·

Relações Internacionais ·

Economia Política

Send your question to AI and receive an answer instantly

Ask Question

Preview text

Análise Estratégica NERINT Visões sobre a Diplomacia PósTrump 40 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 pelo governo Biden é a questão dos vistos de residência para trabalhadores indianos nos Estados Unidos Em suma independentemente da plataforma de governo nos Estados Unidos a Índia continuará sendo prioridade estratégica devido à triangulação com a China O governo Modi a despeito da preferência ideológica por Trump deve ter seus interesses estratégicos facilitados pelo novo governo em Washington O retorno dos Estados Unidos à agenda multilateral é um bom sinal para a Índia que retorna ao Conselho de Segurança da ONU em 2021 e no ano seguinte ocupará a presidência do G20 Resta saber se Biden avançará também na agenda de cooperação econômica e tecnológica especialmente num contexto de provável recessão e baixo crescimento projetado para a Índia nos próximos anos Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais eISSN 22386912 ISSN 22386262 v9 n18 JulDez 2020 p4165 41 O SISTEMA MUNDIAL CONTEMPORÂNEO UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O DEBATE SOBRE DESENVOLVIMENTO NA TEORIA DO SISTEMAMUNDO Analúcia Danilevicz Pereira1 Salvatore Gasparini Xerri2 Introdução O sistema internacional constituise desde sua origem de relações de poder desiguais O poder de um Estado portanto é medido pela sua capacidade de implementar políticas decisivas tanto no campo econômico como militar Nas últimas décadas a mudança das rivalidades estratégicas desencadeou uma profunda instabilidade internacional e transformou todos os marcos de referência analítica e suas noções Presenciamos então não apenas uma desordem internacional como também a imprecisão analítica para entender tais transformações O sistema internacional é um sistema historicamente construído E foi este sistema que articulou a África Moderna assim como outras regiões mundiais que se transformaram na sua periferia O colonialismo se constituiu como uma fase decisiva pois definiu as bases estruturais do sistema internacional Com o avanço da Revolução Industrial a concorrência internacional exacerbada produziu a vaga imperialista que lançou as bases para os conflitos políticomilitares Com o fim da Segunda Guerra Mundial em que pese as diferenças dos discursos políticoideológicos o objetivo das políticas de desenvolvimento foi similar no chamado Terceiro Mundo Nesse sentido a discussão proposta neste estudo pretende apoiar teoricamente os estudos africanos 1 Departamento de Economia e Relações Internacionais Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre Brasil Email anadanileviczufrgsbr 2 Departamento de Economia e Relações Internacionais Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre Brasil Email sgxerrigmailcom O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 42 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 O estudo do Sistema Mundial e da História das Relações Internacionais tem sido abordado de forma compartimentada e pouco integrada ao mainstream teórico das Relações Internacionais Fazse necessário empreender um esforço integrativo para associálo ao estudo da Teoria do SistemaMundo Essa por sua vez tem sido tratada como objeto de um debate teórico com limitada fundamentação empírica apenas como uma espécie de subárea da análise do desenvolvimento mundial do capitalismo A Teoria do SistemaMundo enfatiza o estudo do sistema capitalista mundial e suas dinâmicas abordando as relações de poder estabelecidas neste sistema Para tanto ela identifica uma clivagem entre os países mais bem posicionados localizados no centro da dinâmica capitalista e os menos privilegiados classificados como semiperiféricos e periféricos Com base nisso percebese uma relação entre a estrutura proposta por essa escola e a noção de desenvolvimento embora não explícita pois a utilização de categorias baseadas na desigualdade dos benefícios obtidos com a participação dos diferentes Estados na economia mundial dada a apropriação e organização dos fluxos globais de maisvalia leva ao questionamento da possibilidade de modificar sua posição no sistema Especificamente faz pensar sob quais condições poderia um país ascender ao seu centro e dominar as relações com os outros Estados Para tanto é necessário estudar os processos que levaram à configuração do sistemamundo na forma que o conhecemos hoje E ainda ao pensarmos sobre os elementos estruturais que conduziram à desigualdade entre as classes e as nações e o aparato repressivo para manter tais desigualdades é necessário incorporar ao debate a análise de outras categorias que explicam as rupturas históricas à hierarquia estabelecida pela economiamundo capitalista ocidental as Revoluções A igualdade e o desenvolvimento autônomo isolado da economiamundo capitalista não são simplesmente ideais São experiências históricas concretas resultantes do domínio das condições modernas de desenvolvimento e amplamente apropriadas pelas sociedades em questão Contudo se na década de 1990 sob o Consenso de Washington o neoliberalismo consolidouse como diretriz organizativa do sistema capitalista também produziu novas contradições às condições de desenvolvimento no centro da economia mundocapitalista Temos portanto que falar sobre a necessidade intrínseca da radicalização neoliberal e de um novo nível de disputa entre as classes capitalistas mundiais Mesmo tendo sido elaborada nos anos 1970 é nesse momento que a Teoria do SistemaMundo deve novamente ganhar projeção dado o espaço aberto pela derrocada das Teorias da Dependência e a continuidade de crises sob o neoliberalismo Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 43 EconomiaMundo Capitalista Contexto e Conceitos O pensamento de Fernand Braudel foi central na elaboração da Teoria do SistemaMundo Braudel fornece as bases teóricas e conceituais que são utilizadas para elaborar o entendimento de SistemaMundo aplicado neste estudo com destaque para suas considerações sobre os aspectos espaciais e temporais da economiamundo capitalista Braudel analisa como se apresenta o espaço das chamadas economias mundo Para o autor essas superfícies limitadas correspondem a um pedaço do planeta economicamente autônomo capaz no essencial de bastar a si próprio e ao qual suas ligações e trocas internas conferem certa unidade orgânica Braudel 2009 12 sendo também o maior espaço de coerência de relações e atividades humanas existindo desde os primórdios da civilização A variação dos seus limites é lenta pois para a maior parte dos intercâmbios ultrapassar suas fronteiras implicaria perdas maiores do que ganhos As economiasmundo incluem um único centro sempre um polo urbano uma cidade capitalista dominante que por sua vez é rodeada por cidadesetapa que apoiam voluntariamente ou não o ordenamento imposto pela cidade central Esta apresenta precoce e forte diversificação social Braudel 2009 321 com as classes divergindo e acentuando a desigualdade social pois aí ocorre com frequência carestia e inflação Essas cidades mundo sucedemse dialeticamente transformando a economiamundo e assim afetando toda estrutura já que os elementos que apoiam seu domínio são navegação negócios indústria crédito poder ou violência política Braudel 2009 325 e suas diferentes combinações e configurações orientam o conjunto ao mesmo tempo em que as demandas de um sistema em constante renovação favorecem determinadas características Ao redor da cidade central a economiamundo dividese em três categorias pelo menos um centro restrito regiões secundárias bastante desenvolvidas e finalmente enormes margens exteriores Braudel 2009 329 Assim O centro o coração reúne tudo o que há de mais avançado e de mais diversificado O anel seguinte só tem uma parte dessas vantagens embora participe delas é a zona dos brilhantes secundários A imensa periferia com os seus povoamentos pouco densos é pelo contrário o arcaísmo o atraso a exploração fácil por parte dos outros Essa geografia discriminatória ainda hoje logra e explica a história geral do mundo se bem que esta ocasionalmente também crie por si mesma o logro com a sua conivência Braudel 2009 329 O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 44 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 A semiperiferia região para o autor dos brilhantes secundários em particular apresenta dificuldades em seu reconhecimento Sugerese assim que a identificação seja realizada pelos critérios dos preços dos salários dos níveis de vida do produto nacional da renda per capita da balança comercial pelo menos sempre que os números estão ao nosso alcance Mas o critério mais simples se não o melhor pelo menos o mais imediatamente acessível é a presença ou ausência numa determinada região de colônias mercantis estrangeiras Quando está bem colocado em determinada cidade em determinado país o mercador estrangeiro indica por si só a inferioridade dessa cidade ou país relativamente à economia de que ele é representante ou emissário Braudel 2009 32930 As zonas da economiamundo se organizam hierarquicamente ao redor do centro Os tipos de ligação entre as diferentes regiões demoram a se transformar pois os laços comerciais que fundamentam sua variedade dada a desigualdade das trocas ocorridas são formados através de séculos e ocasionalmente reordenados em favor de um centro dominante ascendente que assegura o controle dos pontos estratégicos de acumulação mediante quaisquer meios necessários A economiamundo fechada em si mesma depende de alavancas para seu bom funcionamento o comércio e o crédito são as principais O próprio nível de preços no centro atua como condicionante para o todo do sistema Assim Estados no centro têm de ser fortes capazes de atuar interna e externamente em favor do poder econômico a eles relacionado Sobre as demais esferas do sistemamundo além da econômica o autor nota que seria um erro imaginar a ordem da economiamundo governando toda a sociedade determinando por si só as outras ordens da sociedade Pois há outras ordens Uma economia nunca está isolada O seu território o seu espaço são os mesmos onde se instalam e vivem outras entidades a cultura o social a política que incessantemente interferem nela para a favorecer ou então para a contrariar Braudel 2009 335 Com a emergência e expansão da economiamundo capitalista contudo a primazia econômica tornase cada vez mais pesada orienta perturba influencia as outras ordens Exagera as desigualdades3 encerra 3 Braudel 2009 destaca o papel do capitalismo como antimercado Se o mercado se apresenta Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 45 na pobreza ou na riqueza os coparticipantes da economiamundo atribui lhes um papel e ao que parece por muito tempo Braudel 2009 337 Tal fenômeno fundamentase na apropriação e organização dos fluxos globais de maisvalia Graças a isso fortalecese a divisão internacional do trabalho pois as superestruturas que asseguram o condicionamento de cada país ao seu papel passam a ser orientadas pelos elementos materiais das suas relações Sua evolução assim não é fruto de vocações que se possam considerar naturais e óbvias ela é uma herança a consolidação de uma situação mais ou menos ancestral lentamente historicamente desenhada A divisão do trabalho em escala do mundo ou de uma economiamundo não é um acordo concertado e previsível a cada momento entre parceiros iguais Estabeleceuse progressivamente como uma cadeia de subordinações que se determinam umas às outras A troca desigual criadora da desigualdade do mundo e reciprocamente a desigualdade do mundo criadora obstinada da troca são velhas realidades No jogo econômico sempre houve cartas melhores do que outras e às vezes muitas vezes marcadas Moral da História O passado também tem sempre algo a dizer A desigualdade do mundo deriva de realidades estruturais que demoram muito para se instalar e demoram muito para desaparecer Braudel 2009 33740 Cabem por fim considerações a respeito de o motivo de ter surgido na Europa o SistemaMundo moderno na forma de uma economiamundo em vez de um impériomundo Este caracterizado pelo domínio de um império sobre uma economiamundo inteira seria uma formação arcaica resultante de um triunfo da política sobre a economia Sua consequência era em geral o estrangulamento da expansão econômica As formações políticas da Europa desde sua Idade Média impediram que nela se estabelecesse um impériomundo posicionandoa privilegiadamente para o nascimento e expansão do capitalismo O fato de muitas semiperiferias conviverem nela em proximidade pressionando o centro e acelerando seu desenvolvimento foi determinante nesse sentido não ocorrendo tal configuração em outras regiões do mundo No mesmo sentido Amin 1997 nota a presença de elementos protocapitalistas em diversos sistemasmundo antigos que ele denomina tributários e sua existência sugeria a possibilidade de transição a um modo de produção capitalista Em todos os casos contudo eles se encontravam como o lugar das trocas onde ocorreriam ganhos normais o capitalismo favorece os grandes lucros em uma lógica predatória O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 46 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 submetidos às estruturas tributárias dominantes em que o poder conduzia à riqueza em oposição ao capitalismo em que a riqueza garante o poder A característica europeia de atomização política feudal impôs desafios à submissão do econômico e a posição periférica do continente em relação aos demais sistemasmundo afroeuroasiáticos relacionada ao movimento de expansão que levou à colonização da América permitiu o rápido amadurecimento dos elementos protocapitalistas inaugurando um período de transição marcado pelo mercantilismo Estes burgueses e camponeses integrados ao sistema mercantil viriam então ao se combinar com os vestígios da estrutura feudal de dominação a estabelecer as bases do Estado absolutista Considerando estar o estabelecimento do sistemamundo moderno e contemporâneo relacionado à formação da economiamundo capitalista Osterhammel e Petersson 2005 investigam o processo de globalização que resultou na expansão e alcance planetário do sistema Os autores sustentam que a globalização se inicia entre 1450 e 1500 já que nesse período a os Portugueses abriram o caminho para a Ásia tendo estabelecido uma rota que alcançava Macau já em 1557 b uma revolução militar levou ao desenvolvimento de artilharia e armas de fogo c a colonização das Américas permitiu aos europeus criar novos espaços políticos e econômicos monopolizados sem enfrentar concorrência de estruturas anteriores já que eles destruíram as nativas d ocorreram migrações na fauna e na flora ao redor do mundo levando mesmo a adaptações de sociedades inteiras e e o desenvolvimento da imprensa de Gutenberg permitiu uma revolução nas comunicações Esses elementos para os autores fundamentam a globalização pois expandiram as esferas de interação existentes e criaram novas Uma das principais foi o Atlântico que se tornou um lago europeu Foi possível assim estabelecer plantations na região que mobilizaram o tráfico de africanos escravizados levando as migrações em massa a um novo patamar O comércio triangular seria o primeiro exemplo de uma rede ligando a Eurásia e as Américas com reflexos profundos em todos os lugares em que sua presença se fez sentir e seus ecos repercutindo em todo o mundo Por sua vez a mineração de prata na América espanhola foi a primeira rede de comércio verdadeiramente global sendo um dos poucos fenômenos capazes de penetrar o isolado Extremo Oriente A partir desse momento a região no mundo com mais intensas interações foi o Ocidente de forma tal que mesmo os eventos que pareceriam estritamente domésticos impactavam profundamente na economia global Era essa região o centro produtor de bens de consumo e produção do que resultava não ser apenas exportadora destes mas também de capitais e tecnologias Com isso a desigualdade de riqueza entre os centros e as Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 47 periferias em 1913 chegou a uma relação de 101 em 1820 era de 31 Notase que a globalização não ocorreu entre economias nacionais já estabelecidas mas sim de forma paralela e simultânea à sua formação cabendo destacar as reações que provocou com o protecionismo voltando a ser dominante a partir de 1878 seguindo o pensamento de List Resultado disso foi a politização da globalização já que as novas barreiras não eram grandes a ponto de impedir o processo que se tornou um elemento utilizado para fortalecer o poder estatal como um instrumento a ser controlado e utilizado em favor do interesse nacional Osterhammel e Petersson 2005 Braudel situa nesse contexto as divisões temporais dentro da economiamundo europeia buscando a unidade temporal de referência mais longa e que a despeito da sua duração e das múltiplas alterações conserva ao longo do tempo uma inegável coerência Braudel 2009 358 Para isso o autor se vale dos ritmos conjunturais da economia destacando a validade da observação das variações dos níveis de preços para a comprovação da integração de determinada área em uma economiamundo o que ao mesmo tempo torna possível estudar como alterações no centro afetam as demais regiões Dos ciclos econômicos conhecidos é destacado o ciclo ou tendência secular4 Um ciclo secular como qualquer outro ciclo tem um ponto de partida um pico um ponto de chegada mas sua determinação dado o traçado pouco acidentado da curva secular mantémse bastante aproximativa Se pensarmos em seus picos diremos cerca de 1350 cerca de 1650 Segundo os dados atualmente admitidos distinguemse quatro ciclos seculares sucessivos no que se refere à Europa 1250 1350 15071510 15071510 1650 17331743 17331743 1817 1896 1896 1974 A primeira e a última data de cada um desses ciclos marcam o início da subida e o fim da descida a data média entre colchetes assinala o ponto culminante lugar das inversões da tendência secular o que equivale a dizer da crise Braudel 2009 365 Notase na análise do autor a inclusão de um período de tempo que antecede a emergência do capitalismo como economiamundo Isso ocorre dada a referência nos níveis de preços indicando uma precoce integração das economias locais europeias relacionada à crescente importância adquirida pelo comércio a partir das crises do feudalismo Com isso por volta de 1350 estabelecese um papel predominante das cidades italianas particularmente Veneza na formação da economiamundo europeia Por volta de 1650 por 4 Denominado pelo autor trend secular O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 48 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 sua vez emerge Amsterdam como centro dos fluxos europeus e 1817 define a hegemonia britânica sobre a economiamundo capitalista Braudel vê no período inaugurado em 1974 uma nova crise sistêmica podendo levar a uma reorganização e conformação de novo Centro Cabe observar também que os momentos de crise sistêmica não são os únicos em que o estabelecimento de uma hegemonia se torna possível Arrighi 1996 oferece uma cronologia das hegemonias europeias que inclui as potências que organizaram seu domínio em inversões positivas do trend secular Assim além das já relacionadas são citadas as hegemonias espanhola que emerge por volta dos anos 1500 e estadunidense originada no início do século XX A inversão cíclica da metade do século XVIII é marcada pela disputa entre França e Inglaterra pela supremacia no sistema sinalizando um momento de particular desorganização da economiamundo europeia Tal fenômeno é parte do debate a respeito do marco temporal que indica a ascensão do capitalismo como economiamundo O comportamento das diferentes esferas da vida ao longo dos ciclos seculares varia conforme flutua o trend secular Braudel nota que quando sua trajetória é positiva todo o sistema é beneficiado e se fundam as bases para a configuração de um novo Centro Apesar disso o aumento da produtividade leva a um descompasso entre a inflação e os salários piorando as condições de vida da população Quando ela é negativa por outro lado os países se tornam mais protecionistas acarretando uma maior desigualdade entre as regiões Ao mesmo tempo a desaceleração da acumulação aproxima os salários dos níveis de preços beneficiando a população O autor chama a atenção para o fato de que antes da Revolução Industrial todas as crises acarretavam uma redução demográfica que reforçava as vantagens para a população sobrevivente mas que a partir dela esse deixa de ser o caso podendo anular os efeitos anteriormente descritos da crise sobre o povo e fazendo recair sobre ele suas piores consequências MaisValia Global Fluxos de Capital no Sistema Interestatal Moderno e Contemporâneo Esta seção busca explorar como o centro se diferencia das demais regiões Particularmente se analisa como é mantida a diferenciação entre os países ditos desenvolvidos e os demais no que é identificada a importância da transferência de maisvalia das periferias e semiperiferias para o centro como determinante para o fenômeno Apesar de a apropriação de maisvalia ser característica do modo de Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 49 produção capitalista em sua totalidade Amin 1997 nota que nas periferias e semiperiferias do sistema a exploração é maior com parte dela sendo direcionada ao centro Disso depreendese em nível mundial uma divisão entre um exército ativo o proletariado do centro e um exército de reserva o proletariado das periferias e semiperiferias Em outras palavras a condição de sobreexploração do trabalho no resto do mundo logra garantir melhores condições de vida e pacificar os trabalhadores do centro Além de resultar na adoção de estratégias antissistêmicas diferentes em cada região reformadora ou socialdemocrata no centro e revolucionária na periferia5 assegurase assim a continuidade de uma polarização na economiamundo capitalista e a concentração de recursos nos países ditos desenvolvidos que por meio da divisão internacional do trabalho logram controlar e organizar a seu favor o sistema como um todo mantendo suas vantagens em relação aos demais Do conceito de polarização se depreendem no mínimo as seguintes proposições a em geral a exploração do trabalho nas periferias é muito mais intensa nas periferias do que no centro o diferencial na remuneração do trabalho assalariado e outros é muito mais amplo que o diferencial das produtividades O produto desta sobreexploração que beneficia o capital que domina o conjunto do sistema se transfere em parte aos centros através das trocas comerciais e se reforça com as migrações de capital e trabalho O discurso dominante que busca negar ou minimizar os efeitos desta transferência não passa de uma legitimação ideológica que pretende ocultar os vínculos intrínsecos entre o capitalismo e a polarização b por si só a transferência de valor em detrimento das periferias constitui uma força capaz de reproduzir e aprofundar a polarização pelo peso negativo gigantesco que representa às periferias por mais que nas estatísticas possa parecer por vezes menor em comparação ao excedente gerado pelos centros c as vantagens que beneficiam o centro não se produzem exclusivamente nem sequer principalmente pela organização mais eficaz de seu trabalho produtividade do trabalho muito mais elevada também se produzem pelo poder monopolístico que os centros exercem na divisão mundial do trabalho Amin 1997 69 tradução nossa Fazse necessário a partir disso estudar o ciclo de hegemonias na economiamundo capitalista cuja sucessão estabelece uma relação dialética com a evolução do próprio sistema transformandoo e sendo por suas mudanças influenciado Com base nos entendimentos assim sugeridos tornase possível abordar como a divisão internacional do trabalho permite 5 Em particular a questão das revoluções será tratada na próxima seção O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 50 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 ao centro organizar o mundo em seu favor apropriandose da maisvalia das periferias e semiperiferias de forma a manter seu próprio desenvolvimento Ao longo da história da economiamundo capitalista identificase uma sucessão de Estados hegemônicos que Arrighi 1996 27 define como países que adquiriram a capacidade de exercer funções de liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas O autor nota que a hegemonia depende tanto da competição entre Estados quanto da sua necessidade coletiva de se afirmar frente aos seus cidadãos podendo basicamente encontrar justificativa na defesa dos Estados contra os cidadãos ou dos cidadãos contra os Estados É também necessária a existência de uma certa medida de caos sistêmico para que tal liderança possa ser admitida contribuindo para o convencimento dos demais atores de que a aceitação da hegemonia é menos custosa do que a competição desregrada Adotase neste estudo o entendimento sustentado por Teschke 2003 Osterhammel e Petersson 2005 e Amin 1997 de que a primeira hegemonia capitalista moderna teria sido a britânica Em particular Amin 1997 ao relacionar a característica cíclica do sistema com as alterações de natureza inovativa econômica ou de outro tipo que permitiram uma expansão do capitalismo em nível mundial destaca que buscar tais ciclos antes de 1800 implica uma desconexão entre a base econômica e a superestrutura político ideológica Para o autor o aspecto fundamental da sucessão de hegemonias capitalistas é a dialética entre o nacional e o sistema mundial Por isso o autor entende que só pode ser observada uma hegemonia a partir do século XIX sob os britânicos com seu domínio financeiro e industrial Ainda assim não pode ser desconsiderada a posição inglesa frente ao equilíbrio europeu Analisando as consequências do caos sistêmico que culminou nas duas Guerras Mundiais os estudiosos observam que os Estados Unidos assumiram a hegemonia Osterhammel e Petersson 2005 notam que eles alcançaram sua posição de liderança sem que necessariamente a tenham conscientemente buscado considerando sua hesitação em se envolver na política e economia mundiais Ela foi eventualmente obtida não apenas pela via econômica mas também dados seus traços culturais Produção em massa consumo em massa e cultura de massa eram as palavras de ordem que eram associadas ao Americanismo naquele período A habilidade da indústria estadunidense de produzir em massa bens estandardizados a administração científica de Frederick Taylor e a produção em linha de montagem de Henry Ford fascinavam a Europa e prometiam criar lucros excedentes que seriam divididos entre os empregados e o empregador Como motor da produção em massa o consumo em massa parecia abrir as portas para a prosperidade e a paz social Mais Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 51 controversas do que o Taylorismo e o Fordismo eram as mudanças sociais e culturais que eram interpretadas como sendo parte da Americanização que ocorria desde o final do século XIX mas especialmente desde a década de 1920 Os produtos da indústria de entretenimento norteamericana se mostraram muito menos difíceis de propagar através de fronteiras Na sociedade imigrante estadounidense formas de produção cultural haviam evoluído que eram fáceis de comercializar pois faziam uso de expressões idiomáticas inteligíveis através de barreiras culturais e aplicavam as mais novas tecnologias para gravação de sons e imagens Osterhammel e Petersson 2005 1089 tradução nossa Silver e Slater 2001 também destacam que com o final da Segunda Guerra Mundial a concentração de poder militar e financeiro nos Estados Unidos lhes posicionavam estrategicamente para assumir a condição de hegemon6 mas para tanto era necessário oferecer uma resposta ao desafio representado pela insatisfação social Isso só seria possível ao não apenas reprimir e solapar o poder de barganha dos grupos subalternos da hegemonia norteamericana mas também propor reformas que permitissem a cooptação deles em um modelo inspirado na experiência do New Deal Esta não apenas ensinou às elites norteamericanas a importância da intervenção do Estado como garantidor da ordem segurança e justiça para o povo como também sugeriu o tipo de instituição a ser utilizada para esvaziar as questões sociais e políticas problemáticas órgãos reguladores neutros que transformassem esses desafios em problemas técnicos Os dois conflitos sociais e políticos mais voláteis dos primeiros anos do apósguerra foram o conflito entre o trabalho e o capital nos países metropolitanos e a revolta antiimperialista nas colônias Estes foram reformulados como problemas técnicos de ajuste macroeconômico e de crescimento e desenvolvimento econômicos problemas que poderiam ser superados pelo uso de conhecimentos científicos e técnicos com o respaldo do planejamento governamental Silver e Slater 2001 213 Com base nisso Silver e Slater 2001 apontam que a temática do desenvolvimento foi um recurso utilizado pelos Estados Unidos em sua busca pela hegemonia para afastar a Ásia e África em processo de independência da influência socialista Surge nesse contexto a Teoria da Modernização que alegava que o desenvolvimento se dava através de uma série de etapas de acordo com a experiência ocidental que poderiam ser seguidas por todos os 6 Aquele que estabeleceu sua hegemonia O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 52 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 países e os permitiria alcançar as condições principalmente econômicas mas também políticas e sociais associadas aos países do centro Com essa promessa os norteamericanos buscavam cooptar os países da periferia em um movimento necessário para se afirmar Assim como o conflito trabalhocapital foi reformulado como um problema técnico relacionado à capacidade de o governo reativar a economia em moldes keynesianos garantindo maior crescimento e produtividade a negociação justa de Truman reformulou o conflito nortesul O próprio conceito de desenvolvimento foi uma invenção do período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial a resposta norteamericana à necessidade de exercer a liderança Silver e Slater 2001 215 No mesmo sentido Amin 1997 contesta a proposta de interpretação do desenvolvimento oferecida pela Teoria da Modernização com a constatação da inescapabilidade da polarização sob o capitalismo fundamentalmente pela impossibilidade de integração tridimensional mercadorias trabalho e capital do mercado mundial O autor alerta contra a noção de que o desenvolvimento não pode se dar de forma autônoma apenas nos marcos do sistema sublinhando a diferenciação entre desenvolvimento e expansão capitalista no que reforça a insustentabilidade do sistema dos pontos de vista ecológico e social Considera aquele um conceito crítico ao capitalismo diferentemente do propugnado por Bandung que queria alcançar o centro e mesmo o dos Estados socialistas em que se buscava conciliar uma nova sociedade com ideais econômicos capitalistas Ocorre que desde a década de 1970 conforme apontado por Wallerstein 2003 1992 e Arrighi e Silver 2001 uma série de fenômenos apontam para a erosão da hegemonia estadunidense Destacase a ascensão de rivais econômicos capazes de competir frontalmente com os Estados Unidos naquele momento a Europa Ocidental e o Japão os movimentos contestatórios mundiais de 1968 que minaram as bases ideológicas do acordo de Yalta e a derrota na Guerra do Vietnã Outro marco da crise hegemônica é a financeirização do capitalismo mundial apontado por Arrighi 1996 como a um mesmo tempo resultado e causa de uma insegurança central para a perda de legitimidade da liderança global Mais do que os intercâmbios estabelecidos entre países as relações entre as diferentes regiões da economiamundo capitalista se dão sob a forma de apropriação de maisvalia global que permite ao centro manter suas vantagens frente ao resto do sistema Ressaltase com base em Amin 1997 a diferença entre o mercado e o mercado capitalista cuja relevância Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 53 é destacada quando se identifica que as diferentes regiões do mundo antigo não se encontravam isoladas Por isso também o autor vê na indústria a forma acabada do capitalismo por provocar rupturas definitivas em relação ao modelo anterior destacando assim a estreita relação entre o modo de produção capitalista e o sistema mundial Lembrase que o capitalismo é mais do que a associação da propriedade privada do assalariamento e das trocas comerciais combinação encontrada em muitos locais do mundo antigo O capitalismo somente existe quando o nível de desenvolvimento das forças produtivas implica a fábrica moderna que utiliza equipamentos mecânicos pesados e não equipamentos artesanais Amin 1997 62 Em épocas ainda mais recentes ele se expressa também através da financeirização conforme argumenta Arrighi 1996 A partir daí emergem duas características fundamentais do mundo moderno a urbanização e a revolução agrícola aumentando exponencialmente a produtividade a tal ponto que a lógica do lucro passa a ser o fundamento da decisão econômica em um contexto além do artesanal Isso leva o autor a concluir que a única forma de estudar adequadamente o capitalismo mundial é combinando as perspectivas de modos de produção e do sistemamundo já que o mundo moderno é baseado na economiamundo capitalista Amin 1997 aqui propõe uma interpretação alternativa às mais ortodoxas do marxismo e aponta a necessidade de compreender sua relação estrutural com o moderno sistema de Estados O autor argumenta haver três elementos complementares de especificidade no mundo capitalista moderno O primeiro se relaciona ao fato de a lei de valor capitalista passar a reger todo sistema moderno não apenas a economia Com isso a regra deixa de ser o comando da riqueza pelo poder para passar a ser o comando do poder pela riqueza estimulando o crescimento das forças produtivas O segundo baseia se no fato de o capitalismo ser o primeiro sistema verdadeiramente global implicando todos os atores nele envolvidos a se integrarem a uma divisão internacional do trabalho de acordo com uma lei do valor mundial Esta por sua vez leva a uma terceira característica que é a polarização necessária ao processo de acumulação em escala mundial Prefiro analisar o sistema mundial com o conceito inequívoco de polarização que significa que os centros produzem este sistema em seu conjunto e moldam a modernidade subalterna das periferias no entendimento de que esta expansão mundial não é apenas sinônimo de desenvolvimento hierarquizado da modernidade mas também de processo de destruição daquelas partes que se tornam disfuncionais ou que não cabem na lógica global Amin 1997 71 tradução nossa O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 54 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 Ao pensar possíveis alterações na polarização Amin 1997 observa o recente processo de industrialização de algumas periferias levandoo a concluir que o mundo tende a tornarse globalmente industrializado afetando o processo de acumulação mundial Identificase a partir daí que a polarização se dá a partir de outros fenômenos que não a troca desigual a fuga de capitais das periferias ao centro b migração seletiva c monopólio do centro sobre a divisão internacional do trabalho Dessa forma a polarização impede pensar a vantagem dos centros sem se referir à sua posição no sistema mundial já que mesmo a sua desindustrialização relativa é justificada pela manutenção dos monopólios7 garantindo a continuidade da divisão e destacando não ser a industrialização o fundamento da diferenciação entre os atores na economiamundo capitalista mas sim esses monopólios Nesse sentido sublinhase ser característica do modo de produção capitalista e portanto da economiamundo capitalista a necessidade de acumulação contínua de capital A partir da Revolução Industrial o avanço das contradições inerentes ao modo de produção oriundas fundamentalmente das suas relações de propriedade que opõem capital e trabalho permitiu a sua transformação Teschke 2003 sustenta que no capitalismo as classes proprietários e não proprietários dos meios de produção passam a depender do mercado para sua reprodução Essa lógica justifica a busca pelo lucro que por sua vez demanda revoluções constantes nos meios de produção para se sustentar A interrelação dessas características confere ao capitalismo uma dinâmica muito particular orientada pelas suas contradições internas ao capital e entre o capital e o trabalho redundando em crescimento demográfico desenvolvimento tecnológico especialização diversificação produtiva e expansão territorial das relações de mercado Teschke 2003 142 A partir daí a extração da maisvalia superou o ganho mercantil como principal forma de acumulação de capital não apenas domesticamente mas também internacionalmente A maisvalia global é apropriada de diferentes formas conforme a região da economiamundo com o controle pelo centro dos pontos estratégicos de acumulação de capital mediante monopólios anteriormente citados que lhe garantem as maiores margens de lucro e o domínio sobre as técnicas e instrumentos determinantes em cada período Sustentase dessa forma a divisão internacional do trabalho já que a semiperiferia se torna responsável pelas produções de tecnologia da geração 7 Para Amin 1997 monopólios são os instrumentos que permitem ao centro excluir o resto do mundo do acesso a riquezas No mundo contemporâneo eles seriam o monopólio das tecnologias e o monopólio das finanças mundializadas Amin 1997 68 tradução nossa Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 55 anterior e a periferia mantémse ligada fundamentalmente às atividades básicas Reforçase contudo que nas atividades econômicas controladas nestas regiões pelo centro das quais a maisvalia gerada é por ele apropriada e transferida o nível de capital empregado pode ser alto8 buscando ampliar ainda mais a maisvalia e assim os lucros obtidos O domínio do centro sobre o sistema acima descrito é ilustrado pelas chamadas Sete Irmãs do Petróleo9 que controlaram a indústria petrolífera global entre meados da década de 1940 e meados da década de 1970 quando ocorre a criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo OPEP Até a crise do petróleo de 1973 da qual resultou a nacionalização de maioria dos campos de petróleo do mundo as empresas controlavam cerca de 85 das reservas globais do recurso que constitui a principal fonte energética do planeta Dessa forma os paísessede dessas petrolíferas invariavelmente localizados no centro da economiamundo capitalista Países Baixos Reino Unido Estados Unidos tinham à disposição um elemento de barganha decisivo lhes permitindo ditar a atividade econômica de qualquer país que dependesse de suas exportações Não é mera coincidência a identificação de autores como Braudel 2009 e Wallerstein 1992 2003 2009 do processo de degradação da hegemonia estadunidense e aceleração da decadência da economiamundo capitalista a partir das crises daquela década que levaram a uma modificação nos mecanismos utilizados pelo centro para administrar sua relação com o resto do planeta Em particular notase uma tendência à financeirização do sistema fenômeno que historicamente marca o amadurecimento e esgotamento de um modelo de acumulação Destacase conforme observado pelos autores que são os momentos de crise e transição que permitem a ocorrência de transformações tanto na estrutura quanto nos seus componentes os Estados e fazse necessário portanto estudar a forma como se dão tais alterações A Questão do Desenvolvimento na Teoria do SistemaMundo Nesta seção buscase estabelecer a partir das considerações traçadas nas seções anteriores o que na Teoria do SistemaMundo e particularmente na economiamundo capitalista representa o desenvolvimento Cabe recordar conforme Braudel 2009 que os desequilíbrios entre as diferentes regiões 8 Como exemplificado pela agropecuária brasileira particularmente nos setores exportadores que contam com alto nível de capital e tecnologia 9 Royal Dutch Shell AngloPersian Oil Company APOC Standard Oil of New Jersey Esso Standard Oil of New York Socony Texaco Standard Oil of California Socal Gulf Oil O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 56 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 da economiamundo capitalista são construídos e consolidados ao longo de séculos desenhando em seu conjunto a estrutura que caracteriza a divisão internacional do trabalho e portanto a divisão entre centro semiperiferia e periferia Assim fazse necessário abordar o fenômeno das revoluções que a um só tempo influenciam a trajetória do sistema e possibilitam aos protagonistas do processo evadir as amarras da economiamundo capitalista abrindo um caminho para seu desenvolvimento autônomo Inicialmente é necessário precisar o que se entende por revolução Adotase assim sua interpretação como revoluções sociais e políticas eventos históricos separados e comparativamente raros mas que longe de serem marginais ou atípicos para a história dos Estados e do sistema internacional são pontos de transição e de formação sem os quais o mundo moderno não seria como é Halliday 1999 143 O autor apoia tal concepção de forma tripartite sobre as contribuições de Skocpol BarringtonMoore e Griewank Theda Skocpol por exemplo definiu as revoluções com base no grau de transformação da sociedade e da destruição do velho Estado Halliday 1999 143 Nesse sentido é priorizada a relação entre Estado e revolução e como a competição internacional abriu espaço para as sublevações que a um só tempo transformam a estrutura social e política Ao mesmo tempo Halliday 1999 analisa o argumento de J B BarringtonMoore que sugere não existir um caminho não violento para a modernidade Estudando as diferentes estratégias seguidas por Inglaterra Estados Unidos Alemanha e Japão o autor nota os capítulos violentos na sua trajetória para a industrialização e democracia liberal seja domesticamente por intermédio de revoluções e guerras civis ou internacionalmente por meio de guerras interestatais As revoluções eram portanto não aberrações a uma alternativa não violenta mas uma forma de transição inevitavelmente violenta para uma sociedade moderna e frequentemente uma forma que em escala internacional foi menos violenta que a alternativa germanonipônica Halliday 1999 144 Por fim Halliday 1999 visita o trabalho de Karl Griewank que estuda a história do conceito de revolução desde seus primórdios astronômicos Assim ao esclarecer seus diversos sentidos verificase que seu uso contemporâneo só se torna possível a partir da Revolução Francesa não se encaixando em fenômenos que tenham antecedido o sistema interestatal moderno Passa a lhe ser essencial portanto não apenas a mudança política ou a constitucional mas também a participação da massa neste processo o alvo central das revoluções era o controle do Estado Halliday 1999 144 A partir da tríade que sustenta o pensamento do autor fica evidente o interesse em afirmar a revolução como um processo de transição uma vez que Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 57 As questões da definição e do papel histórico das revoluções são com certeza centrais para qualquer discussão destes levantes no contexto internacional Quase toda a discussão sobre as revoluções na literatura das RI as percebe em um sentido muito mais frouxo para incluir os golpes e as explosões de violência o que não as dissolve simplesmente em um espectro behaviorista A maior parte da literatura das RI supõe também que as revoluções são momentos de colapso ao invés de transição Halliday 1999 144 Exatamente a perspectiva da revolução como transição importa à discussão uma vez que contesta estruturas que buscam colocarse como dadas Em outras palavras o processo revolucionário desafia e transforma a economiamundo capitalista e o sistema interestatal haja vista seu impacto sobre o sistema ideológico que em cada período dialeticamente justifica e é sustentado pela divisão internacional do trabalho No que tange ao desenvolvimento portanto as revoluções liberais do século XVIII representaram momentos de transição que transformaram espaçotempo e práticas políticas e de produção abrindo caminho à ascensão da apropriação da maisvalia Como resultado derrubaramse preceitos tidos até o momento como doutrinas na explicação do mundo e da sociedade com consequentes transformações nas perspectivas científicas no campo das exatas humanas e sociais A Revolução Russa de 1917 da mesma forma marca decisivamente o século XX uma vez que todos os eventos ocorridos durante a existência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e dela originada foram em maior ou menor medida impactados pelo desafio que representava à economia mundo capitalista Mesmo hoje seus reflexos são sentidos seja por meio das experiências socialistas que sobreviveram a sua derrocada seja pelo seu legado cultural e intelectual ou simplesmente por constituir um exemplo de ruptura ao sistema No mesmo sentido o debate estabelecido pelos autores aqui estudados considerando a perspectiva crítica adotada que leva a questionamentos sobre a ordem vigente participa do processo proposto por Wallerstein 1992 de elaboração de alternativas científicas e culturais Em um contexto de crise e transição sistêmica essas contribuições atuam em favor de transformações positivas no sistemamundo já que favorecem a construção de um modelo mais justo na distribuição das riquezas materiais ou não globais e portanto mais igualitário tanto na esfera doméstica quanto internacional Evidenciase a partir das análises propostas que a própria ideia de O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 58 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 desenvolvimento se apresenta como campo de batalha ideológico desde sua origem na sequência da Segunda Guerra Mundial elaborada pelo centro como instrumento de atração das periferias e semiperiferias em processo de independência passando pelas propostas do Movimento dos Não Alinhados que sugeria a possibilidade de se equiparar o centro até as interpretações contemporâneas que abordam o conceito em relação aos mais diversos âmbitos disciplinares e sociais Através da História e nas diferentes propostas com frequência perderamse de vista os elementos estruturais que produzem os diversos níveis de desenvolvimento verificados no mundo dado serem as circunstâncias e fóruns em que o debate é posto sistemicamente condicionados Nesse sentido Amin 1997 alerta que mesmo países que adotam experiências socialistas ao incorporar perspectivas de desenvolvimento originadas de elementos da economiamundo capitalista e tentar combinálas com o objetivo de construção do socialismo correm o risco de retornar a padrões típicos da estrutura que visam combater A tentativa de alcançar o centro capitalista pode levar à adoção de práticas que favorecem a reintegração ao sistema dominante em particular quando considerada a tendência e força expansionista da economia mundo capitalista os países chamados socialistas se propunham com muita confusão ao mesmo tempo alcançar e fazer outra coisa construir o socialismo e se haviam desconectado no sentido que dei a este conceito ou seja haviam submetido suas relações exteriores à lógica de seu desenvolvimento interno Os aspectos positivos de suas realizações um estatismo paternalista sem dúvida mas com um todo social que garantia a segurança do emprego e um mínimo de serviços sociais em contraste com o capitalismo selvagem das periferias capitalistas provêm de sua origem uma revolução popular anticapitalista e da sua desconexão enquanto seus becos sem saída traduzem por vez a ilusão do alcance que implica a ampla adoção dos critérios do capitalismo Amin 1997 72 tradução nossa Não obstante determinadas experiências socialistas que persistem em seu desafio à economiamundo capitalista demonstram a possibilidade de efetivamente desvincularse dos elementos de dominação deste sistema Isso é destacado quando sua continuidade se dá além da existência do bloco socialista liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas cuja política externa facilitava a inserção destes Estados Neste sentido cabe explorar como se davam as relações entre os países do bloco socialista Diferentemente da configuração da economiamundo capitalista pautada pela apropriação de maisvalia global por meio da divisão Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 59 internacional do trabalho o modelo socialista baseavase na solidariedade revolucionária Assim mesmo quando incorrendo prejuízos estabeleciam se intercâmbios que priorizavam o bemestar das populações e o sucesso dos regimes parceiros Por isso a queda da URSS na década de 1990 gerou impactos em Estados revolucionários com menos recursos à disposição tendo em vista a importante proporção de ajuda anteriormente recebida Assim salientamse os casos cubano nortecoreano e chinês Cada um a seu modo e a partir de condições diversas buscam construir um modelo alternativo pautado por ideais socialistas Tal proposta ganha ainda mais relevo quando se considera que tais experiências se iniciaram em periferias da economiamundo capitalista acrescentando ao desafio sistêmico representado por suas revoluções um verniz terceiromundista Por conseguinte verificase em todos os casos a busca pela internalização dos elementos que constituem o monopólio do centro sobre o sistema capitalista as finanças e as tecnologias A partir do momento em que tais instrumentos deixam de atuar em favor da transferência global de maisvalia a reação da economiamundo capitalista se torna inevitável sendo demonstrada pela história a violência dos processos necessários à instauração das relações características ao sistema Os mais variados métodos são utilizados na tentativa de restabelecer o padrão de dominação contestado mas destacamse os embargos os golpes de Estado e as intervenções Cumpre mencionar inclusive que tais medidas não são adotadas apenas contra países que levantam um desafio direto ao sistema por intermédio da adoção de ideologias contestatórias mas a quaisquer em que políticas sejam adotadas em oposição aos processos de apropriação global de maisvalia A experiência cubana iniciada em 1959 por exemplo enfrenta desde sua gênese forte reação por parte da economiamundo capitalista não menos devido à sua proximidade geográfica em relação ao hegemon estadunidense Assim o país sofre um embargo econômico que lhe obstaculiza o crescimento econômico além de constantes tentativas de assassinato contra suas lideranças golpes de Estado e invasões Apesar disso e das limitações impostas pelos recursos naturais disponíveis em seu território o projeto cubano alcançou altos níveis de educação e saúde com desenvolvimento mesmo de vacinas contra cânceres em um feito ainda não superado pelas potências ocidentais Além disso outros indicadores demonstram seu sucesso em elevar as condições de vida da população como por exemplo os de segurança habitação alimentação e acesso às mais diversas formas de manifestações culturais Também Cuba demonstra clareza de seus objetivos no âmbito internacional Na lógica revolucionária cubana as ações desencadeadas tinham como O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 60 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 objetivo alcançar e defender uma independência real e fundamentalmente uma mudança social Para tanto a projeção externa também deveria seguir esse processo de transformação Isso significava em primeiro lugar desafiar e superar a dependência e subserviência em relação aos EUA que já se prolongava há mais de cinquenta anos Os cubanos tinham clareza de que com isso teriam que enfrentar o isolamento e a hostilidade promovida pelos norteamericanos No entanto esta situação poderia ser contrabalançada a partir das relações com a URSS A Revolução significou não apenas uma mudança em Cuba mas também uma mudança na forma como o país passou a perceber seu lugar no mundo O Estado cubano de importância tradicionalmente menor nos assuntos globais agora poderia e deveria se projetar e interferir na dinâmica internacional com vistas ao fortalecimento de sua própria Revolução Nesse sentido a política exterior para Cuba sempre esteve muito além do simples estabelecimento de relações comerciais e diplomáticas A conduta externa refletiu nos debates e formulação das políticas domésticas Por outro lado também refletiu na relação de Cuba com as duas superpotências realidade que os cubanos tiveram que lidar até 1991 Por fim serviu como base para uma nova identidade que acompanhou a construção do Estado socialista e sua redefinição como um país do Terceiro Mundo Pereira in Visentini et al 2013 259 No mesmo sentido Visentini 2013 aponta que a Coreia do Norte nasce a partir da intervenção da hegemonia estadunidense em seu processo revolucionário A guerra que dividiu o país não só redundou em bloqueios econômicos mas também em um longo período de nãoreconhecimento do seu Estado que só passa a integrar a Organização das Nações Unidas em 1991 Mesmo assim o país conquistou o domínio de tecnologias de alta complexidade como a nuclear tanto para uso civil quanto estratégico e a superação dos desafios naturais que aliados ao embargo econômico impunham à região carestia de bens básicos Além disso a garantia de emprego e o provimento de serviços sociais à população assegurou nível e dignidade de vida Elevase dessa forma a importância global do país já que na passagem para o século XXI a Coreia passa a ocupar um espaço privilegiado no campo das decisões envolvendo a grande diplomacia As quatro potências com as quais os dois Estados Coreanos têm que interagir mais diretamente passam por mudanças que afetam os destinos da península conferindo um caráter estratégico desta vez global à região A China continua se fortalecendo e agora está associada à Rússia tentando evitar uma ascendência desmedida dos EUA sobre a região Este país por sua vez tenta reafirmar sua supremacia sobre seus velhos aliados Tóquio Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 61 e Seul Mas ambos são condicionados por necessidades econômicas que os direcionam para o polo de desenvolvimento da Ásia oriental pois somente com certo grau de autonomia seu desenvolvimento pode prosseguir Visentini 2013 146 Por sua vez a República Popular da China não apenas logrou resistir aos avanços da economiamundo capitalista como também estabelecer ordenamentos alternativos em maior escala O impacto da inserção mundial da China é intenso não apenas pela acelerada taxa de crescimento mas pelo peso econômico e populacional do país bem como por sua dimensão continental O problema entretanto não diz respeito apenas ao peso da China mas principalmente às características do projeto chinês Tratase de uma potência nuclear com imensa capacidade militar além do fato de tratarse de um modelo de desenvolvimento de pretensões autônomas A República Popular da China graças à sua capacidade militar de dissuasão armamento nuclear indústria armamentista própria tecnologia aeroespacial e de mísseis bem como por ser Membro Permanente do Conselho de Segurança da ONU com poder de veto é o único país em desenvolvimento que se encontra no núcleo do poder mundial Martins in Visentini et al 2013 116 Assim notase que a experiência socialista na China se iniciou em um contexto de resistência ao imperialismo japonês e de enfrentamento ao projeto nacionalista do Kuomintang A proposta do Partido Comunista Chinês ganhou projeção com seus sucessos ao longo da Segunda Guerra Mundial e findo o conflito e reiniciado o confronto com o Kuomintang a partir da Grande Marcha Nesta as tropas socialistas em retirada continuaram a difundir sua ideologia e sua persistência eventualmente tornouse parte do imaginário popular Identificase que com a vitória dos socialistas na guerra civil chinesa e consolidação da República Popular da China a economiamundo capitalista relega o país ao mesmo isolamento de outros Estados revolucionários e assim até a década de 1970 são impostas ao país sanções que incluem bloqueio econômico e mesmo com o restabelecimento das relações comerciais diversas tentativas de contenção são realizadas por exemplo através de estímulos a golpes de Estado A partir daí são estabelecidas reformas com o objetivo de dinamizar a economia haja vista que a construção do socialismo demanda condições materiais suficientes para o provimento de boas condições de vida a todos e para a defesa do projeto Dessa forma ao controlar seu mercado financeiro e investimento O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 62 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 estrangeiro demandando o compartilhamento de tecnologias quando do estabelecimento de empreendimentos em seu território a China pôde desenvolver e dominar tecnologias de ponta como a internet 5G e contrapor em seu entorno estratégico a hegemonia estadunidense Ao mesmo tempo logrou perseguir os objetivos anunciados enquanto projeto socialista combatendo a pobreza melhorando as condições de vida da população diminuindo a desigualdade entre campo e cidade e adotando práticas benéficas ao meio ambiente Os exemplos citados levam a refletir sobre as possibilidades disponíveis às periferias e semiperiferias de transformação econômica política e social Demonstram ser necessário pensar em uma perspectiva do Sul geopolítico alternativas que permitam a superação dos problemas impostos pela ordem sistêmica mundial cuja estrutura impõe limites ao desenvolvimento autônomo dos países fora do centro pela necessidade de apropriação de maisvalia que sustenta o domínio destes sobre a economiamundo capitalista mediante a divisão internacional do trabalho Dessa forma argumentase que o caminho para o desenvolvimento passa pelo desafio aos monopólios financeiros e tecnológicos que orientam os fluxos globais de capital almejando maior igualdade entre os países e melhores condições de vida a toda humanidade Considerações Finais Considerando conforme Amin 1997 que a divisão internacional do trabalho permite que a maisvalia da periferia e semiperiferia seja apropriada pelo centro graças ao monopólio sobre as tecnologias e as finanças evidencia se que o fluxo de acumulação de capital beneficia este em detrimento daqueles dialeticamente assegurando a continuidade da diferenciação entre as regiões da economiamundo capitalista já que tal influxo de recursos permite a renovação dos instrumentos de domínio Da mesma forma cumpre lembrar que a semiperiferia também se apropria de maisvalia em sua relação com a periferia lhe garantindo vantagens em relação a esta última Retomando Braudel o advento da modernidade leva a economia a influenciar a sociedade a política e a cultura mais profundamente As proposições de Marx inspiram a análise nesse sentido sublinhando a relação dialética entre a estrutura econômica e a superestrutura política e jurídica ideológica Assim a drenagem de capital das periferias em direção ao centro sugere que as vantagens obtidas por meio deste processo ultrapassam as bases materiais estendendose a todas as esferas da sociedade Isso se dá de forma conflitiva e contraditória como são as relações entre as classes cujo papel é basilar para a construção e reprodução do modo de produção capitalista Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 63 Assim identificase que o desenvolvimento de determinada região está associado à sua capacidade de acumular capital de acordo com sua inserção como origem ou destino dos fluxos de maisvalia global Dessa forma os países localizados no centro do sistema são categorizados como desenvolvidos os países na semiperiferia são tratados como em desenvolvimento ou emergentes e os países da periferia relegados à condição de subdesenvolvimento Evidencia se inclusive o sentido ideológico desta terminologia particularmente no tocante a semiperiferia já que é referenciada em uma situação que pressupõe a possibilidade de desenvolvimento autônomo nos marcos do sistema fato não verificado empiricamente haja vista que os únicos casos de ascensão ao centro se deram via desenvolvimento patrocinado a convite com autorização e apoio do centro como anteriormente exemplificado pela Coreia do Sul A influência deste processo não se limita aos aspectos econômicos mas estendese também às demais esferas da sociedade É por isso que os sistemas políticos sociais e culturais das periferias devem ser influenciados estabelecendo na superestrutura justificativas necessárias ao fluxo de capital internacional Com esse objetivo cumprem papel fundamental instituições e organizações internacionais como exemplificam as de BrettonWoods10 e a Organização Mundial do Comércio que reestruturam questões basilares da polarização da economiamundo capitalista como problemas técnicos impondo às periferias soluções adequadas aos interesses do centro portanto ideologicamente parciais sob um matiz científico Por isso apesar de frequentes tentativas por países semiperiféricos e periféricos de se apropriar de seus fóruns para debater e construir alternativas que lhes beneficiem barreiras estruturais se impõem e limitam a efetividade das iniciativas como evidenciado pelas dificuldades enfrentadas pelos países menos favorecidos de fazer valer suas demandas nas Rodadas Uruguai e Doha da Organização Mundial do Comércio11 Consolidase assim no nível superestrutural a drenagem de recursos que perpetua a desigualdade necessária ao funcionamento da economia mundo capitalista Tal entendimento da relação dialética desses processos vai ao encontro de Wallerstein 2009 ao contestar as divisões entre as ciências sociais e sugere que o enfrentamento aos desafios do subdesenvolvimento demanda a superação dos desequilíbrios sistêmicos imanentes ao funcionamento da economiamundo capitalista Afinal sendo fundamental ao capitalismo conforme propõe Marx 1996a 1996b a contínua acumulação de capital de forma a permitir a constante revolução dos meios de produção que sustentam o sistema e identificandose a apropriação de maisvalia das periferias como importante fonte desta acumulação evidencia se a impossibilidade de funcionamento de uma economiamundo capitalista O Sistema Mundial Contemporâneo Uma Contribuição para o Debate sobre Desenvolvimento na Teoria Do SistemaMundo 64 Austral Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais v9 n18 JulDez 2020 sem diferenciação entre suas regiões já que tal desigualdade é o que permite a extração de maisvalia a nível global REFERÊNCIAS Amin Samir 1997 Los desafíos de la mundialización El mundo del siglo XXI México DF Siglo Veintiuno Ed Arrighi Giovanni 1996 O longo século XX dinheiro poder e as origens de nosso tempo Rio de Janeiro Contraponto Arrighi Giovanni e Beverly J Silver 2001 Caos e governabilidade no moderno sistema mundial por Giovanni Arrighi e Beverly J Silver 28199 Rio de Janeiro ContrapontoEditora UFRJ Braudel Fernand 2009 Civilização Material Economia e Capitalismo sécu los XVXVIII O tempo do mundo Vol 3 São Paulo WMF Martins Fontes Halliday Fred 1999 Repensando as relações internacionais Porto Alegre Edi tora da UFRGS Marx Karl 1971 Contribuição para a Crítica da Economia Política Lisboa Es tampa Marx Karl 1996a O capital crítica da economia política Livro primeiro o processo de produção do capital Vol 2 São Paulo Nova Cultural Marx Karl 1996b O capital crítica da economia política Livro primeiro o processo de produção do capital Vol 1 São Paulo Nova Cultural Osterhammel Jürgen e Niels P Petersson 2005 Globalization A Short His tory Princeton NJ Princeton University Press Silver Beverly J e Eric Slater 2001 As origens sociais das hegemonias mun diais In Caos e governabilidade no moderno sistema mundial por Gio vanni Arrighi e Beverly J Silver 161225 Rio de Janeiro Contrapon toEditora UFRJ Teschke Benno 2003 The Myth of 1648 Class Geopolitics and the Making of Modern International Relations London New York Verso Visentini Paulo Fagundes Analúcia Danilevicz Pereira José Miguel Quedi Martins Luiz Dario Ribeiro e Luiz Gustavo Gröhmann 2013 Rev oluções e Regimes Marxistas rupturas experiências e impacto internac ional Porto Alegre Leitura XXINERINTUFRGS Visentini Paulo Fagundes 2019 Eixos do Poder Mundial no Século XXI uma proposta analítica Austral 8 15 925 httpsseerufrgsbr australarticleview9176752900 Analúcia Danilevicz Pereira Salvatore Gasparini Xerri 65 Wallerstein Immanuel 1992 Geopolitics and Geoculture Essays on the Changing World System Cambridge Cambridge University Press Wallerstein Immanuel 2003 US Weakness and the Struggle for Hegemo ny Monthly Review 55 3 17 Wallerstein Immanuel 2009 WorldSystems Analysis In World System History por George Modelski e Robert Allen Denemark 1326 Ox ford UK Eolss Publishers RESUMO O presente trabalho analisa a noção de desenvolvimento na Teoria do Sistema Mundo como produzido pelo fluxo de apropriação de maisvalia global via da divisão internacional do trabalho fundamentando as divisões entre centro semiperiferia e periferia na economiamundo capitalista Objetiva assim explorar como a apropriação em nível global de maisvalia na economiamundo capitalista produz variações no nível de desenvolvimento das suas diferentes regiões Para tanto contextualizase e conceituase seus elementos nas dimensões espaciais e temporais Definese mais valia e a forma de sua acumulação global e nesse sentido explorase a sucessão de hegemonias capitalistas em sua relação dialética com o andamento do sistema permitindo abordar a divisão internacional do trabalho e como o monopólio sobre finanças e tecnologias permite ao centro do sistema consolidar uma estrutura que assegure a transferência de capitais e maisvalia das outras regiões a este Conclui se assim que o desenvolvimento de determinado país ou região na economia mundo capitalista depende de sua capacidade de acumulação de maisvalia em nível global Adicionalmente observase que as condições impostas pela estrutura do sistema impedem iniciativas de desenvolvimento autônomo em seus marcos sendo necessário com elas romper para que um projeto do tipo seja possível Essa perspectiva constitui a avaliação dos processos revolucionários socialistas como as experiências históricas que foram capazes de alterar a correlação de forças no sistema mundial contemporâneo PALAVRASCHAVE Teoria do SistemaMundo EconomiaMundo Capitalista MaisValia Global Divisão Internacional do Trabalho Desenvolvimento Revoluções Recebido em 20 de janeiro de 2020 Aceito em 31 de outubro de 2020