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DOI httpdxdoiorg1015901984041188222 ENTREVISTA Os professores e sua formação profissional entrevista com António Nóvoa Teachers and their professional background an interview with António Nóvoa Maria Lúcia Resende Lomba Luciano Mendes Faria Filho RESUMO Para António Nóvoa há muitas maneiras de ser professor uma diversidade de opções e de caminhos Contudo em todos eles defende que é imprescindível compreender a complexidade da profissão em todas as suas dimensões teóricas experienciais culturais políticas ideológicas e simbólicas Tratase de um conhecimento profissional docente um conhecimento contingente coletivo e público E é com base nesse conhecimento que ele afirma que se devem organizar novos modelos de formação docente uma formação que garanta aos professores espaços e tempos para o desenvolvimento do autoconhecimento e da autorreflexão sobre as dimensões pessoais profissionais e coletivas do professorado Palavraschave António Nóvoa Formação docente inicial e continuada Profissão docente Conhecimento profissional docente ABSTRACT To António Nóvoa there are many ways to be a teacher diverse options and pathways However in all of them he defends the importance of understanding the complexity of the profession in all its dimensions theoretical experiential cultural political ideological and symbolic Professional teaching knowledge is contingent collective and public Based on this knowledge he states that new models of teacher education should be organized in a preparation that guarantees teachers spaces and times to develop selfknowledge and selfreflection on the personal professional and collective dimensions of teaching Keywords António Nóvoa Pre and inservice teacher education Teaching profession Teacher professional knowledge Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Belo Horizonte Minas Gerais Brasil Email mlresendegmailcom httpsorcidorg0000000342963633 Email lucianomffuol combr httpsorcidorg0000000210237138 Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 Introdução O Dr António Manuel Seixas Sampaio da Nóvoa Valença Portugal 12 de dezembro de 1954 é professor Catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa Foi Reitor da Universidade de Lisboa entre 2006 e 2013 e Embaixador de Portugal na UNESCO entre 2018 e 2021 É Doutor em Ciências da Educação Universidade de Genebra 1986 e Doutor em História Universidade de Paris IVSorbonne 2006 É Doutor Honoris Causa por várias universidades nomeadamente brasileiras Brasília Federal do Rio de Janeiro Federal de Santa Maria e USP É autor de mais de 150 publicações entre livros capítulos e artigos editadas em 12 países Nesta entrevista realizada em outubro de 2022 no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa Portugal o Professor Nóvoa conversou sobre a necessidade de organizarmos novos modelos de formação docente Tratase de pensar em uma formação que garanta aos professores espaços e tempos para o desenvolvimento do autoconhecimento e da autorreflexão sobre as dimensões pessoais profissionais e coletivas do professorado 1 Professor Nóvoa em sua biografia consta que foi por meio do Teatro como docente de expressão dramática no Magistério Primário de Aveiro no período de 1977 a 1979 que o senhor chega à formação de professores A partir daí desde a década de 1980 vem afirmando em seus estudos que a escola é o lugar ideal para a formação docente por ser lugar de vivências concretas 11 Diante disso o que considera como valioso aprendizado desse período no Magistério Primário Iniciei a minha vida profissional como professor com pouco mais de 20 anos de idade em escolas do magistério primário Eram tempos de revolução em Portugal Foram tempos muito marcantes para mim Estive em escolas dei aulas fiz formação animei seminários num permanente entrelaçamento entre a prática e a teoria É assim que deve ser uma formação profissional como a formação de professores Não é primeiro a teoria e depois a prática ou os estágios como habitualmente se faz mas antes um entrelaçamento que permite uma prática mais reflectida1 mais consciente e uma teoria que ganha novos sentidos e significados Sabemos desde os estudos pioneiros de Michael Huberman que os primeiros anos de vida profissional docente são decisivos no nosso percurso como professores No meu caso não consigo imaginar melhor entrada 1 As respostas do entrevistado serão mantidas no idioma Português de Portugal IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 2 na vida profissional do que aquela que os acasos da história me proporcionaram 2 No artigo Conhecimento profissional docente e formação de professores NÓVOA 20222 o senhor afirma que A cada ano em todo o mundo publicamse milhares de títulos sobre a profissão docente e a formação de professores Esta literatura prolixa tem uma falha maior reflete insuficientemente sobre os professores como detentores de um conhecimento próprio como produtores de um conhecimento profissional docente E mesmo quando esta reflexão existe ela é dinamizada por acadêmicos e não pelos professores da educação básica 21 Poderia nos dizer um pouco mais sobre essa questão que considera central para os professores e a sua formação O campo da educação e da formação docente desenvolveuse muitíssimo nas últimas décadas Por um lado passou a haver uma grande atenção às políticas públicas bem como uma maior presença de organizações internacionais de ONGs e de fundações Por outro lado houve um desenvolvimento extraordinário de todo o tipo de especialistas em educação desde os universitários aos especialistas do currículo das tecnologias da avaliação das aprendizagens do cérebro etc Tudo isto é muito positivo mas trouxe uma certa diminuição ou exclusão dos professores que pouco a pouco se viram relegados para um plano secundário nos debates públicos sobre educação É urgente reforçar a capacidade de reflexão de publicação e de ação pública dos professores Não se trata apenas de uma publicação ou intervenção a título individual mas da possibilidade de uma voz colectiva que dê corpo à presença dos professores no espaço público de inscrever os professores como profissão nos debates e decisões sobre educação 3 Ainda sobre o artigo Conhecimento profissional docente e formação de professores NÓVOA 2022 o senhor afirma que Nas últimas décadas os professores perderam visibilidade pública e a sua voz foi sendo substituída por especialistas de matérias tão diversas como o currículo as tecnologias as competências socioemocionais ou os estudos do cérebro Publicamente ouvemse muitos discursos sobre educação o que é de enaltecer mas falta uma maior presença e participação dos professores 2 Este artigo se encontra em fase de publicação por esta razão não se encontra nas referências desta entrevista IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 3 31 O que mais deseja encontrar nas publicações que tem lido sobre autoria e formação de professores As investigações experimentais ou teóricas conduzidas e escritas por universitários e outros especialistas são muito importantes mas são insuficientes para devolver toda a riqueza e complexidade da educação Os relatos de inovações ou de experiências concretas feitos por professores são muito importantes mas não são suficientes para compreender toda a dimensão do trabalho educativo É preciso completar estas duas abordagens com um terceiro tipo de escrita e de publicação a saber textos escritos por professores que com base em vivências pessoais produzam uma reflexão e sistematização das suas experiências e iniciativas Não são meros relatos ou narrativas mas antes um esforço de sistematização que possa desencadear dinâmicas de partilha e ser inspirador para outros educadores noutros contextos Insisto neste ponto todas as experiências são únicas pois foram realizadas num determinado contexto e contêm a sua própria história não podem ser replicadas por outros mas os princípios as dinâmicas e os resultados destas experiências podem inspirar novos projetos e iniciativas 4 Os seus estudos nos demonstram que uma formação docente inicial ou continuada que não oportunize o acesso aos fazeres e saberes específicos da profissão poderá estar comprometida com o fracasso em formar professores empenhados no trabalho em equipe e na reflexão conjunta Um dos caminhos que defende é o de repensar os cursos de formação inicial e continuada garantindo aos profissionais uma maior aproximação supervisionada no ambiente escolar o que definiu como a necessidade de uma experiência semelhante à residência médica 41 Como avalia o desenvolvimento dessa experiência considerando as diferentes realidades institucionais com as quais dialoga O que considera como caminho possível a ser percorrido pelas universidades e escolas A formação de professores é uma formação profissional de nível superior isto é a formação para uma profissão baseada no conhecimento Assim sendo é imprescindível a presença e a participação da profissão tantos dos lugares da profissão as escolas como dos seus profissionais os professores mas é também imprescindível a presença dos lugares e dos conhecimentos acadêmicos Não há formação de professores sem uma ligação forte entre as escolas e as universidades tanto na formação inicial como no período da indução docente e na formação continuada Hoje sabemos que não basta construir caminhos de colaboração ou de parceria Estes caminhos são importantes por exemplo para a qualidade da supervisão e dos estágios mas não são suficientes Precisamos por isso construir uma nova realidade institucional uma espécie de casa IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 4 comum da formação e da profissão que permita concretizar novos modelos e novas práticas de formação de professores Essa realidade vem sendo criada e desenvolvida em vários lugares do mundo por exemplo no Complexo de Formação de Professores do Rio de Janeiro dinamizado a partir da UFRJ 42 Como percebe esses processos de formação inicial e continuada dos professores para a educação básica no Brasil e em Portugal No Brasil e em Portugal a formação de professores necessita de grandes mudanças tanto na formação inicial como na formação continuada A formação inicial segue engessada em modelos tradicionais baseados em currículos com três segmentos conteúdos disciplinas pedagógicas e prática docente A formação continuada permanece dominada por uma lógica de cursos e de ações que os professores devem frequentar Hoje nada disto faz sentido Precisamos de uma mudança de fundo no modo de pensar e de praticar a formação de professores ligando a formação com a profissão os espaços da formação com os espaços da profissão os conhecimentos acadêmicos e pedagógicos com o conhecimento profissional docente Precisamos de ousadia e de políticas públicas de valorização dos professores Só é possível firmar e afirmar a presença da profissão na formação se os professores se sentirem valorizados e confiantes e se tiverem condições concretas tempo horários flexíveis reconhecimento do trabalho de supervisão e de enquadramento dos licenciandos possibilidade de darem aulas nas licenciaturas etc para participarem efetivamente na formação dos seus futuros colegas 5 Sabendo que uma sólida formação docente tem relação direta com a qualidade do trabalho e com a satisfação do profissional os seus estudos nos dizem da necessidade da formação docente garantir também espaços e tempos para a busca do autoconhecimento de modo que cada docente por meio do exercício da autorreflexão considere a sua história de vida no processo de construção da identidade profissional 51 Visando promover os processos de autoconhecimento dos professores quais caminhos ou estratégias tem vislumbrado Num dos meus primeiros textos que circularam no Brasil Vidas de professores publicado precisamente há trinta anos retomei uma frase conhecida O professor é a pessoa e uma parte importante da pessoa é o professor Na profissão docente a dimensão pessoal é central A pandemia da Covid19 tornou ainda mais evidente esta realidade Por isso é tão importante cuidar dos professores como pessoas do seu bemestar da sua saúde mental das suas condições de vida e de trabalho Nesse sentido conhecerse a si próprio é da maior relevância um conhecimento que deve IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 5 ser partilhado com os outros No passado os professores trabalhavam muito isolados por vezes em territórios distantes e afastados Hoje precisamos do apoio dos outros colegas de nos inserirmos num colectivo docente O autoconhecimento faz parte do nosso conhecimento como pessoas e do nosso conhecimento profissional 6 No artigo Firmar a posição como professor afirmar a profissão docente 2017 p 10 o senhor novamente reforça a ideia de que o ciclo do desenvolvimento profissional completase com a formação continuada e que em face à dimensão dos problemas e desafios atuais da educação precisamos mais do que nunca reforçar as dimensões coletivas do professorado 61 Como reforçar essa dimensão coletiva e uma maior autonomia profis sional por parte dos docentes que já estão no efetivo exercício da profissão Quando olhamos para os últimos documentos das organizações internacionais Nações Unidas UNESCO OCDE etc todos apontam para a importância da colaboração entre professores Não se trata de obrigar os professores a colaborarem Se se mantiver o modelo escolar tradicional centrado na sala de aula com um professor a dar aulas a uma turma de alunos a colaboração não é necessária Mas se avançarmos para novos ambientes educativos com maior diversidade de espaços e de tempos de estudo e de trabalho então a colaboração é imprescindível Tenho utilizado a metáfora da biblioteca para falar da escola do futuro Na biblioteca acontece um pouco de tudo alguns alunos estão em um canto e estudam sozinhos outros alunos estão em pequenos grupos a fazerem alguma atividade em outro canto estão outros alunos no computador Ainda na biblioteca estão alunos a trabalhar com um ou diversos professores e em outro canto dois ou três professores preparam alguma atividade Cada professor não está sozinho com os seus alunos mas em situação colaborativa cooperativa A dimensão colectiva e uma maior autonomia profissional dos professores são processos diretamente relacionados com uma transformação do ensino e da pedagogia com novos modos de trabalho docente e de organização das escolas 7 O senhor considera a escola como uma instituição imprescindível para a formação do ser humano contudo questiona os modelos presentes no mundo escolar julgandoos ultrapassados Especialmente no artigo Os Professores e a sua Formação num Tempo de Metamorfose da Escola 2019 o senhor afirma que no preciso momento em que celebra a sua vitória a escola revelase incapaz de responder aos desafios da contemporaneidade O modelo escolar está em desagregação Não se trata de uma crise como muitas que se verificaram nas últimas décadas Tratase do fim da escola tal IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 6 como a conhecemos e do princípio de uma nova instituição que certamente terá o mesmo nome mas que será muito diferente NÓVOA 2019 p 2 71 Não desconsiderando as limitações tecnológicas e sociais diante da implantação do ensino remoto emergencial em decorrência da pandemia causada pelo coronavírus a partir de 2020 bem como os diversos obstácu los encontrados pelos profissionais da educação e estudantes durante essa implantação do ensino remoto lhe pergunto a inserção de metodologias que antes da pandemia eram pouco presentes no ensino presencial seria um indício de mudança As tecnologias fazem parte da nossa vida do dia a dia das nossas crianças mas a educação dáse sempre num contexto de relação humana A educação não é apenas um ato individual é uma dinâmica de aprendizagem com os outros Ninguém se educa sozinho É impossível A relação humana é tão importante que não consigo imaginar que a educação possa ser feita de forma totalmente virtual totalmente a distância Os dispositivos digitais que temos ao nosso alcance são úteis ninguém os deve recusar Mas dizer que a educação vai passar a ser feita unicamente a distância seria perder a dimensão da relação humana do encontro humano que é absolutamente necessário Não há educação sem o afeto não há educação sem o sentimento não há educação sem a relação humana profunda de alunos com alunos de alunos com professores Não se pode conhecer sem sentir não se pode aprender sem emoção sem empatia Não nos podemos educar sem os outros 72 Ao refletir sobre a necessidade de mudanças também no campo da formação de professores o senhor poderia nos dar exemplos do que tem presenciado sobre aqueles que repensam com coragem e ousadia as insti tuições e práticas no sentido de refundar a escola Como os avalia Durante os últimos anos estive envolvido na redação do último relatório da UNESCO Reimaginar os nossos futuros juntos Um novo contrato social da educação Para a escrita deste relatório consultamos cerca de um milhão de pessoas no mundo Que avaliação faço dessa consulta Quando perguntamos às pessoas sobre as perspectivas de futuro da educação recebemos respostas frágeis e sem grande interesse ou originalidade As pessoas limitavamse a reproduzir o que já conhecem ou então lançavamse em imaginações futuristas quase sempre com base no digital ou na inteligência artificial muito pouco interessantes Mas sempre que perguntamos às pessoas sobretudo aos professores o que estavam a fazer em que experiências ou iniciativas estavam envolvidos tivemos respostas extraordinárias de renovação e transformação da educação São experiências que nasceram quase sempre de 2 ou IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 7 3 professores frequentemente de mudança dos espaços da escola junção de salas de aula diferente organização das turmas etc ou de dinâmicas inovadoras de trabalho pedagógico projetos temas transversais etc Percebemos através destas respostas que o futuro já está inventado Falta apenas que ele se transforme em presente 8 No ensaio Entre a formação e a profissão ensaio sobre o modo como nos tornamos professores 2019 o senhor o finaliza do seguinte modo Não tenho certezas mas tenho muitas dúvidas Não tenho respostas mas tenho muitas perguntas Deixovos com as minhas dúvidas e as minhas perguntas É o melhor que vos posso dar NÓVOA 2019 p 208 81 Qual é sua dúvida eou pergunta de hoje Ainda vamos a tempo Uma das grandes filósofas norteamericanas Maxine Greene feminista e pensadora das artes na educação afirmou que não é possível encontrar nenhum propósito coerente para a educação se alguma coisa comum não acontecer num espaço público É uma fórmula extraordinária para juntar o comum e o público explicando que a educação depende de uma relação com os outros sobretudo com os outros diferentes As tendências recentes de uma domesticação da escola isto é de um regresso da educação aos espaços domésticos familiares é um retrocesso imenso numa visão humanista que se destina a educar todos com todos Retiradas da relação com os outros as crianças ficam impedidas de desenvolver a arte do encontro e as sociedades ficam privadas de uma das poucas instituições onde ainda se pode tentar construir uma vida em comum Aprender e estudar em comum é a melhor forma de promover uma sociedade convivial uma humanidade comum Ainda vamos a tempo 9 E por último em que medida essas novas configurações da formação impactam os modos de fazer e contar a história da profissão docente Nas últimas décadas devido em parte à massificação da educação houve uma certa desvalorização dos professores tanto no plano simbólico e social como no plano salarial e profissional Quando se fala dos professores é quase sempre pela negativa o que os professores não têm o que os professores não sabem o malestar docente o desprestígio da profissão a crise dos professores a violência nas escolas etc Muitas vezes nós próprios acentuamos este discurso negativo sem nos darmos conta dos prejuízos que causamos na imagem e na vivência da profissão É preciso utilizar palavras duras para criticar a ausência de políticas públicas de valorização dos professores Obviamente Mas temos de ser capazes de o fazer com palavras positivas que chamem a atenção para a importância dos professores para o trabalho extraordinário que é IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 8 educar as novas gerações para a curiosidade do conhecimento para a criatividade para a força do trabalho conjunto cooperativo Ainda no final do século XX em França houve uma grande campanha publicitária que no meio de um momento difícil para os professores colocou cartazes gigantes por todo o país com imagens de jovens a dizerem E se falássemos do prazer de ensinar Sim temos de aprender a contar também uma história prazerosa e exaltante da profissão docente 10 Há algo mais que gostaria de acrescentar antes de concluirmos essa entrevista Nos próximos tempos vai decidirse grande parte do futuro da educação Não podemos ficar indiferentes contribuindo assim para o abandono de uma visão pública e comum e o triunfo de perspectivas individualistas e consumistas da educação Não é só o futuro da escola que está em causa é mesmo o futuro da nossa humanidade comum Nunca como hoje foi tão urgente uma educação que contribua para a democratização das sociedades para a diminuição das desigualdades no acesso ao conhecimento e à cultura para a construção de formas participadas de deliberação decidir não é apenas escolher é também produzir a obrigação de agir e de respeitar a decisão tomada coletivamente em nome de um interesse comum A escola deve ser um espaço de liberdade onde se aprende a valorizar o comum O mais recente livro de Bruno Latour constróise a partir de uma releitura da Metamorfose de Kafka somos todos corpos engendrados e mortais que devemos as nossas condições de habitabilidade a outros corpos engendrados e mortais de todos os tamanhos e feitios É uma bela maneira de pensar o comum em educação Todos dependemos de todos Se ensinarmos isso às crianças estaremos a fazer o mais belo gesto pelo futuro da humanidade REFERÊNCIAS NÓVOA António Firmar a posição como professor afirmar a profissão docente Revista Cadernos de Pesquisa v 47 n 166 p 11061133 2017 Cadernos de Pesquisa São Paulo v 47 n 166 p 11061133 outdez 2017 Disponível em httpwwwscielobrpdfcpv47n1661980 5314cp471661106 Acesso em 15 de maio de 2022 NÓVOA António Entre a formação e a profissão ensaio sobre o modo como nos tornamos professores Currículo sem Fronteiras v 19 n 1 p 198208 janabr 2019 Disponível em wwwcurriculosemfronteirasorgvol19iss1articlesnovoapdf Acesso em 8 nov 2022 NÓVOA António Os Professores e a sua Formação num Tempo de Metamorfose da Escola Revista Educação Realidade Porto Alegre v 44 n 3 p 115 2019 Disponível em https IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 9 wwwscielobrjedrealaDfM3JL685vPJryp4BSqyPZtformatpdflangpt httpdxdoi org1015902175623684910 Acesso em 19 de mar De 2022 Texto recebido em 01112022 Texto aceito em 03112022 IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 10 Volume 2 Número 3 JanJul2009 221 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 A Tomada de Consciência da Crise de Identidade Profissional em Professores do Ensino Fundamental 1 Eliane Paganini da Silva2 Cilene Ribeiro de Sá Leite Chakur3 Resumo Este trabalho investigou se professores do II Ciclo do Ensino Fundamental 5ª a 8ª séries de uma escola paulista têm consciência de suas funções e responsabilidades como professores como avaliam a crise da profissão docente descrita na bibliografia educacional e se estão conscientes dessa crise com seus determinantes A pesquisa recorreu a estudos que tratam da identidade dos saberes e das dificuldades do professor utilizando como suporte teórico para a análise a teoria de Jean Piaget do desenvolvimento cognitivo e da tomada de consciência Foram entrevistados 12 professores com base em um roteiro semiestruturado tendo como eixo temático as características e consciência da crise de identidade docente A partir de análise qualitativa e quantitativa foi possível estabelecer níveis distintos da tomada de consciência dessa crise Nível I Consciência elementar ou periférica da crise de identidade profissional Nível II Consciência incipiente da crise de identidade profissional e Nível III Consciência refletida da crise de identidade profissional Concluiuse que a tomada de consciência da crise de identidade profissional docente não se mostra repentina nem consiste em um processo de iluminação mas se revela em certos níveis hierárquicos E para que os professores atinjam o terceiro nível de consciência devem ter refletido sobre as reais causas dos acontecimentos e dos problemas percebendo os elementos centrais da situação em detrimento dos seus elementos periféricos Palavraschave Identidade profissional do professor Tomada de consciência da crise de identidade docente Profissionalização docente Papel profissional do professor 1 Este trabalho foi em grande parte apresentado no XIV ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO realizado em Porto Alegre em 2008 2 Mestre em Educação Escolar pela UNESP campus de AraraquaraSP docente do Centro Universitário de São José do Rio PretoSP Email elianpshotmailcom 3 Doutora em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano pela USP professora livre docente aposentada da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de AraraquaraSP Email chakurfclarunespbr Volume 2 Número 3 JanJul2009 222 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 The Conscience Taking of the Professional Identity Crisis in Teachers of Primary Education Abstract This work researched if the Cycle II of the Primary School teachers 5th to 8th degrees from one school of a city of São Paulo State were aware of their functions and responsibilities as teachers how they evaluate the teaching professional crisis described in the educational bibliography and if they are conscious of this crisis with their determinants The research appealed to the studies that deal with the teachers identity knowledge and difficulties and used Jean Piagets theory of the cognitive development and the consciousness taking as the theoretical support of the analysis 12 teachers were interviewed by a semistructured guide which had as thematic axis the characteristics and conscience of the teaching identity crisis By means of qualitative and quantitative analysis it was possible to establish different levels of the consciousness taking of this crisis Level I Elementary or peripherical consciousness of the crisis of professional identity Level II Incipient consciousness of the professional identity crisis and Level III Reflected consciousness of the professional identity crisis It was concluded that the consciousness taking of the teaching professional crisis does not appear suddenly nor it consists a lighting process but it show some hierarquical levels And to reach the third level of consciousness the teachers must reflect on the genuine causes of the events and problems catching the central elements of the situation by relegating their peripherical elements Keywords Teachers professional identity Consciousness taking of the teaching identity crisis Teaching professionalization Teachers professional role Volume 2 Número 3 JanJul2009 223 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Introdução O processo de formação da identidade pessoal tem início na fase infantil na medida em que a criança assimila traços e características de pessoas e objetos externos valorizados É um processo que ocorre de acordo com a cultura e a categoria social do indivíduo O desenvolvimento do eu depende em grande parte das pessoas ou grupos de pessoas com os quais nos identificamos mas isto nunca ocorre em nível generalizável e a intensidade desta identificação é variável Nesse processo o indivíduo adota papéis e atividades das outras pessoas que lhe parecem significativas adquirindo sua identidade subjetiva ou seja a identidade se mantém modificase e remodelase em uma dialética entre o euoutros MOGONE 2001 p 16 Um aspecto importante para a definição de identidade segundo Vianna 1999 p 51 é a tensão entre imutabilidade e dinamicidade sendo a identidade o conjunto de representações do eu pelo qual o sujeito comprova que é sempre igual a si mesmo e diferente dos outros Alguns autores consideram que a identidade não é exclusiva do campo individual mas também do coletivo A identidade coletiva não é decorrência direta da individual mas possui outro sistema de relações ao qual os atores se referem e em relação ao qual tomam referimento VIANNA 1999 p 52 A identidade pessoal e a identidade construída coletivamente são essenciais para definir a identidade profissional do indivíduo A esse respeito Pimenta 1997 p 7 salienta que a identidade profissional docente Volume 2 Número 3 JanJul2009 224 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 se constrói pois a partir da significação social da profissão constróise também pelo significado que cada professor enquanto ator e autor confere à atividade docente no seu cotidiano a partir de seus valores de seus modo de situarse no mundo de sua história de vida de suas representações de seus saberes de suas angústias e anseios do sentido que tem em sua vida o ser professor Assim como a partir de sua rede de relações com outros professores nas escolas nos sindicatos e em outros agrupamentos Entendemos identidade profissional docente como um processo contínuo subjetivo que obedece às trajetórias individuais e sociais que tem como possibilidade a construçãodesconstruçãoreconstrução atribuindo sentido ao trabalho e centrado na imagem e autoimagem social que se tem da profissão e também legitimado a partir da relação de pertencimento a uma determinada profissão no caso o Magistério Mas a bibliografia educacional tem mostrado que os professores vivem já há algum tempo uma crise em sua profissão e em seu fazer ESTEVE 1995 e 1999 LOURENCETTI 2004 NACARATO VARANI e CARVALHO 2000 Essa crise se revela como uma espécie de malestar docente ESTEVE 1999 relacionado à tendência à desprofissionalização que é decorrente por sua vez de mudanças sociais que transformam a imagem e a autoimagem do professor causando desmotivação pessoal insatisfação com a profissão autoimagem negativa isenção de responsabilidade indefinição de sua função etc Essa é uma situação segundo pensamos que apresenta sinais de crise também na identidade profissional do professor Sabemos que a formação da identidade profissional do professor sofre um processo lento e se desenvolve por meio de apreciações e apropriações do mundo escolar ou seja nas relações de convívio social e na prática docente Nesse processo o professor provavelmente se depara com dificuldades ambiguidades e confusões quanto à própria imagem e papel e para que a identidade docente se estruture firmemente é necessária a tomada Volume 2 Número 3 JanJul2009 225 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 de consciência do que é realmente pertinente à profissão É com a preocupação de esclarecer esse processo que realizamos a presente pesquisa O referencial de análise a perspectiva piagetiana Para analisar os dados da presente pesquisa recorremos principalmente à perspectiva teórica de Piaget que segundo pensamos apresentase rica e coerente o bastante para poder ser aplicada a adultos e além disso a profissionais de uma certa área CHAKUR 2001 Segundo Piaget em suas interações com o mundo o indivíduo muitas vezes se depara com obstáculos e problemas e busca superálos Mas ocorre que muitas vezes suas condições intelectuais atuais estruturas cognitivas não dão conta das exigências encontradas no ambiente e tendem portanto a se modificar a se diferenciar em novas estruturas para que os conteúdos que o ambiente oferece possam ser assimilados e os obstáculos possam ser compensados Para Piaget é esse processo contínuo de busca de equilíbrio entre indivíduo e ambiente que ele chama de processo de equilibração o principal responsável pelo desenvolvimento intelectual Mas em sua proposta o autor não deixa de valorizar também os aspectos biológicos hereditariedade e maturação educativos e sociais em geral como fatores que interferem no desenvolvimento Pesquisando a tomada de consciência em crianças e adultos Piaget 1977 p 198 descobre que ela procede da periferia para o centro sendo esses termos definidos em função do percurso de um determinado comportamento Segundo Piaget quando o indivíduo realiza uma determinada ação pode obter êxito ou não entretanto mesmo quando obtém êxito comumente explica como o obteve sem uma reflexão sem realmente tomar consciência do porquê do êxito Volume 2 Número 3 JanJul2009 226 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 De acordo com Piaget 1977 muitas vezes analisamos apenas as relações aparentes mais externas sobre aquilo que fazemos desconsiderando o que realmente leva à realização de determinada ação essa parte superficial é o que ele chama de periferia da consciência a reação mais imediata e exterior do sujeito em face do objeto enquanto o centro seria formado pelos meios e razões quando buscamos o como e os porquês do êxito ou fracasso alcançado com nossas ações Para ele a tomada de consciência é um processo que obedece a níveis sucessivos e hierarquizados assim como ocorre com o processo de desenvolvimento cognitivo Desse modo a tomada de consciência consiste em fazer passar alguns elementos de um plano inferior inconsciente a um plano superior consciente e que esses dois estágios não possam ser idênticos A tomada de consciência constitui pois uma reconstrução no plano superior do que já está organizado mas de outra maneira no plano inferior PIAGET 1973 p 41 Consideramos que a tomada de consciência é um conceito bastante rico que pode ser tomado para analisar a consciência que os professores dispõem sobre a possível crise de identidade profissional que enfrentam e que é objeto do presente trabalho O desenvolvimento da pesquisa A pesquisa teve como objetivo investigar como professores do Ensino Fundamental avaliam a imagem do professor e a própria autoimagem e como enfrentam a crise em sua identidade e em sua profissão tal como descrita na bibliografia educacional recente Os professores estão conscientes dessa crise Conhecem por exemplo seu núcleo e seus determinantes Participaram da pesquisa doze professores de várias disciplinas curriculares de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental de uma cidade do interior paulista Os professores que serão a seguir identificados por siglas pertinentes às respectivas áreas se distribuíam do seguinte modo 2 professores de Volume 2 Número 3 JanJul2009 227 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Português P1 e P2 2 de Matemática M1 e M2 2 de História H1 e H2 2 de Geografia G1 e G2 1 de Educação Física F1 1 de Educação Artística A1 e 2 de Ciências C1 e C2 com idades variando de 25 a 56 anos e com tempo de serviço no magistério de 5 a 35 anos Os dados foram coletados mediante entrevista semiestruturada com um roteiro contendo dois blocos de questões O primeiro se referia à imagem de ser professor e à autoimagem de cada participante como tal O segundo buscava saber o que incomodadificulta o trabalho em sala de aula ou fora dela se os professores se encontravam em crise e qual o seu centro e determinantes As entrevistas foram gravadas com a devida autorização e transcritas pela pesquisadora de modo literal O procedimento seguiu os princípios do método clínico piagetiano o que permitiu explorar com certa profundidade o que pensam os professores a respeito do tema em questão Lembramos que o foco da entrevista clínica é a forma de pensamento do entrevistado e desse modo o roteiro de entrevista não segue uma sequência fixa de questões privilegiando o ritmo e a ordenação sugerida pelas respostas do entrevistado A análise dos dados foi eminentemente qualitativa Inicialmente foram agrupadas em categorias as respostas semelhantes e em seguida conforme a questão as categorias foram hierarquizadas em níveis distintos Os critérios de análise serão detalhados adiante juntamente com os resultados obtidos As respostas foram também submetidas à análise quantitativa quando procedemos à tabulação de frequências absoluta e porcentual de cada categoria com porcentagens calculadas pelo número de professores ou seja 100 equivalendo a 12 professores Volume 2 Número 3 JanJul2009 228 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Ser professor e suas imagens No primeiro eixo de análise questionamos os professores sobre sua função imagens que eles têm de si mesmos como profissionais da educação e valor de um professor na atualidade A função do professor como afirma Gimeno Sacristán 1991 encontrase em permanente elaboração e depende diretamente das relações e dos contextos sociais nos quais a comunidade docente se encontra A dificuldade de definição das atribuições do professor acaba por levar à incorporação de uma multiplicidade de tarefas que muitas vezes ultrapassam a função docente fugindo de seu alcance e caracterizando atividades próprias de profissões ou ocupações distintas das do magistério Todo esse contexto como salientam Esteve 1999 e Lourencetti 2004 dificulta e emperra o trabalho e o ânimo dos professores o que consequentemente interfere na imagem que eles próprios e a sociedade possuem do profissional docente Na questão sobre O que é ser professor as respostas variaram entre os que acreditam que ser professor é transmitir conhecimentos com seis depoimentos G1 H2 A1 H1 G2 F1 50 e os que apontam ser necessário ter consciência de seu papel e de sua responsabilidade para com os alunos com depoimentos de quatro professores P1 P2 H2 C2 333 São exemplos de depoimentos dessas categorias Ah eu não tenho assim muitas ilusões não eu acho que ser professor hoje em dia é conseguir passar o conteúdo alguns valores mas o sistema torna a gente um simples transmissor de conhecimento não tá dando para ser professor G1 É você saber valorizar aquela pessoa que você tá conduzindo você tem que ter consciência de que você tem alunos que precisam de você para saber determinados conhecimentos que só vai ter com você Eu acho que ser professor é você ter consciência da responsabilidade de ser professor H2 Volume 2 Número 3 JanJul2009 229 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Segundo um dos entrevistados C1 para ser professor é preciso cumprir tarefas diversificadas inclusive que não são próprias da profissão para outro tratase de uma profissão diferenciada M2 Eu acho que ser professor é ser muitas coisas é ser um profissional é ser um parente é ser um amigo porque acaba ficando muito tempo com a criança você não é só um profissional você acaba sendo uma parte do da continuação da família da criança Acho que ser professor é muito mais que ser só um profissional cumprir uma tarefa C1 Olha eu gosto muito do que eu faço acho que é muito gratificante eu sei lá primeiro lugar é uma profissão sem dúvida é uma profissão que é diferente de ser um advogado por exemplo porque você dá de você direto para pessoas você tem de ficar ali direto do lado dos alunos pra tentar passar pros alunos o que você sabe é uma profissão sem dúvida mas é um negócio muito gratificante M2 Percebemos em alguns depoimentos que a identidade profissional se apresenta confusa Ou será que ser professor é realmente cumprir tarefas diversificadas tal como atuar como parente amigo parte da família Para ser professor é preciso se sentir gratificado ou ver o progresso dos alunos Estes são elementos essenciais à profissionalidade docente Considerações feitas por Cunha 1998 e Hypolito 1998 apontam a existência de uma dificuldade histórica na constituição da profissionalização docente Isso nos levaria a pensar que a questão de ser professor de se tornar professor envolve uma série de atributos que nem sempre são facilitados pelas políticas públicas educacionais que também nem sempre visam à constituição da docência como uma profissão realmente Afirmarse como profissional é um sonho almejado há muito pelos professores Quando questionamos se qualquer pessoa poderia ser professor as respostas foram negativas com exceção de um deles mas que recorre à mesma explicação encontrada nas respostas negativas Seis professores M2 P2 C2 G2 H1 F1 50 afirmaram que tem que ter formação Cinco ou 416 F1 G1 H2 A1 M1 relataram que tem que gostar Volume 2 Número 3 JanJul2009 230 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 da profissão Quatro P1 P2 H2 M1 333 disseram que é necessário ter dom para ser professor Pode é pode se você receber formação H1 Eu acredito que não E acho que o equívoco reside nesta questão mesmo O professor é uma pessoa que precisa ser capacitada para o ofício de ensinar A ele devem ser dadas ensinadas teorias que fundamentem a sua prática Ele precisa ser formado na íntegra Tudo é essencial Além da teoria muita prática P2 Olha eu acho que para ser professor tem que gostar muito da profissão porque se a pessoa não gosta da profissão ela não vai fazer aquele trabalho com carinho e amor ela vai deixar tudo de qualquer jeito Não é QUALQUER pessoa não teria que gostar da educação ter dom A1 Para dois professores 167 é necessário ter paciência G2 G1 e ainda um único entrevistado 83 afirma que é preciso ter consciência C1 para ser educador Percebemos em certos casos que faz parte do imaginário docente a imagem de professor abnegado aquele que professa algo Brzezinski 2002 p 16 também ressalta que a profissão professor se mantém associada à idéia de fé de sacerdócio a vocação para ser professor diz respeito à dedicação e abnegação ao apostolado e segundo a autora tal concepção condiz com o imaginário social que relaciona a profissão professor com a fé como um chamado para prestar um serviço ao bem comum Talvez isso explique o fato de tais concepções permearem as afirmações de nossos participantes de que qualquer um pode ser professor desde que tenha dom ou paciência pois estas são características essenciais para uma profissão que se respalde na abnegação na fé e na dedicação ao bem comum Quando questionamos que imagem cada um teria de si próprio como professor apareceram basicamente cinco imagens sendo elas Volume 2 Número 3 JanJul2009 231 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Professoramigo segundo cinco professores C1 C2 P2 H1 G1 416 para ter uma boa imagem os professores têm que ter um bom relacionamento com os alunos que os mesmos gostem deles e ainda devem saber lidar com adolescentes A imagem que eu faço de mim é a imagem que eu percebo que os alunos representam pra mim como alguém muito fácil de fácil acesso Uma pessoa educada é eu não altero a voz eu procuro ser bem próxima a eles ser amiga divertida eu gosto de ser muito divertida eu acho que eles me vêem como uma amiga como um ser humano P2 Professor dedicado quatro entrevistados 333 M2 A1 P1 P2 entendem que possuem uma imagem de professor amoroso maternal Exemplo Primeiro eu achava que eu era muito enérgica meio carrasca hoje eu mudei Porque depois que eu casei tive filhos passei a ver as coisas de uma outra forma M2 Professorcompetente ainda quatro professores 333 indicam uma imagem de professor que domina o conteúdo C1 M1 H2 G2 Eu me acho uma pessoa competente e para você ser professor você tem que se interessar e ser muito interessado e tem que tentar se renovar sempre se atualizar H2 Professor menteabertaconsciente também para 333 dos entrevistados a autoimagem é daquele que se atualiza reconhece erros procura melhorar tem a mente aberta C2 P1 H1 H2 Eu procuro fazer o melhor sempre me dediquei bastante tenho muitas falhas procuro ter autocrítica para observar essas falhas e tentar corrigir mas a gente não consegue ser perfeito então eu procuro sempre melhorar observar onde eu tô falhando tentar consertar modificar P1 Professormodelo Apenas um dos professores 83 afirma que para ter uma boa imagem tem que dar exemplo para o aluno F1 Volume 2 Número 3 JanJul2009 232 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Eu acho que tenho uma imagem boa tento fazer o melhor de mim passar o que eu sei levar uma vida saudável que no caso da Educação Física eu tenho que saber lidar com isso praticar atividade física ser coerente com a minha profissão entendeu Tem muito professor de Educação Física que não se cuida vai na escola por ir eu cultivo o que eu ensino para eles na minha casa na minha família F1 Os depoimentos que sugerem uma ligação entre o instinto amoroso e maternal e a própria imagem de professor dedicado são sem dúvida imagens recorrentes no senso comum Segundo Arroyo 2000 essa imagem de devotamento é algo histórico pois os professores do Ensino Fundamental 5ª a 8ª séries trazem resquícios de um ciclo que tinha e continuou a ter como função intermediar a educação primária à formação universitária criandose portanto um vácuo de um saber profissional capaz de dar conta da educação e da formação cognitiva ética estética cultural etc da adolescência e da juventude p 31 Questionamos também qual o valor de um professor nos dias atuais e foi possível agrupar as respostas em três categorias distintas Para sete entrevistados F1 M2 P1 G1 H1 H2 M1 583 o professor atualmente tem muito pouco valor ou é desvalorizado três deles P2 A1 C2 25 acham que o professor não tem nenhum valor e ainda dois professores C1 G2 167 consideram que o professor tem seu valor mas não é reconhecido Exemplos Hoje em dia acho que professor não tem mais valor não sabe antigamente se respeitava pai e mãe acatava decisões hoje em dia eles não dão valor sabe tá muito desvalorizada tanto financeiramente como em termos de educação F1 Nenhum porque tá relacionado também com o quanto você ganha como é a sua vida porque a sociedade hoje se baseia por quem tem não quem é e o professor geralmente não tem a não ser que ele tenha tido a sorte de ganhar um carro uma casa ou casado com uma pessoa bem de vida então eu já tive épocas em que eu tive vergonha P2 Ai coitados eu não sei eu acho que o professor tem um valor muito grande mas ele não é reconhecido nos dias de hoje apesar de Volume 2 Número 3 JanJul2009 233 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 continuarem se formando muitas pessoas continuarem lutando pelas vagas nas universidades Agora essa imagem ela acaba não sendo boa C1 É necessário salientar o que os participantes entendem por valor Para um deles C1 o valor do professor tem correspondência direta com o fator financeiro com o fato de ele ser mal pago dois A1 F1 apelam para o aspecto educativo quatro P1 P2 G1 H2 para o profissional dois M2 H1 acreditam que moralmente respeito dos alunos o valor é pouco e finalmente para cinco deles M1 M2 P1 H1 G2 a desvalorização tem caráter social Percebemos então que para uma boa parte dos professores a desvalorização docente é predominantemente social O mesmo é legitimado por Esteve 1999 quando ressalta que a imagem pública do professor é que acaba por ser responsável por sua importância profissional Na realidade é de acordo com a avaliação que fazem de nós que acabamos por nos definir pois a valorização de uma categoria profissional é diretamente ligada à imagem veiculada socialmente A tomada de consciência da crise de identidade docente A maneira como uma dada profissão é vista externamente como ela é situada pública e socialmente tem um peso considerável No caso do Magistério a desvalorização social é atrelada ao fato de que atualmente o professor não é mais apenas o único detentor de informações e por isso ora é visto como um membro social importante ora não Com relação à desvalorização política podemos ressaltar que embora os professores formem uma categoria esta não possui força suficiente para mudar a situação em que se encontram Consideramos que toda esta situação também se reflete na identidade do professor resultando em uma crise de identidade profissional Esta crise diz respeito ao modo como os professores se veem e como são vistos Volume 2 Número 3 JanJul2009 234 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 pelos outros diz respeito ao próprio trabalho ao valor social que possuem ou não a seus saberes e à sua competência para ensinar É uma crise que confunde os papéis próprios à profissão docente fazendo com que o professor concorde em realizar tarefas que o desviam de sua função de ensinar Nossa análise mostrou que a tomada de consciência da crise de identidade profissional ocorre em certos níveis Algumas respostas se centram na periferia da crise vivida pelos professores ao focalizar elementos e fatores mais imediatos e aparentes da situação apresentada Outras respostas superam esse imediatismo na direção do que é central à identidade docente quando salientam o menos imediato e aparente tais como o sentimento de pertencimento a uma dada profissão que depende do contexto histórico no qual o indivíduo vive como ressalta Vianna 1999 a importância da imagem e da autoimagem da profissão ARROYO 2000 GIDDENS 2002 a presença de saberes específicos angústias e anseios do professor e suas relações com outros profissionais da categoria GAUTHIER et al 1998 PIMENTA 1997 TARDIF 2002 Este critério constituiu o fundamento para o estabelecimento de três níveis distintos de tomada de consciência da crise de identidade profissional docente descritos a seguir Classificamos no nível I Consciência elementar ou periférica da crise de identidade profissional respostas que se centravam em elementos periféricos da situação apresentada PIAGET 1977 O nível intermediário II Consciência incipiente da crise de identidade profissional ficou reservado aos depoimentos que apresentaram traços característicos dos níveis I e III simultaneamente na mesma questão quando as duas categorias centralperiférico aparecem com o mesmo peso de forma ambígua ou confusa Volume 2 Número 3 JanJul2009 235 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Por fim foram classificados no nível III Consciência refletida da crise de identidade profissional depoimentos que se ativeram aos elementos centrais das questões colocadas ou seja à consciência do como e do porquê da situação e dos seus resultados processo que ocorre por meio da abstração reflexionante PIAGET 1977 1978 Lembramos que a classificação em elementos centrais e periféricos não pode ser generalizada e diz respeito a certa situação Assim o que é central em certa situação pode se revelar como periférico em outra Os níveis de consciência dos professores em cada questão são definidos como segue Os depoimentos foram transcritos na íntegra e se encontram em itálico 1 A primeira questão sobre a tomada de consciência da crise de identidade profissional indagava ao professor O que incomoda ou dificulta a realização do seu trabalho seja dentro ou fora da sala de aula Para esta questão obtivemos os seguintes resultados Nível I Este nível ficou reservado aos cinco 417 professores M2 P1 P2 H2 F1 que se centraram em aspectos mais imediatos e aparentes da situação tais como indisciplina dos alunos ausência da família ausência de recursos materiais físicos da escola falhas da direção Entendemos que tais elementos são periféricos na questão pois apesar de dificultar a tarefa do professor não são determinantes do seu trabalho e atuam no aqui e agora Por exemplo Eu acho que fora da sala de aula é muita burocracia e dentro da sala de aula hoje eu acho que é comportamento disciplina de aluno é o que mais atrapalha P1 Indisciplina incomoda demais falta de vontade de o aluno aprender incomoda muito desinteresse acho que é uma coisa assim familiar a criança não tem interesse porque pai e mãe não cobra culpa dos pais e essa indisciplina dificulta meu trabalho M2 Volume 2 Número 3 JanJul2009 236 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Nível II Quatro professores C1 C2 M1 H1 apresentaram respostas ambíguas 333 baseadas em elementos centrais e periféricos ao mesmo tempo como por exemplo diretor amigo periféricoespírito corporativo central desinteresse dos alunos periféricomá remuneração central desinteresse dos alunos periféricosaberes central Exemplos Eu acho que muitas vezes não tem um comprometimento com a escola eles professores acabam apenas dando seus 50 minutos de aula e se esquecendo que tem outras atividades dentro da escola Acho que o diretor poderia ser mais amigo digamos assim mais companheiro eu acho que às vezes essa falta de coleguismo que existe Por que acontece Eu acho que hoje as pessoas vivem meio individualista pensam muito nelas elas têm os problemas particulares C1 O salário risos o baixo salário esse baixo salário me obriga a dar muitas aulas então eu dou muitas aulas eu tenho menos tempo para preparar essas aulas O que dificulta os alunos que não estão interessados em aprender que não tem cultura alguma que chegam para a escola muito cru é uma dificuldade imensa de você tentar fazer alguma coisa diferente e eles não responderem eles não querem eles não querem fazer Por que isso acontece Porque o Estado não investe de maneira adequada na educação a preocupação não é com a qualidade mas com a quantidade então isso tudo cria todo um sistema de desvalorização do trabalho docente H1 Nível III Depoimentos de três entrevistados G1 G2 A1 25 se basearam em elementos menos aparentes e mais centrais às reais dificuldades do professor desvalorização do trabalho docente políticas públicas educacionais exigências sociais saberes e espírito corporativo sempre tendo como interesse maior a afirmação da identidade Exemplos Baixos salários jornada estafante salas lotadas legislação absurda etc Porque existe um grande interesse das elites nacionais e internacionais em deixar o povo brasileiro cada vez mais idiota sem instrução para que eles possam comandar e roubar como vem se fazendo hoje Povo instruído reivindica seus direitos G1 Bem o que mais me incomoda é o fato de as leis mudarem constantemente e as teorias pedagógicas que temos que acatar só porque estão na moda Isso sem falar nas condições de trabalho que muitas vezes são péssimas G2 Volume 2 Número 3 JanJul2009 237 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 2 Perguntamos diretamente se os professores vivem ou não uma crise de identidade profissional qual o seu centro e suas causas e foi possível perceber mais precisamente os níveis de tomada de consciência Nível I Neste nível predominaram respostas vagas ou respostas que não apresentavam argumentações sobre sua avaliação Dois professores 167 M1 F1 focalizaram além disso uma crise pessoal existencial e não profissional quanto ao centro e às causas da crise referiramse ao cotidiano ou a tudo e a todos à falta de estrutura material falta de interesse dos alunos a ausência da família ou ainda apresentando respostas vagas Por exemplo Eu não diria crise crise existencial eu tô desde que eu nasci há 57 anos Você vê pessoas descontentes algumas estão em crise Qual o centro da crise A crise que o professor passa hoje é a crise de todo mundo não é diferente Ela se refere à preocupação com a vida com os filhos à situação do país você liga TV só vê corrupção o pai que ganha salário mínimo A crise é uma crise social é da sociedade como um todo e o indivíduo é coparticipante dessa crise O que causa Nos comportamos como os remadores na galera do Império Romano a gente não sabe exatamente aonde vai É um período negro o pessoal tem medo medo de ser assaltado de enfrentar tomar posição acaba atrapalhando a escola Interferiram na crise as reformas Para mim não mas para os outros professores acredito que sim porque eles não entenderam a progressão continuada e ficam martirizados com isso M1 Nível II Quatro entrevistados 333 C1 P1 G1 A1 apresentaram algumas confusões entre elementos centrais e periféricos como por exemplo a democratização do ensino e a falta de material assim como o desinteresse dos alunos as crianças não gostam da escola como sendo os motivos centrais da crise e ao mesmo tempo se preocupavam com a formação dos professores a má remuneração a questão da saúde dos professores e o sistema Eu não porque eu não crio falsas expectativas mas quem cria está em crise profunda Qual o centro dessa crise Tudo tá errado O sistema é absurdo ele é feito pras crianças não gostarem da escola não tem como Você acha que é o sistema que causa essa crise É Volume 2 Número 3 JanJul2009 238 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 por exemplo a criança tem vocação para música não se ensina música na escola a criança gosta de Educação Física são apenas 2 aulas por semana a criança gosta de Inglês a mesma coisa Não se trabalha aquilo que a criança gosta todo mundo tem que ser igual As reformas interferem Ah sim estão todos equivocados e contribuíram para piorar mais a situação a progressão continuada é um absurdo sem precedentes é aprovação automática só que é uma aprovação automática que vai reprovar o aluno na vida eles não vão ser reprovados na escola mas vão sair daqui semianalfabetos e vão quebrar a cara lá fora no mercado de trabalho G1 Nível III Seis entrevistados 50 C2 M2 P2 G2 H1 H2 perceberam a crise em seus elementos centrais a má remuneração a formação dos professores a desvalorização do magistério as condições sociais do contexto brasileiro e a saúde mental dos profissionais da educação Perguntados sobre as causas dessa crise os professores indicam fatores semelhantes má formação desprestígio social e econômico má remuneração sistema de ensino políticas e condições sociais condições emocionais saúde do professor afirmaram também que as reformas interferem na crise de identidade docente Por exemplo Sim eu acho que sei lá Acho que estamos sim E qual seria o centro dela Olha o centro é a má distribuição das verbas públicas e aí somos mal remunerados não temos apoio para a realização de muitas de nossas tarefas E as causas As causas são a falta de incentivo dos órgãos públicos seu descaso para com a educação fora a situação social e econômica da sociedade brasileira E as reformas interferem na crise do professor Acho que sim principalmente a progressão continuada teve um impacto muito grande em nosso trabalho ficamos de mãos atadas G2 As duas crises da profissão de Magistério e da identidade profissional docente muitas vezes são confundidas como se fossem a mesma coisa Mas consideramos que para que se instale uma crise de identidade profissional a profissão docente não precisa estar necessariamente em crise pois a identidade profissional implica a existência de elementos subjetivos além daqueles próprios da profissão em questão Desse modo não se pode confundir os dois tipos de crise embora a crise na profissão possa interferir na identidade do professor Volume 2 Número 3 JanJul2009 239 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Obviamente pode haver uma crise na profissão docente mas o professor pode não passar por nenhum conflito interno com relação à profissão que exerce e como a exerce Entretanto a crise na profissão se apresenta como um pano de fundo profundamente contagiante para uma crise também da identidade pois se a profissão não se encontra em crise os profissionais que a exercem podem atuar com maior tranquilidade Digamos que a crise do Magistério aumenta as chances de uma crise de identidade Tendo em vista os diferentes níveis de consciência fica claro que alguns professores percebem melhor que outros o que ocorre com a profissão e com a própria identidade O que nos mostra também que esses professores parecem não refletir também no sentido atribuído por Piaget sobre os reais problemas que interferem em seu dia a dia Pois para Piaget quando tomamos consciência não basta expor o que achamos que resolva os problemas mas precisamos refletir sobre como e por que se chegou ou não a tal resultado Considerações finais Podemos concluir que assim como a bibliografia educacional vem afirmando os professores se encontram em uma crise profissional e também em uma crise de identidade mantendo estas uma relação estreita com limites muito tênues entre os aspectos que as caracterizam Mas consideramos que nem sempre a crise de identidade é percebida pelos professores em seus aspectos centrais e em seus determinantes Tal como encontrado por Piaget 1978 no âmbito da ação a tomada de consciência da crise da profissão e da identidade se processa em níveis distintos O nível que apareceu predominantemente foi o intermediário um nível em que os professores na maioria das questões apresentam respostas ambíguas e confusas com relação aos elementos centrais e periféricos da consciência da identidade profissional Muitos professores não conseguem perceber o motivo central pelo qual se sentem incomodados ou que dificulta o próprio trabalho As reais causas da Volume 2 Número 3 JanJul2009 240 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 dificuldade e da crise ficam perdidas em meio às atribulações do cotidiano escolar Assim como os professores se mostraram confusos em muitos aspectos em muitos momentos deixaram surgir alguém com a profissionalidade abalada mal definida com uma autoimagem pouco expressiva e desvalorizada sem espírito de corpo entre seus pares comprometendo assim sua identidade Diante do processo de desvalorização profissional do professor e da eventual crise educacional que parece ser evidente nos dias atuais afirmar a identidade profissional docente pode contribuir para mudar este quadro e buscar melhores condições de trabalho para essa categoria O professor necessita de uma definição mais precisa de sua identidade profissional para se afirmar perante o ensino e até mesmo perante a categoria docente propriamente dita Um professor que reconhece e tem consciência do seu papel desempenha seu trabalho com maior segurança desenvoltura autonomia e pode assim desenvolver práticas pedagógicas mais criativas e de qualidade Sem dúvida este é o nosso maior desejo Referências ARROYO M G Ofício de Mestre imagens e autoimagens Petrópolis RJ Vozes 2000 BRZEZINSKI I Org Profissão professor identidade e profissionalização docente Brasília DF Editora Plano 2002 CHAKUR C R de S L Desenvolvimento profissional docente contribuições de uma leitura piagetiana Araraquara JM Editora 2001 CUNHA M I Profissionalização docente contradições e perspectivas In VEIGA I P A CUNHA M I da Org Desmistificando a profissionalização do magistério Campinas SP Papirus 1999 p 127147 ESTEVE J H Mudanças sociais e função docente In NÓVOA A Org Profissão professor 2 ed Porto Porto Editora 1995 p 95124 Volume 2 Número 3 JanJul2009 241 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 ESTEVE J H O malestar docente a sala de aula e a saúde dos professores São Paulo EDUSC 1999 GAUTHIER C et al Por uma teoria da Pedagogia pesquisas contemporâneas sobre o saber docente Ijuí Ed Unijuí 1998 GIDDENS A Modernidade e identidade Rio de Janeiro Zahar 2002 GIMENO SACRISTÁN J Consciência e acção sobre a prática como libertação profissional dos professores In NÓVOA A Profissão Professor Porto Porto Ed 1991 p 6192 HIPOLYTO A M Trabalho docente e profissionalização sonho prometido ou sonho negado In VEIGA I P A CUNHA M I da Org Desmistificando a profissionalização do magistério Campinas SP Papirus 1999 p 81100 LOURENCETTI G C Mudanças sociais e reformas educacionais repercussões no trabalho docente 2004 Tese Doutorado em Educação Escolar Faculdade de Ciências e Letras Universidade Estadual Paulista Araraquara 2004 MOGONE J A De alunas a professoras analisando o processo da construção inicial da docência 2001 Dissertação Mestrado em Educação Escolar Faculdade de Ciências e Letras Universidade Estadual Paulista Araraquara 2001 NACARATO et al O cotidiano do trabalho docente palco bastidores e trabalho invisível abrindo as cortinas In GERALDI C M G FIORENTINI D PEREIRA E M de A Org Cartografias do trabalho docente professora pesquisadora Campinas Mercado das Letras 2000 PIAGET J Problemas de psicologia genética Rio de Janeiro Forense 1973 PIAGET J A tomada de consciência São Paulo Melhoramentos 1977 PIAGET J Fazer e compreender São Paulo Melhoramentos 1978 PIMENTA S G Formação de Professores Saberes da Docência e Identidade do Professor Nuances v III Presidente Prudente 1997 p 0514 TARDIF M Saberes docentes e formação profissional Rio de janeiro Vozes 2002 VIANNA C Os nós do nós crise e perspectiva da ação coletiva docente em São Paulo São Paulo Xamã 1999 Recebido em 12 de outubro de 2009 Aprovado em 21 de outubro de 2009 ATV ATIVIDADE PRÁTICA PRÁTICAS PEDAGÓGICAS IDENTIDADE DOCENTE Olá estudante Neste momento você realizará uma atividade prática relacionada a uma reflexão da atuação do professor Objetivo Refletir sobre a importância da prática do professor e a construção da identidade docente Situaçãoproblema Imagine que você é um professor dedicado imerso na dinâmica desafiadora da educação básica contemporânea Diante de uma diversidade crescente de alunos oriundos de diferentes contextos culturais e socioeconômicos você se vê diante de um complexo desafio a conciliação entre a preservação dos valores tradicionais e a necessidade de adaptação às demandas contemporâneas A busca por uma identidade docente autêntica que respeite a diversidade cultural dos alunos integre tecnologias emergentes e promova práticas pedagógicas inovadoras tornase um dilema para muitos educadores Como construir uma identidade que preserve a essência do papel do educador ao mesmo tempo que abraça a evolução constante do cenário educacional A reflexão sobre este desafio tornase crucial para promover uma prática docente que seja tanto enraizada em valores fundamentais quanto capaz de inspirar e capacitar os estudantes para os desafios complexos do mundo contemporâneo Passo 1 Para elaborar a atividade você precisará 1 Refeltir sobre a charge a seguir Disponivel em httpsblogscorreiobraziliensecombraricunhaprofissaoprofessor 2 Ler os textos propostos ATV ATIVIDADE PRÁTICA Texto 1 DA SILVA E P CHAKUR C R de S L A Tomada de Consciência da Crise de Identidade Profissional em Professores do Ensino Fundamental 1 Schème Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas 2009 Disponível em httpswwwmariliaunespbrHomeRevistasEletronicasSchemeVol02Num03Art05pdf Acesso em 12 de Dez 2023 Texto2 LOMBA Maria Lúcia Resende FARIA FILHO Luciano Mendes Os professores e sua formação profissional entrevista com António Nóvoa Educar em Revista Sl dez 2022 ISSN 19840411 Disponível em httpsrevistasufprbreducararticleview8822248158 Acesso em 12 dez 2023 Passo 2 Elaboração do trabalho para postagem no AVA contendo 1 Capa da Instituição conforme orientação disponível na biblioteca virtual 2 Desenvolvimento Texto dissertativo contendo uma análise crítica dos textos 1 e 2 elencados no passo 1 que contemplam a construção da identidade docente na contemporaneidade A análise crítica compreende uma avaliação clara e fundamentada da validade de uma assertiva por meio da análise dos argumentos que a sustentam Uma avaliação fundamentada incorpora elementos presentes no texto desenvolvido e recorre a conhecimentos externos bastante aceitos ou demonstrados no próprio texto 3 Considerações finais para a finalização do texto você deve retomar a pergunta da charge presente no passo 1 apresentando seu posicionamento sobre o tema Identidade Docente NORMAS PARA ENTREGA DA ATIVIDADE PRÁTICA Você deverá postar seu trabalho final no AVA na pasta específica relacionada à atividade prática obedecendo o prazo limite de postagem conforme disposto no AVA O trabalho deve ser enviado em formato Word ou PDF em um ARQUIVO ÚNICO de até 10 MB O sistema permite anexar apenas um arquivo Caso haja mais de uma postagem será considerada a última versão IMPORTANTE A entrega da atividade de acordo com a proposta solicitada é um critério de aprovação na disciplina Não há prorrogação para a postagem da atividade Aproveite essa oportunidade para aprofundar ainda mais seus conhecimentos Bons estudos Portfolio Individual Práticas Pedagógicas Identidade Docente Informações adicionais Realização 05082024 0000 a 02112024 2359 Correção 05082024 0000 a 22112024 2359 Recuperação 23112024 0000 a 30112024 2359 Correção recuperação 23112024 0000 a 13122024 2359 Arquivos Material Complementar 1 Material Complementar 2 Proposta Prática Pedagógica Enviar trabalho Orientação Extensões para envio serão permitidas somente nos formatos DOC DOCX e PDF Arquivo Escolher ficheiro Nenhum ficheiro selecionado 2159 quartafeira 30102024 1 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS IDENTIDADE DOCENTE Nos tempos atuais a construção da identidade docente apresentase como um desafio central para os professores em especial diante das mudanças culturais tecnológicas e sociais A charge apresentada que questiona o que faz um professor indica que mesmo em condições adversas a dedicação e a atitude do professor são diferenciais decisivos Esse contexto leva à reflexão sobre o papel fundamental do professor na educação e sua resiliência diante das dificuldades apontando para uma crise de identidade docente tema amplamente abordado nos textos estudados No Texto 1 Silva e Chakur 2009 discutem a crise de identidade profissional dos professores do Ensino Fundamental Eles investigam o nível de consciência dos professores sobre essa crise dividindoo em três níveis hierárquicos No nível mais superficial os professores reconhecem apenas os aspectos periféricos da crise como a falta de recursos e a indisciplina dos alunos enquanto o nível mais profundo revela uma consciência crítica sobre as questões estruturais da profissão como a desvalorização docente e as condições de trabalho A teoria de Piaget utilizada como base ajuda a compreender que essa tomada de consciência não ocorre de forma súbita mas evolui gradualmente à medida que o professor reflete sobre os fatores centrais que moldam sua profissão e sua identidade Por outro lado no Texto 2 António Nóvoa explora a importância da formação contínua e do autoconhecimento para a construção de uma identidade docente sólida Ele defende que a profissão docente não pode se basear apenas em conhecimentos teóricos é necessário um conhecimento profissional coletivo que inclua experiências práticas e reflexões coletivas sobre o papel do professor Nóvoa argumenta que os professores devem ter voz ativa e ocupar espaços que possibilitem essa reflexão e o desenvolvimento de uma identidade profissional mais integrada e autônoma Para ele o docente deve ser visto como um produtor de conhecimento e não apenas como um transmissor de conteúdo Ao cruzar essas perspectivas percebese que a identidade docente é profundamente afetada tanto por fatores externos como políticas públicas inadequadas e falta de reconhecimento social quanto por fatores internos como a autoimagem do professor e sua capacidade de refletir sobre seu papel na 2 sociedade A charge que sugere que a diferença está no próprio professor conectase a essas ideias ao destacar que mesmo diante de obstáculos o educador que se empenha e busca entender o impacto de sua prática pode superar as dificuldades e contribuir de forma significativa para a formação dos alunos Essa análise aponta para a necessidade de repensar a formação docente e as condições de trabalho dos professores Como sugerido por Nóvoa uma casa comum da formação e da profissão poderia ajudar a reduzir a lacuna entre teoria e prática proporcionando aos professores um ambiente onde pudessem desenvolver sua identidade profissional de forma colaborativa Além disso a crise de identidade discutida por Silva e Chakur revela que é preciso fortalecer a autoestima dos docentes reconhecendoos como peçaschave na construção de uma sociedade mais justa e educada Considerações Finais A partir dos textos analisados e da reflexão proposta pela charge conclui se que a identidade docente não é apenas uma questão individual mas coletiva e estrutural A resiliência do professor sua capacidade de adaptação e a busca por autoconhecimento são essenciais mas devem ser amparadas por uma valorização real da profissão Ser professor é antes de tudo um compromisso com a formação humana e para isso é preciso que os educadores tenham as condições necessárias para exercer plenamente seu papel transformador
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DOI httpdxdoiorg1015901984041188222 ENTREVISTA Os professores e sua formação profissional entrevista com António Nóvoa Teachers and their professional background an interview with António Nóvoa Maria Lúcia Resende Lomba Luciano Mendes Faria Filho RESUMO Para António Nóvoa há muitas maneiras de ser professor uma diversidade de opções e de caminhos Contudo em todos eles defende que é imprescindível compreender a complexidade da profissão em todas as suas dimensões teóricas experienciais culturais políticas ideológicas e simbólicas Tratase de um conhecimento profissional docente um conhecimento contingente coletivo e público E é com base nesse conhecimento que ele afirma que se devem organizar novos modelos de formação docente uma formação que garanta aos professores espaços e tempos para o desenvolvimento do autoconhecimento e da autorreflexão sobre as dimensões pessoais profissionais e coletivas do professorado Palavraschave António Nóvoa Formação docente inicial e continuada Profissão docente Conhecimento profissional docente ABSTRACT To António Nóvoa there are many ways to be a teacher diverse options and pathways However in all of them he defends the importance of understanding the complexity of the profession in all its dimensions theoretical experiential cultural political ideological and symbolic Professional teaching knowledge is contingent collective and public Based on this knowledge he states that new models of teacher education should be organized in a preparation that guarantees teachers spaces and times to develop selfknowledge and selfreflection on the personal professional and collective dimensions of teaching Keywords António Nóvoa Pre and inservice teacher education Teaching profession Teacher professional knowledge Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Belo Horizonte Minas Gerais Brasil Email mlresendegmailcom httpsorcidorg0000000342963633 Email lucianomffuol combr httpsorcidorg0000000210237138 Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 Introdução O Dr António Manuel Seixas Sampaio da Nóvoa Valença Portugal 12 de dezembro de 1954 é professor Catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa Foi Reitor da Universidade de Lisboa entre 2006 e 2013 e Embaixador de Portugal na UNESCO entre 2018 e 2021 É Doutor em Ciências da Educação Universidade de Genebra 1986 e Doutor em História Universidade de Paris IVSorbonne 2006 É Doutor Honoris Causa por várias universidades nomeadamente brasileiras Brasília Federal do Rio de Janeiro Federal de Santa Maria e USP É autor de mais de 150 publicações entre livros capítulos e artigos editadas em 12 países Nesta entrevista realizada em outubro de 2022 no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa Portugal o Professor Nóvoa conversou sobre a necessidade de organizarmos novos modelos de formação docente Tratase de pensar em uma formação que garanta aos professores espaços e tempos para o desenvolvimento do autoconhecimento e da autorreflexão sobre as dimensões pessoais profissionais e coletivas do professorado 1 Professor Nóvoa em sua biografia consta que foi por meio do Teatro como docente de expressão dramática no Magistério Primário de Aveiro no período de 1977 a 1979 que o senhor chega à formação de professores A partir daí desde a década de 1980 vem afirmando em seus estudos que a escola é o lugar ideal para a formação docente por ser lugar de vivências concretas 11 Diante disso o que considera como valioso aprendizado desse período no Magistério Primário Iniciei a minha vida profissional como professor com pouco mais de 20 anos de idade em escolas do magistério primário Eram tempos de revolução em Portugal Foram tempos muito marcantes para mim Estive em escolas dei aulas fiz formação animei seminários num permanente entrelaçamento entre a prática e a teoria É assim que deve ser uma formação profissional como a formação de professores Não é primeiro a teoria e depois a prática ou os estágios como habitualmente se faz mas antes um entrelaçamento que permite uma prática mais reflectida1 mais consciente e uma teoria que ganha novos sentidos e significados Sabemos desde os estudos pioneiros de Michael Huberman que os primeiros anos de vida profissional docente são decisivos no nosso percurso como professores No meu caso não consigo imaginar melhor entrada 1 As respostas do entrevistado serão mantidas no idioma Português de Portugal IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 2 na vida profissional do que aquela que os acasos da história me proporcionaram 2 No artigo Conhecimento profissional docente e formação de professores NÓVOA 20222 o senhor afirma que A cada ano em todo o mundo publicamse milhares de títulos sobre a profissão docente e a formação de professores Esta literatura prolixa tem uma falha maior reflete insuficientemente sobre os professores como detentores de um conhecimento próprio como produtores de um conhecimento profissional docente E mesmo quando esta reflexão existe ela é dinamizada por acadêmicos e não pelos professores da educação básica 21 Poderia nos dizer um pouco mais sobre essa questão que considera central para os professores e a sua formação O campo da educação e da formação docente desenvolveuse muitíssimo nas últimas décadas Por um lado passou a haver uma grande atenção às políticas públicas bem como uma maior presença de organizações internacionais de ONGs e de fundações Por outro lado houve um desenvolvimento extraordinário de todo o tipo de especialistas em educação desde os universitários aos especialistas do currículo das tecnologias da avaliação das aprendizagens do cérebro etc Tudo isto é muito positivo mas trouxe uma certa diminuição ou exclusão dos professores que pouco a pouco se viram relegados para um plano secundário nos debates públicos sobre educação É urgente reforçar a capacidade de reflexão de publicação e de ação pública dos professores Não se trata apenas de uma publicação ou intervenção a título individual mas da possibilidade de uma voz colectiva que dê corpo à presença dos professores no espaço público de inscrever os professores como profissão nos debates e decisões sobre educação 3 Ainda sobre o artigo Conhecimento profissional docente e formação de professores NÓVOA 2022 o senhor afirma que Nas últimas décadas os professores perderam visibilidade pública e a sua voz foi sendo substituída por especialistas de matérias tão diversas como o currículo as tecnologias as competências socioemocionais ou os estudos do cérebro Publicamente ouvemse muitos discursos sobre educação o que é de enaltecer mas falta uma maior presença e participação dos professores 2 Este artigo se encontra em fase de publicação por esta razão não se encontra nas referências desta entrevista IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 3 31 O que mais deseja encontrar nas publicações que tem lido sobre autoria e formação de professores As investigações experimentais ou teóricas conduzidas e escritas por universitários e outros especialistas são muito importantes mas são insuficientes para devolver toda a riqueza e complexidade da educação Os relatos de inovações ou de experiências concretas feitos por professores são muito importantes mas não são suficientes para compreender toda a dimensão do trabalho educativo É preciso completar estas duas abordagens com um terceiro tipo de escrita e de publicação a saber textos escritos por professores que com base em vivências pessoais produzam uma reflexão e sistematização das suas experiências e iniciativas Não são meros relatos ou narrativas mas antes um esforço de sistematização que possa desencadear dinâmicas de partilha e ser inspirador para outros educadores noutros contextos Insisto neste ponto todas as experiências são únicas pois foram realizadas num determinado contexto e contêm a sua própria história não podem ser replicadas por outros mas os princípios as dinâmicas e os resultados destas experiências podem inspirar novos projetos e iniciativas 4 Os seus estudos nos demonstram que uma formação docente inicial ou continuada que não oportunize o acesso aos fazeres e saberes específicos da profissão poderá estar comprometida com o fracasso em formar professores empenhados no trabalho em equipe e na reflexão conjunta Um dos caminhos que defende é o de repensar os cursos de formação inicial e continuada garantindo aos profissionais uma maior aproximação supervisionada no ambiente escolar o que definiu como a necessidade de uma experiência semelhante à residência médica 41 Como avalia o desenvolvimento dessa experiência considerando as diferentes realidades institucionais com as quais dialoga O que considera como caminho possível a ser percorrido pelas universidades e escolas A formação de professores é uma formação profissional de nível superior isto é a formação para uma profissão baseada no conhecimento Assim sendo é imprescindível a presença e a participação da profissão tantos dos lugares da profissão as escolas como dos seus profissionais os professores mas é também imprescindível a presença dos lugares e dos conhecimentos acadêmicos Não há formação de professores sem uma ligação forte entre as escolas e as universidades tanto na formação inicial como no período da indução docente e na formação continuada Hoje sabemos que não basta construir caminhos de colaboração ou de parceria Estes caminhos são importantes por exemplo para a qualidade da supervisão e dos estágios mas não são suficientes Precisamos por isso construir uma nova realidade institucional uma espécie de casa IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 4 comum da formação e da profissão que permita concretizar novos modelos e novas práticas de formação de professores Essa realidade vem sendo criada e desenvolvida em vários lugares do mundo por exemplo no Complexo de Formação de Professores do Rio de Janeiro dinamizado a partir da UFRJ 42 Como percebe esses processos de formação inicial e continuada dos professores para a educação básica no Brasil e em Portugal No Brasil e em Portugal a formação de professores necessita de grandes mudanças tanto na formação inicial como na formação continuada A formação inicial segue engessada em modelos tradicionais baseados em currículos com três segmentos conteúdos disciplinas pedagógicas e prática docente A formação continuada permanece dominada por uma lógica de cursos e de ações que os professores devem frequentar Hoje nada disto faz sentido Precisamos de uma mudança de fundo no modo de pensar e de praticar a formação de professores ligando a formação com a profissão os espaços da formação com os espaços da profissão os conhecimentos acadêmicos e pedagógicos com o conhecimento profissional docente Precisamos de ousadia e de políticas públicas de valorização dos professores Só é possível firmar e afirmar a presença da profissão na formação se os professores se sentirem valorizados e confiantes e se tiverem condições concretas tempo horários flexíveis reconhecimento do trabalho de supervisão e de enquadramento dos licenciandos possibilidade de darem aulas nas licenciaturas etc para participarem efetivamente na formação dos seus futuros colegas 5 Sabendo que uma sólida formação docente tem relação direta com a qualidade do trabalho e com a satisfação do profissional os seus estudos nos dizem da necessidade da formação docente garantir também espaços e tempos para a busca do autoconhecimento de modo que cada docente por meio do exercício da autorreflexão considere a sua história de vida no processo de construção da identidade profissional 51 Visando promover os processos de autoconhecimento dos professores quais caminhos ou estratégias tem vislumbrado Num dos meus primeiros textos que circularam no Brasil Vidas de professores publicado precisamente há trinta anos retomei uma frase conhecida O professor é a pessoa e uma parte importante da pessoa é o professor Na profissão docente a dimensão pessoal é central A pandemia da Covid19 tornou ainda mais evidente esta realidade Por isso é tão importante cuidar dos professores como pessoas do seu bemestar da sua saúde mental das suas condições de vida e de trabalho Nesse sentido conhecerse a si próprio é da maior relevância um conhecimento que deve IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 5 ser partilhado com os outros No passado os professores trabalhavam muito isolados por vezes em territórios distantes e afastados Hoje precisamos do apoio dos outros colegas de nos inserirmos num colectivo docente O autoconhecimento faz parte do nosso conhecimento como pessoas e do nosso conhecimento profissional 6 No artigo Firmar a posição como professor afirmar a profissão docente 2017 p 10 o senhor novamente reforça a ideia de que o ciclo do desenvolvimento profissional completase com a formação continuada e que em face à dimensão dos problemas e desafios atuais da educação precisamos mais do que nunca reforçar as dimensões coletivas do professorado 61 Como reforçar essa dimensão coletiva e uma maior autonomia profis sional por parte dos docentes que já estão no efetivo exercício da profissão Quando olhamos para os últimos documentos das organizações internacionais Nações Unidas UNESCO OCDE etc todos apontam para a importância da colaboração entre professores Não se trata de obrigar os professores a colaborarem Se se mantiver o modelo escolar tradicional centrado na sala de aula com um professor a dar aulas a uma turma de alunos a colaboração não é necessária Mas se avançarmos para novos ambientes educativos com maior diversidade de espaços e de tempos de estudo e de trabalho então a colaboração é imprescindível Tenho utilizado a metáfora da biblioteca para falar da escola do futuro Na biblioteca acontece um pouco de tudo alguns alunos estão em um canto e estudam sozinhos outros alunos estão em pequenos grupos a fazerem alguma atividade em outro canto estão outros alunos no computador Ainda na biblioteca estão alunos a trabalhar com um ou diversos professores e em outro canto dois ou três professores preparam alguma atividade Cada professor não está sozinho com os seus alunos mas em situação colaborativa cooperativa A dimensão colectiva e uma maior autonomia profissional dos professores são processos diretamente relacionados com uma transformação do ensino e da pedagogia com novos modos de trabalho docente e de organização das escolas 7 O senhor considera a escola como uma instituição imprescindível para a formação do ser humano contudo questiona os modelos presentes no mundo escolar julgandoos ultrapassados Especialmente no artigo Os Professores e a sua Formação num Tempo de Metamorfose da Escola 2019 o senhor afirma que no preciso momento em que celebra a sua vitória a escola revelase incapaz de responder aos desafios da contemporaneidade O modelo escolar está em desagregação Não se trata de uma crise como muitas que se verificaram nas últimas décadas Tratase do fim da escola tal IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 6 como a conhecemos e do princípio de uma nova instituição que certamente terá o mesmo nome mas que será muito diferente NÓVOA 2019 p 2 71 Não desconsiderando as limitações tecnológicas e sociais diante da implantação do ensino remoto emergencial em decorrência da pandemia causada pelo coronavírus a partir de 2020 bem como os diversos obstácu los encontrados pelos profissionais da educação e estudantes durante essa implantação do ensino remoto lhe pergunto a inserção de metodologias que antes da pandemia eram pouco presentes no ensino presencial seria um indício de mudança As tecnologias fazem parte da nossa vida do dia a dia das nossas crianças mas a educação dáse sempre num contexto de relação humana A educação não é apenas um ato individual é uma dinâmica de aprendizagem com os outros Ninguém se educa sozinho É impossível A relação humana é tão importante que não consigo imaginar que a educação possa ser feita de forma totalmente virtual totalmente a distância Os dispositivos digitais que temos ao nosso alcance são úteis ninguém os deve recusar Mas dizer que a educação vai passar a ser feita unicamente a distância seria perder a dimensão da relação humana do encontro humano que é absolutamente necessário Não há educação sem o afeto não há educação sem o sentimento não há educação sem a relação humana profunda de alunos com alunos de alunos com professores Não se pode conhecer sem sentir não se pode aprender sem emoção sem empatia Não nos podemos educar sem os outros 72 Ao refletir sobre a necessidade de mudanças também no campo da formação de professores o senhor poderia nos dar exemplos do que tem presenciado sobre aqueles que repensam com coragem e ousadia as insti tuições e práticas no sentido de refundar a escola Como os avalia Durante os últimos anos estive envolvido na redação do último relatório da UNESCO Reimaginar os nossos futuros juntos Um novo contrato social da educação Para a escrita deste relatório consultamos cerca de um milhão de pessoas no mundo Que avaliação faço dessa consulta Quando perguntamos às pessoas sobre as perspectivas de futuro da educação recebemos respostas frágeis e sem grande interesse ou originalidade As pessoas limitavamse a reproduzir o que já conhecem ou então lançavamse em imaginações futuristas quase sempre com base no digital ou na inteligência artificial muito pouco interessantes Mas sempre que perguntamos às pessoas sobretudo aos professores o que estavam a fazer em que experiências ou iniciativas estavam envolvidos tivemos respostas extraordinárias de renovação e transformação da educação São experiências que nasceram quase sempre de 2 ou IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 7 3 professores frequentemente de mudança dos espaços da escola junção de salas de aula diferente organização das turmas etc ou de dinâmicas inovadoras de trabalho pedagógico projetos temas transversais etc Percebemos através destas respostas que o futuro já está inventado Falta apenas que ele se transforme em presente 8 No ensaio Entre a formação e a profissão ensaio sobre o modo como nos tornamos professores 2019 o senhor o finaliza do seguinte modo Não tenho certezas mas tenho muitas dúvidas Não tenho respostas mas tenho muitas perguntas Deixovos com as minhas dúvidas e as minhas perguntas É o melhor que vos posso dar NÓVOA 2019 p 208 81 Qual é sua dúvida eou pergunta de hoje Ainda vamos a tempo Uma das grandes filósofas norteamericanas Maxine Greene feminista e pensadora das artes na educação afirmou que não é possível encontrar nenhum propósito coerente para a educação se alguma coisa comum não acontecer num espaço público É uma fórmula extraordinária para juntar o comum e o público explicando que a educação depende de uma relação com os outros sobretudo com os outros diferentes As tendências recentes de uma domesticação da escola isto é de um regresso da educação aos espaços domésticos familiares é um retrocesso imenso numa visão humanista que se destina a educar todos com todos Retiradas da relação com os outros as crianças ficam impedidas de desenvolver a arte do encontro e as sociedades ficam privadas de uma das poucas instituições onde ainda se pode tentar construir uma vida em comum Aprender e estudar em comum é a melhor forma de promover uma sociedade convivial uma humanidade comum Ainda vamos a tempo 9 E por último em que medida essas novas configurações da formação impactam os modos de fazer e contar a história da profissão docente Nas últimas décadas devido em parte à massificação da educação houve uma certa desvalorização dos professores tanto no plano simbólico e social como no plano salarial e profissional Quando se fala dos professores é quase sempre pela negativa o que os professores não têm o que os professores não sabem o malestar docente o desprestígio da profissão a crise dos professores a violência nas escolas etc Muitas vezes nós próprios acentuamos este discurso negativo sem nos darmos conta dos prejuízos que causamos na imagem e na vivência da profissão É preciso utilizar palavras duras para criticar a ausência de políticas públicas de valorização dos professores Obviamente Mas temos de ser capazes de o fazer com palavras positivas que chamem a atenção para a importância dos professores para o trabalho extraordinário que é IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 8 educar as novas gerações para a curiosidade do conhecimento para a criatividade para a força do trabalho conjunto cooperativo Ainda no final do século XX em França houve uma grande campanha publicitária que no meio de um momento difícil para os professores colocou cartazes gigantes por todo o país com imagens de jovens a dizerem E se falássemos do prazer de ensinar Sim temos de aprender a contar também uma história prazerosa e exaltante da profissão docente 10 Há algo mais que gostaria de acrescentar antes de concluirmos essa entrevista Nos próximos tempos vai decidirse grande parte do futuro da educação Não podemos ficar indiferentes contribuindo assim para o abandono de uma visão pública e comum e o triunfo de perspectivas individualistas e consumistas da educação Não é só o futuro da escola que está em causa é mesmo o futuro da nossa humanidade comum Nunca como hoje foi tão urgente uma educação que contribua para a democratização das sociedades para a diminuição das desigualdades no acesso ao conhecimento e à cultura para a construção de formas participadas de deliberação decidir não é apenas escolher é também produzir a obrigação de agir e de respeitar a decisão tomada coletivamente em nome de um interesse comum A escola deve ser um espaço de liberdade onde se aprende a valorizar o comum O mais recente livro de Bruno Latour constróise a partir de uma releitura da Metamorfose de Kafka somos todos corpos engendrados e mortais que devemos as nossas condições de habitabilidade a outros corpos engendrados e mortais de todos os tamanhos e feitios É uma bela maneira de pensar o comum em educação Todos dependemos de todos Se ensinarmos isso às crianças estaremos a fazer o mais belo gesto pelo futuro da humanidade REFERÊNCIAS NÓVOA António Firmar a posição como professor afirmar a profissão docente Revista Cadernos de Pesquisa v 47 n 166 p 11061133 2017 Cadernos de Pesquisa São Paulo v 47 n 166 p 11061133 outdez 2017 Disponível em httpwwwscielobrpdfcpv47n1661980 5314cp471661106 Acesso em 15 de maio de 2022 NÓVOA António Entre a formação e a profissão ensaio sobre o modo como nos tornamos professores Currículo sem Fronteiras v 19 n 1 p 198208 janabr 2019 Disponível em wwwcurriculosemfronteirasorgvol19iss1articlesnovoapdf Acesso em 8 nov 2022 NÓVOA António Os Professores e a sua Formação num Tempo de Metamorfose da Escola Revista Educação Realidade Porto Alegre v 44 n 3 p 115 2019 Disponível em https IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 9 wwwscielobrjedrealaDfM3JL685vPJryp4BSqyPZtformatpdflangpt httpdxdoi org1015902175623684910 Acesso em 19 de mar De 2022 Texto recebido em 01112022 Texto aceito em 03112022 IONE R V ADRIANE K Apresentação Reflexividade e denúncia Educar em Revista Curitiba v 38 e88222 2022 10 Volume 2 Número 3 JanJul2009 221 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 A Tomada de Consciência da Crise de Identidade Profissional em Professores do Ensino Fundamental 1 Eliane Paganini da Silva2 Cilene Ribeiro de Sá Leite Chakur3 Resumo Este trabalho investigou se professores do II Ciclo do Ensino Fundamental 5ª a 8ª séries de uma escola paulista têm consciência de suas funções e responsabilidades como professores como avaliam a crise da profissão docente descrita na bibliografia educacional e se estão conscientes dessa crise com seus determinantes A pesquisa recorreu a estudos que tratam da identidade dos saberes e das dificuldades do professor utilizando como suporte teórico para a análise a teoria de Jean Piaget do desenvolvimento cognitivo e da tomada de consciência Foram entrevistados 12 professores com base em um roteiro semiestruturado tendo como eixo temático as características e consciência da crise de identidade docente A partir de análise qualitativa e quantitativa foi possível estabelecer níveis distintos da tomada de consciência dessa crise Nível I Consciência elementar ou periférica da crise de identidade profissional Nível II Consciência incipiente da crise de identidade profissional e Nível III Consciência refletida da crise de identidade profissional Concluiuse que a tomada de consciência da crise de identidade profissional docente não se mostra repentina nem consiste em um processo de iluminação mas se revela em certos níveis hierárquicos E para que os professores atinjam o terceiro nível de consciência devem ter refletido sobre as reais causas dos acontecimentos e dos problemas percebendo os elementos centrais da situação em detrimento dos seus elementos periféricos Palavraschave Identidade profissional do professor Tomada de consciência da crise de identidade docente Profissionalização docente Papel profissional do professor 1 Este trabalho foi em grande parte apresentado no XIV ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO realizado em Porto Alegre em 2008 2 Mestre em Educação Escolar pela UNESP campus de AraraquaraSP docente do Centro Universitário de São José do Rio PretoSP Email elianpshotmailcom 3 Doutora em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano pela USP professora livre docente aposentada da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de AraraquaraSP Email chakurfclarunespbr Volume 2 Número 3 JanJul2009 222 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 The Conscience Taking of the Professional Identity Crisis in Teachers of Primary Education Abstract This work researched if the Cycle II of the Primary School teachers 5th to 8th degrees from one school of a city of São Paulo State were aware of their functions and responsibilities as teachers how they evaluate the teaching professional crisis described in the educational bibliography and if they are conscious of this crisis with their determinants The research appealed to the studies that deal with the teachers identity knowledge and difficulties and used Jean Piagets theory of the cognitive development and the consciousness taking as the theoretical support of the analysis 12 teachers were interviewed by a semistructured guide which had as thematic axis the characteristics and conscience of the teaching identity crisis By means of qualitative and quantitative analysis it was possible to establish different levels of the consciousness taking of this crisis Level I Elementary or peripherical consciousness of the crisis of professional identity Level II Incipient consciousness of the professional identity crisis and Level III Reflected consciousness of the professional identity crisis It was concluded that the consciousness taking of the teaching professional crisis does not appear suddenly nor it consists a lighting process but it show some hierarquical levels And to reach the third level of consciousness the teachers must reflect on the genuine causes of the events and problems catching the central elements of the situation by relegating their peripherical elements Keywords Teachers professional identity Consciousness taking of the teaching identity crisis Teaching professionalization Teachers professional role Volume 2 Número 3 JanJul2009 223 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Introdução O processo de formação da identidade pessoal tem início na fase infantil na medida em que a criança assimila traços e características de pessoas e objetos externos valorizados É um processo que ocorre de acordo com a cultura e a categoria social do indivíduo O desenvolvimento do eu depende em grande parte das pessoas ou grupos de pessoas com os quais nos identificamos mas isto nunca ocorre em nível generalizável e a intensidade desta identificação é variável Nesse processo o indivíduo adota papéis e atividades das outras pessoas que lhe parecem significativas adquirindo sua identidade subjetiva ou seja a identidade se mantém modificase e remodelase em uma dialética entre o euoutros MOGONE 2001 p 16 Um aspecto importante para a definição de identidade segundo Vianna 1999 p 51 é a tensão entre imutabilidade e dinamicidade sendo a identidade o conjunto de representações do eu pelo qual o sujeito comprova que é sempre igual a si mesmo e diferente dos outros Alguns autores consideram que a identidade não é exclusiva do campo individual mas também do coletivo A identidade coletiva não é decorrência direta da individual mas possui outro sistema de relações ao qual os atores se referem e em relação ao qual tomam referimento VIANNA 1999 p 52 A identidade pessoal e a identidade construída coletivamente são essenciais para definir a identidade profissional do indivíduo A esse respeito Pimenta 1997 p 7 salienta que a identidade profissional docente Volume 2 Número 3 JanJul2009 224 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 se constrói pois a partir da significação social da profissão constróise também pelo significado que cada professor enquanto ator e autor confere à atividade docente no seu cotidiano a partir de seus valores de seus modo de situarse no mundo de sua história de vida de suas representações de seus saberes de suas angústias e anseios do sentido que tem em sua vida o ser professor Assim como a partir de sua rede de relações com outros professores nas escolas nos sindicatos e em outros agrupamentos Entendemos identidade profissional docente como um processo contínuo subjetivo que obedece às trajetórias individuais e sociais que tem como possibilidade a construçãodesconstruçãoreconstrução atribuindo sentido ao trabalho e centrado na imagem e autoimagem social que se tem da profissão e também legitimado a partir da relação de pertencimento a uma determinada profissão no caso o Magistério Mas a bibliografia educacional tem mostrado que os professores vivem já há algum tempo uma crise em sua profissão e em seu fazer ESTEVE 1995 e 1999 LOURENCETTI 2004 NACARATO VARANI e CARVALHO 2000 Essa crise se revela como uma espécie de malestar docente ESTEVE 1999 relacionado à tendência à desprofissionalização que é decorrente por sua vez de mudanças sociais que transformam a imagem e a autoimagem do professor causando desmotivação pessoal insatisfação com a profissão autoimagem negativa isenção de responsabilidade indefinição de sua função etc Essa é uma situação segundo pensamos que apresenta sinais de crise também na identidade profissional do professor Sabemos que a formação da identidade profissional do professor sofre um processo lento e se desenvolve por meio de apreciações e apropriações do mundo escolar ou seja nas relações de convívio social e na prática docente Nesse processo o professor provavelmente se depara com dificuldades ambiguidades e confusões quanto à própria imagem e papel e para que a identidade docente se estruture firmemente é necessária a tomada Volume 2 Número 3 JanJul2009 225 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 de consciência do que é realmente pertinente à profissão É com a preocupação de esclarecer esse processo que realizamos a presente pesquisa O referencial de análise a perspectiva piagetiana Para analisar os dados da presente pesquisa recorremos principalmente à perspectiva teórica de Piaget que segundo pensamos apresentase rica e coerente o bastante para poder ser aplicada a adultos e além disso a profissionais de uma certa área CHAKUR 2001 Segundo Piaget em suas interações com o mundo o indivíduo muitas vezes se depara com obstáculos e problemas e busca superálos Mas ocorre que muitas vezes suas condições intelectuais atuais estruturas cognitivas não dão conta das exigências encontradas no ambiente e tendem portanto a se modificar a se diferenciar em novas estruturas para que os conteúdos que o ambiente oferece possam ser assimilados e os obstáculos possam ser compensados Para Piaget é esse processo contínuo de busca de equilíbrio entre indivíduo e ambiente que ele chama de processo de equilibração o principal responsável pelo desenvolvimento intelectual Mas em sua proposta o autor não deixa de valorizar também os aspectos biológicos hereditariedade e maturação educativos e sociais em geral como fatores que interferem no desenvolvimento Pesquisando a tomada de consciência em crianças e adultos Piaget 1977 p 198 descobre que ela procede da periferia para o centro sendo esses termos definidos em função do percurso de um determinado comportamento Segundo Piaget quando o indivíduo realiza uma determinada ação pode obter êxito ou não entretanto mesmo quando obtém êxito comumente explica como o obteve sem uma reflexão sem realmente tomar consciência do porquê do êxito Volume 2 Número 3 JanJul2009 226 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 De acordo com Piaget 1977 muitas vezes analisamos apenas as relações aparentes mais externas sobre aquilo que fazemos desconsiderando o que realmente leva à realização de determinada ação essa parte superficial é o que ele chama de periferia da consciência a reação mais imediata e exterior do sujeito em face do objeto enquanto o centro seria formado pelos meios e razões quando buscamos o como e os porquês do êxito ou fracasso alcançado com nossas ações Para ele a tomada de consciência é um processo que obedece a níveis sucessivos e hierarquizados assim como ocorre com o processo de desenvolvimento cognitivo Desse modo a tomada de consciência consiste em fazer passar alguns elementos de um plano inferior inconsciente a um plano superior consciente e que esses dois estágios não possam ser idênticos A tomada de consciência constitui pois uma reconstrução no plano superior do que já está organizado mas de outra maneira no plano inferior PIAGET 1973 p 41 Consideramos que a tomada de consciência é um conceito bastante rico que pode ser tomado para analisar a consciência que os professores dispõem sobre a possível crise de identidade profissional que enfrentam e que é objeto do presente trabalho O desenvolvimento da pesquisa A pesquisa teve como objetivo investigar como professores do Ensino Fundamental avaliam a imagem do professor e a própria autoimagem e como enfrentam a crise em sua identidade e em sua profissão tal como descrita na bibliografia educacional recente Os professores estão conscientes dessa crise Conhecem por exemplo seu núcleo e seus determinantes Participaram da pesquisa doze professores de várias disciplinas curriculares de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental de uma cidade do interior paulista Os professores que serão a seguir identificados por siglas pertinentes às respectivas áreas se distribuíam do seguinte modo 2 professores de Volume 2 Número 3 JanJul2009 227 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Português P1 e P2 2 de Matemática M1 e M2 2 de História H1 e H2 2 de Geografia G1 e G2 1 de Educação Física F1 1 de Educação Artística A1 e 2 de Ciências C1 e C2 com idades variando de 25 a 56 anos e com tempo de serviço no magistério de 5 a 35 anos Os dados foram coletados mediante entrevista semiestruturada com um roteiro contendo dois blocos de questões O primeiro se referia à imagem de ser professor e à autoimagem de cada participante como tal O segundo buscava saber o que incomodadificulta o trabalho em sala de aula ou fora dela se os professores se encontravam em crise e qual o seu centro e determinantes As entrevistas foram gravadas com a devida autorização e transcritas pela pesquisadora de modo literal O procedimento seguiu os princípios do método clínico piagetiano o que permitiu explorar com certa profundidade o que pensam os professores a respeito do tema em questão Lembramos que o foco da entrevista clínica é a forma de pensamento do entrevistado e desse modo o roteiro de entrevista não segue uma sequência fixa de questões privilegiando o ritmo e a ordenação sugerida pelas respostas do entrevistado A análise dos dados foi eminentemente qualitativa Inicialmente foram agrupadas em categorias as respostas semelhantes e em seguida conforme a questão as categorias foram hierarquizadas em níveis distintos Os critérios de análise serão detalhados adiante juntamente com os resultados obtidos As respostas foram também submetidas à análise quantitativa quando procedemos à tabulação de frequências absoluta e porcentual de cada categoria com porcentagens calculadas pelo número de professores ou seja 100 equivalendo a 12 professores Volume 2 Número 3 JanJul2009 228 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Ser professor e suas imagens No primeiro eixo de análise questionamos os professores sobre sua função imagens que eles têm de si mesmos como profissionais da educação e valor de um professor na atualidade A função do professor como afirma Gimeno Sacristán 1991 encontrase em permanente elaboração e depende diretamente das relações e dos contextos sociais nos quais a comunidade docente se encontra A dificuldade de definição das atribuições do professor acaba por levar à incorporação de uma multiplicidade de tarefas que muitas vezes ultrapassam a função docente fugindo de seu alcance e caracterizando atividades próprias de profissões ou ocupações distintas das do magistério Todo esse contexto como salientam Esteve 1999 e Lourencetti 2004 dificulta e emperra o trabalho e o ânimo dos professores o que consequentemente interfere na imagem que eles próprios e a sociedade possuem do profissional docente Na questão sobre O que é ser professor as respostas variaram entre os que acreditam que ser professor é transmitir conhecimentos com seis depoimentos G1 H2 A1 H1 G2 F1 50 e os que apontam ser necessário ter consciência de seu papel e de sua responsabilidade para com os alunos com depoimentos de quatro professores P1 P2 H2 C2 333 São exemplos de depoimentos dessas categorias Ah eu não tenho assim muitas ilusões não eu acho que ser professor hoje em dia é conseguir passar o conteúdo alguns valores mas o sistema torna a gente um simples transmissor de conhecimento não tá dando para ser professor G1 É você saber valorizar aquela pessoa que você tá conduzindo você tem que ter consciência de que você tem alunos que precisam de você para saber determinados conhecimentos que só vai ter com você Eu acho que ser professor é você ter consciência da responsabilidade de ser professor H2 Volume 2 Número 3 JanJul2009 229 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Segundo um dos entrevistados C1 para ser professor é preciso cumprir tarefas diversificadas inclusive que não são próprias da profissão para outro tratase de uma profissão diferenciada M2 Eu acho que ser professor é ser muitas coisas é ser um profissional é ser um parente é ser um amigo porque acaba ficando muito tempo com a criança você não é só um profissional você acaba sendo uma parte do da continuação da família da criança Acho que ser professor é muito mais que ser só um profissional cumprir uma tarefa C1 Olha eu gosto muito do que eu faço acho que é muito gratificante eu sei lá primeiro lugar é uma profissão sem dúvida é uma profissão que é diferente de ser um advogado por exemplo porque você dá de você direto para pessoas você tem de ficar ali direto do lado dos alunos pra tentar passar pros alunos o que você sabe é uma profissão sem dúvida mas é um negócio muito gratificante M2 Percebemos em alguns depoimentos que a identidade profissional se apresenta confusa Ou será que ser professor é realmente cumprir tarefas diversificadas tal como atuar como parente amigo parte da família Para ser professor é preciso se sentir gratificado ou ver o progresso dos alunos Estes são elementos essenciais à profissionalidade docente Considerações feitas por Cunha 1998 e Hypolito 1998 apontam a existência de uma dificuldade histórica na constituição da profissionalização docente Isso nos levaria a pensar que a questão de ser professor de se tornar professor envolve uma série de atributos que nem sempre são facilitados pelas políticas públicas educacionais que também nem sempre visam à constituição da docência como uma profissão realmente Afirmarse como profissional é um sonho almejado há muito pelos professores Quando questionamos se qualquer pessoa poderia ser professor as respostas foram negativas com exceção de um deles mas que recorre à mesma explicação encontrada nas respostas negativas Seis professores M2 P2 C2 G2 H1 F1 50 afirmaram que tem que ter formação Cinco ou 416 F1 G1 H2 A1 M1 relataram que tem que gostar Volume 2 Número 3 JanJul2009 230 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 da profissão Quatro P1 P2 H2 M1 333 disseram que é necessário ter dom para ser professor Pode é pode se você receber formação H1 Eu acredito que não E acho que o equívoco reside nesta questão mesmo O professor é uma pessoa que precisa ser capacitada para o ofício de ensinar A ele devem ser dadas ensinadas teorias que fundamentem a sua prática Ele precisa ser formado na íntegra Tudo é essencial Além da teoria muita prática P2 Olha eu acho que para ser professor tem que gostar muito da profissão porque se a pessoa não gosta da profissão ela não vai fazer aquele trabalho com carinho e amor ela vai deixar tudo de qualquer jeito Não é QUALQUER pessoa não teria que gostar da educação ter dom A1 Para dois professores 167 é necessário ter paciência G2 G1 e ainda um único entrevistado 83 afirma que é preciso ter consciência C1 para ser educador Percebemos em certos casos que faz parte do imaginário docente a imagem de professor abnegado aquele que professa algo Brzezinski 2002 p 16 também ressalta que a profissão professor se mantém associada à idéia de fé de sacerdócio a vocação para ser professor diz respeito à dedicação e abnegação ao apostolado e segundo a autora tal concepção condiz com o imaginário social que relaciona a profissão professor com a fé como um chamado para prestar um serviço ao bem comum Talvez isso explique o fato de tais concepções permearem as afirmações de nossos participantes de que qualquer um pode ser professor desde que tenha dom ou paciência pois estas são características essenciais para uma profissão que se respalde na abnegação na fé e na dedicação ao bem comum Quando questionamos que imagem cada um teria de si próprio como professor apareceram basicamente cinco imagens sendo elas Volume 2 Número 3 JanJul2009 231 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Professoramigo segundo cinco professores C1 C2 P2 H1 G1 416 para ter uma boa imagem os professores têm que ter um bom relacionamento com os alunos que os mesmos gostem deles e ainda devem saber lidar com adolescentes A imagem que eu faço de mim é a imagem que eu percebo que os alunos representam pra mim como alguém muito fácil de fácil acesso Uma pessoa educada é eu não altero a voz eu procuro ser bem próxima a eles ser amiga divertida eu gosto de ser muito divertida eu acho que eles me vêem como uma amiga como um ser humano P2 Professor dedicado quatro entrevistados 333 M2 A1 P1 P2 entendem que possuem uma imagem de professor amoroso maternal Exemplo Primeiro eu achava que eu era muito enérgica meio carrasca hoje eu mudei Porque depois que eu casei tive filhos passei a ver as coisas de uma outra forma M2 Professorcompetente ainda quatro professores 333 indicam uma imagem de professor que domina o conteúdo C1 M1 H2 G2 Eu me acho uma pessoa competente e para você ser professor você tem que se interessar e ser muito interessado e tem que tentar se renovar sempre se atualizar H2 Professor menteabertaconsciente também para 333 dos entrevistados a autoimagem é daquele que se atualiza reconhece erros procura melhorar tem a mente aberta C2 P1 H1 H2 Eu procuro fazer o melhor sempre me dediquei bastante tenho muitas falhas procuro ter autocrítica para observar essas falhas e tentar corrigir mas a gente não consegue ser perfeito então eu procuro sempre melhorar observar onde eu tô falhando tentar consertar modificar P1 Professormodelo Apenas um dos professores 83 afirma que para ter uma boa imagem tem que dar exemplo para o aluno F1 Volume 2 Número 3 JanJul2009 232 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Eu acho que tenho uma imagem boa tento fazer o melhor de mim passar o que eu sei levar uma vida saudável que no caso da Educação Física eu tenho que saber lidar com isso praticar atividade física ser coerente com a minha profissão entendeu Tem muito professor de Educação Física que não se cuida vai na escola por ir eu cultivo o que eu ensino para eles na minha casa na minha família F1 Os depoimentos que sugerem uma ligação entre o instinto amoroso e maternal e a própria imagem de professor dedicado são sem dúvida imagens recorrentes no senso comum Segundo Arroyo 2000 essa imagem de devotamento é algo histórico pois os professores do Ensino Fundamental 5ª a 8ª séries trazem resquícios de um ciclo que tinha e continuou a ter como função intermediar a educação primária à formação universitária criandose portanto um vácuo de um saber profissional capaz de dar conta da educação e da formação cognitiva ética estética cultural etc da adolescência e da juventude p 31 Questionamos também qual o valor de um professor nos dias atuais e foi possível agrupar as respostas em três categorias distintas Para sete entrevistados F1 M2 P1 G1 H1 H2 M1 583 o professor atualmente tem muito pouco valor ou é desvalorizado três deles P2 A1 C2 25 acham que o professor não tem nenhum valor e ainda dois professores C1 G2 167 consideram que o professor tem seu valor mas não é reconhecido Exemplos Hoje em dia acho que professor não tem mais valor não sabe antigamente se respeitava pai e mãe acatava decisões hoje em dia eles não dão valor sabe tá muito desvalorizada tanto financeiramente como em termos de educação F1 Nenhum porque tá relacionado também com o quanto você ganha como é a sua vida porque a sociedade hoje se baseia por quem tem não quem é e o professor geralmente não tem a não ser que ele tenha tido a sorte de ganhar um carro uma casa ou casado com uma pessoa bem de vida então eu já tive épocas em que eu tive vergonha P2 Ai coitados eu não sei eu acho que o professor tem um valor muito grande mas ele não é reconhecido nos dias de hoje apesar de Volume 2 Número 3 JanJul2009 233 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 continuarem se formando muitas pessoas continuarem lutando pelas vagas nas universidades Agora essa imagem ela acaba não sendo boa C1 É necessário salientar o que os participantes entendem por valor Para um deles C1 o valor do professor tem correspondência direta com o fator financeiro com o fato de ele ser mal pago dois A1 F1 apelam para o aspecto educativo quatro P1 P2 G1 H2 para o profissional dois M2 H1 acreditam que moralmente respeito dos alunos o valor é pouco e finalmente para cinco deles M1 M2 P1 H1 G2 a desvalorização tem caráter social Percebemos então que para uma boa parte dos professores a desvalorização docente é predominantemente social O mesmo é legitimado por Esteve 1999 quando ressalta que a imagem pública do professor é que acaba por ser responsável por sua importância profissional Na realidade é de acordo com a avaliação que fazem de nós que acabamos por nos definir pois a valorização de uma categoria profissional é diretamente ligada à imagem veiculada socialmente A tomada de consciência da crise de identidade docente A maneira como uma dada profissão é vista externamente como ela é situada pública e socialmente tem um peso considerável No caso do Magistério a desvalorização social é atrelada ao fato de que atualmente o professor não é mais apenas o único detentor de informações e por isso ora é visto como um membro social importante ora não Com relação à desvalorização política podemos ressaltar que embora os professores formem uma categoria esta não possui força suficiente para mudar a situação em que se encontram Consideramos que toda esta situação também se reflete na identidade do professor resultando em uma crise de identidade profissional Esta crise diz respeito ao modo como os professores se veem e como são vistos Volume 2 Número 3 JanJul2009 234 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 pelos outros diz respeito ao próprio trabalho ao valor social que possuem ou não a seus saberes e à sua competência para ensinar É uma crise que confunde os papéis próprios à profissão docente fazendo com que o professor concorde em realizar tarefas que o desviam de sua função de ensinar Nossa análise mostrou que a tomada de consciência da crise de identidade profissional ocorre em certos níveis Algumas respostas se centram na periferia da crise vivida pelos professores ao focalizar elementos e fatores mais imediatos e aparentes da situação apresentada Outras respostas superam esse imediatismo na direção do que é central à identidade docente quando salientam o menos imediato e aparente tais como o sentimento de pertencimento a uma dada profissão que depende do contexto histórico no qual o indivíduo vive como ressalta Vianna 1999 a importância da imagem e da autoimagem da profissão ARROYO 2000 GIDDENS 2002 a presença de saberes específicos angústias e anseios do professor e suas relações com outros profissionais da categoria GAUTHIER et al 1998 PIMENTA 1997 TARDIF 2002 Este critério constituiu o fundamento para o estabelecimento de três níveis distintos de tomada de consciência da crise de identidade profissional docente descritos a seguir Classificamos no nível I Consciência elementar ou periférica da crise de identidade profissional respostas que se centravam em elementos periféricos da situação apresentada PIAGET 1977 O nível intermediário II Consciência incipiente da crise de identidade profissional ficou reservado aos depoimentos que apresentaram traços característicos dos níveis I e III simultaneamente na mesma questão quando as duas categorias centralperiférico aparecem com o mesmo peso de forma ambígua ou confusa Volume 2 Número 3 JanJul2009 235 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Por fim foram classificados no nível III Consciência refletida da crise de identidade profissional depoimentos que se ativeram aos elementos centrais das questões colocadas ou seja à consciência do como e do porquê da situação e dos seus resultados processo que ocorre por meio da abstração reflexionante PIAGET 1977 1978 Lembramos que a classificação em elementos centrais e periféricos não pode ser generalizada e diz respeito a certa situação Assim o que é central em certa situação pode se revelar como periférico em outra Os níveis de consciência dos professores em cada questão são definidos como segue Os depoimentos foram transcritos na íntegra e se encontram em itálico 1 A primeira questão sobre a tomada de consciência da crise de identidade profissional indagava ao professor O que incomoda ou dificulta a realização do seu trabalho seja dentro ou fora da sala de aula Para esta questão obtivemos os seguintes resultados Nível I Este nível ficou reservado aos cinco 417 professores M2 P1 P2 H2 F1 que se centraram em aspectos mais imediatos e aparentes da situação tais como indisciplina dos alunos ausência da família ausência de recursos materiais físicos da escola falhas da direção Entendemos que tais elementos são periféricos na questão pois apesar de dificultar a tarefa do professor não são determinantes do seu trabalho e atuam no aqui e agora Por exemplo Eu acho que fora da sala de aula é muita burocracia e dentro da sala de aula hoje eu acho que é comportamento disciplina de aluno é o que mais atrapalha P1 Indisciplina incomoda demais falta de vontade de o aluno aprender incomoda muito desinteresse acho que é uma coisa assim familiar a criança não tem interesse porque pai e mãe não cobra culpa dos pais e essa indisciplina dificulta meu trabalho M2 Volume 2 Número 3 JanJul2009 236 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Nível II Quatro professores C1 C2 M1 H1 apresentaram respostas ambíguas 333 baseadas em elementos centrais e periféricos ao mesmo tempo como por exemplo diretor amigo periféricoespírito corporativo central desinteresse dos alunos periféricomá remuneração central desinteresse dos alunos periféricosaberes central Exemplos Eu acho que muitas vezes não tem um comprometimento com a escola eles professores acabam apenas dando seus 50 minutos de aula e se esquecendo que tem outras atividades dentro da escola Acho que o diretor poderia ser mais amigo digamos assim mais companheiro eu acho que às vezes essa falta de coleguismo que existe Por que acontece Eu acho que hoje as pessoas vivem meio individualista pensam muito nelas elas têm os problemas particulares C1 O salário risos o baixo salário esse baixo salário me obriga a dar muitas aulas então eu dou muitas aulas eu tenho menos tempo para preparar essas aulas O que dificulta os alunos que não estão interessados em aprender que não tem cultura alguma que chegam para a escola muito cru é uma dificuldade imensa de você tentar fazer alguma coisa diferente e eles não responderem eles não querem eles não querem fazer Por que isso acontece Porque o Estado não investe de maneira adequada na educação a preocupação não é com a qualidade mas com a quantidade então isso tudo cria todo um sistema de desvalorização do trabalho docente H1 Nível III Depoimentos de três entrevistados G1 G2 A1 25 se basearam em elementos menos aparentes e mais centrais às reais dificuldades do professor desvalorização do trabalho docente políticas públicas educacionais exigências sociais saberes e espírito corporativo sempre tendo como interesse maior a afirmação da identidade Exemplos Baixos salários jornada estafante salas lotadas legislação absurda etc Porque existe um grande interesse das elites nacionais e internacionais em deixar o povo brasileiro cada vez mais idiota sem instrução para que eles possam comandar e roubar como vem se fazendo hoje Povo instruído reivindica seus direitos G1 Bem o que mais me incomoda é o fato de as leis mudarem constantemente e as teorias pedagógicas que temos que acatar só porque estão na moda Isso sem falar nas condições de trabalho que muitas vezes são péssimas G2 Volume 2 Número 3 JanJul2009 237 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 2 Perguntamos diretamente se os professores vivem ou não uma crise de identidade profissional qual o seu centro e suas causas e foi possível perceber mais precisamente os níveis de tomada de consciência Nível I Neste nível predominaram respostas vagas ou respostas que não apresentavam argumentações sobre sua avaliação Dois professores 167 M1 F1 focalizaram além disso uma crise pessoal existencial e não profissional quanto ao centro e às causas da crise referiramse ao cotidiano ou a tudo e a todos à falta de estrutura material falta de interesse dos alunos a ausência da família ou ainda apresentando respostas vagas Por exemplo Eu não diria crise crise existencial eu tô desde que eu nasci há 57 anos Você vê pessoas descontentes algumas estão em crise Qual o centro da crise A crise que o professor passa hoje é a crise de todo mundo não é diferente Ela se refere à preocupação com a vida com os filhos à situação do país você liga TV só vê corrupção o pai que ganha salário mínimo A crise é uma crise social é da sociedade como um todo e o indivíduo é coparticipante dessa crise O que causa Nos comportamos como os remadores na galera do Império Romano a gente não sabe exatamente aonde vai É um período negro o pessoal tem medo medo de ser assaltado de enfrentar tomar posição acaba atrapalhando a escola Interferiram na crise as reformas Para mim não mas para os outros professores acredito que sim porque eles não entenderam a progressão continuada e ficam martirizados com isso M1 Nível II Quatro entrevistados 333 C1 P1 G1 A1 apresentaram algumas confusões entre elementos centrais e periféricos como por exemplo a democratização do ensino e a falta de material assim como o desinteresse dos alunos as crianças não gostam da escola como sendo os motivos centrais da crise e ao mesmo tempo se preocupavam com a formação dos professores a má remuneração a questão da saúde dos professores e o sistema Eu não porque eu não crio falsas expectativas mas quem cria está em crise profunda Qual o centro dessa crise Tudo tá errado O sistema é absurdo ele é feito pras crianças não gostarem da escola não tem como Você acha que é o sistema que causa essa crise É Volume 2 Número 3 JanJul2009 238 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 por exemplo a criança tem vocação para música não se ensina música na escola a criança gosta de Educação Física são apenas 2 aulas por semana a criança gosta de Inglês a mesma coisa Não se trabalha aquilo que a criança gosta todo mundo tem que ser igual As reformas interferem Ah sim estão todos equivocados e contribuíram para piorar mais a situação a progressão continuada é um absurdo sem precedentes é aprovação automática só que é uma aprovação automática que vai reprovar o aluno na vida eles não vão ser reprovados na escola mas vão sair daqui semianalfabetos e vão quebrar a cara lá fora no mercado de trabalho G1 Nível III Seis entrevistados 50 C2 M2 P2 G2 H1 H2 perceberam a crise em seus elementos centrais a má remuneração a formação dos professores a desvalorização do magistério as condições sociais do contexto brasileiro e a saúde mental dos profissionais da educação Perguntados sobre as causas dessa crise os professores indicam fatores semelhantes má formação desprestígio social e econômico má remuneração sistema de ensino políticas e condições sociais condições emocionais saúde do professor afirmaram também que as reformas interferem na crise de identidade docente Por exemplo Sim eu acho que sei lá Acho que estamos sim E qual seria o centro dela Olha o centro é a má distribuição das verbas públicas e aí somos mal remunerados não temos apoio para a realização de muitas de nossas tarefas E as causas As causas são a falta de incentivo dos órgãos públicos seu descaso para com a educação fora a situação social e econômica da sociedade brasileira E as reformas interferem na crise do professor Acho que sim principalmente a progressão continuada teve um impacto muito grande em nosso trabalho ficamos de mãos atadas G2 As duas crises da profissão de Magistério e da identidade profissional docente muitas vezes são confundidas como se fossem a mesma coisa Mas consideramos que para que se instale uma crise de identidade profissional a profissão docente não precisa estar necessariamente em crise pois a identidade profissional implica a existência de elementos subjetivos além daqueles próprios da profissão em questão Desse modo não se pode confundir os dois tipos de crise embora a crise na profissão possa interferir na identidade do professor Volume 2 Número 3 JanJul2009 239 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 Obviamente pode haver uma crise na profissão docente mas o professor pode não passar por nenhum conflito interno com relação à profissão que exerce e como a exerce Entretanto a crise na profissão se apresenta como um pano de fundo profundamente contagiante para uma crise também da identidade pois se a profissão não se encontra em crise os profissionais que a exercem podem atuar com maior tranquilidade Digamos que a crise do Magistério aumenta as chances de uma crise de identidade Tendo em vista os diferentes níveis de consciência fica claro que alguns professores percebem melhor que outros o que ocorre com a profissão e com a própria identidade O que nos mostra também que esses professores parecem não refletir também no sentido atribuído por Piaget sobre os reais problemas que interferem em seu dia a dia Pois para Piaget quando tomamos consciência não basta expor o que achamos que resolva os problemas mas precisamos refletir sobre como e por que se chegou ou não a tal resultado Considerações finais Podemos concluir que assim como a bibliografia educacional vem afirmando os professores se encontram em uma crise profissional e também em uma crise de identidade mantendo estas uma relação estreita com limites muito tênues entre os aspectos que as caracterizam Mas consideramos que nem sempre a crise de identidade é percebida pelos professores em seus aspectos centrais e em seus determinantes Tal como encontrado por Piaget 1978 no âmbito da ação a tomada de consciência da crise da profissão e da identidade se processa em níveis distintos O nível que apareceu predominantemente foi o intermediário um nível em que os professores na maioria das questões apresentam respostas ambíguas e confusas com relação aos elementos centrais e periféricos da consciência da identidade profissional Muitos professores não conseguem perceber o motivo central pelo qual se sentem incomodados ou que dificulta o próprio trabalho As reais causas da Volume 2 Número 3 JanJul2009 240 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 dificuldade e da crise ficam perdidas em meio às atribulações do cotidiano escolar Assim como os professores se mostraram confusos em muitos aspectos em muitos momentos deixaram surgir alguém com a profissionalidade abalada mal definida com uma autoimagem pouco expressiva e desvalorizada sem espírito de corpo entre seus pares comprometendo assim sua identidade Diante do processo de desvalorização profissional do professor e da eventual crise educacional que parece ser evidente nos dias atuais afirmar a identidade profissional docente pode contribuir para mudar este quadro e buscar melhores condições de trabalho para essa categoria O professor necessita de uma definição mais precisa de sua identidade profissional para se afirmar perante o ensino e até mesmo perante a categoria docente propriamente dita Um professor que reconhece e tem consciência do seu papel desempenha seu trabalho com maior segurança desenvoltura autonomia e pode assim desenvolver práticas pedagógicas mais criativas e de qualidade Sem dúvida este é o nosso maior desejo Referências ARROYO M G Ofício de Mestre imagens e autoimagens Petrópolis RJ Vozes 2000 BRZEZINSKI I Org Profissão professor identidade e profissionalização docente Brasília DF Editora Plano 2002 CHAKUR C R de S L Desenvolvimento profissional docente contribuições de uma leitura piagetiana Araraquara JM Editora 2001 CUNHA M I Profissionalização docente contradições e perspectivas In VEIGA I P A CUNHA M I da Org Desmistificando a profissionalização do magistério Campinas SP Papirus 1999 p 127147 ESTEVE J H Mudanças sociais e função docente In NÓVOA A Org Profissão professor 2 ed Porto Porto Editora 1995 p 95124 Volume 2 Número 3 JanJul2009 241 wwwmariliaunespbrscheme ISSN 19841655 ESTEVE J H O malestar docente a sala de aula e a saúde dos professores São Paulo EDUSC 1999 GAUTHIER C et al Por uma teoria da Pedagogia pesquisas contemporâneas sobre o saber docente Ijuí Ed Unijuí 1998 GIDDENS A Modernidade e identidade Rio de Janeiro Zahar 2002 GIMENO SACRISTÁN J Consciência e acção sobre a prática como libertação profissional dos professores In NÓVOA A Profissão Professor Porto Porto Ed 1991 p 6192 HIPOLYTO A M Trabalho docente e profissionalização sonho prometido ou sonho negado In VEIGA I P A CUNHA M I da Org Desmistificando a profissionalização do magistério Campinas SP Papirus 1999 p 81100 LOURENCETTI G C Mudanças sociais e reformas educacionais repercussões no trabalho docente 2004 Tese Doutorado em Educação Escolar Faculdade de Ciências e Letras Universidade Estadual Paulista Araraquara 2004 MOGONE J A De alunas a professoras analisando o processo da construção inicial da docência 2001 Dissertação Mestrado em Educação Escolar Faculdade de Ciências e Letras Universidade Estadual Paulista Araraquara 2001 NACARATO et al O cotidiano do trabalho docente palco bastidores e trabalho invisível abrindo as cortinas In GERALDI C M G FIORENTINI D PEREIRA E M de A Org Cartografias do trabalho docente professora pesquisadora Campinas Mercado das Letras 2000 PIAGET J Problemas de psicologia genética Rio de Janeiro Forense 1973 PIAGET J A tomada de consciência São Paulo Melhoramentos 1977 PIAGET J Fazer e compreender São Paulo Melhoramentos 1978 PIMENTA S G Formação de Professores Saberes da Docência e Identidade do Professor Nuances v III Presidente Prudente 1997 p 0514 TARDIF M Saberes docentes e formação profissional Rio de janeiro Vozes 2002 VIANNA C Os nós do nós crise e perspectiva da ação coletiva docente em São Paulo São Paulo Xamã 1999 Recebido em 12 de outubro de 2009 Aprovado em 21 de outubro de 2009 ATV ATIVIDADE PRÁTICA PRÁTICAS PEDAGÓGICAS IDENTIDADE DOCENTE Olá estudante Neste momento você realizará uma atividade prática relacionada a uma reflexão da atuação do professor Objetivo Refletir sobre a importância da prática do professor e a construção da identidade docente Situaçãoproblema Imagine que você é um professor dedicado imerso na dinâmica desafiadora da educação básica contemporânea Diante de uma diversidade crescente de alunos oriundos de diferentes contextos culturais e socioeconômicos você se vê diante de um complexo desafio a conciliação entre a preservação dos valores tradicionais e a necessidade de adaptação às demandas contemporâneas A busca por uma identidade docente autêntica que respeite a diversidade cultural dos alunos integre tecnologias emergentes e promova práticas pedagógicas inovadoras tornase um dilema para muitos educadores Como construir uma identidade que preserve a essência do papel do educador ao mesmo tempo que abraça a evolução constante do cenário educacional A reflexão sobre este desafio tornase crucial para promover uma prática docente que seja tanto enraizada em valores fundamentais quanto capaz de inspirar e capacitar os estudantes para os desafios complexos do mundo contemporâneo Passo 1 Para elaborar a atividade você precisará 1 Refeltir sobre a charge a seguir Disponivel em httpsblogscorreiobraziliensecombraricunhaprofissaoprofessor 2 Ler os textos propostos ATV ATIVIDADE PRÁTICA Texto 1 DA SILVA E P CHAKUR C R de S L A Tomada de Consciência da Crise de Identidade Profissional em Professores do Ensino Fundamental 1 Schème Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas 2009 Disponível em httpswwwmariliaunespbrHomeRevistasEletronicasSchemeVol02Num03Art05pdf Acesso em 12 de Dez 2023 Texto2 LOMBA Maria Lúcia Resende FARIA FILHO Luciano Mendes Os professores e sua formação profissional entrevista com António Nóvoa Educar em Revista Sl dez 2022 ISSN 19840411 Disponível em httpsrevistasufprbreducararticleview8822248158 Acesso em 12 dez 2023 Passo 2 Elaboração do trabalho para postagem no AVA contendo 1 Capa da Instituição conforme orientação disponível na biblioteca virtual 2 Desenvolvimento Texto dissertativo contendo uma análise crítica dos textos 1 e 2 elencados no passo 1 que contemplam a construção da identidade docente na contemporaneidade A análise crítica compreende uma avaliação clara e fundamentada da validade de uma assertiva por meio da análise dos argumentos que a sustentam Uma avaliação fundamentada incorpora elementos presentes no texto desenvolvido e recorre a conhecimentos externos bastante aceitos ou demonstrados no próprio texto 3 Considerações finais para a finalização do texto você deve retomar a pergunta da charge presente no passo 1 apresentando seu posicionamento sobre o tema Identidade Docente NORMAS PARA ENTREGA DA ATIVIDADE PRÁTICA Você deverá postar seu trabalho final no AVA na pasta específica relacionada à atividade prática obedecendo o prazo limite de postagem conforme disposto no AVA O trabalho deve ser enviado em formato Word ou PDF em um ARQUIVO ÚNICO de até 10 MB O sistema permite anexar apenas um arquivo Caso haja mais de uma postagem será considerada a última versão IMPORTANTE A entrega da atividade de acordo com a proposta solicitada é um critério de aprovação na disciplina Não há prorrogação para a postagem da atividade Aproveite essa oportunidade para aprofundar ainda mais seus conhecimentos Bons estudos Portfolio Individual Práticas Pedagógicas Identidade Docente Informações adicionais Realização 05082024 0000 a 02112024 2359 Correção 05082024 0000 a 22112024 2359 Recuperação 23112024 0000 a 30112024 2359 Correção recuperação 23112024 0000 a 13122024 2359 Arquivos Material Complementar 1 Material Complementar 2 Proposta Prática Pedagógica Enviar trabalho Orientação Extensões para envio serão permitidas somente nos formatos DOC DOCX e PDF Arquivo Escolher ficheiro Nenhum ficheiro selecionado 2159 quartafeira 30102024 1 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS IDENTIDADE DOCENTE Nos tempos atuais a construção da identidade docente apresentase como um desafio central para os professores em especial diante das mudanças culturais tecnológicas e sociais A charge apresentada que questiona o que faz um professor indica que mesmo em condições adversas a dedicação e a atitude do professor são diferenciais decisivos Esse contexto leva à reflexão sobre o papel fundamental do professor na educação e sua resiliência diante das dificuldades apontando para uma crise de identidade docente tema amplamente abordado nos textos estudados No Texto 1 Silva e Chakur 2009 discutem a crise de identidade profissional dos professores do Ensino Fundamental Eles investigam o nível de consciência dos professores sobre essa crise dividindoo em três níveis hierárquicos No nível mais superficial os professores reconhecem apenas os aspectos periféricos da crise como a falta de recursos e a indisciplina dos alunos enquanto o nível mais profundo revela uma consciência crítica sobre as questões estruturais da profissão como a desvalorização docente e as condições de trabalho A teoria de Piaget utilizada como base ajuda a compreender que essa tomada de consciência não ocorre de forma súbita mas evolui gradualmente à medida que o professor reflete sobre os fatores centrais que moldam sua profissão e sua identidade Por outro lado no Texto 2 António Nóvoa explora a importância da formação contínua e do autoconhecimento para a construção de uma identidade docente sólida Ele defende que a profissão docente não pode se basear apenas em conhecimentos teóricos é necessário um conhecimento profissional coletivo que inclua experiências práticas e reflexões coletivas sobre o papel do professor Nóvoa argumenta que os professores devem ter voz ativa e ocupar espaços que possibilitem essa reflexão e o desenvolvimento de uma identidade profissional mais integrada e autônoma Para ele o docente deve ser visto como um produtor de conhecimento e não apenas como um transmissor de conteúdo Ao cruzar essas perspectivas percebese que a identidade docente é profundamente afetada tanto por fatores externos como políticas públicas inadequadas e falta de reconhecimento social quanto por fatores internos como a autoimagem do professor e sua capacidade de refletir sobre seu papel na 2 sociedade A charge que sugere que a diferença está no próprio professor conectase a essas ideias ao destacar que mesmo diante de obstáculos o educador que se empenha e busca entender o impacto de sua prática pode superar as dificuldades e contribuir de forma significativa para a formação dos alunos Essa análise aponta para a necessidade de repensar a formação docente e as condições de trabalho dos professores Como sugerido por Nóvoa uma casa comum da formação e da profissão poderia ajudar a reduzir a lacuna entre teoria e prática proporcionando aos professores um ambiente onde pudessem desenvolver sua identidade profissional de forma colaborativa Além disso a crise de identidade discutida por Silva e Chakur revela que é preciso fortalecer a autoestima dos docentes reconhecendoos como peçaschave na construção de uma sociedade mais justa e educada Considerações Finais A partir dos textos analisados e da reflexão proposta pela charge conclui se que a identidade docente não é apenas uma questão individual mas coletiva e estrutural A resiliência do professor sua capacidade de adaptação e a busca por autoconhecimento são essenciais mas devem ser amparadas por uma valorização real da profissão Ser professor é antes de tudo um compromisso com a formação humana e para isso é preciso que os educadores tenham as condições necessárias para exercer plenamente seu papel transformador