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Administração ·

Comportamento Organizacional

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Revista do Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social CIAGS Rede de Pesquisadores em Gestão Social RGS 131 Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr v5 n1 jan jun 2014 ISSN 19825447 wwwcgsufbabr Mediações para a solidariedade UM estUdo nas ilhas de porto alegre Mediations for Solidarity a Study on the Islands of Porto Alegre Las Mediaciones para la Solidaridad un Estudio en las Islas de Porto Alegre Márcio André Leal Bauer FURG Doutor em Administração pela UFRGS Professor Adjunto do Insti tuto de Ciências Econômicas Administrativas e Contábeis ICEAC FURG Pesquisador do Núcleo de Estudos em Organização Trabalho e Participação NOTePFURG Endereço Rua Duque de Caxias 616 bloco 6 Apto 401 CEP 96200 020 Centro Rio Grande RS Email mlealbauergmailcombr resUMo O presente trabalho aborda a solidariedade sob uma perspectiva dialética a partir da análise da organização que emerge da luta de um grupo de lideranças das Ilhas de Porto Alegre O objetivo central deste é refletir acerca das mediações que conduzem ao estabelecimento de relações solidárias A principal questão que se busca responder diz respeito à possibilidade de construção de uma solidariedade substancial portadora de elementos críticos e transformadores A pesquisa realizada revelou a organização de algumas lideranças que se solidarizam para o exercício da gestão social do território procuram ocupar os espaços formais que o poder político constitui e transformálos em espaços de fato deliberativos sobre as questões que mais interessam aos ilhéus Assumem uma espécie de ética baseada em princípios sintetizados no interesse da comunidade e não em objetivos pessoais ou de uma organização particular Concluiuse que a solidariedade no Movimento dos Ilhéus configurase em uma atitude que se orienta para a transformação das estruturas de dominação que sustentam o individualismo o assistencialismo e o clientelismo ali presentes Ela é ao mesmo tempo relação entre pessoas e ação política que se desenrola em diferentes esferas ou espaços Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr 132 CADERNOS GESTÃO SOCIAL PalavrasChave Solidariedade Mediações Gestão Social Organização ABSTRACT This paper analyzes the solidarity in a dialectical perspective from the study of the organization that emerges from the relationships between a group of leaders of the Islands of Porto Alegre The central aim is to reflect on the mediations that favor the establishment of relations of solidarity The main question that seeks to answer concerns the possibility to construct a substantial solidarity that brings critical elements The survey revealed the organization of leaders who unite to pursue the social management of the territory They try to occupy the formal spaces that political power establishes and turn them into deliberative spaces on the issues that matter most to islanders They assume a kind of ethics based on the interest in the community and not on personal goals or of a particular organization It was concluded that the solidarity of the Islanders Movement is based on an attitude that guides the transformation of the structures of domination that sustain individualism paternalism and clientelism Keywords Solidarity Mediations Social Management Organization resUMen En este trabajo se aborda la solidaridad en una perspectiva dialéctica que analiza la organización que surge de las luchas de un grupo de líderes de las islas de Porto Alegre El objetivo central es reflexionar sobre las mediaciones que conduzcan al establecimiento de relaciones de solidaridad La pregunta principal que buscamos responder se relaciona con la posibilidad de construir una solidaridad crítica La encuesta reveló que la organización de líderes que se unen para perseguir la gestión social del territorio Buscan a ocupar los espacios formales y transformarlos en espacios de deliberación sobre las cuestiones que más importan a los isleños Asumen una especie de ética basado en el interés en la comunidad y no en metas personales Se concluyó que la solidaridad del Movimiento de los Isleños es una actitud que guía la transformación de las estructuras de dominación que sostienen el individualismo el paternalismo y el clientelismo presentes Ella es al mismo tiempo la relación entre las personas y la acción política que se desarrolla en distintos ámbitos o espacios Palabras Clave Solidaridad Mediaciones Gestión Social Organización 1 Introdução Parece paradoxal tratar do tema da solidariedade em um tempo em que muitos afirmam o triunfo do individualismo Entretanto esta é uma das palavras mais utilizadas nos nossos dias Como afirma Guareschi 1997 ela tornouse uma espécie de palavra mágica que uma vez dita supõese entendida por todos de forma unívoca Disseminada pelos meios de comunicação e assumida pelo senso comum sua simples enunciação seja como substantivo seja como adjetivo ela parece ser um remédio para todos os males do nosso tempo No universo acadêmico ela acaba também sendo um conceito analítico cujo significado esvaise na mesma medida em que todos a usam de forma genérica e indefinida LISBOA 2003 p 242 Falase em cultura solidária em economia solidária em comunidades solidárias em governança solidária etc Porém essas formas de solidariedade nem 133 v 5 n1 janjun 2014 Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr sempre têm o mesmo significado havendo portanto a clara necessidade de uma melhor delimitação conceitual antes de apropriála a trabalhos de natureza científica Diante disso o presente trabalho aborda o fenômeno solidariedade sob uma perspectiva dialética de análise Buscase trazer as discussões a respeito deste tema para o campo da gestão social tomando como objeto de estudo a organização que emerge da luta de um grupo de lideranças das Ilhas de Porto Alegre Ao fazer isso deslocase o problema da solidariedade social de um simples estar junto para o agir junto e indo além para como esse agir junto pode transcender os interesses particulares de um grupo ou categoria O objetivo deste artigo é portanto refletir acerca das mediações que conduzem ao estabelecimento de relações solidárias A principal questão que se busca responder diz respeito à possibilidade de construção de uma solidariedade substancial portadora de elementos críticos e transformadores em um território específico Na próxima seção apresenta se a discussão acerca do conceito de solidariedade e a necessidade de mediações para o estabelecimento de novas formas de solidariedade A seguir são apresentados os procedimentos metodológicos do estudo Na seção seguinte fazse a análise da pesquisa à luz do tema da solidariedade e concluise com o diálogo entre os resultados e os elementos teóricos 2 Solidariedade um fenômeno com muitas significações A palavra solidariedade tem suas raízes no termo sólido o que em um sentido estático representa algo compacto inteiro consolidado Já em um sentido dinâmico representa o ato de soldar fundir e integrar Na língua latina os termos solidus soliditas eram empregados tanto na construção como na jurisprudência O direito romano por exemplo empregava o conceito obligatio in solidum para significar o dever para com o todo a responsabilidade geral a culpa coletiva ou a obrigação solidária Também a palavra soliditas significava uma fraternidade Em sua origem portanto a palavra solidariedade nos remete a uma unidade que é sólida devido à interdependência de seus componentes significando também a vida humana articulada ARDUINI 2007 GUARESCHI 1997 WESTPHAL 2008 Já no tempo presente percebese não apenas um mas muitos significados e expressões da solidariedade a solidariedade econômica constituída por associados no âmbito dos mercados a solidariedade política que congrega cidadãos no campo partidário e na busca do poder a solidariedade filantrópica que socorre os necessitados entre outras ARDUINI 2007 De uma maneira geral muito do que se tem escrito sobre o tema solidariedade busca explicar o fenômeno a partir de díades de oposição Sendo assim a solidariedade dos antigos se opõe à dos modernos LISBOA 2003 a de laços de sangue aos de razão DUVIGNAUD 1986 as herdadas às construídas LAVILLE 2006 e assim por diante Tais díades lembram a oposição durkheimiana entre solidariedade mecânica e orgânica A primeira seria resultante de uma consciência coletiva ou comum fruto de crenças e sentimentos compartilhados que punham em jogo a totalidade da sociedade e que permite a perenização do laço social Já a segunda seria oriunda da divisão do trabalho social em um sistema de funções diferenciadas DURKHEIM 2008 Há de outra parte quem defenda que o momento atual também propicia que se estabeleça uma solidariedade substancial que se empenha em transformar estruturas socioeconômicas para que a humanidade se conduza com autonomia e responsabilidade ARDUINI 2007 p 2223 grifo meu Esta seria uma solidariedade democrática LAVILLE 2006 crítica e autocrítica DEMO 2002 p 34 advinda de uma atitude que emana do próprio Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr 134 CADERNOS GESTÃO SOCIAL sujeito e busca o direito de emancipação dos outros sujeitos Nesta concepção a solidariedade seria a capacidade de ir além do vínculo mais estreito entre aqueles considerados próximos Ela seria o que Assmann e Sung 2000 p 69 chamam de solidariedade estrutural que vai além da solidariedade emergencial e transitória incorporando um ingrediente éticopolítico O primeiro passo dessa solidariedade seria aquele pelo qual os homens se reconhecem membros da mesma sociedade da mesma politie e nesse sentido têm a obrigação de olharem uns pelos outros CAILLÉ 2002 p 204 O segundo passo seria aquele em que se vai além da relação entre pessoas fundamento das trocas e da reciprocidade ou da pura e simples ação coletiva para se chegar a uma ação em vista de uma mudança escatológica para um mundo novo o que possui vínculos estreitos com a democracia WAUTIER 2004 p 115 Buscando superar tanto as dicotomias quanto as tipologias pode se sintetizar a discussão acima em duas dimensões da solidariedade Interdependência a solidez da solidariedade constituída pelos laços entre pessoas e coletividades e associada à coesão social ASSMANN SUNG 2000 GUARESCHI 1997 Atitude ética ASSMANN SUNG 2000 a eficiência e a eficácia da interdependência como reação a uma prática social individualista GUARESCHI 1997 p 1011 As duas dimensões estão profundamente interligadas na medida em que a solidariedade enquanto atitude nasce do reconhecimento de que a interdependência é uma necessidade para a vida em geral e a vida humana em particular ASSMANN SUNG 2000 p 75 Temse assim o estar junto e o agir junto como dimensões indissociáveis da solidariedade Contudo vivese na atual sociedade o chamado individualismo moderno cuja ideologia do ser moral independente e autônomo DUMONT 1985 leva os indivíduos a dessolidarizaremse dos outros É uma sociedade que prega a unicidade de cada pessoa mas que tende sistematicamente a suprimir os laços sociais primários pelos quais as pessoas afirmam e criam essa unicidade em benefício dos laços secundários que tornam pelo menos em teoria os indivíduos substituíveis uns pelos outros e anônimos GODBOUT 1992 p 27 Ao passo que libera todas as suas forças e potencialidades também os isola em suas famílias e só os promove opondoos uns aos outros Logo seria difícil esperar atitudes solidárias de uma sociedade que prospera material e formalmente ao preço de um déficit permanente de solidariedade GODELIER 2001 p 317 Diante disso autores como Reis 1995 afirmam que a realidade em comunidades ditas carentes como a do presente estudo seria caracterizada pelo familismo amoral ou seja uma situação em que a solidariedade social e o sentimento de pertencimento não se prolongam fora do ambiente da família impedindo que as pessoas ajam de modo conjunto em função do bem comum O único motivo para mostrar preocupação com as questões públicas seria a perspectiva de um ganho material no curto prazo Para a autora embora existam inúmeros casos de iniciativas de autoajuda estratégias familiares tentativas informais de cooperação com vizinhos para a realização de tarefas básicas de sobrevivência cuidado de crianças etc essas formas de solidariedade não se configurariam em termos públicos Podese dizer que a questão da solidariedade na modernidade está colocada desde as origens das ciências sociais Sem dúvida foi Durkheim quem mais se deteve na sua elaboração O autor escreveu no prefácio de Da divisão do trabalho social o seguinte Se nas ocupações que preenchem quase todo tempo não seguimos outra regra que a do nosso interesse próprio como tomaríamos gosto pelo desinteresse pela renúncia de si pelo sacrifício DURKHEIM 2008 p X Sacrifício é exatamente a palavrachave para descrever as atitudes solidárias seja de generosidade dádiva ou doação seja de luta por causas aparentemente 135 v 5 n1 janjun 2014 Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr perdidas O sacrifício sempre foi entendido como uma dádiva de grau superior àquela feita entre os humanos porque é feita a seres superiores aos indivíduos humanos CAILLÉ 2002 A prática do dom estendese portanto para além do mundo humano e tornase elemento essencial de uma prática religiosa ou seja das relações entre os humanos os espíritos e os deuses Ao transformarse em sacrifício aos espíritos e aos deuses a dádiva engrandece as pessoas e as relações sociais porque as sacraliza GODELIER 2001 p 161 Por tudo isso o sacrifício teria uma função social pois muitas das crenças e práticas sociais que entram no sacrifício estão na base da moral comum o contrato o resgate o castigo o dom a abnegação as ideias relativas à alma e à imortalidade A renúncia pessoal dos indivíduos ou dos grupos às suas propriedades alimenta as forças sociais O ato de abnegação que está implícito em todo o sacrifício lembra às consciências particulares a presença das forças coletivas nutrelhes precisamente a existência ideal Por isso as noções religiosas porque nelas se acredita existem existem objetivamente como fatos sociais As coisas sagradas com relação às quais funciona o sacrifício são coisas sociais HUBERT MAUSS 2005 p 226 Destacase dessa interpretação maussiana do sacrifício dois elementos de importância capital ao presente estudo a necessidade de um sair de si que leva à doação como gratidão por ter recebido e o fato que essa doação é feita na certeza de que haverá uma retribuição um reconhecimento Por isso a dádiva não pode ser pensada como uma série de atos isolados mas como uma relação social cujo interesse não é econômico nem de poder mas baseado na obrigação de retribuir GODBOUT 1992 Eis aí toda a ligação da dádiva e mais especificamente do domsacrifício com a solidariedade Contudo ainda resta em aberto a questão de Durkheim sobre o que possibilita tal atitude de dádiva e sacrifício O próprio Durkheim 2008 procura responder a essa questão dizendo ser necessária a formação de um grupo no qual fosse possível construir um sistema de regras até então inexistente Vêse nesse autor a necessidade de uma mediação para o estabelecimento dessa nova forma de solidariedade mas o elemento responsável por tal mediação ainda não era de todo claro para ele 3 Mediações para a solidariedade Habermas 2003 2011 seguindo as pistas deixadas por Durkheim procura responder a essa questão afirmando que ela só é possível no contexto de uma esfera pública Tal solidariedade não mais se encontra assegurada por um consenso normativo de fundo mas seria conquistada a partir de uma relação reflexiva do sujeito consigo mesmo e alcançada cooperativamente mediante os esforços individuais HABERMAS 2003 p 122 O caráter essencial de seu argumento é que a simples estrutura da intersubjetividade linguística obriga o ator a ser ele mesmo exercendo sobre o sujeito uma coação a individuarse o que favorece a ramificação da solidariedade social de uma maneira póstradicional ou seja de acordo com o reconhecimento intersubjetivo de pretensões de validade suscetíveis de crítica HABERMAS 2003 p 102 A comunidade ideal de comunicação seria então o elemento mediador para que as pessoas aprendessem a se orientar dentro de um marco de referência universalista No entanto segundo Nobre 2003 Habermas teria considerado a racionalidade comunicativa de uma maneira prévia ao conflito abstraindo de sua teoria a luta por reconhecimento cuja capacidade de constituir a subjetividade e a identidade individual e coletiva é inegável Esta é a base da argumentação de Honneth 2003 o qual postula que a luta pela honra ferida pode levar à passagem da eticidade natural para a absoluta O fundamento para a formação de uma comunidade ética seria portanto o conflito ou os conflitos em que a eticidade natural Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr 136 CADERNOS GESTÃO SOCIAL despedaçase e permite desenvolver nos sujeitos a disposição para reconheceremse mutuamente como pessoas dependentes umas das outras e ao mesmo tempo integralmente individuadas HONNETH 2003 p 58 Assim os indivíduos isolados uns dos outros pela relação jurídica podem se encontrar e reunir mais uma vez no quadro mais abrangente de uma comunidade ética HONNETH 2003 p 59 O autor apresenta então o conceito de solidariedade retirado da teoria da eticidade do jovem Hegel e que exprime uma forma de relação social que não domina ou suprime mas que reconhece a diferença e a semelhança do outro ROSE apud HONNETH 2003 p 59 Todavia é preciso voltar a Hegel para investigar o que permite a entrada deste outro nas relações de solidariedade Para Hegel 2007 o reconhecimento é apenas uma etapa a ser vencida no processo de formação da autoconsciência É justamente essa autoconsciência o fundamento ético de uma comunidade e não o desejo de reconhecimento É claro que isso não invalida o argumento de Honneth 2003 de que a gênese dos conflitos sociais reside no desrespeito e na falta de reconhecimento Contudo isso é bastante diferente de fundamentar a solidariedade social na luta por reconhecimento Apesar de não explorar em profundidade a via interpretativa aberta por Hegel a partir da Fenomenologia do Espírito 2007 que coloca menos ênfase no processo intersubjetivo da geração de conflito do que em uma autoprogressão dialética do espírito na constituição da realidade social HONNETH 2007 p 85 Honneth 2003 reconhece que na construção hegeliana outro tipo de luta ocupa lugar de destaque a luta de vida e de morte Segundo o autor existem várias interpretações que atribuem a essa luta um sentido figurado que se refere a momentos de uma ameaça existencial Kojéve 2002 ao interpretar a ideia de morte e de crise em Hegel afirma que é na angústia mortal que o homem toma consciência de sua realidade do valor que o simples fato de viver tem para ele Só assim ele se dá conta da gravidade da existência mas ainda não toma consciência de sua autonomia do valor e da gravidade de sua liberdade de sua dignidade humana KOJÉVE 2002 p 27 É pelo trabalho que a consciência chega a si mesma é ao servir o outro ao exteriorizarse ao solidarizarse com os outros que alguém se liberta do terror escravizante provocado pela ideia de morte Para Hegel 2007 p 527 a conversão da consciênciadesi singular para a consciência universal é a morte do singular do imediato para a comunidade é a morte do externo do formal da particularidade para o universal esse saber é pois a animação pela qual a substância se tornou sujeito Morreu sua abstração e carênciadevida e assim a substância se tornou consciênciadesi simples e universal Hegel apresenta esse movimento do sujeito como um círculo que retorna sobre si um movimento de extrusão do si que submerge em sua substância e que sai dela como sujeito e a converte em objeto e conteúdo A extrusão seria então o movimento que a partir do sacrifício estabelece o sujeito O sujeito precisa adentraremsi no qual o espírito abandona seu seraí e confia sua figura à rememoração ele submerge na noite de sua consciênciadesi para poder renascer em uma nova existência em um novo mundo o qual apesar de ser um recomeço apresenta se em um nível mais alto HEGEL 2007 p 544 A solidariedade em um contexto moderno necessita dessa superação que Hegel vai chamar de suprassunção que só acontece devido ao negativo ou seja à mediação Utilizase aqui o conceito de mediação no sentido hegeliano do termo como a categoria que confere o movimento do viraser a tudo que é considerado estático Para Hegel 2007 a mediação não é outra coisa senão a igualdade consigomesmo semovente ou o simples vir aser Sendo assim ela é a negação do que está dado a interrupção do fluxo que faz compreender o próprio movimento Buscando responder à questão acerca de 137 v 5 n1 janjun 2014 Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr quais mediações conduziriam ao estabelecimento de uma solidariedade crítica desenhouse este estudo empírico a seguir descrito 4 Procedimentos metodológicos A pesquisa realizada inscrevese no universo das pesquisas de caráter qualitativo em Administração o qual atribui importância fundamental à descrição detalhada dos fenômenos e dos elementos que os envolvem aos depoimentos dos atores sociais envolvidos aos discursos aos significados e aos contextos VIEIRA 2004 O estudo foi conduzido a partir de uma compreensão dialética da realidade utilizandose das conhecidas categorias fundamentais da dialética hegeliana a realidade imediata emsi as mediações parasi ou seja as rupturas e experiências significativas e as superações ou suprassunções emsieparasi A pesquisa envolveu distintos procedimentos não necessariamente encadeados em etapas subsequentes quais sejam um procedimento descritivo da problemática das mediações da constituição dos espaços e das organizações um observacional das práticas dos sujeitos nas organizações e espaços das ações coletivas e relações e dos incidentes reveladores e finalmente um dedicado à construção subjetiva e intersubjetiva a partir das narrativas das lideranças locais e de outros agentes envolvidos Tais procedimentos objetivaram compreender o processo de construção da solidariedade no território Além dos procedimentos observacionais foram selecionados como sujeitos de pesquisa 19 lideranças locais reconhecidas pela comunidade Estas foram escolhidas devido à sua participação nas organizações e espaços do território a partir da observação realizada no período inicial da pesquisa Posteriormente essas lideranças foram entrevistadas em profundidade Neste artigo selecionamos narrativas de três lideranças que consideramos representar o processo que acontece no desenvolvimento da solidariedade no território e que são reconhecidas e apontadas pelas demais lideranças como referência Também foram realizadas entrevistas com participantes de ONGs do Poder Público e de outras organizações que atuam no território além de conversas informais com moradores antigos A maioria das entrevistas foi gravada e depois transcrita para que nenhum elemento essencial fosse perdido já que diferente da análise de conteúdo os temas ou categorias foram identificados pela importância e centralidade e não pela frequência em que ocorreram A observação sistemática também foi importante quando da participação em eventos e reuniões de grupos bem como de atividades cotidianas permitindo captar os momentos de interação os conflitos e as relações com as narrativas das lideranças dandolhe pleno sentido Realizouse ainda uma análise documental pesquisas já realizadas no território documentos produzidos pelos agentes de mediação notícias de jornal e internet que possibilitou além de uma comparação entre os discursos e as práticas compreender as orientações teóricas e metodológicas que sustentam as visões sobre o território e seus habitantes 5 O território e as mediações Apesar de o Arquipélago ser um dos bairros de Porto Alegre a consciência de que as ilhas fazem parte da cidade não é algo de todo evidente tanto para os moradores locais quanto para os que estão do lado de lá da ponte De um lado está a capital dos gaúchos cidade que se orgulha da sua cultura da sua política dos seus cidadãos e que construiu sobre si o mito da ordem Do outro lado estão as ilhas um local de habitação de um conjunto de moradores tradicionais e de pessoas consideradas pobres Notase que a denominação Arquipélago é geralmente invocada quando se quer associar a região a um local de lazer as marinas e os Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr 138 CADERNOS GESTÃO SOCIAL clubes e de residência de uma classe com maior poder econômico do contrário se utiliza ilhas Há também a associação da região com sua denominação geográfica o Delta do Jacuí Nesse caso para um conjunto significativo de pessoas as ilhas são vistas mais como uma paisagem natural que está fortemente alterada pelo uso e ocupação verificados ao longo do Delta do Jacuí CHIAPETTI 2005 p 34 Conforme o Mapa da Inclusão e Exclusão Social de Porto Alegre que agrega 16 indicadores demográficos nas dimensões Renda Educação Longevidade Vulnerabilidade Infanto Juvenil Desenvolvimento Infantil e Habitação o Arquipélago é o que possui o pior Índice de Vulnerabilidade Social dentre os bairros da cidade PREFEITURA MUNICIPAL 2006 A análise multidimensional da pobreza em Porto Alegre COMIN et al 2006 aponta que os índices da região situamse abaixo da média geral da cidade nas questões de Saúde Nutrição Educação Conhecimento assim como no quesito qualitativo de amizade e confiança Paradoxalmente esta mesma análise apresenta um dado no mínimo intrigante em três indicadores de caráter qualitativo participação solidariedade e liberdadesatisfação a região supera a média da cidade Poderia a solidariedade prescindir das relações de amizade Para compreender esta aparente ambiguidade é preciso mergulhar na realidade das ilhas De fato aqueles que observarem mais detidamente o território perceberão que há uma solidariedade que se diz ser comum nos meios populares Falta pra mim mas o que eu tenho eu divido com o outro Ali nas ilhas isso se mantém um pouco também Integrante de ONG e que se expressa também nos momentos críticos como é o caso dos alagamentos em que moradores se organizam para poder atender aos desabrigados seja fazendo refeições seja cuidando de crianças Há ainda a solidariedade assistencial realizada pelas ONGs e pelo empresariado em momentos específicos como no Dia da Criança e Natal mas que em muitas situações acaba sendo fonte de conflitos entre moradores Porém observase outro tipo de solidariedade presente no Arquipélago e que será analisada detalhadamente neste estudo Trata se da solidariedade praticada por um conjunto de lideranças do Arquipélago que se unem in solidum em um movimento chamado daqui por diante de Movimento dos Ilhéus A partir das primeiras observações e de discussões que se teve com integrantes de uma ONG que atua no território já se tinha a ideia da existência de uma rede de solidariedade no Arquipélago Essa rede começou a se formar há muito tempo a partir de diferentes mediações objetivas e subjetivas Em outros trabalhos do presente autor é possível ver em detalhe essas mediações objetivas como as tentativas de desocupação por parte do poder público ou mesmo a proibição da criação de porcos na região De fato há anos que a comunidade já brigava por seus direitos seja através de abaixoassinados sua primeira estratégia de mobilização seja através de protestos no centro da cidade No entanto eram lutas isoladas travadas por organizações locais de cada ilha Porém a partir do início dos anos 1990 com a implantação do Orçamento Participativo OP lideranças dos ilhéus começam a se encontrar nos espaços de discussão e a perceber uma realidade comum A partir da participação no OP os ilhéus conquistam em 1998 um módulo da Fundação de Assistência Social e Cidadania FASC que se instala em um espaço cedido junto ao Clube de Mães Organização Local liderada por Margarida moradora da Ilha Grande Ali em 1999 com o apoio de profissionais da assistência social municipal começa a articulação da comunidade em torno do espaço da Rede Integrada de Proteção à Criança e Adolescente do Arquipélago RIPCA Após a criação da RIPCA em 1999 começa a acontecer uma maior integração entre as lideranças das ilhas Na visão dos ilhéus essa solidarização entre as lideranças se deu pela necessidade de resistir à possibilidade de 139 v 5 n1 janjun 2014 Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr desocupação pois começaram a perceber que a pressão para a sua saída do Arquipélago estava aumentando e que não era só na Ilha Grande dos Marinheiros que havia problemas Precisavam unir todas as ilhas em torno do direito de habitar no território Isto fez com que se envolvessem na defesa de todos os que estavam ameaçados de expulsão do local Nas entrevistas ficou claro que havia um grupo mais restrito de lideranças das diferentes ilhas que começou a reunirse de forma sistemática para garantir a permanência dos ilhéus no seu território Rosa Liderança do Movimento dos Ilhéus Então a nossa equipe as lideranças das ilhas nós sempre tivemos reunidos provocando reuniões encontros com tudo que é autoridade e assim por diante fazendo a coisa caminhar e acontecer que então vinha se arrastando E depois de cinco anos conseguimos através de lei porque decreto não resolvia E criouse esta Área de Proteção Ambiental APA Irmão Gerânio Onde quer que fosse seja em audiências públicas seja em reuniões se o tema era a APA lá estava o grupo das ilhas ou a equipe conforme as diferentes denominações que apareceram na pesquisa Segundo Rosa essas chamadas lideranças são muito unidas Ficaram bem mais fortes depois da questão da APA Deu uma caída e depois voltou de novo com muita força O Movimento dos Ilhéus diferentemente do que se tem visto em termos de novos movimentos sociais não tem uma luta particular centrada em uma identidade específica Suas lutas apontam para a concretude do território Se tivesse uma luta só não teria problema Só que nós somos bombeiros o ano inteiro Inclusive a gente não consegue fazer uma coisa legal porque a gente fica apagando incêndios Horas a gente tá discutindo com o DMLU horas a gente tá discutindo a questão da APA horas vem a CONCEPA derrubando as casas Por horas nós somos o Ministério Público por horas nós somos advogados por hora nós somos a comunidade por hora nós somos conselheiros por horas nós somos assistentes sociais Nós somos vários em um Porque quando a comunidade vem em ti tu tem que pensar o que tu vai dizer pra ela Tu não pode fazer bah Rosa A luta comum começou pelo reconhecimento do Arquipélago como um território único separandoo em uma região do Orçamento Participativo independente Em 2007 após várias manifestações finalmente a localidade tornouse a décima sétima região do OP em Porto Alegre Região Ilhas Foi uma decisão coletiva dos ilhéus afirmou Rosa manifestando o caráter organizacional dessa luta a fim de que pudessem não só garantir uma fatia do bolo tributário que entra no OP mas também fazer com que o poder público se voltasse mais para as ilhas Segundo Rosa quando tu é uma região tu acaba puxando mais o poder público pra dentro Tu lida com todas as instâncias com todas as secretarias então tu acaba puxando pra lá As ilhas elas são muito propositivas elas têm essa coisa de correr atrás de propor Então foi uma proposta das ilhas Nós não queríamos mais ficar com o Humaitá Não por nenhuma questão porque o Humaitá muito nos ajudou Nós muito ajudamos o Humaitá Muito nós demandamos habitação pro Humaitá Muitas das obras que hoje existem lá foi por demanda dos ilhéus porque nós não podíamos ter demanda nenhuma que não fosse alguma demanda da assistência social da saúde não dava pra votar nada Então desmembrar significaria um interesse maior uma participação maior nossa um olhar maior né do governo municipal pras ilhas Rosa Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr 140 CADERNOS GESTÃO SOCIAL Foi possível também acompanhar o esforço dessas lideranças para garantir que as ilhas fossem representadas nos diferentes espaços criados pelo poder público como o Fórum de Planejamento 2 FPLAN2 que trata das questões relativas ao Plano Diretor do município A comunidade precisou ainda mobilizarse para que saíssem do papel e entrassem em operação os Conselhos da APA e do Parque Delta do Jacuí Mobilizaramse para que nesses conselhos fossem incluídos representantes das organizações comunitárias das ilhas pois a presença majoritária era de ONGs e órgãos públicos externos ao território Por isso a luta não é só pelo espaço mas também pela sua ocupação por parte dos ilhéus Observouse ao longo da pesquisa que a luta pela ocupação dos espaços não é individual mas coletiva uma vez que se reconhecem como um grupo Para ti eu posso dizer é esse pequeno grupo de lideranças que fomenta e que mobiliza Rosa É este grupo ou a organização social do território como preferimos chamar quem mobiliza as ações de protesto como a que ocorreu em 2007 e levou centenas de moradores até a Prefeitura para cobrar uma maior atenção desta para com as organizações locais o Clube de Mães as associações de carroceiros e a Cooperativa da Ilha Grande Constatouse que a organização própria dos Ilhéus não acontece em um espaço definido mas se dá em outros espaços formais ou informais embaixo de uma árvore em um boteco em reuniões da RIPCA ou do Fórum do Orçamento Participativo Ali um pequeno grupo de lideranças articula estratégias ações ou manifestações de grande alcance Os ilhéus eles não costumam deixar as coisas como estão e um já comunica o outro de como é que vamos fazer Bom vamos chamar Bom se não for esse a gente pode chamar esse e depois chama o outro mas queremos que venham aqui e nos ouçam Isso eu acho muito importante ela não é passiva no sentido de ficar acomodado Eu acho isso muito importante Acho que é isso o que nos mantêm vivos e lutando Rosa Por outro lado essa solidariedade não encontra uma univocidade entre todas as lideranças das ilhas Foi possível observar lideranças que se voltam para a sua organização e que em geral não participam dos fóruns apresentando como justificativa o fato de não terem sido convidadas ou a falta de tempo Porém o que acontece de fato é que aquele espaço não as interessa pois não se vislumbrava ali um resultado imediato na participação só blá blá blá sempre a mesma coisa Liderança ligada à reciclagem Quando há interesse participase um tanto à contra gosto pois tem que tá ali né Integrante de uma organização local Mesmo lideranças que pareciam partilhar de um projeto político mais abrangente muitas vezes ligado a movimentos de caráter nacional eram movidas por uma solidariedade que apontava para interesses externos ao território Essa solidariedade política acabou por mantêlos presos ao jogo de um determinado campo como foi o caso da luta dos carroceiros que acabou se fragmentando devido à filiação de suas lideranças a diferentes centrais sindicais ver CARRION 2009 para uma análise mais abrangente Por outro lado a não participação das lideranças de grupos como o dos catadores e carroceiros nos espaços deliberativos revela o fato de que talvez elas queiram ser reconhecidas em outro espaço Educador social de ONG em reunião da RIPCA elas estão numa luta mas não há reconhecimento do outro Cravo Liderança do Movimento dos Ilhéus Diante disso as lideranças do Movimento dos Ilhéus procuram lutar pela participação de todos e combater o fechamento das organizações locais em torno dos seus objetivos particulares o que coloca em questão o caráter universal e particular da solidariedade 141 v 5 n1 janjun 2014 Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr Não estamos falando do umbiguinho estamos falando do coletivo Quem se postula para estar à frente de uma comunidade tem que estar preparada para a crítica A ingratidão bate na porta de quem é liderança Nas mãos de vocês está toda uma comunidade É muito triste ver uma comunidade sem governo Rosa em reunião na Ilha do Pavão cobrando participação das lideranças daquela ilha Foi possível perceber como lógica de ação que norteia o reconhecimento de uma possível liderança por parte dos integrantes do movimento o que chamaram de interesse na comunidade Eu reconheço a minha causa mas reconheço que a causa do outro é semelhante Eu luto pelo reconhecimento da minha cidadania mas a luta não é só minha A minha relação é com a comunidade tenho que ter coerência de onde eu tô vindo Não é de voto nem de cargo Cravo em reunião da RIPCA sobre os carroceiros Mas o que leva essas lideranças a se orientarem para esses interesses mais gerais Em busca dessa resposta analisamos a trajetória das duas principais lideranças do movimento Rosa e Cravo e uma liderança que retomou a luta recentemente após um período de afastamento Vale ressaltar que as duas primeiras foram lembradas pela maioria dos entrevistados como lideranças que representam os interesses gerais dos ilhéus enquanto a última foi considerada por Rosa como uma liderança que tem se destacado na RIPCA Da análise das narrativas colhidas nas entrevistas em profundidade foi possível perceber alguns elementos comuns a essas lideranças Em primeiro lugar elas viveram experiências significativas que marcaram a ruptura com o curso natural de suas vidas Rosa natural da Ilha da Pintada relata que até a adolescência tinha uma vida bastante tranquila de rico até o momento em que os pais se separaram e ela foi com a mãe e os irmãos para Pelotas onde diz ter vivido anos de sofrimento intenso Essa experiência que ela diz querer esquecer foi a maior que pôde viver Saíram de uma vida na qual tinham tudo para uma pobreza total Se eu comesse meus irmãos não tinham para comer A minha mãe não comia para dar de comer para nós Nós queríamos era vir para Porto Alegre Ela recorda de um Natal em que passaram debaixo da ponte sobre o Canal São Gonçalo em Pelotas e cuja ceia foi KiSuco com um quarto de quilo de pão e um tablete de margarina Chegamos lá tomamos banho ficamos embaixo da ponte comemos o pãochoro a gente tomou aquele suco e a mãe disse Um dia a nossa vida vai melhorar Esse é o último Natal que nós vamos passar desse jeito Nós nunca mais vamos passar por isso porque nós vamos ir para Porto Alegre porque lá é o nosso chão lá é a nossa terra Busquei força em tudo isso por todas essas coisas que minha mãe passou por todas as coisas que a minha família e outros negros lá passaram Rosa Para transformar essas situações que ficaram guardadas na sua memória Rosa luta Essa luta ela entende que não é pelo caminho da guerra mas dando o melhor de si para mostrar às pessoas a capacidade de cada um Cravo também passou por Pelotas na condição de interno do Instituto de Menores Aliás ele viveu muitos anos de sua vida como interno nas instituições educacionais do Estado Entretanto em sua narrativa isso não parece ter um peso tão significativo quanto a crise que viveu quando foi morar na Ilha das Flores após se separar da mulher por problemas de alcoolismo Cravo disse que nesse período não se envolvia Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr 142 CADERNOS GESTÃO SOCIAL com as questões da comunidade que já sofria pressão para sair do local Eu não dava a mínima Tinha muitas reuniões dessas questões de entrega de comida essas coisas Isso eu nunca ia porque a gente sempre trabalhou Sempre nessa questão do individual Alienado à questão política Trabalho casa trabalho Comunidade nada Era uma época em que eu bebia bastante Bebia e comia cigarro Aliás eu trabalhava pra beber Cravo Cravo acaba contraindo meningite fica em estado grave e quase morre No tempo em que passou no hospital refletiu sobre a vida que levava Já saí determinado a não mais beber nem fumar Começa então a participar do projeto de criação de uma cooperativa como eu ficava em casa comecei a pensar sobre isso E aí comecei a fomentar essa questão Fui me envolvendo me envolvendo Depois de ter vivido a experiência da doença que por pouco não o levou à morte Cravo afirma Vou morrer mas com a compreensão Bromélia moradora da Ilha Grande dos Marinheiros tem uma história semelhante Ela era atuante nas reuniões da RIPCA como representante da Cooperativa da Ilha Grande mas depois acabou se afastando Há pouco tempo passou por uma experiência crítica em sua vida e que a fez voltar a atuar segundo ela com mais força com mais vontade Porque até o risco que eu tava correndo lá eu achei que eu não ia poder fazer mais nada por ninguém No hospital me disseram que eu tinha um por cento de chance Comecei a rezar pedir Deus me dá uma oportunidade que eu quero fazer muito na minha vida Aí eu disse assim Deus me deu a chance que eu queria Aí eu voltei com mais força Entendeu porque a força Bromélia Por certo essas experiências críticas são significativas para um despertar da consciência solidária mas elas por si só não explicam a questão da participação pois ouvimos outras histórias semelhantes de lideranças que mesmo com este despertar não avançaram para uma compreensão mais ampla de sua luta ficando ainda restritas a uma luta por reconhecimento particular e não universal Aqui entra um elemento comum presente nas narrativas dessas três lideranças e que parece ser bastante significativo no seu processo de desenvolvimento a formação política Para Rosa os seminários os encontros com a negritude o movimento popular vendo a inserção dos negros nos espaços de luta a ajudaram a aprender o caminho da participação e a afirmação de sua identidade A partir daí começou a participar de outros caminhos de outros movimentos como o Movimento Negro e outros movimentos religiosos dentro da tradição de matriz africana que vão fazendo com que tu te assuma e afirme isso Tu não pode servir a dois senhores Rosa Cravo revela também a importância de ter participado de atividades de formação em Educação Popular e envolverse com organizações do meio popular e movimentos sociais seja no IBRADE dos jesuítas seja em assentamentos do MST Lembra ainda de sua viagem a Brasília onde participou da Conferência Nacional de Economia Solidária o que lhe ajudou em seu desenvolvimento como cidadão Fui ter um desenvolvimento melhor depois dos quarenta risos e refletindo sobre sua trajetória se pergunta como pode mudar de uma hora para outra Bromélia por sua vez vê a sua formação a partir da participação na RIPCA e nas reuniões organizadas pela ONG na qual Rosa trabalha Percebeuse que existe nessas lideranças um senso de identidade e territorialidade ou seja de pertencimento a um povo Cravo se reconhece como descendente de índios Guaranis das Missões e filho de agricultor neto de agricultor elementos que o ligam a terra Já Rosa e sua família se assumem hoje como 143 v 5 n1 janjun 2014 Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr negros de matriz africana que têm uma luta a qual se soma às demais lutas da comunidade com uma interação muito grande com a Igreja Católica mas se posicionando somos negros de matriz africana e tocamos o nosso tambor A minha identidade depois que eu a encontrei eu assumi ela Passou assim a entender que quando nasceu já veio com esse compromisso Porque essas coisas a gente não busca a gente não pode ir pra faculdade aprender são coisas que outros passam pra gente espiritualmente Eu como negra como mulher eu nasci pra isso Eu vim para um resgate Eu tenho toda uma história da minha avó minha bisavó tem uma história viva nisso Hoje eu entendo que eu vim para essa missão porque eu fui sendo colocada nas coisas Rosa Ao longo das narrativas evidenciouse que essas lideranças têm pessoas significativas em suas vidas que as ajudaram a interpretar sua história e transformar em um projeto de vida Para Rosa foram os freis capuchinhos que atuaram fortemente na Ilha da Pintada nos anos 1980 Eles têm muito a ver com minha trajetória Os freis capuchinhos têm essa facilidade esse manejo de estar acolhendo com mais simplicidade a todos e todas nos mais diversos credos Na época os freis estavam envolvidos com a criação de uma associação e incentivaram Rosa a participar Cravo por sua vez recebeu o convite de sua professora de história do Ensino Médio concluído recentemente para participar das pastorais sociais tornandose o representante da Pastoral Operária Há também uma relação muito próxima com um irmão marista de quem lembra sempre as palavras de ânimo Deus tá contigo Vêse a importância dessas referências no fragmento abaixo extraído da narrativa de Cravo Eu já entrei em desespero pela questão da confiança e de não ter com quem falar De parar assim E agora O que é que eu vou fazer De me desesperar e Eu tive nessa situação e eu falei com o Irmão O Irmão Antônio às vezes aparece numas horas que a gente mais precisa E eu falava Bah irmão eu não esperava o senhor aí mas eu tô com um problema Tô desesperado não sei eu vou largar essas coisas não quero saber eu vou arrumar um trabalho pra mim e eu vou esquecer isso É uma completa perda de tempo e tu fica fazendo coisas e as coisas se voltam contra ti e ninguém te dá uma mão ninguém faz nada Eu vou arrumar um trabalho para mim eu vou trabalhar não quero mais saber Aí ele na sabedoria dele bem silencioso pensou um pouquinho em silêncio e disse Tu vai ter uma vida de cachorro E já tive nessa situação E o irmão me ensinou muito a refletir e pensar Cravo Para as novas lideranças como Bromélia são as lideranças locais que agora desempenham o papel que antes era desses conselheiros externos É preciso analisar ainda a aprendizagem e construção da solidariedade que acontece pela participação nos espaços e o envolvimento nas lutas ali travadas Rosa vê exatamente nessa participação um momento de transformação da comunidade Já foi chegando o Orçamento Participativo lá por oitenta e nove e a gente naquele crescente de querer ajudar e queremos isso e queremos mais água Aí acabei participando de várias comissões comissão para arrumarem a ponte da Ilha Mauá a comissão da própria igreja que organizava gincana festa junina Morreu fulano vamos fazer um jogo de víspora vamos sair com lista vamos ajudar essa pessoa que está precisando Enfim a gente foi lutando E luta no posto de saúde As lutas eram várias desde a defesa do campo de futebol que no governo Britto Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr 144 CADERNOS GESTÃO SOCIAL queriam nos tirar Desde a questão de vir a água para a ilha o calçamento a rua luz Tudo foi com muita luta Como nos mais diversos lugares sem luta tu não consegue nada Rosa Cravo que começou a envolverse na luta dos ilhéus já no início dos anos 2000 percebe ao participar dos espaços que outras lideranças como Rosa e Margarida já vinham lutando há mais tempo Foi ocupando os espaços que eu conheci esse pessoal Cravo Ao participar passou então a compreender a dinâmica de poder ali existente Tinha uma meia dúzia de burguesão as outras lideranças mais antigas Quando eles começaram a falar eu me dei conta do seguinte que pelas falas nós estávamos sendo enrolados E aí comecei a me meter Nunca mais saí disso aí nunca mais Cravo Bromélia começou sua participação nas reuniões da RIPCA como representante da cooperativa da Ilha Grande Aí eu comecei a ir comecei a falar comecei a me evoluir com as pessoas Mas participar dos espaços requer uma dose de sacrifício para aquilo que é visto por muitos como uma causa perdida Cravo diz que na luta comunitária não há um entendimento da própria família porque tu não ganha nada e te incomoda muito Há lideranças que desistiram ao perceber que a causa estava perdida Cravo Para Cravo este seria um problema de consciência Ele enfatiza Consciência consciência consciência e manifesta preocupação com as lideranças que não têm consciência da comunidade como comunidade Diante disso tanto ele como Rosa procuram agir de forma a mobilizar as diferentes lideranças para ocupar os espaços de representação política Quando isso não acontece chegam a representar organizações das quais não fazem parte para não perder o assento nos conselhos como foi o caso de Cravo que representou a Cooperativa da Ilha Grande no Conselho da APA pois seu presidente se recusava a participar Rosa ao traduzir o significado de participação nos diferentes espaços como a RIPCA afirma Fazer parte da rede é doação é quem se interessa pela comunidade Ela afirma que enquanto tiver perna braço e respiração enquanto tiver avanços mesmo que pequenos vale a pena lutar mas reconhece que há um desgaste das lideranças principalmente com a família São muitas reuniões Ontem reunião da Romaria das Águas hoje devido à reunião do Fórum de Planejamento vou chegar às onze da noite quinta tem FROP Às vezes eu me pergunto por que eu não desisto Rosa As falas de Rosa e Cravo nos dão uma ideia do sacrifício inerente à participação No momento que leva dois meses para trocar uma lâmpada há um desgaste dos representantes Tu gasta e te desgasta É preciso compreender que as coisas não são assim que há um tempo As pessoas não têm uma consciência do que é participar Rosa O cansaço das lideranças diante do sacrifício devido à participação nos espaços foi um tema recorrente nas reuniões A Violeta tá doente tá esgotada Fizeram cento e poucas inscrições aqui graças à Violeta e à Orquídea que ficaram sem almoçar Tem que ter outras pessoas à frente Nós somos sempre os mesmos tem que haver uma troca Nós estamos já cansadinhos São seis anos de nossas vidas dedicados às ilhas Estamos em todos os conselhos Rosa Entretanto é nesse esforço de poucas pessoas que acontece a Gestão Social no Arquipélago ou seja nos fóruns nos espaços por onde transitam as lideranças que mobilizam e discutem temas do interesse geral da comunidade Mesmo compreendendo que muitas lideranças não se sentiam seguras para tomar a frente e considerando até certo ponto positivo a existência de outros líderes por trás na retaguarda Rosa as lideranças pareciam querer 145 v 5 n1 janjun 2014 Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr encontrar uma fórmula que fizesse com que os outros tomassem consciência da importância da participação Para elas era uma vitória quando uma liderança compreendia o sentido da luta como Jasmim ou que voltava a participar como Bromélia A Jasmim agora entendeu Demorou para entender mas agora está do nosso lado A Jasmim é do prefeito Fogaça mas a gente não tem partido não tem sigla Rosa Por fim foi possível observar que a lógica que rege as condutas dessas lideranças solidárias não é a do interesse utilitário mas sim da dádiva a partir da crença em uma realidade superior o que inclui não só a vida material mas uma elação com a ancestralidade e a dimensão espiritual Isto faz com que não se criem muitas expectativas em relação ao retorno das ações Então eu nunca espero nada Eu não tenho que esperar nada se eu vou receber isso ou aquilo Não Porque isso é muito perigoso Não pro plano material porque tu faz faz e acontece E o espiritual Porque a minha resposta maior ela tem que ser espiritual porque esse corpo não vale nada Isso é uma questão de consciência Rosa a consciência leva a uma necessidade de começar a agir Uma obrigação Tu percebe que tu tens que agir porque os outros não estão agindo E quando tu começa a agir tu começa a entrar em sintonia com teus semelhantes que têm as mesmas lutas Cravo O sentido oposto a esse interesse é apresentado por Rosa ao falar de Butiá uma jovem liderança que os integrantes do Movimento dos Ilhéus inclusive ela estavam apostando Nós estávamos investindo nele mas ele quer ser conselheiro tutelar Isto é revelado com um tom de decepção por Rosa dando a entender que no momento em que há um projeto como este tudo passa a ser um meio Não que não se tenha que ter projetos Eu tenho um projeto de vida Rosa Com base nessa lógica procuram distanciarse do jogo político embora exerçam a todo o momento a ação política Rosa por exemplo já se recusou a ser candidata pelo PT Eu não tenho ninguém do partido por trás só a comunidade São muitas articulações Existe sempre o interesse de fazer o melhor pra se manter no poder Fazer bem feito pra nós podermos retornar A política é uma coisa muito traiçoeira ela parece que entra no sangue das pessoas de tal forma que envenena Ficam possuídas por aquilo ali Rosa Portanto a busca de retribuição pessoal direta com a luta a renda o emprego o poder é imediatamente rechaçada Em outras palavras o interesse não pode ser pessoal ou uma questão particular de um grupo mas da comunidade 6 Considerações finais O presente trabalho abordou o fenômeno solidariedade sob uma perspectiva dialética a partir da análise da organização que emerge da luta de um grupo de lideranças das Ilhas de Porto Alegre O objetivo central deste foi refletir acerca das mediações que conduzem ao estabelecimento de relações solidárias A principal questão que se buscou responder diz respeito à possibilidade de construção de uma solidariedade substancial portadora de elementos críticos e transformadores em um território específico Habermas 2003 postula que a estrutura de uma comunidade de comunicação e os espaços de palavra seriam capazes de levar a essa solidarização Embora plausível nos parece que o caso revela justamente o contrário Parece ser necessária a capacidade do sujeito de orientarse por princípios universais para o estabelecimento de relações solidárias e a partir daí a constituição de uma comunidade ideal de Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr 146 CADERNOS GESTÃO SOCIAL comunicação No caso dos ilhéus essa comunidade revelase na organização de algumas lideranças que se solidarizam para o exercício da gestão social do território Essas lideranças assumem a posição de sujeitos que resistem à dominação ao lutar por transformar a realidade dos demais moradores Procuram ocupar os espaços formais que o poder político constitui e transformálos em espaços de fato deliberativos sobre as questões que mais interessam aos ilhéus Assumem uma espécie de ética baseada em princípios sintetizados no interesse da comunidade e não em objetivos pessoais Ao observar as trajetórias de algumas dessas lideranças foi possível ver que essa ética brota de um processo dialético que é desencadeado com o negativo provocado por uma crise que marcou a ruptura com o curso natural de suas vidas Mas a crise por si só não é suficiente pois é preciso extrair dela um sentido É preciso colocar essa experiência em um processo de reinterpretação da realidade social propiciando um senso de identidade e territorialidade que está ligado a outros sujeitos No caso dos ilhéus isso foi facilitado por encontros de formação política e com pessoas significativas integrantes de movimentos agentes religiosos lideranças locais que reafirmam a necessidade de uma conduta solidária É claro que a aprendizagem e construção da solidariedade acontecem também por meio da participação nos espaços e do envolvimento nas lutas ali travadas Isso equivale à semântica coletiva de Honneth 2003 p 258 que permite interpretar as experiências de desapontamento pessoal como algo que afeta não só o eu individual mas também um círculo de muitos outros sujeitos Os fatos narrados neste trabalho corroboram com o autor no sentido de que sentimentos de lesão desta espécie só podem tornarse a base motivacional de resistência coletiva quando o sujeito é capaz de articulálos num quadro de interpretação intersubjetivo HONNETH 2003 p 258 o que foi observado na maioria das lideranças entrevistadas Entretanto algumas delas não conseguiram a chamada transcendência do interior HABERMAS 2003 que leva a uma abertura para a alteridade já que ficaram fechadas em sua organização particular em sua luta imediata Parece haver a necessidade de uma experiência que vá além do desrespeito e da luta por sua superação para fazer o sujeito adentraremsi e reconhecer um novo mundo a partir de em um nível mais altoHEGEL 2007 p 544 É esse reconhecimento que leva as lideranças do Movimento dos Ilhéus a transcenderem o individualismo e a pertença a uma organização particular Isso se dá acima de tudo a partir da crença em uma realidade superior o que inclui não só a vida material mas uma elação com a ancestralidade e a dimensão espiritual Temse aí o móvel das atitudes solidárias seja de generosidade dádiva ou doação seja de luta por causas aparentemente perdidas De outra parte há lideranças que acabam por participar de maneira seletiva nos espaços escolhendo aqueles que proporcionam a solução para seus problemas específicos ou mesmo um maior retorno em termos de legitimidade ou prestígio político Isso revela as diferentes facetas da solidariedade que podem ser tomadas em termos de abrangência e que ajudam a compreender as constantes afirmações dos integrantes do Movimento dos Ilhéus de que não tinham interesse em sigla ou partido ou em cargo ou voto Isto significa dizer que as ações devem ter um sentido público que busca uma espécie de sintonia entre as diferentes organizações espaços e lutas Haveria assim uma orientação para a gestão social do território como um todo referido como a comunidade das ilhas O interesse existe mas é social e comunitário Buscase o reconhecimento da comunidade e não apenas de sua identidade ou categoria Lutase também pelo outro Viuse a partir das histórias trazidas neste artigo que essas lideranças não esperam 147 v 5 n1 janjun 2014 Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr mudanças grandiosas apenas agem com um sentido de obrigação o qual tem um caráter sagrado um sacrifício Sabem que se não agirem ninguém agirá têm esperança mas sem esperar o resultado imediato da participação que levaria a frustrações E são exatamente essas frustrações as principais causas do abandono da luta e da diminuição da participação A partir da observação dessas de lideranças concluiuse que a solidariedade no Movimento dos Ilhéus é uma síntese que traz consigo elementos arcaicos e modernos É diferente da solidariedade assistencial do Estado e da interdependência funcional do mercado Não se trata de uma solidariedade mecânica de vínculo tradicional oriundo das relações entre próximos grupos de parentesco e de proximidade mas daquela obtida pela identificação com um propósito comum Também não é uma solidariedade relativista baseada na identidade e na diferença entre o nós e o eles Ela supera também o vínculo de amizade e configurase em uma atitude que se orienta para a transformação das estruturas de dominação que sustentam o individualismo o assistencialismo e o clientelismo ali presentes Ela é ao mesmo tempo relação entre pessoas e ação política que se desenrola em diferentes esferas ou espaços Referências ARDUINI J Ética responsável e criativa São Paulo Paulus 2007 ASSMAN H SUNG J M Competência e sensibilidade solidária Petrópolis Vozes 2000 CAILLÉ A Antropologia do dom o terceiro paradigma Petrópolis Vozes 2002 CARRION R M Competição e conflito em redes de economia solidária análise do projeto de implantação da Central de Comercialização de Resíduos Sólidos de Porto Alegre Brasil Cad eBapeBr Rio de Janeiro v 7 n 4 p 547 557 dez 2009 CHIAPETTI A Ocupação do Parque Estadual Delta do Jacuí 2005 Dissertação Mestrado Programa de PósGraduação em Geografia UFRGS Porto Alegre 2005 COMIN F BAGOLIN I AVILA R PORTO JR S S PICOLOTTO V C Pobreza da insuficiência de renda à privação de capacitações Uma aplicação para a cidade de Porto Alegre através de um indicador multidimensional Porto Alegre UFRGS PPGEFCE 2006 DEMO P Solidariedade como efeito de poder São Paulo Cortez Instituto Paulo Freire 2002 DUMONT L O individualismo uma perspectiva antropológica da ideologia moderna Rio de Janeiro Rocco 1985 DURKHEIM E Da divisão do trabalho social 3 ed São Paulo Martins Fontes 2008 DUVIGNAUD J A solidariedade Lisboa Instituto Piaget 1986 GUARESCHI P O novo rosto do amor In MADALOZZO A Org Da inteligência ao coração e à ação Porto Alegre EDIPUCRS 1997 p 916 GODBOUT J T O espírito da dádiva Lisboa Instituto Piaget 1992 GODELIER M O enigma do dom Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2001 HABERMAS J Teoría de la acción comunicativa 4 ed Madrid Taurus 2003 Tomo II Direito e democracia entre a facticidade e a validade Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2011 VII HEGEL G W F Fenomenologia do espírito 4 ed Petrópolis Vozes Bragança Paulista Editora Cadernos Gestão Social v5 n1 p131148 janjun 2014 wwwcgsufbabr 148 CADERNOS GESTÃO SOCIAL Universitária São Francisco 2007 HONNETH A Luta por reconhecimento a gramática moral dos conflitos sociais São Paulo Ed 34 2003 Reconhecimento ou redistribuição A mudança de perspectivas na ordem moral da sociedade In SOUZA J MATTOS P Org Teoria crítica no século XXI São Paulo Annablume 2007p 7993 HUBERT H MAUSS M Ensaio sobre a natureza e a função social do sacrifício In MAUSS M Ensaios de sociologia 2 ed São Paulo Perspectiva 2005 p 141227 KOJÉVE A Introdução à leitura de Hegel Rio de Janeiro Contraponto EDUERJ 2002 LAVILLE JL Ação pública e economia um quadro de análise In FRANÇA FILHO G C LAVILLE JL MEDEIROS A MAGNEN JP Ação pública e economia solidária uma perspectiva internacional Porto Alegre Editora da UFRGS 2006 p 2137 LISBOA A M Solidariedade In CATTANI A D A outra economia Porto Alegre Veraz 2003 p 242250 NOBRE M Luta por reconhecimento Axel Honneth e a teoria crítica In HONNETH A Luta por reconhecimento a gramática moral dos conflitos sociais São Paulo Ed 34 2003 p 719 PREFEITURA MUNICIPAL de Porto Alegre Mapa da Inclusão e Exclusão Social de Porto Alegre Gabinete do PrefeitoSecretaria do Planejamento Municipal Ed Revisada Porto Alegre 2006 REIS E Desigualdade e solidariedade uma releitura do familismo amoral de Banfield Rev Bras Ciências Sociais v 10 n 29 p 3548 out 1995 WAUTIER A M T G E As relações de trabalho nas organizações de economia solidária um paralelo BrasilFrança 2004 Tese Doutorado em Sociologia Programa de PósGraduação em Sociologia Instituto de Filosofia e Ciência Humanas Universidade Federal do Rio Grande do SulUFRGS Porto Alegre 2004 WESTPHAL V H Diferentes matizes da ideia de solidariedade Katálisis Florianópolis v 11 n 1 p 4352 janjun 2008