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UNIVERSIDADE DO DISTRITO FEDERAL UDF SAÚDE DA CRIANÇA CASO CLÍNICO BRASÍLIADF 2024 Ana Júlia Meneses Velasco Amanda Rodrigues da Silva Eduardo Lucas da Silva Cardoso Eva nunes de Araújo Pereira Flávio Siqueira dos Santos Lana Mireli Gonçalves Barbosa Mariana Ribeiro de Brito Thiago Vinícius Gomes dos Santos Valéria de Barros Vieira Victor Bruce Alves da Silva SAÚDE DA CRIANÇA CASO CLÍNICO Este trabalho apresenta a discussão do caso clínico de André uma criança de 2 anos e 3 meses com febre e leve eritema na garganta abordando as condutas apropriadas para o manejo da febre em pediatria O artigo enfatiza a importância do alívio sintomático e das orientações aos cuidadores apresentado no curso de graduação de Enfermagem da Universidade do Distrito Federal UDF Prof Bruna Mercedes BRASÍLIADF 2024 2 1 CASO CLÍNICO André de 2 anos e 3 meses está acompanhado da mãe na consulta de uma unidade básica de saúde A mãe relata que André apresenta febre há dois dias porém não soube relatar o valor no momento da consulta foi verificado que ele estava com 385C André está com a vacinação atualizada e faz uso de dipirona há 2 dias como medicação a mãe relata oferecer 10 gotas a mãe relata ainda diminuição do apetite de André e irritabilidade Na realização do exame físico não foram encontradas alterações em ausculta e palpação abdominal e torácica em região da garganta foi inspecionado um leve eritema 2 INTRODUÇÃO O caso clínico apresentado referese a André uma criança de 2 anos e 3 meses que chegou à unidade básica de saúde acompanhada de sua mãe A queixa principal é a febre que persiste há dois dias mas a mãe não soube informar o valor exato Ao ser avaliado foi constatado que André apresentava 385C no momento da consulta Além disso foi relatada uma diminuição do apetite e irritabilidade fatores que podem indicar desconforto ou mal estar A vacinação de André está atualizada o que é um ponto positivo mas a mãe está administrando dipirona há dois dias como antitérmico sem sucesso claro no controle da febre No exame físico não foram encontradas alterações relevantes na ausculta e palpação abdominal e torácica mas observouse um leve eritema na região da garganta o que pode sugerir uma possível faringite Neste contexto é fundamental realizar uma anamnese detalhada e um exame físico cuidadoso para descartar possíveis etiologias da febre além de determinar as condutas apropriadas para o manejo da febre e garantir o conforto de André O manejo da febre em crianças é um aspecto crítico na prática da enfermagem envolvendo a avaliação da gravidade do quadro monitoramento contínuo e orientações educativas aos cuidadores sobre os cuidados a serem tomados em casa 3 3 ANAMNESE No caso de André além das informações já coletadas é importante aprofundar a investigação para identificar possíveis causas e orientar a mãe de forma adequada 1 De acordo com as Queixas principais 11 Febre há 2 dias Qual a temperatura máxima atingida A febre é contínua intermitente ou recorrente Há algum padrão de piora ou melhora da febre A febre está associada a calafrios sudorese ou tremores 12 Diminuição do apetite Há quanto tempo Quais alimentos ele está recusando Houve vômitos ou diarreia 13 Irritabilidade Há quanto tempo Como se manifesta a irritabilidade Choro excessivo dificuldade para se acalmar agitado Há alguma situação específica que desencadeia a irritabilidade 2 História da doença atual 21 Quando iniciaram os sintomas Houve algum evento desencadeante contato com outras crianças doentes viagens Quais outros sintomas estão presentes além da febre irritabilidade e diminuição do apetite Coriza tosse dor de garganta dor de cabeça dor abdominal manchas na pele Como tem sido o comportamento de André durante as crises de febre Letargia prostração convulsões Quais medidas foram tomadas em casa para controlar a febre Uso de antitérmicos banhos mornos compressas 3 História pregressa da doença 31 André já teve episódios semelhantes de febre anteriormente Quais foram as causas identificadas André tem alguma doença crônica Asma alergias doenças cardíacas Já foi hospitalizado Por qual motivo Quais medicamentos André utiliza regularmente Tem alguma alergia conhecida 4 História vacinal 41 A mãe informou que a vacinação de André está completa e atualizada porém é necessário realizar algumas perguntas Quando foi a última dose de cada vacina Houve alguma reação adversa às vacinas É necessário realizar a conferência na caderneta da criança e orientar sobre quais serão as próximas doses e lembrar da importância da vacinação 5 História familiar 51 Alguém na família está doente Há casos de doenças crônicas ou alergias na família Alguém na família já teve febre alta na infância 6 Hábitos de vida 61 Como é a alimentação de André Qual a frequência das refeições André frequenta creche ou escola Como é a higiene de André Ele tem contato com animais de estimação 7 Informações adicionais 71 Como está o sono de André Tem urinado e defecado normalmente Há alguma outra queixa que a mãe gostaria de relatar 4 4 EXAME FÍSICO DA CRIANÇA Após uma anamnese detalhada é importante realizarmos um exame físico completo destacandose a presença ou ausência de sintomas e sinais que possam ser utilizados para prever o grau de risco Ao exame físico começaremos por fazer 1 Inspeção geral a Impressão geral do paciente b Estado de consciência c Aparência saudável ou enfermo d Grau de atividade 2 Cabeça a Inspeção i Fácies Conformação do crânio ii Cabelo implantação cor tipo iii Pelos implantação cor iv Orelhas forma e posição das orelhas secreção v Pescoço tumorações pulsações b Palpação i Crânio conformação perímetro cefálico ii Olhos mucosa conjuntival nistagmo estrabismo exoftalmia acuidade visual reflexos iii Nariz obstrução mucosa batimentos de asa de nariz iv Orelhas dor otoscopia se possível nesse momento v Boca dentes gengiva língua amígdalas lábios mucosa oral palato vi Linfonodos número tamanho consistência mobilidade e sinais inflamatórios vii Pescoço tumorações lesões rigidez palpação da traqueia rigidez de nuca 3 Membros superiores a Inspeção i Lesões de pele ii Cicatriz de BCG iii Articulações aumento de tamanho simetria coloração iv Musculatura simetria b Palpação i Articulações temperatura edema mobilidade crepitação dor tamanho ii Musculatura trofismo tônus força muscular iii Temperatura axilar iv Umidade da pele v Linfonodos axilares vi Pulso radial vii Unhas tamanho espessura manchas formato coloração viii Perfusão capilar ix Medida da pressão arterial 4 Tórax a Inspeção i Forma simetria mobilidade ii Lesões de pele 5 iii Respiração tipo ritmo amplitude frequência esforço Ictus cordis impulsões tamanho iv Mamas desenvolvimento simetria b Palpação i Linfonodos supraclaviculares ii Tumorações iii Mamas dor calor tumorações coloração iv Expansibilidade v Frêmito toracovocal vi Frêmito cardíaco vii Pontos dolorosos viii Pesquisa de sensibilidade c Percussão i Som claro pulmonar timpanismo ou macicez d Ausculta i Ruídos respiratórios audíveis sem estetoscópios ii Sons respiratórios normais ruídos adventícios iii Precórdio bulhas sopros estalidos 5 Abdome a Inspeção i Forma globoso semigloboso distendido ou escavado ii Coloração iii Cicatriz umbilical forma secreção hiperemia iv Massas visíveis cicatrizes v Movimentos e alterações de parede vi Lesões de pele b Ausculta i Peristaltismo c Palpação superficial i Sensibilidade ii Turgor e elasticidade da pele iii Tensão da parede abdominal d Percussão i Delimitação de vísceras ii Sensibilidade e Palpação profunda i Cicatriz umbilical ii Diástase dos músculos retoabdominais iii Sensibilidade iv Fígado baço massas lojas renais rins 6 Membros inferiores a Inspeção i Lesões de pele Coloração ii Unhas tamanho espessura manchas formato iii Movimentos anormais coreia tiques tremores iv Articulações aumento de tamanho simetria hiperemia v Musculatura simetria 6 b Palpação i Musculatura trofismo tônus força muscular ii Articulações dor edema crepitações mobilidade tamanho temperatura iii Pulsos pedioso e dorsal dos pés iv Medida da pressão arterial em um dos membros v Avaliação do subcutâneo turgor edema linfedema vi Sensibilidade 7 Coluna vertebral joelhos e pés a Parada i Curvaturas da coluna escoliose cifose e lordose ii Curvaturas dos joelhos iii Curvaturas dos pés b Andando i Varismo e valgismo do joelho e dos pés ii Movimento da cintura escapular iii Movimento da cintura pélvica iv Movimento dos braços 8 Mensuração a Pode ser feita no início ou no final do exame físico i Comprimentoaltura ii Peso iii Perímetros cefálico torácico e abdominal iv Dados vitais temperatura frequência respiratória pulsos v Pressão arterial nos membros superiores e em um membro inferior Durante o exame físico é importante darmos uma atenção a mais em Frequência Cardíaca em batimentos por minuto bpm 12 meses 160 bpm 12 a 24 meses 150 bpm 2 a 5 anos 140 bpm Frequência Respiratória respiraçõesminuto 50 6 a 12 meses 40 para os maiores de 12 meses e saturação de oxigênio 95 Tempo de enchimento capilar alerta se 3 segundos Grau de hidratação avaliar mucosas e turgor da pele Grau de atividade e responsividade aos estímulos Esta avaliação incluirá um código de cores verde amarelo ou vermelho protocolo semáforo para indicar o grau de risco orientando assim as investigações e o manejo inicial para a criança com febre 7 5 Sinais de gravidade do caso A presença de gravidade de febre acompanhada de eritema pode indicar várias condições a começar pelo contexto clínico e dos sinais e sintomas associados a febre Observar e acompanhar se o André apresenta respiração acelerada uso de músculos acessórios para respirar ou cianose é um sinal de gravidade Desidratação sinais como boca seca é sinal de mucosas secas e olhos encovados diminuição da frequência urinária choro sem lágrimas e letargia são sinais de uma desidratação preocupante Alterações do estado de consciência confusão sonolência excessiva ou irritabilidade pode ter indicações mais sérias do estado Observar o eritema já presente na avaliação alerta para aparecimento de bolhas ou descamação ou áreas da pele comprometidas pode indicar uma evolução para infecções grave ou uma reação alérgica posterior Presença de sinais como rigidez da nuca petequias ou outros sinais de infecção como dor abdominal intensa vômitos persistentes ou sinais de diarreia são indicativos para nova avaliação médica Avaliar condições subjacentes como doenças cardíacas respiratórias ou imunologicas pode ser um risco maior para complicações devido a febre como tratase de uma criança de 2 anos e 3 meses a febre é um quadro de maior preocupação se persistente em 48 a 72 horas A febre leve e moderada está associada a uma resposta imunológica mais intensa e desempenha papel importante no processo de resposta antiinflamatória somente febre com 385º 390º e 400º C deve ser reduzida com antipiréticos e acompanhadas dos demais fatores além da febre uso individualizado e acompanhado Avaliar a intensidade da febre com mais de 7 dias se febre com avaliação de 389ºC é considerado taxas de bacteremia 1 a considerar valores de aferição da febre maiores a taxa de bacteremia dependendo da intensidade considera estado da criança e presença de sintomas 6 CONDUTAS 1 Controle da Febre Ajuste na Dosagem de Dipirona A dose de dipirona deve ser adequada ao peso da criança 12 kg com orientação para 10 a 15 mgkg por dose No caso de André a dosagem 8 correta seria cerca de 12 gotas podendo ser administrada a cada 6 horas se a febre ultrapassar 385C ou caso haja desconforto acentuado Alternativa com Paracetamol Na ausência de dipirona ou se houver contraindicações o paracetamol é uma opção segura também em dosagem de 10 a 15 mgkg respeitando o intervalo de 6 horas entre as doses apenas em caso de necessidade para alívio de sintomas febris 2 Hidratação e Alimentação Estimulação da Ingestão Hídrica Manter a criança hidratada é essencial para evitar desidratação Orientar a mãe a oferecer água sucos naturais diluídos e chás não adoçados regularmente além de observar sinais de hidratação frequência urinária presença de lágrimas mucosas umedecidas Sinais de Desidratação Instruir a mãe a monitorar sinais como boca seca diminuição de diurese e urina concentrada que podem indicar a necessidade de intervenção com solução de reidratação oral SRO 3 Alívio do Desconforto de Garganta Alimentos Frios e Macios Recomendamse alimentos que minimizem o desconforto na garganta como iogurtes frios purês e líquidos em temperatura ambiente Evitar Alimentos Ácidos ou Picantes Explicar que alimentos ácidos ou muito temperados devem ser evitados pois podem aumentar a irritação da mucosa 4 Monitoramento dos Sintomas e Retorno Reavaliação em 48 a 72 Horas Programar um retorno para reavaliação na unidade de saúde garantindo o acompanhamento do quadro e possível intervenção caso a febre persista ou novos sintomas apareçam Sinais de Alerta A mãe deve ser orientada para identificar e buscar atendimento imediato em caso de febre persistente acima de 39C sonolência dificuldade respiratória diminuição expressiva na ingestão de líquidos ou sinais de desidratação acentuada como ausência de urina 5 Ambiente Confortável Manter o Ambiente Fresco e Ventilado Evitar coberturas excessivas e oferecer um ambiente ventilado que reduza o desconforto provocado pela febre 6 Educação sobre Febre e Antitérmicos 9 Educação sobre a Natureza da Febre Explicar à mãe que a febre é uma resposta natural a infecções e que abaixo de 385C pode não necessitar de medicação salvo em caso de desconforto intenso Orientação sobre a Dosagem Correta dos Medicamentos Explicar à mãe a importância de ajustar a dosagem ao peso e seguir as indicações do profissional para evitar superdosagem e possíveis efeitos adversos 7 Orientações e cuidados de enfermagem Prescrever antitérmico segundo a preferência aceitação e tolerância da criança Orientar os pais sobre os benefícios limitados das compressas mornas e banhos mornos de imersão conforme o agrado da criança Incentivar a ingestão de líquidos sucos água chás Orientar que a falta de apetite é inevitável por isso ofercer uma alimentaçao saudável como frutas legumes verduras carnes frango peixe de acordo com aceitação da criança Manter a criança em ambiente fresco e seguro Usar roupas leves Manter a criança em repouso até que se recupere Conversar com os pais sobre os sinais de alerta como febre que ultrapassa a 72h febre com tremores choro inconsolável gemência febre que não melhora após a administração de antitérmico Diante de todos esses sinais é importante retornar para uma nova avaliação 8 Medicações Novalgina a mais indicada1 gota por kg Ibuprofenoantiinflamatório e antitérmico 1 gota por kg de peso de 4 a 6h Administração de medicação de acordo com a idade e o peso da criança 9 Monitoramento e Retorno 1 Monitoramento O monitoramento de André deve ser realizado de forma regular com avaliação dos sinais vitais exame físico completo e questionamento sobre a evolução dos sintomas O retorno deve ser agendado para avaliar a eficácia do tratamento e orientar a mãe sobre os cuidados a serem tomados em casa É importante que a mãe seja orientada a procurar atendimento médico imediatamente em caso de piora dos 10 sintomas ou surgimento de novos sinais de alerta Ele pode ser realizado de diferentes formas Sinais vitais Aferição regular da temperatura frequência cardíaca frequência respiratória e pressão arterial Exames físicos Avaliação regular das condições gerais do paciente como presença de edema palidez icterícia entre outros Exames complementares Realização de exames laboratoriais de imagem ou outros conforme a necessidade Questionários Utilizar questionários para facilitar a avaliação da qualidade de vida a satisfação com o tratamento e a presença de sintomas Frequência do monitoramento A frequência do monitoramento varia de acordo com a condição clínica do paciente e a complexidade do tratamento Em alguns casos o acompanhamento pode ser diário enquanto em outros pode ser semanal ou mensal 2 Retorno do Paciente O retorno do paciente é a consulta agendada para avaliar a evolução do tratamento e ajustar as condutas se necessário O objetivo é avaliar a eficácia do tratamento verificar se os sintomas estão melhorando se houve remissão da doença ou se são necessárias alterações no tratamento identificar possíveis efeitos adversos monitorar a ocorrência de reações adversas aos medicamentos ou outras complicações orientar o paciente esclarecer dúvidas fornece informações sobre o tratamento e orientar sobre os cuidados a serem tomados em casa agendar próximas consultas definir a frequência das próximas consultas de acordo com a necessidade de cada paciente REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA SOCIETE BRASILEIRA DE PEDIATRIA Manual de Atendimento à Criança com Febre na Unidade Básica de Saúde Disponível em httpswwwsbpcombr Acesso em 25 out 2024 11 Departamentos Científicos de Pediatria Ambulatorial e de Infectologia Manejo da Febre Aguda Disponível em httpswwwsbpcombrfileadminuserupload23229c DCManejodafebreaguda pdf Acesso em Outubro de 2024 Lindgren Alves CR Silva Scherrer IR Semiologia da criança e do recémnascido NESCON UFMG Disponível em Acesso em Outubro de 2024 Brasil Ministério da Saúde Cadernos de Atenção Básica Saúde da Criança Crescimento e Desenvolvimento BrasiliaDF 2012 Disponível em Acesso em Outubro de 2024 BRUNNER Lillian Sholtis SUDDARTH Doris Smith Tratado de enfermagem médico cirúrgica 12 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2012 POTTER Patricia A PERRY Anne Griffin Fundamentos de enfermagem 11 ed Rio de Janeiro Elsevier 2024 Departamentos Científicos de Pediatria Ambulatorial e de Infectologia Manejo da Febre Aguda Disponível em httpswwwsbpcombrfileadminuserupload23229c DCManejodafebreagudapdf Acesso em Outubro de 2024 Lindgren Alves CR Silva Scherrer IR Semiologia da criança e do recémnascido NESCON UFMG Disponível em httpswwwnesconmedicinaufmgbrbibliotecaimagemSemiologiacriancarecem nascidopdf Acesso em Outubro de 2024 Brasil Ministério da Saúde Cadernos de Atenção Básica Saúde da Criança Crescimento e Desenvolvimento BrasiliaDF 2012 Disponível em Acesso em Outubro de 2024httpsbvsmssaudegovbrbvspublicacoessaudecriancacrescimentodesenvolviment opdf Jornal de pediatria A criança com febre em consultório 2003httpsdoiorg101590S0021 75572003000700007 Acesso em Outubro de 2024 Arquivos catarinenses de medicina Conhecimento dos pais sobre febre em crianças 2012 906pdf Acesso em Outubro de 2024 12 UNIVERSIDADE DO DISTRITO FEDERAL UDF SAÚDE DA CRIANÇA CASO CLÍNICO BRASÍLIADF 2024 Ana Júlia Meneses Velasco Amanda Rodrigues da Silva Eduardo Lucas da Silva Cardoso Eva nunes de Araújo Pereira Flávio Siqueira dos Santos Lana Mireli Gonçalves Barbosa Mariana Ribeiro de Brito Thiago Vinícius Gomes dos Santos Valéria de Barros Vieira Victor Bruce Alves da Silva SAÚDE DA CRIANÇA CASO CLÍNICO Este trabalho apresenta a discussão do caso clínico de André uma criança de 2 anos e 3 meses com febre e leve eritema na garganta abordando as condutas apropriadas para o manejo da febre em pediatria O artigo enfatiza a importância do alívio sintomático e das orientações aos cuidadores apresentado no curso de graduação de Enfermagem da Universidade do Distrito Federal UDF Docente Prof Bruna Mercedes BRASÍLIADF 2024 2 1 CASO CLÍNICO André de 2 anos e 3 meses está acompanhado da mãe na consulta de uma unidade básica de saúde A mãe relata que André apresenta febre há dois dias porém não soube relatar o valor no momento da consulta foi verificado que ele estava com 385C André está com a vacinação atualizada e faz uso de dipirona há 2 dias como medicação a mãe relata oferecer 10 gotas a mãe relata ainda diminuição do apetite de André e irritabilidade Na realização do exame físico não foram encontradas alterações em ausculta e palpação abdominal e torácica em região da garganta foi inspecionado um leve eritema 11 Introdução O caso clínico apresentado referese a André uma criança de 2 anos e 3 meses que chegou à unidade básica de saúde acompanhada de sua mãe A queixa principal é a febre que persiste há dois dias mas a mãe não soube informar o valor exato Ao ser avaliado foi constatado que André apresentava 385C no momento da consulta Além disso foi relatada uma diminuição do apetite e irritabilidade fatores que podem indicar desconforto ou mal estar A vacinação de André está atualizada o que é um ponto positivo mas a mãe está administrando dipirona há dois dias como antitérmico sem sucesso claro no controle da febre No exame físico não foram encontradas alterações relevantes na ausculta e palpação abdominal e torácica mas observouse um leve eritema na região da garganta o que pode sugerir uma possível faringite Neste contexto é fundamental realizar uma anamnese detalhada e um exame físico cuidadoso para descartar possíveis etiologias da febre além de determinar as condutas apropriadas para o manejo da febre e garantir o conforto de André O manejo da febre em crianças é um aspecto crítico na prática da enfermagem envolvendo a avaliação da gravidade do quadro monitoramento contínuo e orientações educativas aos cuidadores sobre os cuidados a serem tomados em casa 2 ANAMNESE No caso de André além das informações já coletadas é importante aprofundar a investigação para identificar possíveis causas e orientar a mãe de forma adequada De acordo com as queixas principais André apresenta febre há 2 dias É importante saber qual a temperatura máxima atingida se a febre é contínua intermitente ou recorrente e se há algum padrão de piora ou melhora Além disso é necessário investigar se a febre está associada a calafrios sudorese ou tremores A diminuição do apetite também é uma 3 preocupação há quanto tempo isso ocorre quais alimentos ele está recusando e se houve vômitos ou diarreia André demonstra irritabilidade sendo relevante entender há quanto tempo isso acontece como se manifesta se por choro excessivo dificuldade para se acalmar ou agitação e se existe alguma situação específica que a desencadeia No que diz respeito à história da doença atual é essencial saber quando os sintomas começaram se houve algum evento desencadeante como contato com outras crianças doentes ou viagens e quais outros sintomas estão presentes além da febre irritabilidade e diminuição do apetite como coriza tosse dor de garganta dor de cabeça dor abdominal ou manchas na pele Também é importante avaliar o comportamento de André durante as crises de febre se há letargia prostração ou convulsões além das medidas tomadas em casa para controlar a febre como o uso de antitérmicos banhos mornos ou compressas Na história pregressa da doença devemos investigar se André já teve episódios semelhantes de febre anteriormente e quais foram as causas identificadas se possui alguma doença crônica como asma alergias ou doenças cardíacas se já foi hospitalizado e por qual motivo quais medicamentos utiliza regularmente e se tem alguma alergia conhecida Quanto à história vacinal a mãe informou que a vacinação de André está completa e atualizada mas é necessário perguntar sobre a última dose de cada vacina e se houve reações adversas Também é importante realizar a conferência na caderneta da criança e orientar sobre as próximas doses além de lembrar da importância da vacinação Na história familiar é fundamental saber se alguém na família está doente se há casos de doenças crônicas ou alergias e se alguém já teve febre alta na infância Em relação aos hábitos de vida é relevante entender como é a alimentação de André a frequência das refeições se ele frequenta creche ou escola como é sua higiene e se tem contato com animais de estimação 3 EXAME FÍSICO DA CRIANÇA Após uma anamnese detalhada é importante realizarmos um exame físico completo destacandose a presença ou ausência de sintomas e sinais que possam ser utilizados para prever o grau de risco Ao exame físico começaremos por fazer 1 Inspeção geral onde avaliaremos a impressão geral do paciente seu estado de consciência aparência saudável ou enfermo e grau de atividade Cabeça a Inspeção i fácies e conformação do crânio ii cabelo implantação cor e tipo iii pelos implantação e cor iv orelhas forma e posição das orelhas secreção v pescoço tumorações e pulsações b Palpação i crânio conformação e perímetro cefálico ii olhos mucosa conjuntival nistagmo estrabismo exoftalmia acuidade visual e reflexos iii nariz obstrução mucosa e batimentos de asa iv orelhas dor e otoscopia se possível nesse momento v boca dentes gengiva língua amígdalas lábios mucosa oral e palato vi linfonodos número tamanho consistência mobilidade e sinais inflamatórios vii pescoço tumorações lesões rigidez palpação da traqueia e rigidez de nuca 4 Membros superiores a Inspeção i lesões de pele ii cicatriz de BCG iii articulações aumento de tamanho simetria e coloração iv musculatura simetria b Palpação i articulações temperatura edema mobilidade crepitação dor e tamanho ii musculatura trofismo tônus e força muscular iii temperatura axilar iv umidade da pele v linfonodos axilares vi pulso radial vii unhas tamanho espessura manchas formato e coloração viii perfusão capilar ix medida da pressão arterial Tórax a Inspeção i forma simetria e mobilidade ii lesões de pele iii respiração tipo ritmo amplitude frequência e esforço ictus cordis impulsões e tamanho iv mamas desenvolvimento e simetria b Palpação i linfonodos supraclaviculares ii tumorações iii mamas dor calor tumorações e coloração iv expansibilidade v frêmito toracovocal vi frêmito cardíaco vii pontos dolorosos viii pesquisa de sensibilidade c Percussão i som claro pulmonar timpanismo ou macicez d Ausculta i ruídos respiratórios audíveis sem estetoscópio ii sons respiratórios normais e ruídos adventícios iii precórdio bulhas sopros e estalidos Abdome a Inspeção i forma globoso semigloboso distendido ou escavado ii coloração iii cicatriz umbilical forma secreção e hiperemia iv massas visíveis e cicatrizes v movimentos e alterações de parede vi lesões de pele b Ausculta i peristaltismo c Palpação superficial i sensibilidade ii turgor e elasticidade da pele iii tensão da parede abdominal d Percussão i delimitação de vísceras ii sensibilidade e Palpação profunda i cicatriz umbilical ii diástase dos músculos retoabdominais iii sensibilidade iv fígado baço massas lojas renais e rins Membros inferiores a Inspeção i lesões de pele e coloração ii unhas tamanho espessura manchas e formato iii movimentos anormais coreia tiques e tremores iv articulações aumento de tamanho simetria e hiperemia v musculatura simetria b Palpação i musculatura trofismo tônus e força muscular ii articulações dor edema crepitações mobilidade tamanho e temperatura iii pulsos pedioso e dorsal dos pés iv medida da pressão arterial em um dos membros v avaliação do subcutâneo turgor edema linfedema vi Sensibilidade Coluna vertebral joelhos e pés a Parada i curvaturas da coluna escoliose cifose e lordose ii curvaturas dos joelhos iii curvaturas dos pés b Andando i varismo e valgismo do joelho e dos pés ii movimento da cintura escapular iii movimento da cintura pélvica iv movimento dos braços 5 Mensuração a Pode ser feita no início ou no final do exame físico i comprimentoaltura ii peso iii perímetros cefálico torácico e abdominal iv dados vitais temperatura frequência respiratória e pulsos v pressão arterial nos membros superiores e em um membro inferior Durante o exame físico é importante darmos atenção especial à frequência cardíaca em batimentos por minuto bpm para crianças com menos de 12 meses 160 bpm de 12 a 24 meses 150 bpm e de 2 a 5 anos 140 bpm Também devemos observar a frequência respiratória respiraçõesminuto 50 6 a 12 meses e 40 para maiores de 12 meses além da saturação de oxigênio 95 Devemos monitorar o tempo de enchimento capilar alertando se 3 segundos avaliar o grau de hidratação através de mucosas e turgor da pele e considerar o grau de atividade e responsividade aos estímulos Esta avaliação incluirá um código de cores verde amarelo ou vermelho protocolo semáforo para indicar o grau de risco orientando assim as investigações e o manejo inicial para a criança com febre 4 SINAIS DE GRAVIDADE DO CASO A presença de gravidade de febre acompanhada de eritema pode indicar várias condições a começar pelo contexto clínico e dos sinais e sintomas associados a febre Observar e acompanhar se o André apresenta respiração acelerada uso de músculos acessórios para respirar ou cianose é um sinal de gravidade Desidratação sinais como boca seca é sinal de mucosas secas e olhos encovados diminuição da frequência urinária choro sem lágrimas e letargia são sinais de uma desidratação preocupante Alterações do estado de consciência confusão sonolência excessiva ou irritabilidade pode ter indicações mais sérias do estado Observar o eritema já presente na avaliação alerta para aparecimento de bolhas ou descamação ou áreas da pele comprometidas pode indicar uma evolução para infecções grave ou uma reação alérgica posterior Presença de sinais como rigidez da nuca petequias ou outros sinais de infecção como dor abdominal intensa vômitos persistentes ou sinais de diarreia são indicativos para nova avaliação médica Avaliar condições subjacentes como doenças cardíacas respiratórias ou imunologicas pode ser um risco maior para complicações devido a febre como tratase de uma criança de 2 anos e 3 meses a febre é um quadro de maior preocupação se persistente em 48 a 72 horas 6 A febre leve e moderada está associada a uma resposta imunológica mais intensa e desempenha papel importante no processo de resposta antiinflamatória somente febre com 385º 390º e 400º C deve ser reduzida com antipiréticos e acompanhadas dos demais fatores além da febre uso individualizado e acompanhado Avaliar a intensidade da febre com mais de 7 dias se febre com avaliação de 389ºC é considerado taxas de bacteremia 1 a considerar valores de aferição da febre maiores a taxa de bacteremia dependendo da intensidade considera estado da criança e presença de sintomas 5 CONDUTAS 51 Controle da Febre Ajuste na Dosagem de Dipirona A dose de dipirona deve ser adequada ao peso da criança 12 kg com orientação para 10 a 15 mgkg por dose No caso de André a dosagem correta seria cerca de 12 gotas podendo ser administrada a cada 6 horas se a febre ultrapassar 385C ou caso haja desconforto acentuado Alternativa com Paracetamol Na ausência de dipirona ou se houver contraindicações o paracetamol é uma opção segura também em dosagem de 10 a 15 mgkg respeitando o intervalo de 6 horas entre as doses apenas em caso de necessidade para alívio de sintomas febris 5 2 Hidratação e Alimentação Estimulação da Ingestão Hídrica Manter a criança hidratada é essencial para evitar desidratação Orientar a mãe a oferecer água sucos naturais diluídos e chás não adoçados regularmente além de observar sinais de hidratação frequência urinária presença de lágrimas mucosas umedecidas Sinais de Desidratação Instruir a mãe a monitorar sinais como boca seca diminuição de diurese e urina concentrada que podem indicar a necessidade de intervenção com solução de reidratação oral SRO 5 3 Alívio do Desconforto de Garganta Alimentos Frios e Macios Recomendamse alimentos que minimizem o desconforto na garganta como iogurtes frios purês e líquidos em temperatura ambiente Evitar Alimentos 7 Ácidos ou Picantes Explicar que alimentos ácidos ou muito temperados devem ser evitados pois podem aumentar a irritação da mucosa 5 4 Monitoramento dos Sintomas e Retorno Reavaliação em 48 a 72 Horas Programar um retorno para reavaliação na unidade de saúde garantindo o acompanhamento do quadro e possível intervenção caso a febre persista ou novos sintomas apareçam Sinais de Alerta A mãe deve ser orientada para identificar e buscar atendimento imediato em caso de febre persistente acima de 39C sonolência dificuldade respiratória diminuição expressiva na ingestão de líquidos ou sinais de desidratação acentuada como ausência de urina 55 Ambiente Confortável Manter o Ambiente Fresco e Ventilado Evitar coberturas excessivas e oferecer um ambiente ventilado que reduza o desconforto provocado pela febre 56 Educação sobre Febre e Antitérmicos Educação sobre a Natureza da Febre Explicar à mãe que a febre é uma resposta natural a infecções e que abaixo de 385C pode não necessitar de medicação salvo em caso de desconforto intenso Orientação sobre a Dosagem Correta dos Medicamentos Explicar à mãe a importância de ajustar a dosagem ao peso e seguir as indicações do profissional para evitar superdosagem e possíveis efeitos adversos 6 ORIENTAÇÕES E CUIDADOS DE ENFERMAGEM Prescrever antitérmico segundo a preferência aceitação e tolerância da criança Orientar os pais sobre os benefícios limitados das compressas mornas e banhos mornos de imersão conforme o agrado da criança Incentivar a ingestão de líquidos sucos água chás Orientar que a falta de apetite é inevitável por isso oferecer uma alimentação saudável como frutas legumes verduras carnes frango peixe de acordo com aceitação da criança Manter a criança em ambiente fresco e seguro Usar roupas leves Manter a criança em repouso até que se recupere 8 Conversar com os pais sobre os sinais de alerta como febre que ultrapassa a 72h febre com tremores choro inconsolável gemência febre que não melhora após a administração de antitérmico Diante de todos esses sinais é importante retornar para uma nova avaliação 7 MEDICAÇÕES Novalgina a mais indicada1 gota por kg Ibuprofenoantiinflamatório e antitérmico 1 gota por kg de peso de 4 a 6h Administração de medicação de acordo com a idade e o peso da criança 8 MONITORAMENTO E RETORNO 81 Monitoramento O monitoramento de André deve ser realizado de forma regular com avaliação dos sinais vitais exame físico completo e questionamento sobre a evolução dos sintomas O retorno deve ser agendado para avaliar a eficácia do tratamento e orientar a mãe sobre os cuidados a serem tomados em casa É importante que a mãe seja orientada a procurar atendimento médico imediatamente em caso de piora dos sintomas ou surgimento de novos sinais de alerta Ele pode ser realizado de diferentes formas Sinais vitais Aferição regular da temperatura frequência cardíaca frequência respiratória e pressão arterial Exames físicos Avaliação regular das condições gerais do paciente como presença de edema palidez icterícia entre outros Exames complementares Realização de exames laboratoriais de imagem ou outros conforme a necessidade Questionários Utilizar questionários para facilitar a avaliação da qualidade de vida a satisfação com o tratamento e a presença de sintomas Frequência do monitoramento A frequência do monitoramento varia de acordo com a condição clínica do paciente e a complexidade do tratamento Em alguns casos o acompanhamento pode ser diário enquanto em outros pode ser semanal ou mensal 9 RETORNO DO PACIENTE O retorno do paciente é a consulta agendada para avaliar a evolução do tratamento e ajustar as condutas se necessário O objetivo é avaliar a eficácia do tratamento verificar se os 9 sintomas estão melhorando se houve remissão da doença ou se são necessárias alterações no tratamento identificar possíveis efeitos adversos monitorar a ocorrência de reações adversas aos medicamentos ou outras complicações orientar o paciente esclarecer dúvidas fornece informações sobre o tratamento e orientar sobre os cuidados a serem tomados em casa agendar próximas consultas definir a frequência das próximas consultas de acordo com a necessidade de cada paciente 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alves Cláudia Regina Lindgren Semiologia da criança e do recém nascido Cláudia Regina Lindgren Alves Isabela Resende Silva Scherrer Belo Horizonte NesconUFMG 2018 44 p Arquivos catarinenses de medicina Conhecimento dos pais sobre febre em crianças 2012 906pdf Acesso em Outubro de 2024 Brasil Ministério da Saúde Cadernos de Atenção Básica Saúde da Criança Crescimento e Desenvolvimento BrasiliaDF 2012 Disponível em Acesso em Outubro de 2024httpsbvsmssaudegovbrbvspublicacoessaudecriancacrescimentodesenvolviment opdf BRUNNER Lillian Sholtis SUDDARTH Doris Smith Tratado de enfermagem médico cirúrgica 12 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2012 Departamentos Científicos de Pediatria Ambulatorial e de Infectologia Manejo da Febre Aguda Disponível em httpswwwsbpcombrfileadminuserupload23229c DCManejodafebreagudapdf Acesso em Outubro de 2024 Jornal de pediatria A criança com febre em consultório 2003httpsdoiorg101590S002175572003000700007 Acesso em Outubro de 2024 Lindgren Alves CR Silva Scherrer IR Semiologia da criança e do recémnascido NESCON UFMG Disponível em httpswwwnesconmedicinaufmgbrbibliotecaimagemSemiologiacriancarecem nascidopdf Acesso em Outubro de 2024 POTTER Patricia A PERRY Anne Griffin Fundamentos de enfermagem 11 ed Rio de Janeiro Elsevier 2024 SOCIETE BRASILEIRA DE PEDIATRIA Manual de Atendimento à Criança com Febre na Unidade Básica de Saúde Disponível em httpswwwsbpcombr Acesso em 25 out 2024 10
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UNIVERSIDADE DO DISTRITO FEDERAL UDF SAÚDE DA CRIANÇA CASO CLÍNICO BRASÍLIADF 2024 Ana Júlia Meneses Velasco Amanda Rodrigues da Silva Eduardo Lucas da Silva Cardoso Eva nunes de Araújo Pereira Flávio Siqueira dos Santos Lana Mireli Gonçalves Barbosa Mariana Ribeiro de Brito Thiago Vinícius Gomes dos Santos Valéria de Barros Vieira Victor Bruce Alves da Silva SAÚDE DA CRIANÇA CASO CLÍNICO Este trabalho apresenta a discussão do caso clínico de André uma criança de 2 anos e 3 meses com febre e leve eritema na garganta abordando as condutas apropriadas para o manejo da febre em pediatria O artigo enfatiza a importância do alívio sintomático e das orientações aos cuidadores apresentado no curso de graduação de Enfermagem da Universidade do Distrito Federal UDF Prof Bruna Mercedes BRASÍLIADF 2024 2 1 CASO CLÍNICO André de 2 anos e 3 meses está acompanhado da mãe na consulta de uma unidade básica de saúde A mãe relata que André apresenta febre há dois dias porém não soube relatar o valor no momento da consulta foi verificado que ele estava com 385C André está com a vacinação atualizada e faz uso de dipirona há 2 dias como medicação a mãe relata oferecer 10 gotas a mãe relata ainda diminuição do apetite de André e irritabilidade Na realização do exame físico não foram encontradas alterações em ausculta e palpação abdominal e torácica em região da garganta foi inspecionado um leve eritema 2 INTRODUÇÃO O caso clínico apresentado referese a André uma criança de 2 anos e 3 meses que chegou à unidade básica de saúde acompanhada de sua mãe A queixa principal é a febre que persiste há dois dias mas a mãe não soube informar o valor exato Ao ser avaliado foi constatado que André apresentava 385C no momento da consulta Além disso foi relatada uma diminuição do apetite e irritabilidade fatores que podem indicar desconforto ou mal estar A vacinação de André está atualizada o que é um ponto positivo mas a mãe está administrando dipirona há dois dias como antitérmico sem sucesso claro no controle da febre No exame físico não foram encontradas alterações relevantes na ausculta e palpação abdominal e torácica mas observouse um leve eritema na região da garganta o que pode sugerir uma possível faringite Neste contexto é fundamental realizar uma anamnese detalhada e um exame físico cuidadoso para descartar possíveis etiologias da febre além de determinar as condutas apropriadas para o manejo da febre e garantir o conforto de André O manejo da febre em crianças é um aspecto crítico na prática da enfermagem envolvendo a avaliação da gravidade do quadro monitoramento contínuo e orientações educativas aos cuidadores sobre os cuidados a serem tomados em casa 3 3 ANAMNESE No caso de André além das informações já coletadas é importante aprofundar a investigação para identificar possíveis causas e orientar a mãe de forma adequada 1 De acordo com as Queixas principais 11 Febre há 2 dias Qual a temperatura máxima atingida A febre é contínua intermitente ou recorrente Há algum padrão de piora ou melhora da febre A febre está associada a calafrios sudorese ou tremores 12 Diminuição do apetite Há quanto tempo Quais alimentos ele está recusando Houve vômitos ou diarreia 13 Irritabilidade Há quanto tempo Como se manifesta a irritabilidade Choro excessivo dificuldade para se acalmar agitado Há alguma situação específica que desencadeia a irritabilidade 2 História da doença atual 21 Quando iniciaram os sintomas Houve algum evento desencadeante contato com outras crianças doentes viagens Quais outros sintomas estão presentes além da febre irritabilidade e diminuição do apetite Coriza tosse dor de garganta dor de cabeça dor abdominal manchas na pele Como tem sido o comportamento de André durante as crises de febre Letargia prostração convulsões Quais medidas foram tomadas em casa para controlar a febre Uso de antitérmicos banhos mornos compressas 3 História pregressa da doença 31 André já teve episódios semelhantes de febre anteriormente Quais foram as causas identificadas André tem alguma doença crônica Asma alergias doenças cardíacas Já foi hospitalizado Por qual motivo Quais medicamentos André utiliza regularmente Tem alguma alergia conhecida 4 História vacinal 41 A mãe informou que a vacinação de André está completa e atualizada porém é necessário realizar algumas perguntas Quando foi a última dose de cada vacina Houve alguma reação adversa às vacinas É necessário realizar a conferência na caderneta da criança e orientar sobre quais serão as próximas doses e lembrar da importância da vacinação 5 História familiar 51 Alguém na família está doente Há casos de doenças crônicas ou alergias na família Alguém na família já teve febre alta na infância 6 Hábitos de vida 61 Como é a alimentação de André Qual a frequência das refeições André frequenta creche ou escola Como é a higiene de André Ele tem contato com animais de estimação 7 Informações adicionais 71 Como está o sono de André Tem urinado e defecado normalmente Há alguma outra queixa que a mãe gostaria de relatar 4 4 EXAME FÍSICO DA CRIANÇA Após uma anamnese detalhada é importante realizarmos um exame físico completo destacandose a presença ou ausência de sintomas e sinais que possam ser utilizados para prever o grau de risco Ao exame físico começaremos por fazer 1 Inspeção geral a Impressão geral do paciente b Estado de consciência c Aparência saudável ou enfermo d Grau de atividade 2 Cabeça a Inspeção i Fácies Conformação do crânio ii Cabelo implantação cor tipo iii Pelos implantação cor iv Orelhas forma e posição das orelhas secreção v Pescoço tumorações pulsações b Palpação i Crânio conformação perímetro cefálico ii Olhos mucosa conjuntival nistagmo estrabismo exoftalmia acuidade visual reflexos iii Nariz obstrução mucosa batimentos de asa de nariz iv Orelhas dor otoscopia se possível nesse momento v Boca dentes gengiva língua amígdalas lábios mucosa oral palato vi Linfonodos número tamanho consistência mobilidade e sinais inflamatórios vii Pescoço tumorações lesões rigidez palpação da traqueia rigidez de nuca 3 Membros superiores a Inspeção i Lesões de pele ii Cicatriz de BCG iii Articulações aumento de tamanho simetria coloração iv Musculatura simetria b Palpação i Articulações temperatura edema mobilidade crepitação dor tamanho ii Musculatura trofismo tônus força muscular iii Temperatura axilar iv Umidade da pele v Linfonodos axilares vi Pulso radial vii Unhas tamanho espessura manchas formato coloração viii Perfusão capilar ix Medida da pressão arterial 4 Tórax a Inspeção i Forma simetria mobilidade ii Lesões de pele 5 iii Respiração tipo ritmo amplitude frequência esforço Ictus cordis impulsões tamanho iv Mamas desenvolvimento simetria b Palpação i Linfonodos supraclaviculares ii Tumorações iii Mamas dor calor tumorações coloração iv Expansibilidade v Frêmito toracovocal vi Frêmito cardíaco vii Pontos dolorosos viii Pesquisa de sensibilidade c Percussão i Som claro pulmonar timpanismo ou macicez d Ausculta i Ruídos respiratórios audíveis sem estetoscópios ii Sons respiratórios normais ruídos adventícios iii Precórdio bulhas sopros estalidos 5 Abdome a Inspeção i Forma globoso semigloboso distendido ou escavado ii Coloração iii Cicatriz umbilical forma secreção hiperemia iv Massas visíveis cicatrizes v Movimentos e alterações de parede vi Lesões de pele b Ausculta i Peristaltismo c Palpação superficial i Sensibilidade ii Turgor e elasticidade da pele iii Tensão da parede abdominal d Percussão i Delimitação de vísceras ii Sensibilidade e Palpação profunda i Cicatriz umbilical ii Diástase dos músculos retoabdominais iii Sensibilidade iv Fígado baço massas lojas renais rins 6 Membros inferiores a Inspeção i Lesões de pele Coloração ii Unhas tamanho espessura manchas formato iii Movimentos anormais coreia tiques tremores iv Articulações aumento de tamanho simetria hiperemia v Musculatura simetria 6 b Palpação i Musculatura trofismo tônus força muscular ii Articulações dor edema crepitações mobilidade tamanho temperatura iii Pulsos pedioso e dorsal dos pés iv Medida da pressão arterial em um dos membros v Avaliação do subcutâneo turgor edema linfedema vi Sensibilidade 7 Coluna vertebral joelhos e pés a Parada i Curvaturas da coluna escoliose cifose e lordose ii Curvaturas dos joelhos iii Curvaturas dos pés b Andando i Varismo e valgismo do joelho e dos pés ii Movimento da cintura escapular iii Movimento da cintura pélvica iv Movimento dos braços 8 Mensuração a Pode ser feita no início ou no final do exame físico i Comprimentoaltura ii Peso iii Perímetros cefálico torácico e abdominal iv Dados vitais temperatura frequência respiratória pulsos v Pressão arterial nos membros superiores e em um membro inferior Durante o exame físico é importante darmos uma atenção a mais em Frequência Cardíaca em batimentos por minuto bpm 12 meses 160 bpm 12 a 24 meses 150 bpm 2 a 5 anos 140 bpm Frequência Respiratória respiraçõesminuto 50 6 a 12 meses 40 para os maiores de 12 meses e saturação de oxigênio 95 Tempo de enchimento capilar alerta se 3 segundos Grau de hidratação avaliar mucosas e turgor da pele Grau de atividade e responsividade aos estímulos Esta avaliação incluirá um código de cores verde amarelo ou vermelho protocolo semáforo para indicar o grau de risco orientando assim as investigações e o manejo inicial para a criança com febre 7 5 Sinais de gravidade do caso A presença de gravidade de febre acompanhada de eritema pode indicar várias condições a começar pelo contexto clínico e dos sinais e sintomas associados a febre Observar e acompanhar se o André apresenta respiração acelerada uso de músculos acessórios para respirar ou cianose é um sinal de gravidade Desidratação sinais como boca seca é sinal de mucosas secas e olhos encovados diminuição da frequência urinária choro sem lágrimas e letargia são sinais de uma desidratação preocupante Alterações do estado de consciência confusão sonolência excessiva ou irritabilidade pode ter indicações mais sérias do estado Observar o eritema já presente na avaliação alerta para aparecimento de bolhas ou descamação ou áreas da pele comprometidas pode indicar uma evolução para infecções grave ou uma reação alérgica posterior Presença de sinais como rigidez da nuca petequias ou outros sinais de infecção como dor abdominal intensa vômitos persistentes ou sinais de diarreia são indicativos para nova avaliação médica Avaliar condições subjacentes como doenças cardíacas respiratórias ou imunologicas pode ser um risco maior para complicações devido a febre como tratase de uma criança de 2 anos e 3 meses a febre é um quadro de maior preocupação se persistente em 48 a 72 horas A febre leve e moderada está associada a uma resposta imunológica mais intensa e desempenha papel importante no processo de resposta antiinflamatória somente febre com 385º 390º e 400º C deve ser reduzida com antipiréticos e acompanhadas dos demais fatores além da febre uso individualizado e acompanhado Avaliar a intensidade da febre com mais de 7 dias se febre com avaliação de 389ºC é considerado taxas de bacteremia 1 a considerar valores de aferição da febre maiores a taxa de bacteremia dependendo da intensidade considera estado da criança e presença de sintomas 6 CONDUTAS 1 Controle da Febre Ajuste na Dosagem de Dipirona A dose de dipirona deve ser adequada ao peso da criança 12 kg com orientação para 10 a 15 mgkg por dose No caso de André a dosagem 8 correta seria cerca de 12 gotas podendo ser administrada a cada 6 horas se a febre ultrapassar 385C ou caso haja desconforto acentuado Alternativa com Paracetamol Na ausência de dipirona ou se houver contraindicações o paracetamol é uma opção segura também em dosagem de 10 a 15 mgkg respeitando o intervalo de 6 horas entre as doses apenas em caso de necessidade para alívio de sintomas febris 2 Hidratação e Alimentação Estimulação da Ingestão Hídrica Manter a criança hidratada é essencial para evitar desidratação Orientar a mãe a oferecer água sucos naturais diluídos e chás não adoçados regularmente além de observar sinais de hidratação frequência urinária presença de lágrimas mucosas umedecidas Sinais de Desidratação Instruir a mãe a monitorar sinais como boca seca diminuição de diurese e urina concentrada que podem indicar a necessidade de intervenção com solução de reidratação oral SRO 3 Alívio do Desconforto de Garganta Alimentos Frios e Macios Recomendamse alimentos que minimizem o desconforto na garganta como iogurtes frios purês e líquidos em temperatura ambiente Evitar Alimentos Ácidos ou Picantes Explicar que alimentos ácidos ou muito temperados devem ser evitados pois podem aumentar a irritação da mucosa 4 Monitoramento dos Sintomas e Retorno Reavaliação em 48 a 72 Horas Programar um retorno para reavaliação na unidade de saúde garantindo o acompanhamento do quadro e possível intervenção caso a febre persista ou novos sintomas apareçam Sinais de Alerta A mãe deve ser orientada para identificar e buscar atendimento imediato em caso de febre persistente acima de 39C sonolência dificuldade respiratória diminuição expressiva na ingestão de líquidos ou sinais de desidratação acentuada como ausência de urina 5 Ambiente Confortável Manter o Ambiente Fresco e Ventilado Evitar coberturas excessivas e oferecer um ambiente ventilado que reduza o desconforto provocado pela febre 6 Educação sobre Febre e Antitérmicos 9 Educação sobre a Natureza da Febre Explicar à mãe que a febre é uma resposta natural a infecções e que abaixo de 385C pode não necessitar de medicação salvo em caso de desconforto intenso Orientação sobre a Dosagem Correta dos Medicamentos Explicar à mãe a importância de ajustar a dosagem ao peso e seguir as indicações do profissional para evitar superdosagem e possíveis efeitos adversos 7 Orientações e cuidados de enfermagem Prescrever antitérmico segundo a preferência aceitação e tolerância da criança Orientar os pais sobre os benefícios limitados das compressas mornas e banhos mornos de imersão conforme o agrado da criança Incentivar a ingestão de líquidos sucos água chás Orientar que a falta de apetite é inevitável por isso ofercer uma alimentaçao saudável como frutas legumes verduras carnes frango peixe de acordo com aceitação da criança Manter a criança em ambiente fresco e seguro Usar roupas leves Manter a criança em repouso até que se recupere Conversar com os pais sobre os sinais de alerta como febre que ultrapassa a 72h febre com tremores choro inconsolável gemência febre que não melhora após a administração de antitérmico Diante de todos esses sinais é importante retornar para uma nova avaliação 8 Medicações Novalgina a mais indicada1 gota por kg Ibuprofenoantiinflamatório e antitérmico 1 gota por kg de peso de 4 a 6h Administração de medicação de acordo com a idade e o peso da criança 9 Monitoramento e Retorno 1 Monitoramento O monitoramento de André deve ser realizado de forma regular com avaliação dos sinais vitais exame físico completo e questionamento sobre a evolução dos sintomas O retorno deve ser agendado para avaliar a eficácia do tratamento e orientar a mãe sobre os cuidados a serem tomados em casa É importante que a mãe seja orientada a procurar atendimento médico imediatamente em caso de piora dos 10 sintomas ou surgimento de novos sinais de alerta Ele pode ser realizado de diferentes formas Sinais vitais Aferição regular da temperatura frequência cardíaca frequência respiratória e pressão arterial Exames físicos Avaliação regular das condições gerais do paciente como presença de edema palidez icterícia entre outros Exames complementares Realização de exames laboratoriais de imagem ou outros conforme a necessidade Questionários Utilizar questionários para facilitar a avaliação da qualidade de vida a satisfação com o tratamento e a presença de sintomas Frequência do monitoramento A frequência do monitoramento varia de acordo com a condição clínica do paciente e a complexidade do tratamento Em alguns casos o acompanhamento pode ser diário enquanto em outros pode ser semanal ou mensal 2 Retorno do Paciente O retorno do paciente é a consulta agendada para avaliar a evolução do tratamento e ajustar as condutas se necessário O objetivo é avaliar a eficácia do tratamento verificar se os sintomas estão melhorando se houve remissão da doença ou se são necessárias alterações no tratamento identificar possíveis efeitos adversos monitorar a ocorrência de reações adversas aos medicamentos ou outras complicações orientar o paciente esclarecer dúvidas fornece informações sobre o tratamento e orientar sobre os cuidados a serem tomados em casa agendar próximas consultas definir a frequência das próximas consultas de acordo com a necessidade de cada paciente REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA SOCIETE BRASILEIRA DE PEDIATRIA Manual de Atendimento à Criança com Febre na Unidade Básica de Saúde Disponível em httpswwwsbpcombr Acesso em 25 out 2024 11 Departamentos Científicos de Pediatria Ambulatorial e de Infectologia Manejo da Febre Aguda Disponível em httpswwwsbpcombrfileadminuserupload23229c DCManejodafebreaguda pdf Acesso em Outubro de 2024 Lindgren Alves CR Silva Scherrer IR Semiologia da criança e do recémnascido NESCON UFMG Disponível em Acesso em Outubro de 2024 Brasil Ministério da Saúde Cadernos de Atenção Básica Saúde da Criança Crescimento e Desenvolvimento BrasiliaDF 2012 Disponível em Acesso em Outubro de 2024 BRUNNER Lillian Sholtis SUDDARTH Doris Smith Tratado de enfermagem médico cirúrgica 12 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2012 POTTER Patricia A PERRY Anne Griffin Fundamentos de enfermagem 11 ed Rio de Janeiro Elsevier 2024 Departamentos Científicos de Pediatria Ambulatorial e de Infectologia Manejo da Febre Aguda Disponível em httpswwwsbpcombrfileadminuserupload23229c DCManejodafebreagudapdf Acesso em Outubro de 2024 Lindgren Alves CR Silva Scherrer IR Semiologia da criança e do recémnascido NESCON UFMG Disponível em httpswwwnesconmedicinaufmgbrbibliotecaimagemSemiologiacriancarecem nascidopdf Acesso em Outubro de 2024 Brasil Ministério da Saúde Cadernos de Atenção Básica Saúde da Criança Crescimento e Desenvolvimento BrasiliaDF 2012 Disponível em Acesso em Outubro de 2024httpsbvsmssaudegovbrbvspublicacoessaudecriancacrescimentodesenvolviment opdf Jornal de pediatria A criança com febre em consultório 2003httpsdoiorg101590S0021 75572003000700007 Acesso em Outubro de 2024 Arquivos catarinenses de medicina Conhecimento dos pais sobre febre em crianças 2012 906pdf Acesso em Outubro de 2024 12 UNIVERSIDADE DO DISTRITO FEDERAL UDF SAÚDE DA CRIANÇA CASO CLÍNICO BRASÍLIADF 2024 Ana Júlia Meneses Velasco Amanda Rodrigues da Silva Eduardo Lucas da Silva Cardoso Eva nunes de Araújo Pereira Flávio Siqueira dos Santos Lana Mireli Gonçalves Barbosa Mariana Ribeiro de Brito Thiago Vinícius Gomes dos Santos Valéria de Barros Vieira Victor Bruce Alves da Silva SAÚDE DA CRIANÇA CASO CLÍNICO Este trabalho apresenta a discussão do caso clínico de André uma criança de 2 anos e 3 meses com febre e leve eritema na garganta abordando as condutas apropriadas para o manejo da febre em pediatria O artigo enfatiza a importância do alívio sintomático e das orientações aos cuidadores apresentado no curso de graduação de Enfermagem da Universidade do Distrito Federal UDF Docente Prof Bruna Mercedes BRASÍLIADF 2024 2 1 CASO CLÍNICO André de 2 anos e 3 meses está acompanhado da mãe na consulta de uma unidade básica de saúde A mãe relata que André apresenta febre há dois dias porém não soube relatar o valor no momento da consulta foi verificado que ele estava com 385C André está com a vacinação atualizada e faz uso de dipirona há 2 dias como medicação a mãe relata oferecer 10 gotas a mãe relata ainda diminuição do apetite de André e irritabilidade Na realização do exame físico não foram encontradas alterações em ausculta e palpação abdominal e torácica em região da garganta foi inspecionado um leve eritema 11 Introdução O caso clínico apresentado referese a André uma criança de 2 anos e 3 meses que chegou à unidade básica de saúde acompanhada de sua mãe A queixa principal é a febre que persiste há dois dias mas a mãe não soube informar o valor exato Ao ser avaliado foi constatado que André apresentava 385C no momento da consulta Além disso foi relatada uma diminuição do apetite e irritabilidade fatores que podem indicar desconforto ou mal estar A vacinação de André está atualizada o que é um ponto positivo mas a mãe está administrando dipirona há dois dias como antitérmico sem sucesso claro no controle da febre No exame físico não foram encontradas alterações relevantes na ausculta e palpação abdominal e torácica mas observouse um leve eritema na região da garganta o que pode sugerir uma possível faringite Neste contexto é fundamental realizar uma anamnese detalhada e um exame físico cuidadoso para descartar possíveis etiologias da febre além de determinar as condutas apropriadas para o manejo da febre e garantir o conforto de André O manejo da febre em crianças é um aspecto crítico na prática da enfermagem envolvendo a avaliação da gravidade do quadro monitoramento contínuo e orientações educativas aos cuidadores sobre os cuidados a serem tomados em casa 2 ANAMNESE No caso de André além das informações já coletadas é importante aprofundar a investigação para identificar possíveis causas e orientar a mãe de forma adequada De acordo com as queixas principais André apresenta febre há 2 dias É importante saber qual a temperatura máxima atingida se a febre é contínua intermitente ou recorrente e se há algum padrão de piora ou melhora Além disso é necessário investigar se a febre está associada a calafrios sudorese ou tremores A diminuição do apetite também é uma 3 preocupação há quanto tempo isso ocorre quais alimentos ele está recusando e se houve vômitos ou diarreia André demonstra irritabilidade sendo relevante entender há quanto tempo isso acontece como se manifesta se por choro excessivo dificuldade para se acalmar ou agitação e se existe alguma situação específica que a desencadeia No que diz respeito à história da doença atual é essencial saber quando os sintomas começaram se houve algum evento desencadeante como contato com outras crianças doentes ou viagens e quais outros sintomas estão presentes além da febre irritabilidade e diminuição do apetite como coriza tosse dor de garganta dor de cabeça dor abdominal ou manchas na pele Também é importante avaliar o comportamento de André durante as crises de febre se há letargia prostração ou convulsões além das medidas tomadas em casa para controlar a febre como o uso de antitérmicos banhos mornos ou compressas Na história pregressa da doença devemos investigar se André já teve episódios semelhantes de febre anteriormente e quais foram as causas identificadas se possui alguma doença crônica como asma alergias ou doenças cardíacas se já foi hospitalizado e por qual motivo quais medicamentos utiliza regularmente e se tem alguma alergia conhecida Quanto à história vacinal a mãe informou que a vacinação de André está completa e atualizada mas é necessário perguntar sobre a última dose de cada vacina e se houve reações adversas Também é importante realizar a conferência na caderneta da criança e orientar sobre as próximas doses além de lembrar da importância da vacinação Na história familiar é fundamental saber se alguém na família está doente se há casos de doenças crônicas ou alergias e se alguém já teve febre alta na infância Em relação aos hábitos de vida é relevante entender como é a alimentação de André a frequência das refeições se ele frequenta creche ou escola como é sua higiene e se tem contato com animais de estimação 3 EXAME FÍSICO DA CRIANÇA Após uma anamnese detalhada é importante realizarmos um exame físico completo destacandose a presença ou ausência de sintomas e sinais que possam ser utilizados para prever o grau de risco Ao exame físico começaremos por fazer 1 Inspeção geral onde avaliaremos a impressão geral do paciente seu estado de consciência aparência saudável ou enfermo e grau de atividade Cabeça a Inspeção i fácies e conformação do crânio ii cabelo implantação cor e tipo iii pelos implantação e cor iv orelhas forma e posição das orelhas secreção v pescoço tumorações e pulsações b Palpação i crânio conformação e perímetro cefálico ii olhos mucosa conjuntival nistagmo estrabismo exoftalmia acuidade visual e reflexos iii nariz obstrução mucosa e batimentos de asa iv orelhas dor e otoscopia se possível nesse momento v boca dentes gengiva língua amígdalas lábios mucosa oral e palato vi linfonodos número tamanho consistência mobilidade e sinais inflamatórios vii pescoço tumorações lesões rigidez palpação da traqueia e rigidez de nuca 4 Membros superiores a Inspeção i lesões de pele ii cicatriz de BCG iii articulações aumento de tamanho simetria e coloração iv musculatura simetria b Palpação i articulações temperatura edema mobilidade crepitação dor e tamanho ii musculatura trofismo tônus e força muscular iii temperatura axilar iv umidade da pele v linfonodos axilares vi pulso radial vii unhas tamanho espessura manchas formato e coloração viii perfusão capilar ix medida da pressão arterial Tórax a Inspeção i forma simetria e mobilidade ii lesões de pele iii respiração tipo ritmo amplitude frequência e esforço ictus cordis impulsões e tamanho iv mamas desenvolvimento e simetria b Palpação i linfonodos supraclaviculares ii tumorações iii mamas dor calor tumorações e coloração iv expansibilidade v frêmito toracovocal vi frêmito cardíaco vii pontos dolorosos viii pesquisa de sensibilidade c Percussão i som claro pulmonar timpanismo ou macicez d Ausculta i ruídos respiratórios audíveis sem estetoscópio ii sons respiratórios normais e ruídos adventícios iii precórdio bulhas sopros e estalidos Abdome a Inspeção i forma globoso semigloboso distendido ou escavado ii coloração iii cicatriz umbilical forma secreção e hiperemia iv massas visíveis e cicatrizes v movimentos e alterações de parede vi lesões de pele b Ausculta i peristaltismo c Palpação superficial i sensibilidade ii turgor e elasticidade da pele iii tensão da parede abdominal d Percussão i delimitação de vísceras ii sensibilidade e Palpação profunda i cicatriz umbilical ii diástase dos músculos retoabdominais iii sensibilidade iv fígado baço massas lojas renais e rins Membros inferiores a Inspeção i lesões de pele e coloração ii unhas tamanho espessura manchas e formato iii movimentos anormais coreia tiques e tremores iv articulações aumento de tamanho simetria e hiperemia v musculatura simetria b Palpação i musculatura trofismo tônus e força muscular ii articulações dor edema crepitações mobilidade tamanho e temperatura iii pulsos pedioso e dorsal dos pés iv medida da pressão arterial em um dos membros v avaliação do subcutâneo turgor edema linfedema vi Sensibilidade Coluna vertebral joelhos e pés a Parada i curvaturas da coluna escoliose cifose e lordose ii curvaturas dos joelhos iii curvaturas dos pés b Andando i varismo e valgismo do joelho e dos pés ii movimento da cintura escapular iii movimento da cintura pélvica iv movimento dos braços 5 Mensuração a Pode ser feita no início ou no final do exame físico i comprimentoaltura ii peso iii perímetros cefálico torácico e abdominal iv dados vitais temperatura frequência respiratória e pulsos v pressão arterial nos membros superiores e em um membro inferior Durante o exame físico é importante darmos atenção especial à frequência cardíaca em batimentos por minuto bpm para crianças com menos de 12 meses 160 bpm de 12 a 24 meses 150 bpm e de 2 a 5 anos 140 bpm Também devemos observar a frequência respiratória respiraçõesminuto 50 6 a 12 meses e 40 para maiores de 12 meses além da saturação de oxigênio 95 Devemos monitorar o tempo de enchimento capilar alertando se 3 segundos avaliar o grau de hidratação através de mucosas e turgor da pele e considerar o grau de atividade e responsividade aos estímulos Esta avaliação incluirá um código de cores verde amarelo ou vermelho protocolo semáforo para indicar o grau de risco orientando assim as investigações e o manejo inicial para a criança com febre 4 SINAIS DE GRAVIDADE DO CASO A presença de gravidade de febre acompanhada de eritema pode indicar várias condições a começar pelo contexto clínico e dos sinais e sintomas associados a febre Observar e acompanhar se o André apresenta respiração acelerada uso de músculos acessórios para respirar ou cianose é um sinal de gravidade Desidratação sinais como boca seca é sinal de mucosas secas e olhos encovados diminuição da frequência urinária choro sem lágrimas e letargia são sinais de uma desidratação preocupante Alterações do estado de consciência confusão sonolência excessiva ou irritabilidade pode ter indicações mais sérias do estado Observar o eritema já presente na avaliação alerta para aparecimento de bolhas ou descamação ou áreas da pele comprometidas pode indicar uma evolução para infecções grave ou uma reação alérgica posterior Presença de sinais como rigidez da nuca petequias ou outros sinais de infecção como dor abdominal intensa vômitos persistentes ou sinais de diarreia são indicativos para nova avaliação médica Avaliar condições subjacentes como doenças cardíacas respiratórias ou imunologicas pode ser um risco maior para complicações devido a febre como tratase de uma criança de 2 anos e 3 meses a febre é um quadro de maior preocupação se persistente em 48 a 72 horas 6 A febre leve e moderada está associada a uma resposta imunológica mais intensa e desempenha papel importante no processo de resposta antiinflamatória somente febre com 385º 390º e 400º C deve ser reduzida com antipiréticos e acompanhadas dos demais fatores além da febre uso individualizado e acompanhado Avaliar a intensidade da febre com mais de 7 dias se febre com avaliação de 389ºC é considerado taxas de bacteremia 1 a considerar valores de aferição da febre maiores a taxa de bacteremia dependendo da intensidade considera estado da criança e presença de sintomas 5 CONDUTAS 51 Controle da Febre Ajuste na Dosagem de Dipirona A dose de dipirona deve ser adequada ao peso da criança 12 kg com orientação para 10 a 15 mgkg por dose No caso de André a dosagem correta seria cerca de 12 gotas podendo ser administrada a cada 6 horas se a febre ultrapassar 385C ou caso haja desconforto acentuado Alternativa com Paracetamol Na ausência de dipirona ou se houver contraindicações o paracetamol é uma opção segura também em dosagem de 10 a 15 mgkg respeitando o intervalo de 6 horas entre as doses apenas em caso de necessidade para alívio de sintomas febris 5 2 Hidratação e Alimentação Estimulação da Ingestão Hídrica Manter a criança hidratada é essencial para evitar desidratação Orientar a mãe a oferecer água sucos naturais diluídos e chás não adoçados regularmente além de observar sinais de hidratação frequência urinária presença de lágrimas mucosas umedecidas Sinais de Desidratação Instruir a mãe a monitorar sinais como boca seca diminuição de diurese e urina concentrada que podem indicar a necessidade de intervenção com solução de reidratação oral SRO 5 3 Alívio do Desconforto de Garganta Alimentos Frios e Macios Recomendamse alimentos que minimizem o desconforto na garganta como iogurtes frios purês e líquidos em temperatura ambiente Evitar Alimentos 7 Ácidos ou Picantes Explicar que alimentos ácidos ou muito temperados devem ser evitados pois podem aumentar a irritação da mucosa 5 4 Monitoramento dos Sintomas e Retorno Reavaliação em 48 a 72 Horas Programar um retorno para reavaliação na unidade de saúde garantindo o acompanhamento do quadro e possível intervenção caso a febre persista ou novos sintomas apareçam Sinais de Alerta A mãe deve ser orientada para identificar e buscar atendimento imediato em caso de febre persistente acima de 39C sonolência dificuldade respiratória diminuição expressiva na ingestão de líquidos ou sinais de desidratação acentuada como ausência de urina 55 Ambiente Confortável Manter o Ambiente Fresco e Ventilado Evitar coberturas excessivas e oferecer um ambiente ventilado que reduza o desconforto provocado pela febre 56 Educação sobre Febre e Antitérmicos Educação sobre a Natureza da Febre Explicar à mãe que a febre é uma resposta natural a infecções e que abaixo de 385C pode não necessitar de medicação salvo em caso de desconforto intenso Orientação sobre a Dosagem Correta dos Medicamentos Explicar à mãe a importância de ajustar a dosagem ao peso e seguir as indicações do profissional para evitar superdosagem e possíveis efeitos adversos 6 ORIENTAÇÕES E CUIDADOS DE ENFERMAGEM Prescrever antitérmico segundo a preferência aceitação e tolerância da criança Orientar os pais sobre os benefícios limitados das compressas mornas e banhos mornos de imersão conforme o agrado da criança Incentivar a ingestão de líquidos sucos água chás Orientar que a falta de apetite é inevitável por isso oferecer uma alimentação saudável como frutas legumes verduras carnes frango peixe de acordo com aceitação da criança Manter a criança em ambiente fresco e seguro Usar roupas leves Manter a criança em repouso até que se recupere 8 Conversar com os pais sobre os sinais de alerta como febre que ultrapassa a 72h febre com tremores choro inconsolável gemência febre que não melhora após a administração de antitérmico Diante de todos esses sinais é importante retornar para uma nova avaliação 7 MEDICAÇÕES Novalgina a mais indicada1 gota por kg Ibuprofenoantiinflamatório e antitérmico 1 gota por kg de peso de 4 a 6h Administração de medicação de acordo com a idade e o peso da criança 8 MONITORAMENTO E RETORNO 81 Monitoramento O monitoramento de André deve ser realizado de forma regular com avaliação dos sinais vitais exame físico completo e questionamento sobre a evolução dos sintomas O retorno deve ser agendado para avaliar a eficácia do tratamento e orientar a mãe sobre os cuidados a serem tomados em casa É importante que a mãe seja orientada a procurar atendimento médico imediatamente em caso de piora dos sintomas ou surgimento de novos sinais de alerta Ele pode ser realizado de diferentes formas Sinais vitais Aferição regular da temperatura frequência cardíaca frequência respiratória e pressão arterial Exames físicos Avaliação regular das condições gerais do paciente como presença de edema palidez icterícia entre outros Exames complementares Realização de exames laboratoriais de imagem ou outros conforme a necessidade Questionários Utilizar questionários para facilitar a avaliação da qualidade de vida a satisfação com o tratamento e a presença de sintomas Frequência do monitoramento A frequência do monitoramento varia de acordo com a condição clínica do paciente e a complexidade do tratamento Em alguns casos o acompanhamento pode ser diário enquanto em outros pode ser semanal ou mensal 9 RETORNO DO PACIENTE O retorno do paciente é a consulta agendada para avaliar a evolução do tratamento e ajustar as condutas se necessário O objetivo é avaliar a eficácia do tratamento verificar se os 9 sintomas estão melhorando se houve remissão da doença ou se são necessárias alterações no tratamento identificar possíveis efeitos adversos monitorar a ocorrência de reações adversas aos medicamentos ou outras complicações orientar o paciente esclarecer dúvidas fornece informações sobre o tratamento e orientar sobre os cuidados a serem tomados em casa agendar próximas consultas definir a frequência das próximas consultas de acordo com a necessidade de cada paciente 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alves Cláudia Regina Lindgren Semiologia da criança e do recém nascido Cláudia Regina Lindgren Alves Isabela Resende Silva Scherrer Belo Horizonte NesconUFMG 2018 44 p Arquivos catarinenses de medicina Conhecimento dos pais sobre febre em crianças 2012 906pdf Acesso em Outubro de 2024 Brasil Ministério da Saúde Cadernos de Atenção Básica Saúde da Criança Crescimento e Desenvolvimento BrasiliaDF 2012 Disponível em Acesso em Outubro de 2024httpsbvsmssaudegovbrbvspublicacoessaudecriancacrescimentodesenvolviment opdf BRUNNER Lillian Sholtis SUDDARTH Doris Smith Tratado de enfermagem médico cirúrgica 12 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2012 Departamentos Científicos de Pediatria Ambulatorial e de Infectologia Manejo da Febre Aguda Disponível em httpswwwsbpcombrfileadminuserupload23229c DCManejodafebreagudapdf Acesso em Outubro de 2024 Jornal de pediatria A criança com febre em consultório 2003httpsdoiorg101590S002175572003000700007 Acesso em Outubro de 2024 Lindgren Alves CR Silva Scherrer IR Semiologia da criança e do recémnascido NESCON UFMG Disponível em httpswwwnesconmedicinaufmgbrbibliotecaimagemSemiologiacriancarecem nascidopdf Acesso em Outubro de 2024 POTTER Patricia A PERRY Anne Griffin Fundamentos de enfermagem 11 ed Rio de Janeiro Elsevier 2024 SOCIETE BRASILEIRA DE PEDIATRIA Manual de Atendimento à Criança com Febre na Unidade Básica de Saúde Disponível em httpswwwsbpcombr Acesso em 25 out 2024 10