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Em pleno século XXI percebemos no cotidiano a urgente necessidade de transformações que resgatem o respeito pela vida com justiça ambiental eqüidade diversidade sustentabilidade e beleza Nesse contexto é por meio da educação que temos uma oportunidade de repensar e redefinir nosso presente e futuro no Planeta Em especial a educação ambiental assume posição de destaque face aos desafios da contemporaneidade por ser voltada tanto para a instauração de uma moral ecológica quanto para a construção dos fundamentos de sociedades sustentáveis Nas atividades da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável a convergência de ações e princípios de dois ministérios e da UNESCO resultou na elaboração desta publicação Construída coletivamente por uma diversidade de educadoras e educadores ambientais do Brasil esta obra visa propiciar o diálogo sobre a práxis educativa para e pela vida nas escolas Conceitos e práticas em educação ambiental na escola MEC MMA UNESCO CapavamoscuidarLayout 1 4108 1136 AM Page 1 BRASÍLIA 2007 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 1 Representação da UNESCO no Brasil SAS Quadra 5 Bloco H Lote 6 Ed CNPqIBICTUNESCO 9º andar CEP 70070914 Brasília DF Tel 55 61 21063500 Fax 55 61 33224261 Site wwwunescoorgbr Email grupoeditorialunescoorgbr Ministério da Educação Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade Diretoria de Educação Integral Direitos Humanos e Cidadania Coordenação Geral de Educação Ambiental SGAS Av L2 Sul Quadra 607 Lote 50 2º andar sala 212 CEP 70200670 Brasília DF Tel 61 21046142 Fax 61 21046110 0800 61 61 61 Site wwwmecgovbrsecad Email eamecgovbr Ministério do Meio Ambiente Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental Departamento de Educação Ambiental Esplanada dos Ministérios Bloco B 5º Andar Sala 553 CEP 70068900 Brasília DF Tel 61 33171207 33171757 Fax 61 33171757 Site wwwmmagovbreducambiental Email educambientalmmagovbr miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 2 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 3 2007 Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade Secad Ministério da Educação Comissão Editoral Eneida Lipai Fábio Deboni Marcos Sorrentino Patrícia Mendonça Philippe Pomier Layrargues Rachel Trajber Soraia Silva de Mello Organização e Coordenação Editorial Soraia Silva de Mello e Rachel Trajber Colaboração Luciano Chagas Barbosa Luiz Cláudio Lima Costa Marlova Intini Neusa Helena Rocha Barbosa Bruno Bormann Xanda de Biase Miranda Revisão Adilson dos Santos Projeto Gráfico Capa e Diagramação Paulo Selveira Catalogação Maria Ivete Gonçalves Monteiro Rodrigues Ilustrações todas as ilustrações são de autoria das escolas que participaram da I e II Conferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente Ilustração do Prefácio Apresentação e Sobre os Autores Escola de Ensino Fundamental Deputado Silvio Ferraro Siderópolis Santa Catarina Fotos da capa Sérgio Alberto Tiragem 67 mil exemplares Vamos cuidar do Brasil conceitos e práticas em educação ambiental na escola Coordenação Soraia Silva de Mello Rachel Trajber Brasília Ministério da Educação Coordenação Geral de Educação Ambiental Ministério do Meio Ambiente Departamento de Educação Ambiental UNESCO 2007 248 p il 23 x 26 cm Vários colaboradores ISBN 9788560731015 1 Educação ambiental Brasil 2 Educação básica Brasil I Título CDD 372357 CDU 37504 Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro bem como pelas opiniões nele expressas que não são necessariamente as do MEC do MMA e da UNESCO nem comprometem as referidas instituições As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte do MEC do MMA e da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país território cidade região ou de suas autoridades tampouco da delimitação de suas fronteiras ou limites V 216 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 4 Prefácio A ÚNICA LIÇÃO QUE É POSSÍVEL TRANSMITIR COM BELEZA E RECEBER COM PROVEITO A ÚNICA ETERNA DIGNA VALIOSA O RESPEITO PELA VIDA 02091930 Esta frase visionária da professora jornalista e poeta Cecília Meireles escrita em sua Página de Educação no Diário de Notícias do Rio de Janeiro resume a proposta deste livro Agora em pleno século XXI já percebemos no cotidiano a urgente necessidade de transformações que resgatem o RESPEITO PELA VIDA com justiça ambiental eqüidade diversidade sustentabilidade e beleza Este é o desafio da Educação Ambiental na Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação ao ressignificar o cuidado com a diversidade da vida como valor ético e político fugindo da equação simplista ambiente natureza A humanidade sempre conviveu com o Planeta para crescer se desenvolver e construir uma história nas suas relações com a natureza e com os outros seres vivos Se considerarmos apenas o lado positivo dessa convivência a proposta seria responder às neces sidades básicas de todos os cidadãos em termos de água alimentos abrigo saúde e energia No entanto principalmente no século passado começamos a perceber inúmeras contradições causadas pelo esgotamento sem precedentes dos recursos naturais por modos de vida destruidores e como diria Leonardo Boff por nossa falta de cuidado para com a vida Este livro culmina um processo participativo iniciado em 2003 com milhares de escolas e comunidades e conta com a experiência advinda de duas edições da Conferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente da criação da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola COMVIDA da implantação de projetos de Agendas 21 entre tantas É também resultado de um trabalho que debate dentro da escola o local e o global compartilhando conhecimentos e saberes com a comunidade trazendo lições que podem ser extraídas no diaadia da escola Com Vamos Cuidar do Brasil Conceitos e Práticas em Educação Ambiental na Escola o MEC se propõe a dialogar com professores e professoras sobre como a educação pode contribuir para a construção de sociedades sustentáveis Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 5 Apresentação SOMOS JOVENS DO BRASIL INTEIRO ENVOLVIDOS NO PROCESSO DA II CONFERÊNCIA NACIONAL INFANTOJUVENIL PELO MEIO AMBIENTE Buscamos construir uma sociedade justa feliz e sustentável Assumimos responsabilidades e ações cheias de sonhos e necessidades Este é um meio de expressar nossas vontades e nosso carinho pela vida e sua diversidade Compreendemos que sem essa diversidade o mundo não teria cor Encontramos caminhos para trabalhar temas globais complexos e urgentes mudanças climáticas biodiversidade segurança alimentar e nutricional e diversidade étnicoracial Queremos sensibilizar e mobilizar as pessoas para juntos encararmos os grandes desafios socioambientais que a nossa geração enfrenta Para cuidarmos do Brasil precisamos de sua colaboração Estamos fortalecendo as ações estudantis e nos unindo às Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola COMVIDAS nos Coletivos Jovens de Meio Ambiente e em tantos outros grupos Compartilhamos a responsabilidade com os governos empresas meios de comunicação ONGs movimentos sociais e culturais além de nossas comunidades Esta é a introdução da Carta das Responsabilidades Vamos Cuidar do Brasil elaborada pelas delegadas e delegados da II Conferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente com base nos sonhos e desejos de milhares de escolas e de milhões de estudantes professores e pessoas das comunidades A Carta das Responsabilidades entregue pelos adolescentes ao presidente da República ao ministro da Educação e à ministra do Meio Ambiente simboliza o compromisso das escolas de incentivar a sociedade a refletir sobre as questões socioambientais urgentes e a participar de ações que contribuam para melhoria da qualidade de vida de todos Foi a seriedade deste engajamento que nos inspirou a elaborar este livro Vivemos em um momento bastante propício para a educação ambiental atuar na transformação de valores nocivos que contribuem para o uso degradante dos bens comuns da humanidade Precisa ser uma educação permanente continuada para todos e todas ao longo da vida E a escola é um espaço privilegiado para isso Neste contexto o Vamos Cuidar do Brasil Conceitos e Práticas em Educação Ambiental na Escola apesar de ser destinado aos professores e professoras do ensino fundamental abrange também educadores ambientais populares O objetivo é propiciar a reflexão teórica ampliando o debate político sem contudo perder a dimensão das práticas cotidianas O livro reúne artigos de autores reconhecidos por sua contribuição no campo da educação ambiental com a proposta de compartilhar saberes idéias e práticas por vezes complexas mas sempre de maneira simples e gostosa de a gente ler com arte Diversos pontos de vista e dimensões trazem uma temática em comum a relevância de trabalharmos com nosso planeta e suas comunidades de vida em cada projeto de educação ambiental miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 6 Os textos foram organizados em quatro capítulos O primeiro apresenta as ações estruturantes e diretrizes desenvolvidas pelo Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental uma parceria entre o Ministério da Educação MEC e o Ministério do Meio Ambiente MMA elucidando a inovação e os desafios políticos e institucionais Nos textos que compõem este capítulo surgem algumas áreas de atuação para universalizarmos a educação ambiental no Brasil Com elas fazemos uma educação com o planeta na mente e no coração O segundo capítulo é um mergulho no universo da educação ambiental nas escolas Sob diferentes perspectivas os dez textos que o formam discutem as múltiplas possibilidades de trabalho pedagógico desvelando as contradições entre os conceitos e princípios proclamados e os desafios das práticas efetivas O terceiro capítulo propõe um olhar para o futuro que já acontece no presente com as contribuições pedagógicas de ten dências da educação na relação entre escola e comunidade sempre voltadas ao meio ambiente Ele foi idealizado levandose em consideração importantes inovações em curso na educação ambiental brasileira que permitem novas formas de comunicação e integração de tecnologias e linguagens novas metodologias novos participantes novas formas de organização social Por fim o quarto capítulo amplia o pensamento da educação ambiental para o reconhecimento e valorização da diversidade na escola em todos os níveis e modalidades de ensino aproximandoos e estabelecendo conexões entre todos e cada um deles Além dos textos a publicação propicia a apreciação da arte com as ilustrações dos cartazes elaborados como parte do processo de Conferências de Meio Ambiente nas Escolas As imagens retratam as responsabilidades assumidas pelas escolas e comunidades diante das grandes problemáticas socioambientais globais a manutenção da biodiversidade as mudanças climáticas a segurança alimentar e nutricional e a valorização da diversidade étnicoracial A Carta das Responsabilidades Vamos Cuidar do Brasil síntese dos debates na Conferência foi encartada como pôster acompanhando este livro Esperamos que cada escola ajude na divulgação de seus conteúdos e coloque em prática nossos sonhos e compromissos coletivos Esta publicação apesar de abrangente não esgota as inúmeras possibilidades do fazer da educação ambiental nas escolas e comunidades Todavia contribui para a ampliação do debate neste campo do conhecimento tão peculiar por meio de palavras e imagens da razão e da sensibilidade Para que a escola emane os valores atitudes e princípios fundamentais para a construção de sociedades sustentáveis e a cultura de paz Boa leitura Comissão Editorial miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 7 Sumário PREFÁCIO 5 APRESENTAÇÃO 6 CAPÍTULO 1 POLÍTICAS ESTRUTURANTES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 11 Políticas de Educação Ambiental do Órgão Gestor 13 Rachel Trajber e Marcos Sorrentino Educação ambiental na escola tá na lei 23 Eneida Maekawa Lipai Philippe Pomier Layrargues e Viviane Vazzi Pedro Pensando sobre a geração do futuro no presente jovem educa jovem COMVIDAS e Conferência 35 Fábio Deboni e Soraia Silva de Mello Políticas de formação continuada de professoresas em educação ambiental no Ministério da Educação 45 Patrícia Ramos Mendonça CAPÍTULO 2 UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS 55 Um olhar sobre a educação ambiental nas escolas considerações iniciais sobre os resultados do projeto O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental 57 Carlos Frederico B Loureiro e Mauricio F Blanco Cossío Educação ambiental crítica contribuições e desafios 65 Carlos Frederico B Loureiro Entre camelos e galinhas uma discussão acerca da vida na escola 73 Najla Veloso Educação ambiental participação para além dos muros da escola 85 Mauro Guimarães Educação ambiental nos projetos transversais 95 Denise S Baena Segura Educação ambiental ser ou não ser uma disciplina essa é a principal questão 103 Haydée Torres de Oliveira A Escola Bosque e suas estruturas educadoras uma casa de educação ambiental 115 Marilena Loureiro da Silva miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 8 O caracol surrealista no teatro pedagógico da natureza 123 Michèle Sato e André Sarturi O sujeito ecológico a formação de novas identidades culturais e a escola 135 Isabel Cristina Moura Carvalho Cidadania e consumo sustentável nossas escolhas em ações conjuntas 143 Rachel Trajber CAPÍTULO 3 CONTRIBUIÇÕES POLÍTICOPEDAGÓGICAS DAS NOVAS TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O COTIDIANO DA RELAÇÃO ESCOLACOMUNIDADE 153 As novas tecnologias na educação ambiental instrumentos para mudar o jeito de ensinar e aprender na escola 155 Paulo Blikstein Educomunicação e meio ambiente 167 Grácia Lopes Lima e Teresa Melo Pensando em coletivos pensando no coletivo do ônibus às redes sociais 177 Patricia Mousinho e Lila Guimarães CAPÍTULO 4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM OUTROS NÍVEIS E MODALIDADES DE ENSINO INTERFACES E PECULIARIDADES 187 Educação indígena uma visão a partir do meio ambiente 189 Xanda Miranda A educação ambiental nas escolas do campo 199 Sônia Balvedi Zakrzevski Religiosidade afrobrasileira e o meio ambiente 209 Denise Botelho Reinventando relações entre seres humanos e natureza nos espaços de educação infantil 219 Lea Tiriba A vida no bosque no século XXI educação ambiental e educação de jovens e adultos 229 Timothy D Ireland SOBRE OS AUTORES 238 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 9 10 Colégio Municipal Coração de Jesus Formosa do Rio Preto Bahia miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 10 1 Políticas estruturantes de educação ambiental miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 11 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 12 Políticas de Educação Ambiental do Órgão Gestor Marcos Sorrentino Rachel Trajber O TEXTO APRESENTA OS FUNDAMENTOS CONCEITUAIS DIRETRIZES E AÇÕES DO ÓRGÃO GESTOR DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORMA DO PELOS MINISTÉRIOS DA EDUCAÇÃO E DO MEIO AMBIENTE COM FOCO NA EDUCAÇÃO ESCOLARIZADA RELATA A PROPOSTA DE CRIAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA ARTICULAR E INTEGRAR POLÍTICAS ORGANISMOS INSTÂNCIAS DE GESTÃO E INICIATIVAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL PALAVRASCHAVE POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORMAÇÃO VISÃO SISTÊMICA miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 13 14 MESTRE É AQUELE QUE DE REPENTE APRENDE GUIMARÃES ROSA INTRODUÇÃO Estamos sentindo na pele em nosso cotidiano uma urgente necessidade de transformações para superarmos as injustiças ambientais a desigualdade social a apropriação da natureza e da própria humanidade como objetos de exploração e con sumo Vivemos em uma cultura de risco com efeitos que muitas vezes escapam à nossa capacidade de percepção direta mas aumentam consideravelmente as evidências que eles podem atingir não só a vida de quem os produz mas as de outras pessoas espécies e até gerações Essa crise ambiental nunca vista na história se deve à enormidade de nossos poderes humanos pois tudo o que fazemos tem efeitos colaterais e conseqüências nãoantecipadas que tornam inadequadas as ferramentas éticas que herdamos do passado diante dos poderes que possuímos atualmente Um dos mais lúcidos filósofos contemporâneos Hans Jonas descreveu com uma simplicidade contundente a crise ética de profundas incertezas em que nos achamos nunca houve tanto poder ligado com tão pouca orientação para seu uso Precisamos mais de sabedoria quanto menos cremos nela A educação ambiental assume assim a sua parte no enfrentamento dessa crise radicalizando seu compromisso com mudanças de valores comportamentos sentimentos e atitudes que deve se realizar junto à totalidade dos habitantes de cada base territo rial de forma permanente continuada e para todos Uma educação que se propõe a fomentar processos continuados que possi bilitem o respeito à diversidade biológica cultural étnica juntamente com o fortalecimento da resistência da sociedade a um modelo devastador das relações de seres humanos entre si e destes com o meio ambiente miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 14 15 EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA UM BRASIL DE TODOS Esta é a frase estampada em uma publicação do governo federal de 2003 que por assim dizer sintetiza a busca do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental1 o OG como apelidamos O OG é formado por dois ministérios que atuam juntos o MEC representado pela Coordenação Geral de Educação Ambiental da Diretoria de Educação Integral Direitos Humanos e Cidadania da Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade Secad e o Ministério do Meio Ambiente MMA representado pela Diretoria de Educação Ambiental na Secretaria Executiva O OG segue a missão do Programa Nacional de Educação Ambiental ProNEA2 A educação ambiental contribuindo para a construção de sociedades sustentáveis com pessoas atuantes e felizes em todo o Brasil e compartilha com cada habitante do nosso país a construção de um sonho a utopia de propiciar a 180 milhões de brasileiras e brasileiros o acesso permanente e con tinuado à educação ambiental de qualidade Diria o educador Paulo Freire que este sonho possível tem a ver exatamente com a educação libertadora não com a educação domesticadora como prática utópica Utópica no sentido de que é esta uma práti ca que vive a unicidade dialética dinâmica entre a denúncia de uma sociedade injusta e espoliadora e o anúncio do sonho pos sível de uma sociedade que chamamos agora de sustentável Isso só pode acontecer com a construção de um Estado democrático ético presente e forjado no diálogo permanente com a sociedade integrado a uma política estruturante de educação ambiental que propicie a todas e a cada pessoa tornaremse edu cadoras ambientais de si próprias atuando nesse mesmo sentido junto aos outros especialmente nas suas comunidades que podemos também chamar de tribos de convivencialidade Um dos objetivos que mobilizam o Órgão Gestor é criar juntamente com a sociedade uma política pública o Sistema Nacional de Educação Ambiental SISNEA Queremos construir um sistema articulado formador integrado e integrador capaz de atender à formação permanente e continuada de educadores ambientais populares nas redes de ensino e nas comunidades para além da gestão políticoadministrativa Um sistema orgânico que contém também a dimensão formadora Na base de sustentação desse sistema se encontram grupos locais que Paulo Freire chama de Círculos de Cultura que se constituem em um lugar onde todos têm a palavra onde todos lêem e escrevem o mundo É um espaço de trabalho pesquisa 1 O Órgão Gestor foi criado pela Lei nº 979599 que estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental PNEA regulamentada pelo Decreto nº 428102 implementado em junho de 2003 2 Criado em 2000 e que na sua terceira versão passou em 2004 por um processo de Consulta Pública miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 15 16 exposição de práticas dinâmicas vivências que possibilitam a construção coletiva do conhecimento A esses espaços estrutu rantes da educação ambiental denominamos COMVIDAS Mais de 4000 escolas já iniciaram sua Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola COMVIDA e também vamos criando COMVIDAS nas comunidades Comunidades de Apren dizagem sobre Meio Ambiente e Qualidade de Vida até todas se tornarem os espaços formadores e animadores de grupos locais de atuação e reflexão aprendizagem sobre e pelo meio ambiente e qualidade de vida em cada pedaço Para alimentar esses educadores ambientais em suas práxis junto às COMVIDAS os Coletivos Jovens de Meio Ambiente atuam nas escolas Nas comunidades grupos de instituições de caráter educacional e ambientalista atuam conjunta e solidariamente os Coletivos Educadores O tamanho da base territorial vai variar em função das condições de deslocamento número de habi tantes e condições de atuação das instituições que se unem para criar o Coletivo Educador da região Políticas públicas somente conseguem contribuir para os enormes desafios das questões socioambientais da contemporanei dade quando apoiadas no diálogo permanente com a sociedade Nesse sentido a educação ambiental cria uma interface entre os dois sentidos etimológicos da palavra latina para educação educare e educere Estamos acostumados com o significado de edu care favorecendo o estabelecimento de currículos e programas de ensino formais mas o diálogo resgata o educere que significa tirar de dentro o que cada um e cada uma tem de melhor quando motivados pela paixão pela delícia do conhecimento voltado para a emancipação humana em sua complexa dimensão da beleza e da manutenção da vida E QUAIS SÃO OS ORGANISMOS E COMPONENTES DO SISNEA Como vimos processos formadores de educadores e educadoras ambientais populares como COMVIDAS e Coletivos Educadores constituem potenciais elementos para a base do sistema para a qual devem convergir os esforços de todos os demais componentes da organização da Política Nacional de Educação Ambiental Para que tal organicidade e convergências aconteçam alguns pontos precisam ser debatidos dialogados com a sociedade estados e municípios e eventualmente modificados na própria PNEA Do ponto de vista políticoadministrativo do sistema federativo no âmbito federal existem três estruturas a Coordenação Geral de Educação Ambiental do Ibama CGEAMIbama com os Núcleos de Educação Ambiental NEAs a CGEAMEC e a DEAMMA Outras instituições federais também fazem educação ambiental como o Ministério da Defesa a Agência Nacional de Águas ANA o Jardim Botânico do Rio de Janeiro O Órgão Gestor funciona com um Comitê Assessor um espaço estratégico de participação da sociedade e de formulação de políticas composto por representantes de diversos segmentos mas que se expande pela necessidade mesmo de ser ainda mais representativo dos educadores ambientais miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 16 17 No âmbito estadual foram constituídas como instâncias coordenadoras as Comissões Estaduais Interinstitucionais de Educação Ambiental CIEAS Elas variam bastante de estado para estado mas basicamente são compostas de forma paritária pelas Secretarias Estaduais de Educação e de Meio Ambiente e pelas Redes de Educação Ambiental estaduais ou regionais Por serem organismos abertos e fluidos as representações das redes e da sociedade civil podem incluir pessoas de órgãos governamentais ou mesmo entidades de classes OAB CREA Associação de Biólogos Federação da Indústria ou movimentos sociais e ONGs Temos hoje formalmente criadas por decretos governamentais 24 CIEAS e dois estados e o Distrito Federal com Comissões próCIEAS O esforço do OG tem sido não só tornálas presentes e atuantes em todas as unidades federativas mas de incentivar a sua democratização seu enraizamento nos municípios ou outras territorialidades regionais E especialmente promover o seu reconhe cimento por todos os atores do campo da educação ambiental identificando nelas a responsabilidade pela elaboração da Política e do Programa de Educação Ambiental DIVERSIDADE DE TONS DE VERDES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Uma forma interessante de se perceber a diversidade e complementaridade que trabalhamos em educação ambiental foi propos ta por uma professora canadense chamada Sauvé citada por Layrargues utilizando apenas algumas preposições significativas educação sobre o ambiente informativa com enfoque na aquisição de conhecimentos curricular em que o meio ambiente se torna um objeto de aprendizado Apesar de o conhecimento ser importante para uma leitura crítica da realidade e para se buscar formas concretas de se atuar sobre os problemas ambientais ele isolado não basta educação no meio ambiente vivencial e naturalizante em que se propicia o contato com a natureza ou com passeios no entorno da escola como contextos para a aprendizagem ambiental Com passeios observação da natureza esportes ao ar livre ecoturismo o meio ambiente oferece vivências experimentais tornandose um meio de aprendizado educação para o ambiente construtivista busca engajar ativamente por meio de projetos de intervenção socioambiental que previnam problemas ambientais Muitas vezes traz uma visão crítica dos processos históricos de construção da sociedade ocidental e o meio ambiente se torna meta do aprendizado O OG acrescenta uma quarta preposição educação a partir do meio ambiente esta considera além das demais incluídas os saberes dos povos tradicionais e originários que sempre partem do meio ambiente as interdependências das sociedades humanas da economia e do meio ambiente a simultaneidade dos impactos nos âmbitos local e global uma revisão dos valores ética ati miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 17 18 tudes e responsabilidades individuais e coletivas a participação e a cooperação reconhecimento das diferenças étnicoraciais e da diversidade dos seres vivos respeito aos territórios com sua capacidade de suporte a melhoria da qualidade de vida ambiental das presentes e futuras gerações os princípios da incerteza e da precaução A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS Na educação escolar em todos os níveis e modalidades de ensino o Órgão Gestor especificamente o MEC tem o dever de apoiar a comunidade escolar professores estudantes direção funcionários pais e amigos a se tornarem educadores e educa doras ambientais com uma leitura crítica da realidade uma leitura da palavramundo conforme Paulo Freire O rápido crescimento da educação ambiental nas instituições de ensino aparece nos resultados do Censo Escolar3 publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Inep quando a partir de 2001 incluiu uma questão a escola faz educação ambiental Os dados de 2004 indicaram a universalização da educação ambiental no ensino fundamental com um expressivo número de escolas 9495 que declaram ter educação ambiental de alguma forma por inserção temática no currículo em projetos ou até mesmo uma minoria em disciplina específica Em termos do atendimento existiam em 2001 cerca de 253 milhões de crianças com acesso à educação ambiental sendo que em 2004 esse total subiu para 323 milhões Com esses dados aumenta a responsabilidade do OG de formar educadores e educadoras atuantes em processos de busca de conhecimentos pesquisa e intervenção educacional cidadã E para propiciar essa educação ambiental nas escolas o MEC criou o programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas com uma visão sistêmica de crescimento constante O programa foi pensado como um círculo virtuoso contendo ações e práticas integradas contínuas e transversais a todas as disciplinas As ações se distri buem em quatro modalidades difusa presencial educação a distância e ações estruturantes A modalidade difusa atua por meio de campanhas pedagógicas com forte componente de comunicação de massas sempre cuidando para difundir conceitos complexos sem cair na superficialidade Campanhas permitem ampliar a participação e mobili zação da sociedade tendo a escola como espaço privilegiado de educação permanente e para todos 3 Pesquisa elaborada pela SecadCoordenação Geral de Educação Ambiental e CoordenaçãoGeral de Estudos e Avaliação Inep CoordenaçãoGeral de Estatísticas Especiais Anped GT de educação ambiental Consultoria IETS Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 18 19 Um exemplo de ação difusa é a Conferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente que envolve milhões de pessoas no debate de questões socioambientais Além de ser conceitualmente sólida a Conferência propicia a adoção de uma atitude responsável e comprometida da comunidade escolar com problemáticas locais e globais Nas escolas são assumidas propostas responsabilidades e ações na proporção de seu acesso às informações e ao poder a respeito de questões fundamentais para a convivência planetária4 A riqueza desse processo se encontra no processo mesmo na pesquisa e nos debates realizados em cada escola cada sala de aula e em cada comunidade indígena quilombola de assentamentos rurais e de meninos e meninas em situação de rua A modalidade presencial é dedicada à Formação de Professores que deve acontecer tanto como formação inicial nas licenciaturas e no magistério como também como formação continuada de professores em serviço A Lei nº 979599 que estabelece a PNEA afirma em seu artigo 2º que a educação ambiental é um componente essencial e permanente na educação nacional devendo estar presente de forma articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo em caráter formal e nãoformal O arti go 3º inciso II complementa a idéia ao prescrever que cabe às instituições educativas promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem Instâncias dialógicas onde circulam conhecimentos e experiências da práxis pedagógica são fundamentais para a formação de professores pois estes aprendem principalmente com a troca de vivências Em encontros e seminários voltados para edu cação ambiental o trabalho formativo de professores inclui o aprofundamento conceitual que permita a produção de conheci mentos locais significativos e também a experimentação de algumas práticas como por exemplo a metodologia de projetos de intervenção e transformadores por meio de instrumentos como a pesquisaaçãoparticipativa e o fomento à relação escolacomunidade Esses encontros instigam o professor a pensar na educação e no meio ambiente sob uma perspectiva provocadora tendo como premissas o exercício da cidadania quanto ao acesso aos bens ambientais enfocando o caráter coletivo de sua responsabilidade pela sustentabilidade local e planetária A Formação Continuada de Professores quando proposta regional e conjuntamente por grupos diversificados da sociedade como ONGs universidades e secretarias de educação empodera os atores sociais fortalecendo assim políticas locais de educação ambiental 4 Na Conferência de 2006 os jovens entregaram ao presidente da República e seus ministros a Carta das Responsabilidades Vamos Cuidar do Brasil que redigiram coletiva mente Ela se encontra impressa na contracapa dos livros didáticos do Programa Nacional do Livro Didático PNLD 2007 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 19 20 As tecnologias de informação e comunicação são parte da modalidade de educação a distância Para a educação ambiental sua apropriação pelas escolas não deve se dar como imitação da sala de aula mas na superação do já tradicional pensar global mente e agir localmente para um pensamento integrador de pensar e agir local e globalmente Nesse sentido o trabalho com essas tecnologias nos aproxima do que o filósofo português Boaventura de Souza Santos chama de comunidades de destino ao considerarmos a inclusão e a cidadania digitais em suas múltiplas funcionalidades pesquisa colaborativa memória infinita inteligência coletiva capacidade de simulações e interatividade com jovens e professores de regiões e países distantes COMVIDAS e Coletivos Jovens são ações estruturantes que envolvem a intervenção juntamente com a Educação de Chico Mendes Esta é uma ação de fomento aos projetos das escolas que homenageia o sindicalista e seringueiro Chico Mendes um símbolo da luta ambientalista no Brasil O objetivo é fazer o educere tornando aparente o pequeno Chico Mendes que temos den tro de cada um e cada uma em nossa capacidade de estabelecermos relações entre escola comunidade e seu território para a melhoria da qualidade de vida SOMOS PARTE DO MUNDO No âmbito internacional entre os principais documentos firmados pelo Brasil merece destaque o da Conferência Intergover namental de educação ambiental de Tbilisi capital da Geórgia exUnião Soviética em outubro de 1977 Sua organização ocorreu a partir de uma parceria entre a UNESCO e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PNUMA Desse encontro saíram as definições os objetivos os princípios e as estratégias para a educação ambiental que até hoje são adotados em todo o mundo Outros documentos internacionais orientam as ações da educação ambiental como o Manifesto pela Vida e a Carta da Terra que constituem a base de princípios para os processos da Agenda 21 Mas para o OG tem extrema relevância o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global elaborado pela sociedade civil planetária em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio92 O documento afirma o caráter crítico político e emancipatório da educação ambiental Ele marca a mudança de acento do ideário desenvolvimentista para a noção de sociedades sustentáveis construídas a partir de princípios democráticos em modelos participativos de educação popular e gestão ambiental Finalmente as Nações Unidas e a UNESCO tiveram a iniciativa de implementar a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável 20052014 cuja instituição representa um marco para a educação ambiental pois reconhece seu papel no enfrenta mento da problemática socioambiental à medida que reforça mundialmente a sustentabilidade a partir da Educação miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 20 21 Para finalizar o Órgão Gestor apóia e reconhece que esta iniciativa das Nações Unidas potencializa as políticas os programas e as ações educacionais existentes No entanto para marcar a coerência com nossa história e nossos ideais voltando um pouco para o que falamos no início deste texto seria preferível chamála de Década da Educação Ambiental para a Construção de Sociedades Sustentáveis REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL Ministério da Educação Coordenação Geral de Educação Ambiental Ministério do Meio Ambiente Diretoria de Educação Ambiental Programa Nacional de Educação Ambiental ProNEA 3ed Brasília MECMMA 2005102 p FREIRE P Educação o sonho possível In BRANDÃO C O Educador vida e morte Rio de Janeiro Edições Graal 1986 p 100 P Pedagogia do oprimido 20ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 JONAS H O princípio da responsabilidade ensaio de uma ética para a civilização tecnológica Rio de Janeiro Contraponto Editora PUC 2006 LAYRARGUES P Educação no processo da gestão ambiental criando vontades políticas promovendo a mudança In SIMPÓSIO SUL BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Erechim 2002 Anais Erechim EdiFAPES 2002 pp 127144 PARA SABER MAIS BRASIL Ministério da Educação Coordenação Geral de Educação Ambiental Disponível em httpwwwmecgovbrsecad Relata os programas projetos e ações desenvolvidos e disponi biliza publicações em formato eletrônico Ministério do Meio Ambiente Catálogo de publicações do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental Disponível em httpwwwmmagovbrportsdieaog pogindexhtm Ministério do Meio Ambiente Diretoria de Educação Ambiental Disponível em httpwwwmmagovbreducambiental Relata os programas projetos e ações desenvolvidos e disponibiliza publicações em formato eletrônico ARTIGOS RELACIONADOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA TÁ NA LEI PENSANDO SOBRE A GERAÇÃO DO FUTURO NO PRESENTE JOVEM EDUCA JOVEM COMVIDAS E CONFERÊNCIA POLÍTICAS DE FORMAÇÃO CONTINUA DA DE PROFESSORASES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 21 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 22 Educação ambiental na escola tá na lei Eneida Maekawa Lipai Philippe Pomier Layrargues Viviane Vazzi Pedro ESTE TEXTO APRESENTA UMA REFLEXÃO SOBRE AS IMPLICAÇÕES DA INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA CONSIDERANDO O ACESSO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL POR TODO CIDADÃO SER UM DIREITO ASSEGURADO POR LEI DISCUTE CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESPECIALMENTE AQUELAS RELACIONADAS À EDUCAÇÃO FORMAL PALAVRASCHAVE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLA DIREITO LEGISLAÇÃO CIDADANIA miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 23 24 VERDADE SEJA DITA A LEGISLAÇÃO TEM SIDO UMA ALQUIMIA DESCONHECIDA PARA O POVO É ASSUNTO PARA ESPECIALISTAS QUE MANIPULAM E DESVENDAM OS CAMINHOS NO LABIRINTO COMPLEXO DAS NORMAS JURÍDICAS ASSIM A LEI QUE DEVERIA SAIR DO POVO PASSA A SER ATRIBUTO DO ESTADO QUE DEVERIA REALIZAR ALGUMA CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA TORNASE POSSÍVEL INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO QUE DEVERIA REGULAR A SOCIEDADE PASSA A JUSTIFICAR AS DESIGUALDADES AGUIAR 1994 INTRODUÇÃO A aprovação da Lei nº 9795 de 2741999 e do seu regulamento o Decreto nº 4281 de 25620025 estabelecendo a Política Nacional de Educação Ambiental PNEA trouxe grande esperança especialmente para os educadores ambientalistas e profes sores pois há muito já se fazia educação ambiental independente de haver ou não um marco legal Porém juntamente com o entusiasmo decorrente da aprovação dessas legislações vieram inevitáveis indagações Como elas interferem nas políticas públi cas educacionais e ambientais O direito de todo cidadão brasileiro à educação ambiental poderá ser exigido do poder público e dos estabelecimentos de ensino Quem fiscaliza e orienta o seu cumprimento Existe ou deveria existir alguma penalidade para as escolas que não observarem essas legislações A NECESSIDADE DE UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL A trajetória da presença da educação ambiental na legislação brasileira apresenta uma tendência em comum que é a necessi dade de universalização dessa prática educativa por toda a sociedade Já aparecia em 1973 com o Decreto nº 73030 que criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente explicitando entre suas atribuições a promoção do esclarecimento e educação do povo brasileiro para o uso adequado dos recursos naturais tendo em vista a conservação do meio ambiente A Lei nº 6938 de 3181981 que institui a Política Nacional de Meio Ambiente também evidenciou a capilaridade que se desejava imprimir a essa dimensão pedagógica no Brasil exprimindo em seu artigo 2º inciso X a necessidade de promover a 5 As leis só passam a ser obrigatórias e exigíveis após a regulamentação pelo Poder Executivo o que ocorre por meio dos decretos Os decretos têm função de explicar os conceitos competências atribuições e mecanismos definidos previamente pelas leis tornandoas executáveis miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 24 25 educação ambiental a todos os níveis de ensino inclusive a educação da comunidade objetivando capacitála para participação ativa na defesa do meio ambiente Mas a Constituição Federal de 1988 elevou ainda mais o status do direito à educação ambiental ao mencionála como um componente essencial para a qualidade de vida ambiental 6 Atribuise ao Estado o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente art 225 1º inciso VI surgindo assim o direito constitucional de todos os cidadãos brasileiros terem acesso à educação ambiental Na legislação educacional ainda é superficial a menção que se faz à educação ambiental Na Lei de Diretrizes e Bases nº 939496 que organiza a estruturação dos serviços educacionais e estabelece competências existem poucas menções à questão ambiental a referência é feita no artigo 32 inciso II segundo o qual se exige para o ensino fundamental a compreensão ambi ental natural e social do sistema político da tecnologia das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade e no artigo 36 1º segundo o qual os currículos do ensino fundamental e médio devem abranger obrigatoriamente o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política especialmente do Brasil No atual Plano Nacional de Educação PNE 7 consta que ela deve ser implementada no ensino fundamental e médio com a observância dos preceitos da Lei nº 979599 Sobre a operacionalização da educação ambiental em sala de aula existem os Parâmetros Curriculares Nacionais que se constituem como referencial orientador para o programa pedagógico das escolas embora até o momento não tenham sido aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais do CNE para a Educação Ambiental PRINCIPAIS ASPECTOS DA PNEA A PNEA veio reforçar e qualificar o direito de todos à educação ambiental como um componente essencial e permanente da educação nacional artigos 2º e 3º da Lei nº 979599 Com isso a Lei nº 979599 vem qualificar a educação ambiental indicando seus princípios e objetivos os atores responsáveis por sua implementação seus âmbitos de atuação e suas principais linhas de ação 6 Vale notar que a Constituição não reconhece a vida como um bem supremo mas sim a qualidade de vida ambiental crucial para a garantia da maior parte dos direitos individu ais sociais e difusos por estar relacionada à dignidade humana à sustentabilidade da vida e ao desenvolvimento sadio da personalidade 7 O PNE é aprovado pela Lei nº 10172 de 0912001 e dispõe sobre os conteúdos pedagógicos obrigatórios para os currículos do sistema educacional brasileiro miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 25 26 ASPECTOS CONCEITUAIS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS A definição da educação ambiental é dada no artigo 1º da Lei nº 979599 como os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais conhecimentos habilidades atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente bem de uso comum do povo essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade Mesmo apresentando um enfoque conservacionista essa definição coloca o ser humano como responsável individual e coletivamente pela sustentabili dade ou seja se fala da ação individual na esfera privada e de ação coletiva na esfera pública Os princípios contidos no artigo 4º da lei buscam reforçar a contextualização da temática ambiental nas práticas sociais quando expressam que ela deve ter uma abordagem integrada processual e sistêmica do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações com enfoques humanista histórico crítico político democrático participativo dialógico e cooperativo respeitando o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas E em consonância com os princípios o artigo 5º da lei estabelece os objetivos da PNEA entre os quais destacamos a compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações a garantia de democratização das informações ambientais e o incentivo ao exercício da cidadania por meio da participação individual e coletiva permanente e responsável ESFERA E ÂMBITOS DE AÇÃO O artigo 7º da lei diz que os órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente as instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino os órgãos públicos da União dos estados do Distrito Federal e dos municípios e as organizações nãogovernamentais com atuação em educação ambiental compõem a esfera de ação da PNEA com responsa bilidades por sua implementação Os âmbitos de ação educação formal e nãoformal são tratados no segundo capítulo da PNEA a Educação ambiental formal O artigo 9º da lei reforça os níveis e modalidades da educação formal em que a educação ambiental deve estar presente apesar de a Lei ser clara quanto à sua obrigatoriedade em todos os níveis ou seja da educação básica à educação superior e modalidades vide art 2º Assim deve ser aplicada tanto às modalidades existentes como educação de jovens e adultos educação a distância e tecnologias educacionais educação especial educação escolar indígena quanto àquelas que vierem a ser miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 26 27 criadas ou reconhecidas pelas leis educacionais como a educação escolar quilombola englobando também a educação no campo e outras para garantir a diferentes grupos e faixas etárias o desenvolvimento da cultura e cidadania ambiental As linhas de atuação da PNEA para a educação formal estão contidas no artigo 8º da lei e voltarseão para a capacitação de recursos humanos com a incorporação da dimensão ambiental na formação especialização e atualização dos educadores de todos os níveis e modalidades de ensino 2º inciso I o desenvolvimento de estudos pesquisas e experimentações com o desenvolvimento de instrumentos e metodologias visando à incorporação da dimensão ambiental de forma interdisciplinar nos diferentes níveis e modalidades de ensino 3º inciso I a produção e divulgação de material educativo com apoio a iniciativas e experiências locais e regionais incluindo a produção de material educativo 3º inciso V e o acompanhamento e avaliação O artigo 10º da lei além de ressaltar o caráter processual e a prática integrada da educação ambiental enfatiza sua natureza interdisciplinar ao afirmar que a educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino Mas o 2º do art 10 da lei abre exceção à recomendação de interdisciplinaridade facultando a criação de disciplina específica para os cursos de pósgraduação extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental quando se fizer necessário Dessa forma a lei possibilita a criação de disciplina na educação superior e em situações como a de formação de professores salientando no artigo 11 que a dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores em todos os níveis e em todas as disciplinas b Educação ambiental nãoformal O artigo 13 da lei trata do âmbito nãoformal definindoo como as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente O parágrafo único desse artigo afirma que o poder público incentivará entre outros a ampla participação da escola da uni versidade e de organizações nãogovernamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental nãoformal e a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola a universidade e as organizações nãogovernamentais Com esse dispositivo a PNEA incentiva a participação das escolas e universidades em atividades da educação ambiental não formal inclusive aquelas executadas por empresas O desafio a ser assumido pela comunidade escolar e acadêmica pelos conselhos de educação pelo Poder Legislativo e pelas secretarias de educação é o de resguardar a função social e a autonomia miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 27 28 dos estabelecimentos de ensino bem como a vocação destes como espaços estruturantes da educação ambiental resguardandose das ações ambientais realizadas por organizações nãogovernamentais e empresas que possam ser utilitaristas economicistas ou até de má qualidade GESTÃO DA PNEA O órgão central de gestão da PNEA em âmbito nacional é denominado pela Lei como Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental 8 Este Órgão Gestor é integrado pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Ministério da Educação respon sáveis respectivamente pelo âmbito nãoformal e formal Na educação formal o Órgão Gestor tem o desafio de apoiar professores no incentivo da leitura crítica da realidade sendo educadores ambientais atuantes nos processos de construção de conhecimentos pesquisas e atuação cidadã nas comunidades escolares com base em valores voltados à sustentabilidade em suas múltiplas dimen sões No âmbito dos estados Distrito Federal e municípios cabe aos dirigentes definir diretrizes normas e critérios para a educação ambiental respeitando os princípios e objetivos da PNEA art 16 Segundo a legislação que estabelece a PNEA a definição de diretrizes que orientem para implementação dessa política em âmbito nacional é atribuição do Órgão Gestor ouvidos o Conselho Nacional de Educação e o Conselho Nacional de Meio Ambiente Contudo a legislação que estabelece a PNEA é omissa quanto à competência normativa e deliberativa do Órgão Gestor razão pela qual tem se entendido que a normatização regulamentar para a educação ambiental no âmbito formal 9 seria competência do CNE o que estaria em consonância com a lei que cria esse Conselho e com seu Regimento Interno Mas é questão dúbia a ser discutida por docentes educadores e gestores devendo ser melhor esclarecida pelo legislativo FINANCIAMENTO E GARANTIA DO DIREITO O artigo 19 da lei estabelece que os programas de meio ambiente e educação em nível federal estadual e municipal devem alocar recursos para a educação ambiental No entanto o único dispositivo da lei que previa fonte de financiamento para a PNEA foi vetado pelo então presidente da República Com isso ficou dificultada a implementação da PNEA e o seu cumprimento inte gral por parte do poder público não havendo segurança jurídica ou comprometimento governamental em relação ao repasse de 8 Criado pelo artigo 14 da Lei nº 979599 e regulamentado pelos artigos 2º e 3º do Decreto nº 428102 9 Como por exemplo a elaboração de diretrizes curriculares nacionais miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 28 29 verbas e seu fomento Da mesma forma não consta na lei qualquer dispositivo que comprometa os governos com as condições financeiras institucionais organizacionais e participativas para a implementação da PNEA Apesar disso as pessoas podem e devem exigir o seu direito à educação ambiental cobrando mecanismos e meios para concretizálo A Lei nº 979599 não prevê penalidades ao poder público ou outros mecanismos que garantam seu cumprimento mas mesmo assim existem outros instrumentos jurídicos que podem garantir o direito à educação ambiental Como vimos sua inserção jurídica na Constituição Federal se dá tanto na política educacional como na política ambiental Significa dizer que a lei que esta belece a PNEA deve ser analisada numa conjuntura maior que abrange o dever do poder público de promover a educação e o dever de proteger o meio ambiente Desta forma caso seja omisso em promover a educação ambiental o poder público pode estar violando tanto o direito à educação como o direito ao meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado podendo ser punido com base nos seguintes dispositivos 2º do artigo 208 da Constituição Federal10 artigo 68 da Lei nº 9605 de 1321998 conhecida como Lei de Crimes Ambientais11 e artigo 25 da Lei nº 8429 de 261992 que trata dos atos de improbidade administrativa12 Por sua vez a prestação da educação sem a dimensão ambiental seria uma irregularidade no serviço prestado à população Por isso o Código do Consumidor Lei nº 8078 de 1191990 também pode ser invocado para garantir a educação ambiental no ensino formal por meio de ações judiciais como a Ação Civil Pública garantindo a correção de irregularidades dos serviços prestados13 Vale mencionar que o artigo 12 da Lei nº 979599 é o único que prevê penalidade mas apenas para os estabelecimentos de ensi no Nesse artigo a lei dispõe que A autorização e supervisão do funcionamento de instituições de ensino e de seus cursos nas redes pública e privada observarão o cumprimento do disposto nos artigos 10 e 11 desta lei Significa que os estabelecimentos de ensino devem adequar seus currículos escolares e complementar a formação dos seus professores com a dimensão ambiental sob pena de não serem autorizados a funcionar 10 Este dispositivo diz que O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente 11 O artigo 68 da Lei de Crimes Ambientais Lei nº 9605 de 13298 considera ilícita a omissão consistente em Deixar aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazêlo de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental sujeitando pessoas físicas e jurídicas à pena de detenção de um a três anos 12 Na esfera civil os agentes públicos que vierem a ferir os princípios da administração pública podem ser em tese condenados por improbidade administrativa sujeitandose às sanções pertinentes 13 O jurista Paulo Afonso Leme Machado já se manifestou sobre a possibilidade de a ação civil pública ser invocada para o cumprimento da obrigação de prestar educação ambiental Assim a não inclusão da educação ambiental no chamado ensino fundamental é uma irregularidade e nesse caso a autoridade será responsabilizada A ação civil pública será meio adequa do através de todos os autores legitimados notadamente do Ministério Público e das associações para promover a obrigação de se ministrar a educação ambiental Destarte qual quer cidadão poderá propor ação popular para corrigir a ilegalidade cumprindo salientar que o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 29 30 A PNEA quase não prevê penalidade em caso de omissão ou descumprimento aos seus preceitos E talvez nem seria coerente se essa legislação que promove valores como responsabilidade cidadania participação e cooperação se utilizasse de punições para garantir seu cumprimento Assim a atribuição do professor em assumir a educação ambiental na escola é o mais puro exer cício de cidadania um ato de responsabilidade e compromisso com a construção de uma nova cultura que tenha por base a sus tentabilidade ambiental A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS NÍVEIS E MODALIDADES DA EDUCAÇÃO FORMAL Mas como operacionalizar a educação ambiental incorporandoa ao projeto políticopedagógico e adequandoa à realidade local da comunidade escolar É um dilema que infelizmente a PNEA não resolve mas a partir de seus princípios e objetivos é possível extrair algumas diretrizes comuns como a visão da complexidade da questão ambiental as interações entre ambiente cultura e sociedade o caráter crítico político interdisciplinar contínuo e permanente E além dessas diretrizes comuns existem aspectos da educação e da dimensão ambientais que podem ser desenvolvidos em cada nível e modalidade da educação formal Na educação infantil e no início do ensino fundamental é importante enfatizar a sensibilização com a percepção interação cuidado e respeito das crianças para com a natureza e cultura destacando a diversidade dessa relação Nos anos finais do ensino fundamental convém desenvolver o raciocínio crítico prospectivo e interpretativo das questões socioambientais bem como a cidadania ambiental No ensino médio e na educação de jovens e adultos o pensamento crítico contextualizado e político e a cidadania ambiental devem ser ainda mais aprofundados podendo ser incentivada a atuação de grupos não apenas para a melhoria da qualidade de vida mas especialmente para a busca de justiça socioambiental frente às desigualdades sociais que expõem grupos sociais economicamente vulneráveis em condições de risco ambiental Quanto ao ensino técnico no âmbito do ensino médio e educação superior é fundamental o conhecimento de legislação e gestão ambiental aplicáveis às atividades profissionais enfatizando a responsabilidade social e ambiental dos profissionais14 Na educação superior seria vantajosa a criação de disciplina ou atividade que trate da educação ambiental de legislação e gestão ambiental incluindo o enfoque da sustentabilidade na formação dos profissionais que atuam nas diferentes áreas 14 Aqui também julgamos interessante a existência de uma disciplina obrigatória que contemple essas dimensões extrapolando a atual abordagem interdisciplinar do meio ambiente miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 30 31 Além disso no ensino médio no ensino técnico e na educação superior é preciso incentivar projetos de pesquisa voltados à construção de metodologias para a abordagem da temática socioambiental e à melhoria do nível técnico das práticas de pro dução uso e ocupação recuperação e conservação ambientais Na formação de professores é preciso reforçar o conteúdo pedagógico e principalmente político da educação ambiental incluindo conhecimentos específicos sobre a práxis pedagógica noções sobre a legislação e gestão ambiental Para tanto se mostra interessante a inclusão de disciplina curricular obrigatória com os referidos conteúdos na formação inicial de professores magistério pedagogia e todas as licenciaturas Para a educação indígena e quilombola é importante a revitalização da história e cultura de cada comunidade comparandoas com a cultura contemporânea e seus atuais impactos socioambientais especialmente aqueles causados por modelos produtivos Em ambas as modalidades bem como na educação no campo é oportuna a reflexão sobre processos de proteção ambiental práticas produtivas e manejo sustentável CONCLUSÃO A lei reafirma o direito à educação ambiental a todo cidadão brasileiro comprometendo os sistemas de ensino a provêlo no âmbito do ensino formal Em outras palavras poderíamos dizer que todao alunao na escola brasileira tem garantido esse direito durante todo o seu período de escolaridade Segundo o Censo Escolar do INEP 94 das escolas do ensino fundamental em 2004 diziam praticála seja por meio da inserção temática no currículo em projetos ou até mesmo em disciplina específica Essa universalização é motivo para comemoração porque em tese esse direito estaria assegurado Entretanto isso não significa que ela está em sintonia com os objetivos e princípios da PNEA ainda é necessário qualificála ampliando as pesquisas os programas de formação de docentes e desenvolvendo indicadores para avaliação A PNEA traça orientações políticas e pedagógicas para a educação ambiental e traz conceitos princípios e objetivos que podem ser ferramentas educadoras para a comunidade escolar Mas a lei por si mesma não produz adesão e eficácia Somente quando se compreende a importância do que ela tutela ou disciplina captando seu sentido educativo é que ela pode ser transformado ra de valores atitudes e das relações sociais Quando isso não ocorre se diz que a lei não tem eficácia ou seja não pegou miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 31 32 O filósofo do Direito Rudolf von Ihering diz que o fim do Direito é a paz o meio que se serve para conseguilo é a luta O Direito não é uma simples idéia é uma força viva Quer dizer que o mecanismo externo da lei não é suficiente ela deve se transformar em energia viva sendo invocada debatida e complementada não apenas para o aperfeiçoamento da sua letra mas para a reafirmação e propagação de seus valores e a concretização de sua missão Portanto não basta haver consenso sobre a importância da PNEA Mais que um instrumento voltado à construção de sociedades sustentáveis sua apropriação crítica é uma forma de educação política e do exercício da cidadania Seu conhecimento possibilita o diálogo entre os atores e instituições envolvidos com sua implementação e a mobilização pela ampliação de recursos fortalecimento dos programas e conseqüente mente ampliação de sua efetividade REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR R A R de Direito do meio ambiente e participação popular Brasília Ibama 1994 IHERING R von A Luta pelo direito São Paulo Martin Claret 2002 Coleção a obraprima de cada autor MACHADO P A L Direito ambiental brasileiro 9ed São Paulo Malheiros Editores 2004 PARA SABER MAIS BRASIL Ministério da Educação Coordenação Geral de Educação Ambiental Ministério do Meio Ambiente Diretoria de Educação Ambiental Programa Nacional de Educação Ambiental ProNEA 3ed Brasília MEC MMA 2005 102p Disponível em httpwwwmmagovbrportsdieaog pogarqspronea3pdf Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Fundamental Disponível em httpportalmecgovbrsebindexphp optioncontenttaskviewid557 LAYRARGUES P P A natureza da ideologia e a ideologia da natureza elementos para uma socio logia da educação ambiental 2003 Tese Doutorado Universidade Estadual de Campinas ARTIGOS RELACIONADOS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO ÓRGÃO GESTOR UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS CONSIDE RAÇÕES INICIAIS SOBRE OS RESULTADOS DO PROJETO O QUE FAZEM AS ESCOLAS QUE DIZEM QUE FAZEM EDUCAÇÃO AMBIENTAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL SER OU NÃO SER UMA DISCIPLINA ESSA É A PRINCIPAL QUESTÃO miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 32 33 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 33 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 34 Pensando sobre a geração do futuro no presente jovem educa jovem COMVIDAS e Conferência Fábio Deboni Soraia Silva de Mello O TEXTO RELATA O ENVOLVIMENTO DOS ESTUDANTES E JOVENS COM A QUESTÃO AMBIENTAL A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DA II CONFERÊNCIA NACIONAL INFANTO JUVENIL PELO MEIO AMBIENTE E DAS COMVIDAS ABORDA TAMBÉM O PAPEL DOS MOVIMENTOS DE JUVENTUDE NA RELAÇÃO ESCOLA E COMUNIDADE A PARTIR DO PRINCÍPIO JOVEM EDUCA JOVEM PALAVRASCHAVE JUVENTUDE CONFERÊNCIA NACIONAL INFANTOJUVENIL PELO MEIO AMBIENTE COLETIVOS JOVENS COMVIDAS PARTICIPAÇÃO miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 35 36 UM COMEÇO Se você está lendo este artigo é porque se interessa por jovens e meio ambiente afinal deve ser uma educadora ou educador Muito provavelmente seu interesse por meio ambiente começou na adolescência não é mesmo Pelo menos conosco foi assim Olhe à sua volta Perceba que os jovens estão muito mais presentes e atuantes na sociedade do que a gente imagina Muitas vezes vinculamos juventude à violência e às atividades ilícitas porém vemos também jovens cada vez mais ocupando espaços de decisão política vereadores deputados no mundo do trabalho e principalmente na mídia no meio artístico e cultural ditando ou seguindo regras comportamentos atitudes e trazendo inovações na medida do possível Há muitos jovens desarticulados politicamente mas também muitos jovens articulados em movimentos É bem possível que o primeiro movimento juvenil que venha à sua cabeça seja o estudantil Esse você deve conhecer e ter um pouco mais de conta to seja por meio dos grêmios estudantis diretórios de estudantes e organizações como a União Nacional dos Estudantes UNE ou União Brasileira dos Estudantes Secundaristas UBES No entanto além do movimento estudantil os jovens têm se organiza do em diversos outros movimentos Só para termos uma idéia há movimentos de luta pelos direitos humanos pela liberdade de opção sexual pelo trabalho educação e saúde Há várias tribos de skatistas surfistas punks torcidas de futebol igrejas e muitas outras Há movimentos de juventude pelo meio ambiente Uma das principais bandeiras dessas diferentes juventudes é a luta pelo seu direito de participar com voz ativa nos processos projetos e ações que as envolvem diretamente Não querem apenas ser receptores o famoso públicoalvo clientela e sim estar à frente com outras gerações na condução de tudo que influencia sua vida Os jovens têm suas próprias idéias aliás como têm idéias Os adultos com sua experiência podem ajudar a lapidálas e tornálas mais concretas desencadeando ações e projetos A ESCOLA É O MEIO Vamos exercitar nossa memória Vamos voltar à nossa adolescência Foi nessa fase da vida que nós dois aqui começamos a nos interessar por meio ambiente A escola teve um papel decisivo nisso por conta das aulas sobre o tema e especialmente pela influência de alguns professores mais engajados Mas isso não era suficiente Queríamos fazer algo e não apenas pensar sobre o meio ambiente mas era difícil encontrar apoio orientação e confiança Foi um pouco frustrante mas não nos fez desistir tanto que nossa vida profissional e pessoal foi pautada por essa vocação E como todo adolescente tínhamos idéias interessantes Com elas poderíamos mudar o mundo transformar realidades É claro que há idéias e idéias Umas mais ousadas outras mais miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 36 37 abstratas mas todas com devida orientação poderiam se tornar realidade Talvez não conseguissem transformar o mundo todo mas certamente algum impacto trariam na nossa escola comunidade bairro Imagine agora quantos jovens têm todos os dias milhares de idéias que sequer são compartilhadas Quantas idéias são podadas antes mesmo de serem avaliadas Surgiu então uma ação certa no lugar certo que deu vazão aos anseios de milhares de jovens Em 2003 no governo federal começa a se discutir um grande projeto que envolveria todo o país em debates e decisões sobre meio ambiente pensando na sua situação atual e em propostas para melhorála e solucionar problemas a Conferência Nacional do Meio Ambiente Mas quem iria afinal participar de um projeto tão importante como esse Os adultos é claro Foi quando uma adolescente que estava no lugar certo e na hora certa questionou Por que os jovens também não poderiam participar Foi uma pergunta simples mas profunda que dizia oi estamos aqui queremos e temos condições de participar também para a pessoa certa a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva A adolescente é a sua filha A partir dessa pergunta adultos e jovens se reuniram para pensar em como viabilizar essa idéia que sem dúvida era muito interessante e intrigante E muitos neurônios discussões e xícaras de cafés depois surgiu a proposta da Conferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente CNIJMA A CONFERÊNCIA DE MEIO AMBIENTE NA ESCOLA A proposta da Conferência é bem simples mas ousada incentivar que todas as escolas realizem conferências de meio ambiente envolvendo também a comunidade para discutir levantando problemas locais e propondo ações para enfrentálos Uma idéia simples que trouxe algumas inovações interessantes Uma delas é a própria idéia de realizar uma conferência que difere de um evento seminário fórum congresso pois inclui momentos de debate troca de idéias e reflexões também momentos de prio rização e tomada de decisões Isso exige que todos passem a olhar para os problemas socioambientais mais urgentes e definam o que é possível fazer em cada escola e comunidade Um outro tipo de decisão numa Conferência é a escolha de representantes delegadas e delegados com a responsabilidade de levar adiante as propostas discutidas e definidas como importantes Tarefa nada fácil a de umuma delegadoa ainda mais considerando que se trata de um jovem estudante dos anos finais do ensino fundamental com idade entre 11 e 14 anos Veja agora milhares de escolas realizando Conferências de Meio Ambiente Essas por sua vez com a participação de milhões de pessoas entre jovens estudantes professores funcionários comunidade debatendo temas levantando propostas e ações miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 37 38 DE JOVEM PARA JOVEM Quando a proposta da primeira edição da Conferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente em 2003 foi elaborada houve uma grande preocupação com sua coerência conceitual e implementação Afinal a idéia era que um projeto que se propunha infantojuvenil deveria ter a participação efetiva dos jovens em todas as suas etapas planejamento execução avaliação Mas como assegurar isso A alternativa encontrada gerou os Conselhos Jovens os CJs que articulavam diversos movimentos de juventude nos estados Como em 2003 a presença de movimentos de juventude na área ambiental era pequena foram mobilizados jovens articulados em movimentos com outras bandeiras estudantil social étnica cultural política etc para desta forma convidálos para uma pauta nova a do meio ambiente Os CJs tinham a proposta de serem grupos informais de jovens para atuarem como parceiros da organização e mobilização das escolas para a Conferência InfantoJuvenil Foram criados 27 CJs um em cada unidade federativa com participantes entre 15 e 29 anos orientados por três princípios Jovem educa jovem assume que entre jovens a comunicação flui com mais facilidade e que eles próprios ensinam e aprendem entre si Trocam informações e experiências negociam situações pensam e conversam sobre o mundo e agem sobre sua própria realidade Tratase portanto de um princípio prático que envolve o intercâmbio entre os jovens dos CJs e os estudantes das escolas bem como entre os membros dos CJs e entre outros estudantes Jovem escolhe jovem cabe aos jovens dos CJs o processo de seleção dos delegados eleitos nas escolas para participarem da Conferência Nacional em Brasília Como não seria possível que todos os delegados eleitos nas escolas fossem automaticamente participar do evento final o CJ cumpria aí um papel importante de escolha de delegados a partir de critérios e de um regulamento Esse processo foi levado tão a sério que possibilitou delegações na primeira e na segunda edição da Conferência bastante diver sificadas com representantes de diferentes etnias populações tradicionais biomas e regiões indígenas ribeirinhos quilombolas meninos e meninas de rua estudantes portadores de necessidades educacionais especiais jovens do campo de municípios do interior meninos e meninas Uma geração aprende com a outra a idéia não é a de isolar os jovens no seu próprio mundo deixandoos por fora da realidade tal qual ela se apresenta hoje Daí decorre esse princípio que aponta para a importância do diálogo entre as diferentes gerações miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 38 39 crianças jovens adultos idosos e em cada uma delas Sabemos o quanto as pessoas mais experientes e vividas podem ajudar os jovens com orientações conselhos indicando caminhos e alternativas e ajudandoos a colocar os pés no chão Tratase portanto de um papel de educador que reconhece no jovem uma pessoa com anseios idéias limitações sonhos Com o término da Conferência os Conselhos continuaram atuantes dedicandose a projetos para além da própria Conferência passando a ter vida própria Seu caráter de conselho perde sentido Seu novo formato passa a ser mais aberto dinâmico flexível e menos dependente do andamento das ações da Conferência InfantoJuvenil e sua prática de organização e comunicação se aproxima muito da idéia de rede Dessa forma os Conselhos Jovens passam a se assumir e reconhecerse como Coletivos Sem dúvida a Conferência InfantoJuvenil deu um grande pontapé nessa história despertando o interesse de muitos jovens sobre a área ambiental promovendo encontros entre jovens fazendoos conheceremse mutuamente e conhecerem diversas pessoas e organizações que já atuavam com a questão socioambiental Atualmente os Coletivos Jovens de Meio Ambiente CJs estão bem articulados na Rede da Juventude pelo Meio Ambiente REJUMA e avançam cada vez mais para os municípios brasileiros Esse segmento social brasileiro tem contribuído na prática para o enraizamento da educação ambiental no país DO JOVEM PARA A COMUNIDADE COMVIDA COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE E QUALIDADE DE VIDA NA ESCOLA A primeira Conferência InfantoJuvenil em 2003 trouxe surpresas para os organizadores como a postura de responsabilidade preparação e maturidade das delegações que vieram a Brasília Os estudantes de 11 a 14 anos tinham clareza do que queriam debater propostas e apontar caminhos Um desses caminhos indicava o quanto os CJs eram decisivos propondo que a idéia deveria ser ampliada e levada a todas as escolas E foi então que surgiu a deliberação de criar conselhos jovens em todas as esco las para dar vazão às idéias e à vontade dos jovens de pôr a mão na massa e fazer algo pelo meio ambiente A partir dessa deliberação das delegadas e dos delegados foi trabalhada a proposta da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola a COMVIDA Ela surge para promover maior integração entre estudantes professores funcionários e comunidade na escola criando um espaço permanente para pensar e agir pelo meio ambiente Os as delegadosas da con ferência sabiam que não adiantava falar sobre o assunto apenas na Semana do Meio Ambiente já que se trata de algo tão sério e vital É preciso um espaço permanente dentro da escola que não seja fechado nele mesmo mas que provoque a comunidade miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 39 40 escolar a participar e debater o tema Desde então as COMVIDAS têm crescido e se espalhado por milhares de escolas de todo o país propondo ações pensando e discutindo o tema buscando soluções práticas para enfrentar problemas ambientais locais Sem dúvida os próprios estudantes devem ser os principais estimuladores das COMVIDAS sempre apoiados por professores fun cionários e pessoas da comunidade mostrando que é possível ter os jovens à frente de suas questões Para a criação das COMVIDAS adotouse uma metodologia de pesquisaaçãoparticipativa chamada Oficina de Futuro e que tem a cara do jovem Ela permite a participação coletiva de forma dinâmica ajudando também na construção de um plano de trabalho para tirar a idéia da COMVIDA do papel A Oficina de Futuro tem basicamente os seguintes passos Árvore dos Sonhos quando se identifica como são a escola e a comunidade dos nossos sonhos fazendo brotar idéias de um cenário que se pretende alcançar As Pedras no Caminho quando se levantam quais são os problemas que dificultam chegarmos aos nossos sonhos como se fossem empecilhos a serem superados Jornal Mural procura identificar como os problemas as pedras surgiram como era a escola e a comunidade antes deles e que experiências interessantes já aconteceram ali A idéia é colocar tudo isso num Jornal Mural na escola para que todos vejam e participem COMVIDA para a Ação parte para pôr a mão na massa levantando ações que devem ser realizadas necessidades para fazer cada ação e se responsabilizar por elas prazos e formas de avaliar tudo isso Um ponto interessante é que essa Oficina é integralmente conduzida por jovens dos Coletivos Jovens e realizada com jovens estudantes das escolas É portanto uma ação prática que procura exercitar os três princípios apresentados anteriormente em especial o do jovem educa jovem miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 40 41 COMO UMA GERAÇÃO APRENDE COM A OUTRA Se você é adulto ou jovem há mais tempo como alguns dizem deve estar assim como nós pensando por que isso não aconteceu quando eu era adolescente Se eu tivesse tido essa oportunidade Bom mas aconteceu agora e podemos con tribuir muito com essas propostas Cabe a nós adultos educadoras e educadores professoras e professores a responsabilidade de que esse anseio de colocar a mão na massa leve à reflexão e à aprendizagem dos jovens envolvidos Cabe aos educadores potencializar as possibilidades pedagógicas construtivistas de iniciativas como a COMVIDA e decorrentes dela propiciar aos jovens a oportunidade de criar pensar agir fazer da sua forma e por seus próprios meios E qual o nosso papel Como podemos potencializar essas iniciativas sem tutorar O que podemos fazer na nossa escola Bem há muito a fazer e muitos caminhos a seguir Propomos algumas reflexões para serem discutidas sempre seja na hora do interva lo no cafezinho no ônibus no pátio e corredores da escola em sala de aula Muitas vezes ajudar significa interferir o mínimo possível Tentar centralizar a proposta e trazer a palavra final só tende a afas tar os jovens do processo Pense a respeito da sua postura Como você tem lidado com as idéias e propostas dos jovens com as quais você se relaciona Elas sempre são muito abstratas ou há boas idéias aí Como reconhecêlas e ajudar a sair das mentes e irem para a prática Saber ouvir é uma arte não é Afinal como muitos dizem temos dois ouvidos e uma boca que é para escutarmos mais e falarmos menos Pois então procurar escutar as idéias e propostas que os jovens nos apresentam é essencial Ouvindoas e tentando compreender o que querem fica mais fácil ajudar Como ajudar sem atrapalhar Ajudar também é uma arte Ouvimos com freqüência que ajuda mais quem não atrapalha mas será que isso é mesmo verdade No nosso caso saber não atrapalhar é muito importante respeitando o tempo dos jovens a forma de eles se expres sarem e sua pouca experiência para muitos assuntos da vida Mas basta só não atrapalhar Claro que não É preciso ajudar de alguma forma Mas como ajudar É possível ajudar de diversas maneiras ouvindo compreendendo o que se quer problematizando a partir da realidade provo cando olhares mais amplos cobrindo outros ângulos da questão promovendo debates em grupo e principalmente não dando as respostas prontas mas sim elaborando as perguntas mais adequadas para a reflexão Deixar que os jovens construam suas próprias respostas e depois dialogar sobre elas Será que todas as respostas dos jovens estão corretas Será que todas podem ser concretizadas É possível sugerir outros caminhos fornecer pistas e instigálos a buscar mais miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 41 42 Por fim potencializar a motivação para ação por meio de estudos e pesquisas Afinal o ativismo não basta para mudar o mundo É necessário aprofundar conteúdos e conceitos em sala de aula A escola é o local para esse ambiente de aprendizagem contínua ação reflexão ação Acreditamos que é no espaço criativo e motivador que a escola pode proporcionar que surgirão novas idéias simples capazes de nos levar à construção de sociedades sustentáveis É claro que construir novos modelos de sociedades não é algo tão simples e que se faz de um dia para o outro mas certamente é no diaadia que damos passos nessa direção Sem dúvida a escola pode ser um espaço privilegiado para isso PARA SABER MAIS BRASIL Ministério da Educação Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade Formando COMVIDA Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola construindo Agenda 21 na escola 2 ed Brasília MEC 2006 Disponível em httpportalmecgovbrsecadarquivospdfeducacaoambientalcomvidapdf Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental MMA MEC Juventude cidadania e meio ambiente subsídios para a elaboração de políticas públicas Brasília MMA MEC 2006 Disponível em httpportalmecgovbrsecadarquivospdf educacaoambientaljcambientepdf Manual orientador coletivos jovens de meio ambiente Brasília MMA MEC 2006 Disponível em httpportalmecgovbrsecadarquivospdfeducacaoambientalcjspdf Passo a Passo para a Conferência de Meio Ambiente na Escola Brasília MEC MMA 2005 Disponível em httpportalmecgovbrsecadarquivospdfeducacaoambientalconfinfantopdf FREITAS M V Org Juventude e adolescência no Brasil referências conceituais 2ed São Paulo Ação Educativa 2005 Disponível em httpwwwfesorgbrmediaFileinclusaosocialjuventudejuventudeeadolescencianobrasilreferenciasconceituais2005pdf PROJETO GEO JUVENIL BRASIL Disponível em httpwwwgeojuvenilorgbr Expressa as impressões dos jovens brasileiros sobre meio ambiente PORTAL DO PROTAGONISMO JUVENIL Disponível em httpwwwprotagonismojuvenilorgbr Contém textos informações e contatos em âmbito nacional miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 42 43 PORTAL DA REDE DA JUVENTUDE PELO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE Disponível em httpwwwrejumaorgbr Disponibiliza documentos contatos e ferramentas de interação entre jovens ambientalistas REVISTA ONDA JOVEM Disponível em httpwwwondajovemcombr Reportagens experiências e informações sobre projetos sociais na área de juventude II CONFERÊNCIA NACIONAL INFANTOJUVENIL PELO MEIO AMBIENTE Brasília 27 abr 2006 Anais Brasília MEC 2006 Disponível em httpwwwmecgovbrconferenciainfanto Apresenta a descrição do processo e os produtos ARTIGOS RELACIONADOS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO ÓRGÃO GESTOR EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARTICIPAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA PENSANDO EM COLETIVOS PENSANDO NO COLETIVO DO ÔNIBUS ÀS REDES SOCIAIS miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 43 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 44 Políticas de formação continuada de professores e professoras em educação ambiental no Ministério da Educação Patrícia Ramos Mendonça O TEXTO DISCORRE SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DE 1996 A 2005 A BASE DE SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO SE DEU NAS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORESAS E NESSES QUASE DEZ ANOS DE TRAJETÓRIA PERCEBEMOS VÁRIAS ABORDAGENS METO DOLÓGICAS DE FORMAÇÃO QUE ENVOLVEM DIVERSOS ATORES NO UNIVERSO DOS SISTEMAS DE ENSINO E DA COMUNIDADE PALAVRASCHAVE POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORESAS miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 45 46 SABEMOS QUE É INERENTE À PROFISSÃO DO PROFESSOR ESTAR SEMPRE ESTUDANDO e se atualizando para que sua prática atenda de forma coerente e integrada às necessidades dos sistemas de ensino e às mudanças sociais Esse processo de construção permanente do conhecimento e do desenvolvimento profissional a partir da formação inicial que transcende cursos de capacitação ou qualificação é o que podemos chamar de formação continuada Inclui nesse âmbito a formação de uma iden tidade pessoal e profissional que reconhece a docência como um campo de conhecimentos específicos onde os profissionais contribuem com seus saberes seus valores e suas experiências É um percurso pessoal e profissional que ocorre de maneira intrínseca à experiência de vida como importante condição de mudança de práticas pedagógicas Se por um lado pensamos em programas de formação com metodologias que procurem adensar conceitos e temas sociais relevantes por outro partimos do pressuposto de que o conhecimento não é dado como algo pronto mas como resultado da interação desse sujeito com o seu meio com as relações sociais e representações culturais CARVALHO 2004 SANTOS 2004 BECKER 2006 Quando se propõe uma formação continuada em Educação Ambiental EA para esses profissionais além de considerar todos os pressupostos citados observamos também as diretrizes que emergiram da trajetória da institucionalização das políticas públicas da EA no MEC tais como 1 A busca da universalidade da EA nos sistemas de ensino como proposta políticopedagógica efetiva 2 A construção de um fluxo de capilarização envolvendo os atores que trabalham com Educação Ambiental desde o desenho da proposta até sua implementação 3 A seleção de lideranças e especialistas realmente comprometidos com sua profissão que engrossem o caldo do enraizamento da EA nas escolas e comunidades 4 O estímulo à construção de grupos de estudos como círculos emancipatórios para exercitar a interdisciplinaridade 5 A constante atualização de conteúdos e de práticas pedagógicas para que não haja estancamento e desvirtuamento do processo de aprendizagem buscando autonomia desses sujeitos de forma coordenada com os objetivos propostos 6 A necessidade de ter uma avaliação dos projetos e programas de governo para retroalimentar e aperfeiçoar as políticas públicas MENDONÇA 2004 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 46 47 Trabalhamos com o conceito de Educação Ambiental como um processo educativo que dialoga com valores éticos e regras políticas de convívio social cuja compreensão permeia as relações de causas e efeitos dos elementos socioambientais numa deter minada época para garantir o equilíbrio vital dos seres vivos Portanto a formação continuada considera algumas condições que estão atreladas a esse conceito tais como 1 Inserir a EA com sua condição de transversalidade para se contrapor à lógica segmentada do currículo contemplando o ideal de uma nova organização de conhecimentos por meio de práticas interdisciplinares 2 Trabalhar o conceito crítico de EA para não correr o risco de cair num tema neutro e despolitizado que não provoque eou des perte a condição de cidadania ativa ampliando seu significado para um movimento de pertencimento e coresponsabilidade das ações coletivas visando ao bemestar da comunidade 3 A mudança de valores e atitudes nos indivíduos preconizados pela EA não é suficiente para gerar mudanças estruturais numa sociedade Pela compreensão da complexidade as partes não mudam necessariamente o todo pois ambas têm um movimento dialético cujas conexões indivíduo versus grupo podem gerar mudança efetiva A mudança individual como principal vetor para a mudança global representa uma visão simplista do trabalho com as relações sociais e não é suficiente para mudar o padrão de desenvolvimento 4 Conseqüentemente o processo de EA incide ao mesmo tempo no individual e no coletivo e no caso da escola isto pressupõe também um aprendizado institucional ou seja seria necessário que a instituição escola se submetesse a uma mudança de agenda e procedimentos burocráticos Dessa forma os elementos conceituais que orientam a EA poderiam estar no núcleo duro da institucionalidade da educação como nos projetos políticopedagógicos e na gestão Ao trabalhar com movimentos individuais e coletivos ao mesmo tempo a EA tornase um fenômeno político Desde a institucionalização da Educação Ambiental no Ministério da Educação MEC foram implementados três grandes pro gramas de formação continuada de professores professoras e outros profissionais da educação sendo dois deles específicos para o segundo segmento do ensino fundamental Numa breve avaliação desses programas percebemos evolução no que se refere aos conceitos abordagem sustentabilidade e abrangência em relação às políticas de formação continuada O primeiro programa realizado pela Coordenação de Educação Ambiental CEA durante os anos de 1996 a 1998 consistiu na realização de 18 cursos presenciais em âmbito regional para técnicos das secretarias estaduais de educação técnicos das delegacias miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 47 48 estaduais do MEC professores e professoras de escolas técnicas federais e universidades federais Como estes cursos ocorreram na época do lançamento dos Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs propôsse trabalhar a institucionalização da EA como tema transversal nas secretarias de educação e nas universidades de forma que os cursandos se tornassem multiplicadores da metodologia O método proposto pela capacitação foi denominado de Proposta de ParticipaçãoAção para Construção do Conhecimento PROPACC e se fundamentava de forma explícita numa concepção construtivista de aprendizagem considerando os conceitos prévios dos alunos que constroem seus conhecimentos a partir de suas experiências na procura das mudanças conceituais e na concepção do ensino como transformação e evolução gradativa MININI 1999 p11 À época ainda era utilizado o termo multiplicador e capacitação pois o enfoque não era diretamente para o universo da docência mas sim para disseminar a educação ambiental no sistema de ensino como uma exigência da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento RIO92 Eco92 e do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global elaborado pelas ONGs enfatizando as ações nãoformais da EA A metodologia problematizava as questões ambientais regionais para em seguida propor soluções potenciais incorporandoas às práticas da EA nas escolas e nas políticas das Secretarias de Educação Por meio de uma planilha matricial que conduzia à apli cação e elaboração a análises críticas e abrangentes dos sistemas ambientais assim como suas interrelações problemas e poten cialidades os participantes elaboravam numa dinâmica de construção coletiva propostas tanto de políticas públicas como de inserção curricular organizados em grupos de estudos divididos por estados e regiões geográficas O PROPACC baseouse em três eixos básicos para o exercício da EA quais sejam 1 o construtivismo como processo de apren dizagem 2 a perspectiva complexa da realidade e dos sistemas ambientais 3 a construção de novas formas de racionalidades superando a visão técnica e instrumental do pensamento cartesiano O primeiro módulo iniciava com a identificação dos problemas as potencialidades ambientais a interrelação entre estes dois elementos e a seleção de problemas e possíveis soluções a partir da aplicação da EA No segundo módulo aprofundavase nas estratégias políticas e pedagógicas da EA no ensino formal a partir das propostas das secretarias de educação e de como inserir a EA de forma transversal às disciplinas para aprofundar os problemas soluções anteriormente debatidos e identificados O programa Parâmetros em AçãoMeio Ambiente na Escola PAMA iniciado em 2000 pela CoordenaçãoGeral de Educação Ambiental COEA focalizou especificamente a docência e nesse sentido trabalhou a formação com base no desenvolvimento de miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 48 49 competências15 entendendoas como a capacidade de usar múltiplos recursos profissionais e pessoais numa mesma situação Assim foram elencadas cinco competências para serem exploradas a leitura a escrita a administração da própria formação o trabalho compartilhado e a reflexão sobre a prática A metodologia do programa problematizou a organização e as condições de trabalho da docência apontando caminhos para superação de práticas de formação que se baseiam em ações isoladas e fragmentadas Seu objetivo foi o de traçar orientações para as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação na implementação dos PCNs e dos Referenciais Curriculares Nacionais para todos os segmentos e modalidades do ensino fundamental Com propostas pautadas na concepção de formação de docentes e com material orientador o programa trazia a figura do formador e da formadora docente que ensina docente Essa pessoa coordenava todo o processo de formação pois tinha o reconhecimento e era legitimado pelos participantes por pertencer à mesma categoria profissional e por conhecer a prática e os problemas da docência Por outro lado introduziuse como instrumento metodológico a necessidade de se trabalhar a questão ambiental em grupos de estudos com docentes de várias disciplinas Nesses grupos pretendiase que fossem criados vínculos construídos conhecimentos coletivos a partir dos saberes prévios desses sujeitos exercitados os consensos e dissensos que a questão ambiental suscita e reflexões sobre a prática pedagógica além de adensados conteúdos por meio de leituras e exercícios do material instrucional de apoio Foram oferecidos dois kits instrucionais para serem utilizados durante a formação um para o coordenador professorfor mador para ser trabalhado nos grupos de estudos e outro para o docente utilizar em sala de aula Esses materiais incluíam textos escritos programas de vídeo CDs de música CDROM com informações da legislação ambiental cartaz com mapa das ecorregiões do Brasil e compilação de diversas informações ambientais de utilidade para a elaboração de um plano de aula A engenharia de capilarização do PAMA foi baseada num fluxo de atividades para que funcionasse como padrão de rede a partir da organização de uma estrutura de trabalho descentralizada células de formação como forma de abranger o maior número possível de municípios onde os mais ricos poderiam auxiliar os mais pobres do entorno formando os pólos Por sua vez em cada município a Secretaria de Educação escolhia um técnico ou uma técnica para coordenar o processo de formação e os docentes para serem os formadores 15 Perrenoud P Dez novas competências para ensinar miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 49 50 Quando esse profissional identifica e explora no corpo de sua área de conhecimento os conteúdos que expressam ou podem expressar a existência de um campo de saber ambiental têmse efetivamente a transversalidade da EA sendo exercitada e isso pos sibilita por outro lado a construção de novos saberes com olhares diversificados Nesse sentido o PAMA ampliou a abordagem da Educação Ambiental procurando exercitar reflexões sobre as desigualdades sociais o desequilíbrio entre sociedade e natureza os problemas ambientais como causa e efeito de interesses privados e coletivos mediados por relações desiguais de poder que estruturam a sociedade contemporânea em suas múltiplas determinações e seu modo de produção GUIMARÃES 2004 p59 Um dos princípios da EA crítica é a participação na gestão dos problemas socioambientais mediante mecanismos democráticos de negociação e de cobrança legal dos responsáveis para resolver problemas da comunidade Tratase de uma educação política que se aperfeiçoa quando praticada fora da escola Além do conteúdo ambiental o PAMA incentivou a construção de projetos de trabalho com objetivo de transformar a realidade onde a escola estava inserida Esta etapa da metodologia foi reforçada no terceiro programa de formação do MEC O terceiro programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas 20042005 teve início quando a CoordenaçãoGeral de Educação Ambiental CGEA foi estruturada na Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade SECAD Essa pro posta reforça o que podemos chamar da sexta competência do professor e da professora que é a sua iniciativa e atuação política para desenvolver projetos sobre problemas socioambientais e para isso se engajar em instâncias de discussões de EA redes conselhos comissões etc e articular parcerias A proposta de conteúdo priorizou a questão do consumo e instigou o docente a pensar nos temas ambientais nessa perspectiva que considera a sustentabilidade do planeta o padrão de consumo e o aumento do despercídio alimentado por modelo de desenvolvimento que cerceia o exercício da cidadania quanto ao acesso à qualidade de vida A formação se deu por ciclos de seminários um seminário nacional 27 estaduais além de 800 seminários locais Foram capacita dos professores professoras e jovens que numa cadeia de capilarização atingiu dois docentes e dois estudantes de cada uma das 16 mil escolas do ensino fundamental que participaram da Conferência Nacional InfantoJuvenil para o Meio Ambiente CNIJMA em 2003 Na primeira etapa ou primeiro seminário nacional intitulada FI formaramse equipes representantes das secretarias estaduais e municipais capitais da educação do Conselho Jovem de ONGs do Sistema Nacional do Meio Ambiente SISNAMA e da universidade que participaram da coordenação da CNIJMA em seus estados Esses formadores que representam os principais segmentos sociais e institucionais que trabalham com Educação Ambiental foram os responsáveis pela viabilização do programa em seus Estados na segunda etapa do programa constituindose em inter miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 50 51 locutores da CGEA Realizaram os seminários estaduais de formação e escolheram os chamados Formadores II FII composto pelos docentes da rede estadual e municipal do segundo segmento do ensino fundamental e os jovens dos movimentos sociais de meio ambiente denominado Coletivos Jovens para atuarem diretamente nas escolas onde se capacitaram os Formadores III FIII na terceira etapa do programa A metodologia dos seminários considerou quatro dimensões A primeira referese à complexidade e à visão sistêmica da questão ambiental Trabalhou o adensamento conceitual de questões como o consumo sustentável e sua relação com os temas ambientais por meio da elaboração de projetos A segunda dimensão tratou da diversidade dos sujeitos e dos saberes enfatizando os conhecimentos prévios dos docentes e dos jovens estimulandoos que a trouxessem e apresentassem durante o processo for mativo materiais com temas ambientais de interesse pessoal eou trabalhos para subsidiar os projetos a serem construídos durante os grupos de trabalho A outra dimensão refletiu a simplicidade dos procedimentos metodológicos e procurou fazer com que a proposta de formação fosse repassada com a mesma intensidade e reflexão realizada desde o início como foi desde o seminário nacional e estadual até os seminários locais com os mesmos recursos didáticos E por último a participação e integração dos docentes e estudantes em dois movimentos 1 a elaboração de projetos com os temas ambientais na óptica do consumo para a docência 2 a técnica oficina de futuro para os jovens formadores trabalharem com os estudantes a construção de uma Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida ComVida Essa comissão caracterizase por um espaço de discussão sobre temas socioambientais de interesse da escola e da comunidade que possa concretamente contribuir para a transformação da sociedade Os materiais oferecidos pela CGEA para orientar as discussões foram Consumo Sustentável manual de educação COMVIDA Agenda 21 que enfatiza a reflexão da Educação Ambiental na perspectiva política pedagógica e sustentável conforme diretrizes da Agenda 21 Assim como os Parâmetros em Ação Meio Ambiente na Escola a metodologia de projetos e a oficina de futuro do programa Vamos cuidar do Brasil com as Escolas procuraram em todas as instâncias realçar o trabalho coletivo por meio das discussões promovidas em grupos de trabalhos e na construção de instâncias estruturadas de debates na escola como as Comvida Isso poten cializa melhor relacionamento entre os atores o compartilhamento de idéias na busca de consensos o exercício da potência dos argumentos nas negociações e da criatividade das soluções O estímulo para que a escola elabore projetos transformadores na comunidade diminuiu a distância entre o âmbito formal e nãoformal da EA pois procurou abrir na escola um espaço de discussão dos temas que interessam à sociedade proporcionando assim aprendizagens diversificadas que dão mais sentido aos conteúdos neutralizantes das disciplinas e ao convívio escolar miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 51 52 Percebemos nesta pequena análise que os processos formativos desenvolvidos pelo MEC buscam a compreensão da educação ambiental nas dimensões éticoestéticopolítica pois estamos falando de valores morais individuais e coletivos no cuidar e na feli cidade nos direitos individuais e coletivos e na diversidade socioambiental São dimensões filosóficas que buscam uma visão de mundo diferente que possibilitam a construção de novas práticas pedagógicas Acreditamos que muitos de vocês professor e professora participaram de algum desses programas e perceberam que o foco da educação ambiental que propomos nas escolas está ligado a mudanças de atitudes individuais e coletivas e necessaria mente ligado ao currículo ou seja à identidade da escola que queremos Nesse sentido entendendo que a Educação ambiental citada neste texto transcende a visão naturalista ligada às áreas de ciências naturais e biológicas podemos considerar que qualquer iniciativa que a escola faça para reduzir a violência a pobreza atos predatórios e estimular projetos solidários e trans formadores com a comunidade está dentro da perspectiva dessa educação ambiental reflexiva e contemporânea REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECKER F O que é construtivismo Disponível em httppontodeencontroproinfomecgovbrportfgru3htm Acesso em 010206 CARVALHO I C de M Educação ambiental a formação do sujeito ecológico São Paulo Cortez 2004 MEDINA N SANTOS E Educação ambiental uma metodologia participativa de formação Petrópolis Vozes 1999 MENDONÇA P Educação ambiental como política pública avaliação dos Parâmetros em Ação Meio Ambiente na Escola 2004 Dissertação Mestrado em Políticas Públicas e Gestão Ambiental Universidade de BrasíliaCentro de Desenvolvimento Sustentável PERRENOUD P Dez novas competências para ensinar Porto Alegre Artes Médicas 2000 SANTOS S M M Formação continuada numa perspectiva de mudança pessoal e profissional Sitientibus Feira de Santana n 31 p 3974 juldez 2004 miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 52 53 PARA SABER MAIS BRASIL Ministério da Educação Programa Parâmetros em Ação Meio Ambiente na Escola Brasília Ministério da Educação Secretaria da Educação Fundamental 2001 Disponível em httpportalmecgovbrsecadindexphpoptioncontenttask viewid65Itemid194 Ministério do Meio Ambiente Consumers International Consumo sustentável manual de educação Brasília Consumers International MMA MECIDEC 2005 Disponível em httpportalmecgovbrsecadarquivospdfeducacaoambientalconsumospdf GUIMARÃES M A formação de educadores ambientais Campinas Papirus 2004 LEME T N Conhecimentos práticos dos professores reabrindo caminhos para a educação ambi ental na escola v 1 São Paulo Annablume 2006 146 p PONTO DE ENCONTRO Disponível em httppontodeencontroproinfomecgovbrindex3htm Comunidade de formação continuada a distância formada por pesquisadores de diferentes univer sidades e professores Apresenta sugestões de artigos revistas e publicações SATO M Formação em educação ambiental da escola à comunidade In BRASIL Ministério da Educação Panorama da educação ambiental no Brasil Brasília MECCOEA mar 2000 Disponível em httpwwwufmtbrgpeapubMECescolapdf FREITAS F F B Temas transversais e sua viabilidade questões de currículo e contextos do trabalho docente Campina Grande UFCG dez 2001 Disponível em httpwwwufpbbrcdhseminariocontribuit18pdf TRISTÃO M Tecendo os fios da educação ambiental o subjetivo e o coletivo o pensado e o vivido Educação e Pesquisa São Paulo Universidade de São Paulo v 31 n 2 p 251264 maiago 2005 Disponível em httpredalycuaemexmxredalycpdf 29829831208pdf UNESCO O perfil dos professores brasileiros o que fazem o que pensam o que almejam São Paulo UNESCO Moderna 2004 Disponível em httpunesdocunescoorgimages 0013001349134925porpdf ARTIGOS RELACIONADOS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO ÓRGÃO GESTOR UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE OS RESULTADOS DO PROJETO O QUE FAZEM AS ESCOLAS QUE DIZEM QUE FAZEM EDUCAÇÃO AMBIENTAL ENTRE CAMELOS E GALINHAS UMA DISCUSSÃO ACERCA DA VIDA NA ESCOLA miolovamoscuidarcap1Layout 1 51608 957 AM Page 53 54 Escola Estadual de Ensino Fundamental Gottlieb Mueller Curitiba Paraná miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 54 2 Um olhar sobre a educação ambiental nas escolas miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 55 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 56 Um olhar sobre a educação ambiental nas escolas considerações iniciais sobre os resultados do projeto O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental Carlos Frederico B Loureiro Mauricio F Blanco Cossío NOS ÚLTIMOS ANOS O MEC REALIZOU PESQUISAS QUE PERMITEM ENTENDER A PRESENÇA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL COM ESTE TEXTO APRESENTAMOS RESULTADOS NACIONAIS OBTIDOS NA PESQUISA O QUE FAZEM AS ESCOLAS QUE DIZEM QUE FAZEM EDUCAÇÃO AMBIENTAL QUE EVIDENCIAM ASPECTOS IMPORTANTES PARA A FORMULAÇÃO DE UMA POLÍTICA PÚBLICA FOCALIZADA NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES PALAVRASCHAVE UNIVERSALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PESQUISA DIRETRIZES REALI DADE ESCOLAR Os autores agradecem o imprescindível apoio técnico e de pesquisa de Érica Amorim e Luísa de Azevedo ambas do IETS Também expressam seu agradecimento às instituições e pesquisadores do Grupo de Trabalho promovido pelo MECSecad que realizaram a pesquisa O Grupo Consultor é composto pelas instituições IETS UFRJ FURG UFMS UFRN UFPA miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 57 58 58 INTRODUÇÃO Desde a segunda metade dos anos 90 o Brasil vem realizando esforços por intermédio da criação e implementação de diretrizes e políticas públicas no sentido de promover e incentivar a educação ambiental no ensino fundamental Com o intuito de avaliar esses avanços o Ministério da Educação iniciou em 2005 um projeto de pesquisa denominado O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental objetivando mapear a presença da educação ambiental nas escolas bem como seus padrões e tendências Embora existam diferenças regionais em sua primeira fase o projeto possibilitou traçar um breve panorama nacional através da observação e análise de indicadores construídos com base nos dados dos Censos Escolares entre 2001 e 2004 elaborados pelo INEPMEC VEIGA et al 2005 Esses dados disponíveis e os resultados obtidos permitem interessantes conclu sões e algumas considerações a respeito do acesso à educação ambiental pelas crianças brasileiras O processo de expansão da educação ambiental nas escolas de ensino fundamental foi bastante acelerado entre 2001 e 2004 o número de matrículas nas escolas que oferecem educação ambiental passou de 253 milhões para 323 milhões Em 2001 o número de escolas que ofereciam educação ambiental era de aproximadamente 115 mil 612 do universo escolar ao passo que em 2004 esse número praticamente alcançou 152 mil escolas ou seja 94 do conjunto O fenômeno de expansão da educação ambiental foi de tamanha magnitude que provocou de modo geral a diminuição de diversos tipos de desequilíbrios regionais Para ilustrar é relevante dizer que em 2001 a região Norte tinha 5484 das escolas declarando realizar educação ambiental em 2004 o percentual sobe para 9294 No Nordeste em 2001 o percentual era de 6410 tendo chegado a 9249 em 2004 No CentroOeste subimos de 7160 para 9580 no Sudeste de 8017 para 9693 e no Sul de 8158 para 9693 MODALIDADES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL A educação ambiental no Brasil segundo diretrizes do MEC é desenvolvida por meio de três modalidades básicas 1 projetos 2 disciplinas especiais e 3 inserção da temática ambiental nas disciplinas miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 58 59 Verificase no entanto que a expansão em termos do número de escolas das diferentes modalidades de educação ambien tal não foi uniforme no período de 2001 a 2004 Em 2001 a inserção da temática ambiental nas disciplinas estava presente em 94 mil escolas sendo que 33 mil escolas ofereciam projetos e somente 3000 escolas desenvolviam disciplinas especiais Já em 2004 estes números são 110 mil escolas 64 mil escolas e 5000 escolas respectivamente Os dados primeiramente descritos confirmam um processo bemsucedido de universalização do acesso às escolas brasileiras Porém esse retrato breve não expressa as reais condições da inserção modalidades e práticas da educação ambiental nas escolas de ensino fundamental assim como da sua gestão no interior da escola e a participação efetiva dos diversos atores envolvidos na temática Para enfrentar essa tarefa decidiuse investigar mais profundamente a natureza estrutura e características da educação ambiental no interior de um universo de escolas selecionadas por meio de uma pesquisa de campo especificamente desenhada para tal propósito Essa investigação se configurou na segunda fase da pesquisa O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental realizada em 2006 CONHECENDO A PESQUISA Foram entrevistadas 418 escolas nas cinco regiões distribuídas entre 42 municípios e 11 estados Mato Grosso Mato Grosso do Sul Rio Grande do Norte Ceará Rio de Janeiro São Paulo Minas Gerais Amapá Pará Rio Grande do Sul e Santa Catarina O questionário aplicado possui 23 questões quantitativas e quatro qualitativas A estrutura do questionário é composta de Perfil do respondente Tempo e motivação para implementação de educação ambiental Questões sobre as modalidades de educação ambiental e suas características e peculiaridades Priorização de objetivos e temas Participação e contribuição efetiva dos diversos atores Principais dificuldades Questões abertas em que o respondente teve a oportunidade de fornecer algumas informações complementares A pesquisa teve como objetivo detectar a realidade da educação ambiental nas escolas brasileiras entrevistadas Esta pesquisa em termos amostrais não é representativa para o Brasil miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 59 60 60 EVOLUÇÃO E CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DENTRO DAS ESCOLAS Uma primeira aproximação sobre as escolas diz respeito ao tempo em que estas vêm desenvolvendo educação ambiental Constatase que mais de 30 das escolas pesquisadas iniciaram as suas atividades nos últimos três anos Porém existe uma porcentagem significativa de escolas 227 que oferecem educação ambiental há mais de dez anos provavelmente motivadas pela ampliação da discussão ambiental no país no final dos anos 80 e pela realização em 1992 da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento no Rio de Janeiro Rio 92 ou ECO 92 evento que criou uma conjuntura muito favorável à expansão da educação ambiental naquele momento É na região Norte onde as escolas ocupam o primeiro lugar entre as que começaram a oferecer a educação ambiental nos últimos três anos 34 escolas das 80 entrevistadas É importante ressaltar que esses dados são completamente compatíveis com o fato de que a expressiva expansão da educação ambiental foi justamente nas regiões Norte e Nordeste no período 20012004 Devese notar que está na região Sudeste e na região Sul a maior parte das escolas que implementaram a educação ambiental há mais de dez anos 35 e 29 escolas respectivamente Outros dois temas de grande relevância para se pensar a educação ambiental se referem às motivações iniciais e ao objetivo central para a realização desta no interior da escola Por um lado no caso das motivações das 418 escolas entrevistadas 59 declararam que a motivação inicial está relacionada à iniciativa de docentes um ou mais professores em segundo lugar aparece com 35 o estímulo propiciado pela implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais Esta segunda motivação é coincidente com a expansão da educação ambiental verificada a partir de 2001 e os efeitos da ação do governo federal no país todo mas destacadamente nas regiões Norte e Nordeste com o Programa Parâmetros em Ação Meio Ambiente e desde 2003 com a Conferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente e em seguida o Programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas Em relação ao outro tema indicado temse que 162 escolas declararam que conscientizar para a cidadania é o objetivo central das atividades em educação ambiental ao passo que sensibilizar para o convívio com a natureza ocupa o segundo lugar entre os objetivos centrais 55 escolas Finalmente a compreensão crítica e complexa da realidade socioambiental ocupa o terceiro lugar 49 escolas Aqui surge uma questão que merece aprofundamento analítico em outra oportunidade pois conscientizar e sensibilizar são conceitos que remetem normalmente a uma visão unidirecional do professor para o aluno da escola para a comunidade desconsiderando os processos dialógicos educadoreducando e os complexos problemas envolvidos na realidade de cada grupo social e comunidade de aprendizagem Assim a princípio parece existir uma contradição entre os dois primeiros objetivos fortemente destacados e o terceiro algo a ser repensado e problematizado pelo corpo escolar miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 60 61 Quando se verificaram as modalidades da educação ambiental in loco temse que em primeiro lugar 66 das escolas declararam desenvolver ações por projetos em segundo lugar 38 utilizam a modalidade inserção no projeto político pedagógi co e em terceiro lugar a modalidade transversalidade nas disciplinas é implementada por 3416 Pelas respostas é possível dizer que mesmo diante das dificuldades estruturais da escola quanto à flexibilização da organização curricular disciplinar está se buscando caminhos integradores que insiram a educação ambiental em diferentes disciplinas ou atividades A análise da gestão da educação ambiental revela uma realidade preocupante e contraditória com os princípios gerais e par ticipativos da educação ambiental proclamados e consensuados em todos os documentos nacionais e internacionais disponíveis e divulgados nos últimos 30 anos Com efeito seja na promoção de uma iniciativa no envolvimento dos atores que participam do processo ou na percepção da importância da contribuição dos diversos atores e saberes na compreensão do ambiente temse que as escolas demonstraram um processo contraditório e de distanciamento da comunidade Para sustentar essa afirmação selecio namos alguns exemplos gráficos em relação à modalidade Projetos entre uma significativa quantidade de resultados que evidenciam essa tendência preocupante O primeiro gráfico do Painel revela que 32 das escolas declararam que a iniciativa de desenvolver projetos partiu da própria comunidade Essa porcentagem é a mais alta quando comparada com a iniciativa de outros atores externos à escola tais como ONGs empresas ou universidades Por outro lado o segundo gráfico mostra que quando as escolas foram consultadas sobre os atores envolvidos na implementação de projetos mais uma vez a comunidade obteve a maior porcentagem entre todos os atores externos que participam 53 No entanto no que diz respeito à percepção sobre a contribuição da comunidade nos projetos 62 considerou que esta não possui um papel relevante ver o terceiro gráfico do Painel PAINEL PARTICIPAÇÃO E PAPEL DA COMUNIDADE NA GESTÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA MODALIDADE PROJETOS Brasil Iniciativa de realização de projetos de EA segundo os atores fora da escola Brasil Atores envolvidos permanentemente nos projetos de EA Brasil Fatores que contribuem para a inserção da Ea 80 Apenas um professor Comunidade Biblioteca Conhecimento de políticas públicas Material pedagógico Internet Livros Formação continuada de professores Professores qualificados Professores idealistas Universidades ONG Empresa Comunidade Funcionários Equipe de direção Aluno Grupo de Professores ONG Comunidade Não Fonte Projeto O que fazem as escolas que dizem que fazem Educação Ambiental 2006 Fonte Projeto O que fazem as escolas que dizem que fazem Educação Ambiental 2006 Fonte Projeto O que fazem as escolas que dizem que fazem Educação Ambiental 2006 Sim Empresas Universidades 674 153 412 316 711 137 735 135 58 140 149 181 0 0 10 20 Contribui muito Não contribui 30 40 50 60 70 80 20 40 60 80 100 532 602 836 904 919 70 60 50 40 30 20 10 0 16 Nesta questão as escolas poderiam responder mais de uma alternativa miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 61 62 62 A descrição anterior mostra dois aspectos muito preocupantes Em primeiro lugar a comunidade está envolvida nos projetos de educação ambiental ainda que a sua participação seja insuficiente É desejável que esse envolvimento alcance níveis semelhantes aos dos atores internos professores alunos ou a equipe de direção Em segundo lugar apesar de a participação da comunidade ser uma realidade o fato de as escolas perceberem que não se cons tituem em um fator decisivo de contribuição revela que há uma coexistência conflitante na relação entre as escolas e a comunidade PAUTA PARA A CONSOLIDAÇÃO DAS POLÍTICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL Diante dos resultados obtidos podemos afirmar que foram observados efetivos avanços na educação ambiental escolar principalmente quanto à sua universalização melhor distribuição entre regiões e diversificação na formação profissional e nas modalidades de aplicação Considerando a necessidade de constante aprimoramento do que é feito é fundamental consolidar prioridades estratégicas adotadas nas atuais políticas públicas focalizadas na escola Entre estas podemos destacar Dedicar especial atenção ao processo de formação de educadores ambientais tanto no que se refere à formação inicial quanto à formação continuada Para isso é fundamental ampliar as relações de fomento e parceria com as instituições de ensino superior principalmente as universidades públicas muito ausentes até o momento para a promoção de cursos de curta média e longa duração Estimular os debates e propor a reorganização das licenciaturas incluindo a pedagogia como forma de asse gurar a presença ou mesmo a obrigatoriedade da educação ambiental nos cursos de formação inicial dos professores Incentivar a qualificação em nível de pósgraduação ampliando o número de docentes do ensino fundamental com títulos de mestrado e doutorado Estimular políticas estaduais e municipais que garantam a liberação dos professores para a participação em cur sos e que viabilizem maior disponibilidade de tempo para projetos e programas em educação ambiental Ampliar e fomentar o envolvimento de professores direção funcionários e alunos em espaços de participação Agenda 21 Coletivos Educadores COMVIDA conselhos gestão colegiada etc como forma de se construir democraticamente as práticas ambientais escolares e favorecer a relação escolacomunidade Garantir a participação dos profissionais do ensino fundamental em eventos como forma de atualização de informações incor poração nos debates das legítimas necessidades práticas e entendimentos dos que aí atuam e rediscussão ou esclarecimento miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 62 63 das finalidades da educação ambiental no Brasil tendo por parâmetro o que está previsto em documentos como Programa Nacional de Educação Ambiental e Política Nacional de Educação Ambiental entre outros Abrir ampla discussão nacional envolvendo outras secretarias do MEC Órgão Gestor e sindicatos dos trabalhadores da edu cação sobre a política educacional principalmente no que se refere à organização curricular e ao fortalecimento do ensino público autônomo e democrático problematizando e definindo o que se deseja com a transversalização e com a interdiscipli naridade na educação ambiental seus limites e possibilidades no contexto educacional brasileiro REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL Ministério da Educação Programa Parâmetros em Ação Meio Ambiente na Escola Brasília Ministério da Educação Secretaria da Educação Fundamental 2001 Disponível em httpportalmecgovbrsecadindexphpoptioncontenttask viewid65Itemid194 MENDONÇA P Educação ambiental como política pública avaliação dos parâmetros em ação meio ambiente na escola 2004 Dissertação Mestrado em Políticas Públicas e Gestão Ambiental Universidade de BrasíliaCentro de Desenvolvimento Sustentável VEIGA A AMORIM E BLANCO M Um retrato da presença da educação ambiental no ensino fundamental brasileiro o percurso de um processo acelerado de expansão Brasília Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira 2005 Disponível em httpwwwpublicacoesinepgovbrarquivos8A3C33D717734DA7BB364F5377F280AB MIOLOTEXTO20DISCUSSÃO2021pdf ARTIGOS RELACIONADOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS ENTRE CAMELOS E GALINHAS UMA DISCUSSÃO ACERCA DA VIDA NA ESCOLA EDUCAÇÃO AMBIENTAL SER OU NÃO SER UMA DISCIPLINA ESSA É A PRINCIPAL QUESTÃO miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 63 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 64 Educação ambiental crítica contribuições e desafios Carlos Frederico B Loureiro NESTE TEXTO APRESENTO PRESSUPOSTOS DEFINIDORES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA BEM COMO SUA RELEVÂNCIA E PERTINÊNCIA NO FAZER EDUCATIVO ESCOLAR AO FINAL TRAGO ALGUNS DESAFIOS COM ESPECIAL ÊNFASE NA PROBLEMATIZAÇÃO DO QUE SIGNIFICA CONSCIENTIZAR E SUAS IMPLICAÇÕES PARA PROJETOS E ATIVIDADES INSERIDAS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO FORMAL PALAVRASCHAVE CRÍTICA EMANCIPAÇÃO CONSCIENTIZAÇÃO REFLEXÃO PRÁTICA miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 65 66 66 SITUANDO A PERSPECTIVA CRÍTICA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL O que a perspectiva crítica trouxe de contribuição aos processos educativos ambientais O que ela representa para educadores educandos na atividade escolar Como tem sido trabalhada nas escolas Estas são algumas entre muitas questões que podemos apresentar para pensar uma tendência que cresceu consideravelmente nas duas últimas décadas Ao olharmos rapidamente para a história da educação ambiental observamos que esta vem sendo adjetivada de várias formas Isso se explica O campo foi formado por diversas visões de mundo em diálogo e disputa e nossa identidade se definiu mais pela negação ao estilo de vida urbanoindustrial e aos valores culturais individualistas e consumistas do que por pontos comuns na proposição de alternativas Com isso para não cairmos em uma visão homogeneizadora ou simplificada acabamos por sentir a necessidade de explicitar as diferentes abordagens configuradas no modo de se fazer tal refutação e construir outros caminhos Bem ou mal por vezes complicando mais do que facilitando falar simplesmente educação ambiental pode não ser suficiente para se entender o que se pretende com a prática educativa ambiental Concretamente a educação ambiental crítica se insere no mesmo bloco ou é vista como sinônimo de outras denominações que aparecem com freqüência em textos e discursos transformadora popular emancipatória e dialógica estando muito próxima também de certas abordagens da denominada ecopedagogia A sua marca principal está em afirmar que por ser uma prática social como tudo aquilo que se refere à criação humana na história a educação ambiental necessita vincular os processos ecológicos aos sociais na leitura de mundo na forma de intervir na realidade e de existir na natureza Reconhece portanto que nos relacionamos na natureza por mediações que são sociais ou seja por meio de dimensões que criamos na própria dinâmica de nossa espécie e que nos formam ao longo da vida cultura educação classe social instituições família gênero etnia nacio nalidade etc Somos sínteses singulares de relações unidade complexa que envolve estrutura biológica criação simbólica e ação transformadora da natureza Com a perspectiva crítica entendemos que não há leis atemporais verdades absolutas conceitos sem história educação fora da sociedade mas relações em movimento no tempoespaço e características peculiares a cada formação social que devem ser permanentemente questionadas e superadas para que se construa uma nova sociedade vista como sustentável A compreensão e a aceitação de tais premissas conduzem os educadores ambientais para além de uma forte tendência muito comum até os anos de 1980 e que ainda se faz presente em discursos de empresas e de grandes veículos de comunicação de miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 66 67 massa a de que à educação ambiental caberia exclusivamente o ensino de conteúdos e conhecimentos biológicos destacada mente os de cunho ecológico a transmissão de condutas ecologicamente corretas e a sensibilização individual para a beleza da natureza levandonos a mudar de comportamento Esta que aparentemente se mostra uma posição interessante ignora os intrin cados processos de aprendizagem e a necessidade social de se mudar atitudes habilidades e valores e não apenas comportamen tos Acaba assim por não associar as condições históricas à nossa ação individual em sociedade e deixa de problematizar o fato de que nem sempre é possível fazer aquilo que queremos fazer tendo ou não consciência das implicações A educação ambien tal crítica portanto rompe com tal tendência pois esta é em última instância reprodutivista das relações de poder existentes algo muito agradável a setores que querem que tudo mude para permanecer como está desde que os riscos de colapso ecossistêmico e degradação das condições de vida no planeta sejam minimizados ou empurrados para a frente Distinguese também de algumas abordagens recentes que procuram incorporar objetivos educacionais para além da transmissão de conteúdos e da sensibilização admitindo os limites da tendência anteriormente citada mas que acabam por cair em outro tipo de reducionismo interpretar os processos sociais unicamente a partir de conteúdos específicos da ecologia biologizando o que é históricosocial A conseqüência é uma visão funcionalista de sociedade estabelecendo analogias generalizantes entre sistemas complexos e autoregulados distintos e ignorando a função social da atividade educativa numa sociedade economicamente desigual e repleta de preconceitos culturais Com isso o elementar tornase secundário Em nossa prática para a perspectiva crítica é preciso admitir que um ato educa tivo carrega a relação entre o que se quer e o que se faz em uma escola e o que a sociedade impõe na forma de expectativas e exigências à instituição e às pessoas pólos estes apinhados de tensionamentos Para a educação ambiental crítica conseqüente mente a prática escolar exige o conhecimento da posição ocupada por educandos na estrutura econômica da dinâmica da instituição escolar e suas regras e da especificidade cultural do grupo social com o qual se trabalha Todavia aqui cabe lembrar que se a educação ambiental crítica não comporta separações entre culturanatureza fazendo a críti ca ao padrão de sociedade vigente ao modus operandis da educação formal à ciência e à filosofia dominante ela deve ser efe tivamente autocrítica Crítica sem autocrítica é problematizar o movimento da vida querendo ficar de fora sem colocar a mão na massa algo inaceitável para uma perspectiva na qual não pode haver oposição entre teoria e prática Assim não basta apontar os limites e contradições e fazer denúncias É preciso assumir com tranqüilidade que vivemos em sociedade e que portanto miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 67 68 68 mesmo quando buscamos ir além da realidade na qual estamos imersos acabamos muitas vezes repetindo aquilo que queremos superar Os dilemas que vivenciamos não são um mal em si O complicado é se colocar acima de tudo e de todos Admitir erros incertezas inquietações e dificuldades é inerente ao processo de transformação da realidade e constituição dos sujeitos sendo indispensável para refletirmos sobre o que fazemos o que buscamos e quais são os caminhos que estamos trilhando Posta nesses termos a educação ambiental crítica é bastante complexa em seu entendimento de natureza sociedade ser humano e educação exigindo amplo trânsito entre ciências sociais ou naturais e filosofia dialogando e construindo pontes e saberes trans disciplinares Implica igualmente o estabelecimento de movimento para agirmospensarmos sobre elementos micro currículo con teúdos atividades extracurriculares relação escolacomunidade projeto político pedagógico etc e sobre aspectos macro política educacional política de formação de professores relação educaçãotrabalhomercado diretrizes curriculares etc vinculandoos Mas o que é complexo e aparece como sendo muito complicado não está distante da prática cotidiana da comunidade escolar Pelo contrário uma vez que as dificuldades e possibilidades indicadas são concretas na sociedade contemporânea cotidianamente são vivenciadas pela comunidade escolar Portanto os desafios precisam ser assumidos e enfrentados pela educação ambiental e não ignorados para justificar respostas simples e a adoção de modelos de fácil aplicação a famosa receita de bolo que aliviam angústias mas pouco ajudam ao processo educativo e à superação das condições de degradação da vida e de destruição planetária Por sinal é fácil observar que educadores e educandos ao participarem da consolidação de ações afinadas com uma abor dagem crítica da educação ambiental se sentem à vontade e motivados com tal perspectiva Isso se explica pois ao trazermos a educação ambiental para a realidade concreta para o diaadia evitamos que esta se torne um agregado a mais idealmente concebido nas sobrecarregadas rotinas de trabalho Evitamos também que fique no plano do discurso vazio de salvação pela edu cação ou da normatização de comportamentos ecologicamente corretos Com isso tornase um componente e uma perspectiva inerentes ao fazer pedagógico potencializando o movimento em busca de novas relações sociais na natureza Diríamos mais ao perceberem tal processo muitos educadores que antes tinham resistência à questão ambiental por entenderemna como uma discussão descolada das condições objetivas de vida acabam incorporando a educação ambiental e vestindo a camisa Os efeitos deste movimento crítico na educação ambiental são bastante visíveis Há uma ampliação na compreensão do mundo e o repensar das relações eueu euoutro eunós no mundo Temas anteriormente tratados como meio para a preservação ou respeito à natureza elementos importantes mas insuficientes ao reforçarem a dicotomia culturanatureza são problematizados miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 68 69 em várias dimensões cultural econômica política legal histórica geográfica estética etc Projetos que ficavam como um apêndice são concebidos e planejados em diálogo com a estrutura pedagógica de cada escola Ações que ignoravam secretarias de educação e a autonomia escolar reconhecem que é preciso dialogar com o mundo da educação e intervir nas políticas públicas para que práticas viáveis sejam democratizadas E o principal a perspectiva ambiental passa a fazer parte ativa dos projetos políti copedagógicos PPP permeando a instituição escola em seu pulsar EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA NAS ESCOLAS DESAFIOS Diante do que a educação ambiental crítica traz como contribuição quais seriam os principais desafios a serem enfrentados Entre vários que podem ser destacados em função dos próprios desafios da educação nacional em um contexto de mercantilização da vida listaria três Um primeiro é repensar os próprios objetivos de projetos e práticas pedagógicas É muito comum se afirmar que o objetivo da educação ambiental é conscientizar alunos e comunidades Ora e o que é conscientizar É um conceito com muitos significados mas normalmente quando as pessoas fazem menção a ele querem dizer sensibilizar para o ambiente transmitir conhecimentos ensinar comportamentos adequados à preservação desconsiderando as características socioeconômicas e culturais do grupo com o qual se trabalha Em resumo dar ou levar consciência a quem não tem E é aí que está o risco pois fica pressuposto que a comunidade escolar não faz certo porque não quer ou não conhece ou não se sensibiliza com a natureza Será que podemos afir mar isso com segurança Será que os educadores ou proponentes dos projetos possuem a solução ou estão mais sensibilizados para a natureza do que os demais participantes Muitas vezes verificamos que um grupo social reconhece a importância da preser vação e da busca pela sustentabilidade e está sensível às questões ambientais mas age de forma aparentemente contraditória No fundo não raramente o que parece ser um comportamento inaceitável sob um prisma ecológico é o que há de plausív el diante das possibilidades imediatas em uma dada realidade Expandir conhecimentos e a percepção do ambiente é necessário à condição de realização humana contudo no processo educativo isso se vincula a contextos específicos a organizações sociais historicamente formadas Assim a questão não é somente conhecer para se ter consciência de algo mas conhecer inserido no mundo para que se tenha consciência crítica do conjunto de relações que condicionam certas práticas culturais e nesse movi mento superarmonos e às próprias condições inicialmente configuradas miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 69 70 70 Logo entendo que o cerne da educação ambiental crítica é a problematização da realidade de nossos valores atitudes e comportamentos em práticas dialógicas Ou seja aqui conscientizar só faz sentido se for no sentido posto por Paulo Freire de cons cientização de processo de mútua aprendizagem pelo diálogo reflexão e ação no mundo Movimento coletivo de ampliação do conhecimento das relações que constituem a realidade de leitura do mundo conhecendoo para transformálo e ao transformálo conhecêlo Dinâmica escolar que reconhece as especificidades de professores pais alunos e demais integrantes da comunidade escolar mas que não pensa o acesso à informação e à cultura dissociada da contextualização da prática e da recriação da própria cultura Assim entendo que conscientizar é um conceito problemático de ser utilizado pois pode ser pensado em termos unidire cionais de se levar luz para os que não a possuem de se ensinar aos que nada sabem Para a educação ambiental crítica a eman cipação é a finalidade primeira e última de todo o processo educativo que visa a transformação de nosso modo de vida a superação das relações de expropriação dominação e preconceitos a liberdade para conhecer e gerar cultura tornandonos autônomos em nossas escolhas Portanto cabe deixar a pergunta será que é melhor continuar usando conscientizar indistintamente ou é mais adequado explicitar outros objetivos que evidenciem claramente os vínculos com a busca pela emancipação e a construção da sus tentabilidade democrática Outro desafio ao educador ambiental está na capacidade de repensar a estrutura curricular levantando os motivos históricos que conduziram a determinada configuração disciplinar e sua importância para o atendimento dos interesses dominantes na sociedade Isso pode facilitar a construção de atividades integradas considerando as possibilidades de cada escola e seus objetivos institucionais Por vezes observo que há uma simplória recusa à disciplina considerando impossível qualquer trabalho sério de educação ambiental enquanto a escola estiver assim organizada ignorando sua própria dinâmica interna por vezes se aceitam simplesmente as disciplinas como se não fossem fenômenos históricos portanto o que nos resta é fazer o jogo e fragmentar a educação ambiental Ambas as abordagens me parecem reducionistas desprezando os saberes docentes e a importância dos sujeitos na ruptura das estruturas Um último desafio a ser mencionado é a necessidade de atuação efetiva dos educadores ambientais nos espaços públicos que foram conquistados com o processo de democratização do Estado brasileiro conselhos comitês fóruns agendas pólos núcleos etc Isso fortalece o esforço de construção de um sistema de educação ambiental no país e a capacidade de interferência nas políticas públicas em geral e nas políticas de educação especificamente Muito avançamos mas não podemos desanimar nem miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 70 71 nos acomodar Esta inserção da educação ambiental nas demais políticas é absolutamente estratégica para caminharmos rumo a uma sociedade sustentável Além disso é preciso no âmbito escolar conseguir a inserção da educação ambiental no projeto político pedagógico e a consolidação de espaços de participação institucionais aglutinando Agendas 21 escolares COMVIDAS 17 grêmios conselhos escolacomunidade associações de pais entre outras formas coletivas de atuação legitimamente construídas em todo o país e nas quais a discussão ambiental pode ser inserida e potencializada O desafio é grande e não deve ser visto como desanimador ou angustiante O prazer de ser educador ambiental reside não na certeza dos resultados mas na construção permanente de novas possibilidades e reflexões que garantam o aprendizado o respeito às múltiplas formas de vida e ao planeta e a esperança de que podemos sim construir um mundo melhor para todos igualitário culturalmente diverso e ecologicamente viável PARA SABER MAIS CARVALHO I C de M Educação ambiental a formação do sujeito ecológico São Paulo Cortez 2004 GUIMARÃES M Org Caminhos da educação ambiental da forma à ação Campinas Papirus 2006 A Formação dos educadores ambientais Campinas Papirus 2004 LOUREIRO C F B Pensamento complexo dialética e educação ambiental São Paulo Cortez 2006 Sociedade e meio ambiente a educação ambiental em debate 4ed São Paulo Cortez 2006 Trajetória e fundamentos da educação ambiental 2ed São Paulo Cortez 2006 LAYRARGUES P P CASTRO R S Orgs Educação ambiental repensando o espaço da cidada nia 3ed São Paulo Cortez 2005 MATOS K S L Org Cultura de paz educação ambiental e movimentos sociais ações com sensibili dade Fortaleza Edufc 2006 SANTOS J E dos SATO M Orgs A contribuição da educação ambiental à esperança de Pandora 3ed São Carlos Rima 2005 TOZONIREIS M F de C Educação ambiental natureza razão história São Paulo Autores Associados 2004 ARTIGOS RELACIONADOS UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS CONSIDE RAÇÕES INICIAIS SOBRE OS RESULTADOS DO PROJETO O QUE FAZEM AS ESCOLAS QUE DIZEM QUE FAZEM EDUCAÇÃO AMBIENTAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARTICIPAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS PROJETOS TRANSVERSAIS 17 Para mais informações ver o artigo Pensando sobre a geração do futuro no presente jovem educa jovem COMVIDAS e Conferência miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 71 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 72 Entre camelos e galinhas uma discussão acerca da vida na escola Najla Veloso O TEXTO PRETENDE DESTACAR O PROJETO POLÍTICOPEDAGÓGICO COMO O CONJUNTO DAS INTENCIONALIDADES DOS ATORES QUE FAZEM A ESCOLA E O CURRÍCULO ESCOLAR COMO O CONJUNTO DOS ELEMENTOS QUE COMPÕEM A FORMAÇÃO DOS EDUCANDOS OBJETIVA RELACIONAR ESSES DOIS ELEMENTOS À FORMAÇÃO DE PESSOAS INSTRUMENTALIZADAS PARA O ENFRENTAMENTO DOS DESAFIOS DO PRESENTE SÉCULO ESPECIALMENTE QUANTO À SUSTENTABILIDADE DO PLANETA PALAVRASCHAVE PROJETO POLÍTICOPEDAGÓGICO CURRÍCULO EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLA CONHECIMENTO miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 73 74 74 Recebi recentemente em minha caixa de emails dois textos um deles sem autoria que me fez refletir muito sobre o papel da escola e sobre o tempo que ao longo da vida dedicamos a esta instituição tão cortejada pelos adultos especialmente pelos pais O primeiro texto provocador foi o seguinte UMA MÃE E UM BEBÊ CAMELOS ESTAVAM POR ALI à toa quando de repente o bebê camelo perguntou Por que os camelos têm corcovas Bem meu filhinho nós somos animais do deserto precisamos das corcovas para reservar água e por isso mesmo somos conhecidos por sobreviver sem água Certo e por que nossas pernas são longas e nossas patas arredondadas Filho certamente elas são assim para nos permitir caminhar no deserto Sabe com essas pernas longas eu mantenho meu corpo mais longe do chão do deserto que é mais quente que a temperatura do ar e assim fico mais longe do calor Quanto às patas arredondadas eu posso me movimentar melhor devido à consistência da areia disse a mãe Certo Então por que nossos cílios são tão longos De vez em quando eles atrapalham minha visão Meu filho Esses cílios longos e grossos são como uma capa protetora para os olhos Eles ajudam na proteção dos seus olhos quando atingidos pela areia e pelo vento do deserto respondeu a mãe com orgulho Tá Então a corcova é para armazenar água enquanto cruzamos o deserto as pernas para caminhar através do deserto e os cílios são para proteger meus olhos do deserto Então o que é que estamos fazendo aqui no Zoológico O segundo texto um documentário recebido quase simultaneamente enfatizava a crueldade do tratamento que hoje é dis pensado às galinhas de granja Nesse pequeno documentário de autoria de Rildo Silveira havia inclusive fotos que contrastavam o tratamento das galinhas chocadeiras das fazendas com as galinhas poedeiras de criação intensiva que passam a vida sem se locomover devido ao minúsculo tamanho das suas celas confinadas sem possibilidades de andar ver a luz e tomar banho de sol sem conseguir levantar ou bater uma asa espreguiçar empoleirar ciscar pisar se sujar na terra e muito menos estabelecer laços com outros animais de sua espécie miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 74 75 APARENTEMENTE QUE RELAÇÃO DIRETA PODE HAVER ENTRE ESCOLAS CAMELOS E GALINHAS Quando li os textos do diálogo dos camelos e da crueldade com as galinhas imediatamente estabeleci uma correlação que passo a socializar porque acredito que a leitura e a escrita nos permitem registrar os emaranhados do novelo do nosso pensamento E até ajudam a encontrar suas pontas Fiquei pensando inicialmente acerca do papel e da função que a escola vem assumindo na vida das pessoas para que serve uma escola Que sentido existe em nos organizarmos socialmente para convivermos horas dias meses e anos em um ambiente escolar Qual a relação entre o vivido na escola e o cotidiano das pessoas É importante lembrar que falamos de uma escola num contexto secular que traz agregado em seu início marcas das desigual dades sociais que se expressam nas calamidades sociais na fome que aflige milhões de seres humanos nos fundamentalismos religiosos na violência contra o ambiente natural e social entre outros fenômenos Tornase quase impossível pensar neste século sem lembrar dos tsunamis das inundações urbanas da escassez de água de energia do desperdício de alimentos da desigualdade de renda das pessoas da proliferação de doenças como aids da gravidez precoce do trabalho infantil que priva as crianças da vida escolar do desemprego e de tantas outras situações que poderiam ser listadas Embora eu não pretenda e nem reúna condições para esgotar aqui uma análise da conjuntura social contemporânea é impor tante registrar a complexidade da vida humana nesse tempo e evidenciar os inúmeros enfrentamentos na luta da humanidade pela sobrevivência no planeta e do próprio planeta O que nos resta como hipótese viável para enfrentar todos os desafios com os quais convivemos Restanos uma esperança coletiva de que a educação especialmente a oferecida pela escola pode ajudar as pessoas a viver melhor a enfrentar de forma mais instrumentalizada a realidade dessa geração Nesse sentido há uma crescente demanda social pela reflexão sobre temas que assegurem maior compreensão dos fenômenos sociais vivenciados e por iniciativas diante de situações que se manifestam no sentido de inibir a cidadania Mas que escola Será qualquer escola e qualquer trabalho pedagógico Quais as características dessa escola que pode nos ajudar a enfrentar os inúmeros desafios a que estamos sujeitos na vida social Eu diria que a primeira marca dessa escola que miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 75 76 76 reúne minimamente condições de assumir seu papel de instituição formadora e instrumentalizadora para os desafios de seu tempo é ter um projeto de existência claro e por meio dele buscar autonomia para construir conscientemente os rumos que quer tomar no seu cotidiano Mas já sabemos que para haver de fato essa participação é necessário que o projeto desde sua concepção inicial seja pen sado de forma coletiva e democrática garantindo a todos que estão ligados à escola a oportunidade de participar da elaboração compreender sua importância e adquirir a consciência de que o projeto direta ou indiretamente afeta os destinos de toda a comunidade escolar Por ter trabalhado em escola e depois ter passado pela direção dela tenho clareza de que a construção de um projeto político pedagógico não é algo simples e nem fácil Exige de cada um de nós da comunidade escolar uma consciência individual de sua importância como documento e como processo de registro de intencionalidades Exige também que desenvolvamos a capacidade de comviver discutir e tolerar os pensamentos não coincidentes com os nossos A capacidade de esperar de controlar as ansiedades e sobretudo saber que em educação não se colhe na mesma estação em que se planta como diz meu amigo Caio Fábio E por que tanto esforço Porque compreendemos como Carvalho e Diogo citados por Veiga e Resende 1998 que o projeto políticopedagógico é um singular instrumento em torno do qual a comunidade escolar é estimulada a se organizar e construir dentro do seu espaço as tomadas de posição descentralizadas e o fortalecimento de atitudes democráticas e comunica tivas no interior da escola Quando ela consegue se organizar para tomar decisões conjuntas ela está construindo a sua autonomia e principalmente a sua identidade A escola está dizendo a que veio para onde pretende ir e como pretende chegar a esse lugar Está diante de uma oportunidade quase ímpar de as pessoas se verem conhecerem trocarem idéias e descobrirem as potencialidades de cada um no ambiente escolar O contrário disso é uma escola onde os professores se cumprimentam nas horas de intervalo podem até se falar nos momentos de planejamento mas não têm compromisso de construir nada em conjunto A escola sem projeto políticopedagógico construído discutido pensado numa seqüência lógica que relaciona objetivos estratégias ações e finalidades é uma escola com altíssimo percentual de chance de abrir suas portas simplesmente para cumprir as exigências mínimas do sistema de ensino de colocar pessoas em sala de aula para ministrar os conteúdos escolares Essa escola tem grande chance de ser pouco dinâmica pouco atraente pouco promissora pouco tudo inclusive pouco viva e por que não dizer quase morta miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 76 77 Em compensação uma escola que se preocupa em construir seu projeto com todas as dificuldades que isso significa para todos reúne grandes chances de acertar na definição das suas estratégias organizativas de variar na definição das metodologias de contar com maior participação dos pais de ser mais dinâmica de ser mais amada cuidada e ter melhor desempenho dos edu candos e educadores Nessa óptica o próprio processo de elaboração do projeto da escola é conteúdo escolar é formador da natureza participativa das pessoas e permite a elas aprenderem que a vida vivida de forma individualista e egocentrada não contribui para os avanços da realidade comum da comunidade Mas o que estudar nessa escola O que fazer nesse período da vida dedicado à educação formal da pessoa Nessa hora em função do papel que atribuímos à escola e à sua grande demanda por organização é que entra a perturbadora reflexão sobre o que nela fazemos e a urgente necessidade de revermos aquele tradicional conceito de currículo que nos acompanha desde quando éramos crianças passou pela nossa formação inicial como educadores e até hoje ocupa a mentalidade de muitos gestores e professores Toda escola exercita um currículo Consciente ou inconscientemente os que atuam no contexto escolar estão envolvidos diretamente nas tramas que forjam as identidades humanas Nesse sentido podemos afirmar que discutir o currículo é debater uma perspectiva de mundo de sociedade e de ser humano Embora quando se fale em discutir o currículo de um determinado nível de ensino as pessoas estejam propensas a rever os conteúdos escolares esse debate a meu ver não pode se reduzir a uma visão tradicional de mudar a ordem ou os conteúdos que os educandos vão estudar na escola A análise do currículo escolar e o debate a seu respeito devem focar questões como a quem interessa e a serviço de quem está o trabalho realizado pela escola A que se pode atribuir o sucesso ou o insucesso dos educandos A forma como o trabalho peda gógico vem se desenvolvendo tem contribuído para que todos sejam bem sucedidos e mais felizes no ambiente escolar Daí a impor tância de a escola ter um projeto políticopedagógico que preveja a discussão do seu currículo Se ela como instituição não tem registros de suas intenções não tem projeto qual a possibilidade de estar desenvolvendo ações em favor de sua comunidade Na ausência dessas discussões há uma forte tendência de imperar e permanecer a lógica de currículo que há pelo menos 500 anos aprisiona o trabalho pedagógico em nossas escolas restringindoo muitas vezes a uma frustrante tentativa de socializar informações das culturas tradicionalmente hegemônicas Daí a importância de buscarmos a superação da visão de currículo como um conjunto de conhecimentos determinados a priori que se enquadram em disciplinas cientificamente prédefinidas e delimitadoras de tudo que será ou não vivido por estudantes e educadores num dado espaço e tempo igualmente rígidos miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 77 78 78 Essa concepção de currículo encontra sua base no entendimento de escola como espaço de aquisição de conhecimentos definidos pertencentes e vinculados a disciplinas Nessa perspectiva existem os temas que cabem à disciplina língua portuguesa à matemática às ciências naturais e sociais e assim sucessivamente Esse pertencimento se dá de tal modo que os assuntos ou conteúdos que não estejam listados ou não caibam dentro de alguma das disciplinas não são ou não foram vistos como dignos de serem trabalhados pela escola e pelos professores Quem discute educação ambiental sabe bem disso A organização que ainda prevalece em parte das escolas brasileiras continua refletindo uma concepção obsoleta de educação de ser humano e de sociedade em que o conhecimento é algo a ser transmitido a aprendizagem é um acúmulo de informações os conteúdos escolares são recortes do conhecimento científico arbitrariamente considerados relevantes os professores são os que transmitem e os alunos são os que assimilam Uma cadeia educativa linear reprodutivista e violadora dos nossos direitos de sermos quem somos e vivermos nossa realidade e não a de outros O currículo está para além das grades A vida contemporânea está evidenciando que precisamos formar pessoas que acumulem mais que informações disciplinares em sua caixa cerebral Os desafios do século XXI estão de algum modo nos sacudindo invadindo nossas escolas se manifestando no diaadia sob a forma de gravidez de nossas adolescentes de porte de armas de aumento do uso do tabaco do cigarro e de outras drogas por nossos educandos de analfabetismo mesmo ao final do ensi no fundamental e médio sob a forma de desestímulo dos docentes da falta de projeto dos sistemas de ensino etc etc etc É imperioso que a escola compreenda que o conjunto de atividades que ela oferece à sua comunidade coopera para a for mação de pessoas nas múltiplas dimensões que a constituem Tudo o que se vive na escola oculta ou nitidamente com ou sem intenção clara forma pessoas por isso é currículo Por esse entendimento podemos dizer que construir o projeto político pedagógico da escola é currículo escolar Pensando assim compreendemos por que os assuntos da escola precisam ser amplos contextualizados vinculados à realidade local e abordados na forma mais concreta possível para que possamos formar pessoas livres conscientes de sua realidade capazes de discutir e enfrentar os desafios de sua história É urgente que realizemos em nossas escolas a reflexão a investigação e avaliação do que tem sido feito e sobretudo quais as possibilidades de mudança dessa realidade de transmissão de ensino porque ela mesma a realidade tem nos mostrado que não tem sido satisfatoriamente alcançada a aprendizagem Basta olharmos de forma menos passional para os instrumentos e os resultados de pesquisas de massa como o Sistema de Avaliação da Educação Básica SAEB e outros miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 78 79 O que defendemos aqui que fique bem claro não é uma escola que viva de eventos de festas de reuniões e de atividades variadas para se mostrar dinâmica Muito menos uma escola onde os educandos não tenham acesso à informação à pesquisa a instru mentos de avaliação diversificados às tecnologias da informação a aulas expositivas de professores e a muita leitura e escrita Muito pelo contrário Nossa defesa é que tudo isso seja parte de um projeto claro elaborado e conhecido pelo maior número de pessoas e que os temas que movem nossa contemporaneidade e dizem respeito à qualidade de vida estejam presentes de forma planejada tendo em vista os objetivos que a escola pretende alcançar Reitero a compreensão de que os assuntos da vida aquela que se vive em casa no mercado na igreja na escola precisam ser traduzidos para uma linguagem que garanta às crianças adolescentes jovens e adultos o acesso às análises e às alternativas para o enfrentamento da sua realidade como pessoa e como ser social Tratase assim de buscar garantir o acesso ao debate de assuntos emergentes na sociedade e o direito à cidadania a todas as parcelas populacionais A conseqüência dessa revisão do conceito de currículo tende a ser um trabalho pedagógico dinâmico e diversificado mais prazeroso mais atraente e certamente mais contributivo para o sucesso escolar e para a aprendizagem dos educandos Tenho visto e acompanhado diversas escolas que já desenvolvem atividades que extrapolam seus muros e as transformam em efetivos centros de formação da cidadania como prevê a Lei de Diretrizes e Bases vigente Nelas o entorno da escola também é escola ou seja fonte concreta de pesquisas aprendizagens e descobertas O professor e a professora têm assumido a função de articuladores dos vários saberes tendo por finalidade maior a aprendiza gem e a promoção da cidadania dos educandos Tem ficado mais claro para os docentes os ideais que defendem os porquês para quês e para quem têm investido esforços MAS O QUE TUDO ISSO TEM A VER COM OS CAMELOS E COM AS GALINHAS A partir dessas idéias que registrei fiquei pensando como o camelinho que todas as respostas da mamãecamelo estavam corretas porém extremamente distantes da realidade que ele vivia como camelo de zoológico Lembrei também do texto o Urso burro do Rubem Alves 1997 em que ele narra a história de dois ursos um muito bom e outro muito mau malabarista no circo e quando ambos foram soltos na floresta o perito na arte dos malabares ficou perdido e o que era considerado burro pelo miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 79 80 80 dono do circo se encontrou completamente à vontade e foi capaz de viver intensa e plenamente a sua condição de urso Na verdade era incapaz de ser malabarista porque preservava a sua condição de urso Fiquei pensando se o que fazemos na escola se o que estudamos nela é capaz de nos tornar intensamente gente e plenamente capazes de vivermos como pessoas em grupo juntos aceitando nossas diversidades respeitandonos como seres humanos cons truindo ciência tecnologia capazes de combater doenças reduzir a fome a pobreza Será que o que estudamos na escola tem nos ajudado a contemplar a beleza da lua das flores dos pássaros Será que a escola tem nos permitido aprender a gostar de gente de rios de animais silvestres de flores do campo Tem nos ensinado a com viver com pessoas no trabalho na vida nas relações amorosas Tem nos ensinado a amar e ser amados por pessoas e animais A desenvolver paciência tolerância e solidariedade com o outro Será que os tantos conteúdos estudados na escola de forma disciplinar estanque fragmentada em que cada professor faz a sua parte têm nos ajudado a construir a sociedade sustentável de que precisamos o respeito à comunidade dos seres vivos a melhoria da vida humana o respeito e a manutenção da biodiversidade do planeta atitudes e práticas de pessoas humanizadas alianças comunitárias e globais em favor de nossa própria história Se esses conteúdos não estiverem atendendo fico com o camelinho que em outras palavras questionava à mãe para que corcovas pernas longas patas arredondadas e cílios grandes se estamos no zoológico e nossas demandas são outras A história das galinhas de criação intensiva me fez pensar em um outro texto do DAmbrósio 1997 que fala da importância da transdisciplinaridade e conclui falando da ética no trato das questões da vida que se tornou extremamente necessária à humanidade para viver esses tempos em que o lucro e o dinheiro parecem ser as únicas referências e os únicos valores da espé cie Lembreime também da epígrafe de Albert Camus em que ele afirma O significado da vida é a mais urgente das questões Que importa formar médicos especialistas advogados juízes políticos professores dentistas garis ou comerciários que não estejam atentos para a vida como patrimônio e para o planeta como habitação de várias espécies Rubem Alves afirma que Para se construir uma bomba atômica é preciso ser muito inteligente Para se tomar a decisão de se desmontar todas elas é necessário ser sábio Adoro isso Eu parafrasearia se ele me permite dizendo que para se construir uma bomba atômica é necessário ser escolarizado para se tomar a decisão de desmontar todas elas é necessário ser humanizado É só observarmos que tantos roubos de órgãos humanos só podem ser realizados por médicos e peritos E que a criação intensiva de galinhas é praticada por gente miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 80 81 É preciso gerar indignação nas pessoas inconformidade com as injustiças sensibilidade para a dor alheia seja ela qual e em quem for é preciso desejar gente que olhe para a vida e tenha desejo de viver de abraçar de sorrir e fazer diferença diante de muitos desafios impostos pela vida social Penso a necessidade do projeto políticopedagógico como uma espécie de carta de intenções e proposições de compromissos que a escola como instituição do Estado faz com a comunidade e com a sociedade como um todo Nele ficam definidos e regis trados os rumos desejos ações objetivos metas e finalidades como intencionalidades dos sujeitos que a constituem Favorece que a comunidade de educandos pais e responsáveis possam ajudar a construir acompanhar e também cobrar daquilo que lhe é de direito educação pública de qualidade e sucesso escolar para todos Outra grande contribuição que o processo de discussão do projeto políticopedagógico e do currículo pode dar talvez até maior que o próprio produto é a possibilidade de os educadores terem maior clareza do que desejam que os educandos discu tam do perfil de pessoa que pretendem formar dos princípios que fundamentam e sustentam suas ações pedagógicas cotidianas Além disso nós todos educadores gestores locais municipais estaduais e federais teremos maior facilidade em perceber que o papel social que temos a cumprir não pode ser exercido por outros e nem por máquinas Que quanto maior for a demanda por reflexão e sensibilidade na vida social maior mais significativo e abrangente se torna o papel do educador que está com os pés na realidade escolar Diante dessa questão fica também muito clara a possibilidade de contribuição da educação ambiental para o processo escolar Desde os primeiros momentos de discussão desse tema vinha sendo delineada a perspectiva de não tornálo uma disciplina Eu penso que de forma bastante acertada os educadores ambientais perceberam a amplitude a complexidade e a visão sistêmica da questão ambiental e estabeleceram com ela uma relação de trabalho pedagógico por meio de projetos Acertada no meu ponto de vista porque atesta a compreensão de que tudo o que discutimos sobre o currículo escolar e as demandas contem porâneas desse século não caberiam jamais no trabalho de 50 minutos realizados por um único professor ou professora Pela força dos assuntos que evidencia a educação ambiental vem sendo compreendida e desenvolvida por todos nós dentro e fora da sala de aula Inclusive dentro e fora da escola Acertada também porque reafirma o entendimento de que a diversidade dos sujeitos e dos saberes deve ser fator de estímulo para a construção de alternativas e ainda que os conhecimentos prévios dos professores e dos jovens são verdadeiros mananciais de onde nascem as possibilidades inclusive metodológicas de se fazer educação ambiental miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 81 82 82 Ainda mais acertada porque desde a sua origem e para além das grades de uma disciplina a educação ambiental defende a participação e integração dos professores e alunos como condição de se fazer diferença na história de vida de cada comunidade Os temas socioambientais as metodologias adotadas e as interações com a comunidade que vêm sendo desenvolvidas têm permitido que vislumbremos a escola de que precisamos porque eles atuam exatamente nas necessidades de nossa e de outras espécies Esses temas têm diminuído a distância entre a teoria e a prática tão comodamente instalada em muitas escolas Têm também permitido que a pesquisa e a investigação sejam estimuladas de modo que o acesso às informações seja democratizado Por essa série de ingerências positivas no cotidiano escolar considero intensa e revolucionária a atuação dos educadores ambien tais na perspectiva de construção do projeto políticopedagógico e do currículo que trabalhamos até aqui E embora tenhamos todos muito a aprender já reside nesse tipo de trabalho a expressão e o desejo de que a história humana seja construída sobre alicerces morais individuais e coletivos em que antes de mercadorias galinhas sejam vistas como seres e vivos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES R Estórias de quem gosta de ensinar o fim dos vestibulares São Paulo Editora Ars Poética 1995 DAMBROSIO U Transdisciplinaridade São Paulo Palas Athena 1997 VEIGA I P A RESENDE L M G Orgs Escola espaço do projeto políticopedagógico Campinas Papirus 1998 PARA SABER MAIS BARBOSA N V S Currículo em verso e prosa Espírito Santo Editora ExLibris 2006 OLIVEIRA M K Vygotsky aprendizado e desenvolvimento um processo sóciohistórico São Paulo Scipione 1993 Série pensa mento e ação no magistério SANTOMÉ J T Globalização e interdisciplinaridade o currículo integrado Porto Alegre Artes Médicas 1998 VASCONCELOS C dos S Planejamento projeto de ensinoaprendizagem e projeto políticopedagógico 7 ed São Paulo Libertad 2000 ARTIGOS RELACIONADOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARTICIPAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA EDUCAÇÃO AMBIENTAL SER OU NÃO SER UMA DISCIPLINA ESSA É A PRINCIPAL QUESTÃO miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 82 83 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 83 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 84 Educação ambiental participação para além dos muros da escola Mauro Guimarães ESTE TEXTO PARTE DO PRESSUPOSTO DE QUE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL DEVE SE DEBRUÇAR SOBRE A NATUREZA DOS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS QUE SE ENCONTRAM NA CRÍTICA AO ATUAL MODELO DE SOCIEDADE PROCURA DEFENDER UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA QUE SE REALIZA EM PROCESSOS EDUCATIVOS QUE VÃO ALÉM DOS MUROS DAS ESCOLAS PALAVRASCHAVE EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA EDUCAÇÃO TRADICIONAL AMBIENTE EDUCA TIVO INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA PARADIGMAS miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 85 86 86 OS RESULTADOS DO CENSO ESCOLAR 2004 VEIGA ET AL 2005 18 recentemente lançados apresentam a informação de que mais de 94 das escolas brasileiras reconhecem que realizam educação ambiental Percebemos no cotidiano esco lar cada vez mais as crianças manifestando alguma inquietude eou aproximação com a questão ambiental Um número crescente de professores procurando tratar da questão ambiental em suas aulas A conquista da transversalidade na legislação e políticas públicas sobre educação ambiental ONGs e empresas com um maior envolvimento com ações de educação ambiental Quando a educação ambiental em menos de 30 anos está presente no discurso dos diferentes setores da sociedade é porque há um reconhecimento generalizado de que existem problemas e graves com o meio ambiente ou melhor na relação ser humano natureza Tradicionalmente a educação é chamada para solucionar os problemas sociais como a grande redentora da sociedade Se o problema é com a sexualidade criase a educação sexual se é com o trânsito educação para o trânsito se é com o meio ambiente educação ambiental Será assim A educação é a solução para todos os problemas da sociedade Mas de que educação de um modo geral e em particular ambiental estamos falando Certamente se fizermos um comparativo do quadro atual com o de 20 30 anos atrás podemos ver o quanto a educação ambiental ganhou espaço na sociedade no entanto essa mesma sociedade degrada hoje mais o meio ambiente do que há 20 30 anos Que educação ambiental é essa que quanto mais se faz menos alcança seus objetivos A NATUREZA DO PROBLEMA Partindo do reconhecimento de que há hoje uma crise ambiental decorrente de um processo histórico que colocou a sociedade humana e a natureza em lados opostos peço para pensarmos na caminhada da humanidade e identificarmos em paralelo a essa caminhada um processo de individualização da humanidade Retrocedendo até aos homens das cavernas podese perceber a postura grupal submetida às forças naturais estabelecidas nas relações ecológicas Éramos caça e caçadores perfeitamente identificados em uma cadeia alimentar vivendo em busca de suprir nossas necessidades biológicas Éramos uma das partes integradas ao todo natural 18 Mais informações no artigo Um olhar sobre a educação ambiental nas escolas considerações iniciais sobre os resultados do projeto O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 86 87 Na outra extremidade desse processo históricocultural chegamos às sociedades contemporâneas A modernidade baseada em uma visão liberal e cartesiana de mundo indivíduo como célula mater da sociedade a compreensão do todo focada na parte e a partir dela levou à individualização que chega ao extremo do individualismo do egoísmo do cada um por si em busca de suprir agora de forma imediata além das necessidades biológicas as necessidades socioeconômicas criadas Nesse contexto os seres humanos sentemse cada vez mais partes isoladas do todo e rompem entre outros o elo com a natureza Do sentimento de nãopertencimento à natureza para o de estabelecer relações de dominação e exploração foi um pequeno passo dado pela sociedade humana Na racionalidade que constitui e é constituída pela modernidade o que prevalece são os interesses individuaisparticulares sobre as necessidades comuns coletivas do conjunto Essa prevalência justificase por essa postura individualista e antropocêntrica quando a humanidade se vê como o centro e tudo que está ao seu redor existe para atender aos seus interesses Essas posturas somadas à competição exacerbada entre indivíduos classes sociais e nações à acumulação privada de um bem público que é o meio ambiente à acumulação ampliada e concentração da riqueza entre outras intensificou tremendamente a exploração do meio ambiente e o distanciamento entre os seres humanos dessa sociedade urbanoindustrial e a natureza o que produz a degradação de ambos sociedade e natureza Meio ambiente é conjunto é sistêmico precisa ser percebido em sua realidade complexa na sua totalidade São partes inter relacionadas e interativas de um todo ao mesmo tempo que é o todo interagindo nas partes É tudo junto ao mesmo tempo agora um pensamento complexo um tanto estranho para uma racionalidade cartesiana e mecanicista que tende a reduzir e sim plificar a compreensão do real do todo e que quando procura apreendêlo como totalidade tende a percebêlo linearmente e como resultado da soma das partes A natureza é explorada por nossa sociedade como se fosse um recurso inesgotável vista de forma fragmentada sem a preocupa ção e o respeito com as relações dinâmicas do equilíbrio ecológico e sua capacidade de suportar os impactos sobre ela o que resulta nos graves problemas ambientais da atualidade A natureza percebida a partir de uma visão mais complexa em sua totalidade potencializaria a construção de uma relação entre os seres humanos em sociedade e a natureza de forma mais integrada coopera tiva e portanto sustentável socioambientalmente É aqui que a educação ambiental vem sendo chamada para resolver os problemas da nossa sociedade urbanoindustrial Mas qual é mesmo a natureza desses problemas miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 87 88 88 Os problemas socioambientais locais e globais se interrelacionam não são aspectos isolados de cada realidade pois refletem um determinado modelo de sociedade e sua forma de estabelecer relações com o meio geradora da crise socioambiental que vivemos na atualidade Portanto a natureza do problema está no atual modelo de sociedade e seus paradigmas que ressaltam os aspectos antropocêntrico cartesiano individualista consumista concentrador de riqueza que gera destruição em sua relação de domi nação e exploração antagônico às características de uma natureza que é coletiva que recicla que mantém a vida Ao saber aqui a natureza do problema por que não conseguimos solucionálo Como dissemos no início deste texto a educação ambiental se difunde na sociedade a maioria das pessoas no mundo já sabe que é importante preservar a natureza no entanto ela continua e cada vez mais sendo destruída por nossa sociedade Por que apesar de nós professores estarmos sinceramente empenhados em trabalhar a educação ambiental a crise continua se acentuando Um passo importante a meu ver passa por romper com uma armadilha a que todos estamos sujeitos o que chamo 2004 de armadilha paradigmática Para Morin paradigmas são estruturas de pensamento que de modo inconsciente comandam nosso discurso MORIN 1997 Disso ressalta a força que os paradigmas têm nas nossas ações individuais e em nossas práticas sociais a ponto de muitas vezes falarmos ou fazermos alguma coisa sem sabermos bem a razão mas porque sempre foi assim por aqui é o normal em nossa sociedade Isso nos faz perceber que os paradigmas tendem a nos levar a pensar e agir de acordo com algo preesta belecido consolidado por uma visão de mundo que nos leva a confirmar inconscientemente uma lógica uma racionalidade dominante É uma tendência conservadora que informa práticas individuais e coletivas e reproduzem os paradigmas vigentes Os paradigmas da sociedade moderna chamados por Morin de paradigmas da disjunção por ao separar e focar na parte simplificar e reduzir a compreensão da realidade limitam o entendimento de meio ambiente em sua complexidade Essa com preensão de mundo fragmentada não vem dando conta de estabelecer uma relação equilibrada entre indivíduos em sociedade e a natureza o que se manifesta pela crise socioambiental Os educadores apesar de bem intencionados geralmente ao buscarem desenvolver as atividades reconhecidas como de educação ambiental apresentam uma prática informada pelos paradigmas da sociedade moderna Ou seja é querermos fazer diferente pensando da mesma forma Não podemos deixar de relembrar que os indivíduos em geral entre eles os educadores seres sociais que somos experienciamos em nosso cotidiano a dinâmica informada pelos paradigmas da sociedade moderna que miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 88 89 tende a se autoperpetuar e que seguindo essa tendência é reprodutora de uma realidade já estabelecida por uma racionalidade dominante Romper com essa armadilha é estarmos críticos para que ações conscientes possam provocar práticas diferenciadas que se voltem para o novo libertos das amarras do tradicionalismo que reproduzem o passado no presente São pontos centrais em que nós educadores e a educação ambiental que se realiza devemos nos debruçar para contribuir no processo de transformação da realidade desvendar seus paradigmas e suas influências nas práticas individuais e cole tivas entender as estruturas do modo de produção desta sociedade a sua dinâmica intermediada pelas relações desiguais de poder as suas motivações dinamizadas pelo privilégio aos interesses particulares que para mantêlos tende a estruturar relações de dominação de um indivíduosociedade sobre o outro indivíduonatureza Então o processo educativo passa por desvelar a origem dos problemas socioambientais que estão para além das salas de aula na realidade cotidiana da vida social e não apenas como tradicionalmente tem acontecido nos restringirmos às descrições informativas das conseqüências da degradação como conteúdo apontando unicamente soluções pela via tecnológica Partindo do pressuposto de que vivenciamos essa crise e que esta reflete as contradições da estrutura dominante desse modelo de sociedade e seus paradigmas acreditamos que para o enfrentamento da crise é imperativa a luta por fortalecer um projeto de educação capaz de contribuir com o processo de transformações da realidade socioambiental em suas intervenções educativas A proposta que nos movimenta é de uma educação ambiental crítica que compreende a sociedade numa perspectiva com plexa em que cada uma de suas partes indivíduos influencia o todo sociedade mas ao mesmo tempo a sociedade os padrões sociais influenciam os indivíduos Portanto para haver transformações significativas não bastam apenas mudanças individuais partes mas necessitamse também mudanças recíprocas na sociedade todo Isso para que haja nas duas situações indivíduo e sociedade ampliação das possibilidades de transformações potencializando mudanças de curso e criando opções a um caminho único predeterminado por uma proposta dominante de sociedade e seu modelo de desenvolvimento Nessa relação dialéticadialógica entre indivíduo e a vida social é que se constrói o processo de uma educação política que forma indivíduos como atores sujeitos aptos a atuarem coletivamente no processo de transformações sociais em busca de uma nova sociedade ambientalmente sustentável Nesse processo eles se transformam também se educam se conscientizam Indivíduos que se trans formam atuando no processo de transformações sociais tudo ao mesmo tempo agora em uma abordagem que busca a relação miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 89 90 90 Para essa educação ambiental que acreditamos crítica os problemas socioambientais não são atividades fins conforme demonstra LAYRARGUES 1999 em que a solução se daria por mudanças comportamentais de cada indivíduo como normalmente se trata por exemplo o não jogar o lixo no chão Dessa forma os problemas ambientais podem se constituir em temas geradores que questionam e problematizam a realidade para compreendêla instrumentalizando para uma ação crítica de sujeitos em processo de conscientização Como no exemplo anterior do lixo no chão seria oportuno também questionar o porquê essa sociedade produz tanto lixo e disso promover toda uma discussão do seu modo de produção e consumo com as relações de poder que as permeiam e seus paradigmas para daí saber como agir Portanto de forma contrária à educação tradicional essa é uma educação voltada para uma açãoreflexiva coletiva para a relação interativa em que seu conteúdo está para além dos livros está na realidade socioambiental ultrapassando os muros das escolas É uma Educação política voltada para a intervenção social entendida como um ambiente educativo e que contribui para a transformação da sociedade em suas relações Essa é assim como nos disse Paulo Freire uma Pedagogia da Esperança capaz de construir utopias como sendo o inédito viável dos que acreditam e lutam individualmente e coletivamente pela possibilidade de um mundo melhor OLHANDO POR CIMA DO MURO O que falta no processo educativo para que venha este mundo melhor Um caminho percebido por esta perspectiva crítica é o da ampliação do ambiente educativo para além dos muros da escola superando a fragmentação e a dualidade que tradicional mente não se complementam entre educação formal escolar e nãoformal É o processo educativo de a escola estar integrada interagindo com os movimentos externos a ela presentes nas comunidades Isso se contextualiza no processo formativo das ações cotidianas de constituição da realidade próxima local na comunidade à qual a escola está inserida mas sem perder o sentido que esta realidade próxima é influenciada e influi na constituição da realidade global Nessa concepção entendese que a transformação de uma realidade se concretiza pela transformação de indivíduos que se conscientizam e portanto atuam na construção de novas práticas individuais e coletivas Não basta a pessoa estar informada para que a realidade se transforme até porque os indivíduos não estão isolados na sociedade nós somos na maior parte das vezes condicionados por ela Portanto para que o indivíduo possa transformar seus valores hábitos e atitudes a sociedade também precisa ser transformada em seus valores e práticas sociais O processo de transformação da sociedade não se dá pela soma de indivíduos transformados pois muitas vezes os indivíduos não podem se transformar plenamente devido a condicionantes sociais mas pela transformação ao mesmo tempo dos indivíduos e da sociedade miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 90 91 No processo o educando deve ser estimulado a uma reflexão crítica para se transformar individualmente e ao mesmo tempo subsidiar uma prática que busque intencional e coletivamente transformar a sociedade Esse processo de conscientização se dá por intermédio de uma formação cidadã comprometida com o exercício do enfrentamento das questões socioambientais da atualidade Esse exercício por meio de intervenções educativas se contextualiza para além dos muros das escolas já que na interação com sua comunidade pode se aplicando criticamente os conhecimentos acumulados conteúdos curriculares produzir uma interpretação da realidade vivida localglobal e que nesse processo de experienciação que envolve o saber sentir e fazer individual e coletivamente promove uma reformulação do que é esta realidade e como ela se constitui gerando assim a construção de um novo conhecimento alimentador de novas práticas que promovem transformações Para tanto é desejável a criação por nós educadores de um ambiente educativo que propicie a oportunidade de conhecer sen tir experimentar ou seja vivenciar aspectos outros aos que predominam na constituição da atual realidade socioambiental Isso poderá potencializar uma prática diferenciada que pelo incentivo à ação cidadã em sua dimensão política repercuta em novas práticas sociais voltadas para a sustentabilidade socioambiental Esse processo vivencial busca constituirse em um ambiente educativo em que o estímulo a uma reflexão crítica que leve a práticas diferenciadas estará na base de todas as atividades propostas Ou seja estimular a reflexão e a ação em sua complemen taridade como principal diretriz pedagógica Promover uma postura problematizadora diante dos fatos constituintes da realidade socioambiental Construir um ambiente educativo que vá além da transmissão de conhecimentos em um processo meramente descritivo e de caráter informativo superando uma perspectiva tradicional de educação Propiciar um ambiente educativo de cons trução de novos conhecimentos e saberes que passa por um processo pedagógico que explore tanto os aspectos cognitivos quanto os afetivos e incentive práticas ambientalmente sustentáveis Vivenciar experiências referenciadas em novos paradigmas em consonância com os princípios da sustentabilidade socioambiental que potencializem o surgimento de novos valores e atitudes individuais e coletivas geradoras de práticas sociais transformadas e transformadoras Acreditamos que uma educação ambiental capaz de contribuir no enfrentamento da crise socioambiental que vivenciamos é aquela que faz do ambiente educativo espaços de participação em que a aprendizagem se dá em um processo de construção de conhecimentos vivenciais que experiencie ações que tenham a intencionalidade como uma ação política de intervir na realidade transformandoa Criarmos essa possibilidade é percebermos as brechas que se apresentam sob uma estrutura dominante pouco aberta a uma educação ativa embasada pelo princípio participativo Buscarmos como educadores incentivar a participação individual miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 91 92 92 e coletiva é criarmos espaço de manifestação do exercício de cidadania em seu sentido pleno Isso não se realiza plenamente se estivermos restritos ao espaço interno da escola onde o que se diz e se faz não está conectado com a realidade vivida em que tradicionalmente se reduz a possibilidade educativa a uma perspectiva conteudista de transmissão de conhecimentos como uma finalidade em si As ações de educadores ambientais devem propor a criação e promover a ocupação de espaços possíveis onde os princípios participativos possam se expressar na perspectiva construtivista de novos saberes e práticas que estimulem a organização coletiva e espaços colaborativos de ruptura da armadilha paradigmática Como por exemplo a construção participativa do projeto político pedagógico da escola a constituição de grêmios estudantis associações de pais e mestres conselhos escolarescomunidade COMVIDAS19 implantação de agendas 21 escolares e comunitárias A construção desses espaços já se constitui em si em ação educativa para a educação ambiental já que propicia a articulação de um movimento coletivo em que trazendo as questões socioambientais como temas geradores se problematiza a realidade remetendo a uma reflexão e um desvelamento do que se apresenta alimentando uma ação crítica porque consciente e com a intenção de mudar a realidade em um processo de cons trução da sustentabilidade socioambiental Isso que aqui se divisa seria como exemplo levar as ações de coleta seletiva para além dos latões de separação de lixo dos pátios das escolas motivadas por trocas materiais de ventiladores computadores etc mas motivadas pelo sentido de um proble ma vivido na realidade local e global transformar isso em um assunto de debate em toda a escola procurando desvelar as razões profundas que levam os resíduos a serem um grande problema na comunidade e em nossa sociedade contextualizando o conhecimento nas abordagens das diferentes disciplinas escolares Porém mais do que isso é levar essa reflexão para uma ação coletiva planejada e decidida em espaços coletivos de participação que proponha formas de intervir na realidade para enfrentar esse problema Esse processo não é espontâneo pois é fazer diferente é romper com a armadilha paradigmática requer uma intenção em querer mudar É uma ação crítica política e consciente de transformação de uma realidade que está em crise É perceber a crise em seu sentido complexo de perigo e oportunidade ao mesmo tempo Trazer a realidade de fora da escola para dentro e retornando com ações educativas na comunidade é o pressuposto de uma abordagem relacional Todo esse processo é um ambiente educativo propício para o desenvolvimento de uma educação ambiental em seu caráter crítico que se inicia na escola mas se realiza para além de seus muros 19 Para mais informações ver o artigo Pensando sobre a geração do futuro no presente jovem educa jovem COMVIDAS e Conferência miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 92 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE P Pedagogia da esperança Rio de Janeiro Paz e Terra 1992 GUIMARÃES M A Formação do educador ambiental Campinas Papirus 2004 MORIN E Ciência com consciência Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1997 LAYRARGUES P P A resolução de problemas ambientais locais deve ser um temagerador ou a atividadefim da educação Ambiental In REIGOTA M Org Verde cotidiano meio ambiente em discussão Rio de Janeiro DPA 1999 VEIGA A AMORIM E BLANCO M Um retrato da presença da educação ambiental no ensino fundamental brasileiro o percurso de um processo acelerado de expansão Brasília Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira 2005 Disponível em httpwwwpublicacoesinepgovbrarquivos8A3C33D717734DA7BB364F5377F280ABMIOLOTEXTO20 DISCUSSÃO2021pdf PARA SABER MAIS GADOTTI M Pedagogia da terra São Paulo Petrópolis 2000 GUIMARÃES M Armadilha paradigmática na educação ambiental In LOUREIRO C F B LAYRARGUES P P CASTRO R S Orgs Pensamento complexo dialética e educação ambiental São Paulo Cortez 2006 Educação ambiental no consenso um embate Campinas Papirus 2000 LIXOCOMBR Disponível em httpwwwlixocombr Um site sobre lixo e consumo respon sável com enfoque social econômico e ambiental HORTA VIVA Disponível em httpwwwhortavivacombr Voltado para a comunidade escolar o site oferece informações sobre conceitos e práticas ambientais especialmente sobre a criação de hortas escolares valorizando conhecimentos tradicionais populares e de natureza científica e tecnológica RECICLOTECA Disponível em httpwwwreciclotecaorgbr Centro de informações sobre reciclagem e meio ambiente O site oferece informações sobre as questões ambientais com ênfase da redução no reaproveitamento e na reciclagem do lixo ARTIGOS RELACIONADOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA CON TRIBUIÇÕES E DESAFIOS ENTRE CAMELOS E GALINHAS UMA DISCUSSÃO ACERCA DA VIDA NA ESCOLA PENSANDO EM COLETIVOS PENSANDO NO COLETIVO DO ÔNIBUS ÀS REDES SOCIAIS miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 93 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 94 Educação ambiental nos projetos transversais Denise S Baena Segura DISCUTEMSE CARACTERÍSTICAS DA PRÁTICA EDUCATIVA BASEADA EM PROJETOS TRANSVERSAIS OS QUAIS SE ORIENTAM PELA NECESSIDADE DE APROXIMAR O CONHECIMENTO ACUMULADO PELAS DIVERSAS DISCIPLINAS E SABERES AO COTI DIANO DE EDUCADORES E EDUCANDOS A FIM DE CONSOLIDAR O PENSAMENTO CRÍTICO E INTEGRADOR DOS VÁRIOS ELEMENTOS QUE DEFINEM AS QUESTÕES AMBIENTAIS ASSIM COMO DESENCADEAR AÇÕES TRANSFORMADORAS EM DIREÇÃO À SUSTENTABILIDADE PALAVRASCHAVE CONHECIMENTO TRANSVERSALIDADE DIÁLOGO INTENCIONALIDADE INTERDE PENDÊNCIA miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 95 96 96 O QUE CARACTERIZA UM PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Educação ambiental não é uma área de conhecimento e atuação isolada Ao contrário o contexto em que surgiu deixa claro seu propósito de formar agentes capazes de compreender a interdependência dos vários elementos que compõem a cadeia de sustentação da vida as relações de causa e efeito da intervenção humana nessa cadeia de engajarse na prevenção e solução de problemas socioambientais e de criar formas de existência mais justas e sintonizadas com o equilíbrio do planeta Dessa maneira a educação ambiental sustentase na busca da conexão permanente entre as questões culturais políticas econômicas sociais religiosas estéticas e outras determinantes para nossa relação com o ambiente Sua proposta é ampliar o entendimento e integrar ações e não reduzir o foco criar mais uma divisão no conhecimento como ainda percebemos em alguns projetos Reconhecer a interdependência dos diversos elementos que compõem a realidade e que a apreensão desse todo implica uma comunicação profunda entre os diversos saberes científico e suas várias áreas cultural e vivencial das pessoas é a base con ceitual para tratarmos da transversalidade da temática ambiental Estamos falando então em aprender sobre a realidade e comna realidade ou seja sobre as questões da vida cotidiana sobre como o conhecimento ilumina a realidade de sentido Quando pensamos na escola pensamos em disciplinas em currículo Aí talvez a principal pergunta deva ser como os con teúdos curriculares tratam da realidade e não como inserir a temática ambiental nos conteúdos curriculares Nosso desafio como educadores é romper a miopia das disciplinas e construir o mosaico de conhecimentos para ver a paisagem inteira20 Reconhecemos porém que nesse panorama se alastram as incertezas metodológicas pois nossa formação escolar acadêmica e profissional tradicionalmente não insere esta visão como trabalhar transversalmente sem cair num abismo de possibilidades Quais são as situações didáticas que melhor compartilham e não sobrepõem conceitos Sabemos realmente discernir sobre o que ocorre a nossa volta e trazer essa discussão para a escola 20 Quando tive que auxiliar meu filho de nove anos em sua tarefa de casa sobre características dos solos metamórfico sedimentar etc me lembrei de que só fui entender o que signifi cavam essas definições quando tive oportunidade de organizar estudos do meio em que o conhecimento da formação geológica era fundamental para entender a ocupação do espaço e suas implicações concretas Assim abordado como conteúdo do livro didático sem nenhuma relação com a realidade passa a ser mais um assunto com que temos contato mas sem saber muito o porquê miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 96 97 Partindo da idéia defendida por Brandão 1997 de que o conhecimento só tem sentido se valorizar a vida temse aí o elemento decisivo para estabelecermos qual é a relação com o conhecimento que a educação ambiental quer encampar Articulando essa fundamentação conceitual com a prática pedagógica cabe fazer algumas considerações prévias a complexidade não deve inviabilizar a ação Na verdade o conceito de complexidade que tanto ouvimos atualmente está mais ligado à maneira de como entendemos o mundo os vários desafios que o movimentam e se interrelacionam criando sempre novos contextos e não como sinônimo de complicado confuso aquilo que dificulta nossa organização em propostas coletivas a transversalidade pressupõe disposição para o diálogo e a troca Se a busca da autonomia capacidade de assumir uma presença consciente no mundo FREIRE 1996 na educação é um objetivo a ser perseguido ele tem que ser entendido no contexto da construção da coletividade do diálogo e da troca justamente porque não vivemos isolados uns dos outros Então qual é a contribuição do meu saber e da minha experiência para um projeto para a coletividade A troca de saberes implica autoreflexão conhecerse como portador de opiniões e percepções e comuni cação permanente difundir leituras diferenciadas BRANDÃO 1997 evitar a ilusão pedagógica É necessário ter clareza acerca dos limites da escola como propulsora de projetos de transformação socioambiental A educação ambiental no âmbito escolar ou fora dele compõe um conjunto de ações21 que visam a melhoria da qualidade de vida Quando somente se esperam grandes mudanças a partir de projetos pedagógicos não se valorizam os avanços possíveis fundamentais para consolidar a confiança no processo de transformação gradual e contínuo o conhecimento não pode ser negligenciado O rigor com os conceitos e a transparência ao problematizar as questões ambientais é uma das medidas de coerência nas inter venções educativas No entanto a busca do conhecimento não é uma tarefa estéril tampouco neutra Se enfrentamos tantos 21 Somente considerando a área ambiental temse a legislação o licenciamento de atividades produtivas o aparato de fiscalização as tecnologias limpas a pesquisa as macro e micropo líticas voltadas à sustentabilidade socioambiental entre outras miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 97 98 98 cenários sombrios hoje certamente não é por falta de conhecimentoinformação mas resultado de escolhas ideológicas isto é de entendimentos acerca da nossa relação com o ambiente como vivemos em que tipo de habitação vivemos o que e quanto consumimos onde jogamos nossos restos como negociamos com nossos pares construímos relações democráticas efetivamente COMO TRABALHAR A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS PROJETOS JÁ EXISTENTES Qualquer que seja o projeto educativo é possível incluir a questão socioambiental desde que haja a intenção clara de reco nhecer a interdependência dos fenômenos que configuram a realidade descobrir caminhos coletivos para melhorar a qualidade de vida e traçar estratégias educativas de comunicação de propósitos sustentáveis Dados do Censo Escolar 2004 VEIGA et al 2005 22 indicam que 94 das escolas do ensino fundamental têm atividades de educação ambiental portanto a temática ambiental se universalizou nas escolas No entanto o mesmo levantamento aponta que essas ações quase sempre são desenvolvidas fora do projeto pedagógico da escola Podemos dizer que a dinâmica escolar ainda estimula pouco a participação e cria raras situações em que se compartilha a formulação de projetos isto é situações didáticas em que é necessário articular conteúdos e estratégias em função de objetivos comuns Considerando que não há modelo único para a ação educativa ambiental pois ela é forjada em seu contexto nem há ordem de prioridade para tratar questões como recursos hídricos resíduos sólidos consumo poluição do ar etc senão como resultado da percepção de cada realidade sugerimos alguns parâmetros para constituir a arquitetura de projetos educativos um instrumento vital para organizar idéias 1 MAPEAMENTO Em que cenário atuo panorama social político ambiental econômico cultural Quais são os assuntos de maior interesse para o público com o qual atuo mapear prioridadesafinidades locais 22 Mais informações no artigo Um olhar sobre a educação ambiental nas escolas considerações iniciais sobre os resultados do projeto O que fazem as escolas que dizem que fazem edu cação ambiental miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 98 99 Quais são as temáticas que permitem compreender a dinâmica de ocupação do espaço local extrair dados de diagnósticos ambientais e socioeconômicos para justificar a ação Quais são os interesses dos grupos locais 2 ARTICULAÇÃO Quais são as possibilidades de integração com outras áreas do conhecimento Quais são os conceitos fundamentais que tenho que considerar para problematizar e sistematizar as discussões Suportes e formatos menos usuais na escola podem compor projetos que articulam conceitos sob diferentes olhares como mostras fotográficas espetáculos teatrais e musicais oficinas ciclos de vídeos artes plásticas campanhas mutirões diálogos com a comunidade e outras iniciativas Continuidade do processo educativo é possível projetarse em parcerias para além dos muros da escola O envolvimento da comunidade pode iniciar pelas famílias dos alunos 3 COMUNICAÇÃO PERMANENTE Garantir maior visibilidade e repercussão da ação educativa sensibilizar informar implicar envolver as pessoas no trabalho Orientarse pelo entendimento crítico sobre o sentido do que se faz por que se faz e para quê contextualizar a importância da ação para os envolvidos 4 REGISTRO Tem o significado de sistematizar a trajetória metodológica dos projetos seus objetivos o contexto em que foram formulados e realizados os atores envolvidos e a avaliação o que não deu certo e o que precisa melhorar O registro é fundamental para sedimentar a ação educativa e criar referências Esse conjunto de ações pensado não isoladamente no âmbito de uma disciplina pode criar bases para um modo de estreitar a relação da escola com o conjunto da sociedade inserindo o conhecimento na dinâmica vivida fora da sala de aula Afinal o que miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 99 100 100 faz a educação um parâmetro para a qualidade de vida é o fato de que ela promove o processo permanente de entendimento e comunicação com a vida A possibilidade de sermos bemsucedidos nessa tarefa depende muito da nossa capacidade de sermos categóricos para convencer o coletivo sobre a necessidade de mudança E isso significa identificar um propósito para cada ação e tecer a rede de significados que as articulam em função de um objetivo comum Essa é a trama da educação Mas de que repertório necessito para costurar essa rede Realmente o panorama do conhecimento humano é imenso e as possibilidades de difusão desse conhecimento também Nesse sentido a transdisciplinaridade apresentase como a possibilidade de diálogo entre os campos do saber e como forma de cooperação recíproca entre as várias disciplinas o que significa dizer entre pessoas Assumir esse referencial implica pois não hierarquizar as áreas do conhecimento isto é significa adotar uma postura crítica porém integradora À transversalidade da temática ambiental na educação vieram somarse ainda outros aspectos para a discussão sobre inter e transdisciplinaridade mesmo compondo ações integradas as disciplinas ainda têm pouca entrada na vida cotidiana Dessa maneira a intenção dos Parâmetros Curriculares Nacionais em sua origem foi estimular o engajamento da escola do seu projeto políticopedagógico com as questões do seu tempo conectando conceitos teóricos à realidade cotidiana essência da educação para a cidadania Vista nesse contexto a educação ambiental além de carregar consigo a utopia do mundo sustentável que a distingue propõe se a desenvolver capacidades de interpretação da realidade de análise crítica dos fenômenos e de explicitação de toda essa rede de interrelações com a intenção não de criar um emaranhado insolúvel de questões e provocar angústias coletivas mas de identificar caminhos possíveis para a construção de experiências de vida sustentáveis miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 100 101 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDÃOC R O ambiente o sentimento e o pensamento dez rascunhos de idéias para pensar as relações entre eles e o trabalho do educador ambiental In IV FÓRUM DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Cadernos do IV Fórum Rio de Janeiro Associação Projeto Roda Viva Instituto Ecoar para a Cidadania Instituto Estudos Econômicos 1997 BRASIL Ministério da Educação Secretaria de Educação Fundamental Parâmetros Curriculares Nacionais meio ambiente saúde Brasília MEC Secretaria de Educação Fundamental 1997 Disponível em httpportalmecgovbrsebindexphpoptioncontenttaskviewid557 FREIRE P Pedagogia da autonomia São Paulo Paz e Terra 1996 VEIGA A AMORIM E BLANCO M Um Retrato da presença da educação ambiental no ensino fundamental brasileiro o percurso de um processo acelerado de expansão Brasília Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira 2005 Disponível em httpwww publicacoesinepgovbrarquivos8A3C33D717734DA7BB364F5377F280ABMIOLOTEXTO 20DISCUSSÃO2021pdf PARA SABER MAIS FERRARO JUNIOR LA Org Encontros e caminhos formação de educadores ambientais e coletivos educadores Brasília MMA Diretoria de Educação Ambiental 2005 358 p Disponível em httpwwwmmagovbrportsdieaogpogarqsencontrospdf SATO M CARVALHO IC M Org Educação ambiental pesquisa e desafios Porto Alegre Artmed 2005 SEGURA D SB Educação ambiental na escola pública da curiosidade ingênua à consciência crítica São Paulo Annablume Fapesp 2001 ARTIGOS RELACIONADOS ENTRE CAMELOS E GALINHAS UMA DISCUSSÃO ACERCA DA VIDA NA ESCOLA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARTICIPAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA EDUCAÇÃO AMBIENTAL SER OU NÃO SER UMA DISCIPLINA ESSA É A PRINCIPAL QUESTÃO miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 101 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 102 Educação ambiental ser ou não ser uma disciplina essa é a principal questão Haydée Torres de Oliveira DESTACANDO ALGUMAS NEBULOSAS TENSÕES E DISPUTAS NO CAMPO DA EDU CAÇÃO AMBIENTAL O TEXTO ABORDA QUESTÕES CONSIDERADAS RELEVANTES PARA A AMBIENTALIZAÇÃO ESCOLAR A PERGUNTA CONTIDA NO TÍTULO REMETE A UMA DÚVIDA SERIA FALSO O CONSENSO EM TORNO DA PROPOSTA OBRI GATÓRIA POR LEI DE INSERIR A DIMENSÃO AMBIENTAL NA ESCOLA DE FORMA TRANSVERSAL E INTERDISCIPLINAR OU O FOCO DA QUESTÃO SERIA OUTRO PALAVRASCHAVE DISCIPLINA CURRÍCULO ESCOLAR TRANSVERSALIDADE INTERDISCIPLINARI DADE FORMAÇÃO DE PROFESSORESAS miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 103 104 104 PONTO DE PARTIDA NEBULOSAS À VISTA Partimos do princípio de que há um consenso em torno da importância e premência de educar ambientalmente nossas comu nidades escolares o que requer de nós tanto uma formação ambiental como cidadãs e cidadãos e também uma formação profissional que nos capacite para atuar na escola Se a educação ambiental é importante e contamos com amparo legal desde a Constituição Federal de 1988 até leis bastante específicas que definem a obrigatoriedade dessa formação a pergunta seguinte seria como fazer isso Ou mais como isso vem sendo feito e como sua implementação efetiva tem sido proposta Parece haver um consenso também em torno da idéia de que a educação ambiental não deve ser uma disciplina Há autores que afirmam por exemplo que diante da multidimensionalidade e da complexidade da temática ambiental ninguém mais se atreve a propor a educação ambiental como mais uma disciplina do currículo escolar e muito menos a imaginála sendo desen volvida por um único professor FRACALANZA 2004 p 72 No entanto o que percebo é que esse consenso existe entre pes soas ligadas à área seja pela militância ambientalista seja academicamente Entre pessoas com pouco contato com a área e muitas vezes esse é o caso da professora e do professor a dúvida ainda persiste a ponto de num evento nacional de educação ambiental recente V FÓRUM BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL GOIÂNIA 2004 durante uma exposição uma pessoa da platéia ousou perguntar por que a educação ambiental não poderia ser uma disciplina e foi fortemente vaiada Um colega pesquisador e militante foi ao microfone para fazer uma defesa da liberdade de expor livremente as idéias dúvidas e tensões que são muitas neste campo E essa é uma delas Gostaria então de apresentar neste texto uma série de indagações que são fruto das nossas tentativas de criar e experimentar estratégias para ambientalizar a educação a escola as comunidades e que invariavelmente passam pela questão de onde e como inserir a dimensão ambiental na formação em cada nível de ensino A oferta de uma disciplina no currículo dos anos finais do ensino fundamental nomeada educação ambiental exigiria que tipo de profissional Com qual formação básica Quais seriam os conteúdos conceituais considerados pertencentes a essa disci plina e que seriam essenciais para uma interpretação dos problemas socioambientais contemporâneos Que outros conteúdos deveriam ser considerados no processo Caberia ainda nos perguntar há pressupostos comuns para toda e qualquer experiência em educação ambiental Haveria uma lista de indicadores para reconhecer a educação ambiental sob uma perspectiva crítica e emancipatória Mas que perspectiva é essa De que educação ambiental estamos falando miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 104 105 Vamos enunciar alguns dos elementos que marcam a abordagem transformadora e emancipatória de educação ambiental para indicar de que lugar estamos falando Estamos falando de uma educação ambiental que não seja conteudística centrada na trans missão de informações sobre o meio ambiente que não seja normativa isto é aquela que procura ditar regras de comportamentos a serem seguidos sem rever os valores nem refletir sobre nossa ação no mundo Assim acreditamos numa educação ambiental que promova a reflexão na ação entendida como práxis educativa e que nos permita identificar problemas e conflitos relativos às nossas ações e à nossa própria presença no planeta condicionada por nossa forma de pensar nossos valores nosso tempo histórico nossa cultura etc e que reflete igualmente nossas escolhas cotidianas como produtores e consumidores de bens e serviços Precisamos lembrar ainda que todas essas relações no nosso caso se dão num sistema econômicoideológico de acumulação de bens e de capitais de exploração dos bens naturais e também da exploração de grandes grupos de seres humanos por outros grupos bem menores numa relação que gera degradação ambiental desigualdades e profundas injustiças JOGANDO UM POUCO DE LUZ NA PENUMBRA Partimos do princípio de que ter clareza sobre um problema amplia as possibilidades de pensar soluções para enfrentálo Entre membros da comunidade escolar é bastante recorrente ainda a pergunta mas por que a educação ambiental não pode ser uma disciplina Muitas vezes o silêncio sobre o assunto vem de uma aceitação irrefletida por parte de muitas pessoas como se a questão estivesse resolvida pelo fato de acreditarmos que este é melhor caminho ou simplesmente porque a lei diz que não deve ser uma disciplina Como mencionamos anteriormente já presenciamos situações em que contradizendo o próprio discurso de uma educação ambiental que promove o respeito pelo outro procurando estabelecer um campo de diálogo efetivo entre os modos de ver as coisas algumas pessoas desrespeitosamente ridicularizam publicamente aquelas que ainda ousam perguntar Poderíamos então abordar a questão com outra pergunta que julgamos pertinente quais significados dúvidas e desejos podem ser depreendidos dessa pergunta Por que não uma disciplina de educação ambiental na escola Um argumento bastante utilizado para defender a nãocriação de uma disciplina é a suposição de que havendo um profissional na escola dedicado ao assunto os outros professores não se envolveriam com a questão Por um lado acredito haver uma sensação de insegurança doa professora gerada pela sua formação específica que não contempla obviamente os amplos aspectos da temática ambiental Além disso temos poucas oportunidades de participar de processos formativosreflexivos que coloquem em pauta valores e procedimentos envolvidos na ação de educar Temos aí a miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 105 106 106 constatação da fragilidade da formação de professores para atuarem nessa área o que é responsabilidade tanto dos centros onde se dá a formação profissional dependente de sua política institucional e das iniciativas de seu corpo docente como das instâncias de governo responsáveis pela elaboração de políticas públicas para a formação de professores É importante também distinguir o que seria uma disciplina no campo vasto do conhecimento científico e o que seria uma disciplina no âmbito do currículo escolar Não se tem notícia de nenhuma reivindicação de que a educação ambiental seja uma disciplina científica Quando ouvimos ou falamos da educação ambiental como disciplina estamos sempre nos referindo a uma disciplina no currículo escolar O desejo de que haja um espaço específico para que essas questões inegavelmente importantes sejam tratadas reflete a busca por um espaço curricular próprio que forme um eixo capaz de reunir e articular o currículo e os elementos orientadores da ação do professor e da professora Parece que o desejo aí contido não é a criação de uma disciplina em si mesma mas sim o de encontrar uma alternativa que viabilize a inserção do ambiental no currículo pois esse é o modelo que conhecemos e ao qual estamos familiarizadasos Por outro lado existe uma dificuldade do professor em dedicar ainda mais tempo para a elaboração de atividades inerentes à introdução de inovações curriculares como por exemplo a pedagogia de projetos Essa limitação é um fato e dificulta que o pro fessor e a professora tomem para si mais essa tarefa A inadequação da sua formação somase ao trabalho a mais que significa inserir essa preocupação por conta própria na sua atuação profissional Além disso a organização e a gestão da escola bem como sua estrutura curricular recortada em disciplinas representam barreiras a serem amenizadas como mostram os dados da pesquisa apresentada nesta publicação Um olhar sobre a educação ambiental nas escolas considerações iniciais sobre os resultados do pro jeto O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental Portanto para pensar a inserção da dimensão ambiental na escola é fundamental considerar estas três esferas a organização e o funcionamento das escolas o currículo com suas metodologias e práticas de ensino desenvolvidas pelo professor e as estratégias para a formação inicial e continuada de professoresas para a atuação na área FRACALANZA 2004 É interessante observar que em outros países tanto da Europa como da América Latina os problemas dificuldades e esperanças são muito semelhantes No México no estado de Tabasco houve a produção de um guia didático de educação ambiental para escolas primárias visando um processo de aprendizagem autodidata que alcançasse milhares de estudantes e centenas de professores Experiência relatada por LOMELÍ RAMÓN 1999 Segundo esses autores o projeto estava orientado para a incorporação da dimensão ambiental e da concepção de desenvolvimento sustentável nos planos e programas de ensino da educação básica nos materiais miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 106 107 educativos e nos programas de formação de professores de forma sistemática por meio da disponibilização de informação científica do ensino e da divulgação dos problemas ambientais e de sua vinculação com as necessidades da comunidade Em Portugal as escolas básicas têm em seu currículo uma área de projetos na qual projetos integradores podem ser desen volvidos Já na Espanha o processo de desenvolvimento da educação ambiental foi bem diferente do vivenciado no Brasil pois foi desde cedo década de 1970 muito forte entre professores e professoras envolvidos com os movimentos de renovação pedagógica A inclusão do conceito de eixos transversais na reforma educativa ocorrida naquele país em meados da década de 1980 representou um aporte teórico inovador na teoria curricular contemporânea reforçando a perspectiva nãodisciplinar da educação ambiental GARCIAGOMEZ 2000 mas que contudo tem suas limitações do ponto de vista prático Esse modelo foi base para a construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais em 1997 que inclui a proposta de Temas Transversais entre eles o meio ambiente São considerados temas transversais os assuntos que fazem parte das discussões dos diferentes segmentos da sociedade e que levantam problemas cuja reflexão nos leva para além de um único campo do conhecimento É exatamente por isso que eles devem ser trabalhados por meio da interdisciplinaridade reunindose os suportes teóricos provenientes de diferentes disciplinas e campos do saber abandonandose uma perspectiva restrita para contemplar os fatos e fenômenos em contextos diversos de forma global Essa perspectiva integradora também está contemplada na experiência brasileira recente na proposta de formação de COM VIDAS23 nas escolas instituindo um processo de gestão ambiental das escolas integradas com suas comunidades de entorno e com uma perspectiva de formação continuada para professores Estabelecer parcerias com organizações nãogovernamentais ONGs com associações de bairro ou com o poder público local tem sido apontado como meio para ampliar a potência de ação da escola no tratamento dos problemas socioambientais locais A criação de comissões mistas nas escolas bem como de grupos de estudos e de ação socioambiental tem trazido para seussuas participantes um patamar mais elevado de compromisso e de possibilidades de ação nas comunidades escolares e no entorno das unidades escolares Não há dúvida de que é um grande passo propor a inserção da dimensão ambiental mais do que inserir a temática ambiental como um tema transversal no currículo com abordagem inter e transdisciplinar utilizando metodologia de projetos e de planos de ação coletiva junto da comunidade escolar conformando uma rede de saberes necessários para o enfrentamento da complexi dade e da urgência da transformação que almejamos No entanto as dificuldades continuarão a ser enormes se os dois outros âmbitos não forem mobilizados para esta enorme tarefa a organização e o funcionamento das escolas e a necessária formação ambiental dos professores e das professoras 23 Para mais informações ver o artigo Pensando sobre a geração do futuro no presente jovem educa jovem COMVIDAS e Conferência miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 107 108 108 A IMPOSSIBILIDADE DE ESTABELECER A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO CAMPO DISCIPLINAR PELA AMPLITUDE E DIVERSIDADE DE CONTEÚDOS E DE SABERES QUE PRESSUPÕE INTEGRAR A transversalidade da questão ambiental é justificada pelo fato de que seus conteúdos de caráter tanto conceituais conceitos fatos e princípios como procedimentais relacionados com os processos de produção e de ressignificação dos conhecimentos e também atitudinais valores normas e atitudes formam campos com determinadas características em comum não estão configu rados como áreas ou disciplinas podem ser abordados a partir de uma multiplicidade de áreas estão ligados ao conhecimento adquirido por meio da experiência com repercussão direta na vida cotidiana envolvem fundamentalmente procedimentos e atitudes cuja assimilação deve ser observada a longo prazo As características apresentadas nos ajudam a vislumbrar mais claramente a dificuldade de pensar uma disciplina no currículo ainda mais pela importância central que assumem os conteúdos procedimentais e atitudinais retirando a centralidade da questão dos conteúdos conceituais Se concordamos com isso verificamos que a possibilidade de atuação docente se amplia pois independente da sua própria disciplina eleela passa a pensar de maneira mais ampla integrada e sistêmica a escola e a vida nela em torno dela e para além dela Admitir essa possibilidade reforça ainda mais a responsabilidade que cada educador e cada educadora deve assumir na formação ambiental de estudantes e de toda a comunidade escolar Rever procedimentos e atitudes implicaria rever estratégias pedagógicas qualquer que seja a disciplina optando por aquelas que favorecem o desenvolvimento de valores como a cooperação a solidariedade o respeito a valorização da democracia nas relações professoraestudante entre outras abordagens Um aspecto interessante para pensarmos é o fato de que entre os docentes que hoje se dedicam à educação ambiental escolar a maioria tem formação inicial em ciências biológicas com uma perspectiva de educação ambiental em que o conteúdo ecológico é bastante marcante Entre os educadores e educadoras ambientais que atuam fora da escola ligadosas ao movimento ambien talista essa predominância ou não existe mais ou é menos marcada Além disso a própria participação no movimento social abre a perspectiva nãodisciplinar ou transdisciplinar marcada por uma prática de educação ambiental de cunho mais político e crítico Portanto é cada vez mais difundida uma visão da multidimensionalidade da questão ambiental e da complexidade que envolve a ação ambiental miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 108 109 Uma outra questão prioritária e que também é recorrente é relativa aos conteúdos conceituais essenciais para a educação ambiental Responder a essa pergunta envolve sempre um enorme risco dada a quase impossibilidade de delimitar onde começa e onde termina esse complexo campo da vida e do conhecimento contemporâneo Poderíamos tentar indicar alguns conhecimentos ambientais básicos provenientes das áreas de ecologia economia urbanismo geografia história filosofia sociologia etc funda mentos teóricopráticos da educação pedagogia psicologia didática avaliação da aprendizagem estratégias pedagógicas alter nativas como estudo do meio dinâmica de grupos trabalhos de campo técnicas de expressão e comunicação etc Mas invaria velmente surge sempre a lembrança da necessidade de incluir mais uma área ou disciplina ou ainda um outro tipo de saber A lista infindável de saberes e de conhecimentos requeridos ou passíveis de serem utilizados acessados ou produzidos nos leva a pensar que trabalhar na perspectiva da integração de conhecimentos entre áreas com base na ação de diferentes profissionais seja mais rico e viável do que pensar a formação de professoras e professores que tivessem domínio amplo dessa temática e dessa abordagem extremamente complexa cuja compreensão só pode ser aprofundada através do olhar integrado e solidário para um mesmo tema ou problema Revelase quase impossível portanto definir um campo bem delimitado dos conteúdos conceituais necessários para a compreensão da dimensão ambiental que pudessem estar reunidos sob a forma de uma disciplina escolar Desde a famosa Conferência de Educação Ambiental realizada em Tbilisi em 1977 já se difundia a opinião de que a educação ambiental não deveria ser uma disciplina no currículo escolar mas no corpo do documento gerado nessa importante reunião não há muitas referências mais sobre a interdisciplinaridade Apesar de haver um alto grau de concordância com essa perspectiva a prática nos mostra que é mais fácil aproximar conceitos idéias e informações sobre meio ambiente do que propriamente transformar a prática pedagógica e a forma de educar e de pensaratuar no mundo Em outras palavras temos ainda muito a pensar criar e ousar no campo instigante da educação ambiental QUESTÕES EM ABERTO Uma primeira questão que gostaria de provocar é referente à responsabilidade pelo processo de ambientalização da escola e das comunidades envolvidas a quem compete educar para sociedades sustentáveis Não se trata de uma questão relativa somente ao domínio de um determinado conteúdo mas da formação integral de estudantes visões de mundo cultura valores éticos e estéticos pensamento crítico empoderamento para a ação transformadora e emancipação são passíveis de serem abordados em diferentes espaços de produção de saber e de formação miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 109 110 110 No âmbito da formação profissional é preciso distinguir a especificidade da formação de professores É preciso então pensar na instrumentalização do professor na sua construção individualcoletiva de um saber ambiental que seja suficiente para pautar suas ações educativas e socioambientais tanto em direção à transformação das realidades consideradas desfavoráveis à sustentabilidade ambiental e à qualidade de vida e ambiental como um todo como da valorização das práticas sustentáveis existentes Será que as propostas de inserir a educação ambiental na forma de projetos interdisciplinares e integradores envolvendo tanto a comunidade escolar como outros segmentos ou setores da comunidade provocaria o engajamento de todos os professores e professoras no tratamento das questões ambientais nas suas disciplinas específicas Pode ser que sim Quando projetos dessa natureza são implementados na escola ainda que por um pequeno grupo de professores abrese um caminho para pensar a inserção da dimensão ambiental na escola A sistematização de experiências desse tipo pode permitir uma avaliação crítica e a indicação de novos caminhos a percorrer ou trilhas a serem novamente percorridas Poderíamos também nos perguntar estaria minimamente garantida a possibilidade de formação ambiental dos estudantes envolvidos na experiência Também acredito que sim Ainda que nem todos os professores e professoras participem dessas iniciativas algumas experiências mesmo quando restritas contribuem para fazer a diferença A sensação que temos é de que nos encontramos numa situação intermediária em suspenso entre esperar que a dimensão seja incorporada ou ressignificada nas práticas pedagógicas mas com poucas ações efetivas que favoreçam e possibilitem essa mudança seja na estruturação do currículo no funcionamento da escola ou na formação inicial e continuada de professoresas e a possibilidade efetiva de elaboração e implementação de projetos integrados cujos diferentes ensaios de como inserir a educação ambiental na escola pudessem ser feitos e avaliados Nas escolas secundárias espanholas além da manutenção da temática ambiental como um eixo transversal a educação ambiental foi instituída como uma disciplina optativa Essa iniciativa representa um esforço para assegurar a presença da educação ambiental pelas duas vias o que também expressa a existência de dúvidas sobre a efetividade de sua aplicação por meio da transversalidade e da interdisciplinaridade GARCIAGOMEZ 2000 Explicitados alguns dos obstáculos à ambientalização da escola e da sociedade vemos que a inserção da dimensão ambiental é obrigatória e considerada crucial mas a escola o currículo e o modo de ensinar pouco mudaram os cursos de formação profis sional mudam timidamente e as políticas públicas visando a inserção da educação ambiental são ainda limitadas diante da miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 110 111 dificuldade de atingir a enorme diversidade de contextos da escola brasileira a despeito da expansão acelerada da inserção da educação ambiental nas escolas conforme demonstrado no censo escolar de 2001 a 2004 veja VEIGA et al 2005 No entanto a esperança na prática da interdisciplinaridade e para além dela na perspectiva transversal e transdisciplinar da educação como saída para a integração das disciplinas de seus conteúdos e outros saberes assim como para desafiar as estruturas de poder na escola permanece sendo alimentada De qualquer maneira precisamos investigar e refletir mais sobre o caráter das iniciativas que vêm sendo implementadas nas escolas brasileiras o que poderá trazer ainda mais luz e inspiração para pensarmos estratégias de ambientalização da escola e da sociedade Cabe a nós também trabalhar para que as iniciativas no campo das políticas públicas comprometidas com a implementação das mudanças necessárias na formação inicial e continuada de professores e professoras e da introdução de inovação nos currículos escolares possam ser aceleradas para valorizar e manter as experiências bemsucedidas em curso reali zadas com criatividade e perseverança por muitas professoras e professores em muitos cantos do Brasil REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRACALANZA H As pesquisas sobre educação ambiental no Brasil e as escolas alguns comentários preliminares In TAGLIEBER J E GUERRA A F S Org Pesquisa em educação ambiental pensamentos e reflexões I Colóquio de Pesquisadores em Educação Ambiental Pelotas Ed Universitária UFPel 2004 p 5577 GARCIAGOMEZ J Modelo realidad y posibilidades de la transversalidad el caso de Valencia España Tópicos en Educación Ambiental México v 2 n 6 p 5362 2000 LOMELÍ M O C RAMÓN A L B La incorporación de la dimensión ambiental en la educación básica en Tabasco 19951999 Tópicos en Educación Ambiental México v 1 n 3 p 6773 1999 VEIGA A AMORIM E BLANCO M Um retrato da presença da educação ambiental no ensino fundamental brasileiro o per curso de um processo acelerado de expansão Brasília Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira 2005 Disponível em httpwwwpublicacoesinepgovbrarquivos8A3C33D717734DA7BB364F5377F280ABMIOLOTEXTO 20DISCUSSÃO2021pdf miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 111 112 112 PARA SABER MAIS ANDRADE D F Implementação da educação ambiental em escolas uma reflexão Revista Eletrônica Mestrado em Educação Ambiental Rio Grande v 4 outdez 2000 Disponível em httpwwwsfdfisfurgbrmearemeavol4danielhtm FERRARO JUNIOR L A Org Encontros e caminhos formação de educadoresas ambientais e coletivos educadores Brasília MMA Diretoria de Educação Ambiental 2005 358 p Dispo nível em httpwwwmmagovbrportsdieaogpogarqsencontrospdf GALLO S Transversalidade e educação pensando uma educação nãodisciplinar In ALVES N GARCIA RL O sentido da escola Rio de Janeiro DP A 1999 p 1741 MACHADO N J Conhecimento como rede a metáfora como paradigma e como processo In Epistemologia e didática as concepções de conhecimento e inteligência e a prática docente São Paulo Cortez 1995 p 117176 TRISTÃO M As dimensões e os desafios da educação ambiental na sociedade do conhecimento In RUSCHEINSKY A Org Educação ambiental abordagens múltiplas Porto Alegre Artmed 2002 p 169183 ARTIGOS RELACIONADOS UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS CONSIDERA ÇÕES INICIAIS SOBRE OS RESULTADOS DO PROJETO O QUE FAZEM AS ESCOLAS QUE DIZEM QUE FAZEM EDUCAÇÃO AMBIENTAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARTICIPAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS PROJETOS TRANSVERSAIS miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 112 113 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 113 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 114 A Escola Bosque e suas estruturas educadoras uma casa de educação ambiental Marilena Loureiro da Silva TRATA ESTE TRABALHO DA DISCUSSÃO DE ESTRUTURAS EDUCADORAS INSTALADAS NO COTIDIANO DA ESCOLA PARA DESENCADEAR AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NESSE SENTIDO SÃO APRESENTADOS PROJETOS DE ARTICULAÇÃO INTERCURRICULAR DESENVOLVIDOS NA FUNDAÇÃO ESCOLA BOSQUE UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PALAVRASCHAVE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PRÁTICA PEDAGÓGICA HORTAS RECICLAGEM miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 115 116 116 FALANDO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E DE SEUS SIGNIFICADOS PARA AS PRÁTI CAS ESCOLARES As escolas em sua profusão de experiências e práticas vêm sendo invadidas sucessivamente por uma infinidade de novas teorias e proposições pedagógicas ao longo dos últimos tempos todas preocupadas com a afirmação de práticas educativas para a formação de sujeitos plenos capazes de se relacionarem com a vida e suas exigências Muito tem sido dito das escolas de seus professores seus alunos sua forma de gestão e planejamento Até que ponto toda essa gama de questões tem atingido o cerne das formulações e práticas pedagógicas desses sujeitos tão estudados e ao mesmo tempo tão mal compreendidos os sujeitos da prática escolar Em termos de educação ambiental do mesmo modo são apresentadas muitas proposições teóricas muitos indicativos metodológicos No entanto uma pergunta ainda permanece sem resposta o que faz uma escola se constituir como lugar de educação ambiental Quais as marcas de sua diferenciação em relação às demais escolas As respostas a perguntas dessa natureza nos imporiam a construção de reflexões mais aprofundadas em torno da constituição de um novo pensamento educativo que pudesse ser refletido nas ações de educadores e seus educandos E como chegar ao pensamento de educadores e educandos para desvelar as orientações de suas práticas A cada tentativa de resposta verificase a emergência de mais e mais perguntas Primeira tentativa de resposta O que é educação ambiental É tão simplesmente a educação ressignificada banhada nas preocupações com a conservação da vida uma educação para a compreensão da vida em sua gama de complexidade Isso implica a revisão de conceitos e posturas significa superar a apatia diante dos problemas fundamentais da humanidade significa perceberse como parte desses problemas e como responsável pelas suas possíveis soluções num movimento solidário em relação às possibilidades de futuro A educação ambiental inserida nas práticas escolares pode significar portanto a inserção da escola e dos saberes que se processam em seu interior num movimento de análise e reflexão profunda do sentido de estar no mundo vendoo como potência e possibilidade Educação ambiental significa educar com a perspectiva da projeção da vida na vida e por ela Para tanto impõese uma escola capaz de se organizar através de diálogos com a realidade diálogos críticos e propositivos com base na autonomia de idéias e práticas que se entrelaçam permanentemente miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 116 117 A CONSTITUIÇÃO DA ESCOLA BOSQUE COMO CENTRO DE REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL UMA ESCOLA EDUCADORA A Escola Bosque nasceu sob o signo da educação ambiental nasceu de um diálogo entre os movimentos sociais da Ilha de Caratateua uma ilha nas proximidades da cidade de Belém no Pará e o poder público local Esse diálogo iniciou em 1993 sob os auspícios da divulgação das questões ambientais a partir dos rebatimentos públicos da Eco9224 Nesse momento o Conselho de representantes da Ilha de Caratateua Consilha apresentou à Secretaria de Educação do município de Belém a proposta de criação de uma escola voltada à conservação da natureza Isso se deu em função das preocupações do movimento com o futuro e a conservação dos recursos naturais da ilha para as presentes e futuras gerações Faziase alusão à construção do direito das populações das ilhas permanecerem em seus locais O ESPAÇO FÍSICO DA ESCOLA A estrutura física da Escola Bosque começou a ser construída de forma concomitante a sua proposta pedagógica Obedeceu a uma preocupação central com a adequação de linhas e estruturas ao sentido e significado das práticas educativas a serem realizadas Espaços circulares salas com formato octogonal ventiladas com iluminação natural facilitada laboratórios trilhas espaço para horta tudo pensado a partir de uma proposição pedagógica também circular e dialogal construída coletivamente num diálogo entre comunidade técnicos da Secretaria Municipal de Educação e instituições de ensino e pesquisa da região Uma escola concebida para ser um lugar pensante lugar onde a vida amazônica seria cenário cena e principal atriz lugar onde educação seria ambiental por excelência desde a educação infantil ensino fundamental e ensino médio profissionalizante formando o técnico em meio ambiente A PROPOSTA PEDAGÓGICA O trabalho pedagógico orientase pela adoção dos princípios da sustentabilidade desde sua origem em 199525 como pólo irradiador de práticas de educação ambiental Do ponto de vista pedagógico as ações educativas têm por base a adoção de princípios 24 Também conhecida como Rio 92 a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento reuniu 175 países em 1992 no Rio de Janeiro e consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável 25 A Fundação Escola Bosque foi inaugurada em abril de 1996 mas iniciou suas atividades educativas no segundo semestre de 1995 em caráter experimental miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 117 118 118 como a pesquisa como diálogo crítico e construtivo com a realidade a educação como estratégia fundamental para o desenvolvi mento humano sustentável a adoção dos pressupostos teóricos da educação para a sustentabilidade e sua tradução em nível prático Essa tradução dáse na seguinte articulação didáticopedagógica discussão das relações complexas entre sujeitos humanos sociedade natureza trabalho e cultura Todas as ações educativas realizadas na escola têm por base a inserção de análises quali ficadas em torno da problemática ambiental dirigindose ainda à construção de alternativas de soluções para esses problemas por meio da efetivação de projetos de articulação intercurricular A Escola Bosque respira os ares da educação ambiental e busca desenvolver por intermédio de sua organização pedagógica ações práticas que demonstrem as preocupações com a vida e sua conservação A sua opção teóricometodológica aponta para o diálogo entre saberes e fazeres voltados para a análise da realidade socioambiental A realização de uma proposta de educação ambiental envolve processos de construção e reconstrução de saberes entrecruzados Não basta professar uma opção teórica é necessário perceber a materialização dessa opção em termos de organização Uma escola com um currículo organizado a partir da educação ambiental precisa anunciar essa opção em suas rotinas e vivências cotidianas em suas formas de organização e desenvolvimento das práticas pedagógicas de sua proposta curricular enfim precisa demons trarse a partir de seu fazer cotidiano A trajetória da Escola Bosque se origina dessa busca permanente em torno da coerência entre os pressupostos teóricos e sua materialização ESPAÇOS E PROJETOS DE ARTICULAÇÃO INTERCURRICULAR Os projetos de articulação intercurricular em desenvolvimento na Escola Bosque são exemplos de como articular os pressupos tos teóricos e indicativos metodológicos da educação ambiental A seguir são apresentados apenas dois entre os 22 projetos em desenvolvimento A A HORTA DO CONHECIMENTO26 O Projeto Horta integra o projeto político pedagógico da Escola Bosque e vem se revelando um grande espaço pedagógico que propicia ao aluno vivências práticas e teóricas sobre educação ambiental A horta é um espaço pedagógico que como atividade 26 Este relato foi produzido a partir de documentos e relatórios gentilmente cedidos pela profª Diana Ferreira integrante da equipe do projeto a quem agradecemos miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 118 119 curricular possibilita ao educando conhecimentos teórico e prático fundamentais para a interação com o seu meio de forma lúdica e prática bem como favorece ao professor tecer teias curriculares no fazer pedagógico subsidiando o entrelaçar das áreas do co nhecimento bem como fortificar o elo escola e comunidade O projeto objetiva oportunizar a construção do conhecimento articulando currículo formal e educação ambiental desde a educação infantil ensino técnico e comunidade por meio de atividades em horticultura contribuindo assim para a reeducação alimentar São realizadas atividades como o semeio observação do processo de germinação o replantio colheita produções textuais em sala e no espaço da horta Essas atividades são amplamente discutidas em sala de aula através de debates e articulação de discussões dos conteúdos curriculares As práticas educativas realizadas na horta do conhecimento da Escola Bosque são constitutivas de uma nova racionalidade para as ações de educação ambiental superando antigas e cristalizadas concepções de separação entre teoria e prática bem como visões ecológicopreservacionistas de educação ambiental que insistem em apresentála como unicamente vinculada a uma lógica naturalista desprovida de preocupações com outros aspectos da vida humana B PROJETO RECICLAGEM CAMINHOS PARA SUSTENTABILIDADE27 O Projeto é realizado com o objetivo de envolver a comunidade escolar e do entorno na reflexão sobre os diferentes problemas ocasionados pela geração de lixo e sobre as possíveis soluções São realizadas atividades junto a toda a comunidade escolar para incentivar a redução do consumo a reutilização e a coleta seletiva do lixo produzido na escola e ainda propiciar geração de renda com material reciclado A metodologia envolve atividades como eleição dos guardiões ambientais os curupiras da Escola Bosque concurso de logo marca e slogan do projeto de reciclagem entre alunos cursos de educação ambiental para os educandos e a comunidade painéis mesasredondas excursões com alunos oficinas de experimentos físicos e matemáticos com materiais recicláveis distribuição de contêineres em vários espaços da escola para coleta seletiva de papel e plástico produção de papel reciclado para confecção de placas educativas lembretes murais cartazes pastas e outros produtos para exposição e arrecadação de fundos textos educa tivos peças teatrais teatros de fantoches peças educativas oficinas permanentes de reciclagem de papel 27 Este relato foi produzido a partir de documentos e relatórios gentilmente cedidos pelo Prof João Marcelo Silva integrante da equipe do projeto a quem agradecemos miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 119 120 120 DAS DIFICULDADES DA INSTALAÇÃO DE ESTRUTURAS EDUCADORAS A opção teórica explicitamente vinculada à tentativa de implementação de práticas de educação ambiental não se impõe magi camente a contextos de evidentes dificuldades em torno dessas práticas e das concepções que se encontram na base delas Falar da instalação de projetos como os que foram apresentados que tratam de uma nova organização curricular capaz de absorvêlos como eixos de articulação implica falar também nas dificuldades dessa instalação e nos desafios Uma grande dificuldade relacionase com as distorções produzidas pelos sujeitos da vida escolar em torno da necessidade de práticas educativas mais abertas para além dos espaços propriamente formalizados pela ação escolar Nem todos esses sujeitos compreendem que a escola que educa educa de maneira inteira desde a entrada na portaria até o banheiro passando pela cozinha pelos depósitos de lixo pela secretaria enfim a construção dessa visão de educação e de escola educadora impõe a revisão de posturas teóricas e de práticas pedagógicas já cristalizadas nos sujeitos Outra dificuldade referese à ausência de uma concepção mais aberta de currículo que precisaria estar plenamente partilhada por todos os sujeitos da ação escolar sob pena de artificialização dos processos instituídos para a articulação intercurricular o que implica a compreensão da necessidade do diálogo entre os saberes curriculares e nãocurriculares que se apresentam para o desen volvimento da ação pedagógica Existem outros problemas e dificuldades que vão desde a ausência de formação especializada na área de educação ambiental até a necessidade do atendimento às exigências de um sistema educacional que ainda não compreendeu a dinamicidade das práti cas de educação ambiental e insiste em enquadrálas em seus formalismos burocráticos ALGUMAS CONCLUSÕES AO MEIO DO CAMINHO As práticas educativas pautadas nas preocupações com a conservação da vida em sua gama de complexidades precisam estar em consonância com as formas de organização de seus espaços de aprendizagem Os exemplos apresentados a partir dos projetos de articulação intercurricular desenvolvidos pela Escola Bosque ilustram a necessidade de construir espaços escolares que possam se constituir como canais de articulação entre o fazer pedagógico para a problematização da realidade socioambiental e suas conseqüências em termos de organização do espaço e das estruturas escolares É um processo que obviamente não está isento de dificuldades de compreensão e conseqüentemente de operacionalização que no entanto no caso específico da Escola Bosque vêm sendo superadas com o trabalho coletivo miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 120 121 A escola que educa através de todos os seus espaços é uma escola que mobiliza toda a sua estrutura para a condução de fazeres pedagógicos que se ampliam dos espaços de sala de aula e adentram a alma da escola desde a forma como os alunos são recebidos no portão de entrada até a forma como cuida dos resíduos produzidos em seu interior As breves discussões aqui apresentadas tentaram demonstrar as possibilidades de instituir na escola novas formas de trabalho pedagógico que vinculado aos interesses dos educandos possa articular novos saberes e fazeres relacionados com a vida PARA SABER MAIS AUNDEZ A Org Educação desenvolvimento e cultura contradições teóricas e práticas São Paulo Cortez 1994 BRASIL Ministério da Educação A implantação da educação ambiental no Brasil Brasília MECSEF 1998 Disponível em httpwwwmecgovbrseeducacaoambientaleabra001shtm Panorama da educação ambiental no ensino fundamental Brasília MECSEF 2001 Disponível em httpportalmecgovbrsecadarquivospdfeducacaoambientalpanoramapdf Referenciais para a formação de professores Brasília MEC 1998 177 p FERREIRA D L Plantando e colhendo aprendizagem na horta do conhecimento projeto pedagógico próprio Belém Funbosque 2006 FUNDAÇÃO CENTRO DE REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL Escola Bosque Eidorfe Projeto Político Pedagógico Belém Funbosque 2005 GUIMARÃES R P Modernidade meio ambiente e ética um novo paradigma de desenvolvimento In UNAMAZ BRASIL Ministério do Meio Ambiente Secretaria de Coordenação da Amazônia Amazônia 21 uma agenda para um mundo sustentável Brasília Ed DMFUnB Congressos1998 LEFF E Saber ambiental sustentabilidade racionalidade complexidade poder Petrópolis Vozes 2001 LEONARDI M L A A educação ambiental como um dos instrumentos de superação da instabilidade atual In CAVALCANTE C Org Meio ambiente desenvolvimento sustentável e políticas públicas São Paulo Cortez 1999 SILVA J M et al Projeto reciclagem caminhos para a sustentabilidade Projeto de Articulação Intercurricular Belém Funbosque 2006 UNESCO Educação para futuro sustentável uma visão transdisciplinar para uma ação compartilhada Brasília Edições Ibama UNESCO 1999 Disponível em httpunesdocunescoorg images0011001106110686porbpdf ARTIGOS RELACIONADOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARTICIPAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS PROJETOS TRANSVERSAIS CIDADANIA E CONSUMO SUSTENTÁVEL NOSSAS ESCOLHAS EM AÇÕES CONJUNTAS miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 121 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 122 O caracol surrealista no teatro pedagógico da natureza Direção Michèle Sato 28 André Sarturi 29 Sinopse O CARACOL DE MANOEL DE BARROS É O PROTAGONISTA DESTA DRAMATURGIA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO DESAFIO DE ATUAR NA ARTE ELE FICOU NO DILEMA EM ESCOLHER ENTRE MÚSICAS POESIAS PINTURAS OU CINEMA MAS OPTOU PELO TEATRO PORQUE ESTE CLAMA SEMPRE POR UM COLETIVO EDU CADOR CAPAZ DE PROTAGONIZAR AS ESPERANÇAS ENTRETANTO MOLE EM SUA CASINHA BUSCOU TEMPERAR O TEATRO COM BOAS DOSES DE POESIA E OUTRAS PITADAS DA ARTE PALAVRASCHAVE TEATRO POÉTICA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 28 Agradece carinhosamente ao André pela cumplicidade nos diálogos construídos para o texto e também à Coordenação Geral de Educação AmbientalMEC pelo convite afetuoso que possibilitou a tessitura de mais um sonho 29 Agradece com carinho à Michèle pelo incentivo deste texto e também à Coordenação Geral de Educação AmbientalMEC pela oportunidade deste sonho miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 123 124 124 ATO I PRELÚDIO ENCOSTADO NA PORTA DA TARDE ESTAVA UM CARAMUJO ESTAVAS UM CARAMUJO DISSE O MENINO PORQUE A TARDE É OCA E NÃO PODE TER PORTA A PORTA ERAS ENTÃO É TUDO FAZ DE CONTA COMO ANTES MANOEL DE BARROS No mundo do faz de conta onde a imaginação é o centro das luzes o palco da educação ambiental se descortina Um pequeno foco de luz ilumina o Caracol nosso protagonista deste enredo o suficiente para mostrar seu rastro cintilante no palco esbran quiçado na gosma mole O caminho deste Caracol não é linear revela curvas pontos de paradas até retornos e voltas desenhando um ziguezague estonteante Seu gogo é macio de propósito pois sabe que quanto mais flexível for a passagem melhor será sua caminhada Manoel de Barros em seu poema Virgindade das Palavras acredita que o Caracol só sai de noite para passear procura paredes sujas para colocar sua gosma e se pastar mutuamente com a sujeira No devaneio surrealista Parede e Caracol usam de uma transubstanciação paredes emprestam seus musgos aos caramujosflores E os caramujosflores às paredes sua gosma BARROS 1990 p 15 Manoel faz emergir uma outra linguagem à educação ambiental nos risquinhos líquidos das lesmas as letras se fantasiam para poder dar vida à educação ambiental A tessitura da arte na educação ambiental pode ter vários caminhos Exploraríamos a musicalidade pedindo emprestada a sonoridade dos ventos o murmúrio dos rios o batimento de asas de pássaros ou as vozes ecoando no fundo sem saber exata mente de onde vêm os sons Poderíamos reivindicar uma arte mais popular de cordéis saraus e de literatura clandestina Entre uma tela e outra repousaríamos nas obras surrealistas de René Magritte já que privilegiando a mudança ética permite que tudo possa ser aproveitado no teatro da vida A hora da brincadeira poderia ser uma revisitação nas quadras da escola onde latinhas e garrafas jogadas podem adquirir formatos de brinquedos O que é bom pro lixo é bom pra poesia BARROS 2003 p 65 Nos dias de chuva seríamos movidos a ouvir seu canto observando as subidas dos Caracóis em paredes para se criar mais frases As celas da prisão que certas aulas impõem poderão ser libertadas de suas conchas e a casinha esvaziada poderá passear pelo sonho escorregadio Manoel ainda diria no poema Mundo Pequeno penso que na minha casca não tem bicho tem um silêncio feroz Gosma moleza e aversão a certos animais tornamse brincadeiras quando a palavra mágica é o teatro da escola A eleição do teatro entre tantas expressões artísticas recorre da ancoragem pessoal em acreditar que todo ser humano repre senta um movimento de promessas As diferenças se expressam e tornam visíveis no campo do ambiente e da cultura A arte aqui reivindicada quer apostar na metamorfose onde os pólos opostos nem sempre são contraditórios e que a inclusão social e a pro miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 124 125 teção ecológica são possíveis na guinada política que tece esperança para que o mundo seja mais socialmente inclusivo e ecologi camente mais protegido Lá onde o sol adormece o Caracol busca seu desejo de gosmar sobre a linguagem E ai daquele que acredita que o discurso poético não tem relação com a política O Caracol sabe que sua emergência estética possui uma cultura expressa pela sua própria vivência Escreve sua história em textos dando chance para que o teatro tenha uma linguagem etnográfica Na Declaração de Princípios da Associação Internacional do Teatro do Oprimido do grande teatrólogo Augusto Boal há três grandes elementos que perfazem o Teatro do Oprimido apropriados pelo nosso Caracol 1 um teatro subjetivo capaz de observar o efeito das ações sobre o meio exterior na coexistência entre ator e espectador na atenção dada à educação ambiental pela escola e como a comunidade percebe essa linguagem 2 um teatro objetivo na nossa capacidade inventiva de rearranjar espaços para novos cenários fazendo insurgir a educação ambiental no espaço da escola e 3 uma linguagem teatral cotidiana com vozes sons cenários e corpos em expressões de idéias desejos e vontades de mudanças para que a Terra seja realmente sustentável ATO II ENREDOS E TRAMAS EM CASA DE CARAMUJO ATÉ O SOL ENCARDE MANOEL DE BARROS Arte e educação são dois consensos na humanidade São dimensões intrínsecas da cultura que ora se alia e se estende ao ambiente permitindo uma janela surrealista para olhar o valor interno do ator ou da atriz as relações com a platéia e todos situados num mundo carregado de símbolos O teatro possibilita construir um universo em miniatura fazendo jogos de papéis e simulação da realidade global Essencialmente oferece criação e liberdade nos movimentos falas e escutas de quem ainda acredita no engenho pedagógico de realizar transformações e portanto um teatro político O Caracol mergulha no cheiro das manhãs e bebendo o frescor dos orvalhos ouve o canto dos insetos e se lambuza com a fruta proibida ofertada pelo cupido Eros Também permite que a estética incorpore a feiúra a loucura e o sofrimento à luta ecolo gista porque assume caos e conflitos como característicos de um próprio movimento dinâmico Acreditamos que a educação ambiental consiga ressignificar a cultura de um povo intrinsecamente conectada ao ambiente de várias regiões nesta imensidão verde e amarela chamada Brasil Nossa Terra é vasta e inúmeras temáticas podem ser escolhidas pelo grupo teatral A maioria das escolas opta pela coleta seletiva dos resíduos sólidos bem como oficinas de sucatas do lixo Embora as idéias sejam interessantes miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 125 126 126 o Caracol é exigente quer ir além do senso comum Por isso não tem a pretensão de salvar o planeta e compreende o ambiente como espaço de negociação tolerância e mediação pedagógica O Caracol reconhece o desafio ambiental e embora não tenha nenhuma fórmula mágica para resolver os dilemas ambientais protege a esperança no fundo de sua casinha No campo dessa luta entre paredes sujas e gosmas delicadas se colam ao desejo quase absurdo de mudar o curso da história O Caracol reconhece assim que a educação ambiental não é neutra mas é essencial mente política O predador do Caracol é um poderoso inimigo à espreita de seus rastros cintilantes Além disso ele também sabe que seus aliados que formam um coletivo educador possuem ideologias distintas No campo minado do poder o microcosmo simbólico pode dar aparição a colegas que não sejam tão parecidos com os ideários do Caracol Entretanto ainda que a capaci dade de amar esteja longe ele aprendeu que se trata de abrir novos roteiros na trama da vida Arriscase e ainda que com lentidão se aventura na vida buscando sua felicidade Inúmeras temáticas podem ser desfiadas pelas conchas do Caracol Entretanto ele recomenda que o resgate ao conhecimento popular seja mais considerado até porque a escola faz parte de um bairro que tem muita história para contar Aliando a educação escolarizada com a educação popular projetos ambientais escolares comunitários PAEC podem ser construídos através de mitos lendas causos e assombrações Fundada na tradição da história oral a mitologia transcende tempos e territórios e representa as aprendizagens de uma cultura não estagnada capaz de compreender os fenômenos do mundo Revestidos em fadas cantoras lobisomens serpentes gigantes ou seres de uma perna só nossos ecossistemas brasileiros também são protegidos por entes que se aliam à educação ambiental Manoel em Virgindade das Palavras diria que as coisas que não existem são mais bonitas Quais mitos narrados em sua região Entreviste seu avô ou uma moradora antiga do bairro para um causo que mantenha relação com a dimensão ambiental São pratos saborosos ao paladar do teatro criando diálogos nas asas da imaginação Os cenários e os figurinos sofrem metamorfoses constantes basta imaginação criatividade e bons temperos de paixão porque amar nunca foi ultrapassado sempre foi revolucionário Uma outra possibilidade é fazer teatro com poesias ou aproveitar simples frases de Manoel de Barros que possam dar o enredo de uma didática de invenção já que o nosso paladar de ler anda com tédio BARROS 1987 p8 É preciso dar outros sentidos às linguagens injetar metáforas enlouquecer verbos e delirar com as miríades do surrealismo Lagartixas têm odor verde Eu queria crescer pra passarinho Um sapo feneceu três borboletas de uma vez atrás de casa miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 126 127 Choveu de noite até encostar em mim O rio deve estar mais gordo Escutei um perfume de sol nas águas As árvores me começam Uma violeta me pensou Me encostei no azul de sua tarde A escola precisa oferecer possibilidades antes negadas O teatro é uma atividade entre outras que estimula a sensibilidade a criatividade e a inteligência Pode ser o caminho onde encontraremos a chance de reaprender a viver respeitando a vida social e biológica em diversos roteiros da dramaturgia escolar Ressignificar a educação ambiental no teatro é também transcender os limites das palavras aqui postas convidando para que cada ser vivo possa ser um teatro um diretor que dirige cenário ou uma figurinista que modela os trajes de uma peça uma atriz no palco ou um membro da platéia um teatrólogo que escreve histórias ou simplesmente uma ajudante de palco A magia da educação ambiental possibilita que as expressões vazem nossos sentidos tornandoos palatáveis quando ressignificamos a arte que pode mudar o mundo Vagarosamente então é hora do nosso Caracol entrar em cena ATO III LUZES PALCO AÇÃO OS MODOS ÁVIDOS DE UM CARACOL SUBIR A UMA PAREDE COM NÓDOAS DE IDADE E CHUVAS É COMO VIAJAR À NASCENTE DOS INSETOS MANOEL DE BARROS O Caracol quer ofertar uma oficina de teatro fugindo do engessamento e da tradicional aula careta para algo que possa ser revolucionário Em sua casinha guarda os livros que trazem ensinamentos de Michel Foucault A organização do espaço serial fez funcionar o espaço escolar como uma máquina de ensinar mas também de vigiar de hierarquizar de recompensar FOUCAULT 1987 p 134 Recusandose a ser mera máquina da inteligência cognitiva Homo sapiens o Caracol quer ser também o lúdico Homo ludens cujas relações interpessoais possam concretizar o teatro da subjetividade da objetividade e da linguagem Crítico e emancipado o Caracol quer independência autonomia participação e desejos de mudanças Afinal ele já nasceu com casa própria miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 127 128 128 Muitas propostas pedagógicas desfilaram no jardim mas em vez de serem flexíveis como a gosma do caracol elas vieram no intuito de remodelar o velho sistema Muitas escolas aderiram ao figurino decorando seus jardins bastante controlados como aquelas árvores cortadas em formas de figuras arredondadas ou até de bichos porque o ser humano tem necessidade de controlar até a natureza O desejo do Caracol é ir além do conhecimento pois ele reconhece que existem muitos saberes e que as ciências podem ser divertidas e gostosas Estimulado por uma pedagogia mais inteligente o Caracol quer construir seus conhecimentos com associação de suas próprias experiências Inventa brincadeiras por meio de talentos e recursos disponíveis dando asas à imagi nação no reino da fantasia Para além do ser bom temporariamente o Caracol prefere sonhar com o que ele possa vir a ser Na criação teatral proliferam afetos talentos reflexão e alegria como dimensões de poéticas pessoais Houve tempo de seca é bem verdade de chão duro difícil de ser caminhado com uma penosa aprendizagem Era como se as ventanias quisessem despedaçar a casa do Caracol e as chuvas obrigavamno a ficar fechado em sua concha Mas como no universo na casca de noz de Hamlet a poética shakespeariana possi bilitou também a sua liberdade Arrastandose vagarosamente em ziguezagues o Caracol encontrou seus colegas nos jardins de Epicuro A solidão pode ser desejada muitas vezes mas não há nada melhor que um coletivo educador de convivência com a alegria com a amorosidade e com boas doses de agitação Assim nasce uma curiosidade epistemológica que na linguagem simples do Caracol consiste numa aventura intelectual que não seja tão difícil mas essencialmente que estudar seja um dever revolucionário talvez exigente mas gostoso desde o começo FREIRE 1995 p 94 Na educação do teatro a subjetividade e a objetividade são duas linguagens em constante interação no ambiente Mas não é a diretora ou o teatrólogo que deve mandar o tempo inteiro Os desejos emoções e poéticas de cada ator e de cada atriz são temperos essenciais nesta pedagogia da liberdade Aqui vale a proposta da poética pessoal do Caracol que interligada com o exterior relacionase com a dinâmica da vivência coletiva num mundo de imersões expressões corporais liberdade de ação e altas doses de paixão O ensaio é fundamental mas a improvisação também favorece a criatividade e não há nada melhor que repre sentar uma peça com figurino consistente ao modelo de uma época Peças clássicas são importantes mas é preciso dizer o que foi dito e mesmo o que não foi dito de um modo nosso imediato direto que responda aos modos de sentir e que todo mundo compreenda ARTAUD 1999 p 93 Precisamos de algo para ressoar dentro de nós que reflita aquilo que somos e que dialogue com o mundo em que vivemos E o mundo não o é ele está sendo FREIRE 1995 Em muitas escolas temos crianças e adolescentes com diferentes ritmos de aprendizagens cognitivas Suas linguagens sejam escritas ou narradas esbarram como uma dificuldade de expressão A poética pessoal possibilita o uso da corporeidade e nela as miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 128 129 idéias mentais podem ter novos arranjos espaciais e a subjetividade de cada aprendiz possa também aliviar a dor de quem sofre por não ter aptidão de expressar seus sentimentos por vias comuns É como se a leitura do mundo não fosse realizada apenas por uma tela plana mas seus matizes possibilitassem uma expressão em três dimensões pois a aprendizagem pode ser realizada por várias entradas É uma obra de Auguste Rodin mestre da escultura cuja expressão opera no corpo dócil e hábil moldada pela flexibilidade da gosma do Caracol ainda que reserve a dureza de sua concha O Caracol necessita estar em contato consigo mesmo mas tocando os outros e também o mundo que ele habita Na poética pessoal o Caracol está situado em seu universo ele é portanto um sujeito historicamente situado e é sujeito de sua construção Os assuntos pessoais de cada membro desse coletivo necessitam portanto ser amarrados aos temas de interesse seja clássico mítico tradicional ou contemporâneo para que possamos colocar os assuntos pessoais em contato com o mundo Os pequenos dramas individuais são na verdade inerentes a toda forma de vida e portanto diz respeito a todos Simultaneamente os assuntos noticiados pela mídia ou comentados pelos colegas também nos tocam e por conseguinte precisamos dar um sentido a eles Artaud segundo Scheffler não mergulha em sua insanidade para uma busca mítica meramente metafísica mas busca o sujeito à realidade que o cerca Precisamos ressignificar o diálogo entre aquilo que está fora de nós mas que nos toca internamente Esses sentimentos que se internalizam em nós tocando o mundo recebem o nome de Pesquisa Interna e Pesquisa Externa Na oficina proposta pelo Caracol um dos meios encontrados para o teatro pedagógico é o uso de pequenos diários confec cionados pelo elenco de estudantes Nestes os participantes das oficinas devem escrever seus pensamentos registrar sonhos e lembrar situações vividas ou temas relacionados com filmes poemas livros ou qualquer informação que se relacione com o ambiente As narrativas emergidas nos cadernos serão utilizadas posteriormente como mote de invenção e também como interferência na encenação improvisada O material escrito serve especialmente para que o elenco entre em contato com aquilo que é sua verdadeira demanda interna e possa se diferenciar daquilo que é apenas o apelo de consumo O Caracol sabe muito bem que o mercado quer vender filmes roupas É um mundo de coisas sem nenhuma necessidade real para os nossos educandos e nossas educandas Outro elemento fundamental é o estudo do espaço de oficina como local de improvisação e criação O elenco deve procurar aquilo que em poéticas pessoais chamamos de Espaços Significativos ou seja os participantes devem encontrar no local onde ocorrem tais espaços e trabalhar com eles Tais espaços devem ser escolhidos pelos participantes a partir de algum vínculo especial que existe entre eles e esse lugar Devese reforçar que esses espaços têm uma história que está interligada à própria história do sujeito que o escolheu miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 129 130 130 O Caracol adora seu corpo e sua proposta compreende que nossa forma corporal é um poderoso símbolo emocional do nosso self como uma imagem mítica que pode nos ajudar a compreender nossos papéis e a multiplicidade de modos pelos quais nos identificamos com eles KELEMAN 2001 p 31 Portanto o Caracol não trabalha com preparação corporal do modo como normalmente se faz em oficinas de teatro mas o trabalho corporal é feito como avaliação da subjetividade e das amarras que o impedem de fluir Entendemos o corpo como nosso modo de estar no mundo nosso mito pessoal orientado para agir no espaço As interações entre indivíduo e grupo são feitas então a partir da apresentação de seus assuntos pessoais extraídos dos exercícios corporais e assim unificamse os que têm alguma relação Em seguida improvisase um pouco e na seqüência estudamse textos de mitos lendas fábulas ou histórias que tenham alguma relação com tudo o que foi trabalhado Ao final unificamse as histórias e todo o material coletado e partese então para a encenação O sistema de jogos teatrais SPOLIN 1988 não é tão rígido e as variações que daí possam advir são bemvindas O calcário da concha é poroso e a moleza do corpo adora ser moldada pelos cristais líquidos da reinvenção cotidiana ATO IV À GUISA DO EPÍLOGO O QUE SOU DE PAREDE OS CARAMUJOS SAGRAM A UMA PEDRADA DE MIM É O LIMBO NOS MONTUROS DO POEMA OS URUBUS ME FARREIAM ESTRELA É QUE É O MEU PENACHO SOU FUGA PARA FLAUTA E PEDRA DOCE A POESIA ME DESBRAVA COM ÁGUAS ME ALINHAVO MANOEL DE BARROS Uma das boas táticas da educação ambiental orientase pela metodologia participativa Entre algumas associadas à educação ambiental o Caracol escolheu a sociopoética como uma das táticas que se pauta em cinco principais dimensões SATO et al 2004 1 A formação de um elenco ou de um grupo de teatro elevando a potência de uma aprendizagem coletiva num processo de coeducação 2 O reconhecimento de que cada tarefa teatral é importante e que cada sujeito exerce um papel diferenciado em suas funções porém integrado ao conjunto de ações 3 O uso do corpo inteiro para a aprendizagem transcendendo a mera racionalidade para acolhimento da sensação imaginação gestualidade e a construção de confetos um espaço híbrido entre conceitos e afetos miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 130 131 4 O uso das poéticas pessoais para que estimule a ultrapassagem do recalque timidez ou dificuldade de comunicação formando a ciranda entre o intrínseco e o extrínseco 5 A não necessidade de consensos ou sínteses únicas que possam fazer desaparecer as diferenças que incitam os préconceitos e a capacidade dialógica de lidar com campos de conflitos na mediação pedagógica da aprendizagem coletiva O Caracol recomenda uma atividade que enfatize a importância do elenco em vez do ator isolado O palco possibilita múltiplos recortes aproximados e divorciados num arcoíris de linguagens sejam escolarizadas sejam populares O elenco é um filósofo coletivo situado em linhas de simplicidade ou complexidade de fragmentos e de mosaicos de duras realidades mas também de sonhos mágicos de esperanças A linguagem sociopoética quer que a aprendizagem seja prazerosa embora estudar possa ser um ato político difícil Assumindo os conflitos promove a capacidade inventiva de criar meios para que a relação sociedadenatureza seja mais ética Nosso Caracol reconhece que somos seres incompletos o que nos possibilita estarmos abertos para criar novas situações e nosso corpo faz curvas nas flores Seu mundo é constituído por significados e mistérios e seu viraser jamais obedece somente à razão instrumental assemelhase mais à loucura e extravagância BAVCAR 2005 Ele é surrealista e é cheio de vazios para ofer tar a exigência educativa na perspectiva poética mítica e expressiva afinal pode um homem enriquecer a natureza com sua incompletude BARROS 1990 p 56 FICHA TÉCNICA ARTAUD A O Teatro e seu duplo São Paulo Martins Fontes 1999 ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DO TEATRO DO OPRIMIDO Declaração de princípios Disponível em httpwwwtheatreoftheoppressedorgenindexphpnodeID141 BARROS M O Livro das Ignorãnças São Paulo Civilização Brasileira 1987 Gramática expositiva do chã São Paulo Civilização Brasileira 1990 Antologia In COSTA F M V Coord Literatura brasileira a arte da palavra Rio de Janeiro Revic 2003 CDROM miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 131 132 132 BAVCAR E Imagem vestígio desconhecido da luz In NOVAES A Org Muito além do espetáculo São Paulo Senac 2005 p144157 FOUCAULT M Vigiar e punir 5ed Petrópolis Vozes 1987 FREIRE P A educação na cidade São Paulo Cortez e Autores Associados 1995 KELEMAN S Mito e corpo São Paulo Summus 2001 SATO M et al Jogo de luzes sombras e cores de uma pesquisa em educação ambiental Revista de Educação Pública v 13 n 23 p 3155 2004 SCHEFFLER I O Teatro político de Antonin Artaud Revista Espaço Acadêmico n 3 dez 2003 Disponível em httpwwwespacoacademicocombr03131cschefflerhtm SPOLIN V Improvisação para teatro 4ed São Paulo Perspectiva 1998 PARA ALÉM DO ESPETÁCULO ARTAUD A Teatro da crueldade Disponível em httpwwwtriplovcomsurrealartaud willerhtml e em httpwwwquattrocombrpassageartaudhtm BARROS M de Poesias textos Disponível em httpwwwrevistaagulhanombrmanuhtml e em httpwwwpaubrasilcombrpassarosindexhtml BOAL A Teatro do oprimido Disponível em httpwwwtheatreoftheoppressed orgenindex phpuseFlash1 SPOLIN V Metodologia do Teatro Disponível em httpwwweducacaoonlinepro brart metodologiadoensinodeteatroaspfidartigo574 ARTIGOS RELACIONADOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARTICIPAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA PENSANDO EM COLETIVOS PENSANDO NO COLETIVO DO ÔNIBUS ÀS REDES SOCIAIS EDUCAÇÃO INDÍGENA UMA VISÃO A PARTIR DO MEIO AMBIENTE miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 132 133 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 133 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 134 O sujeito ecológico a formação de novas identidades culturais e a escola Isabel Cristina Moura Carvalho O TEXTO APRESENTA O CONCEITO DE SUJEITO ECOLÓGICO ENTENDIDO COMO UM CONJUNTO DE CRENÇAS E VALORES QUE SERVE DE ORIENTAÇÃO E MODELO DE IDENTIFICAÇÃO PARA A FORMAÇÃO DE IDENTIDADES INDIVIDUAIS E COLETIVAS DISCUTE O LUGAR DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DESTE TIPO DE SUBJETIVIDADE PALAVRASCHAVE SUJEITO SUBJETIVIDADE SUJEITO ECOLÓGICO EDUCAÇÃO AMBIENTAL miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 135 136 136 INTRODUÇÃO Todos nós já ouvimos muitas vezes expressões que dizem que fulanoa de tal é muito ecológicoa Também freqüentemente usamos esse adjetivo para caracterizar atitudes como a de rejeitar as sacolas de plástico no supermercado usar a água com parcimônia separar o lixo consumir produtos orgânicos preferir roupas de fibra de algodão porque são mais naturais do que as sintéticas ir a pé de bicicleta ou reunir grupos de carona sempre que possível para ir ao trabalho ou às compras entre tantas outras que poderíamos citar aqui Esses comportamentos indicam decisões e preferências que algumas pessoas vão adotando pouco a pouco conforme vão incorporando a idéia de que as preocupações ambientais são exigências compulsórias e ao fazerem isso sentemse gratificadas e reconfortadas mesmo sabendo que os riscos ambientais não se resolvem imediatamente com essas ações exemplares Significa que essas pessoas estão aderindo a um modo cuidadoso de se relacionar com os outros humanos e nãohumanos que tomam como bons corretos e moral e esteticamente admiráveis Poderíamos chamar esse espírito de cuidado responsabilidade e solidariedade com o ambiente como dimensão ecológica que pode ser assumida por indivíduos grupos e também pelas instituições como a escola ou as políticas públicas A identificação social e individual com esses valores ecológicos é um processo formativo que se processa a todo momento dentro e fora da escola e que tem a ver com o que chamamos a formação de um sujeito ecológico e de subjetividades ecológicas A subjetividade é um conceito da psicologia social contemporânea e diz respeito a um modo de ser no mundo que posiciona um indivíduo diante de si mesmo e dos outros A noção de sujeito ecológico está relacionada a um modo específico de ser no mundo Sujeito ecológico é então um modo de descrever um conjunto de ideais que inspira atitudes ecologicamente orientadas O sujeito ecológico é incorporado pelos indivíduos ou pessoas que adotam uma orientação ecológica em sua vida que pode ter efeito sobre instituições que se definam por essa orientação O sujeito ecológico portanto designa a internalização ou subjeti vação de um ideário ecológico Esse mesmo processo pode ser pensado nos termos de uma incorporação por indivíduos e grupos sociais de um certo campo de crenças e valores compartilhados socialmente que passa a ser vivida como convicção pessoal definindo escolhas estilos e sensibilidades éticas e estéticas QUANTO ECOLÓGICO VOCÊ CONSEGUE SER Analisando a formação de subjetividades ecológicas em nossa sociedade vamos ver que é um processo que não se dá de uma só vez tampouco pode se tomar como algo acabado ou homogêneo Vamos imaginar um breve experimento Selecione um grupo miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 136 137 de diferentes pessoas idades gênero profissão classe social regiões do Brasil etc que têm em comum apenas o fato de serem simpáticas à causa ecológica Agora podemos começar nossa pesquisa sobre o quanto ecológico cada um consegue ser em sua vida diária perguntando a cada uma delas que hábitos você tem mudado em função de suas crenças ecológicas Provavelmente pelas respostas poderíamos ver que alguns mudam levemente alguns de seus hábitos outros modificam toda sua vida Algumas pessoas por exemplo se consideram ecológicas porque separam o lixo de vez em quando Outras devido a suas crenças ecológicas podem deixar de comer carne por toda a vida porque sabem que a produção de carne vermelha é a fonte de grande desmatamento tanto para a pastagem do gado quanto para a produção de soja para ração animal Outras combinam moti vações ambientais com outras mais pragmáticas como é o caso de muita gente que economiza água e eletricidade porque é bom para o meio ambiente mas também porque isso lhes traz benefícios econômicos Assim poderíamos dizer que se investigarmos mais a fundo vamos encontrar diferentes intensidades e modos de ser ecológico Como ocorre com outros ideais que os indivíduos tomam como modelo para si nem sempre é possível realizálos cem por cento na vida diária Mas o fundamental é observar que à medida que instituições e pessoas tentam viver de acordo com preocupações ecológicas aí se encontra vigente em alguma medida o sujeito ecológico como modelo de identificação pessoal e reconhecimento social Este tentar ser certamente esbarra em vários obstáculos Alguns provenientes do fato de que os princípios ecológicos não são hegemônicos na sociedade em que vivemos e que portanto nem sempre favorece através de políticas públicas e outras iniciativas um estilo de vida ecológico veja a ausência de coleta seletiva poucas alternativas de transporte público ou transportes nãopoluentes como ciclovias poucas redes de alimentação orgânica pequena produção agroecológica etc Outros obstáculos são derivados das contradições dos ideais das pessoas e das instituições Fazse necessário destacar que mesmo para quem se identifica com a proposta ecológica há uma permanente negociação intrapessoal interpessoal e política em torno das decisões do diaadia Nesse sentido a busca por ter sua vida guiada pelos ideais de um sujeito ecológico não isenta as pessoas das contradições conflitos e negociações que sempre acontecem entre nossa realidade imperfeita e os nossos melhores ideais O SUJEITO ECOLÓGICO NÃO É UNIVERSAL NEM TODO MUNDO SE IDENTIFICA COM ESSE JEITO ECOLÓGICO DE SER É preciso considerar que há também na sociedade pessoas e grupos que absolutamente não se identificam com os apelos de uma existência ecológica Para estes os ideais preconizados pelo sujeito ecológico podem ser vistos como ingênuos anacrônicos miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 137 138 138 pouco práticos malucos enfim de alguma forma não são reconhecidos como orientadores do que esses grupos consideram uma vida desejável e boa Como vivemos numa sociedade plural os valores ecológicos não são a única orientação disponível para a vida pessoal e coletiva Há muitas outras maneiras de se orientar no mundo há maneiras indiferentes às preocupações ecológicas e também outros estilos de vida que poderíamos chamar de predatórios ou antiecológicos Basta observar a valorização de modos de vida que poderíamos chamar para contrastar com a visão ecológica e pacifista de modos bélicos de viver e conviver Estariam aí atitudes e comportamentos racistas e sexistas A defesa da pena de morte e do porte de armas por exemplo com toda a polêmica que despertam é em grande parte alimentada por atitudes defensivas que apostam na força como solução dos problemas A valo rização e até a glamourização do uso da força entre jovens também está na origem da atração pelas gangues e pelas armas em jovens de várias classes sociais E assim poderíamos pensar em muitos outros exemplos do que chamamos aqui um estilo bélico Do mesmo modo pela indiferença e pela descrença por exemplo na ética podese contribuir para um mundo nada ecológico uma vez que a perda das esperanças num mundo compartilhado deixa as pessoas indiferentes e sem motivação para ações solidárias que podem melhorar seu mundo social e ambiental e as predispõem a se fecharem e não se importarem com o que está em volta delas Esses elementos existem em nossa cultura e estão bem vivos nos famosos ditados salvese quem puder cada um por si a lei do mais forte e tantos outros em que poderíamos ver a apologia de uma ação que desconsidera o bem comum São alguns exemplos de modos de pensar nada ecológicos mas bastante disseminados e igualmente formadores de subjetividades Conclusão nem todo mundo está a ponto de adotar uma orientação ecológica em sua vida Ser ecológico é uma opção não uma imposição ou uma verdade autoevidente e aí entra o papel da escola e do educador que é um formador de opinião na batalha das idéias que atravessam nossa sociedade todo o tempo ESCOLA E SUBJETIVIDADE ECOLÓGICA A educação é em todas as suas modalidades uma prática formativa E a escola por sua vez é o espaço institucional por excelência onde essa formação transcorre de forma planejada e intencional na sociedade moderna cujo ideal é a educação como um direito universal Assim embora a formação do sujeito ecológico tenha lugar em todas as experiências que nos formam durante a vida a escola toma parte entre essas experiências como um elo vital deste ambientemundo em que vivemos Ao pensar as múlti plas relações de identificação e aprendizagem a que as pessoas estão submetidas ao longo de sua vida ao mesmo tempo escolhen miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 138 139 do e sendo escolhidas pelas oportunidades eventos acontecimentos que lhes são dados viver a escola será sempre uma experiência marcante Parte desse ambientemundo a escola é permeada por relações institucionais locais raciais comunitárias pedagógicas políticas que fazem da vida escolar um espaço social muito significativo A escola é igualmente envolvida por várias subjetividades que podem estar em acordo ou em antagonismo com os ideais ecológicos Nesse sentido pode se converter num espaço educador mais ou menos propício à formação de identidades ecológicas ou predatórias conforme os valores predominantes naquele contexto Mas então como fazer Não há caminhos ou modos predeterminados que garantam que esses valores sejam plenamente ado tados As metodologias podem ser várias e como tais apenas sugerem modos de organizar a experiência e o ambiente educativo São instrumentos auxiliares Assim como em todo processo educativo o educador está sempre pondo em ação uma combinação das metodologias que tem ao seu dispor em um ambiente e contexto específico o que resulta na maioria das vezes em novas apli cações mais do que repetição de fórmulas prontas Então dentro dessa perspectiva nãodeterminista da formação e também evi tando supervalorizar uma ou outra metodologia posso citar a título de troca de experiência um dos caminhos possíveis sabendo que certamente existem muitos outros Conheço algumas experiências interessantes em escolas que começaram por um auto diagnóstico refletindo coletivamente sobre o quanto ecológica é ou pode ser a escola em questão Isso passa por perguntar sobre como andam suas relações ecológicas entre si e com seu entorno Uma vez que essa pergunta se torne uma pergunta de trabalho isto é investida da vontade e da sistematicidade que a transforme num meio para efetivamente pensar a escola e na escola a realidade dos professores alunos funcionários comunidades humanas e nãohumanas do bairro da cidade e assim por diante estaríamos num processo produtivo de educação ambiental Ao promover o debate se estaria construindo a capacidade de per guntar e o desejo de pesquisar e a coragem de se confrontar com as respostas encontradas Não importa se a escolha seja pela modalidade de projetos temáticos palavras geradoras currículo interdisciplinar ou outro caminho metodológico que seja útil para levar a cabo uma interrogação significativa da realidade Ao levar a cabo uma interrogação significativa da realidade a escola estará promovendo experiências e provocando o pensamento crítico sobre os muitos modos possíveis os existentes os ecologicamente desejáveis e os nãoecológicos de habitar viver e conviver no mundo desde uma perspectiva social e ambientalmente responsável miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 139 140 140 O PROFESSOR E A FORMAÇÃO DE NOVAS SUBJETIVIDADES O professor ocupa um lugar investido de muito poder e responsabilidade na formação de novas subjetividades como é o caso do sujeito ecológico Mas ao mesmo tempo todo educador também sabe dos seus limites quanto a assegurar sobre os caminhos a serem seguidos pelos que participam do processo de construção de saberes ecológicos Este me parece o mistério e a beleza da educação Não se trata de ter certeza de que todos seguirão no caminho que o educador acredita embora suas crenças sejam sinceras e a incerteza seja parte de sua motivação para educar Contudo essa posição não é motivo para frustração do educador mas é condição do educar como processo de liberdade de abertura e de nãocoerção do outro Educar é um convite para conviver também nesse aspecto O lugar do professor na formação do sujeito ecológico poderia ser pensado como a educadora e terapeuta Ana Cristina Kupfer da clínica e escola Espaço de Vida São Paulo USP pensa o lugar do educador e isso vale para qualquer processo formativo Por isso concluo este artigo com uma citação de Kupfer que é um convite a seguir pensando sobre nossos limites possibilidades e sobretudo disponibilidade para a abertura do processo educativo Ao professor guiado por seu desejo cabe o esforço imenso de organizar articular tornar lógico seu campo de conhecimento e trans mitilo a seus alunos A cada aluno cabe desarticular retalhar ingerir e digerir aqueles elementos transmitidos pelo professor que se engatam em seu desejo que fazem sentido para ele e que pela via de transmissão única e aberta entre ele e o professor encontram eco nas profundezas de sua existência Se um professor souber aceitar essa canibalização feita sobre ele e seu saber sem contudo renunciar as próprias certezas já que é nelas que se encontra seu desejo então estará contribuindo para uma relação de aprendizagem autêntica Pela via da transferência o aluno passará por ele usáloá por assim dizer saindo dali com um saber do qual tomou verdadeiramente posse e constituirá a base e o fundamento para futuros saberes e conhecimentos KUPFER 1999 PARA SABER MAIS BOCK A M FURTADO O TEIXEIRA M Psicologias uma introdução ao estudo da psicologia 4 ed São Paulo Saraiva 2001 CARVALHO I C M Educação ambiental a formação do sujeito ecológico São Paulo Editora Cortez 2004 Coleção docência em formação FREUD S Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar 1914 Rio de Janeiro Imago 1974 p 285288 Obras completas de S Freud 13 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 140 141 KUPFER M C Freud e a educação 10 anos depois Psicanálise e educação uma transmissão pos sível Porto Alegre Associação Psicanalítica de Porto Alegre a 9 n 16 p 1426 jul 1999 ACHCAR T Slow Food Vida Simples jul 2003 Disponível em httpvidasimplesabrilcombr edicoes00601shtml FUNDAÇÃO SLOW FOOD Disponível em httpwwwslowfoodcomporporhtml WIKIPEDIA Verbete Slow Food Disponível em httpptwikipediaorgwikiSlowFood ARTIGOS RELACIONADOS PENSANDO SOBRE A GERAÇÃO DO FUTURO NO PRESENTE JOVEM EDUCA JOVEM COMVIDAS E CONFERÊNCIA ENTRE CAMELOS E GALINHAS UMA DISCUSSÃO ACERCA DA VIDA NA ESCOLA REINVENTANDO AS RELAÇÕES ENTRE SERES HUMANOS E NATUREZA NOS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO INFANTIL Desacelerar é uma atitude ecológica Se quiser saber mais sobre um movimento social que defende a idéia de desacelerar a vida começando pela atitude diante da alimentação conheça o slow food A tradução seria algo como comer lentamente e a idéia é fazer do preparo da comida uma atividade de cuidado com a vida e do momento das refeições um tempo de encontro e convivência Tudo isto está em oposição à cultura do fast food comida rápida industrializada solitária miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 141 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 142 Cidadania e consumo sustentável nossas escolhas em ações conjuntas Rachel Trajber ABORDAMOS AS DIFERENÇAS ENTRE CONSUMO SUSTENTÁVEL E CONSUMO RESPONSÁVEL CONSUMISMO E RECICLAGEM ENTRE OUTRAS VAMOS REFLETIR SOBRE COMO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL PODE CONTRIBUIR PARA REPENSAR TANTO A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL COMO A OPRESSÃO SOCIAL E A EXPLORAÇÃO ECONÔMICA PALAVRASCHAVE CIDADANIA CONSUMO SUSTENTÁVEL CONSUMO RESPONSÁVEL RECICLAGEM DE LIXO miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 143 144 144 A TERRA É SUFICIENTE PARA TODOS MAS NÃO PARA A VORACIDADE DOS CONSUMISTAS MAHATMA GANDHI INTRODUÇÃO Como a educação ambiental pode nos ajudar a construir uma sociedade mais integrada em nossas relações com as pessoas e também com o meio ambiente Para garantir qualidade de vida para a nossa e para as futuras gerações precisamos mudar valores e atitudes individuais e coletivas a começar por viver com o planeta em mente Acreditamos que um pensamento crítico mais responsável e solidário por ser comprometido com o coletivo e voltado para a simplicidade por ser menos individualista consumista e competitivo pode nos levar e aos nossos jovens estudantes a uma postura que permita um presente e um futuro sustentáveis EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O CONSUMO SUSTENTÁVEL Muitos dos grandes problemas ambientais que enfrentamos podem ser relacionados direta ou indiretamente com a apropriação e uso de bens produtos e serviços suportes da vida e das atividades de uma sociedade historicamente construída sobre uma per versa lógica de mercado Afinal desde que alguns dos primeiros economistas afirmaram que produção tem como finalidade o con sumo a economia estabeleceu como objetivo aumentálo e o consumo transmutado em consumismo passou a ser entendido como sinônimo de bemestar e de felicidade A questão é que vemos esse consumo se tornar também o causador de uma série de problemas sociais ambientais e até psicológicos Desse modo será que ele poderia ser compreendido como sinônimo de felicidade O desafio proposto para a educação ambiental é compor uma concepção crítica que aponte para a descoberta conjunta de qualidade de vida para as pessoas e ao mesmo tempo de cuidar do nosso pequeno planeta Essa concepção não é apenas uma posição ingênua de respeito à natureza mas está apta a intervir na atual crise de valores a partir do meio ambiente Ela propõe a formulação de novos valores na construção de sociedades sustentáveis que sai do campo único da economia e envolve a susten tabilidade social ambiental política e principalmente ética Tratase de efetivar mudanças políticas e estruturais na forma de organização da produção distribuição e consumo bem como nas relações sociais decorrentes desse modo de produção No momento em que reconhecemos a existência de um sistema de valores mais amplo distante das motivações individualistas e competitivas inspiradas pelo desejo provocado por agentes como o marketing e a publicidade podemos exercer outra dimensão profundamente humana a da responsabilidade miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 144 145 Enquanto o apelo ao consumismo fragmenta as decisões ao tornálas meramente individuais assumir a responsabilidade social e ambiental potencializa a iniciativa de cada pessoa em seu esforço comunitário Responsabilidade nesse sentido exige liberdade e informações para a tomada de decisões sobre políticas para a sustentabilidade em todos os seus matizes O desejo artificialmente gerado pela publicidade ao contrário da aparente liberdade de escolha de empresas ou produtos nos escraviza com a uniformidade das opções Essa falta de liberdade não é visível Faça uma experiência simples entre em um super mercado e verifique quais são os ingredientes que mais aparecem nas prateleiras Vamos constatar que existe uma enorme quantidade de embalagens multicoloridas para relativamente pouca biodiversidade nos alimentos Estão expostos vários tipos de laticínios leite corantes e açúcar de massas macarrões biscoitos e pães carnes e cosméticos A diversidade se encontra mais nas embalagens aliás descartáveis do que nos produtos OS LIMITES DA SUSTENTABILIDADE Uma liderança indígena Ailton Krenak certa vez perguntou em uma palestra o que seria do planeta se todos tivessem um kit civilização carro geladeira telefone celular TVvídeoDVD microondas Sabemos que nossa sobrevivência depende do consumo da existência de alimentos de uma fonte constante de energia da disponibilidade de matériasprimas para os processos produtivos bem como da capacidade dos vários resíduos que produzimos serem absorvidos sem se constituírem em ameaça Contudo para assegurar a existência das condições favoráveis à vida teremos que produzir e consumir de acordo com o que a Terra pode fornecer Quando considerada somente como recurso natural a natureza com toda a sua biodiversidade se transforma em pura mer cadoria Por isso quando não tem utilidade imediata para o desenvolvimento econômico florestas por exemplo são tratadas como coisas que podem ser destruídas substituídas por espécies mais úteis e desrespeitadas em seu direito de ser e continuar a ser Estamos percebendo os graves sinais desta sociedade insustentável pois ela já provoca a escassez de água potável guerras san grentas motivadas por disputas pelas regiões de produção de petróleo o aquecimento global causado por desmatamentos e pela queima de combustíveis fósseis a extinção de milhares de espécies Todos os fatores que trazem conseqüências irreversíveis para todo o ciclo biológico do Planeta miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 145 146 146 CONSUMO SUSTENTÁVEL EM PROJETOS NA ESCOLA A professora Maria das Graças Nascimento que leciona geografia em uma escola pública provocou sua classe de 8ª série do ensino fundamental ao levar para debate um tema complexo educar para a cidadania é construir a possibilidade da ação política no sentido de contribuir para formar uma coletividade responsável pelo mundo que habita CARVALHO1991 Pediu aos estudantes idéias que propiciassem projetos práticos com uma atitude ecológica para a melhoria da qualidade de vida ambiental da comunidade escolar Com os debates surgiram diversas propostas e idéias mas a mais votada pela turma foi a de realizar coleta seletiva e reciclagem do lixo produzido na escola e pela comunidade escolar Maria das Graças decidiu então cuidar para que um projeto de educação ambiental com potencial para ser transformador produzisse conhecimentos significativos e melhorias concretas nas relações socioambientais O projeto não poderia correr o risco de cair na superficialidade e pior de tornar a escola um depósito de lixo mas deveria ampliar seu escopo trabalhar com pesquisas envolvendo os professores de história matemática biologia e língua portuguesa que aceitaram o desafio Os professores planejaram tudo junto com os estudantes Trabalharam com uma pesquisa conjunta da história da sociedade de consumo desde a antiguidade passando pelo mercantilismo e a revolução industrial e a turma da 8ª série decidiu então constituir três grupos de aprofundamentos o grupo dos Cinco Rs o grupo de Projetos de Reciclagem e o grupo de Lixo Orgânico O objetivo de tudo isso era que depois de conhecerem a realidade geral e local se juntariam com o conjunto da turma para pensar e planejar uma campanha de mobilização da comunidade 1 GRUPO DOS CINCO RS O grupo chegou à conclusão de que deveria considerar cinco Rs e não somente três para lidar com o consumo Repensar Recusar Reduzir Reutilizar e Reciclar exatamente nessa ordem Em seguida foram entrelaçando os cinco Rs ao aprofundarem a pesquisa sobre o consumo sustentável de água alimentos biodiversidade transportes energia e publicidade Verificaram então que seria importante levantar como essas diversas áreas funcionavam no bairro da escola miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 146 147 2 GRUPO DE PROJETO DE RECICLAGEM Esse grupo de alunos se perguntou se a simples idéia de que as embalagens podem ser recicladas não teria uma função de limpar a nossa consciência consumista trazendo uma falsa sensação de que estamos fazendo algo pelo meio ambiente Eles se perguntaram se fazer um projeto de reciclagem que era aparentemente positivo não acabaria por incentivar e justificar o aumento do consumo mesmo sem querer Leram em um texto que a reciclagem poderia trazer uma falsa segurança que significa a alienação da realidade a qual cumpre a função de gerar a sensação de que um comportamen to ambientalmente correto a reciclagem contribuirá para a resolução de um problema quando na verdade camufla a crítica ao consumismo e além de tudo reforça as estratégias de concentração de renda Reciclase para não se reduzir o consumo LAYRARGUES 2002 Foram então pesquisar como outras escolas estavam trabalhando a questão do consumo e do lixo Descobriram o Projeto Escola desenvolvido por algumas escolas em parceria com a indústria de reciclagem para concorrer a computadores com a coleta de latinhas Em seguida no mesmo texto leram que os realizadores desse projeto limitavam o processo pedagógico a uma finalidade utilitarista Além disso os jovens perceberam que para ganhar os equipamentos prometidos as crianças de escolas pobres pas savam a catar latas de alumínio nos lixos e nas ruas enquanto as de escolas abastadas pediam aos seus familiares para consumirem mais bebidas em latas de alumínio Eles foram além dessas constatações e pesquisaram como e se de fato no município deles havia legislação sobre o tratamen to do lixo se a prefeitura tinha políticas para isso se a reciclagem estimula novos negócios novas usinas ajuda os catadores de lixo as empresas tinham a preocupação de consumir menos recursos naturais 3 GRUPO DE LIXO ORGÂNICO Esse grupo foi descobrindo que o lixo orgânico poderia ser usado como adubo para uma horta Porém isso era somente uma pequena parte das descobertas pois ficaram impressionados ao calcular com a professora de matemática os custos do transporte para que os alimentos chegassem à escola e à comunidade analisaram a matriz energética utilizada para o plantio de grandes propriedades e compararam com a dos agricultores familiares locais miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 147 148 148 O rico debate continuou quando foram visitar uma escola do campo conversar com os pequenos agricultores familiares da região para aprenderem a construir a horta além de pensarem em ampliar a oferta e a diversidade de produtos de qualidade para a alimentação escolar e em casa A partir da horta observaram a relação do bairro com as comunidades locais com o lixo produzido e principalmente com os bens comuns como o solo o ar e a água A PEGADA ECOLÓGICA Foi então que a professora Maria das Graças descobriu uma outra forma interessante de se trabalhar com estimativas de consumo de recursos naturais e a geração de lixo produzido por uma sociedade Tratase da Pegada Ecológica Ela pode avaliar até que ponto o nosso impacto já ultrapassou o limite isto é se vivemos de forma sustentável Não significa que podemos consumir e gastar mais ainda se encontramos capacidade disponível pelo contrário se queremos deixar espaço para as outras espécies e para os habitantes futuros precisamos reservar para elas o máximo de espaço A Pegada Ecológica foi criada por William Rees e Mathis Wackernagel com base no conceito de capacidade de carga que nos permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar o nosso estilo de vida Quanto maior for o impacto produzido pela sociedade analisada maior será a área atingida pela pegada ecológica A média mundial equivale a uma pegada ecológica de 18 km2 enquanto no extremo inferior está a Índia com apenas 04 km2 e no extremo superior os EUA a maior pegada do planeta medindo 51 km2 de degradação ambiental A classe pôde medir sua pegada ecológica pesquisando no sítio da internet com endereço wwwwwforgbr A turma foi chegando à conclusão de que devemos pensar em cidadãoconsumidor como aquele que fiscaliza exige seus direitos junto ao serviço de atendimento ao consumidor de uma empresa ou ainda o que se recusa a consumir algo por ser ecologicamente incorreto Com todos esses conhecimentos acumulados e compartilhados foi possível pensar e planejar uma campanha de mobilização da comunidade que envolveu desde a redação de cartas ao prefeito e secretários propostas de projetos de lei de coleta seletiva de resíduos sólidos e de reformulação da merenda escolar para a Câmara dos Vereadores até shows de músicas ambientais e a apresentação das pesquisas para a comunidade e as escolas vizinhas miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 148 149 Finalmente trabalhar na escola com consumo sustentável trouxe muita aprendizagem para todos da comunidade escolar valorizando economias locais e justas com respeito à diversidade natural e cultural Esse foi um trabalho de educação ambiental que atuou em seu papel de construção de práticas sociais cidadãs assumindo sua dimensão política e transformadora CONCLUSÃO Precisamos tomar cuidado ao pressupor que a transformação da sociedade é conseqüência de atividades e currículos que con duzem à autorealização e à aprendizagem de cada indivíduo Se assim fosse bastaria ensinar o que é certo para as crianças trans mitir as informações e as relações sociais mudariam por simples conseqüência GUIMARÃES 2004 Constatamos que da forma como temos agido pouca coisa tem mudado Pior ainda se faz sentir o sofrimento de muitos educadores e educadoras frustrados por não poderem fazer dos jovens pessoas melhores e felizes Para sermos transformadores necessitamos de uma reflexão crítica que reoriente as formas de ver e viver no mundo que refaça a história da humanidade confiando na possibilidade de mudanças de visão de mundo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO I Ecologia desenvolvimento e sociedade civil Revista de Administração Pública Rio de Janeiro v 25 n 4 p 410 outdez 1991 GUIMARÃES M A formação de educadores ambientais Campinas Papirus 2004 LAYRARGUES P P O cinismo da reciclagem o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental In LOUREIRO C F B LAYRARGUES P P CASTRO R de S Orgs Educação ambiental repensando o espaço da cidadania São Paulo Cortez 2002 p 179219 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 149 150 150 PARA SABER MAIS BRASIL Ministério da Educação Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global Disponível em httpwwwmecgovbrse educacaoambientaltratad01shtm Ministério do Meio Ambiente Agenda 21 brasileira Disponível em httpwwwmma govbragenda21 Apresenta o histórico processo resultados e publicações sobre esse instru mento de planejamento participativo que tem como eixo central a sustentabilidade CARVALHO I C M Educação meio ambiente e ação política In ACSELRAD H Org Meio ambiente e democracia Rio de Janeiro IBASE 1992 CONSUMERS INTERNATIONAL BRASIL Ministério do Meio Ambiente BRASIL Ministério da Educação Consumo sustentável manual de educação Brasília Consumers International MMA MECIDEC 2005 Disponível em httpportalmecgovbrsecadarquivospdfeducacaoambientalconsumospdf INTERNATIONAL CHARTER FACILITATION COMMITTEE Carta de Responsabilidades Humanas Disponível em httpallies alliance21orgcharter Documento que propõe trilhas de reflexão e de ação e pontos de referência na noção da responsabilidade Elaborada por indivíduos de todos os continentes e de diferentes setores culturais sociais e profissionais PORTILHO F Limites e possibilidades do consumo sustentável In Educação ambiente e sociedade idéias e práticas em debate Serra Companhia Siderúrgica de Tubarão 2000 p 77 SEN A Desenvolvimento como liberdade São Paulo Companhia das Letras 1999 SINGER P Ética prática 2ed São Paulo Martins Fontes 1999 p 284 ARTIGOS RELACIONADOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS A ESCOLA BOSQUE E SUAS ESTRU TURAS EDUCADORAS UMA CASA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL O SUJEITO ECOLÓGICO A FORMAÇÃO DE NOVAS IDENTIDADES CULTURAIS E A ESCOLA miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 150 151 miolovamoscuidarcap2Layout 1 51608 1013 AM Page 151 Colégio Sagrado Coração de Maria Brasília Distrito Federal miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 152 3 Contribuições políticopedagógicas das novas tendências da educação ambiental para o cotidiano da relação escolacomunidade miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 153 miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 154 As novas tecnologias na educação ambiental instrumentos para mudar o jeito de ensinar e aprender na escola Paulo Blikstein NESTE TEXTO DISCUTIREMOS TRÊS PRINCÍPIOS DE TRABALHO COM AS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL O FOCO NO CONTEÚDO A PLURALIDADE EPISTEMOLÓGICA E A TRANSIÇÃO DA NARRATIVA PARA O MODELO CIENTÍFICO EM SEGUIDA APRESENTAREMOS TRÊS EXEMPLOS SOFTWARE DE SIMULAÇÃO DE MAPEAMENTO GEORREFERENCIADO E EQUIPAMENTOS DE COLETA DE DADOS PALAVRASCHAVE EDUCAÇÃO AMBIENTAL TECNOLOGIA ROBÓTICA GEOPROCESSAMENTO CONSTRUTIVISMO miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 155 156 INTRODUÇÃO UM MUNDO SEM EDUCADORES Proponho ao leitor um exercício de imaginação Imaginemos um mundo em que por alguma razão misteriosa nunca tenham existido pesquisadores em educação Jamais em época alguma consideramos estudar como as pessoas aprendem Nesse mundo fictício Jean Piaget continuou estudando Zoologia Paulo Freire continuou sua carreira de advogado Seymour Papert foi apenas um brilhante matemático Nunca passou pela cabeça de alguém criar um curso de pedagogia ou centros de pesquisa sobre o tema Nesse mundo como seriam as escolas Muito provavelmente idênticas às nossas escolas de hoje alunos em fileiras professor lá na frente provas livros didáticos crianças divididas por idade programas de estudo sobrecarregados com conteúdos irrele vantes decoreba e falta de motivação Esse breve exercício de imaginação sugere que infelizmente décadas de pesquisa em educação pouco fizeram para mudar nossas escolas Sim há avanços mas de um modo geral verdade seja dita nossas escolas comportamse como se Piaget Vygostky Freire ou Papert jamais tivessem existido Há entretanto outra pergunta perturbadora nesse mundo imaginário sem pesquisadores em educação o que será que as pes soas pensam sobre o aprendizado humano O leitor concordará que elas pensariam muito diferentemente de nós A maioria dos professores e educadores brasileiros concordaria sem hesitação que conhecimento se constrói não se transmite PIAGET que a escola precisa fornecer ferramentas de leitura do mundo e não só da palavra FREIRE e que a construção ou seja o fazer é um grande instrumento de aprendizado PAPERT sd Poucos afirmariam por exemplo que o melhor jeito de aprender é colocar um aluno sentado durante cinco horas por dia ouvindo o professor falar e depois aplicar uma prova Aparentemente portanto as idéias dos educadores mudaram o que as pessoas pensam sobre educação mas não mudaram significativamente a escola Será que estamos condenados a reproduzir eternamente a estrutura tradicional da escola Afinal de contas há esperança Sim há esperança Sabemos que o primeiro passo para qualquer grande transformação é mudar o que as pessoas pensam e felizmente isso está acontecendo com a educação Muita gente já sabe como deve ser mas ninguém sabe como transformar essa visão em realidade E aí entra a tecnologia ela pode ser uma poderosa arma para transformar em realidade a nossa utopia de miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 156 157 uma escola mais democrática motivadora e interessante A tecnologia digital atualmente tem essa interessante propriedade de ser um cavalo de Tróia ela tem entrada livre na escola e pode levar idéias inovadoras na bagagem A educação ambiental é aliás um excelente campo para tentar novas abordagens de ensino e aprendizagem Em primeiro lugar ela é um tema que motiva os alunos ela está nos jornais na televisão na vida de todos nós Em segundo lugar é uma área em que efetivamente é possível fazer diferença no mundo mesmo em pequena escala as ações têm resultados relevantes na vida da comunidade Além disso educação ambiental envolve atividades fora dos muros da escola coleta de dados obser vações e entrevistas Os alunos não precisam ficar presos na sala de aula ou nos livros didáticos Finalmente a educação ambiental não é uma disciplina rígida e bemestabelecida como a matemática ou o português com seus currículos monolíticos e provas em vestibulares isso abre espaço para tentarmos novas abordagens educacionais Neste texto discutiremos como a tecnologia e em particular sua aplicação na educação ambiental pode ser usada para intro duzir novas formas de trabalho na sala de aula Primeiramente discutiremos três princípios de trabalho o foco no conteúdo a pluralidade epistemológica e a transição da narrativa para o modelo científico e em seguida relataremos três exemplos de tecnologias software de simulação e modelamento software de mapeamento georreferenciado e equipamentos de coleta eletrônica de dados Antes disso entretanto vamos esclarecer um equívoco comum sobre o uso das tecnologias digitais da educação TECNOLOGIA NA ESCOLA NÃO É SÓ UMA FERRAMENTA Apesar do que o senso comum nos diz computador não é só uma ferramenta Algumas tecnologias como lembra o profes sor Andy DiSessa da Universidade de Berkeley EUA tornamse infraestruturais elas deixam de ser apenas complementos da nossa vida e passam a dar sustentação a todas as nossas atividades na sala de aula e fora dela Vejamos o exemplo da escrita há alguns séculos ela era uma atividade complementar reservada a alguns profissionais especializados Hoje ela permeia quase tudo que fazemos As tecnologias digitais estão também tornandose infraestruturais O computador não é apenas uma ferramenta direta ou indiretamente ele é parte de toda ação ou projeto que queiramos empreender Nesse contexto o domínio das novas tecnologias não pode ser meramente instrumental ou seja não basta ser apenas um bom usuário é preciso ser criador produtor saber como funcionam e como modificálas Aprender a operar um processador de textos ou navegar na internet não é suficiente É o mesmo que saber ler sem saber escrever evidentemente fazer uma redação é mais complexo do que ler um texto mas o que seriam de nossas crianças se saíssem da escola com um domínio apenas instrumental da escrita miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 157 158 Portanto o grande impacto da tecnologia não é permitir que alunos procurem informações na internet ou que conversem com seus amigos A maior conseqüência é que eles podem usar as diversas modalidades de construção que as tecnologias digitais oferecem para expressar seus interesses intelectuais e científicos suas paixões sua indignação com os problemas do mundo criando artefatos novos seja um documentário um modelo robotizado um programa de computador uma teoria sobre o aquecimento global um sistema de coleta de dados ambientais ou uma estação meteorológica automatizada TRÊS PRINCÍPIOS O QUE PUBLICAR E NÃO ONDE PUBLICAR O FOCO NO CONTEÚDO Quando falamos em novas tecnologias para educação quase sempre nos referimos à comunicação interpessoal e à publicação de material eletrônico web correio eletrônico listas de discussão blogs etc Apesar de esse tipo de tecnologia ser necessário ele é possivelmente o de menor potencial pedagógico Conversar publicar mostrar ao mundo páginas web é sem dúvida um avanço Mas a questão fundamental não é como muitos acreditam que podemos publicar qualquer coisa para o mundo ver Devemos começar pelo o que publicar e não pelo onde Ora não adianta publicar fantásticas páginas web sobre uma pesquisa malfei ta A tecnologia deve ser sobretudo uma ferramenta para realizar estudos mais profundos e rigorosos projetos mais motivadores A eventual publicação na internet ou uma apresentação repleta de efeitos especiais deveriam ser mera conseqüência O ponto de partida para o uso de qualquer tecnologia educacional deve sempre ser o aprofundamento do entendimento de um fenômeno Se o computador é usado apenas como uma máquina de apresentação estamos perdendo parte de seu potencial Mesmo assim vale lembrar que algumas das novas tecnologias de publicação como os blogs e wikis apresentam grande van tagem elas permitem que os alunos estejam no controle da publicação de seus trabalhos o que normalmente os mantém muito mais motivados Mas não há como falar de novas tecnologias sem citar a educação a distância no Brasil muito utilizada para capacitação de professores e ensino profissional A princípio parece uma tecnologia promissora seus defensores dizem que por um custo muito reduzido conseguese atingir um número muito maior de pessoas independentemente da localização geográfica Entretanto é preciso desvendar dois mitos sobre a educação a distância em primeiro lugar o baixo custo Dependendo do tipo de curso da infraestru tura tecnológica necessária e da quantidade de recursos humanos para tutoria e suporte o custo de desenvolvimento de aplicação miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 158 159 de um curso a distância pode ser igual ou maior do que o presencial Portanto a idéia da distribuição por meio da internet como uma solução mágica para os problemas da educação tem se mostrado no mínimo duvidosa O segundo mito a ser derrubado é o de que a mídia não influencia o conteúdo Ora como a internet não permite o contato físico todas as interações precisam ser virtualizadas Mas há atividades que perdem o sentido sem presença física como experimentos em laboratórios de química falar em público dissecar um rato ou observar a fauna de região Virtualizar o que precisa ser presencial invariavelmente reduz a qualidade da interação em outras palavras há mídias que simplesmente não se prestam a ensinar alguns tipos de conteúdos Quando virtualizamos o labo ratório de química para colocálo em uma página web freqüentemente ele deixa de ser um laboratório de verdade A educação a distância portanto é uma ferramenta adicional que se usada adequadamente pode ajudar alunos e profes sores Entretanto se utilizada como solução universal para qualquer tipo de conteúdo públicoalvo e faixa etária é receita certa para o fracasso Voltamos portanto ao ponto inicial o que deve orientar o educador é o foco no conteúdo e na sua filosofia pedagógica e não a tecnologia ou a forma de publicação e distribuição dos materiais didáticos PLURALISMO EPISTEMOLÓGICO Não é novidade alguma dizer que cada pessoa tem um estilo diferente de aprendizado O lado perigoso disso é deixarmonos levar pela superficialidade das inteligências múltiplas e achar que os talentos de cada estudante podem ser padronizados O pro fessor Dor Abrahamson de Berkeley EUA mostrou que freqüentemente o que acontece na sala de aula é que os alunos clas sificados como racionais ou matemáticos acabam por fazer o trabalho intelectualmente superior e os alunos mais manuais ou concretos terminam por fazer as tarefas de baixa carga cognitiva Não queremos que as crianças saiam da escola ainda mais estratificadas do que entraram é fundamental portanto lidar com esse problema de forma diferente Seymour Papert e Sherry Turkle em 1991 defenderam a idéia do pluralismo epistemológico Segundo eles alunos têm estilos diferentes de abordar problemas uns preferem planejar como chegar à solução outros preferem ir por tentativa e erro É exatamente aí que entra uma das grandes contribuições da tecnologia ela abre um leque sem precedentes de ferramentas de trabalho Os alunos podem ter vários pontos de partida para o aprendizado Uns podem partir da observação e análise de dados outros de um videodocumentário ou ainda da criação de um modelo matemático Com mais ferramentas e com facilidade de transição entre elas é mais provável que cada aluno ache a tecnologia com a qual se sinta mais confortável para iniciar um projeto Caberá ao professor então a delicada e complexa tarefa de orientar os alunos para que primeiramente encontrem uma porta apropriada para se engajar no projeto e depois também experimentem as outras tecnologias e atividades disponíveis miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 159 160 DA NARRATIVA LINEAR AO MODELO CIENTÍFICO Se há uma característica humana que permaneceu inalterada através dos séculos é a nossa incondicional paixão por histórias Adoramos contálas ouvilas e aprender por meio delas O que atrairia mais público um filme sobre a dramática história de vida de Galileu Galilei ou um documentário sobre as formulações matemáticas que ele criou Em termos pedagógicos nossa paixão pela narrativa tem um lado muito positivo contar histórias é uma excelente forma de ensinar e aprender Entretanto a narrativa tradicional segue uma trajetória linear as ações têm começo meio e fim Os fenômenos da natureza entretanto não se encaixam no modelo tradicional do contador de histórias Andy Anderson professor da Michigan State University ver seção de linques alerta que especialmente em educação ambiental é preciso preparar os alunos para fazerem a transição entre o raciocínio narrativo e aquele baseado em modelos científicos Mas o que quer dizer isso Narrativas são lineares e centradas em personagens e cenários particulares enquanto modelos científicos são baseados em princípios gerais ciclos e processos nãolineares O desperdício de energia a extinção de espécies a poluição dos mares o aquecimento global todos esses fenômenos têm suas versões lineares narrativas mas queremos que os alunos possam ir além entendendo seus aspectos sistêmicos Cada um desses problemas envolve uma complexa e interdependente rede de relações quase impossível de ser capturada e modelada sem a ajuda das tecnologias digitais TRÊS EXEMPLOS DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Simulações e modelamento por computador o software NetLogo Logo é uma linguagem de programação para crianças criada nas décadas de 1960 e 1970 por Seymour Papert do Massachusetts Institute of Technology MIT Papert teve uma idéia revolucionária criar uma linguagem para que crianças programem o computador e não sejam programadas por ele No ambiente Logo as crianças escrevem programas para controlar uma peque na tartaruga na tela do computador construindo modelos matemáticos manipulando dados ou criando trabalhos artísticos No início da década de 1990 Uri Wilensky e Mitchel Resnick alunos de Papert tiveram a idéia de expandir a linguagem Logo para que se pudesse manipular não apenas umas poucas tartarugas mas milhares delas Nasciam o StarLogo e o NetLogo Esse último evoluiu muito nos últimos anos e é hoje um software completo de simulação e modelamento científico cujo desenvolvi mento é coordenado pelo Prof Wilensky na Northwestern University em Chicago EUA Mas qual a vantagem de controlar milhares de tartarugas no computador A principal é que em vez de usar fórmulas com plicadas para entender os fenômenos naturais no ambiente NetLogo os alunos podem atribuir comportamentos simples a cada miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 160 161 uma das tartarugas e deixálas interagir durante a simulação Vejamos por exemplo a aplicação disso no estudo de química Em vez de decorar as complicadas equações que descrevem as reações químicas os alunos podem se concentrar em algo muito mais simples o comportamento microscópico de cada molécula Mas como isso é possível Basta estabelecer que cada tartaruga na tela do computador será uma molécula e programar dois comportamentos bastante simples 1 as moléculas se movem até encontrar algum obstáculo 2 se duas moléculas se chocam elas se combinam e formam uma outra molécula Incrivelmente essa simples formulação reproduz o resultado previsto pelas equações Outro exemplo é a dinâmica de populações Muitos alunos têm dificuldade em entender como populações de diferentes espécies podem ao mesmo tempo variar em tamanho e continuar em equilíbrio ou como pequenas variações populacionais podem ter conseqüências catastróficas para um ecossistema Fica mais fácil entender a dinâmica desses processos construindo um modelo computacional Nesse caso precisaríamos criar três entidades na tela do computador lobos carneiros e vegetação e apenas três regras simples lobo come carneiro carneiro come vegetação e vegetação se regenera de acordo com uma taxa determi nada pelo usuário Essas seriam as regras locais do sistema muito mais fáceis de serem entendidas do que as regras globais ou fórmulas complicadas Na Figura 1 esq temos um resultado típico no gráfico vemos que o tamanho das populações oscila mas elas continuam em equilibro relativo Mudando a taxa de regeneração da vegetação as quantidades de lobos e carneiros ou sua taxa de reprodução os alunos podem experimentar uma infinidade de cenários e daí tirar conclusões esclarecedoras sobre a fragilidade e a nãolinearidade do equilíbrio entre as espécies Na Figura 1 dir vemos outro exemplo nesse caso tratase do efeito da água pluvial na erosão de um terreno a partir de dados reais de uma cadeia montanhosa Figura 1 Um modelo computacional de dinâmica populacional esq e de erosão do solo dir miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 161 162 Mapeamento de informações geográficas o MyWorld O MyWorld Meu Mundo é atualmente o mais completo software de georreferenciamento para uso educacional Com ele os alunos podem acessar mapas e bases de dados georreferenciadas do mundo todo e fazer uma infinidade de estudos Mas antes de dar exemplos vamos entender o que é uma base de dados georreferenciada Imagine por exemplo uma tabela com a população de cada cidade brasileira Se adicionarmos a cada linha da tabela as coordenadas latitude e longitude das cidades temos uma tabela georreferenciada ou seja cada dado atrelado às suas respectivas coordenadas geográficas A grande vantagem é a geração automática de mapas Com isso os alunos podem analisar e cruzar informações de forma visual Imagine o leitor por exemplo que queiramos estudar a relação entre a qualidade do solo e a mortalidade infantil para entender os efeitos econômicos das secas no semiárido brasileiro Com o MyWorld podemos sobrepor o mapa da mortalidade infantil com a pluviometria e a composição do solo com um código de cores adequado podemos facilmente identificar as áreas mais críticas Softwares de mapeamento georreferenciado permitem que os alunos superponham camadas de dados e estudem suas interrelações de forma visual e simples Figura 2 Tela do MyWorld Além do MyWorld há uma série de softwares similares como o Quantum GIS o TerraView traduzido para o português ou mesmo o Google Earth que permite que se adicione uma camada de dados personalizada a seus mapas de satélite miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 162 Figura 3 O TerraView para mapeamento georreferenciado e o Google Earth mostrando o Grand Canyon Coleta de dados ambientais a placa Gogo O terceiro e último exemplo que iremos abordar é a coleta eletrônica de dados A palavra eletrônica deve assustar muitos educadores afinal equipamentos eletrônicos são normalmente muito caros para as escolas A placa Gogo porém é uma alternativa de código aberto e baixo custo em relação aos equipamentos de coleta de dados comerciais Como é de código aberto a placa pode ser montada na própria escola por alunos e professores Diversas escolas no Brasil já usam a placa para pesquisar a qualidade da água e do solo ou os ciclos de temperatura e a umi dade do ar ao longo do dia ver o projeto A Cidade que a Gente Quer Muitas vezes a placa é deixada durante dias inteiros coletando dados Depois os alunos passam as informações para o computador e criam gráficos e modelos para entender o comportamento do fenômeno e as possíveis formas de intervenção Vale mencionar também o projeto Globe da Nasa com uma idéia semelhante em mais de cem países alunos trabalham na coleta de dados geográficos de todo tipo e depois os enviam a um servidor central que faz o mapeamento mundial 163 miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 163 164 CONCLUSÃO Vimos neste texto que o uso das tecnologias deve sempre estar apoiado em princípios pedagógicos coerentes Não adianta fes tejar a liberdade da internet ao mesmo tempo impor um regime autoritário na sala de aula Daí a importância de ferramentas de publicação descentralizada e democrática como os blogs ou wikis Mas a publicação na internet não é tudo é fundamental que o conteúdo tenha qualidade Sugerimos então três tipos de tecnologias com grande potencial para gerar investigações originais e cientificamente sólidas modelamento por computador mapeamento eletrônico e coleta automatizada de dados ambientais Livre das amarras dos currículos tradicionais a educação ambiental encontrase na privilegiada situação de poder reinventarse frente às novas tecnologias Curiosa ironia o ambientalismo que já reinventou a cidadania a utopia e os movimentos sociais agora quem sabe reinventará a escola miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 164 165 PARA SABER MAIS ABRAHAMSON D Professor Dor Abrahamson Berkley UC Berkeley sd Disponível em httpedrlberkeleyedudor BLIKSTEIN P Paulo Blikstein Disponível em httpwwwbliksteincompaulo CENTER FOR CONNECTED LEARNING NetLogo Disponível em httpcclnorthwesternedu Artigos projetos e download gra tuito do software FUTURE OF LEARNING Placa GoGo Disponível em httpwwwgogoboardorg Projetos artigos e instruções de montagem GEOGRAPHIC DATA IN EDUCATION MyWorld Disponível em httpwwwworldwatcher northwesternedu Artigos e versão gratuita por 45 dias MICHIGAN STATE UNIVERSITY Professor Andy Andersons homepage Disponível em httpwwwmsueduandya PAPERT S Works by Professor Seymour Papert Disponível em httpwwwpapertorg QUANTUM GIS Disponível em httpqgisorg Alternativa gratuita ao MyWorld SÃO PAULO Secretaria Municipal de Educação et al Projeto A Cidade Que a Gente Quer São Paulo Secretaria Municipal de Educação Massachussets Institute of Technology Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP Agência Estado 2002 Disponível em httpwwwbliksteincomsmesp e em httpcidadeestadaocombr Artigos exemplos de projetos fotos TERRA VIEW Projeto Terra View Disponível em httpwwwdpiinpebrterraview Alternativa gratuita ao MyWorld UNITED STATES OF AMERICA Department of State et al The Globe Program Disponível em httpwwwglobegov Artigos mapas material de suporte e experimentos ARTIGOS RELACIONADOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARTICIPAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA EDUCOMUNICAÇÃO E MEIO AMBIENTE miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 165 miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 166 Educomunicação e Meio Ambiente Grácia Lopes Lima e Teresa Melo A PARTIR DE ALGUMAS DAS CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO E OS EFEITOS DE CADA UMA DELAS NA VIDA DAS PESSOAS E NA CONFIGURAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA ESTE TEXTO APRESENTA DE QUE MANEIRA A EDUCOMUNICAÇÃO É UMA POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUJEITO E DE SUA RELAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE PALAVRASCHAVE EDUCOMUNICAÇÃO EDUCAÇÃO AMBIENTAL AUTORIA miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 167 168 O TERMO EDUCOMUNICAÇÃO É UM NEOLOGISMO ou seja uma palavra nova fruto da junção de duas outras já conhecidas educação e comunicação Porque une elementos característicos dessas duas ciências mas ultrapassa seus limites a Educomunicação vem sendo apontada como um novo campo do conhecimento Quais são as novidades dessa proposta Em que ela se diferencia do já conhecido O que ela tem a ver com educação ambiental São algumas das perguntas orientadoras deste texto que pretende contribuir para que a escola seja um dos espaços possíveis para a sua realização Para compreender seu conceito convém antes retomar em separado algumas das concepções dessas duas ciências e princi palmente os efeitos de cada uma delas na vida das pessoas e na configuração da sociedade brasileira Comecemos por educação mesmo que de modo sucinto pensando no contexto histórico no pano de fundo em que ela se assentou durante muito tempo em nosso país Usando o mesmo raciocínio que em geral adotamos para analisar o rendimento escolar de alunos vamos considerar as condições em que cresceu a população brasileira De 1500 até hoje vivemos mais de três séculos sob regime de escravidão e quase 40 anos governados por ditadores que se revezaram no poder30 Isso significa em breves palavras que castigos físicos e outras dores talvez mais agudas que as sentidas no corpo fizeram parte das nossas aprendizagens A maior parte da nossa história foi marcada por um modelo cruel e desumano de pensar e de agir Impossível negar tais reflexos na nossa formação Isso pode explicar em grande medida por exemplo porque fomos durante tanto tempo em que pesem os movimentos de resistência que sempre existiram um povo que soube tão bem agüentar silenciar obedecer consentir Explica também por que nas relações que estabelecemos nos é tão fácil em maior ou menor escala causar sofrimento nos outros e abusar do poder Sustentados por uma sólida pedagogia 31 esses valores prevaleceram fora e dentro da escola Na instituição escolar em par ticular muito se ensinou a submissão e a infração Andar em fila atender ao sinal sentar um atrás do outro sinônimos de ordem 30 De escravidão 388 anos mais 18 anos de ditadura Vargas 1930194519511954 mais 21 anos de governo militar 1964 a 1985 totalizam 427 anos 31 Tal pedagogia concebe a educação como prática da dominação em que o oprimido hospeda o opressor ou seja os valores dos representantes da classe dominante miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 168 169 para boa parte dos educadores nos levou a associar respeito à obediência de comando a olhar a nuca dos companheiros em vez de nos seus olhos para com eles aprender a conversar sobre o cotidiano e a vida em comum Se o gado falasse ele não iria tão mansamente para o matadouro diz a expressão que corre entre o povo buscando traduzir em miúdos as conseqüências desse tipo de comportamento Provar conhecimento repetindo palavras dos outros tirar boas notas para ser motivo de orgulho da família ou por medo de bronca ou coisa pior promoveram a aprendizagem da competição da mentira Ou seja descontados esses tempos de agruras vale dizer que há bem poucos anos é que começamos a construir uma outra história E por tais motivos tornase compreensível que ainda estejamos tão longe do que necessitamos Muito temos que entender para superar então o que ainda nos amarra Pensemos agora sobre comunicação social ou seja sobre os meios de comunicação em nosso país as relações que eles mantêm conosco e viceversa Sabemos que sua função não é educar a sociedade muito menos as pessoas em idade de formação Porém observando linguajar modo de se arrumar preferências musicais opiniões defendidas por muitos daqueles que conhecemos ou com quem convivemos temos que admitir a influência que o rádio a mídia impressa e a televisão em especial exercem sobre todos nós Podemos afirmar nesse sentido que os meios de comunicação também educam E educam na grande parte das vezes não para que sejamos nós mesmos e sejamos mais solidários uns com os outros Muito pelo contrário ensinam a confundir desejo com necessidade precisaríamos de fato ter comprado as tantas coisas que temos a repetir discursos que não são nossos a olhar e valorizar o que está distante e debochar daquele que é próximo e parecido conosco não é o que fazemos quando alguém aparece dando tchauzinho com a mão atrás de um entrevistado na televisão Por que isso acontece assim dessa maneira Por muitos e muitos motivos entre eles um oportuno de se tocar aqui as mídias no Brasil estão sob controle de apenas alguns grupos que veiculam informações similares homogêneas Para garantir e aumentar o lucro que os anúncios publicitários lhes rendem criam e veiculam conceitos que são os indutores da aquisição dos produtos que anunciam Estamos satanizando a mídia atribuindo a ela poderes que vencem o nosso livre arbítrio Não Em hipótese alguma Seríamos no mínimo ingênuos se ignorássemos que entre a mensagem e o que fazemos com ela existem valores culturais familiares e religiosos entre outros que pesam todas as vezes que temos que tomar decisões32 Seríamos estúpidos se não reconhecêssemos 32 Os pressupostos fundamentais dos Estudos Culturais são a análise da ação da mídia atentando sobre as estruturas sociais e o contexto histórico como fatores essenciais para a com preensão da ação desses meios Ocorre o deslocamento do sentido de cultura da sua tradição elitista para as práticas cotidianas wwwwikipediaorg miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 169 170 que apesar de tudo os meios de comunicação nos possibilitam o que presencialmente não nos seria possível Estamos apenas tentando evidenciar a necessidade que temos nós educadores de entender a pedagogia de que se valem os detentores dos veículos para alcançar suas metas e os desastres decorrentes do monopólio da comunicação para a nossa formação Porém e sempre existe um porém a história felizmente é movimento por excelência Assim tanto o barateamento quanto o acesso às tecnologias vêm se constituindo num dos fatores que aumentam cada vez mais a chance de se modificar esse quadro Considerando esse aspecto podemos esclarecer agora o que estamos chamando de Educomunicação Estamos nos referindo à possibilidade de usar os mesmos meios de comunicação como verdadeiras ferramentas igual a pá é para o pedreiro para construir uma educação diferente dessa que criticamos Usando computador internet equipamentos de rádio de vídeo ou outro qualquer é possível às pessoas passarem de consumidoras de informação a produtoras de comunicação Se aumentar o número de gente contando os fatos que acontecem nos lugares que habitam do seu jeito estará quebrado o monopólio da mídia No lugar do senso comum instaurado pelas grandes redes de comunicação que buscam padronizar nossas idéias e sentimentos haverá a abordagem dos acontecimentos sob diferentes pontos de vista Quanto maior for o número de versões dos fatos mais rica será a chance de pensarmos sobre o que chega aos nossos olhos e ouvidos Esta é a grande possibilidade da educomunicação na escola certamente aqueles que desde pequenos tiverem a oportunidade de aprender a usar as tecnologias para dizer o que sentem e pensam de si dos companheiros e da vida que levam serão com o tempo mais observadores e responsáveis pelo que dizem uns aos outros Mais se for criado um espaço no currículo prevendo a veiculação regular das produções dos alunos certamente os meninos e meninas crescerão mais altivos e seguros nada mais embota o conhecimento do que ter vergonha de perguntar de aparecer em público Os exercícios sistemáticos de produção de comunicação possibilitarão a essas pessoas em idade de formação crescer sabedoras de que os meios podem ser usados a favor de si e dos seus companheiros Não estamos querendo dizer entretanto que tudo se resolve com a mera implantação de projetos chamados de educomunicação Não As questões que estão embutidas na produção de comunicação são bastante complexas e sobre elas é preciso pensar mais um pouco Tomemos por exemplo a matériaprima da comunicação a palavra Já vai longe o tempo em que se pensava o trabalho com a linguagem verbal apenas como estudo do seu código da sua gramática Hoje sabemos que a língua é um signo ideológico sempre presente em nossas práticas sociais e um elemento fundamental na nossa formação como sujeitos Trabalhar a linguagem miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 170 171 verbal seja ela oral ou escrita sob essa perspectiva não é tarefa fácil requer o entendimento de que vai muito além da fragmen tação disciplinar e dos conteúdos curriculares previamente estabelecidos A linguagem verbal perpassa todas as áreas do conhecimento não é exclusiva do ambiente escolar e está presente em todas as nossas atividades Mesmo assim muitas vezes nos queixamos de que as os meninasos não sabem falar não sabem escrever Quantos de nós educadorases lembramonos da angústia que nos acometia quando um professor anunciava escreva com as suas palavras Quais eram as nossas palavras Tantas palavras existiam nos dicionários nos livros didáticos ou na literatura de leitura obrigatória E também as palavras que não circulavam na escola as palavras das revistas dos jornais as pronunciadas na família ou com os amigos As palavras que dizíamos a nós mesmos tentando nos explicar e explicar o mundo que líamos Hoje percebemos que esse sentimento de infância tinha a ver com o fato de estarmos sempre sendo solicitados a dizerdenovo oquealguémjáhaviadito Na verdade nem todos nossos professores acreditavam que a gente tinha alguma coisa própria a dizer E de onde viriam essas nossas palavras a não ser da experiência cotidiana do espanto com o mundo do intrigarse con sigo mesmo do entender o que está perto e o que está longe É nesse sentido que a educomunicação trabalha com a palavra aquelas que são dasos meninasos e podem vir de qualquer lugar mas principalmente dos lugares que fazem sentido para elases Reunir a prática educomunicativa à educação ambiental fica pleno de sentido nessa perspectiva Vamos tentar ver essa afirmação mais de perto a partir do que sabemos 1 Sabemos que para que a gente possa pensar sobre meio ambiente é preciso que essa questão esteja construída dentro de nós Significa entender que as relações entre os seres vivos e suas ações interferem no ambiente em que vivem Não nascemos com essa questão já construída dentro de nós precisamos aprender sobre ela para poder perceber as relações entre a nossa vida e a vida do Planeta 2 Sabemos que a questão ambiental tem sido construída especialmente nas últimas quatro décadas33 por um processo de par tilhamento é na interseção e no diálogo entre a pesquisa científica o saber popular a atuação de organizações da sociedade 33 A respeito disso diz Edgar Morin Creio que todas as civilizações todas as comunidades tiveram uma concepção do mundo e a preocupação de situar de inscrever os humanos no cos mos Ora há cerca de 40 anos estamos diante de um mundo singularmente novo E temos que nos situar neste mundo do qual não passamos evidentemente de uma minúscula parte Mas o paradoxo é que se essa parte se encontra num todo gigantesco o todo se encontra ao mesmo tempo no interior dessas parcelas ínfimas que nós somos pois aquilo que é a coisa mais exterior a nós mesmos isto é as partículas que se constituíram no início do universo esses átomos que se forjaram nas estrelas essas moléculas que se constituíram na Terra ou em outro lugar tudo isso encontrase também no interior de nós mesmos MORIN 2002 miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 171 172 a recente inclusão do setor empresarial ecologicamente responsável os espaços educativos e a comunicação midiática que se vai delineando a construção social da questão ambiental Do mesmo modo que ninguém nasce com a questão ambiental já construída dentro de si a sociedade também vai aprendendo sobre o tema e passa a perceber a relação entre a vida de todos e a vida do Planeta Para isso temos que estar atentos ao que a humanidade já aprendeu e produziu sobre meio ambiente ou seja o saber ambiental 3 Sabemos que nessa construção do saber ambiental a utilização das linguagens e tecnologias de comunicação foi decisiva para formar a opinião pública e o nosso entendimento sobre o tema34 A comunicação ambiental perpassa corporações governos organizações nãogovernamentais e universidades está presente na televisão no rádio no jornal e nas redes ambientais que se formam pelo mundo todo por meio da internet 4 Sabemos que a escola é um lugar privilegiado para a construção da questão ambiental Essa possibilidade se apresenta em duas vias por um lado podemos discutir o saber científico e o saber popular por outro podemos ter acesso ao que é de interesse de todo o Planeta e ao que é específico da comunidade na qual estamos inseridos 5 Sabemos que podemos ser também produtores desse saber35 dentro de uma realidade sobre a qual refletimos e só nós enten demos cada escola tem uma configuração única de espaço pessoas e relações entre estas e seu espaço E não há nada de mis terioso nisso basta a gente olhar à nossa volta e perceber como somos únicos 6 Sabemos que podemos e devemos tornar público o nosso entendimento da questão ambiental E que publicar nossos saberes tem a ver com usar as linguagens da comunicação social o rádio o vídeo o jornal o panfleto o jornalmural a internet seja qual for o alcance de cada uma dessas mídias ou nosso acesso à produção de cada uma delas E sabendo disso e que somos únicos e que somos produtores do saber do nosso espaço voltamos à palavra Tantas palavras Entre elas quais são as nossas palavras sobre meio ambiente Serão apenas aquelas já pautadas pela mídia desde a preservação 34 Há uma década Ramos já analisava Nos últimos anos temse verificado um aumento significativo de publicações documentários campanhas de publicidade sobre o meio ambiente mas é sobretudo por meio dos jornais e da televisão que as questões ambientais têm chegado ao conhecimento pela primeira vez de segmentos da sociedade que nunca tinham tido acesso ao tema já que até então essas informações circulavam basicamente em espaços restritos na comunidade científica em seminários e palestras em publicações especializadas revistas técnicas e livros RAMOS 1995 35 Para tanto é preciso além da problematização da questão ambiental construir um saber ambiental em sua complexidade o qual segundo Leff propõe a questão da diversidade cul tural no conhecimento da realidade mas também o problema da apropriação de conhecimentos e saberes dentro de diferentes ordens culturais e identidades étnicas O saber ambiental não apenas gera um conhecimento científico mais objetivo e abrangente mas também produz novas significações sociais novas formas de subjetividade e de posicionamento ante o mundo LEFF 2001 miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 172 173 dos micosleõesdourados e baleias até a reciclagem de garrafas pet Até que ponto compramos as idéias e empunhamos as ban deiras que nos são apresentadas pelos jornais as rádios a tv Somos capazes de perceber as nossas verdadeiras relações com nosso meio ambiente Estamos preparados para provocar ouvir e ler as palavras de nossasos meninasos a respeito disso Quando pensamos educomunicação e meio ambiente temos que estar preparados para entender a complexidade do tema Não há respostas nem receitas Sabemos que é preciso beber nas fontes do saber já elaborado mergulhar no entendimento do saber que só nós seremos capazes de construir e achar os canais para divulgação desse saber Ao olhar à sua volta perguntar pesquisar duvidar e entender que nossasos meninasos estão construindo a questão ambien tal Ao escrever fotografar desenhar falar estão registrando e elaborando esse saber E ao tornar público esse processo seja em um produto de rádio vídeo ou de palavras escritas em jornal boletim cartaz jornalmural folheto e tantas outras maneiras de se escrever a palavra está realizada a prática educomunicativa Acreditamos que ao fazerem isso podem dizer as coisas com suas próprias palavras aquelas que não prescindem dos livros dos professores mas que são suas na medida em que são frutos do que querem dizer do mundo que lêem E elas vão além das fragmentações disciplinares não são privilégios do professor de língua portuguesa ou de biologia mas se expandem Pensar sobre e escrever sobre meio ambiente reúne as relações entre geografia história economia matemática cultura filosofia biolo gia e tantas outras perspectivas que devem estar juntas para fazer sentido em nossa compreensão do mundo É dessa compreensão e da nossa escrita dela que podemos produzir alguma coisa que seja de nossa autoria Nesse sentido pesquisar e entender o meio ambiente produzir conhecimento sobre ele e divulgálo é a colaboração que a educomunicação oferece a cada um de nós para que sejamos autores da nossa história Afinal o que é o autor se não o escritor de suas próprias palavras o sujeito de seu discurso O que estamos propondo em síntese é que nós professores que entendemos a base que sustenta as ações de educo municação podemos garantir espaços na escola para que essas questões todas sejam trabalhadas E o que nos alegra é que esse trabalho não está por começar Ele já começou e de forma bastante sólida através por exemplo das ações desenvolvidas nas duas Conferências Nacionais Infantojuvenis pelo Meio Ambiente e no Programa Juventude e Meio Ambiente São muitas as crianças e jovens espalhados por todos os estados brasileiros que sentiram um pouquinho do gosto bom que é exercer o direito à comunicação Assim como eles há em cada escola meninasos que querem dizer as suas palavras e são asos colaboradorases para a continuidade dessa proposta Vamos dar voz a essas palavras miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 173 174 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE P Pedagogia do oprimido Rio de Janeiro Ed Paz e Terra 1970 LEFF E Epistemologia ambiental São Paulo Cortez 2001 p 169 MORIN E A religação dos saberes o desafio do século XXI 2ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2002 p 27 RAMOS L F A Meio ambiente e meios de comunicação São Paulo Annablume Fapesp 1995 p 30 PARA SABER MAIS ATIBAIA Secretaria Municipal de Atibaia Programa de Educomunicação de Atibaia Disponível em httpwwwportalgenscombratibaia O site documenta o processo de implantação do Programa de Educomunicação como forma de fortalecer o Programa de Educação Ambiental para todas as escolas públicas do município BRASIL Ministério da Educação Produtos de educomunicação produzidos pelasos dele gadasos da II Conferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente Disponível em httpcgsimecgovbr8080conferenciainfantoprodutoseducomunicacaophp CALABOCA JÁ MORREU Projeto Calaboca já morreu Disponível em httpwwwcala bocajamorreuorg ONG com atuação e experiência na área de educomunicação DESLIGUE A TV Disponível em httpwwwdesligueatvorgbr Campanha para mobi lizar a opinião pública sobre os males do excesso de televisão no cotidiano discutindo o seu uso e colaborando com a divulgação e criação de atividades alternativas LIMA G L MELO T Manual de educomunicação da II Conferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente Brasília MEC CGEA 2006 Disponível em httpcgsimecgovbr8080conferenciainfantoMANUALDEEDUCOMUNICACAOfinalrevpdf SOARES I de O ComunicaçãoEducação a emergência de um novo campo e o perfil de seus profissionaisIn Contato Revista Brasileira de Comunicação Arte e Educação n 2 Brasília Senado Federal Gabinete do Senador Artur da Távola 1999 pp 1974 ARTIGOS RELACIONADOS PENSANDO SOBRE A GERAÇÃO DO FUTURO NO PRESENTE JOVEM EDUCA JOVEM COMVIDAS E CONFERÊNCIA AS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDU CAÇÃO AMBIENTAL INSTRUMENTOS PARA MUDAR O JEITO DE ENSINAR E APRENDER NA ESCOLA PENSANDO EM COLETIVOS PENSANDO NO COLETIVO DO ÔNIBUS ÀS REDES SOCIAIS miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 174 175 miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 175 miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 176 Pensando em coletivos pensando no coletivo do ônibus às redes sociais Patricia Mousinho e Lila Guimarães AS REDES COMO PROCESSOS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL SÃO CAPAZES DE FOMEN TAR AS RELAÇÕES HORIZONTAIS E EXPANDIR AS POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO E ENGAJAMENTO DOS PROFESSORES E ESTUDANTES DESSE MODO ELAS PODEM CONTRIBUIR PARA MAIOR INTEGRAÇÃO ESCOLACOMUNIDADE É O QUE PROCURA MOSTRAR ESTE RELATO DE UM DIA NA VIDA DE UMA PROFESSORA PALAVRASCHAVE REDES HORIZONTALIDADE MOBILIZAÇÃO CONEXÕES COLETIVO INTEGRAÇÃO ESCOLACOMUNIDADE miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 177 178 COMEÇA MAIS UM DIA NA VIDA DE DONA IAIÁ O cheirinho de café recémcoado se espalha pela casa e avisa a seu companheiro que é hora de vir para a mesa Seu Boni marceneiro de ofício e vocação mal acabara de abrir a oficina e já se apressava em levar a sua esposa a notícia que ouvira no rádio greve de ônibus Aborrecido em estragar com um problema a única refeição que compartilham o sagrado momento das conversas que precedem e preparam para o dia de trabalho que vem pela frente rendese aos fatos Dona Iaiá resignada põese a imaginar de que outra forma chegará à escola visto que não poderá seguir sua rotina a caminhada até a ponte velha da rodovia o ônibus que leva para a região central do Distrito de Loureiro o cen trinho e o ônibus que a deixa a duas quadras do seu destino Olha para o relógiocuco na parede presente da filha que foi morar na capital e se dá conta de que já é tarde para pedir carona ao Heitor da quitanda Ele vai muito cedo para o centrinho gosta de estar com a banca arrumadinha na hora em que as pessoas começam a circular por lá Que pena Porque indo na caminhonete dele Dona Iaiá certamente encontraria no centrinho várias pessoas que como ela estariam à procura de transporte alternativo na ausência dos ônibus Estando lá seria fácil é movimentado E não há nada que o Quim da Casa Lotérica não consiga resolver Ele conhece todo mundo tem solução pra tudo De que outro jeito então vai conseguir chegar ao centro do Distrito Seu Boni trata logo de telefonar para a comadre Tereza que há tantos anos faz o frete dos móveis que ele produz Talvez o velho caminhãozinho resolva o problema da ida de Dona Iaiá para o centrinho e as duas vão adorar colocar a conversa em dia Tereza atende com aquela fala acelerada e aquele jeitão generoso e solidário Mas puxa não será possível ir até o centrinho há uma entrega marcada para de manhã do outro lado da linha do trem É isso o trem A comadre não tem condições de levar Dona Iaiá até o centrinho mas pode deixála na estação ferroviária O trem é uma opção interessante porque na Estação Loureiro há um serviço de kombi permanente é fácil chegar à escola Não é um caminho que ela possa fazer todos os dias porque chegar à Estação do Horto é uma dificuldade não existe linha de ônibus da Vila Oliveira Guimarães Vila OG para lá Essa é uma demanda antiga do povo da Vila mas que até hoje não se resolveu Ficam todos reféns do ônibus que passa pela rodovia e tem uma parada perto do centro do Distrito Tudo combinado e o casal finalmente vai tomar seu café da manhã Que correria que agonia que confusão Seu Boni até que gostou dessa movimentação diferente e adorou ajudar a encontrar uma saída se sentir útil Dona Iaiá ficou muito nervosa porque não admite chegar atrasada na escola e além disso o tumulto reacendeu um problema antigo que havia ficado esqueci do num canto a falta de opções de transporte público para sair da Vila e circular pelo Distrito Deixando para depois essas reflexões a professora cuida de aproveitar o tempinho que resta ao lado do companheiro e muda o rumo da prosa para analisar o lado bom da história algo que inicialmente parece um obstáculo pode se transformar numa oportunidade de olhar o mundo com outros olhos e perceber que para se chegar a algum lugar existem alternativas caminhos escolhas miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 178 179 Dona Iaiá ouve a buzina do caminhãozinho e se despede de Seu Boni Enquanto ela parte junto com a comadre Tereza rumo à Estação do Horto ele se apressa em ir para a oficina nos fundos de casa precisa adiantar o berço do neto que está para chegar No trem Dona Iaiá encontra vizinhos alunos e companheiras de trabalho alguns acostumados àquele trajeto outros usuários do transporte rodoviário Durante a viagem todos conversam sobre as diversas possibilidades de ir para o centrinho quando não podem contar com os ônibus que passam pela rodovia O trem segue em seu ritmo cadenciado na direção da Estação Loureiro Na certeza de que lá encontrarão o serviço de kombi que já funciona há tempos relaxam e a conversa flui animada Dona Iaiá se perde em seus pensamentos Alegrase ao perceber que a greve de ônibus lhe trouxe uma boa oportunidade de pôr a prosa em dia com a comadre ela estava ansiosa para contar as novidades da gravidez da filha Raquel e dos preparativos para a chegada do primeiro neto E mais todos aqueles acontecimentos fizeram com que a tal aula sobre organização social em redes que tanto a incomodava há semanas deixasse de parecer um bichodesetecabeças Naquele momento ficou claro para a professora que as redes estão por todo lugar rede de estradas rede ferroviária rede de escolas rede de energia rede de lojas rede de computadores As redes sobre as quais ela vai conversar com sua turma porém são diferentes elas passam por essa idéia de um conjunto de unidades pontos elementos que estão interligados que se comu nicam mas vão um bocado além miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 179 180 As redes como processo de organização social sempre causaram muito encantamento a Dona Iaiá horizontalidade democracia autonomia descentralização Ao mesmo tempo em que essa proposta de rede responde às suas aspirações de como o mundo poderia ser como as pessoas deveriam se relacionar a idéia de ter que dar uma aula sobre o tema causava muita angústia Temia que os alunos não pudessem compreender conceitos tão diferentes da realidade que viviam Afinal tanto em casa quanto na escola e em todos os demais espaços que freqüentam o cenário costuma ser outro As relações verticalizadas predominam a estrutura social é bem representada pela pirâmide onde existe um topo de onde vêm as ordens os comandos a atribuição de tarefas literalmente de cima para baixo Vertical mesmo Nas redes o desenho é outro em vez de verticalidade horizontalidade Vários pontos pessoas por exemplo que estão ligados entre si mas sem qualquer relação de subordinação em vez de um acima do outro os pontos estão espalhados e se ligam através de linhas e desse modo se constrói a teia a rede Uma característica interessante da forma das redes é a multiplicidade de caminhos existentes O que isso quer dizer A experiência de hoje vai ajudar muito na hora de explicar essa questão Dona Iaiá e todos os seus alunos e colegas de trabalho queriam chegar até a escola Aqueles que moram na Vila OG se depararam logo cedo com um empecilho não poderiam seguir seu caminho habitual porque os ônibus estavam em greve Acontece que não existe apenas um caminho para levar as pessoas da Vila até a escola Dona Iaiá por exemplo pensou em outros dois caminhos uma carona com Heitor da quitanda até o centrinho onde outras pessoas com o mesmo problema poderiam arrumar um jeito de chegar à escola ou uma carona até a Estação do Horto já que na Estação Loureiro seria possível pegar uma kombi até a escola É claro que se existissem linhas de ônibus servindo à Vila atendendo ao Distrito de Loureiro a história seria outra mas para pegar um ônibus que passe perto do centrinho só mesmo indo até a rodovia Pois bem da mesma forma que existem caminhos diversos para sair da Vila e chegar à escola existem também caminhos diver sos para se chegar a uma determinada pessoa Dona Iaiá se recorda do caso do seu afilhado filho da Tereza que queria conhecer a filha do Heitor e pediu à madrinha para apresentálo à menina Dona Iaiá achou inadequado porque Heitor é um camarada muito ciumento com aquela pequena e não queria se indispor com ele Persistente o menino descobriu que jogava bola todo sábado com o primo da garota pronto conseguiu chegar até ela Ou seja fezse a conexão É isso que faz uma rede existir as conexões que se estabelecem a cada momento Dona Iaiá se empolga ao identificar aí mais uma característica das redes a multiplicação e o dinamismo A rede de amigos do afilhado de Dona Iaiá cresceu se ampliou quando ele conheceu a filha de Heitor E através dela ele fez novos amigos e ela conheceu novas pessoas por intermédio dele Isso pode ocorrer o tempo todo novos integrantes passam a participar de um grupo outros vão embora por isso se diz que as redes são sistemas abertos miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 180 181 Um sorriso vem aos lábios de Dona Iaiá as redes estão mesmo por toda parte basta ajustarmos o nosso olhar para con seguirmos enxergálas A lembrança do episódio de seu afilhado remete a mais um detalhe peculiar das redes os grupos ou redes de amigos e colegas não são estanques isolados As redes podem ter várias dimensões é o que se chama de multidimensionali dade como se fossem conjuntos diferentes que se misturam que têm elementos em comum Essa vai ficar fácil para a profes sora exemplificar seu afilhado tem um grupo de colegas do futebol alguns deles são também colegas de educação de jovens e adultos EJA uns são colegas de escola e também vizinhos outros freqüentam o mesmo curso de artesanato da Associação Comunitária São redes que se misturam com redes que se interrelacionam e se combinam Empolgada e ainda relembrando os fatos daquele início de manhã Dona Iaiá se diverte ao reconhecer no Quim da Casa Lotérica aquilo a que se denomina de ponto hiperconector Palavrinha complicada para uma noção tão simples é aquele que faz muitas conexões aquele ponto por onde passam incontáveis linhas Em resumo aquela pessoa que conhece todo mundo Na cidade é assim que acontece Bateu com o carro Fala com o Quim que ele conhece um lanterneiro que dá jeito nisso A febre da criança não quer passar O Quim indica uma benzedeira que é tiroequeda Não consegue dar um jeito no jardim Ele conhece um moço lá do horto que sabe direitinho que planta vai bem em que lugar O ponto hiperconector é um caminho ágil para se chegar aonde se quer ele reduz a distância entre dois pontos Falando em chegar hora do desembarque na Estação Loureiro A kombi está lotada ficou difícil absorver todo o movimento adicional ocasionado pela falta de ônibus Aflita por causa do horário Dona Iaiá terá que aguardar a saída seguinte Apesar de não tolerar atrasos sabe que são circunstâncias especiais e que hoje todos terão que ser flexíveis com os horários Finalmente consegue chegar à escola onde a greve é o tema central das conversas Sua aula é um sucesso aqueles pensamentos voando durante a viagem de trem foram ótimos para organizar suas idéias em relação ao assunto que antes havia lhe deixado tão ansiosa sem saber exatamente como abordar No decorrer da aula chega a notícia de que a greve acabou e os ônibus voltaram a circular Dona Verinha da cantina viciada em noticiários de rádio informa que no final da tarde tudo estará normalizado A essas alturas entretanto o problema da inexistência de linhas locais de ônibus para atender às necessidades do Distrito de Loureiro tornandoo independente dos ônibus que trafegam apenas pela rodovia e atendem à capital já havia ressurgido A aula de Dona Iaiá sobre organização social em redes provocou debates e levou a uma mobilização que ultrapassou os muros da escola Os alunos se reconheceram como diretamente envolvidos na questão O problema afinal era de todos e de cada um Falavase daquilo as reclamações eram constantes A população precisava também dos ônibus que passam pela rodovia ao largo miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 181 182 do Distrito No entanto havia uma grande demanda por ônibus que circulassem dentro do Distrito conectando por exemplo a Vila OG à Estação do Horto ao centrinho ao bairro da escola Para Dona Iaiá é possível pegar o ônibus na rodovia direto para o centrinho porque ela mora na periferia da Vila quase na estrada Solidária apesar de poder chegar sem dificuldade ao ponto do ônibus ela sempre se preocupou com essa questão um transtorno para a população do Distrito de um modo geral Dona Iaiá e seus alunos no embalo da aula de redes lembraramse da Associação Comunitária que andava meio desmobiliza da por lá ultimamente só restou o curso de artesanato com reaproveitamento de embalagens ministrado por Dona Verinha Animados com a perspectiva de colocar em prática a tal organização social em rede viram aí a possibilidade de revitalizar a Associação Comunitária dentro da visão de horizontalidade resgatando inclusive o papel que ela outrora desempenhava de ponto de encontro da população de Loureiro Estava muito claro para todos eles que as discussões travadas em sala de aula eram apenas um primeiro passo A construção de uma rede é um processo não se decreta uma rede de uma hora para outra As pessoas que compartilham de um desejo comum começam a entrar em contato articulamse reúnemse em torno desse projeto coletivo É por essa razão que se diz que uma rede é uma comunidade de propósito seus integrantes compartilham dos mesmos propósitos Aquele era seguramente o embrião da rede Nascia ali o processo Ao longo das discussões os fundamentos da organização em rede eram pouco a pouco evidenciados Logo de início veio à tona uma dúvida quem iria pagar por essa trabalheira Embora todos tivessem interesse no assunto a opinião era de que todo mundo já tem muito o que fazer Nesse instante alguém se manifestou explicitando o caráter da adesão voluntária à rede isto é as pessoas abraçam um projeto que é do interesse de todos e se dedicam a ele porque desejam fazêlo e não porque serão remuneradas para isso A esse ponto interferiu um outro aluno tem também aquilo do pertencimento não é Dona Iaiá tratou de retomar o conceito de fato muito relevante explicando que no contexto das redes o pertencimento pode ser entendido como a sensação de pertencer a um projeto coletivo e de sentir que esse lugar projeto coletivo pertence a nós Esse sentimento é que nos coloca em movimento para a realização do projeto compar tilhado é ele que nos faz acreditar na nossa capacidadepossibilidade de agir O assunto fluía com um grau de participação tão intenso que Dona Iaiá identificava claramente que o processo ali em anda mento seria bem mais que uma conversa em sala de aula O debate ganhava concretude à medida que mais e mais elementos da realidade local eram incorporados às reflexões Começaram a pensar em qual seria o melhor nome para conduzir o processo Como assim qual o melhor nome Alguém vai mandar e os outros obedecerem Mais uma ficha caía a estrutura era horizon miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 182 183 tal não havia hierarquia o poder não deveria estar centralizado Nãohierarquia nãocentralização Mas se ninguém mandar como é que vai se saber o que precisa ser feito Se não tiver chefe vai ficar todo mundo parado Do fundo da sala vem uma provocação Eu não vou ficar parado não se eu resolvi abraçar esse tal projeto coletivo é porque tenho interesse e se tenho interesse faço acontecer Dona Iaiá informa que esse é o fundamento conhecido como autonomia e o trabalho em rede precisa bastante dessa tomada de decisão individual mas que se baseia no projeto compartilhado Um aluno que andava um tanto calado porém muito pensativo verbaliza sua preocupação Estou entendendo que nessa história de rede todos são iguais todos têm os mesmos deveres e os mesmo direitos É a isonomia certo Só que eu não consi go entender como na prática isso pode funcionar Porque as pessoas são diferentes têm idéias diferentes nível de estudo diferente experiência de vida diferente e por aí vai Mais uma vez se fez necessária a oportuna fala de Dona Iaiá para esclare cer que as redes são espaço de diversidade e portanto espaços de respeito à diferença Os membros de uma rede compartilham de um projeto comum o que não quer dizer que tenham que ser todos iguais A diversidade muito bem retratada pelo aluno agrega enorme riqueza à rede ao reunir experiências e olhares tão variados sobre o mundo A turma toda começou a falar ao mesmo tempo Puseramse a lembrar de todos os moradores da comunidade e a ter idéias sobre a participação de cada um Um personagem muito citado foi o Quim aquele que conhece todo mundo ele foi indicado como um ótimo candidato a assumir a comunicação Nas redes a informação precisa fluir livremente ser de fácil acesso a todos que desejarem Logo se pensou num mural de avisos que poderia ficar na Casa Lotérica de Quim um dos lugares mais freqüen tados do Distrito por abrigar também um posto onde muita gente vai pagar suas contas Mais uma para essa função seria a Dona Verinha da cantina sempre ligada no rádio sabia direitinho em que programas havia espaço para opinião e questionamentos da população A filha de Maria Silva proprietária do Sítio Caracol localizado na Vila OG afirmou que sua mãe teria grande interesse em participar do movimento Quase todos os jardineiros funcionários do horto moravam do outro lado do Distrito e por causa da ausência de ônibus locais eles gastavam muito mais tempo e dinheiro do que precisariam para chegar ao trabalho Por ser de família antiga e respeitada na região sua filha considerava que ela poderia contribuir nas articulações políticas necessárias As sugestões se multiplicavam e ficou evidente que o processo não teria um e sim vários líderes que assumiriam determinadas funções de acordo com sua vocação e interesse Estava caracterizado o fenômeno das múltiplas lideranças Dona Iaiá não cabia em si de felicidade Que belo exercício de democracia ela estava vivenciando com sua turma E foi com grande prazer que compartilhou com eles essa constatação mostrandolhes que a democracia se revelava uma realidade no momento em que não havia concentração de poder e se faziam presentes o respeito à autonomia à diversidade e à multiliderança miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 183 184 Naquele dia que havia começado de forma tão conturbada em função da greve de ônibus a professora soube verdadeiramente transformar os contratempos numa oportunidade de reflexão Em vez de trancarse no mau humor que vinha despontando liber tou seus pensamentos que voaram alto e descerraram as cortinas que antes embaçavam sua visão de como poderia ser sua aula sobre redes A aula sobre redes reconfigurouse em espaço de reflexões debates e mobilização A professora foi capaz de conta giar profundamente seus alunos que saíram dali legitimamente movidos pela idéia da criação de uma rede comunitária Investidos de confiança sabiam que embora numa rede o poder esteja disperso ele simultaneamente pode convergir e empoderar cada um de seus nós Eles se sentiam fortalecidos como parte daquele conjunto Tantos anos de magistério cheios de frustrações e realizações Dona Iaiá viu muita gente cair na armadilha de dar mais valor aos obstáculos e às dificuldades de fazêlos parecer maiores do que realmente são Todavia sempre questionou a atitude de quem se deixava afundar solitariamente na desilusão com os problemas cotidianos Jamais deixou de observar atentamente todos os lados de uma questão de buscar alternativas de resistir e não se entregar Porque acreditava no valor de seu trabalho na riqueza de estar contribuindo para a formação de cada uma daquelas pessoas com quem lidava em seu diaadia E a partir de então revigo rada em suas crenças renovada em suas energias e sabedora de que aderindo a projetos compartilhados podemos nos fortalecer e que talvez as redes sejam um caminho para aprendermos esse comviver essa construção coletiva O trajeto de volta ao lardocelar de Dona Iaiá foi bem mais tranqüilo que aquela agitação matutina os ônibus de fato haviam voltado a circular normalmente Quando deu por si já estava na hora de saltar Caminhando pela rodovia na direção de casa carregava ainda aquela sensação agradável de que hoje na escola seus alunos haviam tecido os primeiros fios de uma possível rede com o potencial de entrelaçar todas as pessoas de algum modo envolvidas com o Distrito de Loureiro e preocupadas em tra balhar por uma vida melhor para todos Quem sabe as discussões na sala de aula tivessem realmente provocado uma mobilização capaz de reacender os questionamentos sobre o transporte numa ação que embora nascida de um exercício no espaço escolar pudesse estender seus fios por todo o Distrito e agregar muitos outros pontos estabelecer novas conexões Foi em meio a esses devaneios que já estavam bem mais para sonhos do que delírios que a professora chegou à ponte velha da rodovia que todos os dias atravessava para pegar sua condução Parou um minuto e olhou por sobre a mureta para as águas do ribeirão que fizeram parte de sua infância Como estavam maltratadas Andavam desconfiados lá na Vila que o velho mata douro que ficava rio acima desativado há décadas tinha sido posto em funcionamento outra vez clandestinamente Como é que se faz uma coisa dessas ninguém se preocupa com a coletividade só enxergam o próprio umbigo Aquela pontinha de irritação miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 184 185 que ensaiava tomar conta de Dona Iaiá logo se desfez e um sorriso maroto surgiu em seu lugar o problema não era apenas dela incomodava outras pessoas também Hummm estava parecendo que aquela história de rede de reunião em torno de um pro jeto coletivo poderia mesmo dar samba PARA SABER MAIS COSTA L Coord Uma introdução às dinâmicas da conectividade e da autoorganização Brasília WWFBrasil 2003 Disponível em httpwwwwwforgbrinformacoesblibliotecaindexcfm uNewsID3960 MOUSINHO P Redes In FERRARO L Org Encontros e caminhos v 2 Brasília MMA 2006 EANET Canal de educação ambiental na Internet Disponível em httpwwwcanaleanet Veicula produções audiovisuais de organizações grupos e coletivos de educação ambiental de todo o país REBEA Rede Brasileira de Educação Ambiental Disponível em httpwwwrebeaorgbr Portal com notícias documentos e links RITS Rede de Informações para o Terceiro Setor Disponível em httpwwwritsorgbr Rede vir tual de informações voltada para o fortalecimento das organizações da sociedade civil e dos movimentos sociais ARTIGOS RELACIONADOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARTICIPAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA AS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL INSTRUMENTOS PARA MUDAR O JEITO DE ENSINAR E APRENDER NA ESCOLA EDUCOMUNICAÇÃO E MEIO AMBIENTE miolovamoscuidarcap3Layout 1 51608 1019 AM Page 185 Escola de Ensino Fundamental Marieta Cals Capistrano Ceará miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 186 4 Educação ambiental em outros níveis e modalidades de ensino interfaces e peculiaridades miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 187 miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 188 Educação indígena uma visão a partir do meio ambiente Xanda Miranda O TEXTO APONTA A RELAÇÃO ENTRE OS FUNDAMENTOS DA ESCOLA DIFEREN CIADA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL DADO AS CULTURAS INDÍGENAS SEREM MATERIAL E SIMBOLICAMENTE PAUTADAS NOS SEUS AMBIENTES EXEMPLIFICA O CONCEITO ATRAVÉS DE TEXTOS DE PROFESSORES INDÍGENAS E DOS TEMAS TRANSVERSAIS TERRA E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E AUTOSUSTENTAÇÃO DO REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS PALAVRASCHAVE POVOS INDÍGENAS MEIO AMBIENTE EDUCAÇÃO DIFERENCIADA EDUCAÇÃO INDÍGENA miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 189 190 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL É UM PROCESSO ONDE SE TEM QUE ESTAR ATENTO a tudo que se está desenvolvendo É uma relação com a vida das pessoas o comportamento das pessoas o jeito das pessoas Quando se fala em educação é bastante abrangente e se aplica também à educação ambiental porque se está falando de vida e de recursos que tocam a vida de que pode haver paz dentro de um ambiente quando se consegue entender o papel a função de cada elemento que faz parte do seu mundo Os choques entre as populações no caso do povo indígena e a natureza acontecem a partir de orientações e da introdução de con ceitos que são de outra realidade ou cultura que são impostos dentro da comunidade No caso dos povos indígenas se percebe que a educação está ligada à estrutura social do povo e sua relação com a natureza Porque essa relação se constrói não se criam regras não se impõe sobre a natureza se obedece ao que a natureza orienta se planeja de acordo com o que a natureza oferece É um processo comum perceber por exemplo na época de chuva se faz determinado tipo de trabalho No verão se aproveita e se faz outro tipo de trabalho Então existem coisas que não se fazem quando está chovendo e coisas que não se fazem quando está seco É esse o entendimento de que as pessoas se obrigam a obedecer ao que a natureza dita como regra Quando se criam regras contrárias à orientação da natureza entrase em choque com ela É muito forte essa relação indígena com a natureza porque existe um jeito de distribuir ao longo do tempo o descanso para cada uma das espécies Áreas de refúgio de reprodução sejam da fauna ou da flora A natureza tem um jeito de lidar com essa questão Há situações que hoje a comunidade indígena está sofrendo porque foi orientada muitas vezes a deixar o seu jeito de ser de estar respeitar as orientações da natureza para impor uma política diferente ASHANINKA F P 200636 As culturas indígenas se pautam material e simbolicamente no meio ambiente em que se constituíram daí sempre se extraiu a matériaprima para a produção da cultura material casas artefatos de uso cotidiano e ritualístico etc e para a subsistência caça pesca coleta de frutos e raízes roça etc É nesse contexto que as tradições os costumes a língua a religião e a estrutu ra social foram construídos e transmitidos de geração em geração Essa integração ser humanomeio se dá no diaadia nas tarefas domésticas ou de subsistência nas relações interpessoais na maneira como cada indivíduo interpreta a realidade a fim de apreendêla É através dessa mediação cultural que comunidades indígenas exercitam uma educação profundamente compro metida com seu meio socioambiental Nesse aspecto não são apenas os conhecimentos tradicionais que podem acrescentar 36 Francisco Pianko Ashaninka uma das lideranças do povo Ashaninka e atual secretário da Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Acre no texto O que entendemos por educação ambiental da publicação Aprendendo com a natureza e conservando nossos conhecimentos culturais produzido pela Organização dos Professores Indígenas do Acre OPIA organização de Maria Luiza Pinedo Ochoa e Gleyson de Araújo Teixeira miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 190 191 muito à educação ambiental a relevância e as formas de transmissão comunitária dessa mediação cultural devem ser con sideradas Dada essa relação estreita as alterações operadas nas culturas indígenas pela exploração predatória e degradação dos recursos naturais são diretas drásticas e facilmente observáveis A oferenda de caça por parte do noivo à família da noiva por exemplo é o ponto culminante da cerimônia de casamento dos AúweXavante MT E se não há caça E se não há matériaprima para con fecção das vestimentas e adornos adequados à cerimônia As representações simbólicas permeiam a relação dos povos indígenas com o seu meio ambiente tanto na dimensão ritualística quanto na cotidiana Abaixo a concepção de meio ambiente e território do povo AúweXavante é retratada no depoimento de dois curandeiros da etnia No depoimento podemse observar as conse qüências da exploração predatória dos seringais do Acre sobre o povo Poyanawa O AúweXavante depende do cerrado e o cerrado depende do AúweXavante Os animais dependem do cerrado e o cerrado depende dos animais Os animais dependem do AúweXavante e o AúweXavante depende dos animais Isso é o RÓ RÓ significa tudo para os caçadores AúweXavante o cerrado os animais os frutos as flores as ervas o rio e tudo mais Nós queremos preservar o RÓ Através do RÓ garantiremos o futuro das novas gerações a comida os casamentos os rituais e a força de ser AúweXavante Se estiver tudo bem com RÓ continuaremos a ser AúweXavante O caçador anda no RÓ e aprende a amálo As mulheres apren dem a amálo porque o casamento depende do RÓ e porque também andam lá para pegar as frutas Antigamente o RÓ era assim havia a aldeia em volta a roça em volta as frutas em volta a caça junto com os espíritos em volta mais caça e mais caça sempre junto com os espíritos Os espíritos ajudavam a descobrir os segredos que o RÓ escondia onde estava a força do caçador onde estava a caça onde tinha cobra e outros segredos Os caçadores iam pegar a caça mais longe da aldeia assim os animais fugiam em direção à aldeia Depois os caçadores iam a outro lugar longe da aldeia Assim os filhotes iam crescendo sempre e esqueciam a tragédia da caçada Mais longe que isto só estavam o céu e a outra aldeia onde moram os mortos Mas hoje os rapazes não estão aprendendo a amar o RÓ nunca andaram caçaram nem sabem cuidar dele querem plantar arroz e soja Hoje as novas gerações querem comprar comida de fora esqueceram que a comida vem do RÓ não da cidade As mulheres AúweXavante continuam a amar o RÓ sabem que só se ele existir poderão se casar e casar seus filhos e filhas A minha comunidade e todo o povo Poyanawa foram obrigados a se adaptar ao sistema do homem branco muito cedo tendo como resultado a quase extinção de nossa cultura Em 1985 ficamos livres dos patrões seringalistas e sem sombra de dúvidas a nossa cultura estava bastante fragmentada Durante todos esses anos tiraram muitas coisas de nós mas nunca o direito de sermos índios Por esta razão estamos trabalhando na revitalização de nossas tradições principalmente a língua materna que é uma das identidades de um povo 37 Depoimento dos anciãos Adão Toptiro e Thiago Tseretsu tradução de Hipãridi Toptiro Material produzido pela Associação Xavante Warã no projeto Salve o Cerrado miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 191 192 Estamos considerando como base para esse resgate as nossas escolas Sabemos que o progresso de uma comunidade tornase fortalecido através do ensino escolar porque as crianças são o futuro Assim esperamos recuperar nossos rituais nossas músicas danças E viveremos com dignidade e respeito como um povo diferenciado pois ser diferente não é ser inferior POYANAWA F D W 200638 Ao mesmo tempo não há cultura estática no tempo e espaço Culturas são estruturas dinâmicas podem incorporar elemen tos externos ou da própria experiência histórica ressignificandoos de acordo com os próprios referenciais Há exemplos desse processo de absorção de práticas e costumes entre as etnias indígenas americanas ainda antes da chegada dos europeus Cada uma dessas redes sociais tem sua dinâmica específica de resistência ao esgarçamento e sua própria história de interação com as sociedades nãoindígenas simultaneamente influenciadas por múltiplos fatores como o tipo de exploração econômica local o tipo de influência religiosa o tipo de educação escolar introduzido etc Precisamos de um conhecimento adequado à realidade indígena para que possamos decidir como passar para a sociedade envol vente o valor de nossa cultura a força e o espírito do nosso povo assim conservando e protegendo os ensinos e conhecimentos Não somos mais índios isolados querendo ou não fazemos parte de tudo o que está acontecendo Somos diferentes na cultura no modo de viver mas somos iguais na capacidade na inteligência Não somos seres de outro lugar temos direitos às oportunidades Na minha aldeia tinha crianças adultos e velhos que não cantavam não dançavam não queriam mais falar a língua Quando a escola veio e trouxe a importância da cultura minha aldeia começou a querer dançar a ver a importância da língua e querer aprender mais Então acho que o fato de estarmos sempre discutindo esses assuntos é uma ajuda que podemos levar para a comunidade de uma forma bem devagar analisando os pontos Porque às vezes nós pensamos que estamos levando uma coisa boa e podemos estar levando algo sem perceber que é ruim O que estamos querendo mostrar para os nossos alunos é a nossa cultura o respeito com os mais velhos a tradição Isto faz parte de um ensino diferenciado É por isso que nós temos que estar aqui discutindo para defender essa diferença Neste mundo de fora as pessoas acham que nós não temos conhecimento da nossa tradição Temos domínio da terra da alma do espírito do poder de matar e curar não através de armas mas através do nosso conhecimento É isso que queremos conservar YAWANAWÁ R 200639 A educação diferenciada definida como bilíngüe intercultural e específica para cada etniacomunidade é uma conquista políti ca do movimento indígena alcançada com o apoio de organizações nãogovernamentais nacionais e internacionais universidades e outros movimentos sociais envolvidos em convergência com a Constituição cidadã de 1988 com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação e instrumentos jurídicos internacionais como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho 38 Francisco Devanir Wetsa Poyanawa é professor indígena 39 Raimundinha Yawanawá é professora indígena miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 192 193 Por uma educação diferenciada as comunidades indígenas lutaram muito Hoje as escolas indígenas trabalham dentro da realidade do povo para fortalecer o trabalho da comunidade Os conhecimentos tradicionais são aplicados e os conhecimentos que vêm de fora são o complemento para o desenvolvimento É elaborado um currículo e calendário escolar que atenda as necessidades das atividades desenvolvidas na comunidade Isso é um incentivo aos alunos para que cada vez melhorem a produção auxiliando a prática educacional dentro e fora da sala de aula A escola também trabalha a riqueza o espírito que dá origem ao povo o espírito que fica na floresta e traz o conhecimento de sinais de quem canta as músicas quem pode cantar determinada música e com que idade pode cantálas Além disso o branco também aprende com o índio Isso porque nas escolas indígenas a educação se faz além da escola abrangendo mais do que saber ler e escrever É importante trabalhar com a realidade da comunidade se for Ashaninka ou se é Katukina Baseado nisso todos desenvolvem seus trabalhos envolvidos na cultura e na realidade da comunidade Muitas vezes os professores indígenas trabalhavam nas escolas e as avaliações vinham das secretarias municipais Essa realidade não tem nada a ver com o cotidiano das crianças Agora essas avaliações são voltadas para a cultura e para o ensino específico A Lei de Diretrizes e Bases da Educação garante às populações indígenas ter sua própria educação40 A escola ocupa um decisivo papel nas perspectivas de futuro dessas comunidades como meio de apropriação de novos conhecimentos e tecnologias como espaço de discussão e preservação da cultura e principalmente como instrumento de defesa diante da pressão exercida pela sociedade nãoindígena Não que seja tarefa simples a construção de uma escola diferenciada que atenda às demandas e a jude a construir projetos de futuro Historicamente a educação escolar foi utilizada para catequização e introdução de modelos de produção econômica totalmente alheios às reais necessidades desses povos e a transformação dessa educação em um espaço de revitalização é fruto do esforço empenhado pelos professores indígenas e movimentos sociais comprometidos As pessoas colocam que temos que voltar ao que éramos antes Na verdade devemos revitalizar e fortalecer aquilo que nós somos O importante é a valorização do que ainda possuímos para que não se perca completamente As ciências indígenas representam no mundo muita coisa importante Os professores contribuem para fortalecer o conhecimento tradicional junto com a comunidade mostrando a importância desses conhecimentos preparando os nossos alunos 40 Professores Indígenas do Acre no texto Por uma educação diferenciada da publicação Aprendendo com a natureza e conservando nossos conhecimentos culturais miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 193 194 Mesmo assim devemos ter cuidado com o trabalho que a escola propõe pois os alunos estão vivendo entre diversas culturas diferentes entre diversos conhecimentos e práticas prática tradicional e prática escolar teórica convivendo com costumes diferentes línguas diferentes Claro que não dá mais para ser um Kaxinawá de antigamente um Ashaninka de antigamente de dois séculos atrás Mas os alunos vão valorizar o seu costume os seus conhecimentos tradicionais Porque isso é o que está aceso que ainda está vivo A língua e os plantios são coisas que podem ser fortalecidas Isso é possível depende do interesse de cada um Com relação à língua indígena por exemplo ela pode ser trabalhada dentro de um kupixawa com um cacho de banana no meio e um velho no centro contando aos jovens as histórias do povo É tudo uma questão de trabalhar a oralidade na prática no cotidiano da comu nidade ASHANINKA I P 2006 41 No Brasil encontramos povos indígenas em quase todas as unidades federativas São aproximadamente 225 etnias falando cerca de 180 línguas e somando uma população estimada em 600 mil indivíduos 120 mil residindo nas capitais Destes povos 4955 têm população de até 500 pessoas 1455 de 500 a 1000 pessoas 25 entre 1000 e 5000 pessoas e 9 entre 5000 e 20 mil pessoas Apenas quatro etnias têm população acima de 20 mil pessoas e outras 12 estão ameaçadas de desaparecimento com população entre cinco e 40 pessoas RICARDO RICARDO 2006 Cada etnia com suas respectivas e específicas interações socioambientais e históricas compõe uma diversidade de experiências educacionais que não poderíamos aqui retratar Optamos assim por reproduzir os temas transversais Terra e Conservação da Biodiversidade e Autosustentação dos Referenciais Curriculares Nacionais para as Escolas Indígenas RCNEIs de difícil acesso aos professores nãoindígenas A escolha se deu pelo caráter nacional do documento ao mesmo tempo abrangente dada a diversidade e estruturado com o objetivo de fundamentar e fomentar propostas de educação indígena caracterizadas pelo que se poderia considerar um conceito indígena de educação ambiental crítica Os RCNEIs sugerem o perfil das atividades que estão sendo desenvolvidas atualmente nas escolas indígenas e foram elaborados com a participação de professores indígenas e especialistas a partir do conhecimento da realidade cotidiana das comunidades Terra e conservação da biodiversidade é o primeiro tema transversal do documento A questão territorial é um foco clássico dos movimentos indígenas batalha de séculos contra governos e interesses econômicos A preservação dos biomas nesses territórios é uma demanda atual das lideranças e está associada a outro tema transversal autosustentação Autonomia política econômica e cultural assim como o uso sustentável dos recursos naturais são questões na pauta do dia O universo do trabalho sofre trans formações e nas regiões onde a degradação ambiental gerou déficits graves a carência inclusive alimentar é imensa Novas 41 Isaac Pinhanta Ashaninka é professor indígena miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 194 195 necessidades são incorporadas vestuário remédios material escolar e as comunidades se organizam em associações fazem parcerias com ONGs e universidades encaminham projetos e reivindicações aos governos a fim de buscar soluções E muitas pare cem estar construindo esse caminho através de projetos de produção econômica comunitária e familiar manejo ambiental registro e difusão cultural entre outros Seguem abaixo as diretrizes nacionais para o trabalho em sala de aula com esses temas TERRA E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE TEMA TRANSVERSAL NO1 RCNEIS Conhecer a Constituição que assegura o direito à terra e seu usufruto Valorizar a biodiversidade existente em áreas indígenas Identificar as áreas indígenas existentes no Brasil e os valores de relação com seu habitat Reconhecer a riqueza biológica de sua área indígena e do Brasil Valorizar o meio em que vive destacando a biodiversidade existente nele Reconhecer os materiais existentes na natureza que possibilitam as manifestações artísticoculturais de seu povo Conhecer e discutir a questão das terras indígenas e a situação fundiária no Brasil AUTOSUSTENTAÇÃO TEMA TRANSVERSAL NO 2 RCNEIS Permitir aos alunos uma escolha mais consciente das alternativas de autosustentação hoje presentes para sua sociedade ajudando a fazer da escola um local de reflexão sobre a vida e o trabalho numa perspectiva de progressiva autonomia Aplicar os conhecimentos das diferentes áreas de estudo para apoiar a discussão do mundo produtivo e do trabalho Conhecer a partir de diferentes fontes as alternativas econômicas do grupo étnico antes do contato Refletir sobre o que permaneceu e o que mudou nessas práticas produtivas e culturais Conhecer outras práticas produtivas para o autosustento de sociedades em condições ambientais e socioculturais similares Compreender a noção de atividade predatória Participar da criação de alternativas de autosustento a partir das condições socioambientais atuais Participar da busca das alternativas de comercialização nos mercados regional nacional e internacional miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 195 196 Desenvolver atitudes para o trabalho e a vida social que reforcem os laços de solidariedade familiar e comunitária Conhecer procedimentos e técnicas adequadas cultural e ambientalmente corretas que permitam o enriquecimento alimentar e a melhoria das condições de vida e saúde A necessidade de uma política e diretrizes específicas para a educação ambiental também se dá em relação aos povos indíge nas especialmente no que diz respeito ao conhecimento da legislação O uso dos instrumentos jurídicos é uma das grandes fer ramentas que as lideranças dispõem para denunciar as invasões a exploração predatória a contaminação dos territórios por agentes químicos etc Os conhecimentos milenares que esses povos carregam sobre seus habitats assim a dimensão simbólica que caracteriza sua construção e transmissão oferecem uma riqueza ainda não devidamente dimensionada pelas sociedades não indígenas A Coordenação Geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação acredita que a educação ambiental voltada aos povos indígenas 42 pode colaborar na discussão reflexão registro e difusão desses conhecimentos por meio da Inserção do estudo das principais legislações ambientais nacionais e compromissos internacionais vinculados aos estudantes indígenas Articulação dos conhecimentos tradicionais indígenas com conhecimentos nãoindígenas sobre processos de proteção à biodi versidade práticas produtivas sustentáveis incentivando a pesquisa e a reflexão ética sobre as fragilidades e potencialidades dos ecossistemas locais bem como alternativas de manejo agroecológico e florestal Revitalização e valorização da história e cultura de cada comunidade debatendo comparativamente com a cultura ocidental contemporânea especialmente sobre os atuais impactos socioambientais causados pelos modelos produtivos ocidentais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASHANINKA I P Entre diversas culturas In OCHOA M L P TEIXEIRA G de A Orgs Aprendendo com a natureza e conser vando nossos conhecimentos culturais Brasília Organização dos Professores Indígenas no Acre Opiac Comissão PróÍndio Acre Ministério do Meio Ambiente 2006 ASHANINKA F P O que entendemos por educação ambiental In OCHOA M L P TEIXEIRA G de A Orgs Aprendendo com a natureza e conservando nossos conhecimentos culturais Brasília Organização dos Professores Indígenas no Acre Opiac Comissão PróÍndio Acre Ministério do Meio Ambiente 2006 42 Proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação ambiental em elaboração miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 196 197 BRASIL Ministério da Educação Referencial curricular nacional para as escolas indígenas Brasília MECSEF 1998 OCHOA M L P TEIXEIRA G de A Orgs Aprendendo com a natureza e conservando nossos conhecimentos culturais Brasília Organização dos Professores Indígenas no Acre Opiac Comissão PróÍndio Acre Ministério do Meio Ambiente 2006 POYANAWA F D W A revitalização cultural In OCHOA M L P TEIXEIRA G de A Orgs Aprendendo com a natureza e conservando nossos conhecimentos culturais Brasília Organização dos Professores Indígenas no Acre Opiac Comissão PróÍndio Acre Ministério do Meio Ambiente 2006 RICARDO B RICARDO F Orgs Povos indígenas no Brasil 20012005 São Paulo Instituto Socioambiental 2006 TOPTIRO A TSERETSU T O Ró Sl Associação Xavante Warã Disponível em httpwaranativeweborg YAWANAWÁ R O valor da cultura na educação In OCHOA M L P TEIXEIRA G de A Orgs Aprendendo com a natureza e conservando nossos conhecimentos culturais Brasília Organização dos Professores Indígenas no Acre Opiac Comissão PróÍndio Acre Ministério do Meio Ambiente 2006 PARA SABER MAIS BRASIL Ministério da Educação Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena Disponível em httpportalmecgovbrsecad Planeja orienta coordena e acompanha a formulação e a implementação de políticas educacionais voltadas para as comunidades indígenas em harmonia com os projetos de futuro de cada povo SILVA A L da GR UPIONI L D Org A Temática indígena na escola novos subsídios para professores de 1º e 2º graus Brasília MEC MARI UNESCO 1995 FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO Disponível em httpwwwfunaigovbr Órgão do governo federal que estabelece e exe cuta a Política Indigenista no Brasil INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL ISA Disponível em httpwwsocioambientalorgbr Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Oscip trabalha de maneira integrada as questões sociais e ambientais e atua com as questões indígenas no Brasil ARTIGOS RELACIONADOS O CARACOL SURREALISTA NO TEATRO PEDAGÓGICO DA NATUREZA O SUJEITO ECOLÓGICO A FORMAÇÃO DE NOVAS IDENTIDADES CULTURAIS E A ESCOLA RELIGIOSIDADE AFROBRASILEIRA E O MEIO AMBIENTE miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 197 miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 198 A educação ambiental nas escolas do campo Sônia Balvedi Zakrzevski O TEXTO APRESENTA UMA REFLEXÃO SOBRE A INCORPORAÇÃO DA DIMENSÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS DO CAMPO CONTRIBUINDO PARA QUE OS INDIVÍDUOS QUE VIVEM NESSE MEIO SE PERCEBAM COMO SUJEITOS ATIVOS NA APROPRIAÇÃO E NA ELABORAÇÃO DO CONHECIMENTO SEJA ELE REFERENTE AO MUNDO NATU RAL OU AO CULTURAL E COMPREENDAM QUE SÃO AGENTES DE MUDANÇAS NA REALIDADE EM QUE VIVEM PALAVRASCHAVE EDUCAÇÃO DO CAMPO EMANCIPAÇÃO DIÁLOGO DE SABERES PROJETOS DE TRABALHO miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 199 200 ALGUMAS PALAVRAS INTRODUTÓRIAS Ao estudarmos a história da educação brasileira podemos perceber que a educação do campo foi tratada pelo poder público com políticas compensatórias projetos programas e campanhas emergenciais e sem continuidade muitas não levando em conta o contexto em que as escolas estavam situadas as relações sociais produtivas e culturais estabelecidas no território As políticas educacionais trataram a educação urbana como parâmetro a ser seguido e a do campo como adaptação desta Na década de 1990 a Lei nº 939496 Lei de Diretrizes e Bases para a Educação LDB inova nesse sentido ao reconhecer a diversi dade sociocultural e o direito à igualdade e à diferença Ela estabelece que os sistemas de ensino devem promover adequações do ensino às peculiaridades da vida rural e de cada região conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às necessidades e realidades dos alunos organização curricular própria adequando o calendário escolar às fases agrícolas e às condições climáticas adequações à natureza do trabalho na zona rural e não propor uma simples e pura adaptação da educação urbana para o meio rural Mas foi com a força de luta dos movimentos sociais do campo em parceria com universidades ONGs e diferentes instituições nacionais e estrangeiras que surgiram na década de 1990 iniciativas institucionais para a criação de uma política de educação no campo Um dos visíveis resultados dessas lutas foi a implantação do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária Pronera criado oficialmente em abril de 1998 com o objetivo de promover ações educativas nos assentamentos da reforma agrária com metodologias de ensino específicas à realidade sociocultural do campo Outra grande conquista dessas lutas foi a instituição em 2002 das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo que consideram a existência de diferentes grupos humanos que moram e trabalham no campo agricultores familiares assalariados rurais semterra ribeirinhos extrativistas pescadores indígenas quilombolas entre outros que apresentam diferentes saberes e formas de relação com a terra com o mundo do trabalho e da cultura A escola do campo não é um tipo diferente de escola mas sim é a escola reconhecendo e ajudando a fortalecer os povos do campo como sujeitos sociais que também podem ajudar no processo de humanização do conjunto da sociedade com suas lutas sua história seu trabalho seus saberes sua cultura seu jeito CALDART 2000 p 66 Ela além de ser um importante espaço de construção de conhecimentos é um território fecundo na construção de práticas emancipatórias da democracia e da solidariedade miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 200 201 Hoje os currículos das escolas do campo não podem deixar de incorporar o estudo sobre questões de grande relevância em nossa sociedade questões ambientais políticas de poder sociais culturais econômicas de raça gênero etnia sobre tecnologias na agricultura sobre a justiça social e a paz Neste texto procuramos a partir de nossas vivências experiências e paixões pela educação ambiental refletir sobre os seus papéis e desafios nas escolas do campo Não temos a pretensão de dar a palavra final mas de expressar nossa posição e de colocála em debate QUE EDUCAÇÃO AMBIENTAL QUEREMOS PARA AS ESCOLAS DO CAMPO A educação ambiental é uma complexa dimensão da educação caracterizada por uma grande diversidade de teorias e práticas e que portanto não pode ser entendida no singular Apesar de ter como preocupação comum o meio ambiente e de reconhecer o papel central da educação na melhoria da relação do ser humano e da sociedade com o ambiente pesquisadores e educadores ambientais vêm adotando diferentes discursos propondo diferentes correntes ou seja maneiras de conceber e de praticar a educação ambiental Defendemos que as escolas do campo precisam de uma educação ambiental específica diferenciada isto é baseada em um contexto próprio voltada aos interesses e às necessidades dos povos que moram e trabalham no campo Não podemos esquecer que a realidade do campo é heterogênea é diversa e portanto a educação ambiental não pode ser idêntica para todos os povos mas deve ser articulada às demandas e especificidades de cada território de cada localidade de cada comunidade A educação ambiental deve estar vinculada às causas aos desafios aos sonhos e à cultura dos povos que vivem no campo Em outras palavras que veicule um saber significativo crítico contextualizado do qual se extraem indicadores para a ação reforçando um projeto políticopedagógico vinculado a uma cultura política libertária baseada em valores como a solidariedade igualdade diversidade Por essa razão precisamos encontrar um lugar apropriado para a educação ambiental dentro do projeto educativo das escolas bem como evidenciar e fortalecer as suas relações com outros aspectos da educação do campo Precisamos ter cada vez mais claro qual é o papel político da educação ambiental ela não é apenas um acessório da educação mas é uma educação que envolve a reconstrução do sistema de relações entre as pessoas a sociedade e o ambiente natural miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 201 202 A ESCOLA RESPEITANDO AS CARACTERÍSTICAS E O CONHECIMENTO PRODUZIDO NO CAMPO E EDUCANDO PARA A CONSERVAÇÃO DA DIVERSIDADE A escola do campo precisa estar estreitamente vinculada à realidade ou seja vinculada a uma cultura que se produz por meio de relações mediadas pelo trabalho na terra BRASIL 2003 investindo em uma interpretação e compreensão complexa e politi zadora da realidade que possibilite a construção de conhecimentos potencializadores de transformação dos problemas socioam bientais no campo A escola do campo tem o papel de contribuir na produção de conhecimentos e de valores para o povo viver melhor no campo para romper com as práticas sociais contrárias ao bemestar público para incluir na sociedade os que vivem no campo A educação ambiental nas escolas do campo atenta às diferenças do ambiente natural históricas e culturais contribui para a formação de sujeitos responsáveis capazes de refletir e agir sobre sua realidade capazes de identificar analisar compreender e resolver problemas capazes de cooperar e acima de tudo que sejam possuidores de um comportamento ético Um dos grandes desafios às escolas do campo é contribuir para recriar os vínculos de pertencimento dos sujeitos para que estes se reconheçam como integrantes de uma comunidade e reconstruam a sua identidade com o campo com o local em que vivem No momento em que os sujeitos sentemse pertencentes a um determinado território possuem sentimentos que lhes possibilitam comprometeremse com a realidade socioambiental respeitando suas potencialidades e seus limites Possuir um sentimento de pertencimento ao meio e de responsabilidade por ele conhecer e compreender o meio em que vivem e as interrelações entre os diferentes elementos que o compõem é condição essencial para a conservação da diversidade biológica e cultural de um território Os elementos naturais e culturais que fazem parte do ambiente não podem ser esgotados ou deteriorados A biodiversidade está estreitamente vinculada à diversidade cultural as culturas se formam com base nas características particulares do meio onde a população habita Da mesma forma as espécies os espaços as paisagens apresentam para as comunidades uma significação um valor cultural Uma educação ambiental crítica e emancipatória no campo pode contribuir para que os indivíduos se percebam como sujeitos ativos na apropriação e na elaboração do conhecimento seja ele referente ao mundo natural ou ao cultural e compreendam que são agentes de mudanças na realidade em que vivem podendo de modo responsável e solidário contribuir para a transformação das realidades miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 202 203 O DIÁLOGO DE SABERES NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Muitas vezes o trabalho com as questões ambientais em contextos escolares restringese a uma disciplina o que contribui para simplificar a realidade Tendem a reduzila a explicações isoladas mecanicistas lineares que impedem a compreensão da complexidade do ambiente do campo As questões ambientais não podem ser consideradas objeto de uma determinada disciplina tratadas de modo isolado mas pressupõem o diálogo de saberes por meio do qual as várias ciências contribuem para o seu estudo orientando o trabalho escolar Se queremos que os filhos de pequenos agricultores da região norte do Rio Grande do Sul por exemplo examinem o problema da perda da qualidade e quantidade da água para consumo humano nas comunidades rurais em que residem os professores em seus planejamentos certamente precisam considerar elementos relacionados à química da água à presença de microrganismos sua turbidez e outros aspectos relacionados à área das ciências naturais Mas esses aspectos apesar de preponderantes não são suficientes também devem ser desafiados a identificar e analisar as diversas atividades desenvolvidas pela população que reside na região a agricultura a pecuária especialmente a criação de suínos entre outras seus costumes a legislação ambiental os usos da água hoje e no passado e outros aspectos que não são contemplados pelas ciências naturais Como podemos perceber no estudo desse tema na escola precisamos contemplar a dimensão natural mas também as questões sociais políticas econômicas culturais etc O estudo das realidades ambientais e a busca de soluções apropriadas requerem a complementari dade e a sinergia de saberes de diferentes disciplinas científicas reconhecendo que nem sempre os saberes científicos são suficientes Nós como educadoras e educadores precisamos reconhecer cada vez mais o valor de outros saberes além do saber científico para a educação ambiental tais como os saberes cotidianos saberes construídos a partir da experiência e saberes populares Desse diálogo que implica a confrontação de saberes de diferentes tipos do nãoaceite de nada em definitivo podem surgir outros novos saberes que podem revelarse úteis adequados e que podem ter uma grande significação contextual Por essa razão esse diálogo é uma das características fundamentais em processos educativos que visam a transformação Isso implica dizer que essa educação respeita e valoriza os diversos saberes reconhecendo que todos são iguais por direito E nesse cenário será preciso reivindicar uma educação capaz de romper com a lógica da autoritária racionalidade permitindo que os conceitos possam ser construídos através dos afetos da gratuidade da gestualidade e das emoções Certamente o grande mestre Paulo Freire é sábio em nos dizer que seria necessário temperar nossa racionalidade com boas doses de paixão A aprendizagem sobre as questões ambientais na escola é um fenômeno integrado algo que implica a pessoa inteira é um entremeado de cogni ções sentimentos afetos valores etc e não somente uma questão intelectual como tantas vezes se crê e se pratica miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 203 204 A ESCOLA DIALOGANDO COM A COMUNIDADE A escola do campo não é uma ilha Ao fazer parte de uma realidade comunitária caracterizada por sua cultura específica a escola deve dialogar com a comunidade A ação conjunta com a comunidade alunos professores e funcionários da escola pais e membros da localidade favorece o desenvolvimento social em que todos participam e se engrandecem e a educação ambiental do campo ao contribuir para a criação de possibilidades de intercâmbio e de relação de colaboração da escola com a comunidade abre um universo enorme de situações para a aprendizagem coletiva por meio do diálogo e da cooperação Por meio do diálogo entre os membros da escola e destes com as pessoas e organizações da comunidade clube igreja sindicato entre outras da reflexão crítica sobre a realidade socioambiental acontece um verdadeiro processo de aprendizagem coletiva de desenvolvimento de saberes contextuais significativos vinculados a uma realidade concreta de habilidades de atitudes de valores que enriquecem os membros da escola e da comunidade e que servem para implementar projetos criativos que contribuam para melhorar a qualidade de vida no contexto de sua própria cultura respeitando e valorizando o entorno Existe uma grande diversidade de estratégias para investigarmos o ambiente em que vivemos para redescobrilo e conhecêlo mais e melhor tornando o espaço escolar um espaço aberto ao diálogo com a sociedade Por exemplo as escolas do campo podem colaborar em diagnósticos socioambientais da região juntamente com entidades e lideranças da comunidade podem realizar estudos sobre os problemas ambientais na comunidade buscando alternativas para sua solução A realização de trilhas ou itinerários interpretativos de trabalhos de campo de experimentos de entrevistas de seminários de oficinas de aulas abertas são exemplos de atividades que possibilitam a interação dos membros da escola com pessoas e entidades da comunidade permitindo tecer uma trama de relações de cooperação de busca de diálogo de saberes de trocas de discussão de confrontação de idéias e de experiências de negociação e de tomada de decisões comuns colaborando no desenvolvimento comunitário INTERVINDO NA REALIDADE SOCIOAMBIENTAL POR MEIO DE PROJETOS DE TRABALHO Por meio de projetos de trabalho intencionalmente planejados conectados com as políticas públicas de educação com a proposta políticopedagógica da escola do campo e com os anseios da comunidade as questões socioambientais relevantes em nível local contextualizadas em uma realidade global podem ser trazidas para dentro da escola43 43 Os projetos de trabalho devem estar conectados ao projeto educativo de cada escola do campo seja para atuarem de acordo com as políticas já existentes seja para influenciarem em novas direções pelo seu caráter demonstrativo e inovador de boas práticas sociais CARVALHO 2004 p 2 miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 204 205 Os projetos de trabalho na escola além de possibilitarem o acesso a novas informações favorecem a problematização da realidade contribuem para a comunidade ler a realidade analisála e interpretála com outros olhos investigar as dificuldades e conflitos socioambientais favorecendo o desenvolvimento de uma sensibilidade política e de valores humanos que permitem ao sujeito posicionarse frente à realidade Na região do Alto Uruguai Gaúcho a agroecologia transgênicos conservação da floresta ombrófila mista conservação e uso sustentável das águas temas de grande relevância sociocultural são objetos de projetos de trabalho desenvolvidos pelas escolas rurais que atendem filhos de agricultores familiares E as educadoras que atuam nas escolas rurais da região participantes do Projeto Lambari44 têm elaborado seus projetos de trabalho tendo como referência três etapas construídas pelo grupo descritas a seguir 1ª ETAPA ESTUDANDO A REALIDADE LOCAL E DEFININDO OS TEMAS DOS PROJETOS A partir da análise da situação do contexto e das demandas da comunidade bem como das suas contribuições para a comu nidade local são definidos pela comunidade escolar os temas dos projetos de trabalho e seus objetivos gerais45 2ª ETAPA TECENDO REDES DE RELAÇÕES Por meio da construção das redes de relações o tema central do projeto é visto sob a óptica de todas as disciplinas do currículo escolar buscando o diálogo entre as diferentes visões Nessas redes são definidos não só os conceitos ou proposições a serem trabalhadas mas também as dúvidas as contradições existentes Nas redes os conceitos não derivam necessariamente de outros mais gerais e inclusivos mas eles adquirem em si mesmos a categoria de nós articuladores que contribuem para a explicação e representação de um fenômeno Uma nova compreensão dos professores sobre o tema do projeto surge do confronto das diferentes visões e do uso do conhe cimento que cada um detém de sua área E a troca de conhecimentos específicos possibilita aos professores perceber aspectos antes não observados Desse modo são definidos os objetivos específicos e os conteúdos a serem trabalhados durante o projeto estabelecendo relação entre eles 44 Projeto que tem por objetivo central a formação continuada de educadorases ambientais e busca a inserção das questões ambientais no cotidiano escolar 45 Questões cujas contradições podem ser resolvidas com os conhecimentos que os alunos já dispõem fora da escola ou de que o conhecimento escolar não pode dar conta não se cons tituem em temas de projetos de trabalho miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 205 206 3ª ETAPA TRAÇANDO TRAJETÓRIAS Os conteúdos selecionados são trabalhados pelos professores que planejam suas atividades e as confrontam com os outros professores São então definidas as atividades iniciais do projeto atividades desencadeadoras as atividades de desenvolvimento que buscam a conquista de novos conhecimentos de procedimentos e de novos valores com todos os envolvidos no processo e de fechamento do projeto produto final Também são definidos os recursos necessários e estabelecido o cronograma de realização do projeto As atividades também são apresentadas e discutidas com a comunidade escolar apresentando a lógica do projeto elaborado ainda aberto a mudanças que se façam necessárias Defendemos que a educação ambiental nas escolas do campo deve compreender o pensar e o fazer o agir e o refletir a teoria e a prática Ela deve adotar o diálogo como sua essência apontar para a participação discutir no coletivo exigir uma postura crítica de problematização constante estabelecendo uma relação dialética entre os conhecimentos populares de senso comum com aqueles já sistematizados ALGUMAS PALAVRAS FINAIS A educação ambiental que queremos nas escolas do campo é aquela comprometida com o empoderamento social Ela possi bilita que diversas vozes expressem a sonoridade do grito da liberdade buscando a responsabilidade ambiental na construção de um mundo que valorize a diversidade biológica e a diferença cultural É um grande desafio à educação ambiental do campo estimular um processo de reflexão sobre modelos de desenvolvimento rural que sejam responsáveis economicamente viáveis e socialmente aceitáveis que colaborem para a redução da pobreza para a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade para a transformação dos problemas socioambientais fortalecendo as comunidades não dissociando a complexidade da sociedade e da natureza Nosso compromisso quer corroborar para que a escola do campo seja vista com mais atenção e carinho e que fortalecida em seus alicerces políticos possa contribuir com a construção de uma sociedade mais eqüitativa e com responsabilidade ecológica através do olhar inventivo da educação ambiental O caminho pode ser longo e difícil mas saberemos esperar atuando como pro tagonistas na construção de um mundo que queremos miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 206 207 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL Ministério da Educação Diretrizes operacionais para a educação básica nas escolas do campo Brasília MEC 2002 Referências para uma política nacional de educação do campo caderno de subsídios Brasília MEC 2003 CALDART R S Pedagogia do movimento semterra Petrópolis Vozes 2000 CARVALHO I C M A escola como espaço socioambiental e os projetos de trabalho na escola Boletim Salto para o Futuro Vida e Natureza Ambiente e Cultura Brasília MEC TV Escola 2630 abr 2004 Disponível em httpwwwtvebrasilcombrsalto PARA SABER MAIS BRANDÃO C R O trabalho de saber Porto Alegre Sulina 1999 BRASIL Ministério da Educação Coordenação Geral de Educação do Campo Disponível em httpportalmecgovbr Responsável por implementar uma política de educação que respeite a diversidade cultural e as diferentes experiências de educação em desenvolvimento em todas as regiões do país como forma de ampliar a oferta de educação de jovens e adultos e da educação básica nas escolas do campo Ministério do Desenvolvimento Agrário Disponível em httpwwwmdagovbr LEITE S C Escola rural urbanização e políticas educacionais São Paulo Cortez 1999 NÚCLEO DE ESTUDOS AGRÁRIOS E DESENVOLVIMENTO RURAL Nead Disponível em httpwwwneadorgbr Promove estudos e pesquisas para avaliar e aperfeiçoar políticas públi cas voltadas à reforma agrária agricultura familiar e desenvolvimento rural sustentável SALTO PARA O FUTURO Boletim 2001 Disponível em httpwwwtvebrasilcombrSALTO Sobre escolas rurais e classes multisseriadas Boletim 15 set 2006 Disponível em httpwwwtvebrasilcombrSALTO Sobre a Educação de Jovens e Adultos no campo ARTIGOS RELACIONADOS ENTRE CAMELOS E GALINHAS UMA DISCUSSÃO ACERCA DA VIDA NA ESCOLA EDUCAÇÃO INDÍGENA UMA VISÃO A PARTIR DO MEIO AMBIENTE A VIDA NO BOSQUE NO SÉCULO XXI EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 207 miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 208 Religiosidade afrobrasileira e o meio ambiente Denise Botelho O TEXTO APRESENTA A RELAÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE COM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DA RELIGIOSIDADE AFROBRASILEIRA O CANDOMBLÉ OFERECE SUBSÍDIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA A PARTIR DA LÓGICA DOS ORIXÁS INTRINSECAMENTE LIGADOS AO MEIO AMBIENTE PALAVRASCHAVE CANDOMBLÉ EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORÇAS DA NATUREZA ORIXÁS DIVER SIDADE ÉTNICORACIAL miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 209 210 SEM FOLHA NÃO TEM SONHO SEM FOLHA NÃO TEM FESTA SEM FOLHA NÃO TEM VIDA SEM FOLHA NÃO TEM NADA SALVE AS FOLHAS GERÔNIMO E ILDÁSIO TAVARES Peço licença agô aos mais velhos e às mais velhas que chegaram antes de mim ao mundo e ao tempo que lhes permitiu sabedoria que um dia eu terei em relação aos que virão depois de mim Agô aosàs Olossain sacerdotes que possuem o axé 46 de Ossain47 preservadores e preservadoras das dádivas da natureza Lembramos que os candomblés serviram e servem para a preservação da herança religiosa e cultural africana sempre atuantes na luta do povo negro resistindo à opressão à dominação e à exclusão buscando um espaço de valorização da particularidade negra no patrimônio cultural brasileiro Os processos educativos no candomblé são concebidos por meio de uma educação integral Não se divide o saber não se separam as disciplinas Somamse os valores éticofilosóficos ao cotidiano A educação é para toda a vida é o desenvolvimento do ser em todas as suas potencialidades BOTELHO 2005 O candomblé oferece subsídios para o desenvolvimento da consciência ecológica a partir da lógica dos orixás48 A educação ambiental sempre foi praticada pelo povo de santo seguidores e seguidoras dos orixás A cosmovisão africana e afrobrasileira identifica os orixás com a natureza assim é natural que nos candomblés aprendase a conservar a natureza tornando cada casa de candomblé um pólo de resistência aos descuidos com o meio ambiente 46 Força vital que move o universo 47 Orixá responsável pelos segredos das folhas 48 Orixás são divindades africanas trazidas para o Brasil pelos negros yorubás grupo étnico da África do Oeste Além dessas divindades ligadas à cultura yorubá existem também os inquices divin dades dos negros bantos e os voduns divindades relacionadas aos negros jêjes miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 210 211 Antes de começar a leitura tenha em mente que a religiosidade de matriz africana presente hoje no Brasil é uma ressignifi cação dos cultos aos orixás praticados no continente africano por diversos grupos étnicos que passaram por algumas adaptações conseqüência do processo econômico escravocrata A instituição candomblé centenária e fortalecida polariza não apenas a vida religiosa mas também a vida social a hierárquica a ética a moral a tradição verbal e nãoverbal o lúdico e tudo enfim que o espaço da defesa conseguiu manter e preservar da cultura do homem africano LODY 1987 p10 A hegemonia teórica que privilegia apenas o conteúdo eurocêntrico nas escolas brasileiras tem alijado negros e brancos de um conhecimento presente na cultura brasileira pertencente a outros grupos étnicoraciais dificultando uma consciência reflexiva e emancipatória da nossa população Sugerimos em especial um diálogo entre os temas relacionados ao meio ambiente e aos saberes das comunidades religiosas tradicionais negras como via para ampliar os seus espectros de possibilidades no manejo da natureza Para os praticantes do candomblé o significado de viver e de ser humano está ligado às formas míticas e às expressões da unidade sermundo Os mitos descrevem as irrupções do sagrado no mundo e contam uma história sagrada sobre como algo foi produzido e começou a ser São narrativas de um acontecimento ocorrido no tempo primordial da criação como uma realidade passou a existir graças às façanhas dos entes sobrenaturais Seja uma realidade total ou o Cosmo ou apenas um fragmento uma ilha uma espécie vegetal um comportamento humano uma instituição ELIADE 1972 p 11 Ao descrever as origens do universo e das criaturas as relações entre a humanidade e as divindades e ainda como se dá o equilíbrio dinâmico entre eles o mito de cada divindade dota de sentido o mundo e fornece um sistema de valores e de princí pios para os seus seguidores e seguidoras Em relação ao meio ambiente cada habitat natural está relacionado a um orixá que tem como um de seus atributos preservar o planeta e a humanidade Para que cada ecossistema tenha o seu guardião o Ser Supremo DeusOludumaré presenteou cada divindade com um atributo para auxiliálo na grande obra de perpetuação da humanidade Assim as forças da natureza são o reflexo das emanações dos orixás no planeta As divindadesorixás viabilizam o encontro do sagrado com a humanidade Preservar cuidar e manter a fauna e a flora é condição fundamental para osas participantes dessa religiosidade afrobrasileira Os ritos e rituais são propiciados por meio de folhas banhos de águas naturais e por partes de animais consagrados aos orixás Ewe orixá orixá ewe sem folhas não tem orixás e sem orixás não há contato com o sagrado assim como sem as águas das miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 211 212 cachoeiras dos rios dos igarapés do mar a fortaleza das pedreiras a biodiversidade das florestas Enfim podemos afirmar que para a religião dos orixás a natureza é parte fundadora da constituição dos seres Aprendese que ao turvar as águas dos rios estaremos maculando o ambiente das yabás orixás femininos e como sabemos que os atributos de cada orixá nos possibilitam uma vivência mais saudável e íntegra vamos assimilando valores de preservação e mane jo sustentável uma vez que precisamos intervir na natureza sem contudo destruíla porque somos atingidos pela lição da unicidade essencial entre indivíduo e grupo CAMPBELL 1997 p 369 Com certeza cada árvore cada animal cada nascente cada porção de terra cada inspiração de ar são constitutivos desses indivíduos e de seus grupos A experiência religiosa ensina ainda a necessidade de reordenação do comportamento segundo as exigências de um novo contexto conduzindo o indivíduo a reorganizar seu mundo e sua prática de acordo com os novos cenários construídos Ele ela interage com o meio ambiente sabendo que é a morada sagrada das divindades yorubás Yemanjá soberana das águas do mar protege o ecossistema aquático Em tempos remotos quando a humanidade não respeitava a morada dessa deusa tudo atiravam em suas águas e ela ofendiase pela falta de respeito e desleixo com os seus domínios Indignada foi reclamar com Oludumaré Deus Supremo Ele permitiu a Yemanjá que tudo que lhe fosse atirado nas águas dos mares fosse devolvido nas praias e assim surgiram as ondas dos mares em protesto ao descuido das pessoas Como Yemanjá tem seus domínios naturais outros orixás também têm papel de guardiões e guardiãs da natureza Exu o Senhor da Comunicação tem o desígnio de levar até os pés de Olodumaré os pedidos da humanidade É um orixá fundamental para o desenvolvimento da religião porque ele é o princípio dinâmico da comunicação entre a humanidade e Deus É Exu que acolhe o pedido dos ecologistas para manter a fauna e flora brasileira e é ele também que registra junto aos guardiões os abusos e os descuidos com a natureza A faca a enxada e o arado quando são necessários para a intervenção no meio ambiente estão relacionados a Ogum Senhor do Ferro e dos Caminhos é ele que abre os caminhos Com sua virilidade heróica possibilita a preparação de um cenário favorável para o manejo das florestas e para uma agricultura sustentável essencial para a sobrevivência da humanidade Oxossi é o provedor das comunidades É com ele que a gente aprende que a caça deve ocorrer para alimentar a sociedade e assim deve ter caráter sagrado de manutenção da humanidade sem maustratos e sem carnificinas desnecessárias Pela preservação das florestas o grande caçador trará sempre fartura e prosperidade para os lares daqueles que respeitam a mãe natureza miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 212 213 As folhas são regidas por Ossain É ele que preserva as plantas compartilha os segredos das ervas medicinais e litúrgicas com a humanidade e desperta o axé energia vital contido nas plantas permitindo aos filhos e filhas dos orixás manejarem a sabedo ria das plantas para fortalecerem seus corpos e espíritos e principalmente para não permitirem sua extinção Omolu Grande Senhor da Terra é o responsável pela transmutação e a renovação Controla as pestes e as epidemias e quando a terra não está fértil ela não frutifica ela não tem vida é a morte No ar Oxumaré faz a sua morada Poluir a atmosfera é sujar a morada da Serpente ArcoÍris que une o céu e a terra Os mangues nascedouros da vida marítima são protegidos por Nanã o princípio da vida dona da lama onde a sabedoria é gestada Indica a energia acumulada nas muitas experiências pelos anos vividos Oxum tem sua morada nas cachoeiras e nos rios É a Senhora da Fertilidade dona das águas é ela que nos permite que os grãos brotem e se transformem em alimento para a humanidade Tantos outros fenômenos da natureza estão relacionados aos Orixás OyaIansã comanda os ventos e tempestades e Xangô governa os raios e trovões Tenho a impressão de que essas divindades ficam furiosas com a usurpação dos espaços sagrados da natureza e criam o caos com inversões climáticas inundações raios e tempestades nos alertando cuidem cuidem De forma geral o candomblé possibilita aos seus participantes leituras do mundo das relações humanas harmoniosas e de con vivências igualitárias em que todos podem viver com autoconfiança dignidade e respeito e também que devemos ter respeito pelo planeta que nos acolhe afinal sem ele a humanidade não sobreviveria Por intermédio da contextualização do universo do candomblé indicamos a necessidade de desapegarmonos de valores civi lizatórios hegemônicos tão cristalizados em nós para entrarmos em contato com um olhar diferenciado sobre a humanidade e o meio ambiente Como os iaôs que quando são recolhidos para a sua iniciação passam pelos ciclos de morte e renascimento pre cisamos renascer para novas idéias valores e culturas É preciso criar novos espaços e eleger outros atores sociais para um conhecimento educacional diferenciado BOTELHO 2000 e nesse aspecto privilegiar os conhecimentos dos quilombolas do povo de santo das comunidades da floresta de grupos que carregam o respeito à natureza Será benéfico para a nossa sociedade competitiva e destruidora que na preeminência do lucro devasta grandiosas áreas e desrespeita a irmãárvore o irmãocéu a irmãterra o irmãorio enfim uma comunidade infinita que sustenta a existência da humanidade miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 213 214 As peculiaridades dos seguidores e seguidoras dos orixás indicam um pensamento comum que tem como alicerces valores civilizatórios construídos numa lógica afrobrasileira de comunidade solidariedade e interdependência Orientarse por essa tríade possibilita uma postura favorável para as práticas conscientes e politizadas em relação à responsabilidade que temos com o nosso meio ambiente Na lógica religiosa do candomblé é possível afirmar que os orixás na condição de organizadores grupais viabilizam a harmo nização dos contrários conduzindo a um processo de equilíbrio entre os diferentes seres viventes sendo cada um respeitado na sua essência Incluir outras leituras de mundo e do meio ambiente a partir de uma óptica étnicoracial oferece novas possibilidades conteú dos diversificados e posturas inovadoras para trilharmos um caminho de solidariedade com o planeta e com a própria humanidade E principalmente buscar os caminhos da conservação e da sustentabilidade Percorrida a jornada pela terra que acolhe pelas águas que curam e acalmam pelos saberes das folhas pelo exercício pleno da religiosidade afrobrasileira penso que a natureza é dadivosa com a humanidade Vamos exercitar o que aprendemos retribuição vamos cuidar do planeta As idéias aqui socializadas serão lidas analisadas interpretadas de diferentes formas por variados saberes e por diversos sentimentos afinal isso é a diversidade Não temos verdades absolutas mas as nossas crenças auxiliam no processo de cuidados com a mãenatureza Omi kosi éwè kosi òrìsà kosi não existem orixás sem as águas e sem as folhas Vamos refletir sobre alguns aspectos da relação meio ambiente e candomblé Conhecer os princípios da educação ambiental presentes no candomblé além de promover o respeito por uma prática socior religiosa herdada dos negros e negras africanos e afrobrasileirosas ainda pode facilitar aos educadores uma ação pedagógica mais solidária em relação ao meio ambiente Nas comunidades de candomblé não se divide o saber dos valores éticofilosóficos e a educação é para desenvolvimento do ser em todas as suas potencialidades Como essas práticas são somadas ao cotidiano a assimilação dos cuidados com o meio ambiente pode compartilhar dessas mesmas metodologias miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 214 215 Na cosmovisão africana e afrobrasileira Deus Oludumaré presenteou cada divindade com um atributo para auxiliáLo na grande obra de perpetuação da humanidade Será que a presença de cada guardião ou guardiã em sítios ecológicos diferen ciados garante os alicerces da preservação ambiental As forças da natureza são reflexos das emanações dos orixás no planeta Poluir o ar desperdiçar a água destruir as árvores desrespeitar a humanidade são práticas contrárias à aprendizagem dos terreiros de candomblés Como visões de mundo integradas e relações humanas respeitosas e inclusivas vivenciadas no candomblé podem subsidiar princípios de conservação do meio ambiente Idealize um plano de aula a partir dos conhecimentos sobre o candomblé que tem como alicerces valores civilizatórios cons truídos numa lógica afrobrasileira de comunidade e solidariedade favoráveis à manutenção da vida no planeta REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOTELHO D M Aya nini coragem educadores e educadoras no enfrentamento de práticas racistas em espaços escolares 2000 Dissertação Mestrado em Integração da América Latina Universidade de São Paulo Educação e Orixás processos educativos no Ilê Axé Iya Mi Agba 2005 Tese Doutorado em Educação Universidade de São Paulo CAMPBELL J O Herói de mil faces São Paulo Cultrix Pensamento 1997 ELIADE M Mito e realidade São Paulo Perspectiva 1972 LODY R Candomblé religião e resistência cultural São Paulo Ática 1987 PARA SABER MAIS BASTIDE R O candomblé da Bahia rito nagô São Paulo Companhia das Letras 2001 BRASIL Ministério da Cultura Fundação Cultural Palmares Disponível em httpwwwpalmaresgovbr Desenvolve programas e projetos voltados ao reconhecimento preservação e promoção dos valores e práticas das culturas africanas na formação da sociedade brasileira miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 215 216 Ministério da Educação Coordenação Geral de Diversidade e Inclusão Disponível em httpportalmecgovbrsecad Responsável por elaborar e implementar políticas educa cionais que favoreçam o acesso e a permanência de afrodescendentes em todos os níveis da educação escolar e por fortalecer e valorizar a diversidade étnicoracial brasileira Palácio do Planalto Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial Seppir Disponível em httpwwwplanaltogovbrseppir Secretaria que implementa políti cas contra as desigualdades raciais no país CONGRESSO BRASILEIRO DAS ENTIDADES DE NOTAS E REGISTROS Salvador 2003 Terreiros de Salvador Disponível em httpwwwsalvador2003combrterreiroshtm Apresenta glossário das principais expressões do Cadomblé ILE ASE IYA MI AGBA Blog Disponível em httpileaseiyamiagbazipnet PRANDI R Mitologia dos Orixás São Paulo Companhia das Letras 2001 SANTOS J E dos Os Nàgôs e a morte Pàdé Àsèsè e o culto Égun na Bahia Petrópolis Vozes 1976 SANTOS M E de A Mãe Stella de Oxossi ilé axé opô afonjá Disponível em httpwwwgeocitiescomileohunlailaipage2abhtml Líder espiritual e comunitária que mantém um Museu de Candomblé projetos de geração de renda e uma escola de ensino fun damental onde o idioma iorubá é ensinado para as crianças SANTOS M S de A Meu tempo é agora Curitiba Projeto CENTRHU 1999 VERGER P F Notas sobre o culto aos Orixás e Voduns na Bahia de Todos os Santos no Brasil e na Antiga Costa dos Escravos na África São Paulo EDUSP 1999 XAVIER JTP Exu ikin e egan as equivalências universais no bosque das identidades afrodescendentes Nagô Lucumi estudo com parativo da religião tradicional iorubá no Brasil e em Cuba 2000 Dissertação Mestrado em Integração da América Latina Universidade de S Paulo ARTIGOS RELACIONADOS O CARACOL SURREALISTA NO TEATRO PEDAGÓGICO DA NATUREZA O SUJEITO ECOLÓGICO A FORMAÇÃO DE NOVAS IDENTIDADES CULTURAIS E A ESCOLA EDUCAÇÃO INDÍGENA UMA VISÃO A PARTIR DO MEIO AMBIENTE miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 216 217 miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 217 miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 218 Reinventando relações entre seres humanos e natureza nos espaços de educação infantil Lea Tiriba SENSÍVEL À NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE NOVAS RELAÇÕES DOS SERES HUMANOS ENTRE SI E COM A NATUREZA ESTE TEXTO TRAZ REFLEXÕES SOBRE OS SENTIDOS E COMPROMISSOS FUNDAMENTAIS DO TRABALHO EM CRECHES E PRÉESCOLAS SUA INTENÇÃO É CONTRIBUIR PARA INSTITUIÇÃO DE NOVAS FORMAS DE VIVER SENTIR E PENSAR A VIDA NA TERRA PALAVRASCHAVE EDUCAÇÃO E ECOLOGIAS RELAÇÃO SERES HUMANOSNATUREZA EDUCAÇÃO INFANTIL miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 219 220 VIVEMOS UMA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA PLANETÁRIA em que está clara a possibilidade de que a espécie humana concretize um processo de autodestruição criando condições socioambientais insuportáveis a sua sobrevivência e de outras espécies na Terra Ludibriada pelo mito da natureza infinita auxiliada por sua inteligência e onipotência e ensandecida pelo desejo de possuir e consumir a civilização ocidental criou nos últimos 200 anos um modelo de desenvolvimento que não está voltado para o bemestar e felicidade dos povos e espécies mas para os interesses de mercado Centrado na produção e consumo de bens orientado para gerar lucro este modelo capitalista urbano industrial patriarcal vem gerando ao mesmo tempo desequilíbrio ambiental desigualdade social e sofrimento pessoal Como educar as crianças num quadro planetário em que cerca de 38 mil hectares de florestas nativas são destruídos por dia milhares de espécies desaparecem e 13 bilhão entre os mamíferos humanos 206 da população mundial estão ameaçados de morte pela fome DIAS 2004 p 23 Certamente não será nosso objetivo ensinálas a reproduzir um estilo de pensar e de viver a vida que é nefasto que é insalubre Nas creches e préescolas temos todos os dias a oportunidade de oferecer sensações interações condições materiais e ima teriais que contribuam para a formação de dois modos de existência um que potencializa a existência outro que faz sofrer que enfraquece ESPINOSA 1983 Como aprendizagem e autoconstituição não são processos separados é fundamental que aqui elas vivenciem experiências positivas pois se a vida transcorre no cotidiano das instituições é aí que ela se afirma como potência ou impotência de corpo e de espírito Creches e préescolas são espaços privilegiados para aprenderensinar porque aqui as crianças colhem suas primeiras sen sações suas primeiras impressões do viver Assim interessados na produção de potência podemos pensar as instituições de edu cação infantil como espaços de vivência do que é bom do que alegra e frente aos desafios da vida nos faz mais potentes DELEUZE 2002 Mas como educar as crianças na perspectiva de uma vida alegre saudável e solidária se vivemos num mundo em que imperam o individualismo a competição e a destruição da biodiversidade Observando o modo de funcionamento de creches e préescolas em centros urbanos e até mesmo em zonas rurais podemos perceber que as crianças estão emparedadas são mantidas a maior parte do tempo em espaços fechados as rotinas não contemplam suas necessidades e desejos de movimentaremse livremente nos pátios sob o céu em contato com o sol a terra a água Raramente de pés descalços nas áreas externas brincam sobre chão predominantemente coberto por cimento ou brita e só se aproximam da água para beber e lavar mãos e rostos Tomar banhos de mangueira brincar de comidinha dar banho em boneca fazer barquinho para colocar na correnteza das valas quando chove Nada disso é corriqueiro ao contrário é exceção miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 220 221 Como aprender a respeitar a natureza se as crianças não convivem com seus elementos Como investir na produção de concepções educacionais e rotinas que se estruturem na contramão de uma tendência que é destrutiva Buscando respostas para essas questões alinhavei em cinco pontos algumas idéias para uma educação que esteja voltada para a formação de pessoas íntegras solidárias e comprometidas com a manutenção da vida em nosso planeta RELIGANDO OS SERES HUMANOS COM A NATUREZA DESCONSTRUINDO A CULTURA ANTROPOCÊNTRICA Se no passado o objetivo da escola era ensinar às crianças os conhecimentos necessários à produção da sociedade urbana e industrial hoje o desafio é educar na perspectiva de uma nova sociedade sustentável Assim já não basta ensinálas a pensar o mundo a compreender os processos naturais e culturais É preciso que elas aprendam a conserválo e a preserválo Isto implica rever as concepções de mundo e de conhecimento que orientam as propostas curriculares em que a natureza não tem valor em si mesma é simples matériaprima morta para a economia industrial e a produção de mercadorias é simples objeto de estudo de humanos interessados em colocála a seu serviço Para isso foi necessário que os seres humanos deixassem de se perceber como parte da natureza E ainda mais passassem a situarse como superiores a ela esquecendo sua condição animal valorizando aquilo que os distingue como espécie e desprezando o que os caracteriza como seres que são parte integrante e portanto dependentes dessa mesma natureza A idéia de que pertence aos humanos tudo que não é humano as terras as águas os vegetais os animais os minerais decorre de uma separação artificial entre seres humanos e natureza ou dizendo de outro modo de uma separação entre sujeito de conhecimento e objeto de pesquisa estratégia da metodologia científica indispensável ao domínio e controle do mundo natural A visão antropocêntrica reforça um sentimento de estranhamento entre seres humanos e natureza cria muros de fumaça que se materializam como muros de alvenaria separando as escolas do contexto em que estão situadas Muitas vezes até as janelas não estão ao seu alcance impedindo o olhar para o mundo que está lá fora e mesmo prejudicando a respiração de ar puro contribuindo para que meninos e meninas não se vejam e não se sintam parte do mundo natural Assim em vez de aprenderem uma percepção de si próprias como espécie que é parte da natureza elas aprendem a se sentir e a se comportar como se fossem miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 221 222 o seu senhor Esse sentimento é ensinado às crianças ocidentais desde a mais tenra infância e certamente é alimentado pela distância a que são mantidas do mundo natural Se queremos formar pessoas que respeitem a natureza desfrutar da vida ao ar livre não pode ser uma opção de cada profes sora ou escola mas um direito das crianças e portanto um imperativo pedagógico Desde a creche e a préescola precisamos portanto realizar uma aproximação física estabelecendo relações cotidianas com o sol com a água com a terra fazendo com que sejam elementos sempre presentes constituindoos como chão como pano de fundo ou como matériaprima para a maior parte das atividades ACONCHEGANDO O CORPO NA ESCOLA Mexer na terra correr na grama jogar bola pular saltar subir em árvores as crianças têm verdadeira paixão pelos espaços ao ar livre Elas manifestam claramente essa preferência porque são modos de expressão da natureza ESPINOSA 1983 Obrigadas a permanecerem em espaços fechados impedidas de se integrarem ao universo de que são parte sofrem uma dupla alienação do mundo maior ao qual pertencem e dos desejos de um corpo que é também natureza E quando lhes são impostas roti nas de dormir comer e defecar alienamse também em relação aos próprios ritmos internos alterando o equilíbrio de sua ecologia pessoal A vida humana na Terra se substantiva através do corpo É ele que nos faz vivos e materializa a nossa existência Entretanto as relações que estabelecemos com nosso corpo estão inseridas e marcadas por uma visão de mundo em que a razão ocupa o centro da cena Valorizamos em nós mesmos seres humanos a capacidade intelectual e subestimamos ou até mesmo ignoramos o que nos identifica como animais Nosso corpo é a expressão dessa identidade é a prova da nossa condição animal algo que nos faz iguais a outras espécies que habitam conosco um mesmo ecoespaço Durante muito tempo nós nos acreditamos superiores capazes de tudo saber sobre a natureza de desvendar todos os mistérios da vida pelo uso da razão Na visão da ciência moderna a realidade é uma máquina e não um organismo vivo Sua natureza tem uma lógica que pode ser decifrada por um ser humano que é definido por sua atividade mental É essa atividade que interessa aos objetivos de domínio e controle da natureza Assim as crianças são distanciadas do mundo natural porque o divórcio sujeito ser humano x objeto natureza é um componente essencial na produção de uma ciência que possibilita esse domínio miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 222 223 Em conseqüência de um modelo de pensamento que hipertrofia a razão são relegadas a um segundo plano algumas dimen sões e canais de expressão da experiência humana entre elas as sensações físicas as emoções os afetos os desejos a intuição a criação artística Ao mantêlo por tanto tempo imobilizado a escola trata o corpo também como natureza inesgotável capaz de ceder infinitamente às necessidades da mente assim como o meio ambiente natural cede matériasprimas às necessidades impostas pelo mercado Os currículos as rotinas das instituições educacionais expressam claramente esta evidência a de que a escola não tem pelo corpo o mesmo apreço que tem pela mente Os espaços de educação das crianças de zero a seis anos não escapam a essa lógica Em seu cotidiano divorciam ser humano e natureza separam corpo e mente razão e emoção Na contramão dessa tendência precisamos de rotinas que não fragmentem o sentir e o pensar que estejam atentas às vontades do corpo que não aprisionem os movimentos Ao contrário ajudem as crianças a expressarem a dança de cada um isto é o jeito de ser que é em outros termos a expressão de nossa psique de nossa alma AS CRIANÇAS SÃO SERES DE NATUREZA E SIMULTANEAMENTE SERES DE CULTURA A realidade não é uma máquina regida por leis matemáticas passíveis de interpretação racional a razão não é o único caminho de acesso ao jeito de ser do mundo e o que define uma criança não é apenas a sua racionalidade ela é unidade de corpoespírito razãoemoção Portanto o objetivo de Educar e Cuidar inclui o conjunto de dimensões que constituem a humanidade Mas como realizar a integração de uma dimensão do humano como ser biológico ser de natureza se no processo de cons trução da visão moderna essa dimensão foi se perdendo e prevaleceu a dimensão cultural Para realçála será necessário assumir as crianças também como seres de natureza A concepção de criança como ser de cultura está assegurada nas propostas pedagógicas na medida em que estão implícitas duas idéias fundamentais i nenhum ser sobrevive com características humanas se não receber cuidados de outros humanos ii só entre humanos seremos capazes de aprender a recriar as atitudes as regras os valores enfim o jeito de ser da espécie e do grupo social de que somos parte Entretanto o que não está devidamente enfatizado é que os seres humanos não estão sós partilham a existência com inúmeras outras espécies sem as quais a vida no planeta não pode existir Somos parte da natureza somos fruto de autopoiese isto é de um fenômeno de autoorganização da matéria que dá origem a todos os seres vivos MATURANA VARELA 2002 Portanto as crianças são ao mesmo tempo seres da miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 223 224 natureza e seres de cultura Na escola a conjugação dessas duas concepções assegurará o respeito à diversidade cultural com o respeito à biodiversidade O reconhecimento da diversidade cultural implica o reconhecimento de todos os seres humanos des frutarem do direito de cidadania assim como de soberania dos povos e das nações Na mesma medida o reconhecimento da bio diversidade implica o respeito ao conjunto de tudo que vive na biosfera tudo que vive no ar no solo no subsolo e no mar Não poderemos pensar apenas no bemestar dos seres humanos porque há uma interdependência entre as espécies há um equi líbrio global que precisa ser preservado AS TRÊS ECOLOGIAS E O CUIDAR Creches e préescolas não são depósitos de crianças não são abrigos não são hoteizinhos Creches são espaços de desenvolvi mento das múltiplas dimensões humanas durante a primeira infância Precisam portanto ser espaços onde elas vivam interes santemente satisfatoriamente alegremente as primeiras experiências de sua vida Nas instituições de educação infantil visamos uma educação ambiental atenta à qualidade de vida à qualidade do existir cotidiano Nessa perspectiva o cuidar é uma referência central porque possui uma dimensão ontológica isto é está relacionado à constituição do ser humano pois do nascimento até a morte é condição para a sua existência BOFF 1999 Mas como ter cuidado e aprender a cuidar numa sociedade que não cuida da natureza das outras espécies nem da própria espécie que destrói em função dos objetivos do capital Na sociedade em que vivemos o cuidar se restringe à família no máximo aos membros mais próximos de uma comunidade Não diz respeito ao coletivo não está comprometido com a necessidade de cuidar de todos do conjunto dos seres humanos e nãohumanos TIRIBA 2005 Numa educação para sociedades sustentáveis o cuidar é referência fundamental porque orienta o trabalho em relação às três ecologias GUATTARI 1990 e nos ajuda a avaliar i a qualidade dos espaçosatividades relacionada ao eu ecologia pessoal 49 ii a qualidade das interações coletivas relacionada ao nós ecologia social iii e a qualidade das relações com a natureza ecologia ambiental 49 Sem prejuízo ao conceito de ecologia mental formulado pelo autor prefiro adotar a expressão ecologia pessoal por sua abrangência e por apontar para a superação do dualismo corpomente miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 224 225 A ecologia pessoal diz respeito às relações de cada um consigo mesmo às conexões de cada pessoa com o seu próprio corpo com o inconsciente com os mistérios da vida e da morte com suas emoções e sensações corporais com sua espiritualidade A ecologia social está relacionada às relações dos seres humanos entre si às relações geradas na vida em família entre amigos na escola no bairro na cidade entre os povos entre as nações A ecologia social retrata a qualidade destas relações A ecologia ambiental diz respeito às relações que os seres humanos estabelecem com a natureza Reflete as diferenciadas maneiras como os grupos humanos se relacionam com a biodiversidade de maneira sustentável ou predadora com o objetivo de satisfazer suas necessidades fundamen tais ou com o objetivo de apropriaçãotransformaçãoconsumodescarte GOUVEA TIRIBA 1998 p 26 Em sua articulação os três registros ecológicos expressam as dimensões da existência e revelam a qualidade de vida na Terra bastando para isso perguntar na sociedade capitalistaurbanoindustrialpatriarcal como estão as relações de cada ser humano consigo mesmo Qual a qualidade das relações dos seres humanos entre si E as relações destes com a natureza isto é com a Terra espaço que a espécie humana habita Por outro lado as três ecologias podem ser referência para pensar a existência das crianças e adultos que todos os dias per manecem durante oito dez ou 12 horas nas instituições de educação infantil Que equilíbrios as rotinas diárias definem Como vão as relações de cada criança ou educadora consigo mesma Qual a qualidade das relações entre os humanos que cons tituem a comunidade escolar Como vão as relações destes com a natureza No transcorrer da existência cotidiana as práticas institucionais reproduzem a insalubridade definida pela lógica ocidental DESCONSTRUINDO AS VELHAS ROTINAS E INVENTANDO OUTRAS Na perspectiva da produção de novas relações dos seres humanos entre si e com a natureza a educação tem um sentido amplo extrapola o compromisso com a transmissão de conhecimentos via razão e busca abranger outras dimensões como a intuição a emoção Comprometida com um desejo e uma necessidade de reestruturação da civilização ela desconfia do poder explicativo do raciona lismo científico e valoriza os processos criativos contribuindo para qualificar a vida nos planos das três ecologias Nessa perspectiva as instituições de educação infantil e suas educadoras e educadores assumem os desafios de uma educação ambiental que vise Resgatar no melhor de nossas tradições culturais elementos das culturas negra indígena e de outras etnias que compõem a nação brasileira que nos ajudem inventar novos modos de viver sentir e pensar a vida sobre a Terra Reinventar as relações com o corpo com o tempo que passa com os mistérios da vida e da morte GUATTARI 1990 p 16 em movimentos de encontro de cada um consigo mesmo de fortalecimento da integridade de corpoespíritorazãoemoção miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 225 226 Estar atento às concepções e práticas de trabalho que reproduzem o divórcio entre corpo e mente que hipervalorizam o intelecto e fazem do corpo simples objeto de controle da mente Pensar um novo modo de funcionamento escolar que por respeitar ritmos e interesses infantis permita à criança aprender a respeitar as vontades do corpo isso significa atentar para as rotinas de sono alimentação e controle de esfíncteres a proces sos de inserção e acolhimento modeladores de ritmos afetivocorporais que repercutem em sua ecologia pessoal Ampliar os espaços e os tempos de movimentaremse livremente assim como de relaxar meditar estar atento à respiração melhorar a alimentação cuidar da postura Mexer numa rotina de trabalho que supervaloriza os espaços fechados das salas de aula os materiais industrializados e propiciar às crianças contato cotidiano e íntimo com a terra com a água como o ar de tal maneira que sejam percebidos e respeitados como fontes fundamentais de vida e de energia Incorporar à rotina as atividades de semear plantar cuidar e colher alimentos e outros vegetais do mesmo modo assumir cozinhas hortas marcenarias oficinas de produção e conserto de brinquedos como privilegiados espaços educacionais onde também se aprende matemática ciências sociais e naturais língua portuguesa Promover encontros festivos em que possamos compartilhar alimentos música projetos favorecedores de sentimentos de amizade companheirismo e solidariedade Esses são sentimentos que precisam ser aprendidos e exercitados no cotidiano con teúdos que precisam ser introduzidos no planejamento de trabalho da escola Questionar e combater as práticas consumistas e a onipresença dos meios de comunicação na vida das crianças abrindo espaço e incentivando as trocas humanas que se dão através da narrativa da brincadeira e da produção artística Transformar as relações e interações com a natureza questionando os conceitos de conhecimento e de trabalho que essas intera ções asseguram denunciando e rejeitando as propostas curriculares que propõem um conhecimento intelectual descritivo que fazem da natureza um simples objeto de estudo Investir na construção coletiva de propostas pedagógicas que visem uma integração mais ampla e possibilitem o desfrute a admiração e a reverência da natureza como fonte primeira fundamental à reprodução da vida e não como simples colônia domínio de explorações humanas miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 226 227 Além disso mas este é um assunto para outra conversa é preciso assumir o campus escolar como espaço de investigação pedagógica que seja prática ecológica Isso implica olhar para o próprio umbigo isto é tomar consciência do impacto ambiental que as creches e préescolas provocam assumindo compromissos com a redução do consumo de água e de energia e com o desperdício de materiais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOFF L Saber cuidar ética do humano compaixão pela terra Petrópolis Vozes 1999 DELEUZE G Espinosa filosofia prática São Paulo Escuta 2002 DIAS G F Ecopercepção um resumo didático dos desafios socioambientais São Paulo Ed Gaia 2004 ESPINOSA B de Ética São Paulo Abril Cultural 1983 Coleção os pensadores GOUVEA M J TIRIBA L Orgs Educação infantil um projeto de reconstrução coletiva Rio de Janeiro SESC ARRJ 1998 GUATTARI F As três ecologias Campinas Ed Papirus 1990 MATURANA H VARELA F A árvore do conhecimento Campinas Editorial Psy II 2002 TIRIBA L Educar e cuidar buscando a teoria para compreender discursos e práticas In KRAMER S Org Profissionais de educação infantil em formação São Paulo Editora Ática 2005 PARA SABER MAIS BRASIL Ministério da Educação Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Biblioteca virtual de educação Disponível em httpbvecibecinepgovbr Ferramenta de pesquisa de sítios educacionais do Brasil e do exterior em que se podem pesquisar também sítios dedicados à educação ambiental RECICLOTECA Disponível em httpwwwreciclotecaorgbr Centro de informações sobre reciclagem e meio ambiente O site oferece informações sobre as questões ambientais com ênfase da redução no reaproveitamento e na reciclagem do lixo HORTA VIVA Disponível em httpwwwhortavivacombr Voltado para a comunidade escolar o site oferece informações sobre conceitos e práticas ambientais especialmente sobre a criação de hortas escolares valorizando conhecimentos tradicionais populares e de natureza científica e tecnológica ARTIGOS RELACIONADOS ENTRE CAMELOS E GALINHAS UMA DISCUSSÃO ACERCA DA VIDA NA ESCOLA O SUJEITO ECOLÓGICO A FORMAÇÃO DE NOVAS IDENTIDADES CULTURAIS E A ESCOLA CIDADANIA E CONSUMO SUSTENTÁVEL NOSSAS ESCOLHAS EM AÇÕES CONJUNTAS miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 227 miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 228 A vida no bosque no século XXI educação ambiental e educação de jovens e adultos Timothy D Ireland ESTE TEXTO REFLETE SOBRE O CONCEITO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO PARA TODOS AO LONGO DA VIDA E A SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA E FORA DA ESCOLA ARGUMENTA QUE A INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE FORMA CONCRETA E NÃO APENAS DE FORMA SIMBÓLICA NÃO É UMA OPÇÃO MAS UMA NECESSIDADE PALAVRASCHAVE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EDUCAÇÃO AMBIENTAL SUSTENTABILI DADE EDUCAÇÃO AO LONGO DA VIDA DIVERSIDADE miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 229 230 QUEM JÁ ESCREVEU UM ARTIGO OU UM LIVRO SABE COMO É DIFÍCIL ESCOLHER UM BOM TÍTULO O título precisa chamar a atenção do leitor mas sem enganálo Normalmente o título é a última peça a ser criada Imagino que muitos de vocês leitores e leitoras estranharam o título deste artigo Fiz um teste de recepção com alguns amigos que o acharam esquisito e incompreensível Mas eu quis mantêlo porque de certa forma foi inconscientemente uma das inspirações do meu texto e de muitas outras reflexões e intervenções ao longo dos anos neste campo que chamamos hoje de educação ambiental Mais de 150 anos atrás o norteamericano Henry Thoreau escreveu um livro chamado Walden or Life in the Woods Walden ou A vida no Bosque 1854 sobre a sua experiência de viver durante dois anos e dois meses numa cabana que ele mesmo ergueu na margem de um pequeno lago Walden Pond situado num bosque em Concord Massachusetts Durante aquele período Thoreau sobreviveu unicamente com o produto da sua própria labuta No livro entre muitas outras reflexões o autor descreve a sua relação com o meio ambiente e defende um padrão de consumo que ainda hoje pode servir para alimentar debates sobre os atuais padrões de consumo e a sua contribuição para os desequilíbrios ambientais que ameaçam o planeta no presente Assim o livro terminou sendo considerado um dos primeiros e mais influentes tratados sobre educação ambiental No restante deste pequeno texto meu objetivo é provocar você leitor gestor ou profissional das redes públicas de ensino a repensar a relação entre a educação ambiental e a educação de jovens e adultos EJA e entre a EJA e o próprio ensino regular Sem esquecer da valiosa provocação de Thoreau sobre padrões de consumo Gostaria ainda de provocar um repensar sobre o próprio conceito de EJA e a sua relação com a forma como entendemos o processo de desenvolvimento e as suas implicações para as nossas relações com o meio ambiente Vamos partir de dois conceitos amplos fundamentais para qualquer processo educativo seja com crianças jovens ou adultos de todas as idades A nossa Constituição de 1988 estabelece a educação como um direito de todos Da mesma forma o artigo 225 afirma que todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida impondose ao poder público e à coletividade o dever de defendêlo e preserválo para as presentes e futuras gerações O conceito de educação como direito foi reforçado internacionalmente na Declaração Mundial de Educação para Todos que afirma no artigo 1º que cada pessoa criança jovem e adulto deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para atender suas necessidades básicas de aprendizagem O artigo seguinte frisa que a satisfação dessas necessidades confere aos membros de uma sociedade a possibilidade e a responsabilidade de entre outras questões proteger o meio ambiente miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 230 231 O segundo conceito amplo e fundante é o da educação ou aprendizagem ao longo da vida O conceito se fundamenta tanto na importância da garantia de acesso à educação independentemente de idade gênero etnia raça religião etc quanto na capacidade de a pessoa aprender em qualquer momento e ciclo da vida São conceitos que estabelecem a necessidade de entender educação como um processo que acompanha a vida toda e como direito de todos Nessa mesma perspectiva a educação ambiental se insere como parte integral desse processo que não estabelece limites nem de idade nem de qualquer outra catego ria excludente A teoria e a prática da educação ambiental são por natureza e necessidade inclusivas e abrangentes Precisam da participação e da compreensão de todos e de todas para alcançar uma relação respeitosa e responsável entre os ambientes socio culturais e naturais E a nossa relação com o mundo seja sociocultural seja natural é uma relação de aprendizagem Não há como estar no mundo sem precisar aprender sobre essa relação Quando se fala em educação de jovens e adultos há uma tendência de se pautar a discussão por um conceito reducionista e estreito No senso comum há uma forte associação entre EJA e alfabetização e entre EJA e escolarização correção de fluxo aceleração aligeiramento e outros desvios No fundo as duas associações entre EJA e escolarização são compreensíveis quando levamos em consideração o número de jovens e adultos acima de 15 anos de idade que ou não tiveram a oportunidade de se alfabetizar ou não tiveram a possibilidade de concluir o ensino fundamental Ainda há no Brasil quase 16 milhões de jovens e adultos cujo direito mínimo à educação não foi respeitado e quase 65 milhões incluindo os 16 milhões acima que não tiveram condições de concluir o ensino fundamental Sem querer negar a importância do processo de alfabetização e a sua continuidade escolar a alfabetização no sentido amplo do conceito e a escolarização são processos essenciais tanto da perspectiva individual de direito subjetivo quanto da perspectiva coletiva da democracia participativa considero primordial argumentar que o conceito da educação de jovens e adultos inclui a escolarização mas como toda boa educação extrapola os processos escolares A educação é muito mais que instrumental Ela deve ser crítica e ativa buscando aprofundar a nossa compreensão do mundo e a capacidade de mudálo A educação não é um processo externo à vida ao contrário é parte integral da vida com força sufi ciente para transformála Os conteúdos da educação vêm e retornam à vida Por isso a centralidade da educação ambiental como eixo fundamental de educação de jovens e adultos Ao longo dos últimos 40 anos na grande maioria das conferências sobre o meio ambiente se tem destacado o papel da educação Começando com a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental Tbilisi em 1970 passando pela Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente realizada em Estocolmo na Suécia em 1972 e com mais destaque ainda na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento a ECO 92 ou Rio 92 realizada aqui no Brasil miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 231 232 no Rio de Janeiro em 1992 a educação foi apontada como de fundamental importância na promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento Agenda 21 Capítulo 36 Base para a ação 363 Porém geralmente ao frisar o papel da educação se prioriza o ensino regular e atribui pouco valor para a educação de jovens e adultos Na teoria e na prática da EJA existem ao menos dois caminhos aparentemente diferentes que terminam articulando a EJA e as questões do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável Em 1993 o Instituto Nacional de Educação Continuada de Adultos Niace do Reino Unido publicou um documento intitulado Aprendendo para o futuro educação e o meio ambiente Nesse documento o Instituto argumentava pela importância de a EJA se engajar de uma forma muito mais consistente nas questões ambien tais Apontava uma série de argumentos em favor da sua posição Primeiramente não há tempo suficiente para esperar as gerações mais jovens amadurecerem antes de adotar ações ambientais Em segundo lugar a educação ambiental é um processo permanente que acompanha a vida toda até mesmo porque a compreensão de questões ambientais também muda ao longo do tempo Terceiro para a educação ambiental de crianças ter credibilidade é necessário que a compreensão dos adultos também mude E por último qualquer mudança ambiental exige o engajamento do elenco mais abrangente possível de pessoas crianças jovens e adultos de toda e qualquer faixa etária Seguindo o mesmo raciocínio a Declaração de Hamburgo que resumiu as principais deliberações da V Conferência Internacional de Educação de Adultos V CONFINTEA realizada em Hamburgo Alemanha em 1997 afirmou no seu artigo 17 Sustentabilidade ambiental que A educação voltada para a sustentabilidade ambiental deve ser um processo de aprendizagem que deve ser oferecido durante toda a vida e que ao mesmo tempo avalia os problemas ecológicos dentro de um contexto socioeconômico político e cultural Um futuro sustentável não pode ser atingido sem endereçar a relação entre problemas ambientais e paradigmas atuais de desenvolvimento Educação ambiental para adultos pode desempenhar um papel importante para sensibilizar e mobilizar comunidades e tomadores de decisões da necessidade de ação ambiental sustentável V CONFERÊNCIA 1999 O tema seis da Agenda para o Futuro que expõe detalhadamente o novo compromisso de fomentar a EJA assumido pela Declaração vincula a educação de adultos com o meio ambiente a saúde e a população No artigo 34 consta que As questões de meio ambiente saúde população nutrição e segurança alimentar intervêm de forma estreitamente vinculada ao desenvolvimento sustentável Cada uma delas representa uma problemática complexa Proteger o meio ambiente lutando contra a poluição prevenindo a erosão do solo e gerindo com prudência os recursos naturais é influir diretamente na saúde na nutrição e no miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 232 233 bemestar da população e lidar com fatores que por sua vez incidem sobre o crescimento demográfico e a alimentação disponível Todas essas questões inscrevemse no quadro mais vasto da busca do desenvolvimento sustentável ao qual será impossível chegar se a educação não der um lugar amplo às questões da família e do ciclo vital de procriação e a certas questões demográficas como o envelhecimento as migrações a urbanização e as relações entre as gerações e no seio da família V CONFERÊNCIA 1999 A Declaração de Hamburgo também fornece elementos para uma compreensão mais ampla do conceito da educação de adul tos Afirma primeiro que apenas o desenvolvimento centrado na pessoa e na existência de uma sociedade participativa baseada no respeito integral aos direitos humanos levará a um desenvolvimento justo e sustentável Sem explicitar o conceito de desen volvimento sustentável que fundamenta a Declaração o que transparece é um modelo de desenvolvimento que atende as neces sidades da geração presente sem comprometer as possibilidades de atender às futuras gerações Esse conceito foi originalmente cunhado pelo chamado Relatório Brundtland ou Nosso Futuro Comum da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvi mento 1988 Nesse contexto considerase que a educação de adultos é tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade E acrescenta que a educação de adultos é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável da democracia da justiça da igualdade entre os sexos Em resumo a educação de adultos engloba todo o processo de aprendizagem formal ou informal em que pessoas consideradas adultas pela sociedade desenvolvem suas habilidades enriquecem seu conhecimento e aperfeiçoam suas qualificações técnicas e profissionais direcio nandoas para a satisfação de suas necessidades e as da sua sociedade O segundo caminho que articula de uma forma clara e consistente a educação de jovens e adultos e a educação ambiental encontrase na noção de alfabetização ambiental que se origina na América do Norte na década de 1960 e de uma versão ainda mais radical no sentido etimológico da palavra de raízes que se intitula Alfabetização Ecológica O primeiro conceito implica que o conhecimento ambiental e a ação que o sustenta é uma aplicação especializada de outras habilidades gerais do processo mais tradicional de alfabetização O segundo conceito é ainda mais enfático afirmando que a sobrevivência da Humanidade dependerá da alfabetização ecológica a capacidade de compreender os princípios básicos da ecologia e de viver de acordo com eles CAPRA 2003 Assim existe um terreno comum entre a alfabetização vista como processo de codificação e decodificação da palavra escrita e de mundo e a alfabetização ambiental De acordo com a UNESCO 1990 a alfabetização ambiental faz parte de um processo efetivo de alfabetização funcional e mais dos elementos essenciais para o desenvolvimento sustentável de uma nação Essa abordagem engloba a alfabetização ambiental dentro da alfabetização funcional e por extensão sugere que para ser competente como cidadão o jovem ou adulto teria que ser capaz de reconhecer o estado dos sistemas ambientais e preparado miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 233 234 para enfrentar e resolver os problemas identificados De acordo com St Clair 2003 o conceito e prática de alfabetização ambi ental possuem um potencial enorme para mudar radicalmente a maneira como questões ambientais são concebidas Enfatizam a ação como principal resultado e sugerem que a alfabetização ambiental deveria ser considerada tão básica e universalmente desejável quão a leitura e a escrita Segundo André Trigueiro a expansão da consciência ambiental se dá na exata proporção em que percebemos meio ambiente como algo que começa dentro de cada um de nós alcançando tudo o que nos cerca e as relações que estabelecemos com o universo Tratase de um assunto tão rico e vasto que suas ramificações atingem de forma transversal todas as áreas do conhecimento TRIGUEIRO 2003 p 17 Surge daí o nosso desafio como as nossas práticas de EJA sejam escolares ou nãoescolares podem e devem contribuir para essa expansão da consciência ambiental que é essencialmente um processo educativo um processo de aprendizagem A EJA como qualquer processo educativo busca transmitir e gerar novos conhecimentos desenvolvendo uma atitude crítica e criativa frente ao conhecimento acumulado e frente à realidade socioeconômica cultural e ambiental em que vivemos Busca tam bém estabelecer um diálogo entre os saberes e a experiência que jovens e adultos já acumularam e trazem para a sala de aula como parte da sua bagagem intelectual Nesse contexto significa dialogar com a maneira pela qual jovens e adultos entendem a sua relação com o meio ambiente o saber ambiental que já acumularam e a sua convivência cotidiana com o meio ambiente não em termos abstratos mas de forma a articular teoria e prática Procura ainda fomentar e fortalecer a percepção do meio ambiente como algo que começa dentro de cada um de nós e que como cidadãos temos o direito e dever de entender preservar e proteger de exercitar a nossa cidadania como protagonistas nos processos decisórios sobre políticas ambientais gerando conhecimentos que permitam uma participação informada e ativa na realidade Partindo dessa perspectiva fica evidente que não se trata de incluir a educação ambiental como disciplina no currículo de EJA seja no nível de ensino fundamental seja no ensino médio mas como um tema transversal a ser aprofundado em todas as áreas de conhecimento desde o início do processo na alfabetização Como o documento do Niace afirma a educação ambiental constitui um processo permanente que faz parte integral da educação ao longo da vida Ao mesmo tempo a educação ambiental possui uma função estratégica importantíssima dentro e fora da escola Indo além do que afirma o documento que frisa a importância da educação ambiental na educação de jovens e adultos para permitir e facilitar que os conhecimentos aprendidos pelas crianças e as ações desenvolvidas a partir desses conhecimentos ganhem credibilidade e espaço social e político considero que a temática miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 234 235 oferece um meio para maior integração entre o ensino regular e a EJA Em muitas escolas há uma nítida separação entre as duas comunidades que freqüentam a escola crianças e adolescentes e jovens e adultos Em muitos casos os últimos são considerados quase como ameaça para a escola A educação ambiental oferece a possibilidade de desenvolver projetos que não somente envolvam e integrem a comunidade escolar de todas as faixas etárias mas que também possibilitem a construção de uma ponte às vezes tão frágil entre escola e comunidade entre escola e realidade ambiental local e entre escola e vida Há mais dois pontos que considero necessário refletir Primeiramente tanto a EJA entendida como elevação de escolaridade quanto a EJA compreendida de forma mais abrangente seja na sua relação com o mundo do trabalho seja na perspectiva da educação popular são por natureza intersetoriais Existem interfaces fortes entre EJA e saúde trabalho nutrição saneamento básico habitação desenvolvimento urbano e rural A temática de meio ambiente perpassa e interage com todas essas interfaces Talvez um exemplo ajude a concretizar essa afirmação A discussão em torno da produção de alimentos transgênicos versus alimentos orgânicos levanta questões fundamentais para a saúde nutrição desenvolvimento rural meio ambiente etc que uma EJA que trata com seriedade a educação ambiental precisa enfrentar O segundo ponto diz respeito à questão da relação entre a EJA a educação ambiental e a diversidade Um dos princípios da EJA é o respeito pela e a valorização da diversidade e do diferente em todas as suas dimensões gênero cultura etnia raça formação religiosa classe social orientação sexual territorial A EJA busca a inclusão educacional reconhecendo e valorizando as diferenças e conseqüentemente entendendo o processo educativo como algo que não visa homogeneizar mas acolher as diferenças Dessa perspectiva é claro que a maneira com que as pessoas entendem a ciência e a natureza é fundamentalmente formada e informada pelas mesmas diferenças gênero cultura etnia raça etc Qualquer abordagem única provavelmente afun dará nessas dimensões da diversidade se elas não são reconhecidas como positivas e incluídas na educação ambiental de jovens e adultos de uma forma significativa Algumas suposições que fundamentam a educação ambiental como evolução por exemplo podem contradizer ensinamentos religiosos e narrativas culturais As culturas indígenas e a relação dos povos indígenas com o meio ambiente são freqüentemente consideradas exóticas e primitivas Pouco esforço se faz para entender e aprender a partir da sabedoria e experiência milenares já acumuladas Numa palestra em João Pessoa sobre direitos humanos o professor Boaventura contou o caso de uma tribo indígena na Colômbia que quando confrontada com a ameaça da exploração de petróleo nas suas terras reagiu com a ameaça de suicídio coletivo Na cultura indígena o petróleo representa o sangue da terra e conse qüentemente o sangue da tribo miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 235 236 Em conclusão acredito que a integração da educação ambiental na educação de jovens e adultos de uma forma concreta e não de uma forma simbólica como uma disciplina isolada não é uma opção mas uma necessidade De tanto ignorar o papel fundamental da educação na questão ambiental que passa pela questão do tipo de sociedade que queremos e qual o meio de desenvolvimento mais adequado para alcançálo enfrentamos uma situação que coloca em xeque o próprio futuro do planeta O efeito estufa a destruição da camada de ozônio o desflorestamento a poluição do ar e das águas a degradação dos solos agricultáveis não são questões abstratas a serem convenientemente deixadas para os verdes resolverem São questões intrínsecas a qualquer discussão sobre qualidade de vida e sobre a capacidade do presente modelo de desenvolvimento atender às necessi dades da geração presente sem comprometer as possibilidades de atender às futuras gerações Dessa forma a educação ambiental adquire papel estratégico na educação de jovens e adultos como protagonistas no processo de transição para uma sociedade sus tentável E assim voltamos para o desafio de Thoreau e a vida no bosque em 1854 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Nosso futuro comum Rio de Janeiro Fundação Getúlio Vargas CMMAD 1988 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Agenda 21 Rio de Janeiro Nações Unidas Ministério do Meio Ambiente 1992 Disponível em httpwwwmmagovbrindexphpidoconteudomontaidEstrutura 18idConteudo575 FRITJOF C Alfabetização ecológica o desafio para o século 21 In TRIGUEIROA Coord Meio ambiente no século 21 Rio de Janeiro Editora Sextante 2003 V CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO DE ADULTOS Hamburgo Alemanha 1997 Declaração de Hamburgo agenda para o futuro Brasília SESI UNESCO 1999 Disponível em httpunesdocunescoorgimages0012001297129773porbpdf ST CLAIR R Words for the world Creating critical environmental literacy for adults New Directory of Adult and Continuing Education n 99 2003 THOREAU H D Walden or Life in the Woods New York Dover Publications 1995 TRIGUEIRO A Coord Meio ambiente no século 21 Rio de Janeiro Sextante 2003 UNESCO Environmental education Geneva UNESCOUNEP International Environmental Education Programme 1990 miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 236 237 PARA SABER MAIS BRASIL Ministério da Educação Diretoria de Políticas da Educação de Jovens e Adultos do Minis tério da Educação Disponível em httpportalmecgovbrdefaulthtm Responsável pelas diretrizes políticas e pedagógicas que buscam garantir aos jovens e adultos que não tiveram acesso à escola ou dela foram excluídas o direito de educação ao longo da vida IRELAND T PAIVA J MACHADO M M Orgs Educação de jovens e adultos uma memória contemporânea 19962004 Brasília MEC UNESCO 2004 Disponível em httpunesdoc unescoorgimages0013001368136859PORpdf ARTIGOS RELACIONADOS PENSANDO SOBRE A GERAÇÃO DO FUTURO NO PRESENTE JOVEM EDUCA JOVEM COMVIDAS E CONFERÊNCIA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARTICIPAÇÃO PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA O SUJEITO ECOLÓGICO A FORMAÇÃO DE NOVAS IDENTIDADES CULTURAIS E A ESCOLA miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 237 238 Sobre os autores ANDRÉ SARTURI andresarturiigcombr Filósofo arteeducador apaixonado por Manoel de Barros e surrealismo Através das expressões corporais do teatro busca minimizar o sofrimento de pessoas com dificuldades de comunicação libertando outras formas de linguagens CARLOS FREDERICO B LOUREIRO floureiroopenlinkcombr Biólogo mestre em Educação e doutor em Serviço Social Professor do Programa de Pósgraduação em Educação FEUFRJ e colaborador do Programa de Pósgraduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social EicosIPUFRJ Coordenador do Laboratório de Investigações e Estudos em Educação Ambiente e Sociedade LieasFEUFRJ Autor de inúmeros artigos e livros em educação ambiental DENISE BOTELHO mulhernegragmailcom Professora doutora na área de Educação é iniciada na religião do candomblé DENISE S BAENA SEGURA denisebaenagmailcom Socióloga e mestra em Educação pela USP Foi técnica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e pesquisadora do Centro e Estudos de Cultura Contemporânea Cedec Atualmente está na Gerência de Programas Socio educativos do SescSP É autora do livro Educação ambiental na escola pública da curiosidade ingênua à consciência crítica São Paulo AnnablumeFapesp 2001 ENEIDA MAEKAWA LIPAI enelipaigmailcom Bióloga especialista em Educação Ambiental consultora da Coor denação Geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação FÁBIO DEBONI fabiodeboniyahoocombr Engenheiro agrônomo e mestre em recursos florestais é educador ambiental e atua na área de Centros de Educação Ambiental CEAs e Juventude Atualmente trabalha como consultor técnico da Coordenação Geral de Educação Ambiental do MEC miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 238 GRÁCIA LOPES LIMA graciaportalgenscombr Formada em Letras mestra em Ciências da Comunicação pela ECAUSP Coordenadora dos Projetos de Educomunicação do GENS Serviços Educacionais e do Projeto Calaboca já morreu Coordenou a Oficina de Educomunicação em Rádio nas I e II Conferências NacionalInfanto Juvenil pelo Meio Ambiente e no Programa Juventude e Meio Ambiente Leciona no curso de Pedagogia da Faculdade Sumaré HAYDÉE TORRES DE OLIVEIRA haydeepowerufscarbr Bióloga 1982 com mestrado em Ecologia 1988 Doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental 1993 e pósdoutorado em Educação Ambiental pela Universidade Autônoma de Barcelona 2004 É professora associada do Departamento de Hidrobiologia da UFSCar Participa de redes de educação ambiental e atualmente coordena o Projeto Viabilizando a utopia do Coletivo Educador de São Carlos Araraquara Jaboticabal e Região Cescar ISABEL C M CARVALHO icmcarvalhouolcombr Psicóloga PUCSP mestra em psicologia da educação IesaeRJ e doutora em educação UFRGS Tem trabalhado com educação e meio ambiente desde meados dos anos 80 em São Paulo e no Rio de Janeiro Mora atualmente em Porto Alegre onde trabalha como professora universitária É autora de livros e artigos sobre educação ambiental e psi cologia social LÉA TIRIBA leatiribadomaincombr Formada em jornalismo pela UFRJ e doutora em Educação Professora do Departamento de Educação da PUCRio onde também é professora do Curso de Especialização em Educação Infantil Consultora do programa SescRio para Crianças e Jovens Assessora de redes públicas e comunitárias e coorde nadora de projetos desenvolvidos na perspectiva de qualificar a vida no plano das ecologias pessoal social e ambiental 239 miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 239 240 LILA GUIMARÃES lilaguimaraesterracombr Mestranda em Psicologia de Sociedades e Ecologia Social do Programa EicosUFRJ Licenciada em Ciências UGF pós graduada em Ciências Ambientais pela UFRJ Educadora ambiental consultora da ONG Ecomarapendi Integrante da equipe da Secretaria Executiva da Rede Brasileira de Educação Ambiental Rebea e da equipe do EANET Canal da Educa ção Ambiental na internet MARCOS SORRENTINO marcossorrentinommagovbr Licenciado em Biologia e Pedagogia mestre e doutor em educação pela UFSCar e USP Pósdoutorado em Psicologia Social pela USP Professor Doutor do Departamento de Ciências Florestais da EsalqUSP Orientador de pósgraduação da EsalqUSP ProcamUSP e CDSUnB Fundador e participante de diversas entidades e redes ambientalistas Atualmente é Diretor de Educação Ambiental do MMA MARILENA LOUREIRO DA SILVA marilenaloureiroyahoocombr Doutora em Desenvolvimento Sustentável no Trópico Úmido e Mestra em Planejamento do Desenvolvimento pelo NaeaUFPA Especialista em Educação Ambiental pela Universidade de SthratyclideGlasgow Professora do Centro de Educação da UFPA e coordenadora do Grupo de Estudos em Educação Cultura e Meio Ambiente Presidente da Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Prof Eidorfe Moreira MAURICIO BLANCO COSSÍO mblancocietsorgbr Economista com pósgraduação em Ciências Políticas Pesquisador associado do IETS Áreas de interesse educação ambiental pobreza e desigualdade avaliação de políticas públicas e teoria democrática contemporânea Principal publicação Um Retrato da Presença da Educação Ambiental no Ensino Fundamental Brasileiro o percurso de um processo acelerado de expansão Coautor com Alinne Veiga e Érica Amorim 2005 MEC miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 240 241 MAURO GUIMARÃES guimamaurohotmailcom Professor pesquisador do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Doutor em Ciências Sociais Mestre em Educação Especialista em Ciências Ambientais e Graduado em Geografia É autor de artigos e livros na área como exemplo A Dimensão Ambiental na Educação e a Formação de Educadores Ambientais pela Editora Papirus MICHÈLE SATO micheleufmtbr Educadora ambiental apaixonada por todas as expressões artísticas e pela vida Sua inspiração é surrealista mistura ciências com poesia e suaviza a luta ecologista nas paixões cotidianas NAJLA VELOSO najlavelosouolcombr Doutora pela Universidade de Brasília Depto de Sociologia na área de formação de professores Mestra em educação na área de currículos e programas Consultora em educação Recentemente fez a edição e elaboração do material didático do Projeto Educando com a horta escolar uma parceria FAO FNDE e municípios É autora do livro Currículo em verso e prosa PATRICIA MOUSINHO patriciamousinhogmailcom Bióloga UFRJ pósgraduada em Avaliação Planejamento e Gerenciamento Ambiental UERJ Mestra em Ciência da Informação IBICTUFRJ Atua há 15 anos em Informação Comunicação e Educação Ambiental Consultora da ONG Ecomarapendi coordena o EANET Canal de Educação Ambiental na internet atualmente é Secretária Executiva da Rede Brasileira de Educação Ambiental Rebea PATRÍCIA RAMOS MENDONÇA patriciarmuolcombr Arquiteta mestra em Políticas Públicas e Gestão Ambiental pela UnBBrasíliaDF Foi consultora da Coordenação Geral de Educação Ambiental da SecadMEC nos anos de 1999 a 2005 Atualmente está no Departamento de Avaliação e Informa ções Educacionais da SecadMEC miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 241 242 PAULO BLIKSTEIN paulobalummitedu Engenheiro e mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP Em 2002 concluiu o mestrado no MIT Media Lab Boston e desde 2003 é doutorando na Escola de Educação da Northwestern University Chicago Trabalhou como pesquisador e consultor em novas tecnologias educacionais para a ONU Fundação SEED EUA Fundação Telmex México entre outras PHILIPPE POMIER LAYRARGUES philippelayrarguesmmagovbr Biólogo especialista em educação ambiental mestre em Psicologia Social e doutor em Sociologia Ambiental Autor de publicações sobre educação ambiental trabalha na Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente RACHEL TRAJBER racheltrajbermecgovbr Doutora em Antropologia e Lingüística pela Purdue Uni versity EUA Atualmente é Coordenadora Geral de Educação Ambiental do MEC Coordenou a I Conferência Nacional do Meio Ambiente no MMA e preside a Câmara Técnica de Educação Ambiental do Conselho Nacional de Meio Ambiente Conama Foi fundadora do Instituto Ecoar para a Cidadania e diretora da Imagens Educação Lecionou na Cogeae PUC SP SÔNIA ZAKRZEVSKI sbzuriceredubr Licenciada em Ciências mestra em Educação pela UFSM e doutora em Ciências pela UFSCar É professora e pesquisado ra da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesRS Seu trabalho em educação ambiental tem como foco central a formação de educadorases ambientais na região norte do Rio Grande do Sul SORAIA SILVA DE MELLO soraiamelloyahoocombr Engenheira Florestal EsalqUSP especialista em conser vação de recursos naturais Unicamp Foi facilitadora de redes e de encontros de juventude apoiou a implantação da educação ambiental nas escolas de Belterra no Pará e coordenou a I Con ferência Nacional InfantoJuvenil pelo Meio Ambiente Atual mente é consultora da Coordenação Geral de Educação Ambiental do MEC na área de publicações e pesquisas miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 242 243 TERESA MELO teresamelouolcombr Formada em Letras mestra e doutora em Ciências da Comunicação pela ECAUSP Docente do curso de Pedagogia da Faculdade Sumaré gestora de Educação a Distância do pro grama ProJovemSP Coordenou a Oficina de Educomunicação em Mídia Impressa nas I e II Conferências NacionalInfanto Juvenil pelo Meio Ambiente Participação em projetos de Educomunicação Novas Tecnologias da Informação e Comuni cação e Educação Ambiental TIMOTHY D IRELAND timothyirelandmecgovbr Formado em Letras e Língua Inglesa pela Universidade de Edimburgo na Escócia fez mestrado e doutorado na área da Educação de Jovens e Adultos na Universidade de Manchester no Reino Unido Como professor da Universidade Federal da Paraíba ensinou e pesquisou nos campos da EJA e da edu cação popular Atualmente exerce o cargo de Diretor do Departamento de Educação de Jovens e Adultos da SECAD Ministério da Educação VIVIANE VAZZI PEDRO vivazzigmailcom Advogada especialista em direito ambiental consultora da Coordenação Geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação XANDA MIRANDA xandamirandamecgovbr Bacharel em Psicologia PUCSP é autora da pesquisa O controle da Palavra uma análise do discurso de uma comu nidade AúweXavante sobre a escola diferenciada Trabalhou com a etnia AúweXavante e como consultora da Funai em projetos relacionados a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social e com o diagnóstico social participativo de problemas vivenciados pelas comunidades Atualmente inte gra a equipe da SECADMEC miolovamoscuidarcap4Layout 1 51608 1026 AM Page 243 Em pleno século XXI percebemos no cotidiano a urgente necessidade de transformações que resgatem o respeito pela vida com justiça ambiental eqüidade diversidade sustentabilidade e beleza Nesse contexto é por meio da educação que temos uma oportunidade de repensar e redefinir nosso presente e futuro no Planeta Em especial a educação ambiental assume posição de destaque face aos desafios da contemporaneidade por ser voltada tanto para a instauração de uma moral ecológica quanto para a construção dos fundamentos de sociedades sustentáveis Nas atividades da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável a convergência de ações e princípios de dois ministérios e da UNESCO resultou na elaboração desta publicação Construída coletivamente por uma diversidade de educadoras e educadores ambientais do Brasil esta obra visa propiciar o diálogo sobre a práxis educativa para e pela vida nas escolas Conceitos e práticas em educação ambiental na escola MEC MMA UNESCO CapavamoscuidarLayout 1 4108 1136 AM Page 1