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Estrutura do Ensaio 1 INTRODUÇÃO Definição do tema Por que escolheu este tema O que vai argumentar Descrição da estrutura do ensaio 2 CORPO DO ENSAIO Análise e desenvolvimento do tema escolhido Dê exemplos do texto que está a estudar Mencione bibliografia para justificar as suas ideias e conclusões faça citações e comentários 3 CONCLUSÃO Apresente os resultados da sua análise Quais as conclusões do seu trabalho Poderá aqui introduzir um comentário pessoal ao tema Poderá indicar outras áreas relacionadas com o seu tema que seria interessante estudar e pesquisar 4 BIBLIOGRAFIA Indique por ordem alfabética os livros que usou no seu ensaio de acordo com as normas de citação bibliográfica Adaptado de httpwwwportrasdasletrascombrpdtl2subphpopredacaoteoriadocsestruturaensaio Acesso em 6 ago 2009 Introdução Ler é um gesto que à primeira vista pode parecer inofensivo Abrimos um livro sentamonos numa poltrona confortável e deixamos que as palavras nos conduzam como quem mergulha em um universo paralelo alheio às exigências do mundo exterior Mas esse gesto por vezes banalizado pela rotina é uma das experiências mais complexas e transformadoras a que nos submetemos Ler é antes de tudo um ato de escuta e de entrega É nos deixar afetar por algo que não nos pertence e ainda assim nos atravessa E é justamente essa experiência ambígua entre o controle e a vulnerabilidade entre o prazer e o risco que Julio Cortázar dramatiza com maestria no conto Continuidad de los parques Publicado originalmente em Final del juego 1956 o conto é um marco da literatura fantástica latinoamericana e um exemplo cristalino da sofisticação estética de Cortázar Ao narrar a história de um homem que retoma a leitura de um romance e acaba ele próprio sendo engolido por essa leitura o autor argentino nos apresenta muito mais do que um artifício engenhoso de fusão entre realidade e ficção Ele nos oferece uma crítica sutil porém profunda ao lugar que ocupamos enquanto leitores o lugar da escuta passiva da distração confortável da ausência de vigilância interpretativa Em poucas páginas Cortázar nos faz perceber que ao abrir um livro abrimos também uma brecha em nós mesmos e que se não estivermos atentos aquilo que lemos pode começar a nos ler de volta Esse movimento de inversão entre leitor e personagem entre sujeito e objeto da leitura é o que torna o conto tão inquietante Não se trata apenas de uma surpresa narrativa mas de um abalo ontológico O leitor da história tanto o interno o homem na poltrona quanto o externo nós que o observamos é capturado por um enredo que o ultrapassa O que se revela então é que a leitura não é uma atividade neutra mas uma experiência existencial ela nos constitui nos modifica e nos coloca em risco Cortázar rompe com a ideia da leitura como refúgio e a transforma em campo de atravessamento simbólico A ficção aqui não é apenas linguagem é acontecimento É partindo dessa compreensão que este ensaio se propõe a analisar Continuidad de los parques como uma narrativa que elabora uma crítica à figura do leitor contemporâneo fragilizado e por vezes ausente de si no momento da leitura Para isso mobilizaremos dois textos fundamentais Algunos aspectos del cuento 1963 ensaio em que Cortázar apresenta sua concepção estética do conto como estrutura fechada e intensa voltada a produzir um impacto imediato e irreversível no leitor e o artigo Continuidad de los parques una poética de lectura 2009 de Silvia Elena Solano Rivera que interpreta o conto como uma advertência crítica ao leitor que se entrega à ficção sem consciência tornandose prisioneiro de sua passividade interpretativa A tese que atravessa este ensaio é a de que Continuidad de los parques constrói por meio de sua forma circular sua progressão hipnótica e seu desfecho ambíguo uma metáfora precisa da leitura como experiência de risco Ao dissolver as fronteiras entre ficção e realidade o conto obriga o leitor a repensar sua própria relação com o texto propondo uma ética da leitura que exige escuta ativa responsabilidade interpretativa e atenção ao modo como a linguagem nos constitui Ao mesmo tempo o conto dramatiza a figura do leitor trágico aquele que ao renunciar à escuta crítica se vê devorado por aquilo que lê Assim ao invés de reforçar a leitura como um gesto seguro Cortázar nos lembra de sua potência perigosa mas também profundamente transformadora A análise se desenvolverá em torno de três eixos principais a forma narrativa do conto como construção estética de impacto a figura do leitor como personagem central e sujeito vulnerável à ficção e por fim a atualidade desse debate diante da crise contemporânea da leitura uma crise marcada por excesso de informação fragmentação da atenção e apagamento do silêncio necessário à escuta profunda Em tempos de leituras apressadas algoritmizadas e performativas retornar ao conto de Cortázar é também um gesto político recuperar a leitura como travessia como desorientação criadora como possibilidade de reinvenção do sujeito que lê Ler afinal é mais do que decodificar símbolos ou seguir uma trama É um encontro entre mundos o do texto e o nosso e como todo encontro verdadeiro exige disponibilidade escuta e coragem Continuidad de los parques é nesse sentido uma convocação uma convocação à presença na leitura e à responsabilidade diante da linguagem E talvez seja isso que faz do conto uma obra tão potente ele não termina quando a história acaba mas quando o leitor já transformado levanta os olhos da página e se pergunta onde estou Porque às vezes ao entrarmos em um livro também nos perdemos de nós mesmos E com sorte nos reencontramos Conclusão Ao atravessar as poucas mas intensas páginas de Continuidad de los parques emerge uma certeza desconcertante há textos que não apenas se deixam ler mas que nos leem O conto de Julio Cortázar é um desses textos Ele não termina ao fim da narrativa ao contrário ele começa ali no momento em que o leitor se vê refletido mesmo que tardiamente no espelho da poltrona do silêncio e da distração A proposta central deste ensaio consistiu em examinar essa arquitetura narrativa tão cuidadosamente construída para que se desmonte em nós A tese aqui sustentada defende que Cortázar ao fundir realidade e ficção com engenhosidade formal nos oferece não apenas um conto memorável mas uma crítica refinada ao gesto da leitura como zona de risco experiência sensorial e ato ético Ao longo da análise partimos da concepção estética do conto como estrutura de condensação e impacto imediato conforme defendida pelo próprio autor em Algunos aspectos del cuento Identificamos como essa teoria se realiza de maneira exemplar em Continuidad de los parques cuja forma circular progressão fluida e final ambíguo criam um campo de tensão entre o que se observa e o que se é Complementamos essa leitura com a abordagem proposta por Silvia Elena Solano Rivera que interpreta o conto como uma poética da leitura elaborando a figura do leitor trágico aquele que se entrega sem mediação à ficção e por isso se torna vulnerável à dissolução de sua autonomia interpretativa Essa figura mais do que um personagem do conto é uma chave simbólica para pensarmos o que significa ser leitor no mundo contemporâneo A síntese desses argumentos revela que Continuidad de los parques não é apenas um conto sobre a relação entre personagem e livro é uma reflexão profunda sobre como a linguagem nos atravessa e nos transforma Cortázar com precisão quase cirúrgica desmonta a suposta neutralidade do ato de ler A leitura não é um passeio seguro por territórios alheios mas uma travessia com consequências A figura do homem sentado confortável em sua poltrona que se vê assassinado pela própria história que lia representa a fragilidade da condição leitora quando esta se ancora na ilusão da distância Somos sempre em alguma medida atravessados pelo texto e ignorar essa travessia é o que o conto denuncia com uma brutalidade sutil mas definitiva Num segundo plano a narrativa de Cortázar atua como uma crítica a uma forma de estar no mundo que se repete na sociedade contemporânea o automatismo da percepção a anestesia da atenção a passividade diante das imagens das palavras dos discursos A leitura que não perturba que não exige reposicionamento do sujeito torna se cópia da realidade que ela deveria questionar Ao propor uma experiência de leitura que exige escuta interrupção e silêncio Cortázar nos oferece uma possibilidade de resistência resistir ao fluxo raso da leitura rápida ao consumo apressado da linguagem à desatenção como forma de estar Seu conto publicado em meados do século XX parece falar diretamente a nós leitores do século XXI que nos debatemos entre excesso de informação e escassez de interioridade Essa dimensão crítica do conto amplia sua relevância para além do campo literário Ela convoca uma ética do ler que se baseia não na produtividade mas na presença Ler aqui não é produzir sentido imediatamente mas tolerar o vazio o intervalo o incômodo É escutar o que o texto tem a nos dizer mas também escutar o que ele faz em nós A dissolução entre realidade e ficção então se apresenta menos como um artifício fantástico e mais como uma metáfora da vida em tempos em que as mediações simbólicas perdem sua nitidez A leitura nesse cenário não é mais um gesto protegido ela é vulnerabilidade exposição e possibilidade de reinvenção Ao final permanece a imagem do leitor que morre na poltrona e ela nos inquieta não apenas pelo desfecho narrativo mas pela identificação incômoda que provoca Quantas vezes lemos como ele absortos passivos anestesiados Quantas vezes permitimos que a linguagem nos atravessasse sem vigilância E por outro lado quantas vezes nos deixamos de fato afetar por aquilo que lemos a ponto de nos transformarmos Cortázar nos mostra que o leitor não é um observador externo ele está no centro da narrativa mesmo quando acredita estar à margem Ao perder essa consciência tornase prisioneiro do texto mas ao retomála tornase seu cocriador Assim Continuidad de los parques nos oferece mais do que uma história engenhosa oferece uma convocação Uma convocação à escuta à presença e à ética do ler Reafirma que o verdadeiro efeito da literatura não é a evasão mas o abalo Que o texto não termina na última linha mas continua em nós nas perguntas que nos deixa nos silêncios que provoca nos olhos que nos obriga a levantar Ler afinal é uma forma de entrar em contato com o outro com a alteridade do mundo da linguagem e de si mesmo E esse encontro como todo encontro verdadeiro nunca acontece sem consequências Porque talvez o conto não seja em última instância sobre um assassinato na sala mas sobre a morte simbólica de um leitor que se esqueceu de estar presente Talvez a pergunta final não seja o que aconteceu com o homem na poltrona mas quem somos nós quando lemos Cortázar com sua narrativa afiada nos convida a responder não com palavras mas com escuta com silêncio com corpo Porque ler no fundo é isso estar disposto a ser tocado E permitir com coragem que algo em nós jamais volte a ser o mesmo
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Estrutura do Ensaio 1 INTRODUÇÃO Definição do tema Por que escolheu este tema O que vai argumentar Descrição da estrutura do ensaio 2 CORPO DO ENSAIO Análise e desenvolvimento do tema escolhido Dê exemplos do texto que está a estudar Mencione bibliografia para justificar as suas ideias e conclusões faça citações e comentários 3 CONCLUSÃO Apresente os resultados da sua análise Quais as conclusões do seu trabalho Poderá aqui introduzir um comentário pessoal ao tema Poderá indicar outras áreas relacionadas com o seu tema que seria interessante estudar e pesquisar 4 BIBLIOGRAFIA Indique por ordem alfabética os livros que usou no seu ensaio de acordo com as normas de citação bibliográfica Adaptado de httpwwwportrasdasletrascombrpdtl2subphpopredacaoteoriadocsestruturaensaio Acesso em 6 ago 2009 Introdução Ler é um gesto que à primeira vista pode parecer inofensivo Abrimos um livro sentamonos numa poltrona confortável e deixamos que as palavras nos conduzam como quem mergulha em um universo paralelo alheio às exigências do mundo exterior Mas esse gesto por vezes banalizado pela rotina é uma das experiências mais complexas e transformadoras a que nos submetemos Ler é antes de tudo um ato de escuta e de entrega É nos deixar afetar por algo que não nos pertence e ainda assim nos atravessa E é justamente essa experiência ambígua entre o controle e a vulnerabilidade entre o prazer e o risco que Julio Cortázar dramatiza com maestria no conto Continuidad de los parques Publicado originalmente em Final del juego 1956 o conto é um marco da literatura fantástica latinoamericana e um exemplo cristalino da sofisticação estética de Cortázar Ao narrar a história de um homem que retoma a leitura de um romance e acaba ele próprio sendo engolido por essa leitura o autor argentino nos apresenta muito mais do que um artifício engenhoso de fusão entre realidade e ficção Ele nos oferece uma crítica sutil porém profunda ao lugar que ocupamos enquanto leitores o lugar da escuta passiva da distração confortável da ausência de vigilância interpretativa Em poucas páginas Cortázar nos faz perceber que ao abrir um livro abrimos também uma brecha em nós mesmos e que se não estivermos atentos aquilo que lemos pode começar a nos ler de volta Esse movimento de inversão entre leitor e personagem entre sujeito e objeto da leitura é o que torna o conto tão inquietante Não se trata apenas de uma surpresa narrativa mas de um abalo ontológico O leitor da história tanto o interno o homem na poltrona quanto o externo nós que o observamos é capturado por um enredo que o ultrapassa O que se revela então é que a leitura não é uma atividade neutra mas uma experiência existencial ela nos constitui nos modifica e nos coloca em risco Cortázar rompe com a ideia da leitura como refúgio e a transforma em campo de atravessamento simbólico A ficção aqui não é apenas linguagem é acontecimento É partindo dessa compreensão que este ensaio se propõe a analisar Continuidad de los parques como uma narrativa que elabora uma crítica à figura do leitor contemporâneo fragilizado e por vezes ausente de si no momento da leitura Para isso mobilizaremos dois textos fundamentais Algunos aspectos del cuento 1963 ensaio em que Cortázar apresenta sua concepção estética do conto como estrutura fechada e intensa voltada a produzir um impacto imediato e irreversível no leitor e o artigo Continuidad de los parques una poética de lectura 2009 de Silvia Elena Solano Rivera que interpreta o conto como uma advertência crítica ao leitor que se entrega à ficção sem consciência tornandose prisioneiro de sua passividade interpretativa A tese que atravessa este ensaio é a de que Continuidad de los parques constrói por meio de sua forma circular sua progressão hipnótica e seu desfecho ambíguo uma metáfora precisa da leitura como experiência de risco Ao dissolver as fronteiras entre ficção e realidade o conto obriga o leitor a repensar sua própria relação com o texto propondo uma ética da leitura que exige escuta ativa responsabilidade interpretativa e atenção ao modo como a linguagem nos constitui Ao mesmo tempo o conto dramatiza a figura do leitor trágico aquele que ao renunciar à escuta crítica se vê devorado por aquilo que lê Assim ao invés de reforçar a leitura como um gesto seguro Cortázar nos lembra de sua potência perigosa mas também profundamente transformadora A análise se desenvolverá em torno de três eixos principais a forma narrativa do conto como construção estética de impacto a figura do leitor como personagem central e sujeito vulnerável à ficção e por fim a atualidade desse debate diante da crise contemporânea da leitura uma crise marcada por excesso de informação fragmentação da atenção e apagamento do silêncio necessário à escuta profunda Em tempos de leituras apressadas algoritmizadas e performativas retornar ao conto de Cortázar é também um gesto político recuperar a leitura como travessia como desorientação criadora como possibilidade de reinvenção do sujeito que lê Ler afinal é mais do que decodificar símbolos ou seguir uma trama É um encontro entre mundos o do texto e o nosso e como todo encontro verdadeiro exige disponibilidade escuta e coragem Continuidad de los parques é nesse sentido uma convocação uma convocação à presença na leitura e à responsabilidade diante da linguagem E talvez seja isso que faz do conto uma obra tão potente ele não termina quando a história acaba mas quando o leitor já transformado levanta os olhos da página e se pergunta onde estou Porque às vezes ao entrarmos em um livro também nos perdemos de nós mesmos E com sorte nos reencontramos Conclusão Ao atravessar as poucas mas intensas páginas de Continuidad de los parques emerge uma certeza desconcertante há textos que não apenas se deixam ler mas que nos leem O conto de Julio Cortázar é um desses textos Ele não termina ao fim da narrativa ao contrário ele começa ali no momento em que o leitor se vê refletido mesmo que tardiamente no espelho da poltrona do silêncio e da distração A proposta central deste ensaio consistiu em examinar essa arquitetura narrativa tão cuidadosamente construída para que se desmonte em nós A tese aqui sustentada defende que Cortázar ao fundir realidade e ficção com engenhosidade formal nos oferece não apenas um conto memorável mas uma crítica refinada ao gesto da leitura como zona de risco experiência sensorial e ato ético Ao longo da análise partimos da concepção estética do conto como estrutura de condensação e impacto imediato conforme defendida pelo próprio autor em Algunos aspectos del cuento Identificamos como essa teoria se realiza de maneira exemplar em Continuidad de los parques cuja forma circular progressão fluida e final ambíguo criam um campo de tensão entre o que se observa e o que se é Complementamos essa leitura com a abordagem proposta por Silvia Elena Solano Rivera que interpreta o conto como uma poética da leitura elaborando a figura do leitor trágico aquele que se entrega sem mediação à 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crítica a uma forma de estar no mundo que se repete na sociedade contemporânea o automatismo da percepção a anestesia da atenção a passividade diante das imagens das palavras dos discursos A leitura que não perturba que não exige reposicionamento do sujeito torna se cópia da realidade que ela deveria questionar Ao propor uma experiência de leitura que exige escuta interrupção e silêncio Cortázar nos oferece uma possibilidade de resistência resistir ao fluxo raso da leitura rápida ao consumo apressado da linguagem à desatenção como forma de estar Seu conto publicado em meados do século XX parece falar diretamente a nós leitores do século XXI que nos debatemos entre excesso de informação e escassez de interioridade Essa dimensão crítica do conto amplia sua relevância para além do campo literário Ela convoca uma ética do ler que se baseia não na produtividade mas na presença Ler aqui não é produzir sentido imediatamente mas tolerar o vazio o intervalo o incômodo É escutar o que o texto tem a nos dizer mas também escutar o que ele faz em nós A dissolução entre realidade e ficção então se apresenta menos como um artifício fantástico e mais como uma metáfora da vida em tempos em que as mediações simbólicas perdem sua nitidez A leitura nesse cenário não é mais um gesto protegido ela é vulnerabilidade exposição e possibilidade de reinvenção Ao final permanece a imagem do leitor que morre na poltrona e ela nos inquieta não apenas pelo desfecho narrativo mas pela identificação incômoda que provoca Quantas vezes lemos como ele absortos passivos anestesiados Quantas vezes permitimos que a linguagem nos atravessasse sem vigilância E por outro lado quantas vezes nos deixamos de fato afetar por aquilo que lemos a ponto de nos transformarmos Cortázar nos mostra que o leitor não é um observador externo ele está no centro da narrativa mesmo quando acredita estar à margem Ao perder essa consciência tornase prisioneiro do texto mas ao retomála tornase seu cocriador Assim Continuidad de los parques nos oferece mais do que uma história engenhosa oferece uma convocação Uma convocação à escuta à presença e à ética do ler Reafirma que o verdadeiro efeito da literatura não é a evasão mas o abalo Que o texto não termina na última linha mas continua em nós nas perguntas que nos deixa nos silêncios que provoca nos olhos que nos obriga a levantar Ler afinal é uma forma de entrar em contato com o outro com a alteridade do mundo da linguagem e de si mesmo E esse encontro como todo encontro verdadeiro nunca acontece sem consequências Porque talvez o conto não seja em última instância sobre um assassinato na sala mas sobre a morte simbólica de um leitor que se esqueceu de estar presente Talvez a pergunta final não seja o que aconteceu com o homem na poltrona mas quem somos nós quando lemos Cortázar com sua narrativa afiada nos convida a responder não com palavras mas com escuta com silêncio com corpo Porque ler no fundo é isso estar disposto a ser tocado E permitir com coragem 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