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Direito ·
Direito do Consumidor
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Trabalho da matéria de Direito do Consumidor Realizar um fixamento resenha no mínimo de 10 páginas Expor as suas ideias de forma objetiva Não precisa de artigos nem jurisprudências Ler o texto livro disponibilizado da PÁGINA 21 até 95 para realizar a atividade Livro GILLES LIPOVETSKY A felicidade paradoxal Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo Tradução Maria Lucia Machado Observação trabalho utilizado CHATGPT ou qualquer outra inteligência artificial assim como plágio será atribuído a nota ZERO FICHAMENTO DA OBRA GILLES LIPOVETSKY A felicidade paradoxal Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo Tradução Maria Lucia Machado 1 A SOCIEDADE DE CONSUMO E SUAS TRANSFORMAÇÕES A expressão sociedade de consumo surgiu nos anos 1920 popularizouse nas décadas de 1950 e 1960 e continua amplamente utilizada até hoje Representa uma das características mais marcantes da vida cotidiana nas sociedades contemporâneas No entanto críticas e questionamentos sobre seu impacto surgiram especialmente no início dos anos 1990 com observadores notando mudanças significativas nas atitudes dos consumidores como a perda do apetite por consumir e o desinteresse por marcas Além das críticas iniciais surgiram novas considerações A revolução nas tecnologias de informação e comunicação introduziu a ideia de uma sociedade de redes e de um capitalismo informacional enquanto as mudanças nos valores sociais destacaram a priorização da qualidade de vida e da espiritualidade sobre o materialismo Essas mudanças indicam uma transição para uma visão de mundo pósmaterialista reduzindo a veneração pelas coisas materiais Apesar das críticas a ideia de que a sociedade de consumo foi superada é contestada Ao contrário as democracias modernas entraram em uma nova era de mercantilização dos modos de vida com práticas de consumo que refletem novas relações com os bens materiais os outros e consigo mesmo Essa evolução é exemplificada por consumidores que buscam produtos light biodinâmicos e de qualidade garantida mostrando uma transformação nas práticas de consumo A transição para a sociedade de hiperconsumo não representa uma ruptura total mas uma mudança de direção dentro de uma continuidade histórica O sistema pósfordista trouxe profundas mudanças nos estímulos à demanda nas estratégias de venda e nos comportamentos de consumo A ênfase na personalização e diferenciação dos produtos e serviços alimenta a lógica do sempre mais sempre novo perpetuando a mercantilização dos modos de vida A primeira fase do capitalismo de consumo de massa que começou por volta dos anos 1880 e terminou com a Segunda Guerra Mundial foi marcada pela criação de mercados nacionais e pelo desenvolvimento de infraestruturas modernas de transporte e comunicação Esse período viu a emergência de máquinas de produção contínua elevando a produtividade e reduzindo custos o que possibilitou a produção em massa e a democratização do acesso aos bens de consumo A fase inicial do marketing de massa trouxe a invenção do consumidor moderno Até os anos 1880 os produtos eram vendidos a granel e sem marca A industrialização introduziu o acondicionamento e a publicidade em larga escala permitindo que empresas como a CocaCola investissem significativamente em publicidade nacional moldando o comportamento dos consumidores e estabelecendo o consumo de massa como um fenômeno cultural e social 2 A EMERGÊNCIA DAS MARCAS E A TRANSFORMAÇÃO DO VAREJO A primeira fase do capitalismo de consumo viu o surgimento de marcas famosas como CocaCola e Kodak e a criação de produtos empacotados em pequenas embalagens distribuídos nos mercados nacionais A relação do consumidor com o varejista mudou profundamente com a confiança sendo transferida do vendedor para a marca Este período foi marcado pela democratização limitada dos bens de consumo que se tornou acessível a um público mais amplo embora a maioria das famílias ainda tivesse recursos limitados para adquirir equipamentos modernos Os grandes magazines como Printemps e Le Bon Marché na França e Macys nos Estados Unidos surgiram como uma revolução comercial moderna Essas lojas enfatizavam a rotação rápida dos estoques e a prática de preços baixos para aumentar o volume de vendas Eles transformaram a experiência de compra em um evento social e de lazer democratizando o desejo e revolucionando a relação dos consumidores com o consumo através de estratégias de sedução e marketing Os grandes magazines não apenas vendiam mercadorias mas também estimulavam a necessidade de consumir e excitavam o gosto por novidades e moda Eles criaram um ambiente luxuoso e sedutor tornando a compra uma experiência prazerosa e uma forma de arte A publicidade e as técnicas de marketing modernas contribuíram para elevar o consumo a um estilo de vida fazendo do ato de comprar uma atividade central para a felicidade moderna e a vida cotidiana das classes médias Por volta de 1950 iniciouse um novo ciclo histórico das economias de consumo marcado por um crescimento econômico excepcional e pela difusão do modelo fordista de produção Esta fase democratizou ainda mais o consumo de bens duráveis como automóveis e eletrodomésticos permitindo que as massas tivessem acesso a uma demanda material mais individualizada e psicologizada O aumento da produtividade e dos salários possibilitou uma elevação significativa do nível de consumo A produção e o consumo de massa exigiram uma distribuição de massa A grande distribuição se modernizou rapidamente integrando métodos científicos de gestão e organização do trabalho O desenvolvimento de supermercados e hipermercados que vendiam a preços baixos e ofereciam uma vasta gama de produtos foi uma resposta a essa necessidade transformando radicalmente o comércio e contribuindo para a expansão do consumo de massa A fase II do consumo de massa foi marcada pela obsolescência dirigida dos produtos e pela exaltação dos prazeres instantâneos através da publicidade e das mídias Esse período viu a transição para uma vida no presente e a valorização dos prazeres privados provocando uma revolução individualista e hedonista A sociedade de consumo criou uma vontade crônica pelos bens mercantis e um modo de vida centrado nos valores materialistas transformando o consumo em uma nova razão de viver 3 DO CONSUMO OSTENTATÓRIO AO CONSUMO DE CONFORTO E PRAZER A crítica ao consumo ostentatório baseada no efeito Veblen mostrouse desatualizada frente às novas motivações dos consumidores a partir dos anos 1950 60 Objetos como carros televisões e eletrodomésticos passaram a ser adquiridos mais pelo conforto e prazer que proporcionavam do que pelo status social O acesso a um modo de vida mais confortável e hedonista tornouse uma motivação dominante com a publicidade e as mídias promovendo comportamentos de consumo orientados pelo bemestar individual Apesar das novas tendências o consumo de objetos continuou a ser um símbolo de sucesso e integração social Carros americanos por exemplo eram projetados para impressionar visualmente enquanto a publicidade destacava produtos como emblemas de status Essa combinação de consumo para consideração social e consumo hedonista caracteriza a fase II do capitalismo de consumo onde coexistem a busca por prestígio e a busca por prazer O ciclo de consumo baseado na consideração social está se encerrando dando lugar ao hiperconsumo Com a diversificação extrema da oferta e a democratização do conforto e dos lazeres os consumidores tornaramse mais imprevisíveis e focados na qualidade de vida O consumo agora é orientado por gostos e critérios individuais com uma ênfase crescente nas satisfações emocionais e sensoriais A nova era do hiperconsumo é marcada por uma lógica desinstitucionalizada subjetiva e emocional No hiperconsumo os consumidores buscam objetos para viver e não apenas para exibir status social A ênfase está nas satisfações emocionais e corporais sensoriais e estéticas com os bens mercantis funcionando mais como serviços à pessoa O consumo para si supera o consumo para o outro refletindo o movimento de individualização das expectativas e comportamentos O marketing sensorial ou experiencial tem ganhado destaque valorizando a atratividade sensível e emocional dos produtos As marcas agora focam na criação de experiências afetivas e sensoriais utilizando ambientes sonoros difusão de odores e cenografias espetaculares Essa abordagem visa diferenciar as marcas e proporcionar uma aventura sensitiva e emocional aos consumidores indo além da funcionalidade fria dos produtos tradicionais O consumo emocional permite que os indivíduos expressem suas identidades culturais e pessoais através dos produtos que escolhem O arranjo dos apartamentos por exemplo é menos sobre exibir riqueza e mais sobre criar um ambiente estético e agradável que reflita a identidade singular de seus habitantes O consumo criativo revela quem somos como indivíduos combinando objetos de maneira que expressem nossa singularidade A PAIXÃO PELAS MARCAS E O CONSUMO DEMOCRÁTICO O consumo emocional não significa a vitória do ser sobre o parecer já que vivemos na era do triunfo das marcas e suas imagens A publicidade evoluiu de uma comunicação centrada nos benefícios funcionais dos produtos para campanhas que destacam valores e emoções ultrapassando a realidade objetiva dos produtos Nos mercados de grande consumo a imagem criativa da marca se tornou crucial para diferenciar e vender produtos Embora o desejo de reconhecimento social não tenha desaparecido ele foi reestruturado pelo neoindividualismo onde o prazer narcísico de sentirse superior à maioria é mais importante A busca por marcas se alimenta do desejo de sentirse uma pessoa de qualidade e de ser diferente da massa Este fenômeno reflete uma nova relação com o luxo e a qualidade de vida onde todos se sentem no direito de acessar o melhor resultando em um consumo que valoriza mais a qualidade do que a quantidade Na sociedade de hiperconsumo o gasto descoordenado e eclético se tornou legítimo As pessoas compram marcas caras não por pressão social mas pelo prazer e pela relação qualitativa com os produtos A relação com as marcas se psicologizou e subjetivou respondendo às novas incertezas e expectativas de segurança estética ou sanitária A desagregação das normas tradicionais deu lugar a sistemas plurais onde as marcas oferecem uma referência confiável em um mundo de classificações confusas Entre os jovens a marca serve menos para demonstrar superioridade social e mais para evitar parecer inferior A sensibilidade às marcas é uma manifestação do individualismo igualitário onde os jovens usam as marcas para se incluir nos jogos da moda e do consumo A compra de uma marca é vivida como a expressão de uma identidade clânica e singular permitindo ao jovem afirmar suas preferências e gostos O hiperconsumo está associado ao poder sobre si e ao controle individual das condições de vida Os objetos técnicos que simbolizam essa autonomia como computadores e celulares são desejados por sua capacidade de abrir novos espaços de independência pessoal O consumo funciona como uma alavanca de apropriação pessoal do cotidiano impulsionado menos pelos desejos de representação social e mais pelos desejos de autonomia individual A sociedade de hiperconsumo é marcada pela crescente importância das despesas de saúde e pela medicalização da vida A busca pela otimização da saúde se tornou uma preocupação onipresente refletindo uma mudança de paradigma onde o consumo é centrado no indivíduo e na sua conservação Este fenômeno revela uma nova forma de relação com o consumo caracterizada pela vigilância constante e pela busca de bemestar e saúde O CONSUMO COMO VIAGEM E DIVERTIMENTO A dimensão hedonística do consumo é bem ilustrada pelo papel crescente dos lazeres As despesas com lazer cultura e comunicação aumentam mais rápido que a média dos outros consumos ocupando um espaço progressivo nos orçamentos familiares desde os anos 1950 Esse aumento contínuo demonstra que os lazeres e o consumo de ficções jogos música e viagens têm se tornado centrais nas vidas das pessoas evidenciando uma economia focada no divertimento e nas experiências culturais A crítica marxista frequentemente vê o consumo como um ópio do povo um substituto para a verdadeira vida oferecendo consolo às frustrações do trabalho e da vida moderna Embora essa função consoladora seja real ela não captura completamente a essência das paixões consumistas Comprar não é apenas um meio de esquecer problemas é também uma busca ativa por experiências e prazeres novos como mostra o aumento das despesas com lazer e a popularidade dos parques de diversão e festivais Na fase III do consumo a civilização do objeto foi substituída por uma economia da experiência onde o objetivo é oferecer vivências diretas e emocionantes Parques temáticos festivais e experiências insólitas são exemplos de como as indústrias de lazer trabalham para proporcionar momentos extraordinários e sensações intensas O hiperconsumidor busca menos a posse de objetos e mais a multiplicação de experiências demonstrando um desejo por aventuras seguras e programadas O sucesso dos parques temáticos e da indústria da experiência reflete o impulso pela mercantilização dos lazeres e o desejo de sensações e evasões No entanto essa busca pelo extraordinário coexiste com um desejo por autenticidade e experiências personalizadas O hiperconsumidor deseja tanto espetáculos artificiais quanto um mundo íntimo e verdadeiro que se pareça com ele equilibrando a simulação dirigida com a reapropriação individual dos prazeres O consumo de bens materiais também segue uma lógica experiencial O shopping se tornou uma atividade recreativa onde o prazer de comprar é comparado a uma festa A expansão do consumo hedonista é alimentada por estratégias comerciais que criam ambientes festivos e de sonho onde a teatralização dos pontos de venda introduz prazer na experiência de compra Esse fenômeno reflete um laço estrutural entre hiperconsumo e hedonismo Uma característica importante dos bens de consumo é a constante inovação e a busca pelo novo O prazer da novidade é uma grande força atrativa no consumo onde o comprador busca emoções novas e experiências sensoriais Na fase III o consumo é impulsionado pela busca de prazeres renovados e sensações estéticas transformando o consumidor em um colecionador de experiências O consumo assim se torna uma forma de intensificar o presente através da renovação constante A RELAÇÃO ENTRE CONSUMO E ALIENAÇÃO A famosa questão da alienação do Homo consumericus precisa ser reconsiderada O consumo moderno deve ser visto não como um sinal de alienação mas como uma expressão da liberdade humana A instabilidade em relação às mercadorias é uma maneira de afirmar a superioridade do sujeito sobre os objetos A mudança constante das coisas tem como objetivo principal descoisificar o cotidiano rejeitando a repetição e buscando pequenas novidades vividas O consumo moderno deve ser interpretado como uma tentativa de escapar à fossilização do cotidiano proporcionando intensidade e vibração emocional O modelo do neoconsumidor não é o de um indivíduo manipulado mas de um indivíduo móvel que usa o consumo para zappear a própria vida O consumo emocional enfatiza a intensificação do presente vivido lutando contra os tempos mortos da vida A busca por experiências novas e emocionantes é uma forma de rejuvenescer a experiência vivida O consumo no ciclo atual é impulsionado pelo sonho de uma juventude eterna e de um presente sempre renovado Através do ato de consumo buscase reintensificar a duração e exorcizar a erosão do tempo individual O desejo profundo do Homo consumericus é de renascimento e de uma juventude emocional indefinidamente ressuscitada Esta nova leitura sugere que o consumo é menos um signo de despojamento de si e mais um desejo de intensificação do presente vivido Apesar de ser privado e mercantil o consumo moderno pode ser comparado a uma festa tradicional que simbolicamente visa revitalizar o corpo coletivo após o caos e a morte O ato de consumo busca redinamizar o aqui e agora reintensificando a duração A preocupação com o tempo é uma motivação subterrânea do consumo moderno onde a busca por uma juventude emocional é incessantemente revivida O consumo moderno tem um duplo papel responsabilizar os indivíduos tornandoos gestores adultos de suas vidas e infantilizálos A propensão do hiperconsumidor é voltar a ser pequeno com adultos comprando itens infantis para si mesmos e participando de atividades que remetem à infância Produtos e experiências de consumo cada vez mais integram elementos lúdicos e nostálgicos promovendo uma recusa a crescer e prolongando a infância e adolescência A tendência de consumo regressivo está em crescimento com adultos e jovens adultos desejando reviver aspectos de sua infância Parques de diversões brinquedos para adultos e produtos com aromas e sabores nostálgicos são exemplos de como o mercado está respondendo a essa demanda A recusa de crescer se manifesta cada vez mais cedo com jovens adultos vivendo em um prolongamento eterno de sua infância ou adolescência A INFANTILIZAÇÃO E O CONSUMO NOSTÁLGICO Philippe Muray vê a tendência de infantilização como uma mutação catastrófica da humanidade resultando em uma creche universalizada Ele argumenta que a diferença entre as idades foi erradicada levando a uma homogeneização monstruosa e indiferenciada No entanto essa visão é exagerada e injusta pois as diferenciações ainda existem e o neoadulto que se diverte em lugares como a Euro Disney não recai na infância mas sim brinca com a ideia de infantilização de forma consciente e temporária A conduta de mimicry ou imitação não elimina as divisões sociais de idade nem as capacidades críticas dos indivíduos Ao brincar de se infantilizar os consumidores modernos não estão abolindo as diferenciações mas apenas dando uma nova forma ao eterno Homo ludens Essa tendência de imitar a criança é uma expressão lúdica e temporária que não significa uma transformação ontológica completa mas sim um prolongamento das emoções felizes experimentadas na infância A consagração da juventude como ideal de vida é uma característica central da cultura contemporânea O ideal de vida adulta séria foi eclipsado por modelos que legitimam emoções lúdicas e infantis Não se trata de uma mutação da espécie humana mas de uma redescoberta de sensações felizes e de uma justaposição de consumos adultos e infantis O hiperconsumidor busca tanto produtos tecnológicos quanto afetivos promovidos pelo retromarketing que explora a nostalgia dos consumidores O consumo regressivo é um signo de uma cultura hedonista e juvenil Os indivíduos procuram redescobrir as impressões de sua infância através do mercado jogando com a nostalgia sem inibição Este fenômeno revela uma ordem desregulada emocional e hiperindividualista onde as compras são realizadas com vistas a experiências subjetivas A tendência de bancar a criança coexiste com a responsabilidade de gerir suas próprias vidas no cosmos da racionalidade instrumental No mundo liberal a insegurança e o excesso de possibilidades fazem com que os indivíduos busquem relaxamento e despreocupação A necessidade de leveza e de atividades insignificantes e gratuitas se torna uma forma de escapar da responsabilidade constante O hiperconsumo oferece aos indivíduos o prazer da irresponsabilidade e da superficialidade do jogo permitindo uma fuga temporária da seriedade da vida e do peso da liberdade de governar a si mesmo A terceira etapa histórica do capitalismo de consumo é marcada por novas formas de organização econômica destacandose pela diversificação da oferta e a globalização das empresas A economia de serviços se tornou dominante com os serviços representando dois terços da atividade econômica nos países da OCDE Este modelo pósfordista combina a terceirização e a individualização galopante do consumo criando um novo cenário econômico centrado na prestação de serviços e na experiência do consumidor A ECONOMIA DA VARIEDADE As fases I e II da sociedade de consumo foram fundamentadas na produção em massa de produtos padronizados baseadas no modelo fordistataylorista Apesar de algumas estratégias de segmentação de mercado terem surgido desde os anos 1920 como a política da General Motors de oferecer carros variados a diversificação permaneceu limitada dominada pelas grandes séries padronizadas A fase III surgiu quando os princípios fordistas começaram a perder fôlego Para combater a desaceleração do consumo e responder às necessidades individualistas os industriais adotaram novas estratégias baseadas na segmentação de mercado e na multiplicação de variantes de produtos O sistema de produção de massa cedeu lugar à lógica de proliferação da variedade resultando em uma produção mais personalizada Nos anos 1980 a indústria automotiva e outros setores começaram a oferecer uma variedade muito maior de produtos personalizados Com a ajuda da tecnologia especialmente microeletrônica e informática tornouse possível fabricar produtos personalizados ao mesmo custo dos produtos padronizados Exemplos incluem a Renault e a Peugeot que permitem a personalização de carros pela internet e a Nike que oferece personalização de calçados Este avanço inverteu a lógica da produção padronizada colocando o consumidor no comando Richard S Tedlow propõe que desde os anos 1950 houve uma era de segmentação onde as grandes marcas começaram a focar em categorias específicas de consumidores No entanto na fase III a segmentação tornouse extrema e quase ilimitada atingindo grupos cada vez mais subdivididos e nichos específicos Esta segmentação hiperindividualizada é uma característica central da economia de hiperconsumo onde a oferta é adaptada a micromercados com curta duração de vida A segmentação não se limita aos bens materiais mas também se estende aos serviços Exemplos incluem políticas tarifárias diferenciadas nos transportes e nas telecomunicações e a multiplicação de canais de televisão As companhias ferroviárias e aéreas adotaram estratégias tarifárias que variam conforme a situação do mercado o momento da reserva e outros fatores Esta diversificação tarifária é explorada também por agências de turismo e operadoras de telefonia A diversificação é frequentemente vista como um triunfo do cliente rei e da preeminência do marketing sobre a produção Empresas buscam responder precisamente às necessidades da demanda produzindo o personalizado em massa Esta mutação é uma radicalização da lógica da moda com uma variedade perpétua e diferenciações marginais típicas do sistema da moda que agora se aplica à economia como um todo A fase III é marcada pela hipersegmentação dos mercados e pela renovação constante dos produtos AS REORIENTAÇÕES DE MARKETING DA GRANDE DISTRIBUIÇÃO Na fase II da sociedade de consumo as estratégias de diferenciação e segmentação se expandiram para o universo da distribuição Inicialmente focadas em preços baixos e eficiência as políticas comerciais passaram a enfatizar as necessidades e satisfações dos clientes visando fidelizálos Essa diversificação incluiu melhorias na qualidade do atendimento informações sobre os produtos remodelação das prateleiras assistência comercial e políticas de fidelização A grande distribuição começou a adotar estratégias que tornaram a compra menos desagradável e mais prazerosa Isso incluiu ajuste dos horários de abertura redução da espera nas caixas rotação rápida das coleções miseenscène dos produtos animações diversas e qualidade do ambiente A prioridade passou a ser a satisfação do cliente tanto na produção quanto na distribuição com uma oferta diferenciada e personalizada A fase II viu a rápida ascensão das grandes áreas especializadas como Conforama FNAC Darty Décathlon Sephora e Ikea Essas lojas oferecem uma gama mais profunda de produtos específicos criando universos de consumo que muitas vezes incluem um estilo de vida Esse formato de loja atende ao hiperconsumidor profissional e reflexivo que valoriza a tecnicidade e a qualidade Novos tipos de lojas surgiram para reforçar o componente prazer do ato de compra criando experiências afetivas e sensoriais Redes de livrarias como Chapters e Virgin adicionaram bares e poltronas e outras lojas criaram atmosferas de sonho poesia ou jogo Essas estratégias transformam as lojas em locais de atração e ambiências emocionais e estéticas alinhandose ao conceito de retailtainment Na fase III a inovação se tornou mais importante que a produção em massa A competitividade das empresas passou a depender da reatividade e do lançamento de novos produtos Este processo de destruição criativa acelerou com orçamentos substanciais dedicados à pesquisa e desenvolvimento PD A inovação constante tornouse essencial para o crescimento das empresas suplantando a ênfase anterior na produtividade repetitiva do fordismo O ritmo de lançamento de novos produtos aumentou significativamente Em 1966 7 mil novos produtos apareciam nos supermercados americanos hoje são 16 mil Empresas como a Sony e a PSA lançam milhares de novos produtos anualmente Esse aumento da variedade resultou em uma inflação de nomes de marcas e na renovação constante das coleções como visto em empresas como Zara e Reebok A aceleração da obsolescência dos produtos está presente em todos os setores Produtos hightech por exemplo têm uma vida útil que diminuiu pela metade desde 1990 Empresas reduzem constantemente o tempo de concepção e desenvolvimento de novos produtos para se manterem competitivas A cronoconcorrência tornouse uma prática comum com lançamentos antecipados de produtos para criar desejo e afetar a concorrência A exigência de qualidade também transformou a organização da produção e dos serviços O ciclo da hipermercadoria combina a busca pela excelência técnica com a produção de bens industriais baratos de alta qualidade Ao mesmo tempo o mercado vê o crescimento das marcas de desconto e dos produtos genéricos desafiando a ideia de que apenas as políticas de comunicação e imagem são relevantes A pressão sobre os preços e a expansão das marcas de distribuidores refletem a complexidade do mercado de hiperconsumo REFERÊNCIA LIPOVETSKY Gilles A felicidade paradoxal Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo Tradução Maria Lucia Machado São Paulo Companhia das Letras 2007
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Trabalho da matéria de Direito do Consumidor Realizar um fixamento resenha no mínimo de 10 páginas Expor as suas ideias de forma objetiva Não precisa de artigos nem jurisprudências Ler o texto livro disponibilizado da PÁGINA 21 até 95 para realizar a atividade Livro GILLES LIPOVETSKY A felicidade paradoxal Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo Tradução Maria Lucia Machado Observação trabalho utilizado CHATGPT ou qualquer outra inteligência artificial assim como plágio será atribuído a nota ZERO FICHAMENTO DA OBRA GILLES LIPOVETSKY A felicidade paradoxal Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo Tradução Maria Lucia Machado 1 A SOCIEDADE DE CONSUMO E SUAS TRANSFORMAÇÕES A expressão sociedade de consumo surgiu nos anos 1920 popularizouse nas décadas de 1950 e 1960 e continua amplamente utilizada até hoje Representa uma das características mais marcantes da vida cotidiana nas sociedades contemporâneas No entanto críticas e questionamentos sobre seu impacto surgiram especialmente no início dos anos 1990 com observadores notando mudanças significativas nas atitudes dos consumidores como a perda do apetite por consumir e o desinteresse por marcas Além das críticas iniciais surgiram novas considerações A revolução nas tecnologias de informação e comunicação introduziu a ideia de uma sociedade de redes e de um capitalismo informacional enquanto as mudanças nos valores sociais destacaram a priorização da qualidade de vida e da espiritualidade sobre o materialismo Essas mudanças indicam uma transição para uma visão de mundo pósmaterialista reduzindo a veneração pelas coisas materiais Apesar das críticas a ideia de que a sociedade de consumo foi superada é contestada Ao contrário as democracias modernas entraram em uma nova era de mercantilização dos modos de vida com práticas de consumo que refletem novas relações com os bens materiais os outros e consigo mesmo Essa evolução é exemplificada por consumidores que buscam produtos light biodinâmicos e de qualidade garantida mostrando uma transformação nas práticas de consumo A transição para a sociedade de hiperconsumo não representa uma ruptura total mas uma mudança de direção dentro de uma continuidade histórica O sistema pósfordista trouxe profundas mudanças nos estímulos à demanda nas estratégias de venda e nos comportamentos de consumo A ênfase na personalização e diferenciação dos produtos e serviços alimenta a lógica do sempre mais sempre novo perpetuando a mercantilização dos modos de vida A primeira fase do capitalismo de consumo de massa que começou por volta dos anos 1880 e terminou com a Segunda Guerra Mundial foi marcada pela criação de mercados nacionais e pelo desenvolvimento de infraestruturas modernas de transporte e comunicação Esse período viu a emergência de máquinas de produção contínua elevando a produtividade e reduzindo custos o que possibilitou a produção em massa e a democratização do acesso aos bens de consumo A fase inicial do marketing de massa trouxe a invenção do consumidor moderno Até os anos 1880 os produtos eram vendidos a granel e sem marca A industrialização introduziu o acondicionamento e a publicidade em larga escala permitindo que empresas como a CocaCola investissem significativamente em publicidade nacional moldando o comportamento dos consumidores e estabelecendo o consumo de massa como um fenômeno cultural e social 2 A EMERGÊNCIA DAS MARCAS E A TRANSFORMAÇÃO DO VAREJO A primeira fase do capitalismo de consumo viu o surgimento de marcas famosas como CocaCola e Kodak e a criação de produtos empacotados em pequenas embalagens distribuídos nos mercados nacionais A relação do consumidor com o varejista mudou profundamente com a confiança sendo transferida do vendedor para a marca Este período foi marcado pela democratização limitada dos bens de consumo que se tornou acessível a um público mais amplo embora a maioria das famílias ainda tivesse recursos limitados para adquirir equipamentos modernos Os grandes magazines como Printemps e Le Bon Marché na França e Macys nos Estados Unidos surgiram como uma revolução comercial moderna Essas lojas enfatizavam a rotação rápida dos estoques e a prática de preços baixos para aumentar o volume de vendas Eles transformaram a experiência de compra em um evento social e de lazer democratizando o desejo e revolucionando a relação dos consumidores com o consumo através de estratégias de sedução e marketing Os grandes magazines não apenas vendiam mercadorias mas também estimulavam a necessidade de consumir e excitavam o gosto por novidades e moda Eles criaram um ambiente luxuoso e sedutor tornando a compra uma experiência prazerosa e uma forma de arte A publicidade e as técnicas de marketing modernas contribuíram para elevar o consumo a um estilo de vida fazendo do ato de comprar uma atividade central para a felicidade moderna e a vida cotidiana das classes médias Por volta de 1950 iniciouse um novo ciclo histórico das economias de consumo marcado por um crescimento econômico excepcional e pela difusão do modelo fordista de produção Esta fase democratizou ainda mais o consumo de bens duráveis como automóveis e eletrodomésticos permitindo que as massas tivessem acesso a uma demanda material mais individualizada e psicologizada O aumento da produtividade e dos salários possibilitou uma elevação significativa do nível de consumo A produção e o consumo de massa exigiram uma distribuição de massa A grande distribuição se modernizou rapidamente integrando métodos científicos de gestão e organização do trabalho O desenvolvimento de supermercados e hipermercados que vendiam a preços baixos e ofereciam uma vasta gama de produtos foi uma resposta a essa necessidade transformando radicalmente o comércio e contribuindo para a expansão do consumo de massa A fase II do consumo de massa foi marcada pela obsolescência dirigida dos produtos e pela exaltação dos prazeres instantâneos através da publicidade e das mídias Esse período viu a transição para uma vida no presente e a valorização dos prazeres privados provocando uma revolução individualista e hedonista A sociedade de consumo criou uma vontade crônica pelos bens mercantis e um modo de vida centrado nos valores materialistas transformando o consumo em uma nova razão de viver 3 DO CONSUMO OSTENTATÓRIO AO CONSUMO DE CONFORTO E PRAZER A crítica ao consumo ostentatório baseada no efeito Veblen mostrouse desatualizada frente às novas motivações dos consumidores a partir dos anos 1950 60 Objetos como carros televisões e eletrodomésticos passaram a ser adquiridos mais pelo conforto e prazer que proporcionavam do que pelo status social O acesso a um modo de vida mais confortável e hedonista tornouse uma motivação dominante com a publicidade e as mídias promovendo comportamentos de consumo orientados pelo bemestar individual Apesar das novas tendências o consumo de objetos continuou a ser um símbolo de sucesso e integração social Carros americanos por exemplo eram projetados para impressionar visualmente enquanto a publicidade destacava produtos como emblemas de status Essa combinação de consumo para consideração social e consumo hedonista caracteriza a fase II do capitalismo de consumo onde coexistem a busca por prestígio e a busca por prazer O ciclo de consumo baseado na consideração social está se encerrando dando lugar ao hiperconsumo Com a diversificação extrema da oferta e a democratização do conforto e dos lazeres os consumidores tornaramse mais imprevisíveis e focados na qualidade de vida O consumo agora é orientado por gostos e critérios individuais com uma ênfase crescente nas satisfações emocionais e sensoriais A nova era do hiperconsumo é marcada por uma lógica desinstitucionalizada subjetiva e emocional No hiperconsumo os consumidores buscam objetos para viver e não apenas para exibir status social A ênfase está nas satisfações emocionais e corporais sensoriais e estéticas com os bens mercantis funcionando mais como serviços à pessoa O consumo para si supera o consumo para o outro refletindo o movimento de individualização das expectativas e comportamentos O marketing sensorial ou experiencial tem ganhado destaque valorizando a atratividade sensível e emocional dos produtos As marcas agora focam na criação de experiências afetivas e sensoriais utilizando ambientes sonoros difusão de odores e cenografias espetaculares Essa abordagem visa diferenciar as marcas e proporcionar uma aventura sensitiva e emocional aos consumidores indo além da funcionalidade fria dos produtos tradicionais O consumo emocional permite que os indivíduos expressem suas identidades culturais e pessoais através dos produtos que escolhem O arranjo dos apartamentos por exemplo é menos sobre exibir riqueza e mais sobre criar um ambiente estético e agradável que reflita a identidade singular de seus habitantes O consumo criativo revela quem somos como indivíduos combinando objetos de maneira que expressem nossa singularidade A PAIXÃO PELAS MARCAS E O CONSUMO DEMOCRÁTICO O consumo emocional não significa a vitória do ser sobre o parecer já que vivemos na era do triunfo das marcas e suas imagens A publicidade evoluiu de uma comunicação centrada nos benefícios funcionais dos produtos para campanhas que destacam valores e emoções ultrapassando a realidade objetiva dos produtos Nos mercados de grande consumo a imagem criativa da marca se tornou crucial para diferenciar e vender produtos Embora o desejo de reconhecimento social não tenha desaparecido ele foi reestruturado pelo neoindividualismo onde o prazer narcísico de sentirse superior à maioria é mais importante A busca por marcas se alimenta do desejo de sentirse uma pessoa de qualidade e de ser diferente da massa Este fenômeno reflete uma nova relação com o luxo e a qualidade de vida onde todos se sentem no direito de acessar o melhor resultando em um consumo que valoriza mais a qualidade do que a quantidade Na sociedade de hiperconsumo o gasto descoordenado e eclético se tornou legítimo As pessoas compram marcas caras não por pressão social mas pelo prazer e pela relação qualitativa com os produtos A relação com as marcas se psicologizou e subjetivou respondendo às novas incertezas e expectativas de segurança estética ou sanitária A desagregação das normas tradicionais deu lugar a sistemas plurais onde as marcas oferecem uma referência confiável em um mundo de classificações confusas Entre os jovens a marca serve menos para demonstrar superioridade social e mais para evitar parecer inferior A sensibilidade às marcas é uma manifestação do individualismo igualitário onde os jovens usam as marcas para se incluir nos jogos da moda e do consumo A compra de uma marca é vivida como a expressão de uma identidade clânica e singular permitindo ao jovem afirmar suas preferências e gostos O hiperconsumo está associado ao poder sobre si e ao controle individual das condições de vida Os objetos técnicos que simbolizam essa autonomia como computadores e celulares são desejados por sua capacidade de abrir novos espaços de independência pessoal O consumo funciona como uma alavanca de apropriação pessoal do cotidiano impulsionado menos pelos desejos de representação social e mais pelos desejos de autonomia individual A sociedade de hiperconsumo é marcada pela crescente importância das despesas de saúde e pela medicalização da vida A busca pela otimização da saúde se tornou uma preocupação onipresente refletindo uma mudança de paradigma onde o consumo é centrado no indivíduo e na sua conservação Este fenômeno revela uma nova forma de relação com o consumo caracterizada pela vigilância constante e pela busca de bemestar e saúde O CONSUMO COMO VIAGEM E DIVERTIMENTO A dimensão hedonística do consumo é bem ilustrada pelo papel crescente dos lazeres As despesas com lazer cultura e comunicação aumentam mais rápido que a média dos outros consumos ocupando um espaço progressivo nos orçamentos familiares desde os anos 1950 Esse aumento contínuo demonstra que os lazeres e o consumo de ficções jogos música e viagens têm se tornado centrais nas vidas das pessoas evidenciando uma economia focada no divertimento e nas experiências culturais A crítica marxista frequentemente vê o consumo como um ópio do povo um substituto para a verdadeira vida oferecendo consolo às frustrações do trabalho e da vida moderna Embora essa função consoladora seja real ela não captura completamente a essência das paixões consumistas Comprar não é apenas um meio de esquecer problemas é também uma busca ativa por experiências e prazeres novos como mostra o aumento das despesas com lazer e a popularidade dos parques de diversão e festivais Na fase III do consumo a civilização do objeto foi substituída por uma economia da experiência onde o objetivo é oferecer vivências diretas e emocionantes Parques temáticos festivais e experiências insólitas são exemplos de como as indústrias de lazer trabalham para proporcionar momentos extraordinários e sensações intensas O hiperconsumidor busca menos a posse de objetos e mais a multiplicação de experiências demonstrando um desejo por aventuras seguras e programadas O sucesso dos parques temáticos e da indústria da experiência reflete o impulso pela mercantilização dos lazeres e o desejo de sensações e evasões No entanto essa busca pelo extraordinário coexiste com um desejo por autenticidade e experiências personalizadas O hiperconsumidor deseja tanto espetáculos artificiais quanto um mundo íntimo e verdadeiro que se pareça com ele equilibrando a simulação dirigida com a reapropriação individual dos prazeres O consumo de bens materiais também segue uma lógica experiencial O shopping se tornou uma atividade recreativa onde o prazer de comprar é comparado a uma festa A expansão do consumo hedonista é alimentada por estratégias comerciais que criam ambientes festivos e de sonho onde a teatralização dos pontos de venda introduz prazer na experiência de compra Esse fenômeno reflete um laço estrutural entre hiperconsumo e hedonismo Uma característica importante dos bens de consumo é a constante inovação e a busca pelo novo O prazer da novidade é uma grande força atrativa no consumo onde o comprador busca emoções novas e experiências sensoriais Na fase III o consumo é impulsionado pela busca de prazeres renovados e sensações estéticas transformando o consumidor em um colecionador de experiências O consumo assim se torna uma forma de intensificar o presente através da renovação constante A RELAÇÃO ENTRE CONSUMO E ALIENAÇÃO A famosa questão da alienação do Homo consumericus precisa ser reconsiderada O consumo moderno deve ser visto não como um sinal de alienação mas como uma expressão da liberdade humana A instabilidade em relação às mercadorias é uma maneira de afirmar a superioridade do sujeito sobre os objetos A mudança constante das coisas tem como objetivo principal descoisificar o cotidiano rejeitando a repetição e buscando pequenas novidades vividas O consumo moderno deve ser interpretado como uma tentativa de escapar à fossilização do cotidiano proporcionando intensidade e vibração emocional O modelo do neoconsumidor não é o de um indivíduo manipulado mas de um indivíduo móvel que usa o consumo para zappear a própria vida O consumo emocional enfatiza a intensificação do presente vivido lutando contra os tempos mortos da vida A busca por experiências novas e emocionantes é uma forma de rejuvenescer a experiência vivida O consumo no ciclo atual é impulsionado pelo sonho de uma juventude eterna e de um presente sempre renovado Através do ato de consumo buscase reintensificar a duração e exorcizar a erosão do tempo individual O desejo profundo do Homo consumericus é de renascimento e de uma juventude emocional indefinidamente ressuscitada Esta nova leitura sugere que o consumo é menos um signo de despojamento de si e mais um desejo de intensificação do presente vivido Apesar de ser privado e mercantil o consumo moderno pode ser comparado a uma festa tradicional que simbolicamente visa revitalizar o corpo coletivo após o caos e a morte O ato de consumo busca redinamizar o aqui e agora reintensificando a duração A preocupação com o tempo é uma motivação subterrânea do consumo moderno onde a busca por uma juventude emocional é incessantemente revivida O consumo moderno tem um duplo papel responsabilizar os indivíduos tornandoos gestores adultos de suas vidas e infantilizálos A propensão do hiperconsumidor é voltar a ser pequeno com adultos comprando itens infantis para si mesmos e participando de atividades que remetem à infância Produtos e experiências de consumo cada vez mais integram elementos lúdicos e nostálgicos promovendo uma recusa a crescer e prolongando a infância e adolescência A tendência de consumo regressivo está em crescimento com adultos e jovens adultos desejando reviver aspectos de sua infância Parques de diversões brinquedos para adultos e produtos com aromas e sabores nostálgicos são exemplos de como o mercado está respondendo a essa demanda A recusa de crescer se manifesta cada vez mais cedo com jovens adultos vivendo em um prolongamento eterno de sua infância ou adolescência A INFANTILIZAÇÃO E O CONSUMO NOSTÁLGICO Philippe Muray vê a tendência de infantilização como uma mutação catastrófica da humanidade resultando em uma creche universalizada Ele argumenta que a diferença entre as idades foi erradicada levando a uma homogeneização monstruosa e indiferenciada No entanto essa visão é exagerada e injusta pois as diferenciações ainda existem e o neoadulto que se diverte em lugares como a Euro Disney não recai na infância mas sim brinca com a ideia de infantilização de forma consciente e temporária A conduta de mimicry ou imitação não elimina as divisões sociais de idade nem as capacidades críticas dos indivíduos Ao brincar de se infantilizar os consumidores modernos não estão abolindo as diferenciações mas apenas dando uma nova forma ao eterno Homo ludens Essa tendência de imitar a criança é uma expressão lúdica e temporária que não significa uma transformação ontológica completa mas sim um prolongamento das emoções felizes experimentadas na infância A consagração da juventude como ideal de vida é uma característica central da cultura contemporânea O ideal de vida adulta séria foi eclipsado por modelos que legitimam emoções lúdicas e infantis Não se trata de uma mutação da espécie humana mas de uma redescoberta de sensações felizes e de uma justaposição de consumos adultos e infantis O hiperconsumidor busca tanto produtos tecnológicos quanto afetivos promovidos pelo retromarketing que explora a nostalgia dos consumidores O consumo regressivo é um signo de uma cultura hedonista e juvenil Os indivíduos procuram redescobrir as impressões de sua infância através do mercado jogando com a nostalgia sem inibição Este fenômeno revela uma ordem desregulada emocional e hiperindividualista onde as compras são realizadas com vistas a experiências subjetivas A tendência de bancar a criança coexiste com a responsabilidade de gerir suas próprias vidas no cosmos da racionalidade instrumental No mundo liberal a insegurança e o excesso de possibilidades fazem com que os indivíduos busquem relaxamento e despreocupação A necessidade de leveza e de atividades insignificantes e gratuitas se torna uma forma de escapar da responsabilidade constante O hiperconsumo oferece aos indivíduos o prazer da irresponsabilidade e da superficialidade do jogo permitindo uma fuga temporária da seriedade da vida e do peso da liberdade de governar a si mesmo A terceira etapa histórica do capitalismo de consumo é marcada por novas formas de organização econômica destacandose pela diversificação da oferta e a globalização das empresas A economia de serviços se tornou dominante com os serviços representando dois terços da atividade econômica nos países da OCDE Este modelo pósfordista combina a terceirização e a individualização galopante do consumo criando um novo cenário econômico centrado na prestação de serviços e na experiência do consumidor A ECONOMIA DA VARIEDADE As fases I e II da sociedade de consumo foram fundamentadas na produção em massa de produtos padronizados baseadas no modelo fordistataylorista Apesar de algumas estratégias de segmentação de mercado terem surgido desde os anos 1920 como a política da General Motors de oferecer carros variados a diversificação permaneceu limitada dominada pelas grandes séries padronizadas A fase III surgiu quando os princípios fordistas começaram a perder fôlego Para combater a desaceleração do consumo e responder às necessidades individualistas os industriais adotaram novas estratégias baseadas na segmentação de mercado e na multiplicação de variantes de produtos O sistema de produção de massa cedeu lugar à lógica de proliferação da variedade resultando em uma produção mais personalizada Nos anos 1980 a indústria automotiva e outros setores começaram a oferecer uma variedade muito maior de produtos personalizados Com a ajuda da tecnologia especialmente microeletrônica e informática tornouse possível fabricar produtos personalizados ao mesmo custo dos produtos padronizados Exemplos incluem a Renault e a Peugeot que permitem a personalização de carros pela internet e a Nike que oferece personalização de calçados Este avanço inverteu a lógica da produção padronizada colocando o consumidor no comando Richard S Tedlow propõe que desde os anos 1950 houve uma era de segmentação onde as grandes marcas começaram a focar em categorias específicas de consumidores No entanto na fase III a segmentação tornouse extrema e quase ilimitada atingindo grupos cada vez mais subdivididos e nichos específicos Esta segmentação hiperindividualizada é uma característica central da economia de hiperconsumo onde a oferta é adaptada a micromercados com curta duração de vida A segmentação não se limita aos bens materiais mas também se estende aos serviços Exemplos incluem políticas tarifárias diferenciadas nos transportes e nas telecomunicações e a multiplicação de canais de televisão As companhias ferroviárias e aéreas adotaram estratégias tarifárias que variam conforme a situação do mercado o momento da reserva e outros fatores Esta diversificação tarifária é explorada também por agências de turismo e operadoras de telefonia A diversificação é frequentemente vista como um triunfo do cliente rei e da preeminência do marketing sobre a produção Empresas buscam responder precisamente às necessidades da demanda produzindo o personalizado em massa Esta mutação é uma radicalização da lógica da moda com uma variedade perpétua e diferenciações marginais típicas do sistema da moda que agora se aplica à economia como um todo A fase III é marcada pela hipersegmentação dos mercados e pela renovação constante dos produtos AS REORIENTAÇÕES DE MARKETING DA GRANDE DISTRIBUIÇÃO Na fase II da sociedade de consumo as estratégias de diferenciação e segmentação se expandiram para o universo da distribuição Inicialmente focadas em preços baixos e eficiência as políticas comerciais passaram a enfatizar as necessidades e satisfações dos clientes visando fidelizálos Essa diversificação incluiu melhorias na qualidade do atendimento informações sobre os produtos remodelação das prateleiras assistência comercial e políticas de fidelização A grande distribuição começou a adotar estratégias que tornaram a compra menos desagradável e mais prazerosa Isso incluiu ajuste dos horários de abertura redução da espera nas caixas rotação rápida das coleções miseenscène dos produtos animações diversas e qualidade do ambiente A prioridade passou a ser a satisfação do cliente tanto na produção quanto na distribuição com uma oferta diferenciada e personalizada A fase II viu a rápida ascensão das grandes áreas especializadas como Conforama FNAC Darty Décathlon Sephora e Ikea Essas lojas oferecem uma gama mais profunda de produtos específicos criando universos de consumo que muitas vezes incluem um estilo de vida Esse formato de loja atende ao hiperconsumidor profissional e reflexivo que valoriza a tecnicidade e a qualidade Novos tipos de lojas surgiram para reforçar o componente prazer do ato de compra criando experiências afetivas e sensoriais Redes de livrarias como Chapters e Virgin adicionaram bares e poltronas e outras lojas criaram atmosferas de sonho poesia ou jogo Essas estratégias transformam as lojas em locais de atração e ambiências emocionais e estéticas alinhandose ao conceito de retailtainment Na fase III a inovação se tornou mais importante que a produção em massa A competitividade das empresas passou a depender da reatividade e do lançamento de novos produtos Este processo de destruição criativa acelerou com orçamentos substanciais dedicados à pesquisa e desenvolvimento PD A inovação constante tornouse essencial para o crescimento das empresas suplantando a ênfase anterior na produtividade repetitiva do fordismo O ritmo de lançamento de novos produtos aumentou significativamente Em 1966 7 mil novos produtos apareciam nos supermercados americanos hoje são 16 mil Empresas como a Sony e a PSA lançam milhares de novos produtos anualmente Esse aumento da variedade resultou em uma inflação de nomes de marcas e na renovação constante das coleções como visto em empresas como Zara e Reebok A aceleração da obsolescência dos produtos está presente em todos os setores Produtos hightech por exemplo têm uma vida útil que diminuiu pela metade desde 1990 Empresas reduzem constantemente o tempo de concepção e desenvolvimento de novos produtos para se manterem competitivas A cronoconcorrência tornouse uma prática comum com lançamentos antecipados de produtos para criar desejo e afetar a concorrência A exigência de qualidade também transformou a organização da produção e dos serviços O ciclo da hipermercadoria combina a busca pela excelência técnica com a produção de bens industriais baratos de alta qualidade Ao mesmo tempo o mercado vê o crescimento das marcas de desconto e dos produtos genéricos desafiando a ideia de que apenas as políticas de comunicação e imagem são relevantes A pressão sobre os preços e a expansão das marcas de distribuidores refletem a complexidade do mercado de hiperconsumo REFERÊNCIA LIPOVETSKY Gilles A felicidade paradoxal Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo Tradução Maria Lucia Machado São Paulo Companhia das Letras 2007