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Currículo sem Fronteiras v 19 n 3 p 813827 setdez 2019 ISSN 16451384 online wwwcurriculosemfronteirasorg 813 httpdxdoiorg103578616451384v19n301 A PESQUISA CURRICULAR NA VIRADA CULTURAL CONSERVADORA desafios impacto e luta política Érika Virgílio Rodrigues da Cunha Universidade Federal de Rondonópolis UFR Alexandra Garcia Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ Em um contexto em que a pauta do conservadorismo articulada ao neoliberalismo em sua forma mais aguda serve como premissa e justificativa para ações políticas e sociais que não raramente vêm provocando questionamentos sobre as práticas docentes e quanto aos currículos os debates no campo das pesquisas em currículo não podem abdicar de considerar tanto o atual cenário quanto os efeitos dessa onda conservadora O número 03 da Currículo sem Fronteiras pretende ser uma entre as muitas respostas do campo da educação nos termos de Pierre Bourdieu a esse conturbado momento uma vez que oportuniza à Associação Brasileira de Currículo ABdC a edição do dossiê temático A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política que por ora tivemos a grata satisfação de coordenar Para apresentálo julgamos oportuno realçar como e com quais problematizações e lutas atravessamos este atual cenário Tratase de um momento que se nos atordoa como bem expressa Elizabeth Macedo 2018 nos compromete mais severamente com a pesquisa como um esforço de tentar entendêlo Na obra A Grande onda de Kanagawa1 três pequenos barcos tripulados continuam a avançar diante do tsunami que se forma a sua frente O que fazer quando somos surpreendidos a cada manhã por novas ondas e marés pouco animadoras para colocar nossas pequenas embarcações mar a dentro O que fazer se quando nos damos conta não é possível recuar O movimento aqui proposto se assemelha assim aos pequenos barcos que sem poder recuar em meio a uma grande onda que se forma logo à frente continuam a remar para furála em uma possível brecha pois é isso o que se pode fazer e o que continuamos a fazer sem muitas vezes sequer percebermos ou inconscientemente Por isso mesmo optamos por abrir esta edição recuperando discussões sobre o tema do conservadorismo nos dossiês organizados pela ABdC desde 2014 nas três Revistas parceiras até 20182 a Currículo sem Fronteiras a Revista ECurriculum PUC SP e a Revista Teias PROPEd UERJ Assim assumimos pensar o seu não ineditismo e sua reiteração nas pesquisas como sintomas da crescente necessidade de enfrentálo Os primeiros dossiês da ABdC foram publicados em 2014 A Revista Currículo Sem Fronteiras teve o Volume 14 nº 3 organizado por Maria Inês PetrucciRosa UNICAMP e ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 814 Maria Elizabeth Bianconcini Almeida PUCSP com a chamada Práticas Curriculares e Docência em Distintos Contextos As autoras 2014 destacaram a intensificação das discussões atinentes às políticas curriculares no cenário educacional brasileiro num esforço de considerar a pluralidade de referenciais teóricometodológicos a compor consistentemente as noções de docência e de prática curricular no campo Por sua vez um número especial da Revista Ecurriculum Volume 12 nº 3 apresentou a chamada Debates em torno da ideia de bases curriculares nacionais coordenada por Elizabeth Macedo UERG e Maria Luiza Sussekind UNIRIO O dossiê voltavase ao contexto de aprovação do Plano Nacional de Educação pois com a justificativa de que o plano faz menção a uma Base Nacional Curricular Comum o MEC intensificou e deu maior publicidade a um debate que já vinha travando em diferentes esferas e que já produziu um documento base assinado pela SEB MACEDO SUSSEKIND 2014 p 1460 Nos anos de 2015 2016 2017 e 2018 a Currículo sem Fronteiras e a Revista Teias também passaram a reservar cada uma um número especial anual à ABdC e grande parte dessa produção é marcada pela crítica às formas de controle que a política de base comum passa a materializar no país ALVES 2014 Até 2018 a ABdC fez circular via dossiês 185 artigos apresentados na forma de ensaios e resultados parciais ou finais de pesquisas Sem a garantia de uma história intelectual verticalizada como nos adverte Pinar 2007 as pesquisas no campo mais recentemente vêm questionado ficções de verdade que tentam estabilizar interpretações de currículo hegemonizar o que significa educar e justificar processos de centralização e controle Boa parte delas se dedica a lidar com essa questão voltandose às singularidades dos contextos educativos outras se detêm sobre as políticas enquanto parte não menos significativa se interessa pelo escopo teórico dessa discussão Por diferentes vias em comum afirmam currículo como uma prática cultural imbricada por relações de toda ordem e chamam a atenção para o papel que a centralidade da cultura exerce nos processos de regulação social Seguindo o escopo dessa produção o que estamos denominando como virada cultural conservadora neste número da Revista Currículo sem Fronteiras tem nos confrontado especialmente pela defesa de universalismos baseados em crenças religiosas morais étnicas biologicistas sexistas de classe etc Por ela se manifesta um crescente fundamentalismo nas posições e discursos socialmente circulantes que se fazem perceber pelo sensível aumento de adesões a crenças e certezas que dispensam o confronto com dados de pesquisa fontes e fatos ou mesmo o apontamento de contradições A busca por uma sociedade perfeita segundo determinados valores culturais permite notar traços de apelos fundamentalistas em propostas políticas educacionais e atores do processo educativos como nos fazem refletir Gallo e VeigaNeto a partir do filme The Village3 de 2004 Hoje pensando sobre o que interrogavam os organizadores da obra podemos traçar novas reflexões sobre o modo como vieram se aproximando determinados fundamentalismos e o conservadorismo no campo educacional sobretudo em torno dos currículos Nos dossiês organizados pela ABdC ao longo dos últimos seis anos e em parceria com as revistas mencionadas percebemos desdobramentos e acirramentos daquilo que conserva ou intenta conservar padrões sentidos e formatos de sociedade na economia e na cultura sobretudo O mote da padronização curricular disparado por lógicas de mercado eou pelas gramáticas A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 815 contemporâneas do capitalismo consolidouse mais recentemente como o traço mais expressivo da Base Nacional Comum Curricular BRASIL 2017 Simultaneamente e de certa forma também como anseio à padronização o movimento Escola sem Partido baseado na defesa de uma lei contra o abuso da liberdade de ensinar4 vem sendo projetado por grupos religiosos ultraconservadores de maneira que como pondera Macedo 2018 0 04 suas às vezes tragicômicas reivindicações precisam ser compreendidas como uma rede mais complexa de demandas ou como um projeto bem mais consequente do que parece Ambas as investidas BNCC e ESP consistem em tentativas de silenciar as singularidades e diferenças nos e dos currículos a partir da institucionalização de cerceamentos ao pluralismo cultural e à liberdade de pensamento na docência como temos acompanhado em alguns municípios e estados Analisando este cenário Lopes 2019 considera que a guinada à direita se processa a partir das manifestações de junho de 2013 Aí entra em curso a articulação de demandas antipolítica no país que possibilitam a criação de grupos conservadores em boa medida dedicados a ação política reacionária como o Movimento Brasil Livre MBL Para a autora compreender esse cenário político implica investigar e debater a articulação discursiva que busca modificar um registro educacional e desse modo uma cultura 2019 p 04 Homing schooling militarização das escolas públicas ataques a Paulo Freire às perspectivas de gênero e sexualidade à cultura negra e suas formas de religião assim como a destituição de direitos com a nova previdência social que afeta duramente osas professoresas são projeções da virada cultural conservadora No campo educativo a virada substantivase pela promoção da desconfiança sobre a capacidade de socialização e de formação da escola pública interpretada como ameaça à integridade das crianças dos jovens da família Para Lopes 2019 o movimento que leva Bolsonaro à presidência consiste numa fantasia na acepção lacaniana que longe de ser a expressão de um projeto para o país longe de conter a plenitude de qualquer algo em si de poder realizála foi capaz de condensar reivindicações diferenciais destacadas como alternativas a um futuro de horror5 Operando com a teoria do discurso e portanto com a perspectiva de que o terreno do social é político porque constituído por um antagonismo inerradicável LACLAU 2000 ela LOPES 2019 p 02 explica como na base da articulação conservadora se tornaram equivalentes demandas diferenciais que se antagonizam com o que vem sendo denominado marxismo cultural A autora pontua que no combate ao marxismo cultural o atual quadro de crítica às universidades como instituições públicas é uma crítica à própria ideia de Universidade vinculada às Ciências com destaque para a crítica às Ciências Humanas e Sociais e à intelectualidade Idem Nos dossiês da ABdC o realce a este cenário cada vez mais brutalizado é feito inicialmente em 2015 mas ganha centralidade em 2017 com a chamada temática O avanço do conservadorismo nas políticas curriculares6 Soares e Frangella 2015 apresentaram o número destacando como estas questões ganham expressiva visibilidade nos debates sobre currículos por conta de novas constelações de forças que vão constituindo o cenário político e educacional brasileiro Pontuaram a pressão e a atuação de grupos conservadores no legislativo que se estendem a toda sociedade tentando proibir através dos ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 816 planos nacional estaduais e municipais de educação a discussão nas escolas sobre questões de gênero sexualidade religiosas e outras dinâmicas de opressão e discriminação considerandoas ideológicas e contra as famílias e a ordem social Ao mencionarem a iniciativa do governo federal em relacionar a Base Nacional Comum Curricular BNCC para a Educação Básica inserida no PNE ponderaram como o nacional aí figura como marco regulatório E o que se desdobra disso é que o comum a todos vai se transmutando em único e aí cabe a questão há espaço para a diferença Andrade 2015 por sua vez ao discutir a relação entre os Movimentos Sociais a educação e a questão da diferenças questão avultada naquele momento lançou mão de metáforas da física e de argumentos filosóficos e sociológicos para pôr em tensão a ideia mesma de movimento e indagar se os Movimentos Sociais estão suficientemente fortes para enfrentar o conservadorismo crescente em nossas sociedades Thiessen e Gomes 2016 p 01 abriram o dossiê dedicado a discutir o avanço do conservadorismo nas políticas curriculares chamando a atenção para como por sua importância em relação a todo o contexto social o contexto educacional não escapa das estratégias e ações retrógradas que contribuem para reforçar o viés conservador no campo educacional A Medida Provisória nº 7462016 que reformulou drasticamente o Ensino Médio foi ressaltada como resultado da ação centralizadora e autoritária que desconsidera o debate e as contribuições do campo educacional nos últimos 20 anos Idem e que volta ao cenário brasileiro no governo Temer Carvalho Sales e Sá 2016 se dedicaram a discutir na emergência de um atual espírito do tempo conservador que sucede tempo de anúncios de inovação e as ressonâncias dessa emergência nas narrativas curriculares p11 como uma onda conservadora se pôs a clamar por bases curriculares Suas análises da política nacional operaram com três exemplos ilustrativos do viés conservador em ascensão Um deles de dimensão teórica o Conhecimento Poderoso defendido entre outros pelo britânico Michel Young e dois eventos específicos um brasileiro a tentativa de retorno ao método fônico de alfabetização na prefeitura municipal de SalvadorBahia e outro português um olhar sobre o Processo de Bolonha em Portugal o exemplo da Universidade do Minho na cidade de Braga p12 Já Salvino e L Macedo 2016 propuseram uma análise dos significados de democracia na reconstrução do currículo de Pedagogia UEPBcampus I num momento em que as políticas educacionais refletem um avanço do conservadorismo realinhado ao neoliberalismo afetando de forma mais insidiosa as identidades historicamente discriminadas em função de diferenças culturais Centrandose igualmente nas questões da diferença Guedes 2016 discutiu o avanço do conservadorismo no currículo da rede municipal de educação da cidade de Teresina Piauí a partir do Projeto de Lei nº 202016 aprovado pela Câmara Municipal e que trata da proibição de livros materiais didáticos ou qualquer outro meio contendo ideologia de gênero nas Escolas Infantis do município de Teresina Na mesma linha Oliveira 2016 apresentou resultados de uma pesquisa em que focou os deslocamentos de sentidos nos discursos conservadores nas políticas curriculares Ela se apoiou na teoria do discurso TD de Laclau e Mouffe para discutir como as cadeias discursivas do sacerdócio docente se antagonizam à de profissionalização docente e defender A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 817 que os significantes que dão sustentação às práticas discursivas docentes operam por deslocamentos que subjetivam e são subjetivados em suas tentativas de projetar um eu para o professor Saul e Garcia 2016 abriram o dossiê alinhado ao tema da campanha Aqui Já Tem Currículo lançada pela Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Educação ANPEd na celebração dos seus 38 anos Eles reforçaram a urgência da luta pela democratização da educação da pesquisa e de variadas ações em diferentes âmbitos como resistência às ameaças de privatização e conservadorismo no cenário educacional J Sepulveda e D Sepulveda 2016 apresentaram pesquisa sobre as práticas e as políticas curriculares de inclusão e o direito à diferença em uma escola pública do Estado do Rio de Janeiro que tinha como ponto de tensão a questão dos comportamentos de gênero Com Thompson tensionaram leituras ortodoxas do conceito de conservadorismo para apresentar uma reflexão desta problemática no atual contexto conservador no Brasil e reclamar a luta por políticas de currículo que defendam o direito às diferenças não pode ser reduzida a políticas de inclusão que não privilegiam todas as diferenças O artigo de Andrade e Pischetola 2016 avivou as disputas entre o então deputado federal Jair Bolsonaro e a Revista Nova Escola examinando como as redes sociais potencializam o ódio contra identidades socialmente discriminadas em sociedades multiculturais Para o autor a mistura de conservadorismo assumido e a alta popularidade nas mídias aparecem como um novo e inquietante fenômeno da política brasileira p 1383 Paraíso 2016 buscou explicar as estratégias de poder usadas por grupos reacionários do Brasil para controlar os currículos e proibir a discussão de gênero e sexualidade na escola que se disseminam como subordinação ao velho princípio da identidade universal e como ódio às diferenças de gênero e sexualidade Para a autora tal problemática demanda de nós uma resistência que seja inventiva sem nos desviarmos em nenhum momento das práticas de afirmação da vida uma resistência como força que mobiliza e cria possíveis Ao discutir a questão da diferença na pesquisa de base pósestrutural Ribeiro 2016 pôs em suspenso a questão da diversidade Explicou que nos usos de tais termos diferença e diversidade se processa na atualidade um tipo de normatividade de difícil percepção porque caminha com um moralismo que vem se tornando lugar comum no Brasil A discussão se encarrega de demonstrar que tais operadores textuais controlam e estabelecem finalidades muito distintas p 552 Em 2017 Saul e Gandin 2017 apresentaram um dos dossiês7 afirmando que O momento que vivemos atualmente é um daqueles em que é premente afirmar o princípio e a vivência da democracia na educação uma vez que o crescimento da aliança entre grupos neoconservadores e neoliberais e suas investidas no campo têm sido cada vez mais visíveis Michael Apple 2017 participa da mesma edição exaltando o viés crítico da luta pela democracia na educação como o que mantém os sujeitos vigilantes contra as narrativas que apontam as perspectivas conservadoras como inevitáveis Já Ferraço e Amorim 2017 abriram uma edição com o tema Micropolítica Democracia e Educação8 fazendo um alerta para o perigo representado pela atual derrocada mundial das esquerdas provocada pela ascensão ao poder de forças macropoliticamente reacionárias e micropoliticamente reativas ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 818 e conservadoras forçandonos a pensar que por exemplo não basta entenderanalisar os efeitos das macropolíticas na Educação p 05 Saraiva e Vargas 2017 conferem relevo aos perigos do Escola sem Partido ESP como disseminação da criminalização da ação docente problemática muitas vezes citada nos artigos aqui em destaque Concebendo a potência da noção derridiana de rastro Gabriel 2017 propôs uma outra interpretação para o significante conteúdo escolar como saída teórica para continuarmos operando com esse termo na produção de leituras políticas do campo sem reafirmar lógicas binárias e dicotômicas A autora ponderou a urgência de um posicionamento nessas lutas dado ao avanço galopante de um projeto de sociedade conservador antidemocrático sem compromisso com a coisa pública estampado nas recentes propostas governamentais de reformas curriculares Borges 2017 debruçou se igualmente nas disputas em torno do conhecimento escolar central no dossiê organizado por Macedo e Gabriel 2017 para pôr em evidência as vozes discentes sobre uma Escola Sem Partido num momento em que Ressurgem antigos e novos projetos de sociedade uns calcados no conservadorismo extremo outros num proselitismo sem fim por meio do qual reverberamse as ideias de neutralidade e cientificidade modelos salvíficos para a educação das infâncias e juventudes calcados no conhecimento como panaceia dos problemas da educação p618 A discussão de Oliveira 2017 ressaltou a atuação das intelectuais negras no campo da educação tendo como escopo sua produção acadêmica e os vínculos com a luta pela implementação e acompanhamento da legislação voltada para educação antirracista Silva 2017 p 702 por sua vez avaliou que o cenário político em projeção tornou relevante examinar os modos como as políticas curriculares são cada vez mais dirigidas por racionalidades neoliberais e neoconservadoras obstaculizando a composição de uma governança escolar democrática Ele lançou mão de noções como emocionalização algoritmização e personalização dos itinerários formativos como dispositivos de customização curricular na política curricular Na abertura de dossiê sobre Inclusão escolar e currículo9 Mendes e Silva 2018 p 04 assinalaram que as agendas conservadoras tanto no âmbito das políticas educacionais como nas políticas curriculares têm tomado como alvo principal o debate em torno das ações voltadas à constituição de espaços inclusivos e seu públicoalvo Avaliam que se a inclusão escolar tornouse uma narrativa mundial amplamente aceita ela se processa pouco questionada quanto as articulações que faz circular Noutro dossiê organizado por Lopes e Delboni 2018 com o tema O Currículo e seus Desafios na Escola Pública práticas políticas e atores Aguiar 2018 problematizou o processo de formulação da Base Nacional Comum Curricular BNCC no contexto das políticas direcionadas à Educação Básica durante os governos dos presidentes Dilma Rousseff e Michel Temer No artigo ganhou destaque a desconfiguração da Educação Básica pela apresentação da terceira Versão da BNCC restrita à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental dadas as pressões externas de setores conservadores A autora analisou neste prisma como foram excluídas da política as referências às questões de gênero e orientação sexual bem como questões do ensino religioso p 735 Macedo e Ranniery 2018 teorizaram a questão da diferença e a ideia de público nas políticas de currículo mobilizando sofisticado referencial pósfundacional e pós A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 819 estrutural estudos feministas e queers complicados por perspectivas neomateriais e pós humanas no enfrentamento das políticas de controle e do cenário em que ganham força projetos como o ESP Propuseramse a entender a ideia de políticas públicas em currículo como redes intersubjetivas multiplamente localizadas argumentado que as políticas para serem públicas precisam se comprometer com o processo de diferenciação e ter em conta relações concretas O artigo de Santos Moreira e Gandin 2018 apresentou uma análise crítica dos processos educacionais e curriculares realçados como complexos e contraditórios vividos por escolas públicas situadas em periferias urbanas em territórios marcados pela vulnerabilidade e segregação social A motivação do texto foi a afirmação contundente de profundas crises políticas econômicas no cenário global e nacional que têm feito ressurgir políticas e sentimentos da Nova Direita tal como Apple a entende ou uma combinação de grupos neoconservadores e neoliberais na disputa pelo projeto de formação dos sujeitos GarciaReis e Godoy 2018 analisaram a concepção de leitura e ensino de leitura nos anos iniciais do ensino fundamental na Base Nacional Comum Curricular homologada em dezembro de 2017 As autoras afirmam que embora a BNCC adote uma perspectiva enunciativodiscursiva de linguagem ela se constitui no âmbito da restauração conservadora com uma política de mercado operando como uma política de conhecimento oficial No escopo dessa produção também podem ser contabilizados os esforços de discussão e problematização da virada neoconservadora assumidos por dissertações e teses dedicados à questão curricular Não temos dúvidas de que uma investigação da temática no período em que a ABdC passou a propor os dossiês em programas de pósgraduação no campo ou na área da Educação poderão oferecer um desenho mais contundente das preocupações e das respostas a este momento que tal como o tsunami de Hokusai estamos a enfrentar Há muito trabalho a ser feito para dar visibilidade a essa produção política pois seguimos com a pesquisa seguimos enfrentando A pesquisa curricular problematizações lutas atuais criações e resistências Este número especial da Revista Currículo sem Fronteiras segue os rastros de uma temática que veio nos últimos seis anos e como este breve levantamento dos dossiês da ABdC aponta se tornando tão mais frequente quanto o cenário político econômico e social passou a exigir das pesquisas no campo do currículo Os artigos neste Dossiê podem ser lidos como propomos num crescente Assim os abordarmos a partir da contextualização e destaque dos subterrâneos e nuances que alimentam o cenário no qual o conservadorismo avança e se alia ao ultraliberalismo no Brasil em particular mas como fenômeno que ignora muitas fronteiras e mostra sua faceta em outros países da América Latina e na Europa com força também em países orientais Em seguida trazemos os artigos que discutem os desdobramentos dessa influência política e cultural em distintos aspectos e áreas e campos do debate educacional Por fim entram em cena os artigos que exploram as brechas e criações que se fazem diante da onda conservadora em movimentos microbianos nem sempre ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 820 intencionais de enfrentamento ou multiplicação dos possíveis Também podem ser lidos individualmente ou em ordens outras pois como nossas pesquisas ao logo dos dossiês propostos pela ABdC desde 2014 apontam criamos formas de resistir e existir mesmo antes de termos mais nítidas as alianças e os rumos que nos levariam ao momento que atravessamos hoje em 2019 Por vezes também poderemos notar pela época de produção de uma pesquisa que o que se descortinou como o que temos chamado de Tsunami conservador já apresentava sintomas em determinadas áreas e contextos podendo esse contágio ter se dado a partir de pequenas feridas quase imperceptíveis Seja qual for a ordem e composição das leituras os artigos aqui reunidos buscam contribuir para nossas reflexões e instigar outras interrogações que nos provoquem a continuar em movimento remando dropando tubos ou quiçá furando as ondas que se levantarem à nossa frente O artigo que abre o dossiê Padrãopolítica fincando prioridade e propriedade no terreno educacional trabalha com uma metáforaanálise inspirada nos os marcos do Descobrimento da expansão marítima da Coroa Portuguesa para discutir a tendência de padronizaçãoestandardização percebida nas políticas públicas curriculares contemporâneas que segundo a abordagem feita por Frangella 2019 se erigem como padrões No artigo a autora propõe problematizar a ideia que tem se difundido como justificativa às políticas de que é possível a definição de marcos precisos na delimitação do que seria para que deveriam servir os conhecimentos no currículo Explora ainda a relação entre esses padrões e uma polarização entre ciência e cultura em um diálogo com referenciais póscoloniais e pós fundacionais Abordando os efeitos de políticas regulatórias de educação na organização do trabalho escolar o artigo de Rosa 2019 neste Dossiê Políticas regulatórias subjetividade e os entraves à democracia na escola pública brasileira contribuições à pesquisa curricular explora a construção de novas subjetividades profissionais no funcionamento dos mecanismos de controle e poder que configuram as formas contemporâneas de Gestão Pública Partindo de pesquisa realizada em rede municipal de ensino do ABC Paulista aponta a existência de traços conservadores e autoritários da sociedade brasileira que teriam relação com o modo como nas palavras do autor professores e gestores têm lidado com esse novo paradigma de gestão pedagógica e do currículo na escola pública o que se faz agravado pelo tom competitivo das práticas gerencialistas Busca com sua discussão ampliar as compreensões quanto aos desafios a serem enfrentados pelas pesquisas curriculares frente ao conservadorismo Adentrando mais incisivamente no tema dos impactos do conservadorismo no currículo escolar Sepulveda e Sepulveda se debruçam sobre uma das marcas indeléveis desse impacto que se refere ao modo como movimentos conservadores organizados influenciaram a emergência de um novo status para a disciplina escolar Ensino Religioso Os autores argumentam que dentre outras artimanhas essa influência cresceu alimentando o enfrentamento contra o fictício fantasma da ideologia de gênero Aprofundando a discussão sobre o conceito de conservadorismo e investigando o que entendem apontar para sua presença em uma escola pública do estado do Rio de Janeiro concluem que a luta no A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 821 campo educacional pela laicidade se coloca como um necessário instrumento diante do avanço do conservadorismo na defesa por uma sociedade democrática O artigo de SANTOS Qual é o lugar da formação humana nas políticas curriculares contemporâneas segue a linha de discussão em torno dos significantes vazios nas políticas educacionais endereçadas à Educação Básica a partir da Base Nacional Comum Curricular BNCC Problematizando os sentidos de crise e qualidade na educação que estão na base dos discursos reformistas e que se entrecruzam com sentidos como formação humana e humanismo chama atenção para uma virada do pensamento pedagógico que se antagoniza principalmente ao discurso da decodificação das habilidades e competências atualmente emergente nas políticas de currículo para EB Com isso a autora busca dar a ver articulações envolvidas no processo de significação de currículo como política cultural Ainda explorando aportes pósestruturais e pósfundacionais para a teorização curricular pautada na defesa da pluralidade e da diferença o texto de Pereira 2019 que compõe o conjunto de artigos nesse Dossiê assume os efeitos da chamada virada cultural conservadora que estamos a enfrentar como desafios que podem ser encarados a partir de uma postura desconstrucionista inspirada pelo pensamento derridiano que leve a uma reflexão implacável sobre certezas reafirmadas pela teorização curricular Aposta no que denomina como vazio normativo como necessário ao processo de construção democrática entendida como devir Marinho Leite e Fernandes permitem com seu texto trazer para este dossiê a percepção de que muito do que atravessamos no Brasil hoje e que acomete as políticas curriculares está no bojo de um processo mais amplo que se espraia através de lógicas de padronização Aproveitandose da sigla formada pela denominação da análise desse movimento investigam e discutem o GERM Global Educational Reform Movement que vem infeccionando as políticas e o antídoto de uma medida política associado a uma contracultura ao GERM infecioso das políticas globais Demostram simultaneamente o que julgamos poder ser a contribuição do conjunto de artigos nesse dossiê analisar o contexto e suas graves implicações ao mesmo tempo em que identificam caminhos eou alternativas em curso que boicotam ou ao menos amenizam os danos O segundo conjunto de artigos iniciase com o texto de Hugo Santos intitulado A evolução da diversidade sexual no currículo escolar português da revolução dos cravos ao neoconservadorismo Nele o autor aponta que as políticas públicas de educação e o currículo são o centro nevrálgico das lutas contra os ataques às questões de gênero e sexualidade que se alimentam no neoconservadorismo Colocando em debate a evolução da diversidade sexual no currículo escolar português busca apontar quais as condições que permitiram a emergência dessa discussão e os desafios que se colocam frente às investidas contra direitos LGBTI no currículo Retornando ao tema do ensino religioso e os currículos Gonçalves e Almeida analisam o que se coloca como currículo com a entrada da disciplina Ensino Religioso no texto da BNCC Buscam abordar camuflagens e infiltrações neste processo expondo uma dialética entre secularização e laicidade no interior de contextos históricos culturais e políticos Com isso o artigo contribui para ser mais uma peça no mosaico que se desenha no atual contexto ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 822 político e dos conflitos em torno das políticas curriculares Ainda no tema das disputas curriculares Farias e Dias interrogam os discursos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação TIC na América Latina frente a potencial apropriação de movimentos educacionais conservadores As autoras procuram interpretar sentidos produzidos nas políticas de currículo envolvendo as TIC para as escolas e como seus discursos vêm significando nos textos políticos da IberoAmérica a docência e a aprendizagem Concluem que há uma tentativa de controle docente e discente via processos de avaliação centralizadores que se disseminariam via discurso da sociedade do conhecimento O artigo de Silva e Paula BNCC do ensino médio e trabalho pedagógico da escola propostas da audiência pública de Brasília apresenta estudo realizado durante a fase de elaboração do Parecer final do texto da Base e procura tecer reflexões quanto às implicações da BNCC do Ensino Médio no trabalho pedagógico da escola e na construção do conhecimento Aponta tais implicações a partir de estudo realizado sobre as audiências públicas organizadas nas cinco regiões do país como estratégia de legitimação do texto junto à sociedade civil A discussão é desenvolvida com base nos dados produzidos através da observação das audiências e nos documentos entregues ao Conselho Nacional de Educação pelas entidades contendo notas avaliações técnicas e moções ao texto inicial Adentrando as discussões sobre o currículo no Ensino Médio no artigo BNCC e o currículo de história interpretações docentes no contexto da prática Silva Santos e Fernandes 2019 tratam das tentativas de normatização do currículo para o Ensino Médio analisando segundo a abordagem assumida o modo como os professores de História interpretam as implicações da BNCC para o currículo de História trazendo suas perspectivas no tocante às implicações que a BNCC poderá trazer para o currículo de História no contexto da prática O terceiro e último conjunto de textos reúne artigos que partindo de investigações em torno da criação eou das possibilidades de resistência e alternativas ao contexto como também de suas implicações faz o movimento que a metáfora das pequenas embarcações enfrentando a Grande onda nos sugere ser necessário diante de nossas análises de um cenário nada promissor É assim que o texto de Alves Ferraço e Gomes que tem por título Os cotidianos espaçostempos de resistência e criação busca afirmar a potência dos cotidianos diante das agendas de liquidação do social presentes no Brasil e no mundo aliadas que estão às políticas de transcendência opressora e de diminuição da vida que incluem os mecanismos de normalização controle servidão e de tentativa de anulação da diferença que se alojam nos organismosinstituições e que se fazem cada vez mais avassaladoras nas escolas Chamam atenção contudo para o fato de que por mais avassaladoras que pareçam ou de fato sejam não são essas políticas e seus efeitos totalitários por serem frequentemente tensionados e desviados pela das práticas cotidianas a reinventar a vida Em uma linha muito próxima o artigo de Carvalho trata a estética da experiência de educar e procura problematizar o conservadorismo político em suas implicações para a educação no Brasil atual trabalhando com imagens capturadas na internet a partir de pesquisa desenvolvida em redes de conversações A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 823 O artigo de Soares Paiva e Silva Escolas em devir fabulações com vídeos em ocupações compartilhados na internet e criação de outros currículos traz reflexões produzidas a partir de vídeos sobre as ocupações de escolas públicas em 2016 que foram produzidos por estudantes e capturados no YouTube e em rede social Abordando o movimento de ficcionar sobre si sobre as escolas e sobre os currículos reflete acerca dessas produções enquanto possibilidades de uso do que estaria posto e do que é imposto aventando micropolíticas cotidianas potentes para a criação de outrosnovosmúltiplos currículos Cappelletti e Feeney ao analisarem o currículo proposto para a educação de Jovens e Adultos na Argentina Buenos Aires abordam três aspectos da política curricular a adoção de um enfoque mais participativo na construção do desenho e do texto curricular que dele resulta a recuperação de um conjunto de normas do Conselho Federal de Educação Argentina no marco de políticas educativas que deram impulso ao direito à educação a adoção de critérios curriculares que promovem a integração de campos de conhecimento a definição contextualizada de conteúdos e a flexibilização curricular com a intenção de atender a especificidade dos sujeitos jovens e adultos A seguir Garcia e Maldonado se propõem a problematizar alguns discursos filosóficos sobre a infância que projetam nos currículos corpos infantis ao futuro reforçados por artefatos culturais que acabam por contribuir para esse objetivo Ao mesmo tempo buscam demostrar como as crianças criam possibilidades outras atravessando e ocupando o domínio do instituído e trazendo novos modos de ser e de estar na escola O artigo de Backes traz uma importante discussão no bojo das lutas políticas e culturais que se colocam como desafios frente ao conservadorismo crescente e seus desdobramentos ao tratar da Luta política para a construção de currículos interculturais e decoloniais pelos indígenas tal como se intitula seu texto Trabalha com a percepção de professores indígenas com mestrado em Educação sobre conquista protagonismo e resistência de seus povos para construção de um currículo intercultural e decolonial Traz a partir de suas colocações a percepção de que a existência como povo cultura e identidade dos indígenas se deve à sua histórica luta em não se dobrarem à lógica ocidental Entendemos que por intermédio deste amplo escopo de trabalhos de filiações teórico metodológicas distintas o Dossiê A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política expressa a defesa da educação em todos os níveis e modalidades de ensino uma vez que significa a pesquisa no campo curricular como a possibilidade de dilatar a compreensão do caráter público da educação necessariamente plural e democrático Fazer circular as pesquisas no campo curricular é também lidar com o obscurantismo na ciência na academia na Educação e mesmo na vida é gerar oportunidade de politizar o atual cenário É assim que este Dossiê se soma aos esforços das entidades de classe e associações científicas dentre elas e especialmente a Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação ANPEd que forçosamente têm intensificado suas agendas na defesa da manutenção da esfera pública de formação escola e universidade e de pesquisa universidades agências de regulação e fomento como a CAPES e o CNPq como instituições fundamentais à sociedade democrática ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 824 Esperamos com alegria e desejos de força para a luta que os artigos aqui apresentados possam se somar aos incontáveis esforços e ações empreendidos por pesquisadores estudantes de pósgraduação e graduação no Brasil e naqueles lugares em que as preocupações curriculares se colocam Uma ótima leitura Notas 1 Xilogravura Katsushika Hokusai 18301832 2 Em outubro de 2019 a reunião da ABdC na 39ª Reunião Nacional da ANPEd aprovou uma parceira com mais duas revistas nacionais do campo a SérieEstudos periódico do Programa de PósGraduação em Educação da UCDB MS e a Revista Espaço do Currículo organizada pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Curriculares GEPPC da UFPB 3 The Village A vila filme escrito por M Night Shyamalan e dirigido em 2004 nos Estados Unidos 4 httpswwwprogramaescolasempartidoorg 5 Lopes 2019 explica que o bolsonarismo constitui sua força no pleito à presidência do país em 2018 como a representação do combate a um inimigo o Partido dos Trabalhadores De tal forma este nome bolsonarismo passa a condensar inúmeras demandas desejosas de eliminar ideias conquistas perspectivas teóricas agendas e lutas identificadas com o Partido 6 Revista Teias v 17 n 47 OutDez 2016 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasissueview1347 7 Com o tema 50 anos da Pedagogia do oprimido ler a realidade e construir a esperança 8 A chamada do dossiê foi feita pela Revista Teias v 18 n 51 2017 9 Seção temática inclusão escolar e interrogações curriculares adaptar modificar diferir na Revista Teias v 19 2018 Referências AGUIAR Márcia Angela da S Política educacional e a Base Nacional Comum Curricular o processo de formulação em questão Currículo sem Fronteiras v 18 n 3 setdez p 722738 2018 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol18iss3articlesaguiarpdf ALVES Nilda Sobre a possibilidade e a necessidade curricular de uma base nacional comum Revista e Curriculum São Paulo v 12 n 03 outdez p 1464 1479 2014 Disponível em httpsrevistaspucspbrcurriculum ANDRADE Marcelo Movimentos sociais educação e diferenças definições analíticas e equivalentes práticos Currículo sem Fronteiras v 15 n 3 p 816831 setdez 2015 Disponível em wwwcurriculosemfronteirasorg ANDRADE Marcelo PISCHETOLA Magda O discurso de ódio nas mídias sociais a diferença como letramento midiático e informacional na aprendizagem Revista eCurriculum São Paulo v14 n04 outdez p 13771394 2016 Disponível em httpsrevistaspucspbrindexphpcurriculumarticleview30015 APPLE Michael W A luta pela democracia na educação crítica Revista eCurriculum São Paulo v15 n4 setdez p 894893 2016 Disponível em httpsrevistaspucspbrcurriculumarticleview3553024420 A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 825 BORGES Luís Paulo Cruz O conhecimento escolar em disputa vozes discentes sobre uma Escola Sem Partido Currículo sem Fronteiras v 17 n 3 setdez p 617632 2017 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol17iss3articlesborgespdf BRASIL Ministério da Educação do Brasil Secretaria de Educação Básica Base Nacional Comum Curricular Brasília SEBMEC 2017a Disponível em httpbasenacionalcomummecgovbrimagesBNCCpublicacaopdf CARVALHO Maria Inez SALES Marcea Andrade SÁ Maria Roseli Gomes Brito de Os sinos dobram por nós o mundo o Brasil e as narrativas curriculares dos últimos tempos Revista Teias v 17 n 47 outdez p 0520 2016 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview25864 FERRAÇO Carlos Eduardo AMORIM Antônio Carlos Micropolítica democracia e educação Teias v 18 n 51 outdez p 0513 2017 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview31634 GABRIEL Carmen Teresa Conteúdorastro um lance no jogo da linguagem do campo curricular Currículo sem Fronteiras v 17 n 3 setdez p 515538 2017 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol17iss3articlesgabrielpdf GALLO Silvio VEIGANETO Alfredo Org Fundamentalismo Educação Belo Horizonte Autêntica 2009 GARCIAREIS Andreia Rezende GODOY Ariane Rodrigues Gomes Leite O ensino de leitura nos anos iniciais do ensino fundamental a proposta da Base Nacional Comum Curricular Currículo sem Fronteiras v 18 n 3 setdez p 10251043 2018 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol18iss3articlesreisgodoypdf GUEDES Neide Cavalcante O discurso sobre gênero no currículo do município de Teresina reinvenção do conservadorismo Revista Teias v 17 n 47 outdez p 5974 2016 Disponível em fileDDownloads25922855821PBpdf LOPES Alice Casimiro Articulações de Demandas Educativas ImPossibilitadas pelo Antagonismo ao Marxismo Cultural Arquivos analíticos de políticas educativas v 27 n 109 set p 0121 2019 Disponível em fileDDownloads4881198951PB202pdf LOPES Alice Casimiro DELBONI Tania O Currículo e seus Desafios na Escola Pública práticas políticas e atores Currículo sem Fronteiras v 18 n 3 p 719721 setdez 2018 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol18iss3articlesapresentacaopdf MACEDO Elizabeth Fernandes GABRIEL Carmen Teresa Currículo e conhecimento Currículo sem Fronteiras v 17 n 3 setdez p 617632 2017 Disponível em wwwcurriculosemfronteirasorg MACEDO Elizabeth Repolitizar o social e tomar de volta a liberdade Educação em Revista Belo Horizonte v34 p 0115 2018 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciabstractpidS0102 46982018000100302lngptnrmiso MACEDO Elizabeth RANNIERY Thiago Políticas públicas de currículo diferença e a ideia de público Currículo sem Fronteiras v 18 n 3 setdez p 739756 2018 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol18iss3articlesmacedorannierypdf MENDES Geovana Mendonça Lunardi SILVA Fabiany de Cássia Tavares Apresentação da seção temática inclusão escolar e interrogações curriculares adaptar modificar diferir Revista Teias v 19 n 55 outdez p 0406 2018 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview3863827278 OLIVEIRA Iris Verena Escrevivêcias e limites da identidade na produção de intelectuais negras Currículo sem Fronteiras v 17 n 3 setdez p 633658 2017 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol17iss3articlesoliveirapdf ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 826 OLIVEIRA Veronica Borges de Discursos conservadores nas políticas curriculares do sacerdócio à profissionalização docente Revista Teias v 17 n 47 outdez p 7590 2016 Disponível em httpswwwepublicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview25973 PARAÍSO Marlucy Alves A ciranda do currículo com gênero poder e resistência Currículo sem Fronteiras v 16 n 3 setdez p 388415 2016 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol16iss3articlesparaisopdf PARAÍSO Marlucy Alves Silva Sandra Kretli da Perspectivas teóricas das pesquisas em currículo Currículo sem Fronteiras v 16 n 3 p 542558 setdez 2016 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol16iss3articlesapresentacaohtm PETRUCCIROSA M I ALMEIDA M E B Práticas curriculares e docência em distintos contextos Apresentação da seção temática Currículo sem Fronteiras v 14 2014 RIBEIRO William de Goes Remobilizando a pesquisa com o pósestruturalismo quando a diferença faz toda a diferença Currículo sem Fronteiras v 16 n 3 setdez p 542558 2016 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol16iss3articlesribeiropdf SALVINO Francisca Pereira MACEDO Lenilda Cordeiro Democracia que temosqueremos mediante o conservadorismo nas políticas educacionais Revista Teias v 17 n 47 outdez p 2141 2016 Disponível em httpswwwepublicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview2587919202 SANTOS Graziella Souza dos MOREIRA Simone Costa GANDIN Luís Armando Desafios do trabalho escolar e do currículo na escola pública interfaces com o efeito do território periférico Currículo sem Fronteiras v 18 n 3 setdez p 760784 2018 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol18iss3articlessantosmoreiragandinpdf SAUL Alexandre GARCIA Alexandra Políticas e práticas curriculares nas escolas resistindo e re existindo ao poder hegemônico Revista eCurriculum São Paulo v14 n04 outdez p 11841192 2016 Disponível em httpsrevistaspucspbrcurriculumarticleview31278 SAUL Ana Maria GANDIN Luís Armando Democratização da escola em tempos de privação de direitos Revista eCurriculum São Paulo v15 n4 outdez p 887893 2017 Disponível em httpsrevistaspucspbrcurriculumarticleviewFile3554824419 SEPULVEDA José Antônio SEPULVEDA Denize As práticas e as políticas curriculares de inclusão e o direito à diferença Revista eCurriculum São Paulo v14 n04 outdez p 12561287 2016 Disponível em httpsrevistaspucspbrindexphpcurriculumarticleview29593 SILVA Roberto Rafael Dias da Emocionalização algoritmização e personalização dos itinerários formativos como operam os dispositivos de customização curricular Currículo sem Fronteiras v 17 n 3 setdez p 699717 2017 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol17iss3articlessilvapdf SOARES Maria da Conceição S FRANGELLA Rita de Cássia Diferença micro e macropolíticas de currículo desconstrução de identidades e produção de diferenças múltiplas perspectivas de abordagem Currículo sem Fronteiras v 15 n 3 p 567574 setdez 2015 Disponível em wwwcurriculosemfronteirasorg THIESSEN Juarez da Silva GOMES Rozana O avanço do conservadorismo nas políticas curriculares Revista Teias v 17 n 47 outdez p 0204 2016 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview2661519200 VARGAS Karla Saraiva Juliana Ribeiro de Os perigos da escola sem partido Teias v 18 n 51 outdez p 6884 2017 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview3065122833 A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 827 Correspondência Érika Virgílio Rodrigues da Cunha É Doutora em Educação Professora Adjunta do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Rondonópolis PPGEduUFR ORCID httpsorcidorg0000000266485261 Email erikavrcunhagmailcom Alexandra Garcia É Doutora em Educação Professora Associada Procientista UERJ e Jovem Cientista do Nosso Estado FAPERJ professora do Programa de Pósgraduação em Educação processos formativos e desigualdade sociais PPGeduFFPUERJ e do Programa de Pósgraduação em Educação PROPEdUERJ ORCID httpsorcidorg000000018285471X Email alegarcialimahotmailcom Texto publicado em Currículo sem Fronteiras com autorização das autoras
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Currículo sem Fronteiras v 19 n 3 p 813827 setdez 2019 ISSN 16451384 online wwwcurriculosemfronteirasorg 813 httpdxdoiorg103578616451384v19n301 A PESQUISA CURRICULAR NA VIRADA CULTURAL CONSERVADORA desafios impacto e luta política Érika Virgílio Rodrigues da Cunha Universidade Federal de Rondonópolis UFR Alexandra Garcia Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ Em um contexto em que a pauta do conservadorismo articulada ao neoliberalismo em sua forma mais aguda serve como premissa e justificativa para ações políticas e sociais que não raramente vêm provocando questionamentos sobre as práticas docentes e quanto aos currículos os debates no campo das pesquisas em currículo não podem abdicar de considerar tanto o atual cenário quanto os efeitos dessa onda conservadora O número 03 da Currículo sem Fronteiras pretende ser uma entre as muitas respostas do campo da educação nos termos de Pierre Bourdieu a esse conturbado momento uma vez que oportuniza à Associação Brasileira de Currículo ABdC a edição do dossiê temático A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política que por ora tivemos a grata satisfação de coordenar Para apresentálo julgamos oportuno realçar como e com quais problematizações e lutas atravessamos este atual cenário Tratase de um momento que se nos atordoa como bem expressa Elizabeth Macedo 2018 nos compromete mais severamente com a pesquisa como um esforço de tentar entendêlo Na obra A Grande onda de Kanagawa1 três pequenos barcos tripulados continuam a avançar diante do tsunami que se forma a sua frente O que fazer quando somos surpreendidos a cada manhã por novas ondas e marés pouco animadoras para colocar nossas pequenas embarcações mar a dentro O que fazer se quando nos damos conta não é possível recuar O movimento aqui proposto se assemelha assim aos pequenos barcos que sem poder recuar em meio a uma grande onda que se forma logo à frente continuam a remar para furála em uma possível brecha pois é isso o que se pode fazer e o que continuamos a fazer sem muitas vezes sequer percebermos ou inconscientemente Por isso mesmo optamos por abrir esta edição recuperando discussões sobre o tema do conservadorismo nos dossiês organizados pela ABdC desde 2014 nas três Revistas parceiras até 20182 a Currículo sem Fronteiras a Revista ECurriculum PUC SP e a Revista Teias PROPEd UERJ Assim assumimos pensar o seu não ineditismo e sua reiteração nas pesquisas como sintomas da crescente necessidade de enfrentálo Os primeiros dossiês da ABdC foram publicados em 2014 A Revista Currículo Sem Fronteiras teve o Volume 14 nº 3 organizado por Maria Inês PetrucciRosa UNICAMP e ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 814 Maria Elizabeth Bianconcini Almeida PUCSP com a chamada Práticas Curriculares e Docência em Distintos Contextos As autoras 2014 destacaram a intensificação das discussões atinentes às políticas curriculares no cenário educacional brasileiro num esforço de considerar a pluralidade de referenciais teóricometodológicos a compor consistentemente as noções de docência e de prática curricular no campo Por sua vez um número especial da Revista Ecurriculum Volume 12 nº 3 apresentou a chamada Debates em torno da ideia de bases curriculares nacionais coordenada por Elizabeth Macedo UERG e Maria Luiza Sussekind UNIRIO O dossiê voltavase ao contexto de aprovação do Plano Nacional de Educação pois com a justificativa de que o plano faz menção a uma Base Nacional Curricular Comum o MEC intensificou e deu maior publicidade a um debate que já vinha travando em diferentes esferas e que já produziu um documento base assinado pela SEB MACEDO SUSSEKIND 2014 p 1460 Nos anos de 2015 2016 2017 e 2018 a Currículo sem Fronteiras e a Revista Teias também passaram a reservar cada uma um número especial anual à ABdC e grande parte dessa produção é marcada pela crítica às formas de controle que a política de base comum passa a materializar no país ALVES 2014 Até 2018 a ABdC fez circular via dossiês 185 artigos apresentados na forma de ensaios e resultados parciais ou finais de pesquisas Sem a garantia de uma história intelectual verticalizada como nos adverte Pinar 2007 as pesquisas no campo mais recentemente vêm questionado ficções de verdade que tentam estabilizar interpretações de currículo hegemonizar o que significa educar e justificar processos de centralização e controle Boa parte delas se dedica a lidar com essa questão voltandose às singularidades dos contextos educativos outras se detêm sobre as políticas enquanto parte não menos significativa se interessa pelo escopo teórico dessa discussão Por diferentes vias em comum afirmam currículo como uma prática cultural imbricada por relações de toda ordem e chamam a atenção para o papel que a centralidade da cultura exerce nos processos de regulação social Seguindo o escopo dessa produção o que estamos denominando como virada cultural conservadora neste número da Revista Currículo sem Fronteiras tem nos confrontado especialmente pela defesa de universalismos baseados em crenças religiosas morais étnicas biologicistas sexistas de classe etc Por ela se manifesta um crescente fundamentalismo nas posições e discursos socialmente circulantes que se fazem perceber pelo sensível aumento de adesões a crenças e certezas que dispensam o confronto com dados de pesquisa fontes e fatos ou mesmo o apontamento de contradições A busca por uma sociedade perfeita segundo determinados valores culturais permite notar traços de apelos fundamentalistas em propostas políticas educacionais e atores do processo educativos como nos fazem refletir Gallo e VeigaNeto a partir do filme The Village3 de 2004 Hoje pensando sobre o que interrogavam os organizadores da obra podemos traçar novas reflexões sobre o modo como vieram se aproximando determinados fundamentalismos e o conservadorismo no campo educacional sobretudo em torno dos currículos Nos dossiês organizados pela ABdC ao longo dos últimos seis anos e em parceria com as revistas mencionadas percebemos desdobramentos e acirramentos daquilo que conserva ou intenta conservar padrões sentidos e formatos de sociedade na economia e na cultura sobretudo O mote da padronização curricular disparado por lógicas de mercado eou pelas gramáticas A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 815 contemporâneas do capitalismo consolidouse mais recentemente como o traço mais expressivo da Base Nacional Comum Curricular BRASIL 2017 Simultaneamente e de certa forma também como anseio à padronização o movimento Escola sem Partido baseado na defesa de uma lei contra o abuso da liberdade de ensinar4 vem sendo projetado por grupos religiosos ultraconservadores de maneira que como pondera Macedo 2018 0 04 suas às vezes tragicômicas reivindicações precisam ser compreendidas como uma rede mais complexa de demandas ou como um projeto bem mais consequente do que parece Ambas as investidas BNCC e ESP consistem em tentativas de silenciar as singularidades e diferenças nos e dos currículos a partir da institucionalização de cerceamentos ao pluralismo cultural e à liberdade de pensamento na docência como temos acompanhado em alguns municípios e estados Analisando este cenário Lopes 2019 considera que a guinada à direita se processa a partir das manifestações de junho de 2013 Aí entra em curso a articulação de demandas antipolítica no país que possibilitam a criação de grupos conservadores em boa medida dedicados a ação política reacionária como o Movimento Brasil Livre MBL Para a autora compreender esse cenário político implica investigar e debater a articulação discursiva que busca modificar um registro educacional e desse modo uma cultura 2019 p 04 Homing schooling militarização das escolas públicas ataques a Paulo Freire às perspectivas de gênero e sexualidade à cultura negra e suas formas de religião assim como a destituição de direitos com a nova previdência social que afeta duramente osas professoresas são projeções da virada cultural conservadora No campo educativo a virada substantivase pela promoção da desconfiança sobre a capacidade de socialização e de formação da escola pública interpretada como ameaça à integridade das crianças dos jovens da família Para Lopes 2019 o movimento que leva Bolsonaro à presidência consiste numa fantasia na acepção lacaniana que longe de ser a expressão de um projeto para o país longe de conter a plenitude de qualquer algo em si de poder realizála foi capaz de condensar reivindicações diferenciais destacadas como alternativas a um futuro de horror5 Operando com a teoria do discurso e portanto com a perspectiva de que o terreno do social é político porque constituído por um antagonismo inerradicável LACLAU 2000 ela LOPES 2019 p 02 explica como na base da articulação conservadora se tornaram equivalentes demandas diferenciais que se antagonizam com o que vem sendo denominado marxismo cultural A autora pontua que no combate ao marxismo cultural o atual quadro de crítica às universidades como instituições públicas é uma crítica à própria ideia de Universidade vinculada às Ciências com destaque para a crítica às Ciências Humanas e Sociais e à intelectualidade Idem Nos dossiês da ABdC o realce a este cenário cada vez mais brutalizado é feito inicialmente em 2015 mas ganha centralidade em 2017 com a chamada temática O avanço do conservadorismo nas políticas curriculares6 Soares e Frangella 2015 apresentaram o número destacando como estas questões ganham expressiva visibilidade nos debates sobre currículos por conta de novas constelações de forças que vão constituindo o cenário político e educacional brasileiro Pontuaram a pressão e a atuação de grupos conservadores no legislativo que se estendem a toda sociedade tentando proibir através dos ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 816 planos nacional estaduais e municipais de educação a discussão nas escolas sobre questões de gênero sexualidade religiosas e outras dinâmicas de opressão e discriminação considerandoas ideológicas e contra as famílias e a ordem social Ao mencionarem a iniciativa do governo federal em relacionar a Base Nacional Comum Curricular BNCC para a Educação Básica inserida no PNE ponderaram como o nacional aí figura como marco regulatório E o que se desdobra disso é que o comum a todos vai se transmutando em único e aí cabe a questão há espaço para a diferença Andrade 2015 por sua vez ao discutir a relação entre os Movimentos Sociais a educação e a questão da diferenças questão avultada naquele momento lançou mão de metáforas da física e de argumentos filosóficos e sociológicos para pôr em tensão a ideia mesma de movimento e indagar se os Movimentos Sociais estão suficientemente fortes para enfrentar o conservadorismo crescente em nossas sociedades Thiessen e Gomes 2016 p 01 abriram o dossiê dedicado a discutir o avanço do conservadorismo nas políticas curriculares chamando a atenção para como por sua importância em relação a todo o contexto social o contexto educacional não escapa das estratégias e ações retrógradas que contribuem para reforçar o viés conservador no campo educacional A Medida Provisória nº 7462016 que reformulou drasticamente o Ensino Médio foi ressaltada como resultado da ação centralizadora e autoritária que desconsidera o debate e as contribuições do campo educacional nos últimos 20 anos Idem e que volta ao cenário brasileiro no governo Temer Carvalho Sales e Sá 2016 se dedicaram a discutir na emergência de um atual espírito do tempo conservador que sucede tempo de anúncios de inovação e as ressonâncias dessa emergência nas narrativas curriculares p11 como uma onda conservadora se pôs a clamar por bases curriculares Suas análises da política nacional operaram com três exemplos ilustrativos do viés conservador em ascensão Um deles de dimensão teórica o Conhecimento Poderoso defendido entre outros pelo britânico Michel Young e dois eventos específicos um brasileiro a tentativa de retorno ao método fônico de alfabetização na prefeitura municipal de SalvadorBahia e outro português um olhar sobre o Processo de Bolonha em Portugal o exemplo da Universidade do Minho na cidade de Braga p12 Já Salvino e L Macedo 2016 propuseram uma análise dos significados de democracia na reconstrução do currículo de Pedagogia UEPBcampus I num momento em que as políticas educacionais refletem um avanço do conservadorismo realinhado ao neoliberalismo afetando de forma mais insidiosa as identidades historicamente discriminadas em função de diferenças culturais Centrandose igualmente nas questões da diferença Guedes 2016 discutiu o avanço do conservadorismo no currículo da rede municipal de educação da cidade de Teresina Piauí a partir do Projeto de Lei nº 202016 aprovado pela Câmara Municipal e que trata da proibição de livros materiais didáticos ou qualquer outro meio contendo ideologia de gênero nas Escolas Infantis do município de Teresina Na mesma linha Oliveira 2016 apresentou resultados de uma pesquisa em que focou os deslocamentos de sentidos nos discursos conservadores nas políticas curriculares Ela se apoiou na teoria do discurso TD de Laclau e Mouffe para discutir como as cadeias discursivas do sacerdócio docente se antagonizam à de profissionalização docente e defender A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 817 que os significantes que dão sustentação às práticas discursivas docentes operam por deslocamentos que subjetivam e são subjetivados em suas tentativas de projetar um eu para o professor Saul e Garcia 2016 abriram o dossiê alinhado ao tema da campanha Aqui Já Tem Currículo lançada pela Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Educação ANPEd na celebração dos seus 38 anos Eles reforçaram a urgência da luta pela democratização da educação da pesquisa e de variadas ações em diferentes âmbitos como resistência às ameaças de privatização e conservadorismo no cenário educacional J Sepulveda e D Sepulveda 2016 apresentaram pesquisa sobre as práticas e as políticas curriculares de inclusão e o direito à diferença em uma escola pública do Estado do Rio de Janeiro que tinha como ponto de tensão a questão dos comportamentos de gênero Com Thompson tensionaram leituras ortodoxas do conceito de conservadorismo para apresentar uma reflexão desta problemática no atual contexto conservador no Brasil e reclamar a luta por políticas de currículo que defendam o direito às diferenças não pode ser reduzida a políticas de inclusão que não privilegiam todas as diferenças O artigo de Andrade e Pischetola 2016 avivou as disputas entre o então deputado federal Jair Bolsonaro e a Revista Nova Escola examinando como as redes sociais potencializam o ódio contra identidades socialmente discriminadas em sociedades multiculturais Para o autor a mistura de conservadorismo assumido e a alta popularidade nas mídias aparecem como um novo e inquietante fenômeno da política brasileira p 1383 Paraíso 2016 buscou explicar as estratégias de poder usadas por grupos reacionários do Brasil para controlar os currículos e proibir a discussão de gênero e sexualidade na escola que se disseminam como subordinação ao velho princípio da identidade universal e como ódio às diferenças de gênero e sexualidade Para a autora tal problemática demanda de nós uma resistência que seja inventiva sem nos desviarmos em nenhum momento das práticas de afirmação da vida uma resistência como força que mobiliza e cria possíveis Ao discutir a questão da diferença na pesquisa de base pósestrutural Ribeiro 2016 pôs em suspenso a questão da diversidade Explicou que nos usos de tais termos diferença e diversidade se processa na atualidade um tipo de normatividade de difícil percepção porque caminha com um moralismo que vem se tornando lugar comum no Brasil A discussão se encarrega de demonstrar que tais operadores textuais controlam e estabelecem finalidades muito distintas p 552 Em 2017 Saul e Gandin 2017 apresentaram um dos dossiês7 afirmando que O momento que vivemos atualmente é um daqueles em que é premente afirmar o princípio e a vivência da democracia na educação uma vez que o crescimento da aliança entre grupos neoconservadores e neoliberais e suas investidas no campo têm sido cada vez mais visíveis Michael Apple 2017 participa da mesma edição exaltando o viés crítico da luta pela democracia na educação como o que mantém os sujeitos vigilantes contra as narrativas que apontam as perspectivas conservadoras como inevitáveis Já Ferraço e Amorim 2017 abriram uma edição com o tema Micropolítica Democracia e Educação8 fazendo um alerta para o perigo representado pela atual derrocada mundial das esquerdas provocada pela ascensão ao poder de forças macropoliticamente reacionárias e micropoliticamente reativas ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 818 e conservadoras forçandonos a pensar que por exemplo não basta entenderanalisar os efeitos das macropolíticas na Educação p 05 Saraiva e Vargas 2017 conferem relevo aos perigos do Escola sem Partido ESP como disseminação da criminalização da ação docente problemática muitas vezes citada nos artigos aqui em destaque Concebendo a potência da noção derridiana de rastro Gabriel 2017 propôs uma outra interpretação para o significante conteúdo escolar como saída teórica para continuarmos operando com esse termo na produção de leituras políticas do campo sem reafirmar lógicas binárias e dicotômicas A autora ponderou a urgência de um posicionamento nessas lutas dado ao avanço galopante de um projeto de sociedade conservador antidemocrático sem compromisso com a coisa pública estampado nas recentes propostas governamentais de reformas curriculares Borges 2017 debruçou se igualmente nas disputas em torno do conhecimento escolar central no dossiê organizado por Macedo e Gabriel 2017 para pôr em evidência as vozes discentes sobre uma Escola Sem Partido num momento em que Ressurgem antigos e novos projetos de sociedade uns calcados no conservadorismo extremo outros num proselitismo sem fim por meio do qual reverberamse as ideias de neutralidade e cientificidade modelos salvíficos para a educação das infâncias e juventudes calcados no conhecimento como panaceia dos problemas da educação p618 A discussão de Oliveira 2017 ressaltou a atuação das intelectuais negras no campo da educação tendo como escopo sua produção acadêmica e os vínculos com a luta pela implementação e acompanhamento da legislação voltada para educação antirracista Silva 2017 p 702 por sua vez avaliou que o cenário político em projeção tornou relevante examinar os modos como as políticas curriculares são cada vez mais dirigidas por racionalidades neoliberais e neoconservadoras obstaculizando a composição de uma governança escolar democrática Ele lançou mão de noções como emocionalização algoritmização e personalização dos itinerários formativos como dispositivos de customização curricular na política curricular Na abertura de dossiê sobre Inclusão escolar e currículo9 Mendes e Silva 2018 p 04 assinalaram que as agendas conservadoras tanto no âmbito das políticas educacionais como nas políticas curriculares têm tomado como alvo principal o debate em torno das ações voltadas à constituição de espaços inclusivos e seu públicoalvo Avaliam que se a inclusão escolar tornouse uma narrativa mundial amplamente aceita ela se processa pouco questionada quanto as articulações que faz circular Noutro dossiê organizado por Lopes e Delboni 2018 com o tema O Currículo e seus Desafios na Escola Pública práticas políticas e atores Aguiar 2018 problematizou o processo de formulação da Base Nacional Comum Curricular BNCC no contexto das políticas direcionadas à Educação Básica durante os governos dos presidentes Dilma Rousseff e Michel Temer No artigo ganhou destaque a desconfiguração da Educação Básica pela apresentação da terceira Versão da BNCC restrita à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental dadas as pressões externas de setores conservadores A autora analisou neste prisma como foram excluídas da política as referências às questões de gênero e orientação sexual bem como questões do ensino religioso p 735 Macedo e Ranniery 2018 teorizaram a questão da diferença e a ideia de público nas políticas de currículo mobilizando sofisticado referencial pósfundacional e pós A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 819 estrutural estudos feministas e queers complicados por perspectivas neomateriais e pós humanas no enfrentamento das políticas de controle e do cenário em que ganham força projetos como o ESP Propuseramse a entender a ideia de políticas públicas em currículo como redes intersubjetivas multiplamente localizadas argumentado que as políticas para serem públicas precisam se comprometer com o processo de diferenciação e ter em conta relações concretas O artigo de Santos Moreira e Gandin 2018 apresentou uma análise crítica dos processos educacionais e curriculares realçados como complexos e contraditórios vividos por escolas públicas situadas em periferias urbanas em territórios marcados pela vulnerabilidade e segregação social A motivação do texto foi a afirmação contundente de profundas crises políticas econômicas no cenário global e nacional que têm feito ressurgir políticas e sentimentos da Nova Direita tal como Apple a entende ou uma combinação de grupos neoconservadores e neoliberais na disputa pelo projeto de formação dos sujeitos GarciaReis e Godoy 2018 analisaram a concepção de leitura e ensino de leitura nos anos iniciais do ensino fundamental na Base Nacional Comum Curricular homologada em dezembro de 2017 As autoras afirmam que embora a BNCC adote uma perspectiva enunciativodiscursiva de linguagem ela se constitui no âmbito da restauração conservadora com uma política de mercado operando como uma política de conhecimento oficial No escopo dessa produção também podem ser contabilizados os esforços de discussão e problematização da virada neoconservadora assumidos por dissertações e teses dedicados à questão curricular Não temos dúvidas de que uma investigação da temática no período em que a ABdC passou a propor os dossiês em programas de pósgraduação no campo ou na área da Educação poderão oferecer um desenho mais contundente das preocupações e das respostas a este momento que tal como o tsunami de Hokusai estamos a enfrentar Há muito trabalho a ser feito para dar visibilidade a essa produção política pois seguimos com a pesquisa seguimos enfrentando A pesquisa curricular problematizações lutas atuais criações e resistências Este número especial da Revista Currículo sem Fronteiras segue os rastros de uma temática que veio nos últimos seis anos e como este breve levantamento dos dossiês da ABdC aponta se tornando tão mais frequente quanto o cenário político econômico e social passou a exigir das pesquisas no campo do currículo Os artigos neste Dossiê podem ser lidos como propomos num crescente Assim os abordarmos a partir da contextualização e destaque dos subterrâneos e nuances que alimentam o cenário no qual o conservadorismo avança e se alia ao ultraliberalismo no Brasil em particular mas como fenômeno que ignora muitas fronteiras e mostra sua faceta em outros países da América Latina e na Europa com força também em países orientais Em seguida trazemos os artigos que discutem os desdobramentos dessa influência política e cultural em distintos aspectos e áreas e campos do debate educacional Por fim entram em cena os artigos que exploram as brechas e criações que se fazem diante da onda conservadora em movimentos microbianos nem sempre ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 820 intencionais de enfrentamento ou multiplicação dos possíveis Também podem ser lidos individualmente ou em ordens outras pois como nossas pesquisas ao logo dos dossiês propostos pela ABdC desde 2014 apontam criamos formas de resistir e existir mesmo antes de termos mais nítidas as alianças e os rumos que nos levariam ao momento que atravessamos hoje em 2019 Por vezes também poderemos notar pela época de produção de uma pesquisa que o que se descortinou como o que temos chamado de Tsunami conservador já apresentava sintomas em determinadas áreas e contextos podendo esse contágio ter se dado a partir de pequenas feridas quase imperceptíveis Seja qual for a ordem e composição das leituras os artigos aqui reunidos buscam contribuir para nossas reflexões e instigar outras interrogações que nos provoquem a continuar em movimento remando dropando tubos ou quiçá furando as ondas que se levantarem à nossa frente O artigo que abre o dossiê Padrãopolítica fincando prioridade e propriedade no terreno educacional trabalha com uma metáforaanálise inspirada nos os marcos do Descobrimento da expansão marítima da Coroa Portuguesa para discutir a tendência de padronizaçãoestandardização percebida nas políticas públicas curriculares contemporâneas que segundo a abordagem feita por Frangella 2019 se erigem como padrões No artigo a autora propõe problematizar a ideia que tem se difundido como justificativa às políticas de que é possível a definição de marcos precisos na delimitação do que seria para que deveriam servir os conhecimentos no currículo Explora ainda a relação entre esses padrões e uma polarização entre ciência e cultura em um diálogo com referenciais póscoloniais e pós fundacionais Abordando os efeitos de políticas regulatórias de educação na organização do trabalho escolar o artigo de Rosa 2019 neste Dossiê Políticas regulatórias subjetividade e os entraves à democracia na escola pública brasileira contribuições à pesquisa curricular explora a construção de novas subjetividades profissionais no funcionamento dos mecanismos de controle e poder que configuram as formas contemporâneas de Gestão Pública Partindo de pesquisa realizada em rede municipal de ensino do ABC Paulista aponta a existência de traços conservadores e autoritários da sociedade brasileira que teriam relação com o modo como nas palavras do autor professores e gestores têm lidado com esse novo paradigma de gestão pedagógica e do currículo na escola pública o que se faz agravado pelo tom competitivo das práticas gerencialistas Busca com sua discussão ampliar as compreensões quanto aos desafios a serem enfrentados pelas pesquisas curriculares frente ao conservadorismo Adentrando mais incisivamente no tema dos impactos do conservadorismo no currículo escolar Sepulveda e Sepulveda se debruçam sobre uma das marcas indeléveis desse impacto que se refere ao modo como movimentos conservadores organizados influenciaram a emergência de um novo status para a disciplina escolar Ensino Religioso Os autores argumentam que dentre outras artimanhas essa influência cresceu alimentando o enfrentamento contra o fictício fantasma da ideologia de gênero Aprofundando a discussão sobre o conceito de conservadorismo e investigando o que entendem apontar para sua presença em uma escola pública do estado do Rio de Janeiro concluem que a luta no A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 821 campo educacional pela laicidade se coloca como um necessário instrumento diante do avanço do conservadorismo na defesa por uma sociedade democrática O artigo de SANTOS Qual é o lugar da formação humana nas políticas curriculares contemporâneas segue a linha de discussão em torno dos significantes vazios nas políticas educacionais endereçadas à Educação Básica a partir da Base Nacional Comum Curricular BNCC Problematizando os sentidos de crise e qualidade na educação que estão na base dos discursos reformistas e que se entrecruzam com sentidos como formação humana e humanismo chama atenção para uma virada do pensamento pedagógico que se antagoniza principalmente ao discurso da decodificação das habilidades e competências atualmente emergente nas políticas de currículo para EB Com isso a autora busca dar a ver articulações envolvidas no processo de significação de currículo como política cultural Ainda explorando aportes pósestruturais e pósfundacionais para a teorização curricular pautada na defesa da pluralidade e da diferença o texto de Pereira 2019 que compõe o conjunto de artigos nesse Dossiê assume os efeitos da chamada virada cultural conservadora que estamos a enfrentar como desafios que podem ser encarados a partir de uma postura desconstrucionista inspirada pelo pensamento derridiano que leve a uma reflexão implacável sobre certezas reafirmadas pela teorização curricular Aposta no que denomina como vazio normativo como necessário ao processo de construção democrática entendida como devir Marinho Leite e Fernandes permitem com seu texto trazer para este dossiê a percepção de que muito do que atravessamos no Brasil hoje e que acomete as políticas curriculares está no bojo de um processo mais amplo que se espraia através de lógicas de padronização Aproveitandose da sigla formada pela denominação da análise desse movimento investigam e discutem o GERM Global Educational Reform Movement que vem infeccionando as políticas e o antídoto de uma medida política associado a uma contracultura ao GERM infecioso das políticas globais Demostram simultaneamente o que julgamos poder ser a contribuição do conjunto de artigos nesse dossiê analisar o contexto e suas graves implicações ao mesmo tempo em que identificam caminhos eou alternativas em curso que boicotam ou ao menos amenizam os danos O segundo conjunto de artigos iniciase com o texto de Hugo Santos intitulado A evolução da diversidade sexual no currículo escolar português da revolução dos cravos ao neoconservadorismo Nele o autor aponta que as políticas públicas de educação e o currículo são o centro nevrálgico das lutas contra os ataques às questões de gênero e sexualidade que se alimentam no neoconservadorismo Colocando em debate a evolução da diversidade sexual no currículo escolar português busca apontar quais as condições que permitiram a emergência dessa discussão e os desafios que se colocam frente às investidas contra direitos LGBTI no currículo Retornando ao tema do ensino religioso e os currículos Gonçalves e Almeida analisam o que se coloca como currículo com a entrada da disciplina Ensino Religioso no texto da BNCC Buscam abordar camuflagens e infiltrações neste processo expondo uma dialética entre secularização e laicidade no interior de contextos históricos culturais e políticos Com isso o artigo contribui para ser mais uma peça no mosaico que se desenha no atual contexto ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 822 político e dos conflitos em torno das políticas curriculares Ainda no tema das disputas curriculares Farias e Dias interrogam os discursos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação TIC na América Latina frente a potencial apropriação de movimentos educacionais conservadores As autoras procuram interpretar sentidos produzidos nas políticas de currículo envolvendo as TIC para as escolas e como seus discursos vêm significando nos textos políticos da IberoAmérica a docência e a aprendizagem Concluem que há uma tentativa de controle docente e discente via processos de avaliação centralizadores que se disseminariam via discurso da sociedade do conhecimento O artigo de Silva e Paula BNCC do ensino médio e trabalho pedagógico da escola propostas da audiência pública de Brasília apresenta estudo realizado durante a fase de elaboração do Parecer final do texto da Base e procura tecer reflexões quanto às implicações da BNCC do Ensino Médio no trabalho pedagógico da escola e na construção do conhecimento Aponta tais implicações a partir de estudo realizado sobre as audiências públicas organizadas nas cinco regiões do país como estratégia de legitimação do texto junto à sociedade civil A discussão é desenvolvida com base nos dados produzidos através da observação das audiências e nos documentos entregues ao Conselho Nacional de Educação pelas entidades contendo notas avaliações técnicas e moções ao texto inicial Adentrando as discussões sobre o currículo no Ensino Médio no artigo BNCC e o currículo de história interpretações docentes no contexto da prática Silva Santos e Fernandes 2019 tratam das tentativas de normatização do currículo para o Ensino Médio analisando segundo a abordagem assumida o modo como os professores de História interpretam as implicações da BNCC para o currículo de História trazendo suas perspectivas no tocante às implicações que a BNCC poderá trazer para o currículo de História no contexto da prática O terceiro e último conjunto de textos reúne artigos que partindo de investigações em torno da criação eou das possibilidades de resistência e alternativas ao contexto como também de suas implicações faz o movimento que a metáfora das pequenas embarcações enfrentando a Grande onda nos sugere ser necessário diante de nossas análises de um cenário nada promissor É assim que o texto de Alves Ferraço e Gomes que tem por título Os cotidianos espaçostempos de resistência e criação busca afirmar a potência dos cotidianos diante das agendas de liquidação do social presentes no Brasil e no mundo aliadas que estão às políticas de transcendência opressora e de diminuição da vida que incluem os mecanismos de normalização controle servidão e de tentativa de anulação da diferença que se alojam nos organismosinstituições e que se fazem cada vez mais avassaladoras nas escolas Chamam atenção contudo para o fato de que por mais avassaladoras que pareçam ou de fato sejam não são essas políticas e seus efeitos totalitários por serem frequentemente tensionados e desviados pela das práticas cotidianas a reinventar a vida Em uma linha muito próxima o artigo de Carvalho trata a estética da experiência de educar e procura problematizar o conservadorismo político em suas implicações para a educação no Brasil atual trabalhando com imagens capturadas na internet a partir de pesquisa desenvolvida em redes de conversações A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 823 O artigo de Soares Paiva e Silva Escolas em devir fabulações com vídeos em ocupações compartilhados na internet e criação de outros currículos traz reflexões produzidas a partir de vídeos sobre as ocupações de escolas públicas em 2016 que foram produzidos por estudantes e capturados no YouTube e em rede social Abordando o movimento de ficcionar sobre si sobre as escolas e sobre os currículos reflete acerca dessas produções enquanto possibilidades de uso do que estaria posto e do que é imposto aventando micropolíticas cotidianas potentes para a criação de outrosnovosmúltiplos currículos Cappelletti e Feeney ao analisarem o currículo proposto para a educação de Jovens e Adultos na Argentina Buenos Aires abordam três aspectos da política curricular a adoção de um enfoque mais participativo na construção do desenho e do texto curricular que dele resulta a recuperação de um conjunto de normas do Conselho Federal de Educação Argentina no marco de políticas educativas que deram impulso ao direito à educação a adoção de critérios curriculares que promovem a integração de campos de conhecimento a definição contextualizada de conteúdos e a flexibilização curricular com a intenção de atender a especificidade dos sujeitos jovens e adultos A seguir Garcia e Maldonado se propõem a problematizar alguns discursos filosóficos sobre a infância que projetam nos currículos corpos infantis ao futuro reforçados por artefatos culturais que acabam por contribuir para esse objetivo Ao mesmo tempo buscam demostrar como as crianças criam possibilidades outras atravessando e ocupando o domínio do instituído e trazendo novos modos de ser e de estar na escola O artigo de Backes traz uma importante discussão no bojo das lutas políticas e culturais que se colocam como desafios frente ao conservadorismo crescente e seus desdobramentos ao tratar da Luta política para a construção de currículos interculturais e decoloniais pelos indígenas tal como se intitula seu texto Trabalha com a percepção de professores indígenas com mestrado em Educação sobre conquista protagonismo e resistência de seus povos para construção de um currículo intercultural e decolonial Traz a partir de suas colocações a percepção de que a existência como povo cultura e identidade dos indígenas se deve à sua histórica luta em não se dobrarem à lógica ocidental Entendemos que por intermédio deste amplo escopo de trabalhos de filiações teórico metodológicas distintas o Dossiê A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política expressa a defesa da educação em todos os níveis e modalidades de ensino uma vez que significa a pesquisa no campo curricular como a possibilidade de dilatar a compreensão do caráter público da educação necessariamente plural e democrático Fazer circular as pesquisas no campo curricular é também lidar com o obscurantismo na ciência na academia na Educação e mesmo na vida é gerar oportunidade de politizar o atual cenário É assim que este Dossiê se soma aos esforços das entidades de classe e associações científicas dentre elas e especialmente a Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação ANPEd que forçosamente têm intensificado suas agendas na defesa da manutenção da esfera pública de formação escola e universidade e de pesquisa universidades agências de regulação e fomento como a CAPES e o CNPq como instituições fundamentais à sociedade democrática ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 824 Esperamos com alegria e desejos de força para a luta que os artigos aqui apresentados possam se somar aos incontáveis esforços e ações empreendidos por pesquisadores estudantes de pósgraduação e graduação no Brasil e naqueles lugares em que as preocupações curriculares se colocam Uma ótima leitura Notas 1 Xilogravura Katsushika Hokusai 18301832 2 Em outubro de 2019 a reunião da ABdC na 39ª Reunião Nacional da ANPEd aprovou uma parceira com mais duas revistas nacionais do campo a SérieEstudos periódico do Programa de PósGraduação em Educação da UCDB MS e a Revista Espaço do Currículo organizada pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Curriculares GEPPC da UFPB 3 The Village A vila filme escrito por M Night Shyamalan e dirigido em 2004 nos Estados Unidos 4 httpswwwprogramaescolasempartidoorg 5 Lopes 2019 explica que o bolsonarismo constitui sua força no pleito à presidência do país em 2018 como a representação do combate a um inimigo o Partido dos Trabalhadores De tal forma este nome bolsonarismo passa a condensar inúmeras demandas desejosas de eliminar ideias conquistas perspectivas teóricas agendas e lutas identificadas com o Partido 6 Revista Teias v 17 n 47 OutDez 2016 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasissueview1347 7 Com o tema 50 anos da Pedagogia do oprimido ler a realidade e construir a esperança 8 A chamada do dossiê foi feita pela Revista Teias v 18 n 51 2017 9 Seção temática inclusão escolar e interrogações curriculares adaptar modificar diferir na Revista Teias v 19 2018 Referências AGUIAR Márcia Angela da S Política educacional e a Base Nacional Comum Curricular o processo de formulação em questão Currículo sem Fronteiras v 18 n 3 setdez p 722738 2018 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol18iss3articlesaguiarpdf ALVES Nilda Sobre a possibilidade e a necessidade curricular de uma base nacional comum Revista e Curriculum São Paulo v 12 n 03 outdez p 1464 1479 2014 Disponível em httpsrevistaspucspbrcurriculum ANDRADE Marcelo Movimentos sociais educação e diferenças definições analíticas e equivalentes práticos Currículo sem Fronteiras v 15 n 3 p 816831 setdez 2015 Disponível em wwwcurriculosemfronteirasorg ANDRADE Marcelo PISCHETOLA Magda O discurso de ódio nas mídias sociais a diferença como letramento midiático e informacional na aprendizagem Revista eCurriculum São Paulo v14 n04 outdez p 13771394 2016 Disponível em httpsrevistaspucspbrindexphpcurriculumarticleview30015 APPLE Michael W A luta pela democracia na educação crítica Revista eCurriculum São Paulo v15 n4 setdez p 894893 2016 Disponível em httpsrevistaspucspbrcurriculumarticleview3553024420 A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 825 BORGES Luís Paulo Cruz O conhecimento escolar em disputa vozes discentes sobre uma Escola Sem Partido Currículo sem Fronteiras v 17 n 3 setdez p 617632 2017 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol17iss3articlesborgespdf BRASIL Ministério da Educação do Brasil Secretaria de Educação Básica Base Nacional Comum Curricular Brasília SEBMEC 2017a Disponível em httpbasenacionalcomummecgovbrimagesBNCCpublicacaopdf CARVALHO Maria Inez SALES Marcea Andrade SÁ Maria Roseli Gomes Brito de Os sinos dobram por nós o mundo o Brasil e as narrativas curriculares dos últimos tempos Revista Teias v 17 n 47 outdez p 0520 2016 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview25864 FERRAÇO Carlos Eduardo AMORIM Antônio Carlos Micropolítica democracia e educação Teias v 18 n 51 outdez p 0513 2017 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview31634 GABRIEL Carmen Teresa Conteúdorastro um lance no jogo da linguagem do campo curricular Currículo sem Fronteiras v 17 n 3 setdez p 515538 2017 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol17iss3articlesgabrielpdf GALLO Silvio VEIGANETO Alfredo Org Fundamentalismo Educação Belo Horizonte Autêntica 2009 GARCIAREIS Andreia Rezende GODOY Ariane Rodrigues Gomes Leite O ensino de leitura nos anos iniciais do ensino fundamental a proposta da Base Nacional Comum Curricular Currículo sem Fronteiras v 18 n 3 setdez p 10251043 2018 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol18iss3articlesreisgodoypdf GUEDES Neide Cavalcante O discurso sobre gênero no currículo do município de Teresina reinvenção do conservadorismo Revista Teias v 17 n 47 outdez p 5974 2016 Disponível em fileDDownloads25922855821PBpdf LOPES Alice Casimiro Articulações de Demandas Educativas ImPossibilitadas pelo Antagonismo ao Marxismo Cultural Arquivos analíticos de políticas educativas v 27 n 109 set p 0121 2019 Disponível em fileDDownloads4881198951PB202pdf LOPES Alice Casimiro DELBONI Tania O Currículo e seus Desafios na Escola Pública práticas políticas e atores Currículo sem Fronteiras v 18 n 3 p 719721 setdez 2018 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol18iss3articlesapresentacaopdf MACEDO Elizabeth Fernandes GABRIEL Carmen Teresa Currículo e conhecimento Currículo sem Fronteiras v 17 n 3 setdez p 617632 2017 Disponível em wwwcurriculosemfronteirasorg MACEDO Elizabeth Repolitizar o social e tomar de volta a liberdade Educação em Revista Belo Horizonte v34 p 0115 2018 Disponível em httpwwwscielobrscielophpscriptsciabstractpidS0102 46982018000100302lngptnrmiso MACEDO Elizabeth RANNIERY Thiago Políticas públicas de currículo diferença e a ideia de público Currículo sem Fronteiras v 18 n 3 setdez p 739756 2018 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol18iss3articlesmacedorannierypdf MENDES Geovana Mendonça Lunardi SILVA Fabiany de Cássia Tavares Apresentação da seção temática inclusão escolar e interrogações curriculares adaptar modificar diferir Revista Teias v 19 n 55 outdez p 0406 2018 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview3863827278 OLIVEIRA Iris Verena Escrevivêcias e limites da identidade na produção de intelectuais negras Currículo sem Fronteiras v 17 n 3 setdez p 633658 2017 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol17iss3articlesoliveirapdf ÉRIKA V R DA CUNHA e ALEXANDRA GARCIA 826 OLIVEIRA Veronica Borges de Discursos conservadores nas políticas curriculares do sacerdócio à profissionalização docente Revista Teias v 17 n 47 outdez p 7590 2016 Disponível em httpswwwepublicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview25973 PARAÍSO Marlucy Alves A ciranda do currículo com gênero poder e resistência Currículo sem Fronteiras v 16 n 3 setdez p 388415 2016 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol16iss3articlesparaisopdf PARAÍSO Marlucy Alves Silva Sandra Kretli da Perspectivas teóricas das pesquisas em currículo Currículo sem Fronteiras v 16 n 3 p 542558 setdez 2016 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol16iss3articlesapresentacaohtm PETRUCCIROSA M I ALMEIDA M E B Práticas curriculares e docência em distintos contextos Apresentação da seção temática Currículo sem Fronteiras v 14 2014 RIBEIRO William de Goes Remobilizando a pesquisa com o pósestruturalismo quando a diferença faz toda a diferença Currículo sem Fronteiras v 16 n 3 setdez p 542558 2016 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol16iss3articlesribeiropdf SALVINO Francisca Pereira MACEDO Lenilda Cordeiro Democracia que temosqueremos mediante o conservadorismo nas políticas educacionais Revista Teias v 17 n 47 outdez p 2141 2016 Disponível em httpswwwepublicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview2587919202 SANTOS Graziella Souza dos MOREIRA Simone Costa GANDIN Luís Armando Desafios do trabalho escolar e do currículo na escola pública interfaces com o efeito do território periférico Currículo sem Fronteiras v 18 n 3 setdez p 760784 2018 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol18iss3articlessantosmoreiragandinpdf SAUL Alexandre GARCIA Alexandra Políticas e práticas curriculares nas escolas resistindo e re existindo ao poder hegemônico Revista eCurriculum São Paulo v14 n04 outdez p 11841192 2016 Disponível em httpsrevistaspucspbrcurriculumarticleview31278 SAUL Ana Maria GANDIN Luís Armando Democratização da escola em tempos de privação de direitos Revista eCurriculum São Paulo v15 n4 outdez p 887893 2017 Disponível em httpsrevistaspucspbrcurriculumarticleviewFile3554824419 SEPULVEDA José Antônio SEPULVEDA Denize As práticas e as políticas curriculares de inclusão e o direito à diferença Revista eCurriculum São Paulo v14 n04 outdez p 12561287 2016 Disponível em httpsrevistaspucspbrindexphpcurriculumarticleview29593 SILVA Roberto Rafael Dias da Emocionalização algoritmização e personalização dos itinerários formativos como operam os dispositivos de customização curricular Currículo sem Fronteiras v 17 n 3 setdez p 699717 2017 Disponível em httpwwwcurriculosemfronteirasorgvol17iss3articlessilvapdf SOARES Maria da Conceição S FRANGELLA Rita de Cássia Diferença micro e macropolíticas de currículo desconstrução de identidades e produção de diferenças múltiplas perspectivas de abordagem Currículo sem Fronteiras v 15 n 3 p 567574 setdez 2015 Disponível em wwwcurriculosemfronteirasorg THIESSEN Juarez da Silva GOMES Rozana O avanço do conservadorismo nas políticas curriculares Revista Teias v 17 n 47 outdez p 0204 2016 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview2661519200 VARGAS Karla Saraiva Juliana Ribeiro de Os perigos da escola sem partido Teias v 18 n 51 outdez p 6884 2017 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrindexphprevistateiasarticleview3065122833 A pesquisa curricular na virada cultural conservadora desafios impacto e luta política 827 Correspondência Érika Virgílio Rodrigues da Cunha É Doutora em Educação Professora Adjunta do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Rondonópolis PPGEduUFR ORCID httpsorcidorg0000000266485261 Email erikavrcunhagmailcom Alexandra Garcia É Doutora em Educação Professora Associada Procientista UERJ e Jovem Cientista do Nosso Estado FAPERJ professora do Programa de Pósgraduação em Educação processos formativos e desigualdade sociais PPGeduFFPUERJ e do Programa de Pósgraduação em Educação PROPEdUERJ ORCID httpsorcidorg000000018285471X Email alegarcialimahotmailcom Texto publicado em Currículo sem Fronteiras com autorização das autoras