·

Medicina Veterinária ·

Patologia Clínica Veterinária

Send your question to AI and receive an answer instantly

Ask Question

Preview text

ISSN 21774080 96 Investigação 14696101 2015 RESUMO A cetose é uma alteração metabólica que causa problemas em vacas de alta produção gerando prejuízos para o produtor com a redução da produção custo de tratamento ou até a morte de animais O objetivo deste trabalho é revisar os aspectos relacionados com os fatores desencadeantes tratamento e prevenção da cetose Essa alteração metabólica relacionase com o período de transição quando as demandas energéticas aumentam para o crescimento fetal no fi nal da gestação e para a síntese de lactose após o parto Nesse período ocorre normalmente um balanço energético negativo BEN pois a ingesta não é sufi ciente para atender as demandas do animal resultando em mobilização das reservas do tecido adiposo Na cetose essa mobilização ocorre de forma intensa tendo grande captação de ácidos graxos livres pelo fígado que podem resultar em esteatose hepática Uma das formas de diagnóstico é feita através da identifi cação do aumento de corpos cetônicos séricos ou na urina O tratamento mais adequado para a cetose é a administração por via oral de propilenoglicol desde que não seja fornecido em excesso A principal forma de prevenção é evitar que a vaca ganhe muito peso pois o tecido adiposo produz leptina que inibe o apetite sendo ideal que vaca esteja com escore 325 no momento do parto Tendo em vista a importância da cetose em vacas de alta produção é importante salientar que os animais devem ser monitorados no período de transição e a dieta deve ser adequada para evitar ganho excessivo de peso Palavraschave período de transição balanço energético negativo doença metabólica oxidação de ácidos graxos MV Denis V Bonato1 MV Dayane P Vrisman2 Augusto R Taira3 MV MSc Lucas G Ghizzi4 MV MSc Robson K Ueno5 Eng Agr MSc Dr Mikael Neumann3 MV MSc Dr Pedro Paulo M Teixeira1 MV MSc Dra Sofi a BorinCrivellenti1 CETOSE EM VACAS LEITEIRAS DE ALTA PRODUÇÃO Ketosis in a highproducing dairy cowt ABSTRACT Ketosis is a metabolic disorder that causes problems for the health of high producing cows generating losses for the farmer by reducing the production cost of treatment or death of animals The objective of this paper is to review aspects related to the factors that trigger treatment and prevention of ketosis This metabolic change is related to the transition period when energy demands increase for fetal growth in late pregnancy and for lactose synthesis after delivery During this period usually occurs a negative energy balance BEN because the energy intake is insuffi cient to meet the demands of the animal resulting in mobilization of reserves in adipose tissue In ketosis this mobilization occurs intensely with great capture of free fatty acids by the liver that can lead to fatty liver One form of diagnosis is done by identifying the increased serum or urine ketone bodies The appropriate treatment of ketosis is administration orally in propylene glycol provided that it is not supplied in excess The main form of prevention is to prevent the cow to gain too much weight because adipose tissue produces leptin inhibits appetite which is ideal cow is to score 325 at delivery Given the importance of ketosis in high yielding cows is important to adjust the diet to avoid excessive weight gain and monitor the animals in the transition period Keywords transition period negative energy balance metabolic disease fatty acid oxidation 1Universidade de Franca UNIFRAN Franca São Paulo Brasil 2Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho UNESP Jaboticabal São Paulo Brasil 3Universidade Estadual do CentroOeste UNICENTRO Guarapuava Paraná Brasil 4União de Ensino do Sudoeste do Paraná UNISEP Dois Vizinhos Paraná Brasil 5Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Porto Alegre Rio Grande do Sul Brasil Av Dr Armando Sales Oliveira 201 CEP 14404600 Pq Universitário Franca SP Email denisviniciusbonatoyahoocombr Investigação 14696101 2015 REVISÃO DE LITERATURA CLÍNICA DE GRANDES ANIMAIS ISSN 21774080 97 Investigação 14696101 2015 INTRODUÇÃO A bovinocultura de leite é uma atividade de extrema importância para o agronegócio brasileiro BRASIL 2014 pois de acordo com USDA 2014 o Brasil está em quinta colocação na produção mundial de leite perdendo apenas para a União Europeia Estados Unidos Índia e China Porém a média de produtividade das vacas brasileiras foi de 1382 litrosvacaano em 2011 vem sendo inferior a produtividade do rebanho da União Europeia que no mesmo ano alcançou uma produção média anual de 5978 litrosvaca IBGE 2011 No entanto mesmo com os índices de produtividade geral de leite do país sendo inferiores aos demais os dados publicados pelo IBGE 2014 revelam que no ano de 2013 as indústrias coletaram 23545 bilhões de litros do produto ocorrendo um aumento de 54 na captação de leite em comparação com o mesmo período de 2012 O fato é atribuído à algumas regiões do país que trabalham de forma muito técnica na atividade e os índices de produtividade tem aumentado como demonstrado pelo IBGE 2013 nos quais CastroPR que é o município com maior produção de leite no país teve média de produtividade de 7120 litrosvacaano Esses dados reforçam que no Brasil são encontradas rebanhos com vacas de alto potencial para produção de leite Entretanto sabese que esses animais especializados estão sujeitos a vários distúrbios metabólicos como hipocalcemia deslocamento de abomaso esteatose hepática retenção de placenta mastites e a cetose principalmente durante o período de transição SANTOS et al 2010 A cetose ocorre devido a defi ciência na ingestão de carboidratos associada a um aumento na demanda por energia que resulta em mobilização intensa de tecido adiposo e oxidação de ácidos graxos resultando em acumulo de corpos cetônicos BOSE 1995 McART et al 2013 Essa doença acarreta prejuízos signifi cativos para o pecuarista pois a forma subclínica da doença reduz a produção em média de 1 a 14 kg de leitedia por vaca afetada e a forma clínica pode reduzir a produção em até 4 kgdia podendo em casos severos levar o animal a óbito SANTOS 2011 A doença está presente em rebanhos de todo o mundo pois a exemplo do estado do Paraná onde Massuqueto et al 2009 identifi caram em atendimentos de vacas de alta produção a ocorrência de 1111 de cetose e 1667 da doença quando associada à retenção de placenta dentre o total de casos de doenças metabólicas diagnosticadas durante o período de transição Campos et al 2005 identifi caram no estado do Rio Grande do Sul cetonúria em 112 das 140 vacas Holandesas avaliadas as quais apresentavam produção média de 25 kg de leitedia Avaliando 5884 vacas leiteiras em vários países da Europa Suthar et al 2013 identifi caram que 218 dos animais apresentavam cetose subclínica Levandose em consideração a importância do tema exposto o presente trabalho de revisão tem como objetivo elucidar os pontos importantes relacionados à fi siopatologia diagnóstico e manejo da cetose em vacas leiteiras de alta produção Período de transição e a correlação com a ocorrência de cetose vacas leiterias O período de transição corresponde as três semanas que antecedem o parto e as três primeiras semanas após o parto MOTA et al 2006 No fi nal da gestação o desenvolvimento do feto juntamente com a preparação da glândula mamária para a futura lactação são as prioridades das exigências energéticas ocorrendo um aumento nas demandas por energia nesse período RESENDE et al 2011 Outro fator que leva ao aumento nas demandas energéticas no período de transição ocorre logo após o parto quando a vaca de alto desempenho inicia uma produção maciça de leite MOTA et al 2006 O precursor para a elaboração de lactose sintetizada pelas células epiteliais da glândula mamária é a glicose com isso quanto mais leite a vaca produzir mais glicose irá necessitar DE KOSTER e OPSOMER 2012 Durante esse período a vaca apresenta diversos fatores comportamentais hormonais metabólicos e físicos que tendem a reduzir a ingestão de matéria seca CONTRERAS e SORDILLO 2011 Estudos de Hayirli et al 2002 demonstram que vacas próximas ao parto reduzem em até 30 a quantidade de matéria seca ingerida voltando a suprir as demandas energéticas apenas após o pico de produção de leite Com esse aumento nas demandas energéticas e a ingestão insufi ciente de nutrientes os animais passam por um balanço energético negativo BEN durante o período de transição ALLEN e PIANTONI 2013 O BEN é algo normal para vacas destinadas para a produção de leite sendo uma forma de adaptação para manter a produção de leite durante períodos de escassez de alimentos McART et al 2013 A quantidade de glicogênio armazenada no fi gádo não é sufi ciente para atender as demandas energéticas de uma vaca em BEN ocorrendo assim a mobilização das reservas de ISSN 21774080 98 Investigação 14696101 2015 tecido adiposo para gliconeogênese XIA et al 2010 GORDON et al 2013 Quando o BEN é excessivo acaba resultando em efeitos negativos para a saúde do animal pois uma quantidade exacerbada de ácidos graxos não esterifi cados e corpos cetônicos circulantes acabam se acumulando no organismo McART et al 2013 Lipólise e produção de corpos cetônicos A lipólise que é a hidrólise das ligações éster entre os ácidos graxos e o glicerol no interior das células adiposas é controlada pela lipase triglicerídea adiposa lípase hormônio sensível LHS e monoacilglicerol lípase que atuam liberando ácidos graxos livres e o 2monoacilglicerol o qual também será posteriormente transformado em ácido graxo livre e glicerol pela ação da monoacilglicerol lipase SANTOS 2011 Algumas semanas antes do parto a vaca em BEN inicia a lipólise associada com redução nas concentrações sanguíneas de insulina e diminuição da sensibilidade dos tecidos a insulina circulante resultando em aumento nos níveis de ácidos graxos não esterifi cados séricos ALLEN e PIANTONI 2013 A lipólise é infl uenciada por diversos hormônios fato que pode variar pelo local onde a gordura está armazenada Em bovinos a maior concentração de lipólise principalmente a estimulada por catecolaminas está relacionada com o tecido adiposo subcutâneo DE KOSTER e OPSOMER 2012 Em condições de aumento de demanda de energia como ocorre em vacas de alta produção durante o período de transição a lipólise é rapidamente aumentada principalmente pela ação da LHS mediada por diversos hormônios como a epinefrina noroepinefrina cortisol hormônio da tireóide e glucagon PALMQUIST e MATTOS 2011 Nos casos de cetose os principais hormônios envolvidos no desencadeamento da lipólise pela LHS são basicamente o aumento de glucagon e catecolaminas e a redução nos níveis de insulina SANTOS 2011 No entanto Xia et al 2010 não identifi caram em animais com cetose clínica aumento nos níveis de glucagon circulantes Uma explicação plausível para este achado baseiase no fato de que que animais com cetose clínica podem desenvolver resistência à insulina DE KOSTER e OPSOMER 2012 A insulina é o hormônio responsável por permitir a entrada de glicose nas células através do desenvolvimento dos receptores FRANDSON et al 2005 Nos casos de resistência à insulina mesmo tendo insulina circulante ela não se é capaz de se ligar ao seu receptor assim não há entrada de glicose nas células Dessa forma os níveis de insulina circulante podem estar normais a elevados em determinados momentos resultando em níveis que variam de normais à baixos de glucagon SANTOS 2011 Entretanto salientase que devido resultados contraditórios em alguns estudos é necessário que mais pesquisas sejam realizadas para elucidar a relação entre a concentração de insulina associado ao glucagon e a resistência à insulina XIA et al 2010 Os ácidos graxos livres resultantes da lipólise dos tecidos de reserva são captados pelo fígado CONTRERAS e SORDILLO 2011 O tecido hepático tem baixa capacidade de exportar triacilglicerol na forma de lipoproteína de baixa densidade VLDL e os ácidos graxos acabam sendo reesterifi cados para triacilglicerol e assim permanecem depositados no parênquima hepático até sua eliminação pela cetongênese O aumento na concentração de triacilglicerol no tecido hepático acima de 3 é caracterizado como esteatose hepática SANTOS 2011 Animais saudáveis apresentam níveis plasmáticos de ácidos graxos livres inferiores a 400 μEqL Na cetose subclínica estes níveis fi cam em torno 400 a 800 μEqL e na cetose clínica são encontrados níveis acima de 1000 μEqL SANTOS 2011 Esses ácidos graxos livres quando entram na mitocôndria sofrem βoxidação resultando na formação de acetil CoA que se completamente oxidada pode gerar energia na forma de ATP porém para isso é necessário oxaloacetato oriundo da fermentação de carboidratos ingeridos que irá condensar com acetil CoA para a síntese de citrato e entrar no cilo de Krebs Em situações de BEN falta oxaloacetato e essa oxidação não ocorre de forma completa SANTOS 2011 A última etapa do metabolismo incompleto energético de lipídios é a produção de corpos cetônicos os quais são agrupados em três compostos o acetoacetato 3hidroxibutirato e a acetona Vale relembrar que embora o 3hidroxibutirato não seja literalmente um corpo cetônico pois não apresenta o grupamento cetona mas sim é agrupado como nesse contexto por ter interrelação com os demais SANTOS 2011 Esses corpos cetônicos são compostos ácidos o que leva o animal a desenvolver a cetoacidose quando a produção de corpos cetônicos tornase exacerbada FRANDSON et al 2005 Os ruminantes têm níveis mais altos de corpos cetônicos que espécies não ruminantes pois o epitélio ruminal produz 3hidroxibutirato através da βoxidação do butirato resultante da fermentação ruminal Por isso em condições normais ruminantes apresentam níveis séricos de 3hidroxibutirato em torno de 1 a 3 mgdL Em animais com cetose subclínica esses ISSN 21774080 99 Investigação 14696101 2015 níveis permanecem entre 10 a 15 mgdL enquanto que em animais com a forma clínica fi cam acima de 15 mgdL SANTOS 2011 Diagnóstico O diagnóstico da doença pode ser feito a partir da identifi cação do aumento de corpos cetônicos no sangue ou na urina O diagnóstico de cetonúria é um método muito interessante de monitorar vacas em período de transição mesmo tendo está uma correlação moderada com os níveis séricos pois além de não ser um método invasivo pode ser realizado utilizando um aparelho portátil associada a fi tas reagentes assim de fácil manuseio à campo e economicamente interessante CAMPOS et al 2005 O medidor portátil busca a concentração de βhidroxibutirato BHB na urina por isso as fi tas utilizadas nesse aparelho são chamadas de fi tas de BHB Os valores de BHB que um bovino em condições normais apresenta é de até 1 mmolL na cetose subclínica varia de 1 a 13 mmolL e na cetose clínica essa valores estão superiores a 13 mmolL GEISHAUSER et al 1998 A glicemia também é um parâmetro auxiliar no diagnóstico pois animais saudáveis apresentam níveis de glicose de 55 a 70 mgdL Em vacas com cetose subclínica estes níveis fi cam em torno de 35 a 50 mgdL e na forma clinica abaixo de 35 mgdL SANTOS 2011 Xia et al 2010 diagnosticaram em um rebanho de 1000 vacas leiteiras na China dez vacas acometidas na fase clínica da doença No referido estudo foram avaliados vários parâmetros sanguíneos e amostras de tecido hepático sendo as variáveis dos animais doentes comparados com as dez animais saudáveis Os autores identifi caram que todos os animais doentes apresentaram menores níveis de glicose sanguínea e insulina demonstrando também elevados níveis séricos de ácidos graxos não estratifi cados BHB aspartato transaminase AST bilirrubina total gamaglutamiltransferase gamaGT ainda nesse sentido os valores de gordura concentrada no fígado foram de 1886 enquanto que no grupo de animais saudáveis foi de 831 Esses resultados demonstram que a avaliação de parâmetros sanguíneos e a biópsia hepática são ferramentas efi cientes para o diagnóstico de cetose tanto na forma clínica como subclínica Gordon et al 2013 referem que uma das principais formas de diagnóstico da forma clínica é feita através da identifi cação dos sinais clínicos demonstrados pelos animais doentes os quais demonstram inapetência fezes ressecadas e rápido emagrecimento Santos 2011 cita que em casos severos da doença os animais podem ainda demonstrar sinais neurológicos e evoluir para o óbito Tratamento De acordo com McArt et al 2013 o pico de incidência de cetose subclínica ocorre a partir do quinto dia após o parto podendo evoluir para uma cetose clínica Assim destacase a importância do monitoramento dos animais nesse período tanto para a realização de diagnóstico precoce quanto para evitar o agravamento da doença Uma possibilidade de tratamento para a cetose é a administração de dextrose ou glicose por via intravenosa principalmente em animais que apresentam sinais neurológicos em decorrência de hipoglicemia O objetivo desta terapia é elevar os níveis glicêmicos e garantir o suprimento de glicose para a síntese de lactose tentando amenizar a mobilização de reservas corporais De acordo com Santos 2011 os rins tendem a reabsorver quase toda a glicose porém acaba eliminandoa quando os níveis glicêmicos ultrapassam 180 mgdL Assim devese evitar a rápida administração de grandes quantidades volumes de soluções contendo glicose pois a rápida elevação dos níveis glicêmicos causará a excreção renal não somente da glicose mas também de eletrólitos podendo agravar o quadro clínico e a desidratação do animal GORDON et al 2013 A situação de hiperglicemia transitória também pode causar redução na contratilidade da musculatura lisa do trato digestório podendo levar ao deslocamento de abomaso e por isso é importante que o volume total de glicose seja administrado de forma fracionada ao longo do dia A administração de glicocorticóides resulta em redução da síntese de lactose e consequentemente demanda por glicose inclusive diminuem a captação de aminoácidos pela glândula mamária e musculatura tornando os aminoácidos disponíveis para a gliconeogênese SANTOS 2011 Gordon et al 2013 citam que o melhor tratamento para a cetose é a administração da solução de propileno glicol por via oral durante cinco dias pois o propilenoglicol é fermentado em propionato no rúmen que fornece succinato para o ciclo de Krebs e contribui para a produção de oxalacetato restabelecendo a oxidação completa de ácidos graxos ou a síntese de glicose No entanto Santos 2011 alerta que o propilenoglicol é tóxico para os microrganismos ruminais quando administrado em excesso ISSN 21774080 100 Investigação 14696101 2015 Prevenção A melhor forma de prevenção é adequar o manejo nutricional para evitar que a vaca esteja muito gorda no parto O ideal é que o escore de condição corporal ECC não seja superior à 325 em uma escala de 1 a 5 SANTOS 2011 pois animais obesos tem alta produção de leptina um hormônio proteico produzido pelo tecido adiposo que tem alto potencial de limitar o consumo levando algumas vacas em período de transição a terem baixo consumo de matéria seca ECHEVERRY et al 2012 O uso de alguns aditivos alimentares é uma alternativa importante para evitar a ocorrência de cetose como os ionóforos a exemplo da monensina sódica os quais têm a função de reduzir a metanogênese redução de 10 a 12 da energia perdida na forma de metano e também possibilitar a maior produção de propionato através da fermentação ruminal SANTOS 2011 A niacina uma vitamina do grupo B é outra alternativa para evitar a cetose em animais obesos pois é capaz de reduzir a lipólise Também é observado que animais com defi ciência de colina apresentam maior incidência de estatose hepática e para isso a suplementação com colina tem se mostrado importante para animais no período de transição SANTOS 2011 CONCLUSÕES A cetose é uma doença metabólica que ocorre em rebanhos de bovinos leiteiros em todo o mundo tendo como grupo de risco vacas de alta produção e em período de transição A doença acarreta prejuízos signifi cativos para os pecuaristas porém um bom manejo nutricional e o uso de aditivos podem prevenir a doença Outro aspecto importante é a monitoração das vacas em período de transição principalmente dos animais com ECC acima de 325 afi m de diagnosticar e tratar esse distúrbio metabólico REFERÊNCIAS Allen MS Piantoni P 2013 Metabolic Control of Feed Intake Implications for Metabolic Disease of Fresh Cows Veterinary Clinics of North America Food Animal Practice 29 279297 Bose MLV 1995 Siglas termos conceitos e defi nições usuais em alimentos e alimentação e alimentação de bovinos In Peixoto AM Moura JC Faria VP 1995 Nutrição de bovinos conceitos básicos e aplicados 5 ed Piracicaba Fealq pp 527563 BRASIL Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento Plano mais pecuária Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento Assessoria de Gestão Estratégica Brasília MAPAACS 2014 32 p Campos R González F Coldebella A et al 2005 Determinação de corpos cetônicos na urina como ferramenta para o diagnóstico rápido de cetose subclínica bovina e relação com a composição do leite Archives of Veterinary Science 102 4954 Contreras GA Sordillo LM 2011 Lipid mobilization and infl ammatory responses during the transition period of dairy cows Comparative Immunology Microbiology and Infectious Diseases 34 281289 De Koster JD Opsomer G 2012 Insulin Resistance in Dairy Cows Veterinary Clinics of North America Food Animal Practice 29 299322 Echeverry DM Penagos F RuizCortés ZT 2012 Papel de la leptina y su receptor en la glándula mamaria bovina Revista Colombiana de Ciencias Pecuarias 253 500510 Frandson RD Wilke WL Fails AD 2005 Anatomia e fi siologia dos animais de fazenda Rio de Janeiro Guanabara Koogan 454 p Geishauser T Ke L Duffi eld T et al 1998 An evaluation of milk ketone test for the prediction of left displaced abomasum in dairy cows Journal Dairy Science 80 31883192 Gordon JL LeBlanc SJ Duffi eld TF 2013 Ketosis Treatment in Lactating Dairy Cattle Veterinary Clinics of North America Food Animal Practice 29 433445 Hayirli A Grummer RR Nordheim EV et al 2002 Animal and dietary factors aff ecting feed intake during the prefresh transition period in Holsteins Journal of Dairy Science 85 34303443 IBGE 2014 Estatística da Produção Pecuária Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística p74 IBGE 2013 Produção da Pecuária Municipal 2013 Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística Rio de Janeiro 41 108 IBGE 2011 Produção da Pecuária Municipal 2011 Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística Rio de Janeiro 39 63 Massuqueto S Almeida R Segui MS et al 2009 Acompanhamento médico veterinário de vacas leiteiras de elevada produção das raças holandesa preta e branca vermelha e branca e pardosuíça recémparidas Ciência Animal 53 243248 McArt JAA Nydam DV Oetzel GR et al 2013 Elevated nonesterifi ed fatty acids and bhydroxybutyrate and their association with transition dairy cow performance The Veterinary Journal 198 560570 Mota MF PintoNeto A Santos GT et al 2006 Período de transição na vaca leiteira Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR 91 7781 Palmquist DL Mattos WRS 2011 Metabolismo de lipídios In Berchielli TT Pires AV Oliveira SG 2011 Nutrição de ruminantes 2 ed Jaboticabal Funep pp 299322 Resende KT Teixeira IAMA Fernandes MHMR 2011 Metabolismo de energia In Berchielli TT Pires AV Oliveira SG 2011 Nutrição de ruminantes 2 ed Jaboticabal Funep pp 323344 Santos GT Damasceno JC Kazama DCS 2010 Manejo de vacas em lactação secas e em período de transição In Santos GT Massumada EM Kazama DCS et al 2010 Bovinocultura leiteira bases zootécnicas fi siológicas e de produção Maringá Eduem pp 80108 Santos JEP 2011 Distúrbios metabólicos In Berchielli TT Pires AV Oliveira SG 2011 Nutrição de ruminantes 2 ed Jaboticabal Funep pp 439520 Suthar VS CanelasRaposo J Deniz A et al 2013 Prevalence of subclinical ketosis and relationships with postpartum diseases in european dairy cows Journal of Dairy Science 96 5 29252938 ISSN 21774080 101 Investigação 14696101 2015 Doc Eletrônico internet USDA Cows Milk Production and Consumption Summary For Selected Countries 2014 United States Department of Agriculture Foreign Agricultural Service Disponível em httpsappsfasusdagov Acessado em 112015 Xia C Wang Z LIU GW et al 2010 Changes of Plasma Metabolites Hormones and mRNA Expression of Liver PEPCKC in Spontaneously Ketotic Dairy Cows AsianAustralasian Journal of Animal Sciences 231 4751 httpsdoiorg1031533pubvetv14n10a67217 PUBVET v14 n10 a672 p17 Out 2020 Aspectos clínicos epidemiológicos diagnóstico tratamento e prevenção da cetose em vacas leiteiras Revisão Bruno Bertol Delamura1 Vagner José Teixeira de Souza1 Nelson Massaru Fukumoto2 1Discentes do curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Toledo PR Brasil 2Zootecnista docente do curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Toledo PR Brasil Autor para correspondência brunodelamura1hotmailcom Resumo O período de transição em vacas leiteiras possui indubitável importância na determinação do ciclo produtivo uma vez que nesse período os animais são suscetíveis a uma grande gama de enfermidades Dentre tais enfermidades denotase a cetose uma enfermidade metabólica que acomete vacas leiteiras de alta produção e resulta de um desbalanço entre a quantidade energética necessária durante o ciclo produtivo e a quantidade energética presente na dieta resultando na mobilização de reservas corporais para a mantença e produção de leite excedendo o limiar de metabolização hepática e resultando no acúmulo de corpos cetônicos no organismo O diagnóstico se dá por meio da dosagem de ácidos graxos não esterificados no sangue leite ou urina dos animais acometidos Soluções a base de glicose ou de seus precursores como o propilenoglicol e terapêutica com glicocorticoides podem ser empregados no tratamento da enfermidade O manejo nutricional das vacas leiteiras durante o período de transição e período seco é de fundamental importância para evitar a ocorrência da enfermidade nos rebanhos leiteiros Esta revisão busca discorrer a respeito dos aspectos clínicos e epidemiológicos da doença bem como o seu diagnóstico tratamento e prevenção tendo em vista a importância da doença na bovinocultura de leite Palavras chave bovinocultura de leite cetose bovina período de transição Epidemiological aspects diagnosis treatment and prevention of ketosis in dairy cows Review Abstract The transition period in dairy cows has undoubted importance in determining the production cycle since the period when the animals are susceptible to a wide variety of diseases Among such diseases denote a ketosis a metabolic disease that accommodates highproducing dairy cows and results from an imbalance between the amount of dangerous chemicals during the production cycle and the chemical amounts present in the diet resulting in the mobilization of corporate reserves for maintenance and milk production exceeding or limiting hepatic metabolism and resulting in the accumulation of ketone bodies in the body The diagnosis provides a means of measuring nonesterified fat AGNES without blood milk or urine from affected animals Solutions based on glucose or its precursors such as propylene glycol and glucocorticoid therapy can be used to treat the disease The nutritional manual for dairy cows during the transition period and the dry period is of fundamental importance to prevent the occurrence of diseases in the milk banks This review seeks to analyze the respect of the clinical and epidemiological aspects of the disease as well as its diagnosis treatment and prevention in view of the importance of the disease in dairy cattle Keywords dairy cattle bovine ketosis transition period Lima Farias 2 PUBVET DOI 1031533pubvetv14n10a67217 Aspectos clínicos epidemiológicos diagnóstico tratamiento y prevención de la cetosis en vacas lecheras Revisión Resumen El período de transición en las vacas lecheras tiene indudable importancia para determinar el ciclo de producción ya que en ese período los animales son susceptibles a una amplia gama de enfermedades Entre estas enfermedades se observa cetosis una enfermedad metabólica que afecta a las vacas lecheras de alta producción y resulta de un desequilibrio entre la cantidad de energía necesaria durante el ciclo de producción y la cantidad de energía presente en la dieta lo que resulta en la movilización de reservas corporales para mantenimiento y producción de leche excediendo el umbral del metabolismo hepático y resultando en la acumulación de cuerpos cetónicos en el cuerpo El diagnóstico se realiza mediante la medición de ácidos grasos no esterificados en la sangre la leche o la orina de los animales afectados Las soluciones basadas en glucosa o sus precursores como el propilenglicol y la terapia con glucocorticoides pueden usarse para tratar la enfermedad El manejo nutricional de las vacas lecheras durante la transición y los períodos secos es de importancia fundamental para prevenir la aparición de la enfermedad en los rebaños lecheros Esta revisión busca discutir los aspectos clínicos y epidemiológicos de la enfermedad así como su diagnóstico tratamiento y prevención teniendo en cuenta la importancia de la enfermedad en el ganado lechero Palabras clave ganado lechero cetosis bovina período de transición Introdução O período de transição de vacas leiteiras é referido como sendo o intervalo decorrente de três semanas antes e três semanas após o parto Drackley 1999 Constituise em uma fase crítica com indubitável influência na saúde da fêmea e seu retorno durante todo o ciclo produtivo Grummer Rastani 2004 Cerca de 75 das doenças que acometem o gado leiteiro ocorrem nesse período Tais doenças são decorrentes de severas alterações hormonais metabólicas fisiológicas e anatômicas que preparam a fêmea para o parto e lactogênese podendo culminar redução da eficiência produtiva do desempenho reprodutivo e aumentar a taxa de descarte Hayirli et al 2002 Huzzey et al 2007 Estas alterações próximas ao parto associadas com o aumento da exigência de nutrientes para a síntese de colostro o desenvolvimento da glândula mamária e o rápido crescimento fetal caracterizam o período de transição Drackley 1999 Sendo assim a compreensão destas alterações hormonais e metabólicas é de fundamental importância para otimizar as recomendações nutricionais Juchem et al 2004 De acordo com Grummer Rastani 2004 devido aos fatores adversos citados acima há uma redução de aproximadamente 30 no consumo alimentar nas últimas três semanas de gestação Primíparas apresentam uma diminuição na IMS similar à observada no consumo de vacas Ressaltase ainda que a seleção para produção de leite trouxe consigo alterações metabólicas na vaca especialmente no que tange à capacidade de produção elevada e a de destinar mais gordura para o leite Agnew Yan 2000 e a forçada mobilização lipídica no pós parto Tais alterações culminam no aumento de uma série de doenças metabólicas dentre tais o complexo lipidose hepáticacetose e o deslocamento de abomaso Dukes et al 2006 Reece 2008 reduzida fertilidade Wathes et al 2007 e baixa imunidade Overton Waldron 2004 Nesse contexto a cetose resulta de um desbalanço na ingestão de carboidratos associada a um aumento na demanda energética culminando na mobilização intensa de tecido adiposo e oxidação de ácidos graxos resultando na produção de corpos cetônicos acetoacetato βhidroxibutirato e acetona respectivamente McArt et al 2013 De acordo com Dukes et al 2006 e Reece 2008 no início da lactação as vacas passam por um balanço energético negativo BEN em virtude da diminuição na ingestão de alimentos culminando na mobilização de reservas corporais para subsistência e produção de leite Não obstante existe um limite de ácidos graxos que podem ser manipulados pelo organismo e utilizados pelo fígado A partir do momento que excedem a capacidade de metabolização hepática resultam na formação de corpos cetônicos O período mais crítico e com maior risco de casos da enfermidade varia da segunda semana pós parto até a nona semana Contudo a manifestação depende de fatores individuais de cada animal como Estudo retrospectivo e transversal dos casos de doença de Chagas aguda no Brasil de 2007 a 2018 3 PUBVET v14 n10 a672 p17 Out 2020 genética metabolismo condição corporal ao parto e pico de lactação Duffield 2000 Radostits et al 2010 classificaram a cetose como clínica ou primária secundária alimentar ou cetose subclínica Acreditase que as perdas econômicas ocasionadas pela cetose subclínica excedam às perdas ocasionadas pela cetose clínica uma vez que a doença é silenciosa e seus prejuízos somente são perceptíveis a longo prazo Barbosa et al 2009 A forma subclínica da doença reduz a produção em média de 10 a 14 kg de leitedia por vaca afetada e a forma clínica pode reduzir a produção em até 4 kgdia podendo em casos severos levar o animal a óbito Santos 2011 De acordo com Gordon et al 2013 os animais demonstram inapetência fezes ressecadas e rápido emagrecimento Santos 2011 cita que em casos severos da doença os animais podem ainda demonstrar sinais neurológicos e evoluir para o óbito Como diagnósticos diferenciais para a doença denotamse a raiva encefalopatia espongiforme bovina botulismo e tetania da lactação Smith 2006 Segundo Alvarenga et al 2015 a determinação sérica de ácidos graxos não esterificados AGNES e de Beta hidroxibutirato BHB são dois principais metabólitos na avaliação do status nutricional e adaptação ao balanço energético negativo de vacas leiteiras no periparto Tendo em vista a importância da cetose na bovinocultura leiteira e os prejuízos dispendiosos na cadeia mundial de produção de leite esta revisão de literatura objetivou descrever uma revisão dos achados clínicos e epidemiológicos da cetose em bovinos assim como seu diagnóstico tratamento e prevenção Cetose em bovinos A enfermidade apresentase amplamente difundida por todo o mundo Em um estudo conduzido por Suthar et al 2013 em países da Europa avaliandose 5884 vacas leiteiras constataram que 218 apresentavam cetose subclínica Massuqueto et al 2007 realizaram um delineamento experimental no estado do Paraná sendo que em atendimento de vacas de alta produção observaram a ocorrência de 1111 de cetose e 1667 da doença quando associada à retenção de placenta no total de casos de doenças metabólicas averiguadas no período de transição Por fim Campos et al 2005 no Rio Grande do Sul avaliaram 140 vacas sendo que 112 destas apresentavam cetonúria De acordo com Barbosa et al 2009 pode ser classificada como clínica ou subclínica Segundo o mesmo autor a maioria dos casos é relatada a forma subclínica podendo chegar até 34 dos casos enquanto os casos clínicos chegam apenas a 7 A cetose clínica manifestase em ruminantes quando eles estão sujeitos a maiores demandas dos seus recursos naturais de glicose e glicogênio os quais podem ser encontrados na sua atividade metabólica e digestiva Palmquist et al 2011 Dentro da cetose clínica ainda existem 4 subtipos primária secundária alimentar e espontânea Na cetose primária a vaca não recebe a quantidade de alimentos adequados Na secundária a ingestão de alimentos é diminuída em consequência de uma doença Na alimentar a ingestão é rica em precursores cetogênicos e na espontânea a vaca apresenta elevadas concentrações de corpos cetônicos no sangue apesar de ingerir uma dieta aparentemente adequada Van Cleef et al 2009 A cetose subclínica pode ser definida como um estágio préclínico da cetose caracterizandose por uma elevação dos corpos cetônicos no sangue sem as manifestações clínicas da doença Ressaltase que é responsável por maiores prejuízos uma vez que a doença é silenciosa e o seu diagnóstico é mais laborioso Campos et al 2005 Santos 2011 define a lipólise como sendo a hidrólise das ligações éster entre os ácidos graxos e o glicerol no interior das células adiposa Esse processo é regulado pela lipase triglicerídea adiposa lípase hormônio sensível LHS e monoacilglicerol lípase que atuam liberando ácidos graxos livres e o 2 monoacilglicerol o qual ulteriormente também será convertido em ácido graxo livre e glicerol pela ação da monoacilglicerol lipase De acordo com Allen Piantoni 2013 a vaca inicia a lipólise algumas semanas antes do parto a qual está bioquimicamente associada à uma redução nas concentrações séricas de insulina e diminuição da sensibilidade tecidual à esta o que culmina em aumento de ácidos graxos não esterificados no sangue Palmquist et al 2011 afirmam que em vacas de alta produção durante o período de transição necessitam de um maior aporte energético Por isso a lipólise é aumentada rapidamente através da Lima Farias 4 PUBVET DOI 1031533pubvetv14n10a67217 lipase hormônio sensível e mediada por diversos hormônios como a epinefrina cortisol norepinefrina hormônio da tireoide e glucagon Na cetose os principais hormônios que estimulam a lipólise pela LHS são o glucagon redução dos níveis de insulina e as catecolaminas Segundo Frandson et al 2011 a atividade da insulina consiste em carrear glicose às células através da interação com receptores Quando ocorre resistência ao hormônio caso de vacas obesas este não consegue se ligar ao receptor culminando em hipoglicemia intracelular mesmo se a insulina sérica estiver normal Os níveis de glucagon podem estar normais ou reduzidos Alvarenga et al 2015 A mobilização de reservas corpóreas culmina em lipólise e formação de ácidos graxos livres os quais são captados pelo fígado Contreras Sordillo 2011 De acordo com Santos 2011 o fígado possui baixa capacidade de exportar o triacilglicerol na forma de lipoproteína de baixa densidade VLDL sendo eliminados pela cetogênese Desta forma os ácidos graxos são reesterificados a triacilglicerol permanecendo no parênquima hepático O acúmulo resulta em esteatose hepática quando acima de 3 Os ácidos graxos livres na mitocôndria sofrem β oxidação culminando na formação de acetilCoA que na presença de oxalacetato advindo da fermentação de carboidratos da dieta resulta na síntese de citrato e formação de ATP pelo Ciclo de Krebs Não obstante como o animal se encontra em balanço energético negativo falta oxalacetato e esta reação oxidativa não se completa Berchielli et al 2011 Santos 2011 O metabolismo incompleto de ácidos graxos culmina na formação de três compostos o aceto acetato βhidroxibutirato e a acetona respectivamente O aceto acetato é quimicamente instável podendo ser metabolizado a dióxido de carbono ou acetona Berchielli et al 2011 De acordo com Frandson et al 2011 esses compostos são ácidos e culminam no desenvolvimento de cetoacidose no animal quando a concentração de corpos cetônicos é elevada LeBlanc et al 2005 denotaram que a concentração plasmática de BHBA aumenta ligeiramente nos últimos três dias que antecedem o parto não obstante seu aumento é mais expressivo no pósparto atingindo o pico aproximadamente no 5º dia de lactação a qual decresce nos dias ulteriores em vacas hígidas Chung et al 2008 Ospina et al 2010 citam que o valor crítico para desencadear doenças a partir deste metabólito é de 10 mgdL De acordo com Campos et al 2005 o diagnóstico pode ser realizado por meio da dosagem de corpos cetônicos séricos e urinários Van Cleef et al 2009 afirmam que ideal é após a colheita da urina é que se realize o diagnóstico o mais breve possível pois estas substâncias são muito voláteis acetona ou instáveis aceto acetato De acordo com os mesmos autores a análise destas substâncias cerca de 30 minutos após a colheita da urina reduz suas concentrações em até 40 Em condições normais os ruminantes apresentam níveis séricos de βhidroxibutirato em torno de 1 a 3 mgdL Em animais com cetose subclínica esses níveis permanecem entre 10 a 15 mgdL Em animais com a forma clínica os corpos cetônicos totais acima se apresentam em torno de 15 mgdl e corpos cetônicos urinários acima de 80 mgdl Santos 2011 Van Cleef et al 2009 Santos 2011 ressalta que a glicemia também é um parâmetro auxiliar no diagnóstico Segundo tal animais saudáveis apresentam níveis de glicose de 55 a 70 mgdL Em vacas com cetose subclínica estes níveis ficam em torno de 35 a 50 mgdL Na forma clínica demonstramse abaixo de 35 mgdL Ademais de acordo com Campos et al 2005 os corpos cetônicos são solúveis no plasma e não requerem de proteínas transportadoras ultrapassando facilmente a glândula mamária sendo que sua dosagem também pode ser realizada no leite Gordon et al 2013 ressaltam que o diagnóstico clínico consiste na identificação de sinais demonstrados pelos animais acometidos Smith 2006 afirma que entre os principais sinais clínicos destacamse a salivação excessiva pressão da cabeça sobre objetos tremores moderados até tetania e o andar em círculos Ademais em casos clínicos da doença os animais manifestam odor de acetona no hálito e na urina perda de apetite especialmente por concentrados diminuição na produção de leite e rápida perda de condição corporal Alguns animais tornamse excitados embora a maioria permaneça apática sendo que a temperatura corporal permanece dentro da normalidade Campos et al 2005 McArt et al 2013 ressaltam que o monitoramento dos animais no préparto recente é de indubitável importância para realização do diagnóstico precoce e para evitar o agravamento do quadro uma vez que o pico de incidência da enfermidade ocorre a partir do quinto dia pósparto Estudo retrospectivo e transversal dos casos de doença de Chagas aguda no Brasil de 2007 a 2018 5 PUBVET v14 n10 a672 p17 Out 2020 De acordo com Berchielli et al 2011 o uso de soluções glicosada a 5 ou 50 é o método mais comum para o tratamento da cetose o qual possui o objetivo de elevar os níveis de glicose sérica e garantir o suprimento deste carboidrato para síntese de lactose reduzindo o dispêndio de reservas corporais Santos 2011 menciona que a terapia com glicocorticoides também pode ser utilizada De acordo com o referido a administração de glicocorticoides culmina em redução da síntese de lactose e consequente demanda por glicose Ademais Berchielli et al 2011 destacam que tais fármacos diminuem a captação de aminoácidos pela glândula mamária e musculatura tornando os aminoácidos disponíveis para a gliconeogênese Conquanto a utilização desses fármacos resulta em imunossupressão o que pode não ser interessante durante o período de transição Por outro lado Gordon et al 2013 ressaltam que o tratamento de eleição para a enfermidade consiste na administração oral de propilenoglicol durante 5 dias Esse composto é metabolizado a propionato no rúmen fornecendo succinato para o ciclo de Krebs e contribui para a produção de oxalacetato Assim se reestabelece a oxidação completa dos ácidos graxos ou a síntese de glicose Não obstante devese ter cuidado na terapia haja vista que tal composto é toxico para a microbiota ruminal quando administrado em excesso Santos 2011 A literatura vigente ressalta que a melhor forma de prevenção consiste em adequar o manejo nutricional à fase do ciclo produtivo para evitar que as vacas venham a parir obesas De forma geral ressaltase que o escore de condição corporal ECC não seja superior a 4 sendo o ideal 325 em uma escala de 1 a 5 Berchielli et al 2011 Santos 2011 Echeverry et al 2012 ressaltam que animais obesos possuem altos níveis de leptina um hormônio proteico produzido pelo tecido adiposo e que limita o consumo o que reduz a ingestão de matéria seca das vacas durante o período de transição Ademais de acordo com Schelling 1984 o uso de aditivos alimentares como os ionóforos principalmente a monensina sódica é uma alternativa na prevenção da cetose O autor discorre que os ionóforos são aditivos alimentares empregados para aumentar a eficiência digestiva ruminal por meio de mudanças na fermentação metabolismo velocidade de passagem e população bacteriana Santos 2011 define que a monensina sódica especificamente reduz a perda de energia por meio da diminuição da metanogênese uma vez que o animal perde de 10 a 12 da energia da dieta na forma de metano Além disso segundo o mesmo autor o ionóforo propicia maior produção de pripionato via fermentação ruminal Schelling 1984 ressalta que o uso de vitaminas do complexo B especialmente a niacina tem se demonstrado de grande valia na prevenção de enfermidades e na manutenção da eficiência produtiva Sua função é a de reduzir a mobilização de gordura corporal durante o início da lactação e melhorar o balanço energético De acordo com dados do NRC 2001 a niacina foi adicionada à dieta de vacas de leite nos primeiros meses de lactação nas doses de 6 a 12 gvacadia Estas doses de niacina reduziram os níveis séricos de corpos cetônicos em vacas Considerações finais A cetose ou acetonemia é uma doença que causa grandes prejuízos à pecuária leiteira mundial A maior importância da doença é constatada na forma subclínica em que a ausência de sinais clínicos dificulta o diagnóstico da enfermidade a campo O manejo nutricional adequado das vacas em período seco e de transição é fundamental para mitigar ou evitar a ocorrência da enfermidade nos rebanhos leiteiros Ademais o incremento de aditivos nutricionais na alimentação de vacas leiteiras vem se demonstrando em uma boa alternativa na prevenção da doença Referências bibliográficas Agnew R E Yan T 2000 Impact of recent research on energy feeding systems for dairy cattle Livestock Production Science 663 197215 DOI httpsdoiorg101016S0301622600001615 Allen M S Piantoni P 2013 Metabolic control of feed intake Implications for metabolic disease of fresh cows Veterinary Clinics Food Animal Practice 292 279297 DOI httpsdoiorg101016jcvfa201304001 Lima Farias 6 PUBVET DOI 1031533pubvetv14n10a67217 Alvarenga E A Moreira G H F A Facury Filho E J Leme F O P Coelho S G Molina L R Lima J A M Carvalho A U 2015 Avaliação do perfil metabólico de vacas da raça Holandesa durante o período de transição Pesquisa Veterinária Brasileira 353 281290 DOI httpsdoiorg101590S0100736X2015000300012 Barbosa J D Silva N Pinheiro C P Silveira J A S Oliveira C H S Oliveira C M C Duarte M D 2009 Cetose nervosa em bovinos diagnosticada pela Central de Diagnóstico Veterinário Cedivet da Universidade Federal do Pará no período de 2000 a 2009 Ciência Animal Brasileira 1 1318 DOI httpsdoiorg105216cabv1i07706 Berchielli T T Pires A V Oliveira S G FUNEP 2011 Nutrição de Ruminantes Issue 2th ed FUNEP Campos R González F Coldebella A Lacerda L 2005 Determinação de corpos cetônicos na urina como ferramenta para o diagnóstico rápido de cetose subclínica bovina e relação com a composição do leite Archives of Veterinary Science 102 DOI httpsdoiorg105380avsv10i24413 Chung YH Pickett M M Cassidy T W Varga G A 2008 Effects of prepartum dietary carbohydrate source and monensin on periparturient metabolism and lactation in multiparous cows Journal of Dairy Science 917 27442758 DOI httpsdoiorg103168jds20070781 Contreras G A Sordillo L M 2011 Lipid mobilization and inflammatory responses during the transition period of dairy cows Comparative Immunology Microbiology and Infectious Diseases 343 281289 DOI httpsdoiorg101016jcimid201101004 Drackley J K 1999 Biology of dairy cows during the transition period The final frontier Journal of Dairy Science 8211 22592273 DOI httpsdoiorg103168jdss0022030299754743 Duffield T 2000 Subclinical ketosis in lactating dairy cattle Veterinary Clinics of North America Food Animal Practice 162 231253 DOI httpsdoiorg101016S0749072015301031 Dukes H H Reece W O Figueiredo C Vanzellotti I R Zanon R F 2006 Fisiologia dos animais domésticos Vol 1 Guanabara Koogan Echeverry D M Penagos F RuizCortés Z T Z T 2012 Papel de la leptina y su receptor en la glándula mamaria bovina Revista Colombiana de Ciencias Pecuarias 253 500510 Frandson R D Wilke W L Fails A D 2011 Anatomia e fisiologia dos animais de fazenda Guanabara Koogan Gordon J L LeBlanc S J Duffield T F 2013 Ketosis treatment in lactating dairy cattle The Veterinary Clinics of North America Food Animal Practice 292 433445 DOI httpsdoiorg101016jcvfa201303001 Grummer R R Rastani R R 2004 Why reevaluate dry period length Journal of Dairy Science 87 E77E85 DOI httpsdoiorg103168jdsS0022030204700636 Hayirli A Grummer R R Nordheim E V Crump P M 2002 Animal and dietary factors affecting feed intake during the prefresh transition period in Holsteins Journal of Dairy Science 8512 34303443 DOI httpsdoiorg103168jdsS0022030202744317 Huzzey J M Veira D M Weary D M von Keyserlingk M A G 2007 Prepartum Behavior and Dry Matter Intake Identify Dairy Cows at Risk for Metritis Journal of Dairy Science 907 32203233 DOI httpsdoiorghttpdxdoiorg103168jds2006807 Juchem S O Santos F A P Imaizumi H Pires A V Barnabe E C 2004 Production and blood parameters of Holstein cows treated prepartum with sodium monensin or propylene glycol Journal of Dairy Science 873 680689 DOI httpsdoiorg103168jdsS0022030204732117 LeBlanc S J Leslie K E Duffield T F 2005 Metabolic predictors of displaced abomasum in dairy cattle Journal of Dairy Science 881 159170 DOI httpsdoiorg103168jdsS0022 030205726746 Massuqueto S Almeida R Segui M S Coeli C R V R Pereira I R Grebori A 2007 Acompanhamento médico veterinário de vacas leiteiras de elevada produção das raças holandesa preta e branca vermelha e branca e pardosuíça recémparidas Revista Acadêmica Ciência Animal 53 243248 DOI httpsdoiorg107213cienciaanimalv5i310086 Estudo retrospectivo e transversal dos casos de doença de Chagas aguda no Brasil de 2007 a 2018 7 PUBVET v14 n10 a672 p17 Out 2020 McArt J A A Nydam D V Oetzel G R Overton T R Ospina P A 2013 Elevated non esterified fatty acids and βhydroxybutyrate and their association with transition dairy cow performance The Veterinary Journal 1983 560570 DOI httpsdoiorg101016jtvjl201308011 NRC 2001 Nutrient Requirements of Dairy Cattle 7th ed 7th rev Natl Acad Press Washington DC Ospina P A Nydam D V Stokol T Overton T R 2010 Associations of elevated nonesterified fatty acids and βhydroxybutyrate concentrations with early lactation reproductive performance and milk production in transition dairy cattle in the northeastern United States Journal of Dairy Science 934 15961603 DOI httpsdoiorg103168jds20092852 Overton T R Waldron M R 2004 Nutritional management of transition dairy cows strategies to optimize metabolic health Journal of Dairy Science 87 E105E119 DOI httpsdoiorg103168jdsS0022030204700661 Palmquist D L Mattos W R S FUNEP 2011 Metabolismo de lipídios In T T Berchielli A V Pires S G Oliveira Eds Nutrição de Ruminantes Vol 1 Issue 2th ed pp 299322 FUNEP Radostits O M Gay C C Blood D C Hinchcliff K W McKenzie R A 2010 Clínica Veterinária um tratado de doenças dos bovinos ovinos suínos caprinos e eqüinos Vol 1 Guanabara Koogan Reece W O 2008 Anatomia funcional e fisiologia dos animais domésticos Editora Roca Santos J E P 2011 Distúrbios metabólicos In T T Berchielli A V Pires S G Oliveira Eds Nutrição de Ruminantes Vol 1 Issue 2th ed pp 439520 FUNEP Schelling G T 1984 Monensin mode of action in the rumen Journal of Animal Science 586 15181527 Smith M O 2006 Tratado de medicina interna de grandes animais Vol 1 Manole Suthar V S CanelasRaposo J Deniz A Heuwieser W 2013 Prevalence of subclinical ketosis and relationships with postpartum diseases in European dairy cows Journal of Dairy Science 965 29252938 DOI httpsdoiorg103168jds20126035 Van Cleef E Patiño R Neiva Júnior A Serafim R Rego A Gonçalves J 2009 Distúrbios metabólicos por manejo alimentar inadequado em ruminantes novos conceitos Revista Colombiana de Ciencia Animal 12 319341 DOI httpsdoiorg1024188reciav1n22009376 Wathes D C Bourne N Cheng Z Mann G E Taylor V J Coffey M P 2007 Multiple correlation analyses of metabolic and endocrine profiles with fertility in primiparous and multiparous cows Journal of Dairy Science 903 13101325 DOI httpsdoiorg103168jdsS0022 030207716193 Recebido 11 de junho 2020 Aprovado 10 de agosto 2020 Disponível online 8 de outubro 2020 Licenciamento Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 40 CCBY 40 a qual permite uso irrestrito distribuição reprodução em qualquer meio desde que o autor e a fonte sejam devidamente creditados CETOSE EM VACAS LEITEIRAS PÓSPARTO DIAGNÓSTICO TRATAMENTO E PREVENÇÃO DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO RESUMO O período de adaptação após o parto em vacas produtoras de leite é de extrema relevância para a determinação do ciclo de produção já que durante esse período os animais estão sujeitos a uma ampla variedade de doenças Entre essas doenças destacase a cetose uma condição metabólica que afeta vacas leiteiras de alta produção e é resultado de um desequilíbrio entre a quantidade de energia necessária durante o ciclo de produção e a quantidade de energia presente na dieta levando à utilização de reservas corporais para a produção de leite ultrapassando o limite de metabolização hepática e resultando no acúmulo de corpos cetônicos no organismo O diagnóstico da doença é realizado por meio da medição de ácidos graxos não esterificados no sangue leite ou urina dos animais afetados Tratamentos à base de glicose ou de seus precursores como o propilenoglicol e o uso de glicocorticoides podem ser empregados no tratamento da doença O manejo nutricional das vacas leiteiras durante o período de transição e período seco é fundamental para prevenir a ocorrência da doença nos rebanhos leiteiros É importante que as vacas recebam uma dieta balanceada e com suplementação de vitaminas e minerais bem como a monitorização do consumo de alimentos Esta revisão tem como objetivo elucidar sobre os aspectos clínicos e epidemiológicos da doença bem como o seu diagnóstico tratamento e prevenção dada a importância da condição na produção de gado leiteiro É importante ressaltar que a prevenção da cetose é fundamental para manter a saúde e produtividade do rebanho leiteiro o qual sofre como anteriormente dito desta enfermidade O monitoramento constante das vacas e o manejo nutricional adequado podem garantir um período de adaptação tranquilo e saudável para as vacas produtoras de leite podendo desse modo sanar uma infinidade de problemas que afetam diretamente a produção evitando perdas e aumentando os ganhos de todo um setor Palavraschave ciclo produtivo desbalanço energético tratamento de cetose