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Relações Internacionais ·
Economia Política
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Maria da Conceição Tauares A retom ada da hegemonia norteamericanas A forma insólita e pouco ortodoxa ern que uern apresentada esta discussão sobre Hegemonia Americana deuese ao longo período e aos freqüentes desuios com que a discussão acadêmi ca política e idiológica tem tratado do assunto e à minha obsessão recorrente âdo rz que o debate e a própria realidade p olítico econômica dpresentdm mouimento s contraditórios Resolui por isso contribuir para a tarefa coletiua de cons trução desteliuro iuntando os cdcos de minhas reflexões desde tgg ata dgora sobre a hierarquia das relações internacionais do ponto ãe uista da predominância política e econômica da poiência hegemônica Dele participdm duas geraçoes de eco nomistas piltticos que compdrtilham umd perspectiua históri o A 1ê versáo deste artigo saiu simultaneamente na Reuista de Economia Política 18 vol 5 n i abrilijunho de 1985 e naReuista de la Cepalne zã roo dá tgSS sendo que o debate de setembro de 1984 que lhe deu ãgil iãl prbliceáo m HiRSt Monica org BrasilEstados Unidos na Trrlriâo Democrática Paz eTirua1985 Eita versáo mais aprofundada át textos para áiscussão n 77 jttlho de 1985 do IEIUFRJmas rã úir rlào plbrdr Houve acordo entre os participantes deste livro ã or o debate àbre Poder e Dinheiro seria inaugurado a partir dopre Ápesar de yá haver passado mais de dez anos desde sua apariçáo 27 Maria da Conceiçáo Tâvares coestrutural acerca de nosso obieto compdnheiros de longa jornada na resistência intelectual ao pensamento dominante mds com trajetórias próprias e diferenciadas de uida e de pen samento crítico Em seminários irregulares que mantiuemos no Rio nos in terualos de minha militância política chegamos à conclusão que d minha contribuição seria mais útil se começasse pela apresentdção da segunda uersão da Retomada da Hegemonia Americana e que nunca hauia sido publicada Seguese uma uersão reuisitada em que numd discussão que tnantiue com Luiz Eduardo Melin durante o mês de iunho de 1997 buscamos delinear uma definição atualizada dos termos em que se en contra hoie o problema Ambas as uersões uao publicadas em seqüência pdra que o leitor possa com mais clareza discernir a euoluçao dtts diuersas questões leuantadas no ensaio original A questão da hegemonia é muito mais complexa do que os indicadores econômicos mais evidentes são capazes de de monstrar Convém assim advertir desde logo para evitar mal entendidos que nossa hipótese de retomada da hegemonia americana náo passa por sustentar que a performance de va Iorizaçáo do dólar e a tâxa de crescimento interno americana se mantenham O fulcro do problema náo reside sequer no maior poder econômico e militar da potência dominante mas sim na sua capacidade de enquadramento econômico financeiro e políti coideológico de seus parceiros e adversários Este poder deve pareceunos a todos que a visáo originária do presente artigo de que a capacidade da potência dominante para enquadrar parceiros e adverúrios com base em seu controle do pocler e do dinheiro continua senclo central para e compreensáo dos movimentos recentes da economia e da política internacional Esta perspectiva central é desenvolvida nos vários textos deste volume a começar pela versão revisitada da discussáo sobre hegemonia americana que se segue imediatamente ao presente texto e na qual sc busca delinear uma definição atualizada dos termos em que se encontra hoje a questáo 28 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA se menos à pressáo transnacional de seus bancos e corporaçóes em espâços locais de operaçáo do que a uma visáo estratégica da elite financeira e militar americana que se reforçou com a vitória de Reagan Em verdade seus sócios ou rivais capitalistas sáo compelidos náo apenas a submeterse mas aracionalízar a visão dominante como sendo a única possível Esta racio nalizaçáo vem pâssândo em matéria de política econômica pela aceitaçáo de um ajuste recessivo que corresponde a uma sin cronizaçáo da política econômica e da ideologia conservadoras sem precedentes Em termos estratégicos e militares passa por uma visáo de guerrâ em que se reconhecem que os interesses gerais da segurança mundial estáo no substancial bem defen didos pela grande potência americana Vale dizer significa a aceitaçáo pela política mundial que o Presidente Reagan afinal náo é um louco mas um homem resoluto que se impôs aos seus adversários e que está dando a linha justa para o resto do mundo capitalista O que este ensaio pretende demonstrar é como esta vitória políticoideológica foi precedida por um reenquadramento por parte do governo americano do movimento policêntrico que vinha tendo lugar a partir da transnacionalizaçáo dos ca pitais de origem norteamericana A outra questáo que corre paralela à da retomada da he gemonia mas é de natureza mais profunda e cujas tendências ainda náo estão claras diz respeito à tendência a uma nova divisão internacional do trabalho em que os EUA passariam realmente a ser uma potência verdadeiramente cêntrica capaz de reordenar a economia mundial com base num novo tipo de transnacionalizaçáo da sua própria economia nacional Até recentemente não era razoável supor que os EUA con seguissem reafirmar sua hegemonia sobre seus concorrentes oci dentais e muito menos tentâr transitar para uma nova ordem Pnm o que considerarmos os traços essenciais desse movimento de trans nacionalizaçáo ver Gilpin 1975 e MC Tâvares e A Teixeira 1981 29 Maria da Conceiçáo Tâvares econômicâ internacional e para uma nova divisáo de trabalho sob seu comando Hoje essa probabilidade é bastante alta Até o final da década de70 não era previsível que os EUA fossem capazes de enquadrar dois países que tinham uma im portância estrâtégica na ordem capitalista o Japáo e a Alema nha Se os EUA náo tivessem conseguido submeter a economia privada japonesa ao seu jogo de interesses e se as políticas inglesa e alemã náo fossem táo conservadoras os EUA teriam enfrentado dois blocos com pretensóes européias e asiáticas de independência econômica Devese salientar que àquela altura os interesses em jogo eram tão visivelmente contradi tórios que as tendências mundiais eram policêntricas e parecia impossível aos EUA conseguir reafirmar sua hegemonia em bora continuâssem a ser potência dominante Outras circunstâncias gerais que se tornaram manifestas na década de 70 pareciam colaborar para esta tese O sistema bancário privado operâva totalmente fora de controle dos ban cos centrais em particular do FED O subsistema de filiais transnâcionais operava divisóes regionais de trabalho intrafir ma à revelia dos interesses nacionais americanos e conduziam a um acirramento da concorrência no interior dos demais paí ses capitalistas que era favorável à modernizaçâo e expansáo européia e japonesa e desfavorável aos EUA Em síntese a existência de uma economia mundial sem pólo hegemônico estavâ levando à desestruturaçáo da ordem vigente no pós guerra e à descentr alizaçáo dos interesses privados e regionais Os desdobramentos da política econômica interna e externa dos EUA de 1979 para câ foram no sentido de reverter estas tendências e retomâr o controle financeiro internacional através da chamada diplomacia do dólar forte Esta como se verá apesar de mergulhar o mundo numa recessáo generalizada deu aos EUA a capacidade de retomar a iniciativa Assim os destinos dà eco nomia mundial encontramse hoie mais do que nuncâ na de pendência das açóes da potência hegemônica 30 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA 1 A diplomacia do dólar forte O sistema monetário internacional com base no padráo dólarouro nunca funcionou â contento como táo bem previra Tiiffin 1958 A rigor depois da etapa de escassez de dólares que terminou com a criaçáo do Mercado Comum Europeu o sistema de Brettoníoods só se manteve em funcionamento razoâveldo ponto de vista do balanço de pagamentos dos seus principais paísesmembros porque o bloco europeu conseguiu compensar intraregionalmente as posições superavitárias de um conjunto de países com as deficitárias de outros através do mercado de euromoedas Do ponto de vista do Sistema Monetário Internâcional porém o dólar só foi aceito como moeda de reservas âpesar de sua nítida tendência à desva lorizaçáo na década de 60 porque ocorreu a filializaçáo dos bancos americanos e os bancos centrais europeus foram obri gados a absorver o excesso de liquidez proveniente do déficit de balanço de pagamentos americano sob pena de paralisarem as suas políticas monetárias2 Do ponto de vista davalorízaçáo patrimonial sobretudo enquanto durou o teto da taxa de juros americano Regulation Q todos os agentes americanos no exterior em particular as suas filiais industriais e bancárias e os próprios bancos centrais europeus passaram â usar o eu romercado para operaçóes de aplicaçáo de curto prazo das suas reservas em dólar Como contraparti daa ofertade dólares se ampliou e permitiu que âs empresâs e os países deficitários primeiro a Europa e depois do resto do mundo pudessem usar créditos denominados em dólar muito além do que a expansáo da base monetária dos respectivos países de origem permitia Depois de 1968 quando os EUA mudam sua política mo netária e Londres corta a conversibilidade da libra em dólar o mercado de crédito interbancário liberase inteiramente do padráo monetário e de reservas dólarouro e pâssa a estabelecer Prrr rr visáo descritiva da Evoluçáo do SistemaMonetário Internacional até as crises recentes ver Moffitt 1983 31 NÍaria da Conceição tvares o seu próprio circuito supranacional de crédito com uma li quidez abundante e crescente inteiramente fora de controle das autoridades monetárias e sem qualquer relaçáo âpârente com o déficit de balanço de pagamentos americano O sistema monetário internacional tinha seus dias contados e as crises monetáriocambiais de 1971 a 1973 só fizeram proclamar ofi cialmente o seu falecimento Em contrapartida tinhase de senvolvido à sombra do padráo dólar inicialmente arravés do movimento intraeuropeu de comércio seguido pela fuga de capitais americanos parâ o euromercado um florescente mer cado privado de crédito que alimentou o último auge da ex pansáo da economia mundial que se encerra entre 197374 A especulaçáo em moedas que se desata depois da ruptura do sistema de paridades fixas torna inoperantes os mecanis mos de ajustamento monetário do balanço de pagamentos Esta nova situaçáo de desequilíbrio monetário e cambial à qual se agrega o excedente de petrodólares permire uma ex pansáo ainda maior do mercado interbancário Este escapa inteiramente ao controle do núcleo constiruído pelo oligopó lio dos vinte maiores bancos e das duzentas maiores empresas multinacionais que tinham Londres como mercado principal Produzse assim uma expansáo adicional do circuito interban cário à qual iriam juntarse centenâs de bancos menores das mais diversas procedências que se abrigam nos mercados off shore e nos chamados paraísos fiscais Os movimentos espe culativos de capitais sempre denominados em dólar que dão lugar a um nonsystem continuam minando o dólar como moeda reserva desestabilizam periodicâmente a libra e forta lecem o mârco e o iene como moedas internacionais Assim a ordem monetária internacional caminha rapidamente para o caos sobretudo depois do primeiro choque de petrodólares e da política recessiva americana de 1974 Pra uma crítica interessante à visáo convencional de balanço cle pagamen tos ver Aliber 1979 particularmente cap 8 The Dollar and Cocacola Are Both Brand Names 32 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA As tentativas do FMI de implementar uma nova ordem monetária internacional que lhe permitisse operar uma cesta de moedas respaldando os Direitos Especiais de Saque SDR com base em maiores contribuiçóes dos principais países de moeda reserva tinham sido barradas sistematicamente pelos EUA e a Inglaterra náo tendo encontrado apoio igualmente na Alemanha e no Japáo Aos poucos porém o volume do crédito interbancário e da dívida final dos tomadores do Têr ceiro Mundo e da área socialista começou a aumentar a sen saçáo de risco crescente por parte dos bancos centrais de países superavitários e deficitários Estes haviam perdido com pltrttt o controle de sua situaçáo final de Balanço de Pa Bamentos graças aos movimentos bruscos de especulaçáo em moedas Esta situaçáo acabou levando a maioria dos países capitalistas com a única exceçáo dos EUA e da Inglaterra a apoiar o FMI para medidas decisivas na direçáo de um maior cóntrole público do sistema financeiro internacional Na reuniáo mundial do FMI de 1979 Mr Volcker presi dente do FED retirouse ostensivamente foi para os EUA e de lá declarou ao mundo que estâva contra as propostas do FMI e dos demais países membros que tendiam a manter o dólar desvalorizado e a implementar um novo padráo mone tário internacional Volcker aduziu que o FMI poderia propor o que desejasse mâs os EUA náo permitiriam que o dólar con tinuasse desvalorizado tal como vinha ocorrendo desde 1971 e em particular depois de 1973 com a rupturâ do Smithsonian Agreement A partir desta reviravolta Volcker subiu violenta mente ataxa de iuros interna e declarou que o dólar manteria sua situaçáo de padráo internacional e que a hegemonia da moeda americana iria ser restaurâda Esta diplomacia do dólar forte custou aos EUA mergulhar a si mesmos e a economia mundial numa recessáo contínua por três anos Quebraram inclusive várias grandes empresas e alguns bancos americanos além de submeterem a própria economia americana a uma violenta tensáo estrutural O início da recessáo americana e a violenta elevaçáo da taxa de juros pesaram decisivamente na derrota popular de Carter Além disso levaram à beira da 33 Maria da Conceiçáo Tâvares bancarrota os países devedores e forçaram os demais países capitalistas a um ajuste recessivo sincronizado com a política americana Por outro lado ao manter uma política monetária dura e forçar uma sobrevalorizaçáo do dólar o FED retomou naprá tica o controle dos seus próprios bancos e do resto do sistema bancário privado internacional e articulou em seu proveito os interesses do rebanho disperso De fato esse sistema a partir da reviravolta de Volcker seguida da quebra da Polônia foi obrigado em primeiro lugar a contrair o crédito quase que instantaneamente diminuindo o ritmo das operaçóes no mer cado interbancário Este só se manteve sem quebras mais sig nificativas graçâs à substituiçáo drástica de posiçóes ocupadas rapidamente pelos bancos americanosa A reduçáo dos emprés timos foi ainda mais violenta sobretudo para países da peri feria depois da crise do México pois nesta ocasiáo o sistema bancário privado reagiu em pânico e refugiouse nas grandes praças financeiras A partir daí o sistema de crédito interban cário orientouse decisivamente pâra os EUA e o sistema ban cário passou a ficar sob o controle da política monetária do FED que dita as regras do jogo As flutuaçóes da taxa de juros e de câmbio ficaram novamente amarradas ao dólar e através delas o movimento da liquidez internacional foi posta a serviço da política fiscal americana A pârtir do início dos 80 todos os grandes bancos internacionais estáo em Nova Iorque náo apenas sob aumbrella doFED mas também financiando obri gatoriamente porque não há outra alternativa o déficit fiscal americano Tüdo isso pode parecer estranho Mas a verdade é que hoie presenciamos a seguinte situaçáo os EUA apresentam um dé ficit fiscal de natureza estrutural cuja incompressibilidade de O Bncos Arnericanos que detinham em 1980 cerca de 170lo dos fluxos brutos de empréstimos bancários internacioneis chegaram a quase 930o do totalno 1q semestre de 1982 antes da crise mexicana daclos do BIS extraídos do IMF Survey 1312l82 citado em Samuel Lichtensztejn América Latina en la Dinâmica de la Crisis Financeira Internacional 34 A RETON4ADA D HEGEMONIA NORTEAÀ4EzuCANA corre da própria política financeira e da política armamentista ambas gtiiurt e imperiais O componente financeiro do déficit é crescente graças à mera rolagem da dívida pública americana que alcançou em maio de 1985 cerca de 1 trilháo e 600 bilhói d dólrts cifra correspondente à cerca de 800o da circulaçáo monetária total no mercado interbancário inter nacional Esta dívida é o único instrumento que os EUA têm para realizar uma captaçáo forçada da liquidez internacional ã prru canalizar o movimento do capital bancário japonês e europeu para o merçado monetário americano Por outro lado é um insirumenro de aplicaçáo seguro e de alta rentabilidade para o excesso de recursos financeiros dos principais rentistas I rrlu mundial Assim apesar das críticas ao déficit ameri cano este tornouse na prática o único elemento de estabi liznâo temporária do mercado monetário e de crédito inteinacionri O ptço desta estabilidade tem sido a submis sáo dos demais países à diplomacia do dólar e o aiustamento progressivo de iuas políticas econômicas ao desiderato do qrrilíbtio global do sistema Evidentemente este xjustâmen to náo se fez sem resistência Até L981 só a política econômica da Inglaterra apoiava declaradamente a moeda americana Os japoneses mantiveram possibilidades reais de fazer uma política monetária autônoma com baixas taxas de juros graças às peculiaridades do seu sisrema nacional de crédito e resisriram à adoçáo de políticas neoconservadoras apoiadas no receituário monetarista en quanto o seu sistema financeiro náo se internacionalizou vá io orro países como â França a Áustria os do Norte da Europa e atá mesmo o Brasil tentaram cada um à sua maneira sistir ao alinhamenro automático da política econômica or todoxa Todos tiveram claro de L979 a 1981 que náo deviam alinharse mas apesar disso todos foram sendo submetidos Todos os países desenvolvidos do mundo quaisquer que sejam r gouinos socialistas socialdemocratas conservadores etc estáo preticamente alinhados em termos de política cam bial política de taxa de juros política monetária e política fiscal O resultado deste movimento é que o espectro das taxas 3i Maria da Conceiçáo tvares de crescimento das taxas de câmbio e de juros passou a ser concêntrico ao desempenho destas variáveis no âmbito da eco nomia americana O equilíbrio macroeconômico da economia mundial dada a dolarízaçáo generalizada do sistema de crédito obriga a maioria dos países a praticar políticas monetárias e fiscais restri tivas e a obter superávites comerciais crescentes para compensar a situação deficitária global da potência hegemônica Estas polí ticas por sua vez esterilizam o potencial de crescimento endó geno das economias nacionais e convertem os déficits públicos em déficits financeiros estruturais inúteis para uma política de reativaçáo econômica de corte keynesiano Uma experiência impressionante de alinhamento às novas circunstâncias ocorreu com oJapão Este país foi durante todo o apósguerra o mais heterodoxo em matéria de política fi nanceira e o mais autônomo em termos de desenvolvimento econômico Fez investimento com crédito de curto prazo e uma política monetária solta conglomerou o seu sistema em presarial com umâ estrutura de risco aparentemente impossí vel fez pouco uso do mercado de açóes e da dívida pública enfim produziu o seu próprio modelo nacional de desen volvimento Tentou em197 5 um plano de ajustamento interno condizente com as restriçóes externas mas foi forçado pro gressivamente a abrir máo de seu enorme potencial de cresci mento endógeno na medida em que o seu sistema financeiro se internacionalizou O Japáo não está hoje fazendo uma po lítica ativa de desenvolvimento interno que corresponda ao seu potencial de acumulaçáo Salvo em matéria de segurança mínima de sua sociedade e de modernizaçáo tecnológica náo tem mantido uma taxa de investimento elevada corres pondente à sua taxa de poupança interna Está com a maior parte de seu capital bancário e multinacional atado aos proietos de recuperaçáo americana com excedentes exportáveis gigan tescos sem possibilidade de retomar sua taxa de investimento e de crescimento históricas Isso significaque o mercado fi nanceiro japonês está irremediavelmente atrelado ao america no salvo um acidente de percurso que poderá ocorrer se o 36 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA sistema bancário americano entrâr em turbulência e o dólar desvalorizar bruscamente Este é aliás o único ponto que ainda pode dar lugar a uma ruptura capaz de desestabilizar tempo rariamente a hegemonia americana A diplomacia do dólar já cumpriu o seu papel soldando os interesses do capital financeiro internacional sob comando americano Ainda que uma desvalorizaçáo do dólar fosse pro vocar umâ nova crise financeira internacional os EUA náo perderáo o papel reitor na reestruturaçáo de uma possível novâ ordem financeira internacional Há uma diferença crucial entre a crise financeira do co meço dos anos 80 e esta que pode se desenhar no horizonte Uma coisa é deter nos ativos do sistema bancário interna cional dívidas denominadas em dólar de empresas e governos débeis Outrâ coisa completamente distinta é deter nos por tafólios dos bancos montantes consideráveis de dívida do Te souro americano Foi a ameaça de ruptura do sistema privado de crédito por default dos países periféricos e de algumas grandes empresâs que colocou sob o controle do sistema bancário americano e em última instância do FED o sistema financeiro interna cional Quem bancará porém a dívida externa americana que é hoje superior à do conjunto da América Latina E se ela se desvalorizar bruscamente quem vai perder 2 A retomada do crescimento e d propostd hegemônica Há algum tempo atrás tudo levava a crer que os EUA tinham perdido a capacidade de liderar a economia mundial de uma maneira benéfica Isso continua a ser verdade Mas por outro lado os americanos indiscutivelmente deram de 1979 a 1983 uma demonstraçáo de sua capacidade maléfica de exercer sua hegemonia e de ajustar todos os países através da recessáo ao seu desiderato E o fizeram está claro com uma arrogância e com uma violência sem precedentes 37 Maria da Conceiçáo tvares A partir de 1982 procederam à sua própria retomada de crescimento Esta retomada tem aspectos controvertidos tan to quanto à sua possível duraçáo como sobretudo pela forma como foi financiada Um primeiro fato que deve ser salientado é que a recupe raçáo da economia americana foi feita com crédito de curto prazo e com endividamento crescente Na prâtica os america nos estáo aplicando a mesma técnica que o Brasil e o México aplicaram recentemente e que o Japáo utilizou na década dos cinqüenta Finalmente os EUA descobriram atécnica latino americana e japonesa de desenvolvimento financiamento do crescimento com base em crédito de curto prazo endivida mento externo e déficit fiscal E como sua moeda é hegemônica e sobrevalorizada a economia americana nem inflaçáo tem Aliás este é um fato que deixa os economistas espantadíssimos pois se valesse o que dizem os monetâristas ou os keynesianos ou qualquer livrotexto tradicional os EUA já teriam experi mentado uma inflaçáo galopante em virtude do fantástico em puxo de demanda promovido por uma técnica heterodoxa de política econômica Um exemplo desta heterodoxia diz respeito à política or çamentária Os EUA prâticâmente estancaram o gâsto em bens e serviços de utilidade pública âumentaram o dispêndio no setor de armamentos e cortaram compensetoriamente os gâs tos com o welfare Em síntese trocarâm as despesas em capital social básico e bemestar social por armas e fízeram uma re distribuição de rendas em favor dos ricos Além disso reduzi râm a carga tributária sobre a classe média e praticamente eliminaram a incidência de impostos sobre os juros pagos aos bancos pârâ compras de consumo durável Propiciaram tam bém depreciaçóes aceleradas dos ativos e refinanciamento dos passivos de certas firmas Nestas circunstâncias o endivida mento das famílias passa â ser um excelente negócio porque parte da carga financeira da dívida é descontada no imposto de renda Assim tomouse crédito de curto pÍazo em larga escala para dar suporte à compra de casas e bens duráveis de consumo Além disso financiaram investimentos no terciário 38 A RETOTVÁDA DA HEGEMONIA NORTEAMEzuCANA e nas indústrias de alta tecnologia que náo requerem um pe ríodo de maturaçáo muito longo e cuja taxa de rentabilidade esperada é muito superior à taxa de juros nominal em declínio Este declínio da taxa nominal de juros devese aparentemente a três motivos interligados a absorçáo de liquidez interna cional a posição menos ortodoxa do FED e a queda da infla çáo Esta última por suâ vez se deve à baixa de custos internos provocada pela sobrev alorizaçáo do dólar e pela concorrência das importaçóes acarretando uma melhorâ nas relaçóes de troca favorável ao poder de compra dos salários Outra questáo que deve ser esclarecida diz respeito à in fluência da taxa de juros sobre o investimento Muita gente afirma que o elevado patamar de taxa de juros real vai acabar cedo ou tarde freando o gasto em investimento Convém ad vertir que os americanos náo estáo financiando o investimento através do mercado de capitais Não há mercado de capitais novos o mercado relevante hoje é o monetário ou o de crédito de curto prazo Os americanos vale reafirmar estão substi tuindo o tradicional endividamento de longo prazo através da emissáo de debêntures equities etc por crédito de curto prazo ou utilizando recursos próprios e de capital de risco externo Por outro lado está claro que esta situaçáo coloca em más condiçóes muitas companhias velhas ou endividadas e o valor de suas respectivas açóes e debêntures Se uma grande companhia quiser lançar como várias tentâram fazet tecente mente alguns bilhóes em papéis no mercado de debêntures em uma semâna estâ mesma companhia estará obrigada a re comprálos pois caso contrário o valor das açóes certamente írácaírVale dizer o único risco real que os EUA estâo correndo é o de sofrer uma desvalorizaçâo brutal das velhas empresas cujas ações estáo cotadas a um valor distinto do efetivo Digase de passagem todos os grandes bancos que se envolveramcom investimentos nos râmos produtivos velhos ou em energia e agricultura isto é setores que requerem crédito de longo prazo ef outaxas de juros mais baixas passaram e ainda passâm por sérios problemas A quebra técnica doContinental Illinois é um exemplo claro disto De outra parte todos aqueles que 39 Maria da Conceiçáo Tâvares investiram na Califórnia no SiliconValley nos serviços estáo em situaçáo extremamente favorável Um terceiro aspecto fundamental desse processo de res tauraçáo da posiçáo hegemônica dos EUA fica evidente quando analisamos as suas relações econômicas internacionais Entre 1982 e 1984 os EUA conseguiram dobrar o seu déficit comer cial a cada ano o que juntamente com o recebimento de juros lhe permitiu absorver transferências reais de poupança do res to do mundo que só em 1983 corresponderam â 100 bilhões de dólares e em 1984 devem ter ultrapassado 150 bilhóes Por outro lado suas relaçóes de troca melhoraram e os seus custos internos caíram já que as importaçóes que os EUA estáo fazendo sáo as melhores e as mais baratas do mundo inteiro Assim sem fazer qualquer esforço intensivo de poupança e investimento sem tocar em sua infraestrutura energética e de transportes sem tocar na agricultura sem tocar na velha in dústria pesada os EUA estáo modernizando a sua indústria de ponta com equipamentos baratos de último tipo e capitais de empréstimo e de risco do Japáo da Alemanha do resto da Europa e mesmo do mundo periférico Muitos esperavam que a pârtir de L983 os EUA reverte riam a posiçáo superavitária final do balanço de pagamentos pois desde 1982 as rendas de capitais americanos no exterior náo estáo cobrindo o déficit americano em transaçóes corren tes Mas isso não ocorreu porque as entradas de capital ban cário se encerregaram de fazer amplamente esta cobertura O investimento em capital de risco também temse mantido ele vado desde 1981 superior em média a US 17 bilhões So mente o Japáo por exemplo investiu 10 bilhóes de dólares no período de recuperaçáo e já projetou investir 40 bilhões até o final da década A Alemanha por seu lado deve ter investido algo em torno de 8 a 9 bilhóes embora não tenhamos dados precisos sobre seu montante Em suma toda a Europa e o Japáo estáo investindo nos EUA enquanto estes últimos fízeram retornar parte dos capitais das filiais multinacionais americanas que náo têm capacidade de expansão adicional no resto do mundo Afinal enquanto a periferia está praticamente 40 A RETONÍADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA estancada e o resto do mundo cresce a 1 ou 2o0 os EUA esti veram crescendo à taxa de 6 a 80o nos últimos dois anos Apoiados num enorme afluxo de capitais que superou os 100 bilhóes de dólares em 1984 os EUA puderam manter e ampliar uma brecha comercial cujos limites náo sáo ainda vi síveis De 30 bilhóes em1982 pâssou a 60 bilhóes em 1983 e saltou para mais de 120 bilhóes em 1984 Em 1985 poderia continuar aumentando náo fosse pela desaceleraçáo da eco nomia americana simplesmente porque há capital sobrando no mundo E este excesso de capital e de poupança externa se deve a que o resto do mundo obedeceu à política conser vadora fosse qual fosse o tipo de governo Na verdade a sin cronizaçáo das políticas ortodoxas obrigou todos os países a rrrtrrn em níveis baixos suas taxas de investimento e de crescimento e a forçar as exportaçóes Como um reflexo do ajuste forçado quase todos os países do mundo estáo experi mentando superávites no balanço comercial Todos menos um os EUA Eles abrem sua economia e ao fazêlo provocâm uma maciça transferência de renda e de capitais do resto do mundo Um aspecto muito importante é que isso permite fechar o déficit estrutural financeiro do setor público Tirdo se passa como se cadavez que o FED joga títulos de dívida pública no mercado ele tivesse ceÍtezaque os títulos seráo colocados em todas as estruturas bancárias e junto a todos os rentistas de países desenvolvidos ou náot O fato essencial é que todo o mundo está financiando náo âpenas o Tesouro americano es pecialmente seu componente financeiro mas também os con iumidores e investidores americanos Desta vez e ao contrário da década de 7O ocorreu transferência de poupança real e náo apenas de crédito liquidez ou capital especulativo Nestas condiçóes os EUA náo precisam resolver interna mente o seu problema de financiamento fiscal e portanto dei t No 2u semesrre de 1984 âs compras externas líquidas de títulos do Têsouro Americano foram superiores a us 20 bilhóes veroECD Economic ou look ltne 1985 p 60 41 Maria da Conceiçáo Tâvares xâram de pressionar ataxa de juros que pode cair bastando manter um ligeiro diferencial sobre as taxas do euromercado Enquanto ataxa de crescimento da economia mundial for inferior à taxa de crescimento americana náo há a menor pos sibilidade de os capitais excedentes sobretudo os bancários e os das empresas com capacidade ociosa resolverem investir preferencialmente nos seus países de origem Os países da Europa náo formularam desde o âiuste re cessivo qualquer plano para restaurar solidamente o seu cres cimento econômico global Apenas jogaram individualmente na modernizaçáo de certas indústrias e tentaram protegerse para que o Japáo náo invadisse mais os seus mercados Mas ao mesmo tempo em que a concorrência intercapitalista se âcentuâ no resto do mundo operâse um fantástico aumento de eficiência das indústrias modernas no Japáo e em alguns países da Europa Como já vimos os EUA estáo aproveitando esta situação para modernizar suâ estrutura produtiva à custa do resto do mundo inclusive da periferia latinoamericana que já transferiu nos últimos anos quase 100 bilhóes de dólares a partir de superávites comerciais crescentes e de perda de suas relaçóes de troca A partir de 1984 a economia mundial recuperouse com a contribuiçáo decisiva do crescimento das importaçóes ame ricanas Estas alcançârâm taxas de expansáo sem precedentes e beneficiaram indiscriminadamente todas as áreas o Japáo e Canadá por sua posiçáo particular no comércio americano receberam 230o do incremento global dos últimos dois anos a Europa como um todo recebeu um montante equivalente e os países em desenvolvimento pouco maís de 2600 Eufórica com esta situaçáo a opiniáo bem informada passou a considerar os EUA como a trade locomotiue da rect peraçáo mundial e a elite financeira americana passou a pràpor ao mundo umâ nova divisáo internacional do trabalho na qual a economia americana desempenharia um papel dominante Comprometerseia a náo baixar unilateralmente o déficit co mercial mas responderia com retaliações aos países que apli az A RETONíADA DA HEGEMONIA NORTEAMEzuCANA cassem restriçóes às exportaçóes de mercadorias e capitais a mericanos Convém transcrever as seguintes passagens escritas por um dos membr os do Board do Morgan pertencente àCornission on lndustrial Comp etitiuene ssnomeado pelo Presidente Rea gan que a nosso juízo expressa bem a proposta hegemônica O déficit comercial dos EUA vem em paralelo à força do inves timento na economia americana em meio a uma relativa escassez de poupança interna Seria possível reduzirse o déficit comer ciai americano caso se cortasse o investimento dos EUA freando seu o crescimento econômico Entretanto esta seria uma fór mula certeir a para provocar a estagnação mundial seria muito mais construtivo adotar uma estratégia de competitividadepara os Estados unidos que mantenha a economia americana forte estimule u pooprnç inrerna e promova um clima de investimen to mais positivo no exterior especialmente na Europa e na América Latina No que se refere aos efeitos do déficit sobre o emprego e opiitividade industrial o documento faz os seguintes comentários O déficit comercial desloca empregos americanos do setor ex portador e do setor que compete com os importados direcio nndoos para atividades menos exPostas à competiçáo internacionà1 especialmente para os serviços O efeito líquido desse deslocrnto de empregos ainda não está claro e pode não ser danoso ao interesse nacional americano no longo prazo A continuidade do déficit comercial e do dólar valorizado man têm a pressáo sobre as indústrias americanas para elevar a pro dutiviàade e restringir aumentos de custos Além do que as pressóes comerciais ãceleram a substituiçáo de indústrias ultra patsadas por empreendimentos avançados 6 As citaçóes que seguem foram extraídas do artigo do fundo strengthening U Coàpaliivenãssdo Woild Financial Markets Morgan Guaranry tust Company New York Set 1984 43 Maria da Conceiçáo Tàvares No que se refere ao papel global da política comercial americanâ O sistema comercial do pósguerra foi concebido primordial mente para reger o comércio internacional dos EUA e da Europa cujas filosofias de gerenciamenro econômico tinham muiro em comum Hoje os interesses mudaram Os Estados Unidos não consideram apenas a Europa ao trataÍ de seus interesses comer ciais e de segurança mas leva também em conta o Japáo os NICsT asiáticos e a América Latina No que se refere aos países menos desenvolvidos e falando em nome dos desenvolvidos a dureza de posiçóes e o caráter impositivo é manifesto Os países industriais maduros contudo náo aceitaráo uma es pecialízaçáo ulterior em tecnologia de ponta comunicaçóes e serviços a menos que os países menos desenvolvidos também ofereçam concessões significativas Eles também deverão aceirar um código de conduta explícito quanro à regulação do investimento direto privado e quanro aos requisitos de conteúdo doméstico e de exportaçóes a ela associados Os NICs que vêm se desenvolvendo mais rapidamente em particular terão que abrir mão de sua atual isenção de cerras obrigaçóes junto ao GATI obtida com base na ultrapassada alegação de vicissitudes de balanço de pagamentos No entanto o mâior grau de abertura da economia ame ricana às importaçóes e ao capital estrangeiro encontra resis tências sérias nos setores afetados que clamam por um maior protecionismo A liderança da classe financeira americana é contra o protecionismo e tenta defenderse enfatizando dois âspectos fundamentais negociaçóes com as suâs áreas de in fluência e a retaliaçáo contra o protecionismo externos Negociaçóes em direção a um acordo de livre comércio com Israel a sugestão de um arranjo mais limitado com o Canadá e conversas sobre uma mais ampla abertura da Bacia do Pacífico que inclua o Japáo os NICs asiáticos e o México além do Canadâ 7 Newly Industrialized Countries ou países de industrializaçáo recenre 44 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA No esforço de forçar a abertura de mercados estrangeiros fecha dos aos exportadores americanos o mais poderoso instrumento de negociáção de que dispóem os EUA é a ameaça de limitar o acesso estrangeiro ao vasto mercado americano Como se vê tratase de um conjunto de argumentaçóes coerentes que pretendem manter um relativo equilíbrio macroeconômicó entre os parceiros mais importantes da eco nomia mundial Mas o tom racional náo disfarça o big stick em relaçáo aos países periféricos nem ao desiderato estratégico de manter e afirmar a hegemonia americana em toJglobais A mensâgem em relaçáo à Europa é de duas naturezás A primeira referese ao comércio multilateral Mais cedo ou mais tarde não se poderá prescindir de negociações globais especialmente para conseguir o envolvimento pleno da Europa A segunda é de recomendaçóes paÍa a restauraçáo do di namismo europeu O diagnóstico é sumário Atualmente a Europa sofre de uma pesada tributação uma re gulamentação paiitrrt custos trabalhistas inflexíveis e bar reiras à mobilidade As recomendaçóes seguemse na linha do neoliberalismo americano âparentemente muito apreciado nas últimas reu niões do Summit Europeu A Europa corretamente deixou de acreditar no Sasto público como indutor do crescimento Mas sua ênfase em conter os déficits fiscais não é uma fórmula suficiente para dinamizar o crescimento dado que presume que o investimento substi tuirá de forma tporlât à e suficiente o consumo privado e público A experiência americana sugere claramente que eá assuntos fiscais a necessidade prioritária da Europa é de cortar impostos visando a incentivar as empresas que são o meio mais eficiente de estimular o investimento e o emprgo Finalmente para náo deixar ninguém para trás o Japáo também leva a sua advertência Apesar de sua produtividade e seu dinamismo tecnológico serem aÀplamente ádmiados a infraestrutura física do Japáo náo 4S Maria da Conceição Tâvares corresponde à sua pujança industrial Há uma carência ampia mente difundida por maiores investimentos em habitaçáo sis temas sanitários e preservaçáo ambiental Convém agora tecer algumas consideraçóes finais sobre a situaçáo peculiar da economia americana e sua mudança de posição na economia internacional A eslrutura de comércio americana foi tradicionalmente simétrica e fechada Os EUA exportavam e importavem ma tériasprimas alimentos insumos industriais e bens de capital enfim todos os itens importantes do comércio internacional As relaçóes econômicas dos EUA com o resto do mundo náo podiam ser enquadradas dentro do esquema tradicional cen troperiferia Os EUA náo precisavam de uma divisáo interna cional de trabalho que os favorecesse em termos absolutos ou relativos O fato surpreendente é que egora estáo aparente mente querendo instaurar uma divisáo internacional do tra balho na qual desempenhariam um papel cêntrico parâ o que estáo dispàsros a abrir sua economia O atual déficit comercial já represent a3oo do PNB americano e a partir do final de 1984 os EÚA passaram a ser um país devedor líquido no mundo isto é ut a sua posiçáo de mais de sessenta anos de exportadores líquidos de capitais e tornâramse em apenas três anos devedores líquidos do resto do mundo Após terem exportado durante várias décadas o padráo tnológio do sistema industrial americano através das suas multinacionais estáo tentando usâr o seu poder hegemônico para reenquadrálas fazer retornar os seus capitais sobrantes e refazer a sua posiçáo como centro tecnológico dominante Assim utilizamse dos seus bancos do comércio das finanças e do investimento direto estrangeiro para fazer o seu ajus tamento interno e externos Apesar de terem perdido a con corrência comercial para as demais economias avançadas e Eirtm funcladas dúvidas sobre a natlrreza estrangeira de certos capitais que ingressam nos EUA já que os mesmos náo aparecem nos balanços de prgnãnto dos demais paísês e â conta Erros e Omissóes no balanço ame ricano é gigantesca 46 A RETOÍADA DA HEGENONIA NORTEAMERICANA mesmo algumas semiindustrializadas nos produtos de tecno logia de uso difundido os EUA estáo investindo fortemente rJrto terciário e nâs novas indústrias de tecnologia de ponta na qual esperam ter vantagens compsretivas Os EUA náo pa intáressados em sustentar sua velha estrutura produti vacomercial Sabem também que náo têm capacidade de alcançar um enorme boom a pârtir de reformas nos setores indusiriais que Iideraram o crescimento econômico mundial no pósguerir Ao contrário os EUA estáo concentrando es forior rrã druolvimento dos setores de ponta e submetendo ulh indústria à concorrência internacional dos seus parcei ros A partir dessa modernização generalizada esperam poder orrr a sua posiçáo como centro tecnológico dominante e reordenar de novo a economia mundial Com os seus enormes déficits comerciais até aqui têm garantido a solidariedade de seus principais sócios exportado Ies sobretudo o Canadá o Japáo e os NICs asiáticos Com as ltá tn de juros reais têm garantido a solidariedade dos banqueiros E com as iointuentures dentro dos EUA estáo tentándo garantir sua posiçáo de avanço para o futuro A resposta européia e japonesa tem sido até agora forço samente àe aliançacom osEUA mas o seu destino de longo prazo com a periferia do centro está por verse A arrogância com que a elite americana trata a política econômicJeuropéia e ionsidera como área privilegiada de interesse a sua bãse ampliada no Pacífico que inclui Canadá México Japáo e os NICs asiáticos deveriam estar preocu pando Êrtopr Esta no entânto continua paralisada por razóesd seguiunça pelas relaçóes estratégicas de alinhamento automático com os ÊUe por razões de competiçáo e rivali dade intraeuropéia que levam à incapacidade de fazer uma política econômica comum a começar pela monetária A In glrtrro e a Alemanha cada ume a sua maneira tiveram um iapel decisivo na derrota dos projetos da socialdemocracia àriopéi e a França socialista sucumbiu melancolicamente no seu proieto nacional Maria da Conceiçáo tvares Na ausência de uma reaçáo real as racionalizaçóes come çam a aparecer e a resposta européia tem sido a da aceitação progressiva da ideologia neoliberal e náo de fazer avançar o espírito de cooperaçáo e planejamento que presidiu o sur gimento do Mercado Comum 3 Um nouo esquema centroperiferia A nova divisáo internacional do trabalho que está em dis cussáo passa pelo adensamento das relaçóes econômicas entre os EUA o Japáo e os NICs asiáticos Este reforço da Base do Pacífico serviria de contrapartida à sua expansáo do após guerra no Atlântico e daria finalmente à grande potência ame ricana uma configuraçáo cêntrica Vale dizer o mapa do mundo mudaria finalmente sua configuração estrutural na qual o eurocentrismo histórico desapareceria e os EUA deixa ria de ser uma grande potência excêntrica No fim do século a visáo geogrâfica do mapamúndi seria em forma generâ lízada a que já hoje é encontrável nos escritórios de algumas multinacionais A saber o continente americano no centro o europeu à direita e o asiático à esquerda A posiçáo asiâtica ou européia duvidosa seria umâ vez mais a da Uniáo So viética náo apenas por sua dupla condiçáo geográfica mas porque náo está claro se manterá sua atual condiçáo de grande potência isoladâ na dependência de suas relaçóes com a Europa e a China e de sua estratégia de enfrentamento com os EUA A nova divisáo internacional do trabalho numa economia mundial que hierarquize os mercados em forma distinta e reen quadre as velhas potências de modo diverso ao da guerra fria dariaao movimento de comércio e de capitais tendências completamente diferentes das verificadas no após guerra Para começar um grâu de abertura maior e permanente da econo e V a este respeito a interpretaçáo de Aglietta em íorld Capitalism in the Eighties 1982 NLR 48 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA mia americana permitiria a atrelagem da economia iaponesa que tem maior potencial de acumulaçáo e uma tendência a um superávit estrutural de balanço de pagamentos Se os EUA con seguirem acoplar em forma decisiva a economia japonesa a uma estratégia convergente de crescimento a longo pÍazo a transnacionalízaçâo do capital passaria a estar centrada no es paço nacional americano e na sua periferia imediata Este mo vimento cêntrico contrastaria com o deslocamento por ondas excêntricas ocorrido até meados da década de 70 em que a Europa a América Latina e a Ásia com exceçáo do Japáo foram sucessivamente os espaços preferenciais de expansáo das filiais norteâmericanas Esta reordenação mundial do co mércio e do investimento permitiria que os EUA passassem a ter um destino distinto da Inglaterra na primeira grande de pressáo A Inglaterra como se recorda foi obrigada a financiar através da exportaçáo de capitais no período recessivo de 188090 parte da modernizaçáo do mundo capitalista e aca bou ficando para trás em sua base tecnológica e produtiva embora continuasse com a hegemonia mercantilfinanceira e militar até 1914 A base econômica americana possui na verdade algumas vantagens nítidas para este movimento de reconcentraçáo e atraçáo de capitais Além de ser continental é em si mesma mais equilibrada pois a industrializaçáo americana em todos os estágios desde o século XIX sempre foi fortemente ligada ao desenvolvimento agrícola e de serviços urbanos A grande corporaçáo transnacional como bloco de capital e padráo de organízaçáo industrial foi também uma invençáo do sistema americano que revelou um grande potencial de acumulaçáo por conter todas as caras do capital agrârio urbano mercan til industrial e financeiro Quando o mercado interno ameri cano passou a crescer menos que o potencial de expansáo das suas grandes empresas estas foram obrigadas a expandirse para fora O Japáo encontrase agorâ numa situaçáo similar à dos EUA no apósguerra sem contar porém bom uma base interna suficiente para retomar o antigo dinamismo O único grande 49 Maria da Conceiçáo Tâvares mercado parâ o qual ele pode exportar crescentemente pro dutos tecnologia e capitais é o americano Depois de haver feito na década de 7 0 a sua própria transnacion alizaçâo na Asia e em parte do continente europeu e latinoamericano restalhe agora a associaçáo ou fusáo com o capital americano no espaço de influência dominado por este Isto náo ocorrerá sem conflitos entre as duas partes dada a assimetria das relaçóes Os protestos dos capitais americanos prejudicados pela fúria exportadora ja ponesa já começaram mas o investimento direto tem em seu apoio a possibilidade de jointuentures comos capitais locais mais dinâmicos e um vasto espaço de modernizaçío O grande problema pâra â redefiniçáo do sistema indus trial americano náo é o da sua competitividade com o exterior a curto prazo que seria inclusive nociva a um novo equilíbrio macroeconômico mas o destino a longo prazo da sua estru tura produtiva e comercial e em particular do seu próprio subsistema de filiais industriais e bancárias O sistema bancário ao transnacionalizarse requereu para salvarse da crise e re tornar a porto seguro uma diplomacia do dólar forte que o FED providenciou Esta política porém prejudicou e segue prejudicando a retomada da expansáo do investimento das filiais industriais no mundo e a própria retomada sólida do crescimento americano a longo prazo Por outro lado os problemas estruturais da reorganizaçáo industrial americana náo passam apenas pela modernizaçáo tec nológica dos seus setores e empresas de ponta como vem ocor rendo até agora mas também pela amortizaçáo acelerada do velho capital industrial e pela reestruturaçáo dos seus serviços de infraestrutura e utilidade pública Tüdo isto é praticamente impossível de realizar com as atuais taxas de juros e de endivi damento Sem uma desvalorizaçáo lenta da dívida interna e ex terna americana que permita estabilizar os mercados de crédito a longo pÍazo e reestruturer o mercado de capitais internacional náo é possível visualizar um horizonte de cálculo para a retomada firme do investimento nestes setores O refluxo de capital bancário americano já ocorreu a en trada de capital estrangeiro processâse rapidamente nos seto 50 A RETONLADA DA HEGEMONIA NORTEAIUERICANA res de alta tecnologia e a reconcentraçáo dos capitais privados aumenta a passos largos nos setores de tecnologia intermediá ria A oliopolistic reaction de Knickerbocker 1973 está go opirndo em sentido inverso no sentido de reconcen táção de capital na própria economia americana Resta saber oÀo processará o novo equilíbrio oligopólico de qye falavam Hymer e Rowthorn 1970 Para isso o destino do mercado comum europeu continua uma interroganter se m res postâ enquanto a política global européia náo adquirir maior autonomia e coordenaçáo interna O ciclo de crescimento Schumpeteriano ainda náo está à vista porque parâ tanto falta redesenhar e financiar em novas bases o rajrst do sistema de energia transportes e comuni caçóes tanto nos EUA como no resto do mundo Isso passa ru rnrío parte dos países por um reescalonamento da dívida externa públio impossível de imaginar com o atual sistema de crédito O atual Cilo do Produto baseado na informática náo parece por si só ter poder indutor suficiente para alavan or rn ondu de acumulàçáo de longo pÍazo AÍinal nenhum cluster de inovações modificou a base técnica mundial sem novos mecanismos institucionais e financeiros e sem modificar radicalmente a divisáo internacional do trabalho Para con cluir o desenvolvimento futuro da economia mundial dada a sua atual estrutura aponta pâra uma arquitetura mais com plexa do que uma simpit grgrçáo de economias nacionais à d rrtristemas de empresas e bancos transnacionais po deriam indicar Até ficar claro se as avenidas da transnaciona hzaçâo do capital âtravessam a base continental americana e qrai será a iapacidade dos EUA de reequilibrar estrutu ralmenre os mapas do Atlântico e do Pacífico fica difícil uti lizar com algum rigor a expressáo sistema capitalista Internacional Como diz Hobsbawm 1979 criticando Rostow 1978 Náo há qualquer ruzáoÍeôtícaPara suporse que o capitalismo será incapaz à gàr um novo período de expansáo ou ciclo ascen dnà d Kãndratiev ainda que possam haver razóes empíricas fru druiduse da visáo de Roitow que esta já haveria começado í1 Maria da Conceiçáo tvares é ruzoâvel suporse que a economia capitalista mundial pro vavelmente sobreviverá às dificuldades globais de hoje ainda que alguns países mais fracos possam não superar as suas Neste período de transiçáo que ainda está longe de termi nar ou de chegar a bom termo é indiscutível a retomada da hegemonia americana O que náo se sabe é da viabilidade dos EUA se transformarem de forma estável numa economia cên trica a partir da qual com ou sem uma nova ordem institu cional explícita o mundo seria reorganizado por uma nova geografia econômica e política O que tampouco fica claro é o destino das suas novas Periferias na Europa na Ásia e na América do Sul Rio de Janeiro iunho de 1985 BIBLIOGRAFIA AGLIETTa M World Capitalism in the Eighties Em New Lefi Reaiew no 136 1982 ALIBER RZ The International Money Game Nova Iorque Basic Books 1979 FelNzvlaeR E El debate industrial en Estados Unidos Entre et desafio Japonés e el espectro de Inglnterra Santiago Cepal julio 1985 GILPIN RR tls Power and the Multinational Corporations The po litical Economy of Foreign Direct Inaestment Londres Macmillan 1975 Ho BSBewM EJ Th e D ea elop m ent of Wo ild E c on omy C ambridge Jour nal of Economics 1979 HYMER S RowrgoutR Multinational Corporations and Interna tional Oligopoly The nonamerican Challenge Em KwoLBBERGER 52
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Maria da Conceição Tauares A retom ada da hegemonia norteamericanas A forma insólita e pouco ortodoxa ern que uern apresentada esta discussão sobre Hegemonia Americana deuese ao longo período e aos freqüentes desuios com que a discussão acadêmi ca política e idiológica tem tratado do assunto e à minha obsessão recorrente âdo rz que o debate e a própria realidade p olítico econômica dpresentdm mouimento s contraditórios Resolui por isso contribuir para a tarefa coletiua de cons trução desteliuro iuntando os cdcos de minhas reflexões desde tgg ata dgora sobre a hierarquia das relações internacionais do ponto ãe uista da predominância política e econômica da poiência hegemônica Dele participdm duas geraçoes de eco nomistas piltticos que compdrtilham umd perspectiua históri o A 1ê versáo deste artigo saiu simultaneamente na Reuista de Economia Política 18 vol 5 n i abrilijunho de 1985 e naReuista de la Cepalne zã roo dá tgSS sendo que o debate de setembro de 1984 que lhe deu ãgil iãl prbliceáo m HiRSt Monica org BrasilEstados Unidos na Trrlriâo Democrática Paz eTirua1985 Eita versáo mais aprofundada át textos para áiscussão n 77 jttlho de 1985 do IEIUFRJmas rã úir rlào plbrdr Houve acordo entre os participantes deste livro ã or o debate àbre Poder e Dinheiro seria inaugurado a partir dopre Ápesar de yá haver passado mais de dez anos desde sua apariçáo 27 Maria da Conceiçáo Tâvares coestrutural acerca de nosso obieto compdnheiros de longa jornada na resistência intelectual ao pensamento dominante mds com trajetórias próprias e diferenciadas de uida e de pen samento crítico Em seminários irregulares que mantiuemos no Rio nos in terualos de minha militância política chegamos à conclusão que d minha contribuição seria mais útil se começasse pela apresentdção da segunda uersão da Retomada da Hegemonia Americana e que nunca hauia sido publicada Seguese uma uersão reuisitada em que numd discussão que tnantiue com Luiz Eduardo Melin durante o mês de iunho de 1997 buscamos delinear uma definição atualizada dos termos em que se en contra hoie o problema Ambas as uersões uao publicadas em seqüência pdra que o leitor possa com mais clareza discernir a euoluçao dtts diuersas questões leuantadas no ensaio original A questão da hegemonia é muito mais complexa do que os indicadores econômicos mais evidentes são capazes de de monstrar Convém assim advertir desde logo para evitar mal entendidos que nossa hipótese de retomada da hegemonia americana náo passa por sustentar que a performance de va Iorizaçáo do dólar e a tâxa de crescimento interno americana se mantenham O fulcro do problema náo reside sequer no maior poder econômico e militar da potência dominante mas sim na sua capacidade de enquadramento econômico financeiro e políti coideológico de seus parceiros e adversários Este poder deve pareceunos a todos que a visáo originária do presente artigo de que a capacidade da potência dominante para enquadrar parceiros e adverúrios com base em seu controle do pocler e do dinheiro continua senclo central para e compreensáo dos movimentos recentes da economia e da política internacional Esta perspectiva central é desenvolvida nos vários textos deste volume a começar pela versão revisitada da discussáo sobre hegemonia americana que se segue imediatamente ao presente texto e na qual sc busca delinear uma definição atualizada dos termos em que se encontra hoje a questáo 28 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA se menos à pressáo transnacional de seus bancos e corporaçóes em espâços locais de operaçáo do que a uma visáo estratégica da elite financeira e militar americana que se reforçou com a vitória de Reagan Em verdade seus sócios ou rivais capitalistas sáo compelidos náo apenas a submeterse mas aracionalízar a visão dominante como sendo a única possível Esta racio nalizaçáo vem pâssândo em matéria de política econômica pela aceitaçáo de um ajuste recessivo que corresponde a uma sin cronizaçáo da política econômica e da ideologia conservadoras sem precedentes Em termos estratégicos e militares passa por uma visáo de guerrâ em que se reconhecem que os interesses gerais da segurança mundial estáo no substancial bem defen didos pela grande potência americana Vale dizer significa a aceitaçáo pela política mundial que o Presidente Reagan afinal náo é um louco mas um homem resoluto que se impôs aos seus adversários e que está dando a linha justa para o resto do mundo capitalista O que este ensaio pretende demonstrar é como esta vitória políticoideológica foi precedida por um reenquadramento por parte do governo americano do movimento policêntrico que vinha tendo lugar a partir da transnacionalizaçáo dos ca pitais de origem norteamericana A outra questáo que corre paralela à da retomada da he gemonia mas é de natureza mais profunda e cujas tendências ainda náo estão claras diz respeito à tendência a uma nova divisão internacional do trabalho em que os EUA passariam realmente a ser uma potência verdadeiramente cêntrica capaz de reordenar a economia mundial com base num novo tipo de transnacionalizaçáo da sua própria economia nacional Até recentemente não era razoável supor que os EUA con seguissem reafirmar sua hegemonia sobre seus concorrentes oci dentais e muito menos tentâr transitar para uma nova ordem Pnm o que considerarmos os traços essenciais desse movimento de trans nacionalizaçáo ver Gilpin 1975 e MC Tâvares e A Teixeira 1981 29 Maria da Conceiçáo Tâvares econômicâ internacional e para uma nova divisáo de trabalho sob seu comando Hoje essa probabilidade é bastante alta Até o final da década de70 não era previsível que os EUA fossem capazes de enquadrar dois países que tinham uma im portância estrâtégica na ordem capitalista o Japáo e a Alema nha Se os EUA náo tivessem conseguido submeter a economia privada japonesa ao seu jogo de interesses e se as políticas inglesa e alemã náo fossem táo conservadoras os EUA teriam enfrentado dois blocos com pretensóes européias e asiáticas de independência econômica Devese salientar que àquela altura os interesses em jogo eram tão visivelmente contradi tórios que as tendências mundiais eram policêntricas e parecia impossível aos EUA conseguir reafirmar sua hegemonia em bora continuâssem a ser potência dominante Outras circunstâncias gerais que se tornaram manifestas na década de 70 pareciam colaborar para esta tese O sistema bancário privado operâva totalmente fora de controle dos ban cos centrais em particular do FED O subsistema de filiais transnâcionais operava divisóes regionais de trabalho intrafir ma à revelia dos interesses nacionais americanos e conduziam a um acirramento da concorrência no interior dos demais paí ses capitalistas que era favorável à modernizaçâo e expansáo européia e japonesa e desfavorável aos EUA Em síntese a existência de uma economia mundial sem pólo hegemônico estavâ levando à desestruturaçáo da ordem vigente no pós guerra e à descentr alizaçáo dos interesses privados e regionais Os desdobramentos da política econômica interna e externa dos EUA de 1979 para câ foram no sentido de reverter estas tendências e retomâr o controle financeiro internacional através da chamada diplomacia do dólar forte Esta como se verá apesar de mergulhar o mundo numa recessáo generalizada deu aos EUA a capacidade de retomar a iniciativa Assim os destinos dà eco nomia mundial encontramse hoie mais do que nuncâ na de pendência das açóes da potência hegemônica 30 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA 1 A diplomacia do dólar forte O sistema monetário internacional com base no padráo dólarouro nunca funcionou â contento como táo bem previra Tiiffin 1958 A rigor depois da etapa de escassez de dólares que terminou com a criaçáo do Mercado Comum Europeu o sistema de Brettoníoods só se manteve em funcionamento razoâveldo ponto de vista do balanço de pagamentos dos seus principais paísesmembros porque o bloco europeu conseguiu compensar intraregionalmente as posições superavitárias de um conjunto de países com as deficitárias de outros através do mercado de euromoedas Do ponto de vista do Sistema Monetário Internâcional porém o dólar só foi aceito como moeda de reservas âpesar de sua nítida tendência à desva lorizaçáo na década de 60 porque ocorreu a filializaçáo dos bancos americanos e os bancos centrais europeus foram obri gados a absorver o excesso de liquidez proveniente do déficit de balanço de pagamentos americano sob pena de paralisarem as suas políticas monetárias2 Do ponto de vista davalorízaçáo patrimonial sobretudo enquanto durou o teto da taxa de juros americano Regulation Q todos os agentes americanos no exterior em particular as suas filiais industriais e bancárias e os próprios bancos centrais europeus passaram â usar o eu romercado para operaçóes de aplicaçáo de curto prazo das suas reservas em dólar Como contraparti daa ofertade dólares se ampliou e permitiu que âs empresâs e os países deficitários primeiro a Europa e depois do resto do mundo pudessem usar créditos denominados em dólar muito além do que a expansáo da base monetária dos respectivos países de origem permitia Depois de 1968 quando os EUA mudam sua política mo netária e Londres corta a conversibilidade da libra em dólar o mercado de crédito interbancário liberase inteiramente do padráo monetário e de reservas dólarouro e pâssa a estabelecer Prrr rr visáo descritiva da Evoluçáo do SistemaMonetário Internacional até as crises recentes ver Moffitt 1983 31 NÍaria da Conceição tvares o seu próprio circuito supranacional de crédito com uma li quidez abundante e crescente inteiramente fora de controle das autoridades monetárias e sem qualquer relaçáo âpârente com o déficit de balanço de pagamentos americano O sistema monetário internacional tinha seus dias contados e as crises monetáriocambiais de 1971 a 1973 só fizeram proclamar ofi cialmente o seu falecimento Em contrapartida tinhase de senvolvido à sombra do padráo dólar inicialmente arravés do movimento intraeuropeu de comércio seguido pela fuga de capitais americanos parâ o euromercado um florescente mer cado privado de crédito que alimentou o último auge da ex pansáo da economia mundial que se encerra entre 197374 A especulaçáo em moedas que se desata depois da ruptura do sistema de paridades fixas torna inoperantes os mecanis mos de ajustamento monetário do balanço de pagamentos Esta nova situaçáo de desequilíbrio monetário e cambial à qual se agrega o excedente de petrodólares permire uma ex pansáo ainda maior do mercado interbancário Este escapa inteiramente ao controle do núcleo constiruído pelo oligopó lio dos vinte maiores bancos e das duzentas maiores empresas multinacionais que tinham Londres como mercado principal Produzse assim uma expansáo adicional do circuito interban cário à qual iriam juntarse centenâs de bancos menores das mais diversas procedências que se abrigam nos mercados off shore e nos chamados paraísos fiscais Os movimentos espe culativos de capitais sempre denominados em dólar que dão lugar a um nonsystem continuam minando o dólar como moeda reserva desestabilizam periodicâmente a libra e forta lecem o mârco e o iene como moedas internacionais Assim a ordem monetária internacional caminha rapidamente para o caos sobretudo depois do primeiro choque de petrodólares e da política recessiva americana de 1974 Pra uma crítica interessante à visáo convencional de balanço cle pagamen tos ver Aliber 1979 particularmente cap 8 The Dollar and Cocacola Are Both Brand Names 32 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA As tentativas do FMI de implementar uma nova ordem monetária internacional que lhe permitisse operar uma cesta de moedas respaldando os Direitos Especiais de Saque SDR com base em maiores contribuiçóes dos principais países de moeda reserva tinham sido barradas sistematicamente pelos EUA e a Inglaterra náo tendo encontrado apoio igualmente na Alemanha e no Japáo Aos poucos porém o volume do crédito interbancário e da dívida final dos tomadores do Têr ceiro Mundo e da área socialista começou a aumentar a sen saçáo de risco crescente por parte dos bancos centrais de países superavitários e deficitários Estes haviam perdido com pltrttt o controle de sua situaçáo final de Balanço de Pa Bamentos graças aos movimentos bruscos de especulaçáo em moedas Esta situaçáo acabou levando a maioria dos países capitalistas com a única exceçáo dos EUA e da Inglaterra a apoiar o FMI para medidas decisivas na direçáo de um maior cóntrole público do sistema financeiro internacional Na reuniáo mundial do FMI de 1979 Mr Volcker presi dente do FED retirouse ostensivamente foi para os EUA e de lá declarou ao mundo que estâva contra as propostas do FMI e dos demais países membros que tendiam a manter o dólar desvalorizado e a implementar um novo padráo mone tário internacional Volcker aduziu que o FMI poderia propor o que desejasse mâs os EUA náo permitiriam que o dólar con tinuasse desvalorizado tal como vinha ocorrendo desde 1971 e em particular depois de 1973 com a rupturâ do Smithsonian Agreement A partir desta reviravolta Volcker subiu violenta mente ataxa de iuros interna e declarou que o dólar manteria sua situaçáo de padráo internacional e que a hegemonia da moeda americana iria ser restaurâda Esta diplomacia do dólar forte custou aos EUA mergulhar a si mesmos e a economia mundial numa recessáo contínua por três anos Quebraram inclusive várias grandes empresas e alguns bancos americanos além de submeterem a própria economia americana a uma violenta tensáo estrutural O início da recessáo americana e a violenta elevaçáo da taxa de juros pesaram decisivamente na derrota popular de Carter Além disso levaram à beira da 33 Maria da Conceiçáo Tâvares bancarrota os países devedores e forçaram os demais países capitalistas a um ajuste recessivo sincronizado com a política americana Por outro lado ao manter uma política monetária dura e forçar uma sobrevalorizaçáo do dólar o FED retomou naprá tica o controle dos seus próprios bancos e do resto do sistema bancário privado internacional e articulou em seu proveito os interesses do rebanho disperso De fato esse sistema a partir da reviravolta de Volcker seguida da quebra da Polônia foi obrigado em primeiro lugar a contrair o crédito quase que instantaneamente diminuindo o ritmo das operaçóes no mer cado interbancário Este só se manteve sem quebras mais sig nificativas graçâs à substituiçáo drástica de posiçóes ocupadas rapidamente pelos bancos americanosa A reduçáo dos emprés timos foi ainda mais violenta sobretudo para países da peri feria depois da crise do México pois nesta ocasiáo o sistema bancário privado reagiu em pânico e refugiouse nas grandes praças financeiras A partir daí o sistema de crédito interban cário orientouse decisivamente pâra os EUA e o sistema ban cário passou a ficar sob o controle da política monetária do FED que dita as regras do jogo As flutuaçóes da taxa de juros e de câmbio ficaram novamente amarradas ao dólar e através delas o movimento da liquidez internacional foi posta a serviço da política fiscal americana A pârtir do início dos 80 todos os grandes bancos internacionais estáo em Nova Iorque náo apenas sob aumbrella doFED mas também financiando obri gatoriamente porque não há outra alternativa o déficit fiscal americano Tüdo isso pode parecer estranho Mas a verdade é que hoie presenciamos a seguinte situaçáo os EUA apresentam um dé ficit fiscal de natureza estrutural cuja incompressibilidade de O Bncos Arnericanos que detinham em 1980 cerca de 170lo dos fluxos brutos de empréstimos bancários internacioneis chegaram a quase 930o do totalno 1q semestre de 1982 antes da crise mexicana daclos do BIS extraídos do IMF Survey 1312l82 citado em Samuel Lichtensztejn América Latina en la Dinâmica de la Crisis Financeira Internacional 34 A RETON4ADA D HEGEMONIA NORTEAÀ4EzuCANA corre da própria política financeira e da política armamentista ambas gtiiurt e imperiais O componente financeiro do déficit é crescente graças à mera rolagem da dívida pública americana que alcançou em maio de 1985 cerca de 1 trilháo e 600 bilhói d dólrts cifra correspondente à cerca de 800o da circulaçáo monetária total no mercado interbancário inter nacional Esta dívida é o único instrumento que os EUA têm para realizar uma captaçáo forçada da liquidez internacional ã prru canalizar o movimento do capital bancário japonês e europeu para o merçado monetário americano Por outro lado é um insirumenro de aplicaçáo seguro e de alta rentabilidade para o excesso de recursos financeiros dos principais rentistas I rrlu mundial Assim apesar das críticas ao déficit ameri cano este tornouse na prática o único elemento de estabi liznâo temporária do mercado monetário e de crédito inteinacionri O ptço desta estabilidade tem sido a submis sáo dos demais países à diplomacia do dólar e o aiustamento progressivo de iuas políticas econômicas ao desiderato do qrrilíbtio global do sistema Evidentemente este xjustâmen to náo se fez sem resistência Até L981 só a política econômica da Inglaterra apoiava declaradamente a moeda americana Os japoneses mantiveram possibilidades reais de fazer uma política monetária autônoma com baixas taxas de juros graças às peculiaridades do seu sisrema nacional de crédito e resisriram à adoçáo de políticas neoconservadoras apoiadas no receituário monetarista en quanto o seu sistema financeiro náo se internacionalizou vá io orro países como â França a Áustria os do Norte da Europa e atá mesmo o Brasil tentaram cada um à sua maneira sistir ao alinhamenro automático da política econômica or todoxa Todos tiveram claro de L979 a 1981 que náo deviam alinharse mas apesar disso todos foram sendo submetidos Todos os países desenvolvidos do mundo quaisquer que sejam r gouinos socialistas socialdemocratas conservadores etc estáo preticamente alinhados em termos de política cam bial política de taxa de juros política monetária e política fiscal O resultado deste movimento é que o espectro das taxas 3i Maria da Conceiçáo tvares de crescimento das taxas de câmbio e de juros passou a ser concêntrico ao desempenho destas variáveis no âmbito da eco nomia americana O equilíbrio macroeconômico da economia mundial dada a dolarízaçáo generalizada do sistema de crédito obriga a maioria dos países a praticar políticas monetárias e fiscais restri tivas e a obter superávites comerciais crescentes para compensar a situação deficitária global da potência hegemônica Estas polí ticas por sua vez esterilizam o potencial de crescimento endó geno das economias nacionais e convertem os déficits públicos em déficits financeiros estruturais inúteis para uma política de reativaçáo econômica de corte keynesiano Uma experiência impressionante de alinhamento às novas circunstâncias ocorreu com oJapão Este país foi durante todo o apósguerra o mais heterodoxo em matéria de política fi nanceira e o mais autônomo em termos de desenvolvimento econômico Fez investimento com crédito de curto prazo e uma política monetária solta conglomerou o seu sistema em presarial com umâ estrutura de risco aparentemente impossí vel fez pouco uso do mercado de açóes e da dívida pública enfim produziu o seu próprio modelo nacional de desen volvimento Tentou em197 5 um plano de ajustamento interno condizente com as restriçóes externas mas foi forçado pro gressivamente a abrir máo de seu enorme potencial de cresci mento endógeno na medida em que o seu sistema financeiro se internacionalizou O Japáo não está hoje fazendo uma po lítica ativa de desenvolvimento interno que corresponda ao seu potencial de acumulaçáo Salvo em matéria de segurança mínima de sua sociedade e de modernizaçáo tecnológica náo tem mantido uma taxa de investimento elevada corres pondente à sua taxa de poupança interna Está com a maior parte de seu capital bancário e multinacional atado aos proietos de recuperaçáo americana com excedentes exportáveis gigan tescos sem possibilidade de retomar sua taxa de investimento e de crescimento históricas Isso significaque o mercado fi nanceiro japonês está irremediavelmente atrelado ao america no salvo um acidente de percurso que poderá ocorrer se o 36 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA sistema bancário americano entrâr em turbulência e o dólar desvalorizar bruscamente Este é aliás o único ponto que ainda pode dar lugar a uma ruptura capaz de desestabilizar tempo rariamente a hegemonia americana A diplomacia do dólar já cumpriu o seu papel soldando os interesses do capital financeiro internacional sob comando americano Ainda que uma desvalorizaçáo do dólar fosse pro vocar umâ nova crise financeira internacional os EUA náo perderáo o papel reitor na reestruturaçáo de uma possível novâ ordem financeira internacional Há uma diferença crucial entre a crise financeira do co meço dos anos 80 e esta que pode se desenhar no horizonte Uma coisa é deter nos ativos do sistema bancário interna cional dívidas denominadas em dólar de empresas e governos débeis Outrâ coisa completamente distinta é deter nos por tafólios dos bancos montantes consideráveis de dívida do Te souro americano Foi a ameaça de ruptura do sistema privado de crédito por default dos países periféricos e de algumas grandes empresâs que colocou sob o controle do sistema bancário americano e em última instância do FED o sistema financeiro interna cional Quem bancará porém a dívida externa americana que é hoje superior à do conjunto da América Latina E se ela se desvalorizar bruscamente quem vai perder 2 A retomada do crescimento e d propostd hegemônica Há algum tempo atrás tudo levava a crer que os EUA tinham perdido a capacidade de liderar a economia mundial de uma maneira benéfica Isso continua a ser verdade Mas por outro lado os americanos indiscutivelmente deram de 1979 a 1983 uma demonstraçáo de sua capacidade maléfica de exercer sua hegemonia e de ajustar todos os países através da recessáo ao seu desiderato E o fizeram está claro com uma arrogância e com uma violência sem precedentes 37 Maria da Conceiçáo tvares A partir de 1982 procederam à sua própria retomada de crescimento Esta retomada tem aspectos controvertidos tan to quanto à sua possível duraçáo como sobretudo pela forma como foi financiada Um primeiro fato que deve ser salientado é que a recupe raçáo da economia americana foi feita com crédito de curto prazo e com endividamento crescente Na prâtica os america nos estáo aplicando a mesma técnica que o Brasil e o México aplicaram recentemente e que o Japáo utilizou na década dos cinqüenta Finalmente os EUA descobriram atécnica latino americana e japonesa de desenvolvimento financiamento do crescimento com base em crédito de curto prazo endivida mento externo e déficit fiscal E como sua moeda é hegemônica e sobrevalorizada a economia americana nem inflaçáo tem Aliás este é um fato que deixa os economistas espantadíssimos pois se valesse o que dizem os monetâristas ou os keynesianos ou qualquer livrotexto tradicional os EUA já teriam experi mentado uma inflaçáo galopante em virtude do fantástico em puxo de demanda promovido por uma técnica heterodoxa de política econômica Um exemplo desta heterodoxia diz respeito à política or çamentária Os EUA prâticâmente estancaram o gâsto em bens e serviços de utilidade pública âumentaram o dispêndio no setor de armamentos e cortaram compensetoriamente os gâs tos com o welfare Em síntese trocarâm as despesas em capital social básico e bemestar social por armas e fízeram uma re distribuição de rendas em favor dos ricos Além disso reduzi râm a carga tributária sobre a classe média e praticamente eliminaram a incidência de impostos sobre os juros pagos aos bancos pârâ compras de consumo durável Propiciaram tam bém depreciaçóes aceleradas dos ativos e refinanciamento dos passivos de certas firmas Nestas circunstâncias o endivida mento das famílias passa â ser um excelente negócio porque parte da carga financeira da dívida é descontada no imposto de renda Assim tomouse crédito de curto pÍazo em larga escala para dar suporte à compra de casas e bens duráveis de consumo Além disso financiaram investimentos no terciário 38 A RETOTVÁDA DA HEGEMONIA NORTEAMEzuCANA e nas indústrias de alta tecnologia que náo requerem um pe ríodo de maturaçáo muito longo e cuja taxa de rentabilidade esperada é muito superior à taxa de juros nominal em declínio Este declínio da taxa nominal de juros devese aparentemente a três motivos interligados a absorçáo de liquidez interna cional a posição menos ortodoxa do FED e a queda da infla çáo Esta última por suâ vez se deve à baixa de custos internos provocada pela sobrev alorizaçáo do dólar e pela concorrência das importaçóes acarretando uma melhorâ nas relaçóes de troca favorável ao poder de compra dos salários Outra questáo que deve ser esclarecida diz respeito à in fluência da taxa de juros sobre o investimento Muita gente afirma que o elevado patamar de taxa de juros real vai acabar cedo ou tarde freando o gasto em investimento Convém ad vertir que os americanos náo estáo financiando o investimento através do mercado de capitais Não há mercado de capitais novos o mercado relevante hoje é o monetário ou o de crédito de curto prazo Os americanos vale reafirmar estão substi tuindo o tradicional endividamento de longo prazo através da emissáo de debêntures equities etc por crédito de curto prazo ou utilizando recursos próprios e de capital de risco externo Por outro lado está claro que esta situaçáo coloca em más condiçóes muitas companhias velhas ou endividadas e o valor de suas respectivas açóes e debêntures Se uma grande companhia quiser lançar como várias tentâram fazet tecente mente alguns bilhóes em papéis no mercado de debêntures em uma semâna estâ mesma companhia estará obrigada a re comprálos pois caso contrário o valor das açóes certamente írácaírVale dizer o único risco real que os EUA estâo correndo é o de sofrer uma desvalorizaçâo brutal das velhas empresas cujas ações estáo cotadas a um valor distinto do efetivo Digase de passagem todos os grandes bancos que se envolveramcom investimentos nos râmos produtivos velhos ou em energia e agricultura isto é setores que requerem crédito de longo prazo ef outaxas de juros mais baixas passaram e ainda passâm por sérios problemas A quebra técnica doContinental Illinois é um exemplo claro disto De outra parte todos aqueles que 39 Maria da Conceiçáo Tâvares investiram na Califórnia no SiliconValley nos serviços estáo em situaçáo extremamente favorável Um terceiro aspecto fundamental desse processo de res tauraçáo da posiçáo hegemônica dos EUA fica evidente quando analisamos as suas relações econômicas internacionais Entre 1982 e 1984 os EUA conseguiram dobrar o seu déficit comer cial a cada ano o que juntamente com o recebimento de juros lhe permitiu absorver transferências reais de poupança do res to do mundo que só em 1983 corresponderam â 100 bilhões de dólares e em 1984 devem ter ultrapassado 150 bilhóes Por outro lado suas relaçóes de troca melhoraram e os seus custos internos caíram já que as importaçóes que os EUA estáo fazendo sáo as melhores e as mais baratas do mundo inteiro Assim sem fazer qualquer esforço intensivo de poupança e investimento sem tocar em sua infraestrutura energética e de transportes sem tocar na agricultura sem tocar na velha in dústria pesada os EUA estáo modernizando a sua indústria de ponta com equipamentos baratos de último tipo e capitais de empréstimo e de risco do Japáo da Alemanha do resto da Europa e mesmo do mundo periférico Muitos esperavam que a pârtir de L983 os EUA reverte riam a posiçáo superavitária final do balanço de pagamentos pois desde 1982 as rendas de capitais americanos no exterior náo estáo cobrindo o déficit americano em transaçóes corren tes Mas isso não ocorreu porque as entradas de capital ban cário se encerregaram de fazer amplamente esta cobertura O investimento em capital de risco também temse mantido ele vado desde 1981 superior em média a US 17 bilhões So mente o Japáo por exemplo investiu 10 bilhóes de dólares no período de recuperaçáo e já projetou investir 40 bilhões até o final da década A Alemanha por seu lado deve ter investido algo em torno de 8 a 9 bilhóes embora não tenhamos dados precisos sobre seu montante Em suma toda a Europa e o Japáo estáo investindo nos EUA enquanto estes últimos fízeram retornar parte dos capitais das filiais multinacionais americanas que náo têm capacidade de expansão adicional no resto do mundo Afinal enquanto a periferia está praticamente 40 A RETONÍADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA estancada e o resto do mundo cresce a 1 ou 2o0 os EUA esti veram crescendo à taxa de 6 a 80o nos últimos dois anos Apoiados num enorme afluxo de capitais que superou os 100 bilhóes de dólares em 1984 os EUA puderam manter e ampliar uma brecha comercial cujos limites náo sáo ainda vi síveis De 30 bilhóes em1982 pâssou a 60 bilhóes em 1983 e saltou para mais de 120 bilhóes em 1984 Em 1985 poderia continuar aumentando náo fosse pela desaceleraçáo da eco nomia americana simplesmente porque há capital sobrando no mundo E este excesso de capital e de poupança externa se deve a que o resto do mundo obedeceu à política conser vadora fosse qual fosse o tipo de governo Na verdade a sin cronizaçáo das políticas ortodoxas obrigou todos os países a rrrtrrn em níveis baixos suas taxas de investimento e de crescimento e a forçar as exportaçóes Como um reflexo do ajuste forçado quase todos os países do mundo estáo experi mentando superávites no balanço comercial Todos menos um os EUA Eles abrem sua economia e ao fazêlo provocâm uma maciça transferência de renda e de capitais do resto do mundo Um aspecto muito importante é que isso permite fechar o déficit estrutural financeiro do setor público Tirdo se passa como se cadavez que o FED joga títulos de dívida pública no mercado ele tivesse ceÍtezaque os títulos seráo colocados em todas as estruturas bancárias e junto a todos os rentistas de países desenvolvidos ou náot O fato essencial é que todo o mundo está financiando náo âpenas o Tesouro americano es pecialmente seu componente financeiro mas também os con iumidores e investidores americanos Desta vez e ao contrário da década de 7O ocorreu transferência de poupança real e náo apenas de crédito liquidez ou capital especulativo Nestas condiçóes os EUA náo precisam resolver interna mente o seu problema de financiamento fiscal e portanto dei t No 2u semesrre de 1984 âs compras externas líquidas de títulos do Têsouro Americano foram superiores a us 20 bilhóes veroECD Economic ou look ltne 1985 p 60 41 Maria da Conceiçáo Tâvares xâram de pressionar ataxa de juros que pode cair bastando manter um ligeiro diferencial sobre as taxas do euromercado Enquanto ataxa de crescimento da economia mundial for inferior à taxa de crescimento americana náo há a menor pos sibilidade de os capitais excedentes sobretudo os bancários e os das empresas com capacidade ociosa resolverem investir preferencialmente nos seus países de origem Os países da Europa náo formularam desde o âiuste re cessivo qualquer plano para restaurar solidamente o seu cres cimento econômico global Apenas jogaram individualmente na modernizaçáo de certas indústrias e tentaram protegerse para que o Japáo náo invadisse mais os seus mercados Mas ao mesmo tempo em que a concorrência intercapitalista se âcentuâ no resto do mundo operâse um fantástico aumento de eficiência das indústrias modernas no Japáo e em alguns países da Europa Como já vimos os EUA estáo aproveitando esta situação para modernizar suâ estrutura produtiva à custa do resto do mundo inclusive da periferia latinoamericana que já transferiu nos últimos anos quase 100 bilhóes de dólares a partir de superávites comerciais crescentes e de perda de suas relaçóes de troca A partir de 1984 a economia mundial recuperouse com a contribuiçáo decisiva do crescimento das importaçóes ame ricanas Estas alcançârâm taxas de expansáo sem precedentes e beneficiaram indiscriminadamente todas as áreas o Japáo e Canadá por sua posiçáo particular no comércio americano receberam 230o do incremento global dos últimos dois anos a Europa como um todo recebeu um montante equivalente e os países em desenvolvimento pouco maís de 2600 Eufórica com esta situaçáo a opiniáo bem informada passou a considerar os EUA como a trade locomotiue da rect peraçáo mundial e a elite financeira americana passou a pràpor ao mundo umâ nova divisáo internacional do trabalho na qual a economia americana desempenharia um papel dominante Comprometerseia a náo baixar unilateralmente o déficit co mercial mas responderia com retaliações aos países que apli az A RETONíADA DA HEGEMONIA NORTEAMEzuCANA cassem restriçóes às exportaçóes de mercadorias e capitais a mericanos Convém transcrever as seguintes passagens escritas por um dos membr os do Board do Morgan pertencente àCornission on lndustrial Comp etitiuene ssnomeado pelo Presidente Rea gan que a nosso juízo expressa bem a proposta hegemônica O déficit comercial dos EUA vem em paralelo à força do inves timento na economia americana em meio a uma relativa escassez de poupança interna Seria possível reduzirse o déficit comer ciai americano caso se cortasse o investimento dos EUA freando seu o crescimento econômico Entretanto esta seria uma fór mula certeir a para provocar a estagnação mundial seria muito mais construtivo adotar uma estratégia de competitividadepara os Estados unidos que mantenha a economia americana forte estimule u pooprnç inrerna e promova um clima de investimen to mais positivo no exterior especialmente na Europa e na América Latina No que se refere aos efeitos do déficit sobre o emprego e opiitividade industrial o documento faz os seguintes comentários O déficit comercial desloca empregos americanos do setor ex portador e do setor que compete com os importados direcio nndoos para atividades menos exPostas à competiçáo internacionà1 especialmente para os serviços O efeito líquido desse deslocrnto de empregos ainda não está claro e pode não ser danoso ao interesse nacional americano no longo prazo A continuidade do déficit comercial e do dólar valorizado man têm a pressáo sobre as indústrias americanas para elevar a pro dutiviàade e restringir aumentos de custos Além do que as pressóes comerciais ãceleram a substituiçáo de indústrias ultra patsadas por empreendimentos avançados 6 As citaçóes que seguem foram extraídas do artigo do fundo strengthening U Coàpaliivenãssdo Woild Financial Markets Morgan Guaranry tust Company New York Set 1984 43 Maria da Conceiçáo Tàvares No que se refere ao papel global da política comercial americanâ O sistema comercial do pósguerra foi concebido primordial mente para reger o comércio internacional dos EUA e da Europa cujas filosofias de gerenciamenro econômico tinham muiro em comum Hoje os interesses mudaram Os Estados Unidos não consideram apenas a Europa ao trataÍ de seus interesses comer ciais e de segurança mas leva também em conta o Japáo os NICsT asiáticos e a América Latina No que se refere aos países menos desenvolvidos e falando em nome dos desenvolvidos a dureza de posiçóes e o caráter impositivo é manifesto Os países industriais maduros contudo náo aceitaráo uma es pecialízaçáo ulterior em tecnologia de ponta comunicaçóes e serviços a menos que os países menos desenvolvidos também ofereçam concessões significativas Eles também deverão aceirar um código de conduta explícito quanro à regulação do investimento direto privado e quanro aos requisitos de conteúdo doméstico e de exportaçóes a ela associados Os NICs que vêm se desenvolvendo mais rapidamente em particular terão que abrir mão de sua atual isenção de cerras obrigaçóes junto ao GATI obtida com base na ultrapassada alegação de vicissitudes de balanço de pagamentos No entanto o mâior grau de abertura da economia ame ricana às importaçóes e ao capital estrangeiro encontra resis tências sérias nos setores afetados que clamam por um maior protecionismo A liderança da classe financeira americana é contra o protecionismo e tenta defenderse enfatizando dois âspectos fundamentais negociaçóes com as suâs áreas de in fluência e a retaliaçáo contra o protecionismo externos Negociaçóes em direção a um acordo de livre comércio com Israel a sugestão de um arranjo mais limitado com o Canadá e conversas sobre uma mais ampla abertura da Bacia do Pacífico que inclua o Japáo os NICs asiáticos e o México além do Canadâ 7 Newly Industrialized Countries ou países de industrializaçáo recenre 44 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA No esforço de forçar a abertura de mercados estrangeiros fecha dos aos exportadores americanos o mais poderoso instrumento de negociáção de que dispóem os EUA é a ameaça de limitar o acesso estrangeiro ao vasto mercado americano Como se vê tratase de um conjunto de argumentaçóes coerentes que pretendem manter um relativo equilíbrio macroeconômicó entre os parceiros mais importantes da eco nomia mundial Mas o tom racional náo disfarça o big stick em relaçáo aos países periféricos nem ao desiderato estratégico de manter e afirmar a hegemonia americana em toJglobais A mensâgem em relaçáo à Europa é de duas naturezás A primeira referese ao comércio multilateral Mais cedo ou mais tarde não se poderá prescindir de negociações globais especialmente para conseguir o envolvimento pleno da Europa A segunda é de recomendaçóes paÍa a restauraçáo do di namismo europeu O diagnóstico é sumário Atualmente a Europa sofre de uma pesada tributação uma re gulamentação paiitrrt custos trabalhistas inflexíveis e bar reiras à mobilidade As recomendaçóes seguemse na linha do neoliberalismo americano âparentemente muito apreciado nas últimas reu niões do Summit Europeu A Europa corretamente deixou de acreditar no Sasto público como indutor do crescimento Mas sua ênfase em conter os déficits fiscais não é uma fórmula suficiente para dinamizar o crescimento dado que presume que o investimento substi tuirá de forma tporlât à e suficiente o consumo privado e público A experiência americana sugere claramente que eá assuntos fiscais a necessidade prioritária da Europa é de cortar impostos visando a incentivar as empresas que são o meio mais eficiente de estimular o investimento e o emprgo Finalmente para náo deixar ninguém para trás o Japáo também leva a sua advertência Apesar de sua produtividade e seu dinamismo tecnológico serem aÀplamente ádmiados a infraestrutura física do Japáo náo 4S Maria da Conceição Tâvares corresponde à sua pujança industrial Há uma carência ampia mente difundida por maiores investimentos em habitaçáo sis temas sanitários e preservaçáo ambiental Convém agora tecer algumas consideraçóes finais sobre a situaçáo peculiar da economia americana e sua mudança de posição na economia internacional A eslrutura de comércio americana foi tradicionalmente simétrica e fechada Os EUA exportavam e importavem ma tériasprimas alimentos insumos industriais e bens de capital enfim todos os itens importantes do comércio internacional As relaçóes econômicas dos EUA com o resto do mundo náo podiam ser enquadradas dentro do esquema tradicional cen troperiferia Os EUA náo precisavam de uma divisáo interna cional de trabalho que os favorecesse em termos absolutos ou relativos O fato surpreendente é que egora estáo aparente mente querendo instaurar uma divisáo internacional do tra balho na qual desempenhariam um papel cêntrico parâ o que estáo dispàsros a abrir sua economia O atual déficit comercial já represent a3oo do PNB americano e a partir do final de 1984 os EÚA passaram a ser um país devedor líquido no mundo isto é ut a sua posiçáo de mais de sessenta anos de exportadores líquidos de capitais e tornâramse em apenas três anos devedores líquidos do resto do mundo Após terem exportado durante várias décadas o padráo tnológio do sistema industrial americano através das suas multinacionais estáo tentando usâr o seu poder hegemônico para reenquadrálas fazer retornar os seus capitais sobrantes e refazer a sua posiçáo como centro tecnológico dominante Assim utilizamse dos seus bancos do comércio das finanças e do investimento direto estrangeiro para fazer o seu ajus tamento interno e externos Apesar de terem perdido a con corrência comercial para as demais economias avançadas e Eirtm funcladas dúvidas sobre a natlrreza estrangeira de certos capitais que ingressam nos EUA já que os mesmos náo aparecem nos balanços de prgnãnto dos demais paísês e â conta Erros e Omissóes no balanço ame ricano é gigantesca 46 A RETOÍADA DA HEGENONIA NORTEAMERICANA mesmo algumas semiindustrializadas nos produtos de tecno logia de uso difundido os EUA estáo investindo fortemente rJrto terciário e nâs novas indústrias de tecnologia de ponta na qual esperam ter vantagens compsretivas Os EUA náo pa intáressados em sustentar sua velha estrutura produti vacomercial Sabem também que náo têm capacidade de alcançar um enorme boom a pârtir de reformas nos setores indusiriais que Iideraram o crescimento econômico mundial no pósguerir Ao contrário os EUA estáo concentrando es forior rrã druolvimento dos setores de ponta e submetendo ulh indústria à concorrência internacional dos seus parcei ros A partir dessa modernização generalizada esperam poder orrr a sua posiçáo como centro tecnológico dominante e reordenar de novo a economia mundial Com os seus enormes déficits comerciais até aqui têm garantido a solidariedade de seus principais sócios exportado Ies sobretudo o Canadá o Japáo e os NICs asiáticos Com as ltá tn de juros reais têm garantido a solidariedade dos banqueiros E com as iointuentures dentro dos EUA estáo tentándo garantir sua posiçáo de avanço para o futuro A resposta européia e japonesa tem sido até agora forço samente àe aliançacom osEUA mas o seu destino de longo prazo com a periferia do centro está por verse A arrogância com que a elite americana trata a política econômicJeuropéia e ionsidera como área privilegiada de interesse a sua bãse ampliada no Pacífico que inclui Canadá México Japáo e os NICs asiáticos deveriam estar preocu pando Êrtopr Esta no entânto continua paralisada por razóesd seguiunça pelas relaçóes estratégicas de alinhamento automático com os ÊUe por razões de competiçáo e rivali dade intraeuropéia que levam à incapacidade de fazer uma política econômica comum a começar pela monetária A In glrtrro e a Alemanha cada ume a sua maneira tiveram um iapel decisivo na derrota dos projetos da socialdemocracia àriopéi e a França socialista sucumbiu melancolicamente no seu proieto nacional Maria da Conceiçáo tvares Na ausência de uma reaçáo real as racionalizaçóes come çam a aparecer e a resposta européia tem sido a da aceitação progressiva da ideologia neoliberal e náo de fazer avançar o espírito de cooperaçáo e planejamento que presidiu o sur gimento do Mercado Comum 3 Um nouo esquema centroperiferia A nova divisáo internacional do trabalho que está em dis cussáo passa pelo adensamento das relaçóes econômicas entre os EUA o Japáo e os NICs asiáticos Este reforço da Base do Pacífico serviria de contrapartida à sua expansáo do após guerra no Atlântico e daria finalmente à grande potência ame ricana uma configuraçáo cêntrica Vale dizer o mapa do mundo mudaria finalmente sua configuração estrutural na qual o eurocentrismo histórico desapareceria e os EUA deixa ria de ser uma grande potência excêntrica No fim do século a visáo geogrâfica do mapamúndi seria em forma generâ lízada a que já hoje é encontrável nos escritórios de algumas multinacionais A saber o continente americano no centro o europeu à direita e o asiático à esquerda A posiçáo asiâtica ou européia duvidosa seria umâ vez mais a da Uniáo So viética náo apenas por sua dupla condiçáo geográfica mas porque náo está claro se manterá sua atual condiçáo de grande potência isoladâ na dependência de suas relaçóes com a Europa e a China e de sua estratégia de enfrentamento com os EUA A nova divisáo internacional do trabalho numa economia mundial que hierarquize os mercados em forma distinta e reen quadre as velhas potências de modo diverso ao da guerra fria dariaao movimento de comércio e de capitais tendências completamente diferentes das verificadas no após guerra Para começar um grâu de abertura maior e permanente da econo e V a este respeito a interpretaçáo de Aglietta em íorld Capitalism in the Eighties 1982 NLR 48 A RETOMADA DA HEGEMONIA NORTEAMERICANA mia americana permitiria a atrelagem da economia iaponesa que tem maior potencial de acumulaçáo e uma tendência a um superávit estrutural de balanço de pagamentos Se os EUA con seguirem acoplar em forma decisiva a economia japonesa a uma estratégia convergente de crescimento a longo pÍazo a transnacionalízaçâo do capital passaria a estar centrada no es paço nacional americano e na sua periferia imediata Este mo vimento cêntrico contrastaria com o deslocamento por ondas excêntricas ocorrido até meados da década de 70 em que a Europa a América Latina e a Ásia com exceçáo do Japáo foram sucessivamente os espaços preferenciais de expansáo das filiais norteâmericanas Esta reordenação mundial do co mércio e do investimento permitiria que os EUA passassem a ter um destino distinto da Inglaterra na primeira grande de pressáo A Inglaterra como se recorda foi obrigada a financiar através da exportaçáo de capitais no período recessivo de 188090 parte da modernizaçáo do mundo capitalista e aca bou ficando para trás em sua base tecnológica e produtiva embora continuasse com a hegemonia mercantilfinanceira e militar até 1914 A base econômica americana possui na verdade algumas vantagens nítidas para este movimento de reconcentraçáo e atraçáo de capitais Além de ser continental é em si mesma mais equilibrada pois a industrializaçáo americana em todos os estágios desde o século XIX sempre foi fortemente ligada ao desenvolvimento agrícola e de serviços urbanos A grande corporaçáo transnacional como bloco de capital e padráo de organízaçáo industrial foi também uma invençáo do sistema americano que revelou um grande potencial de acumulaçáo por conter todas as caras do capital agrârio urbano mercan til industrial e financeiro Quando o mercado interno ameri cano passou a crescer menos que o potencial de expansáo das suas grandes empresas estas foram obrigadas a expandirse para fora O Japáo encontrase agorâ numa situaçáo similar à dos EUA no apósguerra sem contar porém bom uma base interna suficiente para retomar o antigo dinamismo O único grande 49 Maria da Conceiçáo Tâvares mercado parâ o qual ele pode exportar crescentemente pro dutos tecnologia e capitais é o americano Depois de haver feito na década de 7 0 a sua própria transnacion alizaçâo na Asia e em parte do continente europeu e latinoamericano restalhe agora a associaçáo ou fusáo com o capital americano no espaço de influência dominado por este Isto náo ocorrerá sem conflitos entre as duas partes dada a assimetria das relaçóes Os protestos dos capitais americanos prejudicados pela fúria exportadora ja ponesa já começaram mas o investimento direto tem em seu apoio a possibilidade de jointuentures comos capitais locais mais dinâmicos e um vasto espaço de modernizaçío O grande problema pâra â redefiniçáo do sistema indus trial americano náo é o da sua competitividade com o exterior a curto prazo que seria inclusive nociva a um novo equilíbrio macroeconômico mas o destino a longo prazo da sua estru tura produtiva e comercial e em particular do seu próprio subsistema de filiais industriais e bancárias O sistema bancário ao transnacionalizarse requereu para salvarse da crise e re tornar a porto seguro uma diplomacia do dólar forte que o FED providenciou Esta política porém prejudicou e segue prejudicando a retomada da expansáo do investimento das filiais industriais no mundo e a própria retomada sólida do crescimento americano a longo prazo Por outro lado os problemas estruturais da reorganizaçáo industrial americana náo passam apenas pela modernizaçáo tec nológica dos seus setores e empresas de ponta como vem ocor rendo até agora mas também pela amortizaçáo acelerada do velho capital industrial e pela reestruturaçáo dos seus serviços de infraestrutura e utilidade pública Tüdo isto é praticamente impossível de realizar com as atuais taxas de juros e de endivi damento Sem uma desvalorizaçáo lenta da dívida interna e ex terna americana que permita estabilizar os mercados de crédito a longo pÍazo e reestruturer o mercado de capitais internacional náo é possível visualizar um horizonte de cálculo para a retomada firme do investimento nestes setores O refluxo de capital bancário americano já ocorreu a en trada de capital estrangeiro processâse rapidamente nos seto 50 A RETONLADA DA HEGEMONIA NORTEAIUERICANA res de alta tecnologia e a reconcentraçáo dos capitais privados aumenta a passos largos nos setores de tecnologia intermediá ria A oliopolistic reaction de Knickerbocker 1973 está go opirndo em sentido inverso no sentido de reconcen táção de capital na própria economia americana Resta saber oÀo processará o novo equilíbrio oligopólico de qye falavam Hymer e Rowthorn 1970 Para isso o destino do mercado comum europeu continua uma interroganter se m res postâ enquanto a política global européia náo adquirir maior autonomia e coordenaçáo interna O ciclo de crescimento Schumpeteriano ainda náo está à vista porque parâ tanto falta redesenhar e financiar em novas bases o rajrst do sistema de energia transportes e comuni caçóes tanto nos EUA como no resto do mundo Isso passa ru rnrío parte dos países por um reescalonamento da dívida externa públio impossível de imaginar com o atual sistema de crédito O atual Cilo do Produto baseado na informática náo parece por si só ter poder indutor suficiente para alavan or rn ondu de acumulàçáo de longo pÍazo AÍinal nenhum cluster de inovações modificou a base técnica mundial sem novos mecanismos institucionais e financeiros e sem modificar radicalmente a divisáo internacional do trabalho Para con cluir o desenvolvimento futuro da economia mundial dada a sua atual estrutura aponta pâra uma arquitetura mais com plexa do que uma simpit grgrçáo de economias nacionais à d rrtristemas de empresas e bancos transnacionais po deriam indicar Até ficar claro se as avenidas da transnaciona hzaçâo do capital âtravessam a base continental americana e qrai será a iapacidade dos EUA de reequilibrar estrutu ralmenre os mapas do Atlântico e do Pacífico fica difícil uti lizar com algum rigor a expressáo sistema capitalista Internacional Como diz Hobsbawm 1979 criticando Rostow 1978 Náo há qualquer ruzáoÍeôtícaPara suporse que o capitalismo será incapaz à gàr um novo período de expansáo ou ciclo ascen dnà d Kãndratiev ainda que possam haver razóes empíricas fru druiduse da visáo de Roitow que esta já haveria começado í1 Maria da Conceiçáo tvares é ruzoâvel suporse que a economia capitalista mundial pro vavelmente sobreviverá às dificuldades globais de hoje ainda que alguns países mais fracos possam não superar as suas Neste período de transiçáo que ainda está longe de termi nar ou de chegar a bom termo é indiscutível a retomada da hegemonia americana O que náo se sabe é da viabilidade dos EUA se transformarem de forma estável numa economia cên trica a partir da qual com ou sem uma nova ordem institu cional explícita o mundo seria reorganizado por uma nova geografia econômica e política O que tampouco fica claro é o destino das suas novas Periferias na Europa na Ásia e na América do Sul Rio de Janeiro iunho de 1985 BIBLIOGRAFIA AGLIETTa M World Capitalism in the Eighties Em New Lefi Reaiew no 136 1982 ALIBER RZ The International Money Game Nova Iorque Basic Books 1979 FelNzvlaeR E El debate industrial en Estados Unidos Entre et desafio Japonés e el espectro de Inglnterra Santiago Cepal julio 1985 GILPIN RR tls Power and the Multinational Corporations The po litical Economy of Foreign Direct Inaestment Londres Macmillan 1975 Ho BSBewM EJ Th e D ea elop m ent of Wo ild E c on omy C ambridge Jour nal of Economics 1979 HYMER S RowrgoutR Multinational Corporations and Interna tional Oligopoly The nonamerican Challenge Em KwoLBBERGER 52