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HISTÓRIA ORAL E FORMALIDADES METODOLÓGICAS MAGDALENA MARIA DE ALMEIDA1 O debate epistemológico é sempre uma necessidade para empreender atividades de pesquisa Pensar nas diferentes estratégias metodológicas como forma para operacionalização de um método requer uma visão crítica e o reconhecimento de que nenhum método é perfeito ainda que formalmente constituído e reconhecido pelos meios acadêmicos Os manuais que tratam de métodos de pesquisa trazem funções e sequências de procedimentos para que a pesquisa munida pelas formalidades que requer o conhecimento acadêmico auxilie o pesquisador na conquista de seus objetivos Fontes diferenciadas observadas por perspectivas distintas oferecem possibilidades para focar as controvérsias inevitáveis num processo de pesquisa A chamada história oral é um procedimento metodológico que busca pela construção de fontes e documentos registrar através de narrativas induzidas e estimuladas testemunhos versões e interpretações DELGADO 2006 p15 É estratégia metodológica que dá base à produção de fontes oriundas de depoimentos Norteada por este conceito a ideia é tratar reuniões formais ou informais como alternativa à entrevista de história oral a serem tratadas como fonte de trabalho para o historiador A coleta de discursos com identificação de origem e sem compromisso formal de doação incluídos no texto escrito produzido pelo historiador faz parte do debate proposto Promover uma reflexão acerca da utilização exclusiva da entrevista individual como parte da chamada história oral técnica que oferece suporte à produção historiográfica a partir da coleta de depoimentos é o objetivo prioritário nesta discussão O uso de fontes orais é recurso utilizado nas ciências sociais de modo geral baseandose na quantificação para construção de análises qualitativas na produção historiográfica da atualidade por meio da chamada história oral é particularmente voltado para a pesquisa qualitativa A história oral por intermédio de entrevistas tem por base as memórias individuais e é principalmente neste aspecto que se baseiam os pesquisadores para distinguila das diversas estratégias de pesquisa social que se utilizam de fontes orais Como técnica que produz fontes a história oral carrega alguns problemas relativos à coleta de depoimentos que podem torná los discutíveis em termos de sua confiabilidade como fonte de pesquisa Considerese que a 1 Historiadora Professora da graduação em História na Universidade de Pernambuco Campus Garanhuns UPE Garanhuns Doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ 2 crítica aos relatos orais deve constituirse em instrumento de investigação das suas próprias condições de produção o lugar social em que a pesquisa está circunscrita como se procede com as demais fontes GUIMARÃES NETO 2006 p46 A entrevista individual é uma forma de coleta de depoimentos mas a fonte de pesquisa baseada na oralidade pode ser construída além da entrevista individual De outro ângulo o depoimento individual pode constituirse valiosa fonte ainda que não se constitua entrevista formal Da mesma maneira o produto de debates realizados sob a forma de reuniões pode trazer à tona importantes informações para constituição de objetos de um projeto de pesquisa Concebo uma possibilidade de interpretação de depoimentos através da utilização de registros de reuniões na forma de atas ou qualquer outro tipo de depósito de memória ou da captura de falas com ou sem compromisso formal com sua doação amparado ou não no anonimato de quem diz A base desta discussão é a captura de discursos que o pesquisador identifique como relacionados ao seu objeto de estudo ainda que estes discursos não integrem um conjunto sistematizado de fontes ou não faça parte de um projeto cujo resultado passe a caracterizar um acervo colecionado que ofereça respostas a quem pesquisa O que dizer da captura de ideias que circulam na sociedade por quem pesquisa As ideias não representam necessariamente uma visão social mas são indícios de como os indivíduos conduzem suas vidas seus discursos e suas atitudes resultantes do conjunto das interações estabelecidas em sociedade Por outro lado pouco ou nada se pode avaliar em termos de confirmação da autoria das ideias defendidas por um escritor no texto que produz É fato embora nem sempre declarado que o escritor atuante nas humanidades tem na sociedade seu principal laboratório Defendo a assunção pelo historiador da coleta de informações a partir da sociedade considerando que as ideias expressas por um indivíduo não são fruto de sua criação individual ou isolada mas do conjunto das relações que acumulou ao longo de sua existência estejam elas articuladas com a vida particular ou com a vida pública sejam elas teóricas ou experimentais Nestes termos o dizer de um autor está diretamente vinculado à memória coletiva e à cultura que o insere e é por ele tratada como parte de suas descobertas a caminho do conhecimento Por inspiração em Morin podese dizer que a aquisição de uma informação a descoberta de um saber a invenção de uma ideia podem modificar uma cultura transformar uma sociedade mudar o curso da história o conhecimento está ligado por todos os lados à estrutura da cultura à organização social à práxis histórica Ele não é apenas condicionado determinado e produzido mas é também condicionante determinante e produtor 3 o que demonstra de maneira evidente a aventura do conhecimento científico MORIN 1998 p3031 Desde sua introdução no Brasil em fins dos anos de 1970 a história oral é vista como um conjunto de técnicas utilizadas na coleção preparo e utilização de memórias gravadas para servirem de fonte primária a historiadores e cientistas sociais A técnica em si consiste de entrevistas devidamente guiadas pelo historiador CORRÊA 1978 p13 A considerar o conceito de Delgado citado anteriormente em quase trinta anos mudou o modo como o depoimento é considerado para o que se considera história oral tratase de método que consiste num conjunto de procedimentos técnicos geradores de entrevistas que traz como principal referente a memória coletiva Complementando seu conceito Carlos Humberto Corrêa visualiza um diferencial no trabalho do historiador quando confrontadas a entrevista em história oral e a entrevista jornalística a história oral difere da entrevista jornalística porque não visa sua utilização imediata difere porque as técnicas de condução da entrevista são próprias e porque ao jornalista falta perspectiva histórica o que não deve faltar ao historiador CORRÊA 1978 p13 Na busca de legitimação da história oral como parte da metodologia de pesquisa histórica tentavase distinguir o caráter noticioso atribuído ao trabalho do jornalista pela natureza do depoimento coletado para o historiador Parte interessada na criação de fontes o historiador se encarrega de uma produção que mais do que informativa pretende ser um canal para produção e circulação de conhecimento historiográfico O paralelo entre o jornalístico e o noticioso parecia na década dos setenta ser uma ameaça à confiabilidade da história oral tanto que genericamente se atribuía ao profissional de jornalismo uma falta de perspectiva histórica obrigação devida e restrita ao historiador segundo o parecer de Corrêa A cargo dos debates sobre a história oral como método a memória como objeto que propicia e justifica esta dimensão da pesquisa tornouse foco de atenção dos pesquisadores que a tomam como estratégia metodológica na contemporaneidade Já foi dito mas convém lembrar que a entrevista é recurso utilizado pela área das humanidades e que seus diversos formatos há muito são utilizados pelas ciências sociais que no entanto lhe atribuem uma rigidez onde os depoimentos se constituem elementos para construção de bases de dados quase sempre quantificáveis que produzem resultados qualitativos Quando não quantificáveis depoimentos podem servir como variáveis nem sempre relatadas nos resultados apresentados pela pesquisa social 4 Aos historiadores coube a tarefa de demonstrar que por intermédio das discussões sobre a memória e suas vicissitudes a história pôde se aproximar da compreensão dos seus objetos Até porque Por história é preciso entender então não uma sucessão cronológica de acontecimentos e de datas mas tudo aquilo que faz com que um período se distinga dos outros e cujos livros e narrativas não nos apresentam em geral senão um quadro bem esquemático e incompleto HALBWACHS 2004 p 64 Neste quadro esquemático pretendese que as lacunas sejam construídas pela memória distinta das lembranças que permanecem coletivas e elas nos são lembranças pelos outros mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos e com objetos que só nós vimos HALBWACHS 2004 p 30 A reprodução do passado não será jamais fiel ao ocorrido até pela necessidade de síntese em qualquer relato empreendido Não é à toa que para algumas lembranças reais juntase assim uma massa compacta de lembranças fictícias HALBWACHS 2004 p 32 ou de lembranças guardadas pelos outros que nos foram descritas e mantêm um fundamento comum as vivências compartilhadas por seus diversos sujeitos agrupados numa comunidade categorizada para efeito de pesquisa ou de simples classificação Assim de todas as partes a cultura age e retroage sobre o espíritocérebro para nele modelar as estruturas cognitivas sendo portanto sempre ativa como coprodutora de conhecimento a educação através da linguagem fornecerá a cada um os princípios regras e instrumentos do conhecimento Os homens de uma cultura pelo seu modo de conhecimento produzem a cultura que produz o seu modo de conhecimento MORIN 1998 p 29 131 Mais responsabilidades para quem pesquisa Considerandose que as instâncias produtoras do conhecimento se coproduzem umas às outras há uma unidade recursiva complexa entre produtores e produtos do conhecimento A cultura fornece ao pensamento as suas condições de formação de concepção de conceitualização Impregna modela e eventualmente governa os conhecimentos individuais MORIN 1998 p2428 sem perder de vista que o conhecimento está na cultura e a cultura está no conhecimento ou ainda que um ato cognitivo individual é ipso facto um fenômeno cultural e todo elemento do complexo cultural coletivo atualizase num ato cognitivo individual MORIN 1998 p 2428 temos um pressuposto para este debate Parece que a técnica de história oral embora tomando de empréstimo a entrevista das ciências sociais salvaguardouse a partir da memória como principal elemento diferenciador mas os pesquisadores que se utilizam do método ainda não promoveram críticas sobre seu processo de elaboração apenas 5 o justificaram com os necessários debates sobre a memória tratando a entrevista como algo mais do que entrevista A identificação dos discursos implícitos à própria materialização da história oral gestual interjeições silêncios entre outros complementa o depoimento que no entanto não pode ser interpretado pela forma como a entrevista se materializa já que em história oral o documento oral é transcrito suprimindo as características da palavra emitida ou não pelo som da voz humana Alguns pesquisadores se utilizam da transcrição de trechos da entrevista apenas para utilização no seu produto de pesquisa tentando respeitar esta forma do discurso mas como regra geral o texto da entrevista convertido do depoimento oral em documento escrito é a fonte sobre a qual o depoente cede direitos para uso com fins afeitos à pesquisa que o utiliza como referencial que por sua vez passa a se constituir acervo de arquivos institucionais A pesquisa compreendida tradicionalmente visou constatações que baseadas na empiria podiam tornarse leis para promoção do conhecimento científico Ao pesquisador coube o papel de revelar publicamente os resultados de seus experimentos por meio de sua observação descritiva e sua análise fosse quantitativa ou qualitativa Em nome da neutralidade axiológica o racionalismo científico defendeu a isenção daquele que como analista fala do seu objeto No momento em que a visão de quem pesquisa se desloca da objetividade para uma subjetividade representada pela emissão de pareceres na primeira ou na terceira pessoa do singular não mais no plural essa neutralidade não só está ameaçada como perde o sentido O pesquisador hoje se faz sujeito e objeto de sua pesquisa Sendo assim o autoconhecimento tornase condição necessária ao conhecimento princípio epistemológico fundamental do paradigma da complexidade aquele que inclui o observador na observação NOGUEIRA 1997 p 204 Considerada a possibilidade do pesquisador ser um condutor de conhecimento influenciado pelas suas relações sociais e culturais obstaria à captura de informações a ausência de doação expressa autorização pela assinatura que pode apresentar inúmeras formas assinatura manuscrita chancela por uma categoria registro por um texto em ata publicado ou não e gravação para cessão de um depoimento É preciso ter clareza ao distinguir a produção do pesquisador que publica do depoimento fornecido pelo entrevistado A assinatura mais do que autorização assim como o documento escrito é comprovação que demonstra por confirmar a fala do pesquisador sobre seu objeto de estudo baseada em depoimento coletado O pesquisador nem sempre apresenta a entrevista na sua totalidade ou a autorização para utilizálo no texto que produz até pela necessidade de síntese do texto historiográfico mas a mantém em seu poder como medida de segurança 6 para eventuais questionamentos sobre suas assertivas e sobre o que foi divulgado como fala do depoente A assinatura é a autorização para uso do depoimento a ser alegada também numa instância jurídica Em história oral o recurso a um roteiro básico de pesquisa para coleta de depoimentos baseados na temática de um projeto ou na história de vida do depoente é necessário e condicionado a possíveis alterações no decorrer de cada entrevista o que as fará constituíremse documentos únicos Em caso de história de vida um dos tipos de entrevista admitidos pela história oral ou pela pesquisa social a narrativa deve se basear na experiência do depoente Em história oral grande parte dos pesquisadores prioriza o que contam os idosos a partir de sua trajetória de vida e dos testemunhos que empreendeu nos acontecimentos do seu tempo O mesmo não se dá na pesquisa social a faixa etária do depoente é um critério a ser definido a partir dos objetivos do projeto ao qual está vinculada Cada testemunho é um indício que pode ser comparado a outros semelhantes ou a documentação manuscrita particular ou pública o uso de fontes múltiplas convergentes e independentes NOGUEIRA 1997 p 204 auxilia na confirmação dos depoimentos aproxima de uma verdade pretendida e constituise o que atualmente se conceitua como história oral híbrida MEIHY 2007 p129 quando fontes de origem e natureza diversa são contrapostas com intuito analítico Mas não é a verdade que se pode aferir a partir dos depoimentos em que se baseia uma coleta a compreensão é a busca permanente Por isso a contraposição entre o conteúdo de diferentes fontes nem sempre é necessária Um depoimento individual ou coletivo publicado em situação de seminário ou aula por exemplo pode constituirse importante fonte oral para registro de observações sobre políticas planejadas ou instituídas no caso de ações destinadas ao público ou para registro etnográfico ainda que o registro das falas de natureza escrita em áudio ou em audiovisual não dê conta da totalidade do momento da exposição Num caso como estes registrase um momento a partir de idealizações dos recortes ou da percepção de quem observa traduzindo a narrativa pelo seu modo de interpretação O depoimento pode se deslocar do modelo da entrevista formal de maior duração como é o caso da história de vida utilizandose como alternativa a enquete migrante da pesquisa social que visa produzir estimativas quantitativas gerando conclusões para o conhecimento que se quer científico Com a enquete obtémse objetividade e prontidão nas respostas em princípio com a opção de gerar estatísticas demonstrando qualitativamente a visão que um coletivo de entrevistados tem de aspectos relativos a um mesmo tema 7 questionado explanandose a relação com os objetivos específicos almejados ainda que a entrevista seja baseada em uma ou duas questões que suscitem breve resposta Mas também é possível identificar as falas individuais como reflexo de memórias individuais vinculadas a uma coletividade uma vez que os depoentes sejam pessoas cujo ambiente social se relacione com a pesquisa empreendida O deslocamento da enquete da pesquisa social de base quantificável para a pesquisa qualitativa e como depoimento de memória a ser aproveitado como fonte para produção historiográfica é uma inovação metodológica para qualquer projeto que tenha na história oral um suporte técnico para análise de narrativas individuais possibilitando observar o modo como elas se colocam na relação com o coletivo sem a necessidade de gravação de um longo depoimento que certamente terá sua maior parte desconsiderada no resultado da pesquisa não em termos de ideias mas no conjunto do texto final produzido A enquete abriga caráter intencional para quem pergunta e para quem responde e se diferencia da entrevista temática porque pode tratar como no caso deste estudo de um aspecto que embasa a argumentação mas não é o principal objeto analisado No II Encontro das Comunidades Remanescentes de Quilombo ocorrido em Garanhuns de 19 a 22 de novembro de 2007 em reunião durante o almoço com o líder do Castainho José Carlos Silva o depoimento dado por ele enriquece este raciocínio Ele diz não é porque sou negro que tenho que gostar de feijoada no ano passado serviram feijoada como se ela fosse o prato preferido de todo negro Uma enquete improvisada numa atividade pedagógica em 12 de outubro de 2007 no Sítio Atoleiros em Caetés constituiuse de duas perguntas principais você se sente negro O que acha de sua comunidade assumir que é descendente de quilombo Foram nove entrevistados entre duas crianças uma adolescente e seis adultos Como o improviso caracterizou a enquete a fala a seguir serve para demonstrar que as cargas de preconceito residem na própria comunidade e são reflexos das trajetórias da memória coletiva revelada na comunidade por um indivíduo adulto de cor de pele marrom que disse negro pra mim é o cão nós somos morenos Negro é escravo nós somos morenos Nos dois exemplos encontramse situações diversas no primeiro não havia intenção de colher depoimento mas a fala expressada para a pesquisadora ainda que num momento cujo propósito era formalmente diverso da pesquisa refletia um sentimento da liderança sobre um aspecto do ser negro naquela coletividade a partir de uma experiência anterior que não tinha porquê não ser capturada No caso de se pretender alegar os riscos de comprometimento ético quanto à publicação da fala sem autorização resta esclarecer que o 8 registro daquele sentimento mais do que ilustrar representa uma mentalidade que interfere no cotidiano da comunidade que é objeto de estudo da pesquisadora O segundo exemplo é fruto de uma intencionalidade foi colhido como entrevista gravada de um cidadão que voluntariamente cedeu seu depoimento O conteúdo reflete um preconceito relativo ao ser negro que torna desinteressante identificar o sujeito que responde mas a fala é necessária como representação das relações interraciais nas comunidades focadas As fontes analisadas são depoimentos colhidos de narradores diferentes em situações distintas individual e coletivamente intencionalmente ou não incluindo compromisso com doação ou não o que caracteriza a formalidade ou não do depoimento Este pode ser cedido voluntariamente ou capturado pelo historiador numa situação casual e inserido como produto de pesquisa que fortalece sua argumentação A história oral híbrida pressupõe o contraponto entre um depoimento e outras fontes inclusive com outras formas de registro confirmando ou não o que diz cada um dos depoimentos Como ao pesquisador especialmente ao historiador cabe questionar sempre nada impede este procedimento em nenhuma circunstância ainda que as fontes não sejam reconhecidas como instituídas pelos segmentos de produção historiográfica Da mesma maneira nada obriga a esta contraposição já que não se está buscando verdades Atentese que a questão passa pelas fronteiras estabelecidas para a produção de conhecimento fragmentadas dentro de um segmento da historiografia que é a criação intencional de fontes de pesquisa que autorizadas ou não por quem cede as informações que podem ou não ser identificadas são depoimentos de memória que refletem historicidade e cultura Os critérios para escolha dos entrevistados são estabelecidos pelo historiador no decorrer do seu cronograma de pesquisa quando se utiliza da história oral Da mesma maneira ele pode definir quais falas dizem respeito ao seu projeto de pesquisa e quais depoentes apresentam na sua capacidade de verbalização conteúdos que revelem a forma como percebe as relações sociais e como estas interagem com a dimensão do estudo então viabilizado Como elemento externo ao objeto pesquisado o pesquisador pode ter sua história pessoal vinculada à natureza dos espaços por onde circula podendo interferir em discursos alheios mas seu olhar de estudioso a partir de objetivos especificamente definidos estabelece a distinção entre o que integrará ou não seus resultados de pesquisa A simples entrada de um pesquisador numa comunidade para observála sinaliza para influências sobre o objeto pesquisado Tal influência não pode ser negada penso que deve ser considerada como variável no processo do estudo que entretanto não obriga ao descarte das percepções capturadas por quem pesquisa serve como mais um testemunho 9 E se escrever é antes de mais produzir um texto a operação oral contar falar também não deixa de ter uma relação primeira com a produção de textos e discursos estratégicos Enfim devese assinalar a importância de se levar em conta o relato oral como um texto onde se inscrevem desejos reproduzemse modelos apreendemse fugas em suma um texto passível de ser lido e interpretado e da mesma forma um texto articulador de discursos GUIMARÃES NETO 2006 p 47 A intuição acaba sendo um elemento presente na prática dos pesquisadores pois quem trabalha com quem se expressa trabalha com o que se apresenta a quem assiste Na coleta formal do depoimento oral o entrevistado pode ser traído por seus próprios anseios e enveredar por caminhos que julgue interessar ao pesquisador É diferente no diálogo espontâneo os pareceres são expressos simplesmente e não serão obrigatoriamente resultantes de processos interativos entre entrevistador e entrevistado Avaliar o que o ouvinte pensa é sempre uma possibilidade para quem emite um discurso e pode alterar o produto de qualquer fala Mas não inviabiliza o uso pelo historiador de uma narrativa apresentada num diálogo informal Outros aspectos envolvem o depoimento o técnico relativo aos suportes de memória e equipamentos utilizados seu manuseio e qualidade na reprodução das falas ou sua articulação com imagens de acordo com o equipamento de registro Deve ainda ser considerado o conteúdo vinculado ao modo como uma vez concedido o depoimento este pode adquirir não apenas um formato divergente do produzido originalmente como também gerar sentidos que têm na memória e nas lembranças o principal elemento recursivo Neste aspecto o processo construtivo da fonte oral relacionado aos interesses do entrevistador e do próprio depoente supera a questão meramente técnica GUIMARÃES NETO 2006 p 46 Entretanto é fundamental que seja prioritariamente considerada na análise a especificidade na relação com a memória coletiva GUIMARÃES NETO 2006 p 46 Reuniões consignadas ou não podem ser tratadas como fontes seminários colóquios congressos já que o registro de textos cuja apresentação oral difere da escrita existe Anais são como as atas importantes formas de registros e fontes auxiliares quando não basilares para produção de conhecimento historiográfico Ora se a história é o campo de conhecimento que acolhe a narrativa tanto oral quanto escrita segundo critérios de ordenação temporal GUIMARÃES NETO 2006 p 47 não há o que impeça a utilização do debate ocorrido em um programa de rádio ou num chat via internet desde que devidamente referenciados com registros do endereço eletrônico e data de captura A doação efetiva das falas individuais em cada encontro certamente não ocorrerá Mas uma vez 10 tornadas públicas por veículos cujo produto é de livre acesso podem ser objeto de captura pelo historiador se ele perceber como indício que fortalece sua argumentação num seu projeto de pesquisa Neste caso o historiador mais do que condutor do conhecimento passa a ser ele mesmo testemunho que abaliza suas fontes Poderia falar da questão da história do tempo presente como um problema para a historiografia e da vinculação entre a produção narrativa como produto do trabalho do historiador que se aproxima da literatura mas não é este o ponto Toda entrevista tem por base a memória individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada às vivências individuais A utilização do depoimento de pessoas idosas como fonte para a história oral é uma forma de justificar a entrevista como histórica referindose ao passado já que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memórias do passado pelo próprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a idéia de que a história mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um período anterior ao da vida do pesquisador liberandoo de um comprometimento relativo à simultaneidade do seu tempo de vida e da ocorrência do seu objeto de pesquisa O tempo presente é o tempo coetâneo de quem fala referirse a ele em qualquer fração de tempo já ocorrida constitui passado Ao conformismo diante de determinações sociais econômicas políticas e digo eu acadêmicas Morin chama imprinting cultural matriz que estrutura o conformismo e há uma normalização que o impõe marcando os humanos desde o nascimento com o selo da cultura primeiro familiar e depois escolar prosseguindo na universidade e na profissão MORIN 1998 p34 A percepção da entrevista como algo mais que entrevista ou mesmo a visão da história do tempo presente somente a partir das lembranças dos mais velhos são ressonância das crenças compartilhadas entre os pesquisadores notadamente os da história por se pretenderem isentos de compromisso de opinião subjetiva sobre o tempo tratado Estou trabalhando com história oral originária de depoimentos intencionais e conscientemente fornecidos pelo depoente como material a ser transformado em fonte de pesquisa mas também tratando a possibilidade de um tipo de coleta em certa medida aleatória de informações que fortalecem o argumento de quem pesquisa mais baseado em critérios estabelecidos pela mobilização do seu próprio pensar em função do seu objeto de estudo 132 Diversificação de fontes entre a escrita e a oralidade 11 O oral não deve ser oposto dicotomicamente ao escrito como duas realidades distintas e distantes mas como formas plurais que se contaminam permanentemente pois haverá sempre um traço de oralidade riscando a escritura e as falas sempre carregarão pedaços de textos ALBUQUERQUE Jr 2007 p230 A oralidade é patrimônio cultural imaterial que embute representações e significados diversos Embora ninguém dialogue permanentemente por meio da escrita se não por intermédio de uma obra percebese a relação entre a oralidade e a escrita principalmente como base para a necessidade de registro e preservação é necessário reconhecer que a fonte oral não é o outro da fonte escrita fazem parte tanto uma quanto outra do sistema escriturístico moderno GUIMARÃES NETO 2006 p 47 Em história o uso de documentação manuscrita é tratado como fonte primária Se pela chamada história oral o depoimento é fonte primária não há porque desconsiderálo como resultante de reuniões Em termos de documentação e registro escrito de memórias as atas de reuniões são fontes primárias de pesquisa A partir delas se obtém informações sobre condução e encaminhamento de procedimentos formais Ao reconhecer o resultado de uma reunião como fonte de pesquisa através da geração de um documento formal como a ata estarseá valorizando o papel que cada indivíduo ou cada coletivo possui na construção da sociedade Como o documento escrito não está acessível a todos os graus de dificuldade para acesso a ele implicam um investimento que nem todos podem fazer ou acessar Acredito ser esta uma forma de estimular o protagonismo social reclamado por muitos movimentos sociais Ainda que o indivíduo em determinado momento tenha dificuldade de expressão num meio em que comportamentos ou códigos socialmente aceitos são restritos a poucas formas de linguagem no momento em que se expressa ou é incentivado a se expressar sem que alguém possa influenciar diretamente a produção de sentidos diversos no conteúdo estará sendo capaz de dizer de suas necessidades e interesses uma vez que seus direitos um deles o de participar de grupos reivindicatórios sejam reconhecidos pelo grupo em que está inserido Esta é uma ação que tem fundamento político na autogestão na conquista de autonomia de indivíduos e de coletivos através de suas representações que não precisam ser lideranças de projeção mas pessoas capazes de se fazer compreender ainda que não cumpram os códigos predominantes na sua forma integral Podem ser simplesmente indivíduos que conhecem os problemas da comunidade que se interessam pelo seu encaminhamento e solução e que obtenham da comunidade de alguma forma delegação para representála Retomando a questão da ata de reuniões um problema recorrente é a assinatura que representa a autorização do indivíduo para uso da responsabilidade por ele assumida ao 12 atestar o documento com a impressão de próprio punho do seu nome abaixo do texto grafado A assinatura é um problema porque é possível que um representante de comunidade mesmo capaz de verbalizar de forma clara e objetiva quaisquer situações ou demandas seja analfabeto ou analfabeto funcional capaz apenas de desenhar o próprio nome ou mesmo saiba ler mas seja incapaz de escrever Neste caso a utilização impressa dos traços digitais como assinatura é a alternativa imediata para responsabilizar o indivíduo Por mais que a intenção seja registrar a participação do indivíduo no processo ao lhe ser solicitado imprimir seus traços digitais no documento gerado pode estar caracterizada ação discriminatória contra quem não domina a linguagem escrita Neste caso a oralidade é sacrificada em função de um código gráfico A ideia de reunir aqueles que dominam os trâmites institucionais e os códigos linguísticos com os que se iniciam na prática política é uma espécie de proposição em que se coloca uma tentativa de equilibrar os saberes para um fim comum mas gera uma situação de dependência quando indivíduos delegam a outrem a condução do seu próprio discurso Um exemplo interessante da atribuição de valores a conhecimentos históricos que podem e são reproduzidos na comunidade é a situação que envolve a feijoada mencionada anteriormente A fala não integra um depoimento formal mas reflete uma reação ao modo de pensar institucionalizado por uma maioria que tem acesso a veículos de comunicação e atua junto a instituições promotoras de políticas públicas Neste caso como pesquisadora sem qualquer delegação senão a do meu ofício testemunho a reação apresentada pela liderança comunitária como sujeito que sou do meu próprio objeto de estudo Por ter como ponto de partida a oralidade as práticas culturais ditas populares incluídas as de origem afrobrasileira não primaram pelo registro escrito ou por um ordenamento da documentação que conseguiu armazenar Poucos são os registros existentes lacunas são frequentes e as respostas a questões sobre seu passado não estão disponíveis o que não chega a ser um aspecto limitador já que remetem a novos questionamentos e reflexões sobre o sentido cultural de cada uma das diversas formas de expressão inclusive da historiografia A memória traduzida pelas lembranças ainda que divergentes entre indivíduos é uma construção coletiva e pode ser capturada em beneficio da pesquisa inclusive como fonte para a chamada história oral ainda que não por intermédio de um depoimento formal A escrita e a leitura são recursos prospectivos de comunicação nem de longe dão conta do fazer dos grupos e dos significados embutidos pelas suas práticas na totalidade 13 Por isso é importante incluir na pluralidade de tempos e temas do ofício do historiador uma estratégia de coleta de depoimentos que extrapole os limites formalmente instituídos na prática historiográfica A mesma atitude de respeito ao documento escrito cuja orientação para não danificar e não rasurar são princípios de um comportamento ético do pesquisador está posta para o depoimento colhido por intermédio da entrevista Respeitase a fala do entrevistado e numa transcrição ipsis litteris até a grafia de palavras não dicionarizadas ou vícios de linguagem permanecem intocados preservandose os sentidos atribuídos pelo depoente no seu testemunho Podese manter esta atitude quando o pesquisador captura um depoimento do qual é testemunha ainda que o discurso não esteja inserido numa coleção sistematizada de fontes Finalmente considerando as tecnologias disponíveis e a pluralidade de informações circulantes nos espaços mais inusitados seria restritivo pensar que apenas sob determinadas condições formais depoimentos podem ser coletados e aproveitados num estudo Participar de um colóquio pode inspirar uma coleta Quem se expressa numa instância pública como esta ou qualquer outra se sujeita ao uso da sua fala de modos até surpreendentes De posse de um gravador portátil de um telefone celular ou de um media player o pesquisador pode capturar depoimentos A autorização está implícita ao falar em público A possibilidade de utilização não libera qualquer forma de uso Aspectos éticos se anunciam como limitadores das diversas formas de uso Ao pesquisador cabe o compromisso de manter seu trabalho dentro dos limites da confiança ao leitor resta refletir sobre os riscos de simplesmente acreditar Segurança e perigo confiança e risco são atitudes necessárias ao cidadão vivente da modernidade O pesquisador não pode fugir disso Convido a uma analogia com o que Giddens trata como desatenção civil Ao se cruzarem dois indivíduos numa rua eles se entreolham brevemente numa atitude de aparente desatenção O olhar concede reconhecimento do outro como um agente e como um conhecido potencial Fixar os olhos no outro apenas brevemente e depois olhar para frente enquanto ambos se cruzam vincula tal atitude a uma reafirmação implícita de ausência de intenção hostil GIDDENS 1991 p85 Considerada a ausência desta intenção que ela se transforme numa tentativa de conduzir à compreensão de objetos de estudo 133 Entrevistas temáticas por mensagem eletrônica 14 A temática é uma categoria de entrevista utilizada pela história oral direcionada para especificidades do projeto de pesquisa Comumente as entrevistas temáticas são gravadas transcritas e cedidas pelo depoente Em relação a diversos aspectos inclusive a espontaneidade sofrem dos mesmos problemas que qualquer entrevista Deslocandose a gravação do depoimento oral reproduzido por equipamento sonoro uma opção é a mensagem eletrônica o conhecido email para troca de informações A espontaneidade da fala gravada nunca é absoluta considerando que num processo de entrevista formal o depoente também tem sua fala inibida pelo gravador como equipamento e pela gravação como um documento que de algum modo pode comprometêlo Não se trata de coleta de depoimento oral embora tenha por base a oralidade e a memória principalmente Não se utiliza de sons da voz humana inflexões ou tons A base de uma entrevista por email é a escrita o que a torna restrita àqueles que dominam a escrita e são usuários da internet Para que ela aconteça é necessário que o depoente se concentre na sua produção Deste tipo de entrevista a capacidade de redação do entrevistado serve como fundamento o que a torna restrita a pessoas com capacidade de articulação de ideias pela escrita Quanto ao veículo de registro utilizado A caixa postal de endereços eletrônicos tem se apresentado como importante meio de comunicação transporte e registro de informações Entretanto também tem se mostrado vítima de fraude quando equações são formuladas em prejuízo de outrem na forma de vírus É portanto espaço que carece de confirmação de autorias já que a atribuição indevida de autorias é uma prática corrente na internet Este é um problema que pode ser solucionado na medida em que a informação veiculada por meio virtual possa ser confirmada por seu autor a ser constituído como signatário de sua própria fala A ideia é que uma vez cedida a entrevista ela possa retornar ao depoente que deverá alterála ou confirmála de acordo com sua pretensão de falar deste ou de outro modo sobre qualquer conteúdo Preferencialmente a entrevista deverá ser temática Ao se tratar de depoimento oral muitas formas ele pode adquirir Talvez a de uso mais comum seja a história de vida Esta não seria uma alternativa interessante para a entrevista por email em função do tempo que exigira que o depoente dispusesse Além de ter capacidade de redação articulando idéias e construindo argumentação inevitável mesmo em se tratando de depoimento de memória o depoente precisaria abrir mão de suas ocupações por um período maior do que o necessário para gravação de um depoimento sonoro Lembremos que a cada hora de gravação de um depoimento oral são necessárias quatro ou cinco horas a serem despendidas para 15 transcrição No depoimento gravado falado a transcrição é responsabilidade do pesquisador Na entrevista por email a tarefa de constituir o documento escrito fica por conta do entrevistado Cada vez mais a atividade de pesquisa para a produção de trabalhos acadêmicos requer mais do pesquisador de maneira que muitas vezes o desejo de apresentar uma produção respeitando os prazos e normatizações de cada programa pode conduzir a distorções como a cópia de trabalho alheio sem citação ou a aquisição mediante pagamento de trabalhos encomendados muitos dos quais cópias da internet Este é um desvio que não se justifica simplesmente pelos prazos curtos definidos pelos programas de graduação ou pósgraduação no Brasil vez que estes obedecem a regulamentações dos principais órgãos de fomento Há valores éticos que são profanados quando tais dimensões da produção acadêmica são violadas Ineditismo autoria e criatividade não necessariamente originalidade de temas são elementos que precisam orientar a prática da pesquisa acadêmica embora as leituras especialmente as realizadas sobre publicações sejam inspiradoras de tratamentos alternativos sobre objetos e fontes de pesquisa para que os objetivos do projeto sejam alcançados REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE Jr Durval Muniz de As dobras do dizer da impossibilidade da história oral In História a arte de inventar o passado ensaios de teoria da história Bauru SP Edusc 2007 p 229234 CORRÊA Carlos Humberto P História oral teoria e técnica Florianópolis UFSC 1978 DELGADO Lucilia de Almeida Neves História oral memória tempo identidades Belo Horizonte Autêntica 2006 GIDDENS Anthony As consequências da modernidade São Paulo UNESP 1991 GUIMARÃES NETO Regina Beatriz Cidades da mineração memória e práticas culturais Mato Grosso na primeira metade do século XX Cuiabá MT Carlini Caniato EdUFMT 2006 HALBWACHS Maurice A memória coletiva São Paulo Centauro 2004 MEIHY José Carlos Sebe B HOLANDA Fabíola História oral como fazer como pensar São Paulo Contexto 2007 MORIN Edgar A rememoração In O método III o conhecimento do conhecimento Lisboa EuropaAmérica 19 p99106 NOGUEIRA Maria Aparecida Lopes Caleidoscópio de vidas e ideias In CASTRO Gustavo et al Ensaio de complexidade Porto Alegre Sulina 1997

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HISTÓRIA ORAL E FORMALIDADES METODOLÓGICAS MAGDALENA MARIA DE ALMEIDA1 O debate epistemológico é sempre uma necessidade para empreender atividades de pesquisa Pensar nas diferentes estratégias metodológicas como forma para operacionalização de um método requer uma visão crítica e o reconhecimento de que nenhum método é perfeito ainda que formalmente constituído e reconhecido pelos meios acadêmicos Os manuais que tratam de métodos de pesquisa trazem funções e sequências de procedimentos para que a pesquisa munida pelas formalidades que requer o conhecimento acadêmico auxilie o pesquisador na conquista de seus objetivos Fontes diferenciadas observadas por perspectivas distintas oferecem possibilidades para focar as controvérsias inevitáveis num processo de pesquisa A chamada história oral é um procedimento metodológico que busca pela construção de fontes e documentos registrar através de narrativas induzidas e estimuladas testemunhos versões e interpretações DELGADO 2006 p15 É estratégia metodológica que dá base à produção de fontes oriundas de depoimentos Norteada por este conceito a ideia é tratar reuniões formais ou informais como alternativa à entrevista de história oral a serem tratadas como fonte de trabalho para o historiador A coleta de discursos com identificação de origem e sem compromisso formal de doação incluídos no texto escrito produzido pelo historiador faz parte do debate proposto Promover uma reflexão acerca da utilização exclusiva da entrevista individual como parte da chamada história oral técnica que oferece suporte à produção historiográfica a partir da coleta de depoimentos é o objetivo prioritário nesta discussão O uso de fontes orais é recurso utilizado nas ciências sociais de modo geral baseandose na quantificação para construção de análises qualitativas na produção historiográfica da atualidade por meio da chamada história oral é particularmente voltado para a pesquisa qualitativa A história oral por intermédio de entrevistas tem por base as memórias individuais e é principalmente neste aspecto que se baseiam os pesquisadores para distinguila das diversas estratégias de pesquisa social que se utilizam de fontes orais Como técnica que produz fontes a história oral carrega alguns problemas relativos à coleta de depoimentos que podem torná los discutíveis em termos de sua confiabilidade como fonte de pesquisa Considerese que a 1 Historiadora Professora da graduação em História na Universidade de Pernambuco Campus Garanhuns UPE Garanhuns Doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ 2 crítica aos relatos orais deve constituirse em instrumento de investigação das suas próprias condições de produção o lugar social em que a pesquisa está circunscrita como se procede com as demais fontes GUIMARÃES NETO 2006 p46 A entrevista individual é uma forma de coleta de depoimentos mas a fonte de pesquisa baseada na oralidade pode ser construída além da entrevista individual De outro ângulo o depoimento individual pode constituirse valiosa fonte ainda que não se constitua entrevista formal Da mesma maneira o produto de debates realizados sob a forma de reuniões pode trazer à tona importantes informações para constituição de objetos de um projeto de pesquisa Concebo uma possibilidade de interpretação de depoimentos através da utilização de registros de reuniões na forma de atas ou qualquer outro tipo de depósito de memória ou da captura de falas com ou sem compromisso formal com sua doação amparado ou não no anonimato de quem diz A base desta discussão é a captura de discursos que o pesquisador identifique como relacionados ao seu objeto de estudo ainda que estes discursos não integrem um conjunto sistematizado de fontes ou não faça parte de um projeto cujo resultado passe a caracterizar um acervo colecionado que ofereça respostas a quem pesquisa O que dizer da captura de ideias que circulam na sociedade por quem pesquisa As ideias não representam necessariamente uma visão social mas são indícios de como os indivíduos conduzem suas vidas seus discursos e suas atitudes resultantes do conjunto das interações estabelecidas em sociedade Por outro lado pouco ou nada se pode avaliar em termos de confirmação da autoria das ideias defendidas por um escritor no texto que produz É fato embora nem sempre declarado que o escritor atuante nas humanidades tem na sociedade seu principal laboratório Defendo a assunção pelo historiador da coleta de informações a partir da sociedade considerando que as ideias expressas por um indivíduo não são fruto de sua criação individual ou isolada mas do conjunto das relações que acumulou ao longo de sua existência estejam elas articuladas com a vida particular ou com a vida pública sejam elas teóricas ou experimentais Nestes termos o dizer de um autor está diretamente vinculado à memória coletiva e à cultura que o insere e é por ele tratada como parte de suas descobertas a caminho do conhecimento Por inspiração em Morin podese dizer que a aquisição de uma informação a descoberta de um saber a invenção de uma ideia podem modificar uma cultura transformar uma sociedade mudar o curso da história o conhecimento está ligado por todos os lados à estrutura da cultura à organização social à práxis histórica Ele não é apenas condicionado determinado e produzido mas é também condicionante determinante e produtor 3 o que demonstra de maneira evidente a aventura do conhecimento científico MORIN 1998 p3031 Desde sua introdução no Brasil em fins dos anos de 1970 a história oral é vista como um conjunto de técnicas utilizadas na coleção preparo e utilização de memórias gravadas para servirem de fonte primária a historiadores e cientistas sociais A técnica em si consiste de entrevistas devidamente guiadas pelo historiador CORRÊA 1978 p13 A considerar o conceito de Delgado citado anteriormente em quase trinta anos mudou o modo como o depoimento é considerado para o que se considera história oral tratase de método que consiste num conjunto de procedimentos técnicos geradores de entrevistas que traz como principal referente a memória coletiva Complementando seu conceito Carlos Humberto Corrêa visualiza um diferencial no trabalho do historiador quando confrontadas a entrevista em história oral e a entrevista jornalística a história oral difere da entrevista jornalística porque não visa sua utilização imediata difere porque as técnicas de condução da entrevista são próprias e porque ao jornalista falta perspectiva histórica o que não deve faltar ao historiador CORRÊA 1978 p13 Na busca de legitimação da história oral como parte da metodologia de pesquisa histórica tentavase distinguir o caráter noticioso atribuído ao trabalho do jornalista pela natureza do depoimento coletado para o historiador Parte interessada na criação de fontes o historiador se encarrega de uma produção que mais do que informativa pretende ser um canal para produção e circulação de conhecimento historiográfico O paralelo entre o jornalístico e o noticioso parecia na década dos setenta ser uma ameaça à confiabilidade da história oral tanto que genericamente se atribuía ao profissional de jornalismo uma falta de perspectiva histórica obrigação devida e restrita ao historiador segundo o parecer de Corrêa A cargo dos debates sobre a história oral como método a memória como objeto que propicia e justifica esta dimensão da pesquisa tornouse foco de atenção dos pesquisadores que a tomam como estratégia metodológica na contemporaneidade Já foi dito mas convém lembrar que a entrevista é recurso utilizado pela área das humanidades e que seus diversos formatos há muito são utilizados pelas ciências sociais que no entanto lhe atribuem uma rigidez onde os depoimentos se constituem elementos para construção de bases de dados quase sempre quantificáveis que produzem resultados qualitativos Quando não quantificáveis depoimentos podem servir como variáveis nem sempre relatadas nos resultados apresentados pela pesquisa social 4 Aos historiadores coube a tarefa de demonstrar que por intermédio das discussões sobre a memória e suas vicissitudes a história pôde se aproximar da compreensão dos seus objetos Até porque Por história é preciso entender então não uma sucessão cronológica de acontecimentos e de datas mas tudo aquilo que faz com que um período se distinga dos outros e cujos livros e narrativas não nos apresentam em geral senão um quadro bem esquemático e incompleto HALBWACHS 2004 p 64 Neste quadro esquemático pretendese que as lacunas sejam construídas pela memória distinta das lembranças que permanecem coletivas e elas nos são lembranças pelos outros mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos e com objetos que só nós vimos HALBWACHS 2004 p 30 A reprodução do passado não será jamais fiel ao ocorrido até pela necessidade de síntese em qualquer relato empreendido Não é à toa que para algumas lembranças reais juntase assim uma massa compacta de lembranças fictícias HALBWACHS 2004 p 32 ou de lembranças guardadas pelos outros que nos foram descritas e mantêm um fundamento comum as vivências compartilhadas por seus diversos sujeitos agrupados numa comunidade categorizada para efeito de pesquisa ou de simples classificação Assim de todas as partes a cultura age e retroage sobre o espíritocérebro para nele modelar as estruturas cognitivas sendo portanto sempre ativa como coprodutora de conhecimento a educação através da linguagem fornecerá a cada um os princípios regras e instrumentos do conhecimento Os homens de uma cultura pelo seu modo de conhecimento produzem a cultura que produz o seu modo de conhecimento MORIN 1998 p 29 131 Mais responsabilidades para quem pesquisa Considerandose que as instâncias produtoras do conhecimento se coproduzem umas às outras há uma unidade recursiva complexa entre produtores e produtos do conhecimento A cultura fornece ao pensamento as suas condições de formação de concepção de conceitualização Impregna modela e eventualmente governa os conhecimentos individuais MORIN 1998 p2428 sem perder de vista que o conhecimento está na cultura e a cultura está no conhecimento ou ainda que um ato cognitivo individual é ipso facto um fenômeno cultural e todo elemento do complexo cultural coletivo atualizase num ato cognitivo individual MORIN 1998 p 2428 temos um pressuposto para este debate Parece que a técnica de história oral embora tomando de empréstimo a entrevista das ciências sociais salvaguardouse a partir da memória como principal elemento diferenciador mas os pesquisadores que se utilizam do método ainda não promoveram críticas sobre seu processo de elaboração apenas 5 o justificaram com os necessários debates sobre a memória tratando a entrevista como algo mais do que entrevista A identificação dos discursos implícitos à própria materialização da história oral gestual interjeições silêncios entre outros complementa o depoimento que no entanto não pode ser interpretado pela forma como a entrevista se materializa já que em história oral o documento oral é transcrito suprimindo as características da palavra emitida ou não pelo som da voz humana Alguns pesquisadores se utilizam da transcrição de trechos da entrevista apenas para utilização no seu produto de pesquisa tentando respeitar esta forma do discurso mas como regra geral o texto da entrevista convertido do depoimento oral em documento escrito é a fonte sobre a qual o depoente cede direitos para uso com fins afeitos à pesquisa que o utiliza como referencial que por sua vez passa a se constituir acervo de arquivos institucionais A pesquisa compreendida tradicionalmente visou constatações que baseadas na empiria podiam tornarse leis para promoção do conhecimento científico Ao pesquisador coube o papel de revelar publicamente os resultados de seus experimentos por meio de sua observação descritiva e sua análise fosse quantitativa ou qualitativa Em nome da neutralidade axiológica o racionalismo científico defendeu a isenção daquele que como analista fala do seu objeto No momento em que a visão de quem pesquisa se desloca da objetividade para uma subjetividade representada pela emissão de pareceres na primeira ou na terceira pessoa do singular não mais no plural essa neutralidade não só está ameaçada como perde o sentido O pesquisador hoje se faz sujeito e objeto de sua pesquisa Sendo assim o autoconhecimento tornase condição necessária ao conhecimento princípio epistemológico fundamental do paradigma da complexidade aquele que inclui o observador na observação NOGUEIRA 1997 p 204 Considerada a possibilidade do pesquisador ser um condutor de conhecimento influenciado pelas suas relações sociais e culturais obstaria à captura de informações a ausência de doação expressa autorização pela assinatura que pode apresentar inúmeras formas assinatura manuscrita chancela por uma categoria registro por um texto em ata publicado ou não e gravação para cessão de um depoimento É preciso ter clareza ao distinguir a produção do pesquisador que publica do depoimento fornecido pelo entrevistado A assinatura mais do que autorização assim como o documento escrito é comprovação que demonstra por confirmar a fala do pesquisador sobre seu objeto de estudo baseada em depoimento coletado O pesquisador nem sempre apresenta a entrevista na sua totalidade ou a autorização para utilizálo no texto que produz até pela necessidade de síntese do texto historiográfico mas a mantém em seu poder como medida de segurança 6 para eventuais questionamentos sobre suas assertivas e sobre o que foi divulgado como fala do depoente A assinatura é a autorização para uso do depoimento a ser alegada também numa instância jurídica Em história oral o recurso a um roteiro básico de pesquisa para coleta de depoimentos baseados na temática de um projeto ou na história de vida do depoente é necessário e condicionado a possíveis alterações no decorrer de cada entrevista o que as fará constituíremse documentos únicos Em caso de história de vida um dos tipos de entrevista admitidos pela história oral ou pela pesquisa social a narrativa deve se basear na experiência do depoente Em história oral grande parte dos pesquisadores prioriza o que contam os idosos a partir de sua trajetória de vida e dos testemunhos que empreendeu nos acontecimentos do seu tempo O mesmo não se dá na pesquisa social a faixa etária do depoente é um critério a ser definido a partir dos objetivos do projeto ao qual está vinculada Cada testemunho é um indício que pode ser comparado a outros semelhantes ou a documentação manuscrita particular ou pública o uso de fontes múltiplas convergentes e independentes NOGUEIRA 1997 p 204 auxilia na confirmação dos depoimentos aproxima de uma verdade pretendida e constituise o que atualmente se conceitua como história oral híbrida MEIHY 2007 p129 quando fontes de origem e natureza diversa são contrapostas com intuito analítico Mas não é a verdade que se pode aferir a partir dos depoimentos em que se baseia uma coleta a compreensão é a busca permanente Por isso a contraposição entre o conteúdo de diferentes fontes nem sempre é necessária Um depoimento individual ou coletivo publicado em situação de seminário ou aula por exemplo pode constituirse importante fonte oral para registro de observações sobre políticas planejadas ou instituídas no caso de ações destinadas ao público ou para registro etnográfico ainda que o registro das falas de natureza escrita em áudio ou em audiovisual não dê conta da totalidade do momento da exposição Num caso como estes registrase um momento a partir de idealizações dos recortes ou da percepção de quem observa traduzindo a narrativa pelo seu modo de interpretação O depoimento pode se deslocar do modelo da entrevista formal de maior duração como é o caso da história de vida utilizandose como alternativa a enquete migrante da pesquisa social que visa produzir estimativas quantitativas gerando conclusões para o conhecimento que se quer científico Com a enquete obtémse objetividade e prontidão nas respostas em princípio com a opção de gerar estatísticas demonstrando qualitativamente a visão que um coletivo de entrevistados tem de aspectos relativos a um mesmo tema 7 questionado explanandose a relação com os objetivos específicos almejados ainda que a entrevista seja baseada em uma ou duas questões que suscitem breve resposta Mas também é possível identificar as falas individuais como reflexo de memórias individuais vinculadas a uma coletividade uma vez que os depoentes sejam pessoas cujo ambiente social se relacione com a pesquisa empreendida O deslocamento da enquete da pesquisa social de base quantificável para a pesquisa qualitativa e como depoimento de memória a ser aproveitado como fonte para produção historiográfica é uma inovação metodológica para qualquer projeto que tenha na história oral um suporte técnico para análise de narrativas individuais possibilitando observar o modo como elas se colocam na relação com o coletivo sem a necessidade de gravação de um longo depoimento que certamente terá sua maior parte desconsiderada no resultado da pesquisa não em termos de ideias mas no conjunto do texto final produzido A enquete abriga caráter intencional para quem pergunta e para quem responde e se diferencia da entrevista temática porque pode tratar como no caso deste estudo de um aspecto que embasa a argumentação mas não é o principal objeto analisado No II Encontro das Comunidades Remanescentes de Quilombo ocorrido em Garanhuns de 19 a 22 de novembro de 2007 em reunião durante o almoço com o líder do Castainho José Carlos Silva o depoimento dado por ele enriquece este raciocínio Ele diz não é porque sou negro que tenho que gostar de feijoada no ano passado serviram feijoada como se ela fosse o prato preferido de todo negro Uma enquete improvisada numa atividade pedagógica em 12 de outubro de 2007 no Sítio Atoleiros em Caetés constituiuse de duas perguntas principais você se sente negro O que acha de sua comunidade assumir que é descendente de quilombo Foram nove entrevistados entre duas crianças uma adolescente e seis adultos Como o improviso caracterizou a enquete a fala a seguir serve para demonstrar que as cargas de preconceito residem na própria comunidade e são reflexos das trajetórias da memória coletiva revelada na comunidade por um indivíduo adulto de cor de pele marrom que disse negro pra mim é o cão nós somos morenos Negro é escravo nós somos morenos Nos dois exemplos encontramse situações diversas no primeiro não havia intenção de colher depoimento mas a fala expressada para a pesquisadora ainda que num momento cujo propósito era formalmente diverso da pesquisa refletia um sentimento da liderança sobre um aspecto do ser negro naquela coletividade a partir de uma experiência anterior que não tinha porquê não ser capturada No caso de se pretender alegar os riscos de comprometimento ético quanto à publicação da fala sem autorização resta esclarecer que o 8 registro daquele sentimento mais do que ilustrar representa uma mentalidade que interfere no cotidiano da comunidade que é objeto de estudo da pesquisadora O segundo exemplo é fruto de uma intencionalidade foi colhido como entrevista gravada de um cidadão que voluntariamente cedeu seu depoimento O conteúdo reflete um preconceito relativo ao ser negro que torna desinteressante identificar o sujeito que responde mas a fala é necessária como representação das relações interraciais nas comunidades focadas As fontes analisadas são depoimentos colhidos de narradores diferentes em situações distintas individual e coletivamente intencionalmente ou não incluindo compromisso com doação ou não o que caracteriza a formalidade ou não do depoimento Este pode ser cedido voluntariamente ou capturado pelo historiador numa situação casual e inserido como produto de pesquisa que fortalece sua argumentação A história oral híbrida pressupõe o contraponto entre um depoimento e outras fontes inclusive com outras formas de registro confirmando ou não o que diz cada um dos depoimentos Como ao pesquisador especialmente ao historiador cabe questionar sempre nada impede este procedimento em nenhuma circunstância ainda que as fontes não sejam reconhecidas como instituídas pelos segmentos de produção historiográfica Da mesma maneira nada obriga a esta contraposição já que não se está buscando verdades Atentese que a questão passa pelas fronteiras estabelecidas para a produção de conhecimento fragmentadas dentro de um segmento da historiografia que é a criação intencional de fontes de pesquisa que autorizadas ou não por quem cede as informações que podem ou não ser identificadas são depoimentos de memória que refletem historicidade e cultura Os critérios para escolha dos entrevistados são estabelecidos pelo historiador no decorrer do seu cronograma de pesquisa quando se utiliza da história oral Da mesma maneira ele pode definir quais falas dizem respeito ao seu projeto de pesquisa e quais depoentes apresentam na sua capacidade de verbalização conteúdos que revelem a forma como percebe as relações sociais e como estas interagem com a dimensão do estudo então viabilizado Como elemento externo ao objeto pesquisado o pesquisador pode ter sua história pessoal vinculada à natureza dos espaços por onde circula podendo interferir em discursos alheios mas seu olhar de estudioso a partir de objetivos especificamente definidos estabelece a distinção entre o que integrará ou não seus resultados de pesquisa A simples entrada de um pesquisador numa comunidade para observála sinaliza para influências sobre o objeto pesquisado Tal influência não pode ser negada penso que deve ser considerada como variável no processo do estudo que entretanto não obriga ao descarte das percepções capturadas por quem pesquisa serve como mais um testemunho 9 E se escrever é antes de mais produzir um texto a operação oral contar falar também não deixa de ter uma relação primeira com a produção de textos e discursos estratégicos Enfim devese assinalar a importância de se levar em conta o relato oral como um texto onde se inscrevem desejos reproduzemse modelos apreendemse fugas em suma um texto passível de ser lido e interpretado e da mesma forma um texto articulador de discursos GUIMARÃES NETO 2006 p 47 A intuição acaba sendo um elemento presente na prática dos pesquisadores pois quem trabalha com quem se expressa trabalha com o que se apresenta a quem assiste Na coleta formal do depoimento oral o entrevistado pode ser traído por seus próprios anseios e enveredar por caminhos que julgue interessar ao pesquisador É diferente no diálogo espontâneo os pareceres são expressos simplesmente e não serão obrigatoriamente resultantes de processos interativos entre entrevistador e entrevistado Avaliar o que o ouvinte pensa é sempre uma possibilidade para quem emite um discurso e pode alterar o produto de qualquer fala Mas não inviabiliza o uso pelo historiador de uma narrativa apresentada num diálogo informal Outros aspectos envolvem o depoimento o técnico relativo aos suportes de memória e equipamentos utilizados seu manuseio e qualidade na reprodução das falas ou sua articulação com imagens de acordo com o equipamento de registro Deve ainda ser considerado o conteúdo vinculado ao modo como uma vez concedido o depoimento este pode adquirir não apenas um formato divergente do produzido originalmente como também gerar sentidos que têm na memória e nas lembranças o principal elemento recursivo Neste aspecto o processo construtivo da fonte oral relacionado aos interesses do entrevistador e do próprio depoente supera a questão meramente técnica GUIMARÃES NETO 2006 p 46 Entretanto é fundamental que seja prioritariamente considerada na análise a especificidade na relação com a memória coletiva GUIMARÃES NETO 2006 p 46 Reuniões consignadas ou não podem ser tratadas como fontes seminários colóquios congressos já que o registro de textos cuja apresentação oral difere da escrita existe Anais são como as atas importantes formas de registros e fontes auxiliares quando não basilares para produção de conhecimento historiográfico Ora se a história é o campo de conhecimento que acolhe a narrativa tanto oral quanto escrita segundo critérios de ordenação temporal GUIMARÃES NETO 2006 p 47 não há o que impeça a utilização do debate ocorrido em um programa de rádio ou num chat via internet desde que devidamente referenciados com registros do endereço eletrônico e data de captura A doação efetiva das falas individuais em cada encontro certamente não ocorrerá Mas uma vez 10 tornadas públicas por veículos cujo produto é de livre acesso podem ser objeto de captura pelo historiador se ele perceber como indício que fortalece sua argumentação num seu projeto de pesquisa Neste caso o historiador mais do que condutor do conhecimento passa a ser ele mesmo testemunho que abaliza suas fontes Poderia falar da questão da história do tempo presente como um problema para a historiografia e da vinculação entre a produção narrativa como produto do trabalho do historiador que se aproxima da literatura mas não é este o ponto Toda entrevista tem por base a memória individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada às vivências individuais A utilização do depoimento de pessoas idosas como fonte para a história oral é uma forma de justificar a entrevista como histórica referindose ao passado já que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memórias do passado pelo próprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a idéia de que a história mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um período anterior ao da vida do pesquisador liberandoo de um comprometimento relativo à simultaneidade do seu tempo de vida e da ocorrência do seu objeto de pesquisa O tempo presente é o tempo coetâneo de quem fala referirse a ele em qualquer fração de tempo já ocorrida constitui passado Ao conformismo diante de determinações sociais econômicas políticas e digo eu acadêmicas Morin chama imprinting cultural matriz que estrutura o conformismo e há uma normalização que o impõe marcando os humanos desde o nascimento com o selo da cultura primeiro familiar e depois escolar prosseguindo na universidade e na profissão MORIN 1998 p34 A percepção da entrevista como algo mais que entrevista ou mesmo a visão da história do tempo presente somente a partir das lembranças dos mais velhos são ressonância das crenças compartilhadas entre os pesquisadores notadamente os da história por se pretenderem isentos de compromisso de opinião subjetiva sobre o tempo tratado Estou trabalhando com história oral originária de depoimentos intencionais e conscientemente fornecidos pelo depoente como material a ser transformado em fonte de pesquisa mas também tratando a possibilidade de um tipo de coleta em certa medida aleatória de informações que fortalecem o argumento de quem pesquisa mais baseado em critérios estabelecidos pela mobilização do seu próprio pensar em função do seu objeto de estudo 132 Diversificação de fontes entre a escrita e a oralidade 11 O oral não deve ser oposto dicotomicamente ao escrito como duas realidades distintas e distantes mas como formas plurais que se contaminam permanentemente pois haverá sempre um traço de oralidade riscando a escritura e as falas sempre carregarão pedaços de textos ALBUQUERQUE Jr 2007 p230 A oralidade é patrimônio cultural imaterial que embute representações e significados diversos Embora ninguém dialogue permanentemente por meio da escrita se não por intermédio de uma obra percebese a relação entre a oralidade e a escrita principalmente como base para a necessidade de registro e preservação é necessário reconhecer que a fonte oral não é o outro da fonte escrita fazem parte tanto uma quanto outra do sistema escriturístico moderno GUIMARÃES NETO 2006 p 47 Em história o uso de documentação manuscrita é tratado como fonte primária Se pela chamada história oral o depoimento é fonte primária não há porque desconsiderálo como resultante de reuniões Em termos de documentação e registro escrito de memórias as atas de reuniões são fontes primárias de pesquisa A partir delas se obtém informações sobre condução e encaminhamento de procedimentos formais Ao reconhecer o resultado de uma reunião como fonte de pesquisa através da geração de um documento formal como a ata estarseá valorizando o papel que cada indivíduo ou cada coletivo possui na construção da sociedade Como o documento escrito não está acessível a todos os graus de dificuldade para acesso a ele implicam um investimento que nem todos podem fazer ou acessar Acredito ser esta uma forma de estimular o protagonismo social reclamado por muitos movimentos sociais Ainda que o indivíduo em determinado momento tenha dificuldade de expressão num meio em que comportamentos ou códigos socialmente aceitos são restritos a poucas formas de linguagem no momento em que se expressa ou é incentivado a se expressar sem que alguém possa influenciar diretamente a produção de sentidos diversos no conteúdo estará sendo capaz de dizer de suas necessidades e interesses uma vez que seus direitos um deles o de participar de grupos reivindicatórios sejam reconhecidos pelo grupo em que está inserido Esta é uma ação que tem fundamento político na autogestão na conquista de autonomia de indivíduos e de coletivos através de suas representações que não precisam ser lideranças de projeção mas pessoas capazes de se fazer compreender ainda que não cumpram os códigos predominantes na sua forma integral Podem ser simplesmente indivíduos que conhecem os problemas da comunidade que se interessam pelo seu encaminhamento e solução e que obtenham da comunidade de alguma forma delegação para representála Retomando a questão da ata de reuniões um problema recorrente é a assinatura que representa a autorização do indivíduo para uso da responsabilidade por ele assumida ao 12 atestar o documento com a impressão de próprio punho do seu nome abaixo do texto grafado A assinatura é um problema porque é possível que um representante de comunidade mesmo capaz de verbalizar de forma clara e objetiva quaisquer situações ou demandas seja analfabeto ou analfabeto funcional capaz apenas de desenhar o próprio nome ou mesmo saiba ler mas seja incapaz de escrever Neste caso a utilização impressa dos traços digitais como assinatura é a alternativa imediata para responsabilizar o indivíduo Por mais que a intenção seja registrar a participação do indivíduo no processo ao lhe ser solicitado imprimir seus traços digitais no documento gerado pode estar caracterizada ação discriminatória contra quem não domina a linguagem escrita Neste caso a oralidade é sacrificada em função de um código gráfico A ideia de reunir aqueles que dominam os trâmites institucionais e os códigos linguísticos com os que se iniciam na prática política é uma espécie de proposição em que se coloca uma tentativa de equilibrar os saberes para um fim comum mas gera uma situação de dependência quando indivíduos delegam a outrem a condução do seu próprio discurso Um exemplo interessante da atribuição de valores a conhecimentos históricos que podem e são reproduzidos na comunidade é a situação que envolve a feijoada mencionada anteriormente A fala não integra um depoimento formal mas reflete uma reação ao modo de pensar institucionalizado por uma maioria que tem acesso a veículos de comunicação e atua junto a instituições promotoras de políticas públicas Neste caso como pesquisadora sem qualquer delegação senão a do meu ofício testemunho a reação apresentada pela liderança comunitária como sujeito que sou do meu próprio objeto de estudo Por ter como ponto de partida a oralidade as práticas culturais ditas populares incluídas as de origem afrobrasileira não primaram pelo registro escrito ou por um ordenamento da documentação que conseguiu armazenar Poucos são os registros existentes lacunas são frequentes e as respostas a questões sobre seu passado não estão disponíveis o que não chega a ser um aspecto limitador já que remetem a novos questionamentos e reflexões sobre o sentido cultural de cada uma das diversas formas de expressão inclusive da historiografia A memória traduzida pelas lembranças ainda que divergentes entre indivíduos é uma construção coletiva e pode ser capturada em beneficio da pesquisa inclusive como fonte para a chamada história oral ainda que não por intermédio de um depoimento formal A escrita e a leitura são recursos prospectivos de comunicação nem de longe dão conta do fazer dos grupos e dos significados embutidos pelas suas práticas na totalidade 13 Por isso é importante incluir na pluralidade de tempos e temas do ofício do historiador uma estratégia de coleta de depoimentos que extrapole os limites formalmente instituídos na prática historiográfica A mesma atitude de respeito ao documento escrito cuja orientação para não danificar e não rasurar são princípios de um comportamento ético do pesquisador está posta para o depoimento colhido por intermédio da entrevista Respeitase a fala do entrevistado e numa transcrição ipsis litteris até a grafia de palavras não dicionarizadas ou vícios de linguagem permanecem intocados preservandose os sentidos atribuídos pelo depoente no seu testemunho Podese manter esta atitude quando o pesquisador captura um depoimento do qual é testemunha ainda que o discurso não esteja inserido numa coleção sistematizada de fontes Finalmente considerando as tecnologias disponíveis e a pluralidade de informações circulantes nos espaços mais inusitados seria restritivo pensar que apenas sob determinadas condições formais depoimentos podem ser coletados e aproveitados num estudo Participar de um colóquio pode inspirar uma coleta Quem se expressa numa instância pública como esta ou qualquer outra se sujeita ao uso da sua fala de modos até surpreendentes De posse de um gravador portátil de um telefone celular ou de um media player o pesquisador pode capturar depoimentos A autorização está implícita ao falar em público A possibilidade de utilização não libera qualquer forma de uso Aspectos éticos se anunciam como limitadores das diversas formas de uso Ao pesquisador cabe o compromisso de manter seu trabalho dentro dos limites da confiança ao leitor resta refletir sobre os riscos de simplesmente acreditar Segurança e perigo confiança e risco são atitudes necessárias ao cidadão vivente da modernidade O pesquisador não pode fugir disso Convido a uma analogia com o que Giddens trata como desatenção civil Ao se cruzarem dois indivíduos numa rua eles se entreolham brevemente numa atitude de aparente desatenção O olhar concede reconhecimento do outro como um agente e como um conhecido potencial Fixar os olhos no outro apenas brevemente e depois olhar para frente enquanto ambos se cruzam vincula tal atitude a uma reafirmação implícita de ausência de intenção hostil GIDDENS 1991 p85 Considerada a ausência desta intenção que ela se transforme numa tentativa de conduzir à compreensão de objetos de estudo 133 Entrevistas temáticas por mensagem eletrônica 14 A temática é uma categoria de entrevista utilizada pela história oral direcionada para especificidades do projeto de pesquisa Comumente as entrevistas temáticas são gravadas transcritas e cedidas pelo depoente Em relação a diversos aspectos inclusive a espontaneidade sofrem dos mesmos problemas que qualquer entrevista Deslocandose a gravação do depoimento oral reproduzido por equipamento sonoro uma opção é a mensagem eletrônica o conhecido email para troca de informações A espontaneidade da fala gravada nunca é absoluta considerando que num processo de entrevista formal o depoente também tem sua fala inibida pelo gravador como equipamento e pela gravação como um documento que de algum modo pode comprometêlo Não se trata de coleta de depoimento oral embora tenha por base a oralidade e a memória principalmente Não se utiliza de sons da voz humana inflexões ou tons A base de uma entrevista por email é a escrita o que a torna restrita àqueles que dominam a escrita e são usuários da internet Para que ela aconteça é necessário que o depoente se concentre na sua produção Deste tipo de entrevista a capacidade de redação do entrevistado serve como fundamento o que a torna restrita a pessoas com capacidade de articulação de ideias pela escrita Quanto ao veículo de registro utilizado A caixa postal de endereços eletrônicos tem se apresentado como importante meio de comunicação transporte e registro de informações Entretanto também tem se mostrado vítima de fraude quando equações são formuladas em prejuízo de outrem na forma de vírus É portanto espaço que carece de confirmação de autorias já que a atribuição indevida de autorias é uma prática corrente na internet Este é um problema que pode ser solucionado na medida em que a informação veiculada por meio virtual possa ser confirmada por seu autor a ser constituído como signatário de sua própria fala A ideia é que uma vez cedida a entrevista ela possa retornar ao depoente que deverá alterála ou confirmála de acordo com sua pretensão de falar deste ou de outro modo sobre qualquer conteúdo Preferencialmente a entrevista deverá ser temática Ao se tratar de depoimento oral muitas formas ele pode adquirir Talvez a de uso mais comum seja a história de vida Esta não seria uma alternativa interessante para a entrevista por email em função do tempo que exigira que o depoente dispusesse Além de ter capacidade de redação articulando idéias e construindo argumentação inevitável mesmo em se tratando de depoimento de memória o depoente precisaria abrir mão de suas ocupações por um período maior do que o necessário para gravação de um depoimento sonoro Lembremos que a cada hora de gravação de um depoimento oral são necessárias quatro ou cinco horas a serem despendidas para 15 transcrição No depoimento gravado falado a transcrição é responsabilidade do pesquisador Na entrevista por email a tarefa de constituir o documento escrito fica por conta do entrevistado Cada vez mais a atividade de pesquisa para a produção de trabalhos acadêmicos requer mais do pesquisador de maneira que muitas vezes o desejo de apresentar uma produção respeitando os prazos e normatizações de cada programa pode conduzir a distorções como a cópia de trabalho alheio sem citação ou a aquisição mediante pagamento de trabalhos encomendados muitos dos quais cópias da internet Este é um desvio que não se justifica simplesmente pelos prazos curtos definidos pelos programas de graduação ou pósgraduação no Brasil vez que estes obedecem a regulamentações dos principais órgãos de fomento Há valores éticos que são profanados quando tais dimensões da produção acadêmica são violadas Ineditismo autoria e criatividade não necessariamente originalidade de temas são elementos que precisam orientar a prática da pesquisa acadêmica embora as leituras especialmente as realizadas sobre publicações sejam inspiradoras de tratamentos alternativos sobre objetos e fontes de pesquisa para que os objetivos do projeto sejam alcançados REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE Jr Durval Muniz de As dobras do dizer da impossibilidade da história oral In História a arte de inventar o passado ensaios de teoria da história Bauru SP Edusc 2007 p 229234 CORRÊA Carlos Humberto P História oral teoria e técnica Florianópolis UFSC 1978 DELGADO Lucilia de Almeida Neves História oral memória tempo identidades Belo Horizonte Autêntica 2006 GIDDENS Anthony As consequências da modernidade São Paulo UNESP 1991 GUIMARÃES NETO Regina Beatriz Cidades da mineração memória e práticas culturais Mato Grosso na primeira metade do século XX Cuiabá MT Carlini Caniato EdUFMT 2006 HALBWACHS Maurice A memória coletiva São Paulo Centauro 2004 MEIHY José Carlos Sebe B HOLANDA Fabíola História oral como fazer como pensar São Paulo Contexto 2007 MORIN Edgar A rememoração In O método III o conhecimento do conhecimento Lisboa EuropaAmérica 19 p99106 NOGUEIRA Maria Aparecida Lopes Caleidoscópio de vidas e ideias In CASTRO Gustavo et al Ensaio de complexidade Porto Alegre Sulina 1997

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