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MITO 8 Que Galileu foi preso e torturado por defender o copernicanismo Maurice A Finocchiaro O grande Galileu aos oitenta anos gemeu ao final de seus dias nas masmorras da Inquisição porque havia provado o movimento da Terra com provas irrefutáveis Voltaire Descartes and Newton Descartes e Newton 1728 O celebrado Galileu foi colocado na inquisição por seis anos e torturado por dizer que a Terra se movia Giuseppe Baretti The Italian Library A biblioteca italiana 1757 Dizer que Galileu foi torturado não é uma alegação imprudente simplesmente repete o que a sentença diz Especificar que ele foi torturado por sua intenção não é dedução arriscada mas é novamente o relato do que o texto diz Estas são observações relatos não intuições mágicas fatos provados não introspecções cabalísticas Italo Mereu History of Intolerance in Europe História da intolerância na Europa 1979 Nos primeiros anos do século 17 o matemático e filósofo natural Galileu Galilei 15641642 abertamente advogou a teoria do movimento da Terra tal como elaborado no livro de Nicolau Copérnico Das revoluções das esferas celestes 1543 Como resultado foi perseguido julgado e condenado pela Igreja Católica Ele passou os últimos nove anos de sua vida em prisão domiciliar em sua vila próxima a Florença Mas acaso foi ele aprisionado e torturado como os autores acima e inúmeros outros alegam Para outras declarações da tese de prisão consultar Luc Holste para Nicolas de Peiresc 7 de março ie maio de 1633 em Galileo Galilei Opere ed A Favaro et al 20 vols Florença Barbera 18901909 1562 John Milton Areopagitica Londres 1644 24 Domenico Bernini Historia di tutte lheresie 4 vols Roma 1709 4615 Louis Moreri Le grand dictionnaire historique 5 vols Paris 1718 1196 Jean B Delambre Histoire de lastronomie moderne 2 vols Paris 1821 1671 John William Draper History of the Conflict between Religion and Science Nova York D Appleton 1874 17172 E H Haeckel Gesammelte populare Vortrige aus dem Gebiete der Entwickluhgslehre Bonn 18781879 33 Andrew D White A History of the Warfare of Science with Theology in Christendom 2 vols Nova York 1896 2142 e Bertrand Russell Religion and Science Oxford Oxford University Press 1935 40 Sobre a tese de tortura consultar também Paolo Frisi Elogio dei Galileo Milão 1775 em Elogi Galilei Newton DAlembert ed Paolo Casini Roma Theoria 1985 71 Giovanni B C Nelli Vita e commercio letterario di Galileo Galilei 2 vols Lausanne ie Florença 1793 254254 Guglielmo Libri Essai sur la vie et les travaux de Galilée Paris 1841 3437 Silvestro Gherardi Il processo di Galileo riveduto sopra documenti di nuova fonte Florence 1870 5254 Emil Wohlwill Ist Galilei gefoltert worden Leipzig 1877 J A Scartazzini Il TERRA PLANA GALILEU NA PRISÃO E OUTROS MITOS SOBRE CIÊNCIA E RELIGIÃO 103 Galileu não começou a defender o copernicanismo até 1609 Antes disto ele tinha familiaridade com o trabalho de Copérnico e apreciava que ele continha um argumento novo e significativo para o movimento da Terra Galileu estava trabalhando em uma nova teoria do movimento e havia intuído que a teoria de Copérnico era mais consistente com a nova física que a teoria geostática Mas ele não havia publicado ou articulado esta intuição Além disto ele era profundamente consciente da considerável evidência contra Copérnico vindo da experiência sensorial direta observação astronômica da física tradicional e de passagens das Escrituras Por isso ele julgava que argumentos contra Copérnico em muito superavam os próCopérnico Em 1609 contudo ele aperfeiçoou o recéminventado telescópio e nos anos seguintes através dele fez algumas descobertas surpreendentes montanhas na Lua inúmeras estrelas além das visíveis a olho nu coleções densas de estrelas nas nebulosas e na Via Láctea quatro satélites ao redor de Júpiter as fases de Vênus e manchas solares Ele as descreveu no Mensageiro sideral 1610 e Sunspots Letters Cartas das manchas solares 1613 À medida que Galileu começou a demonstrar que as novas evidências telescópicas tornavam o copernicanismo um forte candidato para ser considerado não apenas um modelo mas a verdade física real ele enfrentou crescentes ataques por parte de filósofos e clérigos conservadores Estes argumentavam que ele era herético porque acreditava no movimento da Terra e o movimento da Terra contradizia as Escrituras Galileu sentia que não podia ficar calado e decidiu refutar os argumentos bíblicos contra o copernicanismo Ele escreveu esta crítica em forma de longas cartas particulares primeiro para seu discípulo Benedetto Castelli em dezembro de 1613 e depois para a grãduquesa viúva Christina na primavera de 1615 A carta de Galileu para Castelli provocou ainda mais os conservadores e em fevereiro de 1615 um frade dominicano apresentou uma reclamação processo di Galileo Galilei e la moderna critica tedesca Rivista europea 4 1877 82161 5 1878 115 5 1878 22149 6 1878 40123 e 18 1878 41753 e Enrico Genovesi Processi contra Galileo Milão Ceschina 1966 23282 escrita contra Galileu para a Inquisição em Roma A investigação resultante durou cerca de um ano Galileu não foi pessoalmente chamado para Roma em parte porque a testemunha principal o exonerou em parte porque as cartas críticas não haviam sido publicadas e em parte porque suas publicações não tinham nem a afirmação categórica da verdade do copernicanismo nem a negação da autoridade científica das Escrituras Em dezembro de 1615 porém Galileu foi a Roma por livre escolha para defender a teoria copernicana Apesar de ganhar os argumentos intelectuais seu esforço prático falhou Em fevereiro de 1616 o cardeal Roberto Belarmino em nome da Inquisição deu uma advertência particular a Galileu proibindoo de sustentar publicamente ou defender a visão de que a Terra se movia Galileu concordou Em março o Index de Livros Proibidos o departamento responsável por censura de livros publicou um decreto sem mencionar Galileu que declarou que o movimento da Terra era fisicamente falso e que contradizia a Escritura e que o livro de Copérnico estava banido até que fosse revisado Até 1623 quando o cardeal Maffeo Barberini se tornou o Papa Urbano VIII Galileu se manteve em silêncio sobre o assunto proibido Como Barberini era um antigo admirador Galileu se sentiu mais livre e decidiu escrever um livro para defender o copernicanismo indiretamente e implicitamente Assim ele escreveu um diálogo com três personagens envolvidos em uma discussão dos aspectos cosmológicos astronômicos físicos e filosóficos do copernicanismo mas evitando os bíblicos ou teológicos Publicado em 1632 o Diálogo mostrou que os argumentos favorecendo o movimento da Terra eram mais fortes que os favorecendo a visão geostática Galileu aparentemente sentia que o livro não adotava a teoria do movimento da Terra porque não estava afirmando que os argumentos favoráveis eram conclusivos não estava defendendo sua teoria porque era um exame crítico com argumentos de ambos os lados Ainda assim os inimigos de Galileu reclamaram que o livro defendia o movimento da Terra e portanto violava o aviso de Belarmino e o decreto do Index Uma nova acusação também surgiu que o livro violava uma ordem especial dada pessoalmente a Galileu em 1616 proibindoo de discutir sobre movimentos da Terra da maneira que fosse Tal documento havia sido descoberto no arquivo dos processos anteriores Assim ele foi convocado até Roma para julgamento que começou em abril de 1633 Na primeira audiência Galileu admitiu ter recebido o aviso de Belarmino de que o movimento da Terra não poderia ser adotado ou defendido mas ele negou ter recebido ordem especial para não discutir o tópico de maneira nenhuma Em sua defesa ele apresentou o certificado recebido de Belarmino em 1616 que mencionava apenas a proibição de adotar ou defender tal posição Galileu também alegou que o Diálogo não defendia o movimento da Terra em vez disso mostrava que os argumentos favoráveis não eram conclusivos e portanto não violavam o aviso de Belarmino À luz do certificado de Belarmino e de diversas irregularidades com a ordem especial os oficiais da Inquisição tentaram um acordo extrajudicial prometeram não continuar com a acusação mais séria violaçao da ordem especial se Galileu se declarasse culpado por uma acusação menor a transgressão do aviso de não defender o copernicanismo Galileu concordou e em audiências subsequentes 30 de abril e 10 de maio ele admitiu que o livro foi escrito de tal forma a dar aos leitores a impressão de defender o movimento da Terra Porém ele negou que esta era sua intenção e atribuiu este erro à presunção O julgamento terminou em 22 de junho de 1633 com uma sentença mais dura do que Galileu havia sido levado a esperar O veredito o condenou por uma categoria de heresia intermediária entre a mais e a menos séria chamada veemente suspeita de heresia As crenças censuráveis foram a tese astronômica de que a Terra se move e o princípio metodológico de que a Bíblia não é autoridade científica Ele foi forçado a recitar uma humilhante abjuração retirando estas crenças Mas o Diálogo foi banido2 A recontagem simplificada do julgamento de Galileu dado nos parágrafos anteriores é destilado dos seguintes trabalhos padrão Giorgio de Santillana The Crime of Galileo Chicago University of Chicago Press 1955 Stillman Drake Galileo at Work Chicago University of Chicago Press 1978 Maurice A Finocchiaro Galileo and the Art of Reasoning Boston Dordrecht 1980 Maurice A Finocchiaro trad e ed The Galileo Affair A Documentary History Berkeley University of California Press 1989 Mario Biagioli Galileo Courtier Chicago University of Chicago Press 1993 Rivka Feldhay Galileo and the Church Cambridge Cambridge University Press 1995 Massimo Bucciantini Contra Galileo Florença Olschki 1995 Francesco Beretta Galilée devant le Tribunal de lInquisition dissertação de doutorado Faculdade de Teologia University of Fribourg Suiça 1998 Annibale Fantoli Galileo For Copernicanism and for the Church trad George V Coyne 3a ed Vatican City Vatican Observatory Publications 2003 William R Shea e Mariano Artigas Galileo in Rome Oxford Oxford University Press 2003 Michele Camerota Galileo Galilei e la cultura scientifica nelletà della Controriforma Roma Salerno Editrice 2004 Ernan McMullin ed The Church and Galileo Notre Dame Ind University of Notre Dame Press 2005 Mario Biagioli Galileos Instruments of Credit Chicago University of Chicago Press 2006 Richard J Blackwell Behind the Scenes at Galileos Trial Notre Dame Ind University of Notre Dame Press 2006 Antonio Beltrán Marí Talento y poder Historia de las relaciones entre Galileo y la Iglesia católica Pamplona Laetoli 2006 Citado de Finocchiaro Galileo Affair 290 291 consultar também Galilei Opere 19405 406 Galilei Opere 15169 1941115 Maurice A Finocchiaro Retrying Galileo 16131992 Berkeley University of California Press 2005 2642 O longo documento de sentença também relatou os procedimentos desde 1613 resumindo as acusações de 1633 e registrou a defesa e confissão de Galileu Além disto forneceu dois outros detalhes importantes O primeiro descreveu uma pergunta Visto que não achamos que toda a verdade foi dita sobre sua intenção acreditamos ser necessário ir ao seu encontro com um exame rigoroso Aqui você respondeu de forma Católica embora sem prejuízo às coisas anteriormente mencionadas confessadas por você e deduzidas contra você sobre sua intenção A segunda impôs uma penalidade adicional Te condenamos ao aprisionamento formal neste Santo Ofício à nossa disposição3 O texto da sentença da Inquisição e a abjuração de Galileu foram os únicos documentos do julgamento divulgados na época Na realidade a Inquisição mandou cópias para todos os inquisidores provinciais e núncios papais solicitando que disseminassem a informação Portanto a notícia do destino de Galileu circulou amplamente em livros jornais e panfletos Esta publicidade sem precedentes resultou das ordens expressas do Papa Urbano que queria que o caso de Galileu servisse como lição negativa para todos os católicos e para fortalecer sua imagem como intransigente defensor da fé4 A cláusula de prisão na sentença claramente estipulava que Galileu deveria ser preso na prisão do palácio da Inquisição em Roma por período indefinido pelo tempo desejado pelas autoridades Qualquer um lendo ou ouvindo esta sentença naturalmente presumiria que a Inquisição aplicou a sentença dada Apesar da sentença não usar a palavra tortura houve menção de um exame rigoroso um termo técnico com a conotação de tortura Além disto a passagem dá motivos do por que os juízes decidiram sujeitar Galileu a um exame rigoroso após as diversas interrogações incluindo sua confissão de defender o copernicanismo eles tinham dúvidas se a transgressão havia sido intencional tornando o crime mais grave ou acidental como dizia ele Na prática da Inquisição além dos tribunais leigos tais dúvidas justificavam a administração de tortura para sanálas A passagem informa aos leitores que Galileu passou pelo exame rigoroso quando declara que ele respondeu de forma católica Ou seja Galileu respondeu como bom católico que intencionalmente não faria algo proibido pela igreja Finalmente a passagem deixa claro também de acordo com a prática da Inquisição que a negação de Galileu quanto a má intenção suas respostas católicas não diminuíam a outra evidência incriminatória vinda da confissão e de outras fontes por exemplo opiniões escritas por três consultores com relação ao Diálogo Leitores da sentença acostumados com a terminologia e prática legal compreensivelmente concluíram que Galileu sofreu tortura nas mãos dos inquisidores A impressão de que Galileu havia sido aprisionado e torturado se manteve plausível enquanto a principal evidência disponível sobre o julgamento de Galileu era advinda desses documentos a sentença e a abjuração A história permaneceu inalterada até que cerca de 150 anos após a tese da prisão e cerca de 250 anos após a tese da tortura documentos relevantes vieram à tona mostrando que Galileu não sofreu nenhuma delas As novas informações sobre o aprisionamento de Galileu vêm de uma correspondência de 1633 primariamente do embaixador toscano em Roma Francesco Niccolini para o secretário de estado toscano em Florença e depois de e para o próprio Galileu Os oficiais toscanos estavam especialmente interessados em Galileu porque ele havia sido designado como matemático chefe e filósofo para o grãoduque da Toscana dedicou o Diálogo a ele e com sucesso conseguiu sua ajuda para publicar o livro em Florença Desse modo o governo toscano tratava o julgamento como uma questão de estado com Niccolini discutindo constantemente a situação diretamente com o papa tanto em reuniões regulares quanto enviando relatos para Florença Além disto Galileu era amigo de Niccolini e de sua esposa A correspondência de 1633 que veio à tona em 17741775 mostra que Galileu respondendo à convocação da Inquisição saiu de Florença dia 20 de janeiro e chegou a Roma dia 13 de fevereiro A Inquisição permitiu que ele ficasse na embaixada toscana que também era a residência de Niccolini sob a condição que ficasse em isolamento até o início dos procedimentos Em 12 de abril Galileu foi ao palácio da Inquisição para sua primeira interrogação Ele ficou lá por dezoito dias enquanto passou por interrogações mas foi colocado no apartamento de seis quartos do procurador junto com um servo que o trazia duas refeições diárias da embaixada toscana Em 30 de abril após seu segundo depoimento ser gravado e assinado Galileu voltou para a embaixada onde ficou por 51 dias interrompido por uma visita ao palácio da Inquisição em 10 de maio para um terceiro depoimento Em uma segundafeira dia 20 de junho ele foi convocado para aparecer ao tribunal no dia seguinte Na terçafeira ele passou por exame rigoroso e permaneceu no palácio da Inquisição até a noite de 24 de junho Não é claro se foi mantido em cela de prisão ou se usou o apartamento do procurador Em 22 de junho ele foi ao convento de Santa Maria sopra Minerva para a sentença e abjuração Dois dias depois Galileu mudou do palácio da Inquisição para Villa Medici em Roma um suntuoso palácio que pertencia ao grãoduque da Toscana No dia 30 de junho o papa deu permissão para Galileu viajar a Siena para viver em prisão domiciliar na residência do arcebispo um bom amigo de Galileu O arcebispo o recebeu por cinco meses Em dezembro de 1633 Galileu voltou para sua vila em Arcetri perto de Florença onde permaneceu exceto por um breve período em 1638 quando morou na cidade de Florença em prisão domiciliar até sua morte em 1642 Com a possível exceção de três dias 2124 de junho de 1633 Galileu nunca foi aprisionado nem durante o julgamento como era o costume universal ou após como declarava a sentença Até mesmo durante os três dias ele provavelmente ficou hospedado no apartamento do procurador não em uma cela A explicação para tal tratamento benigno sem precedentes não é inteiramente clara mas inclui os seguintes fatores a proteção de Medici o status de celebridade de Galileu e a atitude dúbia de amor e ódio do papa Urbano seu antigo admirador A evidência mostrando que ele não esteve na prisão não diz nada sobre o sucesso de Galileu em evitar a tortura A resolução desta questão teve de esperar até que os anais do julgamento fossem publicados e assimilados no final do século 19 Dois documentos se mostraram cruciais O primeiro foram as minutas das reuniões da Inquisição em 16 de junho de 1633 lideradas pelo papa Após diversos relatos e opiniões serem ouvidas e após considerável discussão Sua Santidade decidiu que o mesmo Galileu deve ser interrogado mesmo com a ameaça de tortura e se ele permanecer firme após veemente abjuração em uma reunião plenária do Santo Ofício deve ser condenado à prisão à disposição da Congregação Sagrada e deve ser ordenado que no futuro não deve tratar de nenhuma forma escrita ou oralmente do movimento da Terra ou estabilidade do Sol nem o oposto sob pena de relapso e que o livro escrito por ele intitulado Dialogo di Galileu Galilei Linceo deve ser proibido Essa prévia da sentença real menciona um procedimento novo interrogação sob ameaça de tortura As minutas da interrogação com data de 21 de junho assinadas por Galileu revelam que o comissário lhe perguntou diversas vezes se ele defendia a teoria de Copérnico sobre o movimento da Terra todas as vezes Galileu negou têlo feito após a condenação desta doutrina em 1616 O diálogo entre Galileu e seus inquisidores vale a citação completa P Tendo ouvido do livro em si e dos motivos colocados pelo lado afirmativo nominalmente que a Terra se move e o Sol é estático é presumido como foi colocado que ele mantém a opinião de Copérnico ou pelo menos que a mantinha naquele tempo portanto foi dito a ele que exceto se decidisse proferir a verdade terseia recurso para as remediações da lei e passos apropriados contra ele R Eu não mantenho esta opinião de Copérnico e não a mantive desde a ordem de abandonála Quanto ao resto estou em suas mãos façam como desejar P Foi solicitado que ele dissesse a verdade ou teriam de apelar à tortura R Estou aqui para obedecer mas não mantive esta opinião após a ordem ter sido dada como mencionei consultar também Galilei Opere 19362 Como nada mais poderia ser feito para a execução da decisão após ter assinado ele foi enviado para seu lugar Eu Galileu Galilei testemunhei conforme acima Este depoimento não deixa dúvida que Galileu foi ameaçado com tortura na interrogação de 21 de junho mas não há evidência de que de fato foi torturado ou que seus acusadores planejasem torturálo Aparentemente o exame rigoroso mencionado na sentença significava interrogação com a ameaça de tortura e não interrogação sob tortura A tortura mais comum e relevante em Roma na época era a tortura da corda Esta consistia em amarrar os pulsos da vítima nas costas e então amarrar os pulsos unidos ao final de uma longa corda que passava por uma polia pendurada do teto O executor segurava a ponta da corda de forma que a vítima pudesse ser levantada do chão e pendurada por diferentes períodos de tempo uma regra padrão estipulava o máximo de uma hora Para aumentar a tensão pesos de diversos tamanhos poderiam ser anexados aos pés das vítimas Em outros casos a vítima era solta de diversas alturas quase chegando ao chão quanto maior a queda maior a dor nos braços e articulações da vítima na realidade valores numéricos da distância da queda forneciam uma medida quantitativa da severidade da tortura Devido à severidade da tortura da corda podemos ter uma razoável certeza de que Galileu não foi torturado desta forma Dada à sua idade avançada de 69 anos e sua fragilidade ele teria sofrido danos permanentes nos braços e ombros mas não há evidência disto Ademais se houvesse sido torturado teria acontecido dia 21 de junho não o permitindo estar em condições de participar da sentença e recitar a abjuração no dia 22 Além disto as normas da Inquisição requeriam que a sessão de tortura incluindo os gemidos e gritos da vítima fossem registrados mas os anais não contém tais minutas Normas da Inquisição também estipulavam que confissões obtidas sob tortura fossem ratificadas 24 horas depois fora da sala de tortura mas 9 Consultar Scaglia Prattica per proceder nelle cause dei Santo Uffizio 133 Genovesi Processi contra Galileo 7981 Mereu Storia dellintolleranza in Europa 22627 Beretta Galilée devant le Tribunal 216 e Beltrán Marí Talento y poder 797 não há registros de ratificação E antes de o réu ser torturado era necessário um voto formal por parte dos consultores da Inquisição para recomendála além de um decreto assim o afirmando pelos inquisidores mas nenhum registro indica que estes passos foram realizados no caso de Galileu Além disso autoridades da Inquisição em Roma raramente praticavam a tortura o que reduz ainda mais a probabilidade de que Galileu tenha sofrido tal punição Normas da Inquisição isentavam idosos ou doentes além de crianças e mulheres gestantes da tortura e Galileu não somente era idoso mas sofria de artrite e hérnia As normas também poupavam os clérigos e sabemos que Galileu havia recebido a tonsura clerical um corte de cabelo cerimonial dado a homens que eram introduzidos ao clero em 4 de abril de 1631 para se beneficiar de pensão eclesiástica Por motivos que facilmente podem ser deduzidos as normas para tortura estipulavam que réus não poderiam ser torturados a menos que dez horas houvessem passado desde sua última refeição mas o andamento que conhecemos do julgamento não teve um intervalo desta extensão Finalmente outra regra dizia que réus não poderiam ser torturados durante a investigação de um suposto crime exceto se a transgressão fosse séria a ponto de requerer punição corporal Os supostos crimes de Galileu não chegavam à heresia formal que teria justificado punição corporal portanto seria inapropriado torturálo É claro que todas as normas e práticas citadas acima estavam sujeitas a exceções Por exemplo apesar de idosos não poderem ser sujeitos à tortura por corda poderiam ser sujeitos à tortura de fogo nos pés Apesar de clérigos não poderem ser torturados por leigos poderiam ser torturados por outros clérigos Além disto muitas vezes as regras eram abusadas ou desrespeitadas por oficiais agindo por conta própria Ademais diversos passos intermediários existiam entre os dois extremos de ameaça durante 10 Consultar Masini Sacro arsenale 12051 Berti Processo originale di Galileo cvcxvii Gebler Galileo Galilei and the Roman Curia 25657 e Beretta Galilée devant le Tribunal 21421 11 Consultar especialmente Garzend Si Galilée pouvait juridiquement etre torturé citando uma impressionante variedade de tratados sobre a lei canônica lei civil e prática da inquisição do tempo de Galileu Para a tonsura clerical de Galileu consultar Galilei Opere 1957980 12 Sobre os abusos do sistema que ocorreram em 1604 nas investigações padovanas da Inquisição de Galileu e Cesare Cremonini consultar Beltrán Marí Talento y poder 2545 a interrogação fora da sala de tortura e a tortura real com a imposição de dor física na sala de tortura desde mostrar ao réu os instrumentos de tortura despir a vítima e amarrála aos instrumentos em preparação e assim por diante O termo territio realis significando intimidação real distinto do termo territio varbalis ou ameaça verbal era usado para se referir a estes passos intermediários Alguns estudiosos especulam que Galileu foi sujeito a territio realis Esta versão da tese da tortura não é incompatível com as ordens papais de 16 de junho ou com o fato de Galileu não ter mostrado sinais de deslocamento do ombro após 21 de junho que ele tinha força física suficiente para estar na sentença e abjuração em 22 de junho que não houve ratificação da confissão sob tortura e que não houve voto dos consultores ou declaração dos inquisidores para tortura Porém é inconsistente com o depoimento de 21 de junho que não contém descrição destes passos intermediários Consequentemente esta visão da tese de tortura pressupõe a inautenticidade daquele depoimento13 Alguém ainda poderia objetar que mesmo que Galileu não tenha sido torturado fisicamente o tratamento que ele recebeu pode ser visto como tortura moral ou psicológica vide as ameaças que ele recebeu no último julgamento e a sua condenação de prisão domiciliar perpétua De fato desde meados do século 19 diversos autores têm defendido a tese da tortura moral14 Entretanto esse argumento de tortura moral coloca o termo tortura num jogo semântico muito escorregadio sem nenhuma conclusão evidente 13 Sobre graus de tortura consultar Masini Sacro arsenale 12051 Philippus van Limborch Historia Inquisitionis Amsterdã 1692 322 Scartazzini II processo di Galileo Galilei 64034 Gebler Galileo Galilei and the Roman Curia 256 n 2 Genovesi Processi contra Galileo 252 55 Eymerich and Peiia Le manuel des inquisiteurs 209 e as fontes originais às quais a maioria destes autores se refere Paolo Grillandi Tractatus de questionibus et tortura 1536 questão 4 número 11 e Julius Clarus Practica criminalis Veneza 1640 questão 64 Para suporte da tese de territiorealis consultar Wohlwill 1st Galilei gefoltert worden 2528 Para crítica consultar Gebler Galileo Galilei and the Roman Curia 254 56 e Finocchiaro Retrying Galileo 252 14 Proponentes da tese de tortura moral incluem Jean Biot Mélanges scientifiques et littéraires 3 vols Paris 1858 34243 Philarete Chasles Galileo Galilei Sa vie son proces et ses contemporaines Paris 1862 Joseph L Trouessart Galilée Sa mission scientifique sa vie et son proces Poitiers 1865 110 Para críticas à tese de tortura moral consultar Pieralisi Urbano VIII e Galileo Galilei 24246 Consultar também Finocchiaro Retrying Galileo 234 236 Em vista da evidência disponível a posição mais sustentável é que Galileu foi interrogado sob ameaça de tortura mas não sofreu tortura real nem mesmo territio realis Apesar de ter permanecido em prisão domiciliar durante o julgamento de 1633 e pelos nove anos subsequentes de sua vida ele nunca foi para a prisão Devemos lembrar porém que por 150 anos após o julgamento a evidência publicamente disponível indicava que ele havia sido torturado Os mitos da tortura e aprisionamento de Galileu são mitos genuínos ideias que são de fato falsas mas um dia pareceram ser verdade e continuam sendo aceitas como verdade por pessoas de pouca educação formal e acadêmicos descuidados
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movimento da Terra tal como elaborado no livro de Nicolau Copérnico Das revoluções das esferas celestes 1543 Como resultado foi perseguido julgado e condenado pela Igreja Católica Ele passou os últimos nove anos de sua vida em prisão domiciliar em sua vila próxima a Florença Mas acaso foi ele aprisionado e torturado como os autores acima e inúmeros outros alegam Para outras declarações da tese de prisão consultar Luc Holste para Nicolas de Peiresc 7 de março ie maio de 1633 em Galileo Galilei Opere ed A Favaro et al 20 vols Florença Barbera 18901909 1562 John Milton Areopagitica Londres 1644 24 Domenico Bernini Historia di tutte lheresie 4 vols Roma 1709 4615 Louis Moreri Le grand dictionnaire historique 5 vols Paris 1718 1196 Jean B Delambre Histoire de lastronomie moderne 2 vols Paris 1821 1671 John William Draper History of the Conflict between Religion and Science Nova York D Appleton 1874 17172 E H Haeckel Gesammelte populare Vortrige aus dem Gebiete der Entwickluhgslehre Bonn 18781879 33 Andrew D White A History of the Warfare of Science with Theology in Christendom 2 vols Nova York 1896 2142 e Bertrand Russell Religion and Science Oxford Oxford University Press 1935 40 Sobre a tese de tortura consultar também Paolo Frisi Elogio dei Galileo Milão 1775 em Elogi Galilei Newton DAlembert ed Paolo Casini Roma Theoria 1985 71 Giovanni B C Nelli Vita e commercio letterario di Galileo Galilei 2 vols Lausanne ie Florença 1793 254254 Guglielmo Libri Essai sur la vie et les travaux de Galilée Paris 1841 3437 Silvestro Gherardi Il processo di Galileo riveduto sopra documenti di nuova fonte Florence 1870 5254 Emil Wohlwill Ist Galilei gefoltert worden Leipzig 1877 J A Scartazzini Il TERRA PLANA GALILEU NA PRISÃO E OUTROS MITOS SOBRE CIÊNCIA E RELIGIÃO 103 Galileu não começou a defender o copernicanismo até 1609 Antes disto ele tinha familiaridade com o trabalho de Copérnico e apreciava que ele continha um argumento novo e significativo para o movimento da Terra Galileu estava trabalhando em uma nova teoria do movimento e havia intuído que a teoria de Copérnico era mais consistente com a nova física que a teoria geostática Mas ele não havia publicado ou articulado esta intuição Além disto ele era profundamente consciente da considerável evidência contra Copérnico vindo da experiência sensorial direta observação astronômica da física tradicional e de passagens das Escrituras Por isso ele julgava que argumentos contra Copérnico em muito superavam os próCopérnico Em 1609 contudo ele aperfeiçoou o recéminventado telescópio e nos anos seguintes através dele fez algumas descobertas surpreendentes montanhas na Lua inúmeras estrelas além das visíveis a olho nu coleções densas de estrelas nas nebulosas e na Via Láctea quatro satélites ao redor de Júpiter as fases de Vênus e manchas solares Ele as descreveu no Mensageiro sideral 1610 e Sunspots Letters Cartas das manchas solares 1613 À medida que Galileu começou a demonstrar que as novas evidências telescópicas tornavam o copernicanismo um forte candidato para ser considerado não apenas um modelo mas a verdade física real ele enfrentou crescentes ataques por parte de filósofos e clérigos conservadores Estes argumentavam que ele era herético porque acreditava no movimento da Terra e o movimento da Terra contradizia as Escrituras Galileu sentia que não podia ficar calado e decidiu refutar os argumentos bíblicos contra o copernicanismo Ele escreveu esta crítica em forma de longas cartas particulares primeiro para seu discípulo Benedetto Castelli em dezembro de 1613 e depois para a grãduquesa viúva Christina na primavera de 1615 A carta de Galileu para Castelli provocou ainda mais os conservadores e em fevereiro de 1615 um frade dominicano apresentou uma reclamação processo di Galileo Galilei e la moderna critica tedesca Rivista europea 4 1877 82161 5 1878 115 5 1878 22149 6 1878 40123 e 18 1878 41753 e Enrico Genovesi Processi contra Galileo Milão Ceschina 1966 23282 escrita contra Galileu para a Inquisição em Roma A investigação resultante durou cerca de um ano Galileu não foi pessoalmente chamado para Roma em parte porque a testemunha principal o exonerou em parte porque as cartas críticas não haviam sido publicadas e em parte porque suas publicações não tinham nem a afirmação categórica da verdade do copernicanismo nem a negação da autoridade científica das Escrituras Em dezembro de 1615 porém Galileu foi a Roma por livre escolha para defender a teoria copernicana Apesar de ganhar os argumentos intelectuais seu esforço prático falhou Em fevereiro de 1616 o cardeal Roberto Belarmino em nome da Inquisição deu uma advertência particular a Galileu proibindoo de sustentar publicamente ou defender a visão de que a Terra se movia Galileu concordou Em março o Index de Livros Proibidos o departamento responsável por censura de livros publicou um decreto sem mencionar Galileu que declarou que o movimento da Terra era fisicamente falso e que contradizia a Escritura e que o livro de Copérnico estava banido até que fosse revisado Até 1623 quando o cardeal Maffeo Barberini se tornou o Papa Urbano VIII Galileu se manteve em silêncio sobre o assunto proibido Como Barberini era um antigo admirador Galileu se sentiu mais livre e decidiu escrever um livro para defender o copernicanismo indiretamente e implicitamente Assim ele escreveu um diálogo com três personagens envolvidos em uma discussão dos aspectos cosmológicos astronômicos físicos e filosóficos do copernicanismo mas evitando os bíblicos ou teológicos Publicado em 1632 o Diálogo mostrou que os argumentos favorecendo o movimento da Terra eram mais fortes que os favorecendo a visão geostática Galileu aparentemente sentia que o livro não adotava a teoria do movimento da Terra porque não estava afirmando que os argumentos favoráveis eram conclusivos não estava defendendo sua teoria porque era um exame crítico com argumentos de ambos os lados Ainda assim os inimigos de Galileu reclamaram que o livro defendia o movimento da Terra e portanto violava o aviso de Belarmino e o decreto do Index Uma nova acusação também surgiu que o livro violava uma ordem especial dada pessoalmente a Galileu em 1616 proibindoo de discutir sobre movimentos da Terra da maneira que fosse Tal documento havia sido descoberto no arquivo dos processos anteriores Assim ele foi convocado até Roma para julgamento que começou em abril de 1633 Na primeira audiência Galileu admitiu ter recebido o aviso de Belarmino de que o movimento da Terra não poderia ser adotado ou defendido mas ele negou ter recebido ordem especial para não discutir o tópico de maneira nenhuma Em sua defesa ele apresentou o certificado recebido de Belarmino em 1616 que mencionava apenas a proibição de adotar ou defender tal posição Galileu também alegou que o Diálogo não defendia o movimento da Terra em vez disso mostrava que os argumentos favoráveis não eram conclusivos e portanto não violavam o aviso de Belarmino À luz do certificado de Belarmino e de diversas irregularidades com a ordem especial os oficiais da Inquisição tentaram um acordo extrajudicial prometeram não continuar com a acusação mais séria violaçao da ordem especial se Galileu se declarasse culpado por uma acusação menor a transgressão do aviso de não defender o copernicanismo Galileu concordou e em audiências subsequentes 30 de abril e 10 de maio ele admitiu que o livro foi escrito de tal forma a dar aos leitores a impressão de defender o movimento da Terra Porém ele negou que esta era sua intenção e atribuiu este erro à presunção O julgamento terminou em 22 de junho de 1633 com uma sentença mais dura do que Galileu havia sido levado a esperar O veredito o condenou por uma categoria de heresia intermediária entre a mais e a menos séria chamada veemente suspeita de heresia As crenças censuráveis foram a tese astronômica de que a Terra se move e o princípio metodológico de que a Bíblia não é autoridade científica Ele foi forçado a recitar uma humilhante abjuração retirando estas crenças Mas o Diálogo foi banido2 A recontagem simplificada do julgamento de Galileu dado nos parágrafos anteriores é destilado dos seguintes trabalhos padrão Giorgio de Santillana The Crime of Galileo Chicago University of Chicago Press 1955 Stillman Drake Galileo at Work Chicago University of Chicago Press 1978 Maurice A Finocchiaro Galileo and the Art of Reasoning Boston Dordrecht 1980 Maurice A Finocchiaro trad e ed The Galileo Affair A Documentary History Berkeley University of California Press 1989 Mario Biagioli Galileo Courtier Chicago University of Chicago Press 1993 Rivka Feldhay Galileo and the Church Cambridge Cambridge University Press 1995 Massimo Bucciantini Contra Galileo Florença Olschki 1995 Francesco Beretta Galilée devant le Tribunal de lInquisition dissertação de doutorado Faculdade de Teologia University of Fribourg Suiça 1998 Annibale Fantoli Galileo For Copernicanism and for the Church trad George V Coyne 3a ed Vatican City Vatican Observatory Publications 2003 William R Shea e Mariano Artigas Galileo in Rome Oxford Oxford University Press 2003 Michele Camerota Galileo Galilei e la cultura scientifica nelletà della Controriforma Roma Salerno Editrice 2004 Ernan McMullin ed The Church and Galileo Notre Dame Ind University of Notre Dame Press 2005 Mario Biagioli Galileos Instruments of Credit Chicago University of Chicago Press 2006 Richard J Blackwell Behind the Scenes at Galileos Trial Notre Dame Ind University of Notre Dame Press 2006 Antonio Beltrán Marí Talento y poder Historia de las relaciones entre Galileo y la Iglesia católica Pamplona Laetoli 2006 Citado de Finocchiaro Galileo Affair 290 291 consultar também Galilei Opere 19405 406 Galilei Opere 15169 1941115 Maurice A Finocchiaro Retrying Galileo 16131992 Berkeley University of California Press 2005 2642 O longo documento de sentença também relatou os procedimentos desde 1613 resumindo as acusações de 1633 e registrou a defesa e confissão de Galileu Além disto forneceu dois outros detalhes importantes O primeiro descreveu uma pergunta Visto que não achamos que toda a verdade foi dita sobre sua intenção acreditamos ser necessário ir ao seu encontro com um exame rigoroso Aqui você respondeu de forma Católica embora sem prejuízo às coisas anteriormente mencionadas confessadas por você e deduzidas contra você sobre sua intenção A segunda impôs uma penalidade adicional Te condenamos ao aprisionamento formal neste Santo Ofício à nossa disposição3 O texto da sentença da Inquisição e a abjuração de Galileu foram os únicos documentos do julgamento divulgados na época Na realidade a Inquisição mandou cópias para todos os inquisidores provinciais e núncios papais solicitando que disseminassem a informação Portanto a notícia do destino de Galileu circulou amplamente em livros jornais e panfletos Esta publicidade sem precedentes resultou das ordens expressas do Papa Urbano que queria que o caso de Galileu servisse como lição negativa para todos os católicos e para fortalecer sua imagem como intransigente defensor da fé4 A cláusula de prisão na sentença claramente estipulava que Galileu deveria ser preso na prisão do palácio da Inquisição em Roma por período indefinido pelo tempo desejado pelas autoridades Qualquer um lendo ou ouvindo esta sentença naturalmente presumiria que a Inquisição aplicou a sentença dada Apesar da sentença não usar a palavra tortura houve menção de um exame rigoroso um termo técnico com a conotação de tortura Além disto a passagem dá motivos do por que os juízes decidiram sujeitar Galileu a um exame rigoroso após as diversas interrogações incluindo sua confissão de defender o copernicanismo eles tinham dúvidas se a transgressão havia sido intencional tornando o crime mais grave ou acidental como dizia ele Na prática da Inquisição além dos tribunais leigos tais dúvidas justificavam a administração de tortura para sanálas A passagem informa aos leitores que Galileu passou pelo exame rigoroso quando declara que ele respondeu de forma católica Ou seja Galileu respondeu como bom católico que intencionalmente não faria algo proibido pela igreja Finalmente a passagem deixa claro também de acordo com a prática da Inquisição que a negação de Galileu quanto a má intenção suas respostas católicas não diminuíam a outra evidência incriminatória vinda da confissão e de outras fontes por exemplo opiniões escritas por três consultores com relação ao Diálogo Leitores da sentença acostumados com a terminologia e prática legal compreensivelmente concluíram que Galileu sofreu tortura nas mãos dos inquisidores A impressão de que Galileu havia sido aprisionado e torturado se manteve plausível enquanto a principal evidência disponível sobre o julgamento de Galileu era advinda desses documentos a sentença e a abjuração A história permaneceu inalterada até que cerca de 150 anos após a tese da prisão e cerca de 250 anos após a tese da tortura documentos relevantes vieram à tona mostrando que Galileu não sofreu nenhuma delas As novas informações sobre o aprisionamento de Galileu vêm de uma correspondência de 1633 primariamente do embaixador toscano em Roma Francesco Niccolini para o secretário de estado toscano em Florença e depois de e para o próprio Galileu Os oficiais toscanos estavam especialmente interessados em Galileu porque ele havia sido designado como matemático chefe e filósofo para o grãoduque da Toscana dedicou o Diálogo a ele e com sucesso conseguiu sua ajuda para publicar o livro em Florença Desse modo o governo toscano tratava o julgamento como uma questão de estado com Niccolini discutindo constantemente a situação diretamente com o papa tanto em reuniões regulares quanto enviando relatos para Florença Além disto Galileu era amigo de Niccolini e de sua esposa A correspondência de 1633 que veio à tona em 17741775 mostra que Galileu respondendo à convocação da Inquisição saiu de Florença dia 20 de janeiro e chegou a Roma dia 13 de fevereiro A Inquisição permitiu que ele ficasse na embaixada toscana que também era a residência de Niccolini sob a condição que ficasse em isolamento até o início dos procedimentos Em 12 de abril Galileu foi ao palácio da Inquisição para sua primeira interrogação Ele ficou lá por dezoito dias enquanto passou por interrogações mas foi colocado no apartamento de seis quartos do procurador junto com um servo que o trazia duas refeições diárias da embaixada toscana Em 30 de abril após seu segundo depoimento ser gravado e assinado Galileu voltou para a embaixada onde ficou por 51 dias interrompido por uma visita ao palácio da Inquisição em 10 de maio para um terceiro depoimento Em uma segundafeira dia 20 de junho ele foi convocado para aparecer ao tribunal no dia seguinte Na terçafeira ele passou por exame rigoroso e permaneceu no palácio da Inquisição até a noite de 24 de junho Não é claro se foi mantido em cela de prisão ou se usou o apartamento do procurador Em 22 de junho ele foi ao convento de Santa Maria sopra Minerva para a sentença e abjuração Dois dias depois Galileu mudou do palácio da Inquisição para Villa Medici em Roma um suntuoso palácio que pertencia ao grãoduque da Toscana No dia 30 de junho o papa deu permissão para Galileu viajar a Siena para viver em prisão domiciliar na residência do arcebispo um bom amigo de Galileu O arcebispo o recebeu por cinco meses Em dezembro de 1633 Galileu voltou para sua vila em Arcetri perto de Florença onde permaneceu exceto por um breve período em 1638 quando morou na cidade de Florença em prisão domiciliar até sua morte em 1642 Com a possível exceção de três dias 2124 de junho de 1633 Galileu nunca foi aprisionado nem durante o julgamento como era o costume universal ou após como declarava a sentença Até mesmo durante os três dias ele provavelmente ficou hospedado no apartamento do procurador não em uma cela A explicação para tal tratamento benigno sem precedentes não é inteiramente clara mas inclui os seguintes fatores a proteção de Medici o status de celebridade de Galileu e a atitude dúbia de amor e ódio do papa Urbano seu antigo admirador A evidência mostrando que ele não esteve na prisão não diz nada sobre o sucesso de Galileu em evitar a tortura A resolução desta questão teve de esperar até que os anais do julgamento fossem publicados e assimilados no final do século 19 Dois documentos se mostraram cruciais O primeiro foram as minutas das reuniões da Inquisição em 16 de junho de 1633 lideradas pelo papa Após diversos relatos e opiniões serem ouvidas e após considerável discussão Sua Santidade decidiu que o mesmo Galileu deve ser interrogado mesmo com a ameaça de tortura e se ele permanecer firme após veemente abjuração em uma reunião plenária do Santo Ofício deve ser condenado à prisão à disposição da Congregação Sagrada e deve ser ordenado que no futuro não deve tratar de nenhuma forma escrita ou oralmente do movimento da Terra ou estabilidade do Sol nem o oposto sob pena de relapso e que o livro escrito por ele intitulado Dialogo di Galileu Galilei Linceo deve ser proibido Essa prévia da sentença real menciona um procedimento novo interrogação sob ameaça de tortura As minutas da interrogação com data de 21 de junho assinadas por Galileu revelam que o comissário lhe perguntou diversas vezes se ele defendia a teoria de Copérnico sobre o movimento da Terra todas as vezes Galileu negou têlo feito após a condenação desta doutrina em 1616 O diálogo entre Galileu e seus inquisidores vale a citação completa P Tendo ouvido do livro em si e dos motivos colocados pelo lado afirmativo nominalmente que a Terra se move e o Sol é estático é presumido como foi colocado que ele mantém a opinião de Copérnico ou pelo menos que a mantinha naquele tempo portanto foi dito a ele que exceto se decidisse proferir a verdade terseia recurso para as remediações da lei e passos apropriados contra ele R Eu não mantenho esta opinião de Copérnico e não a mantive desde a ordem de abandonála Quanto ao resto estou em suas mãos façam como desejar P Foi solicitado que ele dissesse a verdade ou teriam de apelar à tortura R Estou aqui para obedecer mas não mantive esta opinião após a ordem ter sido dada como mencionei consultar também Galilei Opere 19362 Como nada mais poderia ser feito para a execução da decisão após ter assinado ele foi enviado para seu lugar Eu Galileu Galilei testemunhei conforme acima Este depoimento não deixa dúvida que Galileu foi ameaçado com tortura na interrogação de 21 de junho mas não há evidência de que de fato foi torturado ou que seus acusadores planejasem torturálo Aparentemente o exame rigoroso mencionado na sentença significava interrogação com a ameaça de tortura e não interrogação sob tortura A tortura mais comum e relevante em Roma na época era a tortura da corda Esta consistia em amarrar os pulsos da vítima nas costas e então amarrar os pulsos unidos ao final de uma longa corda que passava por uma polia pendurada do teto O executor segurava a ponta da corda de forma que a vítima pudesse ser levantada do chão e pendurada por diferentes períodos de tempo uma regra padrão estipulava o máximo de uma hora Para aumentar a tensão pesos de diversos tamanhos poderiam ser anexados aos pés das vítimas Em outros casos a vítima era solta de diversas alturas quase chegando ao chão quanto maior a queda maior a dor nos braços e articulações da vítima na realidade valores numéricos da distância da queda forneciam uma medida quantitativa da severidade da tortura Devido à severidade da tortura da corda podemos ter uma razoável certeza de que Galileu não foi torturado desta forma Dada à sua idade avançada de 69 anos e sua fragilidade ele teria sofrido danos permanentes nos braços e ombros mas não há evidência disto Ademais se houvesse sido torturado teria acontecido dia 21 de junho não o permitindo estar em condições de participar da sentença e recitar a abjuração no dia 22 Além disto as normas da Inquisição requeriam que a sessão de tortura incluindo os gemidos e gritos da vítima fossem registrados mas os anais não contém tais minutas Normas da Inquisição também estipulavam que confissões obtidas sob tortura fossem ratificadas 24 horas depois fora da sala de tortura mas 9 Consultar Scaglia Prattica per proceder nelle cause dei Santo Uffizio 133 Genovesi Processi contra Galileo 7981 Mereu Storia dellintolleranza in Europa 22627 Beretta Galilée devant le Tribunal 216 e Beltrán Marí Talento y poder 797 não há registros de ratificação E antes de o réu ser torturado era necessário um voto formal por parte dos consultores da Inquisição para recomendála além de um decreto assim o afirmando pelos inquisidores mas nenhum registro indica que estes passos foram realizados no caso de Galileu Além disso autoridades da Inquisição em Roma raramente praticavam a tortura o que reduz ainda mais a probabilidade de que Galileu tenha sofrido tal punição Normas da Inquisição isentavam idosos ou doentes além de crianças e mulheres gestantes da tortura e Galileu não somente era idoso mas sofria de artrite e hérnia As normas também poupavam os clérigos e sabemos que Galileu havia recebido a tonsura clerical um corte de cabelo cerimonial dado a homens que eram introduzidos ao clero em 4 de abril de 1631 para se beneficiar de pensão eclesiástica Por motivos que facilmente podem ser deduzidos as normas para tortura estipulavam que réus não poderiam ser torturados a menos que dez horas houvessem passado desde sua última refeição mas o andamento que conhecemos do julgamento não teve um intervalo desta extensão Finalmente outra regra dizia que réus não poderiam ser torturados durante a investigação de um suposto crime exceto se a transgressão fosse séria a ponto de requerer punição corporal Os supostos crimes de Galileu não chegavam à heresia formal que teria justificado punição corporal portanto seria inapropriado torturálo É claro que todas as normas e práticas citadas acima estavam sujeitas a exceções Por exemplo apesar de idosos não poderem ser sujeitos à tortura por corda poderiam ser sujeitos à tortura de fogo nos pés Apesar de clérigos não poderem ser torturados por leigos poderiam ser torturados por outros clérigos Além disto muitas vezes as regras eram abusadas ou desrespeitadas por oficiais agindo por conta própria Ademais diversos passos intermediários existiam entre os dois extremos de ameaça durante 10 Consultar Masini Sacro arsenale 12051 Berti Processo originale di Galileo cvcxvii Gebler Galileo Galilei and the Roman Curia 25657 e Beretta Galilée devant le Tribunal 21421 11 Consultar especialmente Garzend Si Galilée pouvait juridiquement etre torturé citando uma impressionante variedade de tratados sobre a lei canônica lei civil e prática da inquisição do tempo de Galileu Para a tonsura clerical de Galileu consultar Galilei Opere 1957980 12 Sobre os abusos do sistema que ocorreram em 1604 nas investigações padovanas da Inquisição de Galileu e Cesare Cremonini consultar Beltrán Marí Talento y poder 2545 a interrogação fora da sala de tortura e a tortura real com a imposição de dor física na sala de tortura desde mostrar ao réu os instrumentos de tortura despir a vítima e amarrála aos instrumentos em preparação e assim por diante O termo territio realis significando intimidação real distinto do termo territio varbalis ou ameaça verbal era usado para se referir a estes passos intermediários Alguns estudiosos especulam que Galileu foi sujeito a territio realis Esta versão da tese da tortura não é incompatível com as ordens papais de 16 de junho ou com o fato de Galileu não ter mostrado sinais de deslocamento do ombro após 21 de junho que ele tinha força física suficiente para estar na sentença e abjuração em 22 de junho que não houve ratificação da confissão sob tortura e que não houve voto dos consultores ou declaração dos inquisidores para tortura Porém é inconsistente com o depoimento de 21 de junho que não contém descrição destes passos intermediários Consequentemente esta visão da tese de tortura pressupõe a inautenticidade daquele depoimento13 Alguém ainda poderia objetar que mesmo que Galileu não tenha sido torturado fisicamente o tratamento que ele recebeu pode ser visto como tortura moral ou psicológica vide as ameaças que ele recebeu no último julgamento e a sua condenação de prisão domiciliar perpétua De fato desde meados do século 19 diversos autores têm defendido a tese da tortura moral14 Entretanto esse argumento de tortura moral coloca o termo tortura num jogo semântico muito escorregadio sem nenhuma conclusão evidente 13 Sobre graus de tortura consultar Masini Sacro arsenale 12051 Philippus van Limborch Historia Inquisitionis Amsterdã 1692 322 Scartazzini II processo di Galileo Galilei 64034 Gebler Galileo Galilei and the Roman Curia 256 n 2 Genovesi Processi contra Galileo 252 55 Eymerich and Peiia Le manuel des inquisiteurs 209 e as fontes originais às quais a maioria destes autores se refere Paolo Grillandi Tractatus de questionibus et tortura 1536 questão 4 número 11 e Julius Clarus Practica criminalis Veneza 1640 questão 64 Para suporte da tese de territiorealis consultar Wohlwill 1st Galilei gefoltert worden 2528 Para crítica consultar Gebler Galileo Galilei and the Roman Curia 254 56 e Finocchiaro Retrying Galileo 252 14 Proponentes da tese de tortura moral incluem Jean Biot Mélanges scientifiques et littéraires 3 vols Paris 1858 34243 Philarete Chasles Galileo Galilei Sa vie son proces et ses contemporaines Paris 1862 Joseph L Trouessart Galilée Sa mission scientifique sa vie et son proces Poitiers 1865 110 Para críticas à tese de tortura moral consultar Pieralisi Urbano VIII e Galileo Galilei 24246 Consultar também Finocchiaro Retrying Galileo 234 236 Em vista da evidência disponível a posição mais sustentável é que Galileu foi interrogado sob ameaça de tortura mas não sofreu tortura real nem mesmo territio realis Apesar de ter permanecido em prisão domiciliar durante o julgamento de 1633 e pelos nove anos subsequentes de sua vida ele nunca foi para a prisão Devemos lembrar porém que por 150 anos após o julgamento a evidência publicamente disponível indicava que ele havia sido torturado Os mitos da tortura e aprisionamento de Galileu são mitos genuínos ideias que são de fato falsas mas um dia pareceram ser verdade e continuam sendo aceitas como verdade por pessoas de pouca educação formal e acadêmicos descuidados