199
Filosofia
UMG
2
Filosofia
UMG
6
Filosofia
UMG
3
Filosofia
UMG
1
Filosofia
UMG
3
Filosofia
UMG
2
Filosofia
UMG
5
Filosofia
UMG
4
Filosofia
UMG
62
Filosofia
UMG
Texto de pré-visualização
Versão eletrônica do livro Discurso do Método Autor Descartes Créditos da digitalização Membros do grupo de discussão Acrópolis Filosofia Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis A distribuição desse arquivo e de outros baseados nele é livre desde que se dê os créditos da digitalização aos membros do grupo Acrópolis e se cite o endereço da homepage do grupo no corpo do texto do arquivo em questão tal como está acima DISCURSO DO MÉTODO Tradução de Enrico Corvisieri PRIMEIRA PARTE INEXISTE NO MUNDO coisa mais bem distribuída que o bom senso visto que cada indivíduo acredita ser tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não costumam desejar possuílo mais do que já possuem E é improvável que todos se enganem a esse respeito mas isso é antes uma prova de que o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso que é justamente o que é denominado bom senso ou razão é igual em todos os homens e assim sendo de que a diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de serem alguns mais racionais que outros mas apenas de dirigirmos nossos pensamentos por caminhos diferentes e não considerarmos as mesmas coisas Pois é insuficiente ter o espírito bom o mais importante é aplicálo bem As maiores almas são capazes dos maiores vícios como também das maiores virtudes e os que só andam muito devagar podem avançar bem mais se continuarem sempre pelo caminho reto do que aqueles que correm e dele se afastam Quanto a mim nunca supus que meu espírito fosse em nada mais perfeito do que os dos outros com freqüência desejei ter o pensamento tão rápido ou a imaginação tão clara e diferente ou a memória tão abrangente ou tão pronta quanto alguns outros E desconheço quaisquer outras qualidades afora as que servem para o aperfeiçoamento do espírito pois quanto à razão ou ao senso posto que é a única coisa que nos torna homens e nos diferencia dos animais acredito que existe totalmente em cada um acompanhando nisso a opinião geral dos filósofos que afirmam não existir mais nem menos senão entre os acidentes e não entre as formas ou naturezas dos indivíduos de uma mesma espécie Mas não recearei dizer que julgo ter tido muita felicidade de me haver encontrado a partir da juventude em determinados caminhos que me levaram a considerações e máximas das quais formei um método pelo qual me parece que eu consiga aumentar de forma gradativa meu conhecimento e de eleválo pouco a pouco ao mais alto nível a que a mediocridade de meu espírito e a breve duração de minha vida lhe permitam alcançar Pois já colhi dele tais frutos que apesar de no juízo que faço de mim próprio eu procure inclinarme mais para o lado da desconfiança do que para o da presunção e que observando com um olhar de filósofo as variadas ações e empreendimentos de todos os homens não exista quase nenhum que não me pareça fútil e inútil não deixo de lograr extraordinária satisfação do progresso que creio já ter feito na procura da verdade e de conceber tais esperanças para o futuro que se entre as ocupações dos homens puramente homens existe alguma que seja solidamente boa e importante atrevome a acreditar que é aquela que escolhi Contudo pode ocorrer que me engane e talvez não seja mais do que um pouco de cobre e vidro o que eu tomo por ouro e diamantes Sei como estamos sujeitos a nos enganar no que nos diz respeito e como também nos devem ser suspeitos os juízos de nossos amigos quando são a nosso favor Mas apreciaria muito mostrar neste discurso quais os caminhos que segui e representar nele a minha vida como num quadro para que cada um possa julgá la e que informado pelo comentário geral das opiniões emitidas a respeito dela seja este uma nova forma de me instruir que acrescentarei àquelas de que tenho o hábito de me utilizar Portanto meu propósito não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão mas somente mostrar de que modo me esforcei por conduzir a minha Os que se aventuram a fornecer normas devem considerarse mais hábeis do que aqueles a quem as dão e se falham na menor coisa são por isso censuráveis Mas não propondo este escrito senão como uma história ou se o preferirdes como uma fábula na qual entre alguns exemplos que se podem imitar encontrarseão talvez também muitos outros que se terá razão de não seguir espero que ele será útil a alguns sem ser danoso a ninguém e que todos me serão gratos por minha franqueza Fui instruído nas letras desde a infância e por me haver convencido de que por intermédio delas poderseia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida sentia extraordinário desejo de aprendêlas Porém assim que terminei esses estudos ao cabo do qual costumase ser recebido na classe dos eruditos mudei totalmente de opinião Pois me encontrava embaraçado com tantas dúvidas e erros que me parecia não haver conseguido outro proveito procurando instruirme senão o de ter descoberto cada vez mais a minha ignorância E contudo estudara numa das mais célebres escolas da Europa onde imaginava que devia haver homens sábios se é que havia em algum lugar da Terra Aprendera aí tudo o que os outros aprendiam e mesmo não havendo me contentado com ciências que nos ensinavam lera todos os livros que tratam daquelas que são reputadas as mais curiosas e as mais raras que vieram a cair em minhas mãos Além disso eu conhecia os juízos que os outros faziam de mim e não via de modo algum que me julgassem inferior a meus colegas apesar de entre eles haver alguns já destinados a ocupar os lugares de nossos mestres E enfim o nosso século pareciame tão luminoso e tão fértil em bons espíritos como qualquer um dos anteriores O que me levava a tomar a liberdade de julgar por mim todos os outros e de pensar que não havia doutrina no mundo que fosse tal como antes me haviam feito presumir Apesar disso não deixava de apreciar os exercícios com os quais se ocupam nas escolas Sabia que as línguas que nelas se aprendem são necessárias ao entendimento dos livros antigos que a gentileza das fábulas estimula o espírito que as realizações notáveis das histórias o fazem crescer e que sendo lidas com discrição ajudam a formar o juízo que a leitura de todos os bons livros é igual a uma conversação com as pessoas mais qualificadas dos séculos passados que foram seus autores e até uma conversação premeditada na qual eles nos revelam apenas seus melhores pensamentos que a eloqüência possui forças e belezas incomparáveis que a poesia tem delicadezas e ternuras deveras encantadoras que as matemáticas têm invenções bastante sutis e que podem servir muito tanto para satisfazer os curiosos quanto para facilitar todas as artes e reduzir o trabalho dos homens que os escritos que tratam dos costumes contêm muitos ensinamentos e muitos estímulos à virtude que são muito úteis que a teologia ensina a ganhar o céu que a filosofia ensina a falar com coerência de todas as coisas e de se fazer admirar pelos que possuem menos erudição que a jurisprudência a medicina e as outras ciências proporcionam honras e riquezas àqueles que as cultivam e enfim que é bom havêlas examinado a todas até mesmo as mais eivadas de superstição e as mais falsas a fim de conhecerlhes o exato valor e evitar ser por elas enganado Mas eu julgava já ter gasto bastante tempo com as línguas e também com a leitura dos livros antigos com suas histórias e suas fábulas Pois quase a mesma coisa que conversar com os homens de outros séculos é viajar E bom saber alguma coisa dos hábitos de diferentes povos para que julguemos os nossos mais justamente e não pensemos que tudo quanto é diferente dos nossos costumes é ridículo e contrário à razão como soem fazer os que nada viram Contudo quando gastamos excessivo tempo em viajar acabamos tornandonos estrangeiros em nossa própria terra e quando somos excessivamente curiosos das coisas que se realizavam nos séculos passados ficamos geralmente muito ignorantes das que se realizam no presente Ademais as fábulas fazem imaginar como possíveis muitos acontecimentos que não o são e até mesmo as histórias mais verossímeis se não mudam nem alteram o valor das coisas para tornálas mais dignas de serem lidas ao menos deixam de apresentar quase sempre as cir cunstâncias mais baixas e menos insignes de onde resulta que o resto não parece tal qual é e que aqueles que norteiam seus hábitos pelos exemplos que deles tiram estão sujeitos a cair nas extravagâncias dos heróis de nossos romances e a conceber propósitos que superam suas forças Eu estimava muito a eloquência e estava apaixonado pela poesia mas acreditava que uma e outra fossem dons do espírito mais do que frutos do estudo Aqueles cujo raciocínio é mais ativo e que melhor ordenam seus pensamentos com o intuito de tornálos claros e inteligíveis sempre podem convencer melhor os outros daquilo que propõem mesmo que falem somente o baixo bretão e nunca hajam aprendido retórica E aqueles cujas invenções são mais agradáveis e que as sabem apresentar com o máximo de floreio e suavidade não deixariam de ser os melhores poetas mesmo que a arte poética lhes fosse desconhecida Deleitavame principalmente com as matemáticas devido à certeza e à evidência de suas razões mas ainda não percebia sua verdadeira aplicação e julgando que só serviam às artes mecânicas espantavame de que sendo seus fundamentos tão seguros e sólidos não se houvesse construído sobre eles nada de mais elevado Da mesma forma que ao contrário eu comparava os escritos dos antigos pagãos que tratam de hábitos a magníficos palácios erigidos apenas sobre a areia e a lama Elevam muito alto as virtudes e as apresentam como as mais dignas de estima entre todas as coisas que existem no mundo mas não ensinam bastante a conhecêlas e freqüentemente o que chamam com um nome tão belo não passa de uma insensibilidade ou de um orgulho ou de um desespero ou de um parricídio Eu venerava a nossa teologia e pretendia como qualquer um ganhar o céu porém tendo aprendido como algo muito certo que o seu caminho não está menos franqueado aos mais ignorantes do que aos mais sábios e que as verdades reveladas que para lá conduzem estão além de nossa inteligência não me atreveria a submetêlas à debilidade de meus raciocínios e pensava que para empreender sua análise e obter êxito era preciso receber alguma extraordinária assistência do céu e ser mais do que homem Nada direi a respeito da filosofia exceto que vendo que foi cultivada pelos mais elevados espíritos que viveram desde muitos séculos e que apesar disso nela ainda não se encontra uma única coisa a respeito da qual não haja discussão e consequentemente que não seja duvidosa eu não alimentava esperança alguma de acertar mais que os outros e que ao considerar quantas opiniões distintas defendidas por homens eruditos podem existir acerca de um mesmo assunto sem que possa haver mais de uma que seja verdadeira achava quase como falso tudo quanto era apenas provável A respeito das outras ciências por tomarem seus princípios da filosofia acreditava que nada de sólido se podia construir sobre alicerces tão pouco firmes E nem a honra nem o lucro que elas prometem eram suficientes para me exortar a aprendêlas pois graças a Deus não me sentia de maneira alguma numa condição que me obrigasse a converter a ciência num ofício para o alívio de minha fortuna e se bem que não desprezasse a glória como um cínico fazia contudo muito pouca questão daquela que eu só podia esperar obter com falsos títulos Por fim no que diz respeito às más doutrinas julgava já conhecer suficientemente o que valiam para não mais correr o risco de ser enganado nem pelas promessas de um alquimista nem pelas predições de um astrólogo nem pelas imposturas de um mágico nem pelas artimanhas ou arrogâncias dos que manifestam saber mais do que realmente sabem Aqui está por que apenas a idade me possibilitou sair da submissão aos meus preceptores abandonei totalmente o estudo das letras E decidindome a não mais procurar outra ciência além daquela que poderia encontrar em mim mesmo ou então no grande livro do mundo aproveitei o resto de minha juventude para viajar para ver cortes e exércitos para freqüentar pessoas de diferentes humores e condições para fazer variadas experiências para pôr a mim mesmo à prova nos reencontros que o destino me propunha e por toda parte para refletir a respeito das coisas que se me apresentavam a fim de que eu pudesse tirar algum proveito delas Pois acreditava poder encontrar muito mais verdade nos raciocínios que cada um forma no que se refere aos negócios que lhe interessam e cujo desfecho se julgou mal deve penalizálo logo em seguida do que naqueles que um homem de letras forma em seu gabinete a respeito de especulações que não produzem efeito algum e que não lhe acarretam outra conseqüência salvo talvez a de lhe proporcionarem tanto mais vaidade quanto mais afastadas do senso comum por causa do outro tanto de espírito e artimanha que necessitou empregar no esforço de tornálas prováveis E eu sempre tive um enorme desejo de aprender a diferenciar o verdadeiro do falso para ver claramente minhas ações e caminhar com segurança nesta vida A verdade é que ao limitarme a observar os costumes dos outros homens pouco encontrava que me satisfizesse pois percebia neles quase tanta diversidade como a que notara anteriormente entre as opiniões dos filósofos De forma que o maior proveito que daí tirei foi que vendo uma quantidade de coisas que apesar de nos parecerem muito extravagantes e ridículas são comumente recebidas e aprovadas por outros grandes povos aprendi a não acreditar com demasiada convicção em nada do que me havia sido inculcado só pelo exemplo e pelo hábito e dessa maneira pouco a pouco livreime de muitos enganos que ofuscam a nossa razão e nos tornar menos capazes de ouvir a razão Porém após dedicarme por alguns anos em estudar assim no livro do mundo e em procurar adquirir alguma experiência tomei um dia a decisão de estudar também a mim próprio e de empregar todas as forças de meu espírito na escolha dos caminhos que iria seguir Isso a meu ver trouxeme muito melhor resultado do que se nunca tivesse me distanciado de meu país e de meus livros SEGUNDA PARTE NAQUELA ÉPOCA encontravame na Alemanha para onde me sentira atraído pelas guerras que ainda não terminaram e ao regressar da coroação do imperador para o exército o começo do inverno me obrigou a permanecer num quartel onde por não encontrar convívio social algum que me distraísse e também felizmente por não ter quaisquer desejos ou paixões que me perturbassem ficava o dia inteiro fechado sozinho num quarto bem aquecido onde dispunha de todo o tempo para me entreter com os meus pensamentos Um dos primeiros entre eles foi lembrarme de considerar que freqüentemente não existe tanta perfeição nas obras formadas de várias peças e feitas pela mão de diversos mestres como naquelas em que um só trabalhou Deste modo notase que os edifícios projetados e concluídos por um só arquiteto costumam ser mais belos e mais bem estruturados do que aqueles que muitos quiseram reformar utilizandose de velhas paredes construídas para outras finalidades Assim essas antigas cidades que tendo sido no início pequenos burgos e havendo se transformado ao longo do tempo em grandes centros são comumente tão mal calculadas em comparação com essas praças regulares traçadas por um engenheiro a seu belprazer que mesmo considerando seus edifícios individualmente se encontre neles com freqüência tanta ou mais arte que nos das outras contudo a ver como estão ordenados aqui um grande ali um pequeno e como tornam as ruas curvas e desiguais poderseia afirmar que foi mais por obra do acaso do que pela vontade de alguns homens usando da razão que assim os dispôs E se se considerar que não obstante tudo sempre existiram funcionários com a função de fiscalizar as construções dos particulares para tornálas úteis ao ornamento do público reconhecerseá realmente que é penoso trabalhando apenas nas obras de outras pessoas fazer coisas muito bem rematadas Portanto considerei que os povos que outrora haviam sido semi selvagens e só pouco a pouco foram se civilizando elaboraram suas leis apenas à medida que o desconforto dos crimes e das querelas a tanto os coagiu não poderiam ser tão bem policiados como aqueles que desde o instante em que se reuniram obedeceram às leis de algum prudente legislador Tal como é justo que o estado da verdadeira religião cujas ordenanças só Deus fez deve ser incomparavelmente melhor regulamentado do que todos os outros E para falar a respeito das coisas humanas penso que se Esparta foi na Antigüidade muito florescente não o deveu à bondade de cada uma de suas leis em particular já que muitas eram bastante impróprias e até mesmo contrárias aos bons costumes mas ao fato de que havendo sido criadas por um único homem tendiam todas ao mesmo fim E assim pensei que as ciências dos livros ao menos aquelas cujas razões são apenas prováveis e que não apresentam quaisquer demonstrações pois foram compostas e avolumadas devagar com opiniões de muitas e diferentes pessoas não se encontram de forma alguma tão próximas da verdade quanto os simples raciocínios que um homem de bom senso pode fazer naturalmente acerca das coisas que se lhe apresentam E também pensei que como todos nós fomos crianças antes de sermos adultos e como por muito tempo foi necessário sermos governados por nossos apetites e nossos preceptores que eram com freqüência contrários uns aos outros e que nem uns nem outros nem sempre talvez nos aconselhassem o melhor é quase impossível que nossos juízos sejam tão puros ou tão firmes como seriam se pudéssemos utilizar totalmente a nossa razão desde o nascimento e se não tivéssemos sido guiados senão por ela É verdade que não vemos em lugar algum demolirem todas os edifícios de uma cidade com o exclusivo propósito de reconstruílos de outra maneira e de tornar assim suas ruas mais belas mas vêse na realidade que muitos derrubam suas casas para reconstruílas sendo ainda por vezes obrigados a fazêlo quando elas correm o risco de cair por si próprias por seus alicerces não se encontrarem muito firmes A exemplo disso convencime de que não seria razoável que um particular tencionasse reformar um Estado mudandoo em tudo desde os alicerces e derrubandoo para em seguida reerguêlo nem tampouco reformar o corpo das ciências ou a ordem estabelecida nas escolas para ensinálas mas que a respeito de todas as opiniões que até então acolhera em meu crédito o melhor a fazer seria disporme de uma vez para sempre a retirarlhes essa confiança para substituilas em seguida ou por outras melhores ou então pelas mesmas após havêlas ajustado ao nível da razão E acreditei com firmeza em que por este meio conseguiria conduzir minha vida muito melhor do que se a construísse apenas sobre velhos alicerces e me apoiasse tãosomente sobre princípios a respeito dos quais me deixara convencer em minha juventude sem ter nunca analisado se eram verdadeiros Pois embora percebesse nesse mister várias dificuldades não eram contudo insuperáveis nem comparáveis às que se encontram na reforma das menores coisas relativas ao público Esses grandes corpos são demasiado difíceis de reerguer quando abatidos ou mesmo de escorar quando abalados e suas quedas não podem deixar de ser muito violentas Pois a respeito de suas imperfeições se as possuem como a simples diversidade que há entre eles basta para assegurar que as possuem em grande número o uso sem dúvida as suavizou e até mesmo evitou e corrigiu insensivelmente uma grande quantidade às quais não se poderia tão bem remediar por prudência E por fim são quase sempre mais suportáveis do que o seria a sua mudança da mesma forma que os grandes caminhos que serpenteiam entre montanhas se tornam pouco a pouco tão batidos e tão cômodos a poder de serem freqüentados que é preferível seguilos a tentar ir mais reto escalando os rochedos e descendo até o fundo dos precipícios Aqui está o motivo pelo qual eu não poderia de maneira alguma aprovar esses temperamentos perturbadores e inquietos que não sendo chamados nem pelo nascimento nem pela fortuna à administração dos negócios públicos não deixam de neles realizar sempre em teoria alguma nova reforma E se eu pensasse haver neste escrito a menor coisa que pudesse tornarme suspeito de tal loucura ficaria muito pesaroso de ter concordado em publicálo Jamais o meu objetivo foi além de procurar reformar meus próprios pensamentos e construir num terreno que é todo meu De maneira que se tendo minha obra me agradado bastante eu vos mostro aqui o seu modelo nem por isso desejo aconselhar alguém a imitálo Aqueles a quem Deus melhor distribuiu suas graças alimentarão talvez propósitos mais elevados mas receio bastante que este já seja por demais temerário para muitos A mera decisão de se desfazer de todas as opiniões a que se deu antes crédito não é um exemplo que cada um deva seguir e o mundo compõese quase só de duas espécies de espíritos aos quais ele não convém de maneira alguma A saber daqueles que julgandose mais hábeis do que realmente são não podem impedirse de precipitar seus juízos nem ter suficiente paciência para conduzir ordenadamente todos os seus pensamentos disso decorre que se tivessem tomado uma vez a liberdade de duvidar dos princípios que aceitaram e de se desviar do caminho comum jamais poderiam aterse à trilha que é necessário tomar para ir mais direito e permaneceriam perdidos ao longo de toda a existência depois daqueles que tendo bastante razão ou modéstia para considerarse menos capazes de diferenciar o verdadeiro do falso do que alguns outros pelos quais podem ser instruídos devem antes ficar satisfeitos em seguir as opiniões desses outros do que esforçarse por achar por si mesmos outras melhores No que me diz respeito constaria sem dúvida do número destes últimos se eu tivesse tido um único mestre ou se nada soubesse das diferenças que existi ram em todos os tempos entre as opiniões dos mais eruditos Porém havendo aprendido desde a escola que nada se poderia imaginar tão estranho e tão pouco acreditável que algum dos filósofos já não houvesse dito e depois ao viajar tendo reconhecido que todos os que possuem sentimentos muito contrários aos nossos nem por isso são bárbaros ou selvagens mas que muitos utilizam tanto ou mais do que nós a razão e havendo considerado quanto um mesmo homem com o seu mesmo espírito sendo criado desde a infância entre franceses ou alemães tornase diferente do que seria se vivesse sempre entre chineses ou canibais e como até nas modas de nossos trajes a mesma coisa que nos agradou há dez anos e que talv ez nos agrade ainda antes de decorridos outros dez nos parece agora extravagante e ridícula de forma que são bem mais o costume e o exemplo que nos convencem do que qualquer conhecimento correto e que apesar disso a pluralidade das vozes não é prova que valha algo para as verdades um pouco difíceis de descobrir por ser bastante mais provável que um único homem as tenha encontrado do que todo um povo eu não podia escolher ninguém cujas opiniões me parecessem dever ser preferidas às de outros e achavame como coagido a tentar eu próprio dirigirme Porém igual a um homem que caminha solitário e na absoluta escuridão decidi ir tão lentamente e usar de tanta ponderação em todas as coisas que mesmo se avançasse muito pouco ao menos evitaria cair Não quis de maneira alguma começar rejeitando inteiramente qualquer uma das opiniões que por acaso haviam se insinuado outrora em minha confiança sem que aí fossem introduzidas pela razão antes de gastar bastante tempo em elaborar o projeto da obra que iria empreender e em procurar o verdadeiro método para chegar ao conhecimento de todas as coisas de que meu espírito fosse capaz Quando era mais jovem eu estudara um pouco de filosofia de lógica e das matemáticas a analise dos geômetras e a álgebra três artes ou ciências que pare ciam poder contribuir com algo para o meu propósito No entanto analisandoas percebi que quanto à lógica seus silogismos e a maior parte de seus outros preceitos servem mais para explicar aos outros as coisas já conhecidas ou mesmo como a arte de Lúlio1 para falar sem formar juízo daquelas que são ignoradas do que para aprendêlas E apesar de ela conter realmente uma porção de preceitos muito verdadeiros e muito bons existem contudo tantos outros misturados no meio que são ou danosos ou supérfluos que é quase tão difícil separálos quanto tirar uma Diana ou uma Minerva de um bloco de mármore que nem ao menos está delineado Depois no que concerne à análise dos antigos e à álgebra dos modernos além de se estenderem apenas a assuntos muito abstratos e de não parecerem de utilidade alguma a primeira permanece sempre tão ligada à consideração das figuras que não pode propiciar a compreensão sem cansar muito a imaginação e na segunda estevese de tal maneira sujeito a determinadas regras e cifras que se fez dela uma arte confusa e obscura que atrapalha o espírito em vez de uma ciência que o cultiva Por este motivo considerei ser necessário buscar algum outro método que contendo as vantagens desses três estivesse desembaraçado de seus defeitos E como a grande quantidade de leis fornece com freqüência justificativas aos vícios de forma que um Estado é mais bem dirigido quando apesar de possuir muito poucas delas são estritamente cumpridas portanto em lugar desse grande número de preceitos de que se compõe a lógica achei que me seriam suficientes os quatro seguintes uma vez que tornasse a firme e inalterável resolução de não deixar uma só vez de observálos 1 Lúlio bemaventurado Raimundo em catalão Ramón Llull erudito filósofo teólogo e poeta catalão Palma de Maiorca c 1233 Bugia ou Palma 1315 Seu proselitismo cristão o levou aos países mediterrâneos onde organizou uma cruzada intelectual destinada a provocar encontros entre sábios de diferentes religiões visando à unificação religiosa do mundo N do T O primeiro era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse claramente como tal ou seja de evitar cuidadosamente a pressa e a prevenção e de nada fazer constar de meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito que eu não tivesse motivo algum de duvidar dele O segundo o de repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucionálas O terceiro o de conduzir por ordem meus pensamentos iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para elevarme pouco a pouco como galgando degraus até o conhecimento dos mais compostos e presumindo até mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros E o último o de efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir Essas longas séries de razões todas simples e fáceis que os geômetras costumam utilizar para chegar às suas mais difíceis demonstrações tinhamme dado a oportunidade de imaginar que todas as coisas com a possibilidade de serem conhecidas pelos homens seguemse umas às outras do mesmo modo e que uma vez que nos abstenhamos apenas de aceitar por verdadeira qualquer uma que não o seja e que observemos sempre a ordem necessária para deduzi las umas das outras não pode existir nenhuma delas tão afastada a que não se chegue no final nem tão escondida que não se descubra E não me foi muito dificultoso procurar por quais deveria começar pois já sabia que haveria de ser pelas mais simples e pelas mais fáceis de conhecer e considerando que entre todos os que anteriormente procuraram a verdade nas ciências apenas os matemáticos puderam encontrar algumas demonstrações ou seja algumas razões certas e evidentes não duvidei de modo algum que não fosse pelas mes mas que eles analisaram apesar de não esperar disso nenhuma outra utilidade salvo a de que habituariam meu espírito a se alimentar de verdades e a não se satisfazer com falsas razões Mas não foi minha intenção para tanto tentar aprender todas essas ciências particulares que habitualmente se chamam matemáticas e vendo que apesar de seus objetos serem distintos não deixam de concordar todas pelo fato de não conferirem nesses objetos senão as diversas ações ou proporções que neles se encontram julguei que convinha mais analisar apenas estas proporções em geral e presumindoas somente nos suportes que servissem para me tornar seu conhecimento mais fácil mesmo assim sem restringilas de modo algum a tais suportes a fim de poder aplicálas tão melhor em seguida a todos os outros objetos a que conviessem Depois havendo per cebido que a fim de conhecêlas sermeia algumas vezes necessário considerá las cada qual em particular e outras vezes apenas de reter ou de compreender várias em conjunto julguei que para melhor considerálas em particular deveria presumilas em linhas visto que não encontraria nada mais simples nem que pudesse representar mais diferentemente à minha imaginação e aos meus sentidos mas que para reter ou compreender várias em conjunto era necessário que eu as designasse por alguns signos os mais breves possíveis e que por esse meio tomaria de empréstimo o melhor da análise geométrica e da álgebra e corrigiria todos os defeitos de uma pela outra E já que com efeito atrevome a dizer que a exata observação desses poucos preceitos que eu escolhera me deu tal facilidade de desenredar todas as questões às quais se estendem essas duas ciências que nos dois ou três meses que levei para analisálas havendo iniciado pelas mais simples e mais gerais e compondo cada verdade que eu encontrava uma regra que me servia depois para encontrar outras não apenas consegui resolver muitas que antes considerava muito difíceis como me pareceu também próximo ao fim que podia determinar até mesmo naquelas que ignorava por quais meios e até onde seria possível resolvêlas No que talvez não vos afigurarei muito vaidoso se considerardes que existindo somente uma verdade de cada coisa aquele que a encontrar conhece a seu respeito tanto quanto se pode conhecer e que por exemplo uma criança instruída na aritmética que haja realizado uma adição de acordo com as regras pode ter certeza de haver encontrado no que concerne à soma que analisava tudo o que o espírito humano poderia encontrar Pois enfim o método que ensina a seguir a verdadeira ordem e a enumerar exatamente todas as circunstâncias daquilo que se procura contém tudo quanto dá certeza às regras da aritmética No entanto o que mais me satisfazia nesse método era o fato de que por ele tinha certeza de usar em tudo minha razão se não à perfeição ao menos o melhor que eu pudesse ademais sentia ao utilizálo que meu espírito se habituava pouco a pouco a conceber mais nítida e distintamente seus objetos e que não o havendo sujeitado a nenhuma matéria em especial prometia a mim mesmo empregálo com a mesma utilidade a respeito das dificuldades das outras ciências como o fizera com as da álgebra Não que me atrevesse a empreender primeiramente a análise de todas as que se me apresentassem pois isso seria contrário à ordem que ele prescreve Porém havendo percebido que os seus princípios deviam ser todos tomados à filosofia na qual até então não encontrava sequer um que fosse correto pensei que seria preciso em princípio tentar ali estabelecêlos e que sendo isso a coisa mais importante do mundo e em que a pressa e a prevenção eram mais de recear não devia pôr em execução sua reali zação antes de atingir uma idade bem mais madura do que a dos 23 anos que eu tinha naquela época e antes de ter gasto muito tempo em prepararme para isso tanto extirpando de meu espírito todas as más opiniões que nele dera acolhida até então como reunindo numerosas experiências para servirem logo depois de ma téria aos meus processos racionais e adestrandome no método que me preceituara com o propósito de me fixar sempre mais nele TERCEIRA PARTE AFINAL COMO não é suficiente antes de dar início à reconstrução da casa onde residimos demolila ou munirnos de materiais e contratar arquitetos ou habilitarnos na arquitetura nem além disso termos efetuado com esmero o seu projeto é preciso também havermos providenciado outra onde possamos nos acomodar confortavelmente ao longo do tempo em que nela se trabalha Da mesma maneira para não hesitar em minhas ações enquanto a razão me obrigasse a fazêlo em meus juízos e a fim de continuar a viver desde então de maneira mais feliz possível concebi para mim mesmo uma moral provisória que consistia apenas em três ou quatro máximas que eu quero vos anunciar A primeira era obedecer às leis e aos costumes de meu país mantendome na religião na qual Deus me concedera a graça de ser instruído a partir da infância e conduzindome em tudo o mais de acordo com as opiniões mais moderadas e as mais distantes do excesso que fossem comumente aceitas pelos mais sensatos daqueles com os quais teria de conviver Porquanto começando desde então a não me valer para nada de minhas próprias opiniões porque eu as queria submeter todas a análise estava convencido de que o melhor a fazer era seguir as dos mais sensatos E a despeito de que talvez existam entre os persas e chineses homens tão sensatos como entre nós afiguravaseme que o mais útil seria orientarme por aqueles entre os quais teria de viver e que para saber quais eram realmente as suas opiniões devia tomar nota mais daquilo que praticavam do que daquilo que diziam não apenas porque na corrupção de nossos costumes existem poucas pessoas que queiram dizer tudo o que pensam mas também porque muitos o ignoram por sua vez pois sendo a ação do pensamento pela qual se acredita numa coisa distinta daquela pela qual se sabe que se acredita nela repetidas vezes uma se apresenta sem a outra E entre várias opiniões igualmente aceitas escolhia somente as moderadas tanto porque são sempre as mais cômodas para a prática e provavelmente as melhores já que todo excesso costuma ser mau como também para me desviar menos do verdadeiro caminho caso eu falhasse do que havendo escolhido um dos extremos fosse o outro aquele que eu deveria ter seguido E em especial punha entre os excessos todas as promessas pelas quais se restringe em algo a própria liberdade Não que desaprovasse as leis que para corrigir a inconstância dos espíritos fracos permitem quando se possui algum bom propósito ou mesmo para a segurança das relações sociais alguma intenção que seja apenas indiferente que se façam promessas solenes ou contratos que obriguem a persistir nela mas porque não via no mundo nada que continuasse sempre no mesmo estado e porque no meu caso particular como prometia a mim mesmo aperfeiçoar cada vez mais os meus juízos e de maneira alguma tornálos piores pensaria cometer grande falta contra o bom senso se pelo fato de ter aprovado então alguma coisa me sentisse na obrigação de tomála como boa ainda depois quando deixasse talvez de sêlo ou quando eu parasse de considerála tal Minha segunda máxima consistia em ser o mais firme e decidido possível em minhas ações e em não seguir menos constantemente do que se fossem muito seguras as opiniões mais duvidosas sempre que eu me tivesse decidido a tanto Imitava nisso os viajantes que estando perdidos numa floresta não devem ficar dando voltas ora para um lado ora para outro menos ainda permanecer num local mas caminhar sempre o mais reto possível para um mesmo lado e não mudálo por quaisquer motivos ainda que no início só o acaso talvez haja definido sua escolha pois por este método se não vão exatamente aonde desejam ao menos chegarão a algum lugar onde provavelmente estarão melhor do que no meio de uma floresta E assim como as ações da vida não suportam às vezes atraso algum é uma verdade muito certa que quando não está em nosso poder o distinguir as opiniões mais verdadeiras devemos seguir as mais prováveis e mesmo que não percebamos em umas mais probabilidades do que em outras devemos sem embargo decidirnos por algumas a considerálas depois não mais como duvidosas na medida em que se relacionam com a prática mas como muito verdadeiras e corretas visto que a razão que a isso nos induziu se apresenta como tal E isto me consentiu desde então libertarme de todos os arrependimentos e remorsos que costumam agitar as consciências desses espíritos fracos e hesitantes que se deixam levar a praticar como boas as coisas que em seguida consideram más Minha terceira máxima era a de procurar sempre antes vencer a mim próprio do que ao destino e de antes modificar os meus desejos do que a ordem do mundo e em geral a de habituarme a acreditar que nada existe que esteja completamente em nosso poder salvo os nossos pensamentos de maneira que após termos feito o melhor possível no que se refere às coisas que nos são exteriores tudo em que deixamos de nos sair bem é em relação a nós absolutamente impossível E somente isso me parecia suficiente para impossibilitarme no futuro de desejar algo que eu não pudesse obter e assim para me tornar contente Pois a nossa vontade tendendo naturalmente para desejar apenas aquelas coisas que nosso entendimento lhe representa de alguma forma como possíveis é certo que se considerarmos igualmente afastados de nosso poder todos os bens que se encontram fora de nós não deploraremos mais a falta daqueles que parecem deverse ao nosso nascimento quando deles formos privados sem termos culpa do que deploramos não possuir os remos da China ou do México e que fazendo como se diz da necessidade virtude não desejaremos mais estar sãos estando doentes ou estar livres estando presos do que desejamos ter agora corpos de uma matéria tão pouco corruptível quanto os diamantes ou asas para voar como as aves Mas confesso que é preciso um longo adestramento e uma meditação freqüentemente repetida para nos habituarmos a olhar todas as coisas por este ângulo e acredito que é prin cipalmente nisso que consistia o segredo desses filósofos que puderam em outros tempos esquivarse do império do destino e apesar das dores e da pobreza pleitear felicidade aos seus deuses Pois ocupandose continuamente em considerar os limites que lhes eram impostos pela natureza convenceramse tão perfeitamente de que nada estava em seu poder além dos seus pensamentos que só isso bastava para impossibilitálos de sentir qualquer afeição por outras coisas e os utilizavam tão absolutamente que tinham neste caso especial certa razão de se julgar mais ricos mais poderosos mais livres e mais felizes que quaisquer outros homens os quais não tendo esta filosofia por mais favorecidos que sejam pela natureza e pelo destino nunca são senhores de tudo o que desejam Por fim para a conclusão dessa moral decidi passar em revista as diferentes ocupações que os homens exercem nesta vida para procurar escolher a melhor e sem pretender dizer nada a respeito das dos outros achei que o melhor a fazer seria continuar naquela mesma em que me encontrava ou seja utilizar toda a minha existência em cultivar minha razão e progredir o máximo que pudesse no conhecimento da verdade de acordo com o método que me determinara Eu sentira tão grande felicidade a partir do momento em que começara a servirme deste método que não acreditava que nesta vida se pudessem receber outros mais doces nem mais inocentes e descobrindo todos os dias por seu intermédio algumas verdades que me pareciam deveras importantes e geralmente ignoradas pelos outros homens a satisfação que isso me proporcionava preenchia de tal forma meu espírito que tudo o mais não me atingia Além do que as três máximas precedentes se baseavam apenas no meu intento de continuar a me instruir pois tendo Deus concedido a cada um de nós alguma luz para diferenciar o verdadeiro do falso não julgaria dever satisfazer me um único instante com as opiniões dos outros se não tencionasse utilizar o meu próprio juízo em analisálas quando fosse tempo e não saberia dispensar me de escrúpulos ao seguilas se não esperasse não perder com isso oportunidade alguma de encontrar outras melhores caso existissem E enfim não saberia cercear os meus desejos nem estar contente se não tivesse per corrido um caminho pelo qual julgando estar seguro da aquisição de todos os conhecimentos de que fosse capaz pensava estar também pelo mesmo método seguro da aquisição de todos os verdadeiros bens que em alguma ocasião se encontrassem ao meu alcance tanto mais que a nossa vontade não estando propensa a seguir ou fugir a qualquer coisa a não ser se o nosso entendimento a represente como boa ou má é suficiente bem julgar para bem agir e julgar o melhor possível para também agir da melhor maneira ou seja para adquirir todas as virtudes e ao mesmo tempo todos os outros bens que se possam adquirir e quando se tem certeza de que é assim não se pode deixar de ficar contente Depois de haverme assim assegurado destas máximas e de têlas separado com as verdades da fé que sempre foram as primeiras na minha crença julguei que quanto a todo o restante de minhas opiniões podia livremente procurar desfazerme delas E como esperava chegar melhor ao fim dessa tarefa conversando com os homens do que prosseguindo por mais tempo fechado no quarto aquecido onde me haviam surgido esses pensamentos recomecei a viajar quando o inverno ainda não terminara E em todos os nove anos que se seguiram não fiz outra coisa a não ser girar pelo mundo daqui para ali tentando ser mais espectador do que ator em todas as comédias que nele se representam e refletindo particularmente em cada matéria sobre o que podia tornála suspeita e propiciar a oportunidade de nos enganarmos ao mesmo tempo extirpava do meu espírito todos os equívocos que até então nele se houvessem instalado Não que imitasse para tanto os céticos que duvidam só por duvidar e fingem ser sempre indecisos pois ao contrário todo o meu propósito propendia apenas a me certificar e remover a terra movediça e a areia para encontrar a rocha ou a argila O que consegui muito bem quer me parecer ainda mais que procurando descobrir a falsidade ou a incerteza das proposições que analisava não por fracas conjeturas mas por raciocínios claros e seguros não encontrava nenhuma tão duvidosa que dela não tirasse sempre alguma conclusão bastante correta na pior da hipóteses a de que não continha nada de correto E da mesma maneira que ocorre ao demolir uma velha casa conservamse comumente os entulhos para serem utilizados na construção de outra nova assim ao destruir todas as minhas opiniões que julgava mal alicerçadas fazia diversas observações e adquiria muitas experiências que me serviram mais tarde para estabelecer outras mais corretas E além disso continuava a praticar no método que me preceituara pois não apenas tomava o cuidado de em geral dirigir todos os meus pensamentos conforme as suas regras como reservava de tempos em tempos algumas horas que utilizava especialmente em aplicálos nas dificulda des de matemática ou também em algumas outras que eu podia tornar quase parecidas às das matemáticas separandoas de todos os princípios das outras ciências que eu não considerava suficientemente sólidos como vereis que procedi com várias que são explicadas neste volume E deste modo aparentemente sem viver de maneira diferente daqueles que não tendo outra ocupação exceto levar uma vida suave e inocente procuram isolar os prazeres dos vícios e que para usufruir seus lazeres sem se aborrecer usam todos os divertimentos que são honestos não deixava de perseverar em meu intento e de progredir no conhecimento da verdade mais talvez do que se me restringisse a ler livros ou freqüentar homens de letras Ainda assim esses nove anos decorreram antes que eu tivesse tomado qualquer resolução no que concerne às dificuldades que costumam ser discutidas entre os eruditos ou começado a procurar os fundamentos de alguma filosofia mais correta do que a trivial E o exemplo de numerosos espíritos elevados que tendo se proposto anteriormente esse desígnio não haviam conseguido a meu ver realizálo levavame a imaginar tantas dificuldades que não teria talvez me atrevido empreendêlo tão cedo se não tivesse conhecimento de que alguns já faziam correr a informação de que eu já o levara a cabo Não saberia dizer em que baseavam esta opinião e se para isso contribuí em alguma coisa com meus discursos deve ter sido por confessar neles aquilo que eu ignorava com mais ingenuidade do que costumam fazer os que estudaram um pouco e e possível também por mostrar os motivos que tinha de duvidar de muitas coisas que os outros julgam corretas do que por me vangloriar de qualquer doutrina Porém tendo o coração bastante brioso para não desejar que me tomassem por alguém que eu não era pensei que devia esforçarme por todos os meios a fim de tornarme merecedor da reputação que me conferiam e faz exatamente oito anos que esse desejo me impeliu a distanciarme de todos os lugares em que pudesse ter conhecidos e a retirarme para cá para um país onde a longa duração da guerra levou a estabelecer tais ordens que os exércitos nele mantidos parecem servir apenas para que os frutos da paz sejam usufruídos com tanto mais segurança e onde em meio a um grande povo muito ativo e mais zeloso de seus próprios assuntos do que curioso com os dos outros sem sentir necessidade de nenhuma das comodidades que existem nas cidades mais desenvolvidas pude viver tão solitário e isolado como nos desertos mais longínquos QUARTA PARTE NÃO ESTOU SEGURO se deva falarvos a respeito das primeiras meditações que aí realizei já que por serem tão metafísicas e tão incomuns é possível que não serão apreciadas por todos Contudo para que seja possível julgar se os fundamentos que escolhi são suficientemente firmes vejome de alguma forma obrigado a falarvos delas Havia bastante tempo observara que no que concerne aos costumes é às vezes preciso seguir opiniões que sabemos serem muito duvidosas como se não admitissem dúvidas conforme já foi dito acima porém por desejar então dedicarme apenas a pesquisa da verdade achei que deveria agir exatamente ao contrário e rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em que pudesse supor a menor dúvida com o intuito de ver se depois disso não restaria algo em meu crédito que fosse completamente incontestável Ao considerar que os nossos sentidos às vezes nos enganam quis presumir que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar E por existirem homens que se enganam ao raciocinar mesmo no que se refere às mais simples noções de geometria e cometem paralogismos rejeitei como falsas achando que estava sujeito a me enganar como qualquer outro todas as razões que eu tomara até então por demonstrações E enfim considerando que quaisquer pensamentos que nos ocorrem quando estamos acordados nos podem também ocorrer enquanto dormimos sem que exista nenhum nesse caso que seja correto decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais corretas do que as ilusões de meus sonhos Porém logo em seguida percebi que ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso faziase necessário que eu que pensava fosse alguma coisa E ao notar que esta verdade eu penso logo existo era tão sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo julguei que podia considerála sem escrúpulo algum o primeiro princípio da filosofia que eu procurava Mais tarde ao analisar com atenção o que eu era e vendo que podia presumir que não possuía corpo algum e que não havia mundo algum ou lugar onde eu existisse mas que nem por isso podia supor que não existia e que ao contrário pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas resultava com bastante evidência e certeza que eu existia ao passo que se somente tivesse parado de pensar apesar de que tudo o mais que alguma vez imaginara fosse verdadeiro já não teria razão alguma de acreditar que eu tivesse existido compreendi então que eu era uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar e que para ser não necessita de lugar algum nem depende de qualquer coisa material De maneira que esse eu ou seja a alma por causa da qual sou o que sou é completamente distinta do corpo e também que é mais fácil de conhecer do que ele e mesmo que este nada fosse ela não deixaria de ser tudo o que é Depois disso considerei o que é necessário a uma proposição para ser verdadeira e correta pois já que encontrara uma que eu sabia ser exatamente assim pensei que devia saber também em que consiste essa certeza E ao perceber que nada há no eu penso logo existo que me dê a certeza de que digo a verdade salvo que vejo muito claramente que para pensar é preciso existir concluí que poderia tomar por regra geral que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras havendo somente alguma dificuldade em notar bem quais são as que concebemos distintamente Depois havendo refletido a respeito daquilo que eu duvidava e que por conseguinte meu ser não era totalmente perfeito pois via claramente que o conhecer é perfeição maior do que o duvidar decidi procurar de onde aprendera a pensar em algo mais perfeito do que eu era e descobri com evidência que devia ser de alguma natureza que fosse realmente mais perfeita No que se refere aos pensamentos que eu formulava sobre muitas outras coisas fora de mim como a respeito do céu da Terra da luz do calor e de mil outras não me era tão difícil saber de onde vinham porque não notando neles nada que me parecesse tornálos superiores a mim podia julgar que se fossem verdadeiros seriam dependências de minha natureza na medida em que esta possuía alguma perfeição e se não o eram que eu os formulava a partir do nada ou seja que existiam em mim pelo que eu possuía de falho Mas não podia ocorrer o mesmo com a idéia de um ser mais perfeito do que o meu pois fazêla sair do nada era evidentemente impossível e visto que não é menos repulsiva a idéia de que o mais perfeito seja uma conseqüência e uma dependência do menos perfeito do que a de admitir que do nada se origina alguma coisa eu não podia tirála tampouco de mim próprio De maneira que restava somente que tivesse sido colocada em mim por uma natureza que fosse de fato perfeita do que a minha e que possuísse todas as perfeições de que eu poderia ter alguma idéia ou seja para dizêlo numa única palavra que fosse Deus A isso acrescentei que admitido que conhecia algumas perfeições que eu não tinha não era o único ser que existia usarei aqui livremente se vos aprouver alguns termos da Escola mas que devia necessariamente haver algum outro mais perfeito do qual eu dependesse e de quem tivesse recebido tudo o que possuía Pois se eu fosse sozinho e independente de qualquer outro de maneira que tivesse recebido de mim próprio todo esse pouco mediante o qual participava do Ser perfeito poderia receber de mim pelo mesmo motivo todo o restante que sabia faltarme e ser assim eu próprio infinito eterno imutável onisciente todopoderoso e enfim ter todas as perfeições que podia perceber existirem em Deus Pois de acordo com os raciocínios que acabo de fazer para conhecer a natureza de Deus tanto quanto a minha o era capaz era suficiente considerar a respeito de todas as coisas de que encontrava em mim qualquer idéia se era ou não perfeição possuí las e tinha certeza de que nenhuma das que eram marcadas por alguma imperfeição existia nele mas que todas as outras existiam Dessa forma eu notava que a dúvida a inconstância a tristeza e coisas parecidas não podiam existir nele porque eu mesmo apreciaria muito ser desprovido delas Ademais eu tinha idéias acerca de muitas coisas sensíveis e corporais pois apesar de presumir que estava sonhando e que tudo quanto via e imaginava era falso não podia negar não obstante que as idéias a respeito não existissem verdadeiramente em meu pensamento porém por já haver reconhecido em mim com bastante clareza que a natureza inteligente é distinta da corporal considerando que toda a composição testemunha dependência e que a dependência é evidentemente uma falha julguei a partir disso que não podia ser uma perfeição em Deus o ser composto dessas duas naturezas e que em conseqüência Ele não o era mas que se existiam alguns corpos no mundo ou então algumas inteligências ou outras naturezas que não fossem totalmente perfeitos seu ser deveria depender do poder de Deus de tal maneira que não pudessem subsistir sem Ele por um único instante Em seguida a isso eu quis procurar outras verdades e tendome estabelecido o objeto dos geômetras que eu concebia como um corpo contínuo ou um espaço infinitamente extenso em comprimento largura e altura ou profundidade divisível em diversas partes que podiam ter diferentes figuras e grandezas e ser movidas ou transpostas de todas as maneiras pois os geômetras conjeturam tudo isto em seu objeto examinava algumas de suas demonstrações mais simples E ao perceber que essa grande certeza que todos lhes atribuem se alicerça somente no fato de serem concebidas com evidência segundo a regra que há pouco manifestei notei também que nada existia nelas que me garantisse a existência de seu objeto Pois por exemplo eu percebia muito bem que ao imaginar um triângulo faziase necessário que seus três ângulos fossem iguais a dois retos porém malgrado isso nada via que garantisse existir no mundo qualquer triângulo Enquanto ao voltar a examinar a idéia que eu tinha de um Ser perfeito verificava que a existência estava aí inclusa da mesma maneira que na de um triângulo está incluso serem seus três ângulos iguais a dois retos ou na de uma esfera serem todas as suas partes igualmente distantes do seu centro ou ainda mais evidentemente e que por conseguinte é pelo menos tão certo que Deus que é esse Ser perfeito é ou existe quanto seria qualquer demonstração de geometria Mas o que leva muitas pessoas a se convencerem de que é difícil conhecê lo e também em conhecer o que é sua alma é o fato de nunca alçarem o espírito além das coisas sensíveis e de estarem de tal forma habituadas a nada considerar exceto na imaginação que é uma maneira de pensar particular às coisas materiais que tudo quanto não é imaginável lhes parece não ser inteligível E isto é bastante evidente pelo fato de os próprios filósofos terem por máxima nas escolas que nada existe no entendimento que não haja estado primeiramente nos sentidos onde contudo é certo que as idéias de Deus e da alma nunca estiveram E me parece que todos aqueles que querem usar a imaginação para compreendêlas se comportam da mesma maneira que se para ouvir os sons ou sentir os odores quisessem utilizarse dos olhos salvo com esta diferença que o sentido da visão não nos assegura menos a verdade de seus objetos do que os do olfato ou da audição enquanto a nossa imaginação ou os nossos sentidos jamais poderiam garantirnos coisa alguma se o nosso juízo não interviesse Afinal se ainda há homens que não estejam totalmente convencidos da existência de Deus e da alma com as razões que apresentei quero que saibam que todas as outras coisas a respeito das quais se consideram talvez certificados como a de possuírem um corpo existirem astros e a Terra e coisas parecidas são ainda menos certas Pois apesar de se ter dessas coisas uma certeza moral que é de tal ordem que salvo sendose extravagante parece impossível colocála em dúvida contudo ao que concerne à certeza metafísica não se pode negar a não ser que não tenhamos bom senso que é motivo suficiente para não possuirmos total segurança a respeito o fato de observarmos que podemos da mesma maneira imaginar ao estarmos dormindo que temos outro corpo que vemos outros astros e outra Terra sem que isso seja verdade Pois de onde sabe mos que os pensamentos que nos surgem em sonhos são menos verdadeiros do que os outros se muitos com freqüência não são menos vivos e nítidos E mesmo que os melhores espíritos estudem o caso tanto quanto lhes agradar não acredito que possam oferecer alguma razão que seja suficiente para dirimir essa dúvida se não presumirem a existência de Deus Pois em princípio aquilo mesmo que há pouco tomei como regra ou seja que as coisas que concebemos bastante evidente e distintamente são todas verdadeiras não é correto a não ser porque Deus é ou existe e é um ser perfeito e porque tudo o que existe em nós se origina dele De onde se conclui que as nossas idéias ou noções por serem coisas reais e oriundas de Deus em tudo em que são evidentes e distintas só podem por isso ser verdadeiras De maneira que se temos muitas vezes outras que contêm falsidade só podem ser as que possuem algo de confuso e obscuro porque nisso participam do nada ou seja são assim confusas em nós porque nós não somos totalmente perfeitos E é evidente que não causa menos aversão admitir que a falsidade ou a imperfeição se originam de Deus como tal do que admitir que a verdade ou a perfeição se originem do nada Porém se não soubéssemos de maneira alguma que tudo quanto existe em nós de real e verdadeiro provém de um ser perfeito e infinito por claras e distintas que fossem nossas idéias não teríamos razão alguma que nos garantisse que elas possuem a perfeição de serem verdadeiras Depois que o conhecimento de Deus e da alma nos tenha dado a certeza dessa regra é muito fácil compreender que os sonhos que imaginamos quando dormimos não devem de forma alguma levarnos a duvidar da verdade dos pensamentos que nos ocorrem quando despertos Pois se sucedesse que mesmo dormindo tivéssemos alguma idéia muito distinta como por exemplo que um geômetra criasse qualquer nova demonstração o sono deste não a impediria de ser verdadeira E quanto ao equívoco mais recorrente de nossos sonhos que consiste em nos representarem vários objetos tal como fazem nossos sentidos exteriores não importa que ele nos dê a oportunidade de desconfiar da verdade de tais idéias porque estas também podem nos enganar repetidas vezes sem que estejamos dormindo como ocorre quando os que têm icterícia vêem tudo da cor amarela ou quando os astros ou outros corpos extremamente distantes de nós se nos afiguram muito menores do que são Pois enfim quer estejamos despertos quer dormindo jamais devemos nos deixar convencer exceto pela evidência de nossa razão E devese observar que eu digo de nossa razão de maneira alguma de nossa imaginação ou de nossos sentidos Porque apesar de enxergarmos o sol bastante claramente não devemos julgar por isso que ele seja do tamanho que o vemos e bem podemos imaginar distintamente uma cabeça de leão enxertada no corpo de uma cabra sem que tenhamos de concluir por isso que no mundo existe uma quimera pois a razão não nos sugere que tudo quanto vemos ou imaginamos seja verdadeiro mas nos sugere realmente que todas as nossas idéias ou noções devem conter algum fundamento de verdade pois não seria possível que Deus que é todo perfeito e verídico as tivesse colocado em nós sem isso E pelo fato de nossos raciocínios nunca serem tão evidentes nem tão completos durante o sono como durante a vigília apesar de que às vezes nossas imaginações sejam tanto ou mais vivas e patentes ela nos sugere também que não podendo nossos pensamentos serem totalmente verdadeiros porque não so mos totalmente perfeitos tudo o que eles contêm de verdade deve encontrarse inevitavelmente naquele que temos quando despertos mais do que em nossos sonhos QUINTA PARTE SERIA DE MUITO meu agrado continuar e expor aqui toda a cadeia de outras verdades que deduzi dessas primeiras Porém suposto que para tal realização seria agora necessário que abordasse muitas questões controvertidas entre os eruditos dos quais não desejo atrair a inimizade acredito que será melhor que eu me abstenha e apenas diga em geral quais elas são para deixar que os mais sábios julguem se seria útil que o público fosse mais especificamente informado a esse respeito Continuava sempre firme na decisão que tomara de não presumir nenhum outro princípio salvo aquele de que acabo de me servir para provar a existência de Deus e da alma e de não aceitar coisa alguma por verdadeira que não se me afigurasse mais clara e mais correta do que se me haviam afigurado anteriormente as demonstrações dos geômetras Contu do atrevome a afirmar que não apenas encontrei modo de me satisfazer em pouco tempo no tocante a todas as mais importantes dificuldades que costumam ser enfrentadas na filosofia mas também que percebi certas leis que Deus estabeleceu de tal modo na natureza e das quais imprimiu tais noções em nossas almas que após meditar bastante acerca delas não poderíamos pôr em dúvida que não fossem exatamente observadas em tudo o que existe ou se faz no mundo Em seguida atentando para a seqüência dessas leis creio haver descoberto muitas verdades mais úteis e mais importantes do que tudo quanto aprendera até então ou mesmo esperava aprender Porém posto que tentei explicar as principais num tratado que certas considerações me impedem de publicar não poderia fazêlas conhecer melhor do que explicando aqui resumidamente o que ele contém Eu pleiteava antes de escrevêlo incluir nele tudo o que julgava saber a respeito da natureza das coisas materiais Contudo tal qual os pintores que não conseguindo representar igualmente bem numa tela plana todas as diversas faces de um corpo sólido escolhem uma das principais que põem à luz e sombreando as outras só as fazem aparecer tanto quanto se possa vêlas ao olhar aquela receando dessa forma não colocar em meu discurso tudo o que havia em meu pensamento tentei apenas expor bem amplamente o que concebia da luz depois na ocasião propícia acrescentar alguma coisa a respeito do sol e das estrelas fixas porque a luz provém quase inteiramente deles a respeito dos céus porque a transmitem a respeito dos planetas dos cometas e da Terra porque a refletem e em particular a respeito de todos os corpos que existem sobre a Terra porque são ou coloridos ou transparentes ou brilhantes e por fim a respeito do homem porque é o seu espectador Também para sombrear um pouco todas essas coisas e poder dizer mais livremente o que pensava acerca delas sem ser obrigado a seguir nem a desaprovar as opiniões aceitas entre os eruditos decidi deixar todo esse mundo às suas disputas e a falar apenas do que aconteceria num novo se Deus criasse agora em qualquer parte nos espaços imaginários suficiente matéria para compôlo e se agitasse de maneira diferente e sem ordem as diferentes partes desta matéria de forma que compusesse com ela um caos tão tumultuado quanto os poetas possam nos fazer acreditar e que em seguida não fizesse outra coisa a não ser prestar o seu concurso comum à natureza e deixála agir conforme as leis por ele estabelecidas Assim em primeiro lugar descrevi essa matéria e tentei representála de tal maneira que nada existe no mundo pareceme mais claro nem mais inteligível salvo o que há pouco foi dito a respeito de Deus e da alma pois presumi claramente que não havia nela nenhuma dessas formas ou qualidades a respeito das quais se discute nas escolas nem de modo geral qualquer coisa cujo conhecimento não fosse tão natural às nossas almas que não se pudesse fingir ignorála Ademais mostrei quais eram as leis da natureza e sem alicerçar minhas razões em nenhum outro princípio exceto no das perfeições infinitas de Deus tentei provar todas aquelas que pudessem provocar alguma dúvida e mostrar que elas são tais que ainda que Deus tivesse criado muitos mundos não poderia haver um só em que deixassem de ser observadas Depois disso mostrei como a maior parte da matéria desse caos devia como conseqüência dessas leis disporse e arranjarse de uma certa maneira que a torna semelhante aos nossos céus como contudo algumas de suas partes deviam compor uma Terra alguns dos planetas e cometas e outras um sol e estrelas fixas Neste ponto estendendome acerca do tema da luz expliquei detidamente qual era a que se devia encontrar no sol e nas estrelas e de que maneira a partir daí atravessava num instante os incomensuráveis espaços dos céus e de que forma se refletia dos planetas e dos cometas para a Terra Acrescentei a isso também várias coisas relativas à substância posição movimentos e todas as várias qualidades desses céus e desses astros de maneira que pensava ter dito o suficiente a respeito para fazer compreender que nada se percebe nos deste mundo que não devesse ou ao menos não pudesse parecer semelhante nos do mundo que eu descrevia Daí me pus a falar especificamente acerca da Terra como apesar de haver claramente estabelecido que Deus não colocara peso algum na matéria de que ela era formada todas as suas partes não deixavam de propender exatamente para o seu centro como existindo água e ar em sua superfície a disposição dos céus e dos astros especialmente da lua devia nela causar um fluxo e refluxo que fosse semelhante em todas as suas circunstâncias ao que se observa nos nossos mares e além disso certo curso tanto da água como do ar do levante para o poente tal como se observa também entre os trópicos como as montanhas os mares as fontes e os rios podiam natu ralmente formarse nela e os metais surgirem nas minas e as plantas crescerem nos campos e em geral todos os corpos denominados mistos ou compostos se rem nela gerados E entre outras coisas já que além dos astros nada conheço no mundo exceto o fogo que produza a luz dediqueime a explicar com bastante clareza tudo o que pertence à sua natureza de que maneira ele se origina como se alimenta como às vezes só há calor sem luz e outras vezes luz sem calor como pode introduzir várias cores em vários corpos e numerosas outras qualidades como funde uns e endurece outros como os pode consumir a quase todos ou transformar em cinzas e em fumo e por fim como dessas cinzas apenas pela força de sua ação produz o vidro pois ao considerar essa transmutação de cinzas em vidro tão assombrosa como nenhuma outra que se realize na natureza proporcionoume especial prazer descrevêla Contudo não desejava inferir de todas essas coisas que este mundo houvesse sido criado da forma como propunha pois é muito mais provável que desde o início Deus o tenha tomado tal como devia ser Mas é certo e é uma opinião geralmente adotada pelos teólogos que a ação mediante a qual ele agora o conserva é exatamente igual àquela mediante a qual o criou de forma que apesar de não lhe haver dado no início outra forma a não ser a do caos desde quando tendo instituído as leis da natureza tenha lhe prestado seu concurso para ela agir assim como costuma podese crer sem nenhum prejuízo para o milagre da criação que apenas por isso todas as coisas que são genuinamente materiais poderiam ao longo do tempo converterse em tais como as vemos atualmente E sua natureza é muito mais fácil de ser compreendida quando as vemos nascer pouco a pouco desta forma do que quando já as consideramos totalmente concluídas Da descrição dos corpos inanimados e das plantas passei à dos animais e especificamente à dos homens Porém como ainda não possuía suficiente conhecimento para falar a respeito deles no mesmo estilo que do resto ou seja demonstrando os efeitos a partir das causas e mostrando de quais sementes e de que modo a natureza deve produzilos satisfizme em imaginar que Deus formasse o corpo de um homem inteiramente semelhante a um dos nossos tanto no aspecto exterior de seus membros como na conformação interior de seus órgãos sem compôlo de outra matéria exceto aquela que eu descrevera e sem colocar nele no início alma racional alguma nem qualquer outra coisa para servirlhe de alma vegetativa ou sensitiva mas sim avivasse em seu coração um desses fogos sem luz que eu já explicara e que não concebia outra natureza a não ser a que aquece o feno quando o guardam antes de estar seco ou a que faz ferver os vinhos novos quando fermentam sobre o bagaço Pois examinando as funções que por causa disso podiam se encontrar neste corpo achava exatamente todas as que podem estar em nós sem que o pensemos nem como conseqüência que a nossa alma isto é essa parte distinta do corpo cuja função como já foi dito mais acima é apenas a de pensar para tal contribua e que são todas as mesmas o que consente dizer que os animais sem razão se nos assemelham sem que eu possa encontrar para isso nenhuma daquelas razões que por dependerem do pensamento são as únicas que nos pertencem enquanto homens enquanto encontrava a todas em seguida ao presumir que Deus criara uma alma racional e que a juntara a esse corpo de uma certa maneira que descrevia Porém para que se possa ver de que modo eu lidava com esta matéria quero mostrar aqui a explicação do movimento do coração e das artérias o qual sendo o primeiro e o mais geral que se observa nos animais consentirá julgar com facilidade a partir dele o que se deve pensar de todos os outros E para que seja mais fácil entender o que vou dizer a esse respeito desejaria que todos os que não são peritos em anatomia se dessem ao trabalho antes de ler isto de mandar cortar diante deles o coração de um grande animal que possua pulmões já que é em tudo parecido com o do homem e que peçam para ver as duas câmaras ou concavidades nele existentes Primeiramente a que está no lado direito na qual se ligam dois tubos muito largos a veia cava que é o principal receptáculo do sangue como o tronco da árvore da qual todas as outras veias do corpo são ramos e a veia arteriosa que foi assim indevidamente denominada pois em verdade se trata de uma artéria a qual originandose do coração se divide após sair dele em muitos ramos que vão espalharse nos pulmões Depois a que se encontra no lado esquerdo na qual se ligam de igual maneira dois tubos que são tanto ou mais largos que os anteflores a artéria venosa que também foi indevidamente denominada porque se trata de uma veia que provém dos pulmões onde se reparte em vários ramos entrançados com os da veia arteriosa e com os desse conduto que se chama gasnete por onde entra o ar da respiração e a grande artéria que saindo do coração espalha seus ramos por todo o corpo Apreciaria também que lhes mostrassem cuidadosamente as onze diminutas peles que como outras tantas diminutas portas abrem e fecham as quatro aberturas que existem nessas duas concavidades três à entrada da veia cava onde estão dispostas de tal maneira que não podem de forma alguma impedir que o sangue nela contido corra para a concavidade direita do coração e no entanto impedem que possa dali sair três à entrada da veia arteriosa que estando dispostas bem ao contrário permitem de fato ao sangue que se encontra nessa concavidade fluir para os pulmões mas não ao que se encontra nos pulmões voltar para lá e também duas outras a entrada da artéria venosa que deixam passar o sangue dos pulmões para a concavidade esquerda do coração mas obstam seu retorno e três à entrada da grande artéria que lhe permitem sair do coração porém impedem seu retorno E não é preciso procurar outra razão para o numero dessas peles exceto a de que a abertura da artéria venosa por ser oval em virtude do local onde se encontra pode ser comodamente fechada com duas enquanto por serem as outras redondas três podem melhor fechálas Além disso desejaria que considerassem que a grande artéria e a veia arteriosa são de uma composição muito mais rija e mais firme do que a artéria venosa e a veia cava e que as duas últimas se dilatam antes de penetrar no coração formando aí como duas bolsas denominadas orelhas do coração que se compõem de uma carne parecida com a deste e que existe sempre mais calor no coração do que em qualquer outro local do corpo e enfim que este calor é capaz de fazer com que se uma gota de sangue entrar em suas concavidades ela inche prontamente e se dilate como geralmente se comportam todos os líquidos quando os deixamos cair gota a gota dentro de algum vaso que esteja bem quente Depois disso nada mais necessito dizer para explicar o movimento do coração exceto que quando as suas concavidades não estão repletas de sangue este flui necessariamente da veia cava para a concavidade direita e da artéria venosa para a esquerda já que esses dois vasos se encontram sempre cheios e que suas aberturas voltadas para o coração não podem então ser fechadas mas tão logo tenham entrado duas gotas de sangue uma em cada concavidade estas gotas que são bastante grossas porque as aberturas por onde penetram são muito largas e os vasos de onde provêm bem cheios de sangue diluemse e dilatamse devido ao calor que aí encontram dessa maneira fazendo inflar o coração todo empurram e fecham as cinco pequenas portas que ficam à entrada dos dois vasos de onde provêm impedindo assim que chegue mais sangue ao coração e continuando a diluirse cada vez mais empurram e abrem as seis outras pequenas portas situadas à entrada dos dois outros vasos por onde saem fazendo inflar dessa forma todos os ramos da veia arteriosa e da grande artéria quase no mesmo instante que o coração o qual imediatamente desincha como ocorre também com essas artérias por se resfriar o sangue que nelas entrou e suas seis pequenas portas se fecham e as cinco da veia cava e da artéria venosa reabremse dando passagem a duas outras gotas de sangue que vão de novo inflar o coração e as artérias da mesma maneira que as precedentes E como o sangue que penetra assim no coração passa por essas duas bolsas que são denominadas suas orelhas resulta que o movimento dessas é contrário ao seu e que elas desincham quando ele infla De resto para que aqueles que não conhecem a força das demonstrações matemáticas e não estão habituados a discernir as razões verdadeiras e as prováveis não se arrisquem a negar tal fato sem uma análise quero chamarlhes a atenção para o fato de que esse movimento que acabo de descrever decorre necessariamente da simples disposição dos órgãos que se podem divisar a olho nu no coração e do calor que se pode sentir com os dedos e da natureza do sangue que se pode conhecer por experiência como o movimento de um relógio decorre da força da posição e da forma de seus contrapesos e rodas Porém se me for perguntado por que o sangue das veias não se esgota fluindo continuamente para o coração e por que as artérias não se enchem demais já que tudo quanto passa pelo coração para elas se dirige não preciso responder nada mais do que já foi escrito por um médico da Inglaterra a quem é preciso dar o louvor de ter rompido o gelo neste ponto e de ser o primeiro a ter ensinado a existência de muitas pequenas passagens nas extremidades das artérias por onde o sangue que elas recebem do coração penetra nos diminutos ramos das veias de onde ele torna a dirigirse para o coração de maneira que o seu curso é uma circulação perpétua E isso ele prova muito bem pela experiência comum dos cirurgiões que amarrando o braço sem apertálo muito acima do local onde abrem a veia fazem com que o sangue saia dela com mais abundância do que se não o tivessem amarrado E aconteceria exatamente o contrário se eles o amarrassem mais abaixo entre a mão e a abertura ou então se o amarrassem com muita força em cima Pois é evidente que o laço medianamente apertado embora impedindo que o sangue que já se encontra no braço retorne ao coração pelas veias não impede que para aí sempre aflua novo sangue pelas artérias porque estas se situam por baixo das veias e porque suas peles sendo mais rijas são mais difíceis de pressionar e também porque o sangue proveniente do coração tende com mais força a passar por elas em direção à mão do que a voltar daí para o coração pelas veias E como esse sangue sai do braço pela abertura que há numa das veias devem necessariamente existir algumas passagens abaixo do laço ou seja na direção das extremidades do braço por onde possa vir das artérias Além disso ele prova bastante bem o que afirma a respeito do fluxo do sangue por certas pequenas peles as quais se encontram de tal maneira dispostas em diversos pontos ao longo das veias que não lhe permitem passar do meio do corpo para as extremidades mas somente retornar das extremidades para o coração e ademais pela experiência que mostra que todo o sangue que há no corpo pode dele sair em muito pouco tempo por uma única artéria quando secionada até mesmo se ela fosse fortemente amarrada muito próxima do coração e secionada entre ele e a ligadura de maneira que não houvesse motivo de imaginar que o sangue que daí saísse procedesse de outro lugar Mas existem numerosas outras coisas que comprovam que a verdadeira causa desse movimento do sangue é a que eu apresentei Assim em primeiro lugar a diferença que se percebe entre o sangue que sai das veias e o que sai das artérias só pode se originar do fato de que havendose diluído e como destilado ao passar pelo coração é mais fino mais vivo e mais quente logo após sair dele ou seja quando corre nas artérias do que o é um pouco antes de nele penetrar isto é quando corre nas veias E se se prestar atenção verificase que tal diferença só aparece realmente na direção do coração e de forma alguma nos lugares que dele são mais distantes Depois a rigidez das peles de que a veia arteriosa e a grande artéria se compõem mostra satisfatoriamente que o sangue bate contra elas com mais força do que contra as veias E por que seriam a concavidade esquerda do coração e a grande artéria maiores e mais largas do que a concavidade direita e a veia arteriosa se não fosse porque o sangue da artéria venosa tendo estado apenas nos pulmões depois de passar pelo coração é mais fino e se dilui mais facilmente do que aquele que procede imediatamente da veia cava E o que podem os médicos descobrir ao tatear o pulso se não sabem que conforme o sangue muda de natureza pode ser diluído pelo calor do coração mais ou menos forte e mais ou menos rápido do que antes E se se examina de que maneira esse calor se transfere aos outros membros não convém confessar que é por meio do sangue que ao passar pelo coração nele se aquece e daí se espalha por todo o corpo Daí decorre que se se retira o sangue de alguma parte retiraselhe da mesma forma o calor e mesmo que o coração fosse tão ardente quanto um ferro em brasa não bastaria como não basta para aquecer os pés e as mãos se não lhes enviasse ininterruptamente novo sangue Depois também se sabe daí que a real utilidade da respiração é levar bastante ar fresco aos pulmões a fim de fazer com que o sangue que para aí se dirige vindo da concavidade direita do coração onde foi diluído e como transmudado em vapores se adense e se transforme novamente antes de recair na concavidade esquerda sem o que não seria apropriado para servir de alimento ao fogo aí existente O que está de acordo porquanto os animais que não possuem pulmões não são providos de mais do que uma concavidade no coração e as crianças que não podem utilizá los por se encontrarem fechadas no ventre de suas mães apresentam uma abertura por onde corre o sangue da veia cava em direção à concavidade esquerda do coração e um conduto por onde ele provém da veia arteriosa para a grande artéria sem passar pelos pulmões Depois a digestão como ela se proces saria no estômago se o coração não lhe enviasse calor pelas artérias e com esse alguns dos elementos mais fluidos do sangue que ajudam a dissolver os alimentos que foram para ali levados E a ação que transformou o suco desses alimentos em sangue não será ela fácil de conhecer se se considera que este se destila passando e repassando pelo coração talvez mais de cem ou duzentas vezes por dia E de que mais se precisa para explicar a nutrição e a produção dos vários humores que há no corpo salvo afirmar que a força com que o sangue ao rarefazerse passa do coração para as extremidades das artérias leva alguns de seus elementos a se deterem entre os dos membros onde se encontram e a tomarem aí o lugar de alguns outros que elas expulsam e que de acordo com a situação ou com a configuração ou com a pequenez dos poros que encontram alguns vão ter a certos lugares mais do que outros de igual maneira como cada um pode ter visto várias peneiras que sendo diferentemente perfuradas servem para separar diversos grãos uns dos outros E por fim o que existe de mais extraordinário em tudo isso é a geração dos espíritos animais que são como um vento muito sutil ou melhor como uma chama muito pura e muito viva que subindo ininterruptamente em grande quantidade do coração ao cérebro dirige se a partir daí pelos nervos para os músculos e imprime movimento a todos os membros sem que seja necessário imaginar outra causa que Leve os elementos do sangue que por serem os mais agitados e penetrantes são os mais adequados para compor tais espíritos a se dirigirem mais ao cérebro do que a outras partes mas apenas que as artérias que os transportam para aí são aquelas que provêm do coração em Linha mais reta de todas e que de acordo com as leis da mecâ nica que são as mesmas da natureza quando várias coisas tendem a moverse em conjunto para um mesmo lado onde não existe espaço suficiente para todas tal qual os elementos do sangue que saem da concavidade esquerda do coração tendem para o cérebro os mais débeis e menos agitados devem ser desviados pelos mais fortes que por esse meio aí chegam sozinhos Eu explanara muito particularmente todas essas coisas no tratado que pretendi publicar em tempos passados E em seguida expusera nele qual deve ser a estrutura dos nervos e dos músculos do corpo humano para fazer com que os espíritos animais que se encontram dentro deles tenham a força de mover seus membros assim como se vê que as cabeças pouco depois de decepadas ainda se movem e mordem a terra apesar de não serem mais animadas quais trans formações se devem efetuar no cérebro para produzir a vigília o sono e os sonhos como a luz os sons os odores os sabores o calor e todas as outras qualidades dos objetos exteriores nele podem imprimir variadas idéias por intermédio dos sentidos como a fome a sede e as outras paixões interiores também podem lhe transmitir as suas o que deve ser nele tomado pelo senso comum onde essas idéias são aceitas pela memória que as conserva e pela fantasia que as pode modificar diferentemente e formar com elas outras novas e pelo mesmo meio distribuindo os espíritos animais nos músculos movimentar os membros desse corpo de tão diferentes maneiras quer a respeito dos objetos que se apresentam a seus sentidos quer das paixões interiores que se encontram nele que os ossos se possam movimentar sem que a vontade os conduza O que não parecerá de maneira alguma estranho a quem sabendo quão diversos autômatos ou máquinas móveis a indústria dos homens pode produzir sem aplicar nisso senão pouquíssimas peças em comparação à grande quantidade de ossos músculos nervos artérias veias e todas as outras partes existentes no corpo de cada animal considerará esse corpo uma máquina que tendo sido feita pelas mãos de Deus é incomparavelmente mais bem organizada e capaz de movimentos mais admiráveis do que qualquer uma das que possam ser criadas pelos homens E me demorara especificamente neste ponto para mostrar que se existissem máquinas assim que fossem providas de órgãos e do aspecto de um macaco ou de qualquer outro animal irracional não teríamos meio algum para reconhecer que elas não seriam em tudo da mesma natureza que esses animais contudo se existissem outras que se assemelhassem com os nossos corpos e imitassem tanto nossas ações quanto moralmente fosse possível teríamos sempre dois meios bastante seguros para constatar que nem por isso seriam verdadeiros homens Desses meios o primeiro é que jamais poderiam utilizar palavras nem outros sinais arranjandoos como fazemos para manifestar aos outros os nossos pensamentos Pois podese muito bem imaginar que uma máquina seja feita de tal modo que articule palavras e até que articule algumas a respeito das ações corporais que causem alguma mudança em seus órgãos por exemplo se a tocam num ponto que indague o que se pretende dizerlhe se em outro que grite que lhe causam mal e coisas análogas mas não que ela as arrume diferentemente para responder ao sentido de tudo quanto se disser na sua presença assim como podem fazer os homens mais embrutecidos E o segundo meio é que ainda que fizessem muitas coisas tão bem ou talvez melhor do que qualquer um de nós falhariam inevitavelmente em algumas outras pelas quais se descobriria que não agem pelo conhecimento mas apenas pela distribuição ordenada de seus órgãos Pois enquanto a razão é um instrumento universal que serve em todas as ocasiões tais órgãos precisam de alguma disposição específica para cada ação específica daí decorre que é moralmente impossível que numa máquina haja muitas e diferentes para fazêla agir em todas as ocasiões da vida da mesma maneira que a nossa razão nos faz agir Notese que por esses dois meios podese também conhecer a diferença que há entre os homens e os animais Já que é algo extraordinário que não existam homens tão embrutecidos e tão estúpidos sem nem mesmo a exceção dos loucos que não tenham a capacidade de ordenar diversas palavras arranjandoas num discurso mediante o qual consigam fazer entender seus pensamentos e que ao contrário não haja outro animal por mais perfeito que possa ser capaz de fazer o mesmo E isso não ocorre porque lhes faltem órgãos pois sabemos que as pegas e os papagaios podem articular palavras assim como nós no entanto não conseguem falar como nós ou seja demonstrando que pensam o que dizem enquanto os homens que havendo nascido surdos e mudos são desprovidos dos órgã os que servem aos outros para falar tanto ou mais que os animais costumam criar eles mesmos alguns sinais mediante os quais se fazem entender por quem convivendo com eles disponha de tempo para aprender a sua língua E isso não prova somente que os animais possuem menos razão do que os homens mas que não possuem nenhuma razão Pois vemos que é necessário bem pouco para saber falar e se bem que se percebe desigualdade entre os animais de uma mesma espécie assim como entre os homens e que uns são mais fáceis de adestrar que outros não é acreditável que um macaco ou um papagaio que fossem os mais perfeitos de sua espécie não igualassem nisso uma criança das mais estúpidas ou pelo menos uma criança com o cérebro confuso se a sua alma não fosse de uma natureza totalmente diferente da nossa E não se devem confundir as palavras com os movimentos naturais que tes temunham as paixões e podem ser imitados pelas máquinas e também pelos animais nem pensar como alguns antigos que os animais falam embora não entendamos sua linguagem pois se fosse verdade visto que possuem muitos órgãos correlatos aos nossos poderiam fazerse compreender tanto por nós como por seus semelhantes E também coisa digna de nota que apesar de haver muitos animais que demonstram mais habilidade do que nós em algumas de suas ações percebese contudo que não a demonstram nem um pouco em muitas outras de forma que aquilo que fazem melhor do que nós não prova que possuam alma pois por esse critério têlaiam mais do que qualquer um de nós e agiriam melhor em tudo mas ao contrário que não a possuem e que é a natureza que atua neles conforme a disposição de seus órgãos assim como um relógio que é feito apenas de rodas e molas pode contar as horas e medir o tempo com maior precisão do que nós com toda a nossa sensatez Depois disso eu descrevera a alma racional e havia mostrado que ela não pode ser de maneira alguma tirada do poder da matéria como as outras coisas a respeito das quais falara mas que devem claramente ter sido e como não é suficiente que esteja alojada no corpo humano assim como um piloto em seu navio salvo talvez para mover seus membros mas que é necessário que esteja junta e unida estreitamente com ele para ter além disso sentimentos e desejos parecidos com os nossos e assim compor um verdadeiro homem Afinal de contas eu me estendi um pouco aqui sobre o tema da alma por ele ser um dos mais importantes pois após o erro dos que negam Deus que penso haver refutado suficientemente mais acima não existe outro que desvie mais os espíritos fracos do caminho reto da virtude do que imaginar que a alma dos ani mais seja da mesma natureza que a nossa e que portanto nada temos a recear nem a esperar depois dessa vida não mais do que as moscas e as formigas ao mesmo tempo que sabendose quanto diferem compreendese muito mais as razões que provam que a nossa é de uma natureza inteiramente independente do corpo e consequentemente que não está de maneira alguma sujeita a morrer com ele depois como não se notam outras causas que a destruam somos naturalmente impelidos a supor por isso que ela é imortal SEXTA PARTE FAZIA TRÊS ANOS que eu conclu íra o tratado que compreende todas essas coisas e que havia iniciado a revêlo com o intuito de entregálo a um editor quando fiquei sabendo que pessoas a quem respeito e cuja autoridade sobre minhas ações não é menor que minha própria razão sobre meus pensamentos não haviam concordado com uma opinião de física publicada pou co antes por alguém opinião com a qual não afirmo que eu concordasse mas que nada notara nela antes de a criticarem que pudesse considerar nociva à reli gião ou ao Estado nem consequentemente que me impossibilitasse de escrevê la se a razão tivesse me convencido a fazêlo e isso me fez temer que se en contrasse da mesma maneira alguma entre as minhas em que eu me tivesse equivocado apesar do grande cuidado que sempre tomei em não dar acolhida a novas opiniões das quais não pudesse demonstrar com muita exatidão e de não escrever nenhuma que pudesse acarretar prejuízo para qualquer pessoa O que foi suficiente para me obrigar a mudar a decisão que eu tomara de publicálas Pois apesar de as razões pelas quais eu a tomara anteriormente fossem muito fortes minha inclinação que sempre me levara a detestar o ofício de fazer livros me guiara imediatamente a encontrar muitas outras para dispensála E essas razões de uma parte e de outra são tais que não apenas tenho aqui algum interesse em expressálas como talvez o público também o tenha em conhecê las Jamais dei muita atenção às coisas que provinham de meu espírito e à medida que não colhi outros frutos do método que emprego exceto que fiquei satisfeito em relação a algumas dificuldades que dizem respeito às ciências especulativas ou então que tentei pautar meus hábitos pelas razões que ele me ensinava não me considerei obrigado a nada escrever acerca dele Pois no que se refere aos hábitos cada qual segue de tal maneira sua própria opinião que se poderia encontrar tantos reformadores quantas são as cabeças se fosse permitido a outros além dos que Deus estabeleceu como soberanos dos povos ou então aos que concedeu suficiente graça e diligência para serem profetas tentar mudá los em algo e apesar de que minhas especulações me agradassem muito pensei que os outros também tinham as suas que lhes agradariam talvez mais Porém apenas adquiri algumas noções gerais concernentes a física e começando a comproválas em várias dificuldades particulares percebi até onde podiam conduzir e quanto diferem dos princípios que haviam sido utilizados até o presente considerei que não podia mantêlas escondidas sem transgredir a lei que nos obriga a procurar no que depende de nós o bem geral de todos os homens Pois elas me mostraram que é possível chegar a conhecimentos que sejam muito úteis à vida e que em lugar dessa filosofia especulativa que se ensina nas escolas é possível encontrarse uma outra prática mediante a qual conhecendo a força e as ações do fogo da água do ar dos astros dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam tão claramente como conhecemos os vários ofícios de nossos artífices poderíamos utilizálos da mesma forma em todos os usos para os quais são próprios e assim nos tornar como senhores e possuidores da natureza O que é de desejar não apenas para a invenção de uma infinidade de artifícios que permitiriam usufruir sem custo algum os frutos da terra e todas as comodidades que nela se encontram mas também e principalmente para a conservação da saúde que é sem dúvida o primeiro bem e a base de todos os outros bens desta vida pois mesmo o espírito depende tanto do temperamento e da disposição dos órgãos do corpo que se é possível encontrar algum meio que torne comumente os homens mais sábios e mais hábeis do que foram até aqui creio que é na medicina que se deve procurálo É verdade que aquela que é agora empregada possui poucas coisas cuja utilidade seja tão notável porém sem que eu tenha intenção alguma de desprezála tenho certeza de que não existe ninguém mesmo entre os que a professam que não confesse que tudo quanto nela se sabe é quase nada se comparado com o que falta saber e que poderíamos pôrnos a salvo de grande número de doenças quer do espírito quer do corpo e talvez até mesmo da debilidade decorrente da velhice se possuíssemos suficiente conhecimento de suas causas e de todos os remédios de que a natureza nos dotou Ora tendo a intenção de empregar toda a minha vida na pesquisa de uma ciência tão necessária e havendo encontrado um caminho que se me afigura tal que se deve infalivelmente encontrála se o seguirmos exceto se disso sejamos impossibilitados ou pela breve duração da vida ou pela falta de experiências julguei que não havia melhor remédio contra esses dois impedimentos a não ser comunicar com fidelidade ao público o pouco que já tivesse descoberto e convidar os bons espíritos a empregarem todas as forças para ir além contribuindo cada qual de acordo com sua inclinação e sua capacidade para as experiências que seria necessário realizar e comunicando ao público todas as coisas que aprendesse para que os últimos começassem onde os precedentes houvessem acabado e assim somando as vidas e os trabalhos de muitos fôssemos todos juntos muito mais longe do que poderia ir cada um em particular Percebera também a respeito das experiências que elas são tanto mais necessárias quanto mais avançados estivermos no conhecimento Pois no início mais vale servirse apenas das que se apresentam por si mesmas aos nossos sentidos e que não poderíamos ignorar desde que lhes dediquemos o pouco que seja de reflexão em vez de procurar as mais raras e complicadas a razão disso é que essas mais raras muitas vezes nos enganam quando se conhecem ainda as causas das mais comuns e que as circunstâncias das quais dependem são quase sempre tão específicas e tão pequenas que é muito penoso notálas Mas a ordem que guardei nisso foi a que segue Em princípio procurei encontrar os princípios ou causas primeiras de tudo quanto existe ou pode existir no mundo sem nada considerar para tal efeito senão Deus que o criou nem tirálas de outra parte salvo de certas sementes de verdades que existem naturalmente em nossas almas Em seguida examinei quais são os primeiros e os mais comuns efeitos que se podem deduzir dessas causas e pareceme que por aí encontrei céus astros uma Terra e também acerca da terra água ar fogo minerais e algumas outras dessas coisas que são as mais triviais de todas e as mais simples e consequentemente as mais fáceis de conhecer Depois quando quis descer às que eram mais específicas apresentaramseme tão variadas que não acreditei que fosse possível ao espírito humano distinguir as formas ou espécies de corpos que existem sobre a Terra de uma infinidade de outras que poderiam nela existir se fosse a vontade de Deus aí colocálas nem por conseguinte tornálas de nosso uso a não ser que se busquem as causas a partir dos efeitos e que se recorra a muitas experiências específicas Como conseqüência disso repassando meu espírito sobre todos os objetos que alguma vez se ofereceram aos meus sentidos atrevome a dizer que não observei nenhum que eu não pudesse explicar muito comodamente por meio dos princípios que encontrara Mas é necessário que eu confesse também que o poder da natureza é tão amplo e tão vasto e que esses princípios são tão simples e tão gerais que quase não percebi um único efeito específico que eu já não soubesse ser possível deduzilo daí de várias formas diferentes e que a minha maior dificuldade é comumente descobrir de qual dessas formas o referido efeito depende Pois para tanto não conheço outro meio a não ser o de procurar novamente algumas experiências tais que seu resultado não seja o mesmo se explicado de uma dessas maneiras e não de outra Afinal de contas encontrome agora num ponto em que me parece ver muito bem qual o meio a que se deve recorrer para realizar a maioria das que podem servir para esse efeito mas vejo também que são tais e em tão grande número que nem as minhas mãos nem a minha renda ainda que eu possuísse mil vezes mais do que possuo bastariam para todas de maneira que à medida que de agora em diante tiver a comodidade de realizálas em maior ou menor número avançarei mais ou menos no conhecimento da natureza Fato que prometia a mim mesmo tornar conhecido pelo tratado que escrevera e mostrar tão claramente a utilidade que daí podia resultar para o público que obrigaria a todos aqueles que desejam o bem dos homens ou seja todos aqueles que são em verdade virtuosos e não apenas por hipocrisia nem apenas por princípio tanto a comunicarme as que já tivessem realizado como a me ajudar na pesquisa das que ainda há por fazer A partir de então porém ocorreram outras razões que me fizeram mudar de opinião e pensar que devia continuar escrevendo todas as coisas que considerasse de alguma importância conforme fosse descobrindo sua correção e proporcionarlhes o mesmo cuidado que se desejasse mandar publicálas quer para ter mais oportunidades de melhor analisálas porque não há dúvida de que se tem mais cuidado com o que pensamos que deva ser visto por muitos do que com o que se faz apenas para si próprio e freqüentemente as coisas que se me afiguraram verdadeiras quando comecei a concebêlas pareceramme falsas quando decidi colocálas no papel quer para não perder oportunidade alguma de beneficiar o público se é que disso sou capaz quer para que se meus textos possuem algum valor os que os tiverem em mãos depois da minha morte possam utilizálos como for mais conveniente mas que não devia de maneira alguma consentir que fossem publicados durante a minha vida a fim de que nem as objeções e as controvérsias a que estariam talvez sujeitos nem mesmo a reputação qualquer que ela fosse que me pudessem proporcionar me dessem a menor ocasião de perder o tempo que pretendo empregar em instruirme Pois apesar de ser verdade que cada homem deve procurar no que depende dele o bem dos outros e que é propriamente nada valer o não ser útil a ninguém é verdade também que os nossos cuidados devem estenderse para mais longe do tempo presente e que convém omitir as coisas que talvez redundem em algum proveito aos que estão vivos quando é com o propósito de fazer outras que serão mais úteis aos homens do futuro Porque realmente quero que se saiba que o pouco que aprendi até agora não é quase nada em comparação com o que ignoro e que não desanimo de poder aprender pois acontece quase a mesma coisa aos que descobrem paulatinamente a verdade nas ciências que àqueles que começando a enriquecer têm menos dificuldade em realizar grandes aquisições do que tiveram antes quando mais pobres em realizar outras muito menores Ou então podese comparálos aos comandantes de exército cujas forças costumam crescer na proporção de suas vitórias e que necessitam de mais habilidade para se manter depois de haver perdido uma batalha do que possuem depois de vencêla para conquistar cidades e províncias Pois é verdadeiramente dar batalhas o procurar vencer todas as dificuldades e os erros que nos impedem de chegar ao conhecimento da verdade e é perder o dar acolhida a qualquer falsa opinião acerca de uma matéria um pouco geral e importante em seguida é necessário muito mais habilidade para retornar ao mesmo estado em que se encontrava antes do que para realizar grandes progressos quando já se têm princípios que sejam seguros No que me diz respeito se deparei preceden temente com algumas verdades nas ciências e espero que as coisas contidas neste volume levarão a julgar que descobri algumas posso dizer que não passam de conseqüências e dependências de cinco ou seis dificuldades principais que superei e que considero outras tantas batalhas em que a sorte esteve a meu lado Não recearei afirmar que creio ter necessidade de ganhar somente mais duas ou três semelhantes para levar totalmente a termo meus projetos e que minha idade não é tão avançada que de acordo com o andamento normal da natureza não possa ainda dispor de tempo suficiente para tal efeito Mas creio estar tanto mais obrigado a economizar o tempo que me resta quanto maior a esperança de poder bem utilizálo e teria sem dúvida muitas oportunidades de perdêlo se publicasse os fundamentos de minha física Pois apesar de serem quase todos tão evidentes que basta entendêlos para os aceitar e não haver nenhum de que não acredite poder dar demonstração é impossível que estejam concordes com todas as diferentes opiniões dos outros homens suponho que seria muitas vezes desviado pelas oposições que originariam Podese dizer que essas oposições seriam úteis tanto para me fazerem conhecer os meus equívocos como para que se eu tivesse algo de bom os outros pudessem por esse meio entendêlo melhor e como muitos homens vêem melhor do que um só para que começando desde já a servirse desse bem eles me ajudassem também com suas invenções Porém apesar de reconhecer que sou muito sujeito a falhas e que quase nunca me fio nas primeiras idéias que me ocorrem a experiência que possuo acerca das objeções que me podem ser feitas impedeme de esperar delas qualquer proveito pois muitas vezes já comprovei as opiniões tanto daqueles que considerava meus amigos quanto de alguns outros a quem achava que eu fosse indiferente e até mesmo de alguns de quem eu sabia que a malignidade e a inveja se esforçariam bastante por revelar o que o afeto ocultaria a meus amigos mas raramente aconteceu que alguém me objetasse algo que eu já não tivesse previsto salvo se fosse coisa muito afastada de meu assunto de maneira que quase nunca deparei com algum crítico de minhas opiniões que não me parecesse ou menos rigoroso ou menos equilibrado do que eu mesmo E jamais percebi tampouco que por meio das disputas que ocorrem nas escolas alguém descobrisse alguma verdade até então ignorada pois na medida em que cada qual se esforça em vencer empenhase bem mais em fazer valer a verossimilhança do que em avaliar as razões de uma e de outra parte e aqueles que foram durante muito tempo bons advogados nem por isso se tornam melhores juizes A respeito da utilidade que os outros obteriam da divulgação de meus pensamentos não poderia também ser muito grande sendo que ainda não os levei tão longe que não seja necessário acrescentarlhes muitas coisas antes de aplicálos ao uso E creio poder afirmar sem presunção que se existe alguém que seja capaz disso hei de ser eu mais do que outro qualquer não que não possa haver no mundo muitos espíritos melhores que o meu mas porque não se pode compreender tão bem uma coisa e tornála nossa quando a aprendemos de outrem como quando nós mesmos a criamos O que é tão verdadeiro nesta matéria que apesar de haver muitas vezes explicado alguns de meus conceitos a pessoas de ótimo espírito e enquanto eu lhes falava pareciam entendêlas muito claramente contudo quando as repetiam percebi que quase sempre as mudavam de tal maneira que não mais podia considerálas minhas Com essa intenção prezo muito pedir aqui às futuras gerações que jamais acreditem nas coisas que lhes forem apresentadas como provindas de mim se eu mesmo não as tiver divulgado E não me surpreendem de maneira alguma as extravagâncias que se atribuem a todos esses antigos filósofos cujos escritos não possuímos nem julgo por isso que os seus pensamentos tenham sido muito disparatados porquanto eram os melhores espíritos de seu tempo mas apenas julgo que nos foram mal referidos Porque se vê também que quase nunca ocorreu que algum de seus seguidores os tenha superado e tenho certeza de que os mais apaixonados dos atuais partidários de Aristóteles sentirseiam felizes se tivessem tanto conhecimento da natureza quanto ele o teve apesar de sob a condição de nunca o terem maior São como a hera que não sobe mais alto que as árvores que a sustentam e que muitas vezes torna a descer depois de haver alcançado o topo pois tenho a impressão de que também voltam a descer ou seja tornamse de certa maneira menos sábios do que se se abstivessem de estu dar aqueles que não satisfeitos de saber tudo o que é inteligivelmente explicado no seu autor querem além disso encontrar nele a solução de muitas dificuldades acerca das quais nada declarou e nas quais talvez jamais pensou Contudo o modo de filosofar é muito cômodo para aqueles que possuem espíritos bastante medíocres pois a falta de clareza das distinções e dos princípios de que se utilizam é causa de que possam falar de todas as coisas tão ousadamente como se as conhecessem e sustentar tudo o que dizem contra os mais perspicazes e os mais capazes sem que haja meio de persuadilos Nisso se me afiguram parecidos com um cego que para lutar sem ficar em desvantagem com alguém que enxerga preferisse fazêlo no fundo de uma adega escura e posso dizer que esses têm interesse que eu me abstenha de publicar os princípios da filosofia de que me utilizo pois por serem muito simples e muito evidentes como o são faria quase o mesmo ao publicálos que se abrisse algumas janelas e fizesse entrar a luz nessa mesma adega para onde desceram para lutar Mas até mesmo os melhores espíritos não devem desejar conhecêlos pois se almejam falar de todas as coisas com conhecimento e obter a fama de sábios irão conseguilo mais facilmente satisfazendose com a verossimilhança que pode ser encontrada sem muito esforço em todas as espécies de matérias do que procurando a verdade que só se descobre pouco a pouco em algumas e que quando se trata de falar das outras obriga a confessar sinceramente que nós as ignoramos Dado que preferem o conhecimento de um pouco de verdade à vaidade de darem a impressão de nada ignorar como sem dúvida é preferível e se pretendem seguir um desígnio parecido com o meu não necessitam para isso que lhes diga nada além do que já disse neste discurso Pois se são capazes de avançar mais do que eu fui com maior razão serão também capazes de encontrar por si próprios tudo o que penso ter encontrado Ainda mais que não havendo nunca analisado algo a não ser por ordem certamente o que ainda me falta descobrir é em si mais difícil e mais obscuro do que aquilo que pude anterior mente encontrar e lhes seria muito menos prazeroso aprendêlo por mim do que por si mesmos além do que o hábito que adquirirão procurando em princípio coisas fáceis e passando gradualmente a outras mais difíceis serlhesá mais proveitoso do que lhes poderiam ser todas as minhas instruções Porque quanto a mim cheguei à conclusão de que se a partir da juventude me tivessem ensinado todas as verdades cujas demonstrações procurei depois e se eu não tivesse dificuldade alguma em aprendêlas talvez nunca soubesse algumas outras e ao menos nunca teria adquirido o hábito e a facilidade que julgo possuir para sempre descobrir outras novas conforme me esforço em procurá las E se existe no mundo alguma obra que não possa ser tão bem executada por nenhum outro a não ser pela mesma pessoa que a iniciou é naquela que eu trabalho A verdade é que no que diz respeito às experiências que podem servir para isso um único homem não poderia ser suficiente para realizálas todas mas não poderia também utilizar com proveito outras mãos que não as suas salvo as dos artesãos ou pessoas tais a quem pudesse pagar e a quem o vislumbre do dinhei ro que é um meio muito eficiente faria executar exatamente todas as coisas que ele lhes determinasse Pois no que diz respeito aos voluntários que por curiosi dade ou vontade de aprender pudesse se oferecer para o ajudar além de geralmente apresentarem mais promessas do que resultados e de fazerem apenas belas propostas das quais nenhuma nunca obtém sucesso desejariam inevitavelmente ser pagos pela explicação de algumas dificuldades ou ao menos por cumprimentos e conversas estéreis que lhe custariam sempre algum tempo por pouco que fosse E a respeito das experiências já realizadas pelos outros ainda que desejassem lhes comunicar o que aqueles que as chamam de segredos jamais o fariam são na maioria compostas de tantas circunstâncias ou ingredientes supérfluos que lhe seria muito difícil decifrarlhes a verdade além de que as encontraria quase todas tão mal explicadas ou mesmo tão errôneas pois aqueles que as realizaram esforçaramse por tornálas conformes com seus princípios que se existissem algumas que lhe servissem não poderiam valer outra vez o tempo que teria de gastar a fim de escolhêlas De maneira que se houvesse no mundo alguém de quem se soubesse que seria com certeza capaz de encontrar as maiores coisas e as mais úteis possíveis para o público e a quem por esse motivo os demais homens se esforçassem por todos os meios em ajudar na realização de seus intentos não vejo que pudessem fazer mais por ele além de financiar as despesas nas experiências de que precisasse e de resto impedir que seu tempo lhe fosse tomado por pessoas inoportunas Mas além de que não imagino tanto de mim mesmo que queira prometer algo de extraordinário nem me alimente de ilusões como imaginar que o público se deva interessar muito pelos meus projetos não tenho também a alma tão baixa que vá aceitar de quem quer que seja qualquer favor que possam julgar que eu não mereça Todas essas considerações juntas foram motivo há três anos de que eu me recusasse a divulgar o tratado que tinha em mãos e mesmo que decidisse não elaborar outro qualquer ao longo de minha existência que fosse tão geral nem do qual fosse possível conhecer os fundamentos da minha física Mas em seguida houve novamente duas outras razões que me obrigaram a apresentar aqui alguns ensaios particulares e a prestar ao público alguma conta de minhas ações e de meus intentos A primeira é que se não o fizesse muitos que haviam sabido do projeto que eu alimentava anteriormente de mandar imprimir alguns escritos poderiam imaginar que as causas pelas quais me abstivera disso fossem mais inconvenientes para mim do que na realidade o são Pois apesar de não apreciar a glória em excesso ou mesmo se me atrevo a dizêlo a odeie na medida em que a julgo contrária ao repouso que estimo acima de todas as coisas contudo jamais procurei esconder minhas ações como se fossem crimino sas nem usei muitas precauções para ficar desconhecido tanto por acreditar que isso me faria mal como por saber que me provocaria uma espécie de inquietação que seria mais uma vez contrária à perfeita paz de espírito que procuro E sendo que por haverme sempre mantido assim indiferente entre o cuidado de ser conhecido e o de não sêlo não pude evitar de adquirir certa reputação julgando que devia fazer o máximo para me livrar ao menos de têla má A outra razão que me obrigou a escrever este livro é que vendo todos os dias mais e mais o atraso que sofre meu propósito de me instruir por causa de um semnúmero de experiências de que preciso realizar o que me e impossível sem o auxilio de outra pessoa embora não me lisonjeie tanto a ponto de esperar que o público tome grande parte em meus interesses não quero faltar tanto a mim próprio que dê motivo aos que me sobreviverão para me censurar um dia de que eu poderia terlhes legado muitas coisas bem melhores do que as que leguei se não me tivesse descuidado tanto em fazêlos compreender em que poderiam contribuir para os meus projetos E acreditei que me seria fácil escolher algumas matérias que sem estarem expostas a muitas controvérsias nem me obrigarem a expor mais do que desejo a respeito dos meus princípios não deixariam de mostrar com bastante clareza o que posso ou não posso nas ciências E quanto a isso eu não poderia dizer se fui bemsucedido e não quero predispor os juízos de nin guém falando eu próprio sobre meus escritos mas apreciaria muito que fossem analisados e para que haja tanto mais ocasião suplico a todos aqueles que tiverem quaisquer objeções a fazerlhes que se dêem ao trabalho de enviálas ao meu editor para que sendo advertido procure acrescentarlhes ao mesmo tempo a minha resposta e por esse meio os leitores vendo em conjunto uma e outra julgarão tanto mais facilmente a verdade Pois prometo jamais lhes dar respostas longas mas apenas confessar meus equívocos de maneira franca se os admitir ou então caso não consiga percebêlos dizer simplesmente o que julgar necessário para a defesa das coisas que escrevi sem acrescentar a explicação de qualquer nova matéria a fim de não me enredar inapelavelmente entre uma e outra Se algumas daquelas explicações que apresentei no começo de Dióptrica e de Meteoros chocam de início por eu as denominar suposições e por parecer que não pretendo proválas que se tenha a paciência de ler o todo com atenção e espero que todos ficarão satisfeitos Pois me parece que nelas as razões se seguem de tal modo que como as últimas são demonstradas pelas primeiras que são as suas causas essas primeiras o são reciprocamente pelas últimas que são seus efeitos E não se deve imaginar que cometo com isso o erro que os lógicos chamam de círculo pois como a experiência torna a maioria desses efeitos muito correta as causas das quais os deduzo não servem tanto para proválos ou explicálos mas ao contrário são elas que são provadas por eles E não as chamei suposições só para que se saiba que penso poder deduzilas dessas primeiras verdades que expliquei mais acima mas que deliberadamente não o quis fazer para impedir que certos espíritos que imaginam aprender num dia tudo o que um outro pensou durante vinte anos tão logo ele lhes diz duas ou três palavras a respeito e que são tanto mais sujeitos a falhar e menos capazes da verdade quanto mais penetrantes e vivos são não pudessem aproveitar a oportunidade para constituir alguma filosofia extravagante sobre o que acreditariam ser os meus princípios e que depois me atribuíssem a culpa disso Pois a respeito das opiniões que são totalmente minhas não as desculpo de serem novas tanto mais que se se considerarem bem as suas razões tenho certeza de que serão julgadas tão simples e tão de acordo com o senso comum que parecerão menos extraordinárias e menos estranhas do que quaisquer outras que se possa ter acerca dos mesmos assuntos E não me envaideço também de ser o primeiro criador de qualquer uma delas mas antes de não as ter jamais aceito nem pelo fato de terem sido proferidas por outrem nem pelo que possam ter sido mas unicamente porque a razão fez com que eu as aceitasse Se os artesãos não puderem tão cedo executar a invenção que é explicada em Dióptrica não acredito que por causa disso se possa afirmar que ela é má pois sendo que é necessário habilidade e experiência para construir e ajustar as máquinas que descrevi sem que nelas falte componente algum admirarmeia mais se eles conseguissem na primeira tentativa da mesma forma se alguém conseguisse aprender num dia a tocar o alaúde excelentemente apenas porque lhe foi fornecida uma boa tablatura E se escrevo em francês que é o idioma de meu país e não em latim que é o de meus mestres é porque espero que aqueles que se servem somente de sua razão natural totalmente pura julgarão melhor minhas opiniões do que aqueles que só acreditam nos livros antigos E quanto aos que unem o bom senso ao estudo os únicos que desejo para meus juizes tenho certeza de que não serão de maneira alguma tão parciais em favor do latim que recusem ouvir minhas razões porque as explico em língua vulgar Ademais não pretendo falar aqui a respeito dos progressos que no futuro espero fazer nas ciências nem me comprometer em relação ao público com qualquer promessa que eu não esteja seguro de cumprir mas direi unicamente que decidi não empregar o tempo de vida que me resta em outra coisa que não seja tentar adquirir algum conhecimento da natureza que seja de tal ordem que dele se possam extrair normas para a medicina mais seguras do que as adotadas até agora e que minha tendência me afasta tanto de qualquer tipo de outras intenções especialmente das que não poderiam ser úteis a uns sem prejudicar a outros que se algumas circunstâncias me obrigassem a dedicarme a eles não acredito que fosse capaz de obter êxito Faço então aqui uma declaração que tenho plena consciência não poderá servir para me tornar famoso no mundo mas tampouco tenho o menor desejo de sêlo e ficarei sempre mais agradecido àqueles em virtude dos quais desfrutarei sem estorvo do meu tempo do que o seria aos que me oferecessem os mais dignificantes empregos do mundo DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes PRÓLOGO Vitam impendere vero Consagrar la vida a la búsqueda de la verdad El Discurso del método y las Meditaciones metafísicas son obras de plenitud mental Exceptuando algunos diálogos de Platón no hay libro alguno que las supere en profundidad y en variedad de intereses y sugestiones Inauguran la filosofía moderna abren nuevos cauces a la ciencia iluminan los rasgos esenciales de la literatura y del carácter francés en suma son la autobiografía espiritual de un ingenio superior que representa en grado máximo las más nobles cualidades de una raza nobilísima No podemos aspirar en este breve prólogo a presentar el pensamiento de Descartes en la riquísima diversidad de sus matices filosóficos literarios científicos artísticos políticos y aun técnicos Nos limitaremos pues a la filosofía y aun dentro de este terreno expondremos sólo los temas generales de mayor virtualidad histórica El pensamiento cartesiano es como el pórtico de la filosofía moderna Los rasgos característicos de su arquitectura se encuentran reproducidos en líneas generales en la estructura y economía ideológica de los sistemas posteriores Descartes inaugura la actitud filosófica que en su raíz recibe el nombre de idealismo Desde entonces el idealismo domina sobre todo el pensamiento moderno El grupo de problemas que derivados de esa actitud propone Descartes a la reflexión filosófica ocupará los espíritus durante más de un siglo El nuevo conjunto de cuestiones con que Kant sustituye a los problemas propiamente cartesianos se deriva aunque en otra modalidad de la actitud idealista fundamental Puede decirse por consiguiente que el impulso y la dirección dados 0123 4356789668A9B68B9 93CDE341 FGHID0C0JFK003 LMNDOPMLM 6 7 9 8 Q 7 7 0123435 6 73000118 490 5 413 13 136 11465 3368 103111001168 6 10311A03110490B6C 3 34 105 D38 1EC 6 7 9 8 Q 7 7 por Descartes a la filosofía llenan tres siglos de pensar humano Sólo hoy comienza la filosofía a vivir la posibilidad la necesidad y el esfuerzo de superar el punto de vista del idealismo La historia de la filosofía no es como muchos creen una confusa y desconcertante sucesión de doctrinas u opiniones heterogéneas sino una continuidad real de superaciones históricas necesarias 1 Antecedentes El Renacimiento La gran dificultad que se le presenta al historiador del cartesianismo es la de encontrar el entronque de Descartes con la filosofía precedente No es bastante claro está señalar literales coincidencias entre Descartes y San Anselmo ni hacer notar minuciosamente que ha habido en los siglos XV y XVI tales o cuales filósofos que han dudado y hasta elogiado la duda o que han hecho de la razón natural el criterio de la verdad o que han escrito sobre el método o que han encomiado las matemáticas Nada de eso es antecedente histórico profundo sino a lo sumo concordancias de poca monta superficiales externas verbales En realidad Descartes como dice Hamelin parece venir inmediatamente después de los antiguos Pero entre Descartes y la escolástica hay un hecho cultural no sólo científico de importancia incalculable el Renacimiento Ahora bien el Renacimiento está en todas partes más y mejor representado que en la filosofía Está eminentemente expreso en los artistas en los poetas en los científicos en los teólogos en Leonardo da Vinci en Ronsard en Galileo en Lutero en el espíritu en suma que orea con un nuevo aliento las fuerzas todas de la producción humana A este espíritu renacentista hay que referir inmediatamente la filosofía cartesiana Descartes es el primer filósofo del Renacimiento 6 7 9 8 Q 7 7 8 9 U FT D DUF T ROIOCF90XN0GFOF2 UCF3NTDXUTNFKT EN0GJG30D3EGC F0DOT D N O 0 E E 00 0 00D90D3FRFFVFT RE0FNFN30F0FFG0F3F F FEOXT F GT X F 2F 90 EO3D300GFT0FOD3 0T0NK0FF3DF0T0DK 03T0NC0J0FJ20F3GFT0F33F 3F FN0N FFO0 N 0 K 32F3T R3T 32JT F 3F 33F F23DF E2NF 0 G FF E 3NF 0 03 90 D3 F F3T FT D D3GKVF030FTF0 23D0O00FFFO0FE0UD N2NN900FDF33R0TEFN2OF F X3 NFT 3DOR 00F O23F22FDF3FG0F90UDO0 D3FE3FFJ0FJ2F0UDO NN F J0FJ2V E 0 J03 NKOIFEC0F03FTFR3F C D IJG 0 R0G 0 3DO 9F3 GF3 30O0 0 U F DGF30D3 F3F3F0FDF02F0FG D3KD3J2F5 8D3KEUCDU000F23 33F FT E C D F FO0 0N0F T F DOGT N ER D NC F0N0FV C D F 3 UOF 2 F GF J2FDFT D E 3 FT E JD0FF0JTD3DFO 0FJRFJWTFDOGTCFGR0 DFD D E C D2T 0XID 3 6 7 9 8 Q 7 7 E00 E DG 0 D T D F FFEFOF03D3J0FTC3RFD FDUF3E30GEF3T0 DFTF3FTUF3EUCNG 3W E UC 3 0 D E2DF 0N303C3F3030GT2F0D3 3CJDDKN0V3DOR3RCU O GF FWF F 3G 0 J3 U00 FK0FEF3O0 F20D3FT3T0GK3 0 F J0FKJ F 3 3 F 3DOR 0 GF3F JI 3 N 3 C W F0N 0 UDOT 0 03T 0 G JG F3F F3FJ F3 JI F0NK F3F FO 0 OF JD DKN0 N J0FJ 6 F3F DW 0 FG NGK 0 FD3J0FKJ B F3F 03 F G 0 O0DD0J0FJ2T0DC0UDOC F0FDFDFE3DFBDRFB03K 3F N3 FG0F N UF3K J0FKJ 90 FD3 C 3 0 NGT 0 D3N 0U0FOTFU0FO ENN03DJFJ0FJ2 D03F0 0 3R3 F U FO 0 F3TDR0FNF5C0D3 0KN30T0F DISD 30T 0 O0GK J F0 N 3 DUF X3F FF C 3 0 DUU030DIF0FJW 90FD3F3FF3ITFT0J0FJ2 3 SK UF3K 0 DC F33 C DU DIF J 0 E F0 F 8 J03T E FZ0IODFT 3 0 3E F3F con la filosofía anterior procede de que se busca al parecer en vano lo que positivamente debe Descartes a sus antecesores o los gérmenes positivos de cartesianismo que haya en los antecesores de Descartes Pero ni una cosa ni otra constituyen aquí la esencia de la coyuntura histórica La filosofía de Descartes se origina en la crisis del realismo aristotélico Es una verdadera representación de la filosofía Depende pues de la filosofía precedente en el sentido de que el fracaso del aristotelismo la obliga a plantear de nuevo en su origen el problema del ser y también en el sentido de que aleccionada y condicionada por el pretérito ha de iniciar un pensamiento cauteloso prudente desconfiado y resuelto a una actitud metódica reflexiva introvertida frente a la espontaneidad ingenua y natural del realismo aristotélico Y así Descartes es conducido por la coyuntura histórica misma a poner las bases del idealismo filosófico que es una actitud insólita difícil y contraria a la propensión natural del hombre 2 Vida de Descartes Nació René Descartes en La Haye aldea de la Touraine el 31 de marzo de 1596 Era de familia de magistrados nobleza de toga Su padre fue consejero en el Parlamento de Rennes y el amor a las letras era tradicional en la familia Desde niño cuenta Descartes en el DISCURSO del MÉTODO fui criado en el cultivo de las letras Efectivamente muy niño entró en el colegio de La Fleche que dirigían los jesuitas Allí recibió una sólida educación clásica y filosófica cuyo valor y utilidad ha reconocido Descartes en varias ocasiones Habiéndole preguntado cierto amigo suyo si no sería bueno elegir alguna universidad holandesa para los estudios filosóficos de su hijo contestó le Descartes Aun cuando no es mi opinión que todo lo que en filosofía se enseña sea tan verdadero como el Evangelio sin embargo siendo esa ciencia la clave y base de las demás creo que es muy útil haber estudiado el curso entero de filosofía como lo 6 7 9 8 Q 7 7 FZ0FXF23FT3FFF0N30 G D 0 32 C UF FO 0 O F O JFT U DF DF3FT EUC0G0DFFZDXE 840U 90 F J0FJ2 O 3F ZF 90 D F O 0 F3 0 8KG F3K30F 82 C D3O 0 20 0 2A2T 8 672BT 0 C02 0 8 T 0F DF 230F 0F 2 8B2T 0F U 0OF 0F C2T 0F D828B2TEFN2OF0GF00 0320DF3KCTH03D0FW0OF 0 0 9 0 FG Z F F3O 0 42F C 0F 3DI3F 9 0 3 Z F O 0 EAB F3K30F8F0FFN2F3F5D0 DF33OCS0OF3K30F3DIFV0G 0DF323FEF3FFF03C FF3O0F J3F 33F F0O 0 EF3 C 0 J2 0D3T 0 N2 3FT C 0 FN0N2DGF0GFDTCDCCDO O FFND3 8F XF E U2 0F 0DF FF32 GD3F F3F 0 J0 0Z0GFF3F3IDFHO0F ODF 0 DO 0 JF J0FJ2 E 3N F3F840U404FKB 0T 0 FZW 330D3 OX3N DF0 8F DF F3F F3F F3O DFD3 F3O0F KF C F333F 0 6DZ26DCO0FDF3F3F F3K30FTF0EUC30J 0F3FNF0D3OFFJ FFZEF3TF33JNO00JT 33 J0FJ2 D 30G2 F J E NC30FSDFOF0FJ0KFJFTDF 6 7 9 8 Q 7 7 EFK0UC3GRFFFTEFK0UC3 0D3FT3T3L DX3 FZW J0FKJ 2 DF F3 0 U0 0 0O3 F23 FC FFGFFNFF3FT0 FF0DR3TF0D30FFKE C00GFF3OXFJ0FKJFOF3F 23DF FNF D30F X FO 0 J0FJ2 F0IF3T E KT D F U NF3T 3 F W C GWT F 3 ORN0 C 3 0D3 3 6 F3 K J0FKJ0DR3GW0GCG0 0303T0GTDOT3J32JV F FZ FO 0 NT F FK0 J NF2D0D33F0FFF 0K F3F 8 40UT 3DF FF F3FT LdLPTNGTJDTKF3OFF2 DFD0E0F3UO23QF3F 0FG3F3ETF0DDD3TD3 C FF33 3 0 0 F F 00 0 3D3T 0 CT 0FWF H03DF C HF FFFT30F0EF3FFF F0G2NF3GF3IF3FJFF0 FF 0 DR35 C D 3D F 0 D N3 DF FT F F0D3 UO0FD3E0FX3FE0F XT F FK0 E 0 WK D NK F N FRF F F F ZF B2FT FK 0DCN0FDFER0F L OF30F500RGeRF3F3 FR0 8 600RG 0 40UT 0 UD3ST 8 FLffcD 6 7 9 8 Q 7 7 F3OTDIFDF3ED3 93K 0 FN 0 2 FF C DW 0F E RDF 00D FF ZF GK1K0DC0VFNKOX0 E gNV K 0F B2FF gXFT T D JRF 0 FF 0 DR3 KD FFNXFDWKD0FJD3F0 NDR3J0FJ30WT0 S03KC0SFF3D30FTOKTFDOGT FJF3FDFF3EG3FFD53N NFF C CK NW 0F3 E 0 DO 0 JD0J0FJ2VUW0N3TED0KDIF3T D2F3Z83 BDKB2FFZFTFF3KDN030 XR300F38U00TCLdPcJF3 FG 2 F N F0T 033T NX C OFN K FGF J3ND3 0D3K C 0 F3 B2F 2 N0V DFF 3FFT DGFTNFFTNF3F3OOFF0CF 3 32T DIFT G 3KT E 4 0 DIF KD C 0O 0G F0F J0FKJFCT3F33TF0CK0NK N3 ZF F3 2FT N F F DT 03T KG3T 0 0 F F DGF JFF D3F3 F3F N3 ZF FOK C O0KFF0FOF50FF0DR3T0 T 0F E22 C 0 F2BT LdahT 0F E02 ABT LdiL j Ldih F O0K 0 3K JF 0 E 8CFT NF F3FkT 0F BF 0 J0FJ2 Ldii j 032 DT C 0GT LdihT JRFkV 0 C02 0 8 2GTLdbM Su nombre fue pronto celebérrimo y su persona y su doctrina pronto fueron combatidas Uno de los adeptos del cartesianismo Leroy empezó a exponer en la Universidad de Utrecht los principios de la filosofía nueva Protestaron violentos los peripatéticos y emprendieron una cruzada contra Descartes El rector Voetius acusó a Descartes de ateísmo y de calumnia Los magistrados intervinieron mandando quemar por el verdugo los libros que contenían la nefanda doctrina La intervención del embajador de Francia logró detener el proceso Pero Descartes hubo de escribir y solicitar en defensa de sus opiniones y aunque al fin y al cabo obtuvo reparación y justicia esta lucha cruel tan contraria a su modo de ser pacífico y tranquilo acabó por hastiárle y disponerle a aceptar los ofrecimientos de la reina Cristina de Suecia Llegó a Estocolmo en 1649 Fue recibido con los mayores honores La corte toda se reunía en la biblioteca para oírle disertar sobre temas filosóficos de física o de matemáticas Poco tiempo gozó Descartes de esta brillante y tranquila situación En 1650 al año de su llegada a Suecia murió acaso por no haber podido resistir su delicada constitución los rigores de un clima tan rudo Tenía cincuenta y tres años En 1667 sus restos fueron trasladados a París y enterrados en la iglesia de Sainte Geneviéve du Mont Comenzó entonces una fuerte persecución contra el cartesianismo El día del entierro se disponía el padre Lallemand canciller de la Universidad a pronunciar el elogio fúnebre del filósofo cuando llegó una orden superior prohibiendo que se dijera una palabra Los libros de Descartes fueron incluidos en el índice si bien con la reserva de donec corrigantur2 Los jesuitas excitaron a la Sorbona contra Descartes y pidieron al Parlamento la proscripción de su filosofía Algunos conocidos clérigos hubieron de sufrir no 2 Hasta que fueran corregidos poco por su adhesión a las ideas cartesianas Durante bastante tiempo fue crimen en Francia declararse cartesiano Después de la muerte del filósofo se publicaron El mundo o tratados de la luz París 1667 Cartas de René Descartes sobre diferentes temas por Clerselier París 1667 En la edición de las obras póstumas de Ámsterdam 1701 se publicó por primera vez el tratado inacabado Regulae ad directionem ingenii importantísimo para el conocimiento del método³ La mejor edición de Descartes es la de Ch Adam y P Tannery París 18971909 Sobre Descartes además de las historias de la filosofía pueden leerse en francés L Liard Descartes París 1881 2a edic 1903 Fouillée Descartes París 1893 O Hamelin Le système de Descartes París 1910 J Wahl Du role del lidée del linstant dans la philosopkie de Descartes París 1920 J Chevalier Descartes París 1921 M Leroy Descartes le philosophe au masque París 1929 En alemán Hoffman R Descartes Fromanns Klassiker der Philosophie Stuttgart 1905 2a edic 1923 M FrischeisenKóler Descartes en el tomo Grosse Denker grandes pensadores publicado por E v Áster Leipzig 1912 2a edic 1923 traducción española en Revista de Occidente A Koyre Descartes und die Scholastic Bonn 1923 En inglés Existe traducción española en Revista de Occidente P Mohaffy Descartes Philosophical Classic for engl Readers Edimb Londres 1880 E S Haldane Descartes his life and times Londres 1905 3 El método Los orígenes del método están según nos cuenta Descartes Discurso págs 54 y sigs en la lógica el análisis geométrico y el álgebra Conviene ante todo insistir en que el gravísimo defecto de la lógica de Aristóteles es para Descartes su incapacidad de invención El silogismo no puede ser método de descubrimiento puesto que las premisas so pena de ser falsas deben ya contener la conclusión Ahora bien Descartes busca reglas fijas para descubrir verdades no para defender tesis o exponer teorías Por eso el procedimiento matemático es el que desde un principio llama poderosamente su atención este procedimiento se encuentra realizado con máxima claridad y eficacia en el análisis de los antiguos Según Euclides el análisis consiste en admitir aquello mismo que se trata de demostrar y partiendo de ahí reducir por medio de consecuencias la tesis a otras proposiciones ya conocidas Descartes explica también lo que es el análisis en un pasaje de la Geometría Si se quiere resolver un problema hay que considerarlo primero como ya resuelto y poner nombres a todas las líneas que parecen necesarias para construirlo tanto a las conocidas como a las desconocidas Luego sin hacer ninguna diferencia entre las conocidas y las desconocidas se recorrerá la dificultad según el orden que muestre con más naturalidad la dependencia mutua de unas y otras Como se ve el análisis es esencialmente un método de invención de descubrimiento Géminus lo llamaba descubrimiento de prueba αναλυσιςεστιν αποδειξεω ς ευφεισ Esto principalmente buscaba Descartes Y éste es el 6 7 9 8 Q 7 7 3 3 F DR3 N 90 F0GFD O0G 3FKF3O0T00FODF F DF 0 0 E EDF DF3T DF 3D 0 N E XF3D3 F3DFDF3BFC3DFODF0 0FKT 3F F N O 0E 0 F0GFD FN DIFSJNFEU000F 90I0FFFTFT0DDD30DR3 J03T 03 O0DT F F 3 3 F0 O0E C N0 33F 3F D F jFGG00DR3TFFk B p I3F 3F N0q pF3 K U 00G 0 JD3 0 J03q pK OI 3F 0 NFKq 8 NFK OI 3F F U00DF F 0D3F 0 O0D E FFD3D3DNFC C N O 0G 8F 30F 0D3FFD0FF0FF0FCF33Fj400 DG0VNRFFF0DR3k 0 00G E2 F DFO0 FG S 0 DR3 F3F F 0GF F F 32 0 D3 C F D3J2F 9 0 D G0 0 FFF3IFDFTDIFHTDDF0GF 0F DIF F0F 32F 0 J0FJ2 3F 8F DDFOND39D0GT0G0 0 N D 3 N 8 N F 0 N3 C 0 N3 F F NW J F 3F F0F5 0 0 C 0 F3K 60 F F3I F C FD3 0F DIF F F33 F FF 3F D3F F FF F 3F C F 3 0 K3FT FT E 0 N J0F FF3T F3FT D 0F F0IF3FT0KJD0F9 efecto las cosas existentes no nos son dadas en sí mismas sino como ideas o representaciones a las cuales suponemos que corresponden realidades fuera del yo Pero el material del conocimiento no es nunca otro que ideas de diferentes ciases y por tanto el criterio de la verdad de las ideas no puede ser extrínseco sino que debe ser interior a las ideas mismas La filosofía moderna debuta con Descartes en idealismo Incluye el mundo en el sujeto transforma las cosas en ideas tanto que un problema fundamental de la filosofía cartesiana será el de salir del yo y verificar el tránsito de las ideas a las cosas Véase la sexta meditación metafísica En las Regúlete ad directionem ingenii llama a las ideas claras y distintas naturalezas simples naturae simplices El acto que aprehende y conoce las naturalezas simples es la intuición o conocimiento inmediato o como dice también en las Meditaciones meditación segunda una inspección del espíritu Esta operación de conocer lo evidente o intuir la naturaleza simple es la primera y fundamental del conocimiento Los procedimientos del método comenzarán pues por proponerse llegar a esta intuición de lo simple de lo claro y distinto Las dos primeras reglas están destinadas a ello Los dos segundos se refieren en cambio a la concatenación o enlace de las intuiciones a lo que en las Regulae llama Descartes deducción Es la deducción para Descartes una enumeración o sucesión de intuiciones por medio de la cual vamos pasando de una a otra verdad evidente hasta llegar a la que queremos demostrar Aquí tiene aplicación el complemento y como definitiva forma del análisis El análisis deshizo la compleja dificultad en elementos o naturalezas simples Ahora recorriendo estos elementos y su composición volvemos de evidencia en evidencia a la dificultad primera en toda su complejidad pero ahora volvemos conociendo es decir intuyendo una por una 6 7 9 8 Q 7 7 0F F 0FT G32 H03D 0 N 0 3 6 F 3K J0O0 0F 30WF FD0F C 0F 0F 3 00FT E FT F NWT 30WFFD0Fi A 8218BC5938 8 K 0 DR3T 0 32 0 D3 C 0 D3J2FFU0023DD30WFCDJF 0J0FJ2F3F8JD300 0 FO UDT E F3FT DIFT F F3 OX 0 JD FG C 3 0 GD32T F 0 E J 3F FF 0D3FT H 0 D3J2F 0 0KGTCRF3FTFNWT0J2FC0F0G2T DGFF3DNF0WF903FW FGS0J0FJ2F3FF GDR3 SDFT JF C 3DF j3 F3F B2D U0FU F 3 T D GDR3DF33k 9033F0D3K 83FJ0X0F3K0TUF3KT0 DD390UDOUFFNFCFO ER 3F F N 3 E F U00 O3 0 B F3 F N p6KD 30q 8 3F F F3FDT FT D5 0 SFK 33 FJW C 30T 0 SG N F33O0V C FG5 DR3 NF3GK F3NT F3 E E00JDKE0GF0N3F0F3EF D3KD300N0FDCFS3DF0 G FI 0 N 3 E OFDF C E I FNFJD3FK0FO3FNF i D0T3TIGFfhCffT DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes Entre las dificultades que plantea la duda metódica nos detendremos en una tan sólo en las famosas hipótesis del genio o espíritu maligno Meditaciones página 130 Después de haber examinado las diferentes razones para dudar de todo quedan todavía en pie las verdades matemáticas tan simples claras y evidentes que parece que la duda no puede hacer mella en ellas Pero Descartes también las rechaza fundándose en la consideración de que acaso maneje el mundo un Dios omnipotente pero lleno de tal malignidad y astucia que se complace en engañarme y burlarme a cada paso aun en las cosas que más evidentes me parecen Esta hipótesis ha sido diversamente interpretada quién la tacha de fantástica y superflua suponiendo que Descartes lo dice por juego y sin creer en ella otros por el contrario la consideran muy seria y fuerte hasta el punto de creer que encierra el espíritu en tan definitiva duda que no sabe salir de ella sin contradicción En realidad la hipótesis del genio maligno ni es un juego ni un círculo de hierro sino un movimiento dialéctico muy importante en el curso del pensamiento cartesiano Repárese en que la hipótesis del genio maligno necesita para ser destruida la demostración de la existencia de Dios Sólo cuando sabemos que Dios existe y que Dios es incapaz de engañarnos sólo entonces queda deshecha la última y poderosa razón que Descartes adelanta para justificar la duda Qué significa esto La hipótesis dialéctica del genio maligno tiene dos sentidos estrechamente enlazados uno con otro En primer lugar es la expresión rigurosa del punto de vista idealista adoptado desde luego por Descartes En efecto la duda metódica hace mella en todo contenido de pensamiento y únicamente se detiene ante el pensamiento mismo El pensamiento es necesariamente pensamiento de algo es decir el pensamiento tiene necesariamente un objeto Ahora bien yo puedo dudar siempre del objeto pero no puedo dudar nunca del pensamiento Yo puedo dudar de que lo por mí 17 6 7 9 8 Q 7 7 FFTSF3TE0FT D FD3T E RF3 D F D3CFCCDFDFTF20 Fj0OX3kERF3FD3C00GR0 F DK 0 FD3 8 UK3FF 0 G D0G SF GFD3 F I3 D3 0 OX3TJ30I3D30FD3VFGJ E030FD3j0kUC E0G3D0SF30OX3CTFG3TE F3 SF3 0 OX3 F3 G32 X5 XF3D30SF3F F33T0UK3FF0GD0GFGJ 003D3CF0KGNO0D0KGTE 0G I UD3 Y35 0 O0D 0 0 GFO0 0 0 90G D0G C FF 3F GZ FDO0W 0 J F G0 0 F FO0 p9F 0 0 GFO0T 0q p FI F 0 NF 0G 330D3 UFO0 0 WK UDT 0G F0D3 OFT 0T GFO0q 9F3 3GK F 0 EF3FFUOX0X0R30UK3FF 0 G D0G 0F DF3F 0 SF3 C N F U F 3F30T JD 0 00D3T0FO00D3T 0JWF3EUDF3F3WKC 00FOX3FFUF00 8OFD0J0FJ23FF0G3G FD5 FT 0G FC 8 SF3T 0 0 0 C F3T0CDFD3TF0DNE 0IJG0J0FJ23TFO00F3 FK0D3FF0NK8D3KF33 0 D3W 0 F D F B 0 3DO 0 C UC E 3F3 U 3F 3DOF 8 N E DZ 0 3K D2 DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes mismo como pensamiento contiene mi existencia Pero la evidencia que acompaña las intuiciones de mis ideas claras y distintas no contiene la existencia de los objetos de esas ideas Cualquier idea clara y distinta me persuade de que yo existo puesto que la pienso pero no me persuade de que exista su objeto Para dar pleno crédito a las ideas claras y distintas es decir para no dudar de que existan los objetos de ellas necesito la garantía de Dios necesito saber que Dios existe Tal es el sentido profundo de la hipótesis del genio maligno Por eso el primer problema que Descartes acomete después del cogito es el de la existencia de Dios Demuéstrala en tres pruebas dos en la meditación tercera y una en la meditación quinta Sólo nos ocuparemos de la tercera de esas pruebas la dada en la meditación quinta Es el famosísimo argumento ontológico la existencia pertenece a la esencia de Dios es decir que así como no se puede concebir un triángulo sin tres ángulos o una montaña sin valle no se puede tampoco concebir a Dios sin la existencia Aquí Descartes considera la existencia de Dios más bien como intuida que como demostrada La idea de Dios sería pues una idea la única donde la existencia del objeto estaría garantizada por la idea misma Detrás de Descartes sigue toda la metafísica del siglo XVII y aun del XVIII hasta Hume y Kant 5 La física De la existencia de Dios y de sus propiedades deriva ya Descartes fácilmente la realidad de las naturalezas simples en general y por tanto de los objetos matemáticos espacio figura número duración movimiento La metafísica le conduce sin tropiezo a la física Esta debuta en realidad con la distinción esencial del alma y del cuerpo El alma se define por el pensamiento El cuerpo se define por la extensión Y 19 6 7 9 8 Q 7 7 30E0FDCO S0F0FHF0D3FFD0F0S3FKT JGCDND3CTFTEFF3F 0J2F3FF330FFFF0F F jDIkV C 3T F 33 J 0 FF3DFD0FFj320D3k 8 J2F F3F FT D 3 0 D FOT DF3V F3F E DIF 0D3FT S00FJKDFCFF0FTE0D3C0 DND3 0 D F DFDT C 0 DIDFDT3FGDR3F20SG20 JD30 0F F 0FT E S0C 30D3 3 FK DIF DF DF3F 3F 0F 8 J2F F3F F DI 0 3 90 DND3 E FX 3 33 0 0 C W 0 KV F FD0 NK FKT F ID 3T F GFJWKTEF3FUW F DFO0 8 F 0 DND3 F O0 F D ET G0T 0 U 3 0 D3T C F3 F F F NW 3 0 DND3 0 D3T F 3N DIFT F F 3 D3 0 D3 F FVE2F03E03DND3ESF3 0 FF3D 0 D F NO0 C F33 B DND330UCF30TE FFF0F0CF0DND39F3F0CF F 3F5 0 D F 0 0C T UDF FOD3F3FETEUOFUU 3FT OF32 00 3 0F JF 0 D 8 FG F 0 0 K 0 DND35DND3330 023TFGH03G30NEFO0DKN0 830CF00C0UETEF3FFJ 3F 0CF F0F F 00F F J0FF 8 6 7 9 8 Q 7 7 DI 3FT 3 J C S3 FF F DF FT F FN2 C J0F 0 H03DT FD30SFGD3FDEO 0 D3 C 0 DND3 9F O 0 K JD30E8OWU0J2FF3F5F 03DND30EFFNF330 30WTF0JWNNT0G2BF3FT F JI D3 F FFT F 0F FG2JWDDFO0FTE FGDR3D3F3O0FVC0FFU 0D3F O 0 D3 0 S3FK GDR3 80GFT FT 0 FG 3 0 J2FT s 320D3E2D0DFDF23E0 DI 8 D3 F 3 F E 0 FT 0 S3FK T 0 OX3 DFD 0 GD32 8F 0F FF E ODF 0F OX3F FFO0F5 0T FOT 0T 3T F 3030D3 OO0F CT 33T 3 0 0 8 D3 F 0 S3FK 0G3T 033 C JTFFDFTEF0FJGF02D3F S3FK3 E 8F5937GC8 90 UDO F3I DF3 0 0 F3I 23DD300DTFF3F39F3KT 0EF3K30C00DTD3F 0F3FFF0KGFDF0EF 0 0D F2 DFDT C 0G 3 E F3I 0 9 F2 DFDT 0 0D F 30GT J03 FTNJ3F3030FVF33T0 F0G2FJ0D3J2F00KGB3 3T 3 0F F 0 0D F3I FF N03F 8 N03 0O3 0 F3HT D F3F 0 DFD 6 7 9 8 Q 7 7 0E0FDIF3F3030FV0N03F 0 J03T 330D3 JD0T JD G 3 G F 0 I3 0KG C D3J2F E 0 0 N03TE00NF320T00TD F FO jNRF 0 3 D3KkT N ET F0N03J3TF3E3TC 03D3J3TER00NFJD00 JF j 3Kk G 0 0 j NKkT C DOF FF N 0 jRF0LtG00DR30Pt30FFk RF3F F 0 0D D 0 9 F3F3T00DFT33TTFTE 0 E 0 C F 3 F3 D3FF0DFDTFUC 0D UOI T N03T WK F2 0F D0F F F 3KD3FT DIEF DN00FD3 FDO0FT 3F OF03 3 0 E 0XF00DFF23 90UDOTDOTEUC0D30G3 C WO0T UC FFV F T 0F DND3F 0 FJ0X00DVCF3J0XFFD30 E00DDFFKTEFFF3F00 0DT F DND3F 0 B 0 32F3 F3F F3F F0F 0 0D F ET FFFT0TDND3F0TF DOGT00D0FJF2DFDG30F FFFFT00D0FFC0D3FF FCFFFFJD30F8DT0 DKT F F FKT C FZ0 0 3IF3 3 0 3K3030C0FKD3UVFT FDT0DK3030000DT0T0 FT 0 0G2T 0 3F3W F3F FF FF JD30F F N 3F DUF5 0 T 0 FT0DFKT3 6 7 9 8 Q 7 7 90F30FFFTCERF3FN0F DND3F 0 T F3F G HD 3F3F C JF OFNF FJF0KGF E8F4E24 6 7 9 8 Q 7 7 HIHJIKL 93LcahTJU0DK00NO F30 0 FF 0 DR3 C 0F 3F D3J2FFT C 0 30 U 3F DIF W 0F3FVF3D3T0F03F0WFDOF 3S3F 3 0G F 3D0 F03 0 DIF NFDOGTCFDUF3F 0X F3F FK0 U X F3 NN 0 FD3 3DIT F E F 3D0G2 J0FKJ U 0 3DOR F3 J0 FG0 0 UDO 0 00 8 D3KT 0 G G3T G FDT FN SF3T 0 0FD A0DT 3T F 3F 00F3RDFET00GXJ0FKJ F3FTJD303DUF3KC030 0UD F3NF3F0KGC030T0J0FJ2 3FF33CXD0GDI30J0XE 3 0 J0FJ2T O 3RD3T 0 0GX 0F GF N30F DOGT 0 F NFTFT0J00UF3CTG0T0 3S3 32JAF0 0 R F3F F FD3 U F OFN FJ3 FK 0FJF0F0FZW0J0FJ2TETDIF F FZ C N 3F E FFT U 0N 0 DISD o3 E F J0FJ2T F J0FJ 9 F3 F3T FGD3 SF3 UC DX D F 0 J0SKJ0FKJCTT0FD3F3F E3NRFF3DJD0G20F23E F0FF0DR3 9J3ND3T 0 J0FJ2 3F F 0F F33F 3F 3D R UF3KT E 33 F0GF 0F 330F 0 3K DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes sus propios recursos teóricos Ese doble alcance histórico y teórico de la obra cartesiana reflejado especialmente en el Discurso del método permitirá superar los tópicos tan al uso sobre la obra cartesiana a la par que nos mostrará una de las aventuras intelectuales más apasionantes de la historia de la filosofía Más allá del pensador frío y calculador aparecerá una reflexión enraizada en los problemas y perplejidades de su tiempo El cogito ergo sum por ejemplo no podrá ser considerado según ha comentado inteligentemente E Lledó como una especie de recipiente vacío pero firme sino como algo más concreto real y metodológicamente profundo Por ese camino el conflicto de las interpretaciones sobre la obra de Descartes aparece tan vivo como fecundo Así frente a las interpretaciones tradicionales de Descartes que priman las Meditaciones metafísicas hay por ejemplo que volver a recordar que el Discurso del método sirve de prólogo a tres ensayos científicos que tampoco tienen por qué ser considerados únicamente con un carácter exclusivamente especulativometafísico pues como ha dicho recientemente S Turró frente a los clásicos de la interpretación de la física cartesiana la física de Descartes tiene un nivel de fundamentación metafísica por lo que respecta a sus principios pero entendida como explicación de fenómenos el salvar las apariencias de la tradición astronómica se nos presenta como una formulación hipotéticoexperimental en la línea del más puro instrumentalismo sino incluso ficcionalismo de teorías contemporáneas En cualquier caso una lectura actual del Discurso del método no podrá prescindir de su objetivo último fundamentar un nuevo saber teórico y prácticomoderno un proyecto que parece no tener fin pero cuyas posibilidades y límites cabe a Descartes el honor de haber sido el primero en vislumbrar La bibliografía que a continuación se ofrece sobre el Discurso del método no pretende sustituir esa riqueza de 25 6 7 9 8 Q 7 7 33F FO 0 O 3FT F2 F 3O 03 DF 2G CT ER 0T 3DOR DF D3J2F E 0 FG 3F UF3F0J0FJ2T0FT0KX3 E2F30FFC0F3F DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes BIBLIOGRAFÍA 1 Estudios generales sobre la obra de Descartes Alanen L Studies in Cartesian Epistemology and Philosophy of Mind Helsinki 1982 Aloquié F La découverte métaphysique de lhomme chez Descartes PUF París 1966 Álvarez Gómez A Descartes la razón única guía del hombre en Cuadernos Salmantinos de Filosofía 12 1985 págs 1943 Angelis E método geométrico nella filosofía del seicento Ed F Le Monnier Florencia 1964 Bacon F La gran Restauración trad M A Granada Alianza Madrid 1985 Bayssade J M La philosophie première de Descartes Flammarion París 1979 BECK L J The Metaphysics of Descartes Clarendon Press Oxford 1965 Belaval Y Leibniz critique de Descartes Gallimard París 1960 Blake R M The Role of Experience in Descartes Theory of Method en Theories of Scientific Method ed Madden Un of Washington Press Seattle 1960 págs 75103 Blanché R La méthode experimentale et la philosophie de la physique A Colin París 1969 Borkenau F Vom feudalem zum biirgerlichen Weltbild París 1934 reimpreso en Darmstadt 1971 Burtt E A The Metaphysical Foundations of Modern Science RoutledgeKegan P Londres 1967 Cottingham J Descartes B Blakwell Oxford 1986 Clarke D M Descartes Philosophy of Science Manchester Un Press 1982 DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes Costabel P Demarches originales de Descartes Savant J Vrin París 1982 Gouhier H La pensée métaphysique de Descartes J Vrin París 169 Guéroult M Descartes selon lordre des raisons 2 vols Aubier París 1953 Denissokf E Descartes premier théoricien de la physique mathématique Nauwelaerst Lovaina 1970 Laporte J Le rationalisme de Descartes J Vrin París 1950 Levi A French Moralist The Theory of he Fassions 1585 to 1649 Oxford 1964 Lledó E Semántica cartesiana en Filosofía y lenguaje Ariel Barcelona 197074 Marión J L Sur lontologie grise de Descartes Vrin París 1975 Rabade S Descartes y la gnoseología moderna G Del Toro 1975 RodisLewis G Loeuvre de Descartes 2 vols Vrin París 1971 Roed W Descartes Erste Philosophie Bouvier Bonn 1971 Sartre J P La liberté cartésienne en Descartes 15961650 Situations I Gallimard París 1947 Toernade G Lorientation de la science cartésienne Vrin París 1982 TURRO S Descartes Del hermetismo a la nueva ciencia Anthropos Barcelona 1985 Vernes J R Critique de la raison aléatoire ou Descartes contre Kant AubierMontaigne París 1982 Vuillemin J Mathématiques et métaphysique chez Descartes PUF París 1960 2 Estudios sobre el Discurso del método DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes Álvarez Gómez A Para leer el Discurso del método en Estudios sobre filosofía moderna y contemporánea Universidad Centro de Estudios Metodológicos Interdisciplinares León 1984 Beck J L The Method of Descartes A Study of the Regulae Clarendon Press Oxford 1952 Bello E Estudio preliminar del Discurso del método en R Descartes Discurso del método Tecnos Madrid 1987 Cahné P A Index du Dicours de la méthode de R Descartes Ed Del Pateneo Roma 1977 Chamizo P El Discurso del método de Descartes como ensayo en Aporía Madrld 4 1982 Chauvois D Descartes La méthode et ses erreurs en physiologie Cédre París 1966 Derrida J La langue et le discours de la méthode en Recherches sur la philosophie et le langage 3 1983 Dljksterhuis E J La Méthode et les essais de Descartes en Descartes et le cartésianisme hollandais PUF París 1950 Gilbert N W Renaissance Concepts of Method Columbia University Press Nueva York y Londres 1960 Golliet P Le problème de la méthoque chez Descartes en Revue des sciences humaines 61 1951 págs 5673 Gouhier H Descartes J Vrin París 1973 Hinttika J A Discourse on Descartes Method Position Principies Examples en Descartes Critical and Interpretive Essais ed M Hooker J Hopkins University Press Baltimore 1978 págs 7488 Peña García V Acerca de la razón en Descartes reglas de la moral y reglas del método en Arbor núm 112 1982 págs 167183 Scholtz H Mathesis Universalis BaselStuttgart 1969 Weber J P La constitution du texte des Regulae Sedes París 1964 Xirau R Apuntes de una lectura de Descartes primera parte del Discurso del método en Dianoía 29 1983 págs 105120 6 7 9 8 Q 7 7 N 9078HI981008 F3FFDF0GF02 NWT NF FF 3F5 0 D F U00IJ3FFF0FFV 0FGT0FG0F0F0DR3E03U OFV 0 3T 0GF 3F 0 D0 E U F E0 DR3V 0 3T 0F WF E O0SF3FC00DUDTEF0F JD3F F D3J2FV 0 E3T 0 0F F3F J2FT C U NF3G CT 30T 0 S0K 0 DND3 0 WK C 0GF 3F J03FE3Z0DTC3DOR0J E UC 3 F3 0D C 0 0F D0FV C 0 H03DT 0F FF E FF 0OT 0 NF3GK030WTDIF00IU00GT C0FWFE0UD0FFOb b 9F3FFFDDK8CNWD0ZLdah O FG 3F FCF 32JF5 8 K3T 0F 3F C 0 1D32 6 7 9 8 Q 7 7 6 7 9 8 Q 7 7 LI 90OF30FDX30DTF 0 F E F 3 O NFK R0T E H0FDIFF33FF30E3F F0 3 DIF 0 E C 3 9 0 0 F NF2D0 E 3F F GZT F E DIF O F3 DF3E0J03XWGCF3G0N 0J0FTEFD30E00DDFOF3 WKTF30D3G03F0FUDOFVCT0 330NFF3FFNE F F DIF WO0F E 3FT F 3 FK0 E GDF F3F FD3F 3F J3F C FDF 0F DFDF FF OF3T J3T 3 0 G OV 0 0 F 00 O 8F 0DFDIFGFFF0FDCFNFTD 0F DCF N3FV C 0F E DC F 00GDUDIF0XFTFNFD0D 3TE0FEF3R0 B D 3T U 2 E D G JF DIF J3 E 0F GF DFV UF3 U F DUF NF 3 0 FD3 3 IT 0 DGK 3 23 C F33T 0 DD 3 D0 C F3 D 0GF 3F FR 3F 0F FRFFT3OC0JK0GVF0 E 3 0 WK 0 F3T FT D FT 0 H FEFUUDOCFF3G0FD0FT E E F3I 3 F3F C FGRF30DHK0FJ0KFJFTE E0DIF0DFFFK00F3FTDF 0F JDF 30WF 0F NF DFD F BTF3DTEEJG N3 D2 0 UOD D3 F XN 3F 6 7 9 8 Q 7 7 DFT E D U 00N 3F FF C DISDFT 0F E U JD DR3T 0 0 RDE 3G D D3G0D3 D D3 C 0N0 UF3 0 3 DIF 03E0DDGC0OND ND3000GBF30FJ3FUG F DR3 E H 0 X E FO D2 DFD UG FD 0D 0 0 0 FJW DX E 0 0 FKT C E 0 D ID J0FKJ 0F F33F F C DFF 0FUDOFU00FGEDWN H30T F DOGT X D2 S3D F3FJK 0 GF E F UO 0WC0NF3GK0NTCO30F FWF0NdEF30FFE DOG 0F UDOFT D3 UDOFT UC 0G EFFK0D3OD33TD3N EF0ECU0GD2 BFTOF33TEDGZTCF0E DCD3JFF OCNRISF3FF3DFENF F3F DFDF F 33T C I FFUFF O FF 3DOR 0F XF 0F DGF E F F3JNBDGF32 0 F3 FF 0F DF E U FG C F30FDNDTE 0 JD F XT C F2T 3D 0G D3T0DHO0T0FFD3FT F RF3 N D F3DT E ZR 0F F3DOD0 KF3T FT F 0 FZ E2 0 DR3 E0UFGGOFWKTFFK0 d RF3FS3F3FF exponer el modo como he procurado conducir la mía Los que se meten a dar preceptos deben estimarse más hábiles que aquellos a quienes los dan y son muy censurables si faltan en la cosa más mínima Pero como yo no propongo este escrito sino a modo de la historia si preferís de fábula en la que entre ejemplos que podrán imitarse irán acaso otros también que con razón no serán seguidos espero que tendrá utilidad para algunos sin ser nocivo para nadie y que todo el mundo agradecerá mi franqueza Desde mi niñez fui criado en el estudio de las letras y como me aseguraban por medio de ellas se podía adquirir un conocimiento seguro de todo cuanto es útil para la vida sentía yo un vivísimo deseo de aprenderlas Pero tan pronto como hube terminado el curso de los estudios cuyo remate suele dar ingreso en el número de los hombres doctos cambié por completo de opinión Pues me embargaban tantas dudas y errores que me parecía que procurando instruirme no había conseguido más provecho que el de descubrir cada vez más mi ignorancia Y sin embargo estaba en una de las más famosas escuelas de Europa en donde pensaba yo que debía haber hombres sabios si los hay en algún lugar de la Tierra Allí había aprendido todo lo que los demás aprendían y no contento aún con las ciencias que nos enseñaban recorrí cuántos libros pudieron caer en mis manos referentes a las 6 7 9 8 Q 7 7 F E F F D 0F DIF FF C F 62TDIFT0FXFEFU2DFTC N2 E F D F3DF DF E DF F20FT30F0F0GFUO2CF3F 0FF3FEXN3FF3FDF3F BH03DTD2F3FG03J03CJR30 OF GF D UC F 0E 0F 3FB300D3DO00O3XWG 0F DIF D2 DFD C FE UO2 0 D 3 0G D 0 E F D UO2 D3 3D3 XOFF3DDU0FXFE FU0FF0FO2E0F0GFE00F FFFF030G0F0OF 3GFVE0G30W0FJIO0FF30GV E 0F F DDO0F E 3 0F UF3F 0 0NTCET02FFKTCJD0XV E 0 03 3F 0F OF 0OF F D NFK0FDXFGF0FFFFG0F E0FUDF3TCUF3NFKF3 0 E F FO F 0 DIF F03 FF FD3FV E 0 0 F JWF C O00WF DO0FVE0F230WFCFNF E O3V E 0F D3DI3F UC F302FDF NF E F DU FNT 33 F3FJ0FFFDJ030F3F3FC FD03OX0FUDOFVE0F3FE33 0F F3DOF N2F FZWF C SU3F 0 N3T 3F DC H30FV E 0 30G2 FZ G 0 0V E 0 J0FJ2 DF UO0 NFD03 3F 0F FF C UF D 0F DF FOF c V E 0 XFT 0 c 3F0J0FJ2F0IF3TEF3FFC FF33 6 7 9 8 Q 7 7 DCDIFFUCEEF0F 03NV CT H03DTE F O UO0F3FT 0FDIFFF3FFC0FDIFJ0FFTF XF3N0CXFGZ00F B 2 3DOR E C UO2 OF33 3D 0F 0GF 0F 0 03 0F 0OF 3GF C FF UF3F C FF JIO0F BF F F 0 DFDNFG3F3FFG0FENXg FFO0G0FF3DOF3FO0FXWG 0F0DX3TCE30E F 3 F3F DF F 20 C F3 0 WKTDF0U0FEUNF3B0 E D0 DF 3D NX O 3F S3XF2FVC0EF3DF F0EFU20FFG0F3R3FH3 EDG30EF30 F3DIFT0FJIO0FFFEDGDF DFO0F3D3FE0FVC0FDIF J0FUF3FTFF3EDOD30N0 0FFFTU0FDIFGFF02FD3 0 DFT F FDT 0F F3F DIF OXF C DF0F3FT00FE0F33 30 D FT C E 0F E XF3 FF F3DOF 0F XD0FEF0FUF3FFS0F S3NGF 0F 0F F3F N0F C OFGFE0WFFJWF9F3DO DU 0 0 C D 0 F2V FOEC3F3F0GDIFE J3F 0 3 8F E 3 DIF OF3 W C G DX FF FD3F U0F 0F 30GO0F F 0F DIF F 00N V 0F IDF 0 FFK FO 0F E T E UO0 RFD0GCUC3KVC0FE DG 0F DIF GO0F NFT FOR0F 6 7 9 8 Q 7 7 SF DC 3 C FNT FI FD 0F DXF3FTFW03R3 1F3OTFO3T0FD3DI3FT03WC NEFFFWFVHN32I0 F N F C F E FK0 0F 3F DIF FN2T D S3ZOET F FF D3F 3 JDF C FK0FT F UOF F3 FO 00F DIF 0N3 LM DOT 0F F3F 0F 3GF GFT J3F 0F F3DOFT 0F DO 0F DC FOOF C DG2JFT F3F FO C OV 0N3 DC 03 0F N3FC0FF3D0FFFDIFF3DO0FE UC0DTFFZOF330FT CDUFNFFUDFDO0EFF AFFO0TG00TFFKLL BJFO G N F3 30G2 CT D 0E 3T 32 C G 0 0 B UOTDFDC3TE0D 0 F0NK F3I O3 0F G3F D 0F 3FTCE0FNFN0FE00IF3I DC D F3 30GT D UO 3N FD30F 0 J0EW DF WD3FT F E D3 0 DF SD0F C F0O00F0GS3C 00TCF033T0GDIFEUDO R 0 J0FJ2 F E 0 N E U F 03N 0F DIF S03F GF E U NN F U FG0FT C F DOGT UC 00 E FOX3F3TCTFG3TFT32C 0 FK F 3 DX E 0F DIF5 C LM300J2FDTJ0FD3DI3F LL00FF3F8FFKFJOO0D363K x3C0Tg3TD36RF 6 7 9 8 Q 7 7 F NFF F 0F F 33F DFD D3T FF3F 3F G3F 3FT F N DIF E F0T 3O F J0F 3 0 E J DIF E NF2D0 3 0F DIF FT C E 3D FF F0J0FJ2TFOCEFO3O0F D3F 2 UOF J FK0V C 0 U 0 NU E D3T OF33 N3D0FVFDN3TGFFT 30KEUOFU0J EDXDJ3TCEJFO0F 0G002TFDOGTF3DODU E00 JDT C EFK FK0 D J0FF 3230F 0GF H03DT 0 E 3 0F D0F 3FT FO E C 2 OF33 O F N0 XDO00FDFF0EDF3T 0FFF3K0GT0FGZF DGT 0F 3JF 0 FK 0F E JF FO DIF 0 E FO F2T FT 3 3 DF3NF00FXKED32 DF3FTOR030F30F03FCT F03OF3E0EU00 D2DFD0G0O0DTD0R0F3D XN3 NXT N 3F C XR3FLPT 03N 0 F G3F F C UDF NFFT GNFSFTDD2DFDO 0FFFE0J3DOTCUFD 30FJ0SFFO0FFFEFDF3OE F0GHNU00FBFD2E 2 U00 DU DIF N 0F WD3F E LP F3FF0K00GLdLPVF3FB2FNXK 0C0DV3KLdLc0FN0EgN9 LdPcF3K0CDWKFFGFOF 6 7 9 8 Q 7 7 U0FF3FE03ZTSF3 E0FFNG0GF3G0TFUXWGD0T E0FEFUDO03FTF FUTF0FEJ3 0GCE3R03FFFTFE FF33DCD3NN03DIF F 3 0 F3 DHT F3 E UOI 3 E GF3DIFGC3JU0FNF2D0F FDF32FS3DF3G 0N0J0FTN0DF3FC FGF3N 9F 3 ET D3F D 0D3O F 0F F3DOF 0F 3F UDOFT F U00O F FGCJDTCN32F33NFD3F 0F F 0F J0KFJF F3 E 0 DC NU E O32 E N NF FF ET FDFDCS3NG3FC20FTX FD3FDHD3COF3FGF O0FT2DFJDWE00 0 E FK0 0 XD0 C 0 F3DO D UO2 FVCF2D0OODUFFT E JF F3 0W 30 C 3DF DF 3F FU 0 NW 0 WK F UO F NF ZF F3 0 0O 0 D C 33 E 0G ST D F0N2 2 F33DORDDFDCD03F0FJWF DG00K0FEO2FGV0 0DF0KDUDXTFGHTEFDUOF 0XD3CDF0OF SEGUNDA PARTE Hallábame por entonces en Alemania adonde me llamara la ocasión de unas guerras que aún no han terminado y volviendo de la coronación del emperador hacia el ejército cogió me el comienzo del invierno en un lugar en donde no encontrando conversación alguna que me divirtiera y no teniendo tampoco por fortuna cuidados ni pasiones que perturbaran mi ánimo permanecía el día entero solo y encerrado junto a una estufa con toda la tranquilidad necesaria para entregarme a mis pensamientos Entre los cuales fue uno de los primeros el ocurrírseme considerar que muchas veces sucede que no hay tanta perfección en las obras compuestas de varios trozos y hechas por las manos de muchos maestros como en aquellas en que uno solo ha trabajado Así vemos que los edificios que un solo arquitecto ha comenzado y rematado suelen ser más hermosos y mejor ordenados que aquellos otros que varios han tratado de componer y arreglar utilizando antiguos muros construidos para otros fines Esas viejas ciudades que no fueron al principio sino aldeas y que con el transcurso del tiempo han llegado a ser grandes urbes están por lo común muy mal trazadas y acompasadas si las comparamos con estas otras plazas regulares que un ingeniero diseña según su fantasía en una llanura y aunque considerando sus edificios uno por uno encontraremos a menudo en ellos tanto o más arte que en los de estas últimas ciudades nuevas sin embargo viendo 6 7 9 8 Q 7 7 KDF3IG0FTE2GT00I3EZTC KDU0F00FNFCFG0FT2FEDIF OF0J3E0N03FUDOFNF3F WK 0 E 0F U FF3 F F3 F F FETFDOGTFDUUOFJ0F GFE0FJF0F30F FN 0 3 HO0T O F I I J20 F U D0D3 0F FF F 3OX FO 0 UU3FF23DORDGOCEFFO0F EJ3ZDF0NXFNUN0WIF T U FF 0CF JD 0F O O0G 0 D 0F 2DF C 0FT F33 O F33F D 0F ET F E F X3T U N OFN 0F F33F 0GH 3 0GF0Ld6D3DORFDC3E0F30 N0GKTCFWFFFK0UF33T OF3DO0D3DXG0E3F0F DIFUO00F3FFFUDFTEF 9F3UF3ZDCJ03TJF0 OFF0CF30TE0GF DC S3ZF C UF3 32F 0F OF F3DOFT F ET UO F N3F F0T 3F 32 0 DFD J F2 FR C E 0F F 0F 0OFT 0 DF E00F CF WF FFK0OO0FCDF3FTUORF DF3 C D3 0F F NFFFJ3FTF3KSDF 0 D 0F FD0F WD3F E UDO O F3UT30D3T0FFFE F F3 3DOR FO C E D UDF F 3F F3F ZF 3F F UDOF C UDF 3 E XF G 3 DU 3D F3F Ld9F33030FDTF3J0WKTTF32F30 023CF0G20FFG0FC apetitos y nuestros preceptores que muchas veces eran contrarios unos a otros y ni unos ni otros nos aconsejaban siempre acaso lo mejor es casi imposible que sean nuestros juicios tan puros y tan sólidos como lo fueran si desde el momento de nacer tuviéramos el uso pleno de nuestra razón y no hubiéramos sido nunca dirigidos más que por ésta Verdad es que no vemos que se derriben todas las casas de una ciudad con el único propósito de reconstruirlas de otra manera y de hacer más hermosas las calles pero vemos que muchos particulares mandan echar abajo sus viviendas para edificarlas y muchas veces son forzados a ello cuando los edificios están en peligro de caerse por no ser ya muy firmes los cimientos Ante cuyo ejemplo llegué a persuadirme de que no sería en verdad sensato que un particular se propusiera reformar un Estado cambiándolo todo desde los cimientos y derribándolo para enderezarlo ni aun siquiera reformar el cuerpo de las ciencias o el orden establecido en las escuelas para su enseñanza pero que por lo que toca a las opiniones a las que hasta entonces había dado mi crédito no podía yo hacer nada mejor que emprender de una vez la labor de suprimirlas para sustituirlas luego por otras mejores o por las mismas cuando las hubiere ajustado al nivel de la razón Y tuve firmemente por cierto que por este medio conseguiría dirigir mi vida mucho mejor que si me contentase con edificar sobre cimientos viejos y me apoyase solamente en los principios que había aprendido siendo joven sin haber examinado nunca si eran o no verdaderos Pues si bien en esta empresa veía varias dificultades no eran empero de las que no tienen remedio ni pueden compararse con las que hay en la reforma de las menores cosas que atañen a lo público Estos grandes cuerpos políticos es muy difícil levantarlos una vez que han sido derribados o aun sostenerlos en pie cuando se tambalean y sus caídas son necesariamente muy duras Además en lo tocante a sus imperfecciones si las tienen y sólo la diversidad que existe entre ellos basta para asegurar que varios las tienen el uso las ha suavizado mucho sin duda y hasta evitado o corregido insensiblemente no pocas entre ellas que con la prudencia no hubieran podido remediarse tan eficazmente y por último son casi siempre más soportables que lo sería el cambiarlas como los caminos reales que serpentean por las montañas hacen poco a poco tan llanos y cómodos por el mucho tránsito que es muy preferible seguirlos que no meterse en acortar saltando por encima de las rocas y bajando hasta el fondo de las simas Por todo esto no puedo en modo alguno aplaudir esos hombres de carácter inquieto y atropellado que sin ser llamados ni por su alcurnia ni por su fortuna manejo de los negocios públicos no dejan de hace siempre en idea alguna reforma nueva y si creyera que hay en este escrito la menor cosa que pudiera hacerme sospechoso de semejante insensatez no hubiera consentido en su publicación17 Mis designios no han sido nunca otros que tratar de reformar mis propios pensamientos y edificar sobre un terreno que me pertenece a mí solo Si habiéndome gustado bastante mi obra os enseño aquí el modelo no significa esto que quiera yo aconsejar a nadie que me imite Los que hayan recibido de Dios mejores y abundantes mercedes tendrán sin duda más levantados propósitos pero mucho me temo que éste mío no sea ya demasiado audaz para algunas personas Ya la mera resolución de deshacerse de todas las opiniones recibidas anteriormente no es un ejemplo que todos deban seguir Y el mundo se compone casi sólo de dos especies de ingenios a quienes este ejemplo no conviene en modo alguno y son a saber de los que creyéndose más hábiles de lo que son no 17 Adviértase 1º que Descartes se da cuerna en lodo lo que ame rede de que el racionalismo y el librepensamiento no tienen límite en su aplicación 2º por eso mismo procura con mejor o peor fortuna poner límites al espíritu de libre examen y jura que no quiere hacer en el orden político y social la misma subversión que en el especulativo 6 7 9 8 Q 7 7 303KFFXFFN0 OF33 D3 3F FF FD3F5FEFNWFUOF 3D00O30FFEUO C3F0DDHTID3F 0FEUCEFGDIFUTC DI S3NF 3 F NV C 3F E FC OF33 WK DF3 XWG E F DFFF3G0N0J0FE3F FFT EF O F3KT ODIF O 33F FG 0F F FF FF EOFF2DFDF3FDXF C UO FT F T F3 H03D F GFT F UOF 3 D N DIF E F0 DF3 UOF FO J3F U FT 33DT0FF0FDIF3FFUO 00GEFDGT S3Z2O0EFEUCFU0G 0FJ0KFJFTCUONF30GTDFNXFTE 3F 0FE F D 3 0 F3 F 00OIOFCF0NXFTFEDUFU33DIF FEF3F0WK5CUOFE DFDUDOTFDFDGTFFUF Z3JFF0DFT00GFDCJ3 0 E F2 F UOF NN FD 3 UF 2O0FTCEUF30FDFF3F3XFT0E FUGF3UWZFTCFN0NGF3F 33FWTFUCS3NG3C20T F3EDIFF0F3DOC0XD00FEF FED33VCETFDOGT0 D033 N3F F O E N0G 0F NF0GJ20FFOTEDIFNF2D0F EUDOF0R00FE3O0 2C0GFCFFD preferibles a las de las demás y me vi como obligado a emprender por mí mismo la tarea de conducirme Pero como hombre que tiene que andar solo y en la oscuridad resolví ir tan despacio y emplear tanta circunspección en todo que a trueque de adelantar poco me guardaría al menos muy bien de tropezar y caer E incluso no quise empezar a deshacerme por completo de ninguna de las opiniones que pudieron antaño deslizarse en mi creencia sin haber sido introducidas por la razón hasta después de pasar buen tiempo dedicado al proyecto de la obra que iba a emprender buscando el verdadero método para llegar al conocimiento de todas las cosas de que mi espíritu fuera capaz Había estudiado un poco cuando era más joven de las partes de la filosofía la lógica y de las matemáticas el análisis de los geómetras y el álgebra tres artes o ciencias que debían al parecer contribuir algo a mi propósito Pero cuando las examiné hube de notar que en lo tocante a la lógica sus silogismos y la mayor parte de las demás instrucciones que da más sirven para explicar a otros las cosas ya sabidas o incluso como el arte de Lulio18 para hablar sin juicio de las ignoradas que para aprenderlas Y si bien contiene en verdad muchos buenos y verdaderos preceptos hay sin embargo mezclados con ellos tantos otros nocivos o superfluos que separarlos es casi tan difícil como sacar una Diana o una Minerva de un bloque de mármol sin desbastar Luego en lo tocante al análisis19 de los 18 Raimundo Lulio había escrito Ars Magna donde oponía una suerte de mecanismo intelectual una especie de álgebra del pensamiento 19 Método que consiste en referir una proposición dada a otra más simple ya conocida por verdadera de suerte que luego partiendo de ésta puede aquélla deducirse Es el procedimiento empleado para resolver problemas de geometría suponiéndolos ya resueltos y mostrando que las 6 7 9 8 Q 7 7 3GFC0I0GO0FDFT3EF JFDCOF33FD3FTEF GH F 0 D F3I FD 3 F3Z F0FJGFTEX303D3 FFGD30DGKVC0FGT33 FUFX3FF03NF3FG0FC3F JFTEUUU003JFCFTO 0GT0GE003N B 3 0 0T FR E UO2 E OF 0GH 3 DR3EX3F0FN3XFFF3FTS0CFF J3FD0D0330CFFNDCD F0 0F NFT F F3 DU DX G UC FT DC F33D3 OFNFT F2 3DORT0G0GHD3FE 0 0KGT 2 E D OF32 0F 3 FG3FT FF3E3DFJDCF33F0K XOFN0FNWFE 4 0 D D3 D N F 0GT D FF N E 0 FV F T N3 FD3 0 3K C 0 NKT C DDFXFDIFE0EFF3F 30CF33D3DF23TEUOFG FK0 90 FGT N 0F J03F E SD 3F 3F J FO0 C 3F EFFDXF0K 90 3T D3 DF FD3FT DW 0F OX3F DIF FD0F C DIF JI0F T F T G0D3T UF3 0 D3 0F DIF DF3FT 0F FEF3FFKFNF3DFF BFB03KF0N30I0FFGDR3 6 7 9 8 Q 7 7 F 3 0F E F 30D3 0H03DTU3FF3F33G0FC FNFF3G0FTE00GFF3FG D3 9FF0GFFF3OFWFDC0FO0FC JI0FTE0FGKD3FF3DOD0T00G FFDIFJ20FDF3FTDUO2FK DG3F0FFFE0UDOE D3FFGF3FG0DTCET FK0OF3FD3DNE0 F C G FD 0 F 0F F3FTUOGT0XFEFU00 F303EF3RTEF00G0WC FO D FR DU OF I0F FDWTFCFO2E0FDIFFD0FC JI0F V C F ET 3 3F 0F E UF3UUNF3G0N0FFTFK00F D3DI3F U 3 0GF DF3FT F3 FT 0GF WF 3F C N3FT O E UO2 E DW 0F DFDF E 00F U SDTFOFE2G 3 30T F F3DO D F23 FF NFC33FJ0FFWFF F O2 0 KF3 3F 0F F 30FT DF DHD3 D3DI3FT C N ET E FF OX3F F J3FT 3FT F DOGT E F F 0F NF 0F F E F 30F30FOX3FTFREDIFN020D3F SD FF F G0T FAR0F FK0 E00F F3F E FNF UD DIF JI0 F D3T C UF3 FX3I0F 00F G DT FRF 00F 33 DIF 6 7 9 8 Q 7 7 0OD3 3F 0F DIF E N PM 8GN32E0FT32NFF F00F30TC3FNF 3 FK0 3 D NF X3FT C FR ET F0F DX 30T O2 F0F 02T E 3O DIF FD0 C E DIF F33D3 C F3 D N2F X3FTFE0FS0F0GFJFT0F DIF3FEJFO05CETF3DT3DO 0DXEUC0I0FFGDR3C0I0GOTC G2F23F0FJ3F03PL T J3ND3T D 3N E 0 S3 OFNK 0F F 3F D2 0GF D 33 J0 FDZ 3F 0F F3F E33 FF F FTE F 3F DFFE D0R SD0FT UO DW 0F DIF FD0F C G0FT C F N E 3O G0EDFN20G33FTFK0 FG2 F0N N2F F3FT E 3F UO2 F D DC J20FT F E UF3 D K 3DORT U 0 J0T ET 0F 0F E GOT 23DERDFCUF3KFO0 F0N0F 9 0 0T F D FRF SFN N F FIF ET FF3 E UC F NFT0E03FO30EF FO 005 C ET XD0T Z E FO 3DR3 C U FD JD 0F G0FT F3 FG UO U00 0 FD E SDO 3 3 0 UD G U00V ET 0 J C 0 OT 0 DR3 E FZ FG 0 PM F3F 33 F3O0 0F F D3DI3 NF0 PL 8GD32023N33F 6 7 9 8 Q 7 7 NC3S3D30FF3F 3F 0 E F OF 3 3 0 E J 3DO0FG0F03DR3 B 0 EDIF33 D O F3 DR3 ETR0320FGD0DWK3TF J3D3T 0 DF 0 DX E J D 3ET0I0TF32EDF23 FOF3DOO0FOX3F DC0CF3KTCETUOR0FX3 G D3 30T D D32 00 G0 J3 0F J03F 0F 3F FT D 0 UO2 UU 0F 0 I0GO F D 3N2 DW 0G SD 3F 0F E F F3OT F F DFDJ30E0DR3FOV UO N3 E 0F F 0F F 32 E F3 3F 3DF 0 J0FJ2T 0 E H U00O G E J 3T FR E 3 3 F F3O0 0GF F3 0FT C F F30FDIFD330DC0EFDIF 3D 0 3K C 0 NKT 2 E O2 D30DF3FUO00GDIFD E0N33RFZFTE3F32TCUO O F 3D DT FGDF233F0FD0FFE UO233FE03DTU3DOR SFNFEJFRF0D3 DFWD3FTCTH03DTX3IDFF 0DR3EDUO2F3TJW0DX DF23 6 7 9 8 Q 7 7 II B H03DT D DW F3 0 0XD3UO3TOF3UO0OC UOUUD30FCE33FTUOF X3 DFD 0 E33 C UO 3W DIFFD30FZ0NJTFE 3DOR UC E NF 0G 3 UO3K FKDD303DE03OXVF2T FT0JDF03DFFT D3F 0 WK D O0GO F0 DF XFT C XNNTF0GT0DXN3EFT UOG0DD0NF0PPTEFF32 F 3F 3 DISDFT E DU GF3 NC DF 8 D J FG 0F 0CF C 0F F3DOF D 2FTFNJDF300GKE0 G F UW E D F3C F ZT GRD 3 0 DIF 0F F DIF DF C DIF 3F 3 SF E JF DHD3D3F0I30FDIFFF3F E00F EF 32 E NN BE UO DW C 3 0FD2F FT F3 E FO FD30F 3F N SDT F3OFGE2UDXEFG 0F0FDIFFF3F30FFFC0F UFUCEWIUDOF3FF3FD3F3FT D 2 E 0DIF H30 DD E00F EF 32 E NNV C E FO I0F FF NF FT O2 JXD DIF O 0 E PP U 33 F3F D J3N 0F F3F D09FF63FzF90FO3UUC0GFFE OF330EN0F90J0R3F3F F0D3F3 6 7 9 8 Q 7 7 U2 E 0 E 2T FK0 ET 0 KF3FF3DOFTUCFFFE F3 0 E T F 3DOR E DUF0GTF030FD300 FFJ3E0300 E0TC033DUFNFF3 ER0FRF33NFFTG0D3D3FT 0G2 0F DIF DFT FK0 E F FD 0F DIFKDFjI3TCNF2D0D30FDXFT C E 3 SF F0 F D0T F 3DOR 0XD DF 0 N DT F T FT UO 0G 0F S3DFT JF 0 3 0 E O FGF 30 FO C D SF3DF00FX30 0O35 E C FOF 0F 0CF ET D 0 F3 0F F23F RO0FT D3F30GHFGOT0F 0 FG 0 DT FGF J3FT U N3F33FO0GIFFN5D N20DF0GEDFD 0DFDF3TCDT0ED2FJTFO JDIFCDIFDFXFTD0FTUO C 2 D3 GNJ03 3 0 O F3 FT FK00UUO3F0GFTD O0G303DORODIF3TUO00 F X F0T UO C X F3D0 D30 FGDISDJ0FDFF0DIF JDCF03ECFG3F330FDIF FF FT NW 3D 00FT D F JF FG2FDFT D3 F3 0F D3F ET S3NF0GHOFETO3F N03FC33TDF3F0GT F D FD 0 DIF U E U F3 JXT F DO K 0NF WFT cuando en un principio haya sido sólo el azar el que les haya determinado a elegir ese rumbo pues de este modo si no llegan precisamente a donde quieren ir por lo menos acabarán por llegar a alguna parte en donde es de pensar que estarán mejor que no en medio del bosque Y así puesto que muchas veces las acciones de la vida no admiten demora es verdad muy cierta que sí no está en nuestro poder discernir las mejores opiniones debemos seguir las más probables y aunque no encontremos más probabilidad en unas que en otras debemos no obstante decidirnos por algunas y considerarlas después no ya como dudosas en cuanto que se refieren a la práctica sino como muy verdaderas y muy ciertas porque la razón que nos ha determinado lo es Y esto fue bastante para librarme desde entonces de todos los arrepentimientos y remordimientos que suelen agitar las conciencias de esos espíritus débiles y vacilantes que sin constancia se dejan arrastrar a practicar como buenas las cosas que luego juzgan malas23 Mi tercera máxima fue procurar siempre vencerme a mí mismo antes que a la fortuna y alterar mis deseos antes que el orden del mundo y generalmente acostumbrarme a creer que nada hay que esté enteramente en nuestro poder sino nuestros propios pensamientos24 de suerte que después de haber obradi lo mejor que hemos podido en o tocante a as cosas exteriores todo lo que falla en el éxito es para nosotros absolutamente imposible Y esto solo me parecía bastante para apartarme en lo porvenir de desear algo sin conseguirlo y tenerme así contento pues como nuestra voluntad no se determina naturalmente a desear sino las cosas que nuestro entendimiento le representa en cierto modo como posibles es 6 7 9 8 Q 7 7 0EF3F0FOFEF3IJF3F0F FDF G0D3 FEO0F F3 T F3DF 0G eF E OF F3 D3T F NDF NF 00F F 0 F3T D 0 F3DF F ZF 0F F 0 6U RXV C UT D F0 FT F N3T F3DF DCFFFF3FFTF3JDFTF3 0OFT F3 0FTE U F3DF F FDF3FD333O0D0 D3 0F N0 D 0F IXF B JF E F FF 0GF XF C 3F D3F F3DOFD3F0FFFFIG0VC E F3 FF32 0D3 0 F3 E00F J0KFJF E 3Z FF3F 0 D 0J3TCF0FFJD3FC0OWT3 D3 N3 0F F FFPb BF F F FF F 0F 02D3F F3F 0 30WT F F2 3 J3D3 E 32FFFFFFD3FTE F3 FK0 OF33 D0F F3 J3 U 3F FFV C F2 FF FD3F 3 OF03D3TE32F33WKF3DF DIF F C FF C DIF 0OF C ON3F E 3F UDOFT 0F 0FT 3 F3 40FJ2T TDUE0FUCJN030WC 0 J3T F T D E00F J0KFJFT 3 3E 9 JT D 0FK F3 D0T F D K FT0FJ3FFE0F UDOFFNT0G0DXVCF Pb8F F3F F 2 FF 0F FF QF3FT J3T F FOF C N3FF 30WV 0 J0KFJT D FJW 6 7 9 8 Q 7 7 E0F0FDIFTFRE2 UDXEFG0DFDE32VFT 0 D N 3 0 03N D WK C 03 3 0 D3 0 NT FGH 0 DR3 E D UO2 F3 S3D 33 UO2 F3 C F E DR FND F3 DR3TE2EOF3DIFFN 3F3NVCFO2TFCT 0GF NF E D 2 OF33 D33F C G0D3GF0F3FUDOFT0F3FJK E SD3O 00O 3 D0D3 D F23T E 3 0 F33 D J3 DIFT 0F 3F DISDF3FJIFFK00KF3TEC OGOT 3 F3CRDV F UO FUDO0G0WEF0N 0 J0FT UO C 2 E O2 33D F0 DD3 0F F XFT UOD F3 F D X SD0F J3DVCUO0ODFH0FT 0 FG0FT F UOF F NU 3F 0F FF33FDXFT0FE0F UOFVCTH03DTUO2FO0D3DFFFC F333FUOFFGDT0 DFD 3D E FGD 0 EFK 3F 0F D3F E C T FO 3DOR 0 DFD D 00G E 3F 0F NF OF E F3NF D V F 3DIF F3 N03FGN3F0GTFEF3 3D3 F 0 F3 D O D0T OF3 XWGOOOPdTCXWG0DXEFT O 3DOR 0 DX E F V F T E3F0FN3FC00F3FOF Pd73DISD3030F3FF3FDFDK3F 6 7 9 8 Q 7 7 0GFVC303DOE00FF2T DFF333 ORDT FT JD F3F DISDFT 0F 0FF3X3D30FNF0JE FDUF0FDFDTFRE 3F DF 3F F 2 0OD3 DW FUDV C D FO FG0 DX NF 0F UDOF E D DIF 3D03UO2D33F FFFD3FTFG2DNX3FE0N F3N033D0FNZFFG3F U3FFI00I0DT F DIF O F3 E 3 0F DFER0FF3VF33C30F J0SF3D3FOE00EU0 FFUFCFKENFT00GR DF23T3F3DT3FF F0WF 3D3 F E D3 0F FR3FPhTEFK0CF0FFD F03FV 0 3TD KF3 3E JWD 0 NT 3 0 3 DNW C 0 T 0 NN 0 00 8 0T D T FG2 OF33 OV 33 ET 33 FO0J0F03DO0FFF E SDOT D3 O0F X3FT F WD3F 0F C FGFT 3O G 3 F E F 00 0G 0FK OF333TEFK0JF0E32 3F2D0OFNXF0GF 0F D30FT E FN F3 0 NT F2 3DOR0F33FE00FDFFEXWGO JF U2 C NF OFNF C E2 Ph RF ENF F3I 0F E D3X FR3 F3FOF33TNRF0K0G033 6 7 9 8 Q 7 7 SF E D U FN FRF F3O0 3F DIF 3F DIF FG2 X3ID 0 DR3 E D UO2 F3V F F 3 E O DC O G0D3 DF FD3F FGH 0F 3FG0FT O 0GF UF 30FT 30D3 J03FD3DI3FT3DOR0GF3FE 2 UO F FDX3F 0F 0F D3DI3FT F0GI0F0FF0F3FFTE D2OF33JDFV3F3NFNF F3F E N S0F F3 DFD N0DPf F2T NN D 0F E 3 3 K E 0 F N FN 3 C F GF0F0F0FNFTCGW FFUF32UF3FNFFUF3F F3I F 0T XO C FN D KF3 C F NU 0 D3 0 NT DIF FT E F D 33 0 0OF J30F330F03F DOGT 3F FF N ZF F E 3D C FK 0G 33 0F J03F E F0F30F3FTCFUODWOF 0F D3F J0FJ2 DIF 3 E 0 N0G 0 XD0 NF S03F GF E U 33 U0FTDTFG0TD00NODG 00 33 J03T E D UO 3N EWI D0 3 F3 F UO NF3 E 0GF 0O0DE0UO200NODF FO0ERJD3F32D330KV C F 0G U 3O 00T DF UFT O UOFUOJFDGDIF E F0 U0 0FE U F3 T C F Pf J 0F FCF 32JFT K3T 3F C 1D32T EFO00DFD3DEF3FF 6 7 9 8 Q 7 7 3DORUO0FWFE32 DUF FF E 0F DIF F 3FT DFEDUCF30G B D 3G 0 WK OF33 O F3 EED3D3F330EFCTFRE F3F0FDFUDG0 3KED OV C U U ZFTFD3T F F D K 0XD 3F 0F 0GF 230GF0FTC3DE2PcT 2F 0 0G K 0 G U F F E F F3O0W 30F KF E 0F XR3F E F D3FNFE0FUDOFG 0FJ3F0W33DCFGTCT D 0D033 G O0DC 3NT DIF 33 0F F GFE F 0F XFT U TFG0FDFEUC 3F DIF J3F FT NN 3 F03 C 3D0DIF0XF3 Pc90 6 7 9 8 Q 7 7 KII FRFOUO0F0FDFDFE U 002T F F 3 D3J2FF C 3 J 0 DHT E EWI GF3 3 0 DaM DOGT EFF0FJD3FEU3DF OF33 JDFT D N 3 D O0G 0GFFJ0SFDEUO2N3ET 0330FF3DOFTFNFFFG F E FODF DC 3FT D F J O0FT C F3 F U U C 0 3 3V FCF3FKD3FK0G0 NTFREO2U03CUWD OF03D3J0F3E00EDG0 DT0JNFFRFUUF3T E2 D 0G E J 3D3 O0 F2 F3 E 0F F3F F GZT 0F NFTEFFEUCF0GEF30C D00FF0F30DGKVCF3E UC UDOF E C 0 WT 0F DIF FD0F F3F GD32T C D3 0GFDFT XWGR E C F3O 3 SF3 0 D 3 0ET C UR D J0FF 3F 0F WF E 3D3 UO2 3 DF33NFV C J F E 3F 0F FD3F E F N F3 F3F 3DOR 2FF 3 0 FZTFEG3FFNTF0N2JG E3F0FFFEUF33FUO23D F23 DIF NF E 0F 0FF DF FZFBN320GETEACFTF F3T E 3H F J0FT F E C E 0 FOTJF0GFCOFNEF3N5 aM 8 D3J2F F3F F3I SF3 0F 3F D3J2FF 6 7 9 8 Q 7 7 C FT 0GFC 3JD C FGE 0FDIF S3NG3F FFF 0F FR3F F FT DN0T XWGR E 2 O0T F FH0TD0D0J0FJ2EO OF 9SDR FRF 33D3 0 E C T C N E2JGE320GCEUO2 D0G0G0ECD3FTE 2JG00EJFTF032T0 DFDEFO0N0F3FFFT F FG2 DC 3 C N3D3 E C D3F E FK0 X FT E 3 0 DIF E UO2DGJFNT32CWK0G E C 2 00 E C FF3 CFC30W3FFTCEF3T F0G0GTF0GD305 F3EF3CTFT00D00CFC0 EFCF3D3F330CUF3DIFJI0 EF3CE0JFT00D X2F3F FRF F3T FRT G0T 0 E F EFKEFNC3T F C E OO U00 E FO2 E 0 T FREO2FO3DORERFF3F3W UO 3 E 0 FK C FT 0G FCUCEDFGEGNTFE NDC0D3EFFFFTXWGR E 2 D3 F3 G0 G05 E 0F FF E ODFDC0CF33D3F3FNFT CEFK0UC0GJ033I0FF0FE ODFF33D3 FRF00TUOJ0SEF3E C OT D F 3D3 J3T F N2 0D3EUCDIFJKEV 6 7 9 8 Q 7 7 C F D K 3F G K UO2 C F 0G DIF J3 E CV C 2 N3D3 E O2 F 0G 30W E JFJ3ND3DIFJ3T90EFJ0F FD3FTED2F3OTNFFFS3F D2 D F 0 0T 0 3T 0 0W 0 0 C 3F DUFT D O DU 0 FO K 2TETNFFFD3FE D F U0F FF D2T 2 ET F NFT F F D 30WT 3ERF3F0GJKTCF0T 2 0 T F T F3O D2 E UC J3DB2F3330 F DIF J3 E D F F F DJF3D3 DFO0 E 0 30 F 0 VCDUC0DGFE0 DIF J3 F F C 0 DF J3EFENG0GT2 3DD2DFDVF3EFK0EO E UOF F F3 D2 30W ND3DIF J3E CT C F 0FN 3F0FJFEC3VF3 FTS000OTFF3Z2E FF3 E C 2 0GF JF E D J03OT C 0 H F E SF3F jE2T F 0 D32FTURF0OD30F3RDF0F3kT FEOF03D3FEUOF0GH3 FDIFJ3ECFCEUOF E 3 3 C F25 F F C J F0 30E3FT30F3ED2 DFDF0E3O0J3T UO 3 D2 DFD 3DORT R3 WKT30DIFECFO2J03DTCFX033T CJ3T3TD3O0TDF3TD33CT JTF3F0FJFE2N3F 6 7 9 8 Q 7 7 BF N3 0F WD3F E O UT 0 30W FT UF3 0 D2 F W 0T D OF3O F 3F 0F FF E U00 D2 DFD 0G C N F JK0F0FTCF3OFGEG 0F E O 0G DJK F3I FT 3F 0F DIF F2 F3I 90V F2 N2 E 0 T 0 F3T03F3WC3FFFFDX3F F3 FT F3 E DU D U0G C ND 0O 00F DIFT 32 C F N2F FF FFO0F C 0FT F F E FZO C E33N2DGOJ0FT2GT F DOGT E FF F F3N ND3 D FD3 F UO C D2 DC 0D3 E 0 30W 30G3 F F33 0 0T C F E 3 DFK 3 T C E 0 F DJF3D3 J3TXWGO00E2FJK F 0 DF FF F 30WFT C E FG3 F DF3V DOT F 0 D UO2 FT O 0GF 30GF 3F 30WF E JF 0 3 J3FT F F O2 0 NT UF3 0 3 FOFF3FR0F0F33 rF G 0G 3F NF5 C UORD F30OX30FGKD3FTEO2CD 3 F J3D3 S3F 0G3T U C 03 JT NFO0 NF 3F E 3 NF 4GF C DG3F C F DNF 3F0F 3F 0F F3FT F 0F GKD3FFX3FFOX3TFR0GF FF DIF FD0F DF3FT C UO N3 E F G 3W E 3 0 D 3OC F3F DF3F F J 3 FK0 E F O NTFGH0G03FUTN323DORE había nada en ellas que me asegurase de la existencia de su objeto pues por ejemplo yo veía bien que si suponemos un triángulo es necesario que los tres ángulos sean iguales a dos rectos pero nada veía que me asegurase que en el mundo hay triángulo alguno en cambio si volvía a examinar la idea que yo tenía de un ser perfecto encontraba que la existencia está comprendida en ella del mismo modo que en la idea de un triángulo está comprendido el que sus ángulos sean iguales a dos rectos o en la de una esfera el que todas sus partes sean igualmente distantes del centro y hasta con más evidencia aún y que por consiguiente tan cierto es por lo menos que Dios que es ese ser perfecto es o existe como Jo pueda ser una demostración de geometría Pero si hay algunos que están persuadidos de que es difícil conocer lo que sea Dios y aun lo que sea el alma es porque no levantan nunca su espíritu por encima de las cosas sensibles y están tan acostumbrados a considerarlo todo con la imaginación que es un modo de pensar particular para las cosas materiales que lo que no es imaginable les parece no ser inteligible Lo cual está bastante manifiesto en la máxima que los mismos filósofos admiten como verdadera en las escuelas y que dicen que nada hay en el entendimiento que no haya estado antes en el sentido31 en donde sin embargo es cierto que nunca han estado las ideas de Dios y del alma y me parece que los que quieren hacer uso de su imaginación para comprender esas ideas son como los que para oír los sonidos u oler los olores quisieran emplear los ojos y aún hay esta diferencia entre aquéllos y éstos que el sentido de la vista no nos asegura menos de la verdad de sus objetivos que el olfato y el oído de los suyos mientras que ni la imaginación ni los sentidos pueden asegurarnos nunca cosa alguna como no intervenga el entendimiento 6 7 9 8 Q 7 7 9JFHUCUDOFEF0FWFEU F3 U N OF33 0 SF3 FC00DTEEFE3F0FDIFFF E F DIF FGFT D F E 3 TEUCF3FTC3TC3FFDX3FF F DOGT DF 3FV F F O 3DF FGD0FFFFT3GEET DF F S3NG3T 0F T F DOGT F 33 3DO D3J2FTFGTF0WKT EFOF33D3NTF3330D3FGT 0UO3EDF0DFDDDG FZFE3DF3CENDF3FF3F C33TFE00FF2BFTpKDFODFE 0F FD3F E F F 3 0 FZ F J0FFTCE0F0FE3DFF3FTF2DUF NF F E ER00F F DF NNF C SFF ERF3FqDUEF30FDXFGFT EGWKOF330N3 FTDFG0SF3FBF D 0GT F DFD G0 E 3F U 3DT FOT E 0F FF E ODF DC 0 C F33D3 F3F NFT FDFD G0 O F3WFK0EFFSF3TCEFF J3TCE30EF3IF3FN Q0VFFGETFF3FFFT F0FCF33FTFF0FC3F FTDFF3DORTFF3T NF F3 E F 3DF OF33 J F E J0FT F E UC 00F0GJFCFTCF3F33 05FTEFF3IFJFFF3FTF EFDF330D3J3FFN3E UC DF G D3 E 0 J0F DJKD30FDFDTED3 6 7 9 8 Q 7 7 E0N0JK0FF FRDFE33F3FF0CN NFJ3J3T3FT0FC F33F E F3F F JFT UO2 WK 0G E F FGF E 3 0 JK F NF F2 FT UORF 3F3D 0 D3 F C 0 0D 0 3W F G0T F03 O JI0 E 0F FZF E DGDF DF OTD0GTUF0N0F FD3FE3DFF3FBFFFE FZF3NFDC0CF33T DT XD0T E N3F GKD3 DF3K NT F2 00 D3N D0 F N5 C 3 0 DIF 3 DUF FZFT E FF3 F3F NF OX3F 0 DFD D D F 0F F3 0F F3F S3FT O D3F E F R FK FJ0NFF30FFTE3DOR GZFJ30NG0TD0F E330N3D00TD0FF3FC 3FFDC0XFFDUDIFEZF 0EFBFTH03D3RDTF3FDFT ODF XF F F 0 N 0 WK K3F O E G 0 WKT 0 DGK 0F F3FV D FDFDT E NDF 0 F0 DC 0D3T ODF 00 XWG E F 0 3DZ E 0 NDFV C DC O DF DGF33D3OW0KG0 OT F E F UC E 0 E 0 DSF30EDTF0WKFE0E F2 NDF DGDF F NT F E 3F F3F F F O 3 0GH JD3NVFJFO0EFTE F3J3CNT0FFFFF3FV 6 7 9 8 Q 7 7 CF3EF3FWD3FF3N3F C 3 3F FZDF D F3DF F3FT F O NF F3F DGF F 3 NNFCSFNFCUF3DIF0FZE0NG0T F F 0 WK E F NF 3F F3F FD3FT E FDF 330AD3 J3FT OI J0O0D3 U00F 0 N DIF O 0F E FDF F3 F3F E 0F E 3GDFFZF 6 7 9 8 Q 7 7 SKII U D G2 FG C S E2 0 D3 0F 3F NF E X FF DFV D 00 F2 F E UO0F UNFF3FE3N30F3FT EFFFDTEDXFIED OF3G C D 0D3 G0 I0F F XE3FDIFFOFXWGFF2H30E0 HO0 OF DIF D0 C 3 JDK aP DUDJD0F0KE3DR F GH 3 E 0 E D U FN DF3 0 SF3 F C 0 0DT C D3F0GNEDFDIF 0CDIF3E0FDF3F0FGKD3FV CFDOGTD3NEFK0U3 0 D F3FJD 3DT 3 0F 0FJ03FEF033F0J0FJ2TF E3DORU33F0CFEFUF3O0 0 30W C CF F U DF F3F 0DFT 30 F3 E F J0SDF FO 00F OF333D3TDFEFD0 S3D3 3 3 UC F U 0 D 6F0G0FFF0CFTDEU FO3NFNFDIFH30FCDIFD33FE 30E3D3UO20FF FUOS00F0F3 00F 33 E 0GF FFT O0T0DXFIT0FTEG E2FDD30EF333F R0 3 3 C 2 FOT 3F FO0T aP0FK0100 6 7 9 8 Q 7 7 0 30W 0F FF D30F B F2 D0F3FTF3G0D3OT 0FT 3F 0F J3F F OX3 FK0T0G0F0FTEN0NU00W CF30FDIF0FDOTFT30FD NF F D 0 0T F2 3DORT 3DCDFF30EUO2 D FD3T UO 0D3D S0 DC D0D3DK00WVF3FKTZ2 0G00C0FF300FJXFTEF30 0WNFFFV0F0FTE03FD3V 0F03FT0FD3FC0TE0J0XVC 30T 3F 0F F E UC FO 0 T E F 0FT 3F3FT 0DFFV CT H03DT0UDOTEF0F3 FDO 3F FF FF C 0 DIF 0O3DFXFTF0O0GKFGJ30F FD3F30F3FTF0N2OF3 DF3FFF3FCUO0FK00E2 3 D NT F F F U 0F FF DGF OF33 D3 D0T C G3 NFD3 C F 0F NF 3F F D3T JDFF3JFDJG00F3FT FU0G3FEF3FF 0 30WT XI0 O FGH 0F 0CF R0 F3O0F F2 DD3 FO2 F D3 C 33R F30T30F3EUCTDT DIF030GO0aaTS30E3FUDFU FC00DTFUF3FFSFD3EUC 00GFFJDF0FEF3 0F F0F ai T G0 G 3 F C aa8D3FS3FKHD3 ai 93F E F Z 0 D3 3D0 033ND3 6 7 9 8 Q 7 7 D3F330F3F0DFEF FE JG E F G NT DIFT I0F 0F 0CF 0 30WV C F J DIF WFGH3E0FJ3FJF FT 33R DF3 3F E00F FO 0F E UO 0G T C R O E F 30F ET F UOF NF DFT 2UOFOFND0D3 FRFF3TDF3RKD0DC30D3 FFO2TFFF0CFTFF C G0F 3 D E 0 U2 FDX3 F3F 0FV KDT 3 33T 0GF FF 3F UO2 D T C 0GF 3FT 03F C D3FT C 0GF 3FT 0 C F300F JXF E2T S3RD FO 0 3D 0 0WT S0ER 0 D I0 0 E O2 UO 0 0 C 0F F300F C KD F 002 3NFO F33 0F FFDFF0F0FCKDFJ0XOF0F 03FC0FD3FU0Z23DOR0GF FF0FF3T0F3KT0FDND3FC 3F0FNF0FFF0FCFFF3FT F3 E FO UO U 0 OF33 E F EFOFNT0FF3DTE O0DFT3FDX3 0FF3DECFO2U2FRUO0 30D3 0 V S0ER KDT UO FF3SFD3E06GHF 0D3EF3IDF3TFXO3F FF 3F GF S3D3 U F 3V KDT UO G C F FJT 0 FFK 0F 0FC0FF3FT0D308TO2F J0XCJ0XFDX33FFFF3F0E FOFNF3FDFTCDIF33T 330GD0TEN8N3B3T D0EFOFN3DOR30F3KFVKD0F montañas los mares las fuentes y los ríos podían formarse naturalmente y los metales producirse en las minas y las plantas crecer en los campos y en general engendrarse todos esos cuerpos llamados mezclas o compuestos Y entre otras cosas no conociendo yo después de los astros nada en el mundo que produzca luz sino el fuego me esforcé por dar claramente a entender todo cuanto a la naturaleza de éste pertenece cómo se produce cómo se alimenta cómo a veces da calor sin luz y otras luz sin calor cómo puede prestar varios colores a varios cuerpos y varias otras cualidades cómo funde unos y endurece otros cómo puede consumirlos casi todos o convertirlos en cenizas y humo y por último cómo de esas cenizas por sólo la violencia de su acción forma vidrio pues esta transmutación de las cenizas en vidrio pareciéndome tan admirable como ninguna otra de las que ocurren en la naturaleza tuve especial agrado de describirla Sin embargo de todas esas cosas no quería yo inferir que este mundo nuestro haya sido creado de la manera que yo explicaba porque es mucho más verosímil que desde el comienzo Dios lo puso tal y como debía ser Pero es cierto y esta opinión es comúnmente admitida entre los teólogos que la acción por la cual Dios lo conserva es la misma que la acción por la cual lo ha creado35 de suerte que aun cuando no le hubiese dado en un principio otra forma que la del caos con haber establecido las leyes de la naturaleza y haberle prestado su concurso para obrar como ella acostumbra puede creerse sin menoscabo del milagro de la creación que todas las cosas que son puramente materiales habrían podido con el tiempo llegar a ser como ahora las vemos y su naturaleza es mucho más fácil de concebir cuando se ven nacer poco a poco de esa manera que cuando se consideran ya hechas del todo 6 7 9 8 Q 7 7 0 FK 0F F DF C 0F 03FFR00FD0FCT30D3T0 0F UDOF F 3 H OF33 D3 UO0 00F 0 DFD F30 E 0F DIF FFT F T DF3 0F J3F 0F FF C U N ER FD00F C ER D O 0F030WTD0D3RFEFJDK 0 UDO 3D3 G0 0F F3FT330JGS3FFDDOFD 0 J JDK FF KGFT F D0 3D3E0ECUO2F33D3CF 0 0 0D 0G WO0T 3 F E FN0D NG33NFF3NTFS3F WK FFJGF F 0W C S0F D2 C E C O2 G0 30W E 0 E 03 0 U 3F F3 F 0 E U E 0F NF NF UN F X 0 O F U00XVFSD0FJFETF 00T 2 UO F T U00O E S3D30FDFDFE0WFF3FT F E FDF 00F C FG3T F E 3OCF30DTFTF3F33 0 T 0 E F U U 3D3 E F 30W F FK0 F ad VC F FF JF 0F DFDF 3FT F E 0F D0F FNF3F WK F FDX3F F3FT DO F 3FG0FE 0 FD3T E FT 0 33T 0F HF E F 33DOFVRFF0F3OC 0GT F E F K 0D WO0 C 0 ZK0T3DECFO2 ad F 0F JKDF N30F E F FD3 S0FDID3TFGHF3FRFDIF03F32 0FD0FDIEF 6 7 9 8 Q 7 7 FEnNF0DKDF3O33 F3D3TNCE20S0K0DND3 0 WK C 0F 3F ET F 0 D C DIF G0 E F OFN 0F D0FT FNI E XWG 0G JI0D3 0 E O FF 3F 0F DIFEFDIFJI0D0ENC TF2E0FEF3RNFF3D2F 3D03OXT3F0F3TD3F F 0 WK 0GH D0 GT E 3G 0DFTF3FOF3300DOT CEN0FFIDFNFEUCR0V DT0EF3I00UT0EN F 3OF DC UFT FO5 0 N NT E F 0 03I00FGCD030IO0T CF DF F 0F DIF NF 0 T C 0 N 3FT C DO F3I D0 F3T E FT 0T3EF00WKCFN0G NFDFEN3F0F0DF3F 0FF3FVFGT0EF3I00WET0 EN0DFDDF3OF3UFDIF E 0F 3FT FO5 0 3 NFT C DO F3I 3DOR D0 F3T E F F N E N 0F 0DFT F3I N NF DF3DW0F0F0N3FC0F 0300DZ00DKT30 0 FKV C 0 G 3T E F0 0 WK C F3OCFFDF30DOREFC ENDU0FX00FETD 3F 33F 33F O C 0F 3 JF EUCFFFNFTFO53F03 0NNTF3I3OFF3FE D0GDE0FG30 NU0WKTCTFDOGTDDC S3D3 E F0V 3F 0 3 0 N 3FT 0F 0F F3I FF3F D 3 C 6 7 9 8 Q 7 7 D3E0FGEUCF3NF0F 0DFTE0EF3I0F0DFN0N 3 F NV F 0 3 0 3 NFT0F0FX0FGF0F0DF UF30NWE0WKTF ENCF33VC3F030G 3TED3E0FGF0G0WKT0 DEN0N30HDF3F00XF UCEOF3WKFE0J03 NFTFN0TF0F3FU00T FKDD3FD3FE0F3FT F 0FT F DX 3F rF CT DIFTE FFE 0G 3 C 0 N 3FFA3UUFDFKDUDF CJDE03NFC0NNTCEF3FF H03DF F FU 3F 3 0 WKT DF3F FDX3 0 RF3V C E FDUCDIF00WKEGH3F3 0 V CT H03DT E F3 0 F W U EF30GFG3FFGFFNFT FJ0DC0GCF03TDG0D3 3F0F02EFG3G30GHNFDC 0 UF3TOF3ZTS00DND30 WKT E FF NF F3I 00F FGT3FD3FG0NN0 0UTC03NF00WET33 DIF3EF3FFNFFF3IFD00FTCFF JFTEDU0WKT3F F33FV33DFDU3 F G3F FGT NT F3F G3FT E JW F DC GFFT E 0F JF 3 FDCUF C 0F NFF N F3IDC 00F FGTF S C 03 F 00ETFEUU30 6 7 9 8 Q 7 7 WKCDXC0F300FEF3I 030FFNFFNTDE OXDIFFG0WKVC3H03IFNW DIFT0EDXCO0F3FFF300FT EF3I030F3FFNFFT0F0F F03FTF2UUWK3F0F DF0N3FC0G3TF0DFD 3DE0WKVRF3FFJ0DC0GTD FDFD FF 3FT E 0 FG E U 3 00FFJ2TC0FFF300FN0NFTC0F 0NNC03NFN0NOFT F 3F F G3F FGT E F NWT UU 0 WK C 0F 3F D 3D3 E 0 FGT 3F 3 0 WKT F FF F O0FF 00DF XFT U2 N E 0 DND3RF3FF30ER0TCERF3FF FJ0 ER0 F J0 B 0 DIFT E 0F E0JW0FDF3FD3DI3F C3F3DOF3G0FWFNF 0F NF2D0F F N3 G F3 E G F SD0TUN30FE0DND3EO S0FFGFD30F0FFK0F KGFEF3I0NF30WKC00ET 0FFTF3FF3NFC030W 0FGESTFTD0 DND30XFFG0JWT0F3KC 0JGFF3FFCFFF B F F G3 KD 0 FG 0F NF F OT03F3D30WKTCKD0F 3FF00FJ3D3TF3E30E F0WKN00FTF33F33 F E 0 E C U F3 DR G03ahT EUCE0DR3UOO3OU ahNCUO2FO300K0FGLdPc 6 7 9 8 Q 7 7 F33CF0DEUFZEUC 0F S3DF 0F 3F NF EZF F 0FGE00G0WKF0FD00F S3DF0FNFCE2N0N0G0WKT F3E0F0FGF0K3 F3 0 O DC O D 0 S 0F XFT EFT UO 3 0 OW D JW D 0 F3 O 0 NT U E 0 FG F0G DIF O3 E F UOF 3 0 OWV C 2 3 0 3 F 0 3DIFOXT30DC0UTF03 DU JW D BE F 0 E 0 3 UUDJWDE0FGE UC0OWN0N0WK0FNFTE N FG 0F 3FT E RF3F N OX 0F NFT C F FF 00XF DIF FT F DF JI0F DV C 3DOR E 0 FG E N 0 WK 3 DIF JW F 0F 3FU0DTEN0N0DU0 WK0FNFVCF3E0FGF00OW 0 3 E F U UU 0F NFT F FEUC0GFFF03OX0 3TFTU0FS3DF0OWT 0 FG N 0F 3F DOR O DC O0E0F0FGT0SF3 3F 00XF E F3I 30 D FF3F J3F 0GFT 00G 0F NFTE D3 E 0 FG NC F 0 3 0 0F S3DFT C F2 FK0 E N0N 0F S3DF 0 WKV C DIFT 0 S ADF3 E 3 0 FGEUC0F03D F03EFUC3TTUORF 303DC0WKTFUCUU03 3RF3C03T30F3EUCFK DGE0FGN3N33 6 7 9 8 Q 7 7 B UC 3F DUF FF E J E 0 NFFDND30FGF0EU UVDFDD30JEF33 0 E F0 0F NF C 0 E F0 0F 3FT J E N F E UORF 3JCDF300FGT0F0WKT FDIFF30CDIFNNCDIF03F0RF3TF TF30F3FTE3F3TFT F3 0F NF F O F DT F NI E F J 0 3 F 0 WK C 33 0F 0GF DIF 0XFV DIFT 0 W 0 00XEF3IUUF0N3FC0G3 FOOE0FG0FG0DIFJW E 0F NF pKD S0 E 0 N WE 0 WK C 0 G 3 F DIF D0F C UF E 0 N U C 0 N 3FT F E0FG03NFTE3FF 0 WK U F3 DIFE 0F 0DFT FDIF F30 C F S DX CDIFJI0D3E0 E N D3D3 0 N Nq p ER F 0 E 0F DRF NGT 0 3D 0 0FT F F ET FGHE0FGDO30WT000 WKF30DIFDFJWCDIFDF N0qFEDFKDF30FD0F DIFDDOFTUODFNEFD 0 FG ET 0 F 0 WKT F 03 C F 30G30TFFETF E3DFFG3TE3IF0FDFD00TC 0 WK F3N D U 3TOF32030FFC0FDFTD0 UT F 0F NF 3 FG N DOR F3FE0FN0FKF 3 0 0DK JF OF33 FG E 0 FG E N 0 N U 0 WKT U F 03 C D DO 6 7 9 8 Q 7 7 NFTFFFCFN3NFG3F N0N0NWETF00F 3 FN 0D3 0 JG E UC 0 U NVCJDKF3FENDFE0F D0F E 3 0DF F F0 N0WKTCE0FZFTEF30 F D3 F 0F 0DFT 3 J F FG 0 N N 0 NWE0WKTC3N 0N3F0G3TFF00DK DIFT pKD 2 UF 0 K 0F 0D3F 0F3KDGF0WKNF0F3NF D 0F 3FT ZRF 0GF 0F DIF FNF 3F 0 FGT E C F0N 0F NFq0KEN3FG0XGFF NFTpFJI0FFFET0F C3NW0WKTFF30EWIDIF F3F NF 0 2q S0 0 3K C 0 K0FNFUDFEUC0TpER FUC3FTFE0JWE 0FGT003FTF0WK0FS3DF 0F 3F F F E 0GF FF 3F F 3 3 0F 3F 0F DDOFT F U00T3D00G3FES0FTCETFGH 0 F3K 0 JGT 0 EZW 0F F E 3TNF0XF3F0GFC3F 3F3FT0DFDDDU0FOFE F3 GXF J3 DT FN F F3F0FGFNF3DZFqH03DT0 EUCDIF3O03F3F0GK0F F23FD0FTEFDF302FDN3TDIF OD2FDCNN2FD00DT00F 3 DC O3 F 0 WK 0 O C F 0G 0F NF 0F DHF0F C DND3 3F 0F DDOF5 C S0 KD 0F 6 7 9 8 Q 7 7 3F0FGDIFG3FC33FNU0 OTDIFOE30G0ETFF DG 3 F F E 0F 3F E 0F F0FEF00WK02DIF3TCFGH0F G0F0FDFDFTEF0FDFDFE0F0 30WT NF FF 3 X3F DNF U DFD 0T F E UC F OF33 O0F 3FT D 0F 3F 0 FG E F00NWE0WKC33F U0OT0FDIFJ3FO00FDIF O0FCDFG3FCT033TF0FHFE 00Gaf O2 C S0T OF33 3D3T F F3FFF033E3N0KF3O0 FRF UO2 DF3 I0 O F 0 JIO ac 0F NFC0FDHF0F0UDFG E 0F F23F D0FT F3 3T 3G JW OF33 DN 0F DDOFT D NDF E 0F OWFT FRF 3F H F DN C D 0 3T F E C F3I DFV I0FDOFONJF0OF0 NG0T0FC0FFZFVKD00WT0FFFT0F 0FT0FFOFT00CDIF0F0FOX3F S3F DD 0 O NF FT D 0F F3F5 KD 3DOR N 002 0F FCF0UDOT0FC3FFF3FVER0 DDTER0FFNTCER0J3F2TE DO0FNFD3CD3FNFTC3DOR af8FG0C0DND3TFO3F3FTFE 30D33FGFDND30230 3G3 0 N E 2 0 DKN0 F2T F S0 DND302NTCTG0TS03FNK0 023TU3N3FFFE030DD0FK ac4ION033DGWKDI 6 7 9 8 Q 7 7 TR3DTF3O0FF23FD0F 0FDHF0FCDND30FDDOF0T DI0F0FOX3FEFF30FF3F C 0F FF 3F 33F NF DF 3F DND3FUF3FE0N03 0FG2iMV00IGDS3Z 0F ET FO I3F 3KD3F DIEF FDN3FF30F3UDTFD0 F E2FDF WFT DK 0 G DUDOUFFTDHF0FTNFT3FTNFC DIF3FEUC0D0TF F3DDIEETFUUDF FT F3I DO0D3 DX C F DND3F DIF DO0F E G 3 0F E N3 0F UDOF E2 D S32 30D3 U N E F UOF DIEF 30F E 3NF 0F KGF C JG S3 D 3D00ETFNF3WKTUO2D 0G E F D3 E F 3 G0 30W E FF D0FV D3F E F 0F UO E FDXF F3F F D3F F3FFT3JD0D3FO0TFD 32DF F DF DC 3F E FFUDOFNFVCF0DTE 2 U F 0OF 3F FGFT DR0FT D UDF F3FT 0 F3F FD3F 0F DIFT F F O F O E DIE F3R 30 D UU E J 0OFT C UF3 E 0F J KF3 F 0F E F 0G 03K FF KGFT DT 19 7T F F 0 3 3T E G30EFE0TCF3TEG3EF iMK3F KD F3F S0 DID3 3F 0F F JF00DTCFFK0F 6 7 9 8 Q 7 7 0UZTC3FFF0DFDF30TFDOGT FOENFDF0F0OF 3F30F330EFFFGT D U0 0F DIF F3HF 3 0F UDOFV C F 0 FG E U NF FF 3 O C F DX E G F3FT X2 J00 3FT F FO2 E O D3T F FK0 0 FFK FF KGFT F D3F E 0 WK F F3D3 NF0T E FN 3F 0F C3FT FF KGFTDOTF330FFK K305FEFD0D3 DFO0EUC33FC3NFFFF DIEEU0O3F0FF 0 N 0 D D 0 WK F U O F3FUO5FFFDFF 3DOR0JEUC30FUDOFC0FO3FT FFFDC3EUCUDOTF3HC DOO E F3RT F S3 0F 0FT E F WG0X3NF0OFCD FF E R 3 FF FD3FV C 0 3TUCD0TJ3CJ0WD33E FTEU33380FE 0FD0F0FJ03KGFTFNDFE0FFC 0F 0F JT D F3FT 0OFT C F DOGTTDF3FTUO0TFTJ E F 0 E V DO 0F UDOF ET UO FF C DFT F3I NF 0F KGFE0F3FFNUO0TF0N3 F2 DFDF F FGFT F 0 0F ET NN00FTUFGF0GF3 FK0 O E 0F OF3F 3 DF WK E 0F UDOFT F E 3 GT F C F N E OF3 DC FO UO0V C FF3 E F N3 FG0F 3 0F D0F DFD 6 7 9 8 Q 7 7 FTD30FUDOFTFFDIFJI0F F3E3FTFED0TE JF0DIFJ3FFTG0Z 0FDIFF3HFT0DFTZCO F3N 3OTF JE F 0D F 30W 330D3J30F3OJF0F 0OF 0F DND3F 30F E 03 0F FFT 0F 0F F D3F 0F DIEF 3 O D 0F D0FT O FFT D F 0GF 3GFT E 0F OF3F UO0T E F3F DDF F 0GT F F F J NT F3 E F NF KGF F 0F F3FT2F3F3FDFF FDX3F 9F 3DOR DC 3O0 F ET UC NF D0F E DF3 DIF F3 E F3F 0GF FF FT F DOGT NDF E FF DFDF DF3 G DUF 3FV F3EFEUDXEF3FO E 3G GT F F F 32 DIF E G F3F C U2 DX E F3F 3F 0F DIFFFTFDIFOOE3GC EF030W0E00FOT0FFK FF KGFT D NDF E 0XT DF3 FK0 F C F3FT 3 0F UF CD 0 3D DIFS3D3EF3F3F3 FRF 3 F3T UO2 C F3 0 0D WO0CDF3ED0GFG 0 3 0 D3T D 0F 3F FF E U UO0TFEUFSFD3VCOF3 EF3R0X0UDTD03F N2TFFDNFFDDOFTFEF F E F3R X3 C 0 DIF F3UD3T3F3D3FC33FFDX3F 0FF3FCDF2UDONB0 DIFTDUS3E233FO03D00DT 6 7 9 8 Q 7 7 EF0FDIFD33FVEFRF0 0F E G FT E F UO J3 OF33D3 0 E T UC E DIF 30FF23FO0F03D0N3 E0DGE00D0FD0FF0DFD 30W E 0 F3T C ET FG3T UDF3DF3FF3NTD3D F0FDFFC0FUDGFVD3FEFFODF IJ3FFDF0FD0FT3DFDU DX 0F WF E O E F3 0D F 30W 3D3 3 0 CT FG3TEF3I3DR0VCF3E NDF 3F FF E 0 F3CT F 0DF 30D3XWGEFD30 DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes SEXTA PARTE Hace tres años que llegué al término del tratado en donde están todas esas cosas y empezaba a revisarlo para entregarlo a la imprenta cuando supe que unas personas a quienes profeso deferencia y cuya autoridad no es menos poderosa sobre mis acciones que mi propia razón sobre mis pensamientos habían reprobado una opinión de física publicada poco antes por otro41 no quiero decir que yo fuera de esa opinión sino sólo que nada había notado en ella antes de verla así censurada que me pareciese perjudicial ni para la religión ni para el Estado y por lo tanto nada que me hubiese impedido escribirla de habérmela persuadido la razón Esto me hizo temer no fuera a haber alguna también entre las mías en la que me hubiese engañado no obstante el muy gran cuidado que siempre he tenido de no admitir en mi creencia ninguna opinión nueva que no esté fundada en certísimas demostraciones y de no escribir ninguna que pudiere venir en menoscabo de alguien Y esto fue bastante a obligarme a mudar la resolución que había tomado de publicar aquel tratado pues aun cuando las razones que me empujaron a tomar antes esa resolución fueron muy fuertes sin embargo mi inclinación natural que me ha llevado siempre a odiar el oficio de hacer libros me proporcionó en seguida otras para excusarme Y tales son esas razones de una y de otra parte que no sólo me interesa a mí decirlas aquí sino que acaso también interese al público conocerlas Nunca he atribuido gran valor a las cosas que provienen de mi espíritu y mientras no he recogido del método que uso otro fruto sino el hallar la solución de algunas dificultades 41 Galileo y su teoría del movimiento de la Tierra Descartes compartía la opinión de Galileo Si el movimiento de la Tierra no es verdad escribe al padre Mersenne todos los fundamentos de mi filosofía son falsos también 83 6 7 9 8 Q 7 7 33F 0F F F03NFT 0 00N 03 0 G0 DF F3DOFT JD 0FWFEFDR3DFZOTDU2 O0GFOBF0330FF3DOFT F 33 0 E O F F3T E 23F33FJDFDUCUDOFTF 3 0 DT C FK0 0F E F U F3O0 FOFFFO0F0FEUOQ00 GC00FJ3FJ3FT0JD3 F DJ0F 0GV C 3 DF F0FTEDCDGF3TU2E 0F DIF 32 3F 3DOR E F 0F GF3 DIFB33DUOE0GFF G0F 0 J2F C DW 0F O NF J03F 30FT 3 3F I 0XF 00NFCJ3FF0FFE FUFUF3UT2EFN0F03F G2FD AT E JG2 0 0C E F O0G 0OG03F0FDOF300 F3RF3BFFFFDUFZ EFFO000GD3FDCH30F0NT C ET 0G 0 J0FJ2 F03N FZ 0F F0FTFFO03I3TD0 0T0JWC0FF0JGT0GT 0 T 0F F3FT 0F 0F C 3F 0F DIF FEFT3F33D3DDF 0F JF NF F3F 3FFT 2DF NU0F0DFDD3F0FFFEF FTCFF3UFDZFCFF 0 30W 8 0 F DC FT FK0 0 NK J 3JF E F D32 GWFGH3OX0FJ3F03C3F 0FDFEUC00TF3DOR0D3 0 FNK 0 F0TE FT F T 0 D OC0JD30F3FOFF3NTE 6 7 9 8 Q 7 7 0 F23 DFD 0 3DD3 C 0 FFK 0F KGF 0 ET F F FO0 3 0GH D U E 0F UDOF F DHD3 DIF FOF C DIF UIO0F E U F UF3 E2TEF0DUCEOF0 FE0EUFF3FFF 33O030TFEF3FEF0T 3G3EUCT0FEUUU 00FJFKTEJFE3FOTF T F F D 0 E E NGT C E 2DF 0OF J JDFT 33 0 D 0 F23T C UF3 EWI0O0E0NXWF3TF3NRDFOF33 D3FFFFC3F0FDFE0 30W F U NF3 D C UO2 O 0 FGD0DN30FNF3GF 3 F T C D UO2 3 D ED2ETFGR0TFOJ0O0D3 00TFE0D0ON0N0 J03STXWGOEUCDXD3 FF F OF3I0F F D 0 HO0 0 E UO 3 N3 0F OF GF E 33FG03T3OC0TFGHF 0K C FF JWFT 0F SF E UO2 E UT C D FDFD 0 HO0 3 3 NGT 0 J ET DW 0F H03DF UC3DFFFFTCX3F20F NFC0F3OXFNFT00GIFDF3FX3FDU DIF00I00G30 HOFNRT0J30FSFTEF 33 DIF FF 3 DIF F U 03 0 D3TF0FJO0F0FE F F3 F2 DFDF F3F F3F C E DFGJ0SKEUGDFTEOF 3FDIFFCF3FVC0WKF3FEFF 6 7 9 8 Q 7 7 DIFFFGZDUFNFTFFODFC0F FF0F3FDIFDFCE0FF3F E F F FD 3 30F C 3 EZFTEFDCJ2030FB0EU 00N F3 U F 0 FG35 D U U00TG0T0FFDFFF30 E 0 D F FT F F F3 J3DIFEFFK0TE0UTF0F 3GTF3FFD00FNFTEF3I 30D3 F3F 0DFV FRF U SD I0F F 0F DF C DIF F J3F E F3F FF NFT C D E 30F DFU3F0FTFF3FTTC UF30TGTTJGTD0FC3FFF ETF0FDIFDF3FC0FDIFFD0FTF 3DOR 0F DIF JI0F 8GT EF F0FDIF30FTFDF333FC 3 NFT E U 2 E JF FO0 0 F23 UDF3G0FJDFFFFEF3I 0DU2FDF3FEF300TF 0N03FUOF0FCTFG3T EFFO03DJ0FF3FNT FEF0GDF030FFF0FJ3FC UGDF F NF SF 30F 9 FT UO F D F23 3F 0F OX3F E F UO2 F3 C DF F3FT C N0 JD E N 00F E S0FT OF33 DT D 0F FU00FD2BOFDFDJFE F3D0C3NF303030WTCE OFN F GH J3 30 F FG ER NF 00F N2F J3F DFTCDDCJ03FT0DHT3 I0FFDFE00FFVCFR 3 D F J03 E 0 OF 0GF 6 7 9 8 Q 7 7 SF E F 30F E F W 0 DFD D0J3TF0S0KEUCEFRF3F FE003DIFT303U00GCTEN OF33OTDT0EUCE3D UFFJ3FT3DORNEF33FC30FT EDFDFDF3FTE3NFD0NFDIF 0 E 3GT OF32 3FT F3 ET FGH 3G 03 D U DIF DFT F2 3DOR 03R DIF DF 0 D3 0 30WV300FO033 EUO2F3TDF330D3030E0 HO0 O3T E O0GF 3F F G0 0 O 0F UDOFT F T 3F F N3FF J3ND3 C J0F C D KT DD 0F SF E 00F UO UU C CD 0 NF3GK 0F E H D EU B3FIFDU3FWF EDUUUDOKCFEO2 N FG FO 3F FF XWG 0G D3T JD J FO F NT C 00 0 DFD E F 0F 3N E DDTFK0EF2F2DCF SD0FOjFFDDIF3K0 EFE3FUSDE0EUF2 F0T C DUF FF E D U NF UDWO0FTU0GE F J0FF U F3D0F 0 0kT F 3DORFKFN0HO0TFFC J3 W 00T C ET F DF F3F N0 0GT F0F D DIF N3 0F E 0F FFRFDD3VFREO2 D 0G F3 E J O0F D3F C NNTE0FFFC3NFFEF FF3T 0 3KT J 0 JT E D 6 7 9 8 Q 7 7 DFK03D E D G D0 F3D BF F O F 3E3UDOF3IO0G0O0F DIF 3 T C E D3 N0 E FNT F DOGT 3DOR F 3 E F3F F U FOF 0 3D F3 C EFOF3FFFTEEWIJ 0GH NU 0F E U NNT F U3FFFEUFDIFH30FHF3F 3FTJ3TFOEFFE0E UF3E2UFFDK 0EGCFJ2VE0FE NFO0N0FF0F 3 F 0 DFD E 0F E DW EFT E 0F F3 DF 3OXT F C 0G FT U GF EFFT E 3FT OFT G EZF GF DOR DF 0FXJF XR3TE JWF JDGO300FTCF3DIF3KCFJW D3F FRF 3 E 3D FCEF3NFFRFN3VE ND3 F D O300F 0 33 N 3F 0F J03F C F E F D 00G 0 D3 0 NT C F D 0 D3 FJ0FF0GD333G0 D33V C U J03 FRF DU DIF F3W N0NF0DFDF3EFF3OT U GF GFFT F F C F OFGF90ED2F3TF2U0GU00 0GFNF0FFjCJ2E0EN F3N0DDF3IE0GFU3kT EFFFFCF FF0FJ03FEUF03CEF D3F33FO300FU30J3D 0VCUF3D3NREFEF3 6 7 9 8 Q 7 7 GF3FF3FDRFF00G03RD DFKF3FTCEF33DE FH03DFFJ3B FDFDT33DIFO0GDU03D EDET3FDCFFWF3G0 D0 OV C FON2T F T DUF FF 0 F O0F 0F JD3F D J2FT F F 3 N3F 3F E OF3 30F 0FT C UC F0 0 E DF3FT F DOGT D F DFO0 E 3F 0F N2F F 0F DIF UDOFT N E FF3I FF E D F32D0O B OX3F F3 E FF F F2H30FFK0ED2DFF J03FT F3DOR ET UO D2 0G OT 0F DIF UDOF E2 F D DX 30G00VCDDUFNDIFEF0TF DW F 0G U F DF FT D C23DORFFNF BDWDDCSF3T UF3 0 3 JD F 0F DF FD3FEFDTFDOGT0S E3G0FOXFEUDDE30 FW O3 00F 0GH NUV F C DUFNFUSD0FXFXFT330F FEFUFDDGFD2F D 0F D3F 3FT EF C FO F J3TCUF30F0GFCD0GCN FO2 C E UO2 FO 0 E 0 J3 03 DF DGFV NW U F E D UCOX30G3D3DNF3D2TF 0G F DC 0X D F3T F3 E F U3FDFFED 6 7 9 8 Q 7 7 FDFFNDFE33NECDFD 3D U 3 E 0F F3F E F0 3F0FFA0FFNFON 3FGTFFJWIF0NF NFTDIFFX3O0NFD03E F 0F WF C 3 3V C 0F E U F 30G3DOFOGFTFF0G DXFXF 9 3 0 30 E F 0F DIF 0 DKDFFD3FT3D2FDC GTCEH0FUFN03UF3303E FFZ0FDU3F0FI3 ETFNTEF0GUCW F000FTUFCDXE30ETC E UO 0 D 3F GF DO0D3DXFE0D2TFE0E 3FTFFO0E0OC0 UGFC30D3D0E0N333 F 00 F3 D3T E UO C S0 DUF NF 0GF F D2F FF DC O GT230FDCF33D3D3FC UO0OTCTFDOGT0FU3TU3 E F FD 0F U 03T 30 F3 E C 20FD2FiP NU F3 FK G F3F F3F E E D2 0F FF E 0F G 3FT F F E C DFD 0F UC N0GV C D FDO D 0G FF S3NGF E F 3OC 0F 3GF J0KFJFT CFF3FFDFTXWG00FEUCF FF FD3F 3 F3FT F3 E E00F iPF3F U 3 E F3W 0GF 33F FF 3FSF3FF20FFCF 6 7 9 8 Q 7 7 UDOF J 0F DXF GF F 3DV FK0 F E FF F U F D0 JF FDFD NDF E F U E 0F E FG 0F 3F FF GF GF UC F 0 DF3V C 3G FG E 0F E DCU2FGUCF3K30FFF3D2UFF F33D3030WD3NR0T EUOFD3F0KE DIFD0FOD0CTE FO DIF 03 E 0F IO0F E F C DUF NF F FRF UO 00G UF3 0 V F D E 3DOR 0F E FG 3 XFTFTF33DDF FOF E F F OF3N F3V 0F 30FT 33F FO 3 0 E F 3 S0 30GO0D3T E DIF 3 R0 0 F0K NFJ03FT0F0FUO0C0F0F F FK DOGT F D2FD F D J0FJ EF F GF DC DFT F 0 F 0F F3F C F E F 0F D3 UO0 3 33 DF0FTCD33330F DIF UIO0F C 0F DIF F30FT F E UC D N0FV 0 0 RD FDX G ET 0 F FN3X 3 E NT 0 UO 00N0GJCF2FDNVC E FF 30F 3 3RF E C O0E 0F F D J0FJ2T F FT D FT DC F00FCN3FTO00FF2DON3FC 0WFNU0F3D 0F GF DXF U 3 FK F 0FTFF0EEFFOUO03C O JD 3FT 0 FG2 DIF JI0D3 33IF 0 NF2D0T E F G 3OX U00F3F0FF3FTEOF0NTE 6 7 9 8 Q 7 7 F FO F X 0GF D3F C ET 00G0FKUO03F3DFTFO0G JFJD3E0FGDFBFF3DE NFJO00NFO03T D F F J3ND3 JO0T C F 0 E E F FG 33 FDX3 0 X D2T F3 00 E C 0F G DIF 0 E F3 FF 00N UV F F F F 3 D OT 33 DIF 0 FI 3 F2 DFDF 3 F C E U 3T F 3 ET UO C FG FD DF NF3GF D3TFFGE0EDEFO F FC DIF J20 C 03 E 0 E U 3D3 3T CT 33T DU DF GF3 U002FO0D2EG0F0FVCDIFT 0F3DOEE2OFDFFJI0FC F3FDIFJ20F0FFNIDU DX E 3F DF F3F DFD F3C FEFTDDTDUOFFZ 3F0FNFCFDF3FUOF0GC D UOF F3 3OX 0G 0 0FT EWI F UC G 3 FT 0 DF UOE0F3DOCJ0E3 33FNFJDD0OF0FT FDT F UC 0 D 0O E D330D0E0DWKTF3D30ED FE0EFJ0FSFE FN F 3OX OF3 UDO F0 U0F3FV3DFUDOID0 30DFXFTDF0F3FF3F G3F EF GT F 0 FW O GT E F J2FD DT UI E FF F D0 S3D3 FF FF 8FE N03D3T F F T F DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes ofrecieran a ayudarle además de que suelen por lo común ser más prontos en prometer que en cumplir y no hacen sino bellas proposiciones nunca realizadas querrían infaliblemente recibir en pago algunas explicaciones de ciertas dificultades o por lo menos obtener halagos y conversaciones inútiles las cuales por corto que fuera el tiempo empleado en ellas representarían al fin y al cabo una pérdida Y en cuanto a las experiencias que hayan hecho ya los demás aun cuando se las quisieran comunicar cosa que no harán nunca quienes les dan el nombre de secretos son las más de entre ellas compuestas de tantas circunstancias o ingredientes superfluos que le costaría no pequeño trabajo descifrar lo que haya en ellas de verdadero y además las hallaría casi todas tan mal explicadas e incluso tan falsas por haber sus autores procurado que parezcan conformes con sus principios que de haber algunas que pudieran servir no valdrían desde luego el tiempo que tendría que gastar en seleccionarlas De suerte que si en el mundo hubiese un hombre de quien se supiera con seguridad que es capaz de encontrar las mayores cosas y las más útiles para el público y por ese motivo los demás hombres se esforzasen por todas las maneras en ayudarle a realizar sus designios no veo que pudiesen hacer con él nada más sino contribuir a sufragar los gastos de las experiencias que fueren precisas y por lo demás impedir que vinieran importunos a estorbar sus ocios laboriosos Mas sin contar con que no soy tan presumido que vaya a prometer cosas extraordinarias ni tan repleto de vanidosos pensamientos que vaya a figurarme que el público ha de interesarse mucho por mis propósitos no tengo tampoco tan rebajada el alma como para aceptar de nadie un favor que pudiera creerse que no he merecido Todas estas consideraciones juntas fueron causa de que no quisiera hace tres años divulgar el tratado que tenía entre manos y aun resolví no publicar durante mi vida ningún otro de índole tan general ni que por él pudieran entenderse los 93 6 7 9 8 Q 7 7 JD3FDJ2FB3FIUN 3FFWFO0GDF30O0GF FCF30FC0G30HO0DF F C DF FGFV C F 0 D ET U0T 0GF E U FO E 3N 0 3K DD 3F F3FT 2 F JGF E 0F D3NF 0F 0F D U OF3 F 20 E DFO D FV F F3 SFND0G0CUF3D3NE0 T3E0XWG30E3TEF0 EDIFTFDOGT3DUUU 03DF3FTDFJ2DFTU3D DUFFDFTFK0 E C F D ZD D2 DFDT F 3DORE00UO2ND23F E3T E UO N 3O 0 J3 3E0 F23 E OFV C F2T UO FD DJ330FC0 F0TUD3F3K EUET00UFEO2U D30EN30DFEFJDF D08FGWKEDUO0GFOF3F EN2KDF3FDIFCDIF0KF3E U O F3DT F J SFEDFFFCEUF CXTCEDN033D FE0HO03DDU3DF3FFTF DOGT3DEJ030EDOD2DFDT FKE0FEDFONN0GH2 UD 0 G E UO X OF DUFDXFFFFUOFFDF 0F3KDCER200F3O DFFGF UFEJI00G0GFD3FET F N GF 3NFFT O0GD 0 6 7 9 8 Q 7 7 DFFDIF3D30EFTX DF3OF3300EFCWU 0FF900FU3O RS3TFEF0030FXF UO0CDFDDFF3FVDG2DU E JF SDFT C DIF D0 FK U0TGEF3GOXFEJD0TE F3D0D0F3 N0FD0OTED0F 3FD3IT C R FF3 E O0F 0FOXFiaVF3DT0F03FTNX3F F C 3FT XWGI DIF KDD3 0 NBFD30F0GFFF3FTF E D 0D3R JF DF J03F JD3T F 0F WTCFO0FTRF00D30E F0JFDFF3FTFZ0 S0K GH F3 NT J N0 JD33 0G 0F FF E UO0 0 0 K3 C 0F 3F S3ZWT E 0F 00D FFF C W FF3 O0FT 3RGF000333D3TCJ2 EFU00IF3FJKTFDE0FWF F0WF3F30F3ETD0FH03DF F3I DF3F 0F DFT E F FF FFT F3FDFFNW0F3I0FH03DFTEFFF J3FFDGEF3D30J03E0F 0KGF00D20TFD0SDF3E FDC3F0DC3FFJ3FT0FFF 0F W FN DIF E O0FT S00FTCTDOTFFFFEOF F3FJ3FF0FU00DFFFTFE ia G F OXF F3FT 0D3 6I3FT OOFT 0T 1FFT 3 BFDF 0F FF3F F3F 6 7 9 8 Q 7 7 F F E F 0F 0F DF NFEUS0F3FFVUE SFD3U0TDE3F GFT EFK02F3F0OFFDGEFO 20E3UF3N3ZFFTCE F33DIFFFFNG0 N 3 DIF 33F C IG0FT NU 0 FK J 0G S3NG3 J0FJ2 FO 0F ECFDFFTC0GFD3OCD20 0VE0E30FF3D3D2FT 0F SF NFT F F F F O 0F WFE0FOTF3CFGEI3 F00F C 3 JDF 0 F3 DHT E FI 3F DF S3F C S3ZF E 0FE 3F E FF33F 0F DFDF F3FV C D 3D F 0 D N3G00FTFF0D3UO0F D3TE0FX3FE0FXT FFK0E0WKDNKFN 0F 3FF O 3D X3 0 N3ES00K3TEF FEFD0VFDFEDUF3W C F3DO U C X 0F DIEF E U F3T F E 0F J03 G F3T 3 S3Z F2 E F 00 0 D NW D F 0G FGF 2 3 0 0H D S03FK0UOF3O03 FFO3FTEF00GD2FT0G U0 032T E F 0 D D0 DF 3FTFEFE0FEUGFF WK30XWGIDXDFFE0FE FK00F0OF3GFVC30FE 0OF30F3THFEFFDFXFT FIFGD330FJN0032EF G2DFWFS0F0GN0G 6 7 9 8 Q 7 7 B0DIFTEUO0E230D30F GFFEF0WDIF030FFT DD3D 0HO0T D3R0 FFE F3R FG D0V R 0 FK0 E U F03 D003DEDENE 0GH D3 0 30WT E F 30 E F N0DG0FDIFFGFE0F UF3 UC FFT CE D 0K D 333 JW0FE3FFGFTFO30FE FN F F Z 3FT E F 0GF F3F D F3Z 3 00FT E F2W00N0FO3RD9F30KE E2UGOFREUFNUDFO0 0DVDF3GGGF0CFD DFRDIFO0G0FEDUG0D CDGWDFFF3WFE0F EDJW0FDIFUFFD0F0D ii90FF0DR3F0D0OJ0FJ2F3JRF Slide 1 Capa Título Discurso do Método de René Descartes Subtítulo Uma análise da quinta parte e suas implicações filosóficas e científicas René Descartes 15961650 Slide 2 Introdução Conteúdo Contexto histórico Século XVII Revolução Científica Objetivo da obra Estabelecer um método para alcançar a verdade através da razão Foco da apresentação Análise da Quinta Parte que aborda a existência de Deus a alma e a natureza Citação Não presumir nenhum outro princípio salvo aquele de que acabo de me servir para provar a existência de Deus e da alma DESCARTES sd p 1 Slide 3 Tópicos principais 1 Existência de Deus e da alma Bases racionais 2 Leis da natureza Derivadas da perfeição divina 3 Analogias científicas Corpo humano como máquina modelo do coração e circulação sanguínea 4 Diferença entre humanos e animais A alma racional Estrutura do Coração Esquema da circulação sanguínea Slide 4 Deus e as Leis da Natureza Conteúdo Descartes argumenta que Deus estabeleceu leis naturais imutáveis Exemplo Percebi certas leis que Deus estabeleceu de tal modo na natureza que não poderíamos pôr em dúvida que não fossem exatamente observadas DESCARTES sd p 1 Universo ordenado por leis matemáticas Slide 5 O Corpo como Máquina Conteúdo Analogia do relógio O coração funciona como um mecanismo autônomo Descrição detalhada O movimento do coração decorre da disposição dos órgãos como o movimento de um relógio decorre de suas rodas DESCARTES sd p 5 Comparação entre um relógio mecânico e o coração humano Slide 6 A Circulação Sanguínea Conteúdo A Influência de William Harvey médico inglês 15781657 faz menção às veias do braço referindose aos experimentos com ligaduras para demonstrar o fluxo do sangue citado por Descartes De Motu Cordis 1628 Sobre o Movimento do Coração veias do braço Slide 7 A Circulação Sanguínea citado por Descartes Processo O sangue flui do coração para as artérias retorna pelas veias e forma uma circulação perpétua DESCARTES sd p 6 Sistema de circulação sanguínea no coração Slide 8 Humanos vs Animais Conteúdo Diferença fundamental A alma racional exclusiva dos humanos Argumento Animais não utilizam linguagem para expressar pensamentos apenas imitam sons DESCARTES sd p 9 Papagaios repetem palavras mas não demonstram razão Slide 9 A Alma Imortal Conteúdo Conclusão filosófica A alma é independente do corpo e imortal Citação Nossa alma é de uma natureza inteiramente independente do corpo e consequentemente imortal DESCARTES sd p 10 Representação alegórica da alma como uma chama ou luz Slide 10 Considerações Finais Pontoschave Descartes une ciência e filosofia Seu método influenciou a modernidade racionalismo Dualismo corpoalma ainda debatido hoje Pergunta ao público Como diferenciaríamos humanos de máquinas inteligentes hoje Escultura O Pensador de Rodin Slide 11 Referências Bibliográficas DESCARTES René Discurso do Método Tradução de Maria Ermantina Galvão São Paulo Martins Fontes sd HARVEY William De Motu Cordis 1628 Obra citada por Descartes Slide 12 IMAGEM DE AGRADECIMENTO Discurso do Método de René Descartes Uma análise da quinta parte do discurso e suas implicações filosóficas e científicas Acadêmica René Descartes 15961650 Introdução Conteúdo Contexto histórico Século XVII Revolução Científica Objetivo da obra Estabelecer um método para alcançar a verdade através da razão Foco da apresentação Análise da Quinta Parte que aborda a existência de Deus a alma e a natureza Citação Não presumir nenhum outro princípio salvo aquele de que acabo de me servir para provar a existência de Deus e da alma DESCARTES sd p 1 Tópicos principais 1 Existência de Deus e da alma Bases racionais 2 Leis da natureza Derivadas da perfeição divina 3 Analogias científicas Corpo humano como máquina modelo do coração e circulação sanguínea 4 Diferença entre humanos e animais A alma racional Deus e as Leis da Natureza Descartes argumenta que Deus estabeleceu leis naturais imutáveis Exemplo Percebi certas leis que Deus estabeleceu de tal modo na natureza que não poderíamos pôr em dúvida que não fossem exatamente observadas DESCARTES sd p 1 O Corpo como Máquina Analogia do relógio O coração funciona como um mecanismo autônomo Descrição detalhada O movimento do coração decorre da disposição dos órgãos como o movimento de um relógio decorre de suas rodas DESCARTES sd p 5 A Circulação Sanguínea A Influência de William Harvey médico inglês 15781657 faz menção às veias do braço referindose aos experimentos com ligaduras para demonstrar o fluxo do sangue citado por Descartes A Circulação Sanguínea citado por Descartes Processo O sangue flui do coração para as artérias retorna pelas veias e forma uma circulação perpétua DESCARTES sd p 6 Humanos vs Animais Diferença fundamental A alma racional exclusiva dos humanos Argumento Animais não utilizam linguagem para expressar pensamentos apenas imitam sons DESCARTES sd p 9 A Alma Imortal Conclusão filosófica A alma é independente do corpo e imortal Citação Nossa alma é de uma natureza inteiramente independente do corpo e consequentemente imortal DESCARTES sd p 10 Considerações Finais Pontoschave Descartes une ciência e filosofia Seu método influenciou a modernidade racionalismo Dualismo corpoalma ainda debatido hoje Pergunta ao público Como diferenciaríamos humanos de máquinas inteligentes hoje Referências Bibliográficas DESCARTES René Discurso do Método Tradução de Maria Ermantina Galvão São Paulo Martins Fontes sd HARVEY William De Motu Cordis 1628 Obra citada por Descartes THANK YOU OBRIGADO Obrigado Thank You Asante Gracias Kiitos Merci Spasibo Arigato Wëlalin Salamat Matondo Grazzie Mamana Matur Nuwan Chokrane Mochchakkeram Terma Kasih Mul tumesc Raibh Maith Agat Dankon Maake Ua Tsaug Rau Koj Cam on ban Vinaka Nirrinqrazzjoni Spasibo Obrigado Mul tumesc Merci Chokrane Graz ie Di myloviewr QUINTA PARTE SERIA DE MUITO meu agrado continuar e expor aqui toda a cadeia de outras verdades que deduzi dessas primeiras Porém suposto que para tal realização seria agora necessário que abordasse muitas questões controvertidas entre os eruditos dos quais não desejo atrair a inimizade acredito que será melhor que eu me abstenha e apenas diga em geral quais elas são para deixar que os mais sábios julguem se seria útil que o público fosse mais especificamente informado a esse respeito Continuava sempre firme na decisão que tomara de não presumir nenhum outro princípio salvo aquele de que acabo de me servir para provar a existência de Deus e da alma e de não aceitar coisa alguma por verdadeira que não se me afigurasse mais clara e mais correta do que se me haviam afigurado anteriormente as demonstrações dos geômetras Contudo atrevome a afirmar que não apenas encontrei modo de me satisfazer em pouco tempo no tocante a todas as mais importantes dificuldades que costumam ser enfrentadas na filosofia mas também que percebi certas leis que Deus estabeleceu de tal modo na natureza e das quais imprimiu tais noções em nossas almas que após meditar bastante acerca delas não poderíamos pôr em dúvida que não fossem exatamente observadas em tudo o que existe ou se faz no mundo Em seguida atentando para a sequência dessas leis creio haver descoberto muitas verdades mais úteis e mais importantes do que tudo quanto aprendera até então ou mesmo esperava aprender Porém posto que tentei explicar as principais num tratado que certas considerações me impedem de publicar não poderia fazêlas conhecer melhor do que explicando aqui resumidamente o que ele contém Eu pleiteava antes de escrevêlo incluir nele tudo o que julgava saber a respeito da natureza das coisas materiais Contudo tal qual os pintores que não conseguindo representar igualmente bem numa tela plana todas as diversas faces de um corpo sólido escolhem uma das principais que põem à luz e sombreando as outras só as fazem aparecer tanto quanto se possa vêlas ao olhar aquela receando dessa forma não colocar em meu discurso tudo o que havia em meu pensamento tentei apenas expor bem amplamente o que concebia da luz depois na ocasião propícia acrescentar alguma coisa a respeito do sol e das estrelas fixas porque a luz provém quase inteiramente deles a respeito dos céus porque a transmitem a respeito dos planetas dos cometas e da Terra porque a refletem e em particular a respeito de todos os corpos que existem sobre a Terra porque são ou coloridos ou transparentes ou brilhantes e por fim a respeito do homem porque é o seu espectador Também para sombrear um pouco todas essas coisas e poder dizer mais livremente o que pensava acerca delas sem ser obrigado a seguir nem a desaprovar as opiniões aceitas entre os eruditos decidi deixar todo esse mundo às suas disputas e a falar apenas do que aconteceria num novo se Deus criasse agora em qualquer parte nos espaços imaginários suficiente matéria para compôlo e se agitasse de maneira diferente e sem ordem as diferentes partes desta matéria de forma que compusesse com ela um caos tão tumultuado quanto os poetas possam nos fazer acreditar e que em seguida não fizesse outra coisa a não ser prestar o seu concurso comum à natureza e deixála agir conforme as leis por ele estabelecidas Assim em primeiro lugar descrevi essa matéria e tentei representála de tal maneira que nada existe no mundo pareceme mais claro nem mais inteligível salvo o que há pouco foi dito a respeito de Deus e da alma pois presumi claramente que não havia nela nenhuma dessas formas ou qualidades a respeito das quais se discute nas escolas nem de modo geral qualquer coisa cujo conhecimento não fosse tão natural às nossas almas que não se pudesse fingir ignorála Ademais mostrei quais eram as leis da natureza e sem alicerçar minhas razões em nenhum outro princípio exceto no das perfeições infinitas de Deus tentei provar todas aquelas que pudessem provocar alguma dúvida e mostrar que elas são tais que ainda que Deus tivesse criado muitos mundos não poderia haver um só em que deixassem de ser observadas Depois disso mostrei como a maior parte da matéria desse caos devia como consequência dessas leis disporse e arranjarse de uma certa maneira que a torna semelhante aos nossos céus como contudo algumas de suas partes deviam compor uma Terra alguns dos planetas e cometas e outras um sol e estrelas fixas Neste ponto estendendome acerca do tema da luz expliquei detidamente qual era a que se devia encontrar no sol e nas estrelas e de que maneira a partir daí atravessava num instante os incomensuráveis espaços dos céus e de que forma se refletia dos planetas e dos cometas para a Terra Acrescentei a isso também várias coisas relativas à substância posição movimentos e todas as várias qualidades desses céus e desses astros de maneira que pensava ter dito o suficiente a respeito para fazer compreender que nada se percebe nos deste mundo que não devesse ou ao menos não pudesse parecer semelhante nos do mundo que eu descrevia Daí me pus a falar especificamente acerca da Terra como apesar de haver claramente estabelecido que Deus não colocara peso algum na matéria de que ela era formada todas as suas partes não deixavam de propender exatamente para o seu centro como existindo água e ar em sua superfície a disposição dos céus e dos astros especialmente da lua devia nela causar um fluxo e refluxo que fosse semelhante em todas as suas circunstâncias ao que se observa nos nossos mares e além disso certo curso tanto da água como do ar do levante para o poente tal como se observa também entre os trópicos como as montanhas os mares as fontes e os rios podiam naturalmente formarse nela e os metais surgirem nas minas e as plantas crescerem nos campos e em geral todos os corpos denominados mistos ou compostos serem nela gerados E entre outras coisas já que além dos astros nada conheço no mundo exceto o fogo que produza a luz dediqueime a explicar com bastante clareza tudo o que pertence à sua natureza de que maneira ele se origina como se alimenta como às vezes só há calor sem luz e outras vezes luz sem calor como pode introduzir várias cores em vários corpos e numerosas outras qualidades como funde uns e endurece outros como os pode consumir a quase todos ou transformar em cinzas e em fumo e por fim como dessas cinzas apenas pela força de sua ação produz o vidro pois ao considerar essa transmutação de cinzas em vidro tão assombrosa como nenhuma outra que se realize na natureza proporcionoume especial prazer descrevêla Contudo não desejava inferir de todas essas coisas que este mundo houvesse sido criado da forma como propunha pois é muito mais provável que desde o início Deus o tenha tomado tal como devia ser Mas é certo e é uma opinião geralmente adotada pelos teólogos que a ação mediante a qual ele agora o conserva é exatamente igual àquela mediante a qual o criou de forma que apesar de não lhe haver dado no início outra forma a não ser a do caos desde quando tendo instituído as leis da natureza tenha lhe prestado seu concurso para ela agir assim como costuma podese crer sem nenhum prejuízo para o milagre da criação que apenas por isso todas as coisas que são genuinamente materiais poderiam ao longo do tempo converterse em tais como as vemos atualmente E sua natureza é muito mais fácil de ser compreendida quando as vemos nascer pouco a pouco desta forma do que quando já as consideramos totalmente concluídas Da descrição dos corpos inanimados e das plantas passei à dos animais e especificamente à dos homens Porém como ainda não possuía suficiente conhecimento para falar a respeito deles no mesmo estilo que do resto ou seja demonstrando os efeitos a partir das causas e mostrando de quais sementes e de que modo a natureza deve produzilos satisfizme em imaginar que Deus formasse o corpo de um homem inteiramente semelhante a um dos nossos tanto no aspecto exterior de seus membros como na conformação interior de seus órgãos sem compôlo de outra matéria exceto aquela que eu descrevera e sem colocar nele no início alma racional alguma nem qualquer outra coisa para servirlhe de alma vegetativa ou sensitiva mas sim avisasse em seu coração um desses fogos sem luz que eu já explicara e que não concebia outra natureza a não ser a que aquece o feno quando o guardam antes de estar seco ou a que faz ferver os vinhos novos quando fermentam sobre o bagaço Pois examinando as funções que por causa disso podiam se encontrar neste corpo achava exatamente todas as que podem estar em nós sem que o pensemos nem como consequência que a nossa alma isto é essa parte distinta do corpo cuja função como já foi dito mais acima é apenas a de pensar para tal contribua e que são todas as mesmas o que consente dizer que os animais sem razão se nos assemelham sem que eu possa encontrar para isso nenhuma daquelas razões que por dependerem do pensamento são as únicas que nos pertencem enquanto homens enquanto encontrava a todas em seguida ao presumir que Deus criara uma alma racional e que a juntara a esse corpo de uma certa maneira que descrevia Porém para que se possa ver de que modo eu lidava com esta matéria quero mostrar aqui a explicação do movimento do coração e das artérias o qual sendo o primeiro e o mais geral que se observa nos animais consentirá julgar com facilidade a partir dele o que se deve pensar de todos os outros E para que seja mais fácil entender o que vou dizer a esse respeito desejaria que todos os que não são peritos em anatomia se dessem ao trabalho antes de ler isto de mandar cortar diante deles o coração de um grande animal que possua pulmões já que é em tudo parecido com o do homem e que peçam para ver as duas câmaras ou concavidades nele existentes Primeiramente a que está no lado direito na qual se ligam dois tubos muito largos a veia cava que é o principal receptáculo do sangue como o tronco da árvore da qual todas as outras veias do corpo são ramos e a veia arteriosa que foi assim indevidamente denominada pois em verdade se trata de uma artéria a qual originandose do coração se divide após sair dele em muitos ramos que vão espalharse nos pulmões Depois a que se encontra no lado esquerdo na qual se ligam de igual maneira dois tubos que são tanto ou mais largos que os anteflores a artéria venosa que também foi indevidamente denominada porque se trata de uma veia que provém dos pulmões onde se reparte em vários ramos entrançados com os da veia arteriosa e com os desse conduto que se chama gasnete por onde entra o ar da respiração e a grande artéria que saindo do coração espalha seus ramos por todo o corpo Apreciaria também que lhes mostrassem cuidadosamente as onze diminutas peles que como outras tantas diminutas portas abrem e fecham as quatro aberturas que existem nessas duas concavidades três à entrada da veia cava onde estão dispostas de tal maneira que não podem de forma alguma impedir que o sangue nela contido corra para a concavidade direita do coração e no entanto impedem que possa dali sair três à entrada da veia arteriosa que estando dispostas bem ao contrário permitem de fato ao sangue que se encontra nessa concavidade fluir para os pulmões mas não ao que se encontra nos pulmões voltar para lá e também duas outras à entrada da artéria venosa que deixam passar o sangue dos pulmões para a concavidade esquerda do coração mas obstam seu retorno e três à entrada da grande artéria que lhe permitem sair do coração porém impedem seu retorno E não é preciso procurar outra razão para o numero dessas peles exceto a de que a abertura da artéria venosa por ser oval em virtude do local onde se encontra pode ser comodamente fechada com duas enquanto por serem as outras redondas três podem melhor fechálas Além disso desejaria que considerassem que a grande artéria e a veia arteriosa são de uma composição muito mais rija e mais firme do que a artéria venosa e a veia cava e que as duas últimas se dilatam antes de penetrar no coração formando aí como duas bolsas denominadas orelhas do coração que se compõem de uma carne parecida com a deste e que existe sempre mais calor no coração do que em qualquer outro local do corpo e enfim que este calor é capaz de fazer com que se uma gota de sangue entrar em suas concavidades ela inche prontamente e se dilate como geralmente se comportam todos os líquidos quando os deixamos cair gota a gota dentro de algum vaso que esteja bem quente Depois disso nada mais necessito dizer para explicar o movimento do coração exceto que quando as suas concavidades não estão repletas de sangue este flui necessariamente da veia cava para a concavidade direita e da artéria venosa para a esquerda já que esses dois vasos se encontram sempre cheios e que suas aberturas voltadas para o coração não podem então ser fechadas mas tão logo tenham entrado duas gotas de sangue uma em cada concavidade estas gotas que são bastante grossas porque as aberturas por onde penetram são muito largas e os vasos de onde provêm bem cheios de sangue diluemse e dilatamse devido ao calor que aí encontram dessa maneira fazendo inflar o coração todo empurram e fecham as cinco pequenas portas que ficam à entrada dos dois vasos de onde provêm impedindo assim que chegue mais sangue ao coração e continuando a diluirse cada vez mais empurram e abrem as seis outras pequenas portas situadas à entrada dos dois outros vasos por onde saem fazendo inflar dessa forma todos os ramos da veia arteriosa e da grande artéria quase no mesmo instante que o coração o qual imediatamente desincha como ocorre também com essas artérias por se resfriar o sangue que nelas entrou e suas seis pequenas portas se fecham e as cinco da veia cava e da artéria venosa reabremse dando passagem a duas outras gotas de sangue que vão de novo inflar o coração e as artérias da mesma maneira que as precedentes E como o sangue que penetra assim no coração passa por essas duas bolsas que são denominadas suas orelhas resulta que o movimento dessas é contrário ao seu e que elas desincham quando ele infla De resto para que aqueles que não conhecem a força das demonstrações matemáticas e não estão habituados a discernir as razões verdadeiras e as prováveis não se arrisquem a negar tal fato sem uma análise quero chamarlhes a atenção para o fato de que esse movimento que acabo de descrever decorre necessariamente da simples disposição dos órgãos que se podem divisar a olho nu no coração e do calor que se pode sentir com os dedos e da natureza do sangue que se pode conhecer por experiência como o movimento de um relógio decorre da força da posição e da forma de seus contrapesos e rodas Porém se me for perguntado por que o sangue das veias não se esgota fluindo continuamente para o coração e por que as artérias não se enchem demais já que tudo quanto passa pelo coração para elas se dirige não preciso responder nada mais do que já foi escrito por um médico da Inglaterra a quem é preciso dar o louvor de ter rompido o gelo neste ponto e de ser o primeiro a ter ensinado a existência de muitas pequenas passagens nas extremidades das artérias por onde o sangue que elas recebem do coração penetra nos diminutos ramos das veias de onde ele torna a dirigirse para o coração de maneira que o seu curso é uma circulação perpétua E isso ele prova muito bem pela experiência comum dos cirurgiões que amarrando o braço sem apertálo muito acima do local onde abrem a veia fazem com que o sangue saia dela com mais abundância do que se não o tivessem amarrado E aconteceria exatamente o contrário se eles o amarrassem mais abaixo entre a mão e a abertura ou então se o amarrassem com muita força em cima Pois é evidente que o laço medianamente apertado embora impedindo que o sangue que já se encontra no braço retorne ao coração pelas veias não impede que para aí sempre aflua novo sangue pelas artérias porque estas se situam por baixo das veias e porque suas peles sendo mais rijas são mais difíceis de pressionar e também porque o sangue proveniente do coração tende com mais força a passar por elas em direção à mão do que a voltar daí para o coração pelas veias E como esse sangue sai do braço pela abertura que há numa das veias devem necessariamente existir algumas passagens abaixo do laço ou seja na direção das extremidades do braço por onde possa vir das artérias Além disso ele prova bastante bem o que afirma a respeito do fluxo do sangue por certas pequenas peles as quais se encontram de tal maneira dispostas em diversos pontos ao longo das veias que não lhe permitem passar do meio do corpo para as extremidades mas somente retornar das extremidades para o coração e ademais pela experiência que mostra que todo o sangue que há no corpo pode dele sair em muito pouco tempo por uma única artéria quando seccionada até mesmo se ela fosse fortemente amarrada muito próxima do coração e seccionada entre ele e a ligadura de maneira que não houvesse motivo de imaginar que o sangue que daí saísse procedesse de outro lugar Mas existem numerosas outras coisas que comprovam que a verdadeira causa desse movimento do sangue é a que eu apresentei Assim em primeiro lugar a diferença que se percebe entre o sangue que sai das veias e o que sai das artérias só pode se originar do fato de que havendose diluído e como destilado ao passar pelo coração é mais fino mais vivo e mais quente logo após sair dele ou seja quando corre nas artérias do que o é um pouco antes de nele penetrar isto é quando corre nas veias E se se prestar atenção verificase que tal diferença só aparece realmente na direção do coração e de forma alguma nos lugares que dele são mais distantes Depois a rigidez das peles de que a veia arteriosa e a grande artéria se compõem mostra satisfatoriamente que o sangue bate contra elas com mais força do que contra as veias E por que seriam a concavidade esquerda do coração e a grande artéria maiores e mais largas do que a concavidade direita e a veia arteriosa se não fosse porque o sangue da artéria venosa tendo estado apenas nos pulmões depois de passar pelo coração é mais fino e se dilui mais facilmente do que aquele que procede imediatamente da veia cava E o que podem os médicos descobrir ao tatear o pulso se não sabem que conforme o sangue muda de natureza pode ser diluído pelo calor do coração mais ou menos forte e mais ou menos rápido do que antes E se se examina de que maneira esse calor se transfere aos outros membros não convém confessar que é por meio do sangue que ao passar pelo coração nele se aquece e daí se espalha por todo o corpo Daí decorre que se se retira o sangue de alguma parte retiraselhe da mesma forma o calor e mesmo que o coração fosse tão ardente quanto um ferro em brasa não bastaria como não basta para aquecer os pés e as mãos se não lhes enviasse ininterruptamente novo sangue Depois também se sabe daí que a real utilidade da respiração é levar bastante ar fresco aos pulmões a fim de fazer com que o sangue que para aí se dirige vindo da concavidade direita do coração onde foi diluído e como transmudado em vapores se adense e se transforme novamente antes de recair na concavidade esquerda sem o que não seria apropriado para servir de alimento ao fogo aí existente O que está de acordo porquanto os animais que não possuem pulmões não são providos de mais do que uma concavidade no coração e as crianças que não podem utilizálos por se encontrarem fechadas no ventre de suas mães apresentam uma abertura por onde corre o sangue da veia cava em direção à concavidade esquerda do coração e um conduto por onde ele provém da veia arteriosa para a grande artéria sem passar pelos pulmões Depois a digestão como ela se processaria no estômago se o coração não lhe enviasse calor pelas artérias e com esse alguns dos elementos mais fluidos do sangue que ajudam a dissolver os alimentos que foram para ali levados E a ação que transformou o suco desses alimentos em sangue não será ela fácil de conhecer se se considera que este se destila passando e repassando pelo coração talvez mais de cem ou duzentas vezes por dia E de que mais se precisa para explicar a nutrição e a produção dos vários humores que há no corpo salvo afirmar que a força com que o sangue ao rarefazerse passa do coração para as extremidades das artérias leva alguns de seus elementos a se deterem entre os dos membros onde se encontram e a tomarem aí o lugar de alguns outros que elas expulsam e que de acordo com a situação ou com a configuração ou com a peque nez dos poros que encontram alguns vão ter a certos lugares mais do que outros de igual maneira como cada um pode ter visto várias peneiras que sendo diferentemente perfuradas servem para separar diversos grãos uns dos outros E por fim o que existe de mais extraordinário em tudo isso é a geração dos espíritos animais que são como um vento muito sutil ou melhor como uma chama muito pura e muito viva que subindo ininterruptamente em grande quantidade do coração ao cérebro dirigese a partir daí pelos nervos para os músculos e imprime movimento a todos os membros sem que seja necessário imaginar outra causa que Leve os elementos do sangue que por serem os mais agitados e penetrantes são os mais adequados para compor tais espíritos a se dirigirem mais ao cérebro do que a outras partes mas apenas que as artérias que os transportam para aí são aquelas que provém do coração em Linha mais reta de todas e que de acordo com as leis da mecâ nica que são as mesmas da natureza quando várias coisas tendem a moverse em conjunto para um mesmo lado onde não existe espaço suficiente para todas tal qual os elementos do sangue que saem da concavidade esquerda do coração tendem para o cérebro os mais débeis e menos agitados devem ser desviados pelos mais fortes que por esse meio aí chegam sozinhos Eu explanara muito particularmente todas essas coisas no tratado que pretendi publicar em tempos passados E em seguida expusera nele qual deve ser a estrutura dos nervos e dos músculos do corpo humano para fazer com que os espíritos animais que se encontram dentro deles tenham a força de mover seus membros assim como se vê que as cabeças pouco depois de decepadas ainda se movem e mordem a terra apesar de não serem mais animadas quais transformações se devem efetuar no cérebro para produzir a vigília o sono e os sonhos como a luz os sons os odores os sabores o calor e todas as outras qualidades dos objetos exteriores nele podem imprimir variadas idéias por intermédio dos sentidos como a fome a sede e as outras paixões interiores também podem lhe transmitir as suas o que deve ser nele tomado pelo senso comum onde essas idéias são aceitas pela memória que as conserva e pela fantasia que as pode modificar diferentemente e formar com elas outras novas e pelo mesmo meio distribuindo os espíritos animais nos músculos movimentar os membros desse corpo de tão diferentes maneiras quer a respeito dos objetos que se apresentam a seus sentidos quer das paixões interiores que se encontram nele que os ossos se possam movimentar sem que a vontade os conduza O que não parecerá de maneira alguma estranho a quem sabendo quão diversos autômatos ou máquinas móveis a indústria dos homens pode produzir sem aplicar nisso senão pouquíssimas peças em comparação à grande quantidade de ossos músculos nervos artérias veias e todas as outras partes existentes no corpo de cada animal considerará esse corpo uma máquina que tendo sido feita pelas mãos de Deus é incomparavelmente mais bem organizada e capaz de movimentos mais admiráveis do que qualquer uma das que possam ser criadas pelos homens E me demorara especificamente neste ponto para mostrar que se existissem máquinas assim que fossem providas de órgãos e do aspecto de um macaco ou de qualquer outro animal irracional não teríamos meio algum para reconhecer que elas não seriam em tudo da mesma natureza que esses animais contudo se existissem outras que se assemelhassem com os nossos corpos e imitassem tanto nossas ações quanto moralmente fosse possível teríamos sempre dois meios bastante seguros para constatar que nem por isso seriam verdadeiros homens Desses meios o primeiro é que jamais poderiam utilizar palavras nem outros sinais arranjandoos como fazemos para manifestar aos outros os nossos pensamentos Pois podese muito bem imaginar que uma máquina seja feita de tal modo que articule palavras e até que articule algumas a respeito das ações corporais que causem alguma mudança em seus órgãos por exemplo se a tocam num ponto que indague o que se pretende dizerlhe se em outro que grite que lhe causam mal e coisas análogas mas não que ela as arrume diferentemente para responder ao sentido de tudo quanto se disser na sua presença assim como podem fazer os homens mais embrutecidos E o segundo meio é que ainda que fizessem muitas coisas tão bem ou talvez melhor do que qualquer um de nós falhariam inevitavelmente em algumas outras pelas quais se descobriria que não agem pelo conhecimento mas apenas pela distribuição ordenada de seus órgãos Pois enquanto a razão é um instrumento universal que serve em todas as ocasiões tais órgãos precisam de alguma disposição específica para cada ação específica daí decorre que é moralmente impossível que numa máquina haja muitas e diferentes para fazêla agir em todas as ocasiões da vida da mesma maneira que a nossa razão nos faz agir Notese que por esses dois meios podese também conhecer a diferença que há entre os homens e os animais Já que é algo extraordinário que não existam homens tão embrutecidos e tão estúpidos sem nem mesmo a exceção dos loucos que não tenham a capacidade de ordenar diversas palavras arranjandoas num discurso mediante o qual consigam fazer entender seus pensamentos e que ao contrário não haja outro animal por mais perfeito que possa ser capaz de fazer o mesmo E isso não ocorre porque lhes faltem órgãos pois sabemos que as pegas e os papagaios podem articular palavras assim como nós no entanto não conseguem falar como nós ou seja demonstrando que pensam o que dizem enquanto os homens que havendo nascido surdos e mudos são desprovidos dos órgãos que servem aos outros para falar tanto ou mais que os animais costumam criar eles mesmos alguns sinais mediante os quais se fazem entender por quem convivendo com eles disponha de tempo para aprender a sua língua E isso não prova somente que os animais possuem menos razão do que os homens mas que não possuem nenhuma razão Pois vemos que é necessário bem pouco para saber falar e se bem que se percebe desigualdade entre os animais de uma mesma espécie assim como entre os homens e que uns são mais fáceis de adestrar que outros não é acreditável que um macaco ou um papagaio que fossem os mais perfeitos de sua espécie não igualassem nisso uma criança das mais estúpidas ou pelo menos uma criança com o cérebro confuso se a sua alma não fosse de uma natureza totalmente diferente da nossa E não se devem confundir as palavras com os movimentos naturais que testemunham as paixões e podem ser imitados pelas máquinas e também pelos animais nem pensar como alguns antigos que os animais falam embora não entendamos sua linguagem pois se fosse verdade visto que possuem muitos órgãos correlatos aos nossos poderiam fazerse compreender tanto por nós como por seus semelhantes E também coisa digna de nota que apesar de haver muitos animais que demonstram mais habilidade do que nós em algumas de suas ações percebese contudo que não a demonstram nem um pouco em muitas outras de forma que aquilo que fazem melhor do que nós não prova que possuam alma pois por esse critério tôlaiam mais do que qualquer um de nós e agiriam melhor em tudo mas ao contrário que não a possuem e que é a natureza que atua neles conforme a disposição de seus órgãos assim como um relógio que é feito apenas de rodas e molas pode contar as horas e medir o tempo com maior precisão do que nós com toda a nossa sensatez Depois disso eu descrevera a alma racional e havia mostrado que ela não pode ser de maneira alguma tirada do poder da matéria como as outras coisas a respeito das quais falara mas que devem claramente ter sido e como não é suficiente que esteja alojada no corpo humano assim como um piloto em seu navio salvo talvez para mover seus membros mas que é necessário que esteja junta e unida estreitamente com ele para ter além disso sentimentos e desejos parecidos com os nossos e assim compor um verdadeiro homem Afinal de contas eu me estendi um pouco aqui sobre o tema da alma por ele ser um dos mais importantes pois após o erro dos que negam Deus que penso haver refutado suficientemente mais acima não existe outro que desvie mais os espíritos fracos do caminho reto da virtude do que imaginar que a alma dos animais seja da mesma natureza que a nossa e que portanto nada temos a recear nem a esperar depois dessa vida não mais do que as moscas e as formigas ao mesmo tempo que sabendose quanto diferem compreendese muito mais as razões que provam que a nossa é de uma natureza inteiramente independente do corpo e consequentemente que não está de maneira alguma sujeita a morrer com ele depois como não se notam outras causas que a destruam somos naturalmente impelidos a supor por isso que ela é imortal
199
Filosofia
UMG
2
Filosofia
UMG
6
Filosofia
UMG
3
Filosofia
UMG
1
Filosofia
UMG
3
Filosofia
UMG
2
Filosofia
UMG
5
Filosofia
UMG
4
Filosofia
UMG
62
Filosofia
UMG
Texto de pré-visualização
Versão eletrônica do livro Discurso do Método Autor Descartes Créditos da digitalização Membros do grupo de discussão Acrópolis Filosofia Homepage do grupo httpbregroupscomgroupacropolis A distribuição desse arquivo e de outros baseados nele é livre desde que se dê os créditos da digitalização aos membros do grupo Acrópolis e se cite o endereço da homepage do grupo no corpo do texto do arquivo em questão tal como está acima DISCURSO DO MÉTODO Tradução de Enrico Corvisieri PRIMEIRA PARTE INEXISTE NO MUNDO coisa mais bem distribuída que o bom senso visto que cada indivíduo acredita ser tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não costumam desejar possuílo mais do que já possuem E é improvável que todos se enganem a esse respeito mas isso é antes uma prova de que o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso que é justamente o que é denominado bom senso ou razão é igual em todos os homens e assim sendo de que a diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de serem alguns mais racionais que outros mas apenas de dirigirmos nossos pensamentos por caminhos diferentes e não considerarmos as mesmas coisas Pois é insuficiente ter o espírito bom o mais importante é aplicálo bem As maiores almas são capazes dos maiores vícios como também das maiores virtudes e os que só andam muito devagar podem avançar bem mais se continuarem sempre pelo caminho reto do que aqueles que correm e dele se afastam Quanto a mim nunca supus que meu espírito fosse em nada mais perfeito do que os dos outros com freqüência desejei ter o pensamento tão rápido ou a imaginação tão clara e diferente ou a memória tão abrangente ou tão pronta quanto alguns outros E desconheço quaisquer outras qualidades afora as que servem para o aperfeiçoamento do espírito pois quanto à razão ou ao senso posto que é a única coisa que nos torna homens e nos diferencia dos animais acredito que existe totalmente em cada um acompanhando nisso a opinião geral dos filósofos que afirmam não existir mais nem menos senão entre os acidentes e não entre as formas ou naturezas dos indivíduos de uma mesma espécie Mas não recearei dizer que julgo ter tido muita felicidade de me haver encontrado a partir da juventude em determinados caminhos que me levaram a considerações e máximas das quais formei um método pelo qual me parece que eu consiga aumentar de forma gradativa meu conhecimento e de eleválo pouco a pouco ao mais alto nível a que a mediocridade de meu espírito e a breve duração de minha vida lhe permitam alcançar Pois já colhi dele tais frutos que apesar de no juízo que faço de mim próprio eu procure inclinarme mais para o lado da desconfiança do que para o da presunção e que observando com um olhar de filósofo as variadas ações e empreendimentos de todos os homens não exista quase nenhum que não me pareça fútil e inútil não deixo de lograr extraordinária satisfação do progresso que creio já ter feito na procura da verdade e de conceber tais esperanças para o futuro que se entre as ocupações dos homens puramente homens existe alguma que seja solidamente boa e importante atrevome a acreditar que é aquela que escolhi Contudo pode ocorrer que me engane e talvez não seja mais do que um pouco de cobre e vidro o que eu tomo por ouro e diamantes Sei como estamos sujeitos a nos enganar no que nos diz respeito e como também nos devem ser suspeitos os juízos de nossos amigos quando são a nosso favor Mas apreciaria muito mostrar neste discurso quais os caminhos que segui e representar nele a minha vida como num quadro para que cada um possa julgá la e que informado pelo comentário geral das opiniões emitidas a respeito dela seja este uma nova forma de me instruir que acrescentarei àquelas de que tenho o hábito de me utilizar Portanto meu propósito não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão mas somente mostrar de que modo me esforcei por conduzir a minha Os que se aventuram a fornecer normas devem considerarse mais hábeis do que aqueles a quem as dão e se falham na menor coisa são por isso censuráveis Mas não propondo este escrito senão como uma história ou se o preferirdes como uma fábula na qual entre alguns exemplos que se podem imitar encontrarseão talvez também muitos outros que se terá razão de não seguir espero que ele será útil a alguns sem ser danoso a ninguém e que todos me serão gratos por minha franqueza Fui instruído nas letras desde a infância e por me haver convencido de que por intermédio delas poderseia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida sentia extraordinário desejo de aprendêlas Porém assim que terminei esses estudos ao cabo do qual costumase ser recebido na classe dos eruditos mudei totalmente de opinião Pois me encontrava embaraçado com tantas dúvidas e erros que me parecia não haver conseguido outro proveito procurando instruirme senão o de ter descoberto cada vez mais a minha ignorância E contudo estudara numa das mais célebres escolas da Europa onde imaginava que devia haver homens sábios se é que havia em algum lugar da Terra Aprendera aí tudo o que os outros aprendiam e mesmo não havendo me contentado com ciências que nos ensinavam lera todos os livros que tratam daquelas que são reputadas as mais curiosas e as mais raras que vieram a cair em minhas mãos Além disso eu conhecia os juízos que os outros faziam de mim e não via de modo algum que me julgassem inferior a meus colegas apesar de entre eles haver alguns já destinados a ocupar os lugares de nossos mestres E enfim o nosso século pareciame tão luminoso e tão fértil em bons espíritos como qualquer um dos anteriores O que me levava a tomar a liberdade de julgar por mim todos os outros e de pensar que não havia doutrina no mundo que fosse tal como antes me haviam feito presumir Apesar disso não deixava de apreciar os exercícios com os quais se ocupam nas escolas Sabia que as línguas que nelas se aprendem são necessárias ao entendimento dos livros antigos que a gentileza das fábulas estimula o espírito que as realizações notáveis das histórias o fazem crescer e que sendo lidas com discrição ajudam a formar o juízo que a leitura de todos os bons livros é igual a uma conversação com as pessoas mais qualificadas dos séculos passados que foram seus autores e até uma conversação premeditada na qual eles nos revelam apenas seus melhores pensamentos que a eloqüência possui forças e belezas incomparáveis que a poesia tem delicadezas e ternuras deveras encantadoras que as matemáticas têm invenções bastante sutis e que podem servir muito tanto para satisfazer os curiosos quanto para facilitar todas as artes e reduzir o trabalho dos homens que os escritos que tratam dos costumes contêm muitos ensinamentos e muitos estímulos à virtude que são muito úteis que a teologia ensina a ganhar o céu que a filosofia ensina a falar com coerência de todas as coisas e de se fazer admirar pelos que possuem menos erudição que a jurisprudência a medicina e as outras ciências proporcionam honras e riquezas àqueles que as cultivam e enfim que é bom havêlas examinado a todas até mesmo as mais eivadas de superstição e as mais falsas a fim de conhecerlhes o exato valor e evitar ser por elas enganado Mas eu julgava já ter gasto bastante tempo com as línguas e também com a leitura dos livros antigos com suas histórias e suas fábulas Pois quase a mesma coisa que conversar com os homens de outros séculos é viajar E bom saber alguma coisa dos hábitos de diferentes povos para que julguemos os nossos mais justamente e não pensemos que tudo quanto é diferente dos nossos costumes é ridículo e contrário à razão como soem fazer os que nada viram Contudo quando gastamos excessivo tempo em viajar acabamos tornandonos estrangeiros em nossa própria terra e quando somos excessivamente curiosos das coisas que se realizavam nos séculos passados ficamos geralmente muito ignorantes das que se realizam no presente Ademais as fábulas fazem imaginar como possíveis muitos acontecimentos que não o são e até mesmo as histórias mais verossímeis se não mudam nem alteram o valor das coisas para tornálas mais dignas de serem lidas ao menos deixam de apresentar quase sempre as cir cunstâncias mais baixas e menos insignes de onde resulta que o resto não parece tal qual é e que aqueles que norteiam seus hábitos pelos exemplos que deles tiram estão sujeitos a cair nas extravagâncias dos heróis de nossos romances e a conceber propósitos que superam suas forças Eu estimava muito a eloquência e estava apaixonado pela poesia mas acreditava que uma e outra fossem dons do espírito mais do que frutos do estudo Aqueles cujo raciocínio é mais ativo e que melhor ordenam seus pensamentos com o intuito de tornálos claros e inteligíveis sempre podem convencer melhor os outros daquilo que propõem mesmo que falem somente o baixo bretão e nunca hajam aprendido retórica E aqueles cujas invenções são mais agradáveis e que as sabem apresentar com o máximo de floreio e suavidade não deixariam de ser os melhores poetas mesmo que a arte poética lhes fosse desconhecida Deleitavame principalmente com as matemáticas devido à certeza e à evidência de suas razões mas ainda não percebia sua verdadeira aplicação e julgando que só serviam às artes mecânicas espantavame de que sendo seus fundamentos tão seguros e sólidos não se houvesse construído sobre eles nada de mais elevado Da mesma forma que ao contrário eu comparava os escritos dos antigos pagãos que tratam de hábitos a magníficos palácios erigidos apenas sobre a areia e a lama Elevam muito alto as virtudes e as apresentam como as mais dignas de estima entre todas as coisas que existem no mundo mas não ensinam bastante a conhecêlas e freqüentemente o que chamam com um nome tão belo não passa de uma insensibilidade ou de um orgulho ou de um desespero ou de um parricídio Eu venerava a nossa teologia e pretendia como qualquer um ganhar o céu porém tendo aprendido como algo muito certo que o seu caminho não está menos franqueado aos mais ignorantes do que aos mais sábios e que as verdades reveladas que para lá conduzem estão além de nossa inteligência não me atreveria a submetêlas à debilidade de meus raciocínios e pensava que para empreender sua análise e obter êxito era preciso receber alguma extraordinária assistência do céu e ser mais do que homem Nada direi a respeito da filosofia exceto que vendo que foi cultivada pelos mais elevados espíritos que viveram desde muitos séculos e que apesar disso nela ainda não se encontra uma única coisa a respeito da qual não haja discussão e consequentemente que não seja duvidosa eu não alimentava esperança alguma de acertar mais que os outros e que ao considerar quantas opiniões distintas defendidas por homens eruditos podem existir acerca de um mesmo assunto sem que possa haver mais de uma que seja verdadeira achava quase como falso tudo quanto era apenas provável A respeito das outras ciências por tomarem seus princípios da filosofia acreditava que nada de sólido se podia construir sobre alicerces tão pouco firmes E nem a honra nem o lucro que elas prometem eram suficientes para me exortar a aprendêlas pois graças a Deus não me sentia de maneira alguma numa condição que me obrigasse a converter a ciência num ofício para o alívio de minha fortuna e se bem que não desprezasse a glória como um cínico fazia contudo muito pouca questão daquela que eu só podia esperar obter com falsos títulos Por fim no que diz respeito às más doutrinas julgava já conhecer suficientemente o que valiam para não mais correr o risco de ser enganado nem pelas promessas de um alquimista nem pelas predições de um astrólogo nem pelas imposturas de um mágico nem pelas artimanhas ou arrogâncias dos que manifestam saber mais do que realmente sabem Aqui está por que apenas a idade me possibilitou sair da submissão aos meus preceptores abandonei totalmente o estudo das letras E decidindome a não mais procurar outra ciência além daquela que poderia encontrar em mim mesmo ou então no grande livro do mundo aproveitei o resto de minha juventude para viajar para ver cortes e exércitos para freqüentar pessoas de diferentes humores e condições para fazer variadas experiências para pôr a mim mesmo à prova nos reencontros que o destino me propunha e por toda parte para refletir a respeito das coisas que se me apresentavam a fim de que eu pudesse tirar algum proveito delas Pois acreditava poder encontrar muito mais verdade nos raciocínios que cada um forma no que se refere aos negócios que lhe interessam e cujo desfecho se julgou mal deve penalizálo logo em seguida do que naqueles que um homem de letras forma em seu gabinete a respeito de especulações que não produzem efeito algum e que não lhe acarretam outra conseqüência salvo talvez a de lhe proporcionarem tanto mais vaidade quanto mais afastadas do senso comum por causa do outro tanto de espírito e artimanha que necessitou empregar no esforço de tornálas prováveis E eu sempre tive um enorme desejo de aprender a diferenciar o verdadeiro do falso para ver claramente minhas ações e caminhar com segurança nesta vida A verdade é que ao limitarme a observar os costumes dos outros homens pouco encontrava que me satisfizesse pois percebia neles quase tanta diversidade como a que notara anteriormente entre as opiniões dos filósofos De forma que o maior proveito que daí tirei foi que vendo uma quantidade de coisas que apesar de nos parecerem muito extravagantes e ridículas são comumente recebidas e aprovadas por outros grandes povos aprendi a não acreditar com demasiada convicção em nada do que me havia sido inculcado só pelo exemplo e pelo hábito e dessa maneira pouco a pouco livreime de muitos enganos que ofuscam a nossa razão e nos tornar menos capazes de ouvir a razão Porém após dedicarme por alguns anos em estudar assim no livro do mundo e em procurar adquirir alguma experiência tomei um dia a decisão de estudar também a mim próprio e de empregar todas as forças de meu espírito na escolha dos caminhos que iria seguir Isso a meu ver trouxeme muito melhor resultado do que se nunca tivesse me distanciado de meu país e de meus livros SEGUNDA PARTE NAQUELA ÉPOCA encontravame na Alemanha para onde me sentira atraído pelas guerras que ainda não terminaram e ao regressar da coroação do imperador para o exército o começo do inverno me obrigou a permanecer num quartel onde por não encontrar convívio social algum que me distraísse e também felizmente por não ter quaisquer desejos ou paixões que me perturbassem ficava o dia inteiro fechado sozinho num quarto bem aquecido onde dispunha de todo o tempo para me entreter com os meus pensamentos Um dos primeiros entre eles foi lembrarme de considerar que freqüentemente não existe tanta perfeição nas obras formadas de várias peças e feitas pela mão de diversos mestres como naquelas em que um só trabalhou Deste modo notase que os edifícios projetados e concluídos por um só arquiteto costumam ser mais belos e mais bem estruturados do que aqueles que muitos quiseram reformar utilizandose de velhas paredes construídas para outras finalidades Assim essas antigas cidades que tendo sido no início pequenos burgos e havendo se transformado ao longo do tempo em grandes centros são comumente tão mal calculadas em comparação com essas praças regulares traçadas por um engenheiro a seu belprazer que mesmo considerando seus edifícios individualmente se encontre neles com freqüência tanta ou mais arte que nos das outras contudo a ver como estão ordenados aqui um grande ali um pequeno e como tornam as ruas curvas e desiguais poderseia afirmar que foi mais por obra do acaso do que pela vontade de alguns homens usando da razão que assim os dispôs E se se considerar que não obstante tudo sempre existiram funcionários com a função de fiscalizar as construções dos particulares para tornálas úteis ao ornamento do público reconhecerseá realmente que é penoso trabalhando apenas nas obras de outras pessoas fazer coisas muito bem rematadas Portanto considerei que os povos que outrora haviam sido semi selvagens e só pouco a pouco foram se civilizando elaboraram suas leis apenas à medida que o desconforto dos crimes e das querelas a tanto os coagiu não poderiam ser tão bem policiados como aqueles que desde o instante em que se reuniram obedeceram às leis de algum prudente legislador Tal como é justo que o estado da verdadeira religião cujas ordenanças só Deus fez deve ser incomparavelmente melhor regulamentado do que todos os outros E para falar a respeito das coisas humanas penso que se Esparta foi na Antigüidade muito florescente não o deveu à bondade de cada uma de suas leis em particular já que muitas eram bastante impróprias e até mesmo contrárias aos bons costumes mas ao fato de que havendo sido criadas por um único homem tendiam todas ao mesmo fim E assim pensei que as ciências dos livros ao menos aquelas cujas razões são apenas prováveis e que não apresentam quaisquer demonstrações pois foram compostas e avolumadas devagar com opiniões de muitas e diferentes pessoas não se encontram de forma alguma tão próximas da verdade quanto os simples raciocínios que um homem de bom senso pode fazer naturalmente acerca das coisas que se lhe apresentam E também pensei que como todos nós fomos crianças antes de sermos adultos e como por muito tempo foi necessário sermos governados por nossos apetites e nossos preceptores que eram com freqüência contrários uns aos outros e que nem uns nem outros nem sempre talvez nos aconselhassem o melhor é quase impossível que nossos juízos sejam tão puros ou tão firmes como seriam se pudéssemos utilizar totalmente a nossa razão desde o nascimento e se não tivéssemos sido guiados senão por ela É verdade que não vemos em lugar algum demolirem todas os edifícios de uma cidade com o exclusivo propósito de reconstruílos de outra maneira e de tornar assim suas ruas mais belas mas vêse na realidade que muitos derrubam suas casas para reconstruílas sendo ainda por vezes obrigados a fazêlo quando elas correm o risco de cair por si próprias por seus alicerces não se encontrarem muito firmes A exemplo disso convencime de que não seria razoável que um particular tencionasse reformar um Estado mudandoo em tudo desde os alicerces e derrubandoo para em seguida reerguêlo nem tampouco reformar o corpo das ciências ou a ordem estabelecida nas escolas para ensinálas mas que a respeito de todas as opiniões que até então acolhera em meu crédito o melhor a fazer seria disporme de uma vez para sempre a retirarlhes essa confiança para substituilas em seguida ou por outras melhores ou então pelas mesmas após havêlas ajustado ao nível da razão E acreditei com firmeza em que por este meio conseguiria conduzir minha vida muito melhor do que se a construísse apenas sobre velhos alicerces e me apoiasse tãosomente sobre princípios a respeito dos quais me deixara convencer em minha juventude sem ter nunca analisado se eram verdadeiros Pois embora percebesse nesse mister várias dificuldades não eram contudo insuperáveis nem comparáveis às que se encontram na reforma das menores coisas relativas ao público Esses grandes corpos são demasiado difíceis de reerguer quando abatidos ou mesmo de escorar quando abalados e suas quedas não podem deixar de ser muito violentas Pois a respeito de suas imperfeições se as possuem como a simples diversidade que há entre eles basta para assegurar que as possuem em grande número o uso sem dúvida as suavizou e até mesmo evitou e corrigiu insensivelmente uma grande quantidade às quais não se poderia tão bem remediar por prudência E por fim são quase sempre mais suportáveis do que o seria a sua mudança da mesma forma que os grandes caminhos que serpenteiam entre montanhas se tornam pouco a pouco tão batidos e tão cômodos a poder de serem freqüentados que é preferível seguilos a tentar ir mais reto escalando os rochedos e descendo até o fundo dos precipícios Aqui está o motivo pelo qual eu não poderia de maneira alguma aprovar esses temperamentos perturbadores e inquietos que não sendo chamados nem pelo nascimento nem pela fortuna à administração dos negócios públicos não deixam de neles realizar sempre em teoria alguma nova reforma E se eu pensasse haver neste escrito a menor coisa que pudesse tornarme suspeito de tal loucura ficaria muito pesaroso de ter concordado em publicálo Jamais o meu objetivo foi além de procurar reformar meus próprios pensamentos e construir num terreno que é todo meu De maneira que se tendo minha obra me agradado bastante eu vos mostro aqui o seu modelo nem por isso desejo aconselhar alguém a imitálo Aqueles a quem Deus melhor distribuiu suas graças alimentarão talvez propósitos mais elevados mas receio bastante que este já seja por demais temerário para muitos A mera decisão de se desfazer de todas as opiniões a que se deu antes crédito não é um exemplo que cada um deva seguir e o mundo compõese quase só de duas espécies de espíritos aos quais ele não convém de maneira alguma A saber daqueles que julgandose mais hábeis do que realmente são não podem impedirse de precipitar seus juízos nem ter suficiente paciência para conduzir ordenadamente todos os seus pensamentos disso decorre que se tivessem tomado uma vez a liberdade de duvidar dos princípios que aceitaram e de se desviar do caminho comum jamais poderiam aterse à trilha que é necessário tomar para ir mais direito e permaneceriam perdidos ao longo de toda a existência depois daqueles que tendo bastante razão ou modéstia para considerarse menos capazes de diferenciar o verdadeiro do falso do que alguns outros pelos quais podem ser instruídos devem antes ficar satisfeitos em seguir as opiniões desses outros do que esforçarse por achar por si mesmos outras melhores No que me diz respeito constaria sem dúvida do número destes últimos se eu tivesse tido um único mestre ou se nada soubesse das diferenças que existi ram em todos os tempos entre as opiniões dos mais eruditos Porém havendo aprendido desde a escola que nada se poderia imaginar tão estranho e tão pouco acreditável que algum dos filósofos já não houvesse dito e depois ao viajar tendo reconhecido que todos os que possuem sentimentos muito contrários aos nossos nem por isso são bárbaros ou selvagens mas que muitos utilizam tanto ou mais do que nós a razão e havendo considerado quanto um mesmo homem com o seu mesmo espírito sendo criado desde a infância entre franceses ou alemães tornase diferente do que seria se vivesse sempre entre chineses ou canibais e como até nas modas de nossos trajes a mesma coisa que nos agradou há dez anos e que talv ez nos agrade ainda antes de decorridos outros dez nos parece agora extravagante e ridícula de forma que são bem mais o costume e o exemplo que nos convencem do que qualquer conhecimento correto e que apesar disso a pluralidade das vozes não é prova que valha algo para as verdades um pouco difíceis de descobrir por ser bastante mais provável que um único homem as tenha encontrado do que todo um povo eu não podia escolher ninguém cujas opiniões me parecessem dever ser preferidas às de outros e achavame como coagido a tentar eu próprio dirigirme Porém igual a um homem que caminha solitário e na absoluta escuridão decidi ir tão lentamente e usar de tanta ponderação em todas as coisas que mesmo se avançasse muito pouco ao menos evitaria cair Não quis de maneira alguma começar rejeitando inteiramente qualquer uma das opiniões que por acaso haviam se insinuado outrora em minha confiança sem que aí fossem introduzidas pela razão antes de gastar bastante tempo em elaborar o projeto da obra que iria empreender e em procurar o verdadeiro método para chegar ao conhecimento de todas as coisas de que meu espírito fosse capaz Quando era mais jovem eu estudara um pouco de filosofia de lógica e das matemáticas a analise dos geômetras e a álgebra três artes ou ciências que pare ciam poder contribuir com algo para o meu propósito No entanto analisandoas percebi que quanto à lógica seus silogismos e a maior parte de seus outros preceitos servem mais para explicar aos outros as coisas já conhecidas ou mesmo como a arte de Lúlio1 para falar sem formar juízo daquelas que são ignoradas do que para aprendêlas E apesar de ela conter realmente uma porção de preceitos muito verdadeiros e muito bons existem contudo tantos outros misturados no meio que são ou danosos ou supérfluos que é quase tão difícil separálos quanto tirar uma Diana ou uma Minerva de um bloco de mármore que nem ao menos está delineado Depois no que concerne à análise dos antigos e à álgebra dos modernos além de se estenderem apenas a assuntos muito abstratos e de não parecerem de utilidade alguma a primeira permanece sempre tão ligada à consideração das figuras que não pode propiciar a compreensão sem cansar muito a imaginação e na segunda estevese de tal maneira sujeito a determinadas regras e cifras que se fez dela uma arte confusa e obscura que atrapalha o espírito em vez de uma ciência que o cultiva Por este motivo considerei ser necessário buscar algum outro método que contendo as vantagens desses três estivesse desembaraçado de seus defeitos E como a grande quantidade de leis fornece com freqüência justificativas aos vícios de forma que um Estado é mais bem dirigido quando apesar de possuir muito poucas delas são estritamente cumpridas portanto em lugar desse grande número de preceitos de que se compõe a lógica achei que me seriam suficientes os quatro seguintes uma vez que tornasse a firme e inalterável resolução de não deixar uma só vez de observálos 1 Lúlio bemaventurado Raimundo em catalão Ramón Llull erudito filósofo teólogo e poeta catalão Palma de Maiorca c 1233 Bugia ou Palma 1315 Seu proselitismo cristão o levou aos países mediterrâneos onde organizou uma cruzada intelectual destinada a provocar encontros entre sábios de diferentes religiões visando à unificação religiosa do mundo N do T O primeiro era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse claramente como tal ou seja de evitar cuidadosamente a pressa e a prevenção e de nada fazer constar de meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito que eu não tivesse motivo algum de duvidar dele O segundo o de repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucionálas O terceiro o de conduzir por ordem meus pensamentos iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para elevarme pouco a pouco como galgando degraus até o conhecimento dos mais compostos e presumindo até mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros E o último o de efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir Essas longas séries de razões todas simples e fáceis que os geômetras costumam utilizar para chegar às suas mais difíceis demonstrações tinhamme dado a oportunidade de imaginar que todas as coisas com a possibilidade de serem conhecidas pelos homens seguemse umas às outras do mesmo modo e que uma vez que nos abstenhamos apenas de aceitar por verdadeira qualquer uma que não o seja e que observemos sempre a ordem necessária para deduzi las umas das outras não pode existir nenhuma delas tão afastada a que não se chegue no final nem tão escondida que não se descubra E não me foi muito dificultoso procurar por quais deveria começar pois já sabia que haveria de ser pelas mais simples e pelas mais fáceis de conhecer e considerando que entre todos os que anteriormente procuraram a verdade nas ciências apenas os matemáticos puderam encontrar algumas demonstrações ou seja algumas razões certas e evidentes não duvidei de modo algum que não fosse pelas mes mas que eles analisaram apesar de não esperar disso nenhuma outra utilidade salvo a de que habituariam meu espírito a se alimentar de verdades e a não se satisfazer com falsas razões Mas não foi minha intenção para tanto tentar aprender todas essas ciências particulares que habitualmente se chamam matemáticas e vendo que apesar de seus objetos serem distintos não deixam de concordar todas pelo fato de não conferirem nesses objetos senão as diversas ações ou proporções que neles se encontram julguei que convinha mais analisar apenas estas proporções em geral e presumindoas somente nos suportes que servissem para me tornar seu conhecimento mais fácil mesmo assim sem restringilas de modo algum a tais suportes a fim de poder aplicálas tão melhor em seguida a todos os outros objetos a que conviessem Depois havendo per cebido que a fim de conhecêlas sermeia algumas vezes necessário considerá las cada qual em particular e outras vezes apenas de reter ou de compreender várias em conjunto julguei que para melhor considerálas em particular deveria presumilas em linhas visto que não encontraria nada mais simples nem que pudesse representar mais diferentemente à minha imaginação e aos meus sentidos mas que para reter ou compreender várias em conjunto era necessário que eu as designasse por alguns signos os mais breves possíveis e que por esse meio tomaria de empréstimo o melhor da análise geométrica e da álgebra e corrigiria todos os defeitos de uma pela outra E já que com efeito atrevome a dizer que a exata observação desses poucos preceitos que eu escolhera me deu tal facilidade de desenredar todas as questões às quais se estendem essas duas ciências que nos dois ou três meses que levei para analisálas havendo iniciado pelas mais simples e mais gerais e compondo cada verdade que eu encontrava uma regra que me servia depois para encontrar outras não apenas consegui resolver muitas que antes considerava muito difíceis como me pareceu também próximo ao fim que podia determinar até mesmo naquelas que ignorava por quais meios e até onde seria possível resolvêlas No que talvez não vos afigurarei muito vaidoso se considerardes que existindo somente uma verdade de cada coisa aquele que a encontrar conhece a seu respeito tanto quanto se pode conhecer e que por exemplo uma criança instruída na aritmética que haja realizado uma adição de acordo com as regras pode ter certeza de haver encontrado no que concerne à soma que analisava tudo o que o espírito humano poderia encontrar Pois enfim o método que ensina a seguir a verdadeira ordem e a enumerar exatamente todas as circunstâncias daquilo que se procura contém tudo quanto dá certeza às regras da aritmética No entanto o que mais me satisfazia nesse método era o fato de que por ele tinha certeza de usar em tudo minha razão se não à perfeição ao menos o melhor que eu pudesse ademais sentia ao utilizálo que meu espírito se habituava pouco a pouco a conceber mais nítida e distintamente seus objetos e que não o havendo sujeitado a nenhuma matéria em especial prometia a mim mesmo empregálo com a mesma utilidade a respeito das dificuldades das outras ciências como o fizera com as da álgebra Não que me atrevesse a empreender primeiramente a análise de todas as que se me apresentassem pois isso seria contrário à ordem que ele prescreve Porém havendo percebido que os seus princípios deviam ser todos tomados à filosofia na qual até então não encontrava sequer um que fosse correto pensei que seria preciso em princípio tentar ali estabelecêlos e que sendo isso a coisa mais importante do mundo e em que a pressa e a prevenção eram mais de recear não devia pôr em execução sua reali zação antes de atingir uma idade bem mais madura do que a dos 23 anos que eu tinha naquela época e antes de ter gasto muito tempo em prepararme para isso tanto extirpando de meu espírito todas as más opiniões que nele dera acolhida até então como reunindo numerosas experiências para servirem logo depois de ma téria aos meus processos racionais e adestrandome no método que me preceituara com o propósito de me fixar sempre mais nele TERCEIRA PARTE AFINAL COMO não é suficiente antes de dar início à reconstrução da casa onde residimos demolila ou munirnos de materiais e contratar arquitetos ou habilitarnos na arquitetura nem além disso termos efetuado com esmero o seu projeto é preciso também havermos providenciado outra onde possamos nos acomodar confortavelmente ao longo do tempo em que nela se trabalha Da mesma maneira para não hesitar em minhas ações enquanto a razão me obrigasse a fazêlo em meus juízos e a fim de continuar a viver desde então de maneira mais feliz possível concebi para mim mesmo uma moral provisória que consistia apenas em três ou quatro máximas que eu quero vos anunciar A primeira era obedecer às leis e aos costumes de meu país mantendome na religião na qual Deus me concedera a graça de ser instruído a partir da infância e conduzindome em tudo o mais de acordo com as opiniões mais moderadas e as mais distantes do excesso que fossem comumente aceitas pelos mais sensatos daqueles com os quais teria de conviver Porquanto começando desde então a não me valer para nada de minhas próprias opiniões porque eu as queria submeter todas a análise estava convencido de que o melhor a fazer era seguir as dos mais sensatos E a despeito de que talvez existam entre os persas e chineses homens tão sensatos como entre nós afiguravaseme que o mais útil seria orientarme por aqueles entre os quais teria de viver e que para saber quais eram realmente as suas opiniões devia tomar nota mais daquilo que praticavam do que daquilo que diziam não apenas porque na corrupção de nossos costumes existem poucas pessoas que queiram dizer tudo o que pensam mas também porque muitos o ignoram por sua vez pois sendo a ação do pensamento pela qual se acredita numa coisa distinta daquela pela qual se sabe que se acredita nela repetidas vezes uma se apresenta sem a outra E entre várias opiniões igualmente aceitas escolhia somente as moderadas tanto porque são sempre as mais cômodas para a prática e provavelmente as melhores já que todo excesso costuma ser mau como também para me desviar menos do verdadeiro caminho caso eu falhasse do que havendo escolhido um dos extremos fosse o outro aquele que eu deveria ter seguido E em especial punha entre os excessos todas as promessas pelas quais se restringe em algo a própria liberdade Não que desaprovasse as leis que para corrigir a inconstância dos espíritos fracos permitem quando se possui algum bom propósito ou mesmo para a segurança das relações sociais alguma intenção que seja apenas indiferente que se façam promessas solenes ou contratos que obriguem a persistir nela mas porque não via no mundo nada que continuasse sempre no mesmo estado e porque no meu caso particular como prometia a mim mesmo aperfeiçoar cada vez mais os meus juízos e de maneira alguma tornálos piores pensaria cometer grande falta contra o bom senso se pelo fato de ter aprovado então alguma coisa me sentisse na obrigação de tomála como boa ainda depois quando deixasse talvez de sêlo ou quando eu parasse de considerála tal Minha segunda máxima consistia em ser o mais firme e decidido possível em minhas ações e em não seguir menos constantemente do que se fossem muito seguras as opiniões mais duvidosas sempre que eu me tivesse decidido a tanto Imitava nisso os viajantes que estando perdidos numa floresta não devem ficar dando voltas ora para um lado ora para outro menos ainda permanecer num local mas caminhar sempre o mais reto possível para um mesmo lado e não mudálo por quaisquer motivos ainda que no início só o acaso talvez haja definido sua escolha pois por este método se não vão exatamente aonde desejam ao menos chegarão a algum lugar onde provavelmente estarão melhor do que no meio de uma floresta E assim como as ações da vida não suportam às vezes atraso algum é uma verdade muito certa que quando não está em nosso poder o distinguir as opiniões mais verdadeiras devemos seguir as mais prováveis e mesmo que não percebamos em umas mais probabilidades do que em outras devemos sem embargo decidirnos por algumas a considerálas depois não mais como duvidosas na medida em que se relacionam com a prática mas como muito verdadeiras e corretas visto que a razão que a isso nos induziu se apresenta como tal E isto me consentiu desde então libertarme de todos os arrependimentos e remorsos que costumam agitar as consciências desses espíritos fracos e hesitantes que se deixam levar a praticar como boas as coisas que em seguida consideram más Minha terceira máxima era a de procurar sempre antes vencer a mim próprio do que ao destino e de antes modificar os meus desejos do que a ordem do mundo e em geral a de habituarme a acreditar que nada existe que esteja completamente em nosso poder salvo os nossos pensamentos de maneira que após termos feito o melhor possível no que se refere às coisas que nos são exteriores tudo em que deixamos de nos sair bem é em relação a nós absolutamente impossível E somente isso me parecia suficiente para impossibilitarme no futuro de desejar algo que eu não pudesse obter e assim para me tornar contente Pois a nossa vontade tendendo naturalmente para desejar apenas aquelas coisas que nosso entendimento lhe representa de alguma forma como possíveis é certo que se considerarmos igualmente afastados de nosso poder todos os bens que se encontram fora de nós não deploraremos mais a falta daqueles que parecem deverse ao nosso nascimento quando deles formos privados sem termos culpa do que deploramos não possuir os remos da China ou do México e que fazendo como se diz da necessidade virtude não desejaremos mais estar sãos estando doentes ou estar livres estando presos do que desejamos ter agora corpos de uma matéria tão pouco corruptível quanto os diamantes ou asas para voar como as aves Mas confesso que é preciso um longo adestramento e uma meditação freqüentemente repetida para nos habituarmos a olhar todas as coisas por este ângulo e acredito que é prin cipalmente nisso que consistia o segredo desses filósofos que puderam em outros tempos esquivarse do império do destino e apesar das dores e da pobreza pleitear felicidade aos seus deuses Pois ocupandose continuamente em considerar os limites que lhes eram impostos pela natureza convenceramse tão perfeitamente de que nada estava em seu poder além dos seus pensamentos que só isso bastava para impossibilitálos de sentir qualquer afeição por outras coisas e os utilizavam tão absolutamente que tinham neste caso especial certa razão de se julgar mais ricos mais poderosos mais livres e mais felizes que quaisquer outros homens os quais não tendo esta filosofia por mais favorecidos que sejam pela natureza e pelo destino nunca são senhores de tudo o que desejam Por fim para a conclusão dessa moral decidi passar em revista as diferentes ocupações que os homens exercem nesta vida para procurar escolher a melhor e sem pretender dizer nada a respeito das dos outros achei que o melhor a fazer seria continuar naquela mesma em que me encontrava ou seja utilizar toda a minha existência em cultivar minha razão e progredir o máximo que pudesse no conhecimento da verdade de acordo com o método que me determinara Eu sentira tão grande felicidade a partir do momento em que começara a servirme deste método que não acreditava que nesta vida se pudessem receber outros mais doces nem mais inocentes e descobrindo todos os dias por seu intermédio algumas verdades que me pareciam deveras importantes e geralmente ignoradas pelos outros homens a satisfação que isso me proporcionava preenchia de tal forma meu espírito que tudo o mais não me atingia Além do que as três máximas precedentes se baseavam apenas no meu intento de continuar a me instruir pois tendo Deus concedido a cada um de nós alguma luz para diferenciar o verdadeiro do falso não julgaria dever satisfazer me um único instante com as opiniões dos outros se não tencionasse utilizar o meu próprio juízo em analisálas quando fosse tempo e não saberia dispensar me de escrúpulos ao seguilas se não esperasse não perder com isso oportunidade alguma de encontrar outras melhores caso existissem E enfim não saberia cercear os meus desejos nem estar contente se não tivesse per corrido um caminho pelo qual julgando estar seguro da aquisição de todos os conhecimentos de que fosse capaz pensava estar também pelo mesmo método seguro da aquisição de todos os verdadeiros bens que em alguma ocasião se encontrassem ao meu alcance tanto mais que a nossa vontade não estando propensa a seguir ou fugir a qualquer coisa a não ser se o nosso entendimento a represente como boa ou má é suficiente bem julgar para bem agir e julgar o melhor possível para também agir da melhor maneira ou seja para adquirir todas as virtudes e ao mesmo tempo todos os outros bens que se possam adquirir e quando se tem certeza de que é assim não se pode deixar de ficar contente Depois de haverme assim assegurado destas máximas e de têlas separado com as verdades da fé que sempre foram as primeiras na minha crença julguei que quanto a todo o restante de minhas opiniões podia livremente procurar desfazerme delas E como esperava chegar melhor ao fim dessa tarefa conversando com os homens do que prosseguindo por mais tempo fechado no quarto aquecido onde me haviam surgido esses pensamentos recomecei a viajar quando o inverno ainda não terminara E em todos os nove anos que se seguiram não fiz outra coisa a não ser girar pelo mundo daqui para ali tentando ser mais espectador do que ator em todas as comédias que nele se representam e refletindo particularmente em cada matéria sobre o que podia tornála suspeita e propiciar a oportunidade de nos enganarmos ao mesmo tempo extirpava do meu espírito todos os equívocos que até então nele se houvessem instalado Não que imitasse para tanto os céticos que duvidam só por duvidar e fingem ser sempre indecisos pois ao contrário todo o meu propósito propendia apenas a me certificar e remover a terra movediça e a areia para encontrar a rocha ou a argila O que consegui muito bem quer me parecer ainda mais que procurando descobrir a falsidade ou a incerteza das proposições que analisava não por fracas conjeturas mas por raciocínios claros e seguros não encontrava nenhuma tão duvidosa que dela não tirasse sempre alguma conclusão bastante correta na pior da hipóteses a de que não continha nada de correto E da mesma maneira que ocorre ao demolir uma velha casa conservamse comumente os entulhos para serem utilizados na construção de outra nova assim ao destruir todas as minhas opiniões que julgava mal alicerçadas fazia diversas observações e adquiria muitas experiências que me serviram mais tarde para estabelecer outras mais corretas E além disso continuava a praticar no método que me preceituara pois não apenas tomava o cuidado de em geral dirigir todos os meus pensamentos conforme as suas regras como reservava de tempos em tempos algumas horas que utilizava especialmente em aplicálos nas dificulda des de matemática ou também em algumas outras que eu podia tornar quase parecidas às das matemáticas separandoas de todos os princípios das outras ciências que eu não considerava suficientemente sólidos como vereis que procedi com várias que são explicadas neste volume E deste modo aparentemente sem viver de maneira diferente daqueles que não tendo outra ocupação exceto levar uma vida suave e inocente procuram isolar os prazeres dos vícios e que para usufruir seus lazeres sem se aborrecer usam todos os divertimentos que são honestos não deixava de perseverar em meu intento e de progredir no conhecimento da verdade mais talvez do que se me restringisse a ler livros ou freqüentar homens de letras Ainda assim esses nove anos decorreram antes que eu tivesse tomado qualquer resolução no que concerne às dificuldades que costumam ser discutidas entre os eruditos ou começado a procurar os fundamentos de alguma filosofia mais correta do que a trivial E o exemplo de numerosos espíritos elevados que tendo se proposto anteriormente esse desígnio não haviam conseguido a meu ver realizálo levavame a imaginar tantas dificuldades que não teria talvez me atrevido empreendêlo tão cedo se não tivesse conhecimento de que alguns já faziam correr a informação de que eu já o levara a cabo Não saberia dizer em que baseavam esta opinião e se para isso contribuí em alguma coisa com meus discursos deve ter sido por confessar neles aquilo que eu ignorava com mais ingenuidade do que costumam fazer os que estudaram um pouco e e possível também por mostrar os motivos que tinha de duvidar de muitas coisas que os outros julgam corretas do que por me vangloriar de qualquer doutrina Porém tendo o coração bastante brioso para não desejar que me tomassem por alguém que eu não era pensei que devia esforçarme por todos os meios a fim de tornarme merecedor da reputação que me conferiam e faz exatamente oito anos que esse desejo me impeliu a distanciarme de todos os lugares em que pudesse ter conhecidos e a retirarme para cá para um país onde a longa duração da guerra levou a estabelecer tais ordens que os exércitos nele mantidos parecem servir apenas para que os frutos da paz sejam usufruídos com tanto mais segurança e onde em meio a um grande povo muito ativo e mais zeloso de seus próprios assuntos do que curioso com os dos outros sem sentir necessidade de nenhuma das comodidades que existem nas cidades mais desenvolvidas pude viver tão solitário e isolado como nos desertos mais longínquos QUARTA PARTE NÃO ESTOU SEGURO se deva falarvos a respeito das primeiras meditações que aí realizei já que por serem tão metafísicas e tão incomuns é possível que não serão apreciadas por todos Contudo para que seja possível julgar se os fundamentos que escolhi são suficientemente firmes vejome de alguma forma obrigado a falarvos delas Havia bastante tempo observara que no que concerne aos costumes é às vezes preciso seguir opiniões que sabemos serem muito duvidosas como se não admitissem dúvidas conforme já foi dito acima porém por desejar então dedicarme apenas a pesquisa da verdade achei que deveria agir exatamente ao contrário e rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em que pudesse supor a menor dúvida com o intuito de ver se depois disso não restaria algo em meu crédito que fosse completamente incontestável Ao considerar que os nossos sentidos às vezes nos enganam quis presumir que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar E por existirem homens que se enganam ao raciocinar mesmo no que se refere às mais simples noções de geometria e cometem paralogismos rejeitei como falsas achando que estava sujeito a me enganar como qualquer outro todas as razões que eu tomara até então por demonstrações E enfim considerando que quaisquer pensamentos que nos ocorrem quando estamos acordados nos podem também ocorrer enquanto dormimos sem que exista nenhum nesse caso que seja correto decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais corretas do que as ilusões de meus sonhos Porém logo em seguida percebi que ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso faziase necessário que eu que pensava fosse alguma coisa E ao notar que esta verdade eu penso logo existo era tão sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo julguei que podia considerála sem escrúpulo algum o primeiro princípio da filosofia que eu procurava Mais tarde ao analisar com atenção o que eu era e vendo que podia presumir que não possuía corpo algum e que não havia mundo algum ou lugar onde eu existisse mas que nem por isso podia supor que não existia e que ao contrário pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas resultava com bastante evidência e certeza que eu existia ao passo que se somente tivesse parado de pensar apesar de que tudo o mais que alguma vez imaginara fosse verdadeiro já não teria razão alguma de acreditar que eu tivesse existido compreendi então que eu era uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar e que para ser não necessita de lugar algum nem depende de qualquer coisa material De maneira que esse eu ou seja a alma por causa da qual sou o que sou é completamente distinta do corpo e também que é mais fácil de conhecer do que ele e mesmo que este nada fosse ela não deixaria de ser tudo o que é Depois disso considerei o que é necessário a uma proposição para ser verdadeira e correta pois já que encontrara uma que eu sabia ser exatamente assim pensei que devia saber também em que consiste essa certeza E ao perceber que nada há no eu penso logo existo que me dê a certeza de que digo a verdade salvo que vejo muito claramente que para pensar é preciso existir concluí que poderia tomar por regra geral que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras havendo somente alguma dificuldade em notar bem quais são as que concebemos distintamente Depois havendo refletido a respeito daquilo que eu duvidava e que por conseguinte meu ser não era totalmente perfeito pois via claramente que o conhecer é perfeição maior do que o duvidar decidi procurar de onde aprendera a pensar em algo mais perfeito do que eu era e descobri com evidência que devia ser de alguma natureza que fosse realmente mais perfeita No que se refere aos pensamentos que eu formulava sobre muitas outras coisas fora de mim como a respeito do céu da Terra da luz do calor e de mil outras não me era tão difícil saber de onde vinham porque não notando neles nada que me parecesse tornálos superiores a mim podia julgar que se fossem verdadeiros seriam dependências de minha natureza na medida em que esta possuía alguma perfeição e se não o eram que eu os formulava a partir do nada ou seja que existiam em mim pelo que eu possuía de falho Mas não podia ocorrer o mesmo com a idéia de um ser mais perfeito do que o meu pois fazêla sair do nada era evidentemente impossível e visto que não é menos repulsiva a idéia de que o mais perfeito seja uma conseqüência e uma dependência do menos perfeito do que a de admitir que do nada se origina alguma coisa eu não podia tirála tampouco de mim próprio De maneira que restava somente que tivesse sido colocada em mim por uma natureza que fosse de fato perfeita do que a minha e que possuísse todas as perfeições de que eu poderia ter alguma idéia ou seja para dizêlo numa única palavra que fosse Deus A isso acrescentei que admitido que conhecia algumas perfeições que eu não tinha não era o único ser que existia usarei aqui livremente se vos aprouver alguns termos da Escola mas que devia necessariamente haver algum outro mais perfeito do qual eu dependesse e de quem tivesse recebido tudo o que possuía Pois se eu fosse sozinho e independente de qualquer outro de maneira que tivesse recebido de mim próprio todo esse pouco mediante o qual participava do Ser perfeito poderia receber de mim pelo mesmo motivo todo o restante que sabia faltarme e ser assim eu próprio infinito eterno imutável onisciente todopoderoso e enfim ter todas as perfeições que podia perceber existirem em Deus Pois de acordo com os raciocínios que acabo de fazer para conhecer a natureza de Deus tanto quanto a minha o era capaz era suficiente considerar a respeito de todas as coisas de que encontrava em mim qualquer idéia se era ou não perfeição possuí las e tinha certeza de que nenhuma das que eram marcadas por alguma imperfeição existia nele mas que todas as outras existiam Dessa forma eu notava que a dúvida a inconstância a tristeza e coisas parecidas não podiam existir nele porque eu mesmo apreciaria muito ser desprovido delas Ademais eu tinha idéias acerca de muitas coisas sensíveis e corporais pois apesar de presumir que estava sonhando e que tudo quanto via e imaginava era falso não podia negar não obstante que as idéias a respeito não existissem verdadeiramente em meu pensamento porém por já haver reconhecido em mim com bastante clareza que a natureza inteligente é distinta da corporal considerando que toda a composição testemunha dependência e que a dependência é evidentemente uma falha julguei a partir disso que não podia ser uma perfeição em Deus o ser composto dessas duas naturezas e que em conseqüência Ele não o era mas que se existiam alguns corpos no mundo ou então algumas inteligências ou outras naturezas que não fossem totalmente perfeitos seu ser deveria depender do poder de Deus de tal maneira que não pudessem subsistir sem Ele por um único instante Em seguida a isso eu quis procurar outras verdades e tendome estabelecido o objeto dos geômetras que eu concebia como um corpo contínuo ou um espaço infinitamente extenso em comprimento largura e altura ou profundidade divisível em diversas partes que podiam ter diferentes figuras e grandezas e ser movidas ou transpostas de todas as maneiras pois os geômetras conjeturam tudo isto em seu objeto examinava algumas de suas demonstrações mais simples E ao perceber que essa grande certeza que todos lhes atribuem se alicerça somente no fato de serem concebidas com evidência segundo a regra que há pouco manifestei notei também que nada existia nelas que me garantisse a existência de seu objeto Pois por exemplo eu percebia muito bem que ao imaginar um triângulo faziase necessário que seus três ângulos fossem iguais a dois retos porém malgrado isso nada via que garantisse existir no mundo qualquer triângulo Enquanto ao voltar a examinar a idéia que eu tinha de um Ser perfeito verificava que a existência estava aí inclusa da mesma maneira que na de um triângulo está incluso serem seus três ângulos iguais a dois retos ou na de uma esfera serem todas as suas partes igualmente distantes do seu centro ou ainda mais evidentemente e que por conseguinte é pelo menos tão certo que Deus que é esse Ser perfeito é ou existe quanto seria qualquer demonstração de geometria Mas o que leva muitas pessoas a se convencerem de que é difícil conhecê lo e também em conhecer o que é sua alma é o fato de nunca alçarem o espírito além das coisas sensíveis e de estarem de tal forma habituadas a nada considerar exceto na imaginação que é uma maneira de pensar particular às coisas materiais que tudo quanto não é imaginável lhes parece não ser inteligível E isto é bastante evidente pelo fato de os próprios filósofos terem por máxima nas escolas que nada existe no entendimento que não haja estado primeiramente nos sentidos onde contudo é certo que as idéias de Deus e da alma nunca estiveram E me parece que todos aqueles que querem usar a imaginação para compreendêlas se comportam da mesma maneira que se para ouvir os sons ou sentir os odores quisessem utilizarse dos olhos salvo com esta diferença que o sentido da visão não nos assegura menos a verdade de seus objetos do que os do olfato ou da audição enquanto a nossa imaginação ou os nossos sentidos jamais poderiam garantirnos coisa alguma se o nosso juízo não interviesse Afinal se ainda há homens que não estejam totalmente convencidos da existência de Deus e da alma com as razões que apresentei quero que saibam que todas as outras coisas a respeito das quais se consideram talvez certificados como a de possuírem um corpo existirem astros e a Terra e coisas parecidas são ainda menos certas Pois apesar de se ter dessas coisas uma certeza moral que é de tal ordem que salvo sendose extravagante parece impossível colocála em dúvida contudo ao que concerne à certeza metafísica não se pode negar a não ser que não tenhamos bom senso que é motivo suficiente para não possuirmos total segurança a respeito o fato de observarmos que podemos da mesma maneira imaginar ao estarmos dormindo que temos outro corpo que vemos outros astros e outra Terra sem que isso seja verdade Pois de onde sabe mos que os pensamentos que nos surgem em sonhos são menos verdadeiros do que os outros se muitos com freqüência não são menos vivos e nítidos E mesmo que os melhores espíritos estudem o caso tanto quanto lhes agradar não acredito que possam oferecer alguma razão que seja suficiente para dirimir essa dúvida se não presumirem a existência de Deus Pois em princípio aquilo mesmo que há pouco tomei como regra ou seja que as coisas que concebemos bastante evidente e distintamente são todas verdadeiras não é correto a não ser porque Deus é ou existe e é um ser perfeito e porque tudo o que existe em nós se origina dele De onde se conclui que as nossas idéias ou noções por serem coisas reais e oriundas de Deus em tudo em que são evidentes e distintas só podem por isso ser verdadeiras De maneira que se temos muitas vezes outras que contêm falsidade só podem ser as que possuem algo de confuso e obscuro porque nisso participam do nada ou seja são assim confusas em nós porque nós não somos totalmente perfeitos E é evidente que não causa menos aversão admitir que a falsidade ou a imperfeição se originam de Deus como tal do que admitir que a verdade ou a perfeição se originem do nada Porém se não soubéssemos de maneira alguma que tudo quanto existe em nós de real e verdadeiro provém de um ser perfeito e infinito por claras e distintas que fossem nossas idéias não teríamos razão alguma que nos garantisse que elas possuem a perfeição de serem verdadeiras Depois que o conhecimento de Deus e da alma nos tenha dado a certeza dessa regra é muito fácil compreender que os sonhos que imaginamos quando dormimos não devem de forma alguma levarnos a duvidar da verdade dos pensamentos que nos ocorrem quando despertos Pois se sucedesse que mesmo dormindo tivéssemos alguma idéia muito distinta como por exemplo que um geômetra criasse qualquer nova demonstração o sono deste não a impediria de ser verdadeira E quanto ao equívoco mais recorrente de nossos sonhos que consiste em nos representarem vários objetos tal como fazem nossos sentidos exteriores não importa que ele nos dê a oportunidade de desconfiar da verdade de tais idéias porque estas também podem nos enganar repetidas vezes sem que estejamos dormindo como ocorre quando os que têm icterícia vêem tudo da cor amarela ou quando os astros ou outros corpos extremamente distantes de nós se nos afiguram muito menores do que são Pois enfim quer estejamos despertos quer dormindo jamais devemos nos deixar convencer exceto pela evidência de nossa razão E devese observar que eu digo de nossa razão de maneira alguma de nossa imaginação ou de nossos sentidos Porque apesar de enxergarmos o sol bastante claramente não devemos julgar por isso que ele seja do tamanho que o vemos e bem podemos imaginar distintamente uma cabeça de leão enxertada no corpo de uma cabra sem que tenhamos de concluir por isso que no mundo existe uma quimera pois a razão não nos sugere que tudo quanto vemos ou imaginamos seja verdadeiro mas nos sugere realmente que todas as nossas idéias ou noções devem conter algum fundamento de verdade pois não seria possível que Deus que é todo perfeito e verídico as tivesse colocado em nós sem isso E pelo fato de nossos raciocínios nunca serem tão evidentes nem tão completos durante o sono como durante a vigília apesar de que às vezes nossas imaginações sejam tanto ou mais vivas e patentes ela nos sugere também que não podendo nossos pensamentos serem totalmente verdadeiros porque não so mos totalmente perfeitos tudo o que eles contêm de verdade deve encontrarse inevitavelmente naquele que temos quando despertos mais do que em nossos sonhos QUINTA PARTE SERIA DE MUITO meu agrado continuar e expor aqui toda a cadeia de outras verdades que deduzi dessas primeiras Porém suposto que para tal realização seria agora necessário que abordasse muitas questões controvertidas entre os eruditos dos quais não desejo atrair a inimizade acredito que será melhor que eu me abstenha e apenas diga em geral quais elas são para deixar que os mais sábios julguem se seria útil que o público fosse mais especificamente informado a esse respeito Continuava sempre firme na decisão que tomara de não presumir nenhum outro princípio salvo aquele de que acabo de me servir para provar a existência de Deus e da alma e de não aceitar coisa alguma por verdadeira que não se me afigurasse mais clara e mais correta do que se me haviam afigurado anteriormente as demonstrações dos geômetras Contu do atrevome a afirmar que não apenas encontrei modo de me satisfazer em pouco tempo no tocante a todas as mais importantes dificuldades que costumam ser enfrentadas na filosofia mas também que percebi certas leis que Deus estabeleceu de tal modo na natureza e das quais imprimiu tais noções em nossas almas que após meditar bastante acerca delas não poderíamos pôr em dúvida que não fossem exatamente observadas em tudo o que existe ou se faz no mundo Em seguida atentando para a seqüência dessas leis creio haver descoberto muitas verdades mais úteis e mais importantes do que tudo quanto aprendera até então ou mesmo esperava aprender Porém posto que tentei explicar as principais num tratado que certas considerações me impedem de publicar não poderia fazêlas conhecer melhor do que explicando aqui resumidamente o que ele contém Eu pleiteava antes de escrevêlo incluir nele tudo o que julgava saber a respeito da natureza das coisas materiais Contudo tal qual os pintores que não conseguindo representar igualmente bem numa tela plana todas as diversas faces de um corpo sólido escolhem uma das principais que põem à luz e sombreando as outras só as fazem aparecer tanto quanto se possa vêlas ao olhar aquela receando dessa forma não colocar em meu discurso tudo o que havia em meu pensamento tentei apenas expor bem amplamente o que concebia da luz depois na ocasião propícia acrescentar alguma coisa a respeito do sol e das estrelas fixas porque a luz provém quase inteiramente deles a respeito dos céus porque a transmitem a respeito dos planetas dos cometas e da Terra porque a refletem e em particular a respeito de todos os corpos que existem sobre a Terra porque são ou coloridos ou transparentes ou brilhantes e por fim a respeito do homem porque é o seu espectador Também para sombrear um pouco todas essas coisas e poder dizer mais livremente o que pensava acerca delas sem ser obrigado a seguir nem a desaprovar as opiniões aceitas entre os eruditos decidi deixar todo esse mundo às suas disputas e a falar apenas do que aconteceria num novo se Deus criasse agora em qualquer parte nos espaços imaginários suficiente matéria para compôlo e se agitasse de maneira diferente e sem ordem as diferentes partes desta matéria de forma que compusesse com ela um caos tão tumultuado quanto os poetas possam nos fazer acreditar e que em seguida não fizesse outra coisa a não ser prestar o seu concurso comum à natureza e deixála agir conforme as leis por ele estabelecidas Assim em primeiro lugar descrevi essa matéria e tentei representála de tal maneira que nada existe no mundo pareceme mais claro nem mais inteligível salvo o que há pouco foi dito a respeito de Deus e da alma pois presumi claramente que não havia nela nenhuma dessas formas ou qualidades a respeito das quais se discute nas escolas nem de modo geral qualquer coisa cujo conhecimento não fosse tão natural às nossas almas que não se pudesse fingir ignorála Ademais mostrei quais eram as leis da natureza e sem alicerçar minhas razões em nenhum outro princípio exceto no das perfeições infinitas de Deus tentei provar todas aquelas que pudessem provocar alguma dúvida e mostrar que elas são tais que ainda que Deus tivesse criado muitos mundos não poderia haver um só em que deixassem de ser observadas Depois disso mostrei como a maior parte da matéria desse caos devia como conseqüência dessas leis disporse e arranjarse de uma certa maneira que a torna semelhante aos nossos céus como contudo algumas de suas partes deviam compor uma Terra alguns dos planetas e cometas e outras um sol e estrelas fixas Neste ponto estendendome acerca do tema da luz expliquei detidamente qual era a que se devia encontrar no sol e nas estrelas e de que maneira a partir daí atravessava num instante os incomensuráveis espaços dos céus e de que forma se refletia dos planetas e dos cometas para a Terra Acrescentei a isso também várias coisas relativas à substância posição movimentos e todas as várias qualidades desses céus e desses astros de maneira que pensava ter dito o suficiente a respeito para fazer compreender que nada se percebe nos deste mundo que não devesse ou ao menos não pudesse parecer semelhante nos do mundo que eu descrevia Daí me pus a falar especificamente acerca da Terra como apesar de haver claramente estabelecido que Deus não colocara peso algum na matéria de que ela era formada todas as suas partes não deixavam de propender exatamente para o seu centro como existindo água e ar em sua superfície a disposição dos céus e dos astros especialmente da lua devia nela causar um fluxo e refluxo que fosse semelhante em todas as suas circunstâncias ao que se observa nos nossos mares e além disso certo curso tanto da água como do ar do levante para o poente tal como se observa também entre os trópicos como as montanhas os mares as fontes e os rios podiam natu ralmente formarse nela e os metais surgirem nas minas e as plantas crescerem nos campos e em geral todos os corpos denominados mistos ou compostos se rem nela gerados E entre outras coisas já que além dos astros nada conheço no mundo exceto o fogo que produza a luz dediqueime a explicar com bastante clareza tudo o que pertence à sua natureza de que maneira ele se origina como se alimenta como às vezes só há calor sem luz e outras vezes luz sem calor como pode introduzir várias cores em vários corpos e numerosas outras qualidades como funde uns e endurece outros como os pode consumir a quase todos ou transformar em cinzas e em fumo e por fim como dessas cinzas apenas pela força de sua ação produz o vidro pois ao considerar essa transmutação de cinzas em vidro tão assombrosa como nenhuma outra que se realize na natureza proporcionoume especial prazer descrevêla Contudo não desejava inferir de todas essas coisas que este mundo houvesse sido criado da forma como propunha pois é muito mais provável que desde o início Deus o tenha tomado tal como devia ser Mas é certo e é uma opinião geralmente adotada pelos teólogos que a ação mediante a qual ele agora o conserva é exatamente igual àquela mediante a qual o criou de forma que apesar de não lhe haver dado no início outra forma a não ser a do caos desde quando tendo instituído as leis da natureza tenha lhe prestado seu concurso para ela agir assim como costuma podese crer sem nenhum prejuízo para o milagre da criação que apenas por isso todas as coisas que são genuinamente materiais poderiam ao longo do tempo converterse em tais como as vemos atualmente E sua natureza é muito mais fácil de ser compreendida quando as vemos nascer pouco a pouco desta forma do que quando já as consideramos totalmente concluídas Da descrição dos corpos inanimados e das plantas passei à dos animais e especificamente à dos homens Porém como ainda não possuía suficiente conhecimento para falar a respeito deles no mesmo estilo que do resto ou seja demonstrando os efeitos a partir das causas e mostrando de quais sementes e de que modo a natureza deve produzilos satisfizme em imaginar que Deus formasse o corpo de um homem inteiramente semelhante a um dos nossos tanto no aspecto exterior de seus membros como na conformação interior de seus órgãos sem compôlo de outra matéria exceto aquela que eu descrevera e sem colocar nele no início alma racional alguma nem qualquer outra coisa para servirlhe de alma vegetativa ou sensitiva mas sim avivasse em seu coração um desses fogos sem luz que eu já explicara e que não concebia outra natureza a não ser a que aquece o feno quando o guardam antes de estar seco ou a que faz ferver os vinhos novos quando fermentam sobre o bagaço Pois examinando as funções que por causa disso podiam se encontrar neste corpo achava exatamente todas as que podem estar em nós sem que o pensemos nem como conseqüência que a nossa alma isto é essa parte distinta do corpo cuja função como já foi dito mais acima é apenas a de pensar para tal contribua e que são todas as mesmas o que consente dizer que os animais sem razão se nos assemelham sem que eu possa encontrar para isso nenhuma daquelas razões que por dependerem do pensamento são as únicas que nos pertencem enquanto homens enquanto encontrava a todas em seguida ao presumir que Deus criara uma alma racional e que a juntara a esse corpo de uma certa maneira que descrevia Porém para que se possa ver de que modo eu lidava com esta matéria quero mostrar aqui a explicação do movimento do coração e das artérias o qual sendo o primeiro e o mais geral que se observa nos animais consentirá julgar com facilidade a partir dele o que se deve pensar de todos os outros E para que seja mais fácil entender o que vou dizer a esse respeito desejaria que todos os que não são peritos em anatomia se dessem ao trabalho antes de ler isto de mandar cortar diante deles o coração de um grande animal que possua pulmões já que é em tudo parecido com o do homem e que peçam para ver as duas câmaras ou concavidades nele existentes Primeiramente a que está no lado direito na qual se ligam dois tubos muito largos a veia cava que é o principal receptáculo do sangue como o tronco da árvore da qual todas as outras veias do corpo são ramos e a veia arteriosa que foi assim indevidamente denominada pois em verdade se trata de uma artéria a qual originandose do coração se divide após sair dele em muitos ramos que vão espalharse nos pulmões Depois a que se encontra no lado esquerdo na qual se ligam de igual maneira dois tubos que são tanto ou mais largos que os anteflores a artéria venosa que também foi indevidamente denominada porque se trata de uma veia que provém dos pulmões onde se reparte em vários ramos entrançados com os da veia arteriosa e com os desse conduto que se chama gasnete por onde entra o ar da respiração e a grande artéria que saindo do coração espalha seus ramos por todo o corpo Apreciaria também que lhes mostrassem cuidadosamente as onze diminutas peles que como outras tantas diminutas portas abrem e fecham as quatro aberturas que existem nessas duas concavidades três à entrada da veia cava onde estão dispostas de tal maneira que não podem de forma alguma impedir que o sangue nela contido corra para a concavidade direita do coração e no entanto impedem que possa dali sair três à entrada da veia arteriosa que estando dispostas bem ao contrário permitem de fato ao sangue que se encontra nessa concavidade fluir para os pulmões mas não ao que se encontra nos pulmões voltar para lá e também duas outras a entrada da artéria venosa que deixam passar o sangue dos pulmões para a concavidade esquerda do coração mas obstam seu retorno e três à entrada da grande artéria que lhe permitem sair do coração porém impedem seu retorno E não é preciso procurar outra razão para o numero dessas peles exceto a de que a abertura da artéria venosa por ser oval em virtude do local onde se encontra pode ser comodamente fechada com duas enquanto por serem as outras redondas três podem melhor fechálas Além disso desejaria que considerassem que a grande artéria e a veia arteriosa são de uma composição muito mais rija e mais firme do que a artéria venosa e a veia cava e que as duas últimas se dilatam antes de penetrar no coração formando aí como duas bolsas denominadas orelhas do coração que se compõem de uma carne parecida com a deste e que existe sempre mais calor no coração do que em qualquer outro local do corpo e enfim que este calor é capaz de fazer com que se uma gota de sangue entrar em suas concavidades ela inche prontamente e se dilate como geralmente se comportam todos os líquidos quando os deixamos cair gota a gota dentro de algum vaso que esteja bem quente Depois disso nada mais necessito dizer para explicar o movimento do coração exceto que quando as suas concavidades não estão repletas de sangue este flui necessariamente da veia cava para a concavidade direita e da artéria venosa para a esquerda já que esses dois vasos se encontram sempre cheios e que suas aberturas voltadas para o coração não podem então ser fechadas mas tão logo tenham entrado duas gotas de sangue uma em cada concavidade estas gotas que são bastante grossas porque as aberturas por onde penetram são muito largas e os vasos de onde provêm bem cheios de sangue diluemse e dilatamse devido ao calor que aí encontram dessa maneira fazendo inflar o coração todo empurram e fecham as cinco pequenas portas que ficam à entrada dos dois vasos de onde provêm impedindo assim que chegue mais sangue ao coração e continuando a diluirse cada vez mais empurram e abrem as seis outras pequenas portas situadas à entrada dos dois outros vasos por onde saem fazendo inflar dessa forma todos os ramos da veia arteriosa e da grande artéria quase no mesmo instante que o coração o qual imediatamente desincha como ocorre também com essas artérias por se resfriar o sangue que nelas entrou e suas seis pequenas portas se fecham e as cinco da veia cava e da artéria venosa reabremse dando passagem a duas outras gotas de sangue que vão de novo inflar o coração e as artérias da mesma maneira que as precedentes E como o sangue que penetra assim no coração passa por essas duas bolsas que são denominadas suas orelhas resulta que o movimento dessas é contrário ao seu e que elas desincham quando ele infla De resto para que aqueles que não conhecem a força das demonstrações matemáticas e não estão habituados a discernir as razões verdadeiras e as prováveis não se arrisquem a negar tal fato sem uma análise quero chamarlhes a atenção para o fato de que esse movimento que acabo de descrever decorre necessariamente da simples disposição dos órgãos que se podem divisar a olho nu no coração e do calor que se pode sentir com os dedos e da natureza do sangue que se pode conhecer por experiência como o movimento de um relógio decorre da força da posição e da forma de seus contrapesos e rodas Porém se me for perguntado por que o sangue das veias não se esgota fluindo continuamente para o coração e por que as artérias não se enchem demais já que tudo quanto passa pelo coração para elas se dirige não preciso responder nada mais do que já foi escrito por um médico da Inglaterra a quem é preciso dar o louvor de ter rompido o gelo neste ponto e de ser o primeiro a ter ensinado a existência de muitas pequenas passagens nas extremidades das artérias por onde o sangue que elas recebem do coração penetra nos diminutos ramos das veias de onde ele torna a dirigirse para o coração de maneira que o seu curso é uma circulação perpétua E isso ele prova muito bem pela experiência comum dos cirurgiões que amarrando o braço sem apertálo muito acima do local onde abrem a veia fazem com que o sangue saia dela com mais abundância do que se não o tivessem amarrado E aconteceria exatamente o contrário se eles o amarrassem mais abaixo entre a mão e a abertura ou então se o amarrassem com muita força em cima Pois é evidente que o laço medianamente apertado embora impedindo que o sangue que já se encontra no braço retorne ao coração pelas veias não impede que para aí sempre aflua novo sangue pelas artérias porque estas se situam por baixo das veias e porque suas peles sendo mais rijas são mais difíceis de pressionar e também porque o sangue proveniente do coração tende com mais força a passar por elas em direção à mão do que a voltar daí para o coração pelas veias E como esse sangue sai do braço pela abertura que há numa das veias devem necessariamente existir algumas passagens abaixo do laço ou seja na direção das extremidades do braço por onde possa vir das artérias Além disso ele prova bastante bem o que afirma a respeito do fluxo do sangue por certas pequenas peles as quais se encontram de tal maneira dispostas em diversos pontos ao longo das veias que não lhe permitem passar do meio do corpo para as extremidades mas somente retornar das extremidades para o coração e ademais pela experiência que mostra que todo o sangue que há no corpo pode dele sair em muito pouco tempo por uma única artéria quando secionada até mesmo se ela fosse fortemente amarrada muito próxima do coração e secionada entre ele e a ligadura de maneira que não houvesse motivo de imaginar que o sangue que daí saísse procedesse de outro lugar Mas existem numerosas outras coisas que comprovam que a verdadeira causa desse movimento do sangue é a que eu apresentei Assim em primeiro lugar a diferença que se percebe entre o sangue que sai das veias e o que sai das artérias só pode se originar do fato de que havendose diluído e como destilado ao passar pelo coração é mais fino mais vivo e mais quente logo após sair dele ou seja quando corre nas artérias do que o é um pouco antes de nele penetrar isto é quando corre nas veias E se se prestar atenção verificase que tal diferença só aparece realmente na direção do coração e de forma alguma nos lugares que dele são mais distantes Depois a rigidez das peles de que a veia arteriosa e a grande artéria se compõem mostra satisfatoriamente que o sangue bate contra elas com mais força do que contra as veias E por que seriam a concavidade esquerda do coração e a grande artéria maiores e mais largas do que a concavidade direita e a veia arteriosa se não fosse porque o sangue da artéria venosa tendo estado apenas nos pulmões depois de passar pelo coração é mais fino e se dilui mais facilmente do que aquele que procede imediatamente da veia cava E o que podem os médicos descobrir ao tatear o pulso se não sabem que conforme o sangue muda de natureza pode ser diluído pelo calor do coração mais ou menos forte e mais ou menos rápido do que antes E se se examina de que maneira esse calor se transfere aos outros membros não convém confessar que é por meio do sangue que ao passar pelo coração nele se aquece e daí se espalha por todo o corpo Daí decorre que se se retira o sangue de alguma parte retiraselhe da mesma forma o calor e mesmo que o coração fosse tão ardente quanto um ferro em brasa não bastaria como não basta para aquecer os pés e as mãos se não lhes enviasse ininterruptamente novo sangue Depois também se sabe daí que a real utilidade da respiração é levar bastante ar fresco aos pulmões a fim de fazer com que o sangue que para aí se dirige vindo da concavidade direita do coração onde foi diluído e como transmudado em vapores se adense e se transforme novamente antes de recair na concavidade esquerda sem o que não seria apropriado para servir de alimento ao fogo aí existente O que está de acordo porquanto os animais que não possuem pulmões não são providos de mais do que uma concavidade no coração e as crianças que não podem utilizá los por se encontrarem fechadas no ventre de suas mães apresentam uma abertura por onde corre o sangue da veia cava em direção à concavidade esquerda do coração e um conduto por onde ele provém da veia arteriosa para a grande artéria sem passar pelos pulmões Depois a digestão como ela se proces saria no estômago se o coração não lhe enviasse calor pelas artérias e com esse alguns dos elementos mais fluidos do sangue que ajudam a dissolver os alimentos que foram para ali levados E a ação que transformou o suco desses alimentos em sangue não será ela fácil de conhecer se se considera que este se destila passando e repassando pelo coração talvez mais de cem ou duzentas vezes por dia E de que mais se precisa para explicar a nutrição e a produção dos vários humores que há no corpo salvo afirmar que a força com que o sangue ao rarefazerse passa do coração para as extremidades das artérias leva alguns de seus elementos a se deterem entre os dos membros onde se encontram e a tomarem aí o lugar de alguns outros que elas expulsam e que de acordo com a situação ou com a configuração ou com a pequenez dos poros que encontram alguns vão ter a certos lugares mais do que outros de igual maneira como cada um pode ter visto várias peneiras que sendo diferentemente perfuradas servem para separar diversos grãos uns dos outros E por fim o que existe de mais extraordinário em tudo isso é a geração dos espíritos animais que são como um vento muito sutil ou melhor como uma chama muito pura e muito viva que subindo ininterruptamente em grande quantidade do coração ao cérebro dirige se a partir daí pelos nervos para os músculos e imprime movimento a todos os membros sem que seja necessário imaginar outra causa que Leve os elementos do sangue que por serem os mais agitados e penetrantes são os mais adequados para compor tais espíritos a se dirigirem mais ao cérebro do que a outras partes mas apenas que as artérias que os transportam para aí são aquelas que provêm do coração em Linha mais reta de todas e que de acordo com as leis da mecâ nica que são as mesmas da natureza quando várias coisas tendem a moverse em conjunto para um mesmo lado onde não existe espaço suficiente para todas tal qual os elementos do sangue que saem da concavidade esquerda do coração tendem para o cérebro os mais débeis e menos agitados devem ser desviados pelos mais fortes que por esse meio aí chegam sozinhos Eu explanara muito particularmente todas essas coisas no tratado que pretendi publicar em tempos passados E em seguida expusera nele qual deve ser a estrutura dos nervos e dos músculos do corpo humano para fazer com que os espíritos animais que se encontram dentro deles tenham a força de mover seus membros assim como se vê que as cabeças pouco depois de decepadas ainda se movem e mordem a terra apesar de não serem mais animadas quais trans formações se devem efetuar no cérebro para produzir a vigília o sono e os sonhos como a luz os sons os odores os sabores o calor e todas as outras qualidades dos objetos exteriores nele podem imprimir variadas idéias por intermédio dos sentidos como a fome a sede e as outras paixões interiores também podem lhe transmitir as suas o que deve ser nele tomado pelo senso comum onde essas idéias são aceitas pela memória que as conserva e pela fantasia que as pode modificar diferentemente e formar com elas outras novas e pelo mesmo meio distribuindo os espíritos animais nos músculos movimentar os membros desse corpo de tão diferentes maneiras quer a respeito dos objetos que se apresentam a seus sentidos quer das paixões interiores que se encontram nele que os ossos se possam movimentar sem que a vontade os conduza O que não parecerá de maneira alguma estranho a quem sabendo quão diversos autômatos ou máquinas móveis a indústria dos homens pode produzir sem aplicar nisso senão pouquíssimas peças em comparação à grande quantidade de ossos músculos nervos artérias veias e todas as outras partes existentes no corpo de cada animal considerará esse corpo uma máquina que tendo sido feita pelas mãos de Deus é incomparavelmente mais bem organizada e capaz de movimentos mais admiráveis do que qualquer uma das que possam ser criadas pelos homens E me demorara especificamente neste ponto para mostrar que se existissem máquinas assim que fossem providas de órgãos e do aspecto de um macaco ou de qualquer outro animal irracional não teríamos meio algum para reconhecer que elas não seriam em tudo da mesma natureza que esses animais contudo se existissem outras que se assemelhassem com os nossos corpos e imitassem tanto nossas ações quanto moralmente fosse possível teríamos sempre dois meios bastante seguros para constatar que nem por isso seriam verdadeiros homens Desses meios o primeiro é que jamais poderiam utilizar palavras nem outros sinais arranjandoos como fazemos para manifestar aos outros os nossos pensamentos Pois podese muito bem imaginar que uma máquina seja feita de tal modo que articule palavras e até que articule algumas a respeito das ações corporais que causem alguma mudança em seus órgãos por exemplo se a tocam num ponto que indague o que se pretende dizerlhe se em outro que grite que lhe causam mal e coisas análogas mas não que ela as arrume diferentemente para responder ao sentido de tudo quanto se disser na sua presença assim como podem fazer os homens mais embrutecidos E o segundo meio é que ainda que fizessem muitas coisas tão bem ou talvez melhor do que qualquer um de nós falhariam inevitavelmente em algumas outras pelas quais se descobriria que não agem pelo conhecimento mas apenas pela distribuição ordenada de seus órgãos Pois enquanto a razão é um instrumento universal que serve em todas as ocasiões tais órgãos precisam de alguma disposição específica para cada ação específica daí decorre que é moralmente impossível que numa máquina haja muitas e diferentes para fazêla agir em todas as ocasiões da vida da mesma maneira que a nossa razão nos faz agir Notese que por esses dois meios podese também conhecer a diferença que há entre os homens e os animais Já que é algo extraordinário que não existam homens tão embrutecidos e tão estúpidos sem nem mesmo a exceção dos loucos que não tenham a capacidade de ordenar diversas palavras arranjandoas num discurso mediante o qual consigam fazer entender seus pensamentos e que ao contrário não haja outro animal por mais perfeito que possa ser capaz de fazer o mesmo E isso não ocorre porque lhes faltem órgãos pois sabemos que as pegas e os papagaios podem articular palavras assim como nós no entanto não conseguem falar como nós ou seja demonstrando que pensam o que dizem enquanto os homens que havendo nascido surdos e mudos são desprovidos dos órgã os que servem aos outros para falar tanto ou mais que os animais costumam criar eles mesmos alguns sinais mediante os quais se fazem entender por quem convivendo com eles disponha de tempo para aprender a sua língua E isso não prova somente que os animais possuem menos razão do que os homens mas que não possuem nenhuma razão Pois vemos que é necessário bem pouco para saber falar e se bem que se percebe desigualdade entre os animais de uma mesma espécie assim como entre os homens e que uns são mais fáceis de adestrar que outros não é acreditável que um macaco ou um papagaio que fossem os mais perfeitos de sua espécie não igualassem nisso uma criança das mais estúpidas ou pelo menos uma criança com o cérebro confuso se a sua alma não fosse de uma natureza totalmente diferente da nossa E não se devem confundir as palavras com os movimentos naturais que tes temunham as paixões e podem ser imitados pelas máquinas e também pelos animais nem pensar como alguns antigos que os animais falam embora não entendamos sua linguagem pois se fosse verdade visto que possuem muitos órgãos correlatos aos nossos poderiam fazerse compreender tanto por nós como por seus semelhantes E também coisa digna de nota que apesar de haver muitos animais que demonstram mais habilidade do que nós em algumas de suas ações percebese contudo que não a demonstram nem um pouco em muitas outras de forma que aquilo que fazem melhor do que nós não prova que possuam alma pois por esse critério têlaiam mais do que qualquer um de nós e agiriam melhor em tudo mas ao contrário que não a possuem e que é a natureza que atua neles conforme a disposição de seus órgãos assim como um relógio que é feito apenas de rodas e molas pode contar as horas e medir o tempo com maior precisão do que nós com toda a nossa sensatez Depois disso eu descrevera a alma racional e havia mostrado que ela não pode ser de maneira alguma tirada do poder da matéria como as outras coisas a respeito das quais falara mas que devem claramente ter sido e como não é suficiente que esteja alojada no corpo humano assim como um piloto em seu navio salvo talvez para mover seus membros mas que é necessário que esteja junta e unida estreitamente com ele para ter além disso sentimentos e desejos parecidos com os nossos e assim compor um verdadeiro homem Afinal de contas eu me estendi um pouco aqui sobre o tema da alma por ele ser um dos mais importantes pois após o erro dos que negam Deus que penso haver refutado suficientemente mais acima não existe outro que desvie mais os espíritos fracos do caminho reto da virtude do que imaginar que a alma dos ani mais seja da mesma natureza que a nossa e que portanto nada temos a recear nem a esperar depois dessa vida não mais do que as moscas e as formigas ao mesmo tempo que sabendose quanto diferem compreendese muito mais as razões que provam que a nossa é de uma natureza inteiramente independente do corpo e consequentemente que não está de maneira alguma sujeita a morrer com ele depois como não se notam outras causas que a destruam somos naturalmente impelidos a supor por isso que ela é imortal SEXTA PARTE FAZIA TRÊS ANOS que eu conclu íra o tratado que compreende todas essas coisas e que havia iniciado a revêlo com o intuito de entregálo a um editor quando fiquei sabendo que pessoas a quem respeito e cuja autoridade sobre minhas ações não é menor que minha própria razão sobre meus pensamentos não haviam concordado com uma opinião de física publicada pou co antes por alguém opinião com a qual não afirmo que eu concordasse mas que nada notara nela antes de a criticarem que pudesse considerar nociva à reli gião ou ao Estado nem consequentemente que me impossibilitasse de escrevê la se a razão tivesse me convencido a fazêlo e isso me fez temer que se en contrasse da mesma maneira alguma entre as minhas em que eu me tivesse equivocado apesar do grande cuidado que sempre tomei em não dar acolhida a novas opiniões das quais não pudesse demonstrar com muita exatidão e de não escrever nenhuma que pudesse acarretar prejuízo para qualquer pessoa O que foi suficiente para me obrigar a mudar a decisão que eu tomara de publicálas Pois apesar de as razões pelas quais eu a tomara anteriormente fossem muito fortes minha inclinação que sempre me levara a detestar o ofício de fazer livros me guiara imediatamente a encontrar muitas outras para dispensála E essas razões de uma parte e de outra são tais que não apenas tenho aqui algum interesse em expressálas como talvez o público também o tenha em conhecê las Jamais dei muita atenção às coisas que provinham de meu espírito e à medida que não colhi outros frutos do método que emprego exceto que fiquei satisfeito em relação a algumas dificuldades que dizem respeito às ciências especulativas ou então que tentei pautar meus hábitos pelas razões que ele me ensinava não me considerei obrigado a nada escrever acerca dele Pois no que se refere aos hábitos cada qual segue de tal maneira sua própria opinião que se poderia encontrar tantos reformadores quantas são as cabeças se fosse permitido a outros além dos que Deus estabeleceu como soberanos dos povos ou então aos que concedeu suficiente graça e diligência para serem profetas tentar mudá los em algo e apesar de que minhas especulações me agradassem muito pensei que os outros também tinham as suas que lhes agradariam talvez mais Porém apenas adquiri algumas noções gerais concernentes a física e começando a comproválas em várias dificuldades particulares percebi até onde podiam conduzir e quanto diferem dos princípios que haviam sido utilizados até o presente considerei que não podia mantêlas escondidas sem transgredir a lei que nos obriga a procurar no que depende de nós o bem geral de todos os homens Pois elas me mostraram que é possível chegar a conhecimentos que sejam muito úteis à vida e que em lugar dessa filosofia especulativa que se ensina nas escolas é possível encontrarse uma outra prática mediante a qual conhecendo a força e as ações do fogo da água do ar dos astros dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam tão claramente como conhecemos os vários ofícios de nossos artífices poderíamos utilizálos da mesma forma em todos os usos para os quais são próprios e assim nos tornar como senhores e possuidores da natureza O que é de desejar não apenas para a invenção de uma infinidade de artifícios que permitiriam usufruir sem custo algum os frutos da terra e todas as comodidades que nela se encontram mas também e principalmente para a conservação da saúde que é sem dúvida o primeiro bem e a base de todos os outros bens desta vida pois mesmo o espírito depende tanto do temperamento e da disposição dos órgãos do corpo que se é possível encontrar algum meio que torne comumente os homens mais sábios e mais hábeis do que foram até aqui creio que é na medicina que se deve procurálo É verdade que aquela que é agora empregada possui poucas coisas cuja utilidade seja tão notável porém sem que eu tenha intenção alguma de desprezála tenho certeza de que não existe ninguém mesmo entre os que a professam que não confesse que tudo quanto nela se sabe é quase nada se comparado com o que falta saber e que poderíamos pôrnos a salvo de grande número de doenças quer do espírito quer do corpo e talvez até mesmo da debilidade decorrente da velhice se possuíssemos suficiente conhecimento de suas causas e de todos os remédios de que a natureza nos dotou Ora tendo a intenção de empregar toda a minha vida na pesquisa de uma ciência tão necessária e havendo encontrado um caminho que se me afigura tal que se deve infalivelmente encontrála se o seguirmos exceto se disso sejamos impossibilitados ou pela breve duração da vida ou pela falta de experiências julguei que não havia melhor remédio contra esses dois impedimentos a não ser comunicar com fidelidade ao público o pouco que já tivesse descoberto e convidar os bons espíritos a empregarem todas as forças para ir além contribuindo cada qual de acordo com sua inclinação e sua capacidade para as experiências que seria necessário realizar e comunicando ao público todas as coisas que aprendesse para que os últimos começassem onde os precedentes houvessem acabado e assim somando as vidas e os trabalhos de muitos fôssemos todos juntos muito mais longe do que poderia ir cada um em particular Percebera também a respeito das experiências que elas são tanto mais necessárias quanto mais avançados estivermos no conhecimento Pois no início mais vale servirse apenas das que se apresentam por si mesmas aos nossos sentidos e que não poderíamos ignorar desde que lhes dediquemos o pouco que seja de reflexão em vez de procurar as mais raras e complicadas a razão disso é que essas mais raras muitas vezes nos enganam quando se conhecem ainda as causas das mais comuns e que as circunstâncias das quais dependem são quase sempre tão específicas e tão pequenas que é muito penoso notálas Mas a ordem que guardei nisso foi a que segue Em princípio procurei encontrar os princípios ou causas primeiras de tudo quanto existe ou pode existir no mundo sem nada considerar para tal efeito senão Deus que o criou nem tirálas de outra parte salvo de certas sementes de verdades que existem naturalmente em nossas almas Em seguida examinei quais são os primeiros e os mais comuns efeitos que se podem deduzir dessas causas e pareceme que por aí encontrei céus astros uma Terra e também acerca da terra água ar fogo minerais e algumas outras dessas coisas que são as mais triviais de todas e as mais simples e consequentemente as mais fáceis de conhecer Depois quando quis descer às que eram mais específicas apresentaramseme tão variadas que não acreditei que fosse possível ao espírito humano distinguir as formas ou espécies de corpos que existem sobre a Terra de uma infinidade de outras que poderiam nela existir se fosse a vontade de Deus aí colocálas nem por conseguinte tornálas de nosso uso a não ser que se busquem as causas a partir dos efeitos e que se recorra a muitas experiências específicas Como conseqüência disso repassando meu espírito sobre todos os objetos que alguma vez se ofereceram aos meus sentidos atrevome a dizer que não observei nenhum que eu não pudesse explicar muito comodamente por meio dos princípios que encontrara Mas é necessário que eu confesse também que o poder da natureza é tão amplo e tão vasto e que esses princípios são tão simples e tão gerais que quase não percebi um único efeito específico que eu já não soubesse ser possível deduzilo daí de várias formas diferentes e que a minha maior dificuldade é comumente descobrir de qual dessas formas o referido efeito depende Pois para tanto não conheço outro meio a não ser o de procurar novamente algumas experiências tais que seu resultado não seja o mesmo se explicado de uma dessas maneiras e não de outra Afinal de contas encontrome agora num ponto em que me parece ver muito bem qual o meio a que se deve recorrer para realizar a maioria das que podem servir para esse efeito mas vejo também que são tais e em tão grande número que nem as minhas mãos nem a minha renda ainda que eu possuísse mil vezes mais do que possuo bastariam para todas de maneira que à medida que de agora em diante tiver a comodidade de realizálas em maior ou menor número avançarei mais ou menos no conhecimento da natureza Fato que prometia a mim mesmo tornar conhecido pelo tratado que escrevera e mostrar tão claramente a utilidade que daí podia resultar para o público que obrigaria a todos aqueles que desejam o bem dos homens ou seja todos aqueles que são em verdade virtuosos e não apenas por hipocrisia nem apenas por princípio tanto a comunicarme as que já tivessem realizado como a me ajudar na pesquisa das que ainda há por fazer A partir de então porém ocorreram outras razões que me fizeram mudar de opinião e pensar que devia continuar escrevendo todas as coisas que considerasse de alguma importância conforme fosse descobrindo sua correção e proporcionarlhes o mesmo cuidado que se desejasse mandar publicálas quer para ter mais oportunidades de melhor analisálas porque não há dúvida de que se tem mais cuidado com o que pensamos que deva ser visto por muitos do que com o que se faz apenas para si próprio e freqüentemente as coisas que se me afiguraram verdadeiras quando comecei a concebêlas pareceramme falsas quando decidi colocálas no papel quer para não perder oportunidade alguma de beneficiar o público se é que disso sou capaz quer para que se meus textos possuem algum valor os que os tiverem em mãos depois da minha morte possam utilizálos como for mais conveniente mas que não devia de maneira alguma consentir que fossem publicados durante a minha vida a fim de que nem as objeções e as controvérsias a que estariam talvez sujeitos nem mesmo a reputação qualquer que ela fosse que me pudessem proporcionar me dessem a menor ocasião de perder o tempo que pretendo empregar em instruirme Pois apesar de ser verdade que cada homem deve procurar no que depende dele o bem dos outros e que é propriamente nada valer o não ser útil a ninguém é verdade também que os nossos cuidados devem estenderse para mais longe do tempo presente e que convém omitir as coisas que talvez redundem em algum proveito aos que estão vivos quando é com o propósito de fazer outras que serão mais úteis aos homens do futuro Porque realmente quero que se saiba que o pouco que aprendi até agora não é quase nada em comparação com o que ignoro e que não desanimo de poder aprender pois acontece quase a mesma coisa aos que descobrem paulatinamente a verdade nas ciências que àqueles que começando a enriquecer têm menos dificuldade em realizar grandes aquisições do que tiveram antes quando mais pobres em realizar outras muito menores Ou então podese comparálos aos comandantes de exército cujas forças costumam crescer na proporção de suas vitórias e que necessitam de mais habilidade para se manter depois de haver perdido uma batalha do que possuem depois de vencêla para conquistar cidades e províncias Pois é verdadeiramente dar batalhas o procurar vencer todas as dificuldades e os erros que nos impedem de chegar ao conhecimento da verdade e é perder o dar acolhida a qualquer falsa opinião acerca de uma matéria um pouco geral e importante em seguida é necessário muito mais habilidade para retornar ao mesmo estado em que se encontrava antes do que para realizar grandes progressos quando já se têm princípios que sejam seguros No que me diz respeito se deparei preceden temente com algumas verdades nas ciências e espero que as coisas contidas neste volume levarão a julgar que descobri algumas posso dizer que não passam de conseqüências e dependências de cinco ou seis dificuldades principais que superei e que considero outras tantas batalhas em que a sorte esteve a meu lado Não recearei afirmar que creio ter necessidade de ganhar somente mais duas ou três semelhantes para levar totalmente a termo meus projetos e que minha idade não é tão avançada que de acordo com o andamento normal da natureza não possa ainda dispor de tempo suficiente para tal efeito Mas creio estar tanto mais obrigado a economizar o tempo que me resta quanto maior a esperança de poder bem utilizálo e teria sem dúvida muitas oportunidades de perdêlo se publicasse os fundamentos de minha física Pois apesar de serem quase todos tão evidentes que basta entendêlos para os aceitar e não haver nenhum de que não acredite poder dar demonstração é impossível que estejam concordes com todas as diferentes opiniões dos outros homens suponho que seria muitas vezes desviado pelas oposições que originariam Podese dizer que essas oposições seriam úteis tanto para me fazerem conhecer os meus equívocos como para que se eu tivesse algo de bom os outros pudessem por esse meio entendêlo melhor e como muitos homens vêem melhor do que um só para que começando desde já a servirse desse bem eles me ajudassem também com suas invenções Porém apesar de reconhecer que sou muito sujeito a falhas e que quase nunca me fio nas primeiras idéias que me ocorrem a experiência que possuo acerca das objeções que me podem ser feitas impedeme de esperar delas qualquer proveito pois muitas vezes já comprovei as opiniões tanto daqueles que considerava meus amigos quanto de alguns outros a quem achava que eu fosse indiferente e até mesmo de alguns de quem eu sabia que a malignidade e a inveja se esforçariam bastante por revelar o que o afeto ocultaria a meus amigos mas raramente aconteceu que alguém me objetasse algo que eu já não tivesse previsto salvo se fosse coisa muito afastada de meu assunto de maneira que quase nunca deparei com algum crítico de minhas opiniões que não me parecesse ou menos rigoroso ou menos equilibrado do que eu mesmo E jamais percebi tampouco que por meio das disputas que ocorrem nas escolas alguém descobrisse alguma verdade até então ignorada pois na medida em que cada qual se esforça em vencer empenhase bem mais em fazer valer a verossimilhança do que em avaliar as razões de uma e de outra parte e aqueles que foram durante muito tempo bons advogados nem por isso se tornam melhores juizes A respeito da utilidade que os outros obteriam da divulgação de meus pensamentos não poderia também ser muito grande sendo que ainda não os levei tão longe que não seja necessário acrescentarlhes muitas coisas antes de aplicálos ao uso E creio poder afirmar sem presunção que se existe alguém que seja capaz disso hei de ser eu mais do que outro qualquer não que não possa haver no mundo muitos espíritos melhores que o meu mas porque não se pode compreender tão bem uma coisa e tornála nossa quando a aprendemos de outrem como quando nós mesmos a criamos O que é tão verdadeiro nesta matéria que apesar de haver muitas vezes explicado alguns de meus conceitos a pessoas de ótimo espírito e enquanto eu lhes falava pareciam entendêlas muito claramente contudo quando as repetiam percebi que quase sempre as mudavam de tal maneira que não mais podia considerálas minhas Com essa intenção prezo muito pedir aqui às futuras gerações que jamais acreditem nas coisas que lhes forem apresentadas como provindas de mim se eu mesmo não as tiver divulgado E não me surpreendem de maneira alguma as extravagâncias que se atribuem a todos esses antigos filósofos cujos escritos não possuímos nem julgo por isso que os seus pensamentos tenham sido muito disparatados porquanto eram os melhores espíritos de seu tempo mas apenas julgo que nos foram mal referidos Porque se vê também que quase nunca ocorreu que algum de seus seguidores os tenha superado e tenho certeza de que os mais apaixonados dos atuais partidários de Aristóteles sentirseiam felizes se tivessem tanto conhecimento da natureza quanto ele o teve apesar de sob a condição de nunca o terem maior São como a hera que não sobe mais alto que as árvores que a sustentam e que muitas vezes torna a descer depois de haver alcançado o topo pois tenho a impressão de que também voltam a descer ou seja tornamse de certa maneira menos sábios do que se se abstivessem de estu dar aqueles que não satisfeitos de saber tudo o que é inteligivelmente explicado no seu autor querem além disso encontrar nele a solução de muitas dificuldades acerca das quais nada declarou e nas quais talvez jamais pensou Contudo o modo de filosofar é muito cômodo para aqueles que possuem espíritos bastante medíocres pois a falta de clareza das distinções e dos princípios de que se utilizam é causa de que possam falar de todas as coisas tão ousadamente como se as conhecessem e sustentar tudo o que dizem contra os mais perspicazes e os mais capazes sem que haja meio de persuadilos Nisso se me afiguram parecidos com um cego que para lutar sem ficar em desvantagem com alguém que enxerga preferisse fazêlo no fundo de uma adega escura e posso dizer que esses têm interesse que eu me abstenha de publicar os princípios da filosofia de que me utilizo pois por serem muito simples e muito evidentes como o são faria quase o mesmo ao publicálos que se abrisse algumas janelas e fizesse entrar a luz nessa mesma adega para onde desceram para lutar Mas até mesmo os melhores espíritos não devem desejar conhecêlos pois se almejam falar de todas as coisas com conhecimento e obter a fama de sábios irão conseguilo mais facilmente satisfazendose com a verossimilhança que pode ser encontrada sem muito esforço em todas as espécies de matérias do que procurando a verdade que só se descobre pouco a pouco em algumas e que quando se trata de falar das outras obriga a confessar sinceramente que nós as ignoramos Dado que preferem o conhecimento de um pouco de verdade à vaidade de darem a impressão de nada ignorar como sem dúvida é preferível e se pretendem seguir um desígnio parecido com o meu não necessitam para isso que lhes diga nada além do que já disse neste discurso Pois se são capazes de avançar mais do que eu fui com maior razão serão também capazes de encontrar por si próprios tudo o que penso ter encontrado Ainda mais que não havendo nunca analisado algo a não ser por ordem certamente o que ainda me falta descobrir é em si mais difícil e mais obscuro do que aquilo que pude anterior mente encontrar e lhes seria muito menos prazeroso aprendêlo por mim do que por si mesmos além do que o hábito que adquirirão procurando em princípio coisas fáceis e passando gradualmente a outras mais difíceis serlhesá mais proveitoso do que lhes poderiam ser todas as minhas instruções Porque quanto a mim cheguei à conclusão de que se a partir da juventude me tivessem ensinado todas as verdades cujas demonstrações procurei depois e se eu não tivesse dificuldade alguma em aprendêlas talvez nunca soubesse algumas outras e ao menos nunca teria adquirido o hábito e a facilidade que julgo possuir para sempre descobrir outras novas conforme me esforço em procurá las E se existe no mundo alguma obra que não possa ser tão bem executada por nenhum outro a não ser pela mesma pessoa que a iniciou é naquela que eu trabalho A verdade é que no que diz respeito às experiências que podem servir para isso um único homem não poderia ser suficiente para realizálas todas mas não poderia também utilizar com proveito outras mãos que não as suas salvo as dos artesãos ou pessoas tais a quem pudesse pagar e a quem o vislumbre do dinhei ro que é um meio muito eficiente faria executar exatamente todas as coisas que ele lhes determinasse Pois no que diz respeito aos voluntários que por curiosi dade ou vontade de aprender pudesse se oferecer para o ajudar além de geralmente apresentarem mais promessas do que resultados e de fazerem apenas belas propostas das quais nenhuma nunca obtém sucesso desejariam inevitavelmente ser pagos pela explicação de algumas dificuldades ou ao menos por cumprimentos e conversas estéreis que lhe custariam sempre algum tempo por pouco que fosse E a respeito das experiências já realizadas pelos outros ainda que desejassem lhes comunicar o que aqueles que as chamam de segredos jamais o fariam são na maioria compostas de tantas circunstâncias ou ingredientes supérfluos que lhe seria muito difícil decifrarlhes a verdade além de que as encontraria quase todas tão mal explicadas ou mesmo tão errôneas pois aqueles que as realizaram esforçaramse por tornálas conformes com seus princípios que se existissem algumas que lhe servissem não poderiam valer outra vez o tempo que teria de gastar a fim de escolhêlas De maneira que se houvesse no mundo alguém de quem se soubesse que seria com certeza capaz de encontrar as maiores coisas e as mais úteis possíveis para o público e a quem por esse motivo os demais homens se esforçassem por todos os meios em ajudar na realização de seus intentos não vejo que pudessem fazer mais por ele além de financiar as despesas nas experiências de que precisasse e de resto impedir que seu tempo lhe fosse tomado por pessoas inoportunas Mas além de que não imagino tanto de mim mesmo que queira prometer algo de extraordinário nem me alimente de ilusões como imaginar que o público se deva interessar muito pelos meus projetos não tenho também a alma tão baixa que vá aceitar de quem quer que seja qualquer favor que possam julgar que eu não mereça Todas essas considerações juntas foram motivo há três anos de que eu me recusasse a divulgar o tratado que tinha em mãos e mesmo que decidisse não elaborar outro qualquer ao longo de minha existência que fosse tão geral nem do qual fosse possível conhecer os fundamentos da minha física Mas em seguida houve novamente duas outras razões que me obrigaram a apresentar aqui alguns ensaios particulares e a prestar ao público alguma conta de minhas ações e de meus intentos A primeira é que se não o fizesse muitos que haviam sabido do projeto que eu alimentava anteriormente de mandar imprimir alguns escritos poderiam imaginar que as causas pelas quais me abstivera disso fossem mais inconvenientes para mim do que na realidade o são Pois apesar de não apreciar a glória em excesso ou mesmo se me atrevo a dizêlo a odeie na medida em que a julgo contrária ao repouso que estimo acima de todas as coisas contudo jamais procurei esconder minhas ações como se fossem crimino sas nem usei muitas precauções para ficar desconhecido tanto por acreditar que isso me faria mal como por saber que me provocaria uma espécie de inquietação que seria mais uma vez contrária à perfeita paz de espírito que procuro E sendo que por haverme sempre mantido assim indiferente entre o cuidado de ser conhecido e o de não sêlo não pude evitar de adquirir certa reputação julgando que devia fazer o máximo para me livrar ao menos de têla má A outra razão que me obrigou a escrever este livro é que vendo todos os dias mais e mais o atraso que sofre meu propósito de me instruir por causa de um semnúmero de experiências de que preciso realizar o que me e impossível sem o auxilio de outra pessoa embora não me lisonjeie tanto a ponto de esperar que o público tome grande parte em meus interesses não quero faltar tanto a mim próprio que dê motivo aos que me sobreviverão para me censurar um dia de que eu poderia terlhes legado muitas coisas bem melhores do que as que leguei se não me tivesse descuidado tanto em fazêlos compreender em que poderiam contribuir para os meus projetos E acreditei que me seria fácil escolher algumas matérias que sem estarem expostas a muitas controvérsias nem me obrigarem a expor mais do que desejo a respeito dos meus princípios não deixariam de mostrar com bastante clareza o que posso ou não posso nas ciências E quanto a isso eu não poderia dizer se fui bemsucedido e não quero predispor os juízos de nin guém falando eu próprio sobre meus escritos mas apreciaria muito que fossem analisados e para que haja tanto mais ocasião suplico a todos aqueles que tiverem quaisquer objeções a fazerlhes que se dêem ao trabalho de enviálas ao meu editor para que sendo advertido procure acrescentarlhes ao mesmo tempo a minha resposta e por esse meio os leitores vendo em conjunto uma e outra julgarão tanto mais facilmente a verdade Pois prometo jamais lhes dar respostas longas mas apenas confessar meus equívocos de maneira franca se os admitir ou então caso não consiga percebêlos dizer simplesmente o que julgar necessário para a defesa das coisas que escrevi sem acrescentar a explicação de qualquer nova matéria a fim de não me enredar inapelavelmente entre uma e outra Se algumas daquelas explicações que apresentei no começo de Dióptrica e de Meteoros chocam de início por eu as denominar suposições e por parecer que não pretendo proválas que se tenha a paciência de ler o todo com atenção e espero que todos ficarão satisfeitos Pois me parece que nelas as razões se seguem de tal modo que como as últimas são demonstradas pelas primeiras que são as suas causas essas primeiras o são reciprocamente pelas últimas que são seus efeitos E não se deve imaginar que cometo com isso o erro que os lógicos chamam de círculo pois como a experiência torna a maioria desses efeitos muito correta as causas das quais os deduzo não servem tanto para proválos ou explicálos mas ao contrário são elas que são provadas por eles E não as chamei suposições só para que se saiba que penso poder deduzilas dessas primeiras verdades que expliquei mais acima mas que deliberadamente não o quis fazer para impedir que certos espíritos que imaginam aprender num dia tudo o que um outro pensou durante vinte anos tão logo ele lhes diz duas ou três palavras a respeito e que são tanto mais sujeitos a falhar e menos capazes da verdade quanto mais penetrantes e vivos são não pudessem aproveitar a oportunidade para constituir alguma filosofia extravagante sobre o que acreditariam ser os meus princípios e que depois me atribuíssem a culpa disso Pois a respeito das opiniões que são totalmente minhas não as desculpo de serem novas tanto mais que se se considerarem bem as suas razões tenho certeza de que serão julgadas tão simples e tão de acordo com o senso comum que parecerão menos extraordinárias e menos estranhas do que quaisquer outras que se possa ter acerca dos mesmos assuntos E não me envaideço também de ser o primeiro criador de qualquer uma delas mas antes de não as ter jamais aceito nem pelo fato de terem sido proferidas por outrem nem pelo que possam ter sido mas unicamente porque a razão fez com que eu as aceitasse Se os artesãos não puderem tão cedo executar a invenção que é explicada em Dióptrica não acredito que por causa disso se possa afirmar que ela é má pois sendo que é necessário habilidade e experiência para construir e ajustar as máquinas que descrevi sem que nelas falte componente algum admirarmeia mais se eles conseguissem na primeira tentativa da mesma forma se alguém conseguisse aprender num dia a tocar o alaúde excelentemente apenas porque lhe foi fornecida uma boa tablatura E se escrevo em francês que é o idioma de meu país e não em latim que é o de meus mestres é porque espero que aqueles que se servem somente de sua razão natural totalmente pura julgarão melhor minhas opiniões do que aqueles que só acreditam nos livros antigos E quanto aos que unem o bom senso ao estudo os únicos que desejo para meus juizes tenho certeza de que não serão de maneira alguma tão parciais em favor do latim que recusem ouvir minhas razões porque as explico em língua vulgar Ademais não pretendo falar aqui a respeito dos progressos que no futuro espero fazer nas ciências nem me comprometer em relação ao público com qualquer promessa que eu não esteja seguro de cumprir mas direi unicamente que decidi não empregar o tempo de vida que me resta em outra coisa que não seja tentar adquirir algum conhecimento da natureza que seja de tal ordem que dele se possam extrair normas para a medicina mais seguras do que as adotadas até agora e que minha tendência me afasta tanto de qualquer tipo de outras intenções especialmente das que não poderiam ser úteis a uns sem prejudicar a outros que se algumas circunstâncias me obrigassem a dedicarme a eles não acredito que fosse capaz de obter êxito Faço então aqui uma declaração que tenho plena consciência não poderá servir para me tornar famoso no mundo mas tampouco tenho o menor desejo de sêlo e ficarei sempre mais agradecido àqueles em virtude dos quais desfrutarei sem estorvo do meu tempo do que o seria aos que me oferecessem os mais dignificantes empregos do mundo DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes PRÓLOGO Vitam impendere vero Consagrar la vida a la búsqueda de la verdad El Discurso del método y las Meditaciones metafísicas son obras de plenitud mental Exceptuando algunos diálogos de Platón no hay libro alguno que las supere en profundidad y en variedad de intereses y sugestiones Inauguran la filosofía moderna abren nuevos cauces a la ciencia iluminan los rasgos esenciales de la literatura y del carácter francés en suma son la autobiografía espiritual de un ingenio superior que representa en grado máximo las más nobles cualidades de una raza nobilísima No podemos aspirar en este breve prólogo a presentar el pensamiento de Descartes en la riquísima diversidad de sus matices filosóficos literarios científicos artísticos políticos y aun técnicos Nos limitaremos pues a la filosofía y aun dentro de este terreno expondremos sólo los temas generales de mayor virtualidad histórica El pensamiento cartesiano es como el pórtico de la filosofía moderna Los rasgos característicos de su arquitectura se encuentran reproducidos en líneas generales en la estructura y economía ideológica de los sistemas posteriores Descartes inaugura la actitud filosófica que en su raíz recibe el nombre de idealismo Desde entonces el idealismo domina sobre todo el pensamiento moderno El grupo de problemas que derivados de esa actitud propone Descartes a la reflexión filosófica ocupará los espíritus durante más de un siglo El nuevo conjunto de cuestiones con que Kant sustituye a los problemas propiamente cartesianos se deriva aunque en otra modalidad de la actitud idealista fundamental Puede decirse por consiguiente que el impulso y la dirección dados 0123 4356789668A9B68B9 93CDE341 FGHID0C0JFK003 LMNDOPMLM 6 7 9 8 Q 7 7 0123435 6 73000118 490 5 413 13 136 11465 3368 103111001168 6 10311A03110490B6C 3 34 105 D38 1EC 6 7 9 8 Q 7 7 por Descartes a la filosofía llenan tres siglos de pensar humano Sólo hoy comienza la filosofía a vivir la posibilidad la necesidad y el esfuerzo de superar el punto de vista del idealismo La historia de la filosofía no es como muchos creen una confusa y desconcertante sucesión de doctrinas u opiniones heterogéneas sino una continuidad real de superaciones históricas necesarias 1 Antecedentes El Renacimiento La gran dificultad que se le presenta al historiador del cartesianismo es la de encontrar el entronque de Descartes con la filosofía precedente No es bastante claro está señalar literales coincidencias entre Descartes y San Anselmo ni hacer notar minuciosamente que ha habido en los siglos XV y XVI tales o cuales filósofos que han dudado y hasta elogiado la duda o que han hecho de la razón natural el criterio de la verdad o que han escrito sobre el método o que han encomiado las matemáticas Nada de eso es antecedente histórico profundo sino a lo sumo concordancias de poca monta superficiales externas verbales En realidad Descartes como dice Hamelin parece venir inmediatamente después de los antiguos Pero entre Descartes y la escolástica hay un hecho cultural no sólo científico de importancia incalculable el Renacimiento Ahora bien el Renacimiento está en todas partes más y mejor representado que en la filosofía Está eminentemente expreso en los artistas en los poetas en los científicos en los teólogos en Leonardo da Vinci en Ronsard en Galileo en Lutero en el espíritu en suma que orea con un nuevo aliento las fuerzas todas de la producción humana A este espíritu renacentista hay que referir inmediatamente la filosofía cartesiana Descartes es el primer filósofo del Renacimiento 6 7 9 8 Q 7 7 8 9 U FT D DUF T ROIOCF90XN0GFOF2 UCF3NTDXUTNFKT EN0GJG30D3EGC F0DOT D N O 0 E E 00 0 00D90D3FRFFVFT RE0FNFN30F0FFG0F3F F FEOXT F GT X F 2F 90 EO3D300GFT0FOD3 0T0NK0FF3DF0T0DK 03T0NC0J0FJ20F3GFT0F33F 3F FN0N FFO0 N 0 K 32F3T R3T 32JT F 3F 33F F23DF E2NF 0 G FF E 3NF 0 03 90 D3 F F3T FT D D3GKVF030FTF0 23D0O00FFFO0FE0UD N2NN900FDF33R0TEFN2OF F X3 NFT 3DOR 00F O23F22FDF3FG0F90UDO0 D3FE3FFJ0FJ2F0UDO NN F J0FJ2V E 0 J03 NKOIFEC0F03FTFR3F C D IJG 0 R0G 0 3DO 9F3 GF3 30O0 0 U F DGF30D3 F3F3F0FDF02F0FG D3KD3J2F5 8D3KEUCDU000F23 33F FT E C D F FO0 0N0F T F DOGT N ER D NC F0N0FV C D F 3 UOF 2 F GF J2FDFT D E 3 FT E JD0FF0JTD3DFO 0FJRFJWTFDOGTCFGR0 DFD D E C D2T 0XID 3 6 7 9 8 Q 7 7 E00 E DG 0 D T D F FFEFOF03D3J0FTC3RFD FDUF3E30GEF3T0 DFTF3FTUF3EUCNG 3W E UC 3 0 D E2DF 0N303C3F3030GT2F0D3 3CJDDKN0V3DOR3RCU O GF FWF F 3G 0 J3 U00 FK0FEF3O0 F20D3FT3T0GK3 0 F J0FKJ F 3 3 F 3DOR 0 GF3F JI 3 N 3 C W F0N 0 UDOT 0 03T 0 G JG F3F F3FJ F3 JI F0NK F3F FO 0 OF JD DKN0 N J0FJ 6 F3F DW 0 FG NGK 0 FD3J0FKJ B F3F 03 F G 0 O0DD0J0FJ2T0DC0UDOC F0FDFDFE3DFBDRFB03K 3F N3 FG0F N UF3K J0FKJ 90 FD3 C 3 0 NGT 0 D3N 0U0FOTFU0FO ENN03DJFJ0FJ2 D03F0 0 3R3 F U FO 0 F3TDR0FNF5C0D3 0KN30T0F DISD 30T 0 O0GK J F0 N 3 DUF X3F FF C 3 0 DUU030DIF0FJW 90FD3F3FF3ITFT0J0FJ2 3 SK UF3K 0 DC F33 C DU DIF J 0 E F0 F 8 J03T E FZ0IODFT 3 0 3E F3F con la filosofía anterior procede de que se busca al parecer en vano lo que positivamente debe Descartes a sus antecesores o los gérmenes positivos de cartesianismo que haya en los antecesores de Descartes Pero ni una cosa ni otra constituyen aquí la esencia de la coyuntura histórica La filosofía de Descartes se origina en la crisis del realismo aristotélico Es una verdadera representación de la filosofía Depende pues de la filosofía precedente en el sentido de que el fracaso del aristotelismo la obliga a plantear de nuevo en su origen el problema del ser y también en el sentido de que aleccionada y condicionada por el pretérito ha de iniciar un pensamiento cauteloso prudente desconfiado y resuelto a una actitud metódica reflexiva introvertida frente a la espontaneidad ingenua y natural del realismo aristotélico Y así Descartes es conducido por la coyuntura histórica misma a poner las bases del idealismo filosófico que es una actitud insólita difícil y contraria a la propensión natural del hombre 2 Vida de Descartes Nació René Descartes en La Haye aldea de la Touraine el 31 de marzo de 1596 Era de familia de magistrados nobleza de toga Su padre fue consejero en el Parlamento de Rennes y el amor a las letras era tradicional en la familia Desde niño cuenta Descartes en el DISCURSO del MÉTODO fui criado en el cultivo de las letras Efectivamente muy niño entró en el colegio de La Fleche que dirigían los jesuitas Allí recibió una sólida educación clásica y filosófica cuyo valor y utilidad ha reconocido Descartes en varias ocasiones Habiéndole preguntado cierto amigo suyo si no sería bueno elegir alguna universidad holandesa para los estudios filosóficos de su hijo contestó le Descartes Aun cuando no es mi opinión que todo lo que en filosofía se enseña sea tan verdadero como el Evangelio sin embargo siendo esa ciencia la clave y base de las demás creo que es muy útil haber estudiado el curso entero de filosofía como lo 6 7 9 8 Q 7 7 FZ0FXF23FT3FFF0N30 G D 0 32 C UF FO 0 O F O JFT U DF DF3FT EUC0G0DFFZDXE 840U 90 F J0FJ2 O 3F ZF 90 D F O 0 F3 0 8KG F3K30F 82 C D3O 0 20 0 2A2T 8 672BT 0 C02 0 8 T 0F DF 230F 0F 2 8B2T 0F U 0OF 0F C2T 0F D828B2TEFN2OF0GF00 0320DF3KCTH03D0FW0OF 0 0 9 0 FG Z F F3O 0 42F C 0F 3DI3F 9 0 3 Z F O 0 EAB F3K30F8F0FFN2F3F5D0 DF33OCS0OF3K30F3DIFV0G 0DF323FEF3FFF03C FF3O0F J3F 33F F0O 0 EF3 C 0 J2 0D3T 0 N2 3FT C 0 FN0N2DGF0GFDTCDCCDO O FFND3 8F XF E U2 0F 0DF FF32 GD3F F3F 0 J0 0Z0GFF3F3IDFHO0F ODF 0 DO 0 JF J0FJ2 E 3N F3F840U404FKB 0T 0 FZW 330D3 OX3N DF0 8F DF F3F F3F F3O DFD3 F3O0F KF C F333F 0 6DZ26DCO0FDF3F3F F3K30FTF0EUC30J 0F3FNF0D3OFFJ FFZEF3TF33JNO00JT 33 J0FJ2 D 30G2 F J E NC30FSDFOF0FJ0KFJFTDF 6 7 9 8 Q 7 7 EFK0UC3GRFFFTEFK0UC3 0D3FT3T3L DX3 FZW J0FKJ 2 DF F3 0 U0 0 0O3 F23 FC FFGFFNFF3FT0 FF0DR3TF0D30FFKE C00GFF3OXFJ0FKJFOF3F 23DF FNF D30F X FO 0 J0FJ2 F0IF3T E KT D F U NF3T 3 F W C GWT F 3 ORN0 C 3 0D3 3 6 F3 K J0FKJ0DR3GW0GCG0 0303T0GTDOT3J32JV F FZ FO 0 NT F FK0 J NF2D0D33F0FFF 0K F3F 8 40UT 3DF FF F3FT LdLPTNGTJDTKF3OFF2 DFD0E0F3UO23QF3F 0FG3F3ETF0DDD3TD3 C FF33 3 0 0 F F 00 0 3D3T 0 CT 0FWF H03DF C HF FFFT30F0EF3FFF F0G2NF3GF3IF3FJFF0 FF 0 DR35 C D 3D F 0 D N3 DF FT F F0D3 UO0FD3E0FX3FE0F XT F FK0 E 0 WK D NK F N FRF F F F ZF B2FT FK 0DCN0FDFER0F L OF30F500RGeRF3F3 FR0 8 600RG 0 40UT 0 UD3ST 8 FLffcD 6 7 9 8 Q 7 7 F3OTDIFDF3ED3 93K 0 FN 0 2 FF C DW 0F E RDF 00D FF ZF GK1K0DC0VFNKOX0 E gNV K 0F B2FF gXFT T D JRF 0 FF 0 DR3 KD FFNXFDWKD0FJD3F0 NDR3J0FJ30WT0 S03KC0SFF3D30FTOKTFDOGT FJF3FDFF3EG3FFD53N NFF C CK NW 0F3 E 0 DO 0 JD0J0FJ2VUW0N3TED0KDIF3T D2F3Z83 BDKB2FFZFTFF3KDN030 XR300F38U00TCLdPcJF3 FG 2 F N F0T 033T NX C OFN K FGF J3ND3 0D3K C 0 F3 B2F 2 N0V DFF 3FFT DGFTNFFTNF3F3OOFF0CF 3 32T DIFT G 3KT E 4 0 DIF KD C 0O 0G F0F J0FKJFCT3F33TF0CK0NK N3 ZF F3 2FT N F F DT 03T KG3T 0 0 F F DGF JFF D3F3 F3F N3 ZF FOK C O0KFF0FOF50FF0DR3T0 T 0F E22 C 0 F2BT LdahT 0F E02 ABT LdiL j Ldih F O0K 0 3K JF 0 E 8CFT NF F3FkT 0F BF 0 J0FJ2 Ldii j 032 DT C 0GT LdihT JRFkV 0 C02 0 8 2GTLdbM Su nombre fue pronto celebérrimo y su persona y su doctrina pronto fueron combatidas Uno de los adeptos del cartesianismo Leroy empezó a exponer en la Universidad de Utrecht los principios de la filosofía nueva Protestaron violentos los peripatéticos y emprendieron una cruzada contra Descartes El rector Voetius acusó a Descartes de ateísmo y de calumnia Los magistrados intervinieron mandando quemar por el verdugo los libros que contenían la nefanda doctrina La intervención del embajador de Francia logró detener el proceso Pero Descartes hubo de escribir y solicitar en defensa de sus opiniones y aunque al fin y al cabo obtuvo reparación y justicia esta lucha cruel tan contraria a su modo de ser pacífico y tranquilo acabó por hastiárle y disponerle a aceptar los ofrecimientos de la reina Cristina de Suecia Llegó a Estocolmo en 1649 Fue recibido con los mayores honores La corte toda se reunía en la biblioteca para oírle disertar sobre temas filosóficos de física o de matemáticas Poco tiempo gozó Descartes de esta brillante y tranquila situación En 1650 al año de su llegada a Suecia murió acaso por no haber podido resistir su delicada constitución los rigores de un clima tan rudo Tenía cincuenta y tres años En 1667 sus restos fueron trasladados a París y enterrados en la iglesia de Sainte Geneviéve du Mont Comenzó entonces una fuerte persecución contra el cartesianismo El día del entierro se disponía el padre Lallemand canciller de la Universidad a pronunciar el elogio fúnebre del filósofo cuando llegó una orden superior prohibiendo que se dijera una palabra Los libros de Descartes fueron incluidos en el índice si bien con la reserva de donec corrigantur2 Los jesuitas excitaron a la Sorbona contra Descartes y pidieron al Parlamento la proscripción de su filosofía Algunos conocidos clérigos hubieron de sufrir no 2 Hasta que fueran corregidos poco por su adhesión a las ideas cartesianas Durante bastante tiempo fue crimen en Francia declararse cartesiano Después de la muerte del filósofo se publicaron El mundo o tratados de la luz París 1667 Cartas de René Descartes sobre diferentes temas por Clerselier París 1667 En la edición de las obras póstumas de Ámsterdam 1701 se publicó por primera vez el tratado inacabado Regulae ad directionem ingenii importantísimo para el conocimiento del método³ La mejor edición de Descartes es la de Ch Adam y P Tannery París 18971909 Sobre Descartes además de las historias de la filosofía pueden leerse en francés L Liard Descartes París 1881 2a edic 1903 Fouillée Descartes París 1893 O Hamelin Le système de Descartes París 1910 J Wahl Du role del lidée del linstant dans la philosopkie de Descartes París 1920 J Chevalier Descartes París 1921 M Leroy Descartes le philosophe au masque París 1929 En alemán Hoffman R Descartes Fromanns Klassiker der Philosophie Stuttgart 1905 2a edic 1923 M FrischeisenKóler Descartes en el tomo Grosse Denker grandes pensadores publicado por E v Áster Leipzig 1912 2a edic 1923 traducción española en Revista de Occidente A Koyre Descartes und die Scholastic Bonn 1923 En inglés Existe traducción española en Revista de Occidente P Mohaffy Descartes Philosophical Classic for engl Readers Edimb Londres 1880 E S Haldane Descartes his life and times Londres 1905 3 El método Los orígenes del método están según nos cuenta Descartes Discurso págs 54 y sigs en la lógica el análisis geométrico y el álgebra Conviene ante todo insistir en que el gravísimo defecto de la lógica de Aristóteles es para Descartes su incapacidad de invención El silogismo no puede ser método de descubrimiento puesto que las premisas so pena de ser falsas deben ya contener la conclusión Ahora bien Descartes busca reglas fijas para descubrir verdades no para defender tesis o exponer teorías Por eso el procedimiento matemático es el que desde un principio llama poderosamente su atención este procedimiento se encuentra realizado con máxima claridad y eficacia en el análisis de los antiguos Según Euclides el análisis consiste en admitir aquello mismo que se trata de demostrar y partiendo de ahí reducir por medio de consecuencias la tesis a otras proposiciones ya conocidas Descartes explica también lo que es el análisis en un pasaje de la Geometría Si se quiere resolver un problema hay que considerarlo primero como ya resuelto y poner nombres a todas las líneas que parecen necesarias para construirlo tanto a las conocidas como a las desconocidas Luego sin hacer ninguna diferencia entre las conocidas y las desconocidas se recorrerá la dificultad según el orden que muestre con más naturalidad la dependencia mutua de unas y otras Como se ve el análisis es esencialmente un método de invención de descubrimiento Géminus lo llamaba descubrimiento de prueba αναλυσιςεστιν αποδειξεω ς ευφεισ Esto principalmente buscaba Descartes Y éste es el 6 7 9 8 Q 7 7 3 3 F DR3 N 90 F0GFD O0G 3FKF3O0T00FODF F DF 0 0 E EDF DF3T DF 3D 0 N E XF3D3 F3DFDF3BFC3DFODF0 0FKT 3F F N O 0E 0 F0GFD FN DIFSJNFEU000F 90I0FFFTFT0DDD30DR3 J03T 03 O0DT F F 3 3 F0 O0E C N0 33F 3F D F jFGG00DR3TFFk B p I3F 3F N0q pF3 K U 00G 0 JD3 0 J03q pK OI 3F 0 NFKq 8 NFK OI 3F F U00DF F 0D3F 0 O0D E FFD3D3DNFC C N O 0G 8F 30F 0D3FFD0FF0FF0FCF33Fj400 DG0VNRFFF0DR3k 0 00G E2 F DFO0 FG S 0 DR3 F3F F 0GF F F 32 0 D3 C F D3J2F 9 0 D G0 0 FFF3IFDFTDIFHTDDF0GF 0F DIF F0F 32F 0 J0FJ2 3F 8F DDFOND39D0GT0G0 0 N D 3 N 8 N F 0 N3 C 0 N3 F F NW J F 3F F0F5 0 0 C 0 F3K 60 F F3I F C FD3 0F DIF F F33 F FF 3F D3F F FF F 3F C F 3 0 K3FT FT E 0 N J0F FF3T F3FT D 0F F0IF3FT0KJD0F9 efecto las cosas existentes no nos son dadas en sí mismas sino como ideas o representaciones a las cuales suponemos que corresponden realidades fuera del yo Pero el material del conocimiento no es nunca otro que ideas de diferentes ciases y por tanto el criterio de la verdad de las ideas no puede ser extrínseco sino que debe ser interior a las ideas mismas La filosofía moderna debuta con Descartes en idealismo Incluye el mundo en el sujeto transforma las cosas en ideas tanto que un problema fundamental de la filosofía cartesiana será el de salir del yo y verificar el tránsito de las ideas a las cosas Véase la sexta meditación metafísica En las Regúlete ad directionem ingenii llama a las ideas claras y distintas naturalezas simples naturae simplices El acto que aprehende y conoce las naturalezas simples es la intuición o conocimiento inmediato o como dice también en las Meditaciones meditación segunda una inspección del espíritu Esta operación de conocer lo evidente o intuir la naturaleza simple es la primera y fundamental del conocimiento Los procedimientos del método comenzarán pues por proponerse llegar a esta intuición de lo simple de lo claro y distinto Las dos primeras reglas están destinadas a ello Los dos segundos se refieren en cambio a la concatenación o enlace de las intuiciones a lo que en las Regulae llama Descartes deducción Es la deducción para Descartes una enumeración o sucesión de intuiciones por medio de la cual vamos pasando de una a otra verdad evidente hasta llegar a la que queremos demostrar Aquí tiene aplicación el complemento y como definitiva forma del análisis El análisis deshizo la compleja dificultad en elementos o naturalezas simples Ahora recorriendo estos elementos y su composición volvemos de evidencia en evidencia a la dificultad primera en toda su complejidad pero ahora volvemos conociendo es decir intuyendo una por una 6 7 9 8 Q 7 7 0F F 0FT G32 H03D 0 N 0 3 6 F 3K J0O0 0F 30WF FD0F C 0F 0F 3 00FT E FT F NWT 30WFFD0Fi A 8218BC5938 8 K 0 DR3T 0 32 0 D3 C 0 D3J2FFU0023DD30WFCDJF 0J0FJ2F3F8JD300 0 FO UDT E F3FT DIFT F F3 OX 0 JD FG C 3 0 GD32T F 0 E J 3F FF 0D3FT H 0 D3J2F 0 0KGTCRF3FTFNWT0J2FC0F0G2T DGFF3DNF0WF903FW FGS0J0FJ2F3FF GDR3 SDFT JF C 3DF j3 F3F B2D U0FU F 3 T D GDR3DF33k 9033F0D3K 83FJ0X0F3K0TUF3KT0 DD390UDOUFFNFCFO ER 3F F N 3 E F U00 O3 0 B F3 F N p6KD 30q 8 3F F F3FDT FT D5 0 SFK 33 FJW C 30T 0 SG N F33O0V C FG5 DR3 NF3GK F3NT F3 E E00JDKE0GF0N3F0F3EF D3KD300N0FDCFS3DF0 G FI 0 N 3 E OFDF C E I FNFJD3FK0FO3FNF i D0T3TIGFfhCffT DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes Entre las dificultades que plantea la duda metódica nos detendremos en una tan sólo en las famosas hipótesis del genio o espíritu maligno Meditaciones página 130 Después de haber examinado las diferentes razones para dudar de todo quedan todavía en pie las verdades matemáticas tan simples claras y evidentes que parece que la duda no puede hacer mella en ellas Pero Descartes también las rechaza fundándose en la consideración de que acaso maneje el mundo un Dios omnipotente pero lleno de tal malignidad y astucia que se complace en engañarme y burlarme a cada paso aun en las cosas que más evidentes me parecen Esta hipótesis ha sido diversamente interpretada quién la tacha de fantástica y superflua suponiendo que Descartes lo dice por juego y sin creer en ella otros por el contrario la consideran muy seria y fuerte hasta el punto de creer que encierra el espíritu en tan definitiva duda que no sabe salir de ella sin contradicción En realidad la hipótesis del genio maligno ni es un juego ni un círculo de hierro sino un movimiento dialéctico muy importante en el curso del pensamiento cartesiano Repárese en que la hipótesis del genio maligno necesita para ser destruida la demostración de la existencia de Dios Sólo cuando sabemos que Dios existe y que Dios es incapaz de engañarnos sólo entonces queda deshecha la última y poderosa razón que Descartes adelanta para justificar la duda Qué significa esto La hipótesis dialéctica del genio maligno tiene dos sentidos estrechamente enlazados uno con otro En primer lugar es la expresión rigurosa del punto de vista idealista adoptado desde luego por Descartes En efecto la duda metódica hace mella en todo contenido de pensamiento y únicamente se detiene ante el pensamiento mismo El pensamiento es necesariamente pensamiento de algo es decir el pensamiento tiene necesariamente un objeto Ahora bien yo puedo dudar siempre del objeto pero no puedo dudar nunca del pensamiento Yo puedo dudar de que lo por mí 17 6 7 9 8 Q 7 7 FFTSF3TE0FT D FD3T E RF3 D F D3CFCCDFDFTF20 Fj0OX3kERF3FD3C00GR0 F DK 0 FD3 8 UK3FF 0 G D0G SF GFD3 F I3 D3 0 OX3TJ30I3D30FD3VFGJ E030FD3j0kUC E0G3D0SF30OX3CTFG3TE F3 SF3 0 OX3 F3 G32 X5 XF3D30SF3F F33T0UK3FF0GD0GFGJ 003D3CF0KGNO0D0KGTE 0G I UD3 Y35 0 O0D 0 0 GFO0 0 0 90G D0G C FF 3F GZ FDO0W 0 J F G0 0 F FO0 p9F 0 0 GFO0T 0q p FI F 0 NF 0G 330D3 UFO0 0 WK UDT 0G F0D3 OFT 0T GFO0q 9F3 3GK F 0 EF3FFUOX0X0R30UK3FF 0 G D0G 0F DF3F 0 SF3 C N F U F 3F30T JD 0 00D3T0FO00D3T 0JWF3EUDF3F3WKC 00FOX3FFUF00 8OFD0J0FJ23FF0G3G FD5 FT 0G FC 8 SF3T 0 0 0 C F3T0CDFD3TF0DNE 0IJG0J0FJ23TFO00F3 FK0D3FF0NK8D3KF33 0 D3W 0 F D F B 0 3DO 0 C UC E 3F3 U 3F 3DOF 8 N E DZ 0 3K D2 DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes mismo como pensamiento contiene mi existencia Pero la evidencia que acompaña las intuiciones de mis ideas claras y distintas no contiene la existencia de los objetos de esas ideas Cualquier idea clara y distinta me persuade de que yo existo puesto que la pienso pero no me persuade de que exista su objeto Para dar pleno crédito a las ideas claras y distintas es decir para no dudar de que existan los objetos de ellas necesito la garantía de Dios necesito saber que Dios existe Tal es el sentido profundo de la hipótesis del genio maligno Por eso el primer problema que Descartes acomete después del cogito es el de la existencia de Dios Demuéstrala en tres pruebas dos en la meditación tercera y una en la meditación quinta Sólo nos ocuparemos de la tercera de esas pruebas la dada en la meditación quinta Es el famosísimo argumento ontológico la existencia pertenece a la esencia de Dios es decir que así como no se puede concebir un triángulo sin tres ángulos o una montaña sin valle no se puede tampoco concebir a Dios sin la existencia Aquí Descartes considera la existencia de Dios más bien como intuida que como demostrada La idea de Dios sería pues una idea la única donde la existencia del objeto estaría garantizada por la idea misma Detrás de Descartes sigue toda la metafísica del siglo XVII y aun del XVIII hasta Hume y Kant 5 La física De la existencia de Dios y de sus propiedades deriva ya Descartes fácilmente la realidad de las naturalezas simples en general y por tanto de los objetos matemáticos espacio figura número duración movimiento La metafísica le conduce sin tropiezo a la física Esta debuta en realidad con la distinción esencial del alma y del cuerpo El alma se define por el pensamiento El cuerpo se define por la extensión Y 19 6 7 9 8 Q 7 7 30E0FDCO S0F0FHF0D3FFD0F0S3FKT JGCDND3CTFTEFF3F 0J2F3FF330FFFF0F F jDIkV C 3T F 33 J 0 FF3DFD0FFj320D3k 8 J2F F3F FT D 3 0 D FOT DF3V F3F E DIF 0D3FT S00FJKDFCFF0FTE0D3C0 DND3 0 D F DFDT C 0 DIDFDT3FGDR3F20SG20 JD30 0F F 0FT E S0C 30D3 3 FK DIF DF DF3F 3F 0F 8 J2F F3F F DI 0 3 90 DND3 E FX 3 33 0 0 C W 0 KV F FD0 NK FKT F ID 3T F GFJWKTEF3FUW F DFO0 8 F 0 DND3 F O0 F D ET G0T 0 U 3 0 D3T C F3 F F F NW 3 0 DND3 0 D3T F 3N DIFT F F 3 D3 0 D3 F FVE2F03E03DND3ESF3 0 FF3D 0 D F NO0 C F33 B DND330UCF30TE FFF0F0CF0DND39F3F0CF F 3F5 0 D F 0 0C T UDF FOD3F3FETEUOFUU 3FT OF32 00 3 0F JF 0 D 8 FG F 0 0 K 0 DND35DND3330 023TFGH03G30NEFO0DKN0 830CF00C0UETEF3FFJ 3F 0CF F0F F 00F F J0FF 8 6 7 9 8 Q 7 7 DI 3FT 3 J C S3 FF F DF FT F FN2 C J0F 0 H03DT FD30SFGD3FDEO 0 D3 C 0 DND3 9F O 0 K JD30E8OWU0J2FF3F5F 03DND30EFFNF330 30WTF0JWNNT0G2BF3FT F JI D3 F FFT F 0F FG2JWDDFO0FTE FGDR3D3F3O0FVC0FFU 0D3F O 0 D3 0 S3FK GDR3 80GFT FT 0 FG 3 0 J2FT s 320D3E2D0DFDF23E0 DI 8 D3 F 3 F E 0 FT 0 S3FK T 0 OX3 DFD 0 GD32 8F 0F FF E ODF 0F OX3F FFO0F5 0T FOT 0T 3T F 3030D3 OO0F CT 33T 3 0 0 8 D3 F 0 S3FK 0G3T 033 C JTFFDFTEF0FJGF02D3F S3FK3 E 8F5937GC8 90 UDO F3I DF3 0 0 F3I 23DD300DTFF3F39F3KT 0EF3K30C00DTD3F 0F3FFF0KGFDF0EF 0 0D F2 DFDT C 0G 3 E F3I 0 9 F2 DFDT 0 0D F 30GT J03 FTNJ3F3030FVF33T0 F0G2FJ0D3J2F00KGB3 3T 3 0F F 0 0D F3I FF N03F 8 N03 0O3 0 F3HT D F3F 0 DFD 6 7 9 8 Q 7 7 0E0FDIF3F3030FV0N03F 0 J03T 330D3 JD0T JD G 3 G F 0 I3 0KG C D3J2F E 0 0 N03TE00NF320T00TD F FO jNRF 0 3 D3KkT N ET F0N03J3TF3E3TC 03D3J3TER00NFJD00 JF j 3Kk G 0 0 j NKkT C DOF FF N 0 jRF0LtG00DR30Pt30FFk RF3F F 0 0D D 0 9 F3F3T00DFT33TTFTE 0 E 0 C F 3 F3 D3FF0DFDTFUC 0D UOI T N03T WK F2 0F D0F F F 3KD3FT DIEF DN00FD3 FDO0FT 3F OF03 3 0 E 0XF00DFF23 90UDOTDOTEUC0D30G3 C WO0T UC FFV F T 0F DND3F 0 FJ0X00DVCF3J0XFFD30 E00DDFFKTEFFF3F00 0DT F DND3F 0 B 0 32F3 F3F F3F F0F 0 0D F ET FFFT0TDND3F0TF DOGT00D0FJF2DFDG30F FFFFT00D0FFC0D3FF FCFFFFJD30F8DT0 DKT F F FKT C FZ0 0 3IF3 3 0 3K3030C0FKD3UVFT FDT0DK3030000DT0T0 FT 0 0G2T 0 3F3W F3F FF FF JD30F F N 3F DUF5 0 T 0 FT0DFKT3 6 7 9 8 Q 7 7 90F30FFFTCERF3FN0F DND3F 0 T F3F G HD 3F3F C JF OFNF FJF0KGF E8F4E24 6 7 9 8 Q 7 7 HIHJIKL 93LcahTJU0DK00NO F30 0 FF 0 DR3 C 0F 3F D3J2FFT C 0 30 U 3F DIF W 0F3FVF3D3T0F03F0WFDOF 3S3F 3 0G F 3D0 F03 0 DIF NFDOGTCFDUF3F 0X F3F FK0 U X F3 NN 0 FD3 3DIT F E F 3D0G2 J0FKJ U 0 3DOR F3 J0 FG0 0 UDO 0 00 8 D3KT 0 G G3T G FDT FN SF3T 0 0FD A0DT 3T F 3F 00F3RDFET00GXJ0FKJ F3FTJD303DUF3KC030 0UD F3NF3F0KGC030T0J0FJ2 3FF33CXD0GDI30J0XE 3 0 J0FJ2T O 3RD3T 0 0GX 0F GF N30F DOGT 0 F NFTFT0J00UF3CTG0T0 3S3 32JAF0 0 R F3F F FD3 U F OFN FJ3 FK 0FJF0F0FZW0J0FJ2TETDIF F FZ C N 3F E FFT U 0N 0 DISD o3 E F J0FJ2T F J0FJ 9 F3 F3T FGD3 SF3 UC DX D F 0 J0SKJ0FKJCTT0FD3F3F E3NRFF3DJD0G20F23E F0FF0DR3 9J3ND3T 0 J0FJ2 3F F 0F F33F 3F 3D R UF3KT E 33 F0GF 0F 330F 0 3K DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes sus propios recursos teóricos Ese doble alcance histórico y teórico de la obra cartesiana reflejado especialmente en el Discurso del método permitirá superar los tópicos tan al uso sobre la obra cartesiana a la par que nos mostrará una de las aventuras intelectuales más apasionantes de la historia de la filosofía Más allá del pensador frío y calculador aparecerá una reflexión enraizada en los problemas y perplejidades de su tiempo El cogito ergo sum por ejemplo no podrá ser considerado según ha comentado inteligentemente E Lledó como una especie de recipiente vacío pero firme sino como algo más concreto real y metodológicamente profundo Por ese camino el conflicto de las interpretaciones sobre la obra de Descartes aparece tan vivo como fecundo Así frente a las interpretaciones tradicionales de Descartes que priman las Meditaciones metafísicas hay por ejemplo que volver a recordar que el Discurso del método sirve de prólogo a tres ensayos científicos que tampoco tienen por qué ser considerados únicamente con un carácter exclusivamente especulativometafísico pues como ha dicho recientemente S Turró frente a los clásicos de la interpretación de la física cartesiana la física de Descartes tiene un nivel de fundamentación metafísica por lo que respecta a sus principios pero entendida como explicación de fenómenos el salvar las apariencias de la tradición astronómica se nos presenta como una formulación hipotéticoexperimental en la línea del más puro instrumentalismo sino incluso ficcionalismo de teorías contemporáneas En cualquier caso una lectura actual del Discurso del método no podrá prescindir de su objetivo último fundamentar un nuevo saber teórico y prácticomoderno un proyecto que parece no tener fin pero cuyas posibilidades y límites cabe a Descartes el honor de haber sido el primero en vislumbrar La bibliografía que a continuación se ofrece sobre el Discurso del método no pretende sustituir esa riqueza de 25 6 7 9 8 Q 7 7 33F FO 0 O 3FT F2 F 3O 03 DF 2G CT ER 0T 3DOR DF D3J2F E 0 FG 3F UF3F0J0FJ2T0FT0KX3 E2F30FFC0F3F DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes BIBLIOGRAFÍA 1 Estudios generales sobre la obra de Descartes Alanen L Studies in Cartesian Epistemology and Philosophy of Mind Helsinki 1982 Aloquié F La découverte métaphysique de lhomme chez Descartes PUF París 1966 Álvarez Gómez A Descartes la razón única guía del hombre en Cuadernos Salmantinos de Filosofía 12 1985 págs 1943 Angelis E método geométrico nella filosofía del seicento Ed F Le Monnier Florencia 1964 Bacon F La gran Restauración trad M A Granada Alianza Madrid 1985 Bayssade J M La philosophie première de Descartes Flammarion París 1979 BECK L J The Metaphysics of Descartes Clarendon Press Oxford 1965 Belaval Y Leibniz critique de Descartes Gallimard París 1960 Blake R M The Role of Experience in Descartes Theory of Method en Theories of Scientific Method ed Madden Un of Washington Press Seattle 1960 págs 75103 Blanché R La méthode experimentale et la philosophie de la physique A Colin París 1969 Borkenau F Vom feudalem zum biirgerlichen Weltbild París 1934 reimpreso en Darmstadt 1971 Burtt E A The Metaphysical Foundations of Modern Science RoutledgeKegan P Londres 1967 Cottingham J Descartes B Blakwell Oxford 1986 Clarke D M Descartes Philosophy of Science Manchester Un Press 1982 DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes Costabel P Demarches originales de Descartes Savant J Vrin París 1982 Gouhier H La pensée métaphysique de Descartes J Vrin París 169 Guéroult M Descartes selon lordre des raisons 2 vols Aubier París 1953 Denissokf E Descartes premier théoricien de la physique mathématique Nauwelaerst Lovaina 1970 Laporte J Le rationalisme de Descartes J Vrin París 1950 Levi A French Moralist The Theory of he Fassions 1585 to 1649 Oxford 1964 Lledó E Semántica cartesiana en Filosofía y lenguaje Ariel Barcelona 197074 Marión J L Sur lontologie grise de Descartes Vrin París 1975 Rabade S Descartes y la gnoseología moderna G Del Toro 1975 RodisLewis G Loeuvre de Descartes 2 vols Vrin París 1971 Roed W Descartes Erste Philosophie Bouvier Bonn 1971 Sartre J P La liberté cartésienne en Descartes 15961650 Situations I Gallimard París 1947 Toernade G Lorientation de la science cartésienne Vrin París 1982 TURRO S Descartes Del hermetismo a la nueva ciencia Anthropos Barcelona 1985 Vernes J R Critique de la raison aléatoire ou Descartes contre Kant AubierMontaigne París 1982 Vuillemin J Mathématiques et métaphysique chez Descartes PUF París 1960 2 Estudios sobre el Discurso del método DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes Álvarez Gómez A Para leer el Discurso del método en Estudios sobre filosofía moderna y contemporánea Universidad Centro de Estudios Metodológicos Interdisciplinares León 1984 Beck J L The Method of Descartes A Study of the Regulae Clarendon Press Oxford 1952 Bello E Estudio preliminar del Discurso del método en R Descartes Discurso del método Tecnos Madrid 1987 Cahné P A Index du Dicours de la méthode de R Descartes Ed Del Pateneo Roma 1977 Chamizo P El Discurso del método de Descartes como ensayo en Aporía Madrld 4 1982 Chauvois D Descartes La méthode et ses erreurs en physiologie Cédre París 1966 Derrida J La langue et le discours de la méthode en Recherches sur la philosophie et le langage 3 1983 Dljksterhuis E J La Méthode et les essais de Descartes en Descartes et le cartésianisme hollandais PUF París 1950 Gilbert N W Renaissance Concepts of Method Columbia University Press Nueva York y Londres 1960 Golliet P Le problème de la méthoque chez Descartes en Revue des sciences humaines 61 1951 págs 5673 Gouhier H Descartes J Vrin París 1973 Hinttika J A Discourse on Descartes Method Position Principies Examples en Descartes Critical and Interpretive Essais ed M Hooker J Hopkins University Press Baltimore 1978 págs 7488 Peña García V Acerca de la razón en Descartes reglas de la moral y reglas del método en Arbor núm 112 1982 págs 167183 Scholtz H Mathesis Universalis BaselStuttgart 1969 Weber J P La constitution du texte des Regulae Sedes París 1964 Xirau R Apuntes de una lectura de Descartes primera parte del Discurso del método en Dianoía 29 1983 págs 105120 6 7 9 8 Q 7 7 N 9078HI981008 F3FFDF0GF02 NWT NF FF 3F5 0 D F U00IJ3FFF0FFV 0FGT0FG0F0F0DR3E03U OFV 0 3T 0GF 3F 0 D0 E U F E0 DR3V 0 3T 0F WF E O0SF3FC00DUDTEF0F JD3F F D3J2FV 0 E3T 0 0F F3F J2FT C U NF3G CT 30T 0 S0K 0 DND3 0 WK C 0GF 3F J03FE3Z0DTC3DOR0J E UC 3 F3 0D C 0 0F D0FV C 0 H03DT 0F FF E FF 0OT 0 NF3GK030WTDIF00IU00GT C0FWFE0UD0FFOb b 9F3FFFDDK8CNWD0ZLdah O FG 3F FCF 32JF5 8 K3T 0F 3F C 0 1D32 6 7 9 8 Q 7 7 6 7 9 8 Q 7 7 LI 90OF30FDX30DTF 0 F E F 3 O NFK R0T E H0FDIFF33FF30E3F F0 3 DIF 0 E C 3 9 0 0 F NF2D0 E 3F F GZT F E DIF O F3 DF3E0J03XWGCF3G0N 0J0FTEFD30E00DDFOF3 WKTF30D3G03F0FUDOFVCT0 330NFF3FFNE F F DIF WO0F E 3FT F 3 FK0 E GDF F3F FD3F 3F J3F C FDF 0F DFDF FF OF3T J3T 3 0 G OV 0 0 F 00 O 8F 0DFDIFGFFF0FDCFNFTD 0F DCF N3FV C 0F E DC F 00GDUDIF0XFTFNFD0D 3TE0FEF3R0 B D 3T U 2 E D G JF DIF J3 E 0F GF DFV UF3 U F DUF NF 3 0 FD3 3 IT 0 DGK 3 23 C F33T 0 DD 3 D0 C F3 D 0GF 3F FR 3F 0F FRFFT3OC0JK0GVF0 E 3 0 WK 0 F3T FT D FT 0 H FEFUUDOCFF3G0FD0FT E E F3I 3 F3F C FGRF30DHK0FJ0KFJFTE E0DIF0DFFFK00F3FTDF 0F JDF 30WF 0F NF DFD F BTF3DTEEJG N3 D2 0 UOD D3 F XN 3F 6 7 9 8 Q 7 7 DFT E D U 00N 3F FF C DISDFT 0F E U JD DR3T 0 0 RDE 3G D D3G0D3 D D3 C 0N0 UF3 0 3 DIF 03E0DDGC0OND ND3000GBF30FJ3FUG F DR3 E H 0 X E FO D2 DFD UG FD 0D 0 0 0 FJW DX E 0 0 FKT C E 0 D ID J0FKJ 0F F33F F C DFF 0FUDOFU00FGEDWN H30T F DOGT X D2 S3D F3FJK 0 GF E F UO 0WC0NF3GK0NTCO30F FWF0NdEF30FFE DOG 0F UDOFT D3 UDOFT UC 0G EFFK0D3OD33TD3N EF0ECU0GD2 BFTOF33TEDGZTCF0E DCD3JFF OCNRISF3FF3DFENF F3F DFDF F 33T C I FFUFF O FF 3DOR 0F XF 0F DGF E F F3JNBDGF32 0 F3 FF 0F DF E U FG C F30FDNDTE 0 JD F XT C F2T 3D 0G D3T0DHO0T0FFD3FT F RF3 N D F3DT E ZR 0F F3DOD0 KF3T FT F 0 FZ E2 0 DR3 E0UFGGOFWKTFFK0 d RF3FS3F3FF exponer el modo como he procurado conducir la mía Los que se meten a dar preceptos deben estimarse más hábiles que aquellos a quienes los dan y son muy censurables si faltan en la cosa más mínima Pero como yo no propongo este escrito sino a modo de la historia si preferís de fábula en la que entre ejemplos que podrán imitarse irán acaso otros también que con razón no serán seguidos espero que tendrá utilidad para algunos sin ser nocivo para nadie y que todo el mundo agradecerá mi franqueza Desde mi niñez fui criado en el estudio de las letras y como me aseguraban por medio de ellas se podía adquirir un conocimiento seguro de todo cuanto es útil para la vida sentía yo un vivísimo deseo de aprenderlas Pero tan pronto como hube terminado el curso de los estudios cuyo remate suele dar ingreso en el número de los hombres doctos cambié por completo de opinión Pues me embargaban tantas dudas y errores que me parecía que procurando instruirme no había conseguido más provecho que el de descubrir cada vez más mi ignorancia Y sin embargo estaba en una de las más famosas escuelas de Europa en donde pensaba yo que debía haber hombres sabios si los hay en algún lugar de la Tierra Allí había aprendido todo lo que los demás aprendían y no contento aún con las ciencias que nos enseñaban recorrí cuántos libros pudieron caer en mis manos referentes a las 6 7 9 8 Q 7 7 F E F F D 0F DIF FF C F 62TDIFT0FXFEFU2DFTC N2 E F D F3DF DF E DF F20FT30F0F0GFUO2CF3F 0FF3FEXN3FF3FDF3F BH03DTD2F3FG03J03CJR30 OF GF D UC F 0E 0F 3FB300D3DO00O3XWG 0F DIF D2 DFD C FE UO2 0 D 3 0G D 0 E F D UO2 D3 3D3 XOFF3DDU0FXFE FU0FF0FO2E0F0GFE00F FFFF030G0F0OF 3GFVE0G30W0FJIO0FF30GV E 0F F DDO0F E 3 0F UF3F 0 0NTCET02FFKTCJD0XV E 0 03 3F 0F OF 0OF F D NFK0FDXFGF0FFFFG0F E0FUDF3TCUF3NFKF3 0 E F FO F 0 DIF F03 FF FD3FV E 0 0 F JWF C O00WF DO0FVE0F230WFCFNF E O3V E 0F D3DI3F UC F302FDF NF E F DU FNT 33 F3FJ0FFFDJ030F3F3FC FD03OX0FUDOFVE0F3FE33 0F F3DOF N2F FZWF C SU3F 0 N3T 3F DC H30FV E 0 30G2 FZ G 0 0V E 0 J0FJ2 DF UO0 NFD03 3F 0F FF C UF D 0F DF FOF c V E 0 XFT 0 c 3F0J0FJ2F0IF3TEF3FFC FF33 6 7 9 8 Q 7 7 DCDIFFUCEEF0F 03NV CT H03DTE F O UO0F3FT 0FDIFFF3FFC0FDIFJ0FFTF XF3N0CXFGZ00F B 2 3DOR E C UO2 OF33 3D 0F 0GF 0F 0 03 0F 0OF 3GF C FF UF3F C FF JIO0F BF F F 0 DFDNFG3F3FFG0FENXg FFO0G0FF3DOF3FO0FXWG 0F0DX3TCE30E F 3 F3F DF F 20 C F3 0 WKTDF0U0FEUNF3B0 E D0 DF 3D NX O 3F S3XF2FVC0EF3DF F0EFU20FFG0F3R3FH3 EDG30EF30 F3DIFT0FJIO0FFFEDGDF DFO0F3D3FE0FVC0FDIF J0FUF3FTFF3EDOD30N0 0FFFTU0FDIFGFF02FD3 0 DFT F FDT 0F F3F DIF OXF C DF0F3FT00FE0F33 30 D FT C E 0F E XF3 FF F3DOF 0F XD0FEF0FUF3FFS0F S3NGF 0F 0F F3F N0F C OFGFE0WFFJWF9F3DO DU 0 0 C D 0 F2V FOEC3F3F0GDIFE J3F 0 3 8F E 3 DIF OF3 W C G DX FF FD3F U0F 0F 30GO0F F 0F DIF F 00N V 0F IDF 0 FFK FO 0F E T E UO0 RFD0GCUC3KVC0FE DG 0F DIF GO0F NFT FOR0F 6 7 9 8 Q 7 7 SF DC 3 C FNT FI FD 0F DXF3FTFW03R3 1F3OTFO3T0FD3DI3FT03WC NEFFFWFVHN32I0 F N F C F E FK0 0F 3F DIF FN2T D S3ZOET F FF D3F 3 JDF C FK0FT F UOF F3 FO 00F DIF 0N3 LM DOT 0F F3F 0F 3GF GFT J3F 0F F3DOFT 0F DO 0F DC FOOF C DG2JFT F3F FO C OV 0N3 DC 03 0F N3FC0FF3D0FFFDIFF3DO0FE UC0DTFFZOF330FT CDUFNFFUDFDO0EFF AFFO0TG00TFFKLL BJFO G N F3 30G2 CT D 0E 3T 32 C G 0 0 B UOTDFDC3TE0D 0 F0NK F3I O3 0F G3F D 0F 3FTCE0FNFN0FE00IF3I DC D F3 30GT D UO 3N FD30F 0 J0EW DF WD3FT F E D3 0 DF SD0F C F0O00F0GS3C 00TCF033T0GDIFEUDO R 0 J0FJ2 F E 0 N E U F 03N 0F DIF S03F GF E U NN F U FG0FT C F DOGT UC 00 E FOX3F3TCTFG3TFT32C 0 FK F 3 DX E 0F DIF5 C LM300J2FDTJ0FD3DI3F LL00FF3F8FFKFJOO0D363K x3C0Tg3TD36RF 6 7 9 8 Q 7 7 F NFF F 0F F 33F DFD D3T FF3F 3F G3F 3FT F N DIF E F0T 3O F J0F 3 0 E J DIF E NF2D0 3 0F DIF FT C E 3D FF F0J0FJ2TFOCEFO3O0F D3F 2 UOF J FK0V C 0 U 0 NU E D3T OF33 N3D0FVFDN3TGFFT 30KEUOFU0J EDXDJ3TCEJFO0F 0G002TFDOGTF3DODU E00 JDT C EFK FK0 D J0FF 3230F 0GF H03DT 0 E 3 0F D0F 3FT FO E C 2 OF33 O F N0 XDO00FDFF0EDF3T 0FFF3K0GT0FGZF DGT 0F 3JF 0 FK 0F E JF FO DIF 0 E FO F2T FT 3 3 DF3NF00FXKED32 DF3FTOR030F30F03FCT F03OF3E0EU00 D2DFD0G0O0DTD0R0F3D XN3 NXT N 3F C XR3FLPT 03N 0 F G3F F C UDF NFFT GNFSFTDD2DFDO 0FFFE0J3DOTCUFD 30FJ0SFFO0FFFEFDF3OE F0GHNU00FBFD2E 2 U00 DU DIF N 0F WD3F E LP F3FF0K00GLdLPVF3FB2FNXK 0C0DV3KLdLc0FN0EgN9 LdPcF3K0CDWKFFGFOF 6 7 9 8 Q 7 7 U0FF3FE03ZTSF3 E0FFNG0GF3G0TFUXWGD0T E0FEFUDO03FTF FUTF0FEJ3 0GCE3R03FFFTFE FF33DCD3NN03DIF F 3 0 F3 DHT F3 E UOI 3 E GF3DIFGC3JU0FNF2D0F FDF32FS3DF3G 0N0J0FTN0DF3FC FGF3N 9F 3 ET D3F D 0D3O F 0F F3DOF 0F 3F UDOFT F U00O F FGCJDTCN32F33NFD3F 0F F 0F J0KFJF F3 E 0 DC NU E O32 E N NF FF ET FDFDCS3NG3FC20FTX FD3FDHD3COF3FGF O0FT2DFJDWE00 0 E FK0 0 XD0 C 0 F3DO D UO2 FVCF2D0OODUFFT E JF F3 0W 30 C 3DF DF 3F FU 0 NW 0 WK F UO F NF ZF F3 0 0O 0 D C 33 E 0G ST D F0N2 2 F33DORDDFDCD03F0FJWF DG00K0FEO2FGV0 0DF0KDUDXTFGHTEFDUOF 0XD3CDF0OF SEGUNDA PARTE Hallábame por entonces en Alemania adonde me llamara la ocasión de unas guerras que aún no han terminado y volviendo de la coronación del emperador hacia el ejército cogió me el comienzo del invierno en un lugar en donde no encontrando conversación alguna que me divirtiera y no teniendo tampoco por fortuna cuidados ni pasiones que perturbaran mi ánimo permanecía el día entero solo y encerrado junto a una estufa con toda la tranquilidad necesaria para entregarme a mis pensamientos Entre los cuales fue uno de los primeros el ocurrírseme considerar que muchas veces sucede que no hay tanta perfección en las obras compuestas de varios trozos y hechas por las manos de muchos maestros como en aquellas en que uno solo ha trabajado Así vemos que los edificios que un solo arquitecto ha comenzado y rematado suelen ser más hermosos y mejor ordenados que aquellos otros que varios han tratado de componer y arreglar utilizando antiguos muros construidos para otros fines Esas viejas ciudades que no fueron al principio sino aldeas y que con el transcurso del tiempo han llegado a ser grandes urbes están por lo común muy mal trazadas y acompasadas si las comparamos con estas otras plazas regulares que un ingeniero diseña según su fantasía en una llanura y aunque considerando sus edificios uno por uno encontraremos a menudo en ellos tanto o más arte que en los de estas últimas ciudades nuevas sin embargo viendo 6 7 9 8 Q 7 7 KDF3IG0FTE2GT00I3EZTC KDU0F00FNFCFG0FT2FEDIF OF0J3E0N03FUDOFNF3F WK 0 E 0F U FF3 F F3 F F FETFDOGTFDUUOFJ0F GFE0FJF0F30F FN 0 3 HO0T O F I I J20 F U D0D3 0F FF F 3OX FO 0 UU3FF23DORDGOCEFFO0F EJ3ZDF0NXFNUN0WIF T U FF 0CF JD 0F O O0G 0 D 0F 2DF C 0FT F33 O F33F D 0F ET F E F X3T U N OFN 0F F33F 0GH 3 0GF0Ld6D3DORFDC3E0F30 N0GKTCFWFFFK0UF33T OF3DO0D3DXG0E3F0F DIFUO00F3FFFUDFTEF 9F3UF3ZDCJ03TJF0 OFF0CF30TE0GF DC S3ZF C UF3 32F 0F OF F3DOFT F ET UO F N3F F0T 3F 32 0 DFD J F2 FR C E 0F F 0F 0OFT 0 DF E00F CF WF FFK0OO0FCDF3FTUORF DF3 C D3 0F F NFFFJ3FTF3KSDF 0 D 0F FD0F WD3F E UDO O F3UT30D3T0FFFE F F3 3DOR FO C E D UDF F 3F F3F ZF 3F F UDOF C UDF 3 E XF G 3 DU 3D F3F Ld9F33030FDTF3J0WKTTF32F30 023CF0G20FFG0FC apetitos y nuestros preceptores que muchas veces eran contrarios unos a otros y ni unos ni otros nos aconsejaban siempre acaso lo mejor es casi imposible que sean nuestros juicios tan puros y tan sólidos como lo fueran si desde el momento de nacer tuviéramos el uso pleno de nuestra razón y no hubiéramos sido nunca dirigidos más que por ésta Verdad es que no vemos que se derriben todas las casas de una ciudad con el único propósito de reconstruirlas de otra manera y de hacer más hermosas las calles pero vemos que muchos particulares mandan echar abajo sus viviendas para edificarlas y muchas veces son forzados a ello cuando los edificios están en peligro de caerse por no ser ya muy firmes los cimientos Ante cuyo ejemplo llegué a persuadirme de que no sería en verdad sensato que un particular se propusiera reformar un Estado cambiándolo todo desde los cimientos y derribándolo para enderezarlo ni aun siquiera reformar el cuerpo de las ciencias o el orden establecido en las escuelas para su enseñanza pero que por lo que toca a las opiniones a las que hasta entonces había dado mi crédito no podía yo hacer nada mejor que emprender de una vez la labor de suprimirlas para sustituirlas luego por otras mejores o por las mismas cuando las hubiere ajustado al nivel de la razón Y tuve firmemente por cierto que por este medio conseguiría dirigir mi vida mucho mejor que si me contentase con edificar sobre cimientos viejos y me apoyase solamente en los principios que había aprendido siendo joven sin haber examinado nunca si eran o no verdaderos Pues si bien en esta empresa veía varias dificultades no eran empero de las que no tienen remedio ni pueden compararse con las que hay en la reforma de las menores cosas que atañen a lo público Estos grandes cuerpos políticos es muy difícil levantarlos una vez que han sido derribados o aun sostenerlos en pie cuando se tambalean y sus caídas son necesariamente muy duras Además en lo tocante a sus imperfecciones si las tienen y sólo la diversidad que existe entre ellos basta para asegurar que varios las tienen el uso las ha suavizado mucho sin duda y hasta evitado o corregido insensiblemente no pocas entre ellas que con la prudencia no hubieran podido remediarse tan eficazmente y por último son casi siempre más soportables que lo sería el cambiarlas como los caminos reales que serpentean por las montañas hacen poco a poco tan llanos y cómodos por el mucho tránsito que es muy preferible seguirlos que no meterse en acortar saltando por encima de las rocas y bajando hasta el fondo de las simas Por todo esto no puedo en modo alguno aplaudir esos hombres de carácter inquieto y atropellado que sin ser llamados ni por su alcurnia ni por su fortuna manejo de los negocios públicos no dejan de hace siempre en idea alguna reforma nueva y si creyera que hay en este escrito la menor cosa que pudiera hacerme sospechoso de semejante insensatez no hubiera consentido en su publicación17 Mis designios no han sido nunca otros que tratar de reformar mis propios pensamientos y edificar sobre un terreno que me pertenece a mí solo Si habiéndome gustado bastante mi obra os enseño aquí el modelo no significa esto que quiera yo aconsejar a nadie que me imite Los que hayan recibido de Dios mejores y abundantes mercedes tendrán sin duda más levantados propósitos pero mucho me temo que éste mío no sea ya demasiado audaz para algunas personas Ya la mera resolución de deshacerse de todas las opiniones recibidas anteriormente no es un ejemplo que todos deban seguir Y el mundo se compone casi sólo de dos especies de ingenios a quienes este ejemplo no conviene en modo alguno y son a saber de los que creyéndose más hábiles de lo que son no 17 Adviértase 1º que Descartes se da cuerna en lodo lo que ame rede de que el racionalismo y el librepensamiento no tienen límite en su aplicación 2º por eso mismo procura con mejor o peor fortuna poner límites al espíritu de libre examen y jura que no quiere hacer en el orden político y social la misma subversión que en el especulativo 6 7 9 8 Q 7 7 303KFFXFFN0 OF33 D3 3F FF FD3F5FEFNWFUOF 3D00O30FFEUO C3F0DDHTID3F 0FEUCEFGDIFUTC DI S3NF 3 F NV C 3F E FC OF33 WK DF3 XWG E F DFFF3G0N0J0FE3F FFT EF O F3KT ODIF O 33F FG 0F F FF FF EOFF2DFDF3FDXF C UO FT F T F3 H03D F GFT F UOF 3 D N DIF E F0 DF3 UOF FO J3F U FT 33DT0FF0FDIF3FFUO 00GEFDGT S3Z2O0EFEUCFU0G 0FJ0KFJFTCUONF30GTDFNXFTE 3F 0FE F D 3 0 F3 F 00OIOFCF0NXFTFEDUFU33DIF FEF3F0WK5CUOFE DFDUDOTFDFDGTFFUF Z3JFF0DFT00GFDCJ3 0 E F2 F UOF NN FD 3 UF 2O0FTCEUF30FDFF3F3XFT0E FUGF3UWZFTCFN0NGF3F 33FWTFUCS3NG3C20T F3EDIFF0F3DOC0XD00FEF FED33VCETFDOGT0 D033 N3F F O E N0G 0F NF0GJ20FFOTEDIFNF2D0F EUDOF0R00FE3O0 2C0GFCFFD preferibles a las de las demás y me vi como obligado a emprender por mí mismo la tarea de conducirme Pero como hombre que tiene que andar solo y en la oscuridad resolví ir tan despacio y emplear tanta circunspección en todo que a trueque de adelantar poco me guardaría al menos muy bien de tropezar y caer E incluso no quise empezar a deshacerme por completo de ninguna de las opiniones que pudieron antaño deslizarse en mi creencia sin haber sido introducidas por la razón hasta después de pasar buen tiempo dedicado al proyecto de la obra que iba a emprender buscando el verdadero método para llegar al conocimiento de todas las cosas de que mi espíritu fuera capaz Había estudiado un poco cuando era más joven de las partes de la filosofía la lógica y de las matemáticas el análisis de los geómetras y el álgebra tres artes o ciencias que debían al parecer contribuir algo a mi propósito Pero cuando las examiné hube de notar que en lo tocante a la lógica sus silogismos y la mayor parte de las demás instrucciones que da más sirven para explicar a otros las cosas ya sabidas o incluso como el arte de Lulio18 para hablar sin juicio de las ignoradas que para aprenderlas Y si bien contiene en verdad muchos buenos y verdaderos preceptos hay sin embargo mezclados con ellos tantos otros nocivos o superfluos que separarlos es casi tan difícil como sacar una Diana o una Minerva de un bloque de mármol sin desbastar Luego en lo tocante al análisis19 de los 18 Raimundo Lulio había escrito Ars Magna donde oponía una suerte de mecanismo intelectual una especie de álgebra del pensamiento 19 Método que consiste en referir una proposición dada a otra más simple ya conocida por verdadera de suerte que luego partiendo de ésta puede aquélla deducirse Es el procedimiento empleado para resolver problemas de geometría suponiéndolos ya resueltos y mostrando que las 6 7 9 8 Q 7 7 3GFC0I0GO0FDFT3EF JFDCOF33FD3FTEF GH F 0 D F3I FD 3 F3Z F0FJGFTEX303D3 FFGD30DGKVC0FGT33 FUFX3FF03NF3FG0FC3F JFTEUUU003JFCFTO 0GT0GE003N B 3 0 0T FR E UO2 E OF 0GH 3 DR3EX3F0FN3XFFF3FTS0CFF J3FD0D0330CFFNDCD F0 0F NFT F F3 DU DX G UC FT DC F33D3 OFNFT F2 3DORT0G0GHD3FE 0 0KGT 2 E D OF32 0F 3 FG3FT FF3E3DFJDCF33F0K XOFN0FNWFE 4 0 D D3 D N F 0GT D FF N E 0 FV F T N3 FD3 0 3K C 0 NKT C DDFXFDIFE0EFF3F 30CF33D3DF23TEUOFG FK0 90 FGT N 0F J03F E SD 3F 3F J FO0 C 3F EFFDXF0K 90 3T D3 DF FD3FT DW 0F OX3F DIF FD0F C DIF JI0F T F T G0D3T UF3 0 D3 0F DIF DF3FT 0F FEF3FFKFNF3DFF BFB03KF0N30I0FFGDR3 6 7 9 8 Q 7 7 F 3 0F E F 30D3 0H03DTU3FF3F33G0FC FNFF3G0FTE00GFF3FG D3 9FF0GFFF3OFWFDC0FO0FC JI0FTE0FGKD3FF3DOD0T00G FFDIFJ20FDF3FTDUO2FK DG3F0FFFE0UDOE D3FFGF3FG0DTCET FK0OF3FD3DNE0 F C G FD 0 F 0F F3FTUOGT0XFEFU00 F303EF3RTEF00G0WC FO D FR DU OF I0F FDWTFCFO2E0FDIFFD0FC JI0F V C F ET 3 3F 0F E UF3UUNF3G0N0FFTFK00F D3DI3F U 3 0GF DF3FT F3 FT 0GF WF 3F C N3FT O E UO2 E DW 0F DFDF E 00F U SDTFOFE2G 3 30T F F3DO D F23 FF NFC33FJ0FFWFF F O2 0 KF3 3F 0F F 30FT DF DHD3 D3DI3FT C N ET E FF OX3F F J3FT 3FT F DOGT E F F 0F NF 0F F E F 30F30FOX3FTFREDIFN020D3F SD FF F G0T FAR0F FK0 E00F F3F E FNF UD DIF JI0 F D3T C UF3 FX3I0F 00F G DT FRF 00F 33 DIF 6 7 9 8 Q 7 7 0OD3 3F 0F DIF E N PM 8GN32E0FT32NFF F00F30TC3FNF 3 FK0 3 D NF X3FT C FR ET F0F DX 30T O2 F0F 02T E 3O DIF FD0 C E DIF F33D3 C F3 D N2F X3FTFE0FS0F0GFJFT0F DIF3FEJFO05CETF3DT3DO 0DXEUC0I0FFGDR3C0I0GOTC G2F23F0FJ3F03PL T J3ND3T D 3N E 0 S3 OFNK 0F F 3F D2 0GF D 33 J0 FDZ 3F 0F F3F E33 FF F FTE F 3F DFFE D0R SD0FT UO DW 0F DIF FD0F C G0FT C F N E 3O G0EDFN20G33FTFK0 FG2 F0N N2F F3FT E 3F UO2 F D DC J20FT F E UF3 D K 3DORT U 0 J0T ET 0F 0F E GOT 23DERDFCUF3KFO0 F0N0F 9 0 0T F D FRF SFN N F FIF ET FF3 E UC F NFT0E03FO30EF FO 005 C ET XD0T Z E FO 3DR3 C U FD JD 0F G0FT F3 FG UO U00 0 FD E SDO 3 3 0 UD G U00V ET 0 J C 0 OT 0 DR3 E FZ FG 0 PM F3F 33 F3O0 0F F D3DI3 NF0 PL 8GD32023N33F 6 7 9 8 Q 7 7 NC3S3D30FF3F 3F 0 E F OF 3 3 0 E J 3DO0FG0F03DR3 B 0 EDIF33 D O F3 DR3 ETR0320FGD0DWK3TF J3D3T 0 DF 0 DX E J D 3ET0I0TF32EDF23 FOF3DOO0FOX3F DC0CF3KTCETUOR0FX3 G D3 30T D D32 00 G0 J3 0F J03F 0F 3F FT D 0 UO2 UU 0F 0 I0GO F D 3N2 DW 0G SD 3F 0F E F F3OT F F DFDJ30E0DR3FOV UO N3 E 0F F 0F F 32 E F3 3F 3DF 0 J0FJ2T 0 E H U00O G E J 3T FR E 3 3 F F3O0 0GF F3 0FT C F F30FDIFD330DC0EFDIF 3D 0 3K C 0 NKT 2 E O2 D30DF3FUO00GDIFD E0N33RFZFTE3F32TCUO O F 3D DT FGDF233F0FD0FFE UO233FE03DTU3DOR SFNFEJFRF0D3 DFWD3FTCTH03DTX3IDFF 0DR3EDUO2F3TJW0DX DF23 6 7 9 8 Q 7 7 II B H03DT D DW F3 0 0XD3UO3TOF3UO0OC UOUUD30FCE33FTUOF X3 DFD 0 E33 C UO 3W DIFFD30FZ0NJTFE 3DOR UC E NF 0G 3 UO3K FKDD303DE03OXVF2T FT0JDF03DFFT D3F 0 WK D O0GO F0 DF XFT C XNNTF0GT0DXN3EFT UOG0DD0NF0PPTEFF32 F 3F 3 DISDFT E DU GF3 NC DF 8 D J FG 0F 0CF C 0F F3DOF D 2FTFNJDF300GKE0 G F UW E D F3C F ZT GRD 3 0 DIF 0F F DIF DF C DIF 3F 3 SF E JF DHD3D3F0I30FDIFFF3F E00F EF 32 E NN BE UO DW C 3 0FD2F FT F3 E FO FD30F 3F N SDT F3OFGE2UDXEFG 0F0FDIFFF3F30FFFC0F UFUCEWIUDOF3FF3FD3F3FT D 2 E 0DIF H30 DD E00F EF 32 E NNV C E FO I0F FF NF FT O2 JXD DIF O 0 E PP U 33 F3F D J3N 0F F3F D09FF63FzF90FO3UUC0GFFE OF330EN0F90J0R3F3F F0D3F3 6 7 9 8 Q 7 7 U2 E 0 E 2T FK0 ET 0 KF3FF3DOFTUCFFFE F3 0 E T F 3DOR E DUF0GTF030FD300 FFJ3E0300 E0TC033DUFNFF3 ER0FRF33NFFTG0D3D3FT 0G2 0F DIF DFT FK0 E F FD 0F DIFKDFjI3TCNF2D0D30FDXFT C E 3 SF F0 F D0T F 3DOR 0XD DF 0 N DT F T FT UO 0G 0F S3DFT JF 0 3 0 E O FGF 30 FO C D SF3DF00FX30 0O35 E C FOF 0F 0CF ET D 0 F3 0F F23F RO0FT D3F30GHFGOT0F 0 FG 0 DT FGF J3FT U N3F33FO0GIFFN5D N20DF0GEDFD 0DFDF3TCDT0ED2FJTFO JDIFCDIFDFXFTD0FTUO C 2 D3 GNJ03 3 0 O F3 FT FK00UUO3F0GFTD O0G303DORODIF3TUO00 F X F0T UO C X F3D0 D30 FGDISDJ0FDFF0DIF JDCF03ECFG3F330FDIF FF FT NW 3D 00FT D F JF FG2FDFT D3 F3 0F D3F ET S3NF0GHOFETO3F N03FC33TDF3F0GT F D FD 0 DIF U E U F3 JXT F DO K 0NF WFT cuando en un principio haya sido sólo el azar el que les haya determinado a elegir ese rumbo pues de este modo si no llegan precisamente a donde quieren ir por lo menos acabarán por llegar a alguna parte en donde es de pensar que estarán mejor que no en medio del bosque Y así puesto que muchas veces las acciones de la vida no admiten demora es verdad muy cierta que sí no está en nuestro poder discernir las mejores opiniones debemos seguir las más probables y aunque no encontremos más probabilidad en unas que en otras debemos no obstante decidirnos por algunas y considerarlas después no ya como dudosas en cuanto que se refieren a la práctica sino como muy verdaderas y muy ciertas porque la razón que nos ha determinado lo es Y esto fue bastante para librarme desde entonces de todos los arrepentimientos y remordimientos que suelen agitar las conciencias de esos espíritus débiles y vacilantes que sin constancia se dejan arrastrar a practicar como buenas las cosas que luego juzgan malas23 Mi tercera máxima fue procurar siempre vencerme a mí mismo antes que a la fortuna y alterar mis deseos antes que el orden del mundo y generalmente acostumbrarme a creer que nada hay que esté enteramente en nuestro poder sino nuestros propios pensamientos24 de suerte que después de haber obradi lo mejor que hemos podido en o tocante a as cosas exteriores todo lo que falla en el éxito es para nosotros absolutamente imposible Y esto solo me parecía bastante para apartarme en lo porvenir de desear algo sin conseguirlo y tenerme así contento pues como nuestra voluntad no se determina naturalmente a desear sino las cosas que nuestro entendimiento le representa en cierto modo como posibles es 6 7 9 8 Q 7 7 0EF3F0FOFEF3IJF3F0F FDF G0D3 FEO0F F3 T F3DF 0G eF E OF F3 D3T F NDF NF 00F F 0 F3T D 0 F3DF F ZF 0F F 0 6U RXV C UT D F0 FT F N3T F3DF DCFFFF3FFTF3JDFTF3 0OFT F3 0FTE U F3DF F FDF3FD333O0D0 D3 0F N0 D 0F IXF B JF E F FF 0GF XF C 3F D3F F3DOFD3F0FFFFIG0VC E F3 FF32 0D3 0 F3 E00F J0KFJF E 3Z FF3F 0 D 0J3TCF0FFJD3FC0OWT3 D3 N3 0F F FFPb BF F F FF F 0F 02D3F F3F 0 30WT F F2 3 J3D3 E 32FFFFFFD3FTE F3 FK0 OF33 D0F F3 J3 U 3F FFV C F2 FF FD3F 3 OF03D3TE32F33WKF3DF DIF F C FF C DIF 0OF C ON3F E 3F UDOFT 0F 0FT 3 F3 40FJ2T TDUE0FUCJN030WC 0 J3T F T D E00F J0KFJFT 3 3E 9 JT D 0FK F3 D0T F D K FT0FJ3FFE0F UDOFFNT0G0DXVCF Pb8F F3F F 2 FF 0F FF QF3FT J3T F FOF C N3FF 30WV 0 J0KFJT D FJW 6 7 9 8 Q 7 7 E0F0FDIFTFRE2 UDXEFG0DFDE32VFT 0 D N 3 0 03N D WK C 03 3 0 D3 0 NT FGH 0 DR3 E D UO2 F3 S3D 33 UO2 F3 C F E DR FND F3 DR3TE2EOF3DIFFN 3F3NVCFO2TFCT 0GF NF E D 2 OF33 D33F C G0D3GF0F3FUDOFT0F3FJK E SD3O 00O 3 D0D3 D F23T E 3 0 F33 D J3 DIFT 0F 3F DISDF3FJIFFK00KF3TEC OGOT 3 F3CRDV F UO FUDO0G0WEF0N 0 J0FT UO C 2 E O2 33D F0 DD3 0F F XFT UOD F3 F D X SD0F J3DVCUO0ODFH0FT 0 FG0FT F UOF F NU 3F 0F FF33FDXFT0FE0F UOFVCTH03DTUO2FO0D3DFFFC F333FUOFFGDT0 DFD 3D E FGD 0 EFK 3F 0F D3F E C T FO 3DOR 0 DFD D 00G E 3F 0F NF OF E F3NF D V F 3DIF F3 N03FGN3F0GTFEF3 3D3 F 0 F3 D O D0T OF3 XWGOOOPdTCXWG0DXEFT O 3DOR 0 DX E F V F T E3F0FN3FC00F3FOF Pd73DISD3030F3FF3FDFDK3F 6 7 9 8 Q 7 7 0GFVC303DOE00FF2T DFF333 ORDT FT JD F3F DISDFT 0F 0FF3X3D30FNF0JE FDUF0FDFDTFRE 3F DF 3F F 2 0OD3 DW FUDV C D FO FG0 DX NF 0F UDOF E D DIF 3D03UO2D33F FFFD3FTFG2DNX3FE0N F3N033D0FNZFFG3F U3FFI00I0DT F DIF O F3 E 3 0F DFER0FF3VF33C30F J0SF3D3FOE00EU0 FFUFCFKENFT00GR DF23T3F3DT3FF F0WF 3D3 F E D3 0F FR3FPhTEFK0CF0FFD F03FV 0 3TD KF3 3E JWD 0 NT 3 0 3 DNW C 0 T 0 NN 0 00 8 0T D T FG2 OF33 OV 33 ET 33 FO0J0F03DO0FFF E SDOT D3 O0F X3FT F WD3F 0F C FGFT 3O G 3 F E F 00 0G 0FK OF333TEFK0JF0E32 3F2D0OFNXF0GF 0F D30FT E FN F3 0 NT F2 3DOR0F33FE00FDFFEXWGO JF U2 C NF OFNF C E2 Ph RF ENF F3I 0F E D3X FR3 F3FOF33TNRF0K0G033 6 7 9 8 Q 7 7 SF E D U FN FRF F3O0 3F DIF 3F DIF FG2 X3ID 0 DR3 E D UO2 F3V F F 3 E O DC O G0D3 DF FD3F FGH 0F 3FG0FT O 0GF UF 30FT 30D3 J03FD3DI3FT3DOR0GF3FE 2 UO F FDX3F 0F 0F D3DI3FT F0GI0F0FF0F3FFTE D2OF33JDFV3F3NFNF F3F E N S0F F3 DFD N0DPf F2T NN D 0F E 3 3 K E 0 F N FN 3 C F GF0F0F0FNFTCGW FFUF32UF3FNFFUF3F F3I F 0T XO C FN D KF3 C F NU 0 D3 0 NT DIF FT E F D 33 0 0OF J30F330F03F DOGT 3F FF N ZF F E 3D C FK 0G 33 0F J03F E F0F30F3FTCFUODWOF 0F D3F J0FJ2 DIF 3 E 0 N0G 0 XD0 NF S03F GF E U 33 U0FTDTFG0TD00NODG 00 33 J03T E D UO 3N EWI D0 3 F3 F UO NF3 E 0GF 0O0DE0UO200NODF FO0ERJD3F32D330KV C F 0G U 3O 00T DF UFT O UOFUOJFDGDIF E F0 U0 0FE U F3 T C F Pf J 0F FCF 32JFT K3T 3F C 1D32T EFO00DFD3DEF3FF 6 7 9 8 Q 7 7 3DORUO0FWFE32 DUF FF E 0F DIF F 3FT DFEDUCF30G B D 3G 0 WK OF33 O F3 EED3D3F330EFCTFRE F3F0FDFUDG0 3KED OV C U U ZFTFD3T F F D K 0XD 3F 0F 0GF 230GF0FTC3DE2PcT 2F 0 0G K 0 G U F F E F F3O0W 30F KF E 0F XR3F E F D3FNFE0FUDOFG 0FJ3F0W33DCFGTCT D 0D033 G O0DC 3NT DIF 33 0F F GFE F 0F XFT U TFG0FDFEUC 3F DIF J3F FT NN 3 F03 C 3D0DIF0XF3 Pc90 6 7 9 8 Q 7 7 KII FRFOUO0F0FDFDFE U 002T F F 3 D3J2FF C 3 J 0 DHT E EWI GF3 3 0 DaM DOGT EFF0FJD3FEU3DF OF33 JDFT D N 3 D O0G 0GFFJ0SFDEUO2N3ET 0330FF3DOFTFNFFFG F E FODF DC 3FT D F J O0FT C F3 F U U C 0 3 3V FCF3FKD3FK0G0 NTFREO2U03CUWD OF03D3J0F3E00EDG0 DT0JNFFRFUUF3T E2 D 0G E J 3D3 O0 F2 F3 E 0F F3F F GZT 0F NFTEFFEUCF0GEF30C D00FF0F30DGKVCF3E UC UDOF E C 0 WT 0F DIF FD0F F3F GD32T C D3 0GFDFT XWGR E C F3O 3 SF3 0 D 3 0ET C UR D J0FF 3F 0F WF E 3D3 UO2 3 DF33NFV C J F E 3F 0F FD3F E F N F3 F3F 3DOR 2FF 3 0 FZTFEG3FFNTF0N2JG E3F0FFFEUF33FUO23D F23 DIF NF E 0F 0FF DF FZFBN320GETEACFTF F3T E 3H F J0FT F E C E 0 FOTJF0GFCOFNEF3N5 aM 8 D3J2F F3F F3I SF3 0F 3F D3J2FF 6 7 9 8 Q 7 7 C FT 0GFC 3JD C FGE 0FDIF S3NG3F FFF 0F FR3F F FT DN0T XWGR E 2 O0T F FH0TD0D0J0FJ2EO OF 9SDR FRF 33D3 0 E C T C N E2JGE320GCEUO2 D0G0G0ECD3FTE 2JG00EJFTF032T0 DFDEFO0N0F3FFFT F FG2 DC 3 C N3D3 E C D3F E FK0 X FT E 3 0 DIF E UO2DGJFNT32CWK0G E C 2 00 E C FF3 CFC30W3FFTCEF3T F0G0GTF0GD305 F3EF3CTFT00D00CFC0 EFCF3D3F330CUF3DIFJI0 EF3CE0JFT00D X2F3F FRF F3T FRT G0T 0 E F EFKEFNC3T F C E OO U00 E FO2 E 0 T FREO2FO3DORERFF3F3W UO 3 E 0 FK C FT 0G FCUCEDFGEGNTFE NDC0D3EFFFFTXWGR E 2 D3 F3 G0 G05 E 0F FF E ODFDC0CF33D3F3FNFT CEFK0UC0GJ033I0FF0FE ODFF33D3 FRF00TUOJ0SEF3E C OT D F 3D3 J3T F N2 0D3EUCDIFJKEV 6 7 9 8 Q 7 7 C F D K 3F G K UO2 C F 0G DIF J3 E CV C 2 N3D3 E O2 F 0G 30W E JFJ3ND3DIFJ3T90EFJ0F FD3FTED2F3OTNFFFS3F D2 D F 0 0T 0 3T 0 0W 0 0 C 3F DUFT D O DU 0 FO K 2TETNFFFD3FE D F U0F FF D2T 2 ET F NFT F F D 30WT 3ERF3F0GJKTCF0T 2 0 T F T F3O D2 E UC J3DB2F3330 F DIF J3 E D F F F DJF3D3 DFO0 E 0 30 F 0 VCDUC0DGFE0 DIF J3 F F C 0 DF J3EFENG0GT2 3DD2DFDVF3EFK0EO E UOF F F3 D2 30W ND3DIF J3E CT C F 0FN 3F0FJFEC3VF3 FTS000OTFF3Z2E FF3 E C 2 0GF JF E D J03OT C 0 H F E SF3F jE2T F 0 D32FTURF0OD30F3RDF0F3kT FEOF03D3FEUOF0GH3 FDIFJ3ECFCEUOF E 3 3 C F25 F F C J F0 30E3FT30F3ED2 DFDF0E3O0J3T UO 3 D2 DFD 3DORT R3 WKT30DIFECFO2J03DTCFX033T CJ3T3TD3O0TDF3TD33CT JTF3F0FJFE2N3F 6 7 9 8 Q 7 7 BF N3 0F WD3F E O UT 0 30W FT UF3 0 D2 F W 0T D OF3O F 3F 0F FF E U00 D2 DFD 0G C N F JK0F0FTCF3OFGEG 0F E O 0G DJK F3I FT 3F 0F DIF F2 F3I 90V F2 N2 E 0 T 0 F3T03F3WC3FFFFDX3F F3 FT F3 E DU D U0G C ND 0O 00F DIFT 32 C F N2F FF FFO0F C 0FT F F E FZO C E33N2DGOJ0FT2GT F DOGT E FF F F3N ND3 D FD3 F UO C D2 DC 0D3 E 0 30W 30G3 F F33 0 0T C F E 3 DFK 3 T C E 0 F DJF3D3 J3TXWGO00E2FJK F 0 DF FF F 30WFT C E FG3 F DF3V DOT F 0 D UO2 FT O 0GF 30GF 3F 30WF E JF 0 3 J3FT F F O2 0 NT UF3 0 3 FOFF3FR0F0F33 rF G 0G 3F NF5 C UORD F30OX30FGKD3FTEO2CD 3 F J3D3 S3F 0G3T U C 03 JT NFO0 NF 3F E 3 NF 4GF C DG3F C F DNF 3F0F 3F 0F F3FT F 0F GKD3FFX3FFOX3TFR0GF FF DIF FD0F DF3FT C UO N3 E F G 3W E 3 0 D 3OC F3F DF3F F J 3 FK0 E F O NTFGH0G03FUTN323DORE había nada en ellas que me asegurase de la existencia de su objeto pues por ejemplo yo veía bien que si suponemos un triángulo es necesario que los tres ángulos sean iguales a dos rectos pero nada veía que me asegurase que en el mundo hay triángulo alguno en cambio si volvía a examinar la idea que yo tenía de un ser perfecto encontraba que la existencia está comprendida en ella del mismo modo que en la idea de un triángulo está comprendido el que sus ángulos sean iguales a dos rectos o en la de una esfera el que todas sus partes sean igualmente distantes del centro y hasta con más evidencia aún y que por consiguiente tan cierto es por lo menos que Dios que es ese ser perfecto es o existe como Jo pueda ser una demostración de geometría Pero si hay algunos que están persuadidos de que es difícil conocer lo que sea Dios y aun lo que sea el alma es porque no levantan nunca su espíritu por encima de las cosas sensibles y están tan acostumbrados a considerarlo todo con la imaginación que es un modo de pensar particular para las cosas materiales que lo que no es imaginable les parece no ser inteligible Lo cual está bastante manifiesto en la máxima que los mismos filósofos admiten como verdadera en las escuelas y que dicen que nada hay en el entendimiento que no haya estado antes en el sentido31 en donde sin embargo es cierto que nunca han estado las ideas de Dios y del alma y me parece que los que quieren hacer uso de su imaginación para comprender esas ideas son como los que para oír los sonidos u oler los olores quisieran emplear los ojos y aún hay esta diferencia entre aquéllos y éstos que el sentido de la vista no nos asegura menos de la verdad de sus objetivos que el olfato y el oído de los suyos mientras que ni la imaginación ni los sentidos pueden asegurarnos nunca cosa alguna como no intervenga el entendimiento 6 7 9 8 Q 7 7 9JFHUCUDOFEF0FWFEU F3 U N OF33 0 SF3 FC00DTEEFE3F0FDIFFF E F DIF FGFT D F E 3 TEUCF3FTC3TC3FFDX3FF F DOGT DF 3FV F F O 3DF FGD0FFFFT3GEET DF F S3NG3T 0F T F DOGT F 33 3DO D3J2FTFGTF0WKT EFOF33D3NTF3330D3FGT 0UO3EDF0DFDDDG FZFE3DF3CENDF3FF3F C33TFE00FF2BFTpKDFODFE 0F FD3F E F F 3 0 FZ F J0FFTCE0F0FE3DFF3FTF2DUF NF F E ER00F F DF NNF C SFF ERF3FqDUEF30FDXFGFT EGWKOF330N3 FTDFG0SF3FBF D 0GT F DFD G0 E 3F U 3DT FOT E 0F FF E ODF DC 0 C F33D3 F3F NFT FDFD G0 O F3WFK0EFFSF3TCEFF J3TCE30EF3IF3FN Q0VFFGETFF3FFFT F0FCF33FTFF0FC3F FTDFF3DORTFF3T NF F3 E F 3DF OF33 J F E J0FT F E UC 00F0GJFCFTCF3F33 05FTEFF3IFJFFF3FTF EFDF330D3J3FFN3E UC DF G D3 E 0 J0F DJKD30FDFDTED3 6 7 9 8 Q 7 7 E0N0JK0FF FRDFE33F3FF0CN NFJ3J3T3FT0FC F33F E F3F F JFT UO2 WK 0G E F FGF E 3 0 JK F NF F2 FT UORF 3F3D 0 D3 F C 0 0D 0 3W F G0T F03 O JI0 E 0F FZF E DGDF DF OTD0GTUF0N0F FD3FE3DFF3FBFFFE FZF3NFDC0CF33T DT XD0T E N3F GKD3 DF3K NT F2 00 D3N D0 F N5 C 3 0 DIF 3 DUF FZFT E FF3 F3F NF OX3F 0 DFD D D F 0F F3 0F F3F S3FT O D3F E F R FK FJ0NFF30FFTE3DOR GZFJ30NG0TD0F E330N3D00TD0FF3FC 3FFDC0XFFDUDIFEZF 0EFBFTH03D3RDTF3FDFT ODF XF F F 0 N 0 WK K3F O E G 0 WKT 0 DGK 0F F3FV D FDFDT E NDF 0 F0 DC 0D3T ODF 00 XWG E F 0 3DZ E 0 NDFV C DC O DF DGF33D3OW0KG0 OT F E F UC E 0 E 0 DSF30EDTF0WKFE0E F2 NDF DGDF F NT F E 3F F3F F F O 3 0GH JD3NVFJFO0EFTE F3J3CNT0FFFFF3FV 6 7 9 8 Q 7 7 CF3EF3FWD3FF3N3F C 3 3F FZDF D F3DF F3FT F O NF F3F DGF F 3 NNFCSFNFCUF3DIF0FZE0NG0T F F 0 WK E F NF 3F F3F FD3FT E FDF 330AD3 J3FT OI J0O0D3 U00F 0 N DIF O 0F E FDF F3 F3F E 0F E 3GDFFZF 6 7 9 8 Q 7 7 SKII U D G2 FG C S E2 0 D3 0F 3F NF E X FF DFV D 00 F2 F E UO0F UNFF3FE3N30F3FT EFFFDTEDXFIED OF3G C D 0D3 G0 I0F F XE3FDIFFOFXWGFF2H30E0 HO0 OF DIF D0 C 3 JDK aP DUDJD0F0KE3DR F GH 3 E 0 E D U FN DF3 0 SF3 F C 0 0DT C D3F0GNEDFDIF 0CDIF3E0FDF3F0FGKD3FV CFDOGTD3NEFK0U3 0 D F3FJD 3DT 3 0F 0FJ03FEF033F0J0FJ2TF E3DORU33F0CFEFUF3O0 0 30W C CF F U DF F3F 0DFT 30 F3 E F J0SDF FO 00F OF333D3TDFEFD0 S3D3 3 3 UC F U 0 D 6F0G0FFF0CFTDEU FO3NFNFDIFH30FCDIFD33FE 30E3D3UO20FF FUOS00F0F3 00F 33 E 0GF FFT O0T0DXFIT0FTEG E2FDD30EF333F R0 3 3 C 2 FOT 3F FO0T aP0FK0100 6 7 9 8 Q 7 7 0 30W 0F FF D30F B F2 D0F3FTF3G0D3OT 0FT 3F 0F J3F F OX3 FK0T0G0F0FTEN0NU00W CF30FDIF0FDOTFT30FD NF F D 0 0T F2 3DORT 3DCDFF30EUO2 D FD3T UO 0D3D S0 DC D0D3DK00WVF3FKTZ2 0G00C0FF300FJXFTEF30 0WNFFFV0F0FTE03FD3V 0F03FT0FD3FC0TE0J0XVC 30T 3F 0F F E UC FO 0 T E F 0FT 3F3FT 0DFFV CT H03DT0UDOTEF0F3 FDO 3F FF FF C 0 DIF 0O3DFXFTF0O0GKFGJ30F FD3F30F3FTF0N2OF3 DF3FFF3FCUO0FK00E2 3 D NT F F F U 0F FF DGF OF33 D3 D0T C G3 NFD3 C F 0F NF 3F F D3T JDFF3JFDJG00F3FT FU0G3FEF3FF 0 30WT XI0 O FGH 0F 0CF R0 F3O0F F2 DD3 FO2 F D3 C 33R F30T30F3EUCTDT DIF030GO0aaTS30E3FUDFU FC00DTFUF3FFSFD3EUC 00GFFJDF0FEF3 0F F0F ai T G0 G 3 F C aa8D3FS3FKHD3 ai 93F E F Z 0 D3 3D0 033ND3 6 7 9 8 Q 7 7 D3F330F3F0DFEF FE JG E F G NT DIFT I0F 0F 0CF 0 30WV C F J DIF WFGH3E0FJ3FJF FT 33R DF3 3F E00F FO 0F E UO 0G T C R O E F 30F ET F UOF NF DFT 2UOFOFND0D3 FRFF3TDF3RKD0DC30D3 FFO2TFFF0CFTFF C G0F 3 D E 0 U2 FDX3 F3F 0FV KDT 3 33T 0GF FF 3F UO2 D T C 0GF 3FT 03F C D3FT C 0GF 3FT 0 C F300F JXF E2T S3RD FO 0 3D 0 0WT S0ER 0 D I0 0 E O2 UO 0 0 C 0F F300F C KD F 002 3NFO F33 0F FFDFF0F0FCKDFJ0XOF0F 03FC0FD3FU0Z23DOR0GF FF0FF3T0F3KT0FDND3FC 3F0FNF0FFF0FCFFF3FT F3 E FO UO U 0 OF33 E F EFOFNT0FF3DTE O0DFT3FDX3 0FF3DECFO2U2FRUO0 30D3 0 V S0ER KDT UO FF3SFD3E06GHF 0D3EF3IDF3TFXO3F FF 3F GF S3D3 U F 3V KDT UO G C F FJT 0 FFK 0F 0FC0FF3FT0D308TO2F J0XCJ0XFDX33FFFF3F0E FOFNF3FDFTCDIF33T 330GD0TEN8N3B3T D0EFOFN3DOR30F3KFVKD0F montañas los mares las fuentes y los ríos podían formarse naturalmente y los metales producirse en las minas y las plantas crecer en los campos y en general engendrarse todos esos cuerpos llamados mezclas o compuestos Y entre otras cosas no conociendo yo después de los astros nada en el mundo que produzca luz sino el fuego me esforcé por dar claramente a entender todo cuanto a la naturaleza de éste pertenece cómo se produce cómo se alimenta cómo a veces da calor sin luz y otras luz sin calor cómo puede prestar varios colores a varios cuerpos y varias otras cualidades cómo funde unos y endurece otros cómo puede consumirlos casi todos o convertirlos en cenizas y humo y por último cómo de esas cenizas por sólo la violencia de su acción forma vidrio pues esta transmutación de las cenizas en vidrio pareciéndome tan admirable como ninguna otra de las que ocurren en la naturaleza tuve especial agrado de describirla Sin embargo de todas esas cosas no quería yo inferir que este mundo nuestro haya sido creado de la manera que yo explicaba porque es mucho más verosímil que desde el comienzo Dios lo puso tal y como debía ser Pero es cierto y esta opinión es comúnmente admitida entre los teólogos que la acción por la cual Dios lo conserva es la misma que la acción por la cual lo ha creado35 de suerte que aun cuando no le hubiese dado en un principio otra forma que la del caos con haber establecido las leyes de la naturaleza y haberle prestado su concurso para obrar como ella acostumbra puede creerse sin menoscabo del milagro de la creación que todas las cosas que son puramente materiales habrían podido con el tiempo llegar a ser como ahora las vemos y su naturaleza es mucho más fácil de concebir cuando se ven nacer poco a poco de esa manera que cuando se consideran ya hechas del todo 6 7 9 8 Q 7 7 0 FK 0F F DF C 0F 03FFR00FD0FCT30D3T0 0F UDOF F 3 H OF33 D3 UO0 00F 0 DFD F30 E 0F DIF FFT F T DF3 0F J3F 0F FF C U N ER FD00F C ER D O 0F030WTD0D3RFEFJDK 0 UDO 3D3 G0 0F F3FT330JGS3FFDDOFD 0 J JDK FF KGFT F D0 3D3E0ECUO2F33D3CF 0 0 0D 0G WO0T 3 F E FN0D NG33NFF3NTFS3F WK FFJGF F 0W C S0F D2 C E C O2 G0 30W E 0 E 03 0 U 3F F3 F 0 E U E 0F NF NF UN F X 0 O F U00XVFSD0FJFETF 00T 2 UO F T U00O E S3D30FDFDFE0WFF3FT F E FDF 00F C FG3T F E 3OCF30DTFTF3F33 0 T 0 E F U U 3D3 E F 30W F FK0 F ad VC F FF JF 0F DFDF 3FT F E 0F D0F FNF3F WK F FDX3F F3FT DO F 3FG0FE 0 FD3T E FT 0 33T 0F HF E F 33DOFVRFF0F3OC 0GT F E F K 0D WO0 C 0 ZK0T3DECFO2 ad F 0F JKDF N30F E F FD3 S0FDID3TFGHF3FRFDIF03F32 0FD0FDIEF 6 7 9 8 Q 7 7 FEnNF0DKDF3O33 F3D3TNCE20S0K0DND3 0 WK C 0F 3F ET F 0 D C DIF G0 E F OFN 0F D0FT FNI E XWG 0G JI0D3 0 E O FF 3F 0F DIFEFDIFJI0D0ENC TF2E0FEF3RNFF3D2F 3D03OXT3F0F3TD3F F 0 WK 0GH D0 GT E 3G 0DFTF3FOF3300DOT CEN0FFIDFNFEUCR0V DT0EF3I00UT0EN F 3OF DC UFT FO5 0 N NT E F 0 03I00FGCD030IO0T CF DF F 0F DIF NF 0 T C 0 N 3FT C DO F3I D0 F3T E FT 0T3EF00WKCFN0G NFDFEN3F0F0DF3F 0FF3FVFGT0EF3I00WET0 EN0DFDDF3OF3UFDIF E 0F 3FT FO5 0 3 NFT C DO F3I 3DOR D0 F3T E F F N E N 0F 0DFT F3I N NF DF3DW0F0F0N3FC0F 0300DZ00DKT30 0 FKV C 0 G 3T E F0 0 WK C F3OCFFDF30DOREFC ENDU0FX00FETD 3F 33F 33F O C 0F 3 JF EUCFFFNFTFO53F03 0NNTF3I3OFF3FE D0GDE0FG30 NU0WKTCTFDOGTDDC S3D3 E F0V 3F 0 3 0 N 3FT 0F 0F F3I FF3F D 3 C 6 7 9 8 Q 7 7 D3E0FGEUCF3NF0F 0DFTE0EF3I0F0DFN0N 3 F NV F 0 3 0 3 NFT0F0FX0FGF0F0DF UF30NWE0WKTF ENCF33VC3F030G 3TED3E0FGF0G0WKT0 DEN0N30HDF3F00XF UCEOF3WKFE0J03 NFTFN0TF0F3FU00T FKDD3FD3FE0F3FT F 0FT F DX 3F rF CT DIFTE FFE 0G 3 C 0 N 3FFA3UUFDFKDUDF CJDE03NFC0NNTCEF3FF H03DF F FU 3F 3 0 WKT DF3F FDX3 0 RF3V C E FDUCDIF00WKEGH3F3 0 V CT H03DT E F3 0 F W U EF30GFG3FFGFFNFT FJ0DC0GCF03TDG0D3 3F0F02EFG3G30GHNFDC 0 UF3TOF3ZTS00DND30 WKT E FF NF F3I 00F FGT3FD3FG0NN0 0UTC03NF00WET33 DIF3EF3FFNFFF3IFD00FTCFF JFTEDU0WKT3F F33FV33DFDU3 F G3F FGT NT F3F G3FT E JW F DC GFFT E 0F JF 3 FDCUF C 0F NFF N F3IDC 00F FGTF S C 03 F 00ETFEUU30 6 7 9 8 Q 7 7 WKCDXC0F300FEF3I 030FFNFFNTDE OXDIFFG0WKVC3H03IFNW DIFT0EDXCO0F3FFF300FT EF3I030F3FFNFFT0F0F F03FTF2UUWK3F0F DF0N3FC0G3TF0DFD 3DE0WKVRF3FFJ0DC0GTD FDFD FF 3FT E 0 FG E U 3 00FFJ2TC0FFF300FN0NFTC0F 0NNC03NFN0NOFT F 3F F G3F FGT E F NWT UU 0 WK C 0F 3F D 3D3 E 0 FGT 3F 3 0 WKT F FF F O0FF 00DF XFT U2 N E 0 DND3RF3FF30ER0TCERF3FF FJ0 ER0 F J0 B 0 DIFT E 0F E0JW0FDF3FD3DI3F C3F3DOF3G0FWFNF 0F NF2D0F F N3 G F3 E G F SD0TUN30FE0DND3EO S0FFGFD30F0FFK0F KGFEF3I0NF30WKC00ET 0FFTF3FF3NFC030W 0FGESTFTD0 DND30XFFG0JWT0F3KC 0JGFF3FFCFFF B F F G3 KD 0 FG 0F NF F OT03F3D30WKTCKD0F 3FF00FJ3D3TF3E30E F0WKN00FTF33F33 F E 0 E C U F3 DR G03ahT EUCE0DR3UOO3OU ahNCUO2FO300K0FGLdPc 6 7 9 8 Q 7 7 F33CF0DEUFZEUC 0F S3DF 0F 3F NF EZF F 0FGE00G0WKF0FD00F S3DF0FNFCE2N0N0G0WKT F3E0F0FGF0K3 F3 0 O DC O D 0 S 0F XFT EFT UO 3 0 OW D JW D 0 F3 O 0 NT U E 0 FG F0G DIF O3 E F UOF 3 0 OWV C 2 3 0 3 F 0 3DIFOXT30DC0UTF03 DU JW D BE F 0 E 0 3 UUDJWDE0FGE UC0OWN0N0WK0FNFTE N FG 0F 3FT E RF3F N OX 0F NFT C F FF 00XF DIF FT F DF JI0F DV C 3DOR E 0 FG E N 0 WK 3 DIF JW F 0F 3FU0DTEN0N0DU0 WK0FNFVCF3E0FGF00OW 0 3 E F U UU 0F NFT F FEUC0GFFF03OX0 3TFTU0FS3DF0OWT 0 FG N 0F 3F DOR O DC O0E0F0FGT0SF3 3F 00XF E F3I 30 D FF3F J3F 0GFT 00G 0F NFTE D3 E 0 FG NC F 0 3 0 0F S3DFT C F2 FK0 E N0N 0F S3DF 0 WKV C DIFT 0 S ADF3 E 3 0 FGEUC0F03D F03EFUC3TTUORF 303DC0WKTFUCUU03 3RF3C03T30F3EUCFK DGE0FGN3N33 6 7 9 8 Q 7 7 B UC 3F DUF FF E J E 0 NFFDND30FGF0EU UVDFDD30JEF33 0 E F0 0F NF C 0 E F0 0F 3FT J E N F E UORF 3JCDF300FGT0F0WKT FDIFF30CDIFNNCDIF03F0RF3TF TF30F3FTE3F3TFT F3 0F NF F O F DT F NI E F J 0 3 F 0 WK C 33 0F 0GF DIF 0XFV DIFT 0 W 0 00XEF3IUUF0N3FC0G3 FOOE0FG0FG0DIFJW E 0F NF pKD S0 E 0 N WE 0 WK C 0 G 3 F DIF D0F C UF E 0 N U C 0 N 3FT F E0FG03NFTE3FF 0 WK U F3 DIFE 0F 0DFT FDIF F30 C F S DX CDIFJI0D3E0 E N D3D3 0 N Nq p ER F 0 E 0F DRF NGT 0 3D 0 0FT F F ET FGHE0FGDO30WT000 WKF30DIFDFJWCDIFDF N0qFEDFKDF30FD0F DIFDDOFTUODFNEFD 0 FG ET 0 F 0 WKT F 03 C F 30G30TFFETF E3DFFG3TE3IF0FDFD00TC 0 WK F3N D U 3TOF32030FFC0FDFTD0 UT F 0F NF 3 FG N DOR F3FE0FN0FKF 3 0 0DK JF OF33 FG E 0 FG E N 0 N U 0 WKT U F 03 C D DO 6 7 9 8 Q 7 7 NFTFFFCFN3NFG3F N0N0NWETF00F 3 FN 0D3 0 JG E UC 0 U NVCJDKF3FENDFE0F D0F E 3 0DF F F0 N0WKTCE0FZFTEF30 F D3 F 0F 0DFT 3 J F FG 0 N N 0 NWE0WKTC3N 0N3F0G3TFF00DK DIFT pKD 2 UF 0 K 0F 0D3F 0F3KDGF0WKNF0F3NF D 0F 3FT ZRF 0GF 0F DIF FNF 3F 0 FGT E C F0N 0F NFq0KEN3FG0XGFF NFTpFJI0FFFET0F C3NW0WKTFF30EWIDIF F3F NF 0 2q S0 0 3K C 0 K0FNFUDFEUC0TpER FUC3FTFE0JWE 0FGT003FTF0WK0FS3DF 0F 3F F F E 0GF FF 3F F 3 3 0F 3F 0F DDOFT F U00T3D00G3FES0FTCETFGH 0 F3K 0 JGT 0 EZW 0F F E 3TNF0XF3F0GFC3F 3F3FT0DFDDDU0FOFE F3 GXF J3 DT FN F F3F0FGFNF3DZFqH03DT0 EUCDIF3O03F3F0GK0F F23FD0FTEFDF302FDN3TDIF OD2FDCNN2FD00DT00F 3 DC O3 F 0 WK 0 O C F 0G 0F NF 0F DHF0F C DND3 3F 0F DDOF5 C S0 KD 0F 6 7 9 8 Q 7 7 3F0FGDIFG3FC33FNU0 OTDIFOE30G0ETFF DG 3 F F E 0F 3F E 0F F0FEF00WK02DIF3TCFGH0F G0F0FDFDFTEF0FDFDFE0F0 30WT NF FF 3 X3F DNF U DFD 0T F E UC F OF33 O0F 3FT D 0F 3F 0 FG E F00NWE0WKC33F U0OT0FDIFJ3FO00FDIF O0FCDFG3FCT033TF0FHFE 00Gaf O2 C S0T OF33 3D3T F F3FFF033E3N0KF3O0 FRF UO2 DF3 I0 O F 0 JIO ac 0F NFC0FDHF0F0UDFG E 0F F23F D0FT F3 3T 3G JW OF33 DN 0F DDOFT D NDF E 0F OWFT FRF 3F H F DN C D 0 3T F E C F3I DFV I0FDOFONJF0OF0 NG0T0FC0FFZFVKD00WT0FFFT0F 0FT0FFOFT00CDIF0F0FOX3F S3F DD 0 O NF FT D 0F F3F5 KD 3DOR N 002 0F FCF0UDOT0FC3FFF3FVER0 DDTER0FFNTCER0J3F2TE DO0FNFD3CD3FNFTC3DOR af8FG0C0DND3TFO3F3FTFE 30D33FGFDND30230 3G3 0 N E 2 0 DKN0 F2T F S0 DND302NTCTG0TS03FNK0 023TU3N3FFFE030DD0FK ac4ION033DGWKDI 6 7 9 8 Q 7 7 TR3DTF3O0FF23FD0F 0FDHF0FCDND30FDDOF0T DI0F0FOX3FEFF30FF3F C 0F FF 3F 33F NF DF 3F DND3FUF3FE0N03 0FG2iMV00IGDS3Z 0F ET FO I3F 3KD3F DIEF FDN3FF30F3UDTFD0 F E2FDF WFT DK 0 G DUDOUFFTDHF0FTNFT3FTNFC DIF3FEUC0D0TF F3DDIEETFUUDF FT F3I DO0D3 DX C F DND3F DIF DO0F E G 3 0F E N3 0F UDOF E2 D S32 30D3 U N E F UOF DIEF 30F E 3NF 0F KGF C JG S3 D 3D00ETFNF3WKTUO2D 0G E F D3 E F 3 G0 30W E FF D0FV D3F E F 0F UO E FDXF F3F F D3F F3FFT3JD0D3FO0TFD 32DF F DF DC 3F E FFUDOFNFVCF0DTE 2 U F 0OF 3F FGFT DR0FT D UDF F3FT 0 F3F FD3F 0F DIFT F F O F O E DIE F3R 30 D UU E J 0OFT C UF3 E 0F J KF3 F 0F E F 0G 03K FF KGFT DT 19 7T F F 0 3 3T E G30EFE0TCF3TEG3EF iMK3F KD F3F S0 DID3 3F 0F F JF00DTCFFK0F 6 7 9 8 Q 7 7 0UZTC3FFF0DFDF30TFDOGT FOENFDF0F0OF 3F30F330EFFFGT D U0 0F DIF F3HF 3 0F UDOFV C F 0 FG E U NF FF 3 O C F DX E G F3FT X2 J00 3FT F FO2 E O D3T F FK0 0 FFK FF KGFT F D3F E 0 WK F F3D3 NF0T E FN 3F 0F C3FT FF KGFTDOTF330FFK K305FEFD0D3 DFO0EUC33FC3NFFFF DIEEU0O3F0FF 0 N 0 D D 0 WK F U O F3FUO5FFFDFF 3DOR0JEUC30FUDOFC0FO3FT FFFDC3EUCUDOTF3HC DOO E F3RT F S3 0F 0FT E F WG0X3NF0OFCD FF E R 3 FF FD3FV C 0 3TUCD0TJ3CJ0WD33E FTEU33380FE 0FD0F0FJ03KGFTFNDFE0FFC 0F 0F JT D F3FT 0OFT C F DOGTTDF3FTUO0TFTJ E F 0 E V DO 0F UDOF ET UO FF C DFT F3I NF 0F KGFE0F3FFNUO0TF0N3 F2 DFDF F FGFT F 0 0F ET NN00FTUFGF0GF3 FK0 O E 0F OF3F 3 DF WK E 0F UDOFT F E 3 GT F C F N E OF3 DC FO UO0V C FF3 E F N3 FG0F 3 0F D0F DFD 6 7 9 8 Q 7 7 FTD30FUDOFTFFDIFJI0F F3E3FTFED0TE JF0DIFJ3FFTG0Z 0FDIFF3HFT0DFTZCO F3N 3OTF JE F 0D F 30W 330D3J30F3OJF0F 0OF 0F DND3F 30F E 03 0F FFT 0F 0F F D3F 0F DIEF 3 O D 0F D0FT O FFT D F 0GF 3GFT E 0F OF3F UO0T E F3F DDF F 0GT F F F J NT F3 E F NF KGF F 0F F3FT2F3F3FDFF FDX3F 9F 3DOR DC 3O0 F ET UC NF D0F E DF3 DIF F3 E F3F 0GF FF FT F DOGT NDF E FF DFDF DF3 G DUF 3FV F3EFEUDXEF3FO E 3G GT F F F 32 DIF E G F3F C U2 DX E F3F 3F 0F DIFFFTFDIFOOE3GC EF030W0E00FOT0FFK FF KGFT D NDF E 0XT DF3 FK0 F C F3FT 3 0F UF CD 0 3D DIFS3D3EF3F3F3 FRF 3 F3T UO2 C F3 0 0D WO0CDF3ED0GFG 0 3 0 D3T D 0F 3F FF E U UO0TFEUFSFD3VCOF3 EF3R0X0UDTD03F N2TFFDNFFDDOFTFEF F E F3R X3 C 0 DIF F3UD3T3F3D3FC33FFDX3F 0FF3FCDF2UDONB0 DIFTDUS3E233FO03D00DT 6 7 9 8 Q 7 7 EF0FDIFD33FVEFRF0 0F E G FT E F UO J3 OF33D3 0 E T UC E DIF 30FF23FO0F03D0N3 E0DGE00D0FD0FF0DFD 30W E 0 F3T C ET FG3T UDF3DF3FF3NTD3D F0FDFFC0FUDGFVD3FEFFODF IJ3FFDF0FD0FT3DFDU DX 0F WF E O E F3 0D F 30W 3D3 3 0 CT FG3TEF3I3DR0VCF3E NDF 3F FF E 0 F3CT F 0DF 30D3XWGEFD30 DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes SEXTA PARTE Hace tres años que llegué al término del tratado en donde están todas esas cosas y empezaba a revisarlo para entregarlo a la imprenta cuando supe que unas personas a quienes profeso deferencia y cuya autoridad no es menos poderosa sobre mis acciones que mi propia razón sobre mis pensamientos habían reprobado una opinión de física publicada poco antes por otro41 no quiero decir que yo fuera de esa opinión sino sólo que nada había notado en ella antes de verla así censurada que me pareciese perjudicial ni para la religión ni para el Estado y por lo tanto nada que me hubiese impedido escribirla de habérmela persuadido la razón Esto me hizo temer no fuera a haber alguna también entre las mías en la que me hubiese engañado no obstante el muy gran cuidado que siempre he tenido de no admitir en mi creencia ninguna opinión nueva que no esté fundada en certísimas demostraciones y de no escribir ninguna que pudiere venir en menoscabo de alguien Y esto fue bastante a obligarme a mudar la resolución que había tomado de publicar aquel tratado pues aun cuando las razones que me empujaron a tomar antes esa resolución fueron muy fuertes sin embargo mi inclinación natural que me ha llevado siempre a odiar el oficio de hacer libros me proporcionó en seguida otras para excusarme Y tales son esas razones de una y de otra parte que no sólo me interesa a mí decirlas aquí sino que acaso también interese al público conocerlas Nunca he atribuido gran valor a las cosas que provienen de mi espíritu y mientras no he recogido del método que uso otro fruto sino el hallar la solución de algunas dificultades 41 Galileo y su teoría del movimiento de la Tierra Descartes compartía la opinión de Galileo Si el movimiento de la Tierra no es verdad escribe al padre Mersenne todos los fundamentos de mi filosofía son falsos también 83 6 7 9 8 Q 7 7 33F 0F F F03NFT 0 00N 03 0 G0 DF F3DOFT JD 0FWFEFDR3DFZOTDU2 O0GFOBF0330FF3DOFT F 33 0 E O F F3T E 23F33FJDFDUCUDOFTF 3 0 DT C FK0 0F E F U F3O0 FOFFFO0F0FEUOQ00 GC00FJ3FJ3FT0JD3 F DJ0F 0GV C 3 DF F0FTEDCDGF3TU2E 0F DIF 32 3F 3DOR E F 0F GF3 DIFB33DUOE0GFF G0F 0 J2F C DW 0F O NF J03F 30FT 3 3F I 0XF 00NFCJ3FF0FFE FUFUF3UT2EFN0F03F G2FD AT E JG2 0 0C E F O0G 0OG03F0FDOF300 F3RF3BFFFFDUFZ EFFO000GD3FDCH30F0NT C ET 0G 0 J0FJ2 F03N FZ 0F F0FTFFO03I3TD0 0T0JWC0FF0JGT0GT 0 T 0F F3FT 0F 0F C 3F 0F DIF FEFT3F33D3DDF 0F JF NF F3F 3FFT 2DF NU0F0DFDD3F0FFFEF FTCFF3UFDZFCFF 0 30W 8 0 F DC FT FK0 0 NK J 3JF E F D32 GWFGH3OX0FJ3F03C3F 0FDFEUC00TF3DOR0D3 0 FNK 0 F0TE FT F T 0 D OC0JD30F3FOFF3NTE 6 7 9 8 Q 7 7 0 F23 DFD 0 3DD3 C 0 FFK 0F KGF 0 ET F F FO0 3 0GH D U E 0F UDOF F DHD3 DIF FOF C DIF UIO0F E U F UF3 E2TEF0DUCEOF0 FE0EUFF3FFF 33O030TFEF3FEF0T 3G3EUCT0FEUUU 00FJFKTEJFE3FOTF T F F D 0 E E NGT C E 2DF 0OF J JDFT 33 0 D 0 F23T C UF3 EWI0O0E0NXWF3TF3NRDFOF33 D3FFFFC3F0FDFE0 30W F U NF3 D C UO2 O 0 FGD0DN30FNF3GF 3 F T C D UO2 3 D ED2ETFGR0TFOJ0O0D3 00TFE0D0ON0N0 J03STXWGOEUCDXD3 FF F OF3I0F F D 0 HO0 0 E UO 3 N3 0F OF GF E 33FG03T3OC0TFGHF 0K C FF JWFT 0F SF E UO2 E UT C D FDFD 0 HO0 3 3 NGT 0 J ET DW 0F H03DF UC3DFFFFTCX3F20F NFC0F3OXFNFT00GIFDF3FX3FDU DIF00I00G30 HOFNRT0J30FSFTEF 33 DIF FF 3 DIF F U 03 0 D3TF0FJO0F0FE F F3 F2 DFDF F3F F3F C E DFGJ0SKEUGDFTEOF 3FDIFFCF3FVC0WKF3FEFF 6 7 9 8 Q 7 7 DIFFFGZDUFNFTFFODFC0F FF0F3FDIFDFCE0FF3F E F F FD 3 30F C 3 EZFTEFDCJ2030FB0EU 00N F3 U F 0 FG35 D U U00TG0T0FFDFFF30 E 0 D F FT F F F3 J3DIFEFFK0TE0UTF0F 3GTF3FFD00FNFTEF3I 30D3 F3F 0DFV FRF U SD I0F F 0F DF C DIF F J3F E F3F FF NFT C D E 30F DFU3F0FTFF3FTTC UF30TGTTJGTD0FC3FFF ETF0FDIFDF3FC0FDIFFD0FTF 3DOR 0F DIF JI0F 8GT EF F0FDIF30FTFDF333FC 3 NFT E U 2 E JF FO0 0 F23 UDF3G0FJDFFFFEF3I 0DU2FDF3FEF300TF 0N03FUOF0FCTFG3T EFFO03DJ0FF3FNT FEF0GDF030FFF0FJ3FC UGDF F NF SF 30F 9 FT UO F D F23 3F 0F OX3F E F UO2 F3 C DF F3FT C N0 JD E N 00F E S0FT OF33 DT D 0F FU00FD2BOFDFDJFE F3D0C3NF303030WTCE OFN F GH J3 30 F FG ER NF 00F N2F J3F DFTCDDCJ03FT0DHT3 I0FFDFE00FFVCFR 3 D F J03 E 0 OF 0GF 6 7 9 8 Q 7 7 SF E F 30F E F W 0 DFD D0J3TF0S0KEUCEFRF3F FE003DIFT303U00GCTEN OF33OTDT0EUCE3D UFFJ3FT3DORNEF33FC30FT EDFDFDF3FTE3NFD0NFDIF 0 E 3GT OF32 3FT F3 ET FGH 3G 03 D U DIF DFT F2 3DOR 03R DIF DF 0 D3 0 30WV300FO033 EUO2F3TDF330D3030E0 HO0 O3T E O0GF 3F F G0 0 O 0F UDOFT F T 3F F N3FF J3ND3 C J0F C D KT DD 0F SF E 00F UO UU C CD 0 NF3GK 0F E H D EU B3FIFDU3FWF EDUUUDOKCFEO2 N FG FO 3F FF XWG 0G D3T JD J FO F NT C 00 0 DFD E F 0F 3N E DDTFK0EF2F2DCF SD0FOjFFDDIF3K0 EFE3FUSDE0EUF2 F0T C DUF FF E D U NF UDWO0FTU0GE F J0FF U F3D0F 0 0kT F 3DORFKFN0HO0TFFC J3 W 00T C ET F DF F3F N0 0GT F0F D DIF N3 0F E 0F FFRFDD3VFREO2 D 0G F3 E J O0F D3F C NNTE0FFFC3NFFEF FF3T 0 3KT J 0 JT E D 6 7 9 8 Q 7 7 DFK03D E D G D0 F3D BF F O F 3E3UDOF3IO0G0O0F DIF 3 T C E D3 N0 E FNT F DOGT 3DOR F 3 E F3F F U FOF 0 3D F3 C EFOF3FFFTEEWIJ 0GH NU 0F E U NNT F U3FFFEUFDIFH30FHF3F 3FTJ3TFOEFFE0E UF3E2UFFDK 0EGCFJ2VE0FE NFO0N0FF0F 3 F 0 DFD E 0F E DW EFT E 0F F3 DF 3OXT F C 0G FT U GF EFFT E 3FT OFT G EZF GF DOR DF 0FXJF XR3TE JWF JDGO300FTCF3DIF3KCFJW D3F FRF 3 E 3D FCEF3NFFRFN3VE ND3 F D O300F 0 33 N 3F 0F J03F C F E F D 00G 0 D3 0 NT C F D 0 D3 FJ0FF0GD333G0 D33V C U J03 FRF DU DIF F3W N0NF0DFDF3EFF3OT U GF GFFT F F C F OFGF90ED2F3TF2U0GU00 0GFNF0FFjCJ2E0EN F3N0DDF3IE0GFU3kT EFFFFCF FF0FJ03FEUF03CEF D3F33FO300FU30J3D 0VCUF3D3NREFEF3 6 7 9 8 Q 7 7 GF3FF3FDRFF00G03RD DFKF3FTCEF33DE FH03DFFJ3B FDFDT33DIFO0GDU03D EDET3FDCFFWF3G0 D0 OV C FON2T F T DUF FF 0 F O0F 0F JD3F D J2FT F F 3 N3F 3F E OF3 30F 0FT C UC F0 0 E DF3FT F DOGT D F DFO0 E 3F 0F N2F F 0F DIF UDOFT N E FF3I FF E D F32D0O B OX3F F3 E FF F F2H30FFK0ED2DFF J03FT F3DOR ET UO D2 0G OT 0F DIF UDOF E2 F D DX 30G00VCDDUFNDIFEF0TF DW F 0G U F DF FT D C23DORFFNF BDWDDCSF3T UF3 0 3 JD F 0F DF FD3FEFDTFDOGT0S E3G0FOXFEUDDE30 FW O3 00F 0GH NUV F C DUFNFUSD0FXFXFT330F FEFUFDDGFD2F D 0F D3F 3FT EF C FO F J3TCUF30F0GFCD0GCN FO2 C E UO2 FO 0 E 0 J3 03 DF DGFV NW U F E D UCOX30G3D3DNF3D2TF 0G F DC 0X D F3T F3 E F U3FDFFED 6 7 9 8 Q 7 7 FDFFNDFE33NECDFD 3D U 3 E 0F F3F E F0 3F0FFA0FFNFON 3FGTFFJWIF0NF NFTDIFFX3O0NFD03E F 0F WF C 3 3V C 0F E U F 30G3DOFOGFTFF0G DXFXF 9 3 0 30 E F 0F DIF 0 DKDFFD3FT3D2FDC GTCEH0FUFN03UF3303E FFZ0FDU3F0FI3 ETFNTEF0GUCW F000FTUFCDXE30ETC E UO 0 D 3F GF DO0D3DXFE0D2TFE0E 3FTFFO0E0OC0 UGFC30D3D0E0N333 F 00 F3 D3T E UO C S0 DUF NF 0GF F D2F FF DC O GT230FDCF33D3D3FC UO0OTCTFDOGT0FU3TU3 E F FD 0F U 03T 30 F3 E C 20FD2FiP NU F3 FK G F3F F3F E E D2 0F FF E 0F G 3FT F F E C DFD 0F UC N0GV C D FDO D 0G FF S3NGF E F 3OC 0F 3GF J0KFJFT CFF3FFDFTXWG00FEUCF FF FD3F 3 F3FT F3 E E00F iPF3F U 3 E F3W 0GF 33F FF 3FSF3FF20FFCF 6 7 9 8 Q 7 7 UDOF J 0F DXF GF F 3DV FK0 F E FF F U F D0 JF FDFD NDF E F U E 0F E FG 0F 3F FF GF GF UC F 0 DF3V C 3G FG E 0F E DCU2FGUCF3K30FFF3D2UFF F33D3030WD3NR0T EUOFD3F0KE DIFD0FOD0CTE FO DIF 03 E 0F IO0F E F C DUF NF F FRF UO 00G UF3 0 V F D E 3DOR 0F E FG 3 XFTFTF33DDF FOF E F F OF3N F3V 0F 30FT 33F FO 3 0 E F 3 S0 30GO0D3T E DIF 3 R0 0 F0K NFJ03FT0F0FUO0C0F0F F FK DOGT F D2FD F D J0FJ EF F GF DC DFT F 0 F 0F F3F C F E F 0F D3 UO0 3 33 DF0FTCD33330F DIF UIO0F C 0F DIF F30FT F E UC D N0FV 0 0 RD FDX G ET 0 F FN3X 3 E NT 0 UO 00N0GJCF2FDNVC E FF 30F 3 3RF E C O0E 0F F D J0FJ2T F FT D FT DC F00FCN3FTO00FF2DON3FC 0WFNU0F3D 0F GF DXF U 3 FK F 0FTFF0EEFFOUO03C O JD 3FT 0 FG2 DIF JI0D3 33IF 0 NF2D0T E F G 3OX U00F3F0FF3FTEOF0NTE 6 7 9 8 Q 7 7 F FO F X 0GF D3F C ET 00G0FKUO03F3DFTFO0G JFJD3E0FGDFBFF3DE NFJO00NFO03T D F F J3ND3 JO0T C F 0 E E F FG 33 FDX3 0 X D2T F3 00 E C 0F G DIF 0 E F3 FF 00N UV F F F F 3 D OT 33 DIF 0 FI 3 F2 DFDF 3 F C E U 3T F 3 ET UO C FG FD DF NF3GF D3TFFGE0EDEFO F FC DIF J20 C 03 E 0 E U 3D3 3T CT 33T DU DF GF3 U002FO0D2EG0F0FVCDIFT 0F3DOEE2OFDFFJI0FC F3FDIFJ20F0FFNIDU DX E 3F DF F3F DFD F3C FEFTDDTDUOFFZ 3F0FNFCFDF3FUOF0GC D UOF F3 3OX 0G 0 0FT EWI F UC G 3 FT 0 DF UOE0F3DOCJ0E3 33FNFJDD0OF0FT FDT F UC 0 D 0O E D330D0E0DWKTF3D30ED FE0EFJ0FSFE FN F 3OX OF3 UDO F0 U0F3FV3DFUDOID0 30DFXFTDF0F3FF3F G3F EF GT F 0 FW O GT E F J2FD DT UI E FF F D0 S3D3 FF FF 8FE N03D3T F F T F DISCURSO DEL MÉTODO René Descartes ofrecieran a ayudarle además de que suelen por lo común ser más prontos en prometer que en cumplir y no hacen sino bellas proposiciones nunca realizadas querrían infaliblemente recibir en pago algunas explicaciones de ciertas dificultades o por lo menos obtener halagos y conversaciones inútiles las cuales por corto que fuera el tiempo empleado en ellas representarían al fin y al cabo una pérdida Y en cuanto a las experiencias que hayan hecho ya los demás aun cuando se las quisieran comunicar cosa que no harán nunca quienes les dan el nombre de secretos son las más de entre ellas compuestas de tantas circunstancias o ingredientes superfluos que le costaría no pequeño trabajo descifrar lo que haya en ellas de verdadero y además las hallaría casi todas tan mal explicadas e incluso tan falsas por haber sus autores procurado que parezcan conformes con sus principios que de haber algunas que pudieran servir no valdrían desde luego el tiempo que tendría que gastar en seleccionarlas De suerte que si en el mundo hubiese un hombre de quien se supiera con seguridad que es capaz de encontrar las mayores cosas y las más útiles para el público y por ese motivo los demás hombres se esforzasen por todas las maneras en ayudarle a realizar sus designios no veo que pudiesen hacer con él nada más sino contribuir a sufragar los gastos de las experiencias que fueren precisas y por lo demás impedir que vinieran importunos a estorbar sus ocios laboriosos Mas sin contar con que no soy tan presumido que vaya a prometer cosas extraordinarias ni tan repleto de vanidosos pensamientos que vaya a figurarme que el público ha de interesarse mucho por mis propósitos no tengo tampoco tan rebajada el alma como para aceptar de nadie un favor que pudiera creerse que no he merecido Todas estas consideraciones juntas fueron causa de que no quisiera hace tres años divulgar el tratado que tenía entre manos y aun resolví no publicar durante mi vida ningún otro de índole tan general ni que por él pudieran entenderse los 93 6 7 9 8 Q 7 7 JD3FDJ2FB3FIUN 3FFWFO0GDF30O0GF FCF30FC0G30HO0DF F C DF FGFV C F 0 D ET U0T 0GF E U FO E 3N 0 3K DD 3F F3FT 2 F JGF E 0F D3NF 0F 0F D U OF3 F 20 E DFO D FV F F3 SFND0G0CUF3D3NE0 T3E0XWG30E3TEF0 EDIFTFDOGT3DUUU 03DF3FTDFJ2DFTU3D DUFFDFTFK0 E C F D ZD D2 DFDT F 3DORE00UO2ND23F E3T E UO N 3O 0 J3 3E0 F23 E OFV C F2T UO FD DJ330FC0 F0TUD3F3K EUET00UFEO2U D30EN30DFEFJDF D08FGWKEDUO0GFOF3F EN2KDF3FDIFCDIF0KF3E U O F3DT F J SFEDFFFCEUF CXTCEDN033D FE0HO03DDU3DF3FFTF DOGT3DEJ030EDOD2DFDT FKE0FEDFONN0GH2 UD 0 G E UO X OF DUFDXFFFFUOFFDF 0F3KDCER200F3O DFFGF UFEJI00G0GFD3FET F N GF 3NFFT O0GD 0 6 7 9 8 Q 7 7 DFFDIF3D30EFTX DF3OF3300EFCWU 0FF900FU3O RS3TFEF0030FXF UO0CDFDDFF3FVDG2DU E JF SDFT C DIF D0 FK U0TGEF3GOXFEJD0TE F3D0D0F3 N0FD0OTED0F 3FD3IT C R FF3 E O0F 0FOXFiaVF3DT0F03FTNX3F F C 3FT XWGI DIF KDD3 0 NBFD30F0GFFF3FTF E D 0D3R JF DF J03F JD3T F 0F WTCFO0FTRF00D30E F0JFDFF3FTFZ0 S0K GH F3 NT J N0 JD33 0G 0F FF E UO0 0 0 K3 C 0F 3F S3ZWT E 0F 00D FFF C W FF3 O0FT 3RGF000333D3TCJ2 EFU00IF3FJKTFDE0FWF F0WF3F30F3ETD0FH03DF F3I DF3F 0F DFT E F FF FFT F3FDFFNW0F3I0FH03DFTEFFF J3FFDGEF3D30J03E0F 0KGF00D20TFD0SDF3E FDC3F0DC3FFJ3FT0FFF 0F W FN DIF E O0FT S00FTCTDOTFFFFEOF F3FJ3FF0FU00DFFFTFE ia G F OXF F3FT 0D3 6I3FT OOFT 0T 1FFT 3 BFDF 0F FF3F F3F 6 7 9 8 Q 7 7 F F E F 0F 0F DF NFEUS0F3FFVUE SFD3U0TDE3F GFT EFK02F3F0OFFDGEFO 20E3UF3N3ZFFTCE F33DIFFFFNG0 N 3 DIF 33F C IG0FT NU 0 FK J 0G S3NG3 J0FJ2 FO 0F ECFDFFTC0GFD3OCD20 0VE0E30FF3D3D2FT 0F SF NFT F F F F O 0F WFE0FOTF3CFGEI3 F00F C 3 JDF 0 F3 DHT E FI 3F DF S3F C S3ZF E 0FE 3F E FF33F 0F DFDF F3FV C D 3D F 0 D N3G00FTFF0D3UO0F D3TE0FX3FE0FXT FFK0E0WKDNKFN 0F 3FF O 3D X3 0 N3ES00K3TEF FEFD0VFDFEDUF3W C F3DO U C X 0F DIEF E U F3T F E 0F J03 G F3T 3 S3Z F2 E F 00 0 D NW D F 0G FGF 2 3 0 0H D S03FK0UOF3O03 FFO3FTEF00GD2FT0G U0 032T E F 0 D D0 DF 3FTFEFE0FEUGFF WK30XWGIDXDFFE0FE FK00F0OF3GFVC30FE 0OF30F3THFEFFDFXFT FIFGD330FJN0032EF G2DFWFS0F0GN0G 6 7 9 8 Q 7 7 B0DIFTEUO0E230D30F GFFEF0WDIF030FFT DD3D 0HO0T D3R0 FFE F3R FG D0V R 0 FK0 E U F03 D003DEDENE 0GH D3 0 30WT E F 30 E F N0DG0FDIFFGFE0F UF3 UC FFT CE D 0K D 333 JW0FE3FFGFTFO30FE FN F F Z 3FT E F 0GF F3F D F3Z 3 00FT E F2W00N0FO3RD9F30KE E2UGOFREUFNUDFO0 0DVDF3GGGF0CFD DFRDIFO0G0FEDUG0D CDGWDFFF3WFE0F EDJW0FDIFUFFD0F0D ii90FF0DR3F0D0OJ0FJ2F3JRF Slide 1 Capa Título Discurso do Método de René Descartes Subtítulo Uma análise da quinta parte e suas implicações filosóficas e científicas René Descartes 15961650 Slide 2 Introdução Conteúdo Contexto histórico Século XVII Revolução Científica Objetivo da obra Estabelecer um método para alcançar a verdade através da razão Foco da apresentação Análise da Quinta Parte que aborda a existência de Deus a alma e a natureza Citação Não presumir nenhum outro princípio salvo aquele de que acabo de me servir para provar a existência de Deus e da alma DESCARTES sd p 1 Slide 3 Tópicos principais 1 Existência de Deus e da alma Bases racionais 2 Leis da natureza Derivadas da perfeição divina 3 Analogias científicas Corpo humano como máquina modelo do coração e circulação sanguínea 4 Diferença entre humanos e animais A alma racional Estrutura do Coração Esquema da circulação sanguínea Slide 4 Deus e as Leis da Natureza Conteúdo Descartes argumenta que Deus estabeleceu leis naturais imutáveis Exemplo Percebi certas leis que Deus estabeleceu de tal modo na natureza que não poderíamos pôr em dúvida que não fossem exatamente observadas DESCARTES sd p 1 Universo ordenado por leis matemáticas Slide 5 O Corpo como Máquina Conteúdo Analogia do relógio O coração funciona como um mecanismo autônomo Descrição detalhada O movimento do coração decorre da disposição dos órgãos como o movimento de um relógio decorre de suas rodas DESCARTES sd p 5 Comparação entre um relógio mecânico e o coração humano Slide 6 A Circulação Sanguínea Conteúdo A Influência de William Harvey médico inglês 15781657 faz menção às veias do braço referindose aos experimentos com ligaduras para demonstrar o fluxo do sangue citado por Descartes De Motu Cordis 1628 Sobre o Movimento do Coração veias do braço Slide 7 A Circulação Sanguínea citado por Descartes Processo O sangue flui do coração para as artérias retorna pelas veias e forma uma circulação perpétua DESCARTES sd p 6 Sistema de circulação sanguínea no coração Slide 8 Humanos vs Animais Conteúdo Diferença fundamental A alma racional exclusiva dos humanos Argumento Animais não utilizam linguagem para expressar pensamentos apenas imitam sons DESCARTES sd p 9 Papagaios repetem palavras mas não demonstram razão Slide 9 A Alma Imortal Conteúdo Conclusão filosófica A alma é independente do corpo e imortal Citação Nossa alma é de uma natureza inteiramente independente do corpo e consequentemente imortal DESCARTES sd p 10 Representação alegórica da alma como uma chama ou luz Slide 10 Considerações Finais Pontoschave Descartes une ciência e filosofia Seu método influenciou a modernidade racionalismo Dualismo corpoalma ainda debatido hoje Pergunta ao público Como diferenciaríamos humanos de máquinas inteligentes hoje Escultura O Pensador de Rodin Slide 11 Referências Bibliográficas DESCARTES René Discurso do Método Tradução de Maria Ermantina Galvão São Paulo Martins Fontes sd HARVEY William De Motu Cordis 1628 Obra citada por Descartes Slide 12 IMAGEM DE AGRADECIMENTO Discurso do Método de René Descartes Uma análise da quinta parte do discurso e suas implicações filosóficas e científicas Acadêmica René Descartes 15961650 Introdução Conteúdo Contexto histórico Século XVII Revolução Científica Objetivo da obra Estabelecer um método para alcançar a verdade através da razão Foco da apresentação Análise da Quinta Parte que aborda a existência de Deus a alma e a natureza Citação Não presumir nenhum outro princípio salvo aquele de que acabo de me servir para provar a existência de Deus e da alma DESCARTES sd p 1 Tópicos principais 1 Existência de Deus e da alma Bases racionais 2 Leis da natureza Derivadas da perfeição divina 3 Analogias científicas Corpo humano como máquina modelo do coração e circulação sanguínea 4 Diferença entre humanos e animais A alma racional Deus e as Leis da Natureza Descartes argumenta que Deus estabeleceu leis naturais imutáveis Exemplo Percebi certas leis que Deus estabeleceu de tal modo na natureza que não poderíamos pôr em dúvida que não fossem exatamente observadas DESCARTES sd p 1 O Corpo como Máquina Analogia do relógio O coração funciona como um mecanismo autônomo Descrição detalhada O movimento do coração decorre da disposição dos órgãos como o movimento de um relógio decorre de suas rodas DESCARTES sd p 5 A Circulação Sanguínea A Influência de William Harvey médico inglês 15781657 faz menção às veias do braço referindose aos experimentos com ligaduras para demonstrar o fluxo do sangue citado por Descartes A Circulação Sanguínea citado por Descartes Processo O sangue flui do coração para as artérias retorna pelas veias e forma uma circulação perpétua DESCARTES sd p 6 Humanos vs Animais Diferença fundamental A alma racional exclusiva dos humanos Argumento Animais não utilizam linguagem para expressar pensamentos apenas imitam sons DESCARTES sd p 9 A Alma Imortal Conclusão filosófica A alma é independente do corpo e imortal Citação Nossa alma é de uma natureza inteiramente independente do corpo e consequentemente imortal DESCARTES sd p 10 Considerações Finais Pontoschave Descartes une ciência e filosofia Seu método influenciou a modernidade racionalismo Dualismo corpoalma ainda debatido hoje Pergunta ao público Como diferenciaríamos humanos de máquinas inteligentes hoje Referências Bibliográficas DESCARTES René Discurso do Método Tradução de Maria Ermantina Galvão São Paulo Martins Fontes sd HARVEY William De Motu Cordis 1628 Obra citada por Descartes THANK YOU OBRIGADO Obrigado Thank You Asante Gracias Kiitos Merci Spasibo Arigato Wëlalin Salamat Matondo Grazzie Mamana Matur Nuwan Chokrane Mochchakkeram Terma Kasih Mul tumesc Raibh Maith Agat Dankon Maake Ua Tsaug Rau Koj Cam on ban Vinaka Nirrinqrazzjoni Spasibo Obrigado Mul tumesc Merci Chokrane Graz ie Di myloviewr QUINTA PARTE SERIA DE MUITO meu agrado continuar e expor aqui toda a cadeia de outras verdades que deduzi dessas primeiras Porém suposto que para tal realização seria agora necessário que abordasse muitas questões controvertidas entre os eruditos dos quais não desejo atrair a inimizade acredito que será melhor que eu me abstenha e apenas diga em geral quais elas são para deixar que os mais sábios julguem se seria útil que o público fosse mais especificamente informado a esse respeito Continuava sempre firme na decisão que tomara de não presumir nenhum outro princípio salvo aquele de que acabo de me servir para provar a existência de Deus e da alma e de não aceitar coisa alguma por verdadeira que não se me afigurasse mais clara e mais correta do que se me haviam afigurado anteriormente as demonstrações dos geômetras Contudo atrevome a afirmar que não apenas encontrei modo de me satisfazer em pouco tempo no tocante a todas as mais importantes dificuldades que costumam ser enfrentadas na filosofia mas também que percebi certas leis que Deus estabeleceu de tal modo na natureza e das quais imprimiu tais noções em nossas almas que após meditar bastante acerca delas não poderíamos pôr em dúvida que não fossem exatamente observadas em tudo o que existe ou se faz no mundo Em seguida atentando para a sequência dessas leis creio haver descoberto muitas verdades mais úteis e mais importantes do que tudo quanto aprendera até então ou mesmo esperava aprender Porém posto que tentei explicar as principais num tratado que certas considerações me impedem de publicar não poderia fazêlas conhecer melhor do que explicando aqui resumidamente o que ele contém Eu pleiteava antes de escrevêlo incluir nele tudo o que julgava saber a respeito da natureza das coisas materiais Contudo tal qual os pintores que não conseguindo representar igualmente bem numa tela plana todas as diversas faces de um corpo sólido escolhem uma das principais que põem à luz e sombreando as outras só as fazem aparecer tanto quanto se possa vêlas ao olhar aquela receando dessa forma não colocar em meu discurso tudo o que havia em meu pensamento tentei apenas expor bem amplamente o que concebia da luz depois na ocasião propícia acrescentar alguma coisa a respeito do sol e das estrelas fixas porque a luz provém quase inteiramente deles a respeito dos céus porque a transmitem a respeito dos planetas dos cometas e da Terra porque a refletem e em particular a respeito de todos os corpos que existem sobre a Terra porque são ou coloridos ou transparentes ou brilhantes e por fim a respeito do homem porque é o seu espectador Também para sombrear um pouco todas essas coisas e poder dizer mais livremente o que pensava acerca delas sem ser obrigado a seguir nem a desaprovar as opiniões aceitas entre os eruditos decidi deixar todo esse mundo às suas disputas e a falar apenas do que aconteceria num novo se Deus criasse agora em qualquer parte nos espaços imaginários suficiente matéria para compôlo e se agitasse de maneira diferente e sem ordem as diferentes partes desta matéria de forma que compusesse com ela um caos tão tumultuado quanto os poetas possam nos fazer acreditar e que em seguida não fizesse outra coisa a não ser prestar o seu concurso comum à natureza e deixála agir conforme as leis por ele estabelecidas Assim em primeiro lugar descrevi essa matéria e tentei representála de tal maneira que nada existe no mundo pareceme mais claro nem mais inteligível salvo o que há pouco foi dito a respeito de Deus e da alma pois presumi claramente que não havia nela nenhuma dessas formas ou qualidades a respeito das quais se discute nas escolas nem de modo geral qualquer coisa cujo conhecimento não fosse tão natural às nossas almas que não se pudesse fingir ignorála Ademais mostrei quais eram as leis da natureza e sem alicerçar minhas razões em nenhum outro princípio exceto no das perfeições infinitas de Deus tentei provar todas aquelas que pudessem provocar alguma dúvida e mostrar que elas são tais que ainda que Deus tivesse criado muitos mundos não poderia haver um só em que deixassem de ser observadas Depois disso mostrei como a maior parte da matéria desse caos devia como consequência dessas leis disporse e arranjarse de uma certa maneira que a torna semelhante aos nossos céus como contudo algumas de suas partes deviam compor uma Terra alguns dos planetas e cometas e outras um sol e estrelas fixas Neste ponto estendendome acerca do tema da luz expliquei detidamente qual era a que se devia encontrar no sol e nas estrelas e de que maneira a partir daí atravessava num instante os incomensuráveis espaços dos céus e de que forma se refletia dos planetas e dos cometas para a Terra Acrescentei a isso também várias coisas relativas à substância posição movimentos e todas as várias qualidades desses céus e desses astros de maneira que pensava ter dito o suficiente a respeito para fazer compreender que nada se percebe nos deste mundo que não devesse ou ao menos não pudesse parecer semelhante nos do mundo que eu descrevia Daí me pus a falar especificamente acerca da Terra como apesar de haver claramente estabelecido que Deus não colocara peso algum na matéria de que ela era formada todas as suas partes não deixavam de propender exatamente para o seu centro como existindo água e ar em sua superfície a disposição dos céus e dos astros especialmente da lua devia nela causar um fluxo e refluxo que fosse semelhante em todas as suas circunstâncias ao que se observa nos nossos mares e além disso certo curso tanto da água como do ar do levante para o poente tal como se observa também entre os trópicos como as montanhas os mares as fontes e os rios podiam naturalmente formarse nela e os metais surgirem nas minas e as plantas crescerem nos campos e em geral todos os corpos denominados mistos ou compostos serem nela gerados E entre outras coisas já que além dos astros nada conheço no mundo exceto o fogo que produza a luz dediqueime a explicar com bastante clareza tudo o que pertence à sua natureza de que maneira ele se origina como se alimenta como às vezes só há calor sem luz e outras vezes luz sem calor como pode introduzir várias cores em vários corpos e numerosas outras qualidades como funde uns e endurece outros como os pode consumir a quase todos ou transformar em cinzas e em fumo e por fim como dessas cinzas apenas pela força de sua ação produz o vidro pois ao considerar essa transmutação de cinzas em vidro tão assombrosa como nenhuma outra que se realize na natureza proporcionoume especial prazer descrevêla Contudo não desejava inferir de todas essas coisas que este mundo houvesse sido criado da forma como propunha pois é muito mais provável que desde o início Deus o tenha tomado tal como devia ser Mas é certo e é uma opinião geralmente adotada pelos teólogos que a ação mediante a qual ele agora o conserva é exatamente igual àquela mediante a qual o criou de forma que apesar de não lhe haver dado no início outra forma a não ser a do caos desde quando tendo instituído as leis da natureza tenha lhe prestado seu concurso para ela agir assim como costuma podese crer sem nenhum prejuízo para o milagre da criação que apenas por isso todas as coisas que são genuinamente materiais poderiam ao longo do tempo converterse em tais como as vemos atualmente E sua natureza é muito mais fácil de ser compreendida quando as vemos nascer pouco a pouco desta forma do que quando já as consideramos totalmente concluídas Da descrição dos corpos inanimados e das plantas passei à dos animais e especificamente à dos homens Porém como ainda não possuía suficiente conhecimento para falar a respeito deles no mesmo estilo que do resto ou seja demonstrando os efeitos a partir das causas e mostrando de quais sementes e de que modo a natureza deve produzilos satisfizme em imaginar que Deus formasse o corpo de um homem inteiramente semelhante a um dos nossos tanto no aspecto exterior de seus membros como na conformação interior de seus órgãos sem compôlo de outra matéria exceto aquela que eu descrevera e sem colocar nele no início alma racional alguma nem qualquer outra coisa para servirlhe de alma vegetativa ou sensitiva mas sim avisasse em seu coração um desses fogos sem luz que eu já explicara e que não concebia outra natureza a não ser a que aquece o feno quando o guardam antes de estar seco ou a que faz ferver os vinhos novos quando fermentam sobre o bagaço Pois examinando as funções que por causa disso podiam se encontrar neste corpo achava exatamente todas as que podem estar em nós sem que o pensemos nem como consequência que a nossa alma isto é essa parte distinta do corpo cuja função como já foi dito mais acima é apenas a de pensar para tal contribua e que são todas as mesmas o que consente dizer que os animais sem razão se nos assemelham sem que eu possa encontrar para isso nenhuma daquelas razões que por dependerem do pensamento são as únicas que nos pertencem enquanto homens enquanto encontrava a todas em seguida ao presumir que Deus criara uma alma racional e que a juntara a esse corpo de uma certa maneira que descrevia Porém para que se possa ver de que modo eu lidava com esta matéria quero mostrar aqui a explicação do movimento do coração e das artérias o qual sendo o primeiro e o mais geral que se observa nos animais consentirá julgar com facilidade a partir dele o que se deve pensar de todos os outros E para que seja mais fácil entender o que vou dizer a esse respeito desejaria que todos os que não são peritos em anatomia se dessem ao trabalho antes de ler isto de mandar cortar diante deles o coração de um grande animal que possua pulmões já que é em tudo parecido com o do homem e que peçam para ver as duas câmaras ou concavidades nele existentes Primeiramente a que está no lado direito na qual se ligam dois tubos muito largos a veia cava que é o principal receptáculo do sangue como o tronco da árvore da qual todas as outras veias do corpo são ramos e a veia arteriosa que foi assim indevidamente denominada pois em verdade se trata de uma artéria a qual originandose do coração se divide após sair dele em muitos ramos que vão espalharse nos pulmões Depois a que se encontra no lado esquerdo na qual se ligam de igual maneira dois tubos que são tanto ou mais largos que os anteflores a artéria venosa que também foi indevidamente denominada porque se trata de uma veia que provém dos pulmões onde se reparte em vários ramos entrançados com os da veia arteriosa e com os desse conduto que se chama gasnete por onde entra o ar da respiração e a grande artéria que saindo do coração espalha seus ramos por todo o corpo Apreciaria também que lhes mostrassem cuidadosamente as onze diminutas peles que como outras tantas diminutas portas abrem e fecham as quatro aberturas que existem nessas duas concavidades três à entrada da veia cava onde estão dispostas de tal maneira que não podem de forma alguma impedir que o sangue nela contido corra para a concavidade direita do coração e no entanto impedem que possa dali sair três à entrada da veia arteriosa que estando dispostas bem ao contrário permitem de fato ao sangue que se encontra nessa concavidade fluir para os pulmões mas não ao que se encontra nos pulmões voltar para lá e também duas outras à entrada da artéria venosa que deixam passar o sangue dos pulmões para a concavidade esquerda do coração mas obstam seu retorno e três à entrada da grande artéria que lhe permitem sair do coração porém impedem seu retorno E não é preciso procurar outra razão para o numero dessas peles exceto a de que a abertura da artéria venosa por ser oval em virtude do local onde se encontra pode ser comodamente fechada com duas enquanto por serem as outras redondas três podem melhor fechálas Além disso desejaria que considerassem que a grande artéria e a veia arteriosa são de uma composição muito mais rija e mais firme do que a artéria venosa e a veia cava e que as duas últimas se dilatam antes de penetrar no coração formando aí como duas bolsas denominadas orelhas do coração que se compõem de uma carne parecida com a deste e que existe sempre mais calor no coração do que em qualquer outro local do corpo e enfim que este calor é capaz de fazer com que se uma gota de sangue entrar em suas concavidades ela inche prontamente e se dilate como geralmente se comportam todos os líquidos quando os deixamos cair gota a gota dentro de algum vaso que esteja bem quente Depois disso nada mais necessito dizer para explicar o movimento do coração exceto que quando as suas concavidades não estão repletas de sangue este flui necessariamente da veia cava para a concavidade direita e da artéria venosa para a esquerda já que esses dois vasos se encontram sempre cheios e que suas aberturas voltadas para o coração não podem então ser fechadas mas tão logo tenham entrado duas gotas de sangue uma em cada concavidade estas gotas que são bastante grossas porque as aberturas por onde penetram são muito largas e os vasos de onde provêm bem cheios de sangue diluemse e dilatamse devido ao calor que aí encontram dessa maneira fazendo inflar o coração todo empurram e fecham as cinco pequenas portas que ficam à entrada dos dois vasos de onde provêm impedindo assim que chegue mais sangue ao coração e continuando a diluirse cada vez mais empurram e abrem as seis outras pequenas portas situadas à entrada dos dois outros vasos por onde saem fazendo inflar dessa forma todos os ramos da veia arteriosa e da grande artéria quase no mesmo instante que o coração o qual imediatamente desincha como ocorre também com essas artérias por se resfriar o sangue que nelas entrou e suas seis pequenas portas se fecham e as cinco da veia cava e da artéria venosa reabremse dando passagem a duas outras gotas de sangue que vão de novo inflar o coração e as artérias da mesma maneira que as precedentes E como o sangue que penetra assim no coração passa por essas duas bolsas que são denominadas suas orelhas resulta que o movimento dessas é contrário ao seu e que elas desincham quando ele infla De resto para que aqueles que não conhecem a força das demonstrações matemáticas e não estão habituados a discernir as razões verdadeiras e as prováveis não se arrisquem a negar tal fato sem uma análise quero chamarlhes a atenção para o fato de que esse movimento que acabo de descrever decorre necessariamente da simples disposição dos órgãos que se podem divisar a olho nu no coração e do calor que se pode sentir com os dedos e da natureza do sangue que se pode conhecer por experiência como o movimento de um relógio decorre da força da posição e da forma de seus contrapesos e rodas Porém se me for perguntado por que o sangue das veias não se esgota fluindo continuamente para o coração e por que as artérias não se enchem demais já que tudo quanto passa pelo coração para elas se dirige não preciso responder nada mais do que já foi escrito por um médico da Inglaterra a quem é preciso dar o louvor de ter rompido o gelo neste ponto e de ser o primeiro a ter ensinado a existência de muitas pequenas passagens nas extremidades das artérias por onde o sangue que elas recebem do coração penetra nos diminutos ramos das veias de onde ele torna a dirigirse para o coração de maneira que o seu curso é uma circulação perpétua E isso ele prova muito bem pela experiência comum dos cirurgiões que amarrando o braço sem apertálo muito acima do local onde abrem a veia fazem com que o sangue saia dela com mais abundância do que se não o tivessem amarrado E aconteceria exatamente o contrário se eles o amarrassem mais abaixo entre a mão e a abertura ou então se o amarrassem com muita força em cima Pois é evidente que o laço medianamente apertado embora impedindo que o sangue que já se encontra no braço retorne ao coração pelas veias não impede que para aí sempre aflua novo sangue pelas artérias porque estas se situam por baixo das veias e porque suas peles sendo mais rijas são mais difíceis de pressionar e também porque o sangue proveniente do coração tende com mais força a passar por elas em direção à mão do que a voltar daí para o coração pelas veias E como esse sangue sai do braço pela abertura que há numa das veias devem necessariamente existir algumas passagens abaixo do laço ou seja na direção das extremidades do braço por onde possa vir das artérias Além disso ele prova bastante bem o que afirma a respeito do fluxo do sangue por certas pequenas peles as quais se encontram de tal maneira dispostas em diversos pontos ao longo das veias que não lhe permitem passar do meio do corpo para as extremidades mas somente retornar das extremidades para o coração e ademais pela experiência que mostra que todo o sangue que há no corpo pode dele sair em muito pouco tempo por uma única artéria quando seccionada até mesmo se ela fosse fortemente amarrada muito próxima do coração e seccionada entre ele e a ligadura de maneira que não houvesse motivo de imaginar que o sangue que daí saísse procedesse de outro lugar Mas existem numerosas outras coisas que comprovam que a verdadeira causa desse movimento do sangue é a que eu apresentei Assim em primeiro lugar a diferença que se percebe entre o sangue que sai das veias e o que sai das artérias só pode se originar do fato de que havendose diluído e como destilado ao passar pelo coração é mais fino mais vivo e mais quente logo após sair dele ou seja quando corre nas artérias do que o é um pouco antes de nele penetrar isto é quando corre nas veias E se se prestar atenção verificase que tal diferença só aparece realmente na direção do coração e de forma alguma nos lugares que dele são mais distantes Depois a rigidez das peles de que a veia arteriosa e a grande artéria se compõem mostra satisfatoriamente que o sangue bate contra elas com mais força do que contra as veias E por que seriam a concavidade esquerda do coração e a grande artéria maiores e mais largas do que a concavidade direita e a veia arteriosa se não fosse porque o sangue da artéria venosa tendo estado apenas nos pulmões depois de passar pelo coração é mais fino e se dilui mais facilmente do que aquele que procede imediatamente da veia cava E o que podem os médicos descobrir ao tatear o pulso se não sabem que conforme o sangue muda de natureza pode ser diluído pelo calor do coração mais ou menos forte e mais ou menos rápido do que antes E se se examina de que maneira esse calor se transfere aos outros membros não convém confessar que é por meio do sangue que ao passar pelo coração nele se aquece e daí se espalha por todo o corpo Daí decorre que se se retira o sangue de alguma parte retiraselhe da mesma forma o calor e mesmo que o coração fosse tão ardente quanto um ferro em brasa não bastaria como não basta para aquecer os pés e as mãos se não lhes enviasse ininterruptamente novo sangue Depois também se sabe daí que a real utilidade da respiração é levar bastante ar fresco aos pulmões a fim de fazer com que o sangue que para aí se dirige vindo da concavidade direita do coração onde foi diluído e como transmudado em vapores se adense e se transforme novamente antes de recair na concavidade esquerda sem o que não seria apropriado para servir de alimento ao fogo aí existente O que está de acordo porquanto os animais que não possuem pulmões não são providos de mais do que uma concavidade no coração e as crianças que não podem utilizálos por se encontrarem fechadas no ventre de suas mães apresentam uma abertura por onde corre o sangue da veia cava em direção à concavidade esquerda do coração e um conduto por onde ele provém da veia arteriosa para a grande artéria sem passar pelos pulmões Depois a digestão como ela se processaria no estômago se o coração não lhe enviasse calor pelas artérias e com esse alguns dos elementos mais fluidos do sangue que ajudam a dissolver os alimentos que foram para ali levados E a ação que transformou o suco desses alimentos em sangue não será ela fácil de conhecer se se considera que este se destila passando e repassando pelo coração talvez mais de cem ou duzentas vezes por dia E de que mais se precisa para explicar a nutrição e a produção dos vários humores que há no corpo salvo afirmar que a força com que o sangue ao rarefazerse passa do coração para as extremidades das artérias leva alguns de seus elementos a se deterem entre os dos membros onde se encontram e a tomarem aí o lugar de alguns outros que elas expulsam e que de acordo com a situação ou com a configuração ou com a peque nez dos poros que encontram alguns vão ter a certos lugares mais do que outros de igual maneira como cada um pode ter visto várias peneiras que sendo diferentemente perfuradas servem para separar diversos grãos uns dos outros E por fim o que existe de mais extraordinário em tudo isso é a geração dos espíritos animais que são como um vento muito sutil ou melhor como uma chama muito pura e muito viva que subindo ininterruptamente em grande quantidade do coração ao cérebro dirigese a partir daí pelos nervos para os músculos e imprime movimento a todos os membros sem que seja necessário imaginar outra causa que Leve os elementos do sangue que por serem os mais agitados e penetrantes são os mais adequados para compor tais espíritos a se dirigirem mais ao cérebro do que a outras partes mas apenas que as artérias que os transportam para aí são aquelas que provém do coração em Linha mais reta de todas e que de acordo com as leis da mecâ nica que são as mesmas da natureza quando várias coisas tendem a moverse em conjunto para um mesmo lado onde não existe espaço suficiente para todas tal qual os elementos do sangue que saem da concavidade esquerda do coração tendem para o cérebro os mais débeis e menos agitados devem ser desviados pelos mais fortes que por esse meio aí chegam sozinhos Eu explanara muito particularmente todas essas coisas no tratado que pretendi publicar em tempos passados E em seguida expusera nele qual deve ser a estrutura dos nervos e dos músculos do corpo humano para fazer com que os espíritos animais que se encontram dentro deles tenham a força de mover seus membros assim como se vê que as cabeças pouco depois de decepadas ainda se movem e mordem a terra apesar de não serem mais animadas quais transformações se devem efetuar no cérebro para produzir a vigília o sono e os sonhos como a luz os sons os odores os sabores o calor e todas as outras qualidades dos objetos exteriores nele podem imprimir variadas idéias por intermédio dos sentidos como a fome a sede e as outras paixões interiores também podem lhe transmitir as suas o que deve ser nele tomado pelo senso comum onde essas idéias são aceitas pela memória que as conserva e pela fantasia que as pode modificar diferentemente e formar com elas outras novas e pelo mesmo meio distribuindo os espíritos animais nos músculos movimentar os membros desse corpo de tão diferentes maneiras quer a respeito dos objetos que se apresentam a seus sentidos quer das paixões interiores que se encontram nele que os ossos se possam movimentar sem que a vontade os conduza O que não parecerá de maneira alguma estranho a quem sabendo quão diversos autômatos ou máquinas móveis a indústria dos homens pode produzir sem aplicar nisso senão pouquíssimas peças em comparação à grande quantidade de ossos músculos nervos artérias veias e todas as outras partes existentes no corpo de cada animal considerará esse corpo uma máquina que tendo sido feita pelas mãos de Deus é incomparavelmente mais bem organizada e capaz de movimentos mais admiráveis do que qualquer uma das que possam ser criadas pelos homens E me demorara especificamente neste ponto para mostrar que se existissem máquinas assim que fossem providas de órgãos e do aspecto de um macaco ou de qualquer outro animal irracional não teríamos meio algum para reconhecer que elas não seriam em tudo da mesma natureza que esses animais contudo se existissem outras que se assemelhassem com os nossos corpos e imitassem tanto nossas ações quanto moralmente fosse possível teríamos sempre dois meios bastante seguros para constatar que nem por isso seriam verdadeiros homens Desses meios o primeiro é que jamais poderiam utilizar palavras nem outros sinais arranjandoos como fazemos para manifestar aos outros os nossos pensamentos Pois podese muito bem imaginar que uma máquina seja feita de tal modo que articule palavras e até que articule algumas a respeito das ações corporais que causem alguma mudança em seus órgãos por exemplo se a tocam num ponto que indague o que se pretende dizerlhe se em outro que grite que lhe causam mal e coisas análogas mas não que ela as arrume diferentemente para responder ao sentido de tudo quanto se disser na sua presença assim como podem fazer os homens mais embrutecidos E o segundo meio é que ainda que fizessem muitas coisas tão bem ou talvez melhor do que qualquer um de nós falhariam inevitavelmente em algumas outras pelas quais se descobriria que não agem pelo conhecimento mas apenas pela distribuição ordenada de seus órgãos Pois enquanto a razão é um instrumento universal que serve em todas as ocasiões tais órgãos precisam de alguma disposição específica para cada ação específica daí decorre que é moralmente impossível que numa máquina haja muitas e diferentes para fazêla agir em todas as ocasiões da vida da mesma maneira que a nossa razão nos faz agir Notese que por esses dois meios podese também conhecer a diferença que há entre os homens e os animais Já que é algo extraordinário que não existam homens tão embrutecidos e tão estúpidos sem nem mesmo a exceção dos loucos que não tenham a capacidade de ordenar diversas palavras arranjandoas num discurso mediante o qual consigam fazer entender seus pensamentos e que ao contrário não haja outro animal por mais perfeito que possa ser capaz de fazer o mesmo E isso não ocorre porque lhes faltem órgãos pois sabemos que as pegas e os papagaios podem articular palavras assim como nós no entanto não conseguem falar como nós ou seja demonstrando que pensam o que dizem enquanto os homens que havendo nascido surdos e mudos são desprovidos dos órgãos que servem aos outros para falar tanto ou mais que os animais costumam criar eles mesmos alguns sinais mediante os quais se fazem entender por quem convivendo com eles disponha de tempo para aprender a sua língua E isso não prova somente que os animais possuem menos razão do que os homens mas que não possuem nenhuma razão Pois vemos que é necessário bem pouco para saber falar e se bem que se percebe desigualdade entre os animais de uma mesma espécie assim como entre os homens e que uns são mais fáceis de adestrar que outros não é acreditável que um macaco ou um papagaio que fossem os mais perfeitos de sua espécie não igualassem nisso uma criança das mais estúpidas ou pelo menos uma criança com o cérebro confuso se a sua alma não fosse de uma natureza totalmente diferente da nossa E não se devem confundir as palavras com os movimentos naturais que testemunham as paixões e podem ser imitados pelas máquinas e também pelos animais nem pensar como alguns antigos que os animais falam embora não entendamos sua linguagem pois se fosse verdade visto que possuem muitos órgãos correlatos aos nossos poderiam fazerse compreender tanto por nós como por seus semelhantes E também coisa digna de nota que apesar de haver muitos animais que demonstram mais habilidade do que nós em algumas de suas ações percebese contudo que não a demonstram nem um pouco em muitas outras de forma que aquilo que fazem melhor do que nós não prova que possuam alma pois por esse critério tôlaiam mais do que qualquer um de nós e agiriam melhor em tudo mas ao contrário que não a possuem e que é a natureza que atua neles conforme a disposição de seus órgãos assim como um relógio que é feito apenas de rodas e molas pode contar as horas e medir o tempo com maior precisão do que nós com toda a nossa sensatez Depois disso eu descrevera a alma racional e havia mostrado que ela não pode ser de maneira alguma tirada do poder da matéria como as outras coisas a respeito das quais falara mas que devem claramente ter sido e como não é suficiente que esteja alojada no corpo humano assim como um piloto em seu navio salvo talvez para mover seus membros mas que é necessário que esteja junta e unida estreitamente com ele para ter além disso sentimentos e desejos parecidos com os nossos e assim compor um verdadeiro homem Afinal de contas eu me estendi um pouco aqui sobre o tema da alma por ele ser um dos mais importantes pois após o erro dos que negam Deus que penso haver refutado suficientemente mais acima não existe outro que desvie mais os espíritos fracos do caminho reto da virtude do que imaginar que a alma dos animais seja da mesma natureza que a nossa e que portanto nada temos a recear nem a esperar depois dessa vida não mais do que as moscas e as formigas ao mesmo tempo que sabendose quanto diferem compreendese muito mais as razões que provam que a nossa é de uma natureza inteiramente independente do corpo e consequentemente que não está de maneira alguma sujeita a morrer com ele depois como não se notam outras causas que a destruam somos naturalmente impelidos a supor por isso que ela é imortal