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Filosofia ·

Pedagogia

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DOI 105216iav42i143774 A eduCAção problemAtizAdorA de pAulo Freire umA pedAgogiA do suJeito soCiAl sandro de casTro piTano Universidade Federal de Pelotas UFPel Pelotas Rio Grande do Sul Brasil resumo O artigo apresenta os resultados de uma investigação bibliográfica sobre o pensamento de Paulo Freire assumindo que o mesmo considera o sujeito social como horizonte formativo Visa identificar e definir a partir dos escritos freireanos um conceito de sujeito social afinado com os princípios políticos e pedagógicos da educação popular A análise bibliográfica enfatizou as obras Pedagogia do Oprimido Conscientização Pedagogia Diálogo e Conflito Política e Educação Pedagogia da Esperança e Pedagogia da Indignação Aprofundando o estudo de categorias centrais como conscientização e diálogo foi possível identificar e caracterizar um conceito de sujeito social na pedagogia freireana configurando um horizonte formativo em consonância com os fundamentos e ideais da educação popular pAlAvrAsChAve Paulo Freire Educação Problematizadora Educação Popular Sujeito Social 1 introdução O texto desenvolve uma análise do pensamento de Paulo Freire considerando a tese de que o mesmo assim como a educação popular tem o sujeito social como horizonte formativo Almeja definir a partir da obra freireana um conceito de sujeito social afinado com princípios políticos e pedagógicos da educação popular contribuindo para o seu vigor como InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 PITANO S de C movimento social libertador Aponta para uma condição humana em construção emergente da inconclusividade no devir histórico na qual os sujeitos sejam capazes de assumiremse como fatores determinantes da existência individual e social Embora a análise bibliográfica tenha englobado todos os escritos freireanos livros acessíveis à pesquisa dedicouse maior atenção às obras Pedagogia do Oprimido Conscientização Pedagogia Diálogo e Conflito Política e Educação Pedagogia da Esperança e Pedagogia da Indignação A escolha resultou da pesquisa exploratória que permitiu destacálas em razão de seu potencial sobre a temática do sujeito Além disso considerando a amplitude da obra de Freire seria quase impossível desenvolver o estudo com a profundidade devida sem estabelecer prioridades E ao estabelecêlas buscou se selecionar escritos representativos de todos os períodos e características do seu pensamento razão pela qual a obra dialogada se faz presente Como categorias de análise centrais foram assumidas conscientização incluindo o desdobramento dos diferentes níveis de consciência especificados por Paulo Freire e o diálogo O significado de ambas foi evidenciado buscando demonstrar os nexos estabelecidos ao longo do processo dialético de sistematização do seu pensamento pedagógico e político A concepção epistemológica afirmada pelo autor é o elemento articulador dos tensionamentos provocados em relação à realidade social como condição de possibilidade sem a qual o dialéticodialógico resta sem sentido O sujeito social é fruto de um caminho de aprendizagem e superação de estágios de consciência Um caminho jamais linear e menos ainda predeterminado É movimento humano na história de suas relações cada vez mais conscientes com os outros e com o que ocorre no mundo Embora não seja encontrado na obra de Freire o termo sujeito social o uso de outras expressões com afinidade semântica tais como sujeito histórico sujeito da decisão sujeito cognoscente sujeito da transformação e sujeito político revelam no presente ainda que de maneira implícita Considerando apenas as seis obras destacadas nesse estudo percebe se que Freire utiliza o termo sujeito 217 vezes com diferentes formulações Conscientização 31 sujeito da história sujeito do processo sujeito conhecedor ser sujeito Pedagogia do Oprimido 102 sujeito dialógico sujeito da educação sujeito da transformação sujeito da história Pedagogia diálogo e conflito 03 sujeito inteligente Política e educação 29 sujeito da história sujeito consciente sujeito da transformação Pedagogia da esperança 25 sujeito histórico sujeito político sujeito crítico Pedagogia da indignação 27 sujeito ético sujeito da história sujeito crítico e sujeito cognoscente InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 Dossiê A educação problematizadora de Paulo Freire uma pedagogia do sujeito social 89 2 A eduCAção problemAtizAdorA e seu horizonte FormAtivo Desde Educação e Atualidade Brasileira Freire 2002b problematiza as condições históricas de opressão e desigualdade social que fruto das relações colonialistas iniciadas no século XVI caracterizam o Brasil Um processo de opressão que negando a homens e mulheres as condições para assumiremse como sujeitos de seu próprio mundo configura uma manifestação de violência Violência dos opressores que impede a humanização dos oprimidos Porém nessa lógica os opressores também se desumanizam assim como aqueles são homens e mulheres inconclusos aviltados na busca pelo ser mais A capacidade de dimensionar o tempo recordar o passado compreender o presente e planejar o futuro são atributos que o ser humano inconcluso foi desenvolvendo O inacabamento lhe é característico porque assim se reconhece através da consciência E como o ser humano a realidade que o condiciona também é inacabada Como processo histórico ambos se modificam dialeticamente Em consequência a realidade muda quando o humano inconcluso a altera por meio da ação modificando a si mesmo paralelamente E se para escrever a história o ser humano necessita da consciência de si a educação se revela fundamental Por meio dela é possível viabilizar a superação de posturas deterministas mecânica eou voluntaristas idealista diante da realidade Na compreensão da história como possibilidade o amanhã é problemático Para que ele venha é preciso que o construamos mediante a transformação do hoje Há possibilidades para diferentes amanhãs A luta já não se reduz a retardar o que virá ou a assegurar sua chegada é preciso reinventar o mundo A educação é indispensável nessa reinvenção Assumirmonos como sujeitos e objetos da história nos torna seres da decisão da ruptura Seres éticos FREIRE 2000a p 40 Freire acredita na capacidade que homens e mulheres possuem de superar as suas situações limite principalmente a exploração historicamente imposta Transformar a realidade libertando oprimidos e opressores é a preocupação responsável por engendrar a Pedagogia do Oprimido como pedagogia humanista e libertadora Ao sistematizar toda a sua obra em prol da luta constante contra qualquer forma de discriminação a favor do humanismo da ética da bondade ele se posiciona claramente contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração a miséria na fartura FREIRE 1996 p 115 Comprometendose com a transformação da realidade social desenvolveu a Educação Problematizadora como princípio formativo InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 PITANO S de C Segundo Freire 2002b a alienação resulta da dominação fazendo do oprimido um ser dual que deseja não raro transformarse em opressor A alienação representa uma característica histórica da sociedade brasileira refletindose na autodiminuição face às outras pessoas culturas ou sociedades O indivíduo alienado vive como um serparaoutro e não como um serparasi Geralmente considera a cultura estrangeira melhor também a moda a eficiência mesmo que isto ocorra somente em seu pensamento Daí que o melhor seja para os alienados imitar os valores dos opressores assumindoos Quando o ser humano pretende imitar a outrem já não é ele mesmo Assim também a imitação servil de outras culturas produz uma sociedade alienada ou sociedadeobjeto Quanto mais alguém quer ser outro tanto menos ele é ele mesmo FREIRE 2002d p 35 Se o quadro de alienação constatado atrelase a um problema eminentemente político cabe contornálo pela mesma via Portanto política e educação se interligam para atingir um fim comum a todos o ser mais Pela intencionalidade atribuída ao processo educativo Freire almeja uma educação politicamente definida a favor de um ideal de um projeto humano sempre em vias de possibilista diante das contradições sociais impostas e não deterministicamente dadas Analisando seus escritos e sua trajetória percebe se um defensor ferrenho da justiça social estimulador da mudança radical idealista convicto e apaixonado pela liberdade Entendase que a liberdade para o autor é um processo FREIRE 2002g p 94 destino por que temos de brigar incessantemente Sobre a organização da sociedade Freire aposta na radicalização da democracia compreendida para além de uma organização política Para ele democracia é um modo de vida prática constante e construída na relação dialógica com os semelhantes que passa a ser interiorizada As pessoas devem envolverse nos processos formadores da própria história construindoa com as próprias mãos À educação libertadora o autor adverte que calar diante da exploração que desumaniza é assumir como falso tudo o que foi dito como próprio dos seres humanos frente ao seu contexto é concordar com os séculos de colonialismo explícito apoiado na inculcação ideológica de inverdades unilaterais que acabam sedimentadas E para Freire as relações dominantes em uma sociedade de classes só podem ser de exploração dominação e alienação e se há algo intrinsecamente mau que deve ser radicalmente transformado e não simplesmente reformado é o sistema capitalista FREIRE 2002a p 69 Por isso o enfrentamento político e social buscando universalizar o viraser é o fim maior da sua Educação Problematizadora InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 Dossiê A educação problematizadora de Paulo Freire uma pedagogia do sujeito social 91 3 diálogo e ConsCientizAção AliCerCes do suJeito soCiAl Como processo contínuo de desenvolvimento do ser humano a educação é necessária em sociedade Possibilita elaborar e modificar comportamentos podendo ser considerada como fator de mudança Frente a uma situação social como a brasileira em que se vive à sombra de um passado autoritário sem relações dialógicas embora não podendo tudo mas podendo alguma coisa FREIRE 2002f p92 a educação possui fundamental importância É uma forma de lentamente modificar a herança opressiva que não só os pobres e miseráveis carregam introjetados Diante disso a educação que de acordo com Freire não é neutra precisa posicionarse entre dois caminhos antagônicos uma educação para a domesticação para a alienação e uma educação para a liberdade Educação para o homemobjeto ou educação para o homemsujeito FREIRE 2002c p44 Convicto de seu posicionamento político e social insatisfeito com o mundo de injustiças que está aí FREIRE 2002f p 91 o autor opta pelo homem sujeito horizonte formativo da educação para a liberdade Uma educação respeitadora do homem como pessoa FREIRE 2002c p 45 única opção a ser seguida por educadores que acreditam no futuro como possibilidade e não determinismo FREIRE 2002f p 92 Se o amanhã fosse um porvir preconcebido caberia tão somente às pessoas se prepararem para a adaptação Porém historicamente o ser humano não evoluiu ao sabor das circunstâncias acomodandose aos reveses da natureza A acomodação passiva por sua essência não é a característica determinante e sim o oposto a superação Superação que se manifesta através da transformação constante e contínua que o ser humano capaz de produzir acumular e reproduzir conhecimentos impõe ao espaço Essa é a concepção freireana de homemmulher sujeito constituindo se historicamente Porém como um processo dialético também é possível perceber a sua negação como objetos A educação para a liberdade busca recuperar a noção de sujeito que indo além da adaptação se integra ao contexto Freire explica que a integração é resultado do ajustamento das pessoas à realidade acrescida da capacidade de transformála o que a torna mais completa e mais humana diferente da simples acomodação ajustamento Daí que sendo o futuro um tempo a ser construído exista a necessidade da educação da formação conjunta das mãos encarregadas de lhe dar forma Quanto mais as pessoas participarem do processo de sua própria educação maior será sua participação no processo de definir que tipo de produção InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 PITANO S de C produzir e para que e por que e maior será também sua participação no seu próprio desenvolvimento Quanto mais as pessoas se tornarem elas mesmas melhor será a democracia Quanto menos perguntarmos às pessoas o que desejam e a respeito de suas expectativas menor será a democracia HORTON FREIRE 2003 p 149 Formar essas mãos significa possibilitarlhes a construção das condições físicas e intelectuais para que ajam em seu próprio nome Para um futuro definido previamente não haveria necessidade de educação apenas de um processo instrutivo semelhante ao adestramento Elemento fundamental da pedagogia freireana é o diálogo sem o qual não há comunicação Considerando que o diálogo deve ser desencadeado de modo a se fazer entender por todos os que dialogam a comunicação se efetua tomando como mediação os problemas locais Todos precisam se fazer entender por seus pares para que o coletivo funcione como sociedade Entretanto o diálogo somente se constitui quando as pessoas reconhecem o direito que os outros possuem de expor suas ideias e expressar sua opinião Entre opressor e oprimido não existe diálogo apenas aquele que comunica ao outro em uma relação vertical O processo de comunicação enraizado estabelecido de cima para baixo possui existência histórica reconhecida Portanto instaurar o diálogo é o ponto de partida para qualquer educação com o povo É a partir da ressignificação de sentidos que a ação consciente ganha força a autorreflexão sobre as contradições do contexto vivencial Por isso o conhecimento em Freire supera a subjetividade solipsista já que transcende o paradigma da subjetividade moderna rumo aos sujeitos dialógicos em relação ao objeto do conhecimento Daí a crítica legítima à prática bancária que transferidora de saber é incapaz de promover a conscientização por não problematizar o mundo imediato O conhecimento não pode resultar de um ato passivo O ser humano busca conhecer a partir de suas inquietações das dúvidas em relação aos problemas que vão surgindo em seu contexto O conhecimento é entendido pela Educação Problematizadora como um recriar constante jamais estático a ideia de que ensinar é transmitir conhecimentos é radicalmente refutada é resultado da busca determinada da aplicação da curiosidade sobre o objeto adquirindo um valor social Deve pertencer aos homens e às mulheres em geral servindo para promover o bem comum Todo conhecimento traz consigo uma mudança na realidade pois leva os homens a conhecer que sabem pouco de si mesmos possibilitando que ponham a si e seus conhecimentos como problema FREIRE 2001b p 95 Problematizando a si e ao mundo é possível haver mudança InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 Dossiê A educação problematizadora de Paulo Freire uma pedagogia do sujeito social 93 A concepção problematizadora da educação respeita a natureza do ser humano percebendoo como o ser unicamente capaz de objetivar o espaço através da práxis união entre a teoria pensar e a prática agir construindo sua própria compreensão da realidade Essa compreensão em permanente processo constitui a consciência que pode ser tal como a realidade é apresentada Diante disso a conscientização representa um aprofundamento da consciência através de um novo processo de apreensão da realidade em sua relação com o estar sendo daquele que a observa o sujeito Isso pode permitir superar o espontaneísmo passivo diante dos fatos contando que são muitos os meios dispostos a trazêlos para todos através de uma ação mediadora Como conhecimento interno a conscientização possui dois focos de ação um em relação a si próprio e outro em relação aos outros considerando todos em seu meio de vida meio geográfico A primeira dimensão compreende o sujeito histórico o eu no mundo capaz de trazer a realidade percebida para dentro de si e refletila Por estar voltada para si nesta dimensão a conscientização é autoconhecimento Porém ele também ocorre na esfera dos outros do eu em relação entendendoos como semelhantes em sentimentos necessidades direitos e deveres na sociedade é o reconhecimento Completando o ato de conhecer e reconhecer a conscientização encontra seu ápice na ação transformadora da realidade Concordando com Marx e Engels 2005 p66 que consideram homens e circunstâncias em movimento permanente e recíproco de construção é evidenciada a base dialética do processo de libertação Subjetividade e objetividade passam a ser relacionadas historicamente Afinal foram e continuam sendo os seres humanos concretos que engendraram a forma histórica de seu próprio mundo humanizandoo na expressão material e simbólica O entendimento dessa circunstância é fator de ruptura motivando o agir consciente orientado para a assunção do papel de sujeito Sujeito que constituído dialogicamente e em contínuo processo de conscientização identificase pelo princípio invariante de que somos todos humanos Sejamos nós professores estudantes pedreiros pintores advogados ou desempregados O sujeito social uma vez conceituado poderá sintetizar com fidelidade e rigor teórico a totalidade dos termos esparsos porém confluentes identificados na obra de Freire Compreender o seu horizonte formativo é fundamental diante de uma realidade injusta na qual a desigualdade social se reproduz e tende a se perpetuar Permite problematizar o paradigma cidadão majoritário no contexto educativo ao mesmo tempo que robustece a atualidade e a relevância do pensamento de Paulo Freire É em busca dessa definição que o texto avança InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 PITANO S de C 4 o ConCeito de suJeito soCiAl em pAulo Freire Ao longo das páginas anteriores discorreuse sobre a concepção pedagógica libertadora de Paulo Freire assentada nos pilares do diálogo e da conscientização Ensaiouse uma aproximação ao sujeito social inerente às formulações freireanas sobre a existência humana Agora a análise será aprofundada em direção ao horizonte formativo da educação popular estabelecendo a pertinência do referido conceito no e a partir do pensamento de Freire Entendese fundamental a superação do modelo cidadão moldado pela democracia capitalista e assumido pela educação em geral e mesmo com ressalvas pela educação popular É o que mostram estudos como o de Pitano 2016 amparado em análise documental e em clássicos sobre a cidadania como Cortina 1997 e Marshall 1967 As categorias conscientização e diálogo continuarão tendo papel fundamental nessa reflexão cujo intuito é demonstrar que o sujeito social corresponde ao construtohorizonte do pensamento de Freire em afinidade com o projeto político da educação popular O vigor teórico e prático de ambas no pensamento freireano e seu possível impacto na educação popular justifica que lhes seja dedicada especial ênfase Na tentativa de caracterizar e conceituar o sujeito social no pensamento de Freire o ponto de partida é a sua visão de mundo como processo O nascimento representa a gênese de uma unicidade histórica que encarna concomitantemente a singularidade em formação e a socialização do indivíduo ambas relacionadas no interior do processo vivencial Desde então tem lugar a inserção em um complexo sistema de objetos existentes e organizados relações e contradições com as quais o indivíduo vai se familiarizando O adentramento dinâmico vai construindo através das mediações a individualidade que engendra nesse movimento concepções de mundo Tais concepções sofrem influências diversas e decorrem de vários fatores Porém a determinação maior se deve à interação entre consciência e mundo quando subjetividade e objetividade interagem com os elementos materiais e simbólicos disponíveis em determinado espaço e tempo A consciência ganha espaço na análise da existência humana como uma atividade individual mediada pela realidade que opera uma compreensão do que se passa ao redor Em um primeiro momento o eu pode ser apontado como centralidade diante do real objetivado configurando algo como um discurso interior BAKHTIN 2006 p 118 Porém mesmo construída na interioridade individual a consciência como discurso interior jamais seria viável sem condições advindas do exterior O processo de sua InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 Dossiê A educação problematizadora de Paulo Freire uma pedagogia do sujeito social 95 formação é inerente às relações entre subjetividade e objetividade E a formação depende das influências diretas da situação social no contexto imediato à existência individual Em um movimento complexo o indivíduo encharcado de experiências históricas efetua um trabalho de apreensão do contexto Traduz e reconstrói através de sua estrutura biológica e cognitiva os estímulos recebidos do exterior como um processo de construção do conhecimento De fato é possível compreender a consciência como um conhecimento dos fatos das coisas complementado pela capacidade reflexiva o reconhecimento Reconhecer as condições da existência exige o desenvolvimento de atividades analíticas e sintéticas como uma tradução imediata que se aprofunda Reside no simbólico a possibilidade do sujeito compreendendo as relações que o circundam efetuar essa reconstrução compreensiva de maneira mais ou menos fiel ao fenômeno analisado Segundo Bakhtin 2006 p 32 um signo não existe apenas como parte de uma realidade pois ele também pode distorcer essa realidade serlhe fiel ou apreendêla de um ponto de vista específico A consciência somente se constitui pela assimilação e tratamento do conteúdo que lhe é apresentado em forma de signos É na interação social que a consciência impregnandose de conteúdos simbólicos constituise na interioridade do eu A consciência individual não só nada pode explicar mas do contrário deve ela própria ser explicada a partir do meio ideológico e social A consciência individual é um fato socioideológico BAKHTIN 2006 p 35 A elaboração de si e do mundo na interioridade da consciência no discurso interior demonstra o nexo com a afirmação do eu como sujeito inseparável da afirmação em ato com o mundo É quando tem lugar a conscientização exigência efetiva do movimento de libertação e de construção do sujeito social em Freire Na vida cotidiana o poder ideológico se consolida discursivamente com facilidade graças ao espontaneísmo com o qual se movem os sujeitos Heller 2004 p 17 salienta que a vida cotidiana é a vida de todo homem todos vivenciam o seu dia a dia ingênuo o seu cotidiano Porém embora assimile a todos nenhum indivíduo vive tão somente absorto na cotidianidade A questão basilar é que mesmo não homogeneizando a inserção no cotidiano tratase de um fato inconteste a pertença a ele desde os primórdios da existência individual o fato de se nascer já lançado na cotidianidade continua significando que os homens assumem como dadas as funções da vida cotidiana HELLER 2004 p17 Assim seria possível conceber uma unidade imediata de pensamento e ação negando a práxis como afastamento crítico entre consciência e mundo InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 PITANO S de C Para Freire 1980 p 26 a conscientização implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem as condições de sua existência Ela compartilha algumas características do sujeito ambos são processos inacabados históricos e expostos às contingências As contradições se abrigam na barreira constituída de situações limites compostas por uma esfera concreta e outra imaginária em permanente contato A concreta corresponde ao fenômeno em curso por exemplo a fome Tratase de um obstáculo a ser vencido e todos são sabedores disso Solucionar o problema da fome parece ser uma tarefa simples em um mundo que produz alimento para ser transformado em combustível Porém talvez implicasse em uma ruptura profunda demais no sistema de produção e consumo dominante e acaba se perpetuando As situações limite de acordo com Freire 1980 p 30 implicam na existência de pessoas que são servidas direta ou indiretamente por estas situações e outras para as quais elas possuem um caráter negativo e domesticado No exemplo da fome a parcela das pessoas domesticadas não corresponde apenas às que sofrem na pele a sua crueldade mas também àquelas que restam chocadas com o sofrimento das vítimas Como se trata de um fenômeno de grande proporção sua existência depende do convencimento de uma ampla parte da sociedade mundial perfazendo a dimensão necessária para erguer a barreira correspondente Portanto o processo de enfrentamento a ser empreendido precisa focar além do problema concreto a maneira como ele é percebido ou seja a dimensão imaginária Freire entende que o mundo é uma construção histórica do trabalho humano linguisticamente constituído desde a compreensão necessária entre os interlocutores até a internalização da exterioridade em construção Tudo isso se desdobra em novas ações externas através da atividade constituidora de sentidos Buscando promover uma apreensão menos espontânea do mundo aponta o caminho da compreensão simbólica possibilitada pelo afastamento da realidade e pelo incentivo à atividade crítica da consciência em relação a ela Sem dúvida quando os homens percebem a realidade como densa impe netrável e envolvente é indispensável proceder a esta procura por meio da abstração Este método não implica que se deva reduzir o concreto ao abstrato o que significaria que o método não é do tipo dialético mas que se mantenham os dois elementos como contrários em interrelação dialética no ato de reflexão FREIRE 1980 p 3031 InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 Dossiê A educação problematizadora de Paulo Freire uma pedagogia do sujeito social 97 Essa compreensão conduz ao processo de codificação e decodificação da situação existencial enfocada como problema situação limite cuja superação depende da práxis humana Codificar uma dada situação corresponde à maneira pela qual é possível efetuar o distanciamento crítico da vida cotidiana em seu conjunto de contradições Partindo da codificação o processo impulsiona o exercício da consciência com relação à exterioridade por meio da significação Freire utiliza a fotografia o desenho e o slide como instrumentos de expressão da realidade codificada Diante deles os sujeitos admiram o próprio contexto tornandose neste ato ativos observadores da situação em que vivem objetivandoa A meta é permitir que a realidade seja percebida como um desafio a ser enfrentado e superado e não mais uma barreira intransponível A decodificação busca possibilitar que uma postura crítica seja assumida sobre o contexto imediato Viabilizando por meio da relação dialética entre realidade objetiva e subjetividade reflexiva novas formas de ação que ponham em curso o processo de libertação Sem refletir criticamente o ser humano não chega a ser sujeito Em Freire vir a ser sujeito é parte do processo educacional tal como uma aprendizagem permanente A atuação em níveis mais críticos sobre a realidade não provoca apenas a mudança das relações objetivas mas também do indivíduo atuante A identificação das situações limite por meio da decodificação é atividade primordial para o engajamento concreto pela transformação pois não é possível combater o indiscernível Transformar as relações sociais opressoras é fundamento e horizonte do processo de libertação A transformação do latim transformatioonis CUNHA 2007 p 782 diferentemente da reforma contempla uma mudança profunda que envolve forma e conteúdo Transformar é criar o novo atitude de quem nega o que está sendo e assume a utopia possível por exemplo um mundo sem fome Seu enfoque é a materialidade necessária ao abordar a dureza da desigualdade e da opressão negadoras da vida cuja solução revela se impossível por dentro da lógica vigente É dessa percepção que se nutre a transformação anunciadora da utopia viver sob uma legalidade ilegítima romper um contrato em que os oprimidos ficam apartados no momento de serem compostas as cláusulas O legítimo é o que está por vir promovendo a identificação com o legal legitimidade legalidade Sem transformação as estruturas continuam idênticas e o máximo alcançado poderá ser uma inversão de papéis entre opressores e oprimidos A meta é superar completamente a contradição opressoroprimido já que ao mantêla existirão emancipações localizadas nunca a libertação que consiste no surgimento do homem novo InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 PITANO S de C É pois essencial que os oprimidos levem a termo um combate que resolva a contradição em que estão presos e a contradição não será resolvida senão pela aparição de um homem novo nem opressor nem oprimido mas um homem em fase de libertação Se a finalidade dos oprimidos é chegar a ser plenamente humanos não a alcançarão contentandose em inverter os termos da contradição mudando somente os polos FREIRE 1980 p 59 Nessa trajetória paralela entre mudança dos seres humanos e mudança do mundo Freire enfatiza a existência de níveis de consciência que podem e devem ser superados no curso de uma educação libertadora No primeiro nível está a consciência semiintransitiva caracterizada pela imersão quase total na realidade A percepção sobre os desafios é deturpada completamente determinada pela manipulação ideológica A vida cotidiana envolve a capacidade de compreensão dos problemas pois não consegue transbordar os limites da própria experiência Como explica Freire 1980 p 67 os indivíduos cuja consciência está situada nesse nível carecem do que chamamos percepção estrutural a qual se faz e se refaz a partir da realidade concreta na apreensão da problemática Não conseguem provocar mudanças significativas em sua condição vivencial em razão de não a refletirem criticamente não a reelaborarem Até a problematizam porém limitados pela imersão em que se encontram acabam com frequência atribuindo a causa das contradições a forças superiores Deus ou mesmo a si próprios A ampliação da capacidade de diálogo com os outros e com o mundo acompanhada de uma maior captação da esfera existencial abre espaço para a transitivação da consciência A dialogicidade é o resultado permanente do processo de troca recíproca intersubjetiva em um movimento de sairde si em direção a si mesmo ao outro e ao mundo Não é um movimento de disputa argumentativa cujo convencimento é a meta e sim uma contribuição ao crescimento coletivo que caracteriza a essência nunca uma estratégia de convivência É por isso que em meio a sociedade opressora o diálogo tende a ser atrofiado e até impossibilitado pois os princípios da igualdade e ausência de domínio que o caracterizam em relação recíproca dos participantes inexistem Há sempre a dependência o domínio o jogo de interesses e necessidades que o impedem de efetivarse Como expressão comunicativa entre os sujeitos o diálogo representa a essência da interlocução entre homens e mulheres diferentes respeitosa da abertura para o mundo Comprometido com a libertação o diálogo compreende a crítica da negatividade material roubada DUSSEL 2000 p 427 almejando atingir coletivamente não a consciência da opressão InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 Dossiê A educação problematizadora de Paulo Freire uma pedagogia do sujeito social 99 mas a sua ilegítima razão de ser É um encontro simétrico e intencional não importando se entre indivíduos iguais ou desiguais socialmente que ensina na prática serem as desigualdades inconcebíveis em virtude da condição humana que nos assemelha e identifica como diferentes Mais que emancipar pela superação e melhora qualitativa de estágios cognitivos o diálogo freireano é libertador gerando uma sabedoria revolucionária capaz de fundar um novo sujeito Freire se refere ao espaço urbano para evidenciar o primeiro nível da consciência transitiva a transitivoingênua Embora mais aberta diante do mundo do que a consciência intransitiva essa ainda se caracteriza entre outros aspectos pela simplicidade na interpretação dos problemas FREIRE 2002c p 68 O indivíduo ainda não efetua um afastamento suficiente em relação ao contexto para que possa refletir criticamente sobre os condicionantes impostos Continua dominado pela ideologia opressora e a transitividade se resume a acompanhar as mudanças operadas pelo próprio sistema político e econômico Todo esse processo seria impensável sem a ação educativa cuja tarefa é se constituir em vetor de formas mais radicais de participação teórica e prática almejando um nível mais profundo de percepção dos fatos A alfabetização por exemplo pode assumir diferentes perspectivas de ação dependendo da visão de mundo daqueles que a coordenam Na perspectiva conservadora os analfabetos são indivíduos marginalizados e inferiores que precisam ser incluídos no estilo de vida dominante Os educadores são agentes de inclusão imbuídos de emancipar os marginalizados de sua condição excessivamente inferior uma espécie de salvação dos excluídos para que possam participar passivamente da dinâmica social que se moderniza a cada dia Programas de alfabetização com tais características nunca almejam a libertação somente a emancipação pois nunca colocarão em questão a própria realidade em suas contradições insolúveis Freire 1980 p 75 A contradição opressoroprimido não pode ser superada nesse panorama no qual os oprimidos são mantidos como seres para o outro Portanto a forma conservadora de alfabetizar visa incluir e emancipar no sentido de elevar de posição dentro do sistema e o processo de alfabetização tende a reforçar o caráter fechado do contexto vital Já na perspectiva libertadora em que os analfabetos são considerados como oprimidos pelo sistema a educação assume a tarefa de constituir sujeitos sociais Suas características em conexão com a visão de mundo que sustenta assim a revelam A não neutralidade de uma educação comprometida com a práxis libertadora fundase no entendimento de que não há conciliação possível entre a libertação e a lógica das relações oriundas InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 PITANO S de C do sistema capitalista É nesse sentido que a libertação se consolida na obra freireana como vocação e horizonte na busca pelo ser mais Antagônicas aos interesses opressores Educação Problematizadora e educação popular se caracterizam como questionadoras dialógicas libertadoras e consequentemente revolucionárias Fundamentadas no diálogo como forma de comunicação almejam atingir o terceiro nível da consciência a transitivocrítica ou consciência crítica A explicação de Freire 2002c p 69 é contundente A transitividade crítica por outro lado a que chegaríamos com uma educação dialogal e ativa voltada para a responsabilidade social e política se caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas pela recusa a posições quietistas pela prática do diálogo por se inclinar sempre a arguições Se a elevação da consciência intransitiva ao nível da transitividade ingênua corresponde ao acompanhamento e à adesão às mudanças de teor econômico no contexto o mesmo não ocorre com a sua superação pela consciência crítica Ela começa a ser alcançada apenas quando a percepção dos fatos é aprofundada através da reflexão crítica As relações causais transcendem explicações superficiais que levam ao imobilismo por serem consideradas inerentes naturais ou fruto da vontade divina Ação e reflexão se unem na práxis uma vez que em uma reflexão crítica tende a suceder uma ação igualmente crítica isto é uma ação que corresponda à condição dos oprimidos não mais como seres para o outro e sim como seres com o outro e para si sujeitos sociais A ultrapassagem do estado de objetos para o de sujeitos afirma Freire 2002e p 127 não pode prescindir nem da ação das massas nem de sua reflexão autêntica práxis libertadora Avançar sozinho é buscar apenas a emancipação assumindo o individualismo sistêmico A plenitude da existência embora sempre se fazendo consiste em poder pronunciar o mundo atitude do sujeito que transforma o meio em que vive Por isso a dimensão coletiva se revela um imperativo uma vez que dizer a palavra não é privilégio de alguns homens mas direito de todos FREIRE 2002e p 78 É impossível pronunciar o mundo sozinho da mesma forma que tornarse sujeito quando apartado dos outros pois como salienta Geraldi 2006 p 19 a língua e os sujeitos se constituem nos processos interativos O sujeito assim se constitui pela interação com os demais e com a sua consciência A horizontalidade do diálogo estabelece relações de confiança e reconhecimento verdadeira comunhão no processo esperançoso de vir a ser mais Por isso o diálogo compõe um dos princípios basilares do processo de constituição do sujeito social InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 Dossiê A educação problematizadora de Paulo Freire uma pedagogia do sujeito social 101 A relação dialógica permite romper a tradição autoritária pois problematiza razões de ser e as desvela evidenciando bases de sustentação em sua fragilidade diante do conhecimento crítico Ao mostrar a legitimidade de outra maneira de se relacionar com os outros o diálogo provoca o tensionamento das relações de opressão impulsionando o sujeito a realizar sua vocação de ser mais 5 ConsiderAções FinAis Como visto em Freire a prática de uma educação crítica e dialógica viabiliza um processo de conscientização social e política capaz de conduzir os sujeitos à práxis libertadora Essas características ratificam ao mesmo tempo a pertinência do pensamento freireano às condições de vida em sociedades oprimidas e a atualidade de sua pedagogia Nessas circunstâncias marcadas pela cultura do silêncio condição de mutismo das gentes que condiciona o estar sendo pelo antidiálogo a instauração do processo de conscientização é imperativo existencial Consequentemente constituir o sujeito social implica na gênese conflituosa em meio à luta em torno da transformação material das relações sociais É ao mesmo tempo uma luta pedagógica e política Somente por meio da transformação podem ser gestadas ações que materializem as condições possíveis nas quais os seres humanos possam se constituir como sujeitos sociais Sujeitos emergentes da inconclusividade no devir histórico capazes de assumiremse fatores determinantes da existência individual e social sujeitos que participam e interferem efetiva e criticamente nos acontecimentos do contexto com os outros sujeitos reconhecidos na figura do nós Afinal como atesta Freire In TORRES 2001 p 52 não é o eu não é o eu existo eu penso que explica o eu existo É o nós pensamos que explica o eu penso Não é o eu sei que explica o nós sabemos É o nós sabemos que explica o eu sei Ao radicalizar os atributos do cidadão negando a reforma e afirmando a transformação do sistema capitalista o sujeito social corresponde ao conceito efetivamente afinado com os princípios e horizontes da educação popular Enquanto ao cidadão cabe respeitar as leis do estado democrático criadas e aprovadas por seus representantes o sujeito social imbuído de uma concepção bem mais ampla de participação política não se contenta em ser agente passivo na sociedade O sujeito social concebido pela Educação Problematizadora coerente com os fundamentos e objetivos da educação popular assume o destino de criar e transformar o mundo sendo sujeito de sua ação FREIRE 2002d p 38 Segundo Freire 2001c p 94 o ser humano se autentica como sujeito InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 PITANO S de C singularmente diferente em relação aos demais porém igual no princípio determinante de ser ativo e capaz de conquistar a transformação política e social E o sujeito dessa conquista é o sujeito social o homem novo cuja postura ativa e dialógica revela suas origens enraizadas no processo de libertação Que encontra fundamento e autenticidade no movimento de vir a ser marca da incompletude de quem se constrói com os outros no movimento histórico de busca pela humanização solidária de todos Artigo recebido em 19102016 Aprovado para publicação em 13122016 THE PROBLEMATIZING EDUCATION OF PAULO FREIREA PEDAGOGY OF THE SOCIAL SUBJECT AbstrACt The article presents the results of a bibliographical study on the thought of Paulo Freire based on the assumption that he considers the social subject as an educationalformative horizon It aims at identifying and defining from Freires writings a concept of social subject in tune with the political and pedagogical principles of popular education The bibliographical analysis emphasized the following works Pedagogy of the Oppressed Conscientization Education Dialogue and Conflict Politics and Education Pedagogy of Hope and Pedagogy of Indignation By deepening the study of core categories such as awareness and dialogue it was possible to identify and characterize a concept of social subject in Freires pedagogy setting an educational formative horizon in line with the foundations and ideals of popular education Keywords Paulo Freire Problemposing Education Popular Education Social Subject LA EDUCACIÓN PROBLEMATIZADORA DE PAULO FREIRE UNA PEDAGOGÍA DEL SUJETO SOCIAL resumen El artículo presenta los resultados de una investigación bibliográfica sobre el pensamiento de Paulo Freire asumiendo que considera al sujeto social como siendo um horizonte formativo Su objetivo es identificar y definir a partir de los escritos de Freire un concepto de sujeto social en sintonía con los principios políticos y pedagógicos de la educación popular En la revisión de la literatura se enfatizaron las obras Pedagogía del Oprimido Concienciación Pedagogía Diálogo y Conflicto Política y Educación Pedagogía de la Esperanza y Pedagogía de la Indignación Con la profundización del estudio de las categorías centrales tales como concienciación InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 Dossiê A educação problematizadora de Paulo Freire uma pedagogia do sujeito social 103 y diálogo fue posible identificar y caracterizar un concepto de sujeto social en la pedagogía de Freire estableciendo un horizonte formativo en sintonía con los fundamentos e ideales de la educación popular pAlAbrAs ClAve Paulo Freire Educación Problematizadora Educación Popular Sujeto Social REFERÊNCIAS BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem 12 ed Trad Michel Lahud e Yara Vieira São Paulo Hucitec 2006 CORTINA A Ciudadanos del Mundohacia una teoría de la ciudadanía Madrid Alianza 1997 CUNHA A G Dicionário etimológico da língua portuguesa 3 ed Rio de Janeiro Le xikon 2007 DUSSEL E Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão Tradução Ephraim Alves e Lucia Orth Petrópolis RJ Vozes 2000 FREIRE P Conscientização teoria e prática da libertação São Paulo Moraes 1980 Pedagogia diálogo e conflito São Paulo Cortez 1985 Pedagogia da Autonomia saberes necessários à prática educativa São Paulo Paz e Terra 1996 À Sombra desta Mangueira São Paulo Olho dÁgua 2000a Pedagogia da Indignação cartas pedagógicas e outros escritos São Paulo Unesp 2000b Política e Educação ensaios São Paulo Cortez 2001a Pedagogia dos sonhos possíveis In FREIRE A M A Org São Paulo Editora UNESP 2001b Ação Cultural para a Liberdade São Paulo Paz e Terra 2002a Educação e Atualidade Brasileira São Paulo Cortez IPF 2002b Educação Como Prática da Liberdade Rio de Janeiro Paz e Terra 2002c Educação e Mudança Rio de Janeiro Paz e Terra 2002d Pedagogia do Oprimido Rio de Janeiro Paz e Terra 2002e Pedagogia da Esperança São Paulo Paz e Terra 2002f Professora Sim Tia Não São Paulo Olho Dágua 2002g InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774 PITANO S de C GERALDI J W Linguagem e Ensino exercícios de militância e divulgação Campinas SP Mercado de Letras 2006 HELLER A O Cotidiano e a História 7 ed Tradução Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder São Paulo Paz e Terra 2004 HORTON M FREIRE P O caminho se faz caminhando conversas sobre educação e mudança social Tradução de Vera Lúcia M Josceline Petrópolis RJ Vozes 2003 MARSHALL T H Cidadania classe social e statusTradução Meton Gadelha Rio de Janeiro Zahar 1967 MARX K ENGELS F A Ideologia Alemã Tradução Frank Muller São Paulo Martin Claret 2005 PITANO S C Paulo Freire Jürgen Habermas e o ideal formativo da educação popular cidadão ou sujeito social Curitiba PR CRV 2016 TORRES C A Diálogo com Paulo Freire Tradução Mônica Mattar Oliva São Paulo Loyola 2001 sandro de casTro piTano Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul pósdoutorado pelo Programa de Pós Graduação em Educação da UNISINOS Professor do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas UFPel Email scpitanogmailcom InterAção Goiânia v 42 n 1 p 87104 janabr 2017 Disponível em httpdxdoiorg105216iav42i143774