Carlos Alberto Nunes Rio de Janeiro Agir 2008 parte 1 ato 3 cena 3 N T 602 17 Os poucos economistas que como S Bailey ocuparamse com a análise da forma de valor não puderam chegar a resultado algum em primeiro lugar porque confundiram forma de valor com valor e em segundo lugar porque sob a influência direta do burguês prático concentraramse desde o primeiro momento exclusivamente na determinidade quantitativa The command of quantity constitutes value A disposição da quantidade faz o valor S Bailey org Money and its Vicissitudes Londres 1837 p 11 17 Nota à segunda edição Um dos primeiros economistas a analisar a natureza do valor depois de William Petty o célebre Franklin disse Como o comércio não é nada mais do que a troca de um trabalho por outro é no trabalho que o valor de todas as coisas é estimado da melhor forma The Works of B Franklin etc org Sparks Boston 1836 v II p 267 Franklin não tem consciência de que ao estimar o valor de todas as coisas no trabalho ele abstrai da natureza diferente dos trabalhos trocados e os reduz assim a trabalho humano igual No entanto o que ele não sabe ele o diz Ele fala primeiramente de um trabalho então do outro trabalho e por fim do trabalho sem ulterior caracterização como substância do valor de todas as coisas g O adjetivoadvérbio dinglich tem aqui o sentido de relativo a coisa Ding Em outras passagens Marx emprega a palavra sachlich com o mesmo significado Cf nota na p 148 Onde não foi possível traduzila como reificadoa s empregamos material materialmente sempre acompanhados do original entre colchetes N T h Referência ao mote atribuído a Henrique IV da França quando de sua segunda conversão ao catolicismo 1593 a fim de assumir o trono francês N T 18 De certo modo ocorre com o homem o mesmo que com a mercadoria Como ele não vem ao mundo nem com um espelho nem como filósofo fichtiano Eu sou Eu o homem espelhase primeiramente num outro homem É somente mediante a relação com Paulo como seu igual que Pedro se relaciona consigo mesmo como ser humano Com isso porém também Paulo vale para ele em carne e osso em sua corporeidade paulínia como forma de manifestação do gênero humano 19 Aqui a expressão valor Wert é empregada como já ocorreu anteriormente para denotar o valor quantitativamente determinado portanto a grandeza de valor 20 Nota à segunda edição Essa incongruência entre a grandeza de valor e sua expressão relativa foi explorada pela economia vulgar com a perspicácia que lhe é habitual Por exemplo Admitindose que A cai porque B com o qual ela é trocada aumenta embora nesse ínterim não menos trabalho seja despendido em A então vosso princípio geral do valor cai por terra Ao se admitir que o valor de B cai em relação a A porque o valor de A aumenta em relação a B é derrubada a base sobre a qual Ricardo assenta sua grandiosa tese de que o valor de uma mercadoria é sempre determinado pela quantidade do trabalho nela incorporado pois se uma variação nos custos de A altera não apenas seu próprio valor em relação a B com o qual ela é trocada mas também o valor de B em relação ao de A embora nenhuma variação tenha ocorrido na quantidade de trabalho requerida para a produção de B então cai por terra não apenas a doutrina que assegura que é a quantidade de trabalho despendido num artigo que regula seu valor como também a doutrina segundo a qual são os custos de produção de um artigo que regulam seu valor J Broadhurst Political Economy Londres 1842 p 11 e 14 O sr Broadhurst poderia dizer com a mesma razão consideremos as relações numéricas 1020 1050 10100 etc O número 10 permanece inalterado e no entanto diminui progressivamente sua grandeza proporcional sua grandeza em relação aos denominadores 20 50 100 Desse modo cai por terra o princípio de que a grandeza de um número inteiro como 10 por exemplo é regulada pelo número de uns nele contido i Massa de açúcar que nos antigos engenhos cristalizavase em fôrmas cônicas de madeira N T 21 Tais determinações reflexivas estão por toda parte Por exemplo este homem é rei porque outros homens se relacionam com ele como súditos Inversamente estes creem ser súditos porque ele é rei j Referência ao provérbio alemão Kleider machen Leute As roupas fazem as pessoas N T k Marx traduz klínai divã leito por Polster estofado almofada N T 22 Nota à segunda edição F L A Ferrier sousinspecteur des douanes subinspetor da alfândega Du Gouvernement considéré dans ses rapports avec le commerce Paris 1805 e Charles Ganilh Des systèmes déconomie politique 2 ed Paris 1821 603 l Entre os modernos commisvoyageurs mascates do livrecâmbio Marx contava além de Frédéric Bastiat também os adeptos da escola livrecambista na Alemanha como John PrinceSmith Viktor Böhmert Julius Faucher Otto Michaelis Max Hirsch e Hermann SchulzeDelitzsch Tais autores proferiam palestras aos trabalhadores e atuavam em parte nos sindicatos onde propagavam seus objetivos N E A MEGA m Rua de Londres onde ficavam concentrados os bancos e agiotas ingleses N T 22a Nota à segunda edição Por exemplo em Homero o valor de uma coisa é expresso numa série de coisas distintas 23 Falase por isso do valorcasaco Rockwert do linho quando se quer expressar seu valor em casacos e do valor cereal Kornwert quando se quer expressálo em cereais etc Cada uma dessas expressões diz que seu valor é aquele que se manifesta nos valores de uso casaco cereal etc The value of any commodity denoting its relation in exchange we may speak of it as cornvalue clothvalue according to the commodity with which it is compared and then there are a thousand different kinds of value as many kinds of value as there are commodities in existence and all are equally real and equally nominal Porque o valor de toda mercadoria denota sua relação na troca podemos denominálo valorcereal valorroupa a depender da mercadoria com que ela é comparada e assim há milhares de tipos diferentes de valores tantos quanto são as mercadorias que existem e todos são igualmente reais e igualmente nominais A Critical Dissertation on the Nature Measures and Causes of Value Chiefly in Reference to the Writings of Mr Ricardo and his Followers By the Author of Essays on the Formation etc of Opinions Londres 1825 p 39 Por meio dessa indicação das embaralhadas expressões relativas do mesmo valor das mercadorias S Bailey o editor desse escrito anônimo que tanto barulho fez na Inglaterra de sua época acredita ter eliminado toda determinação conceitual do valor De resto o fato de que ele apesar de sua própria visão estreita tenha posto o dedo em algumas feridas da teoria ricardiana explica a acrimônia com que a escola ricardiana o ataca por exemplo na Westminster Review 24 De fato na forma da permutabilidade imediata e universal não se vê de modo algum que ela seja uma forma antitética de mercadoria tão inseparável da forma da permutabilidade não imediata quanto a positividade de um polo magnético é inseparável da negatividade do outro Por essa razão podese imaginar ser possível imprimir simultaneamente em todas as mercadorias o selo da permutabilidade imediata do mesmo modo como se pode imaginar ser possível transformar todos os católicos em papas O pequenoburguês que vislumbra na produção de mercadorias o nec plus ultra limite inultrapassável da liberdade humana e da independência individual desejaria naturalmente se ver livre dos abusos vinculados a essa forma especialmente da permutabilidade não imediata das mercadorias O retrato dessa utopia filisteia constitui o socialismo de Proudhon que como mostrei em outro lugar Miséria da filosofia resposta à filosofia da miséria do sr Proudhon não possui nem mesmo o mérito da originalidade pois muito antes dele suas ideias já haviam sido mais bem desenvolvidas por Gray Bray e outros Isso não impede que hoje em dia uma tal sabedoria grasse em certos círculos sob o nome de science ciência Jamais uma escola atribuiu tanto a si mesma a palavra science quanto a escola proudhoniana pois Onde do conceito há maior lacuna Palavras surgirão na hora oportuna J W F Goethe Fausto trad Jenny Klabin Segall Belo HorizonteRio de Janeiro Villa Rica 1991 p 92 n No original sinnlich übersinnliche Referência à fala de Mefistófeles em Fausto de Goethe primeira parte No jardim de Marta Du übersinnlicher sinnlicher Freier Ein Mägdelein nasführet dich Tu conquistador sensível suprassensível Uma mocinha te conduz pelo nariz N E A MEGA 25 Vale lembrar que a China e as mesas começaram a dançar quando todo o resto do mundo ainda parecia imóvel pour encourager les autres para encorajar os outros Voltaire Cândido ou o otimismo c 19 N T Após as revoluções de 1848 a Europa entrou num período de reação política Enquanto nos círculos aristocráticos e burgueses europeus surgiu um entusiasmo pelo espiritismo particularmente por práticas com o tabuleiro Ouija na China desenvolveuse um poderoso movimento antifeudal especialmente entre os camponeses que ficou conhecido como Rebelião Taiping N E A MEGA 26 Nota à segunda edição Entre os antigos germanos a grandeza de uma manhã Morgen de terra era medida de acordo com o trabalho de um dia e por isso a manhã também era chamada de Tagwerk dia de trabalho também Tagwanne jurnale ou jurnalis terra jurnalis jornalis ou diurnalis Mannwerk trabalho de um homem Mannskraft Mannshauet etc Cf Georg Ludwig von Maurer Einleitung zur Geschichte der Mark Hof etc Verfassung Munique 1854 p 129s o O adjetivoadvérbio sachlich tem aqui o sentido de relativo a coisa Sache Em outras passagens Marx emprega a palavra dinglich com o mesmo significado Onde não foi possível traduzila como reificadoa empregamos material materialmente sempre acompanhadas do original entre colchetes Cf nota p 128 N T p O adjetivo naturwüchsig que traduzimos por naturalespontâneo é empregado por Marx no sentido de 604 desenvolvido de modo espontâneo Diferentemente portanto de natural no sentido de pertencente à natureza ou dado pela natureza N T 27 Nota à segunda edição Por isso quando Galiani diz O valor é uma relação entre pessoas La ricchezza è uma ragione tra due persone ele deveria ter acrescentado uma relação escondida sob um invólucro material dinglicher Galiani Della Moneta em Pietro Custodi Scrittori classici italiani di economia politica Milão 1803 t III parte moderna p 221 q Apocalipse 14 19 N E A MEGA 28 O que se deve pensar de uma lei que só pode se impor mediante revoluções periódicas F Engels Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie em DeutschFranzösische Jahrbücher Anais FrancoAlemães Karl Marx e Arnold Ruge eds Paris 1844 ed bras Esboço de uma crítica da economia política em José Paulo Netto org Engels São Paulo Ática 1981 col Grandes Cientistas Sociais v 17 série Política 29 Nota à segunda edição Tampouco Ricardo escapa de uma robinsonada Ele faz com que o pescador e o caçador primitivos como possuidores de mercadorias troquem o peixe e a caça na relação do tempo de trabalho objetivado nesses valores de troca Com isso ele cai no anacronismo de fazer com que o caçador e o pescador primitivos consultem para o cálculo de seus instrumentos de trabalho as tabelas de anuidade correntes na Bolsa de Londres em 1817 Os paralelogramos do sr Owen parecem ser a única forma social que ele conhece além da forma burguesa Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 389 Ricardo menciona os paralelogramos do sr Owen em seu escrito On Protection to Agriculture Londres 1822 p 21 Em seus planos utópicos de reforma social Robert Owen tentou demonstrar que uma comunidade é economicamente mais viável quando configurada sob a forma de um paralelogramo ou quadrado N E A MEGA r Marx referese provavelmente ao primeiro volume da obra Grundzüge der NationalOekonomie Colônia 1861 de Max Wirth onde se lê à página 218 O ato dessa apropriação que pode ser mais ou menos extenuante e demorada é o trabalho A ação recíproca de todos os materiais e forças isto é o processo orgânico vital a produção e o crescimento das coisas inorgânicas e orgânicas ocorre por meio da natureza para o homem esse processo inteiro é um mistério divino N E A MEGA s Cf G W F Hegel Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte Lições sobre a filosofia da História Berlim 1837 p 415 Este dia é o dia da universalidade que raia finalmente depois da longa e penosa noite da Idade Média N E A MEGA t No original Charaktermasken máscara de personagem N T 30 Nota à segunda edição Nos últimos tempos difundiuse o preconceito ridículo de que a forma da propriedade coletiva naturalespontânea é uma forma específica e até mesmo exclusivamente russa Ela é a forma primitiva Urform que podemos encontrar nos romanos germanos e celtas mas da qual entre os indianos ainda se vê mesmo que parcialmente em ruínas uma série de exemplos de tipos variados Um estudo mais preciso das formas de propriedade coletiva asiáticas especialmente da indiana demonstraria como resultam diferentes formas de sua dissolução das diferentes formas da propriedade coletiva naturalespontânea Assim por exemplo diferentes tipos originais da propriedade privada romana e germânica podem ser derivados de diferentes formas da propriedade coletiva indiana Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 10 u Segundo Epicuro os deuses habitam os intramundos isto é os espaços que separam os diferentes mundos uns dos outros eles não exercem qualquer influência sobre o desenvolvimento do mundo ou sobre a vida dos homens N E A MEGA 31 A insuficiência da análise ricardiana da grandeza de valor e ela é a melhor de todas será evidenciada no terceiro e quarto livros desta obra No que diz respeito ao valor em geral em nenhum lugar a economia política clássica diferencia expressa e claramente o trabalho tal como ele se expressa no valor do mesmo trabalho de sua expressão no valor de uso de seu produto De fato ela estabelece a diferença ao considerar o trabalho ora quantitativa ora qualitativamente Mas não lhe ocorre que a diferença meramente quantitativa dos trabalhos pressupõe sua unidade ou igualdade qualitativa portanto sua redução a trabalho humano abstrato Ricardo por exemplo mostra estar de acordo com Destutt de Tracy quando este diz As it is certain that our physical and moral faculties are alone our original riches the employment of those faculties labour of some kind is our original treasure and it is always from this employment that all those things are created which we call riches It is certain too that all those things only represent the labour which has created them and if they have a value or even two distinct values they can only derive them from that the value of the labour from which they emanate Como é certo que nossas capacidades corporais e intelectuais são nossa única riqueza originária o uso dessas capacidades que é certo tipo de trabalho é nosso tesouro originário é 605 sempre esse uso que cria todas aquelas coisas que chamamos de riqueza É certo também que todas aquelas coisas expressam apenas o trabalho que as criou e se elas têm um valor ou mesmo dois valores distintos elas só podem têlo a partir do valor do trabalho do qual elas resultam Ricardo The Principles of Pol Econ 3 ed Londres 1821 p 334 Cabe notar apenas que Ricardo atribui a Destutt sua própria compreensão mais profunda Na verdade Destutt diz por um lado que todas as coisas que constituem a riqueza representam o trabalho que as criou por outro porém que elas obtêm seus dois valores distintos valor de uso e valor de troca do valor do trabalho Ele cai com isso na superficialidade da economia vulgar que pressupõe o valor de uma mercadoria aqui o trabalho como meio para determinar o valor de outras mercadorias Ao lêlo Ricardo entende que o trabalho não o valor do trabalho se expressa tanto no valor de uso como no valor de troca Porém ele mesmo distingue tão pouco o duplo caráter do trabalho que se apresenta de modo duplo que dedica todo o capítulo Value and Riches Their Distinctive Properties Valor e riqueza suas propriedades distintivas ao laborioso exame das trivialidades de um J B Say E no final mostrase bastante impressionado ao notar que Destutt está de acordo com sua própria ideia do trabalho como fonte de valor mas que por outro lado ele se harmoniza com Say no que diz respeito ao conceito de valor 32 Uma das insuficiências fundamentais da economia política clássica está no fato de ela nunca ter conseguido descobrir a partir da análise da mercadoria e mais especificamente do valor das mercadorias a forma do valor que o converte precisamente em valor de troca Justamente em seus melhores representantes como A Smith e Ricardo ela trata a forma de valor como algo totalmente indiferente ou exterior à natureza do próprio valor A razão disso não está apenas em que a análise da grandeza do valor absorve inteiramente sua atenção Ela é mais profunda A forma de valor do produto do trabalho é a forma mais abstrata mas também mais geral do modo burguês de produção que assim se caracteriza como um tipo particular de produção social e ao mesmo tempo um tipo histórico Se tal forma é tomada pela forma natural eterna da produção social também se perde de vista necessariamente a especificidade da forma de valor e assim também da formamercadoria e num estágio mais desenvolvido da formadinheiro da formacapital etc Por isso dentre os economistas que aceitam plenamente a medida da grandeza de valor pelo tempo de trabalho encontramse as mais variegadas e contraditórias noções do dinheiro isto é da forma pronta do equivalente universal Isso se manifesta de modo patente por exemplo no tratamento do sistema bancário em que parece não haver limite para as definições mais triviais do dinheiro Em contraposição a isso surgiu um sistema mercantilista restaurado Ganilh etc que vê no valor apenas a forma social ou antes sua aparência sem substância Para deixar esclarecido de uma vez por todas entendo por economia política clássica toda teoria econômica desde W Petty que investiga a estrutura interna das relações burguesas de produção em contraposição à economia vulgar que se move apenas no interior do contexto aparente e rumina constantemente o material há muito fornecido pela economia científica a fim de fornecer uma justificativa plausível dos fenômenos mais brutais e servir às necessidades domésticas da burguesia mas que de resto limitase a sistematizar as representações banais e egoístas dos agentes de produção burgueses como o melhor dos mundos dandolhes uma forma pedante e proclamandoas como verdades eternas v Padres da Igreja também Santos Padres ou Pais da Igreja são chamados os escritores gregos e latinos da Igreja cristã entre os séculos II e VI O estudo dos escritos dos Padres da Igreja é denominado patrística ou patrologia N T 33 Les économistes ont une singulière manière de procéder Il ny a pour eux que deux sortes dinstitutions celles de lart et celles de la nature Les institutions de la féodalité sont des institutions artificielles celles de la bourgeoisie sont des institutions naturelles Ils ressemblent en ceci aux théologiens qui eux aussi établissent deux sortes de religions Toute religion qui nest pas la leur est une invention des hommes tandis que leur propre religion est une émanation de dieu Ainsi il y a eu de lhistoire mais il ny en a plus Os economistas procedem de um modo curioso Para eles há apenas dois tipos de instituições as artificiais e as naturais As instituições do feudalismo seriam artificiais ao passo que as da burguesia seriam naturais Nisso eles são iguais aos teólogos que também distinguem entre dois tipos de religiões Toda religião que não a deles é uma invenção dos homens ao passo que sua própria religião é uma revelação de Deus Desse modo houve uma história mas agora não há mais Karl Marx Misère de la philosophie Réponse à la philosophie de la misère de M Proudhon Miséria da filosofia resposta à filosofia da miséria do sr Proudhon 1847 p 113 MEW v IV p 139 Verdadeiramente patético é o sr Bastiat que imagina que os gregos e os romanos tenham vivido apenas do roubo Mas para que se viva por tantos séculos com base no roubo é preciso que haja permanentemente algo para roubar ou que o objeto do roubo se reproduza continuamente Parece assim que também os gregos e os romanos possuíam um processo de produção portanto uma economia que constituía a base material de seu mundo tanto quanto a economia burguesa constitui a base material do mundo atual Ou Bastiat quer dizer que um modo de produção que se baseia no trabalho escravo é um sistema de roubo Ele adentra então um terreno perigoso Se um gigante do pensamento como Aristóteles errou em sua apreciação do trabalho escravo por que deveria um economista nanico como Bastiat acertar em sua apreciação do trabalho assalariado Aproveito a ocasião para refutar 606 brevemente uma acusação que me foi feita por um jornal teutoamericano quando da publicação de meu escrito Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política 1859 Segundo esse jornal minha afirmação de que os modos determinados de produção e as relações de produção que lhes correspondem em suma de que a estrutura econômica da sociedade é a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas sociais de consciência de que o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social política e espiritual em geral tudo isso seria correto para o mundo atual onde dominam os interesses materiais mas não seria válido nem para a Idade Média onde dominava o catolicismo nem para Atenas ou Roma onde dominava a política Para começar é desconcertante que alguém possa pressupor que essas batidas fraseologias sobre a Idade Média e a Antiguidade possam ser desconhecidas de alguém É claro que a Idade Média não podia viver do catolicismo assim como o mundo antigo não podia viver da política Ao contrário é o modo como eles produziam sua vida que explica por que lá era a política aqui o catolicismo que desempenhava o papel principal Além do mais não é preciso grande conhecimento por exemplo da história da República romana para saber que sua história secreta se encontra na história da propriedade fundiária Por outro lado Dom Quixote já pagou pelo erro de imaginar que a Cavalaria Andante fosse igualmente compatível com todas as formas econômicas da sociedade Économistes é o termo inicialmente usado para designar os fisiocratas Em meados do século XIX esse conceito adquiriu um significado tão amplo que já não servia mais para caracterizar uma doutrina econômica específica O nome physiocrates já havia sido formulado por François Quesnay e seu discípulo PierreSamuel du Pont de Nemours N E A MEGA 34 Value is a property of things riches of man Value in this sense necessarily implies exchange riches do not Observations on some Verbal Disputes in Pol Econ Particularly Relating to Value and to Supply and Demand Londres 1821 p 16 35 Riches are the attribute of man value is the attribute of commodities A man or a community is rich a pearl or a diamond is valuable A pearl or a diamond is valuable as a pearl or diamond S Bailey Money and its Vicissitudes cit p 165s x Marx referese provavelmente à obra de Roscher Die Grundlagen der Nationalökonomie 3 ed Stuttgart Augsburg 1858 p 57 N E A MEGA w William Shakespeare Muito barulho por nada em Comédias trad Carlos Alberto Nunes Rio de Janeiro Agir 2008 ato III cena 3 N T 36 O autor das Observations e S Bailey culpam Ricardo por de um valor apenas relativo ter transformado o valor de troca em algo absoluto Ele reduziu a relatividade aparente que essas coisas diamantes e pérolas por exemplo possuem à relação verdadeira que se esconde por trás da aparência à sua relatividade como meras expressões de trabalho humano Se os ricardianos respondem a Bailey de modo grosseiro e não convincente é apenas porque eles não encontraram no próprio Ricardo uma explanação da conexão interna entre valor e forma de valor ou valor de troca 607 37 No século XII tão célebre por sua piedade frequentemente aparecem entre tais mercadorias coisas muito delicadas Assim um escritor francês daquela época enumera entre as mercadorias que se encontravam no mercado de Landit ao lado de peças de roupas sapatos couro instrumentos agrícolas peles etc também femmes folles de leur corps mulheres com corpos ardentes Não foi localizada a fonte dessa citação N E A MEGA 38 Proudhon cria seu ideal de justiça a justice éternelle justiça eterna a partir das relações jurídicas correspondentes à produção de mercadorias por meio do que digase de passagem também é fornecida a prova consoladora para todos os filisteus de que a forma da produção de mercadorias é tão eterna quanto a justiça Então em direção inversa ele procura modelar de acordo com esse ideal a produção real de mercadorias e o direito real que a ela corresponde O que se pensaria de um químico que em vez de estudar as leis reais do metabolismo e de resolver determinadas tarefas com base nesse estudo pretendesse modelar o metabolismo por meio das ideias eternas da naturalité naturalidade e da affinité afinidade Por acaso se sabe mais sobre um agiota quando se diz que ele contraria a justice éternelle a équité éternelle equidade eterna a mutualité éternelle mutualidade eterna e outras vérités éternelles verdades eternas do que os padres da Igreja o sabiam quando diziam que ele contradiz a grâce éternelle graça eterna a foi éternelle fé eterna e a volonté éternelle de Dieu vontade eterna de Deus a Referência aos levellers corrente política atuante na Inglaterra em meados do século XVII N T b Em Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes Maritornes é a prostituta que a imaginação do cavaleiro errante transforma numa nobre dama N T 39 Pois o uso de todo bem é duplo Um é o uso próprio à coisa como tal o outro não como uma sandália pode ser usada para ser calçada ou para ser trocada Ambos são valores de uso da sandália pois também aquele que troca a sandália por aquilo que lhe falta por exemplo por alimentos utiliza a sandália como sandália Mas não em seu modo natural de uso Pois ela não existe em razão da troca Aristóteles De republica Política livro I c 9 c Referência a J W Goethe Fausto cit p 68 Era no início o Verbo Do espírito me vale a direção E escrevo em paz Era no início a Ação N T d E foilhe concedido também que desse espírito à imagem da Besta Para que ninguém pudesse comprar ou vender senão aquele que fosse marcado com o nome da Besta ou o número do seu nome Apocalipse 1315 17 40 Nisso se pode ver a esperteza do socialismo pequenoburguês que eterniza a produção de mercadorias ao mesmo tempo que quer abolir a oposição entre dinheiro e mercadoria portanto o próprio dinheiro pois ele só existe nessa oposição Do mesmo modo poderseia abolir o papa preservandose o catolicismo Para um tratamento mais detalhado dessa questão ver meu escrito Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 61s 41 Enquanto ainda não são trocados dois objetos de uso diferentes mas como se dá frequentemente entre os selvagens uma massa caótica de coisas é oferecida para a troca como equivalente de uma terceira coisa a troca imediata de produtos encontrase apenas em seu início e O termo Materiatur empregado por Hegel nas Lições sobre a filosofia da natureza remete à doutrina hilemórfica escolásticoaristotélica segundo a qual a forma morphê se realiza na matéria hylê conferindo a esta última sua determinidade Bestimmtheit na terminologia hegeliana ontológica A Materiatur é assim o princípio que constitui a materialidade em geral e aquilo que resta quando se retira o que só é possível na imaginação de uma substância a sua forma determinada Cf G W F Hegel Vorlesungen über die Philosophie der Natur Hamburgo Felix Meiner 2007 p 213 N T 42 Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 135 I metalli naturalmente moneta Os metais são dinheiro por natureza Galiani Della moneta cit p 137 43 Mais detalhes sobre isso em meu escrito supracitado na seção Os metais preciosos 44 Il danaro è la merce universale O dinheiro é a mercadoria universal Pietro Verri Meditazione sulla economia politica cit p 16 45 Silver and gold themselves which we may call by the general name of Bullion are commodities raising and falling in value Bullion than may be reckoned to her of higher value where the smaller weight will purchase the greater quantity of the product or manufacture of the country etc A prata e o ouro em si que podemos referir com o nome geral de metal precioso são no valor mercadorias que aumentam e diminuem Assim ao metal precioso podese atribuir um valor maior quando um peso ínfimo dele pode comprar uma quantidade maior do produto natural ou dos bens fabricados do país etc S Clement A Discourse of the General Notions of Money Trade 608 and Exchange as They Stand in Relations to Each Other By a Merchant Londres 1695 p 7 Silver and gold coined or uncoined tho they are used for a measure of all other things are no less a commodity than wine oyl tobacco cloth or stuffs É verdade que o ouro e a prata cunhados ou não cunhados são utilizados como padrão de medida para todas as outras coisas mas não são menos mercadorias do que o vinho o óleo o tabaco o lenço e os tecidos J Child A Discourse Concerning Trade and That in Particular of the EastIndies Londres 1689 p 2 The stock and riches of the kingdom cannot properly be confined to money nor ought gold and silver to be excluded from being merchandize O patrimônio e a riqueza do Reino não podem tomados corretamente limitarse a dinheiro tampouco podem o ouro e a prata ser excluídos como mercadorias Th Papillon The East India Trade a Most Profitable Trade Londres 1677 p 4 46 Loro e largento hanno valore come metalli anteriore all essere moneta Ouro e prata têm valor como metais antes de ser dinheiro Galiani Della moneta cit p 72 Locke diz O consenso geral entre os homens conferiu um valor imaginário à prata em razão de suas qualidades que a tornam adequada a servir como dinheiro John Locke Some Considerations 1691 cit p 15 Já Law ao contrário diz Como poderiam diferentes nações conferir a uma coisa qualquer um valor imaginário ou como teria sido possível obter esse valor imaginário E mostra o quão pouco ele entende dessa questão A prata era trocada com base no valor de uso que ela tinha portanto de acordo com seu valor efetivo por meio de sua determinação como dinheiro ela obteve um valor adicional une valeur additionnelle Jean Law Considérations sur le numéraire et le commerce em E Daire ed Économistes financiers du XVIIIe siècle Paris 1843 t I p 46970 47 Largent en est le signe O dinheiro é seu das mercadorias signo V de Forbonnais Éléments du commerce nouvelle édition Leyde 1766 t II p 143 Comme signe il est attiré par les denrées Como signo ele é vestido pelas mercadorias ibidem p 155 Largent est un signe dune chose et la représente O dinheiro é signo para uma mercadoria e a representa Montesquieu Esprit des lois Œuvres Londres 1767 t II p 3 Largent nest pas simple signe car il est luimême richesse il ne représente pas les valeurs il les équivaut O dinheiro é não um mero signo pois ele mesmo é riqueza ele não representa os valores mas é seu equivalente Le Trosne De lintérêt social cit p 910 Quaucun puisse ni doive faire doute que à nous et à notre majesté royale nappartienne seulement le mestier le fait létat la provision et toute lordonnance des monnaies de donner tel cours et pour tel prix comme il nous plaît et bon nous semble Quando observamos o conceito de valor a coisa mesma parece ser apenas um signo e não é considerada como ela mesma mas como aquilo que ela vale G W F Hegel Philosophie des Rechts Filosofia do direito cit p 100 Muito antes dos economistas os juristas colocaram em voga a noção do dinheiro como mero signo e do valor apenas imaginário dos metais preciosos servindo como sicofantas para o poder real cujo direito de falsificação de moedas eles sustentaram durante toda a Idade Média com base nas tradições do Império Romano e no conceito de dinheiro dos Pandectas Ninguém pode levantar dúvidas diz um de seus discípulos mais aplicados Philipp von Valois num decreto de 1346 que apenas a nós e a nossa Majestade Real cabe decidir sobre as questões monetárias sobre a produção a qualidade o estoque e todos os éditos relativos às moedas podendo colocá las em circulação pelo preço que nos apraz e convêm Era um dogma do direito romano que o imperador tinha o poder de decretar o valor do dinheiro Era expressamente proibido negociar o dinheiro como mercadoria Pecunias varo nulli emere fas erit nam in usu publico constitutas oportet non esse mercem Porém a ninguém deve ser permitido comprar dinheiro pois este tendo sido criado para o uso geral não pode ser mercadoria Uma boa discussão sobre esse assunto encontrase em G F Pagnini Saggio sopra il giusto pregio delle cose em Custodi Collezioni 1751 t II parte moderna Pagnini polemiza com os juristas especialmente na segunda parte do escrito Pandectas ou Digesto é a coleção das decisões dos jurisconsultos mais célebres convertidas em lei pelo imperador bizantino Justiniano no ano de 533 N T 48 If a man can bring to London an ounce of silver out of the earth in Peru in the same time that he can produce a bushel of corn then one is the natural price of the other now if by reason of new and more easie mines a man can procure two ounces of silver as easily as he formerly did one the corn will be as cheap at 10 shillings the bushel as it was before at 5 shillings caeteris partibus Se alguém consegue trazer para Londres 1 onça de prata do fundo da terra do Peru no mesmo tempo necessário para a produção de 1 alqueire de cereal então um é o preço natural do outro mas se por meio da exploração de minas novas e mais férteis ele conseguir extrair duas em vez de 1 onça de prata com o mesmo esforço então o cereal que agora custa 10 xelins por alqueire será tão barato quanto o era antes quando custava 5 xelins caeteris paribus os demais fatores permanecendo constantes William Petty A Treatise of Taxes and Contributions Londres 1667 p 31 49 Depois de o sr professor Roscher nos informar que As falsas definições de dinheiro podem ser divididas em dois grupos principais o daquelas que o tomam por mais do que uma mercadoria e o das que o tomam por menos do 609 que ela ele apresenta um variegado catálogo de escritos sobre o sistema monetário através do qual não transparece nem o mais remoto conhecimento da verdadeira história da teoria e conclui com a seguinte moral De resto não se pode negar que a maioria dos economistas políticos recentes não se ocupou o suficiente das particularidades que diferenciam o dinheiro das outras mercadorias mas é ele mais ou menos do que mercadoria Nesse sentido a reação semimercantilista de Ganilh etc não é de todo infundada Wilhelm Roscher Die Grundlagen der Nationalökonomie 3 ed 1858 p 20710 Mais menos não o suficiente não de todo Que determinações conceituais E é essa algaravia professoral que o sr Roscher batiza modestamente de o método anatômicofisiológico da economia política Uma descoberta no entanto deve serlhe reconhecida a de que o dinheiro é uma mercadoria agradável 610 50 A questão de por que o dinheiro não representa imediatamente o próprio tempo de trabalho de modo que por exemplo uma cédula de dinheiro represente x horas de trabalho desemboca muito simplesmente na questão de por que na base da produção de mercadorias os produtos do trabalho têm de se expressar como mercadorias pois a representação das mercadorias inclui sua duplicação em mercadoria e mercadoriadinheiro Ou na questão de por que o trabalho privado não pode ser tratado como seu contrário como trabalho imediatamente social Ocupeime detalhadamente do utopismo superficial de um dinheirotrabalho Arbeitsgeld em outro lugar Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 61s Aqui devo apenas observar que por exemplo o dinheirotrabalho de Owen é tão pouco dinheiro quanto digamos uma máscara de teatro Owen pressupõe o trabalho imediatamente socializado uma forma de produção diametralmente oposta à produção de mercadorias O certificado de trabalho comprova apenas a parte individual do produtor no trabalho comum e seu direito individual ao consumo de uma parte determinada do produto comum Mas não passa pela cabeça de Owen pressupor a produção de mercadorias e tentar contornar suas condições necessárias por meio de truques monetários Nas novas sociedades a serem fundadas segundo Owen seria introduzido um papel que representaria o valor do trabalho na forma de notas bancárias e serviria para a satisfação das necessidades domésticas e para o intercâmbio de bens Tal papel seria emitido apenas na proporção dos estoques disponíveis e só poderia ser obtido na troca por produtos reais N E A MEGA 51 O selvagem ou semisselvagem usa a língua de um outro modo Por exemplo o capitão Parry observa sobre os habitantes da costa oeste da Baía de Baffin In this case they licked it the thing represented to them twice to their tongues after which they seemed to consider the bargain satisfactorily concluded Nessa ocasião na troca de produtos eles lambem o que lhes é oferecido duas vezes com o que parecem expressar que o negócio está satisfatoriamente concluído Também os esquimós orientais costumam lamber o artigo no momento em que o recebem na troca Se no norte a língua aparece como órgão da apropriação não admira que no sul a barriga seja considerada o órgão da propriedade acumulada e o cafre avalie a riqueza de um homem de acordo com sua pança Os cafres são sujeitos inteligentes pois ao mesmo tempo que o relatório britânico de saúde oficial de 1864 apontava a carência em grande parte da classe trabalhadora de substâncias formadoras de gordura um certo dr Harvey não confundir com aquele que descobriu a lei da circulação do sangue fazia sucesso com suas receitas de bolinhos que prometiam eliminar o excesso de gordura da burguesia e da aristocracia 52 Cf Karl Marx Theorien von der Masseinheit des Geldes Teorias da unidade de medida do dinheiro Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 53s 53 Nota à segunda edição Onde o ouro e a prata exercem por lei a função de dinheiro isto é como medida de valor uma ao lado da outra tentouse frequentemente em vão tratálas como uma e a mesma matéria Se admitimos que o mesmo tempo de trabalho tem de se objetivar inalteravelmente na mesma proporção da prata e do ouro admitimos na verdade que a prata e o ouro são a mesma matéria e que determinada massa do metal de valor menor a prata constitui a fração inalterada de determinada quantidade de ouro Do reinado de Eduardo III até a época de George II a história do sistema monetário inglês se desenrola numa série contínua de turbulências derivadas do conflito entre a determinação legal da relação de valor entre o ouro e a prata e suas oscilações reais de valor Ora o ouro era muito valorizado ora a prata o era O metal de valor muito baixo era retirado de circulação derretido e exportado A relação de valor entre os dois metais era então novamente alterada por meios legais mas o novo valor nominal não tardava a entrar no mesmo conflito de antes com a relação real de valor Na França em nossa própria época a queda muito fraca e transitória no valor do ouro em relação à prata em consequência da demanda indochinesa por esta última produziu o mesmo fenômeno em escala ampliada a exportação da prata e sua retirada de circulação sendo substituída pelo ouro Durante os anos 1855 1856 e 1857 a importação de ouro na França excedeu a exportação desse metal em 41580000 ao passo que a exportação da prata excedeu sua importação em 14705000 na primeira edição 34704000 Na verdade em países onde ambos os metais são medidas legais de valor e por isso ambos têm de ser adotados para se efetuar pagamentos podendose no entanto escolher tanto o ouro quanto a prata conforme se queira o metal cujo valor é maior carrega um ágio e como toda outra mercadoria mede seu preço pelo metal menos valorizado ao passo que somente este último serve como medida de valor Todas as experiências históricas nesse terreno se limitam simplesmente a constatar que onde duas mercadorias exercem por lei a função de medida de valor apenas uma delas ocupa de fato esse lugar Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 523 a No original Marx emprega as variáveis a b c A B C Alteramos para b c d B C D a fim de evitar a confusão entre a variável a e o artigo definido N T 54 Nota à segunda edição O fato curioso de que a onça de ouro na Inglaterra como unidade do padrão monetário não seja dividida em partes alíquotas é explicado da seguinte forma Our coinage was originally adapted to the 611 employment of silver only hence an ounce of silver can always has divided into a certain adequate number of pieces of coin but as gold was introduced at a later period into a coinage adapted only to silver an ounce of gold cannot be coined into an adequate number of pieces Nosso sistema monetário se baseava originalmente apenas no uso da prata por isso 1 onça de ouro pode ser sempre dividida num determinado número de frações monetárias mas como o ouro só foi introduzido tardiamente num sistema monetário baseado unicamente na prata 1 onça de ouro não pode ser cunhada num número fracionado de moedas Maclaren History of the Currency Londres 1858 p 16 55 Nota à segunda edição Nos escritos ingleses impressiona a confusão entre medida de valor measure of value e padrão de preços standard of value As funções e com isso seus nomes são constantemente confundidos b Referência à cronologia mitológica das cinco idades elaborada por Hesíodo em Os trabalhos e os dias e que mais tarde serviria como motivo literário para o poeta Ovídio N T 56 De resto tampouco essa sequência tem validade histórica universal 57 Nota à segunda edição Assim a libra inglesa designa menos que um terço de seu peso original a libra escocesa valia antes da unificação apenas 136 a libra francesa 174 o maravedi espanhol menos que 11000 e o real português uma proporção ainda muito menor 58 Nota à segunda edição Le monete le quali oggi sono ideali sono le più antiche dogni nazione e tutte furono un tempo reali e perché erano reali con esse si contava As moedas cujos nomes são hoje apenas ideais são em todas as nações as mais antigas elas foram outrora reais e justamente porque foram reais é que os homens operaram com elas Galiani Della moneta cit p 153 59 Nota à segunda edição Em sua Familiar Words o sr David Urquhart observa o fato abominável de que hoje em dia 1 a unidade do padrão monetário inglês vale cerca de 14 de 1 onça de ouro This is falsifying a measure not establishing a standard Isso é falsificação de uma medida e não estabelecimento de um padrão p 105 Como em toda parte ele vê nessa falsa denominação do peso do ouro a mão falsificadora da civilização 60 Nota à segunda edição Quando se perguntou a Anacarsis para que os gregos necessitavam do dinheiro ele respondeu para contar Athenaeus Deipnnosophistae Schweighäuser 1802 IV 49 v 2 p 120 61 Nota à segunda edição Porque o ouro da segunda à quarta edição dinheiro como padrão dos preços aparece sob a mesma denominação contábil dos preços das mercadorias por exemplo tanto 1 onça de ouro quanto o valor de 1 tonelada de ferro são expressos em 3 17 xelins e 10½ pence essas denominações contábeis foram chamadas de seu preçomoeda Münzpreis Daí surgiu a noção fantástica de que o ouro ou a prata teria seu valor em seu próprio material e que diferentemente de todas as outras mercadorias obteria um preço fixo por parte do Estado Confundiu se a fixação das denominações contábeis de determinados pesos de ouro com a fixação do valor desses pesos Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 52 62 Cf Theorien von der Masseinheit des Geldes em Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 53s As fantasias sobre o aumento ou a diminuição do preçomoeda que consistem em passar das denominações monetárias aplicadas a frações de peso de ouro e prata fixadas por lei a frações maiores ou menores de peso determinadas pelo Estado o que possibilitaria passar a cunhar 14 de ouro em 40 xelins em vez de em 20 tais fantasias na medida em que visam não desastradas operações financeiras contra credores estatais e privados mas curas milagrosas econômicas foram tratadas por W Petty em Quantulumcunque Concerning Money To the Lord Marquis of Halifax 1682 de modo tão exaustivo que já seus sucessores imediatos sir Dudley North e John Locke para não falar dos que vieram depois deles não conseguiram fazer mais do que empobrecêlas If the wealth of a nation could be decupled by a Proclamation it were strange that such proclamations have not long since been made by our Governors Se a riqueza de uma nação diz ele pudesse ser decuplicada por meio de um decreto seria estranho que nossos governos já não tivessem promulgado tais decretos há muito tempo Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 36 63 Ou bien il faut consentir à dire quune valeur dun million en argent vaut plus quune valeur égale en marchandises Ou seria preciso admitir que um milhão em dinheiro vale mais do que um valor igual em mercadorias Le Trosne De lintérêt social cit p 919 E portanto que um valor vale mais do que um outro valor igual 64 Se Jerônimo em sua juventude teve de lutar muito com sua carne material como mostra sua luta no deserto contra belas imagens femininas ele teve de lutar em sua velhice contra a carne espiritual Imaginome diz ele por exemplo em espírito diante do juiz universal Quem és tu pergunta uma voz Eu sou um cristão Tu mentes troa o juiz universal Não passas de um ciceroniano Citação de São Jerônimo Epístola a Eustóquio também conhecida como De conservanda virginitate Sobre a conservação da virgindade N E A MEW 612 c Bem soubeste dizer ora dessa moeda a liga e o peso mas dizeme se a tens em seu poder Dante Alighieri A divina comédia Paraíso canto XXIV trad Italo Eugenio Mauro 2 ed São Paulo Editora 34 2010 p 172 N T 65 HEk dè toû puròv tHÃntameíbesqai fjsín ô hJrákleitov kaì pûr äpántwn öpwsper crusoû cramata kaì crjmátwn crusóv Mas do fogo surge tudo dizia Heráclito e de tudo surge o fogo do mesmo modo como do ouro surgem os bens e dos bens o ouro F Lassalle Die Philosophie Herakleitos des Dunkeln A filosofia de Heráclito o Obscuro Berlim 1858 v I p 222 A nota de Lassalle a essa passagem p 224 nota 3 explica incorretamente o dinheiro como mero símbolo de valor d Cf Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política MEW v 13 p 71 N E A MEW e Numa carta de 28 de novembro de 1878 a N F Danielson o tradutor russo dO capital Marx modifica a última frase da seguinte forma E de fato o valor de cada braça individual é apenas a materialidade de uma parte da quantidade social de trabalho despendida na quantidade total de braças A mesma correção encontrase também no exemplar pessoal de Marx da segunda edição alemã do Livro I de O capital porém não escrita por ele N E A MEW f Referência à fala de Lisandro em Shakespeare Sonho de uma noite de verão em Comédias trad Carlos Alberto Nunes Rio de Janeiro Agir 2008 ato I cena 1 N T 66 Toute vente est achat Toda venda é compra dr Quesnay Dialogues sur le commerce et les travaux des artisans em E Daire ed Physiocrates Paris 1846 primeira parte p 170 Ou como diz Quesnay em suas Maximes générales Vender é comprar 67 Le prix dune marchandise ne pouvant être payé que par le prix dune autre marchandise O preço de uma mercadoria só pode ser pago com o preço de uma outra mercadoria Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques em E Daire org Physiocrates cit p 554 68 Pour avoir cet argent il faut avoir vendu Para ter esse dinheiro é preciso ter vendido ibidem p 543 69 Com exceção como mencionamos anteriormente do produtor do ouro ou da prata que troca seu produto sem têlo vendido anteriormente g Non olet foi a resposta de Vespasiano à objeção feita por seu filho Tito ao caráter repugnante do imposto sobre a coleta de fezes e urina na Roma imperial N T 70 Si largent représente dans nos mains les choses que nous pouvons désirer dacheter il y représente aussi les choses que nous avons vendues pour cet argent Se o dinheiro em nossas mãos representa as coisas que podemos desejar comprar ele também representa as coisas que vendemos em troca desse dinheiro Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 586 71 Il y a donc quatre termes et trois contractants dont lun intervient deux fois Razão pela qual há quatro termos e três contratantes dos quais um atua duas vezes Le Trosne De lintérêt social cit p 909 h Alusão à venda da Bíblia para comprar aguardente N T i No original Heisssporn Literalmente espora ardente isto é pessoa temperamental inflamada O termo bastante usual na época de Marx deriva de Hotspur cognome de sir Henry Percy personagem impetuoso e beberrão do drama Henrique IV de Shakespeare parte I ato II cena IV N T 72 Nota à segunda edição Mesmo sendo um fenômeno evidente ele é na maioria das vezes ignorado pelos economistas políticos especialmente pelos livrecambistas vulgaris vulgares 73 Cf minhas considerações sobre James Mill em Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 746 Dois pontos são aqui característicos do método da apologética econômica Em primeiro lugar a identificação da circulação de mercadorias com a troca imediata de produtos mediante a simples abstração de suas diferenças Em segundo lugar a tentativa de negar as contradições do processo capitalista de produção dissolvendo as relações de seus agentes de produção nas relações simples que surgem da circulação de mercadorias A produção e a circulação de mercadorias são porém fenômenos que pertencem aos mais distintos modos de produção por mais variados sejam em sua dimensão e alcance Portanto ainda não se sabe nada da differentia specifica diferença específica desses modos de produção e por conseguinte não é possível julgálos enquanto se conhecem apenas suas categorias abstratas comuns a todos os modos de produção Em nenhuma ciência além da economia política impera tal pedantaria acompanhada de lugarescomuns tão elementares Por exemplo J B Say julgase no 613 direito de dar um veredito sobre as crises porque ele sabe que a mercadoria é um produto 74 Mesmo que a mercadoria seja vendida repetidas vezes um fenômeno que aqui ainda não existe para nós com a última e definitiva venda ela deixa a esfera da circulação e entra na esfera do consumo a fim de servir como meio de subsistência ou meio de produção 75 Il na dautre mouvement que celui qui lui est imprimé par les productions Ele o dinheiro não tem outro movimento senão aquele que lhe é conferido pelos produtos Le Trosne De lintérêt social cit p 885 j O galão imperial inglês medida de capacidade equivalente a 454609 litros N T 76 Ce sont les productions qui le mettent en mouvement et le font circuler La célérité de son mouvement supplée à sa quantité Lorsquil en est besoin il ne fait que glisser dune main dans lautre sans sarrêter un instant São os produtos que o põem o dinheiro em movimento e o fazem circular Sua quantidade é completada mediante a velocidade de seu isto é do dinheiro movimento Se necessário ele passa de uma mão a outra sem se deter por nenhum instante Le Trosne De lintérêt social cit p 9156 k Sovereign antiga moeda de investimento bullion coin britânica de ouro e com valor nominal de 1 Na era vitoriana o Banco da Inglaterra tinha a prática frequente de retirar de circulação os sovereigns usados a fim de recunhálos N T 77 Money being the common measure of buying and selling everybody who has anything to sell and cannot procure chapmen for it is presently apt to think that want of money in the kingdom or country is the cause why his goods do not go off and so want of money is the common cry which is a great mistake What do these people want who cry out for money The Farmer complains he thinks that were more money in the country he should have a price for his goods Then it seems money is not his want but a price for his corn and cattle which he would sell but cannot why cannot he get a price 1 Either there is too much corn and cattle in the country so that most who come to market have need of selling as he has and few of buying or 2 there wants the usual vent abroad by Transportation or 3 The consumption fails as when men by reason of poverty do not spend so much in their houses as formerly they did wherefore it is not the increase of specific money which would at all advance the farmers goods but the removal of any of these three causes which do truly keep down the market The merchant and shopkeeper want money in the same manner that is they want a vent for the goods they deal in by reason that the markets fail a nation never thrives better than when riches are tost from hand to hand Sendo o dinheiro o meio comum de compra e venda qualquer um que tenha algo para vender mas não encontre comprador para seu produto é levado a pensar que a demanda por dinheiro no reino ou no país é o que faz com que seus bens não encontrem saída e é assim que a demanda por dinheiro se torna a reclamação comum o que é um grande equívoco O que querem essas pessoas que clamam por dinheiro O fazendeiro reclama pensando que se houvesse mais dinheiro no país ele obteria um melhor preço para seus produtos Assim parece que não é dinheiro o que ele quer mas um bom preço para o seu grão e o seu gado que ele então venderia mas presentemente não o pode por que ele não obtém um bom preço 1 Ou há muito cereal e gado no país de modo que a maioria das pessoas que vem ao mercado necessita vender tal como ele e poucas necessitam comprar ou 2 a venda usual para o estrangeiro está interrompida ou 3 o consumo se torna mais escasso devido por exemplo ao fato de as pessoas em razão de sua pobreza não poderem gastar tanto em suas casas quanto o faziam anteriormente Por essa razão não é o aumento da quantidade de dinheiro que poderá incrementar as vendas dos produtos dos agricultores mas a remoção de cada uma dessas três causas as verdadeiras responsáveis pela estagnação do mercado O mercador e o comerciante necessitam de dinheiro do mesmo modo isto é deixam de vender seus produtos em razão da paralisia do mercado Uma nação jamais se encontra em melhor posição do que quando a riqueza passa rapidamente de mão em mão sir Dudley North Discourse upon Trade Londres 1691 p 115 As imposturas de Herrenschwand se resumem todas à ideia de que as contradições que surgem da natureza da mercadoria e se manifestam na circulação das mercadorias podem ser eliminadas por meio do aumento do meio de circulação Porém da ilusão popular que atribui as estagnações do processo de produção e circulação a uma insuficiência de meios de circulação não se segue ao contrário que a insuficiência real de meios de circulação por exemplo em consequência de interferências imprudentes na regulation of currency regulação monetária não seja capaz por sua vez de provocar essas estagnações 78 There is a certain measure and proportion of money requisite to drive the trade of a nation more or less than which would prejudice the same Just as there is a certain proportion of farthings necessary in a small retail trade to change silver money and to even such reckonings as cannot be adjusted with the smallest silver pieces Now as the proportion of the number of farthings requisite in commerce is to be taken from the number of people the frequency of their exchanges as also and principally from the value of the smallest silver pieces of money so in like manner the proportion of money gold and 614 silver specie requisite in our trade is to be likewise taken from the frequency of commutations and from the bigness of payments Existe uma determinada medida e proporção de dinheiro que é necessária para manter o comércio de uma nação uma quantidade maior ou menor do que essa medida levaria esse comércio ao colapso Do mesmo modo como num pequeno comércio varejista certa proporção de farthings antiga moeda inglesa de cobre com o valor de 14 de penny se faz necessária para trocar moedas de prata e efetuar aqueles pagamentos que não podem ser feitos nem mesmo com as menores moedas de prata Ora assim como a proporção da demanda de farthings no comércio depende do número de pessoas da frequência de suas trocas bem como e principalmente do valor das menores peças monetárias de prata assim também a proporção da demanda de dinheiro de ouro e prata necessária para nosso comércio é determinada pela frequência das comutações e pela grandeza dos pagamentos William Petty A Treatise of Taxes and Contributions Londres 1667 p 178 A teoria de Hume foi defendida contra J Steuart e outros autores por A Young em seu Political Arithmetic Londres 1774 em que ela ocupa um capítulo próprio Prices Depend on Quantitiy of Money Os preços dependem da quantidade de dinheiro p 112s Em Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política observo na p 149 A questão acerca da quantidade de moedas em circulação é afastada por ele A Smith tacitamente quando de modo completamente falso trata o dinheiro como simples mercadoria Mas isso só ocorre quando A Smith trata do dinheiro ex officio por dever do cargo Em outras passagens no entanto por exemplo em sua crítica dos sistemas anteriores da economia política ele expressa a noção correta The quantity of coin in every country is regulated by the value of the commodities which are to be circulated by it The value of goods annually bought and sold in any country requires a certain quantity of money to circulate and distribute them to their proper consumers and can give employment to no more The channel of circulation necessarily draws to itself a sum sufficient to fill it and never admits any more A quantidade do dinheiro metálico é regulada em cada país pelo valor das mercadorias cuja circulação ele tem de mediar O valor dos bens anualmente comprados e vendidos requer uma certa quantidade de dinheiro para que esses bens possam circular e chegar a seus consumidores porém não é capaz de criar uma aplicação para uma quantidade de dinheiro que ultrapasse essa medida O canal da circulação absorve necessariamente uma quantia que basta para preenchêlo mas nunca uma quantia maior do que a necessária Wealth of Nations v III livro IV c I p 87 89 Do mesmo modo A Smith abre sua obra ex officio com uma apoteose da divisão do trabalho Porém no último livro ao tratar das fontes das receitas estatais ele reproduz a denúncia da divisão do trabalho de seu mestre A Ferguson 79 The prices of things will certainly rise in every nation as the gold and silver increase amongst the people and consequently where the gold and silver decrease in any nation the prices of all things must fall proportionably to such decrease of money Os preços das coisas certamente aumentam em cada país na mesma medida em que aumenta a quantidade de ouro e prata em circulação do mesmo modo seguese necessariamente que ao diminuir o ouro e a prata num país os preços de todas as mercadorias tendem a sofrer uma queda correspondente a essa diminuição do dinheiro Jacob Vanderlint Money Answers All Things Londres 1734 p 5 Uma comparação mais minuciosa da obra de Vanderlint com os Essays de Hume não deixa a menor dúvida de que Hume não só conhecia como utilizou a obra mais importante de Vanderlint A visão de que é a quantidade do meio de circulação que determina os preços já se encontra em Barbon e em outros escritores muito mais antigos No inconvenience can arise by an unrestrained trade but very great advantage since if the cash of the nation be decreased by it which prohibitions are designed to prevent those nations that get the cash will certainly find everything advance in price as the cash increases amongst them And our manufactures and everything else will soon become so moderate as to turn the balance of trade in our favour and thereby fetch the money back again Nenhuma inconveniência diz Vanderlint pode advir de um comércio irrestrito mas sim uma enorme vantagem pois se a quantidade de dinheiro da nação diminui em consequência dele o que se deve evitar por meio de proibições as nações para as quais esse dinheiro flui veem os preços de todas as coisas subirem na mesma medida do aumento da quantidade de dinheiro em circulação E nossos produtos manufaturados e todas as outras mercadorias se tornam prontamente tão baratas que a balança comercial pesa a nosso favor e em consequência disso o dinheiro volta a fluir para nós ibidem p 434 80 Que cada tipo de mercadoria individual constitui mediante seu preço um elemento da soma dos preços de todas as mercadorias em circulação é algo óbvio Mas como é possível que valores de uso incomensuráveis uns com os outros possam ser trocados em massa pela quantidade de ouro ou prata que se encontra num país é algo totalmente inconcebível Se reduzirmos o mundo das mercadorias a uma única mercadoria total da qual cada mercadoria forma apenas uma parte alíquota teremos a bela fórmula mercadoria total x quintais de ouro A mercadoria A parte alíquota da mercadoria total mesma parte alíquota de x quintais de ouro Isso é expresso de modo magistral por Montesquieu Si lon compare la masse de lor et de largent qui est dans le monde avec la somme des marchandises qui y sont il est certain que chaque denrée ou marchandise en particulier pourra être comparée à une certaine portion de lautre Supposons quil ny ait quune seule denrée ou marchandise dans le monde ou quil ny ait quune seule qui sachète 615 et quelle se divise comme largent cette partie de cette marchandise répondra à une partie de la masse de largent la moitié du total de lune à la moitié du total de lautre etc létablissement du prix des choses dépend toujours fondamentalement de la raison du total des choses au total des signes Se compararmos a quantidade total de ouro e de dinheiro que se encontra no mundo com a soma das mercadorias que nele se encontram é certo que cada produto ou mercadoria poderá em particular ser comparado a uma certa porção do outro Suponha que haja apenas um único produto ou mercadoria no mundo ou que haja apenas uma única que seja comprada e que ela se divida tal como o dinheiro essa parte dessa mercadoria corresponderá a uma parte da quantidade do dinheiro a metade do total de uma corresponderá à metade do total da outra etc a determinação do preço das coisas depende sempre fundamentalmente da razão entre a quantidade total das coisas e a quantidade total dos símbolos monetários Montesquieu Esprit des lois cit t III p 123 Sobre o desenvolvimento dessa teoria por Ricardo seu discípulo James Mill lord Overstone e outros cf Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 1406 150s O sr J S Mill com a lógica eclética que lhe é peculiar mostra estar de acordo com a visão de seu pai J Mill e ao mesmo tempo com a visão contrária Quando se compara o texto de seu compêndio Principles of Political Economy com o prefácio da primeira edição no qual ele apresenta a si mesmo como o Adam Smith do presente não se sabe o que é mais impressionante se a ingenuidade do autor ou a do público que o compra inocentemente como um Adam Smith para quem ele está como o general Williams baronete de Kars está para o duque de Wellington As investigações originais do sr J S Mill no terreno da economia política desprovidas tanto de abrangência quanto de riqueza de conteúdo podem ser encontradas devidamente encadeadas em seu opúsculo publicado em 1844 Some Unsettled Questions of Political Economy Locke exprime diretamente o nexo entre a falta de valor do ouro e da prata e a determinação de seu valor por meio da quantidade Mankind having consented to put an imaginary value upon gold and silver the intrinsic value regarded in these metals is nothing but the quantity Como os homens concordaram em conferir ao ouro e à prata um valor imaginário o valor interno que se vê nesses metais não é senão sua quantidade Some Considerations cit p 15 81 Obviamente tratar de detalhes tais como a senhoriagem etc é algo que escapa ao meu objetivo No entanto diante do romântico sicofanta Adam Müller que se impressiona com a enorme liberalidade com que o governo inglês amoeda gratuitamente vale citar o seguinte juízo de sir Dudley North Silver and gold like other commodities have their ebbings and flowings Upon the arrival of quantities from Spain is carried into the Tower and coined Not long after there will come a demand for bullion to be exported again If there is none but all happens to be in coin what then Melt it down again theres no loss in it for the coining costs the owner nothing Thus the nation has been abused and made to pay for the twisting of straw for asses to eat If the merchant had to pay the price of the coinage he would not have sent his silver to the Tower without consideration and coined money always keep a value above uncoined silver A prata e o ouro têm como outras mercadorias suas marés altas e baixas Quando um carregamento chega da Espanha ele é levado à Tower e cunhado Não muito tempo depois surgirá uma demanda por barras desses metais para exportação Se não se dispõe de nenhuma uma vez que todo ouro e prata foi amoedado o que ocorre Voltase a fundilo nesse processo não há nenhuma perda pois a cunhagem não custa nada ao proprietário Mas é a nação que sai prejudicada pois é ela que paga o entrançamento da palha que no fim acaba servindo para alimentar os burros Se o mercador o próprio North era um dos maiores mercadores na época de Carlos II tivesse de pagar um preço pelo amoedamento ele pensaria duas vezes antes de mandar sua prata à Tower e o dinheiro cunhado teria então um valor maior do que a prata não cunhada sir Dudley North Discourse upon Trade cit p 18 82 If silver never exceed what is wanted for the smaller payments it cannot be collected in sufficient quantities for the larger payments the use of gold in the main payments necessarily implies also its use in the retail trade those who have gold coin offering them for small purchases and receiving with the commodity purchased a balance of silver in return by which means the surplus of silver that would otherwise encumber the retail dealer is drawn off and dispersed into general circulation But if there is as much silver as will transact the small payments independent of gold the retail dealer must then receive silver for small purchases and it must of necessity accumulate in his hands Se a prata jamais excede o que é requerido para os pagamentos menores ela não pode ser coletada em quantidades suficientes para os pagamentos maiores o uso do ouro nos pagamentos principais também implica necessariamente seu uso no comércio varejista quem possui moedas de ouro utilizaas também nas compras pequenas e recebe em prata o troco pela mercadoria comprada desse modo o excedente de prata que de outro modo sobrecarregaria o comerciante varejista deixa suas mãos e é dispersado na circulação geral Mas se há prata suficiente para que os pequenos pagamentos possam ser feitos independentemente do ouro então o comerciante varejista manterá consigo uma reserva de prata para poder efetuar pequenas compras e esse metal se acumulará necessariamente em suas mãos David Buchanan Inquiry into the Taxation and Commercial Policy of Great Britain Edimburgo 1844 p 2489 83 Um belo dia o mandarim financeiro Wanmaoin resolveu apresentar ao Filho do Sol um projeto que visava 616 secretamente converter os assignats imperiais chineses em cédulas convertíveis E eis que o Comitê dos Assignats em seu relatório de abril de 1854 aplicalhe um corretivo Se ele também recebeu o tradicional açoite de bambus não se sabe ao certo O Comitê lêse no final do relatório examinou detalhadamente o seu projeto e conclui que nele tudo é favorável aos comerciantes e nada é vantajoso à Coroa Arbeiten der Kaiserlich Russichen Gesandtschaft zu Peking über China trad dr K Abel e F A Mecklenburg Berlim 1858 v 1 p 54 Sobre a constante abrasão das moedas de ouro por sua circulação diz um Governor do Banco da Inglaterra como testemunha perante o House of Lords Committee sobre os Bank Acts Todo ano uma nova classe de soberanos não em sentido político sovereign soberano é o nome da libra esterlina tornase leve demais A classe que num ano possui seu pleno peso se desgasta o suficiente para no ano seguinte fazer com que a balança pese contra si House of Lords Committee 1848 n 429 84 Nota à segunda edição O quão pouco clara é a concepção das diferentes funções do dinheiro mesmo entre os melhores teóricos do sistema monetário o mostra por exemplo a seguinte passagem de Fullarton That as far as concerns our domestic exchanges all the monetary functions which are usually performed by gold and silver coins may have performed as effectually by a circulation of inconvertible notes having no value but that factitious and conventional value they derive from the law is a fact which admits I conceive of no denial Value of this description may be made to answer all the purposes of intrinsic value and supersede even the necessity for a standard provided only the quantity of issues be kept under due limitation Que no que concerne às nossas trocas domésticas todas as funções monetárias usualmente realizadas por moedas de ouro e prata podem ser igualmente realizadas mediante a circulação de notas inconversíveis sem nenhum valor além do valor factício e convencional que a lei lhes confere é um fato que admito não pode ser negado Um valor desse tipo poderia atender a todos os propósitos de um valor intrínseco e até mesmo tornar supérflua a necessidade de um padrão de medida do valor sendo apenas necessário manter a quantidade de suas emissões dentro dos limites devidos John Fullarton Regulation of Currencies 2 ed Londres 1845 p 21 Assim como a mercadoriadinheiro pode ser substituída na circulação por simples símbolos de valor ela é supérflua como medida do valor e padrão de medida dos preços 85 Do fato de que o ouro e a prata como moedas ou em sua função exclusiva como meios de circulação tornamse símbolos de si mesmos Nicholas Barbon deriva o direito dos governos to raise money de levantar dinheiro isto é por exemplo conferir a uma quantidade de prata que se chama vintém o nome de uma quantidade maior de prata como o táler e assim pagar ao credores vinténs em vez de táleres Money does wear and grow lighter by often telling over It is the denomination and currency of the money that man regard in bargaining and not the quantity of silver Tis the publick authority upon the metal that makes it money O dinheiro se gasta e se torna mais leve pelo seu uso frequente É a denominação e a cotação do dinheiro que os homens levam em consideração no comércio e não a quantidade de prata É a autoridade pública sobre o metal que o converte em dinheiro Nicholas Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter cit p 25 2930 86 Une richesse en argent nest que richesse en productions converties en argent Riqueza em dinheiro não é mais do que riqueza em produtos que foram transformados em dinheiro Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 573 Une valeur en productions na fait que changer sa forme Um valor em forma de produtos apenas mudou sua forma ibidem p 486 87 Tis by this practise they keep all their goods and manufactures at such low rates É por meio dessa prática que eles mantêm tão baixo o preço de seus bens e produtos fabricados Jacob Vanderlint Money Answers All Things cit p 956 88 Money is a pledge O dinheiro é um penhor John Bellers Essays about the Poor Manufactures Trade Plantations and Immorality Londres 1699 p 13 89 A compra em sentido categórico pressupõe que o ouro e a prata já são a forma convertida das mercadorias ou o produto de uma venda 90 Henrique III o rei mais cristão da França roubou dos mosteiros etc suas relíquias a fim de transformálas em dinheiro É sabido o papel que o roubo dos tesouros do templo de Delfos pelos fócios desempenhou na história grega Entre os antigos os templos serviam como morada dos deuses das mercadorias Eles eram bancos sagrados Para os fenícios um povo comerciante por excelência o dinheiro era a forma alienada de todas as coisas Por isso era normal que as virgens que nas festas da deusa do amor se entregavam a estranhos ofertassem à deusa o dinheiro recebido 91 Gold Yellow glittering precious gold Thus much of this will make black white foul fair Wrong right base noble old young coward valiant What this you gods Why this Will lug your priests and servants from your sides Pluck stout men pillows from below their heads This yellow slave Will knit and break religions bless the accoursd Make the hoar leprosy adord place thiaves And give them title knee and approbation With senators of the bench this is it That 617 makes the wappend widow wed again Come damned earth Thou common whore of mankind Ouro faiscante ouro amarelo o precioso metal Só com isto eu deixaria o negro branco o repelente belo o injusto justo o baixo com nobreza o novo velho e corajoso o pulha Deuses por que isto Para que isto deuses Oh Isto desviará de vossas aras sacerdotes e servos da cabeça dos doentes tirará o travesseiro Este escravo amarelo os sacrossantos votos anula e quebra lança a bênção nos malditos amável deixa a lepra dá estado aos ladrões e lhes concede títulos e homenagens lado a lado dos senadores faz que novamente se case a viúva idosa Vamos poeira maldita prostituta comum da humanidade William Shakespeare Timon of Athens ed bras Timão de Atenas em Tragédias trad Carlos Alberto Nunes Rio de Janeiro Agir 2008 ato IV cena 3 92 O2dèn gàr ÃnqrHpoisin oÎon Ârgurov Kakòn nómismH Ëblaste toûto kaì póleiv Porqeî tódH Ândrav Êxanístjsin dómwn TódH Êkdidáskei kaì paralássei frénav Crjstàv próv aÏscrà prágmaqH Ístasqai brotJn Panourgíav dH Ëdeixen ÃnqrHpoiv Ëcein Kaì pantòv Ërgou dussébeian eÏdénai Nunca entre os homens floresceu uma invenção pior que o ouro até cidades ele arrasa afasta os homens de seus lares arrebata e impele almas honestas ao aviltamento à impiedade em tudo Sófocles Antigone ed bras Antígona em A trilogia tebana trad Mario da Gama Kury 9 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 versos 34450 93 HElpizoúsjv tcv pleonexíav Ãnáxein Êk tJn mucJn tcv gcv a2tòn tòn Ploútona Em consequência da avareza que deseja arrancar o próprio Pluto das entranhas da terra Athenaeus Deipnosophistae VI 23 94 Accrescere quanto più si può il numero devenditori dogni merce diminuire quanto più si può il numero del compratori questi sono i cardini sui quali si raggirano tutte le operazioni di economia politica Aumentar o máximo possível o número de vendedores de cada mercadoria diminuir o máximo possível o número de compradores esse é o eixo central em torno do qual giram todas as operações da economia política Pietro Verri Meditazione sulla economia politica cit p 523 l Diderot N T 95 There is required for carrying on the trade of the nation a determinate sum of specifick money which varies and is sometimes more sometimes less as the circumstances we are in require This ebbing and flowing of money supplies and accommodates itself without any aid of Politicians The buckets work alternately when money is scarce bullion is coined when bullion is scarce money is melted Para viabilizar o comércio de uma nação fazse necessária uma determinada soma de um dinheiro específico soma que varia sendo às vezes maior às vezes menor dependendo das circunstâncias em que nos encontramos Esse movimento de alta e baixa da quantidade de dinheiro regula a si mesmo sem necessitar de qualquer ajuda de políticos Os baldes sobem e descem alternadamente se há escassez de dinheiro barras de metal são transformadas em moedas se há escassez de barras derretemse moedas sir Dudley North Discourse upon Trade cit Postscript p 3 John Stuart Mill por muito tempo funcionário da Companhia das Índias Orientais confirma que joias de prata continuam a funcionar imediatamente como tesouro Silver ornaments are brought out and coined when there is a high rate of interest and go back again when the rate of interest falls Os ornamentos de prata são transformados em moeda quando há uma alta taxa de juros e retrocedem quando essa taxa cai J S Mills Evidence em Reports on Bank Acts 1857 n 2084101 Segundo um documento parlamentar de 1864 sobre a importação de ouro e prata para a Índia em 1863 a importação desses metais ultrapassou suas exportações em 19367764 Nos oito anos que antecederam 1864 o excesso da importação sobre a exportação dos metais preciosos atingiu o valor de 109652917 Ao longo desse século foram cunhadas na Índia mais de 200000000 96 Lutero diferencia o dinheiro como meio de compra e como meio de pagamento Assim fazes com que o juro de compensação de perdas Schadewacht seja duplicado pois por um lado não sou pago e por outro não posso comprar Martinho Lutero An die Pfarrherrn wider den Wucher zu predigen Wittemberg 1540 97 Sobre as relações entre credores e devedores na classe dos negociantes ingleses no início do século XVIII Such a spirit of cruelty reigns here in England among the men of trade that is not to be met with in any other society of men nor in any other kingdom of the world Na Inglaterra reina entre os homens de negócio um espírito de crueldade tal que não pode ser encontrado em nenhuma outra sociedade humana e nenhum outro reino do mundo em An Essay on Credit and the Bankrupt Act Londres 1707 p 2 98 Nota à segunda edição Na seguinte citação extraída de meu escrito publicado em 1859 podese ver porque não dedico aqui nenhuma atenção a uma forma contraposta Inversamente no processo DM o dinheiro pode ser alienado como meio efetivo de compra e o preço da mercadoria pode ser realizado antes que o valor de uso do dinheiro seja realizado ou que a mercadoria seja vendida Isso ocorre por exemplo na forma cotidiana dos pré pagamentos Ou na forma pela qual o governo inglês compra ópio dos ryots na Índia Nesses casos no entanto o 618 dinheiro funciona apenas na forma já conhecida do meio de compra É claro que o capital também é investido na forma do dinheiro Mas esse ponto de vista não cabe no horizonte da circulação simples Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 11920 Ryots nome dado aos camponeses ou agricultores indianos N T 99 Nota à terceira edição A crise monetária definida como fase particular de toda crise de produção e de comércio tem de ser distinguida daquele tipo especial de crise que também chamada de crise monetária pode no entanto emergir como um fenômeno independente que atua apenas indiretamente sobre a indústria e o comércio São crises cujo centro está no capital financeiro e que por isso têm sua esfera imediata no sistema bancário financeiro e na bolsa de valores m Referência ao salmo 421 Assim como o cervo brame pelas correntes das águas assim suspira a minha alma por ti ó Deus N T 100 Essa transformação repentina do sistema de crédito em sistema monetário adiciona o terror teórico ao pânico prático e os agentes da circulação tremem diante do mistério insondável de suas próprias relações Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 126 The poor stand still because the rich have no money to employ them though they have the same land and hands to provide victuals and cloaths as ever they had which is the true riches of a nation and not the money Os pobres não têm trabalho porque os ricos não têm dinheiro para empregálos embora eles disponham tal como antes das mesmas terras e da mesma mão de obra para produzir meios de existência e roupas que são a verdadeira riqueza de uma nação e não o dinheiro John Bellers Proposals for Raising a Colledge of Industry Londres 1696 p 34 101 A passagem seguinte mostra como tais momentos são explorados pelos amis du commerce amigos do comércio On one occasion 1839 an old grasping banker in his private room raised the lid of the desk he sat over and displayed to a friend rolls of banknotes saying with intense glee there were 600000 of them they were held to make money tight and would all be let out after three oclock on the same day Numa dada ocasião 1839 um velho banqueiro ganancioso da City em seu gabinete particular abriu a tampa de sua escrivaninha e exibiu ao amigo rolos de notas bancárias dizendo com intensa satisfação ter 600000 delas que haviam sido guardadas a fim de provocar a escassez de dinheiro e seriam todas postas em circulação a partir das 3 horas da tarde daquele mesmo dia H Roy The Theory of the Exchanges The Bank Charter Act of 1844 Londres 1864 p 81 O jornal semioficial The Observer continha o seguinte parágrafo em 24 de abril de 1864 Some very curious rumours are current of the means which have been resorted to in order to create a scarcity of banknotes Questionable as it would seem to suppose that any trick of the kind would ha adopted the report has been so universal that it really deserves mention Alguns rumores muito curiosos circulam sobre os meios que foram utilizados para criar uma escassez de notas bancárias Por mais questionável que possa ser a suposição de que um truque qualquer tenha sido utilizado a notícia sobre esse fato foi tão difundida que se faz realmente digna de menção The Observer 24 abr 1864 102 The amount of sales no original purchases or contracts entered upon during the course of any given day will not affect the quantity of money afloat on that particular day but in the vast majority of cases will resolve themselves into multifarious drafts upon the quantity of money which may be afloat at subsequent dates more or less distant The bills granted or credits opened today need have no resemblance whatever either in quantity amount or duration to those granted or entered upon tomorrow or next day nay many of todays bills and credits when due fall in with a mass of liabilities whose origins traverse a range of antecedent dates altogether indefinite bills at 12 6 3 months or I often aggregating together to swell the common liabilities of one particular day A quantidade de compras ou contratos fechados durante o curso de um determinado dia não afetará a quantidade de dinheiro em curso nesse dia particular mas na grande maioria dos casos dissolverseá em muitas letras de câmbio que serão descontadas sobre a quantidade de dinheiro que estará em curso num futuro mais ou menos próximo Os títulos que são emitidos ou os créditos que são abertos no dia de hoje não precisam ter nenhuma semelhança seja em quantidade valor ou duração com aqueles emitidos ou abertos amanhã ou depois de amanhã antes muitos dos títulos e créditos de hoje quando de seu vencimento misturarseão a uma massa de compromissos cujas origens se espalham por uma série totalmente indefinida de datas anteriores The Currency Theory Reviewed a Letter to the Scotch People By a Banker in England Edimburgo 1845 p 2930 passim 103 Como exemplo de quão pouco dinheiro real é requerido nas verdadeiras operações comerciais apresento abaixo um esquema de uma das maiores casas comerciais de Londres Morrison Dillon Co sobre suas receitas e pagamentos anuais Suas transações no ano de 1856 que somam muitos milhões de libras esterlinas são aqui reduzidas à escala de um milhão 619 Receitas Despesas Letras de câmbio de banqueiros e comerciantes descontadas após a data 533596 Letras de câmbio descontáveis após a data 302674 Cheques de banqueiros etc ao portador 357715 Cheques aos banqueiros de Londres 663672 Notas de bancos do interior 96275 Notas do Banco da Inglaterra 22743 Notas do Banco da Inglaterra 68554 Ouro 28089 Ouro 9427 Prata e cobre 1486 Prata e cobre 1484 Ordens de pagamento dos correios 933 Soma total 1000000 Soma total 1000000 Report from the Select Committee on the Bank Acts jul 1858 p LXXI 104 The Course of Trade being thus turned from exchanging of goods for goods or delivering and taking to selling and paying all the bargains are now stated upon the foot of a Price in Money Com a transformação do comércio que deixa de ser a troca de bens por bens ou entrega e recebimento e passa a se caracterizar pela venda e pagamento todas as barganhas são agora feitas com base num preço em dinheiro em An Essay upon Publick Credit 3 ed Londres 1710 p 8 105 Largent est devenu le bourreau de toutes les choses alambic qui a fait évaporer une quantité effroyable de biens et de denrées pour faire ce fatal précis Largent déclare la guerre à tout le genre humain O dinheiro tornouse o carrasco de todas as coisas A arte das finanças é a retorta onde se evapora uma quantidade enorme de bens e de mercadorias a fim de se obter esse extrato fatal O dinheiro declara guerra a todo o gênero humano Boisguillebert Dissertation sur la nature des richesses de largent et des tributs em E Daire ed Économistes financiers du XVIIIe siècle Paris 1843 t I p 413 4179 n Na terceira e quarta edições renda em ouro N E A MEW 106 No dia de Pentecostes de 1824 relata o sr Craig à Comissão parlamentar de inquérito de 1826 houve uma demanda tão grande de notas bancárias em Edimburgo que às 11 horas da manhã já não tínhamos uma única nota em nossos cofres Solicitamos empréstimos a vários bancos mas não pudemos obter nada e muitas transações só puderam ser feitas por meio de slips of paper papelotes Às 3 horas da tarde porém muitas notas já haviam retornado aos bancos dos quais haviam saído Elas não fizeram mais do que trocar de mãos Embora a circulação média efetiva das notas bancárias na Escócia não ultrapasse 3 milhões em certos dias de pagamentos todas as notas em posse dos banqueiros são postas em circulação o que chega a um total de aproximadamente 7 milhões Nessa ocasião as notas têm uma única e específica função a desempenhar e uma vez desempenhada essa função retornam aos respectivos bandos de onde elas saíram John Fullarton Regulation of Currencies cit p 8687 nota A título de esclarecimento na Escócia da época do escrito de Fullarton não se usavam cheques para os depósitos mas apenas notas o Provável deslize de Marx que escreveu proporção inversa em vez de proporção direta N T 107 If there were occasion to raise 40 millions pa whether the same 6 millions would suffice for such revolutions and circulations thereof as trade requires I answer yes for the expense being 40 millions if the revolutions were in such short circles viz weekly as happens among poor artizans and labourers who receive and pay every Saturday the 4052 parts of 1 million of money would answer these ends but if the circles ha quarterly according to our custom of paying rent and gathering taxes then 10 millions were requisite Wherefore supposing payments in general to be of a mixed circle between one week and 13 then add 10 millions to 4052 the half of the which will be 5½ so as if we have 5½ mill we 620 have enough À questão se seria necessário levantar 40 milhões por ano considerandose que os mesmos 6 milhões de ouro bastariam para as revoluções e circulações que o comércio exige respondeu Petty com sua maestria habitual Respondo que sim pois sendo a despesa de 40 milhões no caso de as revoluções se darem em ciclos curtos digamos semanalmente como é o caso entre os pobres artesãos e trabalhadores que recebem e pagam todo sábado então 4052 partes de 1 milhão bastariam para esse fim mas se os ciclos forem trimestrais tal como nosso costume no pagamento da renda e arrecadação de impostos então serão necessários 10 milhões Portanto se supusermos que os pagamentos em geral são realizados num ciclo entre uma e treze semanas então teremos de adicionar 10 milhões aos 4052 metade dos quais será 5½ de modo que teríamos o suficiente se dispuséssemos de 5½ William Petty Political Anatomy of Ireland 1672 Londres 1691 p 134 108 Isso explica a absurdidade de toda lei que obriga os bancos nacionais a formar reservas apenas daquele metal precioso que funciona como dinheiro no interior do país São bem conhecidas as belas dificuldades que por exemplo o Banco da Inglaterra criou para si mesmo por meio dessa política Sobre as grandes épocas históricas na variação do valor relativo do ouro e da prata ver Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 136s Adendo à segunda edição sir Robert Peel com sua Bank Act de 1844 tentou superar essas dificuldades permitindo ao Banco da Inglaterra emitir notas com lastro em barras de prata porém sob a condição de que a reserva de prata jamais excedesse ¼ da reserva de ouro Para esse fim o valor da prata era estimado pelo seu preço em ouro no mercado de Londres Nota à quarta edição Encontramonos novamente numa época de forte variação no valor relativo do ouro e da prata Há cerca de 25 anos a razão que expressava o valor do ouro em relação à prata era de 15½ para 1 hoje ela é de aproximadamente 22 para 1 e a prata continua a cair em relação ao ouro Isso é essencialmente a consequência de uma revolução no modo de produção dos dois metais Anteriormente o ouro era obtido quase exclusivamente por sua lavagem em camadas de depósitos aluviais produtos da erosão de pedras auríferas Hoje esse método não é mais suficiente e é substituído pelo processamento dos veios de quartzo que contêm ouro modo de extração que era antes de importância secundária embora já fosse conhecido pelos antigos Diodoro Sículo Historische Bibliothek Stuttgart 1828 livro III 1214 p 25861 Além disso não apenas foram descobertos novos depósitos imensos de prata na América do Norte na parte oeste das montanhas rochosas como essas novas minas juntamente com as minas de prata mexicanas ganharam novo impulso com as ferrovias que possibilitaram o transporte de maquinaria moderna e combustível e com isso a extração de prata em grande escala e a custos baixos Há no entanto uma grande diferença no modo como os dois metais ocorrem nos veios das rochas O ouro é na maioria das vezes puro porém encontrase espalhado no quartzo em quantidades diminutas de modo que é preciso moer o veio inteiro para então extrair o ouro por lavagem ou mediante o uso de mercúrio De 1000000 de gramas de quartzo costumase extrair apenas de 1 a 3 muito raramente de 30 a 60 gramas de ouro A prata dificilmente é encontrada pura porém ocorre num quartzo relativamente fácil de separar da rocha e que normalmente contém entre 40 a 90 de prata ela pode ainda ser encontrada em quantidades menores nas pepitas de cobre chumbo etc metais que apresentam em si mesmos vantagens para sua extração A partir disso já se pode perceber que o trabalho despendido na produção de ouro aumentou ao passo que o despendido na produção de prata diminuiu fortemente o que explica muito naturalmente a queda do valor deste último metal Essa queda do valor se expressaria numa queda de preços ainda maior se o preço da prata não fosse elevado por meios artificiais como ainda ocorre atualmente Porém as ricas minas de prata da América apenas começaram a ser exploradas o que permite prever que o valor da prata ainda permanecerá em queda por um longo tempo Um fator ainda mais decisivo para essa queda é a diminuição relativa da demanda de prata para artigos de uso e de luxo substituindoos por mercadorias folhadas como alumínio etc Podese assim avaliar o utopismo da noção bimetalista de que uma cotação internacional compulsória aumentará o valor da prata para sua antiga razão de valor de 1 por 15½ Mais provável é que a prata perca cada vez mais sua qualidade de dinheiro no mercado mundial F E 109 Os oponentes do sistema mercantilista que tinha no ajuste da balança comercial de ouro e prata a finalidade do comércio internacional desconheciam completamente a função do dinheiro mundial Já mostrei detalhadamente Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 150s como em Ricardo a falsa concepção das leis que regulam a quantidade dos meios de circulação refletese na falsa concepção do movimento internacional dos metais preciosos Seu falso dogma An unfavourable balance of trade never arises but from a redundant currency The exportation of the coin is caused by its cheapness and is not the effect but the cause of an unfavourable balance Uma balança comercial desfavorável não pode surgir senão em razão de um excesso de meios de circulação A exportação de moeda é causada por seu baixo preço e é não o efeito mas a causa de uma balança desfavorável já pode ser encontrado em Barbon The Balance of Trade if there be one is not the cause of sending away the money out of a nation but that proceeds from the difference of the value of Bullion in every country A balança comercial quando existe não é causa da evasão de dinheiro de um país A evasão resulta antes da diferença de valor 621 dos metais preciosos em cada país N Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter cit p 59 MacCulloch em The Literature of Political Economy a Classified Catalogue Londres 1845 elogia Barbon por essa antecipação porém evita prudentemente as formas ingênuas em que os absurdos pressupostos do currency principle princípio da circulação ainda aparecem em Barbon para citar apenas um exemplo A ausência de crítica e mesmo de honestidade daquele catálogo tem seu ápice nas seções sobre a história da teoria monetária onde MacCulloch rasteja no papel de sicofanta de lord Overstone exbanker Loyd que ele chama de facile princeps argentariorum o reconhecido rei dos endinheirados Currency principle teoria monetária amplamente difundida na primeira metade do século XIX e que partia da teoria monetária quantitativa Os representantes da teoria quantitativa defendiam que os preços das mercadorias eram determinados pela quantidade de dinheiro em circulação Os representantes do currency principle procuravam imitar as leis da circulação dos metais Como currency meio de circulação eles consideravam além do dinheiro metálico também o papelmoeda e acreditavam ser possível obter uma circulação monetária estável garantindo um pleno lastro de ouro ao papelmoeda a emissão deveria portanto ser regulada de acordo com a importação e a exportação de metais preciosos As tentativas do governo inglês lei bancária de 1844 de se apoiar nessa teoria não obtiveram qualquer êxito e apenas confirmaram sua insustentabilidade teórica e inutilidade para fins práticos N E A MEW 110 Por exemplo para subsídios empréstimos em dinheiro para a realização de guerras ou para permitir aos bancos a cobertura de pagamentos em dinheiro etc é precisamente a formadinheiro que é requerida como valor 110a Nota à segunda edição I would desire indeed no more convincing evidence of the competency of the machinery of the hoards in speciepaying countries to perform every necessary office of international adjustment without any sensible aid from the general circulation than the facility with which France when but just recovering from the shock of a destructive foreign invasion completed within the Space of 27 months the payment of her forced contribution of nearly 20 millions to the allied powers and a considerable proportion of that sum in specie without perceptible contraction or derangement of her domestic currency or even any alarming fluctuation of her exchange De fato em se tratando de países com moedas eu não desejaria uma prova mais evidente da competência da maquinaria do entesouramento em realizar qualquer ajuste internacional necessário sem recorrer a qualquer ajuda considerável da circulação geral do que a facilidade com que a França quando apenas se recuperava do choque de uma invasão estrangeira arrasadora completou no espaço de 27 meses o pagamento de suas contribuições forçadas de cerca de 20 milhões aos poderes aliados pagando uma considerável proporção dessa quantia em espécie e sem com isso provocar qualquer contração ou distúrbio em sua circulação doméstica ou mesmo qualquer flutuação preocupante de seu câmbio John Fullarton Regulation of Currencies cit p 141 Nota à quarta edição Um exemplo ainda mais convincente temos na facilidade com que a mesma França de 1871 a 1873 foi capaz de pagar em trinta meses uma indenização de guerra dez vezes maior e a maior parte dela em dinheiro metálico F E 111 Largent se partage entre les nations relativement au besoin quelles en ont étant toujours attiré par les productions O dinheiro se reparte entre as nações de acordo com a necessidade que elas tem dele uma vez que ele é sempre atraído pelos produtos Le Trosne De lintérêt social cit p 916 The mines which are continually giving gold and silver do give sufficient to supply such a needful balance to every nation As minas que continuamente fornecem ouro e prata dão a cada nação o suficiente para que ela atinja um tal equilíbrio necessário Jacob Vanderlint Money Answers All Things cit p 40 112 Exchanges rise and fall every week and at some particular times in the year run high against a nation and at other times run as high on the contrary As taxas de câmbio aumentam e caem toda semana e em certas épocas do ano elas aumentam em prejuízo de uma nação e em outras épocas aumentam na mesma medida porém para sua vantagem N Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter cit p 39 113 Essas diversas funções podem entrar num perigoso conflito umas com as outras quando o ouro e a prata também têm de servir como um fundo de conversão das notas bancárias 114 What money is more than of absolute necessity for a Home Trade is dead stock and brings no profit to that country its kept in but as it is transported in Trade as well as imported A quantidade de dinheiro que ultrapassa o que é estritamente necessário para o comércio interno de uma nação é capital morto e não traz ao país que o possui nenhum lucro a não ser que ela seja exportada ou importada John Bellers Essays about the Poor Manufactures Trade Plantations and Immorality cit p 13 What if we have too much coin We may malt down the heaviest and turn it into the splendour of plate vessels or utensils of gold and silver or send it out as a commodity where the same is wanted or desired or let it out at interest where interest is high E se tivermos muito dinheiro metálico Podemos então fundir a maior parte dele e transformálo num esplendor de pratos vasos e utensílios de ouro ou prata ou mandálo como mercadoria para onde ele é necessitado ou desejado ou então podemos emprestálo onde se pagam altos juros W 622 Petty Quantulumcunque Concerning Money To the Lord Marquis of Halifax 1682 cit p 39 Money is but the fat of the BodyPolitick whereof too much does as often hinder its agility as too little makes it sick as fat lubricates the motion of the muscles feeds in want of victuals fills up uneven cavities and beautifies the body so doth money in the state quicken its actions feeds from abroad in time of dearth et home evens accounts and beautifies the whole although more especially the particular persons that have it in plenty O dinheiro não é senão a gordura do corpo político razão pela qual uma quantidade muito grande dele prejudica sua mobilidade assim como uma quantidade muito pequena o adoece assim como a gordura lubrifica o movimento dos músculos serve como substituto para a carência de alimento preenche cavidades irregulares e embeleza o corpo assim também o dinheiro agiliza a ação do Estado importa meios de subsistência quando há carestia no interior salda dívidas e embeleza o todo embora concluindo ironicamente ele embeleze mais especialmente as pessoas que o possuem em abundância W Petty Political Anatomy of Ireland p 14 623 a O termo Kaufmannskapital capital mercantil é empregado por Marx como sinônimo de Handelskapital capital comercial isto é como o capital dedicado não só ao intercâmbio de mercadorias capital mercantil em sentido próprio mas também ao intercâmbio de dinheiro Por essa razão traduzimos ambos igualmente por capital comercial N T 1 A oposição entre o poder da propriedade fundiária baseado nas relações de servidão e de dominação pessoais e o poder impessoal do dinheiro é claramente expressa em dois provérbios franceses Nulle terre sans seigneur Nenhuma terra sem senhor e Largent na pas de maître O dinheiro não tem senhor 2 Avec de largent on achète des marchandises et avec des marchandises on achète de largent Com dinheiro compramse mercadorias e com mercadorias comprase dinheiro Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 543 3 When a thing is bought in order to be sold again the sum employed is called money advanced when it is bought not to be sold it may be said to be expended Quando algo é comprado para ser revendido a quantia assim aplicada é chamada de dinheiro adiantado quando é comprada não para ser vendida podese denominála quantia gasta James Steuart Works etc editado pelo general sir James Steuart seu filho Londres 1805 v I p 274 4 On néchange pas de largent contre de largent Não se troca dinheiro por dinheiro diz Mercier de la Rivière aos mercantilistas em Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 486 Numa obra que trata ex professo de comércio e especulação lêse Todo comércio consiste da troca de coisas de tipos diferentes e a vantagem para o mercador advém dessa diferença Trocar 1 libra de pão por 1 libra de pão não traria nenhuma vantagem Razão pela qual o comércio leva vantagem se comparado com o jogo que consiste numa mera troca de dinheiro por dinheiro Th Corbet An Inquiry into the Causes and Models of the Wealth of Individuals or the Principles of Trade and Speculation Explained Londres 1841 p 5 Embora Corbet não perceba que a troca de dinheiro por dinheiro DD é a forma característica da circulação não apenas do capital comercial mas de todo capital ao menos ele reconhece que essa forma do comércio a especulação é semelhante ao jogo mas eis que chega MacCulloch e descobre que comprar para vender é especulação e assim cai por terra a diferença entre especulação e comércio Every transaction in which an individual buys produce in order to sell it again is in fact a speculation Toda transação em que um indivíduo compra produtos para revendêlos é na verdade uma especulação MacCulloch A Dictionary Practical etc of Commerce Londres 1847 p 1009 Com muito mais ingenuidade Pinto o Píndaro da Bolsa de Valores de Amsterdã diz Le commerce est un jeu cet ce nest pas avec des gueux quon peut gagner Si lon gagnait longtemps en tout avec tous il faudrait rendre de bon accord les plus grandes parties du profit pour recommencer le jeu O comércio é um jogo frase que ele apropria de Locke e de pedintes não se pode ganhar nada Se por muito tempo se ganhasse tudo de todos seria necessário devolver aos perdedores a maior parte dos lucros obtidos a fim da recomeçar o jogo Pinto Traité de la circulation et du crédit Amsterdã 1771 p 231 5 O capital se divide em capital original e lucro o incremento do capital embora na prática esse lucro se transforme imediatamente em capital e seja posto em movimento juntamente com este último F Engels Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie Esboço de uma crítica da economia política cit p 99 6 Aristóteles opõe a economia à crematística partindo da economia Por ser a arte do ganho ela se limita à obtenção daquilo que é necessário à vida e dos bens úteis seja à casa ou ao Estado A verdadeira riqueza ô Ãljqinòv ploûtov consiste em tais valores de uso pois a quantidade desses bens suficiente para garantir uma boa vida não é ilimitada Existe no entanto uma segunda arte do ganho que devemos chamar de preferência e com razão de crematística e para esta última parece não haver qualquer limite à riqueza e às posses O comércio de mercadorias d kapjlika significa literalmente comércio varejista e Aristóteles toma essa forma porque nela predominam os valores de uso pertence por natureza não à crematística pois aqui a troca se dá apenas em relação ao que lhes é necessário ao comprador e ao vendedor razão pela qual continua ele o escambo foi a forma original do comércio de mercadorias mas com sua expansão surgiu necessariamente o dinheiro Com a invenção do dinheiro o escambo teve necessariamente de se desenvolver em kapjlika em comércio de mercadorias e este em contradição com sua tendência original desenvolveuse em crematística na arte de fazer dinheiro Ora a crematística se distingue da economia pelo fato de que para ela a circulação é a fonte da riqueza poijtikb crjmátwn dià crjmátwn metabolov E ela parece girar em torno do dinheiro pois este é o início e o fim desse tipo de troca tò gàr nómisma stoiceîon kaì pérav tov Ãllagov Êstín de modo que a riqueza tal como a crematística se esforça por obter é ilimitada Assim como toda arte que não é um meio para um fim mas um fim em si mesmo é ilimitada em seus esforços pois busca sempre se aproximar cada vez mais de seu objetivo último ao passo que as artes que buscam apenas a consecução de meios para um fim não são ilimitadas pois o próprio fim almejado impõelhes seus limites 624 assim também para a crematística não há qualquer limite a seu objetivo último que é o enriquecimento absoluto A economia e não a crematística tem um limite a primeira tem como finalidade algo distinto do dinheiro a segunda visa ao aumento deste último A confusão entre essas duas formas que se sobrepõem uma à outra faz com que alguns concebam como fim último da economia a conservação e o aumento do dinheiro ao infinito Aristóteles De Rep Política cit livro I c 8 9 passim 7 Commodities are not the terminating object of the trading capitalist money is his terminating object As mercadorias aqui no sentido de valores de uso não são o fim último do capitalista comerciante seu fim último é o dinheiro T Chalmers On Politic Econ etc 2 ed Glasgow 1832 p 1656 8 Il mercante non conta quasi per niente il lucro fatto ma mira sempre al futuro O mercador quase não leva em conta o lucro já realizado mas olha sempre para o futuro A Genovesi Lezioni di economia civile 1765 em Custodi Collezione t VIII parte moderna p 139 9 A inextinguível paixão pelo ganho a auri sacra fames maldita fome por ouro sempre conduzirá o capitalista MacCulloch The Principles of Polit Econ Londres 1830 p 179 É claro que essa concepção não impede que MacCulloch e consortes quando se encontram em dificuldades teóricas como ao tratar da superprodução transformem o mesmo capitalista num bom cidadão voltado apenas ao valor de uso e que até mesmo desenvolve uma sede insaciável por botas chapéus ovos tecidos de algodão e outros tipos extremamente familiares de valores de uso 10 SHzein é uma das expressões características dos gregos para o entesouramento Igualmente o inglês to save têm os mesmos dois sentidos salvar e poupar 10a OQuesto infinito che le cose non hanno in progresso hanno in giro A infinitude que as coisas não têm ao progredir elas têm ao circular Galiani Della moneta cit p 156 11 Ce nest pas la matière qui fait le capital mais la valeur de ces matières Não é a matéria que forma o capital mas o valor dessas matérias J B Say Traité décon polit 3 ed Paris 1817 t II p 429 12 Currency employed to productive purposes is capital O meio de circulação que é empregado na produção de artigos é capital Macleod The Theory and Practice of Banking Londres 1885 v I c 1 p 55 Capital is commodities Capital é igual a mercadorias James Mill Elements of Pol Econ Londres 1821 p 74 13 Capital valor que multiplica a si mesmo permanentemente Sismondi Nouveaux principes décon polit t I p 89 14 Léchange est une transaction admirable dans laquelle les deux contractants gagnent toujours A troca é uma transação admirável na qual as duas partes contratantes ganham sempre Destutt de Tracy Traité de la volonté et de ses effets Paris 1826 p 68 O mesmo livro também foi publicado como Traité decon polit 15 Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 544 16 Que lune de ces deux valeurs soit argent ou quelles soient toutes deux marchandises usuelles rien de plus indifférent en soi Que um desses dois valores seja dinheiro ou que os dois sejam mercadorias comuns é algo absolutamente indiferente ibidem p 543 17 Ce ne sont pas les contractants qui prononcent sur la valeur elle est décidée avant la convention Não são as partes contratantes que decidem sobre o valor ele é decidido antes da convenção Le Trosne De lintérêt social cit p 906 18 Dove è egualità non è lucro Galiani Della moneta cit t IV p 244 19 Léchange devient désavantageux pour lune des parties lorsque quelque chose étrangère vient diminuer ou exagérer le prix alors légalité est blessée mais la lésion procède de cette cause et non de léchange A troca se torna desavantajosa para uma das partes quando alguma circunstância estranha vem diminuir ou aumentar o preço então a igualdade é ferida mas o ferimento procede dessa causa e não da troca Le Trosne De lintérêt social cit p 904 20 Léchange est de sa nature un contrat dégalité qui se fait de valeur pour valeur égale Il nest donc pas un moyen de senrichir puisque lon donne autant que lon reçoit A troca é por sua natureza um contrato de igualdade firmado entre dois valores iguais Ele não é portanto um meio de se enriquecer porquanto se dá tanto quanto se recebe Le Trosne Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 903 21 Condillac Le commerce et le gouvernement 1776 em Daire e Molinari orgs Mélanges déconomie politique Paris 1847 p 267 291 22 Le Trosne responde muito corretamente a seu amigo Condillac Dans la société formée il ny s pas de surabondant 625 en aucun genre Numa sociedade formada não há nada que seja supérfluo Ao mesmo tempo ele observa jocosamente que se as duas partes que realizam a troca recebem igualmente mais do que fornecem uma à outra então ambas obtêm a mesma quantidade É pelo fato de Condillac não ter a mínima ideia da natureza do valor de troca que ele foi escolhido pelo sr professor Wilhelm Roscher como a autoridade a fundamentar seus próprios conceitos infantis Cf a obra de Roscher Die Grundlagen der Nationalökonomie 3 ed 1858 23 S P Newman Elements of Polit Econ Andover e Nova York 1835 p 175 24 By the augmentation of the nominal value of the produce sellers not enriched since what they gain as sellers they precisely expend in the quality of buyers Por meio do aumento do valor nominal dos produtos os vendedores não enriquecem uma vez que aquilo que eles ganham como vendedores eles gastam como compradores J Gray The Essential Principles of the Wealth of Nations etc Londres 1797 p 66 25 Si lon est forcé de donner pour 18 livres une quantité de telle production qui en valait 24 lorsquon employera ce même argent à acheter on aura également pour 18 l ce que lon payait 24 Se se é forçado a vender por 18 uma quantidade de produtos que valem 24 obterseá caso se utilize esse mesmo dinheiro para comprar igualmente por 18 aquilo que vale 24 Le Trosne De lintérêt social cit p 897 26 Chaque vendeur ne peut donc parvenir à renchérir habituellement ses marchandises quen se soumettant aussi à payer habituellement plus cher les marchandises des autres vendeurs et par la même raison chaque consommateur ne peut payer habituellement moins cher ce quil achète quen se soumettant aussi à une diminution semblable sur le prix des choses quil vend Por isso nenhum vendedor pode aumentar os preços de suas mercadorias sem que tenha igualmente de pagar mais caro pelas mercadorias dos outros vendedores e pela mesma razão nenhum consumidor pode habitualmente comprar mais barato sem ter de abaixar o preço das coisas que ele mesmo vende Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 555 27 R Torrens An Essay on the Production of Wealth Londres 1821 p 349 28 A ideia de que os lucros são pagos pelos consumidores é certamente muito absurda Quem são os consumidores G Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth Edimburgo 1836 p 183 29 When a man is in want of demand does Mr Malthus recommend him to pay some other person to take off his goods Quando alguém necessita de uma demanda recomendalhe o sr Malthus que ele pague a outra pessoa para que esta compre seus produtos Isso é o que pergunta a Malthus um indignado ricardiano que tal como seu discípulo padre Chalmers glorifica economicamente essa classe de simples compradores ou consumidores Ver An Inquiry into those Principles Respecting the Nature of Demand and the Necessity of Consumption Lately Advocated by Mr Malthus etc Londres 1821 p 55 b Antiga moeda inglesa de ouro com valor de 1 librapeso o equivalente a 20 mais tarde 21 xelins N T 30 Destutt de Tracy embora ou talvez devido a isso fosse um membre de lInstitut era de opinião contrária Segundo ele o lucro dos capitalistas provém do fato de eles venderem tudo mais caro do que seu custo de produção E para quem eles vendem Primeiramente uns para os outros Traité de la volonté et de ses effets cit p 239 Membre de lInstitut referência ao Institute National des Sciences et Arts fundado pela Convenção em 1795 em substituição às academias francesas N T 31 Léchange qui se fait de deux valeurs égales naugmente ni ne diminue la masse des valeurs subsistantes dans la société Léchange de deux valeurs inégales ne change rien non plus à la somme des valeurs sociales bien quil ajoute à la fortune de lun ce quil ôte de la fortune de lautre A troca que se realiza de dois valores iguais não aumenta nem diminui a massa dos valores subsistentes na sociedade A troca de dois valores desiguais também não altera em nada a soma dos valores sociais apenas acrescentando à fortuna de um aquilo que ela retira da fortuna do outro J B Say Traité décon polit cit t II p 4434 Say naturalmente sem se preocupar com as consequências dessa tese tomaa de empréstimo quase literalmente dos fisiocratas Os seguintes exemplos mostram como ele explorou os escritos dos fisiocratas à época esquecidos a fim de aumentar o valor de sua própria obra A frase mais célebre do sr Say On nachète des produits quavec des produits Produtos só podem ser comprados com produtos ibidem t II p 438 está escrita assim no original fisiocrata Les productions ne se paient quavec des productions Produtos só podem ser pagos com produtos Le Trosne De lintérêt social cit p 899 32 Exchange confers no value at all upon products A troca não confere valor algum aos produtos F Wayland The Elements of Pol Econ Boston 1843 p 169 33 Under the rule of invariable equivalents commerce would be impossible Sob o domínio de equivalentes invariáveis 626 o comércio seria impossível G Opdyke A Treatise on Polit Economy Nova York 1851 p 669 A diferença entre valor real e valor de troca se baseia no seguinte fato a saber que o valor de uma coisa é diferente do assim chamado equivalente que por ela é dado no comércio isto é que esse equivalente não é equivalente algum F Engels Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie Esboço de uma crítica da economia política cit p 956 34 Benjamin Franklin Works v II em Sparks org Positions to be Examined Concerning National Wealth p 376 35 Aristóteles De Rep Política livro I c 10 36 Profit in the usual condition of the market is not made by exchanging Had it not existed before neither could it after that transaction O lucro nas condições normais do mercado não é produzido pela troca Se ele não existisse antes tampouco poderia passar a existir depois dessa transação Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth cit p 184 c ONa primeira e na segunda edições relações de troca N T 37 A partir da presente investigação o leitor pode compreender que o que está em questão é o seguinte a formação do capital tem de ser possível mesmo que o preço e o valor de uma mercadoria sejam iguais Sua formação não pode ser atribuída a um desvio do preço em relação ao valor das mercadorias Se o preço realmente difere do valor é preciso antes de tudo reduzir o primeiro ao último isto é considerar a diferença como acidental a fim de poder observar em sua pureza o fenômeno da formação do capital sobre a base da troca de mercadorias sem que essa observação seja perturbada por circunstâncias secundárias ao processo propriamente dito Sabese além disso que essa redução não é de modo algum um mero procedimento científico As constantes oscilações dos preços de mercado suas altas e baixas compensam umas às outras anulamse mutuamente e se reduzem a um preço médio que funciona como seu regulador interno Tal preço médio é a estrelaguia por exemplo do mercador ou do industrial em todo empreendimento que abrange um período de tempo mais longo Ele sabe assim que no longo prazo as mercadorias não serão vendidas nem abaixo nem acima mas pelo seu preço médio Se o pensamento desinteressado fosse seu interesse ele teria de elaborar o problema da formação do capital do seguinte modo como pode o capital surgir quando se considera que a regulação dos preços se dá por meio do preço médio isto é em última instância pelo valor da mercadoria Digo em última instância porque os preços médios não coincidem diretamente com os valores das mercadorias ao contrário do que creem Smith Ricardo etc d OReferência a Hic Rhodus hic salta Aqui é Rodes salta aqui mesmo tradução latina de um trecho da fábula O atleta fanfarrão de Esopo Em O 18 de brumário de Luís Bonaparte São Paulo Boitempo 2011 p 30 Marx emprega a citação modificada em latim e em alemão Hic Rhodus hic salta Hier ist die Rose hier tanze Aqui está a rosa dança agora em alusão ao uso que Hegel faz da expressão no prefácio da Filosofia do direito No caso presente embora não se trate de uma referência a Hegel o autor mantém a mesma forma empregada em O 18 de brumário N T 38 In the form of money capital is productive of no profit Na forma do dinheiro o capital não produz lucro nenhum Ricardo Princ of Pol Econ cit p 267 39 Em enciclopédias sobre a Antiguidade clássica encontramos a afirmação absurda de que no mundo antigo o capital estava plenamente desenvolvido carecendo apenas do trabalho livre e de um sistema de crédito Também o sr Mommsen em sua História de Roma comete a esse respeito uma confusão atrás da outra 40 Por essa razão diferentes legislações fixam um teto máximo para o contrato de trabalho Todos os códigos de nações em que a regra é o trabalho livre estabelecem regras para a rescisão do contrato Em alguns países especialmente no México antes da Guerra Civil Americana também nos territórios tomados do México assim como nas províncias do Danúbio até a Revolução de Kusa a escravatura se esconde sob a forma da peonage Por meio de adiantamentos que devem ser pagos com trabalho e que se acumulam de geração a geração não apenas o trabalhador individual mas também sua família tornase de fato a propriedade de outras pessoas e de suas famílias Juárez aboliu a peonage O assim chamado imperador Maximiliano a reinstituiu mediante um decreto corretamente denunciado na Casa dos Representantes de Washington como decreto de reinstituição da escravatura no México Posso vender a outro por um tempo limitado minhas aptidões corporais e mentais e minhas possibilidades de atividade pois estas em consequência dessa restrição conservamse numa relação externa com minha totalidade e universalidade Mas se vendesse a totalidade de meu tempo concreto de trabalho e de minha produção eu converteria em propriedade de outrem aquilo mesmo que é substancial isto é minha atividade e efetividade universais minha personalidade Hegel Philosophie des Rechts Filosofia do direito cit p 104 67 Revolução de Kusa Em janeiro de 1859 Alexander Kusa foi eleito hospodar da Moldávia e pouco depois também da Valáquia Com a unificação desses dois principados do Danúbio que permanecera por um longo período sob o domínio do Império Otomano foi criado um Estado romeno unitário Kusa propôsse o objetivo de realizar uma série de reformas burguesas democráticas Sua política encontrou no entanto a resistência dos proprietários fundiários e de uma parcela da 627 burguesia Em 1864 Kusa dissolveu a Assembleia Nacional dominada pelos grandes proprietários e que rejeitara um projeto de reforma agrária proposto pelo governo Uma constituição foi promulgada o círculo de eleitores ampliado e o poder do governo fortalecido A reforma agrária aprovada nessa nova situação política previa a abolição da servidão e a distribuição de terras devolutas aos trabalhadores N E A MEW 41 O que caracteriza a época capitalista é portanto que a força de trabalho assume para o próprio trabalhador a forma de uma mercadoria que lhe pertence razão pela qual seu trabalho assume a forma do trabalho assalariado Por outro lado apenas a partir desse momento universalizase a formamercadoria dos produtos do trabalho 42 The value or worth of a man is as of all other things his price that is to say so much as would be given for the use of his power O valor de um homem é como o de todas as outras coisas seu preço quer dizer tanto quanto é pago pelo uso de sua força T Hobbes Leviathan em Molesworth org Works Londres 18391844 v III p 76 43 O villicus da Roma Antiga que controlava o trabalho dos escravos agrícolas recebia uma quantia inferior à dos servos pois seu trabalho era mais leve do que o deles T Mommsen História de Roma 1856 p 810 44 Cf W T Thornton OverPopulation and its Remedy Londres 1846 45 Petty 46 Its natural price consists in such a quantity of necessaries and comforts of life as from the nature of the climate and the habits of the country are necessary to support the labourer and to enable him to rear such a family as may preserve in the market an undiminished supply of labour Seu do trabalho preço natural consiste numa quantidade de meios de subsistência e de conforto que num determinado clima e de acordo com os costumes de um país é suficiente para manter o trabalhador e permitir que ele sustente sua família de modo a assegurar uma constante oferta de trabalho no mercado R Torrens An Essay on the External Corn Trade Londres 1815 p 62 A palavra trabalho é aqui falsamente empregada para designar força de trabalho 47 Rossi Cours décon polit Bruxelas 1842 p 370 48 Sismondi Nouv princ etc t I p 113 49 All labour is paid after it has ceased Todo trabalho é pago depois de ter sido concluído An Inquiry into those Principles Respecting the Nature of Demand etc p 104 Le crédit commercial a dû commencer au moment où louvrier premier artisan de la production a pu au moyen de ses économies attendre le salaire de son travail jusquà la fin de la semaine de la quinzaine du mois du trimestre etc O crédito comercial teve de ser instituído no momento em que o trabalhador o primeiro artesão da produção passou a ter condições de por meio de suas economias esperar pelo pagamento de seu trabalho ao final de uma semana uma quinzena um mês um trimestre etc C Ganilh Des systèmes décon polit 2 ed Paris 1821 t II p 150 50 Louvrier prête son industries de perdre son salaire louvrier ne transmet rien de matériel O trabalhador empresta sua destreza mas acrescenta Storch inteligentemente ele não arrisca nada a não ser perder o seu salário o trabalhador não transfere nada material Storch Cours décon polit São Petersburgo 1815 t II p 367 51 Um exemplo Em Londres existem dois tipos de padeiros os full priced que vendem o pão por seu valor inteiro e os undersellers que o vendem abaixo desse valor Essa última classe forma mais do que 34 do total de padeiros p XXXII do Report do comissário governamental H S Tremenheere sobre as Grievances Complained of by the Journeymen Bakers etc Londres 1862 Esses undersellers vendem quase sem exceção um pão falsificado pela adição de alume sabão potassa calcário pó de pedra de Derbyshire e outros agradáveis nutritivos e saudáveis ingredientes Ver o supracitado Blue Book bem como o relatório do Committee of 1885 on the Adulteration of Bread e o relatório do dr Hassall Adulterations Detected 2 ed Londres 1861 Sir John Gordon afirmou perante a comissão de 1855 que em consequência dessas falsificações o pobre que vive diariamente de 2 libras de pão agora não obtém a quarta parte de seu real valor nutritivo sem falar nos efeitos nocivos à sua saúde Como razão pela qual uma grande parte da classe trabalhadora muito embora bem informada sobre essas falsificações aceita alume pó de pedra etc como parte de sua compra Tremenheere Grievances Complained of by the Journeymen Bakers etc cit p XLVIII argumenta que para esses trabalhadores é uma questão de necessidade aceitar o pão do padeiro ou do chandlers shop merceeiro do modo como eles o fornecem Uma vez que são pagos apenas ao final da semana de trabalho eles também só podem pagar no final da semana o pão que é consumido pela sua família durante a semana e acrescenta Tremenheere citando testemunhas É notório que o pão preparado com tais misturas é feito expressamente para ser vendido dessa maneira It is notorious that bread composed of those mixtures is made expressly for sale in this manner Em muitos distritos agrícolas ingleses e mais ainda nos escoceses o salário é pago a cada catorze dias ou até mesmo mensalmente Com esse longo prazo de pagamento o trabalhador tem de comprar suas 628 mercadorias a crédito Ele tem de pagar preços mais altos e está de fato preso ao estabelecimento que lhe fornece crédito Assim em Horningham por exemplo onde o salário é pago mensalmente a mesma quantidade de farinha que ele poderia comprar em outro lugar por 1 xelim e 10 pence custalhe 2 xelins e 4 pence Sixth Report on Public Health by The Medical Officer of the Privy Council etc Londres 1864 p 264 Em 1853 os trabalhadores das estamparias de calico de Paisley e Kilmarnock oeste da Escócia forçaram por meio de uma greve a redução do prazo de pagamento de um mês para catorze dias Reports of the Inspectors of Factories for 31 Oct 1853 p 34 Como um resultado adicional do crédito que o trabalhador dá ao capitalista podese considerar também o método empregado em muitas minas de carvão inglesas onde o trabalhador só é pago ao final do mês e nesse intervalo recebe adiantamentos do capitalista frequentemente em mercadorias que ele é obrigado a pagar acima de seu preço de mercado truck system It is a common practice with the coal masters to pay once a month and advance cash to their workmen at the end of each intermediate week The cash is given in the shop the men take it on one side and lay it out on the other É uma prática comum aos donos de minas de carvão pagar os trabalhadores uma vez por mês e nesse ínterim ao final de cada semana dar a eles um adiantamento Tal adiantamento lhes é dado na loja isto é no almoxarifado da mina ou na mercearia que pertence ao próprio patrão Os trabalhadores recebem o dinheiro de um lado da loja e o devolvem do outro lado Childrens Employment Commission III Report Londres 1864 p 38 n 192 Greve no original consta strike Em O capital Marx utiliza esse termo ora em sua forma original inglesa ora em sua forma germanizada Strike usual na época A palavra alemã Streik surgiria apenas mais tarde em 1890 Na presente tradução empregamos greve em todas as ocorrências do termo sem diferenciação das formas adotadas por Marx N T 629 1 The earths spontaneous productions being in small quantity and quite independent of man appear as it were to be furnished by nature in the same way as a small sum is given to a young man in order to put him in a way of industry and of making his fortune Os frutos espontâneos da terra sendo em pequena quantidade e inteiramente independentes do homem parecem ser fornecidos pela natureza do mesmo modo como se dá a um jovem uma pequena soma de dinheiro para que ele se inicie na indústria e faça fortuna James Steuart ed Principles of Polit Econ Dublin 1770 v I p 116 2 A razão é tão astuciosa quanto poderosa Sua astúcia consiste principalmente em sua atividade mediadora que fazendo que os objetos ajam e reajam uns sobre os outros de acordo com sua própria natureza realiza seu propósito sem intervir diretamente no processo G W F Hegel Enzyklopädie Enciclopédia das ciências filosóficas primeira parte Die Logik A lógica Berlim 1840 p 382 3 Em seu de resto miserável escrito Théorie de lécon polit Paris 1815 Ganilh enumera em contraposição aos fisiocratas a longa série dos processos de trabalho que formam o pressuposto da agricultura propriamente dita 4 Em Réflexions sur la formation et la distribution des richesses 1766 Turgot demonstra corretamente a importância dos animais domesticados para os inícios da civilização 5 De todas as mercadorias são os artigos de luxo os menos importantes para a comparação tecnológica entre as diferentes épocas de produção 5a Nota à segunda edição Por mais ínfimo que seja o conhecimento que a historiografia de nossos dias possui do desenvolvimento da produção material portanto da base de toda vida social e por conseguinte de toda história efetiva ao menos a época préhistórica tem sido classificada com base não em assim chamadas pesquisas históricas mas em pesquisas das ciências naturais de acordo com os materiais de que eram feitos os instrumentos e as armas na Idade da Pedra do Bronze e do Ferro a Essa frase remete ao jogo de palavras de Goethe no Fausto no qual os termos Gespenst fantasma e Gespinst fio trama são unidos para formar uma palavra mágica de invocação de fantasmas Diz Mefistófeles no verso célebre Mit HexenFexen mit GespenstGespinsten Kielkröpfigen Zwergen steh ich gleich zu Diensten Com bruxas trasgos monstros de feitiço sempre e tão logo estou a teu serviço J W F Goethe Fausto cit p 254 Marx alude aqui portanto ao caráter fantasmagórico da mercadoria N T 6 Parece paradoxal por exemplo considerar o peixe ainda não pescado como um meio de produção da pesca Porém até o momento ainda não se inventou a arte de pescar peixes em águas onde eles não se encontrem 7 Essa determinação do trabalho produtivo tal como ela resulta do ponto de vista do processo simples de trabalho não é de modo algum suficiente para ser aplicada ao processo capitalista de produção 8 Storch distingue entre a matériaprima propriamente dita a matière e as matérias auxiliares os matériaux Cherbuliez denomina as matérias auxiliares de matières instrumentales Henri Storch Cours déconomie politique ou exposition des principes qui determinent la prospérité des nations São Petersburgo 1815 v 1 p 228 A Cherbuliez Richesse ou pauvreté Exposition des causes et des effets de la distribution actuelle des richesses sociales Paris 1841 p 14 N E A MEW b Na quarta edição desse produto N E A MEW c Plural de jugerum unidade de medida romana equivalente a 2529 acres N T 9 É a partir desse fundamento extremamente lógico que o coronel Torrens descobre na pedra do selvagem a origem do capital Na primeira pedra que o selvagem arremessa contra a fera que ele persegue no primeiro varapau que ele pega para arrancar o fruto que sua mão não consegue alcançar vemos a apropriação de um artigo para o propósito da aquisição de outro e assim descobrimos a origem do capital R Torrens An Essay on the Production of Wealth Londres 1821 p 701 10 Os produtos são apropriados antes de serem transformados em capital essa transformação não os livra de tal apropriação Cherbuliez Richesse ou Pauvreté cit p 54 O proletário ao vender seu trabalho por uma determinada quantidade de meios de subsistência approvisionnement renuncia completamente a qualquer participação no produto A apropriação do produto permanece a mesma que antes ela não se altera em nada pela convenção mencionada O produto pertence exclusivamente ao capitalista que fornece a matériaprima e o approvisionnement Essa é uma rigorosa consequência da lei da apropriação cujo princípio fundamental era ao contrário o de que todo trabalhador tem o exclusivo direito de propriedade sobre seu produto ibidem p 58 E diz James Mill em Elements of Pol Econ etc p 701 Quando os trabalhadores trabalham em troca de salários o capitalista é proprietário não apenas do capital que significa aqui os meios de produção mas também do trabalho of the labour also Se o que 630 é pago como salário está incluído como costuma ser o caso no conceito de capital então é absurdo falar de trabalho separado do capital A palavra capital inclui nesse sentido tanto o capital quanto o trabalho 11 Not only the labour applied immediately to commodities affects their value but the labour also which is bestowed on the implements tools and buildings with which such labour is assisted Não apenas o trabalho imediatamente aplicado nas mercadorias influencia seu valor mas também o trabalho que foi empregado nos implementos ferramentas e edifícios que auxiliam no trabalho imediatamente despendido Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 16 12 As cifras são aqui totalmente arbitrárias 13 Tal é a tese fundamental irrefutável para a economia ortodoxa sobre a qual se baseia a doutrina fisiocrata da improdutividade de todo trabalho agrícola Cette façon dimputer à une seule chose la valeur de plusieurs autres dappliquer pour ainsi dire couche sur couche plusieurs valeurs sur une seule fait que celleci grossit dautant Le terme daddition peint trèsbien la manière dont se forme le prix des ouvrages de main dœuvre ce prix nest quun total de plusieurs valeurs consommées et additionnées ensemble or additionner nest pas multiplier Essa forma de imputar a uma única coisa o valor de muitas outras por exemplo imputar ao linho o consumo do tecelão de aplicar por assim dizer em camadas diversos valores sobre um único faz com que este último aumente na mesma medida dessas camadas O termo adição serve muito bem para descrever a maneira pela qual se forma o preço dos produtos manufaturados tal preço é apenas uma soma total de diversos valores consumidos e agrupados porém adicionar não é multiplicar Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 599 14 Assim por exemplo entre 1844 e 1847 ele retirou parte de seu capital do setor produtivo a fim de especular em ações ferroviárias Do mesmo modo durante a guerra civil americana ele fechou sua fábrica e abandonou seus operários à indigência a fim de especular em ações de algodão de Liverpool 15 Deixe que eles se exaltem adornem e enfeitem Mas quem toma mais ou algo melhor do que dá é um usurário e o que alguém assim faz é não prestar serviço mas trazer prejuízo a seu próximo como seria o caso se ele furtasse e roubasse Nem tudo o que se chama serviço e boa ação ao próximo é realmente serviço e benefício pois um adúltero e uma adúltera prestam um ao outro um grande serviço e benefício Um cavaleiro presta um grande serviço cavaleiresco a um assassino e incendiário quando o ajuda a roubar nas estradas e a arruinar terras e gentes Os papistas prestam um grande serviço ao nosso povo ao não afogálo queimálo assassinálo e deixálo apodrecer na prisão mas permitir que alguns vivam e então banilos ou despojálos de tudo o que possuem Até mesmo o diabo presta a seus servidores um grande e inestimável serviço Em suma o mundo está cheio de grandes e excelentes serviços e boas ações cotidianas Martinho Lutero An die Pfarrherrn wider den Wucher zu predigen Wittenberg 1540 16 Em Zur Kritik der Pol Ök Contribuição à crítica da economia política cit p 14 observo entre outras coisas o seguinte Compreendese qual serviço a categoria serviço service tem de prestar a economistas do tipo de J B Say e F Bastiat d Paráfrase das palavras de Fausto Der Kasus macht mich lachen O caso me faz rir J W Goethe Quarto de estudos em Fausto N T e Aforismo do romance satírico de Voltaire Cândido ou o otimismo N E A MEW f Como se estivesse possuído de amor no original als hättes Liebim Leibe literalmente como se tivesse amor no corpo Citação de J W Goethe Fausto primeira parte quadro VI cena I que aparece no contexto da reação de uma ratazana recémenvenenada N T 17 Essa é uma das circunstâncias que encarecem a produção baseada na escravidão Nesta segundo a expressão certeira dos antigos o trabalhador é um instrumentum vocale ferramenta falante distinto do animal o instrumentum semivocale ferramenta semifalante e da ferramenta morta o instrumentum mutum ferramenta muda Mas ele mesmo faz questão de deixar claro ao animal e à ferramenta que não é um deles mas um homem Ele alimenta em si mesmo a convicção de sua diferença em relação a eles tratandoos com impiedade e arruinandoos con amore É por isso que nesse modo de produção vale o princípio econômico de empregar apenas os instrumentos de trabalho mais rudes e pesados porém difíceis de danificar justamente em virtude desse seu irremediável desajeitamento Até o início da guerra civil ainda se podiam encontrar nos estados escravistas do Golfo do México arados construídos segundo o modelo dos antigos arados chineses que reviravam a terra como um porco ou uma toupeira em vez de sulcála Cf J E Cairnes The Slave Power Londres 1862 p 46s Em seu Seaboard Slave States p 46 relata Olmsted I am here shown tools that no man in his senses with us would allow a labourer for whom he was paying wages to be encumbered with and the excessive weight and clumsiness of which I would judge would make work at least ten per cent greater than with those ordinarily used with us And I am assured that in the careless and clumsy way they must be used by the slaves anything lighter or less rude could not be furnished them with good economy and that such tools as we constantly give our 631 labourers and find our profit in giving them would not last out a day in a Virginia cornfield much lighter and more free from stones though it be than ours So too when I ask why mules are so universally substituted for horses on the farm the first reason given and confessedly the moat conclusive one is that horses cannot bear the treatment that they always must get from the negroes horses are always soon foundered or crippled by them while mules will bear cudgelling or lose a meal or two now and then and not be materially injured and they do not take cold or get sick if neglected or overworked But I do not need to go further than to the window of the room in which I am writing to see at almost any time treatment of cattle that would insure the immediate discharge of the driver by almost any farmer owning them in the North Deparei me aqui com ferramentas que entre nós ninguém em sã consciência forneceria a seu trabalhador assalariado e creio que o peso excessivo e o desajeitamento de tais ferramentas tornam o trabalho no mínimo dez vezes mais dificultoso do que com as ferramentas normalmente usadas entre nós E estou certo de que pela forma descuidada e desajeitada com que elas têm de ser usadas pelos escravos não se poderia fornecer a eles de modo economicamente proveitoso nada mais leve ou menos rude e que ferramentas tais como a que fornecemos constantemente a nossos trabalhadores e que nos são lucrativas não durariam um dia sequer numa lavoura da Virgínia cuja terra é muito mais leve e livre de pedras do que a nossa Do mesmo modo quando pergunto por que as mulas substituem os cavalos em todas as fazendas a primeira resposta que recebo e de fato a mais convincente é a de que os cavalos não são capazes de aguentar o tratamento que recebem constantemente dos negros os cavalos são rapidamente estropiados e aleijados por eles ao passo que as mulas aguentam os maustratos e podem ficar sem um ou dois repastos sem que isso lhes prejudique materialmente e tampouco se resfriam ou adoecem quando descuidadas ou sobrecarregadas Mas não preciso ir além da janela do quarto de onde escrevo para ver a qualquer hora do dia um tratamento do gado que em quase qualquer fazenda do Norte provocaria o imediato afastamento do empregado pelo fazendeiro 18 A diferença entre trabalho superior e inferior trabalho qualificado e não qualificado repousa em parte em meras ilusões ou no mínimo diferenças que há muito deixaram de ser reais e continuam a existir apenas em convenção tradicional e em parte no desamparo de certas camadas da classe trabalhadora que dispõem de menos condições do que as outras de se beneficiar do valor de sua força de trabalho Circunstâncias acidentais desempenham nisso um papel tão grande que esses dois tipos de trabalho às vezes trocam de lugar Onde por exemplo a substância física da classe trabalhadora está enfraquecida e relativamente esgotada como é o caso em todos os países de produção capitalista desenvolvida os trabalhos geralmente brutais que exigem grande força muscular passam a ser considerados superiores em comparação a formas de trabalho muito mais refinadas que são assim rebaixadas ao grau de trabalho inferior Por exemplo o trabalho de um bricklayer pedreiro na Inglaterra ocupa um grau muito superior ao trabalho de um tecelão de damasco Por outro lado o trabalho de um fustian cutter tosador de fustão embora custe muito esforço físico e seja além de tudo extremamente insalubre é considerado trabalho simples E seria um erro pensar que o assim chamado trabalho qualificado ocupa um espaço quantitativamente mais significativo no trabalho nacional Laing calcula que na Inglaterra e País de Gales existam 11 milhões de pessoas ocupadas com trabalhos simples Se dos 18 milhões de pessoas que à época de seu escrito constituíam a população total deduzirmos um milhão de aristocratas um milhão e meio de miseráveis vagabundos criminosos prostitutas etc e uma classe média de 4650000 obteremos os 11 milhões mencionados Ocorre que nessa classe média ele inclui pessoas que vivem da renda de pequenos investimentos funcionários escritores artistas professores etc e para chegar a esses 423 milhões ele também inclui na parte trabalhadora da classe média além dos banqueiros etc aqueles trabalhadores fabris que recebem salários maiores Também os bricklayers estão incluídos entre os trabalhadores potencializados S Laing National Distress Its Causes and Remedies Londres 1844 p 4952 passim The great class who have nothing to give for food but ordinary labour are the great bulk of the people A grande classe que não tem nada a oferecer em troca de comida a não ser o trabalho comum forma a grande massa do povo James Mill Colony suplemento na Encyclopedia Britannica 1831 19 Where reference is made to labour as a measure of value it necessarily implies labour of one particular kind the proportion which the other kinds bear to it being easily ascertained Onde se faz referência ao trabalho como uma medida de valor está necessariamente implicado o trabalho de um tipo particular podendose facilmente estabelecer a proporção em que outros trabalhos se encontram em relação a ele J Cazenove Outlines of Polit Economy Londres 1832 p 223 632 20 Labour gives a new creation for one extinguished O trabalho dá uma nova criação a uma que foi extinguida em An Essay on the Polit Econ of Nations Londres 1821 p 13 21 Não se trata aqui de reparos nos meios de trabalho nas máquinas nas instalações das fábricas etc Uma máquina que está em conserto não funciona como meio de trabalho mas como material de trabalho Não se trabalha com ela mas ela mesma é trabalhada a fim de restaurar seu valor de uso Para nossos fins podemos incluir tais trabalhos de reparação como parte do trabalho requerido para a produção dos meios de trabalho Em nossa exposição porém tratase do desgaste que nenhum doutor pode curar e que acarreta gradualmente a morte that kind of wear which cannot be repaired from time to time and which in the case of a knife would ultimately reduce it to a state in which the cutler would say of it it is not worth a new blade daquele tipo de consumo que não pode ser reposto de tempos em tempos e que no caso de uma faca a reduziria a um estado tal que o faqueiro diria não valer mais a pena trocar sua lâmina Em nossa exposição vimos por exemplo que uma máquina entra de modo inteiro em todo processo singular de trabalho mas apenas de modo fracionado no processo simultâneo de valorização A partir daí podemos julgar a confusão conceitual presente na seguinte passagemMr Ricardo speaks of the portion of the labour of the engineer in making stocking machines O sr Ricardo fala que a porção de trabalho que um engenheiro mecânico gasta na construção de uma máquina de confecção de meias está contida por exemplo no valor de um par de meias Yet the total labour that produced each single pair of stockings includes the whole labour of the engineer not a portion for one machine makes many pairs and none of those pairs could have been done without any part of the machine No entanto o trabalho total que produziu cada par de meias inclui o trabalho total do engenheiro não apenas uma porção dele pois uma máquina confecciona muitos pares e nenhum desses pares poderia ter sido confeccionado sem qualquer uma das partes da máquina em Observations on Certain Verbal Disputes in Pol Econ Particularly Relating to Value and to Demand and Supply Londres 1821 p 54 O autor um wiseacre sabichão incomumente autossatisfeito está certo em sua confusão e consequentemente em sua polêmica apenas na medida em que nem Ricardo nem qualquer outro economista antes ou depois dele distinguiu com exatidão os dois aspectos do trabalho e menos ainda portanto analisou seus diferentes papéis na formação do valor a Literalmente pó do diabo fibra obtida a partir do algodão ou lã de baixa qualidade Em A situação da classe trabalhadora na Inglaterra São Paulo Boitempo 2007 p 1089 diz Engels E se alguma vez excepcionalmente o operário pode comprar um paletó de lã para uso dominical vai às lojas mais barateiras onde lhe oferecem um tecido ordinário chamado devils dust feito só para ser vendido não para ser usado e que ao fim de quinze dias está esgarçado ou rasgado N T 22 Percebese assim o absurdo de J B Say que quer derivar o maisvalor juro lucro renda dos services productifs serviços produtivos que os meios de produção a terra os instrumentos o couro etc prestam ao processo de trabalho por meio de seus valores de uso O sr Wilhelm Roscher que dificilmente perde uma ocasião de deixar registradas suas fantasias apologéticas exclama J B Say Traité t 1 c 4 observa muito corretamente que o valor produzido por um moinho de óleo após a dedução de todos os custos é algo novo algo essencialmente distinto do trabalho por meio do qual o próprio moinho de óleo foi produzido Wilhelm Roscher Die Grundlagen der Nationalökonomie cit p 82 nota Muito correto O óleo produzido pelo moinho é de fato algo muito diferente do trabalho realizado para a construção do moinho E por valor o sr Roscher entende coisas como o óleo pois o óleo tem valor apesar de a natureza produzir petróleo mesmo que relativamente em pequena quantidade fato que ele parece referir em sua próxima observação Ela a natureza não produz quase nenhum valor de troca ibidem p 79 Em Roscher a natureza se relaciona com o valor de troca do mesmo modo como a virgem que admite ter dado à luz um filho mas afirma que este era bem pequenininho O mesmo sério erudito savant sérieux observa ainda na continuação da passagem anteriormente citada A escola de Ricardo também costuma subsumir o capital ao conceito de trabalho como trabalho poupado Isso é inabilidoso porque de fato o possuidor de capital realizou no final das contas mais do que a mera criação e conservação deste que este justamente a abstenção das próprias fruições para a qual ele cobra por exemplo juros ibidem p 82 Que habilidoso esse método anatômicofisiológico da economia política que a partir do mero desejo desenvolve de fato no final das contas justamente o valor 22a Of all the instruments of the farmers trade the labour of man is that on which he is most to rely for the re payment of his capital The other two the working stock of the cattle and the carts ploughs spades and so forth without a given portion of the first are nothing at all De todos os instrumentos do negócio agrícola o trabalho do homem é o principal fator em que o agricultor deve se basear para a reposição de seu capital Os outros dois fatores o gado e os carros arados enxadas etc não são absolutamente nada sem uma dada porção do primeiro Edmund Burke Thoughts and Details on Scarcity Originally Presented to the Rt Hon W Pitt in the Month 633 of November 1795 Londres 1800 p 10 23 No Times de 26 de novembro de 1862 um fabricante cuja fábrica de fiação emprega 800 trabalhadores e consome semanalmente em média 150 fardos de algodão das Índias Orientais ou cerca de 130 fardos de algodão americano vem a público reclamar dos custos anuais de sua fábrica quando esta não está produzindo Ele estima esses custos em 6000 anuais Entre esses gastos encontramse muitos itens que não nos concernem aqui como renda fundiária impostos taxas de seguros salários pagos aos trabalhadores fixos ao gerente ao contador ao engenheiro etc A isso ele acrescenta então 150 de carvão para o aquecimento esporádico da fábrica e para o funcionamento eventual da máquina a vapor além dos salários dos trabalhadores que trabalham apenas ocasionalmente para manter a maquinaria em forma Por fim são computadas 1200 para a depreciação da maquinaria pois the weather and the natural principle of decay do not suspend their operations because the steamengine ceases to revolve o tempo e as causas naturais de degradação não suspendem sua ação porque a máquina a vapor parou de funcionar E ainda afirma enfaticamente ter estimado em apenas 1200 esse valor de depreciação pelo fato de sua maquinaria já estar altamente desgastada 24 Productive Consumption where the consumption of a commodity is a part of the process of production In these instances there is no consumption of value Consumo produtivo quando o consumo de uma mercadoria é uma parte do processo de produção Nesses casos não há nenhum consumo de valor S P Newman Elements of Polit Econ cit p 296 25 Num compêndio norteamericano que talvez tenha sido reeditado umas vinte vezes lêse It matters not in what form capital reappears The various Kinds of food clothing and shelter necessary for the existence and comfort of the human being are also changed They are consumed from time to time and their value reappears in that new vigour imparted to his body and mind forming fresh capital to be employed again in the work of production Não importa sob que forma o capital reaparece Depois de uma prolixa enumeração de todos os ingredientes possíveis da produção cujos valores reaparecem no produto a passagem conclui que Os vários tipos de alimentos roupas e habitação necessários à existência e ao conforto do ser humano também se modificam Eles são consumidos de tempos em tempos e seu valor reaparece naquele vigor renovado que conferem ao corpo e à mente de quem os consome formando assim capital novo a ser novamente empregado no trabalho produtivo F Wayland The Elements of Pol Econ cit p 32 Abstraindose de todas as outras extravagâncias basta observar que o que reaparece na força renovada não é o preço do pão mas suas substâncias formadoras do sangue O que ao contrário reaparece como valor dessa força não é o conjunto dos meios de subsistência mas seu valor Os mesmos meios de subsistência se custassem apenas a metade produziriam a mesma quantidade de músculos ossos etc em suma a mesma força porém não de mesmo valor Essa confusão de valor com força somada a toda a indefinição farisaica de nosso autor escondem a tentativa certamente vã de obter um maisvalor a partir de meras reaparições de valores preexistentes 26 Toutes les productions dun même genre ne forment proprement quune masse dont le prix se détermine en général et sans égard aux circonstances particulières Todas as produções de um mesmo gênero formam na verdade apenas uma massa cujo preço é determinado em geral e independentemente de circunstâncias particulares Le Trosne De lintérêt social cit p 893 634 26a If we reckon the value of the fixed capital employed as a part of the advances we must reckon the remaining value of such capital at the end of the year as a part of the annual returns Se incluímos o valor do capital fixo empregado no processo na parte do capital adiantado temos no final do ano de computar o valor restante desse capital como uma parte da receita anual Malthus Princ of Pol Econ 2 ed Londres 1836 p 269 27 Nota à segunda edição É evidente como diz Lucrécio De rerum natura Sobre a natureza das coisas livro 1 versos 1567 que nil posse creari de nihilo Do nada não se pode criar nada Criação de valor é transformação da força de trabalho em trabalho Por sua vez a força de trabalho é antes de mais nada matéria natural transferida ao organismo humano 28 Do mesmo modo que os ingleses empregam os termos rate of profits rate of interest etc No Livro III desta obra veremos que a taxa de lucro é fácil de ser compreendida quando se conhecem as leis do maisvalor Do contrário não se compreende ni lun ni lautre nem uma nem outra 28a Nota à terceira edição O autor recorre aqui à linguagem econômica usual Lembremos que na p 24850 é demonstrado que na realidade é o trabalhador quem adianta ao capitalista e não este ao trabalhador F E 29 Até o momento empregamos neste escrito o termo tempo necessário de trabalho para o tempo socialmente necessário à produção de uma mercadoria A partir de agora também o utilizamos para designar o tempo de trabalho necessário à produção desta mercadoria específica a força de trabalho O uso dos mesmos termini technici termos técnicos em sentidos diferentes é inconveniente porém impossível de ser evitado em qualquer ciência Compare por exemplo as áreas mais elevadas com as mais baixas da matemática 30 Com uma genialidade digna de Gottsched o sr Wilhelm Tucídides Roscher descobre que se por um lado a formação de maisvalor ou maisprodução e a acumulação que dela decorre é atualmente devida à abstinência do capitalista que por ela cobra por exemplo juros por outro lado nos estágios mais baixos da civilização são os mais fortes que obrigam os mais fracos a economizar Die Grundlagen der Nationalökonomie cit p 82 78 Economizar trabalho Ou produtos supérfluos que não existem Além da ignorância é o recuo apologético diante de uma análise devida do valor e do maisvalor e o medo de chegar a resultados indesejáveis que força autores como Roscher a apresentar como razões do surgimento do maisvalor as justificativas mais ou menos plausíveis que o próprio capitalista apresenta para sua apropriação do maisvalor Genialidade digna de Gottsched referência irônica ao escritor e crítico literário alemão Johann Christoph Gottsched que desempenhou um papel relativamente positivo na literatura porém ao mesmo tempo deu mostras de uma extraordinária intolerância em relação a novas correntes literárias Seu nome se tornou por isso sinônimo de arrogância e estupidez literárias N E A MEW Marx aplica a Wilhelm Roscher a alcunha irônica de Wilhelm Tucídides Roscher porque este no prefácio à primeira edição de seu livro Fundamentos da economia política proclamara a si mesmo com muita modéstia diz Marx como o Tucídides da economia política Cf Karl Marx Theorien über den Mehrwert Teorias do maisvalor Berlim 1962 terceira parte p 499 N E A MEW 30a Nota à segunda edição Embora seja a expressão exata do grau de exploração da força de trabalho a taxa de mais valor não serve como expressão da grandeza absoluta da exploração Por exemplo se o trabalho necessário é 5 horas e o maistrabalho é 5 horas o grau de exploração é 100 A grandeza da exploração é medida aqui em 5 horas Se o trabalho necessário é 6 horas e o maistrabalho é 6 horas o grau de exploração continua a ser de 100 enquanto a grandeza da exploração cresceu 20 de 5 para 6 horas a O termo harmonistas referese às obras de Henry Charles Carey e Claude Frédéric Bastiat intituladas respectivamente The Harmony of Interests Agricultural Manufacturing Commercial Filadélfia 1851 e Harmonies économiques Paris 1851 Em ambas as obras partindo da ideia de que os interesses de todos os membros da sociedade são harmônicos os autores defendem a tese liberal clássica de que o mercado pode e deve operar sem a necessidade de qualquer intervenção governamental N T 31 Nota à segunda edição O exemplo dado na primeira edição que se baseava numa fábrica de fiação no ano de 1860 continha um erro fático Os dados corretos que ora apresento foramme fornecidos por um fabricante de Manchester É importante ressaltar que na Inglaterra o antigo cavalovapor era calculado de acordo com o diâmetro de seu cilindro ao passo que o novo é calculado segundo a potência efetiva mostrada por um diagrama indicador b William Jacob A Letter to Samuel Withbread Being a Sequel to Considerations on the Protection Required by British Agriculture Londres 1815 p 33 N E A MEW 31a Os cálculos aqui apresentados servem apenas como ilustração Neles pressupomos que preços valores No Livro III desta obra veremos que essa equiparação não pode ser feita dessa forma simples nem mesmo no caso de preços médios 635 c As Factory Acts leis fabris foram uma série de leis elaboradas pelo Parlamento Inglês para a regulação do trabalho nas fábricas como a duração da jornada de trabalho o trabalho infantil etc Marx se refere aqui à lei de 1833 que introduziu importantes limitações ao trabalho infantil N T 32 Nassau W Senior Letters on the Factory Act as It Affects the Cotton Manufacture Londres 1837 p 123 Deixaremos de lado algumas curiosidades que não importam para nosso propósito como a afirmação de que os fabricantes incluem a reposição da maquinaria desgastada etc portanto de um componente do capital no ganho seja ele bruto ou líquido Também deixaremos de lado a questão da correção ou falsidade dos números apresentados Que eles têm tanto valor quanto a assim chamada análise de Senior é algo que foi demonstrado por Leonard Horner em A Letter to Mr Senior etc Londres 1837 Leonard Horner um dos factory inquiry comissioners comissários para a inspeção das fábricas de 1833 e ocupando o cargo de inspetor ou melhor censor de fábricas até 1859 prestou um serviço inestimável à classe trabalhadora inglesa Ao longo de toda sua vida Horner travou uma luta não só contra os ferozes fabricantes mas também contra os ministros para quem os votos dos fabricantes na Câmara Baixa tinham muito mais importância do que o número de horas que a mão de obra trabalhava nas fábricas Adendo à nota 32 Como se não bastasse a falsidade de seu conteúdo a exposição de Senior ainda é confusa O que ele realmente quer dizer é o seguinte o fabricante emprega os trabalhadores por 11½ ou 232 horas diárias Tal como a jornada de trabalho singular também o trabalho anual consiste em 11½ ou 232 horas multiplicadas pelo número de jornadas de trabalho em um ano A partir desse pressuposto as 232 horas de trabalho produzem um valor anual de 115000 12 hora de trabalho produz 123 115000 202 horas de trabalho produzem 2023 115000 100000 ie apenas repõem o capital adiantado Sobram 32 horas de trabalho que produzem 323 115000 15000 ie o ganho bruto Dessas 32 horas de trabalho 12 hora de trabalho produz 123 115000 5000 isto é produz apenas o valor de reposição do desgaste da fábrica e da maquinaria As duas últimas meias horas de trabalho isto é a última hora de trabalho produz 223 115000 10000 isto é o ganho líquido No texto que citamos Senior converte os últimos 223 do produto em porções da própria jornada de trabalho d Os quiliastas do grego cilioí mil pregavam a doutrina místicoreligiosa do retorno de Cristo e do estabelecimento do Reino Milenar sobre a terra Essa crença surgida na época da decadência da ordem escravocrata retornou mais tarde sob a forma de diversas seitas medievais N E A MEW 32a Se por um lado Senior provou que o ganho líquido dos fabricantes a existência da indústria inglesa de algodão e o domínio inglês no mercado mundial dependem da última hora de trabalho o dr Andrew Ure The Philosophy of Manufactures Londres 1835 p 406 provou que se crianças e jovens menores de 18 anos em vez de permanecerem 12 horas na atmosfera acolhedora e pura da fábrica forem expulsas 1 hora mais cedo e jogadas no hostil e frívolo mundo exterior elas serão privadas pelo ócio e pelo vício de toda esperança de salvação para suas almas Desde 1848 os inspetores de fábricas em seus Reports semestrais não se cansam de ridicularizar os fabricantes e sua última hora a hora fatal Assim diz o sr Howell em seu relatório de 31 de maio de 1855 Se este cálculo engenhoso estivesse correto ele cita Senior todo fabricante de algodão do Reino Unido teria tido um prejuízo constante desde 1850 Reports of the Insp Of Fact for the Half Year Ending 30th April 1855 p 1920 Em 1848 após a aprovação da Lei das 10 Horas pelo Parlamento os donos de fiações de linho espalhadas entre os condados de Dorset e Somerset imputaram a alguns de seus trabalhadores uma petição contrária que dizia entre outras coisas o seguinte Os peticionários que são pais creem que 1 hora adicional de lazer não terá outro efeito senão a desmoralização de seus filhos pois o ócio é a porta de entrada de todo vício Sobre isso diz o relatório de 31 de outubro de 1848 A atmosfera das fábricas de fiação em que trabalham os filhos desses virtuosos e carinhosos pais é carregada de tantas partículas de poeira e fibras de matériaprima que é extremamente desagradável permanecer em seu interior por apenas 10 minutos pois para isso é preciso suportar a mais terrível sensação de ter os olhos os ouvidos as narinas e a boca imediatamente invadidos por densas nuvens de poeira de linho das quais ninguém ali pode escapar O próprio trabalho requer em virtude do funcionamento febril da maquinaria uma incessante aplicação de habilidade e de movimento sob o controle de uma incansável atenção e parece ser um pouco duro demais fazer com que pais apliquem o termo ociosidade a seus próprios filhos que após a refeição são presos por 10 horas numa tal ocupação numa tal atmosfera Essas crianças trabalham mais tempo do que os servos rurais nas aldeias vizinhas Esse palavrório cruel sobre ócio e vício deveria ser condenado como a mais pura falsidade e a mais desbriada hipocrisia A parte do público que há cerca de 12 anos presenciou a proclamação pública e solene sob a sanção da alta autoridade de que o ganho líquido do fabricante derivava da última hora de trabalho de modo que a redução da jornada de trabalho em 1 hora eliminaria o ganho líquido essa parte do público como dizíamos não poderá acreditar no que seus olhos veem quando agora souber que a descoberta original sobre as virtudes da última hora sofreu desde então uma evolução tal que hoje engloba a moral tanto quanto o ganho de modo que se a duração do trabalho infantil for reduzida para 10 horas a moral das crianças se perderá juntamente com o ganho líquido de seus 636 empregadores uma vez que ambos dependem dessa hora última e fatal Repts of Insp of Fact For 31st Oct 1848 p 101 O mesmo relatório de fábrica fornece então alguns exemplos da moral e da virtude desses senhores fabricantes dos truques artifícios armadilhas ameaças falsificações etc que eles empregavam a fim de forçar alguns indefesos trabalhadores a assinar petições como essas e em seguida apresentálas ao Parlamento como petições que representavam um ramo inteiro da indústria ou um condado inteiro Altamente característico do presente estado da assim chamada ciência econômica é o fato de que nem o próprio Senior que posteriormente para o bem de sua honra apoiou energicamente a legislação fabril nem seus opositores de então nem seus críticos pósteros jamais foram capazes de demonstrar a falsidade dessa descoberta original Eles apelaram à experiência fatual Mas o why por que e o wherefore para que permaneceram um mistério 33 No entanto o sr professor lucrou algo com sua viagem a Manchester Nas Letters on the Factory Act ele faz com que o ganho líquido inteiro incluindo o lucro os juros e até something more algo mais dependam de uma única hora de trabalho não paga dos trabalhadores Um ano antes em sua Outlines of Political Economy escrita para a instrução de seus estudantes de Oxford e demais filisteus cultos ele já havia descoberto em oposição à determinação ricardiana do valor por meio do tempo de trabalho que o lucro provém do trabalho do capitalista e os juros resultam de seu ascetismo de sua abstinência A bobagem era velha mas a palavra abstinência era nova O sr Roscher a traduz corretamente por Enthaltung Alguns de seus compatriotas broncos e matutos alemães menos versados em latim do que ele deram ao termo uma versão monacal Entsagung renúncia 34 Para um indivíduo com um capital de 20000 cujos lucros foram de 2000 por ano é algo totalmente indiferente se seu capital emprega 100 ou 1000 trabalhadores se as mercadorias são vendidas por 10000 ou 20000 sempre pressupondose que seus lucros não caiam em hipótese alguma abaixo de 2000 Ora não se dá o mesmo com o interesse real de uma nação Pressupondose que sua receita líquida suas rendas e seus lucros permaneçam os mesmos não tem importância alguma se a nação consiste de 10 ou 12 milhões de habitantes Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 416 Muito tempo antes de Ricardo Arthur Young um fanático defensor do maisproduto e de resto um escritor prolixo e acrítico cuja fama é inversamente proporcional ao seu mérito dizia De que serviria num moderno reino uma província inteira cujo solo fosse cultivado ao modo da Roma Antiga isto é por pequenos e independentes agricultores Para que serviria um tal trabalho senão para o mero propósito de criar os homens the mere purpose of breeding men o que é no fim das contas um propósito dos mais inúteis is a most useless purpose Arthur Young Political Arithmetic etc Londres 1774 p 47 Adendo à nota 34 Muito curiosa é the strong inclination to represent net wealth as beneficial to the labouring class though it is evidently not on account of being net a forte inclinação a representar a riqueza líquida como benéfica à classe trabalhadora embora fique evidente que isso não se deve ao fato de ela ser líquida T Hopkins On Rent of Land etc Londres 1828 p 126 637 35 A days labour is vague it may be long or short Uma jornada de trabalho é vaga podendo ser longa ou curta em An Essay on Trade and Commerce Containing Observations on Taxation etc Londres 1770 p 73 36 Essa pergunta é infinitamente mais importante do que a famosa pergunta que sir Robert Peel fez à Câmara de Comércio de Birmingham What is a pound O que é 1 questão que só pôde ser formulada porque Peel tinha tão pouco conhecimento da natureza do dinheiro quanto os little shilling men de Birmingham Little shilling men homens do xelim pequeno de Birmingham representantes de uma teoria monetária na primeira metade do século XIX Seus adeptos professavam a doutrina da quantidade ideal de moeda e consequentemente concebiam o dinheiro apenas como uma unidade contábil Os representantes dessa escola os irmãos Thomas e Matthias Attwood Spooner e outros apresentaram um projeto sobre a diminuição da quantidade de ouro contida nas moedas inglesas que recebeu a alcunha de little shilling project A partir de então o termo foi aplicado à própria escola Ao mesmo tempo os little shilling men eram contrários às medidas governamentais voltadas à redução da quantidade de moeda em circulação Sua opinião era a de que a aplicação de sua teoria provocando o aumento artificial dos preços impulsionaria a indústria e asseguraria a prosperidade geral da nação Na realidade porém a desvalorização monetária proposta serviu apenas para saldar as dívidas do Estado e dos grandes empresários que eram os principais possuidores dos mais diversos créditos Marx também trata dos little shilling men em sua Contribuição à crítica da economia política N E A MEW a Termo usado nos mapas medievais para designar os limites do mundo conhecido N T 37 Dobtenir du capital dépensé la plus forte somme de travail possible A tarefa do capitalista é obter com o capital gasto a maior quantidade possível de trabalho J G CourcelleSeneuil Traité théorique et pratique des entreprises industrielles 2 ed Paris 1857 p 62 38 An Hours Labour lost in a day is a prodigious injury to a commercial state A perda de 1 hora de trabalho num dia é uma prodigiosa injúria a um Estado comercial There is a very great consumption of luxuries among the labouring poor of this kingdom particularly among the manufacturing populace by which they also consume their time the most fatal of consumption Há um enorme consumo de artigos de luxo entre os pobres trabalhadores deste reino particularmente entre os operários das manufaturas com isso porém eles também consomem o seu tempo e este é o mais fatal dos consumos em An Essay on Trade and Commerce etc cit p 47 153 39 Si le manouvrier libre prend un instant de repos léconomie sordide qui le suit des yeux avec inquiétude prétend quil la vole Se o operário livre desfruta de um instante de repouso a economia sórdida que o segue com olhos inquietos afirma que ele está a furtála N Linguet Théorie des lois civiles etc Londres 1767 t II p 466 b No original Sturm und Drang tempestade e ímpeto Ver nota f na p 85 N T 40 Durante a grande greve dos builders trabalhadores da construção civil de Londres em 18601861 para a redução da jornada de trabalho para 9 horas o comitê de greve publicou um manifesto que continha em certa medida o mesmo conteúdo da defesa de nosso trabalhador O manifesto alude não sem ironia ao fato de que o mais cúpido dos building masters empresários da construção um certo sir M Peto vivia em odor de santidade Esse mesmo Peto depois de 1867 teve o mesmo fim de Strousberg 41 Those who labour in reality feed both the pensioners called the rich and themselves Na realidade aqueles que trabalham alimentam tanto os pensionários chamados de ricos como também a si mesmos Edmund Burke Thoughts and Details on Scarcity Originally Presented to the Rt Hon W Pitt in the Month of November 1795 cit p 23 c Designação do ideal grego de excelência na vida militar e civil O termo é empregado por Marx no sentido estrito de aristocrata N T 42 Com extrema ingenuidade observa Niebuhr em sua História romana É evidente que obras como as etruscas cujas ruínas tanto nos impressionam pressupõem em pequenos Estados a existência de senhores e servos Sismondi com muito mais profundidade disse que as rendas de Bruxelas pressupõem a existência de senhores do salário e servidores assalariados 43 É impossível vermos esses infelizes nas minas de ouro entre o Egito a Etiópia e a Arábia que não podem sequer manter seus corpos limpos nem cobrir sua nudez sem nos compadecermos de seu destino lastimável Pois lá não há indulgência ou compaixão pelo doente pelo debilitado pelo ancião pela fraqueza feminina Abaixo de açoite todos são forçados a continuar a trabalhar até que a morte venha dar um fim a seus suplícios e padecimentos Diod Sic Historische Bibliothek cit livro 3 c 13 44 O que segue referese às condições das províncias romenas antes da revolução ocorrida desde a Guerra da Crimeia 638 44a Nota à terceira edição Isso vale também para a Alemanha e especialmente para a Prússia a Leste do Elba No século XV quase em toda parte o camponês alemão embora submetido ao pagamento de certas rendas em produtos e trabalho era um homem praticamente livre Os colonos alemães nas regiões de Brandemburgo Pomerânia Silésia e Prússia Oriental eram até mesmo reconhecidos legalmente como livres A vitória da nobreza nas guerras camponesas pôs um fim a essa situação Não apenas os vencidos camponeses do Sul da Alemanha foram reduzidos à servidão como também a partir de meados do século XVI os livres camponeses da Prússia Oriental de Brandemburgo da Pomerânia e da Silésia e logo depois também os de SchleswigHolstein Maurer Frohnhöfe v IV Meitzen Der Boden des preussischen Staats Hanssen Leibeigenschaft in SchleswigHolstein F E d Règlement organique de 1831 nome da primeira constituição dos Principados do Danúbio Moldávia e Valáquia ocupados pelas tropas russas em consequência do tratado de paz de Adrianópolis de 14 de setembro de 1829 que pôs fim à guerra russoturca de 18281829 De acordo com o Règlement elaborado por D P Kisselev chefe da administração desses principados o poder legislativo em cada principado ficava reservado à assembleia eleita pelos proprietários fundiários e o poder executivo era transferido aos hospodares eleitos vitaliciamente pelos representantes dos proprietários fundiários do clero e das municipalidades A antiga ordem feudal incluindo a corveia era conservada e o poder político ficava concentrado nas mãos dos proprietários Ao mesmo tempo o Règlement introduzia uma série de reformas próburguesas as barreiras alfandegárias internas eram abolidas passava a vigorar o livrecâmbio os tribunais eram separados da administração aos camponeses ficava permitido trocar de senhor e aboliase a tortura O Règlement organique foi suprimido durante a Revolução de 1848 N E A MEW e Provável erro dos editores alemães O correto seria 56 e não 54 N T 45 Mais detalhes podem ser encontrados em E Regnault Histoire politique et sociale des Principautés Danubiennes Paris 1855 46 Em geral e dentro de certos limites ultrapassar o tamanho médio de sua espécie é algo favorável à constituição de um ser orgânico No ser humano sua massa corporal diminui se seu processo de crescimento é prejudicado seja por condições físicas seja por condições sociais Em todos os países europeus que introduziram o recrutamento militar a massa corporal média dos homens adultos diminuiu e com ela também a aptidão desses homens para o serviço militar Antes da revolução 1789 a estatura mínima para os soldados da infantaria francesa era de 165 centímetros em 1818 lei de 10 de março ela passou para 157 e com a lei de 21 de março de 1832 para 156 centímetros na França em média mais da metade dos homens é rejeitada em razão de estatura insuficiente ou fraqueza física Em 1780 o padrão militar na Saxônia era de 178 centímetros agora é de 155 centímetros Na Prússia ele é de 157 centímetros De acordo com a afirmação do dr Meyer no Bayrischen Zeitung de 9 de maio de 1862 o resultado de uma média de 9 anos mostra que na Prússia 716 dos 1000 recrutados foram declarados inaptos para o serviço militar 317 por causa da baixa estatura e 399 por fraqueza corporal Em 1858 Berlim não pôde fornecer seu contingente de recrutas faltavam 156 homens J von Liebig Die Chemie in ihrer Anwendung auf Agrikultur und Physiologie 7 ed 1862 v I p 1178 47 A história da lei fabril de 1850 será tratada no decorrer deste capítulo 48 O período que vai do começo da grande indústria na Inglaterra até 1845 é tratado aqui apenas em linhas gerais Sobre esse assunto remeto o leitor à obra Die Lage der arbeitenden Klasse in England A situação da classe trabalhadora na Inglaterra de Friedrich Engels Leipzig 1845 O quão profunda é a compreensão que Engels tem do espírito do modo de produção capitalista o demonstram os Factory Reports Reports on Mines etc que foram publicados desde 1845 e o quão admirável é sua descrição detalhada das condições da classe trabalhadora é evidenciado quando se compara sua obra com os relatórios oficiais da Childrens Employment Commission 18631867 publicados de 18 a 20 anos depois Tais relatórios tratam especialmente de ramos da indústria nos quais a legislação fabril de 1862 ainda não fora introduzida e na verdade até hoje só foi introduzida parcialmente Em tais ramos portanto as condições retratadas por Engels não haviam sofrido nenhuma ou quase nenhuma alteração por interferência externa Meus exemplos são extraídos principalmente do período de livrecâmbio após 1848 aquele tempo paradisíaco com o qual os mascates do livrecâmbio tão falastrões quanto cientificamente degenerados tanto faucherizam os alemães De resto a Inglaterra só aparece aqui em primeiro plano por ser a representante clássica da produção capitalista e a única a possuir uma estatística oficial contínua dos objetos de que tratamos O verbo Vorfauchen aqui traduzido como faucherizar foi criado por Marx em referência às ideias do jornalista alemão Julius Faucher representante do livre cambismo e do liberalismo de Manchester N T 49 Suggestions etc by Mr L Horner Inspector of Factories em Factories Regulation Acts Ordered by the House of Commons to be printed 9 ago 1859 p 45 639 50 Reports of the Insp of Fact for the Half Year Oct 1856 p 35 51 Report etc 30th April 1858 p 9 52 Ibidem p 10 53 Ibidem p 25 54 Reports etc for the half year ending 30th April 1861 Ver apêndice n 2 Reports etc 31st Octob 1862 p 7 523 As transgressões se tornam mais numerosas a partir da segunda metade de 1863 Cf Reports etc Ending 31st Oct 1863 p 7 55 Reports etc 31st Oct 1860 p 23 Com que fanatismo de acordo com os depoimentos dos fabricantes nos tribunais sua mão de obra fabril se recusava a interromper seu trabalho é demonstrado pelo seguinte fato curioso No início de junho de 1836 os magistrados de Dewsbury Yorkshire foram informados de que os proprietários de 8 grandes fábricas nas proximidades de Batley haviam violado a legislação fabril Uma parte desses senhores foi acusada de ter obrigado 5 meninos entre 12 e 15 anos de idade a trabalhar das 6 horas da manhã de sextafeira até as 4 horas da manhã de sábado sem lhes permitir qualquer pausa para descanso além de 1 hora para a refeição e 1 hora de sono à meianoite E essas crianças tiveram de executar o incessante trabalho de 30 horas no shoddyhole que é o nome dado a esse buraco onde restos de algodão são triturados e um mar de poeira dejetos etc obriga até mesmo o trabalhador adulto a manter sempre amarrado um lenço sobre a boca a fim de proteger seus pulmões Os senhores acusados asseguraram em vez de jurar pois como quacres eles eram religiosos demais para prestar um juramento que com toda sua compaixão eles teriam permitido que as pobres crianças dormissem por 4 horas mas as obstinadas crianças não quiseram de modo algum ir para a cama Os senhores quacres foram condenados a pagar uma multa de 20 Dryden já pressentia esses quacres Fox full fraught in seeming sanctity That feared an oath but like the devil would lie That lookd like Lent and had the holy leer And durst not sin before he said his prayer Uma raposa plena de falsa santidade que mente como o diabo mas tem medo de um juramento que aparenta penitência mas lança um olhar lascivo E que não ousa pecar antes de ter rezado Dryden The Cock and the Fox or the Tale of the Nuns Priest 56 Rep etc 31st Oct 1856 p 34 57 Ibidem p 35 58 Ibidem p 48 59 Idem 60 Idem 61 Idem 62 Moments are the Elements of profit Rep of the Insp etc 30th April 1860 p 56 63 Essa é a expressão oficial tanto nas fábricas quanto nos relatórios de fábricas 64 The cupidity of millowners whose cruelties in pursuit of gain have hardly been exceeded by those perpetrated by the Spaniards on the conquest of America in the pursuit of gold A cupidez dos proprietários de fábricas cujas crueldades na busca do ganho não ficam aquém daquelas perpetradas pelos espanhóis na conquista da América em busca do ouro John Wade History of the Middle and Working Classes 3 ed Londres 1835 p 114 A parte teórica desse livro uma forma de Elementos de economia política contém para a sua época algo de original por exemplo a respeito das crises comerciais Já a parte histórica é um plágio descarado de sir M Edens The State of the Poor Londres 1797 65 Daily Telegraph Londres 17 jan 1860 f Her Majestys Most Honourable Privy Council Muito Honorável Conselho Privado de Sua Majestade corpo de conselheiros do monarca britânico composto de ministros e outros altos funcionários além de personalidades condecoradas Criado no século XIII o Privy Council exerceu por muito tempo direitos legislativos sendo responsável apenas perante o rei mas não perante o Parlamento Nos séculos XVIII e XIX a importância do Privy Council diminuiu consideravelmente e hoje perdeu toda e qualquer relevância prática na Inglaterra N E A MEW 66 Cf F Engels Die Lage der arbeitenden Klasse in England cit p 24951 ed bras A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit p 23941 67 Childrens Employment Commission First Report etc 1863 apêndice p 16 189 68 Public Health 3rd Report etc cit p 103 105 640 69 Childrens Employm Commission 1863 cit p 22 24 e XI 70 Ibidem p XLVII 71 Ibidem p LIV 72 Isso não deve ser entendido no nosso sentido de tempo de maistrabalho Esses senhores consideram a jornada de trabalho de 1012 horas como jornada normal que portanto também inclui o maistrabalho normal Apenas depois disso é que tem início o tempo excedente que é um pouco mais bem pago Em outra ocasião veremos que a utilização da força de trabalho durante a assim chamada jornada normal é paga abaixo de seu valor de modo que o tempo excedente é um mero truque capitalista para extorquir uma quantidade maior de maistrabalho e que ele continuaria a ser maistrabalho mesmo que a força de trabalho empregada durante a jornada normal fosse integralmente paga g Juvenal Sátiras IV N T 73 Childrens Employm Commission 1863 cit apêndice p 1235 140 e LXIV 74 Alume ralado ou misturado com sal é um artigo normal de comércio que leva o nome significativo de bakers stuff coisa do padeiro N T 75 A fuligem é sabidamente uma forma muito enérgica de carbono e constitui um adubo que os limpadores de chaminés capitalistas vendem a arrendatários ingleses Em 1862 o juryman jurado britânico teve de decidir num processo se a fuligem à qual se mistura sem o conhecimento do comprador 90 de pó e areia é fuligem verdadeira em sentido comercial ou fuligem adulterada em sentido legal Os amis du commerce amigos do comércio decidiram que ela é fuligem comercial verdadeira e julgaram improcedente a queixa do arrendatário que ainda teve de pagar os custos do processo h Referência à escola filosófica grega séculos VI e V a C cujos principais representantes foram Xenófanes Parmênides e Zenão N T 76 O químico francês Chevallier num tratado sobre as sophistications sofisticações das mercadorias encontrou em muitos dos mais de 600 artigos que ele fez passar em revista 10 20 30 métodos diferentes de adulteração Ele acrescenta que não conhece todos os métodos e não menciona todos que conhece Para o açúcar há 6 tipos de adulteração 9 para o azeite de oliva 10 para a manteiga 12 para o sal 19 para o leite 20 para o pão 23 para a aguardente 24 para a farinha 28 para o chocolate 30 para o vinho 32 para o café etc Nem mesmo Deus Todo Poderoso escapa desse destino Ver Rouard de Card De la falsification des substances sacramentelles Paris 1856 77 Report etc relating to the Grievances complained of by the Jorneymen Bakers etc Londres 1862 e Second Report etc Londres 1863 i Em Fahrenheit o correspondente a 238 e 322 graus Celsius N T 78 First Report etc p VIVII j Período do ano em que a elite britânica majoritariamente composta por aristocratas rurais instalavase na capital a fim de travar contatos sociais e engajarse na política A season londrina coincidia com o início das atividades do Parlamento e estendiase por aproximadamente cinco meses começando no fim de dezembro e encerrandose no fim de junho N T 79 First Report etc p LXXI 80 George Read The History of Baking Londres 1848 p 16 81 Report First etc Evidence declaração do full priced baker Cheesman p 108 82 George Read The History of Baking No fim do século XVII e início do século XVIII os factors atravessadores que se faziam presentes em todo comércio possível ainda eram oficialmente denunciados como public nuisances moléstias públicas Assim por exemplo na reunião quinzenal dos juízes de paz do Condado de Somerset o Grand Jury emitiu uma presentment representação à Câmara Baixa onde se diz entre outras coisas that these factors of Blackwell Hall are a Publick Nuisance and Prejudice to the Clothing Trade and ought to be put down as a Nuisance que atravessadores de Blackwell Hall são uma moléstia pública e causam prejuízo ao comércio de tecidos devendo por isso ser combatidos como elementos daninhos The Case of our English Wool etc Londres 1865 p 67 83 First Report etc p VIII 641 84 Report of Committee on the Baking Trade in Ireland for 1861 85 Idem 86 Reunião pública dos trabalhadores agrícolas em Lasswade na região de Glasgow de 5 de janeiro de 1866 Ver Workmans Advocate 13 jan 1866 A formação a partir do final de 1865 de um trade union sindicato dos trabalhadores agrícolas começando pela Escócia é um acontecimento histórico Num dos distritos agrícolas mais oprimidos da Inglaterra em Buckinghamshire os trabalhadores assalariados realizaram em março de 1867 uma grande greve pela elevação do salário semanal de 910 xelins para 12 xelins Adendo à terceira edição Vêse a partir dos fatos mencionados que o movimento do proletariado agrícola inglês que se encontrava destroçado desde a repressão aos seus violentos protestos após 1830 e principalmente depois da introdução da nova lei de assistência aos pobres ganha nova vida nos anos 1860 para enfim vir a marcar época em 1872 Retornarei a esse assunto no Livro II assim como aos Blue Books publicados desde 1867 sobre a situação dos trabalhadores rurais ingleses 87 Reynoldss Paper 21 jan 1866 Toda semana o mesmo jornal traz entre as sensational headings manchetes sensacionais Fearful and fatal accidents acidentes temíveis e fatais Appalling tragedies tragédias terríveis etc toda uma lista de novas catástrofes ferroviárias Sobre isso comenta um trabalhador da North Staffordlinie Qualquer um sabe as consequências que se podem obter se a atenção do maquinista e do foguista se desvia um instante de sua tarefa E como poderia ser diferente dado o prolongamento desmedido do trabalho no clima mais rigoroso sem pausa e períodos de descanso Tomemos como exemplo como ocorre diariamente o seguinte caso Na última segundafeira um foguista começou seu dia de trabalho muito cedo e o terminou após 14 horas e 50 minutos Antes que ele tivesse tempo de ao menos tomar seu chá foi chamado novamente ao trabalho Assim teve de trabalhar ininterruptamente por 29 horas e 15 minutos No restante da semana seu horário de trabalho foi o seguinte na quartafeira 15 horas e 35 minutos na sextafeira 1412 horas no sábado 14 horas e 10 minutos total da semana 88 horas e 30 minutos E agora imaginem sua surpresa quando recebeu apenas por 6 jornadas de trabalho O homem era um novato e perguntou o que se entendia por uma jornada de trabalho Resposta 13 horas portanto 78 horas por semana E quanto ao pagamento dessas 10 horas e 30 minutos adicionais Depois de uma longa contenda ele recebeu um bônus de 10 pence menos de 10 Silbergroschen tostões de prata Reynoldss Paper 4 fev 1866 88 Cf F Engels Die Lage der arbeitenden Klasse in England cit p 2534 ed bras A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit 89 Dr Letheby médico do Board of Health Departamento de Saúde declarou então O mínimo de ar necessário para um adulto num quarto de dormir é 300 pés cúbicos e numa sala de estar 500 pés cúbicos Dr Richardson médicochefe de um hospital de Londres Costureiras de todos os tipos modistas bordadeiras de altacostura e costureiras comuns sofrem de uma tríplice desventura sobretrabalho falta de ar e carência de alimentação ou de digestão De modo geral esse tipo de trabalho é mais adequado às mulheres do que aos homens Desgraçadamente porém esse negócio principalmente na capital é monopolizado por uns 26 capitalistas que com as armas que decorrem do capital that spring from capital extraem forçadamente economia do trabalho force economy out of labour em outras palavras economizam os gastos devidos ao desperdício da força de trabalho Seu poder se faz sentir em todo o âmbito dessa classe de trabalhadoras Se uma costureira conquista um pequeno círculo de clientes a concorrência a força a se matar de trabalhar em casa a fim de conserválo e esse mesmo sobretrabalho ela tem de impor a suas auxiliares Se seu negócio fracassa ou ela não consegue se estabelecer de modo independente ela tem de procurar uma empresa onde o trabalho não é menor mas o pagamento é seguro Assim ela se torna uma pura escrava jogada de lá para cá segundo as flutuações da sociedade ora ela está em casa num cubículo passando fome ou quase ora está de novo ocupada por 15 16 e até 18 horas numa atmosfera quase insuportável e com uma alimentação que mesmo quando boa não pode ser digerida em virtude da ausência de ar puro É dessas vítimas que se alimenta a tuberculose que não é nada mais do que uma doença do ar dr Richardson Work and Overwork Social Science Review 18 jul 1863 k Júri que no Reino Unido averiguava a causa da morte e determinava se uma pessoa devia ser julgada por homicídio N T 90 Morning Star 23 jun 1863 O Times usou o ocorrido para defender os escravocratas americanos contra Bright etc Muitos de nós diz o jornal pensamos que enquanto fizermos nossas próprias mulheres trabalharem até a morte por meio do flagelo da fome no lugar do estalo do chicote quase não teremos o direito de tratar a ferro e fogo famílias que já nasceram escravocratas e que ao menos alimentam bem seus escravos e os fazem trabalhar moderadamente Times 2 jul 1863 Do mesmo modo o Standard um jornal tory repreendeu o reverendo Newman Hall Ele excomunga os escravocratas porém reza com a brava gente que fazia com que os condutores e cocheiros de Londres trabalhassem por 16 horas diárias em troca de um salário de cão Por fim falou o oráculo o sr Thomas Carlyle 642 sobre o qual escrevi em 1850 as seguintes palavras O gênio foi para o diabo e só restou o culto Marx referese a sua resenha do livro LatterDay Pamphlets de Carlyle cf MEW v 7 p 25565 N E A MEW Numa curta parábola ele reduz o único acontecimento grandioso da história contemporânea a Guerra Civil americana à seguinte trama Pedro do Norte quer esmagar com toda violência o crânio de Pedro do Sul porque Pedro do Norte aluga seu trabalhador diariamente ao passo que Pedro do Sul o aluga vitaliciamente Ilias Americana in Nuce Macmillans Magazine ago 1863 E assim finalmente estourou a bolha de sabão da simpatia dos tories pelos trabalhadores assalariados urbanos mas de modo algum pelos rurais O cerne da questão tem um nome escravatura 91 Dr Richardson Work and Overwork cit 92 Childrens Employment Commission Third Report Londres 1864 p IVVI 93 Both in Staffordshire and in South Wales young girls and women are employed on the pit banks and on the coke heaps not only by day but also by night This practice has been often noticed in Reports presented to Parliament as being attended with great and notorious evils These females employed with the men hardly distinguished from them in their dress and begrimed with dirt and smoke are exposed to the deterioration of character arising from the loss of selfrespect which can hardly fail to follow from their unfeminine occupation Em Staffordshire assim como no sul de Gales meninas e mulheres são empregadas em minas de carvão e em depósitos de coque não apenas de dia mas também de noite Essa prática foi frequentemente noticiada nos relatórios apresentados ao Parlamento como prática que gera males notórios Essas mulheres empregadas com os homens dificilmente deles se distinguindo por suas roupas e sujas de poeira e fumaça são expostas à deterioração do caráter que resulta de sua perda de respeito próprio consequência praticamente inevitável dessa sua ocupação não feminina ibidem p 194 p XXVI Cf Fourth Report 1865 61 p XIII O mesmo nas fábricas de vidros 94 Parece natural observou um fabricante de aço que emprega crianças no trabalho noturno que os meninos que trabalham à noite não consigam dormir durante o dia e tampouco encontrem qualquer repouso regular mas perambulem sem cessar por todo o dia seguinte Fourth Rep cit 63 p XIII Sobre a importância da luz do sol para a conservação e desenvolvimento do corpo observa um médico entre outras coisas A luz também atua diretamente sobre os tecidos do corpo ao qual dá firmeza e elasticidade Os músculos dos animais privados da quantidade normal de luz tornamse esponjosos e inelásticos a força dos nervos perde seu tônus por causa da falta de estímulo e tudo o que se encontra em processo de crescimento acaba atrofiado No caso das crianças o acesso frequente à luz natural e diretamente aos raios solares durante uma parte do dia é absolutamente essencial para a saúde A luz ajuda a transformar os alimentos em bom sangue plástico e endurece a fibra depois de formada Ela também estimula os órgãos da visão e provoca assim uma maior atividade em diversas funções cerebrais O sr W Strange médicochefe do General Hospital de Worcester de cuja obra sobre saúde 1864 W Strange The Seven Sources of Health Londres 1864 p 84 N E A MEW extraímos essa passagem escreve numa carta a um dos comissários de inquérito o sr White Anteriormente em Lancashire tive a oportunidade de observar os efeitos do trabalho noturno sobre as crianças das fábricas e não hesito em afirmar contrariando as mais diletas garantias de alguns empregadores que a saúde das crianças foi rapidamente afetada Childrens Employment Commission Fourth Report cit 284 p 55 Que coisas assim possam ser objeto de sérias controvérsias evidencia da melhor maneira como a produção capitalista atua sobre as funções cerebrais dos capitalistas e seus retainers serviçais 95 Fourth Report cit 57 p XII 96 Ibidem 58 p XII 97 Idem 98 Ibidem p XIII O grau de instrução dessas forças de trabalho deve ser naturalmente tal como se revela nos seguintes diálogos com um dos comissários de inquérito Jeremiah Haynes de 12 anos de idade quatro vezes quatro são oito quatro quartos 4 fours são 16 Um rei é aquele que tem todo o dinheiro e ouro A king is him that has all the money and gold Temos um rei dizem que ele é uma rainha chamamna princesa Alexandra Dizem que ela se casou com o filho da rainha Uma princesa é um homem William Turner 12 anos Não moro na Inglaterra Acho que é um país mas não sabia disso John Morris 14 anos Ouvi dizer que Deus fez o mundo e que todo mundo se afogou menos um ouvi dizer que foi um passarinho William Smith 15 anos Deus fez o homem o homem fez a mulher Edward Taylor 15 anos Não sei nada de Londres Henry Marrhewman 17 anos Às vezes vou à igreja Um nome que eles falam no sermão é um tal de Jesus Cristo mas não sei dizer nenhum outro nome e também não sei dizer alguma coisa sobre ele Ele não foi morto mas morreu como as outras pessoas Ele não era como as outras pessoas de certo modo porque ele era religioso de certo modo e outros não são He was not the same as other people in some ways because he was religious in some ways and others isns ibidem 74 p XV O diabo é 643 uma boa pessoa Não sei onde ele vive Cristo foi um mau sujeito The devil is a good person I dont know where he lives Christ was a wicked man Essa menina 10 anos soletra God como se fosse dog e não sabia o nome da rainha Ch Empl Comm V Rep 1866 n 278 p 55 O mesmo sistema da manufatura metalúrgica também vigora nas fábricas de vidro e papel Nas fábricas onde o papel é fabricado com máquinas o trabalho noturno é a regra para todos os processos exceto para a seleção dos trapos Em alguns casos o trabalho noturno por revezamento prossegue a semana inteira sem cessar geralmente de domingo à noite até a meianoite do sábado seguinte A turma escalada para o turno diurno trabalha semanalmente 5 dias de 12 horas e um dia de 18 horas e a turma escalada para o turno da noite trabalha 5 noites de 12 horas e uma de 6 horas Em outros casos cada turma trabalha 24 horas uma depois da outra em dias alternados Para completar as 24 horas uma turma trabalha 6 horas na segundafeira e 18 horas no sábado Em outros casos introduziuse um sistema intermediário em que todos os empregados na maquinaria de fabricação de papel trabalham todos os dias da semana por 1516 horas Esse sistema diz o comissário de inquérito Lord parece unir todos os males dos revezamentos de 12 e de 24 horas Crianças menores de 13 anos jovens menores de 18 e mulheres trabalham sob esse sistema noturno Às vezes no sistema de 12 horas eles eram obrigados por conta da ausência de quem iria rendêlos a trabalhar o turno duplo de 24 horas Depoimentos de testemunhas provam que meninos e meninas trabalham com muita frequência além do tempo da jornada de trabalho que não raro se estende a 24 e até mesmo a 36 horas No processo contínuo e inalterável das oficinas de fabricação de vidro encontramse meninas de 12 anos que trabalham o mês inteiro por 14 horas diárias sem nenhum descanso ou pausa regular além de duas no máximo 3 meias horas para as refeições Em algumas fábricas em que se aboliu totalmente o trabalho noturno regular trabalhamse muitas horas adicionais e isso frequentemente nos processos mais sujos quentes e monótonos Childrens Employment Commision Fourth Report cit p XXXVIII XXXIX l Em Fahrenheit o equivalente a 30 e 322 Celsius N T 99 Fourth Report etc cit 79 p XVI 100 Ibidem 80 p XVI XVII 101 Ibidem 82 p XVII 102 Em nossa época rica em reflexão e raciocínio jamais alguém conseguiu chegar longe sem saber oferecer uma boa razão para tudo mesmo a pior e mais errada das coisas Tudo o que foi corrompido neste mundo foi corrompido por boas razões G W F Hegel Enzyklopädie Enciclopédia das ciências filosóficas cit p 249 103 Childrens Employment Commission Fourth Report cit 85 p XVII A similares escrúpulos amáveis do sr fabricante de vidro de que seria impossível oferecer às crianças horários regulares de refeições porque com isso uma determinada quantidade de calor que os fornos irradiam se tornaria puro prejuízo ou seria desperdiçada responde o comissário de inquérito White não do mesmo modo como Ure Senior etc e seus pequenos macaqueadores alemães tais como Roscher etc comovido com a abstinência a renúncia e a parcimônia dos capitalistas no gasto de seu dinheiro e com sua prodigalidade tamerlaniana no consumo de vidas humanas Uma certa quantidade de calor acima da que é atualmente usual poderia ser desperdiçada para que sejam garantidas refeições em horários regulares mas mesmo em valor monetário isso não é nada se comparado com o desperdício de força vital the waste of animal power que hoje o reino sofre pelo fato de que as crianças em fase de crescimento empregadas nas vidrarias não têm nem um momento de paz para poder ingerir e digerir seus alimentos comodamente ibidem p XLV E isso em 1865 no ano do progresso Abstraindo do dispêndio de força em erguer e carregar objetos pesados tal criança caminha durante a realização contínua de seu trabalho nas fábricas que produzem garrafas e flintglass vidro flint de 15 a 20 milhas inglesas em 6 horas E o trabalho dura frequentemente de 14 a 15 horas Em muitas dessas fábricas vigora como nas fiações de Moscou o sistema de revezamento por turnos de 6 horas Durante o tempo de trabalho da semana o mais longo período ininterrupto de descanso é de 6 horas e dele tem de ser deduzido o tempo para ir à fábrica e voltar lavarse vestirse comer todas elas atividades que custam tempo E assim resta na verdade apenas um tempo de descanso extremamente curto Nenhum tempo para brincar e respirar ar puro a não ser à custa do sono tão indispensável a crianças que realizam um trabalho tão extenuante numa atmosfera tão quente Mesmo o breve sono é interrompido seja porque a criança tem de acordar a si mesma de madrugada seja porque é despertada por ruídos externos durante o dia O sr White apresenta casos em que um jovem trabalhou 36 horas seguidas outro em que meninos de 12 anos se extenuam até as 2 horas da manhã e então dormem nas fábricas até as 5 da manhã 3 horas para depois reiniciar sua jornada de trabalho A quantidade de trabalho dizem Tremenheere e Tufnell os redatores do relatório geral realizada por meninos meninas e mulheres no decorrer de sua sequência diurna ou noturna de trabalho spell of labour é fabulosa ibidem p XLIII XLIV Enquanto isso o sr Capital do Vidro cambaleia talvez tarde da noite voltando do clube para casa pleno de abstinência e de vinho do Porto a cantarolar idiotamente Britons never never shall be slaves ingleses 644 jamais jamais serão escravos 104 Na Inglaterra por exemplo eventualmente ainda se condena no campo um trabalhador à prisão por ter profanado o sábado ao trabalhar no pequeno jardim à frente de sua casa O mesmo trabalhador é punido por quebra de contrato caso falte ao trabalho aos domingos em sua fábrica de metal papel ou vidro mesmo se a falta for motivada por beatice religiosa O ortodoxo Parlamento não quer ouvir falar de profanação do sábado quando isso ocorre no processo de valorização do capital Num memorial agosto de 1863 em que os diaristas londrinos das peixarias e casas de aves reivindicam a abolição do trabalho dominical lêse que seu trabalho dura nos primeiros 6 dias da semana uma média de 15 horas diárias e no domingo de 8 a 10 horas Por esse memorial também ficamos sabendo que a delicada gourmandise glutonaria dos beatos aristocráticos de Exeter Hall incentiva esse trabalho dominical Esses santos tão avidamente in cute curanda preocupados com seu bemestar corporal dão provas de seu cristianismo pela resignação com que suportam o sobretrabalho as privações e a fome de outrem Obsequium ventris istis perniciosius est A glutonaria é mais perniciosa aos seus dos trabalhadores estômagos Exeter Hall prédio localizado em Londres onde se reúnem sociedades religiosas e filantrópicas N T 105 We have given in our previous reports the statements of several experienced manufacturers to the affect that overhours certainly tend prematurely to exhaust the working power of the men Em nossos relatórios anteriores reproduzimos as constatações de vários experientes fabricantes que afirmam que as horas adicionais overhours certamente tendem a exaurir prematuramente a força de trabalho dos homens Childrens Employment Comission Fourth Report cit 64 p XIII 106 J E Cairnes The Slave Power cit p 1101 m Horácio Sátiras I 1 N T 107 John Ward History of the Borough of StokeuponTrent etc Londres 1843 p 42 108 Discurso de Ferrand na House of Commons em 27 de abril de 1863 109 That the manufacturers would absorb it and use it up Those were the very words used by the cotton manufacturers Que os fabricantes os absorveriam e os consumiriam Essas foram as próprias palavras usadas pelos fabricantes discurso de Ferrand na House of Commons cit n Na Inglaterra instituições públicas onde crianças e adultos desamparados podiam viver e trabalhar N T 110 Discurso de Ferrand na House of Commons cit Villiers malgrado sua vontade estava legalmente obrigado a recusar as solicitações dos fabricantes mas os senhores alcançaram seu objetivo graças à condescendência dos Conselhos das Leis dos Pobres locais O sr A Redgrave inspetor de fábrica assegura que desta vez o sistema no qual crianças órfãs e pobres são consideradas legalmente apprentices aprendizes não está mais acompanhado dos velhos abusos sobre esses abusos cf F Engels A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit embora num caso tenha certamente ocorrido um abuso com esse sistema em relação ao número de meninas e moças que foram levadas dos distritos agrícolas escoceses para Lancashire e Cheshire Nesse sistema o fabricante firma um contrato com as autoridades das workhouses por períodos determinados Ele alimenta veste e aloja as crianças dando lhes também um pouco de dinheiro Soa estranha a afirmação do sr Redgrave principalmente quando se leva em conta que mesmo durante os anos de prosperidade da indústria inglesa de algodão o ano de 1860 foi um ano único e que além disso os salários estavam altos uma vez que a extraordinária demanda por trabalho se chocou com o despovoamento da Irlanda com uma emigração sem precedente dos distritos agrícolas ingleses e escoceses para a Austrália e a América com o encolhimento positivo da população em alguns distritos agrícolas ingleses em decorrência em parte da aniquilação bemsucedida das forças vitais em parte do esgotamento da população disponível pelos mercadores de carne humana E apesar de tudo diz o sr Redgrave Porém esse tipo de trabalho das crianças das workhouses só é buscado quando não se pode encontrar outro pois é um trabalho caro highpriced labour O salário normal para um jovem de 13 anos é de aproximadamente 4 xelins por semana mas alojar vestir e alimentar 50 ou 100 desses jovens garantindolhes assistência médica e supervisionandoos devidamente e ainda por cima ter de darlhes um pequeno adicional em dinheiro não é algo que se possa conseguir com 4 xelins por cabeça semanalmente Rep of the Insp of Factories for 30th April 1860 p 27 O sr Redgrave esquece de dizer como pode o próprio trabalhador prover tudo isso a seus filhos com seu salário de 4 xelins se o fabricante não pode fazêlo a 50 ou 100 jovens que são alojados nutridos e supervisionados coletivamente Para evitar que se tirem falsas conclusões do texto tenho de observar aqui que a indústria inglesa de algodão desde sua submissão à Factory Act de 1850 com sua regulamentação da jornada de trabalho etc tem de ser considerada a indústria modelo da Inglaterra O trabalhador algodoeiro inglês encontrase em todos os sentidos num patamar superior ao de seus companheiros de infortúnio no continente O operário fabril prussiano trabalha pelo menos 10 horas a mais por semana do que seu 645 rival inglês e quando trabalha em casa em seu próprio tear desaparece até mesmo esse limite a suas horas adicionais de trabalho Rep of the Insp of Factories for 30th April 1860 p 27 O supracitado inspetor de fábrica Redgrave viajou ao continente depois da exposição industrial de 1851 especialmente à França e à Prússia a fim de investigar as condições das fábricas nesses países Sobre o trabalhador de fábrica prussiano ele diz Ele recebe seu salário o bastante para lhe proporcionar uma alimentação simples e o pouco conforto a que está habituado e com o que se satisfaz Ele vive pior e trabalha mais duramente do que seu rival inglês Rep of Insp of Fact 31st Oct 1853 p 85 111 Os forçados ao sobretrabalho morrem com estranha rapidez mas os postos daqueles que perecem são imediatamente preenchidos e uma troca frequente de pessoas não provoca nenhuma alteração na cena E G Wakefield England and America Londres 1833 t I p 55 112 Ver Public Health Sixth Report of the Medical Officer of the Privy Council 1863 cit Esse relatório trata principalmente dos trabalhadores agrícolas Sutherland costuma ser descrito como um condado muito desenvolvido mas uma nova investigação revelou que mesmo lá em distritos outrora famosos por seus belos homens e corajosos soldados os habitantes degeneraram numa raça esquelética e retardada Nas condições mais saudáveis nas encostas à beiramar os rostos das crianças são tão magros e pálidos como só poderiam sêlo na atmosfera pestilenta de um beco londrino W T Thornton OverPopulation and its Remedy cit p 745 Eles lembram de fato os 30 mil gallant Highlanders galantes montanheses que se amontoam promiscuamente com prostitutas e ladrões nos wynds e closes becos e pátios de Glasgow o Citação modificada da frase Après nous le déluge Depois de nós o dilúvio que madame de Pompadour teria proferido em resposta à advertência feita por um membro da corte de que o esbanjamento da realeza teria como efeito um forte aumento da dívida pública francesa N E A MEW 113 Embora a saúde da população seja um elemento tão importante do capital nacional receamos ter de confessar que os capitalistas não se sentem de modo algum inclinados a conservar esse tesouro e darlhe o seu devido valor A consideração pela saúde dos trabalhadores foi imposta aos fabricantes Times 5 nov 1861 Os homens de West Riding tornaramse os produtores de tecido da humanidade a saúde do povo trabalhador foi sacrificada e em poucas gerações sua raça teria se degenerado porém ocorreu uma reação As horas do trabalho infantil foram limitadas etc TwentySecond Annual Report of the RegistrarGenerali 1861 p J W Goethe Suleika N E A MEW 114 Assim constatamos por exemplo que no início de 1863 26 firmas proprietárias de grandes olarias em Staffordshire entre elas J Wedgwood e Filhos assinam uma petição pela intervenção firme do Estado A concorrência com outros capitalistas não lhes permite estabelecer nenhuma limitação voluntária do tempo de trabalho das crianças etc Por mais que deploremos os males anteriormente mencionados seria impossível evitálos mediante qualquer tipo de acordo entre os fabricantes Considerando todos esses pontos formamos a convicção de que se faz necessária uma lei coercitiva Childrens Emp Comm Rep 1 1863 p 322 Adendo à nota 114 Um exemplo muito mais significativo ofereceunos o passado recente A alta dos preços do algodão numa época de atividade econômica febril induziu os proprietários de tecelagens de algodão em Blackburn a diminuir por consenso mútuo o tempo de trabalho em suas fábricas durante determinado período Esse período acabou no final de novembro de 1871 Enquanto isso os fabricantes mais ricos que combinam a fiação com a tecelagem usaram a diminuição da produção resultante desse acordo para expandir seu próprio negócio e assim obter grandes lucros à custa dos pequenos mestres Estes se viram então na necessidade de se dirigir aos trabalhadores fabris convocando os a tomar parte seriamente nos protestos pelo sistema de 9 horas e prometendolhes contribuições em dinheiro para essa finalidade 115 Esses estatutos do trabalho que também se encontram ao mesmo tempo na França nos Países Baixos etc só foram formalmente abolidos em 1813 muito tempo depois que as mudanças nas relações de produção os haviam tornado obsoletos 116 No child under the age of 12 years shall be employed in any manufacturing establishment more than 10 hours in one day Nenhuma criança menor de 12 anos pode ser empregada em nenhum estabelecimento fabril por mais de 10 horas diárias General Statutes of Massachusetts seção 3 c 60 Os estatutos foram aprovados entre 1836 e 1858 Labour performed during a period of 10 hours on any day in all cotton woollen silk paper glass and flax factories or in manufactories of iron and brass shall be considered a legal days labour And be it enacted that hereafter no minor engaged in any factory shall be holden or required to work more than 10 hours in any day or 60 hours in any week and that thereafter no minor shall be admitted as a worker under the age of 10 years in any factory within this state O trabalho realizado num período de 10 horas diárias em toda fábrica de algodão lã seda papel vidro e linho ou em 646 manufaturas de ferro e bronze deve ser considerado um dia de trabalho legal Além disso fica legalmente estabelecido que de ora em diante nenhum menor de idade empregado em qualquer fábrica pode ser solicitado ou obrigado a trabalhar mais do que 10 horas diárias ou 60 horas semanais e que nenhum menor de 10 anos pode ser admitido como trabalhador numa fábrica situada no território deste Estado State of New Jersey An Act to Limit the Hours of Labours etc 1 e 2 lei de 18 de março de 1851 No minor who has attained the age of 12 years and is under the age of 15 years shall be employed in any manufacturing establishment more than 11 hours in any one day nor before 5 oclock in the morning nor after 7½ in the evening Nenhum menor de idade entre 12 e 15 anos pode trabalhar em nenhuma fábrica por mais de 11 horas diárias ou antes das 5 da manhã e depois das 7½ da noite Revised Statutes of the State of Rhode Island etc c 129 23 1º jul 1857 q Epidemia que assolou a Europa ocidental entre 1347 e 1350 e deixou 25 milhões de mortos isto é ¼ da população europeia de então N E A MEW 117 J B Byles Sophism of Free Trade 7 ed Londres 1850 p 205 O mesmo tory ainda admite Leis parlamentares que regulavam os salários porém contra os trabalhadores e a favor dos empregadores duraram pelo longo período de 464 anos A população aumentou Essas leis se tornaram então supérfluas e inconvenientes ibidem p 206 118 Em relação a esse estatuto J Wade observa corretamente Do estatuto de 1846 depreendese que a alimentação era considerada como o equivalente a 13do ganho de um artesão e metade do ganho de um trabalhador agrícola e isso mostra um grau maior de independência entre os trabalhadores do que o que existe atualmente quando a alimentação dos trabalhadores na agricultura e manufatura corresponde a uma porção muito maior dos seus salários do que anteriormente J Wade History of the Middle and Working Classes cit p 25 A opinião de que essa diferença é devida à diferença na relação de preço entre os alimentos e as peças de vestuário agora e anteriormente é refutada pela leitura mais superficial de Chronicon Preciosum etc do bispo Fleetwood 1 ed Londres 1707 2 ed Londres 1745 119 W Petty Political Anatomy of Ireland 1672 cit p 10 120 A Discourse on the Necessity of Encouraging Mechanick Industry Londres 1690 p 13 Macaulay que falsificou a história inglesa em nome dos interesses dos whigs e da burguesia declama da seguinte maneira A prática de pôr as crianças a trabalhar prematuramente predominou no século XVII num grau quase inacreditável para o estado da indústria à época Em Norwich o centro da indústria da lã uma criança de 6 anos foi considerada apta para o trabalho Diversos escritores daquela época muitos deles considerados como extremamente benevolentes mencionam com exultation exultação o fato de que nessa cidade meninos e meninas criam uma riqueza que ultrapassa o necessário para sua subsistência em 12000 por ano Quanto mais investigamos a história do passado tanto mais razões encontramos para rejeitar a visão daqueles que consideram nossa época como fértil em novos males sociais O que é novo é a inteligência que descobre os males e a humanidade que os remedia History of England v I p 417 Macaulay poderia ter continuado a relatar que os extremamente benevolentes amis du commerce amigos do comércio contam com exultation como numa workhouse na Holanda uma criança de 4 anos foi empregada e que tais exemplos de vertue mise en pratique virtudes postas em prática podem ser encontrados em todos os escritos de humanistas à la Macaulay até a época de A Smith É verdade que com a substituição do artesanato Handwerk pela manufatura começam a aparecer as marcas da exploração infantil que sempre existiu até certo grau entre os camponeses sendo tanto mais desenvolvida quanto mais pesado o jugo sobre o senhor A tendência do capital é incontestável mas os próprios fatos continuam a ser tão isolados quanto a aparição de crianças de duas cabeças Por isso eles foram notados com exultation pelos visionários amis du commerce como fatos especialmente notáveis e admiráveis e recomendados como modelos para seu próprio tempo e para a posteridade O mesmo sicofanta e empolado Macaulay diz Hoje só se escuta falar de retrocesso e vemos apenas progresso Que olhos E principalmente que ouvidos 121 Entre os acusadores dos trabalhadores o mais irado é o autor anônimo citado no texto de An Essay on Trade and Commerce cit Ele já tratara dessa questão anteriormente em sua obra Consideration on Taxes Londres 1765 Também Polonius Arthur Young o inefável falastrão estatístico segue a mesma linha Entre os defensores dos trabalhadores encontramse na linha de frente Money Answers All Things Londres 1734 de Jacob Vanderlint An Enquiry into the Causes of the Present High Price of Provisions Londres 1767 do Rev Nathaniel Forster e o dr Price e especialmente Postlethwayt tanto num suplemento a seu Universal Dictionary of Trade and Commerce quanto em GreatBritains Commercial Interest Explained and Improved 2 ed Londres 1759 Os próprios fatos são confirmados por muitos outros escritores da época dentre os quais Josiah Tucker 647 122 Postlethwayt First Preliminary Discourse em GreatBritains Commercial Interest Explained and Improved cit p 14 123 An Essay etc Ele próprio relata na p 96 em que consistia já em 1770 a felicidade dos trabalhadores agrícolas ingleses Suas forças de trabalho their working powers estão sempre tencionadas ao máximo on the stretch eles não podem viver pior do que o fazem they cannot live cheaper than they do nem trabalhar mais duro nor work harder 124 O protestantismo já em sua transformação de quase todos os feriados tradicionais em dias de trabalho desempenha um papel importante na gênese do capital 125 An Essay etc cit p 41 15 967 557 126 Em 1734 Jacob Vanderlint já declarava que o segredo das queixas dos capitalistas sobre a preguiça do povo trabalhador estava no fato de que eles exigiam pelo mesmo salário 6 jornadas de trabalho em vez de 4 127 An Essay etc cit p 2423 Such ideal workhouse must be made a House of Terror and not an asylum for the poor where they are to be plentifully fed warmly and decently clothed and where they do but little work Tal workhouse ideal deve ser transformada numa Casa do Terror e não num asilo para os pobres onde eles sejam fartamente alimentados confortável e decentemente vestidos e trabalhem pouco 128 In this ideal workhouse the poor shall work 14 hours in a day allowing proper time for meals in such manner that there shall remain 12 hour of neat labour ibidem p 260 Os franceses diz ele riemse de nossas entusiásticas ideias de liberdade ibidem p 78 r Nas primeira e segunda edições povo trabalhador N E A MEW 129 Eles se recusavam especialmente a trabalhar mais de 12 horas diárias porque a lei que fixara essa jornada de trabalho é o único bem que lhes restou da legislação da República Rep of Insp of Fact 31st Octob 1855 p 80 A lei francesa das 12 horas de 5 de setembro de 1850 uma edição burguesa do decreto do Governo Provisório de 2 de março de 1848 estendese a todos os ateliês sem exceção Antes dessa lei a jornada de trabalho na França era ilimitada Ela durava nas fábricas 14 15 ou mais horas Ver Des classes ouvrières en France pendant lannée 1848 Par M Blanqui O sr Blanqui o economista não o revolucionário fora encarregado pelo governo de um estudo sobre as condições dos trabalhadores 130 A Bélgica é o Estado burguês modelar também no que concerne à regulação da jornada de trabalho Lord Howard de Walden plenipotenciário inglês em Bruxelas relata ao Foreign Office Ministério das Relações Exteriores em 12 de maio de 1862 O ministro Rogier informoume que nenhuma lei geral nem regulações locais limitam de nenhuma forma o trabalho infantil que o governo durante os últimos três anos tentou a cada seção propor uma lei sobre o assunto mas encontrou sempre um insuperável obstáculo no temor ciumento diante de qualquer legislação em contradição com o princípio da plena liberdade de trabalho 131 É certamente muito lamentável que uma classe qualquer de pessoas tenha de esfalfarse diariamente por 12 horas Se a esse tempo acrescentamos os horários das refeições e o tempo para ir à fábrica e voltar ele soma na verdade 14 das 24 horas do dia Abstraindo da saúde ninguém hesitará assim espero em admitir que do ponto de vista moral uma tão completa absorção do tempo das classes trabalhadoras sem interrupções desde a tenra idade de 13 anos e nos ramos industriais livres ainda mais prematuramente é extremamente prejudicial e um mal terrível No interesse da moral pública para a formação de uma população capaz e para proporcionar à grande massa do povo uma fruição racional da vida é necessário estabelecer obrigatoriamente que em todos os ramos de negócio uma parte de cada jornada de trabalho seja reservada para o descanso e o lazer Leonard Horner em Reports of Insp of Fact 31st Dec 1841 132 Ver Judgment of Mr J H Otway Belfast Hilary Sessions County Antrim 1860 133 É muito característico do regime de Luís Filipe o rei burguês que a única lei fabril aprovada durante seu reino em 22 de março de 1841 jamais tenha sido implementada e essa lei trata unicamente do trabalho infantil Ela estabelece uma jornada de trabalho de 8 horas para crianças entre 8 e 12 anos 12 horas para crianças entre 12 e 16 anos etc com muitas exceções que permitem o trabalho noturno até mesmo para crianças de 8 anos Num país onde qualquer rato está sob administração policial a supervisão e a coerção na implementação dessa lei foram deixadas à vontade dos amis du commerce Apenas desde 1853 num único departamento o Département du Nord foi nomeado um inspetor governamental pago Não menos característico do desenvolvimento da sociedade francesa em geral é o fato de a lei de Luís Filipe ter permanecido até a Revolução de 1848 como um produto solitário da fábrica francesa de leis que abarca tudo 134 Rep of Insp of Fact 30th April 1860 p 50 648 s Referência à obra do historiador romano Tito Lívio Ab urbe condita livro 38 c 25 verso 13 N E A MEW 135 Legislation is equally necessary for the prevention of death in any form in which it can be prematurely inflicted and certainly this must be viewed as a most cruel mode of inflicting it Factories Inquiry Commission First Report of the Central Board of His Majestys Commissioners Ordered by the House of Commons to be printed 28 June 1833 p 53 N E A MEW t Juggernaut Dschagannat uma das formas do deus Vishnu O culto de Jagrená se caracterizava por um elevado grau de fanatismo religioso incluindo rituais de autoflagelação e autossacrifício extremos Em certos dias festivos os fiéis se jogavam sob as rodas de um carro o carro de Jagrená sobre o qual se encontrava uma figura de Vishnu Dschagannat N E A MEW 136 Rep of Insp of Fact 31st October 1848 p 98 u Documento que continha as exigências dos cartistas publicado a 8 de maio de 1838 como projeto de lei a ser apresentado ao Parlamento As exigências eram 1 sufrágio universal para homens acima de 21 anos 2 eleições parlamentares anuais 3 voto secreto 4 proporcionalidade entre os distritos eleitorais 5 abolição do censo de patrimônio para os candidatos às eleições parlamentares 6 remuneração para os membros do Parlamento N E A MEW v Os partidários da Liga Contra a Lei dos Cereais ver nota g na p 86 tentaram convencer os trabalhadores de que a introdução do livrecâmbio aumentaria seus salários reais e duplicaria o tamanho do pão big loaf N E A MEW 137 Rep of Insp of Fact 31st October 1848 p 98 138 Leonard Horner usa a expressão nefarious practices em seus relatórios oficiais Reports of Insp of Fact 31st October 1859 p 7 139 Rep etc for 30th Sept 1844 p 15 140 A lei permite empregar crianças por 10 horas se elas não trabalharem um dia após o outro mas em dias alternados No geral essa cláusula permaneceu sem efeito 141 As a reduction in their hours of work would cause a large number to be employed it was thought that the additional supply of children from eight to nine years of age would meet the increased demand Como uma redução em suas horas de trabalho faria com que um número maior de crianças fosse empregado pensouse que o fornecimento adicional de crianças de oito a nove anos de idade atenderia à demanda aumentada Rep etc for 30th Sept 1844 p 13 142 Rep of Insp of Fact 31st Oct 1848 p 16 143 Verifiquei que pessoas que ganhavam 10 xelins por semana mesmo tendo sofrido uma perda de 1 xelim por conta da redução geral dos salários em 10 e de 1 xelim e 6 pence por conta da diminuição do tempo de trabalho o que dá um total de 2 xelins e 6 pence mantiveramse firmemente a favor da Lei das 10 Horas idem 144 Quando assinei a petição afirmei imediatamente que estava fazendo algo errado Então por que a assinaste Porque se recusasse teriam me posto na rua O peticionário sentiase de fato oprimido mas não exatamente pela lei fabril ibidem p 102 x Assim eram chamados durante a Revolução Francesa os representantes da Convenção Nacional que investidos de poderes especiais atuavam nos departamentos e nas fileiras militares N E A MEW 145 Rep of Insp of Fact 31st Oct 1848 p 17 No distrito do sr Horner foram ouvidos 10270 trabalhadores masculinos adultos em 181 fábricas Suas declarações podem ser encontradas no apêndice do relatório de fábrica do semestre com fim em outubro de 1848 Esses testemunhos também oferecem um valioso material em outros aspectos 146 Idem Ver as declarações colhidas pelo próprio Leonard Horner n 69 70 71 72 92 93 e as colhidas pelo subinspetor A n 51 52 58 59 62 70 do apêndice Até mesmo um fabricante confessou a verdade Ver n 14 e 265 cit w Leis sobre medidas para a segurança geral aprovadas pelo Corps Législativ a 19 de fevereiro de 1858 A lei conferia ao imperador e seu governo o direito irrestrito de deter qualquer pessoa suspeita de ter uma postura hostil ao Segundo Império podendo mantêla na prisão por tempo indeterminado banila para a Argélia ou expulsála do território francês N E A MEW 147 Reports etc for 31st October 1848 cit p 1334 649 148 Reports etc for 30th April 1848 cit p 47 149 Ibidem p 130 150 Ibidem p 142 y William Shakespeare O mercador de Veneza trad Carlos Alberto Nunes Rio de Janeiro Ediouro 2005 ato IV cena 1 N T 151 Reports etc for 31st Oct 1850 cit p 56 z William Shakespeare O mercador de Veneza cit ato IV cena 1 N T 152 A natureza do capital permanece a mesma tanto em sua forma não desenvolvida como em sua forma desenvolvida No código legal que a influência dos escravocratas impôs ao território do Novo México pouco antes da deflagração da Guerra Civil Americana dizse que o trabalhador na medida em que o capitalista comprou sua força de trabalho é seu do capitalista dinheiro The labourer is his the capitalists money A mesma visão era corrente entre os patrícios romanos o dinheiro que eles adiantavam aos devedores plebeus havia se transformado por intermédio de seus meios de subsistência na carne e no sangue do devedor Essa carne e sangue eram assim seu dinheiro Disso decorre a lei shylockiana das dez tábuas A hipótese de Linguet de que os credores patrícios realizavam de tempos em tempos do outro lado do Tibre banquetes com a carne cozida dos devedores permanece tão incerta quanto a hipótese de Daumer sobre a eucaristia cristã 1 Lei shylockiana das dez tábuas referência à lei romana das doze tábuas que protegia a propriedade privada e punia os devedores insolventes com prisão escravidão ou esquartejamento Essa lei serviu de ponto de partida para o direito romano 2 A hipótese do historiador francês Linguet é exposta em seu trabalho Thèorie des lois civiles ou principes fondamentaux de la société Londres 1767 v 2 livro 5 c 20 3 Daumer em sua obra Geheimnisse des christlichen Altertums defende a hipótese de que os primeiros cristãos comiam carne humana na eucaristia N E A MEW 153 Reports etc for 31st Oct 1848 cit p 133 154 Assim escreve entre outros o filantropo Aschworth a Leonard Horner numa repugnante carta em estilo quacre Rep Apr 1849 cit p 4 155 Reports etc for 31st Oct 1848 cit p 138 156 Ibidem p 140 157 Esses county magistrates os great unpaid grandes não remunerados como W Cobbett os chama são uma espécie de juízes de paz não remunerados escolhidos entre os honoráveis dos condados Eles formam de fato as cortes patrimoniais das classes dominantes 158 Reports etc for 30th April 1849 p 212 Cf exemplos semelhantes ibidem p 45 159 Pelos artigos 1 e 2 de Guilherme IV c 29 p 10 conhecido como Lei fabril de sir John Hobhouse fica proibido que qualquer proprietário de fiação ou tecelagem de algodão ou pai filho e irmão de um tal dono atuem como juiz de paz em questões relacionadas à lei fabril 160 Reports etc for 30th April 1849 p 22 161 Ibidem p 5 162 Rep etc for 31st Oct 1849 p 6 163 Rep etc for 30th April 1849 p 21 164 Rep etc for 31st Oct 1848 p 95 aa Fourier criou a imagem de uma sociedade futura na qual o homem poderia desempenhar diversas atividades durante uma jornada de trabalho pois esta seria dividida em courtes séances de no máximo 2 horas Com isso segundo ele a produtividade do trabalho aumentaria ao ponto de que o mais pobre trabalhador teria suas necessidades satisfeitas na mesma medida que qualquer capitalista em épocas anteriores N E A MEW 165 Ver Reports etc for 30th April 1849 p 6 e a discussão pormenorizada do shifting system sistema de turnos pelos inspetores de fábrica Howell e Saunders em Reports etc for 31st Oct 1848 Ver também a petição do clero de Ashton e arredores primavera de 1849 à rainha contra o shift system 166 Cf por exemplo R H Greg The Factory Question and the Ten Hours Bill 1837 167 F Engels Die englische Zehnstundenbill Lei das 10 Horas inglesa na revista por mim editada Neuen Rh Zeitung Politischökonomische Revue Nova Gazeta Renana Revista de Economia Política abr 1850 p 13 A mesma 650 alta corte também descobriu durante a guerra civil americana uma ambiguidade verbal que transformava a lei contra o armamento de navios piratas em seu exato oposto 168 Rep etc for 30th April 1850 169 Podendo ser substituído no inverno pelo período de 7 horas da manhã às 7 da noite 170 The present law was a compromise whereby the employed surrendered the benefit of the Ten Hours Act for the advantage of one uniform period for the commencement and termination of the labour of those whose labour is restricted A lei atual de 1850 foi um compromisso no qual os trabalhadores abriram mão dos benefícios da Lei das 10 Horas em troca da vantagem de uma uniformidade de início e término do trabalho daqueles cujo tempo de trabalho encontrase submetido à limitação Reports etc for 30th April 1852 p 14 171 Reports etc for 30th Sept 1844 p 13 172 Idem 173 The delicate texture of the fabric in which they were employed requiring a lightness of touch only to be acquired by their early introduction to these factories Rep etc for 31st Oct 1846 p 20 174 Reports etc for 31st Oct 1861 p 26 175 Ibidem p 27 Em geral a população trabalhadora submetida à lei fabril melhorou muito fisicamente Todos os testemunhos médicos concordam a esse respeito e minha observação pessoal em diferentes períodos convenceume disso No entanto e abstraindo da enorme taxa de mortalidade infantil nos primeiros anos de vida os relatórios oficiais do dr Greenhow mostram as desfavoráveis condições de saúde nos distritos fabris quando comparados com os distritos agrícolas de saúde normal Como prova entre outras apresentamos a seguinte tabela de seu relatório de 1861 Porcentagem dos homens adultos ocupados na indústria Taxa de mortalidade por doenças pulmonares por 100 mil homens Nome do distrito Taxa de mortalidade por doenças pulmonares por 100 mil mulheres Porcentagem de mulheres adultas empregadas na indústria Tipo de ocupação das mulheres 149 598 Wigan 644 18 Algodão 426 708 Blackburn 734 349 Algodão 373 547 Halifax 564 204 Fiação 419 611 Bradford 603 30 Fiação 31 691 Macclesfield 804 26 Seda 149 588 Leek 705 172 Seda 366 721 Stokeupon Trent 665 193 Cerâmica 304 726 Woolstanton 727 139 Cerâmica 305 Oito distritos agrícolas saudáveis 340 176 Sabese com que relutância os livrecambistas ingleses abriram mão da proteção alfandegária para a manufatura de seda Em vez da proteção contra a importação francesa eles se servem agora da falta de proteção das crianças de fábrica inglesas 177 Reports etc for 30th April 1853 p 30 178 Durante os anos de 1859 e 1860 o zênite da indústria do algodão alguns fabricantes tentaram por meio da isca de salários maiores por horas extras fazer com que os fiandeiros adultos etc aceitassem o prolongamento da jornada de trabalho Os handmule spinners fiandeiros manuais e os selfactor minders operadores de máquinas 651 automáticas de fiar puseram um fim no experimento mediante uma petição a seus empregadores onde se lia entre outras coisas Para falar francamente nossa vida é um fardo para nós e enquanto ficamos encerrados na fábrica por quase 2 dias a mais na semana 20 horas do que os outros trabalhadores sentimonos como hilotas no campo e nos censuramos por eternizar um sistema que prejudica física e moralmente a nós mesmos e a nossos descendentes Com isso informamoslhe respeitosamente que a partir do anonovo não trabalharemos nem um minuto além das 60 horas semanais de 6 horas da manhã às 6 da tarde com o desconto das pausas legais de 1 hora e meia Reports etc for 30th pril 1860 p 30 179 Sobre os meios que a redação dessa lei oferece para sua violação cf o Parliamentary Return Factories Regulation Acts 9 ago 1859 e nele Suggestions for Amending the Factory Acts to Enable the Inspectors to Prevent Illegal Working Now Become Very Prevalent de Leonard Horner 180 Crianças de 8 anos e maiores que isso foram de fato esfalfadas em meu distrito durante o último semestre 1857 das 6 horas da manhã às 9 da noite Reports etc for 31st Oct 1857 p 39 181 The Printworks Act is admitted to be a failure both with reference to its educational and protective provisions A lei sobre as estamparias é confessadamente um fracasso no que diz respeito às suas disposições tanto educacionais quanto protetoras Reports etc for 31st Oct 1862 p 52 182 Assim por exemplo escreve E Potter numa carta ao Times de 24 de março de 1863 O Times lembroulhe das revoltas dos fabricantes contra a Lei das 10 Horas 183 Assim entre outros o sr W Newmarch colaborador e editor de History of Prices de Tooke Podese chamar de avanço científico fazer concessões covardes à opinião pública 184 A lei sobre branquearias e tinturarias aprovada em 1860 determinava que a jornada de trabalho deveria ser fixada provisoriamente em 1º de agosto de 1861 em 12 horas e em 1º de agosto de 1862 reduzida definitivamente em 10 horas isto é 10 horas e meia para dias úteis e 7 horas e meia para os sábados Mas quando chegou o ano fatal de 1862 a velha farsa se repetiu Os senhores fabricantes peticionaram ao Parlamento que fosse permitido por mais um ano o emprego de jovens e mulheres em jornadas de 12 horas Dada a atual situação do negócio na época da carestia de algodão seria uma grande vantagem para o trabalhador se lhe fosse permitido trabalhar 12 horas diárias e granjear um salário tão grande quanto possível Já se conseguira apresentar um projeto nesse sentido na Câmara Baixa Ele caiu diante da agitação dos trabalhadores nas branquearias da Escócia Reports etc for 31st Oct 1862 p 145 Derrotado pelos próprios trabalhadores em cujo nome ele pretendia falar o capital descobriu então com ajuda de óculos jurídicos que a lei de 1860 assim como todas as leis parlamentares para a proteção do trabalho por estar redigida numa linguagem ambígua e retorcida fornecia um pretexto para excluir de sua aplicação os calenderers e os finishers calandreiros e rematadores A jurisdição inglesa sempre uma serva fiel do capital sancionou a rabulice por meio da corte dos Common Pleas Corte de Justiça Civil Provocou grande insatisfação entre os trabalhadores e é muito lamentável que a clara intenção da legislação tenha fracassado sob o pretexto de uma definição defeituosa das palavras ibidem p 18 185 As branquearias ao ar livre haviam escapado da lei de 1860 sobre as branquearias lançando mão da mentira de que não empregavam mulheres no turno da noite A mentira foi exposta pelos inspetores de fábrica mas ao mesmo tempo o Parlamento por meio de petições dos trabalhadores teve roubada a imagem que ele fazia dessas branquearias ao ar livre como frescos prados perfumados Nessas branquearias são utilizadas câmaras de secagem com temperaturas de 90 até 100 graus Fahrenheit onde trabalham principalmente moças Cooling resfriamento é a expressão técnica para as ocasionais escapadas dos trabalhadores de dentro das câmaras de secagem para respirar ar fresco Quinze moças nas câmaras de secagem Calor de 80 a 90 graus para o linho de 100 graus ou mais para a cambrics cambraia Doze moças passam e estendem as cambrics etc numa pequena câmara de cerca de 10 pés quadrados e no meio há um forno inteiramente fechado As moças estão em pé em torno do fogão que irradia um calor terrível e seca rapidamente as cambrics para as passadeiras O número de horas para essa mão de obra é ilimitado Quando há muito movimento elas trabalham até 9 ou 12 horas da noite por muitos dias consecutivos Reports etc for 31st Oct 1862 p 56 Um médico declara para o resfriamento não são permitidas horas especiais mas se a temperatura tornase insuportável ou se as mãos das trabalhadoras se encharcam de suor élhes permitido retirarse por alguns minutos Minha experiência no tratamento das doenças dessas trabalhadoras me obriga a constatar que seu estado de saúde encontrase muito abaixo do das fiandeiras de algodão e o capital em suas petições ao Parlamento as havia pintado com excesso de saúde à maneira de Rubens Suas doenças mais frequentes são a tísica a bronquite as doenças uterinas a histeria em sua forma mais horrenda e o reumatismo Todas elas são causadas creio eu direta ou indiretamente pelo ar superaquecido de suas câmaras de trabalho e pela falta de roupas suficientemente confortáveis para protegêlas ao voltarem para casa da atmosfera úmida e fria nos meses de 652 inverno ibidem p 567 Sobre a lei de 1863 que foi arrancada desses joviais branqueadores ao ar livre observam os inspetores de fábrica Essa lei não apenas fracassou em oferecer aos trabalhadores a proteção que ela aparentava lhes oferecer ela está formulada de tal modo que a proteção só ocorre quando crianças e mulheres são flagradas trabalhando após as 8 horas da noite e mesmo assim o método de prova é tão abstruso que dificilmente pode resultar em alguma punição ibidem p 52 Como uma lei com propósitos humanitários e educativos ela fracassou inteiramente Dificilmente se pode chamar de humanitário permitir ou o que vem a ser o mesmo obrigar que mulheres e crianças trabalhem 14 horas diariamente com ou sem horários de refeições conforme o caso e talvez ainda por mais tempo sem limite de idade sem diferença de sexo e sem consideração dos hábitos sociais das famílias da localidade onde se situam as oficinas de branqueamento Reports etc for 30th April 1863 p 40 185a Nota à segunda edição Desde 1866 quando escrevi essa passagem voltou a ocorrer uma reação 186 The conduct of each of these classes has been the result of the relative situation in which they have been placed A conduta de cada uma dessas classes capitalistas e trabalhadores tem sido o resultado da situação relativa em que elas têm sido postas Reports etc for 31st Oct 1848 p 113 187 The employments placed under restriction were connected with the manufacture of textile fabrics by the aid of steam or water power There were two conditions to which an employment must be subject to cause it to be inspected viz the use of steam or water power and the manufacture of certain specified fibres As ocupações postas sob restrição estavam conectadas à manufatura de produtos têxteis com ajuda do vapor ou da força hidráulica Uma ocupação laboral tinha de preencher duas condições para estar sujeita à inspeção fabril a saber a aplicação do vapor ou da força hidráulica e a manufatura de certas fibras específicas Reports etc for 31st October 1864 p 8 188 Sobre a situação dessa assim chamada indústria doméstica materiais extremamente valiosos podem ser encontrados nos últimos relatórios da Childrens Employment Commision 189 The Acts of last Session embrace a diversity of occupations the customs in which differ greatly and the use of mechanical power to give motion to machinery is no longer one of the elements necessary as formerly to constitute in legal phrase a Factory As leis da última sessão legislativa 1864 abrangem uma diversidade de ocupações cujos costumes diferem enormemente e o uso de força mecânica para movimentar a maquinaria deixou de ser um dos elementos necessários para constituir uma fábrica em sentido legal ibidem p 8 190 Tampouco a Bélgica o paraíso do liberalismo continental mostra qualquer marca desse movimento Mesmo em suas minas de carvão e de metal os trabalhadores de ambos os sexos e de todas as idades são consumidos com plena liberdade por qualquer duração e período de tempo Para cada 1000 pessoas ali empregadas há 733 homens 88 mulheres 135 rapazes e 44 moças menores de 16 anos nos altosfornos etc há para cada 1000 trabalhadores 668 homens 149 mulheres 98 rapazes e 85 moças menores de 16 anos A isso se acrescenta ainda o baixo salário para a enorme exploração de forças de trabalho mais ou menos maduras numa média diária de 2 xelins e 8 pence para os homens 1 xelim e 8 pence para as mulheres e 1 xelim e 2½ pence para os jovens Como resultado disso em 1863 a Bélgica quase duplicou em comparação com 1850 a quantidade e o valor de suas exportações de carvão ferro etc 191 Quando Robert Owen pouco depois da primeira década de nosso século não apenas defendeu teoricamente a necessidade de uma limitação da jornada de trabalho mas introduziu a jornada de 10 horas em sua fábrica em New Lanark o fato foi ridicularizado como uma utopia comunista do mesmo modo como sua combinação do trabalho produtivo com a educação das crianças e as cooperativas de trabalhadores por ele fundadas Hoje a primeira utopia é lei fabril a segunda figura como texto oficial em todas as leis fabris e a terceira já é usada até mesmo como disfarce para imposturas reacionárias 192 A Ure Philosophie des manufactures Paris 1836 t II p 3940 67 77 193 No compte rendu relatório do Congresso Internacional de Estatística em Paris 1855 lêse entre outras coisas A lei francesa que limita em 12 horas a duração do trabalho diário nas fábricas e oficinas não restringe esse trabalho a determinadas horas fixas períodos de tempo pois apenas para o trabalho infantil é prescrito o horário de trabalho entre 5 horas da manhã e 9 da noite Desse modo uma parte dos fabricantes dispõe do direito que esse silêncio fatal lhes confere de fazer seus trabalhadores trabalhar todos os dias sem interrupção talvez com exceção dos domingos Eles empregam para isso duas turmas de trabalhadores das quais nenhuma trabalha mais do que 12 horas nas oficinas porém o trabalho é executado dia e noite no estabelecimento A lei está cumprida mas também o está do mesmo modo a humanidade Além da influência destruidora do trabalho noturno sobre o organismo humano também é ressaltada a influência fatal da associação noturna de ambos os sexos nas oficinas mal iluminadas 194 Por exemplo em meu distrito no mesmo estabelecimento fabril o mesmo fabricante é branqueador e tintureiro 653 sob a Lei das Branquearias e Tinturarias estampador sob a Printworks Act e rematador sob a Lei Fabril Report of Mr Baker em Reports etc 31st Oct 1861 p 20 Depois da enumeração das diferentes disposições dessas leis e da complicação que delas se segue diz o sr Baker Vêse o quão difícil é garantir o cumprimento dessas três leis parlamentares quando o proprietário de fábrica costuma burlálas ibidem p 21 Com isso o que se garante são processos aos senhores juristas 195 Assim os inspetores de fábrica ganham coragem finalmente para dizer Essas objeções do capital contra a limitação legal do tempo de trabalho têm de sucumbir diante do grande princípio dos direitos trabalhistas chega um momento em que cessa o direito do empregador sobre o trabalho de seu trabalhador e este último pode dispor de seu tempo mesmo que ainda não esteja exausto Reports etc for 31st Oct 1862 p 54 ab O Congresso Geral da Congregação Americana de Trabalhadores foi realizado em Baltimore entre 20 e 25 de agosto de 1866 Dele participaram 60 delegados que representavam mais de 60 mil trabalhadores O congresso tratou das seguintes questões introdução legislativa da jornada de trabalho de 8 horas atividade política dos trabalhadores sociedades cooperativas sindicalização de todos os trabalhadores entre outras Além disso decidiuse pela criação da National Labor Union uma organização política da classe trabalhadora N E A MEW 196 Nós os trabalhadores de Dunquerque declaramos que a duração do tempo de trabalho exigida sob o atual sistema é muito longa e não deixa ao trabalhador nenhum tempo para sua recuperação e desenvolvimento antes rebaixandoo a uma condição de servidão que é pouco melhor do que a escravidão a condition of servitude but little better than slavery Por essa razão decidimos que 8 horas é o tempo suficiente para uma jornada de trabalho e deve ser reconhecido legalmente como suficiente que invocamos em nosso apoio a imprensa essa poderosa alavanca e que consideramos todos os que recusam esse apoio como inimigos da reforma trabalhista e dos direitos dos trabalhadores Resolução dos trabalhadores de Dunquerque Nova York 1866 197 Reports etc for 31st Oct 1848 p 112 198 These proceedings have afforded moreover incontrovertible proof of the fallacy of the assertion so often advanced that operatives need no protection but may be considered as free agents in the disposal of the only property they possess the labour of their hands and the sweat of their brows Esses procedimentos as manobras do capital por exemplo no período de 18481850 forneceram além disso uma prova incontroversa da falácia da afirmação feita com tanta frequência de que os operários não necessitam de proteção alguma mas podem ser considerados agentes livres para dispor da única propriedade que possuem o trabalho de suas mãos e o suor de seus rostos Reports etc for 30th April 1850 p 45 Free labour if so it may be termed even in a free country requires the strong arm of the law to protect it O trabalho livre se assim ele pode ser chamado requer mesmo num país livre o braço forte da lei para protegêlo Reports etc for 31st Oct 1864 p 34 To permit which is tantamount to compelling to work 14 hours a day with or without meals etc Permitir o que significa o mesmo que forçar trabalhar 14 horas diárias com ou sem refeições etc Reports etc for 30th April 1863 p 40 199 F Engels Die englische Zehnstundenbill Lei das 10 Horas inglesa cit p 5 ac Do poema Heinrich de Heinrich Heine Du mein liebes treues Deutschland Du wirst auch den Mann gebären Der die Schlange meiner Qualen Niederschmettert mit der Streitaxt Tu Alemanha amada e fiel Darás à luz também o homem Que abaterá a machadadas A serpente de minhas aflições N T 200 A Lei das 10 Horas em todos os ramos da indústria a ela submetidos tem salvado os trabalhadores da total degeneração e protegido sua condição física Reports etc for 31st Oct 1859 p 47 O capital nas fábricas jamais pode manter a maquinaria em movimento além de um período limitado sem prejudicar a saúde e a moral dos trabalhadores empregados e estes não se encontram numa situação em que possam proteger a si mesmos ibidem p 8 ad Magna Charta Libertatum documento imposto ao rei inglês João I chamado sem terra pelos grandes senhores feudais barões e príncipes eclesiásticos apoiados pela nobreza rural e pelas municipalidades A Charta assinada em 15 de junho de 1215 limitava o poder do rei principalmente em favor dos senhores feudais e fazia várias concessões à nobreza rural à massa da população os camponeses servos a Charta não concedia qualquer direito Marx referese aqui à lei para a limitação da jornada de trabalho pela qual a classe trabalhadora inglesa tivera de travar uma longa e persistente luta N E A MEW 201 A still greater boon is the distinction at last made clear between the workers own time and his masters The worker knows now when that which he sells is ended and when his own begins and by possessing a sure foreknowledge of this is enabled to prearrange his own minutes for his own purposes Uma vantagem ainda maior é a distinção que enfim se torna clara entre o tempo do próprio trabalhador e o de seu empregador O trabalhador sabe agora quando está 654 terminado o tempo que ele vendeu e quando começa seu próprio tempo e porque possui uma previsão certa disso ele pode projetar seus próprios minutos para seus propósitos Magna Charta Libertatum p 52 By making them masters of their own time they have given them a moral energy which is directing them to the eventual possession of political power Ao tornálos senhores de seu próprio tempo elas as leis fabris deramlhe a energia moral que os direciona à posse eventual do poder político ibidem p 47 Com ironia contida e expressões muito cuidadosas os inspetores de fábrica insinuam que a atual Lei das 10 Horas também liberta o capitalista de alguma maneira de sua brutalidade natural como mera corporificação do capital dandolhe tempo para sua própria formação Antes the Master had no time for anything but money the servant had no time for anything but labour o senhor não tinha tempo para nada a não ser o dinheiro e o servo não tinha tempo para nada a não ser o trabalho ibidem p 48 ae Virgílio Eneida livro 2 verso 274 N T 655 a Na edição francesa autorizada a segunda parte dessa frase foi redigida da seguinte forma ou ela é igual ao valor de uma força de trabalho multiplicada pelo grau de sua exploração e multiplicada pelo número das forças de trabalho simultaneamente exploradas N E A MEW 202 Essa lei elementar parece ser desconhecida aos senhores da economia vulgar que ao contrário de Arquimedes acreditam ter encontrado na determinação dos preços do trabalho por meio da oferta e da demanda não o ponto para alavancar o mundo de seu eixo mas para paralisálo 203 Mais detalhes sobre isso no Livro IV b Não aprenderam nada nem esqueceram nada disse Talleyrand sobre os emigrantes aristocráticos que retornando à França após a restauração do domínio dos Bourbons tentaram recuperar suas propriedades fundiárias e submeter os camponeses às velhas obrigações feudais N E A MEW c No apêndice à primeira parte de sua Ética Espinosa diz que a ignorância não é uma razão suficiente Com isso ele combate a concepção clerical e teleológica da natureza que defendia que a vontade de Deus é a causa fundamental de todos os acontecimentos com base no argumento de que não se conhecem outras causas últimas N E A MEW 204 The labour that is the economic time of society is a given portion say ten hours a day of a million of people or ten million hours Capital has its boundary of increase The boundary may at any given period be attained in the actual extent of economic time employed O trabalho de uma sociedade isto é o tempo empregado na economia representa uma dada grandeza digamos de 10 horas diárias de 1 milhão de pessoas ou 10 milhões de horas O capital é limitado em seu crescimento Em cada período dado esse limite consiste na extensão real do tempo empregado na economia em An Essay on the Political Economy of Nations cit p 479 205 The farmer cannot rely on his own labour and if he does I will maintain that he is a loser by it His employment should be a general attention to the whole his thrasher must be watched or be will soon lose his wages in corn not thrashed out his mowers reapers etc must be looked after he must constantly go round his fences he must see there is no neglect which would be the case if he was confined to any one spot O agricultor não deve depender de seu próprio trabalho e se assim o fizer ele sairá perdendo em minha opinião Sua atividade deveria consistir na supervisão do todo ele tem de atentar para seu debulhador pois do contrário em breve se desperdiçará o salário pago pelo cereal que não foi debulhado do mesmo modo têm de ser vigiados seus ceifeiros segadores etc ele tem de conferir constantemente suas cercas tem de cuidar para que nada seja negligenciado o que acontecerá caso ele se limite a um único ponto J Arbuthnot An Enquiry Into the Connection Between the Price of Provisions and the Size of Farms etc By a Farmer Londres 1773 p 12 Esse escrito é muito interessante Nele podese estudar a gênese do capitalist farmer agricultor capitalista ou merchant farmer agricultor mercantil como ele é expressamente chamado e escutar sua autoglorificação em contraste com o small farmer pequeno agricultor cuja atividade é essencialmente dedicada à subsistência A classe capitalista é liberada de início parcialmente e por fim totalmente da necessidade do trabalho manual Textbook of Lectures on the Polit Economy of Nations By the Rev Richard Jones Hertford 1852 lecture III p 39 205a A teoria molecular aplicada na química moderna e desenvolvida cientificamente pela primeira vez por Laurent e Gerhardt não se baseia senão nessa lei Adendo à terceira edição A título de esclarecimento desta nota bastante obscura para quem não é químico observamos que o autor se refere aqui às séries homólogas dos compostos de hidrocarbonetos assim denominados pela primeira vez por C Gerhardt em 1843 e possuindo cada uma delas uma fórmula algébrica própria de composição Assim a série das parafinas CnH2n2 a dos álcoois normais CnH2n2O a dos ácidos graxos normais CnH2nO2 e muitas outras Nos exemplos anteriores a simples adição quantitativa de CH2 à fórmula molecular forma a cada vez um corpo qualitativamente diferente Sobre o papel superestimado por Marx de Laurent e Gerhardt na determinação desse fato importante cf Kopp Entwicklung der Chemie Munique 1873 p 70916 e Schorlemmer Rise and Progress of Organic Chemistry Londres 1879 p 54 F E 206 Martinho Lutero chama tais instituições de A Sociedade Monopolia 207 Reports of Insp of Fact for 30th April 1849 p 59 208 Ibidem p 60 O inspetor de fábrica Stuart também escocês e ao contrário dos inspetores de fábrica ingleses totalmente dominado pelo modo de pensar capitalista observa expressamente que essa carta que ele incorpora em seu relato é a informação mais útil feita por qualquer um dos fabricantes que utilizam o sistema de revezamento e a mais bem concebida para remover os preconceitos e reservas contra aquele sistema 656 1 O valor do salário médio diário é determinado por aquilo que o trabalhador precisa so as to live labour and generate para viver trabalhar e procriar William Petty Political Anatomy of Ireland cit p 64 The Price of Labour is always constituted of the Price of necessaries whenever the labouring mans wages will not suitably to his low rank and station as a labouring man support such a family as is often the lot of many of them to have O preço do trabalho é sempre determinado pelo preço dos meios de subsistência necessários o salário do trabalhador não é o bastante quando não chega para alimentar uma família tão grande como costuma ser o fado de muitos deles de acordo com sua baixa condição como trabalhadores Jacob Vanderlint Money Answers All Things cit p 15 Le simple ouvrier qui na que ses bras et son industrie na rien quautant quil parvient à vendre à dautres sa peine En tout genre de travail il doit arriver et il arrive en effet que le salaire de louvrier se borne à ce qui lui est nécessaire pour lui procurer la subsistance O simples trabalhador que não possui mais do que seus braços e sua força nada tem a não ser que consiga vender a outrem seu trabalho Por isso em qualquer tipo de trabalho tem de ocorrer e de fato assim ocorre que o salário do trabalhador é limitado àquilo que ele necessita para seu sustento Turgot Réflexions etc cit p 10 The price of the necessaries of life is in fact the cost of producing labour O preço dos meios de subsistência é de fato igual aos custos da produção do trabalho Malthus Inquiry into etc Rent Londres 1815 p 48 nota 2 Quando si perfezionano le arti che non è altro che la scoperta di nuove vie onde si possa compiere una manufattura con meno gente o che è lo stesso in minor tempo di prima Quando as indústrias se aperfeiçoam o que não é senão a descoberta de novos caminhos pelos quais se pode criar uma manufatura com menos homens ou o que é o mesmo num tempo mais curto do que antes Galiani Della moneta cit p 1589 Léconomie sur les frais de production ne peut être autre chose que léconomie sur la quantité de travail employé pour produire A economia dos custos de produção não pode ser senão a economia da quantidade de trabalho empregado para produzila Sismondi Études t I p 22 3 A mans profit does not depend upon his command of the produce of other mens labour but upon his command of labour itself If he can sell his goods at a higher price while his workmens wages remain unaltered he is clearly benefited A smaller proportion of what he produces is sufficient to put that labour into motion and a larger proportion consequently remains for himself Se o fabricante dobrar sua produção mediante o melhoramento da maquinaria ele ganhará por fim apenas se conseguir vestir seus trabalhadores de modo barato de modo que uma parte menor do ganho total seja gasta com os trabalhadores Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth cit p 1689 3a O lucro de um homem não depende de seu comando sobre o produto do trabalho de outrem mas de seu comando sobre o próprio trabalho Se pode vender suas mercadorias por um preço mais alto enquanto os salários de seus trabalhadores permanecem inalterados ele lucra claramente com isso Uma parte menor daquilo que ele produz lhe é suficiente para pôr aquele trabalho em movimento restandolhe consequentemente uma parte maior J Cazenove Outlines of Polit Econ Londres 1832 p 4950 4 If my neighbour by doing much with little labour can sell cheap I must contrive to sell as cheap as he So that every art trade or engine doing work with labour of fewer hands and consequently cheaper begets in others a kind of necessity and emulation either of using the same art trade or engine or of inventing something like it that every man may be upon the square that no man may be able to undersell his neighbour Se meu vizinho pode vender barato produzindo muito com pouco trabalho sou obrigado a vender tão barato quanto ele É assim que toda arte todo método ou toda máquina que possibilita trabalhar com menos mãos e consequentemente torna o trabalho mais barato cria para os outros uma espécie de obrigação e uma concorrência seja para empregar a mesma arte o mesmo método ou a mesma máquina seja para inventar algo semelhante a fim de que todos estejam no mesmo patamar e ninguém esteja em condições de vender mais barato que seu vizinho em The Advantages of the EastIndia Trade to England Londres 1720 p 67 5 In whatever proportion the expenses of a labourer are diminished in the same proportion will his wages be diminished if the restraints upon industry are at the same time taken off Qualquer que seja a proporção em que se diminuam as despesas de um trabalhador seu salário será reduzido na mesma proporção se ao mesmo tempo forem removidas as restrições à indústria Considerations Concerning Taking off the Bounty on Corn Exported etc Londres 1753 p 7 The interest of trade requires that coin and all provisions should be as cheap as possible for whatever makes them dear must make labour dear also in all countries where industry is not restrained the price of provisions must affect the Price of Labour This will always be diminished when the necessaries of life grow cheaper O interesse da indústria exige que os cereais e todos os meios de subsistência custem o menos possível pois o que os encarece também tem de encarecer o trabalho o preço dos meios de subsistência afeta o preço do trabalho em todos os países em que a indústria não se submete a quaisquer restrições O preço do trabalho diminuirá sempre que os meios básicos de subsistência se 657 tornarem mais baratos ibidem p 3 Wages are decreased in the same proportion as the powers of production increase Machinery it is true cheapens the necessaries of life but it also cheapens the labourer too Os salários caem na mesma proporção em que aumentam as forças de produção A maquinaria barateia é verdade os meios básicos de subsistência mas também barateia o trabalhador A Prize Essay on the Comparative Merits of Competition and Cooperation Londres 1834 p 27 6 Ils conviennent que plus on peut sans préjudice épargner de frais ou de travaux dispendieux dans la fabrication des ouvrages des artisans plus cette épargne est profitable par la diminution des prix de ces ouvrages Cependant ils croient que la production de richesse qui résulte des travaux des artisans consiste dans laugmentation de la valeur vénale de leurs ouvrages Quesnay Dialogues sur le commerce et sur les travaux des artisans p 1889 7 Ces spéculateurs si économes du travail des ouvriers quil faudrait quils payassent Esses especuladores são tão parcimoniosos do trabalho dos trabalhadores que eles deveriam pagar J N Bidaut Du monopole qui sétablit dans les arts industriels et le commerce Paris 1828 p 13 The employer will be always on the stretch to economise time and labour O empregador buscará sempre economizar tempo e trabalho Dugald Stewart em sir Hamilton org Works Edimburgo 1855 Lectures on Polit Econ v VIII p 318 Their the capitalists interest is that the productive powers of the labourers they employ should be the greatest possible On promoting that power their attention is fixed and almost exclusively fixed Eles os capitalistas têm interesse em que a força produtiva dos trabalhadores que eles empregam seja a maior possível Sua atenção se volta quase exclusivamente para o aumento dessa força R Jones An Essay on the Distribution of Wealth Londres 1831 Lecture III 658 8 Unquestionably there is a great deal of difference between the value of one mans labour and that of another from strength dexterity and honest application But I am quite sure from my best observation that any given five men will in their total afford a proportion of labour equal to any other five within the period of life I have stated that is that among such five men there will be one possessing all the qualifications of a good workman one bad and the other three middling and approximating to the first and the last So that in so small a platoon as that of even five you will find the full complement of all that five men can earn Inquestionavelmente há uma considerável diferença entre o valor do trabalho de um homem e outro no que concerne à força à destreza e à aplicação honesta Mas estou certo baseado em minhas observações de que qualquer grupo dado de cinco homens executará em seu total uma proporção de trabalho igual a qualquer outro grupo de cinco homens no interior dos citados períodos de vida isto é que em tal grupo de cinco homens haverá um que possua todas as qualificações de um bom trabalhador outro será um mau trabalhador e os outros três serão medianos mais ou menos próximos do melhor e do pior Desse modo num pequeno grupo de cinco homens encontrareis a plenitude de tudo o que cinco homens podem produzir Edmund Burke Thoughts and Details on Scarcity Originally Presented to the Rt Hon W Pitt in the Month of November 1795 cit p 156 Cf Quételet sobre o indivíduo médio 9 O senhor professor Roscher Die Grundlagen der Nationalökonomie 3 ed StuttgartAugsburg 1858 p 889 pretende ter descoberto que uma costureira empregada durante dois dias pela senhora professora realiza mais trabalho do que duas costureiras empregadas pela senhora professora no mesmo dia O senhor professor não deveria realizar suas observações sobre o processo de produção capitalista no quarto das crianças tampouco em circunstâncias em que falta o personagem principal o capitalista 10 Destutt de Tracy Concours de forces em Traité de la volonté et de ses effets cit p 80 11 There are numerous operations of so simple a kind as not to admit a division into parts which cannot be performed without the cooperation of many pairs of bands For instance the lifting of a large tree on a wain every thing in short which cannot be done unless a great many pairs of hands help each other in the same undivided employenent and at the same time Há inúmeras operações de tipo tão simples que não admitem uma divisão em partes não podendo ser realizadas sem a cooperação de muitos pares de mãos Eu citaria como exemplo a operação de colocar um grande tronco de árvore sobre um carro em suma tudo aquilo que não pode ser feito a não ser com a ajuda mútua de muitos pares de mãos empregadas na execução da mesma tarefa e ao mesmo tempo E G Wakefield A View of the Art of Colonisation Londres 1849 p 168 11a As one man cannot and 10 men must strain to lift a tun of weight yet one hundred men can do it only by the strength of a finger of each of them Enquanto um homem não é capaz de erguer um fardo de 1 tonelada e 10 homens têm de se esforçar muito para isso 100 homens conseguem fazêlo usando cada um deles apenas um de seus dedos John Bellers Proposals for Raising a Colledge of Industry cit p 21 12 There is also an advantage in the proportion of servants which will not easily be understood but by practical men for it is natural to say as 1 is to 4 so are 3 12 but this will not hold good in practice for in harvesttime and many other operations which require that kind of despatch by the throwing many hands together the work is better and more expeditiously done ss i in harvest 2 drivers 2 loaders 2 pitchers 2 rakers and the rest at the rick or in the barn will despatch double the work that the same number of hands would do if divided into different gangs on different farms Há também quando o mesmo número de homens é empregado por um fazendeiro em 300 acres de terra em vez de por 10 fazendeiros cada um distribuindo uma parte dos homens numa área de 30 acres uma vantagem na proporção dos servos que não será compreendida facilmente a não ser por homens práticos Dizse naturalmente que 1 está para 4 assim como 3 está para 12 mas isso não se conserva na prática pois em épocas de colheita e em muitas outras operações que exigem um esforço semelhante o trabalho é realizado melhor e mais rapidamente quando muitas forças de trabalho operam em conjunto Por exemplo numa colheita dois carroceiros dois carregadores dois enfeixadores dois recolhedores e o restante dos trabalhadores no palheiro ou no celeiro realizam juntos o dobro do trabalho que o mesmo número realizaria se divididos em grupos e separados em diferentes fazendas J Arbuthnot An Inquiry into the Connection between the Present Price of Provisions and the Size of Farms By a Farmer Londres 1773 p 78 13 A definição de Aristóteles é na verdade a de que o homem é cidadão por natureza Ela é tão característica da Antiguidade clássica quanto a definição de Franklin segundo a qual o homem é por natureza um fazedor de instrumentos é característica da sociedade ianque 14 On doit encore remarquer que cette division partielle du travail peut se faire quand même les ouvriers sont occupés dune même besogne Des maçons par exemple occupés de faire passer de mains en mains des briques à un échafaudage supérieur font tous la même besogne et pourtant il existe parmi eux une espèce de division de travail qui consiste en ce que chacun 659 deux fait passer la brique par un espace donné et que tous ensemble la font parvenir beaucoup plus promptement à lendroit marqué quils ne feraient si chacun deux portait sa brique séparément jusquà léchafaudage supérieur Devese notar ainda que essa divisão parcial do trabalho pode ser realizada também quando os trabalhadores se ocupam de uma mesma tarefa Os pedreiros por exemplo que levam tijolos de mão em mão até um patamar superior do andaime realizam todos a mesma tarefa e no entanto há entre eles uma espécie de divisão do trabalho que consiste no fato de que cada um deles faz o tijolo avançar um certo espaço e que todos juntos fazem com que ele alcance o lugar intencionado mais rapidamente do que se cada um deles levasse em separado seu tijolo até o patamar superior F Skarbek Théorie des richesses sociales 2 ed Paris 1839 t I p 978 15 Estil question dexécuter un travail compliqué plusieurs choses doivent être faites simultanément Lun en fait une pendant que lautre en fait une autre et tous contribuent à leffet quun seul homme naurait pu produire Lun rame pendant que lautre tient le gouvernail et quun troisième jette le filet ou harponne le poisson et la pêche a un succès impossible sans ce concours Se se trata da execução de uma trabalho complexo várias coisas têm de ser feitas simultaneamente Um faz uma coisa enquanto outro faz outra e todos contribuem para o resultado que um único homem não poderia ter produzido Um rema enquanto o outro segura o leme e um terceiro joga a rede ou arpoe o peixe e assim a pesca atinge um sucesso que seria impossível sem essa cooperação Destutt de Tracy Traité de la volonté et de ses effets cit p 78 16 The doing of it the critical juncture is of so much the greater consequence Sua realização do trabalho na agricultura no momento decisivo tem um efeito ainda maior J Arbuthnot An Inquiry into the Connection between the Present Price cit p 7 Na agricultura não há nenhum fator mais importante do que o fator do tempo Justus von Liebig Ueber Theorie und Praxis in der Landwirthschaft 1856 p 23 17 The next evil is one which one would scarcely expect to find in a country which exports more labour than any other in the world with the exception perhaps of China and England the impossibility of procuring a sufficient number of hands to clean the cotton The consequence of this is that large quantities of the crop are left unpicked while another portion is gathered from the ground when it has fallen and is of course discoloured and partially rotted so that for want of labour at the proper season the cultivator is actually forced to submit to the loss of a large part of that crop for which England is so anxiously looking Outro mal que dificilmente se espera encontrar num país que exporta mais trabalho do que qualquer outro no mundo com exceção talvez da China e da Inglaterra consiste na impossibilidade de se conseguir um número suficiente de mão de obra para a colheita do algodão Em consequência disso grandes quantidades de algodão permanecem sem ser colhidas enquanto uma outra parte é recolhida da terra depois de caída e obviamente já amarelada e parcialmente apodrecida de modo que em virtude da falta de trabalhadores na estação certa o plantador é obrigado a conformarse com a perda de uma grande parte daquela colheita tão aguardada na Inglaterra Bengal Hurkaru BiMonthly Overland Summary of News 22 jul 1861 18 In the progress of culture all and perhaps more than all the capital and labour which once loosely occupied 500 acres are now concentrated for the more complete tillage of 100 relatively to the amount of capital and labour employed space is concentrated it is an enlarged sphere of production as compared to the sphere of production formerly occupied or worked upon by one single independent agent of production Com o progresso no cultivo todo capital e todo trabalho que antes eram dispersos por 500 acres e talvez por uma área ainda maior concentramse agora no cultivo mais intensivo de 100 acres Embora em relação ao montante de capital e trabalho empregados o espaço tenha diminuído ele representa uma esfera de produção maior em comparação com a esfera de produção que antes era ocupada ou cultivada por um único produtor autônomo R Jones An Essay on the Distribution of Wealth cit parte I p 191 19 La forza di ciascuno uomo è minima ma la riunione delle minime forze forma una forza totale maggiore anche della somma delle forte medesime fino a che le forze par essere riunite possono diminuere il tempo ed accrescere lo spazio della loro azione A força do homem individual é mínima mas a reunião das forças mínimas forma uma força total maior do que a soma dessas forças de modo que a mera reunião das forças pode diminuir o tempo e aumentar o espaço de sua ação G R Carli citado em P Verri Meditazione sulla economia politica cit t XV p 196 20 Profits is the sole end of trade Lucros são a única finalidade do negócio J Vanderlint Money Answers All Things cit p 11 21 O jornal filisteu inglês Spectator de 26 de maio de 1866 relata que após a introdução de um tipo de parceria entre capitalistas e trabalhadores na Wirework Company of Manchester companhia de fabricação de arames de Manchester the first result was a sudden decrease in waste the men not seeing why they should waste their own property any more than any other masters and waste is perhaps next to bad debts the greatest source of manufacturing loss o 660 primeiro resultado foi uma redução repentina do desperdício de material pois os trabalhadores não compreendiam por que deveriam desperdiçar mais sua propriedade do que a dos capitalistas e desperdício de material talvez seja ao lado de dívidas não recebidas a maior fonte de prejuízos nas fábricas O mesmo jornal descobriu como falha principal dos Rochdale cooperative experiments experimentos cooperativistas de Rochdale They showed that associations of workmen could manage shops mills and almost all forms of industry with success and they immensely improved the condition of the men but then they did not leave a clear place for masters Eles comprovaram que as associações de trabalhadores podem gerir com sucesso lojas fábricas e quase toda forma de indústria e eles melhoraram imensamente a condição dos homens porém não deixaram nenhum lugar visível para capitalistas Quelle horreur Que horror Em 1844 sob a influência das ideias dos socialistas utópicos os trabalhadores de Rochdale ao norte de Manchester formaram a Society of Equitable Pioneers Sociedade dos pioneiros justos Originalmente uma cooperativa de consumo essa sociedade se expandiu rapidamente e instaurou formas cooperativas de produção Com os pioneiros de Rochdale teve início um novo período do movimento cooperativista na Inglaterra em outros países N E A MEW 21a Depois de apresentar a superintendence of labour supervisão do trabalho como um caráter central da produção escravagista nos Estados sulistas da América do Norte o professor Cairnes prossegue The peasant proprietor appropriating the whole produce of his soil needs no other stimulus to exertion Superintendence is here completely dispensed with Como o proprietário camponês do norte apropria o produto total de seu solo Em Cairnes de seu trabalho N E A MEW ele não precisa de nenhum estímulo especial para se esforçar A supervisão é aqui totalmente desnecessária J E Cairnes The Slave Power cit p 489 22 Sir James Steuart que se sobressai por seu olhar atento às diferenças caracteristicamente sociais entre vários modos de produção observa Why do large undertakings in the manufacturing way ruin private industry but by coming nearer to the simplicity of slaves Por que grandes empresas manufatureiras destroem as oficinas domésticas senão pelo fato de estarem mais próximas da simplicidade do trabalho escravo em Princ of Pol Econ Londres 1767 v I p 1678 22a Assim Auguste Comte e sua escola poderiam ter provado a necessidade eterna dos senhores feudais do mesmo modo como o fizeram com relação aos senhores do capital 23 R Jones Textbook of Lectures etc cit p 778 As coleções da antiga Assíria Egito etc em Londres e outras capitais europeias nos transformam em testemunhas oculares desses processos cooperativos de trabalho 24 A pequena economia camponesa e a produção das oficinas independentes que em parte são a base do modo de produção feudal e em parte aparecem ao lado do modo de produção capitalista depois da dissolução do feudalismo constituem ao mesmo tempo a base econômica da comunidade clássica em sua melhor época depois de terse dissolvido a primitiva propriedade comum oriental e antes de a escravatura terse apoderado seriamente da produção 25 Whether the united skill industry and emulation of many together on the same work be not the way to advance it And whether it had been otherwise possible for England to have carried on her Woollen Manufacture to so great a perfection Não é a união da habilidade diligência e emulação de muitos juntos na mesma obra o caminho para levála adiante E de outro modo teria sido possível à Inglaterra elevar sua manufatura de lã a tal grau de perfeição Berkeley The Querist Londres 1750 p 56 521 661 26 Para dar um exemplo mais recente dessa configuração da manufatura citamos a seguinte passagem A fiação e tecelagem de seda de Lyon e Nîmes est toute patriarcale elle emploie beaucoup de femmes et denfants mais sans les épuiser ni les corrompre elle les laisse dans leurs belles vallées de la Drôme du Var de lIsère de Vaucluse pour y élever des vers et dévider leurs cocons jamais elle nentre dans une véritable fabrique Pour être aussi bien observé le principe de la division du travail sy revêt dun caractère spécial Il y a bien des dévideuses des moulineurs des teinturiers des encolleurs puis des tisserands mais ils ne sont pas réunis dans un même établissement ne dépendent pas dun même maître tous ils sont indépendants é totalmente patriarcal emprega muitas mulheres e crianças porém sem esgotálos ou corrompêlos permite que eles permaneçam em seus belos vales de Drôme Var Isère e Vaucluse para lá cultivar bichos da seda e enovelar seus casulos ela jamais se transforma numa verdadeira fábrica Para ser aplicado devidamente o princípio da divisão do trabalho assume aqui um caráter especial Decerto existem dobadouras torcedores de seda tintureiros encoladores além de tecelões mas eles não são reunidos num mesmo estabelecimento dependentes do mesmo mestre todos são independentes A Blanqui Cours décon industrielle Paris 18381839 p 79 Desde que Blanqui escreveu isso os vários trabalhadores independentes foram reunidos em parte em fábricas Adendo à quarta edição E desde que Marx escreveu a passagem anterior o tear a vapor consolidouse nas fábricas expulsando rapidamente o tear manual A indústria de sedas de Krefeld é a prova viva desse processo F E 27 The more any manufacture of much variety shall be distributed and assigned to different artists the same must needs be better done and with greater expedition with less loss of time and labour Quanto mais um trabalho altamente variado é subdividido e atribuído a diferentes trabalhadores parciais tanto mais ele tem necessariamente de ser executado melhor e mais depressa com menos perda de tempo e de trabalho The Advantages of the East India Trade Londres 1720 p 71 28 Easy labour is transmitted skill O trabalho realizado facilmente é habilidade transmitida T Hodgskin Popular Political Economy p 48 29 No Egito também as artes alcançaram o devido grau de perfeição Pois somente nesse país os artesãos não podem intervir de modo algum nos negócios de outra classe de cidadãos e sim devem apenas seguir a vocação que por lei é hereditária em sua tribo Em outros países observase que os trabalhadores Gewerbsleute dividem sua atenção entre muitos objetos Ora tentam a agricultura ora dedicamse ao comércio ora ocupamse com duas ou três artes simultaneamente Em Estados livres eles frequentam na maioria das vezes as assembleias populares No Egito ao contrário qualquer artesão é duramente punido se se intromete nos negócios do Estado ou se exerce várias artes simultaneamente Assim nada pode perturbar sua dedicação à sua profissão Além disso como recebem muitas regras de seus antepassados são ávidos por descobrir ainda novas vantagens Diodoro Sículo Historische Bibliothek cit livro I c 74 30 Hugh Murray James Wilson et al Historical and Descriptive Account of Brit India etc Edimburgo 1832 v II p 44950 O tear indiano fica de pé isto é a corrente é esticada verticalmente 31 Em sua marcante obra A origem das espécies Darwin observa com relação aos órgãos naturais das plantas e dos animais Dado que um mesmo órgão tem de executar diferentes trabalhos podese talvez encontrar um motivo para sua variabilidade no fato de a seleção natural preservar ou suprimir cada pequeno desvio de forma menos cuidadosa do que seria o caso se o mesmo órgão fosse destinado apenas a uma finalidade particular Assim facas destinadas a cortar qualquer coisa podem possuir no geral a mesma forma ao passo que uma ferramenta destinada a uma aplicação específica tem de ter para cada uso distinto uma forma igualmente distinta 32 Em 1854 Genebra produziu 80 mil relógios menos de 15 da produção do cantão de Neuchâtel Apenas Chaux deFonds que se pode considerar uma única manufatura de relógios produz sozinha anualmente o dobro de Genebra De 18501861 Genebra forneceu 720 mil relógios Ver Report from Geneva on the Watch Trade em Reports by H Ms Secretaries of Embassy and Legation on the Manufactures Commerce etc n 6 1863 Se a falta de conexão entre os processos em que se fraciona a produção de artigos apenas justapostos dificulta em muito a transformação de tais manufaturas em produção mecanizada da grande indústria no caso dos relógios acrescentam se ainda dois outros obstáculos a pequena dimensão e delicadeza de seus elementos e seu caráter de luxo portanto sua variedade de modo que por exemplo nas melhores casas de Londres dificilmente se chega à produção de uma dúzia de relógios por ano que sejam parecidos A fábrica de relógios de Vacheron Constantin que emprega maquinaria com sucesso também produz um máximo de três a quatro diferentes variedades em tamanho e forma 33 Na fabricação de relógios esse exemplo clássico da manufatura heterogênea podese estudar com muita precisão a anteriormente mencionada diferenciação e especialização que resulta da decomposição da atividade artesanal 662 34 In so close a cohabitation of the people the carriage must needs be less Numa coabitação tão densa de pessoas o transporte tem necessariamente de ser menor The Advantages of the East India Trade p 106 35 The isolation of the different stages of manufacture consequent upon the employment of the manual labour adds immensely to the cost of production the loss mainly arising from the mere removals from one process to another O isolamento dos diferentes estágios da produção na manufatura que decorre do emprego do trabalho manual eleva imensamente os custos de produção originandose a perda principalmente do mero transporte de um processo de trabalho para outro The Industry of Nations Londres 1855 parte II p 200 36 It the division of labour produces also an economy of time by separating the work into its different branches all of which may be carried on into execution at the same moment By carrying on all the different processes at once which an individual must have executed separately it becomes possible to produce a multitude of pins for instance completely finished in the same time as a single pin might have been either cut or pointed Ela a divisão do trabalho produz também uma economia de tempo ao separar o trabalho em seus ramos diferentes que podem todos ser executados ao mesmo tempo Por meio da execução simultânea de todos os diferentes processos que um indivíduo teria de executar separadamente tornase possível produzir uma grande quantidade de alfinetes completamente acabados no mesmo tempo que seria necessário para cortar ou apontar um único alfinete Dugald Stewart em Works cit p 319 37 They more variety of artists to every manufacture the greater the order and regularity of every work the same must needs be done in less time the labour must be less Quanto maior a variedade de trabalhadores especiais em cada manufatura tanto mais ordenado e regular é cada trabalho este tem necessariamente de ser feito em menos tempo e o trabalho tem de ser menor The Advantages etc cit p 68 38 Em muitos ramos no entanto o sistema manufatureiro só alcança esse resultado de modo imperfeito pelo fato de não saber controlar com segurança as condições físicas e químicas gerais do processo de produção 39 Quando a experiência segundo a natureza peculiar dos produtos de cada manufatura revela o número de processos nos quais é mais vantajoso dividir a fabricação assim como o número de trabalhadores a serem nela empregados então todas as outras manufaturas que não empreguem um múltiplo exato desse número produzirão o artigo com custos maiores Daí surge uma das causas do grande número de estabelecimentos manufatureiros C Babbage On the Economy of Machinery Londres 1832 c XXI p 1723 40 Na Inglaterra o forno de fundição é separado do forno de vidro no qual o vidro é trabalhado na Bélgica por exemplo o mesmo forno serve para os dois processos 41 Isso pode ser visto entre outros em W Petty John Bellers Andrew Yarranton The Advantages of the EastIndia Trade cit e em J Vanderlint Money Answers All Things cit 42 Na França ainda no final do século XVI utilizavase o almofariz e a peneira para triturar e lavar o minério 43 A história inteira do desenvolvimento da maquinaria pode ser seguida por meio da história dos moinhos de cereais Em inglês a fábrica continua a chamarse mill moinho Em escritos tecnológicos alemães dos primeiros decênios do século XIX encontrase ainda a expressão moinho como designação não só de toda maquinaria movida por forças naturais como também de todas as manufaturas que empregam aparatos mecânicos 44 Como se verá mais detalhadamente no Livro IV desta obra A Smith não concebeu nenhuma tese nova sobre a divisão do trabalho Mas o que o caracteriza como economista político que sintetiza o período da manufatura é o acento que ele coloca sobre a divisão do trabalho O papel subordinado que confere à maquinaria provocou no começo da grande indústria a polêmica de Lauderdale e numa época mais desenvolvida a de Ure A Smith também confunde a diferenciação dos instrumentos na qual os próprios trabalhadores parciais da manufatura participaram muito ativamente com a invenção das máquinas Não são os trabalhadores das manufaturas mas os estudiosos os artesãos e mesmo os camponeses Brindley etc que desempenham aqui um papel importante 45 O mestremanufatureiro ao dividir a obra a ser executada em vários processos distintos cada um deles exigindo graus diferentes de habilidade e força pode obter exatamente a quantidade precisa de força e habilidade necessária para cada processo ao passo que se a obra inteira tivesse de ser executada por um só operário esta pessoa teria de possuir habilidade suficiente para as operações mais delicadas e força suficiente para as mais laboriosas C Babbage On the Economy of Machinery cit c XIX 46 Por exemplo o desenvolvimento unilateral dos músculos o encurvamento dos ossos etc 47 Muito corretamente responde o sr W Marschall general manager gerente geral de uma manufatura de vidros à pergunta do comissário de inquérito acerca de como se conseguia manter a produtividade dos jovens trabalhadores They cannot well neglect their work when they once begin they must go on they are just the same as parts of a machine 663 Eles não podem de modo algum negligenciar seu trabalho tendo começado a trabalhar têm de prosseguir são exatamente como partes de uma máquina Child Empl Comm Fourth Report 1865 p 247 48 O dr Ure em sua apoteose da grande indústria compreende as características peculiares da manufatura mais nitidamente do que os economistas anteriores que não tinham seu interesse polêmico e mesmo mais do que seus contemporâneos como Babbage que embora lhe supere como matemático e mecânico concebe a grande indústria na verdade apenas do ponto de vista da manufatura Diz Ure O ajustamento dos trabalhadores a cada operação específica constitui a essência da distribuição dos trabalhos Por outro lado ele designa essa distribuição como adaptação dos trabalhos às diferentes capacidades individuais e por fim caracteriza todo o sistema da manufatura como um sistema de gradações segundo o nível de habilidade uma divisão do trabalho segundo os diferentes graus de habilidade Ver Ure Philos of Manuf cit p 1923s 49 Each handicraftsman being enabled to perfect himself by practice in one point became a cheaper workman Todo artesão que dispunha dos meios de aperfeiçoar a si mesmo por meio da prática numa operação específica tornouse um trabalhador mais barato ibidem p 19 50 A divisão do trabalho vai desde a separação das profissões as mais diferentes até aquela divisão em que vários dividem entre si a preparação de um único e mesmo produto como na manufatura Storch Cours décon pol Paris t I p 173 Nous rencontrons chez les peuples parvenus à un certain degré de civilisation trois genres de divisions dindustrie la première que nous nommons générale amène la distinction des producteurs en agriculteurs manufacturiers et commerçants elle se rapporte aux trois principales branches dindustrie nationale la seconde quon pourrait appeler spéciale est la division de chaque genre dindustrie en espèces la troisième division dindustrie celle enfin quon devrait qualifier de division de la besogne ou du travail proprement dit est celle qui sétablit dans les arts et les métiers séparés qui sétablit dans la plupart des manufactures et des ateliers Nos povos que alcançaram certo grau de civilização encontramos três gêneros de divisão da indústria a primeira que chamaremos de geral leva à distinção dos produtores em agricultores manufaturadores e comerciantes correspondendo aos três ramos principais da indústria nacional a segunda que se poderia chamar especial é a divisão de cada gênero da indústria em espécies a terceira divisão da indústria aquela que por fim deverseia qualificar como divisão de tarefas ou do trabalho propriamente dito é a que se estabelece nos ofícios e profissões separados que se estabelece na maior parte das manufaturas e das oficinas Skarbek Théorie des richesses sociales cit p 845 a Ver p 162 N T 51 Sir James Steuart foi quem melhor tratou dessa questão O quão pouco conhecida hoje em dia é sua obra publicada dez anos antes da Riqueza das nações podese perceber entre outras coisas pelo fato de os admiradores de Malthus nem sequer saberem que este último na primeira edição de sua obra sobre a population abstraindose de sua parte puramente declamatória limitase quase exclusivamente a copiar Steuart ao lado dos padres Wallace e Townsend 52 There is a certain density of population which is convenient both for social intercourse and for that combination of powers by which the produce of labour is increased Há certa densidade de população que é conveniente tanto para o intercurso social quanto para a combinação das forças pelas quais a produtividade do trabalho é aumentada James Mill Elements of Pol Econ cit p 50 As the number of labourers increases the productive power of society augments in the compound ratio of that increase multiplied by the effects of the division of labour Se o número de trabalhadores cresce a força produtiva da sociedade aumenta na mesma proporção multiplicada pelos efeitos da divisão do trabalho T Hodgskin Popular Political Economy cit p 120 53 A partir de 1861 em alguns distritos muito populosos da Índia Oriental a grande demanda por algodão fez com que se ampliasse sua produção à custa da de arroz Isso gerou a escassez de alimentos em certas partes pois devido à falta de meios de comunicação e portanto de conexão física não se podia compensar a falta de arroz num distrito com o suprimento de outros distritos 54 Assim a fabricação de lançadeiras já constituía um ramo particular da Indústria no século XVII na Holanda 55 Whether the Woollen Manufacture of England is not divided into several parts or branches appropriated to particular places where they are only or principally manufactured fine cloths in Somersetshire coarse in Yorkshire long ells at Exeter soies at Sudbury crapes at Norwich linseys at Kendal blankets at Whitney and so forth Não está a manufatura de lã da Inglaterra dividida em diferentes partes ou ramos apropriados a lugares específicos onde cada produto é manufaturado exclusiva ou principalmente tecidos finos em Somersetshire grosseiros em Yorkshire enfestados em Exeter seda em Sudbury crepes em Norwich meialã em Kendal cobertores em Whitney etc Berkeley The Querist cit 520 664 56 A Ferguson History of Civil Society Edimburgo 1767 parte IV seção II p 285 57 Nas manufaturas propriamente ditas diz ele a divisão do trabalho parece ser maior porque those employed in every different branch of the work can often be collected into the same workhouse and placed at once under the view the spectator In those great manufactures on the contrary which are destined to supply the great wants of the great body of the people every different branch of the work employs so great a number of workmen that it is impossible to collect them all into the same workhouse the division is not near so obvious aqueles empregados em cada ramo de trabalho podem ser frequentemente reunidos numa mesma oficina e colocados imediatamente sob o olhar do observador Ao contrário naquelas grandes manufaturas destinadas a satisfazer às principais necessidades da grande massa da população cada ramo de trabalho emprega um número tão grande de trabalhadores que se torna impossível reunilos na mesma oficina a divisão neste caso está longe de ser tão evidente A Smith Wealth of Nations cit livro I c 1 O célebre parágrafo no mesmo capítulo que começa com as palavras Observe the accomodation of the most common artificer or day labourer in a civilized and thriving country etc Observemse os bens do mais comum dos artesãos ou dos jornaleiros num país civilizado e florescente etc e então descreve de que modo um semnúmero de ofícios variados contribui para a satisfação das necessidades de um trabalhador comum é copiado quase literalmente dos remarks comentários de B de Mandeville à sua Fable of the Bees or Private Vices Publick Benefits 1 ed sem os remarks 1705 com os remarks 1714 58 There is no longer anything which we can call the natural reward of individual labour Each labourer produces only some part of a whole and each part having no value or utility of itself there is nothing on which the labourer can seize and say it is my product this I will keep for myselss Não há mais nada que possamos chamar de recompensa natural do trabalho individual Cada trabalhador produz apenas certa parte de um todo e como cada parte não tem qualquer valor ou utilidade por si mesma não há nada que o trabalhador possa se apropriar e dizer este é meu produto e o conservarei comigo T Hodgskin Labour Defended Against the Claims of Capital Londres 1825 p 25 58a Nota à segunda edição Essa diferença entre divisão social e manufatureira do trabalho foi ilustrada na prática para os ianques Um dos novos impostos planejados em Washington durante a Guerra Civil foi a taxa de 6 sobre todos os produtos industriais Pergunta o que é um produto industrial Resposta do legislador uma coisa é produzida quando é feita when it is made e é feita quando está pronta para a venda Ora vejamos um exemplo entre muitos As manufaturas de Nova York e da Filadélfia costumavam fazer guardachuvas com todos os seus acessórios Mas sendo um guardachuva um mixtum compositum composto variegado de partes totalmente heterogêneas estas se tornaram progressivamente artigos produzidos por indústrias independentes entre si e situadas em lugares diferentes Seus produtos parciais passaram então a ser introduzidos na manufatura de guardachuvas como mercadorias independentes tendo apenas de ser reunidos num todo Os ianques batizaram tais artigos de assembled articles artigos reunidos nome que lhes é adequado por serem uma reunião de impostos Desse modo o guardachuva reunia 6 de taxas sobre o preço de cada um de seus elementos e mais 6 sobre seu preço total b Expressão de Thomas Hobbes em seu Leviatã N T 59 On peut établir en règle générale que moins lautorité préside à la division du travail dans lintérieur de la société plus la division du travail se développe dans lintérieur de latelier et plus elle y est soumise à lautorité dun seul Ainsi lautorité dans latelier et celle dans la société par rapport à la division du travail sont en raison inverse lune de lautre É possível estabelecer uma regra geral segundo a qual quanto menor é a autoridade da divisão do trabalho no interior da sociedade mais ela se desenvolve no interior da oficina e mais será submetida à autoridade de um só indivíduo Assim a autoridade na oficina e a autoridade na sociedade estão com relação à divisão do trabalho em razão inversa uma para a outra Karl Marx Misère de la philosophie Miséria da filosofia cit p 1301 60 Tenentecoronel Mark Wilks Historical Sketches on the South of India Londres 18101817 v I p 11820 Uma boa descrição das diversas formas da comunidade indiana pode ser encontrada em George Campbell Modern India Londres 1852 61 Under this simple form the inhabitants of the country have lived since time immemorial The boundaries of the villages have been but seldom altered and though the villages themselves have been sometimes injured and even desolated by war famine and disease the same name the same limits the same interests and even the same families have continued for ages The inhabitants give themselves no trouble about the breaking up and division of kingdoms while the village remains entire they care not to what power it is transferred or to what sovereign it devolves its internal economy remains unchanged Sob essa forma simples viveram os habitantes do país desde tempos imemoriais As fronteiras das aldeias foram raramente alteradas e embora tenham sido repetidamente assoladas e mesmo devastadas pela guerra pela fome e por pestes nessas aldeias se conservaram ao longo das gerações as mesmas fronteiras os mesmos 665 interesses e inclusive as mesmas famílias Os habitantes não se deixam afetar pela queda e pela divisão dos reinos desde que a aldeia permaneça inteira não lhes importa a que poder ela passa a estar submetida ou a que soberano ela está vinculada sua economia interna permanece inalterada T Stamford Raffles antigo tenentegovernador de Java The History of Java Londres 1817 v I p 285 62 Não basta que o capital necessário o autor deveria ter dito os meios de subsistência e de produção necessários para a subdivisão dos ofícios já se encontre dado na sociedade além disso é necessário que ele esteja acumulado nas mãos dos empregadores em quantidades suficientemente grandes para capacitálos a executar trabalhos em grande escala Quanto mais aumenta a divisão maior é a quantidade de capital em ferramentas matériasprimas etc exigida pela ocupação constante de um mesmo número de trabalhadores Storch Cours décon poli Paris t I p 2501 La concentration des instruments de production et la division du travail sont aussi inséparables lune de lautre que le sont dans le régime politique la concentration des pouvoirs publics et la division des intérêts privés A concentração dos instrumentos de produção e a divisão do trabalho são tão inseparáveis uma da outra quanto no terreno da política a concentração dos poderes públicos é inseparável da divisão dos interesses privados Karl Marx Misère de la philosophie Miséria da filosofia cit p 134 63 Dugald Stewart chama o trabalhador manual de living automatons employed in the details of the work autômatos vivos que são empregados em trabalhos parciais em Works cit p 318 c Em 494 dC ocorreu o primeiro grande conflito entre patrícios e plebeus Segundo a lenda o patrício Menênio Agripa teria usado de uma parábola para convencer os plebeus a uma conciliação A revolta dos plebeus se assemelharia a uma recusa dos membros do corpo humano a permitir que o alimento chegasse ao estômago o que tinha como consequência que os próprios membros definhassem fortemente A recusa dos plebeus a cumprir suas obrigações levaria assim à ruína do Estado romano N E A MEW 64 Nos corais cada indivíduo constitui de fato o estômago de todo o grupo Mas esse indivíduo fornece alimento ao grupo em vez de como o patrício romano priválo desse alimento 65 Louvrier qui porte dans ses bras tout un métier peut aller partout exercer son industrie et trouver des moyens de subsister lautre nest quun accessoire qui séparé de ses confrères na plus ni capacité ni indépendance et qui se trouve forcé daccepter la loi quon juge à propos de lui imposer O trabalhador que carrega nos braços todo um ofício pode por toda parte exercer sua indústria e encontrar meios de subsistir o outro o trabalhador da manufatura é apenas um acessório que separado de seus colegas de trabalho não tem mais nem capacidade nem independência sendo portanto forçado a aceitar a lei que se julgue correto lhe impor Storch Cours décon poli cit São Petersburgo 1815 t I p 204 66 The former may have gained what the other has lost Um pode ter ganhado o que o outro perdeu A Ferguson History of Civil Society cit p 281 67 O homem do saber e o trabalhador produtivo estão longinquamente separados um do outro e a ciência em vez de aumentar nas mãos do trabalhador suas próprias forças produtivas para ele mesmo contrapõese a ele em quase toda parte O conhecimento tornase um instrumento que pode ser separado do trabalho e oposto a ele W Thompson An Inquiry into the Principles of the Distribution of Wealth Londres 1824 p 274 68 A Ferguson History of Civil Society cit p 280 69 J D Tuckett A History of the Past and Present State of the Labouring Population Londres 1846 v I p 148 70 A Smith A riqueza das nações livro V c I art II Como aluno de A Ferguson que havia desenvolvido as consequências desfavoráveis da divisão do trabalho A Smith possuía total clareza sobre esse ponto Na abertura de sua obra na qual a divisão do trabalho é festejada ex professo ele a menciona apenas de passagem como fonte das desigualdades sociais Somente no livro V dedicado à receita do Estado ele reproduz Ferguson Em Miséria da filosofia expus o necessário sobre a conexão histórica entre Ferguson A Smith Lemontey e Say no que diz respeito a suas críticas da divisão do trabalho e também mostrei pela primeira vez que a divisão manufatureira do trabalho é uma forma específica do modo capitalista de produção Misère de la philosophie Miséria da filosofia cit p 122s 71 Ferguson diz E o próprio pensamento pode nessa era da divisão do trabalho converterse num ofício particular 72 G Garnier t V de sua tradução p 45 73 Ramazzini professor de medicina prática em Pádua publicou em 1713 sua obra De morbis artificum traduzida para o francês em 1777 e reimpressa em 1841 na Encyclopédie des Sciences Médicales 7 me Div Auteurs Classiques O 666 período da grande indústria ampliou grandemente é claro seu catálogo de doenças dos trabalhadores Ver entre outras obras Hygiène physique et morale de louvrier dans les grandes villes en général et dans la ville de Lyon en particulier Par le Dr A L Fonteret Paris 1858 e R H Rohatzsch Die Krankheiten welche verschiednen Ständen Altern und Geschlechtern eigenthümlich sind Ulm 1840 6 v Em 1854 a Society of Arts nomeou uma comissão de inquérito sobre patologia industrial A lista dos documentos reunidos por essa comissão encontrase no catálogo do Twickenham Economic Museum Muito importante são os Reports on Public Health oficiais Ver também Eduard Reich Ueber die Entartung des Menschen Erlangen 1868 A Society of Arts and Trades Sociedade das Artes e Ofícios foi uma sociedade filantrópica fundada em 1754 inspirada nas ideias do Iluminismo Durante a década de 1850 a sociedade foi conduzida pelo príncipe Albert O objetivo da sociedade alardeado com grande pompa era o incentivo das artes dos ofícios e do comércio e a premiação daqueles que contribuíram para dar emprego aos pobres expandir o comércio aumentar as riquezas da nação etc No esforço de deter o desenvolvimento do movimento de greves de massa na Inglaterra a sociedade tentou atuar como mediadora entre os trabalhadores e os empresários Marx a chamava ironicamente de Society of Arts and Tricks Sociedade das Artes e Trapaças N E A MEW 74 To subdivide a man is to execute him if he deserves the sentence to assassinate him if he does not the subdivision of labour is the assassination of a people D Urquhart Familiar Words Londres 1855 p 119 Hegel tinha ideias bastante heréticas sobre a divisão do trabalho Por homens cultos podese entender aqueles que podem fazer tudo o que os outros fazem diz ele em sua Filosofia do direito Hegel Grundlinien der Philosophie des Rechts oder Naturrecht und Staatswissenschaft im Grundrisse Berlim 1840 187 N E A MEW d Horácio Sátiras livro I sátira 4 N E A MEW 75 A cômoda fé no gênio inventivo que o capitalista individual exerceria a priori na divisão do trabalho encontrase hoje apenas em professores alemães tais como o sr Roscher que em agradecimento pela divisão do trabalho que salta pronta da cabeça de Júpiter do capitalista dedica a este último diversos salários A maior ou menor aplicação da divisão do trabalho depende do tamanho da bolsa não da grandeza do gênio 76 Mais do que A Smith escritores anteriores como Petty assim como o autor anônimo de Advantages of the East India Trade etc fixaram o caráter capitalista da divisão manufatureira do trabalho 77 Entre os modernos excetuamse alguns escritores do século XVIII como Beccaria e James Harris que em relação à divisão do trabalho limitamse quase exclusivamente a repetir os antigos Assim observa Beccaria Ciascuno prova collesperienza che applicando la mano e lingegno sempre allo stesso genere di opere e di produtti egli più facili più abbondanti e migliori ne traca resultati di quello che se ciascuno isolatamente le cose tutte a se necessarie soltanto facesse Dividendosi in tal maniera par la comune e privata utilità gli uomini invarie classe e condizioni Cada um encontra em sua própria experiência a prova de que aplicando a mão e o engenho sempre no mesmo gênero de trabalhos e de produtos os resultados são mais fáceis mais abundantes e melhores do que aquele que se cada um fizesse isoladamente todas as coisas que lhes são necessárias Desse modo os homens se dividem em várias classes e condições para a utilidade comum e privada Cesare Beccaria Elementi di econ pubblica Ed Custodi t XI parte moderna p 28 James Harris mais tarde conde de Malmesbury célebre pelos Diaries Diários de sua embaixada em São Petersburgo diz numa nota a seu Dialogue Concerning Happiness Londres 1741 reimpresso mais tarde em Three Treatises etc 3 ed Londres 1772 The whole argument to prove society natural is taken from the second book of Platos Republic A prova plena de que a sociedade é algo natural isto é pela divisão das ocupações foi extraída do segundo livro da República de Platão O autor de Dialogue Concerning Happiness é não o diplomata James Harris autor dos Diários e correspondência mas o pai dele que também se chamava James Harris Marx cita aqui a partir de Three Treatises Londres 1772 N E A MEW 78 Assim na Odisseia XIV 228 lêse Allov gár tH Âlloisin Ãnbr Êpitérpetai Ërgoiv Pois outro homem se deleita também em outros trabalhos e Arquíloco em Sexto Empírico Allov ÂllS ÊpH ËrgS kardíjn Ïaínetai Cada um recreia seus sentidos com um trabalho diferente Marx extrai essa expressão de Arquíloco da obra Adversus mathematicos livro II 44 de Sexto Empírico N E A MEW 79 PollH hpístato Ërga kakJv dH hpístato pánta Ele sabia realizar muitos trabalhos mas sabia todos mal Como produtor de mercadorias o ateniense sentiase superior ao espartano porque este na guerra podia dispor de homens mas não de dinheiro de acordo com o que segundo Tucídides teria dito Péricles no discurso em que incita os atenienses à guerra do Peloponeso SHmasí te êtoimóteroi oï a2tourgoì tJn ÃnqrHpwn j cramasi polemeîn Aqueles que produzem para sua subsistência estão mais preparados para fazer guerra com seus corpos do que com dinheiro Tucídides História da guerra do Peloponeso livro I c 141 Entretanto também na produção material a a2tarkeía autarquia que se opõe à divisão do trabalho permaneceu como seu ideal pois com esta há 667 prosperidade mas com aquela há independência É preciso mencionar que à época da queda dos trinta tiranos não chegavam a 5 mil os atenienses sem propriedade de terra Trinta tiranos Conselho instituído em Atenas após a Guerra do Peloponeso 101 aC a fim de preparar uma nova constituição Porém essa corporação não tardou a tomar todo o poder e a instaurar um regime de terror Depois de oito meses de domínio violento os trinta tiranos foram derrubados e a democracia escravista foi restaurada em Atenas N E A MEW 80 Platão desenvolve a divisão do trabalho na comunidade a partir da multilateralidade das necessidades e da unilateralidade das capacidades dos indivíduos O aspecto principal para ele é que o trabalhador tem de se ajustar à obra e não a obra ao trabalhador o que é inevitável quando ele exerce diversas artes ao mesmo tempo e uma ou outra delas se torna ofício secundário O2 gàr oîmai Êqéleitò tò prattómenon tbn toû práttontov scolbn periménein ÃllH Ãnágkj tòn práttonta tV prattoménS Êpakolouqeîn mb Ên parérgou mérei HAnágkj HEk db toútwn pleíw te ëkasta gígnetai kaì kállion kaì 1âon ötan eÎv Èn katà fúsin kaì Ên kairV scolbn tJn Âllwn Âgwn práttl Pois o trabalho não quer esperar pelo tempo livre daquele que o executa mas é o trabalhador que tem de se ater ao trabalho porém não de modo leviano isto é necessário Daí se segue portanto que se produz mais de cada coisa e o trabalho é realizado com mais beleza e facilidade quando cada um faz apenas uma coisa adequada a seu talento natural e no momento certo estando livre de outras ocupações De Republica II 2 Baiter Orelli etc Encontramos algo semelhante em Tucídides História da guerra do Peloponeso cit p 142 A navegação é uma arte como outra qualquer e não pode caso as circunstâncias o exijam ser exercida como ofício acessório mas ao contrário são as outras ocupações que não podem ser exercidas ao lado dela como ofícios acessórios Se a obra diz Platão tiver de esperar pelo trabalhador o momento crítico da produção será frequentemente perdido e o produto se estragará Ërgou kairòn dióllutai perdese o tempo correto para o trabalho A mesma ideia platônica pode ser novamente encontrada no protesto dos proprietários ingleses de branquearias contra a cláusula da lei fabril que estabelece determinado horário para as refeições de todos os trabalhadores Seu negócio não poderia adequarse aos trabalhadores pois in the various operations of singeing washing bleaching mangling calendering and dyeing none of them can be stopped at a given moment without risk of damage to enforce the same dinner hour for all the workpeople might occasionally subject valuable goods to the risk of danger by incomplete operations as diferentes operações de chamuscar lavar alvejar passar calandrar e tingir não podem ser interrompidas por momento algum sem o perigo de danos A imposição da mesma hora de refeição para todos os trabalhadores poderia ocasionalmente expor bens valiosos ao perigo pois o processo de trabalho ficaria inacabado Le platonisme où vatil se nicher O platonismo onde ele vai parar 81 Xenofonte relata que é não apenas honroso receber alimentos da mesa do rei persa mas que esses alimentos são muito mais saborosos que os outros E isso não é nada extraordinário pois assim como as demais artes são especialmente aperfeiçoadas nas grandes cidades também os alimentos reais são preparados de um modo inteiramente original Isso porque nas pequenas cidades o mesmo indivíduo faz a cama as portas o arado a mesa além disso ele frequentemente constrói casas e se considera satisfeito quando encontra uma clientela suficiente para garantir sua subsistência É impossível que um homem que faz tantas coisas diferentes faça tudo bem Mas nas grandes cidades onde cada indivíduo encontra muitos compradores um ofício é suficiente para alimentar um homem Muitas vezes nem é necessário um ofício inteiro podendo um indivíduo fazer sapatos masculinos e o outro sapatos femininos Aqui e ali um vive simplesmente da costura o outro do corte de sapatos um somente corta as roupas o outro apenas junta suas partes É necessário pois que o executor do trabalho mais simples o faça da melhor maneira O mesmo vale para a culinária Xenofonte Ciropédia livro VIII c 2 Aqui é fixada a excelência do valor de uso a ser atingida embora Xenofonte já saiba que a escala da divisão do trabalho depende da extensão do mercado 82 Ele Busíris dividiuos todos em castas particulares ordenou que eles sempre executassem os mesmos ofícios porque sabia que os que variam suas ocupações não se aprofundam em nenhuma ao passo que aqueles que permanecem nas mesmas ocupações realizam tudo do modo mais perfeito De fato podemos verificar que suas artes e ofícios superaram as de seus rivais numa medida maior do que o mestre supera o sarrafaçal e seus mecanismos para conservar a monarquia e o restante das instituições estatais são tão admiráveis que os mais célebres filósofos que trataram desse assunto louvaram a constituição do Estado egípcio mais do que todas as outras Isócrates Busíris c 8 83 Cf Diod Sic Diodoro Sículo Historische Bibliothek cit 84 A Ure Philos of Manuf cit p 20 85 Isso vale mais para a Inglaterra do que para a França e mais para a França do que para a Holanda e Ibidem p 21 N E A MEGA f Idem N T 668 86 It is questionable if all the mechanical inventions yet made have lightened the days toil of any human being Mill devia ter dito of any human being not fed by other peoples labour de algum ser humano que não se alimenta do trabalho de outrem pois a maquinaria aumentou indubitavelmente o número dos honrados ociosos 87 Ver por exemplo o Course of Mathematics de Hutton 88 Desse ponto de vista pois podese traçar uma nítida fronteira entre ferramenta e máquina pá martelo cinzel etc alavancas e chaves de fenda para os quais mesmo sendo artificiais o homem é a força motriz tudo isso entra no conceito de ferramenta ao passo que o arado com a força animal que o move os moinhos de vento etc devem ser contados entre as máquinas Wilhelm Schulz Die Bewegung der Produktion Zurique 1843 p 38 Uma obra louvável em vários sentidos 89 Antes dela ainda que muito imperfeitas foram utilizadas máquinas para torcer o fio provavelmente na Itália pela primeira vez Uma história crítica da tecnologia provaria o quão pouco qualquer invenção do século XVIII pode ser atribuída a um único indivíduo Até então tal obra inexiste Darwin atraiu o interesse para a história da tecnologia natural isto é para a formação dos órgãos das plantas e dos animais como instrumentos de produção para a vida Não mereceria igual atenção a história da formação dos órgãos produtivos do homem social da base material de toda organização social particular E não seria ela mais fácil de ser compilada uma vez que como diz Vico a história dos homens se diferencia da história natural pelo fato de fazermos uma e não a outra A tecnologia desvela a atitude ativa do homem em relação à natureza o processo imediato de produção de sua vida e com isso também de suas condições sociais de vida e das concepções espirituais que delas decorrem Mesmo toda história da religião que abstrai dessa base material é acrítica De fato é muito mais fácil encontrar por meio da análise o núcleo terreno das nebulosas representações religiosas do que inversamente desenvolver a partir das condições reais de vida de cada momento suas correspondentes formas celestializadas Este é o único método materialista e portanto científico O defeito do materialismo abstrato da ciência natural que exclui o processo histórico pode ser percebido já pelas concepções abstratas e ideológicas de seus portavozes onde quer que eles se aventurem além dos limites de sua especialidade a Máquina que obtinha a expansão e contração do volume habitual de ar por meio do aquecimento e resfriamento Em comparação com a máquina a vapor a máquina calórica era pesada e pouco eficiente Foi inventada no começo do século XIX mas já no fim daquele mesmo século perdeu toda importância prática N E A MEW 90 Especialmente na forma primitiva do tear mecânico podese reconhecer à primeira vista o tear antigo Este aparece essencialmente modificado em sua forma moderna 91 É somente por volta de 1850 que se passa a fabricar mecanicamente uma parte cada vez maior das ferramentas empregadas nas máquinas de trabalho embora não pelos mesmos fabricantes dessas As máquinas para fabricação das ferramentas mecânicas são por exemplo a automatic bobbinmaking engine a cardsetting engine as máquinas para a produção de lançadeiras as máquinas para soldar os fusos da mule e a throstle antiga máquina de fiar lã e algodão b Máquina de fiar inventada por James Hargreaves nos anos 17641767 e por ele batizada com o nome de sua filha N E A MEW 92 Moisés do Egito diz Não atarás a boca do boi quando ele pisar o grão Deuteronômio 254 Os filantropos germânicos cristãos ao contrário costumavam fixar um grande disco de madeira ao redor do pescoço do servo por eles empregado como força motriz na moenda para impedilo de levar farinha à boca com a mão 93 Em parte foi a falta de quedas dágua naturais e em parte a luta contra inundações que forçaram os holandeses à utilização do vento como força motriz O próprio moinho de vento eles obtiveram da Alemanha onde essa invenção provocou uma galante luta entre a nobreza o clero e o imperador em torno da questão de a qual dos três pertencia o vento O ar torna o homem servo exclamavase na Alemanha enquanto o vento torna a Holanda livre O que o vento reduzia à servidão nesse caso não era o holandês mas o solo para o holandês Ainda em 1836 empregavamse na Holanda 12 mil moinhos de vento de 6 mil cavalos de força para impedir que dois terços do país voltasse a se transformar em pântano 94 Ela já foi muito melhorada com a primeira máquina a vapor de Watt a assim chamada máquina de ação simples porém permaneceu sob essa forma como mera máquina para drenagem de água e salmoura 95 A reunião de todos esses instrumentos simples movidos por um único motor constitui uma máquina Babbage On the Economy of Machinery and Manufactures cit p 136 96 Em dezembro de 1859 na Society of Arts John C Morton apresentou um trabalho sobre as forças utilizadas na agricultura Entre outras coisas ele dizia Toda melhoria que contribua para a uniformização do solo possibilita a utilização da máquina a vapor na produção da força puramente mecânica A força do cavalo é exigida onde sebes 669 irregulares e outros obstáculos impedem a ação uniforme Tais obstáculos desaparecem progressivamente a cada dia Em operações que requerem um exercício maior da vontade e menos força efetiva a única força aplicável é aquela dirigida minuto a minuto pelo espírito humano portanto a força humana O sr Morton reduz então a força do vapor do cavalo e a humana à unidade de medida usual em máquinas a vapor a saber a força necessária para erguer 33 mil libras por minuto a 1 pé e calcula os custos de 1 cavalovapor em 3 pence por hora para a máquina a vapor e em 55 pence para o cavalo Além disso o cavalo em condições plenas de saúde só pode ser utilizado por 8 horas diárias Por meio da força do vapor podem ser poupados durante o ano inteiro um mínimo de três de cada sete cavalos sobre a terra cultivada a um preço de custo que não ultrapassa o preço dos cavalos dispensados durante os três ou quatro meses em que são efetivamente utilizados Por fim nas operações agrícolas em que a força do vapor pode ser aplicada esta melhora a qualidade do produto se comparada com a força do cavalo Para executar o trabalho da máquina a vapor teriam de ser empregados 66 trabalhadores a um preço total de 15 xelins por hora e para executar o trabalho dos cavalos seriam necessários 32 homens a um preço total de 8 xelins por hora 97 Faulhaber 1625 De Cous 1688 98 A moderna invenção das turbinas liberta a exploração industrial da força hidráulica de muitas limitações anteriores 99 In the early days of textile manufactures the locality of the factory depended upon the existence of a stream having a sufficient fall to turn a water wheel and although the establishment of the water mills was the commencement of the breaking up of the domestic system of manufacture yet the mills necessarily situated upon streams and frequently at considerable distances the one from the other formed part of a rural rather than an urban system and it was not until the introduction of the steampower as a substitute for the stream that factories were congregated in towns and localities where the coal and water required for the production of steam were found in sufficient quantities The steamengine is the parent of manufacturing towns Nos inícios da manufatura têxtil a localização da fábrica dependia da existência de um curso dágua que tivesse uma queda suficiente para fazer girar uma roda hidráulica e embora o estabelecimento dos moinhos dágua significasse o início da dissolução do sistema da indústria doméstica os moinhos que tinham necessariamente de ser instalados próximo a cursos dágua e frequentemente se situavam a uma distância considerável uns dos outros representavam uma parte de um sistema mais rural do que urbano apenas com a introdução da força do vapor em substituição ao curso dágua é que as fábricas foram concentradas em cidades e em localidades onde carvão e água necessários à produção do vapor estavam disponíveis em quantidade suficiente A máquina a vapor é a mãe das cidades industriais A Redgrave em Reports of the Insp of Fact 30th April 1860 p 36 100 Do ponto de vista da divisão manufatureira do trabalho a tecelagem não era um trabalho simples mas antes um complexo trabalho artesanal de modo que o tear mecânico é uma máquina que executa operações muito variadas É absolutamente falsa a concepção de que a maquinaria moderna se apropria originalmente de operações que a divisão manufatureira do trabalho havia simplificado Fiar e tecer foram durante o período da manufatura diversificadas em novas espécies e suas ferramentas foram melhoradas e variadas mas o processo de trabalho em si não foi de modo nenhum dividido mantendo seu caráter artesanal Não é do trabalho que a máquina surge mas do meio de trabalho 101 Antes da época da grande indústria a manufatura da lã dominava na Inglaterra razão pela qual nela foi realizada durante a primeira metade do século XVIII a maioria dos experimentos O algodão cujo processamento mecanizado exige preparativos menos trabalhosos foi beneficiado pelas experiências feitas na lã de ovelha assim como mais tarde a indústria mecânica da lã se desenvolverá com base na fiação e na tecelagem mecânicas do algodão Apenas nas últimas décadas elementos isolados da manufatura da lã foram incorporados ao sistema fabril como a cardagem de lã The application of power to the process of combing wool extensively in operation since the introduction of the combing machine especially Listers undoubtedly had the effect of throwing a very large number of men out of work Wool was formerly combed by hand most frequently in the cottage of the comber It is now very generally combed in the factory and hand labour is superseded except in some particular kinds of work in which handcombed wool is still preferred Many of the handcombers found employment in the factories but the produce of the handcomber bears so small a proportion to that of the machine that the employment of a very large number of combers has passed away A aplicação de força mecânica ao processo de cardagem que desde a introdução da máquina de cardar especialmente a de Lister deuse em grande escala teve indubitavelmente como efeito que um grande número de trabalhadores fossem dispensados de seu trabalho Anteriormente a lã era cardada a mão na maioria das vezes no cottage casebre do cardador Agora ela é geralmente cardada na fábrica e o trabalho manual foi eliminado com exceção de alguns tipos particulares de trabalho em que ainda se prefere lã cardada a mão Muitos dos cardadores manuais encontraram emprego nas fábricas mas o produto do trabalho do cardador manual é tão pequeno em comparação com o da máquina que um 670 grande número de cardadores permaneceu sem ocupação A Redgrave Rep of Insp of Fact for 31st Oct 1856 p 16 102 The principle of the factory system then is to substitute the partition of a process into its essential constituents for the division or gradation of labour among artisans O princípio do sistema de fábrica consiste então em substituir a divisão ou gradação do trabalho entre os artesãos pela divisão do processo de trabalho em suas partes essenciais Ure The Philosophy of Manufactures cit p 20 103 O tear mecânico em sua primeira forma é feito fundamentalmente de madeira e sua forma melhorada moderna de ferro O quanto inicialmente a velha forma do meio de produção domina sua nova forma mostrao entre outras coisas a comparação mais superficial do moderno tear a vapor com o antigo dos modernos instrumentos de sopro empregados nas fundições de ferro com as primeiras e ineficientes reproduções do fole comum e talvez de modo mais evidente que qualquer outro com as tentativas antes da invenção das locomotivas atuais de construir uma locomotiva que tinha de fato duas patas que ela erguia alternadamente como um cavalo Somente depois do desenvolvimento da mecânica e com a experiência prática acumulada é que a forma de uma máquina passa a ser determinada inteiramente de acordo com princípios mecânicos e por conseguinte emancipase plenamente da forma corpórea tradicional da ferramenta que se metamorfoseou em máquina 104 Até recentemente a cotton gin do ianque Eli Whitney fora menos modificada em sua essência do que qualquer outra máquina do século XVIII Somente nas últimas década antes de 1867 um outro americano o sr Emery de Albany Nova York tornou antiquada a máquina de Whitney mediante uma melhoria tão simples quanto eficaz 105 The Industry of Nations Londres 1855 parte II p 239 Onde também se lê Simple and outwardly unimportant as this appendage to lathes may appear it is not we believe averring too much to state that its influence in improving and extending the use of machinery has been as great as that produced by Watts improvements of the steamengine itselss Its introduction went at once to perfect all machinery to cheapen it and to stimulate invention and improvement Por mais simples e exteriormente pouco importante que possa parecer esse acessório do torno cremos não ser exagerado constatar que sua influência na melhoria e ampliação do emprego de máquinas foi tão grande quanto os aperfeiçoamentos realizados por Watt na máquina a vapor Sua introdução teve como consequência imediata uma melhoria e o barateamento de todas as máquinas estimulando invenções e melhorias ulteriores 106 Em Londres uma dessas máquinas para a forja de paddlewheel shafts eixos de rodas de pás traz o nome de Thor Ela forja um eixo de 165 toneladas com a mesma facilidade com que o ferreiro forja uma ferradura 107 A maioria das máquinas que trabalham a madeira que podem ser aplicada em pequena escala é invenção americana 108 A ciência não custa ao capitalista absolutamente nada o que não o impede de explorála A ciência alheia é incorporada ao capital como trabalho alheio mas a apropriação capitalista e a apropriação pessoal seja da ciência ou da riqueza material são coisas totalmente díspares O próprio dr Ure lamentava o grosseiro desconhecimento que seus queridos fabricantes exploradores de máquinas demonstravam em relação à mecânica e Liebig relata a desesperadora ignorância dos fabricantes ingleses em relação à química 109 Ricardo coloca tanta ênfase nesse efeito das máquinas com o qual de resto ele se ocupa tão pouco quanto com a distinção geral entre o processo de trabalho e o processo de valorização que eventualmente perde de vista o valor que elas conferem ao produto tratando delas no mesmo plano das forças naturais Assim por exemplo ele escreve Adam Smith nowhere undervalues the services which the natural agents and machinery perform for us but he very justly distinguishes the nature of the value which they add to commodities as they perform their work gratuitously the assistance which they afford us adds nothing to value in exchange Adam Smith jamais subestima os serviços que nos prestam as forças naturais e a maquinaria porém diferencia muito corretamente a natureza do valor que elas adicionam às mercadorias como realizam seu trabalho gratuitamente a assistência que elas nos prestam não acrescenta nada ao valor de troca Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 3367 A observação de Ricardo é naturalmente correta na medida em que é dirigida contra J B Say que imagina que as máquinas prestam o serviço de criar valor que constitui uma parte do lucro 109a Nota à terceira edição Um cavalovapor é igual à força de 33 mil libraspé por minuto isto é à força necessária para erguer 33 mil libras em 1 minuto a um pé inglês de altura ou 1 libra a 33 mil pés Esse é o cavalo vapor anteriormente mencionado Porém na linguagem comum dos negócios e ocasionalmente em algumas citações deste livro distinguese entre cavalosvapor nominais e cavalosvapor comerciais ou indicados de uma mesma máquina O cavalovapor antigo ou nominal é calculado exclusivamente pelo percurso do êmbolo e pelo diâmetro do cilindro e desconsidera completamente a pressão do vapor e a velocidade do êmbolo De fato o que o cavalovapor 671 expressa é os seguinte essa máquina a vapor tem por exemplo 50 cavalosvapor sempre que funciona com a mesma baixa pressão do vapor e uma velocidade do êmbolo tão baixa quanto aquela dos tempos de Boulton e Watt Ocorre que desde aquela época estes dois últimos fatores aumentaram enormemente Em nossos dias para medir a força mecânica realmente fornecida por uma máquina inventouse o indicador que informa a pressão do vapor A velocidade do êmbolo pode ser facilmente determinada Assim a medida do cavalovapor indicado ou comercial de uma máquina é uma fórmula matemática que considera simultaneamente o diâmetro do cilindro o curso percorrido pelo êmbolo a velocidade do êmbolo e a pressão do vapor e com isso indica quantas vezes a máquina desenvolve realmente uma força de 33 mil libraspé por minuto Um cavalovapor nominal pode na realidade render três quatro ou mesmo cinco cavalosvapor indicados ou reais Isso serve como explicação para diversas citações posteriores F E c J B Baynes The Cotton Trade Two Lectures on the Above Subject Delivered Before the Members of the Blackburn Literary Scientific and Mechanics Institution BlackburnLondres 1857 p 48 N E A MEW 110 O leitor impregnado de concepções capitalistas certamente sentirá falta aqui do juro que a máquina pro rata proporcionalmente ao valor de seu capital adiciona ao produto No entanto é fácil de compreender que a máquina que assim como os demais componentes do capital constante não produz nenhum valor novo não pode agregar ao produto esse valor sob a denominação de juro Além disso é evidente que tratandose aqui da produção do mais valor nenhuma parcela deste último pode ser pressuposta a priori sob a denominação de juro O modo capitalista de cálculo que prima facie parece absurdo e em contradição com as leis da formação do valor encontra sua explicação no livro terceiro desta obra 111 Esse componente do valor adicionado pela máquina diminui em termos absolutos e relativos lá onde ela substitui os cavalos ou em geral outros animais de trabalho que são utilizados unicamente como força motriz e não como máquinas de metabolismo Stoffwechselmachinen Descartes digase de passagem com sua definição dos animais como meras máquinas enxerga com os olhos do período manufatureiro em contraste com a Idade Média época em que se considera o animal como auxiliar do homem tal como posteriormente ele é considerado pelo sr Von Haller em sua Restauration der Staatswissenschaften Que Descartes do mesmo modo que Bacon via na forma modificada da produção assim como no domínio prático da natureza pelo homem um resultado das modificações operadas no método de pensar é evidente em seu Discours de la méthode no qual entre outras coisas se lê Il est possible de parvenir à des connaissances fort utiles à la vie et quau lieu de cette philosophie spéculative quon enseigne dans les écoles on en peut trouver une pratique par laquelle connaissant la force et les actions du feu de leau de lair des astres et de tous les autres corps qui nous environnent aussi distinctement que nous connaissons les divers métiers de nos artisans nous les pourrions employer en même façon à tous les usages auxquels ils sont propres et ainsi nous rendre comme maîtres et possesseurs de la nature contribuer au perfectionnement de la vie humaine É possível por meio do método por ele introduzido na filosofia atingir conhecimentos que são muito úteis para a vida e no lugar daquela filosofia especulativa que se aprende nas escolas encontrar uma filosofia prática mediante a qual conhecendo a força e os efeitos do fogo da água do ar dos astros e de todos os demais corpos que nos rodeiam e conhecendoos tão precisamente quanto conhecemos os diversos ofícios de nossos artesãos poderíamos empregálos da mesma forma para todas as finalidades que lhes são próprias convertendonos assim em donos e senhores da natureza contribuindo então para o aperfeiçoamento da vida humana No prefácio aos Discourses upon Trade 1691 de sir Dudley North dizse que a aplicação do método cartesiano à economia política começou a libertála de velhas fábulas e ideias supersticiosas sobre o dinheiro o comércio etc Na média geral no entanto os economistas ingleses da primeira época seguiram os passos de Bacon e Hobbes em filosofia ao passo que num período posterior foi Locke quem se converteu em o filósofo katH Êxocan por excelência da economia política na Inglaterra na França e na Itália 112 Com base num relatório anual da Câmara de Comércio de Essen outubro de 1863 em 1862 a fábrica Krupp produziu 13 milhões de libras de aço fundido empregando para isso 161 fornos de fundição fornalhas de incandescência e fornos de cimento 32 máquinas a vapor em 1800 este era aproximadamente o número total das máquinas a vapor empregadas em Manchester e 14 martelos a vapor que representam juntos 1236 cavalosvapor 49 fornalhas 203 máquinasferramentas e cerca de 2400 trabalhadores Portanto menos de 2 trabalhadores para cada cavalovapor 113 Babbage calcula que em Java o trabalho de fiação agrega quase exclusivamente 117 ao valor do algodão Na mesma época 1832 o valor total que a maquinaria e o trabalho agregavam ao algodão na Inglaterra na fiação fina chegava a cerca de 33 do valor da matériaprima Babbage On the Economy of Machinery cit p 1656 114 Na estampagem mecânica além disso economizase tinta 672 115 Cf Paper Read by Dr Watson Reporter on Products to the Government of India before the Society of Arts 17 abr 1860 116 These mute agents are always the produce of much less labour than that which they displace even when they are of the same money value Esses agentes mudos as máquinas são sempre o produto de muito menos trabalho do que aquele que eles substituem mesmo quando têm o mesmo valor monetário Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 40 116a Nota à segunda edição Numa sociedade comunista portanto a maquinaria teria um campo de atuação totalmente distinto do que tem na sociedade burguesa 117 Employers of labour would not unnecessarily retain two sets of children under thirteen In fact one class of manufacturers the spinners of woollen yarn now rarely employ children under thirteen years of ages ie halftimes They have introduced improved and new machinery of various kinds which altogether supersedes the employment of children ssi I will mention one process as an illustration of this diminution in the number of children wherein by the addition of an apparatus called a piecing machine to existing machines the work of six or four halftimes according to the peculiarity of each machine can be performed by one young person the halftime system the invention of the piecing machine Os empregadores de trabalho não manteriam desnecessariamente dois grupos de criança menores de treze anos De fato uma classe de manufaturadores os fiadores de fio de lã raramente emprega crianças abaixo de 13 anos de idade isto é trabalhadores de tempo parcial Introduziram maquinaria aperfeiçoada e novas máquinas de vários tipos que tornaram supérfluo o emprego de crianças isto é menores de 13 anos como exemplo mencionarei um processo de trabalho que ilustra essa diminuição do número de crianças no qual adicionandose às máquinas existentes um aparelho chamado máquina de emendar uma pessoa jovem maior de 13 anos pode conforme as características da máquina realizar o trabalho de 6 ou 4 meiosturnos O sistema de meio turno estimulou a invenção da máquina de emendar Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1858 p 423 118 Machinery can frequently not be employed until labour er meint Wages rises A maquinaria frequentemente não pode ser empregada até que haja um aumento do trabalho ele quer dizer dos salários Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 479 119 Ver Report of the Social Science Congress at Edinburgh Oct 1863 120 Durante a crise do algodão que acompanhou a Guerra Civil Americana o governo inglês enviou o dr Edward Smith a Lancashire Cheshire etc para informar sobre a condição sanitária dos trabalhadores da indústria algodoeira Ele relata entre outras coisas no que diz respeito à higiene a crise deixando de lado o fato de ela ter banido os trabalhadores da atmosfera da fábrica teria várias outras vantagens As mulheres operárias encontravam agora tempo livre necessário para amamentar suas crianças em vez de envenenálas com Godfreys Cordial um opiato Elas dispunham de tempo para aprender a cozinhar Lamentavelmente essa arte culinária lhes chegou num momento em que nada tinham para comer Vêse porém como o capital visando sua autovalorização usurpou o trabalho familiar necessário para o consumo Mesmo assim a crise foi usada para em escolas especiais ensinar as filhas dos operários a costurar para que jovens trabalhadoras que fiam para o mundo inteiro aprendessem a costurar foram necessárias uma revolução na América do Norte e uma crise mundial 121 The numerical increase of labourers has been great through the growing substitution of female for male and above all of childish for adult labour Three girls of 13 at wages from of 6 sh to 8 sh a week have replaced the one man of mature age of wages varying from 18 sh to 45 sh O número dos trabalhadores aumentou muito por causa da substituição crescente do trabalho feminino por masculino e acima de tudo do trabalho infantil por trabalho adulto Três meninas de 13 anos com salários de 6 a 8 xelins por semana substituíam agora um homem de idade madura e cujo salário variava entre 16 e 45 xelins T de Quincey The Logic of Politic Econ Londres 1844 nota à p 147 Como certas funções da família por exemplo cuidar das crianças e amamentálas etc não podem ser inteiramente suprimidas as mães de família confiscadas pelo capital têm de arranjar quem as substitua em maior ou menor medida É necessário substituir por mercadorias prontas os trabalhos domésticos que o consumo da família exige como costurar remendar etc A um dispêndio menor de trabalho doméstico corresponde portanto um dispêndio maior de dinheiro de modo que os custos de produção da família operária crescem e contrabalançam a receita aumentada A isso se acrescenta que a economia e a eficiência no uso e na preparação dos meios de subsistência se tornam impossíveis Sobre esses fatos encobertos pela economia política oficial encontrase um abundante material nos Reports dos inspetores de fábrica e da Childrens Employment Commission e particularmente nos Reports on Public Health 122 Em contraste com o grande fato de a limitação do trabalho feminino e infantil nas fábricas inglesas ter sido conquistada ao capital pelos trabalhadores masculinos adultos ainda se leem nos relatórios mais recentes da Childrens Employment Commission atitudes verdadeiramente revoltantes próprias de comerciantes de escravos por 673 parte de pais trabalhadores no que concerne ao tráfico de crianças Mas o fariseu capitalista como se pode ver nesses mesmos Reports denuncia essa bestialidade por ele mesmo criada eternizada e explorada e que em outras ocasiões ele denomina liberdade de trabalho Infant labour has been called into aid even to work for their own daily bread Without strength to endure such disproportionate toil without instruction to guide their future life they have been thrown into a situation physically and morally polluted The Jewish historian has remarked upon the overthrow of Jerusalem by Titus that is was no wonder it should have been destroyed with such a signal destruction when an inhuman mother sacrificed her own offspring to satisfy the cravings of absolute hunger Recorreuse ao trabalho infantil até mesmo para que as crianças trabalhem por seu próprio pão de cada dia Sem forças para suportar faina tão desproporcional sem instrução para guiar sua vida futura foram jogadas numa situação física e moralmente corrompida O historiador judeu observou com respeito à destruição de Jerusalém por Tito que não era de admirar que a cidade tivesse de ser destruída e de maneira tão terrível quando lá uma mãe desumana sacrificara seu próprio rebento para saciar aos impulsos de uma fome absoluta Public Economy Concentrated Carlisle 1833 p 66 123 A Redgrave em Reports of Insp of Fact for 31st October 1858 p 401 124 Childrens Employment Commission V Report Londres 1866 p 81 n 31 Nota à quarta edição A indústria da seda de Bethnal Green está agora praticamente aniquilada F E 125 Idem III Report Londres 1864 p 53 n 15 126 Idem V Report p XXII n 137 127 Sixth Report on Public Health Londres 1864 p 34 d Nas terceira e quarta edições natural N E A MEW 128 It showed moreover that while with the described circumstances infants perish under the neglect and mismanagement which their mothers occupations imply the mothers become to a grievous extent denaturalized towards their offspring commonly not troubling themselves much at the death and even sometimes taking direct measures to ensure it Ele o inquérito de 1861 mostrou além disso que enquanto nas circunstâncias descritas as crianças pequenas perecem sob a negligência e os maustratos implicados pelas ocupações de suas mães estas se tornam num grau assustador desnaturadas em relação a seus rebentos comumente não se incomodando muito com a morte deles e às vezes até mesmo tomando medidas diretas para provocála idem 129 Ibidem p 454 130 Reports by Dr Henry Julian Hunter on the Excessive Mortality of Infants in some Rural Districts of England 131 Ibidem p 35 4556 132 Ibidem p 456 133 Tal como nos distritos fabris ingleses também nos distritos agrícolas o consumo de ópio aumenta dia a dia entre os trabalhadores e trabalhadoras adultos To push the sale of opiate is the great aim of some enterprising wholesale merchants By druggists it is considered the leading article Promover a venda de opiatos é o grande objetivo de alguns grandes comerciantes Os farmacêuticos os consideram como o artigo de maior saída ibidem p 460 Veja como a Índia e a China se vingam da Inglaterra 134 Ibidem p 37 135 Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 59 Este inspetor de fábrica havia sido médico 136 Leonard Horner em Reports of Insp of Fact for 30th April 1857 p 17 137 Idem em Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1855 p 189 138 Sir John Kincaid em Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1858 p 312 139 Leonard Horner em Reports etc for 30th Apr 1857 p 178 140 Sir John Kincaid em Rep Insp Fact for 31st Oct 1856 p 66 141 A Redgrave em Reports 31st October 1857 p 413 Nos ramos da indústria inglesa há muito tempo submetidos à lei fabril propriamente dita não à Print Works Act que se mencionou por último os obstáculos opostos às cláusulas educacionais nos últimos anos foram em certa medida superados Nas indústrias não submetidas à lei fabril ainda prevalecem em grande parte os critérios do fabricante de vidro J Geddes que esclarece o comissário de inquérito White nos seguintes termos até onde posso julgar o maior volume de instrução de que uma parte da classe trabalhadora usufruiu nos últimos anos teve uma efeito negativo É algo perigoso pois os torna independentes Childrens Empl Commission IV Report Londres 1865 p 253 674 142 O sr E um fabricante informoume que empregava exclusivamente mulheres em seus teares mecânicos dando preferência às mulheres casadas e especialmente àquelas que tinham em casa uma família que delas dependia para sua manutenção tais mulheres são mais atentas e dóceis que as solteiras e se submetem aos esforços mais extremos para obter seu sustento Desse modo as virtudes mais especificamente as virtudes peculiares do caráter feminino pervertemse em detrimento da própria mulher e assim tudo o que é moral e terno em sua natureza convertese num meio de sua escravização e sofrimento Ten Hours Factory Bill The Speech of Lord Ashley March 15th Londres 1844 p 20 143 Desde a introdução geral da cara maquinaria a natureza humana foi forçada muito além de sua força média Robert Owen Observations on the Effects of the Manufacturing System 2 ed Londres 1817 p 16 144 Os ingleses acostumados a tomar a primeira forma de manifestação empírica de uma coisa como seu fundamento costumam considerar como causa do longo tempo de trabalho nas fábricas o grande roubo das crianças que o capital à maneira de Herodes cometeu nos inícios do sistema fabril nos abrigos de pobres e de órfãos Assim por exemplo Fielden ele mesmo um fabricante inglês declara It is evident that the long hours of work were brought about by the circumstance of so great a number of destitute children being supplied from different parts of the country that the masters were independent of the hands and that having once established the custom by means of the miserable materials they had procured in this way they could impose it on their neighbours with the greater facility É evidente que as longas horas de trabalho foram instituídas pela circunstância de que um número tão grande de crianças desamparadas eram fornecidas por diferentes regiões do país de modo que os patrões não dependiam dos operários e que depois de terem estabelecido esse tempo de trabalho como costume com ajuda desse material humano miserável que assim haviam obtido eles puderam impôlo a seus vizinhos com a maior facilidade J Fielden The Curse of the Factory System Londres 1836 p 11 Quanto ao trabalho feminino diz o inspetor de fábricas Saunders no relatório fabril de 1844 Entre as trabalhadoras há mulheres que por muitas semanas consecutivas excetuandose uns poucos dias trabalham das 6 da manhã até a meianoite com menos de 2 horas de pausas para as refeições de modo que em 5 dias da semana restamlhes somente 6 horas de 24 para ir à casa e deitarse 145 Occasion injury to the delicate moving parts of metallic mechanism by inaction A causa da deterioração das delicadas partes móveis do mecanismo metálico pode residir na inatividade Ure The Philosophy of Manufactures cit p 281 146 O já mencionado Manchester Spinner Times 26 nov 1862 inclui entre os custos da maquinaria o seguinte It namely allowance for deterioration of machinery is also intended to cover the loss which is constantly arising from the superseding of machines before they are worn out by others of a new and better construction Ele isto é o desconto pelo desgaste da maquinaria tem também a finalidade de cobrir a perda que deriva do fato de máquinas mais novas e de construção aperfeiçoada substituírem constantemente as máquinas antigas antes que estas estejam desgastadas 147 Calculase grosso modo que construir uma única máquina segundo um modelo novo tem o mesmo custo da reconstrução da mesma máquina segundo esse mesmo modelo Babbage On the Economy of Machinery cit p 211 2 148 Nos últimos anos introduziramse tantas e tão importantes melhorias na fabricação de tules que uma máquina bem conservada cujo preço de custo original fora de 1200 foi vendida alguns anos depois por 60 Os aperfeiçoamentos se sucediam numa velocidade tal que as máquinas restavam inacabadas nas mãos de seus construtores tendo se tornado antiquadas pelos inventos mais bemsucedidos Por esse motivo nesse período de tempestade e ímpeto Sturm und Drang os fabricantes de tule estenderam a jornada de trabalho das 8 horas originais para 24 horas com dois turnos de pessoal Ibidem p 233 149 It is selfevident that amid the ebbings and flowings of the market and the alternate expansions and contractions of demand occasions will constantly recur in which the manufacturer may employ additional floating capital without employing additional fixed capital if additional quantities of raw material can be worked up without incurring an additional expense for buildings and machinery É evidente por si só que com as oscilações do mercado e as expansões e contrações alternadas da demanda haverá constantemente ocasiões em que o manufaturador poderá empregar capital circulante adicional sem empregar capital fixo adicional sempre que se puder trabalhar quantidades adicionais de matériaprima sem incorrer em despesas adicionais com edifícios e maquinaria R Torrens On Wages and Combination Londres 1834 p 64 150 A circunstância mencionada no texto serve apenas para tornar mais completa a exposição uma vez que só no Livro III tratarei da taxa de lucro isto é da relação do maisvalor com o capital total adiantado 151 When a labourer lays down his spade he renders useless for that period a capital worth 18 d When one of our people 675 leaves the mill he renders useless a capital that has cost 100000 pounds Senior Letters on the Factory Act Londres 1837 p 14 152 The great proportion of fixed to circulating capital makes long hours of work desirable A grande proporção do capital fixo em relação ao capital circulante torna desejável uma longa jornada de trabalho Com o uso crescente da maquinaria etc the motives to long hours of work will become greater as the only means by which a large proportion of fixed capital can be made profitable intensificamse os motivos para prolongar a jornada de trabalho já que esse é o único meio de tornar lucrativa uma grande proporção de capital fixo ibidem p 114 Numa fábrica há diversos gastos que se mantêm constantes independentemente de ela trabalhar mais ou menos tempo como o aluguel dos edifícios os impostos locais e nacionais o seguro contra incêndios o salário pago a diversos trabalhadores permanentes o desgaste da maquinaria além de várias outras despesas cuja proporção em relação ao lucro decresce na mesma razão em que o volume da produção aumenta Reports of the Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 19 e Citação modificada de Schiller Das Lied von der Glocke A canção do sino versos 789 Oh que dure para sempre o frescor Do belo tempo do jovem amor N T 153 A razão pela qual essa contradição imanente não se torna consciente para o capitalista individual e assim tampouco para a economia política que se move no interior de suas concepções será exposta nas primeiras seções do Livro III 154 Um dos grandes méritos de Ricardo consiste em ter conceituado a maquinaria não apenas como meio de produção de mercadorias mas também de redundant population população redundante 155 F Biese Die Philosophie des Aristoteles Berlim 1842 v 2 p 408 156 Apresento aqui o poema na tradução alemã de Stolberg pois tanto quanto as citações anteriores sobre a divisão do trabalho ele caracteriza a antítese entre a visão antiga e a moderna Schonet der mahlenden Hand o Müllerinnen und schlafet Sanft es verkünde der Hahn euch den Morgen umsonst Däo hat die Arbeit der Mädchen den Nymphen befohlen Und itzt hüpfen sie leicht über die Räder dahin Dass die erschütterten Achsen mit ihren Speichen sich wälzen Und im Kreise die Last drehen des wälzenden Steins Lasst uns leben das Leben der Väter und lasst uns der Gaben Arbeitslos uns freun welche die Göttin uns schenkt Poupem a mão moedora ó moleiras e durmam Em paz Que o galo lhes anuncie a manhã em vão Às ninfas ordenou Deméter o trabalho das moças E lá se vão elas a saltar sobre as rodas Pois que rodem os eixos com suas varas E em círculo movam a peso da pedra giratória Mas nos deixem viver a vida dos pais e alegrarnos Sem trabalho com a dádiva que a deusa nos traz 157 Em geral existem diferenças como é natural na intensidade dos trabalhos pertencentes a diferentes ramos da produção Tais diferenças se compensam parcialmente como já o mostrou Adam Smith pelas circunstâncias secundárias próprias a cada tipo de trabalho Aqui porém um efeito sobre o tempo de trabalho como medida de valor só ocorre na medida em que as grandezas intensiva e extensiva se apresentam como expressões contrapostas e reciprocamente excludentes da mesma quantidade de trabalho 158 Principalmente por meio do salário por peça Stücklohn forma que será examinada na seção 6 159 Ver Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1865 160 Reports of Insp of Fact for 1844 and the quarter ending 30th April 1845 p 201 161 Ibidem p 19 Como o salário por peça mantinhase inalterado o volume do salário semanal dependia da quantidade do produto 162 Ibidem p 20 163 Ibidem p 21 O elemento moral desempenhou um papel importante nos experimentos anteriormente mencionados We work with more spirit we have the reward ever before us of getting away sooner at night and one active and cheerful spirit pervades the whole mill from the youngest piecer to the oldest hand and we can greatly help each other Trabalhamos com mais entusiasmo disseram os operários ao inspetor de fábrica pensamos continuamente na recompensa de sair mais cedo à noite um espírito mais ativo e mais alegre impregna a fábrica inteira desde o ajudante mais jovem até o operário mais antigo e podemos nos ajudar melhor uns aos outros idem 164 John Fielden The Curse of the Factory System cit p 32 f Ne é a sigla utilizada na numeração da espessura do fio de algodão segundo o sistema inglês O fio Ne 40 possui 40 metros em 059 gramas dele mesmo o fio Ne 30 possui 30 metros e assim por diante N T 165 Lord Ashley Ten Hours Factory Bill The Speech of Lord Ashley March 15th cit p 69s 676 166 Reports of Insp of Fact to 30th April 1845 p 20 167 Ibidem p 22 168 Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 62 169 Isso se alterou com o Parliamentary Return de 1862 Aqui são levados em consideração os cavalosvapor reais das máquinas a vapor e rodas hidráulicas modernas e não os cavalosvapor nominais ver nota 109a na p 462 Tampouco se misturam os fusos de torcer com os de filar propriamente ditos como se fazia nos Returns de 1839 1850 e 1856 além disso no caso das fábras de lã incluise o número de gigs máquinas cardadoras distinguese entre as fábricas que processam a juta e o cânhamo de um lado e aquelas que trabalham o linho de outro além disso no relatório figuram pela primeira vez as fábricas de meias 170 Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1856 p 14 20 171 Ibidem p 145 172 Ibidem p 20 173 Reports etc for 31st Oct 1858 p 10 Cf Reports etc for 30th Apr 1860 p 30s g Na edição de Werke esse parágrafo é corrigido da seguinte maneira Que o enriquecimento dos fabricantes aumentou com a exploração mais intensiva da força de trabalho é demonstrado já pela circunstância de que no período entre 1838 e 1850 o crescimento médio das fábricas inglesas de algodão etc foi de 32 fábricas por ano ao passo que entre 1850 e 1856 ele foi de 86 por ano A modificação se baseia nos dados do Report of the Inspectors of Factories for 31st October 1856 p 12 que teria sido a fonte utilizada por Marx N T 174 Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 100 103 129 130 175 Hoje com o moderno tear a vapor um tecelão fabrica trabalhando 60 horas por semana e com dois teares 26 peças de certo tipo e de determinado comprimento e largura das quais ele só podia fabricar quatro com o antigo tear a vapor Já no início da década de 1850 os custos de fabricação de uma dessas peças haviam diminuído de 2 xelins e 9 pence para 518 pence Adendo à segunda edição Há 30 anos 1841 exigiase de um fiandeiro de algodão com 3 ajudantes que se encarregasse apenas de um par de mules com 300 a 324 fusos Hoje final de 1871 com 5 ajudantes ele tem de cuidar de mules com 2200 fusos e que produzem no mínimo 7 vezes mais fio do que em 1841 Alexander Redgrave inspetor de fábrica em Journal of the Soc of Arts 5 jan 1872 176 Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1861 p 256 177 Entre os operários fabris de Lancashire teve início agora 1867 a agitação pelas 8 horas 178 Os números seguintes mostram o progresso das factories fábricas propriamente ditas no Reino Unido desde 1848 677 Cf os Blue Books Statistical Abstract for the U Kingd n 8 13 Londres 1861 e 1866 Em Lancashire de 1839 a 1850 as fábricas aumentaram apenas 4 entre 1850 e 1856 19 entre 1856 e 1862 33 enquanto nos dois períodos de onze anos o número de pessoas ocupadas aumentou em termos absolutos mas diminuiu relativamente Cf Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 63 Em Lancashire predomina a indústria algodoeira Mas é possível ter uma ideia do espaço proporcional que ela ocupa na fabricação de fio e tecido quando se considera que ela representa 452 de todas as fábricas dessa espécie na Inglaterra no País de Gales na Escócia e na Irlanda 833 de todos os fusos 814 de todos os teares a vapor 726 de todos os cavalosvapor que os movimentam e 582 do total de pessoas ocupadas Ibidem p 623 179 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 18 678 180 Ibidem p 20 Cf Karl Marx Misère de la philosophie Miséria da filosofia cit p 1401 181 A intenção da fraude estatística que aliás também poderia ser comprovada detalhadamente em outros casos fica evidente no fato de a legislação fabril inglesa excluir expressamente de seu âmbito de aplicação como trabalhadores não fabris os trabalhadores por último mencionados ao passo que por outro lado os Returns publicados pelo Parlamento incluem expressamente na categoria de operários fabris não só engenheiros mecânicos etc mas também dirigentes de fábrica vendedores mensageiros supervisores de estoques embaladores etc em suma todas as pessoas com exceção do próprio dono da fábrica 182 Ure admite esse fato Ele diz que os trabalhadores em caso de necessidade podem deslocarse de uma máquina a outra de acordo com a vontade do diretor e exclama em tom triunfal Tal mudança está em flagrante contradição com a velha rotina que divide o trabalho e designa a um trabalhador a tarefa de moldar a cabeça de um alfinete a outro a de afilar sua ponta A Ure The Philosophy of Manufactures Londres 1835 p 22 N E A MEW Ele teria antes de se perguntar por que essa velha rotina só é abandonada na fábrica automática em caso de necessidade h Ver p 360s N E A MEW 183 Em casos de emergência como durante a Guerra Civil Americana o operário de fábrica é excepcionalmente usado pelo burguês para os trabalhos mais grosseiros como construção de estradas etc Os ateliers nationaux ateliês nacionais ingleses de 1862 em diante instituídos para os trabalhadores algodoeiros desempregados distinguemse dos seus similares franceses de 1848 pelo fato de que nestes o trabalhador tinha de executar tarefas improdutivas às expensas do Estado ao passo que naqueles ele tinha de executar trabalhos urbanos produtivos em benefício do burguês por salários menores do que os dos trabalhadores normais com os quais ele entrava assim em competição The physical appearance of the cotton operatives is unquestionably improved This I attribute as to the men to outdoor labour on public work A aparência física dos operários algodoeiros melhorou sem dúvida Atribuo isso no que diz respeito aos homens ao trabalho realizado ao ar livre nas obras públicas Tratase aqui dos operários fabris de Preston empregados no Preston Moor pântano de Preston Rep Of Insp of Fact Oct 1863 p 59 184 Exemplo os diversos aparelhos mecânicos que desde a Lei de 1844 foram introduzidos na fabricação de lã para substituir o trabalho infantil Tão logo os filhos dos próprios senhores fabricantes tivessem de cursar a escola da fábrica como ajudantes esse setor da mecânica praticamente inexplorado haveria de experimentar um notável impulso É possível que as selfacting mules sejam máquinas tão perigosas quanto quaisquer outras A maior parte dos acidentes ocorrem com crianças pequenas e precisamente porque engatinham por baixo das mules para varrer o chão enquanto as máquinas ainda estão em movimento Diversos minders trabalhadores que operam as mules foram processados judicialmente pelos inspetores de fábrica e condenados ao pagamento de multas em razão desse procedimento porém sem que disso resultasse qualquer benefício geral Se os fabricantes de máquinas pudessem ao menos inventar um varredor automático cujo uso dispensasse essas crianças pequenas de engatinhar por baixo da maquinaria eles dariam uma bela contribuição a nossas medidas preventivas Reports of Insp of Factories for 31st October 1866 p 63 185 É de admirar por isso a fabulosa intuição de Proudhon que constrói a maquinaria não como síntese de meios de trabalho mas como síntese de trabalhos parciais para o próprio trabalhador Karl Marx Miséria da filosofia São Paulo Global 1989 p 1256 N T 186 F Engels Die Lage der arbeitender in England p 21s ed bras A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit p 213 nota 17 Mesmo um livrecambista bastante ordinário e otimista como o sr Molinari observa Un homme suse plus vite en surveillant quinze heures par jour lévolution uniforme dun mécanisme quen exerçant dans le même espace de temps sa force physique Ce travail de surveillance qui servirait peutêtre dutile gymnastique à lintelligence sil nétait pas trop prolongé détruit à la longue par son excès et lintelligence et le corps même Um homem se desgasta mais rapidamente quando vigia por 15 horas diárias o movimento uniforme de um mecanismo do que quando exerce sua própria força física nesse mesmo intervalo de tempo Esse trabalho de vigilância que se não fosse prolongado em demasia talvez pudesse servir como uma ginástica útil para o intelecto aos poucos destrói em razão de seu excesso tanto o intelecto quanto o próprio corpo G de Molinari Études économiques Paris 1846 p 49 187 F Engels Die Lage der arbeitender in England cit p 216 ed bras A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit p 2123 188 The factory operatives should keep in wholesome remembrance the fact that theirs is really a low species of skilled labour and that there is none which is more easily acquired or of its quality more amply remunerated or which by a short 679 training of the least expert can be more quickly as well as abundantly acquired The masters machinery really plays a far more important part in the business of production than the labour and the skill of the operative which six months education can teach and a common labourer can learn The Master Spinners and Manufacturers Defence Fund Report of the Committee Manchester 1854 p 17 Veremos mais adiante que o patrão muda de tom assim que se vê ameaçado de perder seus autômatos vivos 189 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 15 Quem quer que conheça a biografia de Arkwright jamais lançará a palavra nobre ao rosto desse barbeiro genial De todos os grandes inventores do século XVIII ele foi indiscutivelmente o maior ladrão de inventos alheios e o sujeito mais ordinário 190 A escravidão que a burguesia impõe ao proletariado revelase em toda a sua evidência no regime fabril Aqui de direito e de fato cessa toda liberdade O trabalhador deve chegar à fábrica às 5h30 da manhã se se atrasa por alguns minutos é multado se o atraso é superior a dez minutos não pode entrar até a hora da primeira pausa para comer e assim perde um quarto do salário da jornada embora o período em que não trabalhou corresponda a 2 horas e meia de uma jornada de 12 horas Come bebe e dorme sob o comando de outrem a sirene tirânica da fábrica arranca o da cama apressa seu café e seu almoço E na fábrica o patrão é o legislador absoluto Determina a seu belprazer os regulamentos altera os contratos conforme sua vontade e quando introduz as cláusulas mais absurdas o operário ouve dos tribunais Você é livre para decidir só deve aceitar os contratos que lhe interessarem Mas agora que subscreveu livremente esse contrato tem de cumprilo os operários estão condenados da infância à morte a viver sob o látego físico e espiritual F Engels A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit p 2113 Gostaria de esclarecer com dois exemplos o que dizem os tribunais Um dos casos ocorreu em Shefield no final de 1866 Lá um operário foi empregado por dois anos numa fábrica metalúrgica Devido a um desentendimento com o fabricante deixou a fábrica e declarou que em nenhuma circunstância voltaria a trabalhar para ele Foi então processado por quebra de contrato e condenado a dois meses de prisão Se o fabricante rompe o contrato ele só pode ser processado civiliter civilmente e arrisca tão somente uma multa pecuniária Depois de cumprir os dois meses de prisão o mesmo fabricante baseandose no antigo contrato intimouo a retornar à fábrica O trabalhador recusouse Ele já pagou pela quebra de contrato O fabricante o processa novamente o tribunal o condena novamente embora um dos juízes o sr Shee denuncie isso publicamente como uma monstruosidade jurídica de acordo com a qual um homem poderia ser periódica e repetidamente punido durante toda sua vida pela mesma falta ou delito Tal sentença não a proferiram os great unpaid ver nota 157 p 360 os Dogberries provincianos Em Muito barulho por nada de Shakespeare Dogberry é um oficial de polícia cuja comicidade reside em seu uso constante de paronímias N T mas um dos tribunais superiores sediados em Londres Adendo à quarta edição Atualmente essa prática foi abolida Na Inglaterra agora com exceções de alguns poucos casos por exemplo em usinas públicas de gás o trabalhador em caso de rompimento de contrato está equiparado ao empregador e só pode ser processado civilmente F E O segundo caso ocorreu em Wiltshire no final de novembro de 1863 Cerca de trinta tecelãs que operavam teares a vapor na empresa de um certo Harrupp fabricante de pano em Leowers Mill Westbury Leigh realizaram uma greve porque este Harrupp tinha o agradável costume de efetuar descontos em seus salários por atrasos na hora de entrada de acordo com a seguinte escala 6 pence para 2 minutos 1 xelim para 3 minutos e 1 xelim e 6 pence para 10 minutos Isso totaliza 9 xelins por hora ou 4 e 10 xelins por dia enquanto o salário médio anual dessas trabalhadoras jamais ultrapassava de 10 a 12 xelins por semana Harrupp também encarregou um jovem de soar a sirene da fábrica o que ele às vezes fazia mesmo antes das 6 horas da manhã e estando ausente a mão de obra assim que acaba de tocar a sirene os portões são fechados e os que ficam do lado de fora são punidos pecuniariamente e como não há relógio no prédio da fábrica a infeliz mão de obra encontrase sob o poder do jovem guardião do tempo instituído por Harrupp A mão de obra envolvida na greve mães de família e moças declararam que só voltariam ao trabalho se o guardião do tempo fosse substituído por um relógio e uma escala mais razoável de multas fosse estabelecida Harrupp denunciou aos magistrados 19 mulheres e moças por rompimento de contrato Cada uma delas foi condenada a pagar 6 pence de multa e 2 xelins e 6 pence de custas de processo o que provocou a ruidosa indignação do auditório Harrupp retirouse do tribunal acompanhado por uma multidão que o vaiava Um dos expedientes prediletos dos fabricantes é punir os operários com descontos salariais por falhas do material que lhes é fornecido Esse procedimento provocou em 1866 uma greve geral nos distritos oleiros ingleses Os relatórios da Ch Employm Commiss 18631866 registram casos em que o trabalhador não só não recebe o salário por seu trabalho como ainda se converte por meio do regulamento de penalidades em devedor do seu ilustre master Edificantes traços da sagacidade dos 680 autocratas fabris em relação aos descontos salariais também nos são fornecidos pela mais recente crise do algodão Eu mesmo diz o inspetor de fábrica R Baker tive há pouco de iniciar uma ação judicial contra um fabricante de algodão pelo fato de ele nesses tempos duros e difíceis ter descontado o salário de alguns de seus empregados adolescentes maiores de 13 anos em 10 pence pelo certificado médico que lhe custa apenas 6 pence e pelo qual a lei só lhe autoriza um desconto de 3 pence e o costume não lhe autoriza desconto algum Outro fabricante para alcançar o mesmo objetivo sem entrar em conflito com a lei desconta 1 xelim de cada uma das pobres crianças que trabalham para ele a título de taxa pelo aprendizado da arte e do ofício do fiar assim que o certificado médico as declare maduras para essa atividade Existem portanto correntes subterrâneas que se deve conhecer a fim de compreender fenômenos tão extraordinários como greves em épocas tais como o presente Tratase de uma greve na fábrica de Darven em junho de 1863 entre os tecelões mecânicos Reports of I nsp of Fact for 30th April 1863 p 501 Os relatórios de fábrica sempre excedem sua data oficial 190a As leis de proteção contra maquinaria perigosa tiveram um efeito benéfico Mas agora existem novas fontes de acidentes que não existiam há vinte anos especialmente a velocidade aumentada da maquinaria Rodas cilindros fusos e teares são agora movidos com uma força maior e em constante aumento os dedos têm de agarrar o fio quebrado com mais rapidez e segurança porque se colocados com hesitação ou descuido são sacrificados Um grande número de acidentes é causado pela pressa dos trabalhadores em executar sua tarefa Devemos recordar que é da maior importância para os fabricantes que sua maquinaria seja mantida ininterruptamente em movimento isto é produzindo fio e tecido Cada parada de um minuto é não apenas uma perda de força motriz mas de produção Por isso os trabalhadores são incitados pelos supervisores interessados na quantidade da produção a manterem a maquinaria em movimento e isso não é de pouca importância para operários que são pagos por peso ou por peça Embora na maioria das fábricas seja formalmente proibido limpar as máquinas quando estas se encontram em movimento tal prática é geral Só essa causa produziu durante os últimos seis meses 906 acidentes Embora a tarefa de limpeza seja realizada diariamente o sábado é geralmente reservado para a limpeza completa da maquinaria e isso ocorre na maior parte do tempo enquanto ela está em movimento Por ser esta uma operação não remunerada os operários procuram concluíla o mais rápido possível razão pela qual o número de acidentes às sextasfeiras e especialmente aos sábados é muito maior do que nos outros dias da semana Às sextasfeiras o excedente de acidentes ultrapassa em cerca de 12 o número médio dos quatro primeiros dias da semana aos sábados esse número é 25 maior do que a média dos 5 dias anteriores porém levandose em conta que a jornada de trabalho fabril aos sábados é de somente 712 horas e de 1012 horas nos demais dias da semana o excedente sobe para mais de 65 Reports of Insp of Factories for 31st Oct 1866 Londres 1867 p 9 157 191 Na primeira seção do Livro III relatarei uma recente campanha dos fabricantes ingleses contra as cláusulas da lei fabril voltadas à proteção dos membros da mão de obra contra a maquinaria perigosa para a vida Bastará aqui uma citação extraída de um relatório oficial do inspetor de fábrica Leonard Horner Ouvi fabricantes falar com inescusável frivolidade de alguns dos acidentes a perda de um dedo por exemplo seria uma ninharia A vida e as perspectivas de um operário dependem em tal medida de seus dedos que uma tal perda é para ele um acontecimento da mais extrema gravidade Quando ouço tal palavrório insensato costumo perguntar suponhamos que o senhor necessite de mais um operário e se apresentem dois candidatos igualmente capacitados à vaga porém um deles não possua o polegar ou o indicador nesse caso qual dos dois o senhor escolheria Eles nunca hesitavam em escolher o que tivesse todos os dedos Esses senhores fabricantes têm falsos preconceitos contra o que chamam de legislação pseudofilantrópica Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1855 p 67 Esses senhores são gente sagaz e não é à toa que se entusiasmam com a rebelião dos escravocratas i Prisões mitigadas les bagnes mitigés assim Fourier denomina as fábricas em sua obra La fausse industrie morcelée répugnante mensongère et lantidote lindustrie naturelle combinée attrayante véridique donnant quadruple produit A falsa indústria fragmentada repugnante mentirosa e seu antídoto a indústria natural combinada atraente verídica e com produção quadruplicada Paris 1835 v I p 59 N E A MEW Ao traduzir o francês bagne pelo italiano bagno Marx remete à origem do termo o bagno dei forzati fortaleza de Livorno onde se mantinham encarcerados os escravos turcos e que assim era chamada por estar situada abaixo do nível do mar N T 681 192 Nas fábricas submetidas há mais tempo à lei fabril com sua restrição compulsória do tempo de trabalho e suas demais regulações muitos dos velhos abusos desapareceram O aperfeiçoamento da maquinaria exige ao atingir um certo ponto uma construção melhorada dos edifícios fabris o que traz benefícios aos operários Cf Reports etc for 31st Oct 1863 p 109 193 Ver entre outros John Houghton Husbandry and Trade Improved Londres 1727 The Advantage of the East Indian Trade cit John Bellers Proposals for Raising a Colledge of Industry cit The masters and the men are unhappily in a perpetual war with each other The invariable object of the former is to get their work done as cheap as possibly and they do not fail to employ every artifice to this purpose whilst the latter are equally attentive to every occasion of distressing their masters into a compliance with higher demands Os patrões e os trabalhadores se encontram infelizmente em perpétuo estado de guerra uns contra os outros Os primeiros têm o objetivo inalterável de obter o trabalho deste últimos o mais barato possível e para tanto não hesitam em lançar mão de qualquer artimanha ao passo que os últimos estão igualmente atentos para não perder nenhuma ocasião de impor a seus patrões a aceitação de suas demandas mais elevadas Foster An Inquiry into the Causes of the Present High Prices of Provisions 1767 p 612 o autor rev Nathaniel Forster colocase completamente do lado dos trabalhadores 194 A Bandmühle foi inventada na Alemanha O abade italiano Lancellotti narra em seu escrito publicado em Veneza em 1636 Há cerca de cinquenta anos Lancelloti escrevia em 1629 Anton Müller de Danzig viu uma máquina muito engenhosa que fabricava de quatro a seis tecidos de uma só vez mas como o Conselho Municipal temia que esse invento transformasse em mendigos uma grande quantidade de trabalhadores suprimiu sua aplicação e mandou secretamente estrangular ou afogar o inventor Marx cita a obra de Secondo Lancelloti intitulada LHoggidi overo glingegni non inferiori apassati a partir de Johann Beckmann Beyträge zur Geschichte der Erfindungen Leipzig 1786 v 1 p 12532 As subsequentes referências na nota 194 foram igualmente extraídas desse livro N T Em Leyden a mesma máquina foi empregada pela primeira vez em 1629 As revoltas dos tecelões de galões forçaram os magistrados a proibila diversas disposições dos Estados Gerais de 1623 1639 etc procuraram limitar seu uso até que finalmente ele foi permitido sob certas condições por uma disposição de 15 de dezembro de 1661 Nesta cidade diz Boxhorn Institutiones Politicae 1663 sobre a introdução da Bandmühle em Leyden certas pessoas inventaram há cerca de 20 anos um instrumento para tecer com o qual um indivíduo podia produzir mais tecido e mais facilmente do que sem este instrumento várias pessoas no mesmo tempo Isso provocou distúrbios e queixas dos tecelões até que o uso desse instrumento foi proibido pelas autoridades etc Essa mesma máquina foi proibida em 1676 em Colônia ao passo que sua introdução na Inglaterra provocou na mesma época distúrbios entre os trabalhadores Um édito imperial de 19 de fevereiro de 1685 proscreveu seu uso em toda a Alemanha Em Hamburgo a máquina foi queimada publicamente por ordem das autoridades A 9 de fevereiro de 1719 Carlos VI renovou o édito de 1685 e o eleitorado da Saxônia só permitiu seu uso público em 1765 Essa máquina que tanto alvoroço provocou no mundo foi na realidade a precursora das máquinas de fiar e tecer e portanto da revolução industrial do século XVIII Ela possibilitava que um jovem sem qualquer experiência em tecelagem simplesmente puxando e empurrando uma alavanca colocasse em movimento um tear completo com todas as suas lançadeiras e em sua forma aperfeiçoada produzia de quarenta a cinquenta peças de uma só vez j Na Inglaterra do século XIX movimento dos operários da indústria têxtil que protestava frequentemente destruindo os teares mecânicos contra as mudanças introduzidas pela Revolução Industrial O nome do movimento deriva de Ned Ludd um jovem que supostamente teria destruído duas máquinas de fiar em 1779 N T 195 Nas manufaturas antiquadas ainda hoje se repetem às vezes a forma primitiva das revoltas operárias contra a maquinaria Assim por exemplo em 1865 entre os esmerilhadores de Sheffield 196 Sir James Steuart também capta o efeito da maquinaria inteiramente nesse sentido Je considère donc les machines comme des moyens daugmenter virtuellement le nombre des gens industrieux quon nest pas obligé de nourrir En quoi leffet dune machine diffèretil de celui de nouveaux habitants Considero as máquinas meios de aumentar virtualmente o número de pessoas industriosas que não se tem a obrigação de alimentar Em que o efeito de uma máquina difere daquele de novos habitantes Recherche des principes de léconomie politique ou essai sur la science de la police intérieure des nations libres tradução francesa t I l I c XIX Muito mais ingênuo é Petty que diz que ela substitui a poligamia Esse ponto de vista é no máximo adequado para algumas partes dos Estados Unidos Ao contrário Machinery can seldom be used with success to abrigde the labour of an individual more time would be loost in its construction than could be saved by its application It is only really useful when it acts on great masses when a single machine can assist the work of thousands It is accordingly in the most populous countries where there are most idle men that it is most abundant It is not called into use by a scarcity of men but by the facility with which they can be brought to work in masses Raramente se pode usar com êxito a maquinaria para abreviar o trabalho de um indivíduo 682 perderseia mais tempo com sua construção do que se ganharia com sua utilização Ela só é realmente útil quando atua em larga escala quando uma única máquina pode apoiar o trabalho de outras milhares Daí que ela seja mais utilizada nos países mais populosos onde há mais desempregados Ela é utilizada não por falta de trabalhadores mas pela facilidade com que pode leválos a trabalhar em massa Piercy Ravenstone Thoughts on the Funding System and its Effects Londres 1824 p 45 196a Nota à quarta edição Isso vale também para a Alemanha Onde em nosso país existe agricultura em grande escala isto é especialmente no Leste ela só se tornou possível por meio da Bauernlegen expulsão dos camponeses praticada a partir do século XVI e principalmente a partir de 1648 F E 197 Machinery and labour are in constant competition Maquinaria e trabalho estão em constante concorrência Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 479 198 Na Inglaterra a concorrência entre tecelagem manual e mecânica pôde ser prolongada antes da introdução da Lei dos Pobres de 1834 graças à prática de complementar com subsídios paroquiais os salários que então caíra muito abaixo do mínimo The Rev Mr Turner was in 1827 rector of Wilmslow in Cheshire a manufacturing district The questions of the Committee on Emigration and Mr Turners answers show how the competition of human labour is maintained against machinery Question Has not the use of the powerloom superseded the use of the handloom Answer Undoubtedly it would have superseded them much more than it has done if the handloom weavers were not enabled to submit to a reduction of wages Question But in submitting he has accepted wages which are insufficient to support him and looks to parochial contribution as the remainder of his support Answer Yes and in fact the competition between the handloom and the powerloom is maintained out of the poorrates Thus degrading pauperism or expatriation is the benefit which the industrious receive from the introduction of machinery to be reduced from the respectable and in some degree independent mechanic to the cringing wretch who lives on the debasing bread of charity This they call a temporary inconvenience O reverendo sr Turner era em 1827 pároco de Wilmslow em Cheshire um distrito industrial As perguntas do Comitê de Emigração e as respostas do sr Turner mostram como é mantida a competição do trabalho manual contra a maquinaria Pergunta Não teria o uso do tear mecânico suprimido o uso do tear manual Resposta Sem dúvida e têloia suprimido ainda mais se os tecelões manuais não se tivessem submetido a uma redução de salários Pergunta Mas o tecelão manual ao submeterse contentouse com um salário que é insuficiente para sustentálo e conta com a contribuição paroquial para o complemento desse sustento Resposta Sim e de fato a competição entre o tear manual e o mecânico é mantida pela assistência aos pobres Assim o pauperismo degradante ou a expatriação é o benefício que o operário recebe da introdução da maquinaria sendo rebaixados de artesãos respeitáveis e até certo ponto independentes a miseráveis rastejantes que vivem do pão degradante da caridade E é a isso que eles chamam de inconveniência temporária A Prize Essay on the Comparative Merits of Competition and Co operation Londres 1834 p 29 199 The same cause which may increase the revenue of the country A mesma causa que pode aumentar a receita de um país isto é como explica Ricardo na mesma passagem the revenues of landlords and capitalists cuja wealth considerada economicamente é em geral Wealth of the Nation may at the same time render the population redundant and deteriorate the condition of the labourer pode ao mesmo tempo gerar um excedente de população e piorar a situação do trabalhador Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 469 A finalidade constante e a tendência de todo aperfeiçoamento do mecanismo é de fato eliminar completamente o trabalho do homem ou reduzir seu preço por meio da substituição do trabalho de homens adultos pelo de mulheres e de crianças ou o de operários qualificados pelo de não qualificados Ure The Philosophy of Manufactures cit p 23 200 Reports of Insp of Fact 31st Oct 1858 p 43 201 Reports 31st October 1856 p 15 202 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 19 A grande vantagem da maquinaria utilizada na fabricação de tijolos consiste em tornar o empregador inteiramente independente de trabalhadores qualificados Ch Empl Comm V Report 1866 p 130 n 46 Adendo à segunda edição O sr Surrock superintendente do departamento de máquinas da Great Northern Railway diz em referência à construção de máquinas locomotivas etc Trabalhadores ingleses caros expensive são a cada dia menos usados A produção é incrementada com a aplicação de instrumentos aperfeiçoados e tais instrumentos por sua vez são operados por uma classe baixa de trabalho a low class of labour Antes o trabalho qualificado produzia necessariamente todas as peças da máquina a vapor Agora as mesmas peças são produzidas por trabalho menos qualificado mas com bons instrumentos Por instrumentos entendo as máquinas utilizadas na construção de máquinas Royal Commission on Railways Minutes of Evidence Londres 1867 n 17862 e 17863 683 k No original inglês o texto de Ure diz On the automatic plan skilled labour gets progressively superseded No sistema automático o trabalho qualificado é progressivamente suprimido N T 203 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 20 204 Ibidem p 321 l No original inglês o texto de Ure diz The effect of substituting the selfacting mule for the common mule is to discharge the greater part of the men spinners and to retain adolescents and children O efeito da substituição do tear comum pelo tear automático é o de descartar a maior parte dos tecelões homens e reter adolescentes e crianças N T 205 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 23 206 Reports of Insp of Fact 31st Oct 1863 p 108 207 Ibidem p 109 O rápido aperfeiçoamento da maquinaria durante a crise do algodão permitiu aos fabricantes ingleses logo após o término da guerra civil americana abarrotar novamente num abrir e fechar de olhos o mercado mundial Já durante o último semestre de 1866 os tecidos eram quase invendáveis Teve início então a consignação das mercadorias para a China e a Índia o que naturalmente só serviu para tornar ainda mais intensa a glut saturação No começo de 1867 os fabricantes recorreram a seu expediente habitual em situações de emergência a compressão dos salários em 5 Os trabalhadores se opuseram e declararam com toda razão do ponto de vista teórico que o único remédio seria trabalhar menos tempo 4 dias por semana Após uma longa insubordinação os autonomeados capitães da indústria tiveram de aceitar essa solução em alguns lugares com em outros sem a compressão salarial de 5 m A tabela se baseia em dados dos três seguintes relatórios parlamentares reunidos sob o título de Factories fábricas Return to an Address of the Honourable the House of Commons de 15 de abril de 1856 de 24 de abril de 1861 e 5 de dezembro de 1867 N E A MEW 208 A relação entre patrões e mão de obra nas fábricas de cristais e garrafas de vidro soprado consiste numa greve crônica Isso explica o auge da manufatura de vidro prensado em que a maquinaria realiza as principais operações Uma firma de Newcastle que antes produzia anualmente 350 mil libras de cristal soprado produz agora em vez disso 3000500 libras de vidro prensado Ch Empl Comm IV Rep 1865 p 2623 209 Gaskell The Manufacturing Population of England Londres 1833 p 112 210 Em decorrência de greves em sua própria fábrica de máquinas o sr Fairbain descobriu algumas aplicações muito significativas de máquinas na construção de maquinaria n Tenth Report of the Commissioners Appointed to Inquire into the Organization and Rules of Trades Unions and other Associations Together with Minutes of Evidence Londres 1868 p 634 N E A MEW 211 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 36770 o No original inglês de se submeter aos ricos capitalistas N E A MEGA p No original inglês meio de atormentar harassing os pobres N E A MEGA 212 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 7 2801 3212 368 370 475 213 Inicialmente Ricardo compartilhava desse ponto de vista porém retratouse expressamente mais tarde com a imparcialidade científica e o amor pela verdade que lhe são característicos Ver On Machinery The Princ of Pol Econ cit 214 N B Dou este exemplo inteiramente à maneira dos economistas citados q Ovídio A arte de amar livro 2 verso 657 N T 215 Um ricardiano observa a esse respeito refutando as sandices de J B Say Onde a divisão do trabalho está bem desenvolvida a qualificação do trabalhador só encontra aplicação no ramo particular em que ela foi adquirida eles mesmos são uma espécie de máquina Por isso não adianta absolutamente nada repetir como um papagaio que as coisas têm uma tendência a encontrar seu nível Olhando ao nosso derredor é impossível deixar de ver coisas que durante muito tempo não conseguem encontrar seu nível e que quando o encontram ele está mais baixo do que no começo do processo An Inquiry into those Principles Respecting the Nature of Demand etc Londres 1821 p 72 216 Um virtuose desse cretinismo desmedido é entre outros MacCulloch Se é vantajoso diz ele com a ingenuidade afetada de uma criança de 8 anos desenvolver cada vez mais a destreza do trabalhador de modo que ele se torne capaz de produzir uma quantidade cada vez maior de mercadorias com uma quantidade igual ou menor 684 de trabalho então deve ser igualmente vantajoso que ele se sirva dessa maquinaria do modo mais eficaz para atingir esse resultado MacCulloch Princ of Pol Econ Londres 1830 p 182 216a O inventor da máquina de fiar arruinou a Índia o que contudo pouco nos importa A Thiers De la propriété Paris 1848 p 275 O sr Thiers confunde aqui a máquina de fiar com o tear mecânico o que contudo pouco nos importa 217 De acordo com o censo de 1861 Londres 1863 v II o número de trabalhadores ocupados nas minas de carvão da Inglaterra e País de Gales era de 246613 dos quais 73546 menores de 20 anos de idade e 173067 maiores de 20 anos À primeira categoria pertencem 835 trabalhadores entre 5 e 10 anos de idade 30701 entre 10 e 15 anos e 42010 entre 15 e 19 anos O número de ocupados em minas de ferro cobre chumbo zinco e todos os outros metais é de 319222 218 Na Inglaterra e no País de Gales em 1861 a produção de maquinaria ocupava 60807 pessoas aí incluídos os fabricantes e seus caixeirosviajantes etc ditto todos os agentes e comerciantes nesse setor Porém dessa soma estão excluídos os produtores de máquinas menores como máquinas de costura etc assim como os produtores de ferramentas para as máquinas de trabalho como fusos etc O número de engenheiros civis chegava a 3329 219 Como o ferro é uma das principais matériasprimas registremos aqui que em 1861 havia na Inglaterra e País de Gales 125771 fundidores de ferro dos quais 123430 homens e 2341 mulheres Dos primeiros 30810 eram menores de 20 anos e 92620 maiores dessa idade r O termo estados fronteiriços designa os cinco estados escravagistas Delaware Kentucky Maryland Missouri e Virgínia do Oeste que faziam fronteira com os estados abolicionistas e integravam a União durante a Guerra de Secessão N T 220 Uma família de quatro pessoas adultas tecelões de algodão com duas crianças como winders enoveladores ganhava no final do século passado e início do atual 4 por semana para uma jornada de trabalho de 10 horas Se o trabalho era muito urgente podiam ganhar mais Antes disso haviam sempre padecido com o suprimento deficiente de fio Gaskell The Manufacturing Population of England cit p 345 221 F Engels em A situação etc demonstra a situação lamentável de grande parte desses trabalhadores do luxo Uma enorme quantidade de novos dados documentais em relação a essa questão se encontra nos relatórios da Child Empl Comm 222 Em 1861 na Inglaterra e no País de Gales havia 94665 marinheiros empregados na marinha mercante 223 Dos quais apenas 177596 do sexo masculino são maiores de 13 anos 224 Dos quais 30501 são do sexo feminino 225 Dos quais 137447 são do sexo masculino Excluído dos 1208648 todo o pessoal que não presta serviços em residências particulares Adendo à segunda edição De 1861 a 1870 o número de serviçais masculinos quase dobrou aumentando para 267671 Em 1847 havia 2694 guardasflorestais para as áreas de caça dos aristocratas em 1869 porém seu número era de 4921 As adolescentes que prestam serviços nas casas dos pequenoburgueses londrinos são chamadas na linguagem popular de little slaveys isto é escravinhas 226 Ganilh considera ao contrário que o resultado final da indústria mecanizada consiste num número absolutamente reduzido de escravos do trabalho à custa dos quais um número maior de gens honnêtes pessoas honestas vive e desenvolve sua conhecida perfectibilité perfectible perfectibilidade perfectível Por pouco que compreenda o movimento da produção ao menos ele sente que a maquinaria é uma instituição extremamente funesta se sua introdução transforma trabalhadores ocupados em indigentes e seu desenvolvimento faz surgir mais escravos do trabalho do que os que ela eliminou anteriormente O cretinismo de seu próprio ponto de vista só pode ser expresso por suas próprias palavras Les classes condamnées à produire et à consommer diminuent et les classes qui dirigent le travail qui soulagent consolent et éclairent toute la population se multiplient et sapproprient tous les bienfaits qui résultent de la diminution des frais du travail de labondance des productions et du bon marché des consommations Dans cette direction lespèce humaine sélève aux plus hautes conceptions du génie pénètre dans les profondeurs mystérieuses de la religion établit les principes salutaires de la morale les lois tutélaires de la liberté et du pouvoir de lobéissance et de la justice du devoir et de lhumanité As classes condenadas a produzir e a consumir diminuem e as classes que dirigem o trabalho que trazem a toda a população a assistência o consolo e o esclarecimento multiplicamse e apropriamse de todos os benefícios resultantes da diminuição dos custos do trabalho da abundância dos produtos e dos baixos preços dos bens de consumo Nessa direção a espécie humana se eleva às mais altas criações do gênio penetra nas profundezas misteriosas da religião estabelece os princípios salutares 685 da moral que consiste em apropriarse de todos os benefícios etc as leis tutelares da liberdade liberdade para as classes condenadas a produzir e do poder da obediência e da justiça do dever e da humanidade extraímos esse palavrório de M C Ganilh Des systèmes déconomie politique etc 2 ed Paris 1821 t I p 212 224 s Ver p 4878 N T 227 Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 58s Ao mesmo tempo porém já estava dada a base material para a ocupação de um número crescente de trabalhadores em 110 novas fábricas com 11625 teares a vapor 628576 fusos 2695 cavalosvapor em força de vapor e hidráulica idem 228 Reports etc for 31st Oct 1862 p 79 Adendo à segunda edição Ao final de dezembro de 1871 dizia o inspetor de fábricas A Redgrave numa conferência celebrada em Bradford na New Mechanics Institution O que tem me surpreendido há algum tempo é a aparência modificada das fábricas de lã Antes estavam todas repletas de mulheres e crianças agora a maquinaria parece efetuar todo o trabalho Por mim questionado o fabricante deu a seguinte explicação No sistema antigo eu empregava 63 pessoas depois da introdução da maquinaria aperfeiçoada reduzi minha mão de obra para 33 e recentemente em consequência de novas e grandes mudanças pude reduzilos de 33 para 13 pessoas 229 Reports etc for 31st Oct 1856 p 16 230 Os sofrimentos dos tecelões manuais de algodão e de materiais misturados com algodão foram objeto de investigação de uma Comissão da Coroa mas embora a miséria desses trabalhadores tenha sido reconhecida e lamentada a melhora de sua situação foi deixado à cargo da sorte e das mudanças dos tempos e podemos esperar agora vinte anos depois que esses sofrimentos se tenham quase nearly extinguido para o que com toda probabilidade contribuiu a grande expansão atual do tear a vapor Rep Insp Fact 31st Oct 1856 p 15 231 Outros métodos pelos quais a maquinaria afeta a produção da matériaprima serão mencionados no Livro III 232 Exportação de algodão das Índias Orientais para a GrãBretanha em libraspeso 1846 34540143 1860 204141168 1865 445947600 233 Exportação de lã das Índias Orientais para a GrãBretanha em libraspeso 1846 4570581 1860 20214173 1865 20679111 234 O desenvolvimento econômico dos Estados Unidos é ele próprio um produto da grande indústria europeia ou mais precisamente inglesa Em sua atual configuração 1866 eles devem ser considerados uma colônia da Europa Adendo à quarta edição Desde então os Estados Unidos se transformaram no segundo país mais industrializado do mundo sem que com isso tenham perdido por completo seu caráter colonial F E Exportação de algodão dos Estados Unidos para a GrãBretanha em libraspeso 1846 401949393 1852 765630544 1859 961707264 1860 1115890608 Exportação de grãos etc dos Estados Unidos para a GrãBretanha 1850 e 1862 em quintais 1850 1862 Trigo 16202312 41033503 Cevada 3669653 6624800 Centeio 3174801 4426994 Farinha de trigo 388749 7108 Milho 3819440 7207113 686 Trigomouro 1054 19571 Milho 5473161 11694818 Bere ou bigg variedade especial de cevada 2039 7675 Ervilha 811620 1024722 Feijão 1822972 2037137 Total importado 35365801 74083441 t Os dados apresentados por Marx são extraídos do relatório parlamentar Corn Grain and Meal Return to an Order of the Honourable House of Commons Dated 18 February 1867 N E A MEW 235 Numa proclamação às Trade Societies of England realizada em julho de 1866 pelos trabalhadores postos na rua pelos fabricantes de calçados de Leicester por meio de um lockout lêse entre outras coisas Há cerca de 20 anos a fabricação de calçados de Leicester foi revolucionada pela introdução do rebitamento no lugar da costura Àquele tempo podiase ganhar bons salários Logo esse novo negócio se expandiu consideravelmente Estabeleceuse uma grande concorrência entre as diversas firmas cada uma delas esforçandose para apresentar o artigo mais elegante Pouco depois no entanto surgiu um tipo pior de concorrência a saber a de cada firma vender no mercado a um preço mais baixo do que a outra undersell As danosas consequências dessa prática não tardaram a se manifestar na forma de redução de salários e a queda do preço do trabalho foi tão rápida e impetuosa que atualmente muitas firmas pagam apenas a metade do salário original Não obstante apesar de os salários continuarem a cair os lucros parecem aumentar com cada alteração na taxa dos salários Mesmo os períodos desfavoráveis da indústria são aproveitados pelos fabricantes para obterem lucros extraordinários por meio de reduções exorbitantes de salários isto é do roubo direto dos meios de subsistência mais imprescindíveis ao trabalhador A título de exemplo com relação à crise na tecelagem de seda em Coventry Segundo informações que obtive tanto de fabricantes como de trabalhadores não cabe dúvidas de que os salários têm sido rebaixados numa medida maior do que o impunha a concorrência dos produtores estrangeiros ou outras circunstâncias A maior parte dos tecelões trabalha com salários reduzidos em 30 e até 40 Uma peça de fita para cuja confecção o tecelão recebia 6 ou 7 xelins há 5 anos agora não lhe rende mais do que 3 xelins e 3 pence ou 3 xelins e 6 pence outro trabalho que anteriormente era remunerado com 4 xelins e até mesmo 4 xelins e 3 pence agora é pago com apenas 2 xelins ou no máximo 2 xelins e 3 pence A baixa salarial é maior do que a requerida para estimular a demanda De fato no caso de muitos tipos de fita a baixa salarial não foi nem mesmo acompanhada de alguma redução do preço do artigo relatório do comissário F D Longes em Ch Emp Comm V Rep 1866 p 114 n 1 u Em 1799 e 1800 uma série de leis do Parlamento inglês proibiu a fundação e a atividade de quaisquer organizações de trabalhadores as quais foram novamente revogadas pelo Parlamento em 1824 No entanto mesmo depois disso as autoridades continuaram a limitar ao máximo a atividade das organizações operárias Especialmente a agitação para que os operários ingressassem numa organização e participassem de greves foi considerada como intimidação e punida como crime N E A MEW 236 Cf Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 30 237 Ibidem p 189 v Variedade de algodão produzida nas Sea Islands grupo de ilhas menores que se estende do rio Santee na Carolina do Sul até a desembocadura do rio San Juan no norte da Flórida N T 238 Reports of Fact for 31st Oct 1863 p 415 51 239 Ibidem p 412 240 Ibidem p 57 241 Reports etc 31st Oct 1863 p 501 x Personagem de um livro popular alemão do século XVI Fortunato possui uma sacola de dinheiro que nunca se esvazia e um chapéu que o leva para onde deseja N T 242 Ibidem p 623 243 Reports etc 30th April 1864 p 27 687 244 De uma carta do chief constable chefe de polícia Harris de Bolton em Reports of Insp of Fact 31st Oct 1856 p 612 w Marx referese à intensidade com que os comerciantes privados ingleses tomaram conta do mercado chinês após a supressão do monopólio da Companhia das Índias Orientais no comércio com a China 1833 Para esse fim qualquer meio lhes era lícito A primeira Guerra do Ópio 18391842 uma guerra de agressão da Inglaterra contra a China deveria abrir o mercado chinês ao comércio inglês Com ela teve início a transformação da China numa nação semicolonial Desde o início do século XIX a Inglaterra contrabandeando para a China o ópio produzido na Índia tentou equilibrar o passivo de sua balança comercial com aquele país porém encontrou a oposição das autoridades chinesas que em 1839 confiscaram carregamentos inteiros de ópio a bordo de navios estrangeiros em Cantão e os mandaram incinerar Esse foi o pretexto para a guerra na qual a China acabou derrotada Os ingleses se aproveitaram dessa derrota da China feudal e retrógrada e impuseramlhe o espoliador tratado de paz de Nanquim agosto de 1842 O Tratado de Nanquim determinava a abertura de cinco portos chineses Cantão Hanói Futchu Ningpo e Xangai ao comércio inglês a concessão de Hong Kong à Inglaterra para todo sempre e o pagamento de altos tributos a essa nação Com o protocolo adicional do Tratado de Nanquim a China também foi obrigada a reconhecer aos estrangeiros em seu país o direito da extraterritorialidade N E A MEW 245 Num chamamento aos trabalhadores do algodão na primavera de 1863 para a formação de uma sociedade de emigração é dito entre outras coisas Que uma grande emigração de trabalhadores fabris é agora absolutamente necessária poucos hão de negar Mas que em todos os tempos é necessário um fluxo contínuo de emigração sem o qual é impossível manter nossa posição em circunstâncias normais é algo demonstrado pelos seguintes fatos no ano de 1814 o valor oficial que não é mais do que um índice da quantidade dos artigos de algodão exportados foi de 17665378 enquanto seu valor real de mercado foi de 20070824 Em 1858 o valor oficial dos artigos de algodão exportados subiu para 182221681 mas seu valor real de mercado não ultrapassou 43001322 de modo que a decuplicação da quantidade foi acompanhada apenas de pouco mais do que a duplicação do equivalente Diversas causas cooperaram para produzir resultados tão funestos para o país de modo geral e para os trabalhadores fabris em particular Uma das mais óbvias é a constante superabundância de trabalho indispensável nesse ramo industrial que sob pena de aniquilação requer uma expansão constante do mercado Nossas fábricas de algodão poderiam ser paralisadas por causa da estagnação periódica do comércio estagnação que sob o ordenamento atual é tão inevitável quanto a própria morte Mas nem por isso adormece o espírito inventivo da humanidade Ainda que 6 milhões de trabalhadores calculando por baixo tenham abandonado este país nos últimos 25 anos há uma grande percentagem de homens adultos que em consequência do constante deslocamento de trabalhadores para baratear a produção não consegue encontrar nas fábricas nenhum tipo de ocupação sob quaisquer condições e mesmo nas épocas de maior prosperidade Reports of Insp of Fact 30th April 1863 p 512 Num capítulo posterior veremos como os senhores fabricantes durante a catástrofe do algodão procuraram impedir a emigração dos operários fabris a todo custo recorrendo para isso até mesmo à interferência estatal 246 Ch Empl Comm III Report 1864 p 108 n 447 247 Nos Estados Unidos é frequente essa reprodução da produção artesanal fundada na maquinaria Justamente por isso a concentração quando ocorre a inevitável transição para a produção fabril avançará com botas de sete léguas em comparação com o que ocorre na Europa e mesmo na Inglaterra 248 Cf Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 64 249 O sr Gillot instalou em Birmingham a primeira manufatura de penas de aço em larga escala Já em 1851 ela fornecia mais de 180 milhões de penas e consumia 120 toneladas de chapas de aço por ano Birmingham que monopoliza essa indústria no Reino Unido produz hoje anualmente bilhões de penas de aço Segundo o censo de 1861 o número de pessoas ocupadas chegava a 1428 das quais 1268 operárias de 5 anos de idade em diante 250 Ch Empl Comm II Rep 1864 p lxviii n 415 251 E em Sheffield atualmente ocorre até mesmo o emprego de crianças nas oficinas de esmerilhamento 251a Ch Empl Comm V Rep 1866 p 3 n 24 p 6 n 556 p 7 n 5960 252 Ibidem p 1145 n 67 O comissário observa corretamente que embora o habitual seja a máquina substituir o homem aqui é o jovem que verbatim literalmente substitui a máquina y Marx joga aqui com a palavra Lumpen que significa tanto farrapo trapo quanto indivíduo esfarrapado maltrapilho vadio N T 253 Ver relatório sobre o comércio de trapos e inúmeros documentos Public Health VIII Report Londres 1866 Apêndice p 196208 688 254 Child Empl Comm V Report 1866 p XVIXVIII n 8697 p 1303 n 3971 Cf também idem III Report 1864 p 48 56 z Ver nota f na p 318 N E A MEW 255 Public Health Sixth Report cit p 29 31 256 Ibidem p 30 O dr Simon observa que a mortalidade entre os alfaiates e impressores entre 25 e 35 é na verdade muito maior pois seus patrões de Londres obtêm no campo um grande número de jovem de até 30 anos que fazem trabalhar como aprendizes e improvers aqueles que querem se aperfeiçoar em seu ofício Estes figuram no censo como londrinos incham o número de pessoas com base no qual se calcula a taxa de mortalidade em Londres porém sem contribuir proporcionalmente para o número de casos de morte nessa cidade Grande parte deles com efeito retorna ao campo e muito especialmente em casos de doenças graves Cf idem 257 Tratase aqui de pregos feitos a martelo diferentemente daqueles produzidos à máquina Ver Child Empl Comm III Report p XI XIX n 12530 p 52 n 11 p 1134 n 487 p 137 n 674 258 Ibidem p XXII n 166 259 Child Empl Comm II Report 1864 p XIXXXI 260 Ibidem p XXIXXII 261 Ibidem p XXIXXXX 262 Ibidem p XLXLI 263 Childrens First Report 1863 p 185 264 Millinery diz respeito a rigor apenas à confecção de toucados porém compreende também a confecção de mantos e mantilhas ao passo que as dressmakers são idênticas às nossas modistas 265 A millinery e a dressmaking inglesas são geralmente exercidas nas residências dos patrões em parte por operárias que aí residem e trabalham em parte por trabalhadoras diaristas que residem fora 266 O comissário White visitou uma manufatura de uniformes militares que empregava entre 1000 e 1200 pessoas quase todas do sexo feminino uma manufatura de calçados com 1300 pessoas das quais praticamente a metade constituída por crianças e adolescentes etc Child Empl Comm II Rep p XLVII n 319 267 Um exemplo No dia 26 de fevereiro de 1864 o relatório semanal de óbitos do Register General contém 5 casos de morte por inanição Nesse mesmo dia o Times relata um novo caso de morte por inanição Seis vítimas de morte por inanição numa semana Register General Registrador geral na Inglaterra o chefe do registro civil Suas competências abrangiam o sistema inteiro de registros de nascimentos óbitos e divórcios N E A MEW 268 Child Empl Comm II Rep 1864 p LXVII n 4069 p 84 n 124 p LXXIII n 441 p 68 n 6 p 84 n 126 p 78 n 85 p 76 n 69 p LXXII n 438 269 The rental of premises required for work rooms seems the element which ultimately determines the point and consequently it is in the metropolis that the old system of giving work out to small employers and families has been longest retained and earliest returned to O preço do aluguel dos locais de trabalho parece ser o fator decisivo razão pela qual é na capital que o velho sistema de delegar trabalho a pequenos empresários e a suas famílias foi conservado por mais tempo e retomado mais cedo ibidem p 83 n 123 A última frase referese exclusivamente à produção de calçados 270 Isso não ocorre na confecção de luvas etc em que a situação dos trabalhadores se distingue muito pouco da dos indigentes 271 Childrens Second Report 1864 p 83 n 122 272 Em 1864 apenas em Leicester estavam em uso 800 máquinas de costura na fabricação de botas e sapatos para a venda em atacado 273 Child Empl Comm II Rep 1864 p 84 n 124 274 Assim ocorre por exemplo no almoxarifado de indumentária militar de Pimlico em Londres na fábrica de camisas de Tillie e Henderson em Londonderry na fábrica de vestidos da firma Tait em Limerick que utiliza cerca de 1200 braços 275 Child Empl Comm Tendency to factory system Tendência em direção ao sistema fabril II Rep 1864 p lxvii The whole employment is at this time in a state of transition and is undergoing the same change as that effected in the 689 lace trade weaving etc Neste momento a indústria inteira se encontra numa fase de transição e experimenta as mesmas mudanças que experimentaram a indústria de rendas a tecelagem etc ibidem n 405 A Complete Revolution Uma revolução completa ibidem p XLVI n 318 À época da Child Empl Comm de 1840 a confecção de meias era ainda um trabalho manual A partir de 1846 introduziuse maquinaria diversificada atualmente movida a vapor Em 1862 o número total de pessoas de ambos os sexos e todas as faixas etárias a partir dos 3 anos de idade empregadas na confecção inglesa de meias chegava a cerca de 120 mil Destas segundo o Parliamentary Return de 11 de fevereiro de 1862 apenas 4063 se encontravam no âmbito de aplicação da lei fabril 276 Assim por exemplo na produção de cerâmica a firma Cochran da Brittania Pottery de Glasgow informa To keep up our quantity we have gone extensively into machines wrought by unskilled labour and every day convinces us that we can produce a greater quantity than by the old method Para mantermos nossa escala de produtividade usamos agora extensivamente máquinas manejadas por operários não qualificados e a cada dia que passa estamos mais convictos de que podemos produzir uma quantidade maior do que pelo método antigo Rep of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 13 O efeito da lei fabril é contribuir para uma maior introdução de maquinaria ibidem p 134 277 Assim logo após a introdução da lei fabril nas olarias verificase um grande aumento dos power jiggers tornos mecânicos no lugar dos hand moved jiggers tornos manuais 278 Rep Insp Fact 31st Oct 1865 p 96 127 279 A introdução dessa e de outras máquinas na fábrica de palitos de fósforos substituiu num de seus departamentos 230 jovens por 32 rapazes e moças de 14 a 17 anos de idade Em 1865 essa economia de trabalhadores foi incrementada com a utilização do vapor 280 Child Empl Comm II Rep 1864 p IX n 50 281 Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 22 282 Em muitas manufaturas antigas os aperfeiçoamentos necessários não podem ser introduzidos sem que haja um dispêndio de capital acima dos meios de muitos dos proprietários atuais Uma desorganização transitória acompanha necessariamente a introdução das leis fabris O grau dessa desorganização está em proporção direta com a grandeza dos abusos a serem remediados 283 Nos altosfornos por exemplo o tempo de trabalho é em geral muito prolongado na parte final em decorrência do hábito dos trabalhadores de folgarem às segundasfeiras e eventualmente em parte ou totalmente também na terçafeira Child Empl Comm III Rep p VI Os pequenos mestres têm geralmente horários de trabalho muito irregulares Perdem dois ou três dias e depois trabalham toda a noite para se ressarcirem Quando têm filhos eles sempre os empregam ibidem p VII A falta de regularidade para começar o trabalho é estimulada pela possibilidade e a prática de compensar o prejuízo mediante o sobretrabalho ibidem p XVIII Em Birmingham perdese um tempo enorme folgando parte do tempo e esfalfandose durante o restante ibidem p XI 284 Child Empl Comm IV Rep p XXXII The extension of the railway system is said to have contributed greatly to this custom of giving sudden orders and the consequent hurry neglect of mealtimes and late hours of the workpeople A expansão do sistema ferroviário segundo se afirma contribuiu em grande medida para esse costume de formular encomendas repentinas para os trabalhadores as consequências disso são o ritmo acelerado a negligência quanto aos horários das refeições e a realização de horas extras ibidem p XXXI 285 Ibidem p XXXV n 235 237 286 Ibidem p 127 n 56 287 With respect to the loss of trade by the noncompletion of shipping orders in time I remember that this was the pet argument of the factory masters in 1832 und 1833 Nothing that can be advanced now on this subject could have the force that it had then before steam had halved all distances and established new regulations for transit It quite failed at that time of proof when put to the test and again it will certainly fail should it have to be tried No que diz respeito à perda de negócios em virtude do não cumprimento de pedido de embarque no prazo devido recordo que esse era o argumento preferido dos donos de fábricas em 1832 e 1833 Nada do que agora se pudesse alegar sobre esse assunto teria a força que tinha antes de o vapor ter reduzido pela metade todas as distâncias e estabelecido novas normas para o tráfego Submetida a verificação essa afirmação mostrouse outrora como defeituosa e isso certamente não seria diferente se fosse agora submetida a uma nova prova Reports of Insp of Fact 31st Oct 1862 p 545 288 Chil Empl Comm III Rep p XVIII n 118 289 Já em 1699 John Bellers observava The uncertainty of fashions does increase necessitous poor It has two great mischiefs in it 1st The journeymen are miserable in winter for want of work the mercers and masterweavers not daring to 690 lay out their stocks to keep the journeymen imployed before the spring comes and they know what the fashion will then be 2dly In the spring the journeymen are not sufficient but the masterweavers must draw in many prentices that they may supply the trade of the kingdom in a quarter or half a year which robs the plow of hands drains the country of labourers and in a great part stocks the city with beggars and starves some in winter that are ashamed to beg A incerteza da moda aumenta o número dos indigentes Ela causa dois grandes males primeiro os oficiais passam a sofrer com a miséria no inverno por falta de trabalho já que os comerciantes varejistas e os mestres tecelões não se arriscam a investir seus capitais para manter ocupados os oficiais até que chegue a primavera e saibam qual será então a próxima moda segundo na primavera não há oficiais o bastante de modo que os mestres tecelões têm de atrair muitos aprendizes para poderem abastecer o comércio do reino por um quarto ou metade do ano o que arranca o lavrador do arado esvazia o campo de trabalhadores em grande parte abarrota a cidade de mendigos e no inverno mata de fome alguns que se envergonham de mendigar John Bellers Essays About the Poor Manufactures etc cit p 9 290 Child Empl Comm V Rep p 171 n 34 291 Assim se afirma por exemplo nos depoimentos de exportadores de Bradford Sob essas circunstâncias obviamente não parece necessário que rapazes trabalhem nos grandes armazéns mais do que das 8 horas da manhã às 7 ou 7h30 da noite Tratase simplesmente de uma questão de mão de obra adicional e de mais investimentos Os rapazes não precisariam trabalhar até tão tarde da noite se seus patrões não fossem tão ávidos por lucros uma máquina adicional não custa mais do que 16 ou 18 Todas as dificuldades provêm da insuficiência de instalações e falta de espaço ibidem p 171 n 356 38 292 Ibidem p 81 n 32 Um fabricante londrino que de resto considera a regulamentação forçada da jornada de trabalho um meio de proteção dos trabalhadores contra os fabricantes e dos próprios fabricantes contra o comércio atacadista afirma A pressão em nosso negócio é causada pelos exportadores que querem por exemplo enviar mercadorias num veleiro para que alcancem seu destino em determinada temporada e ao mesmo tempo pretendem embolsar a diferença do frete entre um veleiro e um navio a vapor ou que entre dois navios a vapor escolhem aquele que zarpa primeiro visando chegar ao mercado estrangeiro antes de seus competidores 293 Isso se poderia evitar diz um fabricante por meio da ampliação das instalações sob a pressão de uma lei geral do Parlamento ibidem p X n 38 294 Child Empl Comm V Rep p XV n 72s 295 Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 127 296 Verificouse experimentalmente que um indivíduo médio em bom estado de saúde consome cerca de 25 polegadas cúbicas de ar a cada respiração de intensidade média e respira cerca de vinte vezes por minuto De acordo com isso o consumo de ar de um indivíduo em 24 horas seria de aproximadamente 720 mil polegadas cúbicas ou 416 pés cúbicos Porém é sabido que o ar uma vez inspirado já não pode servir para o mesmo processo antes de se purificar no grande laboratório da natureza Segundo os experimentos de Valentin e Brunner um homem saudável parece expirar cerca de 1300 polegadas cúbicas de gás carbônico por hora o que equivale a aproximadamente 8 onças de carvão sólido expelidas pelo pulmão em 24 horas Cada pessoa teria de dispor de pelo menos 800 pés cúbicos Huxley 297 De acordo com a lei fabril inglesa os pais não podem mandar crianças menores de 14 anos para as fábricas controladas sem fazer com que ao mesmo tempo recebam ensino primário O fabricante é responsável pelo cumprimento da lei Factory education is compulsory and it is a condition of labour A instrução fabril é obrigatória e faz parte das condições de trabalho Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 111 298 Sobre os resultados mais vantajosos da combinação de ginástica e no caso dos rapazes também de exercícios militares com ensino obrigatório das crianças das fábricas e colegiais pobres ver o discurso de N W Senior no VII Congresso Anual da National Association for the Promotion of Social Science em Report of Proceedings etc Londres 1863 p 634 e também o relatório dos inspetores de fábrica de 31 de outubro de 1865 p 11820 126s 299 Reports of Insp of Fact cit p 1189 Um ingênuo fabricante de seda esclarece aos comissários de inquérito da Child Empl Comm Estou plenamente convencido de que o verdadeiro segredo da produção de operários eficientes se encontra na união entre trabalho e instrução a partir da infância Naturalmente o trabalho não pode ser estafante demais nem repulsivo ou insalubre Gostaria que meus próprios filhos alternassem o trabalho e recreação com a atividade escolar Child Empl Comm V Rep p 82 n 36 300 Senior discurso em Report of Proceedings cit p 66 Até que ponto a grande indústria em certo estágio de desenvolvimento ao revolucionar o modo de produção material e as relações sociais de produção revoluciona também as cabeças mostrao de modo contundente a comparação entre o discurso de N W Senior proferido em 691 1863 e sua filípica contra a lei fabril de 1833 ou entre os pontos de vista do citado congresso com o fato de que em certas partes rurais da Inglaterra ainda se proíbe aos pais pobres educarem seus filhos sob pena de morrerem de inanição Assim por exemplo o sr Snell relata como uma prática costumeira em Somersetshire que quando uma pessoa pobre solicita um auxílio da paróquia é forçada a retirar suas crianças da escola Assim o sr Wollaston pároco em Feltham relata casos em que se negou todo apoio a certas famílias porque mandavam seus filhos à escola 301 Onde máquinas artesanais movidas por força humana concorrem direta ou indiretamente com maquinaria mais desenvolvida e que consequentemente pressupõe força motriz mecânica ocorre uma grande mudança com relação ao trabalhador que movimenta a máquina Originalmente a máquina a vapor substituía esse trabalhador mas agora é ele que deve substituíla Por isso a tensão e o dispêndio de sua força de trabalho tornamse monstruosos e principalmente para aqueles de idade imatura condenados a essa tortura Assim em Coventry e redondezas o comissário Longe encontrou jovens de 10 a 15 anos de idade empregados na atividade de girar teares de fitas para não falar de crianças mais jovens a girar teares menores É um trabalho extraordinariamente cansativo The boy is a mere substitute for steam power O menino é um mero substituto da força do vapor Child Empl Comm V Report 1866 p 114 n 6 Sobre as consequências homicidas desse sistema de escravidão como o denomina o relatório ver ibidem p 114s 302 Ibidem p 3 n 24 303 Ibidem p 7 n 60 304 Segundo o Statistical Account em algumas partes montanhosas da Escócia havia muitos pastores de ovelhas e cotters Camponeses parceleiros nas terras altas escocesas com suas mulheres e seus filhos calçando sapatos feitos por eles mesmos de couro curtido por eles mesmos com roupas que não haviam sido tocadas exceto por suas próprias mãos e cuja matériaprima era a lã e o linho que eles mesmos haviam respectivamente tosquiado e plantado Na confecção de suas vestimentas dificilmente entrava algum artigo comprado exceto a sovela a agulha o dedal e algumas peças de ferro utilizadas para tecer As tinturas eram obtidas pelas próprias mulheres de árvores arbustos e ervas Dugal Stewart em Works cit v VIII p 3278 305 No célebre Livre des métiers de Étienne Boileau é prescrito entre outras coisas que um oficial ao ser admitido entre os mestres deve prestar juramento de amar fraternalmente a seus irmãos e apoiálos cada um em seu métier ofício não revelar voluntariamente os segredos do ofício e até mesmo no interesse da coletividade não chamar a atenção de um comprador para os defeitos de artigos de outrem com o objetivo de recomendar sua própria mercadoria 306 A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção por conseguinte as relações de produção e com isso todas as relações sociais A conservação inalterada do antigo modo de produção era pelo contrário a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores Essa subversão contínua da produção esse abalo constante de todo o sistema social essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes Dissolvemse todas as relações sociais antigas e cristalizadas com seu cortejo de concepções e de ideias secularmente veneradas as relações que as substituem tornamse antiquadas antes de se consolidarem Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar tudo o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados finalmente a encarar sem ilusões a sua posição social e as suas relações com os outros homens F Engels e Karl Marx Manifesto Comunista São Paulo Boitempo trad Álvaro Pina 1998 p 43 307 You take my life When you do take the means whereby I live Tirais minha vida quando tirais os meios de que vivo William Shakespeare O mercador de Veneza ato IV cena I 308 Um trabalhador francês escreve ao regressar de São Francisco Jamais eu teria acreditado que seria capaz de exercer todos os ofícios que pratiquei na Califórnia Estava convencido de que salvo a tipografia eu não servia para nada Certa vez em meio a esse mundo de aventureiros que trocam mais facilmente de profissão do que de camisa agi e juro que assim o foi como os outros Como a mineração não se mostrou suficientemente rentável abandoneia e me dirigi à cidade onde trabalhei sucessivamente como tipógrafo telhador fundidor de chumbo etc Depois de ter tido essa experiência de ser apto para todo tipo de trabalho sintome menos molusco e mais homem A Corbon De lenseignement professionnel 2 ed Paris 1860 p 50 aa Com essas palavras segundo Valério Máximo Facta et dicta memorabilia 8 12 o pintor grego Apeles teria respondido às críticas que um sapateiro fazia à sua pintura N T 309 John Bellers um verdadeiro fenômeno na história da economia política compreendeu com toda clareza já no final do século XVII a necessidade de superar a educação e a divisão do trabalho atuais que produzem a hipertrofia e a atrofia nos dois extremos da sociedade ainda que em direções opostas Entre outras coisas diz ele corretamente An 692 idle learning being little better than the Learning of Idleness Bodily Labour its a primitive institution of God Labour being as proper for the bodies health as eating is for its living for what pains a man saves by Ease he will find in Disease labour adds oyl to the lamp of life when thinking inflames it A childish silly employ leaves the childrens minds silly Aprender ociosamente é pouco melhor do que aprender a ociosidade O trabalho corporal foi originalmente instituído pelo próprio Deus O trabalho é tão necessário para a saúde do corpo quanto comer o é para sua vida pois as dores que se poupam com o ócio serão adquiridas por doença O trabalho é o óleo da lamparina da vida mas quem a acende é o pensamento Uma ocupação infantilmente estúpida afirma Bellers pleno de pressentimento sobre os Basedows e seus imitadores modernos estupidifica o espírito das crianças Proposals for Raising a Colledge of Industry of all useful Trades and Husbandry cit p 12 14 16 18 310 Aliás isso também ocorre em grande parte em oficinas menores como vimos no caso da manufatura de rendas e no entrançado de palha e como também se poderia mostrar em detalhes especialmente nas manufaturas metalúrgicas de Sheffield Birmingham etc 311 Child Empl Comm V Rep p XXV n 162 e II Rep p XXXVIII n 285 289 p XXV XXVI n 191 312 Factory labour may be as pure and as excellent as domestic labour and perhaps more so O trabalho fabril pode ser tão puro e excelente quanto o trabalho domiciliar e talvez ainda mais Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 129 313 Ibidem p 27 32 314 Uma grande quantidade de dados a esse respeito encontrase nos Reports of the Inspectors of Factories 315 Child Empl Comm V Rep p X n 35 316 Ibidem p IX n 28 317 Ibidem p XXV n 1657 Cf acerca das vantagens das indústrias grandes sobre as pequenas Child Empl Comm III Rep p 13 n 144 p 25 n 121 p 26 n 125 p 27 n 140 etc 318 Os ramos industriais que a comissão propõe regulamentar são manufatura de rendas confecção de meias entrançado de palha manufatura de wearing apparel acessório de vestuário com suas inúmeras subdivisões confecção de flores artificiais fabricação de calçados chapéus e luvas alfaiataria todas as fábricas metalúrgicas dos altosfornos até as fábricas de agulhas etc fabricação de papel manufatura de vidro de tabaco fábricas de Indian rubber borracha fabricação de liço para a tecelagem tecelagem manual de tapetes manufaturas de guardachuvas e sombrinhas fabricação de fusos e de lançadeiras tipografias oficinas de encadernação comércio de material de escritório stationery com a correspondente confecção de caixas de papelão cartões tintas para papéis etc cordoaria manufatura de adornos de azeviche olarias manufatura manual de seda tecelagem de Coventry salinas fábricas de velas de cimento refinaria de açúcar produção de biscoitos trabalhos em madeira e outros trabalhos variados 319 Child Empl Comm III Rep p XXV n 169 319a A Factory Acts Extension Act Lei para a extensão das leis fabris foi aprovada em 12 de agosto de 1867 Ela regula todas as fundições forjas e manufaturas metalúrgicas incluindo as fábricas de máquinas além de manufaturas de vidro papel gutapercha borracha e tabaco gráficas oficinas de encadernação enfim todas as oficinas que empreguem mais de cinquenta pessoas A Hours of Labour Regulation Act Lei para a regulamentação do tempo de trabalho aprovada a 17 de agosto de 1867 regulamenta as oficinas menores e o assim chamado trabalho domiciliar No Livro II voltarei a tratar dessa lei da nova Mining Act Lei da mineração de 1872 etc 320 Senior Social Science Congress cit p 558 321 O pessoal de inspeção das fábricas consistia de 2 inspetores 2 inspetores auxiliares e 41 subinspetores Oito subinspetores adicionais foram nomeados em 1871 O custo total de execução das leis fabris na Inglaterra Escócia e Irlanda somavam em 18711872 apenas 25347 incluindo os custos judiciais dos processos contra infrações 322 Robert Owen o pai das fábricas e armazéns cooperativos que no entanto como já observamos não compartilhava de modo algum das ilusões de seus sucessores quanto ao alcance desses elementos isolados de transformação em seus experimentos não só tinha no sistema fabril seu ponto de partida prático como também teoricamente consideravao o ponto de partida da revolução social O sr Vissering professor de economia política na Universidade de Leyden parece ter suspeitado de algo assim quando em seu Handboek van Praktische Staathuishoudkunde 18601862 que expõe do modo mais adequado as trivialidades da economia vulgar declarase a favor do artesanato e contra a grande indústria Adendo à quarta edição Os novos imbróglios jurídicos ver nota 194 na p 3712 que a legislação inglesa criou por meio das reciprocamente contraditórias Factory Acts Factory Acts Extension e Workshops Acts acabaram por se tornar insuportáveis o que levou ao surgimento da Factory and 693 Workshop Act de 1878 uma codificação de toda a legislação sobre essa matéria Naturalmente não podemos realizar aqui uma crítica detalhada desse código industrial hoje vigente na Inglaterra Bastarão portanto as seguintes considerações A lei compreende 1 fábricas têxteis Aqui tudo permanece praticamente como antes o tempo de trabalho permitido a crianças maiores de 10 anos é de 5½ horas por dia ou de 6 horas se o sábado é livre adolescentes e mulheres 10 horas nos primeiros 5 dias da semana e um máximo de 6½ horas aos sábados 2 Fábricas não têxteis Neste caso as disposições legais estão mais próximas do ponto 1 do que antes mas ainda subsistem várias exceções favoráveis aos capitalistas exceções que muitas vezes ainda podem ser ampliadas por meio de licenças especiais do ministro do Interior 3 Workshops definidas aproximadamente como na lei anterior quando nelas trabalham crianças adolescentes ou mulheres as workshops são colocadas quase em pé de igualdade com as fábricas não têxteis porém uma vez mais com exigências menos severas em alguns aspectos 4 Workshops em que não trabalham crianças nem adolescentes mas só pessoas de ambos os sexos maiores de 18 anos para essa categoria vigoram ainda outras atenuações 5 Domestic workshops oficinas domiciliares onde trabalham apenas membros da família no domicílio familiar determinações ainda mais elásticas e ao mesmo tempo a limitação de que o inspetor desprovido de expressa autorização ministerial ou judicial só pode visitar os aposentos que não sejam utilizados ao mesmo tempo como moradia e finalmente a liberação irrestrita no âmbito familiar do entrançado de palha e da confecção da renda de bilros e de luvas Com todos os seus defeitos essa lei juntamente com a lei federal suíça de 23 de março de 1877 continua a ser de longe a melhor lei sobre a matéria Uma comparação dessa lei com a referida lei federal suíça é de particular interesse pois põe em relevo tanto as vantagens como as desvantagens dos dois métodos de legislar o inglês histórico que intervêm de caso em caso e o continental mais generalizador alicerçado nas tradições da Revolução Francesa Infelizmente o código inglês quanto à sua aplicação nos workshops continua a ser em grande parte letra morta por falta de pessoal suficiente para a inspeção F E 323 Uma exposição detalhada da maquinaria aplicada na agricultura inglesa encontrase em Die landwirtschaftlichen Geräthe und Maschinen Englands do dr W Hamm 2 ed 1856 Em seu esboço sobre o processo de desenvolvimento da agricultura inglesa o sr Hamm segue de modo demasiado acrítico o sr Leonce de Lavergne Adendo à quarta edição Obra que naturalmente tornouse agora obsoleta F E 324 You divide the People into two hostile camps of clownish boors and emasculated dwarfs Good heavens a nation divided into agricultural and commercial interests calling itself sane nay styling itself enlightened and civilized not only in spite of but in consequence of this monstrous and unnatural division Dividis o povo em dois campos hostis o dos camponeses toscos e o dos anões efeminados Ó céus Como pode uma nação cindida em interesses agrícolas e comerciais dizerse sã e mais ainda considerarse esclarecida e civilizada não só apesar de mas exatamente em razão dessa separação monstruosa e antinatural David Urquhart Familiar Words cit p 119 Essa passagem mostra tanto a força quanto a fraqueza de um tipo de crítica que sabe julgar e condenar o presente mas não compreendêlo 325 Cf Liebig Die Chemie in ihrer Anwendung auf Agrikultur und Phisiologie 7 ed 1862 e também no primeiro volume de Einleitung in die Naturgesetze des Feldbaus Ter analisado o aspecto negativo da agricultura moderna de um ponto de vista científico é um dos méritos imortais de Liebig Também seus esboços sobre a história da agricultura embora não isentos de erros grosseiros contêm visões lúcidas É de se lamentar que ouse fazer afirmações gratuitas tais como Pulverizando mais intensamente e arando o solo com maior frequência a circulação do ar no interior das partes porosas da terra é ativada provocando a ampliação e renovação da superfície do solo exposta à ação do ar porém é fácil compreender que o aumento da produção do campo não pode ser proporcional ao trabalho nele aplicado mas sim aumenta em proporção muito menor Essa lei acrescenta Liebig foi enunciada pela primeira vez por J S Mill em seu Princ of Pol Econ v I p 17 do seguinte modo That the produce of land increases caeteris paribus in a diminishing ratio to the increase of the labourers employed is the universal law of agricultural industry Que o produto da terra aumenta caeteris paribus em proporção decrescente ao aumento de trabalhadores empregados O sr Mill inclusive repete a lei da escola ricardiana numa fórmula falsa pois como na Inglaterra the decrease of the labourers employed a diminuição dos trabalhadores empregados sempre acompanhou o progresso da agricultura a conclusão seria que essa lei descoberta na e para a Inglaterra não encontraria aplicação a não ser nesse país constitui a lei geral da agricultura o que é bastante notável já que Mill desconhecia as razões dessa lei Liebig Die Chemie in ihrer Anwendung auf Agrikultur und Phisiologie cit v I p 143 e nota Abstraindo da acepção equívoca da palavra trabalho que para Liebig não significa o mesmo que para a economia política é bastante notável que ele faça do sr J S Mill o primeiro proponente de uma teoria que James Anderson já enunciara na época de A Smith e que foi posteriormente reiterada em vários de seus escritos até o começo do século XIX teoria que Malthus em geral um mestre do plágio toda sua teoria da população é um plágio desavergonhado anexou à sua própria obra em 1815 que foi desenvolvida por West à mesma época e independentemente de Anderson que Ricardo em 1817 vinculou à teoria geral do valor e que a partir de então deu a volta ao mundo tendo Ricardo como 694 seu autor que por James Mill o pai de J S Mill vulgarizou em 1820 e que finalmente já convertida em lugar comum é repetida entre outros pelo sr J S Mill como um dogma escolar É incontestável que J S Mill deve sua autoridade em todo caso notável quase exclusivamente a semelhantes quiproquós 695 1 The very existence of the mastercapitalists as a distinct class is dependent on the productiveness of industry A mera existência dos patrões tornados capitalistas como uma classe especial depende da produtividade do trabalho Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth cit p 206 If each mans labour were but enough to produce his own food there could be no property Se o trabalho de cada homem bastasse apenas para produzir seu próprio alimento não poderia existir propriedade Ravenstone Thoughts on the Funding System and its Effects cit p 14 1a Segundo cálculo recente só nas regiões já exploradas da Terra ainda vivem pelo menos quatro milhões de canibais 2 Among the wild Indians in America almost every thing is the labourers 99 parts of a hundred are to be put upon the account of Labour In England perhaps the labourer has not 23 Entre os índios selvagens da América quase tudo pertence ao trabalhador 99 partes de cada cento são postas na conta do trabalho Na Inglaterra talvez o trabalhador não chegue a ter 23 The Advantages of the East India Trade etc cit p 723 3 Diodoro Historische Bibliothek cit l I c 80 a Citação modificada do poema e canção popular An die Natur de Friedrich Leopold conde de Stolberg N T 4 The first as it is most noble and advantageous so doth it make the people careless proud and given to all excesses whereas the second enforceth vigilancy literature arts and policy Como a primeira a riqueza natural é muito nobre e vantajosa torna o povo negligente orgulhoso e dado a todos os excessos ao passo que a segunda ao contrário impõe a diligência a cultura a virtuosidade na arte e a sabedoria política Englands Treasure by Foreign Trade Or the Balance of our Foreign Trade is the Rule of our Treasure Written by Thomas Mun of London Merchant and Now Published for the Common Good by his Son John Mun Londres 1669 p 1812 Nor can I conceive a greater curse upon a body of people than to be thrown upon a spot of land where the productions for subsistence and food were in great measure spontaneous and the climate required or admitted little care for raiment and covering there may be an extreme on the other side A soil incapable of produce by labour is quite as bad as a soil that produces plentifully without any labour Também não posso conceber maldição pior contra o conjunto de um povo do que a de ser posto num lugar em que a produção dos meios de subsistência e alimentos seja em grande parte espontânea e o clima exija ou admita poucos cuidados com a vestimenta e a habitação Pode ocorrer certamente o extremo contrário Um solo que apesar do trabalho nele realizado não dê nenhum fruto é tão ruim como um outro que produz em abundância sem trabalho algum N Forster An Inquiry into the Causes of the Present High Price of Provisions Londres 1767 p 10 5 A necessidade de calcular os movimentos periódicos do Nilo criou a astronomia egípcia e com ela o domínio da casta sacerdotal como dirigente da agricultura Le solstice est le moment de lannée où commence la crue du Nil et celui que les Égyptiens ont dû observer avec le plus dattention Cétait cette année tropique quil leur importait de marquer pour se diriger dans leurs opérations agricoles Ils durent donc chercher dans le ciel un signe apparent de son retour O solstício é o momento do ano em que começa a elevação do Nilo aquilo que os egípcios tinham de observar com a máxima atenção Era esse ano trópico que lhes importava fixar para se orientarem em suas operações agrícolas Eles tinham então de procurar no céu um sinal aparente de seu retorno Cuvier Discours sur les révolutions du globe Paris 1863 p 141 6 Uma das bases materiais do poder que o estado exercia sobre os pequenos e desconexos organismos de produção da Índia era a regulação do abastecimento de água Os dominadores maometanos da Índia compreendiam isso melhor que seus sucessores ingleses Recordemos apenas a fome de 1866 que custou a vida de mais de 1 milhão de hindus no distrito de Orissa presidência de Bengala 7 There are no two countries which furnish an equal number of the necessaries of life in equal plenty and with the same quantity of labour Mens wants increase or diminish with the severity or temperateness of the climate they live in consequently the proportion of trade which the inhabitants of different countries are obliged to carry on through necessity cannot be the same nor is it practicable to ascertain the degree of variation farther than by the Degrees of Heat and Cold from whence one may make this general conclusion that the quantity of labour required for a certain number of people is greatest in cold climates and least in hot ones for in the former men not only want more clothes but the earth more cultivating than in the latter Não há dois países que forneçam igual número de meios de subsistência necessários com a mesma abundância e com o mesmo dispêndio de trabalho As necessidades do homem aumentam ou diminuem de acordo com o rigor ou a suavidade do clima em que vive consequentemente a proporção de atividade produtiva que os habitantes dos diferentes países tenham necessariamente de exercer não pode ser a mesma tampouco se pode determinar o grau de variação a não ser pelos graus de calor e frio Disso se pode concluir de modo geral que a quantidade de trabalho exigido para o sustento de certo número de pessoas é maior nos climas frios e menor nos quentes uma vez que nos primeiros não só os homens precisam de mais vestimenta mas também o solo 696 precisa ser mais bem cultivado do que nos últimos An Essay on the Governing Causes of the Natural Rate of Interest Londres 1750 p 59 O autor desse escrito anônimo que marcou época é J Massie Hume retirou daí sua teoria dos juros 8 Chaque travail doit laisser un excédant Todo trabalho deve isso também parece fazer parte dos droits et devoirs du citoyen direitos e deveres do cidadão deixar um excedente Proudhon Système des contradictions économiques ou philosophie de la misère Paris 1846 v I p 73 9 F Schouw Die Erde die Pflanze und der Mensch 2 ed Leipzig 1854 p 148 b Em sua carta a N F Danielson de 28 de novembro de 1878 Marx propôs a seguinte redação para esse parágrafo Segue uma prova evidente de como Mill trata as diferentes formas históricas de produção social Pressuponho por toda parte diz ele o estado atual das coisas que com poucas exceções impera em todos os lugares onde trabalhadores e capitalistas se contrapõem uns aos outros como classes isto é o fato de que o capitalista faz todos os adiantamentos inclusive o pagamento do trabalhador O senhor Mill quer muito acreditar que não é uma necessidade absoluta que assim o seja mesmo no sistema econômico em que trabalhadores e capitalistas se contrapõem uns aos outros como classes N E A MEGA 9a J St Mill Principles of Political Economy Londres 1868 p 2523 passim As passagens citadas foram traduzidas da edição francesa dO capital F E 697 9b Nota à terceira edição Naturalmente aqui também está excluído o caso tratado na p 3912 F E 10 MacCulloch entre outros fez a esta terceira lei o adendo absurdo de que o maisvalor pode aumentar sem queda do valor da força de trabalho mediante a abolição dos impostos que o capitalista tinha de pagar anteriormente A abolição de tais impostos não altera em absolutamente nada a quantidade de maisvalor que o capitalista industrial suga em primeira instância do trabalhador Ela altera apenas a proporção em que o capitalista embolsa maisvalor ou tem de dividilo com terceiros Não altera em nada portanto a proporção entre o valor da força de trabalho e o mais valor A exceção de MacCulloch só serve para comprovar sua incompreensão da regra um desventura que lhe ocorre com tanta frequência na vulgarização de Ricardo quanto a J B Say na vulgarização de A Smith 11 When an alteration takes place in the productiveness of industry and that either more or less is produced by a given quantity of labour and capital the proportion of wages may obviously vary whilst the quantity which that proportion represents remains the same or the quantity may vary whilst the proportion remains the same Se na produtividade da indústria ocorre uma mudança de modo que mediante uma dada quantidade de trabalho e capital produzse mais ou menos a proporção dos salários pode evidentemente sofrer uma variação enquanto a quantidade que essa proporção representa permanece a mesma ou a quantidade pode sofrer uma variação enquanto a proporção se mantém inalterada J Cazenove Outlines of Political Economy etc p 67 a Na quarta edição queda de seu valor N E A MEW 12 All things being equal the English manufacturer can turn out a considerably larger amount of work in a given time than a foreign manufacturer so much as to counterbalance the difference of the working days between 60 hours a week here and 72 or 80 elsewhere Se todas as demais condições permanecem iguais o fabricante inglês pode extrair num determinado tempo uma quantidade consideravelmente maior de trabalho que um fabricante estrangeiro suficiente para compensar a diferença entre as jornadas de trabalho que aqui é de 60 horas semanais e em outras partes de 72 até 80 horas Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1855 p 65 Uma maior redução legal da jornada de trabalho nas fábricas continentais seria o meio mais infalível para reduzir essa diferença entre a jornada de trabalho continental e a inglesa 13 There are compensating circumstances which the working of the Ten Hours Act has brought to light Existem circunstâncias compensatórias que foram esclarecidas com a aplicação da Lei das 10 Horas Reports of Insp of Fact for 31st October 1848 p 7 14 The amount of labour which a man had undergone in the course of 24 hours might be approximately arrived at by an examination of the chemical changes which had taken place in his body changed forms in matter indicating the anterior exercise of dynamic force É possível calcular aproximadamente a quantidade de trabalho que um homem executou no decorrer de 24 horas examinando as mudanças químicas que ocorreram em seu corpo pois as formas modificadas da matéria indicam a tensão anterior da força motriz Grove On the Correlation of Physical Forces p 3089 15 Corn and Labour rarely march quite abreast but there is an obvious limit beyond which they cannot be separated With regard to the unusual exertions made by the labouring classes in periods of dearness which produce the fail of wages noticed in the evidence they are most meritorious in the individuals and certainly favour the growth of capital But no man of humanity could wish to see them constant and unremitted They are most admirable as a temporary relief but if they were constantly in action effects of a similar kind would result from them as from the population of a country being pushed to the very extreme limits of its food Cereal e trabalho raramente coincidem plenamente mas há um limite evidente além do qual eles não podem ser separados um do outro Os esforços extraordinários das classes trabalhadoras em épocas de escassez que acarretam a baixa dos salários mencionada nos depoimentos a saber perante as comissões parlamentares de inquérito de 18141815 são muito meritórios da parte dos indivíduos e seguramente favorecem o crescimento do capital Mas nenhuma pessoa com sentimentos humanitários pode desejar que esses esforços sejam constantes e ininterruptos Eles são altamente admiráveis como remédio temporário mas se fossem realizados sempre seu efeito seria o mesmo que se obteria ao empurrar a população de um país até os limites últimos em relação à sua subsistência Malthus Inquiry into the Nature and Progress of Rent Londres 1815 p 48 nota Malthus merece aqui todas as honras por enfatizar o prolongamento da jornada de trabalho do qual ele também se ocupa diretamente em outro lugar de seu panfleto enquanto Ricardo e outros diante dos fatos mais notórios baseiam todas as suas investigações na grandeza constante da jornada de trabalho Mas os interesses conservadores a serviço dos quais se encontrava Malthus impediamno de ver que o desmesurado prolongamento da jornada de trabalho juntamente com o extraordinário desenvolvimento da maquinaria e a exploração do trabalho feminino e infantil tinha de tornar supranumerária uma grande parte da classe trabalhadora especialmente após o fim da demanda de guerra e do monopólio inglês do mercado mundial Naturalmente era muito mais cômodo e mais adequado aos interesses das classes dominantes que Malthus idolatrava de modo autenticamente clerical explicar essa superpopulação a partir 698 das leis eternas da natureza do que a partir de leis naturais puramente históricas da produção capitalista 16 A principal cause of the increase of capital during the war proceeded from the greater exertions and perhaps the greater privations of the labouring classes the most numerous in every society More women and children were compelled by necessitous circumstances to enter upon laborious occupations end former workmen were from the same cause obliged to devote e greater portion of their time to increase production Uma das causas principais do crescimento do capital durante a guerra estava nos maiores esforços e talvez também nas maiores privações das classes trabalhadoras que são as mais numerosas em todas as sociedades Em virtude de sua situação calamitosa um número maior de mulheres e crianças se viam obrigadas a aceitar ocupações laboriosas e aqueles que já eram trabalhadores foram obrigados pela mesma razão a dedicar uma parte maior de seu tempo ao aumento da produção Essays on Political Econ in Which are Illustrated the Principal Causes of the Present National Distress Londres 1830 p 248 699 17 Assim por exemplo em Dritter Brief an v Kirchmann von Rodbertus Widerlegung der Ricardoschen Theorie von der Grundrente und Begründung einer neuen Rententheorie Berlim 1851 Voltarei mais adiante a esse escrito que apesar de sua falsa teoria sobre a renda fundiária capta a essência da produção capitalista Adendo à terceira edição Vemos aqui com que benevolência Marx julgava seus antecessores quando neles encontrava um progresso efetivo uma ideia nova e correta Nesse ínterim a publicação das cartas de Rodbertus a Rudolf Meyer restringiu em certa medida o reconhecimento anterior Nelas podemos ler É necessário salvar o capital não só do trabalho mas também de si mesmo e isso na realidade é feito da melhor forma quando se concebem as atividades do empresáriocapitalista como funções de economia social ou estatal que lhe são delegadas pela propriedade do capital e seu lucro como uma forma de ganho pois ainda não conhecemos outra organização social Mas também se deveriam regular os ganhos e reduzilos quando subtraem demais do salário Assim o ataque de Marx contra a sociedade pois assim eu chamaria o seu livro deve ser repelido Em geral o livro de Marx não é tanto uma investigação sobre o capital como uma polêmica contra a forma atual do capital que ele confunde com o próprio conceito de capital dessa confusão derivam precisamente seus erros Cartas etc do Dr RodbertusJagetzow editadas pelo dr Rud Meyer Berlim 1881 t I p 111 48ª carta de Rodbertus Em tais lugarescomuns ideológicos encalharam os primeiros impulsos realmente audazes das cartas sociais de Rodbertus F E 18 Nesse cálculo evidentemente está descontada a parte do produto que apenas substitui o capital constante investido O sr L de Lavergne cego admirador da Inglaterra tende a dar uma proporção antes demasiado baixa do que demasiado alta 19 Como todas as formas desenvolvidas do processo de produção capitalista são formas de cooperação nada é mais fácil desde já que abstrair de seu caráter especificamente antagônico e convertêlas quimericamente em formas livres de associação como na obra do conde A de Laborde De lesprit de lassociation dans tous les intérêts de la communauté Paris 1818 O ianque H Carey realiza essa proeza com o mesmo sucesso chegando a aplicála ocasionalmente às relações do sistema escravagista 20 Embora os fisiocratas não tenham conseguido decifrar o segredo do maisvalor estava claro para eles no entanto que une richesse indépendante et disponible quil na point achetée et quil vend ela é uma riqueza independente e disponível que ele seu possuidor não comprou e que vende Turgot Réflexions sur la formation et la distribution des richesses p 11 700 21 Mr Ricardo ingeniously enough avoids a difficulty which on a first view threatens to encumber his doctrine that value depends on the quantity of labour employed in production If this principle is rigidly adhered to it follows that the value of labour depends on the quantity of labour employed in producing it which is evidently absurd By a dexterous turn therefore Mr Ricardo makes the value of labour depend on the quantity of labour required to produce wages or to give him the benefit of his own language he maintains that the value of labour is to be estimated by the quantity of labour required to produce wages by which he means the quantity of labour required to produce the money or commodities given to the labourer This is similar to saying that the value of cloth is estimated not by the quantity of labour bestowed on its production but by the quantity of labour bestowed on the production of the silver for which the cloth is exchanged Ricardo é bastante engenhoso para evitar uma dificuldade que à primeira vista parece ameaçar sua teoria a saber de que o valor depende da quantidade de trabalho empregada na produção Se nos atemos estritamente a esse princípio dele se segue que o valor do trabalho depende da quantidade de trabalho empregada em sua produção o que é evidentemente um absurdo Por isso Ricardo mediante uma hábil manobra faz com que o valor do trabalho dependa da quantidade de trabalho exigida para a produção do salário ou em suas próprias palavras sustenta que o valor do trabalho deve ser estimado pela quantidade de trabalho necessária para produzir o salário e entende com isso a quantidade de trabalho necessária à produção do dinheiro ou das mercadorias dados ao trabalhador Isso é o mesmo que dizer que o valor do pano é estimado não segundo a quantidade de trabalho empregada em sua produção mas segundo a quantidade de trabalho empregada na produção da prata que é dada em troca do pano S Bailey A Critical Dissertation on the Nature etc of Value p 501 22 If you call labour a commodity it is not like a commodity which is first produced in order to exchange and then brought to market where it must exchange with other commodities according to the respective quantities of each which there may be in the market at the time labour is created at the moment it is brought to market nay it is brought to market before it is created Se chamais o trabalho de mercadoria não é como uma mercadoria que primeiro é produzida a fim de ser trocada e depois levada ao mercado no qual tem de ser trocada por outras mercadorias de acordo com suas respectivas quantidades então disponíveis no mercado o trabalho é criado no momento em que é levado ao mercado ou melhor é levado ao mercado antes de ser criado Observations on Some Verbal Disputes etc p 756 23 Treating Labour as a commodity and Capital the produce of labour as another then if the values of those two commodities were regulated by equal quantities of labour a given amount of labour would exchange for that quantity of capital which had been produced by the same amount of labour antecedent labour would exchange for the same amount as present labour But the value of labour in relation to other commodities is determined not by equal quantities of labour Se consideramos o trabalho como uma mercadoria e o capital o produto do trabalho como outra concluímos que se os valores dessas duas mercadorias fossem regulados por quantidades iguais de trabalho uma dada quantidade de trabalho seria trocada pela quantidade de capital que tivesse sido produzida pela mesma quantidade de trabalho o trabalho passado seria trocado pela mesma quantidade de trabalho presente Mas o valor do trabalho em relação a outras mercadorias não é determinado por quantidades iguais de trabalho E G Wakefield em sua edição de A Smith Wealth of Nations Londres 1835 v I p 2301 nota 24 Il a fallu convenir que toutes les fois quil échangerait du travail fait contre du travail à faire le dernier aurait une valeur supérieure au premier Seria necessário chegar a um acordo mais uma versão do contrat social contrato social de modo que ele sempre trocasse trabalho realizado por trabalho a realizar o último o capitalista teria de receber um valor maior que o primeiro o trabalhador Sismondi De la richesse commerciale Genebra 1803 t I p 37 25 Labour the exclusive standard of value the creator of all wealth no commodity O trabalho medida exclusiva do valor o criador de toda riqueza não é uma mercadoria T Hodgskin Popul Polit Econ cit p 186 26 Ao contrário explicar tais expressões como mera licentia poetica licença poética apenas revela a impotência da análise Contra a frase de Proudhon Le travail est dit valoir non pas en tant que marchandise luimême mais en vue des valeurs quon suppose renfermées puissanciellement en lui La valeur du travail est une expression figurée etc Dans le travailmarchandise qui est dune réalité effrayante il ne voit quune ellipse grammaticale Donc toute la société actuelle fondée sur le travailmarchandise est désormais fondée sur une licence poétique sur une expression figurée La société veut elle éliminer tous les inconvénients qui la travaillent eh bien quelle élimine les termes malsonnants quelle change de langage et pour cela elle nà qua sadresser à lAcadémie pour lui demander une nouvelle édition de son dictionnaire Dizse que o trabalho é um valor não como mercadoria propriamente dita mas com vista aos valores que segundo se supõe nele estão contidos potencialmente O valor do trabalho é uma expressão figurada etc observei No trabalhomercadoria que é de uma realidade assustadora ele vê apenas uma elipse gramatical Logo toda a sociedade atual fundada sobre o trabalhomercadoria está doravante fundada sobre uma licença poética sobre uma expressão 701 figurada Se a sociedade quer eliminar todos os inconvenientes que a afligem pois bem que elimine então as expressões malsonantes que modifique a linguagem e para isso basta que ela se dirija à Académie e lhe solicite uma nova edição de seu dicionário K Marx Misère de la philosophie Miséria da filosofia p 345 Mais cômodo ainda naturalmente é não entender por valor absolutamente nada Desse modo é fácil incluir nessa categoria tudo o que se queira Como por exemplo em JB Say O que é valeur valor Resposta Aquilo que uma coisa vale E o que é prix preço Resposta O valor de uma coisa expresso em dinheiro E por que o trabalho da terra tem um valor Porque se lhe atribui um preço Portanto valor é o que uma coisa vale e a terra tem um valor porque seu valor é expresso em dinheiro Esse é em todo caso um método muito simples de se compreender o why porquê e o wherefore em razão de quê das coisas 27 Cf Zur Kritik der politischen Oekonomie Contribuição à crítica da economia política p 40 em que anuncio que a análise do capital deve resolver o seguinte problema Como a produção fundada no valor de troca determinado por sua vez pelo simples tempo de trabalho conduz ao resultado de que o valor de troca do trabalho é menor do que o valor de troca de seu produto 28 Durante a guerra civil americana o Morning Star órgão livrecambista de Londres ingênuo até a estupidez reafirmou repetidas vezes com a maior indignação moral possível que os negros dos Confederate States trabalhavam completamente de graça Ele deveria ter tido a amabilidade de comparar os custos diários de um desses negros com por exemplo os de um trabalhador livre no East End de Londres Os Confederate States of America Estados Confederados da América foram formados em 1861 no Congresso de Montgomery por onze estados escravistas do sul Os rebeldes tinham como objetivo a manutenção da escravidão e sua ampliação a todo o território dos Estados Unidos da América Em 1861 eles deram início à guerra civil Guerra de Secessão contra a União Com a derrota e capitulação dos estados sulistas em 1865 a confederação foi dissolvida e a União restabelecida N E A MEW a Dou para que dês dou para que faças faço para que dês e faço para que faças Fórmulas do direito romano estabelecidas no Digesto livro XIX 5 5 N T 29 A Smith alude à variação da jornada de trabalho apenas ocasionalmente quando trata do salário por peça 702 30 O próprio valor monetário é aqui sempre pressuposto como constante 31 The price of labour is the sum paid for a given quantity of labour O preço do trabalho é a soma paga por dada quantidade de trabalho sir Edward West Price of Corn and Wages of Labour Londres 1826 p 67 West é o autor de um escrito publicado anonimamente que fez época na história da economia política Essay on the Application of Capital to Land By a Fellow of Univ College of Oxford Londres 1815 32 The wages of labour depend upon the price of labour and the quantity of labour performed An increase in the wages of labour does not necessarily imply an enhancement of the price of labour From fuller employment and greater exertions the wages of labour may be considerably increased while the price of labour may continue the same O salário depende do preço do trabalho e da quantidade de trabalho realizado Uma elevação dos salários não implica necessariamente uma elevação do preço do trabalho Com uma ocupação mais prolongada e esforços maiores os salários podem aumentar consideravelmente enquanto o preço do trabalho pode permanecer o mesmo West Price of Corn and Wages of Labour cit p 67 68 112 De resto West despacha com fraseologias banais a questão principal como o price of labour preço do trabalho é determinado 33 Isso foi percebido pelo representante mais fanático da burguesia industrial do século XVIII o autor frequentemente citado por nós de Essay on Trade and Commerce embora apresente a questão de maneira confusa It is the quantity of labour and not the price of it that is determined by the price of provisions and other necessaries reduce the price of necessaries very low and of course you reduce the quantity of labour in proportion Mastermanufacturers know that there are various ways of raising and falling the price of labour besides that of altering its nominal amount no original value É a quantidade de trabalho e não seu preço por preço ele entende o salário nominal diário ou semanal que se determina pelo preço das provisões e outros artigos de primeira necessidade reduzi fortemente o preço dos artigos de primeira necessidade e tereis certamente reduzido a quantidade de trabalho na mesma proporção Os patrõesmanufatureiros sabem que há diferentes métodos para aumentar ou reduzir o preço do trabalho além daquele de alterar sua quantia no original valor nominal ibidem p 48 e 61 Em Three Lectures on the Rate of Wages Londres 1830 p 15 em que N W Senior utiliza o escrito de West sem citálo ele afirma entre outras coisas The labourer is principally interested in the amount of wages O trabalhador está interessado principalmente na quantia do salário Portanto o trabalhador está interessado principalmente no que recebe na quantia nominal do salário e não naquilo que ele dá na quantidade de trabalho 34 O efeito desse subemprego anormal é totalmente diferente do que resulta de uma redução geral imposta por lei da jornada de trabalho O primeiro não tem qualquer relação com a duração absoluta da jornada de trabalho e tanto pode ocorrer quando esta é de 15 horas como quando é de 6 horas O preço normal do trabalho no primeiro caso é calculado sobre a base de que o trabalhador trabalhe uma média de 15 horas no segundo que ele trabalhe 6 horas por dia em média O efeito seria assim o mesmo se no primeiro caso ele só estivesse ocupado por 7½ horas e no segundo apenas por 3 horas 35 A taxa de pagamento do tempo extraordinário na manufatura de rendas é tão pequena ½ penny etc por hora que contrasta penosamente com o enorme dano que inflige à saúde e à força vital dos trabalhadores Além disso o pequeno excedente assim obtido tem frequentemente de ser gasto em meios complementares de alimentação Child Empl Comm II Rep n 117 p XVI 36 Por exemplo na estamparia de papéis de parede antes da recente promulgação da lei fabril Trabalhamos sem pausas para as refeições de modo que o trabalho diário de 10½ horas termina às 4 horas e meia da tarde e o que resta é tempo extraordinário que raramente acaba antes das 6 horas da tarde de modo que na verdade trabalhamos o ano inteiro sob o regime de tempo extraordinário Mr Smiths Evidence em Child Empl Comm I Rep p 125 37 Por exemplo nas branquearias escocesas Em algumas partes da Escócia essa indústria antes que se introduzisse a lei fabril de 1862 era explorada segundo o sistema do tempo extraordinário isto é considerandose 10 horas uma jornada normal de trabalho Por essa jornada o homem recebia 1 xelim e 2 pence Mas a isso se acrescentava um tempo extraordinário de 3 ou 4 horas por dia pagas a 3 pence por hora Consequência desse sistema um homem que trabalhasse apenas o tempo normal não podia ganhar mais do que 8 xelins por semana Sem trabalhar um tempo extraordinário o salário não lhes era suficiente Reports of Insp of Fact 30th April 1863 p 10 O pagamento adicional pelas horas extras é uma tentação à qual os trabalhadores não podem resistir Rep of Insp of Fact 30th April 1848 p 5 As oficinas de encadernação de livros na City londrina empregam muitas moças a partir de 14 ou 15 anos sob contratos de aprendizagem que prescrevem um determinado horário de trabalho Não obstante na última semana de cada mês elas trabalham até as 10 11 12 da noite ou até 1 hora da madrugada com os trabalhadores mais velhos em companhia nem um pouco selecionada Os patrões tentamnas tempt com um 703 salário adicional e dinheiro para uma boa ceia que elas consomem nas tabernas vizinhas A grande depravação assim produzida entre essas young immortals jovens imortais Child Empl Comm V Rep n 191 p 44 encontra sua compensação no fato de que também encadernam entre outros livros muitas bíblias e obras edificantes 38 Ver Reports of Insp of Fact 30th April 1863 cit Numa visão crítica plenamente correta da situação os trabalhadores londrinos empregados na construção declararam durante a grande greve e lockout bloqueio de 1860 que só aceitariam o salário por hora sob duas condições 1 que além do preço da hora de trabalho fosse fixada uma jornada normal de trabalho de 9 ou eventualmente de 10 horas e que o preço por hora da jornada de 10 horas fosse maior que o da jornada de 9 horas 2 que cada hora que excedesse o limite da jornada normal fosse paga como tempo extraordinário a um preço proporcionalmente maior 39 It is a very notable thing too that where long hours are the rule small wages are also so Também é um fato muito notável que onde o tempo de trabalho costuma ser longo os salários sejam baixos Rep of Insp of Fact 31st Oct 1863 p 9 The work which obtains the scanty pittance of food is for the most part excessively prolonged O trabalho que obtém um salário de fome é na maioria das vezes excessivamente longo Public Health Sixth Rep 1863 p 15 40 Reports of Insp of Fact 30th April 1860 p 312 41 Na Inglaterra os trabalhadores que fazem pregos manualmente por exemplo devido ao baixo preço do trabalho têm de trabalhar 15 horas diárias para obter um salário semanal dos mais miseráveis São muitas muitas horas por dia e durante todo o tempo ele tem de trabalhar duramente para ganhar 11 pence ou 1 xelim e dessa quantia é preciso descontar de 2½ a 3 pence para o desgaste das ferramentas combustíveis e desperdício de ferro Child Empl Comm III Rep n 671 p 136 Com o mesmo tempo de trabalho as mulheres ganham um salário semanal de apenas 5 xelins ibidem n 674 p 137 42 Se por exemplo um operário fabril se negasse a trabalhar o longo horário tradicional he would very shortly be replaced by somebody who would work any length of time and thus be thrown out of employment ele seria muito rapidamente substituído por alguém que trabalhasse por quaisquer períodos e assim ficaria desempregado Reports of Insp of Fact 31st Oct 1848 Evidence n 58 p 39 If one man performs the work of two the rate of profits will generally be raised in consequence of the additional supply of labour having diminished its price Se um homem realizar o trabalho de dois a taxa de lucro geralmente aumentará em consequência do fato de a oferta adicional de trabalho ter diminuído seu preço Senior Social Science Congress cit p 15 43 Child Empl Comm III Rep Evidence n 22 p 66 44 Report etc Relative to the Grievances Complained of by the Journeymen Bakers Londres 1862 p LII e Evidence n 27 359 479 Contudo também os fullpriced como mencionamos anteriormente e seu próprio porta voz Bennet o reconhece fazem seus trabalhadores começar o trabalho às 11 horas da noite ou mesmo antes e prolongamno com frequência até as 7 horas da noite seguinte ibidem p 22 704 45 The system of piecework illustrates an epoch in the history of the working man it is halfway between the position of the mere daylabourer depending upon the will of the capitalist and the cooperative artisan who in the not distant future promises to combine the artisan and the capitalist in his own person Pieceworkers are in fact their own masters even whilst working upon the capital of the employer O sistema de trabalho por peça ilustra uma época na história do operário situase a meio caminho entre a posição do mero trabalhador jornaleiro dependente da vontade do capitalista e a do artesão cooperativista que num futuro não muito distante promete reunir o artesão e o capitalista em sua própria pessoa Os trabalhadores por peças são de fato seus próprios patrões mesmo trabalhando com o capital do empregador John Watts Trade Societies and Strikes Machinery and Cooperative Societies Manchester 1865 p 523 Cito esse pequeno escrito pois é uma verdadeira cloaca de todas as trivialidades apologéticas há muito apodrecidas O mesmo sr Watts tomava parte anteriormente no owenismo e em 1842 publicou outro pequeno escrito Facts and Fictions of Political Economy no qual entre outras coisas declara a property propriedade como um robbery roubo Isso foi há muito tempo 46 T J Dunning Trades Unions and Strikes Londres 1860 p 22 47 De que modo a justaposição simultânea dessas duas formas do salário favorece fraudes dos fabricantes fica evidente na seguinte passagem A factory employs 400 people the half of which work by the piece and have a direct interest in working longer hours The other 200 are paid by the day work equally long with the others and get no more money for their overtime The work of these 200 people for half an hour a day is equal to one persons work for 50 hours or 56 of one persons labour in a week and is a positive gain to the employer Uma fábrica emprega 400 pessoas metade das quais trabalha por peça e tem interesse direto em trabalhar por períodos mais longos As outras 200 são pagas por dia trabalham o mesmo tempo das outras e não recebem qualquer dinheiro adicional pelo tempo excedente O trabalho dessas 200 pessoas durante meia hora diária equivale ao trabalho de uma pessoa durante 50 horas ou 56 do trabalho semanal de uma pessoa e representa um ganho considerável para o empregador Reports of Insp of Fact 31st October 1860 p 9 Overworking to a very considerable extent still prevails and in most instances with that security against detection and punishment which the law itself affords I have in many former reports shown the injury to all the workpeople who are not employed on piecework but receive weekly wages O sobretrabalho ainda prevalece numa extensão considerável e na maioria dos casos com aquela segurança que a própria lei oferece contra a detecção e punição Mostrei em muitos relatórios anteriores a injustiça cometida contra todos os trabalhadores que não trabalham por peça mas recebem salários semanais Leonard Horner em Reports of Insp of Fact 30th April 1859 p 89 48 Le salaire peut se mesurer de deux manières ou sur la durée du travail ou sur son produit O salário pode ser medido de duas maneiras pela duração do trabalho ou por seu produto Abrégé élémentaire des principes de lécon pol Paris 1796 p 32 O autor desse escrito anônimo é G Garnier 49 So much weight of cotton is delivered to him and he has to return by a certain time in lieu of it a given weight of twist or yarn of a certain degree of fineness and he is paid so much per pound for all that he so returns If his work is defective in quality the penalty fails on him if less in quantity than the minimum fixed for a given time he is dismissed and an abler operative procured Um determinado peso de algodão lhe é entregue ao fiandeiro e ele tem de fornecer em troca um determinado peso de trançado ou fio de um certo grau de finura sendo remunerado de acordo com a quantidade de libras de produto produzidas Se seu trabalho é de qualidade insuficiente ele recebe uma punição se a quantidade é menor que o mínimo fixado para um dado tempo ele é dispensado e um operário mais capaz é procurado Ure The Philosophy of Manufactures cit p 3167 50 It is when work passes through several hands each of which is to take a share of profits while only the last does the work that the pay which reaches the workwoman is miserably disproportioned Quando o produto do trabalho passa por muitas mãos cada uma das quais tendo uma participação nos lucros enquanto apenas o último par de mãos executa o trabalho ocorre que o pagamento que alcança a operária é miseravelmente desproporcional Child Empl Comm II Rep n 424 p LXX 51 Mesmo o apologético Watts observa a esse respeito It would be a great improvement to the system of piecework if all the men employed on a job were partners in the contract each according to his abilities instead of one man being interested in overworking his fellows for his own benefit Seria uma grande melhoria do sistema de trabalho por peça se todos os homens ocupados numa tarefa fossem parceiros no contrato cada um de acordo com suas habilidades em vez de um só homem estar interessado em explorar seus camaradas para seu próprio benefício ibidem p 53 Sobre as infâmias desse sistema cf Child Empl Comm Rep III n 22 p 66 n 124 p 11 p XI n 13 53 59 etc 51a Esse resultado naturalespontâneo é frequentemente formulado de modo artificial No engineering trade ramo da 705 construção de máquinas de Londres por exemplo vale o truque tradicional de que o capitalista escolha um homem de força física e habilidade superiores para a posição de chefe de um grupo de trabalhadores Trimestralmente ou em outro prazo pagalhe um salário adicional sob a condição de que faça o possível para estimular seus colaboradores que recebem apenas o salário ordinário a trabalhar com a máxima dedicação Sem mais comentários isso explica a reclamação dos capitalistas acerca das barreiras impostas pelas Trades Unions à atividade ou habilidade e força de trabalho superiores stinting the action superior skill and working power Dunning Trades Unions and Strikes cit p 223 Como o próprio autor é trabalhador e secretário de uma Trades Union isso poderia ser considerado um exagero Mas vejase por exemplo o verbete Labourer da highly respectable altamente respeitável enciclopédia agronômica de J C Morton na qual esse método é recomendado aos arrendatários como muito eficaz 52 All those who are paid by piecework profit by the transgression of the legal limits of work This observation as to the willingness to work overtime is especially applicable to the women employed as weavers and reelers Todos os que são pagos por peça lucram com a transgressão dos limites legais do trabalho Essa observação quanto à disposição de trabalhar horas adicionais é especialmente aplicável às mulheres empregadas como tecelãs ou dobradeiras Rep of Insp of Fact 30th April 1858 p 9 Esse sistema de salários por peça tão vantajoso para o capitalista tende diretamente a estimular o jovem oleiro a realizar mais sobretrabalho durante os 4 ou 5 anos em que é pago por peça mas por um preço baixo Essa é uma das grandes causas a que se deve atribuir a degeneração física dos oleiros Child Empl Comm I Rep p XIII 53 Where the work in any trade is paid for by the piece at so much per job wages may very materially differ in amount But in work by the day there is generally an uniform rate recognized by both employer and employed as the standard of wages for the general run of workmen in the trade Onde o trabalho em qualquer ramo industrial é pago por peça os salários podem diferir muito substancialmente em suas quantias Mas no salário diário há geralmente uma taxa uniforme reconhecida tanto pelo empregador quanto pelo trabalhador como o salário padrão pago ao trabalhador médio de cada ramo industrial Dunning Trades Unions and Strikes cit p 17 54 O trabalho dos oficiais artesãos se regula por dia ou por peça à la journée ou à la pièce Os patrões sabem aproximadamente a quantidade de serviço que os trabalhadores podem realizar diariamente em cada métier ofício e com frequência lhes pagam por isso uma quantia proporcional ao serviço que realizam assim esses oficiais trabalham tanto quanto podem em seu próprio interesse sem qualquer supervisão Cantillon Essai sur la nature du commerce en général Amsterdã 1756 p 185 202 primeira edição de 1755 Cantillon em quem muito se inspiraram Quesnay sir James Steuart e Adam Smith já apresenta aqui portanto o salário por peça como forma meramente modificada do salário por tempo A edição francesa de Cantillon se anuncia no título como tradução da edição inglesa mas esta última The Analysis of Trade Commerce etc by Philip Cantillon late of City of London Merchant não só é de data posterior 1759 como também demonstra por seu conteúdo ser uma elaboração posterior Assim por exemplo na edição francesa Hume ainda não é mencionado ao passo que na edição inglesa quase não figura o nome de Petty Esta última é teoricamente mais irrelevante porém contém muitos dados específicos sobre o comércio inglês o comércio de bullion etc que faltam no texto francês As palavras no título da edição inglesa segundo as quais essa obra foi taken chiefly from the manuscript of a very ingenious gentleman deceased and adapted etc extraída principalmente do manuscrito de um engenhosíssimo cavalheiro falecido e adaptada etc parecem portanto ser algo mais que mera ficção àquela época muito comum O autor do livro Essai sur la nature du commerce em general é Richard Cantillon A edição inglesa foi reelaborada por Philip Cantillon um parente de Richard Cantillon N E A MEW 55 Combien de fois navonsnous pas vu dans certains ateliers embaucher beaucoup plus douvriers que ne le demandait le travail à mettre en main Souvent dans la prévision dun travail aléatoire quelquefois même imaginaire on admet des ouvriers comme on les paie aux pièces on se dit quon ne court aucun risque parce que toutes les pertes de temps seront à la charge des inoccupés Quantas vezes não vimos que em certas oficinas empregamse muito mais trabalhadores do que os realmente necessários para o trabalho a ser realizado Frequentemente na previsão de um trabalho incerto às vezes até mesmo imaginário trabalhadores são contratados como são pagos por peça dizemos não se corre nenhum risco já que todas as perdas de tempo são postas na conta dos desocupados H Gregoir Les typographes devant le Tribunal Correctionnel de Bruxelles Bruxelas 1865 p 9 a Na versão francesa Marx atribui a William Cobbett a autoria desse termo Diz ele antijacobin war esse é o nome dado por William Cobbett à guerra contra a Revolução Francesa Karl Marx Le Capital trad Joseph Roy inteiramente revisado pelo autor Paris Lachâtre 1872 p 397 N T 56 Remarks on the Commercial Policy of Great Britain Londres 1815 p 48 706 57 A Defence of the Landowners and Farmers of Great Britain Londres 1814 p 45 58 Malthus Inquiry into the Nature etc of Rent Londres 1815 p 49 nota 59 Os trabalhadores que recebem salário por peça constituem provavelmente 45 de todos os trabalhadores nas fábricas Reports of Insp of Fact for 30th April 1858 p 9 60 The productive power of his spinningmachine is accurately measured and the rate of pay for work done with it decreases with though not as the increase of its productive power A força produtiva de sua máquina de fiar é acuradamente medida e a taxa do pagamento por trabalho realizado com ela decresce com ainda que não na mesma proporção que o aumento de sua força produtiva Ure The Philosophy of Manufactures cit p 317 O próprio Ure suprime essa última manobra apologética Ele admite que o prolongamento da mule por exemplo faz surgir um trabalho adicional O trabalho portanto não diminui na mesma proporção em que aumenta sua produtividade Além disso By this increase the productive power of the machine will be augmented onefifth When this event happens the spinner will not be paid at the same rate for work done as he was before but as that rate will not be diminished in the ratio of onefifth the improvement will augment his money earnings for any given number of hours work The foregoing statement requires a certain modification the spinner has to pay something for additional juvenile aid out of his additional sixpence accompanied by displacing a portion of adults Graças a esse prolongamento a força produtiva da máquina aumentará em 15 Quando isso ocorrer o fiandeiro não será pago à mesma taxa de antes pelo trabalho realizado mas como essa taxa não será reduzida na razão de 15 a melhoria aumentará seu ganho em dinheiro para qualquer número dado de horas de trabalho porém A afirmação anterior exige certa modificação o fiandeiro tem de destinar certa parte de seu 12 xelim adicional ao pagamento de auxílio juvenil adicional além de deslocar certa quantidade de adultos ibidem p 3201 o que de modo algum constitui uma tendência de aumento do salário 61 H Fawcett The Economic Position of the British Labourer Cambridge e Londres 1865 p 178 b Na segunda edição pretensão N T 62 No Standard de Londres de 26 de outubro de 1861 lemos uma notícia sobre um processo da firma John Bright Co perante os Rochdale Magistrates Juízes de paz to prosecute for intimidation the agents of the Carpet Weavers Trades Union Brights partners had introduced new machinery which would turn out 240 yards of carpet in the time and with the labour previously required to produce 160 yards The workmen had no claim whatever to share in the profits made by the investment of their employers capital in mechanical improvements Accordingly Messrs Bright proposed to lower the rate of pay from 1½ d per yard to 1 d leaving the earnings of the men exactly the same as before for the same labour But there was a nominal reduction of which the operatives it is asserted had not fair warning beforehand contra o Sindicato dos Tecelões de Tapetes acusados judicialmente de intimidação Os sócios de Bright haviam introduzido nova maquinaria que deveria produzir 240 jardas de tapetes no tempo e com o trabalho anteriormente necessários para produzir 160 jardas Os trabalhadores não detinham nenhum direito de participação nos lucros realizados pelo investimento de capital de seus empregadores em melhorias mecânicas Por essa razão os senhores Bright propuseram reduzir o salário de 112 penny por jarda a 1 penny o que deixava as receitas dos trabalhadores exatamente as mesmas que antes pelo mesmo trabalho Mas houve uma redução nominal sobre o qual os operários dizse não foram devidamente informados de antemão c Nas segunda e terceira edições trabalho N T 63 As Trades Unions sindicatos em seu afã de manter o salário procuram participar dos lucros da maquinaria aperfeiçoada Quelle horreur Que horror eles exigem salários mais elevados porque o trabalho foi abreviado em outras palavras eles se empenham em obstaculizar as melhorias industriais On Combination of Trades Londres 1834 p 42 707 64 It is not accurate to say that wages are increased because they purchase more of a cheaper article Não é certo dizer que os salários tratase aqui de seu preço tenham aumentado porque com eles se pode comprar uma quantidade maior de um artigo mais barato David Buchanan em sua edição de A Smith Wealth etc 1814 v I p 417 nota 64a Em outro lugar examinaremos quais as circunstâncias que no que diz respeito à produtividade podem modificar essa lei em certos ramos da produção 65 Polemizando contra Adam Smith observa James Anderson It deserves likewise to be remarked that although the apparent price of labour is usually lower in poor countries where the produce of the soil and grain in general is cheap yet it is in fact for the most part really higher than in other countries For it is not the wages that is given to the labourer per day that constitutes the real price of labour although it is its apparent price The real price is that which a certain quantity of work performed actually costs the employer and considered in this light labour is in almost all cases cheaper in rich countries then in those that are poorer although the price of grain and other provisions is usually much lower in the last than in the first Labour estimated by the day is much lower in Scotland than in England Labour by the piece is generally cheaper in England Devemos notar do mesmo modo que apesar de o preço aparente do trabalho ser normalmente mais baixo em países pobres onde os produtos do solo e os grãos em geral são baratos ele é na verdade geralmente mais alto que em outros países Pois não é o salário pago por dia a um trabalhador que constitui o preço real do trabalho ainda que seja seu preço aparente O preço real é o que determinada quantidade de trabalho realizado custa efetivamente ao empregador e considerado sob esse ângulo o trabalho é em quase todos os casos mais barato nos países ricos do que nos mais pobres embora o preço dos grãos e de outras provisões seja geralmente muito mais baixo nos últimos do que nos primeiros O trabalho pago por dia é muito mais baixo na Escócia do que na Inglaterra O trabalho por peça é geralmente mais barato na Inglaterra James Anderson Observations on the Means of Exciting a Spirit of National Industry etc Edimburgo 1777 p 3501 Por outro lado o baixo nível do salário produz por sua vez o encarecimento do trabalho Labour being dearer in Ireland than it is in England because the wages are so much lower O trabalho é mais caro na Irlanda do que na Inglaterra porque os salários mais baixos na mesma proporção n 2074 em Royal Commission on Railways Minutes 1867 66 Essay on the Rate of Wages with an Examination of the Causes of the Differences in the Conditions of the Labouring Population throughout the World Filadélfia 1835 708 a No original Charaktermasken máscara de personagem N T 1 Os ricos que consomem os produtos do trabalho dos outros não podem obtêlos senão por atos de troca compra de mercadorias Eles parecem expostos por isso a um rápido esgotamento de seus fundos de reserva Mas na ordem social a riqueza adquiriu a capacidade de se reproduzir por meio do trabalho alheio A riqueza como o trabalho e por meio do trabalho rende um fruto anual que pode ser destruído a cada ano sem que por isso o rico se torne mais pobre Esse fruto é a receita que provém do capital Sismondi Nouv princ décon pol cit t I p 812 2 Wages as well as profits are to be considered each of them as really a portion of the finished product Tanto os salários como os lucros devem ser considerados realmente como uma parte do produto acabado Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth cit p 142 A parte do produto que cabe ao trabalhador sob a forma de salário J Mill Elements etc trad Parisot Paris 1823 p 334 3 When capital is employed in advancing to the workman his wages it adds nothing to the funds for the maintenance of labour Quando o capital é empregado para adiantar o salário ao trabalhador ele não adiciona nada ao fundo para a manutenção do trabalho Cazenove em nota a sua edição de Malthus Definitions in Polit Econ Londres 1853 p 22 4 Nem sequer numa quarta parte da Terra os capitalistas adiantam aos trabalhadores seus meios de subsistência Richard Jones Textbook of Lectures on the Polit Economy of Nations cit p 36 4a Though the manufacturer has his wages advanced to him by his master he in reality costs him no expense the value of these wages being generally reserved together with a profit in the improved value of the subject upon which his labour is bestowed Embora o manufacturer ie trabalhador manufatureiro tenha seu salário adiantado por seu patrão ele não custa nada a este último pois o valor do salário juntamente com um lucro é geralmente reservado em Adam Smith restaurado N E A MEW no valor incrementado do objeto ao qual seu trabalho é aplicado A Smith Wealth of Nations cit livro II c III p 355 b Na terceira edição da produção e da circulação de mercadorias N T 5 Essa é uma propriedade particularmente notável do trabalho produtivo O que se consome produtivamente é capital e tornase capital por meio do consumo J Mill Elements etc cit p 242 J Mill contudo não seguiu o rastro dessa propriedade particularmente notável 6 It is true indeed that the first introducing a manufacture employs many poor but they cease not to be so and the continuance of it makes many De fato é verdade que a primeira introdução de uma manufatura emprega muitos pobres mas eles não deixam de sêlo e a continuação da manufatura engendra um grande número deles Reasons for a Limited Exportation of Wool Londres 1677 p 19 The farmer now absurdly asserts that he keeps the poor They are indeed kept in misery O fazendeiro afirma agora de maneira absurda que ele mantém os pobres São de fato mantidos na miséria Reasons for the Late Increase of Poor Rates or a Comparative View of the Prices of Labour and Provisions Londres 1777 p 31 7 Rossi não declamaria tão enfaticamente sobre esse ponto se tivesse penetrado efetivamente no segredo do productive consumption consumo produtivo 8 Os trabalhadores nas minas da América do Sul cuja ocupação diária talvez a mais pesada do mundo consiste em carregar sobre os ombros de uma profundidade de 450 pés até a superfície uma carga de minério de 100 a 200 libraspeso vivem apenas de pão e feijão eles prefeririam receber apenas o pão como alimento mas seus senhores tendo descoberto que com pão eles não conseguiriam trabalhar com tanta força tratamnos como cavalos e os forçam a comer feijão ocorre que o feijão é comparativamente muito mais rico em fosfato de cálcio que o pão Liebig Die Chemie in ihrer Anwendung auf Agrikultur und Phisiologie cit parte I p 194 nota 9 James Mill Elements etc cit p 238s 10 Se o preço do trabalho subisse tanto que apesar do acréscimo de capital não se pudesse empregar mais trabalho então eu diria que esse incremento de capital é consumido improdutivamente Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 163 11 O único consumo produtivo propriamente dito é o consumo ou a destruição de riqueza ele se refere ao consumo dos meios de produção por capitalistas com vistas à reprodução O trabalhador é um consumidor produtivo para a pessoa que o emprega e para o Estado mas não o é em sentido estrito para si mesmo Malthus Definitions etc cit p 30 12 A única coisa da qual se pode dizer que está armazenada e preparada de antemão é a destreza do trabalhador 709 Essa importantíssima operação a acumulação e o armazenamento de trabalho hábil é consumada no que diz respeito à grande massa dos trabalhadores sem nenhum tipo de capital Hodgskin Labour Defended etc cit p 123 13 That letter might be looked upon as the manifesto of the manufacturers Essa carta pode ser considerada o manifesto dos fabricantes Ferrand Motion sobre a cotton Famine Moção sobre a carestia do algodão sessão da House of Commons de 27 de abril de 1863 14 Recordemos que em circunstâncias ordinárias quando se trata de rebaixar o salário o mesmo capital se expressa em outro tom Então os patrões declaram em uníssono Os trabalhadores fabris deviam manter a salutar recordação de que seu trabalho é de fato um tipo muito inferior de trabalho qualificado que não há nenhum outro mais fácil de se assimilar e que levandose em conta sua qualidade seja mais bem remunerado que nenhum outro trabalho pode ser ensinado ao menos experiente com uma breve instrução em tempo tão curto e com tamanha abundância A maquinaria do patrão que como acabamos de ouvir pode ser vantajosamente substituída e aperfeiçoada em 12 meses desempenha na verdade um papel muito mais importante no negócio da produção do que o trabalho e a destreza do trabalhador que agora não podem ser substituídos nem em 30 anos trabalho que pode ser ensinado em 6 meses e que qualquer camponês pode aprender Ver nota 188 p 495 N T c O marechaldacorte von Kalb é um personagem do drama Kabale und Liebe Intriga e amor de Schiller Convidado a participar numa intriga palaciana por von Walter presidente da corte de um príncipe alemão von Kalb inicialmente se nega mas seu poderoso interlocutor o ameaça com sua própria renúncia a qual acarretaria automaticamente a queda do marechaldacorte Von Kalb protesta com grande espanto E eu Vós sois um homem estudado Mas eu mon Dieu O que será de mim se Sua Alteza me demitir N E A MEW d Na segunda edição tecnológico N T 15 Times 24 mar 1863 16 O Parlamento não votou nem um farthing ¼ de penny para a emigração mas apenas leis que permitiam aos municípios manter os trabalhadores entre a vida e a morte ou explorálos sem lhes pagar o salário normal Ao contrário 3 anos depois quando irrompeu a peste do gado o Parlamento quebrou as regras parlamentares e votou num átimo milhões para a indenização dos milionários senhores fundiários cujos arrendatários independentemente disso já haviam escapado do prejuízo aumentando o preço da carne O mugido bestial dos proprietários fundiários por ocasião da abertura do Parlamento em 1866 comprovou que ninguém precisa ser hindu para adorar a vaca Sabala nem Júpiter para transformar a si mesmo num boi 17 Louvrier demandait de la subsistance pour vivre le chef demandait du travail pour gagner O trabalhador exigia meios de subsistência para viver o patrão exigia trabalho para lucrar Sismondi Nouv princ décon pol cit p 91 18 Uma forma camponesa grosseira dessa servidão existe no condado de Durham Esse é um dos poucos condados em que as condições não garantem ao arrendatário um título incontestável de propriedade sobre os jornaleiros agrícolas A indústria de mineração deixa a estes últimos uma alternativa Por isso aqui o arrendatário contrariando a regra geral só aceita em arrendamento terras onde se encontram cottages para os trabalhadores O aluguel do casebre constitui parte do salário Esses casebres se chamam hinds houses casas de trabalhadores rurais Eles são alugados aos trabalhadores sob certas obrigações feudais sob um contrato chamado bondage servidão que por exemplo obriga o trabalhador durante o tempo em que esteja ocupado em outro lugar a colocar em seu lugar sua filha etc O próprio trabalhador chamase bondsman servo Essa relação também mostra o consumo individual do trabalhador como consumo para o capital ou consumo produtivo sob um aspecto inteiramente novo É curioso observar como até o excremento desse bondsman se conta entre as retribuições que ele paga ao patrão calculista O arrendatário não autoriza em toda a vizinhança outra latrina que não a sua própria e não tolera a esse respeito qualquer diminuição de seu direito de suserano Public Health VII Rep 1864 p 188 19 Lembremos que no trabalho das crianças etc desaparece até mesmo a formalidade da venda de si mesmo 20 O capital pressupõe o trabalho assalariado o trabalho assalariado pressupõe o capital Ambos se condicionam reciprocamente ambos se produzem reciprocamente Um trabalhador numa fábrica de algodão produz apenas tecidos de algodão Não ele produz capital Ele produz valores que servem novamente para comandar seu trabalho e por meio dele criar novos valores Karl Marx Lohnarbeit und Kapital Trabalho assalariado e capital em Neue Rheinische Zeitung Nova Gazeta Renana n 266 7 abr 1849 Os artigos publicados com esse título na NRhZ são fragmentos das conferências que proferi sobre o tema em 1847 na Associação dos Trabalhadores Alemães em Bruxelas e cuja impressão foi interrompida pela Revolução de Fevereiro A Associação dos Trabalhadores Alemães em Bruxelas à qual pertenciam Marx e Engels voltavase à realização de atividades culturais e de agitação política entre os trabalhadores alemães radicados na Bélgica Foi fundada em agosto de 1847 e dissolvida pela polícia no início de 1848 710 A Revolução de Fevereiro deflagrada a 24 de fevereiro de 1848 derrubou o rei Luís Filipe e estabeleceu a Segunda República francesa N T 711 21 Accumulation of Capital the employment of a portion of revenue as capital Acumulação do capital a utilização de uma parte da renda como capital Malthus Definitions etc cit p 11 Conversion of revenue into Capital Transformação de renda em capital Malthus Princ of Pol Econ 2 ed Londres 1836 p 320 21a Abstraímos aqui do comércio de exportação por meio do qual uma nação pode converter artigos de luxo em meios de produção ou de subsistência e viceversa Para conceber o objeto da investigação em sua pureza livre de circunstâncias acessórias perturbadoras temos de considerar aqui o mundo comercial como uma nação e pressupor que a produção capitalista se consolidou em toda parte e apoderouse de todos os ramos industriais 21b A análise da acumulação de Sismondi tem a grande falha de que ele se contenta demasiadamente com a frase conversão da renda em capital sem aprofundar as condições materiais dessa operação Simonde de Sismondi Nouveaux principes déconomie politique cit v 1 p 119 N E A MEW 21c Le travail primitif auquel son capital a dû sa naissance O trabalho primitivo ao qual seu capital deveu seu nascimento Sismondi Nouveaux principes déconomie politique cit t I p 109 22 Labour creates capital before capital employs labour O trabalho cria o capital antes que o capital empregue o trabalho E G Wakefield England and America Londres 1833 v II p 110 23 A propriedade do capitalista sobre o produto do trabalho alheio é a consequência rigorosa da lei da apropriação cujo princípio fundamental era pelo contrário o título de propriedade exclusivo de cada trabalhador sobre o produto de seu próprio trabalho Cherbuliez Richesse ou pauvreté cit p 58 em que no entanto essa conversão dialética não é corretamente desenvolvida a Várias trocas sucessivas fazem do último apenas o repesentante do primeiro N T b Entre aqueles que repartem entre si a renda nacional uns os trabalhadores adquirem a cada ano um novo direito a ela graças a seu novo trabalho os outros os capitalistas já adquiriram anteriormente um direito permanente sobre ela por meio de um trabalho originário N T c Todos os dois ainda ganhavam o trabalhador porque se lhe adiantavam os frutos de seu trabalho o certo seria do trabalho gratuito de outros trabalhadores antes que ele estivesse feito o certo seria antes que o seu trabalho tivesse dado frutos o patrão porque o trabalho desse trabalhador valia mais que o salário o certo seria produzia mais valor do que o de seu salário N T 24 Admiranos por isso a astúcia de Proudhon que quer abolir a propriedade capitalista contrapondolhe as leis eternas de propriedade da produção de mercadorias 25 Capital viz accumulated wealth employed with a view to profit Capital isto é riqueza acumulada empregada para se obter lucro Malthus Princ of Pol Econ cit p 262 Capital consists of wealth saved from revenue and used with a view to profit O capital consiste em riqueza economizada da renda e usada para se obter lucro R Jones Textbook of Lectures on the Political Economy of Nations cit p 16 26 The possessors of surplus produce or capital Os possuidores do maisproduto ou capital The Source and Remedy of the National Difficulties A Letter to Lord John Russell Londres 1821 p 4 27 Capital with compound interest on every portion of capital saved is so all engrossing that all the wealth in the world from which income is derived has long ago become the interest on capital O capital com os juros compostos que recaem sobre cada parte do capital poupado açambarca tudo a tal ponto que toda a riqueza do mundo da qual alguma renda é obtida já se converteu há muito tempo em juros de capital Economist Londres 19 jul 1851 d G W F Hegel Grundlinien der Philosophie des Rechts oder Naturrecht und Staatswissenschaft im Grundrisse Linhas fundamentais da filosofia do direito ou direito natural e ciência do Estado em compêndio Berlim 1840 203 adendo N E A MEW 28 No political economist of the present day can by saving mean mere hoarding and beyond this contracted and insufficient proceeding no use of the term in reference to the national wealth can well be imagined but that which must arise from a different application of what is saved founded upon a real distinction between the different kinds of labour maintained by it Nenhum economista político dos dias de hoje pode entender pelo termo poupar o mero entesouramento e além desse procedimento estreito e insuficiente em Malthus ineficiente não podemos imaginar nenhum outro uso desse termo em relação à riqueza nacional que não aquele que deve surgir de uma aplicação diferente daquilo que é poupado e que se baseia numa distinção real entre os diferentes tipos de trabalho mantidos por essa poupança Malthus Princ of Pol Econ cit p 389 28a Por exemplo em Balzac que estudou tão profundamente todos os matizes da avareza o velho usurário Gobseck 712 mostra sua infantilidade quando começa a formar um tesouro acumulando mercadorias 29 Accumulation of stocks nonexchange overproduction Acumulação de capitais ausência de troca superprodução T Corbet An Inquiry into the Causes and Models of the Wealth of Individuals or the Principles of Trade and Speculation Explained cit p 104 30 Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 163 nota 31 Apesar de sua lógica o sr J S Mill não descobre jamais a falha dessa análise errônea de seus predecessores a qual mesmo dentro do horizonte burguês clama por uma retificação do ponto de vista puramente profissional Por toda parte ele registra com dogmatismo de discípulo a confusão mental de seus mestres Também nesta passagem The capital itself in the long run becomes entirely wages and when replaced by the sale of produce becomes wages again Em longo prazo o próprio capital tornase inteiramente salário e quando é reposto pela venda do produto tornase novamente salário e Em 1758 em seu escrito Tableau économique o fisiocrata Quesnay realizou pela primeira vez a tentativa de uma exposição sistemática da reprodução e circulação do capital social total Marx utilizou a seguinte edição F Quesnay Analyse du tableau économique 1766 em E Daire ed Physiocrates Paris 1846 primeira parte Marx tratou detalhadamente do Tableau économique nas Teorias do maisvalor parte 1 c 6 no c 10 por ele redigido da segunda parte do AntiDühring de Engels e nO capital Livro II c 19 N E A MEW 32 Em muitos aspectos de sua exposição do processo de reprodução e consequentemente também da acumulação A Smith não só não fez progresso algum em relação a seus predecessores especialmente os fisiocratas como retrocedeu em pontos decisivos Juntamente com aquela sua ilusão que mencionamos no texto encontrase o dogma verdadeiramente fabuloso e por ele legado à economia política de que o preço das mercadorias é composto de salário lucro juro e renda da terra ou seja unicamente de salário e maisvalor Partindo dessa base Storch ao menos admite ingenuamente Il est impossible de résoudre le prix nécessaire dans ses éléments les plus simples É impossível decompor o preço necessário em seus elementos mais simples Storch Cours décon polit cit t II p 141 nota Uma bela ciência econômica essa que declara ser impossível decompor o preço das mercadorias em seus elementos mais simples Uma discussão detalhada sobre tal questão encontrase na terceira seção do Livro II e na sétima seção do Livro III 33 O leitor notará que a palavra renda revenue é usada em duplo sentido primeiro para designar o maisvalor como fruto que brota periodicamente do capital segundo para designar a parte desse fruto que o capitalista consome periodicamente ou que é agregada a seu fundo de consumo Se mantenho esse duplo sentido é porque ele se harmoniza com a terminologia dos economistas ingleses e franceses f A 31 de agosto de 1848 na Assembleia Nacional de Frankfurt o latifundiário silesiano Lichnovski pronunciouse num alemão que provocou risos nos ouvintes contra o direito histórico da Polônia à existência autônoma direito de que disse nenhuma data não dispõe Segundo Lichnovski uma data anterior de ocupação do território polonês sempre poderia reivindicar um direito maior como era o caso dos alemães Esse discurso foi comentado à época por Marx e Engels na Nova Gazeta Renana numa série de artigos intitulada Die Polendebatte in Frankfurt O debate sobre a Polônia em Frankfurt N E A MEW 34 Na forma arcaica ainda que constantemente renovada do capitalista ou seja no usurário Lutero ilustra muito corretamente o afã de poder como elemento do impulso de enriquecimento Pela razão os pagãos puderam deduzir que um usurário é um ladrão e assassino elevado à quarta potência Mas nós cristãos o honramos a tal ponto que quase o adoramos por seu dinheiro Quem suga rouba ou subtrai o alimento de outrem comete um assassinato tão grande no que lhe diz respeito como aquele que o deixa morrer de fome ou o arruína por completo Mas é isso que faz um usurário sentado com toda a segurança em sua cadeira quando deveria estar dependurado numa forca e ser devorado por tantos corvos quantos fossem os florins que ele furtou se fosse possível que houvesse carne suficiente para que tantos corvos pudessem despedaçála e repartila entre si Enquanto isso enforcamse os pequenos ladrões Pequenos ladrões vão para o cadafalso ladrões grandes se pavoneiam cobertos de ouro e seda De maneira portanto que não há sobre a Terra maior inimigo do homem depois do Diabo do que um avarento e usurário pois ele quer ser Deus sobre todos os homens Turcos guerreiros e tiranos são também homens maus mas se veem obrigados a deixar as pessoas viverem e a confessar que são maus e inimigos E eventualmente podem e inclusive devem apiedarse de algumas delas Mas um usurário e avarento desejaria que todo mundo morresse de fome e sede de tristeza e miséria no que dependesse dele pois assim teria tudo para si e que todos recebessem dele como de um Deus e se tornassem eternamente seus servos Vestir mantos portar correntes de ouro anéis limpar o focinho e fazerse reverenciar como homens virtuosos e piedosos A usura é um monstro grande e descomunal qual um lobisomem que tudo devasta mais do que qualquer Caco Gerião ou Anteu E no entanto enfeitase e se faz 713 de mansa para que ninguém possa ver onde foram parar os bois que ela faz andar para trás até sua cova Mas Hércules há de ouvir os bramidos dos bois e dos prisioneiros e buscará Caco entre as rochas e escolhos e libertará os bois do maligno Pois Caco é o nome de um vilão um usurário hipócrita que furta rouba devora tudo Finge não ter feito nada e pretende que ninguém o descubra porque os bois puxados para trás para seu antro deixam rastros e pegadas como se ele os tivesse soltado Portanto o usurário também quer enganar o mundo como se ele fosse útil e desse bois ao mundo quando na verdade os toma só para si e os devora E do mesmo modo como os assaltantes de estrada os assassinos e bandidos são submetidos ao suplício da roda e decapitados com muito mais razão deveriam todos os usurários ser supliciados e mortos banidos amaldiçoados e decapitados Martinho Lutero An die Pfarrherrn wider den Wucher zu predigen cit g Schiller Die Bürgschaft N E A MEW h Isto é ele mesmo Na versão francesa a expressão aparece seguida de sua carne N T i J W Goethe Fausto cit p 64 N T 35 Dr Aikin Description of the Country from 30 to 40 miles round Manchester Londres 1795 p 1812s 188 j A expressão tem aqui o sentido de Isto é o fundamental É isto que importa N T 36 A Smith Wealth of Nations cit livro II c III p 367 37 O próprio J B Say diz As poupanças dos ricos se fazem à custa dos pobres J B Say Traité déconomie politique cit v 1 p 1301 O proletariado romano vivia quase exclusivamente à custa da sociedade Poderseia dizer que a sociedade moderna vive à custa dos proletários da parte que ela desconta da remuneração de seu trabalho Sismondi Études cit t I p 24 38 Malthus Princ of Pol Econ cit p 31920 k Schibboleth ou shibboleth é um termo de origem bíblica cf Juízes 12115 que designa uma forma de senha linguística um modo de falar ou de pronunciar ou o uso de uma expressão particular Uma pessoa cujo modo de falar viola um schibboleth é identificada como não pertencente ao grupo e consequentemente é dele excluída Na presente passagem o termo tem o sentido de palavra de ordem N T 39 An Inquiry into those Principles Respecting the Nature of Demand etc cit p 67 40 Ibidem p 59 l A revolução de 2729 de julho de 1830 que derrubou Carlos X e pôs no trono da França Luís Filipe de Orleans o rei burguês N T 41 Senior Principes fondamentaux de lécon pol trad Arrivabene Paris 1836 p 309 Aos partidários da velha escola clássica essa afirmação passou um pouco da medida O sr Senior substitui a expressão trabalho e capital pela expressão trabalho e abstinência Abstinência é uma simples negação Não é a abstinência mas o uso do capital produtivamente empregado que constitui a fonte do lucro John Cazenove Outlines of Polit Economy cit p 130 nota O sr John S Mill ao contrário reproduz por um lado a teoria do lucro de Ricardo e por outro filiase à remuneration of abstinence remuneração da abstinência de Senior Na mesma medida em que Mill é alheio à contradição hegeliana fonte de toda dialética tanto mais ele se encontra em seu elemento ao tratar de contradições triviais Adendo à segunda edição Ao economista vulgar jamais passou pela cabeça a simples reflexão de que todo ato humano pode ser concebido como abstinência do ato contrário Comer é absterse de jejuar andar é absterse de estar parado trabalhar é absterse de folgar folgar é absterse de trabalhar etc Esses senhores fariam bem em meditar uma vez sobre esta sentença de Espinosa Determinatio est negatio A fórmula determinatio est negatio determinação é negação encontrase numa carta de Espinosa de 2 de junho de 1674 a uma pessoa inominada cf correspondência de Baruch Espinosa carta 50 A fórmula omnis determinatio est negatio toda determinação é negação por sua vez difundiuse por meio das obras de Hegel cf Enciclopédia das ciências filosóficas parte I 91 adendo A ciência da lógica livro I primeira seção c II b Lições sobre a história da filosofia parte I primeira seção c I parágrafo sobre Parmênides N E A MEW 42 Senior Principes fondamentaux de lécon pol cit p 3423 43 No one will sow his wheat fi and allow it to remain a twelvemonth in the ground or leave his wine in a cellar for years instead of consuming these things or their equivalent at once unless he expects to acquire additional value etc Ninguém semeará por exemplo seu trigo e o deixará ficar um ano inteiro embaixo da terra ou armazenará seu vinho por anos numa adega em vez de consumir imediatamente essas coisas ou seus equivalentes a não ser que espere obter um valor adicional etc A Potter ed Scrope Polit Econom Nova York 1841 p 133 Citase aqui o 714 livro de Potter Political Economy its Objects Uses and Principles Nova York 1841 Como se lê na introdução dessa obra grande parte dela é no essencial uma reimpressão dos primeiros dez capítulos da obra de Scrope Principles of Political Economy publicada na Inglaterra em 1833 Potter introduziu no texto algumas variantes N E A MEW 44 La privation que simpose le capitaliste en prêtant ses instruments de production au travailleur au lieu den consacrer la valeur à son propre usage en la transformant en objets dutilité ou dagrément A privação que o capitalista se impõe quando empresta esse eufemismo é usado conforme a mais consagrada mania da economia vulgar para identificar o trabalhador assalariado explorado pelo capitalista industrial com o próprio capitalista industrial que obtém dinheiro do capitalista prestamista seus meios de produção ao trabalhador em vez de consagrar o valor a seu próprio uso transformandoo em objetos úteis ou agradáveis G de Molinari Études économiques cit p 36 m Deus hindu Oposto a Brahma o criador e Shiva o destruidor Vishnu é o princípio conservador da trimurti ou trindade hindu Seu culto inclui diferentes tipos de autoflagelo N T 45 La conservation dun capital exige un effort constant pour résister à la tentation de le consommer J G CourcelleSeneuil Traité théorique et pratique des entreprises industrielles cit p 20 46 The particular classes of income which yield the most abundantly to the progress of national capital change at different stages of their progress and are therefore entirely different in nations occupying different positions in that progress Profits unimportant source of accumulation compared with wages and rents in the earlier stages of society When a considerable advance in the powers of national industry has actually taken place profits rise into comparative importance as a source of accumulation As classes particulares de renda que contribuem do modo mais abundante possível para o progresso do capital nacional variam segundo os diferentes estágios de seu progresso e são assim inteiramente diversas em nações que ocupam diferentes posições nesse progresso Lucros fonte de acumulação sem importância comparados aos salários e rendas nos estágios anteriores da sociedade Quando ocorre um considerável avanço nos poderes da indústria nacional os lucros assumem uma comparativa importância como fonte de acumulação Richard Jones Textbook etc cit p 16 21 47 Ibidem p 36s Adendo à quarta edição Tratase provavelmente de um lapso pois essa passagem não foi encontrada F E A citação de Marx é na verdade uma adaptação bastante livre das ideias centrais expostas nas páginas 367 da obra de Richard Jones Cf MEGA II10 cit p 10589 N T 48 Ricardo afirma Em diferentes estágios da sociedade a acumulação do capital ou dos meios de trabalho isto é dos meios de explorálo é mais ou menos rápida e depende necessariamente em todos os casos das forças produtivas do trabalho Em geral as forças produtivas do trabalho são maiores onde existe abundância de terra fértil Se nessa frase entendese por forças produtivas do trabalho a pequenez dessa parte alíquota de cada produto que cabe àqueles cujo trabalho manual o produz a frase é tautológica pois a parte restante é o fundo a partir do qual se pode acumular capital se seu proprietário o quiser if the owner pleases Mas isso não costuma ocorrer onde a terra é mais fértil Observation on Certain Verbal Disputes etc p 74 49 John Stuart Mill Essays on Some Unsettled Questions of Polit Economy Londres 1844 p 901 50 An Essay on Trade and Commerce cit p 44 De modo análogo o Times de dezembro de 1866 e janeiro de 1867 publicou os arroubos sentimentais dos proprietários ingleses de minas nos quais era descrita a favorável situação dos mineiros belgas que não exigiam nem recebiam mais do que o estritamente necessário para viver para seus masters Os trabalhadores belgas suportam muita coisa mas daí a figurarem no Times como trabalhadores modelos No início de fevereiro de 1867 a resposta ao jornal inglês veio da greve dos mineiros belgas em Marchienne reprimida a pólvora e chumbo 51 Ibidem p 44 46 52 O fabricante de Northamptonshire comete uma pia fraus fraude piedosa desculpável considerandose o arrebatamento de seu coração Ele afirma comparar a vida dos trabalhadores manufatureiros ingleses e franceses mas o que descreve nas frases aqui citadas é como ele mesmo confessa mais adiante em seu estado de confusão a condição dos trabalhadores agrícolas franceses 53 John Stuart Mill Essays on Some Unsettled Questions of Polit Economy cit p 701 Nota à terceira edição Hoje graças à concorrência que desde então se instaurou no mercado mundial demos muitos passos à frente Se a China declara o parlamentar Stapleton a seus eleitores se tornasse um grande país industrial não vejo como a população trabalhadora da Europa poderia enfrentar esse desafio sem decair ao nível de seus concorrentes Times 3 set 1873 Não mais salários continentais mas salários chineses Esse é agora o objetivo perseguido pelo capital inglês 54 Benjamin Thompson Essays Political Economical and Philosophical etc Londres 17961802 v 1 p 294 Em seu 715 The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc sir F M Eden recomenda encarecidamente a sopa para mendigos criada por Rumford aos diretores das workhouses e em tom de censura adverte os trabalhadores ingleses que entre os escoceses há muitas famílias que em vez de se alimentar com trigo centeio e carne vivem por meses e muito confortavelmente and that very confortably too apenas com flocos de aveia e farinha de cevada misturados com água e sal The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc v I livro II c II p 503 Advertências semelhantes encontramos no século XIX Lêse por exemplo Os trabalhadores agrícolas ingleses não aceitam nenhuma mistura de cereais de tipos inferiores Na Escócia onde a educação é melhor esse preconceito provavelmente inexiste Charles H Parry The Question of the Necessity of the Existing Cornlaws Considered Londres 1816 p 69 No entanto o mesmo Parry reclama que o trabalhador inglês teria decaído muito agora 1815 em comparação com a época de Eden 1797 55 Os relatórios da última comissão parlamentar de inquérito sobre a falsificação de alimentos mostram que mesmo a falsificação de medicamentos constitui na Inglaterra a regra e não a exceção Por exemplo o exame de 34 amostras de ópio adquiridas em outras tantas farmácias londrinas demonstrou que 31 estavam adulteradas com cascas de papoula farinha de trigo pasta de borracha argila areia etc Muitas não continham um só átomo de morfina 56 G L Newnham barrister at law A Review of the Evidence Before the Committees of the Two Houses of Parliament on the Corn Laws Londres 1815 p 20 nota 57 Ibidem p 1920 58 C H Parry The Question of the Necessity of the Existing Cornlaws Considered cit p 77 69 Os landlords senhores rurais por sua vez não só se indenizaram pela guerra antijacobina que conduziram em nome da Inglaterra como também enriqueceram enormemente Em 18 anos suas rendas duplicaram triplicaram quadruplicaram e em casos excepcionais sextuplicaram ibidem p 1001 59 Friedrich Engels Die Lage der arbeitenden Klasse in England cit p 20 ed bras A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit p 52 60 Em virtude de sua análise deficiente do processo de trabalho e de valorização a economia clássica jamais compreendeu adequadamente esse importante momento da reprodução como se pode ver por exemplo em Ricardo Ele diz por exemplo qualquer que seja a variação da força produtiva 1 milhão de pessoas produz nas fábricas sempre o mesmo valor Isso é correto quando estão dados a extensão e o grau de intensidade de seu trabalho Mas não impede e Ricardo o desconsidera em algumas de suas conclusões que 1 milhão de pessoas executando trabalhos com diferentes forças produtivas transforme em produto massas muito distintas de meios de produção e por conseguinte conserve em seu produto massas de valor muito diverso que diferem em grande medida dos valores dos produtos fornecidos por esses trabalhadores Com esse exemplo Ricardo digamos de passagem procura em vão explicar a J B Say a diferença entre valor de uso que ele aqui denomina wealth riqueza material e valor de troca Say responde Quant à la difficulté quélève Mr Ricardo en disant que per des procedés mieux entendus un million de personnes peuvent produire deux fois trois fois autant de richesses sans produire plus de valeurs cette difficulté nest pas une lorsque lon considère ainsi quon le doit la production comme un échange dans lequel on donne les services productifs de son travail de sa terre et de ses capitaux pour obtenir des produits Cest par le moyen de ces services productifs que nous acquérons tous les produits qui sont au monde Or nous sommes dautant plus riches nos services productifs ont dautant plus de valeur quils obtiennent dans léchange appelé production une plus grande quantité de choses utiles Quanto à dificuldade levantada por Ricardo quando diz que 1 milhão de pessoas poderia com melhores métodos produzir o dobro ou o triplo de riquezas sem criar mais valor essa dificuldade desaparece quando se considera como é devido que a produção é um intercâmbio no qual se dão os serviços produtivos de seu trabalho de sua terra e seu capital para obter produtos Mediante esses serviços produtivos adquirimos todos os produtos que existem no mundo Portanto somos tanto mais ricos e nossos serviços produtivos têm tanto mais valor quanto maior é a quantidade de coisas úteis que obtêm no intercâmbio denominado produção J B Say Lettres à Malthus Paris 1820 p 1689 A difficulté dificuldade ela existe para ele não para Ricardo que Say precisa explicar é a seguinte por que o valor dos valores de uso não aumenta quando sua quantidade aumenta em decorrência da elevação da força produtiva do trabalho Resposta a dificuldade é resolvida atribuindose ao valor de uso gentilmente o nome de valor de troca O valor de troca é uma coisa que one way or another de uma maneira ou de outra está vinculada com o intercâmbio Chamemos a produção portanto de troca de trabalho e de meios de produção por produto e é evidente que obteremos tanto mais valor de troca quanto mais valor de uso fornecer a produção Em outras palavras quanto mais valores de uso por exemplo meias uma jornada de trabalho fornece ao fabricante de meias tanto mais rico ele é em meias De repente no entanto ocorre a Say que com a maior quantidade de meias seu preço que não tem naturalmente nada a ver com o valor de troca cai parce que la 716 concurrence les oblige à donner les produits pour ce quils leur coûtent porque a concorrência os força os produtores a entregar os produtos por seu preço de custo Mas de onde então vem o lucro se o capitalista vende as mercadorias pelo seu preço de custo Mas never mind isso não importa Say explica que em consequência da produtividade aumentada cada um recebe agora pelo mesmo equivalente dois pares de meias em vez de um etc O resultado a que chega é precisamente a tese de Ricardo que ele pretendia refutar Depois desse imponente esforço mental Say apostrofa Malthus triunfantemente com as palavras Telle est monsieur la doctrine bien liée sans laquelle il est impossible je le déclare dexpliquer les plus grandes difficultés de léconomie politique et notamment comment il se peut quune nation soit plus riche lorsque ses produits diminuent de valeur quoique la richesse soit de la valeur Eis aí meu senhor a doutrina bem fundamentada sem a qual é impossível afirmo explicar as maiores dificuldades da economia política em especial aquela de como uma nação pode se tornar mais rica quando seus produtos diminuem de valor embora a riqueza represente valor ibidem p 170 Um economista inglês referindose a proezas similares nas Lettres de Say observa o seguinte Essas maneiras afetadas de tagarelar those affected ways of talking constituem em conjunto aquilo a que o sr Say gosta de chamar sua doutrina a qual ele recomenda calorosamente a Malthus que ensine em Hertford tal como já ocorre dans plusieurs parties de lEurope em várias partes da Europa Diz Say Si vous trouvez une physionomie de paradoxe à toutes ces propositions voyez les choses quelles expriment et jose croire quelles vous paraîtront fort simples et fort raisonnables Se encontrardes uma aparência de paradoxo em todas essas afirmações observai as coisas que elas exprimem e ouso crer que elas vos parecerão muito simples e razoáveis Sem dúvida em consequência desse processo elas aparecerão como qualquer coisa menos originais ou importantes An Inquiry into those Principles Respecting the Nature of Demand etc p 110 61 McCulloch obteve a patente de seu wages of past labour salário de trabalho passado muito antes que Senior patenteasse o wages of abstinence salário da abstinência 62 Cf entre outros J Bentham Théorie des peines et des récompenses trad E Dumont 3 ed Paris 1826 t II livro IV c II 63 Jeremy Bentham é um fenômeno puramente inglês Mesmo sem excetuar nosso filósofo Christian Wolf em nenhuma época e em nenhum país o lugarcomum mais simplório se difundiu com tanta convicção O princípio da utilidade não é uma invenção de Bentham Este se limitou a reproduzir sem espírito o que Helvetius e outros franceses do século XVIII haviam dito espirituosamente Se por exemplo queremos saber o que é útil a um cachorro temos de investigar a natureza canina É impossível construir essa natureza a partir do princípio da utilidade Aplicado ao homem isso significa que se quiséssemos julgar segundo o princípio da utilidade todas as ações movimentos relações etc do homem teríamos de nos ocupar primeiramente da natureza humana em geral e em seguida da natureza humana historicamente modificada em cada época Bentham não tem tempo para essas inutilidades Com a mais ingênua aridez ele parte do suposto de que o filisteu moderno e especialmente o inglês é o homem normal O que é útil para esse homem exemplar e seu mundo é útil em si e para si De acordo com esse padrão Bentham julga então o passado o presente e o futuro Por exemplo a religião cristã é útil porque repudia religiosamente os mesmos delitos que o código penal condena juridicamente A crítica da arte é nociva porque perturba o deleite que as pessoas honestas encontram em Martin Tupper etc E foi com todo esse lixo que nosso bom homem cuja divisa é nulla dies sine linea encheu montanhas de livros Tivesse eu a coragem de meu amigo H Heine chamaria o sr Jeremy de gênio na arte da estupidez burguesa Nulla dies sine linea nenhum dia sem uma linha frase atribuída ao pintor Apeles IV a C que colocara para si a obrigação de trabalhar todos os dias em suas pinturas N T 64 Os economistas políticos se inclinam demasiadamente a considerar determinada quantidade de capital e determinado número de trabalhadores instrumentos de produção dotados de força uniforme e que operam com certa intensidade uniforme Os que afirmam que as mercadorias são os únicos agentes da produção demonstram que esta não pode ser ampliada de modo nenhum pois para realizar tal ampliação seria previamente necessário aumentar a quantidade de meios de subsistência matériasprimas e ferramentas e isso de fato significa que nenhum incremento da produção pode ter lugar sem um incremento precedente ou em outras palavras que todo incremento é impossível S Bailey org Money and its Vicissitudes cit p 58 70 Bailey critica o dogma principalmente do ponto de vista do processo de circulação 65 Diz J S Mill em seus Principles of Polit Economy cit livro II c I 3 O produto do trabalho é hoje repartido na razão inversa do trabalho a maior parte se destina àqueles que nunca trabalham a parte seguinte àqueles cujo trabalho é quase apenas nominal e assim em escala decrescente a remuneração vai encolhendo à medida que o trabalho se torna mais duro e mais desagradável até chegar ao trabalho fisicamente mais cansativo e extenuante que nem sequer pode contar com a certeza de obter a satisfação das necessidades vitais Para evitar malentendidos 717 observo que se cabe censurar homens como J S Mill etc pela contradição entre seus velhos dogmas econômicos e suas tendências modernas seria absolutamente injusto confundilos com a tropa dos apologistas da economia vulgar 66 H Fawcett professor de economia política em Cambridge The Economic Position of the British Labourer Londres 1865 p 120 67 Recordo ao leitor que fui o primeiro a empregar as categorias de capital variável e capital constante Desde A Smith a economia política mistura confusamente as determinações contidas nessas categorias com as diferenças formais derivadas do processo de circulação entre o capital fixo e o capital circulante Mais detalhes sobre isso serão expostos no Livro II seção II 68 H Fawcett The Economic Position of the British Labourer cit p 1232 69 Poderseia dizer que a Inglaterra exporta anualmente não apenas capital mas também trabalhadores sob a forma da emigração No texto porém não se faz qualquer referência ao pecúlio dos emigrantes que em grande parte não são trabalhadores Os filhos dos arrendatários representam uma grande porção deles A proporção entre o capital adicional inglês anualmente enviado ao exterior para ganhar juros e a acumulação anual é incomparavelmente maior do que a proporção entre a emigração anual e o aumento anual da população Na Roma Antiga pecúlio era a parte do patrimônio que o pater familias podia legar a um filho ou a um escravo A posse do pecúlio não abolia a dependência do escravo em relação a seu amo e juridicamente o proprietário do pecúlio continuava a ser o pater familias Por exemplo se era permitido ao escravo de posse do pecúlio realizar transações com terceiros isso só se podia realizar numa medida que não permitisse a ele o ganho de uma soma de dinheiro suficiente para a compra de sua liberdade Transações especialmente lucrativas e outras medidas que podiam acarretar um aumento significativo do pecúlio eram habitualmente realizadas pelo próprio pater familias N E A MEW 718 70 Karl Marx cit A égalité doppression des masses plus un pays a de prolétaires et plus il est riche Havendo igualdade de opressão das massas quanto mais proletários tiver um país mais rico ele será Colins Léconomie politique source des révolutions et des utopies prétendues socialistes Paris 1857 t III p 331 Por proletário devese entender do ponto de vista econômico apenas o assalariado que produz e valoriza capital e é posto na rua assim que se torna supérfluo para as necessidades de valorização do Monsieur Capital como Pecqueur denomina esse personagem O enfermiço proletário da selva virgem é uma gentil quimera de Roscher O selvático é proprietário da selva e a trata com tanta naturalidade quanto o orangotango isto é como propriedade sua Ele não é portanto um proletário Esse só seria o caso se fosse a selva que o explorasse e não o contrário Quanto a seu estado de saúde ele resistiria não só a uma comparação com o do proletário moderno mas também com o de sifilíticos e escrofulosos homens honrados Mas é provável que o sr Wilhelm Roscher entenda por selva virgem as pastagens de sua Lüneburg natal 71 As the Labourers make men rich so the more Labourers there will be the more rich men the Labour of the Poor being the Mines of the Rich John Bellers Proposals for Raising a Colledge of Industry cit p 2 a No original inglês os pobres N T 72 B de Mandeville The Fable of the Bees 5 ed Londres 1728 Observações p 2123 328 Vida moderada e trabalho constante são para o pobre o caminho para a felicidade material que ele entende como a jornada de trabalho mais longa possível e o mínimo possível de meios de subsistência e a riqueza do Estado ou seja de proprietários rurais capitalistas e seus dignitários e agentes políticos An Essay on Trade and Commerce Londres 1770 p 54 73 Eden devia ter perguntado e as as instituições burguesas são criaturas de quem Sob o ângulo da ilusão jurídica ele não enxerga a lei como produto das relações materiais de produção mas ao contrário as relações de produção como produto da lei Linguet demoliu numa frase o ilusório Esprit des Lois de Montesquieu Lesprit des lois cest la propriété SNH Linguet Théorie des loix civiles ou principes fondamentaux de la société Londres 1767 v 1 p 236 N E A MEW 74 Eden The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc cit v I c I p l2 e prefácio p XX b No original inglês lêse The natural produce of our soil is certainly not fully adequate to our subsistence we can neither be clothed lodged nor fed but in consequence of some previous labour A portion at least of the societ must be indefatigably employed There are others who though they neither toil nor spin can yet command the produce of industry but who owe their exemption from labour solely to civilizaton and order They are peculiarly the creatures of civil institutions which have recognised that individuals may acquire property by various other means besides the exertion of labour Persons of independent fortune owe their superior advantages by no means to any superior abilities of their own but almost entirely to the industry of others It is not the possession of land or of money but the command of labour which distinguishes the opulent from the labouring part of the community This scheme approved by Eden would give the people of property sufficient but by no means too much influence and authority over those who work for them and it would place such labourers not in an abject or servile condition but in such a state of easy and liberal dependence as all who know human nature and its history will allow to be necessary for their own comfort N T 75 O leitor que se recorda de Malthus cujo Essay on Population apareceu em 1798 não deve esquecer também de que esse texto em sua primeira versão não passa de um plágio colegial superficial e clericalmente declamatório de Defoe sir James Steuart Townsend Franklin Wallace etc e não contém uma única frase original A grande sensação que tal panfleto provocou decorreu apenas de interesses partidários A Revolução Francesa encontrara apaixonados defensores no Império Britânico o princípio da população lentamente elaborado durante o século XVIII e em seguida em meio a uma grande crise social anunciado ao som de tambores e trombetas como o antídoto infalível contra as doutrinas de Condorcet e outros foi saudado jubilosamente pela oligarquia inglesa como o grande exterminador de todas as veleidades de progresso da humanidade Malthus surpreso com seu próprio êxito dedicou se então a embutir no velho esquema material compilado superficialmente e a adicionar material novo que ele porém não descobriu apenas anexou Observemos de passagem que embora fosse clérigo da Igreja Anglicana Malthus fizera o voto monástico do celibato Essa é com efeito uma das condições de fellowship filiação pertencimento na universidade protestante de Cambridge Socios collegiorum maritos esse non permittimus sed statim postquam quis uxorem duxerit socius collegii desinat esse Que os membros do colégio sejam casados é algo que não permitimos assim que alguém toma uma mulher deixa de ser membro do colégio Reports of Cambridge University Commission p 172 Essa circunstância distingue Malthus vantajosamente dos outros padres protestantes que se 719 liberaram do mandamento católico do celibato sacerdotal e reivindicaram como sua missão especificamente bíblica o crescei e multiplicaivos e isso em tal medida que passaram a contribuir por toda parte e numa medida realmente indecorosa para o aumento populacional ao mesmo tempo que pregavam aos trabalhadores o princípio da população É característico que o pecado original em seu disfarce econômico o pomo de Adão o urgent appetite apetite urgente the checks which tend to blunt the shafts of Cupid as resistências que tendem a tornar inofensivas as setas de Cupido como diz alegremente o reverendo Townsend que esse ponto tão delicado tenha sido e continue a ser monopolizado pelos senhores da teologia ou antes da igreja protestante Excetuandose o monge veneziano Ortes escritor original e espirituoso a maioria dos expositores da doutrina da população são clérigos protestantes Bruckner por exemplo com sua Théorie du système animal Leyden 1767 que apresenta uma exposição exaustiva de toda a teoria moderna da população aproveitando ideias sobre o mesmo tema provenientes da querela passageira entre Quesnay e seu discípulo Mirabeau père pai e posteriormente o reverendo Wallace o reverendo Townsend o reverendo Malthus e seu discípulo o arquirreverendo T Chalmers para não falar de escribas clericais menores in this line desse tipo Originalmente a economia política foi exercida por filósofos como Hobbes Locke Hume por homens de negócios e estadistas como Thomas Morus Temple Sully de Witt North Law Vanderlint Cantillon Franklin e especialmente no plano teórico e com o maior dos êxitos por médicos como Petty Barbon Mandeville Quesnay Ainda em meados do século XVIII o reverendo sr Tucker economista importante para sua época desculpavase por se ocupar com Mamon Mais tarde mais precisamente com o princípio da população soou a hora dos clérigos protestantes Como que pressentindo essa influência daninha Petty que considerava a população a base da riqueza e como Adam Smith era um anticlerical declarado afirma A religião floresce melhor onde os sacerdotes são mais mortificados assim como o direito onde os advogados passam fome Por isso Petty aconselha aos cléricos protestantes já que não querem seguir o apóstolo Paulo e mortificarse pelo celibato que pelo menos não gerem mais clérigos not to breed more Churchmen do que as prebendas benefices existentes possam absorver ou seja havendo 12 mil prebendas na Inglaterra e no País de Gales seria insensato gerar 24 mil ministros it will not be safe to breed 24000 ministers pois os 12 mil sem ocupação haverão sempre de procurar um meio de vida e como poderiam fazêlo mais facilmente do que dirigindose ao povo e persuadindoo de que os 12 mil prebendados envenenam as almas e fazemnas morrer de fome desviandoas do caminho do céu Petty A Treatise of Taxes and Contributions cit p 57 A posição de Adam Smith em relação ao clero protestante de sua época é caracterizada pelo seguinte Em A Letter to A Smith L L D On the Life Death and Philosophy of his Friend David Hume By One the People Called Christians 4 ed Oxford 1784 o dr Horne bispo anglicano de Norwish prega um sermão a A Smith pelo fato de este numa carta aberta ao sr Straham ter embalsamado o seu amigo David isto é Hume relatando ao público como Hume em seu leito de morte divertiase lendo Luciano e jogando whist uíste e tivera até mesmo a petulância de escrever Sempre considerei Hume tanto durante sua vida como depois de sua morte tão próximo do ideal de um homem perfeitamente sábio e virtuoso quanto o permite a fragilidade da natureza humana O bispo exclama em sua indignação É justo de sua parte meu senhor descrevernos como perfeitamente sábios e virtuosos o caráter e a trajetória de vida de um homem que foi possuído por uma incurável antipatia contra tudo o que se chama religião e que consagrava todo o seu ser à tarefa de extirpar até mesmo seu nome da memória dos homens ibidem p 8 Mas não vos deixeis desalentar ó amantes da verdade pois breve é a vida do ateísmo ibidem p 17 Adam Smith incorre na atroz perversidade the atrocious wickedness de propagar o ateísmo pelo país com seu Theory of Moral Sentiments Conhecemos vossos sortilégios sr Doutor Vossa intenção é boa mas desta vez podeis tirar o cavalo da chuva Quereis nos convencer com o exemplo do sr David Hume de que o ateísmo é a única bebida reconfortante cordial para um ânimo abatido e o único antídoto contra o medo à morte Ride de Babilônia em ruínas e congratulai o empedernido e ímpio faraó ibidem p 212 Um cérebro ortodoxo entre os que frequentavam os cursos de A Smith escreve logo após a morte deste A amizade de Smith por Hume o impedia de ser cristão Ele acreditava literalmente em Hume Se este lhe tivesse dito que a Lua é um queijo verde ele teria acreditado Ele acreditou por isso quando Hume lhe disse que não existiam nem Deus nem os milagres Em seus princípios políticos ele se aproximava do republicanismo James Anderson The Bee Edimburgo 17911793 v III p 1656 O reverendo T Chalmers suspeita que A Smith por pura malícia teria inventado a categoria dos trabalhadores improdutivos exclusivamente para os ministros protestantes apesar do abençoado trabalho que estes realizam nas vinhas do Senhor A palavra Mamon aparece na Bíblia como descrição e muitas vezes personificação da riqueza material e da cobiça Por exemplo Não podeis servir a Deus e a Mamon Mateus 624 N T 76 Nota à segunda edição No entanto o limite para o emprego de trabalhadores fabris e agrícolas é o mesmo a saber a possibilidade de o proprietário obter um lucro do produto do trabalho desses trabalhadores Se a taxa do salário sobe tanto que o lucro do patrão cai abaixo do lucro médio ele deixa de ocupálos ou só os ocupa sob a condição de que aceitem uma redução salarial John Wade History of the Middle and Working Classes cit p 240 720 c Currency School grupo de economistas que nas décadas de 1840 e 1850 defendiam a tese de que o excesso de emissão de papelmoeda era uma das principais causas da inflação dos preços e que para restringir a circulação seus emissores deveriam manter uma reserva em ouro de valor equivalente ao das cédulas em circulação N T d Na segunda edição com preços altos circula dinheiro demais e com preços baixos dinheiro de menos N E A MEW 77 Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 165s 77a Voltemos no entanto à nossa primeira investigação que demonstra que o próprio capital não é mais do que produto de trabalho humano de modo que parece completamente incompreensível que o homem pudesse cair sob o domínio de seu próprio produto o capital e subordinarse a ele e como é inegável que na realidade é isso que ocorre impõese espontaneamente a pergunta como pôde o trabalhador transformarse de dominador do capital como criador deste último em escravo do capital Von Thünen Der isolirte Staat Rostock 1863 segunda parte seção II p 56 Thünen possui o mérito de ter formulado a pergunta Sua resposta é simplesmente pueril e Adam Smith An lnquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations A riqueza das nações Edimburgo 1767 t 1 p 142 N E A MEW 77b Nota à quarta edição Os mais recentes trusts ingleses e americanos já apontam para esse objetivo procurando unificar numa grande sociedade por ações dotada de um monopólio efetivo ao menos todas as grandes empresas ativas num ramo de negócios F E 77c Nota à terceira edição No exemplar reservado por Marx para seu uso pessoal há neste ponto a seguinte anotação à margem Observar aqui para desenvolvimento posterior se a ampliação é apenas quantitativa os lucros de um capital maior ou menor no mesmo ramo de atividade estarão em proporção às grandezas dos capitais adiantados Se a ampliação quantitativa tem efeitos qualitativos aumenta ao mesmo tempo a taxa de lucro do capital maior F E f Na terceira edição centralização N T 78 O censo para Inglaterra e País de Gales mostra entre outras coisas pessoas ocupadas na agricultura inclusive proprietários arrendatários jardineiros pastores etc 1851 2011447 1861 1924110 redução de 87337 Manufatura de worsted 1851 102714 pessoas 1861 79242 fábricas de seda 1851 111940 1861 101670 estamparias de chita 1851 12098 1861 12556 cujo pequeno aumento apesar da enorme ampliação da atividade implica grande diminuição proporcional do número de trabalhadores ocupados fabricação de chapéus 1851 15957 1861 13814 fabricação de chapéus de palha e bonés 1851 20393 1861 18176 produção de malte 1851 10566 1861 10677 fabricação de velas 1851 4949 1861 4686 Essa redução se deve entre outras coisas ao aumento da iluminação a gás Fabricação de pentes 1851 2038 1861 1478 serrarias 1851 30552 1861 31647 pequeno aumento em virtude do avanço das máquinas de serrar fabricação de pregos 1851 26940 1861 26130 redução em virtude da concorrência das máquinas trabalhadores em minas de zinco e cobre 1851 31360 1861 32041 Em contrapartida fiações e tecelagens de algodão 1851 371777 1861 456646 minas de carvão 1851 183389 1861 246613 Desde 1851 o aumento de trabalhadores é geralmente maior naqueles ramos em que a maquinaria não foi até agora empregada com sucesso Census of England and Wales for 1861 Londres 1863 v III p 359 79 A lei da diminuição progressiva da grandeza relativa do capital variável bem como seus efeitos sobre a situação da classe assalariada foi mais pressentida do que compreendida por alguns economistas eminentes da escola clássica O maior mérito cabe aqui a John Barton ainda que como todos os outros ele confunda o capital constante com o capital fixo e o variável com o circulante Diz ele The demand for labour depends on the increase of circulating and not of fixed capital Were it true that the proportion between these two sorts of capital is the same at all times and in all circumstances then indeed it follows that the number of labourers employed is in proportion to the wealth of the state But such a proposition has not the semblance of probability As arts are cultivated and civilisation is extended fixed capital bears a larger and larger proportion to circulating capital The amount of fixed capital employed in the production of a piece of British muslin is at less a hundred probably a thousand times greater than that employed in a similar piece of Indian muslin And the proportion of circulating capital is a hundred or thousand times less the whole of the annual savings added to the fixed capital would have no effect in increasing the demand for labour A demanda de trabalho depende do aumento do capital circulante e não do capital fixo Se a relação entre esses dois tipos de capital fosse realmente a mesma em todas as épocas e em todas as circunstâncias então o número de trabalhadores ocupados seria de fato proporcional à riqueza do Estado Mas tal afirmação parece improvável À medida que as ciências naturais arts são cultivadas e a civilização se expande o capital fixo cresce cada vez mais em relação ao capital circulante A quantidade de capital fixo empregado na produção de um pedaço de musselina britânica é no mínimo 721 100 vezes maior mas provavelmente 1000 vezes maior do que a quantidade utilizada na confecção de uma peça semelhante de musselina indiana E a parcela de capital circulante é 100 ou 1000 vezes menor se a totalidade das poupanças anuais fosse adicionada ao capital fixo isso não ocasionaria aumento algum na demanda de trabalho John Barton Observations on the Circumstances which Influence the Condition of the Labouring Classes of Society Londres 1817 p 167 The same cause which may increase the net revenue of the country may at the same time render the population redundant and deteriorate the condition of the labourer A mesma causa que pode aumentar a renda líquida do país pode ao mesmo tempo tornar a população excedente e deteriorar a condição do trabalhador Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 469 the demand will be in a diminishing ratio A demanda de trabalho diminuirá proporcionalmente ao aumento do capital ibidem p 480 nota The amount of capital devoted to the maintenance of labour may vary independently of any changes in the whole amount of capital Great fluctuations in the amount of employment and great suffering may become more frequent as capital itself becomes more plentiful A soma de capital destinada à manutenção do trabalho pode variar independentemente de quaisquer modificações na soma total do capital Grandes flutuações na taxa de emprego e um grande sofrimento tornamse mais frequentes à medida que o próprio capital se torna mais abundante Richard Jones An Introductory Lecture on Political Economy Londres 1833 p 12 Demand will rise not in proportion to the accumulation of the general capital Every augmentation therefore to the national stock destined for reproduction comes in the progress of society to have less and less influence upon the condition of the labourer A demanda de trabalho aumentará não em proporção à acumulação do capital total Portanto à medida do progresso da sociedade todo aumento do estoque nacional destinado à reprodução terá uma influência cada vez menor sobre a situação do trabalhador Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth cit p 901 g Na edição francesa autorizada encontrase nesta passagem a seguinte inserção Mais cest seulement de lépoque où lindustrie mécanique ayant jeté des racines assez profondes exerça une influence prépondérante sur toute la production nationale où grâce à elle le commerce étranger commença à primer le commerce intérieur où le marché universel sannexa successivement de vastes terrains au Nouveau Monde en Asie et en Australie où enfin les nations industrielles entrant en lice furent devenues assez nombreuses cest de cette époque seulement que datent les cycles renaissants dont les phases successives embrassent des années et qui aboutissent toujours à une crise générale fin dun cycle et point de départ dun autre Jusquici la durée périodique de ces cycles est de dix ou onze ans mais il ny a aucune raison pour considérer ce chiffre comme constant Au contraire on doit inférer des lois de la production capitaliste telles que nous venons de les développer quil est variable et que la période des cycles se raccourcira graduellement Mas é somente a partir do momento em que a indústria mecanizada tendo lançado raízes tão profundas exerceu uma influência preponderante sobre toda a produção nacional ou que por meio dela o comércio exterior começou a sobrepujar o comércio interno ou que o mercado universal se apoderou sucessivamente de vastos territórios no Novo Mundo na Ásia e na Austrália ou que por fim as nações industrializadas entrando na briga tornaramse bastante numerosas é somente dessa época que datam aqueles os ciclos sempre recorrentes cujas fases sucessivas se estendem por anos e que desembocam sempre numa crise geral marcando o fim de um ciclo e o ponto de partida de outro Até aqui a duração periódica desses ciclos foi de dez ou onze anos mas não há nenhuma razão para considerar essa cifra como constante Ao contrário a partir das leis da produção capitalista tais como as que acabamos de desenvolver devemos inferir que essa duração é variável e que o período dos ciclos se encurtará gradualmente N E A MEW 80 H Merivale Lectures on Colonization and Colonies Londres 18411842 v I p 146 81 Prudential habits with regard to marriage carried to a considerable extent among the labouring class of a country mainly depending upon manufactures and commerce might injure it From the nature of a population an increase of labourers cannot be brought into market in consequence of a particular demand till after the lapse of 16 or 18 years and the conversion of revenue into capital by saving may take place much more rapidly a country is always liable to an increase in the quantity of the funds for the maintenance of labour faster than the increase of population Malthus Princ of Pol Econ cit p 215 31920 Nessa obra Malthus finalmente descobre pela mediação de Sismondi a bela tríade da produção capitalista superproduçãosuperpopulaçãosobreconsumo three very delicate monsters indeed três monstros muito delicados de fato Cf F Engels Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie Esboço de uma crítica da economia política cit p 107s 82 Harriet Martineau The Manchester Strike 1832 p 101 83 Mesmo durante a escassez de algodão de 1863 podemos encontrar num panfleto dos fiadores de algodão de Blackburn uma violenta denúncia do sobretrabalho que por força da lei fabril atingia naturalmente apenas trabalhadores masculinos adultos The adult operatives at this mill have been asked to work from 12 to 13 hours per day while there are hundreds who are compelled to be idle who would willingly work partial time in order to maintain their 722 families and save their brethren from a premature grave through being overworked Os operários adultos dessa fábrica foram solicitados a trabalhar de 12 a 13 horas diárias ao mesmo tempo que há centenas deles forçados à ociosidade mas que trabalhariam de bom grado durante uma parte do tempo a fim de sustentar sua família e poupar seus irmãos trabalhadores de uma morte prematura em consequência do sobretrabalho Gostaríamos é dito mais adiante de perguntar se essa prática de trabalhar horas excedentes possibilita o estabelecimento de relações de algum modo suportáveis entre patrões e servos As vítimas do sobretrabalho sentem a injustiça tanto quanto aqueles por ele condenados à ociosidade forçada condemned to forced idleness Neste distrito o trabalho a realizar é suficiente para ocupar parcialmente a todos bastando que seja distribuído com equidade Reivindicamos apenas um direito quando pleiteamos dos patrões que nos permitam trabalhar de modo geral apenas em períodos curtos ao menos enquanto perdurar o atual estado de coisas em vez de fazer uma parte dos operários trabalhar em excesso enquanto a outra por falta de trabalho é forçada a existir na dependência da caridade alheia Reports of Insp of Fact 31st Oct 1863 p 8 O autor do Essay on Trade and Commerce com seu habitual e infalível instinto burguês entende o efeito de uma superpopulação relativa sobre os trabalhadores ocupados Outra causa da ociosidade idleness nesse reino é a falta de um número suficiente de trabalhadores Quando em virtude de qualquer demanda extraordinária de produtos manufaturados a massa de trabalho se torna insuficiente os trabalhadores sentem sua própria importância e querem fazer com que os patrões também a sintam é espantoso mas o caráter dessa gente é tão depravado que em tais casos formaramse grupos de trabalhadores com a finalidade de folgando um dia inteiro pressionar o patrão Essay etc cit p 278 O que essa gente queria era na verdade um aumento de salários h Na edição francesa ocasionada pelo recrutamento de soldados para a guerra da Crimeia Além desse conflito 18531856 no período mencionado por Marx os ingleses travaram guerras contra a China 18561858 18591860 e contra a Pérsia 18561857 Ademais em 1849 a Inglaterra completou a conquista da Índia e entre os anos 1857 e 1859 empregou suas tropas na repressão da insurreição popular indiana N E A MEW 84 Economist 21 jan 1860 85 Em Londres enquanto no último semestre de 1866 entre 80 mil e 90 mil trabalhadores perdiam o emprego o relatório fabril sobre o mesmo semestre informava It does not appear absolutely true to say that demand will always produce supply just at the moment when it is needed It has not done so with labour for much machinery has been idle last year for want of hands Não parece absolutamente verdadeiro dizer que a demanda sempre gerará a oferta exatamente no momento em que isso for necessário Não foi isso o que ocorreu com o trabalho pois ano passado muita maquinaria teve de ficar ociosa por falta de mão de obra Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1866 p 81 85a Discurso inaugural da Conferência Sanitária Birmingham em 14 de janeiro de 1875 proferido por J Chamberlain então prefeito da cidade atualmente 1883 ministro do Comércio 86 No censo de 1861 para Inglaterra e País de Gales 781 cidades figuram com 10960988 habitantes ao passo que os vilarejos e paróquias rurais contam com apenas 9105226 Em 1851 figuravam no censo 580 cidades cuja população era aproximadamente igual à dos distritos rurais circunvizinhos Mas enquanto nestes últimos a população só aumentou meio milhão durante os 10 anos seguintes nas 580 cidades o aumento foi de 1554067 O aumento populacional nas paróquias rurais foi de 65 ao passo que nas cidades foi de 173 A diferença na taxa de crescimento se deve à migração do campo para a cidade Três quartos do crescimento total da população dizem respeito às cidades Census etc v III p 112 87 Poverty seems favourable to generation A pobreza parece favorecer a reprodução A Smith An inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations cit livro 1 c 8 p 195 N E A MEW Segundo o galante e engenhoso abade Galiani tratase até mesmo de uma disposição divina particularmente sábia Iddio fa che gli uomini che esercitano mestieri di prima utilità nascono abbondantemente Deus faz com que os homens que exercem os ofícios de primeira utilidade nasçam abundantemente Galiani Della moneta cit p 78 Misery up to the extreme point of famine and pestilence instead of checking tends to increase population A miséria levada ao ponto extremo da fome e da pestilência tende a aumentar a população em vez de detêla S Laing National Distress 1844 p 69 Depois de ilustrar isso estatisticamente Laing prossegue If the people were all in easy circumstances the world would soon be depopulated Se todas as pessoas vivessem em circunstâncias cômodas o mundo estaria logo despovoado i Ver nota t na p 352 N T 88 De jour en jour il devient donc plus clair que les rapports de production dans lesquels se meut la bourgeoisie nont pas un caractère un un caractère simple mais un caractère de duplicité que dans les mêmes rapports dans lesquels se produit la richesse la misère se produit aussi que dans les mêmes rapports dans lesquels il y a développement des forces productives il y a une force productive de répression que ces rapports ne produisent la richesse bourgeoise cest à dire la richesse de la classe 723 bourgeoise quen anéantissant continuellement la richesse des membres intégrants de cette classe et en produisant un prolétariat toujours croissant Dia após dia tornase mais claro portanto que as relações de produção em que a burguesia se move não têm um caráter unitário simples mas dúplice que nas mesmas relações em que se produz a riqueza também se produz a miséria que nas mesmas relações em que há desenvolvimento das forças produtivas há também uma força produtiva de repressão que essas relações só produzem a riqueza burguesa isto é a riqueza da classe burguesa sob a condição do aniquilamento contínuo da riqueza dos membros integrantes dessa classe e da produção de um proletariado cada vez maior Karl Marx Misère de la philosophie Miséria da filosofia cit p 116 89 G Ortes Della economia nazionale libri sei 1774 em Custodi ed t XXI parte moderna p 6 9 22 25s Diz Ortes In luoco di progettar sistemi inutili per la felicità de popoli mi limiterò a investigare la ragione della loro infelicità Em vez de construir sistemas inúteis para a felicidade dos povos limitarmeei a investigar a razão de sua infelicidade ibidem p 32 90 A Dissertation on the Poor Laws By a Wellwisher of Mankind The Rev Mr J Townsend 1786 republicado em Londres 1817 p 15 39 41 Esse delicado cura de cuja obra recémcitada bem como de sua Journey Through Spain Malthus costuma copiar páginas inteiras tomou a maior parte de sua doutrina de sir J Steuart autor que ele no entanto deforma Por exemplo quando Steuart diz Aqui na escravatura aplicavase um método violento para fazer os seres humanos trabalhar para os não trabalhadores Os homens eram outrora forçados ao trabalho isto é ao trabalho gratuito para outrem porque eram escravos de outrem agora eles são forçados ao trabalho isto é ao trabalho gratuito para os não trabalhadores porque são escravos de suas próprias necessidades ele não conclui disso como o faz o gordo prebendado que os assalariados devam ser mantidos à míngua O que ele quer pelo contrário é aumentar suas necessidades e fazer do número crescente destas últimas um aguilhão que impulsione os assalariados a trabalhar para os mais delicados James Steuart An Inquiry into the Principles of Political Economy Dublin 1770 v 1 p 3940 N E A MEW 91 Storch Cours décon polit cit t III p 223 92 Sismondi Nouveaux principes déconomie politique cit t 1 p 79 80 85 93 Destutt de Tracy Traité de la volonté et de ses effets cit p 231 Les nations pauvres cest là où le peuple est à son aise et les nations riches cest là où il est ordinairement pauvre j Ver nota x na p 529 N T 94 Tenth Report of the Commissioners of H Ms Inland Revenue Londres 1866 p 38 95 Idem 96 Esses números são suficientes para a comparação mas considerados de modo absoluto são falsos já que é possível que a cada ano sejam encobertos rendimentos no valor de 100 milhões Em cada um de seus relatórios os Commissioners of Inland Revenue fiscais da receita interna repetem suas queixas de fraudes sistemáticas cometidas principalmente por comerciantes e industriais Afirmase por exemplo Uma sociedade por ações declarou lucros tributáveis de 6 mil mas o fiscal os avaliou em 88 mil e foi sobre essa soma que por fim o imposto foi pago Outra companhia declarou 190 mil e foi obrigada a admitir que o montante real era de 250 mil ibidem p 42 97 Census etc cit p 29 A afirmação de John Bright de que 150 proprietários fundiários possuem metade do solo inglês e 12 deles possuem metade do solo escocês não foi refutada 98 Fourth Report etc of Inland Revenue Londres 1860 p 17 99 Tratase aqui de rendimentos líquidos portanto depois das deduções estabelecidas por lei 100 Neste momento março de 1867 o mercado indiano e o chinês estão novamente saturados pelas consignações dos fabricantes britânicos de algodão Em 1866 começouse a aplicar um desconto salarial de 5 entre os trabalhadores algodoeiros e em 1867 uma operação similar provocou uma greve de 20 mil homens em Preston Esse foi o preâmbulo da crise que se desencadeou em seguida F E 101 Census etc cit p 11 102 Gladstone na Câmara dos Comuns 13 de fevereiro de 1843 It is one of the most melancholy features in the social state of this country that we see beyond the possibility of denial that while there is at this moment a decrease in the consuming powers of the people an increase of the pressure of privations and distress there is at the same time a constant accumulation of wealth in the upper classes an increase in the luxuriousness of their habits and of their means of enjoyment Times 14 fev 1843 Hansard 13 fev k Nas edições anteriores diminuído N E A MEW 724 103 From 1842 to 1852 the taxable income of the country increased by 6 per cent In the 8 years from 1853 to 1861 it had increased from the basis taken in 1853 20 per cent The fact is so astonishing as to be almost incredible this intoxicating augmentation of wealth and power entirely confined to classes of property must be of indirect benefit to the labouring population because it cheapens the commodities of general consumption while the rich have been growing richer the poor have been growing less poor At any rate whether the extremes of poverty are less I do not presume to say Gladstone em House of Commons 16 abr 1863 Morning Star 17 abr 104 Ver os dados oficiais no Livro Azul Miscellaneous Statistics of the Un Kingdom Part VI Londres 1866 p 26073 passim Em vez da estatística dos orfanatos etc também poderiam servir como argumento probatório as declamações dos jornais ministeriais a favor do aumento das dotações dos infantes da família real Nelas jamais é esquecido o encarecimento dos meios de subsistência 105 Think of those who are on the border of that region wages in others not increased human life is but in nine cases out of ten a struggle for existence Gladstone House of Commons 7 abr 1864 Na versão do Hansard consta Again and yet more at large what is human life but in the majority of cases a struggle for existence As sucessivas e gritantes contradições nos discursos de Gladstone sobre o orçamento de 1863 e 1864 são caracterizadas por um escritor inglês mediante a seguinte citação de Boileau Voilà lhomme en effet Il va du blanc au noir Il condamne au matin ses sentiments du soir Importun à tout autre à soi même incommode Il change à tous moments desprit comme de mode Eis aqui o homem que vai do branco ao preto Condenando ao acordar o que ao dormir sentia Importuna a todos a si mesmo não poupa Muda de espírito como quem muda de roupa Boileau citado por H Roy The Theory of Exchanges etc Londres 1764 p 135 106 H Fawcett The Economic Position of the British Labourer cit p 67 82 No que tange à crescente dependência dos trabalhadores em relação ao comerciante ela deriva das crescentes flutuações e interrupções de sua ocupação 107 Inglaterra inclui sempre o País de Gales GrãBretanha inclui Inglaterra País de Gales e Escócia Reino Unido inclui esses três países e mais a Irlanda l Referência à obra de Engels A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit N E A MEW 108 O progresso havido desde os tempos de A Smith pode ser medido pelo fato de ele ainda usar ocasionalmente a palavra workhouse como sinônimo de manufactory manufatura Por exemplo no começo de seu capítulo sobre a divisão do trabalho aqueles empregados em ramos diferentes de trabalho podem ser frequentemente reunidos na mesma workhouse Adam Smith An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations cit p 6 m Um grão equivale a 498 mg N T 109 Public Health Sixth Report etc for 1863 Londres 1864 p 13 110 Ibidem p 17 111 Ibidem p 3 112 Ibidem apêndice p 232 113 Ibidem p 2323 114 Ibidem p 145 115 Em nenhuma parte os direitos das pessoas foram sacrificados tão aberta e descaradamente como no caso das condições habitacionais da classe trabalhadora Toda grande cidade é um local de sacrifícios humanos um altar sobre o qual milhares são anualmente imolados ao Moloch da avareza S Laing National Distress cit p 150 116 Public Health Eighth Report Londres 1866 p 14 nota 117 Ibidem p 89 Acerca das crianças nessas colônias diz o dr Hunter Não sabemos como as crianças eram criadas antes do advento dessa era de densa aglomeração dos pobres e seria um profeta audaz aquele que quisesse prever que conduta seria de se esperar de crianças que sob circunstâncias sem paralelo neste país são atualmente educadas para sua prática futura como classes perigosas passando metade das noites com pessoas de todas as idades bêbadas obscenas e belicosas ibidem p 56 118 Ibidem p 62 119 Report of the Officer of Health of St Martins in the Fields 1865 120 Public Health Eighth Report Londres 1866 p 91 121 Ibidem p 88 725 122 Ibidem p 89 123 Ibidem p 56 124 Ibidem p 149 125 Ibidem p 50 126 Lista fornecida pelo agente de uma companhia de seguros de Bradford Casas Vulcan Street n 122 1 quarto 16 pessoas Lumley Street n 13 1 quarto 11 pessoas Bower Street n 41 1 quarto 11 pessoas Portland Street n 112 1 quarto 10 pessoas Hardy Street n 17 1 quarto 10 pessoas North Street n 18 1 quarto 16 pessoas North Street n 17 1 quarto 13 pessoas Wymer Street n 19 1 quarto 8 adultos Jowett Street n 56 1 quarto 12 pessoas George Street n 150 1 quarto 3 famílias Rifle Court Marygate n 11 1 quarto 11 pessoas Marshall Street n 28 1 quarto 10 pessoas Marshall Street n 49 3 peças 3 famílias George Street n 128 1 peça 18 pessoas George Street n 130 1 quarto 16 pessoas Edward Street n 4 1 quarto 17 pessoas York Street n 34 1 quarto 2 famílias Salt Pie Street 2 quartos 26 pessoas Porões Regent Square 1 porão 8 pessoas Acre Street 1 porão 7 pessoas Roberts Court n 33 1 porão 7 pessoas Back Pratt Street local utilizado como oficina de caldeiraria 1 porão 7 pessoas Ebenezer Street n 27 1 porão 6 pessoas Ibidem p 111 127 Public Health Eighth Report cit p 114 128 Ibidem p 50 129 Public Health Seventh Report Londres 1865 p 18 130 Ibidem p 165 726 n Praemissis praemittendis antepondo os títulos que lhe caibam N T 131 Public Health Seventh Report p 18 nota O agente de beneficência de ChapelenleFrithUnion relata ao Registrar General diretor do Registro Civil Em Doveholes realizouse uma série de pequenas escavações numa grande colina de cinzas de cal Essas cavernas servem de habitação para os trabalhadores empregados na terraplenagem e na construção de ferrovias As cavernas são estreitas úmidas sem esgoto e sem latrinas Carecem de todos os meios de ventilação com exceção de um buraco no teto que serve simultaneamente como chaminé A varíola grassa e já ocasionou várias mortes entre os trogloditas ibidem nota 2 132 As particularidades apresentadas nas páginas 508s deste livro referemse principalmente aos trabalhadores das minas de carvão Quanto às condições ainda piores nas minas de metais cf o consciencioso relatório da Royal Commission de 1864 133 Public Health Seventh Report cit p 180 182 134 Ibidem p 515 517 135 Ibidem p 16 136 Morte em massa por inanição dos pobres de Londres Wholesale starvation of the London Poor Durante os últimos dias as paredes de Londres foram cobertas com grandes cartazes nos quais figurava este estranho anúncio Bois gordos homens famélicos Os bois gordos deixaram seus palácios de cristal para cevar os ricos em suas mansões luxuosas enquanto os homens famélicos degeneram e morrem em seus covis miseráveis Os cartazes com essas palavras ominosas são constantemente renovados Assim que uma porção deles é arrancada ou recoberta logo reaparece um novo lote no mesmo ou em outro local igualmente público Isso lembra os omina maus augúrios que prepararam o povo francês para os eventos de 1789 Neste momento enquanto trabalhadores ingleses morrem de fome e frio com suas mulheres e filhos quantias milionárias de dinheiro inglês produto do trabalho inglês são aplicadas em empréstimos russos espanhóis italianos e de outros países Reynolds Newspaper 20 jan 1867 o Em inglês numa bandeja N E A MEGA p Em inglês da paróquia N E A MEGA q Em inglês por certa ração de comida N E A MEGA 137 Ducpétiaux Budgets écnomiques des classes ouvrières en Bélgique Bruxelas 1855 p 151 1546 138 James E T Rogers professor de economia política na Universidade de Oxford A History of Agriculture and Prices in England Oxford 1866 v I p 690 Nos dois primeiros tomos até agora publicados essa obra cuidadosamente elaborada abarca unicamente o período de 1259 a 1400 O segundo volume contém apenas material estatístico É a primeira History of Prices autêntica que possuímos sobre esse período r No original inglês fazendeiros farmers N T s No original inglês trabalhador N T 139 Reasons for the late Increase of the PoorRates or a Comparative View of the Price of Labour and Provisions Londres 1777 p 5 11 140 Dr Richard Price Observations on Reversionary Payments por W Morgan 6 ed Londres 1803 v II p 1589 Diz Price à p 159 The nominal price of daylabour is at present no more than about four times or at most five times higher than it was in the year 1514 But the price of corn is Seven times and of fleshmeat and raiment about fifteen times higher So far therefore has the price of labour been even from advancing in proportion to the increase in the expences of living that it does not appear that it bears now half the proportion to those expences that it did bear O preço nominal da jornada de trabalho não é atualmente mais do que 4 ou no máximo 5 vezes maior do que em 1514 Mas o preço do cereal é umas 7 vezes maior e o da carne e do vestuário cerca de 15 vezes O preço do trabalho por conseguinte ficou tão atrás do aumento do custo de vida que em relação a esse custo seu montante parece não chegar nem à metade do que era antes 141 Barton Observations on the Circumstances which Influence the Condition of the Labouring Classes of Society cit p 26 Para o final do século XVIII cf Eden The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc cit 142 Parry The Question of the Necessity of the Existing Cornlaws Considered cit p 80 143 Ibidem p 213 t Movimento de trabalhadores rurais ingleses nos anos 18301833 contra o emprego de maquinaria e por aumento 727 de salários Os trabalhadores incendiavam os celeiros os tornos mecânicos etc e enviavam aos fazendeiros e proprietários fundiários cartas intimidatórias assinadas por um fictício Capitão Swing N E A MEW 144 S Laing National Distress cit p 62 145 England and America Londres 1833 v 1 p 47 u Low Church Igreja Baixa ou Low Church Party setor da Igreja anglicana que defende a redução do papel do clero e sobretudo do episcopado Do ponto de vista litúrgico e dogmático a Low Church se aproxima mais das igrejas protestantes do que do catolicismo romano sendo nesse sentido o exato oposto da High Church ver nota f na p 80 A Low Church enfatiza as atividades filantrópicas e a propaganda da moral cristã Graças a sua atividade filantrópica e de pregação moral o conde de Shaftesbury lord Ashley conquistara uma significativa influência nos círculos da Low Church razão pela qual Marx o chama ironicamente de papa dessa igreja N E A MEW 146 Economist Londres 29 mar 1845 p 290 147 Para essa finalidade a aristocracia fundiária adiantou fundos para si mesma naturalmente por meio do Parlamento do Tesouro do Estado a juros muito baixos que os arrendatários tinham de lhe restituir em dobro 148 A diminuição de arrendatários médios evidenciase especialmente nas seguintes rubricas do censo filho neto irmãos sobrinho filha neta irmã sobrinha do arrendatário em suma os membros da própria família do arrendatário ocupados por ele Essas rubricas somavam em 1851 216851 pessoas em 1861 apenas 176151 De 1851 a 1871 os arrendamentos com menos de 20 acres diminuíram na Inglaterra em mais de 900 os de 50 a 75 acres diminuíram de 8253 para 6370 e fenômeno semelhante ocorreu em todos os outros arrendamentos com superfície inferior a 100 acres Em contrapartida no mesmo período de 20 anos aumentou o número de arrendamentos os de 300 a 500 acres aumentaram de 7771 para 8410 os com mais de 500 acres de 2755 para 3914 e os com mais de 1000 acres de 492 para 582 149 O número de pastores de ovelhas aumentou de 12517 para 25559 150 Census etc cit p 36 151 Rogers A History of Agriculture and Prices in England cit p 693 The peasant has again become a serf cit p 10 O sr Rogers pertence à escola liberal é amigo pessoal de Cobden e Bright e portanto nenhum laudator temporis acti Laudator temporis acti panegirista das épocas passadas Horácio Ars poetica verso 173 N E A MEW 152 Public Health Seventh Report Londres 1865 p 242 The cost of the hind is fixed at the lowest possible amount on which he can live the supplies of wages or shelter are not calculated on the profitto be derived from him He is a zero in farming calculations Não é nada incomum portanto que o locador aumente o aluguel a ser pago por um trabalhador tão logo fique sabendo que ele ganha algo mais ou que o arrendatário reduza o salário do trabalhador porque a mulher deste último encontrou uma ocupação 153 Ibidem p 135 154 Ibidem p 134 155 Report of the Commissioners Relating to Transportation and Penal Servitude Londres 1863 n 50 p 42 156 Ibidem p 77 Memorandum by the Lord Chief Justice 157 Ibidem v II Evidence 158 Ibidem v I Apêndice p 280 158a Ibidem p 2745 159 Public Health Sixth Report 1863 p 238 249 2612 160 Ibidem p 262 161 Ibidem p 17 O trabalhador agrícola inglês obtém apenas 14 do leite e 15 do pão que recebe o irlandês No início deste século Arthur Young já chamara a atenção em seu Tour through Ireland para a melhor situação nutricional do segundo em relação ao primeiro A razão disso é simplesmente que o pobre arrendatário irlandês é incomparavelmente mais humano que seu rico colega inglês No que diz respeito a Gales os dados do texto não se aplicam à sua região sudoeste Todos os médicos locais coincidem em afirmar que o aumento da taxa de mortalidade por tuberculose escrofulose etc se intensifica com a deterioração da condição física da população e todos atribuem tal deterioração à pobreza A manutenção diária do trabalhador rural é ali calculada em 5 pence e em muitos casos o arrendatário ele próprio miserável ainda paga menos que isso Um pedaço de carne salgada desidratada até ficar dura como o mogno e muito pouco digna do difícil processo de digestão ou de toucinho serve para preparar uma 728 grande quantidade de caldo de farinha e alhoporó ou de mingau de aveia e dia após dia esse é o almoço do trabalhador rural O progresso da indústria teve para ele a consequência de substituir nesse clima rigoroso e úmido o grosso pano fiado em casa por gêneros baratos de algodão e as bebidas mais fortes por um chá nominal Depois de longas horas de exposição ao vento e à chuva o trabalhador agrícola retorna ao seu cottage para sentar se ao pé de uma fogueira de turfa ou de bolas compostas de argila e restos de carvão e respirar nuvens de monóxido de carbono e ácido sulfúrico As paredes da choupana consistem de barro e pedras o chão é da mesma terra batida que lá estava antes de sua construção o telhado é uma massa de palha solta amontoada Toda fresta é tapada para conservar o calor e numa atmosfera de fedor diabólico com um chão de barro sob si frequentemente com suas únicas roupas a secar em seu corpo o trabalhador janta com sua mulher e filhos Certas parteiras forçadas a passar uma parte da noite nesses casebres descreveram como seus pés afundavam no barro do chão e como elas eram forçadas que trabalho leve a fazer um buraco na parede a fim de obter um pouco de ar para respirar Várias testemunhas de diversas camadas sociais afirmam que o camponês subnutrido underfed está exposto todas as noites a essas e outras influências insalubres e não são poucas as provas em verdade do resultado disso um povo debilitado e escrofuloso Os informes dos funcionários paroquiais de Caermarthenshire e Cardiganshire mostram cabalmente o mesmo estado de coisas A isso se acrescenta uma praga ainda maior a propagação do idiotismo E além disso as condições climáticas Os fortes ventos do sudoeste sopram em todo o país durante 8 ou 9 meses do ano seguidos por chuvas torrenciais que se descarregam principalmente sobre as ladeiras ocidentais das colinas As árvores são escassas salvo em lugares protegidos pois onde carecem de abrigo o vento as deforma Os casebres se encolhem sob qualquer elevação montanhosa frequentemente também num barranco ou pedreira e só as ovelhas menores e o gado bovino nativo conseguem viver nas pastagens Os jovens migram para os distritos mineiros de Glamorgan e Monmouth situados no leste Caermarthenshire é a incubadora da população mineira e asilo de inválidos A população mantém seu número a duras penas É o que ocorre por exemplo em Cardiganshire 1851 1861 Sexo masculino 45155 44446 Sexo feminino 52459 52955 97614 97401 Relatório do dr Hunter em Public Health Seventh Report 1864 cit p 498502 passim 162 Em 1865 essa lei foi levemente melhorada A experiência não tardará a ensinar que tais trapaças não ajudam em nada 163 Para entender o seguinte close villages vilarejos fechados são denominados aqueles vilarejos cujos proprietários fundiários são um ou dois landlords open villages vilarejos abertos aqueles cujo solo pertence a muitos proprietários menores É neles que os especuladores imobiliários podem erguer cottages e alojamentos 164 Tal vilarejo cenográfico parece muito bonito mas é tão irreal quanto aqueles vistos por Catarina II em sua viagem à Crimeia Nos últimos tempos até mesmo os pastores de ovelhas costumam ser banidos desses showvillages Em Market Harborough por exemplo existe uma criação de ovelhas com cerca de 500 acres que requer apenas o trabalho de um homem Para abreviar as longas caminhadas sobre essas vastas planícies as belas pastagens de Leicester e Northampton o pastor costumava ocupar um cottage na fazenda Agora se dá a ele um 13º xelim para o alojamento que ele tem de buscar bem longe no vilarejo aberto 165 As casas dos trabalhadores nos vilarejos abertos que naturalmente estão sempre superlotados costumam ser construídas em fileiras com a parede traseira situada no limite externo do pedaço de chão que o especulador imobiliário chama de seu Elas são por isso desprovidas de aberturas para luz e ventilação exceto na parte dianteira Reports by dr Hunter cit p 135 Muito frequentemente o taberneiro ou merceeiro do vilarejo é ao mesmo tempo o locador das casas Nesse caso o trabalhador rural encontra nele um segundo patrão ao lado do arrendatário Ele tem de ser ao mesmo tempo seu freguês Com 10 xelins por semana menos um aluguel anual de 4 ele é obrigado a comprar pelos preços impostos pelo merceeiro seu modicum modesta porção de chá açúcar farinha sabão velas e cerveja ibidem p 132 Esses vilarejos abertos constituem na realidade as colônias penais do proletariado agrícola inglês Muitos dos cottages são simples hospedarias pelas quais passa toda a corja de vagabundos das redondezas O camponês e sua família que em que pese viverem nas mais sujas condições haviam geralmente preservado de modo prodigioso sua integridade e pureza de caráter agora se veem totalmente entregues ao diabo 729 Naturalmente entre os Shylocks aristocráticos a moda é encolher farisaicamente os ombros diante dos especuladores imobiliários dos pequenos proprietários e dos vilarejos abertos Eles sabem muito bem que seus vilarejos fechados e cenográficos são incubadoras das localidades abertas e que sem elas não poderiam existir Sem os pequenos proprietários das localidades abertas a maior parte dos trabalhadores rurais teria de dormir sob as árvores das propriedades em que trabalham ibidem p 135 O sistema dos vilarejos abertos e fechados predomina em todas as midlands condados centrais e na parte oriental da Inglaterra 166 O locador da casa arrendatário ou landlord se enriquece direta ou indiretamente mediante o trabalho de um homem a quem paga 10 xelins por semana e então arranca desse pobre diabo a quantia de 4 ou 5 de aluguel anual por casas que no mercado livre não valeriam 20 mas que mantêm seu preço artificial graças ao poder do proprietário fundiário de dizer Ou você aluga minha casa ou vai procurar um emprego em outro lugar sem receber um atestado de trabalho de minha parte Se um homem deseja melhorar obtendo trabalho numa ferrovia como colocador de trilhos ou numa pedreira o mesmo poder não tarda a lhe dizer Ou você trabalha para mim por esse baixo salário ou te dou um prazo de uma semana para que deixe a casa leve seu porco contigo se o tem e vê o que consegue obter em troca das batatas que crescem em seu jardim Se no entanto parecerlhe mais conveniente a seus interesses o proprietário ou dependendo do caso o arrendatário pode preferir aumentar o aluguel como penalidade pelo abandono do serviço ibidem p 132 167 Recémcasados não constituem uma influência edificante para irmãos e irmãs adultos no mesmo dormitório e embora exemplos não possam ser registrados dispomos de dados suficientes para justificar a observação de que um grande sofrimento e às vezes a morte é o fado que se abate sobre a mulher que toma parte no crime de incesto ibidem p 137 Um policial dos distritos rurais que por muitos anos trabalhou como detetive nos piores bairros de Londres fala das moças de seu vilarejo Durante toda minha vida de policial nas piores partes de Londres jamais vi semelhante grosseira imoralidade em tão tenra idade tamanha insolência e impudicícia Vivem como porcos rapazes e moças mães e pais todos dormindo juntos no mesmo quarto Child Empl Comm Sixth Report cit apêndice p 77 n 155 168 Public Health Seventh Report 1864 p 914 passim v Isto é já se haviam deteriorado Gênesis 61213 N T 169 The heavenborn employment of the hind gives dignity even to his position He is not a Slave but a soldier of peace and deserves his place in married mans quarters to be provided by the landlord who bas claimed a power of enforced labour similar to that the country demands of a military soldier He no more receives marketprice for his work than does a soldier Like the soldier he is caught young ignorant knowing only his own trade and his own locality Early marriage and the operation of the various laws of settlement affect the one as enlistment and the Mutiny Act affect the other O emprego do trabalhador rural tendo origem divina confere dignidade a sua posição Ele não é um escravo mas um soldado da paz e merece ter um lugar numa moradia adequada a um homem casado a ser providenciada pelo proprietário fundiário que reclamou para si o poder de forçálo a trabalhar similar ao poder de que a nação dispõe sobre o soldado Assim como o soldado ele tampouco recebe o preço de mercado por seu trabalho Como o soldado ele é recrutado quando jovem ignorante conhecendo apenas sua própria profissão e sua própria localidade O casamento prematuro e a manipulação das várias leis sobre o domicílio afetam o trabalhador rural do mesmo modo como o recrutamento e o código penal afetam o soldado dr Hunter em Public Health Seventh Report cit p 132 Ocasionalmente algum senhor de terras de coração excepcionalmente mole se deixa comover diante do deserto por ele criado É melancólico estar sozinho em seu país disse o conde de Leicester quando felicitado pelo término da construção de Holkham Olho a meu redor e não vejo nenhuma casa exceto a minha Sou o gigante da torre gigante e devorei todos os meus vizinhos 170 Um movimento semelhante se produziu nas últimas décadas na França à medida que nesse país a produção capitalista se apodera da agricultura e desloca a população rural supranumerária para as cidades Também aqui a existência dos supranumerários se deve à piora verificada nas condições habitacionais e demais condições Sobre o peculiar prolétariat foncier proletariado rural incubado pelo sistema de parcelamento da terra vejamse entre outras a obra de Colins anteriormente citada e Karl Marx Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte 2 ed Hamburgo 1869 p 88 ed bras O 18 de brumário de Luís Bonaparte São Paulo Boitempo 2011 p 1429 Em 1846 a população urbana na França estava em 2442 e a rural em 7558 em 1861 a população urbana era de 2886 e a rural de 7114 Nos últimos 5 anos o decréscimo da porcentagem rural da população foi ainda maior Já em 1846 cantava Pierre Dupont em seu Ouvriers Mal vêtus logés dans des trous Sous les combles dans les décombres Nous vivons avec les hiboux Et les larrons amis des ombres Mal vestidos alojados em buracos Sob os tetos entre os escombros Vivemos com as corujas E os ladrões amigos das sombras 730 171 O sexto e conclusivo relatório da Child Empl Comm publicado no final de março de 1867 trata apenas do sistema de turmas agrícola 172 Child Empl Comm VI Report Evidence p 37 n 173 173 No entanto alguns chefes de turma lograram converterse em arrendatários de 500 acres ou proprietários de fileiras inteiras de casas x Conto folclórico alemão coligido pelos irmãos Grimm que narra como um caçador de ratos após ter seu pagamento negado pelos habitantes de uma pequena cidade enfeitiça todas as crianças do lugar com o toque de sua flauta e as tranca para sempre numa caverna N T w O termo fanerogamia do grego fanerós visível evidente e gamos união sexual que na botânica referese aos vegetais cujos órgãos reprodutivos são bem evidentes é empregado por Fourier para designar uma forma de poliandria praticada no interior da falange Fourier a compara com o comportamento sexual de várias tribos em Java e no Taiti Cf Charles Fourier Le nouveau monde industriel et sociétaire Paris 1829 parte V suplemento ao capítulo 36 e parte 6 resumo N T 174 O sistema de turmas levou metade das moças de Ludford à perdição Child Empl Comm VI Report Evidence cit apêndice p 6 n 32 175 O sistema cresceu muito nos últimos anos Em alguns lugares ele foi introduzido há pouco em outros onde é mais antigo mais crianças e de menor idade são alistadas na turma ibidem p 79 n 174 176 Os pequenos arrendatários não utilizam o sistema de turma Ele não é utilizado em terras pobres mas em terras que dão uma renda entre 2 a 2 e 10 xelins por acre ibidem p 17 14 177 Um desses senhores deliciase tanto com suas rendas que chegou a declarar indignado diante da Comissão de Inquérito que toda a gritaria se devia unicamente ao nome do sistema Se em vez de turma ele fosse batizado de associação juvenil cooperativaagrícolaindustrial para o autossustento então estaria all right tudo bem 178 O trabalho em turma é mais barato do que outro trabalho e por esse motivo ele é empregado diz um exchefe de turma Child Empl Comm VI Report Evidence cit p 17 n 14O sistema de turma é decididamente o mais barato para o arrendatário assim como o mais nocivo para as crianças diz um arrendatário ibidem p 16 n 3 179 Não há dúvida de que muito do trabalho agora executado por crianças em turmas era antes realizado por homens e mulheres Onde se empregam mais mulheres e crianças há agora mais homens desempregados more men are out of work do que antes ibidem p 43 n 202 Por outro lado entre outras passagens lemos que em muitos distritos agrícolas especialmente naqueles produtores de cereais a questão do trabalho labour question tornase atualmente tão séria em decorrência da emigração e da facilidade que as ferrovias oferecem para o traslado às grandes cidades que eu este eu referese ao agente rural de um grande patrão considero os serviços das crianças como absolutamente indispensáveis ibidem p 80 n 180 Nos distritos agrícolas ingleses diferentemente do resto do mundo civilizado the labour question a questão do trabalho significa efetivamente the landlords and farmers question a questão do proprietário fundiário e do arrendatário como perpetuar apesar do êxodo cada vez maior da população agrícola uma suficiente superpopulação relativa no campo e com ela o mínimo de salário para o trabalhador rural 180 O Public Health Report anteriormente citado por mim no qual ao se analisar a mortalidade infantil aludese de passagem ao sistema de turmas permaneceu ignorado pela imprensa e consequentemente pelo público inglês Em contrapartida o último relatório da Child Empl Comm forneceu um sensational e muito bemvindo alimento para a imprensa Enquanto a imprensa liberal perguntava como era possível que os elegantes gentleman e ladies e os prebendados da Igreja estatal que pululam por toda parte em Lincolnshire e enviam suas próprias missões para o aperfeiçoamento moral dos selvagens dos mares do Sul pudessem permitir que tal sistema se implementasse debaixo de seus olhos em suas propriedades a imprensa mais refinada limitouse a tecer considerações exclusivamente sobre a crua degradação da gente do campo capaz de vender seus próprios filhos para uma tal escravidão Sob as circunstâncias execráveis a que os mais delicados condenam a viver o camponês seria compreensível até mesmo que este devorasse seus próprios filhos O que é realmente admirável é a integridade de caráter que em grande parte esse camponês logra conservar Os informantes oficiais comprovam que os pais mesmo nos distritos em que ele prevalece detestam o sistema de turmas Nos testemunhos colhidos por nós encontramse provas abundantes de que em muitos casos os pais agradeceriam a promulgação de alguma lei compulsória que os capacitasse a resistir às tentações e pressões a que costumam estar sujeitos Ora são pressionados pelo funcionário paroquial ora pelo empregador que ameaça demitilos ou enviar seus filhos para o trabalho em vez de à escola Todo o tempo e a força perdidos todo o sofrimento que produz no camponês e em sua família uma fadiga 731 extraordinária e inútil todos os casos em que os pais imputam a ruína moral de seu filho à superlotação dos cottages ou às influências danosas do sistema de turmas provocam no peito dos pobres trabalhadores sentimentos facilmente compreensíveis e que é desnecessário detalhar Eles têm consciência de que muitos de seus tormentos físicos e mentais lhes são infligidos por circunstâncias pelas quais não são de modo algum responsáveis circunstâncias a que jamais teriam dado sua concordância se tivessem podido recusála e contra as quais são impotentes para lutar ibidem p XX n 82 p XXIII n 96 181 População da Irlanda 1801 5319867 pessoas 1811 6084996 1821 6869544 1831 7828347 1841 8222664 182 Se recuássemos mais o resultado seria ainda mais desfavorável Assim por exemplo em 1865 os ovinos são 3688742 mas em 1856 eram 3694294 os suínos em 1865 são 1299893 mas em 1858 eram 1409883 183 Os seguintes dados foram compilados do material apresentado em Agricultural Statistics Ireland General Abstracts Dublin para o ano de 1860 e seguintes e em Agricultural Statistics Ireland Tables showing the Esmitated Average Produce etc Dublin 1866 É sabido que essa estatística tem caráter oficial e é apresentada anualmente ao Parlamento Adendo à segunda edição As estatísticas oficiais registram para o ano de 1872 uma redução na área cultivada em comparação com a de 1871 de 134915 acres Verificase um aumento no cultivo de turnips acelgas e similares ocorre uma diminuição na área cultivada de trigo 16000 acres aveia 14000 acres cevada e centeio 4000 acres batata 66632 acres linho 34667 acres e 30000 acres a menos de pradarias pastagens plantações de chirivia e colza O cultivo de trigo mostra nos últimos cinco anos o seguinte decréscimo em acres 1868 285000 1869 280000 1870 259000 1871 244000 1872 228000 Em 1872 foi registrado em números arredondados um aumento de 2600 equinos 80000 bovinos 68600 ovinos e uma diminuição de 236000 suínos Variedade de cevada comum na Escócia N T 184 Tenth Report of the Commissioners of Inland Revenue Londres 1866 185 Em virtude de certas deduções prescritas pela lei o rendimento total anual registrado sob a rubrica D difere aqui daquele indicado na tabela precedente 186 Ainda que o produto também diminua proporcionalmente por acre não se pode esquecer que já faz um século e meio que a Inglaterra tem exportado indiretamente o solo da Irlanda sem proporcionar a seus lavradores sequer os meios para repor seus componentes 186a Por ser a Irlanda considerada a terra prometida do princípio da população T Sadler antes do surgimento de sua obra sobre a população publicou seu famoso livro Ireland its Evils and their Remedies 2 ed Londres 1829 no qual mediante a comparação de dados estatísticos de diversas províncias e em cada província dos diversos condados demonstra que na Irlanda a miséria não impera como pretende Malthus na razão direta do número de habitantes mas na razão inversa 186b No período de 1851 a 1874 o número total de emigrantes chegou a 2325922 186c Nota à segunda edição Uma tabela apresentada na obra de Murphy Ireland Industrial Political and Social mostra que em 1870 946 de todos os arrendamentos tinham menos de 100 acres e 54 mais de 100 acres Nas terceira e quarta edições o texto imediatamente anterior à chamada desta nota dizia Os arrendatários pequenos e médios inclusive todos os que não cultivam mais de 100 acres continuam a possuir aproximadamente 810 do solo irlandês Na nota porém constava Uma tabela apresentada na obra de Murphy Ireland Industrial Political and Social mostra que em 1870 os arrendamentos de até 100 acres ocupam 946 do solo e os de mais de 100 acres ocupam 54 Esses dados se verdadeiros conduziriam a um resultado absurdo pois os arrendamentos de mais de 100 acres abarcariam proporcionalmente menos terra do que os arrendamentos de menos de 100 acres Nas erratas da segunda edição Marx indica a necessidade de se corrigir a redação tanto do corpo do texto quanto da nota porém os editores por inadvertência corrigiram apenas o corpo do texto esquecendose da nota A presente edição reproduz portanto o texto corrigido segundo as orientações de Marx N T 186d Reports from the Poor Law Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland Dublin 1870 Cf também Agricultural Labourers Ireland Return etc 8 mar 1861 187 Reports from the Poor Law Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland cit p 29 1 z Antigas denominações anteriores à República Irlandesa dos atuais condados irlandeses de Offaly e Laoighis ou Leix N T 187a Reports from the Poor Law Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland cit p 12 732 187b Ibidem p 25 187c Ibidem p 27 187d Ibidem p 26 187e Ibidem p 1 187f Ibidem p 32 187g Ibidem p 25 187h Ibidem p 30 187i Ibidem p 21 13 aa Antigo nome da Irlanda N T 188 Reports of Insp of Fact for 3lst Oct 1866 p 96 ab Nota à segunda edição suprimida nas terceira e quarta edições Sobre o movimento do salário do trabalhador agrícola irlandês cf Agricultural Labourers Ireland Return to an Order of the Honourable the House of Commons Dated 8 March 1861 Londres 1862 e também Reports from the Poor Law Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland Dublin 1870 ac Paráfrase da fala de Mefistófeles no Fausto de Goethe É de um grande Senhor louvável proceder Mostrarse tão humano até para com o demônio J W Goethe Fausto cit p 39 N T ad Um dos amos do protagonista da novela picaresca de Lesage Lhistoire de Gil Blas de Santillane 1715 Cf Lesage Gil Blas de Santillana São Paulo Ensaio 1991 c 11s N T 188a A área total inclui também turfeiras e terras desocupadas ae Na segunda edição concentração N T af Lappétit vient en mangeant la soif sen va en beuvant O apetite vem ao comer a sede se vai ao beber Rabelais Gargantua I 5 N T 188b No Livro III na segunda edição constava No Livro II desta obra na seção sobre a propriedade fundiária demonstrarei mais detalhadamente como a epidemia da fome e as circunstâncias por ela originadas foram planejadamente exploradas pelos proprietários fundiários individuais assim como pela legislação inglesa a fim de impor violentamente a revolução agrícola e reduzir a população da Irlanda a uma média conveniente aos senhores rurais Lá também voltarei a tratar da situação dos pequenos arrendatários e dos trabalhadores rurais Limitome aqui a uma citação Em sua obra póstuma Journals Conversations and Essays relating to Ireland Londres 1868 v II p 282 Nassau W Senior afirma entre outras coisas Muito corretamente observou o dr G temos nossa Lei dos Pobres que é um excelente instrumento para dar a vitória aos senhores rurais outro é a emigração Nenhum amigo da Irlanda pode desejar que a guerra entre os senhores rurais e os pequenos arrendatários celtas se prolongue e muito menos que se conclua com a vitória dos arrendatários Quanto mais rápido esta guerra terminar quanto mais rápido a Irlanda se tornar um país de pastagens grazing country com a população relativamente pequena que um país de pastagens requer tanto melhor para todas as classes As leis inglesas dos cereais de 1815 asseguraram à Irlanda o monopólio da livre exportação de cereais para a GrãBretanha Desse modo favoreceram artificialmente o cultivo de cereais Esse monopólio acabou subitamente em 1846 com a abolição das leis dos cereais Abstraindo as demais circunstâncias só esse evento bastou para dar um forte impulso à transformação das terras irlandesas de lavoura em pastagens à concentração das fazendas arrendadas e à expulsão dos pequenos camponeses Subitamente depois de um período de 1815 a 1846 de celebração da fecundidade do solo irlandês então proclamado como destinado pela própria natureza ao cultivo de cereais os agrônomos economistas e políticos ingleses parecem ter descoberto que o solo irlandês serve unicamente para produzir forragens O sr Léonce de Lavergne apressouse em repetir isso do outro lado do canal É próprio de um homem sério à la Lavergne deixarse levar por tais puerilidades ag Assim eram chamados os pertencentes à ala revolucionária do movimento irlandês pela independência Derivado de feni antigos habitantes da Irlanda o termo feniano foi adotado pela Irmandade Republicana Irlandesa fundada nos Estados Unidos em 1857 O programa e a atividade dos fenianos expressavam o protesto das massas populares da Irlanda contra a colonização inglesa Os fenianos exigiam entre outras coisas a independência nacional para seu país a instauração de uma república democrática e a transformação dos camponeses vassalos em proprietários da terra que cultivavam e procuraram implementar seu programa político por meio de um levante armado Sua tática conspiratória não obteve resultado e o movimento se dissolveu nos anos 1870 N T 733 ah Acerbo destino atormenta os romanos E o crime de fratricídio Horácio Épodas VII N T 734 a Cf LouisAdolphe Thiers De la proprieté Paris 1848 p 36 42 e 151 N E A MEGA b Na edição francesa no lugar das três últimas frases lêse Essa expropriação só se realizou de maneira radical na Inglaterra por isso esse país desempenhará o papel principal em nosso esboço Mas todos os outros países da Europa ocidental percorreram o mesmo caminho ainda que segundo o meio ele mude de coloração local ou se restrinja a um círculo mais estreito ou apresente um caráter menos pronunciado ou siga uma ordem de sucessão diferente Karl Marx Le Capital cit p 315 N T 189 A Itália onde a produção capitalista se desenvolveu mais cedo foi também o primeiro país a manifestar a dissolução das relações de servidão O servo se emancipa aqui antes de ter garantido para si por prescrição qualquer direito à terra Assim sua emancipação o transforma imediatamente num proletário absolutamente livre que no entanto já encontra seus novos senhores nas cidades em sua maior parte originárias da época romana Quando no final do século XV a revolução do mercado mundial acabou com a supremacia comercial do norte da Itália surgiu um movimento em sentido contrário Os trabalhadores urbanos foram massivamente expulsos para o campo e lá deram um impulso inédito à pequena agricultura exercida sob a forma da horticultura Revolução do mercado mundial Marx referese aqui às consequências econômicas das grandes descobertas geográficas do fim do século XV A descoberta do caminho marítimo para a Índia das ilhas das Índias Ocidentais e do continente americano provocou uma enorme expansão no comércio mundial As cidades comerciais do norte da Itália Gênova Veneza entre outras perderam sua predominância Em contrapartida o papel principal no comércio mundial passou a ser exercido por Portugal Holanda Espanha e Inglaterra países favorecidos por sua localização geográfica com acesso direto ao Oceano Atlântico N E A MEW 190 Os pequenos proprietários que cultivavam suas próprias terras com as próprias mãos e desfrutavam de um modesto bemestar constituíam então uma parte muito mais importante da nação do que em nossos dias Não menos que 160 mil proprietários que com suas famílias deviam constituir mais de 17 da população total viviam do cultivo de suas pequenas parcelas freehold freehold significa propriedade plenamente livre O rendimento médio desses pequenos proprietários fundiários é avaliado entre 60 e 70 Calculouse que o número daqueles que cultivavam sua própria terra era maior que o dos arrendatários que trabalhavam terras alheias Macaulay Hist of England 10 ed Londres 1854 v I p 3334 Ainda no último terço do século XVII 45 da população inglesa era formada de agricultores ibidem p 413 Cito Macaulay porque como falsificador sistemático da história ele poda tais fatos o máximo que consegue 191 Não se deve esquecer jamais que o próprio servo era não apenas proprietário ainda que sujeito a tributos da parcela de terra pertencente a sua casa como também coproprietário das terras comunais Le paysan y est serf Lá na Silésia o camponês é servo Não obstante esses serfs servos possuíam bens comunais On na pas pu encore engager les Silésiens au partage des communes tandis que dans la nouvelle Marche il ny a guère de village où ce partage ne soit exécuté avec le plus grand succès Até agora não se conseguiu induzir os silesianos à partilha das terras comunais enquanto no Novo Margraviato Neumark não há praticamente nenhuma aldeia em que essa partilha não se tenha efetuado com enorme êxito Mirabeau De la Monarchie Prussienne Londres 1788 t II p 1256 192 O Japão com sua organização puramente feudal da propriedade fundiária e sua desenvolvida economia de pequena agricultura fornece um quadro muito mais fiel da Idade Média europeia que todos os nossos livros de História ditados em sua maior parte por preconceitos burgueses É realmente muito cômodo ser liberal à custa da Idade Média c James Steuart An Inquiry into the Principles of Political Economy cit p 52 N E A MEW d Yeomen yeomanry assim se chamava um extrato de pequenos camponeses ingleses não sujeitos a prestações feudais que desapareceram aproximadamente em meados do século XVIII dando lugar aos pequenos proprietários fundiários Arqueiros habilidosos os yeomen formavam o núcleo do exército inglês antes da introdução das armas de fogo Marx escreveu que durante a revolução inglesa do século XVII os yeomen constituíam a principal força militar de Oliver Cromwell Na versão francesa dO capital Marx identifica a yeomanry com o proud peasantry orgulhoso campesinato de Shakespeare numa provável referência às palavras de Ricardo III a seu exército Fight gentlemen of England fight bold yeomen À luta cavalheiros da Inglaterra À luta bravos yeomen Shakespeare A tragédia do rei Ricardo III ato V cena 3 N T e A 19ª lei promulgada naquele ano N E A MEW f Uma lei promulgada no 25º ano do reinado de Henrique VIII N E A MEW 193 Em sua Utopia Thomas More fala de um estranho país onde as ovelhas devoram os homens trad Robinson 735 Arber Londres 1869 p 41 193a Nota à segunda edição Bacon expõe a conexão entre um camponês livre e bem acomodado e uma boa infantaria Era extremamente importante para o poder e a solidez do reino que as fazendas fossem de um tamanho suficiente para manter um corpo de homens capazes libertos da miséria e vincular grande parte das terras do reino mediante sua posse pela yeomanry ou por pessoas médias de uma condição intermediária entre os gentlemen e os inquilinos de casebres cottagers ou camponeses Pois a opinião geral entre homens de melhor julgamento em questões de guerra é que a principal força de um exército consiste em sua infantaria ou tropas a pé E para formar uma boa infantaria são necessários homens educados não de modo servil ou indigente mas de algum modo livre e abastado Portanto se um Estado se distingue na maior parte dos casos por seus nobres e gentlemen ao passo que os camponeses e lavradores se mantêm reduzidos a mera mão de obra ou a servos dos primeiros ou mesmo a inquilinos de casebres que não são mais do que mendigos albergados esse Estado poderá dispor de uma boa cavalaria mas jamais terá tropas de infantaria boas e estáveis E isso pode ser visto na França na Itália e em outras regiões do estrangeiro onde com efeito temse apenas a nobreza ou o camponês miserável a tal ponto que esses países são forçados a empregar tropas de mercenários suíços etc para formar seus batalhões de infantaria De onde resulta também que essas nações tenham muita população e poucos soldados The Reign of Henry VII Verbatim Reprint from Kennets Compleat History of England ed 1719 Londres 1870 p 308 Marx traduz cottagers por Häusler inquilino aldeão O cottager em latim medieval casalinus ou inquilinus dispunha geralmente de um casebre e de uma horta muito pequena N T 194 Dr Hunter em Public Health Seventh Report cit p 134 A quantidade de terra fixada pelas antigas leis seria hoje considerada grande demais para trabalhadores e capaz de transformálos em pequenos fazendeiros George Roberts The Social History of the People of the Southern Counties of England in Past Centuries Londres 1856 p 184 195 The right of the poor to share in the tithe is established by the tenour of ancient statutes O direito dos pobres a participar nos dízimos da Igreja é estabelecido pelos antigos estatutos Tuckett A History of the Past and Present State of the Labouring Population cit v II p 8045 g O pobre está por toda parte subjugado A citação da rainha Elizabeth I referese ao verso de Ovídio em Fastos I 218 Hoje em dia nada importa a não ser o dinheiro a riqueza gera honras amizades o pobre está por toda parte subjugado N T 196 William Cobbett A History of the Protestant Reformation 471 h A quarta lei promulgada no 16º ano do reinado de Carlos I N E A MEW 197 O espírito protestante pode ser reconhecido entre outras coisas no fato seguinte No sul da Inglaterra vários proprietários fundiários e arrendatários abastados congregaram suas inteligências e formularam dez perguntas acerca da correta interpretação da Lei de Beneficência da rainha Elizabeth submetendoas em seguida a um célebre jurista daquele tempo Sergeant Snigge Os sergeants ou sergeantsatlaw serventes da lei diferentemente dos humildes sergeants militares integravam um corpo superior de juristas abolido em 1880 N T mais tarde juiz sob Jaime I para que este desse um parecer Questão 9 Alguns dos arrendatários mais ricos da paróquia imaginaram um modo engenhoso pelo qual todos os inconvenientes da aplicação dessa lei podem ser evitados Eles propuseram a construção de uma prisão na paróquia A todo pobre que se negasse a ser ali encarcerado seria negado o auxílio Seria então anunciado à vizinhança que aqueles que estivessem dispostos a arrendar os pobres dessa paróquia deveriam apresentar ofertas lacradas num determinado prazo pelo preço mais baixo pelo qual ele os retiraria de nosso estabelecimento Os autores desse plano supõem que nos condados vizinhos haja pessoas avessas ao trabalho e desprovidas de fortuna ou crédito para obter um arrendamento ou um barco Marx traduz literalmente a expressão inglesa to take a farm or ship Nesse contexto porém ship não significa barco mas empresa negócio N T de modo a viver sem trabalhar so as to live without labour Tais pessoas podem ser levadas a fazer propostas muito vantajosas à paróquia Se um ou outro pobre morresse sob a tutela do contratante a culpa recairia sobre este último pois a paróquia teria cumprido seu dever para com esses mesmos pobres Nosso receio porém é de que a atual lei não admita qualquer medida prudencial prudential measure desse tipo mas podeis estar certo de que os demais freeholders arrendatários deste condado e dos condados vizinhos se somarão a nós para incitar seus representantes na Câmara dos Comuns a propor uma lei que permita a reclusão e o trabalho forçado dos pobres de modo que seja vedado qualquer auxílio a toda pessoa que recuse seu próprio encarceramento Isso esperamos impedirá que pessoas em estado de indigência requeiram ajuda will prevent persons is distress from wanting relief R Blakey The History of Political Literature from the Earliest Times Londres 1855 v II p 845 Na Escócia a abolição 736 da servidão ocorreu séculos depois de sua abolição na Inglaterra Ainda em 1698 Fletcher de Saltoun declarou no Parlamento escocês O número de mendigos na Escócia é estimado em não menos que 200 mil O único remédio que eu um republicano por princípio posso sugerir é restaurar o antigo regime de servidão e tornar escravos todos os que sejam incapazes de prover sua própria subsistência Do mesmo modo Eden The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc cit livro I c 1 p 601 Da liberdade dos camponeses no original de Eden consta Da decadência da villeinage data o pauperismo As manufaturas e o comércio são os verdadeiros pais dos pobres de nosso país Eden como aquele republicano escocês por princípio equivocase apenas em que não foi a abolição da servidão mas a abolição da propriedade do camponês sobre a terra que o converteu em proletário ou mais precisamente em pauper Na França onde a expropriação ocorreu de outro modo as leis de beneficência inglesas tiveram suas correspondentes na ordenança de Moulins de 1566 e no édito de 1656 Villeinage era o sistema de servidão em que o villain pagava com trabalho gratuito villain service a permissão que lhe era concedida de cultivar para si mesmo uma parcela de terra N E A MEW 198 O sr Rogers embora fosse então professor de economia política na Universidade de Oxford sede da ortodoxia protestante chama a atenção em seu prefácio à History of Agriculture para a pauperização da massa do povo pela Reforma 199 A Letter to Sir T C Bunbury Baronet on the High Price of Provisions by a Suffolk Gentleman Ipswich 1795 p 4 Até mesmo o fanático defensor do sistema de grandes arrendamentos o autor J Arbuthnot de Inquiry into the Connection of Large Farms etc Londres 1773 p 139 diz I most lament the loss of our yeomanry that set of men who really kept up the independence of this nation and sorry I am to see their lands now in the hands of monopolizing lords tenanted out to small farmers who hold their leases on such conditions as to be little better than vassals ready to attend a summons on every mischievous occasion O que mais deploro é a perda de nossa yeomanry esse conjunto de homens que na realidade sustentava a independência desta nação e lamento ver agora suas terras nas mãos de lords monopolizadores sendo arrendadas a pequenos fazendeiros que obtêm seus arrendamentos sob tais condições que são pouco mais que vassalos prontos a serem convocados em qualquer situação adversa i Em 1597 sob o domínio de Fiódor Ivanovitch 15841598 mas sendo Bóris Godunov o governante de fato da Rússia foi promulgado um édito de acordo com o qual os camponeses fugitivos seriam procurados por 5 anos e depois de recapturados seriam devolvidos a seus antigos senhores N E A MEW j Assim é chamado golpe de Estado que em 1689 derrubou o rei James II e o substituiu por Guilherme III de Orange consolidando assim a monarquia constitucional N T 200 Sobre a moral privada desse herói burguês vejase entre outras coisas The large grant of lands in Ireland to Lady Orkney in 1695 is a public instance of the kings affection and the ladys influence Lady Orkneys endearing offices are supposed to have been foeda labiorum ministeria A grande concessão de terras a lady Orkney na Irlanda em 1695 é um exemplo público da afeição do rei e da influência da referida lady Os inestimáveis serviços de lady Orkney consistiram supostamente em foeda labiorum ministeria obscenos serviços labiais em Sloane Manuscript Collection conservada no Museu Britânico n 4224 O manuscrito é intitulado The Charakter and Behaviour of King William Sunderland etc as Represented in Original Letters to the Duke of Shrewsbury from Somers Halifax Oxford Secretary Vermon etc Repleto de curiosidades 201 A alienação ilegal dos bens da Coroa em parte por venda em parte por doação constitui um capítulo escandaloso da história inglesa uma fraude gigantesca contra a nação gigantic fraud on the nation F W Newman Lectures on Political Economy Londres 1851 p 12930 Podese ver detalhadamente como os atuais latifundiários tomaram posse de suas terras em N H Evans Our Old Nobility By Noblesse Oblige Londres 1879 F E 202 Leiase por exemplo o panfleto de E Burke sobre a casa ducal de Bedford cujo rebento é lord John Russell the tomtit of liberalism o rouxinol do liberalismo 203 Os arrendatários proíbem os inquilinos de casebres de manter qualquer ser vivo além deles mesmos sob o pretexto de que a posse de gado ou aves os levaria a furtar ração dos celeiros Dizem também mantende os cottagers na pobreza e os conservareis laboriosos A realidade porém é que assim os arrendatários usurpam integralmente os direitos sobre as terras comunais A Political Enquiry into the Consequences of Enclosing Waste Lands Londres 1785 p 75 204 Eden The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc cit prefácio p XVII XIX 205 Capital farms Two Letters on the Flour Trade and the Dearness of Corn By a Person in Business Londres 1767 p 737 1920 206 Merchantfarms An Inquiry into the Present High Prices of Provision Londres 1767 p 111 nota Esse belo escrito publicado anonimamente é de autoria do reverendo Nathaniel Forster 207 Thomas Wright A Short Address to the Public on the Monopoly of Large Farms 1779 p 23 208 Rev Addington Enquiry into the Reasons for or against Enclosing Open Fields Londres 1772 p 3743 passim 209 Dr R Price Observations on Reversionary Payments cit v II p 1556 Ler Forster Addington Kent Price e James Anderson e comparar com a miserável tagarelice própria de um sicofanta que MacCulloch apresenta em seu catálogo The Literature of Political Economy Londres 1845 210 Dr R Price Observations on Reversionary Payments cit p 1478 211 Ibidem p 15960 Recordemos o que ocorria na Roma Antiga Os ricos se haviam apoderado da maior parte das terras indivisas Confiando nas circunstâncias da época supunham que ninguém lhes tomaria essas terras e por isso adquiriam os lotes dos pobres situados nas cercanias em parte com o consentimento destes em parte pela violência de modo que agora lavravam domínios imensamente vastos em vez de campos isolados Utilizavam escravos para a agricultura e para a pecuária pois os homens livres se haviam retirado do trabalho para o serviço militar A posse de escravos também lhes proporcionava grandes lucros uma vez que estes liberados do serviço militar podiam multiplicarse sem perigo e faziam uma porção de filhos Desse modo os poderosos se apoderaram de toda a riqueza e em toda a região pululavam escravos Os ítalos ao contrário tornavamse cada vez menos numerosos consumidos pela pobreza tributos e serviço militar Em épocas de paz porém estavam condenados à mais completa inatividade porque os ricos estavam de posse do solo e empregavam escravos na lavoura em vez de trabalhadores livres Apiano Guerras civis romanas 1 7 Essa passagem se refere à época anterior à lei licínia O serviço militar que tanto acelerou a ruína dos plebeus romanos foi também um dos meios principais empregados por Carlos Magno para promover como numa incubadora a metamorfose dos camponeses alemães livres em servos da gleba Hörige e servos semilivres Leibeigener Referência à lei agrícola dos tribunos romanos Licínio e Sexto que entrou em vigor no ano de 367 aC em razão da luta dos plebeus contra os patrícios Segundo a lei um cidadão romano não poderia tomar da propriedade estatal da terra mais de 500 jugera cerca de 125 hectares para sua posse Após o ano de 367 as exigências dos plebeus foram satisfeitas com terras conquistadas em guerras N T 212 J Arbuthnot An Inquiry into the Connection between the Present Prices of Provisions etc p 124 129 Semelhante mas com uma tendência contrária Os trabalhadores são expulsos de seus cottages e forçados a procurar emprego nas cidades desse modo porém obtémse um excedente maior e assim o capital é aumentado R B Seeley The Perils of the Nation 2 ed Londres 1843 p XIV 213 A king of England might as well claim to drive his subjects into the sea F W Newman Lectures on Political Economy cit p 132 k Com sua revolta de 17451746 os partidários dos Stuarts esperavam forçar a subida ao trono do chamado jovem pretendente Charles Edward Ao mesmo tempo o levante refletia o protesto das massas populares da Escócia e da Inglaterra contra sua exploração pelos senhores de terra e contra a expulsão massiva dos pequenos lavradores O esmagamento da sublevação teve por consequência a completa aniquilação do sistema de clãs escocês A expulsão dos camponeses de suas terras prosseguiu ainda mais intensamente do que antes N E A MEW 214 Steuart diz A renda ele transfere equivocadamente essa categoria econômica ao tributo que os taksmen pagam ao chefe do clã é absolutamente insignificante quando comparada com a extensão das terras arrendadas mas no que concerne ao número de pessoas que um arrendamento mantém verificarseá que um pedaço de terra nas Terras Altas da Escócia alimenta dez vezes mais pessoas do que terra do mesmo valor em províncias mais ricas An Inquiry into the Principles of Political Economy cit v I c XVI p 104 Os taksmen de tak parcela de terra que conferiam a cada membro do clã formavam dentro do clã escocês uma categoria imediatamente subordinada ao chefe a quem pagavam um pequeno tributo Quando a propriedade coletiva do clã se converteu em propriedade privada do chefe os taksmen se tornaram arrendatários capitalistas Marx fornece um relato do papel dos taksmen no sistema de clãs em seu artigo Wahlen Trübe Finanzlage Die Herzogin von Sutherland und die Sklaverei cf MEW v 8 p 499 505 N T 215 James Anderson Observations on the Means of Exciting a Spirit of National Industry etc Edimburgo 1777 216 Em 1860 os camponeses violentamente expropriados foram deportados para o Canadá com falsas promessas Alguns fugiram para as montanhas e ilhas vizinhas Foram perseguidos pela polícia entraram em choque com ela e escaparam 738 217 Nas Terras Altas diz Buchanan o comentador de Adam Smith em 1814 o antigo regime de propriedade é diariamente subvertido pela força O landlord sem consideração pelos arrendatários hereditários também esta é uma categoria aplicada erroneamente oferece a terra ao melhor ofertante e se este for um melhorador improver introduzirá imediatamente um novo sistema de cultivo O solo antes coberto de pequenos camponeses estava povoado em proporção a seu produto sob o novo sistema de cultivo melhorado e de rendas maiores obtémse a maior quantidade possível de produtos com o menor custo possível e para isso se prescinde da mão de obra agora tornada inútil Os camponeses expulsos de suas terras buscam seu sustento nas cidades fabris etc David Buchanan Observations on A Smiths Wealth of Nations Edimburgo 1814 v IV p 144 Os grandes senhores da Escócia expropriaram famílias como quem extirpa ervas daninhas fizeram com aldeias inteiras e sua população o mesmo que os índios ao vingarse fazem com as covas dos animais selvagens O ser humano é imolado em troca de uma pele de ovelha ou uma pata de carneiro ou menos ainda Quando da invasão das províncias do norte da China propôsse ao Conselho dos Mongóis exterminar os habitantes e converter sua terra em pastagens Essa proposta foi posta em prática por muitos landlords escoceses em seu próprio país e contra seus próprios conterrâneos George Ensor An Inquiry Concerning the Population of Nations Londres 1818 p 2156 l Henry Roy N E A MEGA 218 Quando a atual duquesa de Sutherland recebeu em Londres com grande pompa a autora de Uncle Toms Cabin A Cabana do Pai Tomás Harriet Beecher Stowe a fim de exibir sua simpatia pelos escravos negros da república americana o que ela tal como seus confrades aristocratas abstevese sabiamente de fazer durante a guerra civil quando cada nobre coração inglês pulsava pelos escravocratas expus na New York Tribune a situação dos escravos da família Sutherland Carey em The Slave Trade Filadélfia 1853 p 2023 aproveitou algumas passagens desse texto Meu artigo foi reproduzido num periódico escocês e desencadeou uma bela polêmica entre este último e os sicofantas dos Sutherland 219 Algo interessante sobre esse comércio de peixe encontramos em Portfolio New Series do sr David Urquhart Em seu escrito póstumo já citado anteriormente Nassau W Senior qualifica o procedimento em Sutherlandshire como um dos clareamentos clearings mais benéficos que encontram registro na memória humana Principes fondamentaux de lécon pol cit p 282 219a As deer forests florestas de caça da Escócia não contêm uma única árvore Retiramse as ovelhas e introduzem se veados nas montanhas desnudas e a isso se chama uma deer forest Nem mesmo silvicultura portanto 220 Robert Somers Letters from the Highlands or the Famine of 1847 Londres 1848 p 1228 passim Essas cartas foram originalmente publicadas no Times Os economistas ingleses naturalmente atribuíram a fome dos gaélicos em 1847 à sua superpopulação Eles certamente exerceram pressão sobre seus meios alimentares O clearing of estates ou como se chama na Alemanha a Bauernlegen expulsão dos camponeses teve lugar neste país especialmente depois da Guerra dos Trinta Anos e ainda em 1790 provocou revoltas camponesas no Eleitorado da Saxônia Prevaleceu especialmente no leste da Alemanha Na maioria das províncias prussianas Frederico II assegurou pela primeira vez o direito de propriedade dos camponeses Após a conquista da Silésia ele forçou os proprietários fundiários à reconstrução das cabanas celeiros etc e a prover os domínios camponeses de gado e instrumentos de trabalho O rei necessitava de soldados para seu exército e de contribuintes para o tesouro público De resto a seguinte passagem de Mirabeau nos permite vislumbrar que prazerosa vida levavam os camponeses sob a desordem financeira de Frederico II e sua mistura governamental de despotismo burocracia e feudalismo La lin fait donc une des grandes richesses du cultivateur dans le Nord de lAllemagne Malheureusement pour lespèce humaine ce nest quune ressource contre la misère et non un moyen de bienètre Les impôts directs les corvées les servitudes de tout genre écrasent le cultivateur allemand qui paie encore des impôts indirects dans tout ce quil achète et pour comble de ruine il nose pas vendre ses productions où et comme il le veut il nose pas acheter ce dont il a besoin aux marchands qui pourraient le lui livrer au meilleur prix Toutes cas causes le ruinent insensiblement et il se trouverait hors détat de payer les impôts directs à léchéance sans la filerie elle lui offre une ressource en occupant utilement sa femme ces enfants ses servants ses valets et luimême mais quelle pénible vie même aidée de ce secours En été il travaille comme un forçat au labourage et à la récolte il se couche à 9 heures et se lève à deux pour suffire aux travaux en hiver il devrait réparer ses forces par un plus grand repos mais il manquera de grains pour le pain et les semailles sil se défait des denrées quil faudrait vendre pour payer les impôts Il faut donc filer pour suppléer à ce vide il faut y apporter la plus grande assiduité Aussi le paysan se couchetil en hiver à minuit une heure et se lève à cinq ou six ou bien il se couche à neuf et se lève à deux et cela tous les jours de sa vie si ce nest le dimanche Cet excès de veille et de travail usent la nature humaine et de là vient quhommes et femmes vieillissent beaucoup plutôt dans les campagnes que dans les villes O linho constitui com efeito uma das grandes riquezas do agricultor do norte da Alemanha Infelizmente para a espécie humana ele é apenas um paliativo contra a 739 miséria e não um meio de prover o bemestar Os impostos diretos as corveias as servidões de todo tipo esmagam o agricultor alemão que além disso paga impostos indiretos sobre tudo o que compra e para o cúmulo de sua desgraça ele não se atreve a vender seus produtos onde e como quer e não se atreve a comprar o que necessita dos mercadores que poderiam oferecerlhe os melhores preços Todas essas causas o arruínam de modo insensível e sem a fiação ele não teria condições de pagar os impostos diretos no prazo determinado essa atividade lhe oferece um recurso ocupando utilmente sua mulher filhos servos criados e ele mesmo mas que vida penosa mesmo com esse auxílio No verão ele trabalha como um condenado na aradura e na colheita deitase às 9 horas da noite e se levanta às 2 para terminar seu trabalho no inverno ele teria de recompor suas forças mediante um repouso maior mas faltarlheiam grãos para o pão e a semeadura se ele se desfizesse dos produtos que tem de vender para pagar os impostos É preciso fiar portanto para preencher esse vazio e é preciso fazêlo com a maior assiduidade Também o camponês no inverno deitase à meianoite ou à 1 hora da manhã e se levanta às 5 ou 6 da manhã ou então se deita às 9 horas da noite e se levanta às 2 e isso todos dias de sua vida excluindo os domingos Esse excesso de vigília e de trabalho desgasta a natureza humana e daí decorre que homens e mulheres envelheçam muito mais prematuramente no campo do que na cidade Mirabeau De la Monarchie Prussienne cit t III p 212s Adendo à segunda edição Em abril de 1866 dezoito anos depois da publicação do escrito de Robert Somers anteriormente citado o professor Leone Levi proferiu uma conferência perante a Society of Arts sobre a transformação das pastagens para ovelhas em florestas de caça na qual descreveu o avanço da desertificação nas Terras Altas escocesas Diz ele entre outras coisas O despovoamento e a transformação em simples pastagens para ovelhas ofereciam o meio mais cômodo para um rendimento sem gastos Nas Terras Altas era comum que uma pastagem para ovelha fosse transformada numa deer forest As ovelhas são expulsas por animais selvagens do mesmo modo como antes os seres humanos haviam sido expulsos para ceder lugar a ovelhas É possível caminhar desde as fazendas do conde de Dalhouise em Forfarshire até John oGroats sem abandonar jamais a área florestal Em muitas dessas florestas se aclimataram a raposa o gato selvagem a marta a doninha o mangusto e a lebre alpina ao mesmo tempo que o coelho o esquilo e o rato abriram caminho até a região Enormes faixas de terra que figuram na estatística da Escócia como prados de excepcional fertilidade e extensão estão agora excluídas de todo cultivo e melhoria e destinadas unicamente aos prazeres cinegéticos de umas poucas pessoas e durante apenas um curto período do ano O Economist de Londres na edição de 2 de junho de 1866 diz Na última semana um periódico escocês informa entre outras novidades Um dos melhores arrendamentos destinados à criação de ovelhas em Sutherlandshire pela qual se ofereceu há pouco tempo ao expirar o contrato de arrendamento vigente uma renda anual de 1200 será transformado em deer forest Os instintos feudais renascem como no tempo em que os conquistadores normandos destruíram 36 aldeias para criar a New Forest Dois milhões de acres que abrangem algumas das terras mais férteis da Escócia são transformados em desertos O pasto natural de Glen Tilt era considerado um dos mais nutritivos do condado de Perth a deer forest de Ben Aulder era o melhor solo forrageiro no amplo distrito de Badenoch uma parte da Black Mount Forest era a pradaria escocesa mais favorável às ovelhas de cara preta Podemos ter uma ideia da extensão do solo convertido em terras desertas para a prática da caça quando consideramos que ele abarca uma superfície muito maior que a de todo o condado de Perth A perda de fontes de produção que essa desolação forçada significa para o país pode ser calculada se considerarmos que a Ben Aulder Forest poderia alimentar 15 mil ovelhas e que ela não representa mais do que 130 da área total ocupada pelas reservas de caça da Escócia Toda essa área destinada à caça é absolutamente improdutiva Ela poderia igualmente ter sido afundada nas águas do mar do Norte O braço forte da lei deveria dar um fim nesses descampados ou desertos improvisados m O número que antecede o nome do monarca indica o ano de reinado em que a lei em questão foi promulgada Neste caso portanto tratase da lei promulgada no 27º ano de reinado de Henrique VIII N T 221 O autor do Essay on Trade etc 1770 observa Durante o reinado de Eduardo VI os ingleses parecem terse dedicado realmente e com toda a seriedade ao fomento das manufaturas e a dar ocupação aos pobres Isso podemos 740 depreender de um notável estatuto segundo o qual todos os vagabundos devem ser marcados a ferro p 5 n No original na terceira N T o O número que sucede a abreviação c chapter indica o número da Act lei promulgada no ano indicado N T 221a Thomas More diz em sua Utopia p 412 E é assim que um glutão voraz e insaciável verdadeira peste de sua terra natal pode apossarse e cercar com uma paliçada ou uma cerca milhares de acres de terras ou por meio de violência e fraude acossar de tal modo seus proprietários que estes se veem obrigados a vender a propriedade inteira Por um meio ou por outro por bem ou por mal eles são obrigados a partir pobres almas simples e miseráveis Homens mulheres esposos esposas crianças sem pais viúvas mães lamurientas com suas crianças de peito e toda a família escassa de meios mas numerosa pois a agricultura precisa de muitos braços Arrastamse digo eu para longe de seus lugares conhecidos e habituais sem encontrar onde repousar a venda de todos os seus utensílios domésticos embora de pouco valor em outras circunstâncias lhes teria proporcionado um certo ganho mas por terem sido expulsos de modo repentino eles tiveram de vendêlos a preços irrisórios E tendo vagabundeado até consumir o último tostão que outra coisa restaria a fazer além de roubar e então ó Deus serem enforcados com todas as formalidades da lei ou passar a esmolar Mas também desse modo acabam jogados na prisão como vagabundos porque vagueiam de um lado para o outro e não trabalham eles a quem ninguém dá trabalho por mais ardentemente que se ofereçam Desses pobres fugitivos dos quais Thomas More diz que eram obrigados a roubar foram executados 72 mil pequenos e grandes ladrões durante o reinado de Henrique VIII Holinshed Description of England v I p 186 Na época de Elizabeth os vagabundos eram enforcados em série ainda assim não passava um ano sem que trezentos ou quatrocentos deles fossem levados à forca num lugar ou noutro Strype Annals of the Reformation and Establishment of Religion and other Various Ocurrences in the Church of England during Queen Elisabeths Happy Reign 2 ed 1725 v II Em Somersetshire segundo o mesmo Strype num único ano foram executadas 40 pessoas 35 foram marcadas a ferro 37 foram chicoteadas e 183 foram soltas como malfeitoras incorrigíveis Porém diz esse autor esse grande número de acusados não inclui sequer 15 dos delitos penais graças à negligência dos juízes de paz e à compaixão estúpida do povo E acrescenta Os outros condados ingleses não estavam numa condição melhor que Somersetshire e muitos até mesmo numa condição pior p Na Inglaterra sessões judiciais de menor importância N E A MEW q Inicial de rogue vagabundo N T r Em holandês ato de abjuração N T 222 Whenever the legislature attempts to regulate the differences between masters and their workmen its counsellors are always the masters Lesprit des lois cest la propriété Sempre que a legislação tenta regular as diferenças entre os patrões e seus operários seus conselheiros são sempre os patrões diz Adam Smith O espírito das leis é a propriedade diz Linguet 223 J B Byles Sophisms of Free Trade By a Barrister Londres 1850 p 206 E acrescenta com malícia Estivemos sempre à disposição para intervir pelo empregador Não podemos fazer nada pelo empregado 224 De uma cláusula do estatuto Jaime I 2 c 6 depreendese que certos fabricantes de pano se arrogavam como juízes de paz o direito de ditar oficialmente a tarifa salarial em suas próprias oficinas Na Alemanha principalmente depois da Guerra dos Trinta Anos foi frequente a promulgação de estatutos para manter baixos os salários Era algo muito prejudicial para os proprietários fundiários nas terras despovoadas a falta de criados e trabalhadores Proibiu se a todos os aldeões alugarem quartos a homens e mulheres solteiros e todos os inquilinos desse tipo deviam ser denunciados às autoridades e encarcerados caso não quisessem se tornar serviçais mesmo quando se mantivessem graças a outra atividade como semear para os camponeses por um salário diário ou até mesmo negociar com dinheiro e cereais Kaiserliche Privilegien und Sanctiones für Schlesien I 125 Por todo um século aparecem repetidamente nas ordenações dos soberanos amargas queixas contra a canalha maligna e petulante que não aceita se submeter às duras condições e não se satisfaz com o salário legal é proibido ao proprietário individual pagar mais que o estabelecido pela taxa em vigor na província E no entanto depois da guerra as condições de trabalho são às vezes ainda melhores do que seriam cem anos mais tarde em 1652 na Silésia os criados ainda recebiam carne duas vezes por semana ao passo que em nosso século há distritos silesianos onde eles só recebem carne três vezes por ano Também o salário diário era depois da guerra mais alto do que seria nos séculos seguintes G Freytag s Uma lei para emendar a lei penal em relação a violência ameaças e molestamento N T 225 O artigo I dessa lei diz Lanéantissement de toutes expèces de corporations du même état et profession étant lune des bases fondamentales de la constitution française il est déféndu de les rétablir de fait sous quelque prétexte et sous quelque 741 forme que ce soit des citoyens attachés aux mêmes professions arts et métiers prenaient des délibérations faisaient entre eux des conventions tendantes à refuser de concert ou à naccorder quà un prix déterminé le secours de leur industrie ou de leurs travaux les dites délibérations et conventions seront déclarées inconstitutionnelles attentatoires à la liberté et à la déclaration des droits de lhomme etc Sendo uma das bases fundamentais da constituição francesa a supressão de todos os tipos de corporações do mesmo estamento état e profissão é proibido restabelecêlas de fato sob qualquer pretexto ou em qualquer forma O artigo IV reza que no caso de cidadãos pertencentes às mesmas profissões artes ou ofícios tomarem deliberações ou realizarem convenções com o objetivo de recusar um acordo ou de não consentirem no socorro de sua indústria ou de seus trabalhos a não ser por um preço determinado tais consultas e acordos serão declarados inconstitucionais e como atentados à liberdade e à declaração dos direitos do homem etc ou seja como crimes de Estado exatamente como nos velhos estatutos dos trabalhadores Révolutions de Paris Paris 1791 t III p 523 t Ditadura jacobina de junho de 1793 a junho de 1794 N E A MEW 226 Buchez et Roux Histoire parlementaire t X p l935 passim u Na Roma Antiga o villicus de villa pequena fazenda rural embora também ele servo desempenhava o papel de capataz dos demais escravos e de administrador da fazenda As funções do bailiff medieval se assemelhavam muito às do villicus de quem ademais costumava conservar o nome N T 227 Arrendatários diz Harrison em sua Description of England para os quais antes era difícil pagar 4 de renda agora pagam 40 50 100 e ainda acreditam ter feito um mau negócio se no término de seu contrato de arrendamento não acumularam de 6 a 7 anos de rendas 228 Sobre a influência da depreciação do dinheiro no século XVI sobre as diversas classes da sociedade cf A Compendious or Briefe Examination of Certayne Ordinary Complaints of Diverse of our Countrymen in these our Days By W S Gentleman Londres 1581 A forma de diálogo desse escrito contribuiu para que durante muito tempo sua autoria fosse atribuída a Shakespeare e ainda em 1751 ele voltou a ser publicado sob seu nome Seu autor é William Stafford Numa passagem o cavaleiro knight raciocina da seguinte maneira Knight You my neighbour the husbandman you Maister Mercer and you Goodman Copper with other artificers may save yourselves metely well For as much as all things are deerer than they were so much do you arise in the pryce of your wares and occupations that yee sell agayne But we have nothing to sell where by we might advance ye pryce there of to countervaile those things that we must buy agayne I pray you what be those sorts that ye meane And first of those that yee thinke should have no base hereby Doktor I meane all these that live by buying and selling for as they buy deare they sell thereafter Knight What is the next sorte that yee say would win by it Doktor Marry all such as have takings or fearmes in their owne manurance dh cultivation at the old rent for where they pay after the olde rate they sell after the newe that is they paye for their lande good cheape and sell all things growing thereof deare Knight What sorte is that which ye sayde should have greater losse hereby than these men had profit Doktor It is all noblemen gentlemen and all other that live either by a stinted rent or stypend or do not manure cultivate the ground or doe occupy no buying and selling Knight Vós meu vizinho o lavrador vós senhor comerciante e vós compadre copper caldereiro bem como os demais artesãos podeis vos arranjar muito bem Pois na mesma medida em que todas as coisas se tornam mais caras do que eram aumentais os preços de vossas mercadorias e serviços que vendeis novamente Mas não temos nada para vender cujo preço pudéssemos aumentar para contrapesar tudo aquilo que temos de comprar de novo Em outra passagem pergunta o Knight ao doutor Dizeime vos rogo quem são essas pessoas que mencionais E primeiramente quem dentre elas não terá com isto segundo vossa opinião algum prejuízo Doutor Refirome a todos aqueles que vivem da compra e venda pois por caro que comprem em seguida o vendem Knight Qual é o próximo grupo que a vosso parecer ganhará com isso Doutor Ora todos que têm arrendamentos ou fazendas para sua própria manurance isto é cultivo e pagam a renda antiga pois se pagam segundo as taxas antigas vendem segundo as novas ou seja pagam muito pouco por sua terra e vendem caro tudo que sobre ela cresce Knight E qual o grupo que em vossa opinião terá nisso um prejuízo maior do que o lucro dos outros Doutor O de todos os nobres gentlemen e todos os outros que vivem de uma renda ou estipêndio fixos ou que não manure cultivam eles mesmos o solo ou não se dedicam a comprar e vender 229 Na França o régisseur administrador e coletor dos tributos ao senhor feudal na Alta Idade Média não tarda a se converter num homme daffaires homem de negócios que mediante extorsão fraude etc ascende maliciosamente à posição de capitalista Esses régisseurs eram às vezes eles mesmos senhores proeminentes Por exemplo Cest li compte que messire Jacques de Thoraisse chevalier chastelain sor Besançon rent es seigneur tenant les comptes à Dijon pour monseigneur le duc et comte de Bourgoigne des rentes appartenant à la dite chastellenie depuis XXVe jour de décembre MCCCLIX jusquau XXVIIIe jour de décembre MCCCLX Esta é a conta que o sr Jacques de Thoraisse cavaleiro 742 castelão de Besançon presta ao senhor que em Dijon leva as contas para o senhor duque e conde de Borgonha sobre as rendas pertencentes à dita castelania desde o XXV dia de dezembro de MCCCLIX até o XXVIII dia de dezembro de MCCCLX Alexis Monteil Histoire des matériaux manuscrits etc p 2345 Aqui já se evidencia como em todas as esferas da vida social a parte do leão cabe ao intermediário Na área econômica por exemplo quem fica com a nata dos negócios são os financistas operadores da Bolsa negociantes e pequenos comerciantes nos pleitos civis o advogado depena as partes na política o representante vale mais que os eleitores o ministro mais que o soberano na religião Deus é empurrado para o segundo plano pelo mediador e este por sua vez é deixado para trás pelos padres que são por sua vez os intermediários imprescindíveis entre o bom pastor e suas ovelhas Na França como na Inglaterra os grandes domínios feudais se dividiam numa infinidade de pequenas explorações mas sob condições incomparavelmente menos favoráveis para a população rural No século XIV surgiram os arrendamentos chamados de fermes ou terriers Seu número cresceu continuamente chegando a bem mais de 100 mil Pagavam em dinheiro ou in natura uma renda da terra que oscilava entre 112 e 15 do produto Os terriers eram feudos subfeudos etc fiefs arrièrefiefs de acordo com o valor e a extensão dos domínios sendo que alguns continham apenas poucos arpents o equivalente a 10 mil m2 Todos esses terriers possuíam algum grau de jurisdição sobre os moradores da área havia quatro graus Compreendese a pressão sofrida pela população rural sob todos esses pequenos tiranos Monteil diz que nessa época havia na França 160 mil tribunais onde hoje bastam 4 mil incluindo juízes de paz 230 Em seu Notions de philosophie naturelle Paris 1838 231 Um ponto que é ressaltado por sir James Steuart James Steuart An Inquiry into the Principles of Political Economy cit v 1 livro 1 c 16 232 Je permettrai que vous ayez lhonneur de me servir à condition que vous me donnez le peu qui vous reste pour la peine que je prends de vous commander Permitirei diz o capitalista que tenhais a honra de me servir sob a condição de que me deis o pouco que vos resta pelo incômodo que me causa comandarvos JJ Rousseau Discours sur léconomie politique Genebra 1760 p 70 233 Mirabeau cit p 20109 passim Que Mirabeau também considere as oficinas dispersas como mais econômicas e produtivas que as reunidas e veja nestas últimas apenas plantas artificiais de invernáculo cultivadas pelos governos é algo que se explica pela situação em que àquela época se encontrava grande parte das manufaturas continentais 234 Twenty pounds of wool converted unobtrusively into the yearly clothing of a labourers family by its own industry in the intervals of other work this makes no show but bring it to market send it to the factory thence to the broker thence to the dealer and you will have great commercial operations and nominal capital engaged to the amount of twenty times its value The working class is thus emerced to support a wretched factory population a parasitical shopkeeping class and a fictitious commercial monetary and financial system Vinte libras de lã tranquilamente transformadas na vestimenta anual de uma família de trabalhadores por seus próprios esforços nos intervalos entre seus outros trabalhos não é algo que impressione mas leveis a lã ao mercado a envieis à fábrica depois ao intermediário depois ao negociante e tereis grandes operações comerciais e capital nominal empregado num montante de vinte vezes o seu valor A classe trabalhadora é assim explorada para sustentar uma miserável população fabril uma classe parasitária de lojistas e um sistema comercial monetário e financeiro fictício David Urquhart Familiar Words cit p 120 235 A exceção constitui aqui a época de Cromwell Enquanto durou a república a massa do povo inglês se ergueu em todas as suas camadas da degradação em que havia afundado sob os Tudors 236 Tuckett sabe que a grande indústria da lã é derivada das manufaturas propriamente ditas e da destruição da manufatura rural ou doméstica acarretada pela introdução da maquinaria Tuckett A History of the Past and Present State of the Labouring Population cit v I p 13944 O arado e o jugo foram invenções dos deuses e ocupação de heróis são de origem menos nobre o tear o fuso e a roca Separai a roca do arado o fuso do jugo e tereis fábricas e albergues de pobres crédito e pânico duas nações inimigas a agrícola e a comercial David Urquhart Familiar Words cit p 122 Mas então chega Carey e acusa a Inglaterra certamente não sem razão de tentar converter os demais países em meros povos agrícolas tendo a Inglaterra como fabricante Ele diz que desse modo a Turquia teria sido arruinada porque aos proprietários e cultivadores do solo jamais foi permitido pela Inglaterra que fortalecessem a si mesmos por essa aliança natural entre o arado e o tear o martelo e a grade The Slave Trade p 125 Segundo ele o próprio Urquhart é um dos agentes principais da ruína da Turquia onde teria feito propaganda do livrecâmbio a serviço de interesses ingleses O melhor de tudo é que Carey grande servo dos russos digase de passagem quer deter esse processo de cisão por meio do sistema protecionista que o acelera 237 Economistas filantrópicos ingleses como Mill Rogers Goldwin Smith Fawcett etc e fabricantes liberais como John Bright e consortes perguntam aos aristocratas rurais ingleses tal como Deus perguntara a Caim sobre seu irmão 743 Abel onde foram parar nossos milhares de freeholders pequenos proprietários livres Mas de onde viestes vós Da destruição daqueles freeholders Por que não seguis adiante e perguntais onde foram parar os tecelões fiandeiros e artesãos independentes 238 Industrial aqui em oposição a agrícola Em sentido categórico o arrendatário é um capitalista industrial tanto quanto o fabricante 239 The Natural and Artificial Right of Property Contrasted Londres 1832 p 989 Autor desse escrito anônimo T Hodgskin 240 Ainda em 1794 os pequenos fabricantes de pano de Leeds enviaram uma delegação ao Parlamento solicitando lhe uma lei que proibisse qualquer comerciante de tornarse fabricante Dr Aikin Description of the Country from 30 to 40 miles round Manchester cit v Cidades que por privilégio real obtinham a autonomia em relação ao condado circunvizinho isto é o direito a eleger suas próprias autoridades constituindose assim elas mesmas em condados county of itself county of a town county corporate N T 241 William Howitt Colonization and Christianity A Popular History of the Treatment of the Natives by the Europeans in all their Colonies Londres 1838 p 9 Sobre o tratamento dado aos escravos uma boa compilação encontrase em Charles Comte Traité de la législation 3 ed Bruxelas 1837 É preciso estudar essa questão em detalhe para ver o que o burguês faz de si mesmo e do trabalhador lá onde tem plena liberdade para moldar o mundo segundo sua própria imagem 242 Thomas Stamford Raffles late Lieut Gov of that island The History of Java Londres 1817 v II p CXC CXCI 243 Somente na província de Orissa em 1866 mais de 1 milhão de indianos morreu de inanição Não obstante procurouse enriquecer o erário indiano com os preços pelos quais se forneciam alimentos aos famintos x Assim é chamado o grupo de colonos ingleses que se estabeleceu em Plymouth Massachusetts em 1620 N T w Pequenos machados usados pelos índios americanos N T y No original Bluthunde sabujos N T z Sociedades que detinham o monopólio legal para a exploração de certos ramos de indústria e comércio N T aa Gustav von Gülich Geschichtliche Darstellung des Handels der Gewerbe und des Ackerbaus der bedeutendsten handeltreibenden Staaten unsrer Zeit Jena 1830 t I p 371 N E A MEW 243a William Cobbett observa que na Inglaterra todas as instituições públicas são denominadas reais mas que a título de compensação existe a dívida nacional national debt 243b Si les Tartares inondaient lEurope aujourdhui il faudrait bien des affaires pour leur faire entendre ce que cest quun financier parmi nous Se os tártaros inundassem hoje a Europa seria muito custoso fazêlos entender o que vem a ser entre nós um financista Montesquieu Esprit des lois Londres 1769 t IV p 33 244 Pourquoi aller chercher si loin la cause de léclat manufacturier de la Saxe avant la guerre Cent quatrevingt millions de dettes faites par les souverains Mirabeau De la monarchie prussienne cit t VI p 101 245 Eden The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc cit livro II c I p 421 246 John Fielden The Curse of the Factory System cit p 56 Sobre as infâmias do sistema fabril em suas origens cf dr Aikin Description of the Country from 30 to 40 miles round Manchester cit 1795 p 219 e Gisborne Enquiry into the Duties of Men 1795 v II Uma vez que a máquina a vapor transplantou as fábricas antes construídas no campo próximas às quedasdáguas para o centro das cidades o extrator de maisvalor sempre disposto à renúncia encontrou à mão o material infantil sem a necessidade das remessas forçadas de escravos das workhouses Quando sir R Peel pai do ministro da plausibilidade apresentou em 1815 sua bill em proteção das crianças F Horner luminar do Bullion Committe e amigo íntimo de Ricardo declarou na Câmara Baixa É notório que entre os efeitos da falência de um fabricante está o de que um bando se me permitem essa expressão de crianças de fábrica foi anunciado e arrematado em leilão público como parte da propriedade Há dois anos em 1813 apresentouse ao Kings Bench um caso terrível Tratavase de certo número de rapazes Uma paróquia de Londres os havia consignado a um fabricante que por sua vez os transferiu a outrem Finalmente eles foram descobertos por alguns filantropos em estado de absoluta inanição absolute famine Outro caso ainda mais atroz chegou a meu conhecimento como membro da comissão parlamentar de inquérito Há não muitos anos num convênio entre uma paróquia londrina e um fabricante de Lancashire estipulouse que o comprador para cada vinte crianças sadias teria de aceitar uma 744 idiota Na revista Nova Gazeta Renana maioout 1850 Marx escreve Desde 1845 Peel foi tratado como traidor pelo partido tory O poder de Peel sobre a Câmara Baixa repousa sobre a plausibilidade de sua eloquência Quando lemos seus mais famosos discursos vemos que eles consistem num volumoso amontoado de lugarescomuns entre os quais são habilmente inseridos alguns dados estatísticos Kings Bench ou Queens Bench suprema corte de justiça no Reino Unido N T ab Denominação dos acordos pelos quais a Espanha concedia a Estados estrangeiros e pessoas privadas o direito de fornecer escravos negros africanos para seus assentamentos americanos do século XVI até o século XVIII N E A MEW ac O trecho citado diz o seguinte has coincided with that spirit of bold adventure wich has characterised the trade of Liverpool and rapidly carried it to its present state of prosperity has occasioned vast employment for shipping and sailors and greatly augmented the demand for the manufactures of the country O tratado coincidiu com esse espírito de audaz aventura que caracterizou o comércio de Liverpool e o levou rapidamente a seu estado atual de prosperidade ocasionou um vasto emprego de barcos e marinheiros e aumentou em grande medida a demanda pelas manufaturas do país N T 247 Em 1790 as Índias Ocidentais inglesas contavam com 10 escravos para 1 homem livre nas francesas 14 para 1 nas holandesas 23 para 1 Henry Brougham An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers Edimburgo 1803 v II p 74 ad Virgílio Eneida I 33 onde se lê Tantal moeis erat komanenn condre gentem Tanto esforço para fundar o povo romano N E A MEW 248 A expressão labouring poor pobres laboriosos é encontrada nas leis inglesas desde o momento que a classe dos assalariados se torna digna de atenção Os labouring poor encontramse em oposição por um lado aos idle poor pobres ociosos mendigos etc por outro aos trabalhadores que ainda não se tornaram galinhas depenadas mas permanecem proprietários de seus meios de trabalho Da lei a expressão labouring poor passou à economia política desde Culpeper J Child etc até A Smith e Eden A partir disso podese julgar a bonne foi boa fé do execrable political cantmonger execrável traficante de hipocrisia política Edmund Burke quando declara a expressão labouring poor como uma execrable political cant execrável hipocrisia política Esse sicofanta que a soldo da oligarquia inglesa desempenhou o papel de romântico contra a Revolução Francesa exatamente como antes nos primeiros momentos das agitações na América atuara como liberal a soldo das colônias norteamericanas contra a oligarquia inglesa não era senão um burguês ordinário As leis do comércio são as leis da natureza e por conseguinte as leis de Deus E Burke Thoughts and Details on Scarcity Originally Presented to the Rt Hon W Pitt in the Month of November 1795 cit p 312 Não é de admirar que ele fiel às leis de Deus e da natureza tenha sempre vendido a si mesmo a quem pagasse melhor Nos escritos do reverendo Tucker apesar de pároco e tory Tucker era quanto ao mais um homem correto e competente economista político encontramos uma boa caracterização desse Edmund Burke durante seu período liberal Diante da infame falta de caráter que hoje em dia impera e da crença mais devota nas leis do comércio é um dever estigmatizar repetidamente os Burkes que se distinguem de seus sucessores por uma única coisa talento 249 Marie Augier Du crédit public Paris 1842 p 265 250 O Capital diz o Quarterly Reviewer foge do tumulto e da contenda e é tímido por natureza Isso é muito certo porém não é toda a verdade O capital abomina a ausência do lucro ou ao lucro muito pequeno assim como a natureza o vácuo Com um lucro adequado o capital tornase audaz Com 10 ele está seguro e é possível aplicálo em qualquer parte com 20 tornase impulsivo com 50 positivamente temerário com 100 pisoteará todas as leis humanas com 300 não há crime que não arrisque mesmo sob o perigo da forca Se tumulto e contenda trouxerem lucro ele encorajará a ambos A prova disso é o contrabando e o tráfico de escravos T J Dunning Trades Unions and Strikes cit p 356 ae Constantin Pecqueur Théorie nouvelle déconomie sociale et politique Paris 1842 p 435 N E A MEW 251 Nous sommes dans une condition toutàfait nouvelle de la société nous tendons à séparer toute espèce de propriété davec toute espèce de travail Encontramonos numa condição totalmente nova da sociedade tendemos a separar toda espécie de propriedade de toda espécie de trabalho Sismondi Nouveaux principes de léconomie politique cit t II p 434 252 O progresso da indústria de que a burguesia é agente passivo e involuntário substitui o isolamento dos operários resultante da competição por sua união revolucionária resultante da associação Assim o desenvolvimento 745 da grande indústria retira dos pés da burguesia a própria base sobre a qual ela assentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos A burguesia produz sobretudo seus próprios coveiros Seu declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis De todas as classes que hoje em dia se opõem à burguesia só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indústria o proletariado pelo contrário é seu produto mais autêntico As camadas médias pequenos comerciantes pequenos fabricantes artesãos camponeses combatem a burguesia porque esta compromete sua existência como camadas médias são reacionárias pois pretendem fazer girar para trás a roda da História K Marx e F Engels Manifesto Comunista cit p 51 49 746 253 Tratase aqui de verdadeiras colônias de terras virgens colonizadas por imigrantes livres Os Estados Unidos continuam a ser do ponto de vista econômico uma colônia da Europa De resto também entram nessa categoria aquelas antigas plantações cuja situação foi completamente alterada pela abolição da escravatura 254 As poucas ideias lúcidas de Wakefield sobre a essência das colônias foram antecipadas plenamente por Mirabeau père pai o fisiocrata e muito antes ainda por economistas ingleses 255 Mais tarde esse sistema se torna uma necessidade temporária na luta da concorrência internacional porém qualquer que seja seu motivo as consequências seguem as mesmas 256 Um negro é um negro Somente sob determinadas condições ele se torna escravo Uma máquina de fiar algodão é uma máquina de fiar algodão Apenas sob determinadas condições ela se torna capital Arrancada dessas condições ela é tão pouco capital quanto o ouro é em si mesmo dinheiro ou o açúcar é o preço do açúcar O capital é uma relação social de produção É uma relação histórica de produção Karl Marx Lohnarbeit und Kapital Trabalho assalariado e capital em Nova Gazeta Renana n 266 7 abr 1849 a Isto é a Austrália N T 257 E G Wakefield England and America v II p 33 b Rio que corta o oeste da Austrália e desemboca no oceano Índico N T 258 E G Wakefield England and America cit v I p 17 259 Ibidem cit p 18 260 Ibidem p 424 261 Ibidem v II p 5 262 A terra para se tornar um elemento da colonização tem não apenas de ser inculta mas propriedade pública que pode ser transformada em propriedade privada ibidem v II p 125 263 Ibidem v I p 247 264 Ibidem p 212 265 Ibidem v II p 116 266 Ibidem v I p 131 267 Ibidem v II p 5 268 Merivale Lectures on Colonization and Colonies cit v II p 235314 passim Mesmo Molinari o brando economista vulgar e livrecambista afirma Dans les colonies où lesclavage a été aboli sans que le travail forcé se trouvait remplacé par une quantité équivalente de travail libre on a vu sopérer la contrepartie du fait qui se réalise tous les jours sous nos yeux On a vu les simples travailleurs exploiter à leur tour les entrepreneurs dindustrie exiger deux des salaires hors de toute proportion avec la part légitime qui leur revenait dans le produit Les planteurs ne pouvant obtenir de leurs sucres un prix suffisant pour couvrir la hausse de salaire ont été obligés de fournir lexcedant dabord sur leurs profits ensuite sur leurs capitaux mêmes Une foule de planteurs ont été ruinés de la sorte dautres ont fermé leurs ateliers pour échapper à une ruine imminente Sans doute il vaut mieux voir périr des accumulations de capitaux que des générations dhommes mais ne vaudraitil pas mieux que ni les uns ni les autres périssent Nas colônias em que se aboliu a escravatura sem substituir o trabalho por uma quantidade correspondente de trabalho livre deuse o contrário daquilo que entre nós ocorre diariamente diante de nossos olhos Deuse que os trabalhadores simples por seu lado exploram os empresários industriais exigindolhes salários totalmente desproporcionais à parte legítima que lhes caberia do produto Como os plantadores não estão em condições de obter por seu açúcar um preço suficiente para cobrir a alta dos salários viramse obrigados a cobrir a soma excedente primeiramente com seus lucros e em seguida com seus próprios capitais Uma multidão de plantadores se arruinaram enquanto outros fecharam seus estabelecimentos para fugir da ruína iminente Sem dúvida é melhor ver perecer acumulações de capital do que gerações inteiras de seres humanos que generoso da parte do sr Molinari mas não seria melhor se nem uns nem outros perecessem Molinari Études économiques cit p 512 Sr Molinari sr Molinari Que será então dos dez mandamentos de Moisés e dos profetas da lei da oferta e da demanda se na Europa o entrepreneur empresário puder impor ao trabalhador e nas Índias Ocidentais o trabalhador ao entrepreneur a redução de sua part légitime parte legítima E qual é diganos por favor essa part légitime que na Europa conforme o senhor admite o capitalista deixa diariamente de pagar Do outro lado do oceano nas colônias onde os trabalhadores são tão simplórios que exploram os capitalistas o Sr Molinari sente a forte tentação de pôr em correto funcionamento por meio da polícia a lei da oferta e da demanda que em outras partes funciona automaticamente 747 269 E G Wakefield England and América cit v II p 52 270 Ibidem p 1912 271 Ibidem v I p 47 246 272 Cest ajoutezvous grâce à lappropriation du sol et des capitaux que lhomme qui na que ses bras trouve de loccupation et se fait un revenu cest au contraire grâce à lappropriation individuelle du sol quil se trouve des homme nayant que leurs bras Quand vous mettez un homme dans le vide vous vous emparez de latmosphère Ainsi faitesvous quand vous vous emparez du sol Cest le mettre dans le vide de richesses pour ne le laisser vivre quà votre volonté Acrescentais que é graças à apropriação do sol e dos capitais que o homem que possui apenas seus braços encontra ocupação e proporciona uma renda para si inversamente é graças à apropriação individual do solo que existem homens que não têm mais do que seus braços Quando colocais uma pessoa no vácuo a privais do ar Assim agis também quando vos apossais do solo É o equivalente a colocála no vácuo de riquezas para que ela não possa viver a não ser conforme vossa vontade Colins Léconomie politique source des révolutions et des utopies prétendues socialistes cit t III p 26771 passim c Ver nota e na p 271 273 E G Wakefield England and América cit v II p 192 274 Ibidem p 45 d Em 1844 para superar as dificuldades na conversão de notas bancárias em ouro o governo inglês decidiu por iniciativa do ministro Robert Peel criar uma lei para a reforma do Banco da Inglaterra Essa lei previa a divisão do banco em dois departamentos completamente independentes com fundos separados o Banking Department que realizava operações puramente bancárias e o Issue Department responsável pela emissão de notas bancárias Tais notas deviam possuir sólida cobertura na forma de uma reserva especial de ouro que teria de estar sempre à disposição A emissão de notas bancárias não cobertas por ouro ficava limitada a 14 milhões Porém de fato a quantidade de notas bancárias em circulação dependia ao contrário da lei bancária de 1844 não do fundo de cobertura mas da demanda na esfera de circulação Durante as crises econômicas em que a falta de dinheiro tornouse particularmente grande o governo inglês suspendeu temporariamente a lei de 1844 e elevou quantidade de notas bancárias não cobertas por ouro N E A MEW 275 A Austrália tão logo se tornou seu próprio legislador promulgou como é natural leis favoráveis aos colonos mas o desperdício inglês das terras já consumado pelo governo inglês continua a interditarlhes o caminho The first and main object at which the new Land Act of 1862 aims is to give increased facilities for the settlement of the people O primeiro e mais importante objetivo da nova lei agrária de 1862 consiste em criar maiores facilidades para o assentamento do povo The Land Law of Victoria by the Hon G Duffy Minister of Public Lands Londres 1862 p 3 748 a MarxEngelsWerke MEW v 31 Berlim Dietz Verlag 4 ed 1989 p 323 N T b Um forte abraço pleno de gratidão N T 749 1 Traduzido do original francês Lettre à Vera Ivanovna Zassoulitch résidant à Genève Londres le 8 mars 1881 em MEGA I25 Berlim Dietz 1985 p 2412 N T 2 Em 16 de fevereiro de 1881 Vera Zasulitch em nome de seus camaradas que mais tarde fariam parte do grupo Osvobojdenie Truda Emancipação do Trabalho escreveu a Marx pedindolhe que expressasse seu juízo sobre as perspectivas do desenvolvimento histórico da Rússia e em especial sobre o destino das comunas aldeãs Em sua carta Vera Zasulitch relata que O capital goza de grande popularidade na Rússia influenciando consideravelmente as discussões dos revolucionários sobre a questão agrária no país e sobre as comunas aldeãs Escreve ela ainda Sabeis melhor do que ninguém o quão extraordinariamente urgente é essa questão na Rússia sobretudo para nosso partido socialista Nos últimos tempos ouvimos com frequência que a comuna aldeã é uma forma arcaica que a história condenou à desaparição Aqueles que assim profetizam se autointitulam marxistas Compreendeis portanto cidadão o quanto nos interessa vosso parecer sobre essa questão e o grande favor que a nós prestaríeis se expusésseis vossas perspectivas sobre o destino possível de nossas comunas aldeãs e sobre a necessidade histórica de que todos as nações do mundo percorram todas as fases da produção capitalista Na preparação de uma resposta a essa carta de Vera Zasulitch Marx escreveu três esboços que apresentam em seu conjunto um resumo geral da questão das comunas aldeãs russas e da forma coletiva de produção agrícola Cf Karl Marx Lettre à Vera Ivanovna Zassoulitch Ier projet IIème projet IIIème projet IVème projet et lettre à Vera Ivanovna Zassoulitch em MEGA I25 cit p 21742 N E A MEW c Comitê executivo da organização clandestina Narodnaia Volia Vontade Popular Os narodniks como se chamavam seus membros eram socialistas utópicos que visavam a derrubada do regime czarista por métodos terroristas N E A MEW d Marx Le capital cit p 341 N T e Ibidem p 340 N T f No primeiro esboço da carta Marx escreve Para salvar a comuna russa é necessária uma revolução russa Se a revolução se fizer em tempo oportuno concentrando todas as suas forças em assegurar o livre desenvolvimento da comuna rural ela se tornará em breve o elemento regenerador da sociedade russa e a marca de sua superioridade sobre os países subjugados pelo regime capitalista Karl Marx Lettre à Vera Ivanovna Zassoulitch Ier projet IIème projet IIIème projet IVème projet et lettre à Vera Ivanovna Zassoulitch em MEGA I25 cit p 230 N T 750 1 Os valores em marcos alemães e Pfennig centavos de marco referemse ao ano de 1871 1 marco 12790 kg de ouro 751

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Karl Marx Ler O capital Francisco de Oliveira Esse é o título da edição brasileira do célebre texto de Louis Althusser e Étienne Balibar com as devidas desculpas pelo plágio proposital pois não encontro melhor forma de recomendar este clássico de Marx a todos os leitores incluindo os do amplo contingente lusófono Ivana Jinkings e nossa sem sentido de propriedade privada pequena e brava Boitempo prestam mais um serviço àqueles que têm ou necessitam urgentemente ter que recorrer ao texto mais completo de Marx sobre o capitalismo na sequência dos clássicos de Marx e Engels que a Boitempo vem editando com evidentes sacrifícios pois não são textos de fácil venda Ela reuniu um time formidável encabeçado por José Arthur Giannotti sem favor um dos melhores conhecedores de Marx entre nós a quem não falta a capacidade teórica de apontar as lacunas do clássico de Triers bem acompanhado de introduções de Althusser e Jacob Gorender Rubens Enderle é o tradutor na sequência de outras traduções de Marx e Engels que ele vem fazendo revisões de cada capítulo foram confiadas a expoentes de nossa esquerda marxista Enfim Ivana não mediu esforços e como uma brincadeira que faço com ela com tal feito já garantiu seu lugar no céu dos comunistassocialistas brasileiros As últimas edições em portuguêsbrasileiro de que me recordo deveramse à antiga Civilização Brasileira liderada então pelo saudoso Ênio Silveira tradução que esteve a cargo de Reginaldo SantAnna 1968 depois na coleção Os Pensadores Paul Singer subscreveu outra tradução As obras de Marx e Engels tornaramse acessíveis ao público brasileiro graças aos esforços da antiga Editorial Vitória uma espécie de braço editorial do Partido Comunista Brasileiro PCB mas sempre foram fragmentadas nunca se atrevendo à edição integral de O capital Além disso e da repressão ditatorial quase regra no nosso século XX a circulação sempre enfrentou notáveis dificuldades poucos livreiros se atreviam a ter em suas estantes as obras da Editorial Vitória Somandose tudo as edições eram graficamente pobres e mesmo assim prestaram um enorme serviço à cultura brasileira de que a esquerda sempre foi uma notável propulsora O capital não é um livro de leitura mas de estudo e reflexão Apesar do estilo sarcástico e irônico de Marx sobretudo dirigido aos sicofantas do liberalismo da livre iniciativa e do livre mercado três construções ideológicas de notável força em que o Mouro se eleva por vezes à altura dos grandes clássicos que ele amava Homero Shakespeare e Dante para citar apenas esses gigantes O capital é de leitura difícil às vezes quase intransponível em parte devido à própria aridez da matéria que trata Quem espera que 4 KARL MARX este livro comece pelo exame do capital preparese para um anticlímax Marx examina antes de tudo a mercadoria e sua formação pois o capitalismo continua a ser mesmo em sua fase amplamente financeirizada um modo de produção de mercadorias Na grande tradição de que talvez Maquiavel seja o mais emblemático deslocando a ciência da política do terreno da busca do bem comum tão cara a Aristóteles e aos tomistas e trazendoa para o lugar concreto das lutas pelo poder Marx opera o deslocamento da economia política para a luta de classes segundo ele a chave para a compreensão da sociedade particularmente a sociedade capitalista sem abandonar posto que era um revolucionário mas não um iconoclasta vulgar as grandes contribuições dos clássicos Adam Smith e David Ricardo sobretudo este último como os fundadores da ciência que podia decifrar a vida contemporânea Colocando o corpo do capitalismo sobre a lápide fria da realidade Marx procede como um anatomista abre o interior do sistema para uma sistemática exploração e deparase com a simultânea maravilha do corpo e de sua miséria no sentido de sua intrínseca e fatal deterioração o horror na célebre frase de Marlon Brando em Apocalypse Now de Francis Ford Coppola Em muitas partes essa minuciosa descrição contém as passagens mais difíceis e mais áridas do texto diante das quais não se deve recuar O capital não é uma bíblia nem sequer talvez um método mas como o próprio subtítulo que Marx lhe deu uma contribuição à crítica da economia política Esse é o caminho e certamente como crítica ele não aborda senão tangencialmente algumas das principais estruturas do capitalismo contemporâneo seus problemas e pontos de superação Mas como um dos textos fundamentais da modernidade ele abre as portas para sua compreensão no contexto das lutas de classes de nosso tempo tarefa para a qual são chamadas as mulheres e os homens empenhados na transformação esse trabalho de Sísifo ao qual estamos condenados até o raiar de uma nova era 5 SUMÁRIO NOTA DA EDITORA TEXTOS INTRODUTÓRIOS Apresentação Jacob Gorender Advertência aos leitores do Livro I dO capital Louis Althusser Considerações sobre o método José Arthur Giannotti O CAPITAL Crítica da economia política LIVRO I O processo de produção do capital Prefácio da primeira edição Posfácio da segunda edição Prefácio da edição francesa Posfácio da edição francesa Prefácio da terceira edição alemã Prefácio da edição inglesa Prefácio da quarta edição alemã Seção I Mercadoria e dinheiro Capítulo 1 A mercadoria 1 Os dois fatores da mercadoria valor de uso e valor substância do valor grandeza do valor 2 O duplo caráter do trabalho representado nas mercadorias 3 A forma de valor Wertform ou o valor de troca A A forma de valor simples individual ou ocasional B A forma de valor total ou desdobrada C A forma de valor universal D A formadinheiro 4 O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo Capítulo 2 O processo de troca Capítulo 3 O dinheiro ou a circulação de mercadorias 1 Medida dos valores 2 O meio de circulação a A metamorfose das mercadorias b O curso do dinheiro c A moeda O signo do valor 3 Dinheiro a Entesouramento b Meio de pagamento c O dinheiro mundial Seção II 6 A transformação do dinheiro em capital Capítulo 4 A transformação do dinheiro em capital 1 A fórmula geral do capital 2 Contradições da fórmula geral 3 A compra e a venda de força de trabalho Seção III A produção do maisvalor absoluto Capítulo 5 O processo de trabalho e o processo de valorização 1 O processo de trabalho 2 O processo de valorização Capítulo 6 Capital constante e capital variáve Capítulo 7 A taxa do maisvalor 1 O grau de exploração da força de trabalho 2 Representação do valor do produto em partes proporcionais do produto 3 A última hora de Senior 4 O maisproduto Capítulo 8 A jornada de trabalho 1 Os limites da jornada de trabalho 2 A avidez por maistrabalho O fabricante e o boiardo 3 Ramos da indústria inglesa sem limites legais à exploração 4 Trabalho diurno e noturno O sistema de revezamento 5 A luta pela jornada normal de trabalho Leis compulsórias para o prolongamento da jornada de trabalho da metade do século XIV ao final do século XVII 6 A luta pela jornada normal de trabalho Limitação do tempo de trabalho por força de lei A legislação fabril inglesa de 1833 a 1864 7 A luta pela jornada normal de trabalho Repercussão da legislação fabril inglesa em outros países Capítulo 9 Taxa e massa do maisvalor Seção IV A produção do maisvalor relativo Capítulo 10 O conceito de maisvalor relativo Capítulo 11 Cooperação Capítulo 12 Divisão do trabalho e manufatura 1 A dupla origem da manufatura 2 O trabalhador parcial e sua ferramenta 3 As duas formas fundamentais da manufatura manufatura heterogênea e manufatura orgânica 4 Divisão do trabalho na manufatura e divisão do trabalho na sociedade 5 O caráter capitalista da manufatura Capítulo 13 Maquinaria e grande indústria 1 Desenvolvimento da maquinaria 2 Transferência de valor da maquinaria ao produto 3 Efeitos imediatos da produção mecanizada sobre o trabalhador a Apropriação de forças de trabalho subsidiárias pelo capital Trabalho feminino e infantil b Prolongamento da jornada de trabalho c Intensificação do trabalho 7 4 A fábrica 5 A luta entre trabalhador e máquina 6 A teoria da compensação relativa aos trabalhadores deslocados pela maquinaria 7 Repulsão e atração de trabalhadores com o desenvolvimento da indústria mecanizada Crises da indústria algodoeira 8 O revolucionamento da manufatura do artesanato e do trabalho domiciliar pela grande indústria a Suprassunção da cooperação fundada no artesanato e na divisão do trabalho b Efeito retroativo do sistema fabril sobre a manufatura e o trabalho domiciliar c A manufatura moderna d O trabalho domiciliar moderno e Transição da manufatura e do trabalho domiciliar modernos para a grande indústria Aceleração dessa revolução mediante a aplicação das leis fabris a esses modos de produzir Betriebsweisen 9 Legislação fabril cláusulas sanitárias e educacionais Sua generalização na Inglaterra 10 Grande indústria e agricultura Seção V A produção do maisvalor absoluto e relativo Capítulo 14 Maisvalor absoluto e relativo Capítulo 15 Variação de grandeza do preço da força de trabalho e do maisvalor I Grandeza da jornada de trabalho e intensidade do trabalho constantes dadas força produtiva do trabalho variável II Jornada de trabalho constante força produtiva do trabalho constante intensidade do trabalho variável III Força produtiva e intensidade do trabalho constantes jornada de trabalho variável IV Variações simultâneas na duração força produtiva e intensidade do trabalho Capítulo 16 Diferentes fórmulas para a taxa de maisvalor Seção VI O salário Capítulo 17 Transformação do valor ou preço da força de trabalho em salário Capítulo 18 O salário por tempo Capítulo 19 O salário por peça Capítulo 20 Diversidade nacional dos salários Seção VII O processo de acumulação do capital Capítulo 21 Reprodução simples Capítulo 22 Transformação de maisvalor em capital 1 O processo de produção capitalista em escala ampliada Conversão das leis de propriedade que regem a produção de mercadorias em leis da apropriação capitalista 2 Concepção errônea por parte da economia política da reprodução em escala ampliada 3 Divisão do maisvalor em capital e renda A teoria da abstinência 4 Circunstâncias que independentemente da divisão proporcional do maisvalor em capital e renda determinam o volume da acumulação grau de exploração da força de trabalho força produtiva do trabalho diferença crescente entre capital aplicado e capital consumido grandeza do capital adiantado 5 O assim chamado fundo de trabalho Capítulo 23 A lei geral da acumulação capitalista 8 1 Demanda crescente de25 força de trabalho com a acumulação conservandose igual a composição do capital 2 Diminuição relativa da parte variável do capital à medida que avançam a acumulação e a concentração que a acompanha 3 Produção progressiva de uma superpopulação relativa ou exército industrial de reserva 4 Diferentes formas de existência da superpopulação relativa A lei geral da acumulação capitalista 5 Ilustração da lei geral da acumulação capitalista a Inglaterra de 1846 a 1866 b As camadas mal remuneradas da classe trabalhadora industrial britânica c A população nômade d Efeitos das crises sobre a parcela mais bem remunerada da classe trabalhadora e O proletariado agrícola britânico f Irlanda Capítulo 24 A assim chamada acumulação primitiva 1 O segredo da acumulação primitiva 2 Expropriação da terra pertencente à população rural 3 Legislação sanguinária contra os expropriados desde o final do século XV Leis para a compressão dos salários 4 Gênese dos arrendatários capitalistas 5 Efeito retroativo da revolução agrícola sobre a indústria Criação do mercado interno para o capital industrial 6 Gênese do capitalista industrial 7 Tendência histórica da acumulação capitalista Capítulo 25 A teoria moderna da colonização253 APÊNDICE Carta de Karl Marx a Friedrich Engels Carta de Karl Marx a Vera Ivanovna Zasulitch ÍNDICE DE NOMES LITERÁRIOS BÍBLICOS E MITOLÓGICOS BIBLIOGRAFIA GLOSSÁRIO DA TRADUÇÃO TABELA DE EQUIVALÊNCIAS DE PESOS MEDIDAS E MOEDAS CRONOLOGIA RESUMIDA DE MARX E ENGELS Ebooks da Boitempo Editorial 9 NOTA DA EDIÇÃO O primeiro livro de O capital crítica da economia política Das Kapital Kritik der politischen Ökonomie intitulado O processo de produção do capital Der Produktionsprozess des Kapitals é o único volume da principal obra de maturidade de Karl Marx publicado durante a vida do autor morto em 1883 Seu lançamento pela Boitempo num investimento editorial de dois anos marca a 16ª publicação da coleção MarxEngels e é parte do ambicioso projeto de traduzir toda a obra dos pensadores alemães a partir das fontes originais com o auxílio de especialistas renomados Em 1862 Marx mudase para a Inglaterra a fim de ver de perto o que seria o estágio mais avançado do capitalismo de então e dessa forma decifrar suas leis fundamentais Enfermo e depauperado passa os dias mergulhado em livros na biblioteca do Museu Britânico e no ano seguinte retoma o projeto de escrever O capital sua obra mais sistemática trabalho de fôlego de análise da estrutura da sociedade capitalista O Livro I centrado no processo de produção do capital e finalizado em 1866 foi publicado em Hamburgo em 1867 mas os seguintes não puderam ser concluídos por Marx em vida Seus estudos para a magistral obra foram editados pelo parceiro e amigo Engels e publicados em 1885 Livro II e 1894 Livro III Esta tradução da Boitempo se insere em um histórico esforço intelectual coletivo de trazer ao público brasileiro em seu todo ou em versões reduzidas a principal obra marxiana de crítica da economia política Desde a década de 1930 circularam pelo Brasil ao menos quinze edições de O capital em geral incompletas e traduzidas de outros idiomas que não o original alemão Reconhecemos nas palavras do sociólogo Francisco de Oliveira em depoimento à editora a importância dessas edições geralmente lançadas em situações políticas adversas As obras de Marx e Engels tornaramse acessíveis ao público brasileiro graças aos esforços da antiga Editorial Vitória uma espécie de braço editorial do Partido Comunista Brasileiro PCB mas sempre foram fragmentadas nunca se atrevendo à edição integral de O capital Além disso e da repressão ditatorial a circulação dessas publicações enfrentou dificuldades poucos livreiros se atreviam a ter em suas estantes as obras da Editorial Vitória e as edições eram graficamente muito pobres Mesmo assim prestaram um enorme serviço à cultura brasileira de que a esquerda sempre foi uma notável propulsora As últimas traduções de O capital para o português brasileiro de que me recordo deveramse à antiga editora Civilização Brasileira liderada então por Ênio Silveira a cargo de Reginaldo SantAnna 1968 depois na coleção Os Pensadores da Abril Cultural Paul Singer coordenou outra tradução 1983 de Regis Barbosa e Flávio Kothe A presente tradução tem como base a quarta edição alemã editada por Engels e publicada em Hamburgo em 18901 O estabelecimento do texto segue a edição da MarxEngelsGesamtausgabe MEGA2 Todas as citações em língua estrangeira são reproduzidas de acordo com o original acompanhadas de sua tradução em nota ou entre colchetes As notas do autor são igualmente reproduzidas em sua numeração 10 original Para o estabelecimento das notas da edição alemã o tradutor baseouse também na edição da MarxEngelsWerke MEW As notas de cada edição são identificadas pelas abreviações N E A MEW e N E A MEGA As citações no corpo do texto foram mantidas entre aspas preservando os comentários de Marx intercalados a elas As supressões em citações foram feitas pelo próprio Marx e estão indicadas por O uso de aspas e itálicos segue em geral as normas internas da Boitempo Por se basear na edição alemã a numeração de capítulos difere das edições de O capital que seguem a publicação francesa Abrem a edição três textos introdutórios assinados por Jacob Gorender Louis Althusser e José Arthur Giannotti Por um lado são análises complementares que abordam o livro sob perspectivas diversas metodológica histórica e filosoficamente Por outro lado contradizemse algumas vezes o que dá uma pequena mostra da pluralidade de leituras dessa obra fundamental com impacto marcante na história da humanidade Estão ainda incluídos os prefácios da primeira 1867 segunda 1873 terceira 1883 e quarta 1890 edições os dois últimos assinados por Engels além do prefácio e do posfácio da edição francesa respectivamente 1872 e 1875 e do prefácio da edição inglesa 1886 assinado por Engels O apêndice traz duas cartas escritas por Marx uma a Engels Fred de 16 de agosto de 1867 e outra à revolucionária russa Vera Ivanovna Zasulitch de 8 de março de 1881 Essa segunda carta inédita até 1924 responde a indagações de Zasulitch sobre as perspectivas do desenvolvimento histórico da Rússia e em especial sobre o destino das comunas aldeãs A breve resposta de Marx reafirma que de acordo com sua teoria a fatalidade histórica de uma transformação revolucionária para além do capital limitavase aos países da Europa ocidental que já haviam realizado a transição da propriedade privada fundada no trabalho pessoal para a propriedade privada capitalista A presente edição traz ainda um índice de nomes literários bíblicos e mitológicos a bibliografia dos escritos citados por Marx e Engels uma tabela de equivalência de pesos medidas e moedas e uma cronologia resumida de Marx e Engels que contém aspectos fundamentais da vida pessoal da militância política e da obra teórica de ambos com informações úteis ao leitor iniciado ou não na obra marxiana A Boitempo Editorial agradece ao tradutor Rubens Enderle aos professores Agnaldo dos Santos Emir Sader Lincoln Secco Marcio Bilharinho Naves Mario Duayer e Ruy Braga que se dividiram na leitura dos capítulos a Francisco de Oliveira Jacob Gorender José Arthur Giannotti e Louis Althusser por meio de seu espólio autores dos textos de capa e de introdução ao ilustrador Cássio Loredano ao diagramador Antonio Kehl e às revisoras Mariana Echalar e Thaisa Burani Agradece ainda ao tradutor Nélio Schneider que conferiu os trechos em grego à professora de química Rogéria Noronha pela consultoria a respeito de fórmulas e nomenclaturas e aos integrantes da MEGA2 Gerald Hubmann e Michael Heinrich A dedicação e o trabalho de cada um deles assim como os da equipe da Boitempo Bibiana Leme Livia Campos Alicia Toffani e João 11 Alexandre Peschanski foram indispensáveis para esta realização editorial basilar para a qual lembra Althusser no texto introdutório aqui publicado Marx sacrificou os últimos anos de sua existência Março de 2013 Nota da tradução Na tradução de termos e conceitos empregados por Marx com um sentido específico e inusual como por exemplo naturwüchsig sachlich dinglich Materiatur inserimos notas explicativas e sempre que necessário o termo original entre colchetes Na p 878 o leitor encontrará um glossário da tradução dos termos mais importantes A tradução do verbo aufheben impôs alguns cuidados pois ele possui três sentidos principais 1 levantar sustentar erguer 2 suprimir anular destruir revogar cancelar suspender superar 3 conservar poupar preservar 2 Em O capital Marx emprega a palavra principalmente na segunda acepção mas muitas vezes também do mesmo modo que Hegel e Schiller como uma combinação da segunda e da terceira acepções Aqui traduzimos aufheben aufgehoben e Aufhebung por suprimir suprimido supressão quando o termo aparece apenas na segunda acepção e por suprassumir suprassumido suprassunção acompanhado do original entre colchetes quando parece evidente se tratar de um amálgama da segunda com a terceira acepção Assim por exemplo falase da suprassunção da cooperação do artesanato e do trabalho domiciliar pela grande indústria como forma superior da cooperação ou da suprassunção da atividade artesanal pela maquinaria como princípio regulador da produção social como princípio superior de regulação Em alguns dados estatísticos apresentados nas tabelas entre as páginas 74953 e 770 83 o leitor eventualmente notará algumas variantes entre os números aqui apresentados e os de outras edições que se baseiam no texto da MEW R E 12 NOTA DA EDIÇÃO ELETRÔNICA Com a finalidade de aprimorar a experiência de leitura no formato digital e manter a coerência entre a versão eletrônica em suas diversas plataformas de leitura e a versão impressa deste livro optouse por manter a numeração de páginas da versão impressa nas remissões desta edição eletrônica Desta forma procurouse manter unidade para fins de referência e citação entre versão eletrônica e impressa É possível que o leitor perceba sutis diferenças de numeração entre as remissões e as numerações apresentadas pela plataforma de leitura Advertese portanto que o conteúdo original do livro se mantém integralmente reproduzido 13 APRESENTAÇÃOa Jacob Gorender Em 1867 vinha à luz na Alemanha a primeira parte de uma obra intitulada O capital Karl Marx o autor viveu então um momento de plena euforia raro em sua atribulada existência Durante quase vinte anos penara duramente a fim de chegar a este momento o de apresentar ao público conquanto de maneira ainda parcial o resultado de suas investigações no campo da economia política Não se tratava contudo de autor estreante À beira dos cinquenta anos já imprimira o nome no frontispício de livros suficientes para lhe assegurar destacado lugar na história do pensamento Àquela altura sua produção intelectual abrangia trabalhos de filosofia teoria social historiografia e também economia política Quem já publicara Miséria da filosofia Manifesto do Partido Comunista As lutas de classes na França de 1848 a 1850 O 18 de brumário de Luís Bonaparte e Para a crítica da economia política podia avaliar com justificada sobranceria o próprio currículo No entanto Marx afirmava que até então apenas escrevera bagatelas Sentiase por isso autor estreante e demais aliviado de um fardo que lhe vinha exaurindo as forças Também os amigos e companheiros sobretudo Engels exultavam com a publicação pois se satisfazia afinal a expectativa tantas vezes adiada Na verdade pouquíssimos livros dessa envergadura nasceram em condições tão difíceis I Do liberalismo burguês ao comunismo Esse homem que vivia um intervalo de consciência pacificada e iluminação subjetiva em meio a combates políticos perseguições e decepções nascera em 1818 em Trier Trêves à francesa sul da Alemanha Duas circunstâncias lhe marcaram a origem e a primeira educação Trier localizase na Renânia então província da Prússia limítrofe da França e por isso incisivamente influenciada pela Revolução Francesa Ao contrário da maior parte da Alemanha dividida em numerosos Estados os camponeses renanos haviam sido emancipados da servidão da gleba e das antigas instituições feudais não restava muita coisa na província Firmavamse nela núcleos da moderna indústria fabril em torno da qual se polarizavam as duas novas classes da sociedade capitalista o proletariado e a burguesia A essa primeira e poderosa circunstância social se vinculava uma outra As ideias do Iluminismo francês contavam com muitos adeptos nas camadas cultas da Renânia O pai de Marx tal a segunda circunstância existencial era um desses adeptos A família Marx pertencia à classe média de origem judaica Hirschel Marx fizera brilhante carreira de jurista e chegara a conselheiro da Justiça A ascensão à magistratura 14 obrigarao a submeterse a imposições legais de caráter antissemita Em 1824 quando o filho Karl tinha seis anos Hirschel converteu a família ao cristianismo e adotou o nome mais germânico de Heinrich Para um homem que professava o deísmo desvinculado de toda crença ritualizada o ato de conversão não fez mais do que sancionar a integração no ambiente intelectual dominado pelo laicismo Karl que perdeu o pai aos vinte anos em 1838 recebeu dele orientação formadora vigorosa da qual guardaria recordação sempre grata Durante o curso de direito iniciado na Universidade de Bonn e prosseguido na de Berlim o estudante Karl encontrou um ambiente de grande vivacidade cultural e política O supremo mentor ideológico era Hegel mas uma parte dos seus seguidores os jovens hegelianos interpretava a doutrina no sentido do liberalismo e do regime constitucional democrático podando os fortes aspectos conservadores do sistema do mestre em especial sua exaltação do Estado Marx fez a iniciação filosófica e política com os jovens hegelianos o que o levou ao estudo preferencial da filosofia clássica alemã e da filosofia em geral Essa formação filosófica teve influência espiritual duradoura e firmou um dos eixos de sua produção intelectual Se foi hegeliano o que é inegável nunca chegou a sêlo de maneira estrita Não só já encontrou a escola hegeliana numa fase de cisão adiantada como ao seu espírito inquieto e inclinado a ideias anticonservadoras na atmosfera opressiva da monarquia absolutista prussiana o sistema do mestre consagrado devia parecer uma camisa de força Em carta ao pai já em 1837 escrevia a partir do idealismo fui levado a procurar a Ideia na própria realidade A esse respeito também é sintomático que escolhesse a relação entre os filósofos gregos materialistas Demócrito e Epicuro para tema de tese de doutoramento defendida na Universidade de Iena Embora inspirada nas linhas mestras da concepção hegeliana da história da filosofia desponta na tese um impulso para transcendêla num sentido que somente mais tarde se tornaria claro Em 1841 Ludwig Feuerbach dava a público A essência do cristianismo O livro teve forte repercussão pois constituía a primeira investida franca e sem contemplações contra o sistema de Hegel O idealismo hegeliano era desmistificado e se propunha em seu lugar uma concepção materialista que assumia a configuração de antropologia naturista O homem enquanto ser natural fruidor dos sentidos físicos e sublimado pelo amor sexual colocavase no centro da natureza e devia voltarse para si mesmo Estava porém impedido de fazêlo pela alienação religiosa Tomando de Hegel o conceito de alienação Feuerbach invertia os sinais A alienação em Hegel era objetivação e por consequência enriquecimento A Ideia se tornava seroutro na natureza e se realizava nas criações objetivas da história humana A recuperação da riqueza alienada identificava Sujeito e Objeto e culminava no Saber Absoluto Para Feuerbach ao contrário a alienação era empobrecimento O homem projetava em Deus suas melhores qualidades de ser genérico de gênero natural e dessa maneira a divindade criação do homem apropriavase da essência do criador e o submetia A fim de recuperar tal essência e fazer cessar o estado de alienação e empobrecimento o homem precisava 15 substituir a religião cristã por uma religião do amor à humanidade Causador de impacto e recebido com entusiasmo o humanismo naturista de Feuerbach foi uma revelação para Marx Apetrechouo da visão filosófica que lhe permitia romper com Hegel e transitar do idealismo objetivo deste último em direção ao materialismo Não obstante assim como nunca chegou à plenitude de hegeliano tampouco se tornou inteiramente feuerbachiano Apesar de jovem e inexperiente era dotado de excepcional inteligência crítica que o levava sempre ao exame sem complacência das ideias e das coisas Ao contrário de Feuerbach que via na dialética hegeliana apenas fonte de especulação mistificadora Marx intuiu que essa dialética devia ser o princípio dinâmico do materialismo o que viria a resultar na concepção revolucionária do materialismo como filosofia da prática Entre 1842 e 1843 Marx ocupou o cargo de redatorchefe da Gazeta Renana jornal financiado pela burguesia A orientação liberal do diário impôslhe frequentes atritos com a censura prussiana que culminaram em seu fechamento arbitrário Mas a experiência jornalística foi muito útil para Marx pois o aproximou da realidade cotidiana Ganhou conhecimento de questões econômicas geradoras de conflitos sociais e se viu diante do imperativo de pronunciarse acerca das ideias socialistas de vários matizes que vinham da França e se difundiam na Alemanha por iniciativa entre outros de Weitling e Moses Hess Tanto com relação às questões econômicas como às ideias socialistas o redatorchefe da Gazeta Renana confessou com lisura sua ignorância e esquivouse de comentários improvisados e infundados Assim foi a atividade política no exercício do jornalismo que o impeliu ao estudo em duas direções marcantes a da economia política e a das teorias socialistas Em 1843 Marx casouse com Jenny von Westphalen originária de família recém aristocratizada cujo ambiente confortável trocaria por uma vida de penosas vicissitudes na companhia de um líder revolucionário Marx se transferiu então a Paris onde em janeiro de 1844 publicou o único número duplo dos Anais FrancoAlemães editados em colaboração com Arnold Ruge figura destacada da esquerda hegeliana A publicação dos Anais visava a dar vazão à produção teórica e política da oposição democrática radical ao absolutismo prussiano Naquele número único veio à luz um opúsculo de Engels intitulado Esboço de uma crítica da economia políticab acerca do qual Marx manifestaria sempre entusiástica apreciação chegando a classificálo de genial Friedrich Engels 18201895 era filho de um industrial têxtil que pretendia fazêlo seguir a carreira dos negócios e por isso afastarao do curso universitário Dotado de enorme curiosidade intelectual que lhe daria saber enciclopédico Engels completou sua formação como aluno ouvinte de cursos livres e incansável autodidata Viveu curto período de hegeliano de esquerda e também sentiu o impacto da irrupção materialista feuerbachiana Mas antes de Marx aproximouse do socialismo e da economia política O que ocorreu na Inglaterra onde esteve a serviço dos negócios paternos e entrou em contato com os militantes operários do Partido Cartista Daí ao estudo dos economistas clássicos ingleses foi um passo 16 O Esboço de Engels focalizou as obras desses economistas como expressão da ideologia burguesa da propriedade privada da concorrência e do enriquecimento ilimitado Ao enfatizar o caráter ideológico da economia política negoulhe significação científica Em especial recusou a teoria do valortrabalho e por conseguinte não lhe reconheceu o estatuto de princípio explicativo dos fenômenos econômicos Se essas e outras posições seriam reformuladas ou ultrapassadas o Esboço também continha teses que se incorporaram de maneira definitiva ao acervo marxiano Entre elas a argumentação contrária à Lei de Say e à teoria demográfica de Malthus Mais importante que tudo porém foi que o opúsculo de Engels transmitiu a Marx provavelmente o germe da orientação principal de sua atividade teórica a crítica da economia política enquanto ciência surgida e desenvolvida sob inspiração do pensamento burguês O s Anais FrancoAlemães assim intitulados com o objetivo de burlar a censura prussiana estamparam dois ensaios de Marx Crítica da filosofia do direito de Hegel Introdução e Sobre a questão judaica Ambos marcam a virada de perspectiva que consistiu na transição do liberalismo burguês ao comunismo Nos anos em que se gestavam as condições para a eclosão da revolução burguesa na Alemanha o jovem ensaísta identificou no proletariado a classeagente da transformação mais profunda que deveria abolir a divisão da sociedade em classes Contudo o procedimento analítico e a formulação literária dessas ideias mostravam que o autor ainda não adquirira ferramentas discursivas e linguagem expositiva próprias tomandoas de Hegel e de Feuerbach Do primeiro os giros dialéticos e a concepção teleológica da história humana Do segundo o humanismo naturista A novidade residia na introdução de um terceiro componente que seria o fator mais dinâmico da evolução do pensamento do autor a ideia do comunismo e do papel do proletariado na luta de classes O passo seguinte dessa evolução foi assinalado por um conjunto de escritos em fase inicial de elaboração que deveriam resultar ao que parece em vasto ensaio Este ficou só em projeto e Marx nunca fez qualquer alusão aos textos que sob o título de Manuscritos econômicofilosóficos de 1844 teriam publicação somente em 1932 na União Soviética Sob o aspecto filosófico tais textos contêm uma crítica incisiva do idealismo hegeliano ao qual se contrapõe a concepção materialista ainda nitidamente influenciada pela antropologia naturista de Feuerbach Mas ao contrário deste último Marx reteve de Hegel o princípio dialético e começou a elaborálo no sentido da criação da dialética materialista Sob o aspecto das questões econômicas os Manuscritos reproduzem longas citações de vários autores sobretudo Smith Say e Ricardo acerca das quais são montados comentários e dissertações No essencial Marx seguiu a linha diretriz do Esboço de Engels e rejeitou a teoria do valortrabalho considerandoa inadequada para fundamentar a ciência da economia política A situação do proletariado que representa o grau final de desapossamento tem o princípio explicativo no seu oposto a propriedade privada Esta é engendrada e incrementada mediante o processo 17 generalizado de alienação que permeia a sociedade civil esfera das necessidades e relações materiais dos indivíduos Transfigurado ao passar de Hegel a Feuerbach o conceito de alienação sofria nova metamorfose ao passar deste último a Marx Pela primeira vez a alienação era vista enquanto processo da vida econômica O processo por meio do qual a essência humana dos operários se objetivava nos produtos do seu trabalho e se contrapunha a eles por serem produtos alienados e convertidos em capital A ideia abstrata do homem autocriado pelo trabalho recebida de Hegel concretizavase na observação da sociedade burguesa real Produção dos operários o capital dominava cada vez mais os produtores à medida que crescia por meio da incessante alienação de novos produtos do trabalho Evidenciase portanto que Marx ainda não podia explicar a situação de desapossamento da classe operária por um processo de exploração no lugar do qual o trabalho alienado constitui em verdade um processo de expropriação Daí a impossibilidade de superar a concepção ética não científica do comunismo Nos Manuscritos por conseguinte alienação é a palavrachave Deixaria de sêlo nas obras de poucos anos depois Contudo reformulada e num contexto avesso ao filosofar especulativo se incorporaria definitivamente à concepção socioeconômica marxiana Materialismo histórico socialismo científico e economia política Em 1844 em Paris Marx e Engels deram início à colaboração intelectual e política que se prolongaria durante quatro decênios Dotado de exemplar modéstia Engels nunca consentiu que o considerassem senão o segundo violino junto a Marx Mas este sem dúvida ficaria longe de criar uma obra tão impressionante pela complexidade e extensão se não contasse no amigo e companheiro com um incentivador consultor e crítico Para Marx excluído da vida universitária desprezado nos meios cultos e vivendo numa época em que Proudhon Blanqui e Lassalle eram os ideólogos influentes das correntes socialistas Engels foi mais do que interlocutor colocado em pé de igualdade representou conforme observou Paul Lafargue o verdadeiro público com o qual Marx se comunicava público exigente para cujo convencimento não poupava esforços As centenas de cartas do epistolário recíproco registram um intercâmbio de ideias como poucas vezes ocorreu entre dois pensadores explicitando ao mesmo tempo a importância da contribuição de Engels e o respeito de Marx às críticas e conselhos do amigo Escrita em 1844 e publicada em princípios de 1845 A sagrada família foi o primeiro livro em que Marx e Engels apareceram na condição de coautores Tratase de obra caracteristicamente polêmica que assinala o rompimento com a esquerda hegeliana O título sarcástico identifica os irmãos Bruno Edgar e Egbert Bauer e dá o tom do texto Enquanto a esquerda hegeliana depositava as esperanças de renovação da Alemanha nas camadas cultas aptas a alcançar uma consciência crítica o que negava aos trabalhadores Marx e Engels enfatizaram a impotência da consciência crítica que não se tornasse a consciência dos trabalhadores E nesse caso só poderia ser uma consciência 18 socialista O livro contém abrangente exposição da história do materialismo na qual se percebe o progresso feito no domínio dessa concepção filosófica e a visão original que os autores iam formando a respeito dela embora ainda não se houvessem desprendido do humanismo naturista de Feuerbach Aspecto peculiar do livro reside na defesa de Proudhon com o qual Marx mantinha amiúde encontros pessoais em Paris Naquele momento o texto de A sagrada família fazia apreciação positiva da crítica da sociedade burguesa pelo já famoso autor de O que é a propriedade então o de maior evidência na corrente que Marx e Engels mais tarde chamariam de socialismo utópico e da qual consideravam Owen SaintSimon e Fourier os expoentes clássicos No processo de absorção e superação de ideias Marx e Engels haviam alcançado um estágio em que julgaram necessário passar a limpo suas próprias ideias De 1845 a 1846 em contato com as seitas socialistas francesas e envolvidos com os emigrados alemães na conspiração contra a monarquia prussiana encontraram tempo para se concentrar na elaboração de um livro de centenas de páginas densas que recebeu o título de A ideologia alemã Iniciada em Paris a redação do livro se completou em Bruxelas onde Marx se viu obrigado a buscar refúgio pois o governo de Guizot pressionado pelas autoridades prussianas o expulsou da França sob acusação de atividades subversivas O livro não encontrou editor e só foi publicado em 1932 também na União Soviética Em 1859 Marx escreveria que de bom grado ele e Engels entregaram o manuscrito à crítica roedora dos ratos dandose por satisfeitos com terem posto ordem nas próprias ideias Na verdade A ideologia alemã encerra a primeira formulação da concepção históricosociológica que receberia a denominação de materialismo histórico Tratase pois da obra que marca o ponto de virada ou na expressão de Althusser o corte epistemológico na evolução do pensamento dos fundadores do marxismo A formulação do materialismo histórico desenvolvese no corpo da crítica às várias manifestações ideológicas de maior consistência que disputavam então a consciência da sociedade germânica às vésperas de uma revolução democráticoburguesa A crítica dirigese a um elenco que vai de Hegel a Stirner A parte mais importante é a inicial dedicada a Feuerbach O rompimento com este se dá sob o argumento do caráter abstrato de sua antropologia filosófica O homem para Feuerbach é ser genérico natural suprahistórico e não ser social determinado pela história das relações sociais por ele próprio criadas Daí o caráter contemplativo do materialismo feuerbachiano quando o proletariado carecia de ideias que o levassem à prática revolucionária da luta de classes Uma síntese dessa argumentação encontrase nas Teses sobre Feuerbach escritas por Marx como anotações para uso pessoal e publicadas por Engels em 1888 A última e undécima tese é precisamente aquela que declara que a filosofia se limitara a interpretar o mundo de várias maneiras quando era preciso transformálo A ideologia é assim uma consciência equivocada falsa da realidade Desde logo 19 porque os ideólogos acreditam que as ideias modelam a vida material concreta dos homens quando se dá o contrário de maneira mistificada fantasmagórica enviesada as ideologias expressam situações e interesses radicados nas relações materiais de caráter econômico que os homens agrupados em classes sociais estabelecem entre si Não são portanto a Ideia Absoluta o Espírito a Consciência Crítica os conceitos de Liberdade e Justiça que movem e transformam as sociedades Os fatores dinâmicos das transformações sociais devem ser buscados no desenvolvimento das forças produtivas e nas relações que os homens são compelidos a estabelecer entre si ao empregar as forças produtivas por eles acumuladas a fim de satisfazer suas necessidades materiais Não é o Estado como pensava Hegel que cria a sociedade civil ao contrário é a sociedade civil que cria o Estado A concepção materialista da história implicava a reformulação radical da perspectiva do socialismo Este seria vão e impotente enquanto se identificasse com utopias propostas às massas que deveriam passivamente aceitar seus projetos prontos e acabados O socialismo só seria efetivo se fosse criação das próprias massas trabalhadoras com o proletariado à frente Ou seja se surgisse do movimento histórico real de que participa o proletariado na condição de classe objetivamente portadora dos interesses mais revolucionários da sociedade Mas de que maneira substituir a utopia pela ciência Por onde começar Nenhum registro conhecido existe que documente esse momento crucial na progressão do pensamento marxiano Não obstante a própria lógica da progressão sugere que tais indagações se colocavam com força no momento preciso em que alcançada a formulação original do materialismo histórico surgia a incontornável tarefa de ultrapassar o socialismo utópico O que não se conseguiria pela negativa retórica e sim pela contraposição de uma concepção baseada na ciência social Ora conforme a tese ontológica fundamental do materialismo histórico a base sobre a qual se ergueria o edifício teria de ser a ciência das relações materiais de vida a economia política Esta já fora criada pelo pensamento burguês e atingira com Ricardo a culminância do refinamento No entanto Marx e Engels haviam rejeitado a economia política vendo nela tão somente a ideologia dos interesses capitalistas Como se deu que houvessem repensado a economia política e aceito o seu núcleo lógico a teoria do valortrabalho Cabe supor que a superação da antropologia feuerbachiana teve o efeito de desimpedir o caminho no sentido de nova visão da teoria econômica Em particular tal superação permitia pôr em questão o estatuto do conceito de alienação como princípio explicativo da situação da classe operária Não obstante esse aspecto isolado não nos esclarece acerca da virada de orientação do pensamento marxiano É sabido que a partir de 1844 Marx concentrou sua energia intelectual no estudo dos economistas De referências posteriores ressalta a sugestão de que a mudança de orientação acerca dos economistas clássicos foi mediada pelos ricardianos de esquerda Neles certamente descobriu Marx a leitura socialista de Ricardo Assim como 20 Feuerbach abriu caminho à leitura materialista de Hegel e à elaboração da dialética materialista Hodgskin Ravenstone Thompson Bray e Edmonds permitiram a leitura socialista de Ricardo e daí começaria a elaboração da economia política marxiana de acordo com o princípio ontológico do materialismo histórico e tendo em vista a fundamentação científica do socialismo Os ricardianos de esquerda eram inferiores ao próprio Ricardo sob o aspecto da força teórica porém a perspectiva socialista conquanto impregnada de ideias utópicas os encaminhou a interpretar a teoria ricardiana do valortrabalho e da distribuição do produto social no sentido da demonstração de que a exploração do proletariado constituía o eixo do sistema econômico da sociedade burguesa A significação do conhecimento desses publicistas na evolução do pensamento marxiano é salientada por Mandel que a tal respeito assinala o quanto deve ter sido proveitosa a temporada passada por Marx na Inglaterra em 1845 Ali não só pôde certificarse da defesa da teoria do valortrabalho pelos ricardianos ligados ao movimento operário como ao revés o abandono dela pelos epígonos burgueses do grande economista clássico Em 1846 Proudhon publicou o livro Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria no qual atacou a luta dos operários por objetivos políticos e reivindicações salariais colocando em seu lugar o projeto do intercâmbio harmônico entre pequenos produtores e da instituição de bancos do povo que fariam empréstimos sem juros aos trabalhadores Tudo isso apoiado na explicação da evolução histórica inspirada num hegelianismo malassimilado e retardatário Marx respondeu no ano seguinte com Miséria da filosofia que escreveu em francês À parte a polêmica devastadora contra Proudhon resumindo a crítica ao socialismo utópico em geral o livro marcou a plena aceitação da teoria do valortrabalho na formulação ricardiana Sob esse aspecto Miséria da filosofia constituiu ponto de virada tão significativo na evolução do pensamento marxiano quanto A ideologia alemã Não importa que Marx também houvesse aceitado na ocasião as teses de Ricardo sobre o dinheiro e sobre a renda da terra das quais se tornaria depois renitente opositor O fato de consequências essencialíssimas consistiu em que o materialismo histórico encontrava afinal o fundamento da economia política o que vinha definir o caminho da elaboração do socialismo científico Na própria Miséria da filosofia a aquisição desse fundamento resultou numa exposição muito mais avançada e precisa do materialismo histórico do que em A ideologia alemã Com base na teoria de Ricardo interpretada pelos seguidores de tendência socialista Marx empenhouse na proposição de uma tática de reivindicações salariais para o movimento operário o que expôs nas conferências proferidas em 18471848 mais tarde publicadas em folheto sob o título de Trabalho assalariado e capital Marx e Engels haviam ingressado numa organização de emigrados alemães denominada Liga dos Comunistas e receberam dela a incumbência de redigir um manifesto que apresentasse os objetivos socialistas dos trabalhadores A incumbência teve aceitação entusiástica ainda mais por se avolumarem os indícios da eclosão de 21 uma onda revolucionária no Ocidente europeu Publicado no começo de 1848 o Manifesto do Partido Comunista foi com efeito logo submergido pela derrocada da monarquia de Luís Filipe na França seguida pelos eventos insurrecionais na Alemanha Hungria Áustria Itália e Bélgica Embora a repercussão de sua primeira edição ficasse abafada por acontecimentos de tão grande envergadura o Manifesto alcançaria ampla difusão e sobrevivência duradoura tornandose uma das obras políticas mais conhecidas em numerosas línguas Num estilo que até hoje brilha pelo vigor e concisão o Manifesto condensou o labor teórico dos autores em termos de estratégia e tática políticas de tal maneira que o texto se tornou um marco na história do movimento operário mundial Na Alemanha as lutas de massa forçaram a monarquia prussiana a fazer a promessa de uma constituição e a aceitar o funcionamento de uma assembleia parlamentar em Frankfurt Marx e Engels regressaram de imediato à sua pátria e se lançaram por inteiro no combate Marx fundou e dirigiu o diário Nova Gazeta Renana que até o fechamento em maio de 1849 defendeu a perspectiva proletária socialista no decurso de uma revolução democráticoburguesa Depois de ter sido um dos redatores do jornal Engels engajouse no exército dos insurretos em cujas fileiras empunhou armas até a derrota definitiva que lhe impôs o refúgio na Suíça Diante da repressão exacerbada também Marx se retirou da Alemanha Os governos da França e da Bélgica lhe consentiram pouco tempo de permanência em seus territórios o que o levou a exilarse em Londres nos fins de 1849 ali residindo até a morte Em 1850 veio à luz As lutas de classes na França de 1848 a 1850 Em 1852 O 18 de brumário de Luís Bonaparte Em ambas as obras o método do materialismo histórico recémcriado foi posto à prova na interpretação a quente de acontecimentos da atualidade imediata A brevidade da perspectiva temporal não impediu que Marx produzisse duas obras historiográficas capazes de revelar as conexões subjacentes aos fatos visíveis e de enfocálos à luz da tese sociológica da luta de classes Em particular essas obras desmentem a frequente acusação ao economicismo marxiano Nelas são realçados não só fatores econômicos mas também fatores políticos ideológicos institucionais e até estritamente concernentes às pessoas dos protagonistas dos eventos históricos II Os tormentos da criação Ao aceitar a teoria de Ricardo sobre o valortrabalho e a distribuição do produto social Marx não perdeu de vista a necessidade da crítica da economia política embora não mais sob o enfoque estrito de Engels no seu Esboço precursor Ricardo dera à teoria econômica a elaboração mais avançada nos limites do pensamento burguês Os ricardianos de esquerda ultrapassaram tais limites porém não avançaram na solução dos impasses teóricos salientados precisamente pela interpretação socialista aplicada à obra do mestre clássico À onda revolucionária desencadeada em 1848 seguirase o refluxo das lutas 22 democráticas e operárias Por toda a Europa triunfava a reação burguesa e aristocrática Marx relacionou o refluxo à nova fase de prosperidade que sucedia à crise econômica de 18471848 e considerou ser preciso esperar a crise seguinte a fim de recolocar na ordem do dia objetivos revolucionários imediatos Com uma paixão obsessiva entregou se à tarefa que se tornaria a mais absorvente de sua vida a de elaborar a crítica da economia política enquanto ciência mediada pela ideologia burguesa e apresentar uma teoria econômica alternativa a partir das conquistas científicas dos economistas clássicos A residência em Londres favorecia tal empresa pois constituía o melhor ponto de observação do funcionamento do modo de produção capitalista e de uma formação social tão efetivamente burguesa quanto nenhuma outra do continente europeu Além disso o British Museum do qual Marx se tornou frequentador assíduo propiciava a consulta a um acervo bibliográfico de incomparável riqueza Em contrapartida as condições materiais de vida foram durante anos a fio muito ásperas e às vezes simplesmente tétricas para o líder revolucionário e sua família Não raro faltaram recursos para satisfação das necessidades mais elementares e o exilado alemão se viu às bordas do desespero Sobretudo não podia dedicar tempo integral às pesquisas econômicas conforme desejaria vendose forçado a aceitar tarefas de colaboração jornalística entre as quais a mais regular foi a correspondência política para um jornal de Nova York mantida até 1862 Além disso as intrigas que a seu respeito urdiam os órgãos policiais da Alemanha e de outros países obrigavamno a desviar a atenção dos estudos teóricos Durante quase todo o ano de 1860 por exemplo a maior parte de suas energias se gastou na refutação das calúnias difundidas por Karl Vogt que o acoimara de chefe de um bando de chantagistas e delatores Exmembro esquerdista do Parlamento de Frankfurt em 1848 Vogt se radicou na Suíça como professor de geologia e se tornou expoente da versão mais vulgar do materialismo mecanicista é dele a célebre afirmação de que os pensamentos têm com o cérebro a mesma relação que a bílis com o fígado ou a urina com os rins Envolvido em intrigas de projeção internacional nos meios democráticos e socialistas aceitou o que depois se comprovou o papel de escriba mercenário pago pelo serviço secreto de Napoleão III Apesar de calejado diante de insultos e calúnias a dose passara dessa vez a medida do suportável e Marx se esfalfou na redação de grosso volume que recebeu o título sumário de Herr Vogt À parte os aspectos polêmicos circunstanciais hoje sem maior interesse o livro oferece um quadro rico da política internacional europeia em meados do século XIX tema explorado com os recursos exuberantes do estilo de um grande escritor A situação de Marx seria insustentável e sua principal tarefa científica decerto irrealizável se não fosse a ajuda material de Engels Este fixara residência em Manchester passando a gerir ali os interesses da firma paterna associada a uma empresa têxtil inglesa Durante os vinte anos de atividade comercial a produção intelectual não pôde deixar de se reduzir Mas Engels achava gratificante sacrificar a própria criatividade contanto que fornecesse a Marx recursos financeiros que o sustentassem e à 23 família e lhe permitissem dedicar o máximo de tempo às investigações econômicas Demais disso Engels incumbiuse de várias pesquisas especializadas solicitadas pelo amigo A circunstância de residirem em cidades diferentes deu lugar a copiosa correspondência que registrou quase passo a passo a tormentosa via de elaboração dO capital No decorrer das investigações conquanto se mantivesse claro e inalterado o objetivo visado foi mudando e ganhando novas formas a ideia da obra final Rosdolsky rastreou na documentação marxiana entre 1857 e 1868 nada menos de catorze esboços e notas de planos dessa obra De acordo com o plano inicial deveria constar de seis livros dedicados aos seguintes temas 1 o capital 2 a propriedade territorial 3 o trabalho assalariado 4 o Estado 5 o comércio internacional 6 o mercado mundial e as crises À parte um livro especial faria a história das doutrinas econômicas dando ao estudo da realidade empírica o acompanhamento de suas expressões teóricas A deflagração de nova crise econômica em 1857 levou Marx a apressarse em pôr no papel o resultado de suas investigações motivado pela expectativa de que nova onda revolucionária voltaria a agitar a Europa e exigiria dele todo o tempo disponível Da sofreguidão nesse empenho resultou não mais do que um rascunho com imprecisões e lapsos de redação Fruto de um trabalho realizado entre outubro de 1857 e março de 1858 o manuscrito só teve publicação na União Soviética entre 1939 e 1941 Recebeu o título de Esboços dos fundamentos da crítica da economia política porém ficou mais conhecido pela palavra alemã Grundrisse esboços dos fundamentos Vindos à luz já sob o fogo da Segunda Guerra Mundial os Grundrisse não despertaram atenção Somente nos anos 1960 suscitaram estudos e comentários destacandose nesse particular o trabalho pioneiro de Rosdolsky Embora se trate de um rascunho os Grundrisse possuem extraordinária relevância pelas ideias que no todo ou em parte só nele ficaram registradas e sobretudo pelas informações de natureza metodológica Uma dessas ideias é a de que o desenvolvimento das forças produtivas pelo modo de produção capitalista chegaria a um ponto em que a contribuição do trabalho vivo se tornaria insignificante em comparação com a dos meios de produção de tal maneira que perderia qualquer propósito aplicar a lei do valor como critério de produtividade do trabalho e de distribuição do produto social Ora sem lei do valor carece de sentido a própria valorização do capital Assim o capitalismo deverá extinguirse não pelo acúmulo de deficiências produtivas porém ao contrário em virtude da pletora de sua capacidade criadora de riqueza Encontrase nessa ideia um dos traços característicos da elaboração discursiva marxiana certos fatores são isolados e desenvolvidos até o extremo de tal maneira que venha a destacarse o máximo de suas virtualidades O resultado não constitui todavia a previsão de um curso inelutável pois o próprio Marx revela adiante o jogo contraditório entre os vários fatores postos em interação o que altera os resultados extraídos da abstração do desenvolvimento isolado de um deles Tema de destaque nos Grundrisse abordado em apreciações dispersas e em toda 24 uma seção especial é o das formas que precedem a separação entre o agente do processo de trabalho e a propriedade dos meios de produção Tal separação constitui condição prévia indispensável ao surgimento do modo de produção capitalista e lhe marca o caráter de organização social historicamente transitória Isso porque somente tal separação permite que o agente do processo de trabalho como pura força de trabalho subjetiva desprovida de posses objetivas se disponha ao assalariamento regular enquanto para os proprietários dos meios de produção e de subsistência a exploração da força de trabalho assalariada é a condição básica da acumulação do capital mediante relações de produção já de natureza capitalista As categorias específicas do modo de produção capitalista não constituíam expressão de uma racionalidade suprahistórica de leis naturais inalteráveis conforme pensavam os economistas clássicos mas ao contrário seu surgimento tinha data recente e sua vigência marcaria não mais que certa época histórica delimitada Em algumas dezenas de páginas que têm sido editadas separadamente sob o título de Formas que precederam a produção capitalista foram compendiadas a partir do exame de vasto material historiográfico sugestões de extraordinária fecundidade às quais o autor infelizmente não pôde dar seguimento delas fazendo emprego esparso nO capital Nessa obra a opção metodológica consistiu em concentrar o estudo da acumulação originária nas condições históricas da Inglaterra O s Grundrisse compõemse de dois longos capítulos dedicados ao dinheiro e ao capital Com formulações menos precisas e sem a mesma organicidade aí encontramos parte da temática dos Livros I e II dO capital Seria contudo incorreto passar por alto o avanço propriamente teórico cumprido entre os dois textos Basta ver por exemplo que na questão do dinheiro Marx ainda se mostra nos Grundrisse preso a alguns aspectos da teoria ricardiana contra a qual travará polêmica resoluta logo em seguida em Para a crítica da economia política De maneira idêntica a caracterização do escravismo plantacionista americano como anomalia capitalista sofrerá radical reformulação nO capital em cujas páginas a escravidão a antiga e a moderna é sempre incompatível com o modo de produção capitalista A riqueza peculiar dos Grundrisse reside nas numerosas explicitações metodológicas pouco encontradiças nO capital Por se tratar de rascunho os Grundrisse exibem os andaimes metodológicos depois retirados do texto definitivo E esses andaimes denunciam a forte impregnação hegeliana do pensamento do autor Precisamente durante a redação do rascunho Marx releu a Lógica de Hegel conforme escreveu a Engels Não surpreende por isso que a própria linguagem seja em várias passagens moldada por termos e giros discursivos do mestre da filosofia clássica alemã A tal ponto que a certa altura ficou anotado o propósito de dar nova redação ao trecho a fim de libertálo da forma idealista de exposição Enquanto a crise econômica passava sem convulsionar a ordem política europeia Marx conseguiu chegar à redação final dos dois capítulos de Para a crítica da economia política publicada em 18591 Segundo o plano então em mente o terceiro capítulo 25 dedicado ao capital seria a continuação da Crítica um segundo volume dela Mas o que apareceu afinal oito anos depois foi algo bem diverso resultante de substancial mudança de plano Em janeiro de 1866 Marx já possuía em rascunho todo o arcabouço de teses tal qual se tornaram conhecidas nos três livros dO capital desde o capítulo inicial sobre a mercadoria até a teoria da renda da terra passando pelas teorias da maisvaliac da acumulação do capital do exército industrial de reserva da circulação e reprodução do capital social total da transformação do valor em preço de produção da queda tendencial da taxa média de lucro dos ciclos econômicos e da distribuição da mais valia nas formas particulares de lucro industrial lucro comercial juro e renda da terra Nesses três livros que formariam uma obra única seriam abordados os temas não só do capital mas também do trabalho assalariado e da propriedade territorial que deixaram de constituir objeto de volumes especiais O Estado o comércio internacional o mercado mundial e as crises planejados também para livros especiais ficavam postergados A nova obra seria intitulada o capital e somente como subtítulo é que compareceria a repetida Crítica da economia política Por último copiosos comentários e dissertações já estavam redigidos para o também projetado livro sobre a história das doutrinas econômicas O autor podia por conseguinte lançarse à redação final de posse de completo conjunto teórico que devia formar nas suas palavras um todo artístico Em 1865 a redação dO capital foi considerada tarefa prioritária acima do comparecimento ao Primeiro Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores realizado em Genebra sem a presença de Marx Este a conselho de Engels decidiuse à publicação isolada do Livro I concentrandose na sua redação final Em setembro de 1867 o Livro I vinha a público na Alemanha lançado pelo editor hamburguês Meissner Graças em boa parte aos esforços publicitários de Engels a conspiração do silêncio que cercava os escritos marxianos nos meios cultos começou a ser quebrada Curiosamente a primeira resenha aliás favorável de um professor universitário foi a de Eugen Dühring o mesmo contra o qual Engels dez anos depois travaria implacável polêmica Elogios calorosos chegaram de Ruge o antigo companheiro da esquerda hegeliana e de Feuerbach o respeitado filósofo que marcara momento tão importante na evolução do pensamento marxiano Embora a tradução inglesa não se concretizasse na ocasião decepcionando as expectativas do autor houve a compensação da tradução russa já em 1872 lançada com notável êxito de venda No seu parecer a censura czarista declarou tratarse de livro sem dúvida socialista mas inacessível à maioria em virtude da forma matemática de demonstração científica motivo por que não seria possível perseguilo diante dos tribunais Em seguida veio editada em fascículos a tradução francesa da qual o próprio autor fez a revisão com o que a tradução ganhou valor de original Em 1873 foi publicada a segunda edição alemã que trouxe um posfácio muito importante pelos esclarecimentos de caráter metodológico Embora a segunda fosse a última em vida do 26 autor a edição definitiva é considerada a quarta de 1890 na qual Engels introduziu modificações expressamente indicadas por Marx Faltava no entanto a redação final dos Livros II e III Marx trabalhou neles até 1878 sem completar a tarefa À ânsia insaciável de novos conhecimentos e de rigorosa atualização com os acontecimentos da vida real já não correspondia a habitual capacidade de trabalho Marx ficava impedido de qualquer esforço durante longos períodos debilitado por doenças crônicas agravadas Além disso absorviamno as exigências da política prática De 1864 a 1873 empenhouse nas articulações e campanhas da Associação Internacional dos Trabalhadores que passou à história como a Primeira Internacional Em 1865 pronunciou a conferência de publicação póstuma intitulada Salário preço e lucro Um esforço intenso lhe exigiram no seio da Associação as divergências com os partidários de Proudhon e de Bakunin Em 1871 chefiou a solidariedade internacional à Comuna de Paris e acerca de sua experiência política escreveu A guerra civil na França Ocuparamno em seguida os problemas da socialdemocracia alemã liderada in loco por Bebel e Liebknecht A fusão dos adeptos da socialdemocracia de orientação marxista com os seguidores de Lassalle num partido operário único ensejou a Marx em 1875 a redação de notas de fundamental significação para a teoria do comunismo reunidas no pequeno volume intitulado Crítica do Programa de Gotha Em 18811882 após as escassas páginas em que foram escritas as Glosas marginais ao Tratado de economia política de Adolfo Wagner a pena de Marx que deslizara através de assombrosa quantidade de folhas de papel colocava o definitivo ponto final Esgotado e abatido pela morte da esposa e de uma das filhas apagouse em 1883 o cérebro daquele que Engels na oração fúnebre disse ter sido o maior pensador do seu tempo Nos doze anos em que sobreviveu ao amigo Engels continuou criativo até os últimos dias produzindo obras da altura de Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã Sobre os seus ombros pesava a responsabilidade de coordenar o movimento socialista internacional o que lhe impunha crescente carga de trabalho No meio de toda essa atividade nunca deixou de ter por tarefa primordial a de trazer a público os dois livros dO capital ainda inéditos E cumpriu a tarefa com exemplar competência e probidade Os manuscritos de Marx encontravamse em diversos graus de preparação Só a menor parte ganhara redação definitiva Havia porém longas exposições com lacunas e desprovidas de vínculos mediadores Vários assuntos tinham sido abordados tão somente em notas soltas Por fim um capítulo imprescindível apenas contava com o título Tudo isso sem falar na péssima caligrafia dos manuscritos às vezes incompreensível até para o autor A tarefa por conseguinte ia muito além do que em regra se atribui a um editor Seria preciso que Engels assumisse certo grau de coautoria o que fez não obstante com o máximo escrúpulo Conforme explicou minuciosamente nos prefácios evitou substituir a redação de Marx pela sua própria em qualquer parte Não queria que sua redação superposta aos manuscritos originais suscitasse discussões acerca da autenticidade do pensamento marxiano Limitouse a ordenar os manuscritos de acordo 27 com as indicações do plano do autor preenchendo as óbvias lacunas e introduzindo trechos de ligação ou de atualização sempre entre chaves e identificados pelas iniciais F E também presentes nas notas de rodapé destinadas a informações adicionais ou mesmo a desenvolvimentos teóricos Igualmente assinado com as iniciais F E escreveu por inteiro o capítulo 4 do Livro III sobre a rotação do capital e sua respectiva influência na taxa de lucro Escreveu ainda vários prefácios admiráveis pelo tratamento de problemas básicos e pela força polêmica bem como dois suplementos ao Livro III sobre a lei do valor e formação da taxa média de lucro e sobre a Bolsa Se dessa maneira foi possível salvar o legado de Marx e editar o Livro II em 1885 e o Livro III em 1894 é evidente que estes não poderiam apresentar a exposição acabada e brilhante do Livro I Mas Engels ao morrer pouco depois de publicado o último livro havia cumprido a tarefa Restavam os manuscritos sobre a história das doutrinas econômicas que deveriam constituir o Livro IV Ordenouos e editouos Kautsky sob o título de Teorias da maisvalia entre 1905 e 1910 O Instituto de MarxismoLeninismo originalmente Instituto MarxEngels fundado por D Riazanov e responsável pela publicação dos manuscritos marxianos na União Soviética lançou nova edição em 1954 expurgada das intervenções arbitrárias de Kautsky Em 1933 o mesmo Instituto havia publicado o texto de um capítulo inédito planejado para figurar no Livro I dO capital e que Marx resolvera suprimir Numerado como sexto e sob o título de Resultados do processo imediato da produçãod o capítulo contém uma síntese do Livro I e serviria também de transição ao Livro II III Unificação interdisciplinar das ciências humanas Em primeiro lugar O capital é sem qualquer dúvida uma obra de economia política A amplitude de sua concepção dessa ciência supera porém os melhores clássicos burgueses e contrasta com a estrita especialização em que o marginalismo pretendeu confinar a análise econômica É que O capital constitui por excelência uma obra de unificação interdisciplinar das ciências humanas com vistas ao estudo multilateral de determinada formação social Unificação entre a economia política e a sociologia a historiografia a demografia a geografia econômica e a antropologia As categorias econômicas ainda quando analisadas em níveis elevados de abstração se enlaçam de momento a momento com os fatores extraeconômicos inerentes à formação social O Estado a legislação civil e penal em especial a legislação referente às relações de trabalho a organização familial as formas associativas das classes sociais e seu comportamento em situações de conflito as ideologias os costumes tradicionais de nacionalidades e regiões a psicologia social tudo isso é focalizado com riqueza de detalhes sempre que a explicação dos fenômenos propriamente econômicos adquira na interação com fenômenos de outra ordem categorial uma iluminação indispensável ou um enriquecimento cognoscitivo Assim ao contrário do que pretendem críticas tão reiteradas o enfoque marxiano da instância econômica não é 28 economicista uma vez que não a isola da trama variada do tecido social O que convém enfatizar não representa incoerência mas ao contrário perfeita coerência com a concepção do materialismo histórico enquanto teoria sociológica geral a concepção segundo a qual a instância econômica sendo a base da vida social dos homens não existe senão permeada por todos os aspectos dessa vida social os quais por sua vez sob modalidades diferenciadas são instâncias da superestrutura possuidoras de desenvolvimento autônomo relativo e influência retroativa sobre a estrutura econômica Obra de economia política e de sociologia O capital também é obra de historiografia A tese de que o modo de produção capitalista tem existência histórica de que nasceu de determinadas condições criadas pelo desenvolvimento social e de que criará ele próprio as condições para o seu desaparecimento e substituição por um novo modo de produção essa tese já por si mesma também exige abordagem histórica e por conseguinte implica o tratamento por meio de procedimentos característicos da historiografia Antes de tudo sem dúvida tratase de historiografia econômica que abrange exposições eruditas sobre o desenvolvimento das forças produtivas estudos especializados sobre questões de tecnologia pesquisas inovadoras sobre o comércio o crédito as formas de propriedade territorial e a gênese da renda da terra e com destaque particular sobre a formação da moderna classe operária Mas em relação mesmo com a história econômica temos outrossim a história das instituições políticas a evolução das normas jurídicas vejase o estudo pioneiro sobre a legislação trabalhista a história das relações internacionais Os estudos sobre a lei da população do modo de produção capitalista bem como sobre migrações e colonização focalizam temas de evidente contato entre a economia política e a demografia Por fim encontramos incursões e sugestões nos âmbitos da geografia econômica e da antropologia A decidida rejeição do geodeterminismo não conduz ao desconhecimento dos condicionamentos geográficos cuja influência no desenvolvimento das forças produtivas e das formações sociais é posta em destaque Em contrapartida acentuase a ação transformadora do meio geográfico pelo homem de tal maneira que as condições geográficas se humanizam à medida que se tornam prolongamento do próprio homem Mas a humanização da natureza nem sempre tem sido um processo harmônico Marx foi dos primeiros a apontar o caráter predador da burguesia com reiteradas referências por exemplo à destruição dos recursos naturais pela agricultura capitalista Sob esse aspecto merece ser considerado precursor dos modernos movimentos de defesa da ecologia em benefício da vida humana Do ponto de vista da Antropologia o que sobreleva é a relação do homem com a natureza por meio do trabalho e a humanização sob o aspecto de autocriação do homem no processo de transformação da natureza pelo trabalho As mudanças nas formas de trabalho constituem os indicadores básicos da mudança das relações de produção e das formas sociais em geral do intercurso humano O trabalho é portanto o fundamento antropológico das relações econômicas e sociais em geral Ou seja em 29 resumo o que Marx propõe é a Antropologia do homo faber Embora de maneira de todo inconvencional O capital se credencia como realização filosófica basilar Como sugeriu Jelezny o livro marxiano faz parte das obras que assinalaram inovações essenciais na orientação lógica e metodológica do pensamento Sem qualquer exposição sistemática porém aplicandoa em tudo e por tudo Marx desenvolveu a metodologia do materialismo dialético e se situou a justo título a par com aqueles criadores de ideias que marcaram época no pensamento sobre o pensamento de Aristóteles a Descartes Bacon Locke Leibniz Kant e Hegel Para este último com o qual Marx teve relação direta de sequência e superação a lógica por si mesma se identifica à ontologia a Ideia Absoluta é o próprio Ser Assim a ontologia só podia ter caráter idealista e especulativo obrigando a dialética máxima conquista da filosofia hegeliana a abrir caminho em meio a esquemas préconstruídos Com semelhante configuração a dialética era imprestável ao trabalho científico e por isso mesmo foi sepultada no olvido pelos cientistas que a preteriram em favor do positivismo Quando deu à dialética a configuração materialista necessária Marx expurgoua das propensões especulativas e adequoua ao trabalho científico Ao invés de subsumir a ontologia na lógica são as categorias econômicas e sua história concreta que põem à prova as categorias lógicas e lhes imprimem movimento A lógica não se identifica à ontologia o pensamento não se identifica ao ser A consciência é consciência do ser práticomaterial que é o homem A dialética do pensamento se torna a reprodução teórica da dialética originária inerente ao ser reprodução isenta de esquemas préconstruídos e impostos de cima pela ontologia idealista Mas ao contrário de reprodução passiva de reflexo especular do ser o pensamento se manifesta através da ativa intervenção espiritual que realiza o trabalho infindável do conhecimento Trabalho criador de hipóteses categorias teoremas modelos teorias e sistemas teóricos Método e estrutura dO capital A esta altura chegamos a uma questão crucial nas discussões marxistas e marxológicas a da influência de Hegel sobre Marx Quando estudava a Ciência da lógica surpreendeuse Lenin com o máximo de materialismo ao longo da mais idealista das obras de Hegel Com ênfase peculiar afirmou que não poderia compreender O capital quem não fizesse o prévio estudo da Lógica hegeliana Oposta foi a posição de Stalin Considerou a filosofia hegeliana representativa da aristocracia reacionária e minimizou sua influência na formação do marxismo A desfiguração stalinista da dialética se consumou num esquema petrificado para aplicação sem mediações a qualquer nível da realidade Enquanto Rosdolsky ressaltou por meio de análise minuciosa dos Grundrisse a relação entre Hegel e Marx quase ao mesmo tempo Althusser que nunca deu importância aos Grundrisse enfatizou a suposta ausência do hegelianismo na formação 30 de Marx e a inexistência de traços hegelianos na obra marxiana acima de tudo em O capital Dentro de semelhante orientação Althusser não se furtaria de louvar Stalin por haver depurado o materialismo dialético da excrescência hegeliana tão embaraçosa quanto a negação da negação Segundo Godelier esta seria uma categoria apenas aceita por Engels e não por Marx Demais Godelier considerou embaraçosa a própria contradição dialética e propôs sua subordinação ao conceito de limite estrutural o que na prática torna a contradição dialética dispensável ao processo discursivo A análise da estrutura lógica dO capital feita por Jelezny confirma não menos que a de Rosdolsky o enfoque de Lenin e não o de Stalin É impossível captar o jogo das categorias na obra marxiana sem dominar o procedimento da derivação dialética a partir das contradições internas dos fenômenos ou seja a partir de um procedimento lógico inaugurado com caráter sistemático por Hegel Sem dúvida é preciso frisar também que Marx rejeitou a identidade hegeliana dos contrários distinguindo tal postulado idealista de sua própria concepção materialista da unidade dos contrários a esse respeito tem razão Godelier quando aponta a confusão em certas formulações de Lenin e Mao TséTung sobre a identidade dos contrários A derivação dialética materialista é aplicada em todo o trajeto da exposição marxiana porém provoca impacto logo no capítulo inicial sobre a mercadoria por isso mesmo causador de tropeços aos leitores desprovidos de familiaridade com o método dialético Contudo a derivação dialética que opera com as contradições imanentes nos fenômenos não suprime a derivação dedutiva própria da lógica formal baseada justamente no princípio da não contradição Em O capital são correntes as inferências dedutivas acompanhadas de exposições por via lógicoformal Daí aliás o recurso frequente aos modelos matemáticos demonstrativos que revelam dentro de estruturas categoriais definidas o dinamismo das modificações quantitativas e põem à luz suas leis internas Conquanto considerasse falsas as premissas das quais Marx partiu Bôhm Bawerk não deixou de manifestar admiração pela força lógica do adversário Não obstante seja frisado a lógica formal está para a lógica dialética na obra marxiana assim como a mecânica de Newton está para a teoria da relatividade de Einstein Ou seja a primeira aplicase a um nível inferior do conhecimento da realidade com relação à segunda Marx distinguiu entre investigação e exposição A investigação exige o máximo de esforço possível no domínio do material fatual O próprio Marx não descansava enquanto não houvesse consultado todas as fontes informativas de cuja existência tomasse conhecimento O fim último da investigação consiste em se apropriar em detalhe da matéria investigada analisar suas diversas formas de desenvolvimento e descobrir seus nexos internos Somente depois de cumprida tal tarefa seria possível passar à exposição isto é à reprodução ideal da vida da matéria A essa altura advertiu Marx que se isso for conseguido então pode parecer que se está diante de uma construção a priori Por que semelhante advertência É que a exposição deve figurar um todo artístico Suas diversas partes precisam se 31 articular de maneira a constituírem uma totalidade orgânica e não um dispositivo em que os elementos se justapõem como somatório mecânico Ora a realização do todo artístico ou da totalidade orgânica pressupunha a aplicação do modo lógico e não do modo histórico de exposição Ou seja as categorias deveriam comparecer não de acordo com a sucessão efetiva na história real porém conforme as relações internas de suas determinações essenciais no quadro da sociedade burguesa Por conseguinte o tratamento lógico da matéria faz da exposição a forma organizacional apropriada do conhecimento a nível categorialsistemático e resulta na radical superação do historicismo entendido o historicismo na acepção mais ampla como a compreensão da história por seu fluxo singular consubstanciado na sucessão única de acontecimentos ou fatos sociais A exposição lógica afirma a orientação antihistoricista na substituição da sucessão histórica pela articulação sistemática entre categorias abstratas de acordo com suas determinações intrínsecas Daí que possa assumir a aparência de construção imposta à realidade de cima e por fora Na verdade tratase apenas de impressão superficial contra a qual é preciso estar prevenido Porque se supera o histórico o lógico não o suprime Em primeiro lugar se o lógico é o fio orientador da exposição o histórico não pode ser dispensado na condição de contraprova Daí a passagem frequente de níveis elevados de abstração a concretizações fatuais em que a demonstração dos teoremas assume procedimentos historiográficos Em segundo lugar porém com ainda maior importância porque o tratamento histórico se torna imprescindível nos processos de gênese e transição sem os quais a história será impensável Em tais processos o tratamento puramente lógico conduziria aos esquemas arbitrários divorciados da realidade fatual Por isso mesmo temas como os da acumulação originária do capital e da formação da moderna indústria fabril foram expostos segundo o modo histórico inserindose em O capital na qualidade de estudos historiográficos de caráter monográfico Em suma o lógico não constitui o resumo do histórico nem há paralelismo entre um e outro conforme pretendeu Engels porém entrelaçamento cruzamento circularidade A interpretação althusseriana conferiu estatuto privilegiado ao modo de exposição e atribuiu às partes históricas dO capital o caráter de mera ilustração empirista Se bem que com justificadas razões pusesse em relevo a sistematicidade marxiana Althusser fez dela uma estrutura formal desprendida da história concreta o que o próprio Marx explicitamente rejeitou O tratamento lógico é também o que melhor possibilita e no mais fundamental o único que possibilita alcançar aquele nível da essência em que se revelam as leis do movimento da realidade objetiva Porque nO capital a finalidade do autor consistiu em desvendar a lei econômica da sociedade burguesa ou em diferente formulação as leis do nascimento desenvolvimento e morte do modo de produção capitalista Numa época em que prevalecia a concepção mecanicista nas ciências físicas Marx foi capaz de desvencilharse dessa concepção e formular as leis econômicas precipuamente como leis tendenciais Ou seja como leis determinantes do curso dos 32 fenômenos em meio a fatores contrapostos que provocam oscilações desvios e atenuações provisórias As leis tendenciais não são nem por isso leis estatísticas probabilidades em grandes massas porém leis rigorosamente causais A lei tendencial sintetiza a manifestação direcionada constante e regular não ocasional da interação e oposição entre fatores imanentes na realidade fenomenal Como já observamos o plano da estrutura dO capital foi longamente trabalhado e sofreu modificações à medida que o autor ganhava maior domínio da matéria O resultado é uma arquitetura imponente cheia de sutilezas imperceptíveis à primeira vista cujo estudo já instigou abordagens especializadas Sob a perspectiva de conjunto há uma linha divisória entre os Livros I e II de um lado e o Livro III de outro Linha divisória que não diz respeito à separação entre questões microeconômicas e macroeconômicas pois nos três livros encontramos umas e outras conquanto se possa afirmar que o Livro II é o mais voltado à macroeconomia A distinção estrutural obedece a critério diferente Os dois primeiros livros são dedicados ao capital em geral ao capital em sua identidade uniforme O Livro III aborda a concorrência entre os capitais concretos diferenciados pela função específica e pela modalidade de apropriação da maisvalia O capital em geral é segundo Marx a quintessência do capital aquilo que identifica o capital enquanto capital em qualquer circunstância No Livro I tratase do capital em sua relação direta de exploração da força de trabalho assalariada Por isso mesmo o locus preferencial é a fábrica e o tema principal é o processo de criação e acumulação da maisvalia A modalidade exponencial do capital é o capital industrial pois somente ele atua no processo de criação da maisvalia No Livro II tratase da circulação e da reprodução do capital social total O capital é sempre plural múltiplo mas circula e se reproduz como se fosse um só capital social de acordo com exigências que se impõem em meio a inumeráveis flutuações e que dão ao movimento geral do capital uma forma cíclica No Livro III os capitais se diferenciam se individualizam e o movimento global é enfocado sob o aspecto da concorrência entre os capitais individuais Por isso mesmo é a essa altura que se aborda o tema da formação da taxa média ou geral do lucro e da transformação do valor em preço de produção De acordo com as funções específicas que desempenham no circuito total da economia capitalista na produção na circulação e no crédito os capitais individuais apropriamse de formas distintas de maisvalia lucro industrial lucro comercial juros cabendo à propriedade territorial a renda da terra também ela uma forma particular da maisvalia A lei dinâmica direcionadora desse embate concorrencial entre os capitais individuais pela apropriação da maisvalia é a lei da queda tendencial da taxa média de lucro A estrutura dO capital segundo Friedrich Lange foi montada de acordo com um plano que parte do nível mais alto de abstração no qual se focalizam fatores isolados ou no menor número possível daí procedendo por concretização progressiva à medida que se acrescentam novos fatores no sentido da aproximação cada vez maior e multilateral 33 com a realidade fatual A essa interpretação no geral correta acrescentamos que o trânsito do abstrato ao concreto se faz em todo o percurso a começar pelo Livro I Já nele encontramos o jogo dialético da passagem do abstrato ao concreto real e vice versa Jacob Gorender nascido em 1923 é um dos mais importantes historiadores marxistas brasileiros Autodidata foi laureado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade da Bahia e atuou como professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo IEAUSP Autor entre outros livros de O escravismo colonial 5 ed Perseu Abramo 2011 34 ADVERTÊNCIA AOS LEITORES DO LIVRO I DO CAPITALa Louis Althusser O que é O capital É a grande obra de Marx à qual ele dedicou toda a sua vida desde 1850 e sacrificou em provações cruéis a maior parte de sua existência pessoal e familiar Esta é a obra pela qual Marx deve ser julgado Por ela apenas não por suas obras de juventude ainda idealistas 18411844 não por obras ainda muito ambíguas como A ideologia alemã ou mesmo os Grundrisse esboços traduzidos para o francês com o título errôneo de Fondements de la critique de léconomie politique Fundamentos da crítica da economia política1 nem pelo célebre Prefácio à Contribuição à crítica da economia política 18592 em que Marx define em termos muito ambíguos porque hegelianos a dialética da correspondência e da não correspondência entre as forças produtivas e as relações de produção Esta obra gigantesca que é O capital contém simplesmente uma das três grandes descobertas científicas de toda a história humana a descoberta do sistema de conceitos portanto da teoria científica que abre ao conhecimento científico aquilo que podemos chamar de ContinenteHistória Antes de Marx dois continentes de importância comparável já haviam sido abertos ao conhecimento científico o Continente Matemáticas pelos gregos do século V aC e o ContinenteFísica por Galileu Estamos ainda muito longe de apreender a dimensão dessa descoberta decisiva e extrair todas as suas consequências teóricas Em particular os especialistas que trabalham no campo das ciências humanas e no campo menor das ciências sociais ou seja economistas historiadores sociólogos psicossociólogos psicólogos historiadores da arte e da literatura da religião e de outras ideologias e até mesmo linguistas e psicanalistas todos esses especialistas devem saber que não podem produzir conhecimentos verdadeiramente científicos em suas especialidades sem reconhecer que a teoria fundada por Marx lhes é indispensável Essa é a teoria que a princípio abre ao conhecimento científico o continente em que eles trabalham em que até agora produziram apenas uns poucos conhecimentos iniciais a linguística a psicanálise uns poucos elementos ou rudimentos de conhecimento a história a sociologia e eventualmente a economia ou ilusões puras e simples que são abusivamente chamadas de conhecimentos Somente os militantes da luta de classe proletária extraíram as conclusões dO capital reconhecendo nele os mecanismos da exploração capitalista e unindose em organizações de luta econômica os sindicatos e política os partidos socialistas e depois comunistas que aplicam uma linha de massas na luta pela tomada do poder 35 de Estado uma linha fundada na análise concreta da situação concreta Lenin em que devem combater análise esta efetuada por uma aplicação justa dos conceitos científicos de Marx à situação concreta É um paradoxo que especialistas intelectuais altamente cultos não tenham compreendido um livro que contém a teoria de que necessitam em suas disciplinas e que por outro lado esse mesmo livro tenha sido compreendido apesar de suas grandes dificuldades pelos militantes do movimento operário A explicação desse paradoxo é simples e é dada com toda a clareza por Marx em O capital e por Lenin em suas obras3 Se os operários compreenderam tão facilmente O capital é porque este fala em termos científicos da realidade cotidiana com a qual eles lidam a exploração de que são objeto por conta do sistema capitalista É por isso que O capital se tornou tão rapidamente como disse Engels em 1886 a Bíblia do movimento operário internacional Por outro lado se os especialistas em história economia política sociologia psicologia etc tiveram e ainda têm tanta dificuldade para compreender O capital é porque estão submetidos à ideologia dominante a da classe dominante que intervém diretamente em sua prática científica para falsear seu objeto sua teoria e seus métodos Salvo poucas exceções eles não suspeitam não podem suspeitar do extraordinário poder e variedade do domínio ideológico a que estão submetidos em sua própria prática Salvo poucas exceções são incapazes de criticar por si mesmos as ilusões em que vivem e que ajudam a manter porque elas literalmente os cegam Salvo poucas exceções são incapazes de realizar a revolução ideológica e teórica indispensável para reconhecer na teoria de Marx a teoria mesma de que sua prática necessita para enfim tornarse científica Quando se fala da dificuldade dO capital é necessário fazer uma distinção da mais alta importância A leitura dessa obra apresenta de fato dois tipos de dificuldades que não têm absolutamente nada a ver um com o outro A dificuldade n 1 absoluta e maciçamente determinante é uma dificuldade ideológica logo em última instância política Há dois tipos de leitores diante dO capital aqueles que têm experiência direta da exploração capitalista sobretudo os proletários ou operários assalariados da produção direta mas também com nuances de acordo com seu lugar dentro do sistema produtivo os trabalhadores assalariados não proletários e aqueles que não têm experiência direta da exploração capitalista mas por outro lado estão dominados em sua prática e em sua consciência pela ideologia da classe dominante a ideologia burguesa Os primeiros não têm dificuldade políticoideológica para compreender O capital porque este simplesmente fala de sua vida concreta Os segundos experimentam uma extrema dificuldade para compreender O capital ainda que sejam muito eruditos eu diria sobretudo se forem muito eruditos porque há uma incompatibilidade política entre o conteúdo teórico do livro e as ideias que eles têm na cabeça ideias que eles reencontram porque ali as depositam em suas práticas Por isso a dificuldade n 1 dO capital é em última instância uma dificuldade política 36 Mas O capital apresenta outra dificuldade que não tem absolutamente nada a ver com a primeira a dificuldade n 2 ou dificuldade teórica Diante dessa dificuldade os mesmos leitores se dividem em dois novos grupos Aqueles que têm o hábito do pensamento teórico logo os verdadeiros eruditos não experimentam ou não deveriam experimentar dificuldade para ler esse livro teórico que é O capital Aqueles que não estão habituados às obras teóricas os trabalhadores e muitos intelectuais que mesmo que tenham cultura não têm cultura teórica devem ou deveriam experimentar grandes dificuldades para ler uma obra de teoria pura como essa Utilizo como se pode notar condicionais não deveriamdeveriam Faço isso para evidenciar um fato ainda mais paradoxal do que o precedente mesmo indivíduos sem prática com textos teóricos como os operários experimentaram menos dificuldades diante dO capital do que indivíduos habituados à prática da teoria pura como os eruditos ou pseudoeruditos muito cultos Isso não deve nos eximir de dizer umas poucas palavras sobre um tipo muito particular de dificuldade presente nO capital enquanto obra de teoria pura tendo sempre em mente o fato fundamental de que não são as dificuldades teóricas mas as dificuldades políticas que são determinantes em última instância para qualquer leitura dO capital e de seu Livro I Todos sabem que sem teoria científica correspondente não pode existir prática científica isto é prática que produza conhecimentos científicos novos Toda ciência repousa sobre sua teoria própria O fato de essa teoria mudar se complicar e se modificar de acordo com o desenvolvimento da ciência considerada não altera em nada a questão Ora o que é essa teoria indispensável a toda ciência É um sistema de conceitos científicos de base Basta enunciar essa simples definição para que se destaquem dois aspectos essenciais de toda teoria científica 1 os conceitos de base e 2 seu sistema Esses conceitos são conceitos ou seja noções abstratas Primeira dificuldade da teoria habituarse à prática da abstração Essa aprendizagem pois se trata de uma verdadeira aprendizagem comparável à de uma prática qualquer por exemplo a da serralheria é realizada antes de tudo em nosso sistema escolar pela matemática e pela filosofia Marx nos adverte desde o prefácio do Livro I que a abstração é não apenas a existência da teoria mas também seu método de análise As ciências experimentais dispõem do microscópio a ciência marxista não tem microscópio ela deve se servir da abstração para substituílo Atenção a abstração científica não é em absoluto abstrata ao contrário Exemplo quando Marx fala do capital social total ninguém pode tocálo com as mãos quando Marx fala do maisvalor total ninguém pode tocálo com as mãos ou contálo contudo esses dois conceitos abstratos designam realidades efetivamente existentes O que torna científica a abstração é justamente o fato de ela designar uma realidade concreta que existe realmente mas que não podemos tocar com as mãos ou ver com 37 os olhos Todo conceito abstrato fornece portanto o conhecimento de uma realidade cuja existência ele revela conceito abstrato quer dizer então fórmula aparentemente abstrata mas na realidade terrivelmente concreta pelo objeto que designa Esse objeto é terrivelmente concreto porque é infinitamente mais concreto mais eficaz do que os objetos que podemos tocar com as mãos ou ver com os olhos contudo não podemos tocálo com as mãos ou vêlo com os olhos Daí o conceito de valor de troca o conceito de capital social total o conceito de trabalho socialmente necessário etc Tudo isso pode ser facilmente esclarecido Outro ponto os conceitos de base existem na forma de um sistema e é isso que os torna uma teoria Uma teoria é com efeito um sistema rigoroso de conceitos científicos de base Numa teoria científica os conceitos de base não existem numa ordem qualquer mas numa ordem rigorosa Portanto é preciso conhecêla e aprender passo a passo a prática do rigor O rigor sistemático não é uma fantasia ou um luxo formal mas uma necessidade vital para qualquer ciência para qualquer prática científica É isso que em seu prefácio Marx chama de rigor da ordem de exposição de uma teoria científica Dito isso é preciso saber ainda qual é o objeto dO capital em outras palavras qual é o objeto analisado no Livro I dO capital Marx diz é o modo de produção capitalista e as relações de produção e de circulação que lhe correspondem Ora tratase de um objeto abstrato De fato e apesar das aparências Marx não analisa uma sociedade concreta nem mesmo a Inglaterra da qual ele fala insistentemente no Livro I mas o MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA e nada mais Esse objeto é abstrato isso significa que ele é terrivelmente real e nunca existe em estado puro porque só existe em sociedades capitalistas Simplesmente para poder analisar essas sociedades capitalistas concretas Inglaterra França Rússia etc é necessário saber que elas são dominadas por essa realidade terrivelmente concreta e invisível a olhos nus que é o modo de produção capitalista Invisível portanto abstrata Naturalmente isso não acontece sem malentendidos e devemos estar extremamente atentos para evitar as falsas dificuldades que eles causam Por exemplo não devemos pensar que Marx analisa a situação concreta da Inglaterra quando fala dela Marx fala dela apenas para ilustrar sua teoria abstrata do modo de produção capitalista Em resumo há realmente uma dificuldade de leitura dO capital e essa dificuldade é teórica Está ligada à natureza abstrata e sistemática dos conceitos de base da teoria ou da análise teórica Devemos ter em conta que se trata de uma dificuldade real objetiva que só pode ser superada por uma aprendizagem da abstração e do rigor da ciência É preciso ter em conta que essa aprendizagem não se faz de um dia para o outro Daí um primeiro conselho de leitura ter sempre em mente que O capital é uma obra de teoria cujo objeto são os mecanismos do modo de produção capitalista e apenas dele Daí um segundo conselho de leitura não buscar nO capital um livro de história concreta ou um livro de economia política empírica no sentido em que os 38 historiadores e os economistas entendem esses termos mas um livro de teoria que analisa o MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA A história concreta e a economia empírica têm outros objetos Daí este terceiro conselho de leitura ao encontrar uma dificuldade de leitura de ordem teórica levar isso em consideração e tomar as medidas necessárias Não se apressar mas sim voltar para trás cuidadosa e lentamente e não avançar até que as coisas estejam claras Ter em conta que a aprendizagem da teoria é indispensável para ler uma obra teórica Entender que é andando que se aprende a andar desde que as condições citadas sejam escrupulosamente respeitadas Entender que não se aprende a andar na teoria logo na primeira tentativa súbita e definitivamente mas pouco a pouco com paciência e humildade Esse é o preço do sucesso Na prática isso quer dizer que para ser compreendido o Livro I precisa ser relido quatro ou cinco vezes consecutivas Esse é o tempo necessário para aprender a andar na teoria A presente advertência destinase a guiar os primeiros passos dos leitores na teoria Mas antes devo dizer algumas palavras sobre o público que lerá o Livro I dO capital Quem naturalmente vai compor esse público 1 Proletários ou assalariados diretamente empregados na produção de bens materiais 2 Trabalhadores assalariados não proletários desde os simples empregados até os administradores de empresas de médio e alto escalão engenheiros pesquisadores professores etc 3 Artesãos urbanos e rurais 4 Profissionais liberais 5 Estudantes universitários e do ensino médio Entre os proletários ou assalariados que lerão o Livro I dO capital figuram certamente homens e mulheres para os quais a prática da luta de classes em organizações sindicais e políticas deu uma ideia da teoria marxista Essa ideia pode ser mais ou menos correta conforme se vá dos proletários aos assalariados não proletários ela não está fundamentalmente falseada Entre as outras categorias que lerão o Livro I dO capital figuram certamente homens e mulheres que também têm certa ideia da teoria marxista Por exemplo os universitários e em especial os historiadores os economistas e numerosos ideólogos de disciplinas diversas pois como se sabe hoje em dia todos se declaram marxistas nas ciências humanas Ora 90 das ideias que esses intelectuais têm acerca da teoria marxista são falsas Essas ideias falsas foram expostas enquanto Marx ainda vivia e desde então têm sido incansavelmente repetidas sem nenhum esforço notável de imaginação Essas ideias têm sido inventadas e defendidas há um século por todos os economistas e ideólogos burgueses e pequenoburgueses4 para refutar a teoria marxista Essas ideias não encontraram nenhuma dificuldade para ganhar um amplo público 39 porque este já estava ganho por conta de seus preconceitos ideológicos antissocialistas e antimarxistas Esse amplo público é composto antes de tudo por intelectuais mas não por operários pois como disse Engels eles não se deixam levar mesmo quando não conseguem penetrar as demonstrações mais abstratas dO capital Por outro lado mesmo os intelectuais e os estudantes mais generosamente revolucionários se deixam levar de uma maneira ou de outra porque estão maciçamente submetidos aos preconceitos da ideologia pequenoburguesa sem a contrapartida da experiência direta da exploração Assim nesta advertência sou obrigado a considerar conjuntamente 1 as duas ordens de dificuldades já assinaladas dificuldade n 1 política dificuldade n 2 teórica 2 a distribuição do público em dois grupos essenciais público operárioassalariado de um lado e público intelectual de outro levando em conta ainda que esses grupos se sobrepõem em sua margem alguns assalariados são ao mesmo tempo trabalhadores intelectuais 3 a existência no mercado ideológico de refutações pretensamente científicas dO capital que afetam mais ou menos profundamente conforme sua origem de classe certas partes desse público Considerados todos esses dados minha advertência assumirá a seguinte forma Ponto I conselhos de leitura para evitar provisoriamente as dificuldades mais ásperas Esse item será breve e claro Espero que os proletários o leiam porque foi escrito sobretudo para eles ainda que se dirija a todos Ponto II indicações sobre a natureza das dificuldades teóricas do Livro I dO capital para as quais apelam todas as refutações da teoria marxista Esse item será necessariamente mais árduo em razão das dificuldades teóricas de que trata e dos argumentos das refutações da teoria marxista que se apoiam em tais dificuldades Ponto I As maiores dificuldades tanto teóricas como de outros tipos que impedem uma leitura fácil do Livro I dO capital estão concentradas infelizmente ou felizmente no início do livro mais especificamente na seção I Mercadoria e dinheiro Dessa forma meu conselho é o seguinte deixar PROVISORIAMENTE ENTRE PARÊNTESES TODA A SEÇÃO I e COMEÇAR A LEITURA PELA SEÇÃO II A transformação do dinheiro em capital A meu ver só se pode começar e apenas começar a compreender a seção I depois de ler e reler todo o Livro I a partir da seção II Esse conselho é mais do que um conselho é uma recomendação que me permito apresentar com todo o respeito que devo aos meus leitores como uma recomendação imperativa Cada um pode fazer a experiência na prática Se o leitor começar a leitura do Livro I pelo começo isto é pela seção I ou não a compreenderá e desistirá ou então pensará que a compreendeu e isso é pior porque 40 existe grande possibilidade de que tenha compreendido algo muito diferente do que há ali para compreender A partir da seção II A transformação do dinheiro em capital as coisas aparecem às claras O leitor penetra diretamente no coração do Livro I Esse coração é a teoria do maisvalor que os proletários compreendem sem nenhuma dificuldade já que é simplesmente a teoria científica daquilo que eles experimentam no dia a dia a exploração de classe Vêm em seguida duas seções muito densas mas muito claras e decisivas para a luta de classes ainda nos dias atuais a seção III e a seção IV Elas tratam das duas formas fundamentais do maisvalor de que a classe capitalista dispõe para levar ao máximo a exploração da classe operária aquilo que Marx chama de maisvalor absoluto seção III e maisvalor relativo seção IV O maisvalor absoluto seção III diz respeito à duração da jornada de trabalho Marx explica que a classe capitalista inexoravelmente faz pressão para aumentar a duração da jornada de trabalho e que o objetivo da luta de classe operária mais do que centenária é conseguir uma redução da duração da jornada de trabalho lutando CONTRA esse aumento As etapas históricas dessa luta são conhecidas jornada de 12 horas de 10 horas depois de 8 horas e finalmente com a Frente Popular a semana de 40 horas Todos os proletários conhecem por experiência própria aquilo que Marx demonstra na seção III a tendência irresistível do sistema capitalista ao máximo aumento da exploração por meio do prolongamento da duração da jornada de trabalho ou da semana de trabalho Esse resultado é obtido ou a despeito da legislação existente as 40 horas semanais nunca foram aplicadas de fato ou por intermédio da legislação existente por exemplo as horas extras As horas extras parecem custar muito caro aos capitalistas já que eles pagam 25 50 ou mesmo 100 a mais por elas do que pagam pelas horas normais de trabalho Mas na realidade elas são vantajosas para eles porque possibilitam que as máquinas cuja vida é cada vez mais curta por conta dos rápidos progressos da tecnologia funcionem 24 horas ininterruptas Em outras palavras as horas extras permitem aos capitalistas extrair o máximo de lucro da produtividade Marx mostra claramente que a classe capitalista não paga e jamais pagará horas extras aos trabalhadores para lhes fazer um agrado ou para permitir que complementem sua renda em detrimento de sua saúde mas para explorálos ainda mais O maisvalor relativo seção IV cuja existência pode ser observada em segundo plano na questão das horas extras é sem dúvida a forma número 1 da exploração contemporânea É uma forma muito mais sutil porque é menos perceptível do que a extensão da duração do trabalho Os proletários entretanto reagem por instinto se não contra ele ao menos como veremos contra seus efeitos O maisvalor relativo diz respeito à intensificação da mecanização da produção industrial e agrícola e portanto ao crescimento da produtividade que daí resulta A automação é a sua tendência atual Produzir o máximo de mercadorias pelo preço mais 41 baixo para extrair daí o máximo de lucro é a tendência irresistível do capitalismo Naturalmente ela vem junto com uma exploração crescente da força de trabalho Há uma tendência em falar de mutação ou revolução na tecnologia contemporânea Na realidade Marx afirma desde o Manifesto Comunistab e demonstra nO capital que o modo de produção capitalista se caracteriza por uma revolução ininterrupta dos meios de produção sobretudo dos instrumentos de produção tecnologia Temse anunciado grandiosamente como sem precedentes o que aconteceu nos últimos dez ou quinze anos e é verdade que recentemente as coisas avançaram mais rápido do que antes Mas é uma simples diferença de grau não de natureza A história do capitalismo é toda ela a história de um prodigioso desenvolvimento da produtividade por meio do desenvolvimento da tecnologia Isso resulta hoje como também no passado na introdução de máquinas cada vez mais aperfeiçoadas no processo de trabalho que permitem produzir a mesma quantidade de produtos em tempo duas três ou quatro vezes menor e portanto num desenvolvimento manifesto da produtividade Mas correlativamente isso tem efeitos precisos no agravamento da exploração da força de trabalho aceleração do ritmo de trabalho supressão de empregos e postos de trabalho não apenas para os proletários mas também para os trabalhadores assalariados não proletários inclusive certos técnicos até mesmo de alto escalão que não estão mais atualizados com o progresso técnico e portanto não têm mais valor de mercado daí o desemprego subsequente É disso que Marx trata com extremo rigor e precisão na seção IV A produção do maisvalor relativo Ele desmonta os mecanismos de exploração pelo desenvolvimento da produtividade em suas formas concretas Demonstra assim que o desenvolvimento da produtividade nunca pode beneficiar espontaneamente a classe operária mas ao contrário é feito precisamente para aumentar sua exploração Demonstra assim de maneira irrefutável que a classe operária não pode esperar nenhum benefício do desenvolvimento da produtividade moderna antes de derrubar o capitalismo e tomar o poder de Estado através de uma revolução socialista Demonstra que daqui até a tomada revolucionária do poder que abra a via do socialismo a classe operária não pode ter outro objetivo logo também não tem outro recurso a não ser lutar contra os efeitos da exploração gerados pelo desenvolvimento da produtividade para limitar esses efeitos luta contra a aceleração do ritmo de trabalho contra a arbitrariedade dos bônus de produtividade contra as horas extras contra a supressão de postos de trabalho contra o desemprego causado pela produtividade Luta essencialmente defensiva e não ofensiva Aconselho o leitor que chegou ao fim da seção IV que deixe provisoriamente de lado a seção V A produção do maisvalor absoluto e relativo e passe diretamente para a luminosa seção VI sobre o salário Nela os proletários estão literalmente em casa porque Marx examina além da mistificação burguesa que declara que o trabalho do operário é pago de acordo com seu valor as diferentes formas de salário primeiro o salário por tempo e depois o 42 salário por peça ou seja as diferentes armadilhas em que a burguesia tenta prender a consciência operária para destruir toda a vontade de luta de classes organizada Aqui os proletários reconhecerão que sua luta de classe só pode se opor de maneira antagônica à tendência de agravamento da exploração capitalista Reconhecerão que no que diz respeito ao salário ou como dizem os ministros e seus respectivos economistas no que diz respeito ao nível de vida ou à renda a luta de classe econômica dos proletários e de outros assalariados só pode ter um sentido uma luta defensiva contra a tendência objetiva do sistema capitalista ao aumento da exploração em todas as suas formas Digo claramente luta defensiva e portanto luta contra a diminuição do salário É claro que toda luta contra a diminuição do salário é ao mesmo tempo uma luta para aumentar o salário existente Mas falar apenas de luta para aumentar o salário é designar o efeito da luta arriscandose a ocultar sua causa e seu objetivo Diante da tendência inexorável do capitalismo à diminuição do salário a luta para aumentar o salário é por seu princípio mesmo uma luta defensiva contra a tendência do capitalismo de diminuir o salário Está perfeitamente claro então como Marx aponta na seção VI que a questão do salário não pode de modo algum se resolver por si mesma através da distribuição entre operários e outros trabalhadores assalariados dos benefícios do desenvolvimento ainda que espetacular da produtividade A questão do salário é uma questão de luta de classe Ela se resolve não por si mesma mas pela luta de classe sobretudo pelas diversas formas de greve que mais cedo ou mais tarde levam à greve geral Que essa greve geral seja puramente econômica e portanto defensiva defesa dos interesses materiais e morais dos trabalhadores luta contra a dupla tendência capitalista ao aumento da duração do trabalho e à diminuição do salário ou tome uma forma política e portanto ofensiva luta pela conquista do poder de Estado a revolução socialista e a construção do socialismo todos os que conhecem as distinções de Marx Engels e Lenin sabem que diferença separa a luta de classe política da luta de classe econômica A luta de classe econômica sindical é defensiva porque é econômica contra as duas grandes tendências do capitalismo A luta de classe política é ofensiva porque é política para a tomada do poder pela classe operária e seus aliados É preciso distinguir bem essas duas lutas embora na prática elas se confundam entre si mais ou menos segundo a conjuntura Uma coisa é certa e a análise que Marx faz das lutas de classe econômicas na Inglaterra no Livro I é a prova disto uma luta de classe que queira deliberadamente se restringir ao campo da luta econômica é e sempre será defensiva portanto sem esperança de derrubar o regime capitalista Essa é a maior tentação dos reformistas fabianos tradeunionistas de que fala Marx e de maneira geral da tradição social democrata da Segunda Internacional Somente uma luta política pode mudar o rumo e superar esses limites portanto deixar de ser defensiva e se tornar ofensiva Podemos ler 43 essa conclusão nas entrelinhas dO capital e podemos lêla com todas as letras nos textos políticos do próprio Marx de Engels e de Lenin É a questão número 1 do movimento operário internacional desde que ele se fundiu com a teoria marxista Os leitores poderão passar em seguida à seção VII O processo de acumulação do capital que é muito clara Marx explica que a tendência do capitalismo é reproduzir e alargar a própria base do capital já que consiste em transformar em capital o maisvalor extorquido dos proletários e já que o capital vira uma bola de neve para extorquir cada vez mais maistrabalho maisvalor dos proletários E Marx o mostra em uma magnífica ilustração concreta a Inglaterra de 1846 a 1866 Quanto ao capítulo 24c A assim chamada acumulação primitiva que encerra o livrod ele traz a segunda grande descoberta de Marx A primeira foi a do maisvalor A segunda é a dos meios incríveis pelos quais a acumulação primitiva se realiza graças aos quais e mediante a existência de uma massa de trabalhadores livres isto é desprovida de meios de trabalho e de descobertas tecnológicas o capitalismo pôde nascer e se desenvolver nas sociedades ocidentais Esses meios são a mais brutal violência o roubo e os massacres que abriram para o capitalismo sua via régia na história humana Esse último capítulo contém riquezas prodigiosas que não foram ainda exploradas em especial a tese que devemos desenvolver de que o capitalismo nunca deixou de empregar e continua a empregar em pleno século XX nas margens de sua existência metropolitana isto é nos países coloniais e excoloniais os meios da mais brutal violência Aconselho insistentemente portanto o seguinte método de leitura 1 deixar deliberadamente de lado em uma primeira leitura a seção I Mercadoria e dinheiro 2 começar a leitura do Livro I pela seção II A transformação do dinheiro em capital 3 ler com atenção as seções II A transformação do dinheiro em capital III A produção do maisvalor absoluto e IV A produção do maisvalor relativo 4 deixar de lado a seção V A produção do maisvalor absoluto e relativo 5 ler atentamente as seções VI O salário VII O processo de acumulação do capital e o capítulo 24 A assim chamada acumulação primitiva 6 começar a ler enfim com infinitas precauções a seção I Mercadoria e dinheiro sabendo que ela continuará extremamente difícil de ser compreendida mesmo depois de várias leituras das outras seções se não houver ajuda de um certo número de explicações aprofundadas Garanto que os leitores que quiserem observar escrupulosamente essa ordem de leitura lembrandose do que foi dito sobre as dificuldades políticas e teóricas de qualquer leitura dO capital não se arrependerão Ponto II Passo a tratar agora das dificuldades teóricas que impedem uma leitura rápida ou 44 mesmo em certos pontos uma leitura mais atenta do Livro I dO capital Lembro que é apoiandose nessas dificuldades que a ideologia burguesa tenta se convencer mas consegue realmente de que ela refutou há muito tempo a teoria de Marx A primeira dificuldade é de ordem muito geral Ela se refere ao simples fato de que o Livro I é somente o primeiro de uma obra composta de quatro livros Eu disse bem quatro Se é conhecida a existência dos Livros I II e III e mesmo que tenham sido lidos há um silêncio em geral sobre o Livro IV supondose ao menos que se suspeite de sua existência O misterioso Livro IV só é misterioso para os que pensam que Marx é um historiador entre outros autor de uma História das doutrinas econômicas5 porque foi com esse título aberrante que Molitor traduziu se é que se pode chamar assim uma determinada obra profundamente teórica denominada na verdade Teorias do mais valor Sem dúvida o Livro I dO capital é o único que Marx publicou em vida os Livros II e III foram publicados depois de sua morte em 1883 por Engels e o Livro IV por Kautsky6 Em 1886 no prefácio à edição inglesa Engels pôde dizer que o Livro I é um todo em si mesmo De fato como não se dispunha dos livros seguintes era preciso considerálo uma obra independente Não é mais o caso hoje Dispomos com efeito dos quatro livros em alemão7 e em francês8 Observo àqueles que podem que é de seu interesse reportarse constantemente ao texto alemão para controlar a tradução não só do Livro IV que está cheio de erros graves mas também dos Livros II e III algumas dificuldades terminológicas nem sempre foram bem resolvidas e do Livro I traduzido por Roy em uma versão que o próprio Marx revisou por completo retificandoa e até mesmo aumentandoa significativamente em algumas passagens Marx duvidando da capacidade teórica dos leitores franceses em algumas passagens atenuou perigosamente a clareza das expressões conceituais originais O conhecimento dos três outros livros permite resolver muitas das grandes dificuldades teóricas do Livro I sobretudo as que se encontram na terrível seção I Mercadoria e dinheiro em torno da famosa teoria do valortrabalho Preso a uma concepção hegeliana da ciência para Hegel só há ciência filosófica e por isso toda verdadeira ciência deve fundar seu próprio começo Marx pensava que em qualquer ciência todo começo é difícil De fato a seção I do Livro I apresenta uma ordem de exposição cuja dificuldade se deve em grande medida a esse preconceito hegeliano Além disso Marx redigiu esse começo uma dezena de vezes antes de lhe dar forma definitiva como se lutasse contra uma dificuldade que não era apenas de simples exposição e não sem razão Dou em poucas palavras o princípio da solução A teoria do valortrabalho de Marx que todos os economistas e ideólogos burgueses criticaram com condenações ridículas é inteligível mas só é inteligível como 45 um caso particular de uma teoria que Marx e Engels chamaram de lei do valor ou lei de repartição da quantidade de força de trabalho disponível segundo os diversos ramos da produção repartição indispensável à reprodução das condições da produção Até uma criança a compreenderia diz Marx em 1868 em termos que desmentem portanto o inevitável difícil começo de toda ciência Sobre a natureza dessa lei remeto entre outros textos às cartas de Marx a Kugelman de 6 de março e 11 de julho de 18689 A teoria do valortrabalho não é o único ponto difícil no Livro I É necessário mencionar naturalmente a teoria do maisvalor o pesadelo dos economistas e dos ideólogos burgueses que a acusam de ser metafísica aristotélica inoperacional etc Ora a teoria do maisvalor só é inteligível como um caso particular de uma teoria mais vasta a teoria do maistrabalho O maistrabalho existe em toda sociedade Nas sociedades sem classe ele é uma vez separada a parte necessária à reprodução das condições da produção repartido entre os membros da comunidade primitiva comunista Nas sociedades de classes ele é uma vez separada a parte necessária à reprodução das condições da produção extorquida das classes exploradas pelas classes dominantes Na sociedade de classes capitalista na qual pela primeira vez na história a força de trabalho se torna mercadoria o maistrabalho extorquido assume a forma do maisvalor Mais uma vez não vou desenvolver a questão limitome a indicar o princípio da solução cuja demonstração exigiria argumentos detalhados O Livro I contém ainda outras dificuldades teóricas vinculadas às precedentes ou a outros problemas Por exemplo a teoria da distinção que deve ser introduzida entre o valor e a forma de valor a teoria da quantidade de trabalho socialmente necessário a teoria do trabalho simples e do trabalho complexo a teoria das necessidades sociais etc Por exemplo a teoria da composição orgânica do capital ou a famosa teoria do fetichismo da mercadoria e de sua ulterior generalização Todas essas questões e muitas outras ainda constituem dificuldades reais objetivas às quais o Livro I dá soluções ou provisórias ou parciais Por que essa insuficiência É preciso saber que quando publicou o Livro I dO capital Marx já tinha escrito o Livro II e parte do Livro III este último na forma de rascunho De todo modo como prova sua correspondência com Engels10 ele tinha tudo na cabeça ao menos no fundamental Mas era materialmente impossível que pudesse pôr tudo isso no Livro I de uma obra que devia comportar quatro livros Além disso embora tivesse tudo na cabeça Marx não tinha todas as respostas para as questões que ele tinha em mente e isso se percebe em certos pontos do Livro I Não é por acaso que somente em 1868 portanto um ano depois da publicação do Livro I Marx escreva que a compreensão da lei do valor da qual depende a compreensão da seção I está ao alcance de uma criança O leitor do Livro I deve se convencer de um fato perfeitamente compreensível se 46 consideramos que Marx desbravava pela primeira vez na história do pensamento humano um continente virgem o Livro I contém algumas soluções de problemas que só serão colocados nos Livros II III e IV e certos problemas cujas soluções só serão demonstradas nesses volumes É essencialmente a esse caráter de suspense ou se se preferir de antecipação que se deve a maior parte das dificuldades objetivas do Livro I Portanto é preciso ter isso em mente e assumir as consequências isto é ler o Livro I levando em conta os Livros II III e IV Existe no entanto uma segunda ordem de dificuldades que constituem um obstáculo real à leitura do Livro I e dizem respeito não mais ao fato de que O capital compreende quatro livros mas aos resquícios na linguagem e mesmo no pensamento de Marx da influência do pensamento de Hegel Talvez o leitor saiba que recentemente11 tentei defender a ideia de que o pensamento de Marx é fundamentalmente diferente do pensamento de Hegel e portanto há entre Hegel e Marx um verdadeiro corte ou se se preferir ruptura Quanto mais o tempo passa mais penso que essa tese é justa No entanto devo reconhecer que dei uma ideia demasiado rígida dessa tese defendendo que tal ruptura poderia ter ocorrido em 1845 Teses sobre Feuerbach A ideologia alemãe Na verdade algo decisivo começa em 1845 mas foi necessário que Marx fizesse um longuíssimo trabalho de revolucionarização para chegar a formular em conceitos verdadeiramente novos a ruptura com o pensamento de Hegel O famoso Prefácio de 1859 à Crítica da economia política é ainda profundamente hegelianoevolucionista Os Grundrisse que datam dos anos 18571859 também são bastante marcados pelo pensamento de Hegel do qual Marx tinha relido com admiração a Grande lógica em 1858 Quando é lançado o Livro I dO capital 1867 ele ainda apresenta vestígios da influência hegeliana Estes só desaparecerão totalmente mais tarde a Crítica do Programa de Gotha 187512 assim como as Glosas marginais ao Tratado de economia política de Adolfo Wagner 1882 13 são total e definitivamente destituídos de qualquer vestígio de influência hegeliana Para nós portanto é da maior importância saber de onde vinha Marx ele vinha do neohegelianismo que era um retorno de Hegel a Kant e Fichte em seguida do feuerbachismo puro e do feuerbachismo impregnado de Hegel os Manuscritos de 184414 antes de reencontrar Hegel em 1858 E também interessa saber para onde ele ia A tendência de seu pensamento o levava irresistivelmente a abandonar radicalmente como se vê na Crítica do Programa de Gotha de 1875 e nas Glosas marginais ao Tratado de economia política de Adolfo Wagner de 1882 qualquer sombra de influência hegeliana Mesmo abandonando irreversivelmente qualquer influência de Hegel Marx reconhecia uma dívida importante com ele a de ter concebido pela primeira vez a história como um processo sem sujeito É levando em conta essa tendência que podemos apreciar como vestígios prestes a 47 desaparecer os traços de influência hegeliana que subsistem no Livro I Já identifiquei tais vestígios no problema tipicamente hegeliano do difícil começo de toda ciência do qual a seção I do Livro I é a manifestação clara Mais precisamente essa influência hegeliana pode ser localizada no vocabulário que Marx emprega nessa seção I no fato de que ele fala de duas coisas completamente diferentes a utilidade social dos produtos e o valor de troca desses mesmos produtos em termos que só têm uma palavra em comum a palavra valor de um lado valor de uso de outro valor de troca Se Marx expõe ao ridículo com o vigor que conhecemos o tal Wagner esse vir obscurus nas Glosas marginais de 1882 é porque Wagner finge acreditar que como Marx utiliza nos dois casos a mesma palavra valor o valor de uso e o valor de troca provêm de uma cisão hegeliana do conceito de valor O fato é que Marx não tomou o cuidado de eliminar a palavra valor da expressão valor de uso e falar simplesmente como deveria de utilidade social dos produtos É por isso que em 1873 no posfácio à segunda edição alemã dO capital Marx pôde voltar atrás e reconhecer que havia corrido o risco de no capítulo sobre a teoria do valor justamente a seção I coquetear aqui e ali com seus modos peculiares de Hegel de expressão Devemos assumir as consequências disso o que pressupõe no limite reescrever a seção I dO capital de modo que ela se torne um começo que não seja difícil mas simples e fácil A mesma influência hegeliana se encontra na imprudente fórmula do item 7 do capítulo 24 do Livro If no qual Marx falando da expropriação dos expropriadores declara é a negação da negação Imprudente porque ainda faz estragos a despeito de Stalin ter tido razão de suprimir por conta própria a negação da negação das leis da dialética se bem que em proveito de outros erros ainda mais graves Último vestígio da influência hegeliana e dessa vez flagrante e extremamente prejudicial já que todos os teóricos da reificação e da alienação encontraram nele com o que fundar suas interpretações idealistas do pensamento de Marx a teoria do fetichismo O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo quarto item do capítulo 1 da seção I Compreendese que eu não possa me estender aqui sobre esses diferentes pontos que exigiriam uma ampla demonstração Apenas os assinalo porque com o mui equivocado e célebre infelizmente prefácio à Contribuição à crítica da economia política o hegelianismo e o evolucionismo sendo o evolucionismo o hegelianismo do pobre que os impregnam fizeram grandes estragos na história do movimento operário marxista Assinalo que nem por um instante sequer Lenin cedeu à influência dessas páginas hegelianoevolucionistas do contrário não teria conseguido combater a traição da Segunda Internacional construir o partido bolchevique conquistar à frente das massas populares russas o poder de Estado para instaurar a ditadura do proletariado e engajarse na construção do socialismo Assinalo também que para a infelicidade do mesmo movimento comunista internacional Stalin fez do prefácio de 1859 seu texto de referência como se pode 48 constatar na História do Partido Comunista bolcheviqueg no capítulo intitulado Materialismo histórico e materialismo dialético 1938 o que explica muitas coisas daquilo que se chama por um termo que não tem nada de marxista o período do culto da personalidade Voltaremos a essa questão em outro lugar Acrescento ainda uma palavra para evitar ao leitor do Livro I um grande mal entendido que dessa vez não tem nada a ver com as dificuldades que acabei de expor mas referese à necessidade de ler com muita atenção o texto de Marx Esse malentendido concerne ao objeto tratado a partir da seção II do Livro I A transformação do dinheiro em capital Marx fala ali da composição orgânica do capital dizendo que na produção capitalista há para todo capital dado uma fração digamos 40 que constitui o capital constante matériaprima edifícios máquinas instrumentos e outra digamos 60 que constitui o capital variável despesa com a compra da força de trabalho O capital constante é chamado desse modo porque permanece constante no processo de produção capitalista ele não produz um novo valor portanto permanece constante O capital variável é chamado de variável porque produz um valor novo superior ao seu valor anterior pelo jogo da extorsão do mais valor que ocorre no uso da força de trabalho Ora a imensa maioria dos leitores inclusive é claro os economistas que ouso dizer são fadados a esse equívoco por sua deformação profissional como técnicos da política econômica burguesa acredita que Marx elabora ao abordar a composição orgânica do capital uma teoria da empresa ou para empregar termos marxistas uma teoria da unidade da produção No entanto Marx diz exatamente o contrário ele fala sempre da composição orgânica do capital social total mas na forma de um exemplo aparentemente concreto quando dá cifras por exemplo sobre 100 milhões capital constante 40 milhões 40 e capital variável 60 milhões 60 Portanto Marx não trata nesse exemplo cifrado de uma ou outra empresa mas de uma fração do capital total Ele raciocina para a comodidade do leitor e para fixar as ideias com um exemplo concreto com cifras portanto mas esse exemplo concreto serve simplesmente de exemplo para falar do capital social total Desse ponto de vista assinalo que não se encontra em lugar algum nO capital uma teoria da unidade de produção ou uma teoria da unidade de consumo capitalistas Sobre esses dois pontos a teoria de Marx ainda deve ser completada Assinalo também a importância política dessa confusão que foi definitivamente dissipada por Lenin em sua teoria do imperialismo15 Sabese que Marx planejava tratar nO capital do mercado mundial isto é da extensão tendencial ao mundo inteiro das relações de produção capitalistas Essa tendência encontrou sua forma acabada no imperialismo É muito importante pesar a importância política decisiva dessa tendência que Marx e a Primeira Internacional perceberam perfeitamente Com efeito se é verdade que a exploração capitalista extorsão do maisvalor existe nas empresas capitalistas onde são contratados os operários assalariados e os operários são suas vítimas e portanto suas testemunhas imediatas essa exploração local somente 49 existe como uma simples parte de um sistema de exploração generalizado que se estende gradualmente das grandes empresas industriais urbanas para as empresas capitalistas agrárias e depois para as formas complexas dos outros setores artesanato urbano e rural empreendimentos agrofamiliares empregados e funcionários etc não somente em um país capitalista mas no conjunto dos países capitalistas e por fim ao resto do mundo primeiro pela exploração colonial direta apoiada na ocupação militar colonialismo e depois pela indireta sem ocupação militar neocolonialismo Existe portanto uma verdadeira internacional capitalista de fato que desde o fim do século XIX se tornou a internacional imperialista à qual o movimento operário e seus grandes dirigentes Marx e depois Lenin responderam com uma internacional operária a Primeira a Segunda e a Terceira Internacional Os militantes operários reconhecem esse fato em sua prática do internacionalismo proletário Concretamente isso significa que eles sabem muito bem que 1 são diretamente explorados na empresa unidade de produção capitalista em que trabalham 2 não podem travar a luta unicamente no plano de sua própria empresa mas devem travála também no plano da produção nacional correspondente federações sindicais da metalurgia da construção dos transportes etc em seguida no plano do conjunto nacional dos diferentes ramos da produção por exemplo Confederação Geral dos Trabalhadores e depois no plano mundial por exemplo Federação Sindical Mundial Isso no que diz respeito à luta de classe econômica Ocorre o mesmo naturalmente no que diz respeito à luta de classe política apesar do desaparecimento formal da Internacional Essa é a razão por que se deve ler o Livro I à luz não somente do Manifesto Proletários de todos os países univos mas também dos estatutos da Primeira da Segunda e da Terceira Internacional e é claro à luz da teoria leninista do imperialismo Dizer isso não significa de modo algum sair do Livro I dO capital e começar a fazer política a propósito de um livro que parece tratar somente de economia política Muito pelo contrário significa levar a sério o fato de que Marx por meio de uma descoberta prodigiosa abriu ao conhecimento científico e à prática consciente dos homens um novo continente o ContinenteHistória e como a descoberta de toda nova ciência essa descoberta se prolongou na história dessa ciência e na prática dos homens que se reconheceram nela Se Marx não conseguiu escrever o capítulo dO capital que planejava escrever com o título de Mercado mundial fundamento do internacionalismo proletário em resposta à internacional capitalista e depois imperialista a Primeira Internacional fundada por Marx em 1864 já tinha começado a escrever nos fatos três anos antes da publicação do Livro I dO capital esse mesmo capítulo cuja continuação Lenin escreveu em seguida não só em seu livro Imperialismo estágio superior do capitalismo mas também na fundação da Terceira Internacional 1919 Tudo isso é claro ou é incompreensível ou é ao menos muito difícil de 50 compreender quando se é um economista ou mesmo um historiador e mais ainda quando se é um simples ideólogo da burguesia Em compensação tudo isso é muito fácil de compreender quando se é um proletário isto é um operário assalariado empregado na produção capitalista urbana ou agrária Por que essa dificuldade Por que essa relativa facilidade Creio poder responder a essas perguntas seguindo textos do próprio Marx e esclarecimentos que Lenin faz quando comenta O capital de Marx nos primeiros tomos de suas Obrash O que acontece é que os intelectuais burgueses ou pequenoburgueses têm um instinto de classe burguês ou pequenoburguês ao passo que os proletários têm um instinto de classe proletário Os primeiros cegos pela ideologia burguesa que faz de tudo para escamotear a exploração de classes não conseguem ver a exploração capitalista Os segundos ao contrário apesar da ideologia burguesa e pequenoburguesa que pesa terrivelmente sobre eles não conseguem não ver a exploração capitalista já que ela constitui sua vida cotidiana Para compreender O capital e portanto seu Livro I é preciso adotar as posições de classe proletárias isto é situarse no único ponto de vista que torna visível a realidade da exploração da força de trabalho assalariada que forma todo o capitalismo Guardadas as devidas proporções e desde que lutem contra a ideologia burguesa e pequenoburguesa que pesa sobre eles isso é relativamente fácil para os operários Como eles têm por natureza um instinto de classe formado pela rude escola da exploração cotidiana basta uma educação suplementar política e teórica para que compreendam objetivamente o que pressentem de forma subjetiva instintiva O capital dá esse suplemento de educação teórica na forma de explicação e demonstração objetivas o que os ajuda a passar do instinto de classe proletário a uma posição objetiva de classe proletária Mas isso é extremamente difícil para os especialistas e outros intelectuais burgueses e pequenoburgueses inclusive estudantes Uma simples educação de suas consciências não é suficiente tampouco uma simples leitura dO capital Eles devem realizar uma verdadeira ruptura uma verdadeira revolução em suas consciências para passar do instinto de classe necessariamente burguês ou pequenoburguês para posições de classe proletárias Isso é extremamente difícil mas não é impossível A prova é o próprio Marx filho da boa burguesia liberal pai advogado e Engels da alta burguesia capitalista e durante vinte anos capitalista em Manchester Toda a história intelectual de Marx pode e deve ser compreendida deste modo como uma longa difícil e dolorosa ruptura para passar do instinto de classe pequenoburguesa para posições de classe proletárias que ele próprio contribuiu para definir de modo decisivo nO capital Um exemplo sobre o qual podemos e devemos meditar levando em consideração outros exemplos ilustres em primeiro lugar o de Lenin filho de um pequenoburguês esclarecido professor progressista que se tornou dirigente da Revolução de Outubro e do proletariado mundial no estágio do imperialismo o estágio supremo isto é o último do capitalismo 51 Março de 1969 Louis Althusser 19181990 filósofo marxista e um dos principais autores do estruturalismo francês foi professor da École Normale Supérieure de Paris São de sua autoria as obras Pour Marx Maspero 1965 e Lire Le capital Maspero 1965 entre outras 52 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO1 José Arthur Giannotti I O primeiro volume dO capital Crítica da economia política foi publicado em 1867 na Alemanha Embora seu autor Karl Marx já tivesse emigrado para Londres em 1850 ele continuava a manter profundas relações com os alemães e os líderes dos movimentos operários que participavam das políticas revolucionárias espalhadas por toda a Europa O capital não foi escrito com intenções meramente teóricas não se propunha a elaborar uma nova visão dos acontecimentos econômicos nem aspirava ser mais uma notável publicação do mercado editorial o que a obra pretendia era criticar um modo de produção da riqueza essencialmente ancorado no mercado isto é na troca de produtos sob a forma mercantil Como é possível que uma troca que equalize produtos possa sistematicamente produzir excedente econômico Criar tanto riqueza como pobreza Em sua análise Marx pretende mostrar que esse excedente provém da diferença entre o valor da força de trabalho e o valor que o trabalhador cria ao pôla em movimento Espera assim provar cientificamente a especificidade da exploração do trabalho pelo capital inserida num modo de produção que leva ao extremo o tradicional conflito de classes que marca toda a história No limite esse conflito não teria condições de ser superado No entanto se o livro desde logo é arma política não é por isso que foge dos padrões mais rigorosos que regem as publicações universitárias O fato de nem sempre ter sido bem acolhido pelos pensadores acadêmicos não quer dizer que sua composição e seus passos analíticos deixem de seguir uma metodologia rigorosa e cuidadosamente traçada buscando uma nova interpretação que pudesse pôr em xeque o pensamento estabelecido Essa intenção crítica já se evidencia no subtítulo da obra A economia política foi o primeiro esboço daquela ciência que hoje conhecemos sob o nome de economia Como veremos haverá uma ruptura de paradigma entre essa forma antiga e a nova que a disciplina assume no século XX Tal ciência nasce estudando como se constrói e se mantém a riqueza das nações como se desenvolvem o comércio o crédito o juro o sistema bancário o imposto o Estado e assim por diante Lembremos que o Estado como formação política separada da totalidade da pólis somente se configura de modo pleno no Ocidente a partir do Renascimento De certo modo a economia política é a primeira forma de pensar as relações de produção o metabolismo do homem com a natureza retomando a linguagem favorita do jovem Marx que as desliga de intervenções políticas diretas Notese que o Estado sempre esteve presente no desenvolvimento capitalista mas o mercado principalmente na sua fase adulta recusa 53 essa interferência acreditando ser mais eficaz do que qualquer intervenção pública Nos meados do século XIX observa o próprio Marx a nova ciência se apresentava como um bom raciocínio formal a produção é a universalidade a distribuição e a troca a particularidade e o consumo a singularidade na qual o todo se unifica2 Encadeamento superficial porque deixa de lado a história Esse comentário aparece numa famosa introdução de 1857 que acompanharia o livro Contribuição à crítica da economia política o qual pretendia estudar à parte o método da nova ciência inspirandose na lógica hegeliana cujo debate estava aceso entre os alemães mas deixou de ser publicado por causa de sua complexidade Paradoxalmente porém tornouse um dos textos clássicos da dialética materialista Somente veio à luz de forma definitiva na coletânea de escritos inéditos conhecida como Grundrisse der Kritik der politischen Ökonomie Esboços da crítica da economia política Ao lêlo desde logo percebemos que Marx critica seus pares não apenas porque desenvolvem teorias incompatíveis com os dados empíricos mas sobretudo porque aceitam uma visão errônea da natureza do próprio fenômeno econômico tomando como real o que não passa de ilusão criada pelo próprio capital Vamos tentar mostrar os primeiros passos dessa crítica de natureza lógica e ontológica que por ser a mais radical muitas vezes tem sido deixada de lado Por sua complexidade por certo exigirá do leitor um esforço suplementar II O estudo da produção distribuição troca e consumo segue em geral as linhas de um raciocínio correto mas deixa de lado a íntima conexão das atividades elencadas3 Em particular ignora o lado histórico da produção cuja forma varia ao longo do tempo conforme se moldam seus meios Além do mais se a estrutura das atividades econômicas depende de seu tempo não é por isso que elas seguem uma evolução linear Depois da quebra do comunismo primitivo os sistemas produtivos se articularam em modos conforme se configurou a propriedade dos meios de produção Somente no capitalismo todos os seus fatores assumem a forma de mercadoria o que logo desafia o pensamento como um sistema nessas condições quando as partes são trocadas por seus valores pode gerar um excedente econômico A mercadoria não se confunde com um objeto de troca tribal situação em que por exemplo um saco de alimentos não pode ser trocado por uma canoa embora esta possa ser trocada por uma mulher Nem se confunde com o escambo Suas primeiras formas se encontram nas trocas regulares e por dinheiro entre comunidades separadas Uma análise dos fenômenos econômicos deve capturar as diferentes formas dessas trocas de um ponto de vista histórico Ao dotar os conceitos de historicidade Marx atenta para as diferentes vias de suas particularizações assim como para as diversas maneiras pelas quais o universal e o particular se relacionam Se não há produção em geral também não há igualmente produção universal A produção é sempre um ramo particular da produção por exemplo agricultura pecuária manufatura etc ou uma totalidade Mas a economia 54 política não é tecnologia4 Essa observação é muito importante para compreender o sentido da totalidade tal como é pensada por Marx Já lembramos que uma das origens de seu pensamento foi a dialética do idealismo absoluto É sintomático que durante a redação do primeiro livro dO capital ele tenha relido a Ciência da lógica de Hegel O vocabulário e a inspiração desse livro que funde lógica e ontologia provocam nos comentadores de Marx as maiores dores de cabeça e os maiores desatinos Para Hegel um conceito geral como mesa não é apenas o que um olhar captura como propriedades comuns de várias mesas Também não se particulariza somando determinações propriedades predicáveis mesa de escrever mesa de comer O conceito fruta por exemplo não é o conjunto das propriedades inscritas em geral nas frutas O conceito hegeliano já traz em si o princípio de sua diferenciação Nada tem a ver com o freguês que ao comprar frutas recusa laranjas peras e figos porque não encontra em cada coisa a universalidade que as engloba Este exemplo a relação entre o gênero da fruta e suas espécies assemelhase à relação da produção em geral e suas particularizações Os gêneros vivos passam a existir mobilizando duas forças contrapostas o masculino e o feminino que geram indivíduos igualmente polarizados Não acontece o mesmo com a produção que se realiza na agricultura na pecuária na indústria cada uma negando a outra de tal modo que se separam na medida em que conformam a unidade geral Um modo de produção como um todo produção distribuição troca e consumo não tem suas partes ligadas por essa mesma negatividade produtora E o mesmo não acontece com os diversos atos de produzir que se diferenciam desde que possam ser igualizados por um padrão tecnológico comum que se expressa no valor Por sua vez não forma uma estrutura dotada de temporalidade própria Mas se ao criticar a economia política positiva tal como se configurava até o século XIX Marx se inspira na dialética hegeliana não é por isso que aceita mergulhar nos mares do idealismo Seria muito estranho que um materialista pudesse acreditar que tudo o que é venha ser manifestação do Espírito Absoluto Marx que tinha formação de jurista também passara pela crítica que os neohegelianos de esquerda haviam feito a seu mestre O desafio era dar peso ao real quando a dialética tudo reduz ao discurso do Espírito III No posfácio dos Grundrisse Marx explicita sua concepção de concreto o qual insiste seria a síntese de várias determinações isto é de propriedades atribuídas a algo posto como sujeito de predicações Não é por isso que o real resultaria do pensamento como se brotasse do cérebro mas é o pensar por meio de suas representações que isola na totalidade do real aspectos que essa própria totalidade diferenciou O conceito deve pois nascer do próprio jogo do real acompanhado pelo olhar do cientista A mais simples categoria econômica o valor de troca pressupõe a população uma população produzindo em determinadas condições e também certos tipos de famílias 55 comunidades ou Estados O erro dos lógicos formais e dos economistas é duplo Primeiro fazer do valor de troca uma propriedade de um objeto trocável em qualquer situação histórica deixando de diferenciar a troca de presentes entre certas etnias indígenas a troca de indivíduos por dinheiro num mercado de escravos e assim por diante Aqui cabe investigar como o valor de troca de cada um desses produtos está ligado ao todo do processo produtivo É preciso em contrapartida sublinhar que somente no modo capitalista de produção todos os seus insumos estão sob a forma de mercadoria Mas isso somente se torna possível do ponto de vista da formação histórica quando aparece no mercado uma força de trabalho desligada de qualquer outro vínculo social No entanto do ponto de vista formal cada objeto conformado para ser mercadoria é posto em comparação com qualquer outro que venha ao mercado em busca de uma medida interna de trocabilidade Numa situação de mercado os valores de um escravo trazido de Angola e de outro trazido da China podem ser traduzidos na mesma moeda mas todo o processo de capturálos e transportálos pressiona para que eles tenham medidas diferentes Não é o que tende a acontecer num modo de produção em que todos os insumos provenham da forma da mercadoria Nesse sistema o valor de uso do produto fica bloqueado enquanto estiver no circuito das trocas e seu valor de troca passa a ser expresso nos termos de qualquer outro produto que costuma aparecer no mercado O valor de uso de um pé de alface que produzo para a venda precisa se exprimir numa certa quantidade de valor correspondente a cada um dos objetos que comparecem ao mercado Todos os produtos se tornam assim comparáveis Notese que essa abstração que captura a determinação valor de troca é feita pelo próprio processo de troca o pensamento apenas recolhe a distinção feita Além do mais esse valor assim constituído contradiz a existência do valor de uso no qual se assenta O valor de troca depende do valor de uso mas o nega bloqueia seu exercício colocao entre parênteses Para chegar até o consumo a fruta deixa de ser comida para se consumir como objeto de troca objeto cuja produção foi financiada em vista de sua comercialização Para Marx embora o concreto o real oposto ao pensamento humano se apresente como síntese de determinações estas não são aspectos que os observadores encontrariam na realidade sensível para serem em seguida alinhavados numa coisa pensada Por todos os lados assistimos a relações de troca mas o cientista precisa levar em conta que essa relação depende de produtores que vivem e operam segundo certos costumes nos quais os indivíduos sempre socializados estão ligados a famílias e a outras unidades sociais Sabemos que antigamente as relações de troca mercantil apareciam entre as comunidades quando essas relações sociais deixavam de operar Somente no capitalismo é que elas fazem parte do sistema como um todo e se dão em sua pureza formal Ao introduzir a categoria de modo de produção Marx rompe definitivamente com o paradigma seguido pelos economistas de sua época Se a economia política pretendia estudar como se gera a riqueza social acreditavase que ela deveria começar estudando 56 o ato produtivo mais simples o ato de trabalho Mas o homem é um ser eminentemente histórico e social cada totalidade produtiva situa o ato de trabalho num lugar muito determinado Esse é um princípio de que Marx não abre mão Desse modo imaginar que o processo produtivo pudesse se fundar no ato individual de trabalho equivale a considerar a atividade de Robinson Crusoé isolado em sua ilha como a matriz da produção de riqueza social Mas o próprio Crusoé não trabalha segundo moldes que ele aprendeu na Inglaterra de seu tempo Não podemos pois perder de vista que o ato de trabalho se integra na totalidade do processo produtivo segundo a trama das outras determinações primárias distribuição troca e consumo A trama categorial define a totalidade do processo Ademais como veremos nem todo ato de trabalho numa empresa vem a ser socialmente produtivo do ponto de vista da criação de valor IV A riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma enorme coleção de mercadorias e a mercadoria singular como sua forma elementar Nossa investigação começa por isso com a análise da mercadoriaa Essa é a primeira frase dO capital Notese o caráter histórico da análise que supõe o conceito de modo de produção Mas a forma deixa de lado toda a história de sua gênese Não são diferentes as condições em que o sistema capitalista se instala na Europa nos Estados Unidos e nos países periféricos muitos dos quais aliás retomaram a escravidão Não é necessário distinguir assim o movimento das categorias que se repõem a si mesmas e as condições históricas nas quais vêm a ser Essa dualidade não afeta a própria concepção de história esboçada por Marx Cabe então ter o cuidado de não confundir os dois tipos de determinação Os aspectos formais não são vazios mas sim aqueles que se reproduzem no ciclo produtivo Insistimos que no processo capitalista de produção todos os insumos já aparecem sob a forma de mercadoria sua conjunção resulta na produção de uma quantidade de mercadorias Daí ser necessário explicar essa categoria antes de perguntar como nasce o excedente Cabe então elucidar como se forma o valor No primeiro capítulo do livro Marx segue os passos da interpretação do valor elaborada por David Ricardo que no livro Princípios de economia política e tributação pensa a mercadoria no cruzamento de dois fatores o valor de uso e o valor de troca Mas a projeta no jogo dialético das determinações hegelianas Um dado valor de uso de 10 bananas por exemplo se relaciona no mercado com 2 pés de alface com 100 gramas de pó de café com 1x de um casaco com 1y de uma casa e assim por diante O primeiro passo consiste em tomar uma quantidade de valor de uso e relacionála representativamente a qualquer outro objeto que venha ao mercado numa quantidade determinada O segundo indicar que entre essas quantidades percola um igual que passa a ser denominado valor Qual sua medida Visto que o trabalho é o que essas quantidades de objetos possuem em comum essa projeção coloca o valor como uma quantidade de trabalho abstrato porque indiferente às 57 peculiaridades do ato produtivo morto porque inscrito no objeto trocável e socialmente necessário porque o consumo mostrará o que necessita a sociedade como um todo Notese que não é o observador o responsável pela abstração mas o próprio processo de troca em sua generalidade Nessas condições o dinheiro representa essa espécie de valor que se reproduz a si mesmo no fim de cada ciclo Cabe ainda observar que no funcionamento da mercadoria tal como ocorre em outros modos de produção importa apenas o que está sendo reposto pelo próprio sistema No fundo Marx segue os passos de David Ricardo mas tendo em vista uma objeção crucial somente formulada em Teorias da maisvalia Esse texto haveria de compor o quarto livro dO capital publicado postumamente e reuniria os estudos das teorias econômicas mais relevantes de seu tempo A objeção é a seguinte ele e seus discípulos não percebem que todas as mercadorias enquanto valores de troca constituem apenas expressões relativas do tempo do trabalho social sendo que sua relatividade não reside na relação em que se trocam mutuamente mas na relação de todas com o trabalho social como sua substância5 Como bom empirista inglês Ricardo considera que os valores de troca se relacionam uns com os outros e se esgotam nessa relação não precisando encontrar um fundamento Não leva em consideração que o relacionamento somente se mantém num plano social se possuir uma âncora comum a substância valor como algo que se esconde em cada uma de suas determinações singulares Na filosofia clássica a substância é o fundo que recebe todas as predicações as determinações que as ampara e as preserva das invasões de seus outros É a garantia da mesmidade duma coisa seja ela qual for Hegel formula esse conceito de substância de um modo muito especial No parágrafo 151 da pequena lógica que inicia a Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio rompendo com a tradição ele define substância como uma relação que totaliza os acidentes nos quais ela se revela por sua negatividade absoluta isto é que a distingue de tudo o que é outro A substância da maçã não é aquela energia permanente que irrompe em cada flor da macieira para transformála numa fruta específica mas aquilo que faz com que esse fruto seja o que foi o que é e o que sempre será É o processo de demarcar o que na maçã é especificamente revelado pelo dizer da palavra fruta revelando que ela resulta de uma flor particular que recebe um pólen especial diferente de todos os outros seres vivos vindo a ser em si e para si na medida em que exclui nega qualquer diferença de modo radical Não é o que precisamente acontece com o valor Ele é a mesmidade de todos os valores de troca que como tais estão negando impedindo em particular que se exerçam os valores de uso correspondentes Uma mesmidade porém que vale como tal porque renega qualquer outra determinação que não está sendo reposta pelo ciclo produtivo Essa crítica tem enorme importância Muito se fala sobre o fetichismo da mercadoria mas em geral não se leva em conta em que condições ele pode ser pensado e aceito como um fenômeno social O fetichismo da mercadoria não é uma determinação indutiva nem uma hipótese a ser verificada empiricamente Por certo se percebe que a mercadoria opera no mercado como se fosse dotada de energia própria A análise 58 científica de Ricardo mostra que ela é medida pelo tempo de trabalho morto abstrato socialmente necessário à sua produção É como se numa sociedade durante um ano todas as horas de trabalho desenvolvidas segundo um mesmo padrão tecnológico fossem somadas e repartidas entre os produtos que os membros dessa sociedade consumiriam de fato Essa massa confere medida de valor a cada produto e faz com que este pareça resultar daquela Marx salienta a exterioridade que essa medida necessita assumir diante de cada coisa produzida Ela não é neutra funciona como se a fruta fosse responsável pela identidade de cada maçã de cada pera como se a medida constituísse o mensurado A igualdade dos trabalhos humanos assume a forma material da igual objetividade de valor dos produtos do trabalho a medida do dispêndio de força humana de trabalho por meio de sua duração assume a forma da grandeza de valor dos produtos do trabalho finalmente as relações entre os produtores nas quais se efetivam aquelas determinações sociais de seu trabalho assumem a forma de uma relação social entre os produtos do trabalhob A igualdade dos atos a medida das forças gastas e a sociabilidade de tais atos aparecem como se fossem meras propriedades dos objetos postos em ação amarrados como estão pelo jogo formal das mercadorias encontrando suas medidas num equivalente que deixa de ser uma delas O valor é uma substância mas uma substância enganosa A dialética hegeliana captura a aparência reificada das relações capitalistas mas não é por isso que tais relações são de fato para sempre o que parecem Esse engano porém permite que o trabalho compareça na produção como coisa vendável a força de trabalho independente da individualidade de cada trabalhador Para os trabalhadores o primeiro passo propriamente político contra essa reificação consiste em colocar em questão as condições sociais em que operam Por certo a crítica marxiana não se exerce apenas do ponto de vista mais amplo da lógica dialética Em muitos momentos Marx raciocina como um economista examina e critica o funcionamento dos mercados Isso lhe assegura um lugar de destaque entre os fundadores da nova ciência Mas levar em conta somente essa dimensão de sua crítica é deixar de lado seu projeto maior a crítica da sociedade burguesa capaz de enriquecer o movimento revolucionário contra o capital Examina como as formas de dominação e as relações desiguais operantes no mercado de trabalho dependem da reificação das relações sociais cuja base é o fetichismo da mercadoria mas se completam nas formas mais desenvolvidas do capital V O capital é mais do que uma relação mercantil Se a mercadoria individual é a forma elementar do produto obtido segundo o modo de produção capitalista é preciso dar mais um passo formal no entanto historicamente determinado para que o capital revele seu segredo Uma análise meramente histórica não basta Marx mostrará como o desenvolvimento do comércio provocou o acúmulo de riqueza monetária o que permitiu a compra de uma nova mercadoria a força de trabalho que se encontrava no mercado por causa da falência do sistema de produção feudal Isso pelo menos na 59 Europa O servo fugia para a cidade e lá não se vendia como escravo mas como trabalhador a ser pago pelo tempo de trabalho que passava para as mãos do comprador No entanto essa condição histórica não explica a origem do excedente que o sistema necessita e começa a produzir Durante as aventuras marítimas o lucro provinha da diferença entre o preço do material comprado num país distante e sua venda perto do consumo O modo de produção capitalista porém é circular visto que todos os seus insumos já devem estar sob a forma mercantil todos devem provir de diversas relações de compra e venda Se ele de fato instala a escravatura do negro na sua periferia sobretudo nas Américas só se completa realmente criando um capital total quando a destrói no século XIX Mas se conforma a circularidade de um sistema produtor de mercadorias por meio de mercadorias de onde brotaria o excedente sem o qual esse sistema não funciona Somente se num dado momento desse circuito a objetidade de um valor particular o fetiche de ele ser uma coisa expressa em dinheiro se quebra para se mostrar como atividade criadora Obviamente essa mercadoria é a força de trabalho Como isso se processa formalmente A troca formal entre as mercadorias mediadas pelo dinheiro MDM poderia continuar indefinidamente Mas M agora é uma contradição entre valor de uso e valor O que Marx entende por ela Muitas vezes em seus textos não há uma divisão rígida entre contrariedade e contradição e na lógica hegeliana a primeira naturalmente se desenvolve na segunda pois ambas fazem parte do devir da ideia Na linguagem corrente costumamos dizer que branco e preto são contrários já que se colocam opostamente no sistema das cores dando lugar contudo a cores intermediárias entre elas Mas branco e não branco são contraditórios porque um sendo o outro não pode existir de modo algum Mas essas oposições são por excelência válidas no plano das proposições pois é nelas que a questão da existência aparece No plano da linguagem é fácil distinguir contrariedade de contradição duas proposições contrárias Toda maçã é azul e Toda maçã não é azul têm sentido embora sejam falsas Mas duas proposições contraditórias Alguma maçã é vermelha e Nenhuma maçã é vermelha se uma é verdadeira a outra necessariamente é falsa É como se a falsidade de uma corroesse integralmente a verdade da outra Hegel pretende encontrar no real essa negação integralmente corrosiva mas para isso toda a natureza passa a ser considerada como alienação do logos da razão universal No jogo de suas oposições a própria natureza se transformaria em espírito que por conservar em seu seio os dois momentos anteriores o logos e a natureza se mostra então como Espírito Absoluto Essa trindade do real completo é representada pelo cristianismo no mistério da unidade do Pai do Filho e do Espírito Santo Na lógica hegeliana tais diferenças vão se adensando até formar uma contradição que se resolve constituindose numa totalidade superior A contradição se superaria guardando os elementos anteriores modificados É a famosa Aufhebung Mesmo do ponto de vista idealista isto é de que todo o real é logos espírito a solução hegeliana não deixa de levantar problemas F W Schelling que na juventude foi amigo íntimo de 60 Hegel e na velhice se tornou seu mais ferrenho adversário sempre sustentou que uma contradição nunca se resolveria sem deixar restos Por certo ambos não advogam a mesma noção da negatividade Obviamente a dialética marxiana não poderia almejar um escopo tão vasto Continua buscando no concreto uma negatividade capaz de transformar as oposições em particular as lutas de classe numa contradição em que um dos termos fosse capaz de sobrepujar o outro e por fim aniquilálo por completo ainda que conservasse o conteúdo das partes Esse é o sentido mais profundo da revolução O capital não estuda a história da luta de classes mas procura deslindar as articulações do modo de produção capitalista como um todo Seu objetivo seu projeto é conduzir as diversas categorias geradas pelo desenvolvimento do comando do capital sobre o trabalho até aquela contradição máxima entre o capital social total e o trabalhador geral Essa desenharia o campo de batalha em que os adversários reduzidos às expressões mais simples poderiam enfrentar o combate final em que eles mesmos perderiam sua identidade e fechariam o processo de conformação do ser humano que por ser a história da servidão se abriria como história da liberdade Marx afirma que toda história é a história da luta de classes No contexto de seu pensamento maduro essa tese encontra guarida na crise do sistema capitalista e espera que a crítica da economia política confirme suas teses de juventude Ao capital total corresponderia o proletário total o proletariado organizado em classe revolucionária mas o desenho dessa figura depende do funcionamento da alienação principalmente quando ela se desenvolve nas figuras mais complexas do capital e do próprio trabalho Em sua forma plena o capital se mostra um processo autônomo no qual ele mesmo gera naturalmente lucro a terra renda e o trabalho salário Numa das páginas mais belas do Livro III dO capital a alienação da mercadoria assume a forma de uma lei natural Do investimento brota o lucro do mesmo modo que o cogumelo brota da terra fresca Adquire tal autonomia que o dinheiro investido num banco produz juros muitas vezes sem relacionamento direto com o funcionamento da economia como um todo A crise do sistema financeiro atual que o diga A relação direta entre trabalho e salário encobre o fato de que esse trabalho deve entrar no sistema como mercadoria e que somente é produtivo de valor sob o comando do capital na medida em que produz mais valor Desse modo o trabalho do capitalista e de todos os serviços não são produtivos desse ponto de vista a despeito de serem indispensáveis A mesma aula é produtiva de valor ao ser proferida numa escola particular que visa o lucro mas deixa de o ser quando ministrada numa escola pública Só podemos apontar essas linhas em que se assenta a crítica marxista da sociedade capitalista Mas convém retomar alguns problemas levantados pelo próprio desdobramento das formas categoriais No plano do pensamento meramente abstrato é fácil passar do modo de produção simples de mercadoria MDMD para o modo de produção capitalista Basta cortar a sequência e começar pelo dinheiro DMD Mas o processo mudou completamente de sentido O proprietário de D não é um 61 entesourador mas alguém que acumula dinheiro para investilo em busca de lucro Sempre tendo um sistema legal a seu lado A sequência se mostra então como DMD MD em que cada representa um delta um acréscimo ao dinheiro investido ou melhor do capital De onde surge esse delta Os fisiocratas achavam que a diferença nasceria da produção agrícola e o próprio Marx na juventude acompanhou aqueles que viam o maisvalor êmbolo do processo brotando do próprio comércio A teoria do valor de Ricardo lhe permitiu explicar a diferença entre o capital investido e o capital recebido como fruto do exercício da força de trabalho Em termos muito gerais podemos dizer que tendo o capitalista comprado essa força por seu valor vale dizer pela quantidade de trabalho abstrato socialmente necessária para sua produção e reprodução cria as condições do excedente ao deixar que o trabalho morto o valor da força da mercadoria força de trabalho se transforme em trabalho vivo A atividade do trabalhador se faz sob o comando do capital segundo suas leis e o produto lhe pertence de jure O maisvalor ou maisvalia resulta pois da transformação do valor de uma mercadoria que vem a ser pago depois que seu valor de uso sob o comando do capital recria o antigo valor de troca como uma substância capaz de aumentar por si mesma Notese que no plano formal categorial a criação do excedente fica na dependência de que a mercadoriatrabalho se mantenha reificada como fetiche No plano histórico porém esse crescimento aparentemente automático depende da acumulação de riqueza capaz de comprar força de trabalho livre num mercado que na Europa se cria com a crise do sistema feudal Mas essa solução teórica tem resultados políticos extraordinários Engels e seus companheiros dirão que Marx descobriu a lei da exploração capitalista pondo assim a nu a natureza econômica e política da exploração da classe trabalhadora E todo o movimento operário aos poucos foi sendo conquistado por essa ideia Na verdade essa prova teórica não basta para alimentar uma política que não esteja associada a uma situação de crise Em condições normais a venda e compra da força de trabalho se dá como um intercâmbio justo e juridicamente perfeito em particular nas condições de subemprego Além do mais a mera consciência de que o sistema capitalista produz tanto grande riqueza como a mais triste miséria não cria por si só movimentos revolucionários Daí a importância da crise do próprio capital a disfunção e disjunção do sistema para gerar condições políticas capazes de afetar o funcionamento da produção capitalista É sintomático que os teóricos da revolução sempre tenham sublinhado a necessidade de lideranças que proviessem de fora da classe operária Não é essa uma das teses de Lenin Mesmo do ponto de vista político entretanto é preciso ter uma visão panorâmica do modo de produção capitalista para que se compreenda o sentido pleno de sua contradição Rosa Luxemburgo costumava salientar em suas lutas contra o leninismo que os líderes marxistas se contentavam em ler apenas o Livro I dO capital deixando de lado as formas mais refinadas da reificação Se este livro na verdade junta capítulos mais formais com outros de mera investigação histórica termina estudando a lei geral 62 da acumulação capitalista sem adentrarse nas condições de suas crises O Livro II analisa o processo de circulação do capital e o terceiro é que faz o balanço completo do processo Neste se examinam as relações da mercadoria e do dinheiro a transformação do dinheiro em capital a produção do maisvalor absoluto assim como do maisvalor relativo a transformação do valor em salário e outros momentos formais muito mais próximos da experiência concreta de quem vive as grandezas e as misérias do mundo capitalista Mas não se fecha numa teoria da revolução A política marxista foi construída na base de outros textos de Marx e de Engels e como sempre foi posta a serviço da revolução não é estranho que vários autores reclamem da ausência de uma análise mais completa do jogo político como tal E nesse campo as divergências se multiplicam Marx só publicou o Livro I dO capital Ao falecer em 1883 deixou uma fabulosa quantidade de material que passou a ser trabalhada por Engels em 1885 este publicou o Livro II e em 1894 o Livro III É nesse último que as condições da crise do sistema deveriam eclodir pois é na sua totalidade que as contrariedades básicas se conformariam em contradições produtivas Já no Livro I Marx havia mostrado que a constituição do valor da mercadoria depende de que todos os agentes terminem tendo acesso aos progressos tecnológicos que potencializam a produtividade do trabalho Somente assim é possível que se crie uma única medida do trabalho abstrato socialmente necessário operando em qualquer ramo produtivo Sem esse pressuposto os mercados não tenderiam a se unificar o alinhavo dos diferentes capitais explodiria em direções diversas por sua vez o movimento proletário perderia sua dimensão unificadora internacional No Livro III Max introduz a noção de maisvalor relativo aquele excedente de que o capitalista se apropria antes que seus concorrentes consigam ter acesso a novas tecnologias Conforme se desenvolve o capital se associa ao desenvolvimento tecnológico e à transformação das ciências em forças produtivas Somente mantendo o pressuposto de que no final do processo todos os capitalistas teriam acesso às inovações tecnológicas é que se cria a tendência a uma redução da taxa de lucro Essa tendência seria o ponto nevrálgico em que explodiria a contradição Marx sempre apostou nesse pressuposto mas o capítulo em que trabalha tal questão descobre tantos fatores que freiam essa tendência que nem todos os intérpretes chegam a uma conclusão definitiva Até que ponto o maisvalor relativo começa a emperrar a reposição do sistema O próprio Marx logo toma consciência dessas forças dissolventes Já nos Grundrisse escreve à medida que a grande indústria se desenvolve a criação da riqueza efetiva passa a depender menos do tempo de trabalho e do quantum de trabalho empregado que do poder dos agentes postos em movimento durante o tempo de trabalho poder que sua poderosa efetividade por sua vez não tem nenhuma relação com o tempo de trabalho imediato que custa sua produção mas que depende ao contrário do nível geral da ciência e do progresso da tecnologia ou da aplicação dessa ciência à produção6 Depois de mais de 150 anos dessa observação depois da revolução da informática 63 depois que a própria ciência se transforma em força produtiva que efeito pode ter o desenvolvimento das ciências na conformação unificadora do capital Até mesmo a noção de propriedade privada passa a ser corroída Conforme o sistema se torna mais complexo as categorias fundamentais começam a fibrilar E o monopólio se concentra e mantém relações ambíguas com o Estado Reproduz uma nova aristocracia financeira nova espécie de parasitas na figura de projetistas fundadores e meros diretores nominais fraudadores e mentirosos no que respeita aos empreendimentos despesas de comércio com ações É a produção privada sem o controle da propriedade privada7 Estaria o próprio desenvolvimento do capital colocando em xeque suas bases primordiais isto é a homogeneidade do trabalho abstrato socialmente necessário responsável pela determinação do valor de um lado e a própria noção de propriedade privada de outro A crise do sistema depende da eclosão de um núcleo contraditório ou vai se alinhavando aos poucos pela fibrilação de suas categorias principais Não é um dos momentos em que se coloca o dilema reforma ou revolução O capital este livro extraordinário que ajudou a desenhar o espectro do comunismo que rondou a Europa até o final do século XX que até hoje nos ajuda a ver a pujança da economia de mercado e os desastres de sua atuação a força que empresta ao desenvolvimento da tecnociência e as aberrações de uma sociedade consumista também não nos convida a repensar sua problemática pela raiz VI A partir de 1917 com a vitória da Revolução Russa e a derrota dos outros processos revolucionários europeus e do momento que o internacionalismo dos movimentos proletários se subordinou à política da Terceira Internacional em que a União Soviética tinha absoluta hegemonia as obras de Marx e de Engels foram reunidas num sistema fechado As idas e vindas de um pensamento vivo e desafiador pouco a pouco tenderam a dar lugar a uma visão de mundo esclerosada Enquanto durou a União Soviética o marxismo foi ensinado como ideologia oficial e a economia planificada pelo comitê central apresentada como se fosse bom exemplo de uma economia sem mercado Isso durou até que a União Soviética se desintegrasse e os outros sistemas socialistas passassem a incorporar formas de produção mercantil Ainda hoje se ouve o mote socialismo ou barbárie mas a palavra socialismo é aí empregada nas acepções mais diversas Voltar aos textos de Marx não é o primeiro passo de quem pretende repensar essas questões O capital foi publicado em 1867 Mas já em 1871 Stanley Jevon publica Theory of Political Economy montando uma explicação do valor levando em conta as preferências pessoais pelo uso dos objetos Nessa mesma década Carl Menger e Léon Walras aperfeiçoam um novo equipamento conceitual que termina por ser aceito pela maioria dos economistas A economia passa a funcionar apoiandose num paradigma diferente do que aquele em que se apoiava a economia política Os novos economistas além dos 64 custos de produção passam também a considerar graus de demanda e de satisfação moral do consumo construindo instrumentos matemáticos capazes de medir o valor marginal Um turista perdido no deserto pagará muito mais por um copo de água do que o cidadão que o compra num bar Essas diferenças marginais podem ser tabeladas ou expressas por curvas de preferência Nasce assim a economia marginalista que rompe inteiramente com a clássica economia política Rompimento considerável pois coloca no centro do processo o agente racional sempre capaz de escolher os meios para atingir seus fins otimizando suas satisfações O homo economicus substitui o trabalhador isolado de John Stuart Mill ou o homem social de Marx Desse ponto de vista Marx seria considerado apenas um dos precursores da ciência econômica Mas ele próprio junto com Engels já se empenhara em combater outras interpretações do capital e do projeto revolucionário PierreJoseph Proudhon foi eleito o adversário mais perigoso e Mikhail Bakunin o político mais deletério Por fim a Revolução Russa de 1917 assume a teoria marxista como parâmetro de uma economia que pretendia substituir os mecanismos de mercado por uma administração racional operada pelo Comitê Central Desde aí pelo menos em tese na teoria econômica passaram a se enfrentar comunistas socialdemocratas e liberais A derrocada da União Soviética alterou esse quadro O paradigma do valor trabalho quase desapareceu do pensamento econômico Até mesmo doutrinas que se inspiravam em Marx não o conservaram É o caso da teoria crítica também conhecida por Escola de Frankfurt na qual se destacam Theodor Adorno Max Horkheimer Walter Benjamin e Jürgen Habermas Seja como for se a ciência econômica hoje em dia se alicerça em outros paradigmas e nada impede que se volte ao antigo embora seja difícil uma virada tão espetacular nunca a obra de Marx perdeu seu interesse e sua relevância a despeito das idas e vindas das modas atuais do pensar Como explicar essa permanência Pareceme que isso ocorre porque ela é mais do que um texto científico Ao salientar a especificidade das relações fetichizadas do capital a análise retoma a antiga questão do ser social e de sua historicidade Mesmo um investigador do porte de Martin Heidegger um dos maiores de nosso século embora tenha se deixado encantar pelo nazismo não deixa de incluir Marx entre os grandes filósofos do século XIX que contribuíram para a compreensão do sentido da história No entanto a questão hoje em dia é mais do que teórica A grande crise pela qual estamos passando coloca na pauta a alienação do capital em particular do capital financeiro e a necessidade de alguma regulamentação internacional dos mercados No fim das contas que futuro queremos ter É possível colocar essa questão sem levar em conta as análises deste livro chamado O capital Janeiro de 2013 65 José Arthur Giannotti é professor emérito do departamento de Filosofia da USP e coordenador da área de Filosofia e Política do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento Cebrap 66 Hugo Gellert O capital de Karl Marx em litografias Nova York 1934 67 O CAPITAL CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA LIVRO I O processo de produção do capital 68 Dedicado a meu inesquecível amigo o impávido fiel e nobre paladino do proletariado WILHELM WOLFF Nascido em Tarnau a 21 de junho de 1809 Falecido no exílio em Manchester a 9 de maio de 1864 69 Prefácio da primeira edição A obra cujo primeiro volume apresento ao público é a continuação de meu escrito Contribuição à crítica da economia políticaa publicado em 1859 A longa pausa entre começo e continuação se deve a uma enfermidade que me acometeu por muitos anos e interrompeu repetidas vezes meu trabalho O conteúdo daquele texto está resumido no primeiro capítulo deste volumeb e isso não só em nome de uma maior coerência e completude A exposição foi aprimorada Na medida em que as circunstâncias o permitiram pontos que antes eram apenas indicados foram aqui desenvolvidos ao passo que inversamente aspectos que lá foram desenvolvidos em detalhes são aqui apenas indicados As seções sobre a história da teoria do valor e do dinheiro foram naturalmente suprimidasc No entanto o leitor do texto anterior encontrará novas fontes para a história daquela teoria nas notas do primeiro capítulo Todo começo é difícil e isso vale para toda ciência Por isso a compreensão do primeiro capítulo em especial da parte que contém a análise da mercadoria apresentará a dificuldade maior No que se refere mais concretamente à análise da substância e da grandeza do valor procurei popularizálas o máximo possíveld A forma de valor cuja figura acabada é a formadinheiro é muito simples e desprovida de conteúdo Não obstante o espírito humano tem procurado elucidála em vão há mais de 2 mil anos ao mesmo tempo que obteve êxito ainda que aproximado na análise de formas muito mais complexas e plenas de conteúdo Por quê Porque é mais fácil estudar o corpo desenvolvido do que a célula que o compõe Além disso na análise das formas econômicas não podemos nos servir de microscópio nem de reagentes químicos A força da abstração Abstraktionskraft deve substituirse a ambos Para a sociedade burguesa porém a formamercadoria do produto do trabalho ou a forma de valor da mercadoria constitui a forma econômica celular Para o leigo a análise desse objeto parece se perder em vãs sutilezas Tratase com efeito de sutilezas mas do mesmo tipo daquelas que interessam à anatomia micrológica Desse modo com exceção da seção relativa à forma de valor não se poderá acusar esta obra de ser de difícil compreensão Pressuponho naturalmente leitores desejosos de aprender algo de novo e portanto de pensar por conta própria O físico observa processos naturais em que eles aparecem mais nitidamente e menos obscurecidos por influências perturbadoras ou quando possível realiza experimentos em condições que asseguram o transcurso puro do processo O que pretendo nesta obra investigar é o modo de produção capitalista e suas correspondentes relações de produção e de circulação Sua localização clássica é até o momento a I nglaterra Essa é a razão pela qual ela serve de ilustração principal à minha exposição teórica mas se o leitor alemão encolher farisaicamente os ombros ante a situação dos trabalhadores industriais ou agrícolas ingleses ou se for tomado 70 por uma tranquilidade otimista convencido de que na Alemanha as coisas estão longe de ser tão ruins então terei de gritarlhe De te fabula narratur A fábula referese a tie Na verdade não se trata do grau maior ou menor de desenvolvimento dos antagonismos sociais decorrentes das leis naturais da produção capitalista Tratase dessas próprias leis dessas tendências que atuam e se impõem com férrea necessidade O país industrialmente mais desenvolvido não faz mais do que mostrar ao menos desenvolvido a imagem de seu próprio futuro Mas deixemos isso de lado Onde a produção capitalista se instalou plenamente entre nós por exemplo nas fábricas propriamente ditas as condições são muito piores que na I nglaterra pois aqui não há o contrapeso das leis fabris Em todas as outras esferas atormentanos do mesmo modo como nos demais países ocidentais do continente europeu não só o desenvolvimento da produção capitalista mas também a falta desse desenvolvimento Além das misérias modernas afligenos toda uma série de misérias herdadas decorrentes da permanência vegetativa de modos de produção arcaicos e antiquados com o seu séquito de relações sociais e políticas anacrônicas Padecemos não apenas por causa dos vivos mas também por causa dos mortos Le mort saisit le vif O morto se apoderado vivo Comparada com a inglesa a estatística social da Alemanha e dos demais países ocidentais do continente europeu ocidental é miserável Não obstante ela levanta suficientemente o véu para deixar entrever atrás dele uma cabeça de Medusa Ficaríamos horrorizados ante nossa própria situação se nossos governos e parlamentos como na I nglaterra formassem periodicamente comissões para investigar as condições econômicas se a essas comissões fossem conferidas a mesma plenitude de poderes para investigar a verdade de que gozam na I nglaterra se para essa missão fosse possível encontrar homens tão competentes imparciais e inflexíveis como os inspetores de fábrica na I nglaterra seus relatores médicos sobre public health saúde pública seus comissários de inquérito sobre a exploração de mulheres e crianças sobre as condições habitacionais e nutricionais etc Perseu necessitava de um elmo de névoa para perseguir os monstros Nós puxamos o elmo de névoa sobre nossos olhos e ouvidos para poder negar a existência dos monstros Não podemos nos iludir sobre isso Assim como a guerra de independência americana do século XVI I I fez soar o alarme para a classe média europeia a guerra civil americana do século XI X fez soar o alarme para a classe trabalhadora europeia Na I nglaterra o processo revolucionário é tangível Quando atingir certo nível haverá de repercutir no continente Ali há de assumir formas mais brutais ou mais humanas conforme o grau de desenvolvimento da própria classe trabalhadora Prescindindo de motivos mais elevados os interesses mais particulares das atuais classes dominantes obrigamnas à remoção de todos os obstáculos legalmente controláveis que travem o desenvolvimento da classe trabalhadora É por isso que neste volume reservei um espaço tão amplo à história ao conteúdo e aos resultados da legislação inglesa relativa às fábricas Uma nação deve e pode aprender com as outras Ainda que uma sociedade tenha descoberto a lei natural de seu desenvolvimento e a finalidade última desta obra é desvelar a lei econômica do movimento da sociedade moderna ela não pode saltar suas fases naturais de desenvolvimento nem suprimilas por decreto Mas pode 71 sim abreviar e mitigar as dores do parto Para evitar possíveis erros de compreensão ainda algumas palavras De modo algum retrato com cores róseas as figuras do capitalista e do proprietário fundiário Mas aqui só se trata de pessoas na medida em que elas constituem a personificação de categorias econômicas as portadoras de determinadas relações e interesses de classes Meu ponto de vista que apreende o desenvolvimento da formação econômica da sociedade como um processo históriconatural pode menos do que qualquer outro responsabilizar o indivíduo por relações das quais ele continua a ser socialmente uma criatura por mais que subjetivamente ele possa se colocar acima delas No domínio da economia política a livre investigação científica não só se defronta com o mesmo inimigo presente em todos os outros domínios mas também a natureza peculiar do material com que ela lida convoca ao campo de batalha as paixões mais violentas mesquinhas e execráveis do coração humano as fúrias do interesse privado A Alta I greja da I nglaterraf por exemplo perdoaria antes o ataque a 38 de seus 39 artigos de fé do que a 139 de suas rendas em dinheiro Atualmente o próprio ateísmo é uma culpa levis pecado venial se comparado com a crítica às relações tradicionais de propriedade Nesse aspecto contudo não se pode deixar de reconhecer certo avanço Remeto por exemplo ao Livro Azulg publicado há poucas semanas Correspondence with her Majestys Missions Abroad Regarding I ndustrial Questions and Trade Unions Os representantes da Coroa inglesa no exterior afirmam aqui sem rodeios que na Alemanha na França numa palavra em todos os países civilizados do continente europeu a transformação das relações vigentes entre o capital e o trabalho é tão perceptível e inevitável quanto na I nglaterra Ao mesmo tempo do outro lado do Atlântico o sr Wade vicepresidente dos Estados Unidos da América do Norte declarava em reuniões públicas depois da abolição da escravidão passa à ordem do dia a transformação das relações entre o capital e a propriedade da terra São sinais dos tempos que não se deixam encobrir por mantos de púrpura nem por sotainas negrash Eles não significam que amanhã hão de ocorrer milagres mas revelam que nas próprias classes dominantes já aponta o pressentimento de que a sociedade atual não é um cristal inalterável mas um organismo capaz de transformação e em constante processo de mudança O segundo volume deste escrito tratará do processo de circulação do capital Livro I I e das configurações do processo global Livro I I I o terceiro Livro I V da história da teoriai Todos os julgamentos fundados numa crítica científica serão bemvindos Diante dos preconceitos da assim chamada opinião pública à qual nunca fiz concessões tomo por divisa como sempre o lema do grande florentino Segui il tuo corso e lascia dir le genti Segue o teu curso e deixa a gentalha falarj Londres 25 de julho de 1867 72 Capa da primeira edição alemã publicada em 1867 73 Posfácio da segunda ediçãoa Aos leitores da primeira edição tenho primeiramente de apresentar esclarecimentos quanto às modificações realizadas nesta segunda edição Salta aos olhos a subdivisão mais clara do livro Todas as notas adicionais estão indicadas como notas à segunda edição Com relação ao texto em si eis o mais importante No capítulo 1 item 1 a dedução do valor mediante a análise das equações nas quais se exprime todo valor de troca é efetuada com maior rigor científico do mesmo modo é expressamente destacado o nexo apenas indicado na primeira edição entre a substância do valor e a determinação da grandeza deste último por meio do tempo de trabalho socialmente necessário O capítulo 1 item 3 A forma de valor foi integralmente reelaborado o que já o exigia a exposição dupla da primeira edição Observo de passagem que aquela exposição foime sugerida por meu amigo dr L Kugelmann de Hanover Encontravame de visita em sua casa na primavera de 1867 quando as primeiras provas de impressão chegaram de Hamburgo ele convenceume então de que uma discussão suplementar e mais didática da forma do valor seria necessária para a maioria dos leitores A última seção do primeiro capítulo O caráter fetichista da mercadoria etc foi em grande parte modificada O capítulo 3 item 1 Medida dos valores foi cuidadosamente revisto porquanto essa parte fora negligenciada na primeira edição com uma simples remissão à discussão já feita em Contribuição à crítica da economia política Berlim 1859 O capítulo 7 especialmente a parte 2 foi consideravelmente reelaborado Seria inútil discorrer detalhadamente sobre as modificações com frequência apenas estilísticas que realizamos em passagens do texto Elas se encontram dispersas por todo o livro Porém após ter revisado a tradução francesa que se está publicando em Paris creio que várias partes do original alemão teriam exigido aqui uma reelaboração mais profunda ali uma revisão estilística mais detalhada ou uma supressão mais cuidadosa de eventuais imprecisões Para tanto faltoume o tempo necessário pois a notícia de que o livro se havia esgotado e a impressão da segunda edição teria de começar já em janeiro de 1872 chegoume apenas no outono de 1871 quando me encontrava ocupado com outros trabalhos urgentes A acolhida que O capital rapidamente obteve em amplos círculos da classe trabalhadora alemã é a melhor recompensa de meu trabalho Num folhetoa publicado durante a Guerra FrancoAlemã o sr Mayer industrial vienense economicamente situado do ponto de vista burguês afirmou corretamente que o grande senso teórico que é tido como um patrimônio alemão abandonara completamente as ditas classes cultas da Alemanha para ao contrário ressuscitar na sua classe trabalhadora Na Alemanha a economia política continua a ser até o momento atual uma ciência estrangeira Em Exposição histórica do comércio dos ofícios etc e especialmente nos dois primeiros volumes de sua obra publicados em 1830 Gustav von Güllich já 74 havia mencionado as circunstâncias históricas que entre nós inibiam o desenvolvimento do modo de produção capitalista e por conseguinte também a formação da moderna sociedade burguesa Faltava portanto o terreno vivo da economia política Esta foi importada da I nglaterra e da França como mercadoria acabada os professores alemães dessa ciência jamais ultrapassaram a condição de discípulos Em suas mãos a expressão teórica de uma realidade estrangeira transformouse numa coleção de dogmas que eles interpretavam quer dizer distorciam de acordo com o mundo pequenoburguês que os circundava A sensação de impotência científica impossível de ser completamente reprimida assim como a má consciência por ter de lecionar numa área de fato estranha buscava ocultarse sob o fausto de uma erudição históricoliterária ou por meio da mistura de um material estranho tomado de empréstimo das assim chamadas ciências cameraisc uma mixórdia de conhecimentos por cujo purgatório tem de passar o esperançosod candidato à burocracia alemã Desde 1848 a produção capitalista tem se desenvolvido rapidamente na Alemanha e hoje já se encontra no pleno florescer de suas fraudese Mas para nossos especialistas a sorte continuou adversa como antes Enquanto podiam praticar a economia política de modo imparcial faltavam à realidade alemã as relações econômicas modernas Assim que essas relações surgiram isso se deu sob circunstâncias que já não permitiam seu estudo imparcial dentro do horizonte burguês Por ser burguesa isto é por entender a ordem capitalista como a forma última e absoluta da produção social em vez de um estágio historicamente transitório de desenvolvimento a economia política só pode continuar a ser uma ciência enquanto a luta de classes permanecer latente ou manifestarse apenas isoladamente Tomemos o caso da I nglaterra Sua economia política clássica coincide com o período em que a luta de classes ainda não estava desenvolvida Seu último grande representante Ricardo converte afinal conscientemente a antítese entre os interesses de classe entre o salário e o lucro entre o lucro e a renda da terra em ponto de partida de suas investigações concebendo essa antítese ingenuamente como uma lei natural da sociedade Com isso porém a ciência burguesa da economia chegara a seus limites intransponíveis Ainda durante a vida de Ricardo e em oposição a ele a crítica a essa ciência apareceu na pessoa de Sismondi1 A época seguinte de 1820 a 1830 destacase na I nglaterra pela vitalidade científica no domínio da economia política Foi o período tanto da vulgarização e difusão da teoria ricardiana quanto de sua luta contra a velha escola Celebraramse magníficos torneios O que então foi realizado é pouco conhecido no continente europeu pois a polêmica está dispersa em grande parte em artigos de revistas escritos ocasionais e panfletos O caráter imparcial dessa polêmica ainda que a teoria de Ricardo também sirva excepcionalmente como arma de ataque contra a economia burguesa explica se pelas circunstâncias da época Por um lado a própria grande indústria apenas começava a sair da infância como o comprova o simples fato de que o ciclo periódico de sua vida moderna só se inaugura com a crise de 1825 Por outro lado a luta de classes entre capital e trabalho ficou relegada ao segundo plano politicamente pela contenda entre o grupo formado por governos e interesses feudais congregados na 75 Santa Aliança e a massa popular conduzida pela burguesia economicamente pela querela entre o capital industrial e a propriedade aristocrática da terra que na França se ocultava sob o antagonismo entre a propriedade parcelada e a grande propriedade fundiária e que na I nglaterra irrompeu abertamente com as leis dos cereais Nesse período a literatura da economia política na I nglaterra lembra o período de Sturm und Drang tempestade e ímpetof econômico ocorrido na França após a morte do dr Quesnay mas apenas como um veranico de maio lembra a primavera No ano de 1830 tem início a crise decisiva Na França e na I nglaterra a burguesia conquistara o poder político A partir de então a luta de classes assumiu teórica e praticamente formas cada vez mais acentuadas e ameaçadoras Ela fez soar o dobre fúnebre pela economia científica burguesa Não se tratava mais de saber se este ou aquele teorema era verdadeiro mas se para o capital ele era útil ou prejudicial cômodo ou incômodo se contrariava ou não as ordens policiais O lugar da investigação desinteressada foi ocupado pelos espadachins a soldo e a má consciência e as más intenções da apologética substituíram a investigação científica imparcial De qualquer forma mesmo os importunos opúsculos lançados aos quatro ventos pela AntiCorn Law League Liga Contra a Lei dos Cereaisg tendo à frente os fabricantes Cobden e Bright ainda possuíam um interesse se não científico ao menos histórico por sua polêmica contra a aristocracia fundiária Mas a legislação livrecambista a partir de sir Robert Peelh arrancou à economia vulgar este último esporão crítico A revolução continental de 18451849i repercutiu também na I nglaterra Homens que ainda reivindicavam alguma relevância científica e que aspiravam ser algo mais do que meros sofistas e sicofantas das classes dominantes tentaram pôr a economia política do capital em sintonia com as exigências do proletariado que não podiam mais ser ignoradas Daí o surgimento de um sincretismo desprovido de espírito cujo melhor representante é Stuart Mill Tratase de uma declaração de falência da economia burguesa tal como o grande erudito e crítico russo N Tchernichevski já esclarecera magistralmente em sua obra Lineamentos da economia política segundo Mill Na Alemanha portanto o modo de produção capitalista chegou à maturidade depois que seu caráter antagonístico por meio de lutas históricas já se havia revelado ruidosamente na França e na I nglaterra num momento em que o proletariado alemão já possuía uma consciência teórica de classe muito mais firme do que a burguesia desse país Quando pareceu que uma ciência burguesa da economia política seria possível aqui tal ciência se tornara uma vez mais impossível Nessas circunstâncias seus portavozes se dividiram em duas colunas Uns sagazes ávidos de lucro e práticos congregaramse sob a bandeira de Bastiat o representante mais superficial e por isso mesmo mais bemsucedido da apologética economia vulgar os outros orgulhosos da dignidade professoral de sua ciência seguiram J S Mill na tentativa de conciliar o inconciliável Tal como na época clássica da economia burguesa também na época de sua decadência os alemães continuaram a ser meros discípulos repetidores e imitadores pequenos mascates do grande atacado estrangeiro O desenvolvimento histórico peculiar da sociedade alemã excluía portanto a 76 Num primeiro momento os portavozes eruditos e não eruditos da burguesia alemã procuraram abafar O capital sob um manto de silência do mesmo modo como haviam logrado fazer com meus escritos anteriores Assim que essa tática deixou de corresponder às condições da época passaram a publicar sob o pretexto de criticar meu livro instruções para tranquilizar a consciência burguesa encontraram na imprensa operária vejam por exemplo os artigos de Joseph Dietzgen ou Volksstätt paladinos superiores aos quais deviam uma resposta até hoje política Berlim 1859 p I VVI I na qual apresento a fundamentação materialista do meu método prossegue o senhor autor Para Marx apenas uma coisa é importante descobrir a lei dos fenômenos com cuja investigação ele se ocupa E importalhe não só a lei que os rege uma vez que tenham adquirido uma forma acabada e se encontrem numa interrelação que se pode observar num período determinado Para ele importa sobretudo a lei de sua modificação de seu desenvolvimento isto é a transição de uma forma a outra de uma ordem de interrelação a outra Tão logo tenha descoberto essa lei ele investiga em detalhes os efeitos por meio dos quais ela se manifesta na vida social Desse modo o esforço de Marx se volta para um único objetivo demonstrar mediante escrupulosa investigação científica a necessidade de determinadas ordens das relações sociais e na medida do possível constatar de modo irrepreensível os fatos que lhe servem de pontos de partida e de apoio Para tanto é plenamente suficiente que ele demonstre juntamente com a necessidade da ordem atual a necessidade de outra ordem para a qual a primeira tem inevitavelmente de transitar sendo absolutamente indiferente se os homens acreditam nisso ou não se têm consciência disso ou não Marx concebe o movimento social como um processo históriconatural regido por leis que não só são independentes da vontade consciência e intenção dos homens mas que pelo contrário determinam sua vontade consciência e intenções Se o elemento consciente desempenha papel tão subalterno na história da civilização é evidente que a crítica que tem por objeto a própria civilização está impossibilitada mais do que qualquer outra de ter como fundamento uma forma ou resultado qualquer da consciência Ou seja o que lhe pode servir de ponto de partida não é a ideia mas unicamente o fenômeno externo A crítica terá de limitarse a cotejar e confrontar um fato não com a ideia mas com outro fato O que importa para ela é que se examinem ambos os fatos com a maior precisão possível e que estes constituam uns em relação aos outros diversas fases de desenvolvimento mas importalhe acima de tudo que as séries de ordens a sucessão e a concatenação em que estas se apresentam nas etapas de desenvolvimento sejam investigadas com a mesma precisão Dirseá porém que as leis gerais da vida econômica são as mesmas sejam elas aplicadas no presente ou no passado Isso é precisamente o que Marx nega Para ele tais leis abstratas não existem De acordo com sua opinião ao contrário cada período histórico possui suas próprias leis Tão logo a vida tenha esgotado um determinado período de desenvolvimento passando de um estágio a outro ela começa a ser regida por outras leis Numa palavra a vida econômica nos oferece um fenômeno análogo ao da história da evolução em outros domínios da biologia Os antigos economistas equivocaramse sobre a natureza das leis econômicas ao comparálas às leis da física e da química Uma análise mais profunda dos fenômenos demonstra que os organismos sociais se distinguem entre si tão radicalmente quanto os organismos vegetais se distinguem dos organismos animais Sim um e mesmo fenômeno é regido por leis totalmente diversas em decorrência da estrutura geral diversa desses organismos da diferenciação de alguns de seus órgãos da diversidade das condições em que funcionam etc Marx nega por exemplo que a lei da população seja a mesma em todas as épocas e em todos os lugares Ao contrário ele assegura que cada etapa de desenvolvimento tem sua própria lei da população Com o desenvolvimento diverso da força produtiva alteramse as condições e as leis que as regem Ao propor a si mesmo a meta de investigar e elucidar a partir desse ponto de vista a ordem econômica do capitalismo Marx apenas formula de modo rigorosamente científico a meta que se deve propor toda investigação exata da vida econômica O valor científico de tal investigação reside na elucidação das leis particulares que regem o nascimento a existência o desenvolvimento e a morte de determinado organismo social e sua substituição por outro superior ao primeiro E este é de fato o mérito do livro de Marx Ao descrever de modo tão acertado meu verdadeiro método bem como a aplicação pessoal que faço deste último que outra coisa fez o autor senão descrever o método dialético Sem dúvida devese distinguir o modo de exposição segundo sua forma do modo de investigação A investigação tem de se apropriar da matéria Stoff em seus detalhes analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e rastrear seu nexo interno Somente depois de consumado tal trabalho é que se pode expor adequadamente o movimento real Se isso é realizado com sucesso e se a vida da matéria é agora refletida idealmente o observador pode ter a impressão de se encontrar diante de uma construção a priori Meu método dialético em seus fundamentos não é apenas diferente do método hegeliano mas exatamente seu oposto Para Hegel o processo de pensamento que ele 78 sob o nome de I deia chega mesmo a transformar num sujeito autônomo é o demiurgo do processo efetivo o qual constitui apenas a manifestação externa do primeiror Para mim ao contrário o ideal não é mais do que o material transposto e traduzido na cabeça do homem Critiquei o lado mistificador da dialética hegeliana há quase trinta anoss quando ela ainda estava na moda Mas quando eu elaborava o primeiro volume de O capital os enfadonhos presunçosos e medíocres epígonost que hoje pontificam na Alemanha culta acharamse no direito de tratar Hegel como o bom Moses Mendelssohn tratava Espinosa na época de Lessing como um cachorro morto Por essa razão declareime publicamente como discípulo daquele grande pensador e no capítulo sobre a teoria do valor cheguei até a coquetear aqui e ali com seus modos peculiares de expressão A mistificação que a dialética sofre nas mãos de Hegel não impede em absoluto que ele tenha sido o primeiro a expor de modo amplo e consciente suas formas gerais de movimento Nele ela se encontra de cabeça para baixo É preciso desvirála a fim de descobrir o cerne racional dentro do invólucro místico Em sua forma mistificada a dialética esteve em moda na Alemanha porque parecia glorificar o existente Em sua configuração racional ela constitui um escândalo e um horror para a burguesia e seus portavozes doutrinários uma vez que na intelecção positiva do existente inclui ao mesmo tempo a intelecção de sua negação de seu necessário perecimento Além disso apreende toda forma desenvolvida no fluxo do movimento portanto incluindo o seu lado transitório porque não se deixa intimidar por nada e é por essência crítica e revolucionária O movimento da sociedade capitalista repleto de contradições revelase ao burguês prático de modo mais contundente nas vicissitudes do ciclo periódico que a indústria moderna perfaz e em seu ponto culminante a crise geral Esta já se aproxima novamente embora ainda se encontre em seus estágios iniciais e graças à ubiquidade de seu cenário e à intensidade de seus efeitos há de inculcar a dialética até mesmo nos parvenus novos ricos do novo Sacro Império PrussianoGermânico Karl Marx Londres 24 de janeiro de 1873 79 O capital de Sergei Eisenstein filme idealizado e nunca concluído pelo cineasta russo 80 Prefácio da edição francesa Ao cidadão Maurice La Châtre Estimado cidadão Aplaudo vossa ideia de publicar a tradução de O capital em fascículos Sob essa forma o livro será mais acessível à classe trabalhadora e para mim essa consideração é mais importante do que qualquer outra Esse é o belo lado de vossa medalha mas eis seu lado reverso o método de análise que empreguei e que ainda não havia sido aplicado aos assuntos econômicos torna bastante árdua a leitura dos primeiros capítulos e é bem possível que o público francês sempre impaciente por chegar a uma conclusão ávido por conhecer a relação dos princípios gerais com as questões imediatas que despertaram suas paixões venha a se desanimar pelo fato de não poder avançar imediatamente Eis uma desvantagem contra a qual nada posso fazer a não ser prevenir e premunir os leitores ávidos pela verdade Não existe uma estrada real para a ciência e somente aqueles que não temem a fadiga de galgar suas trilhas escarpadas têm chance de atingir seus cumes luminosos Recebei caro cidadão as garantias de meu mais devotado apreço Karl Marx Londres 18 de março de 1872 81 Carta de Marx ao editor francês Maurice La Châtre 82 Posfácio da edição francesa Aviso ao leitor O sr J Roy propôsse realizar uma tradução tão exata e mesmo literal quanto possível ele cumpriu plenamente sua tarefa mas justamente seu rigor obrigoume a modificar a redação com a finalidade de tornála mais acessível ao leitor Esses remanejamentos feitos aos poucos pois o livro era publicado em fascículos foram realizados com uma atenção desigual o que gerou discrepâncias de estilo Após a conclusão desse trabalho de revisão fui levado a aplicálo também no texto original a segunda edição alemã simplificando alguns desenvolvimentos completando outros apresentando materiais históricos ou estatísticos adicionais acrescentando observações críticas etc Sejam quais forem as imperfeições literárias dessa edição francesa ela possui um valor científico independente do original e deve ser consultada mesmo pelos leitores familiarizados com a língua alemã Reproduzo a seguir as partes do posfácio da segunda edição alemã que tratam do desenvolvimento da economia política na Alemanha e do método empregado nesta obra Karl Marx Londres 28 de abril de 1875 83 Capa de uma edição resumida por Gabriel Deville de O capital Paris Flammarion 1883 84 Prefácio da terceira edição alemã Não foi possível a Marx aprontar esta terceira edição para ser impressa O colossal pensador ante cuja grandeza se curvam até seus próprios adversáriosa morreu no dia 14 de março de 1883 Sobre mim que perdi com ele o amigo de quatro décadas o melhor e mais constante dos amigos a quem devo mais do que se pode expressar com palavras recai agora o dever de preparar esta terceira edição bem como a do segundo volume deixado em manuscrito Cabeme aqui prestar contas ao leitor de como cumpri a primeira parte desse dever I nicialmente Marx planejava reelaborar extensamente o texto do volume I formular de modo mais preciso diversos pontos teóricos acrescentar outros novos e complementar o material histórico e estatístico com dados atualizados Seu estado precário de saúde e a ânsia de concluir a redação definitiva do volume I I obrigaramno a renunciar a esse plano Deviase modificar apenas o estritamente necessário e incorporar tão somente os acréscimos já contidos na edição francesa Le capital Par Karl Marx Paris Lachâtre 1873b publicada nesse ínterim No espólio encontrouse um exemplar da edição alemã corrigido por Marx em alguns trechos e com referências à edição francesa encontrouse também um exemplar da edição francesa com indicações precisas das passagens a serem utilizadas Essas modificações e acréscimos se limitam com poucas exceções à última parte do livro à seção O processo de acumulação do capital Nesse caso o texto publicado até agora seguia mais que em outros o plano original ao passo que as seções anteriores haviam sofrido uma reelaboração mais profunda O estilo era por isso mais vivo mais resoluto mas também mais descuidado salpicado de anglicismos e em certas passagens obscuro o percurso da exposição apresentava lacunas aqui e ali posto que alguns pontos importantes haviam sido apenas esboçados Quanto ao estilo o próprio Marx submetera vários capítulos a uma cuidadosa revisão que juntamente com frequentes indicações transmitidas oralmente forneceramme a medida de até onde eu poderia ir na supressão de termos técnicos ingleses e outros anglicismos Sem dúvida Marx teria reelaborado os acréscimos e complementos substituindo o francês polido pelo seu próprio alemão conciso tive de me contentar em traduzilos ajustandoos o máximo possível ao texto original Nesta terceira edição portanto nenhuma palavra foi alterada sem que eu não tivesse a certeza de que o próprio autor o faria J amais sequer me ocorreu introduzir em O capital o jargão corrente em que se costumam expressar os economistas alemães uma mixórdia que por exemplo chama de Arbeitgeber dador de trabalho aquele que mediante pagamento em dinheiro faz com que outrem lhe forneça trabalho e Arbeitnehmer receptor de trabalho aquele de quem o trabalho é tomado em troca do salárioc Também em francês se emprega a palavra travail na linguagem corrente no 85 sentido de ocupação Mas os franceses taxariam de louco e com razão o economista que quisesse chamar o capitalista de donneur de travail e o trabalhador de receveur de travail Tampouco tomei a liberdade de reduzir a seus equivalentes alemães atuais as unidades inglesas de moeda pesos e medidas usadas no texto Quando da publicação da primeira edição havia na Alemanha tantos tipos de pesos e medidas quanto dias no ano e além disso circulavam dois tipos de marco àquela época o Reichsmarkd só valia na cabeça de Soetbeer que o inventara no fim dos anos 1830 dois tipos de florim e ao menos três de táler entre os quais havia um denominado novo dois terçosneue Zweidrittele Nas ciências naturais prevalecia o sistema métrico no mercado mundial os pesos e medidas ingleses Nessas circunstâncias as unidades inglesas de medida se impunham necessariamente a uma obra cujos dados factuais tinham de se basear quase exclusivamente nas condições industriais inglesas E essa última razão permanece decisiva ainda hoje tanto mais que as condições referidas não sofreram maiores modificações no mercado mundial e particularmente nas indústrias mais significativas ferro e algodão prevalecem até hoje quase exclusivamente pesos e medidas inglesesf Por fim uma última palavra sobre o método pouco compreendido que Marx emprega na realização de citações Quando se trata de dados e descrições puramente factuais as citações como as dos Livros Azuis ingleses servem evidentemente como simples referências comprobatórias O mesmo não ocorre quando são citadas teorias de outros economistas Nesse caso a única finalidade da citação é a de estabelecer onde quando e por quem foi enunciado claramente pela primeira vez um pensamento econômico mencionado no decorrer da exposição A única coisa que importa nesses casos é que a ideia econômica em questão tenha relevância para a história da ciência que seja a expressão teórica mais ou menos adequada da situação econômica de sua época Mas o fato de ser citado não implica de modo algum que esse enunciado tenha valor absoluto ou relativo do ponto de vista do autor ou que já se encontre historicamente ultrapassado Tais citações pois não constituem mais do que um comentário ao texto tomado da história da ciência econômica e registram cada um dos progressos mais importantes da teoria econômica de acordo com a data e o autor E isso era muito necessário numa ciência cujos historiadores até hoje se destacam apenas pela ignorância tendenciosa quase digna de arrivistas Compreenderseá então por que Marx em sintonia com o posfácio da segunda edição apenas muito excepcionalmente cita economistas alemães Espero que o segundo volume possa ser publicado no transcorrer do ano de 1884 Friedrich Engels Londres 7 de novembro de 1883 86 Edição inglesa traduzida por Samuel Moore e Edward Aveling 87 Prefácio da edição inglesaa A publicação de uma edição inglesa de O capital dispensa qualquer apologia Pelo contrário poderseia esperar por uma explicação de por que tal edição inglesa foi postergada até agora visto que há vários anos as teorias defendidas neste livro têm sido constantemente citadas atacadas defendidas interpretadas e distorcidas na imprensa periódica e na literatura cotidiana tanto da Inglaterra quanto da América Quando pouco após a morte do autor em 1883 ficou claro que uma edição inglesa desta obra era realmente necessária o sr Samuel Moore há muitos anos amigo de Marx e deste que vos escreve e que talvez tem mais familiaridade com o próprio livro do que qualquer outra pessoa consentiu em realizar a tradução que os testamenteiros literários de Marx ansiavam por apresentar ao público Acertouse que eu deveria cotejar o manuscrito com a obra original e sugerir as alterações que me parecessem aconselháveis Quando pouco a pouco revelouse que as ocupações profissionais do sr Moore o impediam de concluir a tradução com a rapidez que desejávamos aceitamos com prazer a oferta do dr Aveling de assumir uma parte do trabalho ao mesmo tempo a sra Aveling a filha mais jovem de Marx ofereceuse para conferir as citações e restaurar o texto original das inúmeras passagens de autores ingleses e dos Livros Azuis traduzidas por Marx para o alemão I sso foi plenamente realizado com exceção de alguns poucos casos inevitáveis O dr Aveling traduziu as seguintes partes do livro 1 os capítulos 10 A jornada de trabalho e 11 Taxa e massa de maisvalor 2 a seção VI O salário do capítulo 19 até o 22 3 do capítulo 24 seção I V Circunstâncias que etc até o final do livro abrangendo a última parte do capítulo 24 o capítulo 25 e toda a seção VIII do capítulo 26 até o 33 4 os dois prefácios do autorb O restante do livro foi traduzido pelo sr Moore Se cada um dos tradutores é responsável apenas por sua parte a mim recai a responsabilidade pelo conjunto da obra A terceira edição alemã na qual se baseou inteiramente nosso trabalho foi preparada por mim em 1883 com auxílio dos apontamentos deixados pelo autor nos quais ele indicava as passagens da segunda edição que se deviam substituir por determinadas passagens do texto francês publicado em 18733 As alterações assim efetuadas no texto da segunda edição coincidiam de modo geral com as mudanças prescritas por Marx numa série de instruções manuscritas para uma tradução inglesa que se planejara publicar na América dez anos atrás mas que fora abandonada principalmente por falta de um tradutor capaz e adequado Esse manuscrito nos foi colocado à disposição por nosso velho amigo o sr F A Sorge de Hoboken Nova J ersey Nele se encontram indicações adicionais de trechos da edição francesa a serem inseridos no textofonte da nova tradução porém sendo esse manuscrito anterior em muitos anos às últimas instruções deixadas por Marx para a terceira edição não me julguei autorizado a fazer uso delas a não ser em raras ocasiões especialmente quando 88 nos ajudavam a superar dificuldades Do mesmo modo o texto francês foi referido na maioria das passagens difíceis como um indicador daquilo que o próprio autor estava disposto a sacrificar sempre que algo do sentido integral do texto original tivesse de ser sacrificado na tradução Há no entanto uma dificuldade da qual não pudemos poupar o leitor o uso de certos termos num sentido diferente daquele que eles possuem não só na vida cotidiana mas também na economia política corrente Mas isso foi inevitável Cada novo aspecto de uma ciência implica uma revolução de seus termos técnicos I sso é mais bem evidenciado na química cuja terminologia inteira se modifica radicalmente a cada período de mais ou menos vinte anos e na qual dificilmente se pode encontrar um único composto orgânico que não tenha recebido uma série de nomes diferentes A economia política geralmente tem se limitado a tomar os termos da vida comercial e industrial tal como eles se apresentam e a operar com eles sem se dar conta de que com isso confinase a si mesma no círculo estreito das ideias expressas por aqueles termos Assim mesmo a economia política clássica embora perfeitamente consciente de que tanto o lucro quanto a renda não são mais do que subdivisões fragmentos daquela parte não paga do produto que o trabalhador tem de fornecer ao patrão seu primeiro apropriador ainda que não seu possuidor último e exclusivo jamais foi além das noções correntes de lucro e renda jamais examinou essa parte não paga do produto que Marx chama de maisproduto em sua integridade como um todo e por isso jamais atingiu uma compreensão clara seja de sua origem e natureza seja das leis que regulam a distribuição subsequente de seu valor De modo semelhante toda indústria que não seja agrícola ou artesanal está indiscriminadamente compreendida no termo manufatura com o que se apaga a distinção entre dois grandes períodos essencialmente diversos da história econômica o período da manufatura propriamente dita baseado na divisão do trabalho manual e o período da indústria moderna baseado na maquinaria É evidente no entanto que uma teoria que considera a moderna produção capitalista como um mero estágio transitório na história econômica da humanidade tem de empregar termos distintos daqueles normalmente usados pelos autores que encaram esse modo de produção como imperecível e definitivo Talvez ainda convenha dizer uma palavra sobre o método empregado pelo autor na realização de citações Na maioria das vezes as citações servem como é usual de evidência documental em apoio às asserções feitas no texto Em muitos casos porém transcrevemse passagens de autores economistas a fim de indicar quando onde e por quem determinada proposição foi enunciada claramente pela primeira vez I sso ocorre quando a proposição citada é importante como expressão mais ou menos adequada das condições sociais de produção e de troca prevalecentes numa dada época independentemente do fato de Marx aceitála ou mesmo de sua validade geral Tais citações portanto suplementam o texto com um comentário corrente extraído da história da ciência Nossa tradução compreende apenas o primeiro volume da obra mas este é em grande medida um todo em si mesmo e foi por vinte anos considerado uma obra autônoma J á o segundo volume que editei em alemão em 1885 fica decididamente 89 incompleto sem o terceiro que não poderá ser publicado antes do final de 1887 Assim quando o Livro I I I aparecer no original alemão teremos tempo suficiente para pensar em preparar uma edição inglesa de ambos No continente europeu O capital costuma ser chamado de a Bíblia da classe trabalhadora Que as conclusões obtidas nesta obra tornamse cada vez mais os princípios fundamentais do grande movimento da classe trabalhadora não só na Alemanha e na Suíça mas também na França na Holanda na Bélgica na América e até mesmo na I tália e na Espanha que em todos os lugares a classe trabalhadora reconhece nessas conclusões cada vez mais a expressão mais adequada de sua condição e de suas aspirações é algo que ninguém que esteja a par desse movimento haverá de negar E também na I nglaterra neste momento as teorias de Marx exercem uma poderosa influência sobre o movimento socialista que se propaga nas fileiras das pessoas cultas não menos que naquelas da classe trabalhadora Mas isso não é tudo Rapidamente se aproxima o tempo em que uma investigação minuciosa da situação econômica da I nglaterra haverá de se impor como uma irresistível necessidade nacional A engrenagem do sistema industrial deste país impossível sem uma expansão rápida e constante da produção e portanto dos mercados está prestes a emperrar O livrecâmbio exauriu seus recursos até mesmo Manchester passa a duvidar desse seu antigo evangelho econômico4 A indústria estrangeira desenvolvendose rapidamente desafia a produção inglesa por toda parte não só em mercados protegidos mas também em mercados neutros e até mesmo deste lado do canal Enquanto a força produtiva aumenta em progressão geométrica a expansão dos mercados se dá quando muito em progressão aritmética O ciclo decenal de estagnação prosperidade superprodução e crise sempre recorrente de 1825 a 1867 parece de fato ter se esgotado mas apenas para nos deixar no lodaçal de desesperança de uma depressão crônica e permanente O almejado período de prosperidade tarda em chegar toda vez que acreditamos vislumbrar os sintomas que o anunciam estes desaparecem de novo no ar Entrementes cada novo inverno recoloca a grande questão que fazer com os desempregados Mas ao mesmo tempo que o número de desempregados continua a aumentar a cada ano ninguém se habilita a responder a essa pergunta e quase podemos calcular o momento em que os desempregados perdendo a paciência tomarão seu destino em suas próprias mãos Sem dúvida num tal momento deverseia ouvir a voz de um homem cuja teoria inteira é o resultado de toda uma vida de estudos da história e da situação econômica da I nglaterra estudos que o levaram à conclusão de que ao menos na Europa a I nglaterra é o único país onde a inevitável revolução social poderia ser realizada inteiramente por meios pacíficos e legais Certamente ele jamais se esqueceu de acrescentar que considerava altamente improvável que as classes dominantes inglesas se submetessem a essa revolução pacífica e legal sem promover uma proslavery rebellion rebelião em favor da escravaturac Friedrich Engels 5 de novembro de 1886 90 Prefácio da quarta edição alemã A quarta edição exigiume uma configuração a mais definitiva possível tanto do texto quanto das notas A seguir algumas palavras sobre como respondi a essa exigência Depois de renovadas consultas à edição francesa e às notas manuscritas de Marx inseri no texto alemão alguns acréscimos tomados da primeira Eles se encontram na p 130 3 ed p 88 p 51719 3 ed p 50910 p 61013 3 ed p 600 p 6557 3 ed p 644 e na nota 79 da p 660 3 ed p 648a Do mesmo modo seguindo os precedentes das edições francesa e inglesa agreguei ao texto 4 ed p 51925b a longa nota sobre os trabalhadores das minas 3 ed p 50915 As demais modificações de pouca importância têm natureza puramente técnica Formulei além disso algumas notas explicativas principalmente quando as circunstâncias históricas alteradas pareciam exigilo Todas essas notas adicionais estão colocadas entre colchetes e assinaladas com minhas iniciais ou com D Hc Uma revisão completa das numerosas citações fezse necessária em virtude da publicação nesse ínterim da edição inglesa Para essa edição Eleanor a filha mais jovem de Marx deuse ao trabalho de cotejar com os originais todas as passagens citadas de modo que nas citações de fontes inglesas de longe as mais numerosas não se apresenta uma retradução do alemão mas o próprio texto original inglês Ao consultar esse texto para a quarta edição nele pude encontrar diversas passagens com pequenas imprecisões como indicações errôneas de páginas em parte cometidas na transcrição dos cadernos em parte devidas à acumulação de erros de impressão ao longo de três edições Aspas ou reticências fora de lugar o que é inevitável quando se realiza um número tão grande de citações a partir de cadernos de notas Aqui e ali uma escolha não muito feliz na tradução de uma palavra Certas citações tomadas dos velhos cadernos de Paris 18431845 uma época em que Marx não sabia inglês e lia os economistas ingleses em traduções francesas nesses casos à dupla tradução correspondia uma leve mudança de colorido por exemplo em Steuart Ure entre outros em comparação com o texto inglês que agora foi utilizado E mais uma série de pequenos lapsos e inexatidões desse tipo Quem quer que compare esta quarta edição com as anteriores verá que todo esse laborioso processo de correção nada modificou no livro que valha a pena mencionar Uma única citação não pôde ser localizada a de Richard J ones 4 ed p 562 nota 47d Marx provavelmente se equivocou ao transcrever o título do livro Todas as outras citações em sua forma atual exata conservam ou reforçam seu pleno poder comprobatório Mas vejome aqui forçado a voltar a uma velha história Conheço apenas um caso em que a correção de uma citação de Marx foi posta em dúvida mas como esse caso continuou a circular mesmo depois de sua morte não posso deixálo passar em branco aquie A 7 de março de 1872 no Concórdia órgão berlinense da União dos Fabricantes 91 Alemães apareceu um artigo anônimo intitulado Wie Karl Marx citirt Como Karl Marx cita Nele se afirmava com uma afetada ostentação de indignação moral e de expressões indecorosas que a citação tomada do discurso pronunciado por Gladstone a 16 de abril de 1863 teria sido falseada na mensagem inaugural da Associação I nternacional dos Trabalhadores de 1864 e repetida nO capital Livro I 4 ed p 617 3 ed p 6701f No relatório estenográfico oficioso do Hansardg não constaria nem uma única palavra da frase esse aumento inebriante de riqueza e poder está inteiramente restrito às classes possuidoras Lêse no artigo Essa frase não se encontra porém em parte alguma do discurso de Gladstone O que nele se afirma é exatamente o contrário E em negrito Marx interpolou e deturpou essa frase formal e materialmente Marx a quem se enviou esse número do Concórdia no mês de maio seguinte respondeu ao autor anônimo no Volksstaat de 1º de junho Como não se lembrava mais de que notícia jornalística havia extraído a citação Marx limitouse num primeiro momento a apresentar duas publicações inglesas que reproduziam exatamente a mesma frase e em seguida citou o relato do Times segundo o qual Gladstone dissera That is the state of the case as regards the wealth of this country I must say for one I should look almost with apprehension and with pain upon this intoxicating augmentation of wealth and power if it were my belief that it was confined to classes who are in easy circunstances This takes no cognizance at all of the condition of the labouring population The augmentation I have described and which is founded I think upon accurate returns is an augmentation entirely confined to classes of propertyh O que Gladstone diz portanto é que ele lamentaria que assim fosse mas que é assim que esse inebriante aumento de riqueza e poder é inteiramente restrito às classes possuidoras E no tocante ao oficioso Hansard Marx acrescenta Nesta sua edição posteriormente remendada o sr Gladstone foi esperto o suficiente para escamotear a passagem que seria certamente comprometedora na boca de um ministro do Tesouro inglês Tratase de resto de um procedimento consagrado no Parlamento britânico não sendo de modo algum uma invenção do pequeno Lasker contra Bebeli O anônimo se enfurece cada vez mais Em sua réplica no Concórdia de 4 de julho deixando de lado as fontes de segunda mão ele sugere de modo vergonhoso que é de praxe citar discursos parlamentares conforme o registro estenográfico mas também que o relato do Times no qual se encontra a frase interpolada e deturpada e o do Hansard no qual ela não se encontra coincidem plenamente no sentido material além do fato de que o relato do Times conteria exatamente o contrário do que se diz naquela famigerada passagem do discurso inaugural com o que nosso bom homem cuidadosamente omite que juntamente com esse pretenso contrário ele traz expressamente aquela famigerada passagem Apesar de tudo o autor anônimo sente que está atolado e que somente um novo subterfúgio pode salválo Assim enquanto criva seu artigo este sim pululante de mendacidade audaz como mostramos há pouco de edificantes vitupérios como mala fides máfé desonestidade afirmação mentirosa aquela citação mentirosa mendacidade audaz uma citação completamente falseada esta falsificação simplesmente infame etc considera necessário levar a polêmica para outro terreno e por isso promete explicar num segundo artigo o significado que nós o não mentiroso 92 anônimo damos ao conteúdo das palavras de Gladstone Como se essa sua opinião absolutamente desimportante tivesse alguma coisa a ver com o assunto Esse segundo artigo apareceu no Concórdia de 11 de julho Marx respondeu mais uma vez no Volksstaat de 7 de agosto desta feita apresentando também as passagens constantes dos relatos do Morning Star e do Morning Advertiser de 17 de abril de 1863 De acordo com ambos Gladstone diz que veria com apreensão etc esse inebriante aumento de riqueza e poder se acreditasse estar ele restrito às classes abastadas classes in easy circumstances Mas que esse aumento é inteiramente restrito às classes possuidoras de propriedades entirely confined to classes possessed of property De modo que também esses relatos reproduzem quase literalmente a frase supostamente interpolada e deturpada Além disso cotejando os textos do Times e o do Hansard Marx constatou que a referida frase constava como autêntica e com a mesma redação nos relatos de três jornais independentes entre si e publicados na manhã seguinte ao discurso faltando ela apenas no texto do Hansard e justamente porque este fora corrigido segundo a conhecida praxe ou seja porque Gladstone nas palavras de Marx a escamoteara posteriormente por fim declarava não ter mais tempo para perder com o anônimo Este ao que parece também se deu por satisfeito ao menos não foram enviados a Marx edições novas do Concórdia Com isso o assunto parecia estar morto e enterrado No entanto desde então nos chegaram uma ou duas vezes por pessoas que tinham relações com a Universidade de Cambridge misteriosos rumores acerca de um inominável crime literário que teria sido cometido por Marx em O capital porém apesar de todas as nossas investigações foi absolutamente impossível apurar algo de mais concreto Mas eis que a 29 de novembro de 1883 oito meses depois da morte de Marx apareceu no Times uma carta enviada do Trinity College de Cambridge e assinada por Sedley Taylor na qual esse homenzinho que chafurda no mais manso cooperativismo lançou inopinadamente uma luz não só sobre os rumores de Cambridge como também sobre o anônimo do Concórdia O que parece deveras estranho diz o homúnculo do Trinity College é que estivesse reservado ao professor Brentano àquela época em Breslau hoje em Estrasburgo revelar a evidente mala fides com que o discurso de Gladstone fora citado na mensagem inaugural O sr Karl Marx que tentou defender a citação teve a audácia de afirmar em meio aos espasmos mortais deadly shifts a que os ataques magistrais de Brentano o lançaram de imediato que o sr Gladstone teria retocado o relato de seu discurso publicado no Times de 17 de abril de 1863 antes que ele aparecesse no Hansard a fim de escamotear uma passagem um tanto comprometedora para um ministro do Tesouro inglês Quando Brentano por meio de um cotejamento detalhado dos textos demonstrou que os relatos do Times e do Hansard coincidiam em excluir inteiramente o sentido que a citação capciosamente isolada imputava às palavras de Gladstone Marx bateu em retirada sob o pretexto de falta de tempo Era essa então a verdade por detrás de tudo E com que glória se refletia na fantasia cooperativista de Cambridge a campanha anônima do sr Brentano no Concórdia Assim se erguia brandindo sua lâminaj num ataque magistral esse São J orge da Liga dos Fabricantes Alemães enquanto o dragão dos infernos Marx agonizava aos seus pés em meio a espasmos mortais Mas toda essa narração épica digna de um Ariosto serve apenas para encobrir os 93 subterfúgios de nosso São J orge Aqui já não se fala de interpolação e deturpação de falsificação mas de citação capciosamente isolada craftily isolated quotation A questão inteira fora deslocada e São J orge e seu escudeiro de Cambridge sabiam muito bem por quê Tendo o Times se recusado a publicar a réplica Eleanor Marx encaminhoua à revista mensal ToDay em fevereiro de 1884 e assim reconduziu o debate ao único ponto de que se tratava havia Marx interpolado e deturpado aquela frase ou não O sr Sedley Taylor treplicou A questão de se uma determinada frase foi ou não pronunciada no discurso do sr Gladstone era na sua opinião de importância muito secundária na controvérsia entre Marx e Brentano se comparada com a questão de se a referida citação fora realizada com o propósito de reproduzir ou de desfigurar o sentido original a ela conferido por Gladstone E admite então que o relato do Times contém de fato uma contradição nas palavras porém porém que o resto do texto interpretado corretamente isto é no sentido liberalgladstoniano revelaria aquilo que o sr Gladstone havia querido dizer ToDay março de 1884 O mais cômico nisso tudo é que agora o nosso homúnculo de Cambridge empenhase em citar o discurso não de acordo com o Hansard como segundo o anônimo Brentano seria de praxe mas com o relato do Times que o mesmo Brentano qualificara de necessariamente malfeito É claro já que no Hansard falta a frase fatídica Eleanor Marx não teve nenhuma dificuldade em reduzir a pó esses argumentos no mesmo número do ToDay Ou bem o sr Taylor lera a controvérsia de 1872 e nesse caso punhase agora a deturpar não só interpolando mas também suprimindo ou simplesmente não a lera e então tinha a obrigação de calar a boca De todo modo ficava claro que em nenhum momento ele se atreveu a manter de pé a acusação de seu amigo Brentano segundo a qual Marx teria interpolado e deturpado uma frase Pelo contrário agora é dito que Marx teria não acrescentado mentiras mas suprimido uma frase importante Ocorre porém que essa mesma frase é citada na página 5 da Mensagem inaugural poucas linhas acima da frase supostamente interpolada e deturpada E quanto à contradição no discurso de Gladstone não foi exatamente Marx que na nota 105 à p 618k dO capital 3 ed p 672 referiuse às sucessivas e gritantes contradições nos discursos de Gladstone sobre o orçamento de 1863 e 1864 Ocorre que Marx à diferença de Sedley Taylor não ousa diluir tais contradições em complacências liberais E assim arremata Eleanor Marx Ao contrário Marx nem ocultou nada digno de menção nem interpolou e deturpou uma única palavra O que ele fez foi restabelecer e tirar do esquecimento uma determinada frase do discurso de Gladstone a qual foi indubitavelmente pronunciada mas que de um jeito ou de outro ficou de fora da versão do Hansard Com isso também o sr Sedley Taylor se deu por satisfeito e o resultado de todo esse conluio de catedráticos tramado ao longo de duas décadas e em duas grandes nações foi o de que não mais se ousou pôr em dúvida a probidade literária de Marx ao mesmo tempo que o sr Sedley Taylor a partir de então haverá de confiar tão pouco nos boletins literários de batalha do sr Brentano quanto este último na infalibilidade papal do Hansard 94 Friedrich Engels Londres 25 de junho de 1890 95 Seção I MERCADORIA E DINHEIRO Capítulo 1 A mercadoria 1 Os dois fatores da mercadoria valor de uso e valor substância do valor grandeza do valor A riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma enorme coleção de mercadorias1 e a mercadoria individual como sua forma elementar Nossa investigação começa por isso com a análise da mercadoria A mercadoria é antes de tudo um objeto externo uma coisa que por meio de suas propriedades satisfaz necessidades humanas de um tipo qualquer A natureza dessas necessidades se por exemplo elas provêm do estômago ou da imaginação não altera em nada a questão2 Tampouco se trata aqui de como a coisa satisfaz a necessidade humana se diretamente como meio de subsistência Lebensmittel isto é como objeto de fruição ou indiretamente como meio de produção Toda coisa útil como ferro papel etc deve ser considerada sob um duplo ponto de vista o da qualidade e o da quantidade Cada uma dessas coisas é um conjunto de muitas propriedades e pode por isso ser útil sob diversos aspectos Descobrir esses diversos aspectos e portanto as múltiplas formas de uso das coisas é um ato histórico3 Assim como também é um ato histórico encontrar as medidas sociais para a quantidade das coisas úteis A diversidade das medidas das mercadorias resulta em parte da natureza diversa dos objetos a serem medidos e em parte da convenção A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso4 Mas essa utilidade não flutua no ar Condicionada pelas propriedades do corpo da mercadoria Warenkörper ela não existe sem esse corpo Por isso o próprio corpo da mercadoria como ferro trigo diamante etc é um valor de uso ou um bem Esse seu caráter não depende do fato de a apropriação de suas qualidades úteis custar muito ou pouco trabalho aos homens Na consideração do valor de uso será sempre pressuposta sua determinidade Bestimmtheit quantitativa como uma dúzia de relógios 1 braça de linho 1 tonelada de ferro etc Os valores de uso das mercadorias fornecem o material para uma disciplina específica a merceologia5 O valor de uso se efetiva apenas no uso ou no consumo Os valores de uso formam o conteúdo material da riqueza qualquer que seja a forma social desta Na forma de sociedade que iremos analisar eles constituem ao mesmo tempo os suportes materiais stofflische Träger do valor de troca O valor de troca aparece inicialmente como a relação quantitativa a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo6 uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço Por isso o valor de troca parece algo acidental e puramente relativo um valor de troca intrínseco imanente à mercadoria valeur intrinsèque portanto uma contradictio in adjecto contradição nos próprios termos7 Vejamos a coisa mais de perto Certa mercadoria 1 quartera de trigo por exemplo é trocada por x de graxa de 97 sapatos ou por y de seda ou z de ouro etc em suma por outras mercadorias nas mais diversas proporções O trigo tem assim múltiplos valores de troca em vez de um único Mas sendo x de graxa de sapatos assim como y de seda e z de ouro etc o valor de troca de 1 quarter de trigo então x de graxa de sapatos y de seda e z de ouro etc têm de ser valores de troca permutáveis entre si ou valores de troca de mesma grandeza Disso se segue em primeiro lugar que os valores de troca vigentes da mesma mercadoria expressam algo igual Em segundo lugar porém que o valor de troca não pode ser mais do que o modo de expressão a forma de manifestação Erscheinungsform de um conteúdo que dele pode ser distinguido Tomemos ainda duas mercadorias por exemplo trigo e ferro Qualquer que seja sua relação de troca ela é sempre representável por uma equação em que uma dada quantidade de trigo é igualada a uma quantidade qualquer de ferro por exemplo 1 quarter de trigo a quintaisb de ferro O que mostra essa equação Que algo comum de mesma grandeza existe em duas coisas diferentes em 1 quarter de trigo e em a quintais de ferro Ambas são portanto iguais a uma terceira que em si mesma não é nem uma nem outra Cada uma delas na medida em que é valor de troca tem portanto de ser redutível a essa terceira Um simples exemplo geométrico ilustra isso Para determinar e comparar as áreas de todas as figuras retilíneas é preciso decompôlas em triângulos O próprio triângulo é reduzido a uma expressão totalmente distinta de sua figura visível a metade do produto de sua base pela sua altura Do mesmo modo os valores de troca das mercadorias têm de ser reduzidos a algo em comum com relação ao qual eles representam um mais ou um menos Esse algo em comum não pode ser uma propriedade geométrica física química ou qualquer outra propriedade natural das mercadorias Suas propriedades físicas importam apenas na medida em que conferem utilidade às mercadorias isto é fazem delas valores de uso Por outro lado parece claro que a abstração dos seus valores de uso é justamente o que caracteriza a relação de troca das mercadorias Nessa relação um valor de uso vale tanto quanto o outro desde que esteja disponível em proporção adequada Ou como diz o velho Barbon Um tipo de mercadoria é tão bom quanto outro se seu valor de troca for da mesma grandeza Pois não existe nenhuma diferença ou possibilidade de diferenciação entre coisas cujos valores de troca são da mesma grandeza8 Como valores de uso as mercadorias são antes de tudo de diferente qualidade como valores de troca elas podem ser apenas de quantidade diferente sem conter portanto nenhum átomo de valor de uso Prescindindo do valor de uso dos corpos das mercadorias resta nelas uma única propriedade a de serem produtos do trabalho Mas mesmo o produto do trabalho já se transformou em nossas mãos Se abstraímos seu valor de uso abstraímos também os componentes Bestandteilen e formas corpóreas que fazem dele um valor de uso O produto não é mais uma mesa uma casa um fio ou qualquer outra coisa útil Todas as suas qualidades sensíveis foram apagadas E também já não é mais o produto do carpinteiro do pedreiro do fiandeiro ou de qualquer outro trabalho produtivo determinado Com o caráter útil dos produtos do trabalho desaparece o caráter útil 98 dos trabalhos neles representados e portanto também as diferentes formas concretas desses trabalhos que não mais se distinguem uns dos outros sendo todos reduzidos a trabalho humano igual a trabalho humano abstrato Consideremos agora o resíduo dos produtos do trabalho Deles não restou mais do que uma mesma objetividade fantasmagórica uma simples geleia Gallerte de trabalho humano indiferenciado ie de dispêndio de força de trabalho humana sem consideração pela forma de seu dispêndio Essas coisas representam apenas o fato de que em sua produção foi despendida força de trabalho humana foi acumulado trabalho humano Como cristais dessa substância social que lhes é comum elas são valores valores de mercadorias Na própria relação de troca das mercadorias seu valor de troca apareceunos como algo completamente independente de seus valores de uso No entanto abstraindose agora o valor de uso dos produtos do trabalho obteremos seu valor como ele foi definido anteriormente O elemento comum que se apresenta na relação de troca ou valor de troca das mercadorias é portanto seu valor A continuação da investigação nos levará de volta ao valor de troca como o modo necessário de expressão ou forma de manifestação do valor mas este tem de ser por ora considerado independentemente dessa forma Assim um valor de uso ou bem só possui valor porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano abstrato Mas como medir a grandeza de seu valor Por meio da quantidade de substância formadora de valor isto é da quantidade de trabalho nele contida A própria quantidade de trabalho é medida por seu tempo de duração e o tempo de trabalho possui por sua vez seu padrão de medida em frações determinadas de tempo como hora dia etc Poderia parecer que se o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho despendido durante sua produção quanto mais preguiçoso ou inábil for um homem tanto maior o valor de sua mercadoria pois ele necessitará de mais tempo para produzila No entanto o trabalho que constitui a substância dos valores é trabalho humano igual dispêndio da mesma força de trabalho humana A força de trabalho conjunta da sociedade que se apresenta nos valores do mundo das mercadorias vale aqui como uma única força de trabalho humana embora consista em inumeráveis forças de trabalho individuais Cada uma dessas forças de trabalho individuais é a mesma força de trabalho humana que a outra na medida em que possui o caráter de uma força de trabalho social média e atua como tal força de trabalho social média portanto na medida em que para a produção de uma mercadoria ela só precisa do tempo de trabalho em média necessário ou tempo de trabalho socialmente necessário Tempo de trabalho socialmente necessário é aquele requerido para produzir um valor de uso qualquer sob as condições normais para uma dada sociedade e com o grau social médio de destreza e intensidade do trabalho Após a introdução do tear a vapor na I nglaterra por exemplo passou a ser possível transformar uma dada quantidade de fio em tecido empregando cerca da metade do trabalho de antes Na verdade o tecelão manual inglês continuava a precisar do mesmo tempo de trabalho para essa produção mas agora o produto de sua hora de trabalho individual representava apenas metade da hora de trabalho social e por isso 99 seu valor caiu para a metade do anterior Portanto é apenas a quantidade de trabalho socialmente necessário ou o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de um valor de uso que determina a grandeza de seu valor9 A mercadoria individual vale aqui somente como exemplar médio de sua espécie10 Por essa razão mercadorias em que estão contidas quantidades iguais de trabalho ou que podem ser produzidas no mesmo tempo de trabalho têm a mesma grandeza de valor O valor de uma mercadoria está para o valor de qualquer outra mercadoria assim como o tempo de trabalho necessário para a produção de uma está para o tempo de trabalho necessário para a produção de outra Como valores todas as mercadorias são apenas medidas determinadas de tempo de trabalho cristalizado11 Assim a grandeza de valor de uma mercadoria permanece constante se permanece igualmente constante o tempo de trabalho requerido para sua produção Mas este muda com cada mudança na força produtiva do trabalho Essa força produtiva do trabalho é determinada por múltiplas circunstâncias dentre outras pelo grau médio de destreza dos trabalhadores o grau de desenvolvimento da ciência e de sua aplicabilidade tecnológica a organização social do processo de produção o volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais Por exemplo a mesma quantidade de trabalho produz numa estação favorável 8 alqueiresc de trigo mas apenas 4 alqueires numa estação menos favorável A mesma quantidade de trabalho extrai mais metais em minas ricas do que em pobres etc Os diamantes muito raramente se encontram na superfície da terra e por isso encontrálos exige muito tempo de trabalho Em consequência eles representam muito trabalho em pouco volume J acob duvida que o ouro tenha alguma vez pago seu pleno valord I sso vale ainda mais para o diamante Segundo Eschwege oitenta anos de exploração das minas de diamante brasileiras não havia atingido em 1823 o preço do produto médio de um ano e meio das plantações brasileiras de açúcar ou café embora ela representasse muito mais trabalho portanto mais valor Com minas mais ricas a mesma quantidade de trabalho seria representada em mais diamantes e seu valor cairia Se com pouco trabalho fosse possível transformar carvão em diamante seu valor poderia cair abaixo do de tijolos Como regra geral quanto maior é a força produtiva do trabalho menor é o tempo de trabalho requerido para a produção de um artigo menor a massa de trabalho nele cristalizada e menor seu valor I nversamente quanto menor a força produtiva do trabalho maior o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo e maior seu valor Assim a grandeza de valor de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade de trabalho que nela é realizado e na razão inversa da força produtiva desse trabalhoe Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor É esse o caso quando sua utilidade para o homem não é mediada pelo trabalho Assim é o ar a terra virgem os campos naturais a madeira bruta etc Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano sem ser mercadoria Quem por meio de seu produto satisfaz sua própria necessidade cria certamente valor de uso mas não mercadoria Para produzir mercadoria ele tem de produzir não apenas valor de uso mas valor de uso para outrem valor de uso social E não somente para outrem O camponês medieval produzia a talha para o 100 senhor feudal o dízimo para o padre mas nem por isso a talha ou o dízimo se tornavam mercadorias Para se tornar mercadoria é preciso que o produto por meio da troca seja transferido a outrem a quem vai servir como valor de uso11a Por último nenhuma coisa pode ser valor sem ser objeto de uso Se ela é inútil também o é o trabalho nela contido não conta como trabalho e não cria por isso nenhum valor 2 O duplo caráter do trabalho representado nas mercadorias I nicialmente a mercadoria apareceunos como um duplo Zwieschlächtiges de valor de uso e valor de troca Mais tarde mostrouse que também o trabalho na medida em que se expressa no valor já não possui os mesmos traços que lhe cabem como produtor de valores de uso Essa natureza dupla do trabalho contido na mercadoria foi criticamente demonstrada pela primeira vez por mim12 Como esse ponto é o centro em torno do qual gira o entendimento da economia política ele deve ser examinado mais de perto Tomemos duas mercadorias por exemplo um casaco e 10 braças de linho Consideremos que a primeira tenha o dobro do valor da segunda de modo que se 10 braças de linho V o casaco 2V O casaco é um valor de uso que satisfaz uma necessidade específica Para produzi lo é necessário um tipo determinado de atividade produtiva a qual é determinada por seu escopo modo de operar objeto meios e resultado O trabalho cuja utilidade se representa assim no valor de uso de seu produto ou no fato de que seu produto é um valor de uso chamaremos aqui resumidamente de trabalho útil Sob esse ponto de vista ele será sempre considerado em relação a seu efeito útil Assim como o casaco e o linho são valores de uso qualitativamente distintos também o são os trabalhos que os produzem alfaiataria e tecelagem Se essas coisas não fossem valores de uso qualitativamente distintos e por isso produtos de trabalhos úteis qualitativamente distintos elas não poderiam de modo algum se confrontar como mercadorias O casaco não é trocado por casaco um valor de uso não se troca pelo mesmo valor de uso No conjunto dos diferentes valores de uso ou corpos de mercadorias Warenkörper aparece um conjunto igualmente diversificado dividido segundo o gênero a espécie a família e a subespécie de diferentes trabalhos úteis uma divisão social do trabalho Tal divisão é condição de existência da produção de mercadorias embora esta última não seja inversamente a condição de existência da divisão social do trabalho Na antiga comunidade indiana o trabalho é socialmente dividido sem que os produtos se tornem mercadorias Ou para citar um exemplo mais próximo em cada fábrica o trabalho é sistematicamente dividido mas essa divisão não implica que os trabalhadores troquem entre si seus produtos individuais Apenas produtos de trabalhos privados separados e mutuamente independentes uns dos outros confrontamse como mercadorias Viuse portanto que no valor de uso de toda mercadoria reside uma determinada atividade produtiva adequada a um fim ou trabalho útil Valores de uso não podem se 101 confrontar como mercadorias se neles não residem trabalhos úteis qualitativamente diferentes Numa sociedade cujos produtos assumem genericamente a forma da mercadoria isto é numa sociedade de produtores de mercadorias essa diferença qualitativa dos trabalhos úteis executados separadamente uns dos outros como negócios privados de produtores independentes desenvolvese como um sistema complexo uma divisão social do trabalho Para o casaco é indiferente se ele é usado pelo alfaiate ou pelo freguês do alfaiate uma vez que em ambos os casos ele funciona como valor de uso Tampouco a relação entre o casaco e o trabalho que o produziu é alterada pelo fato de a alfaiataria se tornar uma profissão específica um elo independente no interior da divisão social do trabalho Onde a necessidade de vestirse o obrigou o homem costurou por milênios e desde muito antes que houvesse qualquer alfaiate Mas a existência do casaco do linho e de cada elemento da riqueza material não fornecido pela natureza teve sempre de ser mediada por uma atividade produtiva especial direcionada a um fim que adapta matérias naturais específicas a necessidades humanas específicas Como criador de valores de uso como trabalho útil o trabalho é assim uma condição de existência do homem independente de todas as formas sociais eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e portanto da vida humana Os valores de uso casaco linho etc em suma os corpos das mercadorias são nexos de dois elementos matéria natural e trabalho Subtraindose a soma total de todos os diferentes trabalhos úteis contidos no casaco linho etc o que resta é um substrato material que existe na natureza sem a interferência da atividade humana Ao produzir o homem pode apenas proceder como a própria natureza isto é pode apenas alterar a forma das matérias13 Mais ainda nesse próprio trabalho de formação ele é constantemente amparado pelas forças da natureza Portanto o trabalho não é a única fonte dos valores de uso que ele produz a única fonte da riqueza material O trabalho é o pai da riqueza material como diz William Petty e a terra é a mãe Passemos então da mercadoria como objeto de uso para o valormercadoria De acordo com nossa suposição o casaco tem o dobro do valor do linho Essa é porém apenas uma diferença quantitativa que por ora ainda não nos interessa Recordemos por isso que se o valor de um casaco é o dobro de 10 braças de linho então 20 braças de linho têm a mesma grandeza de valor de um casaco Como valores o casaco e o linho são coisas de igual substância expressões objetivas do mesmo tipo de trabalho Mas alfaiataria e tecelagem são trabalhos qualitativamente distintos Há no entanto circunstâncias sociais em que a mesma pessoa costura e tece alternadamente de modo que esses dois tipos distintos de trabalho são apenas modificações do trabalho do mesmo indivíduo e ainda não constituem funções fixas específicas de indivíduos diferentes assim como o casaco que nosso alfaiate faz hoje e as calças que ele faz amanhã pressupõem somente variações do mesmo trabalho individual A evidência nos ensina além disso que em nossa sociedade capitalista a depender da direção cambiante assumida pela procura de trabalho uma dada porção de trabalho humano será alternadamente oferecida sob a forma da alfaiataria e da tecelagem Essa variação de forma do trabalho mesmo que não possa se dar sem 102 atritos tem necessariamente de ocorrer Abstraindose da determinidade da atividade produtiva e portanto do caráter útil do trabalho resta o fato de que ela é um dispêndio de força humana de trabalho Alfaiataria e tecelagem embora atividades produtivas qualitativamente distintas são ambas dispêndio produtivo de cérebro músculos nervos mãos etc humanos e nesse sentido ambas são trabalho humano Elas não são mais do que duas formas diferentes de se despender força humana de trabalho No entanto a própria força humana de trabalho tem de estar mais ou menos desenvolvida para poder ser despendida desse ou daquele modo Mas o valor da mercadoria representa unicamente trabalho humano dispêndio de trabalho humano Ora assim como na sociedade burguesa um general ou um banqueiro desempenham um grande papel ao passo que o homem comum desempenha ao contrário um papel muito miserável14 o mesmo ocorre aqui com o trabalho humano Ele é dispêndio da força de trabalho simples que em média toda pessoa comum sem qualquer desenvolvimento especial possui em seu organismo corpóreo O próprio trabalho simples médio varia decerto seu caráter em diferentes países e épocas culturais porém é sempre dado numa sociedade existente O trabalho mais complexo vale apenas como trabalho simples potenciado ou antes multiplicado de modo que uma quantidade menor de trabalho complexo é igual a uma quantidade maior de trabalho simples Que essa redução ocorre constantemente é algo mostrado pela experiência Mesmo que uma mercadoria seja o produto do trabalho mais complexo seu valor a equipara ao produto do trabalho mais simples e desse modo representa ele próprio uma quantidade determinada de trabalho simples15 As diferentes proporções em que os diferentes tipos de trabalho são reduzidos ao trabalho simples como sua unidade de medida são determinadas por meio de um processo social que ocorre pelas costas dos produtores e lhes parecem assim ter sido legadas pela tradição Para fins de simplificação de agora em diante consideraremos todo tipo de força de trabalho diretamente como força de trabalho simples com o que apenas nos poupamos o esforço de redução Assim como nos valores casaco e linho está abstraída a diferença entre seus valores de uso também nos trabalhos representados nesses valores não se leva em conta a diferença entre suas formas úteis a alfaiataria e a tecelagem Assim como os valores de uso casaco e linho constituem nexos de atividades produtivas orientadas a um fim e realizadas com o tecido e o fio ao passo que os valores casaco e linho são ao contrário simples geleias de trabalho também os trabalhos contidos nesses valores não valem pela relação produtiva que guardam com o tecido e o fio mas tão somente como dispêndio de força humana de trabalho Alfaiataria e tecelagem são elementos formadores dos valores de uso casaco e linho precisamente devido a suas diferentes qualidades constituem substâncias do valor do casaco e do valor do linho apenas na medida em que se abstraem suas qualidades específicas e ambas possuem a mesma qualidade a qualidade do trabalho humano Casaco e linho não são apenas valores em geral mas valores de determinada grandeza e de acordo com nossa suposição o casaco tem o dobro do valor de 10 braças de linho De onde provém essa diferença de suas grandezas de valor Do fato de que o linho contém somente a metade do trabalho contido no casaco pois para a 103 produção do último requerse um dispêndio de força de trabalho durante o dobro do tempo necessário à produção do primeiro Portanto se em relação ao valor de uso o trabalho contido na mercadoria vale apenas qualitativamente em relação à grandeza de valor ele vale apenas quantitativamente depois de ter sido reduzido a trabalho humano sem qualquer outra qualidade Lá tratase do como e do quê do trabalho aqui tratase de seu quanto de sua duração Como a grandeza do valor de uma mercadoria expressa apenas a quantidade de trabalho nela contida as mercadorias devem em dadas proporções ser sempre valores de mesma grandeza Mantendose inalterada a força produtiva digamos de todos os trabalhos úteis requeridos para a produção de um casaco a grandeza de valor do casaco aumenta com sua própria quantidade Se um casaco contém x dias de trabalho dois casacos contêm 2x e assim por diante Suponha porém que o trabalho necessário à produção de um casaco dobre ou caia pela metade No primeiro caso um casaco tem o mesmo valor que antes tinham dois casacos no segundo caso dois casacos têm o mesmo valor que antes tinha apenas um casaco embora nos dois casos um casaco continue a prestar os mesmos serviços e o trabalho útil nele contido conserve a mesma qualidade Alterou se porém a quantidade de trabalho despendida em sua produção Uma quantidade maior de trabalho constitui por si mesma uma maior riqueza material dois casacos em vez de um Com dois casacos podemse vestir duas pessoas com um casaco somente uma etc No entanto ao aumento da massa da riqueza material pode corresponder uma queda simultânea de sua grandeza de valor Esse movimento antitético resulta do duplo caráter do trabalho Naturalmente a força produtiva é sempre a força produtiva de trabalho útil concreto e determina na verdade apenas o grau de eficácia de uma atividade produtiva adequada a um fim num dado período de tempo O trabalho útil se torna desse modo uma fonte mais rica ou mais pobre de produtos em proporção direta com o aumento ou a queda de sua força produtiva Ao contrário por si mesma uma mudança da força produtiva não afeta em nada o trabalho representado no valor Como a força produtiva diz respeito à forma concreta e útil do trabalho é evidente que ela não pode mais afetar o trabalho tão logo se abstraia dessa sua forma concreta e útil Assim o mesmo trabalho produz nos mesmos períodos de tempo sempre a mesma grandeza de valor independentemente da variação da força produtiva Mas ele fornece no mesmo espaço de tempo diferentes quantidades de valores de uso uma quantidade maior quando a produtividade aumenta e menor quando ela diminui A mesma variação da força produtiva que aumenta a fertilidade do trabalho e com isso a massa dos valores de uso por ele produzida diminui a grandeza de valor dessa massa total aumentada ao reduzir a quantidade de tempo de trabalho necessário à sua produção E viceversa Todo trabalho é por um lado dispêndio de força humana de trabalho em sentido fisiológico e graças a essa sua propriedade de trabalho humano igual ou abstrato ele gera o valor das mercadorias Por outro lado todo trabalho é dispêndio de força humana de trabalho numa forma específica determinada à realização de um fim e nessa qualidade de trabalho concreto e útil ele produz valores de uso16 104 3 A forma de valor Wertform ou o valor de troca As mercadorias vêm ao mundo na forma de valores de uso ou corpos de mercadorias como ferro linho trigo etc Essa é sua forma natural originária Porém elas só são mercadorias porque são algo duplo objetos úteis e ao mesmo tempo suportes de valor Por isso elas só aparecem como mercadorias ou só possuem a forma de mercadorias na medida em que possuem esta dupla forma a forma natural e a forma de valor A objetividade do valor das mercadorias é diferente de Mistress Quicklyf na medida em que não se sabe por onde agarrála Exatamente ao contrário da objetividade sensível e crua dos corpos das mercadorias na objetividade de seu valor não está contido um único átomo de matéria natural Por isso podese virar e revirar uma mercadoria como se queira e ela permanece inapreensível como coisa de valor Wertding Lembremonos todavia de que as mercadorias possuem objetividade de valor apenas na medida em que são expressões da mesma unidade social do trabalho humano pois sua objetividade de valor é puramente social e por isso é evidente que ela só pode se manifestar numa relação social entre mercadorias Partimos do valor de troca ou da relação de troca das mercadorias para seguir as pegadas do valor que nelas se esconde Temos agora de retornar a essa forma de manifestação do valor Qualquer um sabe mesmo que não saiba mais nada além disso que as mercadorias possuem uma forma de valor em comum que contrasta do modo mais evidente com as variegadas formas naturais que apresentam seus valores de uso a formadinheiro Cabe aqui realizar o que jamais foi tentado pela economia burguesa a saber provar a gênese dessa formadinheiro portanto seguir de perto o desenvolvimento da expressão do valor contida na relação de valor das mercadorias desde sua forma mais simples e opaca até a ofuscante formadinheiro Com isso desaparece ao mesmo tempo o enigma do dinheiro A relação mais simples de valor é evidentemente a relação de valor de uma mercadoria com uma única mercadoria distinta dela não importando qual seja A relação de valor entre duas mercadorias fornece assim a mais simples expressão de valor para uma mercadoria A A forma de valor simples individual ou ocasional x mercadorias A y mercadorias B ou x mercadorias A têm o valor de y mercadorias B 20 braças de linho 1 casaco ou 20 braças de linho têm o valor de 1 casaco 1 Os dois polos da expressão do valor forma de valor relativa e forma de equivalente O segredo de toda forma de valor reside em sua forma de valor simples Sua análise oferece por isso a verdadeira dificuldade Aqui duas mercadorias diferentes A e B em nosso exemplo o linho e o casaco desempenham claramente dois papéis distintos O linho expressa seu valor no casaco este serve de material para essa expressão de valor A primeira mercadoria 105 desempenha um papel ativo a segunda um papel passivo O valor da primeira mercadoria se apresenta como valor relativo ou encontrase na forma de valor relativa A segunda mercadoria funciona como equivalente ou encontrase na forma de equivalente Forma de valor relativa e forma de equivalente são momentos inseparáveis inter relacionados e que se determinam reciprocamente mas ao mesmo tempo constituem extremos mutuamente excludentes isto é polos da mesma expressão de valor elas se repartem sempre entre mercadorias diferentes relacionadas entre si pela expressão de valor Não posso por exemplo expressar o valor do linho em linho 20 braças de linho 20 braças de linho não é nenhuma expressão de valor A equação diz antes o contrário 20 braças de linho não são mais do que 20 braças de linho uma quantidade determinada do objeto de uso linho O valor do linho só pode assim ser expresso relativamente isto é por meio de outra mercadoria A forma de valor relativa do linho pressupõe portanto que uma outra mercadoria qualquer se confronte com ela na forma de equivalente Por outro lado essa outra mercadoria que figura como equivalente não pode estar simultaneamente contida na forma de valor relativa Ela não expressa seu valor apenas fornece o material para a expressão do valor de outra mercadoria De fato a expressão 20 braças de linho 1 casaco ou 20 braças de linho valem 1 casaco também inclui as relações inversas 1 casaco 20 braças de linho ou 1 casaco vale 20 braças de linho Mas então tenho de inverter a equação para expressar relativamente o valor do casaco e assim o fazendo o linho é que se torna o equivalente em vez do casaco A mesma mercadoria não pode portanto aparecer simultaneamente em ambas as formas na mesma expressão do valor Essas formas se excluem antes como polos opostos Se uma mercadoria se encontra na forma de valor relativa ou na forma contrária a forma de equivalente é algo que depende exclusivamente de sua posição eventual na expressão do valor isto é se num dado momento ela é a mercadoria cujo valor é expresso ou a mercadoria na qual o valor é expresso 2 A forma de valor relativa a Conteúdo da forma de valor relativa Para descobrir como a expressão simples do valor de uma mercadoria está contida na relação de valor entre duas mercadorias é preciso inicialmente considerar essa relação de modo totalmente independente de seu aspecto quantitativo Na maioria das vezes percorrese o caminho contrário e se vislumbra na relação de valor apenas a proporção em que quantidades determinadas de dois tipos de mercadoria se equiparam Negligenciase que as grandezas de coisas diferentes só podem ser comparadas quantitativamente depois de reduzidas à mesma unidade Somente como expressões da mesma unidade são elas grandezas com um denominador comum e portanto grandezas comensuráveis17 Se 20 braças de linho 1 casaco ou 20 ou x casacos isto é se uma dada quantidade de linho vale muitos ou poucos casacos independentemente de qual seja 106 essa proporção ela sempre implica que linho e casaco como grandezas de valor sejam expressões da mesma unidade coisas da mesma natureza A igualdade entre linho e casaco é a base da equação Mas as duas mercadorias qualitativamente igualadas não desempenham o mesmo papel Apenas o valor do linho é expresso E como Por meio de sua relação com o casaco como seu equivalente ou com seu permutável Austauschbar Nessa relação o casaco vale como forma de existência do valor como coisa de valor pois apenas como tal ele é o mesmo que o linho Por outro lado o próprio ser do valor Wertsein do linho se revela ou alcança uma expressão independente pois apenas como valor o linho pode se relacionar com o casaco como equivalente ou algo com ele permutável Assim o ácido butanoico é um corpo diferente do formiato de propila Ambos são formados no entanto pelas mesmas substâncias químicas carbono C hidrogênio H e oxigênio O e combinados na mesma porcentagem a saber C4H8O2 Ora se o ácido butanoico fosse equiparado ao formiato de propila este último seria considerado em primeiro lugar como uma mera forma de existência de C4H8O2 e em segundo lugar poderseia dizer que o ácido butanoico também é composto de C4H8O2 Desse modo a equação do formiato de propila com o ácido butanoico seria a expressão de sua substância química em contraste com sua forma corpórea Como valores as mercadorias não são mais do que geleias de trabalho humano por isso nossa análise as reduz à abstração de valor mas não lhes confere qualquer forma de valor distinta de suas formas naturais Diferente é o que ocorre na relação de valor de uma mercadoria com outra Seu caráter de valor manifestase aqui por meio de sua própria relação com outras mercadorias Quando o casaco é equiparado ao linho como coisa de valor o trabalho nele contido é equiparado com o trabalho contido no linho Ora a alfaiataria que faz o casaco é um tipo de trabalho concreto diferente da tecelagem que faz o linho Mas a equiparação com a tecelagem reduz a alfaiataria de fato àquilo que é realmente igual nos dois trabalhos a seu caráter comum de trabalho humano Por esse desvio dizse então que também a tecelagem na medida em que tece valor não possui nenhuma característica que a diferencie da alfaiataria e é portanto trabalho humano abstrato Somente a expressão de equivalência de diferentes tipos de mercadoria evidenciao caráter específico do trabalho criador de valor ao reduzir os diversos trabalhos contidos nas diversas mercadorias àquilo que lhes é comum o trabalho humano em geral17a Mas não basta expressar o caráter específico do trabalho que cria o valor do linho A força humana de trabalho em estado fluido ou trabalho humano cria valor mas não é ela própria valor Ela se torna valor em estado cristalizado em forma objetiva Para expressar o valor do linho como geleia de trabalho humano ela tem de ser expressa como uma objetividade materialmente dinglichg distinta do próprio linho e simultaneamente comum ao linho e a outras mercadorias Assim a tarefa está resolvida Na relação de valor com o casaco o linho vale como seu equivalente qualitativo como coisa da mesma natureza porque ele é um valor Desse modo ele vale como 107 uma coisa na qual se manifesta o valor ou que em sua forma natural palpável representa valor Na verdade o casaco o corpo da mercadoria casaco é um simples valor de uso Um casaco expressa tão pouco valor quanto a melhor peça de linho I sso prova apenas que ele significa mais quando se encontra no interior da relação de valor com o linho do que fora dela assim como alguns homens significam mais dentro de um casaco agaloado do que fora dele Na produção do casaco houve de fato dispêndio de força humana de trabalho na forma da alfaiataria Portanto trabalho humano foi nele acumulado Por esse lado o casaco é suporte de valor embora essa sua qualidade não se deixe entrever nem mesmo no casaco mais puído E na relação de valor com o linho ele só é considerado segundo esse aspecto isto é como valor corporificado como corpo de valor Apesar de seu aspecto abotoado o linho reconhece nele a bela alma de valor que lhes é originariamente comum O casaco em relação ao linho não pode representar valor sem que para o linho o valor assuma simultaneamente a forma de um casaco Assim o indivíduo A não pode se comportar para com o indivíduo B como para com uma majestade sem que para A a majestade assuma a forma corpórea de B e desse modo seus traços fisionômicos seus cabelos e muitas características se modifiquem de acordo com o soberano em questão Portanto na relação de valor em que o casaco constitui o equivalente do linho a forma de casaco vale como forma de valor O valor da mercadoria linho é assim expresso no corpo da mercadoria casaco sendo o valor de uma mercadoria expresso no valor de uso da outra Como valor de uso o linho é uma coisa fisicamente distinta do casaco como valor ele é casacoidêntico Rockgleiches e aparenta pois ser um casaco Assim o linho recebe uma forma de valor diferente de sua forma natural Seu ser de valor aparece em sua igualdade com o casaco assim como a natureza de carneiro do cristão em sua igualdade com o Cordeiro de Deus Como se vê tudo o que a análise do valor das mercadorias nos disse anteriormente é dito pelo próprio linho assim que entra em contato com outra mercadoria o casaco A única diferença é que ele revela seus pensamentos na língua que lhe é própria a língua das mercadorias Para dizer que seu próprio valor foi criado pelo trabalho na qualidade abstrata de trabalho humano ele diz que o casaco na medida em que lhe equivale ou seja na medida em que é valor consiste do mesmo trabalho que o linho Para dizer que sua sublime objetividade de valor é diferente de seu corpo entretelado ele diz que o valor tem a aparência de um casaco e com isso que ele próprio como coisa de valor é tão igual ao casaco quanto um ovo é ao outro Notese de passagem que a língua das mercadorias além do hebraico tem também muitos outros dialetos mais ou menos corretos Por exemplo o termo alemão Wertseinser valor expressa de modo menos certeiro do que o verbo românico valere valer valoir o fato de que a equiparação da mercadoria B com a mercadoria A é a própria expressão de valor da mercadoria A Paris vaut bien une messe Paris vale bem uma missah Por meio da relação de valor a forma natural da mercadoria B convertese na forma de valor da mercadoria A ou o corpo da mercadoria B se converte no espelho do valor da mercadoria A18 Ao relacionarse com a mercadoria B como corpo de valor como 108 materialização de trabalho humano a mercadoria A transforma o valor de uso de B em material de sua própria expressão de valor O valor da mercadoria A assim expresso no valor de uso da mercadoria B possui a forma do valor relativo b A determinidade quantitativa da forma de valor relativa Toda mercadoria cujo valor deve ser expresso é um objeto de uso numa dada quantidade 15 alqueires de trigo 100 libras de café etc Essa dada quantidade de mercadoria contém uma quantidade determinada de trabalho humano A forma de valor tem portanto de expressar não só valor em geral mas valor quantitativamente determinado ou grandeza de valor Na relação de valor da mercadoria A com a mercadoria B do linho com o casaco não apenas a espécie de mercadoria casaco é qualitativamente equiparada ao linho como corpo de valor em geral mas uma determinada quantidade de linho por exemplo 20 braças é equiparada a uma determinada quantidade do corpo de valor ou equivalente por exemplo a 1 casaco A equação 20 braças de linho 1 casaco ou 20 braças de linho valem 1 casaco pressupõe que 1 casaco contém tanta substância de valor quanto 20 braças de linho que portanto ambas as quantidades de mercadorias custam o mesmo trabalho ou a mesma quantidade de tempo de trabalho Mas o tempo de trabalho necessário para a produção de 20 braças de linho ou 1 casaco muda com cada alteração na força produtiva da tecelagem ou da alfaiataria A influência de tais mudanças na expressão relativa da grandeza de valor tem por isso de ser investigada mais de perto I O valor do linho varia19 enquanto o valor do casaco permanece constante Se o tempo de trabalho necessário à produção do linho dobra por exemplo em consequência da crescente infertilidade do solo onde o linho é cultivado dobra igualmente seu valor Em vez de 20 braças de linho 1 casaco teríamos 20 braças de linho 2 casacos pois 1 casaco contém agora a metade do tempo de trabalho contido em 20 braças de linho Se ao contrário o tempo de trabalho necessário para a produção do linho cai pela metade graças por exemplo à melhoria dos teares cai também pela metade o valor do linho Temos agora 20 braças de linho ½ casaco Assim o valor relativo da mercadoria A isto é seu valor expresso na mercadoria B aumenta e diminui na proporção direta da variação do valor da mercadoria A em relação ao valor constante da mercadoria B I I O valor do linho permanece constante enquanto varia o valor do casaco Se dobra o tempo de trabalho necessário à produção do casaco por exemplo em consequência de tosquias desfavoráveis temos em vez de 20 braças de linho 1 casaco agora 20 braças de linho ½ casaco Ao contrário se cai pela metade o valor do casaco temos 20 braças de linho 2 casacos Permanecendo constante o valor da mercadoria A aumenta ou diminui portanto seu valor relativo expresso na mercaria B em proporção inversa à variação de valor de B Ao compararmos os diferentes casos sob I e I I concluímos que a mesma variação de grandeza do valor relativo pode derivar de causas absolutamente opostas Assim a equação 20 braças de linho 1 casaco se transforma em 1 a equação 20 braças de linho 2 casacos seja porque o valor do linho dobrou seja porque o valor dos casacos caiu pela metade e 2 a equação 20 braças de linho ½ casaco seja porque o valor do 109 linho caiu pela metade seja porque dobrou o valor do casaco I I I As quantidades de trabalho necessárias à produção de linho e casaco podem variar ao mesmo tempo na mesma direção e na mesma proporção Nesse caso como antes 20 braças de linho 1 casaco sejam quais forem as mudanças ocorridas em seus valores Sua variação de valor é descoberta tão logo o casaco e o linho sejam comparados com uma terceira mercadoria cujo valor permaneceu constante Se os valores de todas as mercadorias aumentassem ou diminuíssem ao mesmo tempo e na mesma proporção seus valores relativos permaneceriam inalterados Sua variação efetiva de valor seria inferida do fato de que no mesmo tempo de trabalho passaria agora a ser produzida uma quantidade de mercadorias maior ou menor do que antes Os tempos de trabalho necessários à produção do linho e do casaco respectivamente e com isso seus valores podem variar simultaneamente na mesma direção porém em graus diferentes ou em direção contrária etc A influência de todas as combinações possíveis sobre o valor relativo de uma mercadoria resulta da simples aplicação dos casos I II e III As variações efetivas na grandeza de valor não se refletem nem inequívoca nem exaustivamente em sua expressão relativa ou na grandeza do valor relativo O valor relativo de uma mercadoria pode variar embora seu valor se mantenha constante Seu valor relativo pode permanecer constante embora seu valor varie e finalmente variações simultâneas em sua grandeza de valor e na expressão relativa dessa grandeza não precisam de modo algum coincidir entre si20 3 A forma de equivalente Vimos quando uma mercadoria A o linho expressa seu valor no valor de uso de uma mercadoria diferente B o casaco ela imprime nesta última uma forma peculiar de valor a forma de equivalente A mercadoria linho expressa seu próprio valor quando o casaco vale o mesmo que ela sem que este último assuma uma forma de valor distinta de sua forma corpórea Portanto o linho expressa sua própria qualidade de ter valor na circunstância de que o casaco é diretamente permutável com ele Consequentemente a forma de equivalente de uma mercadoria é a forma de sua permutabilidade direta com outra mercadoria No fato de que um tipo de mercadoria como o casaco vale como equivalente de outro tipo de mercadoria como o linho com o que os casacos expressam sua propriedade característica de se encontrar em forma diretamente permutável com o linho não está dada de modo algum a proporção em que casacos e linho são permutáveis Tal proporção depende da grandeza de valor dos casacos já que a grandeza de valor do linho é dada Se o casaco é expresso como equivalente e o linho como valor relativo ou inversamente o linho como equivalente e o casaco como valor relativo sua grandeza de valor permanece tal como antes determinada pelo tempo de trabalho necessário à sua produção e portanto independente de sua forma de valor Mas quando o tipo de mercadoria casaco assume na expressão do valor o lugar de equivalente sua grandeza de valor não obtém nenhuma expressão como grandeza de valor Na equação de valor ela figura antes como quantidade determinada de uma 110 coisa Por exemplo 40 braças de linho valem o quê 2 casacos Como o tipo de mercadoria casaco desempenha aqui o papel do equivalente o valor de uso em face do linho como corpo de valor uma determinada quantidade de casacos é também suficiente para expressar uma determinada quantidade de valor do linho Portanto dois casacos podem expressar a grandeza de valor de 40 braças de linho porém jamais podem expressar sua própria grandeza de valor a grandeza de valor dos casacos A interpretação superficial desse fato de que o equivalente sempre possui na equação de valor apenas a forma de uma quantidade simples de uma coisa confundiu Bailey assim como muitos de seus predecessores e sucessores fazendoo ver na expressão do valor uma relação meramente quantitativa Ao contrário a forma de equivalente de uma mercadoria não contém qualquer determinação quantitativa de valor A primeira peculiaridade que se sobressai na consideração da forma de equivalente é esta o valor de uso se torna a forma de manifestação de seu contrário do valor A forma natural da mercadoria tornase forma de valor Porém nota bene esse quiproquó se dá para uma mercadoria B casaco trigo ou ferro etc apenas no interior da relação de valor em que outra mercadoria A qualquer linho etc a confronta apenas no âmbito dessa relação Como nenhuma mercadoria se relaciona consigo mesma como equivalente e portanto tampouco pode transformar sua própria pele natural em expressão de seu próprio valor ela tem de se reportar a outra mercadoria como equivalente ou fazer da pele natural de outra mercadoria a sua própria forma de valor I sso pode ser ilustrado com o exemplo de uma medida que se aplica aos corpos de mercadorias como tais isto é como valores de uso Um pão de açúcari por ser um corpo é pesado e tem portanto um peso mas não se pode ver ou sentir o peso de nenhum pão de açúcar Tomemos então diferentes pedaços de ferro cujo peso foi predeterminado A forma corporal do ferro considerada por si mesma é tão pouco a forma de manifestação do peso quanto o é a forma corporal do pão de açúcar No entanto a fim de expressar o pão de açúcar como peso estabelecemos uma relação de peso entre ele e o ferro Nessa relação o ferro figura como um corpo que não contém nada além de peso Quantidades de ferro servem desse modo como medida de peso do açúcar e representam diante do corpo do açúcar simples figura do peso forma de manifestação do peso Tal papel é desempenhado pelo ferro somente no interior dessa relação quando é confrontado com o açúcar ou outro corpo qualquer cujo peso deve ser encontrado Se as duas coisas não fossem pesadas elas não poderiam estabelecer essa relação e por conseguinte uma não poderia servir de expressão do peso da outra Quando colocamos as duas sobre os pratos da balança vemos que como pesos elas são a mesma coisa e por isso têm também o mesmo peso em determinada proporção Como medida de peso o ferro representa quando confrontado com o pão de açúcar apenas peso do mesmo modo como em nossa expressão de valor o corpo do casaco representa quando confrontado com o linho apenas valor Mas aqui acaba a analogia Na expressão do peso do pão de açúcar o ferro representa uma propriedade natural comum a ambos os corpos seu peso ao passo que o casaco representa na expressão de valor do linho uma propriedade 111 supernatural seu valor algo puramente social Como a forma de valor relativa de uma mercadoria por exemplo o linho expressa sua qualidade de ter valor como algo totalmente diferente de seu corpo e de suas propriedades como algo igual a um casaco essa mesma expressão esconde em si uma relação social O inverso ocorre com a forma de equivalente que consiste precisamente no fato de que um corpo de mercadoria como o casaco essa coisa imediatamente dada expressa valor e assim possui por natureza forma de valor É verdade que isso vale apenas no interior da relação de valor na qual a mercadoria casaco se confronta como equivalente com a mercadoria linho21 Mas como as propriedades de uma coisa não surgem de sua relação com outras coisas e sim apenas atuam em tal relação também o casaco aparenta possuir sua forma de equivalente sua propriedade de permutabilidade direta como algo tão natural quanto sua propriedade de ser pesado ou de reter calor Daí o caráter enigmático da forma de equivalente a qual só salta aos olhos míopes do economista político quando lhe aparece já pronta no dinheiro Então ele procura escamotear o caráter místico do ouro e da prata substituindoos por mercadorias menos ofuscantes e com prazer sempre renovado põese a salmodiar o catálogo inteiro da populaça de mercadorias que em épocas passadas desempenharam o papel de equivalente de mercadorias Ele nem sequer suspeita que uma expressão de valor tão simples como 20 braças de linho 1 casaco já forneça a solução do enigma da forma de equivalente O corpo da mercadoria que serve de equivalente vale sempre como incorporação de trabalho humano abstrato e é sempre o produto de um determinado trabalho útil concreto Esse trabalho concreto se torna assim expressão do trabalho humano abstrato Se o casaco por exemplo é considerado mera efetivação Verwirklichung então a alfaiataria que de fato nele se efetiva é considerada mera forma de efetivação de trabalho humano abstrato Na expressão de valor do linho a utilidade da alfaiataria não consiste em fazer roupas logo também pessoasj mas sim em fazer um corpo que reconhecemos como valor e portanto como geleia de trabalho que não se diferencia em nada do trabalho objetivado no valor do linho Para realizar tal espelho de valor a própria alfaiataria não tem de espelhar senão sua qualidade abstrata de ser trabalho humano Tanto na forma da alfaiataria quanto na da tecelagem força humana de trabalho é despendida Ambas possuem portanto a propriedade universal do trabalho humano razão pela qual em determinados casos por exemplo na produção de valor elas só podem ser consideradas sob esse ponto de vista Nada disso é misterioso Mas na expressão de valor da mercadoria a coisa é distorcida Por exemplo para expressar que a tecelagem cria o valor do linho não em sua forma concreta como tecelagem mas em sua qualidade universal como trabalho humano ela é confrontada com a alfaiataria o trabalho concreto que produz o equivalente do linho como a forma palpável de efetivação do trabalho humano abstrato Assim constitui uma segunda propriedade da forma de equivalente que o trabalho concreto tornese forma de manifestação de seu contrário trabalho humano abstrato Mas porque esse trabalho concreto a alfaiataria vale como mera expressão de trabalho humano indiferenciado ele possui a forma da igualdade com outro trabalho 112 aquele contido no linho e por isso embora seja trabalho privado como todos os outros trabalho que produz mercadorias ele é trabalho em forma imediatamente social J ustamente por isso ele se apresenta num produto que pode ser diretamente trocado por outra mercadoria Assim uma terceira peculiaridade da forma de equivalente é que o trabalho privado convertase na forma de seu contrário trabalho em forma imediatamente social As duas peculiaridades por último desenvolvidas da forma de equivalente tornam se ainda mais tangíveis se recorremos ao grande estudioso que pela primeira vez analisou a forma de valor assim como tantas outras formas de pensamento de sociedade e da natureza Este é Aristóteles De início Aristóteles afirma claramente que a formadinheiro da mercadoria é apenas a figura ulteriormente desenvolvida da forma de valor simples isto é da expressão do valor de uma mercadoria em outra mercadoria qualquer pois ele diz que 5 divãsk 1 casa Klínai pénte Ãntì oÏkíav não se diferencia de 5 divãs certa soma de dinheiro Klínai pénte Ãntì ösou aï pénte klínai Além disso ele vê que a relação de valor que contém essa expressão de valor condiciona por sua vez que a casa seja qualitativamente equiparada ao divã e que sem tal igualdade de essências essas coisas sensivelmente distintas não poderiam ser relacionadas entre si como grandezas comensuráveis A troca diz ele não pode se dar sem a igualdade mas a igualdade não pode se dar sem a comensurabilidade o3tH Ïsótjv mb o3sjv summetríav Aqui porém ele se detém e abandona a análise subsequente da forma de valor No entanto é na verdade impossível to mèn o5n Ãljqeíà Ãdúnaton que coisas tão distintas sejam comensuráveis isto é qualitativamente iguais Essa equiparação só pode ser algo estranho à verdadeira natureza das coisas não passando portanto de um artifício para a necessidade prática O próprio Aristóteles nos diz o que impede o desenvolvimento ulterior de sua análise a saber a falta do conceito de valor Em que consiste o igual das Gleiche isto é a substância comum que a casa representa para o divã na expressão de valor do divã Algo assim não pode na verdade existir diz Aristóteles Por quê A casa confrontada com o divã representa algo igual na medida em que representa aquilo que há de efetivamente igual em ambas no divã e na casa E esse igual é o trabalho humano O fato de que nas formas dos valores das mercadorias todos os trabalhos são expressos como trabalho humano igual e desse modo como dotados do mesmo valor é algo que Aristóteles não podia deduzir da própria forma de valor posto que a sociedade grega se baseava no trabalho escravo e por conseguinte tinha como base natural a desigualdade entre os homens e suas forças de trabalho O segredo da expressão do valor a igualdade e equivalência de todos os trabalhos porque e na medida em que são trabalho humano em geral só pode ser decifrado quando o conceito de igualdade humana já possui a fixidez de um preconceito popular Mas isso 113 só é possível numa sociedade em que a formamercadoria Warenform é a forma universal do produto do trabalho e portanto também a relação entre os homens como possuidores de mercadorias é a relação social dominante O gênio de Aristóteles brilha precisamente em sua descoberta de uma relação de igualdade na expressão de valor das mercadorias Foi apenas a limitação histórica da sociedade em que ele vivia que o impediu de descobrir em que na verdade consiste essa relação de igualdade 4 O conjunto da forma de valor simples A forma de valor simples de uma mercadoria está contida em sua relação de valor com uma mercadoria de outro tipo ou na relação de troca com esta última O valor da mercadoria A é expresso qualitativamente por meio da permutabilidade direta da mercadoria B com a mercadoria A Ele é expresso quantitativamente por meio da permutabilidade de uma determinada quantidade da mercadoria B por uma dada quantidade da mercadoria A Em outras palavras o valor de uma mercadoria é expresso de modo independente por sua representação como valor de troca Quando no começo deste capítulo dizíamos como quem expressa um lugarcomum que a mercadoria é valor de uso e valor de troca isso estava para ser exato errado A mercadoria é valor de uso ou objeto de uso e valor Ela se apresenta em seu ser duplo na medida em que seu valor possui uma forma de manifestação própria distinta de sua forma natural a saber a forma do valor de troca e ela jamais possui essa forma quando considerada de modo isolado mas sempre apenas na relação de valor ou de troca com uma segunda mercadoria de outro tipo Uma vez que se sabe isso no entanto aquele modo de expressão não causa dano mas serve como abreviação Nossa análise demonstrou que a forma de valor ou a expressão de valor da mercadoria surge da natureza do valor das mercadorias e não ao contrário que o valor e a grandeza de valor sejam derivados de sua expressão como valor de troca Esse é no entanto o delírio tanto dos mercantilistas e de seus entusiastas modernos como Ferrier Ganilh22 etc quanto de seus antípodas os modernos commisvoyageursl do livrecâmbio como Bastiat e consortes Os mercantilistas priorizam o aspecto qualitativo da expressão do valor e por conseguinte a forma de equivalente da mercadoria que alcança no dinheiro sua forma acabada já os mascates do livre câmbio que têm de dar saída à sua mercadoria a qualquer preço acentuam ao contrário o aspecto quantitativo da forma de valor relativa Consequentemente para eles não existem nem valor nem grandeza de valor das mercadorias além de sua expressão mediante a relação de troca ou seja além do boletim diário da lista de preços O escocês Macleod em sua função de aclarar do modo mais erudito possível o emaranhado confuso das noções que povoam a Lombard Streetm opera a síntese bem sucedida entre os mercantilistas supersticiosos e os mascates esclarecidos do livre câmbio A análise mais detalhada da expressão de valor da mercadoria A contida em sua relação de valor com a mercadoria B mostrou que no interior dessa mesma expressão de valor a forma natural da mercadoria A é considerada apenas figura de valor de uso e a forma natural da mercadoria B apenas como forma de valor ou figura de valor 114 Wertgestalt A oposição interna entre valor de uso e valor contida na mercadoria é representada assim por meio de uma oposição externa isto é pela relação entre duas mercadorias sendo a primeira cujo valor deve ser expresso considerada imediata e exclusivamente valor de uso e a segunda na qual o valor é expresso imediata e exclusivamente como valor de troca A forma de valor simples de uma mercadoria é portanto a forma simples de manifestação da oposição nela contida entre valor de uso e valor O produto do trabalho é em todas as condições sociais objeto de uso mas o produto do trabalho só é transformado em mercadoria numa época historicamente determinada de desenvolvimento uma época em que o trabalho despendido na produção de uma coisa útil se apresenta como sua qualidade objetiva isto é como seu valor Seguese daí que a forma de valor simples da mercadoria é simultaneamente a formamercadoria simples do produto do trabalho e que portanto também o desenvolvimento da formamercadoria coincide com o desenvolvimento da forma de valor O primeiro olhar já mostra a insuficiência da forma de valor simples essa forma embrionária que só atinge a formapreço Preisform através de uma série de metamorfoses A expressão numa mercadoria qualquer B distingue o valor da mercadoria A apenas de seu próprio valor de uso e a coloca assim numa relação de troca com uma mercadoria qualquer de outro tipo em vez de representar sua relação de igualdade qualitativa e proporcionalidade quantitativa com todas as outras mercadorias A forma de equivalente individual de outra mercadoria corresponde à forma de valor simples e relativa de uma mercadoria Assim o casaco possui na expressão relativa de valor do linho apenas a forma de equivalente ou a forma de permutabilidade direta no que diz respeito a esse tipo individual de mercadoria o linho Todavia a forma individual de valor se transforma por si mesma numa forma mais completa Mediante essa forma o valor de uma mercadoria A só é expresso numa mercadoria de outro tipo Mas de que tipo é essa segunda mercadoria se ela é casaco ou ferro ou trigo etc é algo totalmente indiferente Conforme ela entre em relação de valor com este ou aquele outro tipo de mercadoria surgem diferentes expressões simples de valor de uma mesma mercadoria22a O número de suas expressões possíveis de valor só é limitado pelo número dos tipos de mercadorias que dela se distinguem Sua expressão individualizada de valor se transforma assim numa série sempre ampliável de suas diferentes expressões simples de valor B A forma de valor total ou desdobrada z mercadoria A u mercadoria B ou v mercadoria C ou w mercadoria D ou x mercadoria E ou etc 20 braças de linho 1 casaco ou 10 libras de chá ou 40 libras de café ou 1 quarter de trigo ou 2 onças de ouro ou ½ tonelada de ferro ou etc 1 A forma de valor relativa e desdobrada O valor de uma mercadoria do linho por exemplo é agora expresso em inúmeros outros elementos do mundo das mercadorias Cada um dos outros corpos de 115 mercadorias tornase um espelho do valor do linho23 Pela primeira vez esse mesmo valor aparece verdadeiramente como geleia de trabalho humano indiferenciado Pois o trabalho que o cria é agora expressamente representado como trabalho que equivale a qualquer outro trabalho humano indiferentemente da forma natural que ele possua e portanto do objeto no qual ele se incorpora se no casaco ou no trigo ou no ferro ou no ouro etc Por meio de sua forma de valor o linho se encontra agora em relação social não mais com apenas outro tipo de mercadoria individual mas com o mundo das mercadorias Como mercadoria ele é cidadão desse mundo Ao mesmo tempo a série infinita de suas expressões demonstra que para o valor das mercadorias é indiferente a forma específica do valor de uso na qual o linho se manifesta Na primeira forma 20 braças de linho 1 casaco pode ser acidental que essas duas mercadorias sejam permutáveis numa determinada relação quantitativa Na segunda forma ao contrário evidenciase imediatamente um fundamento essencialmente distinto da manifestação acidental e que a determina O valor do linho permanece da mesma grandeza seja ele representado no casaco ou café ou ferro etc em inúmeras mercadorias diferentes que pertencem aos mais diferentes possuidores A relação acidental entre dois possuidores individuais de mercadorias desaparece Tornase evidente que não é a troca que regula a grandeza de valor da mercadoria mas inversamente é a grandeza de valor da mercadoria que regula suas relações de troca 2 A forma de equivalente particular Na expressão de valor do linho cada mercadoria seja ela casaco chá trigo ferro etc é considerada como equivalente e portanto como corpo de valor A forma natural determinada de cada uma dessas mercadorias é agora uma forma de equivalente particular ao lado de muitas outras Do mesmo modo os vários tipos de trabalho determinados concretos e úteis contidos nos diferentes corpos de mercadorias são considerados agora como tantas outras formas de efetivação ou de manifestação particulares de trabalho humano como tal 3 Insuficiências da forma de valor total ou desdobrada Em primeiro lugar a expressão de valor relativa da mercadoria é incompleta pois sua série de representações jamais se conclui A cadeia em que uma equiparação de valor se acrescenta a outra permanece sempre prolongável por meio de cada novo tipo de mercadoria que se apresenta fornecendo assim o material para uma nova expressão de valor Em segundo lugar ela forma um colorido mosaico de expressões de valor desconexas e variegadas E finalmente se o valor relativo de cada mercadoria for devidamente expresso nessa forma desdobrada a forma de valor relativa de cada mercadoria será uma série infinita de expressões de valor diferente da forma de valor relativa de qualquer outra mercadoria As insuficiências da forma de valor relativa e desdobrada se refletem na sua correspondente forma de equivalente Como a forma natural de todo tipo de mercadoria individual é aqui uma forma de equivalente particular ao lado de inúmeras outras formas de equivalentes particulares concluise 116 que existem apenas formas de equivalentes limitadas que se excluem mutuamente Do mesmo modo o tipo de trabalho determinado concreto e útil contido em cada equivalente particular de mercadorias é uma forma apenas particular e portanto não exaustiva de manifestação do trabalho humano De fato este possui sua forma completa ou total de manifestação na cadeia plena dessas formas particulares de manifestação Porém assim ele não possui qualquer forma de manifestação unitária A forma de valor relativa e desdobrada consiste no entanto apenas de uma soma de expressões simples e relativas de valor ou de equações da primeira forma como 20 braças de linho 1 casaco 20 braças de linho 10 libras de chá etc Mas cada uma dessas equações também contém em contrapartida a equação idêntica 1 casaco 20 braças de linho 10 libras de chá 20 braças de linho etc De fato se alguém troca seu linho por muitas outras mercadorias e com isso expressa seu valor numa série de outras mercadorias os muitos outros possuidores de mercadorias também têm necessariamente de trocar suas mercadorias pelo linho e desse modo expressar os valores de suas diferentes mercadorias na mesma terceira mercadoria o linho Se portanto invertemos a série 20 braças de linho 1 casaco ou 10 libras de chá ou etc isto é se expressamos a relação inversa já contida na própria série obtemos C A forma de valor universal 1 casaco 10 libras de chá 40 libras de café 1 quarter de trigo 2 onças de ouro ½ tonelada de ferro x mercadoria A etc mercadoria 20 braças de linho 1 Caráter modificado da forma de valor Agora as mercadorias expressam seus valores 1 de modo simples porque numa mercadoria singular e 2 de modo unitário porque na mesma mercadoria Sua forma de valor é simples e comum a todas e por conseguinte universal As formas I e I I só foram introduzidas para expressar o valor de uma mercadoria como algo distinto de seu próprio valor de uso ou de seu corpo de mercadoria A primeira forma resultou em equações de valor como 1 casaco 20 braças de linho 10 libras de chá ½ tonelada de ferro etc O valor casaco é expresso como igual ao linho o valorchá como igual ao ferro etc mas as igualdades com o linho e com o ferro essas expressões de valor do casaco e do chá são tão distintas quanto o linho e o ferro Tal forma só se revela na prática nos primórdios mais remotos quando os 117 produtos do trabalho são transformados em mercadorias por meio da troca contingente e ocasional A segunda forma distingue o valor de uma mercadoria de seu próprio valor de uso mais plenamente do que a primeira pois o valor do casaco por exemplo confrontase com sua forma natural em todas as formas possíveis como igual ao linho igual ao ferro igual ao chá etc mas não como igual ao casaco Por outro lado toda expressão comum do valor das mercadorias está aqui diretamente excluída pois na expressão de valor de cada mercadoria todas as outras aparecem agora na forma de equivalentes A forma de valor desdobrada se mostra pela primeira vez apenas quando um produto do trabalho por exemplo o gado passa a ser trocado por outras mercadorias diferentes não mais excepcional mas habitualmente A nova forma obtida expressa os valores do mundo das mercadorias num único tipo de mercadoria separada das outras por exemplo no linho e assim representa os valores de todas as mercadorias mediante sua igualdade com o linho Como algo igual ao linho o valor de cada mercadoria é agora não apenas distinto de seu próprio valor de uso mas de qualquer valor de uso sendo justamente por isso expresso como aquilo que ela tem em comum com todas as outras mercadorias Essa forma é portanto a primeira que relaciona efetivamente as mercadorias entre si como valores ou que as deixa aparecer umas para as outras como valores de troca As duas formas anteriores expressam cada uma o valor de uma mercadoria seja numa única mercadoria de tipo diferente seja numa série de muitas mercadorias diferentes dela Nos dois casos dar a si mesma uma forma de valor é algo que por assim dizer pertence ao foro privado da mercadoria individual e ela o realiza sem a ajuda de outras mercadorias Estas representam diante dela o papel meramente passivo do equivalente A forma universal do valor só surge ao contrário como obra conjunta do mundo das mercadorias Uma mercadoria só ganha expressão universal de valor porque ao mesmo tempo todas as outras expressam seu valor no mesmo equivalente e cada novo tipo de mercadoria que surge tem de fazer o mesmo Com isso revelase que a objetividade do valor das mercadorias por ser a mera existência social dessas coisas também só pode ser expressa por sua relação social universal allseitige e sua forma de valor por isso tem de ser uma forma socialmente válida Na forma de iguais ao linho todas as mercadorias aparecem agora não só como qualitativamente iguais como valores em geral mas também como grandezas de valor quantitativamente comparáveis Por espelharem suas grandezas de valor num mesmo material o linho essas grandezas de valor se espelham mutuamente Por exemplo 10 libras de chá 20 braças de linho e 40 libras de café 20 braças de linho Portanto 10 libras de chá 40 libras de café Ou em 1 libra de café está contida apenas ¼ da substância de valor de trabalho contida em 1 libra de chá A forma de valor relativa e universal do mundo das mercadorias imprime na mercadoria equivalente que dele é excluída no linho o caráter de equivalente universal Sua própria forma natural é a figura de valor comum a esse mundo sendo o linho por isso diretamente permutável por todas as outras mercadorias Sua forma corpórea é considerada a encarnação visível a crisalidação social e universal de todo trabalho humano A tecelagem o trabalho privado que produz o linho encontrase ao 118 mesmo tempo na forma social universal a forma da igualdade com todos os outros trabalhos As inúmeras equações em que consiste a forma de valor universal equiparam sucessivamente o trabalho efetivado no linho com todo trabalho contido em outra mercadoria e desse modo transformam a tecelagem em forma universal de manifestação do trabalho humano como tal Assim o trabalho objetivado no valor das mercadorias não é expresso apenas negativamente como trabalho no qual são abstraídas todas as formas concretas e propriedades úteis dos trabalhos efetivos Sua própria natureza positiva se põe em destaque ela se encontra na redução de todos os trabalhos efetivos à sua característica comum de trabalho humano ao dispêndio de força humana de trabalho A forma de valor universal que apresenta os produtos do trabalho como meras geleias de trabalho humano mostra por meio de sua própria estrutura que ela é a expressão social do mundo das mercadorias Desse modo ela revela que no interior desse mundo o caráter humano universal do trabalho constitui seu caráter especificamente social 2 A relação de desenvolvimento entre a forma de valor relativa e a forma de equivalente Ao grau de desenvolvimento da forma de valor relativa corresponde o grau de desenvolvimento da forma de equivalente Porém devese ressaltar que o desenvolvimento da forma de equivalente é apenas expressão e resultado do desenvolvimento da forma de valor relativa A forma de valor relativa simples ou isolada de uma mercadoria transforma outra mercadoria em equivalente individual A forma desdobrada do valor relativo essa expressão do valor de uma mercadoria em todas as outras mercadorias imprime nestas últimas a forma de equivalentes particulares de diferentes tipos Por fim um tipo particular de mercadoria recebe a forma de equivalente universal porque todas as outras mercadorias fazem dela o material de sua forma de valor unitária universal Mas na mesma medida em que se desenvolve a forma de valor em geral desenvolvese também a oposição entre seus dois polos a forma de valor relativa e a forma de equivalente A primeira forma 20 braças de linho 1 casaco já contém essa oposição porém não explicitada Conforme a mesma equação seja lida numa direção ou noutra cada um dos dois extremos de mercadorias como linho e casaco encontrase na mesma medida ora na forma de valor relativa ora na forma de equivalente Compreender a oposição entre os dois polos demandanos ainda um certo esforço Na forma I I cada tipo de mercadoria só pode desdobrar totalmente seu valor relativo ou só possui ela mesma a forma de valor relativa desdobrada porque e na medida em que todas as outras mercadorias se confrontam com ela na forma de equivalente Não se pode mais aqui inverter os dois lados da equação de valor como 20 braças de linho 1 casaco ou 10 libras de chá ou 1 quarter de trigo etc sem alterar seu caráter global e transformála de forma de valor total em forma de valor universal 119 Por fim a última forma a forma I I I dá ao mundo das mercadorias a forma de valor relativa e sociouniversal porque e na medida em que todas as mercadorias que a ela pertencem são com uma única exceção excluídas da forma de equivalente universal Uma mercadoria o linho encontrase portanto na forma da permutabilidade direta por todas as outras mercadorias ou na forma imediatamente social porque e na medida em que todas as demais mercadorias não se encontram nessa forma24 I nversamente a mercadoria que figura como equivalente universal está excluída da forma de valor relativa unitária e portanto universal do mundo das mercadorias Para que o linho isto é uma mercadoria qualquer que se encontre na forma de equivalente universal pudesse tomar parte ao mesmo tempo na forma de valor relativa universal ele teria de servir de equivalente a si mesmo Teríamos então 20 braças de linho 20 braças de linho uma tautologia em que não se expressa valor nem grandeza de valor Para expressar o valor relativo do equivalente universal temos antes de inverter a forma I I I Ele não possui qualquer forma de valor relativa em comum com outras mercadorias mas seu valor é expresso relativamente na série infinita de todos os outros corpos de mercadorias Assim a forma de valor relativa e desdobrada ou forma II aparece agora como a forma de valor relativa específica da mercadoria equivalente 3 Transição da forma de valor universal para a formadinheiro Geldform A forma de equivalente universal é uma forma do valor em geral e pode portanto expressarse em qualquer mercadoria Por outro lado uma mercadoria encontrase na forma de equivalente universal forma I I I apenas porque e na medida em que ela é excluída por todas as demais mercadorias na qualidade de equivalente E é somente no momento em que essa exclusão se limita definitivamente a um tipo específico de mercadoria que a forma de valor relativa unitária do mundo das mercadorias ganha solidez objetiva e validade social universal Agora o tipo específico de mercadoria em cuja forma natural a forma de equivalente se funde socialmente tornase mercadoriadinheiro Geldware ou funciona como dinheiro Desempenhar o papel do equivalente universal no mundo das mercadorias tornase sua função especificamente social e assim seu monopólio social Entre as mercadorias que na forma I I figuram como equivalentes particulares do linho e que na forma I I I expressam conjuntamente no linho seu valor relativo uma mercadoria determinada conquistou historicamente esse lugar privilegiado o ouro Assim se na forma I I I substituirmos a mercadoria linho pela mercadoria ouro obteremos D A formadinheiro 20 braças de linho 1 casaco 10 libras de chá 40 libras de café 1 quarter de trigo ½ tonelada de ferro x mercadoria A 2 onças de ouro 120 Alterações essenciais ocorrem na transição da forma I para a forma I I e da forma I I para a forma I I I Em contrapartida a forma I V não se diferencia em nada da forma I I I a não ser pelo fato de que agora em vez do linho é o ouro que possui a forma de equivalente universal O ouro se torna na forma I V aquilo que o linho era na forma I I I equivalente universal O progresso consiste apenas em que agora por meio do hábito social a forma da permutabilidade direta e geral ou a forma de equivalente universal amalgamouse definitivamente à forma natural específica da mercadoria ouro O ouro só se confronta com outras mercadorias como dinheiro porque já se confrontava com elas anteriormente como mercadoria I gual a todas as outras mercadorias ele também funcionou como equivalente seja como equivalente individual em atos isolados de troca seja como equivalente particular ao lado de outros equivalentesmercadorias Warenäquivalenten Com o tempo ele passou a funcionar em círculos mais estreitos ou mais amplos como equivalente universal Tão logo conquistou o monopólio dessa posição na expressão de valor do mundo das mercadorias ele tornouse mercadoriadinheiro e é apenas a partir do momento em que ele já se tornou mercadoriadinheiro que as formas I V e I I I passam a se diferenciar uma da outra ou que a forma de valor universal se torna formadinheiro A expressão de valor relativa simples de uma mercadoria por exemplo do linho na mercadoria que funciona como mercadoriadinheiro por exemplo o ouro é a formapreço Preisform A formapreço do linho é portanto 20 braças de linho 2 onças de ouro ou se 2 for a denominação monetária de 2 onças de ouro 20 braças de linho 2 A dificuldade no conceito da formadinheiro se restringe à apreensão conceitual da forma de equivalente universal portanto da forma de valor universal como tal a forma I I I A forma I I I se decompõe em sentido contrário na forma I I a forma de valor desdobrada e seu elemento constitutivo é a forma I 20 braças de linho 1 casaco ou x mercadoria A y mercadoria B A formamercadoria simples é desse modo o germe da formadinheiro 4 O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo Uma mercadoria aparenta ser à primeira vista uma coisa óbvia trivial Sua análise resulta em que ela é uma coisa muito intricada plena de sutilezas metafísicas e melindres teológicos Quando é valor de uso nela não há nada de misterioso quer eu a considere do ponto de vista de que satisfaz necessidades humanas por meio de suas propriedades quer do ponto de vista de que ela só recebe essas propriedades como produto do trabalho humano É evidente que o homem por meio de sua atividade altera as formas das matérias naturais de um modo que lhe é útil Por exemplo a forma da madeira é alterada quando dela se faz uma mesa No entanto a mesa continua sendo madeira uma coisa sensível e banal Mas tão logo aparece como mercadoria ela se transforma numa coisa sensívelsuprassensíveln Ela não só se 121 mantém com os pés no chão mas põese de cabeça para baixo diante de todas as outras mercadorias e em sua cabeça de madeira nascem minhocas que nos assombram muito mais do que se ela começasse a dançar por vontade própria25 O caráter místico da mercadoria não resulta portanto de seu valor de uso Tampouco resulta do conteúdo das determinações de valor pois em primeiro lugar por mais distintos que possam ser os trabalhos úteis ou as atividades produtivas é uma verdade fisiológica que eles constituem funções do organismo humano e que cada uma dessas funções seja qual for seu conteúdo e sua forma é essencialmente dispêndio de cérebro nervos músculos e órgãos sensoriais humanos etc Em segundo lugar no que diz respeito àquilo que se encontra na base da determinação da grandeza de valor a duração desse dispêndio ou a quantidade do trabalho a quantidade é claramente diferenciável da qualidade do trabalho Sob quaisquer condições sociais o tempo de trabalho requerido para a produção dos meios de subsistência havia de interessar aos homens embora não na mesma medida em diferentes estágios de desenvolvimento26 Por fim tão logo os homens trabalham uns para os outros de algum modo seu trabalho também assume uma forma social De onde surge portanto o caráter enigmático do produto do trabalho assim que ele assume a formamercadoria Evidentemente ele surge dessa própria forma A igualdade dos trabalhos humanos assume a forma material da igual objetividade de valor dos produtos do trabalho a medida do dispêndio de força humana de trabalho por meio de sua duração assume a forma da grandeza de valor dos produtos do trabalho finalmente as relações entre os produtores nas quais se efetivam aquelas determinações sociais de seu trabalho assumem a forma de uma relação social entre os produtos do trabalho O caráter misterioso da formamercadoria consiste portanto simplesmente no fato de que ela reflete aos homens os caracteres sociais de seu próprio trabalho como caracteres objetivos dos próprios produtos do trabalho como propriedades sociais que são naturais a essas coisas e por isso reflete também a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social entre os objetos existente à margem dos produtores É por meio desse quiproquó que os produtos do trabalho se tornam mercadorias coisas sensíveissuprassensíveis ou sociais A impressão luminosa de uma coisa sobre o nervo óptico não se apresenta pois como um estímulo subjetivo do próprio nervo óptico mas como forma objetiva de uma coisa que está fora do olho No ato de ver porém a luz de uma coisa de um objeto externo é efetivamente lançada sobre outra coisa o olho Tratase de uma relação física entre coisas físicas J á a forma mercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho em que ela se representa não tem ao contrário absolutamente nada a ver com sua natureza física e com as relações materiais dinglichen que dela resultam É apenas uma relação social determinada entre os próprios homens que aqui assume para eles a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas Desse modo para encontrarmos uma analogia temos de nos refugiar na região nebulosa do mundo religioso Aqui os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria como figuras independentes que travam relação umas com as outras e com os homens Assim se apresentam no mundo das mercadorias os produtos da mão humana A isso eu chamo de fetichismo que se cola 122 aos produtos do trabalho tão logo eles são produzidos como mercadorias e que por isso é inseparável da produção de mercadorias Esse caráter fetichista do mundo das mercadorias surge como a análise anterior já mostrou do caráter social peculiar do trabalho que produz mercadorias Os objetos de uso só se tornam mercadorias porque são produtos de trabalhos privados realizados independentemente uns dos outros O conjunto desses trabalhos privados constitui o trabalho social total Como os produtores só travam contato social mediante a troca de seus produtos do trabalho os caracteres especificamente sociais de seus trabalhos privados aparecem apenas no âmbito dessa troca Ou dito de outro modo os trabalhos privados só atuam efetivamente como elos do trabalho social total por meio das relações que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e por meio destes também entre os produtores A estes últimos as relações sociais entre seus trabalhos privados aparecem como aquilo que elas são isto é não como relações diretamente sociais entre pessoas em seus próprios trabalhos mas como relações reificadaso entre pessoas e relações sociais entre coisas Somente no interior de sua troca os produtos do trabalho adquirem uma objetividade de valor socialmente igual separada de sua objetividade de uso sensivelmente distinta Essa cisão do produto do trabalho em coisa útil e coisa de valor só se realiza na prática quando a troca já conquistou um alcance e uma importância suficientes para que se produzam coisas úteis destinadas à troca e portanto o caráter de valor das coisas passou a ser considerado no próprio ato de sua produção A partir desse momento os trabalhos privados dos produtores assumem de fato um duplo caráter social Por um lado como trabalhos úteis determinados eles têm de satisfazer uma determinada necessidade social e desse modo conservar a si mesmos como elos do trabalho total do sistema naturalespontâneop da divisão social do trabalho Por outro lado eles só satisfazem as múltiplas necessidades de seus próprios produtores na medida em que cada trabalho privado e útil particular é permutável por qualquer outro tipo útil de trabalho privado portanto na medida em que lhe é equivalente A igualdade toto coelo plena dos diferentes trabalhos só pode consistir numa abstração de sua desigualdade real na redução desses trabalhos ao seu caráter comum como dispêndio de força humana de trabalho como trabalho humano abstrato O cérebro dos produtores privados reflete esse duplo caráter social de seus trabalhos privados apenas nas formas em que se manifestam no intercâmbio prático na troca dos produtos o caráter socialmente útil de seus trabalhos privados na forma de que o produto do trabalho tem de ser útil e precisamente para outrem o caráter social da igualdade dos trabalhos de diferentes tipos na forma do caráter de valor comum a essas coisas materialmente distintas os produtos do trabalho Portanto os homens não relacionam entre si seus produtos do trabalho como valores por considerarem essas coisas meros invólucros materiais de trabalho humano de mesmo tipo Ao contrário Porque equiparam entre si seus produtos de diferentes tipos na troca como valores eles equiparam entre si seus diferentes trabalhos como trabalho humano Eles não sabem disso mas o fazem27 Por isso na testa do valor não está escrito o que ele éq O valor converte antes todo produto do trabalho num hieróglifo social Mais tarde os homens tentam decifrar o sentido desse hieróglifo 123 desvelar o segredo de seu próprio produto social pois a determinação dos objetos de uso como valores é seu produto social tanto quanto a linguagem A descoberta científica tardia de que os produtos do trabalho como valores são meras expressões materiais do trabalho humano despendido em sua produção fez época na história do desenvolvimento da humanidade mas de modo algum elimina a aparência objetiva do caráter social do trabalho O que é válido apenas para essa forma particular de produção a produção de mercadorias isto é o fato de que o caráter especificamente social dos trabalhos privados independentes entre si consiste em sua igualdade como trabalho humano e assume a forma do caráter de valor dos produtos do trabalho continua a aparecer para aqueles que se encontram no interior das relações de produção das mercadorias como algo definitivo mesmo depois daquela descoberta do mesmo modo como a decomposição científica do ar em seus elementos deixou intacta a forma do ar como forma física corpórea O que na prática interessa imediatamente aos agentes da troca de produtos é a questão de quantos produtos alheios eles obtêm em troca por seu próprio produto ou seja em que proporções os produtos são trocados Assim que essas proporções alcançam uma certa solidez habitual elas aparentam derivar da natureza dos produtos do trabalho como se por exemplo 1 tonelada de ferro e 2 onças de ouro tivessem o mesmo valor do mesmo modo como 1 libra de ouro e 1 libra de ferro têm o mesmo peso apesar de suas diferentes propriedades físicas e químicas Na verdade o caráter de valor dos produtos do trabalho se fixa apenas por meio de sua atuação como grandezas de valor Estas variam constantemente independentemente da vontade da previsão e da ação daqueles que realizam a troca Seu próprio movimento social possui para eles a forma de um movimento de coisas sob cujo controle se encontram em vez de eles as controlarem É preciso que a produção de mercadorias esteja plenamente desenvolvida antes que da própria experiência emerja a noção científica de que os trabalhos privados executados independentemente uns dos outros porém universalmente interdependentes como elos naturaisespontâneos da divisão social do trabalho são constantemente reduzidos à sua medida socialmente proporcional porque nas relações de troca contingentes e sempre oscilantes de seus produtos o tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção se impõe com a força de uma lei natural reguladora assim como a lei da gravidade se impõe quando uma casa desaba sobre a cabeça de alguém28 A determinação da grandeza de valor por meio do tempo de trabalho é portanto um segredo que se esconde sob os movimentos manifestos dos valores relativos das mercadorias Sua descoberta elimina dos produtos do trabalho a aparência da determinação meramente contingente das grandezas de valor mas não elimina em absoluto sua forma reificada sachlich A reflexão sobre as formas da vida humana e assim também sua análise científica percorre um caminho contrário ao do desenvolvimento real Ela começa post festum muito tarde após a festa e por conseguinte com os resultados prontos do processo de desenvolvimento As formas que rotulam os produtos do trabalho como mercadorias e portanto são pressupostas à circulação das mercadorias já possuem a solidez de formas naturais da vida social antes que os homens procurem esclarecerse não sobre o caráter histórico dessas formas que eles antes já consideram imutáveis 124 mas sobre seu conteúdo Assim somente a análise dos preços das mercadorias conduziu à determinação da grandeza do valor e somente a expressão monetária comum das mercadorias conduziu à fixação de seu caráter de valor Porém é justamente essa forma acabada a formadinheiro do mundo das mercadorias que vela materialmente sachlich em vez de revelar o caráter social dos trabalhos privados e com isso as relações sociais entre os trabalhadores privados Quando digo que o casaco a bota etc se relacionam com o linho sob a forma da incorporação geral de trabalho humano abstrato salta aos olhos a sandice dessa expressão Mas quando os produtores de casaco bota etc relacionam essas mercadorias ao linho ou com o ouro e a prata o que não altera em nada a questão como equivalente universal a relação de seus trabalhos privados com seu trabalho social total lhes aparece exatamente nessa forma insana Ora são justamente essas formas que constituem as categorias da economia burguesa Tratase de formas de pensamento socialmente válidas e portanto dotadas de objetividade para as relações de produção desse modo social de produção historicamente determinado a produção de mercadorias Por isso todo o misticismo do mundo das mercadorias toda a mágica e a assombração que anuviam os produtos do trabalho na base da produção de mercadorias desaparecem imediatamente tão logo nos refugiemos em outras formas de produção Como a economia política ama robinsonadas29 lancemos um olhar sobre Robinson em sua ilha Apesar de seu caráter modesto ele tem diferentes necessidades a satisfazer e por isso tem de realizar trabalhos úteis de diferentes tipos fazer ferramentas fabricar móveis domesticar lhamas pescar caçar etc Não mencionamos orar e outras coisas do tipo pois nosso Robinson encontra grande prazer nessas atividades e as considera uma recreação Apesar da variedade de suas funções produtivas ele tem consciência de que elas são apenas diferentes formas de atividade do mesmo Robinson e portanto apenas diferentes formas de trabalho humano A própria necessidade o obriga a distribuir seu tempo com exatidão entre suas diferentes funções Se uma ocupa mais espaço e outra menos em sua atividade total depende da maior ou menor dificuldade que se tem de superar para a obtenção do efeito útil visado A experiência lhe ensina isso e eis que nosso Robinson que entre os destroços do navio salvou relógio livro comercial tinta e pena põese logo como bom inglês a fazer a contabilidade de si mesmo Seu inventário contém uma relação dos objetos de uso que ele possui das diversas operações requeridas para sua produção e por fim do tempo de trabalho que lhe custa em média a obtenção de determinadas quantidades desses diferentes produtos Aqui todas as relações entre Robinson e as coisas que formam sua riqueza por ele mesmo criada são tão simples que até mesmo o sr M Wirthr poderia compreendêlas sem maior esforço intelectual E no entanto nelas já estão contidas todas as determinações essenciais do valor Saltemos então da iluminada ilha de Robinson para a sombria I dade Média europeias Em vez do homem independente aqui só encontramos homens dependentes servos e senhores feudais vassalos e suseranos leigos e clérigos A dependência pessoal caracteriza tanto as relações sociais da produção material quanto as esferas da vida erguidas sobre elas Mas é justamente porque as relações pessoais 125 de dependência constituem a base social dada que os trabalhos e seus produtos não precisam assumir uma forma fantástica distinta de sua realidade Eles entram na engrenagem social como serviços e prestações in natura A forma natural do trabalho sua particularidade e não como na base da produção de mercadorias sua universalidade é aqui sua forma imediatamente social A corveia é medida pelo tempo tanto quanto o é o trabalho que produz mercadorias mas cada servo sabe que o que ele despende a serviço de seu senhor é uma quantidade determinada de sua força pessoal de trabalho O dízimo a ser pago ao padre é mais claro do que a bênção do padre J ulguemse como se queiram as máscarast atrás das quais os homens aqui se confrontam o fato é que as relações sociais das pessoas em seus trabalhos aparecem como suas próprias relações pessoais e não se encontram travestidas em relações sociais entre coisas entre produtos de trabalho Para a consideração do trabalho coletivo isto é imediatamente socializado não precisamos remontar à sua forma naturalespontânea que encontramos no limiar histórico de todos os povos civilizados30 Um exemplo mais próximo é o da indústria rural e patriarcal de uma família camponesa que para seu próprio sustento produz cereais gado fio linho peças de roupa etc Essas coisas diversas se defrontam com a família como diferentes produtos de seu trabalho familiar mas não umas com as outras como mercadorias Os diferentes trabalhos que criam esses produtos a lavoura a pecuária a fiação a tecelagem a alfaiataria etc são em sua forma natural funções sociais por serem funções da família que do mesmo modo como a produção de mercadorias possui sua própria divisão naturalespontânea do trabalho As diferenças de sexo e idade assim como das condições naturais do trabalho variáveis de acordo com as estações do ano regulam a distribuição do trabalho na família e do tempo de trabalho entre seus membros individuais Aqui no entanto o dispêndio das forças individuais de trabalho medido por sua duração aparece desde o início como determinação social dos próprios trabalhos uma vez que as forças de trabalho individuais atuam desde o início apenas como órgãos da força comum de trabalho da família Por fim imaginemos uma associação de homens livres que trabalham com meios de produção coletivos e que conscientemente despendem suas forças de trabalho individuais como uma única força social de trabalho Todas as determinações do trabalho de Robinson reaparecem aqui mas agora social e não individualmente Todos os produtos de Robinson eram seus produtos pessoais exclusivos e por isso imediatamente objetos de uso para ele O produto total da associação é um produto social e parte desse produto serve por sua vez como meio de produção Ela permanece social mas outra parte é consumida como meios de subsistência pelos membros da associação o que faz com que tenha de ser distribuída entre eles O modo dessa distribuição será diferente de acordo com o tipo peculiar do próprio organismo social de produção e o correspondente grau histórico de desenvolvimento dos produtores Apenas para traçar um paralelo com a produção de mercadoria suponha que a cota de cada produtor nos meios de subsistência seja determinada por seu tempo de trabalho o qual desempenharia portanto um duplo papel Sua distribuição socialmente planejada regula a correta proporção das diversas funções de trabalho de 126 acordo com as diferentes necessidades Por outro lado o tempo de trabalho serve simultaneamente de medida da cota individual dos produtores no trabalho comum e desse modo também na parte a ser individualmente consumida do produto coletivo As relações sociais dos homens com seus trabalhos e seus produtos de trabalho permanecem aqui transparentemente simples tanto na produção quanto na distribuição Para uma sociedade de produtores de mercadorias cuja relação social geral de produção consiste em se relacionar com seus produtos como mercadorias ou seja como valores e nessa forma reificada sachlich confrontar mutuamente seus trabalhos privados como trabalho humano igual o cristianismo com seu culto do homem abstrato é a forma de religião mais apropriada especialmente em seu desenvolvimento burguês como protestantismo deísmo etc Nos modos de produção asiáticos antigos etc a transformação do produto em mercadoria e com isso a existência dos homens como produtores de mercadorias desempenha um papel subordinado que no entanto tornase progressivamente mais significativo à medida que as comunidades avançam em seu processo de declínio Povos propriamente comerciantes existem apenas nos intermúndios do mundo antigo como os deuses de Epicurou ou nos poros da sociedade polonesa como os judeus Esses antigos organismos sociais de produção são extraordinariamente mais simples e transparentes do que o organismo burguês mas baseiamse ou na imaturidade do homem individual que ainda não rompeu o cordão umbilical que o prende a outrem por um vínculo natural de gênero Gattungszusammenhangs ou em relações diretas de dominação e servidão Eles são condicionados por um baixo grau de desenvolvimento das forças produtivas do trabalho e pelas relações correspondentemente limitadas dos homens no interior de seu processo material de produção da vida ou seja pelas relações limitadas dos homens entre si e com a natureza Essa limitação real se reflete idealmente nas antigas religiões naturais e populares O reflexo religioso do mundo real só pode desaparecer quando as relações cotidianas da vida prática se apresentam diariamente para os próprios homens como relações transparentes e racionais que eles estabelecem entre si e com a natureza A figura do processo social de vida isto é do processo material de produção só se livra de seu místico véu de névoa quando como produto de homens livremente socializados encontrase sob seu controle consciente e planejado Para isso requerse uma base material da sociedade ou uma série de condições materiais de existência que por sua vez são elas próprias o produto naturalespontâneo de uma longa e excruciante história de desenvolvimento É verdade que a economia política analisou mesmo que incompletamente31 o valor e a grandeza de valor e revelou o conteúdo que se esconde nessas formas Mas ela jamais sequer colocou a seguinte questão por que esse conteúdo assume aquela forma e por que portanto o trabalho se representa no valor e a medida do trabalho por meio de sua duração temporal na grandeza de valor do produto do trabalho32 Tais formas em cuja testa está escrito que elas pertencem a uma formação social em que o processo de produção domina os homens e não os homens o processo de produção são consideradas por sua consciência burguesa como uma necessidade 127 natural tão evidente quanto o próprio trabalho produtivo Por essa razão as formas préburguesas do organismo social de produção são tratadas por ela mais ou menos do modo como as religiões précristãs foram tratadas pelos Padres da Igrejav 33 O quanto uma parte dos economistas é enganada pelo fetichismo que se cola ao mundo das mercadorias ou pela aparência objetiva das determinações sociais do trabalho é demonstrado entre outros pela fastidiosa e absurda disputa sobre o papel da natureza na formação do valor de troca Como este último é uma maneira social determinada de expressar o trabalho realizado numa coisa ele não pode conter mais matéria natural do que por exemplo a taxa de câmbio Como a formamercadoria é a forma mais geral e menos desenvolvida da produção burguesa razão pela qual ela já aparece desde cedo ainda que não com a predominância que lhe é característica em nossos dias seu caráter fetichista parece ser relativamente fácil de se analisar Em formas mais concretas desaparece até mesmo essa aparência de simplicidade De onde vêm as ilusões do sistema monetário Para ele o ouro e a prata ao servir como dinheiro não expressam uma relação social de produção mas atuam na forma de coisas naturais dotadas de estranhas propriedades sociais E quanto à teoria econômica moderna que arrogantemente desdenha do sistema monetário não se torna palpável seu fetichismo quando ela trata do capital Há quanto tempo desapareceu a ilusão fisiocrata de que a renda fundiária nasce da terra e não da sociedade Para não nos anteciparmos basta que apresentemos aqui apenas mais um exemplo relativo à própria formamercadoria Se as mercadorias pudessem falar diriam é possível que nosso valor de uso tenha algum interesse para os homens A nós como coisas ele não nos diz respeito O que nos diz respeito materialmente dinglich é nosso valor Nossa própria circulação como coisasmercadorias Warendinge é a prova disso Relacionamonos umas com as outras apenas como valores de troca Escutemos então como o economista fala expressando a alma das mercadorias Valor valor de troca é qualidade das coisas riqueza valor de uso é qualidade do homem Valor nesse sentido implica necessariamente troca riqueza não34 Riqueza valor de uso é um atributo do homem valor um atributo das mercadorias Um homem ou uma comunidade é rico uma pérola ou um diamante é valiosa Uma pérola ou um diamante tem valor como pérola ou diamante35 Até hoje nenhum químico descobriu o valor de troca na pérola ou no diamante Mas os descobridores econômicos dessa substância química que se jactam de grande profundidade crítica creem que o valor de uso das coisas existe independentemente de suas propriedades materiais sachlichen ao contrário de seu valor que lhes seria inerente como coisasx Para eles a confirmação disso está na insólita circunstância de que o valor de uso das coisas se realiza para os homens sem a troca ou seja na relação imediata entre a coisa e o homem ao passo que seu valor ao contrário só se realiza na troca isto é num processo social Quem não se lembra aqui do bom e velho Dogberry a doutrinar o vigia noturno Seacoal Uma boa aparência é dádiva da sorte mas saber ler e escrever é dom da naturezaw 36 128 Capítulo 2 O processo de troca As mercadorias não podem ir por si mesmas ao mercado e trocarse umas pelas outras Temos portanto de nos voltar para seus guardiões os possuidores de mercadorias Elas são coisas e por isso não podem impor resistência ao homem Se não se mostram solícitas ele pode recorrer à violência em outras palavras pode tomá las à força37 Para relacionar essas coisas umas com as outras como mercadorias seus guardiões têm de estabelecer relações uns com os outros como pessoas cuja vontade reside nessas coisas e que agir de modo tal que um só pode se apropriar da mercadoria alheia e alienar a sua própria mercadoria em concordância com a vontade do outro portanto por meio de um ato de vontade comum a ambos Eles têm portanto de se reconhecer mutuamente como proprietários privados Essa relação jurídica cuja forma é o contrato seja ela legalmente desenvolvida ou não é uma relação volitiva na qual se reflete a relação econômica O conteúdo dessa relação jurídica ou volitiva é dado pela própria relação econômica38 Aqui as pessoas existem umas para as outras apenas como representantes da mercadoria e por conseguinte como possuidoras de mercadorias Na sequência de nosso desenvolvimento veremos que as máscaras econômicas das pessoas não passam de personificações das relações econômicas como suporte Träger das quais elas se defrontam umas com as outras O possuidor de mercadorias se distingue de sua própria mercadoria pela circunstância de que para ela o corpo de qualquer outra mercadoria conta apenas como forma de manifestação de seu próprio valor Leveller niveladoraa e cínica de nascença ela se encontra por isso sempre pronta a trocar não apenas sua alma mas também seu corpo com qualquer outra mercadoria mesmo que esta seja munida de mais inconveniências do que Maritornesb Se à mercadoria falta esse sentido para a percepção da concretude dos corpos de mercadorias o possuidor de mercadorias preenche essa lacuna com seus cinco ou mais sentidos Sua mercadoria não tem para ele nenhum valor de uso imediato Do contrário ele não a levaria ao mercado Ela tem valor de uso para outrem Para ele o único valor de uso que ela possui diretamente é o de ser suporte de valor de troca e portanto meio de troca39 Por essa razão ele quer alienála por uma mercadoria cujo valor de uso o satisfaça Todas as mercadorias são nãovalores de uso para seus possuidores e valores de uso para seus nãopossuidores Portanto elas precisam universalmente mudar de mãos Mas essa mudança de mãos constitui sua troca e essa troca as relaciona umas com as outras como valores e as realiza como valores Por isso as mercadorias têm de se realizar como valores antes que possam se realizar como valores de uso Por outro lado elas têm de se conservar como valores de uso antes que possam se realizar como valores pois o trabalho humano que nelas é despendido só conta na medida em que seja despendido numa forma útil para outrem Se o trabalho é útil para outrem ou seja se seu produto satisfaz necessidades alheias é algo que somente 129 a troca pode demonstrar Cada possuidor de mercadorias só quer alienar sua mercadoria em troca de outra mercadoria cujo valor de uso satisfaça sua necessidade Nessa medida a troca é para ele apenas um processo individual Por outro lado ele quer realizar sua mercadoria como valor portanto em qualquer outra mercadoria do mesmo valor que seja de seu agrado não importando se sua mercadoria tem ou não valor de uso para o possuidor da outra mercadoria Nessa medida a troca é para ele um processo social geral Mas não é possível que simultaneamente para todos os possuidores de mercadorias o mesmo processo seja exclusivamente individual e ao mesmo tempo exclusivamente social geral Observando a questão mais de perto vemos que todo possuidor de mercadorias considera toda mercadoria alheia como equivalente particular de sua mercadoria e por conseguinte sua mercadoria como equivalente universal de todas as outras mercadorias Mas como todos os possuidores de mercadorias fazem o mesmo nenhuma mercadoria é equivalente universal e por isso tampouco as mercadorias possuem qualquer forma de valor relativa geral na qual possam se equiparar como valores e se comparar umas com as outras como grandezas de valor Elas não se confrontam portanto como mercadorias mas apenas como produtos ou valores de uso Em sua perplexidade nossos possuidores de mercadorias pensam como Fausto Era no início a açãoc Por isso eles já agiram antes mesmo de terem pensado As leis da natureza das mercadorias atuam no instinto natural de seus possuidores os quais só podem relacionar suas mercadorias umas com as outras como valores e desse modo como mercadorias na medida em que as relacionam antagonicamente com outra mercadoria qualquer como equivalente universal Esse é o resultado da análise da mercadoria Mas somente a ação social pode fazer de uma mercadoria determinada um equivalente universal A ação social de todas as outras mercadorias exclui uma mercadoria determinada na qual todas elas expressam universalmente seu valor Assim a forma natural dessa mercadoria se converte em forma de equivalente socialmente válida Ser equivalente universal tornase por meio do processo social a função especificamente social da mercadoria excluída E assim ela se torna dinheiro Illi unum consilium habent et virtutem et potestatem suam bestiae tradunt Et ne quis possit emere aut vendere nisi qui habet characterem aut nomen bestiae aut numerum nomisis ejusd O cristal monetário Geldkristall é um produto necessário do processo de troca no qual diferentes produtos do trabalho são efetivamente equiparados entre si e desse modo transformados em mercadorias A expansão e o aprofundamento históricos da troca desenvolvem a oposição entre valor de uso e valor que jaz latente na natureza das mercadorias A necessidade de expressar externamente essa oposição para o intercâmbio impele a uma forma independente do valor da mercadoria e não descansa enquanto não chega a seu objetivo final por meio da duplicação da mercadoria em mercadoria e dinheiro Portanto na mesma medida em que se opera a metamorfose dos produtos do trabalho em mercadorias operase também a metamorfose da mercadoria em dinheiro40 130 A troca direta de produtos tem por um lado a forma da expressão simples do valor e por outro lado ainda não a tem Aquela forma era x mercadoria A y mercadoria B A forma da troca imediata de produtos é x objeto de uso A y objeto de uso B41 Aqui antes da troca as coisas A e B ainda não são mercadorias mas tornamse mercadorias apenas por meio dela O primeiro modo como um objeto de uso pode ser valor é por meio de sua existência como nãovalor de uso como quantidade de valor de uso que ultrapassa as necessidades imediatas de seu possuidor As coisas são por si mesmas exteriores äusserlich ao homem e por isso são alienáveis veräusserlich Para que essa venda Veräusserung seja mútua os homens necessitam apenas se confrontar tacitamente como proprietários privados daquelas coisas alienáveis e precisamente por meio delas como pessoas independentes umas das outras No entanto tal relação de alheamento Fremdheit mútuo não existe para os membros de uma comunidade naturalespontânea tenha ela a forma de uma família patriarcal uma comunidade indiana antiga um Estado inca etc A troca de mercadorias começa onde as comunidades terminam no ponto de seu contato com comunidades estrangeiras ou com membros de comunidades estrangeiras A partir de então as coisas que são mercadorias no estrangeiro também se tornam mercadorias na vida interna da comunidade Sua relação quantitativa de troca é a princípio inteiramente acidental Elas são permutáveis por meio do ato volitivo de seus possuidores de alienálas mutuamente Ao mesmo tempo a necessidade de objetos de uso estrangeiros se consolida paulatinamente A constante repetição da troca transformaa num processo social regular razão pela qual no decorrer do tempo ao menos uma parcela dos produtos do trabalho tem de ser intencionalmente produzida para a troca Desse momento em diante confirmase por um lado a separação entre a utilidade das coisas para a necessidade imediata e sua utilidade para a troca Seu valor de uso se aparta de seu valor de troca Por outro lado a relação quantitativa na qual elas são trocadas tornase dependente de sua própria produção O costume as fixa como grandezas de valor Na troca direta de produtos cada mercadoria é diretamente meio de troca para seu possuidor e equivalente para seu nãopossuidor mas apenas enquanto ela é valor de uso para ele O artigo de troca ainda não assume nenhuma forma de valor independente de seu próprio valor de uso ou da necessidade individual dos agentes da troca A necessidade dessa forma se desenvolve com o número e a variedade crescentes das mercadorias que entram no processo de troca O problema surge simultaneamente aos meios de sua solução Uma circulação em que os proprietários de mercadorias comparam mutuamente seus artigos e os trocam por outros artigos diferentes jamais ocorre sem que em sua circulação diferentes mercadorias de diferentes possuidores de mercadorias sejam trocadas e comparadas como valores com uma única terceira mercadoria Essa terceira mercadoria por servir de equivalente de diversas outras mercadorias tornase imediatamente mesmo que em estreitos limites a forma de equivalente universal ou social Essa forma de equivalente universal surge e se esvai com o contato social momentâneo que a trouxe à vida De modo alternado e transitório ela se realiza nesta ou naquela mercadoria Porém com o desenvolvimento da troca de mercadorias ela se fixa exclusivamente em tipos 131 particulares de mercadorias ou se cristaliza na formadinheiro Em que tipo de mercadoria ela permanece colada é de início algo acidental No entanto duas circunstâncias são em geral decisivas A formadinheiro se fixa ou nos artigos de troca mais importantes vindos do estrangeiro que na verdade são formas naturais espontâneas de manifestação do valor de troca dos produtos domésticos ou no objeto de uso que constitui o elemento principal da propriedade doméstica alienável como por exemplo o gado Os povos nômades são os primeiros a desenvolver a forma dinheiro porque todos os seus bens se encontram em forma móvel e por conseguinte diretamente alienável e também porque seu modo de vida os põe constantemente em contato com comunidades estrangeiras com as quais eles são chamados a trocar seus produtos Frequentemente os homens converteram os próprios homens na forma de escravos em matéria monetária original mas jamais fizeram isso com o solo Tal ideia só pôde surgir na sociedade burguesa já desenvolvida Ela data do último terço do século XVI I mas sua implementação em escala nacional só foi tentada um século mais tarde na revolução burguesa dos franceses Na mesma proporção em que a troca de mercadorias dissolve seus laços puramente locais e o valor das mercadorias se expande em materialidadee do trabalho humano em geral a formadinheiro se encarna em mercadorias que por natureza prestamse à função social de um equivalente universal os metais preciosos Ora que o ouro e a prata não sejam por natureza dinheiro embora o dinheiro seja por natureza de ouro e prata42 demonstra uma harmonia entre suas propriedades naturais e suas funções43 Até aqui no entanto conhecemos apenas a função do dinheiro de servir como forma de manifestação do valor das mercadorias ou como o material no qual as grandezas de valor das mercadorias se expressam socialmente A forma adequada de manifestação do valor ou da materialidade do trabalho humano abstrato e portanto igual só pode ser encontrada numa matéria cujos exemplares possuam todos a mesma qualidade uniforme Por outro lado como a diferença das grandezas de valor é puramente quantitativa a mercadoriadinheiro tem de ser capaz de expressar diferenças puramente quantitativas podendo ser dividida e ter suas partes novamente reunidas como se queira O ouro e a prata possuem essas propriedades por natureza O valor de uso da mercadoriadinheiro duplica Ao lado de seu valor de uso particular como mercadoria como o uso do ouro no preenchimento de cavidades dentárias como matériaprima de artigos de luxo etc ela adquire um valor de uso formal que deriva de suas funções sociais específicas Como todas as mercadorias são apenas equivalentes particulares do dinheiro que é seu equivalente universal elas se relacionam com o dinheiro como mercadorias particulares com a mercadoria universal44 Vimos que a formadinheiro é apenas o reflexo concentrado numa única mercadoria das relações de todas as outras mercadorias Que o dinheiro seja mercadoria45 é portanto uma descoberta que só realiza aquele que toma sua forma pronta para a partir dela empreender uma análise mais profunda desse objeto O processo de troca confere à mercadoria que ele transforma em dinheiro não seu valor mas sua forma de valor específica A confusão entre essas duas determinações gerou o 132 equívoco de considerar o valor do ouro e da prata como imaginário46 Do fato de o dinheiro em funções determinadas poder ser substituído por simples signos de si mesmo derivou outro erro segundo o qual ele seria um mero signo Zeichen Por outro lado nisso residia a noção de que a formadinheiro da coisa é externa a ela mesma não sendo mais do que a forma de manifestação de relações humanas que se escondem por trás dela Nesse sentido cada mercadoria seria um signo uma vez que como valor ela é tão somente um invólucro reificado sachliche do trabalho humano nela despendido47 Mas considerar como meros signos os caracteres sociais que num determinado modo de produção aplicamse às coisas ou aos caracteres reificados sachlich que as determinações sociais do trabalho recebem nesse modo de produção significa considerálas ao mesmo tempo produtos arbitrários da reflexão Reflexion dos homens Esse foi o modo iluminista pelo qual no século XVI I I costumouse tratar das formas enigmáticas das relações humanas cujo processo de formação ainda não podia ser decifrado a fim de eliminar delas ao menos provisoriamente sua aparência estranha J á observamos anteriormente que a forma de equivalente de uma mercadoria não inclui a determinação quantitativa de sua grandeza de valor Se sabemos que o ouro é dinheiro e por essa razão é imediatamente permutável não sabemos com isso o valor de por exemplo 10 libras de ouro Como qualquer outra mercadoria o dinheiro só pode expressar seu valor de modo relativo confrontandose com outras mercadorias Seu próprio valor é determinado pelo tempo de trabalho requerido para sua produção e se expressa numa dada quantidade de qualquer outra mercadoria em que esteja incorporado o mesmo tempo de trabalho48 Essa determinação de sua grandeza relativa de valor ocorre na fonte de sua produção na permuta Tauschhandel direta Quando entra em circulação como dinheiro seu valor já está dado Quando já no início da análise do valor nos últimos decênios do século XVI I concluiuse que o dinheiro era mercadoria tal conhecimento dava apenas seus primeiros passos A dificuldade não está em compreender que dinheiro é mercadoria mas em descobrir como por que e por quais meios a mercadoria é dinheiro49 Vimos como já na mais simples expressão de valor x mercadoria A y mercadoria B a coisa em que se representa a grandeza de valor de outra coisa parece possuir sua forma de equivalente independentemente dessa relação como uma qualidade social de sua natureza J á acompanhamos de perto a consolidação dessa falsa aparência Ela se consuma no momento em que a forma de equivalente universal se mescla com a forma natural de um tipo particular de mercadoria ou se cristaliza na formadinheiro Uma mercadoria não parece se tornar dinheiro porque todas as outras mercadorias representam nela seus valores mas ao contrário estas é que parecem expressar nela seus valores pelo fato de ela ser dinheiro O movimento mediador desaparece em seu próprio resultado e não deixa qualquer rastro Sem qualquer intervenção sua as mercadorias encontram sua própria figura de valor já pronta no corpo de uma mercadoria existente fora e ao lado delas Essas coisas o ouro e a prata tal como surgem das entranhas da terra são ao mesmo tempo a encarnação imediata de todo trabalho humano Decorre daí a mágica do dinheiro O comportamento meramente atomístico dos homens em seu processo social de produção e com isso a figura 133 reificada sachliche de suas relações de produção independentes de seu controle e de sua ação individual consciente manifestamse de início no fato de que os produtos de seu trabalho assumem universalmente a forma da mercadoria Portanto o enigma do fetiche do dinheiro não é mais do que o enigma do fetiche da mercadoria que agora se torna visível e ofusca a visão 134 Este manuscrito está desaparecido Tratase da primeira página dO capital escrita à mão retrabalhada por Marx entre dezembro de 1871 e janeiro de 1872 quando preparava a segunda edição do Livro I Há nesses escritos uma espécie de comentário a respeito da teoria de valor que não pode ser encontrado nem na primeira nem na segunda edição do livro É portanto também em si um importante original de Marx 135 Capítulo 3 O dinheiro ou a circulação de mercadorias 1 Medida dos valores Neste escrito para fins de simplificação pressuponho sempre o ouro como a mercadoriadinheiro A primeira função do ouro é de fornecer ao mundo das mercadorias o material de sua expressão de valor ou de representar os valores das mercadorias como grandezas de mesmo denominador qualitativamente iguais e quantitativamente comparáveis Desse modo ele funciona como medida universal dos valores sendo apenas por meio dessa função que o ouro a mercadoriaequivalente específica tornase inicialmente dinheiro As mercadorias não se tornam comensuráveis por meio do dinheiro Ao contrário é pelo fato de todas as mercadorias como valores serem trabalho humano objetivado e assim serem por si mesmas comensuráveis entre si que elas podem medir conjuntamente seus valores na mesma mercadoria específica e desse modo convertê la em sua medida conjunta de valor isto é em dinheiro O dinheiro como medida de valor é a forma necessária de manifestação da medida imanente de valor das mercadorias o tempo de trabalho50 A expressão de valor de uma mercadoria em ouro x mercadoria A y mercadoria dinheiro é sua formadinheiro ou seu preço Uma única equação tal como 1 tonelada de ferro 2 onças de ouro basta agora para expressar o valor do ferro de modo socialmente válido A equação não precisa mais marchar na mesma fileira das equações de valor das outras mercadorias porque a mercadoriaequivalente o ouro já possui o caráter de dinheiro A forma de valor relativa universal das mercadorias volta a ter agora a configuração de sua forma de valor relativa originária isto é sua forma de valor relativa simples ou singular Por outro lado a expressão relativa de valor desdobrada ou a série infinita de expressões relativas do valor tornase a forma de valor especificamente relativa da mercadoriadinheiro Porém agora essa série já está dada socialmente nos preços das mercadorias Basta ler de trás para a frente as cotações numa lista de preços para encontrar a grandeza de valor do dinheiro expressa em todas as mercadorias possíveis J á o dinheiro ao contrário não tem preço Para tomar parte nessa forma de valor relativa unitária das outras mercadorias ele teria de se confrontar consigo mesmo como seu próprio equivalente O preço ou a formadinheiro das mercadorias é como sua forma de valor em geral distinto de sua forma corpórea real e palpável portanto é uma forma apenas ideal ou representada O valor do ferro do linho do trigo etc apesar de invisível existe nessas próprias coisas ele é representado por sua igualdade com o ouro numa relação que só assombra no interior de suas cabeças Por isso a fim de informar seus preços ao mundo exterior o detentor das mercadorias tem ou de passar a língua em suas 136 cabeças ou nelas fixar etiquetas51 Como a expressão dos valores das mercadorias em ouro é ideal nessa operação só pode ser aplicado o ouro representado ou ideal Todo portador de mercadorias sabe que ele não dourou suas mercadorias pelo simples fato de dar a seu valor a forma do preço ou a forma representada do ouro e que ele não necessita da mínima quantidade de ouro real para avaliar em ouro os valores das mercadorias Em sua função de medida de valor o ouro serve portanto apenas como dinheiro representado ou ideal Essa circunstância deu vazão às mais loucas teorias52 Embora apenas o dinheiro representado sirva à função de medida do valor o preço depende inteiramente do material real do dinheiro O valor isto é a quantidade de trabalho humano que por exemplo está contida em 1 tonelada de ferro é expresso numa quantidade representada da mercadoriadinheiro que contém a mesma quantidade de trabalho Por isso a depender do fato de a medida do valor ser o ouro a prata ou o cobre o valor da tonelada de ferro obtém expressões de preço totalmente distintas ou é representado em quantidades totalmente diferentes de ouro prata ou cobre Portanto se duas mercadorias por exemplo o ouro e a prata servem simultaneamente como medidas de valor então todas as mercadorias possuem duas expressões distintas de preço o preçoouro e o preçoprata que coexistem tranquilamente enquanto a relação de valor entre o ouro e a prata permanece inalterada por exemplo 115 Mas qualquer alteração nessa relação de valor perturba a relação entre o preçoouro e o preçoprata das mercadorias e assim prova de fato que a duplicação da medida de valor contradiz sua função53 As mercadorias dotadas de preços apresentamse todas na seguinte forma b mercadoria B x ouro c mercadoria C z ouro d mercadoria D y ouro etc em que b c e d representam determinadas quantidades dos tipos de mercadorias B C e D e x z e y representam determinadas quantidades de ouroa Os valores das mercadorias são assim convertidos em diferentes quantidades representadas de ouro e portanto apesar da variedade confusa dos corpos das mercadorias em grandezas de mesmo denominador grandezas de ouro Na forma de diferentes quantidades de ouro essas grandezas se comparam e se medem umas com as outras e desenvolvese tecnicamente a necessidade de referilas a uma quantidade fixa de ouro como sua unidade de medida Tal unidade de medida é por sua vez desenvolvida em padrão de medida por meio de sua repartição em partes alíquotas Antes de sua transformação em dinheiro o ouro a prata e o cobre já possuem tais padrões de medida em seus pesos metálicos de modo que por exemplo 1 libra serve como unidade de medida e pode por um lado ser dividida em onças etc e por outro ser multiplicada para formar 1 quintal etc54 razão pela qual em toda circulação metálica os nomes dos padrões de peso formam também os nomes do padrão monetário ou padrão de medida dos preços Como medida dos valores e padrão dos preços o ouro desempenha dois papéis completamente distintos Ele é medida de valor por ser a encarnação social do trabalho humano e padrão de preços por ser um peso metálico estipulado Como medida de valor ele serve para transformar as diversas mercadorias em preços em quantidades representadas de ouro como padrão de preços ele mede essas 137 quantidades de ouro Pela medida de valor se medem as mercadorias como valores já pelo padrão de preços ao contrário quantidades de ouro se medem por determinada quantidade de ouro e não o valor de uma quantidade de ouro pelo peso de outra quantidade Para o padrão de preços é preciso que determinado peso de ouro seja fixado como unidade de medida Aqui como em todas as outras determinações de medida de grandezas de mesmo denominador a fixidez das relações de medida é decisiva de maneira que o padrão de preços cumpre tanto melhor sua função quanto mais imutavelmente uma e a mesma quantidade de ouro sirva como unidade de medida O ouro só pode servir como medida de valor porque ele próprio é produto do trabalho e portanto um valor que pode ser alterado55 Ora é claro que uma mudança no valor do ouro não afeta de modo algum sua função como padrão de preços I ndiferentemente da variação que o valor do ouro possa sofrer diferentes quantidades de ouro continuam sempre na mesma relação de valor umas com as outras Se o valor do ouro caísse em 1000 12 onças de ouro continuariam a valer 12 vezes mais do que 1 onça de ouro pois o os preços representam apenas as relação de diferentes quantidades de ouro entre si Por outro lado assim como a queda ou o aumento do valor de 1 onça de ouro não muda em absoluto seu peso ela tampouco altera o peso de suas partes alíquotas de modo que o ouro como padrão fixo dos preços cumpre sempre a mesma função indiferentemente das alterações em seu valor A mudança de valor do ouro tampouco impede sua função como medida de valor Ela atinge todas as mercadorias ao mesmo tempo e caeteris paribus os demais fatores permanecendo constantes mantém inalterados seus valores relativos recíprocos mesmo que estes agora se expressem em preços de ouro maiores ou menores do que antes Tal como na representação do valor de uma mercadoria no valor de uso de uma outra mercadoria qualquer também na valoração das mercadorias em ouro é pressuposto apenas que numa época determinada a produção de uma quantidade determinada de ouro custe uma dada quantidade de trabalho Quanto ao movimento dos preços das mercadorias em geral valem as leis da expressão relativa simples do valor que expusemos anteriormente Mantendose igual o valor do dinheiro os preços das mercadorias só podem aumentar generalizadamente se os valores das mercadorias sobem mantendose iguais os valores das mercadorias eles só podem aumentar se o valor do dinheiro cai I nversamente mantendose igual o valor do dinheiro os preços das mercadorias só podem cair em geral se os valores das mercadorias caem mantendose iguais os valores das mercadorias eles só podem cair se o valor do dinheiro sobe Disso não se segue em absoluto que o valor crescente do dinheiro condicione uma queda proporcional dos preços das mercadorias e que o valor decrescente do dinheiro condicione um aumento proporcional desses preços I sso vale somente para mercadorias de valor inalterado Por exemplo aquelas mercadorias cujo valor aumenta na mesma medida do e simultaneamente com o valor do dinheiro conservam os mesmos preços Se seu valor aumentar mais devagar ou mais rápido do que o valor do dinheiro a queda ou o aumento de seus preços será determinada pela diferença entre 138 o movimento de seu valor e o movimento do dinheiro etc Voltemos agora à análise da forma do preço As denominações monetárias dos pesos metálicos se separam progressivamente de suas denominações originais por razões diversas dentre as quais se podem citar como historicamente decisivas 1 a introdução de dinheiro estrangeiro em povos pouco desenvolvidos como na Roma Antiga onde as moedas de prata e de ouro circulavam inicialmente como mercadorias estrangeiras 2 com o desenvolvimento da riqueza o metal menos nobre perdeu sua função de medida de valor para o metal mais nobre O cobre cedeu à prata a prata ao ouro por mais que essa sequência possa contradizer toda cronologia poéticab 56 A libra por exemplo era a denominação monetária para 1 libra de prata Assim que o ouro tomou o lugar da prata como medida de valor o mesmo nome passou a significar cerca de 115 de 1 libra de ouro a depender da relação de valor entre o ouro e a prata Desde então a libra como denominação monetária e como medida de peso do ouro estão separadas uma da outra57 3 a falsificação do dinheiro realizada por séculos pelos príncipes fez com que as moedas não conservassem de seu peso original mais do que o nome58 Esses processos históricos transformaram em hábito popular a separação entre a denominação monetária dos pesos metálicos e os nomes de suas medidas habituais de peso Como o padrão monetário é por um lado puramente convencional mas por outro necessita de validade universal ele é por fim regulado por lei Uma porção determinada de peso de um metal precioso por exemplo 1 onça de ouro é oficialmente dividida em partes alíquotas que a lei batiza com nomes tais como libra táler etc Essa parte alíquota que então passa a valer como a verdadeira unidade de medida do dinheiro é subdividida em outras partes alíquotas que a lei batiza com outros nomes como xelim penny etc59 Tal como antes determinados pesos metálicos continuam a ser padrão do dinheiro metálico O que mudou foi a divisão das partes alíquotas e os nomes adotados Os preços ou as quantidades de ouro em que os valores das mercadorias foram idealmente convertidos são agora expressos nas denominações monetárias ou nas denominações contábeis legalmente válidas do padrão de medida do ouro Na I nglaterra em vez de se dizer que 1 quarter de trigo é igual a 1 onça de ouro dirseia que ele é igual a 3 17 xelins e 10 12 pence Assim as mercadorias declaram em suas denominações monetárias o quanto elas valem e o dinheiro serve como unidade de conta na medida em que vale para fixar uma coisa como valor e com isso expressála na formadinheiro60 O nome de algo é totalmente exterior à sua natureza Não sei nada de um homem quando sei apenas que ele se chama J acó Do mesmo modo nas denominações monetárias libra táler franco ducado etc desaparece todo sinal da relação de valor A confusão sobre o sentido oculto desses símbolos cabalísticos é tanto maior porque as denominações monetárias expressam o valor das mercadorias e ao mesmo tempo partes alíquotas de um peso metálico do padrão monetário61 Por outro lado é necessário que o valor em contraste com os variados corpos do mundo das mercadorias desenvolvase nessa forma material desprovida de conceito mas também simplesmente social62 139 O preço é a denominação monetária do trabalho objetivado na mercadoria Por isso a equivalência entre a mercadoria e a quantidade de dinheiro cujo nome é seu preço é uma tautologia63 assim como a expressão relativa de valor de uma mercadoria é sempre a expressão da equivalência entre duas mercadorias Mas se o preço como exponente da grandeza de valor da mercadoria é exponente de sua relação de troca com o dinheiro disso não se conclui a relação inversa isto é que o exponente de sua relação de troca com o dinheiro seja necessariamente o exponente de sua grandeza de valor Consideremos que uma mesma grandeza de trabalho socialmente necessário esteja expressa em 1 quarter de trigo e em 2 aproximadamente ½ onça de ouro As 2 são assim a expressão monetária da grandeza de valor do quarter de trigo ou seu preço Ora se as circunstâncias permitirem que essa expressão monetária seja remarcada para 3 ou exija que ela seja reduzida para 1 concluise que 1 ou 3 como expressões da grandeza de valor do trigo são pequenas ou grandes demais porém constituem de qualquer forma os preços do trigo pois em primeiro lugar elas são sua forma de valor dinheiro e em segundo lugar são exponentes de sua relação de troca com o dinheiro Em condições constantes de produção ou de produtividade constante do trabalho é necessário tal como antes que a mesma quantidade de tempo de trabalho social seja despendida para a reprodução do quarter de trigo Essa circunstância independe da vontade tanto do produtor do trigo quanto dos outros possuidores de mercadorias A grandeza de valor da mercadoria expressa portanto uma relação necessária e imanente ao seu processo constitutivo com o tempo de trabalho social Com a transformação da grandeza de valor em preço essa relação necessária aparece como relação de troca entre uma mercadoria e a mercadoriadinheiro existente fora dela Nessa relação porém é igualmente possível que se expresse a grandeza de valor da mercadoria como o mais ou o menos pelo qual ela vendável sob dadas circunstâncias A possibilidade de uma incongruência quantitativa entre preço e grandeza de valor ou o desvio do preço em relação à grandeza de valor reside portanto na própria forma preço I sso não é nenhum defeito dessa forma mas ao contrário aquilo que faz dela a forma adequada a um modo de produção em que a regra só se pode impor como a lei média do desregramento que se aplica cegamente Mas a formapreço permite não apenas a possibilidade de uma incongruência quantitativa entre grandeza de valor e preço isto é entre a grandeza de valor e sua própria expressão monetária mas pode abrigar uma contradição qualitativa de modo que o preço deixe absolutamente de ser expressão de valor embora o dinheiro não seja mais do que a forma de valor das mercadorias Assim coisas que em si mesmas não são mercadorias como a consciência a honra etc podem ser compradas de seus possuidores com dinheiro e mediante seu preço assumir a formamercadoria de modo que uma coisa pode formalmente ter um preço mesmo sem ter valor A expressão do preço se torna aqui imaginária tal como certas grandezas da matemática Por outro lado também a formapreço imaginária como o preço do solo não cultivado que não tem valor porque nele nenhum trabalho humano está objetivado abriga uma relação efetiva de valor ou uma relação dela derivada Do mesmo modo que a forma de valor relativa em geral o preço expressa o valor de 140 uma mercadoria por exemplo 1 tonelada de ferro permitindo que determinada quantidade de equivalente por exemplo 1 onça de ouro seja imediatamente permutável pelo ferro mas de modo nenhum em sentido inverso de modo que o ferro seja imediatamente permutável pelo ouro A fim de exercer praticamente o efeito de um valor de troca a mercadoria tem de se despojar de seu corpo natural transformandose de ouro apenas representado em ouro real mesmo que essa transubstanciação possa serlhe mais amarga do que o é para o conceito hegeliano a transição da necessidade à liberdade ou para uma lagosta a perfuração de sua couraça ou para São J erônimo a supressão do velho Adão64 No preço a mercadoria pode possuir ao lado de sua forma real ferro etc uma figura de valor ideal ou uma formaouro representada porém não pode ser a um só tempo realmente ferro e realmente ouro Para o estabelecimento de seu preço basta equiparála ao ouro representado mas para servir a seu possuidor como equivalente universal ela tem de ser substituída realmente pelo ouro Se por exemplo o possuidor do ferro se encontrasse diante do possuidor de outra mercadoria qualquer e lhe referisse o preço do ferro que se encontra na formadinheiro ele lhe responderia tal como São Pedro respondeu a Dante no Paraíso depois deste último terlhe recitado o credo Assai bene è trascorsa Desta moneta già la lega el peso Ma dimmi se tu lhai nella tua borsac A formapreço inclui a possibilidade da venda das mercadorias por dinheiro e a necessidade dessa venda Por outro lado o ouro funciona como medida ideal de valor apenas porque ele já se estabeleceu como mercadoriadinheiro no processo de troca Sob a medida ideal dos valores escondese à espreita o dinheiro vivo 2 O meio de circulação a A metamorfose das mercadorias Vimos que o processo de troca das mercadorias inclui relações contraditórias e mutuamente excludentes O desenvolvimento da mercadoria não elimina essas contradições porém cria a forma em que elas podem se mover Esse é em geral o método com que se solucionam contradições reais É por exemplo uma contradição o fato de que um corpo seja atraído por outro e ao mesmo tempo afastese dele constantemente A elipse é uma das formas de movimento em que essa contradição tanto se realiza como se resolve Na medida em que o processo de troca transfere mercadorias das mãos em que elas não são valores de uso para as mãos em que elas são valores de uso ele é metabolismo social O produto de um modo útil de trabalho substitui o produto de outro Quando passa a servir de valor de uso a mercadoria transita da esfera da troca de mercadorias para a esfera do consumo Aqui interessanos apenas a primeira dessas esferas Temos assim de considerar o processo inteiro segundo o aspecto formal isto é apenas a mudança de forma ou a metamorfose das mercadorias que medeia o metabolismo social 141 A concepção inteiramente defeituosa dessa mudança de forma se deve desconsiderandose a falta de clareza sobre o próprio conceito de valor à circunstância de que toda mudança de forma de uma mercadoria se consuma na troca entre duas mercadorias uma mercadoria comum e a mercadoriadinheiro Se nos concentramos exclusivamente nesse momento material na troca de mercadoria por ouro ignoramos justamente aquilo que se deve ver a saber o que se passa com a forma I gnoramos assim que o ouro como simples mercadoria não é dinheiro e que em seus preços as outras mercadorias relacionamse com o ouro como com sua própria figura monetária I nicialmente as mercadorias entram no processo de troca sem serem douradas nem açucaradas mas tal como vieram ao mundo Esse processo gera uma duplicação da mercadoria em mercadoria e dinheiro uma antítese externa na qual elas expressam sua antítese imanente entre valor de uso e valor Nessa antítese as mercadorias como valores de uso confrontamse com o dinheiro como valor de troca Por outro lado ambos os polos da antítese são mercadorias portanto unidades de valor de uso e valor Mas essa unidade de diferentes se expressa em cada um dos polos de modo inverso e com isso expressa ao mesmo tempo sua relação recíproca A mercadoria é realmente reell valor de uso seu valor se manifesta apenas idealmente ideell no preço que a reporta ao ouro situado no polo oposto como sua figura de valor real I nversamente o material do ouro vale apenas como materialidade de valor Wertmateriatur dinheiro Ele é por isso realmente valor de troca Seu valor de uso aparece apenas idealmente na série das expressões relativas de valor na qual ele se relaciona com as mercadorias a ele contrapostas como o círculo de suas figuras reais de uso Essas formas antitéticas das mercadorias são as formas efetivas de movimento de seu processo de troca Acompanhemos agora um possuidor qualquer de mercadorias por exemplo nosso velho conhecido tecelão de linho à cena do processo de troca o mercado Sua mercadoria 20 braças de linho tem um preço determinado e seu preço é 2 Ele a troca por 2 e sendo um homem de grande virtude troca novamente as 2 por uma Bíblia familiar de mesmo preço O linho que para ele é apenas mercadoria objeto portador de valor é alienado por ouro sua figura de valor e a partir dessa figura é novamente alienado por outra mercadoria a Bíblia que no entanto deve ser levada à casa do tecelão e lá satisfazer a elevadas necessidades O processo de troca da mercadoria se consuma portanto em duas metamorfoses contrapostas e mutuamente complementares conversão da mercadoria em dinheiro e reconversão do dinheiro em mercadoria65Os momentos da metamorfose das mercadorias são simultaneamente transações dos possuidores de mercadorias venda troca da mercadoria por dinheiro compra troca do dinheiro por mercadoria e a unidade dos dois atos vender para comprar Se agora o tecelão de linho considera o resultado da barganha ele possui uma Bíblia em vez de linho isto é em vez de sua mercadoria original ele possui outra de mesmo valor porém de utilidade diferente Desse mesmo modo ele se apropria de seus outros meios de subsistência e de produção De seu ponto de vista o processo inteiro medeia apenas a troca do produto de seu trabalho pelo produto do trabalho de outros isto é a troca de produtos 142 O processo de troca da mercadoria se consuma portanto na seguinte mudança de forma MercadoriaDinheiroMercadoria MDM Segundo seu conteúdo material o movimento é MM isto é troca de mercadoria por mercadoria ou metabolismo do trabalho social em cujo resultado extinguese o próprio processo MD Primeira metamorfose da mercadoria ou venda O salto que o valor da mercadoria realiza do corpo da mercadoria para o corpo do ouro tal como demonstrei em outro lugard é o salto mortale salto mortal da mercadoria Se esse salto dá errado não é a mercadoria que se esborracha mas seu possuidor A divisão social do trabalho torna seu trabalho tão unilateral quanto multilaterais suas necessidades Exatamente por isso seu produto servelhe apenas de valor de troca Mas ele só obtém a forma de equivalente universal socialmente válida como dinheiro e este encontrase no bolso de outrem Para apoderarse dele é preciso que a mercadoria seja sobretudo valor de uso para o possuidor do dinheiro de modo que o trabalho nela despendido esteja incorporado numa forma socialmente útil ou se confirme como elo da divisão social do trabalho Mas a divisão do trabalho é um organismo naturalespontâneo da produção cujos fios foram e continuam a ser tecidos pelas costas dos produtores de mercadorias Talvez a mercadoria seja o produto de um novo modo de trabalho que se destina à satisfação de uma necessidade recémsurgida ou pretende ela própria engendrar uma nova necessidade O que até ontem era uma função entre muitas de um e mesmo produtor de mercadorias hoje pode gerar uma nova modalidade particular de trabalho que separada desse conjunto autonomizada manda seu produto ao mercado como mercadoria independente As circunstâncias podem estar ou não maduras para esse processo de separação O produto satisfaz hoje uma necessidade social Amanhã é possível que ele seja total ou parcialmente deslocado por outro tipo de produto semelhante Mesmo que o trabalho de nosso tecelão de linho seja um elo permanente da divisão social do trabalho com isso não está de modo algum garantido o valor de uso de suas 20 braças de linho Se a demanda social de linho e tal demanda tem uma medida como as outras coisas for satisfeita por tecelões concorrentes o produto de nosso amigo será excedente supérfluo e portanto inútil De cavalo dado não se olham os dentes mas ele não vai ao mercado para distribuir presentes Suponhamos porém que o valor de uso de seu produto se confirme e assim o dinheiro seja atraído por sua mercadoria Perguntase então quanto dinheiro A resposta já está antecipada no preço da mercadoria no expoente de sua grandeza de valor Desconsideremos eventuais erros de cálculo puramente subjetivos do possuidor de mercadorias erros que no mercado são imediata e objetivamente corrigidos Suponhamos que ele despendeu em seu produto somente a média socialmente necessária de tempo de trabalho Desse modo o preço da mercadoria é apenas a denominação monetária da quantidade de trabalho social nela objetivado No entanto sem a autorização e pelas costas de nosso tecelão as condições de produção 143 da tecelagem de linho já há muito estabelecidas entraram em ebulição O que até ontem era sem dúvida tempo de trabalho socialmente necessário à produção de 1 braça de linho hoje deixa de sêlo tal como o possuidor de dinheiro o demonstra prontamente exibindo ao tecelão as cotações de preços de seus diversos concorrentes Para sua desgraça há muitos tecelões no mundo Suponhamos por fim que cada peça de linho existente no mercado contenha apenas o tempo de trabalho socialmente necessário Apesar disso a soma total dessas peças pode conter tempo de trabalho despendido de modo supérfluo Se o estômago do mercado não consegue absorver a quantidade total de linho pelo preço normal de 2 xelins por braça isso prova que foi despendida uma parte maior de tempo de trabalho socialmente necessário na forma da tecelagem de linho O efeito é o mesmo que se obteria se cada tecelão individual tivesse aplicado em seu produto individual mais do que o tempo de trabalho socialmente necessário Aqui vale o provérbio apanhados juntos enforcados juntos mitgefangen mitgehangen Todo linho no mercado vale como se fosse um artigo único sendo cada peça apenas uma parte alíquota desse todo E de fato também o valor de cada braça individual é apenas a materialidade da mesma quantidade socialmente determinada de trabalho humano de mesmo tipoe Como se pode ver a mercadoria ama o dinheiro mas the course of true love never does run smooth em tempo algum teve um tranquilo curso o verdadeiro amorf Tão naturalmente contingente quanto o qualitativo é o nexo quantitativo do organismo social de produção que apresenta seus membra disjecta membros amputados no sistema da divisão do trabalho Nossos possuidores de mercadorias descobrem assim que a mesma divisão do trabalho que os transforma em produtores privados independentes também torna independente deles o processo social de produção e suas relações nesse processo e que a independência das pessoas umas da outras se consuma num sistema de dependência material sachlich universal A divisão do trabalho converte o produto do trabalho em mercadoria e com isso torna necessária sua metamorfose em dinheiro Ao mesmo tempo ela transforma o sucesso ou insucesso dessa transubstanciação em algo acidental Aqui no entanto o fenômeno deve ser considerado em sua pureza razão pela qual pressupomos o seu curso normal Além disso quando ele enfim se processa portanto quando a mercadoria não é invendável sua mudança de forma ocorre sempre ainda que nessa mudança de forma possa ocorrer um acréscimo ou uma diminuição anormal de substância de grandeza de valor O vendedor tem sua mercadoria substituída pelo ouro e o comprador tem seu ouro substituído por uma mercadoria O fenômeno que aqui se evidencia é a mudança de mãos ou de lugar entre a mercadoria e o ouro entre 20 braças de linho e 2 isto é sua troca Mas pelo que se troca a mercadoria Por sua própria figura geral de valor E pelo que se troca o ouro Por uma figura particular de seu valor de uso Por que o ouro se defronta com o linho como dinheiro Porque seu preço de 2 ou a denominação monetária do linho já o coloca em relação com o ouro como dinheiro A alienação Entäusserung da forma original da mercadoria se consuma mediante a venda Veräusserung da mercadoria isto é no momento em que seu valor de uso atrai efetivamente o ouro que em seu preço era apenas representado Desse modo a 144 realização do preço ou da forma de valor apenas ideal da mercadoria é ao mesmo tempo e inversamente a realização do valor de uso apenas ideal do dinheiro a conversão de mercadoria em dinheiro e simultaneamente de dinheiro em mercadoria Tratase de um processo bilateral do polo do possuidor de mercadorias é venda do polo do possuidor de dinheiro compra Ou em outras palavras venda é compra e M D é igual a DM66 Até o momento não conhecemos nenhuma relação econômica dos homens senão aquela entre possuidores de mercadorias uma relação em que cada um só apropria o produto do trabalho alheio na medida em que aliena entfremden seu próprio produto Por conseguinte um possuidor de mercadorias só pode se defrontar com outro como possuidor de dinheiro porque seu produto possui por natureza a formadinheiro portanto é materialdinheiro Geldmaterial ouro etc ou porque sua própria mercadoria muda de pele despojandose de sua forma de uso original Para funcionar como dinheiro o ouro tem naturalmente de ingressar no mercado em algum ponto Tal ponto se encontra em sua fonte de produção onde ele é trocado como produto imediato de trabalho por outro produto de trabalho do mesmo valor Mas a partir desse momento ele passa a representar preços realizados de mercadorias67 Excetuando o momento da troca de ouro por mercadoria em sua fonte de produção o ouro é nas mãos de cada possuidor de mercadorias a figura alienada entäusserte de sua mercadoria alienada veräusserten o produto da venda ou da primeira metamorfose das mercadorias MD68 O ouro tornouse dinheiro ideal ou medida de valor porque todas as mercadorias passaram a medir seus valores por ele convertendoo assim no oposto representado de sua figura de uso isto é em sua figura de valor Ele se torna dinheiro real porque as mercadorias por meio de sua venda universal allseitige Veräusserung fazem dele sua figura de uso efetivamente alienada ou transformada e desse modo sua efetiva figura de valor Em sua figura de valor a mercadoria se despoja de todo traço de seu valor de uso naturalespontâneo e do trabalho útil particular ao qual ela deve sua origem a fim de se crisalidar na materialidade social e uniforme do trabalho humano indiferenciado Não se percebe no dinheiro de que qualidade é a mercadoria que foi nele transformada Em sua forma dinheiro uma mercadoria tem a mesma aparência que a outra Por isso o dinheiro pode ser lixo embora lixo não seja dinheiro Suponha que as duas moedas de ouro em troca das quais nosso tecelão de linho aliena sua mercadoria sejam a figura transformada de 1 quarter de trigo A venda do linho MD é simultaneamente sua compra DM Como venda do linho esse processo dá início a um movimento que termina com seu oposto com a compra da Bíblia como compra do linho ele conclui um movimento que começou com seu contrário a venda do trigo MD linho dinheiro essa primeira fase de MDM linhodinheiroBíblia é ao mesmo tempo D M dinheirolinho a última fase de um último movimento MDM trigodinheiro linho A primeira metamorfose de uma mercadoria sua conversão da forma mercadoria em dinheiro é sempre ao mesmo tempo uma segunda metamorfose contrária de outra mercadoria sua reconversão de formadinheiro em mercadoria69 DM Segunda e conclusiva metamorfose da mercadoria a compra Sendo o dinheiro a figura alienada de todas as outras mercadorias ou o produto de sua venda 145 universal ele é a mercadoria absolutamente vendável Ele lê todos os preços de trás para a frente e assim espelhase em todos os corpos de mercadorias como no material que se oferece a seu próprio tornarse mercadoria Warenwerdung Ao mesmo tempo os preços os olhos amorosos com que as mercadorias lhe lançam uma piscadela revelam o limite de sua capacidade de transformação a saber sua própria quantidade Como a mercadoria desaparece ao se transformar em dinheiro neste não se percebe como ele chegou às mãos de seu possuidor ou qual mercadoria foi nele transformada Non olet não fedeg seja qual for sua origem Se por um lado ele representa mercadoria vendida por outro representa mercadorias compráveis70 DM a compra é ao mesmo tempo venda MD por isso a última metamorfose de uma mercadoria é também a primeira metamorfose de outra mercadoria Para nosso tecelão de linho a biografia de sua mercadoria se conclui com a Bíblia na qual ele transformou as 2 Mas o vendedor da Bíblia converte em aguardente as 2 gastas pelo tecelão de linho DM a fase final de MDM linhodinheiroBíblia é simultaneamente MD a primeira fase de MDM Bíbliadinheiroaguardente Como o produtor de mercadorias produz apenas um único tipo de produto ele o vende frequentemente em grandes quantidades ao passo que suas múltiplas necessidades o obrigam constantemente a fragmentar em muitas compras o preço realizado ou a soma de dinheiro recebida Uma venda resulta por isso em muitas compras de diversas mercadorias De modo que a metamorfose final de uma mercadoria constitui uma soma das primeiras metamorfoses de outras mercadorias Ora se considerarmos a metamorfose total de uma mercadoria por exemplo do linho veremos primeiramente que ela consiste em dois movimentos antitéticos e mutuamente complementares MD e DM Essas duas mutações antitéticas da mercadoria se realizam em dois processos sociais antitéticos do possuidor de mercadorias e se refletem em dois caracteres econômicos antitéticos desse possuidor Como agente da venda ele se torna vendedor e como agente da compra comprador Mas como em toda mutação da mercadoria suas duas formas a formamercadoria e a formadinheiro só existem ocupando polos antitéticos também o mesmo possuidor de mercadorias como vendedor confrontase com outro comprador e como comprador com outro vendedor Como a mesma mercadoria percorre sucessivamente as duas mutações inversas passando de mercadoria a dinheiro e de dinheiro a mercadoria assim o mesmo possuidor de mercadorias desempenha alternadamente os papéis de vendedor e comprador Estes não são fixos mas antes personagens Charaktere constantemente desempenhados por pessoas Personen alternadas no interior da circulação de mercadorias A metamorfose total de uma mercadoria envolve em sua forma mais simples quatro extremos e três personae dramatis atores Primeiramente o dinheiro se defronta com a mercadoria como sua figura de valor que no além no bolso alheio possui sólida realidade material sachlich Desse modo um possuidor de dinheiro se defronta com o possuidor de mercadorias Assim que a mercadoria se converte em dinheiro este se torna a forma de equivalente evanescente daquela cujo valor de uso ou conteúdo existe no aquém nos corpos das outras mercadorias Como ponto de chegada da primeira mutação da mercadoria o dinheiro é ao mesmo tempo o ponto 146 de partida da segunda mutação Assim o vendedor do primeiro ato tornase comprador no segundo onde um terceiro possuidor de mercadorias confrontase com ele como vendedor71 Os dois movimentos inversos da metamorfose da mercadoria formam um ciclo formamercadoria despojamento da formamercadoria retorno à formamercadoria No entanto a própria mercadoria é aqui determinada de maneira antitética No ponto de partida ela é não valor de uso no ponto de chegada é valor de uso para seu possuidor Assim o dinheiro aparece primeiramente como o sólido valor cristalizado em que se transforma a mercadoria mas o faz apenas para num segundo momento diluirse como simples forma de equivalente dela As duas metamorfoses que formam o ciclo de uma mercadoria formam ao mesmo tempo as metamorfoses parciais inversas de duas outras mercadorias A mesma mercadoria linho inaugura a série de suas próprias metamorfoses e finaliza a metamorfose total de outra mercadoria o trigo No curso de sua primeira mutação a venda ela desempenha esses dois papéis em sua própria pessoa J á como crisálida de ouro forma sob a qual ela própria segue o caminho de toda carne ela completa ao mesmo tempo a primeira metamorfose de uma terceira mercadoria O ciclo percorrido pela série de metamorfoses de uma mercadoria se entrelaça inextricavelmente com os ciclos de outras mercadorias O processo inteiro se apresenta como circulação de mercadorias A circulação de mercadorias distinguese da troca direta de produtos não só formalmente mas também essencialmente Lancemos um olhar retrospectivo sobre o percurso O tecelão de linho trocou incondicionalmente o linho pela Bíblia a mercadoria própria por uma mercadoria alheia Mas esse fenômeno só é verdadeiro para ele O vendedor de Bíblias que prefere o quente ao frioh não pensou em trocar a Bíblia por linho assim como o tecelão de linho não sabe que seu linho foi trocado por trigo etc A mercadoria de B substitui a mercadoria de A mas A e B não trocam mutuamente suas mercadorias É possível de fato que A e B comprem alternadamente um do outro mas tal relação particular não é de modo algum condicionada pelas condições gerais da circulação de mercadorias Vemos por um lado como a troca de mercadorias rompe as barreiras individuais e locais da troca direta de produtos e desenvolve o metabolismo do trabalho humano Por outro desenvolvese um círculo completo de conexões que embora sociais impõemse como naturais gesellschaftlicher Naturzusammenhänge não podendo ser controladas por seus agentes O tecelão só pode vender o linho porque o camponês já vendeu o trigo o esquentadoi só pode vender a Bíblia porque o tecelão já vendeu o linho o destilador só pode vender a aguardente porque o outro já vendeu a água da vida eterna etc Por isso diferentemente da troca direta de produtos o processo de circulação não se extingue com a mudança de lugar ou de mãos dos valores de uso O dinheiro não desaparece pelo fato de no final ficar de fora da série de metamorfoses de uma mercadoria Ele sempre se precipita em algum lugar da circulação deixado desocupado pelas mercadorias Por exemplo na metamorfose completa do linho linhodinheiro Bíblia é o linho que primeiramente sai de circulação entrando o dinheiro em seu lugar e então a Bíblia sai de circulação e o dinheiro toma seu lugar A substituição de 147 uma mercadoria por outra sempre faz com que o dinheiro acabe nas mãos de um terceiro72 A circulação transpira dinheiro por todos os poros Nada pode ser mais tolo do que o dogma de que a circulação de mercadorias provoca um equilíbrio necessário de vendas e compras uma vez que cada venda é uma compra e viceversa Se isso significa que o número das vendas efetivamente realizadas é o mesmo das compras tratase de pura tautologia Mas ele pretende provar que o vendedor leva seu próprio comprador ao mercado Venda e compra são um ato idêntico como relação mútua entre duas pessoas situadas em polos contrários o possuidor de mercadorias e o possuidor de dinheiro Como ações da mesma pessoa eles constituem dois atos frontalmente opostos Desse modo a identidade de compra e venda implica que a mercadoria se torna inútil se uma vez lançada na retorta alquímica da circulação ela não resulta desse processo como dinheiro se não é vendida pelo possuidor de mercadorias e portanto não é comprada pelo possuidor de dinheiro Além disso essa identidade implica que o processo quando bemsucedido constitui um ponto de repouso um período da vida da mercadoria que pode durar mais ou menos Como a primeira metamorfose da mercadoria é simultaneamente venda e compra esse processo parcial é ao mesmo tempo um processo autônomo O comprador tem a mercadoria o vendedor tem o dinheiro isto é uma mercadoria que conserva a forma adequada à circulação independentemente se mais cedo ou mais tarde ela volta a aparecer no mercado Ninguém pode vender sem que outro compre Mas ninguém precisa comprar apenas pelo fato de ele mesmo ter vendido A circulação rompe as barreiras temporais locais e individuais da troca de produtos precisamente porque provoca uma cisão na identidade imediata aqui existente entre o dar em troca o próprio produto do trabalho e o receber em troca o produto do trabalho alheio transformando essa identidade na antítese entre compra e venda Dizer que esses dois processos independentes e antitéticos formam uma unidade interna significa dizer que sua unidade interna se expressa em antíteses externas Se completandose os dois polos um ao outro a autonomização externa do internamente dependente avança até certo ponto a unidade se afirma violentamente por meio de uma crise A antítese imanente à mercadoria entre valor de uso e valor na forma do trabalho privado que ao mesmo tempo tem de se expressar como trabalho imediatamente social do trabalho particular e concreto que ao mesmo tempo é tomado apenas como trabalho geral abstrato da personificação das coisas e coisificação das pessoas essa contradição imanente adquire nas antíteses da metamorfose da mercadoria suas formas desenvolvidas de movimento Por isso tais formas implicam a possibilidade de crises mas não mais que sua possibilidade O desenvolvimento dessa possibilidade em efetividade requer todo um conjunto de relações que ainda não existem no estágio da circulação simples de mercadorias73 Como mediador da circulação de mercadorias o dinheiro exerce a função de meio de circulação b O curso do dinheiro A mudança de forma em que se realiza o metabolismo dos produtos do trabalho MD 148 M exige que o mesmo valor como mercadoria constitua o ponto de partida do processo e retorne ao mesmo ponto como mercadoria Esse movimento das mercadorias é por isso um ciclo Por outro lado a mesma forma exclui o ciclo do dinheiro e seu resultado é o afastamento constante do dinheiro de seu ponto de partida e não seu retorno a este último Enquanto o vendedor retém a figura transformada de sua mercadoria o dinheiro a mercadoria encontrase no estágio da primeira metamorfose ou apenas percorreu a primeira metade de sua circulação Quando o processo de vender para comprar está consumado o dinheiro é novamente removido das mãos de seu possuidor original É verdade que o tecelão de linho depois de ter comprado a Bíblia vende uma nova peça de linho e desse modo o dinheiro retorna a suas mãos Mas ele não retorna por meio da circulação das primeiras 20 braças de linho mediante a qual o dinheiro passou das mãos do tecelão para as do vendedor da Bíblia Ele só retorna por meio da renovação ou repetição para a nova mercadoria do mesmo processo de circulação com o que ele chega ao mesmo resultado do processo anterior Essa forma de movimento imediatamente conferida ao dinheiro pela circulação de mercadorias é pois a de seu distanciamento constante do ponto de partida sua passagem das mãos de um possuidor de mercadorias às de outro ou seu curso currency cours de la monnaie O curso do dinheiro mostra uma repetição constante monótona do mesmo processo A mercadoria está sempre do lado do vendedor o dinheiro sempre do lado do comprador como meio de compra Ele funciona como meio de compra na medida em que realiza o preço da mercadoria Ao realizálo ele transfere a mercadoria das mãos do vendedor para as do comprador enquanto ao mesmo tempo afastase das mãos do comprador para as do vendedor a fim de repetir o mesmo processo com outra mercadoria Que essa forma unilateral do movimento do dinheiro nasce do movimento formal bilateral da mercadoria é algo que permanece oculto A natureza da própria circulação das mercadorias gera a aparência contrária A primeira metamorfose da mercadoria é visível não somente como movimento do dinheiro mas como seu próprio movimento sua segunda metamorfose no entanto só é visível como movimento do dinheiro Na primeira metade de sua circulação a mercadoria troca de lugar com o dinheiro Com isso sua forma de uso sai da circulação e entra no consumo74 e sua figura de valor ou larva monetária Geldlarve ocupa o seu lugar A segunda metade de sua circulação ela percorre não mais em sua própria pele natural mas na pele do ouro Desse modo a continuidade do movimento recai inteiramente do lado do dinheiro e o mesmo movimento que para a mercadoria engloba dois processos antitéticos também engloba como movimento próprio do dinheiro sempre o mesmo processo a sua troca de lugar com uma mercadoria sempre distinta O resultado da circulação de mercadorias a substituição de uma mercadoria por outra não parece ser mediado por sua própria mudança de forma mas pela função do dinheiro como meio de circulação que faz circular mercadorias que por si mesmas são imóveis transferindoas das mãos em que elas são nãovalores de uso para as mãos em que elas são valores de uso e nesse processo movendose sempre em sentido contrário ao seu próprio curso O dinheiro remove constantemente as mercadorias da esfera da circulação assumindo seus lugares e assim distanciandose 149 de seu próprio ponto de partida Por essa razão embora o movimento do dinheiro seja apenas a expressão da circulação de mercadorias é esta última que ao contrário aparece simplesmente como resultado do movimento do dinheiro75 Por outro lado o dinheiro só desempenha a função de meio de circulação por ser o valor autonomizado das mercadorias Razão pela qual seu movimento como meio de circulação é na verdade apenas o movimento próprio da forma delas Por isso tal movimento tem também de se refletir sensivelmente no curso do dinheiro Por exemplo o linho transforma primeiramente sua formamercadoria em sua forma dinheiro O último extremo de sua primeira metamorfose MD a formadinheiro tornase então o primeiro extremo de sua última metamorfose DM sua reconversão na Bíblia Mas cada uma dessas duas mudanças de forma operase por meio de uma troca entre mercadoria e dinheiro por sua troca mútua de lugar As mesmas peças monetárias chegam às mãos do vendedor como figura alienada entäusserte da mercadoria e deixam suas mãos como figura absolutamente alienável veräusserliche da mercadoria Elas trocam duas vezes de lugar A primeira metamorfose do linho traz essas peças monetárias para o bolso do tecelão a segunda retiraas de seu bolso As duas mudanças antitéticas de forma da mesma mercadoria se refletem assim na dupla troca de lugar do dinheiro que ocorre em sentidos contrários Se ao contrário há apenas metamorfoses unilaterais das mercadorias seja a simples venda ou a simples compra o mesmo dinheiro também só troca de lugar uma única vez Sua segunda troca de lugar expressa sempre a segunda metamorfose da mercadoria sua reconversão em dinheiro A frequente repetição da troca de lugar das mesmas peças monetárias reflete não apenas a série de metamorfoses de uma única mercadoria mas também o entrelaçamento das inúmeras metamorfoses que ocorrem no mundo das mercadorias em geral De resto é absolutamente evidente que tudo isso vale apenas para a forma da circulação simples de mercadorias que aqui examinamos Toda mercadoria em seu primeiro passo na circulação ao sofrer sua primeira mudança de forma sai de circulação e dá lugar a uma nova mercadoria Ao contrário o dinheiro como meio de circulação habita continuamente a esfera da circulação e transita sempre no seu interior Surge então a questão de quanto dinheiro essa esfera constantemente absorve Num país ocorrem todos os dias ao mesmo tempo e de modo contíguo numerosas metamorfoses unilaterais de mercadorias ou em outras palavras simples vendas de um lado simples compras de outro Em seus preços as mercadorias são previamente igualadas a determinadas quantidades representadas de dinheiro E como a forma imediata de circulação aqui considerada contrapõe sempre a mercadoria ao dinheiro de modo palpável a primeira no polo da venda o segundo no polo da compra concluímos que a massa de meios de circulação requerida para o processo de circulação do mundo das mercadorias é determinada de antemão pela soma dos preços das mercadorias Na verdade o dinheiro não faz mais do que representar realmente a quantidade de ouro que já está expressa idealmente na soma dos preços das mercadorias Por isso é evidente a igualdade dessas duas somas Sabemos no entanto que mantendose constantes os valores das mercadorias seus preços variam de acordo com o valor do ouro do material do dinheiro aumentando na proporção 150 em que ele diminui e diminuindo na proporção em que ele aumenta Assim conforme a soma dos preços das mercadorias aumente ou diminua também a quantidade de dinheiro em circulação tem de aumentar ou diminuir na mesma medida De fato a variação na quantidade do meio de circulação surge aqui do próprio dinheiro mas não de sua função como meio de circulação e sim de sua função como medida de valor Primeiramente o preço das mercadorias varia em proporção inversa ao valor do dinheiro em segundo lugar a quantidade de meio de circulação varia em proporção direta ao preço das mercadorias O mesmo fenômeno ocorreria se por exemplo em vez da queda do valor do ouro tivéssemos a sua substituição pela prata como medida de valor ou se em vez de a prata aumentar seu valor o ouro lhe tomasse sua função de medida de valor No primeiro caso seria preciso haver mais prata em circulação do que havia ouro anteriormente no segundo mais ouro do que prata Em ambos os casos terseia alterado o valor do material do dinheiro isto é o valor da mercadoria que funciona como medida dos valores e por conseguinte o valor da expressão de preço dos valores das mercadorias assim como a quantidade de dinheiro que circula e serve à realização desses preços Vimos que a esfera da circulação das mercadorias tem uma abertura através da qual o ouro ou a prata em suma o material do dinheiro nela adentra como mercadoria de um dado valor Esse valor é pressuposto na função do dinheiro como medida de valor e portanto com a determinação do preço Se por exemplo diminui o valor da própria medida de valor isso se manifesta primeiramente na variação de preço daquelas mercadorias que na fonte de produção dos metais preciosos são trocadas imediatamente por eles como mercadorias Especialmente em condições menos desenvolvidas da sociedade burguesa ocorre que uma grande parte de todas as outras mercadorias continua por mais tempo a ser estimada de acordo com o valor da antiga medida de valor tornado obsoleto e ilusório Ocorre que uma mercadoria contagia a outra por meio da relação de valor entre elas de modo que seus preços expressos em ouro ou em prata são gradualmente equalizados nas proporções determinadas por seus próprios valores até que por fim os valores de todas as mercadorias são estimados de acordo com o novo valor do metal monetário Esse processo de equalização é acompanhado pelo aumento contínuo dos metais preciosos que afluem em substituição às mercadorias que por eles são diretamente trocadas Assim na mesma medida em que se universaliza o processo de conferir às mercadorias seus preços corretos ou em que seus valores são estimados de acordo com o valor até certo ponto decrescente do metal já está dada de antemão a quantidade de metal necessária para a realização desses novos preços No século XVI I e principalmente no século XVI I I uma observação unilateral dos fatos que se seguiram à descoberta das novas fontes de ouro e prata levou à conclusão equivocada de que os preços das mercadorias haviam aumentado pelo fato de que uma quantidade maior de ouro e prata havia passado a funcionar como meio de circulação Daqui em diante pressuporemos o valor do ouro tal como ele está efetivamente dado no momento da determinação do preço de uma mercadoria Sob esse pressuposto pois a quantidade do meio de circulação é determinada pela soma dos preços das mercadorias a serem realizados Além disso se pressupomos como dado o preço de todo tipo de mercadoria a soma dos preços das mercadorias 151 depende nitidamente da quantidade de mercadorias que se encontra em circulação Não é preciso quebrar muito a cabeça para compreender que se 1 quarter de trigo custa 2 então 100 quarters custam 200 200 quarters 400 etc de modo que com a quantidade do trigo cresce também a quantidade de dinheiro que troca de lugar com ele em sua venda Uma vez pressuposta como dada a quantidade de mercadorias a quantidade do dinheiro em circulação varia de acordo com as flutuações nos preços das mercadorias Ela aumenta ou diminui na proporção em que a soma dos preços das mercadorias sobem ou caem em consequência da variação desses preços Mas não é de modo nenhum necessário que os preços de todas as mercadorias subam ou caiam ao mesmo tempo O aumento dos preços de um dado número de artigos mais importantes num caso ou sua diminuição num outro é o bastante para elevar ou diminuir a soma dos preços de todas as mercadorias e portanto para pôr mais ou menos dinheiro em circulação Se a variação nos preços das mercadorias reflete uma variação efetiva de valor ou meras flutuações nos preços de mercado o efeito sobre a quantidade do meio de circulação permanece o mesmo Suponha um número de vendas ou de metamorfoses parciais que ocorrem de modo conjunto simultâneo e desse modo espacialmente contíguo como as vendas de 1 quarter de trigo 20 braças de linho 1 Bíblia e 4 galõesj de aguardente Se o preço de cada artigo é 2 e portanto a soma dos preços a serem realizados é 8 então é preciso que uma quantidade de dinheiro de 8 entre em circulação Se ao contrário as mesmas mercadorias constituem elos da série de metamorfoses que já nos é conhecida 1 quarter de trigo 2 20 braças de linho 2 1 Bíblia 2 4 galões de aguardente 2 então 2 faz com que as diferentes mercadorias circulem uma atrás da outra realizando seus preços sucessivamente e com isso também a soma de seus preços 8 até que por fim encontrem seu repouso nas mãos do destilador As 2 percorrem assim 4 cursos Essa mudança repetida de posição das mesmas peças monetárias representa a dupla mudança de forma da mercadoria seu movimento através de dois estágios antitéticos da circulação e o entrelaçamento das metamorfoses de diferentes mercadorias76 As fases antitéticas e reciprocamente complementares que esse processo percorre não podem se justapor no espaço mas apenas se suceder no tempo Os intervalos de tempo formam assim a medida de sua duração ou seja o número de cursos que as mesmas peças monetárias percorrem num dado tempo mede a velocidade da circulação do dinheiro Suponha que o processo de circulação daquelas quatro mercadorias dure um dia Assim a soma dos preços a serem realizados no dia é 8 o número dos cursos das mesmas peças monetárias durante o dia é 4 e a quantidade do dinheiro em circulação é 2 ou para um dado intervalo de tempo do processo de circulação soma dos preços das mercadoriasnúmeros de cursos das mesmas peças monetárias quantidade do dinheiro que funciona como meio de circulação O processo de circulação de um país num dado intervalo de tempo compreende sem dúvida muitas vendas ou compras ou metamorfoses parciais dispersas simultâneas e espacialmente contíguas nas quais as mesmas peças monetárias trocam de lugar apenas uma vez ou completam apenas um curso mas também compreende por outro lado muitas séries de metamorfoses mais ou menos encadeadas em parte adjacentes 152 em parte entrelaçadas nas quais as mesmas peças monetárias perfazem um número maior ou menor de cursos Porém o número total dos cursos de todas as peças monetárias que se encontram em circulação expressa o número médio dos cursos da peça monetária individual ou a velocidade média do curso do dinheiro A quantidade de dinheiro lançada por exemplo no começo do processo diário de circulação é naturalmente determinada pela soma dos preços das mercadorias que circulam de modo simultâneo e contíguo Mas no interior do processo uma peça monetária se torna por assim dizer responsável pela outra Se uma acelera sua velocidade de circulação ela retarda a velocidade da outra ou sai inteiramente da esfera da circulação pois esta pode absorver apenas uma dada quantidade de ouro que multiplicada pelo número de cursos de cada um de seus elementos singulares é igual à soma dos preços a serem realizados Assim aumentando o número de cursos das peças monetárias diminui sua quantidade em circulação Diminuindo o número de seus cursos sua quantidade aumenta Porque a quantidade de dinheiro que pode funcionar como meio de circulação é determinada por certa velocidade média de curso da moeda basta pôr em circulação uma determinada quantidade de notas de 1 para tirar de circulação a mesma quantia de sovereignsk um truque bem conhecido de todos os bancos Assim como no curso do dinheiro em geral aparece apenas o processo de circulação das mercadorias isto é sua passagem por uma série de metamorfoses contrárias também na velocidade do curso do dinheiro aparece apenas a velocidade de sua mudança de forma o entrelaçamento contínuo das séries de metamorfoses a pressa do metabolismo a rápida desaparição das mercadorias da esfera da circulação e sua igualmente rápida substituição por novas mercadorias Na velocidade do curso do dinheiro se manifesta portanto a unidade fluida das fases contrárias e mutuamente complementares a conversão da figura de uso em figura de valor e a reconversão da figura de valor em figura de uso ou os dois processos da venda e da compra I nversamente na desaceleração do curso do dinheiro manifestase a dissociação e a autonomização antitética desses processos a estagnação da mudança de forma e com isso do metabolismo De onde provém essa estagnação é algo que naturalmente a própria circulação não nos informa Ela se limita a mostrar o fenômeno razão pela qual o senso comum que com a desaceleração do curso do dinheiro vê o dinheiro aparecer e desaparecer com menos frequência em todos os pontos periféricos da circulação atribui o fenômeno à quantidade insuficiente do meio de circulação77 A quantidade total do dinheiro que funciona como meio de circulação em cada período é portanto determinada por um lado pela soma dos preços do mundo de mercadorias em circulação e por outro pelo fluxo mais lento ou mais rápido de seus processos antitéticos de circulação Da velocidade desse fluxo depende a proporção em que aquela soma de preços pode ser realizada por cada peça monetária singular Mas a soma dos preços das mercadorias depende tanto da quantidade quanto dos preços de cada tipo de mercadoria Além disso os três fatores o movimento dos preços a quantidade de mercadorias em circulação e por fim a velocidade do curso do dinheiro podem variar em diferentes sentidos e diferentes proporções de modo que a soma dos preços a realizar e a quantidade dos meios de circulação por ela condicionada podem 153 se apresentar em inúmeras combinações Enumeramos a seguir apenas as combinações mais importantes na história dos preços das mercadorias Quando os preços das mercadorias permanecem constantes a quantidade do meio de circulação pode aumentar em consequência do aumento da quantidade de mercadorias em circulação da diminuição da velocidade do curso do dinheiro ou da combinação de ambos A quantidade do meio de circulação pode ao contrário diminuir em razão da quantidade decrescente de mercadorias ou da velocidade crescente da circulação Com um aumento geral nos preços das mercadorias a quantidade do meio de circulação pode permanecer constante desde que a quantidade das mercadorias em circulação diminua na mesma proporção em que aumentam seus preços ou que a velocidade do curso do dinheiro aumente tanto quanto aumentam seus preços mantendose constante a quantidade das mercadorias em circulação A quantidade do meio de circulação pode diminuir seja porque a quantidade de mercadorias tornase menor seja porque a velocidade do curso tornase maior do que os preços Ocorrendo uma baixa geral dos preços das mercadorias a quantidade de meios de circulação pode permanecer igual se a massa de mercadorias crescer na mesma proporção em que o seu preço baixa ou se a velocidade do curso do dinheiro diminuir na mesma proporção que os preços Ela pode crescer no caso de a quantidade de mercadorias crescer mais rapidamente ou se a velocidade de circulação diminuir mais rapidamente do que a queda dos preços das mercadorias As variações dos diferentes fatores podem se compensar mutuamente de modo que não obstante sua contínua instabilidade a quantidade total dos preços das mercadorias a serem realizados permaneça constante e com ela também o volume de dinheiro em circulação É por isso que especialmente na observação de períodos mais longos encontramos um nível médio mais constante do volume de dinheiro em circulação em cada país e muito menos desvios desse nível médio do que poderíamos esperar à primeira vista com exceção de fortes perturbações que surgem periodicamente das crises da produção e do comércio ou mais raramente de uma flutuação no valor do dinheiro A lei segundo a qual a quantidade do meio de circulação é determinada pela soma dos preços das mercadorias em circulação e pela velocidade média do curso do dinheiro78 também pode ser expressa dizendose que considerandose uma dada soma de valor das mercadorias e uma dada velocidade média de suas metamorfoses o volume de dinheiro ou do material do dinheiro em movimento depende de seu próprio valor Ao contrário a ilusão de que os preços das mercadorias são determinados pela quantidade do meio de circulação e de que esta última é por sua vez determinada pela quantidade de material de dinheiro que se encontra num país79 tem suas raízes em seus primeiros representantes na hipótese absurda de que ao entrarem em circulação as mercadorias não possuem preços e o dinheiro não possui valor de modo que uma parte alíquota do mingau das mercadorias é trocada por uma parte alíquota da montanha de metais80 c A moeda O signo do valor 154 Da função do dinheiro como meio de circulação deriva sua figura como moeda A fração de peso do ouro representada no preço ou na denominação monetária das mercadorias tem de se defrontar com estas na circulação como peças ou moedas de ouro de mesmo nome Assim como a determinação do padrão dos preços também a cunhagem de moedas é tarefa que cabe ao Estado Nos diferentes uniformes nacionais que o ouro e a prata vestem mas dos quais voltam a se despojar no mercado mundial manifestase a separação entre as esferas internas ou nacionais da circulação das mercadorias e a esfera universal do mercado mundial As moedas de ouro e o ouro em barras diferenciamse assim apenas por sua fisionomia e o ouro pode ser constantemente transformado de uma forma em outra81 O caminho pelo qual a moeda deixa a cunhagem é o mesmo que a leva ao forno de fundição Pois na circulação as moedas de ouro se desgastam umas mais outras menos Título de ouro e substância de ouro conteúdo nominal e conteúdo real iniciam seu processo de separação Moedas de ouro de mesma denominação passam a ter valores diferentes pois diferem em seu peso O ouro como meio de circulação diverge do ouro como padrão dos preços e com isso deixa também de ser o equivalente efetivo das mercadorias cujos preços ele realiza A história dessas confusões forma a história monetária da I dade Média e da época moderna até o século XVI I I A tendência naturalespontânea do processo de circulação de transformar o ser ouro Goldsein da moeda em aparência de ouro ou de converter a moeda num símbolo de seu conteúdo metálico oficial é reconhecida pelas leis mais modernas que fixam o grau de perda do metal suficiente para invalidar ou desmonetizar uma moeda de ouro Se o próprio curso do dinheiro separa o conteúdo real da moeda de seu conteúdo nominal sua existência metálica de sua existência funcional ele traz consigo de modo latente a possibilidade de substituir o dinheiro metálico por moedas de outro material ou por símbolos As dificuldades de cunhagem de moedas muito pequenas de ouro ou de prata e a circunstância de que metais inferiores foram originalmente usados como medida de valor no lugar dos metais de maior valor prata em vez de ouro cobre em vez de prata e desse modo circularam até serem destronados pelos metais mais preciosos esclarecem historicamente o papel das moedas de prata e cobre como substitutas das moedas de ouro Tais metais substituem o ouro naquelas esferas da circulação das mercadorias em que a moeda circula com mais rapidez e por isso inutilizase de modo mais rápido isto é onde as compras e as vendas se dão continuamente numa escala muito pequena Para impedir que esses metais satélites tomem definitivamente o lugar do ouro determinamse por lei as proporções muito ínfimas em que eles podem ser usados no lugar desse metal Naturalmente as esferas particulares em que circulam os diferentes tipos de moedas penetramse reciprocamente A moeda divisionária é introduzida paralelamente ao ouro para o pagamento de frações da moeda de ouro de menor valor o ouro entra constantemente na circulação varejista porém é igualmente dela retirado mediante sua troca por moedas divisionárias82 O peso metálico das senhas Marken de prata ou de cobre é determinado arbitrariamente pela lei Em seu curso elas se desgastam ainda mais rapidamente do que as moedas de ouro De modo que sua função como moeda se torna na prática 155 totalmente independente de seu peso isto é de todo valor Assim a existência do ouro como moeda se separa radicalmente de sua substância de valor Coisas relativamente sem valor como notas de papel podem portanto funcionar como moeda em seu lugar Nas senhas metálicas o caráter puramente simbólico ainda se encontra de certo modo escondido No papelmoeda ele se mostra com toda evidência Como se vê ce nest que le premier pas que coûte difícil é apenas o primeiro passo Tratase aqui apenas de papelmoeda emitido pelo Estado e de circulação compulsória Ele surge imediatamente da circulação metálica O dinheiro creditício Kreditgeld implica por outro lado condições que nos são totalmente desconhecidas do ponto de vista da circulação simples de mercadorias Cabe apenas observar de passagem que assim como o papelmoeda surge da função do dinheiro como meio de circulação também o dinheiro creditício possui suas raízes naturaisespontâneas na função do dinheiro como meio de pagamento83 Cédulas de dinheiro nas quais se imprimem denominações monetárias como 1 5 etc são lançadas no processo de circulação a partir de fora pelo Estado Enquanto circulam realmente em lugar da quantidade de ouro de mesma denominação elas não fazem mais do que refletir em seu movimento as leis do próprio curso do dinheiro Uma lei específica da circulação das cédulas de dinheiro só pode surgir de sua relação de representação com o ouro E tal lei é simplesmente aquela que diz que a emissão de papelmoeda deve ser limitada à quantidade de ouro ou prata simbolicamente representada pelas cédulas que teria efetivamente de circular É verdade que a quantidade de ouro que a esfera da circulação é capaz de absorver oscila constantemente acima ou abaixo de certo nível médio Mas o volume do meio de circulação num dado país jamais diminui abaixo de um certo mínimo facilmente fixado pela experiência Que essa quantidade mínima mude constantemente seus componentes isto é que ela seja sempre substituída por outras peças de ouro não altera em nada sua grandeza e seu movimento constante na esfera da circulação Desse modo ela pode ser substituída por símbolos de papel Se hoje todos os canais da circulação fossem preenchidos com papelmoeda até o máximo de sua capacidade de absorção amanhã eles poderiam ter esse limite excedido em virtude das oscilações da circulação das mercadorias Perderseia então toda medida Mas se o papelmoeda ultrapassasse a sua medida isto é a quantidade de moedas de ouro da mesma denominação que poderia estar em circulação ele representaria abstraindo do perigo de descrédito geral apenas a quantidade de ouro determinada pelas leis da circulação das mercadorias portanto apenas a quantidade de ouro que pode ser representada pelo papelmoeda Se a quantidade total de cédulas de papel passasse a representar por exemplo 2 onças de ouro em vez de 1 onça então 1 se tornaria por exemplo a denominação monetária de 18 de onça de em vez de 14 O efeito seria o mesmo que se obteria caso o ouro sofresse uma alteração em sua função como medida dos preços Os mesmos valores que antes se expressavam no preço de 1 seriam agora expressos no preço de 2 O papelmoeda é signo do ouro ou signo de dinheiro Sua relação com os valores das mercadorias consiste apenas em que estes estão idealmente expressos nas mesmas quantidades de ouro simbólica e sensivelmente representadas pelo papel O dinheiro 156 de papel só é signo de valor na medida em que representa quantidades de ouro que como todas as outras mercadorias são também quantidades de valor84 Perguntase por fim como pode o ouro ser substituído por simples signos de si mesmo destituídos de valor Porém como vimos ele só é substituível na medida em que é isolado ou autonomizado em sua função como moeda ou meio de circulação Ora a autonomização dessa função não ocorre com todas as moedas de ouro singulares embora ela se manifeste nas moedas desgastadas que continuam a circular Cada peça de ouro é simples moeda ou meio de circulação apenas na medida em que circula efetivamente Todavia o que não vale para as moedas de ouro singulares vale para a quantidade mínima de ouro que é substituível por papelmoeda Ela permanece constantemente na esfera da circulação funciona continuamente como meio de circulação e assim existe exclusivamente como portadora dessa função Seu movimento expressa portanto a alternância contínua dos processos antitéticos da metamorfose das mercadorias MDM na qual a mercadoria se confronta com sua figura de valor apenas para voltar a desaparecer imediatamente A existência autônoma do valor de troca da mercadoria é aqui apenas um momento fugaz Logo em seguida ela é substituída por outra mercadoria De modo que a mera existência simbólica do dinheiro é o suficiente nesse processo que o faz passar de uma mão a outra Sua existência funcional absorve por assim dizer sua existência material Como reflexo objetivo e transiente dos preços das mercadorias ele funciona apenas como signo de si mesmo podendo por isso ser substituído por outros signos85 Mas o signo do dinheiro necessita de sua própria validade objetivamente social e esta é conferida ao símbolo de papel por meio de sua circulação forçada Essa obrigação estatal vale apenas no interior dos limites de uma comunidade ou na esfera da circulação interna mas é somente aqui que o dinheiro corresponde plenamente à sua função de meio de circulação ou de moeda e pode assim assumir no papelmoeda um modo de existência meramente funcional apartado de sua substância metálica 3 Dinheiro A mercadoria que funciona como medida de valor e desse modo também como meio de circulação seja em seu próprio corpo ou por meio de um representante é dinheiro O ouro ou a prata é portanto dinheiro Ele funciona como dinheiro por um lado quando tem de aparecer em sua própria corporeidade dourada ou prateada isto é como mercadoriadinheiro nem de modo meramente ideal como em sua função de medida de valor nem como capaz de ser representado como em sua função de meio de circulação por outro lado quando em virtude de sua função seja ela realizada em sua própria pessoa ou por um representante ele se fixa exclusivamente na figura de valor a única forma adequada de existência do valor de troca em oposição a todas as outras mercadorias como meros valores de uso a Entesouramento O contínuo movimento cíclico das duas metamorfoses contrapostas da mercadoria ou a alternância constante entre a venda e a compra se manifesta no ininterrupto curso do 157 dinheiro ou em sua função como perpetuum mobile móvel perpétuo da circulação Mas assim que se interrompem as séries de metamorfoses e a venda deixa de ser suplementada pela compra subsequente ele é imobilizado ou como diz Boisguillebert transformase de meuble em immeuble móvel em imóvel de moeda em dinheiro Com o primeiro desenvolvimento da circulação das mercadorias desenvolvese também a necessidade e a paixão de reter o produto da primeira metamorfose a figura transformada da mercadoria ou sua crisálida de ouro86 A mercadoria é vendida não para comprar mercadoria mas para substituir a formamercadoria pela forma dinheiro De simples meio do metabolismo essa mudança de forma convertese em fim de si mesma A figura alienada entäusserte da mercadoria é impedida de funcionar como sua figura absolutamente alienável veräusserliche ou como sua formadinheiro apenas evanescente Com isso o dinheiro se petrifica em tesouro e o vendedor de mercadorias se torna um entesourador Nos estágios iniciais da circulação das mercadorias apenas o excedente de valores de uso é transformado em dinheiro O ouro e a prata se tornam por si mesmos expressões sociais da superfluidade ou da riqueza Essa forma ingênua de entesouramento se eterniza em povos em que o modo de produção tradicional e orientado à autossubsistência corresponde a um círculo rigidamente fechado de necessidades É o caso dos asiáticos sobretudo dos indianos Vanderlint que fantasia que os preços das mercadorias sejam determinados pela massa do ouro e da prata existente num país perguntase por que as mercadorias indianas são tão baratas A resposta é porque os indianos enterram seu dinheiro Ele observa que de 1602 a 1734 eles enterraram 150 milhões em prata vindas originariamente da América para a Europa87 De 1856 a 1866 portanto em dez anos a I nglaterra exportou para a Índia e a China grande parte do metal exportado para a China flui de volta para a Índia 120 milhões em prata que anteriormente fora trocada por ouro australiano À medida que a produção de mercadorias se desenvolve todo produtor de mercadorias tem de assegurarse do nervus rerum do penhor social88 Suas necessidades se renovam incessantemente e requerem a compra incessante de mercadorias alheias ao passo que a produção e a venda de suas próprias mercadorias demandam tempo e dependem das circunstâncias Para comprar sem vender ele tem antes de ter vendido sem comprar Essa operação realizada em escala universal parece contradizer a si mesma Porém em suas fontes de produção os metais preciosos são trocados diretamente por outras mercadorias Aqui ocorre a venda do lado do possuidor de mercadorias sem a compra do lado do possuidor de ouro e prata89 E vendas subsequentes sem serem seguidas por compras têm como efeito apenas a distribuição ulterior dos metais preciosos entre todos os possuidores de mercadorias Desse modo em todos os pontos do intercâmbio surgem tesouros de ouro e prata dos mais variados tamanhos Com a possibilidade de reter a mercadoria como valor de troca ou o valor de troca como mercadoria surge a cobiça pelo ouro Com a expansão da circulação das mercadorias cresce o poder do dinheiro a forma absolutamente social da riqueza sempre pronta para o uso O ouro é uma coisa maravilhosa Quem o possui é senhor de tudo o que deseja 158 Com o ouro podese até mesmo conduzir as almas ao paraíso Colombo em sua carta da Jamaica 1503 Como no dinheiro não se pode perceber o que foi nele transformado tudo seja mercadoria ou não transformase em dinheiro Tudo se torna vendável e comprável A circulação se torna a grande retorta social na qual tudo é lançado para dela sair como cristal de dinheiro A essa alquimia não escapam nem mesmo os ossos dos santos e menos ainda as mais delicadas res sacrosanctae extra commercium hominum coisas sagradas que não são objeto do comércio dos homens90 Como no dinheiro está apagada toda diferença qualitativa entre as mercadorias também ele por sua vez apaga como leveller radical todas as diferenças91 Mas o dinheiro é ele próprio uma mercadoria uma coisa externa que pode se tornar a propriedade privada de qualquer um Assim a potência social tornase potência privada da pessoa privada A sociedade antiga o denuncia por isso como a moeda da discórdia de sua ordem econômica e moral92 A sociedade moderna que já na sua infância arrancou Pluto das entranhas da terra pelos cabelos93 saúda no Graal de ouro a encarnação resplandecente de seu princípio vital mais próprio A mercadoria como valor de uso satisfaz a uma necessidade particular e constitui um elemento particular da riqueza material Todavia o valor da mercadoria mede o grau de sua força de atração sobre todos os elementos da riqueza material e portanto a riqueza social de seu possuidor Para um possuidor de mercadorias barbaramente simples e mesmo para um camponês da Europa Ocidental o valor é inseparável da forma de valor e por isso o aumento do tesouro de ouro e prata é para ele aumento de valor No entanto o valor do dinheiro aumenta seja em consequência de sua própria variação de valor seja em consequência da variação do valor das mercadorias Mas isso não impede por um lado que 200 onças de ouro continuem a conter mais valor que 100 300 mais que 200 etc ou que por outro lado a forma metálica natural dessa coisa continue a ser a forma de equivalente geral de todas as mercadorias a encarnação diretamente social de todo trabalho humano O impulso para o entesouramento é desmedido por natureza Seja qualitativamente seja segundo sua forma o dinheiro é desprovido de limites quer dizer ele é o representante universal da riqueza material pois pode ser imediatamente convertido em qualquer mercadoria Ao mesmo tempo porém toda quantia efetiva de dinheiro é quantitativamente limitada sendo por isso apenas um meio de compra de eficácia limitada Tal contradição entre a limitação quantitativa e a ilimitação qualitativa do dinheiro empurra constantemente o entesourador de volta ao trabalho de Sísifo da acumulação Com ele ocorre o mesmo que com o conquistador do mundo que com cada novo país conquista apenas mais uma fronteira a ser transposta Para reter o ouro como dinheiro e desse modo como elemento do entesouramento ele tem de ser impedido de circular ou de se dissolver como meio de compra em meio de fruição Ao fetiche do ouro o entesourador sacrifica assim seu prazer carnal Ele segue à risca o evangelho da renúncia Por outro lado ele só pode retirar da circulação na forma de dinheiro aquilo que ele nela colocou na forma de mercadorias Quanto mais ele produz tanto mais ele pode vender Trabalho árduo parcimônia e avareza constituem assim suas virtudes cardeais e vender muito e 159 comprar pouco são a suma de sua economia política94 A forma imediata do tesouro é acompanhada de sua forma estética a posse de mercadorias de ouro e prata Tal posse aumenta com a riqueza da sociedade civil Soyons riches ou paraissons riches Sejamos ou pareçamos ricosl Assim se forma por um lado um mercado cada vez mais ampliado para o ouro e a prata independentemente de suas funções como dinheiro e por outro uma fonte latente de oferta de dinheiro que flui principalmente em períodos de convulsão social O entesouramento cumpre diferentes funções na economia da circulação metálica A função mais imediata deriva das condições de circulação das moedas de ouro e de prata Vimos que a quantidade de dinheiro em circulação sofre altas e baixas em razão das oscilações constantes que a circulação das mercadorias apresenta quanto à sua extensão seus preços e sua velocidade Portanto ela tem de ser capaz de contração e expansão Ora o dinheiro tem de ser atraído como moeda ora é preciso repelilo Para que a quantidade de dinheiro efetivamente corrente possa saturar constantemente o poder de absorção da esfera da circulação é necessário que a quantidade de ouro ou prata num país seja maior que a quantidade absorvida pela função monetária Essa condição é satisfeita pela forma que o dinheiro assume como tesouro As reservas servem ao mesmo tempo como canais de afluxo e refluxo do dinheiro em circulação o qual assim regulado jamais extravasa seus canais de circulação95 b Meio de pagamento Na forma imediata da circulação de mercadorias que consideramos até o momento a mesma grandeza de valor esteve presente sempre de um modo duplo como mercadorias num polo e como dinheiro no outro Os possuidores de mercadorias portanto só entravam em contato entre si como representantes de equivalentes mutuamente existentes Mas com o desenvolvimento da circulação das mercadorias desenvolvemse condições por meio das quais a alienação da mercadoria é temporalmente apartada da realização de seu preço Basta aqui indicar a mais simples dessas condições Para ser produzido um tipo de mercadoria requer mais tempo e outro menos A produção de diferentes mercadorias está ligada a diferentes estações do ano Uma mercadoria é feita para um mercado local ao passo que outra tem de ser transportada até um mercado distante Por conseguinte um possuidor de mercadorias pode surgir como vendedor antes que o outro se apresente como comprador Com a repetição constante das mesmas transações entre as mesmas pessoas as condições de venda das mercadorias regulamse de acordo com suas condições de produção Por outro lado a utilização de certos tipos de mercadorias como uma casa é vendida por um período de tempo determinado Somente após o término desse prazo o comprador obtém efetivamente o valor de uso da mercadoria Ele a compra portanto antes de têla pagado Um possuidor de mercadorias vende mercadorias que já existem o outro compra como mero representante do dinheiro ou como representante de dinheiro futuro O vendedor se torna credor e o comprador devedor Como aqui se altera a metamorfose da mercadoria ou o desenvolvimento de sua forma de valor também o dinheiro recebe outra função Tornase meio de 160 pagamento96 O papel de credor ou devedor resulta aqui da circulação simples de mercadorias Sua modificação de forma imprime no vendedor e no comprador esse novo rótulo I nicialmente tratase de papéis tão evanescentes e alternadamente desempenhados pelos mesmos agentes da circulação como os de vendedor e de comprador Mas agora a antítese parece menos cômoda e suscetível de uma maior cristalização97 Os mesmos personagens também podem se apresentar em cena independentemente da circulação de mercadorias A luta de classes no mundo antigo por exemplo apresentase fundamentalmente sob a forma de uma luta entre credores e devedores e concluise em Roma com a ruína do devedor plebeu que é substituído pelo escravo Na I dade Média a luta tem fim com a derrocada do devedor feudal que perde seu poder político juntamente com sua base econômica Entretanto a formadinheiro e a relação entre credor e devedor possui a forma de uma relação monetária reflete aqui apenas o antagonismo entre condições econômicas de existência mais profundas Voltemos à esfera da circulação de mercadorias Deixou de existir a aparição simultânea dos equivalentes mercadoria e dinheiro nos dois polos do processo da venda Agora o dinheiro funciona primeiramente como medida de valor na determinação do preço da mercadoria vendida Seu preço estabelecido por contrato mede a obrigação do comprador isto é a soma de dinheiro que ele deve pagar num determinado prazo Em segundo lugar funciona como meio ideal de compra Embora exista apenas na promessa de dinheiro do comprador ele opera na troca de mãos da mercadoria É apenas no vencimento do prazo que o meio de pagamento entra efetivamente em circulação isto é passa das mãos do comprador para as do vendedor O meio de circulação converteuse em tesouro porque o processo de circulação se interrompeu logo após a primeira fase ou porque a figura transformada da mercadoria foi retirada de circulação O meio de pagamento entra na circulação mas depois que a mercadoria já saiu dela O dinheiro não medeia mais o processo Ele apenas o conclui de modo independente como forma de existência absoluta do valor de troca ou mercadoria universal O vendedor converteu mercadoria em dinheiro a fim de satisfazer uma necessidade por meio do dinheiro o entesourador para preservar a mercadoria na formadinheiro o devedor para poder pagar Se ele não paga seus bens são confiscados e vendidos A figura de valor da mercadoria o dinheiro tornase agora o fim próprio da venda e isso em virtude de uma necessidade social que deriva do próprio processo de circulação O comprador volta a transformar dinheiro em mercadoria antes de ter transformado mercadoria em dinheiro ou efetua a segunda metamorfose das mercadorias antes da primeira A mercadoria do vendedor circula realiza seu preço porém apenas na forma de um título de direito privado que garante a obtenção futura do dinheiro Ela se converte em valor de uso antes de se ter convertido em dinheiro A consumação de sua primeira metamorfose se dá apenas posteriormente98 Em cada fração de tempo do processo de circulação as obrigações vencidas representam a soma de preços das mercadorias cuja venda gerou aquelas obrigações A quantidade de dinheiro necessária à realização dessa soma de preços depende inicialmente da velocidade do curso dos meios de pagamento Ela é condicionada por 161 duas circunstâncias o encadeamento das relações entre credor e devedor de modo que A que recebe dinheiro de seu devedor B paga ao seu credor C etc e a distância temporal que separa os dois prazos de pagamento A cadeia de pagamentos em processo ou das primeiras e posteriores metamorfoses distinguese essencialmente do entrelaçamento das séries de metamorfoses de que tratamos anteriormente No curso do meio de circulação a conexão entre vendedores e compradores não é apenas expressa A própria conexão tem sua origem no curso do dinheiro e só existe em seu interior O movimento do meio de pagamento ao contrário exprime uma conexão social que já estava dada antes dele A simultaneidade e a justaposição das compras limitam a substituição das moedas em virtude da velocidade da circulação Elas constituem inversamente uma nova alavanca na economia dos meios de pagamento Com a concentração dos pagamentos no mesmo lugar desenvolvemse espontaneamente instituições e métodos próprios para sua liquidação Assim por exemplo os virements transferências na Lyon medieval As dívidas de A para com B de B para com C de C para com A e assim por diante precisam apenas ser confrontadas umas com as outras para que se anulem mutuamente até um determinado grau como grandezas positivas e negativas Resta assim apenas um saldo devedor a compensar Quanto maior for a concentração de pagamentos menor será esse saldo e portanto a quantidade dos meios de pagamento em circulação A função do dinheiro como meio de pagamento traz em si uma contradição direta Na medida em que os pagamentos se compensam ele funciona apenas idealmente como moeda de conta Rechengeld ou medida dos valores Quando se trata de fazer um pagamento efetivo o dinheiro não se apresenta como meio de circulação como mera forma evanescente e mediadora do metabolismo mas como a encarnação individual do trabalho social existência autônoma do valor de troca mercadoria absoluta Essa contradição emerge no momento das crises de produção e de comércio conhecidas como crises monetárias99 Ela ocorre apenas onde a cadeia permanente de pagamentos e um sistema artificial de sua compensação encontramse plenamente desenvolvidos Ocorrendo perturbações gerais nesse mecanismo venham elas de onde vierem o dinheiro abandona repentina e imediatamente sua figura puramente ideal de moeda de conta e convertese em dinheiro vivo Ele não pode mais ser substituído por mercadorias profanas O valor de uso da mercadoria se torna sem valor e seu valor desaparece diante de sua forma de valor própria Ainda há pouco o burguês com a típica arrogância pseudoesclarecida de uma prosperidade inebriante declarava o dinheiro como uma loucura vã Apenas a mercadoria é dinheiro Mas agora se clama por toda parte no mercado mundial apenas o dinheiro é mercadoria Assim como o cervo brame por água fresca também sua alma brame por dinheiro a única riquezam 100 Na crise a oposição entre a mercadoria e sua figura de valor o dinheiro é levada até a contradição absoluta Por isso a forma de manifestação do dinheiro é aqui indiferente A fome de dinheiro é a mesma quer se tenha de pagar em ouro em dinheiro creditício ou em cédulas bancárias etc101 Se considerarmos agora a quantidade total do dinheiro em circulação num período determinado veremos que dada a velocidade do curso do meio de circulação e dos 162 meios de pagamentos ela é igual à soma dos preços das mercadorias a serem realizados mais a soma dos pagamentos devidos menos os pagamentos que se compensam uns aos outros e finalmente menos o número de ciclos que a mesma peça monetária percorre funciona ora como meio de circulação ora como meio de pagamento Por exemplo o camponês vende seu cereal por 2 que servem assim como meio de circulação Em seguida ele usa essa soma para pagar o linho que o tecelão lhe fornecera As mesmas 2 funcionam agora como meio de pagamento Então o tecelão compra uma Bíblia com dinheiro vivo e as 2 passam novamente a funcionar como meio de circulação e assim por diante Mesmo sendo dados os preços a velocidade do curso e o equilíbrio dos pagamentos a quantidade de dinheiro deixa de coincidir com a quantidade de mercadorias em circulação durante um certo período por exemplo um dia Continua em curso o dinheiro que representa mercadorias há muito tempo saídas de circulação Circulam mercadorias cujo equivalente em dinheiro só aparecerá numa data futura Por outro lado os débitos contraídos a cada dia e os pagamentos com vencimento no mesmo dia são grandezas absolutamente incomensuráveis102 O dinheiro creditício surge diretamente da função do dinheiro como meio de pagamento quando certificados de dívida relativos às mercadorias vendidas circulam a fim de transferir essas dívidas para outrem Por outro lado quando o sistema de crédito se expande o mesmo ocorre com a função do dinheiro como meio de pagamento Nessa função ele assume formas próprias de existência nas quais circula à vontade pela esfera das grandes transações comerciais enquanto as moedas de ouro e prata são relegadas fundamentalmente à esfera do comércio varejista103 Quando a produção de mercadorias atingiu certo grau de desenvolvimento a função do dinheiro como meio de pagamento ultrapassa a esfera da circulação das mercadorias Ele se torna a mercadoria universal dos contratos104 Rendas impostos etc deixam de ser fornecimentos in natura e se tornam pagamentos em dinheiro O quanto essa transformação é condicionada pela configuração geral do processo de produção é demonstrado por exemplo pela tentativa duas vezes fracassada do I mpério Romano de arrecadar todos os tributos em dinheiro A miséria atroz da população rural francesa sob Luís XI V tão eloquentemente denunciada por Boisguillebert Marschall Vauban etc teve sua causa não apenas no aumento dos impostos mas também na transformação do imposto pago in natura em imposto pago em dinheiro105 Por outro lado quando a forma natural da renda do solo que na Ásia constitui o elemento fundamental do imposto estatal baseiase em relações de produção que se reproduzem com a imutabilidade de condições naturais aquela forma de pagamento conserva retroativamente a antiga forma de produção Tal forma constitui um dos segredos da autoconservação do I mpério Turco Se o comércio exterior imposto ao J apão pela Europa acarretar a transformação da renda in natura em renda monetárian será o fim de sua agricultura exemplar Suas estreitas condições econômicas de existência acabarão por se dissolver Em todos os países são estabelecidos certos prazos gerais de pagamento Essas datas dependem abstraindose de outros ciclos da reprodução de condições naturais da produção vinculadas às estações do ano Elas também regulam os pagamentos que 163 não derivam diretamente da circulação de mercadorias tais como impostos rendas etc A quantidade de dinheiro requerida para esses pagamentos disseminados por toda a superfície da sociedade e espalhados ao longo do ano provoca perturbações periódicas porém totalmente superficiais na economia dos meios de pagamento106 Da lei sobre a velocidade do curso dos meios de pagamento podemos concluir que a quantidade de meios de pagamento requerida para todos os pagamentos periódicos sejam quais forem suas fontes está em proporção inversao à extensão desses períodos de pagamento107 O desenvolvimento do dinheiro como meio de pagamento torna necessária a acumulação de dinheiro para a compensação das dívidas nos prazos de vencimento Assim se por um lado o progresso da sociedade burguesa faz desaparecer o entesouramento como forma autônoma de enriquecimento ela o faz crescer por outro lado na forma de fundos de reserva de meios de pagamento c O dinheiro mundial Ao deixar a esfera da circulação interna o dinheiro se despe de suas formas locais de padrão de medida dos preços de moeda de moeda simbólica e de símbolo de valor e retorna à sua forma original de barra de metal precioso No comércio mundial as mercadorias desdobram seu valor universalmente Por isso sua figura de valor autônoma as confronta aqui como dinheiro mundial Somente no mercado mundial o dinheiro funciona plenamente como a mercadoria cuja forma natural é ao mesmo tempo a forma imediatamente social de efetivação do trabalho humano in abstracto Sua forma de existência tornase adequada a seu conceito Na esfera da circulação interna apenas uma mercadoria pode servir como medida de valor e desse modo como dinheiro No mercado mundial temse o domínio de uma dupla medida de valor o ouro e a prata108 O dinheiro mundial funciona como meio universal de pagamento meio universal de compra e materialidade absolutamente social da riqueza universal universal wealth O que predomina é sua função como meio de pagamento para o ajuste das balanças internacionais Daí a palavrachave dos mercantilistas balança comercial109 O ouro e a prata servem como meios internacionais de compra essencialmente naqueles períodos em que o equilíbrio do metabolismo entre as diferentes nações é repentinamente desfeito Por fim ele serve como materialidade social da riqueza em que não se trata nem de compra nem de pagamento mas da transferência da riqueza de um país a outro mais precisamente nos casos em que essa transferência na forma das mercadorias é impossibilitada seja pelas conjunturas do mercado seja pelo próprio objetivo que se busca realizar110 Assim como para sua circulação interna todo país necessita de um fundo de reserva para a circulação no mercado mundial As funções dos tesouros derivam portanto em parte da função do dinheiro como meio da circulação e dos pagamentos internos em parte de sua função como dinheiro mundial110a Para essa última função sempre se requer a genuína mercadoriadinheiro o ouro e a prata corpóreos razão pela qual J ames Steuart caracteriza expressamente o ouro e a prata como money of the 164 world dinheiro do mundo em contraste com seus representantes apenas locais O movimento da corrente de ouro e prata é um movimento duplo Por um lado ele parte de sua fonte e se espalha por todo o mercado mundial onde ele é absorvido em graus variados pelas diferentes esferas nacionais da circulação a fim de preencher seus canais internos de circulação substituir moedas de ouro e prata desgastadas fornecer material para mercadorias de luxo e petrificarse como tesouro111 Esse primeiro movimento é mediado pela troca direta dos trabalhos que as nações realizam nas mercadorias pelo trabalho que é incorporado nos metais preciosos pelos países produtores de ouro e prata Por outro lado o ouro e a prata fluem constantemente de um lado para o outro entre as diferentes esferas nacionais de circulação movimento que segue as oscilações ininterruptas do câmbio112 Países onde a produção burguesa é desenvolvida limitam os tesouros massivamente concentrados nas reservas bancárias ao mínimo necessário ao cumprimento de suas funções específicas113 Com algumas exceções o excesso dessas reservas acima de seu nível médio é sinal de estancamento na circulação de mercadorias ou de uma interrupção no fluxo de suas metamorfoses114 165 Karl Marx no trabalho desenho do artista gráfico russo Nikolai Zhukov 166 Seção II A TRANSFORMAÇÃO DO DINHEIRO EM CAPITAL 167 Capítulo 4 A transformação do dinheiro em capital 1 A fórmula geral do capital A circulação de mercadorias é o ponto de partida do capital Produção de mercadorias e circulação desenvolvida de mercadorias o comércio formam os pressupostos históricos a partir dos quais o capital emerge O comércio e o mercado mundiais inauguram no século XVI a história moderna do capital Se abstrairmos do conteúdo material da circulação das mercadorias isto é da troca dos diversos valores de uso e considerarmos apenas as formas econômicas que esse processo engendra encontraremos como seu produto final o dinheiro Esse produto final da circulação das mercadorias é a primeira forma de manifestação do capital Historicamente o capital em seu confronto com a propriedade fundiária assume invariavelmente a forma do dinheiro da riqueza monetária dos capitais comerciala e usurário1 Mas não é preciso recapitular toda a gênese do capital para reconhecer o dinheiro como sua primeira forma de manifestação pois a mesma história se desenrola diariamente diante de nossos olhos Todo novo capital entra em cena isto é no mercado seja ele de mercadorias de trabalho ou de dinheiro como dinheiro que deve ser transformado em capital mediante um processo determinado I nicialmente o dinheiro como dinheiro e o dinheiro como capital se distinguem apenas por sua diferente forma de circulação A forma imediata da circulação de mercadorias é MDM conversão de mercadoria em dinheiro e reconversão de dinheiro em mercadoria vender para comprar Mas ao lado dessa forma encontramos uma segunda especificamente diferente a forma DM D conversão de dinheiro em mercadoria e reconversão de mercadoria em dinheiro comprar para vender O dinheiro que circula deste último modo transformase torna se capital e segundo sua determinação já é capital Analisemos mais de perto a circulação DMD Ela atravessa como a circulação simples de mercadorias duas fases contrapostas na primeira DM a compra o dinheiro é convertido em mercadoria e na segunda MD a mercadoria volta a se converter em dinheiro Porém a unidade das duas fases é o movimento inteiro da troca de dinheiro por mercadoria e desta última novamente por dinheiro o movimento da compra da mercadoria para vendêla ou caso se desconsiderem as diferenças formais entre compra e venda da compra de mercadoria com dinheiro e de dinheiro com mercadoria2 O resultado no qual o processo inteiro se apaga é a troca de dinheiro por dinheiro DD Se compro 2 mil libras de algodão por 100 e revendo as 2 mil libras de algodão por 110 o que faço no fim das contas é trocar 100 por 110 dinheiro por dinheiro Ora é evidente que o processo de circulação DMD seria absurdo e vazio se a intenção fosse realizar percorrendo seu ciclo inteiro a troca de um mesmo valor em 168 dinheiro pelo mesmo valor em dinheiro ou seja 100 por 100 Muito mais simples e seguro seria o método do entesourador que conserva suas 100 em vez de expôlas aos perigos da circulação Por outro lado se o mercador revende por 110 o algodão que comprou por 100 ou se é forçado a liquidálo por 100 ou mesmo por 50 de qualquer modo seu dinheiro percorreu um movimento peculiar e original de um tipo totalmente distinto do movimento que ele percorre na circulação simples de mercadorias por exemplo nas mãos do camponês que vende o cereal e com o dinheiro assim obtido compra roupas Temos portanto de examinar as características distintivas das formas dos ciclos DMD e MDM Com isso revelarseá ao mesmo tempo a diferença de conteúdo que se esconde atrás dessas diferenças formais Vejamos antes de tudo o que essas formas têm em comum As duas formas se decompõem nas duas fases antitéticas MD venda e DM compra Em cada uma das duas fases confrontamse um com o outro os mesmos dois elementos reificados sachlichen mercadoria e dinheiro e as mesmas duas pessoas portando as mesmas máscaras econômicas um comprador e um vendedor Cada um dos dois ciclos é a unidade das mesmas fases contrapostas e nos dois casos essa unidade é mediada pela intervenção de três partes contratantes das quais uma apenas vende outra apenas compra e a terceira compra e vende alternadamente Mas o que realmente diferencia entre si os dois ciclos MDM e DMD é a ordem invertida de sucessão das mesmas fases antitéticas de circulação A circulação simples de mercadorias começa com a venda e termina com a compra ao passo que a circulação do dinheiro como capital começa com a compra e termina com a venda Na primeira o ponto de partida e de chegada do movimento é a mercadoria na segunda é o dinheiro Na primeira forma o que medeia o curso inteiro da circulação é o dinheiro na segunda é a mercadoria Na circulação MDM o dinheiro é enfim transformado em mercadoria que serve como valor de uso e é portanto gasto de modo definitivo J á na forma contrária DM D o comprador desembolsa o dinheiro com a finalidade de receber dinheiro como vendedor Na compra da mercadoria ele lança dinheiro na circulação para dela retirá lo novamente por meio da venda da mesma mercadoria Ele liberta o dinheiro apenas com a ardilosa intenção de recapturálo O dinheiro é portanto apenas adiantado3 Na forma MDM a mesma peça monetária muda duas vezes de lugar O vendedor a recebe do comprador e a passa a outro vendedor O processo inteiro que começa com o recebimento de dinheiro em troca de mercadoria concluise com o dispêndio de dinheiro por mercadoria O inverso ocorre na forma DMD Aqui não é a mesma peça monetária que muda duas vezes de lugar mas a mesma mercadoria e o comprador a recebe das mãos do vendedor e a passa às mãos de outro comprador Assim como na circulação simples de mercadorias as duas mudanças de lugar da mesma peça monetária implicam a passagem definitiva de uma mão a outra também aqui a dupla mudança de lugar da mesma mercadoria implica o refluxo do dinheiro a seu primeiro ponto de partida O refluxo do dinheiro a seu ponto de partida não depende de a mercadoria ser vendida mais cara do que foi comprada Essa circunstância afeta apenas a grandeza da quantia de dinheiro que reflui O fenômeno do refluxo propriamente dito ocorre assim 169 que a mercadoria comprada é revendida ou seja assim que o ciclo DMD é completado Temos aqui portanto uma diferença palpável entre a circulação do dinheiro como capital e sua circulação como mero dinheiro O ciclo MDM está inteiramente concluído tão logo o dinheiro obtido com a venda de uma mercadoria é novamente empregado na compra de outra mercadoria Se no entanto ocorre um refluxo de dinheiro a seu ponto de partida isso só pode acontecer por meio da renovação ou repetição do percurso inteiro Se vendo 1 quarter de cereal por 3 e com essa quantia compro roupas as 3 estão definitivamente gastas para mim Não tenho mais nenhuma relação com elas Elas agora pertencem ao comerciante de roupas Ora se vendo mais 1 quarter de cereal então o dinheiro retorna para mim mas não em consequência da primeira transação e sim apenas de sua repetição E ele volta a se separar de mim assim que completo a segunda transação e volto a comprar Na circulação MDM portanto o gasto do dinheiro não tem nenhuma relação com seu refluxo J á em DMD ao contrário o refluxo do dinheiro é condicionado pelo modo como ele é gasto Sem esse refluxo a operação está fracassada ou o processo está interrompido ou ainda não concluído faltando ainda sua segunda fase a da venda que completa e conclui a compra O ciclo MDM parte do extremo de uma mercadoria e concluise com o extremo de uma outra mercadoria que abandona a circulação e ingressa no consumo O consumo a satisfação de necessidades em suma o valor de uso é assim seu fim último O ciclo DMD ao contrário parte do extremo do dinheiro e retorna por fim ao mesmo extremo Sua força motriz e fim último é desse modo o próprio valor de troca Na circulação simples de mercadorias os dois extremos têm a mesma forma econômica Ambos são mercadorias Eles são também mercadorias de mesma grandeza de valor Porém são valores de uso qualitativamente diferentes por exemplo cereal e roupas A troca de produtos a variação das matérias nas quais o trabalho social se apresenta é o que constitui aqui o conteúdo do movimento Diferentemente do que ocorre na circulação DMD À primeira vista ela parece desprovida de conteúdo por ser tautológica mas ambos os extremos têm a mesma forma econômica Ambos são dinheiro portanto nãovalores de uso qualitativamente distintos uma vez que o dinheiro é justamente a figura transformada das mercadorias na qual estão apagados seus valores de uso específicos Trocar 100 por algodão e em seguida voltar a trocar esse mesmo algodão por 100 ou seja trocar dinheiro por dinheiro o mesmo pelo mesmo parece ser uma operação tão despropositada quanto absurda4 Uma quantia de dinheiro só pode se diferenciar de outra quantia de dinheiro por sua grandeza Assim o processo DMD não deve seu conteúdo a nenhuma diferença qualitativa de seus extremos pois ambos são dinheiro mas apenas à sua distinção quantitativa Ao final do processo mais dinheiro é tirado da circulação do que nela fora lançado inicialmente O algodão comprado por 100 é revendido por 100 10 ou por 110 A forma completa desse processo é portanto DMD onde D D ΔD isto é à quantia de dinheiro inicialmente adiantada mais um incremento Esse incremento ou excedente sobre o valor original chamo de maisvalor surplus value O valor originalmente adiantado não se limita assim a conservarse na circulação mas nela modifica sua grandeza de valor acrescenta a essa grandeza um maisvalor ou 170 se valoriza E esse movimento o transforma em capital Certamente também em MDM é possível que os dois extremos MM digamos cereal e roupas sejam grandezas de valor quantitativamente distintas O camponês pode vender seu cereal acima de seu valor ou comprar roupas abaixo de seu valor Ele pode por outro lado ser ludibriado pelo vendedor de roupas No entanto para a forma da circulação que agora consideramos tal diferença de valor é puramente acidental O fato de o cereal e as roupas serem equivalentes não priva o processo de seu sentido como ocorre com o processo DMD A equivalência de seus valores é antes uma condição necessária para seu curso normal A repetição ou renovação da venda para comprar encontra sua medida tal como esse processo mesmo num fim último situado fora dela a saber o consumo a satisfação de determinadas necessidades Na compra para vender ao contrário o início e o fim são o mesmo dinheiro valor de troca e desse modo o movimento é interminável Sem dúvida D se torna D ΔD e 100 se torna 100 10 Porém consideradas de modo puramente qualitativo 110 são o mesmo que 100 ou seja dinheiro E consideradas quantitativamente 110 são uma quantia limitada de dinheiro tanto quanto 100 Se as 100 fossem gastas como dinheiro elas deixariam de desempenhar seu papel Deixariam de ser capital Retiradas da circulação elas se petrificariam como tesouro e nem um centavo lhes seria acrescentado ainda que permanecessem nesse estado até o dia do J uízo Final Se então o objetivo é a valorização do valor há tanta necessidade da valorização de 110 quanto de 100 pois ambas são expressões limitadas do valor de troca e têm portanto a mesma vocação para se aproximarem da riqueza por meio da expansão de grandeza É verdade que por um momento o valor originalmente adiantado de 100 se diferencia do maisvalor de 10 que lhe é acrescentado mas essa diferença se esvanece imediatamente No final do processo não obtemos de um lado o valor original de 100 e de outro lado o maisvalor de 10 O que obtemos é um valor de 110 que exatamente do mesmo modo como as 100 originais encontrase na forma adequada a dar início ao processo de valorização Ao fim do movimento o dinheiro surge novamente como seu início5 Assim o fim de cada ciclo individual em que a compra se realiza para a venda constitui por si mesmo o início de um novo ciclo A circulação simples de mercadorias a venda para a compra serve de meio para uma finalidade que se encontra fora da circulação a apropriação de valores de uso a satisfação de necessidades A circulação do dinheiro como capital é ao contrário um fim em si mesmo pois a valorização do valor existe apenas no interior desse movimento sempre renovado O movimento do capital é por isso desmedido6 Como portador consciente desse movimento o possuidor de dinheiro se torna capitalista Sua pessoa ou melhor seu bolso é o ponto de partida e de retorno do dinheiro O conteúdo objetivo daquela circulação a valorização do valor é sua finalidade subjetiva e é somente enquanto a apropriação crescente da riqueza abstrata é o único motivo de suas operações que ele funciona como capitalista ou capital personificado dotado de vontade e consciência Assim o valor de uso jamais pode ser considerado como finalidade imediata do capitalista7 Tampouco pode sêlo o lucro isolado mas apenas o incessante movimento do lucro8 Esse impulso absoluto de 171 enriquecimento essa caça apaixonada ao valor9 é comum ao capitalista e ao entesourador mas enquanto o entesourador é apenas o capitalista ensandecido o capitalista é o entesourador racional O aumento incessante do valor objetivo que o entesourador procura atingir conservando seu dinheiro fora da circulação10 é atingido pelo capitalista que mais inteligente lança sempre o dinheiro de novo em circulação10a As formas independentes as formasdinheiro que o valor das mercadorias assume na circulação simples servem apenas de mediação para a troca de mercadorias e desaparecem no resultado do movimento Na circulação DMD ao contrário mercadoria e dinheiro funcionam apenas como modos diversos de existência do próprio valor o dinheiro como seu modo de existência universal a mercadoria como seu modo de existência particular por assim dizer disfarçado11 O valor passa constantemente de uma forma a outra sem se perder nesse movimento e com isso transformase no sujeito automático do processo Ora se tomarmos as formas particulares de manifestação que o valor que se autovaloriza assume sucessivamente no decorrer de sua vida chegaremos a estas duas proposições capital é dinheiro capital é mercadoria12 Na verdade porém o valor se torna aqui o sujeito de um processo em que ele por debaixo de sua constante variação de forma aparecendo ora como dinheiro ora como mercadoria altera sua própria grandeza e como maisvalor repele abstösst a si mesmo como valor originário valoriza a si mesmo Pois o movimento em que ele adiciona maisvalor é seu próprio movimento sua valorização é portanto autovalorização Por ser valor ele recebeu a qualidade oculta de adicionar valor Ele pare filhotes ou pelo menos põe ovos de ouro Como sujeito usurpador de tal processo no qual ele assume ora a forma do dinheiro ora a forma da mercadoria porém conservandose e expandindose nessa mudança o valor requer sobretudo uma forma independente por meio da qual sua identidade possa ser constatada E tal forma ele possui apenas no dinheiro Este constitui por isso o ponto de partida e de chegada de todo processo de valorização Ele era 100 e agora é 110 etc Mas o próprio dinheiro vale aqui apenas como uma das duas formas do valor Se não assume a forma da mercadoria o dinheiro não se torna capital Portanto o dinheiro não se apresenta aqui em antagonismo com a mercadoria como ocorre no entesouramento O capitalista sabe que toda mercadoria por mais miserável que seja sua aparência ou por pior que seja seu cheiro é dinheiro não só em sua fé mas também na realidade que ela é internamente um judeu circuncidado e além disso um meio milagroso de se fazer mais dinheiro a partir do dinheiro Se na circulação simples o valor das mercadorias atinge no máximo uma forma independente em relação a seus valores de uso aqui ele se apresenta de repente como uma substância em processo que move a si mesma e para a qual mercadorias e dinheiro não são mais do que meras formas E mais ainda Em vez de representar relações de mercadorias ele agora entra por assim dizer numa relação privada consigo mesmo Como valor original ele se diferencia de si mesmo como maisvalor tal como Deus Pai se diferencia de si mesmo como Deus Filho sendo ambos da mesma idade e constituindo na verdade uma única pessoa pois é apenas por meio do 172 maisvalor de 10 que as 100 adiantadas se tornam capital e assim que isso ocorre assim que é gerado o filho e por meio do filho o pai desaparece sua diferença e eles são apenas um 110 O valor se torna assim valor em processo dinheiro em processo e como tal capital Ele sai da circulação volta a entrar nela conservase e multiplicase em seu percurso sai da circulação aumentado e começa o mesmo ciclo novamente13 DD dinheiro que cria dinheiro money which begets money é a descrição do capital na boca de seus primeiros intérpretes os mercantilistas Comprar para vender ou mais acuradamente comprar para vender mais caro D MD parece ser apenas um tipo de capital a forma própria do capital comercial Mas também o capital industrial é dinheiro que se transforma em mercadoria e por meio da venda da mercadoria retransformase em mais dinheiro Eventos que ocorram entre a compra e a venda fora da esfera da circulação não alteram em nada essa forma de movimento Por fim no capital a juros a circulação DMD aparece abreviada de modo que seu resultado se apresenta sem a mediação ou dito em estilo lapidar como DD dinheiro que é igual a mais dinheiro ou valor que é maior do que ele mesmo Na verdade portanto DMD é a fórmula geral do capital tal como ele aparece imediatamente na esfera da circulação 2 Contradições da fórmula geral A forma que a circulação assume quando o dinheiro se transforma em capital contradiz todas as leis que investigamos anteriormente sobre a natureza da mercadoria do valor do dinheiro e da própria circulação O que a distingue da circulação simples de mercadorias é a ordem inversa dos dois processos antitéticos a venda e a compra E como poderia uma diferença puramente formal como essa alterar a natureza desses processos como que por mágica E mais ainda Essa inversão só existe para uma das três partes negociantes que fazem comércio umas com as outras Como capitalista compro mercadorias de A e as revendo a B ao passo que como simples possuidor de mercadorias vendo mercadorias a B e compro mercadorias de A Para os negociantes A e B não existe essa distinção Eles aparecem apenas como compradores ou vendedores de mercadorias Eu mesmo me confronto com eles como simples possuidor ora de dinheiro ora de mercadorias como comprador ou como vendedor e além disso em cada uma dessas transações confrontome com uma pessoa apenas como comprador com outra apenas como vendedor com a primeira apenas como dinheiro com a segunda apenas como mercadorias e com nenhuma delas como capital ou capitalista ou como representante de qualquer coisa que seja mais do que dinheiro ou mercadorias ou que possa surtir qualquer efeito além daquele do dinheiro ou das mercadorias Para mim a compra de A e a venda a B constituem uma série Mas a conexão entre esses dois atos só existe para mim A não se preocupa com minha transação com B e tampouco B com minha transação com A E se eu quisesse explicar a eles o mérito particular de minha ação que consiste em inverter a série eles me diriam que estou enganado quanto à própria série e que a transação completa não começa com uma compra e concluise com uma 173 venda mas inversamente começa com uma venda e concluise com uma compra De fato meu primeiro ato a compra é do ponto de vista de A uma venda e meu segundo ato a venda é do ponto de vista de B uma compra Não satisfeitos com isso A e B argumentarão que a série inteira foi supérflua e não passou de um mero truque A venderá a mercadoria diretamente a B e B a comprará diretamente de A Com isso a transação inteira se reduz a um ato unilateral da circulação usual de mercadorias sendo do ponto de vista de A um simples ato de venda e do ponto de vista de B um simples ato de compra Assim a inversão da série não nos conduz para fora da esfera da circulação simples de mercadorias de modo que temos antes de investigar se nessa circulação simples existe algo a permitir uma expansão do valor que entra na circulação e por conseguinte a criação de maisvalor Tomemos o processo de circulação na forma em que ele se apresenta como mera troca de mercadorias Esse é sempre o caso quando dois possuidores de mercadoria compram mercadorias um do outro e no dia do ajuste de contas as quantias mutuamente devidas são iguais e cancelam uma à outra O dinheiro serve nesse caso como moeda de conta para expressar o valor das mercadorias em seus preços porém não se confronta materialmente com as próprias mercadorias Na medida em que se trata de valores de uso é claro que ambas as partes que realizam a troca podem ganhar Ambas alienam mercadorias que lhes são inúteis como valores de uso e recebem em troca mercadorias de cujo valor de uso elas necessitam E essa vantagem pode não ser a única A que vende vinho e compra cereal produz talvez mais vinho do que o agricultor B poderia produzir no mesmo tempo de trabalho assim como o agricultor B poderia produzir mais cereal do que o agricultor A de modo que A recebe pelo mesmo valor de troca mais cereal e B recebe mais vinho do que a quantidade de vinho e cereal que cada um dos dois teria de produzir para si mesmo sem a troca Com respeito ao valor de uso portanto podese dizer que a troca é uma transação em que ambas as partes saem ganhando14 Mas o mesmo não ocorre com o valor de troca Um homem que possui muito vinho e nenhum cereal negocia com outro homem que possui muito cereal e nenhum vinho e entre eles é trocado trigo no valor de 50 por vinho no mesmo valor de 50 Tal troca não constitui um aumento do valor de troca para nenhuma das partes pois antes da troca cada um deles já possuía um valor igual àquele que foi criado por meio dessa operação15 O resultado não se altera em nada se o dinheiro é introduzido como meio de circulação entre as mercadorias e se os atos de compra e venda são separados um do outro16 O valor das mercadorias é expresso em seus preços antes de elas entrarem em circulação sendo portanto o pressuposto e não o resultado desta última17 Considerado abstratamente isto é prescindindo das circunstâncias que não decorrem imediatamente das leis imanentes da circulação simples de mercadorias o que ocorre na troca além da substituição de um valor de uso por outro não é mais do que uma metamorfose uma mera mudança de forma da mercadoria O mesmo valor ie a mesma quantidade de trabalho social objetivado permanece nas mãos do mesmo possuidor de mercadorias primeiramente como sua própria mercadoria em seguida como dinheiro pelo qual ela foi trocada e por fim como mercadoria que ele compra com esse dinheiro Essa mudança de forma não implica qualquer alteração na grandeza do valor mas a mudança que o valor da mercadoria sofre nesse processo é 174 limitada a uma mudança em sua formadinheiro Ela existe primeiramente como preço da mercadoria à venda em seguida como uma quantia de dinheiro que no entanto já estava expressa no preço por fim como o preço de uma mercadoria equivalente Essa mudança de forma implica em si mesma tão pouco uma alteração na grandeza do valor quanto a troca de uma nota de 5 por sovereigns meio sovereign e xelins Assim na medida em que a circulação da mercadoria opera tão somente uma mudança formal de seu valor ela implica quando o fenômeno ocorre livre de interferências a troca de equivalentes Mesmo a economia vulgar que não sabe praticamente nada sobre o valor reconhece quando deseja considerar o fenômeno em sua pureza que a oferta e a demanda são iguais isto é que seu efeito é nulo Mas se no que diz respeito ao valor de uso tanto o comprador quanto o vendedor podem igualmente ganhar o mesmo não ocorre quando se trata do valor de troca Nesse caso dizse antes Onde há igualdade não há lucro18 É verdade que as mercadorias podem ser vendidas por preços que não correspondem a seus valores mas esse desvio tem de ser considerado como uma infração da lei da troca de mercadorias19 Em sua forma pura ela é uma troca de equivalentes não um meio para o aumento do valor20 Por trás das tentativas de apresentar a circulação de mercadorias como fonte do maisvalor escondese na maioria das vezes um quiproquó uma confusão de valor de uso com valor de troca Por exemplo diz Condillac Não é verdade que na troca de mercadorias trocase um valor igual por outro valor igual Ao contrário Cada um dos dois contratantes dá sempre um valor menor em troca de um valor maior Se valores iguais fossem trocados não haveria ganho algum para nenhum dos contratantes mas as duas partes obtêm um ganho ou pelo menos deveriam obtêlo Por quê O valor das coisas consiste meramente em sua relação com nossas necessidades O que para um vale mais para outro vale menos e viceversa Não colocamos à venda artigos que são indispensáveis para nosso próprio consumo Abrimos mão de uma coisa inútil para nós em troca de uma coisa que nos é necessária queremos dar menos por mais É natural julgar que na troca dáse um valor igual por outro valor igual sempre que cada uma das coisas trocadas vale a mesma quantidade de ouro Mas outra consideração tem de entrar nesse cálculo a questão é se cada uma das partes troca algo supérfluo por algo necessário21 Vêse como Condillac não apenas confunde valor de uso com valor de troca como de modo verdadeiramente pueril afirma que numa sociedade em que a produção de mercadorias é bem desenvolvida cada produtor produz seus próprios meios de subsistência e só põe em circulação o excedente sobre sua própria necessidade o supérfluo22 Mesmo assim o argumento de Condillac é frequentemente repetido por economistas modernos principalmente quando se trata de mostrar que a forma desenvolvida da troca de mercadorias o comércio é produtora de maisvalor O comércio diz ele por exemplo adiciona valor aos produtos pois os mesmos produtos têm mais valor nas mãos do consumidor do que nas mãos do produtor e por isso ele tem de ser considerado estritamente strictly um ato de produção23 Mas não se paga duas vezes pelas mercadorias uma vez por seu valor de uso e outra vez por seu valor E se o valor de uso da mercadoria é mais útil para o comprador do que para o vendedor sua formadinheiro é mais útil para o vendedor do que para o comprador Se assim não fosse ele a venderia Com a mesma razão poderseia dizer que o comprador realiza estritamente strictly um ato de produção quando por 175 exemplo transforma as meias do mercador em dinheiro Se são trocadas mercadorias ou mercadorias e dinheiro de mesmo valor de troca portanto equivalentes é evidente que cada uma das partes não extrai da circulação mais valor do que nela lançou inicialmente Não há então criação de maisvalor Ocorre que em sua forma pura o processo de circulação de mercadorias exige a troca de equivalentes Mas as coisas não se passam com tal pureza na realidade Por isso admitamos uma troca de não equivalentes Em todo caso no mercado de mercadorias confrontamse apenas possuidores de mercadorias e o poder que essas pessoas exercem umas sobre as outras não é mais do que o poder de suas mercadorias A variedade material das mercadorias é a motivação material para a troca e torna os possuidores de mercadorias dependentes uns dos outros uma vez que nenhum deles tem em suas mãos o objeto de suas próprias necessidades e que cada um tem em suas mãos o objeto da necessidade do outro Além dessa diferença material de seus valores de uso existe apenas mais uma diferença entre as mercadorias a diferença entre sua forma natural e sua forma modificada entre a mercadoria e o dinheiro Assim os possuidores de mercadorias se distinguem simplesmente como vendedores possuidores de mercadoria e compradores possuidores de dinheiro Suponha então que por algum privilégio inexplicável seja permitido ao vendedor vender a mercadoria acima de seu valor por exemplo por 110 quando ela vale 100 portanto com um acréscimo nominal de 10 em seu preço O vendedor embolsa assim um maisvalor de 10 Mas depois de ter sido vendedor ele se torna comprador E eis que um terceiro possuidor de mercadorias confrontase com ele como vendedor e usufrui por sua vez do privilégio de vender a mercadoria 10 mais cara do que seu valor Nosso homem ganhou 10 como vendedor apenas para perder 10 como comprador24 Assim cada um dos possuidores de mercadorias vende seus artigos aos outros possuidores de mercadorias a um preço 10 acima de seu valor o que na verdade produz o mesmo resultado que se obteria se cada um deles vendesse as mercadorias pelos seus valores O mesmo efeito de tal aumento nominal dos preços das mercadorias seria obtido se os valores das mercadorias fossem expressos em prata em vez de ouro As denominações monetárias isto é os preços das mercadorias aumentariam mas suas relações de valor permaneceriam inalteradas Agora suponha ao contrário que o comprador disponha do privilégio de comprar as mercadorias abaixo de seu valor Não precisamos aqui recordar que o comprador se tornará vendedor Ele o era antes de se tornar comprador Ele perdeu 10 como vendedor antes de ganhar 10 como comprador25 Tudo permanece como estava Portanto a criação de maisvalor e por conseguinte a transformação de dinheiro em capital não pode ser explicada nem pelo fato de que uns vendem as mercadorias acima de seu valor nem pelo fato de que outros as compram abaixo de seu valor26 O problema não é de modo nenhum simplificado com a introdução de elementos estranhos como faz o coronel Torrens A demanda efetiva consiste no poder e na inclinação dos consumidores seja por meio da troca imediata ou mediata a dar pelas mercadorias uma porção de ingredientes do capital numa quantidade maior do que o custo de produção dessas mesmas mercadorias27 176 Na circulação produtores e consumidores se confrontam apenas como vendedores e compradores Dizer que o maisvalor obtido pelos produtores tem origem no fato de que os consumidores compram a mercadoria acima de seu valor é apenas mascarar algo que é bastante simples como vendedor o possuidor de mercadorias dispõe do privilégio de vender mais caro O próprio vendedor produziu suas mercadorias ou representa seus produtores mas também o comprador produziu as mercadorias representadas em seu dinheiro ou representa seus produtores Assim um produtor se confronta com outro e o que os diferencia é que um compra e o outro vende Que o possuidor de mercadorias no papel de produtor vende a mercadoria acima de seu valor e no papel de consumidor paga mais caro por ela é algo aqui irrelevante28 Em nome da coerência os representantes da ideia de que o maisvalor provém de um aumento nominal dos preços ou de um privilégio de que o vendedor dispõe de vender a mercadoria mais cara do que seu valor teriam de admitir a existência de uma classe que apenas compra sem vender portanto que apenas consome sem produzir A existência de tal classe é ainda inexplicável neste estágio de nossa exposição a saber o da circulação simples Todavia podemos antecipar algumas ideias O dinheiro com que tal classe constantemente compra tem de fluir para ela diretamente dos bolsos dos possuidores de mercadorias de modo constante sem nenhuma troca gratuitamente seja pelo direito ou pela força Para essa classe vender mercadorias acima de seu valor significa apenas reembolsar gratuitamente parte do dinheiro previamente gasto29 É assim que as cidades da Ásia Menor pagavam um tributo em dinheiro à Roma Antiga Com esse dinheiro Roma comprava mercadorias dessas cidades e as comprava mais caras do que seu valor Desse modo as províncias ludibriavam os romanos surrupiando aos conquistadores por meio do comércio uma parte do tributo anteriormente pago No entanto os conquistados permaneciam sendo os verdadeiros ludibriados Suas mercadorias eram pagas com seu próprio dinheiro e esse não é o método correto para enriquecer ou criar maisvalor Mantenhamonos portanto nos limites da troca de mercadorias em que vendedores são compradores e compradores vendedores Talvez nossa dificuldade provenha do fato de termos tratado os atores apenas como categorias personificadas e não individualmente O possuidor de mercadorias A pode ser esperto o suficiente para ludibriar seus colegas B ou C de um modo que estes não possam oferecer uma retaliação apesar de terem toda a vontade de fazêlo A vende vinho a B pelo valor de 40 e na troca compra cereais pelo valor de 50 A transformou suas 40 em 50 menos dinheiro em mais dinheiro e sua mercadoria em capital Observemos a transação mais detalhadamente Antes da troca tínhamos vinho no valor de 40 nas mãos de A e cereais no valor de 50 nas mãos de B o que forma um total de 90 Após a troca temos o mesmo valor total de 90 O valor em circulação não aumentou seu tamanho em nem um átomo mas alterouse sua distribuição entre A e B O que aparece como maisvalor para um lado é menosvalor para o outro o que aparece como mais para um é menos para outro A mesma mudança teria ocorrido se A sem o eufemismo formal da troca tivesse roubado diretamente 10 de B Está claro que a soma do valor em circulação não pode ser aumentada por nenhuma mudança em sua distribuição 177 tão pouco quanto um judeu pode aumentar a quantidade de metal precioso num país ao vender um farthing da época da rainha Ana por um guinéub A totalidade da classe capitalista de um país não pode se aproveitar de si mesma30 Podese virar e revirar como se queira e o resultado será o mesmo Da troca de equivalentes não resulta maisvalor e tampouco da troca de não equivalentes resulta maisvalor31 A circulação ou a troca de mercadorias não cria valor nenhum32 Compreendese assim por que em nossa análise da forma básica do capital forma na qual ele determina a organização econômica da sociedade moderna deixamos inteiramente de considerar suas formas populares e por assim dizer antediluvianas o capital comercial e o capital usurário É no genuíno capital comercial que a forma DMD comprar para vender mais caro aparece de modo mais puro Por outro lado seu movimento inteiro ocorre no interior da esfera da circulação Mas como é impossível explicar a transformação de dinheiro em capital isto é a criação do maisvalor a partir da própria circulação o capital comercial aparenta ser impossível uma vez que se baseia na troca de equivalentes33 de modo que ele só pode ter sua origem na dupla vantagem obtida tanto sobre o produtor que compra quanto sobre o produtor que vende pelo mercador que se interpõe como um parasita entre um e outro Nesse sentido diz Franklin Guerra é roubo comércio é trapaça34 Se é evidente que a valorização do capital comercial não pode ser explicada pela mera trapaça entre os produtores de mercadorias um tratamento devido dessa questão exigiria uma longa série de elos intermediários de que carecemos no presente estágio de nossa exposição ainda dedicado inteiramente à circulação de mercadorias e seus momentos simples O que dissemos sobre o capital comercial vale ainda mais para o capital usurário No capital comercial os dois extremos o dinheiro que é lançado no mercado e o capital que é retirado do mercado são ao menos mediados pela compra e venda pelo movimento da circulação J á no capital usurário a forma DMD é simplificada nos extremos imediatos DD como dinheiro que se troca por mais dinheiro uma forma que contradiz a natureza do dinheiro e por isso é inexplicável do ponto de vista da troca de mercadorias Diz Aristóteles Porque a crematística é uma dupla ciência a primeira parte pertencendo ao comércio a segunda à economia sendo esta última necessária e louvável ao passo que a primeira se baseia na circulação e é desaprovada com razão por não se fundar na natureza mas na trapaça mútua o usurário é odiado com a mais plena justiça pois aqui o próprio dinheiro é a fonte do ganho e não é usado para a finalidade para a qual ele foi inventado pois ele surgiu para a troca de mercadorias ao passo que o juro transforma dinheiro em mais dinheiro Isso explica seu nome tókov juro e prole pois os filhos são semelhantes aos genitores Mas o juro é dinheiro de dinheiro de maneira que de todos os modos de ganho esse é o mais contrário à natureza35 No curso de nossa investigação veremos que tanto o capital comercial como o capital a juros são formas derivadas ao mesmo tempo veremos por que elas surgem historicamente antes da moderna forma básica do capital Mostrouse que o maisvalor não pode ter origem na circulação sendo necessário portanto que pelas suas costas ocorra algo que nela mesma é invisível36 Mas pode o maisvalor surgir de alguma outra fonte que não a circulação Esta é a soma de todas as relações de mercadoriasc travadas entre os possuidores de mercadorias Fora da circulação o possuidor de mercadorias encontrase em relação apenas com sua própria 178 mercadoria No que diz respeito a seu valor essa relação se limita ao fato de que a mercadoria contém uma quantidade de seu próprio trabalho quantidade que é medida segundo determinadas leis sociais Tal quantidade de trabalho se expressa na grandeza de valor de sua mercadoria e uma vez que a grandeza de valor se exprime em moeda de conta num preço de por exemplo 10 Porém seu trabalho não se expressa no valor da mercadoria acompanhado de um excedente acima de seu próprio valor num preço de 10 que é ao mesmo tempo um preço de 11 isto é num valor que é maior do que ele mesmo O possuidor de mercadorias pode por meio de seu trabalho criar valores mas não valores que valorizam a si mesmos Ele pode aumentar o valor de uma mercadoria acrescentando ao valor já existente um novo valor por meio de novo trabalho por exemplo transformando o couro em botas O mesmo material tem agora mais valor porque contém uma quantidade maior de trabalho Por isso as botas têm mais valor do que o couro mas o valor do couro permanece como era Ele não se valorizou não incorporou um maisvalor durante a fabricação das botas Assim encontrandose o produtor de mercadorias fora da esfera da circulação sem travar contato com outros possuidores de mercadorias é impossível que ele valorize o valor e por conseguinte transforme dinheiro ou mercadoria em capital Portanto o capital não pode ter origem na circulação tampouco pode não ter origem circulação Ele tem de ter origem nela e ao mesmo tempo não ter origem nela Temos assim um duplo resultado A transformação do dinheiro em capital tem de ser explicada com base nas leis imanentes da troca de mercadorias de modo que a troca de equivalentes seja o ponto de partida37 Nosso possuidor de dinheiro que ainda é apenas um capitalista em estado larval tem de comprar as mercadorias pelo seu valor vendêlas pelo seu valor e no entanto no final do processo retirar da circulação mais valor do que ele nela lançara inicialmente Sua crisalidação Schmetterlingsentfaltung tem de se dar na esfera da circulação e não pode se dar na esfera da circulação Essas são as condições do problema Hic Rhodus hic saltad 3 A compra e a venda de força de trabalho A mudança de valor do dinheiro destinado a se transformar em capital não pode ocorrer nesse mesmo dinheiro pois em sua função como meio de compra e de pagamento ele realiza apenas o preço da mercadoria que ele compra ou pela qual ele paga ao passo que mantendose imóvel em sua própria forma ele se petrifica como um valor que permanece sempre o mesmo38 Tampouco pode a mudança ter sua origem no segundo ato da circulação a revenda da mercadoria pois esse ato limitase a transformar a mercadoria de sua forma natural em sua formadinheiro A mudança tem portanto de ocorrer na mercadoria que é comprada no primeiro ato DM porém não em seu valor pois equivalentes são trocados e a mercadoria é paga pelo seu valor pleno Desse modo a mudança só pode provir de seu valor de uso como tal isto é de seu consumo Para poder extrair valor do consumo de uma mercadoria nosso possuidor de dinheiro teria de ter a sorte de descobrir no mercado no interior da esfera da circulação uma mercadoria cujo próprio valor de uso possuísse a 179 característica peculiar de ser fonte de valor cujo próprio consumo fosse portanto objetivação de trabalho e por conseguinte criação de valor E o possuidor de dinheiro encontra no mercado uma tal mercadoria específica a capacidade de trabalho ou força de trabalho Por força de trabalho ou capacidade de trabalho entendemos o complexo Inbegriff das capacidades físicas e mentais que existem na corporeidade Leiblichkeit na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento sempre que produz valores de uso de qualquer tipo No entanto para que o possuidor de dinheiro encontre a força de trabalho como mercadoria no mercado é preciso que diversas condições estejam dadas A troca de mercadorias por si só não implica quaisquer outras relações de dependência além daquelas que resultam de sua própria natureza Sob esse pressuposto a força de trabalho só pode aparecer como mercadoria no mercado na medida em que é colocada à venda ou é vendida pelo seu próprio possuidor pela pessoa da qual ela é a força de trabalho Para vendêla como mercadoria seu possuidor tem de poder dispor dela portanto ser o livre proprietário de sua capacidade de trabalho de sua pessoa39 Ele e o possuidor de dinheiro se encontram no mercado e estabelecem uma relação mútua como iguais possuidores de mercadorias com a única diferença de que um é comprador e o outro vendedor sendo ambos portanto pessoas juridicamente iguais A continuidade dessa relação requer que o proprietário da força de trabalho a venda apenas por um determinado período pois se ele a vende inteiramente de uma vez por todas vende a si mesmo transformase de um homem livre num escravo de um possuidor de mercadoria numa mercadoria Como pessoa ele tem constantemente de se relacionar com sua força de trabalho como sua propriedade e assim como sua própria mercadoria e isso ele só pode fazer na medida em que a coloca à disposição do comprador apenas transitoriamente oferecendoa ao consumo por um período determinado portanto sem renunciar no momento em que vende sua força de trabalho a seus direitos de propriedade sobre ela40 A segunda condição essencial para que o possuidor de dinheiro encontre no mercado a força de trabalho como mercadoria é que seu possuidor em vez de poder vender mercadorias em que seu trabalho se objetivou tenha antes de oferecer como mercadoria à venda sua própria força de trabalho que existe apenas em sua corporeidade viva Para que alguém possa vender mercadorias diferentes de sua força de trabalho ele tem de possuir evidentemente meios de produção por exemplo matériasprimas instrumentos de trabalho etc Ele não pode fabricar botas sem couro Necessita além disso de meios de subsistência Ninguém nem mesmo um músico do futuro pode viver de produtos do futuro tampouco portanto de valores de uso cuja produção ainda não esteja acabada e tal como nos primeiros dias de sua aparição sobre o palco da Terra o homem tem de consumir a cada dia tanto antes como no decorrer de seu ato de produção Se os produtos são produzidos como mercadorias eles têm de ser vendidos depois de produzidos e somente depois de sua venda eles podem satisfazer as necessidades dos produtores O tempo necessário para a sua venda é adicionado ao tempo necessário para a sua produção 180 Para transformar dinheiro em capital o possuidor de dinheiro tem portanto de encontrar no mercado de mercadorias o trabalhador livre e livre em dois sentidos de ser uma pessoa livre que dispõe de sua força de trabalho como sua mercadoria e de por outro lado ser alguém que não tem outra mercadoria para vender livre e solto carecendo absolutamente de todas as coisas necessárias à realização de sua força de trabalho Por que razão esse trabalhador livre se confronta com ele na esfera da circulação é algo que não interessa ao possuidor de dinheiro para o qual o mercado é uma seção particular do mercado de mercadorias No momento essa questão tampouco tem interesse para nós Ocupamonos da questão teoricamente assim como o possuidor de dinheiro ocupase dela praticamente Uma coisa no entanto é clara a natureza não produz possuidores de dinheiro e de mercadorias de um lado e simples possuidores de suas próprias forças de trabalho de outro Essa não é uma relação históriconatural naturgeschichtliches tampouco uma relação social comum a todos os períodos históricos mas é claramente o resultado de um desenvolvimento histórico anterior o produto de muitas revoluções econômicas da destruição de toda uma série de formas anteriores de produção social Também as categorias econômicas que consideramos anteriormente trazem consigo as marcas da história Na existência do produto como mercadoria estão presentes determinadas condições históricas e para se tornar mercadoria o produto não pode ser produzido como meio imediato de subsistência para o próprio produtor Se tivéssemos avançado em nossa investigação e posto a questão sob que circunstâncias todos os produtos ou apenas a maioria deles assumem a forma da mercadoria teríamos descoberto que isso só ocorre sobre a base de um modo de produção específico o modo de produção capitalista No entanto tal investigação estaria distante da análise da mercadoria A produção e a circulação de mercadorias podem ocorrer mesmo quando a maior parte dos produtos é destinada à satisfação das necessidades imediatas de seus próprios produtores quando não é transformada em mercadoria e portanto quando o valor de troca ainda não dominou o processo de produção em toda sua extensão e profundidade A apresentação do produto como mercadoria pressupõe uma divisão do trabalho tão desenvolvida na sociedade que a separação entre valor de uso e valor de troca que tem início no escambo já tem de estar realizada No entanto tal grau de desenvolvimento é comum às mais diversas e historicamente variadas formações econômicas da sociedade Por outro lado se consideramos o dinheiro vemos que ele pressupõe um estágio definido da troca de mercadorias As formas específicas do dinheiro seja como mero equivalente de mercadorias ou como meio de circulação seja como meio de pagamento tesouro ou dinheiro mundial remetem de acordo com a extensão e a preponderância relativa de uma ou outra função a estágios muito distintos do processo social de produção No entanto uma circulação de mercadorias relativamente pouco desenvolvida é suficiente para a constituição de todas essas formas diferentemente do que ocorre com o capital Suas condições históricas de existência não estão de modo algum dadas com a circulação das mercadorias e do dinheiro Ele só surge quando o possuidor de meios de produção e de subsistência 181 encontra no mercado o trabalhador livre como vendedor de sua força de trabalho e essa condição histórica compreende toda uma história mundial O capital anuncia portanto desde seu primeiro surgimento uma nova época no processo social de produção41 Temos agora de analisar mais de perto essa mercadoria peculiar a força de trabalho Como todas as outras mercadorias ela possui um valor42 Como ele é determinado O valor da força de trabalho como o de todas as outras mercadorias é determinado pelo tempo de trabalho necessário para a produção e consequentemente também para a reprodução desse artigo específico Como valor a força de trabalho representa apenas uma quantidade determinada do trabalho social médio nela objetivado A força de trabalho existe apenas como disposição do indivíduo vivo A sua produção pressupõe portanto a existência dele Dada a existência do indivíduo a produção da força de trabalho consiste em sua própria reprodução ou manutenção Para sua manutenção o indivíduo vivo necessita de certa quantidade de meios de subsistência Assim o tempo de trabalho necessário à produção da força de trabalho corresponde ao tempo de trabalho necessário à produção desses meios de subsistência ou dito de outro modo o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à manutenção de seu possuidor Porém a força de trabalho só se atualiza verwirklicht por meio de sua exteriorização só se aciona por meio do trabalho Por meio de seu acionamento o trabalho gastase determinada quantidade de músculos nervos cérebro etc humanos que tem de ser reposta Esse gasto aumentado implica uma renda aumentada43 Se o proprietário da força de trabalho trabalhou hoje ele tem de poder repetir o mesmo processo amanhã sob as mesmas condições no que diz respeito a sua saúde e força A quantidade dos meios de subsistência tem portanto de ser suficiente para manter o indivíduo trabalhador como tal em sua condição normal de vida As próprias necessidades naturais como alimentação vestimenta aquecimento habitação etc são diferentes de acordo com o clima e outras peculiaridades naturais de um país Por outro lado a extensão das assim chamadas necessidades imediatas assim como o modo de sua satisfação é ela própria um produto histórico e por isso depende em grande medida do grau de cultura de um país mas também depende entre outros fatores de sob quais condições e por conseguinte com quais costumes e exigências de vida se formou a classe dos trabalhadores livres num determinado local44 Diferentemente das outras mercadorias a determinação do valor da força de trabalho contém um elemento histórico e moral No entanto a quantidade média dos meios de subsistência necessários ao trabalhador num determinado país e num determinado período é algo dado O proprietário da força de trabalho é mortal Portanto para que sua aparição no mercado de trabalho seja contínua como pressupõe a contínua transformação do dinheiro em capital é preciso que o vendedor de força de trabalho se perpetue como todo indivíduo vivo se perpetua pela procriação45 As forças de trabalho retiradas do mercado por estarem gastas ou mortas têm de ser constantemente substituídas no mínimo por uma quantidade igual de novas forças de trabalho A quantidade dos 182 meios de subsistência necessários à produção da força de trabalho inclui portanto os meios de subsistência dos substitutos dos trabalhadores isto é de seus filhos de modo que essa peculiar raça de possuidores de mercadorias possa se perpetuar no mercado46 Para modificar a natureza humana de modo que ela possa adquirir habilidade e aptidão num determinado ramo do trabalho e se torne uma força de trabalho desenvolvida e específica fazse necessária uma formação ou um treinamento determinados que por sua vez custam uma soma maior ou menor de equivalentes de mercadorias Esses custos de formação variam de acordo com o caráter mais ou menos complexo da força de trabalho Assim os custos dessa educação que são extremamente pequenos no caso da força de trabalho comum são incluídos no valor total gasto em sua produção O valor da força de trabalho se reduz ao valor de uma quantidade determinada de meios de subsistência e varia portanto com o valor desses meios de subsistência isto é de acordo com a magnitude do tempo de trabalho requerido para a sua produção Uma parte dos meios de subsistência por exemplo a alimentação o aquecimento etc é consumida diariamente e tem de ser reposta diariamente Outros meios de subsistência como roupas móveis etc são consumidos em períodos mais longos e por isso só precisam ser substituídos em intervalos maiores de tempo Algumas mercadorias têm de ser compradas ou pagas diariamente outras semanalmente trimestralmente e assim por diante Porém independentemente de como se divida a soma desses gastos no período de por exemplo um ano ela deve ser coberta diariamente pela receita média Se a quantidade de mercadorias requeridas para a produção da força de trabalho por um dia A por uma semana B e por um trimestre C e assim por diante então a média diária dessas mercadorias seria 365A 52B 4C etc365 Supondose que nessa quantidade de mercadorias necessárias à jornada média de trabalho estão incorporadas 6 horas de trabalho social então objetivase diariamente na força de trabalho meia jornada de trabalho social médio ou dito de outro modo meia jornada de trabalho é requerida para a produção diária da força de trabalho Essa quantidade de trabalho requerida para sua produção diária forma o valor diário da força de trabalho ou o valor da força de trabalho diariamente reproduzida Se meia jornada de trabalho social média é expressa numa quantidade de ouro de 3 xelins ou 1 táler então 1 táler é o preço correspondente ao valor diário da força de trabalho Se o possuidor da força de trabalho a coloca à venda pelo preço de 1 táler por dia então seu preço de venda é igual a seu valor e de acordo com nosso pressuposto o possuidor de dinheiro ávido por transformar seu táler em capital paga esse valor O limite último ou mínimo do valor da força de trabalho é constituído pelo valor de uma quantidade de mercadorias cujo fornecimento diário é imprescindível para que o portador da força de trabalho o homem possa renovar seu processo de vida tal limite é constituído portanto pelo valor dos meios de subsistência fisicamente indispensáveis Se o preço da força de trabalho é reduzido a esse mínimo ele cai abaixo de seu valor pois em tais circunstâncias a força de trabalho só pode se manter e se desenvolver de forma precária Mas o valor de toda mercadoria é determinado 183 pelo tempo de trabalho requerido para fornecêla com sua qualidade normal É de um sentimentalismo extraordinariamente barato afirmar que esse método de determinação do valor da força de trabalho que decorre da natureza da coisa é um método brutal e em coro com Rossi lamuriarse Captar a capacidade de trabalho puissance de travail ao mesmo tempo que fazemos abstração dos meios de subsistência do trabalho durante o processo de produção significa captar uma quimera mental être de raison Quem diz trabalho ou capacidade de trabalho diz ao mesmo tempo trabalhador e meios de subsistência trabalhador e salário47 Dizer capacidade de trabalho não é o mesmo que dizer trabalho assim como dizer capacidade de digestão não é o mesmo que dizer digestão Para a realização do processo digestório é preciso mais do que um bom estômago Quem diz capacidade de trabalho não faz abstração dos meios necessários a sua subsistência O valor destes últimos é antes expresso no valor da primeira Se não é vendida ela não serve de nada para o trabalhador que passa a ver como uma cruel necessidade natural o fato de que a produção de sua capacidade de trabalho requer uma quantidade determinada de meios de subsistência quantidade que tem de ser sempre renovada para sua reprodução Ele descobre então com Sismondi A capacidade de trabalho não é nada quando não é vendida48 Da natureza peculiar dessa mercadoria específica a força de trabalho resulta que com a conclusão do contrato entre comprador e vendedor seu valor de uso ainda não tenha passado efetivamente às mãos do comprador Seu valor como o de qualquer outra mercadoria estava fixado antes de ela entrar em circulação pois uma determinada quantidade de trabalho social foi gasta na produção da força de trabalho porém seu valor de uso consiste apenas na exteriorização posterior dessa força Por essa razão a alienação da força e sua exteriorização efetiva isto é sua existência como valor de uso são separadas por um intervalo de tempo Mas em tais mercadorias49 em que a alienação formal do valor de uso por meio da venda e sua transferência efetiva ao comprador não são simultâneas o dinheiro do comprador funciona na maioria das vezes como meio de pagamento Em todos os países em que reina o modo de produção capitalista a força de trabalho só é paga depois de já ter funcionado pelo período fixado no contrato de compra por exemplo ao final de uma semana Desse modo o trabalhador adianta ao capitalista o valor de uso da força de trabalho ele a entrega ao consumo do comprador antes de receber o pagamento de seu preço e com isso dá um crédito ao capitalista Que esse crédito não é nenhuma alucinação vã é demonstrado não apenas pela perda ocasional do salário quando da falência do capitalista50 mas também por uma série de efeitos mais duradouros51 No entanto se o dinheiro funciona como meio de compra ou meio de pagamento isso é algo que não altera em nada a natureza da troca de mercadorias O preço da força de trabalho está fixado por contrato embora ele só seja realizado posteriormente como o preço do aluguel de uma casa A força de trabalho está vendida embora ela só seja paga posteriormente Para uma clara compreensão da relação entre as partes pressuporemos provisoriamente que o possuidor da força de trabalho ao realizar sua venda recebe imediatamente o preço estipulado por contrato Sabemos agora como é determinado o valor que o possuidor de dinheiro paga ao 184 O possuidor dessa mercadoria peculiar a força de trabalho O valor de uso que o possuidor de dinheiro recebe na troca mostrase apenas na utilização efetiva no processo de consumo da força de trabalho O possuidor de dinheiro compra no mercado todas as coisas necessárias a esse processo como matériasprimas etc e por elas paga seu preço integral O processo de consumo da força de trabalho é simultaneamente o processo de produção da mercadoria e do maisvalor O consumo da força de trabalho assim como o consumo de qualquer outra mercadoria tem lugar fora do mercado ou da esfera da circulação Deixemos portanto essa esfera rumorosa onde tudo se passa à luz do dia ante os olhos de todos e acompanhamos os possuidores de dinheiro e de força de trabalho até o terreno oculto da produção em cuja entrada se lê No admittance except on business Página manuscrita de O capital Seção III A PRODUÇÃO DO MAISVALOR ABSOLUTO 187 Capítulo 5 O processo de trabalho e o processo de valorização 1 O processo de trabalho A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho O comprador da força de trabalho a consome fazendo com que seu vendedor trabalhe Desse modo este último se torna actu em ato aquilo que antes ele era apenas potentia em potência a saber força de trabalho em ação trabalhador Para incorporar seu trabalho em mercadorias ele tem de incorporálo antes de mais nada em valores de uso isto é em coisas que sirvam à satisfação de necessidades de algum tipo Assim o que o capitalista faz o trabalhador produzir é um valor de uso particular um artigo determinado A produção de valores de uso ou de bens não sofre nenhuma alteração em sua natureza pelo fato de ocorrer para o capitalista e sob seu controle razão pela qual devemos de início considerar o processo de trabalho independentemente de qualquer forma social determinada O trabalho é antes de tudo um processo entre o homem e a natureza processo este em que o homem por sua própria ação medeia regula e controla seu metabolismo com a natureza Ele se confronta com a matéria natural como com uma potência natural Naturmacht A fim de se apropriar da matéria natural de uma forma útil para sua própria vida ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua corporeidade seus braços e pernas cabeça e mãos Agindo sobre a natureza externa e modificandoa por meio desse movimento ele modifica ao mesmo tempo sua própria natureza Ele desenvolve as potências que nela jazem latentes e submete o jogo de suas forças a seu próprio domínio Não se trata aqui das primeiras formas instintivas animalescas tierartig do trabalho Um incomensurável intervalo de tempo separa o estágio em que o trabalhador se apresenta no mercado como vendedor de sua própria força de trabalho daquele em que o trabalho humano ainda não se desvencilhou de sua forma instintiva Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz respeito unicamente ao homem Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão e uma abelha envergonha muitos arquitetos com a estrutura de sua colmeia Porém o que desde o início distingue o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua mente antes de construíla com a cera No final do processo de trabalho chegase a um resultado que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo portanto um resultado que já existia idealmente I sso não significa que ele se limite a uma alteração da forma do elemento natural ele realiza neste último ao mesmo tempo seu objetivo que ele sabe que determina como lei o tipo e o modo de sua atividade e ao qual ele tem de subordinar sua vontade E essa subordinação não é um ato isolado Além do esforço dos órgãos que trabalham a atividade laboral exige a vontade orientada a um fim que se manifesta como atenção do trabalhador durante a realização de sua tarefa e isso tanto mais quanto menos esse 188 trabalho pelo seu próprio conteúdo e pelo modo de sua execução atrai o trabalhador portanto quanto menos este último usufrui dele como jogo de suas próprias forças físicas e mentais Os momentos simples do processo de trabalho são em primeiro lugar a atividade orientada a um fim ou o trabalho propriamente dito em segundo lugar seu objeto e em terceiro seus meios A terra que do ponto de vista econômico também inclui a água que é para o homem uma fonte originária de provisões de meios de subsistência prontos1 preexiste independentemente de sua interferência como objeto universal do trabalho humano Todas as coisas que o trabalho apenas separa de sua conexão imediata com a totalidade da terra são por natureza objetos de trabalho preexistentes Assim é o peixe quando pescado e separado da água seu elemento vital ou a madeira que se derruba na floresta virgem ou o minério arrancado de seus veios Quando ao contrário o próprio objeto do trabalho já é por assim dizer filtrado por um trabalho anterior então o chamamos de matériaprima como por exemplo o minério já extraído da mina e que agora será lavado Toda matériaprima é objeto do trabalho mas nem todo objeto do trabalho é matériaprima O objeto de trabalho só é matéria prima quando já sofreu uma modificação mediada pelo trabalho O meio de trabalho é uma coisa ou um complexo de coisas que o trabalhador interpõe entre si e o objeto do trabalho e que lhe serve de guia de sua atividade sobre esse objeto Ele utiliza as propriedades mecânicas físicas e químicas das coisas para fazêlas atuar sobre outras coisas de acordo com o seu propósito2 O objeto de que o trabalhador se apodera imediatamente desconsiderandose os meios de subsistência encontrados prontos na natureza como as frutas por exemplo em cuja coleta seus órgãos corporais servem como únicos meios de trabalho é não o objeto do trabalho mas o meio de trabalho É assim que o próprio elemento natural se converte em órgão de sua atividade um órgão que ele acrescenta a seus próprios órgãos corporais prolongando sua forma natural apesar daquilo que diz a Bíblia Do mesmo modo como a terra é seu armazém original de meios de subsistência ela é também seu arsenal originário de meios de trabalho Ela lhe fornece por exemplo a pedra para que ele a arremesse ou a use para moer comprimir cortar etc A própria terra é um meio de trabalho mas pressupõe para servir como tal na agricultura toda uma série de outros meios de trabalho e um grau relativamente alto de desenvolvimento da força de trabalho3 Mal o processo de trabalho começa a se desenvolver e ele já necessita de meios de trabalho previamente elaborados Nas mais antigas cavernas encontramos ferramentas e armas de pedra Além de pedra madeira ossos e conchas trabalhados também os animais domesticados desempenharam um papel fundamental como meios de trabalho nos primeiros estágios da história humana4 O uso e a criação de meios de trabalho embora já existam em germe em certas espécies de animais é uma característica específica do processo de trabalho humano razão pela qual Franklin define o homem como a toolmaking animal um animal que faz ferramentas A mesma importância que as relíquias de ossos têm para o conhecimento da organização das espécies de animais extintas têm também as relíquias de meios de trabalho para a compreensão de formações socioeconômicas extintas O que diferencia as épocas 189 econômicas não é o que é produzido mas como com que meios de trabalho5 Estes não apenas fornecem uma medida do grau de desenvolvimento da força de trabalho mas também indicam as condições sociais nas quais se trabalha Entre os próprios meios de trabalho os de natureza mecânica que formam o que podemos chamar de sistema de ossos e músculos da produção oferecem características muito mais decisivas de uma época social de produção do que aqueles meios de trabalho que servem apenas de recipientes do objeto do trabalho e que podemos agrupar sob o nome de sistema vascular da produção como tubos barris cestos jarros etc Apenas na fabricação química tais instrumentos passam a desempenhar um papel importante5a Num sentido mais amplo o processo de trabalho inclui entre seus meios além das coisas que medeiam o efeito do trabalho sobre seu objeto e assim servem de um modo ou de outro como condutores da atividade também todas as condições objetivas que em geral são necessárias à realização do processo Tais condições não entram diretamente no processo mas sem elas ele não pode se realizar ou o pode apenas de modo incompleto O meio universal de trabalho desse tipo é novamente a terra pois ela fornece ao trabalhador o locus standi local e a seu processo de trabalho o campo de atuação field of employment Meios de trabalho desse tipo já mediados pelo trabalho são por exemplo oficinas de trabalho canais estradas etc No processo de trabalho portanto a atividade do homem com ajuda dos meios de trabalho opera uma transformação do objeto do trabalho segundo uma finalidade concebida desde o início O processo se extingue no produto Seu produto é um valor de uso um material natural adaptado às necessidades humanas por meio da modificação de sua forma O trabalho se incorporou a seu objeto Ele está objetivado e o objeto está trabalhado O que do lado do trabalhador aparecia sob a forma do movimento agora se manifesta do lado do produto como qualidade imóvel na forma do ser Ele fiou e o produto é um fio Gespinsta Se consideramos o processo inteiro do ponto de vista de seu resultado do produto tanto o meio como o objeto do trabalho aparecem como meios de produção6 e o próprio trabalho aparece como trabalho produtivo7 Quando um valor de uso resulta do processo de trabalho como produto nele estão incorporados como meios de produção outros valores de uso produtos de processos de trabalho anteriores O mesmo valor de uso que é produto desse trabalho constitui o meio de produção de um trabalho ulterior de modo que os produtos são não apenas resultado mas também condição do processo de trabalho Com exceção da indústria extrativa cujo objeto de trabalho é dado imediatamente pela natureza tal como a mineração a caça a pesca etc a agricultura apenas na medida em que num primeiro momento explora a terra virgem todos os ramos da indústria manipulam um objeto a matériaprima isto é um objeto de trabalho já filtrado pelo trabalho ele próprio produto de um trabalho anterior tal como a semente na agricultura Animais e plantas que se costumam considerar como produtos naturais são em sua presente forma não apenas produtos do trabalho digamos do ano anterior mas o resultado de uma transformação gradual realizada sob controle humano ao longo de muitas gerações e mediante o trabalho humano No 190 que diz respeito aos meios de trabalho a maioria deles evidencia mesmo ao olhar mais superficial os traços do trabalho anterior A matériaprima pode constituir a substância principal de um produto ou tomar parte nele apenas como matéria auxiliar Esta pode ser consumida pelos meios de trabalho como o carvão pela máquina a vapor o óleo pela engrenagem o feno pelo cavalo ou ser adicionada à matériaprima a fim de nela produzir alguma modificação como o cloro é adicionado ao linho ainda não alvejado o carvão ao ferro a tintura à lã ou pode ainda auxiliar na realização do próprio trabalho como por exemplo as matérias utilizadas na iluminação e no aquecimento da oficina de trabalho A diferença entre matéria principal e matéria auxiliar desaparece na fabricação química propriamente dita porque nela nenhuma das matériasprimas utilizadas reaparece como substância do produto8 Como toda coisa possui várias qualidades e consequentemente é capaz de diferentes aplicações úteis o mesmo produto pode servir como matériaprima de processos de trabalho muito distintos O cereal por exemplo é matériaprima para o moleiro para o fabricante de goma para o destilador para o criador de gado etc Como semente ele se torna matériaprima de sua própria produção Também o carvão é tanto produto como meio de produção da indústria de mineração O mesmo produto pode no mesmo processo de trabalho servir de meio de trabalho e de matériaprima Na engorda do gado por exemplo o animal é ao mesmo tempo a matériaprima trabalhada e o meio de obtenção do adubo Um produto que existe numa forma pronta para o consumo pode se tornar matéria prima de outro produto tal como a uva se torna matériaprima do vinho Em outros casos o trabalho elabora seu produto em formas tais que ele só pode ser reutilizado como matériaprima A matériaprima se chama então produto semifabricado e seria melhor denominála produto intermediário tal como o algodão o fio o estame etc Embora já seja produto a matériaprima original pode ter de passar por toda uma série de diferentes processos nos quais sob forma cada vez mais alterada ela funciona sempre de novo como matériaprima até chegar ao último processo de trabalho que a entrega como meio acabado de subsistência ou meio acabado de trabalho Vemos assim que o fato de um valor de uso aparecer como matériaprima meio de trabalho ou produto final é algo que depende inteiramente de sua função determinada no processo de trabalho da posição que ele ocupa nesse processo e com a mudança dessa posição mudam também as determinações desse valor de uso Ao ingressar como meios de produção em novos processos de trabalho os produtos perdem seu caráter de produtos Agora eles funcionam simplesmente como fatores objetivos do trabalho vivo O fiandeiro trata o fuso apenas como meio da fiação e o linho apenas como objeto dessa atividade É verdade que não se pode fiar sem fusos e sem a matériaprima da fiação A existência desses produtosb é portanto pressuposta ao se começar a fiar Mas nesse processo é indiferente se o linho e os fusos são produtos de trabalhos anteriores do mesmo modo como no ato da alimentação é indiferente que o pão seja o produto dos trabalhos anteriores do agricultor do moleiro do padeiro etc Ao contrário é geralmente por suas 191 imperfeições que os meios de produção deixam entrever no processo de trabalho seu caráter de produtos de trabalhos anteriores Uma faca que não corta um fio que constantemente arrebenta etc fazemnos lembrar do ferreiro A e do fiandeiro E Ao passo que no produto bem elaborado apagase o fato de que suas propriedades úteis nos chegam mediadas por trabalhos anteriores Uma máquina que não serve no processo de trabalho é inútil Além disso ela se torna vítima das forças destruidoras do metabolismo natural O ferro enferruja a madeira apodrece O fio que não é tecido ou enovelado é algodão desperdiçado O trabalho vivo tem de apoderarse dessas coisas e despertálas do mundo dos mortos convertêlas de valores de uso apenas possíveis em valores de uso reais e efetivos Uma vez tocadas pelo fogo do trabalho apropriadas como partes do corpo do trabalho animadas pelas funções que por seu conceito e sua vocação exercem no processo laboral elas serão sim consumidas porém segundo um propósito como elementos constitutivos de novos valores de uso de novos produtos aptos a ingressar na esfera do consumo individual como meios de subsistência ou em um novo processo de trabalho como meios de produção Portanto se por um lado os produtos existentes são não apenas resultados mas também condições de existência do processo de trabalho por outro lado sua entrada nesse processo seu contato com o trabalho vivo é o único meio de conservar e realizar como valores de uso esses produtos de um trabalho anterior O trabalho consome seus elementos materiais seu objeto e seu meio ele os devora e é assim processo de consumo Esse consumo produtivo se diferencia do consumo individual pelo fato de que este último consome os produtos como meios de subsistência do indivíduo vivo ao passo que o primeiro os consome como meios de subsistência do trabalho da força ativa de trabalho do indivíduo O produto do consumo individual é por isso o próprio consumidor mas o resultado do consumo produtivo é um produto distinto do consumidor Na medida em que seu meio e objeto são eles próprios produtos o trabalho digere produtos a fim de criar produtos ou consome produtos como meios de produção de outros produtos Mas como o processo de trabalho tem lugar originalmente apenas entre o homem e a terra que lhe é preexistente nele continuam a servirlhe meios de produção fornecidos diretamente pela natureza e que não apresentam qualquer combinação de matéria natural com trabalho humano O processo de trabalho como expusemos em seus momentos simples e abstratos é atividade orientada a um fim a produção de valores de uso apropriação do elemento natural para a satisfação de necessidades humanas condição universal do metabolismo entre homem e natureza perpétua condição natural da vida humana e por conseguinte independente de qualquer forma particular dessa vida ou melhor comum a todas as suas formas sociais Por isso não tivemos necessidade de apresentar o trabalhador em sua relação com outros trabalhadores e pudemos nos limitar ao homem e seu trabalho de um lado e à natureza e suas matérias de outro Assim como o sabor do trigo não nos diz nada sobre quem o plantou tampouco esse processo nos revela sob quais condições ele se realiza se sob o açoite brutal do feitor de escravos ou sob o olhar ansioso do capitalista se como produto das poucas jugerac 192 de terra cultivadas por Cincinnatus ou da ação do selvagem que abate uma fera com uma pedra9 Voltemos agora a nosso capitalista in spe aspirante Quando o deixamos ele havia acabado de comprar no mercado todos os fatores necessários ao processo de trabalho tanto seus fatores objetivos os meios de produção quanto seu fator pessoal ou a força de trabalho Com o olhar arguto de um experto ele selecionou a força de trabalho e os meios de produção adequados a seu negócio seja ele a fiação seja a fabricação de botas etc Nosso capitalista põese então a consumir a mercadoria por ele comprada a força de trabalho isto é faz com que o portador da força de trabalho o trabalhador consuma os meios de produção mediante seu trabalho Obviamente a natureza universal do processo de trabalho não se altera em nada pelo fato de o trabalhador realizálo para o capitalista e não para si mesmo Tampouco o modo determinado como se fabricam as botas ou se fiam os fios é imediatamente alterado pela intervenção do capitalista Ele tem inicialmente de tomar a força de trabalho tal como ele a encontra no mercado e portanto tem também de aceitar o trabalho tal como ele se originou num período em que ainda não havia capitalistas A transformação do próprio modo de produção por meio da subordinação do trabalho ao capital só pode ocorrer posteriormente razão pela qual deve ser tratada mais adiante Como processo de consumo da força de trabalho pelo capitalista o processo de trabalho revela dois fenômenos característicos O trabalhador labora sob o controle do capitalista a quem pertence seu trabalho O capitalista cuida para que o trabalho seja realizado corretamente e que os meios de produção sejam utilizados de modo apropriado a fim de que a matériaprima não seja desperdiçada e o meio de trabalho seja conservado isto é destruído apenas na medida necessária à consecução do trabalho Em segundo lugar porém o produto é propriedade do capitalista não do produtor direto do trabalhador O capitalista paga por exemplo o valor da força de trabalho por um dia Portanto sua utilização como a de qualquer outra mercadoria por exemplo um cavalo que ele aluga por um dia pertencelhe por esse dia Ao comprador da mercadoria pertence o uso da mercadoria e o possuidor da força de trabalho ao ceder seu trabalho cede na verdade apenas o valor de uso por ele vendido A partir do momento em que ele entra na oficina do capitalista o valor de uso de sua força de trabalho portanto seu uso o trabalho pertence ao capitalista Mediante a compra da força de trabalho o capitalista incorpora o próprio trabalho como fermento vivo aos elementos mortos que constituem o produto e lhe pertencem igualmente De seu ponto de vista o processo de trabalho não é mais do que o consumo da mercadoria por ele comprada a força de trabalho que no entanto ele só pode consumir desde que lhe acrescente os meios de produção O processo de trabalho se realiza entre coisas que o capitalista comprou entre coisas que lhe pertencem Assim o produto desse processo lhe pertence tanto quanto o produto do processo de fermentação em sua adega10 2 O processo de valorização 193 O produto a propriedade do capitalista é um valor de uso como o fio as botas etc Mas apesar de as botas por exemplo constituírem de certo modo a base do progresso social e nosso capitalista ser um progressista convicto ele não as fabrica por elas mesmas Na produção de mercadorias o valor de uso não é de modo algum a coisa quon aime pour luimême que se ama por ela mesma Aqui os valores de uso só são produzidos porque e na medida em que são o substrato material os suportes do valor de troca E para nosso capitalista tratase de duas coisas Primeiramente ele quer produzir um valor de uso que tenha um valor de troca isto é um artigo destinado à venda uma mercadoria Em segundo lugar quer produzir uma mercadoria cujo valor seja maior do que a soma do valor das mercadorias requeridas para sua produção os meios de produção e a força de trabalho para cuja compra ele adiantou seu dinheiro no mercado Ele quer produzir não só um valor de uso mas uma mercadoria não só valor de uso mas valor e não só valor mas também maisvalor Porque se trata aqui da produção de mercadorias consideramos até este momento apenas um aspecto do processo Assim como a própria mercadoria é unidade de valor de uso e valor seu processo de produção tem de ser a unidade de processo de trabalho e o processo de formação de valor Vejamos agora o processo de produção também como processo de formação de valor Sabemos que o valor de toda mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho materializado em seu valor de uso pelo tempo de trabalho socialmente necessário a sua produção I sso vale também para o produto que reverte para nosso capitalista como resultado do processo de trabalho A primeira tarefa é portanto calcular o trabalho objetivado nesse produto Tomemos como exemplo o fio Para a produção do fio foi necessária primeiramente sua matériaprima por exemplo 10 libras de algodão Nesse caso não precisamos investigar o valor do algodão pois supomos que o capitalista o tenha comprado no mercado pelo valor de digamos 10 xelins No preço do algodão o trabalho requerido para sua produção já está incorporado como trabalho socialmente necessário Suponhamos além disso que a quantidade de fusos consumida no processamento do algodão que representa para nós todos os outros meios de trabalhos empregados nessa produção tenha um valor de 2 xelins Se uma quantidade de ouro de 12 xelins é o produto de 24 horas de trabalho ou de 2 jornadas de trabalho concluise então que no fio estão objetivadas duas jornadas de trabalho Não podemos nos deixar confundir pela circunstância de o algodão ter alterado sua forma e uma determinada quantidade de fusos ter desaparecido completamente De acordo com a lei geral do valor se o valor de 40 libras de fio ao valor de 40 libras de algodão o valor de um fuso inteiro isto é se o mesmo tempo de trabalho é necessário para produzir cada um dos dois lados dessa equação então 10 libras de fio equivalem a 10 libras de algodão e 14 de fuso Nesse caso o mesmo tempo de trabalho se expressa de um lado no valor de uso do fio e de outro nos valores de uso do algodão e do fuso O valor permanece o mesmo não importando onde ele aparece se no fio no fuso ou no algodão O fato de que o fuso e o algodão em vez de 194 permanecerem em repouso um ao lado do outro integrem conjuntamente o processo de fiação que modifica suas formas de uso e os transforma em fio afeta tão pouco seu valor quanto seria o caso se eles tivessem sido trocados por um equivalente em fio O tempo de trabalho requerido para a produção do algodão que é a matériaprima do fio é parte do tempo de trabalho requerido para a produção do fio e por isso está contido neste último O mesmo se aplica ao tempo de trabalho requerido para a produção da quantidade de fusos cujo desgaste ou consumo é indispensável à fiação do algodão11 Assim quando se considera o valor do fio ou o tempo de trabalho requerido para sua produção todos os diferentes processos particulares de trabalho que separados no tempo e no espaço têm de ser realizados para primeiramente produzir o próprio algodão e a quantidade de fusos necessária à fiação e posteriormente para obter o fio a partir do algodão e dos fusos podem ser considerados fases diferentes e sucessivas de um e mesmo processo de trabalho Todo o trabalho contido no fio é trabalho passado Que o tempo de trabalho requerido para a produção de seus elementos constitutivos tenha ocorrido anteriormente que ele se encontre no tempo maisque perfeito enquanto o trabalho imediatamente empregado no processo final na fiação encontrase mais próximo do presente no passado perfeito é uma circunstância totalmente irrelevante Se uma quantidade determinada de trabalho por exemplo 30 jornadas de trabalho é necessária para a construção de uma casa o fato de que a última jornada de trabalho seja realizada 29 dias depois da primeira jornada é algo que não altera em nada a quantidade total de tempo de trabalho incorporado na casa E desse modo o tempo de trabalho contido no material e nos meios de trabalho pode ser considerado como se tivesse sido gasto num estágio anterior do processo de fiação antes de iniciado o trabalho final sob a forma da fiação propriamente dita Os valores dos meios de produção isto é do algodão e do fuso expressos no preço de 12 xelins são assim componentes do valor do fio ou do valor do produto Apenas duas condições têm de ser satisfeitas Em primeiro lugar é necessário que o algodão e o fuso tenham servido efetivamente à produção de um valor de uso É preciso que no caso presente eles tenham sido transformados em fio Para o valor é indiferente qual valor de uso particular o fio possui ele tem no entanto de possuir algum valor de uso Em segundo lugar pressupõese que o tempo de trabalho empregado não ultrapasse o tempo necessário de trabalho sob dadas condições sociais de produção Portanto se apenas 1 libra de algodão é necessária para fiar 1 libra de fio então não se deve consumir mais do que 1 libra de algodão na produção de 1 libra de fio A mesma regra se aplica ao fuso Mesmo que o capitalista tenha a fantasia de em vez de fusos de ferro empregar fusos de ouro na produção o único trabalho que conta no valor do fio é o trabalho socialmente necessário isto é o tempo de trabalho necessário para a produção de fusos de ferro Sabemos agora qual a parte do valor do fio que é formada pelos meios de produção pelo algodão e pelo fuso Ela soma 12 xelins ou a materialização de duas jornadas de trabalho Tratase agora de determinar a parte do valor que o trabalho do próprio fiandeiro acrescenta ao algodão Devemos aqui considerar esse trabalho sob um aspecto totalmente distinto 195 daquele que ele assume durante o processo de trabalho Lá tratavase da atividade orientada à transformação do algodão em fio Quanto mais o trabalho é orientado a esse fim tanto melhor é o fio pressupondose inalteradas todas as demais circunstâncias O trabalho do fiandeiro é especificamente distinto dos outros trabalhos produtivos e a diferença se revela subjetiva e objetivamente na finalidade particular do ato de fiar em seu modo particular de operação na natureza particular de seus meios de produção no valor de uso particular de seu produto Algodão e fuso servem como meios de subsistência do trabalho de fiação mas com eles não se podem produzir canhões Na medida em que o trabalho do fiandeiro cria valor isto é é fonte de valor ele não difere em absolutamente nada do trabalho do produtor de canhões ou para empregar um exemplo que nos é mais próximo do trabalho incorporado nos meios de produção do fio dos plantadores de algodão e dos produtores de fusos É apenas em razão dessa identidade que o plantio de algodão a fabricação de fusos e a fiação podem integrar o mesmo valor total o valor do fio como partes que se diferenciam umas das outras apenas quantitativamente Não se trata mais aqui da qualidade do caráter e do conteúdo específicos do trabalho mas apenas de sua quantidade É apenas esta última que cabe calcular Supomos aqui que o trabalho de fiação é trabalho simples trabalho social médio Veremos posteriormente que a suposição contrária não altera em nada a questão Durante o processo de trabalho este passa constantemente da forma da inquietude Unruhe à forma do ser da forma de movimento para a de objetividade Ao final de 1 hora o movimento da fiação está expresso numa certa quantidade de fio o que significa que uma determinada quantidade de trabalho 1 hora de trabalho está objetivada no algodão Dizemos hora de trabalho isto é dispêndio da força vital do fiandeiro durante 1 hora pois o trabalho de fiação só tem validade aqui como dispêndio de força de trabalho e não como trabalho específico de fiação Durante o processo isto é durante a transformação do algodão em fio é de extrema importância que não seja consumido mais do que o tempo de trabalho socialmente necessário Se sob condições sociais normais de produção isto é médias uma quantidade de a libras de algodão é transformada em b libras de fio durante 1 hora de trabalho só se pode considerar como jornada de trabalho de 12 horas aquela em que 12 a libras de algodão são transformadas em 12 b libras de fio pois apenas o tempo de trabalho socialmente necessário é computado na formação do valor Assim como o próprio trabalho também a matériaprima e o produto aparecem aqui de um modo totalmente distinto daquele em que se apresentam no processo de trabalho propriamente dito A matériaprima é considerada aqui apenas como matéria que absorve uma quantidade determinada de trabalho Por meio dessa absorção ela se transforma de fato em fio porque a força de trabalho na forma da fiação é despendida e adicionada a ela Mas o produto o fio é agora nada mais do que uma escala de medida do trabalho absorvido pelo algodão Se em 1 hora 123 libra de algodão é fiada e transformada em 123 libra de fio então 10 libras de fio indicam a absorção de 6 horas de trabalho Quantidades determinadas de produto fixadas pela experiência não representam agora mais do que quantidades determinadas de trabalho massas determinadas de tempo de trabalho cristalizado Não são mais do 196 que a materialização de 1 hora 2 horas 1 dia de trabalho social Que o trabalho seja a fiação seu material o algodão e seu produto o fio é aqui tão indiferente quanto o fato de o material do trabalho ser ele próprio um produto e portanto matériaprima Se o trabalhador em vez de fiar trabalhasse na mineração de carvão o material do trabalho o carvão seria fornecido pela natureza No entanto uma quantidade determinada de carvão minerado por exemplo 1 quintal representaria uma quantidade determinada de trabalho absorvido Ao tratar da venda da força de trabalho supusemos que o valor diário da força de trabalho 3 xelins e que nele estão incorporadas 6 horas de trabalho sendo esta portanto a quantidade de trabalho requerida para produzir a quantidade média dos meios de subsistência diários do trabalhador Assim se em 1 hora de trabalho nosso fiandeiro transforma 123 libra de algodão em 123 de fio12 em 6 horas de trabalho ele transformará 10 libras de algodão em 10 libras de fio Durante o processo de fiação portanto o algodão absorve 6 horas de trabalho Esse mesmo tempo de trabalho é expresso numa quantidade de ouro de 3 xelins Assim por meio da fiação acrescenta se ao algodão um valor de 3 xelins Vejamos então o valor total do produto as 10 libras de fio nas quais estão objetivadas 2½ jornadas de trabalho 2 jornadas de trabalho contidas no algodão e nos fusos mais ½ jornada absorvida no processo de fiação O mesmo tempo de trabalho representase em 15 xelins de ouro Desse modo o preço adequado às 10 libras de fio é 15 xelins e o preço de 1 libra de fio é 1 xelim e 6 pence Nosso capitalista fica perplexo O valor do produto é igual ao valor do capital adiantado O valor adiantado não se valorizou não gerou maisvalor e portanto não se transformou em capital O preço das 10 libras de fio é 15 xelins e 15 xelins foram desembolsados no mercado em troca dos elementos constitutivos do produto ou o que é o mesmo dos fatores do processo de trabalho 10 xelins pelo algodão 2 xelins pelos fusos e 3 xelins pela força de trabalho O valor dilatado do fio não serve para nada pois seu valor é apenas a soma dos valores anteriormente distribuídos no algodão nos fusos e na força de trabalho e do valor obtido com essa simples adição jamais poderia resultar um maisvalor13 Tais valores estão concentrados agora numa única coisa mas eles já o estavam na soma de 15 xelins antes que esta se fragmentasse em três compras de mercadorias Não há na realidade nada estranho nesse resultado Como o valor de 1 libra de fio é 1 xelim e 6 pence por 10 libras de fio o capitalista teria de pagar 15 xelins no mercado Quer ele compre sua casa pronta no mercado que a mande construir nenhuma dessas operações fará crescer o dinheiro investido na aquisição da casa É possível que o capitalista instruído pela economia vulgar diga que adiantou seu dinheiro com a intenção de fazer mais dinheiro Mas o caminho para o inferno é pavimentado com boas intenções e sua intenção poderia ser igualmente a de fazer dinheiro sem produzir nada14 Ele ameaça todo tipo de coisa e está resolvido a não se deixar apanhar novamente De agora em diante em vez de ele próprio fabricála comprará a mercadoria pronta no mercado Mas se todos os seus irmãos capitalistas fizerem o mesmo onde ele encontrará mercadoria no mercado E dinheiro ele não pode comer Prega então um sermão Diz que é preciso levar em conta sua 197 abstinência Ele poderia ter desbaratado seus 15 xelins Em vez disso consumiuos produtivamente e transformouos em fio e justamente por isso ele possui agora o fio e não a consciência pesada Ele não precisa se rebaixar ao papel do entesourador que já nos mostrou a que fim leva tal ascetismo Além disso como diz o provérbio onde não há elrei o perde Qualquer que seja o mérito de sua abstinência não há nada com o que se possa recompensála pois o valor do produto que resulta do processo não é mais do que a soma dos valores das mercadorias lançadas na produção Portanto que ele se contente com o pensamento de que a virtude compensa Em vez disso ele continua a importunar O fio diz não lhe serve de nada Ele o produziu para a venda Que assim seja então Que ele venda o fio ou ainda mais simplesmente que ele produza de agora em diante apenas coisas para sua própria necessidade uma receita que seu médico MacCulloch já lhe havia prescrito como meio comprovado contra a epidemia da superprodução Ele se empertiga desafiante apoiandose nas patas traseiras Poderia o trabalhador apenas com seus próprios meios corporais criar no éter configurações do trabalho mercadorias Não é verdade que ele nosso capitalista forneceu ao trabalhador os materiais com os quais e nos quais ele pode dar corpo a seu trabalho E considerandose que a maior parte da sociedade consiste de tais pés rapados Habenichtsen não prestou ele um inestimável serviço à sociedade por meio de seus meios de produção seu algodão e seus fusos para não falar do serviço prestado ao próprio trabalhador a quem ele além de tudo ainda guarneceu dos meios de subsistência E não deve ele cobrar por esse serviço prestado Além do mais não se trata aqui de serviços15 Um serviço nada mais é do que o efeito útil de um valor de uso seja da mercadoria seja do trabalho16 Mas aqui se trata do valor de troca O capitalista pagou ao trabalhador o valor de 3 xelins e este lhe retribuiu com um equivalente exato o valor de 3 xelins adicionado ao algodão Trocouse valor por valor E eis que nosso amigo até aqui tão soberbo assume repentinamente a postura modesta de seu próprio trabalhador Ele próprio o capitalista não trabalhou Não realizou ele o trabalho de controle e supervisão do tecelão E esse seu trabalho também não gera valor Mas seu próprio overlooker supervisor e seu gerente dão de ombros Enquanto isso ele já assumiu com um largo sorriso sua fisionomia usual Ele nos rezou toda essa ladainha mas não dá por ela nem um tostão Esses e outros subterfúgios e truques baratos ele deixa aos professores de economia política que são pagos para isso J á ele ao contrário é um homem prático que nem sempre sabe o que diz quando se encontra fora de seu negócio mas sabe muito bem o que faz dentro dele Vejamos a questão mais de perto O valor diário da força de trabalho é de 3 xelins porque nela própria está objetivada meia jornada de trabalho isto é porque os meios de subsistência necessários à produção diária da força de trabalho custam meia jornada de trabalho Mas o trabalho anterior que está incorporado na força de trabalho e o trabalho vivo que ela pode prestar isto é seus custos diários de manutenção e seu dispêndio diário são duas grandezas completamente distintas A primeira determina seu valor de troca a segunda constitui seu valor de uso O fato de que meia jornada de trabalho seja necessária para manter o trabalhador vivo por 24 horas de modo algum o impede de trabalhar uma jornada inteira O valor da força de 198 trabalho e sua valorização no processo de trabalho são portanto duas grandezas distintas É essa diferença de valor que o capitalista tem em vista quando compra a força de trabalho Sua qualidade útil sua capacidade de produzir fio ou botas é apenas uma conditio sine qua non condição indispensável já que o trabalho para criar valor tem necessariamente de ser despendido de modo útil Mas o que é decisivo é o valor de uso específico dessa mercadoria o fato de ela ser fonte de valor e de mais valor do que aquele que ela mesma possui Esse é o serviço específico que o capitalista espera receber dessa mercadoria e desse modo ele age de acordo com as leis eternas da troca de mercadorias Na verdade o vendedor da força de trabalho como o vendedor de qualquer outra mercadoria realiza seu valor de troca e aliena seu valor de uso Ele não pode obter um sem abrir mão do outro O valor de uso da força de trabalho o próprio trabalho pertence tão pouco a seu vendedor quanto o valor de uso do óleo pertence ao comerciante que o vendeu O possuidor de dinheiro pagou o valor de um dia de força de trabalho a ele pertence portanto o valor de uso dessa força de trabalho durante um dia isto é o trabalho de uma jornada A circunstância na qual a manutenção diária da força de trabalho custa apenas meia jornada de trabalho embora a força de trabalho possa atuar por uma jornada inteira e consequentemente o valor que ela cria durante uma jornada seja o dobro de seu próprio valor diário tal circunstância é certamente uma grande vantagem para o comprador mas de modo algum uma injustiça para com o vendedor Nosso capitalista previu esse estado de coisas e o caso o faz rird O trabalhador encontra na oficina os meios de produção necessários não para um processo de trabalho de 6 mas de 12 horas Assim como 10 libras de algodão absorveram 6 horas de trabalho e se transformaram em 10 libras de fio 20 libras de algodão absorverão 12 horas de trabalho e se transformarão em 20 libras de fio Consideremos o produto do processo prolongado de trabalho Nas 20 libras de fio estão objetivadas agora 5 jornadas de trabalho das quais 4 foram empregadas na produção do algodão e dos fusos e 1 foi absorvida pelo algodão durante o processo de fiação A expressão em ouro das 5 jornadas de trabalho é 30 xelins ou 1 e 10 xelins Esse é portanto o preço das 20 libras de fio A libra de fio continua a custar 1 xelim e 6 pence mas a quantidade de valor das mercadorias lançadas no processo soma 27 xelins O valor do fio é de 30 xelins O valor do produto aumentou 19 sobre o valor adiantado em sua produção Desse modo 27 xelins transformaramse em 30 xelins criando um maisvalor de 3 xelins No final das contas o truque deu certo O dinheiro converteuse em capital Todas as condições do problema foram satisfeitas sem que tenha ocorrido qualquer violação das leis da troca de mercadorias Trocouse equivalente por equivalente Como comprador o capitalista pagou o devido valor por cada mercadoria algodão fusos força de trabalho Em seguida fez o mesmo que costuma fazer todo comprador de mercadorias consumiu seu valor de uso Do processo de consumo da força de trabalho que é ao mesmo tempo processo de produção da mercadoria resultou um produto de 20 libras de fio com um valor de 30 xelins Agora o capitalista retorna ao mercado mas não para comprar como antes e sim para vender mercadoria Ele vende a libra de fio por 1 xelim e 6 pence nem um centavo acima ou abaixo de seu valor E no entanto ele tira de circulação 3 xelins a mais do que a quantia que nela 199 colocou Esse ciclo inteiro a transformação de seu dinheiro em capital ocorre no interior da esfera da circulação e ao mesmo tempo fora dela Ele é mediado pela circulação porque é determinado pela compra da força de trabalho no mercado Mas ocorre fora da circulação pois esta apenas dá início ao processo de valorização que tem lugar na esfera da produção E assim está tout pour le mieux dans le meilleur des mondes possibles Tudo ocorre da melhor maneira ao melhor dos mundos possíveise Ao transformar o dinheiro em mercadorias que servem de matérias para a criação de novos produtos ou como fatores do processo de trabalho ao incorporar força viva de trabalho à sua objetividade morta o capitalista transforma o valor o trabalho passado objetivado morto em capital em valor que se autovaloriza um monstro vivo que se põe a trabalhar como se seu corpo estivesse possuído de amorf Ora se compararmos o processo de formação de valor com o processo de valorização veremos que este último não é mais do que um processo de formação de valor que se estende para além de certo ponto Se tal processo não ultrapassa o ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído por um novo equivalente ele é simplesmente um processo de formação de valor Se ultrapassa esse ponto ele se torna processo de valorização Se além disso compararmos o processo de formação de valor com o processo de trabalho veremos que este último consiste no trabalho útil que produz valores de uso O movimento é aqui considerado qualitativamente em sua especificidade segundo sua finalidade e conteúdo O mesmo processo de trabalho se apresenta no processo de formação de valor apenas sob seu aspecto quantitativo Aqui o que importa é apenas o tempo que o trabalho necessita para a sua operação ou o período durante o qual a força de trabalho é despendida de modo útil As mercadorias que tomam parte no processo também deixam de importar como fatores materiais funcionalmente determinados da força de trabalho que atua orientada para um fim Elas importam tão somente como quantidades determinadas de trabalho objetivado Se contido nos meios de produção ou adicionado pela força de trabalho o trabalho só importa por sua medida temporal Ele dura tantas horas dias etc No entanto o trabalho só importa na medida em que o tempo gasto na produção do valor de uso é socialmente necessário o que implica diversos fatores A força de trabalho tem de funcionar sob condições normais Se a máquina de fiar é o meio de trabalho dominante na fiação seria absurdo fornecer ao trabalhador uma roda de fiar Ou em vez de algodão de qualidade normal fornecerlhe um refugo de algodão que a toda hora arrebenta Em ambos os casos seu trabalho ocuparia um tempo de trabalho maior do que o tempo socialmente necessário para a produção de 1 libra de fio mas esse trabalho excedente não geraria valor ou dinheiro Contudo o caráter normal dos fatores objetivos de trabalho não depende do trabalhador e sim do capitalista Uma outra condição é o caráter normal da própria força de trabalho No ramo de produção em que é empregada ela tem de possuir o padrão médio de habilidade eficiência e celeridade Mas aqui supomos que nosso capitalista comprou força de trabalho de qualidade normal Tal força tem de ser aplicada com a quantidade média de esforço e com o grau de intensidade socialmente usual e o capitalista controla o trabalhador para que este não desperdice nenhum segundo de trabalho Ele comprou a força de 200 trabalho por um período determinado e insiste em obter o que é seu Não quer ser furtado Por fim e é para isso que esse mesmo senhor possui seu próprio code penal código penal é vedado qualquer consumo desnecessário de matériaprima e meios de trabalho pois material e meios de trabalho desperdiçados representam o dispêndio desnecessário de certa quantidade de trabalho objetivado portanto trabalho que não conta e não toma parte no produto do processo de formação de valor17 Vêse que a diferença anteriormente obtida com a análise da mercadoria entre o trabalho como valor de uso e o mesmo trabalho como criador de valor apresentase agora como distinção dos diferentes aspectos do processo de produção O processo de produção como unidade dos processos de trabalho e de formação de valor é processo de produção de mercadorias como unidade dos processos de trabalho e de valorização ele é processo de produção capitalista forma capitalista da produção de mercadorias Observamos anteriormente que para o processo de valorização é completamente indiferente se o trabalho apropriado pelo capitalista é trabalho social médio não qualificado ou trabalho complexo dotado de um peso específico mais elevado O trabalho que é considerado mais complexo e elevado do que o trabalho social médio é a exteriorização de uma força de trabalho com custos mais altos de formação cuja produção custa mais tempo de trabalho e que por essa razão tem um valor mais elevado do que a força simples de trabalho Como o valor dessa força é mais elevado ela também se exterioriza num trabalho mais elevado trabalho que cria no mesmo período de tempo valores proporcionalmente mais altos do que aqueles criados pelo trabalho inferior Mas qualquer que seja a diferença de grau entre o trabalho de fiação e de joalheria a porção de trabalho com a qual o trabalhador joalheiro apenas repõe o valor de sua própria força de trabalho não se diferencia em nada em termos qualitativos da porção adicional de trabalho com a qual ele cria maisvalor Tal como antes o maisvalor resulta apenas de um excedente quantitativo de trabalho da duração prolongada do mesmo processo de trabalho num caso do processo de produção do fio noutro do processo de produção de joias18 Por outro lado em todo processo de formação de valor o trabalho superior tem sempre de ser reduzido ao trabalho social médio por exemplo uma jornada de trabalho superior tem de ser reduzida a x jornadas de trabalho simples19 Poupase com isso uma operação supérflua e simplificase a análise por meio do pressuposto de que o trabalhador empregado pelo capital realiza o trabalho social médio não qualificado 201 Capítulo 6 Capital constante e capital variável Os diferentes fatores do processo de trabalho participam de diferentes modos na formação do valor dos produtos O trabalho adiciona novo valor ao objeto do trabalho por meio da adição de uma quantidade determinada de trabalho não importando o conteúdo determinado a finalidade e o caráter técnico de seu trabalho Por outro lado os valores dos meios de produção consumidos reaparecem como componentes do valor dos produtos por exemplo os valores do algodão e dos fusos incorporados no valor do fio Desse modo o valor dos meios de produção é conservado por meio de sua transferência ao produto a qual ocorre durante a transformação dos meios de produção em produto isto é no processo de trabalho e é mediada pelo trabalho Mas como O trabalhador não trabalha duas vezes ao mesmo tempo uma vez para acrescentar valor ao algodão outra para conservar seu valor anterior ou o que é o mesmo para transferir ao produto o fio o valor do algodão que ele trabalha e o valor dos fusos com os quais ele trabalha Pelo contrário é pelo mero acréscimo de novo valor que ele conserva o valor anterior Mas como a adição de novo valor ao objeto de trabalho e a conservação dos valores anteriores incorporados no produto são dois resultados completamente distintos que o trabalhador atinge ao mesmo tempo durante o qual ele trabalha no entanto uma única vez concluise que essa duplicidade do resultado só pode ser explicada pela duplicidade de seu próprio trabalho Um lado do trabalho tem de criar valor ao mesmo tempo que seu outro lado tem de conservar ou transferir valor De que maneira cada trabalhador adiciona tempo de trabalho e consequentemente valor Evidentemente apenas na forma de seu modo peculiar de trabalho produtivo O fiandeiro só adiciona tempo de trabalho quando fia o tecelão quando tece o ferreiro quando forja É portanto por meio de uma forma determinada da adição de trabalho e de valor novo isto é por meio da fiação da tecelagem da forjadura etc que os meios de produção o algodão e o fuso o fio e a máquina de fiar o ferro e a bigorna se tornam elementos formadores de um produto um novo valor de uso20 A antiga forma de seu valor de uso desaparece mas apenas para reaparecer numa nova forma Ora ao tratarmos do processo de formação do valor vimos que quando um valor de uso é efetivamente consumido na produção de um novo valor de uso o tempo de trabalho necessário à produção de um valor de uso já consumido constitui parte do tempo necessário à produção do novo valor de uso e é portanto o tempo de trabalho transferido ao novo produto pelo meio de produção consumido Assim se o trabalhador conserva os valores dos meios de produção consumidos ou os transfere ao produto como seus componentes de valor ele não o faz por meio da adição de trabalho em geral mas por meio do caráter particularmente útil desse trabalho adicional por meio de sua específica forma produtiva É na forma de uma 202 atividade produtiva orientada a um determinado fim como a fiação a tecelagem ou a forjadura que o trabalho por seu simples contato com os meios de produção despertaos do mundo dos mortos animaos em fatores do processo de trabalho e se combina com eles para formar novos produtos Se o trabalho produtivo específico do trabalhador não fosse a fiação ele não poderia transformar o algodão em fio e portanto tampouco transferir ao fio os valores do algodão e dos fusos Se ao contrário o mesmo trabalhador trocar de ramo e se tornar carpinteiro ele continuará a adicionar valor a seu material por meio de uma jornada de trabalho Ele adiciona valor ao material por meio de seu trabalho não como trabalho de fiação ou de carpintaria mas como trabalho abstrato trabalho social em geral e adiciona uma grandeza determinada de valor não porque seu trabalho tenha um conteúdo útil particular mas porque dura um tempo determinado Portanto é por sua qualidade abstrata geral como dispêndio de força humana de trabalho que o trabalho do fiandeiro adiciona um valor novo aos valores do algodão e dos fusos e é em sua qualidade concreta particular e útil como processo de fiação que ele transfere ao produto o valor desses meios de produção e com isso conserva seu valor no produto Daí decorre a duplicidade de seu resultado no mesmo tempo Por meio da adição meramente quantitativa de trabalho um valor novo é adicionado por meio da qualidade do trabalho adicionado os valores antigos dos meios de produção são conservados no produto Esse efeito duplo do mesmo trabalho decorrência de seu caráter duplo pode ser detectado em vários fenômenos Suponha que em consequência de uma invenção qualquer o fiandeiro possa fiar em 6 horas a mesma quantidade de algodão que ele antes fiava em 36 horas Como atividade adequada a um fim útil e produtiva seu trabalho sextuplicou sua força Seu produto é seis vezes maior 36 libras de fio em vez de 6 Mas as 36 libras de algodão absorvem agora apenas o mesmo tempo de trabalho antes absorvido por 6 libras A quantidade de trabalho novo que lhes é adicionada é 6 vezes menor do que com o método antigo portanto apenas 16 do valor anterior Por outro lado o valor de algodão agora contido no produto é 6 vezes maior isto é 36 libras Nas 6 horas de fiação é conservado e transferido ao produto um valor de matériaprima 6 vezes maior embora à mesma matériaprima seja adicionado um novo selo 6 vezes menor I sso revela a diferença essencial entre as duas propriedades do trabalho que agem simultaneamente uma conservando a outra criando valor Quanto mais tempo de trabalho necessário é incorporado na mesma quantidade de algodão durante a fiação maior é o valor novo adicionado ao algodão porém quanto mais libras de algodão são fiadas no mesmo tempo de trabalho maior é o valor antigo conservado no produto Suponha ao contrário que a produtividade do trabalho de fiação se mantenha inalterada e que o fiandeiro continuasse a necessitar do mesmo tempo de trabalho que antes para transformar 1 libra de algodão em fio Mas suponha também que ocorra uma variação no valor de troca do algodão de modo que o preço de 1 libra de algodão aumente ou caia 6 vezes Em ambos os casos o fiandeiro continuará a adicionar o mesmo tempo de trabalho e assim o mesmo valor à mesma quantidade de algodão e em ambos os casos ele produzirá a mesma quantidade de fio no mesmo tempo No entanto o valor que ele transferirá do algodão ao fio será ou um sexto do 203 valor anterior ou seu sêxtuplo O mesmo ocorreria se o valor dos meios de trabalho aumentasse ou caísse porém continuando a prestar o mesmo serviço no processo de trabalho Se as condições técnicas do processo de fiação permanecerem as mesmas e não ocorrer nenhuma variação de valor nos meios de produção o fiandeiro continuará a consumir no mesmo tempo de trabalho a mesma quantidade de matériaprima e maquinaria cujos valores permanecem os mesmos O valor que ele conserva no produto permanece na razão direta do novo valor que ele adiciona a este Em duas semanas ele incorpora ao produto o dobro de trabalho e assim o dobro de valor de uma semana de trabalho ao mesmo tempo ele consome o dobro de material que vale o dobro e desgasta duas vezes mais maquinaria que também vale o dobro de maneira que no produto de duas semanas ele conserva o dobro de valor que é conservado no produto de uma semana Sob condições invariáveis de produção o trabalhador conserva tanto mais valor quanto mais valor ele adiciona mas conserva mais valor não porque adiciona mais valor e sim porque o adiciona sob condições invariáveis e independentes de seu próprio trabalho Em certo sentido podese dizer que o trabalhador sempre conserva valores anteriores na mesma proporção em que adiciona novo valor Se o algodão aumenta de 1 para 2 xelins ou cai para 6 pence o trabalhador continua a conservar no produto de 1 hora de trabalho apenas a metade do valor do algodão que ele conserva no produto de 2 horas de trabalho independentemente da variação daquele valor Se além disso a produtividade de seu próprio trabalho variar seja para cima ou para baixo ele poderá fiar mais ou menos algodão que antes e desse modo conservar no produto de 1 hora de trabalho mais ou menos valor em algodão Contudo em duas horas de trabalho ele conservará o dobro de valor do que em uma O valor se desconsideramos sua expressão meramente simbólica nos signos de valor existe apenas num valor de uso numa coisa O próprio homem considerado como mera existência de força de trabalho é um objeto natural uma coisa embora uma coisa viva autoconsciente sendo o próprio trabalho a exteriorização material dessa força Por isso a perda do valor de uso implica a perda do valor Com a perda de seu valor de uso os meios de produção não perdem ao mesmo tempo seu valor uma vez que por meio do processo de trabalho eles só perdem a figura originária de seu valor de uso para no produto ganhar a figura de outro valor de uso Mas do mesmo modo que para o valor é importante que ele exista num valor de uso qualquer também lhe é indiferente em qual valor determinado ele existe como fica evidente na metamorfose das mercadorias Disso se segue que no processo de trabalho o valor do meio de produção só se transfere ao produto na medida em que o meio de produção perde juntamente com seu valor de uso independente também seu valor de troca Ele só cede ao produto o valor que perde como meio de produção A esse respeito porém nem todos os fatores objetivos do processo de trabalho se comportam do mesmo modo O carvão que serve de combustível para a máquina desaparece sem deixar rastros do mesmo modo que o óleo usado na lubrificação da engrenagem As tintas e outras matérias auxiliares também se consomem porém reaparecem como propriedades do 204 produto A matériaprima constitui a substância do produto mas sua forma foi modificada Desse modo a matériaprima e as matérias auxiliares perdem a figura independente com que ingressaram no processo de trabalho como valores de uso diferentemente do que ocorre com os meios de trabalho propriamente ditos Uma ferramenta uma máquina o edifício de uma fábrica um barril etc servem no processo de trabalho apenas na medida em que conservam sua configuração original podendo entrar amanhã no processo de trabalho com a mesma forma com que entraram ontem Depois de sua morte os meios de trabalho conservam sua figura independente em relação ao produto tanto quanto a conservavam durante sua vida isto é ao longo do processo de trabalho Os cadáveres das máquinas ferramentas edifícios industriais etc continuam a existir separados dos produtos que eles mesmos ajudaram a criar Ora se considerarmos o período inteiro durante o qual tal meio de trabalho serve na produção desde sua introdução na oficina até o dia de seu banimento ao depósito de sucata veremos que durante esse período seu valor de uso foi integralmente consumido pelo trabalho e portanto seu valor de troca foi completamente transferido ao produto Se por exemplo uma máquina de fiar durou 10 anos deduzse que durante esse processo de trabalho seu valor total foi gradualmente transferido ao produto desses 10 anos O tempo de vida de um meio de trabalho compreende portanto sua repetida utilização num número maior ou menor de processos de trabalho sucessivos E com o meio de trabalho ocorre o mesmo que com o homem Todo homem morre 24 horas a cada dia Porém apenas olhando para um homem não é possível perceber com exatidão quantos dias ele já morreu o que no entanto não impede que companhias de seguros baseandose na expectativa média de vida dos homens possam chegar a conclusões muito seguras e mais ainda muito lucrativas O mesmo ocorre com o meio de trabalho A experiência nos ensina quanto tempo dura em média um meio de trabalho por exemplo uma máquina de certo tipo Suponha que seu valor de uso no processo de trabalho dure apenas 6 dias Desse modo a cada dia de trabalho ele perde em média 16 de seu valor de uso e por conseguinte transfere 16 de seu valor a seu produto diário Assim é calculada a depreciação de todos os meios de trabalho isto é por exemplo sua perda diária de valor de uso e sua correspondente transferência diária de valor ao produto Esse exemplo demonstra claramente que um meio de produção jamais transfere ao produto mais valor do que o valor que ele perde no processo de trabalho por meio da destruição de seu valor de uso Se não tivesse valor algum a perder isto é se ele mesmo não fosse produto do trabalho humano o meio de produção não poderia transferir qualquer valor ao produto Ele serviria de criador de valor de uso sem servir de criador de valor de troca Tal é o caso de todos os meios de produção que preexistem na natureza sem a intervenção humana tais como a terra o vento a água o ferro nos veios das rochas a madeira nas florestas virgens etc Aqui outro fenômeno interessante se apresenta Suponha que uma máquina tenha por exemplo o valor de 1000 e se consuma em 1000 dias Nesse caso 11000 do valor da máquina é transferido diariamente a seu produto Ao mesmo tempo a máquina inteira continua a atuar embora com vitalidade decrescente no processo de trabalho Evidenciase assim que um fator do processo de trabalho um meio de produção 205 entra inteiramente no processo de trabalho mas apenas parcialmente no processo de valorização A diferença entre processo de trabalho e processo de valorização se reflete aqui em seus fatores objetivos uma vez que no mesmo processo de produção o meio de produção atua de modo inteiro como elemento do processo de trabalho e de modo apenas fracionado como elemento da formação de valor21 Por outro lado um meio de produção pode entrar de modo inteiro no processo de valorização embora entre apenas de modo fracionado no processo de trabalho Suponha que no processo de fiação para cada 115 libras de algodão diariamente utilizadas sejam desperdiçadas 15 libras que não se transformam em fio mas em devils dusta No entanto na medida em que esse resíduo é considerado como um elemento normal e inseparável da fiação em suas condições médias essas 15 libras embora não constituam elemento do fio passam a compor o valor do fio tanto quanto as 100 libras que constituem sua substância O valor de uso de 15 libras de algodão tem de ser transformado em pó para que sejam produzidas 100 libras de fio A destruição desse algodão é portanto uma condição necessária para a produção do fio e é justamente por isso que ele transfere seu valor ao fio I sso vale para todos os detritos do processo de trabalho ao menos na medida em que tais detritos não constituem novos meios de produção e por conseguinte valores de uso novos e independentes Tal uso de detritos pode ser observado nas grandes fábricas de máquinas de Manchester onde montanhas de resíduos de ferro reduzido a pequenas lascas por máquinas ciclópicas à noite são transportados em grandes vagões até o forno de fundição e no dia seguinte retornam à fábrica como barras maciças de ferro Os meios de produção só transferem valor à nova figura do produto na medida em que durante o processo de trabalho perdem valor na figura de seus antigos valores de uso O máximo de perda de valor que eles podem suportar no processo de trabalho é claramente limitado pela grandeza de valor original com a qual ingressaram no processo de trabalho ou em outras palavras pelo tempo de trabalho requerido para sua própria produção Por isso os meios de produção jamais podem adicionar ao produto um valor maior do que o que eles mesmos possuem independentemente do processo de trabalho no qual tomam parte Por mais útil que possa ser um material de trabalho uma máquina um meio de produção custe ele 150 ou digamos 500 jornadas de trabalho ele jamais poderá adicionar ao produto total mais do que 150 Seu valor é determinado não pelo processo de trabalho no qual ele entra como meio de produção mas pelo processo de trabalho do qual ele resulta como produto No processo de trabalho ele serve apenas como valor de uso como coisa dotada de propriedades úteis que não poderia transferir nenhum valor ao produto se já não possuísse valor antes de sua entrada no processo22 Quando o trabalho produtivo transforma os meios de produção em elementos constituintes de um novo produto o valor desses meios de produção sofre uma metempsicose Ele transmigra do corpo consumido ao novo corpo criado Mas essa metempsicose se dá como que por trás das costas do trabalho efetivo O trabalhador não pode adicionar novo trabalho criar novo valor sem conservar valores antigos pois ele tem sempre de adicionar trabalho numa forma útil determinada e não tem como adicionálo numa forma útil sem transformar os produtos em meios de produção de 206 um novo produto e desse modo transferir ao novo produto o valor desses meios de produção A capacidade de conservar valor ao mesmo tempo que adiciona valor é um dom natural da força de trabalho em ação do trabalho vivo um dom que não custa nada ao trabalhador mas é muito rentável para o capitalista na medida em que conserva o valor existente do capital22a Enquanto o negócio vai bem a atenção do capitalista está absorvida demais na criação de lucro para que ele perceba essa dádiva gratuita do trabalho Apenas interrupções violentas do processo de trabalho crises tornamno sensível a esse fato23 O que é realmente consumido nos meios de produção é seu valor de uso e é por meio desse consumo que o trabalho cria produtos Seu valor não é de fato consumido24 e tampouco pode ser reproduzido Ele é conservado não porque ele próprio seja objeto de uma operação no processo de trabalho mas porque o valor de uso no qual ele originalmente existia desaparece embora apenas para se incorporar em outro valor de uso O valor dos meios de produção reaparece assim no valor do produto porém não se pode dizer que ele seja reproduzido O que é produzido é o novo valor de uso no qual reaparece o antigo valor de troca25 Diferente é o que ocorre com o fator subjetivo do processo de trabalho a força de trabalho em ação Enquanto o trabalho mediante sua forma orientada a um fim transfere ao produto o valor dos meios de produção e nele o conserva cada momento de seu movimento cria valor adicional valor novo Suponha por exemplo que o processo de produção seja interrompido no momento em que o trabalhador tenha produzido um equivalente do valor de sua própria força de trabalho tendo adicionado ao produto em 6 horas de trabalho digamosum valor de 3 xelins Tal valor constitui o excedente do valor do produto acima da parcela desse valor que é devida aos meios de produção Ele é o único valor original surgido no interior desse processo a única parte do valor do produto criada pelo próprio processo Não podemos nos esquecer é claro de que esse novo valor não faz mais do que repor o dinheiro desembolsado pelo capitalista na compra de força de trabalho e gasto pelo trabalhador em meios de subsistência Quanto aos 3 xelins gastos o novo valor de 3 xelins aparece apenas como reprodução mas ele é efetivamente reproduzido e não apenas aparentemente como ocorre com o valor dos meios de produção A substituição de um valor por outro é mediada aqui por uma nova criação de valor J á sabemos no entanto que o processo de trabalho pode durar além do tempo necessário para reproduzir e incorporar no objeto de trabalho um mero equivalente do valor da força de trabalho Em vez de 6 horas que aqui seriam suficientes para essa reprodução o processo dura digamos 12 horas Assim por meio da ação da força de trabalho não apenas seu próprio valor se reproduz mas também se produz um valor excedente Esse maisvalor constitui o excedente do valor do produto sobre o valor dos elementos formadores do produto isto é dos meios de produção e da força de trabalho Em nossa exposição dos diferentes papéis desempenhados pelos diversos fatores do processo de trabalho na formação do valor do produto caracterizamos as funções dos diversos componentes do capital em seu próprio processo de valorização O excedente do valor total do produto sobre a soma dos valores de seus elementos 207 formadores é o excedente do capital valorizado sobre o valor do capital originalmente desembolsado Meios de produção de um lado e força de trabalho de outro não são mais do que diferentes formas de existência que o valor do capital originário assume ao se despojar de sua formadinheiro e se converter nos fatores do processo de trabalho Portanto a parte do capital que se converte em meios de produção isto é em matériasprimas matérias auxiliares e meios de trabalho não altera sua grandeza de valor no processo de produção Por essa razão denominoa parte constante do capital ou mais sucintamente capital constante Por outro lado a parte do capital constituída de força de trabalho modifica seu valor no processo de produção Ela não só reproduz o equivalente de seu próprio valor como produz um excedente um maisvalor que pode variar sendo maior ou menor de acordo com as circunstâncias Essa parte do capital transformase continuamente de uma grandeza constante numa grandeza variável Denominao por isso parte variável do capital ou mais sucintamente capital variável Os mesmos componentes do capital que do ponto de vista do processo de trabalho distinguemse como fatores objetivos e subjetivos como meios de produção e força de trabalho distinguemse do ponto de vista do processo de valorização como capital constante e capital variável O conceito do capital constante não exclui em absoluto uma revolução no valor de seus componentes Suponha que 1 libra de algodão custe hoje 6 pence e amanhã passe a custar 1 xelim em consequência de uma queda na colheita de algodão O algodão comprado por 6 pence a libra e que continua a ser trabalhado após o aumento de seu valor adiciona ao produto agora o valor de 1 xelim Do mesmo modo o algodão já fiado antes do aumento e que talvez já circule no mercado como fio adiciona ao produto o dobro de seu valor original Vêse no entanto que essas mudanças de valor são independentes da valorização do algodão no próprio processo de fiação Se o antigo algodão ainda não tivesse sido introduzido no processo de trabalho ele poderia agora ser revendido por 1 xelim em vez de 6 pence Ao contrário quanto menos processos de trabalho o algodão tiver de percorrer tanto mais certo será esse resultado Por isso constitui uma lei da especulação em tais revolução do valor especular com a matériaprima em sua forma menos trabalhada portanto com o fio mais do que com o tecido e com o próprio algodão mais do que com o fio A alteração no valor tem origem aqui no processo que produz o algodão e não no processo em que ele funciona como meio de produção e por conseguinte como capital constante O valor de uma mercadoria é de fato determinado pela quantidade de trabalho nela contido mas essa própria quantidade é socialmente determinada A alteração no tempo de trabalho socialmente necessário para a sua produção e a mesma quantidade de algodão por exemplo incorpora uma quantidade maior de trabalho em colheitas desfavoráveis do que em favoráveis exerce um efeito retroativo sobre a antiga mercadoria que vale sempre como exemplo singular de sua espécie26 cujo valor é sempre medido pelo trabalho socialmente necessário isto é pelo trabalho necessário para sua produção sob as condições sociais presentes Tal como o valor da matériaprima o valor dos meios de produção da maquinaria etc que servem no processo de produção pode variar e com ele também a parte de 208 valor que transferem ao produto Se por exemplo em consequência de uma nova invenção maquinaria do mesmo tipo é reproduzida com menor dispêndio de trabalho a velha maquinaria se desvaloriza em maior ou menor grau e assim transfere relativamente menos valor ao produto Mas também aqui a mudança no valor tem origem fora do processo de produção em que a máquina funciona como meio de produção Nesse processo ela jamais cede um valor maior do que o que ela possui independentemente dele Assim como uma mudança no valor dos meios de produção mesmo que ocorrendo posteriormente à atuação destes últimos no processo não altera seu caráter como capital constante tampouco uma mudança na proporção entre capital constante e variável afeta as respectivas funções dessas duas formas de capital As condições técnicas do processo de trabalho podem ser revolucionadas de modo que por exemplo se antes dez trabalhadores usando dez ferramentas de baixo valor trabalhavam uma quantidade relativamente pequena de matériaprima agora apenas um trabalhador usando uma máquina mais cara trabalha uma quantidade de matéria prima cem vezes maior Nesse caso temse um grande aumento de capital constante isto é da quantidade de valor dos meios de produção empregados e uma grande diminuição da parte variável do capital investida na força de trabalho Tal mudança no entanto altera apenas a relação quantitativa entre o capital constante e o variável ou a proporção em que o capital total se decompõe em seus componentes constante e variável mas não afeta em nada a diferença entre os dois 209 Capítulo 7 A taxa do maisvalor 1 O grau de exploração da força de trabalho O maisvalor que o capital adiantado C gerou no processo de produção ou em outras palavras a valorização do valor de capital Kapitalwert adiantado C apresentase de início como excedente do valor do produto sobre a soma de valor de seus elementos de produção O capital C decompõese em duas partes uma quantia de dinheiro c gasta com meios de produção e uma quantia v gasta com a força de trabalho c representa a parte do valor transformada em capital constante e v a parte transformada em capital variável Originalmente portanto C c v de modo que se o capital adiantado é digamos 500 temos 500 410 const 90 var Ao final do processo de produção resulta uma mercadoria cujo valor é c v m onde m representa o maisvalor por exemplo 410 const 90 var 90 maisval O capital original C transformouse em C de 500 ele passou a 590 A diferença entre os dois é m um maisvalor de 90 Como o valor dos elementos de produção é igual ao valor do capital adiantado é uma mera tautologia dizer que o excedente do valor do produto sobre o valor de seus elementos de produção é igual à valorização do capital adiantado ou ao maisvalor produzido Essa tautologia requer no entanto uma análise mais detalhada O que é comparado com o valor dos produtos é o valor dos elementos consumidos em sua produção Ora vimos que a parte do capital constante investido que é constituída de meios de trabalho transfere apenas uma porção de seu valor ao produto ao passo que outra porção é conservada em sua antiga forma de existência Como esta última não desempenha nenhum papel na formação do valor ela pode aqui ser deixada de lado Sua inclusão no cálculo não faria nenhuma diferença Tomemos nosso exemplo anterior segundo o qual c 410 e suponha que essa quantia consista de 312 de matériaprima 44 de matéria auxiliar e 54 do desgaste da maquinaria usada no processo sendo o valor total da maquinaria empregada 1054 Como valor adiantado para a formação do valor do produto temos de calcular assim apenas as 54 que a maquinaria perde devido a seu funcionamento e desse modo transfere ao produto Se calculássemos nessa soma as 1000 que continuam a existir em sua forma antiga como máquina a vapor etc também teríamos de calculála como parte do valor adiantado de modo que ela apareceria nos dois lados da equação do lado do valor adiantado e do lado do valor do produto26a e obteríamos respectivamente 1500 e 1590 A diferença ou o maisvalor seria tal como antes 90 Por capital constante adiantado para a produção de valor entendemos sempre salvo exceções evidentes o valor dos meios de produção consumidos na produção Dito isso retornemos à fórmula C c v que vimos se transformar em C c v 210 m de modo que C se transformou em C Sabese que o valor do capital constante apenas reaparece no produto O produto de valor Wertprodukt efetivamente criado no processo é portanto diferente do valor do produto Prokutenwert que resulta do processo ele não é como parece à primeira vista c v m ou 410 const 90 var 90 maisval mas v m ou 90 var 90 maisval não 590 mas 180 Se c o capital constante fosse 0 em outras palavras se existisse algum ramo da indústria em que o capitalista não empregasse nenhum meio de produção produzido nem matériaprima nem matérias auxiliares nem instrumentos de trabalho mas tão somente matérias preexistentes na natureza e mais força de trabalho não haveria nenhuma parte de valor constante a ser transferida ao produto Esse elemento do valor do produto que em nosso exemplo soma 410 seria eliminado mas o produto de valor de 180 que contém 90 de maisvalor permaneceria com a mesma grandeza que teria se c representasse o maior valor imaginável Teríamos C 0 v v e C o capital valorizado v m e desse modo C C seria tal como antes m Se ao contrário m 0 ou em outras palavras se a força de trabalho cujo valor é adiantado na forma de capital variável não produzisse mais do que um equivalente então C c v e C o valor do produto c v 0 de modo que C C O capital adiantado não se teria então valorizado J á sabemos que o maisvalor é uma mera consequência de uma mudança de valor de v a parte do capital transformada em força de trabalho e que portanto v m v Δv v mais um incremento de v Mas a verdadeira mudança de valor bem como as condições dessa mudança é obscurecida pelo fato de que em consequência do crescimento de seu componente variável temse também um crescimento do capital total adiantado Ele era 500 e agora é 590 A análise pura do processo exige portanto que se faça total abstração da parte do valor do produto em que apenas reaparece o valor do capital constante ela exige que se pressuponha o capital constante c 0 e se aplique uma lei da matemática adequada a casos em que se opera com grandezas variáveis e constantes e em que estas só estejam ligadas entre si por meio da adição e da subtração Outra dificuldade resulta da forma original do capital variável No exemplo anterior C 410 de capital constante 90 de capital variável 90 de maisvalor Mas 90 são uma grandeza dada e portanto constante razão pela qual parece absurdo tratála como grandeza variável Mas 90 ou 90 de capital variável são aqui na verdade tão somente um símbolo do processo que esse valor percorre A parte do capital adiantada na compra da força de trabalho é uma quantidade determinada de trabalho objetivado portanto uma grandeza constante de valor como o valor da força de trabalho comprada No próprio processo de produção porém o lugar das 90 adiantadas é ocupado pela força de trabalho em ação o trabalho morto é substituído pelo trabalho vivo e uma grandeza imóvel e constante cede lugar a uma grandeza fluida e variável O resultado é a reprodução de v mais o incremento de v Do ponto de vista da produção capitalista esse ciclo inteiro é o movimento espontâneo do valor originalmente constante transformado em força de trabalho I mputase a esse valor tanto o processo quanto seu resultado de modo que se as expressões 90 de capital variável ou valor que valoriza a si mesmo parecem contraditórias elas expressam 211 apenas uma contradição imanente à produção capitalista À primeira vista parece estranho igualar o capital constante a 0 No entanto é o que fazemos constantemente no dia a dia Se por exemplo queremos calcular o lucro obtido pela I nglaterra com a indústria de algodão temos de começar por descontar os valores pagos pelo algodão aos Estados Unidos à Índia ao Egito etc isto é temos de igualar a 0 o valor do capital que apenas reaparece no valor do produto Certamente a relação do maisvalor não apenas com a parte do capital de onde ele resulta diretamente e cuja mudança de valor ele representa mas também com o capital total adiantado é de extrema importância econômica Por isso trataremos detalhadamente dessa relação no Livro I I I desta obra Para valorizar uma parte do capital por meio de sua transformação em força de trabalho outra parte do capital tem de ser transformada em meios de produção Para que o capital variável funcione o capital constante tem de ser adiantado nas proporções devidas de acordo com o caráter técnico determinado do processo de trabalho No entanto a circunstância de que para um processo químico sejam necessárias retortas e outros tipos de recipientes não obriga o químico a incluir esses meios no resultado da análise Se observarmos a criação e a variação do valor em si mesmas isto é em sua pureza veremos que os meios de produção essas formas materiais do capital constante fornecem apenas a matéria em que se deve fixar a força fluida criadora de valor A natureza dessa matéria é por isso indiferente se algodão ou ferro Também o valor dessa matéria é indiferente Ela tem apenas de existir em volume suficiente para absorver a quantidade de trabalho a ser despendido durante o processo de produção Dado esse volume seu valor pode aumentar ou diminuir ou ela pode não ter valor como a terra e o mar e isso não afetará em nada o processo de criação e de mudança do valor27 I nicialmente portanto igualamos a 0 a parte constante do capital Desse modo o capital adiantado é reduzido de c v a apenas v e o valor do produto c v m ao produto de valor v m Dado o produto de valor 180 no qual está representado o trabalho despendido durante todo processo de produção temos de descontar o valor do capital variável 90 para obter o maisvalor 90 O valor de 90 m expressa aqui a grandeza absoluta do maisvalor produzido mas sua grandeza proporcional isto é a proporção em que se valorizou o capital variável é obviamente determinada pela relação entre o maisvalor e o capital variável sendo expressa em mv No exemplo anterior portanto essa proporção é de 9090 100 Essa valorização proporcional do capital variável ou grandeza proporcional do maisvalor denomino taxa de mais valor28 Vimos que o trabalhador durante uma parte do processo de trabalho produz apenas o valor de sua força de trabalho isto é o valor dos meios necessários à sua subsistência Produzindo sob condições baseadas na divisão social do trabalho ele produz seus meios de subsistência não diretamente mas na forma de uma mercadoria particular por exemplo do fio um valor igual ao valor de seus meios de subsistência ou ao dinheiro com o qual ele os compra A parte de sua jornada de trabalho que ele precisa para isso pode ser maior ou menor a depender do valor de seus meios de subsistência diários médios ou o que é o mesmo do tempo médio de trabalho diário requerido para sua produção Se o valor de seus meios diários de subsistência 212 representa em média 6 horas de trabalho objetivado o trabalhador tem de trabalhar em média 6 horas diárias para produzilos Se não trabalhasse para o capitalista mas para si mesmo independentemente ele continuaria a dedicar mantendose iguais as demais circunstâncias a mesma média diária de horas de sua jornada à produção do valor de sua força de trabalho e desse modo à obtenção dos meios de subsistência necessários à sua manutenção ou reprodução contínua Mas como na parte de sua jornada de trabalho em que produz o valor diário da força de trabalho digamos 3 xelins o trabalhador produz apenas um equivalente do valor já pago pelo capitalista28a e desse modo apenas repõe por meio do novo valor criado o valor do capital variável adiantado essa produção de valor aparece como mera reprodução Portanto denomino tempo de trabalho necessário a parte da jornada de trabalho em que se dá essa reprodução e trabalho necessário o trabalho despendido durante esse tempo29 Ele é necessário ao trabalhador porquanto é independente da forma social de seu trabalho e é necessário ao capital e seu mundo porquanto a existência contínua do trabalhador forma sua base O segundo período do processo de trabalho em que o trabalhador trabalha além dos limites do trabalho necessário custalhe de certo trabalho dispêndio de força de trabalho porém não cria valor algum para o próprio trabalhador Ele gera maisvalor que para o capitalista tem todo o charme de uma criação a partir do nada A essa parte da jornada de trabalho denomino tempo de trabalho excedente Surplusarbeitszeit e ao trabalho nela despendido denomino maistrabalho Mehrarbeit surplus labour Do mesmo modo como para a compreensão do valor em geral é indispensável entendêlo como mero coágulo de tempo de trabalho como simples trabalho objetivado é igualmente indispensável para a compreensão do mais valor entendêlo como mero coágulo de tempo de trabalho excedente como simples maistrabalho objetivado O que diferencia as várias formações econômicas da sociedade por exemplo a sociedade da escravatura daquela do trabalho assalariado é apenas a forma pela qual esse maistrabalho é extraído do produtor imediato do trabalhador30 Como por um lado o valor do capital variável é igual ao valor da força de trabalho por ele comprada e o valor dessa força de trabalho determina a parte necessária da jornada de trabalho enquanto o maisvalor por outro lado é determinado pela parte excedente da jornada de trabalho concluímos que o maisvalor está para o capital variável como o maistrabalho está para o trabalho necessário ou em outras palavras que a taxa de maisvalor mv maistrabalhotrabalho necessário Ambas as proporções expressam a mesma relação de modo diferente uma na forma de trabalho objetivado a outra na forma de trabalho fluido A taxa de maisvalor é assim a expressão exata do grau de exploração da força de trabalho pelo capital ou do trabalhador pelo capitalista30a De acordo com nossa suposição o valor do produto é 410 const 90 var 90 maisval e o capital adiantado é 500 Como o maisvalor é 90 e o capital adiantado é 500 teríamos de acordo com o modo habitual de cálculo uma taxa de maisvalor geralmente confundida com a taxa de lucro 18 um taxa suficientemente baixa para deixar emocionado o sr Carey e outros harmonistasa Na realidade porém a taxa 213 de maisvalor não é mC ou mc m mas mv portanto não 90500 mas 9090 100 mais do que o quíntuplo do grau aparente de exploração Embora no caso em questão sejanos desconhecida a grandeza absoluta da jornada de trabalho bem como o período do processo de trabalho dia semana etc e tampouco saibamos o número de trabalhadores que põem em movimento o capital variável de 90 a taxa de maisvalor mv nos mostra com exatidão por meio de sua convertibilidade em maistrabalhotrabalho necessário a relação mútua entre as duas partes da jornada de trabalho Ela é de 100 De modo que o trabalhador trabalha metade da jornada para si e a outra metade para o capitalista O método de cálculo da taxa de maisvalor pode portanto ser resumido da seguinte forma tomamos o valor total do produto e igualamos a zero o capital constante que meramente reaparece nesse produto A soma de valor restante é o único produto de valor efetivamente criado no processo de produção da mercadoria Estando dado o maisvalor temos então de deduzilo desse produto de valor a fim de encontrarmos o capital variável Se ao contrário dispomos deste último temos então de encontrar o maisvalor Se ambos estão dados basta realizar a operação final isto é o cálculo da relação do maisvalor com o capital variável mv Por simples que seja esse método parecenos recomendável exercitar o leitor na aplicação de seus princípios por meio de alguns exemplos Comecemos pelo exemplo de uma fiação dotada de 10000 fusos de mule e que fabrica o fio n 32 a partir do algodão americano produzindo semanalmente 1 libra de fio por fuso O resíduo é de 6 Portanto a cada semana são trabalhadas 10600 libras de algodão que são transformadas em 10000 libras de fio e 600 libras de resíduo Em abril de 1871 esse algodão custava 734 pence a libra de modo que o preço arredondado de 10600 libras é de 342 Os 10000 fusos incluindo a maquinaria preparatória da fiação e a máquina a vapor custam 1 por fuso portanto 10000 no total Sua depreciação é de 10 desse valor isto é 1000 ou 20 semanais O aluguel do edifício da fábrica é 300 ou 6 semanais O carvão consumido 4 libras por hora e por cavalo vapor a 100 cavalosvapor indicador e 60 horas por semana inclusive o aquecimento do edifício que chega a 11 tons toneladas por semana ao preço de 8 xelins e 6 pence por tonelada custa em valores arredondados 412 por semana gás 1 por semana óleo 412 por semana de modo que todas as matérias auxiliares somam um total de 10 por semana A parte constante do valor é de 378 por semana O salário custa 52 por semana O preço do fio é de 1214 pence por libra ou 10000 libras 510 sendo o maisvalor portanto 510 430 80 I gualamos a zero a parte constante do valor que é de 378 pois ela não participa na formação semanal de valor Resta o produto semanal de valor de 132 52 var 80 maisval A taxa de maisvalor é assim 8052 1531113 Para uma jornada de trabalho média de 10 horas o resultado é trabalho necessário 33133 horas e maisvalor 6233 horas31 J acob nos apresenta para o ano de 1815 o seguinte cálculo que devido à compensação prévia de vários itens é bastante defeituoso mas serve a nosso propósitob Ele supõe um preço do trigo de 80 xelins por quarter e uma colheita média de 22 alqueires por acre de modo que cada acre produz 11 214 Valor produzido por acre Sementes trigo 1 9 xelins Dízimos rates taxes taxas impostos 1 1 xelim Adubo 2 10 xelins Renda 1 8 xelins Salário 3 10 xelins Lucro e juros do fazendeiro 1 2 xelins Total 7 9 xelins Total 3 11 xelins O maisvalor sempre pressupondo que o preço do produto é igual a seu valor é distribuído aqui entre as diferentes rubricas lucro juros dízimos etc Tais rubricas nos são indiferentes Somandoas obtemos um maisvalor de 3 11 xelins Os 3 19 xelins gastos em sementes e adubo como parte constante do capital igualamos a zero Resta o valor que foi adiantado o capital variável de 3 10 xelins em lugar do qual foi produzido um novo valor de 3 10 xelins 3 11 xelins Temos assim mv 3 11 xelins3 10 xelins mais de 100 O trabalhador emprega mais da metade de sua jornada de trabalho para produzir um maisvalor que pessoas diversas sob pretextos diversos repartem entre si31a 2 Representação do valor do produto em partes proporcionais do produto Voltemos agora ao exemplo que nos mostrou como o capitalista transforma dinheiro em capital O trabalho necessário de seu fiandeiro era de 6 horas o maistrabalho era o mesmo de modo que o grau de exploração da força de trabalho era 100 O produto da jornada de trabalho de 12 horas são 20 libras de fio com um valor de 30 xelins Não menos que 810 do valor desse fio 24 xelins são formados pelo valor dos meios de produção consumidos 20 libras de algodão a 20 xelins fusos etc por 4 xelins que apenas reaparecem no valor do produto e constituem assim o capital constante Os 210 restantes são o novo valor de 6 xelins surgido durante o processo de fiação e do qual uma metade repõe o valor adiantado de um dia da força de trabalho ou seja o capital variável e a outra metade constitui um maisvalor de 3 xelins O valor total das 20 libras de fio se compõe portanto do modo seguinte 30 xelins de fio 24 xelins const 3 xelins var 3 xelins maisval Como esse valor total se representa no produto total de 20 libras de fio também deve ser possível representar os diferentes elementos desse valor em partes proporcionais do produto Se o valor de 30 xelins está contido em 20 libras de fio então 810 desse valor ou sua parte constante de 24 xelins está contida em 810 do produto ou em 16 libras de fio Destas 1313 libras representam o valor da matériaprima o algodão fiado por 20 xelins e 22 3 libras representam o valor de 4 xelins referente às matérias auxiliares e meios de trabalho consumidos no processo como fusos etc 215 Assim 1313 libras de fio representam o algodão fiado no produto total de 20 libras de fio isto é a matériaprima do produto total porém nada mais do que isso Nesse produto total estão contidas é verdade apenas 1313 libras de algodão no valor de 1313 xelins mas seu valor adicional de 623 xelins constitui um equivalente do algodão consumido na fiação das 623 libras de fio restantes É como se destas últimas se houvesse arrancado o algodão e todo o algodão do produto total tivesse sido comprimido nas 1313 libras de fio Ao contrário essas 1313 libras de fio não contêm agora nenhum átomo do valor das matérias auxiliares e dos meios de trabalho nem tampouco do novo valor criado no processo de fiação Do mesmo modo as 223 libras de fio nas quais está incorporado o que resta do capital constante 4 xelins representam apenas o valor das matérias auxiliares e dos meios de trabalho despendidos no produto total das 20 libras de fio Assim 810 do produto ou 16 libras de fio ainda que se considerados do ponto de vista físico como valor de uso como fio sejam um resultado do trabalho de fiação tanto quanto o são as partes restantes do produto não contêm nesse contexto nenhum trabalho de fiação nenhum trabalho que tenha sido absorvido durante o próprio processo de fiação É como se tivessem se transformado em fio sem terem sido fiados e como se sua figura de fio fosse pura enganação De fato quando o capitalista os vende por 24 xelins e com esse valor repõe seus meios de produção evidenciase que as 16 libras de fio não são mais do que um disfarce do algodão dos fusos do carvão etc I nversamente agora os 810 restantes do produto ou 4 libras de fio representam apenas o novo valor de 6 xelins produzido no processo de fiação de 12 horas O que eles continham do valor das matériasprimas e meios de trabalho consumidos nessas 4 libras de fio já foi extirpado e incorporado às 16 libras de fio iniciais O trabalho incorporado nas 20 libras de fio está concentrado em 210 do produto É como se o fiandeiro tivesse produzido 4 libras de fio a partir do nada ou os tivesse fiado com algodão e fusos que preexistentes na natureza e inalterados pelo trabalho humano não transferissem nenhum valor ao produto Das 4 libras de fio que contêm o produto de valor total do processo diário de fiação metade representa apenas o valor de reposição da força de trabalho consumida ou seja o capital variável de 3 xelins e a outra metade o maisvalor de 3 xelins Se 12 horas de trabalho do fiandeiro se objetivam em 6 xelins concluise que em 30 xelins de fio estão objetivadas 60 horas de trabalho Essa quantidade de tempo de trabalho existe em 20 libras de fio das quais 810 ou 16 libras são a materialização de 48 horas de trabalho anteriores ao processo de fiação isto é do trabalho objetivado nos meios de produção do fio e 210 ou 4 libras são a materialização das 12 horas de trabalho despendidas no próprio processo de fiação Vimos anteriormente que o valor do fio é igual à soma do novo valor criado em sua produção mais o valor que já existia anteriormente em seus meios de produção Agora verificouse como os diversos componentes do valor do produto componentes que se distinguem de acordo com sua função ou seu conceito podem ser representados em partes proporcionais do próprio produto 216 Essa decomposição do produto resultado do processo de produção numa quantidade de produto que representa apenas o trabalho contido nos meios de produção ou a parte constante do capital em outra quantidade que representa apenas o trabalho necessário adicionado durante o processo de produção ou a parte variável do capital e numa última quantidade que representa apenas o maistrabalho adicionado durante esse mesmo processo ou o maisvalor tal decomposição é tão simples quanto importante como ficará claro mais adiante quando for aplicada a problemas complicados e ainda não resolvidos J á pudemos observar o produto total como o resultado da jornada de trabalho de 12 horas Mas também é possível acompanhar esse produto ao longo de seu processo de formação e no entanto representar os produtos parciais como partes do produto funcionalmente distintas O fiandeiro produz 20 libras de fio em 12 horas ou 123 libra em 1 hora e 1313 libras em 8 horas ou seja um produto parcial do valor total do algodão fiado durante a jornada inteira de trabalho Do mesmo modo o produto parcial do período seguinte de 1 hora e 36 minutos é 223 libras de fio e representa o valor dos meios de trabalho consumidos durante as 12 horas de trabalho No período seguinte de 1 hora e 12 minutos o fiandeiro produz 2 libras de fio 3 xelins um valor do produto igual ao produto de valor inteiro que ele cria em 6 horas de trabalho necessário Por fim nas últimas 65 horas ele produz outras 2 libras de fio cujo valor é igual ao maisvalor gerado por sua meia jornada de maistrabalho Esse modo de calcular serve ao fabricante inglês para seu uso doméstico demonstrando por exemplo que nas primeiras 8 horas ou 23 da jornada de trabalho o fabricante repõe o valor de seu algodão etc Como vemos a fórmula é correta na verdade é a mesma fórmula anterior com a única diferença de que em vez de aplicada ao espaço onde as partes do produto encontramse prontas uma ao lado da outra é aplicada ao tempo onde elas se sucedem Mas essa mesma fórmula também pode estar acompanhada de noções muito bárbaras especialmente no cérebro daqueles cujo interesse prático no domínio do processo de valorização não fica abaixo do interesse teórico em compreendêlo mal Assim podese imaginar por exemplo que nosso fiandeiro nas primeiras 8 horas de sua jornada de trabalho produz ou repõe o valor do algodão no período seguinte de 1 hora e 36 minutos repõe o valor dos meios de trabalho consumidos no período subsequente de 1 hora e 12 minutos repõe o valor do salário até chegar enfim à famigerada última hora que ele dedica ao patrão à produção do maisvalor Desse modo o fiandeiro é sobrecarregado com a tarefa de realizar o duplo milagre de produzir algodão fusos máquina a vapor carvão óleo etc ao mesmo tempo que com eles fia e de transformar uma jornada de trabalho de dado grau de intensidade em cinco dessas jornadas Pois no exemplo que aqui consideramos a produção de matériaprima e de meios de trabalho demanda 246 4 jornadas de trabalho de 12 horas e a conversão deles em fio demanda mais uma jornada de 12 horas Que a rapacidade creia em tais milagres e que nunca falte doutrinário sicofanta para proválo é o que mostraremos agora com ajuda de um exemplo célebre na história 217 3 A última hora de Senior Numa bela manhã do ano de 1836 Nassau W Senior célebre por sua ciência económica e seu belo estilo praticamente o Clauren dos economistas ingleses foi transferido de Oxford para Manchester a fim de aprender economia política nesta cidade em vez de ensinála em Oxford Os fabricantes o elegeram seu espadachim não só contra a Factory Act recentemente promulgada mas também contra a crescente agitação pela jornada de 10 horas Com sua perspicácia prática habitual eles perceberam que o sr professor wanted a good deal of finishing precisava de um bom polimento final Por isso enviaramno a Manchester O sr professor por sua vez estituzou a lição recebida dos fabricantes de Manchester num panfleto intitulado Letters on the Factory Act as it affects the cotton manufacture Londres 1837 Nele podese ler entre outras o seguinte trecho edificante Sobre al lei atual numa fábrica que emprega pessoas menores de 18 anos pode ultrapassar 11½ horas diárias de produção isto é 12 horas durante os primeiros 5 dias da semana e 9 horas ao sábado A análise seguinte mostra que numa tal fábrica o lucro líquido total é derivado da última hora trabalhada Um fabricante desembolsa 100000 sendo 80000 em edifícios fabris e máquinas 20000 em matériasprimas e salários A venda anual da fábrica pressupondose que o capital gire uma vez por ano e o lucro bruto seja de 15 consiste em mercadorias no valor de 115000 Dessa 115000 cada uma das 23 meias horas de trabalho produz diariamente 515 ou 123 Dessas 2323 que constituem o total das 115000 constituting the whole 115000 2023 isto é 100000 das 115000 apenas repõem o capital 123 ou 5000 do lucro bruto de 15000 repõem o desgaste da fábrica e da maquinaria Os 223 restantes às duas últimas horas da jornada de trabalho produziriam 1¼ hora Ganharíeis portanto tanto quanto perderíeis No futuro vossos trabalhadores desperdiçarão 1¼ hora menos para reproduzir ou repor o valor do capital adiantado Se ao contrário não acreditasse nas palavras desses fabricantes como como experto julgasse necessária uma análise da questão então ele teria de solicitarlhes sobretudo por se tratar de uma questão que diz respeito exclusivamente à relação do ganho líquido com a grandeza da jornada de trabalho que não embaraçasse a maquinaria os edifícios a matériaprima e a produção e que o capital tivesse em jogo tanto a dívida quanto a objeção do lado e o capital lucro líquido na última hora Ora como ele produz valores iguais em períodos iguais o produto da penúltima hora tem o mesmo valor do da última Além disso ele só produz valor na medida em que despende trabalho e a quantidade de seu trabalho é medida pelo seu tempo de trabalho Este último totaliza segundo vossos números 1112 horas diárias Uma parte dessas 1112 ele aplica na produção ou reposição de seu salário e a outra parte na produção de vosso lucro líquido E não faz mais nada além disso durante a jornada de trabalho Porém como de acordo com esses números o seu salário e o maisvalor que ele cria têm o mesmo valor é evidente que ele produz seu salário em 534 horas e vosso lucro líquido em outras 534 horas E como além disso o valor do fio produzido em 2 horas é igual à soma de valor de seu salário mais o vosso lucro líquido a medida do valor desse fio tem de ser de 1112 jornadas de trabalho das quais 534 horas medem o valor do fio produzido na penúltima hora e 534 o valor do fio produzido na última hora Chegamos assim a um ponto crucial Portanto atenção A penúltima hora de trabalho é tal como a primeira uma hora comum de trabalho Ni plus ni moins nem mais nem menos Assim como pode o fiandeiro em 1 hora de trabalho produzir uma quantidade de fio cujo valor representa 534 horas de trabalho Ele não opera de fato nenhum milagre O valor de uso que ele produz em 1 hora de trabalho é uma determinada quantidade de fio O valor desse fio é medido por 534 horas de trabalho das quais 434 se encontram sem sua interferência nos meios de produção consumidos por hora no algodão na maquinaria etc e somente o 44 restante ou 1 hora é adicionado ao produto pelo fiandeiro Portanto como seu salário é produzido em 534 horas e o produto de 1 hora de fiação também contém 534 horas de trabalho não é absolutamente nenhuma bruxaria que o produto de valor de suas 534 horas de fiação seja igual ao valor do produto de 1 hora de fiação Mas enganaivos se pensais que ele perde um único átomo de tempo de sua jornada de trabalho com a reprodução ou a reposição dos valores do algodão da maquinaria etc É por seu trabalho de produzir fio a partir do algodão e do fuso isto é por sua atividade de fiar que o valor do algodão e do fuso é transferido por si mesmo ao fio Isso se deve à qualidade de seu trabalho não à quantidade De fato em 1 hora ele transferirá mais valor do algodão etc ao fio do que em 12 hora mas isso apenas porque em 1 hora ele fia mais algodão do que em 12 hora Compreendeis portanto vossa expressão de que o trabalhador produz na penúltima hora de trabalho o valor de seu salário e na última hora vosso lucro líquido corresponde a dizer que no fio produzido em 2 horas de sua jornada de trabalho não importando se essas 2 horas se encontram no início ou no fim da jornada estão incorporadas 1112 horas de trabalho exatamente a mesma quantidade de horas que formam sua jornada inteira de trabalho E a expressão de que o fiandeiro produz seu salário nas primeiras 534 horas e vosso lucro líquido nas últimas 534 horas corresponde por sua vez a dizer que pagais ao fiandeiro as primeiras 534 horas mas não lhe pagais as últimas 534 horas Se falo de pagamento do trabalho e não de pagamento da força de trabalho é apenas para me expressar em vosso jargão Ora senhores se examinardes agora a relação entre o tempo de trabalho que pagais e o que não pagais vereis que eles estão um para o outro como meia jornada está para meia jornada portanto numa proporção de 100 que é de fato uma bela porcentagem Tampouco resta a mínima dúvida de que se explorardes sua mão de obra por 13 horas em vez de 1112 e o que vos parece tão semelhante quanto um ovo a outro juntardes simplesmente a 112 hora excedente ao maistrabalho então este último aumentará de 534 horas para 714 horas e a taxa de maisvalor de 100 para 126223 Mas seríeis demasiadamente otimistas se esperásseis que adicionando 112 hora à jornada de trabalho a taxa de maisvalor aumentasse de 100 para 200 e até mesmo ultrapassasse os 200 isto é fosse mais do que duas vezes maior Por outro lado e o coração do homem é algo fascinante sobretudo quando ele o traz na bolsa sois demasiado pessimistas se temeis que com a redução da jornada de trabalho de 1112 para 1012 horas vosso inteiro lucro líquido será perdido De modo algum Mantendose inalteradas as demais circunstâncias o maistrabalho cairá de 534 para 434 horas o que continua a gerar uma taxa de maisvalor bastante lucrativa 821423 Mas a fatídica última hora sobre a qual tendes fabulado mais do que os quiliastasd sobre o fim do mundo é all bosh pura bobagem A perda dessa última hora nem vos custará o lucro líquido nem roubará a pureza da alma às crianças de ambos os sexos que explorais à exaustão32a Quando vossa última horazinha realmente soar pensai em vosso professor de Oxford E então espero poder compartilhar de vossa inestimável companhia no além Addio Adeus33 O sinal da última hora descoberto por Senior em 1836 voltou a soar no London Economist em 15 de abril de 1848 por um dos principais mandarins da economia James Wilson num ataque à lei da jornada de 10 horas 4 O maisproduto Chamamos de maisproduto surplus produce produit net a parte do produto 110 de 219 20 ou 2 de fio no exemplo apresentado no item 2 deste capítulo em que se representa o maisvalor Assim como a taxa de maisvalor é determinada por sua relação não com a soma total mas com o componente variável do capital também a grandeza do maisproduto é determinada por sua relação não com o resto do produto total mas com a parte do produto em que está incorporado o trabalho necessário Como a produção de maisvalor é o objetivo determinante da produção capitalista o que mede o grau de riqueza não é a grandeza absoluta do produto mas a grandeza relativa do maisproduto34 A soma do trabalho necessário e do maistrabalho isto é dos períodos em que o trabalhador produz o valor de reposição de sua força de trabalho e o maisvalor constitui a grandeza absoluta de seu tempo de trabalho a jornada de trabalho working day 220 Capítulo 8 A jornada de trabalho 1 Os limites da jornada de trabalho Partimos do pressuposto de que a força de trabalho é comprada e vendida pelo seu valor o qual como o de qualquer outra mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho necessário à sua produção Se portanto a produção dos meios de subsistência médios diários do trabalhador requer 6 horas de trabalho então ele tem de trabalhar 6 horas por dia para produzir diariamente sua força de trabalho ou para reproduzir o valor recebido em sua venda A parte necessária de sua jornada de trabalho soma então 6 horas e é assim mantendose inalteradas as demais circunstâncias uma grandeza dada Mas com isso ainda não está dada a grandeza da própria jornada de trabalho Suponha que a linha ab represente a duração ou a extensão do tempo de trabalho necessário digamos 6 horas Conforme o trabalho seja prolongado em 1 3 ou 6 horas obtemos 3 outras linhas que representam jornadas de trabalho de 7 9 e 12 horas Jornada de trabalho I abc Jornada de trabalho II abc Jornada de trabalho III abc O prolongamento bc representa a duração do maistrabalho Como a jornada de trabalho ab bc ou ac ela varia com a grandeza variável bc Como ab é dado a relação de bc com ab pode ser sempre medida Na jornada de trabalho I ela é 16 na jornada de trabalho I I 36 e na jornada de trabalho I I I 66 de ab Além disso como a proporção tempo de maistrabalhotempo de trabalho necessário determina a taxa de maisvalor esta é dada por aquela proporção Nas três diferentes jornadas de trabalho ela é de respectivamente 1623 50 e 100 I nversamente a taxa de maisvalor só não nos daria a grandeza da jornada de trabalho Se por exemplo ela fosse de 100 a jornada de trabalho poderia ser de 8 10 12 horas etc Ela indicaria que os dois componentes da jornada de trabalho o trabalho necessário e o maistrabalho são iguais mas não a grandeza de cada uma dessas partes A jornada de trabalho não é portanto uma grandeza constante mas variável Uma de suas partes é de fato determinada pelo tempo de trabalho requerido para a reprodução contínua do próprio trabalhador mas sua grandeza total varia com a 221 extensão ou duração do maistrabalho A jornada de trabalho é pois determinável mas é em verdade indeterminada35 Embora a jornada de trabalho não seja uma grandeza fixa mas fluida ela só pode variar dentro de certos limites Seu limite mínimo é no entanto indeterminável É verdade que se igualamos a zero a linha bc ou o maistrabalho obtemos um limite mínimo isto é a parte do dia que o trabalhador tem necessariamente de trabalhar para sua autoconservação Porém com base no modo de produção capitalista o trabalho necessário só pode constituir uma parte de sua jornada de trabalho de modo que esta jamais pode ser reduzida a esse mínimo Por outro lado a jornada de trabalho possui um limite máximo não podendo ser prolongada para além de certo limite Esse limite máximo é duplamente determinado Em primeiro lugar pela limitação física da força de trabalho Durante um dia natural de 24 horas uma pessoa despende apenas uma determinada quantidade de força vital Do mesmo modo um cavalo pode trabalhar apenas 8 horas diárias Durante uma parte do dia essa força tem de descansar dormir durante outra parte do dia a pessoa tem de satisfazer outras necessidades físicas como alimentarse limparse vestirse etc Além desses limites puramente físicos há também limites morais que impedem o prolongamento da jornada de trabalho O trabalhador precisa de tempo para satisfazer as necessidades intelectuais e sociais cuja extensão e número são determinados pelo nível geral de cultura de uma dada época A variação da jornada de trabalho se move assim no interior de limites físicos e sociais porém ambas as formas de limites são de natureza muito elástica e permitem as mais amplas variações Desse modo encontramos jornadas de trabalho de 8 10 12 14 16 18 horas ou seja das mais distintas durações O capitalista comprou a força de trabalho por seu valor diário A ele pertence seu valor de uso durante uma jornada de trabalho Ele adquiriu assim o direito de fazer o trabalhador trabalhar para ele durante um dia Mas o que é uma jornada de trabalho36 Em todo caso menos que um dia natural de vida Quanto menos O capitalista tem sua própria concepção sobre essa ultima thulea o limite necessário da jornada de trabalho Como capitalista ele é apenas capital personificado Sua alma é a alma do capital Mas o capital tem um único impulso vital o impulso de se autovalorizar de criar maisvalor de absorver com sua parte constante que são os meios de produção a maior quantidade possível de maistrabalho37 O capital é trabalho morto que como um vampiro vive apenas da sucção de trabalho vivo e vive tanto mais quanto mais trabalho vivo suga O tempo durante o qual o trabalhador trabalha é o tempo durante o qual o capitalista consome a força de trabalho que comprou do trabalhador38 Se este consome seu tempo disponível para si mesmo ele furta o capitalista39 O capitalista se apoia portanto na lei da troca de mercadorias Como qualquer outro comprador ele busca tirar o maior proveito possível do valor de uso de sua mercadoria Mas eis que de repente erguese a voz do trabalhador que estava calada no frenesib do processo de produção A mercadoria que eu te vendi distinguese da massa das outras mercadorias pelo fato de seu uso criar valor e mais do que isso um valor maior do que aquele que ela mesma custou Foi por isso que a compraste O que do teu lado aparece como valorização do capital do meu lado aparece como dispêndio excedente de força de 222 trabalho Tu e eu só conhecemos no mercado uma lei a da troca de mercadorias E o consumo da mercadoria pertence não ao vendedor que a aliena mas ao comprador que a adquire A ti pertence por isso o uso de minha força de trabalho diária Mas por meio do preço que a vendo diariamente eu tenho de reproduzila a cada dia pois só assim posso vendêla novamente Desconsiderando o desgaste natural pela idade etc tenho de ser capaz de trabalhar amanhã com o mesmo nível normal de força saúde e disposição que hoje Não cansas de pregarme o evangelho da parcimônia e da abstinência Pois bem Desejo como um administrador racional e parcimonioso gerir meu próprio patrimônio a força de trabalho abstendome de qualquer desperdício irrazoável desta última Quero a cada dia fazêla fluir pôla em movimento apenas na medida compatível com sua duração normal e seu desenvolvimento saudável Por meio de um prolongamento desmedido da jornada de trabalho podes em um dia fazer fluir uma quantidade de minha força de trabalho maior do que a que posso repor em três dias O que assim ganhas em trabalho eu perco em substância do trabalho A utilização de minha força de trabalho e o roubo dessa força são coisas completamente distintas Se o período médio que um trabalhador médio pode viver executando uma quantidade razoável de trabalho é de 30 anos o valor de minha força de trabalho que me pagas diariamente é de 1365 30 ou 110950 de seu valor total Mas se a consomes em 10 anos pagasme diariamente 110950 em vez de 13650 de seu valor total portanto apenas 13 de seu valor diário e me furtas assim diariamente 23 do valor de minha mercadoria Pagasme pela força de trabalho de um dia mas consomes a de 3 dias Isso fere nosso contrato e a lei da troca de mercadorias Exijo portanto uma jornada de trabalho de duração normal e a exijo sem nenhum apelo a teu coração pois em assuntos de dinheiro cessa a benevolência Podes muito bem ser um cidadão exemplar até mesmo membro da Sociedade para a Abolição dos MausTratos aos Animais e viver em odor de santidade mas o que representas diante de mim é algo em cujo peito não bate um coração O que ali parece ecoar é o batimento de meu próprio coração Exijo a jornada de trabalho normal porque como qualquer outro vendedor exijo o valor de minha mercadoria40 Vemos que abstraindo de limites extremamente elásticos a natureza da própria troca de mercadorias não impõe barreira alguma à jornada de trabalho e portanto nenhuma limitação ao maistrabalho O capitalista faz valer seus direitos como comprador quando tenta prolongar o máximo possível a jornada de trabalho e transformar onde for possível uma jornada de trabalho em duas Por outro lado a natureza específica da mercadoria vendida implica um limite de seu consumo pelo comprador e o trabalhador faz valer seu direito como vendedor quando quer limitar a jornada de trabalho a uma duração normal determinada Temse aqui portanto uma antinomia um direito contra outro direito ambos igualmente apoiados na lei da troca de mercadorias Entre direitos iguais quem decide é a força E assim a regulamentação da jornada de trabalho se apresenta na história da produção capitalista como uma luta em torno dos limites da jornada de trabalho uma luta entre o conjunto dos capitalistas ie a classe capitalista e o conjunto dos trabalhadores ie a classe trabalhadora 2 A avidez por maistrabalho O fabricante e o boiardo O capital não inventou o maistrabalho Onde quer que uma parte da sociedade detenha o monopólio dos meios de produção o trabalhador livre ou não tem de adicionar ao tempo de trabalho necessário a sua autoconservação um tempo de trabalho excedente a fim de produzir os meios de subsistência para o possuidor dos meios de produção41 seja esse proprietário o kalóv kÃgaqóv belo e bomc ateniense o teocrata etrusco o civis romanus cidadão romano o barão normando o escravocrata americano o boiardo valáquio o landlord senhor rural moderno ou o capitalista42 No entanto é evidente que em toda formação econômica da sociedade onde predomina não o valor de troca mas o valor de uso do produto o maistrabalho é limitado por um círculo mais amplo ou mais estreito de necessidades mas nenhum 223 carecimento descomedido de maistrabalho surge do próprio caráter da produção Razão pela qual na Antiguidade o sobretrabalho só é repudiado quando seu objetivo é obter o valor de troca em sua figura autônoma de dinheiro na produção de ouro e prata O trabalho forçado até a morte é aqui a forma oficial de sobretrabalho Basta ler Diodoro Sículo43 Mas essas são exceções no mundo antigo Assim que os povos cuja produção ainda se move nas formas inferiores do trabalho escravo da corveia etc são arrastados pela produção capitalista e pelo mercado mundial que faz da venda de seus produtos no exterior o seu principal interesse os horrores bárbaros da escravidão da servidão etc são coroados com o horror civilizado do sobretrabalho I sso explica por que o trabalho dos negros nos estados sulistas da União Americana conservou certo caráter patriarcal enquanto a produção ainda se voltava sobretudo às necessidades locais imediatas Mas à medida que a exportação de algodão tornouse o interesse vital daqueles estados o sobretrabalho dos negrose por vezes o consumo de suas vidas em sete anos de trabalho converteuse em fator de um sistema calculado e calculista O objetivo já não era extrair deles uma certa quantidade de produtos úteis O que importava agora era a produção do próprio maisvalor Algo semelhante ocorreu com a corveia por exemplo nos Principados do Danúbio A comparação da avidez por maistrabalho nos Principados do Danúbio com a mesma avidez nas fábricas inglesas tem um interesse especial visto que o mais trabalho na corveia apresenta uma forma independente palpável Suponha que a jornada de trabalho seja de 6 horas de trabalho necessário e 6 horas de maistrabalho Assim o trabalhador livre fornece ao capitalista semanalmente 6 6 ou 36 horas de maistrabalho É o mesmo que se obteria se ele trabalhasse semanalmente 3 dias para si e 3 dias gratuitamente para o capitalista Mas isso não é visível O maistrabalho e o trabalho necessário confundemse um com o outro É possível exprimir a mesma relação por exemplo dizendo que o trabalhador em cada minuto trabalha 30 segundos para si e 30 segundos para o capitalista etc Com a corveia no entanto é diferente O trabalho necessário que por exemplo o camponês valáquio realiza para sua autossubsistência está espacialmente separado de seu mais trabalho para o boiardo Um ele realiza em seu próprio campo o outro no campo de seu senhor As duas partes do tempo de trabalho existem por isso de modo independente uma ao lado da outra Na forma da corveia o maistrabalho está nitidamente separado do trabalho necessário mas essa forma distinta de manifestação não altera em nada a relação quantitativa entre maistrabalho e trabalho necessário Três dias de maistrabalho na semana continuam a ser três dias de trabalho que não cria equivalente algum para o próprio trabalhador seja esse trabalho chamado de corveia ou de trabalho assalariado Mas a avidez do capitalista por maistrabalho se manifesta como ímpeto por um prolongamento ilimitado da jornada de trabalho ao passo que a do boiardo mais simplesmente como caça direta por dias de corveia44 Nos Principados do Danúbio a corveia estava vinculada a rendas naturais e a outras formas acessórias de servidão porém constituía o tributo mais importante pago à classe dominante Onde esse é o caso a corveia raramente teve origem na servidão ao contrário foi a servidão que na maior parte das vezes teve origem na corveia44a Foi o que ocorreu nas províncias romenas Seu modo original de produção estava 224 fundado na propriedade comum do solo mas não em sua forma eslava e muito menos indiana Uma parte das terras era cultivada de modo independente como propriedade privada livre pelos membros da comunidade outra parte o ager publicus campo público era cultivada em comum Os produtos desse trabalho em comum serviam em parte como fundo de reserva para colheitas perdidas ou outras casualidades e em parte como tesouro estatal para cobrir os custos de guerra religião e outras despesas da comunidade Com o tempo dignitários militares e eclesiásticos passaram a usurpar juntamente com a propriedade comum também as prestações devidas a ela O trabalho dos camponeses livres sobre sua terra comunal se converteu na corveia para os ladrões da terra comunal Com isso desenvolveramse ao mesmo tempo relações de servidão ainda que apenas de fato não de direito até que a Rússia a libertadora do mundo legalizou essas relações sob o pretexto de abolir a servidão O código da corveia proclamado em 1831 pelo general russo Kisselev foi naturalmente ditado pelos próprios boiardos Assim a Rússia conquistou com um só golpe os magnatas dos Principados do Danúbio e o aplauso dos liberais cretinos de toda a Europa De acordo com o Règlement organiqued que é como se intitula o código da corveia todo camponês valáquio deve ao assim chamado proprietário da terra além de uma determinada quantidade de pagamentos in natura 1 12 jornadas de trabalho geral 2 1 jornada de trabalho no campo e 3 1 jornada para o carregamento de lenha Summa summarum no total 14 dias por ano Um olhar mais aprofundado na economia política nos mostra no entanto que a jornada de trabalho não é considerada em seu sentido comum mas como a jornada de trabalho necessária para a elaboração de um produto médio diário ocorre que o produto médio diário é determinado de maneira tão ladina que nem mesmo um ciclope conseguiria produzilo em 24 horas Nas secas palavras da mais legítima ironia russa o próprio Règlement declara que 12 dias de trabalho significam na verdade 36 dias de trabalho manual 1 dia de trabalho no campo 3 dias e 1 dia de carregamento de madeira do mesmo modo 3 dias Summa total 42 dias de corveia A isso ainda se acrescenta o assim chamado jobagie um serviço que deve ser prestado ao senhor em ocasiões extraordinárias Em proporção ao tamanho de sua população cada aldeia tem de fornecer anualmente um determinado contingente de trabalhadores para o jobagie Essa corveia adicional é estimada em 14 dias para cada camponês valáquio Assim a corveia prescrita soma 56 jornadas anuais Mas o ano agrícola na Valáquia em razão das más condições climáticas é de apenas 210 dias dos quais ainda se devem subtrair 40 dias para os domingos e feriados e em média 30 dias de intempérie ou seja 70 dias no total Restam 140 jornadas de trabalho A proporção entre a corveia e o trabalho necessário que é de 5684 ou 6623 expressa uma taxa de maisvalor muito menor do que aquela que regula o trabalho agrícola ou fabril do trabalhador inglês I sso se refere no entanto apenas à corveia legalmente prescrita E num espírito ainda mais liberal do que a legislação fabril inglesa o Règlement organique soube deixar aberto o caminho para sua própria transgressão Depois de ter transformado 12 dias em 54e ele volta a definir o trabalho diário nominal de cada uma dessas 54 jornadas de corveia de tal modo que uma porção dele tem de ser completada no dia seguinte Por exemplo digamos que em um dia 225 deva ser ceifada uma área que sobretudo nas plantações de milho exige o dobro desse tempo Em alguns tipos de trabalhos agrícolas o dia de trabalho legal pode ser interpretado como começando em maio e terminando em outubro Na Moldávia as condições são ainda mais duras Os 12 dias de corveia do Règlement organique exclamou um boiardo extasiado correspondem aos 365 dias do ano45 Se o Règlement organique dos Principados do Danúbio foi uma expressão positiva da avidez por maistrabalho legalizada a cada parágrafo as Factory Acts inglesas são uma expressão negativa dessa mesma avidez Essas leis refreiam o impulso do capital por uma sucção ilimitada da força de trabalho mediante uma limitação compulsória da jornada de trabalho pelo Estado e mais precisamente por um Estado dominado pelo capitalista e pelo landlord Abstraindo de um movimento dos trabalhadores que se torna a cada dia mais ameaçador a limitação da jornada de trabalho nas fábricas foi ditada pela mesma necessidade que forçou a aplicação do guano nos campos ingleses A mesma rapacidade cega que num caso exauriu o solo no outro matou na raiz a força vital da nação Epidemias periódicas são aqui tão eloquentes quanto a diminuição da altura dos soldados na Alemanha e na França46 O Factory Act de 1850 ainda hoje 1867 em vigor estabelece para os dias de semana uma jornada de trabalho média de 10 horas isto é 12 horas para cada um dos primeiros 5 dias da semana das 6 horas da manhã às 6 da tarde descontandose por lei 12 hora para o café da manhã e 1 hora para o almoço de modo que restam 1012 horas de trabalho aos sábados 8 horas de trabalho das 6 da manhã às 2 da tarde descontandose 12 hora para o café da manhã Sobram 60 horas de trabalho 1012 para os primeiros 5 dias da semana 712 para o último dia47 São nomeados os guardiões dessa lei os inspetores de fábrica diretamente subordinados ao Ministério do I nterior e cujos relatórios são publicados semestralmente por ordem do Parlamento Tais relatórios fornecem uma estatística contínua e oficial da avidez capitalista por mais trabalho Ouçamos por um momento o que dizem os inspetores de fábrica48 O fabricante fraudulento inicia o trabalho ¼ de hora antes das 6 da manhã às vezes antes às vezes depois e o termina ¼ de hora após as 6 da tarde às vezes antes às vezes depois Ele subtrai 5 minutos tanto no início como no final da ½ hora nominalmente reservada ao café da manhã e mais 10 minutos tanto no início como no final da hora destinada ao almoço Aos sábados ele trabalha até ¼ de hora depois das 2 da tarde às vezes mais às vezes menos Desse modo seu ganho é de Antes das 6 horas da manhã 15 minutos Soma em 5 dias 300 minutos Depois das 6 horas da tarde 15 Na hora do café da manhã 10 Na hora do almoço 20 Total 60 minutos Aos sábados Antes das 6 horas da manhã 15 minutos Total do ganho semanal 340 minutos Na hora do café da manhã 10 226 Depois 2 horas da tarde 15 Total do ganho semanal 340 minutos Os 5 horas e 40 minutos por semana o que multiplicado por 50 semanas de trabalho no ano de subtraídas 2 semanas relativas às feridas e interrupções eventuais totaliza 27 jornadas de trabalho Se a jornada de trabalho prolongada anualmente em 5 minutos além da sua duração normal obtémse no ano um acréscimo de 22½ dias de produção 1 hora adicional por dia ganha com o furto de um pequeno intervalo de tempo aqui outro pequeno intervalo ali converte os 12 meses do ano em 13 As crises em que a produção é interrompida e as fábricas trabalham apenas por pouco tempo durante alguns dias na semana não afetam em nada naturalmente o empenho pelo prolongamento da jornada de trabalho Quanto menos negócios são feitos maior deve ser o ganho sobre o negócio feito Quanto menos tempo se trabalha a fábrica sobre o período da crise de 18571858 Podese julgar como uma inconsequência o fato de haver qualquer problema numa época em que os inscripriculos apresentam tais transgressões com isso elas extremam um lucro Ao mesmo tempo que diz Leonard Horner 122 fábricas em meu distrito interromperam suas atividades 143 continuam a produzir e as restantes trabalham por pouco tempo o sobretabalho acima do tempo legalmente determinado continua a ocorrer normalmente Embora diz o sr Howell na maioria das fábricas em virtude da depressão do comércio trabalhese apenas meio período continua a receber a mesma quantidade habitual de queixas que de ½ hora ou ¾ horas diárias 3 Ramos da indústria inglesa sem limites legais à exploração Até aqui nosso tratamento do impulso de prolongamento da jornada de trabalho da voracidade de lobbismo por maistrabalho limitouse a uma área em que abusos desmedidos que não dizer de um economista burguês da Inglaterra não ficaram aquém das crueldades dos espanhóis contra os pelevermelhas da América fizeram com que o capital fosse submetido aos grilhões da regulação legal Lançemos agora um olhar sobre aqueles ramos da produção em que a sucção da força de trabalho ocorre livremente até nossos dias ou assim ocorria até muito recentemente O sr Broughton county magistrate magistrado municipal declarou como presidente de uma assembléia ocorrida na Câmara Municipal de Nottingham em 14 de janeiro de 1860 que entre a população ocupada com a fabricação de rendas reina um grau de sofrimento e privação inéditos no restante do mundo civilizado Crianças entre 9 e 10 anos de idade são arrancadas de suas camas imundas às 2 3 4 horas da manhã e forçadas a trabalhar para sua mera subsistência até às 10 11 12 horas da noite enquanto seus membros se atrofiavam pois porque definham suas faces desbotam e sua essência humana se enrije inteiramente num torpor pétreo cuja mira visão já é algo terrível Não nos surpreende que o sr Mallet e outros fabricantes se manifestem em protesto sobre esse assunto O sistema que não enriquece Montagu Valpy e descreve em vez disso a grande responsabilidade pública perante os homens desde seu nascimento até sua morte nos seres humanos que ocorrem em Virginia e Carolina Mas será esta a última lamentação do público para provocar a boca dos seres humanos que ocorrem se fabrique em colheitas e que beneficiem dos capitalistas65 Ao longo dos últimos 22 anos as olarias pottteries de Staffordshire foram objeto de três inquéritos parlamentares Os resultados foram apresentados no relatório do sr Scriven aos Childrens Employment Commissioners 1841 no relatório do sr Long publicado em 1860 por ordem do departamento médico do Privy Council Public Health 3rd Report I 112113 e por fim no relatório do sr Long em junho de 1863 Para meu propósito bastam alguns testemunhos fornecidos pelas próprias crianças exploradas nos relatórios de 1860 e 1863 A partir da situação das crianças podemos ter uma ideia do que se passa com os adultos principalmente moças e mulheres num ramo da indústria que faz atividades como a ação de algo e outras semelhantes parecem negócios muito agradáveis e saudáveis Wilhelm Wood de 9 anos de idade tinha 7 anos e 10 meses quando começou a trabalhar Desde o começo ele ran moulds carregava as mercadorias já moldadas para a sala de escoge e voltava trazendo os moldes vazios Chega ao trabalho todos os dias às 6 horas da manhã e o deixa por volta das 9 da noite Trabalho até às 9 horas da noite todos os dias da semana Assim foi por exemplo durante as últimas 7 ou 8 semanas Portanto 15 horas de trabalho para uma criança de 7 anos J Murray um I run moulds and turn jigger giro a roda Chego às 6 às vezes às 4 horas da manhã Trabalhei esta noite inteira até as 6 horas da manhã de hoje Não dormi desde a última noite Além de mim outros 8 ou 9 meninos trabalharam a noite inteira sem parar Todos com exceção de um voltaram ao trabalho nesta manhã Recebo 3 xelins e 6 pence 1 táler e 5 centavos por semana Quando trabalho a noite inteira não recebo nada a mais por isso Na última semana trabalhei duas noites sem parar Fernyhough um menino de 10 anos Nem sempre tenho 1 hora inteira para o almoço com frequência apenas meia hora às quintas sextas e sábados67 O dr Grennhow afirma que a expectativa média de vida nos distritos das olarias de StokeuponTrent e Wolstanton é extraordinariamente curta Embora no distrito de Stoke apenas 366 e em Wolstanton apenas 304 da população masculina acima de 20 anos esteja empregada nas olarias no primeiro distrito mais da metade e no segundo cerca de 25 do total de óbitos entre homens dessa faixa etária são devidos às doenças pulmonares que acometem os oleiros O dr Boothroyd médico prático em Haley diz Cada geração sucessiva de oleiros é mais raquítica e fraca do que a anterior Outro médico o sr McBean declara Desde que há 25 anos comecei a exercer a medicina entre os oleiros evidenciouse uma progressiva degeneração dessa classe sob a forma de uma diminuição de estatura e peso Essas declarações são extraídas do relatório do dr Greenhow de 186068 No relatório dos comissários de 1863 o dr J T Arledge médicochefe do hospital de North Staffordshire diz Como classe os oleiros homens e mulheres representam uma população degenerada tanto física como moralmente Eles são em regra raquíticos mal constituídos e apresentam com frequência uma máformação dos pulmões Envelhecem prematuramente e têm vida curta fleumáticos e anêmicos denunciam a fraqueza de sua constituição com pertinazes ataques de dispepsia problemas hepáticos e renais e reumatismo Mas sofrem sobretudo de doenças pulmonares como pneumonia tuberculose bronquite e asma Um tipo de asma lhes é peculiar sendo conhecida como asma de oleiro ou tísica de oleiro A escrofulose que atinge as amígdalas os ossos ou outras partes do corpo acomete mais de dois terços dos oleiros A degeneração degenerescence das populações deste distrito só não é maior graças ao recrutamento constante de trabalhadores nos distritos rurais adjacentes e a sua miscigenação com raças mais saudáveis O sr Charles Parsons até pouco tempo atrás house surgeon médico cirurgião desse mesmo hospital escreve numa carta ao comissário Longe entre outras coisas Posso falar apenas com base em minhas observações pessoais e não estatisticamente mas não hesito em afirmar que minha indignação cresceu cada vez mais ao olhar para essas pobres crianças cuja saúde foi sacrificada para satisfazer a cupidez de seus pais e de seus empregadores Ele enumera as causas das doenças dos oleiros e conclui a lista com as palavras long hours longas horas de trabalho O relatório da comissão fabril espera que uma manufatura que ocupa uma posição tão proeminente aos olhos do mundo não queira mais carregar a mácula de ter seu grande sucesso acompanhado pela degradação física por amplos sofrimentos corporais e pela morte prematura de sua população trabalhadora por meio de cujo trabalho e habilidade tão grandes resultados foram atingidos69 E o que vale para as olarias da Inglaterra vale também para as da Escócia70 A manufatura de palitos de fósforo data de 1833 quando se inventou o método de aplicação do fósforo no palito Desde 1845 essa manufatura desenvolveuse rapidamente na I nglaterra e depois de se espalhar pelas partes densamente povoadas 229 rapidamente na Inglaterra e depois de se espalhar pelas densamente povoadas de Londres expandiuse principalmente para Manchester Birmingham Liverpool Bristol Norwich Newcastle e Glasgow levando consigo o tétano que já em 1845 um médico de Viena detectara como doença peculiar aos fosforeiros A metade dos trabalhadores são crianças menores de 13 e jovens menores de 18 anos Em virtude da insalubridade e repugnância a manufatura é tão malafamada que apenas a parte mais miserável da classe trabalhadora como viúvas semilêmicas etc entregam seus filhos a essas fábricas crianças esfarrapadas semiafemininas totalmente desamparadas e sem instrução71 Das testemunhas ouvidas pelo comissário White 1863 270 eram menores de 18 anos 40 eram menores de 10 anos 10 tinham apenas 8 anos e 5 apenas 6 anos de idade A jornada de trabalho variava entre 12 14 e 15 horas com trabalho noturno e horários irregulares de refeições normalmente realizadas no próprio local de trabalho empestado por fósforo Nessa manufatura Dante veria superadas suas fantasias mais cruéis sobre o inferno Na fábrica de papéis de parede os tipos mais grossos são impressos com máquinas e os mais finos manualmente block printing O período de atividade mais intensa é de outubro a o fim de abril quando esse trabalho é realizado quase sem interrupção das 6 horas da manhã às 10 da noite ou ainda mais tarde J Leach declara No último inverno 1862 das 19 moças foram dispensadas em decorrência de doenças provocadas por excesso de trabalho Para mantêlas acordadas tenho de gritar em seus ouvidos W Duffy Frequentemente as crianças estavam tão cansadas que não podiam manter seus olhos abertos durante o trabalho na verdade nós mesmos quase não conseguimos J Lightbourne Tenho 13 anos Durante o inverno passado trabalhamos até às 9 horas da noite no inverno anterior até às 10 da noite No último inverno quase todas as noites eu custava gritar de dor em meus pés machucados G Aspden Quando este meu filho tinha 7 anos de idade eu costumava carregálo nas costas para toda parte ao atravessar a neve e ele costumava trabalhar 16 horas por dia Frequentemente eu tinha de delegarme para aliviálo enquanto ele permanecia junto à máquina pois não era próprio de criança abandonálo para lá Smith o sóciodiretor de uma fábrica de Manchester Nós que éramos apenas de uma obra trabalhamos sem interrupção para as refeições de modo que o trabalho diário de 10 horas e meia é concluído às 4 e meia da tarde e o que ultrapassa esse tempo é computado como hora extra72 Será verdade que esse sr Smith fica sem refeições durante 10 horas e meia Nós c como mesmo Smith raramente paramos antes das 6 horas da tarde ele se refere ao consumo de nossas máquinas de força do trabalho de maneira que nós iterum Crispinus Eis outra vez Crispinus na realidade trabalhamos além da jornada normal durante todo o ano Tanto as crianças quanto adolescentes menores de 18 anos e 16 adultos trabalham igualmente até mesmo desde o fim do mês de maio deste ano 1863 a média foi maior 8 jornadas ou até mais de 10 perder tempo isto é o tempo de apropriação do trabalho alheio e desse modo perder lucro não é razão suficiente para fazer com que crianças menores de 13 e jovens menores de 18 anos que trabalham de 12 a 16 horas por dia sejam privados de suas refeições tampouco justifica que elas sejam alimentadas durante o próprio processo de produção como se suas refeições fossem mera matéria auxiliar do meio de trabalho tal como o carvão e a água servem à máquina a vapor o sabão à lã o óleo à engrenagem etc73 Nenhum ramo da indústria na I nglaterra não levamos em conta a maquinaria recentemente introduzida na fabricação de pão conservou até nossos dias um modo de produção tão arcaico até mesmo précristão como revelam os poetas do I mpério Romano quanto a panificação Mas o capital como dissemos anteriormente é de início indiferente ao caráter técnico do processo de trabalho do qual se apossa No começo ele o toma tal como o encontra A inacreditável adulteração do pão especialmente em Londres foi revelada pela primeira vez pelo comitê da House of Commons Câmara dos Comuns sobre a adulteração de alimentos 18551856 e pela obra do dr Hassall Adulterations detected74 A consequência dessas revelações foi a lei de 6 de agosto de 1860 for preventing the adulteration of articles of food and drink pela prevenção da adulteração de produtos alimentícios e bebidas uma lei inócua pois como é natural trata com a mais terna delicadeza todo freetrader livrecambista que demonstra comprar e vender mercadorias adulteradas to turn an honest penny para ganhar um centavo honesto75 O próprio comitê formulou de modo mais ou menos ingênuo sua convicção de que o livrecomércio significa essencialmente o comércio com matérias falsificadas ou como os ingleses a elas se referem jocosamente matérias sofisticadas Na verdade esse tipo de sofística sabe melhor que Protágoras como fazer do branco preto e do preto branco e melhor que os eleatash sabe demonstrar ad oculos aos olhos a mera aparência de todo real76 De todo modo o comitê abriu os olhos do público para o seu pão de cada dia e com isso também para a panificação Ao mesmo tempo em reuniões públicas e em petições ao Parlamento ouviuse o clamor dos oficiais padeiros de Londres denunciando sobretrabalho etc O clamor tornouse tão intenso que o sr H S Tremenheere membro da muitas vezes citada comissão de 1863 foi nomeado comissário real de inquérito Seu relatório77 juntamente com testemunhos tocou não o coração mas o estômago do público O inglês tão apegado à Bíblia sabia que o homem quando não se torna capitalista proprietário rural ou sinecurista pela Graça Divina é vocacionado a comer seu pão com o suor de seu rosto mas ele não sabia que esse homem em seu pão diário tinha de comer certa quantidade de suor humano misturada com supurações de abscessos teias de aranha baratas mortas e fermento podre alemão além de alume arenito e outros agradáveis ingredientes minerais Sem qualquer consideração por sua santidade o Free Trade a panificação livre até então livre foi submetida à supervisão de inspetores estatais final da legislatura de 1863 e pela mesma lei foi proibido o horário de trabalho de 9 horas da noite até as 5 da manhã aos oficiais padeiros menores de 18 anos A última cláusula do relatório vale por volumes inteiros quanto ao sobretrabalho nesse ramo de negócio que nos é tão 231 patriarcalmente familiar O trabalho de um oficial padeiro londrino começa geralmente às 11 horas da noite Nesse horário ele faz a massa um processo muito laborioso que dura de meia hora até 45 minutos conforme o tamanho da fornada e seu grau de elaboração Ele deitase então sobre a tábua de amassar que serve ao mesmo tempo como tampa da amassadeira onde é feita a massa e dorme algumas horas tendo um saco de farinha sob a cabeça e outro a cobrir seu corpo Em seguida dá início a um frenético e ininterrupto trabalho de 5 horas jogar a massa pesála modelá la levála ao forno retirála do forno etc A temperatura numa padaria varia de 75 a 90 grausi sendo ainda maior nas pequenas padarias Terminado o trabalho de feitura dos pães pãezinhos etc começa a sua distribuição e uma porção considerável dos trabalhadores depois de realizado o árduo trabalho noturno acima descrito distribui ao longo do dia o pão em cestos ou em carrinhos de mão de porta em porta muitas vezes trabalhando na padaria entre uma viagem e outra A depender da estação do ano e do volume de negócios o trabalho termina entre 1 e 6 horas da tarde enquanto outros oficiais padeiros continuam ocupados na padaria até o fim da tarde78 Durante a assim chamada London seasonj os trabalhadores das padarias de West End que vendem pão a preço integral começam a trabalhar regularmente às 11 horas da noite e se ocupam da panificação até as 8 horas da manhã seguinte realizando apenas uma ou duas pausas bastante curtas Em seguida são encarregados da entrega do pão até 4 5 6 horas da tarde e mesmo até 7 horas da noite ou às vezes permanecem na padaria para a produção de biscoitos Depois de concluído o trabalho desfrutam de 6 horas de sono mas frequentemente de apenas 5 ou 4 horas Às sextasfeiras o trabalho começa sempre mais cedo cerca de 10 horas da noite e prossegue sem interrupção seja na preparação do pão seja em sua distribuição até as 8 horas da noite do sábado seguinte mas na maior parte das vezes até as 4 ou 5 horas da manhã de domingo Também nas padarias de luxo que vendem pão por seu preço integral os oficiais padeiros são obrigados a executar aos domingos 4 a 5 horas de trabalho preparatório para o dia seguinte Os oficiais padeiros que trabalham para underselling masters que vendem o pão abaixo de seu preço e estes constituem como observamos anteriormente mais de 34 dos oficiais padeiros londrinos têm jornadas de trabalho ainda mais longas mas seu trabalho é quase inteiramente limitado ao interior da padaria pois seus mestres com exceção do fornecimento a pequenas mercearias vendem apenas em seu próprio estabelecimento Ao final da semana isto é na quintafeira o trabalho começa às 10 horas da noite e prossegue apenas com uma ou outra pequena interrupção até bem tarde no domingo à noite79 Até o intelecto burguês entende a posição dos underselling masters o trabalho não pago dos oficiais the unpaid labour of the men constitui a base de sua concorrência80 E o full priced baker denuncia seus concorrentes underselling à Comissão de Inquérito como ladrões de trabalho alheio e falsificadores Eles só têm sucesso fraudando o público e extraindo 18 horas de seus oficiais por um salário de 12 horas81 A adulteração do pão e a formação de uma classe de padeiros que vendem o pão abaixo de seu preço integral desenvolveramse na I nglaterra desde o início do século XVI I I tão logo decaiu o caráter corporativo desse ofício e o capitalista na figura do moleiro ou do comerciante de farinha passou a atuar por trás do mestrepadeiro nominal82 Com isso estava preparado o terreno para a produção capitalista para o prolongamento desmedido da jornada de trabalho e para o trabalho noturno embora este último só se tenha firmado mesmo em Londres a partir de 182483 Pelo que foi dito anteriormente podese compreender por que o relatório da comissão classifica os oficiais padeiros entre os trabalhadores de vida curta que quando têm a sorte de escapar à normal dizimação das crianças que aflige todas as partes da classe trabalhadora dificilmente chegam à idade de 42 anos E mesmo assim a indústria de pães está sempre abarrotada de novos candidatos As fontes de oferta dessas forças de trabalho para Londres são a Escócia os distritos agrícolas do Oeste da Inglaterra e a Alemanha Nos anos 18581860 os oficiais padeiros da I rlanda organizaram por sua própria conta grandes manifestações contra o trabalho noturno e dominical O público como 232 conta grandes manifestações contra o trabalho noturno e dominical O público como ocorreu por exemplo na manifestação de maio de 1860 em Dublin apoiouos com entusiasmo irlandês Por meio desse movimento conseguiuse estabelecer de fato a exclusividade do trabalho diurno em Wexford Kilkenny Clonmel Waterford etc Em Limerick onde é sabido que os sofrimentos dos oficiais assalariados ultrapassaram todas as medidas esse movimento fracassou diante da oposição dos mestres padeiros especialmente dos padeirosmoleiros O exemplo de Limerick levou ao recuo em Ennis e Tipperary Em Cork onde a indignação pública se manifestou com mais força os mestres conseguiram derrotar o movimento por meio de seu poder de demitir os oficiais Em Dublin os mestres opuseram a mais decidida resistência e perseguindo os oficiais que lideravam o movimento obrigaram os restantes a capitular a conformarse com o trabalho noturno e dominical84 A comissão do governo inglês que na I rlanda estava armado até os dentes protestou amargamente contra os impávidos mestres padeiros de Dublin Limerick Cork etc O comitê acredita que as horas de trabalho são limitadas por leis naturais que não podem ser violadas impunemente Os mestres ao usar a ameaça de demissão como meio para forçar seus trabalhadores a violarem suas convicções religiosas a desobedecerem às leis de seu país e a desprezarem a opinião pública isso tudo se refere ao trabalho dominical instauram a discórdia entre o capital e o trabalho e dão um exemplo perigoso para a religião a moralidade e a ordem pública O comitê acredita que o prolongamento da jornada de trabalho além de 12 horas é um atentado usurpador à vida privada e doméstica do trabalhador e conduz a resultados morais desastrosos interferindo na vida doméstica de um homem e no cumprimento de suas obrigações familiares como filho irmão marido e pai O trabalho além da jornada de 12 horas tende a minar a saúde dos trabalhadores provocando seu envelhecimento precoce e morte prematura para a desgraça de suas famílias que assim são roubadas are deprived do cuidado e do apoio do chefe da família no momento em que mais necessitam deles85 Estivemos há pouco na I rlanda Do outro lado do canal na Escócia o trabalhador agrícola o homem do arado denuncia sua jornada de trabalho de 13 até 14 horas no mais rigoroso dos climas com um trabalho adicional de 4 horas aos domingos nesse país de sabatistas86 enquanto ao mesmo tempo encontramse perante um Grand J ury de Londres três trabalhadores ferroviários um condutor um maquinista e um sinalizador Um grande desastre ferroviário despachou centenas de passageiros para o outro mundo A displicência dos trabalhadores ferroviários é a causa do desastre Eles declaram unanimemente perante os jurados que há 10 ou 12 anos sua jornada de trabalho era de apenas 8 horas Mas durante os últimos 5 ou 6 anos ela foi aumentada para 14 18 20 horas e muitas vezes em épocas de fluxo muito intenso de viajantes como nos períodos dos trens de excursões chegava a 40 ou 50 horas ininterruptas Eles são homens comuns não ciclopes dizem Além de certo ponto sua força de trabalho começa a falhar O torpor os domina seu cérebro para de pensar e seus olhos param de ver O totalmente respectable British Juryman respeitável jurado britânico responde com um veredito que os manda para o banco dos réus acusados de manslaughter homicídio e num suave adendo expressa o piedoso desejo de que no futuro os senhores magnatas capitalistas da ferrovia sejam mais pródigos na compra do número necessário de forças de trabalho e mais parcimoniosos ou abstinentes ou econômicos no ato de sugar a força de trabalho paga87 Da variegada multidão de trabalhadores de todas as profissões idades e sexos que nos atropelam com mais sofreguidão do que as almas dos mortos a Ulisses e nos quais se reconhece à primeira vista sem que tragam sob seus braços os Blue Books as 233 prova que diante do capital todos os seres humanos são iguais uma modista e um ferreiro Nas últimas semanas de junho de 1863 todos os jornais londrinos trouxeram um parágrafo com a sensational manchete Death from simple Overwork morte por simples sobretrabalho Tratavase da morte da modista Mary Anne Walkley de 20 anos de idade empregada numa manufatura de modas deveras respeitável fornecedora da Corte e explorada por uma senhora com o agradável nome de Elise A velha história muitas vezes contada foi agora redescoberta88 e nos diz que essas moças cumprem uma jornada de em média 1612 horas e durante a season chegam frequentemente a trabalhar 30 horas ininterruptas quando sua evanescente força de trabalho costuma ser reanimada com a oferta eventual de xerez vinho do Porto ou café E estavase justamente no ponto alto da season Era necessário concluir num piscar de olhos os vestidos luxuosos das nobres damas para o baile em honra da recémimportada Princesa de Gales Mary Anne Walkley trabalhara 2612 sem interrupção juntamente com outras 60 moças divididas em dois grupos de 30 cada grupo num quarto cujo tamanho mal chegava para conter 13 do ar necessário enquanto à noite partilhavam duas a duas uma cama num dos buracos sufocantes onde tábuas de madeira serviam como divisórias de cada quarto de dormir89 E essa era uma das melhores casas de moda de Londres Mary Anne Walkley adoeceu na sextafeira e morreu no domingo sem que para a surpresa da sra Elise tivesse terminado a última peça O médico sr Keys chamado tarde demais ao leito de morte testemunhou perante o Coroners J uryk com áridas palavras Mary Anne Walkley morreu devido às longas horas de trabalho numa oficina superlotada e por dormir num cubículo demasiadamente estreito e mal ventilado Para dar ao médico uma lição de boas maneiras o Coroners J ury declarou A falecida morreu de apoplexia mas há razões para suspeitar que sua morte tenha sido apressada pelo sobretrabalho numa oficina superlotada etc Nossos escravos brancos clamou o Morning Star órgão dos livrecambistas Cobden e Bright nossos escravos brancos são conduzidos ao túmulo pelo trabalho e definham e morrem sem canto nem glória90 Trabalhar até a morte está na ordem do dia não apenas nas oficinas das modistas mas em milhares de outros lugares na verdade em todo lugar em que o negócio prospera Tomemos como exemplo o ferreiro Se nos é dado acreditar nos poetas não existe nenhum homem tão cheio de vida e alegre quanto o ferreiro Ele levanta cedo e já produz suas faíscas antes do sol ele come bebe e dorme como nenhum outro homem Considerado do ponto de vista puramente físico ele se encontra por trabalhar moderadamente num das melhores posições humanas Mas se o seguirmos até a cidade veremos a sobrecarga de trabalho que recai sobre esse homem forte e o lugar que ele ocupa na estatística de mortalidade em nosso país Em Marylebone um dos maiores bairros de Londres os ferreiros morrem numa proporção anual de 31 por 1000 ou 11 acima da média de mortalidade dos homens adultos na Inglaterra A ocupação uma arte quase instintiva da humanidade irrepreensível em si mesma convertese devido ao excesso de trabalho em destruidora do homem Ele pode dar tantas marteladas por dia caminhar tantos passos respirar tantas vezes realizar tanto trabalho e viver em média digamos 50 anos Mas ele é diariamente forçado a martelar tantas vezes mais a caminhar tantos passos a mais a respirar com mais frequência e tudo isso faz com que seu dispêndio vital seja diariamente aumentado em 14 Ele cumpre a meta e o resultado é que por um período limitado realiza 14 a mais de trabalho e morre aos 37 anos em vez de aos 5091 4 Trabalho diurno e noturno O sistema de revezamento 234 O capital constante os meios de produção considerados do ponto de vista do processo de valorização só existem para absorver trabalho e com cada gota de trabalho uma quantidade proporcional de maistrabalho Se não fazem isso sua simples existência constitui uma perda negativa para o capitalista uma vez que durante o tempo em que estão ociosos eles representam um desembolso inútil de capital e essa perda se torna positiva tão logo a interrupção torne necessária a realização de gastos adicionais para o reinício do trabalho O prolongamento da jornada de trabalho além dos limites do dia natural adentrando a madrugada funciona apenas como paliativo pois não faz mais do que abrandar a sede vampírica por sangue vivo do trabalho Apropriarse de trabalho 24 horas por dia é assim o impulso imanente da produção capitalista Mas como é fisicamente impossível sugar as mesmas forças de trabalho continuamente dia e noite ela necessita a fim de superar esse obstáculo físico do revezamento entre as forças de trabalho consumidas de dia e de noite o qual admite métodos distintos podendo por exemplo ser organizado de tal modo que uma parte dos operários realize numa semana o trabalho diurno noutra o trabalho noturno etc Sabemos que esse sistema de revezamento essa economia de alternância prevalecia no florescente período juvenil da indústria inglesa do algodão etc e que atualmente ele floresce por exemplo nas fiações de algodão do distrito de Moscou Como sistema esse processo de produção de 24 horas existe ainda hoje em muitos ramos industriais britânicos que eram até agora livres como altosfornos forjas oficinas de laminagem e outras manufaturas metalúrgicas da I nglaterra País de Gales e Escócia Aqui além das 24 horas dos 6 dias úteis da semana o processo de trabalho compreende também em muitos casos as 24 horas do domingo Os trabalhadores consistem em adultos e crianças de ambos os sexos A idade das crianças e jovens percorre todos os estágios intermediários desde 8 em alguns casos desde 6 até 18 anos92 Em alguns ramos meninas e mulheres trabalham também no turno da noite com o pessoal masculino93 Abstraindo dos efeitos nocivos gerais do trabalho noturno94 a duração ininterrupta do processo de produção por 24 horas oferece a oportunidade altamente bemvinda de ultrapassar os limites da jornada nominal de trabalho Por exemplo nos ramos da indústria extremamente fatigantes que citamos anteriormente a jornada de trabalho oficial é na maioria das vezes de 12 horas noturnas ou diurnas Em muitos casos porém o sobretrabalho além desse limite é para usar a expressão do relatório oficial inglês realmente aterrador truly fearful95 Nenhuma mente humana diz esse documento pode conceber a quantidade de trabalho que segundo testemunhos é realizada por crianças de 9 a 12 anos sem chegar à inevitável conclusão de que não se pode mais permitir esse abuso de poder dos pais e dos empregadores96 O método de fazer meninos trabalhar alternadamente de dia e de noite leva ao prolongamento maléfico da jornada de trabalho tanto em períodos de pressão sobre os negócios quanto no curso normal das coisas Esse prolongamento é em muitos casos não apenas cruel mas simplesmente inacreditável É inevitável que vez ou outra uma criança falte ao revezamento por algum motivo Então um ou mais dos meninos presentes que já concluíram sua jornada de trabalho têm de preencher essa ausência Esse sistema é tão conhecido que o gerente de uma fábrica de laminagem respondeu da seguinte forma à minha pergunta de como a posição dos meninos ausentes seria preenchida Sei que o senhor sabe disso tão bem quanto eu e não hesitou em reconhecer o fato97 Numa fábrica de laminagem onde a jornada nominal de trabalho era das 6 horas da manhã às 512 da tarde um menino trabalhava 4 noites toda semana no mínimo até as 812 da noite do dia seguinte e isso durante 6 meses Outro de 9 anos de idade trabalhava às vezes 3 turnos seguidos de 12 horas cada e quando atingiu a 235 menino trabalhava 4 noites toda semana no mínimo até as 812 da noite do dia seguinte e isso durante 6 meses Outro de 9 anos de idade trabalhava às vezes 3 turnos seguidos de 12 horas cada e quando atingiu a idade de 10 anos passou a trabalhar 2 dias e 2 noites consecutivos Um terceiro agora com 10 anos trabalhava das 6 horas da manhã até a meianoite por 3 noites seguidas e até as 9 horas da noite durante as outras noites Um quarto agora com 13 anos trabalhava durante toda a semana das 6 horas da tarde até as 12 horas do dia seguinte e às vezes em 3 turnos seguidos por exemplo da manhã de segundafeira até a noite de terçafeira Um quinto agora com 12 anos trabalhava numa fundição de ferro em Stavely das 6 horas da manhã até a meia noite durante 14 dias e não conseguiu continuar George Allinworth de nove anos relata Vim para cá na sexta feira passada No dia seguinte tivemos de começar às 3 horas da manhã Por isso fiquei aqui a noite inteira Moro a 5 milhas daqui Dormi no chão sobre um avental e coberto com uma pequena jaqueta Nos dois outros dias cheguei aqui às 6 horas da manhã Sim Este lugar aqui é quente Antes de vir para cá trabalhei durante um ano inteiro num altoforno uma grande usina no campo Lá eu também começava às 3 horas da manhã de sábado mas pelo menos podia ir dormir em casa porque era perto Nos outros dias eu começava às 6 horas da manhã e terminava às 6 ou 7 da noite etc98 Ouçamos agora como o próprio capital concebe esse sistema de 24 horas Ele silencia naturalmente sobre os excessos do sistema sobre seu abuso em direção a um prolongamento cruel e inacreditável da jornada de trabalho Ele fala apenas do sistema em sua forma normal Os senhores Naylor e Vickers fabricantes de aço que empregam de 600 a 700 pessoas dentre as quais apenas 10 menores de 18 anos e destas não mais do que 20 meninos no trabalho noturno declaram o seguinte Os rapazes não sofrem em absoluto com o calor A temperatura varia provavelmente entre 86 e 90l Nas forjas e oficinas de laminagem a mão de obra trabalha dia e noite em sistema de revezamento mas todos os demais trabalhos são ao contrário diurnos das 6 horas da manhã às 6 da tarde Na forja trabalhase do meiodia à meianoite Uma parte da mão de obra trabalha continuamente no horário noturno sem revezamento entre os turnos diurno e noturno Não achamos que o trabalho diurno ou o noturno tenham alguma diferença com relação à saúde dos senhores Naylor e Vickers e é provável que as pessoas durmam melhor quando gozam do mesmo período de descanso do que quando ele varia Cerca de 20 rapazes menores de 18 anos trabalham com a turma da noite Não teríamos como fazer bem not well do sem o trabalho noturno de rapazes menores de 18 anos Nossa objeção é ao aumento dos custos de produção Mãos habilidosas e chefes de departamento são difíceis de achar mas jovens se conseguem tantos quantos se queira Naturalmente considerandose a escassa proporção de jovens que empregamos qualquer limitação do trabalho noturno seria de pouca importância ou interesse para nós99 O sr J Ellis da firma dos senhores J ohn Brown Co usinas de aço e ferro que empregam 3 mil homens e adolescentes dos quais parte realiza o trabalho pesado com aço e ferro de dia e de noite por revezamento declara que no trabalho pesado nas usinas de aço há 1 ou 2 adolescentes para cada homem adulto Em seu negócio são empregados 500 rapazes menores de 18 anos dos quais cerca de 13 ou 170 são menores de 13 anos Com relação à proposta de alteração da lei o sr Ellis observa Não creio que seria muito objetável very objectionable a proposta de proibir que qualquer pessoa menor de 18 anos trabalhe mais do que 12 horas em cada 24 Mas tampouco creio que se possa traçar uma linha qualquer para dispensar do trabalho noturno jovens maiores de 12 anos Uma lei que proibisse o emprego de qualquer jovem menor de 13 anos ou até mesmo menor de 15 anos ainda nos seria preferível a uma proibição de utilizar durante a noite os jovens que já temos Os jovens que trabalham no turno do dia também têm de trabalhar alternadamente no turno da noite pois os homens não podem realizar apenas trabalho noturno isso arruinaria sua saúde Cremos no entanto que o trabalho noturno em semanas alternadas não causa dano algum Já os senhores Naylor e Vickers em consonância com os interesses de seu negócio acreditavam que o trabalho noturno com revezamento podia causar mais danos do que o trabalho noturno contínuo 236 noturno são feitas levandose em conta o aumento da despesa mas essa é também a única razão Que cínica ingenuidade Cremos que um tal aumento seria maior do que aquele que o negócio the trade poderia razoavelmente suportar levandose em devida consideração a sua realização bemsucedida As the trade with due regard to etc could fairly bear Que fraseologia pastosa O trabalho aqui é raro e poderia tornarse insuficiente sob uma tal regulação isto é Ellis Brown Co poderiam se ver na incômoda situação de serem obrigadas a pagar integralmente o valor da força de trabalho100 As usinas da Cyclops Ferro e Aço dos senhores Cammel Co atuam na mesma escala das supracitadas usinas de J ohn Brown Co O diretorgerente apresentou seu testemunho por escrito ao comissário governamental White mas depois achou que convinha extraviar o manuscrito que lhe fora devolvido para revisão No entanto o sr White tem uma boa memória Ele se lembra muito bem de que para esses senhores ciclopes a proibição do trabalho noturno para crianças e adolescentes seria algo impossível praticamente o mesmo que parar suas usinas mesmo considerando que seu negócio conta com pouco mais do que 6 de jovens menores de 18 e apenas 1 de menores de 13 anos101 Sobre o mesmo objeto declara o sr E F Sanderson da firma Sanderson Bros Co com usinas de aço laminagem e forja em Attercliffe Grandes dificuldades resultariam da proibição do trabalho noturno para jovens menores de 18 anos sendo a principal delas o aumento dos custos que acarretaria necessariamente uma substituição do trabalho dos meninos pelo trabalho de homens adultos Quanto isso custaria não posso dizer mas provavelmente não seria tanto a permitir que o fabricante aumentasse o preço do aço o que faria com que o prejuízo recaísse sobre ele já que os trabalhadores que povo insolente naturalmente se recusariam a suportálo O sr Sanderson não sabe quanto ele paga às crianças mas talvez isso dê a soma de 4 a 5 xelins por cabeça semanalmente O trabalho dos meninos é de um tipo para o qual geralmente generally é claro que nem sempre especialmente a força dos jovens é suficiente de modo que da força maior dos trabalhadores adultos não resultaria um ganho capaz de compensar o prejuízo a não ser nos poucos casos em que o metal é muito pesado Os trabalhadores adultos também não gostariam muito de não ter meninos entre seus subordinados pois os adultos são menos obedientes Além disso os jovens têm de começar cedo para aprender o ofício A limitação dos jovens ao simples trabalho diurno não cumpriria essa finalidade E por que não Por que os jovens não podem aprender seu ofício no turno do dia Suas razões Porque os homens adultos que trabalham em semanas alternadas ora de dia ora de noite ficariam separados dos jovens de seu turno durante o mesmo tempo e assim seriam privados de metade do lucro que extraem deles A orientação que eles dão aos jovens é calculada como parte do salário desses jovens e possibilita aos adultos obterem o trabalho dos jovens por um preço menor Cada adulto perderia a metade de seu lucro Em outras palavras os senhores Sanderson teriam de pagar de seu próprio bolso uma parte do salário dos trabalhadores adultos em vez de pagála com o trabalho noturno dos jovens Nesse caso o lucro dos senhores Sanderson cairia um pouco e essa é a boa razão sandersoniana por que os jovens não podem aprender seu ofício no turno do dia102 Ademais isso faria com que esse trabalho noturno regular recaísse sobre os adultos que agora se revezariam com os jovens e aqueles não o suportariam Em suma as dificuldades seriam tão grandes que provocariam muito provavelmente a supressão total do trabalho noturno No que diz respeito à produção de aço propriamente dita diz E F Sanderson isso não faria porém a menor diferença Mas os senhores Sanderson têm mais o que fazer do que fabricar aço A produção de aço é mero pretexto para a produção de maisvalor Os fornos de fundição as oficinas 237 de laminagem etc os edifícios a maquinaria o ferro o carvão etc têm mais a fazer do que se transformar em aço Eles estão lá para sugar maistrabalho e naturalmente sugamno mais em 24 horas do que em 12 Na realidade eles dão aos Sanderson em nome de Deus e do Direito um cheque no valor do tempo de trabalho de determinada mão de obra por todas as 24 horas do dia com o que perdem seu caráter de capital e tão logo sua função de sugar trabalho seja interrompida transformamse em puro prejuízo para os Sanderson Mas então haveria o prejuízo de uma maquinaria tão cara permanecer ociosa por metade do tempo e para obter a mesma quantidade de produtos que somos capazes de fabricar com o sistema atual teríamos de duplicar as instalações e as máquinas das usinas o que duplicaria os gastos Mas por que reivindicam esses Sanderson um privilégio em relação aos demais capitalistas que só podem empregar trabalhadores no trabalho diurno e cujos edifícios maquinaria e matériaprima permanecem por isso ociosos durante a noite É verdade responde E F Sanderson em nome de todos os Sanderson é verdade que esse prejuízo proveniente da maquinaria ociosa atinge todas as manufaturas em que só se trabalha durante o dia Mas o consumo dos fornos de fundição causaria em nosso caso um prejuízo adicional Se a maquinaria é mantida em funcionamento desperdiçase combustível agora em vez disso é a matéria vital dos trabalhadores que é desperdiçada e se não é mantida em funcionamento há perda de tempo para reacender os fornos e alcançar o grau necessário de calor enquanto a perda de tempo de sono mesmo para crianças de 8 anos é ganho de tempo de trabalho para o clã dos Sanderson e os próprios fornos sofreriam avarias com a variação de temperatura enquanto esses mesmos fornos nada sofrem com o revezamento do trabalho diurno e noturno103 5 A luta pela jornada normal de trabalho Leis compulsórias para o prolongamento da jornada de trabalho da metade do século XIV ao final do século XVII Que é uma jornada de trabalho Quão longo é o tempo durante o qual o capital pode consumir a força de trabalho cujo valor diário ele paga Por quanto tempo a jornada de trabalho pode ser prolongada além do tempo de trabalho necessário à reprodução da própria força de trabalho A essas questões como vimos o capital responde a jornada de trabalho contém 24 horas inteiras deduzidas as poucas horas de repouso sem as quais a força de trabalho ficaria absolutamente incapacitada de realizar novamente seu serviço Desde já é evidente que o trabalhador durante toda sua vida não é senão força de trabalho razão pela qual todo o seu tempo disponível é por natureza e por direito tempo de trabalho que pertence portanto à autovalorização do capital Tempo para a formação humana para o desenvolvimento intelectual para o cumprimento de funções sociais para relações sociais para o livre jogo das forças vitais físicas e intelectuais mesmo o tempo livre do domingo e até mesmo no país do sabatismo104 é pura futilidade Mas em seu impulso cego e desmedido sua voracidade de lobisomem por maistrabalho o capital transgride não apenas os limites morais da jornada de trabalho mas também seus limites puramente físicos Ele usurpa o tempo para o crescimento o desenvolvimento e a manutenção saudável do corpo Rouba o tempo requerido para o consumo de ar puro e de luz solar Avança sobre o horário das refeições e os incorpora sempre que possível ao processo de 238 corpo Rouba o tempo requerido para o consumo de ar puro e de luz solar Avança sobre o horário das refeições e os incorpora sempre que possível ao processo de produção fazendo com que os trabalhadores como meros meios de produção sejam abastecidos de alimentos do mesmo modo como a caldeira é abastecida de carvão e a maquinaria de graxa ou óleo O sono saudável necessário para a restauração renovação e revigoramento da força vital é reduzido pelo capital a não mais do que um mínimo de horas de torpor absolutamente imprescindíveis ao reavivamento de um organismo completamente exaurido Não é a manutenção normal da força de trabalho que determina os limites da jornada de trabalho mas ao contrário o maior dispêndio diário possível de força de trabalho não importando quão insalubre compulsório e doloroso ele possa ser é que determina os limites do período de repouso do trabalhador O capital não se importa com a duração de vida da força de trabalho O que lhe interessa é única e exclusivamente o máximo de força de trabalho que pode ser posta em movimento numa jornada de trabalho Ele atinge esse objetivo por meio do encurtamento da duração da força de trabalho como um agricultor ganancioso que obtém uma maior produtividade da terra roubando dela sua fertilidade Assim a produção capitalista que é essencialmente produção de maisvalor sucção de maistrabalho produz com o prolongamento da jornada de trabalho não apenas a debilitação da força humana de trabalho que se vê roubada de suas condições normais morais e físicas de desenvolvimento e atuação Ela produz o esgotamento e a morte prematuros da própria força de trabalho105 Ela prolonga o tempo de produção do trabalhador durante certo período mediante o encurtamento de seu tempo de vida Mas o valor da força de trabalho inclui o valor das mercadorias requeridas para a reprodução do trabalhador ou para a procriação da classe trabalhadora Assim se o prolongamento antinatural naturwidrige da força de trabalho que o capital tem necessariamente por objetivo em seu impulso desmedido de autovalorização encurta o tempo de vida do trabalhador singular e com isso a duração de sua força de trabalho tornase necessária uma substituição mais rápida dos trabalhadores que foram desgastados e portanto a inclusão de custos de depreciação maiores na reprodução da força de trabalho do mesmo modo como a parte do valor a ser diariamente reproduzida de uma máquina é tanto maior quanto mais rapidamente ela se desgaste Uma jornada de trabalho normal parece assim ser do próprio interesse do capital O senhor de escravos compra seu trabalhador como compra seu cavalo Se perde seu escravo ele perde um capital que tem de ser reposto por meio de um novo gasto no mercado de escravos Mas os campos de arroz da Geórgia e os pântanos do Mississípi podem fatalmente exercer uma ação destrutiva sobre a constituição humana no entanto esse desperdício de vida humana não é tão grande que não possa ser compensado pelas abundantes reservas da Virgínia e do Kentucky Precauções econômicas que poderiam oferecer uma espécie de segurança para o tratamento humano do escravo porquanto identificam o interesse do senhor em sua conservação transformamse após a introdução do tráfico escravista em razões para a mais extrema deterioração do escravo pois a partir do momento em que seu lugar pode ser preenchido por contingentes das reservas estrangeiras de negros a duração de sua vida passa a ser menos importante do que sua produtividade enquanto ela durar Por isso é uma máxima da economia escravagista em países importadores de escravos que a economia mais eficaz está em extrair do gado humano human chattle a maior quantidade possível 239 inescrupulosa É a agricultura das Índias Ocidentais há séculos o berço de uma fabulosa riqueza que tem devorado milhões de indivíduos da raça africana É atualmente em Cuba onde as rendas somam milhões e os plantadores são verdadeiros príncipes que podemos ver além da alimentação mais grosseira e da labuta mais extenuante e interminável uma grande parte da classe escrava ser diretamente destruída a cada ano pela lenta tortura do sobretrabalho e da falta de sono e de descanso106 Mutato nomine de te fabula narratur A fábula fala de ti só que com outro nomem Basta ler no lugar de mercado de escravos mercado de trabalho no lugar de Kentucky e Virgínia I rlanda e distritos agrícolas da I nglaterra Escócia e País de Gales e no lugar de África Alemanha Ouvimos como o sobretrabalho dizima os padeiros em Londres e ainda assim o mercado de trabalho londrino está sempre abarrotado de alemães e outros candidatos à morte nas padarias A olaria como vimos é um dos ramos industriais em que a vida é mais curta Faltam por isso oleiros Em 1785 Josiah Wedgwood o inventor da olaria moderna um simples trabalhador de origem declarou perante à Câmara dos Comuns que a manufatura inteira empregava de 15 a 20 mil pessoas107 Em 1861 só a população das sedes urbanas dessa indústria na Grã Bretanha chegava a 101302 pessoas A indústria do algodão existe há 90 anos Em três gerações da raça inglesa ela devorou nove gerações de trabalhadores algodoeiros108 É verdade que em algumas épocas de prosperidade febril o mercado de trabalho mostrou falhas preocupantes como em 1834 Mas então os senhores fabricantes propuseram aos Poor Law Commissioners comissários da Lei dos Pobres deslocar para o Norte o excesso de população dos distritos agrícolas com o argumento de que lá os fabricantes os absorveriam e consumiriam Tais foram exatamente suas palavras109 Agentes foram designados para Manchester com a anuência dos Poor Law Commissioners Listas de trabalhadores agrícolas foram preparadas e entregues a esses agentes Os fabricantes vinham aos escritórios e depois de escolherem os trabalhadores que lhes convinham as famílias eram despachadas do sul da Inglaterra Esses pacotes de gente eram transportados com etiquetas como fardos de mercadorias por via fluvial ou em vagões de carga alguns iam a pé e muitos erravam semifamélicos pelos distritos industriais Isso se tornou um verdadeiro ramo de comércio A Câmara dos Comuns terá dificuldade em acreditar nisso Esse comércio regular esse regateio de carne humana prosseguiu e essa gente foi comprada e vendida pelos agentes de Manchester aos fabricantes dessa cidade com tanta regularidade quanto os negros eram vendidos aos plantadores de algodão dos Estados sulinos O ano de 1860 marca o zênite da indústria do algodão Novamente houve escassez de mão de obra Os fabricantes voltaram a procurar os agentes de carne humana e estes esquadrinharam as dunas de Dorset os cerros de Devon e as planícies de Wilts mas a população excedente já havia sido devorada O Bury Guardian lastimou que com a conclusão do acordo comercial anglofrancês 10 mil braços adicionais poderiam ser absorvidos e não tardaria até que outros 30 ou 40 mil se fizessem necessários Em 1860 depois que os agentes e subagentes do comércio de carne humana varreram os distritos agrícolas quase sem resultado uma delegação de fabricantes dirigiuse ao sr Villiers presidente do Poor Law Board Conselho da Lei dos Pobres com a solicitação de que se voltasse a permitir o fornecimento de crianças pobres e órfãs saídas das workhousesn110 O que a experiência mostra aos capitalistas é em geral uma constante superpopulação isto é um excesso de população em relação às necessidades momentâneas de valorização do capital embora esse fluxo populacional seja formado por gerações de seres humanos atrofiados de vida curta que se substituem uns aos 240 outros rapidamente e são por assim dizer colhidos antes de estarem maduros No entanto a experiência mostra ao observador atento por outro lado rápida e profundamente a produção capitalista que em escala histórica data quase de ontem tem afetado a força do povo em sua raiz vital como a degeneração da população industrial só é retarda pela absorção contínua de elementos vitais naturalespontâneos do campo e como mesmo os trabalhadores rurais apesar do puro e do principle of natural selection princípio da seleção natural que reina tão soberano entre eles e os permite a sobrevivência dos indivíduos mais fortes já começam a aparecer O capital que tem tão boas razões para os sofrimentos das gerações de trabalhadores que o cercam é em seu movimento prático tão pouco condicionado pela perspectiva do apodrecimento futuro da humanidade e seu irreversível despovoamento final quanto pela possível queda da Terra sobre o Sol Em qualquer manobra ardilosa no mercado acionário ninguém ignora que uma hora ou outra a tempestade chegará mas cada um espera que o raio atinja a cabeça do próximo depois de próprio ter colhido a chuva de ouro e o guardado em segurança Après moi le déluge Depois de mim o dilúvio é o lema de todo capitalista e toda nação capitalista O capital não tem por isso a mínima consideração pela saúde e duração da vida do trabalhador a menos que seja forçado pela sociedade a ter essa consideração As queixas sobre a degradação física e mental a morte prematura a tortura do sobretabralho ele responde deveria esse mártir não martirizar ele que aumenta nosso gozo o lucro De modo geral no entanto isso tampouco depende da boa ou má vontade do capitalista individual A livreconcorrência impõe ao capitalista individual como leis externas inexoráveis as leis imanentes da produção capitalista A consolidação de uma jornada de trabalho normal é o resultado de uma luta de 400 anos entre capitalista e trabalhador Mas a história desta luta mostra duas correntes antagônicas Comparese por exemplo a legislação fabril inglesa da nossa época com os estatutos ingleses do trabalho desde o século XIV até meados do século XVIII Enquanto a moderna legislação fabril encerra compulsoriamente a jornada de trabalho aqueles estatutos a prolongam de forma igualmente compulsória Decreto as pretensões do capital em estado embrionário quando em seu processo de formação ele garante seu direito à absorção de uma quantidade suficiente de maistrabalho não apenas mediante a simples força das relações econômicas mas também por meio da ajuda do poder estatal parecem ser muito modestas se comparadas com as concessões que ele rosnando e relutando é obrigado a fazer quando adulto Foi preciso esperar séculos para que o trabalhador livre em consequência de um modo de produção capitalista desenvolvido aceitasse livremente isto é fosse socialmente coagido a vender a totalidade de seu tempo ativo de vida até mesmo sua própria capacidade de trabalho pelo preço mais baixo de subsistência que lhe são habituais e sua primogenitura por uma parte de lentilhas É natural assim que o prolongamento da jornada de trabalho que o capital desde o século XIV até o fim do século XVI procurou impor aos trabalhadores adultos por meio de coação estatal coincide aproximadamente com a limitação de tempo de trabalho na segundo modo do século XIX pois imposta aqui e ali pelo Estado para impedir a transformação do sangue das crianças em capital O que hoje por exemplo no estado de Massachusetts até O primeiro Statute of Labourer Estatuto dos Trabalhadores 23 Eduardo II 1349 teve como pretexto imediato não sua causa pois esse tipo de legislação durou por séculos depois de desaparecido o pretexto de seu surgimento na grande p que dizia a população ao ponto de como diz um escritor tory a dificuldade de se empregar trabalhadores por preços razoáveis isto é por preços que deixem a seus empregados uma quantidade razoável de maistrabalho ter se tornado de fato intolerável com exceção dos trabalhadores agrícolas por meio do pagamento do valor semanal da força de trabalho O fato de que conseguiam viver uma semana inteira com o salário de 4 dias não parecia aos trabalhadores uma razão suficiente para que ainda trabalhassem mais dois dias para os capitalistas Uma parte dos economistas ingleses em nome dos interesses do capital denunciou furiosamente essa contumácia e outra parte defendeu os trabalhadores Ouçamos por exemplo a polêmica entre Postlethwayt cujo Dicionário do Comércio gozava à época da mesma fama de que hoje gozam escritos semelhantes de MacCulloch e MacGregor e o já citado autor do Essay on Trade and Commerce121 Postlethwayt diz entre outras coisas Não posso concluir essas poucas observações sem registrar a opinião trivial na boca de muitos de que se o trabalhador industrious poor pobre industrioso conseguir obter em cinco dias o suficiente para viver ele não trabalhará os seis dias completos A partir disso eles inferem a necessidade de encarecer os meios de subsistência mediante impostos ou qualquer outra medida para forçar o artesão e o trabalhador da manufatura a trabalhar seis dias seguidos na semana Peço licença para discordar desses grandes políticos que lutam pela escravidão perpétua da população trabalhadora desse reino the perpetual slavery of the working people eles esquecem o ditado de que all work and no play apenas trabalho e nenhuma recreação imbeciliza Não se jactam os ingleses da genialidade e habilidade de seus artesãos e trabalhadores nas manufaturas que até agora trouxeram crédito e fama em geral às mercadorias britânicas A que circunstância se deveu isso Provavelmente a nenhuma outra que não o modo como nosso povo trabalhador sabe se divertir à sua maneira Se estivessem obrigados a trabalhar o ano inteiro todos os seis dias na semana repetindo continuamente a mesma operação não acabaria isso por sufocar sua genialidade e tornálos estúpidos e lerdos em vez de atentos e hábeis E em decorrência dessa eterna escravidão não perderiam nossos trabalhadores sua reputação em vez de conservála Que tipo de habilidade artística poderíamos esperar de tais animais extenuados hard driven animals Muitos deles realizam em quatro dias a mesma quantidade de trabalho que um francês realiza em cinco ou seis dias Mas se os ingleses devem ser eternos trabalhadores forçados há razões para temer que eles ainda venham a se degenerar degenerate mais do que os franceses Se nosso povo é célebre por sua valentia na guerra não dizemos que isso se deve por um lado ao bom rosbife e pudim ingleses em seu corpo mas por outro também ao nosso espírito constitucional de liberdade E por que não se deveria atribuir a maior genialidade energia e destreza de nossos artesãos e trabalhadores nas manufaturas à liberdade com que se divertem à sua maneira Espero que eles jamais percam esses privilégios tampouco a boa vida da qual decorrem na mesma medida sua habilidade no trabalho e sua coragem122 A isso responde o autor de Essay on Trade and Commerce Se descansar no sétimo dia da semana é uma instituição divina isso significa que os demais dias pertencem ao trabalho ele quer dizer ao capital como logo se verá e não se pode considerar como crueldade a obrigação de cumprir esse mandamento de Deus Que a humanidade em geral se incline por natureza à comodidade e ao ócio é algo que podemos verificar fatalmente no comportamento de nossa plebe manufatureira que em média não trabalha mais do que 4 dias por semana a não ser no caso de um encarecimento dos meios de subsistência Suponha que 1 alqueire de trigo no valor de 5 xelins represente todos os meios de subsistência do trabalhador e que este último receba 1 xelim diariamente por seu trabalho Ele só precisa trabalhar então 5 dias na semana e apenas 4 se o alqueire custar 4 xelins Mas como o salário neste reino está muito mais alto se comparado com o preço dos meios de subsistência o trabalhador da manufatura que trabalha apenas 4 dias dispõe de um excedente de dinheiro com o qual vive ociosamente o resto da semana Espero ter dito o suficiente para deixar claro que o trabalho moderado durante os 6 dias da semana não é nenhuma escravidão Nossos trabalhadores agrícolas fazem isso e são segundo toda aparência os mais felizes dos trabalhadores labouring poor123 também os holandeses fazem o mesmo nas manufaturas e aparentam ser um povo muito feliz Os franceses o fazem quando não há muitos feriados interpostos124 Mas nossa populaça encasquetou a ideia de que por serem ingleses possuem por direito de nascença o privilégio de ser mais livres e independentes do que o povo trabalhador em qualquer outro país da Europa Ora essa ideia porquanto afeta a valentia de nossos soldados pode ser de alguma utilidade mas quanto menos ela influenciar os trabalhadores das manufaturas tanto melhor para eles mesmos e para o Estado Os trabalhadores jamais deveriam considerarse independentes de seus superiores independent of their superiors É extraordinariamente perigoso encorajar a plebe num Estado comercial como o nosso onde talvez 78 da população total disponha de pouca ou nenhuma propriedade125 A cura não estará completa até que nossos pobres operários aceitem trabalhar 6 dias pela 243 mesma quantia que eles agora recebem por 4 dias de trabalho126 Para esse fim e para a extirpação da preguiça da licenciosidade e do devaneio romântico de liberdade ditto para a redução do número de pobres o fomento do espírito da indústria e a diminuição do preço do trabalho nas manufaturas nosso fiel Eckart do capital propõe este instrumento de eficácia comprovada trancafiar esses trabalhadores que dependem da beneficência pública numa palavra os paupers numa casa ideal de trabalho an ideal workhouse Tal workhouse ideal deve ser transformada numa Casa do Terror House of Terror127 Nessa Casa do Terror esse ideal de uma casa de trabalho workhouse devemse trabalhar 14 horas diárias inclusive o tempo reservado às refeições de modo que restem 12 horas completas de trabalho128 12 horas de trabalho diário numa workhouse ideal na Casa do Terror de 1770 Sessenta e três anos mais tarde em 1833 quando o Parlamento inglês reduziu em quatro ramos da indústria a jornada de trabalho de crianças de 13 a 18 anos para 12 horas completas de trabalho foi como se a hora do J uízo Final tivesse soado para a indústria inglesa Em 1852 quando L Bonaparte tentando consolidar sua posição com relação à burguesia interferiu na jornada legal de trabalho o povor francês gritou numa só voz A lei que reduz a jornada de trabalho para 12 horas é o único bem que nos restou da legislação da República129 Em Zurique o trabalho de crianças maiores de 10 anos é limitado a 12 horas na Argóvia em 1862 o trabalho de crianças entre 13 e 16 anos foi reduzido de 1212 para 12 horas na Áustria em 1860 ele foi igualmente reduzido a 12 horas para crianças entre 14 e 16 anos130 Que progresso desde 1770 bradaria Macaulay com exultation A Casa do Terror para paupers com a qual a alma do capital ainda sonhava em 1770 ergueuse alguns anos mais tarde como uma gigante casa de trabalho para os próprios trabalhadores da manufatura Chamouse fábrica E dessa vez o ideal empalideceu diante da realidade 6 A luta pela jornada normal de trabalho Limitação do tempo de trabalho por força de lei A legislação fabril inglesa de 1833 a 1864 Depois de o capital ter levado séculos para prolongar a jornada de trabalho até seu limite normal e então ultrapassálo até o limite do dia natural de 12 horas131 ocorreu desde o nascimento da grande indústria no último terço do século XVI I I um violento e desmedido desmoronamento qual uma avalanche Derrubaramse todas as barreiras erguidas pelos costumes e pela natureza pela idade e pelo sexo pelo dia e pela noite Mesmo os conceitos de dia e noite de uma simplicidade rústica nos antigos estatutos tornaramse tão complicados que ainda em 1860 um juiz inglês precisava de uma sagacidade talmúdica para explicar judicialmente o que era dia e o que era noite132 O capital celebrou suas orgias Assim que a classe trabalhadora inicialmente aturdida pelo ruído da produção recobrou em alguma medida seus sentidos teve início sua resistência começando pela 244 Assim que a classe trabalhadora inicialmente aturdida pelo ruído da produção recobrou em alguma medida seus sentidos teve início sua resistência começando pela terra natal da grande indústria a I nglaterra Por três décadas no entanto as concessões obtidas pela classe trabalhadora permaneceram puramente nominais De 1802 a 1833 o Parlamento aprovou cinco leis trabalhistas mas foi esperto o bastante para não destinar nem um centavo para sua aplicação compulsória para a contratação dos funcionários necessários ao cumprimento das leis etc133 Estas permaneceram letra morta O fato é que antes da lei de 1833 crianças e adolescentes eram postos a trabalhar were worked a noite toda o dia todo ou ambos ad libitum à vontade134 Somente com a lei fabril de 1833 que incluía as indústrias de algodão lã linho e seda foi instituída na indústria moderna uma jornada normal de trabalho Nada caracteriza melhor o espírito do capital do que a história da legislação fabril inglesa de 1833 a 1864 A lei de 1833 estabelece que a jornada normal de trabalho na fábrica deve começar às 5 e meia da manhã e terminar às 8 e meia da noite e que dentro desses limites num período de 15 horas é legalmente permitido empregar adolescentes isto é pessoas entre 13 e 18 anos para trabalhar em qualquer hora do dia sempre sob o pressuposto de que um mesmo adolescente não trabalhe mais que 12 horas num dia com exceção de casos especiais A sexta seção da lei determina que no decorrer de cada dia para cada pessoa um mínimo de 1 hora e meia desse tempo de trabalho deve ser reservado para as refeições Fica proibido o emprego de crianças menores de 9 anos com exceções que mencionaremos mais adiante e o trabalho de crianças entre 9 e 13 anos é limitado a 8 horas diárias O trabalho noturno isto é segundo essa lei o trabalho entre 8 e meia da noite e 5 e meia da manhã fica proibido para toda pessoa entre 9 e 18 anos Os legisladores estavam tão longe de querer tocar na liberdade do capital de sugar a força de trabalho adulto ou como eles a chamavam a liberdade do trabalho que conceberam um sistema especial para prevenir as consequências tão horrendas da lei fabril O grande mal do sistema fabril tal como ele se configura no presente lêse no primeiro relatório do Conselho Central da comissão de 25 de junho de 1833 está no fato de ele criar a necessidade de expandir o trabalho infantil até a duração máxima da jornada de trabalho dos adultos O único remédio para esse mal sem que se tenha de limitar o trabalho dos adultos o que provocaria um mal ainda maior do que aquele que se pretende evitar parece ser o plano de empregar turmas duplas de crianças Sob o nome de sistema de revezamento system of relays relay significa tanto em inglês como em francês a troca dos cavalos de correio em diferentes estações esse plano foi portanto realizado de tal forma que por exemplo uma turma de crianças de 9 a 13 anos era atrelada ao trabalho das 5 e meia da manhã à 1 e meia da tarde outra turma de 1 e meia da tarde às 8 e meia da noite etc Como recompensa pelo fato de nos últimos 22 anos os senhores fabricantes terem ignorado do modo mais insolente todas as leis promulgadas sobre o trabalho infantil a pílula foilhes então dourada O parlamento decretou que depois de 1º de março de 1834 nenhuma criança menor de 11 anos depois de 1º de março de 1835 nenhuma criança menor de 12 anos e depois de 1º de março de 1836 nenhuma criança menor de 245 Carlisle sir B Brodie sir C Bell o sr Guthrie etc em suma os mais distintos physicians and surgeons médicos e cirurgiões de Londres declararam em seus testemunhos perante a Câmara dos Comuns que havia periculum in mora perigo na demoras O dr Farre se expressou de modo ainda mais grosseiro A legislação é igualmente necessária para a prevenção da morte em todas as formas em que ela pode ser prematuramente infligida e esse o modo da fábrica tem certamente de ser considerado como um dos métodos mais cruéis de infligila135 O mesmo parlamento reformado que em sua delicada consideração pelos senhores fabricantes condenou crianças menores de 13 anos por longos anos ao inferno de 72 horas de trabalho semanal na fábrica por outro lado estabeleceu na Lei de Emancipação que também concedia a liberdade gota a gota que os plantadores ficavam doravante proibidos de fazer seus escravos negros trabalharem por mais de 45 horas semanais De modo algum pacificado o capital deu início então a uma longa e rumorosa agitação Esta girava principalmente em torno da idade das categorias que sob a rubrica crianças estavam limitadas a 8 horas de trabalho e submetidas a certa obrigação escolar De acordo com a antropologia capitalista a idade infantil acabava aos 10 ou no máximo aos 11 anos Quanto mais se aproximava a data estipulada para a vigência plena da lei fabril o ano fatídico de 1836 tanto mais se agitava a turba dos fabricantes Eles conseguiram de fato intimidar o governo ao ponto que este em 1835 propôs reduzir o limite de idade da infância de 13 para 12 anos No entanto a pressure from without pressão vinda de fora aumentou assumindo proporções ameaçadoras Faltou coragem à Câmara Baixa que se recusou a lançar sob as rodas do carro de Jagrenát do capital crianças de 13 anos por mais de 8 horas diárias e assim a lei de 1833 entrou em pleno vigor permanecendo inalterada até junho de 1844 Durante o decênio em que esta lei regulou o trabalho fabril primeiro parcialmente depois totalmente os relatórios oficiais dos inspetores de fábrica transbordaram de queixas sobre a impossibilidade de sua aplicação Como a lei de 1833 na realidade reservava aos senhores do capital a determinação de quando no período de 15 horas entre 5 e meia da manhã e 8 e meia da noite cada adolescente e cada criança deveria iniciar interromper e encerrar a jornada de respectivamente 12 e 8 horas de trabalho assim como a determinação de horários de refeições distintos para pessoas distintas esses senhores não tardaram a descobrir um novo sistema de revezamento no qual os cavalos de trabalho não são trocados em estações determinadas mas sempre novamente atrelados em estações alternadas Não nos demoraremos mais na beleza desse sistema pois teremos de retornar a ele mais adiante À primeira vista porém fica claro que ele aboliu por completo a lei fabril não só em seu espírito mas também em sua letra Com uma contabilidade tão complicada como poderiam os inspetores de fábrica forçar o cumprimento do tempo de trabalho e dos horários de refeições determinados por lei para cada criança e adolescente singulares Em grande parte das fábricas o velho e brutal abuso voltou a florescer impune Numa reunião com o ministro do I nterior 1844 os inspetores de fábrica demonstraram a impossibilidade de qualquer controle sob o sistema de revezamento recentemente urdido136 Nesse ínterim porém as circunstâncias mudaram muito Os trabalhadores 246 das fábricas especialmente depois de 1838 fizeram da Lei das 10 Horas sua palavra de ordem econômica como fizeram da peoples charter carta do povou sua palavra de ordem política Mesmo uma parte dos fabricantes que haviam regulado o trabalho em suas fábricas de acordo com a lei de 1833 inundou o Parlamento com petições contra a concorrência imoral dos falsos irmãos aos quais uma maior insolência ou circunstâncias locais mais afortunadas permitiam a violação da lei Além disso por mais que o fabricante individual quisesse dar rédea larga à sua antiga rapacidade os portavozes e líderes políticos da classe dos fabricantes ordenavam uma atitude e uma linguagem diferentes diante dos trabalhadores Eles haviam iniciado a campanha pela abolição das leis dos cereais e necessitavam da ajuda dos trabalhadores para a vitória Por isso prometeramlhes não apenas a duplicação do tamanho do pãov mas a adoção da Lei das 10 Horas sob o milênio do free trade137 Não lhes era permitido portanto combater uma medida cuja única finalidade era tornar efetiva a lei de 1833 Os tories vendose ameaçados em seu mais sagrado interesse a renda fundiária terminaram por bradar com indignação filantrópica contra as práticas infames138 de seus inimigos Assim surgiu a lei fabril adicional de 7 de junho de 1844 que entrou em vigor em 10 de setembro desse mesmo ano Ela acolhia uma nova categoria de trabalhadores entre os protegidos as mulheres maiores de 18 anos Estas foram equiparadas aos adolescentes em todos os aspectos seu tempo de trabalho foi limitado a 12 horas o trabalho noturno lhes foi vetado etc Pela primeira vez a legislação se viu compelida a controlar direta e oficialmente também o trabalho dos adultos No relatório de fábrica de 18441845 dizse ironicamente Não nos foi apresentado nem um único caso em que mulheres adultas tivessem se queixado de uma tal interferência em seus direitos139 O trabalho de crianças menores de 13 anos foi reduzido para 6 horas e meia e sob certas condições para 7 horas diárias140 Para eliminar os abusos do falso sistema de revezamento a lei estabeleceu entre outras regras importantes como esta A jornada de trabalho para crianças e adolescentes deverá ser contada a partir do horário em que qualquer criança ou adolescente começar a trabalhar na fábrica no turno da manhã Desse modo se A por exemplo começa a trabalhar às 8 horas da manhã e B às 10 horas a jornada de trabalho de B tem de qualquer forma de terminar no mesmo horário da jornada de trabalho de A O começo da jornada de trabalho deve ser regulado por um relógio público por exemplo o relógio da estação ferroviária mais próxima de acordo com o qual os relógios da fábrica devem ser acertados O fabricante é obrigado a afixar na fábrica um aviso impresso em letras grandes no qual são informados os horários de início fim e pausas da jornada de trabalho As crianças que começam seu trabalho da manhã antes do meiodia não podem continuar a trabalhar depois da 1 da tarde O turno da tarde tem portanto de ser preenchido por crianças diferentes das do turno da manhã A pausa de 1 hora e meia para a refeição tem de ser concedida a todos os trabalhadores protegidos nos mesmos períodos do dia pelo menos 1 hora antes das 3 horas da tarde Crianças ou adolescentes não podem ser empregados por mais de 5 horas antes da 1 hora da tarde sem que tenham 247 dia pelo menos 1 hora antes das 3 horas da tarde Crianças ou adolescentes não podem ser empregados por mais de 5 horas antes da 1 hora da tarde sem que tenham pelo menos uma pausa de meia hora para a refeição Durante o horário de qualquer uma das refeições crianças jovens ou mulheres não podem permanecer em nenhuma instalação da fábrica onde esteja em curso qualquer processo de trabalho etc Vimos que essas determinações minuciosas que regulam com uma uniformidade militar os horários os limites as pausas do trabalho de acordo com o sino do relógio não foram de modo algum produto das lucubrações parlamentares Elas se desenvolveram paulatinamente a partir das circunstâncias como leis naturais do modo de produção moderno Sua formulação seu reconhecimento oficial e sua proclamação estatal foram o resultado de longas lutas de classes Uma de suas consequências imediatas foi que na prática também a jornada de trabalho dos operários masculinos adultos foi submetida aos mesmos limites uma vez que a cooperação de crianças jovens e mulheres era indispensável à maioria dos processos de produção E assim durante o período entre 1844 e 1847 a jornada de trabalho de 12 horas foi implementada geral e uniformemente em todos os ramos da indústria submetidos à legislação fabril Mas os fabricantes não permitiram esse progresso sem exigir um retrocesso como recompensa Por eles pressionada a Câmara Baixa reduziu a idade mínima das crianças aptas a serem exploradas de 9 para 8 anos visando assegurar o fornecimento adicional de crianças de fábrica Fabrikkinder141 a que o capital tem direito segundo a lei de Deus e dos homens Os anos 18461847 marcaram época na história econômica da I nglaterra Revogaramse as leis dos cereais aboliramse as tarifas de importação de algodão e outras matériasprimas proclamouse o livrecâmbio como estrelaguia da legislação Em suma foi a chegada do milênio Por outro lado nesses mesmos anos o movimento cartista e a agitação pela Lei das 10 Horas atingiram seu auge Eles encontraram aliados nos tories ávidos por vingança Apesar da resistência fanática do exército dos livrecambistas perjuradores liderados por Bright e Cobden a Lei das 10 Horas por tanto tempo almejada foi aprovada pelo Parlamento A nova lei fabril de 8 de junho de 1847 determinou que a partir de 1º de julho de 1847 haveria uma redução preliminar da jornada de trabalho dos jovens de 13 a 18 anos e de todas as trabalhadoras para 11 horas e que em 1º maio de 1848 entraria em vigor a limitação definitiva em 10 horas De resto a lei não era mais que uma emenda às leis de 1833 e 1844 O capital deu início então a uma campanha prévia para impedir a plena aplicação da lei em 1º de maio de 1848 E caberia aos próprios trabalhadores supostamente escaldados pela experiência ajudar a destruir sua própria obra O momento fora habilmente escolhido Devese recordar que em consequência da terrível crise de 18461847 abateuse uma grande miséria entre os trabalhadores fabris já que muitas fábricas passaram a operar apenas em tempo reduzido muitas delas estando completamente paralisadas Um número considerável de trabalhadores encontravase assim na mais difícil situação e muitos deles endividados Por essa razão podiase presumir com um certo grau de certeza que eles prefeririam uma jornada de trabalho mais longa pois assim poderiam se recuperar das perdas passadas talvez saldar suas dívidas resgatar seus móveis da casa de penhores repor os bens vendidos ou adquirir novas roupas 248 meio de uma redução geral dos salários em 10 I sso se deu por assim dizer para celebrar o advento da nova era do livrecâmbio Seguiuse então mais uma redução de 813 assim que a jornada de trabalho foi reduzida para 11 horas e do dobro assim que foi definitivamente reduzida para 10 horas Onde as circunstâncias o permitiram houve uma redução salarial de no mínimo 25143 Sob condições tão favoravelmente preparadas teve início entre os trabalhadores o movimento pela revogação da lei de 1847 Mentira suborno ameaça nenhum meio foi poupado para esse fim porém tudo em vão Quanto à meia dúzia de petições em que os trabalhadores foram obrigados a se queixar de sua opressão pela lei os próprios peticionários atestaram em interrogatório oral que suas assinaturas haviam sido obtidas à força Eles eram oprimidos mas por algum outro que não a lei fabril144 Como os fabricantes não conseguiam fazer com que os trabalhadores falassem o que eles queriam eles próprios passaram a gritar ainda mais alto na imprensa e no Parlamento em nome dos trabalhadores Denunciaram os inspetores de fábricas como uma espécie de comissários da Convençãox que sacrificavam impiedosamente os desditosos trabalhadores a seus delírios de reforma do mundo Também essa manobra fracassou O inspetor de fábrica Leonard Horner colheu pessoalmente e por meio de seus subinspetores inúmeros depoimentos de testemunhas nas fábricas de Lancashire Cerca de 70 dos trabalhadores ouvidos declararamse pelas 10 horas uma porcentagem muito menor pelas 11 horas e uma minoria absolutamente insignificante pelas velhas 12 horas145 Outra amigável manobra foi a de deixar que operários masculinos adultos trabalhassem de 12 até 15 horas e então declarar esse fato como a melhor expressão dos mais profundos desejos proletários Mas o implacável inspetor de fábrica Leonard Horner estava novamente de prontidão A maioria dos que trabalham horas adicionais declarou que preferiria muito mais trabalhar 10 horas por um salário menor porém não tinha escolha havia tantos deles desempregados tantos fiandeiros forçados a trabalhar como meros piecers trabalhadores por peças que se rejeitassem o tempo de trabalho mais longo outros ocupariam imediatamente seu lugar de modo que a questão para eles era ou trabalhar por mais tempo ou ficar na rua146 A campanha prévia do capital malogrou e a Lei das 10 Horas entrou em vigor em 1º de maio de 1848 Nesse ínterim porém o fiasco do partido cartista com seus líderes encarcerados e sua organização fragmentada já havia abalado a autoconfiança da classe trabalhadora inglesa Logo depois disso a insurreição de J unho em Paris e sua sangrenta repressão provocaram na I nglaterra do mesmo modo que na Europa continental a união de todas as frações das classes dominantes proprietários fundiários e capitalistas chacais das bolsas de valores e varejistas protecionistas e livrecambistas governo e oposição padres e livrespensadores jovens prostitutas e velhas freiras sob a bandeira comum da salvação da propriedade da religião da família e da sociedade A classe trabalhadora foi por toda parte execrada proscrita submetida à loi des suspects lei sobre os suspeitosw Os senhores fabricantes já não tinham mais por que se constranger Revoltaramse abertamente não só contra a Lei das 10 Horas mas contra toda a legislação que desde 1833 procurava de algum modo restringir a livre exploração da força de trabalho Foi uma rebelião proslavery pró 249 escravidão em miniatura conduzida por mais de dois anos com um cínico despudor e uma energia terrorista ambos tanto mais banalizados quanto o capitalista rebelde não arriscava nada além da pele de seus trabalhadores Para a compreensão do que se segue devemos recordar que as leis fabris de 1833 1844 e 1847 estavam todas em vigor porquanto uma não emendara a outra que nenhuma delas restringia a jornada de trabalho do operário masculino maior de 18 anos e que desde 1833 o período de 15 horas entre as 5 e meia da manhã e as 8 e meia da noite fora fixado como o dia legal em cujos limites tinham de ser realizadas primeiramente as 12 e mais tarde as 10 horas de trabalho dos adolescentes e das mulheres de acordo com as condições prescritas Os fabricantes começaram aqui e ali a dispensar uma parte às vezes a metade dos adolescentes e trabalhadoras por eles empregados e em contrapartida restabeleceram o já quase extinto trabalho noturno entre os operários masculinos adultos A Lei das 10 Horas clamavam não lhes deixava outra alternativa147 O segundo passo foi relativo às pausas legais para as refeições Ouçamos o que dizem os inspetores de fábrica Desde a limitação da jornada de trabalho em 10 horas os fabricantes embora ainda não tenham levado seu ponto de vista até as últimas consequências afirmam que por exemplo quando se trabalha de 9 horas da manhã às 7 da noite eles cumprem os preceitos legalmente estabelecidos ao concederem 1 hora para a refeição antes das 9 horas da manhã e meia hora após as 7 da noite perfazendo portanto um total de 1 hora e meia para as refeições Em alguns casos eles permitem meia hora ou 1 hora inteira para o almoço mas insistem que não são de modo algum obrigados a incluir qualquer parte da 1 hora e meia no decorrer da jornada de trabalho de 10 horas148 Os senhores fabricantes sustentavam portanto que as determinações extremamente detalhadas da lei de 1844 sobre as refeições davam aos trabalhadores apenas a permissão para comer e beber antes de sua entrada na fábrica e depois de sua saída ou seja em casa E por que não podiam os trabalhadores almoçar antes das 9 horas da manhã Os juristas da Coroa decidiram que as refeições prescritas devem ser realizadas nas pausas durante a jornada de trabalho sendo ilegal permitir que se trabalhe 10 horas consecutivas das 9 horas da manhã às 7 da noite sem intervalo149 Após essas amigáveis demonstrações o capital dirigiu sua revolta por um caminho que correspondia à letra da lei de 1844 sendo portanto legal A lei de 1844 proibia que crianças de 8 a 13 anos que tivessem sido ocupadas pela manhã antes das 12 horas voltassem a ser ocupadas depois de 1 hora da tarde Mas ela não regulava de modo algum as 6 horas e meia de trabalho das crianças cuja jornada de trabalho começava ao meiodia ou mais tarde Desse modo crianças de 8 anos se começassem a trabalhar ao meiodia podiam ser empregadas das 12 horas à 1 da tarde 1 hora das 2 às 4 da tarde 2 horas e das 5 às 8 e meia da noite 3 horas e meia no total as 6 horas e meia determinadas por lei Ou melhor ainda A fim de fazer seu trabalho coincidir com o dos trabalhadores masculinos adultos até as 8 e meia da noite os fabricantes precisavam apenas não dar a elas nenhum trabalho antes das 2 horas da tarde podendo a partir de então mantêlas na fábrica ininterruptamente até as 8 e meia da noite E agora é expressamente admitido que em razão da ganância dos fabricantes que querem manter sua maquinaria em funcionamento por mais de 10 horas introduziuse na Inglaterra a prática de empregar crianças de 8 a 13 anos de ambos os sexos até as 8 e meia da noite ao lado de homens adultos após todos os adolescentes 250 E agora é expressamente admitido que em razão da ganância dos fabricantes que querem manter sua maquinaria em funcionamento por mais de 10 horas introduziuse na Inglaterra a prática de empregar crianças de 8 a 13 anos de ambos os sexos até as 8 e meia da noite ao lado de homens adultos após todos os adolescentes e mulheres terem deixado a fábrica150 Trabalhadores e inspetores de fábrica protestaram por razões higiênicas e morais Mas o capital respondeu Que os meus atos me caiam na cabeça Só reclamo a aplicação da lei a pena justa cominada na letra já venciday Na verdade estatísticas apresentadas à Câmara Baixa em 26 de julho de 1850 mostram que apesar de todos os protestos em 15 de julho de 1850 havia 3732 crianças submetidas a essa prática em 257 fábricas151 E ainda não era o bastante O olhar de lince do capital descobriu que a lei de 1844 não permitia que se trabalhasse 5 horas antes do meiodia sem uma pausa de no mínimo 30 minutos para descanso mas não prescrevia nada nesse sentido para o trabalho após o meiodia Dessa forma o capital exigiu e teve o prazer não apenas de esfalfar crianças trabalhadoras de 8 anos de idade das 2 da tarde às 8 e meia da noite sem nenhum intervalo como também de fazêlas passar fome durante esse tempo Sim o peito tal como está na letraz 152 Mas esse apego shylockiano à letra da lei de 1844 na parte que regula o trabalho infantil era apenas o prenúncio de uma revolta aberta contra essa mesma lei na parte que regula o trabalho de jovens e mulheres É importante lembrar que a abolição do falso sistema de revezamento era o escopo e o conteúdo principal dessa lei Os fabricantes iniciaram sua revolta com a simples declaração de que as partes da lei de 1844 que proibiam o abuso indiscriminado de adolescentes e mulheres em pequenas frações da jornada arbitrariamente estabelecidas pelo empregador eram comparativamente inócuas comparatively harmless porquanto o tempo de trabalho estava limitado a 12 horas Mas sob a Lei das 10 Horas elas representam um sofrimento hardship insuportável153 Com a mais extrema frieza deixaram claro aos inspetores que se colocavam acima da letra da lei e reimplantariam o antigo sistema por sua própria conta154 E diziam agir no interesse dos próprios malaconselhados trabalhadores a fim de poder pagar lhes salários maiores É o único plano possível para manter a supremacia industrial da GrãBretanha sob a Lei das 10 Horas155 Pode ser um pouco difícil descobrir irregularidades sob o sistema de revezamento mas e daí what of that Deve o grande interesse fabril deste país ser tratado como algo secundário apenas para poupar um pouquinho de incômodo some little trouble aos inspetores e subinspetores de fábrica156 Naturalmente todo esse falatório não serviu para nada Os inspetores de fábrica apelaram aos tribunais Mas logo uma tal nuvem de petições dos fabricantes foi dirigida ao ministro do I nterior o sr George Grey que recomendou aos inspetores numa circular de 5 de agosto de 1848 em geral não autuar por violação da letra da lei enquanto não houvesse infração comprovada do sistema de revezamento com a finalidade de fazer adolescentes e mulheres trabalhar mais de 10 horas Como consequência o inspetor de fábrica J Stuart autorizou o assim chamado sistema de revezamento durante o período de 15 horas da jornada fabril em toda a Escócia onde logo voltou a florescer em sua velha forma J á os inspetores de fábrica 251 proslavery Mas para que servia todas aquelas intimações ao tribunal se estes os county magistrates157 os absolviam Nesses tribunais os próprios senhores fabricantes sentavamse para julgar a si mesmos Um exemplo Um certo Eskrigge fabricante de fios de algodão da firma Kershaw Leese Co apresentara ao inspetor de fábrica de seu distrito a planilha de um sistema de revezamento elaborado para sua fábrica Ao receber uma recusa comportouse de início passivamente Alguns meses mais tarde um indivíduo de nome Robinson também fabricante de fios de algodão e se não seu SextaFeira de todo modo um parente de Eskrigge apresentouse aos Borough Justices juízes de paz locais em Stockport sob acusação de haver implementado um sistema de revezamento idêntico ao de Eskrigge Quatro juízes formaram o tribunal entre eles três fabricantes de fios de algodão tendo à frente o infalível Eskrigge Este último absolveu Robinson e declarou que o que era de direito para Robinson era justo para Eskrigge Baseado em sua própria decisão judicial implementou imediatamente o sistema em sua fábrica158 Certamente a composição desses tribunais já era por si só uma violação aberta da lei159 Esse tipo de farsas judiciais exclamou o inspetor Howell clama urgentemente por um remédio que a lei seja alterada para se adequar a essas sentenças ou que seja administrada por um tribunal menos falível cujas decisões sejam conformes à lei em todos os casos desse tipo Que bom seria se tivéssemos um juiz remunerado160 Os juristas da Coroa declararam como absurda as interpretações que os fabricantes faziam da lei de 1848 mas os salvadores da sociedade não se deixaram intimidar Depois de haver tentado relata Leonard Horner por meio de 10 ações em 7 diferentes comarcas forçar a aplicação da lei e tendo recebido o apoio dos magistrados apenas em um caso considero inúteis ações subsequentes por infrações à lei A parte da lei elaborada para promover a uniformidade nas horas de trabalho já deixou de existir em Lancashire Tampouco possuo com meus subagentes quaisquer meios de assegurar que fábricas onde vigora o assim chamado sistema de revezamento não ocupem adolescentes e mulheres por mais de 10 horas No final de abril de 1849 114 fábricas em meu distrito já trabalhavam de acordo com esse método e seu número aumentou fortemente nos últimos tempos Em geral eles trabalham agora 13 horas e meia das 6 horas da manhã às 7 e meia da noite em alguns casos 15 horas das 5 e meia da manhã às 8 e meia da noite161 J á em dezembro de 1848 possuía Leonard Horner uma lista de 65 fabricantes e 29 supervisores que declaravam unanimemente que nenhum sistema de fiscalização poderia evitar a prática do mais extensivo sobretrabalho sob esse sistema de revezamento162 As mesmas crianças e adolescentes eram deslocados shifted ora da fiação para a tecelagem etc ora de uma fábrica para outra por 15 horas163 Como controlar um sistema que abusa da palavra revezamento para embaralhar os operários como cartas em infinitas combinações alterando diariamente as horas de trabalho e de descanso dos diferentes indivíduos de tal modo que um mesmo sortimento completo de braços jamais atue em conjunto no mesmo lugar e ao mesmo tempo164 Porém abstraindo inteiramente do sobretrabalho real esse assim chamado sistema de revezamento era um aborto da fantasia do capital que nem mesmo Fourier em seus esboços humorísticos das courtes séances sessões curtasaa conseguiu superar com a única diferença de que a atração do trabalho foi transformada na 252 atração do capital Vejase por exemplo os esquemas daqueles fabricantes que a boa imprensa louvava como modelo daquilo que um grau razoável de cuidado e método pode realizar what a reasonable degree of care and method can accomplish Os trabalhadores foram às vezes divididos a categorias que por sua vez trocavam constantemente seus componentes Durante o período de 15 horas da jornada fabril o capital ocupava o trabalhador ora por 30 minutos ora por 1 hora e voltava a dispensá lo a fim de empregálo na fábrica e depois dispensálo novamente empurrandoo de lá para cá em porções fragmentadas de tempo sem jamais deixar de têlo sob seu domínio até que estivessem completas as 10 horas de trabalho Como sobre o palco as mesmas pessoas tinham de atuar alternadamente nas diversas cenas dos diversos atos Mas assim como um ator pertence ao palco durante toda a duração do drama também os trabalhadores pertenciam à fábrica durante as 15 horas da jornada de trabalho sem incluir o tempo de ida e volta As horas de descanso se transformaram assim em horas de ócio forçado que empurravam os jovens para a taberna e as jovens trabalhadoras para o bordel A cada novo plano tramado diariamente pelo capitalista para manter sua maquinaria funcionando por 12 ou 15 horas sem aumento de pessoal o trabalhador se via forçado a engolir sua refeição ora nesse pedaço de tempo não utilizado ora noutro À época da agitação das 10 horas os fabricantes gritavam que a malta dos trabalhadores fazia petições na esperança de receber um salário de 12 horas por 10 horas de trabalho Agora eles haviam invertido a medalha e pagavam um salário de 10 horas por 12 a 15 horas de disposição sobre as forças de trabalho165 Esse era o xis da questão essa era a versão que os fabricantes apresentavam da Lei das 10 Horas Eram os mesmos melífluos livrecambistas exalando amor à humanidade que por 10 anos inteiros durante a anticorn law agitation movimento contra a lei dos cereais haviam assegurado aos trabalhadores calculando até o último tostão que com a livre importação de cereais e com os meios da indústria inglesa apenas 10 horas de trabalho seriam suficientes para enriquecer os capitalistas166 A revolta do capital que durou dois anos foi finalmente coroada pela sentença de um dos quatro tribunais superiores da I nglaterra a Court of Exchequer que num dos casos levados a ela decidiu em 8 de fevereiro de 1850 que os fabricantes haviam agido de fato contra o sentido da lei de 1844 mas que essa mesma lei continha certas palavras que a tornavam sem sentido Com essa decisão a Lei das 10 Horas estava revogada167 Uma massa de fabricantes que até então receara aplicar o sistema de revezamento a adolescentes e trabalhadoras agora se agarrara a ele com as duas mãos168 Mas a esse triunfo aparentemente definitivo do capital seguiuse imediatamente uma reviravolta Os trabalhadores haviam até então oferecido uma resistência passiva ainda que inflexível e diariamente renovada Eles protestavam agora em ameaçadores comícios em Lancashire e Yorkshire A suposta Lei das 10 Horas era para eles mera impostura uma trapaça parlamentar e jamais teria existido Os inspetores de fábricas alertaram urgentemente o governo de que o antagonismo de classes chegara a um grau de tensão inacreditável Uma parte dos próprios fabricantes murmurou Devido às decisões contraditórias dos magistrados reina um estado de coisas totalmente anormal e anárquico 253 murmurou Devido às decisões contraditórias dos magistrados reina um estado de coisas totalmente anormal e anárquico Uma lei vigora em Yorkshire outra em Lancashire outra lei numa paróquia de Lancashire outra em sua vizinhança imediata O fabricante nas grandes cidades pode burlar a lei o das áreas rurais não encontra a mão de obra necessária para o sistema de revezamento e menos ainda para o deslocamento dos trabalhadores de uma fábrica para outra etc E a igual exploração da força de trabalho é o primeiro direito humano do capital Sob essas circunstâncias fabricantes e trabalhadores chegaram a um compromisso que recebeu o selo parlamentar na nova lei fabril adicional de 5 de agosto de 1850 A jornada de trabalho para jovens e mulheres foi prolongada nos primeiros cinco dias da semana de 10 para 10 horas e meia e diminuída para 7 horas e meia aos sábados O trabalho deve ser realizado no período entre 6 horas da manhã e 6 da tarde169 com 1 hora e meia de pausas para as refeições que devem ser as mesmas para todos e em conformidade com as regras de 1844 Com isso pôsse fim de uma vez por todas ao sistema de revezamento170 Para o trabalho infantil continuou em vigor a lei de 1844 Dessa vez tal como antes uma categoria de fabricantes garantiu para si direitos senhoriais especiais sobre as crianças proletárias Tal categoria foi a dos fabricantes de seda No ano de 1833 eles haviam uivado ameaçadoramente que se fossem privados da liberdade de explorar crianças de qualquer idade por 10 horas diárias isso paralisaria suas fábricas if the liberty of working children of any age for 10 hours a day was taken away it would stop their works Argumentavam que lhes seria impossível comprar um número suficiente de crianças maiores de 13 anos E assim lograram extorquir o privilégio desejado Numa investigação posterior esse pretexto se revelou como pura mentira171 mas isso não os impediu de durante toda uma década fabricar fios de seda 10 horas por dia com o sangue de crianças pequenas que para poderem trabalhar tinham de ser colocadas em pé em cima de cadeiras172 Se a lei de 1844 lhes roubara a liberdade de fazer crianças de 11 anos trabalharem por mais do que 6 horas e meia ela lhes garantira em contrapartida o privilégio de explorar crianças de 11 a 13 anos por 10 horas diárias cassando a obrigatoriedade escolar prescrita para todas as outras crianças de fábricas Dessa vez o pretexto foi de que a delicadeza do tecido requeria uma leveza de toque que só poderia ser garantida por meio de uma admissão prematura nessas fábricas173 Pela delicadeza de seus dedos crianças foram completamente sacrificadas como o gado no sul da Rússia é sacrificado por sua pele e seu sebo Finalmente em 1850 o privilégio concedido em 1844 foi limitado aos departamentos de torcedura e enrolamento da seda mas aqui a título de compensação da liberdade roubada ao capital o tempo de trabalho das crianças de 11 a 13 anos de idade foi elevado de 10 para 10 horas e meia Pretexto Nas fábricas de seda o trabalho é mais leve que nas outras fábricas e de modo algum é tão prejudicial à saúde174 Mais tarde uma investigação médica oficial demonstrou que ao contrário a taxa média de mortalidade nos distritos produtores de seda é excepcionalmente alta e entre a população feminina chega a ser maior do que nos distritos algodoeiros de Lancashire175 Apesar dos repetidos protestos semestrais dos inspetores de fábricas o abuso 254 Durante a discussão da lei os inspetores de fábrica apresentaram ao Parlamento uma estatística sobre os abusos infames cometidos graças àquela anomalia Mas em vão No fundo escondiase a intenção de voltar a elevar para 15 horas em anos de prosperidade a jornada dos trabalhadores adultos com a ajuda das crianças submetidas a leis específicas das quais a primeira proibia entre outras coisas o trabalho noturno de 8 horas da noite às 6 da manhã para crianças jovens e mulheres e a segunda o emprego de oficiais padeiros menores de 18 anos entre 9 horas da noite e 5 da manhã Voltaremos mais adiante às propostas posteriores da citada comissão que com exceção da agricultura das minas e dos meios de transporte ameaçavam roubar a liberdade a todos os ramos importantes da indústria inglesa185a 7 A luta pela jornada normal de trabalho Repercussão da legislação fabril inglesa em outros países O leitor se recorda que a produção de maisvalor ou a extração de maistrabalho constitui o conteúdo e a finalidade específicos da produção capitalista abstraindo das transformações do próprio modo de produção decorrentes da subordinação do trabalho ao capital Recordase que segundo o que foi exposto até agora apenas o trabalhador independente e portanto legalmente emancipado pode como vendedor de mercadorias firmar contrato com o capitalista Assim se em nosso esboço histórico desempenham um papel central de um lado a indústria moderna e de outro o trabalho daqueles que são física e juridicamente menores a primeira se apresenta apenas como uma esfera especial e o segundo como exemplo particularmente convincente da exploração do trabalho Sem antecipar o subsequente desenvolvimento de nossa investigação a simples conexão entre os fatos históricos nos mostra Primeiro nas indústrias inicialmente revolucionadas pela força da água do vapor e da maquinaria nessas primeiras criações do moderno modo de produção nas fiações e tecelagens de algodão lã linho e seda o impulso do capital para a prolongação a todo custo da jornada de trabalho é primeiramente satisfeito O modo de produção material modificado ao qual correspondem as relações sociais modificadas entre os produtores186 engendra de início abusos desmedidos e provocam como reação o controle social que limita regula e uniformiza legalmente a jornada de trabalho e suas pausas Por isso durante a primeira metade do século XI X esse controle aparece como mera legislação de exceção187 Mal essa legislação se aplicara sobre o terreno original do novo modo de produção e se verificou que nesse ínterim não apenas muitos outros ramos da produção se haviam incorporado ao regime propriamente fabril mas que manufaturas com métodos de funcionamento mais ou menos obsoletos tais como olarias vidrarias etc ofícios arcaicos como panificação e por fim mesmo o trabalho esparso chamado de trabalho domiciliar como a fabricação de agulhas etc188 há muito já haviam caído sob a exploração capitalista tanto quanto a fábrica A legislação foi por isso obrigada a livrarse progressivamente de seu caráter excepcional ou onde ela é aplicada segundo a casuística romana como na I nglaterra a declarar arbitrariamente como fábrica factory toda e qualquer casa onde algum trabalho é executado189 Segundo a história da regulação da jornada de trabalho em alguns modos de produção bem como a luta que em outros ainda se trava por essa regulação provam palpavelmente que quando o modo de produção capitalista atinge certo grau de amadurecimento o trabalhador isolado o trabalhador como livre vendedor de sua 256 palpavelmente que quando o modo de produção capitalista atinge certo grau de amadurecimento o trabalhador isolado o trabalhador como livre vendedor de sua força de trabalho sucumbe a ele sem poder de resistência A criação de uma jornada normal de trabalho é por isso o produto de uma longa e mais ou menos oculta guerra civil entre as classes capitalista e trabalhadora Como a luta teve início no âmbito da indústria moderna ela foi travada inicialmente na pátria dessa indústria a Inglaterra190 Os trabalhadores fabris ingleses foram os paladinos não apenas da classe trabalhadora inglesa mas da classe trabalhadora em geral assim como seus teóricos foram os primeiros a desafiar a teoria do capital191 Por essa razão o filósofo da fábrica Ure denuncia como um irremediável opróbrio para a classe trabalhadora inglesa que ela tenha inscrito em sua bandeira a escravidão das leis fabris opondo se ao capital que lutava de modo viril pela liberdade plena do trabalho192 A França se arrasta claudicante atrás da I nglaterra Foi necessária a Revolução de Fevereiro para trazer à luz a Lei das 12 Horas193 muito mais defeituosa que a original inglesa Apesar disso o método revolucionário francês também mostra suas vantagens peculiares De um só golpe ele estabelece para todos os ateliês e fábricas sem distinção os mesmos limites da jornada de trabalho ao passo que a legislação inglesa cede à pressão das circunstâncias ora nesse ponto ora noutro e está no melhor caminho para se perder em meio a novos imbróglios jurídicos194 Por outro lado a lei francesa proclama como um princípio aquilo que a I nglaterra conquistou apenas em nome das crianças dos menores e das mulheres e que apenas recentemente foi reivindicado como um direito universal195 Nos Estados Unidos da América do Norte todo movimento operário independente ficou paralisado durante o tempo em que a escravidão desfigurou uma parte da república O trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro Mas da morte da escravidão brotou imediatamente uma vida nova e rejuvenescida O primeiro fruto da guerra civil foi o movimento pela jornada de trabalho de 8 horas que percorreu com as botas de sete léguas da locomotiva do Atlântico até o Pacífico da Nova I nglaterra à Califórnia O Congresso Geral dos Trabalhadores em Baltimore agosto de 1866ab declarou A primeira e maior exigência do presente para libertar o trabalho deste país da escravidão capitalista é a aprovação de uma lei que estabeleça uma jornada de trabalho normal de 8 horas em todos os Estados da União americana Estamos decididos a empenhar todas as nossas forças até que esse glorioso resultado seja alcançado196 Ao mesmo tempo início de setembro de 1866 o Congresso da Associação I nternacional dos Trabalhadores em Genebra decidiu por proposta do Conselho Geral de Londres Declaramos a limitação da jornada de trabalho como uma condição prévia sem a qual todos os demais esforços pela emancipação estão fadados ao fracasso Propomos 8 horas de trabalho como limite legal da jornada de trabalho Assim em ambos os lados do Oceano Atlântico o movimento dos trabalhadores tendo crescido instintivamente a partir das próprias relações de produção endossou as palavras do inspetor de fábrica inglês R J Saunders nenhum passo adiante em direção à reforma da sociedade pode ser dado com qualquer perspectiva de sucesso a menos que a jornada de trabalho seja limitada e o cumprimento do limite prescrito 257 de quando nele entrou No mercado ele como possuidor da mercadoria força de trabalho aparece diante de outros possuidores de mercadorias possuidor de mercadoria diante de possuidores de mercadorias O contrato pelo qual ele vende sua força de trabalho ao capitalista prova por assim dizer põe o preto no branco que ele dispõe livremente de si mesmo Fechado o negócio descobrese que ele não era nenhum agente livre que o tempo de que livremente dispõe para vender sua força de trabalho é o tempo em que é forçado a vendêla198 que na verdade seu parasita Sauger não o deixará enquanto houver um músculo um nervo uma gota de sangue para explorar199 Para se proteger contra a serpente de suas afliçõesac os trabalhadores têm de se unir e como classe forçar a aprovação de uma lei uma barreira social intransponível que os impeça a si mesmos de por meio de um contrato voluntário com o capital vender a si e a suas famílias à morte e à escravidão200 No lugar do pomposo catálogo dos direitos humanos inalienáveis temse a modesta Magna Chartaad de uma jornada de trabalho legalmente limitada que afinal deixa claro quando acaba o tempo que o trabalhador vende e quando começa o tempo que lhe pertence201 Quantum mutatus ab illo Quanto se mudou do que eraae 258 Capítulo 9 Taxa e massa do maisvalor Neste capítulo como anteriormente o valor da força de trabalho isto é da parte da jornada de trabalho necessária para a reprodução ou conservação da força de trabalho será suposto como uma grandeza constante dada Pressuposto isso com a taxa é dada ao mesmo tempo a massa de maisvalor que o trabalhador individual fornece ao capitalista num determinado período de tempo Se por exemplo o trabalho necessário é de 6 horas diárias expressas numa quantidade de ouro de 3 xelins 1 táler então o táler é o valor diário de uma força de trabalho ou o valor do capital adiantado na compra de uma força de trabalho Se além disso a taxa de maisvalor é de 100 esse capital variável de 1 táler produz uma massa de mais valor de 1 táler ou o trabalhador fornece diariamente uma massa de maistrabalho igual a 6 horas Mas o capital variável é a expressão monetária do valor total de todas as forças de trabalho que o capitalista emprega simultaneamente Seu valor é assim igual ao valor médio de uma força de trabalho multiplicado pelo número de forças de trabalho empregadas Dado o valor da força de trabalho a grandeza do capital variável está pois na razão direta ao número de trabalhadores simultaneamente empregados Se o valor diário de uma força de trabalho 1 táler um capital de 100 táleres precisa ser desembolsado para explorar 100 e de n táleres para explorar n forças de trabalho diariamente Da mesma forma se um capital variável de 1 táler o valor diário de uma força de trabalho produz um maisvalor diário de 1 táler um capital variável de 100 táleres produz um maisvalor diário de 100 e um de n táleres produzirá um maisvalor diário de 1 táler n A massa do maisvalor produzido é assim igual ao maisvalor fornecido pela jornada de trabalho do trabalhador individual multiplicado pelo número de trabalhadores empregados Mas como além disso dado um certo valor da força de trabalho a massa do maisvalor produzido pelo trabalhador individual é determinada pela taxa de maisvalor seguese a primeira lei a massa do mais valor produzido é igual à grandeza do capital variável adiantado multiplicada pela taxa de maisvalor ou é determinada pela relação composta entre o número das forças de trabalho simultaneamente exploradas pelos mesmos capitalistas e o grau de exploração da força de trabalho individuala Chamemos portanto M a massa do maisvalor m o maisvalor fornecido pelo trabalhador individual no dia médio v o capital variável diariamente adiantado na compra da força de trabalho individual V a soma total do capital variável f o valor de uma força de trabalho média aa trabalho excedentetrabalho necessário o seu grau de exploração e n o número de trabalhadores empregados Temos então mv V 259 f x aa n Aqui está pressuposto não apenas que o valor de uma força de trabalho média é constante mas que os trabalhadores empregados por um capitalista se reduzem aos trabalhadores médios Em casos excepcionais o maisvalor produzido não aumenta na mesma proporção do número dos trabalhadores explorados mas então tampouco o valor da força de trabalho permanece constante Na produção de uma dada massa de maisvalor portanto a diminuição de um fator pode ser compensada pelo aumento do outro Se o capital variável diminui e ao mesmo tempo a taxa de maisvalor aumenta na mesma proporção a massa do mais valor produzido se mantém inalterada Se conforme nossa suposição anterior o capitalista adianta 100 táleres para explorar diariamente 100 trabalhadores e se a taxa de maisvalor é de 50 esse capital variável de 100 táleres gera então um maisvalor de 50 táleres ou 100 3 horas de trabalho Se a taxa de maisvalor dobra ou a jornada de trabalho é aumentada não de 6 para 9 mas de 6 para 12 horas então o capital variável agora reduzido à metade 50 táleres gera igualmente um maisvalor de 50 táleres ou 50 6 horas de trabalho A diminuição do capital variável é assim compensável por um aumento proporcional no grau de exploração da força de trabalho ou em outras palavras a diminuição no número de trabalhadores empregados é compensável por um prolongamento proporcional da jornada de trabalho Dentro de certos limites a oferta de trabalho que o capital pode explorar se torna pois independente da oferta de trabalhadores202 Por outro lado uma queda na taxa de maisvalor deixa inalterada a massa do maisvalor produzido toda vez que a grandeza do capital variável ou o número dos trabalhadores empregados aumente na mesma proporção No entanto a compensação do número de trabalhadores empregados ou da grandeza do capital variável por meio de um aumento da taxa de maisvalor ou do prolongamento da jornada de trabalho tem limites insuperáveis Qualquer que seja o valor da força de trabalho se o tempo de trabalho necessário para sustentar o trabalhador é de 2 ou 10 horas o valor total que um trabalhador pode produzir diariamente é sempre menor do que o valor em que estão incorporadas 24 horas de trabalho menos do que 12 xelins ou 4 táleres sendo 12 xelins a expressão monetária de 24 horas de trabalho objetivado Segundo nossa suposição anterior de acordo com a qual 6 horas diárias de trabalho são necessárias para reproduzir a própria força de trabalho ou repor o valor do capital adiantado em sua compra um capital variável de 500 táleres que emprega 500 trabalhadores a uma taxa de maisvalor de 100 ou com uma jornada de trabalho de 12 horas produz diariamente um maisvalor de 500 táleres ou 6 500 horas de trabalho Um capital de 100 táleres que empregue diariamente 100 trabalhadores a uma taxa de maisvalor de 200 ou com uma jornada de trabalho de 18 horas produzirá apenas uma massa de maisvalor de 200 táleres ou 12 100 horas de trabalho E seu produto de valor total equivalente ao capital variável adiantado mais o maisvalor jamais poderá alcançar a soma de 400 táleres ou 24 100 horas de trabalho O limite absoluto da jornada média de trabalho que é por natureza sempre menor do que 24 horas constitui um limite absoluto à reposição do capital variável 260 reduzido por meio de uma taxa aumentada de maisvalor ou em outras palavras da redução do número de trabalhadores explorados por meio de um aumento no grau de exploração da força de trabalho Essa segunda lei mais palpável é importante para o esclarecimento de muitos fenômenos que decorrem da tendência do capital que analisaremos mais adiante de reduzir ao máximo o número de trabalhadores por ele empregados ou seu componente variável convertido em força de trabalho e isso em contradição com sua outra tendência de produzir a maior massa possível de mais valor I nversamente se a massa das forças de trabalho empregadas ou a grandeza do capital variável cresce mas não na mesma proporção da queda na taxa de maisvalor diminui a massa do maisvalor produzido A terceira lei resulta da determinação da massa do maisvalor produzido pelos dois fatores taxa de maisvalor e grandeza do capital variável adiantado Dados a taxa de maisvalor ou o grau de exploração da força de trabalho e o valor da força de trabalho ou a grandeza do tempo de trabalho necessário é evidente que quanto maior o capital variável tanto maior a massa do valor e do maisvalor produzidos Se o limite da jornada de trabalho é dado assim como o limite de seu componente necessário a massa de valor e maisvalor que um capitalista individual produz depende exclusivamente da massa de trabalho que ele põe em movimento Esta no entanto depende sob dados pressupostos da massa da força de trabalho ou do número de trabalhadores que ele explora e esse número por sua vez é determinado pela grandeza do capital variável por ele adiantado Dados a taxa do maisvalor e o valor da força de trabalho as massas do maisvalor produzido estarão na razão direta da grandeza dos capitais variáveis adiantados Ora sabese que o capitalista divide seu capital em duas partes Uma parte ele aplica em meios de produção e essa é a parte constante de seu capital A outra parte ele investe em força viva de trabalho e essa parte constitui seu capital variável Num mesmo modo de produção ocorre em diferentes ramos da produção uma divisão diferente entre as partes constante e variável do capital No interior do mesmo ramo de produção essa proporção varia conforme a modificação da base técnica e da combinação social do processo de produção Mas independentemente do modo como um dado capital venha a se decompor em suas partes constante e variável seja a proporção da última para a primeira de 1 por 2 1 por 10 ou 1 por x a lei que acabamos de formular não é afetada em nada pois de acordo com a análise anterior o valor do capital constante reaparece no valor do produto porém não integra o novo produto de valor criado Para empregar mil fiandeiros decerto são necessários mais matériasprimas fusos etc do que para empregar cem Mas o valor desses meios de produção adicionais pode subir cair manterse inalterado ser grande ou pequeno e ainda assim ele permanece sem influência alguma sobre o processo de valorização das forças de trabalho que os põem em movimento A lei há pouco enunciada assume assim a seguinte forma as massas de valor e maisvalor produzidas por diferentes capitais com dado valor da força de trabalho e o grau de exploração desta última sendo igual estão na razão direta da grandeza dos componentes variáveis desses capitais isto é de seus componentes convertidos em força viva de trabalho Essa lei contradiz flagrantemente toda a experiência baseada na aparência 261 Qualquer um sabe que um fiador de algodão que calculando a porcentagem do capital total aplicado emprega muito capital constante e pouco capital variável não embolsa por causa disso um lucro ou maisvalor menor do que um padeiro que põe em movimento muito capital variável e pouco capital constante Para a solução dessa contradição aparente são necessários muitos elos intermediários do mesmo modo como do ponto de vista da álgebra elementar muitos elos intermediários são necessários para se compreender que 00 pode representar uma grandeza real A economia clássica embora jamais tenha formulado essa lei apegase a ela instintivamente porque é uma consequência necessária da lei do valor em geral Ela tenta salvála por meio de uma abstração forçada das contradições do fenômeno Veremos mais adiante203 como a escola ricardiana tropeçou nessa pedra A economia vulgar que realmente não aprendeu nadab apegase aqui como em tudo à aparência Schein contra a lei do fenômeno Erscheinung Em oposição a Espinosa ela acredita que a ignorância é uma razão suficientec O trabalho posto diariamente em movimento pelo capital total de uma sociedade pode ser considerado uma única jornada de trabalho Se por exemplo o número dos trabalhadores é de 1 milhão e a jornada de trabalho média de um trabalhador é de 10 horas a jornada de trabalho social será de 10 milhões de horas Com uma dada duração dessa jornada de trabalho sejam seus limites traçados física ou socialmente a massa do maisvalor só pode ser aumentada por meio do aumento do número de trabalhadores isto é da população trabalhadora O crescimento dessa população constitui aqui o limite matemático da produção do maisvalor por meio do capital social total I nversamente com uma dada grandeza da população trabalhadora esse limite será constituído pelo prolongamento possível da jornada de trabalho204 No próximo capítulo verseá que essa lei vale apenas para a forma de maisvalor de que tratamos até este momento Da consideração da produção do maisvalor que realizamos até agora resulta que nem toda quantia de dinheiro ou valor pode ser convertida em capital pois para isso pressupõese antes um determinado mínimo de dinheiro ou de valor de troca nas mãos do possuidor individual de dinheiro ou mercadorias O mínimo de capital variável é o preço de custo de uma força de trabalho individual que para a obtenção de maisvalor é consumida dia a dia durante o ano inteiro Se esse trabalhador possuísse seu próprio meio de produção e se contentasse em viver como trabalhador bastarlheia o tempo de trabalho necessário para a reprodução de seus meios de subsistência digamos 8 horas por dia Ele só precisaria portanto dos meios de produção para 8 horas de trabalho J á o capitalista que o põe para executar além dessas 8 horas digamos um maistrabalho de 4 horas necessita de uma quantidade de dinheiro adicional para o fornecimento dos meios de produção adicionais Segundo nossa suposição no entanto ele teria de empregar dois trabalhadores para poder viver do maisvalor apropriado diariamente como um trabalhador isto é para poder satisfazer suas necessidades básicas Nesse caso a finalidade de sua produção seria a mera subsistência e não o aumento da riqueza e esta última é o pressuposto da produção capitalista Para que pudesse viver duas vezes melhor do que um trabalhador comum e reconverter a metade do maisvalor produzido em capital ele 262 teria de multiplicar por oito tanto o número de trabalhadores quanto o mínimo do capital adiantado No entanto ele mesmo pode tal como seu trabalhador tomar parte diretamente no processo de produção mas então ele será apenas um intermediário entre o capitalista e o trabalhador um pequeno patrão Certo grau de desenvolvimento da produção capitalista impõe que o capitalista possa aplicar todo o tempo durante o qual ele funciona como capitalista isto é como capital personificado à apropriação e assim ao controle do trabalho alheio e à venda dos produtos desse trabalho205 As corporações de ofício da I dade Média procuraram impedir pela força a transformação do mestreartesão em capitalista limitando a um máximo muito exíguo o número de trabalhadores que um mestre individual podia empregar O possuidor de dinheiro ou de mercadorias só se transforma realmente num capitalista quando a quantidade desembolsada para a produção ultrapassa em muito o máximo medieval Aqui como na ciência da natureza mostrase a exatidão da lei descoberta por Hegel em sua Lógica de que alterações meramente quantitativas tendo atingido um determinado ponto convertemse em diferenças qualitativas205a O mínimo de quantidade de valor que o possuidor individual de dinheiro ou mercadorias tem de dispor para se metamorfosear num capitalista varia de acordo com os diferentes estágios de desenvolvimento da produção capitalista e é num dado estágio diferente em diferentes esferas da produção de acordo com suas condições técnicas específicas Certas esferas da produção requerem já nos primórdios da produção capitalista um mínimo de capital que ainda não se encontra nas mãos dos indivíduos isolados Isso leva em parte ao subsídio estatal a tais particulares como na França de Colbert e em muitos Estados alemães até a nossa época e em parte à formação de sociedades com monopólio legal para explorar certos ramos da indústria e do comércio206 as precursoras das modernas sociedades por ações Não nos ocuparemos em detalhes com as modificações que a relação entre capitalista e trabalhador assalariado sofreu no curso do processo de produção tampouco com as determinações subsequentes do próprio capital Cabe apenas aqui destacar alguns pontos principais No interior do processo de produção o capital se desenvolveu para assumir o comando sobre o trabalho isto é sobre a força de trabalho em atividade ou em outras palavras sobre o próprio trabalhador O capital personificado o capitalista cuida para que o trabalhador execute seu trabalho ordenadamente e com o grau apropriado de intensidade O capital desenvolveuse ademais numa relação coercitiva que obriga a classe trabalhadora a executar mais trabalho do que o exigido pelo círculo estreito de suas próprias necessidades vitais E como produtor da laboriosidade alheia extrator de maistrabalho e explorador de força de trabalho o capital excede em energia desmedida e eficiência todos os sistemas de produção anteriores baseados no trabalho direto compulsório I nicialmente o capital subordina o trabalho conforme as condições técnicas em que historicamente o encontra Portanto ele não altera imediatamente o modo de 263 produção Razão pela qual a produção de maisvalor na forma como a consideramos até agora mostrouse independente de qualquer mudança no modo de produção Ela não era menos efetiva nas obsoletas padarias do que nas modernas fiações de algodão Observandose o processo de produção do ponto de vista do processo de trabalho o trabalhador se relaciona com os meios de produção não como capital mas como mero meio e material de sua atividade produtiva orientada para um fim Num curtume por exemplo ele trata as peles como seu mero objeto de trabalho Não é para o capitalista que ele curte a pele Diferentemente de quando observamos o processo de produção do ponto de vista do processo de valorização Os meios de produção convertemse imediatamente em meios para a sucção de trabalho alheio Não é mais o trabalhador que emprega os meios de produção mas os meios de produção que empregam o trabalhador Em vez de serem consumidos por ele como elementos materiais de sua atividade produtiva são eles que o consomem como fermento de seu próprio processo vital e o processo vital do capital não é mais do que seu movimento como valor que valoriza a si mesmo Fornos de fundição e oficinas que permanecem parados à noite sem sugar trabalho vivo são simples perda mere loss para o capitalista Por isso fornos de fundição e oficinas de trabalho constituem um direito de exigir trabalho noturno das forças de trabalho A simples transformação do dinheiro em fatores objetivos do processo de produção em meios de produção converte estes últimos em títulos legais e compulsórios ao trabalho e maistrabalho alheios De que maneira essa inversão peculiar e característica da produção capitalista essa distorção da relação entre trabalho morto e vivo entre valor e força criadora de valor refletese na consciência dos cérebros capitalistas é finalmente evidenciada por mais um exemplo Durante a revolta dos fabricantes ingleses de 18481850 um cavalheiro extremamente inteligente chefe da fiação de linho e algodão em Paisley uma das firmas mais antigas e respeitáveis do oeste da Escócia a companhia Carlyle Filhos Cia que existe desde 1752 e é dirigida pela mesma família geração após geração publicou no Glasgow Daily Mail de 25 de abril de 1849 uma carta207 sob o título O sistema de revezamento em que se podem ler entre outras a seguinte passagem grotescamente ingênua Vejamos agora os males que decorrem de uma redução do tempo de trabalho de 12 para 10 horas Eles chegam ao dano mais sério das perspectivas e da propriedade do fabricante Se ele quer dizer sua mão de obra trabalhava 12 horas e é limitado a 10 então cada 12 máquinas ou fusos em seu estabelecimento encolhem para 10 then every 12 machines or spindles in his establishment shrink to 10 e se ele quisesse vender sua fábrica eles seriam avaliados apenas como 10 de modo que em todo o país uma sexta parte do valor de cada fábrica seria subtraída208 Para esse cérebro hereditariamente capitalista do oeste da Escócia o valor dos meios de produção dos fusos etc confundese tanto com sua capacidade de como capital valorizar a si mesmo ou engolir diariamente uma determinada quantidade de trabalho alheio gratuito que o chefe da casa Carlyle Cia realmente imagina que com a venda de sua fábrica lhe será pago não o valor dos fusos mas além dele sua valorização ou seja não só o trabalho neles contido e necessário para a produção de fusos do mesmo tipo mas também o maistrabalho que eles ajudam a extrair diariamente dos bravos escoceses ocidentais de Paisley e justamente por isso ele 264 pensa que se a jornada de trabalho encolher 2 horas o preço de venda de 12 máquinas também será reduzido para o preço de 10 265 Extrato de um dos cadernos de Marx com anotações em inglês 266 Seção IV A PRODUÇÃO DO MAISVALOR RELATIVO 267 Capítulo 10 O conceito de maisvalor relativo A parte da jornada de trabalho que produz apenas um equivalente do valor da força de trabalho pago pelo capital foi tratada até este momento da exposição como uma grandeza constante o que ela de fato o é sob dadas condições de produção e num dado grau de desenvolvimento econômico da sociedade Além desse tempo de trabalho necessário o trabalhador podia trabalhar 2 3 4 6 etc horas A taxa de mais valor e a duração da jornada de trabalho dependiam da grandeza desse prolongamento Se o tempo de trabalho necessário era constante a jornada de trabalho total era ao contrário variável Suponha agora uma jornada de trabalho com uma dada duração e divisão entre trabalho necessário e maistrabalho Se a linha ac a b c representa por exemplo uma jornada de trabalho de 12 horas a seção ab 10 horas de trabalho necessário e a seção bc 2 horas de maistrabalho ora como pode a produção de maisvalor aumentar isto é como se pode prolongar o mais trabalho sem ou independente de qualquer prolongamento de ac Não obstante os limites dados da jornada de trabalho ac bc parece ser prolongável sem que se tenha de estendêlo além de seu ponto final c que é igualmente o ponto final da jornada de trabalho ac mas deslocando seu ponto inicial b em sentido contrário em direção a a Suponha que bb em abbc seja igual à metade de bc ou seja igual a 1 hora de trabalho Se na jornada de trabalho de 12 horas ac deslocamos o ponto b para b bc se prolonga em bc o maistrabalho aumenta uma metade de 2 para 3 horas embora a jornada de trabalho continue a durar 12 horas Mas essa extensão do maistrabalho de bc para bc de 2 para 3 horas é obviamente impossível sem a simultânea contração do trabalho necessário de ab para ab de 10 para 9 horas Ao prologamento do maistrabalho corresponderia o encurtamento do trabalho necessário ou em outras palavras a parte do tempo de trabalho que o trabalhador até agora utilizava para si mesmo é convertida em tempo de trabalho para o capitalista A mudança estaria não na duração da jornada de trabalho mas em sua divisão em trabalho necessário e maistrabalho Por outro lado com dada grandeza da jornada de trabalho e dado valor da força de trabalho a grandeza do maistrabalho é evidentemente dada O valor da força de trabalho isto é o tempo de trabalho requerido para sua produção determina o tempo de trabalho necessário para a reprodução de seu valor Se 1 hora de trabalho se representa numa quantidade de ouro de 12 xelim ou 6 pence e se o valor diário da força de trabalho é de 5 xelins o trabalhador tem de trabalhar 10 horas diárias para repor o valor diário que o capital lhe pagou por sua força de trabalho ou para produzir um equivalente do valor dos meios de subsistência que lhe são diariamente necessários Com o valor de seus meios de subsistência está dado o valor de sua força de trabalho1 e com o valor de sua força de trabalho está dada a grandeza de seu tempo de trabalho necessário A duração do maistrabalho no entanto é obtida subtraindo da jornada de 268 trabalho total o tempo de trabalho necessário 10 horas subtraídas de 12 resultam em 2 horas e não se vê como nas condições dadas podese prolongar o maistrabalho mais do que 2 horas Certamente o capitalista pode pagar ao trabalhador em vez de 5 xelins apenas 4 xelins e 6 pence ou menos ainda Para a reprodução desse valor de 4 xelins e 6 pence bastariam 9 horas de trabalho obtendose assim 3 horas de mais trabalho em vez de 2 e aumentandose o próprio maisvalor de 1 xelim para 1 xelim e 6 pence Mas só se chegaria a tal resultado por meio da compressão do salário do trabalhador abaixo do valor de sua força de trabalho Com os 4 xelins e 6 pence que produz em 9 horas o trabalhador dispõe de 110 menos meios de subsistência do que antes o que resulta na reprodução atrofiada de sua força de trabalho Nesse caso o maistrabalho só seria prolongado se ultrapassasse seus limites normais seus domínios só seriam expandidos mediante a invasão usurpatória do domínio do tempo de trabalho necessário Apesar do importante papel que desempenha no movimento real do salário esse método é aqui excluído pelo pressuposto de que as mercadorias portanto também a força de trabalho sejam compradas e vendidas por seu valor integral Partindose desse pressuposto o tempo de trabalho necessário para a produção da força de trabalho ou para a reprodução de seu valor pode ser reduzido não porque o salário do trabalhador cai abaixo do valor de sua força de trabalho mas apenas porque esse próprio valor cai Dada a duração da jornada de trabalho o prolongamento do maistrabalho tem de resultar da redução do tempo de trabalho necessário em vez de ao contrário a redução do tempo de trabalho necessário resultar do prolongamento do maistrabalho Em nosso exemplo é preciso que o valor da força de trabalho caia efetivamente em 110 para que o tempo de trabalho necessário diminua em 110 de 10 para 9 horas e com isso o maistrabalho seja prolongado de 2 para 3 horas Mas tal queda do valor da força de trabalho em 110 exige por sua vez que a mesma massa de meios de subsistência que antes era produzida em 10 horas seja agora produzida em 9 horas Ocorre que isso é impossível sem uma elevação da força produtiva do trabalho Por exemplo suponha que um sapateiro com dados meios fabrique um par de botas numa jornada de trabalho de 12 horas Para fabricar dois pares de botas no mesmo tempo a força produtiva de seu trabalho tem de ser duplicada e ela não pode ser duplicada sem que se alterem seus meios de trabalho ou seu método de trabalho ou ambos É preciso portanto que ocorra uma revolução nas condições de produção de seu trabalho isto é em seu modo de produção e assim no próprio processo de trabalho Por elevação da força produtiva do trabalho entendemos precisamente uma alteração no processo de trabalho por meio da qual o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de uma mercadoria é reduzido de modo que uma quantidade menor de trabalho é dotada da força para produzir uma quantidade maior de valor de uso2 Assim enquanto na produção de maisvalor na forma até aqui considerada o modo de produção foi pressuposto como dado para a produção de maisvalor por meio da transformação do trabalho necessário em mais trabalho é absolutamente insuficiente que o capital se apodere do processo de trabalho tal como ele foi historicamente herdado ou tal como ele já existe limitandose 269 a prolongar a sua duração Para aumentar a produtividade do trabalho reduzir o valor da força de trabalho por meio da elevação da força produtiva do trabalho e assim encurtar parte da jornada de trabalho necessária para a reprodução desse valor ele tem de revolucionar as condições técnicas e sociais do processo de trabalho portanto revolucionar o próprio modo de produção O maisvalor obtido pelo prolongamento da jornada de trabalho chamo de mais valor absoluto o maisvalor que ao contrário deriva da redução do tempo de trabalho necessário e da correspondente alteração na proporção entre as duas partes da jornada de trabalho chamo de maisvalor relativo Para reduzir o valor da força de trabalho o aumento da força produtiva tem de afetar os ramos da indústria cujos produtos determinam o valor da força de trabalho portanto aqueles ramos que ou pertencem ao círculo dos meios de subsistência habituais ou podem substituílos por outros meios Porém o valor de uma mercadoria não é determinado apenas pela quantidade de trabalho que lhe confere sua forma última mas também pela massa de trabalho contida em seus meios de produção O valor de uma bota por exemplo não é determinado apenas pelo trabalho do sapateiro mas também pelo valor do couro do piche do cordão etc Portanto a queda no valor da força de trabalho também é causada por um aumento na força produtiva do trabalho e por um correspondente barateamento das mercadorias naquelas indústrias que fornecem os elementos materiais do capital constante isto é os meios e os materiais de trabalho para a produção dos meios de subsistência Em contrapartida nos ramos de produção que não fornecem nem meios de subsistência nem meios de produção para fabricálos a força produtiva aumentada deixa intocado o valor da força de trabalho Naturalmente a mercadoria mais barata diminui o valor da força de trabalho apenas pro tanto isto é na proporção em que essa mercadoria participa na reprodução da força de trabalho Camisas por exemplo constituem meios necessários de subsistência mas apenas um dentre muitos Seu barateamento reduz apenas o gasto do trabalhador com camisas No entanto a totalidade dos meios necessários de subsistência compõese de várias mercadorias cada uma delas o produto de uma indústria distinta e o valor de cada uma dessas mercadorias constitui uma alíquota do valor da força de trabalho Tal valor diminui com o tempo de trabalho necessário para sua reprodução cuja redução total é igual à soma de suas reduções em cada um dos ramos particulares da produção Esse resultado geral é tratado aqui como se fosse o resultado e a finalidade imediatos em cada caso singular Se por exemplo um capitalista individual barateia camisas por meio do aumento da força produtiva do trabalho isso de modo algum implica que ele tenha em vista reduzir o valor da força de trabalho e com isso o tempo de trabalho necessário pro tanto mas na medida em que acaba por contribuir para esse resultado ele contribui para aumentar a taxa geral do maisvalor3 É preciso que as tendências gerais e necessárias do capital sejam diferenciadas de suas formas de manifestação Não nos ocuparemos por ora do modo como as leis imanentes da produção capitalista se manifestam no movimento externo dos capitais impondose como leis compulsórias da concorrência e apresentandose à mente do capitalista individual 270 como a força motriz de suas ações Porém esclareçamos de antemão só é possível uma análise científica da concorrência depois que se apreende a natureza interna do capital assim como o movimento aparente dos corpos celestes só pode ser compreendido por quem conhece seu movimento real apesar de sensorialmente imperceptível No entanto para que se compreenda a produção do maisvalor relativo com base apenas nos resultados já obtidos devemos proceder às seguintes observações Se 1 hora de trabalho se representa numa quantidade de ouro de 6 pence ou 12 xelim numa jornada de trabalho de 12 horas será produzido um valor de 6 xelins Suponha que com dada força produtiva do trabalho sejam produzidas 12 peças de mercadorias nessas 12 horas de trabalho E que seja de 6 pence o valor dos meios de produção matériaprima etc gastos em cada peça Nessas circunstâncias cada mercadoria custa 1 xelim sendo 6 pence pelo valor dos meios de produção e 6 pence pelo valor novo adicionado em sua confecção Agora suponha que um capitalista consiga duplicar a força produtiva do trabalho e desse modo produzir durante as mesmas 12 horas de trabalho 24 peças dessa mercadoria em vez de 12 Permanecendo inalterado o valor dos meios de produção o valor de cada mercadoria cai agora para 9 pence sendo 6 pence pelo valor dos meios de produção e 3 pence pelo valor novo agregado pelo último trabalho Mesmo com a força produtiva duplicada a jornada de trabalho continua a criar como antes apenas um novo valor de 6 xelins que agora se distribui no entanto sobre duas vezes mais produtos Desse valor total cada produto incorpora apenas 124 em vez de 112 3 pence em vez de 6 ou o que é o mesmo apenas meia hora de trabalho em vez de 1 hora inteira é agora adicionada aos meios de produção em sua transformação em cada produto singular O valor individual dessa mercadoria se encontra agora abaixo de seu valor social isto é ela custa menos tempo de trabalho do que a grande quantidade do mesmo artigo produzida em condições sociais médias Cada peça custa em média 1 xelim ou representa 2 horas de trabalho social sob o modo alterado de produção ela custa apenas 9 pence ou contém apenas 1 hora e meia de trabalho Mas o valor efetivo de uma mercadoria não é seu valor individual mas seu valor social isto é ele não é medido pelo tempo de trabalho que ela de fato custa ao produtor em cada caso singular mas pelo tempo de trabalho socialmente requerido para sua produção Assim se o capitalista que emprega o novo método vende sua mercadoria por seu valor social de 1 xelim ele a vende 3 pence acima de seu valor individual e desse modo realiza um maisvalor adicional de 3 pence Por outro lado agora a jornada de trabalho de 12 horas se representa para ele em 24 artigos em vez de 12 De modo que para vender o produto de uma jornada de trabalho ele necessita do dobro da demanda ou de um mercado duas vezes maior Mantendose inalteradas as demais circunstâncias suas mercadorias só conquistarão uma fatia maior do mercado por meio da contração de seus preços Ele as venderá por isso acima de seu valor individual porém abaixo de seu valor social digamos por 10 pence cada uma Desse modo ele ainda obtém de cada produto um maisvalor adicional de 1 penny Esse aumento do maisvalor é igualmente obtido mesmo que sua mercadoria não esteja entre os itens que compõem os meios básicos de subsistência isto é mesmo que ela não seja parte determinante do valor total da força de trabalho 271 I ndependentemente desta última circunstância existem para cada capitalista individual razões para baratear a mercadoria mediante o aumento da força produtiva do trabalho Mesmo nesse caso no entanto a produção aumentada de maisvalor é decorrente da redução do tempo de trabalho necessário e do correspondente prolongamento do maistrabalho3a Suponha que 10 horas sejam o tempo de trabalho necessário 5 xelins o valor diário da força de trabalho 2 horas o tempo de maistrabalho e 1 xelim o mais valor produzido diariamente Mas nosso capitalista produz agora 24 peças que ele vende a 10 pence cada uma ou por um valor total de 20 xelins Como o valor dos meios de produção é de 12 xelins 1425 peças da mercadoria apenas repõem o capital constante adiantado A jornada de trabalho de 12 horas se representa nas 935 peças restantes Como o preço da força de trabalho 5 xelins o tempo de trabalho necessário se incorpora em 6 peças e o maistrabalho em 335 peças A proporção entre o trabalho necessário e o maistrabalho que nas condições sociais médias é de 5 para 1 é agora de 5 para 3 O mesmo resultado é obtido da seguinte forma o valor do produto da jornada de trabalho de 12 horas é 20 xelins Desta soma 12 xelins pertencem ao valor dos meios de produção que apenas reaparece no produto final Restam assim 8 xelins como expressão monetária do valor no qual a jornada de trabalho se representa Essa expressão monetária é maior do que a do trabalho social médio de mesmo tipo 12 horas desse trabalho se representam em apenas 6 xelins O trabalho excepcionalmente produtivo atua como trabalho potenciado ou cria no mesmo tempo valores maiores do que o trabalho social médio do mesmo tipo Mas nosso capitalista continua a pagar como antes apenas 5 xelins pelo valor diário da força de trabalho Por isso agora o trabalhador necessita em vez das 10 horas de antes apenas de 712 horas para reproduzir esse valor Seu maistrabalho aumenta assim 212 horas e o maisvalor por ele produzido de 1 para 3 xelins O capitalista que emprega o modo de produção aperfeiçoado é portanto capaz de apropriarse de uma parte maior da jornada de trabalho para o maistrabalho do que os demais capitalistas no mesmo ramo de produção Ele realiza individualmente o que o capital realiza em larga escala na produção do maisvalor relativo Por outro lado esse maisvalor adicional desaparece assim que o novo modo de produção se universaliza e apagase a diferença entre o valor individual das mercadorias barateadas e seu valor social A mesma lei da determinação do valor pelo tempo de trabalho que se apresentou ao capitalista juntamente com o novo método de produção sob a forma de que ele é obrigado a vender sua mercadoria abaixo de seu valor social força seus concorrentes como lei coercitiva da concorrência a aplicar o novo modo de produção4 Desse modo o processo inteiro só afeta a taxa geral do maisvalor se o aumento da força produtiva do trabalho afetar os diferentes ramos da produção e portanto baratear as mercadorias que integram o círculo dos meios básicos de subsistência e por isso constituem elementos do valor da força de trabalho O valor das mercadorias é inversamente proporcional à força produtiva do trabalho e o mesmo vale para o valor da força de trabalho por ser determinado pelos valores das mercadorias J á o maisvalor relativo ao contrário é diretamente 272 Na produção capitalista portanto a economia do trabalho por meio do desenvolvimento de sua força produtiva não visa em absoluto a redução da jornada de trabalho Seu objetivo é apenas a redução do tempo de trabalho necessário para a produção de determinada quantidade de mercadorias trabalho que o trabalhador tem de trabalhar para si mesmo precisamente para prolongar a parte da jornada de trabalho durante a qual ele pode trabalhar gratuitamente para o capitalista Em que medida esse resultado também pode ser obtido sem o barateamento das mercadorias será mostrado nos métodos particulares de produção do maisvalor relativo a cujo exame passaremos a seguir 274 Capítulo 11 Cooperação Como vimos a produção capitalista só começa de fato quando o mesmo capital individual emprega simultaneamente um número maior de trabalhadores quando portanto o processo de trabalho aumenta seu volume e fornece produtos numa escala quantitativa maior que antes A atividade de um número maior de trabalhadores ao mesmo tempo e no mesmo lugar ou se se preferir no mesmo campo de trabalho para a produção do mesmo tipo de mercadoria sob o comando do mesmo capitalista tal é histórica e conceitualmente o ponto de partida da produção capitalista Com relação ao próprio modo de produção a manufatura por exemplo em seus primórdios mal se diferencia da indústria artesanal da corporação a não ser pelo número maior de trabalhadores simultaneamente ocupados pelo mesmo capital A oficina do mestreartesão é apenas ampliada I nicialmente portanto a diferença é meramente quantitativa Vimos que a massa do maisvalor produzida por um dado capital é igual ao maisvalor gerado pelo trabalhador individual multiplicado pelo número de trabalhadores simultaneamente ocupados Por si só esse número não altera em nada a taxa do maisvalor ou o grau de exploração da força de trabalho e no que diz respeito à produção de valor da mercadoria em geral toda mudança qualitativa do processo de trabalho parece indiferente I sso se segue da natureza do valor Se uma jornada de trabalho de 12 horas se objetiva em 6 xelins 1200 de tais jornadas se objetivarão em 6 xelins 1200 Num caso incorporamse ao produto 12 horas de trabalho e no outro 12 1200 horas Na produção de valor um conjunto de trabalhadores conta apenas como tantos indivíduos Para a produção de valor é indiferente se 1200 trabalhadores produzem isoladamente ou unificados sob o comando do mesmo capital No entanto ocorre uma modificação dentro de certos limites O trabalho objetivado em valor é trabalho de qualidade social média e portanto a exteriorização de uma força de trabalho média Mas uma grandeza média só existe como média de diferentes grandezas individuais da mesma espécie Em cada ramo da indústria o trabalhador individual Pedro ou Paulo difere mais ou menos do trabalhador médio Esses desvios individuais que matematicamente se chamam erros compensamse mutuamente e desaparecem assim que se considere um número maior de trabalhadores Edmund Burke o célebre sofista e sicofanta tem a pretensão de saber a partir de suas experiências práticas como arrendatário que num pelotão tão ínfimo como o de cinco servos rurais toda diferença individual do trabalho já desaparece de modo que um grupo qualquer de cinco servos rurais ingleses no melhor da idade adulta executarão em conjunto no mesmo tempo a mesma quantidade de trabalho que quaisquer outros grupos de cinco servos rurais ingleses8 Seja como for está claro que a jornada de trabalho total de um número maior de trabalhadores empregados simultaneamente dividida pelo número desses 275 trabalhadores resulta numa jornada de trabalho social média Digamos que a jornada de trabalho do indivíduo seja de 12 horas A jornada de trabalho total dos doze homens simultaneamente empregados será então de 144 horas e mesmo que o trabalho de cada um dos doze homens possa se desviar mais ou menos do trabalho social médio pois cada um consome mais ou menos tempo para realizar a mesma operação ainda assim a jornada de trabalho de cada indivíduo como 112 da jornada de trabalho total de 144 horas possuirá a qualidade social média Mas para o capitalista que emprega uma dúzia de trabalhadores o que existe é a jornada de trabalho como jornada de trabalho total da dúzia A jornada de trabalho de cada indivíduo existe como parte alíquota da jornada de trabalho total não importando se os doze homens cooperam uns com os outros no trabalho ou se a conexão entre seus trabalhos se resume ao fato de trabalharem para o mesmo capitalista Se ao contrário os doze homens forem empregados em seis pares por seis pequenos mestres será mero acidente se cada um desses mestres produzir a mesma massa de valor e consequentemente realizar a taxa geral do maisvalor Ocorreriam desvios individuais Se um trabalhador consumisse significativamente mais tempo na produção de uma mercadoria do que o socialmente necessário se o tempo de trabalho de que ele individualmente necessita se desviasse significativamente do tempo de trabalho socialmente necessário ou tempo de trabalho médio seu trabalho não seria considerado trabalho médio tampouco sua força de trabalho como força de trabalho média Esta não seria vendida ou o seria apenas abaixo do valor médio da força de trabalho Um determinado mínimo de eficiência do trabalho é portanto pressuposto e veremos posteriormente que a produção capitalista encontra meios para medir esse mínimo Tampouco esse mínimo deixa de se desviar da média embora por outro lado o valor médio da força de trabalho tenha de ser pago Logo dos seis pequenos mestres um obteria mais outro menos que a taxa geral do maisvalor As desigualdades se compensariam para a sociedade mas não para o mestre individual Assim a lei geral da valorização só se realiza plenamente para o produtor individual quando ele produz como capitalista emprega muitos trabalhadores simultaneamente e desse modo põe em movimento desde o início o trabalho social médio9 Mesmo quando o modo de trabalho permanece o mesmo o emprego simultâneo de um número maior de trabalhadores opera uma revolução nas condições objetivas do processo de trabalho Edifícios onde muitos trabalham juntos depósitos de matérias primas etc recipientes instrumentos aparelhos etc que servem a muitos de forma simultânea ou alternada em suma uma parte dos meios de produção é agora consumida em comum no processo de trabalho Por um lado o valor de troca das mercadorias e portanto também dos meios de produção não aumenta em decorrência de uma exploração qualquer aumentada de seu valor de uso Por outro cresce a escala dos meios de produção utilizados em comum Uma sala em que trabalham vinte tecelões com seus vinte teares tem de ser mais ampla do que a sala em que trabalham um único tecelão independente e seus dois ajudantes Mas como a produção de uma oficina para vinte pessoas custa menos trabalho do que a produção de dez oficinas para cada duas pessoas o valor dos meios de produção coletivos e massivamente concentrados não aumenta em geral na proporção de seu volume e 276 efeito útil Meios de produção consumidos em comum transferem uma parte menor de seu valor ao produto individual em parte porque o valor total que transferem é simultaneamente repartido por uma massa maior de produtos e em parte porque em comparação com meios de produção isolados entram no processo de produção com um valor certamente maior em termos absolutos porém relativamente menor quando se considera seu raio de ação Com isso diminui não apenas um componente do capital constante como também na proporção de sua grandeza o valor total da mercadoria O efeito é o mesmo que se obteria caso os meios de produção da mercadoria fossem produzidos de forma mais barata Essa economia na utilização dos meios de produção deriva apenas de seu consumo coletivo no processo de trabalho de muitos indivíduos e estes assumem tal caráter de condições do trabalho social ou condições sociais do trabalho em contraste com os meios de produção dispersos e de custo relativamente alto de trabalhadores autônomos isolados ou pequenos mestres mesmo quando os muitos indivíduos apenas trabalham no mesmo local sem trabalhar uns com os outros Parte dos meios de trabalho assume esse caráter social antes que o próprio processo de trabalho o faça A economia no uso dos meios de produção deve ser considerada em geral sob um duplo ponto de vista Em primeiro lugar como barateamento de mercadorias e com isso diminuição do valor da força de trabalho Em segundo como modificação da relação do maisvalor com o capital total adiantado isto é com a soma de valor de seus componentes constante e variável Este último ponto só será examinado na primeira seção do Livro I I I desta obra na qual em nome do conjunto também trataremos de outros assuntos que aqui se fariam pertinentes O curso da análise impõe essa quebra do objeto a qual corresponde igualmente ao espírito da produção capitalista Como aqui as condições de trabalho de fato se confrontam com o trabalhador de forma autônoma também a economia dessas condições aparece como uma operação particular que não lhe diz respeito e é por isso separada dos métodos que fazem aumentar sua produtividade pessoal A forma de trabalho dentro da qual muitos indivíduos trabalham de modo planejado uns ao lado dos outros e em conjunto no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes porém conexos chamase cooperação10 Assim como o poder ofensivo de um esquadrão de cavalaria ou o poder defensivo de um regimento de infantaria são essencialmente diferentes dos poderes ofensivos e defensivos de cada um dos cavaleiros ou soldados de infantaria tomados individualmente também a soma total das forças mecânicas exercidas por trabalhadores isolados difere da força social gerada quando muitas mãos atuam simultaneamente na mesma operação indivisa por exemplo quando se trata de erguer um fardo pesado girar uma manivela ou remover um obstáculo11 Nesses casos o efeito do trabalho combinado ou não poderia em absoluto ser produzido pelo trabalho isolado ou o poderia apenas em um período de tempo muito mais longo ou em escala muito reduzida Aqui não se trata somente do aumento da força produtiva individual por meio da cooperação mas da criação de uma força produtiva que tem de ser por si mesma uma força de massas11a Sem considerar a nova potência que surge da fusão de muitas forças numa força 277 conjunta o simples contato social provoca na maior parte dos trabalhos produtivos emulação e excitação particular dos espíritos vitais animal spirits que elevam o rendimento dos trabalhadores individuais fazendo com que uma dúzia de indivíduos forneça numa jornada de trabalho simultânea de 144 horas um produto total muito maior que o de doze trabalhadores isolados cada um deles trabalhando 12 horas ou que o de um trabalhador que trabalhe 12 dias consecutivos12 A razão disso está em que o homem é por natureza se não um animal político como diz Aristóteles em todo caso um animal social13 Embora muitos indivíduos possam executar simultânea e conjuntamente a mesma tarefa ou o mesmo tipo de tarefa o trabalho de cada um como parte do trabalho total pode representar diferentes fases do próprio processo de trabalho fases que o objeto do trabalho percorre com maior rapidez graças à cooperação Por exemplo quando pedreiros formam uma fila de mãos para levar tijolos da base até o alto do andaime cada um deles realiza a mesma tarefa mas as ações individuais constituem partes contínuas de uma ação conjunta fases particulares que cada tijolo tem de percorrer no processo de trabalho e mediante as quais por exemplo as 24 mãos do trabalhador coletivo o transportam com mais rapidez do que o fariam as duas mãos de cada trabalhador individual que tivesse de subir e descer o andaime14 O objeto de trabalho percorre o mesmo espaço em menos tempo Por outro lado uma combinação de trabalho ocorre quando por exemplo uma construção é executada simultaneamente por diferentes lados embora também nesse caso os trabalhadores que cooperam realizem tarefas iguais ou da mesma espécie A jornada de trabalho combinada de 144 horas que ataca o objeto de trabalho por vários lados pois nela o trabalhador combinado ou coletivo tem olhos e mãos na frente e atrás sendo em certa medida onipresente faz avançar o produto total mais rapidamente do que 12 jornadas de trabalho de 12 horas de trabalhadores mais ou menos isolados e que tenham de realizar sua obra de modo mais unilateral As partes do produto separadas no espaço amadurecem ao mesmo tempo Ressaltamos anteriormente que os muitos indivíduos que se complementam de forma mútua realizam tarefas iguais ou da mesma espécie o que demonstra que essa forma mais simples do trabalho coletivo desempenha um grande papel mesmo na forma mais elaborada da cooperação Se o processo de trabalho é complexo a simples massa dos que trabalham em conjunto permite distribuir as diferentes operações entre diferentes braços e desse modo executálas simultaneamente encurtando assim o tempo de trabalho necessário para a fabricação do produto total15 Em muitos ramos da produção há momentos críticos isto é épocas determinadas pela própria natureza do processo de trabalho nas quais se devem obter certos resultados do trabalho Por exemplo se é preciso tosquiar um rebanho de ovelhas ou ceifar e colher uma dada plantação de trigo a quantidade e a qualidade do produto dependem de a operação começar e terminar num determinado momento Nesse caso o período de tempo que o processo de trabalho deve ocupar é um período prescrito tal como ocorre por exemplo na pesca do arenque Um indivíduo não pode recortar de seu dia uma jornada de trabalho maior que digamos 12 horas mas a cooperação de 100 indivíduos por exemplo expande uma jornada de 12 horas a uma jornada de 278 trabalho de 1200 horas A brevidade do prazo de trabalho é compensada pela grande massa de trabalho que no momento decisivo é lançada no campo de produção A realização da tarefa no tempo apropriado depende aqui da aplicação simultânea de muitas jornadas de trabalho combinadas a amplitude do efeito útil depende do número de trabalhadores sendo tal número porém sempre menor do que o número de trabalhadores que realizariam isoladamente a mesma quantidade de trabalho no mesmo período de tempo16 É por falta dessa cooperação que na parte oeste dos Estados Unidos uma grande quantidade de cereal é anualmente desperdiçada o mesmo ocorre com o algodão naquelas partes da Índia Oriental onde o domínio inglês destruiu o antigo sistema comunal17 Por um lado a cooperação possibilita estender o âmbito espacial do trabalho razão pela qual é exigida em certos processos devido à própria configuração espacial do objeto de trabalho como na drenagem da terra no represamento na irrigação na construção de canais estradas ferrovias etc Por outro lado ela torna possível em proporção à escala da produção o estreitamento espacial da área de produção Essa limitação do âmbito espacial do trabalho e a simultânea ampliação de sua esfera de atuação que poupa uma grande quantidade de falsos custos faux frais é resultado da conglomeração dos trabalhadores da reunião de diversos processos de trabalho e da concentração dos meios de produção18 Comparada com uma quantidade igual de jornadas de trabalho isoladas e individuais a jornada de trabalho combinada produz uma massa maior de valor de uso reduzindo assim o tempo de trabalho necessário para a produção de determinado efeito útil Se a jornada de trabalho combinada obtém essa força produtiva mais elevada por meio da intensificação da potência mecânica do trabalho ou pela expansão de sua escala espacial de atuação ou pelo estreitamento da área de produção em relação à escala da produção ou porque no momento crítico ela mobiliza muito trabalho em pouco tempo ou desperta a concorrência entre os indivíduos e excita seus espíritos vitais Lebensgeister ou imprime às operações semelhantes de muitos indivíduos a marca da continuidade e da multiplicidade ou executa diversas operações simultaneamente ou economiza os meios de produção por meio de seu uso coletivo ou confere ao trabalho individual o caráter de trabalho social médio de qualquer forma a força produtiva específica da jornada de trabalho combinada é força produtiva social do trabalho ou força produtiva do trabalho social Ela deriva da própria cooperação Ao cooperar com outros de modo planejado o trabalhador supera suas limitações individuais e desenvolve sua capacidade genérica Gattungsvermögen19 Se os trabalhadores não podem cooperar diretamente uns com os outros sem estar juntos de modo que sua aglomeração num determinado local é condição de sua cooperação os trabalhadores assalariados não podem cooperar sem que o mesmo capital o mesmo capitalista os empregue simultaneamente comprando ao mesmo tempo portanto suas forças de trabalho O valor total dessas forças de trabalho ou a soma dos salários dos trabalhadores por um dia uma semana etc tem pois de estar reunido no bolso do capitalista antes de as próprias forças de trabalho serem reunidas no processo de produção O pagamento de 300 trabalhadores de uma vez ainda que 279 por um só dia exige um dispêndio maior de capital do que o pagamento de poucos trabalhadores semanalmente durante o ano inteiro Portanto o número de trabalhadores que cooperam ou a escala da cooperação depende inicialmente da grandeza do capital que o capitalista individual pode desembolsar na compra de força de trabalho isto é da medida em que cada capitalista dispõe dos meios de subsistência de muitos trabalhadores E com o capital constante dáse o mesmo que com o capital variável O gasto com matériaprima por exemplo é 30 vezes maior para um capitalista que emprega 300 trabalhadores do que para cada um dos 30 capitalistas que empregam 10 trabalhadores de cada vez Ainda que o volume de valor e a massa material dos meios de trabalho utilizados coletivamente não cresçam na mesma proporção do número de trabalhadores empregados esse crescimento consideravelmente A concentração de grandes quantidades de meios de produção nas mãos de capitalistas individuais é pois a condição material para a cooperação de trabalhadores assalariados e a extensão da cooperação ou a escala da produção depende do grau dessa concentração Num primeiro momento certa grandeza mínima de capital individual pareceu ser necessária para que o número de trabalhadores simultaneamente explorados e consequentemente a massa do maisvalor produzido fosse suficiente para libertar o próprio empregador do trabalho manual para convertêlo de um pequeno patrão num capitalista e assim estabelecer formalmente a relação capitalista Agora essa grandeza mínima aparece como condição material para a transformação de muitos processos de trabalho individuais dispersos e mutuamente independentes num processo de trabalho social e combinado Do mesmo modo o comando do capital sobre o trabalho parecia inicialmente ser apenas uma decorrência formal do fato de o trabalhador trabalhar não para si mas para o capitalista e portanto sob o capitalista Com a cooperação de muitos trabalhadores assalariados o comando do capital se converte num requisito para a consecução do próprio processo de trabalho numa verdadeira condição da produção O comando do capitalista no campo de produção tornase agora tão imprescindível quanto o comando do general no campo de batalha Todo trabalho imediatamente social ou coletivo em grande escala requer em maior ou menor medida uma direção que estabeleça a harmonia entre as atividades individuais e cumpra as funções gerais que resultam do movimento do corpo produtivo total em contraste com o movimento de seus órgãos autônomos Um violinista isolado dirige a si mesmo mas uma orquestra requer um regente Essa função de direção supervisão e mediação tornase função do capital assim que o trabalho a ele submetido se torna cooperativo Como função específica do capital a direção assume características específicas Primeiramente o motivo que impulsiona e a finalidade que determina o processo de produção capitalista é a maior autovalorização possível do capital20 isto é a maior produção possível de maisvalor e portanto a máxima exploração possível da força de trabalho pelo capitalista Conforme a massa dos trabalhadores simultaneamente ocupados aumenta aumenta também sua resistência e com ela a pressão do capital para superála O comando do capitalista não é apenas uma função específica 280 proveniente da natureza do processo social de trabalho e portanto peculiar a esse processo mas ao mesmo tempo uma função de exploração de um processo social de trabalho sendo por isso determinada pelo antagonismo inevitável entre o explorador e a matériaprima de sua exploração Da mesma forma com o volume dos meios de produção que se apresentam ao trabalhador assalariado como propriedade alheia aumenta também a necessidade do controle sobre sua utilização adequada21 A cooperação dos assalariados é além disso um mero efeito do capital que os emprega simultaneamente A interconexão de suas funções e sua unidade como corpo produtivo total reside fora deles no capital que os reúne e os mantêm unidos Por isso a conexão entre seus trabalhos aparece para os trabalhadores idealmente como plano preconcebido e praticamente como autoridade do capitalista como o poder de uma vontade alheia que submete seu agir ao seu próprio objetivo Se a direção capitalista é dúplice em seu conteúdo em razão da duplicidade do próprio processo de produção a ser dirigido que é por um lado processo social de trabalho para a produção de um produto e por outro processo de valorização do capital ela é despótica em sua forma Com o desenvolvimento da cooperação em maior escala esse despotismo desenvolve suas formas próprias Assim como o capitalista é inicialmente libertado do trabalho manual tão logo seu capital tenha atingido aquela grandeza mínima com a qual tem início a produção verdadeiramente capitalista agora ele transfere a função de supervisão direta e contínua dos trabalhadores individuais e dos grupos de trabalhadores a uma espécie particular de assalariados Do mesmo modo que um exército necessita de oficiais militares uma massa de trabalhadores que coopera sob o comando do mesmo capital necessita de oficiais dirigentes gerentes e suboficiais capatazes foremen overlookers contre maîtres industriais que exerçam o comando durante o processo de trabalho em nome do capital O trabalho de supervisão tornase sua função fixa e exclusiva Ao comparar o modo de produção de camponeses independentes ou de artesãos autônomos com a economia das plantações baseada na escravidão o economista político computa esse trabalho de supervisão como parte dos faux frais de production21a J á quando considera o modo de produção capitalista ao contrário ele identifica a função de direção proveniente da natureza do processo coletivo de trabalho com a mesma função porém condicionada pelo caráter capitalista e por isso antagônico desse processo22 O capitalista não é capitalista por ser diretor da indústria ao contrário ele se torna chefe da indústria por ser capitalista O comando supremo na indústria tornase atributo do capital do mesmo modo como no feudalismo o comando supremo na guerra e no tribunal era atributo da propriedade fundiária22a O trabalhador é o proprietário de sua força de trabalho enquanto barganha a venda desta última com o capitalista e ele só pode vender aquilo que possui sua força de trabalho individual isolada Esse estado de coisas não se altera de modo algum pelo fato de o capitalista comprar cem forças de trabalho em vez de uma ou contratar cem trabalhadores independentes entre si em vez de apenas um Ele pode empregar os cem trabalhadores sem fazêlos cooperar Desse modo o capitalista paga o valor das cem forças de trabalho independentes mas não paga a força de trabalho combinada dessa centena Como pessoas independentes os trabalhadores são indivíduos 281 isolados que entram numa relação com o mesmo capital mas não entre si Sua cooperação começa apenas no processo de trabalho mas então eles já não pertencem mais a si mesmos Com a entrada no processo de trabalho são incorporados ao capital Como cooperadores membros de um organismo laborativo eles próprios não são mais do que um modo de existência específico do capital A força produtiva que o trabalhador desenvolve como trabalhador social é assim força produtiva do capital A força produtiva social do trabalho se desenvolve gratuitamente sempre que os trabalhadores se encontrem sob determinadas condições e é o capital que os coloca sob essas condições Pelo fato de a força produtiva social do trabalho não custar nada ao capital e por outro lado não ser desenvolvida pelo trabalhador antes que seu próprio trabalho pertença ao capital ela aparece como força produtiva que o capital possui por natureza como sua força produtiva imanente O efeito da cooperação simples se apresenta de modo colossal nas obras gigantescas dos antigos asiáticos egípcios etruscos etc Em épocas passadas ocorreu que esses Estados asiáticos depois do custeio de seus gastos civis e militares encontraramse em posse de um excedente de meios de subsistência que podiam empregar em obras de suntuosidade ou utilidade Seu comando sobre as mãos e os braços de quase toda a população não agrícola e a exclusividade que o monarca e os sacerdotes detinham na gerência de tal excedente garantiramlhes os meios para a construção daqueles portentosos monumentos com os quais cobriram o país No deslocamento de estátuas colossais e massas enormes cujo transporte causa assombro empregouse quase exclusivamente trabalho humano e com grande prodigalidade O número de trabalhadores e a concentração de seus esforços eram suficientes Do mesmo modo vemos enormes recifes de corais emergindo das profundezas do oceano formando ilhas e se constituindo em terra firme embora cada depositante depositary individual seja ínfimo débil e desprezível Os trabalhadores não agrícolas de uma monarquia asiática têm muito pouco a contribuir para uma obra além de seus esforços físicos individuais mas seu número é sua força e foi o poder da direção sobre essas massas que originou aquelas obras prodigiosas O que possibilitou tais empreendimentos foi a concentração em uma ou poucas mãos das rendas das quais vivem os trabalhadores23 Na sociedade moderna esse poder dos reis asiáticos e egípcios ou teocratas etruscos etc migrou para o capitalista quer ele se apresente como capitalista isolado quer como nas sociedades por ações como capitalista combinado A cooperação no processo de trabalho tal como a encontramos predominantemente nos primórdios da civilização humana entre os povos caçadores ou por exemplo na agricultura da comunidade indiana baseiase por um lado na propriedade comum das condições de produção e por outro no fato de que o indivíduo isolado desvencilhouse tão pouco do cordão umbilical da tribo ou da comunidade quanto uma abelha da colmeia Essas duas características distinguem essa cooperação da cooperação capitalista A aplicação esporádica da cooperação em grande escala no mundo antigo na I dade Média e nas colônias modernas repousa sobre relações imediatas de domínio e servidão principalmente sobre a escravidão A forma capitalista ao contrário pressupõe desde o início o trabalhador assalariado livre que vende sua força de trabalho ao capital Historicamente porém ela se desenvolve em oposição à economia camponesa e à produção artesanal independente assumindo esta última a forma da guilda ou não24 Diante delas não é a cooperação capitalista que aparece como uma forma histórica específica da cooperação mas ao contrário é a própria cooperação que aparece como uma forma histórica peculiar do modo de produção capitalista como algo que o distingue especificamente 282 Assim como a força produtiva social do trabalho desenvolvida pela cooperação aparece como força produtiva do capital também a própria cooperação aparece como uma forma específica do processo de produção capitalista contraposta ao processo de produção de trabalhadores autônomos e isolados ou mesmo de pequenos mestres É a primeira alteração que o processo de trabalho efetivo experimenta em sua subsunção ao capital Tal alteração ocorre natural e espontaneamente Seu pressuposto a ocupação simultânea de um número maior de trabalhadores assalariados no mesmo processo de trabalho constitui o ponto de partida da produção capitalista que por sua vez coincide com a existência do próprio capital Se portanto o modo de produção capitalista se apresenta por um lado como uma necessidade histórica para a transformação do processo de trabalho num processo social essa forma social do processo de trabalho se apresenta por outro lado como um método empregado pelo capital para explorálo de maneira mais lucrativa por meio do aumento de sua força produtiva Em sua configuração simples que consideramos até o momento a cooperação coincide com a produção em maior escala porém não constitui uma forma fixa característica de um período particular de desenvolvimento do modo de produção capitalista No máximo ela se aproxima dessa forma nos primórdios ainda artesanais da manufatura25 e em toda espécie de grande agricultura que corresponde ao período manufatureiro e só se distingue essencialmente da economia camponesa pela quantidade de trabalhadores simultaneamente empregados e pelo volume de meios de produção concentrados A cooperação simples continua a predominar naqueles ramos de produção em que o capital opera em grande escala sem que a divisão do trabalho ou a maquinaria desempenhem um papel significativo A cooperação continua a ser a forma básica do modo de produção capitalista embora sua própria configuração simples apareça como forma particular ao lado de suas formas mais desenvolvidas 283 Capítulo 12 Divisão do trabalho e manufatura 1 A dupla origem da manufatura A cooperação fundada na divisão do trabalho assume sua forma clássica na manufatura Como forma característica do processo de produção capitalista ela predomina ao longo do período propriamente manufatureiro que em linhas gerais estendese da metade do século XVI até o último terço do século XVIII A manufatura surge de dois modos No primeiro reúnemse numa mesma oficina sob o controle de um mesmo capitalista trabalhadores de diversos ofícios autônomos por cujas mãos tem de passar um produto até seu acabamento final Uma carruagem por exemplo era o produto total dos trabalhos de um grande número de artesãos independentes como segeiro seleiro costureiro serralheiro correeiro torneiro passamaneiro vidraceiro pintor envernizador dourador etc A manufatura de carruagens reúne todos esses diferentes artesãos numa oficina onde eles trabalham simultaneamente e em colaboração mútua É verdade que não se pode dourar uma carruagem antes de ela estar feita mas se muitas carruagens são feitas ao mesmo tempo uma parte pode passar constantemente pelo douramento enquanto outra parte percorre uma fase anterior do processo de produção Até aqui permanecemos ainda no terreno da cooperação simples que encontra já dado seu material humano e de coisas Mas logo ocorre uma modificação essencial O costureiro o ferreiro o correeiro etc que se dedicam apenas à fabricação de carruagens perdem gradualmente com o costume a capacidade de exercer seu antigo ofício em toda sua amplitude Por outro lado sua atividade tornada unilateral assume agora a forma mais adequada para sua esfera restrita de atuação Originalmente a manufatura de carruagens apareceu como uma combinação de ofícios independentes Pouco a pouco ela se transformou em divisão da produção de carruagens em suas diversas operações específicas processo no qual cada operação se cristalizou como função exclusiva de um trabalhador sendo sua totalidade executada pela união desses trabalhadores parciais Desse mesmo modo surgiram a manufatura de tecidos e toda uma série de outras manufaturas da combinação de diversos ofícios sob o comando do mesmo capital26 Mas a manufatura por outro lado também surge por um caminho oposto Muitos artesãos que fabricam produtos iguais ou da mesma espécie como papel tipos para imprensa ou agulhas são reunidos pelo mesmo capital simultaneamente e na mesma oficina Temse aqui a cooperação em sua forma mais simples Cada um desses artesãos talvez com um ou dois ajudantes produz a mercadoria inteira executando sucessivamente todas as diversas operações requeridas para sua fabricação Ele continua a trabalhar conforme seu antigo modo artesanal mas circunstâncias externas logo fazem com que a concentração dos trabalhadores no mesmo local e a 284 simultaneidade de seus trabalhos sejam utilizadas de outro modo Uma quantidade maior de mercadorias acabadas deve por exemplo ser fornecida num determinado prazo e por esse motivo o trabalho é dividido Em vez de o mesmo artesão executar as diversas operações numa sequência temporal elas são separadas umas das outras isoladas justapostas espacialmente sendo cada uma delas confiada a um artesão diferente e executadas ao mesmo tempo pelos trabalhadores em cooperação Essa divisão acidental se repete exibe as vantagens que lhe são próprias e se ossifica gradualmente numa divisão sistemática do trabalho De produto individual de um artesão independente que faz várias coisas a mercadoria convertese no produto social de uma união de artesãos em que cada um executa continuamente apenas uma e sempre a mesma operação parcial As mesmas operações que se conectavam umas às outras como atos sucessivos do fabricante de papel nas guildas alemãs tornaramse mais tarde independentes na manufatura holandesa de papel como operações parciais executadas uma ao lado das outras por muitos trabalhadores em cooperação O agulheiro das guildas de Nuremberg é o elemento fundamental da manufatura inglesa de agulhas Mas enquanto aquele agulheiro isolado executava uma série de talvez vinte operações sucessivas na I nglaterra não tardou até que houvesse vinte agulheiros um ao lado do outro cada um executando apenas uma das vinte operações que em consequência de experiências ulteriores ainda seriam muito mais subdivididas isoladas e autonomizadas como funções exclusivas de trabalhadores individuais O modo de surgimento da manufatura sua formação a partir do artesanato é portanto duplo Por um lado ela parte da combinação de ofícios autônomos e diversos que são privados de sua autonomia e unilateralizados até o ponto em que passam a constituir meras operações parciais e mutuamente complementares no processo de produção de uma única e mesma mercadoria Por outro lado ela parte da cooperação de artesãos do mesmo tipo decompõe o mesmo ofício individual em suas diversas operações particulares isolandoas e autonomizandoas até que cada uma delas se torne uma função exclusiva de um trabalhador específico Por um lado portanto a manufatura introduz a divisão do trabalho num processo de produção ou desenvolve a divisão do trabalho já existente por outro ela combina ofícios que até então eram separados Mas seja qual for seu ponto de partida particular sua configuração final é a mesma um mecanismo de produção cujos órgãos são seres humanos Para o correto entendimento da divisão do trabalho na manufatura é essencial apreender os seguintes pontos primeiramente a análise do processo de produção em suas fases particulares coincide plenamente com a decomposição de uma atividade artesanal em suas diversas operações parciais Composta ou simples a execução permanece artesanal e portanto continua a depender da força da destreza da rapidez e da segurança do trabalhador individual no manuseio de seu instrumento O trabalho artesanal permanece sendo a base e essa base técnica limitada exclui uma análise verdadeiramente científica do processo de produção pois cada processo parcial que o produto percorre tem de ser executável como trabalho parcial artesanal É justamente porque a habilidade artesanal permanece como a base do processo de produção que 285 cada trabalhador passa a dedicarse exclusivamente a uma função parcial e sua força de trabalho é então transformada em órgão vitalício dessa função parcial Por fim essa divisão do trabalho é um tipo particular da cooperação e várias de suas vantagens resultam da essência geral da cooperação e não dessa sua forma particular 2 O trabalhador parcial e sua ferramenta Adentrando agora nos detalhes dessa questão é desde logo claro que um trabalhador que executa uma mesma operação simples durante toda sua vida transforma seu corpo inteiro num órgão automaticamente unilateral dessa operação e consequentemente precisa de menos tempo para executála do que o artesão que executa alternadamente toda uma série de operações Mas o trabalhador coletivo combinado que constitui o mecanismo vivo da manufatura consiste de muitos desses trabalhadores parciais e unilaterais Por isso em comparação com o ofício autônomo produzse mais em menos tempo ou a força produtiva do trabalhador é aumentada27 Também o método do trabalho parcial se aperfeiçoa depois de estar autonomizado como função exclusiva de uma pessoa Como a experiência o demonstra a contínua repetição da mesma ação limitada e a concentração da atenção nessa ação ensinam a atingir o efeito útil visado com o mínimo de dispêndio de força Mas como diferentes gerações de trabalhadores convivem simultaneamente e cooperam nas mesmas manufaturas os artifícios Kunstgriffe técnicos assim obtidos se consolidam se acumulam e são transmitidos com rapidez28 A manufatura produz com efeito a virtuosidade do trabalhador detalhista quando no interior da oficina reproduz e leva sistematicamente ao extremo a diferenciação naturalespontânea dos ofícios Por outro lado sua transformação do trabalho parcial em vocação Beruf da vida de um homem corresponde à tendência presente em sociedades anteriores de tornar hereditários os ofícios petrificálos em castas ou no caso de determinadas condições históricas produzirem nos indivíduos uma variabilidade em contradição com o sistema de castas ossificálos em corporações Castas e corporações têm origem na mesma lei natural que rege a distinção de plantas e animais em espécies e subespécies com a única diferença de que num certo grau de desenvolvimento a hereditariedade das castas ou a exclusividade das corporações é decretada como lei social29 As musselinas de Dakka em sua finura as chitas e outros tecidos de Coromandel em esplendor e durabilidade das cores jamais foram superados E no entanto eles são produzidos sem capital maquinaria divisão do trabalho ou qualquer um dos outros meios que tantas vantagens atribuem à fabricação na Europa O tecelão é um indivíduo isolado que fabrica o tecido por encomenda de um cliente e com um tear da mais simples construção muitas vezes consistindo apenas de hastes de madeira unidas de modo grosseiro Ele nem sequer dispõe de um mecanismo para puxar a corrente o que faz com que o tear tenha de permanecer esticado em todo seu comprimento tornandose assim tão disforme e longo que não encontra lugar no casebre do produtor que por isso tem de executar seu trabalho ao ar livre onde é interrompido por qualquer intempérie30 É apenas a destreza acumulada de geração a geração e legada de pai para filho que confere ao indiano assim como à aranha essa virtuosidade E no entanto tal tecelão executa um trabalho muito mais complicado do que o da maioria dos trabalhadores da manufatura 286 Um artesão que executa sucessivamente os diversos processos parciais da produção de um artigo é obrigado a mudar ora de lugar ora de instrumentos A passagem de uma operação para outra interrompe o fluxo de seu trabalho formando em certa medida poros em sua jornada de trabalho Tais poros se fecham assim que ele passa a executar continuamente uma única e mesma operação o dia inteiro ou desaparecem à medida que diminuem as mudanças de sua operação A força produtiva aumentada se deve aqui ou ao dispêndio crescente de força de trabalho num dado período de tempo portanto à intensidade crescente do trabalho ou ao decréscimo do consumo improdutivo de força de trabalho O excesso de dispêndio de força exigido em cada passagem do repouso ao movimento é compensado pela duração maior da velocidade normal depois de esta ter sido alcançada Por outro lado a continuidade de um trabalho uniforme aniquila a força tensional e impulsiva dos espíritos vitais que encontram na própria mudança de atividade seu descanso e estímulo A produtividade do trabalho depende não apenas da virtuosidade do trabalhador mas também da perfeição de suas ferramentas Ferramentas do mesmo tipo como instrumentos para cortar perfurar pilar bater etc são utilizadas em diversos processos de trabalho e no mesmo processo de trabalho o mesmo instrumento serve para diferentes operações Mas assim que as diferentes operações de um processo de trabalho são dissociadas umas das outras e cada operação parcial adquire nas mãos do trabalhador parcial a forma mais adequada possível e portanto exclusiva tornase necessário modificar as ferramentas que anteriormente serviam para outros fins diversos A direção que assume sua mudança de forma é resultado da experiência das dificuldades específicas provocadas pela forma inalterada A diferenciação dos instrumentos de trabalho por meio da qual instrumentos de mesmo tipo assumem formas particulares e fixas para cada aplicação útil particular e sua especialização que faz com que cada um desses instrumentos especiais só funcione em toda plenitude nas mãos de trabalhadores parciais específicos caracterizam a manufatura Apenas em Birmingham são produzidas cerca de quinhentas variedades de martelos e muitas delas servem não só a um processo particular de produção mas com frequência a diferentes operações no interior de um mesmo processo O período da manufatura simplifica melhora e diversifica as ferramentas de trabalho por meio de sua adaptação às funções específicas e exclusivas dos trabalhadores parciais 31 Com isso ela cria ao mesmo tempo uma das condições materiais da maquinaria que consiste numa combinação de instrumentos simples O trabalhador detalhista e seu instrumento formam os elementos simples da manufatura Voltemonos agora à sua figura inteira 3 As duas formas fundamentais da manufatura manufatura heterogênea e manufatura orgânica A articulação da manufatura possui duas formas fundamentais que não obstante seu eventual entrelaçamento compõem duas espécies essencialmente distintas e que desempenham papéis totalmente diferentes especialmente na transformação posterior da manufatura em grande indústria movida pela maquinaria Esse duplo 287 Uma locomotiva por exemplo consiste de mais de 5 mil partes independentes Ela não pode porém servir de exemplo para a primeira espécie de manufatura propriamente dita porquanto é um produto da grande indústria mas sim o relógio de que também se serviu William Petty para ilustrar a divisão do trabalho na manufatura De obra individual de um artesão de Nuremberg o relógio transformouse no produto social de um semnúmero de trabalhadores parciais como o fazedor das peças brutas o fazedor das molas o fazedor dos mostradores o fazedor da corda o fazedor das mancais para pedras e os rubis das alavancas o fazedor dos ponteiros o fazedor da caixa o fazedor dos parafusos o dourador e com muitas subdivisões como o fazedor de rodas rodas de latão e de aço também separadas o fazedor do rotor o fazedor do eixo dos ponteiros o acheveur de pignon aquele que faz as rodas no trem de engrenagens e pelos e facetas o fazedor do pivô o planteur de finissage que monta diversas rodas e carretas na máquina o finisseur de barillette que entalha os dentes nas rodas ajusta as dimensões dos furos aperta as posições e travas o fazedor da âncora o fazedor do cilindro para a âncora o fazedor da roda de escape o fazedor do volante o fazedor da roda de balanço o fazedor da coroa mecanismo com que se regula o relógio o planteur déchappement que faz o escapamento o repasseur de barillette que finaliza a caixa da mola e a posição o polidor do aço o polidor das rodas o polidor dos parafusos o pintor dos números o esmaltador do mostrador que aplica o esmalte o fazedor de pendants que faz apenas as argolas do relógio o finisseur de charnière que coloca o eixo de latão no centro da caixa etc o faiseur de secret que coloca na caixa as molas que fazem abrir a tampa o graveur gravador o ciseleur cinzelador o polisseur de boîte polidor da caixa etc etc e finalmente o repasseur que monta todo o relógio e o entrega funcionando A penas algumas poucas partes do relógio passam por diversas mãos e todos esses membros dispostos são reunidos nas mãos que finalmente os combinam num todo mecânico Aqui como em outras fabricação semelhantes essa relação exterior do produto acabado com seus diferentes elementos torna acidental a combinação dos trabalhadores parciais na mesma oficina Tanto é possível a execução dos trabalhos parciais como ofícios independentes entre si como ocorre por exemplo em Genebra onde há grandes manufaturas de relógios Também no último caso é raro que mostrador mola e caixa sejam feitos na própria manufatura A empresa manufatureira combinada não é só lucrativa aqui sob condições excepcionais já que a concorrência entre os trabalhadores que querem trabalhar em casa é extrema o fracionamento da produção em inúmeros processos heterogêneos permite pouca aplicação de meios coletivos de trabalho e o capitalista com a fabricação fragmentada economiza os gastos com instalações fábricas etc fases interconexas de desenvolvimento uma sequência de processos graduais como o arame que na manufatura de agulhas de costura passa pelas mãos de 72 e até 92 trabalhadores parciais específicos Ao combinar ofícios originalmente dispersos tal manufatura reduz a separação espacial entre as fases particulares de produção do artigo O tempo de sua passagem de um estágio para outro é reduzido assim como o trabalho que medeia essa passagem34 Em comparação com o artesanato obtémse com isso um acréscimo de força produtiva sendo tal acréscimo derivado na verdade do caráter cooperativo geral da manufatura Por outro lado seu princípio peculiar da divisão de trabalho provoca um isolamento das diferentes fases de produção que como diversos outros trabalhos parciais artesanais se autonomizam mutuamente Estabelecer e manter a conexão entre as funções isoladas exige o transporte constante do artigo de uma mão para outra e de um processo para outro Do ponto de vista da grande indústria isso se revela uma limitação característica dispendiosa e imanente ao princípio da manufatura35 Quando observamos uma quantidade determinada de matériaprima por exemplo de trapos na manufatura de papel ou de arame na manufatura de alfinetes vemos que ela percorre nas mãos dos diferentes trabalhadores parciais uma série cronológica de fases de produção até atingir sua forma final Mas quando ao contrário observamos a oficina como um mecanismo total vemos que a matériaprima encontrase simultaneamente em todas as suas fases de produção Com uma parte de suas muitas mãos munidas de instrumentos o trabalhador coletivo resultado da combinação de trabalhadores detalhistas puxa o arame ao mesmo tempo que com outras mãos e outras ferramentas o estica com outras o corta o aponta etc De uma sucessão temporal os diversos processos graduais se convertem numa justaposição espacial Disso resulta o fornecimento de mais mercadorias acabadas no mesmo espaço de tempo36 Se é verdade que essa simultaneidade decorre da forma cooperativa geral do processo total a manufatura não se limita a encontrar dadas condições para a cooperação mas as cria em parte mediante a decomposição da atividade artesanal Por outro lado ela só alcança essa organização social do processo de trabalho ao soldar o mesmo trabalhador ao mesmo detalhe Por ser o produto parcial de cada trabalhador parcial apenas um grau particular de desenvolvimento do mesmo artigo cada trabalhador ou grupo de trabalhadores fornece ao outro sua matériaprima No resultado do trabalho de um está o ponto de partida para o trabalho do outro Assim um trabalhador ocupa diretamente o outro O tempo de trabalho necessário para se obter o efeito útil visado em cada processo parcial é fixado conforme a experiência e o mecanismo inteiro da manufatura repousa sobre o pressuposto de que em dado tempo de trabalho obtémse um dado resultado Apenas sob esse pressuposto os processos de trabalho diferentes e mutuamente complementares podem prosseguir justapostos espacialmente de modo simultâneo e ininterrupto É evidente que essa dependência imediata dos trabalhos e por conseguinte dos trabalhadores entre si força cada indivíduo a empregar em sua função não mais do que o tempo necessário gerandose assim uma continuidade uniformidade regularidade ordenamento37 e mais ainda uma intensidade de 289 trabalho absolutamente distintos daqueles vigentes no ofício autônomo ou mesmo no regime de cooperação simples Que numa mercadoria seja aplicado apenas o tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção é algo que aparece na produção de mercadorias em geral como coerção externa da concorrência dado que expresso superficialmente cada produtor individual é obrigado a vender a mercadoria pelo seu preço de mercado Na manufatura ao contrário o fornecimento de uma dada quantidade de produtos em dado tempo de trabalho tornase uma lei técnica do próprio processo de produção38 Ocorre que operações diferentes exigem períodos desiguais de tempo e por isso fornecem no mesmo intervalo de tempo quantidades desiguais de produtos parciais Portanto se o mesmo trabalhador deve executar sempre a mesma operação dia após dia então é preciso que em operações diferentes sejam empregados números proporcionalmente diferentes de trabalhadores por exemplo que numa manufatura de tipos de imprensa sejam empregados quatro fundidores e dois quebradores para um polidor e que o fundidor funda 2 mil tipos por hora o quebrador quebre 4 mil e o polidor pula 8 mil Aqui reaparece o princípio da cooperação em sua forma mais simples a da ocupação simultânea de muitos indivíduos que executam operações da mesma espécie porém agora como expressão de uma relação orgânica A divisão manufatureira do trabalho portanto não só simplifica e diversifica os órgãos qualitativamente diferentes do trabalhador coletivo social como também cria uma proporção matemática fixa para a extensão quantitativa desses órgãos isto é para o número relativo de trabalhadores ou grandeza relativa dos grupos de trabalhadores em cada função específica Ela desenvolve com a subdivisão qualitativa do processo de trabalho social a regra quantitativa e a proporcionalidade desse processo Estando fixada pela experiência a proporção mais adequada dos diferentes grupos de trabalhadores parciais para uma determinada escala da produção esta só pode ser ampliada por meio do emprego de um múltiplo de cada grupo particular de trabalhadores39 A isso se acrescenta que o mesmo indivíduo pode executar igualmente bem certos trabalhos em maior ou menor escala como o trabalho de supervisão o transporte dos produtos parciais de uma fase de produção para outra etc A autonomização dessas funções ou sua atribuição a trabalhadores específicos só passa a representar uma vantagem com a ampliação do número de trabalhadores ocupados e desde que essa ampliação atinja de imediato e de maneira proporcional todos os grupos O grupo individual um número de trabalhadores que executam a mesma função parcial consiste de elementos homogêneos e forma um órgão particular do mecanismo total Nas diferentes manufaturas porém o próprio grupo é um corpo articulado de trabalho enquanto o mecanismo total é formado pela repetição ou multiplicação desses organismos produtivos elementares Consideremos por exemplo a manufatura de garrafas de vidro Ela se decompõe em três fases essencialmente distintas Primeiramente há a fase preparatória que consiste na preparação da composição do vidro mistura de areia cal etc e na fundição dessa composição numa massa fluida de vidro40 Nessa primeira fase diferentes trabalhadores parciais se ocupam tanto quanto na fase final em retirar as garrafas dos 290 fornos de secagem selecionálas embalálas etc No meio das duas fases é que está a feitura propriamente dita do vidro ou a elaboração de sua massa fluida Na mesma boca de forno trabalha um grupo na I nglaterra chamado de hole buraco e constituído por um bottle maker fazedor de garrafas ou finisher acabador um blower soprador um gatherer coletor um putter up carregador ou whetter off separador e um taker entregador Esses cinco trabalhadores parciais formam outros tantos órgãos particulares de um único corpo de trabalho que só pode atuar como uma unidade isto é por meio da cooperação direta de todos os seus cinco membros Na ausência de um desses membros ele fica paralisado Mas o mesmo forno de vidro tem várias aberturas na I nglaterra por exemplo elas variam de quatro a seis cada uma delas com um cadinho de barro contendo massa fluida de vidro no qual trabalha um grupo de trabalhadores igualmente composto de cinco membros A articulação de cada grupo individual fundase aqui diretamente na divisão do trabalho ao passo que o vínculo entre os diversos grupos do mesmo tipo é a cooperação simples que economiza meios de produção no caso presente o forno de vidro mediante seu consumo coletivo Tal forno de vidro reúne de quatro a seis grupos de trabalhadores e constitui uma vidraria uma manufatura de vidro é formada por uma multiplicidade de tais vidrarias juntamente com as instalações e os trabalhadores necessários para as fases preparatórias e finais da produção Finalmente uma vez que a manufatura tem origem na combinação de diversos ofícios ela pode se desenvolver numa combinação de diversas manufaturas As maiores vidrarias inglesas por exemplo fabricam elas próprias seus cadinhos de barro pois da qualidade desses instrumentos depende essencialmente o sucesso ou insucesso da produção A manufatura de um meio de produção é vinculada aqui à manufatura do produto I nversamente é também possível que a manufatura do produto se vincule a manufaturas às quais ele serve por sua vez de matériaprima ou a cujos produtos ele é acoplado posteriormente Assim por exemplo a manufatura de flint glass é combinada com a do polimento de vidro e a da fundição de latão este último sendo utilizado para a moldura metálica de diversos artigos de vidro de modo que as diferentes manufaturas combinadas formam no interior de uma manufatura total departamentos mais ou menos separados espacialmente e ao mesmo tempo processos de produção autônomos cada um com sua própria divisão de trabalho Não obstante algumas vantagens oferecidas pela manufatura combinada ela jamais chega a adquirir uma verdadeira unidade técnica sobre seu próprio fundamento Tal unidade só ocorre com sua transformação em indústria mecanizada O período da manufatura que logo proclama como seu princípio41 consciente a diminuição do tempo de trabalho necessário para a produção de mercadorias também desenvolve eventualmente o uso de máquinas sobretudo em certos processos iniciais e simples que têm de ser executados massivamente e com grande aplicação de força Assim por exemplo a manufatura de papel começa com a trituração de trapos realizada por moinhos específicos e na metalurgia o britamento do minério é feito pelos assim chamados moinhos de pilões42 A forma elementar de toda maquinaria foinos transmitida pelo I mpério romano com o moinho dágua43 O período do artesanato deixou como legado grandes invenções a bússola a pólvora a impressão 291 de livros e o relógio automático Em geral no entanto a maquinaria exerce aquela função secundária que Adam Smith lhe atribui ao lado da divisão do trabalho44 Muito importante tornouse o uso esporádico da maquinaria no século XVI I na medida em que ela oferecia aos grandes matemáticos daquela época pontos de apoio práticos e estímulos para a criação da mecânica moderna A maquinaria específica do período da manufatura permanece sendo o próprio trabalhador coletivo que resulta da combinação de muitos trabalhadores parciais As diversas operações que o produtor de uma mercadoria executa alternadamente e que se entrelaçam na totalidade de seu processo de trabalho colocamlhe exigências diferentes Numa ele tem de desenvolver mais força noutra mais destreza numa terceira mais concentração mental etc e o mesmo indivíduo não dispõe dessas qualidades no mesmo grau Depois da separação autonomização e isolamento das diferentes operações os trabalhadores são separados classificados e agrupados de acordo com suas qualidades predominantes Se suas especificidades naturais constituem a base sobre a qual se ergue a divisão do trabalho a manufatura uma vez introduzida desenvolve forças de trabalho que por natureza servem apenas para funções específicas unilaterais O trabalhador coletivo dispõe agora de todas as qualidades produtivas no mesmo grau de virtuosidade e as despende ao mesmo tempo do modo mais econômico concentrando todos os seus órgãos individualizados em trabalhadores ou grupos de trabalhadores especializados no desempenho exclusivo de suas funções específicas45 A unilateralidade e mesmo a imperfeição do trabalhador parcial convertemse em sua perfeição como membro do trabalhador coletivo46 O hábito de exercer uma função unilateral transforma o trabalhador parcial em órgão natural e de atuação segura dessa função ao mesmo tempo que sua conexão com o mecanismo total o compele a operar com a regularidade de uma peça de máquina47 Como as diferentes funções do trabalhador coletivo podem ser mais simples ou mais complexas inferiores ou superiores seus órgãos as forças de trabalho individuais requerem diferentes graus de formação e possuem por isso valores muito diferentes A manufatura desenvolve assim uma hierarquia das forças de trabalho a que corresponde uma escala de salários Se de um lado o trabalhador individual é apropriado e anexado vitaliciamente a uma função unilateral de outro as diferentes operações laborais daquela hierarquia são adaptadas às suas habilidades naturais e adquiridas48 Todo processo de produção requer no entanto certas operações simples que qualquer ser humano é normalmente capaz de executar Também tais operações são agora destacadas de sua conexão fluida com os momentos mais plenos de conteúdo da atividade e ossificadas em funções exclusivas Em todo ofício de que se apodera a manufatura cria portanto uma classe dos chamados trabalhadores não qualificados antes rigorosamente excluídos pelo artesanato Ao mesmo tempo que desenvolve à custa da capacidade total de trabalho a especialidade totalmente unilateralizada que chega ao ponto da virtuosidade ela já começa a transformar numa especialidade a falta absoluta de desenvolvimento J untamente com a gradação hierárquica surge a simples separação dos trabalhadores em qualificados e não qualificados Para estes últimos os custos de aprendizagem 292 desaparecem por completo e para os primeiros esses custos são menores em comparação com o artesão devido à função simplificada Em ambos os casos diminui o valor da força de trabalho49 Exceções ocorrem na medida em que a decomposição do processo de trabalho gera funções novas e abrangentes que no artesanato não existiam ou pelo menos não na mesma extensão A desvalorização relativa da força de trabalho decorrente da eliminação ou redução dos custos de aprendizagem implica imediatamentente uma maior valorização do capital pois tudo o que encurta o tempo de trabalho necessário para a reprodução da força de trabalho estende ao mesmo tempo os domínios do maistrabalho 4 Divisão do trabalho na manufatura e divisão do trabalho na sociedade Começamos nossa análise pela origem da manufatura passando por seus elementos simples o trabalhador parcial e sua ferramenta até chegar a seu mecanismo total Trataremos agora brevemente da relação entre a divisão manufatureira e a divisão social do trabalho que constitui a base geral de toda a produção de mercadorias Se tomamos em consideração apenas o trabalho podemos caracterizar a separação da produção social em seus grandes gêneros agricultura indústria etc como divisão do trabalho no universal a diferenciação desses gêneros de produção em espécies e subespécies como divisão do trabalho no particular e a divisão do trabalho no interior de uma oficina como divisão do trabalho no singular50 A divisão do trabalho na sociedade e a correspondente limitação dos indivíduos a esferas profissionais particulares se desenvolve como a divisão do trabalho na manufatura a partir de pontos opostos Numa família ou com o desenvolvimento ulterior numa tribo surge uma divisão naturalespontânea do trabalho fundada nas diferenças de sexo e de idade portanto sobre uma base puramente fisiológica que amplia seu material com a expansão da comunidade com o aumento da população e especialmente com o conflito entre as diversas tribos e a subjugação de uma tribo por outra Por outro lado como observei anteriormentea a troca de produtos surge nos pontos em que diferentes famílias tribos e comunidades entram mutuamente em contato pois nos primórdios da civilização são famílias tribos etc que se defrontam de forma autônoma e não pessoas privadas Comunidades diferentes encontram em seu ambiente natural meios diferentes de produção e de subsistência Por isso também são diferentes seu modo de produção seu modo de vida e seus produtos e é essa diferenciação naturalespontânea que no contato entre as comunidades provoca a troca dos produtos recíprocos e por conseguinte a transformação progressiva desses produtos em mercadorias A troca não cria a diferença entre as esferas de produção mas coloca em relação esferas de produção diferentes e as transforma assim em ramos mais ou menos interdependentes de uma produção social total A divisão social do trabalho surge aqui da troca entre esferas de produção originalmente distintas e independentes entre si No primeiro caso em que a divisão fisiológica do trabalho é o ponto de partida os órgãos particulares de um todo imediatamente compacto desprendemse uns dos outros decompõemse e o impulso principal para esse 293 processo de decomposição é dado pela troca de mercadorias com comunidades estrangeiras que faz com que esses órgãos se autonomizem ao ponto de que o nexo entre os diferentes trabalhos passa a ser mediado pela troca dos produtos como mercadorias Num caso temse o tornar dependente Verunselbständigung daquilo que antes era independente no outro temse a independentização do que antes era dependente A base de toda divisão do trabalho desenvolvida e mediada pela troca de mercadorias é a separação entre cidade e campo51 Podese dizer que a história econômica inteira da sociedade está resumida no movimento dessa antítese da qual no entanto não trataremos aqui Assim como a divisão do trabalho na manufatura tem como pressuposto material um certo número de trabalhadores empregados simultaneamente a divisão do trabalho na sociedade tem como pressuposto material a grandeza da população e sua densidade que ocupa aqui o lugar da aglomeração na mesma oficina52 Mas tal densidade é relativa Um país de povoamento relativamente esparso com meios de comunicação desenvolvidos possui um povoamento mais denso do que um país mais povoado porém com meios de comunicação pouco desenvolvidos de modo que por exemplo os Estados setentrionais da União Americana são mais densamente povoados do que a Índia53 Como a produção e a circulação de mercadorias é o pressuposto geral do modo de produção capitalista a divisão manufatureira do trabalho requer uma divisão do trabalho amadurecida até certo grau de desenvolvimento no interior da sociedade I nversamente por efeito retroativo a divisão manufatureira do trabalho desenvolve e multiplica aquela divisão social do trabalho Com a diferenciação dos instrumentos de trabalho diferenciamse cada vez mais os ofícios que produzem esses instrumentos54 Se a empresa manufatureira se apossa de um ofício que até então se conectava a outros como ofício principal ou acessório e era exercido pelo mesmo produtor ocorre sua imediata separação e independentização Se ela se apossa de um estágio particular da produção de uma mercadoria seus diferentes estágios de produção se convertem em ofícios distintos e independentes J á observamos que quando o artigo consiste meramente de um composto de produtos parciais unidos de modo mecânico os trabalhos parciais podem se autonomizar por sua vez como ofícios próprios Para efetuar mais perfeitamente a divisão do trabalho numa manufatura o mesmo ramo de produção é segundo a diversidade de suas matériasprimas ou das diferentes formas que essa matériaprima pode assumir dividido em manufaturas diversas e em parte inteiramente novas Assim já na primeira metade do século XVI I I somente na França se produziam mais de cem variedades de seda e em Avignon por exemplo era lei que todo aprendiz só podia se dedicar a uma única espécie de fabricação não lhe sendo permitido aprender a confecção de vários tipos de tecido ao mesmo tempo A divisão territorial do trabalho que concentra ramos particulares de produção em distritos particulares de um país obtém um novo impulso da indústria manufatureira que explora todas as particularidades55 A ampliação do mercado mundial e o sistema colonial que integram as condições gerais de existência do período da manufatura fornecem a este último um rico material para o desenvolvimento da divisão do 294 trabalho na sociedade Não cabe aqui prosseguirmos com a demonstração de como essa divisão se apossa não apenas da esfera econômica mas de todas as outras esferas da sociedade firmando por toda parte as bases para aquele avanço da especialização das especialidades de um parcelamento do homem que já levara A Ferguson professor de A Smith a exclamar Estamos criando uma nação de hilotas e já não há homens livres entre nós56 Mas apesar das inúmeras analogias e nexos entre a divisão do trabalho na sociedade e a divisão do trabalho na oficina a diferença entre elas é não apenas de grau mas de essência A analogia se evidencia do modo mais cabal onde um vínculo interno entrelaça diferentes ramos de negócios O criador de gado produz peles que o curtidor transforma em couro que o sapateiro transforma em botas Cada um deles produz aqui um produto gradual e a configuração final acabada é o produto combinado de seus trabalhos específicos A isso se acrescentam os múltiplos ramos de trabalho que fornecem os meios de produção ao criador de gado ao curtidor e ao sapateiro Decerto podemos imaginar com A Smith que essa divisão social do trabalho se distingue da divisão manufatureira apenas subjetivamente em especial para aquele que ao observar esta última vislumbra no mesmo espaço a variedade dos trabalhos parciais ao passo que na observação da primeira essa conexão é obscurecida por sua dispersão por grandes áreas e pelo grande número de trabalhadores ocupados em cada ramo específico57 Mas o que estabelece a conexão entre os trabalhos autônomos do criador de gado do curtidor e do sapateiro A existência de seus respectivos produtos como mercadorias O que caracteriza ao contrário a divisão manufatureira do trabalho Que o trabalhador parcial não produz mercadoria58 Apenas o produto comum dos trabalhadores parciais convertese em mercadoria58a Enquanto a divisão do trabalho na sociedade é mediada pela compra e venda dos produtos de diferentes ramos de trabalho a conexão dos trabalhos parciais na manufatura o é pela venda de diferentes forças de trabalho ao mesmo capitalista que as emprega como força de trabalho combinada Enquanto a divisão manufatureira do trabalho pressupõe a concentração dos meios de produção nas mãos de um capitalista a divisão social do trabalho pressupõe a fragmentação dos meios de produção entre muitos produtores de mercadorias independentes entre si Diferentemente da manufatura onde a lei de bronze da proporção ou da proporcionalidade submete determinadas massas de trabalhadores a determinadas funções na sociedade é o diversificado jogo do acaso e do arbítrio que determina a distribuição dos produtores de mercadorias e de seus meios de produção entre os diferentes ramos sociais de trabalho É verdade que as diferentes esferas de produção procuram constantemente pôrse em equilíbrio uma com as outras já que por um lado se cada produtor de mercadorias tem de produzir um valor de uso e portanto satisfazer uma necessidade social particular o âmbito dessas necessidades é quantitativamente distinto e um vínculo interno concatena as diferentes massas de necessidades num sistema naturalespontâneo ao passo que por outro lado a lei do valor das mercadorias determina quanto do tempo total de trabalho disponível a sociedade pode gastar na produção de cada tipo particular de mercadoria Mas essa tendência constante das diferentes esferas de produção de se pôr em equilíbrio é 295 exercida apenas como reação contra a constante supressão desse mesmo equilíbrio A regra a priori e planejadamente seguida na divisão do trabalho no interior da oficina atua na divisão do trabalho no interior da sociedade apenas a posteriori como necessidade natural interna muda que controla o arbítrio desregrado dos produtores de mercadorias e pode ser percebida nas flutuações barométricas dos preços do mercado A divisão manufatureira do trabalho supõe a autoridade incondicional do capitalista sobre homens que constituem meras engrenagens de um mecanismo total que a ele pertence a divisão social do trabalho confronta produtores autônomos de mercadorias que não reconhecem outra autoridade senão a da concorrência da coerção que sobre eles é exercida pela pressão de seus interesses recíprocos assim como no reino animal o bellum omnium contra omnes guerra de todos contra todosb preserva em maior ou menor grau as condições de existência de todas as espécies Por essa razão a mesma consciência burguesa que festeja a divisão manufatureira do trabalho a anexação vitalícia do trabalhador a uma operação detalhista e a subordinação incondicional dos trabalhadores parciais ao capital como uma organização do trabalho que aumenta a força produtiva denuncia com o mesmo alarde todo e qualquer controle e regulação social consciente do processo social de produção como um ataque aos invioláveis direitos de propriedade liberdade e à genialidade autodeterminante do capitalista individual É muito característico que os mais entusiasmados apologistas do sistema fabril não saibam dizer nada mais ofensivo contra toda organização geral do trabalho social além de que ela transformaria a sociedade inteira numa fábrica Se na sociedade do modo de produção capitalista a anarquia da divisão social do trabalho e o despotismo da divisão manufatureira do trabalho se condicionam mutuamente as formas sociais anteriores nas quais a particularização dos ofícios se desenvolve espontaneamente depois cristalizamse e por fim consolidamse por lei apresentam por um lado o quadro de uma organização do trabalho social submetida a um planejamento e a uma autoridade enquanto por outro excluem inteiramente a divisão do trabalho na oficina ou só a desenvolvem numa escala ínfima ou ainda apenas de forma esporádica acidental59 Por exemplo aquelas pequenas comunidades indianas extremamente antigas algumas das quais continuam a existir até hoje baseiamse na posse comum da terra na conexão direta entre agricultura e artesanato e numa divisão fixa do trabalho que serve de plano e esquema geral no estabelecimento de novas comunidades Cada uma delas forma um todo autossuficiente de produção cuja área produtiva varia de 100 a alguns milhares de acres A maior parte dos produtos é destinada à subsistência imediata da comunidade e não como mercadoria de modo que a própria produção independe da divisão do trabalho mediada pela troca de mercadorias que impera no conjunto da sociedade indiana Apenas o excedente dos produtos é transformado em mercadoria e uma parte dele somente depois de chegar às mãos do Estado para o qual flui desde tempos imemoriais certa quantidade desses produtos como renda natural Diferentes regiões da Índia apresentam diferentes formas de comunidades Naquelas cuja forma é mais simples a terra é cultivada em comum e seus produtos são distribuídos entre seus membros enquanto cada família exerce a fiação a 296 tecelagem etc como indústrias domésticas subsidiárias Ao lado dessa massa ocupada com as mesmas tarefas encontramos o habitante principal que reúne numa só pessoa as funções de juiz polícia e coletor de impostos o guardalivros que faz a contabilidade do cultivo cadastrando e registrando tudo o que lhe diz respeito um funcionário a quem cabe perseguir criminosos e proteger viajantes estrangeiros escoltandoos de uma aldeia a outra o guarda de fronteira que vigia os limites entre sua comunidade e as comunidades vizinhas o inspetor de águas que distribui para a irrigação agrícola a água dos reservatórios comunais o brâmane responsável pelo culto religioso o mestreescola que ensina as crianças da comunidade a ler e a escrever na areia o brâmane do calendário que como astrólogo indica as épocas favoráveis para a semeadura a colheita e os bons e maus momentos para todos o trabalhos agrícolas particulares um ferreiro e um carpinteiro que produzem e consertam todos os instrumentos agrícolas o ceramista que confecciona todos os vasilhames da aldeia o barbeiro o lavador de roupas o ourives da prata um ou outro poeta que em algumas comunidades assume o lugar do ourives de prata e em outras do mestreescola Essa dúzia de pessoas é sustentada a expensas de toda a comunidade Aumentando a população uma nova comunidade se assenta em terras não cultivadas conforme o modelo da anterior O mecanismo comunal apresenta uma divisão planejada do trabalho mas sua divisão manufatureira é impossibilitada pelo fato de o mercado do ferreiro do carpinteiro etc permanecer inalterado de modo que a depender do tamanho da aldeia podemos encontrar no máximo em vez de um ferreiro um oleiro etc dois ou três deles60 A lei que regula a divisão do trabalho comunal atua aqui com a autoridade inquebrantável de uma lei natural ao passo que cada artesão particular como o ferreiro etc executa todas as operações referentes a seu ofício de modo tradicional porém independente e sem reconhecer qualquer autoridade em sua oficina O organismo produtivo simples dessas comunidades autossuficientes que se reproduzem constantemente da mesma forma e sendo ocasionalmente destruídas voltam a ser construídas61 no mesmo lugar com os mesmos nomes fornece a chave para o segredo da imutabilidade das sociedades asiáticas que contrasta de forma tão acentuada com a contínua dissolução e reconstrução dos Estados asiáticos e com as incessantes mudanças dinásticas A estrutura dos elementos econômicos fundamentais da sociedade permanece intocada pelas tormentas que agitam o céu da política As leis das corporações como já observamos impediam deliberadamente por meio da mais estrita limitação do número de ajudantes que um único mestre de corporação podia empregar a transformação deste último em capitalista Além disso só lhe era permitido empregar ajudantes naquele ofício exclusivo em que ele próprio era mestre A corporação repelia zelosamente qualquer intrusão do capital comercial a única forma livre de capital com que ela se defrontava O mercador podia comprar todas as mercadorias menos o trabalho como mercadoria Ele era aceito unicamente como distribuidor dos produtos artesanais Como as circunstâncias externas clamavam por uma progressiva divisão do trabalho as corporações existentes cindiramse em subespécies ou novas corporações foram criadas ao lado das antigas mas sem a concentração de diferentes ofícios numa mesma oficina Assim a organização 297 corporativa por mais que sua especialização seu isolamento e o aperfeiçoamento dos ofícios componham as condições materiais de existência do período de manufatura excluía a divisão manufatureira do trabalho Em geral o trabalhador e seus meios de produção permaneciam colados um ao outro como o caracol e sua concha faltando assim a base principal da manufatura a independentização dos meios de produção como capital diante do trabalhador Enquanto a divisão do trabalho no todo de uma sociedade seja ela mediada ou não pela troca de mercadorias encontrase nas mais diversas formações socioeconômicas a divisão manufatureira do trabalho é uma criação absolutamente específica do modo de produção capitalista 5 O caráter capitalista da manufatura Um número maior de trabalhadores sob o comando do mesmo capital constitui o ponto de partida naturalespontâneo tanto da cooperação em geral quanto da manufatura Por outro lado a divisão manufatureira do trabalho transforma numa necessidade técnica o aumento do número de trabalhadores empregados O mínimo de trabalhadores que um capitalista individual tem de empregar é agora prescrito pela divisão do trabalho previamente dada Por outro lado as vantagens de uma divisão ulterior são condicionadas pelo aumento do número de trabalhadores que só pode ser realizado por múltiplos Mas com a parte variável também tem de crescer a parte constante do capital e não só o volume das condições comuns de produção como instalações fornos etc mas também e principalmente a matériaprima cuja demanda cresce muito mais aceleradamente do que o número de trabalhadores A quantidade de capital constante consumida num dado tempo por uma dada quantidade de trabalho apresenta um crescimento proporcional ao da força produtiva do trabalho em decorrência da divisão deste último O aumento crescente do volume mínimo de capital em mãos de capitalistas individuais ou a transformação crescente dos meios sociais de subsistência e dos meios de produção em capital é assim uma lei decorrente do caráter técnico da manufatura62 Na manufatura tal como no regime de cooperação simples o corpo de trabalho em funcionamento é uma forma de existência do capital O mecanismo social de produção integrado por muitos trabalhadores parciais individuais pertence ao capitalista Por isso a força produtiva que nasce da combinação dos trabalhos aparece como força produtiva do capital A manufatura propriamente dita não só submete ao comando e à disciplina do capital o trabalhador antes independente como também cria uma estrutura hierárquica entre os próprios trabalhadores Enquanto a cooperação simples deixa praticamente intocado o modo de trabalho dos indivíduos a manufatura o revoluciona desde seus fundamentos e se apodera da força individual de trabalho em suas raízes Ela aleija o trabalhador converteo numa aberração promovendo artificialmente sua habilidade detalhista por meio da repressão de um mundo de impulsos e capacidades produtivas do mesmo modo como nos Estados de La Plata um animal inteiro é abatido apenas para a retirada da pele ou do sebo Não só os trabalhos parciais específicos são distribuídos entre os diversos indivíduos como o 298 próprio indivíduo é dividido e transformado no motor automático de um trabalho parcial63 conferindo assim realidade à fábula absurda de Menênio Agripac que representa um ser humano como mero fragmento de seu próprio corpo64 Se o trabalhador vende inicialmente sua força de trabalho ao capital porque lhe faltam os meios materiais para a produção de uma mercadoria agora sua força individual de trabalho falha no cumprimento de seu serviço caso não seja vendida ao capital Ela só funciona num contexto que existe apenas depois de sua venda na oficina do capitalista Por sua própria natureza incapacitado para fazer algo autônomo o trabalhador manufatureiro só desenvolve atividade produtiva como elemento acessório da oficina do capitalista65 Assim como na fronte do povo eleito estava escrito ser propriedade de J eová também a divisão do trabalho marca o trabalhador manufatureiro a ferro em brasa como propriedade do capital Os conhecimentos a compreensão e a vontade que o camponês ou artesão independente desenvolve ainda que em pequena escala assim como aqueles desenvolvidos pelo selvagem que exercita toda a arte da guerra como astúcia pessoal passam agora a ser exigidos apenas pela oficina em sua totalidade As potências intelectuais da produção ampliando sua escala por um lado desaparecem por muitos outros lados O que os trabalhadores parciais perdem concentrase defronte a eles no capital66 É um produto da divisão manufatureira do trabalho oporlhes as potências intelectuais do processo material de produção como propriedade alheia e como poder que os domina Esse processo de cisão começa na cooperação simples em que o capitalista representa diante dos trabalhadores individuais a unidade e a vontade do corpo social de trabalho Ele se desenvolve na manufatura que mutila o trabalhador fazendo dele um trabalhador parcial e se consuma na grande indústria que separa do trabalho a ciência como potência autônoma de produção e a obriga a servir ao capital67 Na manufatura o enriquecimento do trabalhador coletivo e por conseguinte do capital em sua força produtiva social é condicionado pelo empobrecimento do trabalhador em suas forças produtivas individuais A ignorância é mãe tanto da indústria quanto da superstição A reflexão e a imaginação estão sujeitas ao erro mas o hábito de mover o pé ou a mão não depende nem de uma nem de outra Por essa razão as manufaturas prosperam mais onde mais se prescinde do espírito de modo que a oficina pode ser considerada uma máquina cujas partes são homens68 De fato algumas manufaturas na metade do século XVI I I tinham preferência por empregar indivíduos semiidiotas em certas operações simples mas que constituíam segredos de fábrica69 Diz A Smith A mente da grande maioria dos homens desenvolvese necessariamente a partir e por meio de suas ocupações diárias Um homem que consome toda a sua vida na execução de umas poucas operações simples não tem nenhuma oportunidade de exercitar sua inteligência Ele se torna em geral tão estúpido e ignorante quanto é possível a uma criatura humana E depois de descrever a estupidificação do trabalhador parcial Smith prossegue A uniformidade de sua vida estacionária também corrompe naturalmente a coragem de sua mente Ela aniquila até mesmo a energia de seu corpo e o torna incapaz de empregar sua força de modo vigoroso e duradouro a não ser na operação detalhista para a qual foi adestrado Sua destreza em seu ofício particular parece 299 assim ter sido obtida à custa de suas virtudes intelectuais sociais e guerreiras Mas em toda sociedade industrial e civilizada é esse o estado a que necessariamente tem de se degradar o pobre que trabalha the labouring poor isto é a grande massa do povo70 Como modo de evitar a degeneração completa da massa do povo decorrente da divisão do trabalho A Smith recomendava o ensino popular a cargo do Estado embora em doses cautelosamente homeopáticas Quem polemizou de modo consistente contra essa ideia foi seu tradutor e comentador francês G Garnier que no Primeiro I mpério francês metamorfoseouse em senador O ensino popular contraria as leis primeiras da divisão do trabalho com ele nosso sistema social inteiro seria proscrito Como todas as outras divisões do trabalho aquela entre o trabalho manual e o intelectual71 tornase mais evidente e resoluta à medida que a sociedade ele aplica corretamente essa expressão para designar o capital a propriedade da terra e o Estado que lhes corresponde se torna mais rica Essa divisão do trabalho como qualquer outra é efeito de progressos passados e causa de progressos futuros Sendo assim pode o governo contrariar essa divisão do trabalho e detêla em seu curso natural Pode ele utilizar parte da receita pública para tentar confundir e misturar duas classes de trabalho que se esforçam por sua divisão e separação72 Certo atrofiamento espiritual e corporal é inseparável mesmo da divisão do trabalho em geral na sociedade Mas como o período manufatureiro leva muito mais longe essa cisão social dos ramos de trabalho e por outro lado somente por meio dessa divisão peculiar consegue alcançar o indivíduo em suas raízes vitais ele é o primeiro a fornecer o material e o impulso para a patologia industrial73 Subdividir um homem é o mesmo que executálo caso mereça a pena de morte ou assassinálo caso não a mereça A subdivisão do trabalho é o assassínio de um povo74 A cooperação fundada na divisão do trabalho ou a manufatura é em seus primórdios uma formação naturalespontânea Tão logo tenha adquirido alguma consistência e amplitude de existência ela se converte na forma consciente planejada e sistemática do modo de produção capitalista A história da manufatura propriamente dita revela como inicialmente sua divisão peculiar do trabalho assume por meio da experiência e como que operando por detrás dos agentes as formas adequadas mas depois tal como o artesanato corporativo visa conservar tradicionalmente a forma uma vez descoberta e em casos isolados logra fazêlo por séculos Essa forma excetuando seus aspectos secundários só se altera graças a uma revolução nos instrumentos de trabalho A manufatura moderna não me refiro aqui à grande indústria baseada na maquinaria ou encontra os disjecta membra poetae os membros dispersos do poetad já prontos como é o caso por exemplo da confecção de vestuário nas grandes cidades onde a manufatura surge e tem apenas de juntálos de sua dispersão ou o princípio da divisão é evidente e as diferentes operações da produção artesanal por exemplo da encadernação são atribuídas exclusivamente a trabalhadores específicos Nem uma semana de experiência é necessária para descobrir em tais casos a proporção de braços necessários para cada função75 A divisão manufatureira do trabalho cria por meio da análise da atividade artesanal da especificação dos instrumentos de trabalho da formação dos trabalhadores parciais de seu agrupamento e combinação num mecanismo total a articulação qualitativa e a proporcionalidade quantitativa dos processos sociais de 300 produção portanto uma determinada organização do trabalho social desenvolvendo assim ao mesmo tempo uma nova força produtiva social do trabalho Como forma especificamente capitalista do processo de produção social e sobre as bases preexistentes ela não podia se desenvolver de outra forma que não a capitalista tal divisão é apenas um método particular de produzir maisvalor relativo ou aumentar a autovalorização do capital que também pode ser chamada de riqueza social Wealth of Nations etc a expensas dos trabalhadores Ela não só desenvolve a força produtiva social do trabalho exclusivamente para o capitalista em vez de para o trabalhador como o faz por meio da mutilação do trabalhador individual Ela produz novas condições de dominação do capital sobre o trabalho E assim ela aparece por um lado como progresso histórico e momento necessário de desenvolvimento do processo de formação econômica da sociedade e por outro como meio para uma exploração civilizada e refinada A economia política que só surge como ciência própria no período da manufatura considera a divisão social do trabalho do ponto de vista exclusivo da divisão manufatureira do trabalho76 isto é como meio de produzir mais mercadorias com a mesma quantidade de trabalho e por conseguinte baratear as mercadorias e acelerar a acumulação do capital Na mais estrita oposição a essa acentuação da quantidade e do valor de troca os escritores da Antiguidade clássica dedicamse exclusivamente à qualidade e ao valor de uso77 Em decorrência da separação dos ramos sociais da produção as mercadorias são mais bemfeitas os diversos impulsos e talentos dos homens escolhem suas esferas correspondentes de atuação78 pois sem limitação nada significativo pode ser realizado em parte alguma79 Assim o produto e o produtor são aperfeiçoados pela divisão do trabalho Quando eventualmente se alude também o aumento da quantidade de produtos é apenas em relação ao volume maior do valor de uso Não se faz qualquer menção ao valor de troca ao barateamento das mercadorias Esse ponto de vista do valor de uso é predominante tanto em Platão80 que trata a divisão do trabalho como a base da divisão social dos estamentos como em Xenofonte81 que com seu instinto caracteristicamente burguês já se aproxima da divisão do trabalho na oficina A República de Platão na medida em que nela a divisão do trabalho é desenvolvida como o princípio formador do Estado não é mais do que uma idealização ateniense do sistema de castas do antigo Egito que servia como país industrial modelar também para outros contemporâneos como por exemplo Isócrates82 e até mesmo para os gregos da era do Império romano83 Durante o período manufatureiro propriamente dito isto é o período em que a manufatura foi a forma dominante do modo de produção capitalista a plena realização de suas tendências próprias se chocou com vários tipos de obstáculos Embora como vimos ela tenha criado ao lado do encadeamento hierárquico dos trabalhadores uma divisão simples entre trabalhadores qualificados e não qualificados a quantidade destes últimos permaneceu muito restrita em razão da influência predominante dos primeiros Mesmo ajustando as operações específicas aos diversos graus de maturidade força e desenvolvimento dos seus órgãos vivos de trabalho e assim induzindo à exploração produtiva de mulheres e crianças essa tendência fracassou no geral em consequência dos hábitos e da resistência dos 301 trabalhadores masculinos Embora a decomposição da atividade artesanal tenha reduzido os custos de formação do trabalhador e com isso o valor deste último continuou a ser necessário para o trabalho detalhista de maior dificuldade um tempo maior de aprendizagem e mesmo quando este último se tornava supérfluo os trabalhadores insistiam zelosamente em preserválo Na I nglaterra por exemplo encontramos as laws of apprenticeship leis de aprendizagem com seus sete anos de instrução em pleno vigor até o fim do período da manufatura e descartadas apenas pela grande indústria E como a habilidade artesanal permanece a base da manufatura e o mecanismo global que nela funciona não possui qualquer esqueleto objetivo independente dos próprios trabalhadores o capital trava uma luta constante com a insubordinação deles A fraqueza da natureza humana exclama o amigo Ure é tão grande que quanto mais hábil é o trabalhador mais voluntarioso e intratável ele se torna causando assim grandes danos ao mecanismo global em razão de seus caprichos insolentes84 A queixa sobre a falta de disciplina dos trabalhadores atravessa então todo o período da manufatura85 e se não tivéssemos os testemunhos dos escritores da época os simples fatos de que do século XVI até a época da grande indústria o capital não havia conseguido se apoderar da totalidade do tempo disponível dos trabalhadores manufatureiros que as manufaturas tinham vida curta e conforme a imigração ou emigração os trabalhadores tinham de deixar um país para se instalar em outro já falariam por bibliotecas inteiras A ordem tem de ser estabelecida de uma maneira ou de outra exclama em 1770 o autor repetidamente citado de Essay on Trade and Commerce E 66 anos mais tarde a palavra ordem volta a ecoar da boca do dr Andrew Ure para quem ordem foi o que faltou na manufatura fundada no dogma escolástico da divisão do trabalho E acrescenta Arkwright criou a ordeme Ao mesmo tempo a manufatura nem podia se apossar da produção social em toda a sua extensão nem revolucionála em suas bases Como obra de arte econômica ela se erguia apoiada sobre o amplo pedestal do artesanato urbano e da indústria doméstica rural Sua própria base técnica estreita tendo atingido certo grau de desenvolvimento entrou em contradição com as necessidades de produção que ela mesma criara Um de seus produtos mais acabados foi a oficina para a produção dos próprios instrumentos de trabalho e especialmente dos aparelhos mecânicos mais complexos que já começavam a ser utilizados Essa oficina diz Ure exibia a divisão do trabalho em suas múltiplas gradações A furadeira o cinzel o torno tinham cada um seus próprios trabalhadores hierarquicamente articulados conforme o grau de sua habilidadef Esse produto da divisão manufatureira do trabalho produziu por sua vez máquinas Estas suprassumem aufheben a atividade artesanal como princípio regulador da produção social Por um lado portanto é removido o motivo técnico da anexação vitalícia do trabalhador a uma função parcial Por outro caem as barreiras que o mesmo princípio ainda erguia contra o domínio do capital 302 CAPÍTULO 13 Maquinária e grande indústria 1 Desenvolvimento da maquinaria John Stuart Mill em seus Princípios da economia política observa É questionável que todas as invenções mecânicas já feitas tenham servido para aliviar a faina diária de algum ser humano Mas essa não é em absoluto a finalidade da maquinária utilizada de modo capitalista Como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva do trabalho ela deve baratear mercadorias e encurtar a parte da jornada de trabalho que o trabalhador necessita para si mesmo a fim de prolongar a outra parte de sua jornada que ele dá gratuitamente para o capitalista Ela é meio para a produção de maisvalor Na manufatura o revolucionamento do modo de produção começa com a força de trabalho na grande indústria com o meio de trabalho Devemos começar portanto examinando de que modo o meio de trabalho é transformado em ferramenta em máquina ou em que a máquina difere do instrumento artesanal Tratase aqui apenas dos traços característicos mais evidentes universais pois as épocas da história da sociedade são tão pouco demarcadas por limites abstraentemente rigorosos quanto as épocas da história da Terra Matemáticos e mecânicos e isso é repetido aqui e ali por economistas ingleses definem ferramenta como uma máquina simples e máquina como uma ferramenta composta Não detectam aí nenhuma diferença essencial e chegam ao ponto de chamar de máquinas as simples potências mecânicas como a alavanca o plano inclinado o parafuso a cunha etc De fato toda máquina é constituída de classes potências simples independentemente do disfarce sob o qual se apresentam e do modo como são combinadas Do ponto de vista econômico no entanto a definição não tem qualquer validade pois carece do elemento histórico Por outro lado procurase a diferença entre ferramenta e máquina no fato de que na ferramenta o homem seria a força motriz ao passo que a máquina seria movida por uma força natural diferente da humana como aquela derivada do animal da água do vento etc De modo que um arado puxado por bois pertencente às mais diversas épocas da produção seria uma máquina mas o circular loom tear circular de Claussen que movido pelas mãos de um único trabalhador confecciona 96 malhas por minuto seria uma mera ferramenta Sim o mesmo loom seria ferramenta se movido manualmente e máquina se movido a vapor Sendo a utilização de força animal uma das mais antigas invenções da humanidade a produção com máquinas teria precedido a produção artesanal Quando em 1735 John Wyatt anunciou sua máquina de fiar e com ela a revolução industrial do século XVIII em nenhum momento insinuou que em vez de um homem seria um burro a mover a máquina e não obstante esse papel acabaria por recair sobre o burro Tratavase apenas segundo seu proposto de uma máquina para fiar sem os dedos89 Toda maquinaria desenvolvida consiste em três partes essencialmente distintas a máquina motriz o mecanismo de transmissão e por fim a máquinaferramenta ou máquina de trabalho A máquina motriz atua como força motora do mecanismo inteiro Ela gera sua própria força motora como a máquina a vapor a máquina calóricaa a máquina eletromagnética etc ou recebe o impulso de uma força natural já existente e externa a ela como a rodadágua o recebe da quedadágua as pás do moinho do vento etc O mecanismo de transmissão composto de volantes eixos rodas dentadas polias hastes cabos correias mancais e engrenagens dos mais variados tipos regula o movimento modifica sua forma onde é necessário por exemplo de perpendicular em circular e o distribui e transmite à máquina ferramenta Ambas as partes do mecanismo só existem para transmitir o movimento à máquinaferramenta por meio do qual ela se apodera do objeto de trabalho e o modifica conforme a uma finalidade É dessa parte da maquinaria a máquina ferramenta que nasce a revolução industrial no século XVI I I Ela continua a constituir um ponto de partida diariamente e em constante renovação sempre que o artesanato ou a manufatura se convertem em indústria mecanizada Ora se examinamos mais detalhadamente a máquinaferramenta ou máquina de trabalho propriamente dita nela reencontramos no fim das contas ainda que frequentemente sob forma muito modificada os aparelhos e ferramentas usados pelo artesão e pelo trabalhador da manufatura porém não como ferramentas do homem mas ferramentas de um mecanismo ou mecânicas Ou a máquina inteira é uma edição mecânica mais ou menos modificada do antigo instrumento artesanal como no tear mecânico90 ou os órgãos ativos anexados à armação da máquina de trabalho são velhos conhecidos como os fusos na máquina de fiar as agulhas no tear para a confecção de meias as serras na máquina de serrar as lâminas na máquina de picar etc A diferença entre essas ferramentas e o corpo propriamente dito da máquina de trabalho existe desde o nascimento delas pois continuam em sua maior parte a ser produzidas de modo artesanal ou manufatureiro e apenas posteriormente são afixadas no corpo da máquina de trabalho o qual é o produto da maquinaria91 A máquina ferramenta é assim um mecanismo que após receber a transmissão do movimento correspondente executa com suas ferramentas as mesmas operações que antes o trabalhador executava com ferramentas semelhantes Se a força motriz provém do homem ou de uma máquina portanto é algo que não altera em nada a essência da coisa A partir do momento em que a ferramenta propriamente dita é transferida do homem para um mecanismo surge uma máquina no lugar de uma mera ferramenta A diferença salta logo à vista ainda que o homem permaneça como o primeiro motor O número de instrumentos de trabalho com que ele pode operar simultaneamente é limitado pelo número de seus instrumentos naturais de produção seus próprios órgãos corporais Na Alemanha tentouse inicialmente fazer com que um fiandeiro movesse duas rodas de fiar o que o obrigava a trabalhar simultaneamente com as duas mãos e os dois pés mas isso era cansativo demais Mais tarde inventouse uma roda de fiar com pedal e dois fusos mas os virtuoses da fiação capazes de fiar dois fios ao mesmo tempo eram quase tão raros quanto homens com duas cabeças A 304 Jennyb ao contrário fia desde seu surgimento com 12 a 18 fusos e o tear para confecção de meias tricoteia com muitos milhares de agulhas de uma só vez etc O número de ferramentas que a máquinaferramenta manipula simultaneamente está desde o início emancipado dos limites orgânicos que restringem a ferramenta manual de um trabalhador Em muitas ferramentas manuais a diferença entre o homem como mera força motriz e como trabalhador ou operador propriamente dito manifesta uma existência corpórea à parte Na roda de fiar por exemplo o pé atua apenas como força motriz enquanto a mão que trabalha no fuso puxa e torce executando a operação de fiar propriamente dita É exatamente dessa última parte do instrumento artesanal que a Revolução I ndustrial se apropria em primeiro lugar deixando para o homem além do novo trabalho de vigiar a máquina com os olhos e corrigir os erros dela com as mãos o papel puramente mecânico de força motriz Ao contrário as ferramentas em que o homem atua desde o início apenas como simples força motriz por exemplo ao girar a manivela de um moinho92 ou bombear ou mover para cima e para baixo o braço de um fole ou bater com um pilão etc suscitam primeiro a utilização de animais de água de vento93 como forças motrizes Elas ascendem em parte no período manufatureiro e esporadicamente já muito antes dele à condição de máquinas mas não revolucionam o modo de produção Que em sua forma artesanal elas já sejam máquinas é algo que se evidencia no período da grande indústria Por exemplo as bombas hidráulicas com que os holandeses em 18361837 drenaram o lago de Harlem eram construídas segundo os princípios das bombas comuns com a única diferença de que seus pistões eram movidos por ciclópicas máquinas a vapor em vez de mãos humanas Na I nglaterra o comum e muito imperfeito fole do ferreiro ainda é ocasionalmente transformado numa bomba de ar mecânica mediante a simples conexão de seu braço com uma máquina a vapor A própria máquina a vapor tal como foi inventada no fim do século XVII no período da manufatura e tal como continuou a existir até o começo dos anos 178094 não provocou nenhuma revolução industrial O que se deu foi o contrário a criação das máquinasferramentas é que tornou necessária a máquina a vapor revolucionada Tão logo o homem em vez de atuar com a ferramenta sobre o objeto de trabalho passa a exercer apenas o papel de força motriz sobre uma máquinaferramenta o fato de a força de trabalho se revestir de músculos humanos tornase acidental e o vento a água o vapor etc podem assumir seu lugar I sso não exclui é claro que tal mudança exija frequentemente grandes modificações técnicas no mecanismo originalmente construído apenas para a força motriz humana Nos dias de hoje todas as máquinas que ainda precisam abrir caminho como as máquinas de costura as máquinas panificadoras etc quando sua própria natureza não exclui sua aplicação em pequena escala são construídas para a força motriz humana e ao mesmo tempo puramente mecânica A máquina da qual parte a Revolução I ndustrial substitui o trabalhador que maneja uma única ferramenta por um mecanismo que opera com uma massa de ferramentas iguais ou semelhantes de uma só vez e é movido por uma única força motriz qualquer que seja sua forma95 Temos aqui a máquina mas apenas como elemento simples da produção mecanizada 305 O aumento do tamanho da máquina de trabalho e da quantidade de suas ferramentas simultaneamente operantes requer um mecanismo motor mais volumoso tal mecanismo a fim de vencer sua própria resistência necessita de uma força motriz mais possante do que a humana desconfiandose do fato de que o homem é um instrumento muito imperfeito para a produção de um movimento contínuo e uniforme Pressupõese que ele atue tão somente com simples força motriz e que portanto sua ferramenta dê lugar a uma máquinaferramenta forças naturais também podem agora substituílo como nessa função De todas as grandes forças motrizes legadas pelo período da manufatura a força do cavalo foi a pior em parte porque um cavalo tem sua própria cabeça em parte por conta de seu alto custo e do âmbito limitado em que pode ser utilizado nas fábricas E no entanto o cavalo é frequentemente utilizado durante a infância da grande indústria como o demonstra além das lamúrias dos agrônomos da época a expressão até hoje tradicional da força mecânica em cavalovapor O vento era demasiado inconstante e incontrolável e além disso no período mencionado a utilização da força hidráulica já predominava na Inglaterra berço da grande indústria Já no século XVII realizaramse tentativas d colocar em movimento duas correias e portanto também dois pares de mós com uma única roda hidráulica Mas o tamanho aumentado do mecanismo de transmissão entrou porém em conflito com a força hidráulica tornada insuficiente e foi essa uma das circunstâncias que conduziram à investigação mais aprofundada das leis da fricção Do mesmo modo a irregularidade da força motriz nos moinhos movidos pelo empurrar e puxar de pistões levou à teoria e à aplicação da roda volante que mais tarde desempenhará papel tão importante na grande indústria Assim o período da manufatura apresenta os primeiros elementos científicos e técnicos da grande indústria A fixação como tróste de Arkwright foi inicialmente movida à água mas também o uso da força hidráulica como força motriz predominantemente apresentava suas dificuldades Ela não podia ser aumentada à vontade e a falta de água não podia ser às vezes ela faltava e sobretudo era de natureza puramente local Somente com a segunda máquina a vapor de Watt a assim chamada máquina a vapor de ação dupla encontrouse um primeiro motor capaz de produzir sua própria força motriz por meio do consumo de carvão e água um motor cuja potência encontrase plenamente sob controle humano que é móvel e um meio de locomoção e que ao contrário da roda dágua é urbano e não rural permitindo a concentração da produção nas cidades ao invés de dispersála pelo interior Além disso é universal em sua aplicação tecnológica e sua instalação depende relativamente pouco de circunstâncias locais O grande gênio de Watt se evidencia na especificação da patente onde a máquina a vapor a que sua máquina a vapor é descrita não como uma invenção patética mas como agente universal da grande indústria Nesse sentido suas aplicações já seriam introduzidas mais de mil vezes tanto em sua utilização como em sua aplicabilidade redundando a sua patente numa notável obra de articulação Somente depois que ferramentas se transformaram de organismo humano em ferramentas de um aparelho mecânico isto é em máquina ferramenta também a máquina motriz adquiriu uma forma autônoma totalmente emancipada dos limites da força humana Com isso a máquinaferramenta individual que examinamos até aqui é reduzida a um simples elemento da produção mecanizada Uma máquina motriz podia agora mover muitas máquinas de trabalho ao mesmo tempo Com o número das máquinas de trabalho movidas simultaneamente crescem também a máquina motriz e o mecanismo de transmissão que por sua vez se transforma num aparelho de grandes proporções É preciso agora distinguir entre a cooperação de muitas máquinas de um mesmo tipo e o sistema de maquinaria No primeiro caso o produto inteiro é feito pela mesma máquina de trabalho a qual realiza todas as diversas operações que antes um artesão realizava com sua ferramenta por exemplo o tecelão com seu tear ou que artesãos executavam sucessivamente com ferramentas diferentes seja de modo autônomo ou como membros de uma manufatura100 Por exemplo na manufatura moderna de envelopes um trabalhador dobrava o papel com a dobradeira outro passava a cola um terceiro dobrava a aba sobre a qual se imprime a divisa um quarto gravava a divisa etc e para cada uma dessas operações parciais era preciso que cada envelope trocasse de mãos Uma única máquina de fazer envelopes realiza todas essas operações de uma só vez e produz 3 mil envelopes ou mais em 1 hora Uma máquina americana para a produção de sacolas de papel apresentada na exposição industrial de Londres de 1862 corta cola dobra o papel e faz 300 peças por minuto O processo inteiro dividido e realizado no interior da manufatura numa dada sequência é aqui realizado por uma máquina de trabalho que opera mediante a combinação de diferentes ferramentas Ora se tal máquina de trabalho é apenas o renascimento mecânico de uma ferramenta manual mais complexa ou a combinação de diferentes instrumentos mais simples particularizados pela manufatura na fábrica isto é na oficina baseada na utilização da máquina a cooperação simples reaparece antes de mais nada abstraímos aqui o trabalhador sob a forma da conglomeração espacial de máquinas de trabalho do mesmo tipo e que operam simultaneamente em conjunto Assim uma tecelagem é formada pela justaposição de muitos teares mecânicos e uma fábrica de costuras pela justaposição de muitas máquinas de costura no mesmo local de trabalho Aqui porém existe uma unidade técnica uma vez que as muitas máquinas de trabalho do mesmo tipo recebem seu impulso simultaneamente e na mesma medida das pulsações do primeiro motor comum por intermédio do mecanismo de transmissão que em parte é também comum a todos elas pois dele ramificamse apenas saídas individuais para cada máquinaferramenta Do mesmo modo como muitas ferramentas constituem os órgãos de uma máquina de trabalho muitas máquinas de trabalho constituem agora simples órgãos do mesmo tipo de um mesmo mecanismo motor Mas um sistema de máquinas propriamente dito só assume o lugar da máquina autônoma individual onde o objeto de trabalho percorre uma sequência conexa de diferentes processos gradativos e realizados por uma cadeia de máquinasferramentas diversificadas porém mutuamente complementares Aqui por meio da divisão do 307 trabalho reaparece a cooperação peculiar à manufatura mas agora como combinação de máquinas de trabalho parciais As ferramentas específicas dos diferentes trabalhadores parciais na manufatura da lã por exemplo a do batedor do cardador do tosador do fiandeiro etc transformamse agora em ferramentas de máquinas de trabalho especializadas cada uma delas constituindo um órgão particular para uma função particular no sistema do mecanismo combinado de ferramentas Em geral a própria manufatura fornece ao sistema da maquinaria nos ramos em que este é primeiramente introduzido a base naturalespontânea da divisão e por conseguinte da organização do processo de produção101 Aqui se introduz no entanto uma diferença essencial Na manufatura os trabalhadores individualmente ou em grupos têm de executar cada processo parcial específico com sua ferramenta manual Se o trabalhador é adaptado ao processo este último também foi previamente adaptado ao trabalhador Esse princípio subjetivo da divisão deixa de existir na produção mecanizada O processo total é aqui considerado objetivamente por si mesmo e analisado em suas fases constitutivas e o problema de executar cada processo parcial e de combinar os diversos processos parciais é solucionado mediante a aplicação técnica da mecânica da química etc102 com o que naturalmente a concepção teórica precisa também nesse caso ser aperfeiçoada em larga escala pela experiência prática acumulada Cada máquina parcial fornece à máquina seguinte sua matériaprima e uma vez que todas atuam simultaneamente o produto encontrase tanto nos diversos estágios de seu processo de formação como na transição de uma fase da produção a outra Assim como na manufatura a cooperação direta dos trabalhadores parciais cria determinadas proporções entre os grupos particulares de trabalhadores também o sistema articulado da maquinaria no qual uma máquina parcial é constantemente empregada por outra cria uma relação determinada entre seu número seu tamanho e sua velocidade A máquina de trabalho combinada agora um sistema articulado que reúne tanto máquinas de trabalho individuais de vários tipos quanto diversos grupos dessas máquinas é tanto mais perfeita quanto mais contínuo for seu processo total quer dizer quanto menos interrupções a matériaprima sofrer ao passar de sua primeira à sua última fase e portanto quanto mais essa passagem de uma fase a outra for efetuada não pela mão humana mas pela própria maquinaria Se na manufatura o isolamento dos processos particulares é um princípio dado pela própria divisão de trabalho na fábrica desenvolvida predomina ao contrário a continuidade dos processos particulares Um sistema de maquinaria seja ele fundado na mera cooperação de máquinas de trabalho do mesmo tipo como na tecelagem ou numa combinação de tipos diferentes como na fiação passa a constituir por si mesmo um grande autômato tão logo seja movido por um primeiro motor semovente Mas o sistema inteiro pode ser movido por exemplo pela máquina a vapor embora ainda ocorra que máquinasferramentas singulares precisem do trabalhador para certos movimentos como aquele que antes da introdução da selfacting mule máquina automática de fiar era necessário para dar partida à mule máquina de fiar e que ainda se faz necessário na fiação fina ou então que determinadas partes da máquina necessitem para realizar sua função de ser manejadas pelo trabalhador como uma ferramenta manual tal como ocorria na 308 construção de máquinas antes da transformação do slide rest torno em selfactor A partir do momento em que a máquina de trabalho executa todos os movimentos necessários ao processamento da matériaprima sem precisar da ajuda do homem mas apenas de sua assistência temos um sistema automático de maquinaria capaz de ser continuamente melhorado em seus detalhes Assim por exemplo o aparelho que freia automaticamente a máquina de fiar assim um único fio se rompe e o selfacting stop freio automático que paraliza o tear a vapor quando acaba o fio na bobina da lançadeira são invenções absolutamente modernas Como exemplo tanto da continuidade da produção quanto da implementação do princípio da automação podemos recorrer à moderna fábrica de papel Na produção de papel em geral é possível estudar em seus pormenores não apenas o que distingue os diferentes modos de produção fundados em diferentes meios de produção como também a conexão entre as relações sociais de produção e esses modos de produção uma vez que a antiga produção além de papel nos forneço o modelo da produção artesanal a Inglaterra moderna o modelo da fabricação automática nesse ramo além da existência na China e na Índia de duas antigas formas asiáticas da mesma indústria Como sistema articulado de máquinas de trabalho movidas por um automático central através de uma maquinaria de transmissão a produção mecanizada atinge sua forma mais desenvolvida No lugar da máquina isolada surge aqui um monstro mecânico cujo corpo ocupa fábricas inteiras e cuja força demoníaca inicialmente escondido sob o movimento que somente concedido de seus membros gigantescos irrompe no turbilhão furioso e febril de seus incentivos de trabalho propriamente ditos Havia mulas máquinas a vapor etc antes de haver quaisquer trabalhadores ocupados exclusivamente com a construção de máquinas a vapor mules etc assim como o homem vusa horácio antes de existirem alferes Mas as invenções de Vaucanson Arkwright Watt etc só puderam ser realizadas porque esses inventores encontraram à sua disposição previamente fornecida pelo período manufatureiro uma quantidade considerável de hábeis trabalhadores mecânicos Uma parte desses trabalhadores era formada de artesãos autônomos de diversas profissões e outra parte já se encontrava reunida em manufaturas onde como já mencionado a divisão do trabalho dominava com rigor especial Com o aumento das invenções e a demanda cada vez maior por máquinas recéminventadas desenvolveuse progressivamente por um lado a compartimentação da fabricação de máquinas em diversos ramos autônomos e por outro a divisão do trabalho no interior das próprias máquinas Na manufatura portanto vemos o base técnica imediata da indústria A qualidade da maquinaria com a qual esta supremacia aufhob dos sistemas artesanais e manufatureiros nas esferas de produção já primeiro se encontrava como um meio a de modo naturalespontâneo era até ínfima pois era insuficiente Ao atingir certo grau de desenvolvimento ele se transforma de maneira a tornála própria a própria força do trabalho ao se elevar à própria forma e se engajando no trabalho ao se desviar de maneira apropriada a si seu próprio modo de produção Assim como a máquina isolada permaneceu limitada enquanto foi movida apenas por homens e assim como o sistema da maquinaria não pôde se desenvolver livremente até que a máquina a vapor tomasse o lugar das forças motrizes preexistentes animal vento e até mesmo água também a grande indústria foi retardada em seu desenvolvimento enquanto seu meio característico de produção a própria máquina existiu graças à força e à habilidade pessoais dependendo assim do desenvolvimento muscular da acuidade visual e da virtuosidade da mão com que o trabalhador parcial na manufatura e o artesão fora dela operavam seu instrumento limitado Abstraindo do encarecimento das máquinas em consequência desse seu modo de surgimento circunstância que domina o capital como sua motivação consciente a expansão da indústria já movida a máquina e a penetração da maquinaria em novos ramos de produção continuaram inteiramente condicionadas pelo crescimento de uma categoria de trabalhadores que dada a natureza semiartística de seu negócio só podia ser aumentada de modo gradual e não aos saltos Em certo grau de desenvolvimento porém a grande indústria entrou também tecnicamente em conflito com sua base artesanal e manufatureira A ampliação do tamanho das máquinas motrizes do mecanismo de transmissão e das máquinasferramentas a maior complexidade multiformidade e a regularidade mais rigorosa de seus componentes à medida que a máquinaferramenta se distanciava do modelo artesanal que originalmente dominava sua construção e assumia uma forma livre103 determinada apenas por sua tarefa mecânica o aperfeiçoamento do sistema automático e a aplicação cada vez mais inevitável de um material difícil de ser trabalhado como o ferro em vez da madeira a solução de todas essas tarefas espontaneamente surgidas chocouse por toda parte com as limitações pessoais que mesmo os trabalhadores combinados na manufatura só conseguiam superar até certo grau mas não em sua essência Máquinas como a impressora o tear a vapor e a máquina de cardar modernos não podiam ser fornecidas pela manufatura O revolucionamento do modo de produção numa esfera da indústria condiciona seu revolucionamento em outra I sso vale antes de mais nada para os ramos da indústria isolados pela divisão social do trabalho cada um deles produzindo por isso uma mercadoria autônoma porém entrelaçados como fases de um processo global Assim a fiação mecanizada tornou necessário mecanizar a tecelagem e ambas tornaram necessária a revolução mecânicoquímica no branqueamento na estampagem e no tingimento Por outro lado a revolução na fiação do algodão provocou a invenção da gin para separar a fibra do algodão da semente o que finalmente possibilitou a produção de algodão na larga escala agora exigida104 Mas a revolução no modo de produção da indústria e da agricultura provocou também uma revolução nas condições gerais do processo de produção social isto é nos meios de comunicação e transporte Como os meios de comunicação e de transporte de uma sociedade cujo pivô para usar uma expressão de Fourier eram a pequena agricultura com sua indústria doméstica auxiliar e o artesanato urbano já não podiam atender absolutamente às necessidades de produção do período da manufatura com sua divisão ampliada do trabalho social sua concentração de meios de trabalho e trabalhadores e seus mercados coloniais razão pela qual eles também foram de fato 310 revolucionados assim também os meios de transporte e de comunicação legados pelo período manufatureiro logo se transformaram em insuportáveis estorvos para a grande indústria com sua velocidade febril de produção sua escala maciça seu constante deslocamento de massas de capital e de trabalhadores de uma esfera da produção para a outra e suas recémcriadas conexões no mercado mundial Assim abstraindo da construção de veleiros que foi inteiramente revolucionada o sistema de comunicação e transporte foi gradualmente ajustado ao modo de produção da grande indústria por meio de um sistema de navios fluviais transatlânticos a vapor ferrovias e telégrafos Entretanto as terríveis quantidades de ferro que tinham de ser forjadas soldadas cortadas furadas e moldadas exigiam por sua vez máquinas ciclópicas cuja criação estava além das possibilidades da construção manufatureira de máquinas A grande indústria teve pois de se apoderar de seu meio característico de produção a própria máquina e produzir máquinas por meio de máquinas Somente assim ela criou sua base técnica adequada e se firmou sobre seus próprios pés Com a crescente produção mecanizada das primeiras décadas do século XI X a maquinaria se apoderou gradualmente da fabricação de máquinasferramentas No entanto foi apenas nas últimas décadas que a colossal construção de ferrovias e a navegação oceânica a vapor deram à luz as ciclópicas máquinas empregadas na construção dos primeiros motores A condição mais essencial de produção para a fabricação de máquinas por meio de máquinas era uma máquina motriz capaz de gerar qualquer potência e que fosse ao mesmo tempo inteiramente controlável Ela já existia na máquina a vapor mas ainda faltava produzir mecanicamente as rigorosas formas geométricas necessárias às partes individuais da máquina como a linha o plano o círculo o cilindro o cone e a esfera Esse problema foi resolvido por Henry Maudslay na primeira década do século XI X com a invenção do sliderest suporte móvel originalmente destinado ao torno mas que sob forma modificada foi automatizado e adaptado a outras máquinas de construção Esse dispositivo mecânico não substitui nenhuma ferramenta específica mas a própria mão humana que produz uma forma determinada por meio da aproximação ajuste e condução da lâmina de instrumentos cortantes etc contra ou sobre o material de trabalho por exemplo o ferro possibilitando assim produzir as formas geométricas das peças das máquinas com um grau de facilidade precisão e rapidez que nem a experiência acumulada da mão do mais hábil trabalhador poderia alcançar105 Se examinarmos agora a parte da maquinaria aplicada à construção de máquinas que constitui a máquinaferramenta propriamente dita veremos reaparecer o instrumento artesanal porém em dimensão ciclópica A parte operante da perfuratriz por exemplo é uma broca colossal movida por uma máquina a vapor e sem a qual inversamente não se poderiam produzir os cilindros das grandes máquinas a vapor e das prensas hidráulicas O torno mecânico é o renascimento ciclópico do torno comum de pedal e a acepilhadora é um carpinteiro de ferro que trabalha o ferro com as mesmas ferramentas com que o carpinteiro trabalha a madeira a ferramenta que corta chapas nos estaleiros londrinos é uma gigantesca navalha de barbear a ferramenta da máquina de cortar que corta o ferro como a tesoura do alfaiate corta o pano é uma 311 monstruosa tesoura e o martelo a vapor opera com uma cabeça comum de martelo porém de peso tal que nem mesmo Thor seria capaz de brandilo106 Por exemplo um desses martelos a vapor inventados por Nasmyth pesa mais de 6 toneladas e cai perpendicularmente de uma altura de 7 pés sobre uma bigorna de 36 toneladas Ele pulveriza sem qualquer dificuldade um bloco de granito mas nem por isso é menos capaz de enfiar um prego na madeira macia com uma sequência de golpes leves107 Como maquinaria o meio de trabalho adquire um modo de existência material que condiciona a substituição da força humana por forças naturais e da rotina baseada na experiência pela aplicação consciente da ciência natural Na manufatura a articulação do processo social de trabalho é puramente subjetiva combinação de trabalhadores parciais no sistema da maquinaria a grande indústria é dotada de um organismo de produção inteiramente objetivo que o trabalhador encontra já dado como condição material da produção Na cooperação simples e mesmo na cooperação especificada pela divisão do trabalho a suplantação do trabalhador isolado pelo socializado aparece ainda como mais ou menos acidental A maquinaria com algumas exceções a serem mencionadas posteriormente funciona apenas com base no trabalho imediatamente socializado ou coletivo O caráter cooperativo do processo de trabalho se converte agora portanto numa necessidade técnica ditada pela natureza do próprio meio de trabalho 2 Transferência de valor da maquinaria ao produto Vimos que as forças produtivas que decorrem da cooperação e da divisão do trabalho não custam nada ao capital São forças naturais do trabalho social Forças naturais como o vapor a água etc que são apropriadas para uso nos processos produtivos também não custam nada mas assim como o homem necessita de um pulmão para respirar ele também necessita de uma criação da mão humana para poder consumir forças da natureza de modo produtivo A rodadágua é necessária para explorar a força motriz da água a máquina a vapor para explorar a elasticidade do vapor O que sucede com as forças da natureza sucede igualmente com a ciência Uma vez descobertas a lei que regula a variação da agulha magnética no campo de ação de uma corrente elétrica ou a lei da indução do magnetismo no ferro em torno do qual circula uma corrente elétrica já não custam mais um só centavo108 Mas para que essas leis sejam exploradas pela telegrafia etc fazse necessária uma aparelhagem muito custosa e extensa Como vimos a ferramenta não é eliminada pela máquina De uma ferramenta limitada do organismo humano ela se transforma em dimensão e número na de um mecanismo criado pelo homem Em vez de uma ferramenta manual agora o capital põe o trabalhador para operar uma máquina que maneja por si mesma suas próprias ferramentas Contudo se à primeira vista está claro que a grande indústria tem de incrementar extraordinariamente a força produtiva do trabalho por meio da incorporação de enormes forças naturais e das ciências da natureza ao processo de produção ainda não está de modo algum claro por outro lado que essa força produtiva ampliada não seja obtida mediante um dispêndio aumentado de trabalho Como qualquer outro componente do capital constante a maquinaria não 312 cria valor nenhum mas transfere seu próprio valor ao produto para cuja produção ela serve Na medida em que tem valor e por isso transfere valor ao produto ela se constitui num componente deste último Ao invés de barateálo ela o encarece na proporção de seu próprio valor E é evidente que a máquina e a maquinaria sistematicamente desenvolvidas o meio de trabalho característico da grande indústria contêm desproporcionalmente mais valor do que os meios de trabalho da empresa artesanal e manufatureira Agora devemos observar inicialmente que a maquinaria entra sempre por inteiro no processo de trabalho e apenas parcialmente no processo de valorização Ela jamais adiciona um valor maior do que aquele que perde em média devido a seu próprio desgaste de modo que há uma grande diferença entre o valor da máquina e a parcela de valor que ela transfere periodicamente ao produto Ou seja há uma grande diferença entre a máquina como formadora de valor e como elemento formador do produto e essa diferença é tanto maior quanto mais longo for o período durante o qual a mesma maquinaria serve repetidamente no mesmo processo de trabalho Como vimos anteriormente todo meio de trabalho ou de produção propriamente dito entra sempre por inteiro no processo de trabalho ao passo que no processo de valorização ele entra sempre por partes na proporção de seu desgaste diário médio Mas essa diferença entre uso e desgaste é muito maior na maquinaria do que na ferramenta primeiramente porque por ser construída com material mais duradouro a primeira vive por mais tempo em segundo lugar porque sua utilização sendo regulada por rígidas leis científicas permite uma maior economia no desgaste de seus componentes e meios de consumo e finalmente porque seu âmbito de produção é incomparavelmente maior do que o da ferramenta Se subtraímos de ambas da maquinaria e da ferramenta seus custos médios diários ou a porção de valor que agregam ao produto por meio de seu desgaste médio diário e o consumo de matérias acessórias como óleo carvão etc veremos então que elas atuam de graça exatamente como as forças naturais que preexistem à intervenção do trabalho humano Quanto maior a esfera de atuação produtiva da maquinaria em relação ao da ferramenta tanto maior a esfera de seu serviço não remunerado em comparação com o da ferramenta É somente na grande indústria que o homem aprende a fazer o produto de seu trabalho anterior já objetivado atuar gratuitamente em larga escala como uma força da natureza109 Da análise da cooperação e da manufatura resultou que certas condições gerais de produção como os edifícios etc se comparadas com as de produção dispersas de trabalhadores isolados são economizadas mediante o consumo coletivo e por isso encarecem menos o produto Na maquinaria não só o corpo de uma máquina de trabalho é coletivamente consumido por suas múltiplas ferramentas mas a mesma máquina motriz além de ser uma parte do mecanismo de transmissão é coletivamente consumida por muitas máquinas de trabalho Dada a diferença entre o valor da maquinaria e a parcela de valor transferido a seu produto diário o grau em que essa parcela de valor o encarece depende antes de tudo da dimensão dele assim como de sua superfície Numa conferência publicada em 1875 o sr Baynes de Blackburn calcula que cada cavalovapor mecânico e real109a 313 impulsiona 450 fusos da selfacting mule e seus acessórios ou 200 fusos de throstle ou 15 teares para 40 inch cloth pano de 40 polegadas de largura incluindo seus acessórios para levantar a urdidura desenredar o fio etcc Os custos diários de 1 cavalovapor e o desgaste da maquinaria que por ele é posta em movimento se repartem no primeiro caso no produto de 450 fusos de mule no segundo no de 200 fusos de throstle no terceiro no de 15 teares mecânicos de modo que em razão disso apenas uma parcela ínfima de valor é transferida a 1 onça de fio ou a 1 vara de tecido O mesmo ocorre no exemplo anterior com o martelo a vapor Como seu desgaste diário consumo de carvão etc se repartem pelas enormes massas de ferro que ele martela diariamente a cada quintal de ferro só é agregado uma parcela ínfima de valor que seria muito grande se esse instrumento ciclópico fosse utilizado para inserir pequenos pregos Portanto dada a escala de ação da máquina de trabalho o número de suas ferramentas ou em se tratando de força dado seu tamanho a massa de produtos dependerá da velocidade com que ela opera isto é por exemplo da velocidade com que gira o fuso ou do número de golpes que o martelo dá em 1 minuto Muitos desses martelos colossais dão 70 golpes por minuto e a máquina de forjar patenteada por Ryder que emprega martelos a vapor menores para forjar fusos dá 700 golpes Dada a proporção em que a maquinaria transfere valor ao produto a grandeza dessa parcela de valor depende de sua própria grandeza de valor110 Quanto menos trabalho ela contém em si tanto menor é o valor que agrega ao produto Quanto menos valor transfere tanto mais produtiva ela é e tanto mais seu serviço se aproxima daquele prestado pelas forças naturais Todavia a produção de maquinaria por meio da maquinaria reduz seu valor em relação a sua extensão e eficácia Uma análise comparativa entre os preços das mercadorias produzidas de modo artesanal ou manufatureiro e os preços das mesmas mercadorias como produtos da maquinaria resulta em geral que no produto da maquinaria o componente do valor derivado do meio de trabalho cresce em termos relativos mas decresce em termos absolutos I sso significa que sua grandeza absoluta diminui mas sua grandeza aumenta em relação ao valor total do produto por exemplo 1 libra de fio111 É claro que ocorre um mero deslocamento do trabalho portanto que a soma total do trabalho requerido para a produção de uma mercadoria não é diminuída ou a força produtiva do trabalho não é aumentada quando a produção de uma máquina custa a mesma quantidade de trabalho que se economiza em sua aplicação Mas a diferença entre o trabalho que ela custa e o trabalho que economiza ou o grau de sua produtividade não depende evidentemente da diferença entre seu próprio valor e o valor da ferramenta que ela substitui A diferença dura tanto tempo quanto os custos de trabalho da máquina de modo que a parcela de valor por ela adicionada ao produto permanece menor do que o valor que o trabalhador com sua ferramenta adiciona ao objeto do trabalho A produtividade da máquina é medida assim pelo grau em que ela substitui a força humana de trabalho De acordo com o sr Baynes são necessários 25 trabalhadores112 para os 450 fusos de mule e seus acessórios que são movidos por 1 cavalovapor e com cada selfacting mule spindle são fiadas em 10 horas de trabalho diário 13 onças de fio em média portanto 36558 libras de fio semanalmente por 25 314 trabalhadores Em sua transformação em fio cerca de 366 libras de algodão para fins de simplificação desconsideramos o desperdício absorvem assim apenas 150 horas de trabalho ou 15 dias de trabalho de 10 horas enquanto com a roda de fiar caso o fiandeiro manual fornecesse 13 onças de fio em 60 horas a mesma quantidade de algodão absorveria 2700 jornadas de trabalho de 10 horas ou 27 mil horas de trabalho113 Onde o velho método do blockprinting ou da estampagem manual de tecidos foi substituído pela impressão mecânica uma única máquina assistida por um homem adulto ou mesmo um rapaz estampa tanta chita de quatro cores quanto antigamente o faziam duzentos homens114 Antes de Ely Whitney ter inventado em 1793 a cottongin debulhadora de algodão separar 1 libra de algodão da semente consumia uma jornada média de trabalho Sua invenção tornou possível obter diariamente com o trabalho de uma negra 100 libras de algodão com o que a eficiência da gin foi desde então consideravelmente aumentada 1 libra de fibra de algodão antes produzida a 50 cents passa a ser vendida a 10 cents com um lucro maior isto é com a inclusão de mais trabalho não remunerado Na Índia para separar a fibra da semente empregase um instrumento semimecânico a churca com a qual um homem e uma mulher debulham diariamente 28 libras Com a nova churca inventada há alguns anos pelo dr Forbes um homem adulto e um rapaz produzem 250 libras diárias onde bois vapor ou água são usados como forças motrizes exigemse apenas poucos rapazes e moças como feeders que alimentam a máquina com material Dezesseis dessas máquinas movidas por bois executam num dia a tarefa média que antigamente era executada no mesmo período de tempo por 750 pessoas115 Como já mencionado em 1 hora a máquina a vapor realiza no arado a vapor a um custo de 3 pence ou 14 de xelim a mesma obra que antes era realizada por 66 homens a um custo de 15 xelins por hora Retorno a esse exemplo a fim de refutar uma ideia falsa Os 15 xelins não são de modo algum a expressão do trabalho realizado durante 1 hora pelos 66 homens Sendo de 100 a proporção entre o maisvalor e o trabalho necessário esses 66 trabalhadores produziram por hora um valor de 30 xelins ainda que num equivalente para eles mesmos isto é em seu salário de 15 xelins não estejam representadas mais que 33 horas Supondose portanto que uma máquina custa tanto quanto o salário anual de 150 trabalhadores por ela substituídos digamos 3000 esse valor não é de modo algum a expressão monetária do trabalho fornecido por 150 trabalhadores e agregado ao objeto do trabalho mas tão somente a expressão da parcela de seu trabalho anual que se apresenta a eles mesmos como salário Por outro lado o valor monetário da máquina de 3000 expressa todo o trabalho realizado durante sua produção seja qual for a relação com base na qual esse trabalho gere salário para o trabalhador e maisvalor para o capitalista Se portanto a máquina custa tanto quanto a força de trabalho por ela substituída então o trabalho que nela mesma está objetivado é sempre muito menor do que o trabalho vivo por ela substituído116 Considerada exclusivamente como meio de barateamento do produto o limite para o uso da maquinaria está dado na condição de que sua própria produção custe menos trabalho do que o trabalho que sua aplicação substitui Para o capital no entanto esse limite se expressa de forma mais estreita Como ele não paga o trabalho aplicado mas o valor da força de trabalho aplicada o uso da máquina lhe é restringido pela diferença 315 entre o valor da máquina e o valor da força de trabalho por ela substituída Considerandose que a divisão da jornada de trabalho em trabalho necessário e mais trabalho é diversa em diferentes países assim como no mesmo país em diferentes períodos ou durante o mesmo período em diferentes ramos de negócios e considerandose além disso que o verdadeiro salário do trabalhador ora cai abaixo do valor de sua força de trabalho ora aumenta acima dele a diferença entre o preço da maquinaria e o preço da força de trabalho a ser por ela substituída pode variar muito mesmo que a diferença entre a quantidade de trabalho necessário à produção da máquina e a quantidade total de trabalho por ela substituído continue igual116a Mas é apenas a primeira diferença que determina os custos de produção da mercadoria para o próprio capitalista e o influencia mediante as leis coercitivas da competição I sso explica por que hoje na I nglaterra são inventadas máquinas que só encontram aplicação na América do Norte assim como na Alemanha dos séculos XVI e XVI I inventaramse máquinas que só foram utilizadas pela Holanda ou como várias invenções francesas do século XVI I I que só foram exploradas na I nglaterra Em países há mais tempo desenvolvidos a própria máquina produz por meio de sua aplicação em alguns ramos de negócios uma tal superabundância de trabalho redundancy of labour diz Ricardo em outros ramos que a queda do salário abaixo do valor da força de trabalho impede aí o uso da maquinaria tornandoo supérfluo e frequentemente impossível do ponto de vista do capital cujo lucro provém da diminuição não do trabalho aplicado mas do trabalho pago Ao longo dos últimos anos em alguns ramos da manufatura inglesa de lã diminuiu muito o trabalho infantil tendo sido quase suprimido em alguns lugares Por quê A lei fabril tornou necessários dois turnos de crianças dos quais uma trabalha 6 horas e a outra 4 ou 5 horas por turno Mas os pais não aceitavam vender os halftimes meiosturnos mais baratos do que anteriormente o s fulltimes turnos inteiros Daí a substituição dos halftimes pela maquinaria117 Antes da proibição do trabalho de mulheres e crianças menores de 10 anos nas minas o capital considerava o método de utilizarse de mulheres e moças nuas frequentemente unidas aos homens em tão perfeito acordo com seu código moral e sobretudo com seu livrocaixa que somente depois de sua proibição ele recorreu à maquinaria Os ianques inventaram máquinas britadeiras mas os ingleses não as utilizam porque o miserável wretch é a expressão que a economia política inglesa emprega para o trabalhador agrícola que executa esse trabalho recebe como pagamento uma parte tão ínfima de seu trabalho que a maquinaria encareceria a produção para o capitalista118 Na I nglaterra ocasionalmente ainda se utilizam em vez de cavalos mulheres para puxar etc os barcos nos canais119 porque o trabalho exigido para a produção de cavalos e máquinas é uma quantidade matematicamente dada ao passo que o exigido para a manutenção das mulheres da população excedente está abaixo de qualquer cálculo Por essa razão em nenhum lugar se encontra um desperdício mais desavergonhado de força humana para ocupações miseráveis do que justamente na Inglaterra o país das máquinas 3 Efeitos imediatos da produção mecanizada sobre o trabalhador 316 A revolução do meio de trabalho constitui como vimos o ponto de partida da grande indústria e o meio de trabalho revolucionado assume sua forma mais desenvolvida no sistema articulado de máquinas da fábrica Antes de vermos como a esse organismo objetivo se incorpora material humano examinemos algumas repercussões gerais dessa revolução sobre o próprio trabalhador a Apropriação de forças de trabalho subsidiárias pelo capital Trabalho feminino e infantil À medida que torna prescindível a força muscular a maquinaria convertese no meio de utilizar trabalhadores com pouca força muscular ou desenvolvimento corporal imaturo mas com membros de maior flexibilidade Por isso o trabalho feminino e infantil foi a primeira palavra de ordem da aplicação capitalista da maquinaria Assim esse poderoso meio de substituição do trabalho e de trabalhadores transformouse prontamente num meio de aumentar o número de assalariados submetendo ao comando imediato do capital todos os membros da família dos trabalhadores sem distinção de sexo nem idade O trabalho forçado para o capitalista usurpou não somente o lugar da recreação infantil mas também o do trabalho livre no âmbito doméstico dentro de limites decentes e para a própria família120 O valor da força de trabalho estava determinado pelo tempo de trabalho necessário à manutenção não só do trabalhador adulto individual mas do núcleo familiar Ao lançar no mercado de trabalho todos os membros da família do trabalhador a maquinaria reparte o valor da força de trabalho do homem entre sua família inteira Ela desvaloriza assim sua força de trabalho É possível por exemplo que a compra de uma família parcelada em quatro forças de trabalho custe mais do que anteriormente a compra da força de trabalho de seu chefe mas em compensação temos agora quatro jornadas de trabalho no lugar de uma e o preço delas cai na proporção do excedente de maistrabalho dos quatro trabalhadores em relação ao maistrabalho de um Para que uma família possa viver agora são quatro pessoas que têm de fornecer ao capital não só trabalho mas maistrabalho Desse modo a maquinaria desde o início amplia juntamente com o material humano de exploração ou seja com o campo de exploração propriamente dito do capital121 também o grau de exploração Além disso a maquinaria revoluciona radicalmente a mediação formal da relação capitalista o contrato entre trabalhador e capitalista Com base na troca de mercadorias o primeiro pressuposto era de que capitalista e trabalhador se confrontassem como pessoas livres como possuidores independentes de mercadorias sendo um deles possuidor de dinheiro e de meios de produção e o outro possuidor de força de trabalho Agora porém o capital compra menores de idade ou pessoas desprovidas de maioridade plena Antes o trabalhador vendia sua própria força de trabalho da qual dispunha como pessoa formalmente livre Agora ele vende mulher e filho Tornase mercador de escravos122 A demanda por trabalho infantil assemelhase com frequência também em sua forma à demanda por escravos negros como se costumava ler em anúncios de jornais americanos Chamou minha atenção diz por exemplo um inspetor de fábrica inglês um 317 anúncio na folha local de uma das mais importantes cidades manufatureiras de meu distrito que aqui reproduzo precisase de 12 a 20 garotos crescidos o suficiente para que possam se passar por 13 anos Salário 4 por semana Contatar etc123 A frase possam se passar por 13 anos referese a que conforme o Factory Act crianças menores de 13 anos só podem trabalhar 6 horas Um médico oficialmente qualificado certifying surgeon tem de certificar a idade O fabricante exige por isso jovens que aparentem já ter 13 anos Segundo o depoimento dos inspetores de fábrica a diminuição às vezes súbita do número de crianças menores de 13 anos ocupadas pelos fabricantes deviase em grande parte à atuação dos certifying surgeons que aumentavam a idade das crianças de acordo com o afã explorador dos capitalistas e a necessidade de barganha dos pais No malafamado distrito londrino de Bethnal Green tem lugar todas as segundas e terçasfeiras pela manhã um mercado público onde crianças de ambos os sexos a partir de 9 anos de idade alugam a si mesmas para as manufaturas de seda londrinas As condições habituais são 1 xelim e 8 pence por semana soma que pertence aos pais e 2 pence para mim mesmo além de chá Os contratos valem apenas por uma semana As cenas e o linguajar durante o funcionamento desse mercado são verdadeiramente revoltantes124 Na I nglaterra ainda ocorre de mulheres pegarem crianças da workhouse e as alugarem para qualquer comprador por 2 xelins e 6 pence por semana125 Apesar da legislação pelo menos 2 mil adolescentes continuam a ser vendidos por seus próprios pais como máquinas vivas para a limpeza de chaminés embora existam máquinas para substituílos126 A revolução que a maquinaria provocou na relação jurídica entre comprador e vendedor de força de trabalho de modo que a transação inteira perdeu até mesmo a aparência de um contrato entre pessoas livres conferiu ao Parlamento inglês posteriormente a escusa jurídica para a ingerência estatal no sistema fabril Toda vez que a lei fabril limita a 6 horas o trabalho infantil em ramos da indústria até então intocados voltam sempre a ecoar as lamúrias dos fabricantes que parte dos pais retiraria as crianças da indústria agora regulamentada a fim de vendêlas naquelas em que ainda reina a liberdade do trabalho isto é onde crianças menores de 13 anos são forçadas a trabalhar como adultos e podem por conseguinte ser vendidas a um preço maior Mas como o capital é um leveller nivelador por natureza isto é exige em todas as esferas da produção como seu direito humano inato condições iguais para a exploração do trabalho a limitação legal do trabalho infantil num ramo da indústria tornase a causa de sua limitação em outro J á mencionamos a deterioração física das crianças e dos adolescentes bem como das trabalhadoras adultas que a maquinaria submete à exploração do capital primeiro diretamente nas fábricas que se erguem sobre seu fundamento e em seguida indiretamente em todos os outros ramos industriais Por isso detemonos aqui num único ponto a monstruosa taxa de mortalidade de filhos de trabalhadores em seus primeiros anos de vida Na I nglaterra há 16 distritos de registro civil que apresentam na média anual apenas 9085 casos de óbito em um distrito apenas 7047 para cada 100 mil crianças vivas com menos de 1 ano de idade em 24 distritos entre 10 e 11 mil em 39 distritos entre 11 e 12 mil em 48 distritos entre 12 e 13 mil em 22 distritos mais de 20 mil em 25 distritos mais de 21 mil em 17 mais de 22 mil em 11 mais de 318 inculto sem estragar sua capacidade de desenvolvimento sua própria fecundidade natural acabou por obrigar até mesmo o Parlamento inglês a fazer do ensino elementar a condição legal para o uso produtivo de crianças menores de 14 anos em todas as indústrias sujeitas à lei fabril O espírito da produção capitalista resplandece com toda claridade na desleixada redação das assim chamadas cláusulas educacionais das leis fabris na falta de um aparato administrativo sem o qual esse ensino compulsório se torna em grande parte ilusório na oposição dos fabricantes até mesmo a essa lei do ensino e nos subterfúgios e trapaças práticas a que recorrem para burlála A culpa cabe unicamente ao poder legislativo por ter aprovado uma lei enganosa delusive law que sob a aparência de cuidar da educação das crianças não contém um único dispositivo que assegure o cumprimento desse pretenso objetivo Nada determina salvo que as crianças durante certa quantidade de horas diárias 3 horas devem permanecer encerradas entre as quatro paredes de um lugar chamado escola e que o patrão da criança deve receber semanalmente um certificado emitido por uma pessoa que assina na qualidade de professor ou professora136 Antes que se promulgasse a lei fabril emendada de 1844 não era raro que os certificados de frequência escolar viessem assinados com uma cruz pelo professor ou professora pois eles mesmos não sabiam escrever Ao visitar uma escola que expedia tais certificados impressionoume tanto a ignorância do professor que lhe perguntei Desculpe mas o senhor sabe ler Sua resposta foi Bom alguma coisa summat Para se justificar acrescentou De qualquer modo estou à frente de meus alunos Durante a elaboração da lei de 1844 os inspetores de fábrica denunciaram a situação vergonhosa dos locais chamados de escolas e cujos certificados eles tinham de aceitar como plenamente válidos do ponto de vista legal Tudo o que lograram foi que a partir de 1844 os números no certificado escolar tinham de ser preenchidos pelo próprio professor que também tinha de assinálo com seu nome e sobrenome137 Sir J ohn Kincaid inspetor de fábrica na Escócia relata experiências semelhantes no exercício de sua função A primeira escola que visitamos era mantida por uma tal de Mrs Ann Killin Respondendo à minha solicitação de que soletrasse seu nome ela logo cometeu um deslize ao começar com a letra C mas corrigindose de pronto disse que seu sobrenome é que começava com K Olhando sua assinatura nos livros de certificados escolares reparei no entanto que ela o escrevia de diferentes maneiras ao mesmo tempo que sua caligrafia não deixava qualquer dúvida acerca de sua inépcia para o magistério Ela própria reconheceu que não sabia preencher o registro Numa segunda escola encontrei uma sala de aula de 15 pés de comprimento e 10 pés de largura e contei nesse espaço 75 crianças a grunhir algo incompreensível138 No entanto não é apenas nesses antros lamentáveis que as crianças recebem certificados escolares sem nenhuma instrução pois em muitas outras escolas apesar de o professor ser competente seus esforços fracassam quase que por completo em meio à turba desnorteante de crianças de todas as idades a partir de 3 anos Seus ganhos miseráveis no melhor dos casos dependem inteiramente do número de pence que ele recebe do maior número possível de crianças que possam ser espremidas numa sala A isso se acrescenta o módico mobiliário escolar a falta de livros e outros materiais didáticos e o efeito deprimente que exerce sobre as pobres crianças uma atmosfera viciada e fétida Estive em muitas dessas escolas onde vi turmas inteiras de crianças fazendo absolutamente nada e isso é atestado como frequência escolar e tais crianças figuram na estatística oficial como educadas educated139 Na Escócia os fabricantes procuram na medida do possível excluir as crianças obrigadas a frequentar a escola o que basta para evidenciar o grande repúdio dos fabricantes contra as cláusulas educacionais140 320 23 mil em Hoo Wolverhampton AshtonunderLyne e Preston mais de 24 mil Nottingham Stockport e Bradford mais de 25 mil em Wisbeach 26001 e em Manchester 26125127 Como evidenciado uma investigação médica oficial em 1861 desconsiderandose as circunstâncias locais as altas taxas de mortalidade se devem preferencialmente à ocupação extradiciliar das mães que acarreta o descuido e os maustratos infligidos às crianças aí incluindo entre outras coisas uma alimentação inadequada ou a falta dela a administração de opiatos etc além do imatural estranhamento da mãe em relação a seus filhos que resulta em sua esmaecimento e envenenamento intencionais Já nos distritos agrícolas em que a ocupação feminina é mínima a taxa de mortalidade é ao contrário a menor de todas Porém a comissão de inquérito de 1861 chegou ao resultado inesperado de que em distritos puramente agrícolas situados na costa do mar do Norte a taxa de mortalidade de crianças menores de 1 ano quase alcançou a dos distritos fabris de pior fama Isso foi contado como o dr Julian Hunter fosse incumbido de investigar esse fenômeno in loco Seu relatório está incorporado ao VI Report on Public Health Até então supunhase que a malária e outras doenças típicas de áreas baixas e pantanosas eram as responsáveis pela dizimação das crianças A investigação revelou exatamente o contrário a saber que a mesma causa que erradicou a malária isto é a transformação do solo pantanoso durante o inverno e de áridas pastagens durante o verão em terra fértil para a plantação de cereais provocou a extraordinária taxa de mortalidade entre os lactantes Os 70 clínicos gerais ouvidos pelo dr Hunter naqueles distritos foram impressionantemente unânimes quanto a esse ponto Com a revolução no cultivo do solo houve a completa destruição do sistema industrial Mulheres casadas que dividiam em bandos trabalhavam junto com homens e rapazes são postas à disposição do canteiro de obra tornandose como o mestre do bando Gangmeister que aluga o bando interior por certa quantia Esses bandos costumam de deslocar muitas milhas para longe das aldeias podendo ser encontradas pelas estradas rurais da manhã a anoitecer as mulheres vestindo saias curtas e botas correspondentes e às vezes calças muito fortes e saudáveis na aparência mas arruinadas pela depravação habitual e indiferentes às consequências nefastas que sua predileção por esse modo de vida ativo e independente acarreta a seus rebentos que definhavam em casa I sso se mostra de maneira grotesca e repulsiva nas estamparias de chita etc que são regulamentadas por uma lei fabril própria Conforme os dispositivos dessa lei toda criança para que possa ser empregada numa dessas estamparias precisa ter frequentado a escola por pelo menos 30 dias e por não menos de 150 horas durante os 6 meses imediatamente anteriores ao primeiro dia de seu emprego Ao longo do período de seu emprego na estamparia ela também precisa frequentar a escola por um período de 30 dias e de 150 horas a cada semestre letivo A frequência à escola tem de ocorrer entre 8 horas da manhã e 6 horas da tarde Nenhuma frequência inferior a 212 horas nem superior a 5 horas no mesmo dia deve ser computada como parte das 150 horas Em circunstâncias normais as crianças frequentam a escola pela manhã e à tarde por 30 dias 5 horas por dia e decorridos os 30 dias atingido o total estatuído de 150 horas quando para falar sua própria língua elas terminaram seu livro retornam à estamparia onde permanecem de novo por 6 meses até que vença o próximo prazo de frequência escolar quando então retornam à escola e lá permanecem até que o livro esteja novamente terminado Muitos jovens que frequentam a escola durante as 150 horas regulamentares ao retornar à escola após a permanência de 6 meses na estamparia encontramse no mesmo ponto em que estavam no começo Naturalmente perderam tudo que haviam adquirido com sua frequência escolar anterior Em outras estamparias de chita a frequência escolar é tornada inteiramente dependente das necessidades de trabalho na fábrica O número requerido de horas é preenchido ao longo de cada período semestral em prestações de 3 a 5 horas por vez que podem ser dispersas pelos 6 meses Por exemplo num dia a escola é frequentada das 8 às 11 horas da manhã noutro dia da 1 às 4 horas da tarde e depois que a criança se ausenta por alguns dias consecutivos retorna subitamente à escola das 3 às 6 horas da tarde é possível que ela compareça então por 3 a 4 dias consecutivos ou por 1 semana mas apenas para voltar a desaparecer por 3 semanas ou por 1 mês inteiro retornando apenas por algumas horas poupadas nos dias restantes caso seu empregador não necessite dela e assim a criança é por assim dizer chutada buffeted da escola para a fábrica da fábrica para a escola até que se tenha cumprido a soma de 150 horas141 Com a incorporação massiva de crianças e mulheres ao pessoal de trabalho combinado a maquinaria termina por quebrar a resistência que na manufatura o trabalhador masculino ainda opunha ao despotismo do capital142 b Prolongamento da jornada de trabalho Se a maquinaria é o meio mais poderoso de incrementar a produtividade do trabalho isto é de encurtar o tempo de trabalho necessário à produção de uma mercadoria ela se converte como portadora do capital nas indústrias de que imediatamente se apodera no meio mais poderoso de prolongar a jornada de trabalho para além de todo limite natural Ela cria por um lado novas condições que permitem ao capital soltar as rédeas dessa sua tendência constante e por outro novos incentivos que aguçam sua voracidade por trabalho alheio Primeiramente na maquinaria adquirem autonomia em face do operário o movimento e a atividade operativa do meio de trabalho Este se transforma por si mesmo num perpetuum mobile industrial que continuaria a produzir ininterruptamente se não se chocasse com certos limites naturais inerentes a seus auxiliares humanos debilidade física e vontade própria Como capital e como tal o autômato tem no capitalista consciência e vontade a maquinaria é movida pela tendência a reduzir ao mínimo as barreiras naturais humanas resistentes porém elásticas143 Tal resistência é de todo modo reduzida pela aparente facilidade do trabalho na máquina e pela maior ductibilidade e flexibilidade do elemento feminino e infantil144 A produtividade da maquinaria como vimos é inversamente proporcional à grandeza da parcela de valor por ela transferida ao produto Quanto mais tempo ela funciona maior é a massa de produtos sobre a qual se reparte o valor por ela 321 adicionado e menor é a parcela de valor que ela adiciona à mercadoria individual Mas o tempo de vida ativa da maquinaria é claramente determinado pela duração da jornada de trabalho ou do processo de trabalho diário multiplicado pelo número de dias em que ele se repete Entre o desgaste das máquinas e seu tempo de uso não existe em absoluto uma correspondência matematicamente exata E mesmo partindose desse pressuposto uma máquina que funciona 16 horas por dia durante 7 anos e abrange um período de produção tão grande e adiciona ao produto tanto valor quanto a mesma máquina o faria se funcionasse apenas 8 horas por dia durante 15 anos No primeiro caso porém o valor da máquina seria reproduzido duas vezes mais rapidamente do que no segundo e por meio dela o capitalista teria apropriado em 7 anos e meio tanto mais trabalho quanto no segundo caso em 15 anos O desgaste material da máquina é duplo Um deles decorre de seu uso como moedas se desgastam com a circulação o outro de seu não uso como uma espada inativa enferruja na bainha Esse é seu consumo pelos elementos O desgaste do primeiro tipo se dá na proporção mais ou menos direta de seu uso o segundo até certo ponto na proporção inversa a seu uso145 Mas além do desgaste material a máquina sofre por assim dizer um desgaste moral Ela perde valor de troca na medida em que máquinas de igual construção podem ser reproduzidas de forma mais barata ou que máquinas melhores passam a lhe fazer concorrência146 Em ambos os casos seu valor por mais jovem e vigorosa que a máquina ainda possa ser já não é determinado pelo tempo de trabalho efetivamente objetivado nela mesma mas pelo tempo de trabalho necessário à sua própria reprodução ou à reprodução da máquina aperfeiçoada É isso que a desvaloriza em maior ou menor medida Quanto mais curto o período em que seu valor total é reproduzido tanto menor o perigo da depreciação moral e quanto mais longa a jornada de trabalho tanto mais curto é aquele período À primeira introdução da maquinaria em qualquer ramo da produção seguemse gradativamente novos métodos para o barateamento de sua reprodução147 além de aperfeiçoamentos que afetam não apenas partes ou mecanismos isolados mas sua estrutura inteira Razão pela qual em seu primeiro período de vida esse motivo especial para se prolongar a jornada de trabalho atua de maneira mais intensa148 Permanecendo inalteradas as demais circunstâncias e com uma jornada de trabalho dada a exploração do dobro de trabalhadores exige igualmente a duplicação da parcela do capital constante investida em maquinaria e edifícios assim como daquela investida em matériaprima matérias auxiliares etc Com a jornada de trabalho prolongada ampliase a escala da produção enquanto o capital investido em maquinaria e edifícios permanece inalterado149 Por isso não só cresce o maisvalor como decrescem os gastos necessários para sua extração É verdade que isso também ocorre em maior ou menor medida em todo prolongamento da jornada de trabalho mas aqui ele tem um peso mais decisivo porquanto a parte do capital transformada em meio de trabalho é em geral mais importante150 Com efeito o desenvolvimento da produção mecanizada fixa uma parte sempre crescente do capital numa forma em que ele por um lado pode ser continuamente valorizado e por outro perde valor de 322 uso e valor de troca tão logo seu contato com o trabalho vivo seja interrompido Quando um trabalhador agrícola ensina o sr Ashworth magnata inglês do algodão ao professor Nassau W Senior põe de lado sua pá ele torna inútil por esse período um capital de 18 pence Quando um dos nossos isto é um dos operários fabris abandona a fábrica ele torna inútil um capital que custou 100000151 Ora onde já se viu Tornar inútil mesmo que por um instante apenas um capital que custou 100000 É de fato uma atrocidade que um de nossos homens abandone a fábrica por uma única vez O volume crescente da maquinaria como o adverte Senior doutrinado por Ashworth torna desejável um prolongamento cada vez maior da jornada de trabalho152 A máquina produz maisvalor relativo não só ao desvalorizar diretamente a força de trabalho e indiretamente baratear esta última por meio do barateamento das mercadorias que entram em sua reprodução mas também porque em sua primeira aplicação esporádica ela transforma o trabalho empregado pelo dono das máquinas em trabalho potenciado eleva o valor social do produto da máquina acima de seu valor individual e assim possibilita ao capitalista substituir o valor diário da força de trabalho por uma parcela menor de valor do produto diário Durante esse período de transição em que a indústria mecanizada permanece uma espécie de monopólio os ganhos são extraordinários e o capitalista procura explorar ao máximo esse primeiro tempo do jovem amore por meio do maior prolongamento possível da jornada de trabalho A grandeza do ganho aguça a voracidade por mais ganho Com a generalização da maquinaria num mesmo ramo de produção o valor social do produto da máquina decresce até atingir seu valor individual e assim estabelece a lei de que o maisvalor não provém das forças de trabalho que o capitalista substituiu pela máquina mas inversamente das forças de trabalho que ele emprega para operar esta última O maisvalor provém unicamente da parcela variável do capital e vimos que a massa do maisvalor é determinada por dois fatores a taxa do maisvalor e o número de trabalhadores simultaneamente ocupados Dada a extensão da jornada de trabalho a taxa de maisvalor é determinada pela proporção em que a jornada de trabalho se divide em trabalho necessário e maistrabalho O número de trabalhadores simultaneamente ocupados depende por sua vez da proporção entre as partes variável e constante do capital Ora é claro que a indústria mecanizada por mais que à custa do trabalho necessário expanda o maistrabalho mediante o aumento da força produtiva do trabalho só chega a esse resultado ao diminuir o número de trabalhadores ocupados por um dado capital Ela transforma em maquinaria isto é em capital constante que não produz maisvalor uma parcela do capital que antes era variável isto é que antes se convertia em força de trabalho viva É impossível por exemplo extrair de 2 trabalhadores o mesmo maisvalor que de 24 Se cada um dos 24 trabalhadores fornece somente 1 hora de maistrabalho em 12 horas eles fornecem em conjunto 24 horas de maistrabalho ao passo que 24 horas é o tempo de trabalho total dos 2 trabalhadores Na aplicação da maquinaria à produção de maisvalor reside portanto uma contradição imanente já que dos dois fatores que compõem o mais valor fornecido por um capital de dada grandeza um deles a taxa de maisvalor aumenta somente na medida em que reduz o outro fator o número de trabalhadores Essa contradição imanente se manifesta assim que com a generalização da maquinaria 323 num ramo industrial o valor da mercadoria produzida mecanicamente se converte no valor social que regula todas as mercadorias do mesmo tipo e é essa contradição que por sua vez impele o capital sem que ele tenha consciência disso153 a prolongar mais intensamente a jornada de trabalho a fim de compensar a diminuição do número proporcional de trabalhadores explorados por meio do aumento não só do mais trabalho relativo mas também do absoluto Se portanto o emprego capitalista da maquinaria cria por um lado novos e poderosos motivos para o prolongamento desmedido da jornada de trabalho revolucionando tanto o modo de trabalho como o caráter do corpo social de trabalho e assim quebrando a resistência a essa tendência ela produz por outro lado em parte mediante o recrutamento para o capital de camadas da classe trabalhadora que antes lhe eram inacessíveis em parte liberando os trabalhadores substituídos pela máquina uma população operária redundante154 obrigada a aceitar a lei ditada pelo capital Daí este notável fenômeno na história da indústria moderna a saber de que a máquina joga por terra todas as barreiras morais e naturais da jornada de trabalho Daí o paradoxo econômico de que o meio mais poderoso para encurtar a jornada de trabalho se converte no meio infalível de transformar todo o tempo de vida do trabalhador e de sua família em tempo de trabalho disponível para a valorização do capital Sonhava Aristóteles o maior pensador da Antiguidade se cada ferramenta obedecendo a nossas ordens ou mesmo pressentindoas pudesse executar a tarefa que lhe é atribuída do mesmo modo como os artefatos de Dédalo se moviam por si mesmos ou como as trípodes de Hefesto se dirigiam por iniciativa própria ao trabalho sagrado se assim as lançadeiras tecessem por si mesmas nem o mestreartesão necessitaria de ajudantes nem o senhor necessitaria de escravos155 E Antípatro poeta grego da época de Cícero elogiava a invenção do moinho hidráulico para a moagem de cereais essa forma elementar de toda maquinaria produtiva como libertadora das escravas e criadora da I dade do Ouro156 Os pagãos sim os pagãos Como descobriu o sagaz Bastiat e antes dele o ainda mais arguto MacCulloch esses pagãos não entendiam nada de economia política nem de cristianismo Não entendiam entre outras coisas que a máquina é o meio mais eficaz para o prolongamento da jornada de trabalho J ustificavam ocasionalmente a escravidão de uns como meio para o pleno desenvolvimento humano de outros Mas pregar a escravidão das massas como meio para transformar alguns arrivistas toscos ou semicultos em eminent spinners fiandeiros proeminentes extensive sausagemakers grandes fabricantes de embutidos e influential shoe black dealers influentes comerciantes de graxa de sapatos para isso lhes faltava o órgão especificamente cristão c Intensificação do trabalho O prolongamento desmedido da jornada de trabalho que a maquinaria provoca em mãos do capital suscita mais adiante como vimos uma reação da sociedade ameaçada em sua raízes vitais e com isso a fixação de uma jornada normal de trabalho legalmente limitada Com base nesta última desenvolvese um fenômeno de importância decisiva com que já nos deparamos anteriormente a intensificação do trabalho Na análise do maisvalor absoluto tratavase inicialmente da grandeza 324 extensiva do trabalho ao passo que seu grau de intensidade era pressuposto como dado Cabe examinar agora a transformação da grandeza extensiva em grandeza intensiva ou de grau É evidente que com o progresso do sistema da maquinaria e a experiência acumulada de uma classe própria de operadores de máquinas aumenta natural espontaneamente a velocidade e com ela a intensidade do trabalho Assim na I nglaterra o prolongamento da jornada de trabalho andou durante meio século de mãos dadas com a intensificação crescente do trabalho fabril Contudo é facilmente compreensível que no caso de um trabalho constituído não de paroxismos transitórios mas de uma uniformidade regular repetida dia após dia é preciso alcançar um ponto nodal em que o prolongamento da jornada de trabalho e a intensidade do trabalho se excluam reciprocamente de modo que o prolongamento da jornada de trabalho só seja compatível com um grau menor de intensidade do trabalho e inversamente um grau maior de intensidade só seja compatível com a redução da jornada de trabalho Assim que a revolta crescente da classe operária obrigou o Estado a reduzir à força o tempo de trabalho e a impor à fábrica propriamente dita uma jornada normal de trabalho ou seja a partir do momento em que a produção crescente de maisvalor mediante o prolongamento da jornada de trabalho estava de uma vez por todas excluída o capital lançouse com todo seu poder e plena consciência à produção de maisvalor relativo por meio do desenvolvimento acelerado do sistema da maquinaria Ao mesmo tempo operouse uma modificação no caráter do maisvalor relativo Em geral o método de produção do maisvalor relativo consiste em fazer com que o trabalhador por meio do aumento da força produtiva do trabalho seja capaz de produzir mais com o mesmo dispêndio de trabalho no mesmo tempo O mesmo tempo de trabalho agrega ao produto total o mesmo valor de antes embora esse valor de troca inalterado se incorpore agora em mais valores de uso provocando assim uma queda no valor da mercadoria individual Diferente porém é o que ocorre quando a redução forçada da jornada de trabalho juntamente com o enorme impulso que ela imprime no desenvolvimento da força produtiva e à redução de gastos com as condições de produção impõe no mesmo período de tempo um dispêndio aumentado de trabalho uma tensão maior da força de trabalho um preenchimento mais denso dos poros do tempo de trabalho isto é impõe ao trabalhador uma condensação do trabalho num grau que só pode ser atingido com uma jornada de trabalho mais curta Essa compressão de uma massa maior de trabalho num dado período de tempo mostrase agora como ela é uma quantidade maior de trabalho Ao lado da medida do tempo de trabalho como grandeza extensiva apresentase agora a medida de seu grau de condensação157 A hora mais intensa da jornada de trabalho de 10 horas encerra tanto ou mais trabalho isto é força de trabalho despendida que a hora mais porosa da jornada de trabalho de 12 horas Seu produto tem por isso tanto ou mais valor que o produto da 115 hora mais porosa Desconsiderando a elevação do maisvalor relativo pela força produtiva aumentada do trabalho podemos dizer por exemplo que 313 horas de maistrabalho sobre 623 horas de trabalho necessário fornecem agora ao capitalista a mesma massa de valor que antes lhe era fornecida por 4 horas de maistrabalho sobre 8 horas de trabalho 325 força num tempo dado passa a ser imposta por lei a máquina se converte nas mãos do capitalista no meio objetivo e sistematicamente aplicado de extrair mais trabalho no mesmo período de tempo I sso se dá de duas maneiras pela aceleração da velocidade das máquinas e pela ampliação da escala da maquinaria que deve ser supervisionada pelo mesmo operário ou do campo de trabalho deste último A construção aperfeiçoada da maquinaria é em parte necessária para que se possa exercer uma maior pressão sobre o trabalhador e em parte acompanha por si mesma a intensificação do trabalho uma vez que a limitação da jornada de trabalho obriga o capitalista a exercer o mais rigoroso controle sobre os custos de produção O aperfeiçoamento da máquina a vapor aumenta o número de golpes que seu pistão dá por minuto ao mesmo tempo que torna possível por meio de uma maior economia de força acionar com o mesmo motor um mecanismo maior e com um consumo igual ou até menor de carvão O aperfeiçoamento do mecanismo de transmissão diminui o atrito e o que distingue com tanta evidência a maquinaria moderna da antiga reduz progressivamente o diâmetro e o peso das árvores de transmissão grandes e pequenas Por último os aperfeiçoamentos da maquinaria de trabalho ao mesmo tempo que aumentam sua velocidade e eficácia diminuem seu tamanho como no caso do moderno tear a vapor ou aumentam juntamente com o tamanho do corpo da máquina o volume e o número de ferramentas que ela opera como no caso da máquina de fiar ou ainda ampliam a mobilidade dessas ferramentas por meio de imperceptíveis modificações de detalhes como aquelas que na metade dos anos 1850 aumentaram em 15 a velocidade dos fusos da selfacting mule Na I nglaterra a redução da jornada de trabalho para 12 horas data de 1832 J á em 1836 declarava um fabricante inglês comparado com o de outrora o trabalho que agora se executa nas fábricas cresceu muito em virtude da atenção e da atividade maiores que a velocidade aumentada da maquinaria exige do operário164 Em 1844 lord Ashley hoje conde de Shaftesbury realizou na Câmara dos Comuns a seguinte exposição baseada em documentos O trabalho realizado pelos ocupados nos processos fabris é agora três vezes maior do que quando da introdução dessas operações Sem dúvida a maquinaria tem realizado uma tarefa que substitui os tendões e músculos de milhões de seres humanos mas também tem aumentado prodigiosamente prodigiously o trabalho daqueles submetidos a seu terrível movimento Em 1815 o trabalho de acompanhar por 12 horas o vaivém de um par de mules a fiar o fio Ne 40f requeria caminhar uma distância de 8 milhas Em 1832 acompanhar um par de mules a produzir por 12 horas o fio de mesmo título exigia percorrer 20 milhas ou mais Em 1825 o fiandeiro tinha de realizar no período de 12 horas 820 tiradas em cada mule o que resultava num total de 1640 tiradas em 12 horas Em 1832 durante sua jornada de trabalho de 12 horas ele tinha de realizar 2200 tiradas em cada mule o que dava um total de 4400 tiradas em 1844 2400 em cada mule num total de 4800 sendo que em alguns casos o montante de trabalho amount of labor exigido é ainda maior Disponho aqui de um outro documento de 1842 que prova que o trabalho aumenta progressivamente não só porque é preciso percorrer uma distância maior mas porque a quantidade de mercadorias produzidas aumenta enquanto diminui proporcionalmente a mão de obra e além disso porque agora o algodão é frequentemente de qualidade inferior exigindo mais trabalho para sua fiação No setor de cardagem também houve um grande aumento de trabalho Uma pessoa executa agora o trabalho que antes era compartilhado por duas Na tecelagem que emprega um grande número de pessoas sobretudo do sexo feminino o trabalho cresceu nos últimos anos no mínimo 10 em consequência da maior velocidade da maquinaria Em 1838 o número de hanks novelas fiados semanalmente era de 18 mil em 1843 ele alcançou 21 mil Em 1819 o número de picks passadas na lançadeira no tear a vapor era de 60 por minuto em 1842 era de 140 o que indica um grande aumento de trabalho165 Diante da notável intensidade que o trabalho atingira já em 1844 sob a vigência da 327 Agora perguntase como o trabalho é intensificado O primeiro efeito da jornada de trabalho reduzida decorre da lei óbvia de que a eficiência da força de trabalho é inversamente proporcional a seu tempo de operação Assim dentro de certos limites o que se perde em duração ganhase no grau de esforço realizado Mas o capital assegura mediante o método de pagamento que o trabalhador efetivamente movimente mais força de trabalho Em manufaturas como na olharia onde a maquinaria desempenha papel nenhum ou insignificante a introdução da lei fabril demonstrou de modo cabal que a mera redução da jornada de trabalho provoca um admirável aumento da regularidade uniformidade ordem continuidade e energia de trabalho Esse efeito parecia no entanto algo duvidoso na fábrica propiamente dita pois nela a dependência do trabalhador em relação ao movimento contínuo e uniforme da máquina já criara a mais rigorosa disciplina Por isso em 1844 quando se discutiu a redução da jornada de trabalho para menos de 12 horas os fabricantes declararam quase unanimemente que seus capatazes vigiavam cuidadosamente nas diversas dependências de trabalho para que a mão de obra não perdesse um só instante dificilmente se poderia aumentar o grau de vigilância e atenção por parte dos trabalhadores the extent of vigilance and attention on the part of the workmen e que pressupondose como constantes todas as demais circunstâncias tais como o funcionamento da maquinaria etc seria portanto absurdo esperar nas fábricas bem administradas qualquer resultado importante derivado de uma maior atenção etc por parte dos trabalhadores Essa afirmação foi refutada por diversos experimentos Em suas duas grandes fábricas em Preston o sr R Gardner determinou a partir de 20 de abril de 1844 que se trabalhasse apenas 11 horas por dia Transcorrendo um prazo de mais ou menos um ano o resultado foi que se obteve mais do que antes em 12 exclusivamente por causa da maior constância e uniformidade no trabalho dos operários e à maior economia de seu tempo Enquanto estes recebiam o mesmo salário e ganhavam 1 hora de tempo livre o capitalista obtinha a mesma massa de produtos e poupava 1 hora de trabalho com carvão gás etc Experiências semelhantes foram realizadas com igual êxito nas fábricas dos senhores Horrocks e Jacskon Tão logo a redução da jornada de trabalho que cria condição subjetiva para a economia de seu tempo pelo que poupava um trabalhador de exteriorizar mais esforços é que se se deve confundir com aquela ignorância natural onde se deixou expor o que é em si realmente necessário lei das 12 horas pareceu justificada naquela ocasião a declaração dos fabricantes ingleses segundo a qual seria impossível realizar qualquer progresso ulterior nessa direção de modo que qualquer nova diminuição do tempo de trabalho equivaleria doravante à redução da produção A aparente correção de seu raciocínio é demonstrada da melhor forma pelas seguintes afirmações feitas na mesma época por seu intrépido censor o inspetor de fábrica Leonard Horner Como a quantidade produzida é regulada sobretudo pela velocidade da maquinaria é necessariamente do interesse do fabricante fazêla funcionar com o grau máximo de velocidade o que impõe as seguintes condições preservação da maquinaria contra desgaste precoce conservação da qualidade do artigo fabricado e capacidade do operário de acompanhar o movimento das máquinas sem um esforço maior do que pode realizar continuamente Ocorre com frequência que o fabricante em sua pressa acelera demais o movimento Com isso as quebras e o trabalho malfeito contrapesam a velocidade e ele é obrigado a moderar o ritmo da maquinaria Considerando que um fabricante ativo e inteligente encontra por fim o máximo exequível chego à conclusão de que é impossível produzir em 11 horas tanto quanto em 12 Suponho além disso que o operário pago por peça se esforça ao máximo enquanto pode suportar de modo contínuo o mesmo grau de trabalho166 Horner conclui assim que apesar dos experimentos de Gardner etc uma redução ulterior da jornada de trabalho abaixo de 12 horas teria de diminuir a quantidade do produto167 Ele mesmo cita 10 anos mais tarde suas reflexões de 1845 como prova de quão pouco ele compreendia àquela época a elasticidade da maquinaria e da força de trabalho humana ambas estendidas ao máximo pela redução forçada da jornada de trabalho Passemos agora ao período que se segue à introdução em 1847 da Lei das 10 Horas nas fábricas inglesas de algodão lã seda e linho O aumento da velocidade dos fusos nas throstles foi de 500 e nas mules de mil rotações por minuto quer dizer a velocidade dos fusos das throstles que era de 4500 rotações por minuto em 1839 atinge agora 1862 5 mil e a dos fusos de mule que era de 5 mil atinge agora 6 mil rotações por minuto o que representa no primeiro caso uma velocidade adicional de 110 e no segundo de 15168 J ames Nasmyth o célebre engenheiro civil de Patricroft nos arredores de Manchester expôs em 1852 numa carta a Leonard Horner os aperfeiçoamentos introduzidos de 1848 a 1852 na máquina a vapor Depois de observar que a força em cavalosvapor que nas estatísticas fabris são estimados sempre de acordo com o rendimento dessas máquinas em 1828169 é apenas um valor nominal e não pode servir senão de índice de sua força real ele afirma entre outras coisas Não resta dúvida de que maquinaria a vapor de mesmo peso e muitas vezes máquinas idênticas nas quais apenas foram adaptados os aperfeiçoamentos modernos executam em média 50 mais trabalho do que antes e de que em muitos casos as mesmas máquinas a vapor que nos tempos da velocidade limitada a 228 pés por minuto forneciam 50 cavalos de força hoje com consumo menor de carvão fornecem mais de 100 A moderna máquina a vapor com a mesma potência nominal em cavalosvapor funciona com uma potência maior do que antes em virtude dos aperfeiçoamentos realizados em sua construção do tamanho menor e da disposição da caldeira etc Por isso ainda que proporcionalmente aos cavalosvapor nominais empreguese o mesmo número de trabalhadores que antes menos braços são agora utilizados em relação à maquinaria de trabalho170 Em 1850 as fábricas do Reino Unido utilizavam 134217 cavalosvapor nominais para mover 25638716 fusos e 301445 teares Em 1856 o número de fusos e de teares era respectivamente de 33503580 e 369205 Se a potência exigida tivesse permanecido a mesma que em 1850 seriam necessários em 1856 175000 cavalos vapor Porém de acordo com os dados oficiais ela só chegava a 161435 portanto mais 328 de 10 mil cavalosvapor a menos do que a estimativa feita sobre a base de 1850171 Os fatos constatados pelo último return de 1856 estatística oficial dão conta que o sistema fabril se expande com enorme velocidade que o número de operários diminuiu em proporção à maquinaria que a máquina a vapor graças à economia de força e a outros métodos movimenta um peso mecânico maior e que se produz em maior quantidade por conta das máquinas de trabalho aperfeiçoadas dos métodos modificados de fabricação da velocidade mais elevada da maquinaria e de muitos outros fatores172 As grandes melhorias introduzidas em máquinas de todo tipo aumentaram em muito sua força produtiva Não resta dúvida de que a redução da jornada de trabalho deu o impulso para esses aperfeiçoamentos Estes últimos e o esforço mais intenso do trabalhador fazem com que seja fornecido ao menos tanto produto durante a jornada de trabalho reduzida em 2 horas ou 16 quanto anteriormente durante a jornada de trabalho mais longa173 Que o enriquecimento dos fabricantes aumentou com a exploração mais intensiva da força de trabalho é demonstrado já pela circunstância de que no período entre 1838 e 1850 o crescimento médio das fábricas inglesas de algodão etc foi de 32 por ano ao passo que entre 1850 e 1856 ele foi de 86 por anog Por maior que tenha sido o progresso da indústria inglesa nos 8 anos entre 1848 e 1856 sob o regime da jornada de trabalho de 10 horas ele foi superado de longe nos 6 anos seguintes de 1856 a 1862 Na fabricação de seda por exemplo havia em 1856 1093799 fusos em 1862 1388544 em 1856 havia 9260 teares em 1862 10709 Em contrapartida o número de operários era de 56137 em 1856 e de 52429 em 1862 I sso significa um aumento de 269 no número de fusos e de 156 no de teares contra uma redução simultânea de 7 no número de operários Em 1850 as fábricas de worsted estame empregavam 875830 fusos em 1856 1324549 aumento de 512 e em 1862 1289172 diminuição de 27 Porém deduzidos os fusos de torcer que figuram no censo de 1856 mas não no de 1862 o número de fusos permaneceu aproximadamente estacionário desde 1856 Desde 1850 no entanto a velocidade dos fusos e teares foi em muitos casos duplicada O número de teares a vapor na fabricação de worsted era em 1850 de 32617 em 1856 38956 e em 1862 43048 Nessa indústria estavam ocupadas em 1850 79737 pessoas em 1856 87794 e em 1862 86063 entre elas porém as crianças menores de 14 anos somavam em 1850 9956 em 1856 11228 e em 1862 13178 Não obstante o número muito maior de teares a comparação de 1862 com 1856 mostra que o número global de operários ocupados diminuiu e o de crianças exploradas aumentou174 A 27 de abril de 1863 declarava o deputado Ferrand na Câmara Baixa Delegados dos trabalhadores de 16 distritos de Lancashire e Cheshire em nome dos quais eu falo informaram me que o trabalho nas fábricas em razão do aperfeiçoamento da maquinaria tem aumentado constantemente Onde antes uma pessoa com ajudantes cuidava de dois teares agora ela cuida sem ajudantes de três e não é nada incomum que uma pessoa chegue a cuidar de quatro teares etc Dos fatos informados se depreende pois que 12 horas de trabalho são agora espremidas em menos de 10 horas Evidenciase assim em que proporção monstruosa aumentou a faina dos operários fabris nos últimos anos175 Por isso embora os inspetores de fábrica não se cansem de elogiar e com toda razão os resultados favoráveis das leis fabris de 1844 e 1850 eles reconhecem que a redução da jornada de trabalho provocou uma intensificação do trabalho perniciosa à saúde dos trabalhadores e portanto à própria força de trabalho Na maioria das fábricas de algodão de worsted e de seda o extenuante estado de agitação necessário para o trabalho na maquinaria cujo movimento nos últimos anos foi acelerado de modo tão extraordinário parece ser 329 uma das causas do excesso de mortalidade por doenças pulmonares fato que o dr Greenhow comprovou em seu mais recente e tão admirável relatório176 Não resta a mínima dúvida de que a tendência do capital tão logo o prolongamento da jornada de trabalho lhe esteja definitivamente vedado por lei de ressarcirse mediante a elevação sistemática do grau de intensidade do trabalho e transformar todo aperfeiçoamento da maquinaria em meio de extração de um volume ainda maior de força de trabalho não tardará a atingir um ponto crítico em que será inevitável uma nova redução das horas de trabalho177 Por outro lado a enérgica marcha da indústria inglesa de 1848 até os dias de hoje isto é no período da jornada de trabalho de 10 horas superou o período de 1833 a 1837 ou seja o período da jornada de trabalho de 12 horas numa proporção muito maior do que o último período superara o meio século transcorrido desde a introdução do sistema fabril ou seja o período da jornada de trabalho ilimitada178 4 A fábrica No início deste capítulo tratamos do corpo da fábrica da articulação do sistema de máquinas Vimos então como a maquinaria apropriandose do trabalho de mulheres e crianças aumenta o material humano sujeito à exploração pelo capital de que maneira ela confisca todo o tempo vital do operário mediante a expansão desmedida da jornada de trabalho e como seu progresso que permite fornecer um produto imensamente maior num tempo cada vez mais curto acaba por servir como meio sistemático de liberar em cada momento uma quantidade maior de trabalho ou de explorar a força de trabalho cada vez mais intensamente Passemos agora à consideração do conjunto da fábrica precisamente em sua forma mais desenvolvida O dr Ure o Píndaro da fábrica automática descrevea de um lado como a cooperação de diversas classes de trabalhadores adultos e menores que com destreza e diligência vigiam um sistema de maquinaria produtiva movido ininterruptamente por uma força central o primeiro motor e de outro como um autômato colossal composto por inúmeros órgãos mecânicos dotados de consciência própria e atuando de modo concertado e ininterrupto para a produção de um objeto comum de modo que todos esses órgãos estão subordinados a uma força motriz semovente Essas duas descrições não são de modo nenhum idênticas Na primeira o trabalhador coletivo combinado ou corpo social de trabalho aparece como sujeito dominante e o autômato mecânico como objeto na segunda o próprio autômato é o sujeito e os operários só são órgãos conscientes pelo fato de estarem combinados com seus órgãos inconscientes estando subordinados juntamente com estes últimos à força motriz central A primeira descrição vale para qualquer aplicação possível da maquinaria em grande escala a outra caracteriza sua aplicação capitalista e por conseguinte o moderno sistema fabril Esta é a razão pela qual Ure também gosta de apresentar a máquina central da qual parte o movimento não só como autômato mas como autocrata Nessas grandes oficinas a potência benigna do vapor reúne suas miríades de súditos em torno de si179 Com a ferramenta de trabalho também a virtuosidade em seu manejo é transferida 330 do trabalhador para a máquina A capacidade de rendimento da ferramenta é emancipada das limitações pessoais da força humana de trabalho Com isso superase a base técnica sobre a qual repousa a divisão do trabalho na manufatura No lugar da hierarquia de trabalhadores especializados que distingue a manufatura surge na fabrica automática a tendência à equiparação ou nivelamento dos trabalhos que os auxiliares da maquinaria devem executar180 no lugar das diferenças geradas artificialmente entre os trabalhadores vemos predominar as diferenças naturais de idade e sexo A divisão do trabalho que reaparece na fábrica automática consiste antes de mais nada na distribuição dos trabalhadores entre as máquinas especializadas bem como de massas de trabalhadores que entretanto não chegam a formar grupos articulados entre os diversos departamentos da fábrica onde trabalham em máquinas ferramentas do mesmo tipo enfileiradas uma ao lado da outra de modo que entre eles ocorre apenas a cooperação simples O grupo articulado da manufatura é substituído pela conexão entre o trabalhador principal e alguns poucos auxiliares A distinção essencial é entre operários que se ocupam efetivamente com as máquinas ferramentas a eles se adicionam alguns operários para vigiar ou abastecer a máquina motriz e meros operários subordinados quase exclusivamente crianças a esses operadores de máquinas Entre os operários subordinados incluemse em maior ou menor grau todos os feeders que apenas alimentam as máquinas com o material de trabalho Ao lado dessas classes principais figura um pessoal numericamente insignificante encarregado do controle de toda a maquinaria e de sua reparação constante como engenheiros mecânicos carpinteiros etc Tratase de uma classe superior de trabalhadores com formação científica ou artesanal situada à margem do círculo dos operários fabris e somente agregada a eles181 Essa divisão de trabalho é puramente técnica Todo trabalho na máquina exige instrução prévia do trabalhador para que ele aprenda a adequar seu próprio movimento ao movimento uniforme e contínuo de um autômato Como a própria maquinaria coletiva constitui um sistema de máquinas diversas que atuam simultânea e combinadamente a cooperação que nela se baseia exige também uma distribuição de diferentes grupos de trabalhadores entre as diversas máquinas Mas a produção mecanizada suprime a necessidade de fixar essa distribuição à maneira como isso se realizava na manufatura isto é por meio da designação permanente do mesmo trabalhador ao exercício da mesma função182 Como o movimento total da fábrica não parte do trabalhador e sim da máquina é possível que ocorra uma contínua mudança de pessoal sem a interrupção do processo de trabalho A prova mais contundente disso nos é fornecida pelo sistema de revezamento Relaissystem que começou a funcionar na I nglaterra durante a revolta dos fabricantes ingleses de 1848 a 1850h Por fim a velocidade com que o trabalho na máquina é aprendido na juventude descarta também a necessidade de empregar uma classe especial de trabalhadores exclusivamente no trabalho mecânico183 Na fábrica os serviços dos simples ajudantes podem em parte ser substituídos por máquinas184 e em parte permitem em virtude de sua total simplicidade a troca rápida e constante das pessoas condenadas a essa faina 331 Embora a maquinaria descarte tecnicamente o velho sistema da divisão do trabalho este persiste na fábrica num primeiro momento como tradição da manufatura fixada no hábito até que sob uma forma ainda mais repugnante ele acaba reproduzido e consolidado de modo sistemático pelo capital como meio de exploração da força de trabalho Da especialidade vitalícia em manusear uma ferramenta parcial surge a especialidade vitalícia em servir a uma máquina parcial Abusase da maquinaria para transformar o trabalhador desde a tenra infância em peça de uma máquina parcial185 Desse modo não apenas são consideravelmente reduzidos os custos necessários à reprodução do operário como também é aperfeiçoada sua desvalida dependência em relação ao conjunto da fábrica e portanto ao capitalista Aqui como em toda parte é preciso distinguir entre a maior produtividade que resulta do desenvolvimento do processo social de produção e aquela que resulta da exploração capitalista desse desenvolvimento Na manufatura e no artesanato o trabalhador se serve da ferramenta na fábrica ele serve à máquina Lá o movimento do meio de trabalho parte dele aqui ao contrário é ele quem tem de acompanhar o movimento Na manufatura os trabalhadores constituem membros de um mecanismo vivo Na fábrica temse um mecanismo morto independente deles e ao qual são incorporados como apêndices vivos A morna rotina de um trabalho desgastante e sem fim drudgery no qual se repete sempre e infinitamente o mesmo processo mecânico assemelhase ao suplício de Sísifo o peso do trabalho como o da rocha recai sempre sobre o operário exausto186 Enquanto o trabalho em máquinas agride ao extremo o sistema nervoso ele reprime o jogo multilateral dos músculos e consome todas as suas energias físicas e espirituais187 Mesmo a facilitação do trabalho se torna um meio de tortura pois a máquina não livra o trabalhador do trabalho mas seu trabalho de conteúdo Toda produção capitalista por ser não apenas processo de trabalho mas ao mesmo tempo processo de valorização do capital tem em comum o fato de que não é o trabalhador quem emprega as condições de trabalho mas ao contrário são estas últimas que empregam o trabalhador porém apenas com a maquinaria essa inversão adquire uma realidade tecnicamente tangível Transformado num autômato o próprio meio de trabalho se confronta durante o processo de trabalho com o trabalhador como capital como trabalho morto a dominar e sugar a força de trabalho viva A cisão entre as potências intelectuais do processo de produção e o trabalho manual assim como a transformação daquelas em potências do capital sobre o trabalho consumase como já indicado anteriormente na grande indústria erguida sobre a base da maquinaria A habilidade detalhista do operador de máquinas individual esvaziado desaparece como coisa diminuta e secundária perante a ciência perante as enormes potências da natureza e do trabalho social massivo que estão incorporadas no sistema da maquinaria e constituem com este último o poder do patrão master Por isso em casos conflituosos esse patrão em cujo cérebro estão inextricavelmente ligados a maquinaria e seu monopólio sobre ela proclama à mão de obra repleno de desdém Os operários fabris fariam muito bem em guardar na memória o fato de que seu trabalho é na realidade uma espécie inferior de trabalho qualificado e que não há nenhum outro trabalho que seja mais fácil de se dominar 332 nem que considerandose sua qualidade seja mais bem pago que nenhum outro trabalho pode ser suprido tão rápida e abundantemente com um rápido treinamento dos menos experientes A maquinaria do patrão desempenha de fato um papel muito mais importante no negócio da produção do que o trabalho e a destreza do operário trabalho que se pode ensinar em seis meses de instrução e que qualquer peão pode aprender188 A subordinação técnica do trabalhador ao andamento uniforme do meio de trabalho e a composição peculiar do corpo de trabalho constituído de indivíduos de ambos os sexos e pertencentes às mais diversas faixas etárias criam uma disciplina de quartel que evolui até formar um regime fabril completo no qual se desenvolve plenamente o já mencionado trabalho de supervisão e portanto a divisão dos trabalhadores em trabalhadores manuais e capatazes em soldados rasos da indústria e suboficiais industriais Na fábrica automática a principal dificuldade estava na disciplina necessária para fazer com que os indivíduos renunciassem a seus hábitos inconstantes de trabalho e se identificassem com a regularidade invariável do grande autômato Mas inventar um código de disciplina fabril adequado às necessidades e à velocidade do sistema automático e aplicálo com êxito foi uma tarefa digna de Hércules e nisso consiste a nobre obra de Arkwright Mesmo hoje quando o sistema está organizado em toda sua perfeição é quase impossível encontrar entre os trabalhadores que atingiram a idade adulta auxiliares úteis para o sistema automático189 O código fabril em que não figura a divisão de poderes tão prezada pela burguesia e tampouco seu ainda mais prezado sistema representativo de modo que o capital como um legislador privado e por vontade própria exerce seu poder autocrático sobre seus trabalhadores é apenas a caricatura capitalista da regulação social do processo de trabalho regulação que se torna necessária com a cooperação em escala ampliada e o uso de meios coletivos de trabalho especialmente a maquinaria No lugar do chicote do feitor de escravos surge o manual de punições do supervisor fabril Todas as punições se convertem naturalmente em multas pecuniárias e descontos de salário e a sagacidade legislativa desses Licurgos fabris faz com que a transgressão de suas leis lhes resulte sempre que possível mais lucrativa do que sua observância190 Apontamos aqui apenas as condições materiais nas quais o trabalho fabril é realizado Todos os órgãos dos sentidos são igualmente feridos pela temperatura artificialmente elevada pela atmosfera carregada de resíduos de matériaprima pelo ruído ensurdecedor etc para não falar do perigo mortal de se trabalhar num ambiente apinhado de máquinas que com a regularidade das estações do ano produz seus boletins de batalha industrial190a Ao mesmo tempo a economia nos meios sociais de produção que no sistema de fábrica atingiu pela primeira vez sua maturidade transformase nas mãos do capital em roubo sistemático das condições de vida do operário durante o trabalho roubo de espaço ar luz e meios de proteção pessoal contra as circunstâncias do processo de produção que apresentem perigo para a vida ou sejam insalubres para não falar de instalações destinadas a aumentar a comodidade do trabalhador191 Não tinha razão Fourier quando chamava as fábricas de bagnos mitigadosi 192 5 A luta entre trabalhador e máquina A luta entre capitalista e trabalhador assalariado começa com a própria relação capitalista e suas convulsões atravessam todo o período manufatureiro193 Mas é só a 333 partir da introdução da maquinaria que o trabalhador luta contra o próprio meio de trabalho contra o modo material de existência do capital Ele se revolta contra essa forma determinada do meio de produção como base material do modo de produção capitalista Durante o século XVI I quase toda a Europa presenciou revoltas de trabalhadores contra a assim chamada Bandmühle também chamada de Schnurmühle ou Mühlenstuhl uma máquina de tecer fitas e galões194 No final do primeiro terço do século XVI I uma máquina de serrar movida por um moinho de vento e instalada nos arredores de Londres por um holandês sucumbiu em virtude dos excessos da ralé Pöbel Ainda no começo do século XVI I I na I nglaterra as máquinas hidráulicas de serrar só superaram com muita dificuldade a resistência popular respaldada pelo Parlamento Quando em 1758 Everet construiu a primeira máquina de tosquiar movida a água ela foi queimada pelas 100 mil pessoas que deixara sem trabalho Os scribbling mills moinhos de cardar e as máquinas de cardar de Arkwright provocaram uma petição ao Parlamento apresentada pelos 50 mil trabalhadores que até então viviam de cardar lã A destruição massiva de máquinas que sob o nome de ludismoj ocorreu nos distritos manufatureiros ingleses durante os quinze primeiros anos do século XI X e que foi provocada sobretudo pela utilização do tear a vapor ofereceu ao governo antijacobino de um Sidmouth Castlereagh etc o pretexto para a adoção das mais reacionárias medidas de violência Foi preciso tempo e experiência até que o trabalhador distinguisse entre a maquinaria e sua aplicação capitalista e com isso aprendesse a transferir seus ataques antes dirigidos contra o próprio meio material de produção para a forma social de exploração desse meio195 As lutas por salário no interior da manufatura pressupunham esta última e não se voltavam de modo algum contra sua existência Se a formação das manufaturas foi combatida isso ocorreu por parte dos mestres das corporações e das cidades privilegiadas não dos trabalhadores assalariados Por isso os escritores do período manufatureiro geralmente concebem a divisão do trabalho como meio de substituição virtual dos trabalhadores mas não de deslocálos efetivamente Essa diferença é evidente Quando se diz por exemplo que na I nglaterra seriam necessárias 100 milhões de pessoas para fiar com a velha roda de fiar a quantidade de algodão que agora 500 mil pessoas bastam para fiar com a máquina isso naturalmente não significa que a máquina tomou o lugar desses milhões que nunca existiram Significa apenas que muitos milhões de trabalhadores seriam necessários para substituir a maquinaria de fiação Quando se diz ao contrário que na I nglaterra o tear a vapor pôs 800 mil tecelões no olho da rua não se trata aqui de uma maquinaria existente que teria de ser substituída por determinado número de trabalhadores mas de um número de trabalhadores existentes que foram efetivamente substituídos ou deslocados por uma determinada maquinaria Durante o período da manufatura a produção artesanal continuou a ser a base ainda que desagregada Em razão do número relativamente baixo de trabalhadores urbanos legados pela I dade Média as demandas dos novos mercados coloniais não podiam ser satisfeitas ao mesmo tempo que as manufaturas propriamente ditas abriam novas áreas de produção à população rural expulsa da terra com a dissolução do feudalismo Nessa época portanto destacouse mais o 334 aspecto positivo da divisão do trabalho e da cooperação nas oficinas graças às quais os trabalhadores ocupados se tornavam mais produtivos196 Em alguns países muito antes do período da grande indústria a cooperação e a combinação dos meios de trabalho em mãos de alguns poucos provocaram aplicadas à agricultura grandes súbitas e violentas revoluções no modo de produção e por conseguinte nas condições de vida e nos meios de ocupação da população rural Mas essa luta travase originalmente mais entre grandes e pequenos proprietários fundiários do que entre capital e trabalho assalariado por outro lado quando os trabalhadores são deslocados pelos meios de trabalho como ovelhas cavalos etc atos diretos de violência passam a constituir em primeira instância o pressuposto da Revolução I ndustrial Primeiro os trabalhadores são expulsos das terras e em seguida vêm as ovelhas O roubo de terras em grande escala como na I nglaterra cria para a grande agricultura pela primeira vez seu campo de aplicação196a Em sua fase inicial esse revolucionamento da agricultura tem mais a aparência de uma revolução política Como máquina o meio de trabalho logo se converte num concorrente do próprio trabalhador197 A autovalorização do capital por meio da máquina é diretamente proporcional ao número de trabalhadores cujas condições de existência ela aniquila O sistema inteiro da produção capitalista baseiase no fato de que o trabalhador vende sua força de trabalho como mercadoria A divisão do trabalho unilateraliza tal força convertendoa numa habilidade absolutamente particularizada de manusear uma ferramenta parcial Assim que o manuseio da ferramenta é transferido para a máquina extinguese juntamente com o valor de uso o valor de troca da força de trabalho O trabalhador se torna invendável como o papelmoeda tirado de circulação A parcela da classe trabalhadora que a maquinaria transforma em população supérflua isto é não mais diretamente necessária para a autovalorização do capital sucumbe por um lado na luta desigual da velha produção artesanal e manufatureira contra a indústria mecanizada e por outro inunda todos os ramos industriais mais acessíveis abarrota o mercado de trabalho reduzindo assim o preço da força de trabalho abaixo de seu valor Um grande lenitivo para os trabalhadores pauperizados deve ser acreditar que por um lado seu sofrimento seja apenas temporário a temporary inconvenience e por outro que a maquinaria só se apodere gradualmente de um campo inteiro da produção o que contribui para reduzir o tamanho e a intensidade de seu efeito destruidor Um lenitivo anula o outro Onde a máquina se apodera pouco a pouco de um setor da produção se produz uma miséria crônica nas camadas operárias que concorrem com ela Onde a transição é rápida seu efeito é massivo e agudo A história mundial não oferece nenhum espetáculo mais aterrador do que a paulatina extinção dos tecelões manuais de algodão ingleses processo que se arrastou por décadas até ser consumado em 1838 Muitos deles morreram de fome enquanto outros vegetaram por muitos anos com suas famílias vivendo com 25 pence por dia198 I gualmente agudos foram os efeitos da maquinaria algodoeira inglesa sobre as Índias Orientais cujo governadorgeral constatava em 18341835 Dificilmente uma tal miséria encontra paralelo na história do comércio As ossadas dos tecelões de algodão alvejam as planícies da Índia Sem dúvida despachando esses tecelões deste mundo temporal a máquina não 335 fazia mais do que lhes ocasionar uma inconveniência temporária Além do mais o efeito temporário da maquinaria é permanente porquanto se apodera constantemente de novas áreas da produção A figura autonomizada e estranhada que o modo de produção capitalista em geral confere às condições de trabalho e ao produto do trabalho em contraposição ao trabalhador desenvolvese com a maquinaria até converterse numa antítese completa199 Daí que a revolta brutal do trabalhador contra o meio de trabalho irrompa pela primeira vez juntamente com maquinaria O meio de trabalho liquida o trabalhador Sem dúvida esta antítese direta aparece de modo mais evidente quando a maquinaria recémintroduzida concorre com a tradicional produção artesanal ou manufatureira No interior da própria grande indústria no entanto o melhoramento constante da maquinaria e o desenvolvimento do sistema automático produzem efeitos análogos O objetivo permanente da maquinaria aperfeiçoada é diminuir o trabalho manual ou completar um elo na cadeia da produção fabril substituindo aparelhos humanos por aparelhos de ferro200 A aplicação da força do vapor ou da água à maquinaria que até então era movida manualmente é um evento corriqueiro Os pequenos aperfeiçoamentos na maquinaria que visam economizar força motriz melhorar o produto aumentar a produção no mesmo tempo ou substituir o trabalho de uma criança de uma mulher ou de um homem são constantes e embora não pareçam ter grande peso seus resultados são todavia consideráveis201 Onde quer que uma operação exija muita habilidade e uma mão segura ela é retirada o mais rápido possível das mãos do trabalhador demasiado qualificado e com frequência inclinado a irregularidades de toda espécie para ser confiada a um mecanismo específico tão bem regulado que uma criança é capaz de vigiálo202 No sistema automático o talento do trabalhador é progressivamente suprimidok203 O aperfeiçoamento da maquinaria não só exige a diminuição do número de trabalhadores adultos ocupados para obter um resultado determinado como substitui uma classe de indivíduos por outra classe uma classe mais qualificada por uma menos qualificada adultos por crianças homens por mulheres Todas essas alterações causam flutuações constantes no nível do salário204 A maquinaria expulsa incessantemente trabalhadores adultos da fábrical205 A extraordinária elasticidade do sistema da maquinaria por conta da experiência prática acumulada da escala preexistente dos meios mecânicos e do progresso constante da técnica foinos evidenciada por sua enérgica marcha sob a pressão de uma jornada de trabalho reduzida Mas quem em 1860 ano do zênite da indústria inglesa do algodão poderia ter previsto os aperfeiçoamentos galopantes da maquinaria e o correspondente deslocamento do trabalho manual que os três anos seguintes provocariam sob o aguilhão da guerra civil americana Sobre esse ponto basta citar alguns exemplos fornecidos pelos informes oficiais dos inspetores de fábrica ingleses Um fabricante de Manchester declara Em vez de 75 máquinas de cardar agora necessitamos de apenas 12 que fornecem a mesma quantidade de produtos de qualidade igual se não superior A economia em salários é de 10 por semana e o desperdício de algodão caiu 10 Numa fiação fina de Manchester mediante a aceleração do movimento e da introdução de diversos processos selfacting automáticos afastouse 14 do pessoal de um departamento mais da metade em outro ao mesmo tempo que a substituição da máquina de pentear pela segunda máquina de cardar reduziu consideravelmente a mão de obra até então empregada na oficina de cardagem Outra fiação estima em 10 sua economia geral de mão de obra Os senhores Gilmore proprietários de uma fiação em Manchester declaram 336 Em nosso blowing department departamento de sopro estimamos em 13 a economia de mão de obra e salários obtida graças à nova maquinaria No jack frame e drawing frame room salas de máquinas de bobinar e estirar o feno cerca de 13 a menos de gastos e mão de obra na oficina de fiação cerca de 13 a menos em gastos Mas isso não é tudo quando nosso fio vai para os tecelões sua qualidade é tão superior graças ao emprego da nova maquinaria que eles produzem mais tecidos e de melhor qualidade do que com o fio das máquinas antigas206 Sobre isso observa o inspetor de fábrica A Redgrave A redução do número de trabalhadores acompanhada do aumento da produção avança rapidamente nas fábricas de lã há pouco teve início uma nova redução da mão de obra que continua a minguar há poucos dias um mestreescola residente nos arredores de Rochdale disseme que a grande evasão nas escolas para moças não se deve apenas à pressão da crise mas também às modificações efetuadas na maquinaria das fábricas de lã em consequência das quais houve uma redução média de 70 operários de meia jornada207 A tabela a seguir mostra o resultado total dos aperfeiçoamentos mecânicos introduzidos na indústria algodoeira em virtude da guerra civil americanam Número de fábricas 1856 1861 1868 Inglaterra e País de Gales 2046 2715 2405 Escócia 152 163 131 Irlanda 12 9 13 Reino Unido 2210 2887 2549 Número de teares a vapor 1856 1861 1868 Inglaterra e País de Gales 275590 368125 344719 Escócia 21624 30110 31864 Irlanda 1633 1757 2746 Reino Unido 298847 399992 379329 Número de fusos 1856 1861 1868 Inglaterra e País de Gales 25818576 28352125 30478228 Escócia 2041129 1915398 1397546 Irlanda 150512 119944 124240 Reino Unido 28010217 30387467 32000014 Número de pessoas empregadas 1856 1861 1868 Inglaterra e País de Gales 341170 407598 357052 Escócia 34698 41237 39809 Irlanda 3345 2734 4203 Reino Unido 379213 452569 401064 De 1861 a 1868 desapareceram assim 338 fábricas de algodão o que significa que uma maquinaria mais produtiva e potente concentrouse nas mãos de um número menor de capitalistas O número de teares a vapor diminuiu em 20663 ao mesmo 337 tempo porém seu produto aumentou de modo que um tear aperfeiçoado produzia agora mais do que um antigo Por fim o número de fusos aumentou em 1612547 enquanto o número de trabalhadores ocupados diminuiu em 50505 O progresso rápido e constante da maquinaria intensificou e consolidou assim a miséria temporária com que a crise algodoeira oprimiu os trabalhadores Mas a maquinaria não atua apenas como concorrente poderoso sempre pronto a tornar supérfluo o trabalhador assalariado O capital de maneira aberta e tendencial proclama e maneja a maquinaria como potência hostil ao trabalhador Ela se converte na arma mais poderosa para a repressão das periódicas revoltas operárias greves etc contra a autocracia do capital208 De acordo com Gaskell a máquina a vapor foi desde o início um antagonista da força humana o rival que permitiu aos capitalistas esmagar as crescentes reivindicações dos trabalhadores que ameaçavam conduzir à crise o incipiente sistema fabril209 Poderseia escrever uma história inteira dos inventos que a partir de 1830 surgiram meramente como armas do capital contra os motins operários Recordemos sobretudo a selfacting mule pois ela inaugura uma nova era do sistema automático210 Em seu depoimento perante a Trades Union Comission Nasmyth o inventor do martelo a vapor informa o seguinte sobre os aperfeiçoamentos por ele introduzidos na maquinaria em consequência da grande e longa greve dos operários de máquinas em 1851 O traço característico de nossos modernos aperfeiçoamentos mecânicos é a introdução de máquinasferramentas automáticas O que agora um operário mecânico tem de fazer e pode ser feito por qualquer menino não é ele próprio trabalhar mas vigiar o belo trabalho da máquina Toda a classe de trabalhadores que depende exclusivamente de sua própria habilidade está atualmente marginalizada Antes eu empregava 4 meninos para cada mecânico Graças a essas novas combinações mecânicas pude reduzir o número de operários adultos de 1500 para 750 A consequência foi um considerável aumento de meu lucron A respeito de uma máquina para estampar chita diz Ure Por fim os capitalistas buscaram se libertar dessa escravidão insuportável ou seja das condições contratuais dos trabalhadores incômodas para os capitalistas invocando o auxílio dos recursos da ciência e logo estavam restabelecidos em seus legítimos direitos os da cabeça sobre as demais partes do corpo Referindose a uma invenção para preparar urdiduras e que fora imediatamente motivada por uma greve diz ele A horda dos descontentes que se imaginava invencível entrincheirada atrás das velhas linhas da divisão do trabalho viuse então assaltada pelos flancos e suas defesas foram aniquiladas pela moderna tática mecânica Tiveram de renderse incondicionalmente Acerca da invenção da self acting mule diz ele Ela estava destinada a restaurar a ordem entre as classes industriais Tal invenção confirma a doutrina já desenvolvida por nós de que o capital quando põe a ciência a seu serviço constrange sempre à docilidade o braço rebelde do trabalho211 Embora tenha sido publicado em 1835 portanto na época de um sistema fabril ainda relativamente pouco desenvolvido o escrito de Ure permanece como a expressão clássica do espírito fabril não só por seu franco cinismo mas também pela ingenuidade com que deixa escapar as contradições irrefletidas que habitam o cérebro do capital Depois de por exemplo desenvolver a doutrina de que o capital com o auxílio da ciência por ele posta a soldo constrange sempre à 338 docilidade o braço rebelde do trabalho mostrase indignado porque há quem acuse a ciência físicomecânica de servir ao despotismoo dos ricos capitalistas e de se oferecer como meio de opressão das classes pobresp Depois de pregar aos quatro ventos o quão vantajoso é para os operários o rápido desenvolvimento da maquinaria ele os adverte de que com sua resistência suas greves etc só fazem acelerar o desenvolvimento dela Revoltas violentas dessa natureza diz ele evidenciam a miopia humana em seu caráter mais desprezível o caráter de um homem que se converte em seu próprio carrasco Poucas páginas antes ele diz o contrário Não fossem os violentos conflitos e interrupções causados pelas ideias errôneas dos trabalhadores e o sistema fabril terseia desenvolvido com muito mais rapidez e de modo muito mais útil para todas as partes interessadas Mais adiante ele volta a exclamar Felizmente para a população dos distritos fabris da GrãBretanha os aperfeiçoamentos realizados na maquinaria só ocorrem aos poucos Injustamente diz acusamse as máquinas de reduzirem o salário dos adultos desempregando parte deles com o que seu número acaba por exceder a necessidade de trabalho Mas elas aumentam a demanda de trabalho infantil e com ela a taxa salarial dos adultos O mesmo consolador defende por outro lado o nível baixo dos salários das crianças pois graças a isso os pais se abstêm de enviar seus filhos prematuramente às fábricas Seu livro inteiro é uma apologia da jornada ilimitada de trabalho e quando a legislação proíbe esgotar crianças de menos de 13 anos por mais de 12 horas diárias a alma liberal de Ure a compara com os tempos mais sombrios da I dade Média Mas isso não o impede de exortar os trabalhadores fabris a elevarem uma oração de graças à Providência que por meio da maquinaria proporcionoulhes o ócio necessário para meditar sobre seus interesses imortais212 6 A teoria da compensação relativa aos trabalhadores deslocados pela maquinaria Uma série inteira de economistas burgueses como J ames Mill MacCulloch Torrens Senior J ohn Stuart Mill etc sustenta que toda maquinaria que desloca trabalhadores sempre libera simultânea e necessariamente um capital adequado para ocupar esses mesmos trabalhadores213 Suponha por exemplo que um capitalista empregue cem trabalhadores numa manufatura de papel de parede cada homem a 30 por ano O capital variável anualmente gasto por ele importa portanto em 3 mil Suponha agora que ele dispense cinquenta trabalhadores e empregue os cinquenta restantes com uma maquinaria que lhe custe 1500 A título de simplificação não levaremos em conta as construções o carvão etc Além disso admitamos que a matériaprima anualmente consumida custe sempre 3 mil214 Mediante essa metamorfose algum capital foi liberado No sistema industrial anterior a soma total despendida era de 6 mil sendo metade constituída de capital constante metade de capital variável Ela totaliza agora 4500 de capital constante 3 mil para a matériaprima e 1500 para maquinaria e 1500 de capital variável Em vez de metade a parte do capital variável ou a parcela investida em força de trabalho viva constitui apenas um quarto do capital 339 total Em vez da liberação temos aqui a sujeição do capital a uma forma em que ele cessa de se intercambiar com força de trabalho isto é a transformação de capital variável em capital constante Mantendose inalteradas as demais circunstâncias agora o capital de 6 mil não poderá ocupar mais de cinquenta trabalhadores A cada aperfeiçoamento da maquinaria ele ocupará cada vez menos trabalhadores Se a maquinaria recémintroduzida custa menos do que a soma da força de trabalho e das ferramentas de trabalho por ela deslocadas por exemplo somente 1000 em vez de 1500 então um capital variável de 1000 se converterá em capital constante ou permanecerá vinculado ao passo que um capital de 500 será liberado Este último supondose que se mantenha inalterado o salário anual constituiria um fundo para dar ocupação a cerca de dezesseis trabalhadores quando cinquenta é o número de trabalhadores despedidos na realidade para muito menos do que 16 trabalhadores já que para serem transformadas em capital as 500 têm novamente de ser convertidas em parte em capital constante de modo que também só possam ser transformadas parcialmente em força de trabalho Mas mesmo supondo que a construção da nova maquinaria ocupe um número maior de mecânicos isso é alguma compensação para os produtores de papel de parede postos na rua Na melhor das hipóteses sua fabricação ocupa menos trabalhadores do que o números daqueles deslocados por sua utilização A quantia de 1500 que representava apenas o salário dos produtores de papel de parede dispensados representa agora na figura da maquinaria 1 o valor dos meios de produção necessários para sua fabricação 2 o salário dos mecânicos que a fabricam 3 o maisvalor que cabe a seu patrão Ademais uma vez pronta a máquina não precisa mais ser renovada até sua morte Portanto para ocupar de maneira duradoura o número adicional de trabalhadores mecânicos será necessário que sucessivos fabricantes de papéis de parede desloquem trabalhadores por meio de máquinas De fato tais apologistas não se referem a essa espécie de liberação de capital O que eles têm em mente são os meios de subsistência dos trabalhadores liberados Não se pode negar que no caso anterior por exemplo a maquinaria não só libera cinquenta trabalhadores tornandoos assim disponíveis como ao mesmo tempo suprime a conexão desses trabalhadores com meios de subsistência no valor de 1500 e desse modo libera esses meios O fato simples e de modo algum novo de que a maquinaria libera os trabalhadores de sua dependência em relação aos meios de subsistência significa apenas em termos econômicos que a maquinaria libera meios de subsistência para o trabalhador ou converte esses meios em capital para lhe dar emprego Como vemos tudo depende do modo de expressão Nominibus mollire licet mala é lícito atenuar com palavras o malq De acordo com essa teoria os meios de subsistência no valor de 1500 eram um capital valorizado por meio do trabalho dos cinquenta produtores de papel de parede dispensados Consequentemente esse capital perde sua ocupação assim que os cinquenta estejam de folga e não sossega enquanto não encontrar uma nova aplicação em que esses trabalhadores possam voltar a consumilo produtivamente Assim mais cedo ou mais tarde capital e trabalho têm de se reencontrar e é então que ocorre a compensação Os sofrimentos dos trabalhadores deslocados pela 340 maquinaria são portanto tão transitórios quanto as riquezas deste mundo Os meios de subsistência no valor de 1500 jamais se confrontaram na forma de capital com os trabalhadores dispensados O que se confrontou com estes últimos como capital foram as 1500 agora transformadas em maquinaria Consideradas mais de perto essas 1500 representam apenas uma parte dos papéis de parede produzidos anualmente pelos cinquenta trabalhadores dispensados e que seu empregador lhes entregava como salário sob a forma de dinheiro em vez de in natura Com os papéis de parede transformados em 1500 eles adquiriam meios de subsistência da mesma importância Estes portanto existiam para eles não como capital mas como mercadorias e eles mesmos existiam para essas mercadorias não como assalariados mas como compradores A circunstância de que a maquinaria se tenha liberado dos meios de compra transforma esses trabalhadores de compradores em não compradores Decorre daí a procura menor por aquelas mercadorias Voilà tout isso é tudo Se essa demanda diminuída não é compensada com uma demanda aumentada em outro setor cai o preço de mercado das mercadorias Se essa situação se prolonga e ganha maior amplitude ocorre um deslocamento dos trabalhadores ocupados na produção daquelas mercadorias Parte do capital que antes produzia meios necessário de subsistência passa a ser reproduzida de outro modo Durante a queda dos preços de mercado e o deslocamento de capital também os trabalhadores ocupados na produção dos meios necessários de subsistência são liberados de parte de seu salário Assim em vez de provar que a maquinaria ao liberar os trabalhadores dos meios de subsistência transforma estes últimos ao mesmo tempo em capital para o emprego dos primeiros o sr Apologista prova com a inquestionável lei da oferta e da demanda que a maquinaria põe trabalhadores na rua e não só no ramo da produção em que é introduzida mas também nos ramos da produção em que não é introduzida Os fatos reais travestidos pelo otimismo econômico são estes os trabalhadores deslocados pela maquinaria são jogados da oficina para o mercado de trabalho engrossando o número de forças de trabalho já disponíveis para a exploração capitalista Na seção VI I desta obra mostraremos que esse efeito da maquinaria que aqui se nos apresenta como uma compensação para a classe trabalhadora atinge o trabalhador ao contrário como o mais terrível dos suplícios Por ora basta o seguinte os operários expulsos de um ramo da indústria podem sem dúvida procurar emprego em qualquer outro ramo Se o encontram e com isso reatase o vínculo entre eles e os meios de subsistência com eles liberados isso se dá por meio de um capital novo suplementar que busca uma aplicação mas de modo algum por meio do capital que já funcionava anteriormente e agora se converteu em maquinaria E mesmo assim que perspectiva miserável têm eles Mutilados pela divisão do trabalho esses pobres diabos valem tão pouco fora de seu velho círculo de atividade que só logram o acesso a alguns poucos ramos laborais inferiores e por isso constantemente saturados e sub remunerados215 Ademais cada ramo da indústria atrai a cada ano um novo afluxo de seres humanos que lhe fornece o contingente necessário para substituir as baixas e crescer de modo regular Assim que a maquinaria libera uma parte dos trabalhadores até então ocupados em determinado ramo industrial distribuise também o pessoal de reserva que é absorvido em outros ramos de trabalho enquanto as vítimas originais 341 definham e sucumbem em sua maior parte durante o período de transição É um fato indubitável que a maquinaria não é por si mesma responsável por liberar os trabalhadores de sua dependência em relação aos meios de subsistência Ela barateia o produto e aumenta sua quantidade no ramo de que se apodera deixando intocada num primeiro momento a massa de meios de subsistência produzida em outros ramos da indústria Depois de sua introdução portanto a sociedade dispõe de tantos ou mais meios de subsistência para os trabalhadores deslocados do que dispunha antes e isso sem considerar a enorme parcela do produto anual que é dilapidada pelos não trabalhadores E esse é o argumento central da apologética econômica As contradições e os antagonismos inseparáveis da utilização capitalista da maquinaria inexistem porquanto têm origem não na própria maquinaria mas em sua utilização capitalista Como portanto considerada em si mesma a maquinaria encurta o tempo de trabalho ao passo que utilizada de modo capitalista ela aumenta a jornada de trabalho como por si mesma ela facilita o trabalho ao passo que utilizada de modo capitalista ela aumenta sua intensidade como por si mesma ela é uma vitória do homem sobre as forças da natureza ao passo que utilizada de modo capitalista ela subjuga o homem por intermédio das forças da natureza como por si mesma ela aumenta a riqueza do produtor ao passo que utilizada de modo capitalista ela o empobrece etc o economista burguês declara simplesmente que a observação da maquinaria considerada em si mesma demonstra com absoluta precisão que essas contradições palpáveis não são mais do que a aparência da realidade comum não existindo por si mesmas e portanto tampouco na teoria Ele se poupa assim da necessidade de continuar a quebrar a cabeça e além disso imputa a seu adversário a tolice de combater não a utilização capitalista da maquinaria mas a própria maquinaria O economista burguês não nega em absoluto que com isso surjam também alguns inconvenientes temporários mas que medalha haverá sem seu reverso Para ele é impossível outra utilização da maquinaria que não a capitalista A exploração do trabalhador pela máquina é a seu ver idêntica à exploração da máquina pelo trabalhador De modo que quem revela o que ocorre na realidade com a utilização capitalista da maquinaria é alguém que se opõe a sua utilização em geral é um inimigo do progresso social216 Exatamente igual ao raciocínio do célebre degolador Bill Sikes Senhores jurados Sem dúvida esse caixeiroviajante teve sua garganta cortada Desse fato porém não é minha a culpa e sim da faca Deveríamos em razão de tais inconvenientes temporários abolir o uso da faca Refleti sobre isso Que seria da agricultura e do artesanato sem a faca Não é ela tão benéfica na cirurgia quanto sábia na anatomia E além disso uma auxiliar tão prestimosa em alegres festins Eliminai a faca e lançarnoseis de volta à mais profunda barbárie216a Apesar de a maquinaria necessariamente deslocar trabalhadores nos ramos de atividade em que é introduzida ela pode no entanto gerar um aumento da ocupação em outros ramos do trabalho Mas esse efeito nada tem em comum com a assim chamada teoria da compensação Como todo produto da máquina por exemplo uma vara de tecido é mais barato do que o produto manual similar por ele deslocado seguese como lei absoluta que se a quantidade total do artigo produzido 342 mecanicamente permanece igual à quantidade total do artigo substituído pelo primeiro produzido manual ou artesanalmente então a soma total do trabalho aplicado diminui O aumento de trabalho exigido para a produção do próprio meio de trabalho maquinaria carvão etc tem de ser menor do que a diminuição de trabalho ocasionada pela utilização da maquinaria Não fosse assim o produto da máquina seria tão ou mais caro do que o produto manual Porém em vez de permanecer igual a massa total do artigo confeccionado à máquina por um número reduzido de trabalhadores aumenta de fato muito além da massa total do artigo artesanal deslocado Suponha que 400 mil varas de tecido feito à máquina sejam produzidas por menos trabalhadores do que 100 mil varas de tecido feito à mão O produto quadruplicado contém quatro vezes mais matériaprima e a produção desta tem portanto de ser quadruplicada Mas no que concerne aos meios de trabalho consumidos como construções carvão máquinas etc o limite dentro do qual se pode acrescentar o trabalho adicional necessário à sua produção varia com a diferença entre a massa do produto feito pela máquina e a massa do produto manual que pode ser fabricado pelo mesmo número de trabalhadores Assim com a expansão do sistema fabril num ramo industrial aumenta inicialmente a produção em outros ramos que lhe fornecem seus meios de produção Até que ponto isso provocará o crescimento da massa de trabalhadores ocupados depende dadas a duração da jornada de trabalho e a intensidade do trabalho da composição dos capitais aplicados isto é da proporção entre seus componentes constante e variável Essa proporção por sua vez varia muito com a extensão na qual a maquinaria já se apoderou ou venha a se apoderar desses mesmos ramos O número de homens condenados a trabalhar nas minas de carvão e de metal cresceu enormemente com o progresso do sistema inglês da maquinaria embora nas últimas décadas esse crescimento tenha se tornado mais lento em razão do uso de nova maquinaria para a mineração217 Com a máquina nasce uma nova espécie de trabalhador seu produtor J á sabemos que a indústria mecanizada se apoderou mesmo desse ramo da produção e em escala cada vez maior218 Além disso quanto à matériaprima219 não resta dúvida por exemplo de que a marcha acelerada da fiação de algodão alavancou artificialmente a cultura de algodão nos Estados Unidos e com ela não só incentivou o tráfico de escravos africanos como ao mesmo tempo fez da criação de negros o principal negócio dos assim chamados estados escravagistas fronteiriçosr Quando em 1790 realizouse nos Estados Unidos o primeiro censo de escravos o número deles era de 697 mil em 1861 eles chegavam a 4 milhões Por outro lado não é menos certo que o florescimento da fábrica mecanizada de lã com a transformação progressiva das terras antes cultivadas em pastagens para ovelhas provocou a expulsão em massa dos trabalhadores agrícolas e sua transformação em supranumerários Überzähligmachung Ainda em nossos dias a I rlanda atravessa o processo de ver sua população já reduzida quase à metade desde 1845 diminuir ainda mais até atingir a exata medida correspondente às necessidades de seus landlords proprietários fundiários e dos senhores fabricantes de lã ingleses Quando a maquinaria se apodera dos graus preliminares ou intermediários que um objeto de trabalho tem de percorrer até sua forma final o aumento do material de 343 trabalho é acompanhado do aumento da demanda de trabalho naquelas atividades ainda exploradas sobre uma base artesanal ou manufatureira nas quais é agora introduzido o produto fabricado à máquina A fiação mecânica por exemplo fornecia o fio a um preço tão baixo e com tal abundância que os tecelões manuais podiam inicialmente trabalhar em tempo integral e sem grandes despesas Com isso sua renda aumentou220 Daí o afluxo de pessoal para a tecelagem de algodão que duraria até que os 800 mil tecelões de algodão que na I nglaterra haviam encontrado ocupação graças à J enny ao throstle e à mule fossem novamente liquidados pelo tear a vapor Do mesmo modo a abundância de gêneros de vestuário produzidos à máquina fez crescer o número de alfaiates modistas costureiras etc até surgir a máquina de costura À medida que a indústria mecanizada com um número de trabalhadores relativamente menor fornece uma massa cada vez maior de matériasprimas produtos semiacabados instrumentos de trabalho etc a elaboração dessas matérias primas e produtos intermediários se divide em inúmeras subespécies e incrementa assim a diversidade dos ramos da produção social A indústria mecanizada impulsiona a divisão social do trabalho muito mais do que a manufatura pois amplia em grau incomparavelmente maior a força produtiva dos setores de que se apodera O resultado imediato da maquinaria é aumentar o maisvalor e ao mesmo tempo a massa de produtos em que ele se representa portanto aumentar também juntamente com a substância de que a classe dos capitalistas e seus sequazes se alimentam essas próprias camadas sociais Sua riqueza crescente e a diminuição relativamente constante do número de trabalhadores requeridos para a produção dos meios de subsistência geram ao mesmo tempo além de novas necessidades de luxo também novos meios para sua satisfação Uma parcela maior do produto social é transformada em produto excedente e uma parcela maior deste último é reproduzida e consumida sob formas mais refinadas e variadas Em outras palavras cresce a produção de artigos de luxo221 O refinamento e a diversificação dos produtos provêm igualmente das novas relações do mercado mundial criadas pela grande indústria Não só se troca uma quantidade maior de artigos de luxo estrangeiros por produtos locais mas uma massa maior de matériasprimas ingredientes produtos semiacabados etc estrangeiros ingressa na indústria doméstica como meio de produção A par dessas relações do mercado mundial aumenta a demanda de trabalho na indústria do transporte que por sua vez dividese em inúmeras subespécies novas222 O aumento dos meios de produção e de subsistência acompanhado da diminuição relativa do número de trabalhadores leva à expansão do trabalho em ramos da indústria cujos produtos como canais docas túneis pontes etc só trazem retorno num futuro mais distante Eles se formam seja diretamente sobre a base da maquinaria seja em consequência da revolução industrial geral que ela provoca como ramos inteiramente novos da produção e portanto como novos campos de trabalho O espaço que lhes corresponde na produção total não é de modo algum significativo mesmo nos países mais desenvolvidos O número de trabalhadores ocupados nesses ramos aumenta na proporção direta em que se reproduz a necessidade de trabalho 344 manual mais rudimentar Atualmente podemse considerar como indústrias principais desse tipo as usinas de gás o telégrafo a fotografia a navegação a vapor e o sistema ferroviário Segundo o censo de 1861 para I nglaterra e País de Gales na indústria de gás usinas de gás produção dos aparelhos mecânicos agentes das companhias de gás etc trabalham 15211 pessoas no telégrafo 2399 na fotografia 2366 no serviço de navegação a vapor 3570 e nas ferrovias 70599 entre as quais há cerca de 28000 trabalhadores não qualificados empregados de modo mais ou menos permanente em obras de terraplanagem além de todo o pessoal administrativo e comercial Portanto o número total de indivíduos nessas cinco indústrias novas é de 94145 Por último o extraordinário aumento da força produtiva nas esferas da grande indústria acompanhado como é de uma exploração intensiva e extensivamente ampliada da força de trabalho em todas as outras esferas da produção permite empregar de modo improdutivo uma parte cada vez maior da classe trabalhadora e desse modo reproduzir massivamente os antigos escravos domésticos agora rebatizados de classe serviçal como criados damas de companhia lacaios etc Segundo o censo de 1861 a população total da I nglaterra e do País de Gales somava 20066224 pessoas sendo 9776259 do sexo masculino e 10289965 do sexo feminino Descontandose disso os muito velhos ou muitos jovens para o trabalho todas as mulheres adolescentes e crianças improdutivos seguidos dos estamentos ideológicos como governo clero juristas militares etc além de todos aqueles cuja ocupação exclusiva é consumir trabalho alheio sob a forma de renda da terra juros etc e por fim os indigentes vagabundos delinquentes etc restam então num cálculo aproximado 8 milhões de pessoas de ambos os sexos e das mais variadas idades inclusive todos os capitalistas que de uma maneira ou de outra desempenham funções na produção no comércio nas finanças etc Esses 8 milhões são assim distribuídos Trabalhadores agrícolas inclusive pastores bem como peões e criadas que vivem nas casas dos arrendatários 1098261 Todos os ocupados na fabricação de algodão lã estame linho cânhamo seda e juta e na confecção mecanizada de meias e fabricação de rendas 642607223 Todos os ocupados em minas de carvão e de metais 565835 Todos os ocupados em usinas metalúrgicas altosfornos laminações etc e em manufaturas metalúrgicas de toda espécie 396998224 Classe serviçal 1208648225 Se considerarmos os ocupados em todas as fábricas têxteis somados ao pessoal das minas de carvão e de metais teremos 1208442 e se aos primeiros agregarmos o pessoal de todas as metalúrgicas e manufaturas de metais o total será de 1039605 em ambos os casos pois um número menor do que o de escravos domésticos modernos Que edificante resultado da maquinaria explorada de modo capitalista 7 Repulsão e atração de trabalhadores com o 345 desenvolvimento da indústria mecanizada Crises da indústria algodoeira Todos os representantes responsáveis da economia política admitem que a primeira introdução da maquinaria age como uma peste sobre os trabalhadores dos artesanatos e manufaturas tradicionais com os quais ela inicialmente concorre Quase todos deploram a escravidão do operário fabril E qual é o grande trunfo que todos eles põem à mesa Que a maquinaria depois dos horrores de seu período de introdução e desenvolvimento termina por aumentar o número dos escravos do trabalho ao invés de diminuílo Sim a economia política se regozija com o abjeto teorema abjeto para qualquer filantropo que acredite na eterna necessidade natural do modo de produção capitalista de que mesmo a fábrica fundada na produção mecanizada depois de certo período de crescimento depois de um maior ou menor período de transição esfola mais trabalhadores do que ela inicialmente pôs na rua226 Certamente alguns casos já demonstravam como por exemplo o das fábricas inglesas de estame e de seda que quando a expansão extraordinária de ramos fabris alcança certo grau de desenvolvimento tal processo pode estar acompanhado não só de uma redução relativa do número de trabalhadores ocupados como de uma redução em termos absolutoss Em 1860 quando se realizou por ordem do Parlamento um censo especial de todas as fábricas do Reino Unido a seção dos distritos fabris de Lancashire Cheshire e Yorkshire adjudicada ao inspetor fabril R Baker contava com 652 fábricas destas 570 continham 85622 teares a vapor 6819146 fusos excluindo os fusos de torcer 27439 cavalosvapor em máquinas a vapor 1390 em rodasdágua e 94119 pessoas ocupadas Em 1865 em contrapartida as mesmas fábricas dispunham de 95163 teares a vapor 7025031 fusos 28925 cavalosvapor em máquinas a vapor 1445 em rodasdágua e 88913 pessoas ocupadas De 1860 a 1865 portanto ocorreu nessas fábricas um aumento de 11 em teares a vapor 3 em fusos 5 em cavalos vapor ao passo que o número de pessoas ocupadas diminuiu 55227 Entre 1852 e 1862 assistiuse a um considerável crescimento da fabricação inglesa de lã enquanto o número de trabalhadores empregados permaneceu quase estacionário I sso mostra em que grande medida a maquinaria recémintroduzida havia deslocado o trabalho de épocas anteriores228 Em certos casos empíricos o aumento de trabalhadores fabris ocupados é com frequência apenas aparente isto é não se deve à expansão da fábrica já fundada na produção mecanizada mas à anexação gradual de ramos auxiliares Por exemplo entre 1838 e 1858 nas fábricas da indústria algodoeira britânica o aumento dos teares mecânicos e dos trabalhadores fabris neles ocupados foi ocasionado simplesmente pela expansão desse ramo de atividades nas outras fábricas ao contrário isso se deveu à introdução da força do vapor nos teares de tapetes fitas linho etc cuja força motriz era até então a força muscular humana229 De modo que o aumento desses operários fabris não era mais do que a expressão de uma redução do número total de trabalhadores ocupados Por fim não levamos em conta aqui o fato de que por toda parte com exceção das fábricas metalúrgicas trabalhadores adolescentes menores de 18 anos mulheres e crianças constituem o elemento amplamente preponderante do 346 pessoal fabril Compreendese porém não obstante a massa trabalhadora deslocada de fato e virtualmente substituída pela indústria maquinizada que com o crescimento desta última expresso no número aumentado de fábricas da mesma espécie ou nas dimensões ampliadas das fábricas existentes os operários fabris possam ser no fim das contas mais numerosos do que os trabalhadores manufatureiros ou os artesãos por eles deslocados Suponha que no velho modo de produção o capital de 500 aplicado semanalmente consista por exemplo em 25 de capital constante e 35 de capital variável isto é que 200 sejam investidas em meios de produção 300 em força de trabalho digamos à razão de 1 por trabalhador Com a produção mecanizada a composição do capital total se transforma Este se decompõe agora por exemplo numa parte constante de 45 e numa parte variável de 15 ou dito de outro modo apenas 100 são investidas em força de trabalho Portanto 23 dos trabalhadores anteriormente ocupados são dispensados Se essa indústria fabril se expandir e o capital total investido permanecendo inalteradas as demais condições de produção aumentar de 500 para 1500 teremos trezentos trabalhadores ocupados tantos quantos antes da Revolução I ndustrial Se o capital aplicado aumentar até 2 mil então quatrocentos trabalhadores serão empregados portanto 13 a mais que no antigo modo de produção Em termos absolutos o número de trabalhadores empregados aumentou em 100 em termos relativos isto é em proporção ao capital total adiantado ele caiu em 800 uma vez que no antigo modo de produção o capital de 2 mil teria ocupado 1200 em vez de quatrocentos trabalhadores A diminuição relativa do número de trabalhadores é assim compatível com seu aumento absoluto Anteriormente partimos do pressuposto de que ao crescer o capital total sua composição permanecia constante pois tampouco se modificavam as condições de produção Mas já sabemos que a cada progresso do sistema da maquinaria aumenta a parte constante do capital isto é a parte composta de maquinaria matériaprima etc ao mesmo tempo que diminui o capital variável investido em força de trabalho e sabemos também que em nenhum outro modo de produção o aperfeiçoamento é tão constante e por isso a composição do capital total é tão variável Essa mudança contínua é no entanto interrompida de modo igualmente constante por intervalos de parada e por uma expansão meramente quantitativa sobre uma dada base técnica Com isso aumenta o número de trabalhadores ocupados Assim por exemplo o número de todos os operários nas fábricas de algodão lã estame linho e seda no Reino Unido somava em 1835 apenas 354684 enquanto em 1861 só o número de tecelões operando teares a vapor de ambos os sexos e das mais diferentes idades a partir dos 8 anos chegava a 230654 De fato esse crescimento não parece tão grande quando se leva em conta que em 1838 os tecelões manuais britânicos de algodão juntamente com os familiares que eles ocupavam somavam 800 mil230 para não mencionar os tecelões deslocados na Ásia e no continente europeu Nas poucas observações que ainda nos restam fazer sobre esse ponto trataremos em parte de relações puramente fatuais ainda não alcançadas por nossa exposição teórica 347 Enquanto a produção mecanizada se expande num ramo industrial à custa do artesanato ou da manufatura tradicionais seus sucessos são tão seguros quanto seriam os de um exército armado com fuzis de agulha contra um exército de arqueiros Esse período inicial em que a máquina conquista pela primeira vez seu campo de ação é de importância decisiva devido aos extraordinários lucros que ajuda a produzir Esses não só constituem por si mesmos uma fonte de acumulação acelerada como atraem à esfera favorecida da produção grande parte do capital social adicional que se forma constantemente e busca novas aplicações Importação anual média quarters 1096373 2389729 2843865 8776552 Exportação anual média quarters 225263 251770 139056 155461 Excedente da importação sobre a exportação nas médias anuais 871110 2137959 2704809 8621091 População anual média em cada período 24621107 25929507 27262559 27797598 Média de grãos etc em quarters acima da produção doméstica consumida anualmente por habitante em divisão igual entre a população 0036 0082 0099 0310 18511855 18561860 18611865 1866 Importação anual média quarters 8345237 10913612 15009871 16457340 Exportação anual média quarters 307491 341150 302754 216218 Excedente da importação sobre a exportação nas médias anuais 8037746 10572462 14707117 216218 População anual média em cada período 27572923 28391544 29381760 29935404 Média de grãos etc em quarters acima da produção doméstica consumida anualmente por habitante em divisão igual entre a população 0291 0372 0501 0543 A enorme capacidade própria do sistema fabril de expandirse aos saltos e sua dependência do mercado mundial geram necessariamente uma produção em ritmo febril e a consequente saturação dos mercados cuja contração acarreta um período de estagnação A vida da indústria se converte numa sequência de períodos de vitalidade mediana prosperidade superprodução crise e estagnação A insegurança e a instabilidade a que a indústria mecanizada submete a ocupação e com isso a condição de vida do trabalhador tornamse normais com a ocorrência dessas oscilações periódicas do ciclo industrial Descontadas as épocas de prosperidade grassa entre os capitalistas a mais encarniçada luta por sua participação individual no mercado Tal participação é diretamente proporcional ao baixo preço do produto Além da rivalidade que essa luta provoca pelo uso de maquinaria aperfeiçoada substitutiva de força de trabalho e pela aplicação de novos métodos de produção chegase sempre a um ponto em que se busca baratear a mercadoria por meio da redução forçada dos salários abaixo do valor da força de trabalho235 O crescimento do número de trabalhadores fabris é portanto condicionado pelo crescimento proporcionalmente muito mais rápido do capital total investido nas fábricas Mas esse processo só se realiza nos períodos de alta e baixa do ciclo industrial Ademais ele é constantemente interrompido pelo progresso técnico que ora substitui virtualmente os trabalhadores ora os desloca de fato Essa mudança qualitativa na indústria mecanizada expulsa constantemente trabalhadores da fábrica ou cerra seus portões ao novo afluxo de recrutas ao mesmo tempo que a expansão meramente quantitativa das fábricas absorve juntamente com aqueles expulsos novos contingentes de trabalhadores Desse modo os trabalhadores são continuamente repelidos e atraídos jogados de um lado para outro e isso em meio a uma mudança 349 constante no que diz respeito ao sexo idade e destreza dos recrutados As vicissitudes do operário fabril serão melhor evidenciadas por meio de uma rápida análise das vicissitudes da indústria algodoeira inglesa De 1770 a 1815 a indústria algodoeira esteve em depressão ou estagnação por 5 anos Durante esse primeiro período de 45 anos os fabricantes ingleses desfrutavam do monopólio da maquinaria e do mercado mundial De 1815 a 1821 depressão em 1822 e 1823 prosperidade em 1824 são abolidas as leis de coalizãou grande expansão geral das fábricas em 1825 crise em 1826 grande miséria e levantes entre os trabalhadores do algodão em 1827 leve melhora em 1828 grande aumento dos teares a vapor e das exportações em 1829 a exportação particularmente para a Índia supera a de todos os anos anteriores em 1830 mercados saturados grande calamidade de 1831 a 1833 depressão contínua a Companhia das Índias Orientais é privada do monopólio do comércio com o Extremo Oriente Índia e China Em 1834 grande incremento de fábricas e maquinaria escassez de mão de obra A nova Lei dos Pobres promove o êxodo dos trabalhadores agrícolas para os distritos fabris Grande busca de crianças nos condados rurais Tráfico de escravos brancos Em 1835 grande prosperidade Ao mesmo tempo os tecelões manuais de algodão morrem de fome Em 1836 grande prosperidade Em 1837 e 1838 depressão e crise Em 1839 recuperação Em 1840 grande depressão insurreições intervenção do Exército Em 1841 e 1842 terríveis sofrimentos dos operários fabris Em 1842 os fabricantes expulsam os operários das fábricas a fim de forçar a revogação das leis dos cereais Milhares de trabalhadores vão para Yorkshire onde são repelidos pelo Exército e seus líderes sendo levados a julgamento em Lancaster Em 1843 grande miséria Em 1844 recuperação Em 1845 grande prosperidade Em 1846 primeiramente ascensão contínua em seguida sintomas de reação Revogação das leis dos cereais Em 1847 crise Redução geral dos salários em 10 ou mais para a festa do big loaf duplicação do tamanho do pão Em 1848 continua a depressão Manchester sob ocupação militar Em 1849 recuperação Em 1850 prosperidade Em 1851 preço das mercadorias em baixa salários baixos greves frequentes Em 1852 tem início um processo de melhora Continuam as greves os fabricantes ameaçam importar trabalhadores estrangeiros Em 1853 exportações em alta Greve de oito meses e grande miséria em Preston Em 1854 prosperidade saturação dos mercados Em 1855 chegam notícias de falências provenientes dos Estados Unidos do Canadá e dos mercados da Ásia oriental Em 1856 grande prosperidade Em 1857 crise Em 1858 melhora Em 1859 grande prosperidade aumento das fábricas Em 1860 apogeu da indústria algodoeira inglesa Os mercados indiano australiano e de outros países encontramse tão saturados que ainda em 1863 mal haviam conseguido absorver todo o encalhe Tratado comercial com a França Enorme crescimento das fábricas e da maquinaria Em 1861 a melhora continua por algum tempo reação Guerra Civil Americana escassez de algodão De 1862 a 1863 colapso total A história da escassez de algodão é característica demais para que não nos ocupemos dela por um instante Os indicadores das condições do mercado mundial de 1860 a 1861 mostram que a crise do algodão foi oportuna e parcialmente vantajosa para os fabricantes fato reconhecido nos relatórios da Câmara de Comércio de Manchester 350 proclamado no Parlamento por Palmerston e Derby e confirmado pelos acontecimentos236 Certamente em 1836 muitas dentre as 2887 fábricas algodoeiras do Reino Unido eram pequenas Segundo o relatório do inspetor de fábrica A Redgrave cujo distrito administrativo compreendia 2109 dessas 2887 fábricas 392 delas ou seja 19 empregavam menos de 10 cavalosvapor 345 delas ou 16 empregavam entre 10 e 20 cavalosvapor ao passo que 1372 empregavam 20 ou mais cavalosvapor237 A maioria das pequenas fábricas eram tecelagens construídas a partir de 1858 durante o período de prosperidade a maior parte delas por especuladores dos quais um fornecia o fio outro a maquinaria e um terceiro o prédio sob a direção de antigos overlookers capatazes ou de outras pessoas desprovidas de recursos A maior parte desses pequenos fabricantes se arruinou O mesmo destino lhes teria reservado a crise comercial evitada pela crise algodoeira Embora constituíssem um terço do número de fabricantes suas fábricas absorviam uma parte incomparavelmente menor do capital investido na indústria algodoeira Quanto à magnitude da paralisação segundo estimativas fidedignas 603 dos fusos e 58 dos teares estavam parados em outubro de 1862 I sso se refere a todo o ramo industrial e naturalmente modificavase muito em cada distrito individual Apenas algumas poucas fábricas trabalhavam em tempo integral 60 horas semanais as demais trabalhavam com interrupções Mesmo no que diz respeito aos poucos trabalhadores ocupados em tempo integral e que habitualmente recebiam por peça seu salário semanal era necessariamente reduzido devido à substituição do algodão de melhor qualidade pelo pior das Sea I slandsv pelo egípcio nas fiações finas do americano e egípcio pelo surat das Índias Orientais e do algodão puro por misturas de restos de algodão com surat A fibra mais curta do algodão surat a impureza que lhe é natural a maior fragilidade das fibras e a substituição da farinha a fim de engomar os fios da urdidura etc por todo tipo de ingredientes mais pesados diminuíam a velocidade da maquinaria ou o número de teares que um tecelão podia vigiar aumentando o trabalho destinado a corrigir os erros da máquina e reduzindo juntamente com a quantidade menor dos produtos a remuneração por peça Com o uso de surat e o trabalho em tempo integral a perda do trabalhador aumentou em 2030 e até mais Porém a maioria dos fabricantes também rebaixou a taxa de salário por peça em 5 75 e 10 Compreendese portanto a situação daqueles que só estavam ocupados por 3 312 ou 4 dias por semana ou apenas 6 horas por dia Em 1863 já depois de uma melhoria relativa os salários semanais dos tecelões fiandeiros etc eram de 3 xelins e 4 pence 3 xelins e 10 pence 4 xelins e 6 pence 5 xelins e 1 peeny etc238 Mesmo nessas condições angustiosas não se esgotava o espírito inventivo do fabricante em matéria de descontos salariais Estes eram impostos em parte como multas por defeitos no produto provocados pela má qualidade do algodão maquinaria inadequada etc Mas onde o fabricante era o proprietário dos cottages casebres dos trabalhadores ele cobrava os aluguéis por meio de descontos no salário nominal O inspetor de fábrica Redgrave narra o caso de selfacting minders que supervisionam várias selfacting mules que ao término de 14 dias de trabalho integral recebiam 8 xelins e 11 pence de cuja soma se descontava o aluguel da casa ainda que o fabricante lhes devolvesse a metade como presente de modo que os minders levavam para casa 6 xelins e 11 pence 351 Ao final de 1862 o salário semanal dos tecelões variava de 2 xelins e 6 pence para cima239 Mesmo quando a mão de obra trabalhava apenas em horário reduzido o aluguel era frequentemente descontado de seus salários240 Não é de admirar portanto que em alguns distritos de Lancashire se alastrasse uma espécie de peste de fome Mas o mais característico de tudo isso é como o revolucionamento do processo de produção se realizou à custa do trabalhador Assistiuse a verdadeiros experimenta in corpore vili experimentos num corpo sem valor como aqueles que os anatomistas realizam em rãs Embora diz o inspetor de fábrica Redgrave eu tenha informado as quantias de fato recebidas pelos operários em muitas fábricas disso não se deve concluir que eles recebam a mesma quantia a cada semana Os operários estão à mercê das maiores flutuações em razão das constantes experimentações experimentalizing dos fabricantes As remunerações dos trabalhadores aumentam ou diminuem segundo a qualidade da mistura do algodão ora ficam 15 abaixo de seus ganhos antigos ora caem duas semanas depois a 50 ou 60 daquele valor241 Esses experimentos não eram feitos somente à custa dos meios de subsistência dos trabalhadores Eles tinham de pagar por isso com todos os seus cinco sentidos Os trabalhadores ocupados em abrir os fardos de algodão informaram que o odor insuportável lhes causava náuseas Nas oficinas de mistura scribbling carminado e cardagem o pó e a sujeira que se desprendem irritam todos os orifícios da cabeça provocam tosse e dificultam a respiração Como a fibra é muito curta engomála requer a adição de uma grande quantidade de material e todo tipo de substitutos para a farinha anteriormente usada Isso provoca náusea e dispepsia nos tecelões Por causa do pó a bronquite está generalizada assim como a inflamação da garganta e também uma doença da pele causada pela irritação provocada pela sujeira contida no surat Por outro lado os substitutos da farinha aumentando o peso do fio eram para os senhores fabricantes uma sacola de Fortunatox Eles faziam 15 libras de matéria prima pesarem 20 libras depois de tecidas242 No relatório dos inspetores de fábrica de 30 de abril de 1864 lêse A indústria explora atualmente essa fonte auxiliar numa proporção de fato indecente Sei de fonte confiável que um tecido de 8 libras é fabricado com 514 libras de algodão e 234 libras de goma Outro tecido de 514 libras continha 2 libras de goma Tratavase neste caso de shirtings tecido para camisas ordinários para exportação Em gêneros de outros tipos agregase por vezes 50 de goma de forma que os fabricantes podem se vangloriar e realmente o fazem de que enriquecem com a venda de tecidos por um preço menor do que custa o fio contido neles nominalmente243 Mas não apenas os operários tiveram de sofrer com as experimentações dos fabricantes nas fábricas e das municipalidades fora das fábricas com a redução de salários e com o desemprego com a escassez e as esmolas com os discursos laudatórios dos lordes e dos membros da Câmara dos Comuns I nfortunadas mulheres desempregadas em decorrência da crise do algodão tornaramse párias da sociedade e continuaram a sêlo O número de jovens prostituídas cresceu mais do que nos últimos 25 anos244 Portanto nos primeiros 45 anos da indústria algodoeira britânica de 1770 a 1815 encontramos apenas cinco anos de crise e estagnação mas esse foi o período de seu monopólio mundial O segundo período ou seja os 48 anos que vão de 1815 a 1863 conta apenas vinte anos de recuperação e prosperidade contra 28 de depressão e estagnação De 1815 a 1830 tem início a concorrência com a Europa continental e os 352 Estados Unidos A partir de 1833 a expansão dos mercados asiáticos se impõe por meio da destruição da raça humana Desde a revogação das leis dos cereais de 1846 a 1863 houve outros anos de vitalidade e prosperidade médias contra nove de depressão e estagnação A nota que inserimos abaixo permite julgar a situação dos trabalhadores masculinos adultos nas fábricas algodoeiras mesmo durante as épocas de prosperidade metamorfose permanece a mais difícil na qual a produção manufatureira do artigo não inclui qualquer sequência de processos de desenvolvimento mas uma multiplicidade de processos diferentes Tal foi por exemplo o grande obstáculo à fabricação de penas de aço No entanto há uns 15 anos já foi inventado um autômato que executa 6 processos distintos ao mesmo tempo Em 1820 a produção artesanal forneceu as primeiras 12 dúzias de penas de aço ao preço de 7 e 4 xelins em 1830 a manufatura já as fornecia a 8 xelins e hoje a fábrica as fornece ao comércio atacadista a um preço entre 2 a 6 pence249 b Efeito retroativo do sistema fabril sobre a manufatura e o trabalho domiciliar Com o desenvolvimento do sistema fabril e o conseguinte revolucionamento da agricultura não só se amplia a escala da produção nos demais ramos da indústria como também se modifica seu caráter Por toda parte tornase determinante o princípio da produção mecanizada a saber analisar o processo de produção em suas fases constitutivas e resolver os problemas assim dados por meio da aplicação da mecânica da química etc em suma das ciências naturais Logo a maquinaria se impõe ora neste ora naquele processo parcial no interior das manufaturas Com isso a cristalização rígida da organização manufatureira que tem origem na velha divisão do trabalho é dissolvida e dá lugar a uma modificação incessante Além disso a composição do trabalhador coletivo ou do pessoal combinado de trabalho é revolucionada desde seus fundamentos Contrariamente ao período da manufatura agora o plano da divisão do trabalho se baseia sempre que possível na utilização do trabalho feminino do trabalho de crianças de todas as idades de trabalhadores não qualificados em suma do cheap labour o trabalho barato como o inglês o denomina de modo tão característico I sso vale não só para toda a produção combinada em larga escala quer empregue maquinaria ou não mas também para a assim chamada indústria domiciliar tenha ela lugar nas residências privadas dos trabalhadores ou em pequenas oficinas Essa assim chamada indústria domiciliar moderna nada tem a ver exceto pelo nome com a indústria domiciliar antiga que pressupunha um artesanato urbano e uma economia camponesa independentes além de sobretudo um lar da família trabalhadora Atualmente essa indústria se converteu no departamento externo da fábrica da manufatura ou da grande loja Além dos trabalhadores fabris dos trabalhadores manufatureiros e dos artesãos que ele concentra espacialmente em grandes massas e comanda diretamente o capital movimenta por fios invisíveis um outro exército o dos trabalhadores domiciliares espalhados pelas grandes cidades e pelo campo Exemplo a fábrica de camisas do sr Tillie em Londonderry I rlanda que emprega mil trabalhadores na fábrica e 9 mil trabalhadores domiciliares dispersos pelo campo250 A exploração de forças de trabalho baratas e imaturas tornase mais inescrupulosa na manufatura moderna do que na fábrica propriamente dita pois a base técnica existente nesta última a substituição da força muscular por máquinas e a facilidade do trabalho é algo que inexiste em grande parte na primeira que ao mesmo tempo 354 submete o corpo de mulheres e crianças com a maior naturalidade à influência de substâncias tóxicas etc Essa exploração se torna ainda mais inescrupulosa no assim chamado trabalho domiciliar do que na manufatura porque a capacidade de resistência dos trabalhadores diminui em consequência de sua dispersão porque toda uma série de parasitas rapaces se interpõe entre o verdadeiro patrão e o trabalhador porque o trabalho domiciliar compete em toda parte e no mesmo ramo da produção com a indústria mecanizada ou ao menos manufatureira porque a pobreza rouba do trabalhador as condições de trabalho mais essenciais como espaço luz ventilação etc porque cresce a instabilidade do emprego e finalmente porque a concorrência entre os trabalhadores atinge necessariamente seu grau máximo nesses últimos refúgios daqueles que a grande indústria e a grande agricultura transformaram em supranumerários überzählig A economia dos meios de produção que a produção mecanizada desenvolve sistematicamente pela primeira vez e que consiste ao mesmo tempo no desperdício mais inescrupuloso de força de trabalho e no roubo dos pressupostos normais da função do trabalho revela agora tanto mais esse seu aspecto antagônico e homicida quanto menos estiverem desenvolvidas num ramo industrial a força produtiva social do trabalho e a base técnica dos processos combinados de trabalho c A manufatura moderna I lustrarei agora com alguns exemplos as proposições anteriormente enunciadas O leitor já conhece uma massiva documentação apresentada na seção sobre a jornada de trabalho As manufaturas metalúrgicas em Birmingham e adjacências empregam em grande parte para trabalhos muito pesados 30 mil crianças e adolescentes além de 10 mil mulheres Aí podemos encontrálos nas insalubres fundições de latão fábricas de botões oficinas de esmaltação galvanização e laqueamento251 O excesso de trabalho para maiores e menores de idade garantiu a diversas gráficas de jornais e livros de Londres a honrosa alcunha de matadouro251a Os mesmos excessos cujas vítimas são principalmente mulheres moças e crianças ocorrem no ramo da encadernação de livros Trabalho pesado para menores nas cordoarias trabalho noturno em salinas em manufaturas de velas e outras manufaturas químicas utilização assassina de adolescentes como força motriz de teares nas tecelagens de seda não movidas mecanicamente252 Um dos trabalhos mais infames abjetos e mal pagos para o qual são preferencialmente empregados rapazes e mulheres é o de classificar farrapos É sabido que a GrãBretanha além de seus inúmeros esfarrapadosa próprios constitui o empório para o comércio de farrapos do mundo inteiro Eles afluem do J apão dos mais longínquos Estados da América do Sul e das ilhas Canárias Mas as principais fontes de suprimento são Alemanha França Rússia I tália Egito Turquia Bélgica e Holanda Servem como adubo para a fabricação de estofo para roupa de cama shoddy lã artificial e como matériaprima do papel Os classificadores de farrapos servem como transmissores de varíola e de outras epidemias cujas primeiras vítimas são eles mesmos253 Como exemplo clássico de sobretrabalho trabalho pesado e inadequado e da consequente brutalização dos trabalhadores consumidos desde a 355 infância podemos citar além da mineração e da produção de carvão a fabricação de tijolos ramos nos quais na I nglaterra a máquina recéminventada só é usada esporadicamente 1866 Entre maio e setembro o trabalho dura de 5 horas da manhã até 8 da noite e onde a secagem é feita ao ar livre ele com frequência se estende de 4 horas da manhã às 9 da noite A jornada de trabalho de 5 horas da manhã às 7 da noite é considerada reduzida moderada Crianças de ambos os sexos são empregadas a partir do sexto ou até mesmo do quarto ano de idade Elas trabalham o mesmo número de horas dos adultos e frequentemente mais do que eles O trabalho é árduo e o calor do verão aumenta ainda mais o cansaço Numa olaria em Mosley por exemplo uma moça de 24 anos fabricava diariamente 2 mil tijolos tendo por auxiliares duas moças menores de idade que traziam a argila e empilhavam os tijolos Essas moças carregavam 10 toneladas de argila por dia percorrendo um trajeto de 210 pés por um aclive escorregadio de uma escavação de 30 pés de profundidade É impossível que uma criança passe pelo purgatório de uma olaria sem experimentar uma grande degradação moral A linguagem indigna que ela tem de ouvir desde a mais terna infância os hábitos obscenos indecentes e desavergonhados entre os quais as crianças crescem ignorantes e até selvagens fazem delas para o resto da vida pessoas desaforadas vis e dissolutas Uma terrível fonte de desmoralização são as condições em que moram Cada moulder moldador o trabalhador verdadeiramente qualificado e chefe de um grupo de trabalho fornece a seu grupo de sete pessoas alojamento e refeições em seu casebre ou cottage Pertencendo ou não a sua família dormem em seu casebre homens adolescentes e moças O casebre consiste em dois excepcionalmente três quartos todos térreos com pouca ventilação Os corpos estão tão exaustos pela grande transpiração durante o dia que não se observam quaisquer regras de higiene limpeza ou decência Muitos desses casebres são verdadeiros modelos de desordem sujeira e pó O maior mal desse sistema que emprega moças nesse tipo de trabalho está em que ele geralmente as agrilhoa desde a infância e por toda a vida à corja mais depravada Elas se convertem em rapazes rudes e desbocados rough foulmouthed boys antes mesmo que a natureza lhes tenha ensinado que são mulheres Vestidas com uns poucos farrapos imundos pernas desnudas até bem acima dos joelhos cabelos e rostos tisnados aprendem a desdenhar de todos os sentimentos de decência e recato Durante as horas das refeições deitamse pelos campos ou espiam os rapazes que se banham num canal próximo Por fim concluída sua árdua faina cotidiana vestem trajes melhores e acompanham os homens às tabernas Nada mais natural do que a enorme ocorrência de alcoolismo já desde a infância nessa classe inteira O pior é que o oleiros desesperam de si mesmos Um dos melhores desses trabalhadores declarou ao vicário de Southallfield é tão fácil conseguir educar e melhorar o diabo quanto o oleiro senhor You might as well try to raise and improve the devil as a brickie Sir254 Sobre o modo como os capitalistas economizam condições de trabalho na manufatura moderna que inclui aqui todos as oficinas em larga escala com exceção das fábricas propriamente ditas encontrase farto material oficial nos Public Health Reports I V 1861 e VI 1864 A descrição dos workshops ateliês de trabalho especialmente o dos impressores e alfaiates londrinos vai além das fantasias mais repulsivas de nossos romancistas As consequências sobre o estado de saúde dos trabalhadores é evidente O dr Simon o mais graduado funcionário médico do Privy Councilz e editor oficial dos Public Health Reports diz entre outras coisas Em meu quarto relatório 1861 mostrei como é praticamente impossível para os trabalhadores obter o cumprimento daquilo que é seu primeiro direito em matéria de saúde a saber que o trabalho qualquer que seja a atividade para a qual os trabalhadores são reunidos esteja livre de todas as condições insalubres que possam ser evitadas pelo empregador Demonstrei que enquanto os trabalhadores forem praticamente incapazes de impor eles mesmos essa justiça sanitária não poderão obter nenhuma ajuda eficaz dos funcionários nomeados da polícia sanitária Atualmente a vida de miríades de trabalhadores e trabalhadoras é inutilmente torturada e abreviada 356 Número de pessoas de todas as faixas etárias empregadas na indústria 958265 Agricultores na Inglaterra e no País de Gales 22301 homens 12377 mulheres 13803 Impressores de Londres Indústrias comparadas no que diz respeito à saúde Taxa de mortalidade por cada 100 mil homens nas respectivas indústrias e nas faixas etárias indicadas 25 a 35 anos 35 a 45 anos 45 a 55 anos 743 805 1145 958 1262 2093 894 1747 2367 O lace finishing acabamento da renda é realizado como trabalho domiciliar seja nas assim chamadas mistresses houses casas de mestras ou por mulheres que trabalham em suas próprias casas sozinhas ou com seus filhos As mulheres que mantêm as mistresses houses são igualmente pobres O local de trabalho é uma parte de sua residência privada Elas recebem encomendas de fabricantes proprietários de grandes lojas etc e empregam mulheres moças e crianças pequenas conforme o tamanho dos aposentos disponíveis e a demanda flutuante do negócio O número de trabalhadoras ocupadas varia de vinte a quarenta em alguns locais e de dez a vinte em outros Seis anos é a média da idade mínima com que as crianças começam a trabalhar mas algumas o fazem com menos de 5 anos O tempo de trabalho habitual é de 8 horas da manhã às 8 da noite com 1 hora e meia para as refeições demais de modo irregular e muitas vezes nos próprios buracos fétidos onde se trabalha Se os negócios vão bem o trabalho costuma durar das 8 horas às vezes das 6 horas da manhã até 10 11 ou 12 horas da noite Nas casernas inglesas o espaço regularmente de cada soldado é de 500 a 600 pés cúbicos nos lazaretos militares é de 1200 Naqueles buracos de trabalho em contrapartida cada pessoa dispõe de 67 a 100 pés cúbicos Ao mesmo tempo a iluminação a gás consome o oxigênio do ambiente Para manter as rendas limpas as crianças têm frequentemente de tirar os sapatos mesmo no inverno sendo o assoalho revestido de lajota ou ladrilho agrícolas ingleses o distrito rendeiro de Honiton que ocupa de 20 a 30 milhas ao longo da costa meridional de Devonshire e inclui uns poucos lugares de North Devon e outro distrito que se estende sobre grande parte dos condados de Buckingham Bedford Northampton e as localidades vizinhas de Oxfordshire e Huntingdonshire Os cottages dos diaristas agrícolas constituem geralmente os locais de trabalho Alguns donos de manufatura chegam a empregar mais de 3 mil desses trabalhadores domiciliares sobretudo crianças e adolescentes unicamente do sexo feminino Aqui se repetem as condições descritas no lace finishing A diferença é que no lugar das mistresses houses surgem as assim chamadas lace schools escolas de rendado mantidas por mulheres pobres em seus casebres As crianças trabalham nessas escolas a partir dos 5 anos de idade às vezes menos até os 12 ou 15 anos durante o primeiro ano os mais jovens trabalham de 4 a 8 horas depois das 6 horas da manhã até as 8 ou 10 horas da noite Os recintos são geralmente salas de estar comuns de pequenos cottages com a chaminé tapada para evitar correntes de ar os ocupantes mantendose aquecidos também no inverno apenas por seu próprio calor animal Em outros casos essas assim chamadas salas de aula são pequenas despensas sem lareira A superlotação desses buracos e a poluição do ar assim causada são frequentemente extremas Acrescentase a isso o efeito nocivo dos canais de esgotos latrinas substâncias em decomposição e de outras imundícies que se acumulam nas vias de acesso aos cottages menores Com relação ao espaço Numa escola de rendado 18 moças e a mestra 33 pés cúbicos por pessoa em outra onde o mau cheiro era insuportável 18 pessoas 245 pés cúbicos por cabeça Nessa atividade podemos encontrar crianças de 2 e 25 anos de idade261 Onde acaba a renda de bilros nos condados rurais de Buckingham e Bedford começa o entrançado de palha Ele compreende grande parte de Hertfordshire e regiões ocidentais e setentrionais de Essex Em 1861 havia 48043 pessoas ocupadas no entrançado de palha e na confecção de chapéus de palha sendo 3815 do sexo masculino em todas as faixas etárias e as demais do sexo feminino das quais 14913 menores de 20 anos de idade e 7 mil delas crianças No lugar das escolas de rendado surgem as straw plait schools escolas de entrançado de palha Nelas as crianças aprendem a entrançar a palha a partir dos 4 anos de idade às vezes entre os 3 e os 4 anos Educação é claro elas não recebem nenhuma As próprias crianças chamam as escolas primárias de natural schools escolas naturais para diferenciálas dessas instituições sugadoras de sangue nas quais são obrigadas a trabalhar até que concluam a tarefa geralmente 30 jardas por dia exigida por suas mães semifamélicas Essas mães costumam fazêlas trabalhar em casa até as 10 11 12 horas da noite A palha lhes corta os dedos e a boca com a qual a umedecem constantemente Segundo o ponto de vista comum aos funcionários médicos de Londres resumido pelo dr Ballard o espaço mínimo para cada pessoa num dormitório ou sala de trabalho é de 300 pés cúbicos Nas escolas de entrançado de palha porém o espaço é distribuído ainda mais escassamente do que nas escolas de rendado variando entre 1223 17 1812 e 22 pés cúbicos por pessoa Os menores desses números diz o comissário White representam um espaço menor do que aquele que uma criança ocuparia se empacotada numa caixa de 3 pés em 359 Em Nottingham não é nada incomum encontrar de quinze a vinte crianças amontoadas num cubículo de talvez não mais de 12 pés quadrados ocupadas durante 15 a 24 horas do dia num trabalho por si mesmo extremamente por seu lastro e monotonia além disso executadas as condições mais insustentáveis possíveis Mesmo as crianças mais jovens trabalham com atenção redobrada e numa velocidade espantosa quase não podendo descansar seus olhos de movimentose mais lentamente Quando se lhes pergunta algo jamais erguem os olhos do serviço por receio de perder um só instante todas as dimensões Assim desfrutam da vida essas crianças até os 12 ou 14 anos de idade Os pais miseráveis e degradados só pensam em arrancar o máximo possível de seus filhos Estes por sua vez quando crescidos não dão mais a mínima para seus pais e os abandonam Não admira que a ignorância e o vício abundem numa população criada dessa maneira Sua moralidade está no mais baixo nível Grande parte das mulheres têm filhos ilegítimos e muitas numa idade tão precoce que até mesmo os familiarizados com estatística criminal ficam horrorizados262 E a pátria dessas famíliasmodelos segundo afirma o conde de Montalembert sem dúvida autoridade competente em matéria de cristianismo é o país cristão modelar da Europa O salário que já é miserável nos ramos de atividades que abordamos anteriormente o salário máximo excepcionalmente pago às crianças nas escolas de entrançado de palha é de 3 xelins é ainda reduzido a muito menos do que seu montante nominal por meio do truck system sistema de pagamento com bônus que prepondera de modo geral nos distritos rendeiros263 e Transição da manufatura e do trabalho domiciliar modernos para a grande indústria Aceleração dessa revolução mediante a aplicação das leis fabris a esses modos de produzir Betriebsweisen O barateamento da força de trabalho por meio do simples abuso de forças de trabalho femininas e imaturas do roubo de todas as condições normais de trabalho e de vida e da brutalidade nua e crua do trabalho excessivo e do trabalho noturno acaba por se chocar contra certas barreiras naturais que já não se podem transpor assim como ocorre com o barateamento das mercadorias e a exploração capitalista em geral que repousam sobre esses fundamentos Assim que esse ponto é finalmente alcançado e isso demora bastante soa a hora para a introdução da maquinaria e a transformação agora rápida da produção domiciliar dispersa ou inclusive da manufatura em produção fabril O mais colossal exemplo desse movimento nos é fornecido pela produção de wearing apparel acessórios de vestuário Segundo a classificação da Childrens Employment Commission essa indústria compreende produtores de chapéus de palha e de chapéus femininos produtores de gorros alfaiates milliners e dressmakers264 camiseiros e costureiras espartilheiros luveiros sapateiros além de muitos ramos menores como a fabricação de gravatas colarinhos etc O pessoal feminino ocupado nessas indústrias na I nglaterra e no País de Gales chegava em 1861 a 586298 pessoas das quais pelo menos 115242 eram menores de 20 anos e 16560 menores de 15 anos O número dessas trabalhadoras no Reino Unido 1861 era de 750334 A quantidade de trabalhadores do sexo masculino ocupados à mesma época na confecção de chapéus calçados luvas e alfaiataria na I nglaterra e no País de Gales era de 437969 dos quais 14964 menores de 15 anos 89285 entre 15 a 20 anos e 333117 maiores de 20 anos de idade Nesses dados não figuram muitos ramos menores que aí deveriam 360 estar incluídos Porém se tomamos esses números tal como eles se apresentam o resultado é só para a I nglaterra e o País de Gales segundo o censo de 1861 uma soma de 1024267 pessoas portanto aproximadamente tantas quantas são absorvidas pela agricultura e pela criação de gado Começamos a entender por que a maquinaria ajuda a criar como num passe de mágica massas tão enormes de produtos e a liberar massas tão enormes de trabalhadores A produção de wearing apparel é realizada por manufaturas que apenas reproduziram em seu interior a divisão do trabalho cujos membra disjecta já encontraram prontos por mestresartesãos menores que já não trabalham como antigamente para consumidores individuais mas para manufaturas e grandes lojas de modo que cidades e regiões inteiras do país frequentemente se especializam em tais atividades como fabricação de calçados etc por fim e em maior medida pelos assim chamados trabalhadores domiciliares que constituem o departamento exterior das manufaturas das grandes lojas e mesmo dos mestresartesãos265 As massas de material de trabalho matériaprima produtos semiacabados etc são fornecidas pela grande indústria e a massa do material humano barato taillable à merci et miséricorde disposta como bem se aprouver é composta por pessoas liberadas pela grande indústria e agricultura As manufaturas dessa esfera devem seu nascimento principalmente à necessidade do capitalista de ter à sua disposição um exército sempre preparado para entrar em ação em qualquer flutuação da demanda266 Essas manufaturas no entanto deixam que a seu lado subsista como sua ampla base a dispersa produção artesanal e domiciliar A grande produção de maisvalor nesses ramos de trabalho juntamente com o barateamento progressivo de seus artigos foi e é devida principalmente ao fato de que o salário é o mínimo necessário para vegetar de modo miserável ao mesmo tempo que o tempo de trabalho é o máximo humanamente possível Foi precisamente o baixo preço de sangue e suor humanos transformados em mercadoria que expandiu constantemente e continua a expandir a cada dia o mercado de escoamento dos produtos e para a I nglaterra em particular também o mercado colonial onde além de tudo predominam os hábitos e gostos ingleses Chegouse por fim a um ponto nodal A base do velho método a mera exploração brutal do material de trabalho acompanhada em maior ou menor medida de uma divisão do trabalho sistematicamente desenvolvida já não bastava a um mercado em expansão e à concorrência cada vez mais acirrada entre os capitalistas Era chegada a hora da maquinaria A máquina decisivamente revolucionária que se apodera indistintamente de todos os inumeráveis ramos dessa esfera da produção como as confecções de trajes finos a alfaiataria a fabricação de sapatos a costura a chapelaria etc é a máquina de costura Seu efeito imediato sobre os trabalhadores é mais ou menos o de toda maquinaria que no período da grande indústria conquista novos ramos de atividade Crianças muito pequenas são excluídas O salário dos operários mecânicos se eleva comparativamente ao dos trabalhadores domiciliares muitos dos quais pertencem aos mais pobres dos pobres the poorest of the poor Cai o salário dos artesãos mais bem colocados com os quais a máquina concorre Os novos operários mecânicos são exclusivamente meninas e moças Com ajuda da força mecânica elas acabam com o 361 monopólio do trabalho masculino em tarefas pesadas e expulsam das tarefas mais leves multidões de mulheres idosas e crianças imaturas A concorrência avassaladora abate os trabalhadores manuais mais fracos Em Londres ao longo da última década o horrendo aumento da morte por inanição death from starvation transcorreu paralelamente à expansão da costura à máquina267 As novas operárias que trabalham com máquinas de costura movidas por elas com o pé e a mão ou só com a mão operação que elas realizam sentadas ou em pé segundo o peso o tamanho e a especialidade da máquina despendem uma força de trabalho considerável Sua ocupação se torna insalubre por conta da duração do processo embora esta seja geralmente menor do que no sistema anterior Onde quer que invada oficinas já por si acanhadas e superlotadas como na confecção de calçados espartilhos chapéus etc a máquina de costura multiplica as influências insalubres O efeito diz o comissário Lord que se experimenta ao adentrar essas oficinas de teto baixo onde trinta a quarenta operários mecânicos trabalham juntos é intolerável E é horrível o calor em parte por causa dos fogões a gás usados para aquecer os ferros de passar Mesmo quando em tais locais prevalecem horários de trabalho tidos por moderados isto é das 8 horas da manhã às 6 da tarde é normal a ocorrência de desmaios de três a quatro pessoas por dia268 O revolucionamento do modo social de produzir esse resultado necessário da transformação do meio de produção consumase num emaranhado caótico de formas de transição Elas variam de acordo com o grau em que a máquina de costura se apodera de um ou outro ramo industrial com o período em que tal processo ocorre com a situação preexistente dos trabalhadores com a preponderância da manufatura do artesanato ou da produção domiciliar com o aluguel dos locais de trabalho269 etc Por exemplo na confecção de trajes finos em que o trabalho na maioria das vezes já se encontrava organizado principalmente sobre a base da cooperação simples a máquina de costura constitui de início apenas um novo fator da produção manufatureira Na alfaiataria na camisaria na confecção de calçados etc todas as formas se entrecruzam Aqui há produção fabril propriamente dita Lá os intermediários recebem do capitalista en chef em chefe a matériaprima e agrupam de dez a cinquenta ou mais assalariados em câmaras ou sótãos ao redor de máquinas de costura Por fim como no caso de toda maquinaria que não constitui um sistema articulado e só pode ser utilizada em escala diminuta artesãos ou trabalhadores domiciliares também empregam com ajuda da própria família ou alguns poucos trabalhadores estranhos máquinas de costura que pertencem a eles mesmos270 De fato atualmente prevalece na I nglaterra o sistema no qual o capitalista concentra um número maior de máquinas em suas instalações e então reparte o produto das máquinas entre o exército de trabalhadores domiciliares para sua elaboração ulterior271 A diversidade das formas de transição não esconde porém a tendência à transformação dessas formas em sistema fabril propriamente dito Essa tendência é fomentada pelo caráter da própria máquina de costura cuja multiplicidade de aplicações induz à unificação no mesmo prédio e sob o comando do mesmo capital de ramos de atividade anteriormente separados em virtude das circunstâncias em que os trabalhos de costura preparatórios e algumas outras operações são executadas de modo mais adequado no local onde se encontra a máquina e por fim por causa da 362 inevitável expropriação dos artesãos e trabalhadores domiciliares que produzem com suas próprias máquinas Em parte esse fado já se abateu sobre eles atualmente A massa cada vez maior de capital investido em máquinas de costura272 fomenta a produção e provoca a saturação do mercado que fazem soar o sinal para que os trabalhadores domiciliares vendam suas máquinas de costura A própria superprodução de tais máquinas obriga seus produtores ávidos de encontrar escoamento para seu produto a alugálas por um pagamento semanal273 criando com isso uma concorrência fatal para os pequenos proprietários de máquinas As constantes alterações na construção e o barateamento das máquinas depreciam de modo igualmente constante seus modelos antigos e fazem com que estes só sejam lucrativos quando comprados a preços irrisórios são utilizados em massa por grandes capitalistas Por último como em todos os processos similares de revolucionamento o elemento decisivo é aqui a substituição do homem pela máquina a vapor A aplicação da força do vapor se choca inicialmente com obstáculos puramente técnicos como a vibração das máquinas as dificuldades em controlar sua velocidade o desgaste acelerado das máquinas mais leves etc obstáculos que em sua totalidade a experiência logo ensina a superar274 Se por um lado a concentração de muitas máquinas de trabalho em grandes manufaturas promove a aplicação da força do vapor por outro a concorrência do vapor com a musculatura humana acelera a concentração de operários e máquinas de trabalho em grandes fábricas Assim atualmente a I nglaterra vivencia tanto na colossal esfera de produção de wearing apparel como na maior parte dos setores da indústria o revolucionamento da manufatura do artesanato e do trabalho domiciliar em sistema fabril depois de todas essas formas inteiramente modificadas decompostas e desfiguradas sob a influência da grande indústria já terem reproduzido e até mesmo ampliado há muito tempo todas as monstruosidades do sistema fabril porém sem os momentos positivos de seu desenvolvimento275 Essa revolução industrial que transcorre de modo naturalespontâneo é artificialmente acelerada pela expansão das leis fabris a todos os ramos da indústria em que trabalhem mulheres adolescentes e crianças A regulamentação compulsória da jornada de trabalho em relação a sua duração pausas início e término o sistema de revezamento para crianças a exclusão de toda criança abaixo de certa idade etc exigem por um lado o incremento da maquinaria276 e a substituição de músculos pelo vapor como força motriz277 Por outro para ganhar em espaço o que se perde em tempo temse a ampliação dos meios de produção utilizados em comum os fornos os edifícios etc portanto em suma uma maior concentração dos meios de produção e por conseguinte uma maior aglomeração de trabalhadores A objeção principal repetida de modo inflamado por toda manufatura ameaçada pela lei fabril é em verdade a da necessidade de um investimento maior de capital para que o negócio se mantenha em sua escala anterior Porém no que diz respeito tanto às formas intermediárias entre a manufatura e a produção domiciliar quanto a esta última propriamente a verdade é que o solo sobre a qual elas se alicerçam afunda quando se limitam a jornada de trabalho e o trabalho infantil A exploração ilimitada de forças de trabalho a baixo preço constitui o único fundamento de sua competitividade 363 A condição essencial do sistema fabril sobretudo quando submetido à regulação da jornada de trabalho é uma segurança normal do resultado isto é da produção de determinada quantidade de mercadoria ou do efeito útil intencionado num dado espaço de tempo As pausas fixadas por lei em sua regulação da jornada de trabalho pressupõem além disso que o trabalho seja interrompido súbita e periodicamente sem prejuízo para o artigo que se encontra em produção Naturalmente essa segurança quanto ao resultado e a capacidade de interrupção do trabalho são mais fáceis de se alcançar em atividades puramente mecânicas do que naquelas em que processos químicos e físicos desempenham um papel importante como na olaria na branquearia na tinturaria na panificação e na maioria das manufaturas metalúrgicas Com a prática da jornada de trabalho ilimitada do trabalho noturno e da livre devastação de seres humanos todo obstáculo naturalespontâneo é logo considerado uma eterna barreira natural Naturschranke à produção Nenhum veneno elimina pragas com mais segurança do que a lei fabril remove tais barreiras naturais Ninguém vociferou com tanta força sobre impossibilidades quanto os donos das cerâmicas Em 1864 foilhes imposta a lei fabril e dezesseis meses mais tarde já haviam desaparecido todas as impossibilidades O método aperfeiçoado que consistia em preparar a pasta de argila slip por pressão e não por evaporação na construção de novos fornos para secagem das peças não queimadas etc todas essas melhorias introduzidas pela lei fabril são acontecimentos de grande importância na arte da cerâmica e que evidenciam um progresso com que o século anterior não pôde rivalizar Reduziuse consideravelmente a temperatura dos fornos com uma considerável redução no consumo de carvão e ação mais rápida sobre a mercadoria278 Não obstante todas as profecias não houve aumento do preço de custo dos artigos de cerâmica mas sim da massa dos produtos ao ponto de a exportação dos doze meses entre dezembro de 1864 e dezembro de 1865 ter resultado num excedente de valor de 138628 acima da média dos três anos anteriores Na fabricação de palitos de fósforos consideravase uma lei natural que os adolescentes ao mesmo tempo que engoliam seu almoço molhassem os palitos num composto de fósforo quente cujo vapor venenoso lhes subia até o rosto Premida pela necessidade de economizar tempo a lei fabril 1864 forçou a criação de uma dipping machine máquina de imersão cujos vapores não atingem o trabalhador279 Assim nos ramos da manufatura de rendas ainda não sujeitos à lei fabril afirmase agora que os horários das refeições não podem ser regulares uma vez que são diferentes os intervalos de tempo que diferentes materiais rendeiros necessitam para secar variando de 3 minutos a 1 hora e até mais A isso respondem os comissários da Childrens Employment Commission As circunstâncias desse caso são as mesmas da estamparia de papéis de parede Alguns dos principais fabricantes nesse ramo afirmavam veementemente que a natureza dos materiais empregados e a diversidade dos processos que eles percorrem não permitiriam qualquer interrupção súbita do trabalho sem que isso acarretasse uma grande perda De acordo com a 6ª cláusula da 6ª seção da Factory Acts Extension Act Lei de Extensão da Lei Fabril 1864 foilhes concedido um prazo de dezoito meses a partir da data de promulgação da lei depois do qual teriam de se ajustar às pausas para descanso especificadas pela lei fabril280 364 Mal a lei recebera a sanção parlamentar e os senhores fabricantes também descobriram Os males que esperávamos da introdução da lei fabril não se efetivaram Não achamos que a produção esteja de modo algum paralisada Na verdade produzimos mais no mesmo tempo281 Como se vê o Parlamento inglês a quem certamente ninguém há de acusar de genialidade chegou por meio da experiência à conclusão de que uma lei coercitiva pode simplesmente remover todas as assim chamadas barreiras naturais da produção contrárias à limitação e regulamentação da jornada de trabalho razão pela qual com a introdução da lei fabril num ramo industrial é fixado um prazo de 6 a 18 meses dentro do qual o fabricante é incumbido de eliminar os obstáculos técnicos O dito de Mirabeau Impossible Ne me dites jamais ce bête de mot I mpossível J amais me digam esta palavra imbecil vale particularmente para a tecnologia moderna Mas se desse modo a lei fabril acelera artificialmente a maturação dos elementos materiais necessários à transformação da produção manufatureira em fabril ela ao mesmo tempo acelera em virtude da necessidade de um dispêndio aumentado de capital a ruína dos pequenos mestres e a concentração do capital282 Além dos obstáculos puramente técnicos e tecnicamente superáveis a regulamentação da jornada de trabalho se choca com hábitos irregulares dos próprios trabalhadores especialmente onde predomina o salário por peça e onde o desperdício de tempo numa parte do dia ou da semana pode ser compensado posteriormente por trabalho adicional ou trabalho noturno método que embrutece o trabalhador masculino adulto e arruína seus companheiros de idade imatura ou do sexo feminino283 Embora essa irregularidade no dispêndio de força de trabalho seja uma reação primitiva e naturalespontânea contra o fastio próprio de um trabalho monótono e maçante ela também surge em grau incomparavelmente maior da anarquia da própria produção que por sua vez pressupõe uma exploração desenfreada da força de trabalho pelo capital Além das variações periódicas gerais do ciclo industrial e das oscilações particulares do mercado em cada ramo de produção ocorrem também a assim chamada temporada Saison regulada seja pela periodicidade das estações do ano mais favoráveis à navegação seja pela moda e a urgência de atender no menor prazo possível a encomendas surgidas repentinamente O hábito dessas encomendas súbitas se expande com as ferrovias e a telegrafia A expansão do sistema ferroviário por todo o país diz por exemplo um fabricante londrino estimulou muito o hábito das encomendas de curto prazo Agora os compradores vêm de Glasgow Manchester e Edimburgo a cada duas semanas ou então compram por atacado nos grandes armazéns da City aos quais fornecemos as mercadorias Fazem encomendas que têm de ser atendidas imediatamente em vez de comprarem as mercadorias do estoque como antes era o costume Em anos anteriores sempre conseguíamos adiantar o serviço durante a estação baixa para a demanda da temporada seguinte mas agora ninguém pode prever qual será então o objeto da demanda284 Nas fábricas e manufaturas ainda não sujeitas à lei fabril reina periodicamente durante a assim chamada temporada o mais terrível sobretrabalho realizado num fluxo intermitente em decorrência de encomendas súbitas No departamento exterior da fábrica da manufatura ou do grande estabelecimento comercial na esfera do trabalho domiciliar por sua própria natureza totalmente irregular e para a obtenção de matériaprima e de encomendas completamente dependente do humor do 365 capitalista o qual se encontra aqui livre de qualquer preocupação com a valorização de prédios máquinas etc e não arrisca senão a pele do próprio trabalhador criase sistematicamente um exército industrial de reserva sempre disponível dizimado durante parte do ano pelo mais desumano trabalho forçado e durante a outra parte degradado pela falta de trabalho Os empregadores diz a Child Empl Comm exploram a irregularidade habitual do trabalho domiciliar para nos períodos em que se faz necessário trabalho adicional forçaremno a prosseguir noite adentro até 2 horas da madrugada ou como se costuma dizer por horas a fio e isso em locais onde o fedor é suficiente para vos desfalecer the stench is enough to knock you down Podeis ir talvez até a porta e abrila mas recuaríeis apavorados em vez de prosseguir285 Gente esquisita esses nossos patrões diz um sapateiro uma das testemunhas ouvidas pensam que a um rapaz não lhe causa mal algum se ele se mata trabalhando durante metade do ano e na outra metade é quase obrigado a vagabundear286 Como no caso dos obstáculos técnicos esses assim chamados hábitos do negócio usages which have grown with the growth of trade foram e são declarados por capitalistas interessados como barreiras naturais opostas à produção um clamor predileto dos lordes algodoeiros à época em que a lei fabril os ameaçava pela primeira vez Embora sua indústria mais do que qualquer outra esteja fundada no mercado mundial e portanto na navegação a experiência prática os desmentiu Desde então todo pretenso obstáculo ao negócio é tratado pelos inspetores de fábrica ingleses como pura impostura287 As investigações profundamente conscienciosas da Child Empl Comm demonstram de fato que em algumas indústrias a regulamentação da jornada de trabalho não fez mais do que distribuir uniformemente ao longo de todo o ano a massa de trabalho já empregada288 que tal regulação foi o primeiro freio racional aplicado aos volúveis caprichos da moda289 homicidas carentes de sentido e por sua própria natureza incompatíveis com o sistema da grande indústria que o desenvolvimento da navegação transoceânica e dos meios de comunicação em geral suprassumiu a base propriamente técnica do trabalho sazonal290 que todas as demais circunstâncias pretensamente incontroláveis são varridas pela construção de novos edifícios pelo incremento de maquinaria pelo aumento do número de trabalhadores simultaneamente empregados291 e pelo efeito retroativo que isso gera sobre o sistema do comércio atacadista292 Entretanto o capital como ele mesmo reiteradamente declara pela boca de seus representantes só consente em tal revolucionamento sob a pressão de uma lei geral do Parlamento293 que regule coercitivamente a jornada de trabalho 9 Legislação fabril cláusulas sanitárias e educacionais Sua generalização na Inglaterra A legislação fabril essa primeira reação consciente e planejada da sociedade à configuração naturalespontânea de seu processo de produção é como vimos um produto tão necessário da grande indústria quanto o algodão as selfactors e o telégrafo elétrico Antes de tratarmos de sua generalização na I nglaterra temos de mencionar brevemente algumas cláusulas da lei fabril inglesa não relacionadas ao número de horas da jornada de trabalho Além de sua redação que facilita ao capitalista transgredilas as cláusulas 366 sanitárias são extremamente exíguas limitandose na verdade a estabelecer regras para o branqueamento das paredes e algumas outras medidas de limpeza ventilação e proteção contra máquinas perigosas No Livro I I I voltaremos a examinar a luta fanática dos fabricantes contra a cláusula que lhes impõe um pequeno desembolso para a proteção dos membros de sua mão de obra Aqui volta a se confirmar de maneira brilhante o dogma librecambista de que numa sociedade com interesses antagônicos cada um promove o bem comum ao buscar sua própria vantagem Basta citar um exemplo Sabemos que durante os últimos vinte anos a indústria do linho e com ela as scutching mills fábricas para bater e quebrar o linho aumentaram consideravelmente na I rlanda Em 1864 havia naquele país cerca de 1800 dessas mills Periodicamente no outono e no inverno retiramse do trabalho no campo sobretudo adolescentes e mulheres filhos filhas e mulheres dos pequenos arrendatários das localidades vizinhas em suma pessoas que nada sabem de maquinaria para que alimentem com linho as máquinas laminadoras das scutching mills Em dimensão e intensidade os acidentes são absolutamente sem precedentes na história da maquinaria Numa única scutching mill em Kildinan nos arredores de Cork foram registrados de 1852 a 1856 seis acidentes fatais e sessenta mutilações graves ocorrências que poderiam ter sido evitadas por meio dos mais simples dispositivos ao preço de poucos xelins O dr W White certifying surgeon cirurgião certificado das fábricas de Downpatrick afirma num relatório oficial de 16 de dezembro de 1865 Os acidentes nas scutching mills são da natureza mais terrível Em muitos casos um quarto do corpo é arrancado do tronco A morte ou um futuro de miserável invalidez e sofrimento são as consequências habituais dos ferimentos A multiplicação das fábricas neste país certamente ampliará esses resultados aterradores Estou convencido de que grandes sacrifícios de vidas e corpos poderiam ser evitados por meio de uma adequada fiscalização estatal das scutching mills294 O que poderia caracterizar melhor o modo de produção capitalista do que a necessidade de lhe impor as mais simples providências de higiene e saúde por meio da coação legal do Estado A Lei Fabril de 1864 caiou e limpou nas olarias mais de duzentas oficinas algumas das quais não passavam por uma operação desse tipo há vinte anos e outras a experimentavam pela primeira vez essa é a abstinência do capital e isso em locais onde estão ocupados 27878 trabalhadores Até então estes respiravam durante seu excessivo trabalho diurno e muitas vezes noturno uma atmosfera mefítica que impregnava de doença e morte uma atividade que não fosse por isso seria comparativamente inócua A lei melhorou muito os meios de ventilação295 Ao mesmo tempo esse ramo da lei fabril mostra de modo contundente como o modo de produção capitalista segundo sua essência exclui a partir de certo ponto toda melhoria racional Observamos reiteradamente que os médicos ingleses declaram em uníssono que 500 pés cúbicos de ar por pessoa constituem o mínimo parcamente suficiente em condições de trabalho continuado Pois bem Se a lei fabril por meio de todas as suas medidas coercitivas acelera indiretamente a transformação das oficinas menores em fábricas interferindo assim indiretamente no direito de propriedade dos capitalistas menores e garantindo o monopólio aos grandes a imposição legal do volume de ar necessário para cada trabalhador na oficina expropriaria diretamente de um só golpe milhares de pequenos capitalistas Ela atingiria a raiz do modo de produção capitalista isto é a autovalorização do capital seja grande ou pequeno por 367 meio da livre compra e o consumo da força de trabalho Por isso diante desses 500 pés cúbicos de ar a lei fabril perde o fôlego As autoridades sanitárias as comissões de inquérito industrial os inspetores de fábrica repetem reiteradamente a necessidade dos 500 pés cúbicos e a impossibilidade de impôlos ao capital Com isso eles declaram na realidade que a tuberculose e outras doenças pulmonares que atingem os trabalhadores são condições vitais do capital296 Por mais mesquinhas que pareçam quando tomadas em conjunto as cláusulas educacionais da lei fabril proclamam o ensino primário como condição obrigatória para o trabalho297 Seu sucesso demonstrou antes de mais nada a viabilidade de conjugar o ensino e a ginástica298 com o trabalho manual e portanto também o trabalho manual com o ensino e a ginástica Os inspetores de fábrica logo descobriram com base em depoimentos de mestresescolas que as crianças das fábricas apesar de só receberem a metade do ensino oferecido a alunos regulares de tempo integral aprendem tanto quanto estes e às vezes até mais A questão é simples Aqueles que só permanecem metade do dia na escola estão sempre vivazes e quase sempre capacitados e dispostos a receber instrução O sistema dividido em metade trabalho e metade escola converte cada uma dessas atividades em descanso e recreação em relação à outra e por conseguinte muito mais adequadas para a criança do que uma única dessas atividades exercida de modo ininterrupto Um menino que desde manhã fica sentado na escola não pode rivalizar especialmente quando faz calor com outro que chega animado e plenamente disposto de seu trabalho299 Documentos adicionais podem ser encontrados no discurso de Senior durante o Congresso de Sociologia realizado em Edimburgo em 1863 em ele mostra entre outras coisas como a jornada escolar unilateral improdutiva e prolongada das crianças das classes mais elevadas e média aumenta inutilmente o trabalho dos professores enquanto ele desperdiça o tempo a saúde e a energia das crianças de um modo não só infrutífero como absolutamente prejudicial300 Do sistema fabril como podemos ver em detalhe na obra de Robert Owen brota o germe da educação do futuro que há de conjugar para todas as crianças a partir de certa idade o trabalho produtivo com o ensino e a ginástica não só como forma de incrementar a produção social mas como único método para a produção de seres humanos desenvolvidos em suas múltiplas dimensões Como vimos ao mesmo tempo que a grande indústria suprime tecnicamente a divisão manufatureira do trabalho e sua anexação vitalícia de um ser humano inteiro a uma operação detalhista a forma capitalista da grande indústria reproduz aquela divisão do trabalho de maneira ainda mais monstruosa na fábrica propriamente dita por meio da transformação do trabalhador em acessório autoconsciente de uma máquina parcial e em todos os outros lugares em parte mediante o uso esporádico das máquinas e do trabalho mecânico301 em parte graças à introdução de trabalho feminino infantil e não qualificado como nova base da divisão do trabalho A contradição entre a divisão manufatureira do trabalho e a essência da grande indústria impõese com toda sua força Ela se manifesta entre outras coisas no fato terrível de que grande parte das crianças empregadas nas fábricas e manufaturas modernas agrilhoadas desde a mais tenra idade às manipulações mais simples sejam exploradas por anos a fio sem que lhes seja ensinado um trabalho sequer que as torne úteis mais 368 tarde mesmo permanecendo nessa mesma manufatura ou fábrica Nas gráficas inglesas por exemplo antigamente ocorria que em conformidade com o sistema da velha manufatura e do artesanato os aprendizes passavam dos trabalhos mais fáceis para os mais complicados Cumpriam todo um ciclo de aprendizagem até se transformarem em impressores de pleno direito Saber ler e escrever era para todos eles uma exigência do ofício Tudo isso mudou com a máquina impressora Ela emprega dois tipos de trabalhadores um adulto o supervisor da máquina e assistentes jovens a maioria de 11 a 17 anos de idade cuja tarefa consiste exclusivamente em introduzir na máquina uma folha de papel ou retirar dela a folha impressa Sobretudo em Londres eles executam essa faina por 14 15 16 horas ininterruptas durante vários dias da semana e frequentemente por 36 horas consecutivas tendo apenas 2 horas de descanso para comer e dormir302 Grande parte deles não sabe ler e em geral são criaturas absolutamente embrutecidas e anormais Para capacitálos a executar sua tarefa não se requer nenhum tipo de formação intelectual eles têm poucas oportunidades para o exercício da habilidade e menos ainda do juízo o salário embora comparativamente alto para adolescentes não cresce na mesma proporção de seu próprio crescimento e a grande maioria não tem qualquer perspectiva de chegar ao posto de supervisor de máquina mais bem pago e de maior responsabilidade já que para cada máquina há apenas um supervisor e frequentemente quatro rapazes303 Assim que se tornam velhos demais para esse trabalho pueril ou seja no mais tardar aos 17 anos são despedidos da gráfica tornandose recrutas do crime Diversas tentativas de arranjarlhes ocupação em outro lugar fracassam por causa de sua ignorância seu embrutecimento e sua degradação física e espiritual O que é válido para a divisão manufatureira do trabalho na oficina vale também para a divisão do trabalho na sociedade Enquanto artesanato e manufatura constituem a base geral da produção social a subsunção do produtor a um ramo exclusivo da produção a supressão da diversidade original de suas ocupações304 é um momento necessário do desenvolvimento Sobre essa base cada ramo particular da produção encontra empiricamente a configuração técnica que lhe corresponde aperfeiçoaa lentamente e num certo grau de maturidade cristalizaa rapidamente Além dos novos materiais de trabalho fornecidos pelo comércio a única coisa que provoca modificações aqui e ali é a variação gradual do meio de trabalho Uma vez alcançada a forma adequada à experiência também ela se ossifica como o comprova sua transmissão muitas vezes milenar de uma geração a outra É característico que no século XVI I I ainda se denominassem mysteries mystères mistérios305 os diversos ofícios em cujos arcanos só podia penetrar o iniciado por experiência e por profissão A grande indústria rasgou o véu que ocultava aos homens seu próprio processo social de produção e que convertia os diversos ramos da produção que se haviam particularizado de modo naturalespontâneo em enigmas uns em relação aos outros e inclusive para o iniciado em cada um desses ramos O princípio da grande indústria a saber o de dissolver cada processo de produção propriamente dito em seus elementos constitutivos e antes de tudo fazêlo sem nenhuma consideração para com a mão humana criou a mais moderna ciência da tecnologia As formas variegadas aparentemente desconexas e ossificadas do processo social de produção se dissolveram de acordo com o efeito útil almejado nas aplicações conscientemente 369 planificadas e sistematicamente particularizadas das ciências naturais A tecnologia descobriu as poucas formas fundamentais do movimento sob as quais transcorre necessariamente apesar da diversidade dos instrumentos utilizados toda ação produtiva do corpo humano exatamente do mesmo modo como a mecânica não deixa que a maior complexidade da maquinaria a faça perder de vista a repetição constante das potências mecânicas simples A indústria moderna jamais considera nem trata como definitiva a forma existente de um processo de produção Sua base técnica é por isso revolucionária ao passo que a de todos os modos de produção anteriores era essencialmente conservadora306 Por meio da maquinaria de processos químicos e outros métodos ela revoluciona continuamente com a base técnica da produção as funções dos trabalhadores e as combinações sociais do processo de trabalho Desse modo ela revoluciona de modo igualmente constante a divisão do trabalho no interior da sociedade e não cessa de lançar massas de capital e massas de trabalhadores de um ramo de produção a outro A natureza da grande indústria condiciona assim a variação do trabalho a fluidez da função a mobilidade pluridimensional do trabalhador Por outro lado ela reproduz em sua forma capitalista a velha divisão do trabalho com suas particularidades ossificadas Vimos como essa contradição absoluta suprime toda tranquilidade solidez e segurança na condição de vida do trabalhador a quem ela ameaça constantemente com privarlhe juntamente com o meio de trabalho de seu meio de subsistência307 como juntamente com sua função parcial ela torna supérfluo o próprio trabalhador como essa contradição desencadeia um rito sacrificial ininterrupto da classe trabalhadora o desperdício mais exorbitante de forças de trabalho e as devastações da anarquia social Esse é o aspecto negativo Mas se agora a variação do trabalho impõese apenas como lei natural avassaladora e com o efeito cegamente destrutivo de uma lei natural que se choca com obstáculos por toda parte308 a grande indústria precisamente por suas mesmas catástrofes converte em questão de vida ou morte a necessidade de reconhecer como lei social geral da produção a mudança dos trabalhos e consequentemente a maior polivalência possível dos trabalhadores fazendo ao mesmo tempo com que as condições se adaptem à aplicação normal dessa lei Ela transforma numa questão de vida ou morte a substituição dessa realidade monstruosa na qual uma miserável população trabalhadora é mantida como reserva pronta a satisfazer as necessidades mutáveis de exploração que experimenta o capital pela disponibilidade absoluta do homem para cumprir as exigências variáveis do trabalho a substituição do indivíduo parcial mero portador de uma função social de detalhe pelo indivíduo plenamente desenvolvido para o qual as diversas funções sociais são modos alternantes de atividade Uma fase desse processo de revolucionamento constituída espontaneamente com base na grande indústria é formada pelas escolas politécnicas e agronômicas e outra pelas écoles denseignement professionnel escolas profissionalizantes em que filhos de trabalhadores recebem alguma instrução sobre tecnologia e manuseio prático de diversos instrumentos de produção Se a legislação fabril essa primeira concessão penosamente arrancada ao capital não vai além de conjugar o ensino fundamental com o trabalho fabril não resta dúvida de que a inevitável conquista do poder político pela classe trabalhadora garantirá ao ensino teórico e prático da tecnologia seu devido 370 À medida que a jornada avança as mistresses usam de uma vara longa para incentivar as rendeiras a manterem o ritmo de trabalho Ao final de sua longa prisão numa atividade monótona prejudicial à visão e estafante por causa da uniformidade da postura corporal as crianças se cansam cada vez mais tornandose inquietas como pássaros É um verdadeiro trabalho escravo Their work is like slavery indivíduos de ambos os sexos e das mais diversas faixas etárias que em sua forma capitalista naturalespontânea e brutal em que o trabalhador existe para o processo de produção e não o processo de produção para o trabalhador é uma fonte pestífera de degeneração e escravidão pode se converter sob as condições adequadas em fonte de desenvolvimento humano312 A necessidade de generalizar a lei fabril transformandoa de uma lei de exceção para fiações e tecelagens essas primeiras criações da indústria mecanizada numa lei para toda a produção social decorre como vimos do curso histórico de desenvolvimento da grande indústria em cuja esteira é inteiramente revolucionada a configuração tradicional da manufatura do artesanato e do trabalho domiciliar a manufatura transformase progressivamente em fábrica o artesanato em manufatura e por último as esferas do artesanato e do trabalho domiciliar se transfiguram num prazo que em termos relativos é assombrosamente curto em antros miseráveis em que grassam livremente as mais espantosas monstruosidades da exploração capitalista Duas são as circunstâncias que em última análise tornamse decisivas primeiro a experiência sempre renovada de que o capital tão logo seja submetido ao controle estatal em alguns pontos da periferia social ressarce a si mesmo tanto mais desenfreadamente nos demais pontos313 segundo a gritaria dos próprios capitalistas por igualdade nas condições de concorrência isto é por limitações iguais à exploração do trabalho314 Ouçamos a esse respeito dois gritos saídos do imo peito Os senhores W Cooksley fabricantes de pregos correntes etc em Bristol introduziram voluntariamente a regulamentação fabril em seu negócio Como o sistema antigo e irregular continua a vigorar nas oficinas vizinhas os senhores Cooksley ficam expostos ao prejuízo de que seus jovens trabalhadores sejam tentados enticed a seguir trabalhando noutro local após as 6 horas da tarde Isto dizem eles com naturalidade é uma injustiça contra nós e uma perda já que esgota parte da força desses jovens da qual devemos usufruir plenamente315 O sr J Simpson Paperbox bag maker fabricante de caixas de papelão e sacolas de papel de Londres declara aos comissários da Child Empl Comm que subscreveria qualquer petição pela implantação das leis fabris Pois de qualquer modo após fechar sua oficina ele jamais consegue repousar à noite he always felt restless at night tomado pelo pensamento de que outros põem seus operários para trabalhar por mais tempo e assim lhe privam de suas encomendas diante de seu nariz316 Seria uma injustiça sintetiza a Child Empl Comm para com os empregadores maiores submeter suas fábricas à regulamentação quando em seu próprio ramo de atividade a pequena empresa não está sujeita a nenhuma limitação legal do tempo de trabalho E à injustiça derivada de condições desiguais de concorrência em relação às horas de trabalho caso as oficinas menores permanecessem isentas desse controle somarseia ainda outra desvantagem para os grandes fabricantes a de que seu suprimento de trabalho juvenil e feminino seria desviado para as oficinas poupadas da legislação Por fim isso daria impulso à multiplicação das oficinas menores que quase sem exceção são as que menos favorecem a saúde comodidade educação e melhoria geral do povo317 Em seu relatório final a Childrens Employment Commission propõe submeter à lei fabril mais de 14 milhão de crianças adolescentes e mulheres das quais aproximadamente a metade é explorada pela pequena empresa e pelo trabalho domiciliar318 Se o Parlamento diz o relatório aceitasse nossa proposta em toda sua amplitude é indubitável que tal legislação exerceria a mais benéfica influência não só sobre os jovens e os fracos que constituem seus objetos mais imediatos mas também sobre a massa ainda maior de trabalhadores adultos que se encontrariam em sua esfera 372 Onde as mulheres trabalham em casa com seus próprios filhos isto é em sentido moderno num quarto alugado frequentemente num sótão as condições são quando isso é possível ainda piores Esse tipo de trabalho é distribuído num raio de 80 milhas em torno de Nottingham Quando a criança ocupada nos estabelecimentos comerciais deixa o trabalho às 9 ou 10 horas da noite é comum que ela ainda receba um pacote para aponte em casa O farsuel capitalista representado por um de seus lacaíos assalariados faz isso com naturalidade proferindo a untuosa frase isto é para a mamãe porém plenamente consciente de que a pobre criança terá de ajudar no trabalho direta mulheres e indireta homens de influência Ela os forçaria a cumprir um horário de trabalho regular e moderado economizaria e incrementaria essas reservas de força física das quais tanto depende seu próprio bem estar e o do país protegeria a nova geração desse esforço excessivo realizado em idade imatura que mina sua constituição e leva à decadência prematura por fim assegurarlhesia ao menos até os 13 anos de idade a oportunidade de receberem educação elementar e desse modo pôr um fim a essa incrível ignorância tão fielmente descrita nos relatórios da comissão e que não se pode considerar sem experimentar o sofrimento mais torturante e um sentimento profundo de degradação nacional319 No discurso do trono de 5 de fevereiro de 1867 o ministério tory anunciou ter formulado como billsprojetos de lei as recomendações319a da comissão de inquérito industrial Para tanto ele tivera de realizar vinte anos de experimentum in corpore vili experimentos num corpo sem valor J á em 1840 fora nomeada uma comissão parlamentar para investigar o trabalho infantil Seu relatório de 1842 apresentava segundo as palavras de N W Senior o quadro mais aterrador de avareza egoísmo e crueldade por parte dos capitalistas e pais de miséria degradação e aniquilamento de crianças e adolescentes que jamais se apresentou aos olhos do mundo Há quem possa supor que o relatório descreva horrores de uma era passada Infelizmente certos relatos evidenciam que esses horrores continuam mais intensos do que nunca Uma brochura publicada há dois anos por Hardwicke afirma que os abusos denunciados em 1842 encontramse hoje 1863 em plena florescência Esse relatório de 1842 foi ignorado por 20 anos período no qual se permitiu que aquelas crianças que cresceram sem a mínima noção daquilo a que chamamos moral carentes de formação escolar religião e afeto familiar natural se tornassem os pais da geração atual320 Nesse ínterim a situação social haviase modificado O Parlamento não ousou rechaçar as propostas da comissão de 1863 como o fizera anteriormente com as de 1842 Por isso já em 1864 mal a comissão publicara parte de seus relatórios e a indústria de cerâmica inclusive as olarias a confecção de papéis de paredes palitos de fósforos cartuchos e estopins bem como a aparação de veludo foram submetidas às leis que se aplicavam à indústria têxtil No discurso do trono de 5 de fevereiro de 1867 o gabinete tory de então anunciou outros bills baseados nas propostas finais da comissão que entrementes em 1866 concluíra sua tarefa A 15 de agosto de 1867 a coroa sancionou a Factory Acts Extension Act e a 21 de agosto a Workshops Regulation Act Lei para regulamentação das oficinas a primeira lei regulamenta os grandes a segunda os pequenos ramos de negócio A Factory Acts Extension Act regulamenta os altosfornos usinas de ferro e de cobre fundições fábricas de máquinas oficinas metalúrgicas fábricas de gutapercha papel vidro tabaco além de gráficas oficinas de encadernação e em geral todas as oficinas industriais desse tipo nas quais estejam ocupadas cinquenta ou mais pessoas ao mesmo tempo durante pelo menos cem dias por ano Para dar uma ideia do âmbito abrangido por essa lei seguem aqui algumas das definições nela estabelecidas Por artesanato se entende nessa lei qualquer trabalho manual exercido como negócio ou como fonte de ganho ou ocasionalmente a confecção reforma ornamentação conserto ou acabamento para a venda de qualquer artigo ou de parte dele Por oficina se entende qualquer quarto ou local coberto ou ao ar livre no qual qualquer criança trabalhador adolescente ou mulher exerça um trabalho artesanal e sobre o qual tenha o direito de acesso e controle aquele que empregue tal criança trabalhador adolescente ou mulher Por empregado se entende aquele que trabalha num artesanato em troca de salário ou não sob um patrão ou um dos pais como mais baixo é definido de modo mais pormenorizado Por pais se entende o pai a mãe o tutor ou outra pessoa que detenha a tutela ou controle sobre qualquer 373 O modo de interrogar as testemunhas lembra ali os cross examinations inquéritos cruzados perante os tribunais ingleses nos quais o advogado por meio de perguntas oblíquas desavergonhadas e capciosas procura confundir a testemunha distorcendo o sentido de suas palavras Os advogados são aqui os próprios inquiridores parlamentares entre os quais figuram proprietários e exploradores de minas as testemunhas são trabalhadores mineiros geralmente de minas de carvão Toda essa farsa caracteriza o espírito do capital de modo tão perfeito que não podemos deixar de ilustrála aqui com alguns extratos Para facilitar a visão geral apresento os resultados do inquérito etc em rubricas Lembro que nos Blue Books ingleses a pergunta e a resposta obrigatória são numeradas e que as testemunhas cujos depoimentos são aqui citados são trabalhadores empregados em minas de carvão 1 Ocupação de jovens a partir dos 10 anos nas minas O trabalho incluindo o tempo gasto em ir às minas e voltar delas dura normalmente de 14 a 15 horas excepcionalmente mais Começa às 3 4 5 horas da manhã e se estende até 4 ou 5 da tarde n 6 452 83 Os operários adultos trabalham em dois turnos ou seja 8 horas mas para economizar custos nenhum revezamento é feito entre os jovens n 80 203 204 As crianças pequenas são empregadas principalmente na tarefa de abrir e fechar as portas de ventilação nos diversos compartimentos da mina as crianças mais velhas em trabalho mais pesado como o transporte de carvão etc n 122 739 740 O horário prolongado de trabalho debaixo da terra dura até que os jovens cumpram 18 ou 22 anos quando passam a realizar o trabalho de mineração propriamente dito n 161 Hoje em dia as crianças e os adolescentes são mais duramente esfalfados do que em qualquer período anterior n 16631667 Os mineiros reivindicam quase unanimemente uma lei parlamentar que proíba o trabalho nas minas aos menores de 14 anos E então pergunta Hussey Vivian ele mesmo um explorador de minas Essa reivindicação não depende da maior ou menor pobreza dos pais E o Mr Bruce Não seria excessivamente rigoroso estando o pai morto ou mutilado etc tirar da família esses recursos E no entanto é preciso haver uma regra geral Quereis proibir em todos os casos a ocupação das crianças menores de 14 anos em trabalhos subterrâneos Resposta Em todos os casos n 107110 Vivian Se o trabalho nas minas fosse proibido até os catorze anos isso não faria com que os pais enviassem as crianças para fábricas etc Em regra geral não n 174 Um trabalhador Abrir e fechar as portas parece fácil Mas é um trabalho muito penoso Além da constante corrente de ar o jovem fica aprisionado exatamente como se estivesse num calabouço escuro O burguês Vivian O jovem não pode ler enquanto vigia a porta caso possua uma luz Em primeiro lugar ele teria de comprar as velas Mas além disso isso não lhe seria permitido Ele está ali para atentar em sua tarefa tem um dever a cumprir Jamais vi um jovem a ler dentro da mina n 139 141160 2 Educação Os mineiros reivindicam uma lei para o ensino obrigatório das crianças como nas fábricas Consideram como puramente ilusória a cláusula da lei de 1860 que institui a exigência de certificado escolar para o emprego de meninos de 10 a 12 anos de idade O embaraçoso procedimento interrogativo dos juízes de instrução capitalistas assume aqui uma feição verdadeiramente cômica n 115 A lei é mais necessária contra os patrões ou contra os pais Contra os dois n 116 Mais contra um que contra o outro Como devo responder a isso n 137 Mostram os patrões algum desejo de adequar o horário de trabalho ao ensino escolar Jamais n 211 Os mineiros melhoram posteriormente sua educação Em geral pioram adquirem maus hábitos entregamse à bebida ao jogo e coisas semelhantes e sucumbem totalmente n 454 Por que não enviam as crianças a escolas noturnas Na maioria dos distritos carvoeiros tais escolas não existem Mas o principal é que elas estão tão exaustas devido ao excesso de trabalho que seus olhos se fecham de cansaço Mas então conclui o burguês sois contra o ensino De forma alguma mas etc n 375 443 Os donos das minas etc não estão obrigados pela lei de 1860 a exigir certificado escolar quando empregam crianças entre 10 e 12 anos Pela lei sim mas os patrões não o fazem n 444 Em sua opinião essa cláusula legal não é geralmente aplicada Ela não é aplicada jamais n 717 Os mineiros se interessam muito pela questão educacional A grande maioria n 718 Desejam ansiosamente a aplicação da lei A grande maioria n 720 Por que então eles não forçam sua aplicação Muitos deles gostariam que fossem recusadas crianças sem certificado escolar mas ele se torna um homem marcado a marked man n 721 Marcado por quem Por seu patrão n 722 Acreditais por acaso que os patrões perseguiriam um homem por sua obediência à lei Creio que o fariam n 723 Por que os trabalhadores não se negam a empregar tais jovens Isso não é deixado à escolha deles n 1634 Exigis a intervenção do Parlamento Se algo eficaz deve ser feito pela educação dos filhos dos mineiros terá de ser compulsoriamente por uma lei do Parlamento n 1636 Isso deve ser feito para os filhos de todos os trabalhadores da GrãBretanha ou apenas para os trabalhadores das minas Estou aqui para falar em nome dos trabalhadores das minas n 1638 Por que distinguir entre as crianças das minas e as outras Porque elas constituem uma exceção à regra n 1639 Em que sentido Em sentido físico n 1640 Por que a educação seria mais preciosa para elas do que para os meninos de outras classes Não digo que seja mais preciosa para elas mas por causa de seu excesso de trabalho nas minas elas têm menos chance de obter educação nas escolas diurnas e dominicais n 1644 Não é verdade que é impossível tratar questões dessa natureza de uma maneira absoluta n 1646 Há escolas suficientes nos distritos Não n 1647 Se o Estado exigisse que toda criança fosse mandada à escola de onde sairiam então escolas para todas as crianças Creio que assim que as circunstâncias o imponham as escolas surgirão por si mesmas A grande maioria não só das crianças mas também dos mineiros adultos não sabe ler nem escrever n 705 726 3 Trabalho feminino Desde 1842 já não se empregam mulheres em trabalho subterrâneo mas sim na superfície para carregar carvão etc arrastar as cubas até os canais ou vagões ferroviários selecionar o carvão etc Seu emprego aumentou muito nos últimos 3 ou 4 anos n 1727 Em sua maior parte são esposas filhas ou viúvas de mineiros e suas idades variam de 12 até 50 ou 60 anos n 647 1779 1781 n 648 O que pensam os mineiros do emprego de mulheres nas minas Em geral eles o condenam n 649 Por quê Consideramno degradante para o sexo Elas vestem uma roupa de tipo masculino Em muitos casos todo pudor é deixado de lado Várias mulheres fumam O trabalho é tão sujo quanto o que se efetua no subterrâneo Muitas delas são mulheres casadas que não conseguem cumprir suas obrigações domésticas n 651s 701 n 709 Poderiam as viúvas encontrar em outro lugar ocupação tão rentável de 8 a 10 xelins semanais Nada sei dizer a esse respeito n 710 E ainda assim coração de pedra estais dispostos a cortar lhes esse meio de vida Certamente n 1715 De onde vem essa disposição Nós os mineiros temos demasiado respeito pelo belo sexo para vêlo condenado à mina de carvão Esse trabalho é em sua maior parte muito pesado Muitas dessas moças erguem 10 toneladas por dia n 1732 Credes que as trabalhadoras ocupadas nas minas são mais imorais do que as ocupadas nas fábricas A percentagem das depravadas Schlechten é maior do que entre as moças das fábricas n 1733 Mas também não estais satisfeito com o nível de moralidade nas fábricas Não n 1734 Quereis então que também se proíba o trabalho feminino nas fábricas Não eu não quero n 1735 Por que não Porque é uma ocupação mais honrada e adequada para o sexo feminino n 1736 Apesar disso ela é prejudicial à moralidade delas como dizeis Não não tanto quanto o trabalho na mina Aliás não falo só de razões morais mas também físicas e sociais A degradação social das moças é deplorável e extrema Quando se tornam esposas de mineiros os homens padecem muito sob essa degradação e isso os leva a abandonar a casa e entregarse à bebida n 1737 Mas o mesmo não seria igualmente válido para as mulheres ocupadas nas usinas siderúrgicas Não posso falar por outros ramos de atividade n 1740 Mas que diferença há entre as mulheres empregadas em usinas siderúrgicas e as empregadas em minas Não me ocupei dessa questão n 1741 Poderíeis descobrir alguma diferença entre uma classe e outra Não estou certo de que exista mas conheço por minhas visitas de casa em casa o deplorável estado de coisas em nosso distrito n 1750 Não vos causaria um grande prazer abolir a ocupação feminina onde quer que ela seja degradante Sim os melhores sentimentos das crianças têm de vir da criação materna n 1751 Mas isso também se aplica à ocupação agrícola de mulheres Esta só dura duas estações do ano ao passo que nas minas elas trabalham as quatro estações muitas vezes dia e noite totalmente encharcadas com sua constituição debilitada e a saúde alquebrada n 1753 Não estudastes a questão isto é da ocupação feminina de modo geral Tenho olhado ao meu redor e o que posso dizer é que em nenhum lugar encontrei nada que se compare à ocupação feminina nas minas de carvão n 1793 1794 1808 É um trabalho para homens e para homens fortes A melhor classe dos mineiros que procura se elevar e humanizar em vez de encontrar algum apoio em suas mulheres são empurradas por elas para baixo 376 Depois de os burgueses terem continuado a inquirir em todas as direções revelase finalmente o segredo de sua compaixão pelas viúvas pelas pobres famílias etc O proprietário da mina de carvão designa certos gentlemen cavalheiros para a tarefa de supervisão e a política destes últimos a fim de colherem aplausos dos patrões consiste em fazer tudo do modo mais econômico possível As moças ocupadas recebem de 1 xelim a 1 xelim e 6 pence por dia ao passo que um homem teria de receber 2 xelins e 6 pence n 1816 4 Júris de autópsias n 360 No que diz respeito aos coroners inquests inquéritos em casos de óbito em vossos distritos estão os trabalhadores satisfeitos com o processo judicial em caso de acidentes Não não estão n 361375 Por que não Antes de tudo porque as pessoas que se nomeiam para os júris não sabem absolutamente nada de minas Trabalhadores nunca são convocados salvo como testemunhas Em geral são escolhidos os merceeiros das vizinhanças que se encontram sob a influência dos proprietários das minas seus clientes e que não compreendem sequer os termos técnicos empregados pelas testemunhas Reivindicamos que os mineiros formem parte dos júris Em grande parte dos casos a sentença está em contradição com os depoimentos das testemunhas n 378 Mas os júris não devem ser imparciais Sim n 379 Os trabalhadores o seriam Não vejo motivos para que não sejam imparciais Eles têm conhecimento de causa n 310 Mas eles não teriam a tendência de emitir sentenças injustamente severas no interesse dos trabalhadores Não não o creio 5 Pesos e medidas falsos etc Os trabalhadores reivindicam pagamento semanal em vez de a cada catorze dias que a medição seja feita por peso e não pela medida de capacidade das cubas proteção contra o uso de pesos falsos etc n 1071 Se as cubas são aumentadas fraudulentamente não pode o trabalhador abandonar a mina após catorze dias de aviso prévio Sim mas se for para outro lugar ele encontrará a mesma situação n 1072 Mas não pode ele abandonar o local onde a injustiça é cometida Essa injustiça existe por toda parte n 1073 Mas não é verdade que o trabalhador pode deixar seu posto depois de 14 dias de aviso prévio Sim É o suficiente 6 I nspeção de minas Os trabalhadores não sofrem apenas com os acidentes causados por explosões de gases n 234s Temos igualmente de reclamar da má ventilação das galerias das minas de carvão dentro das quais as pessoas mal podem respirar os operários se tornam assim incapazes de qualquer tipo de ocupação Por exemplo agora mesmo no setor em que trabalho o ar pestilento pôs muitas pessoas de cama durante semanas As galerias principais são em geral suficientemente ventiladas mas não os lugares onde trabalhamos Se algum trabalhador apresenta queixa ao inspetor quanto à ventilação é despedido e se torna um homem marcado que não encontrará ocupação em outros lugares A Mining Inspection Act de 1860 não é mais do que um pedaço de papel O inspetor e o número de inspetores é pequeno demais realiza quando muito uma visita formal a cada sete anos Nosso inspetor é um homem absolutamente incapaz de 70 anos encarregado de mais de 130 minas de carvão Além de mais inspetores precisamos de subinspetores n 280 Deveria o governo então manter um tal exército de inspetores que pudesse fazer sozinho sem informações dos operários tudo o que exigis Isso é impossível mas deveriam vir buscar as informações nas próprias minas n 285 Não credes que o resultado seria transferir aos funcionários governamentais a responsabilidade pela ventilação etc responsabilidade que hoje é dos proprietários das minas De modo nenhum sua tarefa deveria ser exigir o cumprimento das leis já vigentes n 294 Quando falais de subinspetores vos referis a pessoas com salário menor e de caráter inferior ao dos atuais inspetores De modo algum os desejaria inferiores se podeis conseguir melhores n 295 Quereis mais inspetores ou um tipo de gente inferior aos inspetores Precisamos de gente disposta a entrar efetivamente nas minas gente que não tema arriscar a própria pele n 297 Se fosse atendido vosso desejo de que se nomeiem inspetores de um tipo inferior sua falta de habilitação para a tarefa não criaria perigos etc Não é atribuição do governo nomear sujeitos aptos Ao final esse tipo de interrogatório se tornou estúpido demais até mesmo para o presidente da comissão de inquérito O que quereis intervém ele é gente prática que observem pessoalmente o que se passa nas minas e relatem 377 aos inspetores que poderão então aplicar sua ciência superior n 531 A ventilação de todas essas velhas minas não acarretaria muitas despesas Sim é possível que as despesas aumentassem mas vidas humanas seriam protegidas n 581 Um mineiro de carvão protesta contra a 17ª seção da Lei de 1860 Atualmente quando o inspetor de minas encontra uma parte da mina fora das condições de trabalho ele tem de relatar o fato ao proprietário da mina e ao ministro do Interior Depois disso o proprietário da mina tem 20 dias para meditar sobre o assunto ao cabo dos 20 dias ele pode recusar qualquer alteração Ao fazêlo porém ele tem de escrever ao ministro do Interior e indicarlhe cinco engenheiros de minas entre os quais cabe ao ministro escolher os árbitros Afirmamos que nesse caso o proprietário da mina praticamente nomeia seus próprios juízes n 586 O examinador burguês ele mesmo proprietário de minas Esta é uma objeção puramente especulativa n 588 Quer dizer que tendes em tão pouca conta a integridade dos engenheiros de minas O que digo é que isso é muito iníquo e injusto n 589 Não possuem os engenheiros de minas uma espécie de caráter público que eleva suas decisões acima da parcialidade que temeis Recusome a responder a perguntas sobre o caráter pessoal dessas pessoas Tenho a convicção de que em muitos casos eles atuam de modo muito parcial e que esse poder lhes deveria ser retirado sempre que vidas humanas estejam em jogo O mesmo burguês ainda tem o desplante de perguntar Não credes que também os proprietários de minas têm prejuízos com as explosões Por fim n 1042 Não poderíeis vós os trabalhadores cuidar de vossos próprios interesses sem recorrer à ajuda do Governo Não Em 1865 havia 3217 minas de carvão na GrãBretanha e doze inspetores Até mesmo um proprietário de minas de Yorkshire Times 26 jan de 1867 calcula que sem considerar as atividades puramente burocráticas dos inspetores que absorvem todo o tempo deles cada mina só poderia ser inspecionada uma vez a cada dez anos Não é de admirar portanto que as catástrofes tenham aumentado cada vez mais nos últimos anos sobretudo em 1866 e 1867 tanto em número quanto em magnitude às vezes com o sacrifício de 200 a 300 trabalhadores São essas as maravilhas da livre produção capitalista Em todo caso a Lei de 1872 por defeituosa que seja é a primeira a regulamentar o horário de trabalho das crianças ocupadas nas minas e que em certa medida responsabiliza os exploradores e proprietários das minas pelos assim chamados acidentes A comissão real de 1867 cuja tarefa era investigar a ocupação de crianças adolescentes e mulheres na agricultura publicou alguns relatórios muito significativos Diversas tentativas foram feitas de aplicar à agricultura sob forma modificada os princípios da legislação fabril mas até agora todas elas fracassaram totalmente Mas cabe chamar a atenção aqui para a existência de uma tendência irresistível à universalização desses princípios Se a universalização da legislação fabril tornouse inevitável como meio de proteção física e espiritual da classe trabalhadora tal universalização por outro lado e como já indicamos anteriormente universaliza e acelera a transformação de processos laborais dispersos realizados em escala diminuta em processos de trabalho combinados realizados em larga escala em escala social ela acelera portanto a concentração do capital e o império exclusivo do regime de fábrica Ela destrói todas as 378 formas antiquadas e transitórias embaixo das quais a domínio do capital ainda se esconde em parte e as substitui por seu domínio direto indisfarçado Com isso ela também generaliza a luta direta contra esse domínio Ao mesmo tempo que impõe nas oficinas individuais uniformidade regularidade ordem e economia a legislação fabril por meio do imenso estímulo que a limitação e a regulamentação da jornada de trabalho dão à técnica aumenta a anarquia e as catástrofes da produção capitalista em seu conjunto assim como a intensidade do trabalho e a concorrência da maquinaria com o trabalhador J untamente com as esferas da pequena empresa e do trabalho domiciliar ela aniquila os últimos refúgios dos supranumerários e com eles a válvula de segurança até então existente de todo o mecanismo social Amadurecendo as condições materiais e a combinação social do processo de produção ela também amadurece as contradições e os antagonismos de sua forma capitalista e assim ao mesmo tempo os elementos criadores de uma nova sociedade e os fatores que revolucionam a sociedade velha322 10 Grande indústria e agricultura A revolução que a grande indústria acarreta na agricultura e nas condições sociais de seus agentes de produção só será examinada mais adiante Por ora basta antecipar brevemente alguns resultados Se o uso da maquinaria na agricultura está em grande parte isento dos prejuízos físicos que ela acarreta ao trabalhador fabril323 não é menos verdade que no que diz respeito a tornar supranumerários os trabalhadores ela atua de modo ainda mais intenso e sem nenhum contrapeso como veremos em detalhes mais à frente Nos condados de Cambridge e Suffolk por exemplo a área cultivada cresceu muito nos últimos vinte anos enquanto a população rural no mesmo período decresceu não só em termos relativos mas também absolutos Nos Estados Unidos da América do Norte por enquanto as máquinas agrícolas só substituem os trabalhadores virtualmente ou seja permitem que o produtor cultive uma superfície maior mas sem expulsar os trabalhadores efetivamente ocupados Na I nglaterra e no País de Gales em 1861 o número de pessoas que participavam na fabricação de máquinas agrícolas era de 1034 ao passo que o número de trabalhadores agrícolas ocupados no manejo de máquinas a vapor e de trabalho era de apenas 1205 É na esfera da agricultura que a grande indústria atua do modo mais revolucionário ao liquidar o baluarte da velha sociedade o camponês substituindo o pelo trabalhador assalariado Desse modo as necessidades sociais de revolucionamento e os antagonismos do campo são niveladas às da cidade O método de produção mais rotineiro e irracional cede lugar à aplicação consciente e tecnológica da ciência O modo de produção capitalista consume a ruptura do laço familiar original que unia a agricultura à manufatura e envolvia a forma infantilmente rudimentar de ambas Ao mesmo tempo porém ele cria os pressupostos materiais de uma nova síntese superior entre agricultura e indústria sobre a base de suas configurações antiteticamente desenvolvidas Com a predominância sempre crescente da população urbana amontoada em grandes centros pela produção capitalista esta 379 por um lado acumula a força motriz histórica da sociedade e por outro lado desvirtua o metabolismo entre o homem e a terra isto é o retorno ao solo daqueles elementos que lhe são constitutivos e foram consumidos pelo homem sob forma de alimentos e vestimentas retorno que é a eterna condição natural da fertilidade permanente do solo Com isso ela destrói tanto a saúde física dos trabalhadores urbanos como a vida espiritual dos trabalhadores rurais324 Mas ao mesmo tempo que destrói as condições desse metabolismo engendradas de modo inteiramente naturalespontâneo a produção capitalista obriga que ele seja sistematicamente restaurado em sua condição de lei reguladora da produção social e numa forma adequada ao pleno desenvolvimento humano Na agricultura assim como na manufatura a transformação capitalista do processo de produção aparece a um só tempo como martirológio dos produtores o meio de trabalho como meio de subjugação exploração e empobrecimento do trabalhador a combinação social dos processos de trabalho como opressão organizada de sua vitalidade liberdade e independência individuais A dispersão dos trabalhadores rurais por áreas cada vez maiores alquebra sua capacidade de resistência tanto quanto a concentração em grandes centros industriais aumenta a dos trabalhadores urbanos Assim como na indústria urbana na agricultura moderna o incremento da força produtiva e a maior mobilização do trabalho são obtidos por meio da devastação e do esgotamento da própria força de trabalho E todo progresso da agricultura capitalista é um progresso na arte de saquear não só o trabalhador mas também o solo pois cada progresso alcançado no aumento da fertilidade do solo por certo período é ao mesmo tempo um progresso no esgotamento das fontes duradouras dessa fertilidade Quanto mais um país como os Estados Unidos da América do Norte tem na grande indústria o ponto de partida de seu desenvolvimento tanto mais rápido se mostra esse processo de destruição325 Por isso a produção capitalista só desenvolve a técnica e a combinação do processo de produção social na medida em que solapa os mananciais de toda a riqueza a terra e o trabalhador 380 Seção V A PRODUÇÃO DO MAISVALOR ABSOLUTO E RELATIVO 381 Capítulo 14 Maisvalor absoluto e relativo I nicialmente consideramos o processo de trabalho de modo abstrato ver capítulo 5 independente de suas formas históricas como processo entre homem e natureza Lá dissemos Se consideramos o processo inteiro do ponto de vista de seu resultado do produto tanto o meio como o objeto do trabalho aparecem como meios de produção e o próprio trabalho aparece como trabalho produtivo E na nota 7 como complemento Essa determinação do trabalho produtivo tal como ela resulta do ponto de vista do processo simples de trabalho não é de modo nenhum suficiente para ser aplicada ao processo capitalista de produção É esse o ponto que cabe desenvolver aqui Enquanto o processo de trabalho permanece puramente individual o mesmo trabalhador reúne em si todas as funções que mais tarde se apartam umas das outras Em seu ato individual de apropriação de objetos da natureza para suas finalidades vitais ele controla a si mesmo Mais tarde ele é que será controlado O homem isolado não pode atuar sobre a natureza sem o emprego de seus próprios músculos sob o controle de seu próprio cérebro Assim como no sistema natural a cabeça e as mãos estão interligadas também o processo de trabalho conecta o trabalho intelectual ao trabalho manual Mais tarde eles se separam até formar um antagonismo hostil O produto que antes era o produto direto do produtor individual transformase num produto social no produto comum de um trabalhador coletivo isto é de um pessoal combinado de trabalho cujos membros se encontram a uma distância maior ou menor do manuseio do objeto de trabalho Desse modo a ampliação do caráter cooperativo do próprio processo de trabalho é necessariamente acompanhada da ampliação do conceito de trabalho produtivo e de seu portador o trabalhador produtivo Para trabalhar produtivamente já não é mais necessário fazêlo com suas próprias mãos basta agora ser um órgão do trabalhador coletivo executar qualquer uma de suas subfunções A definição original do trabalho produtivo citada mais acima derivada da própria natureza da produção material continua válida para o trabalhador coletivo considerado em seu conjunto Mas já não é válida para cada um de seus membros tomados isoladamente Por outro lado o conceito de trabalho produtivo se estreita A produção capitalista não é apenas produção de mercadoria mas essencialmente produção de maisvalor O trabalhador produz não para si mas para o capital Não basta por isso que ele produza em geral Ele tem de produzir maisvalor Só é produtivo o trabalhador que produz maisvalor para o capitalista ou serve à autovalorização do capital Se nos for permitido escolher um exemplo fora da esfera da produção material diremos que um mestreescola é um trabalhador produtivo se não se limita a trabalhar a cabeça das crianças mas exige trabalho de si mesmo até o esgotamento a fim de enriquecer o patrão Que este último tenha investido seu capital numa fábrica de ensino em vez de numa fábrica de salsichas é algo que não altera em nada a relação Assim o conceito 382 de trabalhador produtivo não implica de modo nenhum apenas uma relação entre atividade e efeito útil entre trabalhador e produto do trabalho mas também uma relação de produção especificamente social surgida historicamente e que cola no trabalhador o rótulo de meio direto de valorização do capital Ser trabalhador produtivo não é portanto uma sorte mas um azar No Livro I V desta obra que trata da história da teoria veremos mais detalhadamente que a economia política clássica sempre fez da produção de maisvalor a característica decisiva do trabalhador produtivo Alterandose sua concepção da natureza do maisvalor alterase por conseguinte sua definição de trabalhador produtivo Razão pela qual os fisiocratas declaram que somente o trabalho agrícola seria produtivo pois só ele forneceria mais valor Mas para os fisiocratas o maisvalor existe exclusivamente na forma da renda fundiária A extensão da jornada de trabalho além do ponto em que o trabalhador teria produzido apenas um equivalente do valor de sua força de trabalho acompanhada da apropriação desse maistrabalho pelo capital nisso consiste a produção do maisvalor absoluto Ela forma a base geral do sistema capitalista e o ponto de partida da produção do maisvalor relativo Nesta última a jornada de trabalho está desde o início dividida em duas partes trabalho necessário e maistrabalho Para prolongar o maistrabalho o trabalho necessário é reduzido por meio de métodos que permitem produzir em menos tempo o equivalente do salário A produção do maisvalor absoluto gira apenas em torno da duração da jornada de trabalho a produção do mais valor relativo revoluciona inteiramente os processos técnicos do trabalho e os agrupamentos sociais Ela supõe portanto um modo de produção especificamente capitalista que com seus próprios métodos meios e condições só surge e se desenvolve naturalmente sobre a base da subsunção formal do trabalho sob o capital O lugar da subsunção formal do trabalho sob o capital é ocupado por sua subsunção real Basta aqui uma simples alusão a formas híbridas em que o maisvalor não se extrai do produtor por coerção direta e que tampouco apresentam a subordinação formal do produtor ao capital Nesses casos o capital ainda não se apoderou diretamente do processo de trabalho Ao lado dos produtores independentes que exercem seus trabalhos artesanais ou cultivam a terra de modo tradicional patriarcal surge o usurário ou o comerciante o capital usurário ou comercial que os suga parasitariamente O predomínio dessa forma de exploração numa sociedade exclui o modo de produção capitalista ao mesmo tempo que como na Baixa Idade Média pode servir de transição para ele Por último como mostra o exemplo do trabalho domiciliar moderno certas formas híbridas são reproduzidas aqui e ali na retaguarda da grande indústria mesmo que com uma fisionomia completamente alterada Se por um lado para a produção do maisvalor absoluto basta a subsunção meramente formal do trabalho sob o capital por exemplo que artesãos que antes trabalhavam para si mesmos ou como oficiais de um mestre de corporação passem a atuar como trabalhadores assalariados sob o controle direto do capitalista vimos por outro que os métodos para a produção do maisvalor relativo são ao mesmo tempo métodos para a produção do maisvalor absoluto Mais ainda a extensão 383 desmedida da jornada de trabalho mostrase como o produto mais genuíno da grande indústria Em geral tão logo se apodera de um ramo da produção e mais ainda quando se apodera de todos os ramos decisivos da produção o modo de produção especificamente capitalista deixa de ser um simples meio para a produção do mais valor relativo Ele se converte agora na forma geral socialmente dominante do processo de produção Como método particular para a produção do maisvalor relativo ele atua em primeiro lugar apoderandose de indústrias que até então estavam subordinadas apenas formalmente ao capital ou seja atua em sua propagação em segundo lugar na medida em que as mudanças nos métodos de produção revolucionam continuamente as indústrias que já se encontram em sua esfera de ação Visto sob certo ângulo toda diferença entre maisvalor absoluto e maisvalor relativo parece ilusória O maisvalor relativo é absoluto pois condiciona uma extensão absoluta da jornada de trabalho além do tempo de trabalho necessário à existência do próprio trabalhador O maisvalor absoluto é relativo pois condiciona um desenvolvimento da produtividade do trabalho que possibilita limitar o tempo de trabalho necessário a uma parte da jornada de trabalho Mas quando observamos o movimento do maisvalor desfazse essa aparência de identidade Tão logo o modo de produção capitalista esteja constituído e se tenha tornado o modo geral de produção a diferença entre maisvalor absoluto e relativo tornase perceptível assim que se trate de aumentar a taxa de maisvalor em geral Pressupondose que a força de trabalho seja remunerada por seu valor vemonos então diante da seguinte alternativa por um lado dada a força produtiva de trabalho e seu grau normal de intensidade a taxa de maisvalor só pode ser aumentada mediante o prolongamento absoluto da jornada de trabalho por outro lado com uma dada limitação da jornada de trabalho a taxa de maisvalor só pode ser aumentada por meio de uma mudança relativa da grandeza de suas partes constitutivas do trabalho necessário e do maistrabalho o que por sua vez pressupõe para que o salário não caia abaixo do valor da força de trabalho uma mudança na produtividade ou intensidade do trabalho Se o trabalhador necessita de todo seu tempo para produzir os meios de subsistência necessários ao seu próprio sustento e o de sua descendência Race não lhe sobra tempo algum para trabalhar gratuitamente para um terceiro Sem um certo grau de produtividade do trabalho não haverá esse tempo disponível para o trabalhador sem esse tempo excedente não haverá maistrabalho e por conseguinte nenhum capitalista tampouco senhor de escravos barão feudal numa palavra nenhuma classe de grandes proprietários1 Podemos pois falar de uma base natural do maisvalor mas apenas no sentido muito geral de que nenhuma barreira natural absoluta impede um indivíduo de dispensar a si mesmo do trabalho necessário a sua própria existência e jogálo sobre os ombros de outrem tampouco como obstáculos naturais absolutos impedem alguém de servirse da carne de outrem como alimento1a De forma alguma cabe associar como aconteceu ocasionalmente concepções místicas a essa produtividade natural espontânea do trabalho Somente depois de a humanidade ter superado pelo trabalho suas primitivas condições de animalidade depois portanto de seu próprio trabalho já 384 estar socializado num certo grau é que surgem as condições para que o maistrabalho de um transformese em condição de existência do outro Nos primórdios da civilização as forças produtivas adquiridas do trabalho são exíguas mas o são também as necessidades que se desenvolvem simultaneamente aos meios empregados para satisfazêlas Ademais nesses primórdios a proporção dos setores da sociedade que vivem do trabalho alheio é insignificante quando comparada à massa dos produtores diretos Com o progresso da força produtiva social do trabalho essa proporção aumenta tanto absoluta como relativamente2 A relação capitalista de resto nasce num terreno econômico que é o produto de um longo processo de desenvolvimento A produtividade preexistente do trabalho que lhe serve de fundamento não é uma dádiva da natureza mas o resultado de uma história que compreende milhares de séculos I ndependentemente da forma mais ou menos desenvolvida da produção social a produtividade do trabalho permanece vinculada a condições naturais Todas elas podem ser reduzidas à natureza do próprio homem como raça etc e à natureza que o rodeia As condições naturais externas se dividem do ponto de vista econômico em duas grandes classes a riqueza natural em meios de subsistência isto é fertilidade do solo águas ricas em peixe etc e a riqueza natural em meios de trabalho como quedas dágua rios navegáveis madeira metais carvão etc Nos primórdios da civilização o primeiro tipo de riqueza natural é o decisivo uma vez alcançados níveis superiores de desenvolvimento o segundo passa a predominar Comparemos por exemplo a I nglaterra com a Índia ou no mundo antigo Atenas e Corinto com os países situados na costa do mar Negro Quanto menor o número de necessidades naturais a serem imperiosamente satisfeitas e quanto maiores a fertilidade natural do solo e a excelência do clima tanto menor é o tempo de trabalho necessário para a manutenção e reprodução do produtor E tanto maior portanto pode ser o excedente de seu trabalho para outros isto é o trabalho que excede aquele que ele realiza para si mesmo J á observava Diodoro a respeito dos antigos egípcios É absolutamente incrível quão pouco esforço e custos lhes exige a criação de seus filhos Preparamlhes a comida mais simples e mais fácil de obter dãolhes também para comer a parte inferior do caule do papiro desde que possam tostála ao fogo e as raízes e talos de plantas pantanosas em parte crus em parte cozidos ou assados A maioria das crianças anda descalça e desnuda já que o clima é muito ameno Por isso uma criança não custa a seus pais até que esteja adulta mais que 20 dracmas Isso explica o fato de a população ser tão numerosa no Egito e como tantas grandes obras puderam ser ali executadas3 No entanto as grandes construções do antigo Egito se devem menos ao volume de sua população do que à grande proporção em que esta se encontrava disponível Assim como o trabalhador individual pode fornecer uma quantidade tanto maior de maistrabalho quanto menor seja seu tempo de trabalho necessário assim também quanto menor for a parte da população trabalhadora exigida para a produção dos meios de subsistência necessários tanto maior será a parte dela disponível para outras obras Uma vez pressuposta a produção capitalista e uma dada duração da jornada de trabalho a grandeza do maistrabalho variará mantendose inalteradas as demais 385 circunstâncias de acordo com as condições naturais do trabalho sobretudo com a fertilidade do solo Mas disso não se segue de modo nenhum inversamente que o solo mais fértil seja o mais adequado ao crescimento do modo de produção capitalista Este supõe o domínio do homem sobre a natureza Uma natureza demasiado pródiga conduz o homem com as mãos como uma criança em andadeirasa Ela não faz do desenvolvimento do próprio homem uma necessidade natural4 A pátria do capital não é o clima tropical com sua vegetação exuberante mas a zona temperada Não a fertilidade absoluta do solo mas sua diferenciação a diversidade de seus produtos naturais é que constitui o fundamento natural da divisão social do trabalho e incita o homem pela variação das condições naturais em que ele vive à diversificação de suas próprias necessidades capacidades meios de trabalho e modos de trabalhar É a necessidade de controlar socialmente uma força natural de poupála de apropriarse dela ou dominála em grande escala mediante obras feitas pela mão do homem o que desempenha o papel mais decisivo na história da indústria Assim foi por exemplo com a regulação das águas no Egito5 na Lombardia Holanda etc Ou na Índia Pérsia etc onde a irrigação mediante canais artificiais não só leva ao solo a água indispensável mas também com a lama arrastada por ela o adubo mineral das montanhas A canalização foi o segredo do florescimento industrial da Espanha e da Sicília sob o domínio árabe6 A excelência das condições naturais limitase a fornecer a possibilidade jamais a realidade do maistrabalho portanto do maisvalor ou do maisproduto A diversidade das condições naturais do trabalho faz com que em países diferentes a mesma quantidade de trabalho satisfaça a diferentes massas de necessidades7 que por conseguinte sob condições de resto análogas o tempo de trabalho necessário seja diferente Tais condições só atuam sobre o maistrabalho como barreira natural isto é determinando o ponto em que pode ter início o trabalho para outrem Na mesma medida em que a indústria avança essa barreira natural retrocede Em plena sociedade europeia ocidental na qual o trabalhador só adquire a permissão para trabalhar para sua própria subsistência quando oferece em troca o maistrabalho é fácil imaginar que o fornecimento de um produto excedente seja uma qualidade inata do trabalho humano8 Mas consideremos por exemplo o habitante das ilhas orientais do arquipélago asiático onde o sagu cresce espontaneamente nas matas Quando os habitantes depois de abrir um buraco na árvore se convencem de que a medula está madura derrubam o tronco e cortamno em vários pedaços raspam a medula misturamna com água e a filtram desse modo obtêm farinha de sagu pronta para o uso Uma árvore rende geralmente 300 libras e às vezes de 500 a 600 libras Assim eles vão à floresta e cortam seu pão do mesmo modo que vamos ao bosque cortar nossa lenha9 Suponha que um desses cortadores asiáticos de pão necessite de 12 horas de trabalho por semana para a satisfação de todas as suas necessidades O que o favor da natureza lhe dá diretamente é muito tempo de ócio Para que ele possa utilizar esse tempo de forma produtiva em benefício próprio é requerida toda uma série de circunstâncias históricas para que o gaste em maistrabalho para estranhos é necessária a coação externa Se a produção capitalista fosse introduzida nosso bravo homem talvez tivesse de trabalhar 6 dias por semana para se apropriar do produto de uma jornada de trabalho O favor da natureza não explica por que ele agora trabalha 6 386 dias por semana ou por que ele fornece 5 dias de maistrabalho Ele explica apenas por que seu tempo de trabalho necessário é restrito a 1 dia por semana Mas em nenhum caso seu maisproduto tem origem numa qualidade oculta inata ao trabalho humano Tanto as forças produtivas historicamente desenvolvidas sociais quanto as forças produtivas do trabalho condicionadas pela natureza aparecem como forças produtivas do capital ao qual o trabalho é incorporado Ricardo jamais se interessa pela origem do maisvalor Ele o trata como algo inerente ao modo de produção capitalista que é a seus olhos a forma natural da produção social Quando ele fala da produtividade do trabalho não identifica nela a causa da existência do maisvalor mas tão somente a causa que determina sua grandeza Em contrapartida sua escola proclamou bem alto que é a força produtiva do trabalho que gera o lucro leiase maisvalor Em todo caso isso é um progresso em relação aos mercantilistas para os quais o excedente do preço dos produtos acima de seus custos de produção deriva da troca da venda acima de seu valor Apesar disso também a escola de Ricardo limitouse a contornar o problema sem solucionálo Com efeito esses economistas burgueses percebiam instintivamente e de modo correto que seria deveras perigoso investigar a fundo a questão candente da origem do mais valor Mas o que dizer quando meio século depois de Ricardo o sr J ohn Stuart Mill constata solenemente sua superioridade sobre os mercantilistas repetindo erroneamente os débeis subterfúgios dos primeiros vulgarizadores de Ricardo Mill diz A causa do lucro está naquilo que o trabalho produz mais do que o necessário para seu sustento Até aqui nada mais que a velha cantilena mas Mill quer também acrescentar algo da própria lavra Ou para variar a forma da sentença a razão pela qual o capital rende um lucro é que a alimentação as vestimentas as matériasprimas e os meios de trabalho duram mais do que o exigido para sua produção Mill confunde nesse trecho a duração do tempo de trabalho com a duração de seus produtos Segundo essa opinião um padeiro cujos produtos duram apenas 1 dia jamais poderia extrair de seus assalariados o mesmo lucro que um construtor de máquinas cujos produtos duram 20 anos ou mais De fato se os ninhos dos pássaros não durassem um tempo maior do que o necessário para sua construção os pássaros teriam de se arranjar sem eles Estabelecida essa verdade básica Mill assegura sua superioridade sobre os mercantilistas Vemos assim que o lucro não provém do incidente das trocas mas da força produtiva do trabalho o lucro total de um país é sempre determinado pela força produtiva do trabalho independentemente da existência ou não do intercâmbio Sem a divisão das ocupações não haveria compra nem venda mas continuaria a haver o lucro Aqui pois o intercâmbio a compra e a venda condições gerais da produção capitalista não são mais que um mero incidente e o lucro continua a existir mesmo sem compra e venda da força de trabalho Adiante se a totalidade dos trabalhadores de um país produz 20 a mais do que a soma de seus salários os lucros serão de 20 seja qual for o preço das mercadorias I sso é por um lado uma tautologia das mais bemsucedidas pois se os trabalhadores produzem um maisvalor de 20 para seus capitalistas é evidente que 387 os lucros estarão para o salário total dos trabalhadores numa razão de 20100 Por outro lado é absolutamente falso que os lucros serão de 20 Eles têm de ser sempre menores pois são calculados sobre a soma total do capital adiantado Digamos por exemplo que o capitalista tenha adiantado 500 das quais 400 em meios de produção e 100 em salários Se a taxa de maisvalor for como suposto anteriormente de 20 então a taxa de lucro será de 20500 isto é 4 e não 20 Segue uma prova reluzente de como Mill trata as diferentes formas históricas da produção social Pressuponho por toda parte o estado atual de coisas que com poucas exceções predomina por toda parte isto é o fato de que o capitalista faz todos os adiantamentos inclusive o pagamento do trabalhador Que estranha ilusão óptica a de ver por toda parte um estado de coisas que até agora só predomina na Terra como exceção Mas sigamos em frente Mill é bom o suficiente para admitir que não é uma necessidade absoluta que assim o sejab Ao contrário Se tivesse os meios necessários para sua manutenção o trabalhador poderia aguardar o pagamento mesmo de seu salário inteiro até que o trabalho estivesse pronto mas nesse caso ele seria de certo modo um capitalista que investe capital no negócio fornecendo parte dos fundos necessários para sua continuação Com a mesma razão Mill poderia dizer que o trabalhador que adianta para si mesmo não só os meios de subsistência como também os meios de trabalho seria na realidade seu próprio assalariado Ou que o camponês americano seria seu próprio escravo que trabalha para si próprio em vez de para um senhor alheio Depois de ter demonstrado com tamanha clareza que a produção capitalista ainda que não existisse sempre existiria Mill é agora bastante coerente para demonstrar que essa produção capitalista não existe ainda que exista E mesmo no caso anterior quando o capitalista adianta ao assalariado a totalidade de seus meios de subsistência o trabalhador pode ser considerado sob o mesmo ângulo isto é como um capitalista Pois ao vender seu trabalho abaixo do preço de mercado ele pode ser considerado como se adiantasse a diferença a seu empregador etc9a Na realidade dos fatos o trabalhador adianta gratuitamente seu trabalho ao capitalista durante uma semana etc para no final da semana etc receber o preço de mercado desse trabalho isso o converte segundo Mill num capitalista Na planície até pequenos montes de terra parecem colinas e podemos medir a banalidade de nossa burguesia atual pelo calibre de seus grandes espíritos 388 Capítulo 15 Variação de grandeza do preço da força de trabalho e do maisvalor O valor da força de trabalho é determinado pelo valor dos meios habitualmente necessários à subsistência do trabalhador médio A massa desses meios de subsistência embora sua forma possa variar é dada numa certa época de determinada sociedade e portanto deve ser tratada como uma grandeza constante O que varia é o valor dessa massa Dois fatores adicionais entram na determinação do valor da força de trabalho Por um lado seus custos de desenvolvimento que se alteram com o modo de produção por outro lado sua diferença natural se masculina ou feminina madura ou imatura O emprego dessas diferentes forças de trabalho por sua vez condicionado pelo modo de produção provoca uma grande diferença nos custos de reprodução da família trabalhadora e no valor do trabalhador masculino adulto Ambos os fatores no entanto ficam de fora da presente investigação9b Suponha que 1 as mercadorias sejam vendidas por seu valor 2 o preço da força de trabalho suba eventualmente acima de seu valor porém jamais caia abaixo dele I sso suposto vimos que as grandezas relativas do preço da força de trabalho e do maisvalor estão condicionadas por três circunstâncias 1 a duração da jornada de trabalho ou a grandeza extensiva do trabalho 2 a intensidade normal do trabalho ou sua grandeza intensiva de modo que determinada quantidade de trabalho é gasta num tempo determinado 3 e finalmente a força produtiva do trabalho de forma que dependendo do grau de desenvolvimento das condições de produção a mesma quantidade de trabalho fornece uma quantidade maior ou menor de produto no mesmo tempo Evidentemente combinações muito diferentes são possíveis conforme um dos três fatores seja constante e os demais variáveis ou dois fatores constantes e o terceiro variável ou por fim os três igualmente variáveis Tais combinações são ainda multiplicadas pelo fato de que em caso de variação simultânea dos diversos fatores a grandeza e a direção de tal variação podem ser diferentes A seguir limitamonos a apresentar as combinações principais I Grandeza da jornada de trabalho e intensidade do trabalho constantes dadas força produtiva do trabalho variável Sob esse pressuposto o valor da força de trabalho e o maisvalor são determinados por três leis Primeira lei a jornada de trabalho de grandeza dada representase sempre no mesmo produto de valor seja qual for a variação da produtividade do trabalho a correspondente massa de produtos e portanto o preço da mercadoria individual O produto de valor de uma jornada de trabalho de 12 horas é por exemplo 6 389 xelins ainda que a massa dos valores de uso produzidos varie com a força produtiva do trabalho e portanto o valor de 6 xelins se distribua entre mais ou menos mercadorias Segunda lei o valor da força de trabalho e o maisvalor variam em sentido inverso Variando a força produtiva do trabalho seu aumento ou diminuição atuam em sentido inverso sobre o valor da força de trabalho e em sentido direto sobre o maisvalor O produto de valor da jornada de trabalho de 12 horas é uma grandeza constante por exemplo 6 xelins Essa grandeza constante é igual ao maisvalor somado ao valor da força de trabalho que o trabalhador substitui por um equivalente É evidente que das duas partes de uma grandeza constante nenhuma pode aumentar sem que a outra diminua O valor da força de trabalho não pode subir de 3 para 4 xelins sem que o maisvalor caia de 3 para 2 xelins e o maisvalor não pode subir de 3 para 4 xelins sem que o valor da força de trabalho caia de 3 para 2 xelins Sob essas circunstâncias portanto é impossível que haja qualquer variação na grandeza absoluta seja do valor da força de trabalho seja do maisvalor sem uma variação simultânea de suas grandezas relativas ou proporcionais É impossível que ambas aumentem ou diminuam simultaneamente Ademais o valor da força de trabalho não pode diminuir e portanto o maisvalor não pode aumentar sem que aumente a força produtiva do trabalho por exemplo no caso anterior o valor da força de trabalho não pode cair de 3 xelins para 2 sem que a força produtiva aumentada do trabalho permita produzir em 4 horas a mesma massa de meios de subsistência cuja produção antes exigia 6 horas Por outro lado o valor da força de trabalho não pode subir de 3 para 4 xelins sem que a força produtiva do trabalho caia e que portanto sejam exigidas 8 horas para produzir a mesma massa de meios de subsistência que antes se produzia em 6 horas Disso se segue que o aumento na produtividade do trabalho faz cair o valor da força de trabalho e com isso aumenta o maisvalor assim como em sentido inverso a diminuição da produtividade eleva o valor da força de trabalho e reduz o maisvalor Ao formular essa lei Ricardo negligenciou uma circunstância do fato de uma variação na grandeza do maisvalor ou do maistrabalho condicionar uma variação inversa na grandeza do valor da força de trabalho ou do trabalho necessário não se segue de modo algum que elas variem na mesma proporção Elas aumentam ou diminuem na mesma grandeza mas a proporção em que cada parte do produto de valor ou da jornada de trabalho aumenta ou diminui depende da divisão original anterior à mudança ocorrida na força produtiva do trabalho Se o valor da força de trabalho era de 4 xelins ou o tempo de trabalho necessário de 8 horas sendo o mais valor de 2 xelins ou o maistrabalho de 4 horas e se em decorrência do incremento da força produtiva do trabalho o valor da força de trabalho caiu para 3 xelins ou o trabalho necessário para 6 horas então o maisvalor aumentou para 3 xelins ou o maistrabalho para 6 horas A mesma grandeza de 2 horas ou de 1 xelim é adicionada lá e subtraída aqui mas a variação proporcional de grandeza é nos dois lados diferente Enquanto o valor da força de trabalho passou de 4 xelins para 3 ou seja diminuiu 14 ou 25 o maisvalor passou de 2 xelins para 3 portanto aumentou em 12 ou 50 Seguese pois que o aumento ou diminuição proporcionais do maisvalor 390 em consequência de uma mudança na força produtiva do trabalho são tanto maiores ou tanto menores quanto menor ou maior tenha sido originalmente a parte da jornada de trabalho que se representa no maisvalor Terceira lei o aumento ou a diminuição do maisvalor é sempre efeito e jamais causa do aumento ou diminuição correspondentes do valor da força de trabalho10 Como a jornada de trabalho é uma grandeza constante e se representa numa grandeza constante de valor de modo que a cada variação da grandeza do maisvalor corresponde uma variação inversa da grandeza do valor da força de trabalho e como o valor da força de trabalho só pode variar mediante uma mudança na força produtiva do trabalho seguese evidentemente que toda variação da grandeza do maisvalor decorre de uma variação inversa da grandeza do valor da força de trabalho Assim se vimos não ser possível nenhuma variação absoluta de grandeza no valor da força de trabalho e do maisvalor sem uma variação de suas grandezas relativas seguese agora que nenhuma variação de suas grandezas relativas de valor é possível sem uma variação na grandeza absoluta de valor da força de trabalho De acordo com a terceira lei a variação da grandeza do maisvalor pressupõe um movimento do valor da força de trabalho causado pela variação na força produtiva do trabalho O limite daquela variação é determinado pelo novo limite do valor da força de trabalho É possível no entanto mesmo quando as circunstâncias permitem que a lei atue a realização de movimentos intermediários Se por exemplo em decorrência do aumento da força produtiva do trabalho o valor da força de trabalho cai de 4 para 3 xelins ou o tempo de trabalho necessário de 8 para 6 horas o preço da força de trabalho só poderia cair para 3 xelins e 8 pence 3 xelins e 6 pence 3 xelins e 2 pence etc ao passo que o maisvalor só poderia aumentar para 3 xelins e 4 pence 3 xelins e 6 pence 3 xelins e 10 pence etc O grau da queda cujo limite mínimo são 3 xelins depende do peso relativo que de um lado a pressão do capital de outro a resistência do trabalhador exercem no prato da balança O valor da força de trabalho é determinado pelo valor de certa quantidade de meios de subsistência O que varia com a força produtiva do trabalho é o valor desses meios de subsistência não sua massa A própria massa com o aumento da força produtiva do trabalho pode crescer ao mesmo tempo e na mesma proporção para o capitalista e o trabalhador sem qualquer variação de grandeza entre o preço da força de trabalho e o maisvalor Se 3 xelins fosse o valor original da força de trabalho e 6 horas o tempo de trabalho necessário e também o maisvalor fosse de 3 xelins ou o maistrabalho somasse 6 horas uma duplicação na força produtiva do trabalho mantendose igual a divisão da jornada de trabalho deixaria inalterados o preço da força de trabalho e o maisvalor Mas cada um deles estaria representado no dobro de valores de uso porém relativamente barateados Embora nesse caso o preço da força de trabalho permanecesse inalterado ele teria subido acima de seu valor Se o preço da força de trabalho caísse mas não até o limite mínimo de 112 xelim dado pelo seu novo valor e sim para 2 xelins e 10 pence 2 xelins e 6 pence etc esse preço decrescente continuaria a representar uma massa crescente de meios de subsistência Com o aumento da força produtiva do trabalho o preço da força de trabalho poderia cair continuamente acompanhado de um crescimento simultâneo e contínuo da massa dos meios de 391 subsistência do trabalhador Relativamente porém isto é comparado com o mais valor o valor da força de trabalho diminuiria continuamente ampliando assim o abismo entre as condições de vida do trabalhador e as do capitalista11 Ricardo foi o primeiro a formular de modo rigoroso as três leis anteriormente enunciadas Os defeitos de sua exposição são 1 ele considera condições evidentes por si mesmas gerais e exclusivas da produção capitalista as condições particulares nas quais vigoram aquelas leis Ele desconhece qualquer variação seja da extensão da jornada de trabalho seja da intensidade do trabalho de modo que para ele a produtividade do trabalho se converte por si mesma no único fator variável 2 Porém e isso falsifica sua análise em grau muito mais elevado ele investigou o mais valor como tal tão pouco quanto os outros economistas isto é não o investigou independentemente de suas formas particulares como lucro renda fundiária etc Daí que ele confunda diretamente as leis sobre a taxa do maisvalor com as leis sobre a taxa de lucro Como já indicamos a taxa de lucro é a proporção entre o maisvalor e o capital total adiantado ao passo que a taxa de maisvalor é a proporção entre o mais valor e a parte meramente variável desse capital Suponha que um capital de 500 C se divide em matériasprimas meios de trabalho etc num total de 400 c e em 100 de salários v sendo o maisvalor 100 m A taxa de maisvalor será então mv 100100 100 Mas a taxa de lucro mC 100 500 20 É evidente além disso que a taxa de lucro pode depender de circunstâncias que não afetam em absoluto a taxa de maisvalor Mais tarde no Livro I I I desta obra demonstrarei que a mesma taxa de maisvalor pode se expressar nas mais diversas taxas de lucro assim como as mais diversas taxas de maisvalor sob determinadas circunstâncias na mesma taxa de lucro II Jornada de trabalho constante força produtiva do trabalho constante intensidade do trabalho variável A intensidade cada vez maior do trabalho supõe um dispêndio aumentado de trabalho no mesmo espaço de tempo A jornada de trabalho mais intensiva se incorpora em mais produtos do que a jornada menos intensiva de igual número de horas Com uma força produtiva aumentada a mesma jornada de trabalho fornece mais produtos No último caso porém o valor do produto singular cai pelo fato de custar menos trabalho que antes no primeiro caso ele se mantém inalterado porque o produto custa a mesma quantidade de trabalho de antes O número de produtos aumenta aqui sem que caia seu preço Com seu número aumenta também a soma de seus preços ao passo que no outro caso a mesma soma de valor se representa numa massa aumentada de produtos Se o número de horas se mantém constante a jornada de trabalho mais intensiva se incorpora num produto de valor mais alto se o valor do dinheiro se mantém constante ela se incorpora em mais dinheiro Seu produto de valor varia com os desvios que sua intensidade apresenta em relação ao grau socialmente normal A mesma jornada de trabalho não se representa portanto num produto de valor constante como antes mas num produto de valor variável a jornada de trabalho mais intensiva de 12 horas representase digamos em 7 xelins 8 xelins etc em vez de 6 xelins como era o caso da jornada de trabalho de 12 horas de 392 intensidade usual É claro que se o produto de valor da jornada de trabalho varia por exemplo de 6 para 8 xelins ambas as partes desse produto de valor o preço da força de trabalho e o maisvalor podem aumentar ao mesmo tempo seja em grau igual ou desigual Se o produto de valor sobe de 6 para 8 xelins o preço da força de trabalho e o maisvalor podem ambos aumentar de 3 para 4 xelins O aumento do preço da força de trabalho não implica aqui necessariamente um aumento de seu preço acima de seu valor Ao contrário ele pode vir acompanhado de uma queda abaixo de seu valora Esse é o caso sempre que a elevação do preço da força de trabalho não compensa seu desgaste acelerado Sabemos que com exceções transitórias uma variação na produtividade do trabalho só provoca uma variação na grandeza do valor da força de trabalho e por conseguinte na grandeza do maisvalor se os produtos dos ramos industriais afetados entram no consumo habitual do trabalhador Essa limitação desaparece aqui Se a grandeza do trabalho varia extensiva ou intensivamente à sua variação de grandeza corresponde uma variação na grandeza de seu produto de valor independentemente da natureza do artigo no qual esse valor se representa Se a intensidade do trabalho aumentasse em todos os ramos industriais ao mesmo tempo e na mesma medida o novo grau de intensidade mais elevado se converteria no grau normal fixado socialmente no costume e deixaria assim de ser contado como grandeza extensiva Contudo mesmo os graus médios de intensidade do trabalho continuariam a ser diferentes nas diversas nações e ajustariam portanto a aplicação da lei do valor às diversas jornadas de trabalho nacionais A jornada de trabalho mais intensiva de um país se representa numa expressão monetária mais alta que a da jornada menos intensiva de outro12 III Força produtiva e intensidade do trabalho constantes jornada de trabalho variável A jornada de trabalho pode variar em dois sentidos Ela pode ser reduzida ou prolongada 1 A redução da jornada de trabalho sob as condições dadas isto é mantendose constantes a força produtiva e a intensidade do trabalho deixa inalterado o valor da força de trabalho e por conseguinte o tempo de trabalho necessário Ela reduz o mais trabalho e o maisvalor Com a grandeza absoluta deste último cai também sua grandeza relativa isto é sua grandeza em proporção à grandeza de valor constante da força de trabalho Apenas reduzindo o preço desta última abaixo de seu valor poderia o capitalista escapar do prejuízo Todas as fraseologias tradicionais contra a redução da jornada de trabalho supõem que o fenômeno ocorra sob as circunstâncias aqui pressupostas ao passo que na realidade as variações na produtividade e intensidade do trabalho ou são anteriores à redução da jornada de trabalho ou a sucedem imediatamente13 2 Prolongamento da jornada de trabalho suponha que o tempo de trabalho necessário seja de 6 horas ou que o valor da força de trabalho seja de 3 xelins assim como o maistrabalho de 6 horas e o maisvalor somem 3 xelins A jornada de trabalho 393 será então de 12 horas e representarseá num produto de valor de 6 xelins Se a jornada de trabalho for prolongada em 2 horas e o preço da força de trabalho se mantiver inalterado aumentará juntamente com a grandeza absoluta do maisvalor sua grandeza relativa Embora a grandeza de valor da força de trabalho permaneça inalterada em termos absolutos ela cairá em termos relativos Sob as condições indicadas no ponto I a grandeza relativa de valor da força de trabalho não poderia variar sem que variasse sua grandeza absoluta Aqui ao contrário a variação relativa de grandeza no valor da força de trabalho resulta de uma variação absoluta de grandeza do maisvalor Como o produto de valor no qual se representa a jornada de trabalho aumenta com o próprio prolongamento desta última o preço da força de trabalho e o maisvalor podem aumentar simultaneamente seja com um incremento igual ou desigual Esse crescimento simultâneo é possível em dois casos o de um prolongamento absoluto da jornada de trabalho e o de uma intensidade crescente do trabalho sem aquele prolongamento Com a jornada de trabalho prolongada o preço da força de trabalho pode cair abaixo de seu valor embora nominalmente se mantenha igual ou mesmo suba Lembremos que o valor diário da força de trabalho é calculado com base em sua duração média ou na duração normal da vida de um trabalhador e na correspondente transformação normal ajustada à natureza humana de substância vital em movimento14 Até certo ponto o desgaste maior da força de trabalho inseparável do prolongamento da jornada de trabalho pode ser compensado com uma remuneração maior Além desse ponto porém o desgaste aumenta em progressão geométrica ao mesmo tempo que se destroem todas as condições normais de reprodução e atuação da força de trabalho O preço da força de trabalho e o grau de sua exploração deixam de ser grandezas reciprocamente comensuráveis IV Variações simultâneas na duração força produtiva e intensidade do trabalho Aqui evidentemente um grande número de combinações é possível Dois fatores quaisquer podem variar e um permanecer constante ou podem variar os três simultaneamente Podem variar em grau igual ou desigual na mesma direção ou em direção contrária de modo que suas variações se compensem umas às outras parcial ou totalmente Contudo a análise de todos os casos possíveis conforme os resultados obtidos nos pontos I I I e I I I não apresenta dificuldades Para chegar ao resultado de toda combinação possível devemos considerar sucessivamente cada fator como variável e os outros como constantes Não podemos aqui ir além de uma breve menção a dois casos importantes 1 Força produtiva decrescente do trabalho com simultâneo prolongamento da jornada de trabalho Por força produtiva decrescente do trabalho entendemos aqui os ramos de trabalho cujos produtos determinam o valor da força de trabalho portanto por exemplo a força produtiva decrescente do trabalho em virtude de uma infertilidade 394 crescente do solo e o correspondente encarecimento dos produtos agrícolas Suponha que a jornada de trabalho seja de 12 horas seu produto de valor seja de 6 xelins e que metade dessa soma reponha o valor da força de trabalho e a outra metade seja seu maisvalor Desse modo a jornada de trabalho se decompõe em 6 horas de trabalho necessário e 6 horas de maistrabalho Suponha que em virtude do encarecimento dos produtos do solo o valor da força de trabalho aumente de 3 para 4 xelins e o tempo de trabalho necessário de 6 para 8 horas Se a jornada de trabalho permanecer inalterada o maistrabalho cairá então de 6 para 4 horas e o maisvalor de 3 para 2 xelins Se a jornada de trabalho for prolongada em 2 horas portanto de 12 para 14 horas o mais trabalho continuará sendo de 6 horas e o maisvalor de 3 xelins mas a grandeza deste último terá sido reduzida em comparação com o valor da força de trabalho medido pelo trabalho necessário Se a jornada de trabalho for prolongada em 4 horas de 12 para 16 horas as grandezas proporcionais do maisvalor e do valor da força de trabalho do maistrabalho e do trabalho necessário permanecerão inalteradas mas a grandeza absoluta do maisvalor terá crescido de 3 para 4 xelins e a do maistrabalho de 6 para 8 horas de trabalho ou seja terá aumentado em 13 ou 3313 Em caso de decréscimo da força produtiva do trabalho e concomitante prolongamento da jornada de trabalho a grandeza absoluta do maisvalor pode permanecer inalterada ainda que diminua sua grandeza proporcional sua grandeza proporcional pode permanecer inalterada ainda que sua grandeza absoluta aumente e a depender do grau do prolongamento ambas podem aumentar No período entre 1799 e 1815 os crescentes preços dos meios de subsistência na I nglaterra provocaram um aumento nominal dos salários apesar de os salários reais expressos em meios de subsistência terem diminuído Desse fato West e Ricardo concluíram que a diminuição da produtividade do trabalho agrícola teria acarretado uma queda da taxa de maisvalor e converteram tal suposição válida unicamente no reino de suas fantasias num ponto de partida para importantes análises sobre a proporção da grandeza relativa do salário do lucro e da renda fundiária Mas graças à intensidade aumentada do trabalho e do prolongamento forçado do tempo de trabalho o maisvalor aumentara então absoluta e relativamente Foi esse o período em que adquiriu direito de cidadania o prolongamento desmedido da jornada de trabalho15 período caracterizado especialmente pelo aumento acelerado de um lado do capital de outro do pauperismo16 2 I ntensidade e força produtiva do trabalho crescentes e simultânea redução da jornada de trabalho A força produtiva aumentada do trabalho e sua intensidade crescente atuam uniformemente na mesma direção Ambas ampliam a massa de produtos obtida em cada período de tempo Ambas reduzem assim a parte da jornada de trabalho necessária para que o trabalhador produza seus meios de subsistência ou o equivalente a eles O limite mínimo absoluto da jornada de trabalho é formado em geral por essa sua parte constitutiva necessária mas que pode ser contraída Se a jornada de trabalho inteira encolhesse até esse limite o que é impossível sob o regime do capital o maistrabalho desapareceria A supressão da forma capitalista de produção permite restringir a jornada de trabalho ao trabalho necessário Mas este 395 último mantendose inalteradas as demais circunstâncias ampliaria seu espaço Por um lado porque as condições de vida do trabalhador tornarseiam mais ricas e suas exigências vitais maiores Por outro porque uma parcela do maistrabalho atual contaria como trabalho necessário isto é como o trabalho que se requer para a criação de um fundo social de reserva e acumulação Quanto mais cresce a força produtiva do trabalho tanto mais se pode reduzir a jornada de trabalho e quanto mais se reduz a jornada de trabalho tanto mais pode crescer a intensidade do trabalho Considerada socialmente a produtividade do trabalho cresce também com sua economia Esta implica não apenas que se economizem os meios de produção mas também que se evite todo trabalho inútil Ao mesmo tempo que o modo de produção capitalista impõe a economia em cada empresa individual seu sistema anárquico de concorrência gera o desperdício mais desenfreado dos meios de produção e das forças de trabalho sociais além de inúmeras funções atualmente indispensáveis mas em si mesmas supérfluas Dadas a intensidade e a força produtiva do trabalho a parte da jornada social de trabalho necessária para a produção material será tanto mais curta e portanto tanto mais longa a parcela de tempo disponível para a livre atividade intelectual e social dos indivíduos quanto mais equitativamente o trabalho for distribuído entre todos os membros capazes da sociedade e quanto menos uma camada social puder esquivarse da necessidade natural do trabalho lançandoa sobre os ombros de outra camada O limite absoluto para a redução da jornada de trabalho é nesse sentido a generalização do trabalho Na sociedade capitalista produzse tempo livre para uma classe transformando todo o tempo de vida das massas em tempo de trabalho 396 Capítulo 16 Diferentes fórmulas para a taxa de maisvalor Vimos que a taxa de maisvalor se representa nas fórmulas I maisvalorcapital variável mv maisvalorvalor da força de trabalho maistrabalhotrabalho necessário As duas primeiras fórmulas apresentam como relação de valores o que a terceira apresenta como relação entre os tempos nos quais esses valores são produzidos Essas fórmulas substituíveis entre si são conceitualmente rigorosas Razão pela qual podemos encontrálas quanto a seu conteúdo na economia política clássica embora não conscientemente elaboradas Nela encontramos ao contrário as seguintes fórmulas derivadas II maistrabalhojornada de trabalho maisvalorvalor do produto maisprodutoproduto total Aqui a mesma proporção se expressa alternadamente sob a forma dos tempos de trabalho dos valores nos quais eles se incorporam e dos produtos nos quais esses valores existem Supõese naturalmente que por valor do produto se deva entender apenas o produto de valor da jornada de trabalho excluindose porém a parte constante do valor do produto Em todas essas fórmulas o grau efetivo de exploração do trabalho ou a taxa de maisvalor está expresso de modo falso Suponhamos uma jornada de trabalho de 12 horas Mantendose os demais pressupostos de nosso exemplo anterior o grau efetivo de exploração do trabalho se apresenta nesse caso nas seguintes proporções 6 h de maistrabalho6 h de trabalho necessário maisvalor de 3 xelinscapital variável de 3 xelins 100 Segundo as fórmulas II obtemos ao contrário 6 horas de maistrabalhojornada de trabalho de 12h maisvalor de 3 xelinsproduto de valor de 6 xelins 50 Essas fórmulas derivadas exprimem na verdade a proporção em que a jornada de trabalho ou seu produto de valor se divide entre o capitalista e o trabalhador Por conseguinte se fossem válidas como expressões diretas do grau de autovalorização alcançado pelo capital valeria esta falsa lei o maistrabalho ou o maisvalor jamais pode chegar a 10017 Como o maistrabalho constitui sempre uma parte alíquota da jornada de trabalho e o maisvalor sempre uma parte alíquota do produto de valor o maistrabalho é sempre necessariamente menor do que a jornada de trabalho ou o maisvalor é sempre menor do que o produto de valor Mas para que se relacionassem na proporção 100100 eles teriam de ser iguais Para que o maistrabalho absorvesse 397 integralmente a jornada de trabalho tratase aqui da jornada média da semana do ano etc de trabalho o trabalho necessário teria de se reduzir a zero Mas desaparecendo o trabalho necessário desapareceria também o maistrabalho já que este último não é mais do que uma função do primeiro A proporção maistrabalhojornada de trabalho maisvalorproduto de valor jamais pode alcançar o limite de 100100 e menos ainda se elevar a 100 x100 Mas pode sim alcançar a taxa do maisvalor ou o grau efetivo de exploração de trabalho Consideremos por exemplo as estimativas do sr L de Lavergne segundo as quais o trabalhador agrícola inglês recebe somente 14 enquanto o capitalista arrendatário recebe 34 do produto18 ou de seu valor independentemente de como o butim seja posteriormente dividido entre o capitalista e o proprietário da terra etc Desse modo o maistrabalho do trabalhador rural inglês está para seu trabalho necessário na proporção de 31 uma taxa de exploração de 300 O método da escola que consiste em tomar a jornada de trabalho como grandeza constante foi consolidado pela aplicação das fórmulas I I porquanto nelas o mais trabalho é sempre comparado com uma jornada de trabalho de grandeza dada O mesmo ocorre quando se examina exclusivamente a divisão do produto de valor A jornada de trabalho já objetivada num produto de valor é sempre uma jornada de trabalho de limites dados A representação do maisvalor e do valor da força de trabalho como frações do produto de valor representação que deriva de resto do próprio modo de produção capitalista e cujo significado será investigado posteriormente oculta o caráter específico da relação capitalista a saber o intercâmbio entre o capital variável e a força de trabalho viva e a correspondente exclusão do trabalhador do produto Em seu lugar surge a falsa aparência de uma relação associativa na qual o trabalhador e o capitalista repartem o produto entre si conforme a proporção de seus diferentes fatores constitutivos19 De resto as fórmulas I I podem ser sempre reconvertidas nas fórmulas I Se temos por exemplo maistrabalho de 6 horasjornada de trabalho de 12 horas então o tempo de trabalho necessário jornada de trabalho de 12 horas menos maistrabalho de 6 horas o que dá o seguinte resultado maistrabalho de 6 horastrabalho necessário de 6 horas 100100 A terceira fórmula que já antecipei em outra ocasião é III maisvalorvalor da força de trabalho maistrabalhotrabalho necessário trabalho não pago trabalho pago O malentendido a que a fórmula trabalho não pagotrabalho pago poderia conduzir de que o capitalista pagaria o trabalho e não a força de trabalho desaparece pelo que foi antes exposto trabalho não pagotrabalho pago é apenas a expressão mais popular para mais trabalhotrabalho necessário O capitalista paga o valor da força de trabalho ou seu preço divergente de seu valor e recebe em troca o direito de dispor da força viva de trabalho Seu usufruto dessa força de trabalho é decomposto em dois períodos 398 Durante um deles o trabalhador não produz mais que um valor que é igual ao valor de sua força de trabalho portanto apenas um equivalente Em troca do preço adiantado da força de trabalho o capitalista recebe pois um produto de mesmo preço É como se ele tivesse adquirido o produto já pronto no mercado No período do maistrabalho ao contrário o usufruto da força de trabalho gera valor para o capitalista sem que esse valor lhe custe um substituto de valor20 Ele obtém gratuitamente essa realização da força de trabalho Nesse sentido o maistrabalho pode ser chamado de trabalho não pago O capital portanto não é apenas o comando sobre o trabalho como diz A Smith Ele é em sua essência o comando sobre o trabalho não pago Todo maisvalor qualquer que seja a forma particular em que mais tarde se cristalize como o lucro a renda etc é com relação à sua substância a materialização Materiatur de tempo de trabalho não pago O segredo da autovalorização do capital se resolve no fato de que este pode dispor de uma determinada quantidade de trabalho alheio não pago 399 Seção VI O SALÁRIO Capítulo 17 Transformação do valor ou preço da força de trabalho em salário Na superfície da sociedade burguesa o salário do trabalhador aparece como preço do trabalho como determinada quantidade de dinheiro paga por determinada quantidade de trabalho Falase aqui do valor do trabalho e sua expressão monetária é denominada seu preço necessário ou natural Por outro lado falase dos preços de mercado do trabalho isto é de preços que oscilam acima ou abaixo de seu preço necessário Mas o que é o valor de uma mercadoria A forma objetiva do trabalho social gasto em sua produção E como medimos a grandeza de seu valor Pela grandeza do trabalho nela contido Como podemos determinar o valor por exemplo de uma jornada de trabalho de 12 horas Pelas 12 horas de trabalho contidas numa jornada de trabalho de 12 horas o que é uma absurda tautologia21 Para ser vendido no mercado como mercadoria o trabalho teria ao menos de existir antes de ser vendido Mas se o trabalhador pudesse dar ao trabalho uma existência independente o que ele venderia seria uma mercadoria e não trabalho22 Abstraindo dessas contradições uma troca direta de dinheiro isto é de trabalho objetivado por trabalho vivo ou anularia a lei do valor que só se desenvolve livremente com base na produção capitalista ou anularia a própria produção capitalista fundada precisamente no trabalho assalariado Suponha por exemplo que a jornada de trabalho se represente num valor monetário de 6 xelins Havendo troca de equivalentes o trabalhador receberá 6 xelins pelo trabalho de 12 horas O preço de seu trabalho será igual ao preço de seu produto Nesse caso ele não produzirá nenhum maisvalor para o comprador de seu trabalho os 6 xelins não se transformarão em capital e o fundamento da produção capitalista se desvanecerá mas é precisamente sobre esse fundamento que o trabalhador vende seu trabalho e que este é trabalho assalariado Ou então ele recebe por 12 horas de trabalho menos de 6 xelins isto é menos de 12 horas de trabalho Nesse caso 12 horas de trabalho se trocam por 10 ou 6 horas de trabalho etc Essa equiparação de grandezas desiguais não se limita a suprimir a determinação do valor Tal contradição que suprime a si mesma não pode ser de modo algum enunciada ou formulada como lei23 De nada adianta deduzir essa troca de mais trabalho por menos trabalho da diferença formal que nos esclarece que num caso ele é trabalho objetivado e no outro é trabalho vivo24 I sso é tanto mais absurdo pelo valor de uma mercadoria não ser determinado pela quantidade de trabalho realmente objetivado nela mas pela quantidade de trabalho vivo necessário para sua produção Digamos que uma mercadoria represente 6 horas de trabalho Caso surjam invenções que permitam produzila em 3 horas o valor da mercadoria já produzida também se reduzirá pela metade Ela representa agora 3 horas de trabalho social necessário em vez das 6 401 horas de antes O que determina sua grandeza de valor é portanto a quantidade de trabalho requerido para sua produção e não sua forma objetivada No mercado o que se contrapõe diretamente ao possuidor de dinheiro não é na realidade o trabalho mas o trabalhador O que este último vende é sua força de trabalho Mal seu trabalho tem início efetivamente e a força de trabalho já deixou de lhe pertencer não podendo mais portanto ser vendida por ele O trabalho é a substância e a medida imanente dos valores mas ele mesmo não tem valor nenhum25 Na expressão valor do trabalho o conceito de valor não só se apagou por completo mas converteuse em seu contrário É uma expressão imaginária como valor da terra Essas expressões imaginárias surgem no entanto das próprias relações de produção São categorias para as formas em que se manifestam relações essenciais Que em sua manifestação as coisas frequentemente se apresentem invertidas é algo conhecido em quase todas as ciências menos na economia política26 A economia política clássica tomou emprestada à vida cotidiana de modo acrítico a categoria preço do trabalho para em seguida perguntarse como esse preço é determinado Ela logo reconheceu que a variação na relação entre oferta e demanda nada esclarece acerca do preço do trabalho assim como de que qualquer outra mercadoria além de sua variação isto é a oscilação dos preços de mercado abaixo ou acima de certa grandeza Se oferta e demanda coincidem cessa mantendose iguais as demais circunstâncias a oscilação de preço Mas então oferta e demanda cessam também de explicar qualquer coisa Quando oferta e demanda coincidem o preço do trabalho é determinado independentemente da relação entre procura e oferta quer dizer é seu preço natural que desse modo tornouse o objeto que realmente se deveria analisar Ou ela tomou um período mais longo de oscilações do preço de mercado por exemplo um ano e verificou que suas altas e baixas se compensavam numa grandeza média uma grandeza constante Esta última tinha naturalmente de ser determinada de outro modo que não por suas próprias oscilações que se compensam umas às outras Esse preço que predomina sobre os preços acidentais obtidos pelo trabalho no mercado e os regula o preço necessário fisiocratas ou preço natural do trabalho Adam Smith só podia ser como no caso das outras mercadorias seu valor expresso em dinheiro E assim por meio dos preços acidentais do trabalho a economia política acreditou poder penetrar em seu valor Como no caso das demais mercadorias esse valor continuou a ser determinado pelos custos de produção Mas em que consistem os custos de produção do trabalhador isto é os custos para produzir ou reproduzir o próprio trabalhador I nconscientemente essa questão assumiu para a economia política o lugar da questão original já que no que diz respeito aos custos de produção do trabalho enquanto tais ela girava num círculo vicioso e não progredia um passo sequer Portanto o que ela chama de valor do trabalho value of labour é na verdade o valor da força de trabalho que existe na personalidade do trabalhador e é tão diferente de sua função o trabalho quanto uma máquina de suas operações Ocupada com a diferença entre os preços de mercado do trabalho e seu assim chamado valor com a relação entre esse valor e a taxa de lucro e entre ele e os valoresmercadoria produzidos mediante o trabalho etc a economia política nunca descobriu que o curso da análise não só tinha evoluído dos preços do 402 trabalho no mercado a seu valor presumido mas chegara a dissolver novamente esse mesmo valor do trabalho no valor da força de trabalho A inconsciência acerca desse resultado de sua própria análise a aceitação acrítica das categorias valor do trabalho preço natural do trabalho etc como expressões adequadas e últimas da relação de valor considerada enredou a economia política clássica como veremos mais adiante em confusões e contradições insolúveis ao mesmo tempo que ofereceu à economia vulgar uma base segura de operações para sua superficialidade fundada no princípio do culto das aparências Vejamos em primeiro lugar como o valor e os preços da força de trabalho se apresentam nessa forma transformada como salário Sabemos que o valor diário da força de trabalho é calculado sobre a base de certa duração da vida do trabalhador a qual corresponde a certa duração da jornada de trabalho Suponha que a jornada de trabalho habitual seja de 12 horas e o valor diário da força de trabalho seja de 3 xelins expressão monetária de um valor em que se representam 6 horas de trabalho Se o trabalhador recebe 3 xelins ele recebe o valor de sua força de trabalho mantida em funcionamento durante 12 horas Ora se esse valor diário da força de trabalho for expresso como valor do trabalho realizado durante uma jornada teremos a fórmula o trabalho de 12 horas tem um valor de 3 xelins O valor da força de trabalho determina assim o valor do trabalho ou expresso em dinheiro o preço necessário do trabalho Se ao contrário o preço da força de trabalho diferir de seu valor o mesmo ocorrerá com o preço do trabalho em relação ao seu assim chamado valor Dado que o valor do trabalho é apenas uma expressão irracional para o valor da força de trabalho concluise evidentemente que o valor do trabalho tem de ser sempre menor que seu produto de valor pois o capitalista sempre faz a força de trabalho funcionar por mais tempo do que o necessário para a reprodução do valor desta última No exemplo anterior o valor da força de trabalho mantida em funcionamento durante 12 horas é de 3 xelins valor para cuja reprodução ela precisa de 6 horas Seu produto de valor em contrapartida é de 6 xelins pois ela funciona na realidade durante 12 horas e seu produto de valor não depende de seu próprio valor mas da duração de seu funcionamento Chegamos assim ao resultado à primeira vista absurdo de que um trabalho que cria um valor de 6 xelins tem um valor 3 xelins27 Vemos além disso o valor de 3 xelins em que se representa a parte paga da jornada de trabalho isto é o trabalho de 6 horas aparece como valor ou preço da jornada de trabalho total de 12 horas que contém 6 horas não pagas A formasalário extingue portanto todo vestígio da divisão da jornada de trabalho em trabalho necessário e maistrabalho em trabalho pago e trabalho não pago Todo trabalho aparece como trabalho pago Na corveia o trabalho do servo para si mesmo e seu trabalho forçado para o senhor da terra se distinguem de modo palpavelmente sensível tanto no espaço como no tempo No trabalho escravo mesmo a parte da jornada de trabalho em que o escravo apenas repõe o valor de seus próprios meios de subsistência em que portanto ele trabalha de fato para si mesmo aparece como trabalho para seu senhor Todo seu trabalho aparece como trabalho não pago28 No 403 trabalho assalariado ao contrário mesmo o maistrabalho ou trabalho não pago aparece como trabalho pago No primeiro caso a relação de propriedade oculta o trabalho do escravo para si mesmo no segundo a relação monetária oculta o trabalho gratuito do assalariado Compreendese assim a importância decisiva da transformação do valor e do preço da força de trabalho na formasalário ou em valor e preço do próprio trabalho Sobre essa forma de manifestação que torna invisível a relação efetiva e mostra precisamente o oposto dessa relação repousam todas as noções jurídicas tanto do trabalhador como do capitalista todas as mistificações do modo de produção capitalista todas as suas ilusões de liberdade todas as tolices apologéticas da economia vulgar Se a história universal precisa de muito tempo para descobrir o segredo do salário não há em contrapartida nada mais fácil de compreender do que a necessidade as raisons dêtre razões de ser dessa forma de manifestação I nicialmente o intercâmbio entre capital e trabalho apresentase à percepção exatamente do mesmo modo como a compra e a venda de todas as outras mercadorias O comprador dá certa soma de dinheiro e o vendedor um artigo diferente do dinheiro Nesse fato a consciência jurídica reconhece quando muito uma diferença material expressa em fórmulas juridicamente equivalentes do ut des do ut facias facio ut des e facio ut faciasa Além disso como o valor de troca e o valor de uso são em si mesmos grandezas incomensuráveis as expressões valor do trabalho e preço do trabalho não parecem ser mais irracionais do que as expressões valor do algodão e preço do algodão Acrescentese a isso o fato de que o trabalhador é pago depois de ter fornecido seu trabalho Em sua função como meio de pagamento o dinheiro realiza porém a posteriori o valor ou o preço do artigo fornecido ou seja no caso presente o valor ou o preço do trabalho fornecido Finalmente o valor de uso que o trabalhador fornece ao capitalista não é na realidade sua força de trabalho mas sua função um determinado trabalho útil como o trabalho do alfaiate do sapateiro do fiandeiro etc Que esse mesmo trabalho sob outro ângulo seja o elemento geral criador de valor elemento que o distingue das demais mercadorias é algo que está fora do alcance da consciência ordinária Se nos colocarmos do ponto de vista do trabalhador que em troca de 12 horas de trabalho recebe por exemplo o produto de valor de 6 horas de trabalho digamos 3 xelins veremos que para ele seu trabalho de 12 horas é na verdade o meio que lhe permite comprar os 3 xelins O valor de sua força de trabalho pode variar com o valor de seus meios habituais de subsistência de 3 para 4 xelins de 3 para 2 xelins ou permanecendo igual o valor de sua força de trabalho seu preço em decorrência da relação variável entre a oferta e a demanda pode aumentar a 4 xelins ou diminuir a 2 xelins mas o trabalhador fornece sempre 12 horas de trabalho razão pela qual toda variação na grandeza do equivalente que ele recebe aparecelhe necessariamente como variação do valor ou preço de suas 12 horas de trabalho I nversamente essa circunstância induziu Adam Smith que considerava a jornada de trabalho como uma grandeza constante29 a sustentar que o valor do trabalho é constante embora o valor 404 dos meios de subsistência varie e a mesma jornada de trabalho se represente por isso em mais ou menos dinheiro para o trabalhador Se por outro lado consideramos o capitalista vemos que ele quer obter o máximo possível de trabalho pela menor quantidade possível de dinheiro Do ponto de vista prático portanto interessalhe somente a diferença entre o preço da força de trabalho e o valor criado por seu funcionamento Mas ele procura comprar todas as mercadorias o mais barato possível acreditando encontrar a razão de seu lucro no simples logro no ato de comprar abaixo do valor e vender acima dele Daí que ele não compreenda que se existisse realmente algo como o valor do trabalho e se ele pagasse realmente esse valor não existiria nenhum capital e seu dinheiro não se transformaria em capital Além disso o movimento efetivo do salário apresenta fenômenos que parecem demonstrar que o que é pago não é a força de trabalho mas o valor de sua função do próprio trabalho Podemos reduzir esses fenômenos a duas grandes classes Primeira variação do salário quando varia a duração da jornada de trabalho Poderseia concluir do mesmo modo que o que é pago não é o valor da máquina mas o de sua operação pois custa mais alugar uma máquina por uma semana do que por um dia Segunda a diferença individual entre os salários de diversos trabalhadores que executam a mesma função Essa diferença individual encontrase também mas sem motivo para ilusões no sistema escravista no qual a própria força de trabalho é vendida franca e livremente sem floreios A única diferença é que a vantagem de uma força de trabalho superior à média ou a desvantagem de uma força de trabalho inferior à média recai no sistema escravista sobre o proprietário de escravos ao passo que no sistema do trabalho assalariado ela recai sobre o próprio trabalhador pois nesse último caso sua força de trabalho é vendida por ele mesmo e no primeiro caso por uma terceira pessoa De resto com a forma de manifestação valor e preço do trabalho ou salário em contraste com a relação essencial que se manifesta isto é com o valor e o preço da força de trabalho ocorre o mesmo que com todas as formas de manifestação e seu fundo oculto As primeiras se reproduzem de modo imediatamente espontâneo como formas comuns e correntes de pensamento o segundo tem de ser primeiramente descoberto pela ciência A economia política clássica chega muito próximo à verdadeira relação das coisas porém sem formulála conscientemente Ela não poderá fazêlo enquanto estiver coberta com sua pele burguesa 405 Capítulo 18 O salário por tempo O próprio salário assume por sua vez formas muito variadas circunstância que não se pode reconhecer por meio de compêndios econômicos que com seu tosco interesse pelo material negligenciam toda diferença de forma Mas uma exposição de todas essas formas pertence à teoria especial do trabalho assalariado e não portanto a esta obra Em contrapartida aqui cabe desenvolver brevemente as duas formas básicas predominantes Como podemos recordar a venda da força de trabalho ocorre sempre por determinados períodos de tempo A forma transformada em que se representa diretamente o valor diário semanal etc da força de trabalho é portanto a do salário por tempo isto é do salário diário etc De início devemos observar que as leis que regem a variação de grandeza do preço da força de trabalho e do maisvalor leis que foram expostas no capítulo 15 transformamse mediante uma simples mudança de forma em leis do salário Do mesmo modo a distinção entre o valor de troca da força de trabalho e a massa dos meios de subsistência em que se converte esse valor reaparece agora como distinção entre o salário nominal e o salário real Seria inútil repetir com respeito à forma de manifestação o que já expusemos acerca da forma essencial Limitarnosemos por isso a indicar alguns poucos pontos que caracterizam o salário por tempo A soma de dinheiro30 que o trabalhador recebe por seu trabalho diário semanal etc constitui a quantia de seu salário nominal ou do seu salário estimado segundo o valor Porém é claro que conforme a extensão da jornada de trabalho quer dizer conforme a quantidade de trabalho diariamente fornecida pelo trabalhador o mesmo salário diário semanal etc pode representar um preço muito diferente do trabalho isto é quantias de dinheiro muito diferentes para a mesma quantidade de trabalho31 Assim ao considerarmos o salário por tempo temos de distinguir por sua vez entre a quantia total do salário diário semanal etc e o preço do trabalho Mas como encontrar esse preço isto é o valor monetário de uma dada quantidade de trabalho O preço médio do trabalho é obtido ao dividirmos o valor diário médio da força de trabalho pelo número de horas da jornada média de trabalho Se por exemplo o valor diário da força de trabalho for de 3 xelins o produto de valor de 6 horas de trabalho e a jornada de trabalho for de 12 horas o preço de 1 hora de trabalho será 3 xelins12 3 pence O preço da hora de trabalho assim obtido serve de unidade de medida para o preço do trabalho Depreendese daí que o salário diário semanal etc pode permanecer o mesmo ainda que o preço do trabalho caia continuamente Se por exemplo a jornada de trabalho usual for de 10 horas e o valor diário da força de trabalho for de 3 xelins o preço da hora de trabalho será de 335 pence ele cairá para 3 pence quando a jornada de trabalho aumentar para 12 horas e para 225 pence quando for de 15 horas Mesmo 406 assim o salário diário ou semanal permaneceriam inalterados Por outro lado o salário diário ou semanal podem aumentar ainda que o preço do trabalho permaneça constante ou até mesmo caia Se por exemplo a jornada de trabalho fosse de 10 horas e 3 xelins fosse o valor diário da força de trabalho o preço de 1 hora de trabalho seria de 335 pence Se em virtude de crescente ocupação e supondose que o preço de trabalho permaneça igual o operário trabalhar 12 horas seu salário diário aumentará para 3 xelins e 715 pence sem que haja variação do preço do trabalho O mesmo resultado poderia ser obtido aumentandose a grandeza intensiva do trabalho em vez de sua grandeza extensiva32 A elevação do valor nominal do salário diário ou semanal pode pois ser acompanhada de um preço constante ou decrescente do trabalho O mesmo vale para a receita da família trabalhadora tão logo a quantidade de trabalho fornecida pelo chefe da família seja acrescida do trabalho dos membros da família Existem portanto métodos para reduzir o preço do trabalho sem a necessidade de rebaixar o valor nominal do salário diário ou semanal33 Concluise como lei geral estando dada a quantidade de trabalho diário semanal etc o salário diário ou semanal dependerá do preço do trabalho que por sua vez varia com o valor da força de trabalho ou com os desvios de seu preço em relação a seu valor Ao contrário estando dado o preço do trabalho o salário diário ou semanal dependerá da quantidade de trabalho diário ou semanal A unidade de medida do salário por tempo o preço da hora de trabalho é o quociente do valor diário da força de trabalho dividido pelo número de horas da jornada de trabalho habitual Suponha que esta última seja de 12 horas e que o valor diário da força de trabalho seja de 3 xelins isto é o produto de valor de 6 horas de trabalho Nessas circunstâncias o preço da hora de trabalho será de 3 pence e seu produto de valor somará 6 pence Ora se o trabalhador estiver ocupado menos de 12 horas por dia ou menos de 6 dias por semana por exemplo somente 6 ou 8 horas ele receberá mantendose esse preço do trabalho um salário diário de apenas 2 ou 112 xelins34 Como segundo o pressuposto que adotamos ele tem de trabalhar uma média diária de 6 horas para produzir apenas um salário correspondente ao valor de sua força de trabalho e como segundo esse mesmo pressuposto de cada hora ele trabalha somente meia hora para si mesmo e outra meia hora para o capitalista é claro que não poderá obter o produto de valor de 6 horas se estiver ocupado por menos de 12 horas Se anteriormente vimos as consequências destruidoras do sobretrabalho aqui descobrimos as fontes dos sofrimentos que para o trabalhador decorrem de seu subemprego Se o salário por hora é fixado de maneira que o capitalista não se vê obrigado a pagar um salário diário ou semanal mas somente as horas de trabalho durante as quais ele decida ocupar o trabalhador ele poderá ocupálo por um tempo inferior ao que serviu originalmente de base para o cálculo do salário por hora ou para a unidade de medida do preço do trabalho Sendo essa unidade de medida determinada pela proporção valor diário da força de trabalhojornada de trabalho de um dado número de horas ela perde naturalmente todo sentido assim que a jornada de trabalho deixa de contar um número determinado de horas A conexão entre o trabalho pago e o não pago é 407 suprimida O capitalista pode agora extrair do trabalhador uma determinada quantidade de maistrabalho sem concederlhe o tempo de trabalho necessário para sua autoconservação Pode eliminar toda regularidade da ocupação e de acordo com sua comodidade arbítrio e interesse momentâneo fazer com que o sobretrabalho mais monstruoso se alterne com a desocupação relativa ou total Pode sob o pretexto de pagar o preço normal do trabalho prolongar anormalmente a jornada de trabalho sem que haja qualquer compensação correspondente para o trabalhador I sso explica a rebelião 1860 absolutamente racional dos trabalhadores londrinos empregados no setor de construção contra a tentativa dos capitalistas de imporlhes esse salário por hora A limitação legal da jornada de trabalho põe fim a esse abuso embora não naturalmente ao subemprego resultante da concorrência da maquinaria da variação na qualidade dos trabalhadores empregados e das crises parciais e gerais Com o salário diário ou semanal crescente é possível que o preço do trabalho se mantenha nominalmente constante e apesar disso caia abaixo de seu nível normal I sso ocorre sempre que permanecendo constante o preço do trabalho ou da hora de trabalho a jornada de trabalho é prolongada além de sua duração habitual Se na fração valor diário da força de trabalhojornada de trabalho aumentar o denominador o numerador aumentará ainda mais rapidamente O valor da força de trabalho aumenta de acordo com seu desgaste isto é com a duração de seu funcionamento e de modo proporcionalmente mais acelerado do que o incremento da duração de seu funcionamento Por isso em muitos ramos industriais em que predomina o salário por tempo e inexistem limites legais para o tempo de trabalho surgiu naturalmente o costume de só considerar normal a jornada de trabalho que se prolonga até certo ponto por exemplo até o término da décima hora de trabalho normal working day jornada de trabalho normal the days work trabalho de um dia the regular hours of work horário regular de trabalho Além desse limite o tempo de trabalho constitui tempo extraordinário overtime e se tomamos a hora como unidade de medida é mais bem pago extra pay embora frequentemente numa proporção ridiculamente pequena35 A jornada normal de trabalho existe aqui como fração da jornada efetiva de trabalho e esta última frequentemente ocupa mais tempo durante o ano inteiro do que a primeira36 O aumento do preço do trabalho decorrente do prolongamento da jornada de trabalho além de certo limite normal assume em diversos ramos industriais britânicos a forma de que o baixo preço do trabalho durante o assim chamado horário normal obriga o trabalhador se quer obter um salário suficiente a trabalhar um tempo extraordinário mais bem remunerado37 A limitação legal da jornada de trabalho põe um fim a esse divertimento38 É um fato geralmente conhecido que quanto mais longa é a jornada de trabalho num ramo da indústria mais baixo é o salário39 O inspetor de fábricas A Redgrave ilustra esse fato mediante um resumo comparativo do período de duas décadas entre 1839 e 1859 que mostra que o salário aumentou nas fábricas submetidas à Lei das 10 Horas ao mesmo tempo que diminuiu nas fábricas nas quais se trabalha de 14 a 15 horas por dia40 Da lei segundo a qual estando dado o preço do trabalho o salário diário ou semanal depende da quantidade de trabalho fornecida concluímos que quanto 408 menor seja o preço do trabalho tanto maior terá de ser a quantidade de trabalho ou tanto mais longa a jornada de trabalho para que o trabalhador assegure ao menos um mísero salário médio A exiguidade do preço do trabalho atua aqui como estímulo para o prolongamento do tempo de trabalho41 Por outro lado porém o prolongamento do tempo de trabalho produz por sua vez uma queda no preço do trabalho e por conseguinte no salário diário ou semanal A determinação do preço do trabalho segundo a fórmula valor diário da força de trabalhojornada de trabalho de dado número de horas demonstra que o mero prolongamento da jornada de trabalho quando não há uma compensação reduz o preço do trabalho Mas as circunstâncias que permitem ao capitalista prolongar a jornada de trabalho de modo duradouro são as mesmas que inicialmente permitemlhe e por fim obrigam no a reduzir também o preço nominal do trabalho até que diminua o preço total do número aumentado de horas e portanto também o salário diário ou semanal Basta aqui referir duas circunstâncias Se um homem executa o trabalho de 112 ou de 2 homens a oferta de trabalho aumenta ainda que permaneça constante a oferta de forças de trabalho que se acham no mercado A concorrência que assim se produz entre os trabalhadores permite ao capitalista comprimir o preço do trabalho enquanto por outro lado o preço decrescente do trabalho lhe permite aumentar ainda mais o tempo de trabalho42 Rapidamente porém essa disposição de quantidades anormais de trabalho não pago isto é de quantidades que ultrapassam o nível social médio convertese em meio de concorrência entre os próprios capitalistas Uma parte do preço da mercadoria é composta do preço do trabalho No cálculo do preço da mercadoria não é preciso incluir a parte não paga do preço do trabalho Ela pode ser presenteada ao comprador da mercadoria Esse é o primeiro passo que impele a concorrência O segundo passo que ela obriga a tomar consiste em excluir do preço de venda da mercadoria pelo menos uma parte do maisvalor anormal produzido pelo prolongamento da jornada de trabalho Desse modo constituise primeiro esporadicamente e em seguida paulatinamente de maneira fixa um preço de venda anormalmente baixo para a mercadoria preço que se torna daí em diante a base constante de um salário miserável e de uma desmedida jornada de trabalho do mesmo modo como originalmente ele era o produto dessas circunstâncias Limitamo nos apenas a mencionar esse movimento já que a análise da concorrência não tem lugar aqui Mas deixemos por um momento que fale o próprio capitalista Em Birmingham a concorrência entre os patrões é tão grande que muitos de nós somos obrigados como empregadores a fazer o que nos envergonharíamos de fazer em outra situação e não obstante não se obtém mais dinheiro and yet no more money is made mas é apenas o público que leva vantagem com isso43 Lembremonos dos dois tipos de padeiros londrinos um vende o pão pelo preço integral the fullpriced backers o outro o vende abaixo de seu preço normal the underpriced the undersellers Os fullpriced denunciam seus concorrentes perante a comissão parlamentar de inquérito nos seguintes termos Eles só existem porque primeiro enganam o público falsificando a mercadoria e segundo arrancam de seus trabalhadores 18 horas de trabalho pelo salário de 12 O trabalho não pago the unpaid labour dos trabalhadores é o meio de que se servem na luta da concorrência A concorrência entre os mestrespadeiros é a causa da dificuldade em suprimir o trabalho noturno Um vendedor que vende seu pão abaixo do preço de custo 409 variável de acordo com o preço da farinha escapa do prejuízo extraindo mais trabalho de seus trabalhadores Se extraio apenas 12 horas de trabalho de meus empregados mas meu vizinho em contrapartida extrai 18 ou 20 horas ele tem necessariamente de me derrotar no preço de venda Pudessem os trabalhadores insistir no pagamento do tempo extraordinário e rapidamente essa manobra teria um fim Grande parte dos empregados dos vendedores abaixo do preço de custo são estrangeiros rapazes e outras pessoas forçadas a aceitar qualquer salário que possam obter44 Essa jeremiada é interessante também porque mostra como no cérebro dos capitalistas se reflete apenas a aparência das relações de produção O capitalista não sabe que também o preço normal do trabalho encerra determinada quantidade de trabalho não pago e que precisamente esse trabalho não pago é a fonte normal de seu lucro A categoria de tempo de maistrabalho não existe de modo algum para ele pois esse tempo está incluído na jornada normal de trabalho que ele acredita pagar quando paga o salário diário Mas o que existe bem para ele é sim o tempo extraordinário o prolongamento da jornada de trabalho além do limite correspondente ao preço usual do trabalho Diante de seu concorrente que vende abaixo do preço de custo ele defende até mesmo um pagamento extra extra pay por esse tempo excedente Ele não sabe uma vez mais que nesse pagamento extra também está incluído o trabalho não pago assim como o preço da hora usual de trabalho Por exemplo o preço de 1 hora da jornada de trabalho de 12 horas é 3 pence o produto de valor de metade da hora de trabalho enquanto o preço da hora extraordinária de trabalho é 4 pence o produto de valor de 23 da hora de trabalho No primeiro caso o capitalista se apropria gratuitamente da metade de uma hora de trabalho no segundo de sua terça parte 410 Capítulo 19 O salário por peça O salário por peça não é senão uma forma modificada do salário por tempo assim como o salário por tempo a forma modificada do valor ou preço da força de trabalho No salário por peça temos a impressão à primeira vista de que o valor de uso vendido pelo trabalhador não é função de sua força de trabalho trabalho vivo mas trabalho já objetivado no produto e de que o preço desse trabalho não é determinado como no salário por tempo pela fração valor diário da força de trabalhojornada de trabalho de dado número de horas mas pela capacidade de produção do produtor45 De imediato a confiança dos que acreditam nessa aparência teria de ser fortemente abalada pelo fato de que ambas as formas do salário existem ao mesmo tempo uma ao lado da outra nos mesmos ramos industriais Por exemplo Os tipógrafos de Londres trabalham geralmente por peça enquanto o salário por tempo constitui a exceção entre eles O contrário ocorre com os tipógrafos nas províncias onde o salário por tempo é a regra e o salário por peça a exceção Os carpinteiros navais no porto de Londres são pagos por peça nos demais portos ingleses por tempo46 Nas mesmas correarias de Londres ocorre frequentemente que pelo mesmo trabalho se pague salário por peça aos franceses e salário por tempo aos ingleses Nas fábricas propriamente ditas nas quais o salário por peça predomina de modo geral diversas funções de trabalho são excluídas por razões técnicas desse tipo de medida e por conseguinte são pagas por tempo47 Fica claro no entanto que a diferença de forma no pagamento do salário não modifica em nada a essência deste último ainda que uma forma possa ser mais favorável que a outra para o desenvolvimento da produção capitalista Suponha que a jornada normal de trabalho seja de 12 horas das quais 6 sejam pagas e 6 não pagas e que seu produto de valor seja de 6 xelins de modo que o produto de 1 hora de trabalho seja portanto de 6 pence Suponha ainda que a experiência demonstre que um trabalhador trabalhando com um grau médio de intensidade e habilidade e empregando apenas o tempo de trabalho socialmente necessário na produção de um artigo forneça 24 peças em 12 horas sejam elas partes discretas ou mensuráveis de um produto contínuo Assim o valor dessas 24 peças descontada a parte constante do capital nelas contida é de 6 xelins sendo 3 pence o valor da peça singular O trabalhador recebe 112 penny por peça e ganha portanto 3 xelins em 12 horas Assim como no caso do salário por tempo é indiferente supor que o trabalhador trabalhe 6 horas para si mesmo e 6 para o capitalista ou que de cada hora ele trabalhe metade para si mesmo e metade para o capitalista aqui também é indiferente dizer que de cada peça singular metade está paga e metade não paga ou que o preço de 12 peças repõe apenas o valor da força de trabalho enquanto nas outras 12 peças se incorpora o maisvalor A forma do salário por peça é tão irracional quanto a do salário por tempo Enquanto por exemplo duas peças de mercadoria depois de descontado o valor dos 411 meios de produção não consumidos valem 6 pence como produto de 1 hora de trabalho o trabalhador recebe por elas um preço de 3 pence Na realidade o salário por peça não expressa diretamente nenhuma relação de valor Não se trata de medir o valor da peça pelo tempo de trabalho nela incorporado mas ao contrário de medir o trabalho gasto pelo trabalhador pelo número de peças por ele produzido No salário por tempo o trabalho se mede por sua duração imediata no salário por peça pela quantidade de produtos em que o trabalho se condensa durante um tempo determinado O preço do próprio tempo de trabalho é por fim determinado pela equação valor do trabalho de um dia valor diário da força de trabalho O salário por peça portanto não é mais do que uma forma modificada do salário por tempo Observemos mais de perto agora as peculiaridades que caracterizam o salário por peça A qualidade do trabalho é controlada aqui pelo próprio produto que tem de possuir uma qualidade média para que se pague integralmente o preço de cada peça Sob esse aspecto o salário por peça se torna a fonte mais fértil de descontos salariais e de fraudes capitalistas Ele proporciona ao capitalista uma medida plenenamente determinada para a intensidade do trabalho Apenas o tempo de trabalho que se incorpore numa quantidade de mercadorias previamente determinada e fixada por experiência vale como tempo de trabalho socialmente necessário e é remunerado como tal Por isso nas grandes alfaiatarias de Londres certa peça de trabalho por exemplo um colete etc é chamada de uma hora meia hora etc a 6 pence por hora A prática nos permite estabelecer a quantidade média de produto de 1 hora de trabalho Com o surgimento de novas modas consertos etc instalase um conflito entre empregador e trabalhador acerca de se determinada peça é 1 hora etc até que também nesse caso a experiência decide Algo semelhante ocorre nas mercadorias etc de Londres Se c trabalhando carece da capacidade média de rendimento e por isso não consegue fornecer um mínimo determinado de trabalho diário ele é dispensado É igualmente do interesse pessoal do trabalhador prolongar a jornada de trabalho pois assim aumenta seu salário diário ou semanal Com isso ocorre a reação já descrita no caso do salário por tempo abstraindo do fato de que o prolongamento da jornada de trabalho mesmo mantendose constante a taxa do salário por peça implica por si mesmo uma redução no preço do trabalho No salário por tempo prevalece com poucas exceções o salário igual para funções iguais ao passo que no salário por peça o preço do tempo de trabalho determinado quantidade de produtos mas o salário diário ou semanal ao contrário apenas o mínimo de produto num dado tempo o outro a média e o terceiro mais do que a média No que respeita à receita real surgem aqui grandes diferenças conforme os distintos níveis de destreza força energia resistência etc dos trabalhadores individuais Isso não altera naturalmente em nada a relação geral entre capital e trabalho assalariado Em primeiro lugar as diferenças individuais se compensam na totalidade da oficina de modo que num tempo determinado de trabalho ela fornece o produto médio e o salário total que nela é pago equivale ao salário médio desse ramo industrial Em segundo lugar a proporção entre o salário e o maisvalor se mantém inalterada pois o salário individual do trabalhador isolado corresponde a massa de maisvalor individualmente fornecido por ele Mas o maior a diferença entre o preço do trabalho pago pelo capitalista e a parte desse preço que eles deixam gerar efetivamente ao trabalhador Esse sistema é caracteristicamente chamado na Inglaterra de sweatingsystem sistema sudorífero Por outro lado o salário por peça permite ao capitalista firmar com o trabalhador principal na manufatura como de um grupo nas minas com o picador de carvão etc na fábrica com o trabalhador mecânico propriamente dito um contrato de trabalho de peça a um preço pelo qual o próprio trabalhador principal se encarrega de contratar e pagar seus auxiliares A exploração dos trabalhadores pelo capital se efetiva aqui mediante a exploração do trabalhador pelo trabalhador 18131814 e Reports from the Lords Committee on the State of the Growth of Commerce and Consumption of Grain and all Laws Relating Thereto legislatura d 18141815 Encontrase aqui a prova documental da redução continua do preço do trabalho desde o começo da guerra antijacobina Na tecelagem por exemplo o salário por peça cai tanto que o salário diário apesar da jornada de trabalho muito prolongada era agora mais baixo que antes O ganho real do tecelão é muito menor que antes sua superioridade sobre o trabalhador comum que antes era muito grande desapareceu quase por completo De fato a diferença entre os salários do trabalho qualificado e do trabalho comum é agora muito mais insignificante do que em qualquer período anterior produto e não sua força de trabalho e se rebela portanto contra um rebaixamento do salário que não corresponde ao rebaixamento do preço de venda da mercadoria Os trabalhadores vigiam cuidadosamente o preço da matériaprima e dos bens fabricados e são assim capazes de calcular com precisão os lucros de seus patrões61 O capital com razão descarta tal sentençab como um erro crasso acerca da natureza do trabalho assalariado62 Ele roga contra a pretensão de impor obstáculos ao progresso da indústria e declara rotundamente que a produtividade do trabalhadorc é algo que não concerne de modo algum ao trabalhador63 415 Capítulo 20 Diversidade nacional dos salários No capítulo 15 examinamos as múltiplas combinações que podem produzir uma variação na grandeza absoluta ou relativa isto é comparada com o maisvalor do valor da força de trabalho enquanto por outro lado a quantidade de meios de subsistência em que se realiza o preço da força de trabalho pode percorrer um movimento diferente ou independente64 da variação desse preço Como já observamos a simples tradução do valor ou conforme o caso do preço da força de trabalho na forma exotérica do salário faz com que todas aquelas leis se transformem em leis do movimento do salário O que no interior desse movimento aparece como combinação variável pode aparecer em países diferentes como diversidade simultânea dos salários nacionais Por isso ao compararmos salários nacionais devemos considerar todos os momentos determinantes da variação na grandeza de valor da força de trabalho preço e volume das necessidades vitais elementares natural e historicamente desenvolvidas custos da educação do trabalhador papel do trabalho feminino e infantil produtividade do trabalho sua grandeza extensiva e intensiva Mesmo a comparação mais superficial exige de imediato reduzir a jornadas de trabalho de mesma grandeza o salário diário médio que vigora nos mesmos ofícios em diversos países Após essa equiparação dos salários diários é preciso que se traduza novamente o salário por tempo em salário por peça pois apenas este último é um indicador tanto do grau de produtividade como da grandeza intensiva do trabalho Em cada país vigora certa intensidade média do trabalho abaixo da qual o trabalho para a produção de uma mercadoria consome mais do que o tempo socialmente necessário e por isso não conta como trabalho de qualidade normal Apenas um grau de intensidade que se eleva acima da média nacional modifica numa dada nação a medida do valor pela mera duração do tempo de trabalho O mesmo não ocorre no mercado mundial cujas partes integrantes são os diversos países A intensidade média do trabalho varia de país a país sendo aqui maior lá menor Essas médias nacionais constituem pois uma escala cuja unidade de medida é a unidade média do trabalho universal Assim comparado com o menos intensivo o trabalho nacional mais intensivo produz em tempo igual mais valor que se expressa em mais dinheiro Mas a lei do valor em sua aplicação internacional é ainda mais modificada pelo fato de no mercado mundial o trabalho nacional mais produtivo também contar como mais intensivo sempre que a nação mais produtiva não se veja forçada pela concorrência a reduzir o preço de venda de sua mercadoria a seu valor Uma vez que a produção capitalista encontrase desenvolvida num país também se elevam aí acima do nível internacional a intensidade e a produtividade nacional do trabalho64a As diferentes quantidades de mercadorias do mesmo tipo produzidas em diferentes países no mesmo tempo de trabalho têm portanto valores internacionais desiguais que se expressam em preços diferentes isto é em quantias diferentes de 416 dinheiro de acordo com os valores internacionais O valor relativo do dinheiro será portanto menor na nação com modo de produção capitalista mais desenvolvido do que naquela em que é menos desenvolvido Disso concluímos portanto que o salário nominal o equivalente da força do trabalho expresso em dinheiro será também mais alto na primeira nação que na segunda o que não quer dizer em absoluto que isso também valha para o salário efetivo isto é para os meios de subsistência postos à disposição do trabalhador Porém mesmo sem levar em conta essa diferença relativa do valor do dinheiro em diferentes países encontraremos com frequência que o salário diário semanal etc na primeira nação é mais elevado que na segunda ao passo que o preço relativo do trabalho isto é o preço do trabalho em relação tanto ao maisvalor quanto ao valor do produto é mais alto na segunda nação do que na primeira65 J W Cowell membro da Comissão Fabril de 1833 após uma meticulosa investigação da indústria de fiação concluiu que na I nglaterra os salários são geralmente mais baixos para o fabricante do que no continente europeu ainda que para o trabalhador possam ser mais altos Ure p 314 No relatório fabril de 31 de outubro de 1866 o inspetor de fábricas inglês Alexander Redgrave demonstra por meio de uma estatística comparativa com os Estados continentais que apesar do salário mais baixo e do tempo de trabalho muito mais longo o trabalho continental é proporcionalmente ao produto mais caro que o inglês Um diretor inglês manager de uma fábrica de algodão em Oldenburg declara que lá o horário de trabalho se estende das 5 e meia da manhã às 8 horas da noite incluindo os sábados e que os trabalhadores locais quando trabalham sob capatazes ingleses não produzem durante esse tempo tanto quanto os ingleses durante 10 horas mas muito menos ainda quando trabalham sob capatazes alemães O salário é muito inferior que na I nglaterra em muitos casos 50 mas o número de operários em proporção à maquinaria é muito mais alto alcançando em diversos departamentos a proporção de 5 para 3 O sr Redgrave dá detalhes muito precisos sobre as fábricas russas de algodão Os dados lhe foram fornecidos por um gerente fabril inglês até recentemente ainda ocupado naquele país Sobre esse solo russo tão fértil em todo tipo de infâmias também florescem plenamente os velhos horrores que caracterizaram o período da infância das factories fábricas inglesas Os dirigentes são naturalmente ingleses já que o capitalista russo nativo não serve para o negócio fabril Apesar de todo o sobretrabalho do contínuo trabalho diurno e noturno e da mais vergonhosa sub remuneração dos trabalhadores o produto russo só consegue vegetar graças à proibição dos produtos estrangeiros Por fim reproduzo ainda uma sinopse comparativa do sr Redgrave sobre o número médio de fusos por fábrica e por fiandeiro em diferentes países da Europa O próprio sr Redgrave observa ter reunido esses números há alguns anos e que desde então teria havido um aumento no tamanho das fábricas e no número de fusos por trabalhador na I nglaterra Mas ele pressupõe um progresso proporcionalmente igual nos países continentais enumerados de modo que os números teriam conservado seu valor comparativo Número médio de fusos por fábrica 417 Inglaterra 12600 Suíça 8000 Áustria 7000 Saxônia 4500 Bélgica 4000 França 1500 Prússia 1500 Número médio de fusos por pessoa França 14 Rússia 28 Prússia 37 Baviera 46 Áustria 49 Bélgica 50 Saxônia 50 Pequenos Estados alemães 55 Suíça 55 GrãBretanha 74 Essa comparação diz o sr Redgrave é ainda mais desfavorável para a GrãBretanha além de outras razões porque lá existe grande número de fábricas em que a tecelagem mecânica está combinada com a fiação e o cálculo não desconta as pessoas que trabalham nos teares Em contrapartida a maioria das fábricas estrangeiras são simples fiações Se pudéssemos comparar coisas iguais eu poderia enumerar muitas fiações de algodão em meu distrito em que mules com 2200 fusos estão a cargo de um único homem minder e de duas mulheres suas auxiliares nessas mules são fabricadas diariamente 220 libras de fio de 400 milhas inglesas de comprimento Reports of Insp of Fact 31st Oct 1866 p 317 passim Na Europa oriental e na Ásia como é sabido companhias inglesas encarregaramse da construção de ferrovias e além de trabalhadores nativos empregaram também certo número de trabalhadores ingleses Embora compelidas pela necessidade prática a levar em conta as diferenças nacionais quanto à intensidade do trabalho isso não lhes trouxe prejuízo algum Sua experiência ensina que mesmo que o nível do salário corresponda em maior ou menor medida à intensidade média do trabalho o preço relativo deste último em proporção ao produto movese geralmente em sentido contrário E m Ensaio sobre a taxa do salário66 um de seus primeiros escritos econômicos H Carey procura demonstrar que os diferentes salários nacionais se relacionam diretamente de acordo com os graus de produtividade das jornadas de trabalho nacionais visando extrair dessa relação internacional a conclusão de que o salário em geral aumenta e diminui conforme a produtividade do trabalho Nossa análise inteira 418 da produção do maisvalor comprova o absurdo dessa conclusão ainda que Carey tivesse demonstrado sua premissa em vez de como lhe é habitual embaralhar acrítica e superficialmente o material estatístico recolhido de modo aleatório O melhor de tudo é que ele não afirma que a coisa se comporta realmente como deveria se comportar de acordo com a teoria A intromissão do Estado falseou com efeito a relação econômica natural Por isso temos de calcular os salários nacionais como se a parte deles que cabe ao Estado como tributo coubesse ao próprio trabalhador Não deveria o sr Carey continuar sua reflexão e perguntar se esses custos estatais não seriam também frutos naturais do desenvolvimento capitalista O raciocínio é plenamente digno do homem que primeiro declarou as relações capitalistas de produção como leis eternas da Natureza e da Razão cujo jogo livremente harmônico só seria perturbado pela intromissão estatal para depois descobrir que a influência diabólica da I nglaterra sobre o mercado mundial influência que aparentemente não deriva das leis naturais da produção capitalista torna necessária a intromissão estatal mais precisamente a proteção estatal daquelas leis da Natureza e da Razão em outras palavras o sistema protecionista Além disso descobriu que os teoremas de Ricardo etc em que estão formuladas as antíteses e contradições sociais existentes não são o produto ideal do movimento econômico real mas que ao contrário as antíteses reais da produção capitalista na I nglaterra e em outros lugares são o resultado das teorias ricardianas etc Descobriu por fim que é o comércio em última instância que destrói as belezas e harmonias inatas do modo de produção capitalista Um passo a mais e ele talvez descubra que o único defeito da produção capitalista é o próprio capital Somente um homem tão espantosamente desprovido de senso crítico e dotado de tal erudição de faux aloi falso conteúdo mereceria apesar de sua heresia protecionista converterse na fonte secreta da sabedoria harmônica de um Bastiat e de todos os outros livrecambistas otimistas do presente 419 Marx por autor desconhecido Gravura do último quartel do séc XIX 420 Seção VII O processo de acumulação do capital 421 A transformação de uma quantia de dinheiro em meios de produção e força de trabalho é o primeiro movimento realizado pela quantidade de valor que deve funcionar como capital Ela age no mercado na esfera de circulação A segunda fase do movimento o processo de produção é concluída assim que os meios de produção estão convertidos em mercadorias cujo valor supera o valor de suas partes constitutivas e portanto contém o capital originalmente adiantado acrescido de um maisvalor Em seguida essas mercadorias têm por sua vez de ser lançadas novamente na esfera da circulação O objetivo é vendêlas realizar seu valor em dinheiro converter esse dinheiro novamente em capital e assim consecutivamente Esse ciclo percorrendo sempre as mesmas fases sucessivas constitui a circulação do capital A primeira condição da acumulação é que o capitalista tenha conseguido vender suas mercadorias e reconverter em capital a maior parte do dinheiro assim obtido Em seguida pressupõese que o capital percorra seu processo de circulação de modo normal A análise mais detalhada desse processo pertence ao Livro II desta obra O capitalista que produz o maisvalor isto é que suga trabalho não pago diretamente dos trabalhadores e o fixa em mercadorias é decerto o primeiro apropriador porém de modo algum o último proprietário desse maisvalor Ele tem ainda de dividilo com capitalistas que desempenham outras funções na totalidade da produção social com o proprietário fundiário etc O maisvalor se divide assim em diversas partes Seus fragmentos cabem a diferentes categorias de pessoas e recebem formas distintas independentes entre si como o lucro o juro o ganho comercial a renda fundiária etc Tais formas modificadas do maisvalor só poderão ser tratadas no Livro III Aqui supomos por um lado que o capitalista que produz a mercadoria a vende pelo seu valor e não nos ocupamos mais com o retorno do capitalista ao mercado ou com as novas formas que se aderem ao capital na esfera da circulação tampouco com as condições concretas da reprodução ocultas sob essas formas Por outro lado tomamos o produtor capitalista como proprietário do maisvalor inteiro ou se assim se prefere como representante de todos os seus coparticipantes no butim Portanto consideramos de início a acumulação abstratamente isto é como mero momento do processo imediato de produção De resto na medida em que se realiza a acumulação o capitalista consegue vender a mercadoria produzida e reconverter em capital o dinheiro com ela obtido Além disso o fracionamento do maisvalor em diversas partes não altera em nada sua natureza nem as condições necessárias sob as quais ela se converte no elemento da acumulação Seja qual for a proporção de maisvalor que o produtor capitalista retenha para si mesmo ou ceda a outros ele sempre será o primeiro a se apropriar dela O que pressupomos em nossa exposição da acumulação é pois aquilo que está pressuposto em seu processo efetivo Por outro lado o fracionamento do maisvalor e o movimento mediador da circulação obscurecem a forma básica simples do processo de acumulação Sua análise pura por conseguinte requer que abstraiamos provisoriamente de todos os fenômenos que ocultam o jogo interno de seu mecanismo 422 Capítulo 21 Reprodução simples Seja qual for a forma social do processo de produção ele tem de ser contínuo ou percorrer periodicamente sempre de novo os mesmos estágios Assim como uma sociedade não pode deixar de consumir tampouco pode deixar de produzir Portanto considerado do ponto de vista de uma interdependência contínua e do fluxo contínuo de sua renovação todo processo social de produção é simultaneamente processo de reprodução As condições da produção são ao mesmo tempo as condições da reprodução Nenhuma sociedade pode produzir continuamente isto é reproduzir sem reconverter continuamente uma parte de seus produtos em meios de produção ou elementos da nova produção Mantendose iguais as demais circunstâncias essa sociedade só pode reproduzir ou conservar sua riqueza na mesma escala se substitui os meios de produção in natura isto é os meios de trabalho matériasprimas e matérias auxiliares consumidos por exemplo durante um ano por uma quantidade igual de exemplares novos separados da massa anual de produtos e incorporados novamente ao processo de produção Uma quantidade determinada do produto anual pertence pois à produção Destinada desde o início ao consumo produtivo tal quantidade existe em grande parte sob formas naturais que excluem por si mesmas o consumo individual Se a produção tem forma capitalista também o tem a reprodução Como no modo de produção capitalista o processo de trabalho aparece apenas como um meio para o processo de valorização também a reprodução aparece tão somente como um meio de reproduzir como capital o valor adiantado isto é como valor que se valoriza Por conseguinte a máscaraa econômica do capitalista só se adere a um homem pelo fato de que seu dinheiro funciona continuamente como capital Se por exemplo a quantia adiantada de 100 se transforma este ano em capital e produz um maisvalor de 20 ela terá de repetir a mesma operação no ano seguinte e assim por diante Como incremento periódico do valor do capital ou fruto periódico do capital em processamento o maisvalor assume a forma de uma renda Revenue proveniente do capital1 Se essa renda serve ao capitalista apenas como fundo de consumo ou é gasta com a mesma periodicidade com que é obtida então ocorre permanecendo iguais as demais circunstâncias a reprodução simples Ora embora esta não seja mais do que a repetição do processo de produção na mesma escala essa mera repetição ou continuidade imprime ao processo certas características novas ou antes dissolve as características aparentes que ele ostentava quando transcorria de maneira isolada O processo de produção é introduzido com a compra da força de trabalho por um tempo determinado e essa introdução é constantemente renovada tão logo esteja vencido o prazo de venda do trabalho decorrido um determinado período de produção semana mês etc Porém o trabalhador só é pago depois de sua força de 423 trabalho ter atuado e realizado tanto seu próprio valor como o maisvalor em mercadorias J untamente com o maisvalor que por enquanto consideramos apenas como fundo de consumo do capitalista o trabalhador produz portanto o fundo de seu próprio pagamento o capital variável antes que este lhe retorne sob a forma de salário e ele só permanece ocupado enquanto o reproduz continuamente Daí a fórmula dos economistas mencionada no capítulo 16 item I I que expressa o salário como participação no próprio produto2 O que reflui continuamente para o trabalhador na formasalário é uma parte do produto continuamente reproduzido por ele mesmo Sem dúvida o capitalista lhe paga em dinheiro o valor das mercadorias mas o dinheiro não é mais do que a forma transformada do produto do trabalho Enquanto o trabalhador converte uma parte dos meios de produção em produto uma parte de seu produto anterior se reconverte em dinheiro É com seu trabalho da semana anterior ou do último semestre que será pago seu trabalho de hoje ou do próximo semestre A ilusão gerada pela formadinheiro desaparece de imediato assim que consideramos não o capitalista e o trabalhador individuais mas a classe capitalista e a classe trabalhadora A classe capitalista entrega constantemente à classe trabalhadora sob a formadinheiro títulos sobre parte do produto produzido por esta última e apropriado pela primeira De modo igualmente constante o trabalhador devolve esses títulos à classe capitalista e assim dela obtém a parte de seu próprio produto que cabe a ele próprio A formamercadoria do produto e a formadinheiro da mercadoria disfarçam a transação O capital variável é pois apenas uma forma histórica particular de manifestação do fundo dos meios de subsistência ou fundo de trabalho de que o trabalhador necessita para sua autoconservação e reprodução e que ele mesmo tem sempre de produzir e reproduzir em todos os sistemas de produção social Se o fundo de trabalho só aflui constantemente para ele sob a forma de meios de pagamento por seu trabalho é porque seu próprio produto se distancia constantemente dele sob a forma do capital Mas essa forma de manifestação do fundo de trabalho em nada altera o fato de que o capitalista adianta ao trabalhador o próprio trabalho objetivado deste último3 Suponha o caso de um camponês sob o sistema de corveia Digamos que ele trabalhe com seus próprios meios de produção em seu próprio campo 3 dias por semana Nos outros 3 dias da semana ele realiza a corveia no domínio senhorial Esse camponês reproduz continuamente seu próprio fundo de trabalho e este jamais assume em relação a ele a forma de meios de pagamento adiantados por um terceiro para remunerar seu trabalho Em compensação seu trabalho forçado não pago jamais assume a forma de trabalho voluntário e pago Se amanhã o senhor feudal se apropriasse da terra dos animais de tração das sementes em suma dos meios de produção do camponês submetido à corveia este teria doravante de vender sua força de trabalho ao senhor Permanecendo iguais as demais circunstâncias ele trabalharia como antes 6 dias por semana 3 dias para si mesmo e 3 dias para o exsenhor feudal agora convertido em senhor salarial Tal como antes ele continuaria a consumir os meios de produção como meios de produção e a transferir seu valor ao produto Tal como antes determinada parte do produto continuaria a ingressar na reprodução mas assim como a corveia assume a forma de trabalho assalariado também o fundo 424 de trabalho que tal como antes continua a ser produzido e reproduzido pelo servo assume a forma de um capital que o senhor feudal adianta ao servo O economista burguês cujo cérebro limitado não consegue distinguir entre a forma de manifestação e o que nela se manifesta cerra os olhos para o fato de que ainda hoje o fundo de trabalho só excepcionalmente aparece sobre o globo terrestre na forma de capital4 Sem dúvida o capital variável só perde o significado de um valor adiantado a partir do fundo próprio do capitalista4a quando consideramos o processo capitalista de produção no fluxo constante de sua renovação Mas esse processo tem de ter começado em algum lugar e em algum momento Do ponto de vista que desenvolvemos até aqui portanto é provável que o capitalista se tenha convertido em possuidor de dinheiro em virtude de uma acumulação originária independente de trabalho alheio não pago e que por isso tenha podido se apresentar no mercado como comprador de força de trabalho No entanto a mera continuidade do processo capitalista de produção ou a reprodução simples opera também outras mudanças notáveis que afetam não apenas o capital variável mas também o capital total Se o maisvalor produzido de maneira periódica por exemplo anualmente com um capital de 1000 for de 200 e se esse maisvalor for consumido anualmente é claro que depois de 5 anos de repetição desse mesmo processo a quantia do mais valor consumido será igual a 5 200 ou igual ao valor do capital originalmente adiantado de 1000 Se o maisvalor fosse consumido apenas parcialmente por exemplo apenas pela metade o resultado seria o mesmo após 10 anos de repetição do processo de produção já que 10 100 1000 Em linhas gerais o valor do capital adiantado dividido pelo maisvalor anualmente consumido resulta no número de anos ou de períodos de reprodução ao término dos quais o capital originalmente adiantado foi consumido pelo capitalista e portanto desapareceu A representação do capitalista de que ele consome o produto do trabalho alheio não pago o maisvalor e conserva o capital original é algo que não pode alterar absolutamente em nada a realidade das coisas Transcorrido certo número de anos o valor do capital que ele possui é igual à quantia de maisvalor apropriada sem equivalente durante esses mesmos anos e a quantia de valor consumido por ele é igual ao valor do capital original Ele conserva decerto um capital nas mãos cuja grandeza não se alterou e do qual uma parte edifícios máquinas etc já existia quando ele pôs em marcha seu negócio Porém se trata aqui do valor do capital e não de seus componentes materiais Se alguém consome todos os seus bens contraindo dívidas que se igualam ao valor desses bens então a totalidade desses bens representa apenas a soma total de suas dívidas Do mesmo modo quando o capitalista consumiu o equivalente de seu capital adiantado o valor desse capital representa tão somente a soma total do mais valor do qual ele se apropriou gratuitamente Nem um átomo de valor de seu antigo capital continua a existir Abstraindose inteiramente de toda acumulação a mera continuidade do processo de produção ou a reprodução simples após um período mais ou menos longo converte necessariamente todo capital em capital acumulado ou maisvalor capitalizado Ainda que no momento em que entrou no processo de produção esse capital fosse propriedade adquirida mediante o trabalho pessoal daquele que o aplica 425 mais cedo ou mais tarde ele se converteria em valor apropriado sem equivalente em materialização seja em formadinheiro ou outra de trabalho alheio não pago No capítulo 4 vimos que para transformar dinheiro em capital não bastava a existência da produção de valor e da circulação de mercadoriasb Primeiramente era necessário que se confrontassem nos respectivos papéis de comprador e vendedor de mercadoria de um lado o possuidor de valor ou dinheiro de outro o possuidor da substância criadora de valor aqui o possuidor de meios de produção e de subsistência lá o possuidor de nada mais que a força de trabalho A separação entre o produto do trabalho e o próprio trabalho entre as condições objetivas e a força subjetiva de trabalho era portanto a base efetivamente dada o ponto de partida do processo capitalista de produção Mas o que inicialmente era apenas ponto de partida é produzido sempre de novo por meio da mera continuidade do processo da reprodução simples perpetuandose como resultado próprio da produção capitalista Por um lado o processo de produção transforma continuamente a riqueza material em capital em meio de valorização e de fruição para o capitalista Por outro o trabalhador sai do processo sempre como nele entrou como fonte pessoal de riqueza porém despojado de todos os meios para tornar essa riqueza efetiva para si Como antes de entrar no processo seu próprio trabalho já está alienado dele ihm selbst entfremdet apropriado pelo capitalista e incorporado ao capital esse trabalho se objetiva continuamente no decorrer do processo em produto alheio Sendo processo de produção e ao mesmo tempo processo de consumo da força de trabalho pelo capitalista o produto do trabalhador transformase continuamente não só em mercadoria mas em capital em valor que suga a força criadora de valor em meios de subsistência que compram pessoas em meios de produção que se utilizam dos produtores5 Por conseguinte o próprio trabalhador produz constantemente a riqueza objetiva como capital como poder que lhe é estranho que o domina e explora e o capitalista produz de forma igualmente contínua a força de trabalho como fonte subjetiva de riqueza separada de seus próprios meios de objetivação e efetivação abstrata existente na mera corporeidade do trabalhador numa palavra produz o trabalhador como assalariado6 Essa constante reprodução ou perpetuação do trabalhador é a sine qua non da produção capitalista O consumo do trabalhador tem uma dupla natureza Na própria produção ele consome por meio de seu trabalho meios de produção transformandoos em produtos de valor maior que o do capital adiantado Esse é seu consumo produtivo Ao mesmo tempo ele é consumo de sua força de trabalho pelo capitalista que a comprou Por outro lado o trabalhador gasta em meios de subsistência o dinheiro pago na compra da força de trabalho esse é seu consumo individual O consumo produtivo e o consumo individual do trabalhador diferem portanto inteiramente No primeiro o trabalhador atua como força motriz do capital e pertence ao capitalista no segundo ele pertence a si mesmo e executa funções vitais à margem do processo de produção O resultado de um é a vida do capitalista o do outro é a vida do próprio trabalhador No exame da jornada de trabalho etc tivemos a oportunidade de mostrar que o trabalhador é frequentemente forçado a converter seu consumo individual em mero incidente do processo de produção Nesse caso ele se abastece de meios de 426 subsistência para manter sua força de trabalho em funcionamento do mesmo modo como se abastece de carvão e água a máquina a vapor e de óleo a roda Seus meios de consumo são então simples meios de um meio de produção e seu consumo individual é consumo imediatamente produtivo I sso se mostra no entanto como um abuso não essencial ao processo de produção capitalista7 A questão assume outro aspecto assim que passamos a considerar não o capitalista individual e o trabalhador individual mas a classe capitalista e a classe trabalhadora não o processo isolado de produção da mercadoria mas o processo de produção capitalista em seu fluxo e em sua escala social Quando o capitalista converte parte de seu capital em força de trabalho ele valoriza com isso seu capital total e mata dois coelhos de uma cajadada Ele lucra não apenas com o que recebe do trabalhador mas também com o que lhe dá O capital que foi alienado em troca da força de trabalho é convertido em meios de subsistência cujo consumo serve para reproduzir os músculos os nervos os ossos o cérebro dos trabalhadores existentes e para produzir novos trabalhadores Dentro dos limites do absolutamente necessário portanto o consumo individual da classe trabalhadora é a reconversão dos meios de subsistência alienados pelo capital em troca da força de trabalho em nova força de trabalho a ser explorada pelo capital Tal consumo é produção e reprodução do meio de produção mais indispensável ao capitalista o próprio trabalhador O consumo individual do trabalhador continua a ser assim um momento da produção e reprodução do capital quer se efetue dentro quer fora da oficina da fábrica etc e quer se efetue dentro quer fora do processo de trabalho exatamente como ocorre com a limpeza da máquina seja ela realizada durante o processo de trabalho ou em determinadas pausas deste último O fato de o trabalhador realizar seu consumo individual por amor a si mesmo e não ao capitalista não altera em nada a questão Do mesmo modo o consumo do animal de carga não deixa de ser um elemento necessário do processo de produção pelo fato de o próprio animal se satisfazer com o que come A manutenção e reprodução constantes da classe trabalhadora continuam a ser uma condição constante para a reprodução do capital O capitalista pode abandonar confiadamente o preenchimento dessa condição ao impulso de autoconservação e procriação dos trabalhadores Ele apenas se preocupa em limitar ao máximo o consumo individual dos trabalhadores mantendoo nos limites do necessário e está muito longe daquela rusticidade sulamericana que obriga o trabalhador a ingerir alimentos mais nutritivos em vez de outros menos nutritivos8 É por isso que o capitalista e seu ideólogo o economista político entendem como produtiva apenas a parte do consumo individual do trabalhador exigida para a perpetuação da classe trabalhadora isto é aquela parte que de fato tem de ser consumida para que o capital consuma a força de trabalho tudo o que além dessa parte o trabalhador possa consumir para seu próprio prazer é consumo improdutivo9 Se a acumulação do capital provocasse um aumento do salário e portanto um incremento dos meios de consumo do trabalhador sem ser acompanhada de um maior consumo de força de trabalho pelo capital o capital adicional teria sido consumido improdutivamente10 De fato o consumo individual do trabalhador é improdutivo para ele mesmo posto que apenas reproduz o indivíduo necessitado e é produtivo para o capitalista e para o Estado pois é produção da força produtora de riqueza 427 Malthus observou àquela época em relação aos fatos publicados pelo Parlamento Confesso que vejo com desgosto a grande difusão da prática do salário por peça Um trabalho efetivamente duro que se estenda por 12 ou 14 horas por dia ou por períodos ainda mais longos é demasiada para um ser humano Nas oficinas submetidas à lei fabril o salário por peça tornase regra geral pois lá o capital só podia ampliar a jornada de trabalho no que diz respeito à sua intensidade Com a produtividade variada do trabalho a mesma quantidade de produtos representa tempo variável de trabalho Portanto varia também o salário por peça já que este é a expressão do preço de um tempo determinado de trabalho O tempo a um dois talvez três anos produzirá a quantidade necessária Gostaria então de perguntar se essa indústria merece ser preservada se não é válido o esforço de manter em ordem sua maquinaria quer dizer as máquinas vivas de trabalho e se não é uma loucura extrema pensar em abandonála Creio que sim Concedo que os trabalhadores não são propriedades I allow that the workers are not a property que não são propriedade de Lancashire e seus patrões mas eles são a força de ambos a força espiritual e instruída que não se pode substituir numa geração em contrapartida a outra maquinaria com que trabalham opiniões que deles dependem confinados nos distritos algodoeiros e como consequência necessária reprimir pela força o seu descontentamento e alentálos em soluções tudo isso em nome da possibilidade de que um dia as partes algodoeiras voltem a necessitar deles E chegado a hora de que a grande opinião pública dessas ilhas faça algo para salvar essa força de trabalho daqueles que querem tratarla como tratam o carvão o ferro e o algodão isto é save this working power from those who would deal with it as they deal with iron coal and cotton O artigo do Times não passava de um jeu desprit jogo de espírito A grande opinião pública na realidade compartilhava da opinião do sr Potter de que os trabalhadores fabris eram acessórios móveis das fábricas Confirmaramse os trabalhadores na workhouse moral dos distritos algodoeiros onde continuam a ser a força the strength dos patroes algodoeiros de Lancashire Capítulo 22 Transformação de maisvalor em capital 1 O processo de produção capitalista em escala ampliada Conversão das leis de propriedade que regem a produção de mercadorias em leis da apropriação capitalista Anteriormente tivemos de examinar como o maisvalor surge do capital agora veremos como o capital surge do maisvalor A aplicação de maisvalor como capital ou a reconversão de maisvalor em capital se chama acumulação de capital21 Vejamos primeiro esse processo do ponto de vista do capitalista individual Suponha que um fiandeiro por exemplo tenha desembolsado um capital de 10 mil sendo 45 dessa soma gasta em algodão máquinas etc e o último 15 em salário Suponha ainda que ele produza anualmente 240 mil libras de fio no valor de 12 mil A uma taxa de mais valor de 100 o maisvalor está incorporado no maisproduto ou produto líquido de 40 mil libras de fio 16 do produto bruto no valor de 2 mil que será realizado na venda Uma quantia de valor de 2 mil é uma quantia de valor de 2 mil Pelo cheiro e pela aparência não se pode saber se esse dinheiro é maisvalor O caráter de um valor como maisvalor mostra como ele chegou a seu possuidor porém não altera em nada a natureza do valor ou do dinheiro Portanto para transformar em capital a quantia recémadicionada de 2 mil o fiandeiro mantendose inalteradas as demais circunstâncias adiantará 45 dessa quantia na compra de algodão etc e 15 na aquisição de novos trabalhadores fiandeiros que encontrarão no mercado os meios de subsistência cujo valor o capitalista lhes adiantou Com isso o novo capital de 2 mil passa a operar na fiação e proporciona por sua parte um maisvalor de 400 O valor do capital foi originalmente adiantado na forma de dinheiro já o mais valor ao contrário existe desde o início como valor de uma parte determinada do produto bruto Se este é vendido convertido em dinheiro o valor do capital readquire sua forma primitiva mas o maisvalor transforma seu modo originário de existência A partir desse momento porém tanto o valor do capital como o maisvalor são quantias de dinheiro e sua reconversão em capital se efetua exatamente do mesmo modo O capitalista aplica tanto um como o outro na aquisição de mercadorias que o capacitem a recomeçar a fabricação de seu artigo e desta vez numa escala ampliada Mas para adquirir essas mercadorias é preciso que ele as encontre prontas no mercado Seus próprios fios só circulam porque ele leva ao mercado seu produto anual tal como o fazem todos os demais capitalistas com suas mercadorias Entretanto antes de chegarem ao mercado essas mercadorias já integravam o fundo de produção anual isto é a massa total dos objetos de toda sorte em que se transforma ao longo do ano a massa total dos capitais individuais ou o capital social total do qual cada capitalista 431 singular possui apenas uma parte alíquota As transações no mercado não fazem mais do que efetivar a transferência dos componentes singulares da produção anual fazendoos passar de uma mão à outra mas não podem incrementar a produção anual total nem modificar a natureza dos objetos produzidos O uso que se faz do produto anual total portanto depende de sua própria composição mas de modo algum da circulação A produção anual tem de começar por fornecer todos os objetos valores de uso com os quais se devem repor os componentes materiais do capital consumidos no decorrer do ano Deduzidos esses objetos resta o produto líquido ou o maisproduto no qual está contido o maisvalor E de que é formado esse maisproduto De coisas destinadas a satisfazer às necessidades e caprichos da classe capitalista e que integram assim seu fundo de consumo Se isso fosse tudo o maisvalor seria gasto até a última migalha e não haveria mais do que a mera reprodução simples Para acumular é necessário transformar uma parte do maisproduto em capital Sem fazer milagres só podemos transformar em capital aquilo que é utilizável no processo de trabalho isto é os meios de produção e além deles aquilo com que o trabalhador pode sustentarse isto é os meios de subsistência Por conseguinte é preciso empregar uma parte do maistrabalho anual na fabricação de meios de produção e de subsistência adicionais numa quantidade acima daquela requerida para a reposição do capital adiantado Numa palavra o maisvalor só pode ser convertido em capital porque o maisproduto do qual ele é o valor já traz em si os componentes materiais de um novo capital21a Ora para fazer com que esses componentes funcionem efetivamente como capital a classe capitalista necessita de uma quantidade adicional de trabalho Se a exploração dos trabalhadores já ocupados não aumenta extensiva ou intensivamente é necessário empregar forças de trabalho adicionais O mecanismo da produção capitalista já cuidou desse problema reproduzindo a classe trabalhadora como classe dependente do salário isto é como classe cujo salário habitual basta não somente para garantir sua conservação mas também sua multiplicação Para realizar a transformação do maisvalor em capital este precisa apenas incorporar essas forças de trabalho suplementares e de diversas faixas etárias que a classe trabalhadora lhe fornece anualmente aos meios de produção adicionais já contidos na produção anual Concretamente considerada a acumulação não é mais do que a reprodução do capital em escala progressiva O ciclo da reprodução simples se modifica e se transforma segundo a expressão de Sismondi perfazendo uma espiral21b Voltemos agora ao nosso exemplo É a velha história Abraão gerou I saque I saque gerou J acó etc O capital original de 10 mil gera um maisvalor de 2 mil que é capitalizado O novo capital de 2 mil gera um maisvalor de 400 este igualmente capitalizado ou seja transformado num segundo capital adicional gera um novo maisvalor de 80 e assim por diante Abstraímos aqui da parte do maisvalor consumida pelo capitalista No momento tampouco é relevante se os capitais adicionais se incorporam ao capital original ou dele se separam para se valorizarem de modo independente se quem os explora é o mesmo capitalista que os acumulou ou se este os transfere a outrem Só não podemos 432 esquecer que ao lado dos capitais recémformados o capital original continua a se reproduzir e produzir maisvalor e que o mesmo se aplica a todo capital acumulado em relação ao capital adicional por ele gerado O capital original se formou pelo desembolso de 10 mil De onde o possuidor as obteve De seu próprio trabalho e do de seus antepassados respondemnos em uníssono os portavozes da economia política21c e essa suposição parece ser de fato a única de acordo com as leis da produção de mercadorias Totalmente diverso é o que ocorre com o capital adicional de 2 mil Conhecemos com plena exatidão seu processo de surgimento Tratase de maisvalor capitalizado Desde sua origem ele não contém um só átomo de valor que não derive de trabalho alheio não pago Os meios de produção aos quais se incorpora a força de trabalho adicional assim como os meios de subsistência com os quais ele se mantém não são mais do que componentes do maisproduto do tributo anualmente arrancado da classe trabalhadora pela classe capitalista Quando esta última com uma parte do tributo compra força de trabalho adicional da primeira ainda que lhe pague seu preço integral de tal modo que seja trocado equivalente por equivalente ela continua a agir segundo o velho procedimento do conquistador que compra as mercadorias dos vencidos com o dinheiro que roubou destes últimos Quando o capital adicional ocupa seu próprio produtor este tem não só de continuar a valorizar o capital original como além disso comprar de volta o produto de seu trabalho anterior com mais trabalho do que o empregado em sua fabricação Numa dada transação entre a classe capitalista e a classe trabalhadora é irrelevante o fato de que se empreguem trabalhadores adicionais com o trabalho não pago dos trabalhadores ocupados até o presente Pode ocorrer também de o capitalista transformar o capital adicional numa máquina que ponha na rua o produtor do capital adicional substituindoo por algumas crianças Em todos os casos foi a classe trabalhadora que criou com seu maistrabalho realizado neste ano o capital que no próximo ano ocupará trabalho adicional22 I sso é o que se denomina gerar capital por meio de capital O pressuposto da acumulação do primeiro capital adicional de 2 mil foi uma quantia de valor de 10 mil adiantada pelo capitalista e pertencente a ele por força de seu trabalho original O pressuposto do segundo capital adicional de 400 ao contrário não é senão a acumulação precedente do primeiro das 2 mil cujo mais valor capitalizado constitui precisamente esse segundo capital adicional A propriedade do trabalho pretérito não pago se manifesta agora como a única condição para a apropriação atual de trabalho vivo não pago em escala cada vez maior Quanto mais o capitalista tiver acumulado mais ele poderá acumular Na medida em que o maisvalor de que se compõe o capital adicional n 1 resultou da compra da força de trabalho por uma parte do capital original compra que obedeceu às leis da troca de mercadorias e que do ponto de vista jurídico pressupõe apenas da parte do trabalhador a livre disposição sobre suas próprias capacidades e da parte do possuidor de dinheiro ou de mercadorias a livre disposição sobre os valores que lhe pertencem na medida em que o capital adicional n 2 etc não é mais do que o resultado do capital adicional n 1 e portanto a consequência daquela 433 primeira relação na medida em que cada transação isolada obedece continuamente à lei da troca de mercadorias segundo a qual o capitalista sempre compra a força de trabalho e o trabalhador sempre a vende e supomos aqui por seu valor real é evidente que a lei da apropriação ou lei da propriedade privada fundada na produção e na circulação de mercadorias transformase obedecendo a sua dialética própria interna e inevitável em seu direto oposto A troca de equivalentes que aparecia como a operação original torceuse ao ponto de que agora a troca se efetiva apenas na aparência pois em primeiro lugar a própria parte do capital trocada por força de trabalho não é mais do que uma parte do produto do trabalho alheio apropriado sem equivalente em segundo lugar seu produtor o trabalhador não só tem de repôla como tem de fazêlo com um novo excedente A relação de troca entre o capitalista e o trabalhador se converte assim em mera aparência pertencente ao processo de circulação numa mera forma estranha ao próprio conteúdo e que apenas o mistifica A contínua compra e venda da força de trabalho é a forma O conteúdo está no fato de que o capitalista troca continuamente uma parte do trabalho alheio já objetivado do qual ele não cessa de se apropriar sem equivalente por uma quantidade maior de trabalho vivo alheio Originalmente o direito de propriedade apareceu diante de nós como fundado no próprio trabalho No mínimo esse suposto tinha de ser admitido porquanto apenas possuidores de mercadorias com iguais direitos se confrontavam uns com os outros mas o meio de apropriação da mercadoria alheia era apenas a alienação Veräußerung de sua mercadoria própria e esta só se podia produzir mediante o trabalho Agora ao contrário a propriedade aparece do lado do capitalista como direito a apropriarse de trabalho alheio não pago ou de seu produto do lado do trabalhador como impossibilidade de apropriarse de seu próprio produto A cisão entre propriedade e trabalho tornase consequência necessária de uma lei que aparentemente tinha origem na identidade de ambos23 Portanto por mais que o modo capitalista de apropriação pareça violar as leis originais da produção de mercadorias ele não se origina em absoluto da violação mas ao contrário da observância dessas leis Um breve olhar retrospectivo à sequência das fases do movimento cujo ponto de chegada é a acumulação capitalista bastará para esclarecer novamente essa questão Vimos primeiramente que a transformação original de uma quantia de valor em capital se efetuava inteiramente de acordo com as leis da troca Uma das partes contratantes vende sua força de trabalho a outra a compra A primeira recebe o valor de sua mercadoria cujo valor de uso o trabalho é desse modo alienado à segunda Esta por sua vez emprega o trabalho que agora lhe pertence na transformação dos meios de produção que já lhe pertenciam e com isso obtém um novo produto que por direito também lhe pertence O valor desse produto inclui primeiro o valor dos meios de produção consumidos em sua produção O trabalho útil não pode consumir esses meios de produção sem transferir seu valor ao novo produto mas para que este seja vendável é preciso que a força de trabalho possa fornecer trabalho útil naquele ramo industrial em que ela deve ser empregada O valor do novo produto inclui além disso o equivalente do valor da força de 434 trabalho e um maisvalor E isso precisamente porque a força de trabalho vendida por um determinado período de tempo dia semana etc possui um valor menor do que o valor que seu uso cria durante esse tempo Mas o trabalhador obteve como pagamento o valor de troca de sua força de trabalho e assim alienou veräussert seu valor de uso como é o caso em toda compra e venda O fato de que essa mercadoria particular a força de trabalho tenha o valor de uso peculiar de fornecer trabalho e portanto de criar valor não pode alterar em nada a lei geral da produção de mercadorias Portanto se a quantia de valor adiantada em salário não ressurge no produto pura e simplesmente mas sim aumentada de um maisvalor isso não resulta de que se tenha ludibriado o vendedor pois este recebeu efetivamente o valor de sua mercadoria mas do consumo dessa mercadoria pelo comprador A lei da troca só exige igualdade entre os valores de troca das mercadorias que são alienadas reciprocamente Ela exige até mesmo desde o início a desigualdade de seus valores de uso e não guarda nenhuma relação com seu consumo que só começa depois de o negócio estar concluído A transformação original do dinheiro em capital consumase portanto na mais rigorosa harmonia com as leis econômicas da produção de mercadorias e com o direito de propriedade delas derivado Mas apesar disso ela tem por resultado 1 que o produto pertence ao capitalista e não ao trabalhador 2 que o valor desse produto além do valor do capital adiantado inclui um mais valor o qual embora tenha custado trabalho ao trabalhador e nada ao capitalista tornase propriedade legítima deste último 3 que o trabalhador conservou consigo sua força de trabalho e pode vendêla de novo sempre que encontrar um comprador A reprodução simples não é mais do que repetição periódica dessa primeira operação voltase sempre de novo a transformar dinheiro em capital A lei não é pois violada ao contrário ela apenas obtém a oportunidade de atuar duradouramente Plusieurs échanges successifs nont fait du dernier que le représentant du premiera Sismondi cit p 70 E no entanto vimos que a reprodução simples é suficiente para conferir a essa primeira operação apreendida como processo isolado um caráter totalmente diferente Parmi ceux qui se partagent le revenu national les uns y acquièrent chaque année un nouveau droit par un noveau travail les autres y ont acquis antérieurement un droit permanent par un travail primitifb Sismondi cit p 1101 O reino do trabalho como é sabido não é o único onde a primogenitura opera milagres Tampouco importa se a reprodução simples cede lugar à reprodução em escala ampliada à acumulação Na primeira o capitalista dissipa o maisvalor inteiro na segunda ele dá provas de sua virtude burguesa consumindo apenas uma parte e transformando o resto em dinheiro O maisvalor é sua propriedade não tendo jamais pertencido a outrem Se o adianta para a produção o que ele faz é um adiantamento de seus próprios fundos 435 exatamente como fez no dia em que pôs os pés no mercado pela primeira vez Que agora esse fundo tenha origem no trabalho não pago de seus trabalhadores é algo que não altera absolutamente em nada a questão Se o trabalhador B é ocupado com o maisvalor produzido pelo trabalhador A temos de considerar primeiro que A forneceu esse maisvalor sem que se rebaixasse nem um centavo do preço justo de sua mercadoria e segundo que esse negócio não diz respeito de modo algum a B O que B exige e tem direito de exigir é que o capitalista lhe pague o valor de sua força de trabalho Tous deux gagnaient encore louvrier parce quon lui avançait les fruits de son travail o certo seria du travail gratuit dautres ouvriers avant quil fût fait o certo seria avant que le sien ait porté de fruit le maître parce que le travail de cet ouvrier valait plus que le salaire o certo seria produisait plus de valeur que celle de son salairec Sismondi cit p 135 Certamente o quadro é inteiramente diferente quando consideramos a produção capitalista no fluxo ininterrupto de sua renovação e em vez do capitalista individual e o trabalhador individual consideramos a totalidade a classe capitalista e diante dela a classe trabalhadora Com isso porém introduziríamos um padrão de medida totalmente estranho à produção de mercadorias Na produção de mercadorias confrontamse independentes um do outro apenas o vendedor e o comprador Suas relações recíprocas chegam ao fim quando do vencimento do contrato concluído entre eles Se o negócio se repete é em consequência de um novo contrato que não guarda nenhuma relação com o anterior e no qual somente o acaso reúne novamente o mesmo comprador e o mesmo vendedor Portanto se a produção de mercadorias ou qualquer outro processo a ela pertencente devem ser julgados segundo suas próprias leis econômicas será necessário considerar cada ato de troca por si mesmo à margem de qualquer conexão com o ato de troca que o precedeu e com o que o sucede E como as compras e as vendas são efetuadas apenas entre indivíduos singulares é inadmissível que nelas busquemos relações entre classes sociais inteiras Por mais longa que seja a sequência das reproduções periódicas e das acumulações precedentes percorridas pelo capital atualmente em funcionamento este conserva sempre sua virgindade original Enquanto em cada ato de troca tomado isoladamente são conservadas as leis da troca o modo de apropriação pode sofrer um revolucionamento total sem que o direito de propriedade adequado à produção de mercadorias se veja afetado de alguma forma Esse mesmo direito segue em vigor tanto no início quando o produto pertencia ao produtor e este trocando equivalente por equivalente só podia enriquecer mediante seu próprio trabalho como também no período capitalista quando a riqueza social se torna em proporção cada vez maior a propriedade daqueles em condições de se apropriar sempre de novo do trabalho não pago de outrem Esse resultado se torna inevitável assim que o próprio trabalhador vende livremente a força de trabalho como mercadoria Mas é também somente a partir de então que a produção de mercadorias se generaliza tornandose a forma típica da produção somente a partir de então cada produto passa a ser produzido desde o 436 início para a venda e toda a riqueza produzida percorre os canais da circulação É apenas quando o trabalho assalariado constitui sua base que a produção de mercadorias se impõe a toda a sociedade mas é também somente então que ela desdobra todas as suas potências ocultas Dizer que a interferência do trabalho assalariado falseia a produção de mercadorias equivale a dizer que a produção de mercadorias se deseja preservar intacta sua autenticidade não se deve desenvolver Na mesma medida em que de acordo com suas próprias leis imanentes ela se desenvolve até se converter em produção capitalista as leis de propriedade que regulam a produção de mercadorias se convertem em leis da apropriação capitalista24 Vimos que mesmo na reprodução simples todo o capital adiantado independentemente de como tenha sido obtido transformase em capital acumulado ou maisvalor capitalizado No fluxo da produção porém todo capital originalmente adiantado se torna em geral uma grandeza evanescente magnitudo evanescens em sentido matemático em comparação com o capital acumulado diretamente isto é com o maisvalor ou o maisproduto reconvertido em capital funcione ele agora nas mãos de quem o acumulou ou em mãos alheias Razão pela qual a economia política geralmente apresenta o capital como riqueza acumulada maisvalor ou renda transformada que se emprega de novo na produção de maisvalor25 ou o capitalista como possuidor do maisproduto26 O mesmo ponto de vista se revela apenas sob outra forma na expressão todo capital existente é juro acumulado ou capitalizado pois o juro não é mais do que uma fração do maisvalor27 2 Concepção errônea por parte da economia política da reprodução em escala ampliada Antes de passarmos à análise de algumas determinações mais detalhadas da acumulação ou da reconversão do maisvalor em capital é preciso remover um equívoco criado pela economia clássica Assim como as mercadorias que o capitalista compra com uma parte do maisvalor para seu próprio consumo não lhe servem como meios de produção e valorização tampouco o trabalho que ele compra para a satisfação de suas necessidades naturais e sociais é trabalho produtivo Por meio da compra dessas mercadorias e desse trabalho em vez de transformar o maisvalor em capital ele o consome ou gasta como renda Diante da mentalidade da velha aristocracia que como diz Hegel acertadamente consiste no consumo do existented e que também se expande sobretudo no luxo dos serviços pessoais era de importância decisiva para a economia burguesa anunciar a acumulação do capital como o primeiro dever cívico e pregar infatigavelmente que não se pode acumular quando se devora toda a renda em vez de despender boa parte dela na contratação de trabalhadores produtivos adicionais que rendem mais do que custam Por outro lado ela tinha de polemizar contra o preconceito popular que confunde a produção capitalista com o entesouramento28 e por isso imagina que a riqueza acumulada seja a riqueza subtraída à destruição isto é a riqueza que conserva sua forma natural preexistente subtraise do consumo e salvase da circulação Aferrolhar o dinheiro para que ele não circule seria exatamente o oposto de sua 437 valorização como capital e acumular mercadorias para entesourálas pura sandice28a A acumulação de mercadorias em grandes quantidades resulta do estancamento da circulação ou da superprodução29 Certamente na imaginação popular se apresenta de um lado a imagem dos bens acumulados no fundo de consumo dos ricos bens que se consomem lentamente e de outro lado a formação de reservas fenômeno que ocorre em todos os modos de produção e do qual nos ocuparemos brevemente na análise do processo de circulação A economia clássica está certa portanto quando acentua como momento característico do processo de acumulação o consumo do maisproduto por trabalhadores produtivos em vez de por improdutivos Mas aqui começa também o seu erro Foi A Smith quem criou a moda de representar a acumulação meramente como consumo do maisproduto por trabalhadores produtivos ou a capitalização do maisvalor como a mera conversão deste último em força de trabalho Ouçamos por exemplo o que diz Ricardo Devemos compreender que todos os produtos de um país são consumidos mas faz uma enorme diferença se são consumidos por aqueles que reproduzem outro valor ou por aqueles que não o reproduzem Quando dizemos que a renda é poupada e agregada ao capital queremos dizer que a parte da renda da qual se diz ter sido agregada ao capital é consumida por trabalhadores produtivos e não por improdutivos Não existe erro maior que o de supor que o capital é aumentado pelo não consumo30 Não existe erro maior que o de A Smith repetido por Ricardo e todos os economistas posteriores de que a parte da renda que se considera ter sido agregada ao capital é consumida por trabalhadores produtivos Segundo essa noção todo o maisvalor que se transformasse em capital converterseia em capital variável Em vez disso porém ele se reparte como o valor original adiantado em capital constante e capital variável em meios de produção e força de trabalho A força de trabalho é a forma em que o capital variável existe no interior do processo de produção Nesse processo ela própria é consumida pelo capitalista Por meio de sua função o trabalho ela consome meios de produção Ao mesmo tempo o dinheiro pago na aquisição da força de trabalho convertese em meios de subsistência que são consumidos não pelo trabalho produtivo mas pelo trabalhador produtivo Por meio de uma análise fundamentalmente equivocada A Smith chega ao resultado absurdo de que mesmo que todo capital individual se divida em parte constante e parte variável o capital social é composto unicamente de capital variável ou seja é gasto exclusivamente no pagamento de salários Um fabricante de panos por exemplo transforma 2 mil em capital Uma parte do dinheiro ele aplica na aquisição de tecelões a outra parte em fios de lã maquinaria etc Mas as pessoas das quais ele compra os fios e a maquinaria usam parte do dinheiro obtido para pagar o trabalho etc até que todas as 2 mil sejam gastas no pagamento de salários ou seja até que o produto representado pelas 2 mil tenha sido inteiramente consumido por trabalhadores produtivos Como vemos todo o peso desse argumento reside na palavra etc que nos remete de Pôncio até Pilatos Na verdade A Smith interrompe a investigação precisamente no ponto onde começa sua dificuldade31 Enquanto consideramos apenas o fundo da produção total anual o processo de reprodução anual é facilmente compreensível Mas todos os componentes da produção 438 anual têm de ser levados ao mercado e aí tem início a dificuldade Os movimentos dos capitais singulares e das rendas pessoais se entrecruzam entremesclam perdemse numa troca geral de posições na circulação da riqueza social que confunde a visão e coloca à investigação problemas muito complexos para resolver Na terceira seção do Livro I I procederei à análise das conexões efetivas O grande mérito dos fisiocratas é o de terem realizado em seu Tableau économiquee a primeira tentativa de elaborar um quadro da produção anual na configuração sob a qual ela emerge da circulação32 De resto é evidente que a economia política no interesse da classe capitalista não deixou de explorar a tese de A Smith segundoa qual a classe da trabalhadora consome toda a parte do produto líquido transformada em capital 3 Divisão do maisvalor em capital e renda A teoria da abstinência No capítulo anterior consideramos o maisvalor ou o maisproduto tão somente como fundo de consumo individual do capitalista neste capítulo até aqui o consideramos apenas como fundo de acumulação Mas ele não é um ou outro exclusivamente mas ambos ao mesmo tempo Uma parte do maisvalor é consumida pelo capitalista como renda33 outra parte é aplicada como capital ou é acumulada Dada uma massa de maisvalor uma dessas partes será tanto maior quanto menor for a outra Mantendose inalteradas as demais circunstâncias a proporção em que se realiza essa divisão é que determina a grandeza da acumulação Mas quem opera essa divisão é o proprietário do maisvalor o capitalista Ela é portanto um ato de sua vontade Acerca da parte do tributo que ele recolhe e acumula dizemos que é poupada porque ele não a consome isto é porque exerce sua função de capitalista a saber a função de se enriquecer Apenas como capital personificado o capitalista tem um valor histórico e dispõe daquele direito histórico à existência de que como diz o espirituoso Lichnovski nenhuma data não dispõef Somente nesse caso sua própria necessidade transitória está incluída na necessidade transitória do modo de produção capitalista Ainda assim porém sua força motriz não é o valor de uso e a fruição mas o valor de troca e seu incremento Como fanático da valorização do valor o capitalista força inescrupulosamente a humanidade à produção pela produção e consequentemente a um desenvolvimento das forças produtivas sociais e à criação de condições materiais de produção que constituem as únicas bases reais possíveis de uma forma superior de sociedade cujo princípio fundamental seja o pleno e livre desenvolvimento de cada indivíduo O capitalista só é respeitável como personificação do capital Como tal ele partilha com o entesourador o impulso absoluto de enriquecimento Mas o que neste aparece como mania individual no capitalista é efeito do mecanismo social no qual ele não é mais que uma engrenagem Além disso o desenvolvimento da produção capitalista converte em necessidade o aumento progressivo do capital investido numa empresa industrial e a concorrência impõe a cada capitalista individual como leis coercitivas externas as leis imanentes do modo de produção capitalista Obrigao a ampliar continuamente seu capital a fim de conserválo e ele não pode ampliálo 439 senão por meio da acumulação progressiva Por conseguinte na medida em que suas ações são apenas uma função do capital que nele está dotado de vontade e consciência seu próprio consumo privado apresentase a ele como um roubo contra a acumulação de seu capital assim como na contabilidade italiana os gastos privados figuram na coluna daquilo que o capitalista deve ao capital A acumulação é a conquista do mundo da riqueza social Juntamente com a massa de material humano explorado ela amplia o domínio direto e indireto do capitalista34 Mas o pecado original age em toda parte Com o desenvolvimento do modo de produção capitalista e o aumento da acumulação e da riqueza o capitalista deixa de ser mera encarnação do capital Ele sente uma comoção humanag por seu próprio Adãoh e se civiliza ao ponto de ridicularizar a paixão pela ascese como preconceito do entesourador arcaico Enquanto o capitalista clássico estigmatizava o consumo individual como pecado contra sua função e como uma abstinência da acumulação o capitalista moderno está em condições de conceber a acumulação como renúncia ao seu impulso de fruição Vivemlhe duas almas ah no seio Querem trilhar em tudo opostas sendasi Nos primórdios da história do modo de produção capitalista e todo neófito capitalista percorre individualmente esse estágio histórico o impulso de enriquecimento e a avareza predominam como paixões absolutas Entretanto o progresso da produção capitalista não cria apenas um mundo de desfrutes Ele abre com a especulação e o sistema de crédito milhares de fontes de enriquecimento repentino A certa altura do desenvolvimento o desventurado capitalista deve praticar até mesmo como uma necessidade do negócio um determinado grau convencional de esbanjamento que é ao mesmo tempo ostentação de riqueza e por isso meio de crédito O luxo entra nos custos de representação do capital Além disso o capitalista não enriquece como o fazia o entesourador em proporção ao seu trabalho e nãoconsumo Nichtkonsum pessoais mas quando suga força de trabalho alheia e obriga o trabalhador a renunciar a todos os desfrutes da vida Por isso embora o esbanjamento do capitalista não tenha jamais o caráter de bona fide boafé do esbanjamento do pródigo senhor feudal nele subjazendo antes a mais sórdida avareza e o cálculo mais angustioso sua prodigalidade aumenta contudo a par de sua acumulação sem que uma tenha de prejudicar a outra Com isso ao mesmo tempo se desenvolve no coração do capitalista um conflito fáustico entre os impulsos da acumulação e do desfrute A indústria de Manchester lêse numa obra publicada em 1795 pelo dr Aikin pode ser dividida em quatro períodos No primeiro os fabricantes se viam obrigados a trabalhar duro por seu sustento Enriqueciamse especialmente furtando os pais que lhes confiavam seus filhos como apprentices aprendizes e tinham de pagar altas somas por isso enquanto os aprendizes morriam de fome Por outro lado a média de lucros era baixa e a acumulação exigia grande economia Eles viviam como entesouradores e não consumiam nem mesmo os juros de seu capital No segundo período eles começaram a adquirir pequenas fortunas mas continuavam a trabalhar tão duramente como antes pois a exploração direta do trabalho custa trabalho como o sabe todo capataz de escravos e 440 seguiam como antes o mesmo estilo de vida frugal No terceiro período teve início o luxo e o negócio foi ampliado mediante o envio de cavaleiros commis voyageurs caixeirosviajantes montados que recebiam ordens em todas as cidades mercantis do reino É provável que antes de 1690 existissem muito poucos capitais de 3 mil a 4 mil adquiridos na indústria ou mesmo nenhum Porém nessa época ou talvez um pouco mais tarde os industriais já haviam acumulado dinheiro e começaram a construir casas de pedra em vez das de madeira e argamassa Ainda nos primeiros decênios do século XVIII um fabricante de Manchester que oferecesse um pint de vinho estrangeiro a seus hóspedes expunhase aos comentários e murmúrios de todos os seus vizinhos Antes do surgimento da maquinaria o consumo dos fabricantes nas tabernas onde se reuniam com seus confrades jamais ultrapassava numa noite 6 pence por um copo de ponche e 1 penny por um rolo de tabaco Apenas em 1758 e esse fato fez época viu se uma pessoa efetivamente engajada nos negócios que possuía sua própria carruagem O quarto período o último terço do século XVI I I foi de grande luxo e esbanjamento fundados na ampliação dos negócios35 Que diria o bom dr Aikin se ressuscitasse na Manchester de hoje Acumulai acumulai Eis Moisés e os profetasj A indústria provê o material que a poupança acumula36 Portanto poupai poupai isto é reconvertei em capital a maior parte possível do maisvalor ou do maisproduto A acumulação pela acumulação a produção pela produção nessa fórmula a economia clássica expressou a vocação histórica do período burguês Em nenhum instante ela se enganou sobre as dores de parto da riqueza37 mas de que adianta lamentarse diante da necessidade histórica Se para a economia clássica o proletário não era mais que uma máquina para a produção de maisvalor também o capitalista para ela era apenas uma máquina para a transformação desse maisvalor em maiscapital Ela leva rigorosamente a sério a função histórica do capitalista Para livrar seu peito do terrível conflito entre os impulsos de desfrute e de enriquecimento Malthus defendeu no começo dos anos 1820 uma divisão do trabalho que atribuía ao capitalista efetivamente engajado na produção o negócio da acumulação e aos outros participantes do maisvalor a aristocracia rural os sinecuristas estatais e eclesiásticos etc o negócio do esbanjamento É da maior importância diz ele que se conservem separadas a paixão pelo gasto e a paixão pela acumulação the passion for expenditure and the passion for accumulation38 Os senhores capitalistas há muito convertidos em usufruidores e homens do mundo protestaram O quê exclamou um de seus portavozes um ricardiano o sr Malthus defende rendas elevadas da terra pesados impostos etc e isso para que os industriais sejam continuamente pressionados pelos consumidores improdutivos Certamente o schibbolethk é produção produção em escala cada vez mais ampliada mas a produção mediante esse processo é mais obstruída do que fomentada Tampouco é inteiramente justo nor is it quite fair manter na ociosidade certo número de pessoas apenas para pressionar outras de cujo caráter cabe inferir who are likely from their characters que se fosse possível obrigálas a funcionar elas o fariam com êxito39 Do mesmo modo como lhe parece injusto aguilhoar o capitalista industrial para que acumule tirandolhe a carne da sopa também lhe parece necessário limitar o trabalhador ao menor salário possível a fim de que ele se conserve laborioso Tampouco oculta em nenhum momento que a apropriação de trabalho não pago é o segredo da produção de maisvalor 441 Uma demanda ampliada da parte dos trabalhadores não significa mais do que sua disposição para tomar menos de seu próprio produto para si mesmos e deixar uma parte maior para seus patrões e quando se diz que isso ao reduzir o consumo da parte dos trabalhadores gera uma glut saturação do mercado superprodução podemos apenas responder que glut é sinônimo de lucro elevado40 A erudita controvérsia sobre como o capitalista industrial e o ocioso proprietário fundiário etc deveriam repartir o botim extraído do trabalhador do modo mais proveitoso para a acumulação emudeceu diante da Revolução de J ulhol Pouco tempo depois em Lyon o proletariado urbano fez soar o alarme e o proletariado rural na I nglaterra ateou fogo nas fazendas Desse lado do canal grassava o owenismo do outro lado o saintsimonismo e o fourierismo Soara a hora da economia vulgar Exatamente um ano antes de ter descoberto em Manchester que o lucro do capital incluído o juro é produto da última hora não paga da jornada de trabalho a décima segunda hora Nassau W Senior anunciou ao mundo outra descoberta Eu asseverou solenemente substituo a palavra capital considerado instrumento de produção pela palavra abstinência abstenção41 Eis aí uma insuperável demonstração das descobertas da economia vulgar O que ela faz é substituir uma categoria econômica por uma frase própria de sicofantas Voilá tout I sso é tudo Quando o selvagem faz arcos ensina Senior ele exerce uma indústria mas não pratica a abstinência I sso nos explica como e por que em condições sociais anteriores instrumentos de trabalho foram fabricados sem a abstinência do capitalista Quanto mais a sociedade progride tanto mais abstinência ela exige42 especialmente daqueles que exercem a indústria de se apropriar da indústria alheia e de seu produto Todas as condições do processo de trabalho se transformam doravante em outras tantas práticas de abstinência exercidas pelo capitalista Que o trigo seja não apenas comido mas também semeado é a abstinência exercida pelo capitalista Que ao vinho seja dado o tempo necessário para sua fermentação é abstinência exercida pelo capitalista43 O capitalista rouba a seu próprio Adão quando empresta ao trabalhador os instrumentos de produção ou melhor quando os valoriza como capital mediante a incorporação de força de trabalho em vez de se alimentar de máquinas a vapor algodão ferrovias adubo cavalos de tração etc ou como imagina infantilmente o economista vulgar de dilapidar seu valor em luxo e outros meios de consumo44 Como a classe capitalista poderia fazer isso é um segredo que até aqui foi obstinadamente guardado pela economia vulgar Basta dizer que o mundo vive unicamente da automortificação do capitalista esse moderno penitente de Vishnum Não apenas a acumulação mas a simples conservação de um capital exige um esforço constante para resistir à tentação de consumilo45 O humanitarismo mais elementar clama portanto que libertemos o capitalista do martírio e da tentação do mesmo modo como há pouco tempo a abolição da escravatura libertou o senhor de escravos da Geórgia do doloroso dilema dissipar alegremente em champanha todo o mais produto arrancado a chicotadas de seus escravos negros ou reconvertêlo ainda que parcialmente em mais negros e mais terras Nas formações socioeconômicas mais diversas deparamonos não só com a reprodução simples mas ainda que em grau diferente com a reprodução em escala ampliada Produzse progressivamente mais e se consome mais de modo que também 442 uma quantidade maior de produto é transformada em meios de produção Porém esse processo não se apresenta como acumulação de capital e consequentemente tampouco como função do capitalista uma vez que os meios de produção do trabalhador e por conseguinte tampouco seu produto e seus meios de subsistência ainda não se confrontam com ele sob a forma de capital46 Richard J ones falecido há alguns anos sucessor de Malthus na cátedra de economia política no Colégio da Companhia das Índias Orientais em Haileybury trata dessa questão com muita propriedade partindo de dois grandes fatos Como a parte mais numerosa do povo indiano é composta de camponeses autônomos seu produto seus meios de trabalho e de subsistência jamais existem sob a forma in the shape de um fundo poupado da renda alheia saved from Revenue e que percorreu portanto um processo prévio de acumulação a previous process of acumulation47 Por outro lado nas províncias onde a dominação inglesa dissolveu em menor grau o velho sistema os trabalhadores não agrícolas são ocupados diretamente pelos grandes proprietários para os quais reflui como tributo ou renda fundiária uma parcela do maisproduto rural Os grandes proprietários consomem in natura uma parte desse produto recebem a outra parte transformada pelos trabalhadores em meios de luxo e outros artigos de consumo e o que resta constitui o salário dos trabalhadores que são proprietários de seus meios de trabalho A produção e a reprodução em escala ampliada seguem aqui seu curso sem qualquer ingerência daquele santo milagroso o cavaleiro da triste figura o capitalista abstinente 4 Circunstâncias que independentemente da divisão proporcional do maisvalor em capital e renda determinam o volume da acumulação grau de exploração da força de trabalho força produtiva do trabalho diferença crescente entre capital aplicado e capital consumido grandeza do capital adiantado Pressupondose como dada a proporção em que o maisvalor se cinde em capital e renda é evidente que a grandeza do capital acumulado há de regerse pela grandeza absoluta do maisvalor Suponha que 80 sejam capitalizados e 20 consumidos o capital acumulado será então de 2400 ou de 1200 conforme o maisvalor total tenha sido de 3000 ou 1500 Por conseguinte todas as circunstâncias que determinam a massa do maisvalor contribuem para determinar a grandeza da acumulação Resumiremos aqui uma vez mais essas circunstâncias mas somente na medida em que nos ofereçam novos pontos de vista em relação à acumulação Recordarseá que a taxa de maisvalor depende em primeira instância do grau de exploração da força de trabalho A economia política confere tanta dignidade a esse papel que chega ocasionalmente a identificar a aceleração da acumulação que resulta do aumento da força produtiva do trabalho com sua aceleração derivada do aumento da exploração do trabalhador48 Nas seções dedicadas à produção de maisvalor partimos sempre do pressuposto de que o salário era pelo menos igual ao valor da 443 força de trabalho Mas a redução forçada do salário abaixo desse valor desempenha um papel importante demais no movimento prático para que não nos dediquemos a ela por um momento De fato ela transforma dentro de certos limites o fundo necessário de consumo do trabalhador num fundo de acumulação de capital Os salários diz J S Mill não têm força produtiva eles são o preço de uma força produtiva os salários não contribuem ao lado do próprio trabalho para a produção de mercadorias tampouco para o preço da própria maquinaria Se fosse possível obter o trabalho sem comprálo os salários seriam supérfluos49 Mas se os trabalhadores pudessem viver de ar tampouco seria possível comprálos por preço algum Sua gratuidade Nichtkosten é portanto um limite em sentido matemático sempre inalcançável ainda que sempre aproximável É uma tendência constante do capital reduzir os trabalhadores a esse nível niilista Um escritor do século XVI I I que costumo citar com frequência o autor do Essay on Trade and Commerce não faz mais do que trair o segredo mais íntimo da alma do capital inglês quando declara que a missão vital histórica da I nglaterra é rebaixar o salário inglês ao nível do francês e do holandês50 Ingenuamente ele diz entre outras coisas Mas se nossos pobres termo técnico para trabalhadores querem viver de modo luxuoso é evidente que seu trabalho tem de ser caro Basta considerar a horripilante massa de superfluidades heap of superfluities que nossos trabalhadores manufatureiros consomem como aguardente gim chá açúcar frutas importadas cerveja forte lenços estampados rapé e tabaco etc51 Ele cita o escrito de um fabricante de Northamptonshire que mirando o céu lamenta Na França o trabalho é 13 mais barato que na I nglaterra pois os franceses pobres trabalham duramente e economizam na alimentação e no vestuário sua dieta é composta principalmente de pão frutas verduras raízes e peixe salgado pois comem carne muito raramente e estando caro o trigo muito pouco pão52 E ainda é preciso acrescentar prossegue o ensaísta que sua bebida consiste em água ou licores fracos de modo que na realidade gastam muito pouco dinheiro Tal estado de coisas é certamente difícil de implantar mas não é inalcançável como o demonstra cabalmente sua existência tanto na França como na Holanda53 Duas décadas mais tarde um impostor americano o ianque baronizado Benjamin Thompson conde Rumford seguiu a mesma linha filantrópica com grande complacência perante Deus e os homens Seus Essays são um livro de culinária com receitas de toda espécie que oferecem sucedâneos aos caros alimentos habituais do trabalhador Uma receita particularmente bemsucedida desse estranho filósofo é a seguinte Com 5 libras de cevada 5 libras de milho 3 pence de arenque 1 penny de sal 1 penny de vinagre 2 pence de pimenta e ervas totalizando 2034 pence preparase uma sopa para 64 pessoas considerandose o preço médio do cereal o custo pode ser abatido a 14 de penny menos de 3 Pfennig por cabeça54 Com o progresso da produção capitalista a falsificação de mercadorias tornou supérfluos os ideais de Thompson55 No final do século XVI I I e nas primeiras décadas do século XI X os arrendatários e senhores rurais ingleses impuseram o salário mínimo absoluto pagando aos jornaleiros agrícolas menos que o mínimo sob a forma de salário e o resto como assistência paroquial Vejamos um exemplo da bufonaria encenada pelos Dogberries 444 Quando os senhores proprietários rurais fixaram os salários para Speenhamland em 1795 eles já haviam almejado consideravelmente pensar que os trabalhadores não necessitavam desses Decidiram que o salário semanal fosse de 3 xelins por pessoa enquanto o pão de 8 libras e 11 onças custasse 1 xelim e que a remuneração devia aumentar regularmente até que esse pão custasse 1 xelim e 5 pence Assim que ultrapassasse esse preço o salário devia diminuir proporcionalmente até que o preço do pão chegasse a 2 xelins desse modo a alimentação do trabalhador seria 15 menor que antes Perante a comissão de inquérito da House of Lords Câmara dos Lordes em 1814 perguntouse a um certo A Bennett grande arrendatário magistrado administrador do trabalho Existe alguma relação entre o trabalho diário e a assistência paroquial aos trabalhadores Resposta A receita é completamente acima do seu salário nominal até o pão de 1 galão 8 libras de farinha durante a semana e que os 3 pence sejam para vestuário no caso de a paróquia preferir fornecer eles na mesma os pratos desciamse os 3 pence primeiro dia da produção convergem aqui o homem e a natureza isto é os formadores Bildner originais do produto e portanto também os formadores dos elementos materiais do capital Graças à elasticidade da força de trabalho a área de acumulação se ampliou sem o aumento prévio do capital constante Na agricultura é impossível ampliar a terra cultivada sem um adiantamento de sementes e adubos adicionais Mas uma vez realizado esse adiantamento o cultivo puramente mecânico do solo exerce um efeito prodigioso sobre a quantidade do produto Desse modo um maior volume de trabalho executado pelo mesmo número de trabalhadores eleva a fertilidade sem exigir um novo adiantamento de meios de trabalho Uma vez mais é a ação direta do homem sobre a natureza que se converte sem interferência de novo capital em fonte direta de uma maior acumulação Por fim na indústria propriamente dita todo gasto adicional de trabalho pressupõe o correspondente gasto adicional de matériasprimas mas não necessariamente de meios de trabalho E como a indústria extrativa e a agricultura fornecem à indústria fabril suas próprias matériasprimas e a de seus meios de trabalho esta se beneficia também do acréscimo de produtos que aquelas realizaram sem nenhum acréscimo de capital Resultado geral o capital ao incorporar os dois formadores originais da riqueza a força de trabalho e a terra adquire uma força expansiva que lhe permite estender os elementos de sua acumulação além dos limites aparentemente fixados por sua própria grandeza limites estabelecidos pelo valor e pela massa dos meios de produção já produzidos nos quais o capital tem sua existência Outro fator importante na acumulação do capital é o grau de produtividade do trabalho social Com a força produtiva do trabalho cresce a massa de produtos na qual se representa um valor determinado e portanto também um maisvalor de dada grandeza Se a taxa de maisvalor se mantém constante ou mesmo decrescente sempre que ela diminui mais lentamente do que aumenta a força produtiva do trabalho cresce a massa do maisproduto Assim mantendose inalterada a divisão do maisproduto em renda e capital adicional o consumo do capitalista pode aumentar sem que diminua o fundo de acumulação A grandeza proporcional desse fundo pode inclusive crescer à custa do fundo de consumo enquanto o barateamento das mercadorias põe à disposição do capitalista uma quantidade igual ou maior de meios de satisfação do que antes Porém a produtividade crescente do trabalho acompanha como vimos o barateamento do trabalhador e portanto uma taxa crescente de mais valor mesmo quando o salário real aumenta Este nunca aumenta na mesma proporção da produtividade do trabalho Portanto o mesmo valor de capital variável põe em movimento mais força de trabalho e por conseguinte também mais trabalho O mesmo valor de capital constante se representa em mais meios de produção isto é mais meios de trabalho material de trabalho e matérias auxiliares fornecendo assim tanto mais formadores de produto como mais formadores de valor ou absorvedores de trabalho Se o valor do capital adicional se mantém constante ou mesmo decrescente ocorre pois uma acumulação acelerada Não apenas se amplia materialmente a escala da reprodução mas a produção do maisvalor cresce mais 446 rapidamente que o valor do capital adicional O desenvolvimento da força produtiva do trabalho reage também sobre o capital original ou capital que já se encontra no processo de produção Uma parcela do capital constante em funcionamento é composta de meios de trabalho como maquinaria etc que apenas em períodos mais longos são consumidos e assim reproduzidos ou substituídos por novos exemplares do mesmo tipo A cada ano no entanto uma parte desses meios de trabalho perece ou atinge a meta final de sua função produtiva Consequentemente essa parte encontrase anualmente na fase de sua reprodução periódica ou de sua reposição por novos exemplares do mesmo tipo Se nos lugares de nascimento desses meios de trabalho a força produtiva do trabalho foi ampliada e continua a se ampliar com o fluxo ininterrupto da ciência e da técnica as máquinas ferramentas aparelhos etc velhos são substituídos por outros mais eficazes e considerando o volume de seu rendimento mais baratos O capital antigo é reproduzido de uma forma mais produtiva abstraindo das contínuas alterações de detalhes nos meios de trabalho existentes A outra parte do capital constante composta de matériaprima e matérias auxiliares é reproduzida continuamente no decorrer do ano e a parte procedente da agricultura se reproduz em sua maior parte anualmente Portanto toda introdução de métodos etc aperfeiçoados exerce aqui um efeito quase simultâneo sobre o capital adicional e o capital já em funcionamento Cada progresso da química multiplica não só o número das matérias úteis e as aplicações úteis dos materiais já conhecidos e assim amplia com o crescimento do capital as esferas de aplicação deste último mas ensina ao mesmo tempo a lançar de volta ao ciclo do processo de reprodução os excrementos dos processos de produção e de consumo criando dessa forma sem gasto prévio de capital nova matéria para o capital Tal como no caso de uma exploração aumentada das riquezas naturais mediante o simples aumento na distensão da força de trabalho a ciência e a técnica constituem uma potência de ampliação do capital em funcionamento independente da grandeza determinada que esse capital alcançou Essa potência reage ao mesmo tempo sobre a parte do capital original que ingressou em seu estágio de renovação Em sua nova forma o capital incorpora gratuitamente o progresso social realizado por detrás de sua forma antiga Por certo esse desenvolvimento da força produtiva é ao mesmo tempo acompanhado de uma depreciação parcial dos capitais em funcionamento Na medida em que essa depreciação se torna mais aguda em razão da concorrência o peso principal recai sobre o trabalhador com cuja exploração aumentada o capitalista procura se ressarcir O trabalho transfere ao produto o valor dos meios de produção por ele consumidos Por outro lado o valor e a massa dos meios de produção postos em movimento por dada quantidade de trabalho crescem na proporção em que o trabalho se torna mais produtivo Portanto ainda que a mesma quantidade de trabalho agregue sempre a seus produtos a mesma soma de valor novo o valor do antigo capital simultaneamente transferido aos produtos por aquela quantidade de trabalho aumenta com a produtividade crescente do trabalho Se um fiandeiro inglês e um chinês por exemplo trabalhassem o mesmo número de horas com a mesma intensidade ambos produziriam numa semana valores iguais 447 Apesar dessa igualdade há uma enorme diferença entre o valor do produto semanal do inglês que trabalha com uma poderosa máquina automática e o do chinês que dispõe apenas de uma roda de fiar No mesmo intervalo de tempo em que o chinês fia 1 libra de algodão o inglês fia várias centenas de libras Uma soma de valores anteriores várias centenas de vezes maior incha o valor do produto do fiandeiro inglês produto no qual tais valores são conservados sob uma nova forma útil e podem assim funcionar novamente como capital Em 1782 informanos F Engels toda a produção de lã tosquia dos três anos precedentes continuava na I nglaterra em estado bruto por falta de operários e assim permaneceria se as novas invenções mecânicas não houvessem tornado possível a sua fiação59 É claro que o trabalho objetivado sob a forma de maquinaria não colheu diretamente da terra nenhum homem mas permitiu a um reduzido número de trabalhadores mediante o acréscimo de relativamente pouco trabalho vivo não apenas consumir de maneira produtiva a lã e agregarlhe valor novo mas também conservar sob a forma de fios etc seu valor antigo Com isso ele forneceu ao mesmo tempo um meio e um estímulo para a reprodução ampliada da lã Conservar valor velho enquanto cria valor novo é um dom natural do trabalho vivo Com o aumento da eficiência do volume e do valor de seus meios de produção ou seja com a acumulação que acompanha o desenvolvimento de sua força produtiva o trabalho conserva e perpetua sob formas sempre novas um valor de capital em crescimento constante60 Essa força natural do trabalho aparece como força de autoconservação do capital no qual ela está incorporada exatamente do mesmo modo que suas forças produtivas sociais aparecem como propriedades desse capital e a apropriação constante do maistrabalho pelo capitalista aparece como autovalorização contínua do capital Todas as forças do trabalho se projetam como forças do capital assim como todas as formas de valor se projetam como formas de dinheiro Com o aumento do capital aumenta a diferença entre o capital empregado e o consumido Em outras palavras aumentam as massas de valor e de material dos meios de trabalho como edifícios maquinaria tubos de drenagem animais de trabalho aparelhos de todo tipo que por períodos maiores ou menores em processos de produção constantemente repetidos funcionam em todo seu volume ou servem para obter determinados efeitos úteis desgastandose apenas gradativamente e portanto perdendo seu valor por frações ou seja transferindoo também ao produto apenas de modo fracionado Na mesma proporção em que esses meios de trabalho servem como formadores de produtos sem lhes agregar valor isto é na mesma proporção em que são empregados em sua totalidade porém consumidos apenas parcialmente eles prestam como indicamos anteriormente o mesmo serviço gratuito das forças naturais como a água o vapor o ar a eletricidade etc Esse serviço gratuito do trabalho passado quando capturado e animado pelo trabalho vivo acumulase à medida que se amplia a escala da acumulação Como o trabalho passado se disfarça sempre em capital isto é como o passivo do trabalho de A B C etc tornase o ativo do não trabalhador X burgueses e economistas políticos se desmancham em louvores aos méritos do trabalho passado que segundo o gênio escocês MacCulloch deve inclusive receber um soldo juros lucro etc61 O 448 peso sempre crescente do trabalho passado que coopera no processo vivo de trabalho sob a forma de meios de produção é atribuído assim à sua figura de capital isto é à figura que foi alienada do próprio trabalhador e consiste em trabalho passado e não pago deste último Os agentes práticos da produção capitalista e seus tagarelas ideológicos são tão incapazes de conceber o meio de produção separadamente da máscara social antagônica que hoje adere em seu rosto quanto um escravista o é de conceber o próprio trabalhador separadamente de seu caráter de escravo Dado o grau de exploração da força de trabalho a massa de maisvalor é determinada pelo número de trabalhadores simultaneamente explorados número que corresponde ainda que em proporção variável à grandeza do capital Portanto quanto mais cresça o capital por meio de acumulações sucessivas tanto mais crescerá também a soma de valor que se cinde em fundo de consumo e fundo de acumulação O capitalista pode assim viver mais prodigamente e ao mesmo tempo absterse mais E por último todas as molas da produção atuam tanto mais energicamente quanto mais se amplia sua escala com o aumento da massa do capital adiantado 5 O assim chamado fundo de trabalho No decorrer desta investigação pudemos verificar que o capital não é uma grandeza fixa mas uma parte elástica da riqueza social parte esta que flutua constantemente com a divisão do maisvalor em renda e capital adicional Verificamos além disso que mesmo com uma dada grandeza do capital em funcionamento a força de trabalho a ciência e a terra e por terra entendemos do ponto de vista econômico todos os objetos de trabalho fornecidos pela natureza sem a intervenção humana nele incorporadas constituem potências elásticas do capital potências que dentro de certos limites deixam a ele uma margem de ação independente de sua própria grandeza Abstraímos então de todas as circunstâncias do processo de circulação que propiciam graus muito diversos de eficácia à mesma quantidade de capital E como tomamos como pressuposto os limites da produção capitalista ou seja uma figura puramente naturalespontânea do processo social de produção abstraímos de qualquer modo mais racional de se combinar os meios de produção e as forças de trabalho existentes o qual seria realizável de modo direto e planejado À economia clássica sempre aprouve conceber o capital social como uma grandeza fixa e dotada de um grau fixo de eficiência Mas o preconceito só foi fixado em dogma pelo arquifilisteu J eremy Bentham esse oráculo insipidamente pedante e fanfarrão do senso comum burguês do século XI X62 Bentham está para os filósofos como Martin Tupper para os poetas Ambos só podiam ter sido fabricados na I nglaterra63 O dogma de Bentham torna inteiramente incompreensíveis os fenômenos mais banais do processo de produção como suas expansões e contrações súbitas e inclusive a acumulação64 O dogma foi abusado para fins apologéticos tanto pelo próprio Bentham como por Malthus J ames Mill MacCulloch etc especialmente para representar como grandeza fixa uma parte do capital a parte variável ou conversível em força de trabalho A existência material do capital variável isto é a massa de meios de subsistência que ele representa para o trabalhador ou o chamado fundo de trabalho foi imaginativamente convertida numa 449 parte especial da riqueza social cingida por barreiras naturais infranqueáveis Para pôr em movimento a parte da riqueza social que há de funcionar como capital constante ou dito materialmente como meios de produção requerse de uma massa determinada de trabalho vivo Está é dada tecnologicamente Mas não é dado nem o número de trabalhadores requerido para movimentar essa massa de trabalho pois tal número varia com o grau de exploração da força de trabalho individual nem o preço dessa força de trabalho mas tão somente seu limite mínimo que além de tudo é bastante elástico O dogma repousa sobre os seguintes fatos em primeiro lugar o trabalhador não deve ter voz na partilha da riqueza social em meios de fruição para os não trabalhadores de um lado e em meios de produção de outro em segundo lugar apenas em casos excepcionalmente favoráveis é que o trabalhador pode ampliar o chamado fundo de trabalho às expensas das renda dos ricos A absurda tautologia a que se chega ao imaginar que os limites capitalistas do fundo de trabalho constituem sua barreira natural social mostranos entre outros o professor Fawcett O capital circulante de um país diz ele é seu fundo de trabalho Para isso para calcular o salário médio em dinheiro que cada trabalhador recebe basta simplesmente dividir esse capital pelo número de membros da população trabalhadora Capítulo 23 A lei geral da acumulação capitalista 1 Demanda crescente de25 força de trabalho com a acumulação conservandose igual a composição do capital Neste capítulo examinamos a influência que o aumento do capital exerce sobre o destino da classe trabalhadora O fator mais importante nessa investigação é a composição do capital e as alterações que ela sofre durante o processo de acumulação A composição do capital deve ser considerada em dois sentidos Sob o aspecto do valor ela se determina pela proporção em que o capital se reparte em capital constante ou valor dos meios de produção e capital variável ou valor da força de trabalho a soma total dos salários Sob o aspecto da matéria isto é do modo como esta funciona no processo de produção todo capital se divide em meios de produção e força viva de trabalho essa composição é determinada pela proporção entre a massa dos meios de produção empregados e a quantidade de trabalho exigida para seu emprego Chamo a primeira de composição de valor e a segunda de composição técnica do capital Entre ambas existe uma estreita correlação Para expressála chamo a composição de valor do capital porquanto é determinada pela composição técnica do capital e reflete suas modificações de composição orgânica do capital Onde se fala simplesmente de composição do capital entendase sempre sua composição orgânica Os diversos capitais individuais que se aplicam num determinado ramo da produção têm composições mais ou menos distintas entre si A média de suas composições individuais nos dá a composição do capital total desse ramo da produção Por fim a média total das composições médias de todos os ramos da produção nos dá a composição do capital social de um país e é essencialmente apenas a esta última que nos referiremos nas páginas seguintes O crescimento do capital implica o crescimento de seu componente variável ou seja daquele componente que se converte em força de trabalho Uma parte do mais valor transformado em capital adicional tem de se reconverter sempre em capital variável ou fundo adicional de trabalho Supondose que permanecendo iguais as demais circunstâncias a composição do capital se mantenha inalterada ou seja que para pôr em movimento determinada massa de meios de produção ou de capital constante seja necessária sempre a mesma massa de força de trabalho é evidente que a demanda de trabalho e o fundo de subsistência dos trabalhadores crescerão proporcionalmente ao capital e tanto mais rapidamente quanto mais rapidamente cresça este último Como o capital produz anualmente um maisvalor do qual uma parte é anualmente adicionada ao capital original como esse incremento mesmo aumenta a cada ano com o volume crescente do capital já em funcionamento e como por fim sob o acicate particular do impulso de enriquecimento como a abertura de novos mercados de novas esferas para a aplicação de capital em decorrência de 451 necessidades sociais recémdesenvolvidas etc a escala da acumulação pode ser subitamente ampliada por uma mudança na divisão do maisvalor ou do maisproduto em capital e renda as necessidades da acumulação do capital podem sobrepujar o crescimento da força de trabalho ou do número de trabalhadores e a demanda de trabalhadores pode sobrepujar sua oferta acarretando com isso o aumento dos salários É isso que enfim tem de ocorrer permanecendo inalterado o pressuposto anterior Como a cada ano mais trabalhadores estão empregados do que no ano precedente cedo ou tarde há de se chegar ao ponto em que as necessidades da acumulação comecem a ultrapassar a oferta habitual de trabalho ocasionando o aumento do salário Na I nglaterra ressoaram queixas sobre essa situação durante todo o século XV e a primeira metade do século XVI I I Mas as circunstâncias mais ou menos favoráveis em que os assalariados se mantêm e se multiplicam em nada alteram o caráter fundamental da produção capitalista Assim como a reprodução simples reproduz continuamente a própria relação capitalista capitalistas de um lado assalariados de outro a reprodução em escala ampliada ou seja a acumulação reproduz a relação capitalista em escala ampliada de um lado mais capitalistas ou capitalistas maiores de outro mais assalariados A reprodução da força de trabalho que tem incessantemente de se incorporar ao capital como meio de valorização que não pode desligarse dele e cuja submissão ao capital só é velada pela mudança dos capitalistas individuais aos quais se vende constitui na realidade um momento da reprodução do próprio capital Acumulação do capital é portanto multiplicação do proletariado70 A economia clássica compreendeu tão bem essa tese que A Smith Ricardo etc como mencionamos anteriormente chegaram a identificar falsamente a acumulação com o consumo por trabalhadores produtivos de toda aquela parte do maisproduto capitalizada ou com sua transformação em assalariados suplementares Dizia J ohn Bellers já em 1696 Se alguém dispusesse de 100 mil acres de terra e de igual número de libras em dinheiro e em gado o que seria esse homem rico sem o trabalhador senão ele mesmo um trabalhador E porque os trabalhadores tornam os homens ricos seguese que quanto mais trabalhadores houver tanto mais ricos haverá O trabalho dos pobres é a mina dos ricos71 E Bernard de Mandeville no começo do século XVIII Onde quer que a propriedade esteja suficientemente protegida seria mais fácil viver sem dinheiro do que sem pobres pois do contrário quem faria o trabalho Assim como se deve cuidar para que os trabalhadoresa não morram de fome também não se lhes deve dar nada que valha a pena ser poupado Se aqui e ali alguém da classe mais baixa mediante um esforço incomum e apertando o cinto consegue elevarse acima das condições em que se criou ninguém deve impedilo sim não se pode negar que o plano mais sábio para cada pessoa privada para cada família na sociedade é ser frugal mas é do interesse de todas as nações ricas que a maior parte dos pobres jamais esteja inativa e no entanto gaste continuamente o que ganha Os que ganham a vida com seu trabalho diário não têm nada que os estimule a serem serviçais senão suas necessidades que é prudente mitigar mas insensato curar A única coisa que pode tornar diligente o homem trabalhador é um salário moderado Um pequeno demais o torna a depender de seu temperamento desanimado ou desesperançado um grande demais o torna insolente e preguiçoso Do que expusemos até aqui segue que numa nação livre em que escravos não sejam permitidos a riqueza mais segura está numa multidão de pobres laboriosos Além de constituírem uma inesgotável fonte de homens para a marinha e o exército sem eles não haveria qualquer satisfação e nenhum produto de nenhum país seria valorizável Para fazer feliz a sociedade que naturalmente é formada de não trabalhadores e satisfazer ao povo mesmo nas circunstâncias mais adversas é necessário que a grande maioria 452 permaneça tão ignorante quanto pobre O conhecimento expande e multiplica nossos desejos e quanto menos um homem deseja tanto mais facilmente se podem satisfazer suas necessidades72 O que Mandeville homem honesto e cérebro lúcido ainda não compreende é que o próprio mecanismo do processo de acumulação aumenta juntamente com o capital a massa dos pobres laboriosos isto é dos assalariados que convertem sua força de trabalho em crescente força de valorização do capital crescente e justamente por isso têm de perpetuar sua relação de dependência para com seu próprio produto personificado no capitalista Sobre essa relação de dependência observa sir F M Eden em seu A situação dos pobres ou História da classe trabalhadora na Inglaterra Nossa zona exige trabalho para a satisfação das necessidades e por isso é necessário que ao menos uma parte da sociedade trabalhe sem trégua Há alguns que não trabalham e no entanto têm à sua disposição os produtos do esforço Mas isso tais proprietários têm a agradecer somente à civilização e à ordem eles não passam de criaturas das instituições burguesas73 Pois estas reconheceram que também é possível que nos apropriemos dos frutos do trabalho de outro modo que por meio do trabalho Pessoas dotadas de fortuna independente devem sua fortuna quase inteiramente ao trabalho de outrem e não à sua própria habilidade que de modo algum é superior à dos outros o que distingue os ricos dos pobres não é a propriedade de terras e o dinheiro mas o comando sobre o trabalho the command of labour Ao pobre convém não uma situação abjeta ou servil mas um estado de dependência tranquila e liberal a state of easy and liberal dependence e aos proprietários convêm ter influência e autoridade suficiente sobre aqueles que trabalham para eles Tal estado de dependência como o sabe todo aquele que conhece a natureza humana é necessário para o conforto do próprio trabalhador74 b Sir F M Eden digase de passagem é o único discípulo de Adam Smith que no século XVIII realizou algo significativo75 Sob as condições de acumulação até aqui supostas como as mais favoráveis aos trabalhadores a relação de subordinação destes ao capital aparece sob formas toleráveis ou como diz Eden tranquilas e liberais Ao invés de se tornar mais intensa com o crescimento do capital essa relação de dependência tornase apenas mais extensa quer dizer a esfera de exploração e dominação do capital não faz mais do que ampliarse juntamente com as próprias dimensões desse capital e com o número de seus súditos Do próprio maisproduto crescente desses súditos crescentemente transformado em capital adicional reflui para eles uma parcela maior sob a forma de meios de pagamento de modo que podem ampliar o âmbito de seus desfrutes guarnecer melhor seu fundo de consumo de vestuário mobília etc e formar um pequeno fundo de reserva em dinheiro Mas assim como a melhoria de vestuário alimentação tratamento e um pecúlio maior não suprimem a relação de dependência e a exploração do escravo tampouco suprimem as do assalariado O aumento do preço do trabalho que decorre da acumulação do capital significa apenas que na realidade o tamanho e o peso dos grilhões de ouro que o trabalhador forjou para si mesmo permitem tornálas menos constringentes Nas controvérsias sobre essa questão deixouse geralmente de ver o principal a saber a differentia specifica diferença específica da produção capitalista A força de trabalho é comprada aqui não para satisfazer mediante seu serviço ou produto às necessidades pessoais do comprador O objetivo perseguido por este último é a valorização de seu capital a produção de mercadorias que contenham mais trabalho do que o que ele paga ou seja que contenham uma parcela de valor que nada custa ao comprador e que ainda assim realizase mediante a venda de mercadorias A produção de maisvalor ou criação de excedente é a lei absoluta desse modo de produção A força de trabalho só é vendável 453 na medida em que conserva os meios de produção como capital reproduz seu próprio valor como capital e fornece uma fonte de capital adicional em trabalho não pago76 Portanto as condições de sua venda sejam elas favoráveis ao trabalhador em maior ou menor medida incluem a necessidade de sua contínua revenda e a constante reprodução ampliada da riqueza como capital O salário como vimos condiciona sempre por sua natureza o fornecimento de determinada quantidade de trabalho não pago por parte do trabalhador Abstraindo totalmente da elevação do salário acompanhada de uma baixa do preço do trabalho etc o aumento dos salários denota no melhor dos casos apenas a diminuição quantitativa do trabalho não pago que o trabalhador tem de executar Tal diminuição jamais pode alcançar o ponto em que ameace o próprio sistema Sem levar em conta os conflitos violentos em torno da taxa do salário e Adam Smith já demonstrou que em tal conflito de modo geral o patrão sempre permanece patrão uma elevação do preço do trabalho derivada da acumulação do capital pressupõe a seguinte alternativa Ou o preço do trabalho continua a subir porque seu aumento não perturba o progresso da acumulação e nisso não há nada de surpreendente pois como diz A Smith mesmo se os lucros diminuem os capitais continuam a aumentar e até crescem com mais rapidez do que antes Um grande capital ainda que os lucros sejam menores cresce geralmente mais rapidamente do que um capital pequeno cujo lucro seja grande ibidem p 189 É evidente nesse caso que uma redução do trabalho não pago não prejudica de modo nenhum a ampliação do domínio exercido pelo capital Ou então e este é o outro termo da alternativa a acumulação se afrouxa graças ao preço crescente do trabalho que embota o acicate do lucro A acumulação decresce porém ao decrescer desaparece a causa de seu decréscimo a saber a desproporção entre capital e força de trabalho explorável O próprio mecanismo do processo de produção capitalista remove assim os empecilhos que ele cria transitoriamente O preço do trabalho cai novamente para um nível compatível com as necessidades de valorização do capital seja esse nível inferior superior ou igual ao que se considerava normal antes do advento do aumento salarial Vemos que no primeiro caso não é a diminuição no crescimento absoluto ou proporcional da força de trabalho ou da população operária que torna excessivo o capital mas por outro lado é o aumento do capital que torna insuficiente a força de trabalho explorável No segundo caso não é o aumento no crescimento absoluto ou proporcional da força de trabalho ou da população trabalhadora que torna insuficiente o capital mas ao contrário é a diminuição do capital que torna excessiva a força de trabalho explorável ou antes seu preço São esses movimentos absolutos na acumulação do capital que se refletem como movimentos relativos na massa da força de trabalho explorável e por isso parecem obedecer ao movimento próprio desta última Para empregar uma expressão matemática a grandeza da acumulação é a variável independente a grandeza do salário a variável dependente e não o contrário Assim por exemplo na fase de crise do ciclo industrial a baixa geral dos preços das mercadorias se expressa como aumento do valor relativo do dinheiro ao passo que na fase de prosperidade a alta geral dos preços das mercadorias se expressa como queda do valor relativo do dinheiro A partir desse fato a assim chamada Escola Monetáriac conclui que com 454 preços altos circula dinheiro de menos e com preços baixos dinheiro demaisd Sua ignorância e total desconhecimento dos fatos77 encontram um paralelo à altura nos economistas que interpretam esses fenômenos da acumulação dizendo que num caso há assalariados demais e noutro de menos A lei da produção capitalista que subjaz à pretensa lei natural da população resulta simplesmente nisto a relação entre capital acumulação e taxa salarial não é nada mais que a relação entre o trabalho não pago transformado em capital e o trabalho adicional requerido para pôr em movimento o capital adicional Não se trata portanto de modo nenhum de uma relação de duas grandezas entre si independentes de um lado a grandeza do capital e de outro o tamanho da população trabalhadora mas antes em última instância da relação entre os trabalhos não pago e pago da mesma população trabalhadora Se a quantidade de trabalho não pago fornecida pela classe trabalhadora e acumulada pela classe capitalista cresce com rapidez suficiente de modo a permitir sua transformação em capital com apenas um acréscimo extraordinário de trabalho pago o salário aumenta e mantendose constante as demais circunstâncias o trabalho não pago diminui proporcionalmente Mas tão logo essa redução atinja o ponto em que o maistrabalho que alimenta o capital já não é mais oferecido na quantidade normal ocorre uma reação uma parte menor da renda é capitalizada a acumulação desacelera e o movimento ascensional do salário recebe um contragolpe O aumento do preço do trabalho é confinado portanto dentro dos limites que não só deixam intactos os fundamentos do sistema capitalista mas asseguram sua reprodução em escala cada vez maior Na realidade portanto a lei da acumulação capitalista mistificada numa lei da natureza expressa apenas que a natureza dessa acumulação exclui toda a diminuição no grau de exploração do trabalho ou toda elevação do preço do trabalho que possa ameaçar seriamente a reprodução constante da relação capitalista sua reprodução em escala sempre ampliada E não poderia ser diferente num modo de produção em que o trabalhador serve às necessidades de valorização de valores existentes em vez de a riqueza objetiva servir às necessidades de desenvolvimento do trabalhador Assim como na religião o homem é dominado pelo produto de sua própria cabeça na produção capitalista ele o é pelo produto de suas próprias mãos77a 2 Diminuição relativa da parte variável do capital à medida que avançam a acumulação e a concentração que a acompanha De acordo com os próprios economistas o que acarreta a alta dos salários não é o volume existente da riqueza social tampouco a grandeza do capital já adquirido mas apenas o crescimento contínuo da acumulação e a velocidade desse crescimento A Smith livro I capítulo 8 Consideramos até aqui apenas uma fase particular desse processo aquela em que o crescimento adicional de capital ocorre sem que varie a composição técnica deste último Mas o processo vai além dessa fase Uma vez dados os fundamentos gerais do sistema capitalista no curso da acumulação chegase sempre a um ponto em que o desenvolvimento da produtividade 455 do trabalho social se converte na mais poderosa alavanca da acumulação A mesma causa que eleva os salários diz A Smith ou seja o aumento do capital tende a incrementar as capacidades produtivas do trabalho e permite que uma quantidade menor de trabalho produza uma quantidade maior de produtose Abstraindo das condições naturais como fertilidade do solo etc e da destreza de produtores que trabalham independente e isoladamente que no entanto evidenciase mais qualitativa do que quantitativamente mais na excelência do produto do que em sua massa o grau social de produtividade do trabalho se expressa no volume relativo dos meios de produção que um trabalhador transforma em produto durante um tempo dado com a mesma tensão da força de trabalho A massa dos meios de produção com que ele opera aumenta com a produtividade de seu trabalho Esses meios de produção desempenham nisso um duplo papel O crescimento de uns é consequência o de outros é condição da produtividade crescente do trabalho Por exemplo com a divisão manufatureira do trabalho e o emprego da maquinaria mais matériaprima é processada no mesmo espaço de tempo e portanto uma massa maior de matériaprima e de matérias auxiliares ingressa no processo de trabalho Essa é a consequência da produtividade crescente do trabalho Por outro lado a massa da maquinaria empregada dos animais de trabalho do adubo mineral das tubulações de drenagem etc é condição da produtividade crescente do trabalho Também o é a massa dos meios de produção concentrados em prédios altosfornos meios de transporte etc Seja ele condição ou consequência o volume crescente dos meios de produção em comparação com a força de trabalho neles incorporada expressa a produtividade crescente do trabalho O aumento desta última aparece portanto na diminuição da massa de trabalho proporcionalmente à massa de meios de produção que ela movimenta ou na diminuição do fator subjetivo do processo de trabalho em comparação com seus fatores objetivos Essa alteração na composição técnica do capital o aumento da massa dos meios de produção comparada à massa da força de trabalho que a põe em atividade refletese na composição de valor do capital no aumento do componente constante do valor do capital à custa de seu componente variável Se de um dado capital por exemplo calculandose percentualmente investiase originalmente 50 em meios de produção e 50 em força de trabalho posteriormente com o desenvolvimento do grau de produtividade do trabalho investemse 80 em meios de produção e 20 em força de trabalho etc Essa lei do aumento crescente da parte constante do capital em relação à sua parte variável é corroborada a cada passo como já exposto pela análise comparativa dos preços das mercadorias comparandose diferentes épocas econômicas de uma única nação ou nações diferentes numa mesma época Enquanto a grandeza relativa do elemento do preço que representa apenas o valor dos meios de produção consumidos ou seja a parte constante do capital estará na razão direta a grandeza relativa do outro elemento do preço que representa a parte que paga o trabalho ou a parte variável do capital estará na razão inversa do progresso da acumulação No entanto a diminuição da parte variável do capital em relação à parte constante ou a composição modificada do valor do capital indica apenas aproximadamente a 456 mudança na composição de seus componentes materiais Se hoje por exemplo 78 do valor do capital investido na fiação é constante e 18 variável ao passo que no começo do século XVI I I essa proporção era de 12 constante e 12 variável isso significa que ao contrário a massa de matériaprima meios de trabalho etc hoje consumida por uma determinada quantidade de trabalho é muitas centenas de vezes maior do que no começo do século XVI I I A razão disso é simplesmente que com a crescente produtividade do trabalho não apenas aumenta o volume dos meios de produção por ele utilizados mas o valor deles diminui em comparação com seu volume Seu valor aumenta portanto de modo absoluto mas não proporcionalmente a seu volume O aumento da diferença entre capital constante e capital variável é por conseguinte muito menor do que o da diferença entre a massa dos meios de produção e a massa da força de trabalho em que são convertidos respectivamente o capital constante e o variável A primeira diferença aumenta com a última mas em grau menor Além disso ainda que o progresso da acumulação diminua a grandeza relativa da parte variável do capital ele não exclui de modo algum com isso o aumento de sua grandeza absoluta Suponha que o valor de um capital se decomponha inicialmente em 50 de capital constante e 50 de variável e posteriormente em 80 de capital constante e 20 de variável Se nesse ínterim o capital original digamos 6 mil aumentou para 18 mil seu componente variável também terá aumentado 15 De suas 3 mil anteriores ela chega agora a 3600 Mas se antes teria bastado um crescimento de 20 de capital para aumentar a demanda de trabalho em 20 agora isso requer a triplicação do capital original Na seção I V mostramos como o desenvolvimento da força produtiva social do trabalho pressupõe a cooperação em larga escala e como apenas partindo desse pressuposto se podem organizar a divisão e a combinação do trabalho poupar meios de produção mediante sua concentração massiva criar materialmente meios de trabalho utilizáveis apenas coletivamente como o sistema de maquinaria etc pôr a serviço da produção forças colossais da natureza e consumar a transformação do processo de produção na aplicação tecnológica da ciência Sobre o fundamento da produção de mercadorias na qual os meios de produção são propriedade privada de indivíduos e o trabalhador manual por conseguinte ou produz mercadorias de maneira isolada e autônoma ou vende sua força de trabalho como mercadoria porque lhe faltam os meios para produzir por sua própria conta aquele pressuposto só se realiza mediante o aumento dos capitais individuais ou na medida em que os meios sociais de produção e subsistência se transformam em propriedade privada de capitalistas O solo da produção de mercadorias só tolera a produção em larga escala na forma capitalista Certa acumulação de capital nas mãos de produtores individuais de mercadorias constitui por isso o pressuposto do modo específico de produção capitalista razão pela qual tivemos de pressupôla na passagem do artesanato para a produção capitalista Podemos chamála de acumulação primitiva pois em vez de resultado ela é o fundamento histórico da produção especificamente capitalista De que modo ela surge é algo que ainda não precisamos examinar aqui Basta dizer que ela constitui o ponto de partida Devemos assinalar no entanto que todos os métodos 457 para aumentar a força produtiva social do trabalho surgidos sobre esse fundamento são ao mesmo tempo métodos para aumentar a produção de maisvalor ou mais produto que por sua vez forma o elemento constitutivo da acumulação Portanto tais métodos servem ao mesmo tempo para produzir capital mediante capital ou para sua acumulação acelerada A contínua reconversão de maisvalor em capital apresentase como grandeza crescente do capital que entra no processo de produção Este se torna por sua vez o fundamento de uma escala ampliada da produção dos métodos nela empregados para o aumento da força produtiva do trabalho e a aceleração da produção de maisvalor Se portanto certo grau da acumulação do capital aparece como condição do modo de produção especificamente capitalista este último provoca em reação uma acumulação acelerada do capital Com a acumulação do capital desenvolvese assim o modo de produção especificamente capitalista e com ele a acumulação do capital Esses dois fatores econômicos provocam de acordo com a conjugação dos estímulos que eles exercem um sobre o outro a mudança na composição técnica do capital o que faz com que a seu componente variável se torne cada vez menor em comparação ao componente constante Cada capital individual é uma concentração maior ou menor de meios de produção e dotada de comando correspondente sobre um exército maior ou menor de trabalhadores Cada acumulação se torna meio de uma nova acumulação J untamente com a massa multiplicada da riqueza que funciona como capital ela amplia sua concentração nas mãos de capitalistas individuais e portanto a base da produção em larga escala e dos métodos de produção especificamente capitalistas O crescimento do capital social se consuma no crescimento de muitos capitais individuais Pressupondo se inalteradas as demais circunstâncias crescem os capitais individuais e com eles a concentração dos meios de produção na proporção em que constituem partes alíquotas do capital social total Ao mesmo tempo partes dos capitais originais se descolam e passam a funcionar como novos capitais independentes Nisso desempenha um grande papel com outros fatores a divisão do patrimônio das famílias capitalistas Portanto com a acumulação do capital aumenta em maior ou menor proporção o número dos capitalistas Dois pontos caracterizam esse tipo de concentração que repousa diretamente sobre a acumulação ou antes é idêntica a ela Primeiro a concentração crescente dos meios sociais de produção nas mãos de capitalistas individuais é mantendose inalteradas as demais circunstâncias limitada pelo grau de crescimento da riqueza social Segundo a parte do capital social localizada em cada esfera particular da produção está repartida entre muitos capitalistas que se confrontam como produtores de mercadorias autônomos e mutuamente concorrentes Portanto a acumulação e a concentração que a acompanha estão não apenas fragmentadas em muitos pontos mas o crescimento dos capitais em funcionamento é atravessado pela formação de novos capitais e pela cisão de capitais antigos de maneira que se a acumulação se apresenta por um lado como concentração crescente dos meios de produção e do comando sobre o trabalho ela aparece por outro lado como repulsão mútua entre muitos capitais individuais Essa fragmentação do capital social total em muitos capitais individuais ou a repulsão mútua entre seus fragmentos é contraposta por sua atração Essa já não é a 458 concentração simples idêntica à acumulação de meios de produção e de comando sobre o trabalho É concentração de capitais já constituídos supressão Aufhebung de sua independência individual expropriação de capitalista por capitalista conversão de muitos capitais menores em poucos capitais maiores Esse processo se distingue do primeiro pelo fato de pressupor apenas a repartição alterada dos capitais já existentes e em funcionamento sem que portanto seu terreno de ação esteja limitado pelo crescimento absoluto da riqueza social ou pelos limites absolutos da acumulação Se aqui o capital cresce nas mãos de um homem até atingir grandes massas é porque acolá ele se perde nas mãos de muitos outros homens Tratase da centralização propriamente dita que se distingue da acumulação e da concentração As leis dessa centralização dos capitais ou da atração do capital pelo capital não podem ser desenvolvidas aqui Bastará uma breve indicação dos fatos A luta concorrencial é travada por meio do barateamento das mercadorias O baixo preço das mercadorias depende caeteris paribus da produtividade do trabalho mas esta por sua vez depende da escala da produção Os capitais maiores derrotam portanto os menores Recordemos ademais que com o desenvolvimento do modo de produção capitalista cresce o volume mínimo de capital individual requerido para conduzir um negócio sob condições normais Os capitais menores buscam por isso as esferas da produção das quais a grande indústria se apoderou apenas esporádica ou incompletamente A concorrência aflora ali na proporção direta da quantidade e na proporção inversa do tamanho dos capitais rivais Ela termina sempre com a ruína de muitos capitalistas menores cujos capitais em parte passam às mãos do vencedor em parte se perdem Abstraindo desse fato podemos dizer que com a produção capitalista constituise uma potência inteiramente nova o sistema de crédito que em seus primórdios insinuase sorrateiramente como modesto auxílio da acumulação e por meio de fios invisíveis conduz às mãos de capitalistas individuais e associados recursos monetários que se encontram dispersos pela superfície da sociedade em massas maiores ou menores mas logo se converte numa arma nova e temível na luta concorrencial e por fim num gigantesco mecanismo social para a centralização dos capitais Na mesma medida em que se desenvolvem a produção e a acumulação capitalistas desenvolvemse também a concorrência e o crédito as duas alavancas mais poderosas da centralização Paralelamente o progresso da acumulação aumenta o material centralizável isto é os capitais individuais ao mesmo tempo que a ampliação da produção capitalista cria aqui a necessidade social acolá os meios técnicos daqueles poderosos empreendimentos industriais cuja realização está vinculada a uma centralização prévia do capital Hoje portanto a força de atração mútua dos capitais individuais e a tendência à centralização são mais fortes do que qualquer época anterior Mas mesmo que a expansão relativa e a energia do movimento centralizador sejam determinadas até certo ponto pelo volume já alcançado pela riqueza capitalista e pela superioridade do mecanismo econômico de modo nenhum o progresso da centralização depende do crescimento positivo do volume do capital social E é especialmente isso que distingue a centralização da concentração que não é mais do que outra expressão para a reprodução em escala ampliada A centralização é possível 459 por meio da mera alteração na distribuição de capitais já existentes da simples modificação do agrupamento quantitativo dos componentes do capital social Se aqui o capital pode crescer nas mãos de um homem até formar massas grandiosas é porque acolá ele é retirado das mãos de muitos outros homens Num dado ramo de negócios a centralização teria alcançado seu limite último quando todos os capitais aí aplicados fossem fundidos num único capital individual77b Numa dada sociedade esse limite seria alcançado no instante em que o capital social total estivesse reunido nas mãos seja de um único capitalista seja de uma única sociedade de capitalistas A centralização complementa a obra da acumulação colocando os capitalistas industriais em condições de ampliar a escala de suas operações Se esse último resultado é uma consequência da acumulação ou da centralização se a centralização se dá pelo caminho violento da anexação quando certos capitais se convertem em centros de gravitação tão dominantes para outros que rompem a coesão individual destes últimos e atraem para si seus fragmentos isolados ou se a fusão ocorre a partir de uma multidão de capitais já formados ou em vias de formação mediante o simples procedimento da formação de sociedades por ações o efeito econômico permanece o mesmo A extensão aumentada de estabelecimentos industriais constitui por toda parte o ponto de partida para uma organização mais abrangente do trabalho coletivo para um desenvolvimento mais amplo de suas forças motrizes materiais isto é para a transformação progressiva de processos de produção isolados e fixados pelo costume em processos de produção socialmente combinados e cientificamente ordenados Mas é evidente que a acumulação o aumento gradual do capital por meio da reprodução que passa da forma circular para a espiral é um procedimento extremamente lento se comparado com a centralização que só precisa alterar o agrupamento quantitativo dos componentes do capital social O mundo ainda careceria de ferrovias se tivesse de ter esperado até que a acumulação possibilitasse a alguns capitais individuais a construção de uma estrada de ferro Mas a centralização por meio das sociedades por ações concluiu essas construções num piscar de olhos E enquanto reforça e acelera desse modo os efeitos da acumulação a centralização amplia e acelera ao mesmo tempo as revoluções na composição técnica do capital que aumentam a parte constante deste último à custa de sua parte variável reduzindo com isso a demanda relativa de trabalho As massas de capital fundidas entre si da noite para o dia por obra da centralização se reproduzem e multiplicam como as outras só que mais rapidamente convertendo se com isso em novas e poderosas alavancas da acumulação social Por isso quando se fala do progresso da acumulação social nisso se incluem hoje tacitamente os efeitos da centralização Os capitais adicionais formados no decorrer da acumulação normal ver capítulo 22 item 1 servem preferencialmente como veículos para a exploração de novos inventos e descobertas ou aperfeiçoamentos industriais em geral Com o tempo porém também o velho capital chega ao momento em que se renova da cabeça aos pés troca de pele e renasce na configuração técnica aperfeiçoada em que uma massa menor de trabalho basta para pôr em movimento uma massa maior de maquinaria e 460 matériasprimas Evidentemente o decréscimo absoluto da demanda de trabalho que decorre necessariamente daí tornase tanto maior quanto mais já estejam acumulados graças ao movimento centralizador os capitais submetidos a esse processo de renovação Por um lado o capital adicional formado no decorrer da acumulação atrai proporcionalmente a seu volume cada vez menos trabalhadores Por outro lado o velho capital reproduzido periodicamente numa nova composição repele cada vez mais trabalhadores que ele anteriormente ocupava 3 Produção progressiva de uma superpopulação relativa ou exército industrial de reserva A acumulação de capital que originalmente aparecia tão somente como sua ampliação quantitativa realizase como vimos numa contínua alteração qualitativa de sua composição num acréscimo constante de seu componente constante à custa de seu componente variável77c O modo de produção especificamente capitalista o desenvolvimento a ele correspondente da força produtiva do trabalho e a alteração que esse desenvolvimento ocasiona na composição orgânica do capital não apenas acompanham o ritmo do progresso da acumulação ou o crescimento da riqueza social Avançam com rapidez incomparavelmente maior porque a acumulação simples ou a ampliação absoluta do capital total é acompanhada pela centralização de seus elementos individuais e a revolução técnica do capital adicional é acompanhada pela revolução técnica do capital original Com o avanço da acumulação modificase portanto a proporção entre as partes constante e variável do capital se originalmente era de 11 agora ela passa a 21 31 41 51 71 etc de modo que à medida que cresce o capital em vez de 12 de seu valor total convertemse em força de trabalho progressivamente apenas 13 14 15 16 18 etc ao passo que se convertem em meios de produção 23 34 45 56 78 etc Como a demanda de trabalho não é determinada pelo volume do capital total mas por seu componente variável ela decresce progressivamente com o crescimento do capital total em vez de como pressupomos anteriormente crescer na mesma proporção dele Essa demanda diminui em relação à grandeza do capital total e em progressão acelerada com o crescimento dessa grandeza Ao aumentar o capital global também aumenta na verdade seu componente variável ou seja a força de trabalho nele incorporada porém em proporção cada vez menor Os períodos em que a acumulação atua como mera ampliação da produção sobre uma base técnica dada tornamse mais curtos Para absorver um número adicional de trabalhadores de uma dada grandeza ou mesmo por causa da metamorfose constante que o capital antigo sofre a fim de manter ocupados os trabalhadores já em funcionamento requerse não apenas uma acumulação acelerada do capital total em progressão crescente Essa acumulação e centralização crescentes por sua vez convertemse numa fonte de novas variações na composição do capital ou promovem a diminuição novamente acelerada de seu componente variável em comparação com o componente constante Por outro lado essa diminuição relativa de seu componente variável acelerada pelo crescimento do 461 capital total e numa proporção maior que o próprio crescimento deste último aparece inversamente como um aumento absoluto da população trabalhadora aumento que é sempre mais rápido do que o do capital variável ou dos meios que este possui para ocupar aquela A acumulação capitalista produz constantemente e na proporção de sua energia e seu volume uma população trabalhadora adicional relativamente excedente isto é excessiva para as necessidades médias de valorização do capital e portanto supérflua Se consideramos o capital social total ora o movimento de sua acumulação provoca uma variação periódica ora seus elementos se distribuem simultaneamente entre as diferentes esferas da produção Em algumas dessas esferas ocorre em decorrência da mera concentraçãof uma variação na composição do capital sem crescimento de sua grandeza absoluta em outras o crescimento absoluto do capital está vinculado ao decréscimo absoluto de seu componente variável ou da força de trabalho por ele absorvida em outras ora o capital continua a crescer sobre sua base técnica dada e atrai força de trabalho suplementar em proporção ao seu próprio crescimento ora ocorre uma mudança orgânica e seu componente variável se contrai em todas as esferas o crescimento da parte variável do capital e portanto do número de trabalhadores ocupados vinculase sempre a violentas flutuações e à produção transitória de uma superpopulação quer esta adote agora a forma mais notória da repulsão de trabalhadores já ocupados anteriormente quer a forma menos evidente mas não menos eficaz de uma absorção mais dificultosa da população trabalhadora suplementar mediante os canais habituais78 J untamente com a grandeza do capital social já em funcionamento e com o grau de seu crescimento com a ampliação da escala de produção e da massa dos trabalhadores postos em movimento com o desenvolvimento da força produtiva de seu trabalho com o fluxo mais amplo e mais pleno de todos os mananciais da riqueza ampliase também a escala em que uma maior atração dos trabalhadores pelo capital está vinculada a uma maior repulsão desses mesmos trabalhadores aumenta a velocidade das mudanças na composição orgânica do capital e em sua forma técnica e dilatase o âmbito das esferas da produção que são atingidas por essas mudanças ora simultânea ora alternadamente Assim com a acumulação do capital produzida por ela mesma a população trabalhadora produz em volume crescente os meios que a tornam relativamente supranumerária79 Essa lei de população é peculiar ao modo de produção capitalista tal como de fato cada modo de produção particular na história tem suas leis de população particulares historicamente válidas Uma lei abstrata de população só é válida para as planta e os animais e ainda assim apenas enquanto o ser humano não interfere historicamente nesses domínios Mas se uma população trabalhadora excedente é um produto necessário da acumulação ou do desenvolvimento da riqueza com base capitalista essa superpopulação se converte em contrapartida em alavanca da acumulação capitalista e até mesmo numa condição de existência do modo de produção capitalista Ela constitui um exército industrial de reserva disponível que pertence ao capital de maneira tão absoluta como se ele o tivesse criado por sua própria conta Ela fornece a suas necessidades variáveis de valorização o material humano sempre pronto para ser 462 explorado independentemente dos limites do verdadeiro aumento populacional Com a acumulação e o consequente desenvolvimento da força produtiva do trabalho aumenta a súbita força de expansão do capital e não só porque aumentam a elasticidade do capital em funcionamento e a riqueza absoluta da qual o capital não constitui mais do que uma parte elástica não só porque o crédito sob todo tipo de estímulos particulares e num abrir e fechar de olhos põe à disposição da produção como capital adicional uma parte extraordinária dessa riqueza mas porque as condições técnicas do próprio processo de produção a maquinaria os meios de transporte etc possibilitam em maior escala a transformação mais rápida de mais produto em meios de produção suplementares A massa da riqueza social superabundante e transformável em capital adicional graças ao progresso da acumulação precipitase freneticamente sobre os velhos ramos da produção cujo mercado se amplia repentinamente ou em ramos recémabertos como o das ferrovias etc cuja necessidade decorre do desenvolvimento dos ramos passados Em todos esses casos é preciso que grandes massas humanas estejam disponíveis para serem subitamente alocadas nos pontos decisivos sem que com isso ocorra uma quebra na escala de produção alcançada em outras esferas A superpopulação provê essas massas O curso vital característico da indústria moderna a forma de um ciclo decenal interrompido por oscilações menores de períodos de vitalidade média produção a todo vapor crise e estagnação repousa sobre a formação constante sobre a maior ou menor absorção e sobre a reconstituição do exército industrial de reserva ou superpopulação Por sua vez as oscilações do ciclo industrial conduzem ao recrutamento da superpopulação e com isso convertemse num dos mais enérgicos agentes de sua reprodução Esse currículo peculiar da indústria moderna que não se encontra em nenhuma época anterior da humanidade era também impossível na infância da produção capitalista A composição do capital só se modificava gradualmente e à sua acumulação correspondia no geral um crescimento proporcional da demanda de trabalho Tal crescimento tão lento quanto o progresso da acumulação do capital se comparado com o da época moderna chocavase com barreiras naturais da população trabalhadora explorável as quais só podiam ser removidas pelos meios violentos que mencionaremos mais tarde A expansão súbita e intermitente da escala de produção é o pressuposto de sua contração repentina esta última por sua vez provoca uma nova expansão a qual é impossível na ausência de material humano disponível isto é se o número dos trabalhadores não aumenta independentemente do crescimento absoluto da população Ela é criada pelo simples processo que libera constantemente parte dos trabalhadores por métodos que reduzem o número de trabalhadores ocupados em relação à produção aumentada Toda a forma de movimento da indústria moderna deriva portanto da transformação constante de uma parte da população trabalhadora em mão de obra desempregada ou semiempregada A superficialidade da economia política se mostra entre outras coisas no fato de ela converter a expansão e a contração do crédito que é o mero sintoma dos períodos de mudança do ciclo industrial em causa destes últimos Tão logo iniciam esse movimento de expansão e contração alternadas ocorre com a 463 produção exatamente o mesmo que com os corpos celestes os quais uma vez lançados em determinado movimento repetemno sempre Os efeitos por sua vez convertem se em causas e as variações de todo o processo que reproduz continuamente suas próprias condições assumem a forma da periodicidadeg Uma vez consolidada essa forma até mesmo a economia política compreende que produzir uma população excedente relativa isto é excedente em relação à necessidade média de valorização do capital é uma condição vital da indústria moderna Suponha diz H Merivale exprofessor de economia política em Oxford e posteriormente funcionário do Ministério das Colônias da Inglaterra que por ocasião de algumas dessas crises a nação realizasse um grande esforço para se livrar mediante a emigração de algumas centenas de milhares de trabalhadores supérfluos qual seria a consequência Que com o primeiro ressurgimento da demanda de trabalho haveria uma escassez Por célere que seja a reprodução dos homens ela precisa em todo caso do intervalo de uma geração para repor a perda de trabalhadores adultos Ora os lucros de nossos fabricantes dependem principalmente do poder de explorar o momento favorável de demanda mais intensa e com isso ressarcirse dos períodos de paralisia Esse poder só lhes é assegurado pelo comando sobre a maquinaria e o trabalho manual Eles têm de encontrar mão de obra disponível estar em condições de redobrar ou reduzir a intensidade de suas operações de acordo com a situação do mercado do contrário será absolutamente impossível manter a superioridade na encarniçada corrida da concorrência sobre a qual repousa a riqueza de seu país80 Até mesmo Malthus reconhece na superpopulação que ele a seu modo tacanho entende como consequência de um excessivo crescimento absoluto da população trabalhadora e não da conversão desta última em população relativamente supranumerária uma necessidade da indústria moderna Diz ele Hábitos prudenciais com relação ao casamento se observados em grau exagerado pela classe trabalhadora de um país que dependa principalmente da manufatura e do comércio poderia prejudicar esse país Conforme a natureza da população um acréscimo de trabalhadores não pode ser fornecido ao mercado em decorrência de uma demanda particular antes de decorridos 16 ou 18 anos e a conversão de renda em capital por meio da poupança pode ocorrer muito mais rapidamente um país está sempre exposto à possibilidade de que seu fundo de trabalho cresça mais rápido do que a população81 Depois de ter assim explicado a produção constante de uma superpopulação relativa de trabalhadores como uma necessidade da acumulação capitalista a economia política desempenhando o adequado papel de uma velha solteirona põe na boca do beau ideal belo ideal de seu capitalista as seguintes palavras dirigidas aos supérfluos postos na rua por sua própria criação de capital adicional Nós fabricantes fazemos por vós o que podemos multiplicando o capital de que necessitais para subsistir e a vós cabei fazer o restante ajustando vosso número aos meios de subsistência82 À produção capitalista não basta de modo algum a quantidade de força de trabalho disponível fornecida pelo crescimento natural da população Ela necessita para assegurar sua liberdade de ação de um exército industrial de reserva independente dessa barreira natural Até aqui foi pressuposto que o acréscimo ou decréscimo do capital variável corresponde exatamente ao acréscimo ou decréscimo do número de trabalhadores ocupados Exercendo o comando de um número igual ou até decrescente de trabalhadores o capital variável cresce no entanto se o trabalhador individual fornece mais trabalho e 464 com isso aumenta seu salário ainda que o preço do trabalho se mantenha igual ou caia só que num ritmo mais lento do que o do aumento da massa de trabalho O crescimento do capital variável tornase então o índice de mais trabalho mas não de mais trabalhadores ocupados Todo capitalista tem interesse absoluto em extrair uma determinada quantidade de trabalho de um número menor de trabalhadores em vez de extraílo por um preço igual ou até mesmo mais barato de um número maior de trabalhadores No último caso o dispêndio de capital constante aumenta na proporção da massa de trabalho posta em movimento no primeiro caso ele aumenta muito mais lentamente Quanto maior a escala da produção tanto mais decisivo é esse motivo Seu peso aumenta com a acumulação do capital Vimos que o desenvolvimento do modo de produção capitalista e da força produtiva do trabalho simultaneamente causa e efeito da acumulação capacita o capitalista a movimentar com o mesmo dispêndio de capital variável mais trabalho mediante uma maior exploração extensiva ou intensiva das forças de trabalho individuais Vimos além disso que ele com capital do mesmo valor compra mais forças de trabalho ao substituir progressivamente trabalhadores mais qualificados por menos qualificados maduros por imaturos masculinos por femininos ou adultos por adolescentes ou infantis Por um lado portanto com o avanço da acumulação um capital variável maior põe mais trabalho em movimento sem recrutar mais trabalhadores por outro um capital variável do mesmo tamanho põe mais trabalho em movimento com a mesma massa de força de trabalho e por fim mais forças de trabalho inferiores mediante a substituição de forças de trabalho superiores A produção de uma superpopulação relativa ou a liberação de trabalhadores avança com rapidez ainda maior do que a já acelerada com o progresso da acumulação revolução técnica do processo de produção e a correspondente redução proporcional da parte variável do capital em relação à parte constante Se os meios de produção crescendo em volume e eficiência tornamse meios de ocupação dos trabalhadores em menor grau essa mesma relação é novamente modificada pelo fato de que à medida que cresce a força produtiva do trabalho o capital eleva mais rapidamente sua oferta de trabalho do que sua demanda de trabalhadores O sobretrabalho da parte ocupada da classe trabalhadora engrossa as fileiras de sua reserva ao mesmo tempo que inversamente esta última exerce mediante sua concorrência uma pressão aumentada sobre a primeira forçandoa ao sobretrabalho e à submissão aos ditames do capital A condenação de uma parte da classe trabalhadora à ociosidade forçada em razão do sobretrabalho da outra parte e vice versa tornase um meio de enriquecimento do capitalista individual83 ao mesmo tempo que acelera a produção do exército industrial de reserva num grau correspondente ao progresso da acumulação social A importância desse fator na formação da superpopulação relativa o demonstra por exemplo o caso da I nglaterra Seus meios técnicos para economizar trabalho são colossais no entanto se amanhã o trabalho fosse reduzido de modo geral a uma medida racional e fosse graduado de acordo com as diferentes camadas da classe trabalhadora conforme a idade e o sexo a população trabalhadora existente seria absolutamente insuficiente para conduzir 465 adiante a produção nacional em sua escala atual A grande maioria dos trabalhadores atualmente improdutivos teria de ser transformada em produtivos Grosso modo os movimentos gerais do salário são regulados exclusivamente pela expansão e contração do exército industrial de reserva que se regem por sua vez pela alternância periódica do ciclo industrial Não se determinam portanto pelo movimento do número absoluto da população trabalhadora mas pela proporção variável em que a classe trabalhadora se divide em exército ativo e exército de reserva pelo aumento ou redução do tamanho relativo da superpopulação pelo grau em que ela é ora absorvida ora liberada De fato para a indústria moderna com seu ciclo decenal e suas fases periódicas que além disso no transcurso da acumulação são atravessadas por oscilações irregulares que se sucedem cada vez mais rapidamente seria uma bela lei a que regulasse a demanda e a oferta de trabalho não pela expansão e contração do capital ou seja por suas necessidades ocasionais de valorização de modo que o mercado pareça estar relativamente vazio quando o capital se amplia e novamente supersaturado quando se contrai mas ao contrário fizesse a dinâmica do capital depender do movimento absoluto do tamanho da população Este é porém o dogma econômico De acordo com ele o salário aumenta em consequência da acumulação do capital O incremento do salário estimula um aumento mais rápido da população trabalhadora aumento que prossegue até que o mercado de trabalho esteja supersaturado ou seja até que o capital se torne insuficiente em relação à oferta de trabalho O salário diminui e então temos o reverso da medalha A baixa salarial dizima pouco a pouco a população trabalhadora de modo que em relação a ela o capital se torna novamente superabundante ou como outros o explicam a baixa salarial e a correspondente exploração redobrada do trabalhador aceleram por sua vez a acumulação ao mesmo tempo que o salário baixo põe em xeque o crescimento da classe trabalhadora Reconstituise assim a relação em que a oferta de trabalho é mais baixa do que a demanda de trabalho o que provoca o aumento do salário e assim por diante Belo método de movimento este para a produção capitalista desenvolvida Mas muito antes que o aumento salarial pudesse motivar qualquer crescimento positivo da população efetivamente apta para o trabalho já estaria vencido o prazo em que a campanha industrial teria de ser conduzida e a batalha travada e decidida Entre 1849 e 1859 simultaneamente à queda dos preços dos cereais ocorreu nos distritos agrícolas ingleses um aumento salarial que na prática foi apenas nominal Em Wiltshire por exemplo o salário semanal aumentou de 7 para 8 xelins em Dorsetshire de 7 ou 8 para 9 xelins etc I sso foi uma consequência da evasão extraordinária da superpopulação agrícola causada pela demanda bélicah e pela expansão massiva das construções de ferrovias fábricas minas etc Quanto menor o salário tanto maior será a expressão percentual de qualquer elevação dele por mais insignificante que seja Se o salário semanal é por exemplo de 20 xelins e sobe para 22 ele se eleva em 10 se no entanto é de apenas 7 xelins e sobe para 9 ele se eleva em 2847 o que parece bastante considerável Seja como for os arrendatários gritaram de indignação e até o Economist84 de Londres tagarelou com absoluta seriedade sobre a general and substantial advance um avanço geral e substancial com relação a esses salários de fome O que fizeram então os arrendatários 466 Esperaram até que os trabalhadores rurais graças a essas remunerações esplêndidas tivessem se multiplicado tanto que seu salário teria novamente de cair tal como costuma ocorrer no cérebro do economista dogmático Eles introduziram mais maquinaria e num piscar de olhos os trabalhadores voltaram a ser supranumerários numa proporção suficiente até mesmo para os arrendatários Agora havia mais capital investido na agricultura do que antes e de forma mais produtiva Com isso a demanda de trabalho caiu não apenas de modo relativo mas absoluto Essa ficção econômica confunde as leis que regem o movimento geral do salário ou a relação entre a classe trabalhadora isto é a força de trabalho em seu conjunto e o capital total da sociedade com as leis que distribuem a população trabalhadora entre as esferas particulares da produção Se por exemplo em decorrência de uma conjuntura favorável a acumulação é especialmente intensa numa determinada esfera da produção fazendo com que os lucros sejam aí maiores do que os lucros médios e atraindo para ela o capital adicional então ocorre naturalmente um aumento da demanda de trabalho e do salário O salário mais alto atrai uma parte maior da população trabalhadora para a esfera favorecida até que ela esteja saturada de força de trabalho e o salário caia novamente para o nível médio anterior ou caso o afluxo tenha sido grande demais para um nível abaixo dele Nesse caso a imigração de trabalhadores para o ramo de atividades em questão não apenas é interrompida como dá até mesmo lugar à sua emigração Aqui o economista político crê vislumbrar onde e como com o incremento do salário ocorre um incremento absoluto de trabalhadores e com o incremento absoluto de trabalhadores uma redução do salário mas na verdade ele só enxerga a oscilação local do mercado de trabalho de uma esfera específica da produção nada mais do que fenômenos da distribuição da população trabalhadora nas diferentes esferas de investimento do capital conforme suas necessidades mutáveis Nos períodos de estagnação e prosperidade média o exército industrial de reserva pressiona o exército ativo de trabalhadores nos períodos de superprodução e paroxismo ele barra suas pretensões A superpopulação relativa é assim o pano de fundo sobre o qual se move a lei da oferta e da demanda de trabalho Ela reduz o campo de ação dessa lei a limites absolutamente condizentes com a avidez de exploração e a mania de dominação próprias do capital É oportuno aqui retornarmos a uma das proezas da apologética econômica Recordemos que quando a introdução de maquinaria nova ou a ampliação de maquinaria antiga faz com que uma parcela do capital variável seja transformada em capital constante o apologista econômico interpreta essa operação que vincula capital e por isso mesmo libera trabalhadores de modo invertido como se ela liberasse capital para o trabalhador Apenas agora podemos apreciar plenamente a impudência do apologista O que é liberado são não apenas os trabalhadores diretamente substituídos pela máquina mas também sua equipe de reserva e com a expansão habitual do negócio sobre sua velha base o contingente adicional regularmente absorvido Eles estão agora liberados e todo novo capital que deseje entrar em funcionamento pode dispor deles Atraia ele esses trabalhadores ou outros o efeito sobre a demanda geral de 467 trabalho será nulo sempre que esse capital for suficiente para livrar o mercado da mesma quantidade de trabalhadores que nele foi lançado pelas máquinas Se um número menor é empregado aumenta a quantidade dos supranumerários se emprega um número maior a demanda geral de trabalho aumenta apenas na medida em que os ocupados excedem os liberados Em todo caso o impulso que não fossem essas as circunstâncias os capitais adicionais em busca de aplicação teriam dado à demanda geral de trabalho neutralizase na medida em que os trabalhadores postos na rua pelas máquinas são suficientes I sso significa portanto que o mecanismo da produção capitalista vela para que o aumento absoluto de capital não seja acompanhado de um aumento correspondente da demanda geral de trabalho E a isso o apologista chama de uma compensação pela miséria sofrimentos e possível morte dos trabalhadores deslocados durante o período de transição que os expulsa para as fileiras do exército industrial de reserva A demanda de trabalho não é idêntica ao crescimento do capital e a oferta de trabalho não é idêntica ao crescimento da classe trabalhadora como se fossem duas potências independentes a se influenciar mutuamente Les dés sont pipés os dados estão viciados O capital age sobre os dois lados ao mesmo tempo Se por um lado sua acumulação aumenta a demanda de trabalho por outro sua liberação aumenta a oferta de trabalhadores ao mesmo tempo que a pressão dos desocupados obriga os ocupados a pôr mais trabalho em movimento fazendo com que até certo ponto a oferta de trabalho seja independente da oferta de trabalhadores O movimento da lei da demanda e oferta de trabalho completa sobre essa base o despotismo do capital Tão logo os trabalhadores desvendam portanto o mistério de como é possível que na mesma medida em que trabalham mais produzem mais riqueza alheia de como a força produtiva de seu trabalho pode aumentar ao mesmo tempo que sua função como meio de valorização do capital se torna cada vez mais precária para eles tão logo descobrem que o grau de intensidade da concorrência entre eles mesmos depende inteiramente da pressão exercida pela superpopulação relativa tão logo portanto procuram organizar mediante trades unions etc uma cooperação planificada entre empregados e os desempregados com o objetivo de eliminar ou amenizar as consequências ruinosas que aquela lei natural da produção capitalista acarreta para sua classe o capital e seu sicofanta o economista político clamam contra a violação da eterna e por assim dizer sagrada lei da oferta e demanda Toda solidariedade entre os ocupados e os desocupados perturba com efeito a ação livre daquela lei Por outro lado assim que nas colônias por exemplo surgem circunstâncias adversas que impedem a criação do exército industrial de reserva e com ele a dependência absoluta da classe trabalhadora em relação à classe capitalista o capital juntamente com seu Sancho Pança dos lugarescomuns rebelase contra a lei sagrada da oferta e demanda e tenta dominála por meios coercitivos 4 Diferentes formas de existência da superpopulação relativa A lei geral da acumulação capitalista A superpopulação relativa existe em todos os matizes possíveis Todo trabalhador a integra durante o tempo em que está parcial ou inteiramente desocupado Sem 468 levarmos em conta as grandes formas periodicamente recorrentes que a mudança de fases do ciclo industrial lhe imprime fazendo com que ela apareça ora de maneira aguda nas crises ora de maneira crônica nos períodos de negócios fracos a superpopulação relativa possui continuamente três formas flutuante latente e estagnada Nos centros da indústria moderna fábricas manufaturas fundições e minas etc os trabalhadores são ora repelidos ora atraídos novamente em maior volume de modo que em linhas gerais o número de trabalhadores ocupados aumenta ainda que sempre em proporção decrescente em relação à escala da produção A superpopulação existe aqui sob a forma flutuante Tanto nas fábricas propriamente ditas como em todas as grandes oficinas em que a maquinaria constitui um fator ou onde ao menos é aplicada a moderna divisão do trabalho requerse uma grande massa de trabalhadores masculinos que ainda se encontrem em idade juvenil Uma vez atingido esse ponto resta apenas um número muito reduzido que ainda pode ser empregado no mesmo ramo de atividade ao passo que a maioria é regularmente dispensada Essa maioria constitui um elemento da superpopulação flutuante que cresce com o tamanho da indústria Uma parte dela emigra e na realidade não faz mais do que seguir os passos do capital emigrante Uma das consequências é que a população feminina cresce mais rapidamente que a masculina teste testemunhao a I nglaterra Que o aumento natural da massa trabalhadora não satisfaça plenamente às necessidades de acumulação do capital e no entanto ao mesmo tempo as ultrapasse é uma contradição de seu próprio movimento Ele necessita de massas maiores de trabalhadores em idade juvenil e de massas menores de trabalhadores masculinos adultos A contradição não é mais flagrante do que a outra a de que haja reclamações quanto à falta de mão de obra ao mesmo tempo que muitos milhares estão na rua porque a divisão de trabalho os acorrenta a um determinado ramo da indústria85 Além disso o consumo da força de trabalho pelo capital é tão rápido que na maioria das vezes o trabalhador de idade mediana já está mais ou menos acabado Ou engrossa as fileiras dos supranumerários ou é empurrado de um escalão mais alto para um mais baixo É justamente entre os trabalhadores da grande indústria que nos deparamos com a duração mais curta de vida Dr Lee funcionário de saúde pública de Manchester comprovou que nessa cidade a duração média de vida na classe abastada é de 38 anos ao passo que na classe operária é de apenas 17 anos Em Liverpool é de 35 anos para a primeira e 15 para a segunda Disso se conclui portanto que a classe privilegiada tem uma expectativa de vida have a lease of life mais de duas vezes maior do que a de seus concidadãos menos favorecidos85a Nessas circunstâncias o crescimento absoluto dessa fração do proletariado requer uma forma que aumente o número de seus elementos ainda que estes se desgastem rapidamente É necessária portanto uma rápida renovação das gerações de trabalhadores Essa mesma lei não vale para as demais classes da população Tal necessidade é satisfeita por meio de casamentos precoces consequência necessária das condições em que vivem os trabalhadores da grande indústria e graças ao abono que a exploração dos filhos dos trabalhadores agrega à sua produção Assim que a produção capitalista se apodera da agricultura ou de acordo com o grau em que se tenha apoderado dela a demanda de população trabalhadora rural 469 decresce em termos absolutos na mesma proporção em que aumenta a acumulação do capital em funcionamento nessa esfera e isso sem que a repulsão desses trabalhadores seja complementada por uma maior atração como ocorre na indústria não agrícola Uma parte da população rural se encontra por isso continuamente em vias de se transferir para o proletariado urbano ou manufatureiro e à espreita de circunstâncias favoráveis a essa metamorfose Manufatureiro aqui no sentido de toda a indústria não agrícola86 Essa fonte da superpopulação relativa flui portanto continuamente mas seu fluxo constante para as cidades pressupõe a existência no próprio campo de uma contínua superpopulação latente cujo volume só se torna visível a partir do momento em que os canais de escoamento se abrem excepcionalmente em toda sua amplitude O trabalhador rural é por isso reduzido ao salário mínimo e está sempre com um pé no lodaçal do pauperismo A terceira categoria da superpopulação relativa a estagnada forma uma parte do exército ativo de trabalhadores mas com ocupação totalmente irregular Desse modo ela proporciona ao capital um depósito inesgotável de força de trabalho disponível Sua condição de vida cai abaixo do nível médio normal da classe trabalhadora e é precisamente isso que a torna uma base ampla para certos ramos de exploração do capital Suas características são o máximo de tempo de trabalho e o mínimo de salário J á nos deparamos com sua configuração principal sob a rubrica do trabalho domiciliar Ela recruta continuamente trabalhadores entre os supranumerários da grande indústria e da agricultura e especialmente também de ramos industriais decadentes em que a produção artesanal é superada pela manufatura e esta última pela indústria mecanizada Seu volume se amplia à medida que avança com o volume e a energia da acumulação a transformação dos trabalhadores em supranumerários Mas ela constitui ao mesmo tempo um elemento da classe trabalhadora que se reproduz e perpetua a si mesmo e participa no crescimento total dessa classe numa proporção maior do que os demais elementos De fato não só a massa dos nascimentos e óbitos mas também a grandeza absoluta das famílias está na razão inversa do nível do salário e portanto à massa dos meios de subsistência de que dispõem as diversas categorias de trabalhadores Essa lei da sociedade capitalista soaria absurda entre selvagens ou mesmo entre colonos civilizados Ela remete à reprodução em massa de espécies animais individualmente fracas e avidamente perseguidas87 O sedimento mais baixo da superpopulação relativa habita por fim a esfera do pauperismo Abstraindo dos vagabundos delinquentes prostitutas em suma do lumpemproletariado propriamente dito essa camada social é formada por três categorias Em primeiro lugar os aptos ao trabalho Basta observar superficialmente as estatísticas do pauperismo inglês para constatar que sua massa engrossa a cada crise e diminui a cada retomada dos negócios Em segundo lugar os órfãos e os filhos de indigentes Estes são candidatos ao exército industrial de reserva e em épocas de grande prosperidade como por exemplo em 1860 são rápida e massivamente alistados no exército ativo de trabalhadores Em terceiro lugar os degradados maltrapilhos incapacitados para o trabalho Tratase especialmente de indivíduos que sucumbem por sua imobilidade causada pela divisão do trabalho daqueles que ultrapassam a idade normal de um trabalhador e finalmente das vítimas da indústria 470 aleijados doentes viúvas etc cujo número aumenta com a maquinaria perigosa a mineração as fábricas químicas etc O pauperismo constitui o asilo para inválidos do exército trabalhador ativo e o peso morto do exército industrial de reserva Sua produção está incluída na produção da superpopulação relativa sua necessidade na necessidade dela e juntos eles formam uma condição de existência da produção capitalista e do desenvolvimento da riqueza O pauperismo pertence aos faux frais custos mortos da produção capitalista gastos cuja maior parte no entanto o capital sabe transferir de si mesmo para os ombros da classe trabalhadora e da pequena classe média Quanto maiores forem a riqueza social o capital em funcionamento o volume e o vigor de seu crescimento e portanto também a grandeza absoluta do proletariado e a força produtiva de seu trabalho tanto maior será o exército industrial de reserva A força de trabalho disponível se desenvolve pelas mesmas causas que a força expansiva do capital A grandeza proporcional do exército industrial de reserva acompanha pois o aumento das potências da riqueza Mas quanto maior for esse exército de reserva em relação ao exército ativo de trabalhadores tanto maior será a massa da superpopulação consolidada cuja miséria está na razão inversa do martírio de seu trabalho Por fim quanto maior forem as camadas lazarentas da classe trabalhadora e o exército industrial de reserva tanto maior será o pauperismo oficial Essa é a lei geral absoluta da acumulação capitalista Como todas as outras leis ela é modificada em sua aplicação por múltiplas circunstâncias cuja análise não cabe realizar aqui É compreensível a insensatez da sabedoria econômica que prega aos trabalhadores que ajustem seu número às necessidades de valorização do capital O mecanismo da produção e acumulação capitalistas ajusta constantemente esse número a essas necessidades de valorização A primeira palavra desse ajuste é a criação de uma superpopulação relativa ou exército industrial de reserva a última palavra a miséria de camadas cada vez maiores do exército ativo de trabalhadores e o peso morto do pauperismo A lei segundo a qual uma massa cada vez maior de meios de produção graças ao progresso da produtividade do trabalho social pode ser posta em movimento com um dispêndio progressivamente decrescente de força humana é expressa no terreno capitalista onde não é o trabalhador quem emprega os meios de trabalho mas estes o trabalhador da seguinte maneira quanto maior a força produtiva do trabalho tanto maior a pressão dos trabalhadores sobre seus meios de ocupação e tanto mais precária portanto a condição de existência do assalariado que consiste na venda da própria força com vistas ao aumento da riqueza alheia ou à autovalorização do capital Em sentido capitalista portanto o crescimento dos meios de produção e da produtividade do trabalho num ritmo mais acelerado do que o da população produtiva se expressa invertidamente no fato de que a população trabalhadora sempre cresce mais rapidamente do que a necessidade de valorização do capital Na seção I V ao analisarmos a produção do maisvalor relativo vimos que no interior do sistema capitalista todos os métodos para aumentar a força produtiva social do trabalho aplicamse à custa do trabalhador individual todos os meios para o desenvolvimento da produção se convertem em meios de dominação e exploração do 471 produtor mutilam o trabalhador fazendo dele um ser parcial degradamno à condição de um apêndice da máquina aniquilam o conteúdo de seu trabalho ao transformálo num suplício alienam ao trabalhador as potências espirituais do processo de trabalho na mesma medida em que a tal processo se incorpora a ciência como potência autônoma desfiguram as condições nas quais ele trabalha submetem no durante o processo de trabalho ao despotismo mais mesquinho e odioso transformam seu tempo de vida em tempo de trabalho arrastam sua mulher e seu filho sob a roda do carro de J agrenái do capital Mas todos os métodos de produção do maisvalor são ao mesmo tempo métodos de acumulação e toda expansão da acumulação se torna em contrapartida um meio para o desenvolvimento desses métodos Seguese portanto que à medida que o capital é acumulado a situação do trabalhador seja sua remuneração alta ou baixa tem de piorar Por último a lei que mantém a superpopulação relativa ou o exército industrial de reserva em constante equilíbrio com o volume e o vigor da acumulação prende o trabalhador ao capital mais firmemente do que as correntes de Hefesto prendiam Prometeu ao rochedo Ela ocasiona uma acumulação de miséria correspondente à acumulação de capital Portanto a acumulação de riqueza num polo é ao mesmo tempo a acumulação de miséria o suplício do trabalho a escravidão a ignorância a brutalização e a degradação moral no polo oposto isto é do lado da classe que produz seu próprio produto como capital Esse caráter antagônico da acumulação capitalista88 foi expresso de diferentes formas pelos economistas políticos embora eles o confundam com fenômenos em parte análogos sem dúvida porém essencialmente diferentes que ocorrem nos modos de produção précapitalistas O monge veneziano Ortes um dos grandes escritores econômicos do século XVI I I concebe o antagonismo da produção capitalista como uma lei natural e universal da riqueza social O bem e o mal econômicos numa nação sempre se mantêm em equilíbrio il bene ed il male economico in una nazione sempre allistessa misura a abundância dos bens para uns é sempre igual à falta desses bens para outros la copia dei beni in alcuni sempre eguale alla mancanza di essi in altri A grande riqueza de alguns é sempre acompanhada da absoluta privação do necessário para muitos outros A riqueza de uma nação corresponde à sua população e sua miséria corresponde à sua riqueza A laboriosidade de uns exige a ociosidade de outros Os pobres e os ociosos são um fruto necessário dos ricos e ativos etc89 Cerca de 10 anos depois de Ortes o ministro anglicano Townsend glorificava de modo absolutamente grosseiro a pobreza como condição necessária da riqueza A coação legal para trabalhar está acompanhada de muitos transtornos violência e gritaria ao mesmo tempo que a fome não só constitui uma pressão mais pacífica silenciosa e incessante como também é o motivo mais natural para a indústria e o trabalho provocando os esforços mais intensos O que importa pois é tornar a fome permanente entre os membros da classe trabalhadora e para isso serve segundo Townsend o princípio populacional particularmente ativo entre os pobres Parece ser uma lei natural que os pobres até certo ponto sejam imprevidentes improvident quer dizer tão imprevidentes que vêm ao mundo sem uma colher de ouro na boca de modo que sempre haja alguns that there may always be some para o desempenho das funções mais servis sórdidas e abjetas da comunidade Com isso aumentase em muito o fundo de felicidade humana the fund of human happiness os mais delicados the 472 Se o mundo veneziano encontrava no fado que perpetua a miséria a razão de ser da caridade cristã do celibato dos conventos e das fundações pias já o prebendado protestante vê nisso um pretexto para condenar as leis que concediam ao pobre o direito a uma minguada assistência pública Crescimento percentual anual da população da Inglaterra e do País de Gales em números decimais 18111821 1533 18211831 1446 18311841 1326 18411851 1216 18511861 1141 Examinemos agora por outro lado o crescimento da riqueza O ponto de referência mais seguro nos é oferecido aqui pelo movimento dos lucros das rendas das terras etc sujeitos ao imposto de renda Na I nglaterra o aumento dos lucros tributáveis sem incluir os arrendatários e algumas outras rubricas foi entre 1853 e 1864 de 5047 ou 458 na média anual94 o aumento da população no mesmo período foi de cerca de 12 O aumento das rendas tributáveis da terra inclusive casas ferrovias minas pesqueiras etc foi entre 1853 e 1864 de 38 ou seja de 3512 por ano e foi provocado principalmente pelas seguintes rubricas Excedente do rendimento anual de 1864 em relação a 185395 Aumento anual Casas Pedreiras Minas Fundições Pesqueiras Usinas de gás Ferrovias 3860 8476 6885 3992 5737 12602 8329 350 770 626 363 521 1145 757 Comparando os quadriênios entre 1853 a 1864 vemos que o grau de aumento dos rendimentos cresce continuamente Para os rendimentos provenientes dos lucros por exemplo ele é anualmente de 173 entre 1853 e 1857 274 entre 1857 e 1861 e 930 entre 1861 e 1864 A soma global dos rendimentos sujeitos ao imposto de renda no Reino Unido foi em 1856 307068898 em 1859 328127416 em 1862 351745241 em 1863 359142897 em 1864 362462279 em 1865 38553002096 A acumulação do capital veio acompanhada de sua concentração e centralização Embora inexistisse qualquer estatística agrícola oficial para a I nglaterra mas existia para a I rlanda ela foi fornecida voluntariamente por 10 condados Esses números mostraram que de 1851 a 1861 os arrendamentos abaixo de 100 acres diminuíram de 31583 para 26567 ou seja 5016 deles foram fundidos com arrendamentos maiores97 De 1815 a 1825 nenhuma fortuna mobiliária acima de 1 milhão caiu na malha do imposto sobre heranças já entre 1825 e 1855 no entanto houve 8 ocorrências e entre 1855 e junho de 1859 isto é em 4 anos e meio 4 ocorrências98 A centralização pode ser mais bem percebida no entanto com uma breve análise do imposto de renda para a rubrica D lucros excluindo arrendatários etc nos anos de 1864 e 1865 Cabe 474 observar de antemão que rendimentos oriundos dessa fonte pagam income tax imposto de renda a partir de 60 Na I nglaterra País de Gales e Escócia esses rendimentos tributáveis atingiam em 1864 95844222 e em 1865 10543578799 sendo o número dos tributados em 1864 de 308416 pessoas numa população total de 23891009 e em 1865 de 332431 pessoas numa população total de 24127003 A tabela a seguir mostra a repartição dos rendimentos nesses dois anos Ano terminando em 5 de abril de 1864 Ano terminando em 5 de abril de 1865 Rendimento por lucro Pessoas Rendimento por lucro Pessoas Rendimento total do qual do qual do qual do qual 95844222 57028290 36415225 22809781 8744762 308416 22334 3619 822 91 105435787 64554297 42535576 27555313 11077238 332431 24075 4021 973 107 No Reino Unido foram produzidas em 1855 61453079 toneladas de carvão no valor de 16113267 em 1864 92787873 toneladas no valor de 23197968 em 1855 3218154 toneladas de ferro gusa no valor de 8045385 em 1864 4767951 toneladas no valor de 11919877 Em 1854 a extensão das ferrovias em funcionamento no Reino Unido atingia 8054 milhas com capital realizado de 286068794 em 1864 a extensão chegava a 12789 milhas com capital realizado de 425719613 Em 1854 o total das exportações e importações do Reino Unido atingia 268210145 em 1865 489923285 A seguinte tabela mostra o movimento da exportação 1847 58842377 1849 63596052 1856 115826948 1860 135842817 1865 165862402 1866 188917563100 Com base nesses poucos dados compreendese o brado triunfal do diretor do Registro Civil britânico por mais rápido que a população tenha crescido ela não acompanhou o ritmo do progresso da indústria e da riqueza101 Voltemonos agora para os agentes imediatos dessa indústria ou seja os produtores dessa riqueza a classe operária Uma das características mais melancólicas da situação social do país diz Gladstone é que a diminuição da capacidade de consumo do povo e o aumento das privações e da miséria da classe trabalhadora é acompanhada ao mesmo tempo de uma acumulação constante de riqueza nas classes superiores e de um crescimento constante de capital102 Assim falou esse untuoso ministro na Câmara dos Comuns a 13 de fevereiro de 1843 A 16 de abril de 1863 20 anos mais tarde ele proferiu as seguintes palavras no 475 O progresso da riqueza social diz Storch gera aquela classe útil da sociedade que exerce as ocupações mais fastidiosas abjetas e repugnantes numa palavra a classe que carrega sobre os ombros tudo aquilo que a vida tem de desagradável e servil e que precisamente por meio disso proporciona às demais classes o tempo a serenidade de espírito e a convencional cest bon isto é bom dignidade de caráter Não nego naturalmente que o salário monetário tenha se elevado com esse aumento do capital nos últimos decênios mas essa vantagem aparenta e não é nova pois muitas necessidades viárias encarecem constantemente ele disse que isso se devia à queda no valor dos mais pobres famílias mais saudáveis e em condições relativamente melhores O resultado geral foi que somente numa das classes de trabalhadores urbanos investigadas a ingestão média de nitrogênio superou um pouco a medida mínima absoluta abaixo da qual ocorrem doenças por causa da fome que em duas classes havia carência e numa delas uma enorme deficiência de nutrientes contendo nitrogênio e carbono que das famílias de trabalhadores agrícolas investigadas mais de 15 obtinha menos da quantidade indispensável de nutrientes contendo carbono e mais de 13 obtinha menos do que a quantidade indispensável de nutrientes contendo nitrogênio e que em três condados Berkshire Oxfordshire e Somersetshire prevalecia em média uma carência de um mínimo de nutrientes contendo nitrogênio109 Entre os trabalhadores agrícolas os mais malnutridos eram os da I nglaterra a região mais rica do Reino Unido110 A subnutrição entre os trabalhadores agrícolas atingia principalmente mulheres e crianças pois o homem precisa comer para efetuar seu trabalho Deficiência ainda maior grassava entre as categorias de trabalhadores urbanos investigadas Estão tão malnutridos que tem de ocorrer muitos casos de atroz privação nisso consiste a renúncia do capitalismo ou seja a renúncia ao pagamento dos meios de subsistência indispensáveis para a mera vegetação de sua mão de obra prejudicial à saúde111 A tabela a seguir compara a situação nutricional das categorias de trabalhadores puramente citadinos supramencionados com a medida mínima adotada pelo dr Smith e com a alimentação dos trabalhadores algodoeiros durante a época de sua maior penúria Ambos os sexos Média semanal de carbono grãos Média semanal de nitrogênio grãos Cinco ramos da indústria urbana 28876 1192 Trabalhadores fabris desempregados de Lancashire 29211 1295 Quantidade mínima proposta para os trabalhadores de Lancashire para uma quantidade igual de homens e mulheres 28600 1330112 Aproximadamente metade isto é 60125 das categorias de trabalhadores industriais investigadas não consumia absolutamente cerveja 28 não consumia leite A média semanal dos alimentos líquidos nas famílias variava de 7 onças entre as costureiras até 2434 onças entre os tecelões de meias A maioria dos trabalhadores que jamais consumiam leite era formada pelas costureiras de Londres A quantidade de pão consumida semanalmente variava de 734 libras entre as costureiras até 1114 libras entre os sapateiros num total de 99 libras semanais por adulto O açúcar melaço etc variava de 4 onças semanais entre os luveiros em couro até 11 onças entre os tecelões de meias a média semanal para todas as categorias era de 8 onças por adulto A média semanal de manteiga gordura etc por adulto era de 5 onças A média semanal de carne toucinho etc por adulto oscilava de 7¼ onças entre os tecelões de seda até 1814 onças entre os luveiros em couro a média total para todas as categorias era de 136 onças O custo semanal da alimentação por adulto apresentava os seguintes números médios gerais tecelões de seda 2 xelins e 212 pence costureiras 2 xelins e 7 pence 478 luveiros em couro 2 xelins e 9½ pence sapateiros 2 xelins e 734 pence tecelões de meias 2 xelins e 614 pence Entre os tecelões de seda de Macclesfield a média semanal era de apenas de 1 xelim e 812 pence As categorias mais malnutridas eram as costureiras os tecelões de seda e os luveiros em couro113 Em seu relatório geral sobre a saúde pública diz o dr Simon a respeito dessa situação alimentar Todo aquele que esteja familiarizado com a assistência médica a indigentes ou a pacientes de hospitais sejam eles internados ou pacientes externos confirmará que são inúmeros os casos em que a deficiência nutricional causa ou agrava doenças No entanto aqui se acrescenta do ponto de vista sanitário outra circunstância decisiva É preciso lembrar que a privação de alimentos só é tolerada com a maior relutância e que em regra geral uma dieta muito pobre só se apresenta quando precedida por outras privações Muito antes que a insuficiência nutricional gravite no plano sanitário muito antes que o fisiólogo pense em contar os grãos de nitrogênio e carbono entre os quais oscilam a vida ou a morte por inanição o lar já terá sido privado de todo conforto material O vestuário e o aquecimento escassearão ainda mais do que a comida Nenhuma proteção suficiente contra o rigor do inverno redução do espaço da habitação a um grau que gera doenças ou as agrava ausência quase absoluta de utensílios domésticos ou de móveis a própria limpeza terseá tornado cara ou difícil E se por um sentimento de dignidade pessoal ainda se tenta mantêla cada uma dessas tentativas representará novos suplícios de fome O lar será onde o teto for mais barato em bairros onde a polícia sanitária colhe os menores frutos onde o saneamento básico é mais deplorável a circulação é menor a imundície pública é maior o suprimento de água é o menor ou o pior em cidades onde há maior escassez de luz e de ar Tais são os perigos do ponto de vista sanitário a que a pobreza inevitavelmente está exposta quando essa pobreza inclui a deficiência nutricional Se a soma desses males constitui um perigo de terrível magnitude para a vida a mera carência nutricional já é em si algo espantoso São reflexões penosas estas especialmente quando se recorda que a pobreza que as motiva não é a merecida pobreza da indolência É a pobreza dos trabalhadores Sim no que diz respeito aos trabalhadores urbanos o trabalho mediante o qual se compra o escasso bocado de alimento é na maioria das vezes prolongado além de toda medida E no entanto apenas em sentido muito restrito se pode dizer que esse trabalho é suficiente para o autossustento do trabalhador Em escala muito ampla esse autossustento nominal não pode ser mais do que um atalho mais ou menos longo em direção ao pauperismo114 O nexo interno entre o tormento da fome que atinge as camadas operárias mais laboriosas e o consumo perdulário grosseiro ou refinado dos ricos baseado na acumulação capitalista só se desvela com o conhecimento das leis econômicas O mesmo não ocorre com as condições habitacionais Qualquer observador imparcial pode perceber que quanto mais massiva a concentração dos meios de produção tanto maior é a consequente aglomeração de trabalhadores no mesmo espaço que portanto quanto mais rápida a acumulação capitalista tanto mais miseráveis são para os trabalhadores as condições habitacionais É evidente que as melhorias improvements das cidades que acompanham o progresso da riqueza e são realizadas mediante a demolição de bairros mal construídos a construção de palácios para bancos grandes casas comerciais etc a ampliação de avenidas para o tráfego comercial e carruagens de luxo a introdução de linhas de bondes urbanos etc expulsam os pobres para refúgios cada vez piores e mais superlotados Por outro lado qualquer um sabe que o alto preço das moradias está na razão inversa de sua qualidade e que as minas da miséria são exploradas por especuladores imobiliários com lucros maiores e custos menores do que jamais o foram as de Potosí O caráter antagônico da acumulação capitalista e por conseguinte das relações capitalistas de propriedade em geral115 tornase aqui tão palpável que mesmo nos relatórios oficiais ingleses sobre esse assunto abundam invectivas bastante heterodoxas contra a propriedade e seus direitos Esse mal acompanhou de tal modo o desenvolvimento 479 da indústria a acumulação do capital o crescimento e embelezamento das cidades que o mero temor de doenças infecciosas cujo contágio não poupa as pessoas respeitáveis gerou de 1847 a 1864 a promulgação de não menos que 10 leis parlamentares de política sanitária e em algumas cidades como Liverpool Glasgow etc a aterrorizada burguesia foi levada a intervir na situação por meio de sua municipalidade Não obstante o dr Simon em seu relatório de 1865 exclama Para falar de modo geral as condições insalubres não estão sob controle na I nglaterra Em 1864 por ordem do Privy Council realizouse uma pesquisa sobre as condições de moradia entre os trabalhadores rurais e em 1865 sobre as das classes mais pobres nas cidades Os trabalhos magistrais do dr J ulian Hunter se encontram no sétimo e oitavo relatórios sobre public health Dos trabalhadores rurais tratarei mais tarde Quanto às condições habitacionais urbanas anteciparei uma observação geral do dr Simon Embora meu ponto de vista oficial diz ele seja exclusivamente médico o sentimento humanitário mais comum não me permite ignorar o outro lado desse mal Em seu mais alto grau ele provoca quase necessariamente uma tal negação de toda delicadeza uma confusão tão sórdida de corpos e funções corporais uma exposição tal de nudez sexual que mais do que humana é bestial Estar sujeito a essas influências é uma degradação que se torna mais profunda quanto mais perdura sua obra Para as crianças nascidas sob essa maldição ele é um batismo na infâmia baptism into infamy E mais do que tudo é inútil esperar que pessoas em tais circunstâncias se esforcem em outros aspectos por ascender àquela atmosfera da civilização que tem sua essência na pureza física e moral116 O primeiro lugar em habitações superlotadas ou mesmo absolutamente inadequadas como moradia humana é ocupado por Londres Dois pontos diz o dr Hunter estão claros o primeiro é que em Londres existem cerca de 20 grandes colônias cada uma composta de cerca de 10 mil pessoas cuja condição miserável que resulta quase inteiramente de suas más condições de moradia ultrapassa tudo que já se tenha sido visto em qualquer outro lugar da Inglaterra o segundo é que a superlotação e decadência das casas que formam essas colônias são muito piores que há 20 anos117 Não é exagerado dizer que em certas partes de Londres e Newcastle a vida é um inferno118 Também a parcela mais bem situada da classe trabalhadora londrina juntamente com pequenos comerciantes e outros elementos da pequena classe média cai cada vez mais sob a maldição dessas condições habitacionais indignas à medida que se realizam melhorias e com eles a demolição de ruas e casas antigas à medida que aumentam as fábricas e o afluxo humano para a metrópole e por fim à medida que aumentam os aluguéis com a renda fundiária urbana Os aluguéis se tornaram tão exorbitantes que poucos trabalhadores têm condições de pagar mais do que um quarto119 Em Londres não há praticamente nenhuma propriedade imobiliária que não esteja sobrecarregada por um semnúmero de middlemen intermediários O preço do solo em Londres é sempre altíssimo em comparação com o rendimento anual que ele gera pois todo comprador especula com a possibilidade de mais cedo ou mais tarde desfazerse da propriedade por um jury price taxa fixada por juramentados em caso de expropriação ou de obter um aumento extraordinário de valor graças à proximidade de algum grande empreendimento Consequência disso é um comércio regular baseado na compra de contratos de locação prestes a expirar Dos gentlemen que se dedicam a esse negócio só se pode esperar que atuem como atuam arrancando tudo o que podem dos inquilinos e deixando a casa nas piores 480 condições possíveis para seus sucessores120 Os aluguéis são semanais e os senhorios não correm nenhum risco Em decorrência da construção de estradas de ferro dentro da cidade avistouse recentemente na zona leste de Londres certo número de famílias expulsas de suas antigas moradias a vagar num sábado à noite carregando nas costas seus poucos bens terrenos sem outro paradeiro além da workhouse121 As workhouses já estão superlotadas e as melhorias já aprovadas pelo Parlamento estão apenas no começo de sua execução Se os trabalhadores são expulsos pela demolição de suas velhas casas eles não abandonam sua paróquia ou no melhor dos casos instalamse em seus limites ou na paróquia mais próxima Eles procuram naturalmente residir o mais próximo possível de seus locais de trabalho A consequência é que em vez de dois quartos a família pode alugar apenas um Mesmo com aluguel mais alto a nova moradia é pior do que aquela já ruim da qual foram desalojados Metade dos trabalhadores do Strand tem agora de viajar duas milhas até o local de trabalho Esse Strand cuja rua principal causa aos estrangeiros uma impressão imponente da riqueza de Londres pode servir de exemplo do empacotamento humano nessa cidade Numa das paróquias londrinas o vigilante sanitário contou 581 pessoas por acre embora nessa área estivesse incluída a metade do Tâmisa É evidente que toda medida sanitária que como tem ocorrido até o presente em Londres expulsa os trabalhadores de um bairro pela demolição de casas inabitáveis serve apenas para amontoálos ainda mais densamente em outro bairro Ou todo esse procedimento tem de ser necessariamente suspenso por se tratar de um absurdo diz o dr Hunter ou a simpatia pública tem de acordar para o que agora podemos chamar sem exagero de um dever nacional a saber o de arranjar teto para aqueles que por falta de capital não podem arranjálo por si mesmos mas que mediante pagamento periódico podem recompensar os locadores122 Admiremos a justiça capitalista O proprietário fundiário o dono de casas o homem de negócios quando expropriados em razão de improvements como ferrovias abertura de ruas etc recebem não apenas indenização total mas por sua renúncia forçada tem ainda ser consolados por Deus e pela J ustiça com um lucro considerável O trabalhador é jogado na rua com sua mulher filhos e haveres e caso acorra em massa para bairros onde a municipalidade zela pela decência é perseguido pela polícia sanitária Com exceção de Londres no início do século XI X nenhuma cidade na I nglaterra tinha mais de 100 mil habitantes Apenas cinco cidades tinham mais de 50 mil Hoje existem 28 cidades com mais de 50 mil habitantes O resultado dessa mudança foi não apenas um enorme acréscimo da população urbana mas a transformação das antigas cidadezinhas densamente povoadas em centros cercados de construções por todos os lados sem nenhum acesso livre de ar Como já não são agradáveis para os ricos estes as abandonam por subúrbios mais aprazíveis Os sucessores desses ricos ocupam as casas maiores à razão de uma família para cada aposento e frequentemente com sublocatários Desse modo uma população é comprimida em casas que não lhe estavam destinadas e para cuja finalidade são totalmente inadequadas num ambiente verdadeiramente degradante para os adultos e ruinoso para as crianças123 Quanto mais rapidamente se acumula o capital numa cidade industrial ou comercial tanto mais rápido é o afluxo do material humano explorável e tanto mais miseráveis são as moradias improvisadas dos trabalhadores NewcastleuponTyne 481 como centro de um distrito carbonífero e de mineração cuja produção é cada vez maior ocupa depois de Londres o segundo lugar no inferno da moradia Não menos de 34 mil pessoas vivem lá em moradias de um só cômodo Por serem absolutamente prejudiciais à comunidade a polícia recentemente ordenou a demolição de um grande número de casas em Newcastle e Gateshead O avanço da construção de novas casas é muito lento mas o dos negócios é muito rápido razão pela qual em 1865 a cidade estava mais superlotada do que nunca Praticamente não havia um único quarto para alugar O dr Embleton do hospital de Newcastle para o tratamento de febres afirma Não há dúvidas de que a causa da continuação e propagação do tifo reside no amontoamento de seres humanos e na falta de higiene em suas habitações As casas em que os trabalhadores frequentemente vivem situamse em becos e pátios estreitos Quanto a luz ar espaço e limpeza tais casas são verdadeiros modelos de insuficiência e insalubridade uma vergonha para qualquer país civilizado Nelas durante a noite homens mulheres e crianças deitam amontoados Quanto aos homens o turno da noite sucede ao turno do dia em fluxo ininterrupto de maneira que as camas quase não têm tempo de esfriar As casas são mal supridas de água e pior ainda de latrinas são imundas mal ventiladas pestilentas124 O aluguel semanal dessas bibocas varia de 8 pence a 3 xelins NewcastleuponTyne diz o dr Hunter oferece o exemplo de uma das mais belas linhagens de nossos compatriotas submergida numa degradação quase selvagem devido a circunstâncias externas de moradia e de rua125 Em razão do fluxo e refluxo de capital e trabalho as condições habitacionais de uma cidade industrial podem ser hoje suportáveis e amanhã tornarse abjetas Ou pode ocorrer que os conselheiros municipais se mobilizem finalmente para eliminar as irregularidades mais graves Mas eis que amanhã migra para ela um enxame de gafanhotos de irlandeses maltrapilhos ou de trabalhadores agrícolas ingleses degradados Eles são enfiados em porões e celeiros ou a casa do trabalhador antes respeitável é transformada num alojamento que muda tão rapidamente de inquilinos como as casernas durante a Guerra dos Trinta Anos por exemplo Bradford onde o filisteu estava ocupado precisamente com a reforma urbana Além disso em 1861 havia lá ainda 1751 casas desocupadas Mas eis que chega a época dos bons negócios recentemente cacarejada com tanta graça pelo sr Forster esse terno liberal e amigo dos negros Com os bons negócios também chega naturalmente a inundação provocada pelas ondas do sempre agitado exército de reserva ou superpopulação relativa As repugnantes moradias em porões e quartinhos registradas na lista126 que o dr Hunter obteve do agente de uma companhia de seguros eram habitadas na maioria das vezes por trabalhadores bem pagos Estes declararam que pagariam de bom grado por moradias melhores se elas estivessem disponíveis Enquanto isso degradavamse e adoeciam um após o outro ao mesmo tempo que o terno liberal Forster M P membro da Câmara dos Comuns jorrava lágrimas sobre as bênçãos do livrecâmbio e os lucros obtidos pelas eminentes cabeças de Bradford dedicadas à fabricação de worsted estame No relatório de 5 de setembro de 1865 dr Bell um dos médicos dos indigentes de Bradford explica a terrível mortalidade dos doentes de febre a partir de suas condições habitacionais Num porão de 1500 pés cúbicos moram 10 pessoas As ruas Vincent Green Air Place e The Leys abrigam 223 casas com 1450 habitantes 435 camas e 36 latrinas As camas e por esse termo entendo qualquer amontoado de trapos sujos ou um punhado de gravetos abrigam cada uma em média de 33 pessoas e muitas 482 delas de 4 a 6 Muitos dormem sem cama sobre o solo nu com suas roupas homens e mulheres jovens casados e solteiros todos promiscuamente misturados Será preciso acrescentar que essas habitações são em geral covas malcheirosas escuras úmidas sujas absolutamente inadequadas para a habitação humana São esses os focos de onde se irradiam a doença e a morte que também colhem suas vítimas entre as pessoas bem situadas of good circumstances que permitiram que esses carbúnculos pestilentos se espalhassem em nosso meio127 Depois de Londres Bristol ocupa o terceiro lugar em miséria habitacional Aqui numa das cidades mais ricas da Europa a maior abundância ao lado da mais pura pobreza blank poverty e miséria habitacional128 c A população nômade Voltamonos agora para uma camada da população de origem rural e cuja ocupação é em grande parte industrial Ela constitui a infantaria ligeira do capital que segundo suas próprias necessidades ora a manobra para este lado ora para aquele Quando não está em marcha ela acampa O trabalho nômade é empregado em diversas operações de construção e drenagem na fabricação de tijolos queima de cal construção de ferrovias etc Coluna ambulante da pestilência ela importa para os lugares em cujos arredores instala seu acampamento varíola tifo cólera escarlatina etc129 Em empreendimentos com aplicação considerável de capital como construção de ferrovias etc o próprio empresário costuma fornecer a seu exército choças de madeira ou materiais semelhantes vilarejos improvisados sem nenhuma instalação sanitária à margem do controle das autoridades locais e muito lucrativas para o sr contratista que explora duplamente os trabalhadores como soldados da indústria e como inquilinos Conforme a choça de madeira contenha 1 2 ou 3 buracos seu ocupante terraplenador etc tem de pagar 2 3 ou 4 xelins semanalmente130 Basta um exemplo Em setembro de 1864 relata o dr Simon o ministro do I nterior sir George Grey recebeu do presidente do Nuisance Removal Comittee Comitê para a Eliminação das Moléstias da paróquia de Sevenoaks a seguinte denúncia A varíola era completamente desconhecida nesta paróquia até cerca de 12 meses atrás Pouco antes dessa época iniciaramse aqui os trabalhos de construção de uma ferrovia de Lewisham a Tunbridge Além de as principais obras terem sido executadas na vizinhança imediata dessa cidade aqui também se instalou o depósito principal de toda a obra Desse modo um grande número de pessoas foi aqui empregado Sendo impossível acomodar todos em cottages o contratante sr Jay mandou erguer cabanas em diversos pontos ao longo da linha do trem para abrigo dos trabalhadores Essas cabanas careciam de ventilação e esgoto além de estarem necessariamente superlotadas pois cada inquilino tinha de acolher outros moradores por mais numerosa que fosse sua própria família e ainda que cada cabana tivesse somente dois quartos Conforme o relatório médico que recebemos a consequência era que durante a noite essa pobre gente tinha de suportar todos os tormentos da asfixia para evitar os vapores pestilentos da água suja e parada e das latrinas situadas logo abaixo das janelas Finalmente foram encaminhadas reclamações a nosso comitê por um médico que teve a oportunidade de visitar essas cabanas Ele falava da situação dessas assim chamadas moradias usando as expressões mais severas e temia consequências muito sérias caso algumas medidas sanitárias não fossem adotadas Há cerca de um ano ppn Jay se comprometeu a construir uma casa para a qual seus empregados pudessem ser imediatamente removidos no caso da irrupção de doenças contagiosas Ele reiterou essa promessa ao final de julho último mas nunca deu um único passo para seu cumprimento embora desde essa data tenham ocorrido diversos casos de varíola resultando em duas mortes Em 9 de setembro o médico Kelson relatoume outros casos de varíola nas mesmas cabanas e descreveu sua situação como terrível Para sua do ministro informação devo acrescentar que nossa paróquia possui uma casa isolada a assim chamada casa da peste onde são tratados os paroquianos que sofrem de doenças contagiosas Desde alguns meses essa casa se encontra continuamente superlotada de pacientes Numa família cinco crianças morreram de varíola e febre De 1º de abril a 1º de setembro deste ano houve não menos que 10 mortes por varíola quatro delas nas já referidas cabanas os focos da peste É impossível determinar o número de 483 Os trabalhadores nas minas de carvão e outras minas pertencem às categorias mais bem pagas do proletariado britânico A que preço eles compram seu salário já foi mostrado numa passagem anterior 132 Lançamos aqui um rápido olhar sobre suas condições habitacionais Em regra o explorador da mina seja seu proprietário ou arrendatário construiu uma série de cottages para seus operários Estes recebem gratuitamente tanto o casebre como o carvão para a calefação que constituem uma parte do salário pago in natura Os que não podem ser alojados dessa maneira recebem 4 anuais a título de compensação Os distritos mineiros atraem rapidamente uma grande população composta da própria população mineira e de artesãos comerciantes etc agrupados ao redor dela Como em todo lugar onde a população é densa a renda fundiária é aqui alta Por isso o empresário de minas procura erguer ao redor da mina ao espaço mais estreito possível tantos casebres quantos forem necessários para amontar seus operários e suas famílias Quando novas minas são abertas nos arredores ou velhas minas são reativadas aumenta a superlotação Na construção dos casebres vigoram apenas um critério a renúncia do capitalista a toda dispêndio de dinheiro que não seja absolutamente inevitável trabalhadores etc que o empreendimento atrai que ainda que ele tivesse a intenção de agir liberalmente nessa matéria ela seria frustrada pelo proprietário fundiário Este com efeito tenderia a exigir imediatamente uma renda adicional exorbitante em troca do privilégio de construir sobre a superfície do solo uma aldeia decente e confortável para abrigar os trabalhadores da propriedade subterrânea Esse preço proibitivo se não é proibição de fato atemoriza do mesmo modo outros que estariam dispostos a construir Não pretendo continuar a examinar o valor dessa desculpa tampouco investigar sobre quem recairia em última instância a despesa adicional para construir habitações decentes se sobre o proprietário fundiário o arrendatário da mina o trabalhador ou o público Mas em vista de fatos tão vergonhosos como os revelados nos relatórios anexos dos doutores Hunter Stevens etc é preciso que seja aplicado um remédio Títulos de propriedade da terra são usados desse modo para perpetrar uma grande injustiça pública Em sua qualidade de proprietário da mina o senhor da terra convida uma colônia industrial para trabalhar em seu domínio e em seguida em sua qualidade de proprietário da superfície da terra impossibilita aos trabalhadores por ele reunidos de encontrar habitações adequadas indispensáveis a suas vidas O arrendatário da mina o explorador capitalista não tem qualquer interesse do ponto de vista pecuniário em resistir a essa divisão do negócio pois ele sabe bem que ainda que as pretensões do proprietário sejam exorbitantes as consequências não recairão sobre ele sabe também que seus trabalhadores sobre os quais elas recaem não são suficientemente educados para conhecer seus direitos sanitários e que nem a mais obscena moradia nem a mais podre água de beber jamais serão motivo para provocar uma greve135 d Efeitos das crises sobre a parcela mais bem remunerada da classe trabalhadora Antes de passar aos trabalhadores agrícolas propriamente ditos é preciso mostrar mediante um exemplo como as crises afetam até mesmo a parcela mais bem remunerada da classe trabalhadora sua aristocracia Lembremos que o ano de 1857 trouxe consigo uma das grandes crises com que invariavelmente se encerra o ciclo industrial O prazo seguinte expirou em 1866 Antecipada já nos distritos fabris propriamente ditos pela escassez de algodão que deslocou muito capital das esferas habituais de investimento para as grandes sedes centrais do mercado monetário a crise assumiu nessa ocasião um caráter predominantemente financeiro Sua irrupção em maio de 1866 foi assinalada pela falência de um gigantesco banco londrino seguida imediatamente pela derrocada de inúmeras sociedades praticantes de fraudes financeiras Um dos grandes ramos de negócios londrinos afetado pela catástrofe foi o da construção de navios de ferro Durante o período das fraudes financeiras os magnatas desse negócio haviam não só produzido em demasia mas além disso assumido enormes contratos de fornecimento especulando que a fonte de crédito continuaria a jorrar com a mesma abundância de antes Deuse recentemente uma terrível reação que ainda no momento atual final de março de 1867 continua a afetar outras indústrias londrinas136 Para caracterizar a situação dos trabalhadores reproduzimos a seguir uma passagem extraída de um detalhado relatório de um correspondente do Morning Star que no começo de 1867 visitou os principais centros da calamidade No leste de Londres nos distritos de Poplar Millwall Greenwich Deptford Limehouse e Canning Town encontramse ao menos 15 mil trabalhadores com suas famílias numa situação de extrema miséria entre eles mais de 3 mil mecânicos qualificados Seus fundos de reserva estão esgotados após 6 a 8 meses de desemprego Tive de me esforçar muito para chegar ao portão da workhouse de Poplar pois uma multidão faminta o cercava Esperavam bônus para o pão mas ainda não chegara a hora da distribuição O pátio forma um grande quadrado com uma meiaágua ao largo dos muros Densos montes de neve cobriam o piso no meio do pátio Havia ali certos espaços pequenos fechados com cercas de vime como currais de ovelhas onde os homens trabalhavam quando o tempo estava bom No dia de minha visita os currais estavam tão cheios de neve que ninguém podia permanecer neles Os homens no entanto protegidos pela meiaágua ocupavamse com macadamizar paralelepípedos Cada 485 homem se sentava sobre uma grande pedra e batia com um pesado martelo contra o granito coberto de gelo até quebrar 5 bushels Então ele havia cumprido seu trabalho diário e recebia 3 pence 2 Silbergroschen 6 Pfennige e um bônus para o pão Em outra parte do pátio havia um raquítico casebre de madeira Ao abrir a porta encontramolo repleto de homens apinhados ombro a ombro para aquecerem uns aos outros Destrançavam maroma e disputavam entre si qual deles podia trabalhar mais tempo com um mínimo de comida pois resistência era o point dhonneur ponto de honra Apenas nessa workhouse recebiam sustento 7 mil homens dentre eles várias centenas que 6 ou 8 meses atrás ganhavam os maiores salários pagos a trabalhadores qualificados neste país Seu número seria o dobro se não houvesse tantos que mesmo depois de terem esgotado todas as suas economias ainda assim se recusavam a recorrer à paróquia enquanto dispunham de algo para empenhar Deixando a workhouse dei uma volta pelas ruas a maioria delas margeada por casas de um andar tão numerosas em Poplar Meu guia era um membro da Comissão para os Desempregados A primeira casa em que entramos era de um metalúrgico desempregado há 27 semanas Encontrei o homem com toda a família num quarto dos fundos sentados O quarto não estava inteiramente desprovido de mobília e havia fogo na lareira Isso era necessário para proteger do congelamento os pés descalços das crianças pois era um dia terrivelmente frio Num pratoo em frente ao fogo havia uma quantidade de estopa que a mulher e as crianças desfiavam em troca do pão da workhousep O homem trabalhava num dos pátios anteriormente descritos em troca de um bônus para o pãoq e 3 pence ao dia Ele acabara de retornar à casa para almoçar muito faminto como nos relatou com um sorriso amargo e seu almoço consistia em algumas fatias de pão com banha e uma xícara de chá sem leite A próxima porta em que batemos foi aberta por uma mulher de meiaidade que sem pronunciar uma só palavra conduziunos a um pequeno quarto dos fundos onde se sentava toda a sua família em silêncio com os olhos fixos num fogo mirrado prestes a se extinguir Era tal a desolação o desespero em torno dessas pessoas e seu quartinho que espero jamais voltar a ver uma cena como aquela Não ganharam nada meu senhor disse a mulher apontando para seus filhos por 26 semanas e todo nosso dinheiro se foi todo o dinheiro que eu e o pai economizamos nas épocas mais favoráveis na ilusão de garantir o sustento quando os negócios piorassem Veja gritou ela quase fora de si buscando uma caderneta bancária com todas as anotações regulares do dinheiro depositado e retirado de maneira que podíamos comprovar como seu pequeno patrimônio começara com o primeiro depósito de 5 xelins aumentara pouco a pouco até chegar a 20 e depois voltara a minguar passando de libras a xelins até que o último registro convertia a caderneta em algo tão sem valor quanto um pedaço de papel em branco Essa família recebia uma escassa refeição diária da workhouse Nossa visita seguinte foi à esposa de um irlandês exoperário nos estaleiros navais Encontramola doente por falta de alimentação deitada com suas roupas sobre um colchão mal coberta por um pedaço de tapete pois toda a roupa de cama fora penhorada As crianças miseráveis a cuidavam embora parecessem necessitar eles de cuidados maternos Dezenove semanas de inatividade forçada haviamna reduzido a esse estado e enquanto nos contava a história do amargo passado lamentavase como se tivesse perdido toda esperança num futuro melhor Ao sairmos dessa casa alcançounos um jovem que corria atrás de nós e pediunos que fossemos à sua casa para vermos se alguma coisa podia ser feita por ele Uma jovem esposa duas belas crianças um punhado de recibos de penhor e um quarto totalmente vazio era tudo o que tinha para mostrar Sobre os sofrimentos que se seguiram à crise de 1866 oferecemos aqui o seguinte extrato retirado de um jornal tory Não se pode esquecer que a parte leste de Londres da qual aqui se trata é a sede não só dos construtores de navios de ferro mencionados no texto mas também de um assim chamado trabalho domiciliar invariavelmente remunerado abaixo do mínimo Um espetáculo aterrador se deu ontem numa parte da metrópole Embora os milhares de desempregados da parte leste da cidade não tenham desfilado em massa com suas bandeiras negras a torrente humana foi assaz imponente Recordemos o que sofre essa população Ela morre de fome Esse é o fato simples e terrível Há 40 mil deles Em nossa presença num bairro desta metrópole maravilhosa imediatamente ao lado da mais enorme acumulação de riqueza que o mundo já viu há 40 mil pessoas desamparadas morrendo de fome Esses milhares irrompem agora em outros bairros esses homens que estiveram sempre meio mortos de fome gritam sua aflição em nossos ouvidos clamam aos céus falamnos de seus lares tomados pela miséria que lhes é impossível encontrar trabalho e inútil mendigar Os contribuintes locais obrigados a pagar o imposto de beneficência vêmse eles mesmos arrastados para a beira do pauperismo pelos encargos paroquiais Standard 5 abr 1867 Como entre os capitalistas ingleses está na moda descrever a Bélgica como o paraíso do trabalhador pois dizse que lá a liberdade do trabalho ou o que é o mesmo a liberdade do capital não seria violada nem pelo despotismo das trades 486 unions nem por leis fabris digamos aqui algumas palavras sobre a felicidade do trabalhador belga Seguramente ninguém estava mais profundamente iniciado nos mistérios dessa felicidade do que o falecido sr Ducpétiaux inspetorgeral das prisões e instituições de beneficência belgas e membro da Comissão Central de Estatística Belga Tomemos sua obra Budgets économiques des classes ouvrières en Belgique Bruxelas 1855 Nela encontramos entre outras coisas uma família trabalhadora normal belga cujas despesas e ganhos são calculados segundo dados muito precisos e cujas condições nutricionais são então comparadas com as dos soldados dos marinheiros e dos presidiários A família é constituída por pai mãe e quatro filhos Dessas seis pessoas quatro podem ser ocupadas de modo útil o ano inteiro pressupondose que entre elas não haja doentes nem incapacitados para o trabalho nem despesas para finalidades religiosas morais e intelectuais excetuando um gasto muito módico com assentos na igreja nem aportes a cadernetas de poupança ou de aposentadoria nem gastos com luxo ou outras despesas supérfluas Contudo ao pai e ao primogênito lhes é permitido fumar tabaco e ir à taberna aos domingos para o que se lhes destinam nada menos que 86 cêntimos semanais Da combinação total dos salários pagos aos trabalhadores dos diversos ramos da indústria inferese que a média mais alta de salário diário é 156 franco para os homens 89 cêntimos para as mulheres 56 cêntimos para os rapazes e 55 cêntimos para as moças Calculados sobre essa base os rendimentos da família chegariam no máximo a 1068 francos anuais No orçamento doméstico considerado típico incluímos todas as fontes de receita possíveis Mas ao atribuirmos um salário à mãe privamos a administração doméstica de seu comando quem cuida da casa quem cuida das crianças pequenas Quem deve cozinhar lavar remendar a roupa Esse dilema se apresenta cotidianamente aos trabalhadores O orçamento da família é o seguinte o pai o pai 300 dias de trabalho a 156 franco 46800 francos a mãe 089 26700 o rapaz 056 16800 a moça 055 16500 Total 106800 A despesa anual da família e seu déficit seriam caso o trabalhador tivesse a mesma alimentação do marinheiro 1828 francos Déficit de 760 francos do soldado 1473 405 do presidiário 1172 44 Vemos que poucas famílias de trabalhadores podem obter a alimentação nem dizemos do marinheiro ou do soldado mas mesmo do presidiário Em média cada preso na Bélgica custou diariamente de 1847 a 1849 63 cêntimos o que dá em relação aos custos diários de manutenção do trabalhador uma diferença de 13 cêntimos Os custos de administração e vigilância se compensam em contrapartida pelo fato de que o presidiário não paga aluguel Mas como é possível então que um grande número e poderíamos dizer a grande maioria dos trabalhadores viva em condições ainda mais econômicas Só podem fazêlo recorrendo a expedientes cujo segredo apenas o trabalhador conhece reduzindo sua ração diária comendo pão de centeio em vez de pão de 487 trigo comendo pouca carne ou até mesmo nenhuma fazendo o mesmo com a manteiga e os condimentos amontoando a família em uma ou duas peças onde moças e rapazes dormem juntos frequentemente sobre o mesmo colchão de palha economizando no vestuário na roupa de baixo nos meios de limpeza renunciando aos lazeres dominicais em suma dispondose às mais dolorosas privações Uma vez alcançado esse limite extremo o aumento mais ínfimo nos preços dos meios de subsistência um desemprego uma doença multiplicam a miséria do trabalhador e o arruínam por completo As dívidas se acumulam o crédito é recusado as roupas os móveis mais necessários são recolhidos pela casa de penhores e por fim a família solicita sua inscrição na lista dos indigentes137 De fato nesse paraíso dos capitalistas a menor variação nos preços dos meios de subsistência mais necessários é seguida por uma variação no número de óbitos e delitos Ver Manifesto dos Maatschappij De Vlamingen Vooruit Bruxelas 1860 p 12 A Bélgica inteira conta com 930 mil famílias das quais segundo a estatística oficial 90 mil famílias ricas eleitoras 450 mil pessoas 390 mil famílias de classe média baixa em cidades e vilarejos grande parte das quais sendo continuamente rebaixada ao proletariado 1950 milhão de pessoas Por fim 450 mil famílias de trabalhadores 2250 milhões de pessoas entre as quais as famílias modelares desfrutam da felicidade descrita por Ducpétiaux Das 450 mil famílias trabalhadoras mais de 200 mil estão na lista dos indigentes e O proletariado agrícola britânico Em nenhuma outra parte o caráter antagônico da produção e da acumulação capitalista se manifesta mais brutalmente do que no progresso da agricultura inglesa pecuária incluída e no retrocesso do trabalhador agrícola inglês Antes de examinar a situação atual deste último lancemos um breve olhar retrospectivo A agricultura moderna data na I nglaterra de meados do século XVI I I embora o revolucionamento das relações de propriedade fundiária que constitui a base e o ponto de partida do modo de produção modificado seja muito anterior Se tomamos os dados de Arthur Young observador rigoroso ainda que pensador superficial referentes ao trabalhador agrícola de 1771 veremos que este desempenha um papel muito miserável se comparado com seu antecessor do final do século XI V quando o trabalhador podia viver na abundância e acumular riqueza138 para não falar do século XV a idade de ouro do trabalhador inglês na cidade e no campo Não precisamos porém recuar tão longe no tempo Num escrito muito substancioso de 1777 lêse O grande arrendatárior se elevou quase ao nível do gentleman enquanto o pobre trabalhador rurals foi rebaixado quase ao chão Sua situação desafortunada se mostra claramente por uma análise comparativa entre suas condições atuais e as de 40 anos atrás Proprietário fundiário e arrendatário atuam em conjunto na opressão do trabalhador139 Em seguida demonstrase em detalhes que no campo o salário real caiu de 1737 a 1777 cerca de 14 ou 25 A política moderna diz na mesma época o dr Richard Price favorece as classes superiores da população e a consequência será que mais cedo ou mais tarde o reino todo será composto unicamente de cavalheiros e mendigos ou de senhores e escravos140 Não obstante a situação do trabalhador rural inglês entre 1770 e 1780 tanto no que diz respeito a suas condições alimentares e habitacionais quanto a sua dignidade 488 pessoal suas diversões etc constitui um ideal nunca mais alcançado posteriormente Expresso em pints de trigo seu salário médio chegava de 1770 a 1771 a 90 pints no tempo de Eden 1797 apenas 65 mas em 1808 60141 J á nos referimos anteriormente à situação do trabalhador rural no final da guerra antijacobina durante a qual se enriqueceram tão extraordinariamente os aristocratas fundiários arrendatários fabricantes comerciantes banqueiros especuladores da Bolsa provedores do exército etc O salário nominal aumentou em parte por causa da depreciação dos bilhetes bancários em parte por conta do aumento independente dessa depreciação sofrido pelos preços dos gêneros de primeira necessidade Todavia a variação real dos salários pode ser comprovada de maneira muito simples sem necessidade de recorrer a detalhes que não cabem ser tratados aqui A Lei dos Pobres e sua administração eram as mesmas em 1795 e 1814 Recordese de como essa lei era aplicada no campo sob a forma de esmolas a paróquia completava a diferença entre o salário nominal e a soma nominal necessária à manutenção da mera vida vegetativa do trabalhador A relação entre o salário pago pelo arrendatário e o déficit salarial coberto pela paróquia nos mostra duas coisas primeiro a queda do salário abaixo de seu mínimo segundo a que ponto o trabalhador rural era um composto de assalariado e indigente ou o grau em que fora transformado em servo de sua paróquia Escolhamos um condado que representa a situação média de todos os demais Em 1795 o salário semanal médio em Northamptonshire chegava a 7 xelins e 6 pence o gasto total por ano de uma família de 6 pessoas era de 36 12 xelins e 5 pence sua receita total era de 29 e 18 xelins e o déficit coberto pela paróquia era de 6 14 xelins e 5 pence No mesmo condado em 1814 o salário semanal era de 12 xelins e 2 pence o gasto total anual de uma família de 5 pessoas alcançava 54 18 xelins e 4 pence sua receita total era de 36 e 2 xelins e o déficit coberto pela paróquia era de 18 6 xelins e 4 pence142 em 1795 o déficit não chegava a 14 do salário em 1814 ele era mais da metade Nessas circunstâncias é evidente que em 1814 houvessem desaparecido as parcas comodidades que Eden ainda encontrara no cottage do trabalhador rural143 De todos os animais mantidos pelo arrendatário o trabalhador o instrumentum vocale instrumento falante tornouse a partir de então o mais extenuado o pior alimentado e o que recebe o tratamento mais brutal O mesmo estado de coisas se prolongou tranquilamente até que em 1830 as revoltas de Swingt nos revelaram isto é às classes dominantes à luz dos montes de palha incendiados que a miséria e o sombrio descontentamento sedicioso ardiam de modo igualmente incontrolável tanto sob a superfície da I nglaterra agrícola quanto da industrial144 Naquela ocasião na Câmara Baixa Sadler batizou os trabalhadores rurais de escravos brancos white slaves e um bispo repetiu esse epíteto na Câmara Alta O mais importante economista político daquele período E G Wakefield observa O trabalhador rural do sul da Inglaterra não é escravo nem homem livre é indigente145 A época imediatamente anterior à revogação das leis dos cereais lançou nova luz sobre a situação dos trabalhadores rurais Por um lado interessava aos agitadores burgueses demonstrar quão pouco essas leis protecionistas protegiam o verdadeiro produtor de cereal Por outro lado a burguesia industrial espumava de raiva ante as 489 denúncias que os aristocratas rurais faziam das condições fabris em face da simpatia que esses ociosos degenerados frios e refinados afetavam pelos sofrimentos do trabalhador urbano e diante de seu zelo diplomático pela lei fabril Um velho ditado inglês diz que quando dois ladrões se engalfinham algo de bom sempre ocorre E de fato a rumorosa e apaixonada peleja entre as duas facções da classe dominante para saber qual das duas explorava mais desavergonhadamente o trabalhador tornouse de um lado e de outro a parteira da verdade O conde de Shaftesbury cognome lord Ashley era o paladino da campanha filantrópica dos aristocratas rurais contra as fábricas I sso explica sua conversão em 1844 e 1845 num dos temas prediletos das revelações que o Morning Chronicle fazia sobre as condições de vida dos trabalhadores agrícolas Esse jornal à época o mais importante órgão liberal enviou aos distritos rurais comissários próprios que não se contentavam com descrições gerais e dados estatísticos mas publicavam os nomes tanto das famílias operárias examinadas quanto de seus proprietários fundiários A lista seguinte apresenta os salários pagos em três vilarejos na vizinhança de Blandford Wimbourne e Poole Os vilarejos são propriedades do sr G Bankes e do conde de Shaftesbury Notarseá que esse papa da low churchu esse líder dos pietistas ingleses embolsa novamente a título de aluguel imobiliário uma parte considerável dos salários de cão dos trabalhadores do mesmo modo que o referido Bankes 490 146 A revogação das leis dos cereais deu enorme impulso à agricultura inglesa Drenagem em larga escala147 novo sistema de alimentação do gado nos currais e de cultivo de forragens artificiais in trodução de adubadoras mecânicas novo tratamento do solo argiloso maior uso de adubos minerais aplicação da máquina a vapor e todo tipo de nova maquinaria de trabalho etc e o cultivo mais intensivo em geral caracterizam essa época O presidente da Sociedade Real de Agricultura sr Pusey afirma que graças à maquinaria recémintroduzida os custos relativos da produção foram reduzidos quase à metade Por outro lado o rendimento positivo do solo aumentou rapidamente Uma maior aplicação de capital por acre e portanto uma concentração acelerada dos arrendamentos era a condição fundamental do novo método148 Ao mesmo tempo de 1846 a 1856 a área cultivada se ampliou em 464119 acres para não falar das grandes áreas dos condados do leste que como num passe de mágica foram transformadas de viveiros de coelhos e pobres pastagens em férteis campos de cereais J á sabemos que ao mesmo tempo diminuiu o número total de pessoas ocupadas na agricultura No que diz respeito aos lavradores propriamente 491 As moradias dos mineiros e outros trabalhadores vinculados às minas de Northumberland e Durham diz o dr Julian Hunter talvez sejam em média o pior e mais caro que a Inglaterra oferece em larga escala nesse gênero excetuando porém distritos semelhantes em Monmouthshire A péssima qualidade consiste no número elevado de pessoas por habitação nas pequenas dimensões do terreno sobre o qual são erguidas uma grande quantidade de casas na falta de água e na ausência de latrinas no método frequentemente empregado de construir uma casa sobre a outra ou divididaem flats de modo que diferentes casebres constituem andares sobrepostos uns aos outros O empresário trata toda a colônia como se ela apenas acamasse não residisse135 Segundo as instruções diz o dr Stevens visitei as grandes ilhas menores de Durham Union com pouquíssimas exceções de todas as que se pode assegurar a saída dos moradores por negligência Todos os mineiros de carvão estavam vinculados bound expressão que como bond servidão veio da época da gleba por dois meses ao arrendatário leased ou proprietário da mina Caso os mineiros deem vago a sua intenção e não compareçam à mina os mesmos são punidos com um remanescente ao lado de seus nomes no livro de supervisão e os dispensam no novo recrutamento anula Pareceme que nenhum tipo de truck system sistema de pagamento com bônus pode ser pior do que o que impõe nessas distritos densamente povoados O trabalhador vêse obrigado a receber como parte de seu salário uma casa cercada de emanações pestilenciais Não pode ajudar a si mesmo Para todos de seu proprietário nas este último leva em conta antes de tudo seu balanço e o resultado é praticamente nulo A partir das tabelas anexadas ao primeiro volume do relatório organizouse o seguinte quadro comparativo Importe nutricional semanal158a Ingredientes com nitrogênio Ingredientes sem nitrogênio Ingredientes minerais Total Onças Onças Onças Onças Criminosos na prisão de Portland 2895 15006 468 18369 Marinheiro da Marinha Real 2963 15291 452 18706 Soldado 2555 11449 394 14398 Construtor de carruagens trabalhador 2453 16206 423 19082 Tipógrafo 2124 10083 312 12519 Trabalhador rural 1773 11806 329 13908 O leitor já conhece o resultado geral a que chegou a comissão médica que em 1863 investigou as condições nutricionais das classes populares mais mal alimentadas Ele se recordará de que a dieta de uma grande parcela das famílias de trabalhadores rurais encontrase abaixo do mínimo necessário à prevenção de doenças ocasionadas pela fome Esse é o caso principalmente em todos os distritos puramente agrícolas de Cornwall Devon Somerset Wilts Stafford Oxford Berks e Herts A alimentação que o trabalhador rural obtém diz o dr Smith é maior do que a indicada pela quantidade média pois ele mesmo recebe uma parte de meios de subsistência muito maior do que a dos demais membros da família parte esta indispensável para seu trabalho e que nos distritos mais pobres consiste quase inteiramente de carne e bacon A quantidade de alimentos que cabe à mulher assim como às crianças em sua fase de crescimento é em muitos casos e em quase todos os condados deficiente principalmente em nitrogênio159 Os criados e as criadas que moram com os arrendatários são alimentados em abundância Seu número caiu de 288277 em 1851 para 204962 em 1861 O trabalho das mulheres nos campos diz o dr Smith sejam quais forem os inconvenientes que sempre o acompanham é sob as atuais circunstâncias de grande vantagem para a família pois lhes proporciona os meios para providenciar calçados roupas e pagar o aluguel e assim permite que ela se alimente melhor160 Um dos resultados mais notáveis dessa investigação foi que o trabalhador agrícola da I nglaterra é muito pior alimentado do que o das outras partes do Reino Unido is considerably the worst fed como mostra a tabela seguinte Consumo semanal de carbono e nitrogênio do trabalhador rural médio Carbono grãos Nitrogênio grãos Inglaterra País de Gales Escócia Irlanda 40673 48354 48980 43366 1594 2031 2348 2434161 493 Cada página do relatório do dr Hunter diz o dr Simon em seu relatório sanitário oficial fornece testemunho da quantidade insuficiente e da qualidade miserável das moradias de nosso trabalhador rural E há muitos anos sua situação tem piorado progressivamente nesse sentido Agora tornouse muito mais difícil para ele encontrar uma habitação e quando a encontra ela corresponde muito menos a suas necessidades do que talvez era o caso há séculos atrás Especialmente nos últimos vinte ou trinta anos o mal se intensificou com grande rapidez e as condições habitacionais do homem do campo são hoje deploráveis no mais alto grau Exceto quando aqueles que se enriquecem com seu trabalho consideram valer a pena tratálo com uma espécie de compassiva indulgência o trabalhador rural se encontra totalmente desamparado nesse ponto Se ele encontra moradia na terra que cultiva se ela é adequada a seres humanos ou a porcos se dispõe ou não de um pequeno jardim que tanto alivia a pressão da pobreza tudo isso não depende de preferência ou capacidade de pagar um aluguel razoável mas do uso que outros queiram fazer de seu direito de fazer o que quiser com sua propriedade Por maior que seja um arrendamento nenhuma lei estabelece que nele deve haver determinado número de moradias para trabalhadores e muito menos que elas tenham de ser decentes do mesmo modo a lei não reserva ao trabalhador o mínimo direito ao solo para o qual seu trabalho é tão necessário como a chuva e o sol Uma circunstância notória lança ainda um grave peso na balança contra ele a influência da Lei dos Pobres com suas disposições sobre domicílio e encargos de beneficência162 Sob sua influência cada paróquia tem um interesse pecuniário em restringir a um mínimo o número de trabalhadores rurais nela residentes pois infelizmente o trabalho agrícola em vez de garantir uma independência segura e permanente ao homem laborioso e a sua família conduz apenas na maior parte do casos e por um percurso mais longo ou mais breve ao pauperismo Um pauperismo que durante todo o caminho está tão próximo que toda doença ou falta transitória de ocupação obrigam a recorrer imediatamente à assistência paroquial razão pela qual todo assentamento de uma população agrícola numa paróquia signifique evidentemente um aumento em seus encargos de beneficência Aos grandes proprietários fundiários163 basta decidir que em suas propriedades não devem ser construídas moradias para trabalhadores e assim eles se livram imediatamente de metade de sua responsabilidade em relação aos pobres Em que medida a constituição e a lei inglesas têm como objetivo sancionar essa espécie de propriedade irrestrita do solo graças à qual um landlord que faz o que quer com o que é seu pode tratar os agricultores como forasteiros e expulsálos de sua propriedade é uma questão que escapa aos limites de minha investigação Esse poder de desalojar não existe só na teoria Ele se exerce na prática na mais ampla escala Ele é uma das circunstâncias que regem as condições habitacionais do trabalhador rural A extensão do mal pode ser julgada pelo último censo segundo o qual durante os últimos 10 anos apesar da maior demanda local por moradia a demolição de casas progrediu em 821 diferentes distritos da Inglaterra de modo que sem levar em conta as pessoas forçadas a se tornar não residentes isto é não residentes nas paróquias em que trabalham em 1861 comparado com 1851 uma população 513 maior foi comprimida num espaço 412 menor Quando o processo de despovoamento tiver alcançado sua meta diz o dr Hunter o resultado será um vilarejo de cenografia showvillage onde os cottages terão sido reduzidos a uns poucos e onde ninguém terá permissão para viver a não ser pastores de ovelhas jardineiros ou guardas florestais servidores regulares que recebem de seus magnânimos senhores o bom tratamento habitualmente dispensado a essas classes164 Mas a terra exige cultivo e não se pode esquecer que os trabalhadores nela ocupados não são inquilinos do proprietário fundiário mas procedem de um vilarejo aberto situado talvez a três milhas de distância onde uma numerosa classe de pequenos proprietários de casas os abrigaram após a destruição de seus cottages nos vilarejos fechados Quando as coisas tendem a esse resultado os cottages costumam testemunhar com sua aparência miserável o destino a que estão condenados Podemos encontrálos em seus vários estágios de decadência natural Enquanto o teto não vem abaixo permitese ao trabalhador pagar aluguel e ele fica geralmente muito contente em poder fazêlo mesmo tendo de pagar o mesmo preço de uma boa moradia Mas não se realiza nenhum conserto nenhuma melhoria exceto os que possam ser providenciados pelo inquilino sem tostão E por fim quando se torna totalmente inabitável temse apenas um cottage destruído a mais e um imposto de beneficência a menos Enquanto os grandes proprietários se livram dessa maneira do imposto de beneficência despovoando as terras por eles controladas o povoamento ou o vilarejo aberto mais próximo recebe os trabalhadores expulsos o mais próximo digo eu mas esse mais próximo pode muito bem estar a três ou quatro milhas da fazenda onde o trabalhador tem de se esfalfar dia após dia Assim à sua labuta diária é adicionada como se fosse pouca coisa a necessidade de marchar de seis a oito milhas diárias para poder ganhar seu pão de cada dia Todo o trabalho agrícola executado por sua mulher e filhos se efetua sob as mesmas circunstâncias agravantes E esse não é todo o mal que a distância lhe causa No vilarejo aberto especuladores imobiliários compram retalhos de terreno que eles semeiam tão densamente quanto possível com as mais baratas espeluncas que se possam conceber E nessas habitações miseráveis que mesmo quando dão para o campo aberto compartilham das características mais monstruosas das piores moradias urbanas amontoamse os trabalhadores agrícolas da Inglaterra165 Por outro lado não se deve imaginar que o trabalhador alojado na mesma terra que cultiva encontra uma moradia que faça jus à sua vida de produtiva industriosidade Mesmo nas propriedades rurais mais principescas seu cottage costuma ser da mais lamentável espécie Há landlords que acreditam que um estábulo é bom o suficiente para seus trabalhadores e 494 respectivas famílias e que mesmo assim não desdenham extrair de seu aluguel todo o dinheiro possível166 Ainda que se trate de uma cabana em ruínas com apenas um dormitório sem fogão sem latrina sem janelas que possam ser abertas sem água corrente exceto a da fossa sem jardim o trabalhador está desamparado contra a injustiça E nossas leis de polícia sanitária The Nuissances Removal Acts são letra morta Sua aplicação é confiada justamente aos proprietários que alugam esses buracos É necessário que não nos deixemos ofuscar por cenas mais resplandecentes porém excepcionais deixando de atentar para a preponderância acachapante de fatos que constituem uma mácula vergonhosa para a civilização inglesa Terrível deve ser com efeito o estado de coisas quando apesar da notória monstruosidade das habitações atuais observadores competentes chegam à conclusão unânime de que mesmo a indignidade geral das moradias é um mal infinitamente menos premente do que sua mera escassez numérica Há anos a superlotação das moradias dos trabalhadores rurais tem sido um objeto de profunda preocupação não só para aqueles que se importam com a saúde mas para todos que valorizam uma vida decente e moral Pois repetidas vezes com expressões tão uniformes que parecem estereotipadas os autores dos relatórios sobre a propagação de doenças epidêmicas nos distritos rurais denunciam a superlotação habitacional como causa que frustra por inteiro toda tentativa de conter uma epidemia já iniciada E repetidas vezes foi demonstrado que apesar das muitas influências saudáveis da vida rural a aglomeração que tanto acelera a propagação de doenças contagiosas favorece também o surgimento de doenças não contagiosas E as pessoas que denunciaram essa situação não silenciaram sobre outro mal Mesmo quando seu tema original se limitava ao cuidado com a saúde elas foram praticamente obrigadas a se ocupar de outros aspectos do problema Ao mostrar o quão frequentemente adultos de ambos os sexos casados e solteiros são amontoados huddled em dormitórios estreitos seus relatórios tinham necessariamente de gerar a convicção de que nas circunstâncias descritas o sentimento de pudor e a decência se degradam do modo mais grosseiro provocando quase necessariamente a ruína de toda moralidade167 Por exemplo no apêndice de meu último relatório o dr Ord em seu informe sobre a epidemia de febre em Wing em Buckinghamshire menciona como chegou a esse lugar um jovem de Wingrave com febre Nos primeiros dias de sua enfermidade ele dormiu num quarto com nove outras pessoas Em duas semanas várias dessas pessoas foram afetadas e no curso de poucas semanas cinco das nove apresentaram febre e uma delas morreu Ao mesmo tempo o dr Harvey do hospital de Saint George que por motivo de sua prática privada visitara Wing durante o período da epidemia fezme um relato no mesmo sentido Uma jovem mulher com sintoma de febre dormia à noite no mesmo quarto que seu pai sua mãe seu filho bastardo seus 2 jovens irmãos e suas 2 irmãs cada uma com um filho bastardo totalizando 10 pessoas Poucas semanas antes 13 crianças dormiam na mesma peça168 O dr Hunter investigou 5375 cottages de trabalhadores rurais não apenas nos distritos puramente agrícolas mas em todos os condados da I nglaterra Desses 5375 2195 tinham um único quarto de dormir que frequentemente também servia de sala de estar 2930 apenas dois e 250 mais de dois Oferecemos a seguir um breve florilégio correspondente a uma dúzia de condados 1 Bedfordshire Wrestlingworth dormitórios de cerca de 12 pés de comprimento e 10 de largura embora muitos sejam menores O pequeno casebre de um só piso costuma ser dividido com tapumes em dois quartos de dormir é comum colocar uma cama numa cozinha de 5 pés e 6 polegadas de altura O aluguel é de 3 Os locatários têm de construir suas próprias latrinas o proprietário da casa não fornece mais do que uma fossa Sempre que alguém constrói uma latrina esta é utilizada por toda a vizinhança Uma casa denominada Richardson era de uma beleza inigualável Suas paredes de argamassa se arqueavam como um vestido feminino em genuflexão Uma águamestra era convexa a outra côncava e sobre a última havia de modo infeliz uma chaminé um cano torto feito de argila e madeira e semelhante a uma tromba de elefante Um varapau servia de escora para evitar a queda da chaminé A porta e a janela tinham forma romboide De 17 casas visitadas apenas 4 dispunham de mais de 1 quarto de dormir e todas as 4 estavam superlotadas Os cots cottages de um piso com 1 único 495 quarto de dormir abrigavam 3 adultos e 3 crianças 1 casal com 6 filhos etc Dunton aluguéis elevados entre 4 a 5 sendo 10 xelins o salário semanal dos homens Esperam obter o dinheiro para o aluguel com o entrançado de palha efetuado pela família Quanto mais elevado o aluguel tanto maior o número de pessoas que tem de se reunir para pagálo Seis adultos e quatro crianças num único dormitório pagam um aluguel de 3 e 10 xelins A casa mais barata em Dunton com medidas externas de 15 pés de comprimento por 10 de largura estava alugada por 3 Apenas uma das 14 casas investigadas tinha 2 dormitórios Pouco antes do vilarejo havia uma casa cujos moradores estercaram suas paredes externas umas 9 polegadas da parte inferior da porta havia desaparecido carcomida num simples processo de putrefação à noite o buraco é engenhosamente tapado com alguns tijolos recobertos com uma esteira Metade de uma janela incluindo vidro e moldura já havia percorrido o caminho de toda carnev Aqui privados de móveis amontoavamse três adultos e cinco crianças Dunton não é pior que o resto da Biggleswade Union 2 Berkshire Beenham em junho de 1864 um homem sua mulher e quatro filhos viviam num cot cottage de um piso Uma filha que trabalhava como serviçal voltou para casa com escarlatina Morreu Uma criança adoeceu e morreu A mãe e um filho sofriam de tifo quando o dr Hunter foi chamado O pai e uma das crianças dormiam fora da casa mas a dificuldade de assegurar o isolamento ficou aqui evidente pois a roupa da casa atingida pela febre se amontoava à espera de ser lavada no apinhado mercado do miserável vilarejo O aluguel da casa de H 1 xelim por semana 1 dormitório para um casal e seis crianças Uma casa alugada a 8 pence semanais 14 pés e 6 polegadas de comprimento 7 pés de largura cozinha de 6 pés de altura o dormitório sem janela sem lareira sem porta nem abertura que não uma única para o corredor e nenhum jardim Nela um homem vivera há pouco com duas filhas adultas e um filho em crescimento pai e filho dormiam na cama as moças no corredor Enquanto a família aí viveu cada uma teve um filho mas uma foi para a workhouse para o parto e depois voltou para casa 3 Buckinghamshire Trinta cottages sobre mil acres de terreno abrigam de 130 a 140 pessoas A paróquia de Brandenham abrange mil acres em 1851 ela tinha 36 casas e uma população de 84 pessoas do sexo masculino e 54 do sexo feminino Essa desigualdade entre os sexos foi sanada em 1861 quando havia 98 homens e 87 mulheres o que corresponde a um aumento em 10 anos de 14 homens e 33 mulheres Entrementes o número de casas havia diminuído em uma unidade Winslow grande parte do vilarejo foi recémconstruída em bom estilo a demanda de casas parece ser importante já que cots muito miseráveis são alugados por 1 xelim e por 1 xelim e 3 pence por semana 496 Water Eaton aqui os proprietários em vista do crescimento populacional demoliram cerca de 20 das casas existentes Um pobre trabalhador que tinha de andar umas 4 milhas até seu local de trabalho respondeu à pergunta se não encontraria um cot mais perto Não eles vão evitar a todo custo alojar um homem com uma família grande como a minha Tinkers End em Winslow um dormitório habitado por 4 adultos e 5 crianças com 11 pés de comprimento 9 pés de largura 6 pés e 5 polegadas de altura no ponto mais elevado outro com 11 pés e 7 polegadas de comprimento 9 pés de largura 5 pés e 10 polegadas de altura abrigava 6 pessoas Cada uma dessas famílias tinha menos espaço do que o necessário para um condenado às galés Nenhuma casa dispunha de mais de um dormitório e nenhuma tinha porta dos fundos Água muito raramente O aluguel semanal era de 1 xelim e 4 pence até 2 xelins Em 16 das casas examinadas apenas um único homem ganhava 10 xelins por semana No caso anteriormente mencionado o volume de ar de que cada pessoa dispunha era equivalente ao que ela teria se passasse a noite encerrada numa caixa de 4 pés cúbicos J á os velhos casebres certamente oferecem uma boa quantidade de ventilação natural 4 Cambridgeshire Gamblingay pertence a diversos proprietários e contém os mais miseráveis cots que podem ser encontrados em qualquer lugar Muito entrançado de palha Uma lassidão mortal uma resignação desalentada à imundície imperam em Gamblingay A negligência no centro do vilarejo se converte em tortura em seus extremos norte e sul onde as casas caem aos pedaços apodrecidas Os donos das terras ausentes sangram com avidez a miserável aldeola Os aluguéis são muito altos de oito a nove pessoas vivem comprimidas num quarto onde só caberia uma pessoa em dois casos seis adultos cada um com uma ou duas crianças compartilham um pequeno dormitório 5 Essex Nesse condado em muitas paróquias correm paralelas a redução do número de pessoas e de cottages Em não menos de 22 paróquias no entanto a demolição de casas não conteve o crescimento populacional ou em outras palavras não provocou a expulsão que sob o nome de migração para as cidades ocorre por toda parte Em Fingringhoe uma paróquia de 3443 acres havia em 1851 145 casas em 1861 apenas 110 mas o povo se recusou a deixar o lugar e logrou aumentar seu número mesmo encontrandose sob tal tratamento Em Ramsden Crays em 1851 havia 252 pessoas em 61 casas mas em 1861 262 pessoas se espremiam em 49 casas Em Basildon viviam em 1851 sobre uma área de 1827 acres 157 pessoas em 35 casas ao final do decênio havia 180 pessoas em 27 casas Nas paróquias de Fingringhoe South Fambridge Widford Basildon e Ramsden Crays viviam em 1851 sobre uma área de 8449 acres 1392 pessoas em 316 casas em 1861 sobre a mesma área havia 1473 pessoas em 249 casas 497 6 Herefordshire Esse pequeno condado sofreu mais com o espírito de desalojamento do que qualquer outro na I nglaterra Em Madley os cottages superlotados a maioria com dois dormitórios pertencem em grande parte aos arrendatários Estes não encontram dificuldade em alugálos por 3 ou 4 por ano e pagam um salário semanal de 9 xelins 7 Huntingdonshire Em 1851 Hartford tinha 87 casas pouco depois 19 cottages foram destruídos nessa pequena paróquia de 1720 acres população em 1831 452 pessoas em 1851 382 e em 1861 341 Foram investigados 14 cots de 1 dormitório Num deles 1 casal com 3 filhos adultos 1 filha adulta 4 crianças num total de 10 pessoas em outro 3 adultos 6 crianças Um desses quartos onde dormiam 8 pessoas tinha 12 pés e 10 polegadas de comprimento 12 pés e 2 polegadas de largura 6 pés e 9 polegadas de altura a altura média sem descontar as saliências era de 130 pés cúbicos por cabeça Nos 14 dormitórios 34 adultos e 33 crianças Esses cottages eram raramente providos de hortas mas muitos dos moradores podiam arrendar um pequeno lote de terra a 10 ou 12 xelins por rood 14 de acre Esses allotments loteamentos ficam longe das casas desprovidas de latrinas A família tem optar entre ir até seu lote para lá depositar seus excrementos ou digamos com a devida vênia tem de encher com eles a gaveta de um armário Assim que está cheia retiramna e despejam seu conteúdo onde ele é necessário No Japão o ciclo das condições de vida transcorre com mais asseio 8 Lincolnshire Langtoft um homem vive aqui na casa de Wright com a mulher a sogra e cinco filhos a casa tem cozinha frontal copa dormitório sobre a cozinha frontal a cozinha frontal e o dormitório medem 12 pés e 2 polegadas de comprimento 9 pés e 5 polegadas de largura a área inteira tem 21 pés e 3 polegadas de comprimento 9 pés e 5 polegadas de largura O dormitório é uma águafurtada As paredes convergem no teto no formato de um pão de açúcar e uma janela de alçapão se abre na fachada Por que ele morava ali Horta Extraordinariamente minúscula Aluguel Alto 1 xelim e 3 pence por semana Perto de seu trabalho Não 6 milhas distante de modo que ele tinha de andar 12 milhas diárias entre ida e volta Ele morava ali porque era um cot alugável e porque queria ter um cot só para si em qualquer lugar a qualquer preço em qualquer estado de conservação Segue a estatística de 12 casas em Langtoft com 12 dormitórios 38 adultos e 36 crianças 12 casas em Langtoft 498 9 Kent Kennington tristemente superlotada em 1859 ano em que surgiu a difteria e o médico da paróquia efetuou uma investigação oficial sobre a situação das classes populares mais pobres Verificouse que nessa localidade onde era necessário muito trabalho diversos cots haviam sido destruídos e nenhum novo construído Num distrito havia quatro casas chamadas de birdcages gaiolas de pássaros cada uma dispondo de 4 cômodos com as seguintes dimensões em pés e polegadas Cozinha 95 811 66 Copa 86 46 66 Dormitório 85 510 63 Dormitório 83 84 63 10 Northamptonshire Brixworth Pitsford e Floore nesses vilarejos durante o inverno de 20 a 30 homens vagabundeiam pelas ruas por falta de trabalho Os arrendatários nem sempre cultivam suficientemente as terras apropriadas ao plantio de cereais e tubérculos e o landlord considerou conveniente fundir todos os seus arrendamentos em 2 ou 3 Daí decorre a falta de ocupação Enquanto de um lado do fosso o campo clama por trabalho do outro lado os trabalhadores ludibriados lançamlhe olhares ansiosos Febrilmente sobrecarregados de trabalho no verão e meio mortos de fome no inverno não é de admirar que em seu próprio dialeto digam que the parson and gentlefolks seem frit to death at them o cura e os nobres parecem ter conjurado para acossálos até a morte Em Floore há exemplos de casais com 4 5 6 crianças num dormitório dos mais exíguos idem 3 adultos com 5 crianças idem 1 casal com o avô e 6 crianças com escarlatina etc em 2 casas com 2 dormitórios 2 famílias formadas por 8 e 9 adultos respectivamente 499 Um aspecto perturbador é a constante transformação dos trabalhadores rurais em supraumanitários por meio de concentração dos arrendatários a transformação de lavouras em pastagens a maquinização etc e o constante deslocamento da população rural pela destruição dos cottages andam de mãos dadas Quanto mais despojado o distrito tanto maiores sua superpopulação relativa e a pressão que esta última exerce sobre os meios de ocupação tanto maior o excedente absoluto da população rural em relação a seus meios habitacionais e tanto maiores portanto a superpopulação local e o amontoados mais pestilencial de seres humanos nos vilarejos O condenamento do aglomerado humano em pequenos vilarejos e povoados esparsos corresponde ao violento esvaziamento populacional da área rural A interrompida transformação dos trabalhadores rurais em supraumanitários apesar de seu número decrescente e de sua massa crescente de seu produto é o berço de seu pauperismo Seu pauperismo eventual é um dos motivos que se invocam para seu desalojamento e a fonte principal de sua matéria habitacional que quebra sua última capacidade de resistência e os converte em moradores escravos dos senhores fundiários e arrendatários de modo que o mínimo de salário se consolida para eles como a lei natural Por outro lado o campo em que pese sua superpopulação relativa está ao mesmo tempo subpovoado Isso se mostra não só localmente através pontos de fluxo humano pra cidades nas construções de ferrovias etc avança com demasiada rapidez mas também em toda parte tanto na Os trabalhadores agrícolas são sempre em número excedente para as necessidades médias e sempre em número insuficiente para as necessidades excepcionais ou temporárias da lavoura170 Por isso nos documentos oficiais encontramse queixas contraditórias procedentes das mesmas localidades acerca da falta de trabalho e excesso de trabalho ao mesmo tempo A falta temporária ou localizada de mão de obra não suscita nenhum aumento de salário mas pressiona mulheres e crianças ao trabalho na lavoura e o recrutamento de trabalhadores de faixas etárias cada vez mais baixas Tão logo a exploração de mulheres e crianças ganha maior espaço ela se torna por sua vez um novo meio de transformar trabalhadores rurais masculinos em suprimenurários e de manter o baixo nível de seus salários Na parte oriental da Inglaterra vigeja um belo fruto desse cercle vicieux círculo vicioso o assim chamado gangsystem sistema de turmas ou bandos ao qual dedicaremos aqui algumas considerações171 O sistema de turmas funciona quase exclusivamente em Lincolnshire Huntingdonshire Cambridgeshire Norfolk Suffolk e Nottinghamshire esporadicamente nos condados vizinhos de Northampton Bedford e Rutland Tomemos aqui como exemplo Lincolnshire Grande parte deste condado é formada por terras novas antigos pântanos ou como em outros condados orientais a que aludimos por terras recémconquistadas ao mar A máquina a vapor operou milagres quanto a drenagem O que antes era pântano e solo arenoso agora exibe um abundante mar de trigo e as mais elevadas rendas fundiárias O mesmo se aplica às terras de rurais conquistadas artificialmente como na ilha de Axholme e nas demais paróquias às margens do Trent À medida que foram surgindo novos arrendamentos não só não foram construídos novos cottages mas muitos dos antigos foram demolidos a oferta de trabalho era obtida nos vilarejos abertos distantes várias milhas e situados à margem das estradas rurais que serpenteiam pelas encostas das colinas Tais vilarejos eram o único abrigo que a população encontrava contra as demoras enchentes de inverno Nos arrendamentos de 400 a 1000 acres os trabalhadores aqui chamados de confined labourers trabalhadores confinados servem exclusivamente para o trabalho agrícola pesado e permanente efetuado com cavalos Para cada 100 acres 1 acre 4049 ares ou 1584 Morgen prussianos há em média apenas um cottage Um arrendatário de fenland terra conquistada aos pântanos há de clara à Comissão de Inquérito Meu arrendamento cobre 320 acres todos os terras para o plantio de cereais Não há nenhum cottage Um trabalhador mora atualmente em minha casa Tenho quatro homens que trabalham com os cavalos e residem nos arredores O trabalho leve para o qual são necessários muitos braços é realizado por turmas172 de todos está o gangmaster chefe de turma sempre um trabalhador agrícola comum geralmente um assim chamado mau sujeito pervertido inconstante bêbado mas dotado de certo espírito empreendedor e savoirfaire Ele recruta a turma que trabalha sob suas ordens não sob as do arrendatário Com este último ele estabelece um acordo baseado na maioria das vezes no pagamento por peça e seu ganho que em média não se eleva muito acima do de um trabalhador rural comum173 depende quase inteiramente de sua habilidade em fazer com que sua turma ponha em movimento no menor tempo a maior quantidade possível de trabalho Os arrendatários descobriram que as mulheres só trabalham ordenadamente sob ditadura masculina mas que mulheres e crianças uma vez em movimento como já o sabia Fourier gastam sua energia vital de modo verdadeiramente impetuoso ao passo que o trabalhador masculino adulto é tão malandro que a economiza o máximo que pode O chefe de turma se transfere de uma fazenda a outra e assim ocupa seu bando de 6 a 8 meses por ano Ser seu cliente é por isso muito mais rentável e seguro para as famílias trabalhadoras do que ser cliente do arrendatário individual que só ocasionalmente ocupa crianças Essa circunstância reforça sua influência nas localidades abertas a tal ponto que na maioria das vezes é apenas por seu intermédio que crianças podem ser contratadas A exploração individual destas últimas separadas da turma constitui seu negócio acessório Os pontos fracos do sistema são o sobretrabalho das crianças e dos jovens as enormes marchas que fazem diariamente para ir e vir de fazendas situadas a 5 6 e às vezes 7 milhas de distância e por fim a desmoralização da turma Embora o chefe de turma que em algumas regiões é denominado the driver o feitor esteja munido de uma longa vara ele só a emprega muito raramente e queixas quanto a tratamento brutal são exceção Tratase de um imperador democrático ou de uma espécie de flautista de Hamelinx Necessita pois da popularidade entre seus súditos e os seduz por meio da vida boêmia que floresce sob seus auspícios Uma licenciosidade crua um descomedimento alegre e a audácia mais obscena dão asas à turma Na maioria das vezes o chefe de turma efetua os pagamentos numa taberna e mais tarde volta para casa cambaleando sustentado à direita e à esquerda por robustas mulheres e seguido por um cortejo de crianças e adolescentes que alvoroçam e entoam cantigas zombeteiras e obscenas No caminho de volta impera aquilo que Fourier chama de fanerogamiaw É comum que mocinhas de 13 a 14 anos engravidem de seus companheiros de mesma idade Os vilarejos abertos que fornecem o contingente da turma convertemse em Sodomas e Gomorras174 e geram duas vezes mais nascimentos ilegítimos do que o resto do reino J á indicamos anteriormente como as moças criadas nessa escola procedem quando casadas no terreno da moralidade Seus filhos se o ópio não os liquida são recrutas natos da turma A turma na forma clássica que descrevemos anteriormente chamase turma pública comum ou ambulante public comon or tramping gang Há também com efeito turmas privadas private gangs Estas são formadas como a turma comum mas são menos numerosas e em vez de trabalharem sob as ordens do chefe de turma fazemno sob o comando de um velho criado rural que o arrendatário não sabe como utilizar melhor Aqui o espírito boêmio desaparece mas conforme todos os 502 A propriedade garantida por lei aos camponeses empobrecidos de uma parte dos dízimos da Igreja foi tacitamente confiscada195 Pauper ubique jacet exclamou a rainha Elizabeth após um giro pela Inglaterra No 43º ano de seu reinado não havia mais como impedir o reconhecimento oficial do pauperismo mediante a introdução dos impostos de beneficiência Os autores dessa lei se envergonharam de enunciar suas razões e por isso violando toda tradição lançaramna ao mundo sem nenhum preamble exposição de motivos196 A lei 16 Carolus I 4 estabeleceu a perpetuidade desse imposto e na realidade desde 1834 ela recebia uma nova forma mais rígida197 Esses efeitos indéditos da Reforma não foram os mais perduráveis A propriedade da Igreja constituía o baluarte religioso das antigas regras de propriedade da terra Com a ruína daquela então não podiam se manter198 Ainda nas últimas décadas do século XVII ayeomanry uma classe de camponeses independentes era mais numerosa que a classe dos arrendatários Ela constitui a força principal de Cromwell e como reconhece o próprio Macaulay era superior aos sórdidos fidalgos bêbados e seus lacaíos obrigados a deparar a criada favorita do senhor Os assalariados rurais ainda eram propriedades da propriedade comunal Em torno de 1750 a ayeomanry havia desaparecido199 e nas últimas décadas do século XVIII o último resquício de propriedade comunal do lavradores Abstraímos aqui as forças motrizes puramente econômicas da revolução agrícola O que procuramos são meios violentos pela empregados Sob a restauração dos Stuarts os proprietários fundiários instituíram legalmente uma usurpação que em todo o continente também foi realizada sem formalidades legais Eles aboliram o regime feudal da propriedade da terra isto é liberaram esta última de seus encargos estatais indenizaram o Estado por meio de impostos sobre os camponeses e o restante da massa do povo reivindicaram a moderna propriedade privada de bens sobre os quais só possuíam títulos feudais e por fim outorgaram essas leis de assentamento laws of settlement que mutatis mutandis tiveram sobre os lavradores iguais ou os mesmos efeitos que o édito do tártaros Boris Godunov sobre os testemunhos o pagamento e o tratamento das crianças pioram O sistema de turmas que nos últimos anos se tem ampliado de maneira constante175 não existe evidentemente para agradar ao chefe de turma Existe para enriquecer os grandes arrendatários176 ou dependendo do caso os senhores fundiários177 Para o arrendatário não há método mais engenhoso que o permita manter seus trabalhadores muito abaixo do nível normal e não obstante ter sempre disponível para todo trabalho extra a mão de obra necessária assim como para extrair o máximo de trabalho178 com o mínimo de dinheiro e tornar supranumerário o trabalhador masculino adulto A partir da discussão anterior compreendese que por um lado admitase a maior ou menor desocupação do homem do campo e por outro declarese como necessário o sistema de turmas em razão da falta de mão de obra masculina e de seu êxodo para as cidades179 O campo livre de ervas daninhas e a danação humana de Lincolnshire etc são o polo e o contrapolo da produção capitalista180 f Irlanda Para concluir esta seção temos de nos voltar brevemente à I rlanda Primeiro vejamos os fatos que aqui nos interessam A população da I rlanda aumentara em 1841 a 8222664 pessoas em 1851 reduziu se a 6623985 em 1861 5850309 e em 1866 512 milhões isto é aproximadamente a seu nível de 1801 O decréscimo começou com o ano da fome de 1846 de maneira que em menos de 20 anos a I rlanda perdeu mais de 516 de sua população181 O número total da emigração de maio de 1851 a julho de 1865 foi de 1591487 pessoas sendo que a emigração durante os últimos 5 anos 18611865 foi de mais de meio milhão O número de casas habitadas diminuiu de 1851 a 1861 em 52990 De 1851 a 1861 o número de arrendamentos de 15 a 30 acres aumentou em 61 mil e o de arrendamentos acima de 30 acres em 109 mil enquanto o número total de arrendamentos diminuiu em 120 mil uma queda que se deve portanto exclusivamente à aniquilação de arrendamentos de menos de 15 acres ou seja à sua concentração Naturalmente a decréscimo populacional se fez acompanhar em linhas gerais de um decréscimo da massa de produtos Para nosso propósito basta considerar os 5 anos de 1861 a 1865 durante os quais mais de meio milhão de pessoas emigraram e a número absoluto de habitantes caiu em mais de 18 de milhão ver tabela A Tabela A Animais de criação Ano Equinos Bovinos Total Diminuição Aumento Total Diminuição Aumento 1860 619811 3606374 1861 614232 5579 3471688 134686 1862 602894 11338 3254890 216798 1863 579978 22916 3144231 110659 503 1864 562158 17820 3262294 118063 1865 547867 14291 3493414 231120 Ano Ovinos Suínos Total Diminuição Aumento Total Diminuição Aumento 1860 3542080 1271072 1861 3556050 13970 1102042 169030 1862 3456132 99918 1154324 52282 1863 3308204 147928 1067458 86866 1864 3366941 58737 1058480 8978 1865 3688742 321801 1299893 241413 Da tabela anterior resulta Equinos Bovinos Ovinos Suínos Diminuição absoluta Diminuição absoluta Aumento absoluto Aumento absoluto 71944 112960 146662 28821182 Passemos agora à agricultura que fornece os meios de subsistência para animais e seres humanos Na tabela seguinte calculase o acréscimo ou decréscimo registrado a cada ano em relação ao ano imediatamente anterior A coluna dos cereais abrange trigo aveia cevada centeio feijão e ervilha a das hortaliças compreende batata turnips nabos acelga beterraba repolho cenoura parsnips chirivias ervilhaca etc Tabela B Aumento ou diminuição da terra usada para o cultivo e como pastagens em acres 504 Em 1865 sob a rubrica pastagens foram agregados mais 127470 acres principalmente porque a área sob a rubrica terra desértica não utilizada e bog turfeiras diminui 101543 acres Comparando o ano de 1865 com 1864 temos uma redução de 246667 quarters de cereais dos quais 48999 correspondem ao trigo 166605 à aveia 29892 à cevada etc o decréscimo na produção de batatas embora a área de seu cultivo tenha crescido em 1865 foi de 446398 toneladas etc ver tabela C Tabela C Aumento ou diminuição na área de solo cultivado de produto por acre e do produto total Ano de 1865 comparado com 1864183 505 Ver nota Pedras de 14 libras N E A MEW Do movimento da população e da produção agrícola da I rlanda passemos ao movimento no bolso de seus landlords grandes arrendatários e capitalistas industriais Tal movimento se reflete nas altas e baixas do imposto de renda Para compreender a tabela seguinte observese que a rubrica D lucros com exceção dos lucros dos arrendatários também inclui os assim chamados lucros profissionais isto é os rendimentos de advogados médicos etc mas as rubricas C e E que não incluímos em separado em nossa tabela abrangem os rendimentos de funcionários oficiais militares sinecuristas do Estado credores do Estado etc Tabela D Rendimentos sujeitos ao imposto de renda em libras esterlinas184 1860 1861 1862 1863 1864 1865 Rubrica A Renda fundiária 12893829 13003554 13308938 13494091 13470700 13801616 Rubrica B Lucro do arrendatário 2765387 2773644 2937899 2938923 2930874 2946072 Rubrica D Lucros industriais etc 4891652 4836203 4858800 4846497 4546147 4850199 Todas as rubricas de A a E 22962885 22998394 23597574 23658631 23236298 23930340 Na rubrica D o aumento anual médio de 1853 a 1864 foi de apenas 093 enquanto no mesmo período na GrãBretanha ele foi de 458 A tabela seguinte mostra a distribuição dos lucros excluindo os lucros dos arrendatários nos anos de 1864 e 1865 506 Tabela E Rubrica D Rendimentos por lucros acima de 60 na Irlanda185 Libras esterlinas Repartido entre pessoas Libras esterlinas Repartido entre pessoas Total dos rendimentos anuais 4368610 17467 4669979 18081 Rendimento anual entre 60 e 100 238726 5015 222575 4703 Do total de rendimentos anuais 1979066 11321 2028571 12184 Resto dos rendimentos anuais 2150818 1131 2418833 1194 Dos quais 1073906 1010 1097927 1044 1076912 121 1320906 150 430535 95 584458 122 646377 26 736448 28 262819 3 274528 3 A I nglaterra um país de produção capitalista desenvolvida e preponderantemente industrial terseia extinguido caso tivesse sofrido uma hemorragia populacional como a irlandesa Atualmente porém a I rlanda não é mais do que um distrito agrícola da I nglaterra da qual é separada por um largo fosso de água à qual fornece cereais lã gado e recrutas industriais e militares O despovoamento fez com que muitas terras deixassem de ser cultivadas reduziu muito o produto agrícola186 e apesar da ampliação da área para a criação de gado ocasionou uma diminuição absoluta em alguns de seus ramos e em outros um progresso que mal merece ser citado interrompido por retrocessos constantes Não obstante com a queda da massa populacional subiram continuamente a renda da terra e os lucros dos arrendatários embora estes não de maneira tão constante quanto aquela A razão é facilmente compreensível Por um lado com a fusão dos arrendamentos e a transformação de lavouras em pastagens uma parte maior do produto total se converteu em maisproduto O maisproduto cresceu embora o produto total do qual ele é uma fração tenha diminuído Por outro lado o valor monetário desse maisproduto cresceu ainda mais rapidamente do que sua massa por causa do aumento que nos últimos vinte anos e principalmente na última década sofreram no mercado inglês os preços da carne da lã etc Os meios de produção dispersos que servem aos próprios produtores como meios de ocupação e subsistência sem que se valorizem mediante a incorporação de trabalho alheio é tão pouco capital quanto o produto consumido por seu próprio produtor é mercadoria Ainda que com a massa populacional também tenha diminuído a massa dos meios de produção empregados na agricultura a massa de capital nela empregada aumentou já que uma parte dos meios de produção antes dispersos foi transformada 507 em capital O capital total que na I rlanda é investido fora da agricultura na indústria e no comércio acumulouse lentamente durante as últimas duas décadas e sofreu grandes e constantes flutuações Em contrapartida a concentração de seus componentes individuais desenvolveuse com grande rapidez Finalmente por pequeno que tenha sido de qualquer modo seu crescimento em termos absolutos quando considerado em termos relativos isto é em proporção à massa populacional decrescente vemos que esse capital aumentou Aqui se desenrola sob nossos olhos e em larga escala um processo como a economia ortodoxa não o poderia desejar mais formoso para manter em pé seu dogma segundo o qual a miséria deriva da superpopulação absoluta e o equilíbrio é restabelecido mediante o despovoamento Esse é um experimento de importância muito maior do que a da peste de meados do século XI V tão glorificada pelos malthusianos Uma observação de passagem se querer aplicar às relações de produção e às correspondentes condições populacionais do século XI X o padrão do século XI V já era de uma ingenuidade escolar essa ingenuidade negligenciava além do mais que se aquela peste e a dizimação por ela acarretada foram seguidas pela libertação e enriquecimento da população rural deste lado do Canal da Mancha do outro lado na França elas provocaram uma maior servidão e uma miséria aumentada186a Em 1846 a fome liquidou na I rlanda mais de um milhão de pessoas mas só pobresdiabos Não acarretou o menor prejuízo à riqueza do país O êxodo ocorrido nas duas décadas seguintes e que ainda continua a aumentar não dizimou como foi o caso na Guerra dos Trinta Anos junto com os homens seus meios de produção O gênio irlandês inventou um método totalmente novo para transportar como por obra de encantamento um povo pobre a uma distância de milhares de milhas do cenário de sua miséria A cada ano os emigrantes assentados nos Estados Unidos enviam dinheiro para casa meios que possibilitam a viagem dos que ficaram para trás Cada tropa que emigra este ano atrai outra tropa que emigrará no ano seguinte Em vez de custar algo à I rlanda a emigração constitui assim um dos ramos mais rentáveis de seus negócios de exportação Ela é por fim um processo sistemático que não se limita a furar um buraco transitório na massa populacional mas que dela extrai anualmente um número maior de pessoas do que aquele reposto pelos nascimentos de modo que o nível populacional absoluto cai a cada ano186b Quais foram as consequências para os trabalhadores irlandeses que permaneceram em seu país de terem sido liberados da superpopulação Que a superpopulação relativa é hoje tão grande quanto antes de 1846 que o salário se mantém no mesmo nível baixo que o trabalho é hoje mais extenuante que antes que a miséria no campo conduz a uma nova crise As causas são simples A revolução na agricultura se deu no mesmo ritmo da emigração A produção da superpopulação relativa ultrapassou o despovoamento absoluto Um olhar à tabela B mostra como os efeitos da transformação de lavouras em pastagens tendem a ser mais agudos na I rlanda do que na I nglaterra Nesta a criação de gado provoca um aumento no cultivo de verduras e naquela uma redução Enquanto grandes extensões de terras anteriormente cultivadas são mantidas em alqueive ou transformadas em pastagens 508 permanentes grande parte da terra baldia e das turfeiras antes não utilizadas serve para a expansão da pecuária Os pequenos e médios arrendatários incluo aí todos os que não cultivam mais de 100 acres continuam a ser aproximadamente 810 do total186c Eles são progressivamente oprimidos num grau muito maior do que antes pela concorrência da agricultura praticada de modo capitalista e por isso não cessam de fornecer novos recrutas à classe dos trabalhadores assalariados A única grande indústria da I rlanda a fabricação de linho requer relativamente poucos homens adultos e em geral ocupa em que pese sua expansão desde o encarecimento do algodão entre 1861 e 1866 apenas uma parte proporcionalmente insignificante da população Como toda grande indústria a do linho por meio de oscilações contínuas não cessa de produzir uma superpopulação relativa em sua própria esfera mesmo com o crescimento absoluto da massa humana por ela absorvida A miséria da população rural constitui o alicerce de gigantescas fábricas de camisas etc cujo exército de trabalhadores se encontra em sua maior parte disperso pelo campo Aqui voltamos a nos deparar com o sistema descrito anteriormente do trabalho domiciliar que tem na subremuneração e no sobretrabalho seus meios de produção de supranumerários Por fim embora os efeitos do despovoamento não tenham sido tão destrutivos como seria o caso num país de produção capitalista desenvolvida ele não transcorreu sem repercussões constantes sobre o mercado interno O vazio deixado pela emigração tem como efeito o estreitamento não só da demanda local de trabalho mas também dos rendimentos dos pequenos comerciantes artesãos e pequenos industriais em geral I sso explica o retrocesso nos rendimentos entre 60 e 100 apresentado na tabela E Uma exposição clara da situação dos diaristas rurais na I rlanda encontrase nos relatórios dos inspetores da administração irlandesa de beneficência 1870186d Funcionários de um governo que só se mantém por força das baionetas e pelo estado de sítio ora declarado ora dissimulado precisam observar as precauções de linguagem que seus colegas ingleses desprezam apesar disso não permitem que seu governo acalente ilusões Segundo eles o nível salarial no campo que continua muito baixo elevouse nos últimos 20 anos entre 50 a 60 e é agora em média de 6 a 9 xelins por semana Por trás dessa aparente alta se esconde porém uma queda real do salário pois ela nem sequer compensa o aumento dos preços dos meios de subsistência como o demonstra o seguinte extrato dos cálculos oficiais de uma workhouse irlandesa Média semanal dos custos de manutenção por pessoa Período Alimentação Vestuário Soma 29 set 1848 a 29 set 1849 29 set 1868 a 29 set 1869 1 xelim e 314 pence 2 xelins e 714 pence 03 xelim 06 xelim 1 xelim e 614 pence 3 xelins e 114 pence O preço dos meios de subsistência é portanto quase o dobro de vinte anos atrás e o do vestuário é exatamente o dobro Mas mesmo se desconsiderarmos essa desproporção a mera comparação das taxas 509 salariais expressas em dinheiro ainda não nos permitiria chegar a um resultado correto Antes do surto de fome a maior parte dos salários rurais era paga in natura e em dinheiro só a menor parte atualmente a regra geral é o pagamento em dinheiro Já a partir disso se segue que qualquer que fosse o movimento do salário real sua taxa monetária haveria de subir Antes do surto de fome o diarista agrícola possuía uma pequena parcela de terra onde cultivava batatas e criava porcos e aves Hoje ele não só tem de comprar todos seus meios de subsistência como também perdeu os rendimentos que obtinha com a venda de porcos aves e ovos187 De fato antigamente os trabalhadores agrícolas se confundiam com os pequenos arrendatários e em sua maior parte formavam apenas a retaguarda dos arrendamentos médios e grandes nos quais encontravam ocupação Somente a partir da catástrofe de 1846 é que começaram a constituir uma fração da classe dos assalariados puros um estamento particular vinculado a seus patrões unicamente por relações monetárias Sabemos qual eram suas condições habitacionais em 1846 Desde então ela piorou ainda mais Parte dos diaristas agrícolas cujo número diminui no entanto dia após dia ainda vive nas terras dos arrendatários em cabanas superlotadas cujos horrores superam de longe o pior que nos apresentam os distritos rurais ingleses nesse gênero E isso vale de modo geral com exceção de algumas faixas de terra em Ulster no sul nos condados de Cork Limerick Kikenny etc no leste em Wicklow Wexford etc no centro no Kings e no Queens Countyz em Dublin etc no norte em Down Antrim Tyrone etc no oeste em Sligo Roscommon Mayo Galway etc É uma vergonha exclama um dos inspetores para a religião e a civilização deste paísPara tornar mais toleráveis aos trabalhadores diaristas as condições habitacionais de suas covas confiscase sistematicamente o pedacinho de terra que desde tempos imemoriais era sua parte integrante A consciência dessa espécie de banimento que lhes é imposto pelos proprietários fundiários e seus administradores provocou nos trabalhadores diaristas rurais sentimentos correspondentes de antagonismo e ódio contra aqueles que os tratam como uma raça sem direitos187a O primeiro ato da revolução agrária realizado na maior escala possível e como obedecendo a um comando recebido do alto foi o de varrer os casebres localizados nos campos de trabalho Desse modo muitos trabalhadores foram obrigados a procurar abrigo nos vilarejos e nas cidades Como se fossem velhos trastes eles foram ali jogados em sótãos buracos porões e nos covis dos piores bairros Milhares de famílias irlandesas que conforme o testemunho até mesmo de ingleses presos a preconceitos nacionais distinguiamse por sua rara dedicação ao lar por sua jovialidade despreocupada e pela pureza de suas virtudes domésticas encontraramse assim repentinamente transplantadas para as incubadoras do vício Os homens têm agora de procurar trabalho com os arrendatários vizinhos e só são contratados por dia portanto na forma salarial mais precária além disso agora eles têm de percorrer longas distâncias para ir ao arrendamento e voltar frequentemente encharcados como ratos e sujeitos a outras inclemências que costumam provocar fraqueza doenças e com isso privações187b 510 As cidades tinham de receber ano após ano o que se considerava como o excedente de trabalhadores nos distritos rurais187c e depois há ainda quem se admire de que nas cidades e vilarejos haja um excesso e no campo uma escassez de trabalhadores187d A verdade é que essa escassez só é sentida na época de trabalhos agrícolas urgentes na primavera e no outono ao passo que durante o resto do ano muitos braços ficam ociosos187e que depois da colheita de outubro até a primavera não há quase ocupação para eles187f e que também durante o tempo em que estão ocupados costumam perder dias inteiros e estão sujeitos a todo tipo de interrupções no trabalho187g Essas consequências da revolução agrícola isto é da transformação de lavouras em pastagens da utilização da maquinaria de uma economia mais severa de trabalho etc são aguçadas ainda mais por esses proprietários fundiários modelares que em vez de consumir suas rendas no estrangeiro são condescendentes ao ponto de viver na I rlanda em seus domínios Para que a lei da oferta e da demanda se mantenha plenamente impoluta agora esses cavalheiros satisfazem quase toda a sua necessidade de trabalho com seus pequenos arrendatários que desse modo veemse obrigados a trabalhar para seus proprietários fundiários por um salário geralmente inferior ao do trabalhador diarista comum e além disso sem qualquer consideração para com os desconfortos e prejuízos decorrentes de terem de negligenciar seus próprios campos nas épocas críticas da semeadura ou da colheita187h A insegurança e a irregularidade da ocupação a frequente repetição e a longa duração das paralisações do trabalho em suma todos esses sintomas de uma superpopulação relativa figuram nos relatórios dos inspetores da administração de beneficência como outras tantas queixas do proletariado agrícola irlandês Recordese de que encontramos fenômenos semelhantes quando tratamos do proletariado agrícola inglês Mas a diferença é que na I nglaterra país industrial a indústria recruta sua reserva no campo enquanto na I rlanda país agrário a agricultura recruta sua reserva nas cidades nos refúgio dos trabalhadores agrícolas expulsos do campo Lá os supranumerários da agricultura se transformam em trabalhadores fabris aqui aqueles que foram expulsos para as cidades ao mesmo tempo que exercem pressão sobre o salário urbano continuam a ser trabalhadores rurais e são constantemente rechaçados de volta ao campo em busca de trabalho Os informantes oficiais resumem assim a situação dos diaristas rurais Embora vivam na mais extrema frugalidade seu salário mal chega para garantir alimentação e moradia a eles e a suas famílias para o vestuário eles necessitam de receitas adicionais A atmosfera de suas moradias somada a outras privações torna essa classe especialmente suscetível ao tifo e à tuberculose187i Por isso não é de admirar que conforme o testemunho unânime dos informantes as fileiras dessa classe estejam impregnadas de um descontentamento sombrio que desejem retornar ao passado que abominem o presente desesperem do futuro entreguemse a influências perversas de demagogos e tenham apenas uma ideia fixa emigrar para a América Esta é a terra encantada em que a grande panaceia malthusiana o despovoamento transformou a verdejante Erinaa Para atestar o conforto em que vivem os trabalhadores manufatureiros da I rlanda basta um exemplo Em minha recente inspeção ao norte da Irlanda diz o inspetor de fábrica inglês Robert Baker surpreendeu me o esforço de um operário qualificado irlandês para dar educação a seus filhos apesar de sua escassez de meios Reproduzo literalmente seu depoimento em suas próprias palavras Que se trata de um trabalhador qualificado é algo que se pode pelo simples fato de que ele é empregado na confecção de artigos destinados ao mercado de Manchester Johnson Sou um beetler acabador e trabalho das 6 horas da manhã às 11 da noite de segunda a 511 sextafeira aos sábados trabalhamos até as 6 horas da tarde e temos 3 horas para refeições e descanso Tenho cinco filhos Por esse trabalho ganho 10 xelins e 6 pence por semana minha mulher também trabalha e ganha 5 xelins por semana A filha mais velha de 12 anos cuida da casa Ela é nossa cozinheira e única ajudante É ela quem prepara os irmãos menores para ir à escola Minha mulher se levanta comigo e saímos juntos Uma menina que passa diante de nossa casa nos desperta às 5 e meia da manhã Não comemos nada antes de ir para o trabalho A menina de 12 anos cuida dos menores durante todo o dia Tomamos o café da manhã às 8 horas e para isso vamos para casa Temos chá uma vez por semana nos outros dias temos um mingau stirabout às vezes de farinha de aveia às vezes de farinha de milho dependendo do que conseguimos arranjar No inverno adicionamos um pouco de açúcar e água à nossa farinha de milho No verão colhemos algumas batatas por nós mesmos plantadas num pedacinho de terra e quando elas acabam voltamos ao mingau E assim prosseguimos dia após dia aos domingos e dias úteis o ano todo À noite quando termino o serviço do dia estou sempre muito cansado Um pedaço de carne vemos excepcionalmente mas é muito raro Três de nossos filhos vão à escola e para isso pagamos semanalmente 1 pence por cabeça Nosso aluguel é de 9 pence por semana e a turfa e o fogo não custam menos que 1 xelim e 6 pence por quinzena188 Eis os salários irlandeses eis a vida irlandesaab De fato a miséria da I rlanda está novamente na ordem do dia na I nglaterra No final de 1866 e início de 1867 lord Dufferin um dos magnatas rurais irlandeses anunciou no Times a solução que se devia dar ao problema Que gesto tão humano da parte deste grande senhorac Na tabela E vimos que durante o ano de 1864 de um lucro total de 4368610 três extratores de maisvalor embolsaram apenas 262819 em contrapartida os mesmos três virtuoses da renúncia embolsaram em 1865 274528 do lucro total de 4669979 em 1864 26 extratores de maisvalor 646377 em 1865 28 extratores de maisvalor 736448 em 1864 121 extratores de maisvalor 1076912 em 1864 1131 extratores de maisvalor 2150818 quase a metade do lucro total anual e em 1865 1194 extratores de maisvalor 2418833 mais da metade do lucro total anual Mas a parte do leão que um número ínfimo de magnatas rurais devora do produto nacional anual na I nglaterra Escócia e I rlanda é tão monstruosa que a sabedoria política inglesa achou conveniente não fornecer sobre a distribuição da renda da terra os mesmos materiais estatísticos fornecidos no caso da distribuição do lucro Lord Dufferin é um desses magnatas rurais Sustentar que os registros de rendas fundiárias e de lucros possam jamais ser supranumerários ou que sua pletora esteja de algum modo vinculada à pletora da miséria popular é naturalmente uma concepção tão desrespeitosa quanto malsã unsound Ele se atém aos fatos e o fato é que à medida que diminui o tamanho da população da I rlanda aumentam os registros de terra neste país que o despovoamento faz bem ao proprietário fundiário logo também ao solo logo também ao povo que não é mais do que um acessório do solo Ele declara pois que a I rlanda continua superpovoada e que a corrente emigratória ainda flui com demasiado vagar Para ser plenamente feliz a I rlanda ainda teria de liberar ao menos 13 de milhão de trabalhadores Não se presuma que esse lord além de tudo poeta seja um médico da escola de Sangradoad aquele que mal verificava que seus pacientes não haviam apresentado melhora e logo prescrevia uma sangria e mais uma e assim por diante até que o paciente perdesse junto com o sangue também a doença Lord Dufferin pede uma nova sangria de apenas 13 de milhão em vez de uma de cerca de 2 milhões sem a qual é verdade o Milênio não se poderá estabelecer em Erin A prova é fácil de fornecer 512 Número e extensão dos arrendamentos na Irlanda em 1864 1 Arrendamentos de até 1 acre 2 Arrendamentos entre 1 e 5 acres 3 Arrendamentos entre 5 e 15 acres 4 Arrendamentos entre 15 e 30 acres Número Acres Número Acres Número Acres Número Acres 40653 25394 82037 288916 176368 1836310 136578 3051343 5 Arrendamentos entre 30 e 50 acres 6 Arrendamentos entre 50 e 100 acres 7 Arrendamentos com mais de 100 acres 8 Área total188a Número Acres Número Acres Número Acres Acres 71961 2906274 54247 3983880 31927 8277807 20319924 De 1851 a 1861 a centralizaçãoae eliminou principalmente arrendamentos das três primeiras categorias entre 1 e 15 acres São elas que antes de tudo têm de desaparecer I sso perfaz 307058 arrendatários supranumerários calculando família com base na baixa média de quatro indivíduos temos um total 1228232 pessoas Partindo do extravagante pressuposto de que 14 dessas pessoas pudessem ser reabsorvidas após a realização da revolução agrícola ainda restariam 921174 pessoas por emigrar As categorias 4 5 e 6 entre 15 e 100 acres são como há muito tempo se sabe na I nglaterra pequenas demais para o cultivo capitalista de cereais e para a criação de ovinos podem ser consideradas quase insignificantes De acordo com os mesmos pressupostos de antes teremos pois outras 788761 pessoas destinadas à emigração No total 1709532 pessoas E comme lappétit vient en mangeant af os olhos do registro de renda fundiária logo descobrirão que a I rlanda com 35 milhões de habitantes continuará sempre miserável porque superpovoada e que portanto seu despovoamento tem de ir muito além para que o país realize sua verdadeira vocação de ser pastagem de ovelhas e gado para a Inglaterra188b Esse lucrativo método como tudo o que é bom neste mundo tem seus inconvenientes A acumulação da renda fundiária na I rlanda ocorre no mesmo ritmo da acumulação de irlandeses na América O irlandês deslocado por vacas e ovelhas reaparece como fenianoag do outro lado do oceano E perante a antiga Rainha do Mar levantase cada vez mais ameaçadora a jovem e gigantesca república Acerba fata Romanos agunt Scelusque fraternae necisah 513 Capítulo 24 A assim chamada acumulação primitiva 1 O segredo da acumulação primitiva Vimos como o dinheiro é transformado em capital como por meio do capital é produzido maisvalor e do maisvalor se obtém mais capital Porém a acumulação do capital pressupõe o maisvalor o maisvalor a produção capitalista e esta por sua vez a existência de massas relativamente grandes de capital e de força de trabalho nas mãos de produtores de mercadorias Todo esse movimento parece portanto girar num círculo vicioso do qual só podemos escapar supondo uma acumulação primitiva previous accumulation em Adam Smith prévia à acumulação capitalista uma acumulação que não é resultado do modo de produção capitalista mas seu ponto de partida Essa acumulação primitiva desempenha na economia política aproximadamente o mesmo papel do pecado original na teologia Adão mordeu a maçã e com isso o pecado se abateu sobre o gênero humano Sua origem nos é explicada com uma anedota do passado Numa época muito remota havia por um lado uma elite laboriosa inteligente e sobretudo parcimoniosa e por outro uma súcia de vadios a dissipar tudo o que tinham e ainda mais De fato a legenda do pecado original teológico nos conta como o homem foi condenado a comer seu pão com o suor de seu rosto mas é a história do pecado original econômico que nos revela como pode haver gente que não tem nenhuma necessidade disso Seja como for Deuse assim que os primeiros acumularam riquezas e os últimos acabaram sem ter nada para vender a não ser sua própria pele E desse pecado original datam a pobreza da grande massa que ainda hoje apesar de todo seu trabalho continua a não possuir nada para vender a não ser a si mesma e a riqueza dos poucos que cresce continuamente embora há muito tenham deixado de trabalhar São trivialidades como essas que por exemplo o sr Thiers com a solenidade de um estadista continua a ruminar aos franceses outrora tão sagazes como apologia da proprietéa Mas tão logo entra em jogo a questão da propriedade tornase dever sagrado sustentar o ponto de vista da cartilha infantil como o único válido para todas as faixas etárias e graus de desenvolvimento Na história real como se sabe o papel principal é desempenhado pela conquista a subjugação o assassínio para roubar em suma a violência J á na economia política tão branda imperou sempre o idílio Direito e trabalho foram desde tempos imemoriais os únicos meios de enriquecimento excetuandose sempre é claro este ano Na realidade os métodos da acumulação primitiva podem ser qualquer coisa menos idílicos Num primeiro momento dinheiro e mercadoria são tão pouco capital quanto os meios de produção e de subsistência Eles precisam ser transformados em capital Mas essa transformação só pode operarse em determinadas circunstâncias que 514 contribuem para a mesma finalidade é preciso que duas espécies bem diferentes de possuidores de mercadorias se defrontem e estabeleçam contato de um lado possuidores de dinheiro meios de produção e meios de subsistência que buscam valorizar a quantia de valor de que dispõem por meio da compra de força de trabalho alheia de outro trabalhadores livres vendedores da própria força de trabalho e por conseguinte vendedores de trabalho Trabalhadores livres no duplo sentido de que nem integram diretamente os meios de produção como os escravos servos etc nem lhes pertencem os meios de produção como no caso por exemplo do camponês que trabalha por sua própria conta etc mas estão antes livres e desvinculados desses meios de produção Com essa polarização do mercado estão dadas as condições fundamentais da produção capitalista A relação capitalista pressupõe a separação entre os trabalhadores e a propriedade das condições da realização do trabalho Tão logo a produção capitalista esteja de pé ela não apenas conserva essa separação mas a reproduz em escala cada vez maior O processo que cria a relação capitalista não pode ser senão o processo de separação entre o trabalhador e a propriedade das condições de realização de seu trabalho processo que por um lado transforma em capital os meios sociais de subsistência e de produção e por outro converte os produtores diretos em trabalhadores assalariados A assim chamada acumulação primitiva não é por conseguinte mais do que o processo histórico de separação entre produtor e meio de produção Ela aparece como primitiva porque constitui a préhistória do capital e do modo de produção que lhe corresponde A estrutura econômica da sociedade capitalista surgiu da estrutura econômica da sociedade feudal A dissolução desta última liberou os elementos daquela O produtor direto o trabalhador só pôde dispor de sua pessoa depois que deixou de estar acorrentado à gleba e de ser servo ou vassalo de outra pessoa Para converter se em livre vendedor de força de trabalho que leva sua mercadoria a qualquer lugar onde haja mercado para ela ele tinha além disso de emanciparse do jugo das corporações de seus regulamentos relativos a aprendizes e oficiais e das prescrições restritivas do trabalho Com isso o movimento histórico que transforma os produtores em trabalhadores assalariados aparece por um lado como a libertação desses trabalhadores da servidão e da coação corporativa e esse é único aspecto que existe para nossos historiadores burgueses Por outro lado no entanto esses recém libertados só se convertem em vendedores de si mesmos depois de lhes terem sido roubados todos os seus meios de produção assim como todas as garantias de sua existência que as velhas instituições feudais lhes ofereciam E a história dessa expropriação está gravada nos anais da humanidade com traços de sangue e fogo Os capitalistas industriais esses novos potentados tiveram por sua vez de deslocar não apenas os mestresartesãos corporativos mas também os senhores feudais que detinham as fontes de riquezas Sob esse aspecto sua ascensão se apresenta como o fruto de uma luta vitoriosa contra o poder feudal e seus privilégios revoltantes assim como contra as corporações e os entraves que estas colocavam ao livre desenvolvimento da produção e à livre exploração do homem pelo homem Mas se os cavaleiros da indústria desalojaram os cavaleiros da espada isso só foi possível porque os primeiros exploraram acontecimentos nos quais eles não tinham a menor 515 culpa Sua ascensão se deu por meios tão vis quanto os que outrora permitiram ao liberto romano converterse em senhor de seu patronus patrono O ponto de partida do desenvolvimento que deu origem tanto ao trabalhador assalariado como ao capitalista foi a subjugação do trabalhador O estágio seguinte consistiu numa mudança de forma dessa subjugação na transformação da exploração feudal em exploração capitalista Para compreendermos sua marcha não precisamos remontar a um passado tão remoto Embora os primórdios da produção capitalista já se nos apresentem esporadicamente nos séculos XI V e XV em algumas cidades do Mediterrâneo a era capitalista só tem início no século XVI Nos lugares onde ela surge a supressão da servidão já está há muito consumada e o aspecto mais brilhante da Idade Média a existência de cidades soberanas há muito já empalideceu Na história da acumulação primitiva o que faz época são todos os revolucionamentos que servem de alavanca à classe capitalista em formação mas acima de tudo os momentos em que grandes massas humanas são despojadas súbita e violentamente de seus meios de subsistência e lançadas no mercado de trabalho como proletários absolutamente livres A expropriação da terra que antes pertencia ao produtor rural ao camponês constitui a base de todo o processo Sua história assume tonalidades distintas nos diversos países e percorre as várias fases em sucessão diversa e em diferentes épocas históricas Apenas na I nglaterra e por isso tomamos esse país como exemplo tal expropriação se apresenta em sua forma clássicab 189 2 Expropriação da terra pertencente à população rural Na I nglaterra a servidão havia praticamente desaparecido na segunda metade do século XI V A maioria da população190 consistia naquela época e mais ainda no século XV em camponeses livres economicamente autônomos qualquer que fosse o rótulo feudal a encobrir sua propriedade Nos domínios senhoriais maiores o arrendatário livre tomara o lugar do bailiff bailio ele mesmo servo em outras épocas Os assalariados agrícolas consistiam em parte em camponeses que empregavam seu tempo livre trabalhando para os grandes proprietários em parte numa classe de trabalhadores assalariados propriamente ditos classe essa independente e pouco numerosa tanto em termos relativos como absolutos Ao mesmo tempo também estes últimos eram de fato camponeses economicamente autônomos pois além de seu salário recebiam terras de 4 ou mais acres para o cultivo além de cottages Ademais junto com os camponeses propriamente ditos desfrutavam das terras comunais sobre as quais pastava seu gado e que lhes forneciam também combustíveis como lenha turfa etc191 Em todos os países da Europa a produção feudal se caracteriza pela partilha do solo entre o maior número possível de vassalos O poder de um senhor feudal como o de todo soberano não se baseava na extensão de seu registro de rendas mas no número de seus súditos e este dependia da quantidade de camponeses economicamente autônomos192 I sso explica por que o solo inglês que depois da conquista normanda se dividiu em gigantescos baronatos um único dos quais costumava incluir 900 dos antigos senhorios anglosaxônicos era entremeado de pequenas propriedades camponesas apenas aqui e ali interrompidas 516 por domínios senhoriais maiores Tais condições somadas ao florescimento simultâneo das cidades que caracteriza o século XV permitiam aquela riqueza popular que o chanceler Fortescue descreve com tanta eloquência em seu Laudibus Legum Angliae mas excluíam a riqueza capitalista O prelúdio da revolução que criou as bases do modo de produção capitalista ocorreu no último terço do século XV e nas primeiras décadas do século XVI Uma massa de proletários absolutamente livres foi lançada no mercado de trabalho pela dissolução dos séquitos feudais que como observou corretamente sir J ames Steuart por toda parte lotavam inutilmente casas e castelosc Embora o poder real ele mesmo um produto do desenvolvimento burguês em sua ânsia pela conquista da soberania absoluta tenha acelerado violentamente a dissolução desses séquitos ele não foi de modo algum a causa exclusiva dessa dissolução Ao contrário foi o grande senhor feudal que na mais tenaz oposição à Coroa e ao Parlamento criou um proletariado incomparavelmente maior tanto ao expulsar brutalmente os camponeses das terras onde viviam e sobre as quais possuíam os mesmos títulos jurídicos feudais que ele quanto ao usurparlhes as terras comunais O impulso imediato para essas ações foi dado na I nglaterra particularmente pelo florescimento da manufatura flamenga de lã e o consequente aumento dos preços da lã A velha nobreza feudal fora aniquilada pelas grandes guerras feudais a nova nobreza era uma filha de sua época para a qual o dinheiro era o poder de todos os poderes Sua divisa era por isso transformar as terras de lavoura em pastagens de ovelhas Em sua Description of England Prefixed to Holinsheds Chronicles Harrison descreve como a expropriação dos pequenos camponeses significa a ruína do campo What care our great incroachers Mas o que isso importa a nossos grandes usurpadores As habitações dos camponeses e os cottages dos trabalhadores foram violentamente demolidos ou abandonados à ruína Se consultamos diz Harrison os inventários mais antigos de cada domínio senhorial vemos que inúmeras casas e pequenas propriedades camponesas desapareceram que o campo alimenta muito menos gente que muitas cidades estão arruinadas embora algumas novas floresçam Eu teria algo a contar sobre cidades e aldeias que foram destruídas para ceder lugar a pastagens de ovelhas e onde só restaram as casas dos antigos senhores As queixas dessas velhas crônicas são invariavelmente exageradas mas ilustram exatamente a impressão que a revolução nas condições de produção provocou nos homens daquela época Uma comparação dos escritos do chanceler Fortescue com os de Thomas More evidencia o abismo entre os séculos XV e XVI De sua idade de ouro como diz Thornton corretamente a classe trabalhadora inglesa decaiu sem qualquer fase de transição à idade de ferro A legislação se aterrorizou com esse revolucionamento Ela ainda não havia alcançado aquele ápice civilizacional em que a wealth of the nation isto é a formação do capital e a exploração e empobrecimento inescrupulosos das massas populares são considerados a última Thule de toda a sabedoria de Estado Em sua história de Henrique VII diz Bacon Naquele tempo 1489 aumentaram as queixas sobre a transformação de terras de lavoura em pastagens para criação de ovelhas etc fáceis de vigiar com poucos pastores e as propriedades arrendadas temporária vitalícia 517 ou anualmente dos quais vivia grande parte dos yeomend foram transformados em domínios senhoriais Isso provocou uma decadência do povo e em decorrência uma decadência das cidades igrejas dízimos Na cura desse mal foi admirável naquela época a sabedoria do rei e do Parlamento Adotaram medidas contra essa usurpação que despovoava os domínios comunais depopulating inclosures e o despovoador regime de pastagens depopulating pasture que o acompanhava Uma lei de Henrique VI I de 1489 c 19e proibiu a destruição de toda casa camponesa que tivesse pelo menos 20 acres de terra Numa lei 25f de Henrique VI I I confirmase a disposição legal anterior Dizse entre outras coisas que muitos arrendamentos e grandes rebanhos de gado especialmente de ovelhas concentramse em poucas mãos provocando um aumento considerável das rendas fundiárias e ao mesmo tempo uma grande diminuição das lavouras tillage e a demolição de igrejas e casas de maneira que enormes massas populares se veem impossibilitadas de sustentar a si mesmas e a suas famílias A lei ordena por isso a reconstrução das propriedades rurais arruinadas determina a proporção entre campos de cereais e pastagens etc Um decreto de 1533 se queixa de que um número considerável de proprietários possuíam 24 mil ovelhas e restringe seu número a 2 mil193 As queixas populares e a legislação que desde Henrique VI I e durante 150 anos condenou a expropriação dos pequenos arrendatários e camponeses foram igualmente infrutíferas O segredo de seu fracasso nos é revelado por Bacon sem que ele se aperceba disso A lei de Henrique VII diz ele em seus Essays Civil and Moral seção 29 foi profunda e admirável por ter estabelecido explorações agrícolas e casas rurais de determinado padrão isto é por ter garantido aos lavradores uma parcela de terra que os capacitava a trazer ao mundo súditos dotados de uma riqueza suficiente e de condição não servil conservando o arado nas mãos de proprietários e não de trabalhadores mercenários to keep the plough in the hand of the owners and not hirelings193a O que o sistema capitalista exigia ao contrário era uma posição servil das massas populares a transformação destas em trabalhadores mercenários e a de seus meios de trabalho em capital Durante esse período de transição a legislação procurou também conservar os 4 acres de terra contíguos ao cottage do assalariado agrícola e proibiulhe abrigar subinquilinos em seu cottage Ainda em 1627 sob Carlos I Roger Crocker de Fontmill foi condenado por ter construído no solar de Fontmill um cottage desprovido dos 4 acres de terra como anexo permanente ainda em 1638 sob Carlos I nomeouse uma comissão real para a implementação das velhas leis especialmente a que estabelece os 4 acres de terra também Cromwell proibiu a construção de qualquer casa num raio de 4 milhas ao redor de Londres que não estivesse dotada de 4 acres de terra Ainda na primeira metade do século XVI I I havia queixas quando o cottage do trabalhador agrícola não dispunha como complemento de 1 ou 2 acres de terra Hoje tal trabalhador está feliz quando sua casa é dotada de uma pequena horta ou quando pode arrendar longe dela umas poucas varas de terra Os proprietários fundiários e os arrendatários diz o dr Hunter agem nesse caso de comum acordo Uns poucos acres no cottage tornariam os trabalhadores demasiado independentes194 Um novo e terrível impulso ao processo de expropriação violenta das massas populares foi dado no século XVI pela Reforma e em consequência dela pelo roubo colossal dos bens da I greja Na época da Reforma a I greja católica era a proprietária feudal de grande parte do solo inglês A supressão dos monastérios etc lançou seus 518 principescos da oligarquia inglesa202 Os capitalistas burgueses favoreceram a operação entre outros motivos para transformar o solo em artigo puramente comercial ampliar a superfície da grande exploração agrícola aumentar a oferta de proletários absolutamente livres provenientes do campo etc Além disso a nova aristocracia fundiária era aliada natural da nova bancocracia das altas finanças recém saídas do ovo e dos grandes manufatureiros que então se apoiavam sobre tarifas protecionistas A burguesia inglesa atuava em defesa de seus interesses tão acertadamente quanto os burgueses suecos que ao contrário em aliança com seu baluarte econômico o campesinato apoiaram os reis na retomada violenta das terras da Coroa em mãos da oligarquia desde 1604 mais tarde nos reinados de Carlos X e Carlos XI A propriedade comunal absolutamente distinta da propriedade estatal anteriormente considerada era uma antiga instituição germânica que subsistiu sob o manto do feudalismo Vimos como a violenta usurpação dessa propriedade comunal em geral acompanhada da transformação das terras de lavoura em pastagens tem início no final do século XV e prossegue durante o século XVI Nessa época porém o processo se efetua por meio de atos individuais de violência contra os quais a legislação lutou em vão durante 150 anos O progresso alcançado no século XVI I I está em que a própria lei se torna agora o veículo do roubo das terras do povo embora os grandes arrendatários também empreguem paralelamente seus pequenos e independentes métodos privados203 A forma parlamentar do roubo é a das Bills for Inclosures of Commons leis para o cercamento da terra comunal decretos de expropriação do povo isto é decretos mediante os quais os proprietários fundiários presenteiam a si mesmos como propriedade privada com as terras do povo Sir Francis Morton Eden refuta sua própria argumentação espirituosa de advogado na qual procura apresentar a propriedade comunal como propriedade privada dos latifundiários que assumiram o lugar dos senhores feudais quando exige uma lei parlamentar geral para o cercamento das terras comunais admitindo com isso ser necessário um golpe de Estado parlamentar para transformar essas terras em propriedade privada e por outro lado quando reivindica ao poder legislativo uma indenização para os pobres expropriados204 Enquanto o lugar dos yeomen independentes foi ocupado por tenantsatwill arrendatários menores sujeitos a ser desalojados com um aviso prévio de um ano isto é um bando servil e dependente do arbítrio do landlord o roubo sistemático da propriedade comunal ao lado do roubo dos domínios estatais ajudou especialmente a inchar aqueles grandes arrendamentos que no século XVI I I eram chamados de fazendas de capital205 ou arrendamentos de mercador206 e a liberar a população rural para a indústria como proletariado No entanto o século XVI I I ainda não compreendia na mesma medida que a compreendeu o século XI X a identidade entre riqueza nacional e pobreza do povo Disso resulta a mais encarniçada polêmica na literatura econômica da época em torno d o inclosure of commons Cercamento de terras comuns Da grande quantidade de material de que disponho apresento aqui algumas poucas passagens pois assim será possível obter uma ideia viva das circunstâncias 520 O escravo que fugir e permanecer ausente por 14 dias será condenado a escravidão perpétua e deverá ser marcado a ferro na testa ou na face com a letra S se fugir pela terceira vez será executado por alta traição Seu dono pode vendêlo legálo a herdeiros ou alugálo como escravo tal como qualquer outro bem móvel ou gado doméstico Os escravos que tentarem qualquer ação contra os senhores também deverão ser executados Os juízes de paz assim que informados deverão perseguir os velhacos Quando se descobrir que um vagabundo esteve vagando por 3 dias ele deverá ser conduzido à sua terra natal marcado com um ferro em brasa no peito com a letra V e acorrentado para trabalhar nas estradas ou ser utilizado em outras tarefas Se o vagabundo informar um lugar de nascimento falso seu castigo será o de se tornar escravo vitalício dessa localidade de seus habitantes ou da corporação além de ser marcado a ferro com um S Todas as pessoas têm o direito de tomar os filhos dos vagabundos e mantêlos como aprendizes os rapazes até 24 anos as moças até 20 Se fugirem deverá até atingir essa idade ser escravos dos mestres que poderão acorrentálos acitálos etc como bem o quiserem Todo amo tem permissão para pôr um anel de ferro no pescoço nos braços ou nas pernas de seu escravo para poder reconhecêlo melhor e estar mais seguro de sua posse221 A última parte desse estatuto prevê que certos pobres devem ser empregados pela localidade ou pelos indivíduos que lhes deem de comer e de beber e queiram encontrar trabalho para eles Esse tipo de escravos paroquiais substituiu na Inglaterra até o avançar do século XIX sob o nome de roundsmens circulantes Elizabeth 1572 mendigos sem licença e com menos de 14 anos de idade devem ser tomados a serviço por 2 anos em caso de reincidência serão executados senão mais de 18 anos de idade devem ser executados caso ninguém quiser tomálos a serviço por 2 anos na segunda reincidência serão executados em misericórdia como traidores do Estado Estatutos similares 13 Elizabeth c 130 e os do ano 1597221 Jaime I alguém que vagueie e mendigue será declarado um desocupado e vagabundo Os juízes de paz nas Petty Sessions têm autorização para mandar agitalos em público e encarcerálos na primeira ocorrência por 6 meses e na segunda por 2 anos Durante esse tempo na prisão serão açoitados tanto e tantas vezes quanto os juízes de paz considerarem conveniente Os vagabundos incorrigíveis e perigosos devem ser marcados a ferro no ombro esquerdo com a letra Rq e condenados a trabalho forçado e se forem apanhados de novo mendigando devem ser executados sem perdão Essas disposições legais vigentes até o começo do século XVIII só foram revogadas por 172 Ana c 23 Em muitas paróquias de Hertfordshire escreve uma pena indignada 24 arrendamentos cada um deles com uma média de 50 a 150 acres foram fundidos em 3 arrendamentos207 Em Northamptonshire e Lincolnshire tem predominado o cercamento das terras comunais e a maior parte dos novos senhorios surgidos dos cercamentos foi convertida em pastagens em razão disso hoje muitos senhorios não têm 50 acres sob o arado onde antes eram arados 1500 acres Ruínas de antigas habitações celeiros currais etc são os únicos vestígios dos antigos habitantes Em alguns lugares 100 casas e famílias foram reduzidas a 8 ou 10 Na maioria das paróquias em que o cercamento se deu há apenas 15 ou 20 anos o número de proprietários fundiários é muito pequeno em comparação com o daqueles que cultivavam a terra no regime de campos abertos Não é nada incomum ver 4 ou 5 ricos pecuaristas usurparem senhorios recémcercados que antes encontravamse em mãos de 20 a 30 arrendatários e outros tantos pequenos proprietários e camponeses Estes últimos e suas famílias foram expulsos de suas propriedades juntamente com muitas outras famílias que eram por eles ocupadas e mantidas208 O que o landlord vizinho anexava sob o pretexto do cercamento não era apenas terra alqueivada mas eram frequentemente terras cultivadas comunalmente ou mediante um determinado pagamento à comunidade Refirome aqui ao cercamento de campos abertos e terras já cultivadas Mesmo os autores que defendem os inclosures admitem que estes últimos aumentam o monopólio dos grandes arrendamentos elevam os preços dos meios de subsistência e provocam despovoamento e mesmo o cercamento de terras desertas como o praticam agora despoja os pobres de uma parte de seus meios de subsistência e incha arrendamentos que já são grandes demais209 Quando diz o dr Price a terra cai em mãos de alguns poucos grandes arrendatários os pequenos arrendatários anteriormente caracterizados por ele como uma multidão de pequenos proprietários e arrendatários que se mantêm a si mesmos e a suas famílias com o produto das terras cultivadas por eles mesmos e com as ovelhas aves porcos etc que criam nas terras comunais tendo assim pouca necessidade de comprar meios de subsistência se transformam em pessoas que têm de obter sua subsistência trabalhando para outrem e que são forçadas a ir ao mercado para obter tudo de que precisam É possível que mais trabalho seja realizado porque há mais compulsão para isso Cidades e manufaturas crescerão porque mais pessoas em busca de trabalho serão impelidas para elas Essa é a forma como a concentração dos arrendamentos naturalmente opera e o modo como efetivamente tem operado neste reino há muitos anos210 Assim ele resume o efeito global dos inclosures Em termos gerais a situação das classes inferiores do povo tem piorado em quase todos os sentidos os pequenos proprietários fundiários e arrendatários foram rebaixados à condição de jornaleiros e trabalhadores mercenários ao mesmo tempo que se tornou cada vez mais difícil ganhar a vida nessa condição211 Com efeito a usurpação da terra comunal e a conseguinte revolução da agricultura surtem efeitos tão agudos sobre os trabalhadores agrícolas que segundo o próprio Eden entre 1765 e 1780 o salário desses trabalhadores começou a cair abaixo do mínimo e a ser complementado pela assistência oficial aos pobres Seu salário diz ele já não bastava para satisfazer as necessidades vitais mais elementares Ouçamos ainda por um instante um defensor dos enclosures e adversário do dr Price Não é correto concluir que haja despovoamento pelo fato de não se ver mais gente desperdiçando seu trabalho em campo aberto Se após a conversão dos pequenos camponeses em gente que tem de trabalhar para outrem mais trabalho é posto em movimento isso constitui de fato uma vantagem que a nação à qual os convertidos naturalmente não pertencem deve desejar O produto será maior se seu trabalho combinado for empregado num só arrendamento desse modo formarseá produto excedente para as manufaturas e por meio deste as manufaturas uma das minas de ouro desta nação se multiplicarão em proporção à quantidade de cereais produzida212 A imperturbabilidade estoica com que o economista político encara as violações mais inescrupulosas do sagrado direito de propriedade e os atos de violência mais grosseiros contra as pessoas sempre que estes sejam necessários para produzir as 521 bases do modo de produção capitalista demonstranos entre outros o filantrópico sir F M Eden que além de tudo apresenta certa tendência tory Toda a série de pilhagens horrores e opressão que acompanha a expropriação violenta do povo do último terço do século XV até o fim do século XVI I I induz Eden apenas a esta confortável reflexão final Era necessário estabelecer a proporção correta due entre as terras de lavoura e de pastagens Ainda durante o século XIV e na maior parte do século XV para cada acre de pastagens havia 2 3 e até mesmo 4 acres de lavoura Em meados do século XVI essa proporção transformouse em 2 acres de pastagens para 2 acres de lavoura mais tarde 2 acres de pastagens para 1 acre de lavoura até que por fim alcançouse a proporção correta de 3 acres de pastagens para 1 acre de lavoura No século XI X naturalmente perdeuse até mesmo a lembrança do nexo entre o lavrador e a propriedade comunal Para não falar de tempos posteriores que farthing de indenização recebeu alguma vez a população rural pelos 3511770 acres de terras comunais que lhes foram roubados entre 1810 e 1831 e que os landlords presentearam aos landlords mediante o parlamento O último grande processo de expropriação que privou os lavradores da terra foi a assim chamada clearing of estates clareamento das propriedades rurais o que significa na verdade varrêlas de seres humanos Todos os métodos ingleses até agora observados culminaram no clareamento Como vimos na parte anterior ao descrevermos a situação moderna agora quando já não há camponeses independentes a serem varridos passouse ao clareamento dos cottages de modo que os trabalhadores agrícolas já não encontram o espaço necessário para suas moradias nem mesmo sobre o solo cultivado por eles Mas o real significado de clearing of estates só se pode aprender na terra prometida da moderna literatura de romance na alta Escócia Lá o processo se distingue por seu caráter sistemático pela magnitude da escala em que foi executado com um só golpe na I rlanda os senhores fundiários o implementaram ao ponto de varrer várias aldeias ao mesmo tempo na alta Escócia tratase de áreas do tamanho de ducados alemães e finalmente pela forma particular da propriedade fundiária subtraída Os celtas da alta Escócia formavam clãs sendo cada um deles o proprietário do solo em que se assentava O representante do clã seu chefe ou grande homem era apenas o proprietário titular desse solo do mesmo modo como a rainha da I nglaterra é a proprietária titular do solo nacional inteiro Quando o governo inglês logrou reprimir as guerras intestinas desses grandes homens e suas contínuas incursões nas planícies da baixa Escócia os chefes dos clãs não abandonaram de modo nenhum seu velho ofício de bandoleiros apenas modificaram a forma Por conta própria transformaram seu direito titular de propriedade em direito de propriedade privada e como os membros do clã impusessem resistência decidiram expulsálos por meios violentos Com o mesmo direito um rei da I nglaterra poderia ser autorizado a lançar seus súditos ao mar diz o prof Newman213 Essa revolução que teve início na Escócia depois do último levante do pretendentek pode ser acompanhada em suas primeiras fases nas obras de sir J ames Steuart214 e J ames Anderson215 No século XVI I I proibiuse também a emigração dos gaélicos expulsos de suas terras a fim de impeli 522 los violentamente para Glasgow e outras cidades fabris216 Como exemplo dos métodos dominantes no século XI X217 bastam aqui os clareamentos realizados por ordem da duquesa de Sutherland Essa pessoa instruída em matérias econômicas decidiu logo ao assumir o governo aplicar um remédio econômico radical transformando em pastagens de ovelhas o condado inteiro cuja população já fora reduzida a 15 mil em consequência de processos de tipo semelhante De 1814 até 1820 esses 15 mil habitantes aproximadamente 3 mil famílias foram sistematicamente expulsos e exterminados Todos os seus vilarejos foram destruídos e incendiados todos os seus campos transformados em pastagens Soldados britânicos foram incumbidos da execução dessa tarefa e entraram em choque com os nativos Uma anciã morreu queimada na cabana que ela se recusara a abandonar Desse modo a duquesa se apropriou de 794 mil acres de terras que desde tempos imemoriais pertenciam ao clã Aos nativos expulsos ela designou cerca de 6 mil acres de terras 2 acres por família na orla marítima Até então esses 6 mil acres haviam permanecido ermos e seus proprietários não haviam obtido renda nenhuma com eles Movida por seu nobre sentimento a duquesa chegou ao ponto de arrendar o acre de terra por 2 xelins e 6 pence às pessoas do clã que por séculos haviam vertido seu sangue pela família Sutherland Toda a terra roubada ao clã foi dividida em 29 grandes arrendamentos destinados à criação de ovelhas cada arrendamento era habitado por uma só família em sua maioria servos ingleses de arrendatários No ano de 1825 os 15 mil gaélicos já haviam sido substituídos por 131 mil ovelhas A parte dos aborígines jogada na orla marítima procurou viver da pesca Tornaramse anfíbios vivendo como diz um escritor inglêsl metade sobre a terra metade na água e no fim das contas apenas metade em ambas218 Mas os bravos gaélicos deviam pagar ainda mais caro por sua idolatria romântica de montanheses pelos grandes homens do clã O cheiro de peixe subiu ao nariz dos grandes homens Estes farejaram algo lucrativo nesse assunto e arrendaram a orla marítima aos grandes comerciantes de peixes de Londres Os gaélicos foram expulsos pela segunda vez219 Por último no entanto uma parte das pastagens para ovelhas foi reconvertida em reserva de caça Na I nglaterra como é sabido não há florestas propriamente ditas Os animais que vagam pelos parques dos grandes são inquestionavelmente gado doméstico gordo como os aldermen conselheiros municipais londrinos A Escócia é assim o último asilo da nobre paixão Nas Terras Altas diz Somers em 1848 as áreas florestais se ampliaram muito Aqui temos de um lado de Gaick a nova floresta de Glenfeshie e lá do outro lado a nova floresta de Ardverikie Na mesma linha temos o BleakMount um imenso deserto recéminaugurado De leste a oeste das vizinhanças de Aberdeen até os penhascos de Oban há uma linha contínua de florestas ao passo que em outras regiões das Terras Altas encontramse as novas florestas de Loch Archaig Glengarry Glenmoriston etc A transformação de sua terra em pastagens de ovelhas impeliu os gaélicos para terras estéreis Agora o veado começa a substituir a ovelha e lança os gaélicos numa miséria ainda mais massacrante As florestas de caça219a e o povo não podem existir um ao lado do outro Um ou outro tem inevitavelmente de ceder espaço Se no próximo quarto de século deixarmos que as florestas de caça continuem a crescer em número e tamanho como ocorreu no último quarto de século logo não se encontrará mais nenhum gaélico em sua terra natal Esse movimento entre os proprietários das Terras Altas se deve por um lado à moda aos pruridos aristocráticos à paixão pela caça etc por outro lado porém eles praticam o comércio da caça exclusivamente com um olho no lucro Pois é fato que uma parte das terras montanhosas convertida em reserva de caça é em muitos casos incomparavelmente mais lucrativa do que 523 se convertida em pastagens de ovelhas O aficionado que procura uma reserva de caça só limita sua oferta pelo tamanho de sua bolsa Nas Terras Altas foram impostos sofrimentos não menos cruéis do que aqueles impostos à Inglaterra pela política dos reis normandos Aos veados foi dado mais espaço enquanto os seres humanos foram acossados num círculo cada vez mais estreito Roubouse do povo uma liberdade atrás da outra E a opressão ainda cresce diariamente Clareamento e expulsão do povo são seguidos pelos proprietários como princípios inexoráveis como uma necessidade agrícola do mesmo modo como são varridos as árvores e os arbustos nas florestas da América e da Austrália e a operação segue sua marcha tranquila adequada aos negócios220 O roubo dos bens da I greja a alienação fraudulenta dos domínios estatais o furto da propriedade comunal a transformação usurpatória realizada com inescrupuloso terrorismo da propriedade feudal e clânica em propriedade privada moderna foram outros tantos métodos idílicos da acumulação primitiva Tais métodos conquistaram o campo para a agricultura capitalista incorporaram o solo ao capital e criaram para a indústria urbana a oferta necessária de um proletariado inteiramente livre 3 Legislação sanguinária contra os expropriados desde o final do século XV Leis para a compressão dos salários Expulsos pela dissolução dos séquitos feudais e pela expropriação violenta e intermitente de suas terras esse proletariado inteiramente livre não podia ser absorvido pela manufatura emergente com a mesma rapidez com que fora trazido ao mundo Por outro lado os que foram repentinamente arrancados de seu modo de vida costumeiro tampouco conseguiam se ajustar à disciplina da nova situação Converteramse massivamente em mendigos assaltantes vagabundos em parte por predisposição mas na maioria dos casos por força das circunstâncias I sso explica o surgimento em toda a Europa ocidental no final do século XV e ao longo do século XVI de uma legislação sanguinária contra a vagabundagem Os pais da atual classe trabalhadora foram inicialmente castigados por sua metamorfose que lhes fora imposta em vagabundos e paupers A legislação os tratava como delinquentes voluntários e supunha depender de sua boa vontade que eles continuassem a trabalhar sob as velhas condições já inexistentes Na Inglaterra essa legislação teve início no reinado de Henrique VII Henrique VI I I 1530 mendigos velhos e incapacitados para o trabalho recebem uma licença para mendigar Em contrapartida açoitamento e encarceramento para os vagabundos mais vigorosos Estes devem ser amarrados a um carro e açoitados até sangrarem em seguida devem prestar juramento de retornarem à sua terra natal ou ao lugar onde tenham residido durante os últimos três anos e de se porem a trabalhar to put himself to labour Que ironia cruel Na lei 27 Henrique VI I Im reitera se o estatuto anterior porém diversas emendas o tornam mais severo Em caso de uma segunda prisão por vagabundagem o indivíduo deverá ser novamente açoitado e ter a metade da orelha cortada na terceira reincidência porém o réu deve ser executado como grave criminoso e inimigo da comunidade Eduardo VI um estatuto do primeiro ano de seu reinado 1547 estabelece que quem se recusar a trabalhar deverá ser condenado a se tornar escravo daquele que o denunciou como vadio O amo deve alimentar seu escravo com pão e água caldos fracos e os restos de carne que lhe pareçam convenientes Ele tem o direito de forçálo 524 das Províncias Unidas de 25 de julho de 1649 etc Assim a população rural depois de ter sua terra violentamente expropriada sendo dela expulsa e entregue à vagabundagem viuse obrigada a se submeter por meio de leis grotescas e terroristas e por força de açoites ferros em brasa e torturas a uma disciplina necessária ao sistema de trabalho assalariado Não basta que as condições de trabalho apareçam num polo como capital e no outro como pessoas que não têm nada para vender a não ser sua força de trabalho Tampouco basta obrigálas a se venderem voluntariamente No evolver da produção capitalista desenvolvese uma classe de trabalhadores que por educação tradição e hábito reconhece as exigências desse modo de produção como leis naturais e evidentes por si mesmas A organização do processo capitalista de produção desenvolvido quebra toda a resistência a constante geração de uma superpopulação relativa mantém a lei da oferta e da demanda de trabalho e portanto o salário nos trilhos convenientes às necessidades de valorização do capital a coerção muda exercida pelas relações econômicas sela o domínio do capitalista sobre o trabalhador A violência extraeconômica direta continua é claro a ser empregada mas apenas excepcionalmente Para o curso usual das coisas é possível confiar o trabalhador às leis naturais da produção isto é à dependência em que ele mesmo se encontra em relação ao capital dependência que tem origem nas próprias condições de produção e que por elas é garantida e perpetuada Diferente era a situação durante a gênese histórica da produção capitalista A burguesia emergente requer e usa a força do Estado para regular o salário isto é para comprimilo dentro dos limites favoráveis à produção de maisvalor a fim de prolongar a jornada de trabalho e manter o próprio trabalhador num grau normal de dependência Esse é um momento essencial da assim chamada acumulação primitiva A classe dos assalariados surgida na segunda metade do século XI V constituía nessa época e também no século seguinte apenas uma parte muito pequena da população cuja posição era fortemente protegida no campo pela economia camponesa independente e na cidade pela organização corporativa No campo e na cidade mestres e trabalhadores estavam socialmente próximos A subordinação do trabalho ao capital era apenas formal isto é o próprio modo de produção não possuía ainda um caráter especificamente capitalista O elemento variável do capital preponderava consideravelmente sobre o constante Por isso a demanda de trabalho assalariado crescia rapidamente com cada acumulação do capital enquanto a oferta de trabalho assalariado a seguia apenas lentamente Grande parte do produto nacional mais tarde convertida em fundo de acumulação do capital ainda integrava nessa época o fundo de consumo do trabalhador A legislação sobre o trabalho assalariado desde sua origem cunhada para a exploração do trabalhador e à medida de seu desenvolvimento sempre hostil a ele222 foi iniciada na I nglaterra em 1349 pelo Statute of Labourers Estatuto dos trabalhadores de Eduardo I I I A ele corresponde na França a ordenança de 1350 promulgada em nome do rei J oão As legislações inglesa e francesa seguem um curso paralelo e são idênticas quanto ao conteúdo Na medida em que os estatutos dos trabalhadores procuram impor o prolongamento da jornada de trabalho não voltarei a 526 eles pois esse ponto já foi examinado anteriormente capítulo 8 item 5 O Statute of Labourers foi promulgado em razão das reclamações insistentes da Câmara dos Comuns Antes diz ingenuamente um tory os pobres exigiam salários tão altos que ameaçavam a indústria e a riqueza Hoje seu salário é tão baixo que igualmente ameaça a indústria e a riqueza mas de outra maneira e talvez com muito maior perigo do que então223 Uma tarifa legal de salários foi estabelecida para a cidade e para o campo para o trabalho por peça e por dia Os trabalhadores rurais deviam ser contratados por ano e os da cidade no mercado aberto Proibiase sob pena de prisão pagar salários mais altos do que o determinado por lei mas quem recebia um salário mais alto era punido mais severamente do que quem o pagava Assim as seções 18 e 19 do Estatuto dos Aprendizes da rainha Elizabeth impunham 10 dias de prisão para quem pagasse um salário mais alto e 21 dias para quem o recebesse Um estatuto de 1360 tornava mais rigorosas as penas e inclusive autorizava o patrão a empregar a coação física para extorquir trabalho pela tarifa legal de salário Todas as combinações convênios juramentos etc pelos quais pedreiros e carpinteiros se vinculavam entre si eram declarados nulos e sem valor Desde o século XI V até 1825 ano da revogação das leis anticoalizão consideravase crime grave toda coalizão de trabalhadores O espírito do estatuto trabalhista de 1349 e de seus descendentes se revela muito claramente no fato de que o Estado impõe um salário máximo mas de modo algum um mínimo No século XVI como se sabe a situação dos trabalhadores piorou consideravelmente O salário em dinheiro subiu mas não na proporção da depreciação do dinheiro e ao consequente aumento dos preços das mercadorias Na realidade portanto o salário caiu Todavia permaneceram em vigor as leis voltadas a seu rebaixamento acompanhadas dos cortes de orelhas e das marcações a ferro daqueles que ninguém quis tomar a seu serviço O estatuto dos aprendizes 5 Elizabeth c 3 autorizou os juízes de paz a fixar certos salários e a modificálos de acordo com as estações do ano e os preços das mercadorias J aime I estendeu essa regulação do trabalho aos tecelões fiandeiros e a todas as categorias possíveis de trabalhadores224 e Jorge II estendeu as leis anticoalizão a todas as manufaturas No período manufatureiro propriamente dito o modo de produção capitalista estava suficientemente fortalecido para tornar a regulação legal do salário tão inaplicável como supérflua mas se preferiu conservar para o caso de necessidade as armas do velho arsenal A lei 8 J orge I I ainda proibia que os oficiais de alfaiataria recebessem em Londres e arredores salários acima de 2 xelins e 712 pence por dia salvo em casos de luto público a lei 13 J orge I I I c 68 transferiu aos juízes de paz a regulamentação dos salários dos tecelões de seda em 1796 foram necessárias duas sentenças dos tribunais superiores para decidir se os mandatos dos juízes de paz sobre salários também valiam para os trabalhadores não agrícolas em 1799 uma lei do Parlamento confirmou que o salário dos mineiros da Escócia devia ser regulado por uma lei da época da rainha Elizabeth e por duas leis escocesas de 1661 e 1671 O quanto as condições se haviam alterado nesse ínterim o demonstra um fato inaudito ocorrido na Câmara Baixa inglesa Aqui onde há mais de 400 anos se haviam fabricado leis fixando o máximo que o salário não deveria em nenhum caso ultrapassar 527 Whitbread propôs que se fixasse um salário mínimo legal para os jornaleiros agrícolas Pitt opôsse porém admitiu que a situação dos pobres era cruel cruel Por fim em 1813 as leis de regulação dos salários foram revogadas Elas eram uma ridícula anomalia desde que o capitalista passara a regular a fábrica por meio de sua legislação privada deixando que o imposto de benificência complementasse o salário do trabalhador rural até o mínimo indispensável As disposições do Estatuto do Trabalho sobre contratos entre patrões e assalariados prazos para demissões e questões análogas que permitem apenas uma ação civil contra o patrão por quebra contratual não uma ação criminal contra o trabalhador que cometer essa mesma infração permanecem em pleno vigor até o momento atual As cruzadas antissindicais caíram em 1825 diante da atitude ameaçadora do proletariado A pesar disso caíram apenas parcialmente Alguns restos residuais dos velhos estatutos desapareceram somente em 1859 Finalmente a lei parlamentar de 29 de junho de 1871 pretendia eliminar os últimos vestígios dessa legislação classista reconhecendo legalmente as trades unions Mas uma lei parlamentar da mesma data An act to amend the criminal law relating to violence threats and molestations restaurou de fato a situação anterior sob nova forma Por meio dessa escamoteação parlamentar os meios que os trabalhadores podem recorrer numa greve ou lockout greve dos fabricantes coligados realizada mediante o fechamento simultâneo de suas fábricas são subtraídos ao direito comum e submetidos a uma legislação penal de exceção cuja interpretação cabe aos próprios fabricantes em sua condição de juízes de paz Dois anos antes na mesma Câmara dos Comuns o mesmo Sr Gladstone com a proverbia honradez que os distingue haviam apresentado um projeto de lei que abolida todas as leis penais de exceção contra a classe trabalhadora Porém jamais se permitiu que tal projeto chegasse a uma segunda leitura e assim a questão foi protegida até que o grande partido liberal por meio de uma aliança com os tories ganhou finalmente a coragem de se voltar resolutamente contra o mesmo proletariado que o conduziria ao poder Não satisfeito com essa traição o grande partido liberal autorizou os juízes ingleses sempre a abanar o rabo a serviço das classes dominantes a desenterar as proscritas leis sobre conspirações e a aplicálas às coalizões de trabalhadores Como vemos o parlamento inglês só renunciou às leis contra as greves e trades unions contra sua vontade e sob a pressão das massas depois de ele mesmo ter assumido por cinco séculos e com desavergonhado egoísmo a posição de uma permanente trades union dos capitalistas contra os trabalhadores Já no início da tormenta revolucionária a burguesia francesa ousou despojar o movimento os trabalhadores de seu recémconquistado direito de associação O decreto de 14 de junho de 1791 declarou toda a coalizão de trabalhadores como um crime atentado à liberdade e a Declaração dos Direitos Humanos punível com uma multa de 500 libras e privação por um ano dos direitos de cidadania ativa Essa lei que por meio da polícia espiã sobrevivia à revoluções e mudanças dinásticas Sobre o sistema colonial cristão afirma W Howitt um homem que faz do cristianismo uma especialidade As barbaridades e as íncias crueldades perpetradas pelas assim chamadas raças cristãs em todas as regiões do salário ultrapasse seu nível atual para que desse modo aquele que o receba escape dessa dependência absoluta condicionada pela privação dos meios de primeira necessidade que é quase a dependência da escravidão os trabalhadores não devem ser autorizados contudo a pôrse de acordo sobre seus interesses a agir em comum e por meio disso a mitigar sua dependência absoluta que é quase a dependência da escravidão porque assim feririam a a liberdade de seus cidevant maîtres antigos amos dos atuais empresários a liberdade de manter os trabalhadores na escravidão e porque uma coalizão contra o despotismo dos antigos mestres das corporações adivinhe equivaleria a restaurar as corporações abolidas pela constituição francesa226 4 Gênese dos arrendatários capitalistas Depois de termos analisado a violenta criação do proletariado inteiramente livre a disciplina sanguinária que os transforma em assalariados a sórdida ação do Estado que por meios policiais eleva o grau de exploração do trabalho e com ele a acumulação do capital perguntamonos de onde se originam os capitalistas Pois a expropriação da população rural diretamente cria apenas grandes proprietários fundiários No que diz respeito à gênese do arrendatário poderíamos por assim dizer tocála com a mão pois se trata de um processo lento que se arrasta por muitos séculos Os próprios servos e ao lado deles também pequenos proprietários livres encontravamse submetidos a relações de propriedade muito diferentes razão pela qual também foram emancipados sob condições econômicas muito diferentes Na I nglaterra a primeira forma de arrendatário é a do bailiff ele mesmo um servo da gleba Sua posição é análoga a do villicusu da Roma Antiga porém com um raio de ação mais estreito Durante a segunda metade do século XI V ele é substituído por um arrendatário a quem o landlord provê sementes gado e instrumentos agrícolas Sua situação não é muito distinta da do camponês Ele apenas explora mais trabalho assalariado Não tarda em se converter em metayer meeiro meio arrendatário Ele investe uma parte do capital agrícola o landlord a outra Ambos repartem entre si o produto global em proporção determinada por contrato Essa forma desaparece rapidamente na I nglaterra e dá lugar ao arrendatário propriamente dito que valoriza seu capital próprio por meio do emprego de trabalhadores assalariados e paga ao landlord como renda da terra uma parte do maisproduto em dinheiro ou in natura No século XV enquanto o camponês independente e o servo agrícola que trabalha ao mesmo tempo como assalariado e para si mesmo se enriquecem com seu próprio trabalho a situação do arrendatário e seu campo de produção continuam medíocres A revolução agrícola que ocorre no último terço do século XV e se estende por quase todo o século XVI com exceção porém de suas últimas décadas enriqueceu o arrendatário com a mesma rapidez com que empobreceu a população rural227 A usurpação das pastagens comunais etc permitelhe aumentar quase sem custos o número de suas cabeças de gado ao mesmo tempo que o gado lhe fornece uma maior quantidade de adubo para o cultivo do solo No século XVI a isso se soma mais um elemento de importância decisiva Naquela 529 época os contratos de arrendamento eram longos frequentemente por 99 anos A contínua queda no valor dos metais nobres e por conseguinte do dinheiro rendeu frutos de ouro ao arrendatário Ela reduziu abstraindo as demais circunstâncias anteriormente expostas o nível do salário Uma fração deste último foi incorporada ao lucro do arrendatário O constante aumento dos preços do cereal da lã da carne em suma de todos os produtos agrícolas inchou o capital monetário do arrendatário sem o concurso deste último enquanto a renda da terra que ele tinha de pagar estava contratualmente fixada em valores monetários ultrapassados 228 Desse modo ele se enriquecia a um só tempo à custa de seus trabalhadores assalariados e de seu landlord Não é de admirar pois que a I nglaterra no fim do século XVI possuísse uma classe de arrendatários capitalistas consideravelmente ricos para os padrões da época229 5 Efeito retroativo da revolução agrícola sobre a indústria Criação do mercado interno para o capital industrial A intermitente e sempre renovada expropriação e expulsão da população rural forneceu à indústria urbana como vimos massas cada vez maiores de proletários totalmente estranhos às relações corporativas uma sábia circunstância que faz o velho Adam Anderson não confundir com J ames Anderson em sua história do comércio crer numa intervenção direta da Providência Temos de nos deter ainda por um momento no exame desse elemento da acumulação primitiva À rarefação da população rural independente que cultivava suas próprias terras correspondeu um condensamento do proletariado industrial do mesmo modo como segundo Geoffroy SaintHilaire o condensamento da matéria cósmica em um ponto se explica por sua rarefação em outro230 Em que pese o número reduzido de seus cultivadores o solo continuava a render tanta produção quanto antes ou ainda mais porque a revolução nas relações de propriedade fundiária era acompanhada de métodos aperfeiçoados de cultivo de uma maior cooperação da concentração dos meios de produção etc e porque não só os assalariados agrícolas foram obrigados a trabalhar com maior intensidade231 mas também o campo de produção sobre o qual trabalhavam para si mesmos se contraiu cada vez mais Com a liberação de parte da população rural liberamse também seus meios alimentares anteriores Estes se transformam agora em elemento material do capital variável O camponês deixado ao léu tem de adquirir de seu novo senhor o capitalista industrial e sob a forma de salário o valor desses meios alimentares O que ocorre com os meios de subsistência também ocorre com as matériasprimas agrícolas locais da indústria Elas se convertem em elemento do capital constante Suponha por exemplo que uma parte dos camponeses da Vestfália que no tempo de Frederico I I fiavam linho ainda que não de seda fosse violentamente expropriada e expulsa da terra enquanto a parte restante fosse transformada em jornaleiros de grandes arrendatários Ao mesmo tempo ergueramse grandes fiações e tecelagens de linho nas quais os liberados passaram a trabalhar agora por salários O linho tem exatamente o mesmo aspecto de antes Não se modificou nem uma única de suas 530 fibras mas uma nova alma social instalouse em seu corpo Ele constitui agora uma parte do capital constante dos patrões manufatureiros Antes ele era repartido entre inúmeros pequenos produtores que com suas famílias o cultivavam e fiavam em pequenas porções agora ele se concentra nas mãos de um capitalista que coloca outros para fiar e tecer para ele Anteriormente o trabalho extra gasto na fiação do linho resultava em receita complementar para inúmeras famílias camponesas ou à época de Frederico I I em impostos pour le roi de Prusse para o rei da Prússia Ele se realiza agora no lucro de poucos capitalistas Os fusos e teares antes esparsos pelo interior agora se concentram em algumas grandes casernas de trabalho do mesmo modo que os trabalhadores e a matériaprima E fusos teares e matériaprima que antes constituíam meios de existência independentes para fiandeiros e tecelões de agora em diante se transformam em meios de comandálos232 e de deles extrair trabalho não pago Quando se observa as grandes manufaturas bem como os grandes arrendamentos não se percebe que são constituídos de muitos pequenos centros de produção nem que se formaram pela expropriação de muitos pequenos produtores independentes No entanto um olhar imparcial não se deixa enganar À época de Mirabeau o leão da revolução as grandes manufaturas ainda eram chamadas de manufactures réunies oficinas reunidas assim como falamos de lavouras reunidas Veemse apenas diz Mirabeau as grandes manufaturas onde centenas de seres humanos trabalham sob as ordens de um diretor e que são habitualmente chamadas de manufaturas reunidas manufactures réunies Já aquelas onde há um número muito grande de operários trabalhando de modo disperso e cada um por sua própria conta quase não merecem atenção São colocadas em segundo plano Tratase de um erro grave pois só estas últimas constituem um componente realmente importante da riqueza do povo A fábrica reunida fabrique réunie enriquece prodigiosamente um ou dois empresários mas os trabalhadores são apenas jornaleiros melhor ou pior remunerados e não têm qualquer participarão no bemestar do empresário Na fábrica separada fabrique séparée ao contrário ninguém fica rico mas uma porção de trabalhadores se encontra em situação confortável O número de trabalhadores aplicados e parcimoniosos crescerá pois eles mesmos reconhecem que uma vida baseada na prudência e na atividade é um meio de melhorar substancialmente sua situação em vez de obter um pequeno aumento salarial que nunca poderá significar algo importante para o futuro e cujo único resultado será no máximo que os homens vivam um pouco melhor mas sempre com uma mão na frente e outra atrás As manufaturas individuais e separadas geralmente vinculadas à pequena agricultura são as únicas livres233 A expropriação e expulsão de uma parte da população rural não só libera trabalhadores para o capital industrial e com eles seus meios de subsistência e seu material de trabalho mas cria também o mercado interno De fato os acontecimentos que transformam os pequenos camponeses em assalariados e seus meios de subsistência e de trabalho em elementos materiais do capital criam para este último ao mesmo tempo seu mercado interno Anteriormente a família camponesa produzia e processava os meios de subsistência e matériasprimas que ela mesma em sua maior parte consumia Essas matériasprimas e meios de subsistência converteramse agora em mercadorias o grande arrendatário as vende e encontra seu mercado nas manufaturas Fios panos tecidos grosseiros de lã coisas cujas matériasprimas se encontravam no âmbito de toda família camponesa e que eram fiadas e tecidas por ela para seu consumo próprio transformamse agora em artigos de manufatura cujos mercados são formados precisamente pelos distritos rurais A numerosa clientela dispersa até então condicionada por uma grande 531 quantidade de pequenos produtores trabalhando por conta própria concentrase agora num grande mercado abastecido pelo capital industrial234 Desse modo a expropriação dos camponeses que antes cultivavam suas próprias terras e agora são apartados de seus meios de produção acompanha a destruição da indústria rural subsidiária o processo de cisão entre manufatura e agricultura E apenas a destruição da indústria doméstica rural pode dar ao mercado interno de um país a amplitude e a sólida consistência de que o modo de produção capitalista necessita No entanto o período manufatureiro propriamente dito não provocou uma transformação radical Recordemos que a manufatura só se apodera muito fragmentariamente da produção nacional e tem sempre como sua ampla base de sustentação o artesanato urbano e a indústria subsidiária doméstica e rural Toda vez que a manufatura destrói essa indústria doméstica em uma de suas formas em ramos particulares de negócio e em determinados pontos ela provoca seu ressurgimento em outros pois tem necessidade dela até certo grau para o processamento da matéria prima Ela produz assim uma nova classe de pequenos lavradores que cultivam o solo como atividade subsidiária e exercem como negócio principal o trabalho industrial para a venda dos produtos à manufatura diretamente ou por meio do comerciante Essa é uma causa embora não a principal de um fenômeno que inicialmente desconcerta o investigador da história inglesa A partir do último terço do século XV tal pesquisador encontra reclamações contínuas interrompidas apenas durante certos intervalos sobre o avanço da economia capitalista no campo e a aniquilação progressiva do campesinato Por outro lado volta sempre a reencontrar este campesinato ainda que em menor número e em situação cada vez pior235 A causa principal é a seguinte a I nglaterra é predominantemente ora cultivadora de trigo ora criadora de gado em períodos alternados e com essas atividades varia o tamanho da empresa camponesa Somente a grande indústria proporciona com as máquinas o fundamento constante da agricultura capitalista expropria radicalmente a imensa maioria da população rural e consuma a cisão entre a agricultura e a indústria doméstica rural cujas raízes a fiação e a tecelagem ela extirpa236 Portanto é só ela que conquista para o capital industrial todo o mercado interno237 6 Gênese do capitalista industrial A gênese do capitalista industrial238 não se deu de modo tão gradativo como a do arrendatário Sem dúvida muitos pequenos mestres corporativos e mais ainda pequenos artesãos independentes ou também trabalhadores assalariados transformaramse em pequenos capitalistas e por meio da exploração paulatina do trabalho assalariado e da correspondente acumulação em capitalistas sans phrase sem floreios Durante a infância da produção capitalista as coisas se deram muitas vezes como na infância do sistema urbano medieval quando a questão de saber qual dos servos fugidos devia se tornar mestre ou criado era geralmente decidida com base na data mais ou menos recente de sua fuga Entretanto a marcha de lesma desse método não correspondia em absoluto às necessidades comerciais do novo mercado mundial 532 que fora criado pelas grandes descobertas do fim do século XV Mas a Idade Média havia legados duas formas distintas do capital que amadureceram nas mais diversas formações socioeconômicas e antes da era do modo de produção capitalista já valiam como capital quand même em geral o capital usurário e o capital comercial Hoje em dia toda a riqueza da sociedade passa primeiro pelas mãos do capitalista ele paga a renda ao proprietário da terra o salário ao trabalhador ao coletor de imposto e dízimo aquilo que estes reclamam e guarda para si mesmo uma parte grande que na realidade é maior e além disso aumenta a cada dia do produto anual do trabalho O capitalista pode agora ser considerado o primeiro proprietário de toda a riqueza social ainda que nenhuma lei lhe tenha concedido o direito a essa propriedade Essa mudança na propriedade foi realizada para que o presente processo mediante leis contra a usura O poder do capitalismo que não leu os direitos de leis foi elevado a direitos de domínio O autor deveria ter dito que revoluções não se fazem por meio de leis O regime feudal no campo e a constituição corporativa nas cidades impediram o capital monetário constituído pela usura e pelo comércio de se converter em capital industrial Essas barreiras caíram com a dissolução dos séquitos feudais e com a expropriação e a parcial expulsão da população rural A nova manufatura se instalou nos portos marítimos exportadores ou em pontos do campo não sujeitos ao controle do velho regime urbano e de sua constituição corporativa Na Inglaterra se assistiu por isso a uma amarga luta das corporate towns contra essas novas incubadoras industriais A descoberta das terras auríferas e argentíferas na América o exterminio a escravização e o soterramento da população nativa nas minas o começo da conquista e saqueio das Índias Orientais a transformação da África numa reserva para a caça comercial de peles negras caracterizam a aurora da era do produção capitalista Esses processos idílicos constituem momentos fundamentais da acumulação primitiva A eles se segue imediatamente a guerra comercial entre as nações europeias tendo o globo terrestre como palco Ela é inaugurada pelo levante dos Países Baixos contra a dominação espanhola assume proporções gigantescas na guerra antijacobina inglesa e prossegue ainda hoje nas guerras do ópio contra a China etc Os diferentes momentos da acumulação primitiva repartemse agora numa sequência mais ou menos cronológica principalmente entre Espanha Portugal Holanda França e Inglaterra Na Inglaterra no fim do século XVII esses momentos foram combinados de modo sistêmico dando origem ao sistema colonial ao sistema da dívida pública ao moderno sistema tributário e ao sistema protecionista Tal métodos como por exemplo o sistema colonial baseiamse em parte na violência mais brutal Todos eles porém lançaram mão do poder do Estado da violência concentrada e organizada da sociedade para impulsionar artificialmente o processo de transformação do modo de produção feudal em capitalista e abreviar a transição de um para o outro A violência é parte de toda sociedade velha que está plena de uma sociedade nova Ela mesma é uma potência econômica Sobre o sistema colonial cristão afirma W Howitt um homem que faz do cristianismo uma especialidade As barbaridades e as íncias crueldades perpetradas pelas assim chamadas raças cristãs em todas as regiões do mundo e contra todos os povos que conseguiram subjugar não encontram paralelo em nenhuma era da história universal e em nenhuma raça por mais selvagem e inculta por mais desapiedada e inescrupulosa que fosse241 A história da economia colonial holandesa e a Holanda foi a nação capitalista modelar do século XVI I apresentanos um quadro insuperável de traição suborno massacre e infâmia242 Nada é mais característico que seu sistema de roubo de pessoas aplicado nas ilhas Celebes para obter escravos para J ava Os ladrões de pessoas eram treinados para esse objetivo O ladrão o intérprete e o vendedor eram os principais agentes nesse negócio e os príncipes nativos eram os principais vendedores Os jovens sequestrados eram mantidos escondidos nas prisões secretas das ilhas Celebes até que estivessem maduros para serem enviados aos navios de escravos Um relatório oficial diz Esta cidade de Macassar por exemplo está repleta de prisões secretas uma mais abominável que a outra abarrotadas de miseráveis vítimas da cobiça e da tirania acorrentados arrancados violentamente de suas famílias Para se apoderar de Málaca os holandeses subornaram o governador português Este em 1641 deixouos entrar na cidade Os invasores apressaramse à casa do governador e o assassinaram a fim de se absterem de pagarlhe as 21875 prometidas como suborno Onde pisavam seguiamnos a devastação e o despovoamento Banjuwangi uma província de J ava contava em 1750 com mais de 80 mil habitantes em 1811 apenas 8 mil Eis o doux commerce doce comércio É sabido que a Companhia I nglesa das Índias Orientais obteve além do domínio político nas Índias Orientais o monopólio do comércio de chá bem como do comércio chinês em geral e do transporte de produtos para a Europa Mas a navegação costeira na Índia e entre as ilhas assim como o comércio no interior da Índia tornaramse monopólio dos altos funcionários da Companhia Os monopólios de sal ópio bétel e outras mercadorias eram minas inesgotáveis de riqueza Os próprios funcionários fixavam os preços e espoliavam à vontade o infeliz indiano O governadorgeral participava nesse comércio privado Seus favoritos obtinham contratos em condições mediante as quais mais astutos que os alquimistas criavam ouro do nada Grandes fortunas brotavam de um dia para o outro como cogumelos a acumulação primitiva realizavase sem o adiantamento de 1 único xelim O processo judicial de Warren Hastings está pleno de tais exemplos Eis um caso A certo Sullivan é atribuído um contrato de fornecimento de ópio e isso no momento de sua partida em missão oficial para uma região da Índia totalmente afastada dos distritos de ópio Sullivan vende seu contrato por 40000 a certo Binn Este por sua vez vendeo no mesmo dia por 60000 e o último comprador e executor do contrato declara que depois disso tudo ainda obteve um lucro enorme Segundo uma lista apresentada ao Parlamento de 1757 a 1766 a Companhia e seus funcionários deixaramse presentear pelos indianos com 6 milhões Entre 1769 e 1770 os ingleses provocaram um surto de fome por meio da compra de todo arroz e pela recusa de revendêlo a não ser por preços fabulosos243 O tratamento dispensado aos nativos era naturalmente o mais terrível nas plantações destinadas exclusivamente à exportação como nas Índias Ocidentais e nos países ricos e densamente povoados entregues à matança e ao saqueio como o México e as Índias Orientais Tampouco nas colônias propriamente ditas se desmentia o 534 caráter cristão da acumulação primitiva Esses austeros e virtuosos protestantes os puritanos da Nova Inglaterra estabeleceram em 1703 por decisão de sua assembly assembleia um prêmio de 40 para cada escalpo indígena e cada pelevermelha capturado em 1720 um prêmio de 100 para cada escalpo em 1744 depois de MassachusettsBay ter declarado certa tribo como rebelde os seguintes preços 100 da nova moeda para o escalpo masculino a partir de 12 anos de idade 105 para prisioneiros masculinos 50 para mulheres e crianças capturadas 50 para escalpos de mulheres e crianças Algumas décadas mais tarde o sistema colonial vingouse nos descendentes que nesse interím haviam se tornado rebeldes dos piedosos pilgrim fathers pais peregrinos Um incentivo e pagamento inglês foram mortos a golpes de tomahawk O Parlamento britânico declarou os cães de caça e o escalpelamento como meios que Deus e a Natureza puseram em suas mãos O sistema colonial amadureceu o comércio e a navegação como plantas num hibernáculo As sociedades Monopoly Lutero foram alavancas poderosas da concentração de capital As manufaturas em ascensão as colônias garantiam um mercado de escoamento e uma acumulação potencial pelo monopólio do mercado Os tesouros espoliados fora da Europa diretamente mediante o saqueio a escravização e o latrocinio refutam à metrópole e lá se transformaram em capital A Holanda primeiro país a desenvolver plenamente o sistema colonial encontravase já em 1648 no ápice de sua grandeza comercial Encontravase de posse quase exclusiva do comércio com as Índias Orientais e do tráfico entre o sudeste e o nordeste europeu Sua pesca frutas e manufaturas sobrepujavam as de qualquer outro país Os capitais da República eram talvez mais consideráveis que os de todo o resto da Europa somadas Guilich se esquece de acrescer em 1648 a massa do povo holandês já estava mais sobrecarregada da riqueza mais empobrecida e brutalmente oprimida do que as massas populares do resto da Europa somadas Hoje em dia a supremacia industrial traz consigo a supremacia comercial que é o predominio industrial Daí o papel preponderante que o sistema colonial desempenhava nessa época Ele era o deus estranho que se colocou sobre o altar ao lado dos velhos ídolos da Europa e que um belo dia lançouos por terra com um só golpe Tal sistema proclamou a produção de maisvalor com finalidade última e única da humanidade O sistema de crédito público isto é das dívidas públicas cujas origens encontramos em Gênova e Veneza já na Idade Média tomou conta de toda a Europa durante o período manufatureiro O sistema colonial com seu comércio marítimo e suas guerras comerciais serviulhe de incubadora Assim ele se consolidou primeiramente na Holanda A dívida pública isto é a alienação Veräusserung do Estado seja ele despotítico constitucional ou republicano inspira uma resposta sobre a era capitalista A única parte de assim chamada liberdade é sob um novo regime o controle coerente e moderno segundo a qual um povo se torna tanto mais rico quanto mais se subrecita E crédito público se converte no crédito do capital ao surgir o endividamento do Estado o pecado contra o Espírito Santo para o qual não há perdão cede seu lugar para a falta de fé na dívida pública A dívida pública tornase uma das alavancas mais poderosas da acumulação primitiva Como com um toque de varinha mágica ela infunde força criadora no dinheiro improdutivo e o transforma assim em capital sem que para isso tenha necessidade de se expor aos esforços e riscos inseparáveis da aplicação industrial e mesmo usurária Na realidade os credores do Estado não dão nada pois a soma emprestada se converte em títulos da dívida facilmente transferíveis que em suas mãos continuam a funcionar como se fossem a mesma soma de dinheiro vivo Porém ainda sem levarmos em conta a classe de rentistas ociosos assim criada e a riqueza improvisada dos financistas que desempenham o papel de intermediários entre o governo e a nação e abstraindo também a classe dos coletores de impostos comerciantes e fabricantes privados aos quais uma boa parcela de cada empréstimo estatal serve como um capital caído do céu a dívida pública impulsionou as sociedades por ações o comércio com papéis negociáveis de todo tipo a agiotagem numa palavra o jogo da Bolsa e a moderna bancocracia Desde seu nascimento os grandes bancos condecorados com títulos nacionais não eram mais do que sociedades de especuladores privados que se colocavam sob a guarda dos governos e graças aos privilégios recebidos estavam em condições de emprestarlhes dinheiro Por isso a acumulação da dívida pública não tem indicador mais infalível do que a alta sucessiva das ações desses bancos cujo desenvolvimento pleno data da fundação do Banco da I nglaterra l694 Esse banco começou emprestando seu dinheiro ao governo a um juro de 8 ao mesmo tempo que o Parlamento o autorizava a cunhar dinheiro com o mesmo capital voltando a emprestá lo ao público sob a forma de notas bancárias Com essas notas ele podia descontar letras conceder empréstimos sobre mercadorias e adquirir metais preciosos Não demorou muito para que esse dinheiro de crédito fabricado pelo próprio banco se convertesse na moeda com a qual o Banco da I nglaterra tomava empréstimos ao Estado e por conta deste último pagava os juros da dívida pública Não lhe bastava dar com uma mão para receber mais com a outra o banco enquanto recebia continuava como credor perpétuo da nação até o último tostão adiantado E assim ele se tornou pouco a pouco o receptáculo imprescindível dos tesouros metálicos do país e o centro de gravitação de todo o crédito comercial À mesma época em que na I nglaterra deixouse de queimar bruxas começouse a enforcar falsificadores de notas bancárias Nos escritos dessa época por exemplo nos de Bolingroke podese apreciar claramente o efeito que produziu nos contemporâneos o aparecimento súbito dessa malta de bancocratas financistas rentistas corretores stockjobbers bolsistas e leões da Bolsa243b Com as dívidas públicas surgiu um sistema internacional de crédito que frequentemente encobria uma das fontes da acumulação primitiva neste ou naquele povo Desse modo as perversidades do sistema veneziano de rapina constituíam um desses fundamentos ocultos da riqueza de capitais da Holanda à qual a decadente Veneza emprestou grandes somas em dinheiro O mesmo se deu entre a Holanda e a I nglaterra J á no começo do século XVI I I as manufaturas holandesas estavam 536 amplamente ultrapassadas e o país deixará de ser a nação comercial e industrial dominante Um dos seus negócios principais entre 1701 e 1776 foi o empréstimo de enormes somas de capital especialmente a sua poderosa concorrente a Inglaterra Algo semelhante ocorre hoje entre Inglaterra e Estados Unidos Uma grande parte do capitais que atualmente ingressam nos Estados Unidos sem certidão de nascimento é sangue de crianças que acabou de ser capitalizado na Inglaterra Como a dívida pública se respalda nas receitas estatais que têm de cobrir os juros e demais pagamentos anuais etc o moderno sistema tributário se converteu num complemento necessário do sistema de empréstimos públicos Os empréstimos capacitam o governo a cobrir os gastos extraordinários sem que o contribuinte o perceba de imediato mas exigem em contrapartida um aumento de impostos Por outro lado o aumento de impostos causado pela acumulação de dívidas contraídas sucessivamente obriga o governo a recorrer sempre a novos empréstimos para cobrir os novos gastos extraordinários O regime fiscal moderno cujo eixo é formado pelos impostos sobre os nativos de subsistência mais imprescindíveis portanto pelo encarceramento desses meios traz em si portanto o germe da progressão automática A sobrecarga tributária não é pois um incidente mas antes um princípio Razão pela qual na Holanda onde esse sistema foi primeiramente aplicado o grande patriota de Witt o celebrou em suas máximas como o melhor sistema para fazer do trabalhador assalariado uma pessoa submissa frugal aplicada e sobrecarregada de trabalho A sua influência destrutiva que esse sistema exerce sobre a situação dos trabalhadores assalariados importanos aqui no entanto menos que a violenta expropriação do camponês do artesão em suma de todos os componentes da pequena classe média Sobre isso não há divergência nem mesmo entre os economistas burgueses Sua eficácia expropriada é ainda reforçada pelo sistema protecionista uma de suas partes integrantes O grande papel que a dívida pública o sistema de capitalização da riqueza e da expropriação das massas levou um bom número de escritores como Cobbett Doubleday e outros a procurar erroneamente naquela a causa principal da miséria dos povos modernos O sistema protecionista foi um meio artificial de fabricar fabricantes de expropriar trabalhadores independentes de capitalizar os meios de produção e de subsistência nacionais de abreviar violentamente a transição do modo de produção antigo para o moderno A patente desse invento foi ferozmente disputada pelos Estados europeus que a serviço dos extratores de maisvalor perseguiram esse objetivo não só saqueando seu próprio povo tanto direta por meio de tarifas protecionistas quanto indiretamente por meio de prêmios de exportação etc mas também extirpando violentamente toda a indústria dos países que lhes eram contíguos e deles dependiam No continente europeu também seguiu o modelo de Colbert o processo foi simplificado antes do próprio capital industrial passar a fluir diretamente do Estado Por que exclamou Mirabeau procurar tão longe a causa do fulgor manufactureirc da Saxônia antes da Guerra dos Sete Anos 180 milhões de dívidas públicas244 Sistema colonial dívidas públicas impostos escorchantes protecionismo guerras comerciais etc esses rebanhos do período manufatureiro propriamente dito cresceram gigantescamente durante a infância da grande indústria O nascimento desta última é celebrado pelo grande rapto herodiano dos inocentes Como a marinha real as fábricas recrutam por meio da coerção Sir F M Eden tão impassível diante dos horrores da expropriação da população rural que se viu despojada de suas terras desde o último terço do século XV até a época desse autor isto é o final do século XVIII e que tão vaidosamente se regozijava com esse processo por ele considerado necessário para estabelecer a agricultura capitalista e a proporção devida entre lavoura e pastagem não dá provas no entanto da mesma compreensão econômica no que diz respeito à necessidade do roubo de crianças e da escravidão infantil para a transformação da empresa manufatureira em empresa fabril e o estabelecimento da devida proporção entre capital e força de trabalho Diz ele Talvez mereça a atenção pública a questão de uma manufatura que para ser operada do modo mais eficiente tenha de buscar cottages e workhouses em busca de crianças pobres que seriam divididas em turmas esfalfadas durante a maior parte da noite e levarseá descanso roubado uma manufatura que além disso amontoa uma multidão de pessoas de ambos os sexos de diferentes idades e inclinações de tal modo que a contaminação do exemplo tem necessariamente de levar à depravação e à licenciosidade se tal manufatura pode aumentar a soma da felicidade nacional e individual245 Em Derbyshire Nottinghamshire e especialmente em Lancashire diz Fielden a maquinaria recéminventada foi empregada em grandes fábricas instaladas junto a correntes capazes de girar a rodadágua Nesses lugares afastados das cidades requeriamse subitamente milhares de braços e principalmente Lancashire até então comparativamente pouco povoado e infértil agora necessitava entre mais de uma população O que mais se requisitava eram edemas de pequenos e ágeis Logo surgiu o costume de buscar aprendizes nas várias fábricas Capacazes eram designados para a criança O interesse desses feitores de escravos era buscar as crianças da trabalho pois a remuneração destes primeiros era proporcional à quantidade de produto que se conseguia extrair da criança A consequência natural foi a crueldade Em diversos hospitais fabris especialmente de Lancashire essas crianças inecificadas e desvalidas consagradas aos senhores de fábricas foram submetidas a torturas muito pungentes Foram assaltadas até à morte por excesso de trabalho formando aquietadas acorrentadas e torturadas com os mais requintes de crueldade em muitos casos foram esfoleadas até restarlhes só pele e ossos enquanto o choquete as mantinha no trabalho Sim em alguns casos foram levadas ao suicídio Os principais lados de Derbyshire Nottinghamshire e Lancashire ocultos ao olhar do público converteramse em lugares ergas de tortura e com frequência de assassinato Mas isso só aguçava mais sua vocação da lobbysmo Implementaram o trabalho noturno isto é deixos de testemunho que operários pelo trabalho diurno isto é dispunham de outro grupo pronto para o trabalho noturno o grupo portanto acabara de existir e viceversa Em Lancashire disto deixaram na tradição popular Outros com o grupo nunca antes escrivaram248 com 4800 negros por ano I sso proporcionava ao mesmo tempo uma cobertura oficial para o contrabando britânico Liverpool teve um crescimento considerável graças ao tráfico de escravos Esse foi seu método de acumulação primitiva e até hoje a respeitabilidade de Liverpool é o Píndaro do tráfico de escravos que cf o escrito citado do dr Aikin de 1795 eleva até a paixão o espírito de empreendimento comercial forma navegantes afamados e rende quantias enormes de dinheiroac Em 1730 Liverpool empregava 15 navios no tráfico de escravos em 1751 53 em 1760 74 em 1770 96 e em 1792 132 Enquanto introduzia a escravidão infantil na I nglaterra a indústria do algodão dava ao mesmo tempo o impulso para a transformação da economia escravista dos Estados Unidos antes mais ou menos patriarcal num sistema comercial de exploração Em geral a escravidão disfarçada dos assalariados na Europa necessitava como pedestal da escravidão sans phrase do Novo Mundo247 Tantae molis erat tanto esforço se fazia necessárioad para trazer à luz as eternas leis naturais do modo de produção capitalista para consumar o processo de cisão entre trabalhadores e condições de trabalho transformando num dos polos os meios sociais de produção e subsistência em capital e no polo oposto a massa do povo em trabalhadores assalariados em pobres laboriosos livres esse produto artificial da história moderna248 Se o dinheiro segundo Augier vem ao mundo com manchas naturais de sangue numa de suas faces249 o capital nasce escorrendo sangue e lama por todos os poros da cabeça aos pés250 7 Tendência histórica da acumulação capitalista No que resulta a acumulação primitiva do capital isto é sua gênese histórica Na medida em que não é transformação direta de escravos e servos em trabalhadores assalariados ou seja mera mudança de forma ela não significa mais do que a expropriação dos produtores diretos isto é a dissolução da propriedade privada fundada no próprio trabalho A propriedade privada como antítese da propriedade social coletiva só existe onde os meios e as condições externas do trabalho pertencem a pessoas privadas Mas conforme essas pessoas sejam os trabalhadores ou os não trabalhadores a propriedade privada tem também outro caráter Os infinitos matizes que ela exibe à primeira vista refletem apenas os estágios intermediários que existem entre esses dois extremos A propriedade privada do trabalhador sobre seus meios de produção é o fundamento da pequena empresa e esta última é uma condição necessária para o desenvolvimento da produção social e da livre individualidade do próprio trabalhador É verdade que esse modo de produção existe também no interior da escravidão da servidão e de outras relações de dependência mas ele só floresce só libera toda a sua energia só conquista a forma clássica adequada onde o trabalhador é livre proprietário privado de suas condições de trabalho manejadas por ele mesmo o camponês da terra que cultiva o artesão dos instrumentos que manuseia como um virtuoso Esse modo de produção pressupõe o parcelamento do solo e dos demais meios de 539 produção Assim como a concentração destes últimos ele também exclui a cooperação a divisão do trabalho no interior dos mesmos processos de produção a dominação e a regulação sociais da natureza o livre desenvolvimento das forças produtivas sociais Ele só é compatível com os estreitos limites naturaisespontâneos da produção e da sociedade Querer eternizálo significaria como diz Pecqueur com razão decretar a mediocridade geralae Ao atingir certo nível de desenvolvimento ele engendra os meios materiais de sua própria destruição A partir desse momento agitamse no seio da sociedade forças e paixões que se sentem travadas por esse modo de produção Ele tem de ser destruído e é destruído Sua destruição a transformação dos meios de produção individuais e dispersos em meios de produção socialmente concentrados e por conseguinte a transformação da propriedade nanica de muitos em propriedade gigantesca de poucos portanto a expropriação que despoja grande massa da população de sua própria terra e de seus próprios meios de subsistência e instrumentos de trabalho essa terrível e dificultosa expropriação das massas populares tudo isso constitui a préhistória do capital Esta compreende uma série de métodos violentos dos quais passamos em revista somente aqueles que marcaram época como métodos da acumulação primitiva do capital A expropriação dos produtores diretos é consumada com o mais implacável vandalismo e sob o impulso das paixões mais infames abjetas e mesquinhamente execráveis A propriedade privada constituída por meio do trabalho próprio fundada por assim dizer na fusão do indivíduo trabalhador isolado independente com suas condições de trabalho cede lugar à propriedade privada capitalista que repousa na exploração de trabalho alheio mas formalmente livre251 Tão logo esse processo de transformação tenha decomposto suficientemente em profundidade e extensão a velha sociedade tão logo os trabalhadores se tenham convertido em proletários e suas condições de trabalho em capital tão logo o modo de produção capitalista tenha condições de caminhar com suas próprias pernas a socialização ulterior do trabalho e a transformação ulterior da terra e de outros meios de produção em meios de produção socialmente explorados e por conseguinte em meios de produção coletivos assim como a expropriação ulterior dos proprietários privados assumem uma nova forma Quem será expropriado agora não é mais o trabalhador que trabalha para si próprio mas o capitalista que explora muitos trabalhadores Essa expropriação se consuma por meio do jogo das leis imanentes da própria produção capitalista por meio da centralização dos capitais Cada capitalista liquida muitos outros Paralelamente a essa centralização ou à expropriação de muitos capitalistas por poucos desenvolvese a forma cooperativa do processo de trabalho em escala cada vez maior a aplicação técnica consciente da ciência a exploração planejada da terra a transformação dos meios de trabalho em meios de trabalho que só podem ser utilizados coletivamente a economia de todos os meios de produção graças a seu uso como meios de produção do trabalho social e combinado o entrelaçamento de todos os povos na rede do mercado mundial e com isso o caráter internacional do regime capitalista Com a diminuição constante do número de magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as vantagens desse processo de transformação 540 aumenta a massa da miséria da opressão da servidão da degeneração da exploração mas também a revolta da classe trabalhadora que cada vez mais numerosa é instruída unida e organizada pelo próprio mecanismo do processo de produção capitalista O monopólio do capital se converte num entrave para o modo de produção que floresceu com ele e sob ele A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho atingem um grau em que se tornam incompatíveis com seu invólucro capitalista O entrave é arrebentado Soa a hora derradeira da propriedade privada capitalista e os expropriadores são expropriados O modo de apropriação capitalista que deriva do modo de produção capitalista ou seja a propriedade privada capitalista é a primeira negação da propriedade privada individual fundada no trabalho próprio Todavia a produção capitalista produz com a mesma necessidade de um processo natural sua própria negação É a negação da negação Ela não restabelece a propriedade privada mas a propriedade individual sobre a base daquilo que foi conquistado na era capitalista isto é sobre a base da cooperação e da posse comum da terra e dos meios de produção produzidos pelo próprio trabalho A transformação da propriedade privada fragmentária baseada no trabalho próprio dos indivíduos em propriedade capitalista é naturalmente um processo incomparavelmente mais prolongado duro e dificultoso do que a transformação da propriedade capitalista já fundada de fato na organização social da produção em propriedade social Lá tratavase da expropriação da massa do povo por poucos usurpadores aqui tratase da expropriação de poucos usurpadores pela massa do povo252 541 Capítulo 25 A teoria moderna da colonização253 A economia política tem como princípio a confusão entre dois tipos muito diferentes de propriedade privada das quais uma se baseia no próprio trabalho do produtor e a outra na exploração do trabalho alheio Ela esquece que a última não só constitui a antítese direta da primeira como cresce unicamente sobre seu túmulo Na Europa ocidental a pátria da economia política o processo da acumulação primitiva está consumado em maior ou menor medida Aqui ou o regime capitalista submeteu diretamente toda a produção nacional ou onde as condições ainda não estão desenvolvidas controla ao menos indiretamente as camadas sociais que decadentes pertencentes ao modo de produção antiquado continuam a existir ao seu lado O economista político aplica a esse mundo já pronto do capital as concepções de direito e propriedade vigentes no mundo précapitalista e o faz com um zelo tanto mais ansioso e com unção tanto maior quanto mais fatos desmascaram suas ideologias O mesmo não ocorre nas colônias Nelas o regime capitalista chocase por toda parte contra o obstáculo do produtor que como possuidor de suas próprias condições de trabalho enriquece a si mesmo por seu trabalho e não ao capitalista A contradição desses dois sistemas econômicos diametralmente opostos se efetiva aqui de maneira prática na luta entre eles Onde o capitalista é respaldado pelo poder da metrópole ele procura eliminar à força o modo de produção e apropriação fundado no trabalho próprio O mesmo interesse que na metrópole leva o sicofanta do capital o economista político a tratar teoricamente o modo de produção capitalista com base em seu oposto levao aqui to make a clean breast of it a falar sinceramente e a proclamar em alto e bom som a antítese entre os dois modos de produção Para tanto ele demonstra como o desenvolvimento da força produtiva social do trabalho a cooperação a divisão do trabalho a aplicação da maquinaria em larga escala etc são impossíveis sem a expropriação dos trabalhadores e a correspondente metamorfose de seus meios de produção em capital No interesse da assim chamada riqueza nacional ele sai em busca de meios artificiais que engendrem a pobreza do povo e assim sua armadura apologética se dilacera pedaço por pedaço como lenha podre O grande mérito de E G Wakefield não é o de ter descoberto algo novo sobre as colônias254 mas o de ter descoberto nas colônias a verdade sobre as relações capitalistas da metrópole Assim como o sistema protecionista em seus primórdios255 visava à fabricação de capitalistas na metrópole a teoria da colonização de Wakefield que a I nglaterra procurou durante certo tempo aplicar legalmente visa à fabricação de trabalhadores assalariados nas colônias A isso Wakefield denomina systematic colonization colonização sistemática I nicialmente Wakefield descobriu nas colônias que a propriedade de dinheiro meios de subsistência máquinas e outros meios de produção não confere a ninguém a 542 condição de capitalista se lhe falta o complemento o trabalhador assalariado o outro homem forçado a vender a si mesmo voluntariamente Ele descobriu que o capital não é uma coisa mas uma relação social entre pessoas intermediada por coisas256 O sr Peel lastima ele levou consigo da I nglaterra para o rio Swan na Nova Holandaa meios de subsistência e de produção num total de 50 mil Ele foi tão cauteloso que também levou consigo 3 mil pessoas da classe trabalhadora homens mulheres e crianças Quando chegaram ao lugar de destino o sr Peel ficou sem nenhum criado para fazer sua cama ou buscarlhe água do rio257 Desditoso sr Peel que previu tudo menos a exportação das relações inglesas de produção para o rio Swanb Para a compreensão dos descobrimentos seguintes de Wakefield fazemse necessárias duas observações prévias Sabemos que os meios de produção e de subsistência como propriedades do produtor direto não são capital Eles só se tornam capital em condições sob as quais servem simultaneamente como meios de exploração e de dominação do trabalhador Na cabeça do economista político porém essa alma capitalista dos meios de produção e subsistência está tão intimamente unida a sua substância material que ele os batiza em todas as circunstâncias como capital mesmo quando eles são exatamente o contrário Assim ocorre com Wakefield Além disso a fragmentação dos meios de produção como propriedade individual de muitos trabalhadores independentes uns dos outros e que trabalham por própria conta é por ele denominada repartição igual do capital Com o economista político se passa o mesmo que com o jurista feudal Também este último colava seus rótulos jurídicos feudais nas relações puramente monetárias Se o capital diz Wakefield estivesse repartido em porções iguais entre todos os membros da sociedade ninguém se interessaria em acumular uma quantidade maior de capital do que aquela que pudesse empregar com suas próprias mãos Esse é caso até certo ponto nas novas colônias americanas onde a paixão pela propriedade fundiária impede a existência de uma classe de trabalhadores assalariados258 Portanto enquanto o trabalhador pode acumular para si mesmo o que ele pode fazer na medida em que permanece como proprietário de seus meios de produção a acumulação capitalista e o modo capitalista de produção são impossíveis Falta a classe dos trabalhadores assalariados imprescindíveis para esse fim Como então produziu se na velha Europa a expropriação do trabalhador a subtração de suas condições de trabalho e por conseguinte o capital e o trabalho assalariado Resposta por meio de um contrat social contrato social de tipo totalmente original A humanidade adotou um método simples para promover a acumulação do capital que naturalmente lhe parecia desde os tempos de Adão o fim último e único de sua existência ela se dividiu em proprietários de capital e proprietários de trabalho essa divisão foi o resultado de consentimento e combinação voluntários259 Numa palavra a massa da humanidade expropriou a si mesma para a glória da acumulação do capital Ora deverseia acreditar que o instinto desse fanatismo autoabstinente teria de se manifestar livremente sobretudo nas colônias pois apenas nelas existem homens e circunstâncias capazes de trasladar um contrat social do reino dos sonhos para o mundo da realidade Mas para que então a colonização sistemática em oposição à colonização naturalespontânea Porém Nos Estados setentrionais da União norteamericana é duvidoso que um décimo da população pertença à categoria dos trabalhadores assalariados Na I nglaterra a grande 543 massa do povo é composta de trabalhadores assalariados260 Sim o impulso de autoexpropriação da humanidade trabalhadora para a glória do capital existe tão pouco que a escravidão mesmo segundo Wakefield é o único fundamento naturalespontâneo da riqueza colonial Sua colonização sistemática é um mero pis aller paliativo já que ele tem de se haver com homens livres não com escravos Os primeiros colonos espanhóis em Santo Domingo não obtiveram trabalhadores da Espanha Mas sem trabalhadores isto é sem escravidão o capital teria sucumbido ou pelo menos terseia contraído reduzindo se às pequenas quantidades que qualquer indivíduo pode empregar com suas próprias mãos Isso ocorreu efetivamente na última colônia fundada pelos ingleses onde um grande capital em sementes gado e instrumentos pereceu por falta de trabalhadores assalariados e onde nenhum colono possui capital numa quantidade maior do que aquela que ele pode empregar com suas próprias mãos261 Vimos que a expropriação da massa do povo que é despojada de sua terra constitui a base do modo de produção capitalista A essência de uma colônia livre consiste por outro lado em que a maior parte do solo continua a ser propriedade do povo e que cada povoador pode transformar uma parte desse solo em sua propriedade privada e em meio individual de produção sem impedir com isso que os colonos posteriores realizem essa mesma operação262 Esse é o segredo tanto do florescimento das colônias quanto do câncer que as arruína sua resistência à radicação do capital Onde a terra é muito barata e todos os homens são livres onde qualquer um pode à vontade obter para si mesmo um pedaço de terra não só o trabalho é muito caro no que concerne à participação do trabalhador em seu próprio produto mas é difícil conseguir trabalho combinado seja pelo preço que for263 Como nas colônias ainda não existe a separação entre o trabalhador e suas condições de trabalho entre ele e sua raiz a terra ou existe apenas esporadicamente ou dotada de um campo de ação muito restrito e como também não existe a cisão entre a agricultura e a indústria nem a destruição da indústria doméstica rural perguntase de onde então haveria de surgir o mercado interno para o capital Nenhuma parte da população da América é exclusivamente agrícola com exceção dos escravos e seus donos que combinam o capital e o trabalho para realizar grandes obras Os americanos livres que cultivam o solo por si mesmos exercem ao mesmo tempo muitas outras ocupações É comum que eles mesmos fabriquem os móveis e as ferramentas que utilizam Eles constroem com frequência suas próprias casas e levam o produto de sua própria indústria ao mercado por mais distante que seja São fiandeiros e tecelões fabricam sabão e velas sapatos e roupas para seu próprio uso Na América a agricultura constitui muitas vezes a atividade subsidiária de um ferreiro um moleiro ou um merceeiro264 Entre essa gente tão estranha onde sobra espaço para o campo de abstinência do capitalista A grande beleza da produção capitalista consiste em que ela não apenas reproduz constantemente o assalariado como assalariado mas em relação à acumulação do capital produz sempre uma superpopulação relativa de assalariados Desse modo a lei da oferta e demanda de trabalho é mantida em seus devidos trilhos a oscilação dos salários é confinada em limites adequados à exploração capitalista e por fim é assegurada a dependência social tão indispensável do trabalhador em relação ao capitalista uma relação de dependência absoluta que o economista político em sua casa na metrópole pode disfarçar com um mentiroso tartamudeio numa relação contratual livre entre comprador e vendedor entre dois possuidores de mercadorias 544 igualmente independentes o possuidor da mercadoria capital e o da mercadoria trabalho Mas nas colônias essa bela fantasia se faz em pedaços A população absoluta cresce aqui muito mais rapidamente que na metrópole pois muitos trabalhadores chegam ao mundo já maduros e ainda assim o mercado de trabalho está sempre subabastecido A lei da oferta e demanda de trabalho desmorona Por um lado o velho mundo introduz constantemente capital ávido por exploração necessitado de abstinência por outro lado a reprodução regular dos assalariados como assalariados se choca com os obstáculos mais rudes e em parte insuperáveis E isso sem falar da produção de assalariados supranumerários em relação à acumulação do capital O assalariado de hoje se torna amanhã um camponês ou artesão independente que trabalha por conta própria Ele desaparece do mercado de trabalho mas não retorna à workhouse Essa constante transformação dos assalariados em produtores independentes que trabalham para si mesmos em vez de trabalhar para o capital e enriquecem a si mesmos em vez de enriquecer o senhor capitalista repercute por sua vez de uma forma completamente prejudicial sobre as condições do mercado de trabalho Não só o grau de exploração do assalariado permanece indecorosamente baixo Este último ainda perde junto com a relação de dependência o sentimento de dependência em relação ao capitalista abstinente Daí surgem todos os males que nosso E G Wakefield descreve de modo tão corajoso eloquente e pungente A oferta de trabalho assalariado reclama Wakefield não é nem constante nem regular nem suficiente Ela é sempre não só pequena demais mas incerta265 Embora o produto a ser dividido entre o trabalhador e o capitalista seja grande o trabalhador se apropria de uma parte tão grande que ele logo se converte em capitalista Em contrapartida são poucos os que mesmo chegando a uma idade excepcionalmente avançada podem acumular grandes riquezas266 Os trabalhadores simplesmente não permitem que o capitalista se abstenha de pagarlhes a maior parte de seu trabalho De nada serve ao capitalista ser muito astuto e importar com seu próprio capital seus próprios assalariados da Europa Eles logo deixam de ser assalariados e se transformam em camponeses independentes ou até mesmo em concorrentes de seus antigos patrões no próprio mercado de trabalho267 I maginem que horror O honrado capitalista importou da Europa com seu próprio bom dinheiro seus próprios concorrentes em pessoa I sso é o fim do mundo Não admira que Wakefield lamente que entre os assalariados das colônias inexistam relações e sentimento de dependência Em virtude dos altos salários diz seu discípulo Merivale existe nas colônias a busca apaixonada por trabalho mais barato e mais submisso por uma classe para a qual o capitalista possa ditar as condições em vez de ter de aceitar aquelas que essa classe lhe impõe Nos países de antiga civilização o trabalhador apesar de livre depende do capitalista por uma lei da natureza nas colônias essa dependência tem de ser criada por meios artificiais268 Ora qual é segundo Wakefield a consequência dessa situação calamitosa nas colônias Um sistema bárbaro de dispersão dos produtores e do patrimônio nacional269 A fragmentação dos meios de produção entre um semnúmero de proprietários que trabalham por conta própria elimina com a centralização do capital toda a base do trabalho combinado Todo empreendimento de grande fôlego que se 545 prolongue por vários anos e exija um investimento de capital fixo tropeça em obstáculos à sua execução Na Europa o capital não hesita um só instante pois a classe trabalhadora constitui seu acessório vivo sempre superabundante sempre disponível Mas nos países coloniais Wakefield relata uma anedota extremamente dolorosa Tratase de uma conversa que ele travou com alguns capitalistas do Canadá e do estado de Nova York onde além do mais as ondas imigratórias frequentemente estancam e deixam um sedimento de trabalhadores supranumerários Nosso capital suspira um dos personagens do melodrama já estava pronto para muitas operações que requerem um prazo considerável para serem consumadas mas como podíamos efetuar tais operações com trabalhadores que bem o sabíamos logo nos dariam as costas Se tivéssemos a certeza de que poderíamos reter o trabalho desses imigrantes têloíamos engajado imediatamente com prazer e por um alto preço E têloíamos engajado mesmo estando certos de que ao fim eles nos deixariam se tivéssemos a certeza de um novo suprimento de acordo com a nossa necessidade270 Depois de contrastar ostensivamente a agricultura capitalista inglesa e seu trabalho combinado com a dispersa economia camponesa americana Wakefield deixa escapar também o reverso da medalha A massa do povo americano é descrita como próspera independente empreendedora e relativamente culta ao passo que o trabalhador agrícola inglês é um farrapo miserável miserable wretch um pauper Em que país exceto a América do Norte e algumas colônias novas os salários pagos ao trabalho livre empregado no campo superam numa proporção digna de menção o valor dos meios de subsistência indispensáveis ao trabalhador Sem dúvida na Inglaterra os cavalos de lavoura por serem uma propriedade valiosa são muito mais bem alimentados do que o lavrador271 M as never mind uma vez mais a riqueza nacional é idêntica por sua própria natureza à miséria do povo Como curar então o câncer anticapitalista das colônias Se se quisesse transformar de um só golpe toda a terra que hoje é propriedade do povo em propriedade privada destruirseia a raiz da doença mas também a colônia A proeza está em matar dois coelhos de uma só cajadada O governo deve conferir à terra virgem por decreto um preço artificial independente da lei da oferta e da demanda que obrigue o imigrante a trabalhar como assalariado por um período maior antes que este possa ganhar dinheiro suficiente para comprar sua terra272 e transformarse num camponês independente O fundo resultante da venda das terras a um preço relativamente proibitivo para o assalariado isto é esse fundo de dinheiro extorquido do salário mediante a violação da sagrada lei da oferta e da demanda deve ser usado pelo governo por outro lado para importar numa quantidade proporcional ao crescimento do próprio fundo pobresdiabos da Europa para as colônias e assim manter o mercado de trabalho assalariado sempre abastecido para o senhor capitalista Nessas circunstâncias tout sera pour le mieux dans le meilleur des mondes possiblesc Esse é o grande segredo da colonização sistemática Segundo esse plano exclama Wakefield triunfante a oferta de trabalho tem de ser constante e regular em primeiro lugar porque como nenhum trabalhador é capaz de conseguir terra para si antes de ter trabalhado por dinheiro todos os trabalhadores imigrantes pelo fato de trabalharem combinadamente por salário produziriam para seus patrões capital para o emprego de mais trabalho em segundo lugar porque todo aquele que abandonasse o trabalho assalariado e se tornasse proprietário de terra asseguraria precisamente por meio da compra da terra a existência de um fundo para o traslado de novo trabalho para as colônias273 546 Naturalmente o preço da terra imposto pelo Estado tem de ser suficiente sufficient price isto é tão alto que impeça os trabalhadores de se tornarem camponeses independentes até que outros cheguem para preencher seu lugar no mercado de trabalho assalariado274 Esse preço suficiente da terra não é mais do que um circunlóquio eufemístico para descrever o resgate que o trabalhador paga ao capitalista para que este lhe permita retirarse do mercado de trabalho assalariado e estabelecerse no campo Primeiro ele tem de criar capital para o senhor capitalista para que este possa explorar mais trabalhadores e pôr no mercado de trabalho um substituto que o governo à custa do trabalhador que se retira manda buscar para o senhor capitalista do outro lado do oceano É altamente característico que o governo inglês tenha aplicado durante muitos anos esse método de acumulação primitiva expressamente prescrito pelo sr Wakefield para seu uso em países coloniais O fiasco foi naturalmente tão vexaminoso quanto o da lei bancária de Peeld O fluxo emigratório apenas se desviou das colônias inglesas para os Estados Unidos Nesse intervalo de tempo o progresso da produção capitalista na Europa somado à crescente pressão do governo tornou supérflua a receita de Wakefield Por um lado o enorme e contínuo afluxo de pessoas que a cada ano se dirigem à América deixa sedimentos estagnados no leste dos Estados Unidos porquanto a onda emigratória da Europa lança mais pessoas no mercado de trabalho do que o pode absorver a onda emigratória para o oeste Por outro lado a guerra civil americana teve como consequência uma enorme dívida pública e com ela uma sobrecarga tributária o surgimento da mais ordinária das aristocracias financeiras a doação de uma parte imensa das terras públicas a sociedades de especuladores dedicadas à exploração de ferrovias minas etc em suma a mais rápida centralização do capital A grande República deixou assim de ser a terra prometida dos trabalhadores emigrantes A produção capitalista avança ali a passos de gigante mesmo que o rebaixamento dos salários e a dependência do assalariado ainda estejam longe de alcançar os níveis normais na Europa O inescrupuloso malbarateamento do solo virgem das colônias da Austrália275 pelo governo inglês doado a aristocratas e capitalistas fato denunciado pelo próprio Wakefield com tanta veemência juntamente com o afluxo de pessoas atraídas pelos golddiggings jazidas de ouro e a concorrência que a importação de mercadorias inglesas significa mesmo para o menor dos artesãos tudo isso produziu uma suficiente superpopulação relativa de trabalhadores de modo que quase todo naviocorreio traz a má notícia do abarrotamento do mercado de trabalho australiano glut of the Australian labourmarket o que também explica por que em certos lugares da Austrália a prostituição floresce tão exuberantemente quanto no Haymarket londrino Porém não nos concerne aqui a situação das colônias O que nos interessa é apenas o segredo que a economia política do Velho Mundo descobre no Novo Mundo e proclama bem alto a saber o de que o modo capitalista de produção e acumulação e portanto a propriedade privada capitalista exige o aniquilamento da propriedade privada fundada no trabalho próprio isto é a expropriação do trabalhador 547 APÊNDICE Carta de Karl Marx a Friedrich Engelsa 2 horas da manhã 16 de agosto de 1867 Dear Fred Acabei de corrigir a última folha 49ª do livro O apêndice Forma de valor impresso em fonte reduzida abrange 114 folhas Ontem foi enviado o prefácio corrigido Assim este volume está pronto Apenas a ti devo agradecer que isso tenha sido possível Sem teu sacrifício por mim eu jamais teria conseguido realizar o gigantesco trabalho desses três volumes I embrace you full of thanksb Anexadas 2 folhas das provas de impressão As 15 foram recebidas com a máxima gratidão Salut meu caro precioso amigo Teu K Marx Só precisarei das provas de impressão de volta quando o livro já estiver publicado 550 Dear Fred from the long letters 4 This means continuing the order information text begins with 1 long If you can see from the last body part of the you can now begin I wish you much success friendliness and harmony in your endeavors Yours sincerely H Marks Carta de Karl Marx a Vera Ivanovna Zasulitcha 8 de março de 1881 41 Maitland Park Road Londres NW Cara cidadã Uma doença nervosa que me acomete periodicamente há dez anos impossibilitoume de responder mais cedo à vossa carta de 16 de fevereirob Lamento não poder oferecer vos uma explanação sucinta destinada ao público da indagação da qual me concedeis a honra de ser o destinatário Há meses prometi um escrito sobre o mesmo assunto ao Comitê de São Petersburgoc Espero no entanto que algumas linhas sejam suficientes para livrarvos de qualquer dúvida sobre o malentendido acerca de minha assim chamada teoria Ao analisar a gênese da produção capitalista afirmo Na base do sistema capitalista reside portanto a separação radical entre o produtor e seus meios de produção a base de toda essa evolução é a expropriação dos agricultores cultivateurs Ela só se realizou de um modo radical na Inglaterra Mas todos os outros países da Europa ocidental percorrem o mesmo processo mouvementd Portanto a fatalidade histórica desse processo está expressamente restrita aos países da Europa ocidental A razão dessa restrição é indicada na seguinte passagem do capítulo 32 A propriedade privada fundada no trabalho pessoal é suplantada pela propriedade privada capitalista fundada na exploração do trabalho de outrem sobre o trabalho assalariadoe Nesse processo ocidental o que ocorre é a transformação de uma forma de propriedade privada numa outra forma de propriedade privada J á no caso dos camponeses russos ao contrário seria preciso transformar sua propriedade comunal proprieté commune em propriedade privada Desse modo a análise apresentada nO capital não oferece razões nem a favor nem contra a vitalidade da comuna rural mas o estudo especial que fiz dessa questão sobre a qual busquei os materiais em suas fontes originais convenceume de que essa comuna é a alavanca point dappui da regeneração social da Rússia mas para que ela possa funcionar como tal seria necessário primeiramente eliminar as influências deletérias que a assaltam de todos os lados e então assegurarlhe as condições normais de um desenvolvimento espontâneof Tenho a honra cara cidadã de ser vosso fiel devoto Karl Marx 552 Chers collègues mes salutations Je voudrais donner quelques points capable je voudrais dire que de faire ce travail Limportance de la lecture et limportance même des à ce visiteur est Mais je pense que vous pouvez comprendre mon point de vue Je reste à votre disposition croyez bien que je Karl Marx ÍNDICE DE NOMES LITERÁRIOS BÍBLICOS E MITOLÓGICOS Abel Personagem do Antigo Testamento filho de Adão 819 Abraão Personagem do Antigo Testamento patriarca dos hebreus 657 Adão Personagem do Antigo Testamento 177 668 672 693 785 837 Anteu Gigante da mitologia grega antiga filho de Poseidon e Gaia enquanto estava próximo à mãe a Terra ninguém podia vencêlo Hércules arrancouo da terra e o estrangulou 668 Busíris Segundo a mitologia grega um cruel rei egípcio que mandava matar todos os estrangeiros que pisavam em seu território Isócrates o apresenta como exemplo de virtude 441 Caco Na mitologia grega um gigante que cuspia fogo e vivia numa caverna do monte Aventino Filho de Hefesto Caco foi morto por Hércules depois de terlhe roubado o gado 668 Caim Personagem do Antigo Testamento filho de Adão 819 Cupido O deus romano do amor 693 Dédalo Na mitologia grega arquiteto que construiu o labirinto de Creta Pai de Ícaro 480 Dogberry Em Muito barulho por nada de Shakespeare um oficial de polícia cuja comicidade reside em seu uso constante de paronímias 158 851 Dom Quixote Personagem de Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes 157 Eckart Personagem das sagas germânicas onde representa um desinteressado e fiel ajudante Geralmente referido como o fiel Eckart getreue Eckart 348 Fausto Personagem da tragédia homônima de J W Goethe 161 Fortunato Personagem de um livro popular alemão do século XVI Fortunato possui uma sacola de dinheiro que nunca se esgota e um chapéu que o leva para onde ele deseja 529 723 Gerião Na mitologia grega um dos gigantes Seu mito está ligado ao de Hércules a quem coube num dos seus trabalhos roubarlhe os bois e por quem acaba morto a flechadas 668 Gobseck Personagem agiota e avarento da Comédia humana de Balzac 664 Hefesto Deus grego do fogo e da fundição 481 721 Hércules Herói da mitologia grega filho de Zeus e da mortal Alcmena Depois de ter matado a sua própria família Hércules numa tentativa de penitência tornouse servo do rei de Micenas aceitando cumprir tarefas os doze trabalhos impossíveis para qualquer mortal 496 668 Isaque Personagem do Antigo Testamento Filho de Abraão 657 Jacó Personagem do Antigo Testamento Filho de Isaque 657 Jeová Denominação de Deus no Antigo Testamento 435 Jesus 332 Júpiter Deus supremo da mitologia romana 438 652 Kalb Marechal de corte von Kalb Personagem do drama Kabale und Liebe Intriga e amor de Schiller 650 Moisés Personagem do Antigo Testamento patriarca dos hebreus 448 670 841 Maritornes Personagem de Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes 160 Medusa Na mitologia grega monstro que transformava em pedra todos aqueles que a olhavam 79 Mistress Quickly Personagem de quatro peças de Shakespeare Mistress Quickly é uma taberneira que nega ser prostituta Marx emprega o nome em tradução alemã Wittib Hurtig 125 Moloch Deus assírio e fenício da natureza ao qual os amomitas sacrificavam seus recémnascidos jogandoos em uma fogueira Mais tarde o nome passou a significar qualquer poder cruel e irresistível que sacrifica um número incontável de vítimas 732 Paulo Personagem do Novo Testamento apóstolo 694 Pedro Personagem do Novo Testamento apóstolo 178 Perseu Personagem da mitologia grega filho de Zeus 79 Pluto Deus grego da riqueza e do reino dos mortos 206 553 Prometeu Personagem da mitologia grega por ter roubado o fogo de Zeus para dar aos homens foi acorrentado a um rochedo e condenado a suplícios eternos Na modernidade simboliza a afirmação iluminista das capacidades infinitas do homem contra a superstição religiosa 721 Robinson Crusoé Personagem de um romance homônimo de Daniel Defoe 1513 361 Sabala Na mitologia indiana deusa que aparece aos homens sob a forma de uma vaca 652 Sancho Pança Personagem de Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes 716 Sangrado Personagem do romance Gil Blas de Santillane de Lesage médico 782 Seacoal Personagem de Muito barulho por nada de Shakespeare guarda noturno 158 SextaFeira Personagem do romance Robinson Crusoé de Daniel Defoe 361 São Jorge Santo e mártir cristão representado como um cavaleiro que sobre um cavalo branco mata com sua lança um dragão 109 Shylock Personagem de O mercador de Veneza de Shakespeare agiota impiedoso judeu 757 Bill Sikes Personagem do romance Oliver Twist de Charles Dickens assassino 514 Sísifo Personagem da mitologia grega rei de Corinto que por sua traição aos deuses foi condenado ao suplício eterno de empurrar morro acima um enorme bloco de pedra que sempre acaba por rolar novamente para baixo 206 494 Thor Na mitologia germânica deus do trovão seu martelo retornava a sua mão a cada vez que era lançado 458 Ulisses Herói principal da Odisseia poema épico de Homero 327 Vishnu Um dos principais deuses do hinduísmo 673 554 Cofre projetado por Jean Fallon imitando uma edição em capa dura dO capital 555 BIBLIOGRAFIA Os escritos citados por Marx e Engels quando foi possível localizálos são aqui listados de acordo com as edições provavelmente utilizadas pelos autores Em alguns casos especialmente em referências de fontes e obras literárias gerais nenhuma edição determinada é referida Leis e documentos apenas são elencados quando expressamente citados na obra Algumas fontes não puderam ser identificadas I Obras e artigos inclusive autores anônimos ADDINGTON Stephen The Advantages of the EastIndia Trade to England Londres 1720 An Inquiry into the Reasons for and against Inclosing OpenFields 2 ed Coventry Londres 1772 AIKIN John A Description of the Country from Thirty to Forty Miles Round Manchester Londres 1795 ALIGHIERI Dante A divina comédia ANDERSON Adam An Historical and Chronological Deduction of the Origin of Commerce from the Earliest Accounts to the Present Time Containing an History of the Great Commercial Interests of the British Empire With an appendi x Londres 1764 v 12 ANDERSON James Observations on the Means of Exciting a Spirit of National Industry Chiefly Intended to Promote the Agriculture Commerce Manufactures and Fisheries of Scotland In a Series of Letters to a Friend Written in the Year 1775 Edimburgo 1777 The Bee or Literary Weekly Intelligence Edimburgo 1791 v 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t 13 Cours déconomie politique ou exposition des principes qui déterminent la prospérité des nations Avec des notes explicatives et critiques par JeanBaptiste Say Paris 1823 t 1 STRANGE William The Seven Sources of Health Londres 1864 STRYPE Johm Annals of the Reformation and Establishment of Religion and other Various Occurrences in the Church of England During Queen Elizabeths Happy Reign 2 ed Londres 1725 v 2 THIERS Adolphe De la propriété Paris 1848 566 THOMPSON Sir Benjamin Conde de Rumford Essays Political Economical and Philosophical Londres 17961802 v 13 THOMPSON Sir Benjamin Count of Rumford Sadler Michael Thomas Ireland Its Evils and Their Remedies Being a Refutation of the Errors of the Egration Committee and Others Touching that Country To Which is Prefied a Synopsis of an Original Treatise about to Be Published on the Law of Population Developing the Real Principle on Which It Is Universally Regulated 2 ed Londres 1829 Law of Population Londres 1830 v 12 THOMPSON William An Inquiry into the Principles of the Distribution of Wealth Most Conducive to Human Happiness Applied to the Newly Proposed System of Voluntary Equality of Wealth Londres 1824 THORNTON William Thomas Overpopulation and Its Remedy or an Inquiry into the Extent and Causes of the Distress Prevailing among the Labouring Classes of the Britiah Islands and into the Means of Remedying It Londres 1846 TUCÍDIDES História da guerra do Peloponeso THÜNEN Johann Heinrich von Der isolirte Staat in Beziehung auf Landwirthschaft und Nationalökonomie t 2 Rostock 1863 2 t TOOKE Thomas and William Newmarch A History of Prices and of the State of the Circulation During the Nine Years 18481856 Londres 1857 TORRENS Robert An Essay on the External Corn Trade Londres 1815 An Essay on the Production of Wealth with an Appendix in Which the Principles of Political Economy are Applied to the Actual Circumstances of this Country Londres 1821 On Wages and Combination Londres 1834 TOWNSEND Joseph A Dissertation on the Poor Laws By a Wellwisher to Mankind Londres 1786 Republicado em Londres 1817 Journey through Spain Londres 1791 TCHERNICHEVSKI Nikolai G Ocherki politicheskoi ekonomii po Mill In Sochinenia BasileiaGenebra 1870 v 4 TUCKETT John Debell A History of the Past and Present State of the Labouring Population Including the Progress of Agriculture Manufactures and Commerce Londres 1846 2 v TURGOT AnneRobertJacues de lAulne Réflexions sur la formation et la distribution des richesses In Œuvres Nouv éd par Eugène Daire Paris 1844 t 1 TWO LETTERS on the Flour Trade Dearness of Corn By a Person in Business Londres 1767 URE Andrew The Philosophy of Manufactures or an Exposition of the Scientific Moral and Commercial Economy of the Factory System of Great Britain Londres 1835 Philosophie des manufactures ou économie industrielle de la fabrication du coton de la laine du lin et la soie Trad sous les yeux de lauteur Paris 1836 t 2 URQUHART David Familiar Words as Affecting England and the English Londres 1855 VANDERLINT Jacob Money Answers All Things or an Essay to Make Money Sufficiently Plentiful Amongst all Ranks of People Londres 1734 VIRGÍLIO Eneida VERRI Pietro Meditazioni sulla economia politica In Scrittori classici italiani di economia politica Milão Parte Moderna 1804 t 15 VISSERING Simon Handboek van praktische staatshuishoudkunde Amsterdã 18601862 v 13 VOLTAIRE FrancoisMarie Arouet de Cândido ou o otimismo WADE John History of the Middle and Working Classes 3 ed Londres 1835 WAKEFIELD Edward Gibbon England and America A Comparison of the Social and Political State of Both Nations Londres 1833 v 12 A View of the Art of Colonization with Present Reference to the British Empire in Letters between a Statesman and a Colonist Londres 1849 WARD John The Borough of StokeuponTrent in the Commencement of the Reign of Her Most Gracious Majesty Queen Victoria Londres 1843 WATSON John Forbes Paper read before the Society of Arts In JournaI of the Society of Arts Londres 17 abr 1860 WATTS John The Facts and Fictions of Political Economists Being a Review of the Principles of the Science Separating the True from the False Manchester 1842 Trade Societies and Strikes Their Good and Evil Influences on the Members of Trades Unions and on Society at Targe Machinery Its Influences on Work and Wages and co Operative Societies Productive and Distributive Past Present and Future Manchester 1865 WAYLAND Francis The Elements of Political Economy Boston 1843 WEST Eddward Essay on the Application of Capital to Land with Observations Shewing the Impolicy of any Great 567 Restriction of the Importation of Corn and that the Bounty of 1688 Did not Lower the Price of It By a Fellow of University College Oxford Londres 1815 Price of Corn and Wages of Labour with Observations upon Dr Smiths Mr Ricardos and Mr Malthuss Doctrines upon Those Subjects and an Attempt at an Exposition of the Causes of the Fluctuation of the Price of Corn During the Last Thirty Years Londres 1826 WILKS Mark Historical Sketches of the South of India in an Attempt to Trace the History of Mysoor from the Hindoo Government of that State to the Extinction of the Mohammedan Dynasty in 1799 Londres 1810 v 1 WITT Johan de Aanwysing der heilsame politike gronden en maximen van de Republike van Holland en WestFriesland Leyden 1669 WRIGHT Thomas A Short Address to the Public on the Monopoly of Large Farms Londres 1779 XENOFONTE Ciropédia YOUNG Arthur Political Arithmetic Containing Observations on the Present State of Great Britain and the Principies of Her Policy in the Encouragement of Agriculture Londres 1774 A Tour in Ireland with General Observations on the Present State of that Kingdom 2 ed Londres 1780 2 v II Relatórios parlamentares e outras publicações oficiais An Act for Regulating the Hours of Labour for Children Young Persons and Women Employed in Workshops 21st August 1867 In The Statutes of the United Kingdom of Great Britain and Ireland Londres 1867 An Act to Limit the Hours of Labour and to Prevent the Employment of Children in Factories under Ten Years of Age Approved March 18 1851 In Acts of the SeventyFifth Legislature of the State of Nova Jersey Trenton 1851 Agricultural Labourers Ireland Return to an Order of the Honourable the House of Commons 8 mar 1861 Agricultural Statistics Ireland General Abstracts Showing the Acreage under the Several Crops and the Number of Live Stock in Each County and Province for the Year 1860 Also the Emigration from Irish Ports from 1st January to 1st September 1860 Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Dublin 1860 Agricultural Statistics Ireland Tables Showing the Estimated Average Produce of the Crope for the Year 1866 and the Emigration from the Irish Ports From 1st January to 31st December 1866 Also the Number of Mills for Scutching Flax in Each County and Province Presented to Both Houses of Parliament by command of Her Majesty Dublin 1867 Arbeiten der Kaiserlich Russischen Gesandtschaft zu Peking über China sein Volk seine Religion seine Institutionen socialen Verhältnisse etc Aus dem Russ nach dem in St Petersburg 185257 veröffentlichten Original von Dr Carl Abel und F A Mecklenburg Berlim 1858 v 1 Cambridge University Kommission Report of Her Majestys Commissioners Appointed to Inquire into the State Discipline Studies and Revenues of the University and Colleges of Cambridge together with the evidence and an appendix Presented to both Houses of Parliament by command of Her Majesty Londres 1852 The Case of our Enghsh wool As also the Presentment of the Grand Jury of the County of Sommerset Thereon Humbly offered to the High Court of Parliament Londres 1685 Census of England and Wales for the year 1861 Londres 1863 Childrens employment Kommission 1862 First Report of the Commissioners With Appendix Presented to both Houses of Parliament by command of Her Majesty Londres 1863 Second Report Londres 1864 Third Report Londres 1864 Fourth Report Londres 1865 Fifth Report Londres 1866 Sixth Report Londres 1867 Compte rendu dela deuxième session du congrès international de statistique réuni a Paris les 10 12 13 14 et 15 Septembre 1855 Publié par les ordres de SEM Rouher Paris 1856 Corn Grain and Meal Return to an Order of the Honourable the House of Commons Dated 18 February 1867 Correspondence with Her Majestys Missions Abroad Regarding Industrial Questions and Trades Unions Londres 1867 East India Bullion Return to an Address of the Honourable the House of Commons 8 fev 1864 Factories inquiry Kommission First Report of the Central Board of His Majesty 18 Commissioners Ordered by the House of Commons to Be Printed 28 June 1833 Factories Regulation acts Ordered by the House of Commons to Be Printed 9 Aug 1859 Return to an Address of the Honourable the House of Commons 15 Apr 1856 Ordered by the House of Commons to Be Printed 4 Feb 1857 Factories Return to an Address of the Honourable the House of Commons 24 Apr 1861 Ordered by the House of 568 Commons to Be Printed 11 Feb 1862 Factories Return to an address of the Honourable the House of Commons 5 Dec 1867 Ordered by the House of Commons to Be Printed 22 July 1868 First Report from the Select Committee on Adulteration of Food etc with the Minutes of Evidence and Appendix Ordered by the House of Commons to be printed 27 July 1855 Fourth Report of the Commissioners of Her Majestys Inland Revenue on the Inland Revenue Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1860 General Laws of the Commonwealth of Massachusetts Passed Subsequently to the Revised Statutes Boston 1854 v 1 Hansards Parliamentary Debates 3rd Series Commencing with the Acceasion of William IV Comprising the Period from the Second Day of February to the Twentyseventh Day of February 1843 Londres 1843 v 66 Comprising the period from the twentyseventh day of March to the twentyeighth day of May 1863 Londres 1863 v 170 Comprising the period from the fifteenth day of March to the third day of May 1864 Londres 1864 v 174 Jahresbericht der Handelskammer für Essen Werden und Kettwig pro 1862 Essen 1863 Manifest der Maatschappij De Vlamingen Vooruit Gerigt tot alle de voorstanders van de eerlijke en regtzinnige uitvoering der Belgische Grondwet gestemd door het Nationaal Congres van 1830 Bruxelas 1860 The Master Spinners and Manufacturers Defence Fund Report of the Committee Appointed for the Receipt and Apportionment of this Fund to the Central Astion of Master Spinners and Manufacturers Manchester 1854 Miscellaneous Statistics of the United Kingdom Part VI Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1866 The National Association for the Promotion of Social Science Report of Proceedings at the Seventh Annual Congress held in Edinburgh October 1863 Edimburgo Londres 1863 Public Health Reports Third Report of the Medical Officer of the Privy Council 1860 Ordered by the House of Commons to Be Printed 15 Apr 1861 Fourth Report with Appendix 1861 Ordered by the House of Commons to Be Printed 11 Apr 1862 Sixth Report With Appendix 1863 Presented Pursuant to Act of Parliament Londres 1864 Seventh Report with Appendix 1864 Presented Pursuant to Act of Parliament Londres 1865 Eighth Report with Appendix 1865 Presented Pursuant to Act of Parliament Londres 1866 Report Addressed to Her Majestys Principal Secretary of State for the Home Department Relative to the Grievances Complained of by the Journeymen Bakers with Appendix of Evidence Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1862 Report from the Committee on the Bill to Regulate the Labour of Children in the Mills and Factories of the United Kingdom with the Minutes of Evidence Ordered by the House of Commons to Be Printed 8 Aug 1832 Report from the Secret Committee of the House of Lords Appointed to Inquire into the Causes of the Distress which has for Some Time Prevailed Among the Commercial Classes and How Far It Has Been Affected By the Laws for Regulating the Issue of Bank Notes Payable on Demand Together with the Minutes of Evidence and an Appendix Ordered by the House of Commons to Be Printed 28 July 1848 Reprinted 1857 Report from the Select Committee on Bank Acts Together with the Proceedings of the Committee Minutes of Evidence Appendix and Index Ordered by the House of Commons to Be Printed 30 July 1857 Report from the Select Committee on the Bank Acts Together with the Proceedings of the Committee Minutes of Evidence Appendix and Index Ordered by the House of Commons to Be printed 1 July 1858 Report from the select committee on mines together with the proceedings of the committee minutes of evidence and appendix Ordered by the House of Commons to be printed 23 July 1866 Report from the Select Committee on Petitions Relating to the Corn Laws of This Kingdom Together with the Minutes of Evidence and an Appendix of Accounts Ordered by the House of Commons to Be Printed 26 July 1814 Report of the Commissioners Appointed to Inquire into the Operation of the Acts 16 17 Vict c 99 and 20 21 Vict c 3 Relating to Transportation and Penal Servitude v 1 Report and appendix v 2 Minutes of Evidence Presented to Both Houses of Parlimnent by Command of Her Majesty Londres 1863 Report of the Commissioners Appointed to Inquire into the Condition of All Mines in Great Britain to Which the Provisions of the Act 23 24 Vict Cap 151 Do not Apply With Reference to the Health and Safety of Persons Employed in Such Mines with Appendices Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1864 Report of the Committee on the Baking Trade in Ireland for 1861 Report of the Officer of Health of St MartinsintheFields 1865 Report of the Social Science Congress at Edinburgh Octob 1863 ver The National Association for The Promotion of Social Science 569 Reports by Her Majestys Secretaries of Embassy and Legation on the Manufactures Commerce etc of the Countries in which they reside Londres 1863 n 6 Reports from Poor law Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Dublin 1870 Reports of the inspectors of Factories to Her Majestys Principal Secretary of State for the Home Department For the Half year Ending the 31st December 1841 also the Joint Report of the Inspectors of Factories for the Same Period Presented by command of Her Majesty Ordered by the House of Commons to be printed 16 February 1842 For the Quarter Ending 30th September 1844 and from 1st October 1844 to 30th April 1845 Presented to Both Houses of Parliament by command of Her Majesty Londres 1845 For the Half Year Ending 31st October 1846 Londres 1847 For the Half Year Ending 30th April 1848 Londres 1848 For the Half Year Ending 31st October 1848 Londres 1849 For the Half Year Ending 30th April 1849 Londres 1849 For the Half Year Ending 31st October 1849 Londres 1850 For the Half Year Ending 30th April 1850 Londres 1850 For the Half Year Ending 31st October 1850 Londres 1851 For the Half Year Ending 30th April 1852 Londres 1852 For the Half Year Ending 30th April 1853 Londres 1853 For the Half Year Ending 31st October 1853 Londres 1854 For the Half Year Ending 30th April 1855 Londres 1855 For the Half Year Ending 31st October 1855 Londres 1856 For the Half Year Ending 31st October 1856 Londres 1857 For the Half Year Ending 30th April 1857 Londres 1857 For the Half Year Ending 31st October 1857 Londres 1857 For the Half Year Ending 30th April 1858 Londres 1858 For the Half Year Ending 31st October 1858 Londres 1859 For the Half Year Ending 30th April 1859 Londres 1859 For the Half Year Ending 31st October 1859 Londres 1860 For the Half Year Ending 30th April 1860 Londres 1860 For the Half Year Ending 31st October 1860 Londres 1860 For the Half Year Ending 30th April 1861 Londres 1861 For the Half Year Ending 31st October 1861 Londres 1862 For the Half Year Ending 31st October 1862 Londres 1863 For the Half Year Ending 30th April 1863 Londres 1863 For the Half Year Ending 31st October 1863 Londres 1864 For the Half Year Ending 30th April 1864 Londres 1864 For the Half Year Ending 31st October 1864 Londres 1865 For the Half Year Ending 31st October 1865 Londres 1866 For the Half Year Ending 31st October 1866 Londres 1867 Reports Respecting Grain and the Corn Laws Viz First and Second Reports from the Lords Committees Appointed to Enquire into the State of the Growth Commerce and Consumption of Grain and All Laws relating Thereto Ordered by the House of Commons to be presented 23 November 1814 The Revised Statutes of the State of Rhode Island and Providence Plantations to Which Are Prefixed the Constitutions of the United States and of the State Providence 1857 Royal Commission on Railways Report of the Commissioners Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1867 Second Report Addressed to Her Maiestys Principal Secretary of State for the Home Department Relative to the Grievances Complained of by the Journeyman Bakers Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1863 Statistical Abstract for the United Kingdom in Each of the Last Fifteen Years from 1846 to 1860 Londres 1861 n 8 Statistical Abstract for the United Kingdom in Each of the Last Fifteen Years from 1851 to 1865 Londres 1866 n 13 Tenth Report of the Commissioners Appointed to Inquire into the Organization and Rules of Trades Unions and Other Asiations Together with Minutes of Evidence Presented to Both Houses of Parliament by command of Her Majesty 28th July 1868 Londres 1868 Tenth Report of the Commissioners of Her Majestys Inland Revenue on the Inland Revenue Presented to Both Houses of Parliament by Command of Her Majesty Londres 1866 570 TwentySecond Annual Report of the Registrargeneral of Births Deaths and Marriages in England Presented to Both Houses of Parliament by command of Her Majesty Londres 1861 III Periódicos The Bengal Hurkaru Calcutá 22 jul 1861 Bury Gaardian 12 maio 1860 Concordia Zeitschrift für die Arbeiterfrage Berlim 7 mar 1872 4 jul 1872 1 jul 1872 The Daily Telegraph Londres 17 jan 1860 Demokratisches Wochenblatt Organ der deutschen Volkspartei Leipzig 1 ago 1868 22 ago 1868 29 ago 1868 5 ago 1868 DeutschFranzösische Jahrbücher Hrsg von Arnold Ruge und Karl Marx 1 und 2 Lfg Paris 1844 The Econst Weekly Commercial Times Bankers Gazette and Railway Monitor a Political Literary and General Newspaper Londres 29 mar 1845 15 abr 1848 19 jul 1851 21 jan 1860 2 jun 1866 The Evening Standard Londres 1 nov 1886 The Glasgow Daily Mail 25 abr 1849 Journal des Économistes Paris julago 1872 Journal of the Society of Arts and of the Institutions in Union Londres 9 dez 1859 17 abr 1860 23 mar 1866 5 jan 1872 Macmillans Magazine Ed by David Masson LondresCambridge ago 1863 The Manchester Guardian 15 jan 1875 The Morning Advertiser Londres 17 abr 1863 The Morning Chronicle Londres 18441845 The Morning Star Londres 17 abr 1863 23 jun 1863 7 jan 1867 Neue Rheinische Zeitung Organ der Demokratie Köln 7 abr 1849 Neue Rheinische Zeitung Politischökonomische Revue H 4 LondresHamburgoNova York 1850 NewYork Daily Tribune 9 fev 1853 The Observer Londres 24 abr 1864 The Pall Mall Gazette Londres La Philosophie Positive Revue ditigée par E Littré G Wyroubog Paris n 3 novdez 1868 Siehe auch Anm 9 The Portfolio Diplomatic review New series Londres Révolutions de Paris 1118 jun 1791 Reynoldss Newspaper A Weekly Journal of Politics History Literature and General Intelligence Londres 2 jan 1866 4 fev 1866 20 jan 1867 SanktPetersburgskie Vedomosti 820 abr 1872 The Saturday Review of Politics Literature Science and Art Londres 18 jan 1868 The Social Science Review Londres 18 jul 1863 571 The Spectator Londres 26 maio 1866 The Standard Londres 26 out 1861 15 ago 1863 5 abr 1867 The Times Londres 14 fev 1843 5 nov 1861 26 nov 1862 24 mar 1863 17 abr 1863 2 jul 1863 26 fev 1864 26 jan 1867 3 set 1873 29 nov 1883 ToDay Londres fev 1884 mar 1884 Der Volksstaat Organ der socialdemokratischen Arbeiterpartei und der Internationalen Gewerksgenossenschaften Leipzig jun 1872 7 ago 1872 The Westminster Review Londres Vestnik Evropy Correio europeu São Petersburgo 1872 n 5 The Workmans Advocate Londres 13 jan 1866 572 GLOSSÁRIO DA TRADUÇÃO Abstraktionskraft força da abstração Äquivalentform forma de equivalente an und für sich por si mesmoa em si mesmoa aussaugen Aussaugung sugar sucção absorver absorção extrair extração Bestimmtheit determinidade Charaktermasken máscaras dinglich material materialmente reificadoa entäußert Entäußerung alienadoa alienação entfremden alienar estranhar sich erscheinen Erscheinung aparecer manifestarse manifestação Erscheinungsform forma de manifestação Gebrauchswert valor de uso Geldform formadinheiro Geldnamen denominações monetárias Geldware mercadoriadinheiro Kapitalgeld capital monetário Kapitalwert valor de capital Kreditgeld dinheiro creditício Lebensmittel meios de subsistência Leiblichkeit corporeidade Materiatur materialidade Mehrarbeit maistrabalho Mehrprodukt maisproduto Mehrwert maisvalor Naturmacht potência natural naturwüchsig naturalespontâneo ökonomische Charaktermasken máscaras econômicas Phantasie imaginação Preisform formapreço Produktenwert valor do produto Rechengeld moeda de conta sachlich material materialmente reificadoa Staatsschulden dívidas públicas Surplusarbeit trabalho excedente Surplusprodukt produto excedente Tauschwert valor de troca Träger suportes portadoresas Trieb impulso Überarbeit sobretrabalho Überproduktion superprodução verausgaben Verausgabung despender dispêndio gastar gasto veräußert Veräußerung veräußerlich vendidoa venda alienação alienável vorstellen Vorstellung representar representação Warendinge coisasmercadorias Warenform formamercadoria Warenkörper corpos de mercadorias corpos das mercadorias Wertding coisa de valor Wertform forma de valor Wertgestalt figura de valor Wertprodukt produto de valor Wertsein valor 573 Zusatzarbeit trabalho adicional 574 TABELA DE EQUIVALÊNCIAS DE PESOS MEDIDAS E MOEDAS Pesos Tonelada ton 20 quintais hundredweights 101605 kg Quintal hundredweight cwt 112 libras 50802 kg Quarter qrtr qrs 28 libras 12700 kg Pedra stone 14 libras 6350 kg Libra pound 16 onças 453592 g Onça ounce 28349 g Peso troy para pedras e metais preciosos e medicamentos Libra troy troy pound 12 onças 372242 g Onça troy troy ounce 31103 g Grão grain 0065 g Medidas de comprimento Milha britânica British mile 5280 pés 1609329 m Jarda 3 pés 91439 cm Pé foot 12 polegadas 30480 cm Polegada inch 2540 cm Braça Elle prussiana 66690 cm Medidas de superfície Acre 4 roods 40467 m2 Rood 10117 m2 Vara Rute 1421 m2 Are 100 m2 Jugerum plural jugera 2523 m2 Medidas de volume Alqueire bushel 8 galões 36349 litros Galão gallon 8 pints 4544 litros Pint 0568 litro Moedas1 Libra esterlina 20 xelins 2043 marcos alemães Xelim shilling 12 pence 102 marco alemão Penny plural pence 4 farthing 851 Pfennig Farthing 14 penny 212 Pfennig Guiné guinea 21 xelins 2145 marcos alemães 575 Sovereign moeda de ouro inglesa 1 2043 marcos Franco 100 cêntimos 80 Pfennig Cêntimo moeda francesa 08 Pfennig Libras livres moeda francesa de prata 1 franco 80 Pfennig Cent moeda americana cerca de 42 Pfennig Dracma moeda de prata da Grécia antiga Ducado moeda de ouro na Europa originalmente na Itália cerca de 9 marcos alemães Maravedi moeda espanhola cerca de 6 Pfennig Rei Reis moeda portuguesa cerca de 045 Pfennig 576 CRONOLOGIA RESUMIDA Karl Marx Friedrich Engels 1818 Em Trier capital da província alemã do Reno nasce Karl Marx 5 de maio o segundo de oito filhos de Heinrich Marx e de Enriqueta Pressburg Trier na época era influenciada pelo liberalismo revolucionário francês e pela reação ao Antigo Regime vinda da Prússia 1820 Nasce Friedrich Engels 28 de novembro primeiro dos oito filhos de Friedrich Engels e Elizabeth Franziska Mauritia van Haar em Barmen Alemanha Cresce no seio de uma família de industriais religiosa e conservadora 1824 O pai de Marx nascido Hirschel advogado e conselheiro de Justiça é obrigado a abandonar o judaísmo por motivos profissionais e políticos os judeus estavam proibidos de ocupar cargos públicos na Renânia Marx entra para o Ginásio de Trier outubro 1830 Inicia seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm em Trier 1834 Engels ingressa em outubro no Ginásio de Elberfeld 1835 Escreve Reflexões de um jovem perante a escolha de sua profissão Presta exame final de bacharelado em Trier 24 de setembro Inscrevese na Universidade de Bonn 1836 Estuda Direito na Universidade de Bonn Participa do Clube de Poetas e de associações de estudantes No verão fica noivo em segredo de Jenny von Westphalen sua vizinha em Trier Em razão da oposição entre as famílias casarseiam apenas sete anos depois Matriculase na Universidade de Berlim Na juventude fica impressionado com a miséria em que vivem os trabalhadores das fábricas de sua família Escreve Poema 1837 Transferese para a Universidade de Berlim e estuda com mestres como Gans e Savigny Escreve Canções selvagens e Transformações Em carta ao pai descreve sua relação contraditória com o hegelianismo doutrina predominante na época Por insistência do pai Engels deixa o ginásio e começa a trabalhar nos negócios da família Escreve História de um pirata 1838 Entra para o Clube dos Doutores encabeçado por Bruno Bauer Perde o interesse pelo Direito e entregase com paixão ao estudo da Filosofia o que lhe compromete a saúde Morre seu pai Estuda comércio em Bremen Começa a escrever ensaios literários e sociopolíticos poemas e panfletos filosóficos em periódicos como o Hamburg Journal e o Telegraph für Deutschland entre eles o poema O beduíno setembro sobre o espírito da liberdade 1839 Escreve o primeiro trabalho de envergadura Briefe aus dem Wupperthal Cartas de Wupperthal sobre a vida operária em Barmen e na vizinha Elberfeld Telegraph für Deutschland primavera Outros viriam como Literatura popular alemã Karl Beck e Memorabilia de Immermann Estuda a filosofia de Hegel 1840 K F Koeppen dedica a Marx o seu estudo Friedrich der Grosse und seine Widersacher Frederico o Grande e seus adversários Engels publica Réquiem para o Aldeszeitung alemão abril Vida literária moderna no Mitternachtzeitung marçomaio e Cidade natal de Siegfried dezembro 1841 Com uma tese sobre as diferenças entre as filosofias de Demócrito e Epicuro Marx recebe em Iena o título de doutor em Filosofia 15 de abril Volta a Trier Bruno Bauer acusado de ateísmo é expulso da cátedra de Teologia da Universidade de Bonn com isso Marx perde a oportunidade de atuar como docente nessa universidade Publica Ernst Moritz Arndt Seu pai o obriga a deixar a escola de comércio para dirigir os negócios da família Engels prosseguiria sozinho seus estudos de filosofia religião literatura e política Presta o serviço militar em Berlim por um ano Frequenta a Universidade de Berlim como ouvinte e conhece os jovens hegelianos Critica intensamente o conservadorismo na figura de Schelling com os escritos Schelling em Hegel Schelling e a revelação e Schelling filósofo em Cristo 1842 Elabora seus primeiros trabalhos como publicista Começa a colaborar com o jornal Rheinische Zeitung Gazeta Renana publicação da burguesia em Colônia do qual mais tarde seria redator Conhece Engels que na ocasião visitava o jornal Em Manchester assume a fiação do pai a Ermen Engels Conhece Mary Burns jovem trabalhadora irlandesa que viveria com ele até a morte Mary e a irmã Lizzie mostram a Engels as dificuldades da vida operária e ele inicia estudos sobre os efeitos do capitalismo no operariado inglês Publica artigos no Rheinische Zeitung entre eles Crítica às leis de imprensa prussianas e Centralização e liberdade 1843 Sob o regime prussiano é fechado o Rheinische Zeitung Marx casase com Jenny von Westphalen Recusa convite do governo prussiano para ser redator no diário oficial Passa a lua de mel em Kreuznach onde se dedica ao estudo de diversos autores com destaque para Hegel Redige os manuscritos que viriam a ser conhecidos como Crítica da filosofia do direito de Hegel Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie Em outubro vai a Paris onde Moses Hess e George Herwegh o apresentam às sociedades secretas socialistas e comunistas e às associações operárias alemãs Conclui Sobre a questão judaica Zur Judenfrage Substitui Arnold Ruge na direção dos Engels escreve com Edgar Bauer o poema satírico Como a Bíblia escapa milagrosamente a um atentado impudente ou O triunfo da fé contra o obscurantismo religioso O jornal Schweuzerisher Republicaner publica suas Cartas de Londres Em Bradford conhece o poeta G Weerth Começa a escrever para a imprensa cartista Mantém contato com a Liga dos Justos Ao longo desse período suas cartas à irmã favorita Marie revelam seu amor pela natureza e por música livros pintura viagens esporte vinho cerveja e tabaco 577 DeutschFranzösische Jahrbücher Anais FrancoAlemães Em dezembro inicia grande amizade com Heinrich Heine e conclui sua Crítica da filosofia do direito de Hegel Introdução Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie Einleitung 1844 Em colaboração com Arnold Ruge elabora e publica o primeiro e único volume dos DeutschFranzösische Jahrbücher no qual participa com dois artigos A questão judaica e Introdução a uma crítica da filosofia do direito de Hegel Escreve os Manuscritos econômicofilosóficos Ökonomisch philosophische Manuskripte Colabora com o Vorwärts Avante órgão de imprensa dos operários alemães na emigração Conhece a Liga dos Justos fundada por Weitling Amigo de Heine Leroux Blanc Proudhon e Bakunin inicia em Paris estreita amizade com Engels Nasce Jenny primeira filha de Marx Rompe com Ruge e desligase dos DeutschFranzösische Jahrbücher O governo decreta a prisão de Marx Ruge Heine e Bernays pela colaboração nos DeutschFranzösische Jahrbücher Encontra Engels em Paris e em dez dias planejam seu primeiro trabalho juntos A sagrada família Die heilige Familie Marx publica no Vorwärts artigo sobre a greve na Silésia Em fevereiro Engels publica Esboço para uma crítica da economia política Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie texto que influenciou profundamente Marx Segue à frente dos negócios do pai escreve para os Deutsch Französische Jahrbücher e colabora com o jornal Vorwärts Deixa Manchester Em Paris tornase amigo de Marx com quem desenvolve atividades militantes o que os leva a criar laços cada vez mais profundos com as organizações de trabalhadores de Paris e Bruxelas Vai para Barmen 1845 Por causa do artigo sobre a greve na Silésia a pedido do governo prussiano Marx é expulso da França juntamente com Bakunin Bürgers e Bornstedt Mudase para Bruxelas e em colaboração com Engels escreve e publica em Frankfurt A sagrada família Ambos começam a escrever A ideologia alemã Die deutsche Ideologie e Marx elabora As teses sobre Feuerbach Thesen über Feuerbach Em setembro nasce Laura segunda filha de Marx e Jenny Em dezembro ele renuncia à nacionalidade prussiana As observações de Engels sobre a classe trabalhadora de Manchester feitas anos antes formam a base de uma de suas obras principais A situação da classe trabalhadora na Inglaterra Die Lage der arbeitenden Klasse in England publicada primeiramente em alemão a edição seria traduzida para o inglês 40 anos mais tarde Em Barmen organiza debates sobre as ideias comunistas junto com Hess e profere os Discursos de Elberfeld Em abril sai de Barmen e encontra Marx em Bruxelas Juntos estudam economia e fazem uma breve visita a Manchester julho e agosto onde percorrem alguns jornais locais como o Manchester Guardian e o Volunteer Journal for Lancashire and Cheshire Lançada A situação da classe trabalhadora na Inglaterra em Leipzig Começa sua vida em comum com Mary Burns 1846 Marx e Engels organizam em Bruxelas o primeiro Comitê de Correspondência da Liga dos Justos uma rede de correspondentes comunistas em diversos países a qual Proudhon se nega a integrar Em carta a Annenkov Marx critica o recémpublicado Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria Système des contradictions économiques ou Philosophie de la misère de Proudhon Redige com Engels a Zirkular gegen Kriege Circular contra Kriege crítica a um alemão emigrado dono de um periódico socialista em Nova York Por falta de editor Marx e Engels desistem de publicar A ideologia alemã a obra só seria publicada em 1932 na União Soviética Em dezembro nasce Edgar o terceiro filho de Marx Seguindo instruções do Comitê de Bruxelas Engels estabelece estreitos contatos com socialistas e comunistas franceses No outono ele se desloca para Paris com a incumbência de estabelecer novos comitês de correspondência Participa de um encontro de trabalhadores alemães em Paris propagando ideias comunistas e discorrendo sobre a utopia de Proudhon e o socialismo real de Karl Grün 1847 Filiase à Liga dos Justos em seguida nomeada Liga dos Comunistas Realiza se o primeiro congresso da associação em Londres junho ocasião em que se encomenda a Marx e Engels um manifesto dos comunistas Eles participam do congresso de trabalhadores alemães em Bruxelas e juntos fundam a Associação Operária Alemã de Bruxelas Marx é eleito vicepresidente da Associação Democrática Conclui e publica a edição francesa de Miséria da filosofia Misère de la philosophie Bruxelas julho Engels viaja a Londres e participa com Marx do I Congresso da Liga dos Justos Publica Princípios do comunismo Grundsätze des Kommunismus uma versão preliminar do Manifesto Comunista Manifest der Kommunistischen Partei Em Bruxelas junto com Marx participa da reunião da Associação Democrática voltando em seguida a Paris para mais uma série de encontros Depois de atividades em Londres volta a Bruxelas e escreve com Marx o Manifesto Comunista 1848 Marx discursa sobre o livrecambismo numa das reuniões da Associação Democrática Com Engels publica em Londres fevereiro o Manifesto Comunista O governo revolucionário francês por meio de Ferdinand Flocon convida Marx a morar em Paris depois que o governo belga o expulsa de Bruxelas Expulso da França por suas atividades políticas chega a Bruxelas no fim de janeiro Juntamente com Marx toma parte na insurreição alemã de cuja derrota falaria quatro anos depois em Revolução e contrarrevolução na Alemanha Revolution und Konterevolution in Deutschland Engels Redige com Engels Reivindicações do Partido Comunista da Alemanha Forderungen der Kommunistischen Partei in Deutschland e organiza o regresso dos membros alemães da Liga dos Comunistas à pátria Com sua família e com Engels mudase em fins de maio para Colônia onde ambos fundam o jornal Neue Rheinische Zeitung Nova Gazeta Renana cuja primeira edição é publicada em 1º de junho com o subtítulo Organ der Demokratie Marx começa a dirigir a Associação Operária de Colônia e acusa a burguesia alemã de traição Proclama o terrorismo revolucionário como único meio de amenizar as dores de parto da nova sociedade Conclama ao boicote fiscal e à resistência armada exerce o cargo de editor do Neue Rheinische Zeitung recém criado por ele e Marx Participa em setembro do Comitê de Segurança Pública criado para rechaçar a contrarrevolução durante grande ato popular promovido pelo Neue Rheinische Zeitung O periódico sofre suspensões mas prossegue ativo Procurado pela polícia tenta se exilar na Bélgica onde é preso e depois expulso Mudase para a Suíça 1849 Marx e Engels são absolvidos em processo por participação nos distúrbios de Colônia ataques a autoridades publicados no Neue Rheinische Zeitung Ambos defendem a liberdade de imprensa na Alemanha Marx é convidado a deixar o país mas ainda publicaria Trabalho assalariado e capital Lohnarbeit und Kapital O periódico em difícil situação é extinto maio Marx em Em janeiro Engels retorna a Colônia Em maio toma parte militarmente na resistência à reação À frente de um batalhão de operários entra em Elberfeld motivo pelo qual sofre sanções legais por parte das autoridades prussianas enquanto Marx é convidado a deixar o país Publicado o último número do Neue 578 condição financeira precária vende os próprios móveis para pagar as dívidas tenta voltar a Paris mas impedido de ficar é obrigado a deixar a cidade em 24 horas Graças a uma campanha de arrecadação de fundos promovida por Ferdinand Lassalle na Alemanha Marx se estabelece com a família em Londres onde nasce Guido seu quarto filho novembro Rheinische Zeitung Marx e Engels vão para o sudoeste da Alemanha onde Engels envolvese no levante de Baden Palatinado antes de seguir para Londres 1850 Ainda em dificuldades financeiras organiza a ajuda aos emigrados alemães A Liga dos Comunistas reorganiza as sessões locais e é fundada a Sociedade Universal dos Comunistas Revolucionários cuja liderança logo se fraciona Edita em Londres a Neue Rheinische Zeitung Nova Gazeta Renana revista de economia política bem como Lutas de classe na França Die Klassenkämpfe in Frankreich Morre o filho Guido Publica A guerra dos camponeses na Alemanha Der deutsche Bauernkrieg Em novembro retorna a Manchester onde viverá por vinte anos e às suas atividades na Ermen Engels o êxito nos negócios possibilita ajudas financeiras a Marx 1851 Continua em dificuldades mas graças ao êxito dos negócios de Engels em Manchester conta com ajuda financeira Dedicase intensamente aos estudos de economia na biblioteca do Museu Britânico Aceita o convite de trabalho do New York Daily Tribune mas é Engels quem envia os primeiros textos intitulados Contrarrevolução na Alemanha publicados sob a assinatura de Marx Hermann Becker publica em Colônia o primeiro e único tomo dos Ensaios escolhidos de Marx Nasce Francisca 28 de março quinta de seus filhos Engels juntamente com Marx começa a colaborar com o Movimento Cartista Chartist Movement Estuda língua história e literatura eslava e russa 1852 Envia ao periódico Die Revolution de Nova York uma série de artigos sobre O 18 de brumário de Luís Bonaparte Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte Sua proposta de dissolução da Liga dos Comunistas é acolhida A difícil situação financeira é amenizada com o trabalho para o New York Daily Tribune Morre a filha Francisca nascida um ano antes Publica Revolução e contrarrevolução na Alemanha Revolution und Konterevolution in Deutschland Com Marx elabora o panfleto O grande homem do exílio Die grossen Männer des Exils e uma obra hoje desaparecida chamada Os grandes homens oficiais da Emigração nela atacam os dirigentes burgueses da emigração em Londres e defendem os revolucionários de 18489 Expõem em cartas e artigos conjuntos os planos do governo da polícia e do judiciário prussianos textos que teriam grande repercussão 1853 Marx escreve tanto para o New York Daily Tribune quanto para o Peoples Paper inúmeros artigos sobre temas da época Sua precária saúde o impede de voltar aos estudos econômicos interrompidos no ano anterior o que faria somente em 1857 Retoma a correspondência com Lassalle Escreve artigos para o New York Daily Tribune Estuda o persa e a história dos países orientais Publica com Marx artigos sobre a Guerra da Crimeia 1854 Continua colaborando com o New York Daily Tribune dessa vez com artigos sobre a revolução espanhola 1855 Começa a escrever para o Neue Oder Zeitung de Breslau e segue como colaborador do New York Daily Tribune Em 16 de janeiro nasce Eleanor sua sexta filha e em 6 de abril morre Edgar o terceiro Escreve uma série de artigos para o periódico Putman 1856 Ganha a vida redigindo artigos para jornais Discursa sobre o progresso técnico e a revolução proletária em uma festa do Peoples Paper Estuda a história e a civilização dos povos eslavos A esposa Jenny recebe uma herança da mãe o que permite que a família mude para um apartamento mais confortável Acompanhado da mulher Mary Burns Engels visita a terra natal dela a Irlanda 1857 Retoma os estudos sobre economia política por considerar iminente nova crise econômica europeia Fica no Museu Britânico das nove da manhã às sete da noite e trabalha madrugada adentro Só descansa quando adoece e aos domingos nos passeios com a família em Hampstead O médico o proíbe de trabalhar à noite Começa a redigir os manuscritos que viriam a ser conhecidos como Grundrisse der Kritik der Politischen Ökonomie Esboços de uma crítica da economia política e que servirão de base à obra Para a crítica da economia política Zur Kritik der Politischen Ökonomie Escreve a célebre Introdução de 1857 Continua a colaborar no New York Daily Tribune Escreve artigos sobre JeanBaptiste Bernadotte Simón Bolívar Gebhard Blücher e outros na New American Encyclopaedia Nova Enciclopédia Americana Atravessa um novo período de dificuldades financeiras e tem um novo filho natimorto Adoece gravemente em maio Analisa a situação no Oriente Médio estuda a questão eslava e aprofunda suas reflexões sobre temas militares Sua contribuição para a New American Encyclopaedia Nova Enciclopédia Americana versando sobre as guerras faz de Engels um continuador de Von Clausewitz e um precursor de Lenin e Mao TséTung Continua trocando cartas com Marx discorrendo sobre a crise na Europa e nos Estados Unidos 1858 O New York Daily Tribune deixa de publicar alguns de seus artigos Marx dedicase à leitura de Ciência da lógica Wissenschaft der Logik de Hegel Agravamse os problemas de saúde e a penúria Engels dedicase ao estudo das ciências naturais 1859 Publica em Berlim Para a crítica da economia política A obra só não fora publicada antes porque não havia dinheiro para postar o original Marx comentaria Seguramente é a primeira vez que alguém escreve sobre o dinheiro com tanta falta dele O livro muito esperado foi um fracasso Nem seus companheiros mais entusiastas como Liebknecht e Lassalle o compreenderam Escreve mais artigos no New York Daily Tribune Começa a colaborar com o periódico londrino Das Volk contra o grupo de Edgar Bauer Marx polemiza com Karl Vogt a quem acusa de ser subsidiado pelo bonapartismo Blind e Freiligrath Faz uma análise junto com Marx da teoria revolucionária e suas táticas publicada em coluna do Das Volk Escreve o artigo Po und Rhein Pó e Reno em que analisa o bonapartismo e as lutas liberais na Alemanha e na Itália Enquanto isso estuda gótico e inglês arcaico Em dezembro lê o recémpublicado A origem das espécies The Origin of Species de Darwin 1860 Vogt começa uma série de calúnias contra Marx e as querelas chegam aos Engels vai a Barmen para o sepultamento de seu pai 20 de 579 tribunais de Berlim e Londres Marx escreve Herr Vogt Senhor Vogt março Publica a brochura Savoia Nice e o Reno Savoyen Nizza und der Rhein polemizando com Lassalle Continua escrevendo para vários periódicos entre eles o Allgemeine Militar Zeitung Contribui com artigos sobre o conflito de secessão nos Estados Unidos no New York Daily Tribune e no jornal liberal Die Presse 1861 Enfermo e depauperado Marx vai à Holanda onde o tio Lion Philiph concorda em adiantarlhe uma quantia por conta da herança de sua mãe Volta a Berlim e projeta om Lassalle um novo periódico Reencontra velhos amigos e visita a mãe em Trier Não consegue recuperar a nacionalidade prussiana Regressa a Londres e participa de uma ação em favor da libertação de Blanqui Retoma seus trabalhos científicos e a colaboração com o New York Daily Tribune e o Die Presse de Viena 1862 Trabalha o ano inteiro em sua obra científica e encontrase várias vezes com Lassalle para discutirem seus projetos Em suas cartas a Engels desenvolve uma crítica à teoria ricardiana sobre a renda da terra O New York Daily Tribune justificandose com a situação econômica interna norteamericana dispensa os serviços de Marx o que reduz ainda mais seus rendimentos Viaja à Holanda e a Trier e novas solicitações ao tio e à mãe são negadas De volta a Londres tenta um cargo de escrevente da ferrovia mas é reprovado por causa da caligrafia 1863 Marx continua seus estudos no Museu Britânico e se dedica também à matemática Começa a redação definitiva de O capital Das Kapital e participa de ações pela independência da Polônia Morre sua mãe novembro deixandolhe algum dinheiro como herança Morre em Manchester Mary Burns companheira de Engels 6 de janeiro Ele permaneceria morando com a cunhada Lizzie Esboça mas não conclui um texto sobre rebeliões camponesas 1864 Malgrado a saúde continua a trabalhar em sua obra científica É convidado a substituir Lassalle morto em duelo na Associação Geral dos Operários Alemães O cargo entretanto é ocupado por Becker Apresenta o projeto e o estatuto de uma Associação Internacional dos Trabalhadores durante encontro internacional no Saint Martins Hall de Londres Marx elabora o Manifesto de Inauguração da Associação Internacional dos Trabalhadores Engels participa da fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores depois conhecida como a Primeira Internacional Tornase coproprietário da Ermen Engels No segundo semestre contribui com Marx para o SozialDemokrat periódico da socialdemocracia alemã que populariza as ideias da Internacional na Alemanha 1865 Conclui a primeira redação de O capital e participa do Conselho Central da Internacional setembro em Londres Marx escreve Salário preço e lucro Lohn Preis und Profit Publica no SozialDemokrat uma biografia de Proudhon morto recentemente Conhece o socialista francês Paul Lafargue seu futuro genro Recebe Marx em Manchester Ambos rompem com Schweitzer diretor do SozialDemokrat por sua orientação lassalliana Suas conversas sobre o movimento da classe trabalhadora na Alemanha resultam em artigo para a imprensa Engels publica A questão militar na Prússia e o Partido Operário Alemão Die preussische Militärfrage und die deutsche Arbeiterpartei 1866 Apesar dos intermináveis problemas financeiros e de saúde Marx conclui a redação do primeiro livro de O capital Prepara a pauta do primeiro Congresso da Internacional e as teses do Conselho Central Pronuncia discurso sobre a situação na Polônia Escreve a Marx sobre os trabalhadores emigrados da Alemanha e pede a intervenção do Conselho Geral da Internacional 1867 O editor Otto Meissner publica em Hamburgo o primeiro volume de O capital Os problemas de Marx o impedem de prosseguir no projeto Redige instruções para Wilhelm Liebknecht recémingressado na Dieta prussiana como representante socialdemocrata Engels estreita relações com os revolucionários alemães especialmente Liebknecht e Bebel Envia carta de congratulações a Marx pela publicação do primeiro volume de O capital Estuda as novas descobertas da química e escreve artigos e matérias sobre O capital com fins de divulgação 1868 Piora o estado de saúde de Marx e Engels continua ajudandoo financeiramente Marx elabora estudos sobre as formas primitivas de propriedade comunal em especial sobre o mir russo Correspondese com o russo Danielson e lê Dühring Bakunin se declara discípulo de Marx e funda a Aliança Internacional da SocialDemocracia Casamento da filha Laura com Lafargue Engels elabora uma sinopse do primeiro volume de O capital 1869 Liebknecht e Bebel fundam o Partido Operário SocialDemocrata alemão de linha marxista Marx fugindo das polícias da Europa continental passa a viver em Londres com a família na mais absoluta miséria Continua os trabalhos para o segundo livro de O capital Vai a Paris sob nome falso onde permanece algum tempo na casa de Laura e Lafargue Mais tarde acompanhado da filha Jenny visita Kugelmann em Hannover Estuda russo e a história da Irlanda Correspondese com De Paepe sobre o proudhonismo e concede uma entrevista ao sindicalista Haman sobre a importância da organização dos trabalhadores Em Manchester dissolve a empresa Ermen Engels que havia assumido após a morte do pai Com um soldo anual de 350 libras auxilia Marx e sua família com ele mantém intensa correspondência Começa a contribuir com o Volksstaat o órgão de imprensa do Partido SocialDemocrata alemão Escreve uma pequena biografia de Marx publicada no Die Zukunft julho Lançada a primeira edição russa do Manifesto Comunista Em setembro acompanhado de Lizzie Marx e Eleanor visita a Irlanda 1870 Continua interessado na situação russa e em seu movimento revolucionário Em Genebra instalase uma seção russa da Internacional na qual se acentua a oposição entre Bakunin e Marx que redige e distribui uma circular confidencial sobre as atividades dos bakunistas e sua aliança Redige o primeiro comunicado da Internacional sobre a guerra francoprussiana e exerce a partir do Conselho Central uma grande atividade em favor da Engels escreve História da Irlanda Die Geschichte Irlands Começa a colaborar com o periódico inglês Pall Mall Gazette discorrendo sobre a guerra francoprussiana Deixa Manchester em setembro acompanhado de Lizzie e instalase em Londres para promover a causa comunista Lá continua escrevendo para o Pall Mall Gazette dessa vez sobre o desenvolvimento das 580 República francesa Por meio de Serrailler envia instruções para os membros da Internacional presos em Paris A filha Jenny colabora com Marx em artigos para A Marselhesa sobre a repressão dos irlandeses por policiais britânicos oposições É eleito por unanimidade para o Conselho Geral da Primeira Internacional O contato com o mundo do trabalho permitiu a Engels analisar em profundidade as formas de desenvolvimento do modo de produção capitalista Suas conclusões seriam utilizadas por Marx em O capital 1871 Atua na Internacional em prol da Comuna de Paris Instrui Frankel e Varlin e redige o folheto Der Bürgerkrieg in Frankreich A guerra civil na França É violentamente atacado pela imprensa conservadora Em setembro durante a Internacional em Londres é reeleito secretário da seção russa Revisa o primeiro volume de O capital para a segunda edição alemã Prossegue suas atividades no Conselho Geral e atua junto à Comuna de Paris que instaura um governo operário na capital francesa entre 26 de março e 28 de maio Participa com Marx da Conferência de Londres da Internacional 1872 Acerta a primeira edição francesa de O capital e recebe exemplares da primeira edição russa lançada em 27 de março Participa dos preparativos do V Congresso da Internacional em Haia quando se decide a transferência do Conselho Geral da organização para Nova York Jenny a filha mais velha casase com o socialista Charles Longuet Redige com Marx uma circular confidencial sobre supostos conflitos internos da Internacional envolvendo bakunistas na Suíça intitulado As pretensas cisões na Internacional Die angeblichen Spaltungen in der Internationale Ambos intervêm contra o lassalianismo na socialdemocracia alemã e escrevem um prefácio para a nova edição alemã do Manifesto Comunista Engels participa do Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores 1873 Impressa a segunda edição de O capital em Hamburgo Marx envia exemplares a Darwin e Spencer Por ordens de seu médico é proibido de realizar qualquer tipo de trabalho Com Marx escreve para periódicos italianos uma série de artigos sobre as teorias anarquistas e o movimento das classes trabalhadoras 1874 Negada a Marx a cidadania inglesa por não ter sido fiel ao rei Com a filha Eleanor viaja a Karlsbad para tratar da saúde numa estação de águas Prepara a terceira edição de A guerra dos camponeses alemães 1875 Continua seus estudos sobre a Rússia Redige observações ao Programa de Gotha da socialdemocracia alemã Por iniciativa de Engels é publicada Crítica do Programa de Gotha Kritik des Gothaer Programms de Marx 1876 Continua o estudo sobre as formas primitivas de propriedade na Rússia Volta com Eleanor a Karlsbad para tratamento Elabora escritos contra Dühring discorrendo sobre a teoria marxista publicados inicialmente no Vorwärts e transformados em livro posteriormente 1877 Marx participa de campanha na imprensa contra a política de Gladstone em relação à Rússia e trabalha no segundo volume de O capital Acometido novamente de insônias e transtornos nervosos viaja com a esposa e a filha Eleanor para descansar em Neuenahr e na Floresta Negra Conta com a colaboração de Marx na redação final do Anti Dühring Herrn Eugen Dührings Umwälzung der Wissenschaft O amigo colabora com o capítulo 10 da parte 2 Da história crítica discorrendo sobre a economia política 1878 Paralelamente ao segundo volume de O capital Marx trabalha na investigação sobre a comuna rural russa complementada com estudos de geologia Dedicase também à Questão do Oriente e participa de campanha contra Bismarck e Lothar Bücher Publica o AntiDühring e atendendo a pedido de Wolhelm Bracke feito um ano antes publica pequena biografia de Marx intitulada Karl Marx Morre Lizzie 1879 Marx trabalha nos volumes II e III de O capital 1880 Elabora um projeto de pesquisa a ser executado pelo Partido Operário francês Tornase amigo de Hyndman Ataca o oportunismo do periódico SozialDemokrat alemão dirigido por Liebknecht Escreve as Randglossen zu Adolph Wagners Lehrbuch der politischen Ökonomie Glosas marginais ao tratado de economia política de Adolph Wagner Bebel Bernstein e Singer visitam Marx em Londres Engels lança uma edição especial de três capítulos do Anti Dühring sob o título Socialismo utópico e científico Die Entwicklung des Socialismus Von der Utopie zur Wissenschaft Marx escreve o prefácio do livro Engels estabelece relações com Kautsky e conhece Bernstein 1881 Prossegue os contatos com os grupos revolucionários russos e mantém correspondência com Zasulitch Danielson e Nieuwenhuis Recebe a visita de Kautsky Jenny sua esposa adoece O casal vai a Argenteuil visitar a filha Jenny e Longuet Morre Jenny Marx Enquanto prossegue em suas atividades políticas estuda a história da Alemanha e prepara Labor Standard um diário dos sindicatos ingleses Escreve um obituário pela morte de Jenny Marx 8 de dezembro 1882 Continua as leituras sobre os problemas agrários da Rússia Acometido de pleurisia visita a filha Jenny em Argenteuil Por prescrição médica viaja pelo Mediterrâneo e pela Suíça Lê sobre física e matemática Redige com Marx um novo prefácio para a edição russa do Manifesto Comunista 1883 A filha Jenny morre em Paris janeiro Deprimido e muito enfermo com problemas respiratórios Marx morre em Londres em 14 de março É sepultado no Cemitério de Highgate Começa a esboçar A dialética da natureza Dialektik der Natur publicada postumamente em 1927 Escreve outro obituário dessa vez para a filha de Marx Jenny No sepultamento de Marx profere o que ficaria conhecido como Discurso diante da sepultura de Marx Das Begräbnis von Karl Marx Após a morte do amigo publica uma edição inglesa do primeiro volume de O capital imediatamente depois prefacia a terceira edição alemã da obra e já começa a preparar o segundo volume 1884 Publica A origem da família da propriedade privada e do Estado Der Ursprung der Familie des Privateigentum und des Staates 1885 Editado por Engels é publicado o segundo volume de O capital 1894 Também editado por Engels é publicado o terceiro volume de O capital O mundo acadêmico ignorou a obra por muito tempo embora os principais grupos políticos logo tenham começado a estudála Engels publica os textos Contribuição à história do cristianismo primitivo Zur Geschischte des Urchristentums e A questão camponesa na França e na Alemanha Die Bauernfrage 581 in Frankreich und Deutschland 1895 Redige uma nova introdução para As lutas de classes na França Após longo tratamento médico Engels morre em Londres 5 de agosto Suas cinzas são lançadas ao mar em Eastbourne Dedicouse até o fim da vida a completar e traduzir a obra de Marx ofuscando a si próprio e a sua obra em favor do que ele considerava a causa mais importante 582 Copyright desta edição Boitempo Editorial 2013 Copyright da ilustração da p 168 Rossiiskii gosudarstvennyi arkhiv sotsialnopoliticheskoi istorii RGASPI Coordenação editorial Ivana Jinkings Editoraadjunta Bibiana Leme Assistência editorial Alícia Toffani e Livia Campos Tradução Rubens Enderle textos de Karl Marx e Friedrich Engels Celso Naoto Kashiura Jr e Márcio Bilharinho Naves texto de Louis Althusser Preparação Jean Xavier textos de Karl Marx e Friedrich Engels Mariana Echalar texto de Louis Althusser Revisão João Alexandre Peschanski e Thaisa Burani Diagramação e capa Antonio Kehl sobre desenho de Loredano Produção Livia Campos Versão eletrônica Produção Kim Doria Diagramação Schäffer Editorial CIPBRASIL CATALOGAÇÃONAFONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS RJ M355c v1 Marx Karl 18181883 O capital recurso eletrônico crítica da economia política Livro I o processo de produção do capital Karl Marx tradução de Rubens Enderle São Paulo Boitempo 2013 recurso digital MarxEngels Tradução de Das Kapital kritik der politischen ökonomie Formato ePub Requisitos do sistema Adobe Digital Editions Modo de acesso World Wide Web ISBN 9788575593219 recurso eletrônico 1 Economia 2 Capital Economia 3 Capitalismo 4 Livros eletrônicos I Título II Série 130472 CDD 3354 CDU 33085 É vedada a reprodução de qualquer parte deste livro sem a expressa autorização da editora Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de 2009 583 1a edição março de 2013 BOITEMPO 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França formato PDF KARL MARX A ideologia alemã formato PDF KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS A sagrada família formato PDF KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS 589 A situação da classe trabalhadora na Inglaterra formato PDF FRIEDRICH ENGELS As lutas de classes na França formato ePub KARL MARX Crítica da filosofia do direito de Hegel formato PDF KARL MARX Crítica do Programa de Gotha formato PDF KARL MARX Lutas de classes na Alemanha formato PDF KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS Manifesto Comunista formato PDF KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS Manuscritos econômicofilosóficos formato PDF KARL MARX O 18 de brumário de Luís Bonaparte formato PDF KARL MARX O socialismo jurídico formato PDF KARL MARX Sobre a questão judaica formato PDF KARL MARX Sobre o suicídio formato PDF KARL MARX 590 1 Sobre as diferenças da quarta edição em relação às edições anteriores ver Prefácio da quarta edição alemã na p 105 deste volume 2 Michael Inwood Suprassunção em Dicionário Hegel Rio de Janeiro Jorge Zahar 1997 p 302 591 a Este texto originalmente publicado na edição dO capital pela coleção Os Economistas da Abril Cultural 1983 coordenada por Paul Singer é aqui reproduzido em versão reduzida até Método e estrutura dO capital com autorização do autor N E b Em José Paulo Netto org Engels São Paulo Ática Col Grandes Cientistas Sociais v 17 1981 N E 1 Ver Jacob Gorender Introdução em Karl Marx Para a crítica da economia política São Paulo Abril Cultural 1982 Col Os Economistas c Mantivemos o uso de maisvalia como tradução de Mehrwert nesta apresentação por ser a forma consagrada na época em que foi escrita Na tradução dos textos do próprio Marx porém optamos pelo uso de maisvalor que melhor exprime o significado real do termo Para mais informações sobre essa questão terminológica ver Mario Duayer Apresentação em Grundrisse manuscritos econômicos de 18571858 Esboços da crítica da economia política São Paulo Boitempo 2011 N E d Kark Marx Capítulo sexto inédito de O Capital resultados do processo de produção imediata São Paulo Moraes sd N E 592 a Publicado originalmente em Karl Marx Le capital Livre 1 Paris GarnierFlammarion 1969Tradução de Celso Naoto Kashiura Jr e Márcio Bilharinho Naves N E 1 Karl Marx Grundrisse Paris Anthropos 1967 2 v ed bras Grundrisse manuscritos econômicos de 18571858 Esboços da crítica da economia política São Paulo Boitempo 2011 2 Idem Préface à la Contribution à la critique de léconomie politique 1859 Paris Éditions Sociales 1957 Edições brasileiras pelas editoras Martins Fontes e Expressão Popular com sucessivas reedições 3 Ver por exemplo o início do texto de Lenin LÉtat et la révolution Paris Éditions Sociales sd Há diversas edições brasileiras com sucessivas reedições das quais destacamos as das editoras Expressão Popular e Hucitec N T 4 Essas fórmulas não são polêmicas mas conceitos científicos elaborados pelo próprio Marx nO capital b São Paulo Boitempo 1998 N E c O capítulo 24 deste volume que tem por base a edição alemã corresponde à seção VIII da edição francesa N T d A presente edição encerrase com o capítulo 25 A teoria moderna da colonização N T 5 Karl Marx Histoire des doctrines économiques Paris Costes 19241925 6 O Livro II foi publicado em 1885 o Livro III em 1894 e o Livro IV em 1905 7 Edições Dietz Berlim 8 Éditions Sociales para os livros I II III e Éditions Costes para o livro IV Em português temos o livro I na edição da Boitempo os livros I II e III na edição da Nova Cultural e os livros I II III e IV na edição da Civilização Brasileira N T 9 Ver Karl Marx e Friedrich Engels Lettres sur le Capital Paris Éditions Sociales sd p 197 229 10 Idem 11 Ver Louis Althusser Pour Marx Paris Maspero 1965 ed bras A favor de Marx Rio de Janeiro Zahar 1979 e Karl Marx Ad Feuerbach em Karl Marx e Friedrich Engels A ideologia alemã São Paulo Boitempo 2007 p 533 N E 12 Karl Marx Critique du programme de Gotha Paris Éditions Sociales 1966 ed bras Crítica do Programa de Gotha São Paulo Boitempo 2012 13 Idem Le capital Paris Éditions Sociales sd t III p 24153 ed bras Karl Marx Glosas marginais ao Tratado de economia política de Adolfo Wagner trad Evaristo Colmán Serviço Social em Revista Londrina v 13 n 2 janjun 2011 14 Idem Manuscrits économicophilosophiques Paris Éditions Sociales sd ed bras Manuscritos econômico filosóficos São Paulo Boitempo 2004 f O item 7 corresponde ao capítulo 32 da seção VIII da edição francesa N T g Partido Comunista Comitê Central História do Partido Comunista bolchevique da URSS Rio de Janeiro Vitória 1945 N E 15 Vladimir I Lenin Limpérialisme stade suprême du capitalisme Paris Éditions Sociales 1945 ed bras Imperialismo estágio superior do capitalismo São Paulo Expressão Popular 2012 h São Paulo AlfaÔmega 19882004 3 v N E 593 1 Devo a cuidadosa avaliação deste texto a Pedro Paulo Poppovic assim como correções de linguagem a Lidia Goldenstein Luciano Codato e Marco Giannotti Meus agradecimentos a todos 2 Karl Marx Grundrisse manuscritos econômicos de 18571858 Esboços da crítica da economia política São Paulo Boitempo 2011 p 44 3 Esta é certamente uma conexão mas uma conexão superficial idem 4 Ibidem p 41 a Ver p 113 deste volume N E 5 Karl Marx Theorien über den Mehrwert Berlim Dietz 1959 v 2 p 159 b Ver p 147 deste volume N E 6 Karl Marx Grundrisse cit p 5878 7 Idem Das Kapital Buch III Der Gesamtprozess der kapitalistischen Produktion Werke 25 Berlim Dietz 2003 p 454 594 a Karl Marx Zur Kritik der politschen Ökonomie Berlim 1859 ed bras Contribuição à crítica da economia política São Paulo Expressão Popular 2008 b Marx referese aqui ao primeiro capítulo da primeira edição 1867 que trazia o título de Mercadoria e dinheiro Para a segunda edição Marx reelaborou o volume e alterou sua estrutura O antigo primeiro capítulo foi desmembrado em três capítulos independentes que agora sob o mesmo título passaram a constituir a primeira seção N E A MEW c Marx referese às seções Elementos históricos para a análise da mercadoria e Teorias sobre o meio de circulação e o dinheiro de sua obra Contribuição à crítica da economia política Durante a redação do manuscrito de 18631865 Marx desistiu de sua intenção inicial de adicionar a cada capítulo teórico um excurso sobre a história da teoria e em contrapartida planejou concentrar toda a exposição histórica no Livro IV de O capital cujos rascunhos formam as Teorias do maisvalor N E A MEGA d Isso pareceu tanto mais necessário porquanto até mesmo o ensaio de F Lassalle contra SchulzeDelitzsch na parte em que ele pretende expor a quintessência intelectual de minhas ideias sobre esses temas contém graves equívocos En passant que F Lassalle tenha tomado de minhas obras quase textualmente e sem citar as fontes todas as teses teóricas gerais de seus trabalhos econômicos como as teses sobre o caráter histórico do capital sobre o nexo entre as relações de produção e o modo de produção etc etc e tenha até mesmo utilizado a terminologia criada por mim é um procedimento que se explica por razões propagandísticas Não me refiro é evidente a suas explicações de detalhes e de aplicações práticas com as quais nada tenho a ver O ensaio de Lassale citado por Marx é Herr Bastiat Schulze von Delitzsch der ökonomische Julian oder Capital und Arbeit Berlim 1864 N E A MEGA e Mutato nomine de te fabula narratur Sob outro nome a fábula referese a ti Horácio Sátiras livro I verso 69 N T f Igreja Alta da Inglaterra High Church ou também AngloCatholic designa os setores da Igreja Anglicana que conservaram uma série de práticas hierárquicas e litúrgicas próprias do catolicismo romano N T g Livros Azuis Blue Books é a designação geral das publicações de materiais do Parlamento inglês e documentos diplomáticos do Ministério das Relações Exteriores Os Livros Azuis assim chamados em virtude da cor de suas capas são publicados na Inglaterra desde o século XVII constituindo a fonte oficial mais importante para a história da economia e diplomacia desse país N E A MEW h Referência aos versos do poema Die Albigenser de Nicolaus Lenaus Nem a luz do céu nem a aurora podemse apagar com mantos de púrpura ou hábitos sombrios N T i Marx não pôde realizar seu plano Após sua morte em 1883 o Livro II e III foram publicados por Engels como volumes II e III dO capital respectivamente em 1885 e 1894 Engels faleceu antes da planejada publicação do Livro IV dO capital que só apareceria em 19051910 editado por Kautsky sob o título Theorien über den Mehrwert Teorias do maisvalor N T j Citação modificada de Dante Alighieri A divina comédia Purgatório canto V N E A MEW Ed bras São Paulo Editora 34 2009 595 a Na quarta edição do Livro I dO capital 1890 foram excluídos os quatro primeiros parágrafos deste prefácio No presente volume o prefácio é publicado integralmente N E A MEW b Referência ao panfleto de Sigmund Mayer intitulado Die sociale Frage in Wien Studie eines Arbeitgebers Dem Niederösterreichischen Gewerbeverein gewidmet Viena 1871 N T c Kameralwissenschaften ciências camerais ou cameralísticas assim eram chamadas as ciências que abrangiam os conhecimentos necessários ao exercício de funções administrativas nos pequenos Estados absolutistas alemães do século XVIII e XIX N T d Na terceira e quarta edições desesperançado N E A MEW e No original Schwindelblüte literalmente floração de fraudes O termo é empregado por Marx para designar o mesmo fenômeno que na Inglaterra da época já se chamava de bolha econômica ou economia de bolha bubble economy isto é o inflacionamento artificial dos preços do mercado por meio da especulação financeira e de operações fraudulentas N T 1 Ver meu escrito Zur Kritik der politschen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 39 f Referência ao movimento préromântico que dominou a literatura alemã entre as décadas de 1760 e 1780 e ao qual pertenceram Herder Goethe e Schiller entre outros N T g Essa união livrecambista fundada em 1838 em Manchester e dirigida pelos grandes fabricantes Cobden e Bright visava abolir as assim chamadas leis dos cereais que haviam sido introduzidas na Inglaterra em 1815 e limitavam quando não proibiam a importação de trigo estrangeiro Em sua luta contra os grandes latifundiários a liga procurou obter por meio de promessas demagógicas o apoio dos trabalhadores ingleses As leis combatidas pelos livrecambistas foram abolidas parcialmente em 1842 e totalmente em junho de 1846 Depois disso a liga se dissolveu N E A MEW Na GrãBretanha da época a palavra corn em alemão Korn possuía o significado mais genérico de cereal principalmente trigo na Inglaterra e aveia na Escócia N T h Nos anos 1842 e 1844 o então primeiroministro britânico Robert Peel promoveu uma reforma financeira que aboliu ou reduziu todas as tarifas de exportação e as tarifas alfandegárias sobre matériasprimas e produtos semifabricados Como substituição para a queda da receita estatal foi introduzido um imposto de renda Em 1853 foram extintas todas as tarifas alfandegárias sobre matériasprimas e produtos semifabricados N E A MEGA i Na terceira e quarta edições 1848 N E A MEW j Marx referese aqui sobretudo à Contribuição à crítica da economia política cuja publicação em 1859 foi praticamente ignorada pelos jornais alemães à época N E A MEGA k A resenha de J Dietzgen Das Kapital Kritik der politischen Öekonomie von Karl Marx Hamburgo 1867 foi publicada no Demokratischen Wochenblatt n 31 34 35 e 36 De 1869 a 1876 esse jornal apareceu com o título de Der Volksstaat N E A MEW 2 Os gaguejantes falastrões da economia vulgar alemã reprovam o estilo e o modo de exposição do meu livro Ninguém pode julgar mais severamente do que eu as deficiências literárias de O capital No entanto para proveito e alegria desses senhores e de seu público cito aqui um juízo inglês e um russo O Saturday Review totalmente hostil às minhas ideias afirmou em seu anúncio da primeira edição alemã o modo de exposição confere certo encanto charm até mesmo às mais áridas questões econômicas O Jornal de São Petersburgo em seu número de 20 de abril de 1872 observa entre outras coisas A exposição salvo umas poucas partes excessivamente especializadas distinguese por ser acessível a todos pela clareza e apesar da elevação científica do objeto por uma vivacidade incomum Nesse aspecto o autor nem de longe se assemelha à maior parte dos eruditos alemães que escreve seus livros numa linguagem tão obscura e árida a ponto de romper a cabeça dos mortais comuns Porém o que se rompe nos leitores da literatura professoral nacionalliberal alemã contemporânea é algo muito distinto da cabeça l La Philosophie Positive Revue Revista publicada em Paris de 1867 a 1883 No n 3 novdez 1868 incluíase uma breve recensão sobre o primeiro volume dO capital escrita por Eugen De Roberty discípulo de Auguste Comte N E A MEW m Nikolai Sieber Teoríia tsénnosti i kapitala D Ricardo v sviazi s pózdñeishimi dopolñéñiiami i raziasñéñiiami Kiev 1871 p 170 N E A MEW n Os teóricos do socialismo na Alemanha Extrato do Jornal dos Economistas julho e agosto de 1872 N T o Par cet ouvrage M Marx se classe parmi les esprits analytiques les plus éminents et noun navons quun regret cest quil ait suivi une fausse direction Com essa obra o sr Marx se classifica entre os espíritos analíticos mais eminentes 596 e só lamentamos que ele tenha tomado uma falsa direção N E A MEGA p Referência às resenhas dO capital por Julius Faucher no Vierteljahrschrift für Volkswirtschaft und Kulturgeschichte Berlim 1868 v 20 p 216 e de Eugen Dühring no Ergänzungsblättern zur Kenntniss der Gegenwart Hilburghausen v 3 1867 n 3 p 182 N E A MEGA q Tratase de Ilarión Ignátievich Kaufmann economista russo professor na Universidade de São Petersburgo N E A MEW r De modo semelhante Marx escrevera a Kugelmann em 1868 Ele Dühring sabe muito bem que meu método de desenvolvimento não é o hegeliano pois sou materialista e Hegel idealista A dialética de Hegel é a forma fundamental de toda dialética mas apenas depois de despida de sua forma mística e é exatamente isso que distingue o meu método N E A MEGA s Cf Karl Marx Crítica da filosofia do direito de Hegel São Paulo Boitempo 2005 N E t Marx referese aqui aos filósofos Ludwig Büchner Friedrich Albert Lange Eugen Karl Dühring Gustav Theodor Fechner entre outros N E A MEGA 597 a Por exemplo o Kölnische Zeitung n 75 16 mar 1883 escreveu Nossa escola mais recente de economia política tem um pé calcado sobre os ombros de Marx que exerceu sobre a política interna de todos os Estados civilizados uma influência mais permanente que qualquer de seus contemporâneos N E A MEGA b A edição francesa do volume I dO capital foi publicada em fascículos de 1872 a 1875 em Paris N E A MEW c Antes de 1867 Marx escrevera em seu manuscrito para o primeiro volume dO capital No alemão atual o capitalista a personificação das coisas aquele que toma o trabalho é denominado Arbeitgeber e o verdadeiro trabalhador que dá o trabalho Arbeit giebt é chamado de Arbeitnehmer MEGA II41 p 82 N E A MEGA d Somente a partir de 1876 o Reichsmark marco imperial se tornaria a unidade monetária única do Império alemão com o valor equivalente a 036 gramas de ouro N T e Moeda de prata no valor de 23 de táler em circulação em diversos Estados alemães entre o fim do século XVII e a metade do século XIX N E A MEW f Cf tabela de conversão de pesos e medidas N T 598 a Traduzido do original inglês N T b A numeração dos capítulos da edição inglesa do volume I dO capital não coincide com a numeração das edições alemãs mas com a da edição francesa Nesta os três subcapítulos do capítulo 4 da segunda edição alemã se convertem em capítulos 4 5 e 6 o mesmo ocorre com os sete subcapítulos do capítulo 24 que formam os capítulos 26 a 32 na edição inglesa N E A MEW 3 Le Capital par Karl Marx Traduction de M J Roy entièrement revisée par lauteur Paris Lachâtre Essa tradução especialmente em sua última seção contém consideráveis alterações e acréscimos ao texto da segunda edição alemã 4 Na reunião trimestral da Câmara de Comércio de Manchester celebrada nesta tarde deuse uma acalorada discussão acerca do livrecâmbio Apresentouse uma resolução segundo a qual uma vez que se esperou em vão durante quarenta anos que outras nações seguissem o exemplo de livrecâmbio oferecido pela Inglaterra esta câmara entende que chegou a hora de reconsiderar essa posição A resolução foi rejeitada por apenas um voto sendo o resultado da votação 21 votos a favor 22 votos contra Evening Standard 1º de novembro de 1886 c Revolta desencadeada pelos donos de escravos do sul dos Estados Unidos e que levou à Guerra Civil de 18611865 N E A MEW 599 a Na presente edição ver p 18990 5625 65962 7024 7067 nota 79 N T b Na presente edição ver p 56570 N T c D H Die Herausgeber os editores N T Na presente edição as notas de Engels encontramse sempre entre chaves e indicadas com F E N E A MEW d Na presente edição ver p 624 nota 47 N T e Em 1891 num volume intitulado In Sachen Brentano contra Marx wegen angeblicher Citatsfälschung Geschichtserzählung und Dokumente A questão Brentano contra Marx em torno de uma suposta falsificação de citações Exposição e documentos Engels publicou as acusações de Brentano e Taylor Siedley contra Marx seguidas das respectivas réplicas de Marx Engels e Eleanor Marx N T f Na presente edição ver p 7267 N T g Nome dado às transcrições dos debates do parlamento britânico A palavra deriva de Thomas Curson Hansard o primeiro editor desses documentos N T h Tal é o estado de coisas no que diz respeito à riqueza deste país De minha parte devo dizer que eu veria quase com apreensão e dor esse aumento inebriante de riqueza e poder se eu acreditasse estar ele restrito às classes abastadas Isso não leva em conta de modo algum as condições da população trabalhadora O aumento que acabo de descrever e que segundo creio se fundamenta em dados fidedignos é um aumento inteiramente restrito às classes proprietárias N T i Na sessão parlamentar do Reichstag de 8 de novembro de 1871 o deputado liberalnacionalista Lasker numa polêmica contra Bebel declarou que se os trabalhadores alemães resolvessem imitar o exemplo dos membros da Comuna de Paris o cidadão honesto e proprietário os matariam a pauladas Mas o orador não se decidiu a publicar essas expressões e no registro estenográfico figuram em vez de matariam a pauladas as palavras o refreariam com suas próprias forças Bebel descobriu essa falsificação Lasker tornouse objeto de chacota entre os trabalhadores Em virtude de sua pequena estatura aplicouselhe o apelido de pequeno Lasker N E A MEW j Engels parafraseia aqui as palavras de Falstaff Here I lay and thus I bore my point no Henrique IV parte I ato 2 cena 4 de Shakespeare N T k Na presente edição ver nota 105 p 7278 N T 600 1 Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Berlim 1859 p 3 ed bras Contribuição à crítica da economia política São Paulo Expressão Popular 2008 2 Desire implies want it is the appetite of the mind and as natural as hunger to the body the greatest number of things have their value from supplying the wants of the mind O desejo faz parte das necessidades ele é o apetite do espírito e tão naturalmente como a fome para o corpo a maioria das coisas tem seu valor porque satisfaz as necessidades do espírito Nicholas Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter In Answer to Mr Lockes Considerations Londres p 23 3 Things have an intrinsick vertue which in all places have the same vertue as the loadstone to attract iron As coisas têm uma intrinsick vertue virtude intrínseca este é para Barbon o traço específico do valor de uso que é igual em toda a parte tal como a do ímã é atrair o ferro ibidem p 6 A propriedade do ímã de atrair o ferro só se tornou útil quando por intermédio dessa mesma propriedade se descobriu a polaridade magnética 4 The natural worth of anything consists in its fitness to supply the necessities or serve the conveniences of human life O worth natural de cada coisa consiste em sua propriedade de satisfazer necessidades ou de servir às conveniências da vida humana John Locke Some Considerations of the Consequences of the Lowering of Interest 1691 em Works Londres 1777 v II p 28 No século XVII ainda encontramos com muita frequência nos escritores ingleses a palavra worth para valor de uso e value para valor de troca plenamente no espírito de uma língua que gosta de expressar as questões imediatas de modo germânico e as questões abstratas reflektierte de modo românico 5 Na sociedade burguesa predomina a fictio juris ficção jurídica de que todo homem possui como comprador de mercadorias um conhecimento enciclopédico sobre elas 6 La valeur consiste dans le rapport déchange qui se trouve entre telle chose et telle autre entre telle mesure dune production et telle mesure dune autre O valor consiste na relação de troca que se estabelece entre uma coisa e outra entre a quantidade de um produto e a quantidade de outro Le Trosne De lintérêt social em E Daire ed Physiocrates Paris 1846 p 889 7 Nothing can have an intrinsick value Nada pode ter um valor intrínseco N Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter cit p 6 Ou como diz Butler The value of a thing Is just as much as it will bring O valor de uma coisa é exatamente o quanto ela renderá a Medida inglesa para cereais equivalente a 8 alqueires bushels N T b No original Zentner antiga unidade de medida de peso equivalente a 50 quilos A palavra também é normalmente empregada para traduzir o hundredweight inglês que equivale a 508 quilos N T 8 One sort of wares are as good as another if the value be equal There is no difference or distinction in things of equal value One hundred pounds worth of lead or iron is of as great a value as one hundred pounds worth of silver and gold Chumbo ou ferro no valor de 100 têm o mesmo valor de troca de prata e ouro no valor de 100 N Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter cit p 53 e 7 9 Nota à segunda edição The value of them the necessaries of life when they are exchanged the one for another is regulated by the quantity of labour necessarily required and commonly taken in producing them O valor deles dos meios de subsistência quando são trocados uns pelos outros é regulado pela quantidade de trabalho necessariamente requerida para sua produção e geralmente nela empregada Some Thoughts on the Interest of Money in General and Particularly in the Public Funds p 367 Esse notável escrito anônimo do século passado não traz qualquer data A partir de seu conteúdo no entanto podese inferir que ele tenha sido escrito sob o reinado de George II no ano de 1739 ou 1740 10 Toutes les productions dun même genre ne forment proprement quune masse dont le prix se détermine en général et sans égard aux circonstances particulières Todos os produtos do mesmo tipo formam de fato uma única massa cujo preço é determinado em geral e sem consideração às circunstâncias particulares Le Trosne De lintérêt social cit p 893 11 K Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 6 c No original bushel unidade de medida inglesa de capacidade para secos equivalente a 363687 litros N T d William Jacob An Historical Inquiry into the Production and Consumption of the Precious Metals Londres 1831 N E A MEW e Na primeira edição o texto prossegue da seguinte forma Conhecemos agora a substância do valor Ela é o 601 trabalho Conhecemos sua medida de grandeza Ela é o tempo de trabalho Resta analisar sua forma que fixa o valor precisamente como valor de troca Antes porém é preciso desenvolver com mais precisão as determinações já encontradas N E A MEW 11a Nota à quarta edição acrescentei o texto entre chaves para evitar a confusão muito frequente de que para Marx todo produto consumido por outro que não o produtor seria considerado mercadoria F E 12 K Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 123 passim 13 Tutti i fenomeni dell universo sieno essi prodotti della mano delluomo ovvero delle universali leggi della fisica non ci danno idea di attuale creazione ma unicamente di una modificazione della materia Accostare e separare sono gli unici elementi che lingegno umano ritrova analizzando lidea della riproduzione e tanto è riproduzione di valores e di ricchezza se la terra laria e lacqua ne campi si trasmutino in grano come se colla mano dell uomo il glutine di un insetto si trasmuti in velluto ovvero alcuni pezzetti di metallo si organizzino a formare una ripetizione Todos os fenômenos do universo sejam eles produzidos pelas mãos do homem ou pelas leis gerais da física não são na verdade criações novas mas apenas uma transformação da matéria dada Aglutinar e separar são os únicos elementos que o espírito humano encontra continuamente na análise da reprodução e o mesmo se dá com a reprodução do valor valor de uso embora aqui em sua polêmica contra os fisiocratas Verri não saiba exatamente a que tipo de valor ele se refere e da riqueza quando a terra o ar e a água se transformam em cereal nos campos ou quando pelas mãos do homem a secreção de um inseto se transforma em seda ou alguns pequenos pedaços de metal se conjugam para formar um relógio Pietro Verri Meditazione sulla economia politica primeira edição de 1771 na edição dos economistas italianos realizada por Custodi t XV parte moderna p 212 14 Cf G W F Hegel Philosophie des Rechts Filosofia do direito Berlim 1840 p 250 190 15 O leitor deve notar que não se trata aqui da remuneração ou do valor que o trabalhador recebe por digamos uma jornada de trabalho mas sim do valor das mercadorias nas quais sua jornada se objetiva A categoria do salário ainda não existe em absoluto nesse estágio de nossa exposição 16 Nota à segunda edição Para provar que apenas o trabalho é a medida definitiva e real pela qual o valor de todas as mercadorias em todos os tempos pode ser avaliado e comparado diz A Smith Quantidades iguais de trabalho têm em todas as épocas e lugares de ter o mesmo valor para o próprio trabalhador Em sua condição normal de saúde força e atividade e com o grau médio de destreza que ele pode possuir o trabalhador tem sempre de fornecer a porção devida de seu descanso de sua liberdade e de felicidade Wealth of Nations A riqueza das nações livro I c V p 1045 Por um lado A Smith confunde aqui não em toda parte a determinação do valor por meio da quantidade de trabalho despendido na produção da mercadoria com a determinação dos valores das mercadorias por meio do valor do trabalho e procura assim provar que quantidades iguais de trabalho têm sempre o mesmo valor Por outro lado ele pensa que o trabalho na medida em que se incorpora no valor das mercadorias vale apenas como dispêndio de força de trabalho porém apreende esse dispêndio como mero sacrifício de descanso liberdade e felicidade mas não também como atividade vital normal Todavia ele tem em vista o moderno trabalhador assalariado Com mais precisão diz o precursor anônimo de A Smith citado na nota 9 p 117 One man has employed himself a week in providing this necessary of life and he that gives him some other in exchange cannot make a better estimate of what is a proper equivalent than by computing what cost him just as much labour and time which in effect is no more than exchanging one mans labour in one thing for a time certain for another mans labour in another thing for the same time Um homem utilizou uma semana para a produção de um objeto útil e outro homem que em troca desse objeto lhe dá um outro não tem outro modo de avaliar corretamente a equivalência de valor senão pelo cálculo do labour e do tempo que sua produção lhe custou Isso significa na verdade a troca do labour empregado por um homem num determinado tempo e num determinado objeto pelo labour de outro homem empregado no mesmo tempo num outro objeto Some Thoughts on the Interest of Money in General etc p 39 Nota à quarta edição A língua inglesa tem a vantagem de ter duas palavras para esses dois diferentes aspectos do trabalho O trabalho que cria valores de uso e é determinado qualitativamente é chamado de work em oposição a labour o trabalho que cria valor e só é medido quantitativamente se chama labour em oposição a work Ver nota do editor na p 14 da edição inglesa F E f Mistress Quickly em alemão Wittib Hurtig personagem de diversas peças de Shakespeare é uma taberneira que nega ser prostituta Nessa passagem Marx referese ao seguinte diálogo de Henrique IV Falstaff Por quê Por não ser nem carne nem peixe a gente não sabe por onde pegála Estalajadeira És injusto falando por esse modo como todo mundo sabes muito bem por onde pegarme Velhaco em Peças históricas trad Carlos Alberto Nunes Rio de Janeiro Agir 2008 parte 1 ato 3 cena 3 N T 602 17 Os poucos economistas que como S Bailey ocuparamse com a análise da forma de valor não puderam chegar a resultado algum em primeiro lugar porque confundiram forma de valor com valor e em segundo lugar porque sob a influência direta do burguês prático concentraramse desde o primeiro momento exclusivamente na determinidade quantitativa The command of quantity constitutes value A disposição da quantidade faz o valor S Bailey org Money and its Vicissitudes Londres 1837 p 11 17 Nota à segunda edição Um dos primeiros economistas a analisar a natureza do valor depois de William Petty o célebre Franklin disse Como o comércio não é nada mais do que a troca de um trabalho por outro é no trabalho que o valor de todas as coisas é estimado da melhor forma The Works of B Franklin etc org Sparks Boston 1836 v II p 267 Franklin não tem consciência de que ao estimar o valor de todas as coisas no trabalho ele abstrai da natureza diferente dos trabalhos trocados e os reduz assim a trabalho humano igual No entanto o que ele não sabe ele o diz Ele fala primeiramente de um trabalho então do outro trabalho e por fim do trabalho sem ulterior caracterização como substância do valor de todas as coisas g O adjetivoadvérbio dinglich tem aqui o sentido de relativo a coisa Ding Em outras passagens Marx emprega a palavra sachlich com o mesmo significado Cf nota na p 148 Onde não foi possível traduzila como reificadoa s empregamos material materialmente sempre acompanhados do original entre colchetes N T h Referência ao mote atribuído a Henrique IV da França quando de sua segunda conversão ao catolicismo 1593 a fim de assumir o trono francês N T 18 De certo modo ocorre com o homem o mesmo que com a mercadoria Como ele não vem ao mundo nem com um espelho nem como filósofo fichtiano Eu sou Eu o homem espelhase primeiramente num outro homem É somente mediante a relação com Paulo como seu igual que Pedro se relaciona consigo mesmo como ser humano Com isso porém também Paulo vale para ele em carne e osso em sua corporeidade paulínia como forma de manifestação do gênero humano 19 Aqui a expressão valor Wert é empregada como já ocorreu anteriormente para denotar o valor quantitativamente determinado portanto a grandeza de valor 20 Nota à segunda edição Essa incongruência entre a grandeza de valor e sua expressão relativa foi explorada pela economia vulgar com a perspicácia que lhe é habitual Por exemplo Admitindose que A cai porque B com o qual ela é trocada aumenta embora nesse ínterim não menos trabalho seja despendido em A então vosso princípio geral do valor cai por terra Ao se admitir que o valor de B cai em relação a A porque o valor de A aumenta em relação a B é derrubada a base sobre a qual Ricardo assenta sua grandiosa tese de que o valor de uma mercadoria é sempre determinado pela quantidade do trabalho nela incorporado pois se uma variação nos custos de A altera não apenas seu próprio valor em relação a B com o qual ela é trocada mas também o valor de B em relação ao de A embora nenhuma variação tenha ocorrido na quantidade de trabalho requerida para a produção de B então cai por terra não apenas a doutrina que assegura que é a quantidade de trabalho despendido num artigo que regula seu valor como também a doutrina segundo a qual são os custos de produção de um artigo que regulam seu valor J Broadhurst Political Economy Londres 1842 p 11 e 14 O sr Broadhurst poderia dizer com a mesma razão consideremos as relações numéricas 1020 1050 10100 etc O número 10 permanece inalterado e no entanto diminui progressivamente sua grandeza proporcional sua grandeza em relação aos denominadores 20 50 100 Desse modo cai por terra o princípio de que a grandeza de um número inteiro como 10 por exemplo é regulada pelo número de uns nele contido i Massa de açúcar que nos antigos engenhos cristalizavase em fôrmas cônicas de madeira N T 21 Tais determinações reflexivas estão por toda parte Por exemplo este homem é rei porque outros homens se relacionam com ele como súditos Inversamente estes creem ser súditos porque ele é rei j Referência ao provérbio alemão Kleider machen Leute As roupas fazem as pessoas N T k Marx traduz klínai divã leito por Polster estofado almofada N T 22 Nota à segunda edição F L A Ferrier sousinspecteur des douanes subinspetor da alfândega Du Gouvernement considéré dans ses rapports avec le commerce Paris 1805 e Charles Ganilh Des systèmes déconomie politique 2 ed Paris 1821 603 l Entre os modernos commisvoyageurs mascates do livrecâmbio Marx contava além de Frédéric Bastiat também os adeptos da escola livrecambista na Alemanha como John PrinceSmith Viktor Böhmert Julius Faucher Otto Michaelis Max Hirsch e Hermann SchulzeDelitzsch Tais autores proferiam palestras aos trabalhadores e atuavam em parte nos sindicatos onde propagavam seus objetivos N E A MEGA m Rua de Londres onde ficavam concentrados os bancos e agiotas ingleses N T 22a Nota à segunda edição Por exemplo em Homero o valor de uma coisa é expresso numa série de coisas distintas 23 Falase por isso do valorcasaco Rockwert do linho quando se quer expressar seu valor em casacos e do valor cereal Kornwert quando se quer expressálo em cereais etc Cada uma dessas expressões diz que seu valor é aquele que se manifesta nos valores de uso casaco cereal etc The value of any commodity denoting its relation in exchange we may speak of it as cornvalue clothvalue according to the commodity with which it is compared and then there are a thousand different kinds of value as many kinds of value as there are commodities in existence and all are equally real and equally nominal Porque o valor de toda mercadoria denota sua relação na troca podemos denominálo valorcereal valorroupa a depender da mercadoria com que ela é comparada e assim há milhares de tipos diferentes de valores tantos quanto são as mercadorias que existem e todos são igualmente reais e igualmente nominais A Critical Dissertation on the Nature Measures and Causes of Value Chiefly in Reference to the Writings of Mr Ricardo and his Followers By the Author of Essays on the Formation etc of Opinions Londres 1825 p 39 Por meio dessa indicação das embaralhadas expressões relativas do mesmo valor das mercadorias S Bailey o editor desse escrito anônimo que tanto barulho fez na Inglaterra de sua época acredita ter eliminado toda determinação conceitual do valor De resto o fato de que ele apesar de sua própria visão estreita tenha posto o dedo em algumas feridas da teoria ricardiana explica a acrimônia com que a escola ricardiana o ataca por exemplo na Westminster Review 24 De fato na forma da permutabilidade imediata e universal não se vê de modo algum que ela seja uma forma antitética de mercadoria tão inseparável da forma da permutabilidade não imediata quanto a positividade de um polo magnético é inseparável da negatividade do outro Por essa razão podese imaginar ser possível imprimir simultaneamente em todas as mercadorias o selo da permutabilidade imediata do mesmo modo como se pode imaginar ser possível transformar todos os católicos em papas O pequenoburguês que vislumbra na produção de mercadorias o nec plus ultra limite inultrapassável da liberdade humana e da independência individual desejaria naturalmente se ver livre dos abusos vinculados a essa forma especialmente da permutabilidade não imediata das mercadorias O retrato dessa utopia filisteia constitui o socialismo de Proudhon que como mostrei em outro lugar Miséria da filosofia resposta à filosofia da miséria do sr Proudhon não possui nem mesmo o mérito da originalidade pois muito antes dele suas ideias já haviam sido mais bem desenvolvidas por Gray Bray e outros Isso não impede que hoje em dia uma tal sabedoria grasse em certos círculos sob o nome de science ciência Jamais uma escola atribuiu tanto a si mesma a palavra science quanto a escola proudhoniana pois Onde do conceito há maior lacuna Palavras surgirão na hora oportuna J W F Goethe Fausto trad Jenny Klabin Segall Belo HorizonteRio de Janeiro Villa Rica 1991 p 92 n No original sinnlich übersinnliche Referência à fala de Mefistófeles em Fausto de Goethe primeira parte No jardim de Marta Du übersinnlicher sinnlicher Freier Ein Mägdelein nasführet dich Tu conquistador sensível suprassensível Uma mocinha te conduz pelo nariz N E A MEGA 25 Vale lembrar que a China e as mesas começaram a dançar quando todo o resto do mundo ainda parecia imóvel pour encourager les autres para encorajar os outros Voltaire Cândido ou o otimismo c 19 N T Após as revoluções de 1848 a Europa entrou num período de reação política Enquanto nos círculos aristocráticos e burgueses europeus surgiu um entusiasmo pelo espiritismo particularmente por práticas com o tabuleiro Ouija na China desenvolveuse um poderoso movimento antifeudal especialmente entre os camponeses que ficou conhecido como Rebelião Taiping N E A MEGA 26 Nota à segunda edição Entre os antigos germanos a grandeza de uma manhã Morgen de terra era medida de acordo com o trabalho de um dia e por isso a manhã também era chamada de Tagwerk dia de trabalho também Tagwanne jurnale ou jurnalis terra jurnalis jornalis ou diurnalis Mannwerk trabalho de um homem Mannskraft Mannshauet etc Cf Georg Ludwig von Maurer Einleitung zur Geschichte der Mark Hof etc Verfassung Munique 1854 p 129s o O adjetivoadvérbio sachlich tem aqui o sentido de relativo a coisa Sache Em outras passagens Marx emprega a palavra dinglich com o mesmo significado Onde não foi possível traduzila como reificadoa empregamos material materialmente sempre acompanhadas do original entre colchetes Cf nota p 128 N T p O adjetivo naturwüchsig que traduzimos por naturalespontâneo é empregado por Marx no sentido de 604 desenvolvido de modo espontâneo Diferentemente portanto de natural no sentido de pertencente à natureza ou dado pela natureza N T 27 Nota à segunda edição Por isso quando Galiani diz O valor é uma relação entre pessoas La ricchezza è uma ragione tra due persone ele deveria ter acrescentado uma relação escondida sob um invólucro material dinglicher Galiani Della Moneta em Pietro Custodi Scrittori classici italiani di economia politica Milão 1803 t III parte moderna p 221 q Apocalipse 14 19 N E A MEGA 28 O que se deve pensar de uma lei que só pode se impor mediante revoluções periódicas F Engels Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie em DeutschFranzösische Jahrbücher Anais FrancoAlemães Karl Marx e Arnold Ruge eds Paris 1844 ed bras Esboço de uma crítica da economia política em José Paulo Netto org Engels São Paulo Ática 1981 col Grandes Cientistas Sociais v 17 série Política 29 Nota à segunda edição Tampouco Ricardo escapa de uma robinsonada Ele faz com que o pescador e o caçador primitivos como possuidores de mercadorias troquem o peixe e a caça na relação do tempo de trabalho objetivado nesses valores de troca Com isso ele cai no anacronismo de fazer com que o caçador e o pescador primitivos consultem para o cálculo de seus instrumentos de trabalho as tabelas de anuidade correntes na Bolsa de Londres em 1817 Os paralelogramos do sr Owen parecem ser a única forma social que ele conhece além da forma burguesa Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 389 Ricardo menciona os paralelogramos do sr Owen em seu escrito On Protection to Agriculture Londres 1822 p 21 Em seus planos utópicos de reforma social Robert Owen tentou demonstrar que uma comunidade é economicamente mais viável quando configurada sob a forma de um paralelogramo ou quadrado N E A MEGA r Marx referese provavelmente ao primeiro volume da obra Grundzüge der NationalOekonomie Colônia 1861 de Max Wirth onde se lê à página 218 O ato dessa apropriação que pode ser mais ou menos extenuante e demorada é o trabalho A ação recíproca de todos os materiais e forças isto é o processo orgânico vital a produção e o crescimento das coisas inorgânicas e orgânicas ocorre por meio da natureza para o homem esse processo inteiro é um mistério divino N E A MEGA s Cf G W F Hegel Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte Lições sobre a filosofia da História Berlim 1837 p 415 Este dia é o dia da universalidade que raia finalmente depois da longa e penosa noite da Idade Média N E A MEGA t No original Charaktermasken máscara de personagem N T 30 Nota à segunda edição Nos últimos tempos difundiuse o preconceito ridículo de que a forma da propriedade coletiva naturalespontânea é uma forma específica e até mesmo exclusivamente russa Ela é a forma primitiva Urform que podemos encontrar nos romanos germanos e celtas mas da qual entre os indianos ainda se vê mesmo que parcialmente em ruínas uma série de exemplos de tipos variados Um estudo mais preciso das formas de propriedade coletiva asiáticas especialmente da indiana demonstraria como resultam diferentes formas de sua dissolução das diferentes formas da propriedade coletiva naturalespontânea Assim por exemplo diferentes tipos originais da propriedade privada romana e germânica podem ser derivados de diferentes formas da propriedade coletiva indiana Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 10 u Segundo Epicuro os deuses habitam os intramundos isto é os espaços que separam os diferentes mundos uns dos outros eles não exercem qualquer influência sobre o desenvolvimento do mundo ou sobre a vida dos homens N E A MEGA 31 A insuficiência da análise ricardiana da grandeza de valor e ela é a melhor de todas será evidenciada no terceiro e quarto livros desta obra No que diz respeito ao valor em geral em nenhum lugar a economia política clássica diferencia expressa e claramente o trabalho tal como ele se expressa no valor do mesmo trabalho de sua expressão no valor de uso de seu produto De fato ela estabelece a diferença ao considerar o trabalho ora quantitativa ora qualitativamente Mas não lhe ocorre que a diferença meramente quantitativa dos trabalhos pressupõe sua unidade ou igualdade qualitativa portanto sua redução a trabalho humano abstrato Ricardo por exemplo mostra estar de acordo com Destutt de Tracy quando este diz As it is certain that our physical and moral faculties are alone our original riches the employment of those faculties labour of some kind is our original treasure and it is always from this employment that all those things are created which we call riches It is certain too that all those things only represent the labour which has created them and if they have a value or even two distinct values they can only derive them from that the value of the labour from which they emanate Como é certo que nossas capacidades corporais e intelectuais são nossa única riqueza originária o uso dessas capacidades que é certo tipo de trabalho é nosso tesouro originário é 605 sempre esse uso que cria todas aquelas coisas que chamamos de riqueza É certo também que todas aquelas coisas expressam apenas o trabalho que as criou e se elas têm um valor ou mesmo dois valores distintos elas só podem têlo a partir do valor do trabalho do qual elas resultam Ricardo The Principles of Pol Econ 3 ed Londres 1821 p 334 Cabe notar apenas que Ricardo atribui a Destutt sua própria compreensão mais profunda Na verdade Destutt diz por um lado que todas as coisas que constituem a riqueza representam o trabalho que as criou por outro porém que elas obtêm seus dois valores distintos valor de uso e valor de troca do valor do trabalho Ele cai com isso na superficialidade da economia vulgar que pressupõe o valor de uma mercadoria aqui o trabalho como meio para determinar o valor de outras mercadorias Ao lêlo Ricardo entende que o trabalho não o valor do trabalho se expressa tanto no valor de uso como no valor de troca Porém ele mesmo distingue tão pouco o duplo caráter do trabalho que se apresenta de modo duplo que dedica todo o capítulo Value and Riches Their Distinctive Properties Valor e riqueza suas propriedades distintivas ao laborioso exame das trivialidades de um J B Say E no final mostrase bastante impressionado ao notar que Destutt está de acordo com sua própria ideia do trabalho como fonte de valor mas que por outro lado ele se harmoniza com Say no que diz respeito ao conceito de valor 32 Uma das insuficiências fundamentais da economia política clássica está no fato de ela nunca ter conseguido descobrir a partir da análise da mercadoria e mais especificamente do valor das mercadorias a forma do valor que o converte precisamente em valor de troca Justamente em seus melhores representantes como A Smith e Ricardo ela trata a forma de valor como algo totalmente indiferente ou exterior à natureza do próprio valor A razão disso não está apenas em que a análise da grandeza do valor absorve inteiramente sua atenção Ela é mais profunda A forma de valor do produto do trabalho é a forma mais abstrata mas também mais geral do modo burguês de produção que assim se caracteriza como um tipo particular de produção social e ao mesmo tempo um tipo histórico Se tal forma é tomada pela forma natural eterna da produção social também se perde de vista necessariamente a especificidade da forma de valor e assim também da formamercadoria e num estágio mais desenvolvido da formadinheiro da formacapital etc Por isso dentre os economistas que aceitam plenamente a medida da grandeza de valor pelo tempo de trabalho encontramse as mais variegadas e contraditórias noções do dinheiro isto é da forma pronta do equivalente universal Isso se manifesta de modo patente por exemplo no tratamento do sistema bancário em que parece não haver limite para as definições mais triviais do dinheiro Em contraposição a isso surgiu um sistema mercantilista restaurado Ganilh etc que vê no valor apenas a forma social ou antes sua aparência sem substância Para deixar esclarecido de uma vez por todas entendo por economia política clássica toda teoria econômica desde W Petty que investiga a estrutura interna das relações burguesas de produção em contraposição à economia vulgar que se move apenas no interior do contexto aparente e rumina constantemente o material há muito fornecido pela economia científica a fim de fornecer uma justificativa plausível dos fenômenos mais brutais e servir às necessidades domésticas da burguesia mas que de resto limitase a sistematizar as representações banais e egoístas dos agentes de produção burgueses como o melhor dos mundos dandolhes uma forma pedante e proclamandoas como verdades eternas v Padres da Igreja também Santos Padres ou Pais da Igreja são chamados os escritores gregos e latinos da Igreja cristã entre os séculos II e VI O estudo dos escritos dos Padres da Igreja é denominado patrística ou patrologia N T 33 Les économistes ont une singulière manière de procéder Il ny a pour eux que deux sortes dinstitutions celles de lart et celles de la nature Les institutions de la féodalité sont des institutions artificielles celles de la bourgeoisie sont des institutions naturelles Ils ressemblent en ceci aux théologiens qui eux aussi établissent deux sortes de religions Toute religion qui nest pas la leur est une invention des hommes tandis que leur propre religion est une émanation de dieu Ainsi il y a eu de lhistoire mais il ny en a plus Os economistas procedem de um modo curioso Para eles há apenas dois tipos de instituições as artificiais e as naturais As instituições do feudalismo seriam artificiais ao passo que as da burguesia seriam naturais Nisso eles são iguais aos teólogos que também distinguem entre dois tipos de religiões Toda religião que não a deles é uma invenção dos homens ao passo que sua própria religião é uma revelação de Deus Desse modo houve uma história mas agora não há mais Karl Marx Misère de la philosophie Réponse à la philosophie de la misère de M Proudhon Miséria da filosofia resposta à filosofia da miséria do sr Proudhon 1847 p 113 MEW v IV p 139 Verdadeiramente patético é o sr Bastiat que imagina que os gregos e os romanos tenham vivido apenas do roubo Mas para que se viva por tantos séculos com base no roubo é preciso que haja permanentemente algo para roubar ou que o objeto do roubo se reproduza continuamente Parece assim que também os gregos e os romanos possuíam um processo de produção portanto uma economia que constituía a base material de seu mundo tanto quanto a economia burguesa constitui a base material do mundo atual Ou Bastiat quer dizer que um modo de produção que se baseia no trabalho escravo é um sistema de roubo Ele adentra então um terreno perigoso Se um gigante do pensamento como Aristóteles errou em sua apreciação do trabalho escravo por que deveria um economista nanico como Bastiat acertar em sua apreciação do trabalho assalariado Aproveito a ocasião para refutar 606 brevemente uma acusação que me foi feita por um jornal teutoamericano quando da publicação de meu escrito Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política 1859 Segundo esse jornal minha afirmação de que os modos determinados de produção e as relações de produção que lhes correspondem em suma de que a estrutura econômica da sociedade é a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas sociais de consciência de que o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social política e espiritual em geral tudo isso seria correto para o mundo atual onde dominam os interesses materiais mas não seria válido nem para a Idade Média onde dominava o catolicismo nem para Atenas ou Roma onde dominava a política Para começar é desconcertante que alguém possa pressupor que essas batidas fraseologias sobre a Idade Média e a Antiguidade possam ser desconhecidas de alguém É claro que a Idade Média não podia viver do catolicismo assim como o mundo antigo não podia viver da política Ao contrário é o modo como eles produziam sua vida que explica por que lá era a política aqui o catolicismo que desempenhava o papel principal Além do mais não é preciso grande conhecimento por exemplo da história da República romana para saber que sua história secreta se encontra na história da propriedade fundiária Por outro lado Dom Quixote já pagou pelo erro de imaginar que a Cavalaria Andante fosse igualmente compatível com todas as formas econômicas da sociedade Économistes é o termo inicialmente usado para designar os fisiocratas Em meados do século XIX esse conceito adquiriu um significado tão amplo que já não servia mais para caracterizar uma doutrina econômica específica O nome physiocrates já havia sido formulado por François Quesnay e seu discípulo PierreSamuel du Pont de Nemours N E A MEGA 34 Value is a property of things riches of man Value in this sense necessarily implies exchange riches do not Observations on some Verbal Disputes in Pol Econ Particularly Relating to Value and to Supply and Demand Londres 1821 p 16 35 Riches are the attribute of man value is the attribute of commodities A man or a community is rich a pearl or a diamond is valuable A pearl or a diamond is valuable as a pearl or diamond S Bailey Money and its Vicissitudes cit p 165s x Marx referese provavelmente à obra de Roscher Die Grundlagen der Nationalökonomie 3 ed Stuttgart Augsburg 1858 p 57 N E A MEGA w William Shakespeare Muito barulho por nada em Comédias trad Carlos Alberto Nunes Rio de Janeiro Agir 2008 ato III cena 3 N T 36 O autor das Observations e S Bailey culpam Ricardo por de um valor apenas relativo ter transformado o valor de troca em algo absoluto Ele reduziu a relatividade aparente que essas coisas diamantes e pérolas por exemplo possuem à relação verdadeira que se esconde por trás da aparência à sua relatividade como meras expressões de trabalho humano Se os ricardianos respondem a Bailey de modo grosseiro e não convincente é apenas porque eles não encontraram no próprio Ricardo uma explanação da conexão interna entre valor e forma de valor ou valor de troca 607 37 No século XII tão célebre por sua piedade frequentemente aparecem entre tais mercadorias coisas muito delicadas Assim um escritor francês daquela época enumera entre as mercadorias que se encontravam no mercado de Landit ao lado de peças de roupas sapatos couro instrumentos agrícolas peles etc também femmes folles de leur corps mulheres com corpos ardentes Não foi localizada a fonte dessa citação N E A MEGA 38 Proudhon cria seu ideal de justiça a justice éternelle justiça eterna a partir das relações jurídicas correspondentes à produção de mercadorias por meio do que digase de passagem também é fornecida a prova consoladora para todos os filisteus de que a forma da produção de mercadorias é tão eterna quanto a justiça Então em direção inversa ele procura modelar de acordo com esse ideal a produção real de mercadorias e o direito real que a ela corresponde O que se pensaria de um químico que em vez de estudar as leis reais do metabolismo e de resolver determinadas tarefas com base nesse estudo pretendesse modelar o metabolismo por meio das ideias eternas da naturalité naturalidade e da affinité afinidade Por acaso se sabe mais sobre um agiota quando se diz que ele contraria a justice éternelle a équité éternelle equidade eterna a mutualité éternelle mutualidade eterna e outras vérités éternelles verdades eternas do que os padres da Igreja o sabiam quando diziam que ele contradiz a grâce éternelle graça eterna a foi éternelle fé eterna e a volonté éternelle de Dieu vontade eterna de Deus a Referência aos levellers corrente política atuante na Inglaterra em meados do século XVII N T b Em Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes Maritornes é a prostituta que a imaginação do cavaleiro errante transforma numa nobre dama N T 39 Pois o uso de todo bem é duplo Um é o uso próprio à coisa como tal o outro não como uma sandália pode ser usada para ser calçada ou para ser trocada Ambos são valores de uso da sandália pois também aquele que troca a sandália por aquilo que lhe falta por exemplo por alimentos utiliza a sandália como sandália Mas não em seu modo natural de uso Pois ela não existe em razão da troca Aristóteles De republica Política livro I c 9 c Referência a J W Goethe Fausto cit p 68 Era no início o Verbo Do espírito me vale a direção E escrevo em paz Era no início a Ação N T d E foilhe concedido também que desse espírito à imagem da Besta Para que ninguém pudesse comprar ou vender senão aquele que fosse marcado com o nome da Besta ou o número do seu nome Apocalipse 1315 17 40 Nisso se pode ver a esperteza do socialismo pequenoburguês que eterniza a produção de mercadorias ao mesmo tempo que quer abolir a oposição entre dinheiro e mercadoria portanto o próprio dinheiro pois ele só existe nessa oposição Do mesmo modo poderseia abolir o papa preservandose o catolicismo Para um tratamento mais detalhado dessa questão ver meu escrito Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 61s 41 Enquanto ainda não são trocados dois objetos de uso diferentes mas como se dá frequentemente entre os selvagens uma massa caótica de coisas é oferecida para a troca como equivalente de uma terceira coisa a troca imediata de produtos encontrase apenas em seu início e O termo Materiatur empregado por Hegel nas Lições sobre a filosofia da natureza remete à doutrina hilemórfica escolásticoaristotélica segundo a qual a forma morphê se realiza na matéria hylê conferindo a esta última sua determinidade Bestimmtheit na terminologia hegeliana ontológica A Materiatur é assim o princípio que constitui a materialidade em geral e aquilo que resta quando se retira o que só é possível na imaginação de uma substância a sua forma determinada Cf G W F Hegel Vorlesungen über die Philosophie der Natur Hamburgo Felix Meiner 2007 p 213 N T 42 Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 135 I metalli naturalmente moneta Os metais são dinheiro por natureza Galiani Della moneta cit p 137 43 Mais detalhes sobre isso em meu escrito supracitado na seção Os metais preciosos 44 Il danaro è la merce universale O dinheiro é a mercadoria universal Pietro Verri Meditazione sulla economia politica cit p 16 45 Silver and gold themselves which we may call by the general name of Bullion are commodities raising and falling in value Bullion than may be reckoned to her of higher value where the smaller weight will purchase the greater quantity of the product or manufacture of the country etc A prata e o ouro em si que podemos referir com o nome geral de metal precioso são no valor mercadorias que aumentam e diminuem Assim ao metal precioso podese atribuir um valor maior quando um peso ínfimo dele pode comprar uma quantidade maior do produto natural ou dos bens fabricados do país etc S Clement A Discourse of the General Notions of Money Trade 608 and Exchange as They Stand in Relations to Each Other By a Merchant Londres 1695 p 7 Silver and gold coined or uncoined tho they are used for a measure of all other things are no less a commodity than wine oyl tobacco cloth or stuffs É verdade que o ouro e a prata cunhados ou não cunhados são utilizados como padrão de medida para todas as outras coisas mas não são menos mercadorias do que o vinho o óleo o tabaco o lenço e os tecidos J Child A Discourse Concerning Trade and That in Particular of the EastIndies Londres 1689 p 2 The stock and riches of the kingdom cannot properly be confined to money nor ought gold and silver to be excluded from being merchandize O patrimônio e a riqueza do Reino não podem tomados corretamente limitarse a dinheiro tampouco podem o ouro e a prata ser excluídos como mercadorias Th Papillon The East India Trade a Most Profitable Trade Londres 1677 p 4 46 Loro e largento hanno valore come metalli anteriore all essere moneta Ouro e prata têm valor como metais antes de ser dinheiro Galiani Della moneta cit p 72 Locke diz O consenso geral entre os homens conferiu um valor imaginário à prata em razão de suas qualidades que a tornam adequada a servir como dinheiro John Locke Some Considerations 1691 cit p 15 Já Law ao contrário diz Como poderiam diferentes nações conferir a uma coisa qualquer um valor imaginário ou como teria sido possível obter esse valor imaginário E mostra o quão pouco ele entende dessa questão A prata era trocada com base no valor de uso que ela tinha portanto de acordo com seu valor efetivo por meio de sua determinação como dinheiro ela obteve um valor adicional une valeur additionnelle Jean Law Considérations sur le numéraire et le commerce em E Daire ed Économistes financiers du XVIIIe siècle Paris 1843 t I p 46970 47 Largent en est le signe O dinheiro é seu das mercadorias signo V de Forbonnais Éléments du commerce nouvelle édition Leyde 1766 t II p 143 Comme signe il est attiré par les denrées Como signo ele é vestido pelas mercadorias ibidem p 155 Largent est un signe dune chose et la représente O dinheiro é signo para uma mercadoria e a representa Montesquieu Esprit des lois Œuvres Londres 1767 t II p 3 Largent nest pas simple signe car il est luimême richesse il ne représente pas les valeurs il les équivaut O dinheiro é não um mero signo pois ele mesmo é riqueza ele não representa os valores mas é seu equivalente Le Trosne De lintérêt social cit p 910 Quaucun puisse ni doive faire doute que à nous et à notre majesté royale nappartienne seulement le mestier le fait létat la provision et toute lordonnance des monnaies de donner tel cours et pour tel prix comme il nous plaît et bon nous semble Quando observamos o conceito de valor a coisa mesma parece ser apenas um signo e não é considerada como ela mesma mas como aquilo que ela vale G W F Hegel Philosophie des Rechts Filosofia do direito cit p 100 Muito antes dos economistas os juristas colocaram em voga a noção do dinheiro como mero signo e do valor apenas imaginário dos metais preciosos servindo como sicofantas para o poder real cujo direito de falsificação de moedas eles sustentaram durante toda a Idade Média com base nas tradições do Império Romano e no conceito de dinheiro dos Pandectas Ninguém pode levantar dúvidas diz um de seus discípulos mais aplicados Philipp von Valois num decreto de 1346 que apenas a nós e a nossa Majestade Real cabe decidir sobre as questões monetárias sobre a produção a qualidade o estoque e todos os éditos relativos às moedas podendo colocá las em circulação pelo preço que nos apraz e convêm Era um dogma do direito romano que o imperador tinha o poder de decretar o valor do dinheiro Era expressamente proibido negociar o dinheiro como mercadoria Pecunias varo nulli emere fas erit nam in usu publico constitutas oportet non esse mercem Porém a ninguém deve ser permitido comprar dinheiro pois este tendo sido criado para o uso geral não pode ser mercadoria Uma boa discussão sobre esse assunto encontrase em G F Pagnini Saggio sopra il giusto pregio delle cose em Custodi Collezioni 1751 t II parte moderna Pagnini polemiza com os juristas especialmente na segunda parte do escrito Pandectas ou Digesto é a coleção das decisões dos jurisconsultos mais célebres convertidas em lei pelo imperador bizantino Justiniano no ano de 533 N T 48 If a man can bring to London an ounce of silver out of the earth in Peru in the same time that he can produce a bushel of corn then one is the natural price of the other now if by reason of new and more easie mines a man can procure two ounces of silver as easily as he formerly did one the corn will be as cheap at 10 shillings the bushel as it was before at 5 shillings caeteris partibus Se alguém consegue trazer para Londres 1 onça de prata do fundo da terra do Peru no mesmo tempo necessário para a produção de 1 alqueire de cereal então um é o preço natural do outro mas se por meio da exploração de minas novas e mais férteis ele conseguir extrair duas em vez de 1 onça de prata com o mesmo esforço então o cereal que agora custa 10 xelins por alqueire será tão barato quanto o era antes quando custava 5 xelins caeteris paribus os demais fatores permanecendo constantes William Petty A Treatise of Taxes and Contributions Londres 1667 p 31 49 Depois de o sr professor Roscher nos informar que As falsas definições de dinheiro podem ser divididas em dois grupos principais o daquelas que o tomam por mais do que uma mercadoria e o das que o tomam por menos do 609 que ela ele apresenta um variegado catálogo de escritos sobre o sistema monetário através do qual não transparece nem o mais remoto conhecimento da verdadeira história da teoria e conclui com a seguinte moral De resto não se pode negar que a maioria dos economistas políticos recentes não se ocupou o suficiente das particularidades que diferenciam o dinheiro das outras mercadorias mas é ele mais ou menos do que mercadoria Nesse sentido a reação semimercantilista de Ganilh etc não é de todo infundada Wilhelm Roscher Die Grundlagen der Nationalökonomie 3 ed 1858 p 20710 Mais menos não o suficiente não de todo Que determinações conceituais E é essa algaravia professoral que o sr Roscher batiza modestamente de o método anatômicofisiológico da economia política Uma descoberta no entanto deve serlhe reconhecida a de que o dinheiro é uma mercadoria agradável 610 50 A questão de por que o dinheiro não representa imediatamente o próprio tempo de trabalho de modo que por exemplo uma cédula de dinheiro represente x horas de trabalho desemboca muito simplesmente na questão de por que na base da produção de mercadorias os produtos do trabalho têm de se expressar como mercadorias pois a representação das mercadorias inclui sua duplicação em mercadoria e mercadoriadinheiro Ou na questão de por que o trabalho privado não pode ser tratado como seu contrário como trabalho imediatamente social Ocupeime detalhadamente do utopismo superficial de um dinheirotrabalho Arbeitsgeld em outro lugar Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 61s Aqui devo apenas observar que por exemplo o dinheirotrabalho de Owen é tão pouco dinheiro quanto digamos uma máscara de teatro Owen pressupõe o trabalho imediatamente socializado uma forma de produção diametralmente oposta à produção de mercadorias O certificado de trabalho comprova apenas a parte individual do produtor no trabalho comum e seu direito individual ao consumo de uma parte determinada do produto comum Mas não passa pela cabeça de Owen pressupor a produção de mercadorias e tentar contornar suas condições necessárias por meio de truques monetários Nas novas sociedades a serem fundadas segundo Owen seria introduzido um papel que representaria o valor do trabalho na forma de notas bancárias e serviria para a satisfação das necessidades domésticas e para o intercâmbio de bens Tal papel seria emitido apenas na proporção dos estoques disponíveis e só poderia ser obtido na troca por produtos reais N E A MEGA 51 O selvagem ou semisselvagem usa a língua de um outro modo Por exemplo o capitão Parry observa sobre os habitantes da costa oeste da Baía de Baffin In this case they licked it the thing represented to them twice to their tongues after which they seemed to consider the bargain satisfactorily concluded Nessa ocasião na troca de produtos eles lambem o que lhes é oferecido duas vezes com o que parecem expressar que o negócio está satisfatoriamente concluído Também os esquimós orientais costumam lamber o artigo no momento em que o recebem na troca Se no norte a língua aparece como órgão da apropriação não admira que no sul a barriga seja considerada o órgão da propriedade acumulada e o cafre avalie a riqueza de um homem de acordo com sua pança Os cafres são sujeitos inteligentes pois ao mesmo tempo que o relatório britânico de saúde oficial de 1864 apontava a carência em grande parte da classe trabalhadora de substâncias formadoras de gordura um certo dr Harvey não confundir com aquele que descobriu a lei da circulação do sangue fazia sucesso com suas receitas de bolinhos que prometiam eliminar o excesso de gordura da burguesia e da aristocracia 52 Cf Karl Marx Theorien von der Masseinheit des Geldes Teorias da unidade de medida do dinheiro Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 53s 53 Nota à segunda edição Onde o ouro e a prata exercem por lei a função de dinheiro isto é como medida de valor uma ao lado da outra tentouse frequentemente em vão tratálas como uma e a mesma matéria Se admitimos que o mesmo tempo de trabalho tem de se objetivar inalteravelmente na mesma proporção da prata e do ouro admitimos na verdade que a prata e o ouro são a mesma matéria e que determinada massa do metal de valor menor a prata constitui a fração inalterada de determinada quantidade de ouro Do reinado de Eduardo III até a época de George II a história do sistema monetário inglês se desenrola numa série contínua de turbulências derivadas do conflito entre a determinação legal da relação de valor entre o ouro e a prata e suas oscilações reais de valor Ora o ouro era muito valorizado ora a prata o era O metal de valor muito baixo era retirado de circulação derretido e exportado A relação de valor entre os dois metais era então novamente alterada por meios legais mas o novo valor nominal não tardava a entrar no mesmo conflito de antes com a relação real de valor Na França em nossa própria época a queda muito fraca e transitória no valor do ouro em relação à prata em consequência da demanda indochinesa por esta última produziu o mesmo fenômeno em escala ampliada a exportação da prata e sua retirada de circulação sendo substituída pelo ouro Durante os anos 1855 1856 e 1857 a importação de ouro na França excedeu a exportação desse metal em 41580000 ao passo que a exportação da prata excedeu sua importação em 14705000 na primeira edição 34704000 Na verdade em países onde ambos os metais são medidas legais de valor e por isso ambos têm de ser adotados para se efetuar pagamentos podendose no entanto escolher tanto o ouro quanto a prata conforme se queira o metal cujo valor é maior carrega um ágio e como toda outra mercadoria mede seu preço pelo metal menos valorizado ao passo que somente este último serve como medida de valor Todas as experiências históricas nesse terreno se limitam simplesmente a constatar que onde duas mercadorias exercem por lei a função de medida de valor apenas uma delas ocupa de fato esse lugar Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 523 a No original Marx emprega as variáveis a b c A B C Alteramos para b c d B C D a fim de evitar a confusão entre a variável a e o artigo definido N T 54 Nota à segunda edição O fato curioso de que a onça de ouro na Inglaterra como unidade do padrão monetário não seja dividida em partes alíquotas é explicado da seguinte forma Our coinage was originally adapted to the 611 employment of silver only hence an ounce of silver can always has divided into a certain adequate number of pieces of coin but as gold was introduced at a later period into a coinage adapted only to silver an ounce of gold cannot be coined into an adequate number of pieces Nosso sistema monetário se baseava originalmente apenas no uso da prata por isso 1 onça de ouro pode ser sempre dividida num determinado número de frações monetárias mas como o ouro só foi introduzido tardiamente num sistema monetário baseado unicamente na prata 1 onça de ouro não pode ser cunhada num número fracionado de moedas Maclaren History of the Currency Londres 1858 p 16 55 Nota à segunda edição Nos escritos ingleses impressiona a confusão entre medida de valor measure of value e padrão de preços standard of value As funções e com isso seus nomes são constantemente confundidos b Referência à cronologia mitológica das cinco idades elaborada por Hesíodo em Os trabalhos e os dias e que mais tarde serviria como motivo literário para o poeta Ovídio N T 56 De resto tampouco essa sequência tem validade histórica universal 57 Nota à segunda edição Assim a libra inglesa designa menos que um terço de seu peso original a libra escocesa valia antes da unificação apenas 136 a libra francesa 174 o maravedi espanhol menos que 11000 e o real português uma proporção ainda muito menor 58 Nota à segunda edição Le monete le quali oggi sono ideali sono le più antiche dogni nazione e tutte furono un tempo reali e perché erano reali con esse si contava As moedas cujos nomes são hoje apenas ideais são em todas as nações as mais antigas elas foram outrora reais e justamente porque foram reais é que os homens operaram com elas Galiani Della moneta cit p 153 59 Nota à segunda edição Em sua Familiar Words o sr David Urquhart observa o fato abominável de que hoje em dia 1 a unidade do padrão monetário inglês vale cerca de 14 de 1 onça de ouro This is falsifying a measure not establishing a standard Isso é falsificação de uma medida e não estabelecimento de um padrão p 105 Como em toda parte ele vê nessa falsa denominação do peso do ouro a mão falsificadora da civilização 60 Nota à segunda edição Quando se perguntou a Anacarsis para que os gregos necessitavam do dinheiro ele respondeu para contar Athenaeus Deipnnosophistae Schweighäuser 1802 IV 49 v 2 p 120 61 Nota à segunda edição Porque o ouro da segunda à quarta edição dinheiro como padrão dos preços aparece sob a mesma denominação contábil dos preços das mercadorias por exemplo tanto 1 onça de ouro quanto o valor de 1 tonelada de ferro são expressos em 3 17 xelins e 10½ pence essas denominações contábeis foram chamadas de seu preçomoeda Münzpreis Daí surgiu a noção fantástica de que o ouro ou a prata teria seu valor em seu próprio material e que diferentemente de todas as outras mercadorias obteria um preço fixo por parte do Estado Confundiu se a fixação das denominações contábeis de determinados pesos de ouro com a fixação do valor desses pesos Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 52 62 Cf Theorien von der Masseinheit des Geldes em Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 53s As fantasias sobre o aumento ou a diminuição do preçomoeda que consistem em passar das denominações monetárias aplicadas a frações de peso de ouro e prata fixadas por lei a frações maiores ou menores de peso determinadas pelo Estado o que possibilitaria passar a cunhar 14 de ouro em 40 xelins em vez de em 20 tais fantasias na medida em que visam não desastradas operações financeiras contra credores estatais e privados mas curas milagrosas econômicas foram tratadas por W Petty em Quantulumcunque Concerning Money To the Lord Marquis of Halifax 1682 de modo tão exaustivo que já seus sucessores imediatos sir Dudley North e John Locke para não falar dos que vieram depois deles não conseguiram fazer mais do que empobrecêlas If the wealth of a nation could be decupled by a Proclamation it were strange that such proclamations have not long since been made by our Governors Se a riqueza de uma nação diz ele pudesse ser decuplicada por meio de um decreto seria estranho que nossos governos já não tivessem promulgado tais decretos há muito tempo Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 36 63 Ou bien il faut consentir à dire quune valeur dun million en argent vaut plus quune valeur égale en marchandises Ou seria preciso admitir que um milhão em dinheiro vale mais do que um valor igual em mercadorias Le Trosne De lintérêt social cit p 919 E portanto que um valor vale mais do que um outro valor igual 64 Se Jerônimo em sua juventude teve de lutar muito com sua carne material como mostra sua luta no deserto contra belas imagens femininas ele teve de lutar em sua velhice contra a carne espiritual Imaginome diz ele por exemplo em espírito diante do juiz universal Quem és tu pergunta uma voz Eu sou um cristão Tu mentes troa o juiz universal Não passas de um ciceroniano Citação de São Jerônimo Epístola a Eustóquio também conhecida como De conservanda virginitate Sobre a conservação da virgindade N E A MEW 612 c Bem soubeste dizer ora dessa moeda a liga e o peso mas dizeme se a tens em seu poder Dante Alighieri A divina comédia Paraíso canto XXIV trad Italo Eugenio Mauro 2 ed São Paulo Editora 34 2010 p 172 N T 65 HEk dè toû puròv tHÃntameíbesqai fjsín ô hJrákleitov kaì pûr äpántwn öpwsper crusoû cramata kaì crjmátwn crusóv Mas do fogo surge tudo dizia Heráclito e de tudo surge o fogo do mesmo modo como do ouro surgem os bens e dos bens o ouro F Lassalle Die Philosophie Herakleitos des Dunkeln A filosofia de Heráclito o Obscuro Berlim 1858 v I p 222 A nota de Lassalle a essa passagem p 224 nota 3 explica incorretamente o dinheiro como mero símbolo de valor d Cf Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política MEW v 13 p 71 N E A MEW e Numa carta de 28 de novembro de 1878 a N F Danielson o tradutor russo dO capital Marx modifica a última frase da seguinte forma E de fato o valor de cada braça individual é apenas a materialidade de uma parte da quantidade social de trabalho despendida na quantidade total de braças A mesma correção encontrase também no exemplar pessoal de Marx da segunda edição alemã do Livro I de O capital porém não escrita por ele N E A MEW f Referência à fala de Lisandro em Shakespeare Sonho de uma noite de verão em Comédias trad Carlos Alberto Nunes Rio de Janeiro Agir 2008 ato I cena 1 N T 66 Toute vente est achat Toda venda é compra dr Quesnay Dialogues sur le commerce et les travaux des artisans em E Daire ed Physiocrates Paris 1846 primeira parte p 170 Ou como diz Quesnay em suas Maximes générales Vender é comprar 67 Le prix dune marchandise ne pouvant être payé que par le prix dune autre marchandise O preço de uma mercadoria só pode ser pago com o preço de uma outra mercadoria Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques em E Daire org Physiocrates cit p 554 68 Pour avoir cet argent il faut avoir vendu Para ter esse dinheiro é preciso ter vendido ibidem p 543 69 Com exceção como mencionamos anteriormente do produtor do ouro ou da prata que troca seu produto sem têlo vendido anteriormente g Non olet foi a resposta de Vespasiano à objeção feita por seu filho Tito ao caráter repugnante do imposto sobre a coleta de fezes e urina na Roma imperial N T 70 Si largent représente dans nos mains les choses que nous pouvons désirer dacheter il y représente aussi les choses que nous avons vendues pour cet argent Se o dinheiro em nossas mãos representa as coisas que podemos desejar comprar ele também representa as coisas que vendemos em troca desse dinheiro Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 586 71 Il y a donc quatre termes et trois contractants dont lun intervient deux fois Razão pela qual há quatro termos e três contratantes dos quais um atua duas vezes Le Trosne De lintérêt social cit p 909 h Alusão à venda da Bíblia para comprar aguardente N T i No original Heisssporn Literalmente espora ardente isto é pessoa temperamental inflamada O termo bastante usual na época de Marx deriva de Hotspur cognome de sir Henry Percy personagem impetuoso e beberrão do drama Henrique IV de Shakespeare parte I ato II cena IV N T 72 Nota à segunda edição Mesmo sendo um fenômeno evidente ele é na maioria das vezes ignorado pelos economistas políticos especialmente pelos livrecambistas vulgaris vulgares 73 Cf minhas considerações sobre James Mill em Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 746 Dois pontos são aqui característicos do método da apologética econômica Em primeiro lugar a identificação da circulação de mercadorias com a troca imediata de produtos mediante a simples abstração de suas diferenças Em segundo lugar a tentativa de negar as contradições do processo capitalista de produção dissolvendo as relações de seus agentes de produção nas relações simples que surgem da circulação de mercadorias A produção e a circulação de mercadorias são porém fenômenos que pertencem aos mais distintos modos de produção por mais variados sejam em sua dimensão e alcance Portanto ainda não se sabe nada da differentia specifica diferença específica desses modos de produção e por conseguinte não é possível julgálos enquanto se conhecem apenas suas categorias abstratas comuns a todos os modos de produção Em nenhuma ciência além da economia política impera tal pedantaria acompanhada de lugarescomuns tão elementares Por exemplo J B Say julgase no 613 direito de dar um veredito sobre as crises porque ele sabe que a mercadoria é um produto 74 Mesmo que a mercadoria seja vendida repetidas vezes um fenômeno que aqui ainda não existe para nós com a última e definitiva venda ela deixa a esfera da circulação e entra na esfera do consumo a fim de servir como meio de subsistência ou meio de produção 75 Il na dautre mouvement que celui qui lui est imprimé par les productions Ele o dinheiro não tem outro movimento senão aquele que lhe é conferido pelos produtos Le Trosne De lintérêt social cit p 885 j O galão imperial inglês medida de capacidade equivalente a 454609 litros N T 76 Ce sont les productions qui le mettent en mouvement et le font circuler La célérité de son mouvement supplée à sa quantité Lorsquil en est besoin il ne fait que glisser dune main dans lautre sans sarrêter un instant São os produtos que o põem o dinheiro em movimento e o fazem circular Sua quantidade é completada mediante a velocidade de seu isto é do dinheiro movimento Se necessário ele passa de uma mão a outra sem se deter por nenhum instante Le Trosne De lintérêt social cit p 9156 k Sovereign antiga moeda de investimento bullion coin britânica de ouro e com valor nominal de 1 Na era vitoriana o Banco da Inglaterra tinha a prática frequente de retirar de circulação os sovereigns usados a fim de recunhálos N T 77 Money being the common measure of buying and selling everybody who has anything to sell and cannot procure chapmen for it is presently apt to think that want of money in the kingdom or country is the cause why his goods do not go off and so want of money is the common cry which is a great mistake What do these people want who cry out for money The Farmer complains he thinks that were more money in the country he should have a price for his goods Then it seems money is not his want but a price for his corn and cattle which he would sell but cannot why cannot he get a price 1 Either there is too much corn and cattle in the country so that most who come to market have need of selling as he has and few of buying or 2 there wants the usual vent abroad by Transportation or 3 The consumption fails as when men by reason of poverty do not spend so much in their houses as formerly they did wherefore it is not the increase of specific money which would at all advance the farmers goods but the removal of any of these three causes which do truly keep down the market The merchant and shopkeeper want money in the same manner that is they want a vent for the goods they deal in by reason that the markets fail a nation never thrives better than when riches are tost from hand to hand Sendo o dinheiro o meio comum de compra e venda qualquer um que tenha algo para vender mas não encontre comprador para seu produto é levado a pensar que a demanda por dinheiro no reino ou no país é o que faz com que seus bens não encontrem saída e é assim que a demanda por dinheiro se torna a reclamação comum o que é um grande equívoco O que querem essas pessoas que clamam por dinheiro O fazendeiro reclama pensando que se houvesse mais dinheiro no país ele obteria um melhor preço para seus produtos Assim parece que não é dinheiro o que ele quer mas um bom preço para o seu grão e o seu gado que ele então venderia mas presentemente não o pode por que ele não obtém um bom preço 1 Ou há muito cereal e gado no país de modo que a maioria das pessoas que vem ao mercado necessita vender tal como ele e poucas necessitam comprar ou 2 a venda usual para o estrangeiro está interrompida ou 3 o consumo se torna mais escasso devido por exemplo ao fato de as pessoas em razão de sua pobreza não poderem gastar tanto em suas casas quanto o faziam anteriormente Por essa razão não é o aumento da quantidade de dinheiro que poderá incrementar as vendas dos produtos dos agricultores mas a remoção de cada uma dessas três causas as verdadeiras responsáveis pela estagnação do mercado O mercador e o comerciante necessitam de dinheiro do mesmo modo isto é deixam de vender seus produtos em razão da paralisia do mercado Uma nação jamais se encontra em melhor posição do que quando a riqueza passa rapidamente de mão em mão sir Dudley North Discourse upon Trade Londres 1691 p 115 As imposturas de Herrenschwand se resumem todas à ideia de que as contradições que surgem da natureza da mercadoria e se manifestam na circulação das mercadorias podem ser eliminadas por meio do aumento do meio de circulação Porém da ilusão popular que atribui as estagnações do processo de produção e circulação a uma insuficiência de meios de circulação não se segue ao contrário que a insuficiência real de meios de circulação por exemplo em consequência de interferências imprudentes na regulation of currency regulação monetária não seja capaz por sua vez de provocar essas estagnações 78 There is a certain measure and proportion of money requisite to drive the trade of a nation more or less than which would prejudice the same Just as there is a certain proportion of farthings necessary in a small retail trade to change silver money and to even such reckonings as cannot be adjusted with the smallest silver pieces Now as the proportion of the number of farthings requisite in commerce is to be taken from the number of people the frequency of their exchanges as also and principally from the value of the smallest silver pieces of money so in like manner the proportion of money gold and 614 silver specie requisite in our trade is to be likewise taken from the frequency of commutations and from the bigness of payments Existe uma determinada medida e proporção de dinheiro que é necessária para manter o comércio de uma nação uma quantidade maior ou menor do que essa medida levaria esse comércio ao colapso Do mesmo modo como num pequeno comércio varejista certa proporção de farthings antiga moeda inglesa de cobre com o valor de 14 de penny se faz necessária para trocar moedas de prata e efetuar aqueles pagamentos que não podem ser feitos nem mesmo com as menores moedas de prata Ora assim como a proporção da demanda de farthings no comércio depende do número de pessoas da frequência de suas trocas bem como e principalmente do valor das menores peças monetárias de prata assim também a proporção da demanda de dinheiro de ouro e prata necessária para nosso comércio é determinada pela frequência das comutações e pela grandeza dos pagamentos William Petty A Treatise of Taxes and Contributions Londres 1667 p 178 A teoria de Hume foi defendida contra J Steuart e outros autores por A Young em seu Political Arithmetic Londres 1774 em que ela ocupa um capítulo próprio Prices Depend on Quantitiy of Money Os preços dependem da quantidade de dinheiro p 112s Em Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política observo na p 149 A questão acerca da quantidade de moedas em circulação é afastada por ele A Smith tacitamente quando de modo completamente falso trata o dinheiro como simples mercadoria Mas isso só ocorre quando A Smith trata do dinheiro ex officio por dever do cargo Em outras passagens no entanto por exemplo em sua crítica dos sistemas anteriores da economia política ele expressa a noção correta The quantity of coin in every country is regulated by the value of the commodities which are to be circulated by it The value of goods annually bought and sold in any country requires a certain quantity of money to circulate and distribute them to their proper consumers and can give employment to no more The channel of circulation necessarily draws to itself a sum sufficient to fill it and never admits any more A quantidade do dinheiro metálico é regulada em cada país pelo valor das mercadorias cuja circulação ele tem de mediar O valor dos bens anualmente comprados e vendidos requer uma certa quantidade de dinheiro para que esses bens possam circular e chegar a seus consumidores porém não é capaz de criar uma aplicação para uma quantidade de dinheiro que ultrapasse essa medida O canal da circulação absorve necessariamente uma quantia que basta para preenchêlo mas nunca uma quantia maior do que a necessária Wealth of Nations v III livro IV c I p 87 89 Do mesmo modo A Smith abre sua obra ex officio com uma apoteose da divisão do trabalho Porém no último livro ao tratar das fontes das receitas estatais ele reproduz a denúncia da divisão do trabalho de seu mestre A Ferguson 79 The prices of things will certainly rise in every nation as the gold and silver increase amongst the people and consequently where the gold and silver decrease in any nation the prices of all things must fall proportionably to such decrease of money Os preços das coisas certamente aumentam em cada país na mesma medida em que aumenta a quantidade de ouro e prata em circulação do mesmo modo seguese necessariamente que ao diminuir o ouro e a prata num país os preços de todas as mercadorias tendem a sofrer uma queda correspondente a essa diminuição do dinheiro Jacob Vanderlint Money Answers All Things Londres 1734 p 5 Uma comparação mais minuciosa da obra de Vanderlint com os Essays de Hume não deixa a menor dúvida de que Hume não só conhecia como utilizou a obra mais importante de Vanderlint A visão de que é a quantidade do meio de circulação que determina os preços já se encontra em Barbon e em outros escritores muito mais antigos No inconvenience can arise by an unrestrained trade but very great advantage since if the cash of the nation be decreased by it which prohibitions are designed to prevent those nations that get the cash will certainly find everything advance in price as the cash increases amongst them And our manufactures and everything else will soon become so moderate as to turn the balance of trade in our favour and thereby fetch the money back again Nenhuma inconveniência diz Vanderlint pode advir de um comércio irrestrito mas sim uma enorme vantagem pois se a quantidade de dinheiro da nação diminui em consequência dele o que se deve evitar por meio de proibições as nações para as quais esse dinheiro flui veem os preços de todas as coisas subirem na mesma medida do aumento da quantidade de dinheiro em circulação E nossos produtos manufaturados e todas as outras mercadorias se tornam prontamente tão baratas que a balança comercial pesa a nosso favor e em consequência disso o dinheiro volta a fluir para nós ibidem p 434 80 Que cada tipo de mercadoria individual constitui mediante seu preço um elemento da soma dos preços de todas as mercadorias em circulação é algo óbvio Mas como é possível que valores de uso incomensuráveis uns com os outros possam ser trocados em massa pela quantidade de ouro ou prata que se encontra num país é algo totalmente inconcebível Se reduzirmos o mundo das mercadorias a uma única mercadoria total da qual cada mercadoria forma apenas uma parte alíquota teremos a bela fórmula mercadoria total x quintais de ouro A mercadoria A parte alíquota da mercadoria total mesma parte alíquota de x quintais de ouro Isso é expresso de modo magistral por Montesquieu Si lon compare la masse de lor et de largent qui est dans le monde avec la somme des marchandises qui y sont il est certain que chaque denrée ou marchandise en particulier pourra être comparée à une certaine portion de lautre Supposons quil ny ait quune seule denrée ou marchandise dans le monde ou quil ny ait quune seule qui sachète 615 et quelle se divise comme largent cette partie de cette marchandise répondra à une partie de la masse de largent la moitié du total de lune à la moitié du total de lautre etc létablissement du prix des choses dépend toujours fondamentalement de la raison du total des choses au total des signes Se compararmos a quantidade total de ouro e de dinheiro que se encontra no mundo com a soma das mercadorias que nele se encontram é certo que cada produto ou mercadoria poderá em particular ser comparado a uma certa porção do outro Suponha que haja apenas um único produto ou mercadoria no mundo ou que haja apenas uma única que seja comprada e que ela se divida tal como o dinheiro essa parte dessa mercadoria corresponderá a uma parte da quantidade do dinheiro a metade do total de uma corresponderá à metade do total da outra etc a determinação do preço das coisas depende sempre fundamentalmente da razão entre a quantidade total das coisas e a quantidade total dos símbolos monetários Montesquieu Esprit des lois cit t III p 123 Sobre o desenvolvimento dessa teoria por Ricardo seu discípulo James Mill lord Overstone e outros cf Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 1406 150s O sr J S Mill com a lógica eclética que lhe é peculiar mostra estar de acordo com a visão de seu pai J Mill e ao mesmo tempo com a visão contrária Quando se compara o texto de seu compêndio Principles of Political Economy com o prefácio da primeira edição no qual ele apresenta a si mesmo como o Adam Smith do presente não se sabe o que é mais impressionante se a ingenuidade do autor ou a do público que o compra inocentemente como um Adam Smith para quem ele está como o general Williams baronete de Kars está para o duque de Wellington As investigações originais do sr J S Mill no terreno da economia política desprovidas tanto de abrangência quanto de riqueza de conteúdo podem ser encontradas devidamente encadeadas em seu opúsculo publicado em 1844 Some Unsettled Questions of Political Economy Locke exprime diretamente o nexo entre a falta de valor do ouro e da prata e a determinação de seu valor por meio da quantidade Mankind having consented to put an imaginary value upon gold and silver the intrinsic value regarded in these metals is nothing but the quantity Como os homens concordaram em conferir ao ouro e à prata um valor imaginário o valor interno que se vê nesses metais não é senão sua quantidade Some Considerations cit p 15 81 Obviamente tratar de detalhes tais como a senhoriagem etc é algo que escapa ao meu objetivo No entanto diante do romântico sicofanta Adam Müller que se impressiona com a enorme liberalidade com que o governo inglês amoeda gratuitamente vale citar o seguinte juízo de sir Dudley North Silver and gold like other commodities have their ebbings and flowings Upon the arrival of quantities from Spain is carried into the Tower and coined Not long after there will come a demand for bullion to be exported again If there is none but all happens to be in coin what then Melt it down again theres no loss in it for the coining costs the owner nothing Thus the nation has been abused and made to pay for the twisting of straw for asses to eat If the merchant had to pay the price of the coinage he would not have sent his silver to the Tower without consideration and coined money always keep a value above uncoined silver A prata e o ouro têm como outras mercadorias suas marés altas e baixas Quando um carregamento chega da Espanha ele é levado à Tower e cunhado Não muito tempo depois surgirá uma demanda por barras desses metais para exportação Se não se dispõe de nenhuma uma vez que todo ouro e prata foi amoedado o que ocorre Voltase a fundilo nesse processo não há nenhuma perda pois a cunhagem não custa nada ao proprietário Mas é a nação que sai prejudicada pois é ela que paga o entrançamento da palha que no fim acaba servindo para alimentar os burros Se o mercador o próprio North era um dos maiores mercadores na época de Carlos II tivesse de pagar um preço pelo amoedamento ele pensaria duas vezes antes de mandar sua prata à Tower e o dinheiro cunhado teria então um valor maior do que a prata não cunhada sir Dudley North Discourse upon Trade cit p 18 82 If silver never exceed what is wanted for the smaller payments it cannot be collected in sufficient quantities for the larger payments the use of gold in the main payments necessarily implies also its use in the retail trade those who have gold coin offering them for small purchases and receiving with the commodity purchased a balance of silver in return by which means the surplus of silver that would otherwise encumber the retail dealer is drawn off and dispersed into general circulation But if there is as much silver as will transact the small payments independent of gold the retail dealer must then receive silver for small purchases and it must of necessity accumulate in his hands Se a prata jamais excede o que é requerido para os pagamentos menores ela não pode ser coletada em quantidades suficientes para os pagamentos maiores o uso do ouro nos pagamentos principais também implica necessariamente seu uso no comércio varejista quem possui moedas de ouro utilizaas também nas compras pequenas e recebe em prata o troco pela mercadoria comprada desse modo o excedente de prata que de outro modo sobrecarregaria o comerciante varejista deixa suas mãos e é dispersado na circulação geral Mas se há prata suficiente para que os pequenos pagamentos possam ser feitos independentemente do ouro então o comerciante varejista manterá consigo uma reserva de prata para poder efetuar pequenas compras e esse metal se acumulará necessariamente em suas mãos David Buchanan Inquiry into the Taxation and Commercial Policy of Great Britain Edimburgo 1844 p 2489 83 Um belo dia o mandarim financeiro Wanmaoin resolveu apresentar ao Filho do Sol um projeto que visava 616 secretamente converter os assignats imperiais chineses em cédulas convertíveis E eis que o Comitê dos Assignats em seu relatório de abril de 1854 aplicalhe um corretivo Se ele também recebeu o tradicional açoite de bambus não se sabe ao certo O Comitê lêse no final do relatório examinou detalhadamente o seu projeto e conclui que nele tudo é favorável aos comerciantes e nada é vantajoso à Coroa Arbeiten der Kaiserlich Russichen Gesandtschaft zu Peking über China trad dr K Abel e F A Mecklenburg Berlim 1858 v 1 p 54 Sobre a constante abrasão das moedas de ouro por sua circulação diz um Governor do Banco da Inglaterra como testemunha perante o House of Lords Committee sobre os Bank Acts Todo ano uma nova classe de soberanos não em sentido político sovereign soberano é o nome da libra esterlina tornase leve demais A classe que num ano possui seu pleno peso se desgasta o suficiente para no ano seguinte fazer com que a balança pese contra si House of Lords Committee 1848 n 429 84 Nota à segunda edição O quão pouco clara é a concepção das diferentes funções do dinheiro mesmo entre os melhores teóricos do sistema monetário o mostra por exemplo a seguinte passagem de Fullarton That as far as concerns our domestic exchanges all the monetary functions which are usually performed by gold and silver coins may have performed as effectually by a circulation of inconvertible notes having no value but that factitious and conventional value they derive from the law is a fact which admits I conceive of no denial Value of this description may be made to answer all the purposes of intrinsic value and supersede even the necessity for a standard provided only the quantity of issues be kept under due limitation Que no que concerne às nossas trocas domésticas todas as funções monetárias usualmente realizadas por moedas de ouro e prata podem ser igualmente realizadas mediante a circulação de notas inconversíveis sem nenhum valor além do valor factício e convencional que a lei lhes confere é um fato que admito não pode ser negado Um valor desse tipo poderia atender a todos os propósitos de um valor intrínseco e até mesmo tornar supérflua a necessidade de um padrão de medida do valor sendo apenas necessário manter a quantidade de suas emissões dentro dos limites devidos John Fullarton Regulation of Currencies 2 ed Londres 1845 p 21 Assim como a mercadoriadinheiro pode ser substituída na circulação por simples símbolos de valor ela é supérflua como medida do valor e padrão de medida dos preços 85 Do fato de que o ouro e a prata como moedas ou em sua função exclusiva como meios de circulação tornamse símbolos de si mesmos Nicholas Barbon deriva o direito dos governos to raise money de levantar dinheiro isto é por exemplo conferir a uma quantidade de prata que se chama vintém o nome de uma quantidade maior de prata como o táler e assim pagar ao credores vinténs em vez de táleres Money does wear and grow lighter by often telling over It is the denomination and currency of the money that man regard in bargaining and not the quantity of silver Tis the publick authority upon the metal that makes it money O dinheiro se gasta e se torna mais leve pelo seu uso frequente É a denominação e a cotação do dinheiro que os homens levam em consideração no comércio e não a quantidade de prata É a autoridade pública sobre o metal que o converte em dinheiro Nicholas Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter cit p 25 2930 86 Une richesse en argent nest que richesse en productions converties en argent Riqueza em dinheiro não é mais do que riqueza em produtos que foram transformados em dinheiro Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 573 Une valeur en productions na fait que changer sa forme Um valor em forma de produtos apenas mudou sua forma ibidem p 486 87 Tis by this practise they keep all their goods and manufactures at such low rates É por meio dessa prática que eles mantêm tão baixo o preço de seus bens e produtos fabricados Jacob Vanderlint Money Answers All Things cit p 956 88 Money is a pledge O dinheiro é um penhor John Bellers Essays about the Poor Manufactures Trade Plantations and Immorality Londres 1699 p 13 89 A compra em sentido categórico pressupõe que o ouro e a prata já são a forma convertida das mercadorias ou o produto de uma venda 90 Henrique III o rei mais cristão da França roubou dos mosteiros etc suas relíquias a fim de transformálas em dinheiro É sabido o papel que o roubo dos tesouros do templo de Delfos pelos fócios desempenhou na história grega Entre os antigos os templos serviam como morada dos deuses das mercadorias Eles eram bancos sagrados Para os fenícios um povo comerciante por excelência o dinheiro era a forma alienada de todas as coisas Por isso era normal que as virgens que nas festas da deusa do amor se entregavam a estranhos ofertassem à deusa o dinheiro recebido 91 Gold Yellow glittering precious gold Thus much of this will make black white foul fair Wrong right base noble old young coward valiant What this you gods Why this Will lug your priests and servants from your sides Pluck stout men pillows from below their heads This yellow slave Will knit and break religions bless the accoursd Make the hoar leprosy adord place thiaves And give them title knee and approbation With senators of the bench this is it That 617 makes the wappend widow wed again Come damned earth Thou common whore of mankind Ouro faiscante ouro amarelo o precioso metal Só com isto eu deixaria o negro branco o repelente belo o injusto justo o baixo com nobreza o novo velho e corajoso o pulha Deuses por que isto Para que isto deuses Oh Isto desviará de vossas aras sacerdotes e servos da cabeça dos doentes tirará o travesseiro Este escravo amarelo os sacrossantos votos anula e quebra lança a bênção nos malditos amável deixa a lepra dá estado aos ladrões e lhes concede títulos e homenagens lado a lado dos senadores faz que novamente se case a viúva idosa Vamos poeira maldita prostituta comum da humanidade William Shakespeare Timon of Athens ed bras Timão de Atenas em Tragédias trad Carlos Alberto Nunes Rio de Janeiro Agir 2008 ato IV cena 3 92 O2dèn gàr ÃnqrHpoisin oÎon Ârgurov Kakòn nómismH Ëblaste toûto kaì póleiv Porqeî tódH Ândrav Êxanístjsin dómwn TódH Êkdidáskei kaì paralássei frénav Crjstàv próv aÏscrà prágmaqH Ístasqai brotJn Panourgíav dH Ëdeixen ÃnqrHpoiv Ëcein Kaì pantòv Ërgou dussébeian eÏdénai Nunca entre os homens floresceu uma invenção pior que o ouro até cidades ele arrasa afasta os homens de seus lares arrebata e impele almas honestas ao aviltamento à impiedade em tudo Sófocles Antigone ed bras Antígona em A trilogia tebana trad Mario da Gama Kury 9 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 versos 34450 93 HElpizoúsjv tcv pleonexíav Ãnáxein Êk tJn mucJn tcv gcv a2tòn tòn Ploútona Em consequência da avareza que deseja arrancar o próprio Pluto das entranhas da terra Athenaeus Deipnosophistae VI 23 94 Accrescere quanto più si può il numero devenditori dogni merce diminuire quanto più si può il numero del compratori questi sono i cardini sui quali si raggirano tutte le operazioni di economia politica Aumentar o máximo possível o número de vendedores de cada mercadoria diminuir o máximo possível o número de compradores esse é o eixo central em torno do qual giram todas as operações da economia política Pietro Verri Meditazione sulla economia politica cit p 523 l Diderot N T 95 There is required for carrying on the trade of the nation a determinate sum of specifick money which varies and is sometimes more sometimes less as the circumstances we are in require This ebbing and flowing of money supplies and accommodates itself without any aid of Politicians The buckets work alternately when money is scarce bullion is coined when bullion is scarce money is melted Para viabilizar o comércio de uma nação fazse necessária uma determinada soma de um dinheiro específico soma que varia sendo às vezes maior às vezes menor dependendo das circunstâncias em que nos encontramos Esse movimento de alta e baixa da quantidade de dinheiro regula a si mesmo sem necessitar de qualquer ajuda de políticos Os baldes sobem e descem alternadamente se há escassez de dinheiro barras de metal são transformadas em moedas se há escassez de barras derretemse moedas sir Dudley North Discourse upon Trade cit Postscript p 3 John Stuart Mill por muito tempo funcionário da Companhia das Índias Orientais confirma que joias de prata continuam a funcionar imediatamente como tesouro Silver ornaments are brought out and coined when there is a high rate of interest and go back again when the rate of interest falls Os ornamentos de prata são transformados em moeda quando há uma alta taxa de juros e retrocedem quando essa taxa cai J S Mills Evidence em Reports on Bank Acts 1857 n 2084101 Segundo um documento parlamentar de 1864 sobre a importação de ouro e prata para a Índia em 1863 a importação desses metais ultrapassou suas exportações em 19367764 Nos oito anos que antecederam 1864 o excesso da importação sobre a exportação dos metais preciosos atingiu o valor de 109652917 Ao longo desse século foram cunhadas na Índia mais de 200000000 96 Lutero diferencia o dinheiro como meio de compra e como meio de pagamento Assim fazes com que o juro de compensação de perdas Schadewacht seja duplicado pois por um lado não sou pago e por outro não posso comprar Martinho Lutero An die Pfarrherrn wider den Wucher zu predigen Wittemberg 1540 97 Sobre as relações entre credores e devedores na classe dos negociantes ingleses no início do século XVIII Such a spirit of cruelty reigns here in England among the men of trade that is not to be met with in any other society of men nor in any other kingdom of the world Na Inglaterra reina entre os homens de negócio um espírito de crueldade tal que não pode ser encontrado em nenhuma outra sociedade humana e nenhum outro reino do mundo em An Essay on Credit and the Bankrupt Act Londres 1707 p 2 98 Nota à segunda edição Na seguinte citação extraída de meu escrito publicado em 1859 podese ver porque não dedico aqui nenhuma atenção a uma forma contraposta Inversamente no processo DM o dinheiro pode ser alienado como meio efetivo de compra e o preço da mercadoria pode ser realizado antes que o valor de uso do dinheiro seja realizado ou que a mercadoria seja vendida Isso ocorre por exemplo na forma cotidiana dos pré pagamentos Ou na forma pela qual o governo inglês compra ópio dos ryots na Índia Nesses casos no entanto o 618 dinheiro funciona apenas na forma já conhecida do meio de compra É claro que o capital também é investido na forma do dinheiro Mas esse ponto de vista não cabe no horizonte da circulação simples Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 11920 Ryots nome dado aos camponeses ou agricultores indianos N T 99 Nota à terceira edição A crise monetária definida como fase particular de toda crise de produção e de comércio tem de ser distinguida daquele tipo especial de crise que também chamada de crise monetária pode no entanto emergir como um fenômeno independente que atua apenas indiretamente sobre a indústria e o comércio São crises cujo centro está no capital financeiro e que por isso têm sua esfera imediata no sistema bancário financeiro e na bolsa de valores m Referência ao salmo 421 Assim como o cervo brame pelas correntes das águas assim suspira a minha alma por ti ó Deus N T 100 Essa transformação repentina do sistema de crédito em sistema monetário adiciona o terror teórico ao pânico prático e os agentes da circulação tremem diante do mistério insondável de suas próprias relações Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 126 The poor stand still because the rich have no money to employ them though they have the same land and hands to provide victuals and cloaths as ever they had which is the true riches of a nation and not the money Os pobres não têm trabalho porque os ricos não têm dinheiro para empregálos embora eles disponham tal como antes das mesmas terras e da mesma mão de obra para produzir meios de existência e roupas que são a verdadeira riqueza de uma nação e não o dinheiro John Bellers Proposals for Raising a Colledge of Industry Londres 1696 p 34 101 A passagem seguinte mostra como tais momentos são explorados pelos amis du commerce amigos do comércio On one occasion 1839 an old grasping banker in his private room raised the lid of the desk he sat over and displayed to a friend rolls of banknotes saying with intense glee there were 600000 of them they were held to make money tight and would all be let out after three oclock on the same day Numa dada ocasião 1839 um velho banqueiro ganancioso da City em seu gabinete particular abriu a tampa de sua escrivaninha e exibiu ao amigo rolos de notas bancárias dizendo com intensa satisfação ter 600000 delas que haviam sido guardadas a fim de provocar a escassez de dinheiro e seriam todas postas em circulação a partir das 3 horas da tarde daquele mesmo dia H Roy The Theory of the Exchanges The Bank Charter Act of 1844 Londres 1864 p 81 O jornal semioficial The Observer continha o seguinte parágrafo em 24 de abril de 1864 Some very curious rumours are current of the means which have been resorted to in order to create a scarcity of banknotes Questionable as it would seem to suppose that any trick of the kind would ha adopted the report has been so universal that it really deserves mention Alguns rumores muito curiosos circulam sobre os meios que foram utilizados para criar uma escassez de notas bancárias Por mais questionável que possa ser a suposição de que um truque qualquer tenha sido utilizado a notícia sobre esse fato foi tão difundida que se faz realmente digna de menção The Observer 24 abr 1864 102 The amount of sales no original purchases or contracts entered upon during the course of any given day will not affect the quantity of money afloat on that particular day but in the vast majority of cases will resolve themselves into multifarious drafts upon the quantity of money which may be afloat at subsequent dates more or less distant The bills granted or credits opened today need have no resemblance whatever either in quantity amount or duration to those granted or entered upon tomorrow or next day nay many of todays bills and credits when due fall in with a mass of liabilities whose origins traverse a range of antecedent dates altogether indefinite bills at 12 6 3 months or I often aggregating together to swell the common liabilities of one particular day A quantidade de compras ou contratos fechados durante o curso de um determinado dia não afetará a quantidade de dinheiro em curso nesse dia particular mas na grande maioria dos casos dissolverseá em muitas letras de câmbio que serão descontadas sobre a quantidade de dinheiro que estará em curso num futuro mais ou menos próximo Os títulos que são emitidos ou os créditos que são abertos no dia de hoje não precisam ter nenhuma semelhança seja em quantidade valor ou duração com aqueles emitidos ou abertos amanhã ou depois de amanhã antes muitos dos títulos e créditos de hoje quando de seu vencimento misturarseão a uma massa de compromissos cujas origens se espalham por uma série totalmente indefinida de datas anteriores The Currency Theory Reviewed a Letter to the Scotch People By a Banker in England Edimburgo 1845 p 2930 passim 103 Como exemplo de quão pouco dinheiro real é requerido nas verdadeiras operações comerciais apresento abaixo um esquema de uma das maiores casas comerciais de Londres Morrison Dillon Co sobre suas receitas e pagamentos anuais Suas transações no ano de 1856 que somam muitos milhões de libras esterlinas são aqui reduzidas à escala de um milhão 619 Receitas Despesas Letras de câmbio de banqueiros e comerciantes descontadas após a data 533596 Letras de câmbio descontáveis após a data 302674 Cheques de banqueiros etc ao portador 357715 Cheques aos banqueiros de Londres 663672 Notas de bancos do interior 96275 Notas do Banco da Inglaterra 22743 Notas do Banco da Inglaterra 68554 Ouro 28089 Ouro 9427 Prata e cobre 1486 Prata e cobre 1484 Ordens de pagamento dos correios 933 Soma total 1000000 Soma total 1000000 Report from the Select Committee on the Bank Acts jul 1858 p LXXI 104 The Course of Trade being thus turned from exchanging of goods for goods or delivering and taking to selling and paying all the bargains are now stated upon the foot of a Price in Money Com a transformação do comércio que deixa de ser a troca de bens por bens ou entrega e recebimento e passa a se caracterizar pela venda e pagamento todas as barganhas são agora feitas com base num preço em dinheiro em An Essay upon Publick Credit 3 ed Londres 1710 p 8 105 Largent est devenu le bourreau de toutes les choses alambic qui a fait évaporer une quantité effroyable de biens et de denrées pour faire ce fatal précis Largent déclare la guerre à tout le genre humain O dinheiro tornouse o carrasco de todas as coisas A arte das finanças é a retorta onde se evapora uma quantidade enorme de bens e de mercadorias a fim de se obter esse extrato fatal O dinheiro declara guerra a todo o gênero humano Boisguillebert Dissertation sur la nature des richesses de largent et des tributs em E Daire ed Économistes financiers du XVIIIe siècle Paris 1843 t I p 413 4179 n Na terceira e quarta edições renda em ouro N E A MEW 106 No dia de Pentecostes de 1824 relata o sr Craig à Comissão parlamentar de inquérito de 1826 houve uma demanda tão grande de notas bancárias em Edimburgo que às 11 horas da manhã já não tínhamos uma única nota em nossos cofres Solicitamos empréstimos a vários bancos mas não pudemos obter nada e muitas transações só puderam ser feitas por meio de slips of paper papelotes Às 3 horas da tarde porém muitas notas já haviam retornado aos bancos dos quais haviam saído Elas não fizeram mais do que trocar de mãos Embora a circulação média efetiva das notas bancárias na Escócia não ultrapasse 3 milhões em certos dias de pagamentos todas as notas em posse dos banqueiros são postas em circulação o que chega a um total de aproximadamente 7 milhões Nessa ocasião as notas têm uma única e específica função a desempenhar e uma vez desempenhada essa função retornam aos respectivos bandos de onde elas saíram John Fullarton Regulation of Currencies cit p 8687 nota A título de esclarecimento na Escócia da época do escrito de Fullarton não se usavam cheques para os depósitos mas apenas notas o Provável deslize de Marx que escreveu proporção inversa em vez de proporção direta N T 107 If there were occasion to raise 40 millions pa whether the same 6 millions would suffice for such revolutions and circulations thereof as trade requires I answer yes for the expense being 40 millions if the revolutions were in such short circles viz weekly as happens among poor artizans and labourers who receive and pay every Saturday the 4052 parts of 1 million of money would answer these ends but if the circles ha quarterly according to our custom of paying rent and gathering taxes then 10 millions were requisite Wherefore supposing payments in general to be of a mixed circle between one week and 13 then add 10 millions to 4052 the half of the which will be 5½ so as if we have 5½ mill we 620 have enough À questão se seria necessário levantar 40 milhões por ano considerandose que os mesmos 6 milhões de ouro bastariam para as revoluções e circulações que o comércio exige respondeu Petty com sua maestria habitual Respondo que sim pois sendo a despesa de 40 milhões no caso de as revoluções se darem em ciclos curtos digamos semanalmente como é o caso entre os pobres artesãos e trabalhadores que recebem e pagam todo sábado então 4052 partes de 1 milhão bastariam para esse fim mas se os ciclos forem trimestrais tal como nosso costume no pagamento da renda e arrecadação de impostos então serão necessários 10 milhões Portanto se supusermos que os pagamentos em geral são realizados num ciclo entre uma e treze semanas então teremos de adicionar 10 milhões aos 4052 metade dos quais será 5½ de modo que teríamos o suficiente se dispuséssemos de 5½ William Petty Political Anatomy of Ireland 1672 Londres 1691 p 134 108 Isso explica a absurdidade de toda lei que obriga os bancos nacionais a formar reservas apenas daquele metal precioso que funciona como dinheiro no interior do país São bem conhecidas as belas dificuldades que por exemplo o Banco da Inglaterra criou para si mesmo por meio dessa política Sobre as grandes épocas históricas na variação do valor relativo do ouro e da prata ver Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 136s Adendo à segunda edição sir Robert Peel com sua Bank Act de 1844 tentou superar essas dificuldades permitindo ao Banco da Inglaterra emitir notas com lastro em barras de prata porém sob a condição de que a reserva de prata jamais excedesse ¼ da reserva de ouro Para esse fim o valor da prata era estimado pelo seu preço em ouro no mercado de Londres Nota à quarta edição Encontramonos novamente numa época de forte variação no valor relativo do ouro e da prata Há cerca de 25 anos a razão que expressava o valor do ouro em relação à prata era de 15½ para 1 hoje ela é de aproximadamente 22 para 1 e a prata continua a cair em relação ao ouro Isso é essencialmente a consequência de uma revolução no modo de produção dos dois metais Anteriormente o ouro era obtido quase exclusivamente por sua lavagem em camadas de depósitos aluviais produtos da erosão de pedras auríferas Hoje esse método não é mais suficiente e é substituído pelo processamento dos veios de quartzo que contêm ouro modo de extração que era antes de importância secundária embora já fosse conhecido pelos antigos Diodoro Sículo Historische Bibliothek Stuttgart 1828 livro III 1214 p 25861 Além disso não apenas foram descobertos novos depósitos imensos de prata na América do Norte na parte oeste das montanhas rochosas como essas novas minas juntamente com as minas de prata mexicanas ganharam novo impulso com as ferrovias que possibilitaram o transporte de maquinaria moderna e combustível e com isso a extração de prata em grande escala e a custos baixos Há no entanto uma grande diferença no modo como os dois metais ocorrem nos veios das rochas O ouro é na maioria das vezes puro porém encontrase espalhado no quartzo em quantidades diminutas de modo que é preciso moer o veio inteiro para então extrair o ouro por lavagem ou mediante o uso de mercúrio De 1000000 de gramas de quartzo costumase extrair apenas de 1 a 3 muito raramente de 30 a 60 gramas de ouro A prata dificilmente é encontrada pura porém ocorre num quartzo relativamente fácil de separar da rocha e que normalmente contém entre 40 a 90 de prata ela pode ainda ser encontrada em quantidades menores nas pepitas de cobre chumbo etc metais que apresentam em si mesmos vantagens para sua extração A partir disso já se pode perceber que o trabalho despendido na produção de ouro aumentou ao passo que o despendido na produção de prata diminuiu fortemente o que explica muito naturalmente a queda do valor deste último metal Essa queda do valor se expressaria numa queda de preços ainda maior se o preço da prata não fosse elevado por meios artificiais como ainda ocorre atualmente Porém as ricas minas de prata da América apenas começaram a ser exploradas o que permite prever que o valor da prata ainda permanecerá em queda por um longo tempo Um fator ainda mais decisivo para essa queda é a diminuição relativa da demanda de prata para artigos de uso e de luxo substituindoos por mercadorias folhadas como alumínio etc Podese assim avaliar o utopismo da noção bimetalista de que uma cotação internacional compulsória aumentará o valor da prata para sua antiga razão de valor de 1 por 15½ Mais provável é que a prata perca cada vez mais sua qualidade de dinheiro no mercado mundial F E 109 Os oponentes do sistema mercantilista que tinha no ajuste da balança comercial de ouro e prata a finalidade do comércio internacional desconheciam completamente a função do dinheiro mundial Já mostrei detalhadamente Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 150s como em Ricardo a falsa concepção das leis que regulam a quantidade dos meios de circulação refletese na falsa concepção do movimento internacional dos metais preciosos Seu falso dogma An unfavourable balance of trade never arises but from a redundant currency The exportation of the coin is caused by its cheapness and is not the effect but the cause of an unfavourable balance Uma balança comercial desfavorável não pode surgir senão em razão de um excesso de meios de circulação A exportação de moeda é causada por seu baixo preço e é não o efeito mas a causa de uma balança desfavorável já pode ser encontrado em Barbon The Balance of Trade if there be one is not the cause of sending away the money out of a nation but that proceeds from the difference of the value of Bullion in every country A balança comercial quando existe não é causa da evasão de dinheiro de um país A evasão resulta antes da diferença de valor 621 dos metais preciosos em cada país N Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter cit p 59 MacCulloch em The Literature of Political Economy a Classified Catalogue Londres 1845 elogia Barbon por essa antecipação porém evita prudentemente as formas ingênuas em que os absurdos pressupostos do currency principle princípio da circulação ainda aparecem em Barbon para citar apenas um exemplo A ausência de crítica e mesmo de honestidade daquele catálogo tem seu ápice nas seções sobre a história da teoria monetária onde MacCulloch rasteja no papel de sicofanta de lord Overstone exbanker Loyd que ele chama de facile princeps argentariorum o reconhecido rei dos endinheirados Currency principle teoria monetária amplamente difundida na primeira metade do século XIX e que partia da teoria monetária quantitativa Os representantes da teoria quantitativa defendiam que os preços das mercadorias eram determinados pela quantidade de dinheiro em circulação Os representantes do currency principle procuravam imitar as leis da circulação dos metais Como currency meio de circulação eles consideravam além do dinheiro metálico também o papelmoeda e acreditavam ser possível obter uma circulação monetária estável garantindo um pleno lastro de ouro ao papelmoeda a emissão deveria portanto ser regulada de acordo com a importação e a exportação de metais preciosos As tentativas do governo inglês lei bancária de 1844 de se apoiar nessa teoria não obtiveram qualquer êxito e apenas confirmaram sua insustentabilidade teórica e inutilidade para fins práticos N E A MEW 110 Por exemplo para subsídios empréstimos em dinheiro para a realização de guerras ou para permitir aos bancos a cobertura de pagamentos em dinheiro etc é precisamente a formadinheiro que é requerida como valor 110a Nota à segunda edição I would desire indeed no more convincing evidence of the competency of the machinery of the hoards in speciepaying countries to perform every necessary office of international adjustment without any sensible aid from the general circulation than the facility with which France when but just recovering from the shock of a destructive foreign invasion completed within the Space of 27 months the payment of her forced contribution of nearly 20 millions to the allied powers and a considerable proportion of that sum in specie without perceptible contraction or derangement of her domestic currency or even any alarming fluctuation of her exchange De fato em se tratando de países com moedas eu não desejaria uma prova mais evidente da competência da maquinaria do entesouramento em realizar qualquer ajuste internacional necessário sem recorrer a qualquer ajuda considerável da circulação geral do que a facilidade com que a França quando apenas se recuperava do choque de uma invasão estrangeira arrasadora completou no espaço de 27 meses o pagamento de suas contribuições forçadas de cerca de 20 milhões aos poderes aliados pagando uma considerável proporção dessa quantia em espécie e sem com isso provocar qualquer contração ou distúrbio em sua circulação doméstica ou mesmo qualquer flutuação preocupante de seu câmbio John Fullarton Regulation of Currencies cit p 141 Nota à quarta edição Um exemplo ainda mais convincente temos na facilidade com que a mesma França de 1871 a 1873 foi capaz de pagar em trinta meses uma indenização de guerra dez vezes maior e a maior parte dela em dinheiro metálico F E 111 Largent se partage entre les nations relativement au besoin quelles en ont étant toujours attiré par les productions O dinheiro se reparte entre as nações de acordo com a necessidade que elas tem dele uma vez que ele é sempre atraído pelos produtos Le Trosne De lintérêt social cit p 916 The mines which are continually giving gold and silver do give sufficient to supply such a needful balance to every nation As minas que continuamente fornecem ouro e prata dão a cada nação o suficiente para que ela atinja um tal equilíbrio necessário Jacob Vanderlint Money Answers All Things cit p 40 112 Exchanges rise and fall every week and at some particular times in the year run high against a nation and at other times run as high on the contrary As taxas de câmbio aumentam e caem toda semana e em certas épocas do ano elas aumentam em prejuízo de uma nação e em outras épocas aumentam na mesma medida porém para sua vantagem N Barbon A Discourse on Coining the New Money Lighter cit p 39 113 Essas diversas funções podem entrar num perigoso conflito umas com as outras quando o ouro e a prata também têm de servir como um fundo de conversão das notas bancárias 114 What money is more than of absolute necessity for a Home Trade is dead stock and brings no profit to that country its kept in but as it is transported in Trade as well as imported A quantidade de dinheiro que ultrapassa o que é estritamente necessário para o comércio interno de uma nação é capital morto e não traz ao país que o possui nenhum lucro a não ser que ela seja exportada ou importada John Bellers Essays about the Poor Manufactures Trade Plantations and Immorality cit p 13 What if we have too much coin We may malt down the heaviest and turn it into the splendour of plate vessels or utensils of gold and silver or send it out as a commodity where the same is wanted or desired or let it out at interest where interest is high E se tivermos muito dinheiro metálico Podemos então fundir a maior parte dele e transformálo num esplendor de pratos vasos e utensílios de ouro ou prata ou mandálo como mercadoria para onde ele é necessitado ou desejado ou então podemos emprestálo onde se pagam altos juros W 622 Petty Quantulumcunque Concerning Money To the Lord Marquis of Halifax 1682 cit p 39 Money is but the fat of the BodyPolitick whereof too much does as often hinder its agility as too little makes it sick as fat lubricates the motion of the muscles feeds in want of victuals fills up uneven cavities and beautifies the body so doth money in the state quicken its actions feeds from abroad in time of dearth et home evens accounts and beautifies the whole although more especially the particular persons that have it in plenty O dinheiro não é senão a gordura do corpo político razão pela qual uma quantidade muito grande dele prejudica sua mobilidade assim como uma quantidade muito pequena o adoece assim como a gordura lubrifica o movimento dos músculos serve como substituto para a carência de alimento preenche cavidades irregulares e embeleza o corpo assim também o dinheiro agiliza a ação do Estado importa meios de subsistência quando há carestia no interior salda dívidas e embeleza o todo embora concluindo ironicamente ele embeleze mais especialmente as pessoas que o possuem em abundância W Petty Political Anatomy of Ireland p 14 623 a O termo Kaufmannskapital capital mercantil é empregado por Marx como sinônimo de Handelskapital capital comercial isto é como o capital dedicado não só ao intercâmbio de mercadorias capital mercantil em sentido próprio mas também ao intercâmbio de dinheiro Por essa razão traduzimos ambos igualmente por capital comercial N T 1 A oposição entre o poder da propriedade fundiária baseado nas relações de servidão e de dominação pessoais e o poder impessoal do dinheiro é claramente expressa em dois provérbios franceses Nulle terre sans seigneur Nenhuma terra sem senhor e Largent na pas de maître O dinheiro não tem senhor 2 Avec de largent on achète des marchandises et avec des marchandises on achète de largent Com dinheiro compramse mercadorias e com mercadorias comprase dinheiro Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 543 3 When a thing is bought in order to be sold again the sum employed is called money advanced when it is bought not to be sold it may be said to be expended Quando algo é comprado para ser revendido a quantia assim aplicada é chamada de dinheiro adiantado quando é comprada não para ser vendida podese denominála quantia gasta James Steuart Works etc editado pelo general sir James Steuart seu filho Londres 1805 v I p 274 4 On néchange pas de largent contre de largent Não se troca dinheiro por dinheiro diz Mercier de la Rivière aos mercantilistas em Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 486 Numa obra que trata ex professo de comércio e especulação lêse Todo comércio consiste da troca de coisas de tipos diferentes e a vantagem para o mercador advém dessa diferença Trocar 1 libra de pão por 1 libra de pão não traria nenhuma vantagem Razão pela qual o comércio leva vantagem se comparado com o jogo que consiste numa mera troca de dinheiro por dinheiro Th Corbet An Inquiry into the Causes and Models of the Wealth of Individuals or the Principles of Trade and Speculation Explained Londres 1841 p 5 Embora Corbet não perceba que a troca de dinheiro por dinheiro DD é a forma característica da circulação não apenas do capital comercial mas de todo capital ao menos ele reconhece que essa forma do comércio a especulação é semelhante ao jogo mas eis que chega MacCulloch e descobre que comprar para vender é especulação e assim cai por terra a diferença entre especulação e comércio Every transaction in which an individual buys produce in order to sell it again is in fact a speculation Toda transação em que um indivíduo compra produtos para revendêlos é na verdade uma especulação MacCulloch A Dictionary Practical etc of Commerce Londres 1847 p 1009 Com muito mais ingenuidade Pinto o Píndaro da Bolsa de Valores de Amsterdã diz Le commerce est un jeu cet ce nest pas avec des gueux quon peut gagner Si lon gagnait longtemps en tout avec tous il faudrait rendre de bon accord les plus grandes parties du profit pour recommencer le jeu O comércio é um jogo frase que ele apropria de Locke e de pedintes não se pode ganhar nada Se por muito tempo se ganhasse tudo de todos seria necessário devolver aos perdedores a maior parte dos lucros obtidos a fim da recomeçar o jogo Pinto Traité de la circulation et du crédit Amsterdã 1771 p 231 5 O capital se divide em capital original e lucro o incremento do capital embora na prática esse lucro se transforme imediatamente em capital e seja posto em movimento juntamente com este último F Engels Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie Esboço de uma crítica da economia política cit p 99 6 Aristóteles opõe a economia à crematística partindo da economia Por ser a arte do ganho ela se limita à obtenção daquilo que é necessário à vida e dos bens úteis seja à casa ou ao Estado A verdadeira riqueza ô Ãljqinòv ploûtov consiste em tais valores de uso pois a quantidade desses bens suficiente para garantir uma boa vida não é ilimitada Existe no entanto uma segunda arte do ganho que devemos chamar de preferência e com razão de crematística e para esta última parece não haver qualquer limite à riqueza e às posses O comércio de mercadorias d kapjlika significa literalmente comércio varejista e Aristóteles toma essa forma porque nela predominam os valores de uso pertence por natureza não à crematística pois aqui a troca se dá apenas em relação ao que lhes é necessário ao comprador e ao vendedor razão pela qual continua ele o escambo foi a forma original do comércio de mercadorias mas com sua expansão surgiu necessariamente o dinheiro Com a invenção do dinheiro o escambo teve necessariamente de se desenvolver em kapjlika em comércio de mercadorias e este em contradição com sua tendência original desenvolveuse em crematística na arte de fazer dinheiro Ora a crematística se distingue da economia pelo fato de que para ela a circulação é a fonte da riqueza poijtikb crjmátwn dià crjmátwn metabolov E ela parece girar em torno do dinheiro pois este é o início e o fim desse tipo de troca tò gàr nómisma stoiceîon kaì pérav tov Ãllagov Êstín de modo que a riqueza tal como a crematística se esforça por obter é ilimitada Assim como toda arte que não é um meio para um fim mas um fim em si mesmo é ilimitada em seus esforços pois busca sempre se aproximar cada vez mais de seu objetivo último ao passo que as artes que buscam apenas a consecução de meios para um fim não são ilimitadas pois o próprio fim almejado impõelhes seus limites 624 assim também para a crematística não há qualquer limite a seu objetivo último que é o enriquecimento absoluto A economia e não a crematística tem um limite a primeira tem como finalidade algo distinto do dinheiro a segunda visa ao aumento deste último A confusão entre essas duas formas que se sobrepõem uma à outra faz com que alguns concebam como fim último da economia a conservação e o aumento do dinheiro ao infinito Aristóteles De Rep Política cit livro I c 8 9 passim 7 Commodities are not the terminating object of the trading capitalist money is his terminating object As mercadorias aqui no sentido de valores de uso não são o fim último do capitalista comerciante seu fim último é o dinheiro T Chalmers On Politic Econ etc 2 ed Glasgow 1832 p 1656 8 Il mercante non conta quasi per niente il lucro fatto ma mira sempre al futuro O mercador quase não leva em conta o lucro já realizado mas olha sempre para o futuro A Genovesi Lezioni di economia civile 1765 em Custodi Collezione t VIII parte moderna p 139 9 A inextinguível paixão pelo ganho a auri sacra fames maldita fome por ouro sempre conduzirá o capitalista MacCulloch The Principles of Polit Econ Londres 1830 p 179 É claro que essa concepção não impede que MacCulloch e consortes quando se encontram em dificuldades teóricas como ao tratar da superprodução transformem o mesmo capitalista num bom cidadão voltado apenas ao valor de uso e que até mesmo desenvolve uma sede insaciável por botas chapéus ovos tecidos de algodão e outros tipos extremamente familiares de valores de uso 10 SHzein é uma das expressões características dos gregos para o entesouramento Igualmente o inglês to save têm os mesmos dois sentidos salvar e poupar 10a OQuesto infinito che le cose non hanno in progresso hanno in giro A infinitude que as coisas não têm ao progredir elas têm ao circular Galiani Della moneta cit p 156 11 Ce nest pas la matière qui fait le capital mais la valeur de ces matières Não é a matéria que forma o capital mas o valor dessas matérias J B Say Traité décon polit 3 ed Paris 1817 t II p 429 12 Currency employed to productive purposes is capital O meio de circulação que é empregado na produção de artigos é capital Macleod The Theory and Practice of Banking Londres 1885 v I c 1 p 55 Capital is commodities Capital é igual a mercadorias James Mill Elements of Pol Econ Londres 1821 p 74 13 Capital valor que multiplica a si mesmo permanentemente Sismondi Nouveaux principes décon polit t I p 89 14 Léchange est une transaction admirable dans laquelle les deux contractants gagnent toujours A troca é uma transação admirável na qual as duas partes contratantes ganham sempre Destutt de Tracy Traité de la volonté et de ses effets Paris 1826 p 68 O mesmo livro também foi publicado como Traité decon polit 15 Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 544 16 Que lune de ces deux valeurs soit argent ou quelles soient toutes deux marchandises usuelles rien de plus indifférent en soi Que um desses dois valores seja dinheiro ou que os dois sejam mercadorias comuns é algo absolutamente indiferente ibidem p 543 17 Ce ne sont pas les contractants qui prononcent sur la valeur elle est décidée avant la convention Não são as partes contratantes que decidem sobre o valor ele é decidido antes da convenção Le Trosne De lintérêt social cit p 906 18 Dove è egualità non è lucro Galiani Della moneta cit t IV p 244 19 Léchange devient désavantageux pour lune des parties lorsque quelque chose étrangère vient diminuer ou exagérer le prix alors légalité est blessée mais la lésion procède de cette cause et non de léchange A troca se torna desavantajosa para uma das partes quando alguma circunstância estranha vem diminuir ou aumentar o preço então a igualdade é ferida mas o ferimento procede dessa causa e não da troca Le Trosne De lintérêt social cit p 904 20 Léchange est de sa nature un contrat dégalité qui se fait de valeur pour valeur égale Il nest donc pas un moyen de senrichir puisque lon donne autant que lon reçoit A troca é por sua natureza um contrato de igualdade firmado entre dois valores iguais Ele não é portanto um meio de se enriquecer porquanto se dá tanto quanto se recebe Le Trosne Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 903 21 Condillac Le commerce et le gouvernement 1776 em Daire e Molinari orgs Mélanges déconomie politique Paris 1847 p 267 291 22 Le Trosne responde muito corretamente a seu amigo Condillac Dans la société formée il ny s pas de surabondant 625 en aucun genre Numa sociedade formada não há nada que seja supérfluo Ao mesmo tempo ele observa jocosamente que se as duas partes que realizam a troca recebem igualmente mais do que fornecem uma à outra então ambas obtêm a mesma quantidade É pelo fato de Condillac não ter a mínima ideia da natureza do valor de troca que ele foi escolhido pelo sr professor Wilhelm Roscher como a autoridade a fundamentar seus próprios conceitos infantis Cf a obra de Roscher Die Grundlagen der Nationalökonomie 3 ed 1858 23 S P Newman Elements of Polit Econ Andover e Nova York 1835 p 175 24 By the augmentation of the nominal value of the produce sellers not enriched since what they gain as sellers they precisely expend in the quality of buyers Por meio do aumento do valor nominal dos produtos os vendedores não enriquecem uma vez que aquilo que eles ganham como vendedores eles gastam como compradores J Gray The Essential Principles of the Wealth of Nations etc Londres 1797 p 66 25 Si lon est forcé de donner pour 18 livres une quantité de telle production qui en valait 24 lorsquon employera ce même argent à acheter on aura également pour 18 l ce que lon payait 24 Se se é forçado a vender por 18 uma quantidade de produtos que valem 24 obterseá caso se utilize esse mesmo dinheiro para comprar igualmente por 18 aquilo que vale 24 Le Trosne De lintérêt social cit p 897 26 Chaque vendeur ne peut donc parvenir à renchérir habituellement ses marchandises quen se soumettant aussi à payer habituellement plus cher les marchandises des autres vendeurs et par la même raison chaque consommateur ne peut payer habituellement moins cher ce quil achète quen se soumettant aussi à une diminution semblable sur le prix des choses quil vend Por isso nenhum vendedor pode aumentar os preços de suas mercadorias sem que tenha igualmente de pagar mais caro pelas mercadorias dos outros vendedores e pela mesma razão nenhum consumidor pode habitualmente comprar mais barato sem ter de abaixar o preço das coisas que ele mesmo vende Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 555 27 R Torrens An Essay on the Production of Wealth Londres 1821 p 349 28 A ideia de que os lucros são pagos pelos consumidores é certamente muito absurda Quem são os consumidores G Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth Edimburgo 1836 p 183 29 When a man is in want of demand does Mr Malthus recommend him to pay some other person to take off his goods Quando alguém necessita de uma demanda recomendalhe o sr Malthus que ele pague a outra pessoa para que esta compre seus produtos Isso é o que pergunta a Malthus um indignado ricardiano que tal como seu discípulo padre Chalmers glorifica economicamente essa classe de simples compradores ou consumidores Ver An Inquiry into those Principles Respecting the Nature of Demand and the Necessity of Consumption Lately Advocated by Mr Malthus etc Londres 1821 p 55 b Antiga moeda inglesa de ouro com valor de 1 librapeso o equivalente a 20 mais tarde 21 xelins N T 30 Destutt de Tracy embora ou talvez devido a isso fosse um membre de lInstitut era de opinião contrária Segundo ele o lucro dos capitalistas provém do fato de eles venderem tudo mais caro do que seu custo de produção E para quem eles vendem Primeiramente uns para os outros Traité de la volonté et de ses effets cit p 239 Membre de lInstitut referência ao Institute National des Sciences et Arts fundado pela Convenção em 1795 em substituição às academias francesas N T 31 Léchange qui se fait de deux valeurs égales naugmente ni ne diminue la masse des valeurs subsistantes dans la société Léchange de deux valeurs inégales ne change rien non plus à la somme des valeurs sociales bien quil ajoute à la fortune de lun ce quil ôte de la fortune de lautre A troca que se realiza de dois valores iguais não aumenta nem diminui a massa dos valores subsistentes na sociedade A troca de dois valores desiguais também não altera em nada a soma dos valores sociais apenas acrescentando à fortuna de um aquilo que ela retira da fortuna do outro J B Say Traité décon polit cit t II p 4434 Say naturalmente sem se preocupar com as consequências dessa tese tomaa de empréstimo quase literalmente dos fisiocratas Os seguintes exemplos mostram como ele explorou os escritos dos fisiocratas à época esquecidos a fim de aumentar o valor de sua própria obra A frase mais célebre do sr Say On nachète des produits quavec des produits Produtos só podem ser comprados com produtos ibidem t II p 438 está escrita assim no original fisiocrata Les productions ne se paient quavec des productions Produtos só podem ser pagos com produtos Le Trosne De lintérêt social cit p 899 32 Exchange confers no value at all upon products A troca não confere valor algum aos produtos F Wayland The Elements of Pol Econ Boston 1843 p 169 33 Under the rule of invariable equivalents commerce would be impossible Sob o domínio de equivalentes invariáveis 626 o comércio seria impossível G Opdyke A Treatise on Polit Economy Nova York 1851 p 669 A diferença entre valor real e valor de troca se baseia no seguinte fato a saber que o valor de uma coisa é diferente do assim chamado equivalente que por ela é dado no comércio isto é que esse equivalente não é equivalente algum F Engels Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie Esboço de uma crítica da economia política cit p 956 34 Benjamin Franklin Works v II em Sparks org Positions to be Examined Concerning National Wealth p 376 35 Aristóteles De Rep Política livro I c 10 36 Profit in the usual condition of the market is not made by exchanging Had it not existed before neither could it after that transaction O lucro nas condições normais do mercado não é produzido pela troca Se ele não existisse antes tampouco poderia passar a existir depois dessa transação Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth cit p 184 c ONa primeira e na segunda edições relações de troca N T 37 A partir da presente investigação o leitor pode compreender que o que está em questão é o seguinte a formação do capital tem de ser possível mesmo que o preço e o valor de uma mercadoria sejam iguais Sua formação não pode ser atribuída a um desvio do preço em relação ao valor das mercadorias Se o preço realmente difere do valor é preciso antes de tudo reduzir o primeiro ao último isto é considerar a diferença como acidental a fim de poder observar em sua pureza o fenômeno da formação do capital sobre a base da troca de mercadorias sem que essa observação seja perturbada por circunstâncias secundárias ao processo propriamente dito Sabese além disso que essa redução não é de modo algum um mero procedimento científico As constantes oscilações dos preços de mercado suas altas e baixas compensam umas às outras anulamse mutuamente e se reduzem a um preço médio que funciona como seu regulador interno Tal preço médio é a estrelaguia por exemplo do mercador ou do industrial em todo empreendimento que abrange um período de tempo mais longo Ele sabe assim que no longo prazo as mercadorias não serão vendidas nem abaixo nem acima mas pelo seu preço médio Se o pensamento desinteressado fosse seu interesse ele teria de elaborar o problema da formação do capital do seguinte modo como pode o capital surgir quando se considera que a regulação dos preços se dá por meio do preço médio isto é em última instância pelo valor da mercadoria Digo em última instância porque os preços médios não coincidem diretamente com os valores das mercadorias ao contrário do que creem Smith Ricardo etc d OReferência a Hic Rhodus hic salta Aqui é Rodes salta aqui mesmo tradução latina de um trecho da fábula O atleta fanfarrão de Esopo Em O 18 de brumário de Luís Bonaparte São Paulo Boitempo 2011 p 30 Marx emprega a citação modificada em latim e em alemão Hic Rhodus hic salta Hier ist die Rose hier tanze Aqui está a rosa dança agora em alusão ao uso que Hegel faz da expressão no prefácio da Filosofia do direito No caso presente embora não se trate de uma referência a Hegel o autor mantém a mesma forma empregada em O 18 de brumário N T 38 In the form of money capital is productive of no profit Na forma do dinheiro o capital não produz lucro nenhum Ricardo Princ of Pol Econ cit p 267 39 Em enciclopédias sobre a Antiguidade clássica encontramos a afirmação absurda de que no mundo antigo o capital estava plenamente desenvolvido carecendo apenas do trabalho livre e de um sistema de crédito Também o sr Mommsen em sua História de Roma comete a esse respeito uma confusão atrás da outra 40 Por essa razão diferentes legislações fixam um teto máximo para o contrato de trabalho Todos os códigos de nações em que a regra é o trabalho livre estabelecem regras para a rescisão do contrato Em alguns países especialmente no México antes da Guerra Civil Americana também nos territórios tomados do México assim como nas províncias do Danúbio até a Revolução de Kusa a escravatura se esconde sob a forma da peonage Por meio de adiantamentos que devem ser pagos com trabalho e que se acumulam de geração a geração não apenas o trabalhador individual mas também sua família tornase de fato a propriedade de outras pessoas e de suas famílias Juárez aboliu a peonage O assim chamado imperador Maximiliano a reinstituiu mediante um decreto corretamente denunciado na Casa dos Representantes de Washington como decreto de reinstituição da escravatura no México Posso vender a outro por um tempo limitado minhas aptidões corporais e mentais e minhas possibilidades de atividade pois estas em consequência dessa restrição conservamse numa relação externa com minha totalidade e universalidade Mas se vendesse a totalidade de meu tempo concreto de trabalho e de minha produção eu converteria em propriedade de outrem aquilo mesmo que é substancial isto é minha atividade e efetividade universais minha personalidade Hegel Philosophie des Rechts Filosofia do direito cit p 104 67 Revolução de Kusa Em janeiro de 1859 Alexander Kusa foi eleito hospodar da Moldávia e pouco depois também da Valáquia Com a unificação desses dois principados do Danúbio que permanecera por um longo período sob o domínio do Império Otomano foi criado um Estado romeno unitário Kusa propôsse o objetivo de realizar uma série de reformas burguesas democráticas Sua política encontrou no entanto a resistência dos proprietários fundiários e de uma parcela da 627 burguesia Em 1864 Kusa dissolveu a Assembleia Nacional dominada pelos grandes proprietários e que rejeitara um projeto de reforma agrária proposto pelo governo Uma constituição foi promulgada o círculo de eleitores ampliado e o poder do governo fortalecido A reforma agrária aprovada nessa nova situação política previa a abolição da servidão e a distribuição de terras devolutas aos trabalhadores N E A MEW 41 O que caracteriza a época capitalista é portanto que a força de trabalho assume para o próprio trabalhador a forma de uma mercadoria que lhe pertence razão pela qual seu trabalho assume a forma do trabalho assalariado Por outro lado apenas a partir desse momento universalizase a formamercadoria dos produtos do trabalho 42 The value or worth of a man is as of all other things his price that is to say so much as would be given for the use of his power O valor de um homem é como o de todas as outras coisas seu preço quer dizer tanto quanto é pago pelo uso de sua força T Hobbes Leviathan em Molesworth org Works Londres 18391844 v III p 76 43 O villicus da Roma Antiga que controlava o trabalho dos escravos agrícolas recebia uma quantia inferior à dos servos pois seu trabalho era mais leve do que o deles T Mommsen História de Roma 1856 p 810 44 Cf W T Thornton OverPopulation and its Remedy Londres 1846 45 Petty 46 Its natural price consists in such a quantity of necessaries and comforts of life as from the nature of the climate and the habits of the country are necessary to support the labourer and to enable him to rear such a family as may preserve in the market an undiminished supply of labour Seu do trabalho preço natural consiste numa quantidade de meios de subsistência e de conforto que num determinado clima e de acordo com os costumes de um país é suficiente para manter o trabalhador e permitir que ele sustente sua família de modo a assegurar uma constante oferta de trabalho no mercado R Torrens An Essay on the External Corn Trade Londres 1815 p 62 A palavra trabalho é aqui falsamente empregada para designar força de trabalho 47 Rossi Cours décon polit Bruxelas 1842 p 370 48 Sismondi Nouv princ etc t I p 113 49 All labour is paid after it has ceased Todo trabalho é pago depois de ter sido concluído An Inquiry into those Principles Respecting the Nature of Demand etc p 104 Le crédit commercial a dû commencer au moment où louvrier premier artisan de la production a pu au moyen de ses économies attendre le salaire de son travail jusquà la fin de la semaine de la quinzaine du mois du trimestre etc O crédito comercial teve de ser instituído no momento em que o trabalhador o primeiro artesão da produção passou a ter condições de por meio de suas economias esperar pelo pagamento de seu trabalho ao final de uma semana uma quinzena um mês um trimestre etc C Ganilh Des systèmes décon polit 2 ed Paris 1821 t II p 150 50 Louvrier prête son industries de perdre son salaire louvrier ne transmet rien de matériel O trabalhador empresta sua destreza mas acrescenta Storch inteligentemente ele não arrisca nada a não ser perder o seu salário o trabalhador não transfere nada material Storch Cours décon polit São Petersburgo 1815 t II p 367 51 Um exemplo Em Londres existem dois tipos de padeiros os full priced que vendem o pão por seu valor inteiro e os undersellers que o vendem abaixo desse valor Essa última classe forma mais do que 34 do total de padeiros p XXXII do Report do comissário governamental H S Tremenheere sobre as Grievances Complained of by the Journeymen Bakers etc Londres 1862 Esses undersellers vendem quase sem exceção um pão falsificado pela adição de alume sabão potassa calcário pó de pedra de Derbyshire e outros agradáveis nutritivos e saudáveis ingredientes Ver o supracitado Blue Book bem como o relatório do Committee of 1885 on the Adulteration of Bread e o relatório do dr Hassall Adulterations Detected 2 ed Londres 1861 Sir John Gordon afirmou perante a comissão de 1855 que em consequência dessas falsificações o pobre que vive diariamente de 2 libras de pão agora não obtém a quarta parte de seu real valor nutritivo sem falar nos efeitos nocivos à sua saúde Como razão pela qual uma grande parte da classe trabalhadora muito embora bem informada sobre essas falsificações aceita alume pó de pedra etc como parte de sua compra Tremenheere Grievances Complained of by the Journeymen Bakers etc cit p XLVIII argumenta que para esses trabalhadores é uma questão de necessidade aceitar o pão do padeiro ou do chandlers shop merceeiro do modo como eles o fornecem Uma vez que são pagos apenas ao final da semana de trabalho eles também só podem pagar no final da semana o pão que é consumido pela sua família durante a semana e acrescenta Tremenheere citando testemunhas É notório que o pão preparado com tais misturas é feito expressamente para ser vendido dessa maneira It is notorious that bread composed of those mixtures is made expressly for sale in this manner Em muitos distritos agrícolas ingleses e mais ainda nos escoceses o salário é pago a cada catorze dias ou até mesmo mensalmente Com esse longo prazo de pagamento o trabalhador tem de comprar suas 628 mercadorias a crédito Ele tem de pagar preços mais altos e está de fato preso ao estabelecimento que lhe fornece crédito Assim em Horningham por exemplo onde o salário é pago mensalmente a mesma quantidade de farinha que ele poderia comprar em outro lugar por 1 xelim e 10 pence custalhe 2 xelins e 4 pence Sixth Report on Public Health by The Medical Officer of the Privy Council etc Londres 1864 p 264 Em 1853 os trabalhadores das estamparias de calico de Paisley e Kilmarnock oeste da Escócia forçaram por meio de uma greve a redução do prazo de pagamento de um mês para catorze dias Reports of the Inspectors of Factories for 31 Oct 1853 p 34 Como um resultado adicional do crédito que o trabalhador dá ao capitalista podese considerar também o método empregado em muitas minas de carvão inglesas onde o trabalhador só é pago ao final do mês e nesse intervalo recebe adiantamentos do capitalista frequentemente em mercadorias que ele é obrigado a pagar acima de seu preço de mercado truck system It is a common practice with the coal masters to pay once a month and advance cash to their workmen at the end of each intermediate week The cash is given in the shop the men take it on one side and lay it out on the other É uma prática comum aos donos de minas de carvão pagar os trabalhadores uma vez por mês e nesse ínterim ao final de cada semana dar a eles um adiantamento Tal adiantamento lhes é dado na loja isto é no almoxarifado da mina ou na mercearia que pertence ao próprio patrão Os trabalhadores recebem o dinheiro de um lado da loja e o devolvem do outro lado Childrens Employment Commission III Report Londres 1864 p 38 n 192 Greve no original consta strike Em O capital Marx utiliza esse termo ora em sua forma original inglesa ora em sua forma germanizada Strike usual na época A palavra alemã Streik surgiria apenas mais tarde em 1890 Na presente tradução empregamos greve em todas as ocorrências do termo sem diferenciação das formas adotadas por Marx N T 629 1 The earths spontaneous productions being in small quantity and quite independent of man appear as it were to be furnished by nature in the same way as a small sum is given to a young man in order to put him in a way of industry and of making his fortune Os frutos espontâneos da terra sendo em pequena quantidade e inteiramente independentes do homem parecem ser fornecidos pela natureza do mesmo modo como se dá a um jovem uma pequena soma de dinheiro para que ele se inicie na indústria e faça fortuna James Steuart ed Principles of Polit Econ Dublin 1770 v I p 116 2 A razão é tão astuciosa quanto poderosa Sua astúcia consiste principalmente em sua atividade mediadora que fazendo que os objetos ajam e reajam uns sobre os outros de acordo com sua própria natureza realiza seu propósito sem intervir diretamente no processo G W F Hegel Enzyklopädie Enciclopédia das ciências filosóficas primeira parte Die Logik A lógica Berlim 1840 p 382 3 Em seu de resto miserável escrito Théorie de lécon polit Paris 1815 Ganilh enumera em contraposição aos fisiocratas a longa série dos processos de trabalho que formam o pressuposto da agricultura propriamente dita 4 Em Réflexions sur la formation et la distribution des richesses 1766 Turgot demonstra corretamente a importância dos animais domesticados para os inícios da civilização 5 De todas as mercadorias são os artigos de luxo os menos importantes para a comparação tecnológica entre as diferentes épocas de produção 5a Nota à segunda edição Por mais ínfimo que seja o conhecimento que a historiografia de nossos dias possui do desenvolvimento da produção material portanto da base de toda vida social e por conseguinte de toda história efetiva ao menos a época préhistórica tem sido classificada com base não em assim chamadas pesquisas históricas mas em pesquisas das ciências naturais de acordo com os materiais de que eram feitos os instrumentos e as armas na Idade da Pedra do Bronze e do Ferro a Essa frase remete ao jogo de palavras de Goethe no Fausto no qual os termos Gespenst fantasma e Gespinst fio trama são unidos para formar uma palavra mágica de invocação de fantasmas Diz Mefistófeles no verso célebre Mit HexenFexen mit GespenstGespinsten Kielkröpfigen Zwergen steh ich gleich zu Diensten Com bruxas trasgos monstros de feitiço sempre e tão logo estou a teu serviço J W F Goethe Fausto cit p 254 Marx alude aqui portanto ao caráter fantasmagórico da mercadoria N T 6 Parece paradoxal por exemplo considerar o peixe ainda não pescado como um meio de produção da pesca Porém até o momento ainda não se inventou a arte de pescar peixes em águas onde eles não se encontrem 7 Essa determinação do trabalho produtivo tal como ela resulta do ponto de vista do processo simples de trabalho não é de modo algum suficiente para ser aplicada ao processo capitalista de produção 8 Storch distingue entre a matériaprima propriamente dita a matière e as matérias auxiliares os matériaux Cherbuliez denomina as matérias auxiliares de matières instrumentales Henri Storch Cours déconomie politique ou exposition des principes qui determinent la prospérité des nations São Petersburgo 1815 v 1 p 228 A Cherbuliez Richesse ou pauvreté Exposition des causes et des effets de la distribution actuelle des richesses sociales Paris 1841 p 14 N E A MEW b Na quarta edição desse produto N E A MEW c Plural de jugerum unidade de medida romana equivalente a 2529 acres N T 9 É a partir desse fundamento extremamente lógico que o coronel Torrens descobre na pedra do selvagem a origem do capital Na primeira pedra que o selvagem arremessa contra a fera que ele persegue no primeiro varapau que ele pega para arrancar o fruto que sua mão não consegue alcançar vemos a apropriação de um artigo para o propósito da aquisição de outro e assim descobrimos a origem do capital R Torrens An Essay on the Production of Wealth Londres 1821 p 701 10 Os produtos são apropriados antes de serem transformados em capital essa transformação não os livra de tal apropriação Cherbuliez Richesse ou Pauvreté cit p 54 O proletário ao vender seu trabalho por uma determinada quantidade de meios de subsistência approvisionnement renuncia completamente a qualquer participação no produto A apropriação do produto permanece a mesma que antes ela não se altera em nada pela convenção mencionada O produto pertence exclusivamente ao capitalista que fornece a matériaprima e o approvisionnement Essa é uma rigorosa consequência da lei da apropriação cujo princípio fundamental era ao contrário o de que todo trabalhador tem o exclusivo direito de propriedade sobre seu produto ibidem p 58 E diz James Mill em Elements of Pol Econ etc p 701 Quando os trabalhadores trabalham em troca de salários o capitalista é proprietário não apenas do capital que significa aqui os meios de produção mas também do trabalho of the labour also Se o que 630 é pago como salário está incluído como costuma ser o caso no conceito de capital então é absurdo falar de trabalho separado do capital A palavra capital inclui nesse sentido tanto o capital quanto o trabalho 11 Not only the labour applied immediately to commodities affects their value but the labour also which is bestowed on the implements tools and buildings with which such labour is assisted Não apenas o trabalho imediatamente aplicado nas mercadorias influencia seu valor mas também o trabalho que foi empregado nos implementos ferramentas e edifícios que auxiliam no trabalho imediatamente despendido Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 16 12 As cifras são aqui totalmente arbitrárias 13 Tal é a tese fundamental irrefutável para a economia ortodoxa sobre a qual se baseia a doutrina fisiocrata da improdutividade de todo trabalho agrícola Cette façon dimputer à une seule chose la valeur de plusieurs autres dappliquer pour ainsi dire couche sur couche plusieurs valeurs sur une seule fait que celleci grossit dautant Le terme daddition peint trèsbien la manière dont se forme le prix des ouvrages de main dœuvre ce prix nest quun total de plusieurs valeurs consommées et additionnées ensemble or additionner nest pas multiplier Essa forma de imputar a uma única coisa o valor de muitas outras por exemplo imputar ao linho o consumo do tecelão de aplicar por assim dizer em camadas diversos valores sobre um único faz com que este último aumente na mesma medida dessas camadas O termo adição serve muito bem para descrever a maneira pela qual se forma o preço dos produtos manufaturados tal preço é apenas uma soma total de diversos valores consumidos e agrupados porém adicionar não é multiplicar Mercier de la Rivière Lordre naturel et essentiel des sociétés politiques cit p 599 14 Assim por exemplo entre 1844 e 1847 ele retirou parte de seu capital do setor produtivo a fim de especular em ações ferroviárias Do mesmo modo durante a guerra civil americana ele fechou sua fábrica e abandonou seus operários à indigência a fim de especular em ações de algodão de Liverpool 15 Deixe que eles se exaltem adornem e enfeitem Mas quem toma mais ou algo melhor do que dá é um usurário e o que alguém assim faz é não prestar serviço mas trazer prejuízo a seu próximo como seria o caso se ele furtasse e roubasse Nem tudo o que se chama serviço e boa ação ao próximo é realmente serviço e benefício pois um adúltero e uma adúltera prestam um ao outro um grande serviço e benefício Um cavaleiro presta um grande serviço cavaleiresco a um assassino e incendiário quando o ajuda a roubar nas estradas e a arruinar terras e gentes Os papistas prestam um grande serviço ao nosso povo ao não afogálo queimálo assassinálo e deixálo apodrecer na prisão mas permitir que alguns vivam e então banilos ou despojálos de tudo o que possuem Até mesmo o diabo presta a seus servidores um grande e inestimável serviço Em suma o mundo está cheio de grandes e excelentes serviços e boas ações cotidianas Martinho Lutero An die Pfarrherrn wider den Wucher zu predigen Wittenberg 1540 16 Em Zur Kritik der Pol Ök Contribuição à crítica da economia política cit p 14 observo entre outras coisas o seguinte Compreendese qual serviço a categoria serviço service tem de prestar a economistas do tipo de J B Say e F Bastiat d Paráfrase das palavras de Fausto Der Kasus macht mich lachen O caso me faz rir J W Goethe Quarto de estudos em Fausto N T e Aforismo do romance satírico de Voltaire Cândido ou o otimismo N E A MEW f Como se estivesse possuído de amor no original als hättes Liebim Leibe literalmente como se tivesse amor no corpo Citação de J W Goethe Fausto primeira parte quadro VI cena I que aparece no contexto da reação de uma ratazana recémenvenenada N T 17 Essa é uma das circunstâncias que encarecem a produção baseada na escravidão Nesta segundo a expressão certeira dos antigos o trabalhador é um instrumentum vocale ferramenta falante distinto do animal o instrumentum semivocale ferramenta semifalante e da ferramenta morta o instrumentum mutum ferramenta muda Mas ele mesmo faz questão de deixar claro ao animal e à ferramenta que não é um deles mas um homem Ele alimenta em si mesmo a convicção de sua diferença em relação a eles tratandoos com impiedade e arruinandoos con amore É por isso que nesse modo de produção vale o princípio econômico de empregar apenas os instrumentos de trabalho mais rudes e pesados porém difíceis de danificar justamente em virtude desse seu irremediável desajeitamento Até o início da guerra civil ainda se podiam encontrar nos estados escravistas do Golfo do México arados construídos segundo o modelo dos antigos arados chineses que reviravam a terra como um porco ou uma toupeira em vez de sulcála Cf J E Cairnes The Slave Power Londres 1862 p 46s Em seu Seaboard Slave States p 46 relata Olmsted I am here shown tools that no man in his senses with us would allow a labourer for whom he was paying wages to be encumbered with and the excessive weight and clumsiness of which I would judge would make work at least ten per cent greater than with those ordinarily used with us And I am assured that in the careless and clumsy way they must be used by the slaves anything lighter or less rude could not be furnished them with good economy and that such tools as we constantly give our 631 labourers and find our profit in giving them would not last out a day in a Virginia cornfield much lighter and more free from stones though it be than ours So too when I ask why mules are so universally substituted for horses on the farm the first reason given and confessedly the moat conclusive one is that horses cannot bear the treatment that they always must get from the negroes horses are always soon foundered or crippled by them while mules will bear cudgelling or lose a meal or two now and then and not be materially injured and they do not take cold or get sick if neglected or overworked But I do not need to go further than to the window of the room in which I am writing to see at almost any time treatment of cattle that would insure the immediate discharge of the driver by almost any farmer owning them in the North Deparei me aqui com ferramentas que entre nós ninguém em sã consciência forneceria a seu trabalhador assalariado e creio que o peso excessivo e o desajeitamento de tais ferramentas tornam o trabalho no mínimo dez vezes mais dificultoso do que com as ferramentas normalmente usadas entre nós E estou certo de que pela forma descuidada e desajeitada com que elas têm de ser usadas pelos escravos não se poderia fornecer a eles de modo economicamente proveitoso nada mais leve ou menos rude e que ferramentas tais como a que fornecemos constantemente a nossos trabalhadores e que nos são lucrativas não durariam um dia sequer numa lavoura da Virgínia cuja terra é muito mais leve e livre de pedras do que a nossa Do mesmo modo quando pergunto por que as mulas substituem os cavalos em todas as fazendas a primeira resposta que recebo e de fato a mais convincente é a de que os cavalos não são capazes de aguentar o tratamento que recebem constantemente dos negros os cavalos são rapidamente estropiados e aleijados por eles ao passo que as mulas aguentam os maustratos e podem ficar sem um ou dois repastos sem que isso lhes prejudique materialmente e tampouco se resfriam ou adoecem quando descuidadas ou sobrecarregadas Mas não preciso ir além da janela do quarto de onde escrevo para ver a qualquer hora do dia um tratamento do gado que em quase qualquer fazenda do Norte provocaria o imediato afastamento do empregado pelo fazendeiro 18 A diferença entre trabalho superior e inferior trabalho qualificado e não qualificado repousa em parte em meras ilusões ou no mínimo diferenças que há muito deixaram de ser reais e continuam a existir apenas em convenção tradicional e em parte no desamparo de certas camadas da classe trabalhadora que dispõem de menos condições do que as outras de se beneficiar do valor de sua força de trabalho Circunstâncias acidentais desempenham nisso um papel tão grande que esses dois tipos de trabalho às vezes trocam de lugar Onde por exemplo a substância física da classe trabalhadora está enfraquecida e relativamente esgotada como é o caso em todos os países de produção capitalista desenvolvida os trabalhos geralmente brutais que exigem grande força muscular passam a ser considerados superiores em comparação a formas de trabalho muito mais refinadas que são assim rebaixadas ao grau de trabalho inferior Por exemplo o trabalho de um bricklayer pedreiro na Inglaterra ocupa um grau muito superior ao trabalho de um tecelão de damasco Por outro lado o trabalho de um fustian cutter tosador de fustão embora custe muito esforço físico e seja além de tudo extremamente insalubre é considerado trabalho simples E seria um erro pensar que o assim chamado trabalho qualificado ocupa um espaço quantitativamente mais significativo no trabalho nacional Laing calcula que na Inglaterra e País de Gales existam 11 milhões de pessoas ocupadas com trabalhos simples Se dos 18 milhões de pessoas que à época de seu escrito constituíam a população total deduzirmos um milhão de aristocratas um milhão e meio de miseráveis vagabundos criminosos prostitutas etc e uma classe média de 4650000 obteremos os 11 milhões mencionados Ocorre que nessa classe média ele inclui pessoas que vivem da renda de pequenos investimentos funcionários escritores artistas professores etc e para chegar a esses 423 milhões ele também inclui na parte trabalhadora da classe média além dos banqueiros etc aqueles trabalhadores fabris que recebem salários maiores Também os bricklayers estão incluídos entre os trabalhadores potencializados S Laing National Distress Its Causes and Remedies Londres 1844 p 4952 passim The great class who have nothing to give for food but ordinary labour are the great bulk of the people A grande classe que não tem nada a oferecer em troca de comida a não ser o trabalho comum forma a grande massa do povo James Mill Colony suplemento na Encyclopedia Britannica 1831 19 Where reference is made to labour as a measure of value it necessarily implies labour of one particular kind the proportion which the other kinds bear to it being easily ascertained Onde se faz referência ao trabalho como uma medida de valor está necessariamente implicado o trabalho de um tipo particular podendose facilmente estabelecer a proporção em que outros trabalhos se encontram em relação a ele J Cazenove Outlines of Polit Economy Londres 1832 p 223 632 20 Labour gives a new creation for one extinguished O trabalho dá uma nova criação a uma que foi extinguida em An Essay on the Polit Econ of Nations Londres 1821 p 13 21 Não se trata aqui de reparos nos meios de trabalho nas máquinas nas instalações das fábricas etc Uma máquina que está em conserto não funciona como meio de trabalho mas como material de trabalho Não se trabalha com ela mas ela mesma é trabalhada a fim de restaurar seu valor de uso Para nossos fins podemos incluir tais trabalhos de reparação como parte do trabalho requerido para a produção dos meios de trabalho Em nossa exposição porém tratase do desgaste que nenhum doutor pode curar e que acarreta gradualmente a morte that kind of wear which cannot be repaired from time to time and which in the case of a knife would ultimately reduce it to a state in which the cutler would say of it it is not worth a new blade daquele tipo de consumo que não pode ser reposto de tempos em tempos e que no caso de uma faca a reduziria a um estado tal que o faqueiro diria não valer mais a pena trocar sua lâmina Em nossa exposição vimos por exemplo que uma máquina entra de modo inteiro em todo processo singular de trabalho mas apenas de modo fracionado no processo simultâneo de valorização A partir daí podemos julgar a confusão conceitual presente na seguinte passagemMr Ricardo speaks of the portion of the labour of the engineer in making stocking machines O sr Ricardo fala que a porção de trabalho que um engenheiro mecânico gasta na construção de uma máquina de confecção de meias está contida por exemplo no valor de um par de meias Yet the total labour that produced each single pair of stockings includes the whole labour of the engineer not a portion for one machine makes many pairs and none of those pairs could have been done without any part of the machine No entanto o trabalho total que produziu cada par de meias inclui o trabalho total do engenheiro não apenas uma porção dele pois uma máquina confecciona muitos pares e nenhum desses pares poderia ter sido confeccionado sem qualquer uma das partes da máquina em Observations on Certain Verbal Disputes in Pol Econ Particularly Relating to Value and to Demand and Supply Londres 1821 p 54 O autor um wiseacre sabichão incomumente autossatisfeito está certo em sua confusão e consequentemente em sua polêmica apenas na medida em que nem Ricardo nem qualquer outro economista antes ou depois dele distinguiu com exatidão os dois aspectos do trabalho e menos ainda portanto analisou seus diferentes papéis na formação do valor a Literalmente pó do diabo fibra obtida a partir do algodão ou lã de baixa qualidade Em A situação da classe trabalhadora na Inglaterra São Paulo Boitempo 2007 p 1089 diz Engels E se alguma vez excepcionalmente o operário pode comprar um paletó de lã para uso dominical vai às lojas mais barateiras onde lhe oferecem um tecido ordinário chamado devils dust feito só para ser vendido não para ser usado e que ao fim de quinze dias está esgarçado ou rasgado N T 22 Percebese assim o absurdo de J B Say que quer derivar o maisvalor juro lucro renda dos services productifs serviços produtivos que os meios de produção a terra os instrumentos o couro etc prestam ao processo de trabalho por meio de seus valores de uso O sr Wilhelm Roscher que dificilmente perde uma ocasião de deixar registradas suas fantasias apologéticas exclama J B Say Traité t 1 c 4 observa muito corretamente que o valor produzido por um moinho de óleo após a dedução de todos os custos é algo novo algo essencialmente distinto do trabalho por meio do qual o próprio moinho de óleo foi produzido Wilhelm Roscher Die Grundlagen der Nationalökonomie cit p 82 nota Muito correto O óleo produzido pelo moinho é de fato algo muito diferente do trabalho realizado para a construção do moinho E por valor o sr Roscher entende coisas como o óleo pois o óleo tem valor apesar de a natureza produzir petróleo mesmo que relativamente em pequena quantidade fato que ele parece referir em sua próxima observação Ela a natureza não produz quase nenhum valor de troca ibidem p 79 Em Roscher a natureza se relaciona com o valor de troca do mesmo modo como a virgem que admite ter dado à luz um filho mas afirma que este era bem pequenininho O mesmo sério erudito savant sérieux observa ainda na continuação da passagem anteriormente citada A escola de Ricardo também costuma subsumir o capital ao conceito de trabalho como trabalho poupado Isso é inabilidoso porque de fato o possuidor de capital realizou no final das contas mais do que a mera criação e conservação deste que este justamente a abstenção das próprias fruições para a qual ele cobra por exemplo juros ibidem p 82 Que habilidoso esse método anatômicofisiológico da economia política que a partir do mero desejo desenvolve de fato no final das contas justamente o valor 22a Of all the instruments of the farmers trade the labour of man is that on which he is most to rely for the re payment of his capital The other two the working stock of the cattle and the carts ploughs spades and so forth without a given portion of the first are nothing at all De todos os instrumentos do negócio agrícola o trabalho do homem é o principal fator em que o agricultor deve se basear para a reposição de seu capital Os outros dois fatores o gado e os carros arados enxadas etc não são absolutamente nada sem uma dada porção do primeiro Edmund Burke Thoughts and Details on Scarcity Originally Presented to the Rt Hon W Pitt in the Month 633 of November 1795 Londres 1800 p 10 23 No Times de 26 de novembro de 1862 um fabricante cuja fábrica de fiação emprega 800 trabalhadores e consome semanalmente em média 150 fardos de algodão das Índias Orientais ou cerca de 130 fardos de algodão americano vem a público reclamar dos custos anuais de sua fábrica quando esta não está produzindo Ele estima esses custos em 6000 anuais Entre esses gastos encontramse muitos itens que não nos concernem aqui como renda fundiária impostos taxas de seguros salários pagos aos trabalhadores fixos ao gerente ao contador ao engenheiro etc A isso ele acrescenta então 150 de carvão para o aquecimento esporádico da fábrica e para o funcionamento eventual da máquina a vapor além dos salários dos trabalhadores que trabalham apenas ocasionalmente para manter a maquinaria em forma Por fim são computadas 1200 para a depreciação da maquinaria pois the weather and the natural principle of decay do not suspend their operations because the steamengine ceases to revolve o tempo e as causas naturais de degradação não suspendem sua ação porque a máquina a vapor parou de funcionar E ainda afirma enfaticamente ter estimado em apenas 1200 esse valor de depreciação pelo fato de sua maquinaria já estar altamente desgastada 24 Productive Consumption where the consumption of a commodity is a part of the process of production In these instances there is no consumption of value Consumo produtivo quando o consumo de uma mercadoria é uma parte do processo de produção Nesses casos não há nenhum consumo de valor S P Newman Elements of Polit Econ cit p 296 25 Num compêndio norteamericano que talvez tenha sido reeditado umas vinte vezes lêse It matters not in what form capital reappears The various Kinds of food clothing and shelter necessary for the existence and comfort of the human being are also changed They are consumed from time to time and their value reappears in that new vigour imparted to his body and mind forming fresh capital to be employed again in the work of production Não importa sob que forma o capital reaparece Depois de uma prolixa enumeração de todos os ingredientes possíveis da produção cujos valores reaparecem no produto a passagem conclui que Os vários tipos de alimentos roupas e habitação necessários à existência e ao conforto do ser humano também se modificam Eles são consumidos de tempos em tempos e seu valor reaparece naquele vigor renovado que conferem ao corpo e à mente de quem os consome formando assim capital novo a ser novamente empregado no trabalho produtivo F Wayland The Elements of Pol Econ cit p 32 Abstraindose de todas as outras extravagâncias basta observar que o que reaparece na força renovada não é o preço do pão mas suas substâncias formadoras do sangue O que ao contrário reaparece como valor dessa força não é o conjunto dos meios de subsistência mas seu valor Os mesmos meios de subsistência se custassem apenas a metade produziriam a mesma quantidade de músculos ossos etc em suma a mesma força porém não de mesmo valor Essa confusão de valor com força somada a toda a indefinição farisaica de nosso autor escondem a tentativa certamente vã de obter um maisvalor a partir de meras reaparições de valores preexistentes 26 Toutes les productions dun même genre ne forment proprement quune masse dont le prix se détermine en général et sans égard aux circonstances particulières Todas as produções de um mesmo gênero formam na verdade apenas uma massa cujo preço é determinado em geral e independentemente de circunstâncias particulares Le Trosne De lintérêt social cit p 893 634 26a If we reckon the value of the fixed capital employed as a part of the advances we must reckon the remaining value of such capital at the end of the year as a part of the annual returns Se incluímos o valor do capital fixo empregado no processo na parte do capital adiantado temos no final do ano de computar o valor restante desse capital como uma parte da receita anual Malthus Princ of Pol Econ 2 ed Londres 1836 p 269 27 Nota à segunda edição É evidente como diz Lucrécio De rerum natura Sobre a natureza das coisas livro 1 versos 1567 que nil posse creari de nihilo Do nada não se pode criar nada Criação de valor é transformação da força de trabalho em trabalho Por sua vez a força de trabalho é antes de mais nada matéria natural transferida ao organismo humano 28 Do mesmo modo que os ingleses empregam os termos rate of profits rate of interest etc No Livro III desta obra veremos que a taxa de lucro é fácil de ser compreendida quando se conhecem as leis do maisvalor Do contrário não se compreende ni lun ni lautre nem uma nem outra 28a Nota à terceira edição O autor recorre aqui à linguagem econômica usual Lembremos que na p 24850 é demonstrado que na realidade é o trabalhador quem adianta ao capitalista e não este ao trabalhador F E 29 Até o momento empregamos neste escrito o termo tempo necessário de trabalho para o tempo socialmente necessário à produção de uma mercadoria A partir de agora também o utilizamos para designar o tempo de trabalho necessário à produção desta mercadoria específica a força de trabalho O uso dos mesmos termini technici termos técnicos em sentidos diferentes é inconveniente porém impossível de ser evitado em qualquer ciência Compare por exemplo as áreas mais elevadas com as mais baixas da matemática 30 Com uma genialidade digna de Gottsched o sr Wilhelm Tucídides Roscher descobre que se por um lado a formação de maisvalor ou maisprodução e a acumulação que dela decorre é atualmente devida à abstinência do capitalista que por ela cobra por exemplo juros por outro lado nos estágios mais baixos da civilização são os mais fortes que obrigam os mais fracos a economizar Die Grundlagen der Nationalökonomie cit p 82 78 Economizar trabalho Ou produtos supérfluos que não existem Além da ignorância é o recuo apologético diante de uma análise devida do valor e do maisvalor e o medo de chegar a resultados indesejáveis que força autores como Roscher a apresentar como razões do surgimento do maisvalor as justificativas mais ou menos plausíveis que o próprio capitalista apresenta para sua apropriação do maisvalor Genialidade digna de Gottsched referência irônica ao escritor e crítico literário alemão Johann Christoph Gottsched que desempenhou um papel relativamente positivo na literatura porém ao mesmo tempo deu mostras de uma extraordinária intolerância em relação a novas correntes literárias Seu nome se tornou por isso sinônimo de arrogância e estupidez literárias N E A MEW Marx aplica a Wilhelm Roscher a alcunha irônica de Wilhelm Tucídides Roscher porque este no prefácio à primeira edição de seu livro Fundamentos da economia política proclamara a si mesmo com muita modéstia diz Marx como o Tucídides da economia política Cf Karl Marx Theorien über den Mehrwert Teorias do maisvalor Berlim 1962 terceira parte p 499 N E A MEW 30a Nota à segunda edição Embora seja a expressão exata do grau de exploração da força de trabalho a taxa de mais valor não serve como expressão da grandeza absoluta da exploração Por exemplo se o trabalho necessário é 5 horas e o maistrabalho é 5 horas o grau de exploração é 100 A grandeza da exploração é medida aqui em 5 horas Se o trabalho necessário é 6 horas e o maistrabalho é 6 horas o grau de exploração continua a ser de 100 enquanto a grandeza da exploração cresceu 20 de 5 para 6 horas a O termo harmonistas referese às obras de Henry Charles Carey e Claude Frédéric Bastiat intituladas respectivamente The Harmony of Interests Agricultural Manufacturing Commercial Filadélfia 1851 e Harmonies économiques Paris 1851 Em ambas as obras partindo da ideia de que os interesses de todos os membros da sociedade são harmônicos os autores defendem a tese liberal clássica de que o mercado pode e deve operar sem a necessidade de qualquer intervenção governamental N T 31 Nota à segunda edição O exemplo dado na primeira edição que se baseava numa fábrica de fiação no ano de 1860 continha um erro fático Os dados corretos que ora apresento foramme fornecidos por um fabricante de Manchester É importante ressaltar que na Inglaterra o antigo cavalovapor era calculado de acordo com o diâmetro de seu cilindro ao passo que o novo é calculado segundo a potência efetiva mostrada por um diagrama indicador b William Jacob A Letter to Samuel Withbread Being a Sequel to Considerations on the Protection Required by British Agriculture Londres 1815 p 33 N E A MEW 31a Os cálculos aqui apresentados servem apenas como ilustração Neles pressupomos que preços valores No Livro III desta obra veremos que essa equiparação não pode ser feita dessa forma simples nem mesmo no caso de preços médios 635 c As Factory Acts leis fabris foram uma série de leis elaboradas pelo Parlamento Inglês para a regulação do trabalho nas fábricas como a duração da jornada de trabalho o trabalho infantil etc Marx se refere aqui à lei de 1833 que introduziu importantes limitações ao trabalho infantil N T 32 Nassau W Senior Letters on the Factory Act as It Affects the Cotton Manufacture Londres 1837 p 123 Deixaremos de lado algumas curiosidades que não importam para nosso propósito como a afirmação de que os fabricantes incluem a reposição da maquinaria desgastada etc portanto de um componente do capital no ganho seja ele bruto ou líquido Também deixaremos de lado a questão da correção ou falsidade dos números apresentados Que eles têm tanto valor quanto a assim chamada análise de Senior é algo que foi demonstrado por Leonard Horner em A Letter to Mr Senior etc Londres 1837 Leonard Horner um dos factory inquiry comissioners comissários para a inspeção das fábricas de 1833 e ocupando o cargo de inspetor ou melhor censor de fábricas até 1859 prestou um serviço inestimável à classe trabalhadora inglesa Ao longo de toda sua vida Horner travou uma luta não só contra os ferozes fabricantes mas também contra os ministros para quem os votos dos fabricantes na Câmara Baixa tinham muito mais importância do que o número de horas que a mão de obra trabalhava nas fábricas Adendo à nota 32 Como se não bastasse a falsidade de seu conteúdo a exposição de Senior ainda é confusa O que ele realmente quer dizer é o seguinte o fabricante emprega os trabalhadores por 11½ ou 232 horas diárias Tal como a jornada de trabalho singular também o trabalho anual consiste em 11½ ou 232 horas multiplicadas pelo número de jornadas de trabalho em um ano A partir desse pressuposto as 232 horas de trabalho produzem um valor anual de 115000 12 hora de trabalho produz 123 115000 202 horas de trabalho produzem 2023 115000 100000 ie apenas repõem o capital adiantado Sobram 32 horas de trabalho que produzem 323 115000 15000 ie o ganho bruto Dessas 32 horas de trabalho 12 hora de trabalho produz 123 115000 5000 isto é produz apenas o valor de reposição do desgaste da fábrica e da maquinaria As duas últimas meias horas de trabalho isto é a última hora de trabalho produz 223 115000 10000 isto é o ganho líquido No texto que citamos Senior converte os últimos 223 do produto em porções da própria jornada de trabalho d Os quiliastas do grego cilioí mil pregavam a doutrina místicoreligiosa do retorno de Cristo e do estabelecimento do Reino Milenar sobre a terra Essa crença surgida na época da decadência da ordem escravocrata retornou mais tarde sob a forma de diversas seitas medievais N E A MEW 32a Se por um lado Senior provou que o ganho líquido dos fabricantes a existência da indústria inglesa de algodão e o domínio inglês no mercado mundial dependem da última hora de trabalho o dr Andrew Ure The Philosophy of Manufactures Londres 1835 p 406 provou que se crianças e jovens menores de 18 anos em vez de permanecerem 12 horas na atmosfera acolhedora e pura da fábrica forem expulsas 1 hora mais cedo e jogadas no hostil e frívolo mundo exterior elas serão privadas pelo ócio e pelo vício de toda esperança de salvação para suas almas Desde 1848 os inspetores de fábricas em seus Reports semestrais não se cansam de ridicularizar os fabricantes e sua última hora a hora fatal Assim diz o sr Howell em seu relatório de 31 de maio de 1855 Se este cálculo engenhoso estivesse correto ele cita Senior todo fabricante de algodão do Reino Unido teria tido um prejuízo constante desde 1850 Reports of the Insp Of Fact for the Half Year Ending 30th April 1855 p 1920 Em 1848 após a aprovação da Lei das 10 Horas pelo Parlamento os donos de fiações de linho espalhadas entre os condados de Dorset e Somerset imputaram a alguns de seus trabalhadores uma petição contrária que dizia entre outras coisas o seguinte Os peticionários que são pais creem que 1 hora adicional de lazer não terá outro efeito senão a desmoralização de seus filhos pois o ócio é a porta de entrada de todo vício Sobre isso diz o relatório de 31 de outubro de 1848 A atmosfera das fábricas de fiação em que trabalham os filhos desses virtuosos e carinhosos pais é carregada de tantas partículas de poeira e fibras de matériaprima que é extremamente desagradável permanecer em seu interior por apenas 10 minutos pois para isso é preciso suportar a mais terrível sensação de ter os olhos os ouvidos as narinas e a boca imediatamente invadidos por densas nuvens de poeira de linho das quais ninguém ali pode escapar O próprio trabalho requer em virtude do funcionamento febril da maquinaria uma incessante aplicação de habilidade e de movimento sob o controle de uma incansável atenção e parece ser um pouco duro demais fazer com que pais apliquem o termo ociosidade a seus próprios filhos que após a refeição são presos por 10 horas numa tal ocupação numa tal atmosfera Essas crianças trabalham mais tempo do que os servos rurais nas aldeias vizinhas Esse palavrório cruel sobre ócio e vício deveria ser condenado como a mais pura falsidade e a mais desbriada hipocrisia A parte do público que há cerca de 12 anos presenciou a proclamação pública e solene sob a sanção da alta autoridade de que o ganho líquido do fabricante derivava da última hora de trabalho de modo que a redução da jornada de trabalho em 1 hora eliminaria o ganho líquido essa parte do público como dizíamos não poderá acreditar no que seus olhos veem quando agora souber que a descoberta original sobre as virtudes da última hora sofreu desde então uma evolução tal que hoje engloba a moral tanto quanto o ganho de modo que se a duração do trabalho infantil for reduzida para 10 horas a moral das crianças se perderá juntamente com o ganho líquido de seus 636 empregadores uma vez que ambos dependem dessa hora última e fatal Repts of Insp of Fact For 31st Oct 1848 p 101 O mesmo relatório de fábrica fornece então alguns exemplos da moral e da virtude desses senhores fabricantes dos truques artifícios armadilhas ameaças falsificações etc que eles empregavam a fim de forçar alguns indefesos trabalhadores a assinar petições como essas e em seguida apresentálas ao Parlamento como petições que representavam um ramo inteiro da indústria ou um condado inteiro Altamente característico do presente estado da assim chamada ciência econômica é o fato de que nem o próprio Senior que posteriormente para o bem de sua honra apoiou energicamente a legislação fabril nem seus opositores de então nem seus críticos pósteros jamais foram capazes de demonstrar a falsidade dessa descoberta original Eles apelaram à experiência fatual Mas o why por que e o wherefore para que permaneceram um mistério 33 No entanto o sr professor lucrou algo com sua viagem a Manchester Nas Letters on the Factory Act ele faz com que o ganho líquido inteiro incluindo o lucro os juros e até something more algo mais dependam de uma única hora de trabalho não paga dos trabalhadores Um ano antes em sua Outlines of Political Economy escrita para a instrução de seus estudantes de Oxford e demais filisteus cultos ele já havia descoberto em oposição à determinação ricardiana do valor por meio do tempo de trabalho que o lucro provém do trabalho do capitalista e os juros resultam de seu ascetismo de sua abstinência A bobagem era velha mas a palavra abstinência era nova O sr Roscher a traduz corretamente por Enthaltung Alguns de seus compatriotas broncos e matutos alemães menos versados em latim do que ele deram ao termo uma versão monacal Entsagung renúncia 34 Para um indivíduo com um capital de 20000 cujos lucros foram de 2000 por ano é algo totalmente indiferente se seu capital emprega 100 ou 1000 trabalhadores se as mercadorias são vendidas por 10000 ou 20000 sempre pressupondose que seus lucros não caiam em hipótese alguma abaixo de 2000 Ora não se dá o mesmo com o interesse real de uma nação Pressupondose que sua receita líquida suas rendas e seus lucros permaneçam os mesmos não tem importância alguma se a nação consiste de 10 ou 12 milhões de habitantes Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 416 Muito tempo antes de Ricardo Arthur Young um fanático defensor do maisproduto e de resto um escritor prolixo e acrítico cuja fama é inversamente proporcional ao seu mérito dizia De que serviria num moderno reino uma província inteira cujo solo fosse cultivado ao modo da Roma Antiga isto é por pequenos e independentes agricultores Para que serviria um tal trabalho senão para o mero propósito de criar os homens the mere purpose of breeding men o que é no fim das contas um propósito dos mais inúteis is a most useless purpose Arthur Young Political Arithmetic etc Londres 1774 p 47 Adendo à nota 34 Muito curiosa é the strong inclination to represent net wealth as beneficial to the labouring class though it is evidently not on account of being net a forte inclinação a representar a riqueza líquida como benéfica à classe trabalhadora embora fique evidente que isso não se deve ao fato de ela ser líquida T Hopkins On Rent of Land etc Londres 1828 p 126 637 35 A days labour is vague it may be long or short Uma jornada de trabalho é vaga podendo ser longa ou curta em An Essay on Trade and Commerce Containing Observations on Taxation etc Londres 1770 p 73 36 Essa pergunta é infinitamente mais importante do que a famosa pergunta que sir Robert Peel fez à Câmara de Comércio de Birmingham What is a pound O que é 1 questão que só pôde ser formulada porque Peel tinha tão pouco conhecimento da natureza do dinheiro quanto os little shilling men de Birmingham Little shilling men homens do xelim pequeno de Birmingham representantes de uma teoria monetária na primeira metade do século XIX Seus adeptos professavam a doutrina da quantidade ideal de moeda e consequentemente concebiam o dinheiro apenas como uma unidade contábil Os representantes dessa escola os irmãos Thomas e Matthias Attwood Spooner e outros apresentaram um projeto sobre a diminuição da quantidade de ouro contida nas moedas inglesas que recebeu a alcunha de little shilling project A partir de então o termo foi aplicado à própria escola Ao mesmo tempo os little shilling men eram contrários às medidas governamentais voltadas à redução da quantidade de moeda em circulação Sua opinião era a de que a aplicação de sua teoria provocando o aumento artificial dos preços impulsionaria a indústria e asseguraria a prosperidade geral da nação Na realidade porém a desvalorização monetária proposta serviu apenas para saldar as dívidas do Estado e dos grandes empresários que eram os principais possuidores dos mais diversos créditos Marx também trata dos little shilling men em sua Contribuição à crítica da economia política N E A MEW a Termo usado nos mapas medievais para designar os limites do mundo conhecido N T 37 Dobtenir du capital dépensé la plus forte somme de travail possible A tarefa do capitalista é obter com o capital gasto a maior quantidade possível de trabalho J G CourcelleSeneuil Traité théorique et pratique des entreprises industrielles 2 ed Paris 1857 p 62 38 An Hours Labour lost in a day is a prodigious injury to a commercial state A perda de 1 hora de trabalho num dia é uma prodigiosa injúria a um Estado comercial There is a very great consumption of luxuries among the labouring poor of this kingdom particularly among the manufacturing populace by which they also consume their time the most fatal of consumption Há um enorme consumo de artigos de luxo entre os pobres trabalhadores deste reino particularmente entre os operários das manufaturas com isso porém eles também consomem o seu tempo e este é o mais fatal dos consumos em An Essay on Trade and Commerce etc cit p 47 153 39 Si le manouvrier libre prend un instant de repos léconomie sordide qui le suit des yeux avec inquiétude prétend quil la vole Se o operário livre desfruta de um instante de repouso a economia sórdida que o segue com olhos inquietos afirma que ele está a furtála N Linguet Théorie des lois civiles etc Londres 1767 t II p 466 b No original Sturm und Drang tempestade e ímpeto Ver nota f na p 85 N T 40 Durante a grande greve dos builders trabalhadores da construção civil de Londres em 18601861 para a redução da jornada de trabalho para 9 horas o comitê de greve publicou um manifesto que continha em certa medida o mesmo conteúdo da defesa de nosso trabalhador O manifesto alude não sem ironia ao fato de que o mais cúpido dos building masters empresários da construção um certo sir M Peto vivia em odor de santidade Esse mesmo Peto depois de 1867 teve o mesmo fim de Strousberg 41 Those who labour in reality feed both the pensioners called the rich and themselves Na realidade aqueles que trabalham alimentam tanto os pensionários chamados de ricos como também a si mesmos Edmund Burke Thoughts and Details on Scarcity Originally Presented to the Rt Hon W Pitt in the Month of November 1795 cit p 23 c Designação do ideal grego de excelência na vida militar e civil O termo é empregado por Marx no sentido estrito de aristocrata N T 42 Com extrema ingenuidade observa Niebuhr em sua História romana É evidente que obras como as etruscas cujas ruínas tanto nos impressionam pressupõem em pequenos Estados a existência de senhores e servos Sismondi com muito mais profundidade disse que as rendas de Bruxelas pressupõem a existência de senhores do salário e servidores assalariados 43 É impossível vermos esses infelizes nas minas de ouro entre o Egito a Etiópia e a Arábia que não podem sequer manter seus corpos limpos nem cobrir sua nudez sem nos compadecermos de seu destino lastimável Pois lá não há indulgência ou compaixão pelo doente pelo debilitado pelo ancião pela fraqueza feminina Abaixo de açoite todos são forçados a continuar a trabalhar até que a morte venha dar um fim a seus suplícios e padecimentos Diod Sic Historische Bibliothek cit livro 3 c 13 44 O que segue referese às condições das províncias romenas antes da revolução ocorrida desde a Guerra da Crimeia 638 44a Nota à terceira edição Isso vale também para a Alemanha e especialmente para a Prússia a Leste do Elba No século XV quase em toda parte o camponês alemão embora submetido ao pagamento de certas rendas em produtos e trabalho era um homem praticamente livre Os colonos alemães nas regiões de Brandemburgo Pomerânia Silésia e Prússia Oriental eram até mesmo reconhecidos legalmente como livres A vitória da nobreza nas guerras camponesas pôs um fim a essa situação Não apenas os vencidos camponeses do Sul da Alemanha foram reduzidos à servidão como também a partir de meados do século XVI os livres camponeses da Prússia Oriental de Brandemburgo da Pomerânia e da Silésia e logo depois também os de SchleswigHolstein Maurer Frohnhöfe v IV Meitzen Der Boden des preussischen Staats Hanssen Leibeigenschaft in SchleswigHolstein F E d Règlement organique de 1831 nome da primeira constituição dos Principados do Danúbio Moldávia e Valáquia ocupados pelas tropas russas em consequência do tratado de paz de Adrianópolis de 14 de setembro de 1829 que pôs fim à guerra russoturca de 18281829 De acordo com o Règlement elaborado por D P Kisselev chefe da administração desses principados o poder legislativo em cada principado ficava reservado à assembleia eleita pelos proprietários fundiários e o poder executivo era transferido aos hospodares eleitos vitaliciamente pelos representantes dos proprietários fundiários do clero e das municipalidades A antiga ordem feudal incluindo a corveia era conservada e o poder político ficava concentrado nas mãos dos proprietários Ao mesmo tempo o Règlement introduzia uma série de reformas próburguesas as barreiras alfandegárias internas eram abolidas passava a vigorar o livrecâmbio os tribunais eram separados da administração aos camponeses ficava permitido trocar de senhor e aboliase a tortura O Règlement organique foi suprimido durante a Revolução de 1848 N E A MEW e Provável erro dos editores alemães O correto seria 56 e não 54 N T 45 Mais detalhes podem ser encontrados em E Regnault Histoire politique et sociale des Principautés Danubiennes Paris 1855 46 Em geral e dentro de certos limites ultrapassar o tamanho médio de sua espécie é algo favorável à constituição de um ser orgânico No ser humano sua massa corporal diminui se seu processo de crescimento é prejudicado seja por condições físicas seja por condições sociais Em todos os países europeus que introduziram o recrutamento militar a massa corporal média dos homens adultos diminuiu e com ela também a aptidão desses homens para o serviço militar Antes da revolução 1789 a estatura mínima para os soldados da infantaria francesa era de 165 centímetros em 1818 lei de 10 de março ela passou para 157 e com a lei de 21 de março de 1832 para 156 centímetros na França em média mais da metade dos homens é rejeitada em razão de estatura insuficiente ou fraqueza física Em 1780 o padrão militar na Saxônia era de 178 centímetros agora é de 155 centímetros Na Prússia ele é de 157 centímetros De acordo com a afirmação do dr Meyer no Bayrischen Zeitung de 9 de maio de 1862 o resultado de uma média de 9 anos mostra que na Prússia 716 dos 1000 recrutados foram declarados inaptos para o serviço militar 317 por causa da baixa estatura e 399 por fraqueza corporal Em 1858 Berlim não pôde fornecer seu contingente de recrutas faltavam 156 homens J von Liebig Die Chemie in ihrer Anwendung auf Agrikultur und Physiologie 7 ed 1862 v I p 1178 47 A história da lei fabril de 1850 será tratada no decorrer deste capítulo 48 O período que vai do começo da grande indústria na Inglaterra até 1845 é tratado aqui apenas em linhas gerais Sobre esse assunto remeto o leitor à obra Die Lage der arbeitenden Klasse in England A situação da classe trabalhadora na Inglaterra de Friedrich Engels Leipzig 1845 O quão profunda é a compreensão que Engels tem do espírito do modo de produção capitalista o demonstram os Factory Reports Reports on Mines etc que foram publicados desde 1845 e o quão admirável é sua descrição detalhada das condições da classe trabalhadora é evidenciado quando se compara sua obra com os relatórios oficiais da Childrens Employment Commission 18631867 publicados de 18 a 20 anos depois Tais relatórios tratam especialmente de ramos da indústria nos quais a legislação fabril de 1862 ainda não fora introduzida e na verdade até hoje só foi introduzida parcialmente Em tais ramos portanto as condições retratadas por Engels não haviam sofrido nenhuma ou quase nenhuma alteração por interferência externa Meus exemplos são extraídos principalmente do período de livrecâmbio após 1848 aquele tempo paradisíaco com o qual os mascates do livrecâmbio tão falastrões quanto cientificamente degenerados tanto faucherizam os alemães De resto a Inglaterra só aparece aqui em primeiro plano por ser a representante clássica da produção capitalista e a única a possuir uma estatística oficial contínua dos objetos de que tratamos O verbo Vorfauchen aqui traduzido como faucherizar foi criado por Marx em referência às ideias do jornalista alemão Julius Faucher representante do livre cambismo e do liberalismo de Manchester N T 49 Suggestions etc by Mr L Horner Inspector of Factories em Factories Regulation Acts Ordered by the House of Commons to be printed 9 ago 1859 p 45 639 50 Reports of the Insp of Fact for the Half Year Oct 1856 p 35 51 Report etc 30th April 1858 p 9 52 Ibidem p 10 53 Ibidem p 25 54 Reports etc for the half year ending 30th April 1861 Ver apêndice n 2 Reports etc 31st Octob 1862 p 7 523 As transgressões se tornam mais numerosas a partir da segunda metade de 1863 Cf Reports etc Ending 31st Oct 1863 p 7 55 Reports etc 31st Oct 1860 p 23 Com que fanatismo de acordo com os depoimentos dos fabricantes nos tribunais sua mão de obra fabril se recusava a interromper seu trabalho é demonstrado pelo seguinte fato curioso No início de junho de 1836 os magistrados de Dewsbury Yorkshire foram informados de que os proprietários de 8 grandes fábricas nas proximidades de Batley haviam violado a legislação fabril Uma parte desses senhores foi acusada de ter obrigado 5 meninos entre 12 e 15 anos de idade a trabalhar das 6 horas da manhã de sextafeira até as 4 horas da manhã de sábado sem lhes permitir qualquer pausa para descanso além de 1 hora para a refeição e 1 hora de sono à meianoite E essas crianças tiveram de executar o incessante trabalho de 30 horas no shoddyhole que é o nome dado a esse buraco onde restos de algodão são triturados e um mar de poeira dejetos etc obriga até mesmo o trabalhador adulto a manter sempre amarrado um lenço sobre a boca a fim de proteger seus pulmões Os senhores acusados asseguraram em vez de jurar pois como quacres eles eram religiosos demais para prestar um juramento que com toda sua compaixão eles teriam permitido que as pobres crianças dormissem por 4 horas mas as obstinadas crianças não quiseram de modo algum ir para a cama Os senhores quacres foram condenados a pagar uma multa de 20 Dryden já pressentia esses quacres Fox full fraught in seeming sanctity That feared an oath but like the devil would lie That lookd like Lent and had the holy leer And durst not sin before he said his prayer Uma raposa plena de falsa santidade que mente como o diabo mas tem medo de um juramento que aparenta penitência mas lança um olhar lascivo E que não ousa pecar antes de ter rezado Dryden The Cock and the Fox or the Tale of the Nuns Priest 56 Rep etc 31st Oct 1856 p 34 57 Ibidem p 35 58 Ibidem p 48 59 Idem 60 Idem 61 Idem 62 Moments are the Elements of profit Rep of the Insp etc 30th April 1860 p 56 63 Essa é a expressão oficial tanto nas fábricas quanto nos relatórios de fábricas 64 The cupidity of millowners whose cruelties in pursuit of gain have hardly been exceeded by those perpetrated by the Spaniards on the conquest of America in the pursuit of gold A cupidez dos proprietários de fábricas cujas crueldades na busca do ganho não ficam aquém daquelas perpetradas pelos espanhóis na conquista da América em busca do ouro John Wade History of the Middle and Working Classes 3 ed Londres 1835 p 114 A parte teórica desse livro uma forma de Elementos de economia política contém para a sua época algo de original por exemplo a respeito das crises comerciais Já a parte histórica é um plágio descarado de sir M Edens The State of the Poor Londres 1797 65 Daily Telegraph Londres 17 jan 1860 f Her Majestys Most Honourable Privy Council Muito Honorável Conselho Privado de Sua Majestade corpo de conselheiros do monarca britânico composto de ministros e outros altos funcionários além de personalidades condecoradas Criado no século XIII o Privy Council exerceu por muito tempo direitos legislativos sendo responsável apenas perante o rei mas não perante o Parlamento Nos séculos XVIII e XIX a importância do Privy Council diminuiu consideravelmente e hoje perdeu toda e qualquer relevância prática na Inglaterra N E A MEW 66 Cf F Engels Die Lage der arbeitenden Klasse in England cit p 24951 ed bras A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit p 23941 67 Childrens Employment Commission First Report etc 1863 apêndice p 16 189 68 Public Health 3rd Report etc cit p 103 105 640 69 Childrens Employm Commission 1863 cit p 22 24 e XI 70 Ibidem p XLVII 71 Ibidem p LIV 72 Isso não deve ser entendido no nosso sentido de tempo de maistrabalho Esses senhores consideram a jornada de trabalho de 1012 horas como jornada normal que portanto também inclui o maistrabalho normal Apenas depois disso é que tem início o tempo excedente que é um pouco mais bem pago Em outra ocasião veremos que a utilização da força de trabalho durante a assim chamada jornada normal é paga abaixo de seu valor de modo que o tempo excedente é um mero truque capitalista para extorquir uma quantidade maior de maistrabalho e que ele continuaria a ser maistrabalho mesmo que a força de trabalho empregada durante a jornada normal fosse integralmente paga g Juvenal Sátiras IV N T 73 Childrens Employm Commission 1863 cit apêndice p 1235 140 e LXIV 74 Alume ralado ou misturado com sal é um artigo normal de comércio que leva o nome significativo de bakers stuff coisa do padeiro N T 75 A fuligem é sabidamente uma forma muito enérgica de carbono e constitui um adubo que os limpadores de chaminés capitalistas vendem a arrendatários ingleses Em 1862 o juryman jurado britânico teve de decidir num processo se a fuligem à qual se mistura sem o conhecimento do comprador 90 de pó e areia é fuligem verdadeira em sentido comercial ou fuligem adulterada em sentido legal Os amis du commerce amigos do comércio decidiram que ela é fuligem comercial verdadeira e julgaram improcedente a queixa do arrendatário que ainda teve de pagar os custos do processo h Referência à escola filosófica grega séculos VI e V a C cujos principais representantes foram Xenófanes Parmênides e Zenão N T 76 O químico francês Chevallier num tratado sobre as sophistications sofisticações das mercadorias encontrou em muitos dos mais de 600 artigos que ele fez passar em revista 10 20 30 métodos diferentes de adulteração Ele acrescenta que não conhece todos os métodos e não menciona todos que conhece Para o açúcar há 6 tipos de adulteração 9 para o azeite de oliva 10 para a manteiga 12 para o sal 19 para o leite 20 para o pão 23 para a aguardente 24 para a farinha 28 para o chocolate 30 para o vinho 32 para o café etc Nem mesmo Deus Todo Poderoso escapa desse destino Ver Rouard de Card De la falsification des substances sacramentelles Paris 1856 77 Report etc relating to the Grievances complained of by the Jorneymen Bakers etc Londres 1862 e Second Report etc Londres 1863 i Em Fahrenheit o correspondente a 238 e 322 graus Celsius N T 78 First Report etc p VIVII j Período do ano em que a elite britânica majoritariamente composta por aristocratas rurais instalavase na capital a fim de travar contatos sociais e engajarse na política A season londrina coincidia com o início das atividades do Parlamento e estendiase por aproximadamente cinco meses começando no fim de dezembro e encerrandose no fim de junho N T 79 First Report etc p LXXI 80 George Read The History of Baking Londres 1848 p 16 81 Report First etc Evidence declaração do full priced baker Cheesman p 108 82 George Read The History of Baking No fim do século XVII e início do século XVIII os factors atravessadores que se faziam presentes em todo comércio possível ainda eram oficialmente denunciados como public nuisances moléstias públicas Assim por exemplo na reunião quinzenal dos juízes de paz do Condado de Somerset o Grand Jury emitiu uma presentment representação à Câmara Baixa onde se diz entre outras coisas that these factors of Blackwell Hall are a Publick Nuisance and Prejudice to the Clothing Trade and ought to be put down as a Nuisance que atravessadores de Blackwell Hall são uma moléstia pública e causam prejuízo ao comércio de tecidos devendo por isso ser combatidos como elementos daninhos The Case of our English Wool etc Londres 1865 p 67 83 First Report etc p VIII 641 84 Report of Committee on the Baking Trade in Ireland for 1861 85 Idem 86 Reunião pública dos trabalhadores agrícolas em Lasswade na região de Glasgow de 5 de janeiro de 1866 Ver Workmans Advocate 13 jan 1866 A formação a partir do final de 1865 de um trade union sindicato dos trabalhadores agrícolas começando pela Escócia é um acontecimento histórico Num dos distritos agrícolas mais oprimidos da Inglaterra em Buckinghamshire os trabalhadores assalariados realizaram em março de 1867 uma grande greve pela elevação do salário semanal de 910 xelins para 12 xelins Adendo à terceira edição Vêse a partir dos fatos mencionados que o movimento do proletariado agrícola inglês que se encontrava destroçado desde a repressão aos seus violentos protestos após 1830 e principalmente depois da introdução da nova lei de assistência aos pobres ganha nova vida nos anos 1860 para enfim vir a marcar época em 1872 Retornarei a esse assunto no Livro II assim como aos Blue Books publicados desde 1867 sobre a situação dos trabalhadores rurais ingleses 87 Reynoldss Paper 21 jan 1866 Toda semana o mesmo jornal traz entre as sensational headings manchetes sensacionais Fearful and fatal accidents acidentes temíveis e fatais Appalling tragedies tragédias terríveis etc toda uma lista de novas catástrofes ferroviárias Sobre isso comenta um trabalhador da North Staffordlinie Qualquer um sabe as consequências que se podem obter se a atenção do maquinista e do foguista se desvia um instante de sua tarefa E como poderia ser diferente dado o prolongamento desmedido do trabalho no clima mais rigoroso sem pausa e períodos de descanso Tomemos como exemplo como ocorre diariamente o seguinte caso Na última segundafeira um foguista começou seu dia de trabalho muito cedo e o terminou após 14 horas e 50 minutos Antes que ele tivesse tempo de ao menos tomar seu chá foi chamado novamente ao trabalho Assim teve de trabalhar ininterruptamente por 29 horas e 15 minutos No restante da semana seu horário de trabalho foi o seguinte na quartafeira 15 horas e 35 minutos na sextafeira 1412 horas no sábado 14 horas e 10 minutos total da semana 88 horas e 30 minutos E agora imaginem sua surpresa quando recebeu apenas por 6 jornadas de trabalho O homem era um novato e perguntou o que se entendia por uma jornada de trabalho Resposta 13 horas portanto 78 horas por semana E quanto ao pagamento dessas 10 horas e 30 minutos adicionais Depois de uma longa contenda ele recebeu um bônus de 10 pence menos de 10 Silbergroschen tostões de prata Reynoldss Paper 4 fev 1866 88 Cf F Engels Die Lage der arbeitenden Klasse in England cit p 2534 ed bras A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit 89 Dr Letheby médico do Board of Health Departamento de Saúde declarou então O mínimo de ar necessário para um adulto num quarto de dormir é 300 pés cúbicos e numa sala de estar 500 pés cúbicos Dr Richardson médicochefe de um hospital de Londres Costureiras de todos os tipos modistas bordadeiras de altacostura e costureiras comuns sofrem de uma tríplice desventura sobretrabalho falta de ar e carência de alimentação ou de digestão De modo geral esse tipo de trabalho é mais adequado às mulheres do que aos homens Desgraçadamente porém esse negócio principalmente na capital é monopolizado por uns 26 capitalistas que com as armas que decorrem do capital that spring from capital extraem forçadamente economia do trabalho force economy out of labour em outras palavras economizam os gastos devidos ao desperdício da força de trabalho Seu poder se faz sentir em todo o âmbito dessa classe de trabalhadoras Se uma costureira conquista um pequeno círculo de clientes a concorrência a força a se matar de trabalhar em casa a fim de conserválo e esse mesmo sobretrabalho ela tem de impor a suas auxiliares Se seu negócio fracassa ou ela não consegue se estabelecer de modo independente ela tem de procurar uma empresa onde o trabalho não é menor mas o pagamento é seguro Assim ela se torna uma pura escrava jogada de lá para cá segundo as flutuações da sociedade ora ela está em casa num cubículo passando fome ou quase ora está de novo ocupada por 15 16 e até 18 horas numa atmosfera quase insuportável e com uma alimentação que mesmo quando boa não pode ser digerida em virtude da ausência de ar puro É dessas vítimas que se alimenta a tuberculose que não é nada mais do que uma doença do ar dr Richardson Work and Overwork Social Science Review 18 jul 1863 k Júri que no Reino Unido averiguava a causa da morte e determinava se uma pessoa devia ser julgada por homicídio N T 90 Morning Star 23 jun 1863 O Times usou o ocorrido para defender os escravocratas americanos contra Bright etc Muitos de nós diz o jornal pensamos que enquanto fizermos nossas próprias mulheres trabalharem até a morte por meio do flagelo da fome no lugar do estalo do chicote quase não teremos o direito de tratar a ferro e fogo famílias que já nasceram escravocratas e que ao menos alimentam bem seus escravos e os fazem trabalhar moderadamente Times 2 jul 1863 Do mesmo modo o Standard um jornal tory repreendeu o reverendo Newman Hall Ele excomunga os escravocratas porém reza com a brava gente que fazia com que os condutores e cocheiros de Londres trabalhassem por 16 horas diárias em troca de um salário de cão Por fim falou o oráculo o sr Thomas Carlyle 642 sobre o qual escrevi em 1850 as seguintes palavras O gênio foi para o diabo e só restou o culto Marx referese a sua resenha do livro LatterDay Pamphlets de Carlyle cf MEW v 7 p 25565 N E A MEW Numa curta parábola ele reduz o único acontecimento grandioso da história contemporânea a Guerra Civil americana à seguinte trama Pedro do Norte quer esmagar com toda violência o crânio de Pedro do Sul porque Pedro do Norte aluga seu trabalhador diariamente ao passo que Pedro do Sul o aluga vitaliciamente Ilias Americana in Nuce Macmillans Magazine ago 1863 E assim finalmente estourou a bolha de sabão da simpatia dos tories pelos trabalhadores assalariados urbanos mas de modo algum pelos rurais O cerne da questão tem um nome escravatura 91 Dr Richardson Work and Overwork cit 92 Childrens Employment Commission Third Report Londres 1864 p IVVI 93 Both in Staffordshire and in South Wales young girls and women are employed on the pit banks and on the coke heaps not only by day but also by night This practice has been often noticed in Reports presented to Parliament as being attended with great and notorious evils These females employed with the men hardly distinguished from them in their dress and begrimed with dirt and smoke are exposed to the deterioration of character arising from the loss of selfrespect which can hardly fail to follow from their unfeminine occupation Em Staffordshire assim como no sul de Gales meninas e mulheres são empregadas em minas de carvão e em depósitos de coque não apenas de dia mas também de noite Essa prática foi frequentemente noticiada nos relatórios apresentados ao Parlamento como prática que gera males notórios Essas mulheres empregadas com os homens dificilmente deles se distinguindo por suas roupas e sujas de poeira e fumaça são expostas à deterioração do caráter que resulta de sua perda de respeito próprio consequência praticamente inevitável dessa sua ocupação não feminina ibidem p 194 p XXVI Cf Fourth Report 1865 61 p XIII O mesmo nas fábricas de vidros 94 Parece natural observou um fabricante de aço que emprega crianças no trabalho noturno que os meninos que trabalham à noite não consigam dormir durante o dia e tampouco encontrem qualquer repouso regular mas perambulem sem cessar por todo o dia seguinte Fourth Rep cit 63 p XIII Sobre a importância da luz do sol para a conservação e desenvolvimento do corpo observa um médico entre outras coisas A luz também atua diretamente sobre os tecidos do corpo ao qual dá firmeza e elasticidade Os músculos dos animais privados da quantidade normal de luz tornamse esponjosos e inelásticos a força dos nervos perde seu tônus por causa da falta de estímulo e tudo o que se encontra em processo de crescimento acaba atrofiado No caso das crianças o acesso frequente à luz natural e diretamente aos raios solares durante uma parte do dia é absolutamente essencial para a saúde A luz ajuda a transformar os alimentos em bom sangue plástico e endurece a fibra depois de formada Ela também estimula os órgãos da visão e provoca assim uma maior atividade em diversas funções cerebrais O sr W Strange médicochefe do General Hospital de Worcester de cuja obra sobre saúde 1864 W Strange The Seven Sources of Health Londres 1864 p 84 N E A MEW extraímos essa passagem escreve numa carta a um dos comissários de inquérito o sr White Anteriormente em Lancashire tive a oportunidade de observar os efeitos do trabalho noturno sobre as crianças das fábricas e não hesito em afirmar contrariando as mais diletas garantias de alguns empregadores que a saúde das crianças foi rapidamente afetada Childrens Employment Commission Fourth Report cit 284 p 55 Que coisas assim possam ser objeto de sérias controvérsias evidencia da melhor maneira como a produção capitalista atua sobre as funções cerebrais dos capitalistas e seus retainers serviçais 95 Fourth Report cit 57 p XII 96 Ibidem 58 p XII 97 Idem 98 Ibidem p XIII O grau de instrução dessas forças de trabalho deve ser naturalmente tal como se revela nos seguintes diálogos com um dos comissários de inquérito Jeremiah Haynes de 12 anos de idade quatro vezes quatro são oito quatro quartos 4 fours são 16 Um rei é aquele que tem todo o dinheiro e ouro A king is him that has all the money and gold Temos um rei dizem que ele é uma rainha chamamna princesa Alexandra Dizem que ela se casou com o filho da rainha Uma princesa é um homem William Turner 12 anos Não moro na Inglaterra Acho que é um país mas não sabia disso John Morris 14 anos Ouvi dizer que Deus fez o mundo e que todo mundo se afogou menos um ouvi dizer que foi um passarinho William Smith 15 anos Deus fez o homem o homem fez a mulher Edward Taylor 15 anos Não sei nada de Londres Henry Marrhewman 17 anos Às vezes vou à igreja Um nome que eles falam no sermão é um tal de Jesus Cristo mas não sei dizer nenhum outro nome e também não sei dizer alguma coisa sobre ele Ele não foi morto mas morreu como as outras pessoas Ele não era como as outras pessoas de certo modo porque ele era religioso de certo modo e outros não são He was not the same as other people in some ways because he was religious in some ways and others isns ibidem 74 p XV O diabo é 643 uma boa pessoa Não sei onde ele vive Cristo foi um mau sujeito The devil is a good person I dont know where he lives Christ was a wicked man Essa menina 10 anos soletra God como se fosse dog e não sabia o nome da rainha Ch Empl Comm V Rep 1866 n 278 p 55 O mesmo sistema da manufatura metalúrgica também vigora nas fábricas de vidro e papel Nas fábricas onde o papel é fabricado com máquinas o trabalho noturno é a regra para todos os processos exceto para a seleção dos trapos Em alguns casos o trabalho noturno por revezamento prossegue a semana inteira sem cessar geralmente de domingo à noite até a meianoite do sábado seguinte A turma escalada para o turno diurno trabalha semanalmente 5 dias de 12 horas e um dia de 18 horas e a turma escalada para o turno da noite trabalha 5 noites de 12 horas e uma de 6 horas Em outros casos cada turma trabalha 24 horas uma depois da outra em dias alternados Para completar as 24 horas uma turma trabalha 6 horas na segundafeira e 18 horas no sábado Em outros casos introduziuse um sistema intermediário em que todos os empregados na maquinaria de fabricação de papel trabalham todos os dias da semana por 1516 horas Esse sistema diz o comissário de inquérito Lord parece unir todos os males dos revezamentos de 12 e de 24 horas Crianças menores de 13 anos jovens menores de 18 e mulheres trabalham sob esse sistema noturno Às vezes no sistema de 12 horas eles eram obrigados por conta da ausência de quem iria rendêlos a trabalhar o turno duplo de 24 horas Depoimentos de testemunhas provam que meninos e meninas trabalham com muita frequência além do tempo da jornada de trabalho que não raro se estende a 24 e até mesmo a 36 horas No processo contínuo e inalterável das oficinas de fabricação de vidro encontramse meninas de 12 anos que trabalham o mês inteiro por 14 horas diárias sem nenhum descanso ou pausa regular além de duas no máximo 3 meias horas para as refeições Em algumas fábricas em que se aboliu totalmente o trabalho noturno regular trabalhamse muitas horas adicionais e isso frequentemente nos processos mais sujos quentes e monótonos Childrens Employment Commision Fourth Report cit p XXXVIII XXXIX l Em Fahrenheit o equivalente a 30 e 322 Celsius N T 99 Fourth Report etc cit 79 p XVI 100 Ibidem 80 p XVI XVII 101 Ibidem 82 p XVII 102 Em nossa época rica em reflexão e raciocínio jamais alguém conseguiu chegar longe sem saber oferecer uma boa razão para tudo mesmo a pior e mais errada das coisas Tudo o que foi corrompido neste mundo foi corrompido por boas razões G W F Hegel Enzyklopädie Enciclopédia das ciências filosóficas cit p 249 103 Childrens Employment Commission Fourth Report cit 85 p XVII A similares escrúpulos amáveis do sr fabricante de vidro de que seria impossível oferecer às crianças horários regulares de refeições porque com isso uma determinada quantidade de calor que os fornos irradiam se tornaria puro prejuízo ou seria desperdiçada responde o comissário de inquérito White não do mesmo modo como Ure Senior etc e seus pequenos macaqueadores alemães tais como Roscher etc comovido com a abstinência a renúncia e a parcimônia dos capitalistas no gasto de seu dinheiro e com sua prodigalidade tamerlaniana no consumo de vidas humanas Uma certa quantidade de calor acima da que é atualmente usual poderia ser desperdiçada para que sejam garantidas refeições em horários regulares mas mesmo em valor monetário isso não é nada se comparado com o desperdício de força vital the waste of animal power que hoje o reino sofre pelo fato de que as crianças em fase de crescimento empregadas nas vidrarias não têm nem um momento de paz para poder ingerir e digerir seus alimentos comodamente ibidem p XLV E isso em 1865 no ano do progresso Abstraindo do dispêndio de força em erguer e carregar objetos pesados tal criança caminha durante a realização contínua de seu trabalho nas fábricas que produzem garrafas e flintglass vidro flint de 15 a 20 milhas inglesas em 6 horas E o trabalho dura frequentemente de 14 a 15 horas Em muitas dessas fábricas vigora como nas fiações de Moscou o sistema de revezamento por turnos de 6 horas Durante o tempo de trabalho da semana o mais longo período ininterrupto de descanso é de 6 horas e dele tem de ser deduzido o tempo para ir à fábrica e voltar lavarse vestirse comer todas elas atividades que custam tempo E assim resta na verdade apenas um tempo de descanso extremamente curto Nenhum tempo para brincar e respirar ar puro a não ser à custa do sono tão indispensável a crianças que realizam um trabalho tão extenuante numa atmosfera tão quente Mesmo o breve sono é interrompido seja porque a criança tem de acordar a si mesma de madrugada seja porque é despertada por ruídos externos durante o dia O sr White apresenta casos em que um jovem trabalhou 36 horas seguidas outro em que meninos de 12 anos se extenuam até as 2 horas da manhã e então dormem nas fábricas até as 5 da manhã 3 horas para depois reiniciar sua jornada de trabalho A quantidade de trabalho dizem Tremenheere e Tufnell os redatores do relatório geral realizada por meninos meninas e mulheres no decorrer de sua sequência diurna ou noturna de trabalho spell of labour é fabulosa ibidem p XLIII XLIV Enquanto isso o sr Capital do Vidro cambaleia talvez tarde da noite voltando do clube para casa pleno de abstinência e de vinho do Porto a cantarolar idiotamente Britons never never shall be slaves ingleses 644 jamais jamais serão escravos 104 Na Inglaterra por exemplo eventualmente ainda se condena no campo um trabalhador à prisão por ter profanado o sábado ao trabalhar no pequeno jardim à frente de sua casa O mesmo trabalhador é punido por quebra de contrato caso falte ao trabalho aos domingos em sua fábrica de metal papel ou vidro mesmo se a falta for motivada por beatice religiosa O ortodoxo Parlamento não quer ouvir falar de profanação do sábado quando isso ocorre no processo de valorização do capital Num memorial agosto de 1863 em que os diaristas londrinos das peixarias e casas de aves reivindicam a abolição do trabalho dominical lêse que seu trabalho dura nos primeiros 6 dias da semana uma média de 15 horas diárias e no domingo de 8 a 10 horas Por esse memorial também ficamos sabendo que a delicada gourmandise glutonaria dos beatos aristocráticos de Exeter Hall incentiva esse trabalho dominical Esses santos tão avidamente in cute curanda preocupados com seu bemestar corporal dão provas de seu cristianismo pela resignação com que suportam o sobretrabalho as privações e a fome de outrem Obsequium ventris istis perniciosius est A glutonaria é mais perniciosa aos seus dos trabalhadores estômagos Exeter Hall prédio localizado em Londres onde se reúnem sociedades religiosas e filantrópicas N T 105 We have given in our previous reports the statements of several experienced manufacturers to the affect that overhours certainly tend prematurely to exhaust the working power of the men Em nossos relatórios anteriores reproduzimos as constatações de vários experientes fabricantes que afirmam que as horas adicionais overhours certamente tendem a exaurir prematuramente a força de trabalho dos homens Childrens Employment Comission Fourth Report cit 64 p XIII 106 J E Cairnes The Slave Power cit p 1101 m Horácio Sátiras I 1 N T 107 John Ward History of the Borough of StokeuponTrent etc Londres 1843 p 42 108 Discurso de Ferrand na House of Commons em 27 de abril de 1863 109 That the manufacturers would absorb it and use it up Those were the very words used by the cotton manufacturers Que os fabricantes os absorveriam e os consumiriam Essas foram as próprias palavras usadas pelos fabricantes discurso de Ferrand na House of Commons cit n Na Inglaterra instituições públicas onde crianças e adultos desamparados podiam viver e trabalhar N T 110 Discurso de Ferrand na House of Commons cit Villiers malgrado sua vontade estava legalmente obrigado a recusar as solicitações dos fabricantes mas os senhores alcançaram seu objetivo graças à condescendência dos Conselhos das Leis dos Pobres locais O sr A Redgrave inspetor de fábrica assegura que desta vez o sistema no qual crianças órfãs e pobres são consideradas legalmente apprentices aprendizes não está mais acompanhado dos velhos abusos sobre esses abusos cf F Engels A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit embora num caso tenha certamente ocorrido um abuso com esse sistema em relação ao número de meninas e moças que foram levadas dos distritos agrícolas escoceses para Lancashire e Cheshire Nesse sistema o fabricante firma um contrato com as autoridades das workhouses por períodos determinados Ele alimenta veste e aloja as crianças dando lhes também um pouco de dinheiro Soa estranha a afirmação do sr Redgrave principalmente quando se leva em conta que mesmo durante os anos de prosperidade da indústria inglesa de algodão o ano de 1860 foi um ano único e que além disso os salários estavam altos uma vez que a extraordinária demanda por trabalho se chocou com o despovoamento da Irlanda com uma emigração sem precedente dos distritos agrícolas ingleses e escoceses para a Austrália e a América com o encolhimento positivo da população em alguns distritos agrícolas ingleses em decorrência em parte da aniquilação bemsucedida das forças vitais em parte do esgotamento da população disponível pelos mercadores de carne humana E apesar de tudo diz o sr Redgrave Porém esse tipo de trabalho das crianças das workhouses só é buscado quando não se pode encontrar outro pois é um trabalho caro highpriced labour O salário normal para um jovem de 13 anos é de aproximadamente 4 xelins por semana mas alojar vestir e alimentar 50 ou 100 desses jovens garantindolhes assistência médica e supervisionandoos devidamente e ainda por cima ter de darlhes um pequeno adicional em dinheiro não é algo que se possa conseguir com 4 xelins por cabeça semanalmente Rep of the Insp of Factories for 30th April 1860 p 27 O sr Redgrave esquece de dizer como pode o próprio trabalhador prover tudo isso a seus filhos com seu salário de 4 xelins se o fabricante não pode fazêlo a 50 ou 100 jovens que são alojados nutridos e supervisionados coletivamente Para evitar que se tirem falsas conclusões do texto tenho de observar aqui que a indústria inglesa de algodão desde sua submissão à Factory Act de 1850 com sua regulamentação da jornada de trabalho etc tem de ser considerada a indústria modelo da Inglaterra O trabalhador algodoeiro inglês encontrase em todos os sentidos num patamar superior ao de seus companheiros de infortúnio no continente O operário fabril prussiano trabalha pelo menos 10 horas a mais por semana do que seu 645 rival inglês e quando trabalha em casa em seu próprio tear desaparece até mesmo esse limite a suas horas adicionais de trabalho Rep of the Insp of Factories for 30th April 1860 p 27 O supracitado inspetor de fábrica Redgrave viajou ao continente depois da exposição industrial de 1851 especialmente à França e à Prússia a fim de investigar as condições das fábricas nesses países Sobre o trabalhador de fábrica prussiano ele diz Ele recebe seu salário o bastante para lhe proporcionar uma alimentação simples e o pouco conforto a que está habituado e com o que se satisfaz Ele vive pior e trabalha mais duramente do que seu rival inglês Rep of Insp of Fact 31st Oct 1853 p 85 111 Os forçados ao sobretrabalho morrem com estranha rapidez mas os postos daqueles que perecem são imediatamente preenchidos e uma troca frequente de pessoas não provoca nenhuma alteração na cena E G Wakefield England and America Londres 1833 t I p 55 112 Ver Public Health Sixth Report of the Medical Officer of the Privy Council 1863 cit Esse relatório trata principalmente dos trabalhadores agrícolas Sutherland costuma ser descrito como um condado muito desenvolvido mas uma nova investigação revelou que mesmo lá em distritos outrora famosos por seus belos homens e corajosos soldados os habitantes degeneraram numa raça esquelética e retardada Nas condições mais saudáveis nas encostas à beiramar os rostos das crianças são tão magros e pálidos como só poderiam sêlo na atmosfera pestilenta de um beco londrino W T Thornton OverPopulation and its Remedy cit p 745 Eles lembram de fato os 30 mil gallant Highlanders galantes montanheses que se amontoam promiscuamente com prostitutas e ladrões nos wynds e closes becos e pátios de Glasgow o Citação modificada da frase Après nous le déluge Depois de nós o dilúvio que madame de Pompadour teria proferido em resposta à advertência feita por um membro da corte de que o esbanjamento da realeza teria como efeito um forte aumento da dívida pública francesa N E A MEW 113 Embora a saúde da população seja um elemento tão importante do capital nacional receamos ter de confessar que os capitalistas não se sentem de modo algum inclinados a conservar esse tesouro e darlhe o seu devido valor A consideração pela saúde dos trabalhadores foi imposta aos fabricantes Times 5 nov 1861 Os homens de West Riding tornaramse os produtores de tecido da humanidade a saúde do povo trabalhador foi sacrificada e em poucas gerações sua raça teria se degenerado porém ocorreu uma reação As horas do trabalho infantil foram limitadas etc TwentySecond Annual Report of the RegistrarGenerali 1861 p J W Goethe Suleika N E A MEW 114 Assim constatamos por exemplo que no início de 1863 26 firmas proprietárias de grandes olarias em Staffordshire entre elas J Wedgwood e Filhos assinam uma petição pela intervenção firme do Estado A concorrência com outros capitalistas não lhes permite estabelecer nenhuma limitação voluntária do tempo de trabalho das crianças etc Por mais que deploremos os males anteriormente mencionados seria impossível evitálos mediante qualquer tipo de acordo entre os fabricantes Considerando todos esses pontos formamos a convicção de que se faz necessária uma lei coercitiva Childrens Emp Comm Rep 1 1863 p 322 Adendo à nota 114 Um exemplo muito mais significativo ofereceunos o passado recente A alta dos preços do algodão numa época de atividade econômica febril induziu os proprietários de tecelagens de algodão em Blackburn a diminuir por consenso mútuo o tempo de trabalho em suas fábricas durante determinado período Esse período acabou no final de novembro de 1871 Enquanto isso os fabricantes mais ricos que combinam a fiação com a tecelagem usaram a diminuição da produção resultante desse acordo para expandir seu próprio negócio e assim obter grandes lucros à custa dos pequenos mestres Estes se viram então na necessidade de se dirigir aos trabalhadores fabris convocando os a tomar parte seriamente nos protestos pelo sistema de 9 horas e prometendolhes contribuições em dinheiro para essa finalidade 115 Esses estatutos do trabalho que também se encontram ao mesmo tempo na França nos Países Baixos etc só foram formalmente abolidos em 1813 muito tempo depois que as mudanças nas relações de produção os haviam tornado obsoletos 116 No child under the age of 12 years shall be employed in any manufacturing establishment more than 10 hours in one day Nenhuma criança menor de 12 anos pode ser empregada em nenhum estabelecimento fabril por mais de 10 horas diárias General Statutes of Massachusetts seção 3 c 60 Os estatutos foram aprovados entre 1836 e 1858 Labour performed during a period of 10 hours on any day in all cotton woollen silk paper glass and flax factories or in manufactories of iron and brass shall be considered a legal days labour And be it enacted that hereafter no minor engaged in any factory shall be holden or required to work more than 10 hours in any day or 60 hours in any week and that thereafter no minor shall be admitted as a worker under the age of 10 years in any factory within this state O trabalho realizado num período de 10 horas diárias em toda fábrica de algodão lã seda papel vidro e linho ou em 646 manufaturas de ferro e bronze deve ser considerado um dia de trabalho legal Além disso fica legalmente estabelecido que de ora em diante nenhum menor de idade empregado em qualquer fábrica pode ser solicitado ou obrigado a trabalhar mais do que 10 horas diárias ou 60 horas semanais e que nenhum menor de 10 anos pode ser admitido como trabalhador numa fábrica situada no território deste Estado State of New Jersey An Act to Limit the Hours of Labours etc 1 e 2 lei de 18 de março de 1851 No minor who has attained the age of 12 years and is under the age of 15 years shall be employed in any manufacturing establishment more than 11 hours in any one day nor before 5 oclock in the morning nor after 7½ in the evening Nenhum menor de idade entre 12 e 15 anos pode trabalhar em nenhuma fábrica por mais de 11 horas diárias ou antes das 5 da manhã e depois das 7½ da noite Revised Statutes of the State of Rhode Island etc c 129 23 1º jul 1857 q Epidemia que assolou a Europa ocidental entre 1347 e 1350 e deixou 25 milhões de mortos isto é ¼ da população europeia de então N E A MEW 117 J B Byles Sophism of Free Trade 7 ed Londres 1850 p 205 O mesmo tory ainda admite Leis parlamentares que regulavam os salários porém contra os trabalhadores e a favor dos empregadores duraram pelo longo período de 464 anos A população aumentou Essas leis se tornaram então supérfluas e inconvenientes ibidem p 206 118 Em relação a esse estatuto J Wade observa corretamente Do estatuto de 1846 depreendese que a alimentação era considerada como o equivalente a 13do ganho de um artesão e metade do ganho de um trabalhador agrícola e isso mostra um grau maior de independência entre os trabalhadores do que o que existe atualmente quando a alimentação dos trabalhadores na agricultura e manufatura corresponde a uma porção muito maior dos seus salários do que anteriormente J Wade History of the Middle and Working Classes cit p 25 A opinião de que essa diferença é devida à diferença na relação de preço entre os alimentos e as peças de vestuário agora e anteriormente é refutada pela leitura mais superficial de Chronicon Preciosum etc do bispo Fleetwood 1 ed Londres 1707 2 ed Londres 1745 119 W Petty Political Anatomy of Ireland 1672 cit p 10 120 A Discourse on the Necessity of Encouraging Mechanick Industry Londres 1690 p 13 Macaulay que falsificou a história inglesa em nome dos interesses dos whigs e da burguesia declama da seguinte maneira A prática de pôr as crianças a trabalhar prematuramente predominou no século XVII num grau quase inacreditável para o estado da indústria à época Em Norwich o centro da indústria da lã uma criança de 6 anos foi considerada apta para o trabalho Diversos escritores daquela época muitos deles considerados como extremamente benevolentes mencionam com exultation exultação o fato de que nessa cidade meninos e meninas criam uma riqueza que ultrapassa o necessário para sua subsistência em 12000 por ano Quanto mais investigamos a história do passado tanto mais razões encontramos para rejeitar a visão daqueles que consideram nossa época como fértil em novos males sociais O que é novo é a inteligência que descobre os males e a humanidade que os remedia History of England v I p 417 Macaulay poderia ter continuado a relatar que os extremamente benevolentes amis du commerce amigos do comércio contam com exultation como numa workhouse na Holanda uma criança de 4 anos foi empregada e que tais exemplos de vertue mise en pratique virtudes postas em prática podem ser encontrados em todos os escritos de humanistas à la Macaulay até a época de A Smith É verdade que com a substituição do artesanato Handwerk pela manufatura começam a aparecer as marcas da exploração infantil que sempre existiu até certo grau entre os camponeses sendo tanto mais desenvolvida quanto mais pesado o jugo sobre o senhor A tendência do capital é incontestável mas os próprios fatos continuam a ser tão isolados quanto a aparição de crianças de duas cabeças Por isso eles foram notados com exultation pelos visionários amis du commerce como fatos especialmente notáveis e admiráveis e recomendados como modelos para seu próprio tempo e para a posteridade O mesmo sicofanta e empolado Macaulay diz Hoje só se escuta falar de retrocesso e vemos apenas progresso Que olhos E principalmente que ouvidos 121 Entre os acusadores dos trabalhadores o mais irado é o autor anônimo citado no texto de An Essay on Trade and Commerce cit Ele já tratara dessa questão anteriormente em sua obra Consideration on Taxes Londres 1765 Também Polonius Arthur Young o inefável falastrão estatístico segue a mesma linha Entre os defensores dos trabalhadores encontramse na linha de frente Money Answers All Things Londres 1734 de Jacob Vanderlint An Enquiry into the Causes of the Present High Price of Provisions Londres 1767 do Rev Nathaniel Forster e o dr Price e especialmente Postlethwayt tanto num suplemento a seu Universal Dictionary of Trade and Commerce quanto em GreatBritains Commercial Interest Explained and Improved 2 ed Londres 1759 Os próprios fatos são confirmados por muitos outros escritores da época dentre os quais Josiah Tucker 647 122 Postlethwayt First Preliminary Discourse em GreatBritains Commercial Interest Explained and Improved cit p 14 123 An Essay etc Ele próprio relata na p 96 em que consistia já em 1770 a felicidade dos trabalhadores agrícolas ingleses Suas forças de trabalho their working powers estão sempre tencionadas ao máximo on the stretch eles não podem viver pior do que o fazem they cannot live cheaper than they do nem trabalhar mais duro nor work harder 124 O protestantismo já em sua transformação de quase todos os feriados tradicionais em dias de trabalho desempenha um papel importante na gênese do capital 125 An Essay etc cit p 41 15 967 557 126 Em 1734 Jacob Vanderlint já declarava que o segredo das queixas dos capitalistas sobre a preguiça do povo trabalhador estava no fato de que eles exigiam pelo mesmo salário 6 jornadas de trabalho em vez de 4 127 An Essay etc cit p 2423 Such ideal workhouse must be made a House of Terror and not an asylum for the poor where they are to be plentifully fed warmly and decently clothed and where they do but little work Tal workhouse ideal deve ser transformada numa Casa do Terror e não num asilo para os pobres onde eles sejam fartamente alimentados confortável e decentemente vestidos e trabalhem pouco 128 In this ideal workhouse the poor shall work 14 hours in a day allowing proper time for meals in such manner that there shall remain 12 hour of neat labour ibidem p 260 Os franceses diz ele riemse de nossas entusiásticas ideias de liberdade ibidem p 78 r Nas primeira e segunda edições povo trabalhador N E A MEW 129 Eles se recusavam especialmente a trabalhar mais de 12 horas diárias porque a lei que fixara essa jornada de trabalho é o único bem que lhes restou da legislação da República Rep of Insp of Fact 31st Octob 1855 p 80 A lei francesa das 12 horas de 5 de setembro de 1850 uma edição burguesa do decreto do Governo Provisório de 2 de março de 1848 estendese a todos os ateliês sem exceção Antes dessa lei a jornada de trabalho na França era ilimitada Ela durava nas fábricas 14 15 ou mais horas Ver Des classes ouvrières en France pendant lannée 1848 Par M Blanqui O sr Blanqui o economista não o revolucionário fora encarregado pelo governo de um estudo sobre as condições dos trabalhadores 130 A Bélgica é o Estado burguês modelar também no que concerne à regulação da jornada de trabalho Lord Howard de Walden plenipotenciário inglês em Bruxelas relata ao Foreign Office Ministério das Relações Exteriores em 12 de maio de 1862 O ministro Rogier informoume que nenhuma lei geral nem regulações locais limitam de nenhuma forma o trabalho infantil que o governo durante os últimos três anos tentou a cada seção propor uma lei sobre o assunto mas encontrou sempre um insuperável obstáculo no temor ciumento diante de qualquer legislação em contradição com o princípio da plena liberdade de trabalho 131 É certamente muito lamentável que uma classe qualquer de pessoas tenha de esfalfarse diariamente por 12 horas Se a esse tempo acrescentamos os horários das refeições e o tempo para ir à fábrica e voltar ele soma na verdade 14 das 24 horas do dia Abstraindo da saúde ninguém hesitará assim espero em admitir que do ponto de vista moral uma tão completa absorção do tempo das classes trabalhadoras sem interrupções desde a tenra idade de 13 anos e nos ramos industriais livres ainda mais prematuramente é extremamente prejudicial e um mal terrível No interesse da moral pública para a formação de uma população capaz e para proporcionar à grande massa do povo uma fruição racional da vida é necessário estabelecer obrigatoriamente que em todos os ramos de negócio uma parte de cada jornada de trabalho seja reservada para o descanso e o lazer Leonard Horner em Reports of Insp of Fact 31st Dec 1841 132 Ver Judgment of Mr J H Otway Belfast Hilary Sessions County Antrim 1860 133 É muito característico do regime de Luís Filipe o rei burguês que a única lei fabril aprovada durante seu reino em 22 de março de 1841 jamais tenha sido implementada e essa lei trata unicamente do trabalho infantil Ela estabelece uma jornada de trabalho de 8 horas para crianças entre 8 e 12 anos 12 horas para crianças entre 12 e 16 anos etc com muitas exceções que permitem o trabalho noturno até mesmo para crianças de 8 anos Num país onde qualquer rato está sob administração policial a supervisão e a coerção na implementação dessa lei foram deixadas à vontade dos amis du commerce Apenas desde 1853 num único departamento o Département du Nord foi nomeado um inspetor governamental pago Não menos característico do desenvolvimento da sociedade francesa em geral é o fato de a lei de Luís Filipe ter permanecido até a Revolução de 1848 como um produto solitário da fábrica francesa de leis que abarca tudo 134 Rep of Insp of Fact 30th April 1860 p 50 648 s Referência à obra do historiador romano Tito Lívio Ab urbe condita livro 38 c 25 verso 13 N E A MEW 135 Legislation is equally necessary for the prevention of death in any form in which it can be prematurely inflicted and certainly this must be viewed as a most cruel mode of inflicting it Factories Inquiry Commission First Report of the Central Board of His Majestys Commissioners Ordered by the House of Commons to be printed 28 June 1833 p 53 N E A MEW t Juggernaut Dschagannat uma das formas do deus Vishnu O culto de Jagrená se caracterizava por um elevado grau de fanatismo religioso incluindo rituais de autoflagelação e autossacrifício extremos Em certos dias festivos os fiéis se jogavam sob as rodas de um carro o carro de Jagrená sobre o qual se encontrava uma figura de Vishnu Dschagannat N E A MEW 136 Rep of Insp of Fact 31st October 1848 p 98 u Documento que continha as exigências dos cartistas publicado a 8 de maio de 1838 como projeto de lei a ser apresentado ao Parlamento As exigências eram 1 sufrágio universal para homens acima de 21 anos 2 eleições parlamentares anuais 3 voto secreto 4 proporcionalidade entre os distritos eleitorais 5 abolição do censo de patrimônio para os candidatos às eleições parlamentares 6 remuneração para os membros do Parlamento N E A MEW v Os partidários da Liga Contra a Lei dos Cereais ver nota g na p 86 tentaram convencer os trabalhadores de que a introdução do livrecâmbio aumentaria seus salários reais e duplicaria o tamanho do pão big loaf N E A MEW 137 Rep of Insp of Fact 31st October 1848 p 98 138 Leonard Horner usa a expressão nefarious practices em seus relatórios oficiais Reports of Insp of Fact 31st October 1859 p 7 139 Rep etc for 30th Sept 1844 p 15 140 A lei permite empregar crianças por 10 horas se elas não trabalharem um dia após o outro mas em dias alternados No geral essa cláusula permaneceu sem efeito 141 As a reduction in their hours of work would cause a large number to be employed it was thought that the additional supply of children from eight to nine years of age would meet the increased demand Como uma redução em suas horas de trabalho faria com que um número maior de crianças fosse empregado pensouse que o fornecimento adicional de crianças de oito a nove anos de idade atenderia à demanda aumentada Rep etc for 30th Sept 1844 p 13 142 Rep of Insp of Fact 31st Oct 1848 p 16 143 Verifiquei que pessoas que ganhavam 10 xelins por semana mesmo tendo sofrido uma perda de 1 xelim por conta da redução geral dos salários em 10 e de 1 xelim e 6 pence por conta da diminuição do tempo de trabalho o que dá um total de 2 xelins e 6 pence mantiveramse firmemente a favor da Lei das 10 Horas idem 144 Quando assinei a petição afirmei imediatamente que estava fazendo algo errado Então por que a assinaste Porque se recusasse teriam me posto na rua O peticionário sentiase de fato oprimido mas não exatamente pela lei fabril ibidem p 102 x Assim eram chamados durante a Revolução Francesa os representantes da Convenção Nacional que investidos de poderes especiais atuavam nos departamentos e nas fileiras militares N E A MEW 145 Rep of Insp of Fact 31st Oct 1848 p 17 No distrito do sr Horner foram ouvidos 10270 trabalhadores masculinos adultos em 181 fábricas Suas declarações podem ser encontradas no apêndice do relatório de fábrica do semestre com fim em outubro de 1848 Esses testemunhos também oferecem um valioso material em outros aspectos 146 Idem Ver as declarações colhidas pelo próprio Leonard Horner n 69 70 71 72 92 93 e as colhidas pelo subinspetor A n 51 52 58 59 62 70 do apêndice Até mesmo um fabricante confessou a verdade Ver n 14 e 265 cit w Leis sobre medidas para a segurança geral aprovadas pelo Corps Législativ a 19 de fevereiro de 1858 A lei conferia ao imperador e seu governo o direito irrestrito de deter qualquer pessoa suspeita de ter uma postura hostil ao Segundo Império podendo mantêla na prisão por tempo indeterminado banila para a Argélia ou expulsála do território francês N E A MEW 147 Reports etc for 31st October 1848 cit p 1334 649 148 Reports etc for 30th April 1848 cit p 47 149 Ibidem p 130 150 Ibidem p 142 y William Shakespeare O mercador de Veneza trad Carlos Alberto Nunes Rio de Janeiro Ediouro 2005 ato IV cena 1 N T 151 Reports etc for 31st Oct 1850 cit p 56 z William Shakespeare O mercador de Veneza cit ato IV cena 1 N T 152 A natureza do capital permanece a mesma tanto em sua forma não desenvolvida como em sua forma desenvolvida No código legal que a influência dos escravocratas impôs ao território do Novo México pouco antes da deflagração da Guerra Civil Americana dizse que o trabalhador na medida em que o capitalista comprou sua força de trabalho é seu do capitalista dinheiro The labourer is his the capitalists money A mesma visão era corrente entre os patrícios romanos o dinheiro que eles adiantavam aos devedores plebeus havia se transformado por intermédio de seus meios de subsistência na carne e no sangue do devedor Essa carne e sangue eram assim seu dinheiro Disso decorre a lei shylockiana das dez tábuas A hipótese de Linguet de que os credores patrícios realizavam de tempos em tempos do outro lado do Tibre banquetes com a carne cozida dos devedores permanece tão incerta quanto a hipótese de Daumer sobre a eucaristia cristã 1 Lei shylockiana das dez tábuas referência à lei romana das doze tábuas que protegia a propriedade privada e punia os devedores insolventes com prisão escravidão ou esquartejamento Essa lei serviu de ponto de partida para o direito romano 2 A hipótese do historiador francês Linguet é exposta em seu trabalho Thèorie des lois civiles ou principes fondamentaux de la société Londres 1767 v 2 livro 5 c 20 3 Daumer em sua obra Geheimnisse des christlichen Altertums defende a hipótese de que os primeiros cristãos comiam carne humana na eucaristia N E A MEW 153 Reports etc for 31st Oct 1848 cit p 133 154 Assim escreve entre outros o filantropo Aschworth a Leonard Horner numa repugnante carta em estilo quacre Rep Apr 1849 cit p 4 155 Reports etc for 31st Oct 1848 cit p 138 156 Ibidem p 140 157 Esses county magistrates os great unpaid grandes não remunerados como W Cobbett os chama são uma espécie de juízes de paz não remunerados escolhidos entre os honoráveis dos condados Eles formam de fato as cortes patrimoniais das classes dominantes 158 Reports etc for 30th April 1849 p 212 Cf exemplos semelhantes ibidem p 45 159 Pelos artigos 1 e 2 de Guilherme IV c 29 p 10 conhecido como Lei fabril de sir John Hobhouse fica proibido que qualquer proprietário de fiação ou tecelagem de algodão ou pai filho e irmão de um tal dono atuem como juiz de paz em questões relacionadas à lei fabril 160 Reports etc for 30th April 1849 p 22 161 Ibidem p 5 162 Rep etc for 31st Oct 1849 p 6 163 Rep etc for 30th April 1849 p 21 164 Rep etc for 31st Oct 1848 p 95 aa Fourier criou a imagem de uma sociedade futura na qual o homem poderia desempenhar diversas atividades durante uma jornada de trabalho pois esta seria dividida em courtes séances de no máximo 2 horas Com isso segundo ele a produtividade do trabalho aumentaria ao ponto de que o mais pobre trabalhador teria suas necessidades satisfeitas na mesma medida que qualquer capitalista em épocas anteriores N E A MEW 165 Ver Reports etc for 30th April 1849 p 6 e a discussão pormenorizada do shifting system sistema de turnos pelos inspetores de fábrica Howell e Saunders em Reports etc for 31st Oct 1848 Ver também a petição do clero de Ashton e arredores primavera de 1849 à rainha contra o shift system 166 Cf por exemplo R H Greg The Factory Question and the Ten Hours Bill 1837 167 F Engels Die englische Zehnstundenbill Lei das 10 Horas inglesa na revista por mim editada Neuen Rh Zeitung Politischökonomische Revue Nova Gazeta Renana Revista de Economia Política abr 1850 p 13 A mesma 650 alta corte também descobriu durante a guerra civil americana uma ambiguidade verbal que transformava a lei contra o armamento de navios piratas em seu exato oposto 168 Rep etc for 30th April 1850 169 Podendo ser substituído no inverno pelo período de 7 horas da manhã às 7 da noite 170 The present law was a compromise whereby the employed surrendered the benefit of the Ten Hours Act for the advantage of one uniform period for the commencement and termination of the labour of those whose labour is restricted A lei atual de 1850 foi um compromisso no qual os trabalhadores abriram mão dos benefícios da Lei das 10 Horas em troca da vantagem de uma uniformidade de início e término do trabalho daqueles cujo tempo de trabalho encontrase submetido à limitação Reports etc for 30th April 1852 p 14 171 Reports etc for 30th Sept 1844 p 13 172 Idem 173 The delicate texture of the fabric in which they were employed requiring a lightness of touch only to be acquired by their early introduction to these factories Rep etc for 31st Oct 1846 p 20 174 Reports etc for 31st Oct 1861 p 26 175 Ibidem p 27 Em geral a população trabalhadora submetida à lei fabril melhorou muito fisicamente Todos os testemunhos médicos concordam a esse respeito e minha observação pessoal em diferentes períodos convenceume disso No entanto e abstraindo da enorme taxa de mortalidade infantil nos primeiros anos de vida os relatórios oficiais do dr Greenhow mostram as desfavoráveis condições de saúde nos distritos fabris quando comparados com os distritos agrícolas de saúde normal Como prova entre outras apresentamos a seguinte tabela de seu relatório de 1861 Porcentagem dos homens adultos ocupados na indústria Taxa de mortalidade por doenças pulmonares por 100 mil homens Nome do distrito Taxa de mortalidade por doenças pulmonares por 100 mil mulheres Porcentagem de mulheres adultas empregadas na indústria Tipo de ocupação das mulheres 149 598 Wigan 644 18 Algodão 426 708 Blackburn 734 349 Algodão 373 547 Halifax 564 204 Fiação 419 611 Bradford 603 30 Fiação 31 691 Macclesfield 804 26 Seda 149 588 Leek 705 172 Seda 366 721 Stokeupon Trent 665 193 Cerâmica 304 726 Woolstanton 727 139 Cerâmica 305 Oito distritos agrícolas saudáveis 340 176 Sabese com que relutância os livrecambistas ingleses abriram mão da proteção alfandegária para a manufatura de seda Em vez da proteção contra a importação francesa eles se servem agora da falta de proteção das crianças de fábrica inglesas 177 Reports etc for 30th April 1853 p 30 178 Durante os anos de 1859 e 1860 o zênite da indústria do algodão alguns fabricantes tentaram por meio da isca de salários maiores por horas extras fazer com que os fiandeiros adultos etc aceitassem o prolongamento da jornada de trabalho Os handmule spinners fiandeiros manuais e os selfactor minders operadores de máquinas 651 automáticas de fiar puseram um fim no experimento mediante uma petição a seus empregadores onde se lia entre outras coisas Para falar francamente nossa vida é um fardo para nós e enquanto ficamos encerrados na fábrica por quase 2 dias a mais na semana 20 horas do que os outros trabalhadores sentimonos como hilotas no campo e nos censuramos por eternizar um sistema que prejudica física e moralmente a nós mesmos e a nossos descendentes Com isso informamoslhe respeitosamente que a partir do anonovo não trabalharemos nem um minuto além das 60 horas semanais de 6 horas da manhã às 6 da tarde com o desconto das pausas legais de 1 hora e meia Reports etc for 30th pril 1860 p 30 179 Sobre os meios que a redação dessa lei oferece para sua violação cf o Parliamentary Return Factories Regulation Acts 9 ago 1859 e nele Suggestions for Amending the Factory Acts to Enable the Inspectors to Prevent Illegal Working Now Become Very Prevalent de Leonard Horner 180 Crianças de 8 anos e maiores que isso foram de fato esfalfadas em meu distrito durante o último semestre 1857 das 6 horas da manhã às 9 da noite Reports etc for 31st Oct 1857 p 39 181 The Printworks Act is admitted to be a failure both with reference to its educational and protective provisions A lei sobre as estamparias é confessadamente um fracasso no que diz respeito às suas disposições tanto educacionais quanto protetoras Reports etc for 31st Oct 1862 p 52 182 Assim por exemplo escreve E Potter numa carta ao Times de 24 de março de 1863 O Times lembroulhe das revoltas dos fabricantes contra a Lei das 10 Horas 183 Assim entre outros o sr W Newmarch colaborador e editor de History of Prices de Tooke Podese chamar de avanço científico fazer concessões covardes à opinião pública 184 A lei sobre branquearias e tinturarias aprovada em 1860 determinava que a jornada de trabalho deveria ser fixada provisoriamente em 1º de agosto de 1861 em 12 horas e em 1º de agosto de 1862 reduzida definitivamente em 10 horas isto é 10 horas e meia para dias úteis e 7 horas e meia para os sábados Mas quando chegou o ano fatal de 1862 a velha farsa se repetiu Os senhores fabricantes peticionaram ao Parlamento que fosse permitido por mais um ano o emprego de jovens e mulheres em jornadas de 12 horas Dada a atual situação do negócio na época da carestia de algodão seria uma grande vantagem para o trabalhador se lhe fosse permitido trabalhar 12 horas diárias e granjear um salário tão grande quanto possível Já se conseguira apresentar um projeto nesse sentido na Câmara Baixa Ele caiu diante da agitação dos trabalhadores nas branquearias da Escócia Reports etc for 31st Oct 1862 p 145 Derrotado pelos próprios trabalhadores em cujo nome ele pretendia falar o capital descobriu então com ajuda de óculos jurídicos que a lei de 1860 assim como todas as leis parlamentares para a proteção do trabalho por estar redigida numa linguagem ambígua e retorcida fornecia um pretexto para excluir de sua aplicação os calenderers e os finishers calandreiros e rematadores A jurisdição inglesa sempre uma serva fiel do capital sancionou a rabulice por meio da corte dos Common Pleas Corte de Justiça Civil Provocou grande insatisfação entre os trabalhadores e é muito lamentável que a clara intenção da legislação tenha fracassado sob o pretexto de uma definição defeituosa das palavras ibidem p 18 185 As branquearias ao ar livre haviam escapado da lei de 1860 sobre as branquearias lançando mão da mentira de que não empregavam mulheres no turno da noite A mentira foi exposta pelos inspetores de fábrica mas ao mesmo tempo o Parlamento por meio de petições dos trabalhadores teve roubada a imagem que ele fazia dessas branquearias ao ar livre como frescos prados perfumados Nessas branquearias são utilizadas câmaras de secagem com temperaturas de 90 até 100 graus Fahrenheit onde trabalham principalmente moças Cooling resfriamento é a expressão técnica para as ocasionais escapadas dos trabalhadores de dentro das câmaras de secagem para respirar ar fresco Quinze moças nas câmaras de secagem Calor de 80 a 90 graus para o linho de 100 graus ou mais para a cambrics cambraia Doze moças passam e estendem as cambrics etc numa pequena câmara de cerca de 10 pés quadrados e no meio há um forno inteiramente fechado As moças estão em pé em torno do fogão que irradia um calor terrível e seca rapidamente as cambrics para as passadeiras O número de horas para essa mão de obra é ilimitado Quando há muito movimento elas trabalham até 9 ou 12 horas da noite por muitos dias consecutivos Reports etc for 31st Oct 1862 p 56 Um médico declara para o resfriamento não são permitidas horas especiais mas se a temperatura tornase insuportável ou se as mãos das trabalhadoras se encharcam de suor élhes permitido retirarse por alguns minutos Minha experiência no tratamento das doenças dessas trabalhadoras me obriga a constatar que seu estado de saúde encontrase muito abaixo do das fiandeiras de algodão e o capital em suas petições ao Parlamento as havia pintado com excesso de saúde à maneira de Rubens Suas doenças mais frequentes são a tísica a bronquite as doenças uterinas a histeria em sua forma mais horrenda e o reumatismo Todas elas são causadas creio eu direta ou indiretamente pelo ar superaquecido de suas câmaras de trabalho e pela falta de roupas suficientemente confortáveis para protegêlas ao voltarem para casa da atmosfera úmida e fria nos meses de 652 inverno ibidem p 567 Sobre a lei de 1863 que foi arrancada desses joviais branqueadores ao ar livre observam os inspetores de fábrica Essa lei não apenas fracassou em oferecer aos trabalhadores a proteção que ela aparentava lhes oferecer ela está formulada de tal modo que a proteção só ocorre quando crianças e mulheres são flagradas trabalhando após as 8 horas da noite e mesmo assim o método de prova é tão abstruso que dificilmente pode resultar em alguma punição ibidem p 52 Como uma lei com propósitos humanitários e educativos ela fracassou inteiramente Dificilmente se pode chamar de humanitário permitir ou o que vem a ser o mesmo obrigar que mulheres e crianças trabalhem 14 horas diariamente com ou sem horários de refeições conforme o caso e talvez ainda por mais tempo sem limite de idade sem diferença de sexo e sem consideração dos hábitos sociais das famílias da localidade onde se situam as oficinas de branqueamento Reports etc for 30th April 1863 p 40 185a Nota à segunda edição Desde 1866 quando escrevi essa passagem voltou a ocorrer uma reação 186 The conduct of each of these classes has been the result of the relative situation in which they have been placed A conduta de cada uma dessas classes capitalistas e trabalhadores tem sido o resultado da situação relativa em que elas têm sido postas Reports etc for 31st Oct 1848 p 113 187 The employments placed under restriction were connected with the manufacture of textile fabrics by the aid of steam or water power There were two conditions to which an employment must be subject to cause it to be inspected viz the use of steam or water power and the manufacture of certain specified fibres As ocupações postas sob restrição estavam conectadas à manufatura de produtos têxteis com ajuda do vapor ou da força hidráulica Uma ocupação laboral tinha de preencher duas condições para estar sujeita à inspeção fabril a saber a aplicação do vapor ou da força hidráulica e a manufatura de certas fibras específicas Reports etc for 31st October 1864 p 8 188 Sobre a situação dessa assim chamada indústria doméstica materiais extremamente valiosos podem ser encontrados nos últimos relatórios da Childrens Employment Commision 189 The Acts of last Session embrace a diversity of occupations the customs in which differ greatly and the use of mechanical power to give motion to machinery is no longer one of the elements necessary as formerly to constitute in legal phrase a Factory As leis da última sessão legislativa 1864 abrangem uma diversidade de ocupações cujos costumes diferem enormemente e o uso de força mecânica para movimentar a maquinaria deixou de ser um dos elementos necessários para constituir uma fábrica em sentido legal ibidem p 8 190 Tampouco a Bélgica o paraíso do liberalismo continental mostra qualquer marca desse movimento Mesmo em suas minas de carvão e de metal os trabalhadores de ambos os sexos e de todas as idades são consumidos com plena liberdade por qualquer duração e período de tempo Para cada 1000 pessoas ali empregadas há 733 homens 88 mulheres 135 rapazes e 44 moças menores de 16 anos nos altosfornos etc há para cada 1000 trabalhadores 668 homens 149 mulheres 98 rapazes e 85 moças menores de 16 anos A isso se acrescenta ainda o baixo salário para a enorme exploração de forças de trabalho mais ou menos maduras numa média diária de 2 xelins e 8 pence para os homens 1 xelim e 8 pence para as mulheres e 1 xelim e 2½ pence para os jovens Como resultado disso em 1863 a Bélgica quase duplicou em comparação com 1850 a quantidade e o valor de suas exportações de carvão ferro etc 191 Quando Robert Owen pouco depois da primeira década de nosso século não apenas defendeu teoricamente a necessidade de uma limitação da jornada de trabalho mas introduziu a jornada de 10 horas em sua fábrica em New Lanark o fato foi ridicularizado como uma utopia comunista do mesmo modo como sua combinação do trabalho produtivo com a educação das crianças e as cooperativas de trabalhadores por ele fundadas Hoje a primeira utopia é lei fabril a segunda figura como texto oficial em todas as leis fabris e a terceira já é usada até mesmo como disfarce para imposturas reacionárias 192 A Ure Philosophie des manufactures Paris 1836 t II p 3940 67 77 193 No compte rendu relatório do Congresso Internacional de Estatística em Paris 1855 lêse entre outras coisas A lei francesa que limita em 12 horas a duração do trabalho diário nas fábricas e oficinas não restringe esse trabalho a determinadas horas fixas períodos de tempo pois apenas para o trabalho infantil é prescrito o horário de trabalho entre 5 horas da manhã e 9 da noite Desse modo uma parte dos fabricantes dispõe do direito que esse silêncio fatal lhes confere de fazer seus trabalhadores trabalhar todos os dias sem interrupção talvez com exceção dos domingos Eles empregam para isso duas turmas de trabalhadores das quais nenhuma trabalha mais do que 12 horas nas oficinas porém o trabalho é executado dia e noite no estabelecimento A lei está cumprida mas também o está do mesmo modo a humanidade Além da influência destruidora do trabalho noturno sobre o organismo humano também é ressaltada a influência fatal da associação noturna de ambos os sexos nas oficinas mal iluminadas 194 Por exemplo em meu distrito no mesmo estabelecimento fabril o mesmo fabricante é branqueador e tintureiro 653 sob a Lei das Branquearias e Tinturarias estampador sob a Printworks Act e rematador sob a Lei Fabril Report of Mr Baker em Reports etc 31st Oct 1861 p 20 Depois da enumeração das diferentes disposições dessas leis e da complicação que delas se segue diz o sr Baker Vêse o quão difícil é garantir o cumprimento dessas três leis parlamentares quando o proprietário de fábrica costuma burlálas ibidem p 21 Com isso o que se garante são processos aos senhores juristas 195 Assim os inspetores de fábrica ganham coragem finalmente para dizer Essas objeções do capital contra a limitação legal do tempo de trabalho têm de sucumbir diante do grande princípio dos direitos trabalhistas chega um momento em que cessa o direito do empregador sobre o trabalho de seu trabalhador e este último pode dispor de seu tempo mesmo que ainda não esteja exausto Reports etc for 31st Oct 1862 p 54 ab O Congresso Geral da Congregação Americana de Trabalhadores foi realizado em Baltimore entre 20 e 25 de agosto de 1866 Dele participaram 60 delegados que representavam mais de 60 mil trabalhadores O congresso tratou das seguintes questões introdução legislativa da jornada de trabalho de 8 horas atividade política dos trabalhadores sociedades cooperativas sindicalização de todos os trabalhadores entre outras Além disso decidiuse pela criação da National Labor Union uma organização política da classe trabalhadora N E A MEW 196 Nós os trabalhadores de Dunquerque declaramos que a duração do tempo de trabalho exigida sob o atual sistema é muito longa e não deixa ao trabalhador nenhum tempo para sua recuperação e desenvolvimento antes rebaixandoo a uma condição de servidão que é pouco melhor do que a escravidão a condition of servitude but little better than slavery Por essa razão decidimos que 8 horas é o tempo suficiente para uma jornada de trabalho e deve ser reconhecido legalmente como suficiente que invocamos em nosso apoio a imprensa essa poderosa alavanca e que consideramos todos os que recusam esse apoio como inimigos da reforma trabalhista e dos direitos dos trabalhadores Resolução dos trabalhadores de Dunquerque Nova York 1866 197 Reports etc for 31st Oct 1848 p 112 198 These proceedings have afforded moreover incontrovertible proof of the fallacy of the assertion so often advanced that operatives need no protection but may be considered as free agents in the disposal of the only property they possess the labour of their hands and the sweat of their brows Esses procedimentos as manobras do capital por exemplo no período de 18481850 forneceram além disso uma prova incontroversa da falácia da afirmação feita com tanta frequência de que os operários não necessitam de proteção alguma mas podem ser considerados agentes livres para dispor da única propriedade que possuem o trabalho de suas mãos e o suor de seus rostos Reports etc for 30th April 1850 p 45 Free labour if so it may be termed even in a free country requires the strong arm of the law to protect it O trabalho livre se assim ele pode ser chamado requer mesmo num país livre o braço forte da lei para protegêlo Reports etc for 31st Oct 1864 p 34 To permit which is tantamount to compelling to work 14 hours a day with or without meals etc Permitir o que significa o mesmo que forçar trabalhar 14 horas diárias com ou sem refeições etc Reports etc for 30th April 1863 p 40 199 F Engels Die englische Zehnstundenbill Lei das 10 Horas inglesa cit p 5 ac Do poema Heinrich de Heinrich Heine Du mein liebes treues Deutschland Du wirst auch den Mann gebären Der die Schlange meiner Qualen Niederschmettert mit der Streitaxt Tu Alemanha amada e fiel Darás à luz também o homem Que abaterá a machadadas A serpente de minhas aflições N T 200 A Lei das 10 Horas em todos os ramos da indústria a ela submetidos tem salvado os trabalhadores da total degeneração e protegido sua condição física Reports etc for 31st Oct 1859 p 47 O capital nas fábricas jamais pode manter a maquinaria em movimento além de um período limitado sem prejudicar a saúde e a moral dos trabalhadores empregados e estes não se encontram numa situação em que possam proteger a si mesmos ibidem p 8 ad Magna Charta Libertatum documento imposto ao rei inglês João I chamado sem terra pelos grandes senhores feudais barões e príncipes eclesiásticos apoiados pela nobreza rural e pelas municipalidades A Charta assinada em 15 de junho de 1215 limitava o poder do rei principalmente em favor dos senhores feudais e fazia várias concessões à nobreza rural à massa da população os camponeses servos a Charta não concedia qualquer direito Marx referese aqui à lei para a limitação da jornada de trabalho pela qual a classe trabalhadora inglesa tivera de travar uma longa e persistente luta N E A MEW 201 A still greater boon is the distinction at last made clear between the workers own time and his masters The worker knows now when that which he sells is ended and when his own begins and by possessing a sure foreknowledge of this is enabled to prearrange his own minutes for his own purposes Uma vantagem ainda maior é a distinção que enfim se torna clara entre o tempo do próprio trabalhador e o de seu empregador O trabalhador sabe agora quando está 654 terminado o tempo que ele vendeu e quando começa seu próprio tempo e porque possui uma previsão certa disso ele pode projetar seus próprios minutos para seus propósitos Magna Charta Libertatum p 52 By making them masters of their own time they have given them a moral energy which is directing them to the eventual possession of political power Ao tornálos senhores de seu próprio tempo elas as leis fabris deramlhe a energia moral que os direciona à posse eventual do poder político ibidem p 47 Com ironia contida e expressões muito cuidadosas os inspetores de fábrica insinuam que a atual Lei das 10 Horas também liberta o capitalista de alguma maneira de sua brutalidade natural como mera corporificação do capital dandolhe tempo para sua própria formação Antes the Master had no time for anything but money the servant had no time for anything but labour o senhor não tinha tempo para nada a não ser o dinheiro e o servo não tinha tempo para nada a não ser o trabalho ibidem p 48 ae Virgílio Eneida livro 2 verso 274 N T 655 a Na edição francesa autorizada a segunda parte dessa frase foi redigida da seguinte forma ou ela é igual ao valor de uma força de trabalho multiplicada pelo grau de sua exploração e multiplicada pelo número das forças de trabalho simultaneamente exploradas N E A MEW 202 Essa lei elementar parece ser desconhecida aos senhores da economia vulgar que ao contrário de Arquimedes acreditam ter encontrado na determinação dos preços do trabalho por meio da oferta e da demanda não o ponto para alavancar o mundo de seu eixo mas para paralisálo 203 Mais detalhes sobre isso no Livro IV b Não aprenderam nada nem esqueceram nada disse Talleyrand sobre os emigrantes aristocráticos que retornando à França após a restauração do domínio dos Bourbons tentaram recuperar suas propriedades fundiárias e submeter os camponeses às velhas obrigações feudais N E A MEW c No apêndice à primeira parte de sua Ética Espinosa diz que a ignorância não é uma razão suficiente Com isso ele combate a concepção clerical e teleológica da natureza que defendia que a vontade de Deus é a causa fundamental de todos os acontecimentos com base no argumento de que não se conhecem outras causas últimas N E A MEW 204 The labour that is the economic time of society is a given portion say ten hours a day of a million of people or ten million hours Capital has its boundary of increase The boundary may at any given period be attained in the actual extent of economic time employed O trabalho de uma sociedade isto é o tempo empregado na economia representa uma dada grandeza digamos de 10 horas diárias de 1 milhão de pessoas ou 10 milhões de horas O capital é limitado em seu crescimento Em cada período dado esse limite consiste na extensão real do tempo empregado na economia em An Essay on the Political Economy of Nations cit p 479 205 The farmer cannot rely on his own labour and if he does I will maintain that he is a loser by it His employment should be a general attention to the whole his thrasher must be watched or be will soon lose his wages in corn not thrashed out his mowers reapers etc must be looked after he must constantly go round his fences he must see there is no neglect which would be the case if he was confined to any one spot O agricultor não deve depender de seu próprio trabalho e se assim o fizer ele sairá perdendo em minha opinião Sua atividade deveria consistir na supervisão do todo ele tem de atentar para seu debulhador pois do contrário em breve se desperdiçará o salário pago pelo cereal que não foi debulhado do mesmo modo têm de ser vigiados seus ceifeiros segadores etc ele tem de conferir constantemente suas cercas tem de cuidar para que nada seja negligenciado o que acontecerá caso ele se limite a um único ponto J Arbuthnot An Enquiry Into the Connection Between the Price of Provisions and the Size of Farms etc By a Farmer Londres 1773 p 12 Esse escrito é muito interessante Nele podese estudar a gênese do capitalist farmer agricultor capitalista ou merchant farmer agricultor mercantil como ele é expressamente chamado e escutar sua autoglorificação em contraste com o small farmer pequeno agricultor cuja atividade é essencialmente dedicada à subsistência A classe capitalista é liberada de início parcialmente e por fim totalmente da necessidade do trabalho manual Textbook of Lectures on the Polit Economy of Nations By the Rev Richard Jones Hertford 1852 lecture III p 39 205a A teoria molecular aplicada na química moderna e desenvolvida cientificamente pela primeira vez por Laurent e Gerhardt não se baseia senão nessa lei Adendo à terceira edição A título de esclarecimento desta nota bastante obscura para quem não é químico observamos que o autor se refere aqui às séries homólogas dos compostos de hidrocarbonetos assim denominados pela primeira vez por C Gerhardt em 1843 e possuindo cada uma delas uma fórmula algébrica própria de composição Assim a série das parafinas CnH2n2 a dos álcoois normais CnH2n2O a dos ácidos graxos normais CnH2nO2 e muitas outras Nos exemplos anteriores a simples adição quantitativa de CH2 à fórmula molecular forma a cada vez um corpo qualitativamente diferente Sobre o papel superestimado por Marx de Laurent e Gerhardt na determinação desse fato importante cf Kopp Entwicklung der Chemie Munique 1873 p 70916 e Schorlemmer Rise and Progress of Organic Chemistry Londres 1879 p 54 F E 206 Martinho Lutero chama tais instituições de A Sociedade Monopolia 207 Reports of Insp of Fact for 30th April 1849 p 59 208 Ibidem p 60 O inspetor de fábrica Stuart também escocês e ao contrário dos inspetores de fábrica ingleses totalmente dominado pelo modo de pensar capitalista observa expressamente que essa carta que ele incorpora em seu relato é a informação mais útil feita por qualquer um dos fabricantes que utilizam o sistema de revezamento e a mais bem concebida para remover os preconceitos e reservas contra aquele sistema 656 1 O valor do salário médio diário é determinado por aquilo que o trabalhador precisa so as to live labour and generate para viver trabalhar e procriar William Petty Political Anatomy of Ireland cit p 64 The Price of Labour is always constituted of the Price of necessaries whenever the labouring mans wages will not suitably to his low rank and station as a labouring man support such a family as is often the lot of many of them to have O preço do trabalho é sempre determinado pelo preço dos meios de subsistência necessários o salário do trabalhador não é o bastante quando não chega para alimentar uma família tão grande como costuma ser o fado de muitos deles de acordo com sua baixa condição como trabalhadores Jacob Vanderlint Money Answers All Things cit p 15 Le simple ouvrier qui na que ses bras et son industrie na rien quautant quil parvient à vendre à dautres sa peine En tout genre de travail il doit arriver et il arrive en effet que le salaire de louvrier se borne à ce qui lui est nécessaire pour lui procurer la subsistance O simples trabalhador que não possui mais do que seus braços e sua força nada tem a não ser que consiga vender a outrem seu trabalho Por isso em qualquer tipo de trabalho tem de ocorrer e de fato assim ocorre que o salário do trabalhador é limitado àquilo que ele necessita para seu sustento Turgot Réflexions etc cit p 10 The price of the necessaries of life is in fact the cost of producing labour O preço dos meios de subsistência é de fato igual aos custos da produção do trabalho Malthus Inquiry into etc Rent Londres 1815 p 48 nota 2 Quando si perfezionano le arti che non è altro che la scoperta di nuove vie onde si possa compiere una manufattura con meno gente o che è lo stesso in minor tempo di prima Quando as indústrias se aperfeiçoam o que não é senão a descoberta de novos caminhos pelos quais se pode criar uma manufatura com menos homens ou o que é o mesmo num tempo mais curto do que antes Galiani Della moneta cit p 1589 Léconomie sur les frais de production ne peut être autre chose que léconomie sur la quantité de travail employé pour produire A economia dos custos de produção não pode ser senão a economia da quantidade de trabalho empregado para produzila Sismondi Études t I p 22 3 A mans profit does not depend upon his command of the produce of other mens labour but upon his command of labour itself If he can sell his goods at a higher price while his workmens wages remain unaltered he is clearly benefited A smaller proportion of what he produces is sufficient to put that labour into motion and a larger proportion consequently remains for himself Se o fabricante dobrar sua produção mediante o melhoramento da maquinaria ele ganhará por fim apenas se conseguir vestir seus trabalhadores de modo barato de modo que uma parte menor do ganho total seja gasta com os trabalhadores Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth cit p 1689 3a O lucro de um homem não depende de seu comando sobre o produto do trabalho de outrem mas de seu comando sobre o próprio trabalho Se pode vender suas mercadorias por um preço mais alto enquanto os salários de seus trabalhadores permanecem inalterados ele lucra claramente com isso Uma parte menor daquilo que ele produz lhe é suficiente para pôr aquele trabalho em movimento restandolhe consequentemente uma parte maior J Cazenove Outlines of Polit Econ Londres 1832 p 4950 4 If my neighbour by doing much with little labour can sell cheap I must contrive to sell as cheap as he So that every art trade or engine doing work with labour of fewer hands and consequently cheaper begets in others a kind of necessity and emulation either of using the same art trade or engine or of inventing something like it that every man may be upon the square that no man may be able to undersell his neighbour Se meu vizinho pode vender barato produzindo muito com pouco trabalho sou obrigado a vender tão barato quanto ele É assim que toda arte todo método ou toda máquina que possibilita trabalhar com menos mãos e consequentemente torna o trabalho mais barato cria para os outros uma espécie de obrigação e uma concorrência seja para empregar a mesma arte o mesmo método ou a mesma máquina seja para inventar algo semelhante a fim de que todos estejam no mesmo patamar e ninguém esteja em condições de vender mais barato que seu vizinho em The Advantages of the EastIndia Trade to England Londres 1720 p 67 5 In whatever proportion the expenses of a labourer are diminished in the same proportion will his wages be diminished if the restraints upon industry are at the same time taken off Qualquer que seja a proporção em que se diminuam as despesas de um trabalhador seu salário será reduzido na mesma proporção se ao mesmo tempo forem removidas as restrições à indústria Considerations Concerning Taking off the Bounty on Corn Exported etc Londres 1753 p 7 The interest of trade requires that coin and all provisions should be as cheap as possible for whatever makes them dear must make labour dear also in all countries where industry is not restrained the price of provisions must affect the Price of Labour This will always be diminished when the necessaries of life grow cheaper O interesse da indústria exige que os cereais e todos os meios de subsistência custem o menos possível pois o que os encarece também tem de encarecer o trabalho o preço dos meios de subsistência afeta o preço do trabalho em todos os países em que a indústria não se submete a quaisquer restrições O preço do trabalho diminuirá sempre que os meios básicos de subsistência se 657 tornarem mais baratos ibidem p 3 Wages are decreased in the same proportion as the powers of production increase Machinery it is true cheapens the necessaries of life but it also cheapens the labourer too Os salários caem na mesma proporção em que aumentam as forças de produção A maquinaria barateia é verdade os meios básicos de subsistência mas também barateia o trabalhador A Prize Essay on the Comparative Merits of Competition and Cooperation Londres 1834 p 27 6 Ils conviennent que plus on peut sans préjudice épargner de frais ou de travaux dispendieux dans la fabrication des ouvrages des artisans plus cette épargne est profitable par la diminution des prix de ces ouvrages Cependant ils croient que la production de richesse qui résulte des travaux des artisans consiste dans laugmentation de la valeur vénale de leurs ouvrages Quesnay Dialogues sur le commerce et sur les travaux des artisans p 1889 7 Ces spéculateurs si économes du travail des ouvriers quil faudrait quils payassent Esses especuladores são tão parcimoniosos do trabalho dos trabalhadores que eles deveriam pagar J N Bidaut Du monopole qui sétablit dans les arts industriels et le commerce Paris 1828 p 13 The employer will be always on the stretch to economise time and labour O empregador buscará sempre economizar tempo e trabalho Dugald Stewart em sir Hamilton org Works Edimburgo 1855 Lectures on Polit Econ v VIII p 318 Their the capitalists interest is that the productive powers of the labourers they employ should be the greatest possible On promoting that power their attention is fixed and almost exclusively fixed Eles os capitalistas têm interesse em que a força produtiva dos trabalhadores que eles empregam seja a maior possível Sua atenção se volta quase exclusivamente para o aumento dessa força R Jones An Essay on the Distribution of Wealth Londres 1831 Lecture III 658 8 Unquestionably there is a great deal of difference between the value of one mans labour and that of another from strength dexterity and honest application But I am quite sure from my best observation that any given five men will in their total afford a proportion of labour equal to any other five within the period of life I have stated that is that among such five men there will be one possessing all the qualifications of a good workman one bad and the other three middling and approximating to the first and the last So that in so small a platoon as that of even five you will find the full complement of all that five men can earn Inquestionavelmente há uma considerável diferença entre o valor do trabalho de um homem e outro no que concerne à força à destreza e à aplicação honesta Mas estou certo baseado em minhas observações de que qualquer grupo dado de cinco homens executará em seu total uma proporção de trabalho igual a qualquer outro grupo de cinco homens no interior dos citados períodos de vida isto é que em tal grupo de cinco homens haverá um que possua todas as qualificações de um bom trabalhador outro será um mau trabalhador e os outros três serão medianos mais ou menos próximos do melhor e do pior Desse modo num pequeno grupo de cinco homens encontrareis a plenitude de tudo o que cinco homens podem produzir Edmund Burke Thoughts and Details on Scarcity Originally Presented to the Rt Hon W Pitt in the Month of November 1795 cit p 156 Cf Quételet sobre o indivíduo médio 9 O senhor professor Roscher Die Grundlagen der Nationalökonomie 3 ed StuttgartAugsburg 1858 p 889 pretende ter descoberto que uma costureira empregada durante dois dias pela senhora professora realiza mais trabalho do que duas costureiras empregadas pela senhora professora no mesmo dia O senhor professor não deveria realizar suas observações sobre o processo de produção capitalista no quarto das crianças tampouco em circunstâncias em que falta o personagem principal o capitalista 10 Destutt de Tracy Concours de forces em Traité de la volonté et de ses effets cit p 80 11 There are numerous operations of so simple a kind as not to admit a division into parts which cannot be performed without the cooperation of many pairs of bands For instance the lifting of a large tree on a wain every thing in short which cannot be done unless a great many pairs of hands help each other in the same undivided employenent and at the same time Há inúmeras operações de tipo tão simples que não admitem uma divisão em partes não podendo ser realizadas sem a cooperação de muitos pares de mãos Eu citaria como exemplo a operação de colocar um grande tronco de árvore sobre um carro em suma tudo aquilo que não pode ser feito a não ser com a ajuda mútua de muitos pares de mãos empregadas na execução da mesma tarefa e ao mesmo tempo E G Wakefield A View of the Art of Colonisation Londres 1849 p 168 11a As one man cannot and 10 men must strain to lift a tun of weight yet one hundred men can do it only by the strength of a finger of each of them Enquanto um homem não é capaz de erguer um fardo de 1 tonelada e 10 homens têm de se esforçar muito para isso 100 homens conseguem fazêlo usando cada um deles apenas um de seus dedos John Bellers Proposals for Raising a Colledge of Industry cit p 21 12 There is also an advantage in the proportion of servants which will not easily be understood but by practical men for it is natural to say as 1 is to 4 so are 3 12 but this will not hold good in practice for in harvesttime and many other operations which require that kind of despatch by the throwing many hands together the work is better and more expeditiously done ss i in harvest 2 drivers 2 loaders 2 pitchers 2 rakers and the rest at the rick or in the barn will despatch double the work that the same number of hands would do if divided into different gangs on different farms Há também quando o mesmo número de homens é empregado por um fazendeiro em 300 acres de terra em vez de por 10 fazendeiros cada um distribuindo uma parte dos homens numa área de 30 acres uma vantagem na proporção dos servos que não será compreendida facilmente a não ser por homens práticos Dizse naturalmente que 1 está para 4 assim como 3 está para 12 mas isso não se conserva na prática pois em épocas de colheita e em muitas outras operações que exigem um esforço semelhante o trabalho é realizado melhor e mais rapidamente quando muitas forças de trabalho operam em conjunto Por exemplo numa colheita dois carroceiros dois carregadores dois enfeixadores dois recolhedores e o restante dos trabalhadores no palheiro ou no celeiro realizam juntos o dobro do trabalho que o mesmo número realizaria se divididos em grupos e separados em diferentes fazendas J Arbuthnot An Inquiry into the Connection between the Present Price of Provisions and the Size of Farms By a Farmer Londres 1773 p 78 13 A definição de Aristóteles é na verdade a de que o homem é cidadão por natureza Ela é tão característica da Antiguidade clássica quanto a definição de Franklin segundo a qual o homem é por natureza um fazedor de instrumentos é característica da sociedade ianque 14 On doit encore remarquer que cette division partielle du travail peut se faire quand même les ouvriers sont occupés dune même besogne Des maçons par exemple occupés de faire passer de mains en mains des briques à un échafaudage supérieur font tous la même besogne et pourtant il existe parmi eux une espèce de division de travail qui consiste en ce que chacun 659 deux fait passer la brique par un espace donné et que tous ensemble la font parvenir beaucoup plus promptement à lendroit marqué quils ne feraient si chacun deux portait sa brique séparément jusquà léchafaudage supérieur Devese notar ainda que essa divisão parcial do trabalho pode ser realizada também quando os trabalhadores se ocupam de uma mesma tarefa Os pedreiros por exemplo que levam tijolos de mão em mão até um patamar superior do andaime realizam todos a mesma tarefa e no entanto há entre eles uma espécie de divisão do trabalho que consiste no fato de que cada um deles faz o tijolo avançar um certo espaço e que todos juntos fazem com que ele alcance o lugar intencionado mais rapidamente do que se cada um deles levasse em separado seu tijolo até o patamar superior F Skarbek Théorie des richesses sociales 2 ed Paris 1839 t I p 978 15 Estil question dexécuter un travail compliqué plusieurs choses doivent être faites simultanément Lun en fait une pendant que lautre en fait une autre et tous contribuent à leffet quun seul homme naurait pu produire Lun rame pendant que lautre tient le gouvernail et quun troisième jette le filet ou harponne le poisson et la pêche a un succès impossible sans ce concours Se se trata da execução de uma trabalho complexo várias coisas têm de ser feitas simultaneamente Um faz uma coisa enquanto outro faz outra e todos contribuem para o resultado que um único homem não poderia ter produzido Um rema enquanto o outro segura o leme e um terceiro joga a rede ou arpoe o peixe e assim a pesca atinge um sucesso que seria impossível sem essa cooperação Destutt de Tracy Traité de la volonté et de ses effets cit p 78 16 The doing of it the critical juncture is of so much the greater consequence Sua realização do trabalho na agricultura no momento decisivo tem um efeito ainda maior J Arbuthnot An Inquiry into the Connection between the Present Price cit p 7 Na agricultura não há nenhum fator mais importante do que o fator do tempo Justus von Liebig Ueber Theorie und Praxis in der Landwirthschaft 1856 p 23 17 The next evil is one which one would scarcely expect to find in a country which exports more labour than any other in the world with the exception perhaps of China and England the impossibility of procuring a sufficient number of hands to clean the cotton The consequence of this is that large quantities of the crop are left unpicked while another portion is gathered from the ground when it has fallen and is of course discoloured and partially rotted so that for want of labour at the proper season the cultivator is actually forced to submit to the loss of a large part of that crop for which England is so anxiously looking Outro mal que dificilmente se espera encontrar num país que exporta mais trabalho do que qualquer outro no mundo com exceção talvez da China e da Inglaterra consiste na impossibilidade de se conseguir um número suficiente de mão de obra para a colheita do algodão Em consequência disso grandes quantidades de algodão permanecem sem ser colhidas enquanto uma outra parte é recolhida da terra depois de caída e obviamente já amarelada e parcialmente apodrecida de modo que em virtude da falta de trabalhadores na estação certa o plantador é obrigado a conformarse com a perda de uma grande parte daquela colheita tão aguardada na Inglaterra Bengal Hurkaru BiMonthly Overland Summary of News 22 jul 1861 18 In the progress of culture all and perhaps more than all the capital and labour which once loosely occupied 500 acres are now concentrated for the more complete tillage of 100 relatively to the amount of capital and labour employed space is concentrated it is an enlarged sphere of production as compared to the sphere of production formerly occupied or worked upon by one single independent agent of production Com o progresso no cultivo todo capital e todo trabalho que antes eram dispersos por 500 acres e talvez por uma área ainda maior concentramse agora no cultivo mais intensivo de 100 acres Embora em relação ao montante de capital e trabalho empregados o espaço tenha diminuído ele representa uma esfera de produção maior em comparação com a esfera de produção que antes era ocupada ou cultivada por um único produtor autônomo R Jones An Essay on the Distribution of Wealth cit parte I p 191 19 La forza di ciascuno uomo è minima ma la riunione delle minime forze forma una forza totale maggiore anche della somma delle forte medesime fino a che le forze par essere riunite possono diminuere il tempo ed accrescere lo spazio della loro azione A força do homem individual é mínima mas a reunião das forças mínimas forma uma força total maior do que a soma dessas forças de modo que a mera reunião das forças pode diminuir o tempo e aumentar o espaço de sua ação G R Carli citado em P Verri Meditazione sulla economia politica cit t XV p 196 20 Profits is the sole end of trade Lucros são a única finalidade do negócio J Vanderlint Money Answers All Things cit p 11 21 O jornal filisteu inglês Spectator de 26 de maio de 1866 relata que após a introdução de um tipo de parceria entre capitalistas e trabalhadores na Wirework Company of Manchester companhia de fabricação de arames de Manchester the first result was a sudden decrease in waste the men not seeing why they should waste their own property any more than any other masters and waste is perhaps next to bad debts the greatest source of manufacturing loss o 660 primeiro resultado foi uma redução repentina do desperdício de material pois os trabalhadores não compreendiam por que deveriam desperdiçar mais sua propriedade do que a dos capitalistas e desperdício de material talvez seja ao lado de dívidas não recebidas a maior fonte de prejuízos nas fábricas O mesmo jornal descobriu como falha principal dos Rochdale cooperative experiments experimentos cooperativistas de Rochdale They showed that associations of workmen could manage shops mills and almost all forms of industry with success and they immensely improved the condition of the men but then they did not leave a clear place for masters Eles comprovaram que as associações de trabalhadores podem gerir com sucesso lojas fábricas e quase toda forma de indústria e eles melhoraram imensamente a condição dos homens porém não deixaram nenhum lugar visível para capitalistas Quelle horreur Que horror Em 1844 sob a influência das ideias dos socialistas utópicos os trabalhadores de Rochdale ao norte de Manchester formaram a Society of Equitable Pioneers Sociedade dos pioneiros justos Originalmente uma cooperativa de consumo essa sociedade se expandiu rapidamente e instaurou formas cooperativas de produção Com os pioneiros de Rochdale teve início um novo período do movimento cooperativista na Inglaterra em outros países N E A MEW 21a Depois de apresentar a superintendence of labour supervisão do trabalho como um caráter central da produção escravagista nos Estados sulistas da América do Norte o professor Cairnes prossegue The peasant proprietor appropriating the whole produce of his soil needs no other stimulus to exertion Superintendence is here completely dispensed with Como o proprietário camponês do norte apropria o produto total de seu solo Em Cairnes de seu trabalho N E A MEW ele não precisa de nenhum estímulo especial para se esforçar A supervisão é aqui totalmente desnecessária J E Cairnes The Slave Power cit p 489 22 Sir James Steuart que se sobressai por seu olhar atento às diferenças caracteristicamente sociais entre vários modos de produção observa Why do large undertakings in the manufacturing way ruin private industry but by coming nearer to the simplicity of slaves Por que grandes empresas manufatureiras destroem as oficinas domésticas senão pelo fato de estarem mais próximas da simplicidade do trabalho escravo em Princ of Pol Econ Londres 1767 v I p 1678 22a Assim Auguste Comte e sua escola poderiam ter provado a necessidade eterna dos senhores feudais do mesmo modo como o fizeram com relação aos senhores do capital 23 R Jones Textbook of Lectures etc cit p 778 As coleções da antiga Assíria Egito etc em Londres e outras capitais europeias nos transformam em testemunhas oculares desses processos cooperativos de trabalho 24 A pequena economia camponesa e a produção das oficinas independentes que em parte são a base do modo de produção feudal e em parte aparecem ao lado do modo de produção capitalista depois da dissolução do feudalismo constituem ao mesmo tempo a base econômica da comunidade clássica em sua melhor época depois de terse dissolvido a primitiva propriedade comum oriental e antes de a escravatura terse apoderado seriamente da produção 25 Whether the united skill industry and emulation of many together on the same work be not the way to advance it And whether it had been otherwise possible for England to have carried on her Woollen Manufacture to so great a perfection Não é a união da habilidade diligência e emulação de muitos juntos na mesma obra o caminho para levála adiante E de outro modo teria sido possível à Inglaterra elevar sua manufatura de lã a tal grau de perfeição Berkeley The Querist Londres 1750 p 56 521 661 26 Para dar um exemplo mais recente dessa configuração da manufatura citamos a seguinte passagem A fiação e tecelagem de seda de Lyon e Nîmes est toute patriarcale elle emploie beaucoup de femmes et denfants mais sans les épuiser ni les corrompre elle les laisse dans leurs belles vallées de la Drôme du Var de lIsère de Vaucluse pour y élever des vers et dévider leurs cocons jamais elle nentre dans une véritable fabrique Pour être aussi bien observé le principe de la division du travail sy revêt dun caractère spécial Il y a bien des dévideuses des moulineurs des teinturiers des encolleurs puis des tisserands mais ils ne sont pas réunis dans un même établissement ne dépendent pas dun même maître tous ils sont indépendants é totalmente patriarcal emprega muitas mulheres e crianças porém sem esgotálos ou corrompêlos permite que eles permaneçam em seus belos vales de Drôme Var Isère e Vaucluse para lá cultivar bichos da seda e enovelar seus casulos ela jamais se transforma numa verdadeira fábrica Para ser aplicado devidamente o princípio da divisão do trabalho assume aqui um caráter especial Decerto existem dobadouras torcedores de seda tintureiros encoladores além de tecelões mas eles não são reunidos num mesmo estabelecimento dependentes do mesmo mestre todos são independentes A Blanqui Cours décon industrielle Paris 18381839 p 79 Desde que Blanqui escreveu isso os vários trabalhadores independentes foram reunidos em parte em fábricas Adendo à quarta edição E desde que Marx escreveu a passagem anterior o tear a vapor consolidouse nas fábricas expulsando rapidamente o tear manual A indústria de sedas de Krefeld é a prova viva desse processo F E 27 The more any manufacture of much variety shall be distributed and assigned to different artists the same must needs be better done and with greater expedition with less loss of time and labour Quanto mais um trabalho altamente variado é subdividido e atribuído a diferentes trabalhadores parciais tanto mais ele tem necessariamente de ser executado melhor e mais depressa com menos perda de tempo e de trabalho The Advantages of the East India Trade Londres 1720 p 71 28 Easy labour is transmitted skill O trabalho realizado facilmente é habilidade transmitida T Hodgskin Popular Political Economy p 48 29 No Egito também as artes alcançaram o devido grau de perfeição Pois somente nesse país os artesãos não podem intervir de modo algum nos negócios de outra classe de cidadãos e sim devem apenas seguir a vocação que por lei é hereditária em sua tribo Em outros países observase que os trabalhadores Gewerbsleute dividem sua atenção entre muitos objetos Ora tentam a agricultura ora dedicamse ao comércio ora ocupamse com duas ou três artes simultaneamente Em Estados livres eles frequentam na maioria das vezes as assembleias populares No Egito ao contrário qualquer artesão é duramente punido se se intromete nos negócios do Estado ou se exerce várias artes simultaneamente Assim nada pode perturbar sua dedicação à sua profissão Além disso como recebem muitas regras de seus antepassados são ávidos por descobrir ainda novas vantagens Diodoro Sículo Historische Bibliothek cit livro I c 74 30 Hugh Murray James Wilson et al Historical and Descriptive Account of Brit India etc Edimburgo 1832 v II p 44950 O tear indiano fica de pé isto é a corrente é esticada verticalmente 31 Em sua marcante obra A origem das espécies Darwin observa com relação aos órgãos naturais das plantas e dos animais Dado que um mesmo órgão tem de executar diferentes trabalhos podese talvez encontrar um motivo para sua variabilidade no fato de a seleção natural preservar ou suprimir cada pequeno desvio de forma menos cuidadosa do que seria o caso se o mesmo órgão fosse destinado apenas a uma finalidade particular Assim facas destinadas a cortar qualquer coisa podem possuir no geral a mesma forma ao passo que uma ferramenta destinada a uma aplicação específica tem de ter para cada uso distinto uma forma igualmente distinta 32 Em 1854 Genebra produziu 80 mil relógios menos de 15 da produção do cantão de Neuchâtel Apenas Chaux deFonds que se pode considerar uma única manufatura de relógios produz sozinha anualmente o dobro de Genebra De 18501861 Genebra forneceu 720 mil relógios Ver Report from Geneva on the Watch Trade em Reports by H Ms Secretaries of Embassy and Legation on the Manufactures Commerce etc n 6 1863 Se a falta de conexão entre os processos em que se fraciona a produção de artigos apenas justapostos dificulta em muito a transformação de tais manufaturas em produção mecanizada da grande indústria no caso dos relógios acrescentam se ainda dois outros obstáculos a pequena dimensão e delicadeza de seus elementos e seu caráter de luxo portanto sua variedade de modo que por exemplo nas melhores casas de Londres dificilmente se chega à produção de uma dúzia de relógios por ano que sejam parecidos A fábrica de relógios de Vacheron Constantin que emprega maquinaria com sucesso também produz um máximo de três a quatro diferentes variedades em tamanho e forma 33 Na fabricação de relógios esse exemplo clássico da manufatura heterogênea podese estudar com muita precisão a anteriormente mencionada diferenciação e especialização que resulta da decomposição da atividade artesanal 662 34 In so close a cohabitation of the people the carriage must needs be less Numa coabitação tão densa de pessoas o transporte tem necessariamente de ser menor The Advantages of the East India Trade p 106 35 The isolation of the different stages of manufacture consequent upon the employment of the manual labour adds immensely to the cost of production the loss mainly arising from the mere removals from one process to another O isolamento dos diferentes estágios da produção na manufatura que decorre do emprego do trabalho manual eleva imensamente os custos de produção originandose a perda principalmente do mero transporte de um processo de trabalho para outro The Industry of Nations Londres 1855 parte II p 200 36 It the division of labour produces also an economy of time by separating the work into its different branches all of which may be carried on into execution at the same moment By carrying on all the different processes at once which an individual must have executed separately it becomes possible to produce a multitude of pins for instance completely finished in the same time as a single pin might have been either cut or pointed Ela a divisão do trabalho produz também uma economia de tempo ao separar o trabalho em seus ramos diferentes que podem todos ser executados ao mesmo tempo Por meio da execução simultânea de todos os diferentes processos que um indivíduo teria de executar separadamente tornase possível produzir uma grande quantidade de alfinetes completamente acabados no mesmo tempo que seria necessário para cortar ou apontar um único alfinete Dugald Stewart em Works cit p 319 37 They more variety of artists to every manufacture the greater the order and regularity of every work the same must needs be done in less time the labour must be less Quanto maior a variedade de trabalhadores especiais em cada manufatura tanto mais ordenado e regular é cada trabalho este tem necessariamente de ser feito em menos tempo e o trabalho tem de ser menor The Advantages etc cit p 68 38 Em muitos ramos no entanto o sistema manufatureiro só alcança esse resultado de modo imperfeito pelo fato de não saber controlar com segurança as condições físicas e químicas gerais do processo de produção 39 Quando a experiência segundo a natureza peculiar dos produtos de cada manufatura revela o número de processos nos quais é mais vantajoso dividir a fabricação assim como o número de trabalhadores a serem nela empregados então todas as outras manufaturas que não empreguem um múltiplo exato desse número produzirão o artigo com custos maiores Daí surge uma das causas do grande número de estabelecimentos manufatureiros C Babbage On the Economy of Machinery Londres 1832 c XXI p 1723 40 Na Inglaterra o forno de fundição é separado do forno de vidro no qual o vidro é trabalhado na Bélgica por exemplo o mesmo forno serve para os dois processos 41 Isso pode ser visto entre outros em W Petty John Bellers Andrew Yarranton The Advantages of the EastIndia Trade cit e em J Vanderlint Money Answers All Things cit 42 Na França ainda no final do século XVI utilizavase o almofariz e a peneira para triturar e lavar o minério 43 A história inteira do desenvolvimento da maquinaria pode ser seguida por meio da história dos moinhos de cereais Em inglês a fábrica continua a chamarse mill moinho Em escritos tecnológicos alemães dos primeiros decênios do século XIX encontrase ainda a expressão moinho como designação não só de toda maquinaria movida por forças naturais como também de todas as manufaturas que empregam aparatos mecânicos 44 Como se verá mais detalhadamente no Livro IV desta obra A Smith não concebeu nenhuma tese nova sobre a divisão do trabalho Mas o que o caracteriza como economista político que sintetiza o período da manufatura é o acento que ele coloca sobre a divisão do trabalho O papel subordinado que confere à maquinaria provocou no começo da grande indústria a polêmica de Lauderdale e numa época mais desenvolvida a de Ure A Smith também confunde a diferenciação dos instrumentos na qual os próprios trabalhadores parciais da manufatura participaram muito ativamente com a invenção das máquinas Não são os trabalhadores das manufaturas mas os estudiosos os artesãos e mesmo os camponeses Brindley etc que desempenham aqui um papel importante 45 O mestremanufatureiro ao dividir a obra a ser executada em vários processos distintos cada um deles exigindo graus diferentes de habilidade e força pode obter exatamente a quantidade precisa de força e habilidade necessária para cada processo ao passo que se a obra inteira tivesse de ser executada por um só operário esta pessoa teria de possuir habilidade suficiente para as operações mais delicadas e força suficiente para as mais laboriosas C Babbage On the Economy of Machinery cit c XIX 46 Por exemplo o desenvolvimento unilateral dos músculos o encurvamento dos ossos etc 47 Muito corretamente responde o sr W Marschall general manager gerente geral de uma manufatura de vidros à pergunta do comissário de inquérito acerca de como se conseguia manter a produtividade dos jovens trabalhadores They cannot well neglect their work when they once begin they must go on they are just the same as parts of a machine 663 Eles não podem de modo algum negligenciar seu trabalho tendo começado a trabalhar têm de prosseguir são exatamente como partes de uma máquina Child Empl Comm Fourth Report 1865 p 247 48 O dr Ure em sua apoteose da grande indústria compreende as características peculiares da manufatura mais nitidamente do que os economistas anteriores que não tinham seu interesse polêmico e mesmo mais do que seus contemporâneos como Babbage que embora lhe supere como matemático e mecânico concebe a grande indústria na verdade apenas do ponto de vista da manufatura Diz Ure O ajustamento dos trabalhadores a cada operação específica constitui a essência da distribuição dos trabalhos Por outro lado ele designa essa distribuição como adaptação dos trabalhos às diferentes capacidades individuais e por fim caracteriza todo o sistema da manufatura como um sistema de gradações segundo o nível de habilidade uma divisão do trabalho segundo os diferentes graus de habilidade Ver Ure Philos of Manuf cit p 1923s 49 Each handicraftsman being enabled to perfect himself by practice in one point became a cheaper workman Todo artesão que dispunha dos meios de aperfeiçoar a si mesmo por meio da prática numa operação específica tornouse um trabalhador mais barato ibidem p 19 50 A divisão do trabalho vai desde a separação das profissões as mais diferentes até aquela divisão em que vários dividem entre si a preparação de um único e mesmo produto como na manufatura Storch Cours décon pol Paris t I p 173 Nous rencontrons chez les peuples parvenus à un certain degré de civilisation trois genres de divisions dindustrie la première que nous nommons générale amène la distinction des producteurs en agriculteurs manufacturiers et commerçants elle se rapporte aux trois principales branches dindustrie nationale la seconde quon pourrait appeler spéciale est la division de chaque genre dindustrie en espèces la troisième division dindustrie celle enfin quon devrait qualifier de division de la besogne ou du travail proprement dit est celle qui sétablit dans les arts et les métiers séparés qui sétablit dans la plupart des manufactures et des ateliers Nos povos que alcançaram certo grau de civilização encontramos três gêneros de divisão da indústria a primeira que chamaremos de geral leva à distinção dos produtores em agricultores manufaturadores e comerciantes correspondendo aos três ramos principais da indústria nacional a segunda que se poderia chamar especial é a divisão de cada gênero da indústria em espécies a terceira divisão da indústria aquela que por fim deverseia qualificar como divisão de tarefas ou do trabalho propriamente dito é a que se estabelece nos ofícios e profissões separados que se estabelece na maior parte das manufaturas e das oficinas Skarbek Théorie des richesses sociales cit p 845 a Ver p 162 N T 51 Sir James Steuart foi quem melhor tratou dessa questão O quão pouco conhecida hoje em dia é sua obra publicada dez anos antes da Riqueza das nações podese perceber entre outras coisas pelo fato de os admiradores de Malthus nem sequer saberem que este último na primeira edição de sua obra sobre a population abstraindose de sua parte puramente declamatória limitase quase exclusivamente a copiar Steuart ao lado dos padres Wallace e Townsend 52 There is a certain density of population which is convenient both for social intercourse and for that combination of powers by which the produce of labour is increased Há certa densidade de população que é conveniente tanto para o intercurso social quanto para a combinação das forças pelas quais a produtividade do trabalho é aumentada James Mill Elements of Pol Econ cit p 50 As the number of labourers increases the productive power of society augments in the compound ratio of that increase multiplied by the effects of the division of labour Se o número de trabalhadores cresce a força produtiva da sociedade aumenta na mesma proporção multiplicada pelos efeitos da divisão do trabalho T Hodgskin Popular Political Economy cit p 120 53 A partir de 1861 em alguns distritos muito populosos da Índia Oriental a grande demanda por algodão fez com que se ampliasse sua produção à custa da de arroz Isso gerou a escassez de alimentos em certas partes pois devido à falta de meios de comunicação e portanto de conexão física não se podia compensar a falta de arroz num distrito com o suprimento de outros distritos 54 Assim a fabricação de lançadeiras já constituía um ramo particular da Indústria no século XVII na Holanda 55 Whether the Woollen Manufacture of England is not divided into several parts or branches appropriated to particular places where they are only or principally manufactured fine cloths in Somersetshire coarse in Yorkshire long ells at Exeter soies at Sudbury crapes at Norwich linseys at Kendal blankets at Whitney and so forth Não está a manufatura de lã da Inglaterra dividida em diferentes partes ou ramos apropriados a lugares específicos onde cada produto é manufaturado exclusiva ou principalmente tecidos finos em Somersetshire grosseiros em Yorkshire enfestados em Exeter seda em Sudbury crepes em Norwich meialã em Kendal cobertores em Whitney etc Berkeley The Querist cit 520 664 56 A Ferguson History of Civil Society Edimburgo 1767 parte IV seção II p 285 57 Nas manufaturas propriamente ditas diz ele a divisão do trabalho parece ser maior porque those employed in every different branch of the work can often be collected into the same workhouse and placed at once under the view the spectator In those great manufactures on the contrary which are destined to supply the great wants of the great body of the people every different branch of the work employs so great a number of workmen that it is impossible to collect them all into the same workhouse the division is not near so obvious aqueles empregados em cada ramo de trabalho podem ser frequentemente reunidos numa mesma oficina e colocados imediatamente sob o olhar do observador Ao contrário naquelas grandes manufaturas destinadas a satisfazer às principais necessidades da grande massa da população cada ramo de trabalho emprega um número tão grande de trabalhadores que se torna impossível reunilos na mesma oficina a divisão neste caso está longe de ser tão evidente A Smith Wealth of Nations cit livro I c 1 O célebre parágrafo no mesmo capítulo que começa com as palavras Observe the accomodation of the most common artificer or day labourer in a civilized and thriving country etc Observemse os bens do mais comum dos artesãos ou dos jornaleiros num país civilizado e florescente etc e então descreve de que modo um semnúmero de ofícios variados contribui para a satisfação das necessidades de um trabalhador comum é copiado quase literalmente dos remarks comentários de B de Mandeville à sua Fable of the Bees or Private Vices Publick Benefits 1 ed sem os remarks 1705 com os remarks 1714 58 There is no longer anything which we can call the natural reward of individual labour Each labourer produces only some part of a whole and each part having no value or utility of itself there is nothing on which the labourer can seize and say it is my product this I will keep for myselss Não há mais nada que possamos chamar de recompensa natural do trabalho individual Cada trabalhador produz apenas certa parte de um todo e como cada parte não tem qualquer valor ou utilidade por si mesma não há nada que o trabalhador possa se apropriar e dizer este é meu produto e o conservarei comigo T Hodgskin Labour Defended Against the Claims of Capital Londres 1825 p 25 58a Nota à segunda edição Essa diferença entre divisão social e manufatureira do trabalho foi ilustrada na prática para os ianques Um dos novos impostos planejados em Washington durante a Guerra Civil foi a taxa de 6 sobre todos os produtos industriais Pergunta o que é um produto industrial Resposta do legislador uma coisa é produzida quando é feita when it is made e é feita quando está pronta para a venda Ora vejamos um exemplo entre muitos As manufaturas de Nova York e da Filadélfia costumavam fazer guardachuvas com todos os seus acessórios Mas sendo um guardachuva um mixtum compositum composto variegado de partes totalmente heterogêneas estas se tornaram progressivamente artigos produzidos por indústrias independentes entre si e situadas em lugares diferentes Seus produtos parciais passaram então a ser introduzidos na manufatura de guardachuvas como mercadorias independentes tendo apenas de ser reunidos num todo Os ianques batizaram tais artigos de assembled articles artigos reunidos nome que lhes é adequado por serem uma reunião de impostos Desse modo o guardachuva reunia 6 de taxas sobre o preço de cada um de seus elementos e mais 6 sobre seu preço total b Expressão de Thomas Hobbes em seu Leviatã N T 59 On peut établir en règle générale que moins lautorité préside à la division du travail dans lintérieur de la société plus la division du travail se développe dans lintérieur de latelier et plus elle y est soumise à lautorité dun seul Ainsi lautorité dans latelier et celle dans la société par rapport à la division du travail sont en raison inverse lune de lautre É possível estabelecer uma regra geral segundo a qual quanto menor é a autoridade da divisão do trabalho no interior da sociedade mais ela se desenvolve no interior da oficina e mais será submetida à autoridade de um só indivíduo Assim a autoridade na oficina e a autoridade na sociedade estão com relação à divisão do trabalho em razão inversa uma para a outra Karl Marx Misère de la philosophie Miséria da filosofia cit p 1301 60 Tenentecoronel Mark Wilks Historical Sketches on the South of India Londres 18101817 v I p 11820 Uma boa descrição das diversas formas da comunidade indiana pode ser encontrada em George Campbell Modern India Londres 1852 61 Under this simple form the inhabitants of the country have lived since time immemorial The boundaries of the villages have been but seldom altered and though the villages themselves have been sometimes injured and even desolated by war famine and disease the same name the same limits the same interests and even the same families have continued for ages The inhabitants give themselves no trouble about the breaking up and division of kingdoms while the village remains entire they care not to what power it is transferred or to what sovereign it devolves its internal economy remains unchanged Sob essa forma simples viveram os habitantes do país desde tempos imemoriais As fronteiras das aldeias foram raramente alteradas e embora tenham sido repetidamente assoladas e mesmo devastadas pela guerra pela fome e por pestes nessas aldeias se conservaram ao longo das gerações as mesmas fronteiras os mesmos 665 interesses e inclusive as mesmas famílias Os habitantes não se deixam afetar pela queda e pela divisão dos reinos desde que a aldeia permaneça inteira não lhes importa a que poder ela passa a estar submetida ou a que soberano ela está vinculada sua economia interna permanece inalterada T Stamford Raffles antigo tenentegovernador de Java The History of Java Londres 1817 v I p 285 62 Não basta que o capital necessário o autor deveria ter dito os meios de subsistência e de produção necessários para a subdivisão dos ofícios já se encontre dado na sociedade além disso é necessário que ele esteja acumulado nas mãos dos empregadores em quantidades suficientemente grandes para capacitálos a executar trabalhos em grande escala Quanto mais aumenta a divisão maior é a quantidade de capital em ferramentas matériasprimas etc exigida pela ocupação constante de um mesmo número de trabalhadores Storch Cours décon poli Paris t I p 2501 La concentration des instruments de production et la division du travail sont aussi inséparables lune de lautre que le sont dans le régime politique la concentration des pouvoirs publics et la division des intérêts privés A concentração dos instrumentos de produção e a divisão do trabalho são tão inseparáveis uma da outra quanto no terreno da política a concentração dos poderes públicos é inseparável da divisão dos interesses privados Karl Marx Misère de la philosophie Miséria da filosofia cit p 134 63 Dugald Stewart chama o trabalhador manual de living automatons employed in the details of the work autômatos vivos que são empregados em trabalhos parciais em Works cit p 318 c Em 494 dC ocorreu o primeiro grande conflito entre patrícios e plebeus Segundo a lenda o patrício Menênio Agripa teria usado de uma parábola para convencer os plebeus a uma conciliação A revolta dos plebeus se assemelharia a uma recusa dos membros do corpo humano a permitir que o alimento chegasse ao estômago o que tinha como consequência que os próprios membros definhassem fortemente A recusa dos plebeus a cumprir suas obrigações levaria assim à ruína do Estado romano N E A MEW 64 Nos corais cada indivíduo constitui de fato o estômago de todo o grupo Mas esse indivíduo fornece alimento ao grupo em vez de como o patrício romano priválo desse alimento 65 Louvrier qui porte dans ses bras tout un métier peut aller partout exercer son industrie et trouver des moyens de subsister lautre nest quun accessoire qui séparé de ses confrères na plus ni capacité ni indépendance et qui se trouve forcé daccepter la loi quon juge à propos de lui imposer O trabalhador que carrega nos braços todo um ofício pode por toda parte exercer sua indústria e encontrar meios de subsistir o outro o trabalhador da manufatura é apenas um acessório que separado de seus colegas de trabalho não tem mais nem capacidade nem independência sendo portanto forçado a aceitar a lei que se julgue correto lhe impor Storch Cours décon poli cit São Petersburgo 1815 t I p 204 66 The former may have gained what the other has lost Um pode ter ganhado o que o outro perdeu A Ferguson History of Civil Society cit p 281 67 O homem do saber e o trabalhador produtivo estão longinquamente separados um do outro e a ciência em vez de aumentar nas mãos do trabalhador suas próprias forças produtivas para ele mesmo contrapõese a ele em quase toda parte O conhecimento tornase um instrumento que pode ser separado do trabalho e oposto a ele W Thompson An Inquiry into the Principles of the Distribution of Wealth Londres 1824 p 274 68 A Ferguson History of Civil Society cit p 280 69 J D Tuckett A History of the Past and Present State of the Labouring Population Londres 1846 v I p 148 70 A Smith A riqueza das nações livro V c I art II Como aluno de A Ferguson que havia desenvolvido as consequências desfavoráveis da divisão do trabalho A Smith possuía total clareza sobre esse ponto Na abertura de sua obra na qual a divisão do trabalho é festejada ex professo ele a menciona apenas de passagem como fonte das desigualdades sociais Somente no livro V dedicado à receita do Estado ele reproduz Ferguson Em Miséria da filosofia expus o necessário sobre a conexão histórica entre Ferguson A Smith Lemontey e Say no que diz respeito a suas críticas da divisão do trabalho e também mostrei pela primeira vez que a divisão manufatureira do trabalho é uma forma específica do modo capitalista de produção Misère de la philosophie Miséria da filosofia cit p 122s 71 Ferguson diz E o próprio pensamento pode nessa era da divisão do trabalho converterse num ofício particular 72 G Garnier t V de sua tradução p 45 73 Ramazzini professor de medicina prática em Pádua publicou em 1713 sua obra De morbis artificum traduzida para o francês em 1777 e reimpressa em 1841 na Encyclopédie des Sciences Médicales 7 me Div Auteurs Classiques O 666 período da grande indústria ampliou grandemente é claro seu catálogo de doenças dos trabalhadores Ver entre outras obras Hygiène physique et morale de louvrier dans les grandes villes en général et dans la ville de Lyon en particulier Par le Dr A L Fonteret Paris 1858 e R H Rohatzsch Die Krankheiten welche verschiednen Ständen Altern und Geschlechtern eigenthümlich sind Ulm 1840 6 v Em 1854 a Society of Arts nomeou uma comissão de inquérito sobre patologia industrial A lista dos documentos reunidos por essa comissão encontrase no catálogo do Twickenham Economic Museum Muito importante são os Reports on Public Health oficiais Ver também Eduard Reich Ueber die Entartung des Menschen Erlangen 1868 A Society of Arts and Trades Sociedade das Artes e Ofícios foi uma sociedade filantrópica fundada em 1754 inspirada nas ideias do Iluminismo Durante a década de 1850 a sociedade foi conduzida pelo príncipe Albert O objetivo da sociedade alardeado com grande pompa era o incentivo das artes dos ofícios e do comércio e a premiação daqueles que contribuíram para dar emprego aos pobres expandir o comércio aumentar as riquezas da nação etc No esforço de deter o desenvolvimento do movimento de greves de massa na Inglaterra a sociedade tentou atuar como mediadora entre os trabalhadores e os empresários Marx a chamava ironicamente de Society of Arts and Tricks Sociedade das Artes e Trapaças N E A MEW 74 To subdivide a man is to execute him if he deserves the sentence to assassinate him if he does not the subdivision of labour is the assassination of a people D Urquhart Familiar Words Londres 1855 p 119 Hegel tinha ideias bastante heréticas sobre a divisão do trabalho Por homens cultos podese entender aqueles que podem fazer tudo o que os outros fazem diz ele em sua Filosofia do direito Hegel Grundlinien der Philosophie des Rechts oder Naturrecht und Staatswissenschaft im Grundrisse Berlim 1840 187 N E A MEW d Horácio Sátiras livro I sátira 4 N E A MEW 75 A cômoda fé no gênio inventivo que o capitalista individual exerceria a priori na divisão do trabalho encontrase hoje apenas em professores alemães tais como o sr Roscher que em agradecimento pela divisão do trabalho que salta pronta da cabeça de Júpiter do capitalista dedica a este último diversos salários A maior ou menor aplicação da divisão do trabalho depende do tamanho da bolsa não da grandeza do gênio 76 Mais do que A Smith escritores anteriores como Petty assim como o autor anônimo de Advantages of the East India Trade etc fixaram o caráter capitalista da divisão manufatureira do trabalho 77 Entre os modernos excetuamse alguns escritores do século XVIII como Beccaria e James Harris que em relação à divisão do trabalho limitamse quase exclusivamente a repetir os antigos Assim observa Beccaria Ciascuno prova collesperienza che applicando la mano e lingegno sempre allo stesso genere di opere e di produtti egli più facili più abbondanti e migliori ne traca resultati di quello che se ciascuno isolatamente le cose tutte a se necessarie soltanto facesse Dividendosi in tal maniera par la comune e privata utilità gli uomini invarie classe e condizioni Cada um encontra em sua própria experiência a prova de que aplicando a mão e o engenho sempre no mesmo gênero de trabalhos e de produtos os resultados são mais fáceis mais abundantes e melhores do que aquele que se cada um fizesse isoladamente todas as coisas que lhes são necessárias Desse modo os homens se dividem em várias classes e condições para a utilidade comum e privada Cesare Beccaria Elementi di econ pubblica Ed Custodi t XI parte moderna p 28 James Harris mais tarde conde de Malmesbury célebre pelos Diaries Diários de sua embaixada em São Petersburgo diz numa nota a seu Dialogue Concerning Happiness Londres 1741 reimpresso mais tarde em Three Treatises etc 3 ed Londres 1772 The whole argument to prove society natural is taken from the second book of Platos Republic A prova plena de que a sociedade é algo natural isto é pela divisão das ocupações foi extraída do segundo livro da República de Platão O autor de Dialogue Concerning Happiness é não o diplomata James Harris autor dos Diários e correspondência mas o pai dele que também se chamava James Harris Marx cita aqui a partir de Three Treatises Londres 1772 N E A MEW 78 Assim na Odisseia XIV 228 lêse Allov gár tH Âlloisin Ãnbr Êpitérpetai Ërgoiv Pois outro homem se deleita também em outros trabalhos e Arquíloco em Sexto Empírico Allov ÂllS ÊpH ËrgS kardíjn Ïaínetai Cada um recreia seus sentidos com um trabalho diferente Marx extrai essa expressão de Arquíloco da obra Adversus mathematicos livro II 44 de Sexto Empírico N E A MEW 79 PollH hpístato Ërga kakJv dH hpístato pánta Ele sabia realizar muitos trabalhos mas sabia todos mal Como produtor de mercadorias o ateniense sentiase superior ao espartano porque este na guerra podia dispor de homens mas não de dinheiro de acordo com o que segundo Tucídides teria dito Péricles no discurso em que incita os atenienses à guerra do Peloponeso SHmasí te êtoimóteroi oï a2tourgoì tJn ÃnqrHpwn j cramasi polemeîn Aqueles que produzem para sua subsistência estão mais preparados para fazer guerra com seus corpos do que com dinheiro Tucídides História da guerra do Peloponeso livro I c 141 Entretanto também na produção material a a2tarkeía autarquia que se opõe à divisão do trabalho permaneceu como seu ideal pois com esta há 667 prosperidade mas com aquela há independência É preciso mencionar que à época da queda dos trinta tiranos não chegavam a 5 mil os atenienses sem propriedade de terra Trinta tiranos Conselho instituído em Atenas após a Guerra do Peloponeso 101 aC a fim de preparar uma nova constituição Porém essa corporação não tardou a tomar todo o poder e a instaurar um regime de terror Depois de oito meses de domínio violento os trinta tiranos foram derrubados e a democracia escravista foi restaurada em Atenas N E A MEW 80 Platão desenvolve a divisão do trabalho na comunidade a partir da multilateralidade das necessidades e da unilateralidade das capacidades dos indivíduos O aspecto principal para ele é que o trabalhador tem de se ajustar à obra e não a obra ao trabalhador o que é inevitável quando ele exerce diversas artes ao mesmo tempo e uma ou outra delas se torna ofício secundário O2 gàr oîmai Êqéleitò tò prattómenon tbn toû práttontov scolbn periménein ÃllH Ãnágkj tòn práttonta tV prattoménS Êpakolouqeîn mb Ên parérgou mérei HAnágkj HEk db toútwn pleíw te ëkasta gígnetai kaì kállion kaì 1âon ötan eÎv Èn katà fúsin kaì Ên kairV scolbn tJn Âllwn Âgwn práttl Pois o trabalho não quer esperar pelo tempo livre daquele que o executa mas é o trabalhador que tem de se ater ao trabalho porém não de modo leviano isto é necessário Daí se segue portanto que se produz mais de cada coisa e o trabalho é realizado com mais beleza e facilidade quando cada um faz apenas uma coisa adequada a seu talento natural e no momento certo estando livre de outras ocupações De Republica II 2 Baiter Orelli etc Encontramos algo semelhante em Tucídides História da guerra do Peloponeso cit p 142 A navegação é uma arte como outra qualquer e não pode caso as circunstâncias o exijam ser exercida como ofício acessório mas ao contrário são as outras ocupações que não podem ser exercidas ao lado dela como ofícios acessórios Se a obra diz Platão tiver de esperar pelo trabalhador o momento crítico da produção será frequentemente perdido e o produto se estragará Ërgou kairòn dióllutai perdese o tempo correto para o trabalho A mesma ideia platônica pode ser novamente encontrada no protesto dos proprietários ingleses de branquearias contra a cláusula da lei fabril que estabelece determinado horário para as refeições de todos os trabalhadores Seu negócio não poderia adequarse aos trabalhadores pois in the various operations of singeing washing bleaching mangling calendering and dyeing none of them can be stopped at a given moment without risk of damage to enforce the same dinner hour for all the workpeople might occasionally subject valuable goods to the risk of danger by incomplete operations as diferentes operações de chamuscar lavar alvejar passar calandrar e tingir não podem ser interrompidas por momento algum sem o perigo de danos A imposição da mesma hora de refeição para todos os trabalhadores poderia ocasionalmente expor bens valiosos ao perigo pois o processo de trabalho ficaria inacabado Le platonisme où vatil se nicher O platonismo onde ele vai parar 81 Xenofonte relata que é não apenas honroso receber alimentos da mesa do rei persa mas que esses alimentos são muito mais saborosos que os outros E isso não é nada extraordinário pois assim como as demais artes são especialmente aperfeiçoadas nas grandes cidades também os alimentos reais são preparados de um modo inteiramente original Isso porque nas pequenas cidades o mesmo indivíduo faz a cama as portas o arado a mesa além disso ele frequentemente constrói casas e se considera satisfeito quando encontra uma clientela suficiente para garantir sua subsistência É impossível que um homem que faz tantas coisas diferentes faça tudo bem Mas nas grandes cidades onde cada indivíduo encontra muitos compradores um ofício é suficiente para alimentar um homem Muitas vezes nem é necessário um ofício inteiro podendo um indivíduo fazer sapatos masculinos e o outro sapatos femininos Aqui e ali um vive simplesmente da costura o outro do corte de sapatos um somente corta as roupas o outro apenas junta suas partes É necessário pois que o executor do trabalho mais simples o faça da melhor maneira O mesmo vale para a culinária Xenofonte Ciropédia livro VIII c 2 Aqui é fixada a excelência do valor de uso a ser atingida embora Xenofonte já saiba que a escala da divisão do trabalho depende da extensão do mercado 82 Ele Busíris dividiuos todos em castas particulares ordenou que eles sempre executassem os mesmos ofícios porque sabia que os que variam suas ocupações não se aprofundam em nenhuma ao passo que aqueles que permanecem nas mesmas ocupações realizam tudo do modo mais perfeito De fato podemos verificar que suas artes e ofícios superaram as de seus rivais numa medida maior do que o mestre supera o sarrafaçal e seus mecanismos para conservar a monarquia e o restante das instituições estatais são tão admiráveis que os mais célebres filósofos que trataram desse assunto louvaram a constituição do Estado egípcio mais do que todas as outras Isócrates Busíris c 8 83 Cf Diod Sic Diodoro Sículo Historische Bibliothek cit 84 A Ure Philos of Manuf cit p 20 85 Isso vale mais para a Inglaterra do que para a França e mais para a França do que para a Holanda e Ibidem p 21 N E A MEGA f Idem N T 668 86 It is questionable if all the mechanical inventions yet made have lightened the days toil of any human being Mill devia ter dito of any human being not fed by other peoples labour de algum ser humano que não se alimenta do trabalho de outrem pois a maquinaria aumentou indubitavelmente o número dos honrados ociosos 87 Ver por exemplo o Course of Mathematics de Hutton 88 Desse ponto de vista pois podese traçar uma nítida fronteira entre ferramenta e máquina pá martelo cinzel etc alavancas e chaves de fenda para os quais mesmo sendo artificiais o homem é a força motriz tudo isso entra no conceito de ferramenta ao passo que o arado com a força animal que o move os moinhos de vento etc devem ser contados entre as máquinas Wilhelm Schulz Die Bewegung der Produktion Zurique 1843 p 38 Uma obra louvável em vários sentidos 89 Antes dela ainda que muito imperfeitas foram utilizadas máquinas para torcer o fio provavelmente na Itália pela primeira vez Uma história crítica da tecnologia provaria o quão pouco qualquer invenção do século XVIII pode ser atribuída a um único indivíduo Até então tal obra inexiste Darwin atraiu o interesse para a história da tecnologia natural isto é para a formação dos órgãos das plantas e dos animais como instrumentos de produção para a vida Não mereceria igual atenção a história da formação dos órgãos produtivos do homem social da base material de toda organização social particular E não seria ela mais fácil de ser compilada uma vez que como diz Vico a história dos homens se diferencia da história natural pelo fato de fazermos uma e não a outra A tecnologia desvela a atitude ativa do homem em relação à natureza o processo imediato de produção de sua vida e com isso também de suas condições sociais de vida e das concepções espirituais que delas decorrem Mesmo toda história da religião que abstrai dessa base material é acrítica De fato é muito mais fácil encontrar por meio da análise o núcleo terreno das nebulosas representações religiosas do que inversamente desenvolver a partir das condições reais de vida de cada momento suas correspondentes formas celestializadas Este é o único método materialista e portanto científico O defeito do materialismo abstrato da ciência natural que exclui o processo histórico pode ser percebido já pelas concepções abstratas e ideológicas de seus portavozes onde quer que eles se aventurem além dos limites de sua especialidade a Máquina que obtinha a expansão e contração do volume habitual de ar por meio do aquecimento e resfriamento Em comparação com a máquina a vapor a máquina calórica era pesada e pouco eficiente Foi inventada no começo do século XIX mas já no fim daquele mesmo século perdeu toda importância prática N E A MEW 90 Especialmente na forma primitiva do tear mecânico podese reconhecer à primeira vista o tear antigo Este aparece essencialmente modificado em sua forma moderna 91 É somente por volta de 1850 que se passa a fabricar mecanicamente uma parte cada vez maior das ferramentas empregadas nas máquinas de trabalho embora não pelos mesmos fabricantes dessas As máquinas para fabricação das ferramentas mecânicas são por exemplo a automatic bobbinmaking engine a cardsetting engine as máquinas para a produção de lançadeiras as máquinas para soldar os fusos da mule e a throstle antiga máquina de fiar lã e algodão b Máquina de fiar inventada por James Hargreaves nos anos 17641767 e por ele batizada com o nome de sua filha N E A MEW 92 Moisés do Egito diz Não atarás a boca do boi quando ele pisar o grão Deuteronômio 254 Os filantropos germânicos cristãos ao contrário costumavam fixar um grande disco de madeira ao redor do pescoço do servo por eles empregado como força motriz na moenda para impedilo de levar farinha à boca com a mão 93 Em parte foi a falta de quedas dágua naturais e em parte a luta contra inundações que forçaram os holandeses à utilização do vento como força motriz O próprio moinho de vento eles obtiveram da Alemanha onde essa invenção provocou uma galante luta entre a nobreza o clero e o imperador em torno da questão de a qual dos três pertencia o vento O ar torna o homem servo exclamavase na Alemanha enquanto o vento torna a Holanda livre O que o vento reduzia à servidão nesse caso não era o holandês mas o solo para o holandês Ainda em 1836 empregavamse na Holanda 12 mil moinhos de vento de 6 mil cavalos de força para impedir que dois terços do país voltasse a se transformar em pântano 94 Ela já foi muito melhorada com a primeira máquina a vapor de Watt a assim chamada máquina de ação simples porém permaneceu sob essa forma como mera máquina para drenagem de água e salmoura 95 A reunião de todos esses instrumentos simples movidos por um único motor constitui uma máquina Babbage On the Economy of Machinery and Manufactures cit p 136 96 Em dezembro de 1859 na Society of Arts John C Morton apresentou um trabalho sobre as forças utilizadas na agricultura Entre outras coisas ele dizia Toda melhoria que contribua para a uniformização do solo possibilita a utilização da máquina a vapor na produção da força puramente mecânica A força do cavalo é exigida onde sebes 669 irregulares e outros obstáculos impedem a ação uniforme Tais obstáculos desaparecem progressivamente a cada dia Em operações que requerem um exercício maior da vontade e menos força efetiva a única força aplicável é aquela dirigida minuto a minuto pelo espírito humano portanto a força humana O sr Morton reduz então a força do vapor do cavalo e a humana à unidade de medida usual em máquinas a vapor a saber a força necessária para erguer 33 mil libras por minuto a 1 pé e calcula os custos de 1 cavalovapor em 3 pence por hora para a máquina a vapor e em 55 pence para o cavalo Além disso o cavalo em condições plenas de saúde só pode ser utilizado por 8 horas diárias Por meio da força do vapor podem ser poupados durante o ano inteiro um mínimo de três de cada sete cavalos sobre a terra cultivada a um preço de custo que não ultrapassa o preço dos cavalos dispensados durante os três ou quatro meses em que são efetivamente utilizados Por fim nas operações agrícolas em que a força do vapor pode ser aplicada esta melhora a qualidade do produto se comparada com a força do cavalo Para executar o trabalho da máquina a vapor teriam de ser empregados 66 trabalhadores a um preço total de 15 xelins por hora e para executar o trabalho dos cavalos seriam necessários 32 homens a um preço total de 8 xelins por hora 97 Faulhaber 1625 De Cous 1688 98 A moderna invenção das turbinas liberta a exploração industrial da força hidráulica de muitas limitações anteriores 99 In the early days of textile manufactures the locality of the factory depended upon the existence of a stream having a sufficient fall to turn a water wheel and although the establishment of the water mills was the commencement of the breaking up of the domestic system of manufacture yet the mills necessarily situated upon streams and frequently at considerable distances the one from the other formed part of a rural rather than an urban system and it was not until the introduction of the steampower as a substitute for the stream that factories were congregated in towns and localities where the coal and water required for the production of steam were found in sufficient quantities The steamengine is the parent of manufacturing towns Nos inícios da manufatura têxtil a localização da fábrica dependia da existência de um curso dágua que tivesse uma queda suficiente para fazer girar uma roda hidráulica e embora o estabelecimento dos moinhos dágua significasse o início da dissolução do sistema da indústria doméstica os moinhos que tinham necessariamente de ser instalados próximo a cursos dágua e frequentemente se situavam a uma distância considerável uns dos outros representavam uma parte de um sistema mais rural do que urbano apenas com a introdução da força do vapor em substituição ao curso dágua é que as fábricas foram concentradas em cidades e em localidades onde carvão e água necessários à produção do vapor estavam disponíveis em quantidade suficiente A máquina a vapor é a mãe das cidades industriais A Redgrave em Reports of the Insp of Fact 30th April 1860 p 36 100 Do ponto de vista da divisão manufatureira do trabalho a tecelagem não era um trabalho simples mas antes um complexo trabalho artesanal de modo que o tear mecânico é uma máquina que executa operações muito variadas É absolutamente falsa a concepção de que a maquinaria moderna se apropria originalmente de operações que a divisão manufatureira do trabalho havia simplificado Fiar e tecer foram durante o período da manufatura diversificadas em novas espécies e suas ferramentas foram melhoradas e variadas mas o processo de trabalho em si não foi de modo nenhum dividido mantendo seu caráter artesanal Não é do trabalho que a máquina surge mas do meio de trabalho 101 Antes da época da grande indústria a manufatura da lã dominava na Inglaterra razão pela qual nela foi realizada durante a primeira metade do século XVIII a maioria dos experimentos O algodão cujo processamento mecanizado exige preparativos menos trabalhosos foi beneficiado pelas experiências feitas na lã de ovelha assim como mais tarde a indústria mecânica da lã se desenvolverá com base na fiação e na tecelagem mecânicas do algodão Apenas nas últimas décadas elementos isolados da manufatura da lã foram incorporados ao sistema fabril como a cardagem de lã The application of power to the process of combing wool extensively in operation since the introduction of the combing machine especially Listers undoubtedly had the effect of throwing a very large number of men out of work Wool was formerly combed by hand most frequently in the cottage of the comber It is now very generally combed in the factory and hand labour is superseded except in some particular kinds of work in which handcombed wool is still preferred Many of the handcombers found employment in the factories but the produce of the handcomber bears so small a proportion to that of the machine that the employment of a very large number of combers has passed away A aplicação de força mecânica ao processo de cardagem que desde a introdução da máquina de cardar especialmente a de Lister deuse em grande escala teve indubitavelmente como efeito que um grande número de trabalhadores fossem dispensados de seu trabalho Anteriormente a lã era cardada a mão na maioria das vezes no cottage casebre do cardador Agora ela é geralmente cardada na fábrica e o trabalho manual foi eliminado com exceção de alguns tipos particulares de trabalho em que ainda se prefere lã cardada a mão Muitos dos cardadores manuais encontraram emprego nas fábricas mas o produto do trabalho do cardador manual é tão pequeno em comparação com o da máquina que um 670 grande número de cardadores permaneceu sem ocupação A Redgrave Rep of Insp of Fact for 31st Oct 1856 p 16 102 The principle of the factory system then is to substitute the partition of a process into its essential constituents for the division or gradation of labour among artisans O princípio do sistema de fábrica consiste então em substituir a divisão ou gradação do trabalho entre os artesãos pela divisão do processo de trabalho em suas partes essenciais Ure The Philosophy of Manufactures cit p 20 103 O tear mecânico em sua primeira forma é feito fundamentalmente de madeira e sua forma melhorada moderna de ferro O quanto inicialmente a velha forma do meio de produção domina sua nova forma mostrao entre outras coisas a comparação mais superficial do moderno tear a vapor com o antigo dos modernos instrumentos de sopro empregados nas fundições de ferro com as primeiras e ineficientes reproduções do fole comum e talvez de modo mais evidente que qualquer outro com as tentativas antes da invenção das locomotivas atuais de construir uma locomotiva que tinha de fato duas patas que ela erguia alternadamente como um cavalo Somente depois do desenvolvimento da mecânica e com a experiência prática acumulada é que a forma de uma máquina passa a ser determinada inteiramente de acordo com princípios mecânicos e por conseguinte emancipase plenamente da forma corpórea tradicional da ferramenta que se metamorfoseou em máquina 104 Até recentemente a cotton gin do ianque Eli Whitney fora menos modificada em sua essência do que qualquer outra máquina do século XVIII Somente nas últimas década antes de 1867 um outro americano o sr Emery de Albany Nova York tornou antiquada a máquina de Whitney mediante uma melhoria tão simples quanto eficaz 105 The Industry of Nations Londres 1855 parte II p 239 Onde também se lê Simple and outwardly unimportant as this appendage to lathes may appear it is not we believe averring too much to state that its influence in improving and extending the use of machinery has been as great as that produced by Watts improvements of the steamengine itselss Its introduction went at once to perfect all machinery to cheapen it and to stimulate invention and improvement Por mais simples e exteriormente pouco importante que possa parecer esse acessório do torno cremos não ser exagerado constatar que sua influência na melhoria e ampliação do emprego de máquinas foi tão grande quanto os aperfeiçoamentos realizados por Watt na máquina a vapor Sua introdução teve como consequência imediata uma melhoria e o barateamento de todas as máquinas estimulando invenções e melhorias ulteriores 106 Em Londres uma dessas máquinas para a forja de paddlewheel shafts eixos de rodas de pás traz o nome de Thor Ela forja um eixo de 165 toneladas com a mesma facilidade com que o ferreiro forja uma ferradura 107 A maioria das máquinas que trabalham a madeira que podem ser aplicada em pequena escala é invenção americana 108 A ciência não custa ao capitalista absolutamente nada o que não o impede de explorála A ciência alheia é incorporada ao capital como trabalho alheio mas a apropriação capitalista e a apropriação pessoal seja da ciência ou da riqueza material são coisas totalmente díspares O próprio dr Ure lamentava o grosseiro desconhecimento que seus queridos fabricantes exploradores de máquinas demonstravam em relação à mecânica e Liebig relata a desesperadora ignorância dos fabricantes ingleses em relação à química 109 Ricardo coloca tanta ênfase nesse efeito das máquinas com o qual de resto ele se ocupa tão pouco quanto com a distinção geral entre o processo de trabalho e o processo de valorização que eventualmente perde de vista o valor que elas conferem ao produto tratando delas no mesmo plano das forças naturais Assim por exemplo ele escreve Adam Smith nowhere undervalues the services which the natural agents and machinery perform for us but he very justly distinguishes the nature of the value which they add to commodities as they perform their work gratuitously the assistance which they afford us adds nothing to value in exchange Adam Smith jamais subestima os serviços que nos prestam as forças naturais e a maquinaria porém diferencia muito corretamente a natureza do valor que elas adicionam às mercadorias como realizam seu trabalho gratuitamente a assistência que elas nos prestam não acrescenta nada ao valor de troca Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 3367 A observação de Ricardo é naturalmente correta na medida em que é dirigida contra J B Say que imagina que as máquinas prestam o serviço de criar valor que constitui uma parte do lucro 109a Nota à terceira edição Um cavalovapor é igual à força de 33 mil libraspé por minuto isto é à força necessária para erguer 33 mil libras em 1 minuto a um pé inglês de altura ou 1 libra a 33 mil pés Esse é o cavalo vapor anteriormente mencionado Porém na linguagem comum dos negócios e ocasionalmente em algumas citações deste livro distinguese entre cavalosvapor nominais e cavalosvapor comerciais ou indicados de uma mesma máquina O cavalovapor antigo ou nominal é calculado exclusivamente pelo percurso do êmbolo e pelo diâmetro do cilindro e desconsidera completamente a pressão do vapor e a velocidade do êmbolo De fato o que o cavalovapor 671 expressa é os seguinte essa máquina a vapor tem por exemplo 50 cavalosvapor sempre que funciona com a mesma baixa pressão do vapor e uma velocidade do êmbolo tão baixa quanto aquela dos tempos de Boulton e Watt Ocorre que desde aquela época estes dois últimos fatores aumentaram enormemente Em nossos dias para medir a força mecânica realmente fornecida por uma máquina inventouse o indicador que informa a pressão do vapor A velocidade do êmbolo pode ser facilmente determinada Assim a medida do cavalovapor indicado ou comercial de uma máquina é uma fórmula matemática que considera simultaneamente o diâmetro do cilindro o curso percorrido pelo êmbolo a velocidade do êmbolo e a pressão do vapor e com isso indica quantas vezes a máquina desenvolve realmente uma força de 33 mil libraspé por minuto Um cavalovapor nominal pode na realidade render três quatro ou mesmo cinco cavalosvapor indicados ou reais Isso serve como explicação para diversas citações posteriores F E c J B Baynes The Cotton Trade Two Lectures on the Above Subject Delivered Before the Members of the Blackburn Literary Scientific and Mechanics Institution BlackburnLondres 1857 p 48 N E A MEW 110 O leitor impregnado de concepções capitalistas certamente sentirá falta aqui do juro que a máquina pro rata proporcionalmente ao valor de seu capital adiciona ao produto No entanto é fácil de compreender que a máquina que assim como os demais componentes do capital constante não produz nenhum valor novo não pode agregar ao produto esse valor sob a denominação de juro Além disso é evidente que tratandose aqui da produção do mais valor nenhuma parcela deste último pode ser pressuposta a priori sob a denominação de juro O modo capitalista de cálculo que prima facie parece absurdo e em contradição com as leis da formação do valor encontra sua explicação no livro terceiro desta obra 111 Esse componente do valor adicionado pela máquina diminui em termos absolutos e relativos lá onde ela substitui os cavalos ou em geral outros animais de trabalho que são utilizados unicamente como força motriz e não como máquinas de metabolismo Stoffwechselmachinen Descartes digase de passagem com sua definição dos animais como meras máquinas enxerga com os olhos do período manufatureiro em contraste com a Idade Média época em que se considera o animal como auxiliar do homem tal como posteriormente ele é considerado pelo sr Von Haller em sua Restauration der Staatswissenschaften Que Descartes do mesmo modo que Bacon via na forma modificada da produção assim como no domínio prático da natureza pelo homem um resultado das modificações operadas no método de pensar é evidente em seu Discours de la méthode no qual entre outras coisas se lê Il est possible de parvenir à des connaissances fort utiles à la vie et quau lieu de cette philosophie spéculative quon enseigne dans les écoles on en peut trouver une pratique par laquelle connaissant la force et les actions du feu de leau de lair des astres et de tous les autres corps qui nous environnent aussi distinctement que nous connaissons les divers métiers de nos artisans nous les pourrions employer en même façon à tous les usages auxquels ils sont propres et ainsi nous rendre comme maîtres et possesseurs de la nature contribuer au perfectionnement de la vie humaine É possível por meio do método por ele introduzido na filosofia atingir conhecimentos que são muito úteis para a vida e no lugar daquela filosofia especulativa que se aprende nas escolas encontrar uma filosofia prática mediante a qual conhecendo a força e os efeitos do fogo da água do ar dos astros e de todos os demais corpos que nos rodeiam e conhecendoos tão precisamente quanto conhecemos os diversos ofícios de nossos artesãos poderíamos empregálos da mesma forma para todas as finalidades que lhes são próprias convertendonos assim em donos e senhores da natureza contribuindo então para o aperfeiçoamento da vida humana No prefácio aos Discourses upon Trade 1691 de sir Dudley North dizse que a aplicação do método cartesiano à economia política começou a libertála de velhas fábulas e ideias supersticiosas sobre o dinheiro o comércio etc Na média geral no entanto os economistas ingleses da primeira época seguiram os passos de Bacon e Hobbes em filosofia ao passo que num período posterior foi Locke quem se converteu em o filósofo katH Êxocan por excelência da economia política na Inglaterra na França e na Itália 112 Com base num relatório anual da Câmara de Comércio de Essen outubro de 1863 em 1862 a fábrica Krupp produziu 13 milhões de libras de aço fundido empregando para isso 161 fornos de fundição fornalhas de incandescência e fornos de cimento 32 máquinas a vapor em 1800 este era aproximadamente o número total das máquinas a vapor empregadas em Manchester e 14 martelos a vapor que representam juntos 1236 cavalosvapor 49 fornalhas 203 máquinasferramentas e cerca de 2400 trabalhadores Portanto menos de 2 trabalhadores para cada cavalovapor 113 Babbage calcula que em Java o trabalho de fiação agrega quase exclusivamente 117 ao valor do algodão Na mesma época 1832 o valor total que a maquinaria e o trabalho agregavam ao algodão na Inglaterra na fiação fina chegava a cerca de 33 do valor da matériaprima Babbage On the Economy of Machinery cit p 1656 114 Na estampagem mecânica além disso economizase tinta 672 115 Cf Paper Read by Dr Watson Reporter on Products to the Government of India before the Society of Arts 17 abr 1860 116 These mute agents are always the produce of much less labour than that which they displace even when they are of the same money value Esses agentes mudos as máquinas são sempre o produto de muito menos trabalho do que aquele que eles substituem mesmo quando têm o mesmo valor monetário Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 40 116a Nota à segunda edição Numa sociedade comunista portanto a maquinaria teria um campo de atuação totalmente distinto do que tem na sociedade burguesa 117 Employers of labour would not unnecessarily retain two sets of children under thirteen In fact one class of manufacturers the spinners of woollen yarn now rarely employ children under thirteen years of ages ie halftimes They have introduced improved and new machinery of various kinds which altogether supersedes the employment of children ssi I will mention one process as an illustration of this diminution in the number of children wherein by the addition of an apparatus called a piecing machine to existing machines the work of six or four halftimes according to the peculiarity of each machine can be performed by one young person the halftime system the invention of the piecing machine Os empregadores de trabalho não manteriam desnecessariamente dois grupos de criança menores de treze anos De fato uma classe de manufaturadores os fiadores de fio de lã raramente emprega crianças abaixo de 13 anos de idade isto é trabalhadores de tempo parcial Introduziram maquinaria aperfeiçoada e novas máquinas de vários tipos que tornaram supérfluo o emprego de crianças isto é menores de 13 anos como exemplo mencionarei um processo de trabalho que ilustra essa diminuição do número de crianças no qual adicionandose às máquinas existentes um aparelho chamado máquina de emendar uma pessoa jovem maior de 13 anos pode conforme as características da máquina realizar o trabalho de 6 ou 4 meiosturnos O sistema de meio turno estimulou a invenção da máquina de emendar Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1858 p 423 118 Machinery can frequently not be employed until labour er meint Wages rises A maquinaria frequentemente não pode ser empregada até que haja um aumento do trabalho ele quer dizer dos salários Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 479 119 Ver Report of the Social Science Congress at Edinburgh Oct 1863 120 Durante a crise do algodão que acompanhou a Guerra Civil Americana o governo inglês enviou o dr Edward Smith a Lancashire Cheshire etc para informar sobre a condição sanitária dos trabalhadores da indústria algodoeira Ele relata entre outras coisas no que diz respeito à higiene a crise deixando de lado o fato de ela ter banido os trabalhadores da atmosfera da fábrica teria várias outras vantagens As mulheres operárias encontravam agora tempo livre necessário para amamentar suas crianças em vez de envenenálas com Godfreys Cordial um opiato Elas dispunham de tempo para aprender a cozinhar Lamentavelmente essa arte culinária lhes chegou num momento em que nada tinham para comer Vêse porém como o capital visando sua autovalorização usurpou o trabalho familiar necessário para o consumo Mesmo assim a crise foi usada para em escolas especiais ensinar as filhas dos operários a costurar para que jovens trabalhadoras que fiam para o mundo inteiro aprendessem a costurar foram necessárias uma revolução na América do Norte e uma crise mundial 121 The numerical increase of labourers has been great through the growing substitution of female for male and above all of childish for adult labour Three girls of 13 at wages from of 6 sh to 8 sh a week have replaced the one man of mature age of wages varying from 18 sh to 45 sh O número dos trabalhadores aumentou muito por causa da substituição crescente do trabalho feminino por masculino e acima de tudo do trabalho infantil por trabalho adulto Três meninas de 13 anos com salários de 6 a 8 xelins por semana substituíam agora um homem de idade madura e cujo salário variava entre 16 e 45 xelins T de Quincey The Logic of Politic Econ Londres 1844 nota à p 147 Como certas funções da família por exemplo cuidar das crianças e amamentálas etc não podem ser inteiramente suprimidas as mães de família confiscadas pelo capital têm de arranjar quem as substitua em maior ou menor medida É necessário substituir por mercadorias prontas os trabalhos domésticos que o consumo da família exige como costurar remendar etc A um dispêndio menor de trabalho doméstico corresponde portanto um dispêndio maior de dinheiro de modo que os custos de produção da família operária crescem e contrabalançam a receita aumentada A isso se acrescenta que a economia e a eficiência no uso e na preparação dos meios de subsistência se tornam impossíveis Sobre esses fatos encobertos pela economia política oficial encontrase um abundante material nos Reports dos inspetores de fábrica e da Childrens Employment Commission e particularmente nos Reports on Public Health 122 Em contraste com o grande fato de a limitação do trabalho feminino e infantil nas fábricas inglesas ter sido conquistada ao capital pelos trabalhadores masculinos adultos ainda se leem nos relatórios mais recentes da Childrens Employment Commission atitudes verdadeiramente revoltantes próprias de comerciantes de escravos por 673 parte de pais trabalhadores no que concerne ao tráfico de crianças Mas o fariseu capitalista como se pode ver nesses mesmos Reports denuncia essa bestialidade por ele mesmo criada eternizada e explorada e que em outras ocasiões ele denomina liberdade de trabalho Infant labour has been called into aid even to work for their own daily bread Without strength to endure such disproportionate toil without instruction to guide their future life they have been thrown into a situation physically and morally polluted The Jewish historian has remarked upon the overthrow of Jerusalem by Titus that is was no wonder it should have been destroyed with such a signal destruction when an inhuman mother sacrificed her own offspring to satisfy the cravings of absolute hunger Recorreuse ao trabalho infantil até mesmo para que as crianças trabalhem por seu próprio pão de cada dia Sem forças para suportar faina tão desproporcional sem instrução para guiar sua vida futura foram jogadas numa situação física e moralmente corrompida O historiador judeu observou com respeito à destruição de Jerusalém por Tito que não era de admirar que a cidade tivesse de ser destruída e de maneira tão terrível quando lá uma mãe desumana sacrificara seu próprio rebento para saciar aos impulsos de uma fome absoluta Public Economy Concentrated Carlisle 1833 p 66 123 A Redgrave em Reports of Insp of Fact for 31st October 1858 p 401 124 Childrens Employment Commission V Report Londres 1866 p 81 n 31 Nota à quarta edição A indústria da seda de Bethnal Green está agora praticamente aniquilada F E 125 Idem III Report Londres 1864 p 53 n 15 126 Idem V Report p XXII n 137 127 Sixth Report on Public Health Londres 1864 p 34 d Nas terceira e quarta edições natural N E A MEW 128 It showed moreover that while with the described circumstances infants perish under the neglect and mismanagement which their mothers occupations imply the mothers become to a grievous extent denaturalized towards their offspring commonly not troubling themselves much at the death and even sometimes taking direct measures to ensure it Ele o inquérito de 1861 mostrou além disso que enquanto nas circunstâncias descritas as crianças pequenas perecem sob a negligência e os maustratos implicados pelas ocupações de suas mães estas se tornam num grau assustador desnaturadas em relação a seus rebentos comumente não se incomodando muito com a morte deles e às vezes até mesmo tomando medidas diretas para provocála idem 129 Ibidem p 454 130 Reports by Dr Henry Julian Hunter on the Excessive Mortality of Infants in some Rural Districts of England 131 Ibidem p 35 4556 132 Ibidem p 456 133 Tal como nos distritos fabris ingleses também nos distritos agrícolas o consumo de ópio aumenta dia a dia entre os trabalhadores e trabalhadoras adultos To push the sale of opiate is the great aim of some enterprising wholesale merchants By druggists it is considered the leading article Promover a venda de opiatos é o grande objetivo de alguns grandes comerciantes Os farmacêuticos os consideram como o artigo de maior saída ibidem p 460 Veja como a Índia e a China se vingam da Inglaterra 134 Ibidem p 37 135 Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 59 Este inspetor de fábrica havia sido médico 136 Leonard Horner em Reports of Insp of Fact for 30th April 1857 p 17 137 Idem em Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1855 p 189 138 Sir John Kincaid em Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1858 p 312 139 Leonard Horner em Reports etc for 30th Apr 1857 p 178 140 Sir John Kincaid em Rep Insp Fact for 31st Oct 1856 p 66 141 A Redgrave em Reports 31st October 1857 p 413 Nos ramos da indústria inglesa há muito tempo submetidos à lei fabril propriamente dita não à Print Works Act que se mencionou por último os obstáculos opostos às cláusulas educacionais nos últimos anos foram em certa medida superados Nas indústrias não submetidas à lei fabril ainda prevalecem em grande parte os critérios do fabricante de vidro J Geddes que esclarece o comissário de inquérito White nos seguintes termos até onde posso julgar o maior volume de instrução de que uma parte da classe trabalhadora usufruiu nos últimos anos teve uma efeito negativo É algo perigoso pois os torna independentes Childrens Empl Commission IV Report Londres 1865 p 253 674 142 O sr E um fabricante informoume que empregava exclusivamente mulheres em seus teares mecânicos dando preferência às mulheres casadas e especialmente àquelas que tinham em casa uma família que delas dependia para sua manutenção tais mulheres são mais atentas e dóceis que as solteiras e se submetem aos esforços mais extremos para obter seu sustento Desse modo as virtudes mais especificamente as virtudes peculiares do caráter feminino pervertemse em detrimento da própria mulher e assim tudo o que é moral e terno em sua natureza convertese num meio de sua escravização e sofrimento Ten Hours Factory Bill The Speech of Lord Ashley March 15th Londres 1844 p 20 143 Desde a introdução geral da cara maquinaria a natureza humana foi forçada muito além de sua força média Robert Owen Observations on the Effects of the Manufacturing System 2 ed Londres 1817 p 16 144 Os ingleses acostumados a tomar a primeira forma de manifestação empírica de uma coisa como seu fundamento costumam considerar como causa do longo tempo de trabalho nas fábricas o grande roubo das crianças que o capital à maneira de Herodes cometeu nos inícios do sistema fabril nos abrigos de pobres e de órfãos Assim por exemplo Fielden ele mesmo um fabricante inglês declara It is evident that the long hours of work were brought about by the circumstance of so great a number of destitute children being supplied from different parts of the country that the masters were independent of the hands and that having once established the custom by means of the miserable materials they had procured in this way they could impose it on their neighbours with the greater facility É evidente que as longas horas de trabalho foram instituídas pela circunstância de que um número tão grande de crianças desamparadas eram fornecidas por diferentes regiões do país de modo que os patrões não dependiam dos operários e que depois de terem estabelecido esse tempo de trabalho como costume com ajuda desse material humano miserável que assim haviam obtido eles puderam impôlo a seus vizinhos com a maior facilidade J Fielden The Curse of the Factory System Londres 1836 p 11 Quanto ao trabalho feminino diz o inspetor de fábricas Saunders no relatório fabril de 1844 Entre as trabalhadoras há mulheres que por muitas semanas consecutivas excetuandose uns poucos dias trabalham das 6 da manhã até a meianoite com menos de 2 horas de pausas para as refeições de modo que em 5 dias da semana restamlhes somente 6 horas de 24 para ir à casa e deitarse 145 Occasion injury to the delicate moving parts of metallic mechanism by inaction A causa da deterioração das delicadas partes móveis do mecanismo metálico pode residir na inatividade Ure The Philosophy of Manufactures cit p 281 146 O já mencionado Manchester Spinner Times 26 nov 1862 inclui entre os custos da maquinaria o seguinte It namely allowance for deterioration of machinery is also intended to cover the loss which is constantly arising from the superseding of machines before they are worn out by others of a new and better construction Ele isto é o desconto pelo desgaste da maquinaria tem também a finalidade de cobrir a perda que deriva do fato de máquinas mais novas e de construção aperfeiçoada substituírem constantemente as máquinas antigas antes que estas estejam desgastadas 147 Calculase grosso modo que construir uma única máquina segundo um modelo novo tem o mesmo custo da reconstrução da mesma máquina segundo esse mesmo modelo Babbage On the Economy of Machinery cit p 211 2 148 Nos últimos anos introduziramse tantas e tão importantes melhorias na fabricação de tules que uma máquina bem conservada cujo preço de custo original fora de 1200 foi vendida alguns anos depois por 60 Os aperfeiçoamentos se sucediam numa velocidade tal que as máquinas restavam inacabadas nas mãos de seus construtores tendo se tornado antiquadas pelos inventos mais bemsucedidos Por esse motivo nesse período de tempestade e ímpeto Sturm und Drang os fabricantes de tule estenderam a jornada de trabalho das 8 horas originais para 24 horas com dois turnos de pessoal Ibidem p 233 149 It is selfevident that amid the ebbings and flowings of the market and the alternate expansions and contractions of demand occasions will constantly recur in which the manufacturer may employ additional floating capital without employing additional fixed capital if additional quantities of raw material can be worked up without incurring an additional expense for buildings and machinery É evidente por si só que com as oscilações do mercado e as expansões e contrações alternadas da demanda haverá constantemente ocasiões em que o manufaturador poderá empregar capital circulante adicional sem empregar capital fixo adicional sempre que se puder trabalhar quantidades adicionais de matériaprima sem incorrer em despesas adicionais com edifícios e maquinaria R Torrens On Wages and Combination Londres 1834 p 64 150 A circunstância mencionada no texto serve apenas para tornar mais completa a exposição uma vez que só no Livro III tratarei da taxa de lucro isto é da relação do maisvalor com o capital total adiantado 151 When a labourer lays down his spade he renders useless for that period a capital worth 18 d When one of our people 675 leaves the mill he renders useless a capital that has cost 100000 pounds Senior Letters on the Factory Act Londres 1837 p 14 152 The great proportion of fixed to circulating capital makes long hours of work desirable A grande proporção do capital fixo em relação ao capital circulante torna desejável uma longa jornada de trabalho Com o uso crescente da maquinaria etc the motives to long hours of work will become greater as the only means by which a large proportion of fixed capital can be made profitable intensificamse os motivos para prolongar a jornada de trabalho já que esse é o único meio de tornar lucrativa uma grande proporção de capital fixo ibidem p 114 Numa fábrica há diversos gastos que se mantêm constantes independentemente de ela trabalhar mais ou menos tempo como o aluguel dos edifícios os impostos locais e nacionais o seguro contra incêndios o salário pago a diversos trabalhadores permanentes o desgaste da maquinaria além de várias outras despesas cuja proporção em relação ao lucro decresce na mesma razão em que o volume da produção aumenta Reports of the Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 19 e Citação modificada de Schiller Das Lied von der Glocke A canção do sino versos 789 Oh que dure para sempre o frescor Do belo tempo do jovem amor N T 153 A razão pela qual essa contradição imanente não se torna consciente para o capitalista individual e assim tampouco para a economia política que se move no interior de suas concepções será exposta nas primeiras seções do Livro III 154 Um dos grandes méritos de Ricardo consiste em ter conceituado a maquinaria não apenas como meio de produção de mercadorias mas também de redundant population população redundante 155 F Biese Die Philosophie des Aristoteles Berlim 1842 v 2 p 408 156 Apresento aqui o poema na tradução alemã de Stolberg pois tanto quanto as citações anteriores sobre a divisão do trabalho ele caracteriza a antítese entre a visão antiga e a moderna Schonet der mahlenden Hand o Müllerinnen und schlafet Sanft es verkünde der Hahn euch den Morgen umsonst Däo hat die Arbeit der Mädchen den Nymphen befohlen Und itzt hüpfen sie leicht über die Räder dahin Dass die erschütterten Achsen mit ihren Speichen sich wälzen Und im Kreise die Last drehen des wälzenden Steins Lasst uns leben das Leben der Väter und lasst uns der Gaben Arbeitslos uns freun welche die Göttin uns schenkt Poupem a mão moedora ó moleiras e durmam Em paz Que o galo lhes anuncie a manhã em vão Às ninfas ordenou Deméter o trabalho das moças E lá se vão elas a saltar sobre as rodas Pois que rodem os eixos com suas varas E em círculo movam a peso da pedra giratória Mas nos deixem viver a vida dos pais e alegrarnos Sem trabalho com a dádiva que a deusa nos traz 157 Em geral existem diferenças como é natural na intensidade dos trabalhos pertencentes a diferentes ramos da produção Tais diferenças se compensam parcialmente como já o mostrou Adam Smith pelas circunstâncias secundárias próprias a cada tipo de trabalho Aqui porém um efeito sobre o tempo de trabalho como medida de valor só ocorre na medida em que as grandezas intensiva e extensiva se apresentam como expressões contrapostas e reciprocamente excludentes da mesma quantidade de trabalho 158 Principalmente por meio do salário por peça Stücklohn forma que será examinada na seção 6 159 Ver Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1865 160 Reports of Insp of Fact for 1844 and the quarter ending 30th April 1845 p 201 161 Ibidem p 19 Como o salário por peça mantinhase inalterado o volume do salário semanal dependia da quantidade do produto 162 Ibidem p 20 163 Ibidem p 21 O elemento moral desempenhou um papel importante nos experimentos anteriormente mencionados We work with more spirit we have the reward ever before us of getting away sooner at night and one active and cheerful spirit pervades the whole mill from the youngest piecer to the oldest hand and we can greatly help each other Trabalhamos com mais entusiasmo disseram os operários ao inspetor de fábrica pensamos continuamente na recompensa de sair mais cedo à noite um espírito mais ativo e mais alegre impregna a fábrica inteira desde o ajudante mais jovem até o operário mais antigo e podemos nos ajudar melhor uns aos outros idem 164 John Fielden The Curse of the Factory System cit p 32 f Ne é a sigla utilizada na numeração da espessura do fio de algodão segundo o sistema inglês O fio Ne 40 possui 40 metros em 059 gramas dele mesmo o fio Ne 30 possui 30 metros e assim por diante N T 165 Lord Ashley Ten Hours Factory Bill The Speech of Lord Ashley March 15th cit p 69s 676 166 Reports of Insp of Fact to 30th April 1845 p 20 167 Ibidem p 22 168 Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 62 169 Isso se alterou com o Parliamentary Return de 1862 Aqui são levados em consideração os cavalosvapor reais das máquinas a vapor e rodas hidráulicas modernas e não os cavalosvapor nominais ver nota 109a na p 462 Tampouco se misturam os fusos de torcer com os de filar propriamente ditos como se fazia nos Returns de 1839 1850 e 1856 além disso no caso das fábras de lã incluise o número de gigs máquinas cardadoras distinguese entre as fábricas que processam a juta e o cânhamo de um lado e aquelas que trabalham o linho de outro além disso no relatório figuram pela primeira vez as fábricas de meias 170 Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1856 p 14 20 171 Ibidem p 145 172 Ibidem p 20 173 Reports etc for 31st Oct 1858 p 10 Cf Reports etc for 30th Apr 1860 p 30s g Na edição de Werke esse parágrafo é corrigido da seguinte maneira Que o enriquecimento dos fabricantes aumentou com a exploração mais intensiva da força de trabalho é demonstrado já pela circunstância de que no período entre 1838 e 1850 o crescimento médio das fábricas inglesas de algodão etc foi de 32 fábricas por ano ao passo que entre 1850 e 1856 ele foi de 86 por ano A modificação se baseia nos dados do Report of the Inspectors of Factories for 31st October 1856 p 12 que teria sido a fonte utilizada por Marx N T 174 Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 100 103 129 130 175 Hoje com o moderno tear a vapor um tecelão fabrica trabalhando 60 horas por semana e com dois teares 26 peças de certo tipo e de determinado comprimento e largura das quais ele só podia fabricar quatro com o antigo tear a vapor Já no início da década de 1850 os custos de fabricação de uma dessas peças haviam diminuído de 2 xelins e 9 pence para 518 pence Adendo à segunda edição Há 30 anos 1841 exigiase de um fiandeiro de algodão com 3 ajudantes que se encarregasse apenas de um par de mules com 300 a 324 fusos Hoje final de 1871 com 5 ajudantes ele tem de cuidar de mules com 2200 fusos e que produzem no mínimo 7 vezes mais fio do que em 1841 Alexander Redgrave inspetor de fábrica em Journal of the Soc of Arts 5 jan 1872 176 Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1861 p 256 177 Entre os operários fabris de Lancashire teve início agora 1867 a agitação pelas 8 horas 178 Os números seguintes mostram o progresso das factories fábricas propriamente ditas no Reino Unido desde 1848 677 Cf os Blue Books Statistical Abstract for the U Kingd n 8 13 Londres 1861 e 1866 Em Lancashire de 1839 a 1850 as fábricas aumentaram apenas 4 entre 1850 e 1856 19 entre 1856 e 1862 33 enquanto nos dois períodos de onze anos o número de pessoas ocupadas aumentou em termos absolutos mas diminuiu relativamente Cf Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 63 Em Lancashire predomina a indústria algodoeira Mas é possível ter uma ideia do espaço proporcional que ela ocupa na fabricação de fio e tecido quando se considera que ela representa 452 de todas as fábricas dessa espécie na Inglaterra no País de Gales na Escócia e na Irlanda 833 de todos os fusos 814 de todos os teares a vapor 726 de todos os cavalosvapor que os movimentam e 582 do total de pessoas ocupadas Ibidem p 623 179 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 18 678 180 Ibidem p 20 Cf Karl Marx Misère de la philosophie Miséria da filosofia cit p 1401 181 A intenção da fraude estatística que aliás também poderia ser comprovada detalhadamente em outros casos fica evidente no fato de a legislação fabril inglesa excluir expressamente de seu âmbito de aplicação como trabalhadores não fabris os trabalhadores por último mencionados ao passo que por outro lado os Returns publicados pelo Parlamento incluem expressamente na categoria de operários fabris não só engenheiros mecânicos etc mas também dirigentes de fábrica vendedores mensageiros supervisores de estoques embaladores etc em suma todas as pessoas com exceção do próprio dono da fábrica 182 Ure admite esse fato Ele diz que os trabalhadores em caso de necessidade podem deslocarse de uma máquina a outra de acordo com a vontade do diretor e exclama em tom triunfal Tal mudança está em flagrante contradição com a velha rotina que divide o trabalho e designa a um trabalhador a tarefa de moldar a cabeça de um alfinete a outro a de afilar sua ponta A Ure The Philosophy of Manufactures Londres 1835 p 22 N E A MEW Ele teria antes de se perguntar por que essa velha rotina só é abandonada na fábrica automática em caso de necessidade h Ver p 360s N E A MEW 183 Em casos de emergência como durante a Guerra Civil Americana o operário de fábrica é excepcionalmente usado pelo burguês para os trabalhos mais grosseiros como construção de estradas etc Os ateliers nationaux ateliês nacionais ingleses de 1862 em diante instituídos para os trabalhadores algodoeiros desempregados distinguemse dos seus similares franceses de 1848 pelo fato de que nestes o trabalhador tinha de executar tarefas improdutivas às expensas do Estado ao passo que naqueles ele tinha de executar trabalhos urbanos produtivos em benefício do burguês por salários menores do que os dos trabalhadores normais com os quais ele entrava assim em competição The physical appearance of the cotton operatives is unquestionably improved This I attribute as to the men to outdoor labour on public work A aparência física dos operários algodoeiros melhorou sem dúvida Atribuo isso no que diz respeito aos homens ao trabalho realizado ao ar livre nas obras públicas Tratase aqui dos operários fabris de Preston empregados no Preston Moor pântano de Preston Rep Of Insp of Fact Oct 1863 p 59 184 Exemplo os diversos aparelhos mecânicos que desde a Lei de 1844 foram introduzidos na fabricação de lã para substituir o trabalho infantil Tão logo os filhos dos próprios senhores fabricantes tivessem de cursar a escola da fábrica como ajudantes esse setor da mecânica praticamente inexplorado haveria de experimentar um notável impulso É possível que as selfacting mules sejam máquinas tão perigosas quanto quaisquer outras A maior parte dos acidentes ocorrem com crianças pequenas e precisamente porque engatinham por baixo das mules para varrer o chão enquanto as máquinas ainda estão em movimento Diversos minders trabalhadores que operam as mules foram processados judicialmente pelos inspetores de fábrica e condenados ao pagamento de multas em razão desse procedimento porém sem que disso resultasse qualquer benefício geral Se os fabricantes de máquinas pudessem ao menos inventar um varredor automático cujo uso dispensasse essas crianças pequenas de engatinhar por baixo da maquinaria eles dariam uma bela contribuição a nossas medidas preventivas Reports of Insp of Factories for 31st October 1866 p 63 185 É de admirar por isso a fabulosa intuição de Proudhon que constrói a maquinaria não como síntese de meios de trabalho mas como síntese de trabalhos parciais para o próprio trabalhador Karl Marx Miséria da filosofia São Paulo Global 1989 p 1256 N T 186 F Engels Die Lage der arbeitender in England p 21s ed bras A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit p 213 nota 17 Mesmo um livrecambista bastante ordinário e otimista como o sr Molinari observa Un homme suse plus vite en surveillant quinze heures par jour lévolution uniforme dun mécanisme quen exerçant dans le même espace de temps sa force physique Ce travail de surveillance qui servirait peutêtre dutile gymnastique à lintelligence sil nétait pas trop prolongé détruit à la longue par son excès et lintelligence et le corps même Um homem se desgasta mais rapidamente quando vigia por 15 horas diárias o movimento uniforme de um mecanismo do que quando exerce sua própria força física nesse mesmo intervalo de tempo Esse trabalho de vigilância que se não fosse prolongado em demasia talvez pudesse servir como uma ginástica útil para o intelecto aos poucos destrói em razão de seu excesso tanto o intelecto quanto o próprio corpo G de Molinari Études économiques Paris 1846 p 49 187 F Engels Die Lage der arbeitender in England cit p 216 ed bras A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit p 2123 188 The factory operatives should keep in wholesome remembrance the fact that theirs is really a low species of skilled labour and that there is none which is more easily acquired or of its quality more amply remunerated or which by a short 679 training of the least expert can be more quickly as well as abundantly acquired The masters machinery really plays a far more important part in the business of production than the labour and the skill of the operative which six months education can teach and a common labourer can learn The Master Spinners and Manufacturers Defence Fund Report of the Committee Manchester 1854 p 17 Veremos mais adiante que o patrão muda de tom assim que se vê ameaçado de perder seus autômatos vivos 189 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 15 Quem quer que conheça a biografia de Arkwright jamais lançará a palavra nobre ao rosto desse barbeiro genial De todos os grandes inventores do século XVIII ele foi indiscutivelmente o maior ladrão de inventos alheios e o sujeito mais ordinário 190 A escravidão que a burguesia impõe ao proletariado revelase em toda a sua evidência no regime fabril Aqui de direito e de fato cessa toda liberdade O trabalhador deve chegar à fábrica às 5h30 da manhã se se atrasa por alguns minutos é multado se o atraso é superior a dez minutos não pode entrar até a hora da primeira pausa para comer e assim perde um quarto do salário da jornada embora o período em que não trabalhou corresponda a 2 horas e meia de uma jornada de 12 horas Come bebe e dorme sob o comando de outrem a sirene tirânica da fábrica arranca o da cama apressa seu café e seu almoço E na fábrica o patrão é o legislador absoluto Determina a seu belprazer os regulamentos altera os contratos conforme sua vontade e quando introduz as cláusulas mais absurdas o operário ouve dos tribunais Você é livre para decidir só deve aceitar os contratos que lhe interessarem Mas agora que subscreveu livremente esse contrato tem de cumprilo os operários estão condenados da infância à morte a viver sob o látego físico e espiritual F Engels A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit p 2113 Gostaria de esclarecer com dois exemplos o que dizem os tribunais Um dos casos ocorreu em Shefield no final de 1866 Lá um operário foi empregado por dois anos numa fábrica metalúrgica Devido a um desentendimento com o fabricante deixou a fábrica e declarou que em nenhuma circunstância voltaria a trabalhar para ele Foi então processado por quebra de contrato e condenado a dois meses de prisão Se o fabricante rompe o contrato ele só pode ser processado civiliter civilmente e arrisca tão somente uma multa pecuniária Depois de cumprir os dois meses de prisão o mesmo fabricante baseandose no antigo contrato intimouo a retornar à fábrica O trabalhador recusouse Ele já pagou pela quebra de contrato O fabricante o processa novamente o tribunal o condena novamente embora um dos juízes o sr Shee denuncie isso publicamente como uma monstruosidade jurídica de acordo com a qual um homem poderia ser periódica e repetidamente punido durante toda sua vida pela mesma falta ou delito Tal sentença não a proferiram os great unpaid ver nota 157 p 360 os Dogberries provincianos Em Muito barulho por nada de Shakespeare Dogberry é um oficial de polícia cuja comicidade reside em seu uso constante de paronímias N T mas um dos tribunais superiores sediados em Londres Adendo à quarta edição Atualmente essa prática foi abolida Na Inglaterra agora com exceções de alguns poucos casos por exemplo em usinas públicas de gás o trabalhador em caso de rompimento de contrato está equiparado ao empregador e só pode ser processado civilmente F E O segundo caso ocorreu em Wiltshire no final de novembro de 1863 Cerca de trinta tecelãs que operavam teares a vapor na empresa de um certo Harrupp fabricante de pano em Leowers Mill Westbury Leigh realizaram uma greve porque este Harrupp tinha o agradável costume de efetuar descontos em seus salários por atrasos na hora de entrada de acordo com a seguinte escala 6 pence para 2 minutos 1 xelim para 3 minutos e 1 xelim e 6 pence para 10 minutos Isso totaliza 9 xelins por hora ou 4 e 10 xelins por dia enquanto o salário médio anual dessas trabalhadoras jamais ultrapassava de 10 a 12 xelins por semana Harrupp também encarregou um jovem de soar a sirene da fábrica o que ele às vezes fazia mesmo antes das 6 horas da manhã e estando ausente a mão de obra assim que acaba de tocar a sirene os portões são fechados e os que ficam do lado de fora são punidos pecuniariamente e como não há relógio no prédio da fábrica a infeliz mão de obra encontrase sob o poder do jovem guardião do tempo instituído por Harrupp A mão de obra envolvida na greve mães de família e moças declararam que só voltariam ao trabalho se o guardião do tempo fosse substituído por um relógio e uma escala mais razoável de multas fosse estabelecida Harrupp denunciou aos magistrados 19 mulheres e moças por rompimento de contrato Cada uma delas foi condenada a pagar 6 pence de multa e 2 xelins e 6 pence de custas de processo o que provocou a ruidosa indignação do auditório Harrupp retirouse do tribunal acompanhado por uma multidão que o vaiava Um dos expedientes prediletos dos fabricantes é punir os operários com descontos salariais por falhas do material que lhes é fornecido Esse procedimento provocou em 1866 uma greve geral nos distritos oleiros ingleses Os relatórios da Ch Employm Commiss 18631866 registram casos em que o trabalhador não só não recebe o salário por seu trabalho como ainda se converte por meio do regulamento de penalidades em devedor do seu ilustre master Edificantes traços da sagacidade dos 680 autocratas fabris em relação aos descontos salariais também nos são fornecidos pela mais recente crise do algodão Eu mesmo diz o inspetor de fábrica R Baker tive há pouco de iniciar uma ação judicial contra um fabricante de algodão pelo fato de ele nesses tempos duros e difíceis ter descontado o salário de alguns de seus empregados adolescentes maiores de 13 anos em 10 pence pelo certificado médico que lhe custa apenas 6 pence e pelo qual a lei só lhe autoriza um desconto de 3 pence e o costume não lhe autoriza desconto algum Outro fabricante para alcançar o mesmo objetivo sem entrar em conflito com a lei desconta 1 xelim de cada uma das pobres crianças que trabalham para ele a título de taxa pelo aprendizado da arte e do ofício do fiar assim que o certificado médico as declare maduras para essa atividade Existem portanto correntes subterrâneas que se deve conhecer a fim de compreender fenômenos tão extraordinários como greves em épocas tais como o presente Tratase de uma greve na fábrica de Darven em junho de 1863 entre os tecelões mecânicos Reports of I nsp of Fact for 30th April 1863 p 501 Os relatórios de fábrica sempre excedem sua data oficial 190a As leis de proteção contra maquinaria perigosa tiveram um efeito benéfico Mas agora existem novas fontes de acidentes que não existiam há vinte anos especialmente a velocidade aumentada da maquinaria Rodas cilindros fusos e teares são agora movidos com uma força maior e em constante aumento os dedos têm de agarrar o fio quebrado com mais rapidez e segurança porque se colocados com hesitação ou descuido são sacrificados Um grande número de acidentes é causado pela pressa dos trabalhadores em executar sua tarefa Devemos recordar que é da maior importância para os fabricantes que sua maquinaria seja mantida ininterruptamente em movimento isto é produzindo fio e tecido Cada parada de um minuto é não apenas uma perda de força motriz mas de produção Por isso os trabalhadores são incitados pelos supervisores interessados na quantidade da produção a manterem a maquinaria em movimento e isso não é de pouca importância para operários que são pagos por peso ou por peça Embora na maioria das fábricas seja formalmente proibido limpar as máquinas quando estas se encontram em movimento tal prática é geral Só essa causa produziu durante os últimos seis meses 906 acidentes Embora a tarefa de limpeza seja realizada diariamente o sábado é geralmente reservado para a limpeza completa da maquinaria e isso ocorre na maior parte do tempo enquanto ela está em movimento Por ser esta uma operação não remunerada os operários procuram concluíla o mais rápido possível razão pela qual o número de acidentes às sextasfeiras e especialmente aos sábados é muito maior do que nos outros dias da semana Às sextasfeiras o excedente de acidentes ultrapassa em cerca de 12 o número médio dos quatro primeiros dias da semana aos sábados esse número é 25 maior do que a média dos 5 dias anteriores porém levandose em conta que a jornada de trabalho fabril aos sábados é de somente 712 horas e de 1012 horas nos demais dias da semana o excedente sobe para mais de 65 Reports of Insp of Factories for 31st Oct 1866 Londres 1867 p 9 157 191 Na primeira seção do Livro III relatarei uma recente campanha dos fabricantes ingleses contra as cláusulas da lei fabril voltadas à proteção dos membros da mão de obra contra a maquinaria perigosa para a vida Bastará aqui uma citação extraída de um relatório oficial do inspetor de fábrica Leonard Horner Ouvi fabricantes falar com inescusável frivolidade de alguns dos acidentes a perda de um dedo por exemplo seria uma ninharia A vida e as perspectivas de um operário dependem em tal medida de seus dedos que uma tal perda é para ele um acontecimento da mais extrema gravidade Quando ouço tal palavrório insensato costumo perguntar suponhamos que o senhor necessite de mais um operário e se apresentem dois candidatos igualmente capacitados à vaga porém um deles não possua o polegar ou o indicador nesse caso qual dos dois o senhor escolheria Eles nunca hesitavam em escolher o que tivesse todos os dedos Esses senhores fabricantes têm falsos preconceitos contra o que chamam de legislação pseudofilantrópica Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1855 p 67 Esses senhores são gente sagaz e não é à toa que se entusiasmam com a rebelião dos escravocratas i Prisões mitigadas les bagnes mitigés assim Fourier denomina as fábricas em sua obra La fausse industrie morcelée répugnante mensongère et lantidote lindustrie naturelle combinée attrayante véridique donnant quadruple produit A falsa indústria fragmentada repugnante mentirosa e seu antídoto a indústria natural combinada atraente verídica e com produção quadruplicada Paris 1835 v I p 59 N E A MEW Ao traduzir o francês bagne pelo italiano bagno Marx remete à origem do termo o bagno dei forzati fortaleza de Livorno onde se mantinham encarcerados os escravos turcos e que assim era chamada por estar situada abaixo do nível do mar N T 681 192 Nas fábricas submetidas há mais tempo à lei fabril com sua restrição compulsória do tempo de trabalho e suas demais regulações muitos dos velhos abusos desapareceram O aperfeiçoamento da maquinaria exige ao atingir um certo ponto uma construção melhorada dos edifícios fabris o que traz benefícios aos operários Cf Reports etc for 31st Oct 1863 p 109 193 Ver entre outros John Houghton Husbandry and Trade Improved Londres 1727 The Advantage of the East Indian Trade cit John Bellers Proposals for Raising a Colledge of Industry cit The masters and the men are unhappily in a perpetual war with each other The invariable object of the former is to get their work done as cheap as possibly and they do not fail to employ every artifice to this purpose whilst the latter are equally attentive to every occasion of distressing their masters into a compliance with higher demands Os patrões e os trabalhadores se encontram infelizmente em perpétuo estado de guerra uns contra os outros Os primeiros têm o objetivo inalterável de obter o trabalho deste últimos o mais barato possível e para tanto não hesitam em lançar mão de qualquer artimanha ao passo que os últimos estão igualmente atentos para não perder nenhuma ocasião de impor a seus patrões a aceitação de suas demandas mais elevadas Foster An Inquiry into the Causes of the Present High Prices of Provisions 1767 p 612 o autor rev Nathaniel Forster colocase completamente do lado dos trabalhadores 194 A Bandmühle foi inventada na Alemanha O abade italiano Lancellotti narra em seu escrito publicado em Veneza em 1636 Há cerca de cinquenta anos Lancelloti escrevia em 1629 Anton Müller de Danzig viu uma máquina muito engenhosa que fabricava de quatro a seis tecidos de uma só vez mas como o Conselho Municipal temia que esse invento transformasse em mendigos uma grande quantidade de trabalhadores suprimiu sua aplicação e mandou secretamente estrangular ou afogar o inventor Marx cita a obra de Secondo Lancelloti intitulada LHoggidi overo glingegni non inferiori apassati a partir de Johann Beckmann Beyträge zur Geschichte der Erfindungen Leipzig 1786 v 1 p 12532 As subsequentes referências na nota 194 foram igualmente extraídas desse livro N T Em Leyden a mesma máquina foi empregada pela primeira vez em 1629 As revoltas dos tecelões de galões forçaram os magistrados a proibila diversas disposições dos Estados Gerais de 1623 1639 etc procuraram limitar seu uso até que finalmente ele foi permitido sob certas condições por uma disposição de 15 de dezembro de 1661 Nesta cidade diz Boxhorn Institutiones Politicae 1663 sobre a introdução da Bandmühle em Leyden certas pessoas inventaram há cerca de 20 anos um instrumento para tecer com o qual um indivíduo podia produzir mais tecido e mais facilmente do que sem este instrumento várias pessoas no mesmo tempo Isso provocou distúrbios e queixas dos tecelões até que o uso desse instrumento foi proibido pelas autoridades etc Essa mesma máquina foi proibida em 1676 em Colônia ao passo que sua introdução na Inglaterra provocou na mesma época distúrbios entre os trabalhadores Um édito imperial de 19 de fevereiro de 1685 proscreveu seu uso em toda a Alemanha Em Hamburgo a máquina foi queimada publicamente por ordem das autoridades A 9 de fevereiro de 1719 Carlos VI renovou o édito de 1685 e o eleitorado da Saxônia só permitiu seu uso público em 1765 Essa máquina que tanto alvoroço provocou no mundo foi na realidade a precursora das máquinas de fiar e tecer e portanto da revolução industrial do século XVIII Ela possibilitava que um jovem sem qualquer experiência em tecelagem simplesmente puxando e empurrando uma alavanca colocasse em movimento um tear completo com todas as suas lançadeiras e em sua forma aperfeiçoada produzia de quarenta a cinquenta peças de uma só vez j Na Inglaterra do século XIX movimento dos operários da indústria têxtil que protestava frequentemente destruindo os teares mecânicos contra as mudanças introduzidas pela Revolução Industrial O nome do movimento deriva de Ned Ludd um jovem que supostamente teria destruído duas máquinas de fiar em 1779 N T 195 Nas manufaturas antiquadas ainda hoje se repetem às vezes a forma primitiva das revoltas operárias contra a maquinaria Assim por exemplo em 1865 entre os esmerilhadores de Sheffield 196 Sir James Steuart também capta o efeito da maquinaria inteiramente nesse sentido Je considère donc les machines comme des moyens daugmenter virtuellement le nombre des gens industrieux quon nest pas obligé de nourrir En quoi leffet dune machine diffèretil de celui de nouveaux habitants Considero as máquinas meios de aumentar virtualmente o número de pessoas industriosas que não se tem a obrigação de alimentar Em que o efeito de uma máquina difere daquele de novos habitantes Recherche des principes de léconomie politique ou essai sur la science de la police intérieure des nations libres tradução francesa t I l I c XIX Muito mais ingênuo é Petty que diz que ela substitui a poligamia Esse ponto de vista é no máximo adequado para algumas partes dos Estados Unidos Ao contrário Machinery can seldom be used with success to abrigde the labour of an individual more time would be loost in its construction than could be saved by its application It is only really useful when it acts on great masses when a single machine can assist the work of thousands It is accordingly in the most populous countries where there are most idle men that it is most abundant It is not called into use by a scarcity of men but by the facility with which they can be brought to work in masses Raramente se pode usar com êxito a maquinaria para abreviar o trabalho de um indivíduo 682 perderseia mais tempo com sua construção do que se ganharia com sua utilização Ela só é realmente útil quando atua em larga escala quando uma única máquina pode apoiar o trabalho de outras milhares Daí que ela seja mais utilizada nos países mais populosos onde há mais desempregados Ela é utilizada não por falta de trabalhadores mas pela facilidade com que pode leválos a trabalhar em massa Piercy Ravenstone Thoughts on the Funding System and its Effects Londres 1824 p 45 196a Nota à quarta edição Isso vale também para a Alemanha Onde em nosso país existe agricultura em grande escala isto é especialmente no Leste ela só se tornou possível por meio da Bauernlegen expulsão dos camponeses praticada a partir do século XVI e principalmente a partir de 1648 F E 197 Machinery and labour are in constant competition Maquinaria e trabalho estão em constante concorrência Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 479 198 Na Inglaterra a concorrência entre tecelagem manual e mecânica pôde ser prolongada antes da introdução da Lei dos Pobres de 1834 graças à prática de complementar com subsídios paroquiais os salários que então caíra muito abaixo do mínimo The Rev Mr Turner was in 1827 rector of Wilmslow in Cheshire a manufacturing district The questions of the Committee on Emigration and Mr Turners answers show how the competition of human labour is maintained against machinery Question Has not the use of the powerloom superseded the use of the handloom Answer Undoubtedly it would have superseded them much more than it has done if the handloom weavers were not enabled to submit to a reduction of wages Question But in submitting he has accepted wages which are insufficient to support him and looks to parochial contribution as the remainder of his support Answer Yes and in fact the competition between the handloom and the powerloom is maintained out of the poorrates Thus degrading pauperism or expatriation is the benefit which the industrious receive from the introduction of machinery to be reduced from the respectable and in some degree independent mechanic to the cringing wretch who lives on the debasing bread of charity This they call a temporary inconvenience O reverendo sr Turner era em 1827 pároco de Wilmslow em Cheshire um distrito industrial As perguntas do Comitê de Emigração e as respostas do sr Turner mostram como é mantida a competição do trabalho manual contra a maquinaria Pergunta Não teria o uso do tear mecânico suprimido o uso do tear manual Resposta Sem dúvida e têloia suprimido ainda mais se os tecelões manuais não se tivessem submetido a uma redução de salários Pergunta Mas o tecelão manual ao submeterse contentouse com um salário que é insuficiente para sustentálo e conta com a contribuição paroquial para o complemento desse sustento Resposta Sim e de fato a competição entre o tear manual e o mecânico é mantida pela assistência aos pobres Assim o pauperismo degradante ou a expatriação é o benefício que o operário recebe da introdução da maquinaria sendo rebaixados de artesãos respeitáveis e até certo ponto independentes a miseráveis rastejantes que vivem do pão degradante da caridade E é a isso que eles chamam de inconveniência temporária A Prize Essay on the Comparative Merits of Competition and Co operation Londres 1834 p 29 199 The same cause which may increase the revenue of the country A mesma causa que pode aumentar a receita de um país isto é como explica Ricardo na mesma passagem the revenues of landlords and capitalists cuja wealth considerada economicamente é em geral Wealth of the Nation may at the same time render the population redundant and deteriorate the condition of the labourer pode ao mesmo tempo gerar um excedente de população e piorar a situação do trabalhador Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 469 A finalidade constante e a tendência de todo aperfeiçoamento do mecanismo é de fato eliminar completamente o trabalho do homem ou reduzir seu preço por meio da substituição do trabalho de homens adultos pelo de mulheres e de crianças ou o de operários qualificados pelo de não qualificados Ure The Philosophy of Manufactures cit p 23 200 Reports of Insp of Fact 31st Oct 1858 p 43 201 Reports 31st October 1856 p 15 202 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 19 A grande vantagem da maquinaria utilizada na fabricação de tijolos consiste em tornar o empregador inteiramente independente de trabalhadores qualificados Ch Empl Comm V Report 1866 p 130 n 46 Adendo à segunda edição O sr Surrock superintendente do departamento de máquinas da Great Northern Railway diz em referência à construção de máquinas locomotivas etc Trabalhadores ingleses caros expensive são a cada dia menos usados A produção é incrementada com a aplicação de instrumentos aperfeiçoados e tais instrumentos por sua vez são operados por uma classe baixa de trabalho a low class of labour Antes o trabalho qualificado produzia necessariamente todas as peças da máquina a vapor Agora as mesmas peças são produzidas por trabalho menos qualificado mas com bons instrumentos Por instrumentos entendo as máquinas utilizadas na construção de máquinas Royal Commission on Railways Minutes of Evidence Londres 1867 n 17862 e 17863 683 k No original inglês o texto de Ure diz On the automatic plan skilled labour gets progressively superseded No sistema automático o trabalho qualificado é progressivamente suprimido N T 203 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 20 204 Ibidem p 321 l No original inglês o texto de Ure diz The effect of substituting the selfacting mule for the common mule is to discharge the greater part of the men spinners and to retain adolescents and children O efeito da substituição do tear comum pelo tear automático é o de descartar a maior parte dos tecelões homens e reter adolescentes e crianças N T 205 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 23 206 Reports of Insp of Fact 31st Oct 1863 p 108 207 Ibidem p 109 O rápido aperfeiçoamento da maquinaria durante a crise do algodão permitiu aos fabricantes ingleses logo após o término da guerra civil americana abarrotar novamente num abrir e fechar de olhos o mercado mundial Já durante o último semestre de 1866 os tecidos eram quase invendáveis Teve início então a consignação das mercadorias para a China e a Índia o que naturalmente só serviu para tornar ainda mais intensa a glut saturação No começo de 1867 os fabricantes recorreram a seu expediente habitual em situações de emergência a compressão dos salários em 5 Os trabalhadores se opuseram e declararam com toda razão do ponto de vista teórico que o único remédio seria trabalhar menos tempo 4 dias por semana Após uma longa insubordinação os autonomeados capitães da indústria tiveram de aceitar essa solução em alguns lugares com em outros sem a compressão salarial de 5 m A tabela se baseia em dados dos três seguintes relatórios parlamentares reunidos sob o título de Factories fábricas Return to an Address of the Honourable the House of Commons de 15 de abril de 1856 de 24 de abril de 1861 e 5 de dezembro de 1867 N E A MEW 208 A relação entre patrões e mão de obra nas fábricas de cristais e garrafas de vidro soprado consiste numa greve crônica Isso explica o auge da manufatura de vidro prensado em que a maquinaria realiza as principais operações Uma firma de Newcastle que antes produzia anualmente 350 mil libras de cristal soprado produz agora em vez disso 3000500 libras de vidro prensado Ch Empl Comm IV Rep 1865 p 2623 209 Gaskell The Manufacturing Population of England Londres 1833 p 112 210 Em decorrência de greves em sua própria fábrica de máquinas o sr Fairbain descobriu algumas aplicações muito significativas de máquinas na construção de maquinaria n Tenth Report of the Commissioners Appointed to Inquire into the Organization and Rules of Trades Unions and other Associations Together with Minutes of Evidence Londres 1868 p 634 N E A MEW 211 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 36770 o No original inglês de se submeter aos ricos capitalistas N E A MEGA p No original inglês meio de atormentar harassing os pobres N E A MEGA 212 Ure The Philosophy of Manufactures cit p 7 2801 3212 368 370 475 213 Inicialmente Ricardo compartilhava desse ponto de vista porém retratouse expressamente mais tarde com a imparcialidade científica e o amor pela verdade que lhe são característicos Ver On Machinery The Princ of Pol Econ cit 214 N B Dou este exemplo inteiramente à maneira dos economistas citados q Ovídio A arte de amar livro 2 verso 657 N T 215 Um ricardiano observa a esse respeito refutando as sandices de J B Say Onde a divisão do trabalho está bem desenvolvida a qualificação do trabalhador só encontra aplicação no ramo particular em que ela foi adquirida eles mesmos são uma espécie de máquina Por isso não adianta absolutamente nada repetir como um papagaio que as coisas têm uma tendência a encontrar seu nível Olhando ao nosso derredor é impossível deixar de ver coisas que durante muito tempo não conseguem encontrar seu nível e que quando o encontram ele está mais baixo do que no começo do processo An Inquiry into those Principles Respecting the Nature of Demand etc Londres 1821 p 72 216 Um virtuose desse cretinismo desmedido é entre outros MacCulloch Se é vantajoso diz ele com a ingenuidade afetada de uma criança de 8 anos desenvolver cada vez mais a destreza do trabalhador de modo que ele se torne capaz de produzir uma quantidade cada vez maior de mercadorias com uma quantidade igual ou menor 684 de trabalho então deve ser igualmente vantajoso que ele se sirva dessa maquinaria do modo mais eficaz para atingir esse resultado MacCulloch Princ of Pol Econ Londres 1830 p 182 216a O inventor da máquina de fiar arruinou a Índia o que contudo pouco nos importa A Thiers De la propriété Paris 1848 p 275 O sr Thiers confunde aqui a máquina de fiar com o tear mecânico o que contudo pouco nos importa 217 De acordo com o censo de 1861 Londres 1863 v II o número de trabalhadores ocupados nas minas de carvão da Inglaterra e País de Gales era de 246613 dos quais 73546 menores de 20 anos de idade e 173067 maiores de 20 anos À primeira categoria pertencem 835 trabalhadores entre 5 e 10 anos de idade 30701 entre 10 e 15 anos e 42010 entre 15 e 19 anos O número de ocupados em minas de ferro cobre chumbo zinco e todos os outros metais é de 319222 218 Na Inglaterra e no País de Gales em 1861 a produção de maquinaria ocupava 60807 pessoas aí incluídos os fabricantes e seus caixeirosviajantes etc ditto todos os agentes e comerciantes nesse setor Porém dessa soma estão excluídos os produtores de máquinas menores como máquinas de costura etc assim como os produtores de ferramentas para as máquinas de trabalho como fusos etc O número de engenheiros civis chegava a 3329 219 Como o ferro é uma das principais matériasprimas registremos aqui que em 1861 havia na Inglaterra e País de Gales 125771 fundidores de ferro dos quais 123430 homens e 2341 mulheres Dos primeiros 30810 eram menores de 20 anos e 92620 maiores dessa idade r O termo estados fronteiriços designa os cinco estados escravagistas Delaware Kentucky Maryland Missouri e Virgínia do Oeste que faziam fronteira com os estados abolicionistas e integravam a União durante a Guerra de Secessão N T 220 Uma família de quatro pessoas adultas tecelões de algodão com duas crianças como winders enoveladores ganhava no final do século passado e início do atual 4 por semana para uma jornada de trabalho de 10 horas Se o trabalho era muito urgente podiam ganhar mais Antes disso haviam sempre padecido com o suprimento deficiente de fio Gaskell The Manufacturing Population of England cit p 345 221 F Engels em A situação etc demonstra a situação lamentável de grande parte desses trabalhadores do luxo Uma enorme quantidade de novos dados documentais em relação a essa questão se encontra nos relatórios da Child Empl Comm 222 Em 1861 na Inglaterra e no País de Gales havia 94665 marinheiros empregados na marinha mercante 223 Dos quais apenas 177596 do sexo masculino são maiores de 13 anos 224 Dos quais 30501 são do sexo feminino 225 Dos quais 137447 são do sexo masculino Excluído dos 1208648 todo o pessoal que não presta serviços em residências particulares Adendo à segunda edição De 1861 a 1870 o número de serviçais masculinos quase dobrou aumentando para 267671 Em 1847 havia 2694 guardasflorestais para as áreas de caça dos aristocratas em 1869 porém seu número era de 4921 As adolescentes que prestam serviços nas casas dos pequenoburgueses londrinos são chamadas na linguagem popular de little slaveys isto é escravinhas 226 Ganilh considera ao contrário que o resultado final da indústria mecanizada consiste num número absolutamente reduzido de escravos do trabalho à custa dos quais um número maior de gens honnêtes pessoas honestas vive e desenvolve sua conhecida perfectibilité perfectible perfectibilidade perfectível Por pouco que compreenda o movimento da produção ao menos ele sente que a maquinaria é uma instituição extremamente funesta se sua introdução transforma trabalhadores ocupados em indigentes e seu desenvolvimento faz surgir mais escravos do trabalho do que os que ela eliminou anteriormente O cretinismo de seu próprio ponto de vista só pode ser expresso por suas próprias palavras Les classes condamnées à produire et à consommer diminuent et les classes qui dirigent le travail qui soulagent consolent et éclairent toute la population se multiplient et sapproprient tous les bienfaits qui résultent de la diminution des frais du travail de labondance des productions et du bon marché des consommations Dans cette direction lespèce humaine sélève aux plus hautes conceptions du génie pénètre dans les profondeurs mystérieuses de la religion établit les principes salutaires de la morale les lois tutélaires de la liberté et du pouvoir de lobéissance et de la justice du devoir et de lhumanité As classes condenadas a produzir e a consumir diminuem e as classes que dirigem o trabalho que trazem a toda a população a assistência o consolo e o esclarecimento multiplicamse e apropriamse de todos os benefícios resultantes da diminuição dos custos do trabalho da abundância dos produtos e dos baixos preços dos bens de consumo Nessa direção a espécie humana se eleva às mais altas criações do gênio penetra nas profundezas misteriosas da religião estabelece os princípios salutares 685 da moral que consiste em apropriarse de todos os benefícios etc as leis tutelares da liberdade liberdade para as classes condenadas a produzir e do poder da obediência e da justiça do dever e da humanidade extraímos esse palavrório de M C Ganilh Des systèmes déconomie politique etc 2 ed Paris 1821 t I p 212 224 s Ver p 4878 N T 227 Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 58s Ao mesmo tempo porém já estava dada a base material para a ocupação de um número crescente de trabalhadores em 110 novas fábricas com 11625 teares a vapor 628576 fusos 2695 cavalosvapor em força de vapor e hidráulica idem 228 Reports etc for 31st Oct 1862 p 79 Adendo à segunda edição Ao final de dezembro de 1871 dizia o inspetor de fábricas A Redgrave numa conferência celebrada em Bradford na New Mechanics Institution O que tem me surpreendido há algum tempo é a aparência modificada das fábricas de lã Antes estavam todas repletas de mulheres e crianças agora a maquinaria parece efetuar todo o trabalho Por mim questionado o fabricante deu a seguinte explicação No sistema antigo eu empregava 63 pessoas depois da introdução da maquinaria aperfeiçoada reduzi minha mão de obra para 33 e recentemente em consequência de novas e grandes mudanças pude reduzilos de 33 para 13 pessoas 229 Reports etc for 31st Oct 1856 p 16 230 Os sofrimentos dos tecelões manuais de algodão e de materiais misturados com algodão foram objeto de investigação de uma Comissão da Coroa mas embora a miséria desses trabalhadores tenha sido reconhecida e lamentada a melhora de sua situação foi deixado à cargo da sorte e das mudanças dos tempos e podemos esperar agora vinte anos depois que esses sofrimentos se tenham quase nearly extinguido para o que com toda probabilidade contribuiu a grande expansão atual do tear a vapor Rep Insp Fact 31st Oct 1856 p 15 231 Outros métodos pelos quais a maquinaria afeta a produção da matériaprima serão mencionados no Livro III 232 Exportação de algodão das Índias Orientais para a GrãBretanha em libraspeso 1846 34540143 1860 204141168 1865 445947600 233 Exportação de lã das Índias Orientais para a GrãBretanha em libraspeso 1846 4570581 1860 20214173 1865 20679111 234 O desenvolvimento econômico dos Estados Unidos é ele próprio um produto da grande indústria europeia ou mais precisamente inglesa Em sua atual configuração 1866 eles devem ser considerados uma colônia da Europa Adendo à quarta edição Desde então os Estados Unidos se transformaram no segundo país mais industrializado do mundo sem que com isso tenham perdido por completo seu caráter colonial F E Exportação de algodão dos Estados Unidos para a GrãBretanha em libraspeso 1846 401949393 1852 765630544 1859 961707264 1860 1115890608 Exportação de grãos etc dos Estados Unidos para a GrãBretanha 1850 e 1862 em quintais 1850 1862 Trigo 16202312 41033503 Cevada 3669653 6624800 Centeio 3174801 4426994 Farinha de trigo 388749 7108 Milho 3819440 7207113 686 Trigomouro 1054 19571 Milho 5473161 11694818 Bere ou bigg variedade especial de cevada 2039 7675 Ervilha 811620 1024722 Feijão 1822972 2037137 Total importado 35365801 74083441 t Os dados apresentados por Marx são extraídos do relatório parlamentar Corn Grain and Meal Return to an Order of the Honourable House of Commons Dated 18 February 1867 N E A MEW 235 Numa proclamação às Trade Societies of England realizada em julho de 1866 pelos trabalhadores postos na rua pelos fabricantes de calçados de Leicester por meio de um lockout lêse entre outras coisas Há cerca de 20 anos a fabricação de calçados de Leicester foi revolucionada pela introdução do rebitamento no lugar da costura Àquele tempo podiase ganhar bons salários Logo esse novo negócio se expandiu consideravelmente Estabeleceuse uma grande concorrência entre as diversas firmas cada uma delas esforçandose para apresentar o artigo mais elegante Pouco depois no entanto surgiu um tipo pior de concorrência a saber a de cada firma vender no mercado a um preço mais baixo do que a outra undersell As danosas consequências dessa prática não tardaram a se manifestar na forma de redução de salários e a queda do preço do trabalho foi tão rápida e impetuosa que atualmente muitas firmas pagam apenas a metade do salário original Não obstante apesar de os salários continuarem a cair os lucros parecem aumentar com cada alteração na taxa dos salários Mesmo os períodos desfavoráveis da indústria são aproveitados pelos fabricantes para obterem lucros extraordinários por meio de reduções exorbitantes de salários isto é do roubo direto dos meios de subsistência mais imprescindíveis ao trabalhador A título de exemplo com relação à crise na tecelagem de seda em Coventry Segundo informações que obtive tanto de fabricantes como de trabalhadores não cabe dúvidas de que os salários têm sido rebaixados numa medida maior do que o impunha a concorrência dos produtores estrangeiros ou outras circunstâncias A maior parte dos tecelões trabalha com salários reduzidos em 30 e até 40 Uma peça de fita para cuja confecção o tecelão recebia 6 ou 7 xelins há 5 anos agora não lhe rende mais do que 3 xelins e 3 pence ou 3 xelins e 6 pence outro trabalho que anteriormente era remunerado com 4 xelins e até mesmo 4 xelins e 3 pence agora é pago com apenas 2 xelins ou no máximo 2 xelins e 3 pence A baixa salarial é maior do que a requerida para estimular a demanda De fato no caso de muitos tipos de fita a baixa salarial não foi nem mesmo acompanhada de alguma redução do preço do artigo relatório do comissário F D Longes em Ch Emp Comm V Rep 1866 p 114 n 1 u Em 1799 e 1800 uma série de leis do Parlamento inglês proibiu a fundação e a atividade de quaisquer organizações de trabalhadores as quais foram novamente revogadas pelo Parlamento em 1824 No entanto mesmo depois disso as autoridades continuaram a limitar ao máximo a atividade das organizações operárias Especialmente a agitação para que os operários ingressassem numa organização e participassem de greves foi considerada como intimidação e punida como crime N E A MEW 236 Cf Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1862 p 30 237 Ibidem p 189 v Variedade de algodão produzida nas Sea Islands grupo de ilhas menores que se estende do rio Santee na Carolina do Sul até a desembocadura do rio San Juan no norte da Flórida N T 238 Reports of Fact for 31st Oct 1863 p 415 51 239 Ibidem p 412 240 Ibidem p 57 241 Reports etc 31st Oct 1863 p 501 x Personagem de um livro popular alemão do século XVI Fortunato possui uma sacola de dinheiro que nunca se esvazia e um chapéu que o leva para onde deseja N T 242 Ibidem p 623 243 Reports etc 30th April 1864 p 27 687 244 De uma carta do chief constable chefe de polícia Harris de Bolton em Reports of Insp of Fact 31st Oct 1856 p 612 w Marx referese à intensidade com que os comerciantes privados ingleses tomaram conta do mercado chinês após a supressão do monopólio da Companhia das Índias Orientais no comércio com a China 1833 Para esse fim qualquer meio lhes era lícito A primeira Guerra do Ópio 18391842 uma guerra de agressão da Inglaterra contra a China deveria abrir o mercado chinês ao comércio inglês Com ela teve início a transformação da China numa nação semicolonial Desde o início do século XIX a Inglaterra contrabandeando para a China o ópio produzido na Índia tentou equilibrar o passivo de sua balança comercial com aquele país porém encontrou a oposição das autoridades chinesas que em 1839 confiscaram carregamentos inteiros de ópio a bordo de navios estrangeiros em Cantão e os mandaram incinerar Esse foi o pretexto para a guerra na qual a China acabou derrotada Os ingleses se aproveitaram dessa derrota da China feudal e retrógrada e impuseramlhe o espoliador tratado de paz de Nanquim agosto de 1842 O Tratado de Nanquim determinava a abertura de cinco portos chineses Cantão Hanói Futchu Ningpo e Xangai ao comércio inglês a concessão de Hong Kong à Inglaterra para todo sempre e o pagamento de altos tributos a essa nação Com o protocolo adicional do Tratado de Nanquim a China também foi obrigada a reconhecer aos estrangeiros em seu país o direito da extraterritorialidade N E A MEW 245 Num chamamento aos trabalhadores do algodão na primavera de 1863 para a formação de uma sociedade de emigração é dito entre outras coisas Que uma grande emigração de trabalhadores fabris é agora absolutamente necessária poucos hão de negar Mas que em todos os tempos é necessário um fluxo contínuo de emigração sem o qual é impossível manter nossa posição em circunstâncias normais é algo demonstrado pelos seguintes fatos no ano de 1814 o valor oficial que não é mais do que um índice da quantidade dos artigos de algodão exportados foi de 17665378 enquanto seu valor real de mercado foi de 20070824 Em 1858 o valor oficial dos artigos de algodão exportados subiu para 182221681 mas seu valor real de mercado não ultrapassou 43001322 de modo que a decuplicação da quantidade foi acompanhada apenas de pouco mais do que a duplicação do equivalente Diversas causas cooperaram para produzir resultados tão funestos para o país de modo geral e para os trabalhadores fabris em particular Uma das mais óbvias é a constante superabundância de trabalho indispensável nesse ramo industrial que sob pena de aniquilação requer uma expansão constante do mercado Nossas fábricas de algodão poderiam ser paralisadas por causa da estagnação periódica do comércio estagnação que sob o ordenamento atual é tão inevitável quanto a própria morte Mas nem por isso adormece o espírito inventivo da humanidade Ainda que 6 milhões de trabalhadores calculando por baixo tenham abandonado este país nos últimos 25 anos há uma grande percentagem de homens adultos que em consequência do constante deslocamento de trabalhadores para baratear a produção não consegue encontrar nas fábricas nenhum tipo de ocupação sob quaisquer condições e mesmo nas épocas de maior prosperidade Reports of Insp of Fact 30th April 1863 p 512 Num capítulo posterior veremos como os senhores fabricantes durante a catástrofe do algodão procuraram impedir a emigração dos operários fabris a todo custo recorrendo para isso até mesmo à interferência estatal 246 Ch Empl Comm III Report 1864 p 108 n 447 247 Nos Estados Unidos é frequente essa reprodução da produção artesanal fundada na maquinaria Justamente por isso a concentração quando ocorre a inevitável transição para a produção fabril avançará com botas de sete léguas em comparação com o que ocorre na Europa e mesmo na Inglaterra 248 Cf Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 64 249 O sr Gillot instalou em Birmingham a primeira manufatura de penas de aço em larga escala Já em 1851 ela fornecia mais de 180 milhões de penas e consumia 120 toneladas de chapas de aço por ano Birmingham que monopoliza essa indústria no Reino Unido produz hoje anualmente bilhões de penas de aço Segundo o censo de 1861 o número de pessoas ocupadas chegava a 1428 das quais 1268 operárias de 5 anos de idade em diante 250 Ch Empl Comm II Rep 1864 p lxviii n 415 251 E em Sheffield atualmente ocorre até mesmo o emprego de crianças nas oficinas de esmerilhamento 251a Ch Empl Comm V Rep 1866 p 3 n 24 p 6 n 556 p 7 n 5960 252 Ibidem p 1145 n 67 O comissário observa corretamente que embora o habitual seja a máquina substituir o homem aqui é o jovem que verbatim literalmente substitui a máquina y Marx joga aqui com a palavra Lumpen que significa tanto farrapo trapo quanto indivíduo esfarrapado maltrapilho vadio N T 253 Ver relatório sobre o comércio de trapos e inúmeros documentos Public Health VIII Report Londres 1866 Apêndice p 196208 688 254 Child Empl Comm V Report 1866 p XVIXVIII n 8697 p 1303 n 3971 Cf também idem III Report 1864 p 48 56 z Ver nota f na p 318 N E A MEW 255 Public Health Sixth Report cit p 29 31 256 Ibidem p 30 O dr Simon observa que a mortalidade entre os alfaiates e impressores entre 25 e 35 é na verdade muito maior pois seus patrões de Londres obtêm no campo um grande número de jovem de até 30 anos que fazem trabalhar como aprendizes e improvers aqueles que querem se aperfeiçoar em seu ofício Estes figuram no censo como londrinos incham o número de pessoas com base no qual se calcula a taxa de mortalidade em Londres porém sem contribuir proporcionalmente para o número de casos de morte nessa cidade Grande parte deles com efeito retorna ao campo e muito especialmente em casos de doenças graves Cf idem 257 Tratase aqui de pregos feitos a martelo diferentemente daqueles produzidos à máquina Ver Child Empl Comm III Report p XI XIX n 12530 p 52 n 11 p 1134 n 487 p 137 n 674 258 Ibidem p XXII n 166 259 Child Empl Comm II Report 1864 p XIXXXI 260 Ibidem p XXIXXII 261 Ibidem p XXIXXXX 262 Ibidem p XLXLI 263 Childrens First Report 1863 p 185 264 Millinery diz respeito a rigor apenas à confecção de toucados porém compreende também a confecção de mantos e mantilhas ao passo que as dressmakers são idênticas às nossas modistas 265 A millinery e a dressmaking inglesas são geralmente exercidas nas residências dos patrões em parte por operárias que aí residem e trabalham em parte por trabalhadoras diaristas que residem fora 266 O comissário White visitou uma manufatura de uniformes militares que empregava entre 1000 e 1200 pessoas quase todas do sexo feminino uma manufatura de calçados com 1300 pessoas das quais praticamente a metade constituída por crianças e adolescentes etc Child Empl Comm II Rep p XLVII n 319 267 Um exemplo No dia 26 de fevereiro de 1864 o relatório semanal de óbitos do Register General contém 5 casos de morte por inanição Nesse mesmo dia o Times relata um novo caso de morte por inanição Seis vítimas de morte por inanição numa semana Register General Registrador geral na Inglaterra o chefe do registro civil Suas competências abrangiam o sistema inteiro de registros de nascimentos óbitos e divórcios N E A MEW 268 Child Empl Comm II Rep 1864 p LXVII n 4069 p 84 n 124 p LXXIII n 441 p 68 n 6 p 84 n 126 p 78 n 85 p 76 n 69 p LXXII n 438 269 The rental of premises required for work rooms seems the element which ultimately determines the point and consequently it is in the metropolis that the old system of giving work out to small employers and families has been longest retained and earliest returned to O preço do aluguel dos locais de trabalho parece ser o fator decisivo razão pela qual é na capital que o velho sistema de delegar trabalho a pequenos empresários e a suas famílias foi conservado por mais tempo e retomado mais cedo ibidem p 83 n 123 A última frase referese exclusivamente à produção de calçados 270 Isso não ocorre na confecção de luvas etc em que a situação dos trabalhadores se distingue muito pouco da dos indigentes 271 Childrens Second Report 1864 p 83 n 122 272 Em 1864 apenas em Leicester estavam em uso 800 máquinas de costura na fabricação de botas e sapatos para a venda em atacado 273 Child Empl Comm II Rep 1864 p 84 n 124 274 Assim ocorre por exemplo no almoxarifado de indumentária militar de Pimlico em Londres na fábrica de camisas de Tillie e Henderson em Londonderry na fábrica de vestidos da firma Tait em Limerick que utiliza cerca de 1200 braços 275 Child Empl Comm Tendency to factory system Tendência em direção ao sistema fabril II Rep 1864 p lxvii The whole employment is at this time in a state of transition and is undergoing the same change as that effected in the 689 lace trade weaving etc Neste momento a indústria inteira se encontra numa fase de transição e experimenta as mesmas mudanças que experimentaram a indústria de rendas a tecelagem etc ibidem n 405 A Complete Revolution Uma revolução completa ibidem p XLVI n 318 À época da Child Empl Comm de 1840 a confecção de meias era ainda um trabalho manual A partir de 1846 introduziuse maquinaria diversificada atualmente movida a vapor Em 1862 o número total de pessoas de ambos os sexos e todas as faixas etárias a partir dos 3 anos de idade empregadas na confecção inglesa de meias chegava a cerca de 120 mil Destas segundo o Parliamentary Return de 11 de fevereiro de 1862 apenas 4063 se encontravam no âmbito de aplicação da lei fabril 276 Assim por exemplo na produção de cerâmica a firma Cochran da Brittania Pottery de Glasgow informa To keep up our quantity we have gone extensively into machines wrought by unskilled labour and every day convinces us that we can produce a greater quantity than by the old method Para mantermos nossa escala de produtividade usamos agora extensivamente máquinas manejadas por operários não qualificados e a cada dia que passa estamos mais convictos de que podemos produzir uma quantidade maior do que pelo método antigo Rep of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 13 O efeito da lei fabril é contribuir para uma maior introdução de maquinaria ibidem p 134 277 Assim logo após a introdução da lei fabril nas olarias verificase um grande aumento dos power jiggers tornos mecânicos no lugar dos hand moved jiggers tornos manuais 278 Rep Insp Fact 31st Oct 1865 p 96 127 279 A introdução dessa e de outras máquinas na fábrica de palitos de fósforos substituiu num de seus departamentos 230 jovens por 32 rapazes e moças de 14 a 17 anos de idade Em 1865 essa economia de trabalhadores foi incrementada com a utilização do vapor 280 Child Empl Comm II Rep 1864 p IX n 50 281 Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 22 282 Em muitas manufaturas antigas os aperfeiçoamentos necessários não podem ser introduzidos sem que haja um dispêndio de capital acima dos meios de muitos dos proprietários atuais Uma desorganização transitória acompanha necessariamente a introdução das leis fabris O grau dessa desorganização está em proporção direta com a grandeza dos abusos a serem remediados 283 Nos altosfornos por exemplo o tempo de trabalho é em geral muito prolongado na parte final em decorrência do hábito dos trabalhadores de folgarem às segundasfeiras e eventualmente em parte ou totalmente também na terçafeira Child Empl Comm III Rep p VI Os pequenos mestres têm geralmente horários de trabalho muito irregulares Perdem dois ou três dias e depois trabalham toda a noite para se ressarcirem Quando têm filhos eles sempre os empregam ibidem p VII A falta de regularidade para começar o trabalho é estimulada pela possibilidade e a prática de compensar o prejuízo mediante o sobretrabalho ibidem p XVIII Em Birmingham perdese um tempo enorme folgando parte do tempo e esfalfandose durante o restante ibidem p XI 284 Child Empl Comm IV Rep p XXXII The extension of the railway system is said to have contributed greatly to this custom of giving sudden orders and the consequent hurry neglect of mealtimes and late hours of the workpeople A expansão do sistema ferroviário segundo se afirma contribuiu em grande medida para esse costume de formular encomendas repentinas para os trabalhadores as consequências disso são o ritmo acelerado a negligência quanto aos horários das refeições e a realização de horas extras ibidem p XXXI 285 Ibidem p XXXV n 235 237 286 Ibidem p 127 n 56 287 With respect to the loss of trade by the noncompletion of shipping orders in time I remember that this was the pet argument of the factory masters in 1832 und 1833 Nothing that can be advanced now on this subject could have the force that it had then before steam had halved all distances and established new regulations for transit It quite failed at that time of proof when put to the test and again it will certainly fail should it have to be tried No que diz respeito à perda de negócios em virtude do não cumprimento de pedido de embarque no prazo devido recordo que esse era o argumento preferido dos donos de fábricas em 1832 e 1833 Nada do que agora se pudesse alegar sobre esse assunto teria a força que tinha antes de o vapor ter reduzido pela metade todas as distâncias e estabelecido novas normas para o tráfego Submetida a verificação essa afirmação mostrouse outrora como defeituosa e isso certamente não seria diferente se fosse agora submetida a uma nova prova Reports of Insp of Fact 31st Oct 1862 p 545 288 Chil Empl Comm III Rep p XVIII n 118 289 Já em 1699 John Bellers observava The uncertainty of fashions does increase necessitous poor It has two great mischiefs in it 1st The journeymen are miserable in winter for want of work the mercers and masterweavers not daring to 690 lay out their stocks to keep the journeymen imployed before the spring comes and they know what the fashion will then be 2dly In the spring the journeymen are not sufficient but the masterweavers must draw in many prentices that they may supply the trade of the kingdom in a quarter or half a year which robs the plow of hands drains the country of labourers and in a great part stocks the city with beggars and starves some in winter that are ashamed to beg A incerteza da moda aumenta o número dos indigentes Ela causa dois grandes males primeiro os oficiais passam a sofrer com a miséria no inverno por falta de trabalho já que os comerciantes varejistas e os mestres tecelões não se arriscam a investir seus capitais para manter ocupados os oficiais até que chegue a primavera e saibam qual será então a próxima moda segundo na primavera não há oficiais o bastante de modo que os mestres tecelões têm de atrair muitos aprendizes para poderem abastecer o comércio do reino por um quarto ou metade do ano o que arranca o lavrador do arado esvazia o campo de trabalhadores em grande parte abarrota a cidade de mendigos e no inverno mata de fome alguns que se envergonham de mendigar John Bellers Essays About the Poor Manufactures etc cit p 9 290 Child Empl Comm V Rep p 171 n 34 291 Assim se afirma por exemplo nos depoimentos de exportadores de Bradford Sob essas circunstâncias obviamente não parece necessário que rapazes trabalhem nos grandes armazéns mais do que das 8 horas da manhã às 7 ou 7h30 da noite Tratase simplesmente de uma questão de mão de obra adicional e de mais investimentos Os rapazes não precisariam trabalhar até tão tarde da noite se seus patrões não fossem tão ávidos por lucros uma máquina adicional não custa mais do que 16 ou 18 Todas as dificuldades provêm da insuficiência de instalações e falta de espaço ibidem p 171 n 356 38 292 Ibidem p 81 n 32 Um fabricante londrino que de resto considera a regulamentação forçada da jornada de trabalho um meio de proteção dos trabalhadores contra os fabricantes e dos próprios fabricantes contra o comércio atacadista afirma A pressão em nosso negócio é causada pelos exportadores que querem por exemplo enviar mercadorias num veleiro para que alcancem seu destino em determinada temporada e ao mesmo tempo pretendem embolsar a diferença do frete entre um veleiro e um navio a vapor ou que entre dois navios a vapor escolhem aquele que zarpa primeiro visando chegar ao mercado estrangeiro antes de seus competidores 293 Isso se poderia evitar diz um fabricante por meio da ampliação das instalações sob a pressão de uma lei geral do Parlamento ibidem p X n 38 294 Child Empl Comm V Rep p XV n 72s 295 Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 127 296 Verificouse experimentalmente que um indivíduo médio em bom estado de saúde consome cerca de 25 polegadas cúbicas de ar a cada respiração de intensidade média e respira cerca de vinte vezes por minuto De acordo com isso o consumo de ar de um indivíduo em 24 horas seria de aproximadamente 720 mil polegadas cúbicas ou 416 pés cúbicos Porém é sabido que o ar uma vez inspirado já não pode servir para o mesmo processo antes de se purificar no grande laboratório da natureza Segundo os experimentos de Valentin e Brunner um homem saudável parece expirar cerca de 1300 polegadas cúbicas de gás carbônico por hora o que equivale a aproximadamente 8 onças de carvão sólido expelidas pelo pulmão em 24 horas Cada pessoa teria de dispor de pelo menos 800 pés cúbicos Huxley 297 De acordo com a lei fabril inglesa os pais não podem mandar crianças menores de 14 anos para as fábricas controladas sem fazer com que ao mesmo tempo recebam ensino primário O fabricante é responsável pelo cumprimento da lei Factory education is compulsory and it is a condition of labour A instrução fabril é obrigatória e faz parte das condições de trabalho Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 111 298 Sobre os resultados mais vantajosos da combinação de ginástica e no caso dos rapazes também de exercícios militares com ensino obrigatório das crianças das fábricas e colegiais pobres ver o discurso de N W Senior no VII Congresso Anual da National Association for the Promotion of Social Science em Report of Proceedings etc Londres 1863 p 634 e também o relatório dos inspetores de fábrica de 31 de outubro de 1865 p 11820 126s 299 Reports of Insp of Fact cit p 1189 Um ingênuo fabricante de seda esclarece aos comissários de inquérito da Child Empl Comm Estou plenamente convencido de que o verdadeiro segredo da produção de operários eficientes se encontra na união entre trabalho e instrução a partir da infância Naturalmente o trabalho não pode ser estafante demais nem repulsivo ou insalubre Gostaria que meus próprios filhos alternassem o trabalho e recreação com a atividade escolar Child Empl Comm V Rep p 82 n 36 300 Senior discurso em Report of Proceedings cit p 66 Até que ponto a grande indústria em certo estágio de desenvolvimento ao revolucionar o modo de produção material e as relações sociais de produção revoluciona também as cabeças mostrao de modo contundente a comparação entre o discurso de N W Senior proferido em 691 1863 e sua filípica contra a lei fabril de 1833 ou entre os pontos de vista do citado congresso com o fato de que em certas partes rurais da Inglaterra ainda se proíbe aos pais pobres educarem seus filhos sob pena de morrerem de inanição Assim por exemplo o sr Snell relata como uma prática costumeira em Somersetshire que quando uma pessoa pobre solicita um auxílio da paróquia é forçada a retirar suas crianças da escola Assim o sr Wollaston pároco em Feltham relata casos em que se negou todo apoio a certas famílias porque mandavam seus filhos à escola 301 Onde máquinas artesanais movidas por força humana concorrem direta ou indiretamente com maquinaria mais desenvolvida e que consequentemente pressupõe força motriz mecânica ocorre uma grande mudança com relação ao trabalhador que movimenta a máquina Originalmente a máquina a vapor substituía esse trabalhador mas agora é ele que deve substituíla Por isso a tensão e o dispêndio de sua força de trabalho tornamse monstruosos e principalmente para aqueles de idade imatura condenados a essa tortura Assim em Coventry e redondezas o comissário Longe encontrou jovens de 10 a 15 anos de idade empregados na atividade de girar teares de fitas para não falar de crianças mais jovens a girar teares menores É um trabalho extraordinariamente cansativo The boy is a mere substitute for steam power O menino é um mero substituto da força do vapor Child Empl Comm V Report 1866 p 114 n 6 Sobre as consequências homicidas desse sistema de escravidão como o denomina o relatório ver ibidem p 114s 302 Ibidem p 3 n 24 303 Ibidem p 7 n 60 304 Segundo o Statistical Account em algumas partes montanhosas da Escócia havia muitos pastores de ovelhas e cotters Camponeses parceleiros nas terras altas escocesas com suas mulheres e seus filhos calçando sapatos feitos por eles mesmos de couro curtido por eles mesmos com roupas que não haviam sido tocadas exceto por suas próprias mãos e cuja matériaprima era a lã e o linho que eles mesmos haviam respectivamente tosquiado e plantado Na confecção de suas vestimentas dificilmente entrava algum artigo comprado exceto a sovela a agulha o dedal e algumas peças de ferro utilizadas para tecer As tinturas eram obtidas pelas próprias mulheres de árvores arbustos e ervas Dugal Stewart em Works cit v VIII p 3278 305 No célebre Livre des métiers de Étienne Boileau é prescrito entre outras coisas que um oficial ao ser admitido entre os mestres deve prestar juramento de amar fraternalmente a seus irmãos e apoiálos cada um em seu métier ofício não revelar voluntariamente os segredos do ofício e até mesmo no interesse da coletividade não chamar a atenção de um comprador para os defeitos de artigos de outrem com o objetivo de recomendar sua própria mercadoria 306 A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção por conseguinte as relações de produção e com isso todas as relações sociais A conservação inalterada do antigo modo de produção era pelo contrário a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores Essa subversão contínua da produção esse abalo constante de todo o sistema social essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes Dissolvemse todas as relações sociais antigas e cristalizadas com seu cortejo de concepções e de ideias secularmente veneradas as relações que as substituem tornamse antiquadas antes de se consolidarem Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar tudo o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados finalmente a encarar sem ilusões a sua posição social e as suas relações com os outros homens F Engels e Karl Marx Manifesto Comunista São Paulo Boitempo trad Álvaro Pina 1998 p 43 307 You take my life When you do take the means whereby I live Tirais minha vida quando tirais os meios de que vivo William Shakespeare O mercador de Veneza ato IV cena I 308 Um trabalhador francês escreve ao regressar de São Francisco Jamais eu teria acreditado que seria capaz de exercer todos os ofícios que pratiquei na Califórnia Estava convencido de que salvo a tipografia eu não servia para nada Certa vez em meio a esse mundo de aventureiros que trocam mais facilmente de profissão do que de camisa agi e juro que assim o foi como os outros Como a mineração não se mostrou suficientemente rentável abandoneia e me dirigi à cidade onde trabalhei sucessivamente como tipógrafo telhador fundidor de chumbo etc Depois de ter tido essa experiência de ser apto para todo tipo de trabalho sintome menos molusco e mais homem A Corbon De lenseignement professionnel 2 ed Paris 1860 p 50 aa Com essas palavras segundo Valério Máximo Facta et dicta memorabilia 8 12 o pintor grego Apeles teria respondido às críticas que um sapateiro fazia à sua pintura N T 309 John Bellers um verdadeiro fenômeno na história da economia política compreendeu com toda clareza já no final do século XVII a necessidade de superar a educação e a divisão do trabalho atuais que produzem a hipertrofia e a atrofia nos dois extremos da sociedade ainda que em direções opostas Entre outras coisas diz ele corretamente An 692 idle learning being little better than the Learning of Idleness Bodily Labour its a primitive institution of God Labour being as proper for the bodies health as eating is for its living for what pains a man saves by Ease he will find in Disease labour adds oyl to the lamp of life when thinking inflames it A childish silly employ leaves the childrens minds silly Aprender ociosamente é pouco melhor do que aprender a ociosidade O trabalho corporal foi originalmente instituído pelo próprio Deus O trabalho é tão necessário para a saúde do corpo quanto comer o é para sua vida pois as dores que se poupam com o ócio serão adquiridas por doença O trabalho é o óleo da lamparina da vida mas quem a acende é o pensamento Uma ocupação infantilmente estúpida afirma Bellers pleno de pressentimento sobre os Basedows e seus imitadores modernos estupidifica o espírito das crianças Proposals for Raising a Colledge of Industry of all useful Trades and Husbandry cit p 12 14 16 18 310 Aliás isso também ocorre em grande parte em oficinas menores como vimos no caso da manufatura de rendas e no entrançado de palha e como também se poderia mostrar em detalhes especialmente nas manufaturas metalúrgicas de Sheffield Birmingham etc 311 Child Empl Comm V Rep p XXV n 162 e II Rep p XXXVIII n 285 289 p XXV XXVI n 191 312 Factory labour may be as pure and as excellent as domestic labour and perhaps more so O trabalho fabril pode ser tão puro e excelente quanto o trabalho domiciliar e talvez ainda mais Reports of Insp of Fact 31st Oct 1865 p 129 313 Ibidem p 27 32 314 Uma grande quantidade de dados a esse respeito encontrase nos Reports of the Inspectors of Factories 315 Child Empl Comm V Rep p X n 35 316 Ibidem p IX n 28 317 Ibidem p XXV n 1657 Cf acerca das vantagens das indústrias grandes sobre as pequenas Child Empl Comm III Rep p 13 n 144 p 25 n 121 p 26 n 125 p 27 n 140 etc 318 Os ramos industriais que a comissão propõe regulamentar são manufatura de rendas confecção de meias entrançado de palha manufatura de wearing apparel acessório de vestuário com suas inúmeras subdivisões confecção de flores artificiais fabricação de calçados chapéus e luvas alfaiataria todas as fábricas metalúrgicas dos altosfornos até as fábricas de agulhas etc fabricação de papel manufatura de vidro de tabaco fábricas de Indian rubber borracha fabricação de liço para a tecelagem tecelagem manual de tapetes manufaturas de guardachuvas e sombrinhas fabricação de fusos e de lançadeiras tipografias oficinas de encadernação comércio de material de escritório stationery com a correspondente confecção de caixas de papelão cartões tintas para papéis etc cordoaria manufatura de adornos de azeviche olarias manufatura manual de seda tecelagem de Coventry salinas fábricas de velas de cimento refinaria de açúcar produção de biscoitos trabalhos em madeira e outros trabalhos variados 319 Child Empl Comm III Rep p XXV n 169 319a A Factory Acts Extension Act Lei para a extensão das leis fabris foi aprovada em 12 de agosto de 1867 Ela regula todas as fundições forjas e manufaturas metalúrgicas incluindo as fábricas de máquinas além de manufaturas de vidro papel gutapercha borracha e tabaco gráficas oficinas de encadernação enfim todas as oficinas que empreguem mais de cinquenta pessoas A Hours of Labour Regulation Act Lei para a regulamentação do tempo de trabalho aprovada a 17 de agosto de 1867 regulamenta as oficinas menores e o assim chamado trabalho domiciliar No Livro II voltarei a tratar dessa lei da nova Mining Act Lei da mineração de 1872 etc 320 Senior Social Science Congress cit p 558 321 O pessoal de inspeção das fábricas consistia de 2 inspetores 2 inspetores auxiliares e 41 subinspetores Oito subinspetores adicionais foram nomeados em 1871 O custo total de execução das leis fabris na Inglaterra Escócia e Irlanda somavam em 18711872 apenas 25347 incluindo os custos judiciais dos processos contra infrações 322 Robert Owen o pai das fábricas e armazéns cooperativos que no entanto como já observamos não compartilhava de modo algum das ilusões de seus sucessores quanto ao alcance desses elementos isolados de transformação em seus experimentos não só tinha no sistema fabril seu ponto de partida prático como também teoricamente consideravao o ponto de partida da revolução social O sr Vissering professor de economia política na Universidade de Leyden parece ter suspeitado de algo assim quando em seu Handboek van Praktische Staathuishoudkunde 18601862 que expõe do modo mais adequado as trivialidades da economia vulgar declarase a favor do artesanato e contra a grande indústria Adendo à quarta edição Os novos imbróglios jurídicos ver nota 194 na p 3712 que a legislação inglesa criou por meio das reciprocamente contraditórias Factory Acts Factory Acts Extension e Workshops Acts acabaram por se tornar insuportáveis o que levou ao surgimento da Factory and 693 Workshop Act de 1878 uma codificação de toda a legislação sobre essa matéria Naturalmente não podemos realizar aqui uma crítica detalhada desse código industrial hoje vigente na Inglaterra Bastarão portanto as seguintes considerações A lei compreende 1 fábricas têxteis Aqui tudo permanece praticamente como antes o tempo de trabalho permitido a crianças maiores de 10 anos é de 5½ horas por dia ou de 6 horas se o sábado é livre adolescentes e mulheres 10 horas nos primeiros 5 dias da semana e um máximo de 6½ horas aos sábados 2 Fábricas não têxteis Neste caso as disposições legais estão mais próximas do ponto 1 do que antes mas ainda subsistem várias exceções favoráveis aos capitalistas exceções que muitas vezes ainda podem ser ampliadas por meio de licenças especiais do ministro do Interior 3 Workshops definidas aproximadamente como na lei anterior quando nelas trabalham crianças adolescentes ou mulheres as workshops são colocadas quase em pé de igualdade com as fábricas não têxteis porém uma vez mais com exigências menos severas em alguns aspectos 4 Workshops em que não trabalham crianças nem adolescentes mas só pessoas de ambos os sexos maiores de 18 anos para essa categoria vigoram ainda outras atenuações 5 Domestic workshops oficinas domiciliares onde trabalham apenas membros da família no domicílio familiar determinações ainda mais elásticas e ao mesmo tempo a limitação de que o inspetor desprovido de expressa autorização ministerial ou judicial só pode visitar os aposentos que não sejam utilizados ao mesmo tempo como moradia e finalmente a liberação irrestrita no âmbito familiar do entrançado de palha e da confecção da renda de bilros e de luvas Com todos os seus defeitos essa lei juntamente com a lei federal suíça de 23 de março de 1877 continua a ser de longe a melhor lei sobre a matéria Uma comparação dessa lei com a referida lei federal suíça é de particular interesse pois põe em relevo tanto as vantagens como as desvantagens dos dois métodos de legislar o inglês histórico que intervêm de caso em caso e o continental mais generalizador alicerçado nas tradições da Revolução Francesa Infelizmente o código inglês quanto à sua aplicação nos workshops continua a ser em grande parte letra morta por falta de pessoal suficiente para a inspeção F E 323 Uma exposição detalhada da maquinaria aplicada na agricultura inglesa encontrase em Die landwirtschaftlichen Geräthe und Maschinen Englands do dr W Hamm 2 ed 1856 Em seu esboço sobre o processo de desenvolvimento da agricultura inglesa o sr Hamm segue de modo demasiado acrítico o sr Leonce de Lavergne Adendo à quarta edição Obra que naturalmente tornouse agora obsoleta F E 324 You divide the People into two hostile camps of clownish boors and emasculated dwarfs Good heavens a nation divided into agricultural and commercial interests calling itself sane nay styling itself enlightened and civilized not only in spite of but in consequence of this monstrous and unnatural division Dividis o povo em dois campos hostis o dos camponeses toscos e o dos anões efeminados Ó céus Como pode uma nação cindida em interesses agrícolas e comerciais dizerse sã e mais ainda considerarse esclarecida e civilizada não só apesar de mas exatamente em razão dessa separação monstruosa e antinatural David Urquhart Familiar Words cit p 119 Essa passagem mostra tanto a força quanto a fraqueza de um tipo de crítica que sabe julgar e condenar o presente mas não compreendêlo 325 Cf Liebig Die Chemie in ihrer Anwendung auf Agrikultur und Phisiologie 7 ed 1862 e também no primeiro volume de Einleitung in die Naturgesetze des Feldbaus Ter analisado o aspecto negativo da agricultura moderna de um ponto de vista científico é um dos méritos imortais de Liebig Também seus esboços sobre a história da agricultura embora não isentos de erros grosseiros contêm visões lúcidas É de se lamentar que ouse fazer afirmações gratuitas tais como Pulverizando mais intensamente e arando o solo com maior frequência a circulação do ar no interior das partes porosas da terra é ativada provocando a ampliação e renovação da superfície do solo exposta à ação do ar porém é fácil compreender que o aumento da produção do campo não pode ser proporcional ao trabalho nele aplicado mas sim aumenta em proporção muito menor Essa lei acrescenta Liebig foi enunciada pela primeira vez por J S Mill em seu Princ of Pol Econ v I p 17 do seguinte modo That the produce of land increases caeteris paribus in a diminishing ratio to the increase of the labourers employed is the universal law of agricultural industry Que o produto da terra aumenta caeteris paribus em proporção decrescente ao aumento de trabalhadores empregados O sr Mill inclusive repete a lei da escola ricardiana numa fórmula falsa pois como na Inglaterra the decrease of the labourers employed a diminuição dos trabalhadores empregados sempre acompanhou o progresso da agricultura a conclusão seria que essa lei descoberta na e para a Inglaterra não encontraria aplicação a não ser nesse país constitui a lei geral da agricultura o que é bastante notável já que Mill desconhecia as razões dessa lei Liebig Die Chemie in ihrer Anwendung auf Agrikultur und Phisiologie cit v I p 143 e nota Abstraindo da acepção equívoca da palavra trabalho que para Liebig não significa o mesmo que para a economia política é bastante notável que ele faça do sr J S Mill o primeiro proponente de uma teoria que James Anderson já enunciara na época de A Smith e que foi posteriormente reiterada em vários de seus escritos até o começo do século XIX teoria que Malthus em geral um mestre do plágio toda sua teoria da população é um plágio desavergonhado anexou à sua própria obra em 1815 que foi desenvolvida por West à mesma época e independentemente de Anderson que Ricardo em 1817 vinculou à teoria geral do valor e que a partir de então deu a volta ao mundo tendo Ricardo como 694 seu autor que por James Mill o pai de J S Mill vulgarizou em 1820 e que finalmente já convertida em lugar comum é repetida entre outros pelo sr J S Mill como um dogma escolar É incontestável que J S Mill deve sua autoridade em todo caso notável quase exclusivamente a semelhantes quiproquós 695 1 The very existence of the mastercapitalists as a distinct class is dependent on the productiveness of industry A mera existência dos patrões tornados capitalistas como uma classe especial depende da produtividade do trabalho Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth cit p 206 If each mans labour were but enough to produce his own food there could be no property Se o trabalho de cada homem bastasse apenas para produzir seu próprio alimento não poderia existir propriedade Ravenstone Thoughts on the Funding System and its Effects cit p 14 1a Segundo cálculo recente só nas regiões já exploradas da Terra ainda vivem pelo menos quatro milhões de canibais 2 Among the wild Indians in America almost every thing is the labourers 99 parts of a hundred are to be put upon the account of Labour In England perhaps the labourer has not 23 Entre os índios selvagens da América quase tudo pertence ao trabalhador 99 partes de cada cento são postas na conta do trabalho Na Inglaterra talvez o trabalhador não chegue a ter 23 The Advantages of the East India Trade etc cit p 723 3 Diodoro Historische Bibliothek cit l I c 80 a Citação modificada do poema e canção popular An die Natur de Friedrich Leopold conde de Stolberg N T 4 The first as it is most noble and advantageous so doth it make the people careless proud and given to all excesses whereas the second enforceth vigilancy literature arts and policy Como a primeira a riqueza natural é muito nobre e vantajosa torna o povo negligente orgulhoso e dado a todos os excessos ao passo que a segunda ao contrário impõe a diligência a cultura a virtuosidade na arte e a sabedoria política Englands Treasure by Foreign Trade Or the Balance of our Foreign Trade is the Rule of our Treasure Written by Thomas Mun of London Merchant and Now Published for the Common Good by his Son John Mun Londres 1669 p 1812 Nor can I conceive a greater curse upon a body of people than to be thrown upon a spot of land where the productions for subsistence and food were in great measure spontaneous and the climate required or admitted little care for raiment and covering there may be an extreme on the other side A soil incapable of produce by labour is quite as bad as a soil that produces plentifully without any labour Também não posso conceber maldição pior contra o conjunto de um povo do que a de ser posto num lugar em que a produção dos meios de subsistência e alimentos seja em grande parte espontânea e o clima exija ou admita poucos cuidados com a vestimenta e a habitação Pode ocorrer certamente o extremo contrário Um solo que apesar do trabalho nele realizado não dê nenhum fruto é tão ruim como um outro que produz em abundância sem trabalho algum N Forster An Inquiry into the Causes of the Present High Price of Provisions Londres 1767 p 10 5 A necessidade de calcular os movimentos periódicos do Nilo criou a astronomia egípcia e com ela o domínio da casta sacerdotal como dirigente da agricultura Le solstice est le moment de lannée où commence la crue du Nil et celui que les Égyptiens ont dû observer avec le plus dattention Cétait cette année tropique quil leur importait de marquer pour se diriger dans leurs opérations agricoles Ils durent donc chercher dans le ciel un signe apparent de son retour O solstício é o momento do ano em que começa a elevação do Nilo aquilo que os egípcios tinham de observar com a máxima atenção Era esse ano trópico que lhes importava fixar para se orientarem em suas operações agrícolas Eles tinham então de procurar no céu um sinal aparente de seu retorno Cuvier Discours sur les révolutions du globe Paris 1863 p 141 6 Uma das bases materiais do poder que o estado exercia sobre os pequenos e desconexos organismos de produção da Índia era a regulação do abastecimento de água Os dominadores maometanos da Índia compreendiam isso melhor que seus sucessores ingleses Recordemos apenas a fome de 1866 que custou a vida de mais de 1 milhão de hindus no distrito de Orissa presidência de Bengala 7 There are no two countries which furnish an equal number of the necessaries of life in equal plenty and with the same quantity of labour Mens wants increase or diminish with the severity or temperateness of the climate they live in consequently the proportion of trade which the inhabitants of different countries are obliged to carry on through necessity cannot be the same nor is it practicable to ascertain the degree of variation farther than by the Degrees of Heat and Cold from whence one may make this general conclusion that the quantity of labour required for a certain number of people is greatest in cold climates and least in hot ones for in the former men not only want more clothes but the earth more cultivating than in the latter Não há dois países que forneçam igual número de meios de subsistência necessários com a mesma abundância e com o mesmo dispêndio de trabalho As necessidades do homem aumentam ou diminuem de acordo com o rigor ou a suavidade do clima em que vive consequentemente a proporção de atividade produtiva que os habitantes dos diferentes países tenham necessariamente de exercer não pode ser a mesma tampouco se pode determinar o grau de variação a não ser pelos graus de calor e frio Disso se pode concluir de modo geral que a quantidade de trabalho exigido para o sustento de certo número de pessoas é maior nos climas frios e menor nos quentes uma vez que nos primeiros não só os homens precisam de mais vestimenta mas também o solo 696 precisa ser mais bem cultivado do que nos últimos An Essay on the Governing Causes of the Natural Rate of Interest Londres 1750 p 59 O autor desse escrito anônimo que marcou época é J Massie Hume retirou daí sua teoria dos juros 8 Chaque travail doit laisser un excédant Todo trabalho deve isso também parece fazer parte dos droits et devoirs du citoyen direitos e deveres do cidadão deixar um excedente Proudhon Système des contradictions économiques ou philosophie de la misère Paris 1846 v I p 73 9 F Schouw Die Erde die Pflanze und der Mensch 2 ed Leipzig 1854 p 148 b Em sua carta a N F Danielson de 28 de novembro de 1878 Marx propôs a seguinte redação para esse parágrafo Segue uma prova evidente de como Mill trata as diferentes formas históricas de produção social Pressuponho por toda parte diz ele o estado atual das coisas que com poucas exceções impera em todos os lugares onde trabalhadores e capitalistas se contrapõem uns aos outros como classes isto é o fato de que o capitalista faz todos os adiantamentos inclusive o pagamento do trabalhador O senhor Mill quer muito acreditar que não é uma necessidade absoluta que assim o seja mesmo no sistema econômico em que trabalhadores e capitalistas se contrapõem uns aos outros como classes N E A MEGA 9a J St Mill Principles of Political Economy Londres 1868 p 2523 passim As passagens citadas foram traduzidas da edição francesa dO capital F E 697 9b Nota à terceira edição Naturalmente aqui também está excluído o caso tratado na p 3912 F E 10 MacCulloch entre outros fez a esta terceira lei o adendo absurdo de que o maisvalor pode aumentar sem queda do valor da força de trabalho mediante a abolição dos impostos que o capitalista tinha de pagar anteriormente A abolição de tais impostos não altera em absolutamente nada a quantidade de maisvalor que o capitalista industrial suga em primeira instância do trabalhador Ela altera apenas a proporção em que o capitalista embolsa maisvalor ou tem de dividilo com terceiros Não altera em nada portanto a proporção entre o valor da força de trabalho e o mais valor A exceção de MacCulloch só serve para comprovar sua incompreensão da regra um desventura que lhe ocorre com tanta frequência na vulgarização de Ricardo quanto a J B Say na vulgarização de A Smith 11 When an alteration takes place in the productiveness of industry and that either more or less is produced by a given quantity of labour and capital the proportion of wages may obviously vary whilst the quantity which that proportion represents remains the same or the quantity may vary whilst the proportion remains the same Se na produtividade da indústria ocorre uma mudança de modo que mediante uma dada quantidade de trabalho e capital produzse mais ou menos a proporção dos salários pode evidentemente sofrer uma variação enquanto a quantidade que essa proporção representa permanece a mesma ou a quantidade pode sofrer uma variação enquanto a proporção se mantém inalterada J Cazenove Outlines of Political Economy etc p 67 a Na quarta edição queda de seu valor N E A MEW 12 All things being equal the English manufacturer can turn out a considerably larger amount of work in a given time than a foreign manufacturer so much as to counterbalance the difference of the working days between 60 hours a week here and 72 or 80 elsewhere Se todas as demais condições permanecem iguais o fabricante inglês pode extrair num determinado tempo uma quantidade consideravelmente maior de trabalho que um fabricante estrangeiro suficiente para compensar a diferença entre as jornadas de trabalho que aqui é de 60 horas semanais e em outras partes de 72 até 80 horas Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1855 p 65 Uma maior redução legal da jornada de trabalho nas fábricas continentais seria o meio mais infalível para reduzir essa diferença entre a jornada de trabalho continental e a inglesa 13 There are compensating circumstances which the working of the Ten Hours Act has brought to light Existem circunstâncias compensatórias que foram esclarecidas com a aplicação da Lei das 10 Horas Reports of Insp of Fact for 31st October 1848 p 7 14 The amount of labour which a man had undergone in the course of 24 hours might be approximately arrived at by an examination of the chemical changes which had taken place in his body changed forms in matter indicating the anterior exercise of dynamic force É possível calcular aproximadamente a quantidade de trabalho que um homem executou no decorrer de 24 horas examinando as mudanças químicas que ocorreram em seu corpo pois as formas modificadas da matéria indicam a tensão anterior da força motriz Grove On the Correlation of Physical Forces p 3089 15 Corn and Labour rarely march quite abreast but there is an obvious limit beyond which they cannot be separated With regard to the unusual exertions made by the labouring classes in periods of dearness which produce the fail of wages noticed in the evidence they are most meritorious in the individuals and certainly favour the growth of capital But no man of humanity could wish to see them constant and unremitted They are most admirable as a temporary relief but if they were constantly in action effects of a similar kind would result from them as from the population of a country being pushed to the very extreme limits of its food Cereal e trabalho raramente coincidem plenamente mas há um limite evidente além do qual eles não podem ser separados um do outro Os esforços extraordinários das classes trabalhadoras em épocas de escassez que acarretam a baixa dos salários mencionada nos depoimentos a saber perante as comissões parlamentares de inquérito de 18141815 são muito meritórios da parte dos indivíduos e seguramente favorecem o crescimento do capital Mas nenhuma pessoa com sentimentos humanitários pode desejar que esses esforços sejam constantes e ininterruptos Eles são altamente admiráveis como remédio temporário mas se fossem realizados sempre seu efeito seria o mesmo que se obteria ao empurrar a população de um país até os limites últimos em relação à sua subsistência Malthus Inquiry into the Nature and Progress of Rent Londres 1815 p 48 nota Malthus merece aqui todas as honras por enfatizar o prolongamento da jornada de trabalho do qual ele também se ocupa diretamente em outro lugar de seu panfleto enquanto Ricardo e outros diante dos fatos mais notórios baseiam todas as suas investigações na grandeza constante da jornada de trabalho Mas os interesses conservadores a serviço dos quais se encontrava Malthus impediamno de ver que o desmesurado prolongamento da jornada de trabalho juntamente com o extraordinário desenvolvimento da maquinaria e a exploração do trabalho feminino e infantil tinha de tornar supranumerária uma grande parte da classe trabalhadora especialmente após o fim da demanda de guerra e do monopólio inglês do mercado mundial Naturalmente era muito mais cômodo e mais adequado aos interesses das classes dominantes que Malthus idolatrava de modo autenticamente clerical explicar essa superpopulação a partir 698 das leis eternas da natureza do que a partir de leis naturais puramente históricas da produção capitalista 16 A principal cause of the increase of capital during the war proceeded from the greater exertions and perhaps the greater privations of the labouring classes the most numerous in every society More women and children were compelled by necessitous circumstances to enter upon laborious occupations end former workmen were from the same cause obliged to devote e greater portion of their time to increase production Uma das causas principais do crescimento do capital durante a guerra estava nos maiores esforços e talvez também nas maiores privações das classes trabalhadoras que são as mais numerosas em todas as sociedades Em virtude de sua situação calamitosa um número maior de mulheres e crianças se viam obrigadas a aceitar ocupações laboriosas e aqueles que já eram trabalhadores foram obrigados pela mesma razão a dedicar uma parte maior de seu tempo ao aumento da produção Essays on Political Econ in Which are Illustrated the Principal Causes of the Present National Distress Londres 1830 p 248 699 17 Assim por exemplo em Dritter Brief an v Kirchmann von Rodbertus Widerlegung der Ricardoschen Theorie von der Grundrente und Begründung einer neuen Rententheorie Berlim 1851 Voltarei mais adiante a esse escrito que apesar de sua falsa teoria sobre a renda fundiária capta a essência da produção capitalista Adendo à terceira edição Vemos aqui com que benevolência Marx julgava seus antecessores quando neles encontrava um progresso efetivo uma ideia nova e correta Nesse ínterim a publicação das cartas de Rodbertus a Rudolf Meyer restringiu em certa medida o reconhecimento anterior Nelas podemos ler É necessário salvar o capital não só do trabalho mas também de si mesmo e isso na realidade é feito da melhor forma quando se concebem as atividades do empresáriocapitalista como funções de economia social ou estatal que lhe são delegadas pela propriedade do capital e seu lucro como uma forma de ganho pois ainda não conhecemos outra organização social Mas também se deveriam regular os ganhos e reduzilos quando subtraem demais do salário Assim o ataque de Marx contra a sociedade pois assim eu chamaria o seu livro deve ser repelido Em geral o livro de Marx não é tanto uma investigação sobre o capital como uma polêmica contra a forma atual do capital que ele confunde com o próprio conceito de capital dessa confusão derivam precisamente seus erros Cartas etc do Dr RodbertusJagetzow editadas pelo dr Rud Meyer Berlim 1881 t I p 111 48ª carta de Rodbertus Em tais lugarescomuns ideológicos encalharam os primeiros impulsos realmente audazes das cartas sociais de Rodbertus F E 18 Nesse cálculo evidentemente está descontada a parte do produto que apenas substitui o capital constante investido O sr L de Lavergne cego admirador da Inglaterra tende a dar uma proporção antes demasiado baixa do que demasiado alta 19 Como todas as formas desenvolvidas do processo de produção capitalista são formas de cooperação nada é mais fácil desde já que abstrair de seu caráter especificamente antagônico e convertêlas quimericamente em formas livres de associação como na obra do conde A de Laborde De lesprit de lassociation dans tous les intérêts de la communauté Paris 1818 O ianque H Carey realiza essa proeza com o mesmo sucesso chegando a aplicála ocasionalmente às relações do sistema escravagista 20 Embora os fisiocratas não tenham conseguido decifrar o segredo do maisvalor estava claro para eles no entanto que une richesse indépendante et disponible quil na point achetée et quil vend ela é uma riqueza independente e disponível que ele seu possuidor não comprou e que vende Turgot Réflexions sur la formation et la distribution des richesses p 11 700 21 Mr Ricardo ingeniously enough avoids a difficulty which on a first view threatens to encumber his doctrine that value depends on the quantity of labour employed in production If this principle is rigidly adhered to it follows that the value of labour depends on the quantity of labour employed in producing it which is evidently absurd By a dexterous turn therefore Mr Ricardo makes the value of labour depend on the quantity of labour required to produce wages or to give him the benefit of his own language he maintains that the value of labour is to be estimated by the quantity of labour required to produce wages by which he means the quantity of labour required to produce the money or commodities given to the labourer This is similar to saying that the value of cloth is estimated not by the quantity of labour bestowed on its production but by the quantity of labour bestowed on the production of the silver for which the cloth is exchanged Ricardo é bastante engenhoso para evitar uma dificuldade que à primeira vista parece ameaçar sua teoria a saber de que o valor depende da quantidade de trabalho empregada na produção Se nos atemos estritamente a esse princípio dele se segue que o valor do trabalho depende da quantidade de trabalho empregada em sua produção o que é evidentemente um absurdo Por isso Ricardo mediante uma hábil manobra faz com que o valor do trabalho dependa da quantidade de trabalho exigida para a produção do salário ou em suas próprias palavras sustenta que o valor do trabalho deve ser estimado pela quantidade de trabalho necessária para produzir o salário e entende com isso a quantidade de trabalho necessária à produção do dinheiro ou das mercadorias dados ao trabalhador Isso é o mesmo que dizer que o valor do pano é estimado não segundo a quantidade de trabalho empregada em sua produção mas segundo a quantidade de trabalho empregada na produção da prata que é dada em troca do pano S Bailey A Critical Dissertation on the Nature etc of Value p 501 22 If you call labour a commodity it is not like a commodity which is first produced in order to exchange and then brought to market where it must exchange with other commodities according to the respective quantities of each which there may be in the market at the time labour is created at the moment it is brought to market nay it is brought to market before it is created Se chamais o trabalho de mercadoria não é como uma mercadoria que primeiro é produzida a fim de ser trocada e depois levada ao mercado no qual tem de ser trocada por outras mercadorias de acordo com suas respectivas quantidades então disponíveis no mercado o trabalho é criado no momento em que é levado ao mercado ou melhor é levado ao mercado antes de ser criado Observations on Some Verbal Disputes etc p 756 23 Treating Labour as a commodity and Capital the produce of labour as another then if the values of those two commodities were regulated by equal quantities of labour a given amount of labour would exchange for that quantity of capital which had been produced by the same amount of labour antecedent labour would exchange for the same amount as present labour But the value of labour in relation to other commodities is determined not by equal quantities of labour Se consideramos o trabalho como uma mercadoria e o capital o produto do trabalho como outra concluímos que se os valores dessas duas mercadorias fossem regulados por quantidades iguais de trabalho uma dada quantidade de trabalho seria trocada pela quantidade de capital que tivesse sido produzida pela mesma quantidade de trabalho o trabalho passado seria trocado pela mesma quantidade de trabalho presente Mas o valor do trabalho em relação a outras mercadorias não é determinado por quantidades iguais de trabalho E G Wakefield em sua edição de A Smith Wealth of Nations Londres 1835 v I p 2301 nota 24 Il a fallu convenir que toutes les fois quil échangerait du travail fait contre du travail à faire le dernier aurait une valeur supérieure au premier Seria necessário chegar a um acordo mais uma versão do contrat social contrato social de modo que ele sempre trocasse trabalho realizado por trabalho a realizar o último o capitalista teria de receber um valor maior que o primeiro o trabalhador Sismondi De la richesse commerciale Genebra 1803 t I p 37 25 Labour the exclusive standard of value the creator of all wealth no commodity O trabalho medida exclusiva do valor o criador de toda riqueza não é uma mercadoria T Hodgskin Popul Polit Econ cit p 186 26 Ao contrário explicar tais expressões como mera licentia poetica licença poética apenas revela a impotência da análise Contra a frase de Proudhon Le travail est dit valoir non pas en tant que marchandise luimême mais en vue des valeurs quon suppose renfermées puissanciellement en lui La valeur du travail est une expression figurée etc Dans le travailmarchandise qui est dune réalité effrayante il ne voit quune ellipse grammaticale Donc toute la société actuelle fondée sur le travailmarchandise est désormais fondée sur une licence poétique sur une expression figurée La société veut elle éliminer tous les inconvénients qui la travaillent eh bien quelle élimine les termes malsonnants quelle change de langage et pour cela elle nà qua sadresser à lAcadémie pour lui demander une nouvelle édition de son dictionnaire Dizse que o trabalho é um valor não como mercadoria propriamente dita mas com vista aos valores que segundo se supõe nele estão contidos potencialmente O valor do trabalho é uma expressão figurada etc observei No trabalhomercadoria que é de uma realidade assustadora ele vê apenas uma elipse gramatical Logo toda a sociedade atual fundada sobre o trabalhomercadoria está doravante fundada sobre uma licença poética sobre uma expressão 701 figurada Se a sociedade quer eliminar todos os inconvenientes que a afligem pois bem que elimine então as expressões malsonantes que modifique a linguagem e para isso basta que ela se dirija à Académie e lhe solicite uma nova edição de seu dicionário K Marx Misère de la philosophie Miséria da filosofia p 345 Mais cômodo ainda naturalmente é não entender por valor absolutamente nada Desse modo é fácil incluir nessa categoria tudo o que se queira Como por exemplo em JB Say O que é valeur valor Resposta Aquilo que uma coisa vale E o que é prix preço Resposta O valor de uma coisa expresso em dinheiro E por que o trabalho da terra tem um valor Porque se lhe atribui um preço Portanto valor é o que uma coisa vale e a terra tem um valor porque seu valor é expresso em dinheiro Esse é em todo caso um método muito simples de se compreender o why porquê e o wherefore em razão de quê das coisas 27 Cf Zur Kritik der politischen Oekonomie Contribuição à crítica da economia política p 40 em que anuncio que a análise do capital deve resolver o seguinte problema Como a produção fundada no valor de troca determinado por sua vez pelo simples tempo de trabalho conduz ao resultado de que o valor de troca do trabalho é menor do que o valor de troca de seu produto 28 Durante a guerra civil americana o Morning Star órgão livrecambista de Londres ingênuo até a estupidez reafirmou repetidas vezes com a maior indignação moral possível que os negros dos Confederate States trabalhavam completamente de graça Ele deveria ter tido a amabilidade de comparar os custos diários de um desses negros com por exemplo os de um trabalhador livre no East End de Londres Os Confederate States of America Estados Confederados da América foram formados em 1861 no Congresso de Montgomery por onze estados escravistas do sul Os rebeldes tinham como objetivo a manutenção da escravidão e sua ampliação a todo o território dos Estados Unidos da América Em 1861 eles deram início à guerra civil Guerra de Secessão contra a União Com a derrota e capitulação dos estados sulistas em 1865 a confederação foi dissolvida e a União restabelecida N E A MEW a Dou para que dês dou para que faças faço para que dês e faço para que faças Fórmulas do direito romano estabelecidas no Digesto livro XIX 5 5 N T 29 A Smith alude à variação da jornada de trabalho apenas ocasionalmente quando trata do salário por peça 702 30 O próprio valor monetário é aqui sempre pressuposto como constante 31 The price of labour is the sum paid for a given quantity of labour O preço do trabalho é a soma paga por dada quantidade de trabalho sir Edward West Price of Corn and Wages of Labour Londres 1826 p 67 West é o autor de um escrito publicado anonimamente que fez época na história da economia política Essay on the Application of Capital to Land By a Fellow of Univ College of Oxford Londres 1815 32 The wages of labour depend upon the price of labour and the quantity of labour performed An increase in the wages of labour does not necessarily imply an enhancement of the price of labour From fuller employment and greater exertions the wages of labour may be considerably increased while the price of labour may continue the same O salário depende do preço do trabalho e da quantidade de trabalho realizado Uma elevação dos salários não implica necessariamente uma elevação do preço do trabalho Com uma ocupação mais prolongada e esforços maiores os salários podem aumentar consideravelmente enquanto o preço do trabalho pode permanecer o mesmo West Price of Corn and Wages of Labour cit p 67 68 112 De resto West despacha com fraseologias banais a questão principal como o price of labour preço do trabalho é determinado 33 Isso foi percebido pelo representante mais fanático da burguesia industrial do século XVIII o autor frequentemente citado por nós de Essay on Trade and Commerce embora apresente a questão de maneira confusa It is the quantity of labour and not the price of it that is determined by the price of provisions and other necessaries reduce the price of necessaries very low and of course you reduce the quantity of labour in proportion Mastermanufacturers know that there are various ways of raising and falling the price of labour besides that of altering its nominal amount no original value É a quantidade de trabalho e não seu preço por preço ele entende o salário nominal diário ou semanal que se determina pelo preço das provisões e outros artigos de primeira necessidade reduzi fortemente o preço dos artigos de primeira necessidade e tereis certamente reduzido a quantidade de trabalho na mesma proporção Os patrõesmanufatureiros sabem que há diferentes métodos para aumentar ou reduzir o preço do trabalho além daquele de alterar sua quantia no original valor nominal ibidem p 48 e 61 Em Three Lectures on the Rate of Wages Londres 1830 p 15 em que N W Senior utiliza o escrito de West sem citálo ele afirma entre outras coisas The labourer is principally interested in the amount of wages O trabalhador está interessado principalmente na quantia do salário Portanto o trabalhador está interessado principalmente no que recebe na quantia nominal do salário e não naquilo que ele dá na quantidade de trabalho 34 O efeito desse subemprego anormal é totalmente diferente do que resulta de uma redução geral imposta por lei da jornada de trabalho O primeiro não tem qualquer relação com a duração absoluta da jornada de trabalho e tanto pode ocorrer quando esta é de 15 horas como quando é de 6 horas O preço normal do trabalho no primeiro caso é calculado sobre a base de que o trabalhador trabalhe uma média de 15 horas no segundo que ele trabalhe 6 horas por dia em média O efeito seria assim o mesmo se no primeiro caso ele só estivesse ocupado por 7½ horas e no segundo apenas por 3 horas 35 A taxa de pagamento do tempo extraordinário na manufatura de rendas é tão pequena ½ penny etc por hora que contrasta penosamente com o enorme dano que inflige à saúde e à força vital dos trabalhadores Além disso o pequeno excedente assim obtido tem frequentemente de ser gasto em meios complementares de alimentação Child Empl Comm II Rep n 117 p XVI 36 Por exemplo na estamparia de papéis de parede antes da recente promulgação da lei fabril Trabalhamos sem pausas para as refeições de modo que o trabalho diário de 10½ horas termina às 4 horas e meia da tarde e o que resta é tempo extraordinário que raramente acaba antes das 6 horas da tarde de modo que na verdade trabalhamos o ano inteiro sob o regime de tempo extraordinário Mr Smiths Evidence em Child Empl Comm I Rep p 125 37 Por exemplo nas branquearias escocesas Em algumas partes da Escócia essa indústria antes que se introduzisse a lei fabril de 1862 era explorada segundo o sistema do tempo extraordinário isto é considerandose 10 horas uma jornada normal de trabalho Por essa jornada o homem recebia 1 xelim e 2 pence Mas a isso se acrescentava um tempo extraordinário de 3 ou 4 horas por dia pagas a 3 pence por hora Consequência desse sistema um homem que trabalhasse apenas o tempo normal não podia ganhar mais do que 8 xelins por semana Sem trabalhar um tempo extraordinário o salário não lhes era suficiente Reports of Insp of Fact 30th April 1863 p 10 O pagamento adicional pelas horas extras é uma tentação à qual os trabalhadores não podem resistir Rep of Insp of Fact 30th April 1848 p 5 As oficinas de encadernação de livros na City londrina empregam muitas moças a partir de 14 ou 15 anos sob contratos de aprendizagem que prescrevem um determinado horário de trabalho Não obstante na última semana de cada mês elas trabalham até as 10 11 12 da noite ou até 1 hora da madrugada com os trabalhadores mais velhos em companhia nem um pouco selecionada Os patrões tentamnas tempt com um 703 salário adicional e dinheiro para uma boa ceia que elas consomem nas tabernas vizinhas A grande depravação assim produzida entre essas young immortals jovens imortais Child Empl Comm V Rep n 191 p 44 encontra sua compensação no fato de que também encadernam entre outros livros muitas bíblias e obras edificantes 38 Ver Reports of Insp of Fact 30th April 1863 cit Numa visão crítica plenamente correta da situação os trabalhadores londrinos empregados na construção declararam durante a grande greve e lockout bloqueio de 1860 que só aceitariam o salário por hora sob duas condições 1 que além do preço da hora de trabalho fosse fixada uma jornada normal de trabalho de 9 ou eventualmente de 10 horas e que o preço por hora da jornada de 10 horas fosse maior que o da jornada de 9 horas 2 que cada hora que excedesse o limite da jornada normal fosse paga como tempo extraordinário a um preço proporcionalmente maior 39 It is a very notable thing too that where long hours are the rule small wages are also so Também é um fato muito notável que onde o tempo de trabalho costuma ser longo os salários sejam baixos Rep of Insp of Fact 31st Oct 1863 p 9 The work which obtains the scanty pittance of food is for the most part excessively prolonged O trabalho que obtém um salário de fome é na maioria das vezes excessivamente longo Public Health Sixth Rep 1863 p 15 40 Reports of Insp of Fact 30th April 1860 p 312 41 Na Inglaterra os trabalhadores que fazem pregos manualmente por exemplo devido ao baixo preço do trabalho têm de trabalhar 15 horas diárias para obter um salário semanal dos mais miseráveis São muitas muitas horas por dia e durante todo o tempo ele tem de trabalhar duramente para ganhar 11 pence ou 1 xelim e dessa quantia é preciso descontar de 2½ a 3 pence para o desgaste das ferramentas combustíveis e desperdício de ferro Child Empl Comm III Rep n 671 p 136 Com o mesmo tempo de trabalho as mulheres ganham um salário semanal de apenas 5 xelins ibidem n 674 p 137 42 Se por exemplo um operário fabril se negasse a trabalhar o longo horário tradicional he would very shortly be replaced by somebody who would work any length of time and thus be thrown out of employment ele seria muito rapidamente substituído por alguém que trabalhasse por quaisquer períodos e assim ficaria desempregado Reports of Insp of Fact 31st Oct 1848 Evidence n 58 p 39 If one man performs the work of two the rate of profits will generally be raised in consequence of the additional supply of labour having diminished its price Se um homem realizar o trabalho de dois a taxa de lucro geralmente aumentará em consequência do fato de a oferta adicional de trabalho ter diminuído seu preço Senior Social Science Congress cit p 15 43 Child Empl Comm III Rep Evidence n 22 p 66 44 Report etc Relative to the Grievances Complained of by the Journeymen Bakers Londres 1862 p LII e Evidence n 27 359 479 Contudo também os fullpriced como mencionamos anteriormente e seu próprio porta voz Bennet o reconhece fazem seus trabalhadores começar o trabalho às 11 horas da noite ou mesmo antes e prolongamno com frequência até as 7 horas da noite seguinte ibidem p 22 704 45 The system of piecework illustrates an epoch in the history of the working man it is halfway between the position of the mere daylabourer depending upon the will of the capitalist and the cooperative artisan who in the not distant future promises to combine the artisan and the capitalist in his own person Pieceworkers are in fact their own masters even whilst working upon the capital of the employer O sistema de trabalho por peça ilustra uma época na história do operário situase a meio caminho entre a posição do mero trabalhador jornaleiro dependente da vontade do capitalista e a do artesão cooperativista que num futuro não muito distante promete reunir o artesão e o capitalista em sua própria pessoa Os trabalhadores por peças são de fato seus próprios patrões mesmo trabalhando com o capital do empregador John Watts Trade Societies and Strikes Machinery and Cooperative Societies Manchester 1865 p 523 Cito esse pequeno escrito pois é uma verdadeira cloaca de todas as trivialidades apologéticas há muito apodrecidas O mesmo sr Watts tomava parte anteriormente no owenismo e em 1842 publicou outro pequeno escrito Facts and Fictions of Political Economy no qual entre outras coisas declara a property propriedade como um robbery roubo Isso foi há muito tempo 46 T J Dunning Trades Unions and Strikes Londres 1860 p 22 47 De que modo a justaposição simultânea dessas duas formas do salário favorece fraudes dos fabricantes fica evidente na seguinte passagem A factory employs 400 people the half of which work by the piece and have a direct interest in working longer hours The other 200 are paid by the day work equally long with the others and get no more money for their overtime The work of these 200 people for half an hour a day is equal to one persons work for 50 hours or 56 of one persons labour in a week and is a positive gain to the employer Uma fábrica emprega 400 pessoas metade das quais trabalha por peça e tem interesse direto em trabalhar por períodos mais longos As outras 200 são pagas por dia trabalham o mesmo tempo das outras e não recebem qualquer dinheiro adicional pelo tempo excedente O trabalho dessas 200 pessoas durante meia hora diária equivale ao trabalho de uma pessoa durante 50 horas ou 56 do trabalho semanal de uma pessoa e representa um ganho considerável para o empregador Reports of Insp of Fact 31st October 1860 p 9 Overworking to a very considerable extent still prevails and in most instances with that security against detection and punishment which the law itself affords I have in many former reports shown the injury to all the workpeople who are not employed on piecework but receive weekly wages O sobretrabalho ainda prevalece numa extensão considerável e na maioria dos casos com aquela segurança que a própria lei oferece contra a detecção e punição Mostrei em muitos relatórios anteriores a injustiça cometida contra todos os trabalhadores que não trabalham por peça mas recebem salários semanais Leonard Horner em Reports of Insp of Fact 30th April 1859 p 89 48 Le salaire peut se mesurer de deux manières ou sur la durée du travail ou sur son produit O salário pode ser medido de duas maneiras pela duração do trabalho ou por seu produto Abrégé élémentaire des principes de lécon pol Paris 1796 p 32 O autor desse escrito anônimo é G Garnier 49 So much weight of cotton is delivered to him and he has to return by a certain time in lieu of it a given weight of twist or yarn of a certain degree of fineness and he is paid so much per pound for all that he so returns If his work is defective in quality the penalty fails on him if less in quantity than the minimum fixed for a given time he is dismissed and an abler operative procured Um determinado peso de algodão lhe é entregue ao fiandeiro e ele tem de fornecer em troca um determinado peso de trançado ou fio de um certo grau de finura sendo remunerado de acordo com a quantidade de libras de produto produzidas Se seu trabalho é de qualidade insuficiente ele recebe uma punição se a quantidade é menor que o mínimo fixado para um dado tempo ele é dispensado e um operário mais capaz é procurado Ure The Philosophy of Manufactures cit p 3167 50 It is when work passes through several hands each of which is to take a share of profits while only the last does the work that the pay which reaches the workwoman is miserably disproportioned Quando o produto do trabalho passa por muitas mãos cada uma das quais tendo uma participação nos lucros enquanto apenas o último par de mãos executa o trabalho ocorre que o pagamento que alcança a operária é miseravelmente desproporcional Child Empl Comm II Rep n 424 p LXX 51 Mesmo o apologético Watts observa a esse respeito It would be a great improvement to the system of piecework if all the men employed on a job were partners in the contract each according to his abilities instead of one man being interested in overworking his fellows for his own benefit Seria uma grande melhoria do sistema de trabalho por peça se todos os homens ocupados numa tarefa fossem parceiros no contrato cada um de acordo com suas habilidades em vez de um só homem estar interessado em explorar seus camaradas para seu próprio benefício ibidem p 53 Sobre as infâmias desse sistema cf Child Empl Comm Rep III n 22 p 66 n 124 p 11 p XI n 13 53 59 etc 51a Esse resultado naturalespontâneo é frequentemente formulado de modo artificial No engineering trade ramo da 705 construção de máquinas de Londres por exemplo vale o truque tradicional de que o capitalista escolha um homem de força física e habilidade superiores para a posição de chefe de um grupo de trabalhadores Trimestralmente ou em outro prazo pagalhe um salário adicional sob a condição de que faça o possível para estimular seus colaboradores que recebem apenas o salário ordinário a trabalhar com a máxima dedicação Sem mais comentários isso explica a reclamação dos capitalistas acerca das barreiras impostas pelas Trades Unions à atividade ou habilidade e força de trabalho superiores stinting the action superior skill and working power Dunning Trades Unions and Strikes cit p 223 Como o próprio autor é trabalhador e secretário de uma Trades Union isso poderia ser considerado um exagero Mas vejase por exemplo o verbete Labourer da highly respectable altamente respeitável enciclopédia agronômica de J C Morton na qual esse método é recomendado aos arrendatários como muito eficaz 52 All those who are paid by piecework profit by the transgression of the legal limits of work This observation as to the willingness to work overtime is especially applicable to the women employed as weavers and reelers Todos os que são pagos por peça lucram com a transgressão dos limites legais do trabalho Essa observação quanto à disposição de trabalhar horas adicionais é especialmente aplicável às mulheres empregadas como tecelãs ou dobradeiras Rep of Insp of Fact 30th April 1858 p 9 Esse sistema de salários por peça tão vantajoso para o capitalista tende diretamente a estimular o jovem oleiro a realizar mais sobretrabalho durante os 4 ou 5 anos em que é pago por peça mas por um preço baixo Essa é uma das grandes causas a que se deve atribuir a degeneração física dos oleiros Child Empl Comm I Rep p XIII 53 Where the work in any trade is paid for by the piece at so much per job wages may very materially differ in amount But in work by the day there is generally an uniform rate recognized by both employer and employed as the standard of wages for the general run of workmen in the trade Onde o trabalho em qualquer ramo industrial é pago por peça os salários podem diferir muito substancialmente em suas quantias Mas no salário diário há geralmente uma taxa uniforme reconhecida tanto pelo empregador quanto pelo trabalhador como o salário padrão pago ao trabalhador médio de cada ramo industrial Dunning Trades Unions and Strikes cit p 17 54 O trabalho dos oficiais artesãos se regula por dia ou por peça à la journée ou à la pièce Os patrões sabem aproximadamente a quantidade de serviço que os trabalhadores podem realizar diariamente em cada métier ofício e com frequência lhes pagam por isso uma quantia proporcional ao serviço que realizam assim esses oficiais trabalham tanto quanto podem em seu próprio interesse sem qualquer supervisão Cantillon Essai sur la nature du commerce en général Amsterdã 1756 p 185 202 primeira edição de 1755 Cantillon em quem muito se inspiraram Quesnay sir James Steuart e Adam Smith já apresenta aqui portanto o salário por peça como forma meramente modificada do salário por tempo A edição francesa de Cantillon se anuncia no título como tradução da edição inglesa mas esta última The Analysis of Trade Commerce etc by Philip Cantillon late of City of London Merchant não só é de data posterior 1759 como também demonstra por seu conteúdo ser uma elaboração posterior Assim por exemplo na edição francesa Hume ainda não é mencionado ao passo que na edição inglesa quase não figura o nome de Petty Esta última é teoricamente mais irrelevante porém contém muitos dados específicos sobre o comércio inglês o comércio de bullion etc que faltam no texto francês As palavras no título da edição inglesa segundo as quais essa obra foi taken chiefly from the manuscript of a very ingenious gentleman deceased and adapted etc extraída principalmente do manuscrito de um engenhosíssimo cavalheiro falecido e adaptada etc parecem portanto ser algo mais que mera ficção àquela época muito comum O autor do livro Essai sur la nature du commerce em general é Richard Cantillon A edição inglesa foi reelaborada por Philip Cantillon um parente de Richard Cantillon N E A MEW 55 Combien de fois navonsnous pas vu dans certains ateliers embaucher beaucoup plus douvriers que ne le demandait le travail à mettre en main Souvent dans la prévision dun travail aléatoire quelquefois même imaginaire on admet des ouvriers comme on les paie aux pièces on se dit quon ne court aucun risque parce que toutes les pertes de temps seront à la charge des inoccupés Quantas vezes não vimos que em certas oficinas empregamse muito mais trabalhadores do que os realmente necessários para o trabalho a ser realizado Frequentemente na previsão de um trabalho incerto às vezes até mesmo imaginário trabalhadores são contratados como são pagos por peça dizemos não se corre nenhum risco já que todas as perdas de tempo são postas na conta dos desocupados H Gregoir Les typographes devant le Tribunal Correctionnel de Bruxelles Bruxelas 1865 p 9 a Na versão francesa Marx atribui a William Cobbett a autoria desse termo Diz ele antijacobin war esse é o nome dado por William Cobbett à guerra contra a Revolução Francesa Karl Marx Le Capital trad Joseph Roy inteiramente revisado pelo autor Paris Lachâtre 1872 p 397 N T 56 Remarks on the Commercial Policy of Great Britain Londres 1815 p 48 706 57 A Defence of the Landowners and Farmers of Great Britain Londres 1814 p 45 58 Malthus Inquiry into the Nature etc of Rent Londres 1815 p 49 nota 59 Os trabalhadores que recebem salário por peça constituem provavelmente 45 de todos os trabalhadores nas fábricas Reports of Insp of Fact for 30th April 1858 p 9 60 The productive power of his spinningmachine is accurately measured and the rate of pay for work done with it decreases with though not as the increase of its productive power A força produtiva de sua máquina de fiar é acuradamente medida e a taxa do pagamento por trabalho realizado com ela decresce com ainda que não na mesma proporção que o aumento de sua força produtiva Ure The Philosophy of Manufactures cit p 317 O próprio Ure suprime essa última manobra apologética Ele admite que o prolongamento da mule por exemplo faz surgir um trabalho adicional O trabalho portanto não diminui na mesma proporção em que aumenta sua produtividade Além disso By this increase the productive power of the machine will be augmented onefifth When this event happens the spinner will not be paid at the same rate for work done as he was before but as that rate will not be diminished in the ratio of onefifth the improvement will augment his money earnings for any given number of hours work The foregoing statement requires a certain modification the spinner has to pay something for additional juvenile aid out of his additional sixpence accompanied by displacing a portion of adults Graças a esse prolongamento a força produtiva da máquina aumentará em 15 Quando isso ocorrer o fiandeiro não será pago à mesma taxa de antes pelo trabalho realizado mas como essa taxa não será reduzida na razão de 15 a melhoria aumentará seu ganho em dinheiro para qualquer número dado de horas de trabalho porém A afirmação anterior exige certa modificação o fiandeiro tem de destinar certa parte de seu 12 xelim adicional ao pagamento de auxílio juvenil adicional além de deslocar certa quantidade de adultos ibidem p 3201 o que de modo algum constitui uma tendência de aumento do salário 61 H Fawcett The Economic Position of the British Labourer Cambridge e Londres 1865 p 178 b Na segunda edição pretensão N T 62 No Standard de Londres de 26 de outubro de 1861 lemos uma notícia sobre um processo da firma John Bright Co perante os Rochdale Magistrates Juízes de paz to prosecute for intimidation the agents of the Carpet Weavers Trades Union Brights partners had introduced new machinery which would turn out 240 yards of carpet in the time and with the labour previously required to produce 160 yards The workmen had no claim whatever to share in the profits made by the investment of their employers capital in mechanical improvements Accordingly Messrs Bright proposed to lower the rate of pay from 1½ d per yard to 1 d leaving the earnings of the men exactly the same as before for the same labour But there was a nominal reduction of which the operatives it is asserted had not fair warning beforehand contra o Sindicato dos Tecelões de Tapetes acusados judicialmente de intimidação Os sócios de Bright haviam introduzido nova maquinaria que deveria produzir 240 jardas de tapetes no tempo e com o trabalho anteriormente necessários para produzir 160 jardas Os trabalhadores não detinham nenhum direito de participação nos lucros realizados pelo investimento de capital de seus empregadores em melhorias mecânicas Por essa razão os senhores Bright propuseram reduzir o salário de 112 penny por jarda a 1 penny o que deixava as receitas dos trabalhadores exatamente as mesmas que antes pelo mesmo trabalho Mas houve uma redução nominal sobre o qual os operários dizse não foram devidamente informados de antemão c Nas segunda e terceira edições trabalho N T 63 As Trades Unions sindicatos em seu afã de manter o salário procuram participar dos lucros da maquinaria aperfeiçoada Quelle horreur Que horror eles exigem salários mais elevados porque o trabalho foi abreviado em outras palavras eles se empenham em obstaculizar as melhorias industriais On Combination of Trades Londres 1834 p 42 707 64 It is not accurate to say that wages are increased because they purchase more of a cheaper article Não é certo dizer que os salários tratase aqui de seu preço tenham aumentado porque com eles se pode comprar uma quantidade maior de um artigo mais barato David Buchanan em sua edição de A Smith Wealth etc 1814 v I p 417 nota 64a Em outro lugar examinaremos quais as circunstâncias que no que diz respeito à produtividade podem modificar essa lei em certos ramos da produção 65 Polemizando contra Adam Smith observa James Anderson It deserves likewise to be remarked that although the apparent price of labour is usually lower in poor countries where the produce of the soil and grain in general is cheap yet it is in fact for the most part really higher than in other countries For it is not the wages that is given to the labourer per day that constitutes the real price of labour although it is its apparent price The real price is that which a certain quantity of work performed actually costs the employer and considered in this light labour is in almost all cases cheaper in rich countries then in those that are poorer although the price of grain and other provisions is usually much lower in the last than in the first Labour estimated by the day is much lower in Scotland than in England Labour by the piece is generally cheaper in England Devemos notar do mesmo modo que apesar de o preço aparente do trabalho ser normalmente mais baixo em países pobres onde os produtos do solo e os grãos em geral são baratos ele é na verdade geralmente mais alto que em outros países Pois não é o salário pago por dia a um trabalhador que constitui o preço real do trabalho ainda que seja seu preço aparente O preço real é o que determinada quantidade de trabalho realizado custa efetivamente ao empregador e considerado sob esse ângulo o trabalho é em quase todos os casos mais barato nos países ricos do que nos mais pobres embora o preço dos grãos e de outras provisões seja geralmente muito mais baixo nos últimos do que nos primeiros O trabalho pago por dia é muito mais baixo na Escócia do que na Inglaterra O trabalho por peça é geralmente mais barato na Inglaterra James Anderson Observations on the Means of Exciting a Spirit of National Industry etc Edimburgo 1777 p 3501 Por outro lado o baixo nível do salário produz por sua vez o encarecimento do trabalho Labour being dearer in Ireland than it is in England because the wages are so much lower O trabalho é mais caro na Irlanda do que na Inglaterra porque os salários mais baixos na mesma proporção n 2074 em Royal Commission on Railways Minutes 1867 66 Essay on the Rate of Wages with an Examination of the Causes of the Differences in the Conditions of the Labouring Population throughout the World Filadélfia 1835 708 a No original Charaktermasken máscara de personagem N T 1 Os ricos que consomem os produtos do trabalho dos outros não podem obtêlos senão por atos de troca compra de mercadorias Eles parecem expostos por isso a um rápido esgotamento de seus fundos de reserva Mas na ordem social a riqueza adquiriu a capacidade de se reproduzir por meio do trabalho alheio A riqueza como o trabalho e por meio do trabalho rende um fruto anual que pode ser destruído a cada ano sem que por isso o rico se torne mais pobre Esse fruto é a receita que provém do capital Sismondi Nouv princ décon pol cit t I p 812 2 Wages as well as profits are to be considered each of them as really a portion of the finished product Tanto os salários como os lucros devem ser considerados realmente como uma parte do produto acabado Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth cit p 142 A parte do produto que cabe ao trabalhador sob a forma de salário J Mill Elements etc trad Parisot Paris 1823 p 334 3 When capital is employed in advancing to the workman his wages it adds nothing to the funds for the maintenance of labour Quando o capital é empregado para adiantar o salário ao trabalhador ele não adiciona nada ao fundo para a manutenção do trabalho Cazenove em nota a sua edição de Malthus Definitions in Polit Econ Londres 1853 p 22 4 Nem sequer numa quarta parte da Terra os capitalistas adiantam aos trabalhadores seus meios de subsistência Richard Jones Textbook of Lectures on the Polit Economy of Nations cit p 36 4a Though the manufacturer has his wages advanced to him by his master he in reality costs him no expense the value of these wages being generally reserved together with a profit in the improved value of the subject upon which his labour is bestowed Embora o manufacturer ie trabalhador manufatureiro tenha seu salário adiantado por seu patrão ele não custa nada a este último pois o valor do salário juntamente com um lucro é geralmente reservado em Adam Smith restaurado N E A MEW no valor incrementado do objeto ao qual seu trabalho é aplicado A Smith Wealth of Nations cit livro II c III p 355 b Na terceira edição da produção e da circulação de mercadorias N T 5 Essa é uma propriedade particularmente notável do trabalho produtivo O que se consome produtivamente é capital e tornase capital por meio do consumo J Mill Elements etc cit p 242 J Mill contudo não seguiu o rastro dessa propriedade particularmente notável 6 It is true indeed that the first introducing a manufacture employs many poor but they cease not to be so and the continuance of it makes many De fato é verdade que a primeira introdução de uma manufatura emprega muitos pobres mas eles não deixam de sêlo e a continuação da manufatura engendra um grande número deles Reasons for a Limited Exportation of Wool Londres 1677 p 19 The farmer now absurdly asserts that he keeps the poor They are indeed kept in misery O fazendeiro afirma agora de maneira absurda que ele mantém os pobres São de fato mantidos na miséria Reasons for the Late Increase of Poor Rates or a Comparative View of the Prices of Labour and Provisions Londres 1777 p 31 7 Rossi não declamaria tão enfaticamente sobre esse ponto se tivesse penetrado efetivamente no segredo do productive consumption consumo produtivo 8 Os trabalhadores nas minas da América do Sul cuja ocupação diária talvez a mais pesada do mundo consiste em carregar sobre os ombros de uma profundidade de 450 pés até a superfície uma carga de minério de 100 a 200 libraspeso vivem apenas de pão e feijão eles prefeririam receber apenas o pão como alimento mas seus senhores tendo descoberto que com pão eles não conseguiriam trabalhar com tanta força tratamnos como cavalos e os forçam a comer feijão ocorre que o feijão é comparativamente muito mais rico em fosfato de cálcio que o pão Liebig Die Chemie in ihrer Anwendung auf Agrikultur und Phisiologie cit parte I p 194 nota 9 James Mill Elements etc cit p 238s 10 Se o preço do trabalho subisse tanto que apesar do acréscimo de capital não se pudesse empregar mais trabalho então eu diria que esse incremento de capital é consumido improdutivamente Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 163 11 O único consumo produtivo propriamente dito é o consumo ou a destruição de riqueza ele se refere ao consumo dos meios de produção por capitalistas com vistas à reprodução O trabalhador é um consumidor produtivo para a pessoa que o emprega e para o Estado mas não o é em sentido estrito para si mesmo Malthus Definitions etc cit p 30 12 A única coisa da qual se pode dizer que está armazenada e preparada de antemão é a destreza do trabalhador 709 Essa importantíssima operação a acumulação e o armazenamento de trabalho hábil é consumada no que diz respeito à grande massa dos trabalhadores sem nenhum tipo de capital Hodgskin Labour Defended etc cit p 123 13 That letter might be looked upon as the manifesto of the manufacturers Essa carta pode ser considerada o manifesto dos fabricantes Ferrand Motion sobre a cotton Famine Moção sobre a carestia do algodão sessão da House of Commons de 27 de abril de 1863 14 Recordemos que em circunstâncias ordinárias quando se trata de rebaixar o salário o mesmo capital se expressa em outro tom Então os patrões declaram em uníssono Os trabalhadores fabris deviam manter a salutar recordação de que seu trabalho é de fato um tipo muito inferior de trabalho qualificado que não há nenhum outro mais fácil de se assimilar e que levandose em conta sua qualidade seja mais bem remunerado que nenhum outro trabalho pode ser ensinado ao menos experiente com uma breve instrução em tempo tão curto e com tamanha abundância A maquinaria do patrão que como acabamos de ouvir pode ser vantajosamente substituída e aperfeiçoada em 12 meses desempenha na verdade um papel muito mais importante no negócio da produção do que o trabalho e a destreza do trabalhador que agora não podem ser substituídos nem em 30 anos trabalho que pode ser ensinado em 6 meses e que qualquer camponês pode aprender Ver nota 188 p 495 N T c O marechaldacorte von Kalb é um personagem do drama Kabale und Liebe Intriga e amor de Schiller Convidado a participar numa intriga palaciana por von Walter presidente da corte de um príncipe alemão von Kalb inicialmente se nega mas seu poderoso interlocutor o ameaça com sua própria renúncia a qual acarretaria automaticamente a queda do marechaldacorte Von Kalb protesta com grande espanto E eu Vós sois um homem estudado Mas eu mon Dieu O que será de mim se Sua Alteza me demitir N E A MEW d Na segunda edição tecnológico N T 15 Times 24 mar 1863 16 O Parlamento não votou nem um farthing ¼ de penny para a emigração mas apenas leis que permitiam aos municípios manter os trabalhadores entre a vida e a morte ou explorálos sem lhes pagar o salário normal Ao contrário 3 anos depois quando irrompeu a peste do gado o Parlamento quebrou as regras parlamentares e votou num átimo milhões para a indenização dos milionários senhores fundiários cujos arrendatários independentemente disso já haviam escapado do prejuízo aumentando o preço da carne O mugido bestial dos proprietários fundiários por ocasião da abertura do Parlamento em 1866 comprovou que ninguém precisa ser hindu para adorar a vaca Sabala nem Júpiter para transformar a si mesmo num boi 17 Louvrier demandait de la subsistance pour vivre le chef demandait du travail pour gagner O trabalhador exigia meios de subsistência para viver o patrão exigia trabalho para lucrar Sismondi Nouv princ décon pol cit p 91 18 Uma forma camponesa grosseira dessa servidão existe no condado de Durham Esse é um dos poucos condados em que as condições não garantem ao arrendatário um título incontestável de propriedade sobre os jornaleiros agrícolas A indústria de mineração deixa a estes últimos uma alternativa Por isso aqui o arrendatário contrariando a regra geral só aceita em arrendamento terras onde se encontram cottages para os trabalhadores O aluguel do casebre constitui parte do salário Esses casebres se chamam hinds houses casas de trabalhadores rurais Eles são alugados aos trabalhadores sob certas obrigações feudais sob um contrato chamado bondage servidão que por exemplo obriga o trabalhador durante o tempo em que esteja ocupado em outro lugar a colocar em seu lugar sua filha etc O próprio trabalhador chamase bondsman servo Essa relação também mostra o consumo individual do trabalhador como consumo para o capital ou consumo produtivo sob um aspecto inteiramente novo É curioso observar como até o excremento desse bondsman se conta entre as retribuições que ele paga ao patrão calculista O arrendatário não autoriza em toda a vizinhança outra latrina que não a sua própria e não tolera a esse respeito qualquer diminuição de seu direito de suserano Public Health VII Rep 1864 p 188 19 Lembremos que no trabalho das crianças etc desaparece até mesmo a formalidade da venda de si mesmo 20 O capital pressupõe o trabalho assalariado o trabalho assalariado pressupõe o capital Ambos se condicionam reciprocamente ambos se produzem reciprocamente Um trabalhador numa fábrica de algodão produz apenas tecidos de algodão Não ele produz capital Ele produz valores que servem novamente para comandar seu trabalho e por meio dele criar novos valores Karl Marx Lohnarbeit und Kapital Trabalho assalariado e capital em Neue Rheinische Zeitung Nova Gazeta Renana n 266 7 abr 1849 Os artigos publicados com esse título na NRhZ são fragmentos das conferências que proferi sobre o tema em 1847 na Associação dos Trabalhadores Alemães em Bruxelas e cuja impressão foi interrompida pela Revolução de Fevereiro A Associação dos Trabalhadores Alemães em Bruxelas à qual pertenciam Marx e Engels voltavase à realização de atividades culturais e de agitação política entre os trabalhadores alemães radicados na Bélgica Foi fundada em agosto de 1847 e dissolvida pela polícia no início de 1848 710 A Revolução de Fevereiro deflagrada a 24 de fevereiro de 1848 derrubou o rei Luís Filipe e estabeleceu a Segunda República francesa N T 711 21 Accumulation of Capital the employment of a portion of revenue as capital Acumulação do capital a utilização de uma parte da renda como capital Malthus Definitions etc cit p 11 Conversion of revenue into Capital Transformação de renda em capital Malthus Princ of Pol Econ 2 ed Londres 1836 p 320 21a Abstraímos aqui do comércio de exportação por meio do qual uma nação pode converter artigos de luxo em meios de produção ou de subsistência e viceversa Para conceber o objeto da investigação em sua pureza livre de circunstâncias acessórias perturbadoras temos de considerar aqui o mundo comercial como uma nação e pressupor que a produção capitalista se consolidou em toda parte e apoderouse de todos os ramos industriais 21b A análise da acumulação de Sismondi tem a grande falha de que ele se contenta demasiadamente com a frase conversão da renda em capital sem aprofundar as condições materiais dessa operação Simonde de Sismondi Nouveaux principes déconomie politique cit v 1 p 119 N E A MEW 21c Le travail primitif auquel son capital a dû sa naissance O trabalho primitivo ao qual seu capital deveu seu nascimento Sismondi Nouveaux principes déconomie politique cit t I p 109 22 Labour creates capital before capital employs labour O trabalho cria o capital antes que o capital empregue o trabalho E G Wakefield England and America Londres 1833 v II p 110 23 A propriedade do capitalista sobre o produto do trabalho alheio é a consequência rigorosa da lei da apropriação cujo princípio fundamental era pelo contrário o título de propriedade exclusivo de cada trabalhador sobre o produto de seu próprio trabalho Cherbuliez Richesse ou pauvreté cit p 58 em que no entanto essa conversão dialética não é corretamente desenvolvida a Várias trocas sucessivas fazem do último apenas o repesentante do primeiro N T b Entre aqueles que repartem entre si a renda nacional uns os trabalhadores adquirem a cada ano um novo direito a ela graças a seu novo trabalho os outros os capitalistas já adquiriram anteriormente um direito permanente sobre ela por meio de um trabalho originário N T c Todos os dois ainda ganhavam o trabalhador porque se lhe adiantavam os frutos de seu trabalho o certo seria do trabalho gratuito de outros trabalhadores antes que ele estivesse feito o certo seria antes que o seu trabalho tivesse dado frutos o patrão porque o trabalho desse trabalhador valia mais que o salário o certo seria produzia mais valor do que o de seu salário N T 24 Admiranos por isso a astúcia de Proudhon que quer abolir a propriedade capitalista contrapondolhe as leis eternas de propriedade da produção de mercadorias 25 Capital viz accumulated wealth employed with a view to profit Capital isto é riqueza acumulada empregada para se obter lucro Malthus Princ of Pol Econ cit p 262 Capital consists of wealth saved from revenue and used with a view to profit O capital consiste em riqueza economizada da renda e usada para se obter lucro R Jones Textbook of Lectures on the Political Economy of Nations cit p 16 26 The possessors of surplus produce or capital Os possuidores do maisproduto ou capital The Source and Remedy of the National Difficulties A Letter to Lord John Russell Londres 1821 p 4 27 Capital with compound interest on every portion of capital saved is so all engrossing that all the wealth in the world from which income is derived has long ago become the interest on capital O capital com os juros compostos que recaem sobre cada parte do capital poupado açambarca tudo a tal ponto que toda a riqueza do mundo da qual alguma renda é obtida já se converteu há muito tempo em juros de capital Economist Londres 19 jul 1851 d G W F Hegel Grundlinien der Philosophie des Rechts oder Naturrecht und Staatswissenschaft im Grundrisse Linhas fundamentais da filosofia do direito ou direito natural e ciência do Estado em compêndio Berlim 1840 203 adendo N E A MEW 28 No political economist of the present day can by saving mean mere hoarding and beyond this contracted and insufficient proceeding no use of the term in reference to the national wealth can well be imagined but that which must arise from a different application of what is saved founded upon a real distinction between the different kinds of labour maintained by it Nenhum economista político dos dias de hoje pode entender pelo termo poupar o mero entesouramento e além desse procedimento estreito e insuficiente em Malthus ineficiente não podemos imaginar nenhum outro uso desse termo em relação à riqueza nacional que não aquele que deve surgir de uma aplicação diferente daquilo que é poupado e que se baseia numa distinção real entre os diferentes tipos de trabalho mantidos por essa poupança Malthus Princ of Pol Econ cit p 389 28a Por exemplo em Balzac que estudou tão profundamente todos os matizes da avareza o velho usurário Gobseck 712 mostra sua infantilidade quando começa a formar um tesouro acumulando mercadorias 29 Accumulation of stocks nonexchange overproduction Acumulação de capitais ausência de troca superprodução T Corbet An Inquiry into the Causes and Models of the Wealth of Individuals or the Principles of Trade and Speculation Explained cit p 104 30 Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 163 nota 31 Apesar de sua lógica o sr J S Mill não descobre jamais a falha dessa análise errônea de seus predecessores a qual mesmo dentro do horizonte burguês clama por uma retificação do ponto de vista puramente profissional Por toda parte ele registra com dogmatismo de discípulo a confusão mental de seus mestres Também nesta passagem The capital itself in the long run becomes entirely wages and when replaced by the sale of produce becomes wages again Em longo prazo o próprio capital tornase inteiramente salário e quando é reposto pela venda do produto tornase novamente salário e Em 1758 em seu escrito Tableau économique o fisiocrata Quesnay realizou pela primeira vez a tentativa de uma exposição sistemática da reprodução e circulação do capital social total Marx utilizou a seguinte edição F Quesnay Analyse du tableau économique 1766 em E Daire ed Physiocrates Paris 1846 primeira parte Marx tratou detalhadamente do Tableau économique nas Teorias do maisvalor parte 1 c 6 no c 10 por ele redigido da segunda parte do AntiDühring de Engels e nO capital Livro II c 19 N E A MEW 32 Em muitos aspectos de sua exposição do processo de reprodução e consequentemente também da acumulação A Smith não só não fez progresso algum em relação a seus predecessores especialmente os fisiocratas como retrocedeu em pontos decisivos Juntamente com aquela sua ilusão que mencionamos no texto encontrase o dogma verdadeiramente fabuloso e por ele legado à economia política de que o preço das mercadorias é composto de salário lucro juro e renda da terra ou seja unicamente de salário e maisvalor Partindo dessa base Storch ao menos admite ingenuamente Il est impossible de résoudre le prix nécessaire dans ses éléments les plus simples É impossível decompor o preço necessário em seus elementos mais simples Storch Cours décon polit cit t II p 141 nota Uma bela ciência econômica essa que declara ser impossível decompor o preço das mercadorias em seus elementos mais simples Uma discussão detalhada sobre tal questão encontrase na terceira seção do Livro II e na sétima seção do Livro III 33 O leitor notará que a palavra renda revenue é usada em duplo sentido primeiro para designar o maisvalor como fruto que brota periodicamente do capital segundo para designar a parte desse fruto que o capitalista consome periodicamente ou que é agregada a seu fundo de consumo Se mantenho esse duplo sentido é porque ele se harmoniza com a terminologia dos economistas ingleses e franceses f A 31 de agosto de 1848 na Assembleia Nacional de Frankfurt o latifundiário silesiano Lichnovski pronunciouse num alemão que provocou risos nos ouvintes contra o direito histórico da Polônia à existência autônoma direito de que disse nenhuma data não dispõe Segundo Lichnovski uma data anterior de ocupação do território polonês sempre poderia reivindicar um direito maior como era o caso dos alemães Esse discurso foi comentado à época por Marx e Engels na Nova Gazeta Renana numa série de artigos intitulada Die Polendebatte in Frankfurt O debate sobre a Polônia em Frankfurt N E A MEW 34 Na forma arcaica ainda que constantemente renovada do capitalista ou seja no usurário Lutero ilustra muito corretamente o afã de poder como elemento do impulso de enriquecimento Pela razão os pagãos puderam deduzir que um usurário é um ladrão e assassino elevado à quarta potência Mas nós cristãos o honramos a tal ponto que quase o adoramos por seu dinheiro Quem suga rouba ou subtrai o alimento de outrem comete um assassinato tão grande no que lhe diz respeito como aquele que o deixa morrer de fome ou o arruína por completo Mas é isso que faz um usurário sentado com toda a segurança em sua cadeira quando deveria estar dependurado numa forca e ser devorado por tantos corvos quantos fossem os florins que ele furtou se fosse possível que houvesse carne suficiente para que tantos corvos pudessem despedaçála e repartila entre si Enquanto isso enforcamse os pequenos ladrões Pequenos ladrões vão para o cadafalso ladrões grandes se pavoneiam cobertos de ouro e seda De maneira portanto que não há sobre a Terra maior inimigo do homem depois do Diabo do que um avarento e usurário pois ele quer ser Deus sobre todos os homens Turcos guerreiros e tiranos são também homens maus mas se veem obrigados a deixar as pessoas viverem e a confessar que são maus e inimigos E eventualmente podem e inclusive devem apiedarse de algumas delas Mas um usurário e avarento desejaria que todo mundo morresse de fome e sede de tristeza e miséria no que dependesse dele pois assim teria tudo para si e que todos recebessem dele como de um Deus e se tornassem eternamente seus servos Vestir mantos portar correntes de ouro anéis limpar o focinho e fazerse reverenciar como homens virtuosos e piedosos A usura é um monstro grande e descomunal qual um lobisomem que tudo devasta mais do que qualquer Caco Gerião ou Anteu E no entanto enfeitase e se faz 713 de mansa para que ninguém possa ver onde foram parar os bois que ela faz andar para trás até sua cova Mas Hércules há de ouvir os bramidos dos bois e dos prisioneiros e buscará Caco entre as rochas e escolhos e libertará os bois do maligno Pois Caco é o nome de um vilão um usurário hipócrita que furta rouba devora tudo Finge não ter feito nada e pretende que ninguém o descubra porque os bois puxados para trás para seu antro deixam rastros e pegadas como se ele os tivesse soltado Portanto o usurário também quer enganar o mundo como se ele fosse útil e desse bois ao mundo quando na verdade os toma só para si e os devora E do mesmo modo como os assaltantes de estrada os assassinos e bandidos são submetidos ao suplício da roda e decapitados com muito mais razão deveriam todos os usurários ser supliciados e mortos banidos amaldiçoados e decapitados Martinho Lutero An die Pfarrherrn wider den Wucher zu predigen cit g Schiller Die Bürgschaft N E A MEW h Isto é ele mesmo Na versão francesa a expressão aparece seguida de sua carne N T i J W Goethe Fausto cit p 64 N T 35 Dr Aikin Description of the Country from 30 to 40 miles round Manchester Londres 1795 p 1812s 188 j A expressão tem aqui o sentido de Isto é o fundamental É isto que importa N T 36 A Smith Wealth of Nations cit livro II c III p 367 37 O próprio J B Say diz As poupanças dos ricos se fazem à custa dos pobres J B Say Traité déconomie politique cit v 1 p 1301 O proletariado romano vivia quase exclusivamente à custa da sociedade Poderseia dizer que a sociedade moderna vive à custa dos proletários da parte que ela desconta da remuneração de seu trabalho Sismondi Études cit t I p 24 38 Malthus Princ of Pol Econ cit p 31920 k Schibboleth ou shibboleth é um termo de origem bíblica cf Juízes 12115 que designa uma forma de senha linguística um modo de falar ou de pronunciar ou o uso de uma expressão particular Uma pessoa cujo modo de falar viola um schibboleth é identificada como não pertencente ao grupo e consequentemente é dele excluída Na presente passagem o termo tem o sentido de palavra de ordem N T 39 An Inquiry into those Principles Respecting the Nature of Demand etc cit p 67 40 Ibidem p 59 l A revolução de 2729 de julho de 1830 que derrubou Carlos X e pôs no trono da França Luís Filipe de Orleans o rei burguês N T 41 Senior Principes fondamentaux de lécon pol trad Arrivabene Paris 1836 p 309 Aos partidários da velha escola clássica essa afirmação passou um pouco da medida O sr Senior substitui a expressão trabalho e capital pela expressão trabalho e abstinência Abstinência é uma simples negação Não é a abstinência mas o uso do capital produtivamente empregado que constitui a fonte do lucro John Cazenove Outlines of Polit Economy cit p 130 nota O sr John S Mill ao contrário reproduz por um lado a teoria do lucro de Ricardo e por outro filiase à remuneration of abstinence remuneração da abstinência de Senior Na mesma medida em que Mill é alheio à contradição hegeliana fonte de toda dialética tanto mais ele se encontra em seu elemento ao tratar de contradições triviais Adendo à segunda edição Ao economista vulgar jamais passou pela cabeça a simples reflexão de que todo ato humano pode ser concebido como abstinência do ato contrário Comer é absterse de jejuar andar é absterse de estar parado trabalhar é absterse de folgar folgar é absterse de trabalhar etc Esses senhores fariam bem em meditar uma vez sobre esta sentença de Espinosa Determinatio est negatio A fórmula determinatio est negatio determinação é negação encontrase numa carta de Espinosa de 2 de junho de 1674 a uma pessoa inominada cf correspondência de Baruch Espinosa carta 50 A fórmula omnis determinatio est negatio toda determinação é negação por sua vez difundiuse por meio das obras de Hegel cf Enciclopédia das ciências filosóficas parte I 91 adendo A ciência da lógica livro I primeira seção c II b Lições sobre a história da filosofia parte I primeira seção c I parágrafo sobre Parmênides N E A MEW 42 Senior Principes fondamentaux de lécon pol cit p 3423 43 No one will sow his wheat fi and allow it to remain a twelvemonth in the ground or leave his wine in a cellar for years instead of consuming these things or their equivalent at once unless he expects to acquire additional value etc Ninguém semeará por exemplo seu trigo e o deixará ficar um ano inteiro embaixo da terra ou armazenará seu vinho por anos numa adega em vez de consumir imediatamente essas coisas ou seus equivalentes a não ser que espere obter um valor adicional etc A Potter ed Scrope Polit Econom Nova York 1841 p 133 Citase aqui o 714 livro de Potter Political Economy its Objects Uses and Principles Nova York 1841 Como se lê na introdução dessa obra grande parte dela é no essencial uma reimpressão dos primeiros dez capítulos da obra de Scrope Principles of Political Economy publicada na Inglaterra em 1833 Potter introduziu no texto algumas variantes N E A MEW 44 La privation que simpose le capitaliste en prêtant ses instruments de production au travailleur au lieu den consacrer la valeur à son propre usage en la transformant en objets dutilité ou dagrément A privação que o capitalista se impõe quando empresta esse eufemismo é usado conforme a mais consagrada mania da economia vulgar para identificar o trabalhador assalariado explorado pelo capitalista industrial com o próprio capitalista industrial que obtém dinheiro do capitalista prestamista seus meios de produção ao trabalhador em vez de consagrar o valor a seu próprio uso transformandoo em objetos úteis ou agradáveis G de Molinari Études économiques cit p 36 m Deus hindu Oposto a Brahma o criador e Shiva o destruidor Vishnu é o princípio conservador da trimurti ou trindade hindu Seu culto inclui diferentes tipos de autoflagelo N T 45 La conservation dun capital exige un effort constant pour résister à la tentation de le consommer J G CourcelleSeneuil Traité théorique et pratique des entreprises industrielles cit p 20 46 The particular classes of income which yield the most abundantly to the progress of national capital change at different stages of their progress and are therefore entirely different in nations occupying different positions in that progress Profits unimportant source of accumulation compared with wages and rents in the earlier stages of society When a considerable advance in the powers of national industry has actually taken place profits rise into comparative importance as a source of accumulation As classes particulares de renda que contribuem do modo mais abundante possível para o progresso do capital nacional variam segundo os diferentes estágios de seu progresso e são assim inteiramente diversas em nações que ocupam diferentes posições nesse progresso Lucros fonte de acumulação sem importância comparados aos salários e rendas nos estágios anteriores da sociedade Quando ocorre um considerável avanço nos poderes da indústria nacional os lucros assumem uma comparativa importância como fonte de acumulação Richard Jones Textbook etc cit p 16 21 47 Ibidem p 36s Adendo à quarta edição Tratase provavelmente de um lapso pois essa passagem não foi encontrada F E A citação de Marx é na verdade uma adaptação bastante livre das ideias centrais expostas nas páginas 367 da obra de Richard Jones Cf MEGA II10 cit p 10589 N T 48 Ricardo afirma Em diferentes estágios da sociedade a acumulação do capital ou dos meios de trabalho isto é dos meios de explorálo é mais ou menos rápida e depende necessariamente em todos os casos das forças produtivas do trabalho Em geral as forças produtivas do trabalho são maiores onde existe abundância de terra fértil Se nessa frase entendese por forças produtivas do trabalho a pequenez dessa parte alíquota de cada produto que cabe àqueles cujo trabalho manual o produz a frase é tautológica pois a parte restante é o fundo a partir do qual se pode acumular capital se seu proprietário o quiser if the owner pleases Mas isso não costuma ocorrer onde a terra é mais fértil Observation on Certain Verbal Disputes etc p 74 49 John Stuart Mill Essays on Some Unsettled Questions of Polit Economy Londres 1844 p 901 50 An Essay on Trade and Commerce cit p 44 De modo análogo o Times de dezembro de 1866 e janeiro de 1867 publicou os arroubos sentimentais dos proprietários ingleses de minas nos quais era descrita a favorável situação dos mineiros belgas que não exigiam nem recebiam mais do que o estritamente necessário para viver para seus masters Os trabalhadores belgas suportam muita coisa mas daí a figurarem no Times como trabalhadores modelos No início de fevereiro de 1867 a resposta ao jornal inglês veio da greve dos mineiros belgas em Marchienne reprimida a pólvora e chumbo 51 Ibidem p 44 46 52 O fabricante de Northamptonshire comete uma pia fraus fraude piedosa desculpável considerandose o arrebatamento de seu coração Ele afirma comparar a vida dos trabalhadores manufatureiros ingleses e franceses mas o que descreve nas frases aqui citadas é como ele mesmo confessa mais adiante em seu estado de confusão a condição dos trabalhadores agrícolas franceses 53 John Stuart Mill Essays on Some Unsettled Questions of Polit Economy cit p 701 Nota à terceira edição Hoje graças à concorrência que desde então se instaurou no mercado mundial demos muitos passos à frente Se a China declara o parlamentar Stapleton a seus eleitores se tornasse um grande país industrial não vejo como a população trabalhadora da Europa poderia enfrentar esse desafio sem decair ao nível de seus concorrentes Times 3 set 1873 Não mais salários continentais mas salários chineses Esse é agora o objetivo perseguido pelo capital inglês 54 Benjamin Thompson Essays Political Economical and Philosophical etc Londres 17961802 v 1 p 294 Em seu 715 The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc sir F M Eden recomenda encarecidamente a sopa para mendigos criada por Rumford aos diretores das workhouses e em tom de censura adverte os trabalhadores ingleses que entre os escoceses há muitas famílias que em vez de se alimentar com trigo centeio e carne vivem por meses e muito confortavelmente and that very confortably too apenas com flocos de aveia e farinha de cevada misturados com água e sal The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc v I livro II c II p 503 Advertências semelhantes encontramos no século XIX Lêse por exemplo Os trabalhadores agrícolas ingleses não aceitam nenhuma mistura de cereais de tipos inferiores Na Escócia onde a educação é melhor esse preconceito provavelmente inexiste Charles H Parry The Question of the Necessity of the Existing Cornlaws Considered Londres 1816 p 69 No entanto o mesmo Parry reclama que o trabalhador inglês teria decaído muito agora 1815 em comparação com a época de Eden 1797 55 Os relatórios da última comissão parlamentar de inquérito sobre a falsificação de alimentos mostram que mesmo a falsificação de medicamentos constitui na Inglaterra a regra e não a exceção Por exemplo o exame de 34 amostras de ópio adquiridas em outras tantas farmácias londrinas demonstrou que 31 estavam adulteradas com cascas de papoula farinha de trigo pasta de borracha argila areia etc Muitas não continham um só átomo de morfina 56 G L Newnham barrister at law A Review of the Evidence Before the Committees of the Two Houses of Parliament on the Corn Laws Londres 1815 p 20 nota 57 Ibidem p 1920 58 C H Parry The Question of the Necessity of the Existing Cornlaws Considered cit p 77 69 Os landlords senhores rurais por sua vez não só se indenizaram pela guerra antijacobina que conduziram em nome da Inglaterra como também enriqueceram enormemente Em 18 anos suas rendas duplicaram triplicaram quadruplicaram e em casos excepcionais sextuplicaram ibidem p 1001 59 Friedrich Engels Die Lage der arbeitenden Klasse in England cit p 20 ed bras A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit p 52 60 Em virtude de sua análise deficiente do processo de trabalho e de valorização a economia clássica jamais compreendeu adequadamente esse importante momento da reprodução como se pode ver por exemplo em Ricardo Ele diz por exemplo qualquer que seja a variação da força produtiva 1 milhão de pessoas produz nas fábricas sempre o mesmo valor Isso é correto quando estão dados a extensão e o grau de intensidade de seu trabalho Mas não impede e Ricardo o desconsidera em algumas de suas conclusões que 1 milhão de pessoas executando trabalhos com diferentes forças produtivas transforme em produto massas muito distintas de meios de produção e por conseguinte conserve em seu produto massas de valor muito diverso que diferem em grande medida dos valores dos produtos fornecidos por esses trabalhadores Com esse exemplo Ricardo digamos de passagem procura em vão explicar a J B Say a diferença entre valor de uso que ele aqui denomina wealth riqueza material e valor de troca Say responde Quant à la difficulté quélève Mr Ricardo en disant que per des procedés mieux entendus un million de personnes peuvent produire deux fois trois fois autant de richesses sans produire plus de valeurs cette difficulté nest pas une lorsque lon considère ainsi quon le doit la production comme un échange dans lequel on donne les services productifs de son travail de sa terre et de ses capitaux pour obtenir des produits Cest par le moyen de ces services productifs que nous acquérons tous les produits qui sont au monde Or nous sommes dautant plus riches nos services productifs ont dautant plus de valeur quils obtiennent dans léchange appelé production une plus grande quantité de choses utiles Quanto à dificuldade levantada por Ricardo quando diz que 1 milhão de pessoas poderia com melhores métodos produzir o dobro ou o triplo de riquezas sem criar mais valor essa dificuldade desaparece quando se considera como é devido que a produção é um intercâmbio no qual se dão os serviços produtivos de seu trabalho de sua terra e seu capital para obter produtos Mediante esses serviços produtivos adquirimos todos os produtos que existem no mundo Portanto somos tanto mais ricos e nossos serviços produtivos têm tanto mais valor quanto maior é a quantidade de coisas úteis que obtêm no intercâmbio denominado produção J B Say Lettres à Malthus Paris 1820 p 1689 A difficulté dificuldade ela existe para ele não para Ricardo que Say precisa explicar é a seguinte por que o valor dos valores de uso não aumenta quando sua quantidade aumenta em decorrência da elevação da força produtiva do trabalho Resposta a dificuldade é resolvida atribuindose ao valor de uso gentilmente o nome de valor de troca O valor de troca é uma coisa que one way or another de uma maneira ou de outra está vinculada com o intercâmbio Chamemos a produção portanto de troca de trabalho e de meios de produção por produto e é evidente que obteremos tanto mais valor de troca quanto mais valor de uso fornecer a produção Em outras palavras quanto mais valores de uso por exemplo meias uma jornada de trabalho fornece ao fabricante de meias tanto mais rico ele é em meias De repente no entanto ocorre a Say que com a maior quantidade de meias seu preço que não tem naturalmente nada a ver com o valor de troca cai parce que la 716 concurrence les oblige à donner les produits pour ce quils leur coûtent porque a concorrência os força os produtores a entregar os produtos por seu preço de custo Mas de onde então vem o lucro se o capitalista vende as mercadorias pelo seu preço de custo Mas never mind isso não importa Say explica que em consequência da produtividade aumentada cada um recebe agora pelo mesmo equivalente dois pares de meias em vez de um etc O resultado a que chega é precisamente a tese de Ricardo que ele pretendia refutar Depois desse imponente esforço mental Say apostrofa Malthus triunfantemente com as palavras Telle est monsieur la doctrine bien liée sans laquelle il est impossible je le déclare dexpliquer les plus grandes difficultés de léconomie politique et notamment comment il se peut quune nation soit plus riche lorsque ses produits diminuent de valeur quoique la richesse soit de la valeur Eis aí meu senhor a doutrina bem fundamentada sem a qual é impossível afirmo explicar as maiores dificuldades da economia política em especial aquela de como uma nação pode se tornar mais rica quando seus produtos diminuem de valor embora a riqueza represente valor ibidem p 170 Um economista inglês referindose a proezas similares nas Lettres de Say observa o seguinte Essas maneiras afetadas de tagarelar those affected ways of talking constituem em conjunto aquilo a que o sr Say gosta de chamar sua doutrina a qual ele recomenda calorosamente a Malthus que ensine em Hertford tal como já ocorre dans plusieurs parties de lEurope em várias partes da Europa Diz Say Si vous trouvez une physionomie de paradoxe à toutes ces propositions voyez les choses quelles expriment et jose croire quelles vous paraîtront fort simples et fort raisonnables Se encontrardes uma aparência de paradoxo em todas essas afirmações observai as coisas que elas exprimem e ouso crer que elas vos parecerão muito simples e razoáveis Sem dúvida em consequência desse processo elas aparecerão como qualquer coisa menos originais ou importantes An Inquiry into those Principles Respecting the Nature of Demand etc p 110 61 McCulloch obteve a patente de seu wages of past labour salário de trabalho passado muito antes que Senior patenteasse o wages of abstinence salário da abstinência 62 Cf entre outros J Bentham Théorie des peines et des récompenses trad E Dumont 3 ed Paris 1826 t II livro IV c II 63 Jeremy Bentham é um fenômeno puramente inglês Mesmo sem excetuar nosso filósofo Christian Wolf em nenhuma época e em nenhum país o lugarcomum mais simplório se difundiu com tanta convicção O princípio da utilidade não é uma invenção de Bentham Este se limitou a reproduzir sem espírito o que Helvetius e outros franceses do século XVIII haviam dito espirituosamente Se por exemplo queremos saber o que é útil a um cachorro temos de investigar a natureza canina É impossível construir essa natureza a partir do princípio da utilidade Aplicado ao homem isso significa que se quiséssemos julgar segundo o princípio da utilidade todas as ações movimentos relações etc do homem teríamos de nos ocupar primeiramente da natureza humana em geral e em seguida da natureza humana historicamente modificada em cada época Bentham não tem tempo para essas inutilidades Com a mais ingênua aridez ele parte do suposto de que o filisteu moderno e especialmente o inglês é o homem normal O que é útil para esse homem exemplar e seu mundo é útil em si e para si De acordo com esse padrão Bentham julga então o passado o presente e o futuro Por exemplo a religião cristã é útil porque repudia religiosamente os mesmos delitos que o código penal condena juridicamente A crítica da arte é nociva porque perturba o deleite que as pessoas honestas encontram em Martin Tupper etc E foi com todo esse lixo que nosso bom homem cuja divisa é nulla dies sine linea encheu montanhas de livros Tivesse eu a coragem de meu amigo H Heine chamaria o sr Jeremy de gênio na arte da estupidez burguesa Nulla dies sine linea nenhum dia sem uma linha frase atribuída ao pintor Apeles IV a C que colocara para si a obrigação de trabalhar todos os dias em suas pinturas N T 64 Os economistas políticos se inclinam demasiadamente a considerar determinada quantidade de capital e determinado número de trabalhadores instrumentos de produção dotados de força uniforme e que operam com certa intensidade uniforme Os que afirmam que as mercadorias são os únicos agentes da produção demonstram que esta não pode ser ampliada de modo nenhum pois para realizar tal ampliação seria previamente necessário aumentar a quantidade de meios de subsistência matériasprimas e ferramentas e isso de fato significa que nenhum incremento da produção pode ter lugar sem um incremento precedente ou em outras palavras que todo incremento é impossível S Bailey org Money and its Vicissitudes cit p 58 70 Bailey critica o dogma principalmente do ponto de vista do processo de circulação 65 Diz J S Mill em seus Principles of Polit Economy cit livro II c I 3 O produto do trabalho é hoje repartido na razão inversa do trabalho a maior parte se destina àqueles que nunca trabalham a parte seguinte àqueles cujo trabalho é quase apenas nominal e assim em escala decrescente a remuneração vai encolhendo à medida que o trabalho se torna mais duro e mais desagradável até chegar ao trabalho fisicamente mais cansativo e extenuante que nem sequer pode contar com a certeza de obter a satisfação das necessidades vitais Para evitar malentendidos 717 observo que se cabe censurar homens como J S Mill etc pela contradição entre seus velhos dogmas econômicos e suas tendências modernas seria absolutamente injusto confundilos com a tropa dos apologistas da economia vulgar 66 H Fawcett professor de economia política em Cambridge The Economic Position of the British Labourer Londres 1865 p 120 67 Recordo ao leitor que fui o primeiro a empregar as categorias de capital variável e capital constante Desde A Smith a economia política mistura confusamente as determinações contidas nessas categorias com as diferenças formais derivadas do processo de circulação entre o capital fixo e o capital circulante Mais detalhes sobre isso serão expostos no Livro II seção II 68 H Fawcett The Economic Position of the British Labourer cit p 1232 69 Poderseia dizer que a Inglaterra exporta anualmente não apenas capital mas também trabalhadores sob a forma da emigração No texto porém não se faz qualquer referência ao pecúlio dos emigrantes que em grande parte não são trabalhadores Os filhos dos arrendatários representam uma grande porção deles A proporção entre o capital adicional inglês anualmente enviado ao exterior para ganhar juros e a acumulação anual é incomparavelmente maior do que a proporção entre a emigração anual e o aumento anual da população Na Roma Antiga pecúlio era a parte do patrimônio que o pater familias podia legar a um filho ou a um escravo A posse do pecúlio não abolia a dependência do escravo em relação a seu amo e juridicamente o proprietário do pecúlio continuava a ser o pater familias Por exemplo se era permitido ao escravo de posse do pecúlio realizar transações com terceiros isso só se podia realizar numa medida que não permitisse a ele o ganho de uma soma de dinheiro suficiente para a compra de sua liberdade Transações especialmente lucrativas e outras medidas que podiam acarretar um aumento significativo do pecúlio eram habitualmente realizadas pelo próprio pater familias N E A MEW 718 70 Karl Marx cit A égalité doppression des masses plus un pays a de prolétaires et plus il est riche Havendo igualdade de opressão das massas quanto mais proletários tiver um país mais rico ele será Colins Léconomie politique source des révolutions et des utopies prétendues socialistes Paris 1857 t III p 331 Por proletário devese entender do ponto de vista econômico apenas o assalariado que produz e valoriza capital e é posto na rua assim que se torna supérfluo para as necessidades de valorização do Monsieur Capital como Pecqueur denomina esse personagem O enfermiço proletário da selva virgem é uma gentil quimera de Roscher O selvático é proprietário da selva e a trata com tanta naturalidade quanto o orangotango isto é como propriedade sua Ele não é portanto um proletário Esse só seria o caso se fosse a selva que o explorasse e não o contrário Quanto a seu estado de saúde ele resistiria não só a uma comparação com o do proletário moderno mas também com o de sifilíticos e escrofulosos homens honrados Mas é provável que o sr Wilhelm Roscher entenda por selva virgem as pastagens de sua Lüneburg natal 71 As the Labourers make men rich so the more Labourers there will be the more rich men the Labour of the Poor being the Mines of the Rich John Bellers Proposals for Raising a Colledge of Industry cit p 2 a No original inglês os pobres N T 72 B de Mandeville The Fable of the Bees 5 ed Londres 1728 Observações p 2123 328 Vida moderada e trabalho constante são para o pobre o caminho para a felicidade material que ele entende como a jornada de trabalho mais longa possível e o mínimo possível de meios de subsistência e a riqueza do Estado ou seja de proprietários rurais capitalistas e seus dignitários e agentes políticos An Essay on Trade and Commerce Londres 1770 p 54 73 Eden devia ter perguntado e as as instituições burguesas são criaturas de quem Sob o ângulo da ilusão jurídica ele não enxerga a lei como produto das relações materiais de produção mas ao contrário as relações de produção como produto da lei Linguet demoliu numa frase o ilusório Esprit des Lois de Montesquieu Lesprit des lois cest la propriété SNH Linguet Théorie des loix civiles ou principes fondamentaux de la société Londres 1767 v 1 p 236 N E A MEW 74 Eden The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc cit v I c I p l2 e prefácio p XX b No original inglês lêse The natural produce of our soil is certainly not fully adequate to our subsistence we can neither be clothed lodged nor fed but in consequence of some previous labour A portion at least of the societ must be indefatigably employed There are others who though they neither toil nor spin can yet command the produce of industry but who owe their exemption from labour solely to civilizaton and order They are peculiarly the creatures of civil institutions which have recognised that individuals may acquire property by various other means besides the exertion of labour Persons of independent fortune owe their superior advantages by no means to any superior abilities of their own but almost entirely to the industry of others It is not the possession of land or of money but the command of labour which distinguishes the opulent from the labouring part of the community This scheme approved by Eden would give the people of property sufficient but by no means too much influence and authority over those who work for them and it would place such labourers not in an abject or servile condition but in such a state of easy and liberal dependence as all who know human nature and its history will allow to be necessary for their own comfort N T 75 O leitor que se recorda de Malthus cujo Essay on Population apareceu em 1798 não deve esquecer também de que esse texto em sua primeira versão não passa de um plágio colegial superficial e clericalmente declamatório de Defoe sir James Steuart Townsend Franklin Wallace etc e não contém uma única frase original A grande sensação que tal panfleto provocou decorreu apenas de interesses partidários A Revolução Francesa encontrara apaixonados defensores no Império Britânico o princípio da população lentamente elaborado durante o século XVIII e em seguida em meio a uma grande crise social anunciado ao som de tambores e trombetas como o antídoto infalível contra as doutrinas de Condorcet e outros foi saudado jubilosamente pela oligarquia inglesa como o grande exterminador de todas as veleidades de progresso da humanidade Malthus surpreso com seu próprio êxito dedicou se então a embutir no velho esquema material compilado superficialmente e a adicionar material novo que ele porém não descobriu apenas anexou Observemos de passagem que embora fosse clérigo da Igreja Anglicana Malthus fizera o voto monástico do celibato Essa é com efeito uma das condições de fellowship filiação pertencimento na universidade protestante de Cambridge Socios collegiorum maritos esse non permittimus sed statim postquam quis uxorem duxerit socius collegii desinat esse Que os membros do colégio sejam casados é algo que não permitimos assim que alguém toma uma mulher deixa de ser membro do colégio Reports of Cambridge University Commission p 172 Essa circunstância distingue Malthus vantajosamente dos outros padres protestantes que se 719 liberaram do mandamento católico do celibato sacerdotal e reivindicaram como sua missão especificamente bíblica o crescei e multiplicaivos e isso em tal medida que passaram a contribuir por toda parte e numa medida realmente indecorosa para o aumento populacional ao mesmo tempo que pregavam aos trabalhadores o princípio da população É característico que o pecado original em seu disfarce econômico o pomo de Adão o urgent appetite apetite urgente the checks which tend to blunt the shafts of Cupid as resistências que tendem a tornar inofensivas as setas de Cupido como diz alegremente o reverendo Townsend que esse ponto tão delicado tenha sido e continue a ser monopolizado pelos senhores da teologia ou antes da igreja protestante Excetuandose o monge veneziano Ortes escritor original e espirituoso a maioria dos expositores da doutrina da população são clérigos protestantes Bruckner por exemplo com sua Théorie du système animal Leyden 1767 que apresenta uma exposição exaustiva de toda a teoria moderna da população aproveitando ideias sobre o mesmo tema provenientes da querela passageira entre Quesnay e seu discípulo Mirabeau père pai e posteriormente o reverendo Wallace o reverendo Townsend o reverendo Malthus e seu discípulo o arquirreverendo T Chalmers para não falar de escribas clericais menores in this line desse tipo Originalmente a economia política foi exercida por filósofos como Hobbes Locke Hume por homens de negócios e estadistas como Thomas Morus Temple Sully de Witt North Law Vanderlint Cantillon Franklin e especialmente no plano teórico e com o maior dos êxitos por médicos como Petty Barbon Mandeville Quesnay Ainda em meados do século XVIII o reverendo sr Tucker economista importante para sua época desculpavase por se ocupar com Mamon Mais tarde mais precisamente com o princípio da população soou a hora dos clérigos protestantes Como que pressentindo essa influência daninha Petty que considerava a população a base da riqueza e como Adam Smith era um anticlerical declarado afirma A religião floresce melhor onde os sacerdotes são mais mortificados assim como o direito onde os advogados passam fome Por isso Petty aconselha aos cléricos protestantes já que não querem seguir o apóstolo Paulo e mortificarse pelo celibato que pelo menos não gerem mais clérigos not to breed more Churchmen do que as prebendas benefices existentes possam absorver ou seja havendo 12 mil prebendas na Inglaterra e no País de Gales seria insensato gerar 24 mil ministros it will not be safe to breed 24000 ministers pois os 12 mil sem ocupação haverão sempre de procurar um meio de vida e como poderiam fazêlo mais facilmente do que dirigindose ao povo e persuadindoo de que os 12 mil prebendados envenenam as almas e fazemnas morrer de fome desviandoas do caminho do céu Petty A Treatise of Taxes and Contributions cit p 57 A posição de Adam Smith em relação ao clero protestante de sua época é caracterizada pelo seguinte Em A Letter to A Smith L L D On the Life Death and Philosophy of his Friend David Hume By One the People Called Christians 4 ed Oxford 1784 o dr Horne bispo anglicano de Norwish prega um sermão a A Smith pelo fato de este numa carta aberta ao sr Straham ter embalsamado o seu amigo David isto é Hume relatando ao público como Hume em seu leito de morte divertiase lendo Luciano e jogando whist uíste e tivera até mesmo a petulância de escrever Sempre considerei Hume tanto durante sua vida como depois de sua morte tão próximo do ideal de um homem perfeitamente sábio e virtuoso quanto o permite a fragilidade da natureza humana O bispo exclama em sua indignação É justo de sua parte meu senhor descrevernos como perfeitamente sábios e virtuosos o caráter e a trajetória de vida de um homem que foi possuído por uma incurável antipatia contra tudo o que se chama religião e que consagrava todo o seu ser à tarefa de extirpar até mesmo seu nome da memória dos homens ibidem p 8 Mas não vos deixeis desalentar ó amantes da verdade pois breve é a vida do ateísmo ibidem p 17 Adam Smith incorre na atroz perversidade the atrocious wickedness de propagar o ateísmo pelo país com seu Theory of Moral Sentiments Conhecemos vossos sortilégios sr Doutor Vossa intenção é boa mas desta vez podeis tirar o cavalo da chuva Quereis nos convencer com o exemplo do sr David Hume de que o ateísmo é a única bebida reconfortante cordial para um ânimo abatido e o único antídoto contra o medo à morte Ride de Babilônia em ruínas e congratulai o empedernido e ímpio faraó ibidem p 212 Um cérebro ortodoxo entre os que frequentavam os cursos de A Smith escreve logo após a morte deste A amizade de Smith por Hume o impedia de ser cristão Ele acreditava literalmente em Hume Se este lhe tivesse dito que a Lua é um queijo verde ele teria acreditado Ele acreditou por isso quando Hume lhe disse que não existiam nem Deus nem os milagres Em seus princípios políticos ele se aproximava do republicanismo James Anderson The Bee Edimburgo 17911793 v III p 1656 O reverendo T Chalmers suspeita que A Smith por pura malícia teria inventado a categoria dos trabalhadores improdutivos exclusivamente para os ministros protestantes apesar do abençoado trabalho que estes realizam nas vinhas do Senhor A palavra Mamon aparece na Bíblia como descrição e muitas vezes personificação da riqueza material e da cobiça Por exemplo Não podeis servir a Deus e a Mamon Mateus 624 N T 76 Nota à segunda edição No entanto o limite para o emprego de trabalhadores fabris e agrícolas é o mesmo a saber a possibilidade de o proprietário obter um lucro do produto do trabalho desses trabalhadores Se a taxa do salário sobe tanto que o lucro do patrão cai abaixo do lucro médio ele deixa de ocupálos ou só os ocupa sob a condição de que aceitem uma redução salarial John Wade History of the Middle and Working Classes cit p 240 720 c Currency School grupo de economistas que nas décadas de 1840 e 1850 defendiam a tese de que o excesso de emissão de papelmoeda era uma das principais causas da inflação dos preços e que para restringir a circulação seus emissores deveriam manter uma reserva em ouro de valor equivalente ao das cédulas em circulação N T d Na segunda edição com preços altos circula dinheiro demais e com preços baixos dinheiro de menos N E A MEW 77 Karl Marx Zur Kritik der politischen Ökonomie Contribuição à crítica da economia política cit p 165s 77a Voltemos no entanto à nossa primeira investigação que demonstra que o próprio capital não é mais do que produto de trabalho humano de modo que parece completamente incompreensível que o homem pudesse cair sob o domínio de seu próprio produto o capital e subordinarse a ele e como é inegável que na realidade é isso que ocorre impõese espontaneamente a pergunta como pôde o trabalhador transformarse de dominador do capital como criador deste último em escravo do capital Von Thünen Der isolirte Staat Rostock 1863 segunda parte seção II p 56 Thünen possui o mérito de ter formulado a pergunta Sua resposta é simplesmente pueril e Adam Smith An lnquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations A riqueza das nações Edimburgo 1767 t 1 p 142 N E A MEW 77b Nota à quarta edição Os mais recentes trusts ingleses e americanos já apontam para esse objetivo procurando unificar numa grande sociedade por ações dotada de um monopólio efetivo ao menos todas as grandes empresas ativas num ramo de negócios F E 77c Nota à terceira edição No exemplar reservado por Marx para seu uso pessoal há neste ponto a seguinte anotação à margem Observar aqui para desenvolvimento posterior se a ampliação é apenas quantitativa os lucros de um capital maior ou menor no mesmo ramo de atividade estarão em proporção às grandezas dos capitais adiantados Se a ampliação quantitativa tem efeitos qualitativos aumenta ao mesmo tempo a taxa de lucro do capital maior F E f Na terceira edição centralização N T 78 O censo para Inglaterra e País de Gales mostra entre outras coisas pessoas ocupadas na agricultura inclusive proprietários arrendatários jardineiros pastores etc 1851 2011447 1861 1924110 redução de 87337 Manufatura de worsted 1851 102714 pessoas 1861 79242 fábricas de seda 1851 111940 1861 101670 estamparias de chita 1851 12098 1861 12556 cujo pequeno aumento apesar da enorme ampliação da atividade implica grande diminuição proporcional do número de trabalhadores ocupados fabricação de chapéus 1851 15957 1861 13814 fabricação de chapéus de palha e bonés 1851 20393 1861 18176 produção de malte 1851 10566 1861 10677 fabricação de velas 1851 4949 1861 4686 Essa redução se deve entre outras coisas ao aumento da iluminação a gás Fabricação de pentes 1851 2038 1861 1478 serrarias 1851 30552 1861 31647 pequeno aumento em virtude do avanço das máquinas de serrar fabricação de pregos 1851 26940 1861 26130 redução em virtude da concorrência das máquinas trabalhadores em minas de zinco e cobre 1851 31360 1861 32041 Em contrapartida fiações e tecelagens de algodão 1851 371777 1861 456646 minas de carvão 1851 183389 1861 246613 Desde 1851 o aumento de trabalhadores é geralmente maior naqueles ramos em que a maquinaria não foi até agora empregada com sucesso Census of England and Wales for 1861 Londres 1863 v III p 359 79 A lei da diminuição progressiva da grandeza relativa do capital variável bem como seus efeitos sobre a situação da classe assalariada foi mais pressentida do que compreendida por alguns economistas eminentes da escola clássica O maior mérito cabe aqui a John Barton ainda que como todos os outros ele confunda o capital constante com o capital fixo e o variável com o circulante Diz ele The demand for labour depends on the increase of circulating and not of fixed capital Were it true that the proportion between these two sorts of capital is the same at all times and in all circumstances then indeed it follows that the number of labourers employed is in proportion to the wealth of the state But such a proposition has not the semblance of probability As arts are cultivated and civilisation is extended fixed capital bears a larger and larger proportion to circulating capital The amount of fixed capital employed in the production of a piece of British muslin is at less a hundred probably a thousand times greater than that employed in a similar piece of Indian muslin And the proportion of circulating capital is a hundred or thousand times less the whole of the annual savings added to the fixed capital would have no effect in increasing the demand for labour A demanda de trabalho depende do aumento do capital circulante e não do capital fixo Se a relação entre esses dois tipos de capital fosse realmente a mesma em todas as épocas e em todas as circunstâncias então o número de trabalhadores ocupados seria de fato proporcional à riqueza do Estado Mas tal afirmação parece improvável À medida que as ciências naturais arts são cultivadas e a civilização se expande o capital fixo cresce cada vez mais em relação ao capital circulante A quantidade de capital fixo empregado na produção de um pedaço de musselina britânica é no mínimo 721 100 vezes maior mas provavelmente 1000 vezes maior do que a quantidade utilizada na confecção de uma peça semelhante de musselina indiana E a parcela de capital circulante é 100 ou 1000 vezes menor se a totalidade das poupanças anuais fosse adicionada ao capital fixo isso não ocasionaria aumento algum na demanda de trabalho John Barton Observations on the Circumstances which Influence the Condition of the Labouring Classes of Society Londres 1817 p 167 The same cause which may increase the net revenue of the country may at the same time render the population redundant and deteriorate the condition of the labourer A mesma causa que pode aumentar a renda líquida do país pode ao mesmo tempo tornar a população excedente e deteriorar a condição do trabalhador Ricardo The Princ of Pol Econ cit p 469 the demand will be in a diminishing ratio A demanda de trabalho diminuirá proporcionalmente ao aumento do capital ibidem p 480 nota The amount of capital devoted to the maintenance of labour may vary independently of any changes in the whole amount of capital Great fluctuations in the amount of employment and great suffering may become more frequent as capital itself becomes more plentiful A soma de capital destinada à manutenção do trabalho pode variar independentemente de quaisquer modificações na soma total do capital Grandes flutuações na taxa de emprego e um grande sofrimento tornamse mais frequentes à medida que o próprio capital se torna mais abundante Richard Jones An Introductory Lecture on Political Economy Londres 1833 p 12 Demand will rise not in proportion to the accumulation of the general capital Every augmentation therefore to the national stock destined for reproduction comes in the progress of society to have less and less influence upon the condition of the labourer A demanda de trabalho aumentará não em proporção à acumulação do capital total Portanto à medida do progresso da sociedade todo aumento do estoque nacional destinado à reprodução terá uma influência cada vez menor sobre a situação do trabalhador Ramsay An Essay on the Distribution of Wealth cit p 901 g Na edição francesa autorizada encontrase nesta passagem a seguinte inserção Mais cest seulement de lépoque où lindustrie mécanique ayant jeté des racines assez profondes exerça une influence prépondérante sur toute la production nationale où grâce à elle le commerce étranger commença à primer le commerce intérieur où le marché universel sannexa successivement de vastes terrains au Nouveau Monde en Asie et en Australie où enfin les nations industrielles entrant en lice furent devenues assez nombreuses cest de cette époque seulement que datent les cycles renaissants dont les phases successives embrassent des années et qui aboutissent toujours à une crise générale fin dun cycle et point de départ dun autre Jusquici la durée périodique de ces cycles est de dix ou onze ans mais il ny a aucune raison pour considérer ce chiffre comme constant Au contraire on doit inférer des lois de la production capitaliste telles que nous venons de les développer quil est variable et que la période des cycles se raccourcira graduellement Mas é somente a partir do momento em que a indústria mecanizada tendo lançado raízes tão profundas exerceu uma influência preponderante sobre toda a produção nacional ou que por meio dela o comércio exterior começou a sobrepujar o comércio interno ou que o mercado universal se apoderou sucessivamente de vastos territórios no Novo Mundo na Ásia e na Austrália ou que por fim as nações industrializadas entrando na briga tornaramse bastante numerosas é somente dessa época que datam aqueles os ciclos sempre recorrentes cujas fases sucessivas se estendem por anos e que desembocam sempre numa crise geral marcando o fim de um ciclo e o ponto de partida de outro Até aqui a duração periódica desses ciclos foi de dez ou onze anos mas não há nenhuma razão para considerar essa cifra como constante Ao contrário a partir das leis da produção capitalista tais como as que acabamos de desenvolver devemos inferir que essa duração é variável e que o período dos ciclos se encurtará gradualmente N E A MEW 80 H Merivale Lectures on Colonization and Colonies Londres 18411842 v I p 146 81 Prudential habits with regard to marriage carried to a considerable extent among the labouring class of a country mainly depending upon manufactures and commerce might injure it From the nature of a population an increase of labourers cannot be brought into market in consequence of a particular demand till after the lapse of 16 or 18 years and the conversion of revenue into capital by saving may take place much more rapidly a country is always liable to an increase in the quantity of the funds for the maintenance of labour faster than the increase of population Malthus Princ of Pol Econ cit p 215 31920 Nessa obra Malthus finalmente descobre pela mediação de Sismondi a bela tríade da produção capitalista superproduçãosuperpopulaçãosobreconsumo three very delicate monsters indeed três monstros muito delicados de fato Cf F Engels Umrisse zu einer Kritik der Nationalökonomie Esboço de uma crítica da economia política cit p 107s 82 Harriet Martineau The Manchester Strike 1832 p 101 83 Mesmo durante a escassez de algodão de 1863 podemos encontrar num panfleto dos fiadores de algodão de Blackburn uma violenta denúncia do sobretrabalho que por força da lei fabril atingia naturalmente apenas trabalhadores masculinos adultos The adult operatives at this mill have been asked to work from 12 to 13 hours per day while there are hundreds who are compelled to be idle who would willingly work partial time in order to maintain their 722 families and save their brethren from a premature grave through being overworked Os operários adultos dessa fábrica foram solicitados a trabalhar de 12 a 13 horas diárias ao mesmo tempo que há centenas deles forçados à ociosidade mas que trabalhariam de bom grado durante uma parte do tempo a fim de sustentar sua família e poupar seus irmãos trabalhadores de uma morte prematura em consequência do sobretrabalho Gostaríamos é dito mais adiante de perguntar se essa prática de trabalhar horas excedentes possibilita o estabelecimento de relações de algum modo suportáveis entre patrões e servos As vítimas do sobretrabalho sentem a injustiça tanto quanto aqueles por ele condenados à ociosidade forçada condemned to forced idleness Neste distrito o trabalho a realizar é suficiente para ocupar parcialmente a todos bastando que seja distribuído com equidade Reivindicamos apenas um direito quando pleiteamos dos patrões que nos permitam trabalhar de modo geral apenas em períodos curtos ao menos enquanto perdurar o atual estado de coisas em vez de fazer uma parte dos operários trabalhar em excesso enquanto a outra por falta de trabalho é forçada a existir na dependência da caridade alheia Reports of Insp of Fact 31st Oct 1863 p 8 O autor do Essay on Trade and Commerce com seu habitual e infalível instinto burguês entende o efeito de uma superpopulação relativa sobre os trabalhadores ocupados Outra causa da ociosidade idleness nesse reino é a falta de um número suficiente de trabalhadores Quando em virtude de qualquer demanda extraordinária de produtos manufaturados a massa de trabalho se torna insuficiente os trabalhadores sentem sua própria importância e querem fazer com que os patrões também a sintam é espantoso mas o caráter dessa gente é tão depravado que em tais casos formaramse grupos de trabalhadores com a finalidade de folgando um dia inteiro pressionar o patrão Essay etc cit p 278 O que essa gente queria era na verdade um aumento de salários h Na edição francesa ocasionada pelo recrutamento de soldados para a guerra da Crimeia Além desse conflito 18531856 no período mencionado por Marx os ingleses travaram guerras contra a China 18561858 18591860 e contra a Pérsia 18561857 Ademais em 1849 a Inglaterra completou a conquista da Índia e entre os anos 1857 e 1859 empregou suas tropas na repressão da insurreição popular indiana N E A MEW 84 Economist 21 jan 1860 85 Em Londres enquanto no último semestre de 1866 entre 80 mil e 90 mil trabalhadores perdiam o emprego o relatório fabril sobre o mesmo semestre informava It does not appear absolutely true to say that demand will always produce supply just at the moment when it is needed It has not done so with labour for much machinery has been idle last year for want of hands Não parece absolutamente verdadeiro dizer que a demanda sempre gerará a oferta exatamente no momento em que isso for necessário Não foi isso o que ocorreu com o trabalho pois ano passado muita maquinaria teve de ficar ociosa por falta de mão de obra Reports of Insp of Fact for 31st Oct 1866 p 81 85a Discurso inaugural da Conferência Sanitária Birmingham em 14 de janeiro de 1875 proferido por J Chamberlain então prefeito da cidade atualmente 1883 ministro do Comércio 86 No censo de 1861 para Inglaterra e País de Gales 781 cidades figuram com 10960988 habitantes ao passo que os vilarejos e paróquias rurais contam com apenas 9105226 Em 1851 figuravam no censo 580 cidades cuja população era aproximadamente igual à dos distritos rurais circunvizinhos Mas enquanto nestes últimos a população só aumentou meio milhão durante os 10 anos seguintes nas 580 cidades o aumento foi de 1554067 O aumento populacional nas paróquias rurais foi de 65 ao passo que nas cidades foi de 173 A diferença na taxa de crescimento se deve à migração do campo para a cidade Três quartos do crescimento total da população dizem respeito às cidades Census etc v III p 112 87 Poverty seems favourable to generation A pobreza parece favorecer a reprodução A Smith An inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations cit livro 1 c 8 p 195 N E A MEW Segundo o galante e engenhoso abade Galiani tratase até mesmo de uma disposição divina particularmente sábia Iddio fa che gli uomini che esercitano mestieri di prima utilità nascono abbondantemente Deus faz com que os homens que exercem os ofícios de primeira utilidade nasçam abundantemente Galiani Della moneta cit p 78 Misery up to the extreme point of famine and pestilence instead of checking tends to increase population A miséria levada ao ponto extremo da fome e da pestilência tende a aumentar a população em vez de detêla S Laing National Distress 1844 p 69 Depois de ilustrar isso estatisticamente Laing prossegue If the people were all in easy circumstances the world would soon be depopulated Se todas as pessoas vivessem em circunstâncias cômodas o mundo estaria logo despovoado i Ver nota t na p 352 N T 88 De jour en jour il devient donc plus clair que les rapports de production dans lesquels se meut la bourgeoisie nont pas un caractère un un caractère simple mais un caractère de duplicité que dans les mêmes rapports dans lesquels se produit la richesse la misère se produit aussi que dans les mêmes rapports dans lesquels il y a développement des forces productives il y a une force productive de répression que ces rapports ne produisent la richesse bourgeoise cest à dire la richesse de la classe 723 bourgeoise quen anéantissant continuellement la richesse des membres intégrants de cette classe et en produisant un prolétariat toujours croissant Dia após dia tornase mais claro portanto que as relações de produção em que a burguesia se move não têm um caráter unitário simples mas dúplice que nas mesmas relações em que se produz a riqueza também se produz a miséria que nas mesmas relações em que há desenvolvimento das forças produtivas há também uma força produtiva de repressão que essas relações só produzem a riqueza burguesa isto é a riqueza da classe burguesa sob a condição do aniquilamento contínuo da riqueza dos membros integrantes dessa classe e da produção de um proletariado cada vez maior Karl Marx Misère de la philosophie Miséria da filosofia cit p 116 89 G Ortes Della economia nazionale libri sei 1774 em Custodi ed t XXI parte moderna p 6 9 22 25s Diz Ortes In luoco di progettar sistemi inutili per la felicità de popoli mi limiterò a investigare la ragione della loro infelicità Em vez de construir sistemas inúteis para a felicidade dos povos limitarmeei a investigar a razão de sua infelicidade ibidem p 32 90 A Dissertation on the Poor Laws By a Wellwisher of Mankind The Rev Mr J Townsend 1786 republicado em Londres 1817 p 15 39 41 Esse delicado cura de cuja obra recémcitada bem como de sua Journey Through Spain Malthus costuma copiar páginas inteiras tomou a maior parte de sua doutrina de sir J Steuart autor que ele no entanto deforma Por exemplo quando Steuart diz Aqui na escravatura aplicavase um método violento para fazer os seres humanos trabalhar para os não trabalhadores Os homens eram outrora forçados ao trabalho isto é ao trabalho gratuito para outrem porque eram escravos de outrem agora eles são forçados ao trabalho isto é ao trabalho gratuito para os não trabalhadores porque são escravos de suas próprias necessidades ele não conclui disso como o faz o gordo prebendado que os assalariados devam ser mantidos à míngua O que ele quer pelo contrário é aumentar suas necessidades e fazer do número crescente destas últimas um aguilhão que impulsione os assalariados a trabalhar para os mais delicados James Steuart An Inquiry into the Principles of Political Economy Dublin 1770 v 1 p 3940 N E A MEW 91 Storch Cours décon polit cit t III p 223 92 Sismondi Nouveaux principes déconomie politique cit t 1 p 79 80 85 93 Destutt de Tracy Traité de la volonté et de ses effets cit p 231 Les nations pauvres cest là où le peuple est à son aise et les nations riches cest là où il est ordinairement pauvre j Ver nota x na p 529 N T 94 Tenth Report of the Commissioners of H Ms Inland Revenue Londres 1866 p 38 95 Idem 96 Esses números são suficientes para a comparação mas considerados de modo absoluto são falsos já que é possível que a cada ano sejam encobertos rendimentos no valor de 100 milhões Em cada um de seus relatórios os Commissioners of Inland Revenue fiscais da receita interna repetem suas queixas de fraudes sistemáticas cometidas principalmente por comerciantes e industriais Afirmase por exemplo Uma sociedade por ações declarou lucros tributáveis de 6 mil mas o fiscal os avaliou em 88 mil e foi sobre essa soma que por fim o imposto foi pago Outra companhia declarou 190 mil e foi obrigada a admitir que o montante real era de 250 mil ibidem p 42 97 Census etc cit p 29 A afirmação de John Bright de que 150 proprietários fundiários possuem metade do solo inglês e 12 deles possuem metade do solo escocês não foi refutada 98 Fourth Report etc of Inland Revenue Londres 1860 p 17 99 Tratase aqui de rendimentos líquidos portanto depois das deduções estabelecidas por lei 100 Neste momento março de 1867 o mercado indiano e o chinês estão novamente saturados pelas consignações dos fabricantes britânicos de algodão Em 1866 começouse a aplicar um desconto salarial de 5 entre os trabalhadores algodoeiros e em 1867 uma operação similar provocou uma greve de 20 mil homens em Preston Esse foi o preâmbulo da crise que se desencadeou em seguida F E 101 Census etc cit p 11 102 Gladstone na Câmara dos Comuns 13 de fevereiro de 1843 It is one of the most melancholy features in the social state of this country that we see beyond the possibility of denial that while there is at this moment a decrease in the consuming powers of the people an increase of the pressure of privations and distress there is at the same time a constant accumulation of wealth in the upper classes an increase in the luxuriousness of their habits and of their means of enjoyment Times 14 fev 1843 Hansard 13 fev k Nas edições anteriores diminuído N E A MEW 724 103 From 1842 to 1852 the taxable income of the country increased by 6 per cent In the 8 years from 1853 to 1861 it had increased from the basis taken in 1853 20 per cent The fact is so astonishing as to be almost incredible this intoxicating augmentation of wealth and power entirely confined to classes of property must be of indirect benefit to the labouring population because it cheapens the commodities of general consumption while the rich have been growing richer the poor have been growing less poor At any rate whether the extremes of poverty are less I do not presume to say Gladstone em House of Commons 16 abr 1863 Morning Star 17 abr 104 Ver os dados oficiais no Livro Azul Miscellaneous Statistics of the Un Kingdom Part VI Londres 1866 p 26073 passim Em vez da estatística dos orfanatos etc também poderiam servir como argumento probatório as declamações dos jornais ministeriais a favor do aumento das dotações dos infantes da família real Nelas jamais é esquecido o encarecimento dos meios de subsistência 105 Think of those who are on the border of that region wages in others not increased human life is but in nine cases out of ten a struggle for existence Gladstone House of Commons 7 abr 1864 Na versão do Hansard consta Again and yet more at large what is human life but in the majority of cases a struggle for existence As sucessivas e gritantes contradições nos discursos de Gladstone sobre o orçamento de 1863 e 1864 são caracterizadas por um escritor inglês mediante a seguinte citação de Boileau Voilà lhomme en effet Il va du blanc au noir Il condamne au matin ses sentiments du soir Importun à tout autre à soi même incommode Il change à tous moments desprit comme de mode Eis aqui o homem que vai do branco ao preto Condenando ao acordar o que ao dormir sentia Importuna a todos a si mesmo não poupa Muda de espírito como quem muda de roupa Boileau citado por H Roy The Theory of Exchanges etc Londres 1764 p 135 106 H Fawcett The Economic Position of the British Labourer cit p 67 82 No que tange à crescente dependência dos trabalhadores em relação ao comerciante ela deriva das crescentes flutuações e interrupções de sua ocupação 107 Inglaterra inclui sempre o País de Gales GrãBretanha inclui Inglaterra País de Gales e Escócia Reino Unido inclui esses três países e mais a Irlanda l Referência à obra de Engels A situação da classe trabalhadora na Inglaterra cit N E A MEW 108 O progresso havido desde os tempos de A Smith pode ser medido pelo fato de ele ainda usar ocasionalmente a palavra workhouse como sinônimo de manufactory manufatura Por exemplo no começo de seu capítulo sobre a divisão do trabalho aqueles empregados em ramos diferentes de trabalho podem ser frequentemente reunidos na mesma workhouse Adam Smith An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations cit p 6 m Um grão equivale a 498 mg N T 109 Public Health Sixth Report etc for 1863 Londres 1864 p 13 110 Ibidem p 17 111 Ibidem p 3 112 Ibidem apêndice p 232 113 Ibidem p 2323 114 Ibidem p 145 115 Em nenhuma parte os direitos das pessoas foram sacrificados tão aberta e descaradamente como no caso das condições habitacionais da classe trabalhadora Toda grande cidade é um local de sacrifícios humanos um altar sobre o qual milhares são anualmente imolados ao Moloch da avareza S Laing National Distress cit p 150 116 Public Health Eighth Report Londres 1866 p 14 nota 117 Ibidem p 89 Acerca das crianças nessas colônias diz o dr Hunter Não sabemos como as crianças eram criadas antes do advento dessa era de densa aglomeração dos pobres e seria um profeta audaz aquele que quisesse prever que conduta seria de se esperar de crianças que sob circunstâncias sem paralelo neste país são atualmente educadas para sua prática futura como classes perigosas passando metade das noites com pessoas de todas as idades bêbadas obscenas e belicosas ibidem p 56 118 Ibidem p 62 119 Report of the Officer of Health of St Martins in the Fields 1865 120 Public Health Eighth Report Londres 1866 p 91 121 Ibidem p 88 725 122 Ibidem p 89 123 Ibidem p 56 124 Ibidem p 149 125 Ibidem p 50 126 Lista fornecida pelo agente de uma companhia de seguros de Bradford Casas Vulcan Street n 122 1 quarto 16 pessoas Lumley Street n 13 1 quarto 11 pessoas Bower Street n 41 1 quarto 11 pessoas Portland Street n 112 1 quarto 10 pessoas Hardy Street n 17 1 quarto 10 pessoas North Street n 18 1 quarto 16 pessoas North Street n 17 1 quarto 13 pessoas Wymer Street n 19 1 quarto 8 adultos Jowett Street n 56 1 quarto 12 pessoas George Street n 150 1 quarto 3 famílias Rifle Court Marygate n 11 1 quarto 11 pessoas Marshall Street n 28 1 quarto 10 pessoas Marshall Street n 49 3 peças 3 famílias George Street n 128 1 peça 18 pessoas George Street n 130 1 quarto 16 pessoas Edward Street n 4 1 quarto 17 pessoas York Street n 34 1 quarto 2 famílias Salt Pie Street 2 quartos 26 pessoas Porões Regent Square 1 porão 8 pessoas Acre Street 1 porão 7 pessoas Roberts Court n 33 1 porão 7 pessoas Back Pratt Street local utilizado como oficina de caldeiraria 1 porão 7 pessoas Ebenezer Street n 27 1 porão 6 pessoas Ibidem p 111 127 Public Health Eighth Report cit p 114 128 Ibidem p 50 129 Public Health Seventh Report Londres 1865 p 18 130 Ibidem p 165 726 n Praemissis praemittendis antepondo os títulos que lhe caibam N T 131 Public Health Seventh Report p 18 nota O agente de beneficência de ChapelenleFrithUnion relata ao Registrar General diretor do Registro Civil Em Doveholes realizouse uma série de pequenas escavações numa grande colina de cinzas de cal Essas cavernas servem de habitação para os trabalhadores empregados na terraplenagem e na construção de ferrovias As cavernas são estreitas úmidas sem esgoto e sem latrinas Carecem de todos os meios de ventilação com exceção de um buraco no teto que serve simultaneamente como chaminé A varíola grassa e já ocasionou várias mortes entre os trogloditas ibidem nota 2 132 As particularidades apresentadas nas páginas 508s deste livro referemse principalmente aos trabalhadores das minas de carvão Quanto às condições ainda piores nas minas de metais cf o consciencioso relatório da Royal Commission de 1864 133 Public Health Seventh Report cit p 180 182 134 Ibidem p 515 517 135 Ibidem p 16 136 Morte em massa por inanição dos pobres de Londres Wholesale starvation of the London Poor Durante os últimos dias as paredes de Londres foram cobertas com grandes cartazes nos quais figurava este estranho anúncio Bois gordos homens famélicos Os bois gordos deixaram seus palácios de cristal para cevar os ricos em suas mansões luxuosas enquanto os homens famélicos degeneram e morrem em seus covis miseráveis Os cartazes com essas palavras ominosas são constantemente renovados Assim que uma porção deles é arrancada ou recoberta logo reaparece um novo lote no mesmo ou em outro local igualmente público Isso lembra os omina maus augúrios que prepararam o povo francês para os eventos de 1789 Neste momento enquanto trabalhadores ingleses morrem de fome e frio com suas mulheres e filhos quantias milionárias de dinheiro inglês produto do trabalho inglês são aplicadas em empréstimos russos espanhóis italianos e de outros países Reynolds Newspaper 20 jan 1867 o Em inglês numa bandeja N E A MEGA p Em inglês da paróquia N E A MEGA q Em inglês por certa ração de comida N E A MEGA 137 Ducpétiaux Budgets écnomiques des classes ouvrières en Bélgique Bruxelas 1855 p 151 1546 138 James E T Rogers professor de economia política na Universidade de Oxford A History of Agriculture and Prices in England Oxford 1866 v I p 690 Nos dois primeiros tomos até agora publicados essa obra cuidadosamente elaborada abarca unicamente o período de 1259 a 1400 O segundo volume contém apenas material estatístico É a primeira History of Prices autêntica que possuímos sobre esse período r No original inglês fazendeiros farmers N T s No original inglês trabalhador N T 139 Reasons for the late Increase of the PoorRates or a Comparative View of the Price of Labour and Provisions Londres 1777 p 5 11 140 Dr Richard Price Observations on Reversionary Payments por W Morgan 6 ed Londres 1803 v II p 1589 Diz Price à p 159 The nominal price of daylabour is at present no more than about four times or at most five times higher than it was in the year 1514 But the price of corn is Seven times and of fleshmeat and raiment about fifteen times higher So far therefore has the price of labour been even from advancing in proportion to the increase in the expences of living that it does not appear that it bears now half the proportion to those expences that it did bear O preço nominal da jornada de trabalho não é atualmente mais do que 4 ou no máximo 5 vezes maior do que em 1514 Mas o preço do cereal é umas 7 vezes maior e o da carne e do vestuário cerca de 15 vezes O preço do trabalho por conseguinte ficou tão atrás do aumento do custo de vida que em relação a esse custo seu montante parece não chegar nem à metade do que era antes 141 Barton Observations on the Circumstances which Influence the Condition of the Labouring Classes of Society cit p 26 Para o final do século XVIII cf Eden The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc cit 142 Parry The Question of the Necessity of the Existing Cornlaws Considered cit p 80 143 Ibidem p 213 t Movimento de trabalhadores rurais ingleses nos anos 18301833 contra o emprego de maquinaria e por aumento 727 de salários Os trabalhadores incendiavam os celeiros os tornos mecânicos etc e enviavam aos fazendeiros e proprietários fundiários cartas intimidatórias assinadas por um fictício Capitão Swing N E A MEW 144 S Laing National Distress cit p 62 145 England and America Londres 1833 v 1 p 47 u Low Church Igreja Baixa ou Low Church Party setor da Igreja anglicana que defende a redução do papel do clero e sobretudo do episcopado Do ponto de vista litúrgico e dogmático a Low Church se aproxima mais das igrejas protestantes do que do catolicismo romano sendo nesse sentido o exato oposto da High Church ver nota f na p 80 A Low Church enfatiza as atividades filantrópicas e a propaganda da moral cristã Graças a sua atividade filantrópica e de pregação moral o conde de Shaftesbury lord Ashley conquistara uma significativa influência nos círculos da Low Church razão pela qual Marx o chama ironicamente de papa dessa igreja N E A MEW 146 Economist Londres 29 mar 1845 p 290 147 Para essa finalidade a aristocracia fundiária adiantou fundos para si mesma naturalmente por meio do Parlamento do Tesouro do Estado a juros muito baixos que os arrendatários tinham de lhe restituir em dobro 148 A diminuição de arrendatários médios evidenciase especialmente nas seguintes rubricas do censo filho neto irmãos sobrinho filha neta irmã sobrinha do arrendatário em suma os membros da própria família do arrendatário ocupados por ele Essas rubricas somavam em 1851 216851 pessoas em 1861 apenas 176151 De 1851 a 1871 os arrendamentos com menos de 20 acres diminuíram na Inglaterra em mais de 900 os de 50 a 75 acres diminuíram de 8253 para 6370 e fenômeno semelhante ocorreu em todos os outros arrendamentos com superfície inferior a 100 acres Em contrapartida no mesmo período de 20 anos aumentou o número de arrendamentos os de 300 a 500 acres aumentaram de 7771 para 8410 os com mais de 500 acres de 2755 para 3914 e os com mais de 1000 acres de 492 para 582 149 O número de pastores de ovelhas aumentou de 12517 para 25559 150 Census etc cit p 36 151 Rogers A History of Agriculture and Prices in England cit p 693 The peasant has again become a serf cit p 10 O sr Rogers pertence à escola liberal é amigo pessoal de Cobden e Bright e portanto nenhum laudator temporis acti Laudator temporis acti panegirista das épocas passadas Horácio Ars poetica verso 173 N E A MEW 152 Public Health Seventh Report Londres 1865 p 242 The cost of the hind is fixed at the lowest possible amount on which he can live the supplies of wages or shelter are not calculated on the profitto be derived from him He is a zero in farming calculations Não é nada incomum portanto que o locador aumente o aluguel a ser pago por um trabalhador tão logo fique sabendo que ele ganha algo mais ou que o arrendatário reduza o salário do trabalhador porque a mulher deste último encontrou uma ocupação 153 Ibidem p 135 154 Ibidem p 134 155 Report of the Commissioners Relating to Transportation and Penal Servitude Londres 1863 n 50 p 42 156 Ibidem p 77 Memorandum by the Lord Chief Justice 157 Ibidem v II Evidence 158 Ibidem v I Apêndice p 280 158a Ibidem p 2745 159 Public Health Sixth Report 1863 p 238 249 2612 160 Ibidem p 262 161 Ibidem p 17 O trabalhador agrícola inglês obtém apenas 14 do leite e 15 do pão que recebe o irlandês No início deste século Arthur Young já chamara a atenção em seu Tour through Ireland para a melhor situação nutricional do segundo em relação ao primeiro A razão disso é simplesmente que o pobre arrendatário irlandês é incomparavelmente mais humano que seu rico colega inglês No que diz respeito a Gales os dados do texto não se aplicam à sua região sudoeste Todos os médicos locais coincidem em afirmar que o aumento da taxa de mortalidade por tuberculose escrofulose etc se intensifica com a deterioração da condição física da população e todos atribuem tal deterioração à pobreza A manutenção diária do trabalhador rural é ali calculada em 5 pence e em muitos casos o arrendatário ele próprio miserável ainda paga menos que isso Um pedaço de carne salgada desidratada até ficar dura como o mogno e muito pouco digna do difícil processo de digestão ou de toucinho serve para preparar uma 728 grande quantidade de caldo de farinha e alhoporó ou de mingau de aveia e dia após dia esse é o almoço do trabalhador rural O progresso da indústria teve para ele a consequência de substituir nesse clima rigoroso e úmido o grosso pano fiado em casa por gêneros baratos de algodão e as bebidas mais fortes por um chá nominal Depois de longas horas de exposição ao vento e à chuva o trabalhador agrícola retorna ao seu cottage para sentar se ao pé de uma fogueira de turfa ou de bolas compostas de argila e restos de carvão e respirar nuvens de monóxido de carbono e ácido sulfúrico As paredes da choupana consistem de barro e pedras o chão é da mesma terra batida que lá estava antes de sua construção o telhado é uma massa de palha solta amontoada Toda fresta é tapada para conservar o calor e numa atmosfera de fedor diabólico com um chão de barro sob si frequentemente com suas únicas roupas a secar em seu corpo o trabalhador janta com sua mulher e filhos Certas parteiras forçadas a passar uma parte da noite nesses casebres descreveram como seus pés afundavam no barro do chão e como elas eram forçadas que trabalho leve a fazer um buraco na parede a fim de obter um pouco de ar para respirar Várias testemunhas de diversas camadas sociais afirmam que o camponês subnutrido underfed está exposto todas as noites a essas e outras influências insalubres e não são poucas as provas em verdade do resultado disso um povo debilitado e escrofuloso Os informes dos funcionários paroquiais de Caermarthenshire e Cardiganshire mostram cabalmente o mesmo estado de coisas A isso se acrescenta uma praga ainda maior a propagação do idiotismo E além disso as condições climáticas Os fortes ventos do sudoeste sopram em todo o país durante 8 ou 9 meses do ano seguidos por chuvas torrenciais que se descarregam principalmente sobre as ladeiras ocidentais das colinas As árvores são escassas salvo em lugares protegidos pois onde carecem de abrigo o vento as deforma Os casebres se encolhem sob qualquer elevação montanhosa frequentemente também num barranco ou pedreira e só as ovelhas menores e o gado bovino nativo conseguem viver nas pastagens Os jovens migram para os distritos mineiros de Glamorgan e Monmouth situados no leste Caermarthenshire é a incubadora da população mineira e asilo de inválidos A população mantém seu número a duras penas É o que ocorre por exemplo em Cardiganshire 1851 1861 Sexo masculino 45155 44446 Sexo feminino 52459 52955 97614 97401 Relatório do dr Hunter em Public Health Seventh Report 1864 cit p 498502 passim 162 Em 1865 essa lei foi levemente melhorada A experiência não tardará a ensinar que tais trapaças não ajudam em nada 163 Para entender o seguinte close villages vilarejos fechados são denominados aqueles vilarejos cujos proprietários fundiários são um ou dois landlords open villages vilarejos abertos aqueles cujo solo pertence a muitos proprietários menores É neles que os especuladores imobiliários podem erguer cottages e alojamentos 164 Tal vilarejo cenográfico parece muito bonito mas é tão irreal quanto aqueles vistos por Catarina II em sua viagem à Crimeia Nos últimos tempos até mesmo os pastores de ovelhas costumam ser banidos desses showvillages Em Market Harborough por exemplo existe uma criação de ovelhas com cerca de 500 acres que requer apenas o trabalho de um homem Para abreviar as longas caminhadas sobre essas vastas planícies as belas pastagens de Leicester e Northampton o pastor costumava ocupar um cottage na fazenda Agora se dá a ele um 13º xelim para o alojamento que ele tem de buscar bem longe no vilarejo aberto 165 As casas dos trabalhadores nos vilarejos abertos que naturalmente estão sempre superlotados costumam ser construídas em fileiras com a parede traseira situada no limite externo do pedaço de chão que o especulador imobiliário chama de seu Elas são por isso desprovidas de aberturas para luz e ventilação exceto na parte dianteira Reports by dr Hunter cit p 135 Muito frequentemente o taberneiro ou merceeiro do vilarejo é ao mesmo tempo o locador das casas Nesse caso o trabalhador rural encontra nele um segundo patrão ao lado do arrendatário Ele tem de ser ao mesmo tempo seu freguês Com 10 xelins por semana menos um aluguel anual de 4 ele é obrigado a comprar pelos preços impostos pelo merceeiro seu modicum modesta porção de chá açúcar farinha sabão velas e cerveja ibidem p 132 Esses vilarejos abertos constituem na realidade as colônias penais do proletariado agrícola inglês Muitos dos cottages são simples hospedarias pelas quais passa toda a corja de vagabundos das redondezas O camponês e sua família que em que pese viverem nas mais sujas condições haviam geralmente preservado de modo prodigioso sua integridade e pureza de caráter agora se veem totalmente entregues ao diabo 729 Naturalmente entre os Shylocks aristocráticos a moda é encolher farisaicamente os ombros diante dos especuladores imobiliários dos pequenos proprietários e dos vilarejos abertos Eles sabem muito bem que seus vilarejos fechados e cenográficos são incubadoras das localidades abertas e que sem elas não poderiam existir Sem os pequenos proprietários das localidades abertas a maior parte dos trabalhadores rurais teria de dormir sob as árvores das propriedades em que trabalham ibidem p 135 O sistema dos vilarejos abertos e fechados predomina em todas as midlands condados centrais e na parte oriental da Inglaterra 166 O locador da casa arrendatário ou landlord se enriquece direta ou indiretamente mediante o trabalho de um homem a quem paga 10 xelins por semana e então arranca desse pobre diabo a quantia de 4 ou 5 de aluguel anual por casas que no mercado livre não valeriam 20 mas que mantêm seu preço artificial graças ao poder do proprietário fundiário de dizer Ou você aluga minha casa ou vai procurar um emprego em outro lugar sem receber um atestado de trabalho de minha parte Se um homem deseja melhorar obtendo trabalho numa ferrovia como colocador de trilhos ou numa pedreira o mesmo poder não tarda a lhe dizer Ou você trabalha para mim por esse baixo salário ou te dou um prazo de uma semana para que deixe a casa leve seu porco contigo se o tem e vê o que consegue obter em troca das batatas que crescem em seu jardim Se no entanto parecerlhe mais conveniente a seus interesses o proprietário ou dependendo do caso o arrendatário pode preferir aumentar o aluguel como penalidade pelo abandono do serviço ibidem p 132 167 Recémcasados não constituem uma influência edificante para irmãos e irmãs adultos no mesmo dormitório e embora exemplos não possam ser registrados dispomos de dados suficientes para justificar a observação de que um grande sofrimento e às vezes a morte é o fado que se abate sobre a mulher que toma parte no crime de incesto ibidem p 137 Um policial dos distritos rurais que por muitos anos trabalhou como detetive nos piores bairros de Londres fala das moças de seu vilarejo Durante toda minha vida de policial nas piores partes de Londres jamais vi semelhante grosseira imoralidade em tão tenra idade tamanha insolência e impudicícia Vivem como porcos rapazes e moças mães e pais todos dormindo juntos no mesmo quarto Child Empl Comm Sixth Report cit apêndice p 77 n 155 168 Public Health Seventh Report 1864 p 914 passim v Isto é já se haviam deteriorado Gênesis 61213 N T 169 The heavenborn employment of the hind gives dignity even to his position He is not a Slave but a soldier of peace and deserves his place in married mans quarters to be provided by the landlord who bas claimed a power of enforced labour similar to that the country demands of a military soldier He no more receives marketprice for his work than does a soldier Like the soldier he is caught young ignorant knowing only his own trade and his own locality Early marriage and the operation of the various laws of settlement affect the one as enlistment and the Mutiny Act affect the other O emprego do trabalhador rural tendo origem divina confere dignidade a sua posição Ele não é um escravo mas um soldado da paz e merece ter um lugar numa moradia adequada a um homem casado a ser providenciada pelo proprietário fundiário que reclamou para si o poder de forçálo a trabalhar similar ao poder de que a nação dispõe sobre o soldado Assim como o soldado ele tampouco recebe o preço de mercado por seu trabalho Como o soldado ele é recrutado quando jovem ignorante conhecendo apenas sua própria profissão e sua própria localidade O casamento prematuro e a manipulação das várias leis sobre o domicílio afetam o trabalhador rural do mesmo modo como o recrutamento e o código penal afetam o soldado dr Hunter em Public Health Seventh Report cit p 132 Ocasionalmente algum senhor de terras de coração excepcionalmente mole se deixa comover diante do deserto por ele criado É melancólico estar sozinho em seu país disse o conde de Leicester quando felicitado pelo término da construção de Holkham Olho a meu redor e não vejo nenhuma casa exceto a minha Sou o gigante da torre gigante e devorei todos os meus vizinhos 170 Um movimento semelhante se produziu nas últimas décadas na França à medida que nesse país a produção capitalista se apodera da agricultura e desloca a população rural supranumerária para as cidades Também aqui a existência dos supranumerários se deve à piora verificada nas condições habitacionais e demais condições Sobre o peculiar prolétariat foncier proletariado rural incubado pelo sistema de parcelamento da terra vejamse entre outras a obra de Colins anteriormente citada e Karl Marx Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte 2 ed Hamburgo 1869 p 88 ed bras O 18 de brumário de Luís Bonaparte São Paulo Boitempo 2011 p 1429 Em 1846 a população urbana na França estava em 2442 e a rural em 7558 em 1861 a população urbana era de 2886 e a rural de 7114 Nos últimos 5 anos o decréscimo da porcentagem rural da população foi ainda maior Já em 1846 cantava Pierre Dupont em seu Ouvriers Mal vêtus logés dans des trous Sous les combles dans les décombres Nous vivons avec les hiboux Et les larrons amis des ombres Mal vestidos alojados em buracos Sob os tetos entre os escombros Vivemos com as corujas E os ladrões amigos das sombras 730 171 O sexto e conclusivo relatório da Child Empl Comm publicado no final de março de 1867 trata apenas do sistema de turmas agrícola 172 Child Empl Comm VI Report Evidence p 37 n 173 173 No entanto alguns chefes de turma lograram converterse em arrendatários de 500 acres ou proprietários de fileiras inteiras de casas x Conto folclórico alemão coligido pelos irmãos Grimm que narra como um caçador de ratos após ter seu pagamento negado pelos habitantes de uma pequena cidade enfeitiça todas as crianças do lugar com o toque de sua flauta e as tranca para sempre numa caverna N T w O termo fanerogamia do grego fanerós visível evidente e gamos união sexual que na botânica referese aos vegetais cujos órgãos reprodutivos são bem evidentes é empregado por Fourier para designar uma forma de poliandria praticada no interior da falange Fourier a compara com o comportamento sexual de várias tribos em Java e no Taiti Cf Charles Fourier Le nouveau monde industriel et sociétaire Paris 1829 parte V suplemento ao capítulo 36 e parte 6 resumo N T 174 O sistema de turmas levou metade das moças de Ludford à perdição Child Empl Comm VI Report Evidence cit apêndice p 6 n 32 175 O sistema cresceu muito nos últimos anos Em alguns lugares ele foi introduzido há pouco em outros onde é mais antigo mais crianças e de menor idade são alistadas na turma ibidem p 79 n 174 176 Os pequenos arrendatários não utilizam o sistema de turma Ele não é utilizado em terras pobres mas em terras que dão uma renda entre 2 a 2 e 10 xelins por acre ibidem p 17 14 177 Um desses senhores deliciase tanto com suas rendas que chegou a declarar indignado diante da Comissão de Inquérito que toda a gritaria se devia unicamente ao nome do sistema Se em vez de turma ele fosse batizado de associação juvenil cooperativaagrícolaindustrial para o autossustento então estaria all right tudo bem 178 O trabalho em turma é mais barato do que outro trabalho e por esse motivo ele é empregado diz um exchefe de turma Child Empl Comm VI Report Evidence cit p 17 n 14O sistema de turma é decididamente o mais barato para o arrendatário assim como o mais nocivo para as crianças diz um arrendatário ibidem p 16 n 3 179 Não há dúvida de que muito do trabalho agora executado por crianças em turmas era antes realizado por homens e mulheres Onde se empregam mais mulheres e crianças há agora mais homens desempregados more men are out of work do que antes ibidem p 43 n 202 Por outro lado entre outras passagens lemos que em muitos distritos agrícolas especialmente naqueles produtores de cereais a questão do trabalho labour question tornase atualmente tão séria em decorrência da emigração e da facilidade que as ferrovias oferecem para o traslado às grandes cidades que eu este eu referese ao agente rural de um grande patrão considero os serviços das crianças como absolutamente indispensáveis ibidem p 80 n 180 Nos distritos agrícolas ingleses diferentemente do resto do mundo civilizado the labour question a questão do trabalho significa efetivamente the landlords and farmers question a questão do proprietário fundiário e do arrendatário como perpetuar apesar do êxodo cada vez maior da população agrícola uma suficiente superpopulação relativa no campo e com ela o mínimo de salário para o trabalhador rural 180 O Public Health Report anteriormente citado por mim no qual ao se analisar a mortalidade infantil aludese de passagem ao sistema de turmas permaneceu ignorado pela imprensa e consequentemente pelo público inglês Em contrapartida o último relatório da Child Empl Comm forneceu um sensational e muito bemvindo alimento para a imprensa Enquanto a imprensa liberal perguntava como era possível que os elegantes gentleman e ladies e os prebendados da Igreja estatal que pululam por toda parte em Lincolnshire e enviam suas próprias missões para o aperfeiçoamento moral dos selvagens dos mares do Sul pudessem permitir que tal sistema se implementasse debaixo de seus olhos em suas propriedades a imprensa mais refinada limitouse a tecer considerações exclusivamente sobre a crua degradação da gente do campo capaz de vender seus próprios filhos para uma tal escravidão Sob as circunstâncias execráveis a que os mais delicados condenam a viver o camponês seria compreensível até mesmo que este devorasse seus próprios filhos O que é realmente admirável é a integridade de caráter que em grande parte esse camponês logra conservar Os informantes oficiais comprovam que os pais mesmo nos distritos em que ele prevalece detestam o sistema de turmas Nos testemunhos colhidos por nós encontramse provas abundantes de que em muitos casos os pais agradeceriam a promulgação de alguma lei compulsória que os capacitasse a resistir às tentações e pressões a que costumam estar sujeitos Ora são pressionados pelo funcionário paroquial ora pelo empregador que ameaça demitilos ou enviar seus filhos para o trabalho em vez de à escola Todo o tempo e a força perdidos todo o sofrimento que produz no camponês e em sua família uma fadiga 731 extraordinária e inútil todos os casos em que os pais imputam a ruína moral de seu filho à superlotação dos cottages ou às influências danosas do sistema de turmas provocam no peito dos pobres trabalhadores sentimentos facilmente compreensíveis e que é desnecessário detalhar Eles têm consciência de que muitos de seus tormentos físicos e mentais lhes são infligidos por circunstâncias pelas quais não são de modo algum responsáveis circunstâncias a que jamais teriam dado sua concordância se tivessem podido recusála e contra as quais são impotentes para lutar ibidem p XX n 82 p XXIII n 96 181 População da Irlanda 1801 5319867 pessoas 1811 6084996 1821 6869544 1831 7828347 1841 8222664 182 Se recuássemos mais o resultado seria ainda mais desfavorável Assim por exemplo em 1865 os ovinos são 3688742 mas em 1856 eram 3694294 os suínos em 1865 são 1299893 mas em 1858 eram 1409883 183 Os seguintes dados foram compilados do material apresentado em Agricultural Statistics Ireland General Abstracts Dublin para o ano de 1860 e seguintes e em Agricultural Statistics Ireland Tables showing the Esmitated Average Produce etc Dublin 1866 É sabido que essa estatística tem caráter oficial e é apresentada anualmente ao Parlamento Adendo à segunda edição As estatísticas oficiais registram para o ano de 1872 uma redução na área cultivada em comparação com a de 1871 de 134915 acres Verificase um aumento no cultivo de turnips acelgas e similares ocorre uma diminuição na área cultivada de trigo 16000 acres aveia 14000 acres cevada e centeio 4000 acres batata 66632 acres linho 34667 acres e 30000 acres a menos de pradarias pastagens plantações de chirivia e colza O cultivo de trigo mostra nos últimos cinco anos o seguinte decréscimo em acres 1868 285000 1869 280000 1870 259000 1871 244000 1872 228000 Em 1872 foi registrado em números arredondados um aumento de 2600 equinos 80000 bovinos 68600 ovinos e uma diminuição de 236000 suínos Variedade de cevada comum na Escócia N T 184 Tenth Report of the Commissioners of Inland Revenue Londres 1866 185 Em virtude de certas deduções prescritas pela lei o rendimento total anual registrado sob a rubrica D difere aqui daquele indicado na tabela precedente 186 Ainda que o produto também diminua proporcionalmente por acre não se pode esquecer que já faz um século e meio que a Inglaterra tem exportado indiretamente o solo da Irlanda sem proporcionar a seus lavradores sequer os meios para repor seus componentes 186a Por ser a Irlanda considerada a terra prometida do princípio da população T Sadler antes do surgimento de sua obra sobre a população publicou seu famoso livro Ireland its Evils and their Remedies 2 ed Londres 1829 no qual mediante a comparação de dados estatísticos de diversas províncias e em cada província dos diversos condados demonstra que na Irlanda a miséria não impera como pretende Malthus na razão direta do número de habitantes mas na razão inversa 186b No período de 1851 a 1874 o número total de emigrantes chegou a 2325922 186c Nota à segunda edição Uma tabela apresentada na obra de Murphy Ireland Industrial Political and Social mostra que em 1870 946 de todos os arrendamentos tinham menos de 100 acres e 54 mais de 100 acres Nas terceira e quarta edições o texto imediatamente anterior à chamada desta nota dizia Os arrendatários pequenos e médios inclusive todos os que não cultivam mais de 100 acres continuam a possuir aproximadamente 810 do solo irlandês Na nota porém constava Uma tabela apresentada na obra de Murphy Ireland Industrial Political and Social mostra que em 1870 os arrendamentos de até 100 acres ocupam 946 do solo e os de mais de 100 acres ocupam 54 Esses dados se verdadeiros conduziriam a um resultado absurdo pois os arrendamentos de mais de 100 acres abarcariam proporcionalmente menos terra do que os arrendamentos de menos de 100 acres Nas erratas da segunda edição Marx indica a necessidade de se corrigir a redação tanto do corpo do texto quanto da nota porém os editores por inadvertência corrigiram apenas o corpo do texto esquecendose da nota A presente edição reproduz portanto o texto corrigido segundo as orientações de Marx N T 186d Reports from the Poor Law Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland Dublin 1870 Cf também Agricultural Labourers Ireland Return etc 8 mar 1861 187 Reports from the Poor Law Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland cit p 29 1 z Antigas denominações anteriores à República Irlandesa dos atuais condados irlandeses de Offaly e Laoighis ou Leix N T 187a Reports from the Poor Law Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland cit p 12 732 187b Ibidem p 25 187c Ibidem p 27 187d Ibidem p 26 187e Ibidem p 1 187f Ibidem p 32 187g Ibidem p 25 187h Ibidem p 30 187i Ibidem p 21 13 aa Antigo nome da Irlanda N T 188 Reports of Insp of Fact for 3lst Oct 1866 p 96 ab Nota à segunda edição suprimida nas terceira e quarta edições Sobre o movimento do salário do trabalhador agrícola irlandês cf Agricultural Labourers Ireland Return to an Order of the Honourable the House of Commons Dated 8 March 1861 Londres 1862 e também Reports from the Poor Law Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland Dublin 1870 ac Paráfrase da fala de Mefistófeles no Fausto de Goethe É de um grande Senhor louvável proceder Mostrarse tão humano até para com o demônio J W Goethe Fausto cit p 39 N T ad Um dos amos do protagonista da novela picaresca de Lesage Lhistoire de Gil Blas de Santillane 1715 Cf Lesage Gil Blas de Santillana São Paulo Ensaio 1991 c 11s N T 188a A área total inclui também turfeiras e terras desocupadas ae Na segunda edição concentração N T af Lappétit vient en mangeant la soif sen va en beuvant O apetite vem ao comer a sede se vai ao beber Rabelais Gargantua I 5 N T 188b No Livro III na segunda edição constava No Livro II desta obra na seção sobre a propriedade fundiária demonstrarei mais detalhadamente como a epidemia da fome e as circunstâncias por ela originadas foram planejadamente exploradas pelos proprietários fundiários individuais assim como pela legislação inglesa a fim de impor violentamente a revolução agrícola e reduzir a população da Irlanda a uma média conveniente aos senhores rurais Lá também voltarei a tratar da situação dos pequenos arrendatários e dos trabalhadores rurais Limitome aqui a uma citação Em sua obra póstuma Journals Conversations and Essays relating to Ireland Londres 1868 v II p 282 Nassau W Senior afirma entre outras coisas Muito corretamente observou o dr G temos nossa Lei dos Pobres que é um excelente instrumento para dar a vitória aos senhores rurais outro é a emigração Nenhum amigo da Irlanda pode desejar que a guerra entre os senhores rurais e os pequenos arrendatários celtas se prolongue e muito menos que se conclua com a vitória dos arrendatários Quanto mais rápido esta guerra terminar quanto mais rápido a Irlanda se tornar um país de pastagens grazing country com a população relativamente pequena que um país de pastagens requer tanto melhor para todas as classes As leis inglesas dos cereais de 1815 asseguraram à Irlanda o monopólio da livre exportação de cereais para a GrãBretanha Desse modo favoreceram artificialmente o cultivo de cereais Esse monopólio acabou subitamente em 1846 com a abolição das leis dos cereais Abstraindo as demais circunstâncias só esse evento bastou para dar um forte impulso à transformação das terras irlandesas de lavoura em pastagens à concentração das fazendas arrendadas e à expulsão dos pequenos camponeses Subitamente depois de um período de 1815 a 1846 de celebração da fecundidade do solo irlandês então proclamado como destinado pela própria natureza ao cultivo de cereais os agrônomos economistas e políticos ingleses parecem ter descoberto que o solo irlandês serve unicamente para produzir forragens O sr Léonce de Lavergne apressouse em repetir isso do outro lado do canal É próprio de um homem sério à la Lavergne deixarse levar por tais puerilidades ag Assim eram chamados os pertencentes à ala revolucionária do movimento irlandês pela independência Derivado de feni antigos habitantes da Irlanda o termo feniano foi adotado pela Irmandade Republicana Irlandesa fundada nos Estados Unidos em 1857 O programa e a atividade dos fenianos expressavam o protesto das massas populares da Irlanda contra a colonização inglesa Os fenianos exigiam entre outras coisas a independência nacional para seu país a instauração de uma república democrática e a transformação dos camponeses vassalos em proprietários da terra que cultivavam e procuraram implementar seu programa político por meio de um levante armado Sua tática conspiratória não obteve resultado e o movimento se dissolveu nos anos 1870 N T 733 ah Acerbo destino atormenta os romanos E o crime de fratricídio Horácio Épodas VII N T 734 a Cf LouisAdolphe Thiers De la proprieté Paris 1848 p 36 42 e 151 N E A MEGA b Na edição francesa no lugar das três últimas frases lêse Essa expropriação só se realizou de maneira radical na Inglaterra por isso esse país desempenhará o papel principal em nosso esboço Mas todos os outros países da Europa ocidental percorreram o mesmo caminho ainda que segundo o meio ele mude de coloração local ou se restrinja a um círculo mais estreito ou apresente um caráter menos pronunciado ou siga uma ordem de sucessão diferente Karl Marx Le Capital cit p 315 N T 189 A Itália onde a produção capitalista se desenvolveu mais cedo foi também o primeiro país a manifestar a dissolução das relações de servidão O servo se emancipa aqui antes de ter garantido para si por prescrição qualquer direito à terra Assim sua emancipação o transforma imediatamente num proletário absolutamente livre que no entanto já encontra seus novos senhores nas cidades em sua maior parte originárias da época romana Quando no final do século XV a revolução do mercado mundial acabou com a supremacia comercial do norte da Itália surgiu um movimento em sentido contrário Os trabalhadores urbanos foram massivamente expulsos para o campo e lá deram um impulso inédito à pequena agricultura exercida sob a forma da horticultura Revolução do mercado mundial Marx referese aqui às consequências econômicas das grandes descobertas geográficas do fim do século XV A descoberta do caminho marítimo para a Índia das ilhas das Índias Ocidentais e do continente americano provocou uma enorme expansão no comércio mundial As cidades comerciais do norte da Itália Gênova Veneza entre outras perderam sua predominância Em contrapartida o papel principal no comércio mundial passou a ser exercido por Portugal Holanda Espanha e Inglaterra países favorecidos por sua localização geográfica com acesso direto ao Oceano Atlântico N E A MEW 190 Os pequenos proprietários que cultivavam suas próprias terras com as próprias mãos e desfrutavam de um modesto bemestar constituíam então uma parte muito mais importante da nação do que em nossos dias Não menos que 160 mil proprietários que com suas famílias deviam constituir mais de 17 da população total viviam do cultivo de suas pequenas parcelas freehold freehold significa propriedade plenamente livre O rendimento médio desses pequenos proprietários fundiários é avaliado entre 60 e 70 Calculouse que o número daqueles que cultivavam sua própria terra era maior que o dos arrendatários que trabalhavam terras alheias Macaulay Hist of England 10 ed Londres 1854 v I p 3334 Ainda no último terço do século XVII 45 da população inglesa era formada de agricultores ibidem p 413 Cito Macaulay porque como falsificador sistemático da história ele poda tais fatos o máximo que consegue 191 Não se deve esquecer jamais que o próprio servo era não apenas proprietário ainda que sujeito a tributos da parcela de terra pertencente a sua casa como também coproprietário das terras comunais Le paysan y est serf Lá na Silésia o camponês é servo Não obstante esses serfs servos possuíam bens comunais On na pas pu encore engager les Silésiens au partage des communes tandis que dans la nouvelle Marche il ny a guère de village où ce partage ne soit exécuté avec le plus grand succès Até agora não se conseguiu induzir os silesianos à partilha das terras comunais enquanto no Novo Margraviato Neumark não há praticamente nenhuma aldeia em que essa partilha não se tenha efetuado com enorme êxito Mirabeau De la Monarchie Prussienne Londres 1788 t II p 1256 192 O Japão com sua organização puramente feudal da propriedade fundiária e sua desenvolvida economia de pequena agricultura fornece um quadro muito mais fiel da Idade Média europeia que todos os nossos livros de História ditados em sua maior parte por preconceitos burgueses É realmente muito cômodo ser liberal à custa da Idade Média c James Steuart An Inquiry into the Principles of Political Economy cit p 52 N E A MEW d Yeomen yeomanry assim se chamava um extrato de pequenos camponeses ingleses não sujeitos a prestações feudais que desapareceram aproximadamente em meados do século XVIII dando lugar aos pequenos proprietários fundiários Arqueiros habilidosos os yeomen formavam o núcleo do exército inglês antes da introdução das armas de fogo Marx escreveu que durante a revolução inglesa do século XVII os yeomen constituíam a principal força militar de Oliver Cromwell Na versão francesa dO capital Marx identifica a yeomanry com o proud peasantry orgulhoso campesinato de Shakespeare numa provável referência às palavras de Ricardo III a seu exército Fight gentlemen of England fight bold yeomen À luta cavalheiros da Inglaterra À luta bravos yeomen Shakespeare A tragédia do rei Ricardo III ato V cena 3 N T e A 19ª lei promulgada naquele ano N E A MEW f Uma lei promulgada no 25º ano do reinado de Henrique VIII N E A MEW 193 Em sua Utopia Thomas More fala de um estranho país onde as ovelhas devoram os homens trad Robinson 735 Arber Londres 1869 p 41 193a Nota à segunda edição Bacon expõe a conexão entre um camponês livre e bem acomodado e uma boa infantaria Era extremamente importante para o poder e a solidez do reino que as fazendas fossem de um tamanho suficiente para manter um corpo de homens capazes libertos da miséria e vincular grande parte das terras do reino mediante sua posse pela yeomanry ou por pessoas médias de uma condição intermediária entre os gentlemen e os inquilinos de casebres cottagers ou camponeses Pois a opinião geral entre homens de melhor julgamento em questões de guerra é que a principal força de um exército consiste em sua infantaria ou tropas a pé E para formar uma boa infantaria são necessários homens educados não de modo servil ou indigente mas de algum modo livre e abastado Portanto se um Estado se distingue na maior parte dos casos por seus nobres e gentlemen ao passo que os camponeses e lavradores se mantêm reduzidos a mera mão de obra ou a servos dos primeiros ou mesmo a inquilinos de casebres que não são mais do que mendigos albergados esse Estado poderá dispor de uma boa cavalaria mas jamais terá tropas de infantaria boas e estáveis E isso pode ser visto na França na Itália e em outras regiões do estrangeiro onde com efeito temse apenas a nobreza ou o camponês miserável a tal ponto que esses países são forçados a empregar tropas de mercenários suíços etc para formar seus batalhões de infantaria De onde resulta também que essas nações tenham muita população e poucos soldados The Reign of Henry VII Verbatim Reprint from Kennets Compleat History of England ed 1719 Londres 1870 p 308 Marx traduz cottagers por Häusler inquilino aldeão O cottager em latim medieval casalinus ou inquilinus dispunha geralmente de um casebre e de uma horta muito pequena N T 194 Dr Hunter em Public Health Seventh Report cit p 134 A quantidade de terra fixada pelas antigas leis seria hoje considerada grande demais para trabalhadores e capaz de transformálos em pequenos fazendeiros George Roberts The Social History of the People of the Southern Counties of England in Past Centuries Londres 1856 p 184 195 The right of the poor to share in the tithe is established by the tenour of ancient statutes O direito dos pobres a participar nos dízimos da Igreja é estabelecido pelos antigos estatutos Tuckett A History of the Past and Present State of the Labouring Population cit v II p 8045 g O pobre está por toda parte subjugado A citação da rainha Elizabeth I referese ao verso de Ovídio em Fastos I 218 Hoje em dia nada importa a não ser o dinheiro a riqueza gera honras amizades o pobre está por toda parte subjugado N T 196 William Cobbett A History of the Protestant Reformation 471 h A quarta lei promulgada no 16º ano do reinado de Carlos I N E A MEW 197 O espírito protestante pode ser reconhecido entre outras coisas no fato seguinte No sul da Inglaterra vários proprietários fundiários e arrendatários abastados congregaram suas inteligências e formularam dez perguntas acerca da correta interpretação da Lei de Beneficência da rainha Elizabeth submetendoas em seguida a um célebre jurista daquele tempo Sergeant Snigge Os sergeants ou sergeantsatlaw serventes da lei diferentemente dos humildes sergeants militares integravam um corpo superior de juristas abolido em 1880 N T mais tarde juiz sob Jaime I para que este desse um parecer Questão 9 Alguns dos arrendatários mais ricos da paróquia imaginaram um modo engenhoso pelo qual todos os inconvenientes da aplicação dessa lei podem ser evitados Eles propuseram a construção de uma prisão na paróquia A todo pobre que se negasse a ser ali encarcerado seria negado o auxílio Seria então anunciado à vizinhança que aqueles que estivessem dispostos a arrendar os pobres dessa paróquia deveriam apresentar ofertas lacradas num determinado prazo pelo preço mais baixo pelo qual ele os retiraria de nosso estabelecimento Os autores desse plano supõem que nos condados vizinhos haja pessoas avessas ao trabalho e desprovidas de fortuna ou crédito para obter um arrendamento ou um barco Marx traduz literalmente a expressão inglesa to take a farm or ship Nesse contexto porém ship não significa barco mas empresa negócio N T de modo a viver sem trabalhar so as to live without labour Tais pessoas podem ser levadas a fazer propostas muito vantajosas à paróquia Se um ou outro pobre morresse sob a tutela do contratante a culpa recairia sobre este último pois a paróquia teria cumprido seu dever para com esses mesmos pobres Nosso receio porém é de que a atual lei não admita qualquer medida prudencial prudential measure desse tipo mas podeis estar certo de que os demais freeholders arrendatários deste condado e dos condados vizinhos se somarão a nós para incitar seus representantes na Câmara dos Comuns a propor uma lei que permita a reclusão e o trabalho forçado dos pobres de modo que seja vedado qualquer auxílio a toda pessoa que recuse seu próprio encarceramento Isso esperamos impedirá que pessoas em estado de indigência requeiram ajuda will prevent persons is distress from wanting relief R Blakey The History of Political Literature from the Earliest Times Londres 1855 v II p 845 Na Escócia a abolição 736 da servidão ocorreu séculos depois de sua abolição na Inglaterra Ainda em 1698 Fletcher de Saltoun declarou no Parlamento escocês O número de mendigos na Escócia é estimado em não menos que 200 mil O único remédio que eu um republicano por princípio posso sugerir é restaurar o antigo regime de servidão e tornar escravos todos os que sejam incapazes de prover sua própria subsistência Do mesmo modo Eden The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc cit livro I c 1 p 601 Da liberdade dos camponeses no original de Eden consta Da decadência da villeinage data o pauperismo As manufaturas e o comércio são os verdadeiros pais dos pobres de nosso país Eden como aquele republicano escocês por princípio equivocase apenas em que não foi a abolição da servidão mas a abolição da propriedade do camponês sobre a terra que o converteu em proletário ou mais precisamente em pauper Na França onde a expropriação ocorreu de outro modo as leis de beneficência inglesas tiveram suas correspondentes na ordenança de Moulins de 1566 e no édito de 1656 Villeinage era o sistema de servidão em que o villain pagava com trabalho gratuito villain service a permissão que lhe era concedida de cultivar para si mesmo uma parcela de terra N E A MEW 198 O sr Rogers embora fosse então professor de economia política na Universidade de Oxford sede da ortodoxia protestante chama a atenção em seu prefácio à History of Agriculture para a pauperização da massa do povo pela Reforma 199 A Letter to Sir T C Bunbury Baronet on the High Price of Provisions by a Suffolk Gentleman Ipswich 1795 p 4 Até mesmo o fanático defensor do sistema de grandes arrendamentos o autor J Arbuthnot de Inquiry into the Connection of Large Farms etc Londres 1773 p 139 diz I most lament the loss of our yeomanry that set of men who really kept up the independence of this nation and sorry I am to see their lands now in the hands of monopolizing lords tenanted out to small farmers who hold their leases on such conditions as to be little better than vassals ready to attend a summons on every mischievous occasion O que mais deploro é a perda de nossa yeomanry esse conjunto de homens que na realidade sustentava a independência desta nação e lamento ver agora suas terras nas mãos de lords monopolizadores sendo arrendadas a pequenos fazendeiros que obtêm seus arrendamentos sob tais condições que são pouco mais que vassalos prontos a serem convocados em qualquer situação adversa i Em 1597 sob o domínio de Fiódor Ivanovitch 15841598 mas sendo Bóris Godunov o governante de fato da Rússia foi promulgado um édito de acordo com o qual os camponeses fugitivos seriam procurados por 5 anos e depois de recapturados seriam devolvidos a seus antigos senhores N E A MEW j Assim é chamado golpe de Estado que em 1689 derrubou o rei James II e o substituiu por Guilherme III de Orange consolidando assim a monarquia constitucional N T 200 Sobre a moral privada desse herói burguês vejase entre outras coisas The large grant of lands in Ireland to Lady Orkney in 1695 is a public instance of the kings affection and the ladys influence Lady Orkneys endearing offices are supposed to have been foeda labiorum ministeria A grande concessão de terras a lady Orkney na Irlanda em 1695 é um exemplo público da afeição do rei e da influência da referida lady Os inestimáveis serviços de lady Orkney consistiram supostamente em foeda labiorum ministeria obscenos serviços labiais em Sloane Manuscript Collection conservada no Museu Britânico n 4224 O manuscrito é intitulado The Charakter and Behaviour of King William Sunderland etc as Represented in Original Letters to the Duke of Shrewsbury from Somers Halifax Oxford Secretary Vermon etc Repleto de curiosidades 201 A alienação ilegal dos bens da Coroa em parte por venda em parte por doação constitui um capítulo escandaloso da história inglesa uma fraude gigantesca contra a nação gigantic fraud on the nation F W Newman Lectures on Political Economy Londres 1851 p 12930 Podese ver detalhadamente como os atuais latifundiários tomaram posse de suas terras em N H Evans Our Old Nobility By Noblesse Oblige Londres 1879 F E 202 Leiase por exemplo o panfleto de E Burke sobre a casa ducal de Bedford cujo rebento é lord John Russell the tomtit of liberalism o rouxinol do liberalismo 203 Os arrendatários proíbem os inquilinos de casebres de manter qualquer ser vivo além deles mesmos sob o pretexto de que a posse de gado ou aves os levaria a furtar ração dos celeiros Dizem também mantende os cottagers na pobreza e os conservareis laboriosos A realidade porém é que assim os arrendatários usurpam integralmente os direitos sobre as terras comunais A Political Enquiry into the Consequences of Enclosing Waste Lands Londres 1785 p 75 204 Eden The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc cit prefácio p XVII XIX 205 Capital farms Two Letters on the Flour Trade and the Dearness of Corn By a Person in Business Londres 1767 p 737 1920 206 Merchantfarms An Inquiry into the Present High Prices of Provision Londres 1767 p 111 nota Esse belo escrito publicado anonimamente é de autoria do reverendo Nathaniel Forster 207 Thomas Wright A Short Address to the Public on the Monopoly of Large Farms 1779 p 23 208 Rev Addington Enquiry into the Reasons for or against Enclosing Open Fields Londres 1772 p 3743 passim 209 Dr R Price Observations on Reversionary Payments cit v II p 1556 Ler Forster Addington Kent Price e James Anderson e comparar com a miserável tagarelice própria de um sicofanta que MacCulloch apresenta em seu catálogo The Literature of Political Economy Londres 1845 210 Dr R Price Observations on Reversionary Payments cit p 1478 211 Ibidem p 15960 Recordemos o que ocorria na Roma Antiga Os ricos se haviam apoderado da maior parte das terras indivisas Confiando nas circunstâncias da época supunham que ninguém lhes tomaria essas terras e por isso adquiriam os lotes dos pobres situados nas cercanias em parte com o consentimento destes em parte pela violência de modo que agora lavravam domínios imensamente vastos em vez de campos isolados Utilizavam escravos para a agricultura e para a pecuária pois os homens livres se haviam retirado do trabalho para o serviço militar A posse de escravos também lhes proporcionava grandes lucros uma vez que estes liberados do serviço militar podiam multiplicarse sem perigo e faziam uma porção de filhos Desse modo os poderosos se apoderaram de toda a riqueza e em toda a região pululavam escravos Os ítalos ao contrário tornavamse cada vez menos numerosos consumidos pela pobreza tributos e serviço militar Em épocas de paz porém estavam condenados à mais completa inatividade porque os ricos estavam de posse do solo e empregavam escravos na lavoura em vez de trabalhadores livres Apiano Guerras civis romanas 1 7 Essa passagem se refere à época anterior à lei licínia O serviço militar que tanto acelerou a ruína dos plebeus romanos foi também um dos meios principais empregados por Carlos Magno para promover como numa incubadora a metamorfose dos camponeses alemães livres em servos da gleba Hörige e servos semilivres Leibeigener Referência à lei agrícola dos tribunos romanos Licínio e Sexto que entrou em vigor no ano de 367 aC em razão da luta dos plebeus contra os patrícios Segundo a lei um cidadão romano não poderia tomar da propriedade estatal da terra mais de 500 jugera cerca de 125 hectares para sua posse Após o ano de 367 as exigências dos plebeus foram satisfeitas com terras conquistadas em guerras N T 212 J Arbuthnot An Inquiry into the Connection between the Present Prices of Provisions etc p 124 129 Semelhante mas com uma tendência contrária Os trabalhadores são expulsos de seus cottages e forçados a procurar emprego nas cidades desse modo porém obtémse um excedente maior e assim o capital é aumentado R B Seeley The Perils of the Nation 2 ed Londres 1843 p XIV 213 A king of England might as well claim to drive his subjects into the sea F W Newman Lectures on Political Economy cit p 132 k Com sua revolta de 17451746 os partidários dos Stuarts esperavam forçar a subida ao trono do chamado jovem pretendente Charles Edward Ao mesmo tempo o levante refletia o protesto das massas populares da Escócia e da Inglaterra contra sua exploração pelos senhores de terra e contra a expulsão massiva dos pequenos lavradores O esmagamento da sublevação teve por consequência a completa aniquilação do sistema de clãs escocês A expulsão dos camponeses de suas terras prosseguiu ainda mais intensamente do que antes N E A MEW 214 Steuart diz A renda ele transfere equivocadamente essa categoria econômica ao tributo que os taksmen pagam ao chefe do clã é absolutamente insignificante quando comparada com a extensão das terras arrendadas mas no que concerne ao número de pessoas que um arrendamento mantém verificarseá que um pedaço de terra nas Terras Altas da Escócia alimenta dez vezes mais pessoas do que terra do mesmo valor em províncias mais ricas An Inquiry into the Principles of Political Economy cit v I c XVI p 104 Os taksmen de tak parcela de terra que conferiam a cada membro do clã formavam dentro do clã escocês uma categoria imediatamente subordinada ao chefe a quem pagavam um pequeno tributo Quando a propriedade coletiva do clã se converteu em propriedade privada do chefe os taksmen se tornaram arrendatários capitalistas Marx fornece um relato do papel dos taksmen no sistema de clãs em seu artigo Wahlen Trübe Finanzlage Die Herzogin von Sutherland und die Sklaverei cf MEW v 8 p 499 505 N T 215 James Anderson Observations on the Means of Exciting a Spirit of National Industry etc Edimburgo 1777 216 Em 1860 os camponeses violentamente expropriados foram deportados para o Canadá com falsas promessas Alguns fugiram para as montanhas e ilhas vizinhas Foram perseguidos pela polícia entraram em choque com ela e escaparam 738 217 Nas Terras Altas diz Buchanan o comentador de Adam Smith em 1814 o antigo regime de propriedade é diariamente subvertido pela força O landlord sem consideração pelos arrendatários hereditários também esta é uma categoria aplicada erroneamente oferece a terra ao melhor ofertante e se este for um melhorador improver introduzirá imediatamente um novo sistema de cultivo O solo antes coberto de pequenos camponeses estava povoado em proporção a seu produto sob o novo sistema de cultivo melhorado e de rendas maiores obtémse a maior quantidade possível de produtos com o menor custo possível e para isso se prescinde da mão de obra agora tornada inútil Os camponeses expulsos de suas terras buscam seu sustento nas cidades fabris etc David Buchanan Observations on A Smiths Wealth of Nations Edimburgo 1814 v IV p 144 Os grandes senhores da Escócia expropriaram famílias como quem extirpa ervas daninhas fizeram com aldeias inteiras e sua população o mesmo que os índios ao vingarse fazem com as covas dos animais selvagens O ser humano é imolado em troca de uma pele de ovelha ou uma pata de carneiro ou menos ainda Quando da invasão das províncias do norte da China propôsse ao Conselho dos Mongóis exterminar os habitantes e converter sua terra em pastagens Essa proposta foi posta em prática por muitos landlords escoceses em seu próprio país e contra seus próprios conterrâneos George Ensor An Inquiry Concerning the Population of Nations Londres 1818 p 2156 l Henry Roy N E A MEGA 218 Quando a atual duquesa de Sutherland recebeu em Londres com grande pompa a autora de Uncle Toms Cabin A Cabana do Pai Tomás Harriet Beecher Stowe a fim de exibir sua simpatia pelos escravos negros da república americana o que ela tal como seus confrades aristocratas abstevese sabiamente de fazer durante a guerra civil quando cada nobre coração inglês pulsava pelos escravocratas expus na New York Tribune a situação dos escravos da família Sutherland Carey em The Slave Trade Filadélfia 1853 p 2023 aproveitou algumas passagens desse texto Meu artigo foi reproduzido num periódico escocês e desencadeou uma bela polêmica entre este último e os sicofantas dos Sutherland 219 Algo interessante sobre esse comércio de peixe encontramos em Portfolio New Series do sr David Urquhart Em seu escrito póstumo já citado anteriormente Nassau W Senior qualifica o procedimento em Sutherlandshire como um dos clareamentos clearings mais benéficos que encontram registro na memória humana Principes fondamentaux de lécon pol cit p 282 219a As deer forests florestas de caça da Escócia não contêm uma única árvore Retiramse as ovelhas e introduzem se veados nas montanhas desnudas e a isso se chama uma deer forest Nem mesmo silvicultura portanto 220 Robert Somers Letters from the Highlands or the Famine of 1847 Londres 1848 p 1228 passim Essas cartas foram originalmente publicadas no Times Os economistas ingleses naturalmente atribuíram a fome dos gaélicos em 1847 à sua superpopulação Eles certamente exerceram pressão sobre seus meios alimentares O clearing of estates ou como se chama na Alemanha a Bauernlegen expulsão dos camponeses teve lugar neste país especialmente depois da Guerra dos Trinta Anos e ainda em 1790 provocou revoltas camponesas no Eleitorado da Saxônia Prevaleceu especialmente no leste da Alemanha Na maioria das províncias prussianas Frederico II assegurou pela primeira vez o direito de propriedade dos camponeses Após a conquista da Silésia ele forçou os proprietários fundiários à reconstrução das cabanas celeiros etc e a prover os domínios camponeses de gado e instrumentos de trabalho O rei necessitava de soldados para seu exército e de contribuintes para o tesouro público De resto a seguinte passagem de Mirabeau nos permite vislumbrar que prazerosa vida levavam os camponeses sob a desordem financeira de Frederico II e sua mistura governamental de despotismo burocracia e feudalismo La lin fait donc une des grandes richesses du cultivateur dans le Nord de lAllemagne Malheureusement pour lespèce humaine ce nest quune ressource contre la misère et non un moyen de bienètre Les impôts directs les corvées les servitudes de tout genre écrasent le cultivateur allemand qui paie encore des impôts indirects dans tout ce quil achète et pour comble de ruine il nose pas vendre ses productions où et comme il le veut il nose pas acheter ce dont il a besoin aux marchands qui pourraient le lui livrer au meilleur prix Toutes cas causes le ruinent insensiblement et il se trouverait hors détat de payer les impôts directs à léchéance sans la filerie elle lui offre une ressource en occupant utilement sa femme ces enfants ses servants ses valets et luimême mais quelle pénible vie même aidée de ce secours En été il travaille comme un forçat au labourage et à la récolte il se couche à 9 heures et se lève à deux pour suffire aux travaux en hiver il devrait réparer ses forces par un plus grand repos mais il manquera de grains pour le pain et les semailles sil se défait des denrées quil faudrait vendre pour payer les impôts Il faut donc filer pour suppléer à ce vide il faut y apporter la plus grande assiduité Aussi le paysan se couchetil en hiver à minuit une heure et se lève à cinq ou six ou bien il se couche à neuf et se lève à deux et cela tous les jours de sa vie si ce nest le dimanche Cet excès de veille et de travail usent la nature humaine et de là vient quhommes et femmes vieillissent beaucoup plutôt dans les campagnes que dans les villes O linho constitui com efeito uma das grandes riquezas do agricultor do norte da Alemanha Infelizmente para a espécie humana ele é apenas um paliativo contra a 739 miséria e não um meio de prover o bemestar Os impostos diretos as corveias as servidões de todo tipo esmagam o agricultor alemão que além disso paga impostos indiretos sobre tudo o que compra e para o cúmulo de sua desgraça ele não se atreve a vender seus produtos onde e como quer e não se atreve a comprar o que necessita dos mercadores que poderiam oferecerlhe os melhores preços Todas essas causas o arruínam de modo insensível e sem a fiação ele não teria condições de pagar os impostos diretos no prazo determinado essa atividade lhe oferece um recurso ocupando utilmente sua mulher filhos servos criados e ele mesmo mas que vida penosa mesmo com esse auxílio No verão ele trabalha como um condenado na aradura e na colheita deitase às 9 horas da noite e se levanta às 2 para terminar seu trabalho no inverno ele teria de recompor suas forças mediante um repouso maior mas faltarlheiam grãos para o pão e a semeadura se ele se desfizesse dos produtos que tem de vender para pagar os impostos É preciso fiar portanto para preencher esse vazio e é preciso fazêlo com a maior assiduidade Também o camponês no inverno deitase à meianoite ou à 1 hora da manhã e se levanta às 5 ou 6 da manhã ou então se deita às 9 horas da noite e se levanta às 2 e isso todos dias de sua vida excluindo os domingos Esse excesso de vigília e de trabalho desgasta a natureza humana e daí decorre que homens e mulheres envelheçam muito mais prematuramente no campo do que na cidade Mirabeau De la Monarchie Prussienne cit t III p 212s Adendo à segunda edição Em abril de 1866 dezoito anos depois da publicação do escrito de Robert Somers anteriormente citado o professor Leone Levi proferiu uma conferência perante a Society of Arts sobre a transformação das pastagens para ovelhas em florestas de caça na qual descreveu o avanço da desertificação nas Terras Altas escocesas Diz ele entre outras coisas O despovoamento e a transformação em simples pastagens para ovelhas ofereciam o meio mais cômodo para um rendimento sem gastos Nas Terras Altas era comum que uma pastagem para ovelha fosse transformada numa deer forest As ovelhas são expulsas por animais selvagens do mesmo modo como antes os seres humanos haviam sido expulsos para ceder lugar a ovelhas É possível caminhar desde as fazendas do conde de Dalhouise em Forfarshire até John oGroats sem abandonar jamais a área florestal Em muitas dessas florestas se aclimataram a raposa o gato selvagem a marta a doninha o mangusto e a lebre alpina ao mesmo tempo que o coelho o esquilo e o rato abriram caminho até a região Enormes faixas de terra que figuram na estatística da Escócia como prados de excepcional fertilidade e extensão estão agora excluídas de todo cultivo e melhoria e destinadas unicamente aos prazeres cinegéticos de umas poucas pessoas e durante apenas um curto período do ano O Economist de Londres na edição de 2 de junho de 1866 diz Na última semana um periódico escocês informa entre outras novidades Um dos melhores arrendamentos destinados à criação de ovelhas em Sutherlandshire pela qual se ofereceu há pouco tempo ao expirar o contrato de arrendamento vigente uma renda anual de 1200 será transformado em deer forest Os instintos feudais renascem como no tempo em que os conquistadores normandos destruíram 36 aldeias para criar a New Forest Dois milhões de acres que abrangem algumas das terras mais férteis da Escócia são transformados em desertos O pasto natural de Glen Tilt era considerado um dos mais nutritivos do condado de Perth a deer forest de Ben Aulder era o melhor solo forrageiro no amplo distrito de Badenoch uma parte da Black Mount Forest era a pradaria escocesa mais favorável às ovelhas de cara preta Podemos ter uma ideia da extensão do solo convertido em terras desertas para a prática da caça quando consideramos que ele abarca uma superfície muito maior que a de todo o condado de Perth A perda de fontes de produção que essa desolação forçada significa para o país pode ser calculada se considerarmos que a Ben Aulder Forest poderia alimentar 15 mil ovelhas e que ela não representa mais do que 130 da área total ocupada pelas reservas de caça da Escócia Toda essa área destinada à caça é absolutamente improdutiva Ela poderia igualmente ter sido afundada nas águas do mar do Norte O braço forte da lei deveria dar um fim nesses descampados ou desertos improvisados m O número que antecede o nome do monarca indica o ano de reinado em que a lei em questão foi promulgada Neste caso portanto tratase da lei promulgada no 27º ano de reinado de Henrique VIII N T 221 O autor do Essay on Trade etc 1770 observa Durante o reinado de Eduardo VI os ingleses parecem terse dedicado realmente e com toda a seriedade ao fomento das manufaturas e a dar ocupação aos pobres Isso podemos 740 depreender de um notável estatuto segundo o qual todos os vagabundos devem ser marcados a ferro p 5 n No original na terceira N T o O número que sucede a abreviação c chapter indica o número da Act lei promulgada no ano indicado N T 221a Thomas More diz em sua Utopia p 412 E é assim que um glutão voraz e insaciável verdadeira peste de sua terra natal pode apossarse e cercar com uma paliçada ou uma cerca milhares de acres de terras ou por meio de violência e fraude acossar de tal modo seus proprietários que estes se veem obrigados a vender a propriedade inteira Por um meio ou por outro por bem ou por mal eles são obrigados a partir pobres almas simples e miseráveis Homens mulheres esposos esposas crianças sem pais viúvas mães lamurientas com suas crianças de peito e toda a família escassa de meios mas numerosa pois a agricultura precisa de muitos braços Arrastamse digo eu para longe de seus lugares conhecidos e habituais sem encontrar onde repousar a venda de todos os seus utensílios domésticos embora de pouco valor em outras circunstâncias lhes teria proporcionado um certo ganho mas por terem sido expulsos de modo repentino eles tiveram de vendêlos a preços irrisórios E tendo vagabundeado até consumir o último tostão que outra coisa restaria a fazer além de roubar e então ó Deus serem enforcados com todas as formalidades da lei ou passar a esmolar Mas também desse modo acabam jogados na prisão como vagabundos porque vagueiam de um lado para o outro e não trabalham eles a quem ninguém dá trabalho por mais ardentemente que se ofereçam Desses pobres fugitivos dos quais Thomas More diz que eram obrigados a roubar foram executados 72 mil pequenos e grandes ladrões durante o reinado de Henrique VIII Holinshed Description of England v I p 186 Na época de Elizabeth os vagabundos eram enforcados em série ainda assim não passava um ano sem que trezentos ou quatrocentos deles fossem levados à forca num lugar ou noutro Strype Annals of the Reformation and Establishment of Religion and other Various Ocurrences in the Church of England during Queen Elisabeths Happy Reign 2 ed 1725 v II Em Somersetshire segundo o mesmo Strype num único ano foram executadas 40 pessoas 35 foram marcadas a ferro 37 foram chicoteadas e 183 foram soltas como malfeitoras incorrigíveis Porém diz esse autor esse grande número de acusados não inclui sequer 15 dos delitos penais graças à negligência dos juízes de paz e à compaixão estúpida do povo E acrescenta Os outros condados ingleses não estavam numa condição melhor que Somersetshire e muitos até mesmo numa condição pior p Na Inglaterra sessões judiciais de menor importância N E A MEW q Inicial de rogue vagabundo N T r Em holandês ato de abjuração N T 222 Whenever the legislature attempts to regulate the differences between masters and their workmen its counsellors are always the masters Lesprit des lois cest la propriété Sempre que a legislação tenta regular as diferenças entre os patrões e seus operários seus conselheiros são sempre os patrões diz Adam Smith O espírito das leis é a propriedade diz Linguet 223 J B Byles Sophisms of Free Trade By a Barrister Londres 1850 p 206 E acrescenta com malícia Estivemos sempre à disposição para intervir pelo empregador Não podemos fazer nada pelo empregado 224 De uma cláusula do estatuto Jaime I 2 c 6 depreendese que certos fabricantes de pano se arrogavam como juízes de paz o direito de ditar oficialmente a tarifa salarial em suas próprias oficinas Na Alemanha principalmente depois da Guerra dos Trinta Anos foi frequente a promulgação de estatutos para manter baixos os salários Era algo muito prejudicial para os proprietários fundiários nas terras despovoadas a falta de criados e trabalhadores Proibiu se a todos os aldeões alugarem quartos a homens e mulheres solteiros e todos os inquilinos desse tipo deviam ser denunciados às autoridades e encarcerados caso não quisessem se tornar serviçais mesmo quando se mantivessem graças a outra atividade como semear para os camponeses por um salário diário ou até mesmo negociar com dinheiro e cereais Kaiserliche Privilegien und Sanctiones für Schlesien I 125 Por todo um século aparecem repetidamente nas ordenações dos soberanos amargas queixas contra a canalha maligna e petulante que não aceita se submeter às duras condições e não se satisfaz com o salário legal é proibido ao proprietário individual pagar mais que o estabelecido pela taxa em vigor na província E no entanto depois da guerra as condições de trabalho são às vezes ainda melhores do que seriam cem anos mais tarde em 1652 na Silésia os criados ainda recebiam carne duas vezes por semana ao passo que em nosso século há distritos silesianos onde eles só recebem carne três vezes por ano Também o salário diário era depois da guerra mais alto do que seria nos séculos seguintes G Freytag s Uma lei para emendar a lei penal em relação a violência ameaças e molestamento N T 225 O artigo I dessa lei diz Lanéantissement de toutes expèces de corporations du même état et profession étant lune des bases fondamentales de la constitution française il est déféndu de les rétablir de fait sous quelque prétexte et sous quelque 741 forme que ce soit des citoyens attachés aux mêmes professions arts et métiers prenaient des délibérations faisaient entre eux des conventions tendantes à refuser de concert ou à naccorder quà un prix déterminé le secours de leur industrie ou de leurs travaux les dites délibérations et conventions seront déclarées inconstitutionnelles attentatoires à la liberté et à la déclaration des droits de lhomme etc Sendo uma das bases fundamentais da constituição francesa a supressão de todos os tipos de corporações do mesmo estamento état e profissão é proibido restabelecêlas de fato sob qualquer pretexto ou em qualquer forma O artigo IV reza que no caso de cidadãos pertencentes às mesmas profissões artes ou ofícios tomarem deliberações ou realizarem convenções com o objetivo de recusar um acordo ou de não consentirem no socorro de sua indústria ou de seus trabalhos a não ser por um preço determinado tais consultas e acordos serão declarados inconstitucionais e como atentados à liberdade e à declaração dos direitos do homem etc ou seja como crimes de Estado exatamente como nos velhos estatutos dos trabalhadores Révolutions de Paris Paris 1791 t III p 523 t Ditadura jacobina de junho de 1793 a junho de 1794 N E A MEW 226 Buchez et Roux Histoire parlementaire t X p l935 passim u Na Roma Antiga o villicus de villa pequena fazenda rural embora também ele servo desempenhava o papel de capataz dos demais escravos e de administrador da fazenda As funções do bailiff medieval se assemelhavam muito às do villicus de quem ademais costumava conservar o nome N T 227 Arrendatários diz Harrison em sua Description of England para os quais antes era difícil pagar 4 de renda agora pagam 40 50 100 e ainda acreditam ter feito um mau negócio se no término de seu contrato de arrendamento não acumularam de 6 a 7 anos de rendas 228 Sobre a influência da depreciação do dinheiro no século XVI sobre as diversas classes da sociedade cf A Compendious or Briefe Examination of Certayne Ordinary Complaints of Diverse of our Countrymen in these our Days By W S Gentleman Londres 1581 A forma de diálogo desse escrito contribuiu para que durante muito tempo sua autoria fosse atribuída a Shakespeare e ainda em 1751 ele voltou a ser publicado sob seu nome Seu autor é William Stafford Numa passagem o cavaleiro knight raciocina da seguinte maneira Knight You my neighbour the husbandman you Maister Mercer and you Goodman Copper with other artificers may save yourselves metely well For as much as all things are deerer than they were so much do you arise in the pryce of your wares and occupations that yee sell agayne But we have nothing to sell where by we might advance ye pryce there of to countervaile those things that we must buy agayne I pray you what be those sorts that ye meane And first of those that yee thinke should have no base hereby Doktor I meane all these that live by buying and selling for as they buy deare they sell thereafter Knight What is the next sorte that yee say would win by it Doktor Marry all such as have takings or fearmes in their owne manurance dh cultivation at the old rent for where they pay after the olde rate they sell after the newe that is they paye for their lande good cheape and sell all things growing thereof deare Knight What sorte is that which ye sayde should have greater losse hereby than these men had profit Doktor It is all noblemen gentlemen and all other that live either by a stinted rent or stypend or do not manure cultivate the ground or doe occupy no buying and selling Knight Vós meu vizinho o lavrador vós senhor comerciante e vós compadre copper caldereiro bem como os demais artesãos podeis vos arranjar muito bem Pois na mesma medida em que todas as coisas se tornam mais caras do que eram aumentais os preços de vossas mercadorias e serviços que vendeis novamente Mas não temos nada para vender cujo preço pudéssemos aumentar para contrapesar tudo aquilo que temos de comprar de novo Em outra passagem pergunta o Knight ao doutor Dizeime vos rogo quem são essas pessoas que mencionais E primeiramente quem dentre elas não terá com isto segundo vossa opinião algum prejuízo Doutor Refirome a todos aqueles que vivem da compra e venda pois por caro que comprem em seguida o vendem Knight Qual é o próximo grupo que a vosso parecer ganhará com isso Doutor Ora todos que têm arrendamentos ou fazendas para sua própria manurance isto é cultivo e pagam a renda antiga pois se pagam segundo as taxas antigas vendem segundo as novas ou seja pagam muito pouco por sua terra e vendem caro tudo que sobre ela cresce Knight E qual o grupo que em vossa opinião terá nisso um prejuízo maior do que o lucro dos outros Doutor O de todos os nobres gentlemen e todos os outros que vivem de uma renda ou estipêndio fixos ou que não manure cultivam eles mesmos o solo ou não se dedicam a comprar e vender 229 Na França o régisseur administrador e coletor dos tributos ao senhor feudal na Alta Idade Média não tarda a se converter num homme daffaires homem de negócios que mediante extorsão fraude etc ascende maliciosamente à posição de capitalista Esses régisseurs eram às vezes eles mesmos senhores proeminentes Por exemplo Cest li compte que messire Jacques de Thoraisse chevalier chastelain sor Besançon rent es seigneur tenant les comptes à Dijon pour monseigneur le duc et comte de Bourgoigne des rentes appartenant à la dite chastellenie depuis XXVe jour de décembre MCCCLIX jusquau XXVIIIe jour de décembre MCCCLX Esta é a conta que o sr Jacques de Thoraisse cavaleiro 742 castelão de Besançon presta ao senhor que em Dijon leva as contas para o senhor duque e conde de Borgonha sobre as rendas pertencentes à dita castelania desde o XXV dia de dezembro de MCCCLIX até o XXVIII dia de dezembro de MCCCLX Alexis Monteil Histoire des matériaux manuscrits etc p 2345 Aqui já se evidencia como em todas as esferas da vida social a parte do leão cabe ao intermediário Na área econômica por exemplo quem fica com a nata dos negócios são os financistas operadores da Bolsa negociantes e pequenos comerciantes nos pleitos civis o advogado depena as partes na política o representante vale mais que os eleitores o ministro mais que o soberano na religião Deus é empurrado para o segundo plano pelo mediador e este por sua vez é deixado para trás pelos padres que são por sua vez os intermediários imprescindíveis entre o bom pastor e suas ovelhas Na França como na Inglaterra os grandes domínios feudais se dividiam numa infinidade de pequenas explorações mas sob condições incomparavelmente menos favoráveis para a população rural No século XIV surgiram os arrendamentos chamados de fermes ou terriers Seu número cresceu continuamente chegando a bem mais de 100 mil Pagavam em dinheiro ou in natura uma renda da terra que oscilava entre 112 e 15 do produto Os terriers eram feudos subfeudos etc fiefs arrièrefiefs de acordo com o valor e a extensão dos domínios sendo que alguns continham apenas poucos arpents o equivalente a 10 mil m2 Todos esses terriers possuíam algum grau de jurisdição sobre os moradores da área havia quatro graus Compreendese a pressão sofrida pela população rural sob todos esses pequenos tiranos Monteil diz que nessa época havia na França 160 mil tribunais onde hoje bastam 4 mil incluindo juízes de paz 230 Em seu Notions de philosophie naturelle Paris 1838 231 Um ponto que é ressaltado por sir James Steuart James Steuart An Inquiry into the Principles of Political Economy cit v 1 livro 1 c 16 232 Je permettrai que vous ayez lhonneur de me servir à condition que vous me donnez le peu qui vous reste pour la peine que je prends de vous commander Permitirei diz o capitalista que tenhais a honra de me servir sob a condição de que me deis o pouco que vos resta pelo incômodo que me causa comandarvos JJ Rousseau Discours sur léconomie politique Genebra 1760 p 70 233 Mirabeau cit p 20109 passim Que Mirabeau também considere as oficinas dispersas como mais econômicas e produtivas que as reunidas e veja nestas últimas apenas plantas artificiais de invernáculo cultivadas pelos governos é algo que se explica pela situação em que àquela época se encontrava grande parte das manufaturas continentais 234 Twenty pounds of wool converted unobtrusively into the yearly clothing of a labourers family by its own industry in the intervals of other work this makes no show but bring it to market send it to the factory thence to the broker thence to the dealer and you will have great commercial operations and nominal capital engaged to the amount of twenty times its value The working class is thus emerced to support a wretched factory population a parasitical shopkeeping class and a fictitious commercial monetary and financial system Vinte libras de lã tranquilamente transformadas na vestimenta anual de uma família de trabalhadores por seus próprios esforços nos intervalos entre seus outros trabalhos não é algo que impressione mas leveis a lã ao mercado a envieis à fábrica depois ao intermediário depois ao negociante e tereis grandes operações comerciais e capital nominal empregado num montante de vinte vezes o seu valor A classe trabalhadora é assim explorada para sustentar uma miserável população fabril uma classe parasitária de lojistas e um sistema comercial monetário e financeiro fictício David Urquhart Familiar Words cit p 120 235 A exceção constitui aqui a época de Cromwell Enquanto durou a república a massa do povo inglês se ergueu em todas as suas camadas da degradação em que havia afundado sob os Tudors 236 Tuckett sabe que a grande indústria da lã é derivada das manufaturas propriamente ditas e da destruição da manufatura rural ou doméstica acarretada pela introdução da maquinaria Tuckett A History of the Past and Present State of the Labouring Population cit v I p 13944 O arado e o jugo foram invenções dos deuses e ocupação de heróis são de origem menos nobre o tear o fuso e a roca Separai a roca do arado o fuso do jugo e tereis fábricas e albergues de pobres crédito e pânico duas nações inimigas a agrícola e a comercial David Urquhart Familiar Words cit p 122 Mas então chega Carey e acusa a Inglaterra certamente não sem razão de tentar converter os demais países em meros povos agrícolas tendo a Inglaterra como fabricante Ele diz que desse modo a Turquia teria sido arruinada porque aos proprietários e cultivadores do solo jamais foi permitido pela Inglaterra que fortalecessem a si mesmos por essa aliança natural entre o arado e o tear o martelo e a grade The Slave Trade p 125 Segundo ele o próprio Urquhart é um dos agentes principais da ruína da Turquia onde teria feito propaganda do livrecâmbio a serviço de interesses ingleses O melhor de tudo é que Carey grande servo dos russos digase de passagem quer deter esse processo de cisão por meio do sistema protecionista que o acelera 237 Economistas filantrópicos ingleses como Mill Rogers Goldwin Smith Fawcett etc e fabricantes liberais como John Bright e consortes perguntam aos aristocratas rurais ingleses tal como Deus perguntara a Caim sobre seu irmão 743 Abel onde foram parar nossos milhares de freeholders pequenos proprietários livres Mas de onde viestes vós Da destruição daqueles freeholders Por que não seguis adiante e perguntais onde foram parar os tecelões fiandeiros e artesãos independentes 238 Industrial aqui em oposição a agrícola Em sentido categórico o arrendatário é um capitalista industrial tanto quanto o fabricante 239 The Natural and Artificial Right of Property Contrasted Londres 1832 p 989 Autor desse escrito anônimo T Hodgskin 240 Ainda em 1794 os pequenos fabricantes de pano de Leeds enviaram uma delegação ao Parlamento solicitando lhe uma lei que proibisse qualquer comerciante de tornarse fabricante Dr Aikin Description of the Country from 30 to 40 miles round Manchester cit v Cidades que por privilégio real obtinham a autonomia em relação ao condado circunvizinho isto é o direito a eleger suas próprias autoridades constituindose assim elas mesmas em condados county of itself county of a town county corporate N T 241 William Howitt Colonization and Christianity A Popular History of the Treatment of the Natives by the Europeans in all their Colonies Londres 1838 p 9 Sobre o tratamento dado aos escravos uma boa compilação encontrase em Charles Comte Traité de la législation 3 ed Bruxelas 1837 É preciso estudar essa questão em detalhe para ver o que o burguês faz de si mesmo e do trabalhador lá onde tem plena liberdade para moldar o mundo segundo sua própria imagem 242 Thomas Stamford Raffles late Lieut Gov of that island The History of Java Londres 1817 v II p CXC CXCI 243 Somente na província de Orissa em 1866 mais de 1 milhão de indianos morreu de inanição Não obstante procurouse enriquecer o erário indiano com os preços pelos quais se forneciam alimentos aos famintos x Assim é chamado o grupo de colonos ingleses que se estabeleceu em Plymouth Massachusetts em 1620 N T w Pequenos machados usados pelos índios americanos N T y No original Bluthunde sabujos N T z Sociedades que detinham o monopólio legal para a exploração de certos ramos de indústria e comércio N T aa Gustav von Gülich Geschichtliche Darstellung des Handels der Gewerbe und des Ackerbaus der bedeutendsten handeltreibenden Staaten unsrer Zeit Jena 1830 t I p 371 N E A MEW 243a William Cobbett observa que na Inglaterra todas as instituições públicas são denominadas reais mas que a título de compensação existe a dívida nacional national debt 243b Si les Tartares inondaient lEurope aujourdhui il faudrait bien des affaires pour leur faire entendre ce que cest quun financier parmi nous Se os tártaros inundassem hoje a Europa seria muito custoso fazêlos entender o que vem a ser entre nós um financista Montesquieu Esprit des lois Londres 1769 t IV p 33 244 Pourquoi aller chercher si loin la cause de léclat manufacturier de la Saxe avant la guerre Cent quatrevingt millions de dettes faites par les souverains Mirabeau De la monarchie prussienne cit t VI p 101 245 Eden The State of the Poor or an History of the Labouring Classes in England etc cit livro II c I p 421 246 John Fielden The Curse of the Factory System cit p 56 Sobre as infâmias do sistema fabril em suas origens cf dr Aikin Description of the Country from 30 to 40 miles round Manchester cit 1795 p 219 e Gisborne Enquiry into the Duties of Men 1795 v II Uma vez que a máquina a vapor transplantou as fábricas antes construídas no campo próximas às quedasdáguas para o centro das cidades o extrator de maisvalor sempre disposto à renúncia encontrou à mão o material infantil sem a necessidade das remessas forçadas de escravos das workhouses Quando sir R Peel pai do ministro da plausibilidade apresentou em 1815 sua bill em proteção das crianças F Horner luminar do Bullion Committe e amigo íntimo de Ricardo declarou na Câmara Baixa É notório que entre os efeitos da falência de um fabricante está o de que um bando se me permitem essa expressão de crianças de fábrica foi anunciado e arrematado em leilão público como parte da propriedade Há dois anos em 1813 apresentouse ao Kings Bench um caso terrível Tratavase de certo número de rapazes Uma paróquia de Londres os havia consignado a um fabricante que por sua vez os transferiu a outrem Finalmente eles foram descobertos por alguns filantropos em estado de absoluta inanição absolute famine Outro caso ainda mais atroz chegou a meu conhecimento como membro da comissão parlamentar de inquérito Há não muitos anos num convênio entre uma paróquia londrina e um fabricante de Lancashire estipulouse que o comprador para cada vinte crianças sadias teria de aceitar uma 744 idiota Na revista Nova Gazeta Renana maioout 1850 Marx escreve Desde 1845 Peel foi tratado como traidor pelo partido tory O poder de Peel sobre a Câmara Baixa repousa sobre a plausibilidade de sua eloquência Quando lemos seus mais famosos discursos vemos que eles consistem num volumoso amontoado de lugarescomuns entre os quais são habilmente inseridos alguns dados estatísticos Kings Bench ou Queens Bench suprema corte de justiça no Reino Unido N T ab Denominação dos acordos pelos quais a Espanha concedia a Estados estrangeiros e pessoas privadas o direito de fornecer escravos negros africanos para seus assentamentos americanos do século XVI até o século XVIII N E A MEW ac O trecho citado diz o seguinte has coincided with that spirit of bold adventure wich has characterised the trade of Liverpool and rapidly carried it to its present state of prosperity has occasioned vast employment for shipping and sailors and greatly augmented the demand for the manufactures of the country O tratado coincidiu com esse espírito de audaz aventura que caracterizou o comércio de Liverpool e o levou rapidamente a seu estado atual de prosperidade ocasionou um vasto emprego de barcos e marinheiros e aumentou em grande medida a demanda pelas manufaturas do país N T 247 Em 1790 as Índias Ocidentais inglesas contavam com 10 escravos para 1 homem livre nas francesas 14 para 1 nas holandesas 23 para 1 Henry Brougham An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers Edimburgo 1803 v II p 74 ad Virgílio Eneida I 33 onde se lê Tantal moeis erat komanenn condre gentem Tanto esforço para fundar o povo romano N E A MEW 248 A expressão labouring poor pobres laboriosos é encontrada nas leis inglesas desde o momento que a classe dos assalariados se torna digna de atenção Os labouring poor encontramse em oposição por um lado aos idle poor pobres ociosos mendigos etc por outro aos trabalhadores que ainda não se tornaram galinhas depenadas mas permanecem proprietários de seus meios de trabalho Da lei a expressão labouring poor passou à economia política desde Culpeper J Child etc até A Smith e Eden A partir disso podese julgar a bonne foi boa fé do execrable political cantmonger execrável traficante de hipocrisia política Edmund Burke quando declara a expressão labouring poor como uma execrable political cant execrável hipocrisia política Esse sicofanta que a soldo da oligarquia inglesa desempenhou o papel de romântico contra a Revolução Francesa exatamente como antes nos primeiros momentos das agitações na América atuara como liberal a soldo das colônias norteamericanas contra a oligarquia inglesa não era senão um burguês ordinário As leis do comércio são as leis da natureza e por conseguinte as leis de Deus E Burke Thoughts and Details on Scarcity Originally Presented to the Rt Hon W Pitt in the Month of November 1795 cit p 312 Não é de admirar que ele fiel às leis de Deus e da natureza tenha sempre vendido a si mesmo a quem pagasse melhor Nos escritos do reverendo Tucker apesar de pároco e tory Tucker era quanto ao mais um homem correto e competente economista político encontramos uma boa caracterização desse Edmund Burke durante seu período liberal Diante da infame falta de caráter que hoje em dia impera e da crença mais devota nas leis do comércio é um dever estigmatizar repetidamente os Burkes que se distinguem de seus sucessores por uma única coisa talento 249 Marie Augier Du crédit public Paris 1842 p 265 250 O Capital diz o Quarterly Reviewer foge do tumulto e da contenda e é tímido por natureza Isso é muito certo porém não é toda a verdade O capital abomina a ausência do lucro ou ao lucro muito pequeno assim como a natureza o vácuo Com um lucro adequado o capital tornase audaz Com 10 ele está seguro e é possível aplicálo em qualquer parte com 20 tornase impulsivo com 50 positivamente temerário com 100 pisoteará todas as leis humanas com 300 não há crime que não arrisque mesmo sob o perigo da forca Se tumulto e contenda trouxerem lucro ele encorajará a ambos A prova disso é o contrabando e o tráfico de escravos T J Dunning Trades Unions and Strikes cit p 356 ae Constantin Pecqueur Théorie nouvelle déconomie sociale et politique Paris 1842 p 435 N E A MEW 251 Nous sommes dans une condition toutàfait nouvelle de la société nous tendons à séparer toute espèce de propriété davec toute espèce de travail Encontramonos numa condição totalmente nova da sociedade tendemos a separar toda espécie de propriedade de toda espécie de trabalho Sismondi Nouveaux principes de léconomie politique cit t II p 434 252 O progresso da indústria de que a burguesia é agente passivo e involuntário substitui o isolamento dos operários resultante da competição por sua união revolucionária resultante da associação Assim o desenvolvimento 745 da grande indústria retira dos pés da burguesia a própria base sobre a qual ela assentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos A burguesia produz sobretudo seus próprios coveiros Seu declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis De todas as classes que hoje em dia se opõem à burguesia só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indústria o proletariado pelo contrário é seu produto mais autêntico As camadas médias pequenos comerciantes pequenos fabricantes artesãos camponeses combatem a burguesia porque esta compromete sua existência como camadas médias são reacionárias pois pretendem fazer girar para trás a roda da História K Marx e F Engels Manifesto Comunista cit p 51 49 746 253 Tratase aqui de verdadeiras colônias de terras virgens colonizadas por imigrantes livres Os Estados Unidos continuam a ser do ponto de vista econômico uma colônia da Europa De resto também entram nessa categoria aquelas antigas plantações cuja situação foi completamente alterada pela abolição da escravatura 254 As poucas ideias lúcidas de Wakefield sobre a essência das colônias foram antecipadas plenamente por Mirabeau père pai o fisiocrata e muito antes ainda por economistas ingleses 255 Mais tarde esse sistema se torna uma necessidade temporária na luta da concorrência internacional porém qualquer que seja seu motivo as consequências seguem as mesmas 256 Um negro é um negro Somente sob determinadas condições ele se torna escravo Uma máquina de fiar algodão é uma máquina de fiar algodão Apenas sob determinadas condições ela se torna capital Arrancada dessas condições ela é tão pouco capital quanto o ouro é em si mesmo dinheiro ou o açúcar é o preço do açúcar O capital é uma relação social de produção É uma relação histórica de produção Karl Marx Lohnarbeit und Kapital Trabalho assalariado e capital em Nova Gazeta Renana n 266 7 abr 1849 a Isto é a Austrália N T 257 E G Wakefield England and America v II p 33 b Rio que corta o oeste da Austrália e desemboca no oceano Índico N T 258 E G Wakefield England and America cit v I p 17 259 Ibidem cit p 18 260 Ibidem p 424 261 Ibidem v II p 5 262 A terra para se tornar um elemento da colonização tem não apenas de ser inculta mas propriedade pública que pode ser transformada em propriedade privada ibidem v II p 125 263 Ibidem v I p 247 264 Ibidem p 212 265 Ibidem v II p 116 266 Ibidem v I p 131 267 Ibidem v II p 5 268 Merivale Lectures on Colonization and Colonies cit v II p 235314 passim Mesmo Molinari o brando economista vulgar e livrecambista afirma Dans les colonies où lesclavage a été aboli sans que le travail forcé se trouvait remplacé par une quantité équivalente de travail libre on a vu sopérer la contrepartie du fait qui se réalise tous les jours sous nos yeux On a vu les simples travailleurs exploiter à leur tour les entrepreneurs dindustrie exiger deux des salaires hors de toute proportion avec la part légitime qui leur revenait dans le produit Les planteurs ne pouvant obtenir de leurs sucres un prix suffisant pour couvrir la hausse de salaire ont été obligés de fournir lexcedant dabord sur leurs profits ensuite sur leurs capitaux mêmes Une foule de planteurs ont été ruinés de la sorte dautres ont fermé leurs ateliers pour échapper à une ruine imminente Sans doute il vaut mieux voir périr des accumulations de capitaux que des générations dhommes mais ne vaudraitil pas mieux que ni les uns ni les autres périssent Nas colônias em que se aboliu a escravatura sem substituir o trabalho por uma quantidade correspondente de trabalho livre deuse o contrário daquilo que entre nós ocorre diariamente diante de nossos olhos Deuse que os trabalhadores simples por seu lado exploram os empresários industriais exigindolhes salários totalmente desproporcionais à parte legítima que lhes caberia do produto Como os plantadores não estão em condições de obter por seu açúcar um preço suficiente para cobrir a alta dos salários viramse obrigados a cobrir a soma excedente primeiramente com seus lucros e em seguida com seus próprios capitais Uma multidão de plantadores se arruinaram enquanto outros fecharam seus estabelecimentos para fugir da ruína iminente Sem dúvida é melhor ver perecer acumulações de capital do que gerações inteiras de seres humanos que generoso da parte do sr Molinari mas não seria melhor se nem uns nem outros perecessem Molinari Études économiques cit p 512 Sr Molinari sr Molinari Que será então dos dez mandamentos de Moisés e dos profetas da lei da oferta e da demanda se na Europa o entrepreneur empresário puder impor ao trabalhador e nas Índias Ocidentais o trabalhador ao entrepreneur a redução de sua part légitime parte legítima E qual é diganos por favor essa part légitime que na Europa conforme o senhor admite o capitalista deixa diariamente de pagar Do outro lado do oceano nas colônias onde os trabalhadores são tão simplórios que exploram os capitalistas o Sr Molinari sente a forte tentação de pôr em correto funcionamento por meio da polícia a lei da oferta e da demanda que em outras partes funciona automaticamente 747 269 E G Wakefield England and América cit v II p 52 270 Ibidem p 1912 271 Ibidem v I p 47 246 272 Cest ajoutezvous grâce à lappropriation du sol et des capitaux que lhomme qui na que ses bras trouve de loccupation et se fait un revenu cest au contraire grâce à lappropriation individuelle du sol quil se trouve des homme nayant que leurs bras Quand vous mettez un homme dans le vide vous vous emparez de latmosphère Ainsi faitesvous quand vous vous emparez du sol Cest le mettre dans le vide de richesses pour ne le laisser vivre quà votre volonté Acrescentais que é graças à apropriação do sol e dos capitais que o homem que possui apenas seus braços encontra ocupação e proporciona uma renda para si inversamente é graças à apropriação individual do solo que existem homens que não têm mais do que seus braços Quando colocais uma pessoa no vácuo a privais do ar Assim agis também quando vos apossais do solo É o equivalente a colocála no vácuo de riquezas para que ela não possa viver a não ser conforme vossa vontade Colins Léconomie politique source des révolutions et des utopies prétendues socialistes cit t III p 26771 passim c Ver nota e na p 271 273 E G Wakefield England and América cit v II p 192 274 Ibidem p 45 d Em 1844 para superar as dificuldades na conversão de notas bancárias em ouro o governo inglês decidiu por iniciativa do ministro Robert Peel criar uma lei para a reforma do Banco da Inglaterra Essa lei previa a divisão do banco em dois departamentos completamente independentes com fundos separados o Banking Department que realizava operações puramente bancárias e o Issue Department responsável pela emissão de notas bancárias Tais notas deviam possuir sólida cobertura na forma de uma reserva especial de ouro que teria de estar sempre à disposição A emissão de notas bancárias não cobertas por ouro ficava limitada a 14 milhões Porém de fato a quantidade de notas bancárias em circulação dependia ao contrário da lei bancária de 1844 não do fundo de cobertura mas da demanda na esfera de circulação Durante as crises econômicas em que a falta de dinheiro tornouse particularmente grande o governo inglês suspendeu temporariamente a lei de 1844 e elevou quantidade de notas bancárias não cobertas por ouro N E A MEW 275 A Austrália tão logo se tornou seu próprio legislador promulgou como é natural leis favoráveis aos colonos mas o desperdício inglês das terras já consumado pelo governo inglês continua a interditarlhes o caminho The first and main object at which the new Land Act of 1862 aims is to give increased facilities for the settlement of the people O primeiro e mais importante objetivo da nova lei agrária de 1862 consiste em criar maiores facilidades para o assentamento do povo The Land Law of Victoria by the Hon G Duffy Minister of Public Lands Londres 1862 p 3 748 a MarxEngelsWerke MEW v 31 Berlim Dietz Verlag 4 ed 1989 p 323 N T b Um forte abraço pleno de gratidão N T 749 1 Traduzido do original francês Lettre à Vera Ivanovna Zassoulitch résidant à Genève Londres le 8 mars 1881 em MEGA I25 Berlim Dietz 1985 p 2412 N T 2 Em 16 de fevereiro de 1881 Vera Zasulitch em nome de seus camaradas que mais tarde fariam parte do grupo Osvobojdenie Truda Emancipação do Trabalho escreveu a Marx pedindolhe que expressasse seu juízo sobre as perspectivas do desenvolvimento histórico da Rússia e em especial sobre o destino das comunas aldeãs Em sua carta Vera Zasulitch relata que O capital goza de grande popularidade na Rússia influenciando consideravelmente as discussões dos revolucionários sobre a questão agrária no país e sobre as comunas aldeãs Escreve ela ainda Sabeis melhor do que ninguém o quão extraordinariamente urgente é essa questão na Rússia sobretudo para nosso partido socialista Nos últimos tempos ouvimos com frequência que a comuna aldeã é uma forma arcaica que a história condenou à desaparição Aqueles que assim profetizam se autointitulam marxistas Compreendeis portanto cidadão o quanto nos interessa vosso parecer sobre essa questão e o grande favor que a nós prestaríeis se expusésseis vossas perspectivas sobre o destino possível de nossas comunas aldeãs e sobre a necessidade histórica de que todos as nações do mundo percorram todas as fases da produção capitalista Na preparação de uma resposta a essa carta de Vera Zasulitch Marx escreveu três esboços que apresentam em seu conjunto um resumo geral da questão das comunas aldeãs russas e da forma coletiva de produção agrícola Cf Karl Marx Lettre à Vera Ivanovna Zassoulitch Ier projet IIème projet IIIème projet IVème projet et lettre à Vera Ivanovna Zassoulitch em MEGA I25 cit p 21742 N E A MEW c Comitê executivo da organização clandestina Narodnaia Volia Vontade Popular Os narodniks como se chamavam seus membros eram socialistas utópicos que visavam a derrubada do regime czarista por métodos terroristas N E A MEW d Marx Le capital cit p 341 N T e Ibidem p 340 N T f No primeiro esboço da carta Marx escreve Para salvar a comuna russa é necessária uma revolução russa Se a revolução se fizer em tempo oportuno concentrando todas as suas forças em assegurar o livre desenvolvimento da comuna rural ela se tornará em breve o elemento regenerador da sociedade russa e a marca de sua superioridade sobre os países subjugados pelo regime capitalista Karl Marx Lettre à Vera Ivanovna Zassoulitch Ier projet IIème projet IIIème projet IVème projet et lettre à Vera Ivanovna Zassoulitch em MEGA I25 cit p 230 N T 750 1 Os valores em marcos alemães e Pfennig centavos de marco referemse ao ano de 1871 1 marco 12790 kg de ouro 751

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