Notas sobre o Saber e a Experiência

E isto a partir da convicção de que as palavras produzem sentido, criam realidades e, às vezes, funcionam como potentes mecanismos de subjetivação. Eu creio no poder das palavras, na força das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e, também, que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. E pensar não é somente \"raciocinar\" ou \"calcular\" ou \"argumentar\", como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece.\n\nQuando fazemos coisas com as palavras, do que se trata é de como damos sentido ao que somos e ao que nos acontece, de como correlacionamos as palavras e as coisas, de como nomeamos o que vemos ou o que sentimos e de como vemos ou sentimos o que nomeamos.\n\nAs palavras com que nomeamos o que somos, o que fazemos, o que pensamos, o que percebemos ou o que sentimos são mais do que simplesmente palavras. E, por isso, as lutas pelas palavras, pelo significado e pelo controle das palavras, pela imposição de certas palavras e pelo silenciamento ou desativação de outras palavras são lutas em que se joga algo mais do que simplesmente palavras, algo mais que somente palavras. todo humano tem a ver com a palavra, se dá em palavra, está tecido de palavras, que o modo de viver próprio desse vivente, que é o homem, se dá na palavra e como palavra. aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrup- \n ção, um gesto que é quase impossivel nos tempos que\ncorrem: requer parar para pensar, parar para olhar,\nparar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais\ndevagar, e escutar mais devagar; parar para sentir,\nsentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender\na opinião, suspender o juízo, suspender a vontade,\nsuspender o automatismo da ação, cultivar a atenção\ne a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre\no que nos acontece, aprender a lentidão, escutar os\noutros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter\npaciência e dar-se tempo e espaço.\n\nSe escutamos em espanhol,\nessa lingua em que a experiência é “o que nos pas- \nsa”, o sujeito da experiência seria algo como um terri- \ntório de passagem, algo como um superficie sensível\nque aquilo que acontece afeta de algum modo, produz\nalguns afetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns\nvestígios, alguns efeitos.\n\nA experiência, a possibilidade de que algo nos