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ABORDAGEM DA ENFERMAGEM ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Aíssa Rodrigues Camila Leal Eva Nunes Flávio Siqueira dos Santos RGM 40167526 Palavraschave Violência contra a mulher Violência doméstica Atenção primária à saúde Enfermagem 1INTRODUÇÃO Delimitação do tema com embasamento teórico A violência doméstica contra a mulher é reconhecida como um grave problema de saúde pública de alcance global afetando diretamente a cidadania a qualidade de vida e os direitos humanos das vítimas Dados da Organização Mundial da Saúde OMS 2021 revelam que uma em cada três mulheres no mundo sofre algum tipo de violência sendo a praticada por parceiros íntimos uma das mais prevalentes No Brasil a Lei Maria da Penha Brasil 2006 representa um marco legal importante na proteção das mulheres propondo medidas preventivas punitivas e educativas De acordo com o Ministério da Saúde 2010 a Atenção Primária à Saúde APS ocupa um papel estratégico nesse enfrentamento por meio de uma abordagem integral escuta qualificada acolhimento e encaminhamento das vítimas à rede de proteção Formulação da questão problema Apesar dos avanços legais e institucionais os índices de violência contra a mulher permanecem elevados e os desafios no acolhimento e cuidado dessas vítimas ainda são evidentes na prática da enfermagem na APS De acordo com Rodrigues et al 2024 muitos enfermeiros enfrentam limitações quanto à capacitação específica sobre a abordagem da violência contra a mulher o que pode dificultar o reconhecimento de sinais não verbais da violência bem como a adoção de condutas seguras e humanizadas pensamento corroborado por Amarijo et al 2018 Ao prestar o cuidado a enfermagem necessita olhar além do fato ou da queixa apresentada pensar sobre os fatores macrossômicos que podem desencadear a violência e direcionar as suas ações de cuidado à pessoa considerando as suas especificidades e singularidades Amarijo et al 2018 p 6 No âmbito do Sistema Único de Saúde SUS observase que as mulheres são as principais usuárias dos serviços seja em busca de atendimento para si mesmas ou para pessoas de sua convivência como familiares e amigos Brasil 2004 A APS nesse cenário é reconhecida como a principal porta de entrada e eixo central da organização dos serviços de saúde no país sendo o primeiro ponto de contato entre os usuários e o sistema Brasil 2012 Diante disso a APS se configura como um espaço estratégico para a prevenção identificação e acolhimento de mulheres em situação de violência doméstica Para Ferreira et al 2021 é fundamental que os profissionais atuantes nesse nível de atenção reconheçam a importância de oferecer um cuidado integral e humanizado ampliando o olhar para além da queixa imediata apresentada de modo a compreender a complexidade das demandas que envolvem a vivência da violência Justificativa 1 parágrafo Essa pesquisa é justificada diante do cenário violento vivido por muitas mulheres em seus domicílios e que muitas vezes passam despercebidos pela ausência de investigação nos atendimentos e de declaração direta da violência Ao considerar que a Atenção Primária de Saúde é a porta de entrada dos serviços de saúde e que as mulheres a procuram por inúmeros motivos a APS tornase um ambiente propício para suspeita e investigação dessas situações Diante desse cenário este estudo busca responder à seguinte questão como os enfermeiros da Atenção Primária à Saúde vivenciam e respondem à violência doméstica contra as mulheres em seu cotidiano profissional Objetivos da pesquisa 2OBJETIVOS 21 Geral Identificar na literatura a ação da enfermagem na atenção primária de saúde com vítimas de violência contra a mulher 211 Específicos Identificar estratégias utilizadas por enfermeiros na APS para acolher mulheres em situação de violência doméstica Analisar as dificuldades relatadas pelos profissionais de enfermagem na identificação e encaminhamento dos casos 3METODOLOGIA 31 Tipo de pesquisa O presente estudo constituise em uma revisão bibliográfica e documental sobre a atuação da enfermagem no cuidado de vítimas de violência doméstica fazendo um levantamento de autores relevantes para este trabalho 32 Local da pesquisa A coleta de dados no caso foi realizado uma pesquisa em bibliotecas eletrônicas como LILACS Sistema LatinoAmericano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde Portal de Períodicos da CAPES e Scielo Scientific Electronic Library Online durante o mês de maio de 2025 E para localizar os artigos e trabalhos sobre o tema foram usados os seguintes descritores violência contra a mulher violência doméstica atenção primária à saúde utilizando também os operadores lógicos OR e AND para refinar a pesquisa 33 Amostra critérios de inclusão e exclusão Foram incluídos no estudo artigos disponíveis na íntegra em português inglês e espanhol nos anos de 2010 a 2025 e que estejam circunscritos à temática abordada Foram excluídas teses dissertações e publicações que não se encaixam na pergunta de pesquisa A pesquisa foi realizada em três etapas principais sendo que a primeira etapa se constituiu de identificar os descritores controlados por meio de DeCS Descritores em Ciências da Saúde disponível na Biblioteca Virtual de Saúde BVS onde foram selecionados os descritores considerados relevantes para os objetivos do estudo Já na segunda etapa foi realizada a busca nas bases de dados mencionadas utilizando os descritores selecionados e delimitando o período de interesse entre os anos de 2021 e 2025 Por fim na última etapa foi feita uma análise crítica dos estudos encontrados sendo excluídos aqueles que não eram pertinentes aos critérios estabelecidos Para a seleção e análise dos artigos foi utilizado o instrumento desenvolvido por Souza Silva e Carvalho 2010 Onde este consiste na identificação do estudo da instituição sede de realização do estudo do tipo e publicação das características metodológicas e avaliação da precisão dos métodos utilizados 34 Aspectos Éticos Por se tratar de uma pesquisa do tipo revisão bibliográfica não há envolvimento direto de seres humanos o que dispensa a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa CEP conforme as diretrizes da Resolução CNS nº 5102016 No entanto foram respeitados os critérios éticos de fidedignidade autoria e integridade científica na seleção leitura e interpretação dos estudos REFERÊNCIAS AMARIJO Cristiane Lopes et al Assimilação teórica e prática da violência doméstica profissionais de enfermagem atendendo vítimas na atenção primária Rev enferm UERJ v 26 p e33874 2018 Acesso em 25 maio 2025 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrenfermagemuerjarticleview3387427758 BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher Princípios e Diretrizes Série C Projetos Programas e Relatórios Brasília 2011 BRASIL Lei nº 11340 de 7 de agosto de 2006 Lei Maria da Penha Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03ato200420062006leil11340htm BRASILMinistério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Política Nacional de Atenção Básica Série E Legislação em Saúde Brasília 2012 BRASIL Ministério da Saúde Conselho Nacional de Saúde Resolução nº 510 de 07 de abril de 2016 FERREIRA M do R A B SOUZA K A B de Fonseca M C de C Ferreira V S C 2021 Violência doméstica contra a mulher no contexto da atenção primária à saúde revisão integrativa Domestic violence against women in the context of primary health care integrative review Brazilian Journal of Development 71 62866306 Disponível em httpsdoiorg1034117bjdv7n1427 MINISTÉRIO DA SAÚDE Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças adolescentes e suas famílias em situação de violência orientação para gestores e profissionais de saúde Brasília Ministério da Saúde 2010 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE Violência contra a mulher afeta uma em cada três no mundo ONU Brasil 2021 Disponível em httpsbrasilunorgptbr115652oms umaemcada3mulheresemtodoomundosofreviolC3AAncia Rodrigues PS Araújo LF Vernasque JRS Souza AP Alarcon MFS Higa EFR Marin MJS Violência doméstica contra as mulheres vivências dos profissionais da atenção primária a saúde Texto Contexto Enferm Internet 2024 Acesso em 25 maio 2025 33e20230403 Disponível em httpsdoiorg1015901980265XTCE20230403pt SOUZA Marcela Tavares de SILVA Michelly Dias da CARVALHO Rachel de Revisão integrativa o que é e como fazer Einstein São Paulo v 8 p 102106 2010 Orientadora Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Atuação da Enfermagem na Atenção Primária à Saúde Frente à Violência Doméstica Contra a Mulher Nursing Practice in Primary Health Care in Response to Domestic Violence Against Women Nome dos alunos ¹Discente Centro Universitário do Distrito Federal UDF Brasília DF Departamento de Enfermagem ²Docente Centro Universitário do Distrito Federal UDF Brasília DF Departamento de Enfermagem RESUMO Introdução A violência doméstica contra a mulher configura um grave problema de saúde pública demandando atuação efetiva da enfermagem na Atenção Primária à Saúde APS para identificação acolhimento e encaminhamento das vítimas Apesar das políticas públicas e legislações existentes a prática ainda enfrenta desafios que comprometem a integralidade do cuidado Objetivo Identificar e analisar as contribuições da enfermagem na APS no atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica Método Revisão integrativa da literatura com seleção de artigos publicados entre 2010 e 2025 nas bases LILACS SciELO e Portal CAPES utilizando descritores relacionados à violência contra a mulher e atenção primária à saúde Resultados Foram selecionados diversos estudos que evidenciam a importância da enfermagem na escuta qualificada acolhimento humanizado e articulação da rede de proteção Contudo destacamse dificuldades como falta de capacitação específica ausência de protocolos claros e fragilidade da rede de apoio Considerações Finais Embora existam políticas e normativas que orientam a atuação da enfermagem no enfrentamento da violência doméstica a efetividade do cuidado depende da capacitação continuada dos profissionais da implementação de protocolos e da articulação intersetorial O fortalecimento dessas estratégias é essencial para garantir um atendimento integral seguro e humanizado às vítimas na APS brasileira Palavraschave Violência contra a mulher Violência doméstica Atenção Primária à Saúde Enfermagem ABSTRACT Introduction Domestic violence against women is a serious public health issue that requires effective nursing action in Primary Health Care PHC for the identification reception and referral of victims Despite existing public policies and legislation practical implementation still faces challenges that compromise comprehensive care Objective To identify and analyze the contributions of nursing in PHC in assisting women victims of domestic violence Method Integrative literature review selecting articles published between 2010 and 2025 from the LILACS SciELO and CAPES databases using descriptors related to violence against women and primary health care Results Several studies were selected that highlight the importance of nursing in qualified listening humanized reception and coordination of the protection network However challenges such as lack of specific training absence of clear protocols and weaknesses in support networks were identified Final Considerations Although there are policies and guidelines that direct nursing care in the context of domestic violence the effectiveness of care depends on continuous professional training protocol implementation and intersectoral coordination Strengthening these strategies is essential to ensure comprehensive safe and humanized care for victims in Brazilian PHC services Keywords Violence against women Domestic violence Primary Health Care Nursing INTRODUÇÃO A violência doméstica contra a mulher constitui um fenômeno complexo multifacetado e de profundas implicações sociais culturais e de saúde pública Essa forma de violência transcende barreiras geográficas econômicas e educacionais manifestandose em diversas culturas e contextos familiares De acordo com a Organização Mundial da Saúde 2021 uma em cada três mulheres no mundo já sofreu violência física ou sexual em algum momento da vida sendo o parceiro íntimo o agressor mais comum Essa estatística alarmante evidencia a urgência de estratégias intersetoriais e integradas para a prevenção acolhimento e enfrentamento da violência de gênero No Brasil esse cenário é agravado por desigualdades históricas culturais e institucionais que perpetuam a naturalização da violência contra a mulher e dificultam sua visibilidade nos espaços formais de cuidado como os serviços de saúde A promulgação da Lei nº 113402006 conhecida como Lei Maria da Penha representou um marco jurídico no enfrentamento da violência doméstica no país ao estabelecer mecanismos de proteção às mulheres prever medidas protetivas e integrar diferentes esferas de atenção à vítima Contudo apesar dos avanços legais e normativos os índices de agressões feminicídios e subnotificações permanecem elevados Essa realidade demonstra que o aparato legal embora necessário é insuficiente quando não articulado com práticas de escuta acolhimento humanizado capacitação profissional e políticas públicas efetivas É nesse ponto que a área da saúde e em especial a Enfermagem se coloca como peçachave para o reconhecimento e a abordagem das situações de violência especialmente na Atenção Primária à Saúde APS porta de entrada do Sistema Único de Saúde SUS A APS tem como premissas a promoção da saúde a prevenção de agravos e o cuidado integral ao indivíduo em sua dimensão biopsicossocial o que inclui o enfrentamento da violência contra a mulher como uma de suas responsabilidades Essa instância por estar mais próxima da realidade cotidiana da população permite o estabelecimento de vínculos e o acompanhamento longitudinal das usuárias o que a torna um espaço privilegiado para a detecção precoce de situações de violência muitas vezes ocultas Segundo o Ministério da Saúde 2011 a Política Nacional de Atenção Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Integral à Saúde da Mulher reforça o papel da APS na identificação e encaminhamento adequado dos casos por meio de condutas sensíveis qualificadas e interdisciplinares Entretanto para que esse papel seja efetivamente cumprido é fundamental que os profissionais estejam capacitados e sensibilizados para atuar diante de um problema que com frequência se manifesta de forma velada subjetiva e fragmentada A Enfermagem como uma das profissões mais presentes na atenção básica especialmente por meio da Estratégia Saúde da Família assume protagonismo no cuidado às mulheres em situação de violência Os enfermeiros são muitas vezes o primeiro ponto de contato dessas mulheres com o sistema de saúde o que lhes confere uma posição estratégica para escutar identificar e intervir No entanto a literatura aponta que há desafios significativos enfrentados por esses profissionais como a falta de preparo técnico e emocional o desconhecimento da legislação a ausência de protocolos padronizados e o medo de represálias legais De acordo com Amarijo et al 2018 é necessário que os profissionais da Enfermagem desenvolvam uma escuta sensível e uma postura crítica frente aos sinais de violência mesmo quando não verbalizados de forma explícita considerando os determinantes sociais e culturais que envolvem a vida das usuárias Nesse contexto é imprescindível compreender que a violência doméstica não se restringe a atos físicos mas abrange violência psicológica sexual patrimonial e moral todas com impactos significativos sobre a saúde e o bemestar das mulheres A invisibilidade desses tipos de agressão especialmente quando naturalizados no cotidiano familiar dificulta sua identificação pelos profissionais de saúde Assim o cuidado de Enfermagem deve transcender o atendimento da queixa imediata e adotar uma abordagem ampliada que considere o histórico da paciente os comportamentos repetitivos de procura por atendimento o relato indireto de sofrimento e sinais clínicos não compatíveis com as explicações apresentadas Além disso a atuação do enfermeiro deve articularse à rede de proteção incluindo os serviços de assistência social psicologia justiça e segurança pública respeitando os princípios do sigilo da autonomia da paciente e da não revitimização Outro fator relevante é que as mulheres em situação de violência na maioria das vezes não se reconhecem como vítimas ou não se sentem seguras para relatar o Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida ocorrido seja por medo do agressor dependência econômica vergonha ou ausência de apoio social Isso reforça a importância da escuta ativa da empatia e da construção de um ambiente de confiança entre profissional e paciente Como apontam Ferreira et al 2021 a presença de vínculos sólidos entre a mulher e os profissionais da APS pode favorecer o relato da violência e a adesão aos encaminhamentos propostos Nesse sentido o cuidado integral pressupõe não apenas o acolhimento da dor física mas também a compreensão da dor subjetiva muitas vezes silenciada Ainda assim a prática cotidiana mostra que muitos profissionais da Enfermagem desconhecem as políticas públicas específicas sobre o tema ou se sentem despreparados para conduzir situações de violência doméstica o que contribui para a perpetuação do ciclo de violência e para a revitimização Além disso há fatores institucionais que dificultam a atuação como a ausência de fluxos claros falta de articulação com os serviços de referência sobrecarga de trabalho escassez de tempo nas consultas e carência de apoio psicológico ao profissional Diante disso o investimento em educação permanente o fortalecimento das redes de apoio e o empoderamento profissional tornam se estratégias indispensáveis para enfrentar essa problemática de forma ética responsável e eficaz Justificase portanto a realização deste estudo diante da persistência de altos índices de violência contra a mulher e da necessidade de compreender como os profissionais de Enfermagem da Atenção Primária vivenciam e respondem a essa realidade em seu cotidiano Este trabalho busca a partir de uma revisão bibliográfica atualizada identificar ações estratégias dificuldades e lacunas na atuação da Enfermagem frente à violência doméstica contra a mulher com o intuito de contribuir para o aprimoramento das práticas profissionais e para o fortalecimento das políticas públicas de enfrentamento A questão norteadora que se coloca é como os enfermeiros da Atenção Primária à Saúde vivenciam e respondem à violência doméstica contra as mulheres em seu cotidiano profissional MÉTODO Este trabalho consiste em uma pesquisa do tipo revisão bibliográfica de Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida abordagem qualitativa e caráter exploratório com o objetivo de reunir e analisar publicações científicas que tratam da atuação da Enfermagem frente à violência doméstica contra a mulher no contexto da Atenção Primária à Saúde APS A escolha pela revisão bibliográfica justificase pela necessidade de compreender como essa temática tem sido abordada na produção científica recente e quais estratégias desafios e lacunas são evidenciados pelos autores sobre a prática profissional dos enfermeiros nesse cenário A coleta de dados foi realizada no mês de maio de 2025 em bases de dados científicas reconhecidas incluindo a LILACS Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library Online e o Portal de Periódicos da CAPES considerando sua relevância para a área da saúde e da Enfermagem Os descritores utilizados para a busca foram violência contra a mulher violência doméstica atenção primária à saúde e enfermagem selecionados por meio dos Descritores em Ciências da Saúde DeCS Os termos foram combinados com os operadores booleanos AND e OR para refinar a pesquisa e obter resultados mais precisos Foram incluídos artigos disponíveis na íntegra publicados entre os anos de 2010 e 2025 nos idiomas português inglês ou espanhol e que abordassem diretamente a atuação da Enfermagem diante da violência doméstica na APS Foram excluídas teses dissertações trabalhos de conclusão de curso e artigos que não respondessem à pergunta da pesquisa ou que não apresentassem rigor metodológico A seleção foi feita por meio da leitura dos títulos resumos e posteriormente do texto completo considerando os critérios previamente estabelecidos Para sistematizar e organizar os dados extraídos dos artigos selecionados utilizou se o instrumento proposto por Souza Silva e Carvalho 2010 o qual permite analisar aspectos como o ano de publicação objetivo do estudo abordagem metodológica principais resultados e conclusões A análise dos dados foi realizada de forma descritiva com foco na identificação das estratégias adotadas pelos enfermeiros nas dificuldades relatadas e nas práticas de acolhimento e encaminhamento das mulheres em situação de violência Por se tratar de uma revisão bibliográfica esta pesquisa não envolveu seres humanos diretamente o que dispensa a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa CEP conforme disposto na Resolução nº 5102016 do Conselho Nacional de Saúde No Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida entanto foram respeitados todos os princípios éticos de fidedignidade integridade respeito à autoria e honestidade intelectual durante o levantamento análise e redação dos dados encontrados RESULTADOS A revisão bibliográfica resultou na seleção de 10 documentos relevantes entre artigos científicos documentos institucionais e normativos A análise dos textos permitiu identificar contribuições significativas para a compreensão da atuação da Enfermagem frente à violência doméstica no contexto da Atenção Primária à Saúde As produções foram organizadas de acordo com os critérios da pesquisa considerando os objetivos o tipo de investigação e os principais achados A Tabela 1 apresenta um resumo das publicações analisadas Tabela 1 Artigos e documentos selecionados na revisão bibliográfica Autor Título Objetivo Tipo de Pesquisa Resultados AMARIJO et al 2018 Assimilação teórica e prática da violência doméstica profissionais de enfermagem atendendo vítimas na atenção primária Analisar como os profissionais de enfermagem compreendem e lidam com a violência doméstica na APS Qualitativa descritiva Aponta fragilidade na formação dos profissionais insegurança no atendimento e desconhecimento de fluxos assistenciais FERREIRA et al 2021 Violência doméstica contra a mulher no contexto da atenção primária à saúde revisão integrativa Identificar e analisar publicações sobre violência doméstica na APS Revisão integrativa Evidencia carência de capacitação desarticulação entre serviços e baixa notificação dos casos RODRIGUES et al 2024 Violência doméstica contra as mulheres vivências dos profissionais da atenção primária à saúde Compreender as experiências dos profissionais diante da violência doméstica Qualitativa exploratória Identifica limitações técnicas emocionais e institucionais destaca o papel da escuta sensível e da empatia Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Autor Título Objetivo Tipo de Pesquisa Resultados SOUZA SILVA CARVALHO 2010 Revisão integrativa o que é e como fazer Apresentar metodologia para revisão integrativa em pesquisas qualitativas Metodológica Explica as etapas da revisão integrativa como ferramenta de sistematização científica BRASIL 2010 Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças adolescentes e suas famílias em situação de violência Orientar ações na rede de atenção à violência Documento técnico Estabelece diretrizes e fluxos de encaminhamento para profissionais de saúde BRASIL 2011 Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher Promover a saúde integral das mulheres no SUS Política pública Reforça o papel da APS na detecção precoce da violência e na articulação com a rede de proteção BRASIL 2012 Política Nacional de Atenção Básica Normatizar a organização da APS no SUS Documento normativo Define a APS como porta de entrada para situações de vulnerabilidade incluindo a violência doméstica BRASIL 2006 Lei nº 11340 Lei Maria da Penha Estabelecer medidas de prevenção e combate à violência doméstica Lei federal Cria mecanismos legais de proteção à mulher com foco na prevenção e responsabilização do agressor OMS 2021 Violência contra a mulher afeta uma em cada três no mundo Divulgar dados globais sobre violência de gênero Relatório institucional Destaca a alta prevalência da violência por parceiros íntimos e o papel do sistema de saúde na resposta BRASIL 2016 Resolução nº 510 do CNS Normatizar pesquisas em ciências humanas e sociais Norma ética Isenta revisões bibliográficas de submissão ao CEP mantendo a exigência de integridade científica Fonte próprio autor 2025 Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Esses dados reforçam a importância de compreender a complexidade do enfrentamento à violência doméstica nos serviços de saúde bem como a necessidade de fortalecer a atuação da Enfermagem por meio de formação específica protocolos institucionais claros e integração com a rede de proteção A próxima seção do trabalho apresentará a discussão dos resultados à luz da literatura em quatro subitens temáticos DISCUSSÃO Atuação da Enfermagem A atuação da enfermagem no enfrentamento da violência doméstica contra a mulher na Atenção Primária à Saúde APS representa um dos pilares essenciais para a identificação precoce o acolhimento humanizado e o encaminhamento adequado das vítimas Como profissional de linha de frente o enfermeiro possui um papel estratégico por sua proximidade com os usuários do Sistema Único de Saúde SUS o que o coloca em posição privilegiada para perceber alterações no comportamento queixas recorrentes e sinais físicos e emocionais que por vezes indicam situações de violência No entanto esse protagonismo muitas vezes é comprometido por lacunas de conhecimento limitações institucionais e barreiras socioculturais que dificultam uma intervenção eficaz O reconhecimento da violência doméstica como um problema de saúde pública está consolidado em políticas como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher BRASIL 2011 que destaca a necessidade de qualificação dos profissionais da APS para lidar com os diversos tipos de violência que afetam as mulheres Nesse contexto o enfermeiro não deve se limitar ao atendimento da queixa pontual mas desenvolver uma escuta sensível e ativa que permita compreender o contexto da usuária identificar sinais subjetivos de sofrimento e oferecer um cuidado ampliado A atuação deve portanto ultrapassar os aspectos clínicos e considerar os determinantes sociais da saúde que muitas vezes estão na raiz da violência vivenciada Conforme apontado por Amarijo et al 2018 os profissionais de enfermagem muitas vezes não conseguem perceber a violência em sua dimensão oculta justamente por não terem sido preparados para isso durante sua formação ou nas capacitações oferecidas no serviço Essa limitação compromete a capacidade de intervenção e em Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida alguns casos contribui para a manutenção do ciclo de violência A pesquisa evidencia que muitos enfermeiros sentemse inseguros diante dessas situações o que pode levá los a adotar uma postura de distanciamento ou de encaminhamento imediato sem o devido acolhimento o que compromete a integralidade do cuidado Apesar das diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica BRASIL 2012 que definem a APS como a porta de entrada preferencial para o SUS e atribuem aos profissionais a responsabilidade de agir diante de situações de vulnerabilidade observa se uma lacuna entre a teoria e a prática Os enfermeiros sobrecarregados por demandas administrativas atendimentos em massa e prazos rígidos muitas vezes não dispõem de tempo estrutura ou apoio institucional para realizar uma abordagem efetiva da violência Além disso o receio de envolvimento judicial o medo de represálias do agressor e a ausência de fluxos bem definidos na rede local de proteção tornam a atuação ainda mais desafiadora A Lei Maria da Penha BRASIL 2006 embora represente um marco legal no combate à violência doméstica ainda não é plenamente incorporada à prática da enfermagem na APS Muitos profissionais não conhecem em profundidade os instrumentos legais disponíveis nem as responsabilidades que lhes cabem dentro da rede intersetorial de enfrentamento Essa lacuna de conhecimento compromete a autonomia do enfermeiro e o impede de agir de forma assertiva tanto na escuta quanto no encaminhamento e no registro da violência nos sistemas de informação em saúde Estudos como o de Ferreira et al 2021 reforçam que a atuação da enfermagem precisa considerar a mulher em sua totalidade acolhendo não apenas o corpo ferido mas também o sofrimento psíquico e social causado pela violência Essa abordagem integral exige sensibilidade empatia e sobretudo formação ética e técnica A construção de vínculo entre o profissional e a usuária é apontada como elementochave para que a mulher sintase segura em relatar a violência e aceite os encaminhamentos propostos Quando esse vínculo está ausente o cuidado tornase mecânico fragmentado e ineficaz Outro aspecto central na atuação da enfermagem é a importância da escuta qualificada Amarijo et al 2018 destacam que o enfermeiro deve estar atento a sinais indiretos de sofrimento como mudanças de comportamento crises de ansiedade depressão ou queixas físicas repetidas sem causa aparente A escuta deve ser livre de julgamentos respeitosa e acolhedora criando um espaço de confiança para que a mulher Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida possa se expressar Essa postura requer preparo emocional e técnico o que demanda investimento em educação permanente por parte das gestões de saúde Segundo Rodrigues et al 2024 muitos profissionais relatam se sentir sozinhos e desamparados diante de situações de violência Isso reforça a necessidade de criação e fortalecimento de protocolos institucionais claros que orientem a conduta dos enfermeiros desde a suspeita até o encaminhamento à rede de proteção incluindo serviços de assistência social psicologia segurança pública e justiça Sem essa articulação o cuidado tornase incompleto e a mulher corre o risco de ser revitimizada pelo próprio sistema de saúde Além disso a atuação da enfermagem deve incluir o registro da violência nos prontuários e nos sistemas oficiais de notificação como o SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação conforme recomendado pelo Ministério da Saúde 2010 A subnotificação ainda é um problema sério e invisibiliza a magnitude da violência O enfermeiro ao identificar ou suspeitar de um caso tem o dever ético e legal de notificar mesmo que a mulher não verbalize diretamente a situação desde que existam indícios concretos e a confidencialidade seja garantida A Organização Mundial da Saúde 2021 enfatiza que os profissionais de saúde têm papel central na resposta à violência de gênero tanto na detecção quanto na prevenção de novos episódios No entanto para que essa responsabilidade seja cumprida é necessário que a atuação seja respaldada por políticas públicas consistentes infraestrutura adequada e suporte psicossocial aos profissionais A sobrecarga de trabalho a ausência de espaços de escuta e o desgaste emocional são fatores que limitam a atuação e afetam diretamente a qualidade do cuidado prestado Embora os enfermeiros sejam atores fundamentais na APS muitos deles enfrentam dificuldades em realizar a escuta empática quando não há capacitação específica Como reforçam Ferreira et al 2021 o cuidado humanizado deve ser sistematizado planejado e ajustado às particularidades de cada situação evitando generalizações e intervenções precipitadas O respeito à autonomia da mulher e o sigilo profissional são princípios que devem ser rigorosamente observados na prática cotidiana A construção de um cuidado sensível à violência doméstica exige também que o enfermeiro compreenda o contexto sociocultural da mulher incluindo questões de gênero raça classe e sexualidade Muitas vezes essas dimensões são ignoradas nas Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida abordagens tradicionais o que contribui para a reprodução de estigmas e para o afastamento das usuárias dos serviços O profissional deve ser agente de mudança promovendo a equidade e combatendo práticas discriminatórias dentro e fora da unidade de saúde Outro desafio enfrentado pelos enfermeiros é o próprio medo de represálias por parte dos agressores Em contextos pequenos ou vulneráveis os profissionais relatam insegurança quanto à sua proteção pessoal o que os leva muitas vezes a omitir a notificação Para superar essa barreira é necessário que as instituições de saúde ofereçam suporte jurídico psicossocial e institucional garantindo que os enfermeiros possam exercer sua função com segurança e respaldo É preciso reconhecer que a atuação da enfermagem no enfrentamento à violência doméstica ainda se dá na maioria das vezes por iniciativa individual e não como resultado de uma política institucional consolidada Essa fragilidade evidencia a urgência de protocolos intersetoriais e do fortalecimento da rede de atenção conforme preconizado na Linha de Cuidado para Atenção Integral à Saúde em Situações de Violência BRASIL 2010 O compromisso ético da profissão deve ser acompanhado de estruturas concretas que viabilizem sua prática Por fim a atuação da enfermagem deve ser compreendida como parte de um esforço coletivo e articulado que inclui gestores educadores profissionais de diversas áreas e a própria comunidade A violência doméstica não é um problema privado mas uma violação de direitos humanos que exige resposta pública O enfermeiro enquanto sujeito histórico e político deve ser capacitado e empoderado para atuar de forma crítica transformadora e sensível contribuindo para a quebra do ciclo da violência e para a construção de uma sociedade mais justa e segura para todas as mulheres Estratégias de Acolhimento O acolhimento às mulheres vítimas de violência doméstica na Atenção Primária à Saúde APS constitui um momento crucial para a efetivação do cuidado humanizado e para o início do processo de proteção e enfrentamento da violência A enfermagem por seu contato direto e frequente com as usuárias desempenha papel central na criação de um ambiente seguro acolhedor e confidencial que favoreça a expressão das Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida experiências traumáticas e o fortalecimento da autonomia da mulher Essa abordagem deve ser pautada na escuta qualificada no respeito e na empatia pilares que viabilizam o vínculo terapêutico e a confiança necessária para a continuidade do cuidado Segundo Amarijo et al 2018 o acolhimento deve ir além do atendimento à demanda inicial contemplando a observação atenta de sinais não verbais como comportamentos ansiosos evasivos ou contraditórios que podem indicar situações de violência ainda não verbalizadas A escuta atenta e livre de julgamentos é essencial para que a mulher sintase amparada e segura para relatar seu sofrimento Essa estratégia exige que o profissional esteja preparado para respeitar o tempo da vítima entendendo que o processo de denúncia é delicado e pode envolver medos e inseguranças profundos Ferreira et al 2021 destacam que o ambiente físico da unidade básica de saúde deve ser organizado de forma a garantir a privacidade durante o atendimento prevenindo exposições indevidas e constrangimentos que possam desencorajar o relato da violência Espaços acolhedores com assentos confortáveis e ambientação tranquila contribuem para a sensação de segurança e favorecem o diálogo aberto entre profissional e paciente A confidencialidade deve ser garantida em todas as etapas do atendimento assegurando o sigilo das informações compartilhadas Além disso a utilização de instrumentos padronizados de triagem e acolhimento validados por órgãos oficiais pode auxiliar os enfermeiros na identificação de casos de violência doméstica especialmente quando as vítimas não expõem diretamente a situação Questionários específicos protocolos de avaliação e fluxos assistenciais estabelecidos são ferramentas importantes para sistematizar o cuidado e minimizar a subjetividade das avaliações A capacitação para o uso adequado desses instrumentos é fundamental para que o acolhimento seja eficaz e respeite as particularidades de cada caso Amarijo et al 2018 também enfatizam a importância do acolhimento interdisciplinar no qual a enfermagem atua em conjunto com outros profissionais como psicólogos assistentes sociais e médicos para garantir uma resposta integral à mulher Essa articulação favorece o compartilhamento de informações e a construção de planos de cuidado que contemplam aspectos físicos emocionais e sociais promovendo uma abordagem mais completa e eficaz A coordenação desse trabalho multidisciplinar frequentemente cabe à enfermagem que deve atuar como elo entre os serviços Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Outro aspecto fundamental das estratégias de acolhimento é a orientação da mulher sobre seus direitos os serviços disponíveis e os procedimentos que podem ser adotados para sua proteção A enfermagem tem o papel educativo de informar sobre a Lei Maria da Penha BRASIL 2006 os canais de denúncia e os recursos comunitários empoderando a vítima para que possa tomar decisões conscientes e seguras Essa orientação deve ser clara acessível e adaptada às condições socioculturais da mulher atendida A construção do vínculo afetivo e de confiança durante o acolhimento é reforçada por Rodrigues et al 2024 que apontam que as vítimas muitas vezes relatam experiências anteriores de atendimento insensível ou revitimização nos serviços de saúde O enfermeiro deve portanto evitar atitudes que reforcem estigmas ou culpabilizem a mulher adotando uma postura acolhedora e respeitosa que reconheça sua singularidade e fortaleça sua autoestima Essa relação é base para o sucesso dos encaminhamentos e da continuidade do cuidado A escuta ativa também envolve a capacidade do profissional de reconhecer os momentos de silêncio o choro e outras manifestações emocionais da mulher respondendo de forma sensível e sem pressa Ferreira et al 2021 ressaltam que essas expressões são parte do processo de acolhimento e podem sinalizar a construção de um espaço seguro onde a mulher sentese à vontade para se abrir O tempo dedicado a esse momento deve ser respeitado pela equipe que precisa entender a complexidade do trauma e o ritmo singular de cada paciente Souza Silva e Carvalho 2010 indicam que a revisão integrativa da literatura reforça que o acolhimento deve ser sistematizado dentro da rotina das unidades de saúde com protocolos claros que orientem o passo a passo do atendimento garantindo que nenhuma vítima passe despercebida A padronização dos procedimentos facilita a capacitação da equipe e assegura a qualidade do cuidado mesmo diante das limitações estruturais ou do turnover de profissionais A linha de cuidado para atenção integral à saúde em situações de violência doméstica BRASIL 2010 reforça a necessidade de que o acolhimento contemple a escuta qualificada e o encaminhamento imediato às redes de apoio incluindo serviços sociais psicológicos e jurídicos O enfermeiro nesse cenário atua como facilitador do Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida acesso a esses recursos oferecendo suporte emocional e informações necessárias para que a mulher se sinta amparada durante todo o processo Amarijo et al 2018 destacam também a importância do acolhimento contínuo que não se encerra na primeira consulta ou atendimento emergencial O acompanhamento longitudinal é necessário para monitorar a evolução da situação avaliar os riscos e fortalecer a rede de proteção da mulher A continuidade do cuidado favorece o rompimento do ciclo de violência e contribui para a reconstrução da autonomia e do bem estar da vítima A Organização Mundial da Saúde 2021 reforça que o acolhimento é parte de uma resposta global coordenada e que a atuação do profissional de saúde deve estar integrada às políticas públicas e programas de prevenção garantindo que a mulher não se sinta isolada em seu sofrimento O enfermeiro portanto precisa estar consciente do seu papel como agente de transformação social e fortalecimento da cidadania É importante ressaltar ainda que o acolhimento deve considerar as diversidades culturais étnicas e sociais das mulheres atendidas garantindo que as estratégias sejam inclusivas e respeitem as especificidades de cada grupo A abordagem culturalmente sensível evita exclusões e reforça o direito à saúde e à proteção para todas as mulheres especialmente aquelas em situação de maior vulnerabilidade Por fim Ferreira et al 2021 apontam que as estratégias de acolhimento necessitam ser continuamente avaliadas e aprimoradas por meio da capacitação permanente dos profissionais supervisão técnica e participação comunitária Esse processo garante que o cuidado oferecido acompanhe as mudanças sociais e as demandas específicas do território promovendo um atendimento cada vez mais qualificado humano e efetivo Dificuldades Enfrentadas A atuação da enfermagem na Atenção Primária à Saúde APS diante da violência doméstica contra a mulher encontra diversos desafios que comprometem a qualidade do cuidado e a efetividade das intervenções Um dos principais obstáculos referese à insuficiência de capacitação específica para o reconhecimento acolhimento e encaminhamento dos casos Como apontado por Amarijo et al 2018 muitos Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida enfermeiros relatam insegurança técnica e emocional ao lidar com situações complexas que envolvem violência o que pode resultar em atitudes evasivas ou inadequadas comprometendo o vínculo terapêutico e o processo de proteção Além disso Ferreira et al 2021 destacam que a sobrecarga de trabalho e a escassez de recursos humanos e materiais nas unidades básicas de saúde são fatores que dificultam a oferta de um atendimento qualificado A rotina intensa com múltiplas demandas simultâneas limita o tempo que o profissional pode dedicar à escuta e acolhimento das vítimas fazendo com que a abordagem da violência doméstica seja negligenciada ou tratada de forma superficial Outro desafio significativo é a ausência ou fragilidade de protocolos institucionais claros e de fluxos articulados para o atendimento às mulheres em situação de violência Rodrigues et al 2024 enfatizam que a falta de diretrizes objetivas e o desconhecimento dos procedimentos a serem adotados geram insegurança nos profissionais que muitas vezes não sabem como agir ou para onde encaminhar a vítima prejudicando o acesso a uma rede integrada de proteção A subnotificação dos casos de violência doméstica constitui uma barreira relevante e persistente no cenário da APS De acordo com o Ministério da Saúde 2010 a baixa notificação compromete o dimensionamento real do problema e dificulta o planejamento de políticas públicas adequadas Os enfermeiros frequentemente deixam de notificar por receio de expor a vítima falta de conhecimento dos sistemas de informação ou ainda pela percepção de que a notificação não trará benefícios concretos para a mulher A Lei Maria da Penha BRASIL 2006 estabelece mecanismos legais para a proteção da mulher mas seu conhecimento e aplicação prática ainda são insuficientes entre os profissionais de enfermagem Essa lacuna normativa na rotina de trabalho contribui para a dificuldade em conduzir o atendimento com segurança jurídica e para o pleno exercício dos direitos das vítimas conforme observado por Amarijo et al 2018 O medo de represálias tanto para a mulher quanto para os profissionais envolvidos configura outro fator limitador Rodrigues et al 2024 relatam que enfermeiros têm receio de que a denúncia possa desencadear conflitos agressões ou retaliações o que os leva a evitar o envolvimento direto ou a minimizar a gravidade dos casos situação que fragiliza a proteção da vítima e a responsabilização do agressor Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida A fragilidade da rede de apoio social e de serviços especializados frequentemente apontada pelos estudos revisados também impacta negativamente a atuação da enfermagem A inexistência ou o difícil acesso a serviços de assistência social psicológica e jurídica impossibilita que o profissional ofereça um cuidado integral e continuo limitando sua atuação à identificação inicial e ao encaminhamento incipiente Outro ponto crítico referese à falta de suporte institucional e supervisão técnica Ferreira et al 2021 ressaltam que o isolamento profissional e a ausência de espaços para discussão de casos complexos aumentam o desgaste emocional dos enfermeiros contribuindo para o fenômeno do burnout e para a redução da qualidade do atendimento A ausência de acompanhamento técnico dificulta a reflexão crítica sobre as práticas e o aprimoramento do cuidado A questão da confidencialidade e do sigilo profissional embora reconhecida como essencial apresenta desafios práticos no cotidiano da APS Muitas vezes a estrutura física inadequada e o fluxo desorganizado das unidades impossibilitam um atendimento reservado expondo a mulher e comprometendo sua segurança e confiança no serviço como apontam Amarijo et al 2018 e Ferreira et al 2021 A dimensão cultural e social da violência doméstica também impõe dificuldades à atuação da enfermagem Preconceitos estigmas e normas sociais que naturalizam a violência contra a mulher estão internalizados tanto na sociedade quanto entre profissionais de saúde o que pode levar a julgamentos morais e a práticas discriminatórias conforme evidenciado por Rodrigues et al 2024 Superar essas barreiras requer um trabalho contínuo de conscientização e sensibilização A ausência de articulação efetiva entre os diferentes níveis de atenção à saúde e com os demais setores envolvidos no enfrentamento da violência é um desafio estruturante A fragmentação dos serviços compromete o fluxo de informação e o acompanhamento das vítimas dificultando a integralidade do cuidado e o rompimento do ciclo da violência como ressalta a Linha de Cuidado do Ministério da Saúde 2010 Outro entrave frequentemente mencionado é a dificuldade de manejar o aspecto emocional e psicológico da violência doméstica Enfermeiros apesar de terem contato direto com as vítimas nem sempre dispõem de treinamento para lidar com o sofrimento psíquico decorrente da violência o que pode resultar em respostas inadequadas como minimização do problema ou desvalorização das queixas emocionais Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida A precariedade dos recursos materiais como falta de espaços adequados materiais didáticos e tecnológicos impede que os enfermeiros realizem intervenções educativas e preventivas de forma efetiva limitandose ao atendimento emergencial e reativo conforme apontam os documentos institucionais do Ministério da Saúde 2010 2012 O turnover elevado da equipe de enfermagem e a falta de continuidade na capacitação dificultam a consolidação de uma prática qualificada e consistente Novos profissionais ingressam sem o preparo adequado e os conhecimentos adquiridos são pouco disseminados gerando descontinuidade no atendimento conforme destacado por Amarijo et al 2018 Por fim a dificuldade em equilibrar as demandas técnicas administrativas e humanas no cotidiano da APS limita a profundidade e qualidade do cuidado prestado A pressão por resultados quantitativos e o enfoque na resolução rápida das queixas podem levar a uma abordagem superficial que não considera a complexidade da violência doméstica exigindo mudanças estruturais e políticas para garantir um atendimento integral e humanizado Necessidade de Formação e Políticas Públicas A formação contínua e qualificada dos profissionais de enfermagem é elemento fundamental para garantir uma atuação eficaz e humanizada no enfrentamento da violência doméstica contra a mulher na Atenção Primária à Saúde APS Conforme Amarijo et al 2018 a falta de capacitação específica sobre identificação acolhimento e encaminhamento dos casos limita significativamente a atuação do enfermeiro evidenciando a urgência de programas educativos que abordem as dimensões técnicas éticas e legais da temática Os conteúdos curriculares dos cursos de graduação em enfermagem ainda apresentam lacunas importantes no que tange ao manejo da violência doméstica A formação tradicional frequentemente não contempla de forma aprofundada aspectos relacionados à escuta qualificada à abordagem interdisciplinar e às políticas públicas vigentes como a Lei Maria da Penha BRASIL 2006 Essa deficiência contribui para que o profissional ingresse no mercado de trabalho despreparado para enfrentar as demandas específicas desse campo Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Ferreira et al 2021 ressaltam que a capacitação deve ser permanente e estar alinhada às diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher BRASIL 2011 que preconiza a qualificação dos profissionais da APS para atuar na prevenção identificação e cuidado às vítimas de violência Essa formação deve ser multidisciplinar contemplando aspectos clínicos psicossociais e legais além de promover reflexões sobre gênero direitos humanos e determinantes sociais da saúde Além disso a implementação de políticas públicas que assegurem a capacitação sistemática dos profissionais é imprescindível A organização de cursos oficinas seminários e supervisionamentos técnicos deve fazer parte das estratégias institucionais para fortalecer as equipes de enfermagem garantindo que estejam aptas a reconhecer sinais sutis da violência e a atuar com segurança e sensibilidade Essa política formativa deve ser monitorada e avaliada para assegurar sua efetividade Os documentos normativos do Ministério da Saúde como a Política Nacional de Atenção Básica BRASIL 2012 e a Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde em Situações de Violência BRASIL 2010 reforçam a necessidade de políticas articuladas que integrem capacitação protocolos clínicos e rede de apoio visando à melhoria do atendimento A ausência dessa articulação compromete a sistematização do cuidado e a proteção efetiva das vítimas A Lei Maria da Penha BRASIL 2006 configurase não apenas como um instrumento jurídico mas também como um marco orientador das práticas de saúde exigindo que os profissionais estejam familiarizados com seus dispositivos para garantir direitos e garantir o encaminhamento adequado Políticas públicas que promovam a disseminação do conhecimento dessa legislação entre os enfermeiros são essenciais para ampliar sua aplicação no cotidiano Amarijo et al 2018 destacam que a formação deve ir além da transmissão de conhecimentos técnicos contemplando a dimensão ética e o desenvolvimento de competências emocionais que permitam ao profissional lidar com o sofrimento da vítima sem revitimização ou prejuízo ao próprio cuidado Essa abordagem integral da formação fortalece a capacidade de acolhimento e de atuação multidisciplinar Ferreira et al 2021 reforçam que políticas públicas eficazes devem também garantir recursos materiais infraestrutura adequada e apoio institucional condições necessárias para que os enfermeiros possam aplicar os conhecimentos adquiridos em Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida sua rotina A formação isolada sem o suporte estrutural limita a transformação das práticas e a melhoria da qualidade do atendimento A articulação entre os setores da saúde assistência social segurança pública e justiça prevista nas políticas públicas deve ser refletida nos programas de formação promovendo uma visão integrada e colaborativa do enfrentamento à violência doméstica Os enfermeiros como agentes centrais na APS necessitam de treinamento para atuar como articuladores dessa rede facilitando o acesso das mulheres aos serviços e assegurando a continuidade do cuidado A Organização Mundial da Saúde 2021 enfatiza a importância da capacitação dos profissionais de saúde como estratégia fundamental para reduzir a morbimortalidade associada à violência de gênero Investir em políticas públicas que priorizem essa capacitação contribui para a construção de sistemas de saúde mais sensíveis preparados para responder às necessidades complexas das vítimas Rodrigues et al 2024 apontam que a incorporação de práticas reflexivas e supervisão técnica nos ambientes de trabalho é uma necessidade para o aprimoramento da atuação dos enfermeiros Políticas públicas que estimulem esses processos fortalecem a equipe promovem a troca de experiências e contribuem para a superação das dificuldades enfrentadas A formação contínua também deve contemplar o manejo dos aspectos emocionais e do autocuidado dos profissionais prevenindo o estresse e o burnout comuns em contextos de violência doméstica Políticas públicas que implementem programas de suporte psicossocial para os profissionais ampliam a qualidade do atendimento e promovem a sustentabilidade das equipes A capacitação deve ser inclusiva e acessível abrangendo todos os níveis hierárquicos e profissionais da APS desde enfermeiros até técnicos e auxiliares A formação transversalizada promove uma cultura institucional de atenção e enfrentamento da violência evitando lacunas no atendimento e assegurando a integralidade do cuidado Além da formação as políticas públicas devem garantir a atualização constante dos protocolos e fluxos assistenciais alinhandoos às evidências científicas mais recentes e às necessidades locais O enfermeiro deve ser protagonista nesse processo participando ativamente da elaboração e revisão das normativas que orientam sua prática Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Por fim o fortalecimento da participação comunitária e o engajamento das mulheres nas políticas públicas e programas de capacitação representam estratégias fundamentais para construir serviços mais responsivos e contextualizados A atuação da enfermagem embasada em formação robusta e respaldada por políticas públicas eficazes é essencial para transformar a realidade da violência doméstica e promover a saúde e a dignidade das mulheres atendidas na APS CONSIDERAÇÕES FINAIS A violência doméstica contra a mulher representa um grave problema de saúde pública cujas consequências ultrapassam os danos físicos atingindo a saúde mental social e emocional das vítimas A Atenção Primária à Saúde APS configurase como um espaço estratégico e fundamental para a prevenção identificação e acolhimento dessas mulheres dado seu papel de porta de entrada do sistema de saúde Nesse contexto a enfermagem assume uma posição de destaque pois devido à sua proximidade e frequência de contato com as usuárias pode atuar diretamente no reconhecimento precoce e na oferta de um cuidado integral e humanizado Os resultados evidenciam que a atuação da enfermagem na APS vai além do atendimento clínico tradicional incorporando estratégias de escuta qualificada acolhimento empático e encaminhamento adequado às redes de proteção A capacidade do profissional de estabelecer um vínculo de confiança com a vítima é crucial para a efetivação do cuidado possibilitando que a mulher se sinta segura para compartilhar sua experiência e buscar apoio Essa abordagem demanda sensibilidade conhecimento técnico e postura ética aspectos que precisam ser constantemente aprimorados Entretanto o trabalho também apontou uma série de dificuldades enfrentadas pelos profissionais de enfermagem como a falta de capacitação específica sobrecarga de trabalho ausência de protocolos claros e fragilidade da rede de apoio Essas barreiras comprometem a qualidade do atendimento e limitam o alcance das ações de enfrentamento da violência Ademais questões culturais e o medo de retaliações contribuem para a subnotificação dos casos dificultando a visibilidade do problema e a implementação de políticas efetivas A análise reforça a necessidade urgente de investimentos em formação Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida continuada e políticas públicas que apoiem o desenvolvimento das competências técnicas e emocionais dos profissionais de enfermagem Capacitações sistemáticas alinhadas às diretrizes nacionais e internacionais são essenciais para preparar a equipe para o manejo adequado dos casos e para a articulação com a rede intersetorial O fortalecimento das políticas e da legislação especialmente no que tange à Lei Maria da Penha deve ser incorporado às práticas cotidianas Além disso as unidades de saúde precisam estruturar seus ambientes físicos e organizacionais para garantir privacidade sigilo e acolhimento humanizado elementos indispensáveis para que a mulher se sinta segura no momento do atendimento A criação e atualização de protocolos assistenciais bem como o suporte institucional e a supervisão técnica são medidas que favorecem a qualidade e a continuidade do cuidado minimizando os riscos de revitimização O trabalho destaca também a importância da atuação interdisciplinar e da articulação efetiva entre os diferentes níveis de atenção à saúde e os serviços sociais jurídicos e de segurança O enfermeiro como profissional que frequentemente atua como elo entre esses setores deve estar preparado para coordenar o cuidado integrado assegurando que a mulher tenha acesso aos recursos necessários para sua proteção e reabilitação Em síntese a enfermagem na APS tem um papel central no enfrentamento da violência doméstica contra a mulher atuando não apenas como prestadora de cuidados mas também como agente de transformação social e promotora de direitos A superação dos desafios identificados depende de um compromisso coletivo que envolva a capacitação profissional a implementação de políticas públicas eficazes e o fortalecimento da rede de apoio Por fim este estudo contribui para a reflexão crítica e o aprimoramento das práticas de enfermagem destacando a necessidade de consolidar uma abordagem integral sensível e proativa frente à violência doméstica A consolidação desse conhecimento é fundamental para garantir que a APS cumpra seu papel estratégico na promoção da saúde da dignidade e da segurança das mulheres promovendo mudanças significativas na realidade social brasileira REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida AMARIJO Cristiane Lopes et al Assimilação teórica e prática da violência doméstica profissionais de enfermagem atendendo vítimas na atenção primária Revista Enfermagem UERJ Rio de Janeiro v 26 p e33874 2018 Disponível em httpswwwepublicacoesuerjbrenfermagemuerjarticleview3387427758 Acesso em 25 maio 2025 BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher princípios e diretrizes Brasília Ministério da Saúde 2011 Série C Projetos Programas e Relatórios BRASIL Lei nº 11340 de 7 de agosto de 2006 Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher Diário Oficial da União seção 1 Brasília DF 8 ago 2006 Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03ato200420062006leil11340htm Acesso em 25 maio 2025 BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Política Nacional de Atenção Básica Brasília Ministério da Saúde 2012 Série E Legislação em Saúde BRASIL Ministério da Saúde Conselho Nacional de Saúde Resolução nº 510 de 7 de abril de 2016 Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais Brasília Ministério da Saúde 2016 FERREIRA M do R A B et al Violência doméstica contra a mulher no contexto da atenção primária à saúde revisão integrativa Brazilian Journal of Development Curitiba v 7 n 1 p 62866306 2021 Disponível em httpsdoiorg1034117bjdv7n1427 Acesso em 25 maio 2025 MINISTÉRIO DA SAÚDE Brasil Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças adolescentes e suas famílias em situação de violência orientação para gestores e profissionais de saúde Brasília Ministério da Saúde 2010 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE Violência contra a mulher afeta uma em cada três no mundo ONU Brasil 2021 Disponível em httpsbrasilunorgptbr115652oms umaemcada3mulheresemtodoomundosofreviolC3AAncia Acesso em 25 maio 2025 RODRIGUES P S et al Violência doméstica contra as mulheres vivências dos profissionais da atenção primária à saúde Texto Contexto Enfermagem Florianópolis v 33 p e20230403 2024 Disponível em httpsdoiorg1015901980265XTCE2023 0403pt Acesso em 25 maio 2025 SOUZA Marcela Tavares de SILVA Michelly Dias da CARVALHO Rachel de Revisão integrativa o que é e como fazer Einstein São Paulo São Paulo v 8 p 102106 2010 Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida
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ABORDAGEM DA ENFERMAGEM ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Aíssa Rodrigues Camila Leal Eva Nunes Flávio Siqueira dos Santos RGM 40167526 Palavraschave Violência contra a mulher Violência doméstica Atenção primária à saúde Enfermagem 1INTRODUÇÃO Delimitação do tema com embasamento teórico A violência doméstica contra a mulher é reconhecida como um grave problema de saúde pública de alcance global afetando diretamente a cidadania a qualidade de vida e os direitos humanos das vítimas Dados da Organização Mundial da Saúde OMS 2021 revelam que uma em cada três mulheres no mundo sofre algum tipo de violência sendo a praticada por parceiros íntimos uma das mais prevalentes No Brasil a Lei Maria da Penha Brasil 2006 representa um marco legal importante na proteção das mulheres propondo medidas preventivas punitivas e educativas De acordo com o Ministério da Saúde 2010 a Atenção Primária à Saúde APS ocupa um papel estratégico nesse enfrentamento por meio de uma abordagem integral escuta qualificada acolhimento e encaminhamento das vítimas à rede de proteção Formulação da questão problema Apesar dos avanços legais e institucionais os índices de violência contra a mulher permanecem elevados e os desafios no acolhimento e cuidado dessas vítimas ainda são evidentes na prática da enfermagem na APS De acordo com Rodrigues et al 2024 muitos enfermeiros enfrentam limitações quanto à capacitação específica sobre a abordagem da violência contra a mulher o que pode dificultar o reconhecimento de sinais não verbais da violência bem como a adoção de condutas seguras e humanizadas pensamento corroborado por Amarijo et al 2018 Ao prestar o cuidado a enfermagem necessita olhar além do fato ou da queixa apresentada pensar sobre os fatores macrossômicos que podem desencadear a violência e direcionar as suas ações de cuidado à pessoa considerando as suas especificidades e singularidades Amarijo et al 2018 p 6 No âmbito do Sistema Único de Saúde SUS observase que as mulheres são as principais usuárias dos serviços seja em busca de atendimento para si mesmas ou para pessoas de sua convivência como familiares e amigos Brasil 2004 A APS nesse cenário é reconhecida como a principal porta de entrada e eixo central da organização dos serviços de saúde no país sendo o primeiro ponto de contato entre os usuários e o sistema Brasil 2012 Diante disso a APS se configura como um espaço estratégico para a prevenção identificação e acolhimento de mulheres em situação de violência doméstica Para Ferreira et al 2021 é fundamental que os profissionais atuantes nesse nível de atenção reconheçam a importância de oferecer um cuidado integral e humanizado ampliando o olhar para além da queixa imediata apresentada de modo a compreender a complexidade das demandas que envolvem a vivência da violência Justificativa 1 parágrafo Essa pesquisa é justificada diante do cenário violento vivido por muitas mulheres em seus domicílios e que muitas vezes passam despercebidos pela ausência de investigação nos atendimentos e de declaração direta da violência Ao considerar que a Atenção Primária de Saúde é a porta de entrada dos serviços de saúde e que as mulheres a procuram por inúmeros motivos a APS tornase um ambiente propício para suspeita e investigação dessas situações Diante desse cenário este estudo busca responder à seguinte questão como os enfermeiros da Atenção Primária à Saúde vivenciam e respondem à violência doméstica contra as mulheres em seu cotidiano profissional Objetivos da pesquisa 2OBJETIVOS 21 Geral Identificar na literatura a ação da enfermagem na atenção primária de saúde com vítimas de violência contra a mulher 211 Específicos Identificar estratégias utilizadas por enfermeiros na APS para acolher mulheres em situação de violência doméstica Analisar as dificuldades relatadas pelos profissionais de enfermagem na identificação e encaminhamento dos casos 3METODOLOGIA 31 Tipo de pesquisa O presente estudo constituise em uma revisão bibliográfica e documental sobre a atuação da enfermagem no cuidado de vítimas de violência doméstica fazendo um levantamento de autores relevantes para este trabalho 32 Local da pesquisa A coleta de dados no caso foi realizado uma pesquisa em bibliotecas eletrônicas como LILACS Sistema LatinoAmericano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde Portal de Períodicos da CAPES e Scielo Scientific Electronic Library Online durante o mês de maio de 2025 E para localizar os artigos e trabalhos sobre o tema foram usados os seguintes descritores violência contra a mulher violência doméstica atenção primária à saúde utilizando também os operadores lógicos OR e AND para refinar a pesquisa 33 Amostra critérios de inclusão e exclusão Foram incluídos no estudo artigos disponíveis na íntegra em português inglês e espanhol nos anos de 2010 a 2025 e que estejam circunscritos à temática abordada Foram excluídas teses dissertações e publicações que não se encaixam na pergunta de pesquisa A pesquisa foi realizada em três etapas principais sendo que a primeira etapa se constituiu de identificar os descritores controlados por meio de DeCS Descritores em Ciências da Saúde disponível na Biblioteca Virtual de Saúde BVS onde foram selecionados os descritores considerados relevantes para os objetivos do estudo Já na segunda etapa foi realizada a busca nas bases de dados mencionadas utilizando os descritores selecionados e delimitando o período de interesse entre os anos de 2021 e 2025 Por fim na última etapa foi feita uma análise crítica dos estudos encontrados sendo excluídos aqueles que não eram pertinentes aos critérios estabelecidos Para a seleção e análise dos artigos foi utilizado o instrumento desenvolvido por Souza Silva e Carvalho 2010 Onde este consiste na identificação do estudo da instituição sede de realização do estudo do tipo e publicação das características metodológicas e avaliação da precisão dos métodos utilizados 34 Aspectos Éticos Por se tratar de uma pesquisa do tipo revisão bibliográfica não há envolvimento direto de seres humanos o que dispensa a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa CEP conforme as diretrizes da Resolução CNS nº 5102016 No entanto foram respeitados os critérios éticos de fidedignidade autoria e integridade científica na seleção leitura e interpretação dos estudos REFERÊNCIAS AMARIJO Cristiane Lopes et al Assimilação teórica e prática da violência doméstica profissionais de enfermagem atendendo vítimas na atenção primária Rev enferm UERJ v 26 p e33874 2018 Acesso em 25 maio 2025 Disponível em httpswwwe publicacoesuerjbrenfermagemuerjarticleview3387427758 BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher Princípios e Diretrizes Série C Projetos Programas e Relatórios Brasília 2011 BRASIL Lei nº 11340 de 7 de agosto de 2006 Lei Maria da Penha Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03ato200420062006leil11340htm BRASILMinistério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Política Nacional de Atenção Básica Série E Legislação em Saúde Brasília 2012 BRASIL Ministério da Saúde Conselho Nacional de Saúde Resolução nº 510 de 07 de abril de 2016 FERREIRA M do R A B SOUZA K A B de Fonseca M C de C Ferreira V S C 2021 Violência doméstica contra a mulher no contexto da atenção primária à saúde revisão integrativa Domestic violence against women in the context of primary health care integrative review Brazilian Journal of Development 71 62866306 Disponível em httpsdoiorg1034117bjdv7n1427 MINISTÉRIO DA SAÚDE Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças adolescentes e suas famílias em situação de violência orientação para gestores e profissionais de saúde Brasília Ministério da Saúde 2010 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE Violência contra a mulher afeta uma em cada três no mundo ONU Brasil 2021 Disponível em httpsbrasilunorgptbr115652oms umaemcada3mulheresemtodoomundosofreviolC3AAncia Rodrigues PS Araújo LF Vernasque JRS Souza AP Alarcon MFS Higa EFR Marin MJS Violência doméstica contra as mulheres vivências dos profissionais da atenção primária a saúde Texto Contexto Enferm Internet 2024 Acesso em 25 maio 2025 33e20230403 Disponível em httpsdoiorg1015901980265XTCE20230403pt SOUZA Marcela Tavares de SILVA Michelly Dias da CARVALHO Rachel de Revisão integrativa o que é e como fazer Einstein São Paulo v 8 p 102106 2010 Orientadora Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Atuação da Enfermagem na Atenção Primária à Saúde Frente à Violência Doméstica Contra a Mulher Nursing Practice in Primary Health Care in Response to Domestic Violence Against Women Nome dos alunos ¹Discente Centro Universitário do Distrito Federal UDF Brasília DF Departamento de Enfermagem ²Docente Centro Universitário do Distrito Federal UDF Brasília DF Departamento de Enfermagem RESUMO Introdução A violência doméstica contra a mulher configura um grave problema de saúde pública demandando atuação efetiva da enfermagem na Atenção Primária à Saúde APS para identificação acolhimento e encaminhamento das vítimas Apesar das políticas públicas e legislações existentes a prática ainda enfrenta desafios que comprometem a integralidade do cuidado Objetivo Identificar e analisar as contribuições da enfermagem na APS no atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica Método Revisão integrativa da literatura com seleção de artigos publicados entre 2010 e 2025 nas bases LILACS SciELO e Portal CAPES utilizando descritores relacionados à violência contra a mulher e atenção primária à saúde Resultados Foram selecionados diversos estudos que evidenciam a importância da enfermagem na escuta qualificada acolhimento humanizado e articulação da rede de proteção Contudo destacamse dificuldades como falta de capacitação específica ausência de protocolos claros e fragilidade da rede de apoio Considerações Finais Embora existam políticas e normativas que orientam a atuação da enfermagem no enfrentamento da violência doméstica a efetividade do cuidado depende da capacitação continuada dos profissionais da implementação de protocolos e da articulação intersetorial O fortalecimento dessas estratégias é essencial para garantir um atendimento integral seguro e humanizado às vítimas na APS brasileira Palavraschave Violência contra a mulher Violência doméstica Atenção Primária à Saúde Enfermagem ABSTRACT Introduction Domestic violence against women is a serious public health issue that requires effective nursing action in Primary Health Care PHC for the identification reception and referral of victims Despite existing public policies and legislation practical implementation still faces challenges that compromise comprehensive care Objective To identify and analyze the contributions of nursing in PHC in assisting women victims of domestic violence Method Integrative literature review selecting articles published between 2010 and 2025 from the LILACS SciELO and CAPES databases using descriptors related to violence against women and primary health care Results Several studies were selected that highlight the importance of nursing in qualified listening humanized reception and coordination of the protection network However challenges such as lack of specific training absence of clear protocols and weaknesses in support networks were identified Final Considerations Although there are policies and guidelines that direct nursing care in the context of domestic violence the effectiveness of care depends on continuous professional training protocol implementation and intersectoral coordination Strengthening these strategies is essential to ensure comprehensive safe and humanized care for victims in Brazilian PHC services Keywords Violence against women Domestic violence Primary Health Care Nursing INTRODUÇÃO A violência doméstica contra a mulher constitui um fenômeno complexo multifacetado e de profundas implicações sociais culturais e de saúde pública Essa forma de violência transcende barreiras geográficas econômicas e educacionais manifestandose em diversas culturas e contextos familiares De acordo com a Organização Mundial da Saúde 2021 uma em cada três mulheres no mundo já sofreu violência física ou sexual em algum momento da vida sendo o parceiro íntimo o agressor mais comum Essa estatística alarmante evidencia a urgência de estratégias intersetoriais e integradas para a prevenção acolhimento e enfrentamento da violência de gênero No Brasil esse cenário é agravado por desigualdades históricas culturais e institucionais que perpetuam a naturalização da violência contra a mulher e dificultam sua visibilidade nos espaços formais de cuidado como os serviços de saúde A promulgação da Lei nº 113402006 conhecida como Lei Maria da Penha representou um marco jurídico no enfrentamento da violência doméstica no país ao estabelecer mecanismos de proteção às mulheres prever medidas protetivas e integrar diferentes esferas de atenção à vítima Contudo apesar dos avanços legais e normativos os índices de agressões feminicídios e subnotificações permanecem elevados Essa realidade demonstra que o aparato legal embora necessário é insuficiente quando não articulado com práticas de escuta acolhimento humanizado capacitação profissional e políticas públicas efetivas É nesse ponto que a área da saúde e em especial a Enfermagem se coloca como peçachave para o reconhecimento e a abordagem das situações de violência especialmente na Atenção Primária à Saúde APS porta de entrada do Sistema Único de Saúde SUS A APS tem como premissas a promoção da saúde a prevenção de agravos e o cuidado integral ao indivíduo em sua dimensão biopsicossocial o que inclui o enfrentamento da violência contra a mulher como uma de suas responsabilidades Essa instância por estar mais próxima da realidade cotidiana da população permite o estabelecimento de vínculos e o acompanhamento longitudinal das usuárias o que a torna um espaço privilegiado para a detecção precoce de situações de violência muitas vezes ocultas Segundo o Ministério da Saúde 2011 a Política Nacional de Atenção Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Integral à Saúde da Mulher reforça o papel da APS na identificação e encaminhamento adequado dos casos por meio de condutas sensíveis qualificadas e interdisciplinares Entretanto para que esse papel seja efetivamente cumprido é fundamental que os profissionais estejam capacitados e sensibilizados para atuar diante de um problema que com frequência se manifesta de forma velada subjetiva e fragmentada A Enfermagem como uma das profissões mais presentes na atenção básica especialmente por meio da Estratégia Saúde da Família assume protagonismo no cuidado às mulheres em situação de violência Os enfermeiros são muitas vezes o primeiro ponto de contato dessas mulheres com o sistema de saúde o que lhes confere uma posição estratégica para escutar identificar e intervir No entanto a literatura aponta que há desafios significativos enfrentados por esses profissionais como a falta de preparo técnico e emocional o desconhecimento da legislação a ausência de protocolos padronizados e o medo de represálias legais De acordo com Amarijo et al 2018 é necessário que os profissionais da Enfermagem desenvolvam uma escuta sensível e uma postura crítica frente aos sinais de violência mesmo quando não verbalizados de forma explícita considerando os determinantes sociais e culturais que envolvem a vida das usuárias Nesse contexto é imprescindível compreender que a violência doméstica não se restringe a atos físicos mas abrange violência psicológica sexual patrimonial e moral todas com impactos significativos sobre a saúde e o bemestar das mulheres A invisibilidade desses tipos de agressão especialmente quando naturalizados no cotidiano familiar dificulta sua identificação pelos profissionais de saúde Assim o cuidado de Enfermagem deve transcender o atendimento da queixa imediata e adotar uma abordagem ampliada que considere o histórico da paciente os comportamentos repetitivos de procura por atendimento o relato indireto de sofrimento e sinais clínicos não compatíveis com as explicações apresentadas Além disso a atuação do enfermeiro deve articularse à rede de proteção incluindo os serviços de assistência social psicologia justiça e segurança pública respeitando os princípios do sigilo da autonomia da paciente e da não revitimização Outro fator relevante é que as mulheres em situação de violência na maioria das vezes não se reconhecem como vítimas ou não se sentem seguras para relatar o Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida ocorrido seja por medo do agressor dependência econômica vergonha ou ausência de apoio social Isso reforça a importância da escuta ativa da empatia e da construção de um ambiente de confiança entre profissional e paciente Como apontam Ferreira et al 2021 a presença de vínculos sólidos entre a mulher e os profissionais da APS pode favorecer o relato da violência e a adesão aos encaminhamentos propostos Nesse sentido o cuidado integral pressupõe não apenas o acolhimento da dor física mas também a compreensão da dor subjetiva muitas vezes silenciada Ainda assim a prática cotidiana mostra que muitos profissionais da Enfermagem desconhecem as políticas públicas específicas sobre o tema ou se sentem despreparados para conduzir situações de violência doméstica o que contribui para a perpetuação do ciclo de violência e para a revitimização Além disso há fatores institucionais que dificultam a atuação como a ausência de fluxos claros falta de articulação com os serviços de referência sobrecarga de trabalho escassez de tempo nas consultas e carência de apoio psicológico ao profissional Diante disso o investimento em educação permanente o fortalecimento das redes de apoio e o empoderamento profissional tornam se estratégias indispensáveis para enfrentar essa problemática de forma ética responsável e eficaz Justificase portanto a realização deste estudo diante da persistência de altos índices de violência contra a mulher e da necessidade de compreender como os profissionais de Enfermagem da Atenção Primária vivenciam e respondem a essa realidade em seu cotidiano Este trabalho busca a partir de uma revisão bibliográfica atualizada identificar ações estratégias dificuldades e lacunas na atuação da Enfermagem frente à violência doméstica contra a mulher com o intuito de contribuir para o aprimoramento das práticas profissionais e para o fortalecimento das políticas públicas de enfrentamento A questão norteadora que se coloca é como os enfermeiros da Atenção Primária à Saúde vivenciam e respondem à violência doméstica contra as mulheres em seu cotidiano profissional MÉTODO Este trabalho consiste em uma pesquisa do tipo revisão bibliográfica de Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida abordagem qualitativa e caráter exploratório com o objetivo de reunir e analisar publicações científicas que tratam da atuação da Enfermagem frente à violência doméstica contra a mulher no contexto da Atenção Primária à Saúde APS A escolha pela revisão bibliográfica justificase pela necessidade de compreender como essa temática tem sido abordada na produção científica recente e quais estratégias desafios e lacunas são evidenciados pelos autores sobre a prática profissional dos enfermeiros nesse cenário A coleta de dados foi realizada no mês de maio de 2025 em bases de dados científicas reconhecidas incluindo a LILACS Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library Online e o Portal de Periódicos da CAPES considerando sua relevância para a área da saúde e da Enfermagem Os descritores utilizados para a busca foram violência contra a mulher violência doméstica atenção primária à saúde e enfermagem selecionados por meio dos Descritores em Ciências da Saúde DeCS Os termos foram combinados com os operadores booleanos AND e OR para refinar a pesquisa e obter resultados mais precisos Foram incluídos artigos disponíveis na íntegra publicados entre os anos de 2010 e 2025 nos idiomas português inglês ou espanhol e que abordassem diretamente a atuação da Enfermagem diante da violência doméstica na APS Foram excluídas teses dissertações trabalhos de conclusão de curso e artigos que não respondessem à pergunta da pesquisa ou que não apresentassem rigor metodológico A seleção foi feita por meio da leitura dos títulos resumos e posteriormente do texto completo considerando os critérios previamente estabelecidos Para sistematizar e organizar os dados extraídos dos artigos selecionados utilizou se o instrumento proposto por Souza Silva e Carvalho 2010 o qual permite analisar aspectos como o ano de publicação objetivo do estudo abordagem metodológica principais resultados e conclusões A análise dos dados foi realizada de forma descritiva com foco na identificação das estratégias adotadas pelos enfermeiros nas dificuldades relatadas e nas práticas de acolhimento e encaminhamento das mulheres em situação de violência Por se tratar de uma revisão bibliográfica esta pesquisa não envolveu seres humanos diretamente o que dispensa a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa CEP conforme disposto na Resolução nº 5102016 do Conselho Nacional de Saúde No Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida entanto foram respeitados todos os princípios éticos de fidedignidade integridade respeito à autoria e honestidade intelectual durante o levantamento análise e redação dos dados encontrados RESULTADOS A revisão bibliográfica resultou na seleção de 10 documentos relevantes entre artigos científicos documentos institucionais e normativos A análise dos textos permitiu identificar contribuições significativas para a compreensão da atuação da Enfermagem frente à violência doméstica no contexto da Atenção Primária à Saúde As produções foram organizadas de acordo com os critérios da pesquisa considerando os objetivos o tipo de investigação e os principais achados A Tabela 1 apresenta um resumo das publicações analisadas Tabela 1 Artigos e documentos selecionados na revisão bibliográfica Autor Título Objetivo Tipo de Pesquisa Resultados AMARIJO et al 2018 Assimilação teórica e prática da violência doméstica profissionais de enfermagem atendendo vítimas na atenção primária Analisar como os profissionais de enfermagem compreendem e lidam com a violência doméstica na APS Qualitativa descritiva Aponta fragilidade na formação dos profissionais insegurança no atendimento e desconhecimento de fluxos assistenciais FERREIRA et al 2021 Violência doméstica contra a mulher no contexto da atenção primária à saúde revisão integrativa Identificar e analisar publicações sobre violência doméstica na APS Revisão integrativa Evidencia carência de capacitação desarticulação entre serviços e baixa notificação dos casos RODRIGUES et al 2024 Violência doméstica contra as mulheres vivências dos profissionais da atenção primária à saúde Compreender as experiências dos profissionais diante da violência doméstica Qualitativa exploratória Identifica limitações técnicas emocionais e institucionais destaca o papel da escuta sensível e da empatia Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Autor Título Objetivo Tipo de Pesquisa Resultados SOUZA SILVA CARVALHO 2010 Revisão integrativa o que é e como fazer Apresentar metodologia para revisão integrativa em pesquisas qualitativas Metodológica Explica as etapas da revisão integrativa como ferramenta de sistematização científica BRASIL 2010 Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças adolescentes e suas famílias em situação de violência Orientar ações na rede de atenção à violência Documento técnico Estabelece diretrizes e fluxos de encaminhamento para profissionais de saúde BRASIL 2011 Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher Promover a saúde integral das mulheres no SUS Política pública Reforça o papel da APS na detecção precoce da violência e na articulação com a rede de proteção BRASIL 2012 Política Nacional de Atenção Básica Normatizar a organização da APS no SUS Documento normativo Define a APS como porta de entrada para situações de vulnerabilidade incluindo a violência doméstica BRASIL 2006 Lei nº 11340 Lei Maria da Penha Estabelecer medidas de prevenção e combate à violência doméstica Lei federal Cria mecanismos legais de proteção à mulher com foco na prevenção e responsabilização do agressor OMS 2021 Violência contra a mulher afeta uma em cada três no mundo Divulgar dados globais sobre violência de gênero Relatório institucional Destaca a alta prevalência da violência por parceiros íntimos e o papel do sistema de saúde na resposta BRASIL 2016 Resolução nº 510 do CNS Normatizar pesquisas em ciências humanas e sociais Norma ética Isenta revisões bibliográficas de submissão ao CEP mantendo a exigência de integridade científica Fonte próprio autor 2025 Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Esses dados reforçam a importância de compreender a complexidade do enfrentamento à violência doméstica nos serviços de saúde bem como a necessidade de fortalecer a atuação da Enfermagem por meio de formação específica protocolos institucionais claros e integração com a rede de proteção A próxima seção do trabalho apresentará a discussão dos resultados à luz da literatura em quatro subitens temáticos DISCUSSÃO Atuação da Enfermagem A atuação da enfermagem no enfrentamento da violência doméstica contra a mulher na Atenção Primária à Saúde APS representa um dos pilares essenciais para a identificação precoce o acolhimento humanizado e o encaminhamento adequado das vítimas Como profissional de linha de frente o enfermeiro possui um papel estratégico por sua proximidade com os usuários do Sistema Único de Saúde SUS o que o coloca em posição privilegiada para perceber alterações no comportamento queixas recorrentes e sinais físicos e emocionais que por vezes indicam situações de violência No entanto esse protagonismo muitas vezes é comprometido por lacunas de conhecimento limitações institucionais e barreiras socioculturais que dificultam uma intervenção eficaz O reconhecimento da violência doméstica como um problema de saúde pública está consolidado em políticas como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher BRASIL 2011 que destaca a necessidade de qualificação dos profissionais da APS para lidar com os diversos tipos de violência que afetam as mulheres Nesse contexto o enfermeiro não deve se limitar ao atendimento da queixa pontual mas desenvolver uma escuta sensível e ativa que permita compreender o contexto da usuária identificar sinais subjetivos de sofrimento e oferecer um cuidado ampliado A atuação deve portanto ultrapassar os aspectos clínicos e considerar os determinantes sociais da saúde que muitas vezes estão na raiz da violência vivenciada Conforme apontado por Amarijo et al 2018 os profissionais de enfermagem muitas vezes não conseguem perceber a violência em sua dimensão oculta justamente por não terem sido preparados para isso durante sua formação ou nas capacitações oferecidas no serviço Essa limitação compromete a capacidade de intervenção e em Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida alguns casos contribui para a manutenção do ciclo de violência A pesquisa evidencia que muitos enfermeiros sentemse inseguros diante dessas situações o que pode levá los a adotar uma postura de distanciamento ou de encaminhamento imediato sem o devido acolhimento o que compromete a integralidade do cuidado Apesar das diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica BRASIL 2012 que definem a APS como a porta de entrada preferencial para o SUS e atribuem aos profissionais a responsabilidade de agir diante de situações de vulnerabilidade observa se uma lacuna entre a teoria e a prática Os enfermeiros sobrecarregados por demandas administrativas atendimentos em massa e prazos rígidos muitas vezes não dispõem de tempo estrutura ou apoio institucional para realizar uma abordagem efetiva da violência Além disso o receio de envolvimento judicial o medo de represálias do agressor e a ausência de fluxos bem definidos na rede local de proteção tornam a atuação ainda mais desafiadora A Lei Maria da Penha BRASIL 2006 embora represente um marco legal no combate à violência doméstica ainda não é plenamente incorporada à prática da enfermagem na APS Muitos profissionais não conhecem em profundidade os instrumentos legais disponíveis nem as responsabilidades que lhes cabem dentro da rede intersetorial de enfrentamento Essa lacuna de conhecimento compromete a autonomia do enfermeiro e o impede de agir de forma assertiva tanto na escuta quanto no encaminhamento e no registro da violência nos sistemas de informação em saúde Estudos como o de Ferreira et al 2021 reforçam que a atuação da enfermagem precisa considerar a mulher em sua totalidade acolhendo não apenas o corpo ferido mas também o sofrimento psíquico e social causado pela violência Essa abordagem integral exige sensibilidade empatia e sobretudo formação ética e técnica A construção de vínculo entre o profissional e a usuária é apontada como elementochave para que a mulher sintase segura em relatar a violência e aceite os encaminhamentos propostos Quando esse vínculo está ausente o cuidado tornase mecânico fragmentado e ineficaz Outro aspecto central na atuação da enfermagem é a importância da escuta qualificada Amarijo et al 2018 destacam que o enfermeiro deve estar atento a sinais indiretos de sofrimento como mudanças de comportamento crises de ansiedade depressão ou queixas físicas repetidas sem causa aparente A escuta deve ser livre de julgamentos respeitosa e acolhedora criando um espaço de confiança para que a mulher Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida possa se expressar Essa postura requer preparo emocional e técnico o que demanda investimento em educação permanente por parte das gestões de saúde Segundo Rodrigues et al 2024 muitos profissionais relatam se sentir sozinhos e desamparados diante de situações de violência Isso reforça a necessidade de criação e fortalecimento de protocolos institucionais claros que orientem a conduta dos enfermeiros desde a suspeita até o encaminhamento à rede de proteção incluindo serviços de assistência social psicologia segurança pública e justiça Sem essa articulação o cuidado tornase incompleto e a mulher corre o risco de ser revitimizada pelo próprio sistema de saúde Além disso a atuação da enfermagem deve incluir o registro da violência nos prontuários e nos sistemas oficiais de notificação como o SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação conforme recomendado pelo Ministério da Saúde 2010 A subnotificação ainda é um problema sério e invisibiliza a magnitude da violência O enfermeiro ao identificar ou suspeitar de um caso tem o dever ético e legal de notificar mesmo que a mulher não verbalize diretamente a situação desde que existam indícios concretos e a confidencialidade seja garantida A Organização Mundial da Saúde 2021 enfatiza que os profissionais de saúde têm papel central na resposta à violência de gênero tanto na detecção quanto na prevenção de novos episódios No entanto para que essa responsabilidade seja cumprida é necessário que a atuação seja respaldada por políticas públicas consistentes infraestrutura adequada e suporte psicossocial aos profissionais A sobrecarga de trabalho a ausência de espaços de escuta e o desgaste emocional são fatores que limitam a atuação e afetam diretamente a qualidade do cuidado prestado Embora os enfermeiros sejam atores fundamentais na APS muitos deles enfrentam dificuldades em realizar a escuta empática quando não há capacitação específica Como reforçam Ferreira et al 2021 o cuidado humanizado deve ser sistematizado planejado e ajustado às particularidades de cada situação evitando generalizações e intervenções precipitadas O respeito à autonomia da mulher e o sigilo profissional são princípios que devem ser rigorosamente observados na prática cotidiana A construção de um cuidado sensível à violência doméstica exige também que o enfermeiro compreenda o contexto sociocultural da mulher incluindo questões de gênero raça classe e sexualidade Muitas vezes essas dimensões são ignoradas nas Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida abordagens tradicionais o que contribui para a reprodução de estigmas e para o afastamento das usuárias dos serviços O profissional deve ser agente de mudança promovendo a equidade e combatendo práticas discriminatórias dentro e fora da unidade de saúde Outro desafio enfrentado pelos enfermeiros é o próprio medo de represálias por parte dos agressores Em contextos pequenos ou vulneráveis os profissionais relatam insegurança quanto à sua proteção pessoal o que os leva muitas vezes a omitir a notificação Para superar essa barreira é necessário que as instituições de saúde ofereçam suporte jurídico psicossocial e institucional garantindo que os enfermeiros possam exercer sua função com segurança e respaldo É preciso reconhecer que a atuação da enfermagem no enfrentamento à violência doméstica ainda se dá na maioria das vezes por iniciativa individual e não como resultado de uma política institucional consolidada Essa fragilidade evidencia a urgência de protocolos intersetoriais e do fortalecimento da rede de atenção conforme preconizado na Linha de Cuidado para Atenção Integral à Saúde em Situações de Violência BRASIL 2010 O compromisso ético da profissão deve ser acompanhado de estruturas concretas que viabilizem sua prática Por fim a atuação da enfermagem deve ser compreendida como parte de um esforço coletivo e articulado que inclui gestores educadores profissionais de diversas áreas e a própria comunidade A violência doméstica não é um problema privado mas uma violação de direitos humanos que exige resposta pública O enfermeiro enquanto sujeito histórico e político deve ser capacitado e empoderado para atuar de forma crítica transformadora e sensível contribuindo para a quebra do ciclo da violência e para a construção de uma sociedade mais justa e segura para todas as mulheres Estratégias de Acolhimento O acolhimento às mulheres vítimas de violência doméstica na Atenção Primária à Saúde APS constitui um momento crucial para a efetivação do cuidado humanizado e para o início do processo de proteção e enfrentamento da violência A enfermagem por seu contato direto e frequente com as usuárias desempenha papel central na criação de um ambiente seguro acolhedor e confidencial que favoreça a expressão das Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida experiências traumáticas e o fortalecimento da autonomia da mulher Essa abordagem deve ser pautada na escuta qualificada no respeito e na empatia pilares que viabilizam o vínculo terapêutico e a confiança necessária para a continuidade do cuidado Segundo Amarijo et al 2018 o acolhimento deve ir além do atendimento à demanda inicial contemplando a observação atenta de sinais não verbais como comportamentos ansiosos evasivos ou contraditórios que podem indicar situações de violência ainda não verbalizadas A escuta atenta e livre de julgamentos é essencial para que a mulher sintase amparada e segura para relatar seu sofrimento Essa estratégia exige que o profissional esteja preparado para respeitar o tempo da vítima entendendo que o processo de denúncia é delicado e pode envolver medos e inseguranças profundos Ferreira et al 2021 destacam que o ambiente físico da unidade básica de saúde deve ser organizado de forma a garantir a privacidade durante o atendimento prevenindo exposições indevidas e constrangimentos que possam desencorajar o relato da violência Espaços acolhedores com assentos confortáveis e ambientação tranquila contribuem para a sensação de segurança e favorecem o diálogo aberto entre profissional e paciente A confidencialidade deve ser garantida em todas as etapas do atendimento assegurando o sigilo das informações compartilhadas Além disso a utilização de instrumentos padronizados de triagem e acolhimento validados por órgãos oficiais pode auxiliar os enfermeiros na identificação de casos de violência doméstica especialmente quando as vítimas não expõem diretamente a situação Questionários específicos protocolos de avaliação e fluxos assistenciais estabelecidos são ferramentas importantes para sistematizar o cuidado e minimizar a subjetividade das avaliações A capacitação para o uso adequado desses instrumentos é fundamental para que o acolhimento seja eficaz e respeite as particularidades de cada caso Amarijo et al 2018 também enfatizam a importância do acolhimento interdisciplinar no qual a enfermagem atua em conjunto com outros profissionais como psicólogos assistentes sociais e médicos para garantir uma resposta integral à mulher Essa articulação favorece o compartilhamento de informações e a construção de planos de cuidado que contemplam aspectos físicos emocionais e sociais promovendo uma abordagem mais completa e eficaz A coordenação desse trabalho multidisciplinar frequentemente cabe à enfermagem que deve atuar como elo entre os serviços Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Outro aspecto fundamental das estratégias de acolhimento é a orientação da mulher sobre seus direitos os serviços disponíveis e os procedimentos que podem ser adotados para sua proteção A enfermagem tem o papel educativo de informar sobre a Lei Maria da Penha BRASIL 2006 os canais de denúncia e os recursos comunitários empoderando a vítima para que possa tomar decisões conscientes e seguras Essa orientação deve ser clara acessível e adaptada às condições socioculturais da mulher atendida A construção do vínculo afetivo e de confiança durante o acolhimento é reforçada por Rodrigues et al 2024 que apontam que as vítimas muitas vezes relatam experiências anteriores de atendimento insensível ou revitimização nos serviços de saúde O enfermeiro deve portanto evitar atitudes que reforcem estigmas ou culpabilizem a mulher adotando uma postura acolhedora e respeitosa que reconheça sua singularidade e fortaleça sua autoestima Essa relação é base para o sucesso dos encaminhamentos e da continuidade do cuidado A escuta ativa também envolve a capacidade do profissional de reconhecer os momentos de silêncio o choro e outras manifestações emocionais da mulher respondendo de forma sensível e sem pressa Ferreira et al 2021 ressaltam que essas expressões são parte do processo de acolhimento e podem sinalizar a construção de um espaço seguro onde a mulher sentese à vontade para se abrir O tempo dedicado a esse momento deve ser respeitado pela equipe que precisa entender a complexidade do trauma e o ritmo singular de cada paciente Souza Silva e Carvalho 2010 indicam que a revisão integrativa da literatura reforça que o acolhimento deve ser sistematizado dentro da rotina das unidades de saúde com protocolos claros que orientem o passo a passo do atendimento garantindo que nenhuma vítima passe despercebida A padronização dos procedimentos facilita a capacitação da equipe e assegura a qualidade do cuidado mesmo diante das limitações estruturais ou do turnover de profissionais A linha de cuidado para atenção integral à saúde em situações de violência doméstica BRASIL 2010 reforça a necessidade de que o acolhimento contemple a escuta qualificada e o encaminhamento imediato às redes de apoio incluindo serviços sociais psicológicos e jurídicos O enfermeiro nesse cenário atua como facilitador do Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida acesso a esses recursos oferecendo suporte emocional e informações necessárias para que a mulher se sinta amparada durante todo o processo Amarijo et al 2018 destacam também a importância do acolhimento contínuo que não se encerra na primeira consulta ou atendimento emergencial O acompanhamento longitudinal é necessário para monitorar a evolução da situação avaliar os riscos e fortalecer a rede de proteção da mulher A continuidade do cuidado favorece o rompimento do ciclo de violência e contribui para a reconstrução da autonomia e do bem estar da vítima A Organização Mundial da Saúde 2021 reforça que o acolhimento é parte de uma resposta global coordenada e que a atuação do profissional de saúde deve estar integrada às políticas públicas e programas de prevenção garantindo que a mulher não se sinta isolada em seu sofrimento O enfermeiro portanto precisa estar consciente do seu papel como agente de transformação social e fortalecimento da cidadania É importante ressaltar ainda que o acolhimento deve considerar as diversidades culturais étnicas e sociais das mulheres atendidas garantindo que as estratégias sejam inclusivas e respeitem as especificidades de cada grupo A abordagem culturalmente sensível evita exclusões e reforça o direito à saúde e à proteção para todas as mulheres especialmente aquelas em situação de maior vulnerabilidade Por fim Ferreira et al 2021 apontam que as estratégias de acolhimento necessitam ser continuamente avaliadas e aprimoradas por meio da capacitação permanente dos profissionais supervisão técnica e participação comunitária Esse processo garante que o cuidado oferecido acompanhe as mudanças sociais e as demandas específicas do território promovendo um atendimento cada vez mais qualificado humano e efetivo Dificuldades Enfrentadas A atuação da enfermagem na Atenção Primária à Saúde APS diante da violência doméstica contra a mulher encontra diversos desafios que comprometem a qualidade do cuidado e a efetividade das intervenções Um dos principais obstáculos referese à insuficiência de capacitação específica para o reconhecimento acolhimento e encaminhamento dos casos Como apontado por Amarijo et al 2018 muitos Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida enfermeiros relatam insegurança técnica e emocional ao lidar com situações complexas que envolvem violência o que pode resultar em atitudes evasivas ou inadequadas comprometendo o vínculo terapêutico e o processo de proteção Além disso Ferreira et al 2021 destacam que a sobrecarga de trabalho e a escassez de recursos humanos e materiais nas unidades básicas de saúde são fatores que dificultam a oferta de um atendimento qualificado A rotina intensa com múltiplas demandas simultâneas limita o tempo que o profissional pode dedicar à escuta e acolhimento das vítimas fazendo com que a abordagem da violência doméstica seja negligenciada ou tratada de forma superficial Outro desafio significativo é a ausência ou fragilidade de protocolos institucionais claros e de fluxos articulados para o atendimento às mulheres em situação de violência Rodrigues et al 2024 enfatizam que a falta de diretrizes objetivas e o desconhecimento dos procedimentos a serem adotados geram insegurança nos profissionais que muitas vezes não sabem como agir ou para onde encaminhar a vítima prejudicando o acesso a uma rede integrada de proteção A subnotificação dos casos de violência doméstica constitui uma barreira relevante e persistente no cenário da APS De acordo com o Ministério da Saúde 2010 a baixa notificação compromete o dimensionamento real do problema e dificulta o planejamento de políticas públicas adequadas Os enfermeiros frequentemente deixam de notificar por receio de expor a vítima falta de conhecimento dos sistemas de informação ou ainda pela percepção de que a notificação não trará benefícios concretos para a mulher A Lei Maria da Penha BRASIL 2006 estabelece mecanismos legais para a proteção da mulher mas seu conhecimento e aplicação prática ainda são insuficientes entre os profissionais de enfermagem Essa lacuna normativa na rotina de trabalho contribui para a dificuldade em conduzir o atendimento com segurança jurídica e para o pleno exercício dos direitos das vítimas conforme observado por Amarijo et al 2018 O medo de represálias tanto para a mulher quanto para os profissionais envolvidos configura outro fator limitador Rodrigues et al 2024 relatam que enfermeiros têm receio de que a denúncia possa desencadear conflitos agressões ou retaliações o que os leva a evitar o envolvimento direto ou a minimizar a gravidade dos casos situação que fragiliza a proteção da vítima e a responsabilização do agressor Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida A fragilidade da rede de apoio social e de serviços especializados frequentemente apontada pelos estudos revisados também impacta negativamente a atuação da enfermagem A inexistência ou o difícil acesso a serviços de assistência social psicológica e jurídica impossibilita que o profissional ofereça um cuidado integral e continuo limitando sua atuação à identificação inicial e ao encaminhamento incipiente Outro ponto crítico referese à falta de suporte institucional e supervisão técnica Ferreira et al 2021 ressaltam que o isolamento profissional e a ausência de espaços para discussão de casos complexos aumentam o desgaste emocional dos enfermeiros contribuindo para o fenômeno do burnout e para a redução da qualidade do atendimento A ausência de acompanhamento técnico dificulta a reflexão crítica sobre as práticas e o aprimoramento do cuidado A questão da confidencialidade e do sigilo profissional embora reconhecida como essencial apresenta desafios práticos no cotidiano da APS Muitas vezes a estrutura física inadequada e o fluxo desorganizado das unidades impossibilitam um atendimento reservado expondo a mulher e comprometendo sua segurança e confiança no serviço como apontam Amarijo et al 2018 e Ferreira et al 2021 A dimensão cultural e social da violência doméstica também impõe dificuldades à atuação da enfermagem Preconceitos estigmas e normas sociais que naturalizam a violência contra a mulher estão internalizados tanto na sociedade quanto entre profissionais de saúde o que pode levar a julgamentos morais e a práticas discriminatórias conforme evidenciado por Rodrigues et al 2024 Superar essas barreiras requer um trabalho contínuo de conscientização e sensibilização A ausência de articulação efetiva entre os diferentes níveis de atenção à saúde e com os demais setores envolvidos no enfrentamento da violência é um desafio estruturante A fragmentação dos serviços compromete o fluxo de informação e o acompanhamento das vítimas dificultando a integralidade do cuidado e o rompimento do ciclo da violência como ressalta a Linha de Cuidado do Ministério da Saúde 2010 Outro entrave frequentemente mencionado é a dificuldade de manejar o aspecto emocional e psicológico da violência doméstica Enfermeiros apesar de terem contato direto com as vítimas nem sempre dispõem de treinamento para lidar com o sofrimento psíquico decorrente da violência o que pode resultar em respostas inadequadas como minimização do problema ou desvalorização das queixas emocionais Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida A precariedade dos recursos materiais como falta de espaços adequados materiais didáticos e tecnológicos impede que os enfermeiros realizem intervenções educativas e preventivas de forma efetiva limitandose ao atendimento emergencial e reativo conforme apontam os documentos institucionais do Ministério da Saúde 2010 2012 O turnover elevado da equipe de enfermagem e a falta de continuidade na capacitação dificultam a consolidação de uma prática qualificada e consistente Novos profissionais ingressam sem o preparo adequado e os conhecimentos adquiridos são pouco disseminados gerando descontinuidade no atendimento conforme destacado por Amarijo et al 2018 Por fim a dificuldade em equilibrar as demandas técnicas administrativas e humanas no cotidiano da APS limita a profundidade e qualidade do cuidado prestado A pressão por resultados quantitativos e o enfoque na resolução rápida das queixas podem levar a uma abordagem superficial que não considera a complexidade da violência doméstica exigindo mudanças estruturais e políticas para garantir um atendimento integral e humanizado Necessidade de Formação e Políticas Públicas A formação contínua e qualificada dos profissionais de enfermagem é elemento fundamental para garantir uma atuação eficaz e humanizada no enfrentamento da violência doméstica contra a mulher na Atenção Primária à Saúde APS Conforme Amarijo et al 2018 a falta de capacitação específica sobre identificação acolhimento e encaminhamento dos casos limita significativamente a atuação do enfermeiro evidenciando a urgência de programas educativos que abordem as dimensões técnicas éticas e legais da temática Os conteúdos curriculares dos cursos de graduação em enfermagem ainda apresentam lacunas importantes no que tange ao manejo da violência doméstica A formação tradicional frequentemente não contempla de forma aprofundada aspectos relacionados à escuta qualificada à abordagem interdisciplinar e às políticas públicas vigentes como a Lei Maria da Penha BRASIL 2006 Essa deficiência contribui para que o profissional ingresse no mercado de trabalho despreparado para enfrentar as demandas específicas desse campo Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Ferreira et al 2021 ressaltam que a capacitação deve ser permanente e estar alinhada às diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher BRASIL 2011 que preconiza a qualificação dos profissionais da APS para atuar na prevenção identificação e cuidado às vítimas de violência Essa formação deve ser multidisciplinar contemplando aspectos clínicos psicossociais e legais além de promover reflexões sobre gênero direitos humanos e determinantes sociais da saúde Além disso a implementação de políticas públicas que assegurem a capacitação sistemática dos profissionais é imprescindível A organização de cursos oficinas seminários e supervisionamentos técnicos deve fazer parte das estratégias institucionais para fortalecer as equipes de enfermagem garantindo que estejam aptas a reconhecer sinais sutis da violência e a atuar com segurança e sensibilidade Essa política formativa deve ser monitorada e avaliada para assegurar sua efetividade Os documentos normativos do Ministério da Saúde como a Política Nacional de Atenção Básica BRASIL 2012 e a Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde em Situações de Violência BRASIL 2010 reforçam a necessidade de políticas articuladas que integrem capacitação protocolos clínicos e rede de apoio visando à melhoria do atendimento A ausência dessa articulação compromete a sistematização do cuidado e a proteção efetiva das vítimas A Lei Maria da Penha BRASIL 2006 configurase não apenas como um instrumento jurídico mas também como um marco orientador das práticas de saúde exigindo que os profissionais estejam familiarizados com seus dispositivos para garantir direitos e garantir o encaminhamento adequado Políticas públicas que promovam a disseminação do conhecimento dessa legislação entre os enfermeiros são essenciais para ampliar sua aplicação no cotidiano Amarijo et al 2018 destacam que a formação deve ir além da transmissão de conhecimentos técnicos contemplando a dimensão ética e o desenvolvimento de competências emocionais que permitam ao profissional lidar com o sofrimento da vítima sem revitimização ou prejuízo ao próprio cuidado Essa abordagem integral da formação fortalece a capacidade de acolhimento e de atuação multidisciplinar Ferreira et al 2021 reforçam que políticas públicas eficazes devem também garantir recursos materiais infraestrutura adequada e apoio institucional condições necessárias para que os enfermeiros possam aplicar os conhecimentos adquiridos em Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida sua rotina A formação isolada sem o suporte estrutural limita a transformação das práticas e a melhoria da qualidade do atendimento A articulação entre os setores da saúde assistência social segurança pública e justiça prevista nas políticas públicas deve ser refletida nos programas de formação promovendo uma visão integrada e colaborativa do enfrentamento à violência doméstica Os enfermeiros como agentes centrais na APS necessitam de treinamento para atuar como articuladores dessa rede facilitando o acesso das mulheres aos serviços e assegurando a continuidade do cuidado A Organização Mundial da Saúde 2021 enfatiza a importância da capacitação dos profissionais de saúde como estratégia fundamental para reduzir a morbimortalidade associada à violência de gênero Investir em políticas públicas que priorizem essa capacitação contribui para a construção de sistemas de saúde mais sensíveis preparados para responder às necessidades complexas das vítimas Rodrigues et al 2024 apontam que a incorporação de práticas reflexivas e supervisão técnica nos ambientes de trabalho é uma necessidade para o aprimoramento da atuação dos enfermeiros Políticas públicas que estimulem esses processos fortalecem a equipe promovem a troca de experiências e contribuem para a superação das dificuldades enfrentadas A formação contínua também deve contemplar o manejo dos aspectos emocionais e do autocuidado dos profissionais prevenindo o estresse e o burnout comuns em contextos de violência doméstica Políticas públicas que implementem programas de suporte psicossocial para os profissionais ampliam a qualidade do atendimento e promovem a sustentabilidade das equipes A capacitação deve ser inclusiva e acessível abrangendo todos os níveis hierárquicos e profissionais da APS desde enfermeiros até técnicos e auxiliares A formação transversalizada promove uma cultura institucional de atenção e enfrentamento da violência evitando lacunas no atendimento e assegurando a integralidade do cuidado Além da formação as políticas públicas devem garantir a atualização constante dos protocolos e fluxos assistenciais alinhandoos às evidências científicas mais recentes e às necessidades locais O enfermeiro deve ser protagonista nesse processo participando ativamente da elaboração e revisão das normativas que orientam sua prática Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida Por fim o fortalecimento da participação comunitária e o engajamento das mulheres nas políticas públicas e programas de capacitação representam estratégias fundamentais para construir serviços mais responsivos e contextualizados A atuação da enfermagem embasada em formação robusta e respaldada por políticas públicas eficazes é essencial para transformar a realidade da violência doméstica e promover a saúde e a dignidade das mulheres atendidas na APS CONSIDERAÇÕES FINAIS A violência doméstica contra a mulher representa um grave problema de saúde pública cujas consequências ultrapassam os danos físicos atingindo a saúde mental social e emocional das vítimas A Atenção Primária à Saúde APS configurase como um espaço estratégico e fundamental para a prevenção identificação e acolhimento dessas mulheres dado seu papel de porta de entrada do sistema de saúde Nesse contexto a enfermagem assume uma posição de destaque pois devido à sua proximidade e frequência de contato com as usuárias pode atuar diretamente no reconhecimento precoce e na oferta de um cuidado integral e humanizado Os resultados evidenciam que a atuação da enfermagem na APS vai além do atendimento clínico tradicional incorporando estratégias de escuta qualificada acolhimento empático e encaminhamento adequado às redes de proteção A capacidade do profissional de estabelecer um vínculo de confiança com a vítima é crucial para a efetivação do cuidado possibilitando que a mulher se sinta segura para compartilhar sua experiência e buscar apoio Essa abordagem demanda sensibilidade conhecimento técnico e postura ética aspectos que precisam ser constantemente aprimorados Entretanto o trabalho também apontou uma série de dificuldades enfrentadas pelos profissionais de enfermagem como a falta de capacitação específica sobrecarga de trabalho ausência de protocolos claros e fragilidade da rede de apoio Essas barreiras comprometem a qualidade do atendimento e limitam o alcance das ações de enfrentamento da violência Ademais questões culturais e o medo de retaliações contribuem para a subnotificação dos casos dificultando a visibilidade do problema e a implementação de políticas efetivas A análise reforça a necessidade urgente de investimentos em formação Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida continuada e políticas públicas que apoiem o desenvolvimento das competências técnicas e emocionais dos profissionais de enfermagem Capacitações sistemáticas alinhadas às diretrizes nacionais e internacionais são essenciais para preparar a equipe para o manejo adequado dos casos e para a articulação com a rede intersetorial O fortalecimento das políticas e da legislação especialmente no que tange à Lei Maria da Penha deve ser incorporado às práticas cotidianas Além disso as unidades de saúde precisam estruturar seus ambientes físicos e organizacionais para garantir privacidade sigilo e acolhimento humanizado elementos indispensáveis para que a mulher se sinta segura no momento do atendimento A criação e atualização de protocolos assistenciais bem como o suporte institucional e a supervisão técnica são medidas que favorecem a qualidade e a continuidade do cuidado minimizando os riscos de revitimização O trabalho destaca também a importância da atuação interdisciplinar e da articulação efetiva entre os diferentes níveis de atenção à saúde e os serviços sociais jurídicos e de segurança O enfermeiro como profissional que frequentemente atua como elo entre esses setores deve estar preparado para coordenar o cuidado integrado assegurando que a mulher tenha acesso aos recursos necessários para sua proteção e reabilitação Em síntese a enfermagem na APS tem um papel central no enfrentamento da violência doméstica contra a mulher atuando não apenas como prestadora de cuidados mas também como agente de transformação social e promotora de direitos A superação dos desafios identificados depende de um compromisso coletivo que envolva a capacitação profissional a implementação de políticas públicas eficazes e o fortalecimento da rede de apoio Por fim este estudo contribui para a reflexão crítica e o aprimoramento das práticas de enfermagem destacando a necessidade de consolidar uma abordagem integral sensível e proativa frente à violência doméstica A consolidação desse conhecimento é fundamental para garantir que a APS cumpra seu papel estratégico na promoção da saúde da dignidade e da segurança das mulheres promovendo mudanças significativas na realidade social brasileira REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida AMARIJO Cristiane Lopes et al Assimilação teórica e prática da violência doméstica profissionais de enfermagem atendendo vítimas na atenção primária Revista Enfermagem UERJ Rio de Janeiro v 26 p e33874 2018 Disponível em httpswwwepublicacoesuerjbrenfermagemuerjarticleview3387427758 Acesso em 25 maio 2025 BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher princípios e diretrizes Brasília Ministério da Saúde 2011 Série C Projetos Programas e Relatórios BRASIL Lei nº 11340 de 7 de agosto de 2006 Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher Diário Oficial da União seção 1 Brasília DF 8 ago 2006 Disponível em httpwwwplanaltogovbrccivil03ato200420062006leil11340htm Acesso em 25 maio 2025 BRASIL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Política Nacional de Atenção Básica Brasília Ministério da Saúde 2012 Série E Legislação em Saúde BRASIL Ministério da Saúde Conselho Nacional de Saúde Resolução nº 510 de 7 de abril de 2016 Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais Brasília Ministério da Saúde 2016 FERREIRA M do R A B et al Violência doméstica contra a mulher no contexto da atenção primária à saúde revisão integrativa Brazilian Journal of Development Curitiba v 7 n 1 p 62866306 2021 Disponível em httpsdoiorg1034117bjdv7n1427 Acesso em 25 maio 2025 MINISTÉRIO DA SAÚDE Brasil Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças adolescentes e suas famílias em situação de violência orientação para gestores e profissionais de saúde Brasília Ministério da Saúde 2010 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE Violência contra a mulher afeta uma em cada três no mundo ONU Brasil 2021 Disponível em httpsbrasilunorgptbr115652oms umaemcada3mulheresemtodoomundosofreviolC3AAncia Acesso em 25 maio 2025 RODRIGUES P S et al Violência doméstica contra as mulheres vivências dos profissionais da atenção primária à saúde Texto Contexto Enfermagem Florianópolis v 33 p e20230403 2024 Disponível em httpsdoiorg1015901980265XTCE2023 0403pt Acesso em 25 maio 2025 SOUZA Marcela Tavares de SILVA Michelly Dias da CARVALHO Rachel de Revisão integrativa o que é e como fazer Einstein São Paulo São Paulo v 8 p 102106 2010 Cadernos de Ciências da Saúde e da Vida