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O feminismo de Simone de Beauvoir No século XX vários movimentos sociais com pautas de igualdade ganharam força É o caso do sufragismo dos movimentos em prol da igualdade do antirracismo e da libertação sexual nos anos 1960 entre outros Assim do início ao fim do século aconteceram discursos e manifestações em prol de direitos para mulheres Em meio a essas reivindicações encontrase também a do movimento feminista Simone LucieErnestineMarie Bertrand de Beauvoir 19081986 mais conhecida como Simone de Beauvoir foi uma das grandes teóricas do movimento principalmente na França Atualmente sua obra é referência mundial sobre a temática Seu texto mais famoso O segundo sexo 1949 é tido como um marco do movimento feminista A trajetória que Beauvoir percorreu até a publicação desse livro demonstra o lugar que foi ocupando socialmente e os obstáculos que se apresentaram a ela por ser uma mulher Assim vale ressaltar que Beauvoir é proveniente de uma família tradicional francesa e estudou em um colégio interno católico até os 17 anos Posteriormente se dedicou por um período ao estudo da matemática e de línguas até que por fim começou a estudar na Universidade de Paris Lá conheceu JeanPaul Sartre com quem manteve um relacionamento amoroso nada convencional por toda a sua vida Em meio ao universo acadêmico francês e antes no seio de uma família tradicional Beauvoir percebeu a opressão que sofria quando fazia escolhas que eram consideradas inadequadas às mulheres da época Podese dizer que essa experiência a levou à reflexão critica de sua condição feminina na sociedade Em O segundo sexo Beauvoir 1980 argumenta fundamentando suas ideias historicamente que desde a Antiguidade a cultura estabeleceu uma concepção de mulher Nesse sentido vários foram os fundamentos para uma desqualificação do sexo feminino biológico psicológicopsicanalítico político e mesmo filosófico Nesse contexto Beauvoir avalia que à mulher sempre resta o lugar de outro Ou seja as mulheres foram narradas a partir da perspectiva masculina ao longo da história Beauvoir afirma que este é o drama próprio da mulher ter as necessidades afirmativas de um sujeito essencial a si mas se compreender a partir de um lugar inessencial Dito de outro modo a ideia que se faz do que é ser mulher foi concebida por outros sujeitos que não a própria mulher Para Beauvoir o que se entende como mulher é inautêntico O que é ser mulher Como um humano pode se compreender sendo mulher Nesse sentido Beauvoir aponta para a dificuldade das mulheres de se desvencilhar da servidão Se o lugar que sempre foi reservado para o sexo feminino foi o do outro determinado por uma visão que não é própria mas do sexo oposto haveria uma dificuldade em romper com essa negativização de si Ou seja tratase da constituição feminina determinada por uma sociedade culturalmente comandada por homens Algumas teóricas feministas enxergam em O segundo sexo o projeto de Beauvoir para a reeducação da cultura ocidental em uma perspectiva feminista Ou seja elas veem o desejo de construir uma forma de pensar por meio da alteridade dando voz ao outro ou seja às mulheres Já no primeiro capítulo que Beauvoir nomeia de Formação e que trata da infância feminina é lançada a frase ninguém nasce mulher Tornase mulher BEAUVOIR 1980 p 9 Com isso Beauvoir quer sublinhar o destino feminino dentro de uma sociedade em que a noção de feminino é fabricada Ela quer descrever esse ser que está entre o masculino e o castrado Por exemplo nesse primeiro capítulo Beauvoir aponta a alienação que as meninas sofrem desde a tenra idade começa com a própria imposição dos brinquedos e das cores Quando a menina brinca com a boneca além de buscar representar a já alienada mãe se vê também na figura materna como se destinada a tal tarefa Outro ponto que Beauvoir destaca são os contos de fada Eles comumente giram em torno de uma princesa que precisa ser salva por um príncipe O desfecho feliz é a mulher tendo filhos e cumprindo o papel social de mãe e esposa Em outro momento Beauvoir afirma que grande parte do trabalho doméstico pode ser realizado por uma menina muito criança habitualmente dele os meninos são dispensados mas permitese pedese mesmo à irmã que varra tire o pó limpe os legumes lave um recémnascido tome conta da sopa BEAUVOIR 1980 p 27 Portanto tudo contribui para afirmar um lugar destinado à menina e à mulher que se tornará A cultura reforça isso em todos os seus aspectos na história na literatura nos contos e nas lendas Os homens fizeram o mundo os homens guerrearam os homens conquistaram terras os homens escreveram livros a imposição da superioridade masculina é afirmada a todo o momento Dessa forma a menina aprende a olhar o mundo a explorálo pelos olhos masculinos Outra instituição que é determinante para a opressão feminina segundo Beauvoir é a Igrejareligião Na Bíblia e na hierarquia da Igreja Deus é o símbolo masculino assim como seu filho Jesus Cabe à mulher o papel da virgem que se coloca como serva do Senhor ou de Maria Madalena a prostituta que precisa ser salva ou perdoada por um homem Com isso Beauvoir não quer criticar a espiritualidade mas os símbolos que são sempre masculinos A mulher dentro da comunidade religiosa cabe sempre o papel secundário e portanto não encontra outro tipo de representatividade e lugar no discurso religioso Outro ponto que é caro a Beauvoir é a objetificação feminina Para a autora a mulher é objetificada tanto na prostituição quanto na vida social dita respeitável Ou seja a diferença é que a prostituta negocia seu sexo enquanto a mulher tida como respeitosa se esforça e dedica para conquistar umja singularidadesedutora Em ambas as situações é o homem que determina o valor de uma mulher No primeiro caso a prostituta está submetida ao julgo masculino para prestar seus serviços no segundo a mulher encontrase submetida à opinião masculina que pode lhe garantir uma vida digna e honrosa Dessa forma apesar de várias refutações à teoria de Beauvoir por parte das feministas contemporâneas é importante ressaltar a relevância de sua obra que inaugurou outra forma de pensar o feminino O contexto no qual Beauvoir viveu os anos 1960 na França eram de efervescência cultural por parte de cineastas e efervescência intelectual por parte dos filósofos existencialistas e pósestruturalistas Beauvoir percebeu a opressão que sofriam as mulheres nesse contexto Poucos foram os trabalhos cinematográficos dirigidos por mulheres nessa época O mesmo vale para os trabalhos filosóficos de autoria feminina A perspectiva de Judith Butler sobre gênero Judith Butler 1956 é uma das principais autoras contemporâneas que trata de questões como gênero feminismo teoria queer filosofia política e ética O debate sobre gênero sobre ser construído socialmente ou ter uma essência é um tema de enorme investigação e de discordância entre teóricos de diversas áreas A teoria de Butler nesse contexto simboliza um marco Ela desloca a questão da concepção teórica para pensar os efeitos de poder relacionados à concepção de gênero Para Butler 2003 dada a estrutura jurídica contemporânea vivese em um contrato heterossexual ou seja categorias como masculino e feminino são engessadas cultural e juridicamente na sociedade Com isso Butler dá um passo além sobre a teoria feminista como foi pensada por Beauvoir e as feministas dos anos 1960 Butler chama a atenção para um problema dessas teorias clássicas do feminismo que é o conceito de mulher Tal conceito além de reforçar a heterossexualidade ainda pressupõe que o feminismo é capaz de representar universalmente todas as mulheres Dessa forma podese dizer que Butler traz à luz o problema que há no sujeito do feminismo Fundamentar a mulher como sujeito do movimento é afirmar a exclusão representativa de vários outros sujeitos como as pessoas transgênero Isso cria um decalque entre as próprias mulheres sobre o que é ser mulher e sobre quem é mais mulher O que é ser mulher Responder a essa questão seria justamente o problema Butler defende que todos são submetidos em sua formação às relações de poder Nesse sentido a exclusão faz parte do processo de constituição do sujeito Portanto uma vez que as pessoas são produtos dos sistemas de poderdurante o processo de formação todas passam pelas práticas de exclusão Com isso Butler argumenta que mesmo o feminismo se colocando contrário às normas vigentes aos padrões ele também é fruto desses sistemas Nesse sentido Butler problematiza as teorias foucaultianas sobre sujeito e poder para pensar os efeitos do poder na questão de gênero Seguindo o rastro de Foucault Butler afirma 2003 que as relações de poder não produzem só opressão e padrões negativos mas também são responsáveis por produzir os aspectos afirmativos como a inclusão Dessa forma Butler demonstra o paradoxo existente no feminismo ser produto da própria estrutura que busca combater A possível saída segundo Butler 2003 seria primeiramente evitar a universalidade de um sujeito universal mulher assim como evitar delimitar esse sujeito oprimido pois isso reforçaria justamente a exclusão dentro do feminismo Nesse sentido a causa do feminismo ganharia ao trazer à tona o processo de produção de um sujeito universal mulher pelos sistemas de poder Em uma de suas obras mais famosas Problemas de Gênero feminismo e subversão da identidade 1990 Butler apresenta uma investigação acerca dos discursos e práticas que além de produzir identidades buscam definir sua origem Nesse contexto ela apresenta um questionamento à norma da obrigação heteronormativa Para Butler 2003 a heterossexualidade não se restringe à intimidade sexual mas antes é uma espécie de performance na medida em que existem padrões heteronormativos que devem ser demonstrados na esfera pública Ou seja é atribuído o gênero a um sujeito que se enquadra de determinada maneira publicamente Por exemplo mulheres usam saias e vestidos têm o corpo depilado usam sapatos com salto falam de determinada maneira comem certos alimentos homens usam calças têm a voz grossa falam de determinada maneira e se portam de uma forma específica Butler a partir disso conclui que o gênero é performativo pois é atribuído às mulheres e aos homens por seus comportamentos Assim Butler afirma 2003 que a busca de uma essência do feminino e do masculino bem como a sua afirmação é produto dessa performance Ou seja visa a legitimar tal performance A autora conclui que pessoas como drag queens e transgêneros confundem aqueles que vivem a performatividade heteronormativa uma vez que os comportamentos atribuídos às mulheres e aos homens se concentram na mesma performance Cabe então ao feminismo à genealogia feminista como aponta Butler 2003 a tarefa de se concentrar e expor o processo de produção de identidades de gênero Além disso é necessário mover as normas constitutivas desses processos a fim de estremecer as estruturas heteronormativas As pautas feministas e LGBT Os movimentos feministas e LGBT são alvos de muitas críticas Em relação ao feminismo há divergências entre várias correntes teóricas e políticas dentro do próprio movimento Há segmentos do movimento que não aceitam a participação de mulheres trans por exemplo Mas há como estabelecer que ser mulher só está atrelado ao órgão genital feminino Já há alguns anos existe uma intensa discussão sobre o tema Após os escritos de Judith Butler ganhou maior proporção a ideia de que o gênero não está ligado à condição biológica do corpo feminino mas à produção de uma identidade feminina Entretanto há divergências em torno dessa e de várias outras questões Por exemplo atualmente no Brasil há várias correntes feministas que afirmam pontos de exclusão dentro do próprio movimento o que leva à pluralidade de feminismos como você pode ver a seguir Feminismo negro é protagonizado pela mulher negra que não se sente representada pelo movimento dado que normalmente seus problemas de opressão são de outra ordem tais como a pauta do genocídio da comunidade negra o debate entre raça e gênero e o não reconhecimento de religiões africanas por parte da sociedade Feminismo interseccional essa corrente busca atender às demandas de todas as outras correntes Ou seja unir as diversas abordagens do feminismo o negro o lésbico o transfeminismo em um só movimento Além disso é a corrente mais aberta à participação masculina Feminismo radical extremistaradfem é a corrente mais extrema do feminismo Defende que ser mulher é definido pela biologia Nesse sentido exclui o transfeminismo por exemplo Feminismo liberal é a corrente que busca superar as desigualdades entre os gêneros por meio de reformas políticas Assim essa correntedefende a representatividade de mulheres nas instituições e em cargos no governo Também acredita que homens devem ser conscientizados sobre o feminismo e aceita os que aderem à causa Apesar de a pauta geral do movimento feminista ser a igualdade entre gêneros há várias distinções nos posicionamentos de cada corrente feminista Nesse sentido as pautas divergem entre si Entretanto o movimento tem avançado nos últimos anos A despeito das diferenças entre as pautas é importante destacar a relevância de tais movimentos em relação à desigualdade salarial à posição cultural de superioridade masculina à violência contra a mulher e os transgêneros entre outras formas de desqualificação e por vezes de agressão Já o movimento LGBT defende algumas pautas distintas das do movimento feminista porém por vezes elas se entrecruzam Um dos principais problemas que afligem tanto homossexuais quanto mulheres é a violência Como culturalmente há a noção de que homossexuais transexuais e mulheres são inferiores ao homem heterossexual por vezes isso se torna motivo para agressão verbal e fisica Entretanto a comunidade LGBT lida também com problemas de outra ordem como o preconceito e a ausência de direitos básicos como o casamento para dar legalidade à relação homoafetiva Algumas das problematizações acerca do movimento LGBT têm origem no pensamento foucaultiano que percebe a relação imposta aos homossexuais de confissão como uma forma de controle dos sistemas de poder O filósofo Michel Foucault em sua obra História de sexualidade 1977 demonstrou como essa confissão como esse reconhecimento do sujeito a partir de sua sexualidade é uma maneira de classificação e controle Assim as instituições conseguem controlar a população LGBT principalmente por ela se mostrar como população que diverge da heteronormatividade Dessa forma o empenho da comunidade LGBT em garantir direitos civis estabelecidos em uma sociedade heteronormativa tais como adoção e casamento se torna uma forma de reafirmação da sociedade heteronormativa Essa seria uma forma de assimilação da homossexualidade a fim de controlar e de garantir a soberania do sistema heteronormativo Nesse sentido de normalização das aberrações o homossexual é tido como inferior aos que seguem o padrão normativo Outro aspecto negativo dessa confissão e do movimento LGBT é que a comunidade passa a ser vista como consumidora pelo mercado Então tanto se dissemina um estereótipo de homossexual quanto se produzem e vendem produtos específicos destinados a essa comunidade Um exemplo dessa assimilação heteronormativa do público LGBT são as boates destinadas a ele Ao mesmo tempo em que a sociedade aceita a existência desses locais ela também afasta essa população criando instituições e locais específicos onde os LGBTs são aceitos Portanto você pode considerar que a forma como se dá a aceitação civil social e cultural LGBT se configura também negativamente com base no heteronormativismo A filosofia e as mídias digitais Quando a internet começou a se popularizar na década de 1990 houve um intenso esforço por parte dos intelectuais de todo o mundo para entender quais seriam os seus efeitos sociais Alguns otimistas julgaram que ela contribuiria para tornar a nossa sociedade mais democrática outros mais realistas chamavam a atenção para os problemas sociais que poderiam ser causados pela facilidade com que as informações poderiam ser disseminadas de forma irresponsável ou malintencionada Porém esse debate entre otimistas e pessimistas não era exatamente novo Toda vez que uma mídia nova surge os filósofos se perguntam quais serão as suas consequências No século IV aC Platão já se preocupava com os efeitos negativos que a escrita causaria numa sociedade como a grega na qual as informações circulavam apenas oralmente Entretanto foram a filosofia e a sociologia do início do século XX que mais se empenharam em entender as mudanças causadas pelo aprimoramento técnico dos meios de comunicação Era bastante evidente para os estudiosos que o surgimento dos mass media causariam um impacto direto não apenas na vida cotidiana de cada indivíduo mas também no destino político das nações Entre os problemas que conduziram aos questionamentos filosóficos sobre os meios de comunicação de massa destacamse o uso da propaganda massificada por regimes autoritários nazifascismo estalinismo Estado Novo etc o surgimento da cultura de massas cinema rádio televisão propaganda etc e a influência das mídias sobre a educação e o comportamento dos cidadãos Como na maior parte dos casos de surgimento de novas tecnologias a história dos meios de comunicação de massa começa com boas intenções Com o intuito de facilitar a publicação de livros Gutenberg inventou no século XV a imprensa de tipos fundidos Com essa máquina cada vez mais pessoas passaram a ter acesso ao conhecimento e à informação Antes de Gutenberg a maior parte dos livros eram produzidos a mão Assim era preciso muito tempo e empenho para produzir cópias de um mesmo texto e por isso o acesso ao conhecimento ficava restrito a uma parte reduzida da população notadamente o clero e a nobreza A possibilidade de produzir textos de modo mais rápido e eficiente aumentou o número de leitores e escritores A demanda por entretenimento e informação gerou uma nova indústria editoras e jornais foram crescendo escritores e jornalistas foram se profissionalizando e os periódicos que antes eram mensais ou semanais tornaramse diários Com isso o interesse pela expansão do público consumidor de informação acabou contribuindo com a consolidação de uma população letrada saber ler e escrever deixou de se um privilégio tornandose um direito de todos Assim foi se consolidando o conjunto de meios de comunicação a que hoje chamamos de imprensa em referência à máquina inventada por Gutenberg No início do século XX o rádio tornou mais fácil ainda o acesso da população à informação Com um simples aparelho na sala era possível ouvir direta e instantaneamente em sua casa as palavras de ordem do líder de sua nação Isso ainda apresentava uma série de vantagens em relação ao texto impresso a linguagem oral não exige que os ouvintes sejam alfabetizados o que significa que todos sem exceção podem ser informados as ondas de rádio AM viajam longas distâncias com muita rapidez fazendo com que as informações cheguem quase instantaneamente de um lugar a outro por fim todas as pessoas podem se informar ao mesmo tempo não dependendo do atraso característico do jornal impresso que só podia ser comprado de manhã As mesmas vantagens se aplicam à televisão que a partir da segunda metade do século XX passou a fazer parte do cotidiano do homem moderno sendo ainda um dos principais meios de entretenimento no mundo Em maior ou menor medida o desenvolvimento das tecnologias de comunicação buscou reduzir ao mínimo os limites físicos que o ser humano experimenta simplesmente por ser feito de carne e osso Ignorando os limites do tempo as informações são cada vez mais instantâneas ignorando os limites do espaço são cada vez mais ubíquas Assim o nosso poder sobre a natureza aumentou na medida em que a tecnologia nos torna capazes de realizar aquilo que o nosso corpo não pode fazer por conta própria Mídias digitais e mobilizações sociais No topo dessa cadeia evolutiva da tecnologia está a internet Se antes demorava semanas ou até meses para enviar uma carta a um local distante hoje podemos conversar com qualquer pessoa do mundo em tempo real desde que tenhamos acesso à rede num computador com microfone e câmera E isso ainda é só um pouco do que a internet é capaz já que hoje praticamente todas as nossas formas de comunicação dependem em maior ou menor medida das mídias digitais Se por um lado as tecnologias dão cada vez mais poder de comunicação à humanidade por outro nada garante que esse poder seja bem utilizado Desde que nasceram os meios de comunicação de massa tiveram efeitos diretos sobre as mobilizações sociais sabemos o quanto Hitler se valeu dos mass media para fazer propaganda do regime nazista sob a orientação do seu ministro da propaganda Joseph Goebbels No Brasil Getúlio Vargas criou a Hora do Brasil com intenção parecida ajudando a manter a ditadura do Estado Novo por 15 anos Tamanho foi o sucesso das propagandas nazifascistas sobre a população que os primeiros estudiosos do fenômeno criaram uma teoria hipodérmica da comunicação conhecida também como teoria da bala mágica que pressupunha um efeito quase hipnótico da mídia sobre a população Hoje sabemos que os meios não têm esse poder absoluto sobre as ações dos indivíduos No entanto sabemos também que o seu poder de sugestão não é pequeno Com a consolidação da internet como grande mídia do século XXI as mobilizações sociais ganharam novo escopo O sociólogo francês Pierre Levy em seu livro Cibercultura 1999 acreditava que a grande vantagem da internet em relação ao passado estava no seu caráter interativo Isso significa que a internet é diferente das mídias dos séculos anteriores por não supor um consumidor passivo Enquanto no modelo da imprensa da tevê e do rádio os jornalistas e produtores decidem os conteúdos que serão veiculados na internet cada consumidor tornase também um possível produtor Qualquer um pode publicar os seus escritos em um blog escrever comentários numa notícia compartilhar uma opinião no Facebook divulgar um vídeo pessoal no YouTube O otimismo de Levy 1999 o levou a dizer que isso tornaria a sociedade mais democrática A internet fundada em práticas de troca generosas e desinteressadas encarnaria assim os próprios ideais da Revolução Francesa liberdade igualdade e fraternidade Infelizmente a inocência de Levy 1999 não dava conta de explicar toda a realidade Embora tenha havido experiências positivas em torno desse novo uso das mídias digitais como as revoltas no mundo árabe que levaram à deposição de uma ditadura nem todas as mobilizações sociais organizadas por meio digital têm caráter democrático Algumas inclusive têm tido um caráter bastante autoritário lembrando os tempos do nazifascismo isto é expressam o desrespeito à diversidade e à livre discussão de ideias Fake news O filósofo Marshall McLuhan 1974 previu em meados do século XX que o progresso das tecnologias de informação nos tornaria cidadãos de uma aldeia global A sua ideia era que todos os habitantes do mundo agora podendo se comunicar com facilidade compartilhariam os seus costumes e as suas ideias como os cidadãos de uma pequena aldeia Hoje depois que a internet tornou real essa profecia de McLuhan 1974 vivemos num mundo globalizado Mesmo morando numa cidade pequena distante dos grandes centros nunca estamos completamente isolados as nossas ações aqui têm consequências diretas sobre os habitantes de lá O impacto disso sobre a cultura foi gigantesco não só os hábitos das populações de diferentes países tornaramse bastante parecidos como também os gostos e as ideias Já nem percebemos mais o quanto muitos dos nossos hábitos cotidianos tiveram origem em lugares distantes Por exemplo o gesto simples de cantar parabéns no dia do aniversário diante de um bolo com algumas velas acesas e depois fazer um pedido ao apagálas parece natural no Brasil mas é na verdade um costume surgido nos Estados Unidos que já faz parte do repertório cultural de vários países do mundo inclusive no Oriente Nesse sentido uma das maiores preocupações da filosofia atualmente tem sido entender de que forma esse processo de homogeneização da cultura tem nos afetado Hoje devido ao poder de comunicação das mídias digitais a filosofia tem se preocupado cada vez mais com os dilemas que envolvem a livre circulação de ideias Se por um lado é desejável defender o direito à liberdade de expressão conquistado pelos iluministas por outro a produção desenfreada e irresponsável de conteúdos tem entrado diretamente em conflito com o projeto de uma sociedade democrática Não conseguimos ainda encontrar um equilíbrio entre o global e o local e muitas vezes a mera vontade de exprimir um sentimento ou uma ideia numa mídia social pode descambar para a violência o autoritarismo e a negação sistemática das opiniões diferentes Nesse sentido a tarefa de problematizar a nossa posição como disseminadores de informação tornouse urgente Se quisermos de fato viver harmoniosamente em sociedade precisamos refletir criticamente sobre a nossa responsabilidade como habitantes dessa aldeia global Um dos fenômenos que mais tem entrado em conflito com os interesses das sociedades democráticas é a disseminação de notícias falsas na internet Conhecidos globalmente pelo termo inglês fake news tais textos podem ser definidos como notícias fabricadas ou inventadas por pessoas que têm algum interesse na sua divulgação Esses textos mantêm o mesmo formato visual e a mesma estrutura formal dos textos jornalísticos mas não são produto de um processo jornalístico de apuração e verificação Antes da internet não existiam tantos canais diferentes para se buscar a informação como há hoje Liase o jornal assistiase à tevê ou ouviase o rádio nesses meios a informação era produzida por jornalistas capacitados para apurar a veracidade dos fatos Os jornais impressos tinham interesse em vender notícias confiáveis e imparciais da mesma forma que um comerciante numa loja quer vender um produto de qualidade para manter os seus clientes Desse modo criouse uma confiança muito grande nos meios de comunicação de massa algo era considerado verdadeiro se estivesse publicado no jornal e tudo o que estava no jornal podia ser considerado verdadeiro foi daí que surgiu a expressão pretonobranco que usamos até hoje para indicar confiança e veracidade Na era da internet o monopólio dessas empresas de comunicação foi desestabilizado Com a possibilidade de produzir informações mais baratas surgiram empresas que flexibilizaram os critérios de apuração das informações A concorrência entre os antigos meios e a internet fez com que o investimento em produção de notícias diminuísse e com isso perdeuse boa parte da credibilidade que a população tinha nelas Além disso a facilidade e a velocidade do aceso à informação fez com que houvesse cada vez menos tempo para apurar um fato ou refletir sobre um acontecimento O critério jornalístico de que a melhor notícia é a mais imediata fez com que os textos da internet prezassem mais pela velocidade com que a informação chega às pessoas do que com a qualidade da apuração Assim naturalmente com menor tempo gasto para a produção da notícia a sua confiabilidade também é menor Embora as fake news tenham aparecido com mais intensidade atualmente elas não são uma novidade da era da internet Na verdade os historiadores dos meios de comunicação sabem muito bem que a maior parte dos jornais nasceu em nome de interesses políticos bastante precisos O próprio Platão disse ainda na Grécia Antiga que uma mentira contada por um rei seria útil desde que servisse aos interesses da cidade Foi só no final do século XIX que surgiu o critério da objetividade no jornalismo justamente para combater o excesso de notícias falsas O que é próprio da internet então Os estudiosos têm mostrado que o maior problema das atuais fake news é a velocidade com que uma notícia falsa é compartilhada Uma pesquisa norteamericana constatou que entre 9 e 15 dos usuários do Twitter são bots isto é contas falsas Constatouse que a maior parte deles produz conteúdo extremista ou politicamente radical feito para ser rapidamente compartilhado Há também fortes evidências de que as eleições de 2016 nos Estados Unidos foram influenciadas por essa prática Quantas vezes antes de apertar o botão compartilhar você de fato se perguntou se a notícia é verdadeira Ou se a fonte é confiável Ou ainda se o jornal que se responsabiliza pela notícia é uma empresa socialmente responsável São raras as pessoas que se preocupam com isso O preocupante é que são essas notícias falsas criadas por pessoas com interesses eticamente duvidosos que têm conduzido o debate de ideias Por isso as fake news têm sido um desafio para a filosofia contemporânea especialmente aquela preocupada com a política e com a ética Ao que parece estamos habitando um mundo em que os critérios para o que é verdadeiro ou falso estão se alterando e esse é em larga medida o problema fundamental da filosofia desde Platão Sustentabilidade e desenvolvimento tecnológico Desde a primeira Revolução Industrial no século XVIII o desenvolvimento tecnológico acelerado e globalizado trouxe consigo uma série de problemas No que diz respeito à relação entre o homem e a natureza a exploração dos bens naturais muitas vezes levou à destruição irreparável de partes do planeta No plano da economia o sistema de distribuição de riquezas capitalista intensificou a desigualdade social criando os problemas que hoje experimentamos na vida urbana Quanto à cultura a globalização intensificou conflitos étnicos e raciais que levaram à perseguição de minorias em nome de um projeto pretensamente civilizatório O filósofo alemão Martin Heidegger 2001 em sua famosa conferência sobre A questão da técnica já apontava na década de 1940 para os dilemas éticos em torno da forma predatória com que o homem moderno se relacionava com a natureza Heidegger 2001 dizia que o homem moderno em sua soberba vontade de poder via a natureza não como sua morada mas como algo a ser desafiado domado possuído estocado Em vez de verse como membro e parte da natureza o homem se colocava como seu opositor enquanto a técnica dos antigos buscava extrair o sustento do homem a técnica moderna visa acumular energia e poder Para explicar o seu raciocínio Heidegger 2001 compara um moinho hidráulico com uma hidrelétrica moderna O moinho com o intuito de moer o trigo extrai as forças da água sem alterar o curso do rio a hidrelétrica com o intuito de acumular energia e produzir mais riquezas destrói o ambiente adequandoo à vontade humana Assim Heidegger 2001 afirma que para o homem moderno não é a hidrelétrica que está no rio mas é o rio que está na hidrelétrica O que isso quer dizer Tudo se passa para nós como se fosse óbvio que o rio está ali para ser explorado A técnica moderna vê a natureza simplesmente como algo ao nosso serviço à nossa disposição nós escravizamos a natureza esquecendo que é graças a ela que somos livres Aquilo que parecia uma ideia inovadora na época de Heidegger 2001 tornouse a partir das décadas de 1970 e 1980 um dos principais debates sobre o desenvolvimento tecnológico Foi nessa época que se começou a dar importância cada vez maior ao conceito de sustentabilidade É provável que você já tenha ouvido esse conceito Ele indica uma nova forma de o homem se relacionar com o seu ambiente de modo a evitar os erros cometidos pelo consumismo desenfreado dos séculos XIX e XX Em 1987 o Relatório de Brundtlande também conhecido como Nosso futuro comum apresentou ao mundo a conclusão de que os padrões de consumo atuais eram incompatíveis com a manutenção do meio ambiente Assim esse documento definiu o desenvolvimento sustentável como aquele que satisfaz as necessidades de uma geração sem colocar as necessidades das outras em risco É por conta dessa reflexão que hoje a maior parte dos países tem buscado conter o aspecto predatório do desenvolvimento tecnológico Na verdade a ciência agora busca soluções mais inteligentes para manter o nosso modo de vida sem afetar negativamente o meio ambiente e até mesmo o meio social A busca por fontes de energia renováveis tem sido uma das linhas de frente desse debate Levando em conta que grande parte da energia consumida do mundo tem origem em combustíveis não renováveis como o petróleo se a ciência não encontrar outras saídas haverá um momento em que o atual modo de vida será impossibilitado Entretanto a sustentabilidade não tem a ver somente com o meio ambiente como a maioria das pessoas pensam As ações sustentáveis também visam a um desenvolvimento social e econômico mais igualitário que crie condições de vida melhores para as gerações futuras e isso envolve pensar na saúde na segurança e na educação daqueles que ainda estão por nascer Não basta apenas salvar espécies em risco de extinção diminuir a emissão de gás carbônico ou cuidar para que não se esgotem as nossas fontes de energia é preciso também pensar nas interações humanas e nas instituições que criam o ambiente da vida social Isso envolve pensar questões mais humanas como a violência urbana a criminalidade os direitos fundamentais do homem a igualdade social as condições de trabalho a urbanização a higiene a vacinação enfim tudo aquilo que a partir da interação entre o homem e a natureza e entre o homem e a sociedade gera um hábitat ou um ambiente Heidegger 2001 lembra que os gregos antigos chamavam de ethos o hábito de alguém o seu modo de ser de agir de pensar isto é de habitar o mundo A palavra ética que deriva de ethos é a parte da filosofia que reflete sobre os modos como nós podemos habitar a Terra Portanto podemos dizer que um mundo sustentável é também um mundo ético e é por isso que a sustentabilidade é uma questão filosófica tão urgente FILOSOFIA E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS A filosofia mesmo após vários séculos de existência permanece ocupando um papel fundamental frente à sociedade diante de dilemas éticos sociais políticos e tecnológicos que marcam a contemporaneidade Em uma época marcada pela urgência das informações pelas superficialidades dos discursos e pela predominância do imediatismo pensar filosoficamente tornouse algo arcaico caracterizado como uma atitude de resistência O pensamento crítico profundo e reflexivo entra e conflito com uma sociedade que enfatiza opta pela rapidez das respostas à qualidade das perguntas Destarte coo aponta o texto vivemos em um tempo em que o pensar profundo é substituído por respostas rápidas e superficiais dificultando o desenvolvimento de cidadãos autônomos e críticos A Filosofia no entanto não se mostra alheia aos novos contextos Ela é convocada a dialogar com as transformações da era digital principalmente com o advento das mídias digitais bem como os efeitos causados pelas tecnologias da informação Em consonância com Dionizio 2018 Pierre Lévy acreditava que a grande vantagem da internet em relação ao passado estava no seu caráter interativo O otimismo de Levy 1999 o levou a dizer que isso tornaria a sociedade mais democrática Infelizmente a inocência de Levy não dava conta de explicar toda a realidade Ou seja a internet tornouse um espaço apto para a desinformação e manipulação da opinião pública Ainda de acordo com os construtos de Dionizio 2018 essa expansão e disseminação dos do acesso às informações embora promissora originou o fenômeno da fake News que intensificou a crise da verdade É válido ressaltar que os critérios de atribuição ao que é verdadeiro ou falso estão se modificando abrindo espaço para o compartilhamento de informações inverídicas a fim de ludibriar a sociedade Essa premissa corrobora a demasiada relevância da filosofia como prática do discernimento capaz de realocar perguntas fundamentais concernentes ao existir o agir e o conviver A cultura do compartilhamento rápido sem reflexão desafia a capacidade crítica do indivíduo Nesse viés a filosofia deve atuar como um freio ético e pedagógico estimulando o questionamento e a responsabilidade frente ao conhecimento A filosofia também é relevante diante da crescente fragmentação dos laços sociais e da perda de referências comuns A globalização a pluralidade de identidades e o avanço das tecnologias criaram um ambiente em que convivem diversas visões de mundo distintas porém nem sempre de forma harmoniosa É válido ressaltar que não há um único modo de vier de se relacionar com os outros e com a natureza o que torna o exercício filosófico ainda mais proeminente ele possibilita lidar co as diferenças sem apelar à intolerância ou ao dogmatismo Assim mediante as premissas supracitadas depreendese a demasiada relevância da filosofia para a promoção do pensamento autônomo e a consciência crítica Ela propõese como uma prática de resistência ao pensamento uníssono convocandonos a duvidarmos das verdades prontas Ou seja a supracitada nos instiga a formularmos boas perguntas e acolhermos a complexidade bem como sustentarmos o diálogo QUESTÕES DE GÊNERO A discussão alusiva às questões de gênero têm recebido muita visibilidade nos últimos decênios tomando impulso a partir dos movimentos sociais que reivindicam igualdade e respeito às diversidades Mediante os construtos postulados por Dionizio 2018 o debate sobre gênero sobre ser construído socialmente ou ter uma essência é um tema de enorme investigação e de discordância entre teóricos de diversas áreas Ademais segundo a supracitada gênero é uma construção simbólica que perpassa todas as esferas da vida social moldando comportamentos linguagens e práticas A crítica central recai sobre a naturalização das desigualdades frequentemente justificadas por discursos essencialistas A autora salienta que a sociedade desde tenra idade ensina o que é próprio de meninas e meninos perpetuando estereótipos que limitam as impossibilidades de atuação dos sujeitos Essa premissa é corroborada principalmente no modo com os brinquedos roupas e expectativas escolares são diferenciados são diferenciados conforme o gênero corroborando uma lógica hierárquica que privilegia o masculino Outro ponto salutar faz menção à marginalização das identidades que desvencilhamse das norma heterocisnormativa Dionizio 2018 afirma que pessoas trans não binárias e outras dissidências sofrem constantes invisibilizações e agressões físicas e verbais sendo excluídas de espaços de reconhecimento e cidadania Ademais amparada nos construtos de Beauvoir 1980 Dionizio 2018 critica que a cultura no esvair da história representou a mulher como o outro do homem e que sua identidade foi elaborada a partir de uma perspectiva masculina A supracitada salienta que o gênero não deve ser caracterizado como uma construção social mas sim como uma performance isto é os comportamentos atribuídos aos homens ou às mulheres são repetido e regulados por normas sociais Destarte a heterossexualidade deixa de ser apenas ua orientação sexual e tornase uma performance pública Assim mediante os postulados supracitados depreendese que os debates concernentes às discussões de gênero englobam as desigualdades entre homens e mulheres mas também os processos pelos quais a sociedade regula as identidades e comportamentos A superação dessas normas demanda a desconstrução de categorias fixas e o reconhecimento da pluralidade de experiências e subjetividades REFERÊNCIAS DIONIZIO Mayara et al Filosofia contemporânea Porto Alegre SAGAH 2018
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O feminismo de Simone de Beauvoir No século XX vários movimentos sociais com pautas de igualdade ganharam força É o caso do sufragismo dos movimentos em prol da igualdade do antirracismo e da libertação sexual nos anos 1960 entre outros Assim do início ao fim do século aconteceram discursos e manifestações em prol de direitos para mulheres Em meio a essas reivindicações encontrase também a do movimento feminista Simone LucieErnestineMarie Bertrand de Beauvoir 19081986 mais conhecida como Simone de Beauvoir foi uma das grandes teóricas do movimento principalmente na França Atualmente sua obra é referência mundial sobre a temática Seu texto mais famoso O segundo sexo 1949 é tido como um marco do movimento feminista A trajetória que Beauvoir percorreu até a publicação desse livro demonstra o lugar que foi ocupando socialmente e os obstáculos que se apresentaram a ela por ser uma mulher Assim vale ressaltar que Beauvoir é proveniente de uma família tradicional francesa e estudou em um colégio interno católico até os 17 anos Posteriormente se dedicou por um período ao estudo da matemática e de línguas até que por fim começou a estudar na Universidade de Paris Lá conheceu JeanPaul Sartre com quem manteve um relacionamento amoroso nada convencional por toda a sua vida Em meio ao universo acadêmico francês e antes no seio de uma família tradicional Beauvoir percebeu a opressão que sofria quando fazia escolhas que eram consideradas inadequadas às mulheres da época Podese dizer que essa experiência a levou à reflexão critica de sua condição feminina na sociedade Em O segundo sexo Beauvoir 1980 argumenta fundamentando suas ideias historicamente que desde a Antiguidade a cultura estabeleceu uma concepção de mulher Nesse sentido vários foram os fundamentos para uma desqualificação do sexo feminino biológico psicológicopsicanalítico político e mesmo filosófico Nesse contexto Beauvoir avalia que à mulher sempre resta o lugar de outro Ou seja as mulheres foram narradas a partir da perspectiva masculina ao longo da história Beauvoir afirma que este é o drama próprio da mulher ter as necessidades afirmativas de um sujeito essencial a si mas se compreender a partir de um lugar inessencial Dito de outro modo a ideia que se faz do que é ser mulher foi concebida por outros sujeitos que não a própria mulher Para Beauvoir o que se entende como mulher é inautêntico O que é ser mulher Como um humano pode se compreender sendo mulher Nesse sentido Beauvoir aponta para a dificuldade das mulheres de se desvencilhar da servidão Se o lugar que sempre foi reservado para o sexo feminino foi o do outro determinado por uma visão que não é própria mas do sexo oposto haveria uma dificuldade em romper com essa negativização de si Ou seja tratase da constituição feminina determinada por uma sociedade culturalmente comandada por homens Algumas teóricas feministas enxergam em O segundo sexo o projeto de Beauvoir para a reeducação da cultura ocidental em uma perspectiva feminista Ou seja elas veem o desejo de construir uma forma de pensar por meio da alteridade dando voz ao outro ou seja às mulheres Já no primeiro capítulo que Beauvoir nomeia de Formação e que trata da infância feminina é lançada a frase ninguém nasce mulher Tornase mulher BEAUVOIR 1980 p 9 Com isso Beauvoir quer sublinhar o destino feminino dentro de uma sociedade em que a noção de feminino é fabricada Ela quer descrever esse ser que está entre o masculino e o castrado Por exemplo nesse primeiro capítulo Beauvoir aponta a alienação que as meninas sofrem desde a tenra idade começa com a própria imposição dos brinquedos e das cores Quando a menina brinca com a boneca além de buscar representar a já alienada mãe se vê também na figura materna como se destinada a tal tarefa Outro ponto que Beauvoir destaca são os contos de fada Eles comumente giram em torno de uma princesa que precisa ser salva por um príncipe O desfecho feliz é a mulher tendo filhos e cumprindo o papel social de mãe e esposa Em outro momento Beauvoir afirma que grande parte do trabalho doméstico pode ser realizado por uma menina muito criança habitualmente dele os meninos são dispensados mas permitese pedese mesmo à irmã que varra tire o pó limpe os legumes lave um recémnascido tome conta da sopa BEAUVOIR 1980 p 27 Portanto tudo contribui para afirmar um lugar destinado à menina e à mulher que se tornará A cultura reforça isso em todos os seus aspectos na história na literatura nos contos e nas lendas Os homens fizeram o mundo os homens guerrearam os homens conquistaram terras os homens escreveram livros a imposição da superioridade masculina é afirmada a todo o momento Dessa forma a menina aprende a olhar o mundo a explorálo pelos olhos masculinos Outra instituição que é determinante para a opressão feminina segundo Beauvoir é a Igrejareligião Na Bíblia e na hierarquia da Igreja Deus é o símbolo masculino assim como seu filho Jesus Cabe à mulher o papel da virgem que se coloca como serva do Senhor ou de Maria Madalena a prostituta que precisa ser salva ou perdoada por um homem Com isso Beauvoir não quer criticar a espiritualidade mas os símbolos que são sempre masculinos A mulher dentro da comunidade religiosa cabe sempre o papel secundário e portanto não encontra outro tipo de representatividade e lugar no discurso religioso Outro ponto que é caro a Beauvoir é a objetificação feminina Para a autora a mulher é objetificada tanto na prostituição quanto na vida social dita respeitável Ou seja a diferença é que a prostituta negocia seu sexo enquanto a mulher tida como respeitosa se esforça e dedica para conquistar umja singularidadesedutora Em ambas as situações é o homem que determina o valor de uma mulher No primeiro caso a prostituta está submetida ao julgo masculino para prestar seus serviços no segundo a mulher encontrase submetida à opinião masculina que pode lhe garantir uma vida digna e honrosa Dessa forma apesar de várias refutações à teoria de Beauvoir por parte das feministas contemporâneas é importante ressaltar a relevância de sua obra que inaugurou outra forma de pensar o feminino O contexto no qual Beauvoir viveu os anos 1960 na França eram de efervescência cultural por parte de cineastas e efervescência intelectual por parte dos filósofos existencialistas e pósestruturalistas Beauvoir percebeu a opressão que sofriam as mulheres nesse contexto Poucos foram os trabalhos cinematográficos dirigidos por mulheres nessa época O mesmo vale para os trabalhos filosóficos de autoria feminina A perspectiva de Judith Butler sobre gênero Judith Butler 1956 é uma das principais autoras contemporâneas que trata de questões como gênero feminismo teoria queer filosofia política e ética O debate sobre gênero sobre ser construído socialmente ou ter uma essência é um tema de enorme investigação e de discordância entre teóricos de diversas áreas A teoria de Butler nesse contexto simboliza um marco Ela desloca a questão da concepção teórica para pensar os efeitos de poder relacionados à concepção de gênero Para Butler 2003 dada a estrutura jurídica contemporânea vivese em um contrato heterossexual ou seja categorias como masculino e feminino são engessadas cultural e juridicamente na sociedade Com isso Butler dá um passo além sobre a teoria feminista como foi pensada por Beauvoir e as feministas dos anos 1960 Butler chama a atenção para um problema dessas teorias clássicas do feminismo que é o conceito de mulher Tal conceito além de reforçar a heterossexualidade ainda pressupõe que o feminismo é capaz de representar universalmente todas as mulheres Dessa forma podese dizer que Butler traz à luz o problema que há no sujeito do feminismo Fundamentar a mulher como sujeito do movimento é afirmar a exclusão representativa de vários outros sujeitos como as pessoas transgênero Isso cria um decalque entre as próprias mulheres sobre o que é ser mulher e sobre quem é mais mulher O que é ser mulher Responder a essa questão seria justamente o problema Butler defende que todos são submetidos em sua formação às relações de poder Nesse sentido a exclusão faz parte do processo de constituição do sujeito Portanto uma vez que as pessoas são produtos dos sistemas de poderdurante o processo de formação todas passam pelas práticas de exclusão Com isso Butler argumenta que mesmo o feminismo se colocando contrário às normas vigentes aos padrões ele também é fruto desses sistemas Nesse sentido Butler problematiza as teorias foucaultianas sobre sujeito e poder para pensar os efeitos do poder na questão de gênero Seguindo o rastro de Foucault Butler afirma 2003 que as relações de poder não produzem só opressão e padrões negativos mas também são responsáveis por produzir os aspectos afirmativos como a inclusão Dessa forma Butler demonstra o paradoxo existente no feminismo ser produto da própria estrutura que busca combater A possível saída segundo Butler 2003 seria primeiramente evitar a universalidade de um sujeito universal mulher assim como evitar delimitar esse sujeito oprimido pois isso reforçaria justamente a exclusão dentro do feminismo Nesse sentido a causa do feminismo ganharia ao trazer à tona o processo de produção de um sujeito universal mulher pelos sistemas de poder Em uma de suas obras mais famosas Problemas de Gênero feminismo e subversão da identidade 1990 Butler apresenta uma investigação acerca dos discursos e práticas que além de produzir identidades buscam definir sua origem Nesse contexto ela apresenta um questionamento à norma da obrigação heteronormativa Para Butler 2003 a heterossexualidade não se restringe à intimidade sexual mas antes é uma espécie de performance na medida em que existem padrões heteronormativos que devem ser demonstrados na esfera pública Ou seja é atribuído o gênero a um sujeito que se enquadra de determinada maneira publicamente Por exemplo mulheres usam saias e vestidos têm o corpo depilado usam sapatos com salto falam de determinada maneira comem certos alimentos homens usam calças têm a voz grossa falam de determinada maneira e se portam de uma forma específica Butler a partir disso conclui que o gênero é performativo pois é atribuído às mulheres e aos homens por seus comportamentos Assim Butler afirma 2003 que a busca de uma essência do feminino e do masculino bem como a sua afirmação é produto dessa performance Ou seja visa a legitimar tal performance A autora conclui que pessoas como drag queens e transgêneros confundem aqueles que vivem a performatividade heteronormativa uma vez que os comportamentos atribuídos às mulheres e aos homens se concentram na mesma performance Cabe então ao feminismo à genealogia feminista como aponta Butler 2003 a tarefa de se concentrar e expor o processo de produção de identidades de gênero Além disso é necessário mover as normas constitutivas desses processos a fim de estremecer as estruturas heteronormativas As pautas feministas e LGBT Os movimentos feministas e LGBT são alvos de muitas críticas Em relação ao feminismo há divergências entre várias correntes teóricas e políticas dentro do próprio movimento Há segmentos do movimento que não aceitam a participação de mulheres trans por exemplo Mas há como estabelecer que ser mulher só está atrelado ao órgão genital feminino Já há alguns anos existe uma intensa discussão sobre o tema Após os escritos de Judith Butler ganhou maior proporção a ideia de que o gênero não está ligado à condição biológica do corpo feminino mas à produção de uma identidade feminina Entretanto há divergências em torno dessa e de várias outras questões Por exemplo atualmente no Brasil há várias correntes feministas que afirmam pontos de exclusão dentro do próprio movimento o que leva à pluralidade de feminismos como você pode ver a seguir Feminismo negro é protagonizado pela mulher negra que não se sente representada pelo movimento dado que normalmente seus problemas de opressão são de outra ordem tais como a pauta do genocídio da comunidade negra o debate entre raça e gênero e o não reconhecimento de religiões africanas por parte da sociedade Feminismo interseccional essa corrente busca atender às demandas de todas as outras correntes Ou seja unir as diversas abordagens do feminismo o negro o lésbico o transfeminismo em um só movimento Além disso é a corrente mais aberta à participação masculina Feminismo radical extremistaradfem é a corrente mais extrema do feminismo Defende que ser mulher é definido pela biologia Nesse sentido exclui o transfeminismo por exemplo Feminismo liberal é a corrente que busca superar as desigualdades entre os gêneros por meio de reformas políticas Assim essa correntedefende a representatividade de mulheres nas instituições e em cargos no governo Também acredita que homens devem ser conscientizados sobre o feminismo e aceita os que aderem à causa Apesar de a pauta geral do movimento feminista ser a igualdade entre gêneros há várias distinções nos posicionamentos de cada corrente feminista Nesse sentido as pautas divergem entre si Entretanto o movimento tem avançado nos últimos anos A despeito das diferenças entre as pautas é importante destacar a relevância de tais movimentos em relação à desigualdade salarial à posição cultural de superioridade masculina à violência contra a mulher e os transgêneros entre outras formas de desqualificação e por vezes de agressão Já o movimento LGBT defende algumas pautas distintas das do movimento feminista porém por vezes elas se entrecruzam Um dos principais problemas que afligem tanto homossexuais quanto mulheres é a violência Como culturalmente há a noção de que homossexuais transexuais e mulheres são inferiores ao homem heterossexual por vezes isso se torna motivo para agressão verbal e fisica Entretanto a comunidade LGBT lida também com problemas de outra ordem como o preconceito e a ausência de direitos básicos como o casamento para dar legalidade à relação homoafetiva Algumas das problematizações acerca do movimento LGBT têm origem no pensamento foucaultiano que percebe a relação imposta aos homossexuais de confissão como uma forma de controle dos sistemas de poder O filósofo Michel Foucault em sua obra História de sexualidade 1977 demonstrou como essa confissão como esse reconhecimento do sujeito a partir de sua sexualidade é uma maneira de classificação e controle Assim as instituições conseguem controlar a população LGBT principalmente por ela se mostrar como população que diverge da heteronormatividade Dessa forma o empenho da comunidade LGBT em garantir direitos civis estabelecidos em uma sociedade heteronormativa tais como adoção e casamento se torna uma forma de reafirmação da sociedade heteronormativa Essa seria uma forma de assimilação da homossexualidade a fim de controlar e de garantir a soberania do sistema heteronormativo Nesse sentido de normalização das aberrações o homossexual é tido como inferior aos que seguem o padrão normativo Outro aspecto negativo dessa confissão e do movimento LGBT é que a comunidade passa a ser vista como consumidora pelo mercado Então tanto se dissemina um estereótipo de homossexual quanto se produzem e vendem produtos específicos destinados a essa comunidade Um exemplo dessa assimilação heteronormativa do público LGBT são as boates destinadas a ele Ao mesmo tempo em que a sociedade aceita a existência desses locais ela também afasta essa população criando instituições e locais específicos onde os LGBTs são aceitos Portanto você pode considerar que a forma como se dá a aceitação civil social e cultural LGBT se configura também negativamente com base no heteronormativismo A filosofia e as mídias digitais Quando a internet começou a se popularizar na década de 1990 houve um intenso esforço por parte dos intelectuais de todo o mundo para entender quais seriam os seus efeitos sociais Alguns otimistas julgaram que ela contribuiria para tornar a nossa sociedade mais democrática outros mais realistas chamavam a atenção para os problemas sociais que poderiam ser causados pela facilidade com que as informações poderiam ser disseminadas de forma irresponsável ou malintencionada Porém esse debate entre otimistas e pessimistas não era exatamente novo Toda vez que uma mídia nova surge os filósofos se perguntam quais serão as suas consequências No século IV aC Platão já se preocupava com os efeitos negativos que a escrita causaria numa sociedade como a grega na qual as informações circulavam apenas oralmente Entretanto foram a filosofia e a sociologia do início do século XX que mais se empenharam em entender as mudanças causadas pelo aprimoramento técnico dos meios de comunicação Era bastante evidente para os estudiosos que o surgimento dos mass media causariam um impacto direto não apenas na vida cotidiana de cada indivíduo mas também no destino político das nações Entre os problemas que conduziram aos questionamentos filosóficos sobre os meios de comunicação de massa destacamse o uso da propaganda massificada por regimes autoritários nazifascismo estalinismo Estado Novo etc o surgimento da cultura de massas cinema rádio televisão propaganda etc e a influência das mídias sobre a educação e o comportamento dos cidadãos Como na maior parte dos casos de surgimento de novas tecnologias a história dos meios de comunicação de massa começa com boas intenções Com o intuito de facilitar a publicação de livros Gutenberg inventou no século XV a imprensa de tipos fundidos Com essa máquina cada vez mais pessoas passaram a ter acesso ao conhecimento e à informação Antes de Gutenberg a maior parte dos livros eram produzidos a mão Assim era preciso muito tempo e empenho para produzir cópias de um mesmo texto e por isso o acesso ao conhecimento ficava restrito a uma parte reduzida da população notadamente o clero e a nobreza A possibilidade de produzir textos de modo mais rápido e eficiente aumentou o número de leitores e escritores A demanda por entretenimento e informação gerou uma nova indústria editoras e jornais foram crescendo escritores e jornalistas foram se profissionalizando e os periódicos que antes eram mensais ou semanais tornaramse diários Com isso o interesse pela expansão do público consumidor de informação acabou contribuindo com a consolidação de uma população letrada saber ler e escrever deixou de se um privilégio tornandose um direito de todos Assim foi se consolidando o conjunto de meios de comunicação a que hoje chamamos de imprensa em referência à máquina inventada por Gutenberg No início do século XX o rádio tornou mais fácil ainda o acesso da população à informação Com um simples aparelho na sala era possível ouvir direta e instantaneamente em sua casa as palavras de ordem do líder de sua nação Isso ainda apresentava uma série de vantagens em relação ao texto impresso a linguagem oral não exige que os ouvintes sejam alfabetizados o que significa que todos sem exceção podem ser informados as ondas de rádio AM viajam longas distâncias com muita rapidez fazendo com que as informações cheguem quase instantaneamente de um lugar a outro por fim todas as pessoas podem se informar ao mesmo tempo não dependendo do atraso característico do jornal impresso que só podia ser comprado de manhã As mesmas vantagens se aplicam à televisão que a partir da segunda metade do século XX passou a fazer parte do cotidiano do homem moderno sendo ainda um dos principais meios de entretenimento no mundo Em maior ou menor medida o desenvolvimento das tecnologias de comunicação buscou reduzir ao mínimo os limites físicos que o ser humano experimenta simplesmente por ser feito de carne e osso Ignorando os limites do tempo as informações são cada vez mais instantâneas ignorando os limites do espaço são cada vez mais ubíquas Assim o nosso poder sobre a natureza aumentou na medida em que a tecnologia nos torna capazes de realizar aquilo que o nosso corpo não pode fazer por conta própria Mídias digitais e mobilizações sociais No topo dessa cadeia evolutiva da tecnologia está a internet Se antes demorava semanas ou até meses para enviar uma carta a um local distante hoje podemos conversar com qualquer pessoa do mundo em tempo real desde que tenhamos acesso à rede num computador com microfone e câmera E isso ainda é só um pouco do que a internet é capaz já que hoje praticamente todas as nossas formas de comunicação dependem em maior ou menor medida das mídias digitais Se por um lado as tecnologias dão cada vez mais poder de comunicação à humanidade por outro nada garante que esse poder seja bem utilizado Desde que nasceram os meios de comunicação de massa tiveram efeitos diretos sobre as mobilizações sociais sabemos o quanto Hitler se valeu dos mass media para fazer propaganda do regime nazista sob a orientação do seu ministro da propaganda Joseph Goebbels No Brasil Getúlio Vargas criou a Hora do Brasil com intenção parecida ajudando a manter a ditadura do Estado Novo por 15 anos Tamanho foi o sucesso das propagandas nazifascistas sobre a população que os primeiros estudiosos do fenômeno criaram uma teoria hipodérmica da comunicação conhecida também como teoria da bala mágica que pressupunha um efeito quase hipnótico da mídia sobre a população Hoje sabemos que os meios não têm esse poder absoluto sobre as ações dos indivíduos No entanto sabemos também que o seu poder de sugestão não é pequeno Com a consolidação da internet como grande mídia do século XXI as mobilizações sociais ganharam novo escopo O sociólogo francês Pierre Levy em seu livro Cibercultura 1999 acreditava que a grande vantagem da internet em relação ao passado estava no seu caráter interativo Isso significa que a internet é diferente das mídias dos séculos anteriores por não supor um consumidor passivo Enquanto no modelo da imprensa da tevê e do rádio os jornalistas e produtores decidem os conteúdos que serão veiculados na internet cada consumidor tornase também um possível produtor Qualquer um pode publicar os seus escritos em um blog escrever comentários numa notícia compartilhar uma opinião no Facebook divulgar um vídeo pessoal no YouTube O otimismo de Levy 1999 o levou a dizer que isso tornaria a sociedade mais democrática A internet fundada em práticas de troca generosas e desinteressadas encarnaria assim os próprios ideais da Revolução Francesa liberdade igualdade e fraternidade Infelizmente a inocência de Levy 1999 não dava conta de explicar toda a realidade Embora tenha havido experiências positivas em torno desse novo uso das mídias digitais como as revoltas no mundo árabe que levaram à deposição de uma ditadura nem todas as mobilizações sociais organizadas por meio digital têm caráter democrático Algumas inclusive têm tido um caráter bastante autoritário lembrando os tempos do nazifascismo isto é expressam o desrespeito à diversidade e à livre discussão de ideias Fake news O filósofo Marshall McLuhan 1974 previu em meados do século XX que o progresso das tecnologias de informação nos tornaria cidadãos de uma aldeia global A sua ideia era que todos os habitantes do mundo agora podendo se comunicar com facilidade compartilhariam os seus costumes e as suas ideias como os cidadãos de uma pequena aldeia Hoje depois que a internet tornou real essa profecia de McLuhan 1974 vivemos num mundo globalizado Mesmo morando numa cidade pequena distante dos grandes centros nunca estamos completamente isolados as nossas ações aqui têm consequências diretas sobre os habitantes de lá O impacto disso sobre a cultura foi gigantesco não só os hábitos das populações de diferentes países tornaramse bastante parecidos como também os gostos e as ideias Já nem percebemos mais o quanto muitos dos nossos hábitos cotidianos tiveram origem em lugares distantes Por exemplo o gesto simples de cantar parabéns no dia do aniversário diante de um bolo com algumas velas acesas e depois fazer um pedido ao apagálas parece natural no Brasil mas é na verdade um costume surgido nos Estados Unidos que já faz parte do repertório cultural de vários países do mundo inclusive no Oriente Nesse sentido uma das maiores preocupações da filosofia atualmente tem sido entender de que forma esse processo de homogeneização da cultura tem nos afetado Hoje devido ao poder de comunicação das mídias digitais a filosofia tem se preocupado cada vez mais com os dilemas que envolvem a livre circulação de ideias Se por um lado é desejável defender o direito à liberdade de expressão conquistado pelos iluministas por outro a produção desenfreada e irresponsável de conteúdos tem entrado diretamente em conflito com o projeto de uma sociedade democrática Não conseguimos ainda encontrar um equilíbrio entre o global e o local e muitas vezes a mera vontade de exprimir um sentimento ou uma ideia numa mídia social pode descambar para a violência o autoritarismo e a negação sistemática das opiniões diferentes Nesse sentido a tarefa de problematizar a nossa posição como disseminadores de informação tornouse urgente Se quisermos de fato viver harmoniosamente em sociedade precisamos refletir criticamente sobre a nossa responsabilidade como habitantes dessa aldeia global Um dos fenômenos que mais tem entrado em conflito com os interesses das sociedades democráticas é a disseminação de notícias falsas na internet Conhecidos globalmente pelo termo inglês fake news tais textos podem ser definidos como notícias fabricadas ou inventadas por pessoas que têm algum interesse na sua divulgação Esses textos mantêm o mesmo formato visual e a mesma estrutura formal dos textos jornalísticos mas não são produto de um processo jornalístico de apuração e verificação Antes da internet não existiam tantos canais diferentes para se buscar a informação como há hoje Liase o jornal assistiase à tevê ou ouviase o rádio nesses meios a informação era produzida por jornalistas capacitados para apurar a veracidade dos fatos Os jornais impressos tinham interesse em vender notícias confiáveis e imparciais da mesma forma que um comerciante numa loja quer vender um produto de qualidade para manter os seus clientes Desse modo criouse uma confiança muito grande nos meios de comunicação de massa algo era considerado verdadeiro se estivesse publicado no jornal e tudo o que estava no jornal podia ser considerado verdadeiro foi daí que surgiu a expressão pretonobranco que usamos até hoje para indicar confiança e veracidade Na era da internet o monopólio dessas empresas de comunicação foi desestabilizado Com a possibilidade de produzir informações mais baratas surgiram empresas que flexibilizaram os critérios de apuração das informações A concorrência entre os antigos meios e a internet fez com que o investimento em produção de notícias diminuísse e com isso perdeuse boa parte da credibilidade que a população tinha nelas Além disso a facilidade e a velocidade do aceso à informação fez com que houvesse cada vez menos tempo para apurar um fato ou refletir sobre um acontecimento O critério jornalístico de que a melhor notícia é a mais imediata fez com que os textos da internet prezassem mais pela velocidade com que a informação chega às pessoas do que com a qualidade da apuração Assim naturalmente com menor tempo gasto para a produção da notícia a sua confiabilidade também é menor Embora as fake news tenham aparecido com mais intensidade atualmente elas não são uma novidade da era da internet Na verdade os historiadores dos meios de comunicação sabem muito bem que a maior parte dos jornais nasceu em nome de interesses políticos bastante precisos O próprio Platão disse ainda na Grécia Antiga que uma mentira contada por um rei seria útil desde que servisse aos interesses da cidade Foi só no final do século XIX que surgiu o critério da objetividade no jornalismo justamente para combater o excesso de notícias falsas O que é próprio da internet então Os estudiosos têm mostrado que o maior problema das atuais fake news é a velocidade com que uma notícia falsa é compartilhada Uma pesquisa norteamericana constatou que entre 9 e 15 dos usuários do Twitter são bots isto é contas falsas Constatouse que a maior parte deles produz conteúdo extremista ou politicamente radical feito para ser rapidamente compartilhado Há também fortes evidências de que as eleições de 2016 nos Estados Unidos foram influenciadas por essa prática Quantas vezes antes de apertar o botão compartilhar você de fato se perguntou se a notícia é verdadeira Ou se a fonte é confiável Ou ainda se o jornal que se responsabiliza pela notícia é uma empresa socialmente responsável São raras as pessoas que se preocupam com isso O preocupante é que são essas notícias falsas criadas por pessoas com interesses eticamente duvidosos que têm conduzido o debate de ideias Por isso as fake news têm sido um desafio para a filosofia contemporânea especialmente aquela preocupada com a política e com a ética Ao que parece estamos habitando um mundo em que os critérios para o que é verdadeiro ou falso estão se alterando e esse é em larga medida o problema fundamental da filosofia desde Platão Sustentabilidade e desenvolvimento tecnológico Desde a primeira Revolução Industrial no século XVIII o desenvolvimento tecnológico acelerado e globalizado trouxe consigo uma série de problemas No que diz respeito à relação entre o homem e a natureza a exploração dos bens naturais muitas vezes levou à destruição irreparável de partes do planeta No plano da economia o sistema de distribuição de riquezas capitalista intensificou a desigualdade social criando os problemas que hoje experimentamos na vida urbana Quanto à cultura a globalização intensificou conflitos étnicos e raciais que levaram à perseguição de minorias em nome de um projeto pretensamente civilizatório O filósofo alemão Martin Heidegger 2001 em sua famosa conferência sobre A questão da técnica já apontava na década de 1940 para os dilemas éticos em torno da forma predatória com que o homem moderno se relacionava com a natureza Heidegger 2001 dizia que o homem moderno em sua soberba vontade de poder via a natureza não como sua morada mas como algo a ser desafiado domado possuído estocado Em vez de verse como membro e parte da natureza o homem se colocava como seu opositor enquanto a técnica dos antigos buscava extrair o sustento do homem a técnica moderna visa acumular energia e poder Para explicar o seu raciocínio Heidegger 2001 compara um moinho hidráulico com uma hidrelétrica moderna O moinho com o intuito de moer o trigo extrai as forças da água sem alterar o curso do rio a hidrelétrica com o intuito de acumular energia e produzir mais riquezas destrói o ambiente adequandoo à vontade humana Assim Heidegger 2001 afirma que para o homem moderno não é a hidrelétrica que está no rio mas é o rio que está na hidrelétrica O que isso quer dizer Tudo se passa para nós como se fosse óbvio que o rio está ali para ser explorado A técnica moderna vê a natureza simplesmente como algo ao nosso serviço à nossa disposição nós escravizamos a natureza esquecendo que é graças a ela que somos livres Aquilo que parecia uma ideia inovadora na época de Heidegger 2001 tornouse a partir das décadas de 1970 e 1980 um dos principais debates sobre o desenvolvimento tecnológico Foi nessa época que se começou a dar importância cada vez maior ao conceito de sustentabilidade É provável que você já tenha ouvido esse conceito Ele indica uma nova forma de o homem se relacionar com o seu ambiente de modo a evitar os erros cometidos pelo consumismo desenfreado dos séculos XIX e XX Em 1987 o Relatório de Brundtlande também conhecido como Nosso futuro comum apresentou ao mundo a conclusão de que os padrões de consumo atuais eram incompatíveis com a manutenção do meio ambiente Assim esse documento definiu o desenvolvimento sustentável como aquele que satisfaz as necessidades de uma geração sem colocar as necessidades das outras em risco É por conta dessa reflexão que hoje a maior parte dos países tem buscado conter o aspecto predatório do desenvolvimento tecnológico Na verdade a ciência agora busca soluções mais inteligentes para manter o nosso modo de vida sem afetar negativamente o meio ambiente e até mesmo o meio social A busca por fontes de energia renováveis tem sido uma das linhas de frente desse debate Levando em conta que grande parte da energia consumida do mundo tem origem em combustíveis não renováveis como o petróleo se a ciência não encontrar outras saídas haverá um momento em que o atual modo de vida será impossibilitado Entretanto a sustentabilidade não tem a ver somente com o meio ambiente como a maioria das pessoas pensam As ações sustentáveis também visam a um desenvolvimento social e econômico mais igualitário que crie condições de vida melhores para as gerações futuras e isso envolve pensar na saúde na segurança e na educação daqueles que ainda estão por nascer Não basta apenas salvar espécies em risco de extinção diminuir a emissão de gás carbônico ou cuidar para que não se esgotem as nossas fontes de energia é preciso também pensar nas interações humanas e nas instituições que criam o ambiente da vida social Isso envolve pensar questões mais humanas como a violência urbana a criminalidade os direitos fundamentais do homem a igualdade social as condições de trabalho a urbanização a higiene a vacinação enfim tudo aquilo que a partir da interação entre o homem e a natureza e entre o homem e a sociedade gera um hábitat ou um ambiente Heidegger 2001 lembra que os gregos antigos chamavam de ethos o hábito de alguém o seu modo de ser de agir de pensar isto é de habitar o mundo A palavra ética que deriva de ethos é a parte da filosofia que reflete sobre os modos como nós podemos habitar a Terra Portanto podemos dizer que um mundo sustentável é também um mundo ético e é por isso que a sustentabilidade é uma questão filosófica tão urgente FILOSOFIA E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS A filosofia mesmo após vários séculos de existência permanece ocupando um papel fundamental frente à sociedade diante de dilemas éticos sociais políticos e tecnológicos que marcam a contemporaneidade Em uma época marcada pela urgência das informações pelas superficialidades dos discursos e pela predominância do imediatismo pensar filosoficamente tornouse algo arcaico caracterizado como uma atitude de resistência O pensamento crítico profundo e reflexivo entra e conflito com uma sociedade que enfatiza opta pela rapidez das respostas à qualidade das perguntas Destarte coo aponta o texto vivemos em um tempo em que o pensar profundo é substituído por respostas rápidas e superficiais dificultando o desenvolvimento de cidadãos autônomos e críticos A Filosofia no entanto não se mostra alheia aos novos contextos Ela é convocada a dialogar com as transformações da era digital principalmente com o advento das mídias digitais bem como os efeitos causados pelas tecnologias da informação Em consonância com Dionizio 2018 Pierre Lévy acreditava que a grande vantagem da internet em relação ao passado estava no seu caráter interativo O otimismo de Levy 1999 o levou a dizer que isso tornaria a sociedade mais democrática Infelizmente a inocência de Levy não dava conta de explicar toda a realidade Ou seja a internet tornouse um espaço apto para a desinformação e manipulação da opinião pública Ainda de acordo com os construtos de Dionizio 2018 essa expansão e disseminação dos do acesso às informações embora promissora originou o fenômeno da fake News que intensificou a crise da verdade É válido ressaltar que os critérios de atribuição ao que é verdadeiro ou falso estão se modificando abrindo espaço para o compartilhamento de informações inverídicas a fim de ludibriar a sociedade Essa premissa corrobora a demasiada relevância da filosofia como prática do discernimento capaz de realocar perguntas fundamentais concernentes ao existir o agir e o conviver A cultura do compartilhamento rápido sem reflexão desafia a capacidade crítica do indivíduo Nesse viés a filosofia deve atuar como um freio ético e pedagógico estimulando o questionamento e a responsabilidade frente ao conhecimento A filosofia também é relevante diante da crescente fragmentação dos laços sociais e da perda de referências comuns A globalização a pluralidade de identidades e o avanço das tecnologias criaram um ambiente em que convivem diversas visões de mundo distintas porém nem sempre de forma harmoniosa É válido ressaltar que não há um único modo de vier de se relacionar com os outros e com a natureza o que torna o exercício filosófico ainda mais proeminente ele possibilita lidar co as diferenças sem apelar à intolerância ou ao dogmatismo Assim mediante as premissas supracitadas depreendese a demasiada relevância da filosofia para a promoção do pensamento autônomo e a consciência crítica Ela propõese como uma prática de resistência ao pensamento uníssono convocandonos a duvidarmos das verdades prontas Ou seja a supracitada nos instiga a formularmos boas perguntas e acolhermos a complexidade bem como sustentarmos o diálogo QUESTÕES DE GÊNERO A discussão alusiva às questões de gênero têm recebido muita visibilidade nos últimos decênios tomando impulso a partir dos movimentos sociais que reivindicam igualdade e respeito às diversidades Mediante os construtos postulados por Dionizio 2018 o debate sobre gênero sobre ser construído socialmente ou ter uma essência é um tema de enorme investigação e de discordância entre teóricos de diversas áreas Ademais segundo a supracitada gênero é uma construção simbólica que perpassa todas as esferas da vida social moldando comportamentos linguagens e práticas A crítica central recai sobre a naturalização das desigualdades frequentemente justificadas por discursos essencialistas A autora salienta que a sociedade desde tenra idade ensina o que é próprio de meninas e meninos perpetuando estereótipos que limitam as impossibilidades de atuação dos sujeitos Essa premissa é corroborada principalmente no modo com os brinquedos roupas e expectativas escolares são diferenciados são diferenciados conforme o gênero corroborando uma lógica hierárquica que privilegia o masculino Outro ponto salutar faz menção à marginalização das identidades que desvencilhamse das norma heterocisnormativa Dionizio 2018 afirma que pessoas trans não binárias e outras dissidências sofrem constantes invisibilizações e agressões físicas e verbais sendo excluídas de espaços de reconhecimento e cidadania Ademais amparada nos construtos de Beauvoir 1980 Dionizio 2018 critica que a cultura no esvair da história representou a mulher como o outro do homem e que sua identidade foi elaborada a partir de uma perspectiva masculina A supracitada salienta que o gênero não deve ser caracterizado como uma construção social mas sim como uma performance isto é os comportamentos atribuídos aos homens ou às mulheres são repetido e regulados por normas sociais Destarte a heterossexualidade deixa de ser apenas ua orientação sexual e tornase uma performance pública Assim mediante os postulados supracitados depreendese que os debates concernentes às discussões de gênero englobam as desigualdades entre homens e mulheres mas também os processos pelos quais a sociedade regula as identidades e comportamentos A superação dessas normas demanda a desconstrução de categorias fixas e o reconhecimento da pluralidade de experiências e subjetividades REFERÊNCIAS DIONIZIO Mayara et al Filosofia contemporânea Porto Alegre SAGAH 2018