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Filosofia Razão e Fé Marcas da Filosofia Medieval Percurso de Aprendizagem Unidade 2 Desenvolvimento do material Adilson Pereira Copyright 2024 Afya Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico mecânico por fotocópia e outros sem a prévia autorização por escrito da Afya Razão e Fé Marcas da Filosofia Medieval Para Início de Conversa 3 Pontos de Aprendizagem 4 Aprofundando os pontos 4 Tema 1 Legado da Filosofia Antiga Advento da Filosofia Medieval 5 Tema 2 Santo Agostinho e o Platonismo Cristão 9 Tema 3 O Desenvolvimento da Escolástica São Tomás de Aquino e o Aristotelismo Cristão 14 Teoria na Prática 20 Sala de Aula20 Infográfico 21 Direto ao Ponto 22 Referências 23 1 Para Início de Conversa Boasvindas à disciplina Filosofia Será um prazer têloa por aqui Esperamos contribuir para o aprimoramento de seu aprendizado com qualidade de forma crítica e sobretudo respondendo às suas necessidades enquanto alunoa e profissional do mercado Exploramos os dois principais filósofos do mundo grego antigo Platão e Aristóteles Este material aborda conteúdos relevantes sobre as bases do pensamento de ambos destacando sua influência sobre os pensadores que marcaram o fim da Antiguidade e o início da Idade Média No entanto uma novidade que marcou uma diferença significativa em relação à filosofia grega antiga emergiu a partir do século I dC Tratase de uma outra modalidade de conhecimento que gradualmente ampliou sua influência sobre a intelectualidade romana Também será discutido o Cristianismo e suas relações estabelecidas com a filosofia Veremos como essa interação contribuiu para o amadurecimento do pensamento de dois grandes filósofos Santo Agostinho séculos IV e V dC da Era Patrística e São Tomás de Aquino século XIII dC da Era Escolástica 3 Filosofia 2 Pontos de Aprendizagem Durante a leitura deste texto é importante compreender que a filosofia grega antiga nos legou a ruptura estabelecida pelo pensamento racional em relação à mitologia inaugurando a filosofia como um campo de conhecimento que busca entender os conceitos essenciais que atribuímos a nós mesmos e à realidade Esse legado se tornou mais evidente quando Platão e Aristóteles sistematizaram suas teorias o idealismo e o realismo que se tornaram as correntes filosóficas fundamentais do mundo antigo Além disso ao retornar ao texto observe que as bases teóricas desses dois filósofos serão novamente abordadas mas de forma diferente na produção filosófica do fim da Antiguidade e da Idade Média No entanto é importante destacar alguns pontos fundamentais tais como o que ocorreu com o pensamento filosófico grego após a morte de Platão e Aristóteles no período denominado helenismo verificar que a filosofia se relacionou com um outro tipo de conhecimento de base religiosa o cristianismo do seu primeiro da Era cristã encontrando na Filosofia a base de justificação da fé no período que ficou conhecido como Patrística perceber que matriz do pensamento de Platão retornou à cena filosófica sob a forma de neoplatonismo nos primeiros séculos depois de Cristo e como o neoplatonismo auxiliou Santo Agostinho a estruturar seu pensamento propiciando uma base sólida para a teologia cristã por fim veja como a matriz do pensamento de Aristóteles também retornou à cena filosófica mediada pelos pensadores árabes no período denominado Escolástica possibilitando fundamentar o pensamento de São Tomás de Aquino no século XIII Por fim atentese para a relação entre Filosofia e Teologia na qual os pensadores cristãos reduziram a racionalidade da Filosofia a uma atividade de serventia para se fazer Teologia tanto no período da Patrística quanto no período da Escolástica 3 Aprofundando os pontos Platão e Aristóteles proporcionaram à filosofia grega antiga o que foi considerado uma revolução intelectual estabelecendo as bases de pensamento que perduram até hoje Platão filósofo do idealismo e Aristóteles filósofo do realismo criaram concepções filosóficas que transcenderam suas próprias eras ressurgindo com vigor renovado no final da Antiguidade e durante a Idade Média Além disso discutiremos a interpretação predominante da filosofia medieval onde alguns autores afirmam que o desenvolvimento teórico de Santo Agostinho foi influenciado pela cristianização do pensamento de Platão O mesmo se diz do pensamento de São Tomás de Aquino que teria sido moldado pela cristianização das ideias de Aristóteles 4 Filosofia Tema 1 Legado da Filosofia Antiga Advento da Filosofia Medieval Os filósofos clássicos da filosofia antiga como os présocráticos os sofistas Sócrates Platão e Aristóteles tornaramse referência fundamental para o desenvolvimento do pensamento filosófico nos séculos seguintes A partir do século III aC uma nova geração de pensadores emergiu seguindo uma profunda transformação no mundo ocidental devido ao crescimento e fortalecimento do cristianismo a partir do século I dC Foi a crença em Jesus Cristo que teve poder suficiente para influenciar significativamente as reflexões filosóficas provenientes do mundo antigo Com suas verdades de fé baseadas na revelação divina o cristianismo se tornou o foco central das discussões filosóficas no final da Antiguidade e mais especificamente a partir do século I dC permeando todo o período medieval Objetivos de Aprendizagem Conhecer as bases do helenismo e a emergência da filosofia medieval Identificar as principais correntes filosóficas que estabeleceram os fundamentos da filosofia medieval Conteúdo 11 Bases do Helenismo Preparando o Ambiente da Filosofia Cristã Medieval Quando pensamos em filosofia certamente nomes como Sócrates Platão e Aristóteles vêm à mente pois já fazem parte de nossa cultura associados ao ato de filosofar Mas o que surgiu em termos de filosofia após a morte desses filósofos clássicos Sabemos que seus alunos amigos e discípulos que acompanharam suas discussões e registraram suas ideias possibilitaram que gerações futuras tivessem acesso ao pensamento de seus mestres Ao mesmo tempo outros filósofos surgiram após o século IV aC trazendo novas questões para o cenário filosófico A partir do século III aC a filosofia se concentrou em questões éticas e no sentido de uma vida que valesse a pena ser vivida Um exemplo é Epicuro de Samos conhecido por sua ética baseada no prazer Para ele a felicidade consistia em encontrar prazer nas coisas simples da vida A razão era vista como um meio de aprimorar o prazer permitindo que o ser humano alcançasse verdadeira autonomia livre de qualquer domínio externo Um exemplo do pensamento ético epicurista pode ser encontrado na maneira como nos alimentamos Se considerarmos que nos alimentamos de pão e reconhecemos isso como necessário para nossa satisfação o simples ato de comer já deveria ser suficiente para alcançar o contentamento Não precisaríamos de nada além do sabor básico do pão o prazer deveria ser encontrado no que é simples e essencial Por 5 Filosofia outro lado no mundo contemporâneo existe um descontentamento vertiginoso que adiciona inúmeras camadas ao simples ato de comer pão complicando seu sabor com uma infinidade de elementos e possibilidades às vezes obscurecendo a própria experiência do sabor e nos tornando dependentes de coisas que não são essenciais mas secundárias Essa situação exemplifica um problema mais profundo do ponto de vista da ética epicurista Uma pessoa que se torna dependente de múltiplos sabores para apreciar um simples pedaço de pão não está preparada para enfrentar as dificuldades da vida Ela se acostuma com prazeres considerados sofisticados mas que são insaciáveis Como podemos ver a Ética do prazer proposta por Epicuro convida o ser humano a reavaliar o que é verdadeiramente essencial e a valorizar o que é natural O exemplo de Epicuro ilustra como a filosofia grega antiga emergente a partir do século III aC não se limitava mais aos grandes sistemas filosóficos que buscavam responder a uma ampla gama de questões humanas como mencionamos anteriormente Assim posteriores à Platão e Aristóteles emergiram teorias circunscritas a problemas bem delimitados Observe o quadro a seguir Filósofo Corrente Filosófica Teoria Objeto de investigação Epicuro séc III aC Epicurismo O prazer como fruto de racionalização sobre a vida em função da felicidade Ética Zenão de Cício séc III aC Epicteto séc I dC Sêneca séc I dC Marco Aurélio séc II dC Ética Propõe uma ética de controle das paixões baseada na apatia isto é não se deixar perturbar por coisa alguma alegre ou triste É uma ética de resiliência para se alcançar a felicidade Estoicismo Pirro de Élis séc III aC Arcesilau séc III aC Carnéades de Cirene séc II aC Ceticismo Acadêmicos Pirro acompanhou Alexandre o Grande conhecendo a cultura da Pérsia e da Índia Na Grécia fundou o ceticismo ou pirronismo escola filosófica que se utiliza da dúvida de forma radical Arcesilau e Carnéades tornaram a Academia de Platão uma escola do ceticismo O conhecimento Diógenes de Sinope séc IV aC Cinismo Tinha como base que a vida deveria seguir as leis naturais de modo que o homem livre seria aquele que de coisa alguma pudesse depender repudiando as convenções sociais Ética Cícero séc I dC Ecletismo Doutrina que seleciona princípios das várias teorias filosóficas para utilizá las na solução de problemas O ecletismo se utiliza da liberdade de conciliar teorias diversas até contraditórias Ética e Direito 6 Filosofia Pensadores diversos Gnosticismo Doutrina que integrava conhecimento místico cristianismo e filosofia grega com interpretações variadas O acesso ao conhecimento se dava somente para iniciados pois os gnósticos se organizavam em grupos fechados O conhecimentoa verdadea magia Plotino séc II dC Neoplatonismo Utilizavam a base teórica de Platão para produzir explicações sobre os mais variados temas sobre a origem do conhecimento e do mundo atingiu seu apogeu no século III da Era cristã Teve por retaguarda as cidades de Atenas e de Alexandria e por cenário principal a cidade de Roma Amônio Sacas séc II dC foi considerado o fundador mas foi Plotino seu discípulo quem formulou e divulgou o neoplatonismo em Roma cujo discípulo brilhante Porfírio também do séc II dC auxiliou nessa tarefa O conhecimentoa verdadea ética Quadro 1 Teorias filosóficas Helenismo Fonte Elaborado pelo autor Com base no panorama das teorias filosóficas do Helenismo vamos esclarecer melhor o desenvolvimento da filosofia desde o século III aC até o início da Idade Média no século V dC É importante lembrar que os grandes filósofos da era dourada da filosofia pertenciam ao mundo grego sob o paradigma da democracia Em Atenas as teorias desses filósofos eram frequentemente discutidas no contexto da ética aplicada à política Por exemplo ao examinarmos a ética de Aristóteles vemos que para ele o indivíduo que busca uma vida virtuosa deve exercêla no espaço político Daí vem o significado que Aristóteles atribuía ao termo aristocracia que denotava o governo dos virtuosos ou seja indivíduos de excelência moral capazes de estabelecer leis justas e consequentemente promover uma governança justa Devemos lembrar que na época de Aristóteles ocorreu a invasão macedônica liderada pelo imperador Felipe Após sua morte o império macedônico que havia conquistado as cidades gregas passou para seu filho Alexandre o Grande que foi discípulo de Aristóteles Foi neste ambiente imperial que a democracia grega chegou ao fim pois as leis passaram a ser impostas sem discussões ou debates argumentativos sendo determinadas apenas pela vontade do imperador Mesmo após a morte de Alexandre a democracia grega não se restabeleceu pois logo em seguida Roma assumiu o controle da região grega No entanto Alexandre deixou um legado significativo ao expandir não apenas o império macedônico mas também a disseminação da cultura grega nas regiões conquistadas Isso permitiu que as obras dos filósofos gregos fossem difundidas para além dos limites do mundo grego conhecido Assim a leitura e o estudo das obras filosóficas gregas se misturaram a novas interpretações dando origem a novas teorias filosóficas como as que apresentamos no Quadro 1 Esse período da história do pensamento ocidental é conhecido como Helenismo que se refere ao mundo helênico ou grego que se disseminou para outras culturas O mesmo fenômeno ocorreu com Roma que se tornou o novo império dominante no século II aC absorvendo a cultura grega e sendo profundamente influenciada pelo Helenismo especialmente em termos de filosofia e religião 7 Filosofia 12 Helenismo Gnosticismo e o Maniqueísmo Já sabemos que o período denominado helenismo se iniciou com a expansão do império macedônio a partir da empreitada de Alexandre o Grande no século III aC e que a semente helênica plantada nos povos conquistados permitiu à filosofia grega se fundir com as culturas desses povos Surgiram assim diversas interpretações diferenciadas do pensamento clássico grego como o surgimento de várias seitas entre elas o Gnosticismo que combinava elementos de mística oriental filosofia grega e até mesmo fé cristã em um amalgama rico em concepções pseudofilosóficas Um exemplo notável é a seita que teve origem na Pérsia na primeira metade do século III dC fundada por Manés 215276 que misturou doutrinas de Zoroastro com elementos do cristianismo criando uma doutrina que buscava a fusão de ambas as concepções Esta seita foi chamada de Maniqueísmo e adotou o conceito de dualismo coexistência de dois princípios oriundo da tradição filosófica de Platão como pressuposto para compreender a realidade O dualismo proposto pelo Maniqueísmo caracterizavase como um conjunto de crenças de fundo moral que explicava a constituição do mundo como uma eterna luta entre Bem e Mal O Maniqueísmo teve sua fonte primária no zoroastrismo persa de onde herdou não apenas a dualidade entre bem e mal mas também a concepção cosmológica Na cosmologia maniqueísta os astros desempenhavam um papel fundamental eles se inseriam na ordem estabelecida pelas substâncias em conflito das quais tudo emanava Assim a luta moral do indivíduo consistia em aderir ao bem e à luz em oposição ao mal e às trevas Citamos o Maniqueísmo porque ele será de extrema importância mais adiante quando analisarmos o pensamento de Santo Agostinho e compreendermos nosso estudo de caso Em resumo durante o helenismo diversas concepções filosóficas surgiram conforme explicado no quadro anterior incluindo interpretações pseudofilosóficas como a seita Maniqueísta Desde o século III aC até os primeiros séculos da Era Cristã essas correntes filosóficas buscaram sistematizar suas teorias formando um conjunto plural de interpretações filosóficas muitas delas voltadas para uma ética como sentido da vida Se por um lado na antiguidade clássica tínhamos Atenas do século IV aC como referência central do fazer filosófico nos primeiros séculos da Era Cristã foi Roma no século I dC que se tornou o centro de poder e atenção atraindo filósofos e outros intelectuais da época Foi nesse contexto que se configurou a realidade que possibilitou o surgimento da filosofia cristã nos primeiros séculos a qual se sistematizou ao longo do período medieval Ao longo deste tema destacamos que o pensamento de Platão e Aristóteles influenciou outros pensadores do fim da antiguidade na estruturação das teorias que marcaram os últimos séculos desse período antes do marco histórico que reformulou o calendário do Ocidente o nascimento de Cristo Esse período do fim da Idade Antiga foi rico em teorias filosóficas de base ética as quais exerceram profunda influência na sistematização da teologia cristã como o estoicismo e o gnosticismo Como último ponto observamos a compreensão dos principais filósofos cristãos 8 Filosofia Além da Sala de Aula Nesse conteúdo abordase como se estruturou o período do helenismo para o pensamento filosófico ocidental Não é por menos que ao tratar do helenismo e do início da filosofia cristã o texto em evidência se chama Todos os caminhos levarão a Roma Todos esses pontos são tratados por Ghiraldelli 2010 por isso faça a leitura da página 53 a 67 do livro A aventura da filosofia disponível na Minha Biblioteca Lembrese de que para iniciar a leitura do livro sinalizado é necessário fazer login no Ambiente Virtual de Aprendizagem e em seguida na Minha Biblioteca Título O helenismo e o início da filosofia cristã Páginas indicadas 53 a 67 Referência GHIRALDELLI JR P A aventura da filosofia de Parmênides a Nietzsche São Paulo Manole 2010 Tema 2 Santo Agostinho e o Platonismo Cristão O helenismo alcançou Roma transcendendo o mundo grego Em Roma a partir do século I dC havia uma diversidade de teorias filosóficas convivendo com diversas seitas que mesclavam filosofia e misticismo religioso como veremos ao discutir o gnosticismo O Império Romano tinha Roma como centro de um mundo cosmopolita mas isso não significava que todas as crenças e teorias filosóficas fossem valorizadas de igual forma Entre as seitas os cristãos foram violentamente perseguidos Aquele que foi crucificado com a inscrição em latim Iesus Nazarenus Rex Iudeorum Jesus Nazareno Rei dos Judeus apresentado pelos judeus como uma ameaça ao imperador continuava sendo um problema para Roma pois os cristãos acreditavam na ressurreição de Jesus Como essa seita se tornou a religião do Império Romano Da mesma forma que as contribuições da filosofia grega influenciaram os pensadores cristãos nos primeiros séculos de sua existência Objetivos de Aprendizagem Conhecer o neoplatonismo como base da filosofia cristã Entender as bases do pensamento de Santo Agostinho e sua influência para a filosofia cristã Compreender o pensamento de Santo Agostinho como fruto do período da Patrística Acesse aqui 9 Filosofia Conteúdo 21 O Cristianismo De Seita Judaica Perseguida à Construção das Bases Teológicas Neoplatônicas O século I dC marcou o surgimento de uma nova religião que teve um impacto profundo na civilização ocidental com o nascimento de Cristo De uma seita judaica em poucos séculos tornouse a religião oficial do Império Romano alterando radicalmente a cultura inclusive introduzindo um novo calendário o calendário gregoriano Esse nome foi dado porque em 1582 no final do século XVI o Papa Gregório XIII 15021585 promoveu um ajuste nas datas para corrigir uma pequena discrepância entre o calendário lunar e o solar levando em consideração os equinócios e as estações do ano Mas voltemos ao século I quando muitas pessoas aderiram ao cristianismo apesar das perseguições implacáveis do Império Romano que frequentemente levava os cristãos ao martírio com extrema violência Nos primeiros séculos do cristianismo havia uma busca por um entendimento mais profundo o qual encontraram no contato com a metafísica da filosofia neoplatônica Os textos dos evangelhos escritos no primeiro século refletiam concepções alinhadas com o escopo teórico da filosofia neoplatônica Em termos de exemplo podemos citar o Evangelho de João que se inicia com a expressão 1 No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus 2 Ele estava no princípio com Deus 3 Todas as coisas foram feitas por ele e sem ele nada do que foi feito se fez 4 Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens Essa passagem tem profundo significado quando investigamos a metafísica de Platão pois Verbo significa Palavra o Lógos grego do qual tudo procedeu a perfeição o Ser Assim do encontro da filosofia grega com o cristianismo emergiu uma nova área de conhecimento sistematizada entre os cristãos com muito valor Nos referimos aqui à Teologia 22 Bases da Patrística Como vimos os primeiros séculos da Era Cristã transformaram a Antiguidade em uma era marcada por uma nova modalidade de pensamento Os problemas que emergiram com o aparecimento de Jesus o Cristo orbitavam em torno de questões como Deus sua substância onipresença existência una e trina a perfeição divina e as relações entre o mundo espiritual e material entre outras questões teológicas Não se tratava mais apenas de discutir justiça beleza ou política pois essas questões passaram a fazer parte da teologia cristã Vários pensadores deixaram sua marca nos séculos iniciais da Era Cristã como Clemente de Alexandria 150215 dC Orígenes 185254 dC Tertuliano 160240 dC Ambrósio de Milão 340397 Jerônimo 347420 entre outros Esses pensadores nutriam a defesa da fé utilizando bases filosóficas por isso foram denominados de pensadores da patrística ou melhor dizendo foram considerados os pais do modo de pensar teológico do cristianismo também denominados padres da Igreja Nesse movimento patrístico destacase o pensamento filosóficoteológico de Santo Agostinho 10 Filosofia Agostinho cujo nome era Aurelius Agostinus 354430 deixou muitas obras mas vamos sintetizar os principais temas de seu pensamento e as contribuições que suas obras trouxeram para a sistematização da filosofia cristã Uma de suas obras que resume seu desenvolvimento intelectual é Confissões publicada entre 397 e 401 Nesta obra ele fundamenta questões essenciais como Deus felicidade e vida justa Agostinho narra seu amadurecimento intelectual começando com a leitura de Cícero filósofo romano e depois passando nove anos como seguidor dos maniqueístas uma seita do gnosticismo Em Confissões Agostinho relata seu abandono do maniqueísmo e sua adoção de uma postura cética influenciada pela filosofia dos Acadêmicos que duvidavam de tudo Para esses filósofos não havia possibilidade de existir uma verdade absoluta pois tudo era relativo Essa posição cética foi desafiada e superada por Agostinho após sua conversão ao cristianismo 23 O Contato Inicial de Agostinho com o Neoplatonismo Agostinho teve seu primeiro contato com o neoplatonismo através das influências do pensamento de Ambrósio que se tornou bispo de Milão em 374 À medida que Agostinho mergulhava nos discursos de Ambrósio ele começou a perceber o significado da transcendência presente na Sagrada Escritura interpretada de forma alegórica A ideia de substância espiritual que era nova para Agostinho trouxe uma nova interpretação para a afirmação bíblica de que o homem foi criado à imagem de Deus A tradição maniqueísta da qual Agostinho havia absorvido suas ideias sobre a criação do homem ensinava a eterna luta entre o bem e o mal e atribuía materialidade à existência de Deus ensinando que tudo iluminado tinha sua origem em Deus enquanto tudo que era de trevas vinha de Satanás Novamente Agostinho percebeu o quão limitado havia sido seu racionalismo e compreendeu que a chave para interpretar a Sagrada Escritura estava na compreensão da transcendência como uma descoberta da interioridade humana e não algo externo aos sentidos corporais Superando as concepções maniqueístas e o ceticismo o contato com Ambrósio permitiu a Agostinho conhecer as obras neoplatônicas de Plotino que exerceram profunda influência em sua visão de mundo Essa influência o ajudou a resolver uma série de questões como a natureza da verdade e sua acessibilidade o problema do mal a concepção da criação o significado do pecado entre outros 24 O Neoplatonismo de Plotino Agostinho entrou em contato com o pensamento de Plotino que não era simplesmente um seguidor de Platão mas sim um neoplatônico O neoplatonismo é uma vertente da filosofia ocidental que preserva as doutrinas centrais de Platão ao mesmo tempo em que as desenvolve de maneiras originais Entre essas ideias preservadas estão a transcendência absoluta do divino a imortalidade da alma e o ciclo de reencarnações a dualidade entre corpo e alma a superioridade da alma sobre o corpo e a distinção entre o mundo celestial e o terreno 11 Filosofia Confira no quadro a seguir as diferenças entre Platão e Plotino Platão Plotino O mundo das ideias é estático e imutável O Uno é dinâmico Dele emanam todas as coisas As ideias não procedem umas das outras A processão não é apenas um conceito intelectual mas real todos os seres da escala ontológica procederiam do Uno O Uno platônico é causa exemplar de todos os seres O Uno não é somente causa exemplar mas causa eficiente por emanação de todos os seres As relações entre o mundo inteligível e o mundo sensível são distantes no sentido de o mundo sensível parecer resultado de um capricho do Demiurgo daí a ideia apresentada no Mito da Caverna de que o mundo seria uma pálida sombra proveniente por imitação do mundo das ideias O mundo sensível é uma exigência da bondade efusiva do Uno portanto a relação é de necessidade entre ambos os níveis da realidade Quadro 2 Comparação entre Platão e Plotino Fonte Elaborado pelo autor Agostinho interpreta as ideias de Plotino para fundamentar as verdades de Fé com as quais havia tomado contato a partir dos sermões de Ambrósio Em síntese Agostinho atingiu finalmente as seguintes descobertas A verdade é possível Deus não é matéria tampouco a alma o é Os dogmas cristãos se iluminam ao contato com a Filosofia neoplatônica A fé se coloca em primazia à razão no entanto a razão auxilia na compreensão da fé A finalidade do homem é ser feliz e a felicidade consiste na contemplação da verdade que é Deus 25 A Doutrina da Iluminação Desde sua conversão ao cristianismo Agostinho descobriu que a verdade é alcançada por aquele que se entrega a ela e que sendo Deus a fonte da Verdade a adesão a Deus não é simplesmente um ato da razão que apenas especula mas sim um ato de fé Daí a expressão de Agostinho Creio para compreender compreendo para crer onde fica claro que a fé está em primeiro lugar embora a razão também tenha o papel de auxiliar na compreensão da fé A Teologia como atividade baseada na fé e que utiliza a razão para fundamentar as verdades de fé assume essa tarefa A verdade portanto é acessível a todo ser humano tendo sua fonte em Deus que é a causa e providência de todo o Bem Nesse sentido surge a questão do mal se Deus é a fonte de toda a realidade incluindo o mal que vemos pecado injustiça sofrimento seria Ele também o autor do mal Esta questão foi central na época de Agostinho e gerou muitas obras que combatiam o maniqueísmo cuja doutrina encontrava aceitação fácil ao sugerir uma batalha direta 12 Filosofia entre o bem e o mal No entanto Agostinho rejeitou essa ideia ao elaborar sua doutrina sobre o mal Em resumo o argumento de Agostinho se baseia na ideia de que Deus criou tudo por um Amor absoluto e pelo Bem Sua criação reflete vestígios do Criador de modo que todas as coisas contribuem de maneira hierárquica para estabelecer a ordem natural A ordem natural segundo Agostinho é a expressão do próprio amor de Deus denominada por ele de Ordo Amoris a ordem do amor Ao contemplarmos a natureza não percebemos mal algum pois tudo contribui para uma cadeia de bens interconectados através de necessidades No entanto o ser humano dotado de livre arbítrio possui a capacidade de escolher o mal ou seja fazer escolhas prejudiciais para si mesmo Como consequência desequilibra a realidade introduzindo o mal e o pecado na ordem natural Mas poderia haver algum mal a ser escolhido Não Toda escolha seria feita com base na busca por algum bem a ser alcançado Assim mesmo o pior dos seres humanos poderia fazer escolhas visando algum bem O problema residiria então em determinar se o bem almejado poderia ser genuinamente escolhido Não haveria um mal a ser escolhido mas sim a possibilidade de uma má escolha Qual seria o remédio para esses erros Segundo Agostinho se o pior dos seres humanos ama de maneira incorreta o remédio estaria em aprender a amar corretamente Assim aquele que ama incondicionalmente e sem buscar a própria gratificação no objeto amado seria quem acerta em amar Amar de forma desinteressada reconhecendo que aquele que é amado é um reflexo de Deus tratandoo como um fim em si mesmo e não como um meio para alcançar algum objetivo Amar da maneira como Jesus ensinou que se deveria amar A partir dessas ideias uma série de questões políticas éticas estéticas e outras foram refletidas resultando em um conjunto de obras harmoniosas e interconectadas O legado de Agostinho perdurará por muitos séculos consolidando a teologia católica e influenciando outros pensadores que se alinharam à sua visão teológica Ao longo deste tema destacamos que o mundo grecoromano fundamentado na filosofia helênica foi profundamente transformado pela Fé cristã É evidente que a teologia cristã não surgiu independentemente da contribuição da filosofia grega especialmente do neoplatonismo Os primeiros séculos do cristianismo marcaram o estabelecimento dos fundamentos dessa nova religião que originada do judaísmo transcendeu fronteiras ao se tornar universal a salvação proposta por Cristo era destinada a toda a humanidade Essa dimensão de fé a salvação poderia ter sido facilmente apagada da história se o cristianismo não tivesse sido adotado por intelectuais do Império Romano que o justificaram pela razão Esses pensadores proporcionaram ao cristianismo o discurso filosóficoteológico necessário para fundamentar seus dogmas a Unidade Trina de Deus a divindade de Jesus Cristo a identidade divina do Espírito Santo e a unidade do Pai Filho e Espírito Santo como uma única entidade divina 13 Filosofia Assim o credo cristão como recitado no Credo de Niceia 325 dC aparenta ser um ato de fé mas teologicamente fundamentado derivado da metafísica neoplatônica que fundamentou o pensamento de um dos mais influentes pensadores da Idade Média Santo Agostinho Com ele a filosofia cristã se tornou um edifício bem estruturado com uma base filosófica sólida Nos séculos seguintes à morte de Agostinho a unidade do Império Romano já não existia dando início à Idade Média com seus diversos reinos e modos de vida Nesse novo contexto a unidade não era mais garantida pelo poder temporal do imperador mas sim pela autoridade espiritual do papa e do clero eclesiástico Além da Sala de Aula O texto oferece um aprofundamento do pensamento de Santo Agostinho levandonos a compreender que para ele a verdade é interpretada de forma distinta da tradição greco romana Agostinho não considera a verdade como um produto da mente humana pelo contrário ele a identifica como sendo Deus que se revela ao ser humano e o ilumina Este artigo foi escolhido em função de o autor ser um reconhecido pesquisador do pensamento de Agostinho que nos conduz nesta reflexão Ele demonstra como Agostinho superou o pensamento grecoromano ao afirmar que se a Verdade é Deus então filosofar no sentido cristão é buscar a verdadeira felicidade pois a filosofia leva ao encontro com Deus Todos esses pontos são tratados por Costa 2014 por isso faça a leitura a página 131 a 140 do texto Philosophiae portus e arx philosophiae apropriação e superação agostiniana da tradição filosófica GregoRomana em relação à felicidade Título Philosophiae portus e arx philosophiae apropriação e superação agostiniana da tradição filosófica Grego Romana em relação à felicidade Páginas indicadas 131 a 140 Referência COSTA M R N Philosophiae portus e arx philosophiae apropriação e superação agostiniana da tradição filosófica Grego Romana em relação à felicidade TransFormAção Marília v 37 n 3 p 131142 SetDez 2014 Tema 3 O Desenvolvimento da Escolástica São Tomás de Aquino e o Aristotelismo Cristão O mundo oriental seguiu um caminho distinto da tradição ocidental Referimonos aqui à cultura árabe e ao contato que seus pensadores tiveram com a filosofia grega Enquanto os primeiros séculos da Era Cristã viram o contato platônico e neoplatônico que culminou na teologia de Santo Agostinho no século V foi apenas nos séculos XI Acesse aqui 14 Filosofia e XII que as obras de Aristóteles foram redescobertas pelos pensadores árabes Eles traduziram e difundiram a filosofia analítica proposta por Aristóteles Avicena 980 1037 médico político e filósofo harmonizou a doutrina de Maomé com a filosofia aristotélica influenciado por AlFarabi Por sua vez Averróis 11261198 também médico juiz e filósofo dedicouse profundamente às obras de Aristóteles tornando se um comentarista oficialmente reconhecido Suas obras exerceram grande influência sobre a Escola de Paris uma das principais universidades formadoras da intelectualidade da época A história revela que Maomé 571632 unificou as tribos beduínas sob a crença em um único Deus Alá o Grande Com esse poder os árabes governaram a Península Ibérica por séculos deixando um profundo impacto cultural Por exemplo Lisboa foi reconquistada pelos cristãos em 1147 Córdoba em 1236 e Granada em 1492 Desde o século VIII o mundo ocidental mantinha relações significativas com a cultura árabe resultando na consolidação de dois modelos de civilização distintos marcados por crenças costumes e idiomas divergentes Não é surpresa que São Tomás de Aquino 12251274 tenha entrado em contato com as traduções de Aristóteles promovidas pelos pensadores árabes Inicialmente havia resistência às obras de Aristóteles devido à tradição neoplatônica que era profundamente contrária a Aristóteles No entanto essa resistência foi dissipando se quando São Tomás de Aquino conciliou as teorias de Aristóteles com as verdades da fé cristã Ele escreveu uma obra que se tornou um compêndio do conhecimento de sua época a Suma teológica Summa Theologiae Essa obra que significa síntese da Teologia apresentava os principais ensinamentos da Igreja os dogmas a doutrina católica e todas as questões teológicas foram analisadas sob a ótica das obras de Aristóteles e de outros filósofos neoplatônicos Objetivos de Aprendizagem Conhecer as bases do movimento escolástico Identificar os elementos inerentes ao movimento escolástico e sua relação com o pensamento tomista Analisar o processo de cristianização do pensamento de Aristóteles Identificar o pensamento de São Tomás de Aquino como marco do aristotelismo cristão Conteúdo 31 A Filosofia de Aristóteles como Base do Pensamento Tomista Para uma compreensão mais adequada do pensamento de São Tomás de Aquino século XIII é importante considerar que o cristianismo já estava consolidado e que obras gregas estavam sendo traduzidas para o latim compiladas em mosteiros e guardadas em bibliotecas Ordens religiosas que tinham forte tradição de formação 15 Filosofia espiritual e intelectual formavam o clero garantindo o que poderíamos chamar de unidade educacional Esse conceito foi consolidado no século IX originando o termo escolástica cujo movimento se estendeu até o século XVI É na esteira da escolástica que surge o pensamento de São Tomás de Aquino cuja teologia se fundamentou no pensamento de Aristóteles Vale a pena lembrar que Aristóteles construiu sua abordagem a partir do conceito de Lógos Aristóteles compreendeu que o mundo é estruturado pelo Lógos ou seja pela Razão e que tudo pode ser explicado racionalmente Em Aristóteles encontramos a metafísica como um elemento constituinte do mundo físico Para clarificar consideremos um exemplo ao observarmos uma ponte que se estende por centenas de metros sobre um rio sua estrutura é evidentemente composta por aço concreto e outros materiais que lhe conferem sua materialidade mundo físico No entanto sem o cálculo matemático que precede sua construção aspecto metafísico toda essa materialidade seria inútil Assim o que não é físico a matemática fundamenta o que é físico a ponte mostrando que não podemos separar essas realidades exceto para fins de compreensão ao explicálas à luz da razão Com Aristóteles a metafísica que representa a realidade inteligível acessível apenas pela razão não se separa da física Portanto podemos concluir que a realidade material está intrinsicamente ligada à sua base metafísica Outro princípio fundamental no pensamento de Aristóteles é o movimento dos corpos Se o movimento de algo é causado por um fator externo então esse movimento é causado por um motor ou seja por uma causa que induz o movimento do objeto Ao investigarmos a causa de um determinado motor chegamos à conclusão de que ele também precisaria de outro para lhe causar movimento e assim sucessivamente Aristóteles concluiu que a realidade não poderia implicar uma sucessão infinita de motores o que implica a existência de um primeiro motor aquele que seria a causa do movimento de todos os outros Esse motor seria imóvel pois seria a causa primordial de todos os movimentos e ao mesmo tempo a causa de si mesmo não necessitando de um outro agente causador Daí a ideia do motor imóvel da causa não causada da potência primeira tratadas em sua obra A Metafísica Quando São Tomás de Aquino teve acesso a essas ideias assim como ocorreu com os pensadores árabes sua mente se iluminou ao descobrir nas ideias de Aristóteles as bases extremamente esclarecedoras para a teologia cristã O motor imóvel era identificado como Deus a causa não causada e a potência primeira de todas as potências necessárias para o funcionamento do mundo A metafísica sendo fruto da mente divina explicaria a materialidade do mundo como seu fundamento Dessa forma uma série de conceitos metafísicos emergiram como ferramentas para a compreensão da realidade mundana da natureza e da existência humana Ato Potência Essência Ser ente e outros tantos conceitos metafísicos se tornaram a base de explicação das questões teológicas do cristianismo Nessa linha de pensamento emergiu o pensamento de São Tomás de Aquino como um edifício sólido fundamentado em bases robustas que permitiram um tratamento 16 Filosofia analítico da religião cristã É importante lembrar que o método analítico utilizado por Aristóteles na filosofia parte do princípio de dividir uma questão em tantas partes quantas forem necessárias Ao conhecer detalhadamente cada uma dessas partes é possível compreender adequadamente o todo Esse método é essencial para fundamentar o conhecimento científico sendo aplicável a qualquer campo do saber que busque uma formulação científica precisa Ao contrário da dialética que se baseia no princípio da contradição e é expressa por meio de disputas argumentativas uma prática conhecida e cultivada por séculos a abordagem analítica de Aristóteles havia sido negligenciada até o ressurgimento de suas obras na cena intelectual No entanto o contexto no qual a análise analítica foi aplicada durante a escolástica medieval pouco se assemelha ao contexto original em que Aristóteles desenvolveu seu pensamento No século XIII as preocupações predominantes eram de natureza teológica Assim a mais alta forma de conhecimento era considerada a Teologia e qualquer método que contribuísse para fundamentar esse conhecimento era bemvindo entre os círculos intelectuais cristãos 32 A Existência de Deus Foi o método analítico de Aristóteles que permitiu à Tomás de Aquino elaborar as teses racionais para comprovar a existência de Deus e sintetizar o conhecimento que se tinha como suporte na época em que sua obra a Suma teológica foi escrita Em síntese as provas se fundamentavam nos seguintes princípios Podemos chegar à Deus pela razão A primeira via caminho seria a ideia do motor imóvel isto é Deus seria a causa primeira e portanto a causa que não foi causada por coisa alguma A segunda via demonstra racionalmente a causa eficiente das coisas em que é necessário se admitir uma causa eficiente primeira à qual todos dão o nome de Deus A terceira a ideia do ser necessário em que não seria possível proceder ao infinito nos seres necessários que teriam uma causa de sua necessidade por isso devese admitir um ser necessário como causador de todos os outros A quarta se relaciona aos graus do ser em que se conclui que haveria também um Ser que seria causa de todos os seres Por fim a quinta e última trata da ordem que está presente no universo que se refere ao princípio de ordenamento de todas as coisas por sua teleologia isto é pelo seu télos palavra grega que significa fim no sentido de finalidade Ora o mundo estaria organizado teleologicamente isto é tudo o que vemos cumpriria uma finalidade de sorte que o princípio fundamental do télos seria o causador de toda a teleologia de modo que a ordem universal não seria aleatória Boehner Gilson 2000 Eis portanto a existência de Deus demonstrada como arquiteto do princípio de ordem 17 Filosofia 33 A Criação e o Homem Como podemos perceber os conceitos relacionados à existência de Deus conforme abordados na teologia tomista permitem inferir questões fundamentais como a criação do mundo e do homem Conforme nos apresentam Boehner e Gilson 2000 p 460 Deus deu existência ao mundo por um ato livre de natureza espiritual e pressupõe que Deus conheça aquilo que quer criar Nesse sentido Deus primeiro criou a ideia como princípio da constituição da realidade a partir da qual as formas concretas emergiram Contudo a mente humana não teria como compreender como Deus procedeu com a criação pois em Deus segundo Tomás de Aquino em seu plano de criação universal não poderia ser explicado pelo modelo de planejamento que o ser humano possui Por exemplo a mente humana é capaz de planejar algo daí ela procura a matéria para dar corpo ao que foi planejado institui após o conjunto de atos que irão configurar o projeto tornandoo efetivo e por fim a coisa planejada se torna concretizada Em Deus não seria assim Sendo potência absoluta a razão em Deus conduzida por sua perfeição projetou a realidade como a conhecemos tendo por base as partes que se constituíram no tempo De sorte que a criação do homem obedeceria ao projeto e princípio de ordenação do mundo e das coisas sendo o homem um ser inteligente e consciente de sua dependência ao criador Assim o ser humano dotado de sua livre vontade pode se afastar da perfeição que é Deus Essa liberdade conforme argumentado por Santo Agostinho permite ao homem escolher se afastar da fonte do Bem tornandose deficiente em Bem por sua própria escolha Privarse do Bem por escolha própria implica contentarse com um bem limitado e egoísta Este é o significado do pecado no mundo e como ele distancia o homem de sua natureza original que é ser imagem e semelhança do Criador São muitas as questões que São Tomás de Aquino passou a analisar ao integrar o pensamento de Aristóteles à Teologia Assim a religião como objeto de investigação tornouse a análise dos modos como ela traduz o sagrado para os seres humanos e como ela responde adequadamente às questões de natureza física e metafísica conciliando os dogmas de fé a Sagrada Escritura a Tradição da Igreja e as verdades teológicas consolidadas ao longo dos séculos Essas linhas não esgotam o emaranhado de conceitos que poderiam ser investigados pois a Suma Teológica é extensa em suas explorações dos mais variados temas Contudo é importante destacar que o pensamento de Tomás de Aquino permitiu a construção de uma filosofia da religião baseada nas contribuições da filosofia cristã especialmente da escolástica que introduziu uma novidade significativa ao integrar o pensamento aristotélico ao escopo teológico cristão permanecendo influente até os dias de hoje São Tomás de Aquino pode ser considerado um arquiteto dessa perspectiva A partir de seu pensamento e concepção metafísica a religião cristã se tornou mais solidamente fundamentada no uso da racionalidade complementando a base estabelecida pela 18 Filosofia patrística Em resumo o método de pensamento tomista permitiu abordar o fenômeno religioso de maneira analítica proporcionando um tratamento racional às questões da fé cristã Isso resultou em uma fundação robusta contra as heresias conforme pretendido pelo movimento escolástico cujo objetivo era apresentar o conhecimento com bases teológicas sólidas Dessa forma todas as questões humanas poderiam ser respondidas e justificadas de maneira a serem apresentadas ao mundo Ao longo deste tema exploramos o período conhecido como Escolástica que teve início no século IX e alcançou seu ápice no século XIII com o pensamento de São Tomás de Aquino Esse período ocorreu durante a Idade Média quando os vários reinos estavam estabelecidos em seus respectivos poderes e a Igreja se tornou a unidade central do mundo cristão A defesa das verdades da fé e a perpetuação do conhecimento considerado verdadeiro foram os pilares da escolástica Nesse contexto a teologia de Santo Agostinho do século V deu lugar a uma nova abordagem teológica mais analítica influenciada pela sistematização das obras de Aristóteles como se vê na Suma Teológica de São Tomás de Aquino Não é à toa que o pensamento tomista representa uma nova forma de fundamentar as verdades da fé Na prática escolástica o conhecimento era visto como estático e as verdades filosoficamente fundamentadas eram consideradas abrangentes o suficiente para explicar todas as coisas A Suma Teológica oferece explicações para uma ampla gama de áreas do conhecimento humano daquela época No entanto essa crença na estabilidade do conhecimento foi questionada nos séculos subsequentes a Tomás de Aquino o que será tema do próximo tema abordado Além da Sala de Aula Temos neste conteúdo outras informações sobre o modo como Tomás de Aquino sistematizou suas ideias É perceptível um outro modo de escrita e de abordagem daí a necessidade de leitura para ter uma outra visão das mesmas questões aqui já abordadas Todos esses pontos são tratados por Ferreira et al 2021 por isso faça a leitura da página 67 a 72 do livro Filosofia da Religião disponível na Minha Biblioteca Lembrese de que para iniciar a leitura do livro sinalizado é necessário fazer login no Ambiente Virtual de Aprendizagem e em seguida na Minha Biblioteca Título A filosofia escolástica e a questão do diálogo fé e razão Páginas indicadas 67 a 72 Referência FERREIRA G B et al Filosofia da religião São Paulo Grupo A 2021 Acesse aqui 19 Filosofia 4 Teoria na Prática O Maniqueísmo está na cultura de hoje Neste momento imagine que você tenha entrado em contato com o conceito de maniqueísmo e descobriu que ele se baseia no dualismo ou seja é uma teoria gnóstica que sustenta a ideia de que o bem e o mal são princípios eternos em um conflito perpétuo No entanto vale a reflexão será que essa filosofia religiosa que foi extinta por volta do fim do primeiro milênio ainda exerce influência em nossa cultura Considere a seguinte situação Uma jovem que chamaremos de Camile do segundo ano do Ensino Médio Seu professor de filosofia distribuiu entre os 25 alunos de sua turma uma série de temas para estudo e apresentação O trabalho possuía um roteiro de apresentação a ser seguido com tópicos bem especificados O grupo de Camile é composto por quatro integrantes que se reuniram e decidiram dividir os temas exigidos pelo professor para a apresentação sorteando entre si os assuntos que cada um deverá pesquisar para compartilhar com o grupo visando uma excelente apresentação no dia marcado Camile foi sorteada para apresentar o seguinte tema Demonstre como podemos perceber e provar a influência do maniqueísmo em nossa cultura atual Ela se sentiu desafiada pelo tema pois sabia que o maniqueísmo foi uma filosofia religiosa da época de Santo Agostinho e considerou intrigante como essa influência poderia ser observada nos dias de hoje Diante desse contexto pare e reflita Como verificar se haveria alguma possibilidade de o maniqueísmo ainda existir em nossa realidade Se a resposta fosse positiva como provar que o maniqueísmo presente em nossa cultura teria traços assemelhados aos existentes no século V dC 5 Sala de Aula Nesta videoaula abordaremos os conceitos relacionados aos períodos do Helenismo correspondente ao fim da Idade Antiga à Patrística como período de defesa da fé cristã pela utilização da filosofia grega e à Escolástica como tentativa de consolidação das verdades de fé Para cada um desses períodos destacam se os pensadores que mais contribuíram para a filosofia cristã com especial ênfase em Santo Agostinho e São Tomás de Aquino figuras marcantes na história da filosofia cristã É crucial aprofundar nosso entendimento das bases do pensamento de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino para ajudar na resolução dos problemas cotidianos Esse conteúdo está disponível em seu Percurso de Aprendizagem no Ambiente Virtual Clique aqui para fazer login e acesse o Sala de Aula na sua disciplina Acesse aqui 20 Filosofia 6 Infográfico Neste infográfico sintetizamos os conceitos abordados nesta unidade É importante verificar as conexões entre pensadores conceitos e suas teorias assim como o percurso e a evolução do pensamento filosófico cristão O início desse percurso ocorre com a disseminação da cultura grega por Alexandre o Grande que introduziu novas correntes filosóficas Com o surgimento e a oficialização do cristianismo no Império Romano pensadores cristãos integraram elementos da filosofia grega em sua teologia Santo Agostinho utilizou o neoplatonismo enquanto São Tomás de Aquino incorporou a lógica de Aristóteles culminando no movimento escolástico Período do helenismo Expansão da cultura grega para outros povos por Alexandre o Grande Novas teorias filosóficas Ceticismo Epicurismo Estoicismo Cinismo Ecletismo Teorias gnósticas mescla de filosofia e crenças variadas O cristianismo de seita à religião do Império Romano Século I Jesus tornase o marco de uma nova crença religiosa iniciada como seita e tornada religião em 313 pelo Imperador Constantino que se converteu Os pensadores cristãos adotam algumas correntes da filosofia grega como base para a arquitetura da teologia cristã Santo Agostinho e o neoplatonismo Agostinho que frequentou a seita dos maniqueístas por nove anos se converte ao cristianismo Agostinho lê a filosofia neoplatônica de Plotino e a utiliza para fundamentar sua arquitetura teológica Agostinho elabora a teoria da iluminação e resolve o problema do mal combatendo o maniqueísmo São Tomás de Aquino e o pensamento de Aristóteles São Tomás de Aquino viveu no século XIII na plenitude do movimento escolástico Escolástica foi um movimento iniciado no século IX e tinha por objetivo garantir que as verdades de fé fossem perpetuadas e ensinadas São Tomás de Aquino tem contato com as teorias de Aristóteles que chegaram à Europa por meio das traduções vindas dos filósofos árabes Avicenas e Averróis São Tomás de Aquino construiu uma nova teologia fundada na razão analítica de Aristóteles sintetizada em sua obra Suma teológica Do Helenismo do Fim da Idade Antiga à Escolástica do Século XIII o percurso da filosofia cristã 21 Filosofia 7 Direto ao Ponto Ao longo deste percurso exploramos como o pensamento filosófico não se limitou à era de Platão e Aristóteles considerados os principais filósofos da antiguidade Pelo contrário novas teorias filosóficas surgiram com abordagens bastante distintas dos grandes sistemas filosóficos A partir do século III aC emergiram teorias cujo foco principal era ensinar a viver melhor Eram sistemas éticos como o Estoicismo o Epicurismo o Cinismo e o Ecletismo que ganharam destaque em um mundo transformado pelo império macedônico Com a expansão liderada por Alexandre o Grande a cultura grega foi difundida pelas terras conquistadas marcando o período conhecido como Helenismo Essa realidade mudou drasticamente após a morte de Alexandre e a conquista de suas terras por Roma Roma emergiu como o centro do mundo conhecido atraindo numerosos pensadores para a cidade Durante esse período os cristãos formavam uma seita religiosa que sofria perseguições pelo império No entanto essa situação mudou quando o imperador Constantino reconheceu o cristianismo como a religião oficial do Estado Nos primeiros séculos os pensadores cristãos já haviam entrado em contato com a filosofia grega mas foi a partir do reconhecimento de Constantino que a teologia cristã se fortaleceu No final do século IV surgiu aquele que se tornaria o maior pensador do cristianismo antigo Santo Agostinho Após sua passagem pela seita dos maniqueístas Agostinho converteuse ao cristianismo e desenvolveu uma teologia robusta Com o avançar dos séculos a Idade Média consolidouse e a Igreja tornouse o centro de unidade no mundo medieval No século IX surgiu um movimento que visava preservar e perpetuar a fé cristã através do ensino seguro e autorizado Esse movimento ficou conhecido como Escolástica A Escolástica gradualmente se tornou a principal defensora da fé cristã e das verdades religiosas No século XIII São Tomás de Aquino emergiu como uma figura central na consolidação desse movimento Influenciado pelas obras de Aristóteles que conheceu através de filósofos árabes Aquino adaptou as teorias aristotélicas à teologia cristã fundamentando uma nova abordagem teológica Para sua autorreflexão Identificou o que foi o Helenismo e quais teorias filosóficas gregas surgiram nesse período Conheceu como Santo Agostinho se utilizou da influência neoplatônica para elaborar a teologia cristã Entendeu como São Tomás de Aquino se utilizou do pensamento de Aristóteles para construir seu edifício teológico 22 Filosofia 8 Referências BOEHNER P GILSON E História da filosofia cristã desde as origens até Nicolau de Cusa 7 ed Rio de Janeiro VOZES 2000 COSTA M R N Philosophiae portus e arx philosophiae apropriação e superação agostiniana da tradição filosófica GregoRomana em relação à felicidade TransForm Ação Marília v 37 n 3 p 131142 SetDez 2014 Disponível em httpswwwscielo brjtransaynmCxVwcFJVHLSZLdvBVH5zlangpt Acesso em 28 maio 2024 FERREIRA G B et al Filosofia da religião São Paulo Grupo A 2021 GHIRALDELLI JR P A aventura da filosofia de Parmênides a Nietzsche São Paulo Manole 2010 MARCONDES D Iniciação à história da filosofia dos présocráticos à Wittgeinstein Rio de Janeiro Zahar 2009 23 Filosofia Filosofia Do Mito à Razão Bases da Filosofia Antiga Percurso de Aprendizagem Unidade 1 Desenvolvimento do material Adilson Pereira Copyright 2024 Afya Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico mecânico por fotocópia e outros sem a prévia autorização por escrito da Afya Do Mito à Razão Bases da Filosofia Antiga Para Início de Conversa 3 Pontos de Aprendizagem 4 Aprofundando os pontos 4 Tema 1 A Atitude Filosófica e a Origem da Filosofia O Mito e a Filosofia 5 Tema 2 Os Présocráticos a Cosmologia e a Ontologia 10 Tema 3 Sócrates e os Sofistas Platão e Aristóteles 15 Teoria na Prática 20 Sala de Aula20 Infográfico 21 Direto ao Ponto 21 Referências 22 1 Para Início de Conversa Boasvindas à disciplina Filosofia Será um prazer têloa por aqui Esperamos contribuir para o aprimoramento de seu aprendizado com qualidade de forma crítica e sobretudo respondendo às suas necessidades enquanto alunoa e profissional do mercado Neste percurso vamos desenvolver a perspectiva crítica do pensamento que nos auxilia a entender o que somos e o que fazemos de nossa vida de como o fazer filosófico emergiu a partir da cultura grega antiga Para isso abordaremos o modo mitológico que o homem antigo utilizava para explicar todas as coisas Em seguida compreenderemos como a razão humana amadureceu de modo que as explicações mitológicas foram lenta e paulatinamente sendo substituídas por explicações racionais sobre temas considerados fundamentais O primeiro tema filosófico emergiu da busca por se saber qual princípio seria a base de ordem de toda a realidade Esses filósofos do início da filosofia queriam saber o que sustentava o mundo caso os deuses não existissem e as descobertas foram revolucionárias para o exercício da racionalidade humana O segundo se despontou por querer explicar o que seria o homem entendido aqui como um ente universal e os modos que ele utiliza para administrar o poder em sua vida política Por fim veremos como essas questões foram exploradas pelos principais filósofos da Antiguidade aqueles de quem todo mundo já ouviu falar em algum momento da vida Sócrates Platão e Aristóteles 3 Filosofia 2 Pontos de Aprendizagem Durante a leitura do texto busque compreender que o fazer filosófico surgiu como uma necessidade da própria consciência humana em sua busca para encontrar respostas fundamentadas na racionalidade para as questões que a inquietavam Além disso perceba que o modo mais antigo que o ser humano utilizou para explicar tudo o que ocorria consigo e com o mundo foi o mito Compreenderemos o potencial de racionalidade que está presente na consciência humana e como ele foi aplicado às questões que eram justificadas pelas mitologias e como ele produziu por consequência uma ruptura com esse modo ancestral de pensar a realidade emergindo uma nova forma de explicar o mundo a filosofia Daí por diante os filósofos se tornaram especialistas no uso da racionalidade para a solução dos mais variados problemas humanos Por isso conheceremos alguns desses filósofos antigos e o quanto eles ainda podem nos ensinar Aprofundando os pontos Vamos ponderar que a mente se utiliza de ideias e que estas produzem o sentido do que compreendemos por realidade Pense agora que se estivesse habitando algum lugar do mundo mais de dois mil e quinhentos anos atrás sua mente com toda certeza explicaria o mundo e todas as coisas que ocorressem em sua vida a partir da existência dos deuses esses entes poderosos que teriam o comando da natureza e das forças que mexem com nossa vida Amor ódio vida morte noite dia seca enchentes tragédias guerra paz saúde doença enfim tudo estaria justificado pela crença nos deuses Por outro lado a possibilidade de explicar as coisas de modo estritamente racional seria bem difícil para o ser humano na Antiguidade afinal seria revolucionário furar a bolha mitológica na qual todos estavam envolvidos Contudo se a razão que está em você agora te deixa inquieto o suficiente para produzir explicações racionais para o mundo ela também estava presente no ser humano da Antiguidade Deixála despontar florescer revolucionou o modo de pensar dos antigos Por isso na filosofia antiga lembrese do processo que os filósofos présocráticos fizeram para produzir um novo modo de explicação da realidade assim como os filósofos sofistas e os conflitos que eles vivenciaram com Sócrates sobre o que seria a Verdade Na busca por justificar a verdade surgiram os primeiros sistemas filosóficos de Platão e Aristóteles Leia atentamente sobre eles e pense para você mesmo Com qual pensamento eu mais me alinho Platão Aristóteles Lembrese de que esse alinhamento pode dizer muito sobre você mesmo e a resposta àquela pergunta inicial sobre a filosofia se tornará mais clara à medida que avançar pelas contribuições desses filósofos 4 Filosofia Tema 1 A Atitude Filosófica e a Origem da Filosofia O Mito e a Filosofia Se você possui superstições crendices populares saiba que sua mente produz sentido para essas ideias e que elas estão baseadas em um modelo de consciência que chamamos de consciência mítica marcada pela imaginação pelo mínimo da lógica por intuições capaz de produzir histórias fantásticas até muito profundas em termos de decodificação simbólica e que têm por objetivo apaziguar nossos medos explicar o que a lógica não explica de imediato daí a crença de que pode haver um destino traçado e de que nada escapa à essa perspectiva mágica que governaria todas as coisas desde as forças naturais até a nossa própria existência Perceba que ao nos referirmos às crendices às histórias fantásticas também não podemos esquecer que existe no ser humano a possibilidade de produzir fé em um ou mais entes aceitando verdades que só fazem sentido na crença depositadas nesses entes E o que você faria se estivesse em um mundo em que essa modalidade de pensamento fosse a base das sociedades Foi nesse ambiente que emergiu uma forma de pensar que rompeu com o modelo mitológico Objetivos de Aprendizagem Identificar as bases instituintes do pensamento mitológico Conhecer as características dos modos mitológico e filosófico de pensar Analisar as diferenças entre racionalidade técnica e racionalidade filosófica Conteúdo 11 Como Tudo Começou A experiência de fazer filosofia é tão antiga mas continua atual A humanidade a conheceu muito tempo atrás Pense que o mundo oriental produziu na Antiguidade uma cultura rica em filosofia Índia China e Japão foram bons exemplos históricos Contudo nosso interesse está concentrado nas bases de nossa própria cultura denominada cultura ocidental cuja matriz em termos de construção de pensamento emergiu da filosofia grega e do direito romano Teríamos muitas páginas para elencar as diferenças entre a filosofia ocidental e a oriental mas nossa pretensão ao indicar a cultura oriental é apontar que existiram outros caminhos até mais antigos que aqueles produzidos pela filosofia grega Por isso uma questão se desponta como necessária afinal sendo a cultura grega a matriz mais importante para a compreensão do que é filosofia de onde devemos partir Se a filosofia procura investigar o próprio pensamento humano e o que ele produz em termos conceituais nos parece importante contextualizar o que foi o pensamento grego antigo e como ele produziu filosofia uma novidade que revolucionou para sempre a cultura ocidental 5 Filosofia 12 O Paradigma Mítico Grego e a Filosofia como Ruptura Paradigmática Para melhor compreendermos como a filosofia emergiu em meio a um mundo caracterizado pela perspectiva das mitologias vale a pena um pequeno exercício de imaginação Imaginemos as paisagens que eram comuns ao mundo antigo aldeias vilas diversas pequenas cidades e algumas grandes cidades maiores e centrais Nessas cidades maiores alguns tantos milhares de pessoas caminham em ruas amplas e em vielas com comércio de diversos produtos cavalos camelos escravos roupas simples para os pobres roupas mais sofisticadas para os ricos O cenário nos lembra a nós mesmos Assim era a realidade de um ser humano ele ou ela vivendo por volta do século VIII aC Cada uma dessas pessoas teria um idioma próprio à cultura estabelecida na faixa territorial que ocupavam Homens e mulheres possuíam variados modos de subsistência relacionavamse com outros grupos humanos mais próximos ou afastados A média de duração de uma vida poderia variar drasticamente pobres e trabalhadores viviam em torno de 30 a 35 anos já os nobres os ricos chegavam à velhice Enfim contemplaríamos uma pluralidade de culturas com variada produção de comidas bebidas arquiteturas etc Contudo há um detalhe que torna todas essas culturas muito parecidas Nos referimos aqui ao modo como explicavam as questões que marcavam a realidade humana A matriz das explicações independentemente do lugar em que a cultura estava estabelecida era o MITO de modo que as mitologias se tornaram o modelo mental de qualquer ser humano sobre a face da Terra para explicar as questões com as quais lidavam no dia a dia Por exemplo a fertilidade da terra a vida a morte a liderança a justiça e tantas outras questões possuíam como resposta única e exclusiva a atuação do poder de alguma entidade mitológica Se não houve boa colheita por causa da seca é porque havia entidades que exerciam algum poder invisível sobre as forças da natureza Nada ocorria por acaso Nenhuma questão conseguia escapar às explicações mitológicas Se a criança nasceu morta vontade dos deuses se ela nasceu muito doente e sobreviveu vontade dos deuses a graça e desgraça vontade dos deuses Eis portanto o modelo mental que imperava em todas as culturas Se nesse exercício de imaginação conseguimos pensar que todas as culturas produzidas pela humanidade por volta do século VIII aC eram governadas em termos de modo de pensar pelo paradigma mitológico há de se ter em mente que uma cultura que pudesse romper com essa forma de explicar a realidade traria consigo uma novidade para o contexto geral das culturas e povos É o que vamos descobrir analisando mais cuidadosamente a cultura grega antiga 13 Do Mito à Razão Nas culturas antigas o universo do Sagrado estava presente nas mais variadas histórias Deuses semideuses heróis demônios homens e mulheres animais tudo se 6 Filosofia relacionava produzindo múltiplas narrativas Essa é a perspectiva que temos para a compreensão da palavra mito do grego mythus que significa narração Havia nas culturas a prática de partilhar histórias repletas de simbologia que narravam as vitórias fracassos esperanças e tragédias de um povo A produção dessas histórias continha conteúdos provenientes da imaginação ricamente simbólicos e que produziam sentido para as questões humanas Contemplar o nascer do sol e o poente pode parecer para nossa realidade algo muito simples e natural mas em uma cultura marcada pelo paradigma mítico isso não poderia ser explicado por outra via senão a mitológica Por exemplo na cultura egípcia acreditavase que o Sol era o deus Rá deus supremo entre os deuses e que fazia todo dia seu percurso em um barco celeste mas ele e seu barco eram engolidos pela deusa Nut por isso a noite emergia A deusa Nut o paria novamente em um ciclo infindável 131 Produzir Outra Modalidade de Pensamento Rompendo com esse Modelo Mental Pensar de outra forma era relativamente impossível ao homem antigo Contudo alguns personagens romperam com essa bolha mitológica adotando certa desconfiança em relação às respostas formuladas pelos mitos Daí surgiu a capacidade de formular hipóteses e consequentemente testálas e validálas pelo exercício da racionalidade Atualmente sabemos do valor que os mitos possuem e que algumas ciências humanas os exploram em busca de aprofundar o conhecimento antropologia teologia psicologia e psicanálise são áreas de conhecimento que exploram a riqueza das mitologias Mas de onde emergiu essa possibilidade de ruptura com as explicações mitológicas no mundo antigo Partindose da análise da mitologia grega podese perceber a existência de elementos que já indicavam a pretensão humana de produzir sua própria autonomia em relação às explicações mitológicas A obra Odisseia escrita por volta do século VIII aC sob a forma de poemas por Homero foi amplamente traduzida em livros de vários idiomas transposta para o teatro e até recebeu adaptações para o cinema Em 1997 sob a direção de Andrey Konchalovsky a versão que chegou às telas de cinema apresenta uma cena das mais intrigantes Odisseu personagem principal Rei de Ítaca sagaz e extremamente racional saiu de sua terra para se somar a outros gregos na guerra de Tróia depois de 10 anos de guerra elaborou como estratégia um grandioso cavalo feito da madeira dos barcos e o colocou como presente para o Rei Príamo de Tróia A história é conhecida o cavalo de Tróia continha em seu interior soldados que na madrugada abriram os portões e fizeram a cidade cair Contudo no filme chama atenção uma cena em particular que aparece com o fim da guerra Odisseu se coloca diante do mar domínio de Poseidon e diz em alto som Viram deuses do mar e do céu eu conquistei Tróia Eu Odisseu um mortal de carne e osso sangue e mente Não preciso de vocês agora posso fazer qualquer coisa Obviamente a 7 Filosofia história que se desenrola é a tentativa de Odisseu de retornar à Ítaca utilizando todas as estratégias que sua mente poderia produzir e Poseidon deus do mar procurando de todo modo impedilo punindoo pela insolência Na própria narrativa mitológica já existia a tentativa humana de se desvencilhar dos domínios dos deuses do Olimpo Em termos simbólicos seria a Razão que investiga utilizase da lógica que calcula que elabora estratégias que inventa técnicas enfim a razão como atributo essencialmente humano que teria condições de superar as explicações mitológicas Enfim simbolicamente a razão como superação do mito já estaria proposta no poema de Homero 14 Características do Mito e da Razão Bem como vimos até o momento a razão foi se tornando mais vigorosa à medida que os séculos passaram Se as referências da mitologia grega do século VIII aC já apontavam o que essa criatura chamada homem seria capaz de fazer o que os séculos posteriores vão demonstrar é que essa capacidade de produção racional se tornou mais bem elaborada De sorte que a razão incentivada pela necessidade de resolver problemas práticos utilizandose da lógica para produzir técnicas e estratégias com a finalidade de solucionar problemas do cotidiano descobriuse também como racionalidade especulativa Com certeza as técnicas de fazer barcos exigiam esforços da racionalidade Como produzir cada peça como encaixálas resistência ao mar vento corrosão etc tanto quanto as técnicas de construção fabricação de artefatos de armas entre tantas outras coisas tudo isso envolvia exercício de racionalidade Contudo desenvolver a atividade racional como sistematizadora de especulações já seria um outro e significativo passo Mas o que é uma especulação racional Especular significa tentar compreender por meio da razão buscando o entendimento de maneira teórica De uma coisa há de se ter clareza se um barco deve flutuar ou se ele pode afundar exigese que ele seja submetido à prova sendo colocado no mar caso ele flutue ótimo pois a racionalidade aplicada estará aprovada caso afunde devese verificar o que a razão não considerou como possibilidade corrigir os erros e realizar uma nova prova No caso de uma racionalidade especulativa que se aplica a outras questões menos práticas ainda que sejam questões essenciais as respostas não são tão evidentes quanto no exemplo do barco A especulação é uma atividade racional e ela pode ser aplicada a objetos que não funcionam com a certeza de flutuação ou afundamento de um barco Por exemplo é justo pagar impostos Qual porcentagem é justa E se o indivíduo não conseguir pagar os impostos é justo perdoálo Todos devem pagar do mesmo jeito na mesma proporção Percebeu que a questão formulada não é tão simples de ser resolvida Ela merece ser tratada por uma racionalidade especulativa que vai analisála criteriosamente detalhadamente formulando teorias para que as questões sejam mais bem abordadas tratadas e resolvidas Foi esse o salto que a racionalidade produziu para 8 Filosofia si mesma indo além das questões de uma racionalidade técnica aplicada à solução de problemas práticos A racionalidade especulativa foi paulatinamente se especializando em questões humanas e essencialmente complexas Com certeza saber da técnica de fazer barcos é algo importante mas saber o que é justiça o que é moral e o que é o sentido da própria existência não nos parece menos importante até porque são questões com as quais lidamos cotidianamente sem que tenhamos o investimento racional que essas questões merecem Assim do mito à razão pode ser traduzido como o percurso feito em uma estrada de amadurecimento da consciência humana que se contentava com o universo simbólico mitológico e que aos poucos foi descobrindo o potencial da racionalidade primeiramente com o uso técnico da razão criando estratégias de guerra armas utensílios da cultura etc e de forma mais elaborada amadurecendo ao ponto de se tornar razão especulativa formuladora de teorias para lidar com os problemas humanos de extrema complexidade Ao longo deste tema percorremos um caminho que procurou demonstrar como a racionalidade se tornou autônoma em relação às explicações mitológicas Tratase de um processo histórico que perdurou centenas de anos mas chegou ao seu objetivo que foi o de elaborar explicações bem fundamentadas à luz da razão para as questões mais essenciais da existência humana Em outras palavras o modelo de pensamento mitológico tinha se tornado o único conhecimento possível de ser utilizado para explicar os problemas enfrentados pelos seres humanos no mundo antigo Descobrimos que o modo de pensar de forma racional ao privilegiar a lógica e o bom senso tornou possível fornecer um sentido mais claro e objetivo para fundamentar respostas mais coerentes aos problemas daquela época Nada disso se fez sem uma racionalidade especulativa que se diferenciava de uma racionalidade técnica de modo que investigar a justiça uma questão de natureza especulativa requeria recursos racionais muito mais complexos daqueles utilizados para se fazer um barco Eis portanto a descoberta da filosofia como essa atividade racional e especulativa que trata das questões mais essenciais da existência humana propiciando àquele que adota esse modo de pensar ser destacado frente aos demais ainda aprisionados ao paradigma mitológico Além da Sala de Aula Neste texto temos o papel dos mitos e a ruptura que a razão estabeleceu sobre as mitologias adotando um modo de pensar baseado na lógica e em argumentos fundamentados Todos esses pontos são tratados por Ghiraldelli Jr 2003 por isso faça a leitura da página 1 a 5 do livro Introdução à filosofia disponível na Minha Biblioteca 9 Filosofia Lembrese de que para iniciar a leitura do livro sinalizado é necessário fazer login no Ambiente Virtual de Aprendizagem e em seguida na Minha Biblioteca Título Introdução à filosofia Páginas indicadas 1 a 5 Referência GHIRALDELLI JR P Introdução à filosofia São Paulo Manole 2003 Tema 2 Os Présocráticos a Cosmologia e a Ontologia Temos as formas de conhecimento mitológico a racional técnica e a racional especulativa e dentre essas três formas de conhecimento o fazer filosófico se desenvolve somente pelo uso da razão especulativa Mas precisamos conhecer as origens antigas desse exercício filosófico que rompeu com o paradigma mitológico em nome de explicações racionais e lógicas para os problemas que os primeiros filósofos por volta do século VI aC apresentavam como os mais importantes Para isso abordaremos um pouco sobre esses pensadores os quais a história da filosofia irá chamar de filósofos présocráticos Vamos nos inteirar com a preocupação cosmológica que possuíam e as principais teorias que formularam Objetivos de Aprendizagem Conhecer como se deu a ruptura da razão em relação ao paradigma mitológico possibilitando o aparecimento da filosofia grega antiga Identificar as diferenças entre os modelos de compreensão da realidade o materialista e o metafísico Entender como as concepções materialista e metafísica podem ser utilizadas para classificar as teorias dos filósofos Conteúdo 21 Os Présocráticos a Cosmologia e a Ontologia O mundo antigo havia encontrado nas mitologias a justificativa para todos os fenômenos que ocorriam com os seres humanos O mito era o princípio de sustentação da realidade explicando a origem do mundo dos humanos da morte das guerras do amor etc Contudo em algumas cidades gregas localizadas na Ásia Menor na região conhecida como Jônia que foram fundadas por imigrantes gregos que haviam fugido no século V aC da invasão Dória explicações diferenciadas da mitologia começaram a emergir A região da Jônia abrigava uma série de cidades gregas sendo 12 as principais Éfeso Samos Mileto Colofão Mionto Lêbedo Priene Teos Clazômenes Quios Éritras e Fócia Acesse aqui 10 Filosofia Destacamos os nomes dessas cidades porque algumas se tornarão conhecidas por serem associadas aos nomes dos filósofos que nelas habitavam Mas por que pensar explicações diferentes da mitologia Bem um ponto de partida seria desconfiar de que talvez os deuses não existissem Se acaso isso fosse verdade poderia significar que o próprio universo seria dissolvido em um caos destrutivo Ou melhor se o divino não existir como todas as coisas permaneceriam em ordem A não ser que exista algum outro princípio com o poder de manter a ordem do universo impedindo o colapso da realidade E se tal princípio existisse que princípio seria esse Perceba que essas perguntas são de natureza racional e que portanto exigem respostas que a razão possa aceitar como suficientes e fundamentadas pela lógica Acreditamos que essas perguntas especulativas possibilitaram um novo modo de pensar a realidade e esse modo chamaremos de paradigma racional Ora como podemos verificar perguntar sobre a razão fundamental que manteria a natureza em ordem independentemente da existência ou não dos deuses exigiu respostas bem vigorosas do ponto de vista da razão de modo que pudessem ser reconhecidas como plausíveis e de bom senso Nesse sentido a produção intelectual que emergiu do século VI aC na Grécia Antiga apresentou vários pensadores que se colocaram a questionar sobre o que daria sustento ao mundo isto é o que o manteria em ordem diferenciandose das narrativas mitológicas até então únicas explicações para a realidade Para melhor compreensão esses pensadores foram classificados no decorrer da história do pensamento humano com a nomenclatura de présocráticos Ainda que seja uma nomenclatura discutível por questões que não nos ocuparemos aqui não podemos desconsiderar que eles ainda que habitassem cidades distintas e distantes compartilhavam a mesma perspectiva de investigação afinal buscavam pelo uso da razão descobrir qual o Arké princípio fundamental que manteria a realidade em ordem impedindoa de entrar em colapso Esse tipo de investigação pode ser denominado investigação cosmológica A palavra Kosmos significa mundo em ordem universo em ordem diferentemente de Kaos a desordem os abismos profundos e infinitos Para efeito de síntese do pensamento desses filósofos faremos um necessário esclarecimento Bem as respostas obtidas à pergunta Qual princípio manteria o universo em ordem podem ser classificadas de duas formas respostas que se baseiam em algum princípio material que seria responsável por manter a ordem de todas as coisas algum princípio não material isto é metafísico como veremos adiante Acerca dos pensadores que adotaram princípios materiais destacamos em primeiro plano Tales da cidade de Mileto por isso conhecido como Tales de Mileto 625 aC que formulou a teoria de que o que sustentava o mundo era a água À mente de alguém do século XXI pode parecer irrelevante essa teoria mas lembrese era o século VI 11 Filosofia aC e o raciocínio fazia sentido Afinal se observarmos cuidadosamente perceberemos que a água está em tudo de algum modo nuvens chuva rios mares o corpo humano e seus fluidos o ar o consumo da umidade para gerar o fogo O importante não é discutir essa questão com os modelos mentais que temos hoje mas compreender que se trata de uma explicação para além da mitologia esse sim é o grande contributo desses pensadores Outros filósofos desse período enveredaram pelo mesmo tipo de investigação chegando a conclusões diversas Por exemplo Anaxímenes 588524 aC também da cidade de Mileto compreendeu que o princípio ordenador da realidade seria o ar o ar é a substância originadora e a forma básica da matéria muda por condensação e rarefação Kirk Raven Schofield 1983 p 146 Já Heráclito de Éfeso 500450 aC entendeu que a sabedoria consiste em compreender o modo como o mundo funciona Kirk Raven Schofield 1983 p 210 para ele o elemento estruturante de toda a realidade era o fogo A alma compõese de fogo provém da umidade e nesta se converte em uma absorção total que é para ela a morte A almafogo está aparentada com o mundofogo Kirk Raven Schofield 1983 Distinguindose dessas conclusões Empédocles de Agrigento 495430 aC compreendeu que a ordenação do mundo dependia das relações entre água terra fogo e ar ou seja de interações entre os quatro elementos Por fim apresentamos Demócrito de Abedera 370 aC para quem o princípio ordenador da realidade seria algo material e tão microscópico que seria invisível ao qual Demócrito chamou de átomo A palavra átomo do grego significa basicamente sem divisão isto é a partícula material indivisível que passaria por todas as coisas lhes fornecendo ordem Bem como pudemos perceber as teorizações acerca de qual princípio natural e material teria condições de manter a ordem do universo foi produto de uma elaborada racionalidade aplicada por esses filósofos Veja que o termo filósofo emerge como identificação de homens que produziam argumentações profundas e bem fundamentadas no intuito de explicar racionalmente as questões que eram tratadas pela perspectiva das crenças daí o sentido atribuído à filosofia como amor amizade filo e sabedoria sófos Contudo a investigação acerca do princípio ordenador da realidade transpôs a ideia de que ele tivesse que ser obrigatoriamente algo material afinal a razão especulativa pôde enunciar a existência de princípios não materiais provando sua existência É o caso de Pitágoras de Samos 570 aC para quem a base de tudo seria a matemática isto é por trás da realidade material estaria presente como princípio ordenador os números algo que não poderia ser percebido pelos sentidos do corpo mas inteleccionado isto é pensado pela mente racional Pitágoras se distinguiu dos filósofos materialistas pois sua análise matemática sobre o funcionamento da realidade o colocou no rol do que podemos chamar de filósofos metafísicos 12 Filosofia A palavra metafísica é bem adequada ao sentido que queremos aqui pois ela é uma palavra grega que reúne dois vocábulos meta além e physis natureza A metafísica portanto trata dos conceitos que são apreendidos a partir do que ultrapassa a percepção sensível que temos da realidade ela procura o que está para além da realidade dada aquilo que só poderia ser descoberto pela racionalidade Foi o que Pitágoras descobriu ao procurar explicar as bases de funcionamento do mundo natural que seriam os números Pense bem o que é um número Nos referimos ao um ao dois mas nunca os vimos pois a única forma de nos referirmos a eles é por algum símbolo gráfico uma espécie de convenção simbólica criada pela linguagem humana De modo que se registrarmos a grafia 1 um é o mesmo que registrarmos I em algarismo romano temos a grafia do 1 ou I mas o que é o um senão uma abstração não material Eis portanto o sentido metafísico que subsistiria à ordem do universo e de todas as coisas Outros metafísicos também se destacaram como Anaximandro 546 aC cujo princípio organizador do mundo seria o indeterminado algo infinito e imortal em grego Apeiron ou ainda Parmênides de Eléa 530 aC que tomou como profunda reflexão o Ser compreendendo que só existe a possibilidade de existir qualquer coisa se o ser for subjacente à coisa existente Bem reflita um pouco para você aprender o idioma português inglês espanhol entre outros o primeiro verbo com o qual se toma contato é o ser É ele quem possibilita existência às coisas por ele as ações se realizam o mundo funciona Ora nessa simples reflexão já está indicada o poder que o ser teria como elemento subjacente à existência da própria realidade Nesse sentido a investigação proposta por Parmênides é de natureza ontológica isto é uma investigação que procura compreender o ser das coisas Para efeito desta exposição didática elencamos os filósofos présocráticos organizando os em dois grupos distintos os materialistas e os metafísicos Filósofo Base teórica Tales de Mileto materialismo Anaxímenes de Mileto materialismo Heráclito de Éfeso materialismo Empédocles de Agrigento materialismo Demócrito de Abdera materialismo Pitágoras de Samos metafísico Anaximandro de Mileto metafísico Parmênides de Eléa metafísico Quadro 1 Filósofos présocráticos Fonte Elaborado pelo autor 13 Filosofia Observe que no Quadro 1 há duas formas de pensar o mundo a posição materialista Água Ar Fogo Terra Átomo e a posição metafísica aquilo que pode ser pensado racionalmente mas que não tem materialidade como o indeterminado de Anaximandro a matemática de Pitágoras e o Ser de Parmênides Perceba que esses princípios são de ordem não material e querem explicar o Ser das coisas o que em Filosofia se chama de investigação ontológica já que ontologia significa discurso racional sobre o ser das coisas Toda a história do pensamento filosófico filosofia antiga filosofia medieval filosofia moderna e filosofia contemporânea será marcada por essa tensão Materialismo Metafísica que servirá de base para alinhar as teorias propostas pelos filósofos no decorrer dos séculos O aparecimento da filosofia como atividade que privilegiou o uso da razão para explicar a natureza das coisas não se deu sem esforço Afinal para o mundo grego antigo como era de se esperar para todas as culturas antigas a mitologia era a explicação que se podia ter para qualquer fenômeno Romper com esse modelo de pensamento não foi algo tão fácil como pode se pensar Assim os primeiros filósofos da Antiguidade grega séc VI aC começaram essa jornada a partir de cidades distintas daí o nome de a cidade ser atrelado ao nome do pensador como o filósofo Tales da cidade de Mileto e outros As teorias que eles elaboraram procurando descobrir qual princípio fundamentaria a natureza mantendoa em ordem caso os deuses não existissem foram diversas E essas teorias tiveram como âncora ora a concepção materialista ora a concepção metafísica Por fim vale a pena alertar que essas duas concepções estarão presentes em toda a história da filosofia até os dias de hoje Além da Sala de Aula Neste conteúdo tivemos o conhecimento sobre o início da filosofia grega antiga ampliando o espectro de alguns conceitos para perceber as contradições entre as teorias dos filósofos na busca que empreenderam para saber a verdade sobre o que manteria o mundo em ordem Todos esses pontos são tratados por Ghiraldelli Jr 2003 por isso faça a leitura da página 7 a 11 do livro Introdução à filosofia disponível na Minha Biblioteca Lembrese de que para iniciar a leitura do livro sinalizado é necessário fazer login no Ambiente Virtual de Aprendizagem e em seguida na Minha Biblioteca Título Os présocráticos a cosmologia e a ontologia Páginas indicadas 7 a 11 Referência GHIRALDELLI JR P Introdução à filosofia São Paulo Manole 2003 Acesse aqui 14 Filosofia Tema 3 Sócrates e os Sofistas Platão e Aristóteles Começamos analisando a possibilidade de produzir uma modalidade de pensamento que poderia explicar as questões mais essenciais para a humanidade utilizando como base a racionalidade Eis a descoberta da filosofia Vamos compreender como o processo de se fazer filosofia rompeu com as justificativas mitológicas inaugurando a busca por explicações acerca do princípio que manteria a natureza ordenada e como a filosofia antiga alterou seu rumo de investigação saindo das questões cosmológicas para as questões humanas Por isso dedicaremos algumas páginas para conhecer em síntese as bases do pensamento dos sofistas de Sócrates Platão e Aristóteles Aproveite para coletar conceitos essenciais Objetivos de Aprendizagem Conhecer as bases do pensamento sofista e do pensamento socrático Diferenciar pensamento retórico do pensamento maiêutico Conhecer os conceitos que estruturam a teoria do idealismo proposta por Platão Conhecer os conceitos que estruturam a teoria do realismo proposta por Aristóteles Conteúdo 31 Questões Filosóficas e Método Utilizado pelos Sofistas Aproximadamente dois séculos se passaram e as questões que emergiram no mundo grego antigo já não eram mais de natureza cosmológica Atenas havia perdido a guerra do Peloponeso e após o governo dos 30 tiranos reabilitouse tornandose o centro de atenção de filósofos especialistas em retórica que se autodenominavam sábios em grego sófos de onde deriva a palavra sofista Esses pensadores perceberam que as teorias dos filósofos présocráticos chegavam a conclusões muito distintas e conflitantes o que significava que a verdade seria relativa e não algo absoluto Por isso surgiu a tese sofista da impossibilidade da verdade Assim o objetivo perseguido por esses filósofos foi o aperfeiçoamento dos meios utilizados para a exposição das ideias visando à construção de uma verdade que poderia durar algum tempo até que surgisse um argumento forte o bastante para substituíla A retórica a arte de bem falar tornouse o modo de exposição das verdades e a ferramenta mais valorizada pelos sofistas Em síntese as questões filosóficas dos sofistas versavam sobre os problemas humanos as questões morais as questões políticas e a justiça das leis tendo como método a exposição retórica de modo a persuadir e convencer acerca de suas ideias Principais filósofos sofistas Protágoras nascido em Abdera em aproximadamente 481 aC Górgias De Leontinos na Sicília 483 aC380 aC 15 Filosofia 32 Sócrates Contexto Questões Filosóficas e Método No século IV aC os sofistas que foram para Atenas atuavam como tutores para as famílias aristocráticas ensinando retórica para seus alunos no espaço público da ágora A ágora era o local público onde ocorriam as assembleias a praça onde os cidadãos atenienses se reuniam para discutir as leis aprovando e desaprovando normas Observar como os argumentos eram apresentados defendidos e destruídos por contraposições numa espécie de luta de arena em que o mais arguto e habilidoso no uso das palavras conseguia a adesão da maioria e por conseguinte a aprovação de sua proposta era uma atividade educativa para os jovens atenienses Esse é o cenário frequentado pelos sofistas com seus alunos Contudo esse também é o cenário frequentado pelo cidadão Sócrates 469399 aC Na assembleia dos cidadãos Sócrates se confronta com os sofistas e nas disputas argumentativas tornase sempre vencedor A diferença é que método socrático se diferencia dos sofistas para Sócrates a Verdade existe seu método se chama maiêutica ou método da parteira Se a verdade existe ela estaria escondida em nós como posta sob os véus de nossa ignorância em função das vaidades e tantas outras percepções subjetivas que impediriam o indivíduo de obtêla A retórica sofista só produziria verdades aparentes e isso foi o que Sócrates criticou profundamente nos sofistas Essas disputas na ágora produziram problemas para Sócrates que foi denunciado por ser supostamente contra os deuses do Estado e por corromper a juventude Em seu julgamento ele próprio assumiu sua defesa utilizando a ironia como base na qual reconhecia que como bom cidadão aprendeu a obedecer às leis do Estado porque são justas e se portanto o Estado o condenava à morte como bom cidadão e cumpridor das leis deveria ele aceitar a morte por justiça Até hoje o julgamento de Sócrates é utilizado para se estabelecer a distinção entre justiça e lei ética e direito Por fim ele foi condenado à morte e teve de beber cicuta um veneno que paralisava o corpo até a parada cardiorrespiratória em 399 aC Sócrates nada escreveu Só conhecemos seu pensamento através das obras de Platão Apologia de Sócrates Críton Mênon República etc de Xenofonte Apologia de Sócrates e de Aristófanes Nuvens 33 Conhecendo o Pensamento de Platão 428 aC 348 aC O aprendizado com o qual Platão discípulo de Sócrates se nutriu permitiu dar continuidade à abordagem de seu mestre aperfeiçoandoa e ultrapassando em muito o que Sócrates produziu como filosofia Dentre essas obras que contam mais de 30 as mais conhecidas são Apologia de Sócrates Críton Mênon República O Banquete Fédon As leis entre outras Mas em que inovou Platão em relação ao mestre Sócrates Platão sistematizou a teoria do inatismo das ideias Ele desenvolveu uma teoria que procura explicar como podemos produzir o conhecimento mais verdadeiro possível 16 Filosofia diferenciado das opiniões imediatas A Doxa opinião seria um conhecimento repleto de erros proveniente da percepção sensível e imediata Devemos buscar por meio da filosofia a fonte do conhecimento que estaria além do mundo sensível o qual Platão denominou de mundo das ideias No mundo das ideias estariam as matrizes de todas as ideias possíveis e presentes no mundo terreno sintetizadas nas ideias do Bem do Belo do Justo e do Verdadeiro Ultrapassar o universo superficial das opiniões permite à consciência humana ascender a outro tipo de conhecimento o qual denominamos Episteme conhecimento validado pela razão Na realidade a descoberta do conhecimento Episteme se dá na interioridade humana em se privilegiar a alma ao invés do corpo e as percepções sensíveis 331 Mito da Caverna A partir dessas bases Platão sistematizou sua teoria do inatismo das ideias em um mito que está descrito no livro VII da obra A República Em síntese descreve uma realidade hipotética de um grupo de homens que desde o nascimento foram aprisionados ao fundo de uma caverna e que contemplam desde então as sombras que são projetadas no fundo da caverna Eles acreditam que as sombras são reais e que esse é o verdadeiro Narra ainda que um dos prisioneiros tem suas correntes rompidas e parte para escalar a caverna até que se depara com o mundo exterior de plena luz e que apesar da cegueira momentânea ele se adapta ao novo mundo enxergando com clareza o que é de fato o verdadeiro Depois disso ele retorna para libertar os demais amigos mas Platão alerta que ele será assassinado por seus amigos já que será muito difícil para eles aceitarem a ideia de que há uma verdade para além das sombras nas quais delinearam a própria existência 332 Esclarecendo o Mito da Caverna Os prisioneiros da caverna são prisioneiros das percepções sensíveis dos desejos do corpo do que é imediato das vaidades e do status social Ter as correntes rompidas é o despertar da razão para fazer filosofia Escalar a caverna é propriamente fazer filosofia mediante o método proposto por Platão a dialética isto é uma pergunta que necessita de resposta que é contraposta por uma nova pergunta e assim sucessivamente Ao fim obtémse um conhecimento aclarado pela verdade 34 Conhecendo o Pensamento de Aristóteles 384 aC322 aC Aristóteles nasceu na cidade de Estagira na Macedônia Órfão de pai aos 18 anos foi para Atenas ingressando na academia de Platão Foi nesta escola que amadureceu e consolidou sua vocação filosófica permanecendo lá por 20 anos Após a morte 17 Filosofia do mestre Platão em 347 aC deixou a Academia e foi para a Ásia Menor onde estudou ciências naturais Foi professor de Alexandre Magno entre 343 e 340 aC Suas obras mais conhecidas são Organon Metafísica 14 livros Física 8 livros Política 8 livros Ética a Nicômaco 10 livros Da alma 3 livros Da geração e da corrupção 2 livros e Poética Aristóteles superou a influência de seu mestre Platão e elaborou um sistema filosófico original tratando dos mais diversos aspectos do saber de seu tempo inclusive das ciências Criticou o idealismo de Platão fundando a filosofia chamada de realista de base materialista na qual postulava que o conhecimento é algo adquirido pela experiência não existindo nenhuma ideia inata no ser humano teoria da tábula rasa Suas principais temáticas foram A lógica Aristóteles foi o primeiro a fazer um estudo sistemático dos conceitos isto é das ideias procurando descobrir as propriedades que eles têm enquanto produzidos pela mente humana como podem ser unidos e separados divididos e definidos e como é possível extrair novos conceitos dos anteriormente conhecidos Para isso Aristóteles criou a lógica processo de raciocínio pelo qual de proposições premissas antecedentes se extrai um consequente conclusão A metafísica para explicar o ser Aristóteles se valeu de dois elementos indissociáveis a matéria e a forma Ex Pedro Matéria o corpo com suas características individuais alto magro moreno forma a alma que é substancialmente comum a toda a humanidade Aprofundandose no fenômeno do porquê da mudança nos seres e nas coisas Aristóteles formulou a teoria do ato e da potência que é uma aplicação das noções de matéria e forma em escala mais ampla Ato seria toda realidade que como a forma tem características determinadas finitas potência seria qualquer realidade que como a matéria tem propriedades indeterminadas Ex o mármore matéria está em potência para se tornar uma estátua forma Deus para Aristóteles seria a potência absoluta que não seria movimentada por coisa alguma isto é uma espécie de entidade com funcionalidade lógica para fazer o mundo ter o seu movimento explicado Aristóteles chama esse Deus de motor imóvel ou ainda causa não causada Alertamos que essa concepção de Deus em nada tem de relação com o Deus das tradições judaicocristã e islâmica A ética segundo Aristóteles afirma que o homem é um ser racional Consequentemente seu bem ou felicidade suprema eudaimonia deve consistir na atuação da razão E a perfeita atuação da razão está na contemplação O meio para se conseguir a felicidade é a virtude Por virtude Aristóteles entende o hábito de escolher o justo meio E quem o estabelece é o sábio A política segundo Aristóteles diz que a origem do Estado é natural Os homens unemse para formar a sociedade não em virtude de um pacto convenção mas instintivamente porque de outro modo não poderiam satisfazer todas as suas necessidades físicas e intelectuais O Estado surgiu para tornar possível não só a vida mas também a vida feliz Como muitos pensadores da Antiguidade Aristóteles também justifica a escravidão É evidente que alguns homens são por natureza livres e outros escravos Tanto quanto Platão Aristóteles foi um crítico da Democracia e em sua análise sobre as constituições que legitimam o poder ele compreende que a finalidade do Estado 18 Filosofia seria a de facilitar a consecução do bem comum e por isso divide as constituições possíveis em justas e injustas Constituições justas as que servem ao bem comum e não ao bem dos governantes São elas a monarquia governo de um só que cuida do bem de todos a aristocracia governo dos virtuosos que deve cuidar do bem de todos sem privilégios a república governo popular que cuida do bem de todos isto é das coisas públicas Constituições injustas são as que servem ao bem dos governantes e não ao bem comum São elas a tirania governo de um só de interesse próprio a oligarquia governo de poucos dos ricos pelo bem econômico pessoal a democracia governo do povo que suprimiria as diferenças sociais praticando injustiças Por fim seu pensamento é classificado como analítico e serviu de base para o progresso das ciências A partir do pensamento dos sofistas por volta do século IV aC as questões investigadas pela filosofia passaram a focar no homem e seu contexto sociopolítico isto é o fazer filosófico não mais se interessou pela busca do princípio fundamental que manteria a natureza em ordem alterando os rumos da filosofia Desta forma o centro das atenções passou a ser o próprio homem e o modo como ele poderia ter acesso à verdade sobre a moral e a política Para os sofistas a verdade poderia ser fabricada pela retórica e modificada ao sabor das necessidades dos sábios Mas para Sócrates a verdade não somente existia de fato mas era a busca que motivava qualquer um que quisesse se dedicar à filosofia Nessa abertura para tratar das questões humanas emergiram Platão com a teoria do idealismo e Aristóteles com a teoria do realismo Ambos se tornaram as referências primordiais da história da filosofia antiga contribuindo para uma série de discussões até os dias de hoje Além da Sala de Aula A partir do texto temos as bases do pensamento dos principais filósofos da Antiguidade grega ampliando a compreensão sobre os conceitos abordados por Sócrates Platão e Aristóteles Todos esses pontos são tratados por Ghiraldelli Jr 2010 por isso faça a leitura da página 27 a 52 do livro A aventura da filosofia de Parmênides a Nietzsche disponível na Minha Biblioteca Lembrese de que para iniciar a leitura do livro sinalizado é necessário fazer login no Ambiente Virtual de Aprendizagem e em seguida na Minha Biblioteca Título A aventura da Filosofia Páginas indicadas 27 a 52 Referência GHIRALDELLI JR P A aventura da filosofia de Parmênides a Nietzsche São Paulo Manole 2010 Acesse aqui 19 Filosofia 4 Teoria na Prática O Mito da Caverna de Platão como chave de leitura da realidade Neste momento conheceremos um caso a partir do Mito da Caverna de Platão em que procuramos demonstrar que os conceitos utilizados por ele ao distinguir as formas de conhecimento denominadas Doxa e Episteme podem nos servir de utilidade para solucionarmos muitas questões de ordem prática Em nosso estudo de caso temos o personagem X sem a identificação de sexo gênero cor de pele religião Nada o identifica senão o título de trabalhadora e consumidora Dentro de cinco dias será natal e X ainda não comprou os presentes X não se casou não tem filhos mas tem pai mãe e uma irmã No caminho para o trabalho sentadoa no banco do ônibus X vê as enormes telas iluminadas da cidade nas quais passam as mais diversas propagandas Volta seus olhos para a tela do celular e em sua rede social aparecem também as mais diversas propagandas Clica em um link que lhe direciona para comprar uns presentes que estavam bem mais caros por ser época do Natal O site prometia entrega em 24 horas Quando X ia clicar para a finalização da compra com seu cartão de crédito lhe veio uma ideia inquietante por que estou fazendo isso Já estou com tanta dívida por que aumentá la Mas minha família não merece É Natal todo mundo compra um presente O que vão pensar de mim Talvez minha família não me ame mais ou diminua seu amor por mim Diante desse contexto pare e pense Quais conceitos utilizados por Platão poderiam auxiliar na compreensão da situação de X Qual seria o comportamento que X poderia adotar se utilizasse o conceito de Episteme para solucionar a situação pela qual está passando Que consequências poderiam ocorrer com X caso se comportasse como o prisioneiro da caverna que teve suas correntes quebradas Por que X tem a tendência de reproduzir o comportamento consumista da sociedade da qual faz parte 5 Sala de Aula Abordaremos os conceitos sobre o que é filosofia compreendendo seu percurso histórico antigo iniciado com os présocráticos e chegando à Aristóteles Também falaremos sobre a filosofia como ruptura do pensamento mitológico bem como sobre as principais teorias destacando Platão e Aristóteles Por fim vamos refletir como alguns conceitos filosóficos podem auxiliar na compreensão de questões práticas do nosso cotidiano Esse conteúdo está disponível em seu Percurso de Aprendizagem no Ambiente Virtual Clique aqui para fazer login e acesse a Sala de Aula na sua disciplina Acesse aqui 20 Filosofia 6 Infográfico Mito e Razão Do mito à razão síntese da filosofia grega antiga Mito explicação que se utiliza de elementos da imaginação pleno de simbolismos que mesclam fatos e imaginação e explicam aspectos da natureza humana Razão Forma lógicoanalítica que se expressa sob a forma de pensamento coerente buscando provar por argumentos e fatos o que seria a realidade tanto das coisas concretas quanto das coisas abstratas Dos filósofos présocráticos à Sócrates Os présocráticos tinham por preocupação explicar qual seria o princípio ordenador de toda a realidade o que se trata de uma preocupação cosmológica Eles descobriram duas possibilidades de resposta a materialista e a metafísica Passados dois séculos a preocupação dos filósofos passou a ser as questões humanas moral e política surgiu então o pensamento sofista que privilegiava a retórica como meio de construir e destruir as verdades Sócrates apareceu em confronto ao pensamento dos sofistas Para Sócrates a verdade existe e se encontra no interior humano para obtêla devese aplicar o método maiêutico de modo que a verdade venha à luz Os dois primeiros sistemas filosóficos Platão e Aristóteles Platão fundador do Idealismo Sua teoria se baseava no inatismo das ideias e na necessidade de o indivíduo ultrapassar o conhecimento superficial das opiniões Doxa e com a utilização da filosofia como atividade racional chegar ao conhecimento pleno da verdade Episteme Aristóteles fundador do Realismo Sua teoria se baseava na teoria da tabula rasa para a qual o indivíduo nasce zerado de qualquer conhecimento e somente a experiência é que registraria na consciência o conhecimento da realidade Sistematizou a lógica e a ética além de contribuir com suas obras sobre os mais variados temas acerca do funcionamento da natureza Fonte Adaptado de Ghiraldelli Jr 2010 Direto ao Ponto Ao longo deste percurso abordamos conceitos complexos mas de forma simplificada Passamos pela descoberta do que é o filosofar e percebemos que com certeza não se parece em nada com a ideia atribuída erroneamente pelo senso comum de uma pessoa que está viajando Filosofia é uma atividade racional que exige esforço argumentativo e que promove uma revolução interior para quem a colocar em prática 21 Filosofia Além disso percebermos que a filosofia nasceu justamente da ruptura com uma outra forma de conhecimento o mito Os primeiros filósofos produziram investigações fundamentadas na razão e tinham por objetivo descobrir qual princípio ordenaria a natureza Afinal se os deuses não existissem como o mundo se manteria em ordem Foram várias as respostas achadas e todas elas contribuíram para o amadurecimento da razão no decorrer dos séculos de modo que as questões filosóficas foram modificando à medida que os problemas humanos e da sociedade também se modificavam Assim descobrimos os sofistas Sócrates Platão e Aristóteles Cada um deles contribuiu para a história do pensamento humano aperfeiçoando os modos de se fazer filosofia modos que estão presentes até os dias de hoje e que impulsionaram outros filósofos no decorrer dos séculos Para sua autorreflexão Percebeu a diferença entre razão técnica e razão especulativa Identificou os filósofos présocráticos de acordo com o princípio proposto Entendeu o que é materialismo e metafísica Percebeu como podemos aplicar o Mito da Caverna em nosso cotidiano para a solução de problemas práticos 8 Referências GHIRALDELLI JR P A aventura da filosofia de Parmênides a Nietzsche São Paulo Manole 2010 GHIRALDELLI JR P Introdução à filosofia São Paulo Manole 2003 KIRK G S RAVEN J E SCHOFIELD M Os filósofos présocráticos história crítica com seleção de textos 7 ed Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 1983 MATTAR J Introdução à filosofia São Paulo Pearson Prentice Hall 2010 REALE G História da filosofia antiga léxico índices bibliografia 5 ed São Paulo Loyola 1995 22 Filosofia A filosofia teve sua origem na Grécia Antiga a partir da ruptura com o pensamento mítico que interpretava o mundo com base em deus e narrativas simbólicas A partir do século VIII aC instaurase a primazia da razão filosófica que busca entender o mundo através da lógica da observação e da reflexão crítica Os primeiros filósofos chamados de présocráticos investigavam temas sobre a origem do universo cosmologia e sobre a essência do ser ontologia Geralmente eles se dividiam em duas correntes principais os materialistas que consideravam que tudo era explicado por princípios físicos como água ar fogo e átomos ou os metafísicos que defendiam a ideia de princípios não físicos e captáveis apenas pela razão como números infinito e o Ser Mais tarde vieram os sofistas professores de oratória que ensinavam que a verdade era relativa e que a persuasão era mais relevante do que o comprometimento a uma verdade absoluta Por além deles destacouse Sócrates que defendia a ideia de uma verdade objetiva e o autoconhecimento como o caminho para chegar a isso O método de Sócrates a maiêutica tinha como objetivo guiar o interlocutor durante o diálogo à descoberta de ideias que já estavam em sua consciência Ele foi condenado a morte por suas ideologias e faleceu em 399 aC Seu discípulo Platão desenvolveu uma teoria chamada de idealismo segundo a qual existe uma diferença entre o mundo sensível onde habitamos e que é sujeito a ilusões e o mundo das ideias onde se encontram as verdades eternas e perfeitas que são acessíveis apenas pela razão Platão acreditava que o verdadeiro conhecimento episteme pode ser alcançado somente pela razão e pela filosofia Aristóteles por sua vez que foi discípulo de Platão propôs um ponto de vista mais concreto e realista Para ele o conhecimento vem da experiência sensível e o ser humano nasce como uma tábula rasa Criou a lógica formal a teoria do ato e da potência e concebeu Deus como o motor imóvel causa de tudo mas não causado por nada Na ética Aristóteles dizia que a felicidade eudaimonia é consequência da virtude na política defendia o bem comum como o objetivo do Estado Com a deterioração da política grega a filosofia passou a se ocupar de questões éticas e existenciais dando início ao que chamamos de filosofia helenística Muitas escolas e correntes de pensamento foram criadas como o epicurismo que advoga pelo prazer moderado o estoicismo que prega a virtude e o autocontrole sobre as paixões e o ceticismo que duvida da possibilidade de chegarmos a uma verdade absoluta Outras correntes religiosasfilosóficas também surgiram como o gnosticismo e o maniqueísmo que misturam filosofia grega com elementos orientais e cristãos Com o advento do cristianismo a filosofia começa a dialogar com a fé iniciando o período da patrística Santo Agostinho foi um de seus principais protagonistas integrando a tradição filosófica grecoromana na filosofia cristã Agostinho baseavase no neoplatonismo e acreditava que a fé precederia a razão mas ambas são complementares Para Agostinho o mal não é uma criação de Deus mas sim a ausência do bem decorrente do mau uso do livrearbítrio do próprio homem Para ele o homem só conhece a verdade através da iluminação divina e a verdade que é Deus é o objetivo da vida Na Idade Média a filosofia cristã alcançou um novo estado de desenvolvimento com o advento da escolástica movimento filosófico que se dedicou ao empreendimento de unir fé com razão O principal ator foi São Tomás de Aquino que se esforçou por integrar a filosofia aristotélica ao pensamento teológico cristão Em sua obra Suma Teológica ele expôs cinco vias racionais para a prova da existência de Deus e a partir de sua obra sustentou que a obra de criação constitui uma ação de razão e de liberdade do Criador Para Aquino poderiase desenvolver a teologia como um sistema científico construído sobre a base da razão e da revelação Sua obra consolidou a teologia cristã tornandose um dos maiores exemplos da filosofia medieval e um legado duradouro no pensamento ocidental A filosofia teve sua origem na Grécia Antiga a partir da ruptura com o pensamento mítico que interpretava o mundo com base em deus e narrativas simbólicas A partir do século VIII aC instaurase a primazia da razão filosófica que busca entender o mundo através da lógica da observação e da reflexão crítica Os primeiros filósofos chamados de présocráticos investigavam temas sobre a origem do universo cosmologia e sobre a essência do ser ontologia Geralmente eles se dividiam em duas correntes principais os materialistas que consideravam que tudo era explicado por princípios físicos como água ar fogo e átomos ou os metafísicos que defendiam a ideia de princípios não físicos e captáveis apenas pela razão como números infinito e o Ser Mais tarde vieram os sofistas professores de oratória que ensinavam que a verdade era relativa e que a persuasão era mais relevante do que o comprometimento a uma verdade absoluta Por além deles destacouse Sócrates que defendia a ideia de uma verdade objetiva e o autoconhecimento como o caminho para chegar a isso O método de Sócrates a maiêutica tinha como objetivo guiar o interlocutor durante o diálogo à descoberta de ideias que já estavam em sua consciência Ele foi condenado a morte por suas ideologias e faleceu em 399 aC Seu discípulo Platão desenvolveu uma teoria chamada de idealismo segundo a qual existe uma diferença entre o mundo sensível onde habitamos e que é sujeito a ilusões e o mundo das ideias onde se encontram as verdades eternas e perfeitas que são acessíveis apenas pela razão Platão acreditava que o verdadeiro conhecimento episteme pode ser alcançado somente pela razão e pela filosofia Aristóteles por sua vez que foi discípulo de Platão propôs um ponto de vista mais concreto e realista Para ele o conhecimento vem da experiência sensível e o ser humano nasce como uma tábula rasa Criou a lógica formal a teoria do ato e da potência e concebeu Deus como o motor imóvel causa de tudo mas não causado por nada Na ética Aristóteles dizia que a felicidade eudaimonia é consequência da virtude na política defendia o bem comum como o objetivo do Estado Com a deterioração da política grega a filosofia passou a se ocupar de questões éticas e existenciais dando início ao que chamamos de filosofia helenística Muitas escolas e correntes de pensamento foram criadas como o epicurismo que advoga pelo prazer moderado o estoicismo que prega a virtude e o autocontrole sobre as paixões e o ceticismo que duvida da possibilidade de chegarmos a uma verdade absoluta Outras correntes religiosasfilosóficas também surgiram como o gnosticismo e o maniqueísmo que misturam filosofia grega com elementos orientais e cristãos Com o advento do cristianismo a filosofia começa a dialogar com a fé iniciando o período da patrística Santo Agostinho foi um de seus principais protagonistas integrando a tradição filosófica grecoromana na filosofia cristã Agostinho baseavase no neoplatonismo e acreditava que a fé precederia a razão mas ambas são complementares Para Agostinho o mal não é uma criação de Deus mas sim a ausência do bem decorrente do mau uso do livrearbítrio do próprio homem Para ele o homem só conhece a verdade através da iluminação divina e a verdade que é Deus é o objetivo da vida Na Idade Média a filosofia cristã alcançou um novo estado de desenvolvimento com o advento da escolástica movimento filosófico que se dedicou ao empreendimento de unir fé com razão O principal ator foi São Tomás de Aquino que se esforçou por integrar a filosofia aristotélica ao pensamento teológico cristão Em sua obra Suma Teológica ele expôs cinco vias racionais para a prova da existência de Deus e a partir de sua obra sustentou que a obra de criação constitui uma ação de razão e de liberdade do Criador Para Aquino poderiase desenvolver a teologia como um sistema científico construído sobre a base da razão e da revelação Sua obra consolidou a teologia cristã tornandose um dos maiores exemplos da filosofia medieval e um legado duradouro no pensamento ocidental
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Texto de pré-visualização
Filosofia Razão e Fé Marcas da Filosofia Medieval Percurso de Aprendizagem Unidade 2 Desenvolvimento do material Adilson Pereira Copyright 2024 Afya Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico mecânico por fotocópia e outros sem a prévia autorização por escrito da Afya Razão e Fé Marcas da Filosofia Medieval Para Início de Conversa 3 Pontos de Aprendizagem 4 Aprofundando os pontos 4 Tema 1 Legado da Filosofia Antiga Advento da Filosofia Medieval 5 Tema 2 Santo Agostinho e o Platonismo Cristão 9 Tema 3 O Desenvolvimento da Escolástica São Tomás de Aquino e o Aristotelismo Cristão 14 Teoria na Prática 20 Sala de Aula20 Infográfico 21 Direto ao Ponto 22 Referências 23 1 Para Início de Conversa Boasvindas à disciplina Filosofia Será um prazer têloa por aqui Esperamos contribuir para o aprimoramento de seu aprendizado com qualidade de forma crítica e sobretudo respondendo às suas necessidades enquanto alunoa e profissional do mercado Exploramos os dois principais filósofos do mundo grego antigo Platão e Aristóteles Este material aborda conteúdos relevantes sobre as bases do pensamento de ambos destacando sua influência sobre os pensadores que marcaram o fim da Antiguidade e o início da Idade Média No entanto uma novidade que marcou uma diferença significativa em relação à filosofia grega antiga emergiu a partir do século I dC Tratase de uma outra modalidade de conhecimento que gradualmente ampliou sua influência sobre a intelectualidade romana Também será discutido o Cristianismo e suas relações estabelecidas com a filosofia Veremos como essa interação contribuiu para o amadurecimento do pensamento de dois grandes filósofos Santo Agostinho séculos IV e V dC da Era Patrística e São Tomás de Aquino século XIII dC da Era Escolástica 3 Filosofia 2 Pontos de Aprendizagem Durante a leitura deste texto é importante compreender que a filosofia grega antiga nos legou a ruptura estabelecida pelo pensamento racional em relação à mitologia inaugurando a filosofia como um campo de conhecimento que busca entender os conceitos essenciais que atribuímos a nós mesmos e à realidade Esse legado se tornou mais evidente quando Platão e Aristóteles sistematizaram suas teorias o idealismo e o realismo que se tornaram as correntes filosóficas fundamentais do mundo antigo Além disso ao retornar ao texto observe que as bases teóricas desses dois filósofos serão novamente abordadas mas de forma diferente na produção filosófica do fim da Antiguidade e da Idade Média No entanto é importante destacar alguns pontos fundamentais tais como o que ocorreu com o pensamento filosófico grego após a morte de Platão e Aristóteles no período denominado helenismo verificar que a filosofia se relacionou com um outro tipo de conhecimento de base religiosa o cristianismo do seu primeiro da Era cristã encontrando na Filosofia a base de justificação da fé no período que ficou conhecido como Patrística perceber que matriz do pensamento de Platão retornou à cena filosófica sob a forma de neoplatonismo nos primeiros séculos depois de Cristo e como o neoplatonismo auxiliou Santo Agostinho a estruturar seu pensamento propiciando uma base sólida para a teologia cristã por fim veja como a matriz do pensamento de Aristóteles também retornou à cena filosófica mediada pelos pensadores árabes no período denominado Escolástica possibilitando fundamentar o pensamento de São Tomás de Aquino no século XIII Por fim atentese para a relação entre Filosofia e Teologia na qual os pensadores cristãos reduziram a racionalidade da Filosofia a uma atividade de serventia para se fazer Teologia tanto no período da Patrística quanto no período da Escolástica 3 Aprofundando os pontos Platão e Aristóteles proporcionaram à filosofia grega antiga o que foi considerado uma revolução intelectual estabelecendo as bases de pensamento que perduram até hoje Platão filósofo do idealismo e Aristóteles filósofo do realismo criaram concepções filosóficas que transcenderam suas próprias eras ressurgindo com vigor renovado no final da Antiguidade e durante a Idade Média Além disso discutiremos a interpretação predominante da filosofia medieval onde alguns autores afirmam que o desenvolvimento teórico de Santo Agostinho foi influenciado pela cristianização do pensamento de Platão O mesmo se diz do pensamento de São Tomás de Aquino que teria sido moldado pela cristianização das ideias de Aristóteles 4 Filosofia Tema 1 Legado da Filosofia Antiga Advento da Filosofia Medieval Os filósofos clássicos da filosofia antiga como os présocráticos os sofistas Sócrates Platão e Aristóteles tornaramse referência fundamental para o desenvolvimento do pensamento filosófico nos séculos seguintes A partir do século III aC uma nova geração de pensadores emergiu seguindo uma profunda transformação no mundo ocidental devido ao crescimento e fortalecimento do cristianismo a partir do século I dC Foi a crença em Jesus Cristo que teve poder suficiente para influenciar significativamente as reflexões filosóficas provenientes do mundo antigo Com suas verdades de fé baseadas na revelação divina o cristianismo se tornou o foco central das discussões filosóficas no final da Antiguidade e mais especificamente a partir do século I dC permeando todo o período medieval Objetivos de Aprendizagem Conhecer as bases do helenismo e a emergência da filosofia medieval Identificar as principais correntes filosóficas que estabeleceram os fundamentos da filosofia medieval Conteúdo 11 Bases do Helenismo Preparando o Ambiente da Filosofia Cristã Medieval Quando pensamos em filosofia certamente nomes como Sócrates Platão e Aristóteles vêm à mente pois já fazem parte de nossa cultura associados ao ato de filosofar Mas o que surgiu em termos de filosofia após a morte desses filósofos clássicos Sabemos que seus alunos amigos e discípulos que acompanharam suas discussões e registraram suas ideias possibilitaram que gerações futuras tivessem acesso ao pensamento de seus mestres Ao mesmo tempo outros filósofos surgiram após o século IV aC trazendo novas questões para o cenário filosófico A partir do século III aC a filosofia se concentrou em questões éticas e no sentido de uma vida que valesse a pena ser vivida Um exemplo é Epicuro de Samos conhecido por sua ética baseada no prazer Para ele a felicidade consistia em encontrar prazer nas coisas simples da vida A razão era vista como um meio de aprimorar o prazer permitindo que o ser humano alcançasse verdadeira autonomia livre de qualquer domínio externo Um exemplo do pensamento ético epicurista pode ser encontrado na maneira como nos alimentamos Se considerarmos que nos alimentamos de pão e reconhecemos isso como necessário para nossa satisfação o simples ato de comer já deveria ser suficiente para alcançar o contentamento Não precisaríamos de nada além do sabor básico do pão o prazer deveria ser encontrado no que é simples e essencial Por 5 Filosofia outro lado no mundo contemporâneo existe um descontentamento vertiginoso que adiciona inúmeras camadas ao simples ato de comer pão complicando seu sabor com uma infinidade de elementos e possibilidades às vezes obscurecendo a própria experiência do sabor e nos tornando dependentes de coisas que não são essenciais mas secundárias Essa situação exemplifica um problema mais profundo do ponto de vista da ética epicurista Uma pessoa que se torna dependente de múltiplos sabores para apreciar um simples pedaço de pão não está preparada para enfrentar as dificuldades da vida Ela se acostuma com prazeres considerados sofisticados mas que são insaciáveis Como podemos ver a Ética do prazer proposta por Epicuro convida o ser humano a reavaliar o que é verdadeiramente essencial e a valorizar o que é natural O exemplo de Epicuro ilustra como a filosofia grega antiga emergente a partir do século III aC não se limitava mais aos grandes sistemas filosóficos que buscavam responder a uma ampla gama de questões humanas como mencionamos anteriormente Assim posteriores à Platão e Aristóteles emergiram teorias circunscritas a problemas bem delimitados Observe o quadro a seguir Filósofo Corrente Filosófica Teoria Objeto de investigação Epicuro séc III aC Epicurismo O prazer como fruto de racionalização sobre a vida em função da felicidade Ética Zenão de Cício séc III aC Epicteto séc I dC Sêneca séc I dC Marco Aurélio séc II dC Ética Propõe uma ética de controle das paixões baseada na apatia isto é não se deixar perturbar por coisa alguma alegre ou triste É uma ética de resiliência para se alcançar a felicidade Estoicismo Pirro de Élis séc III aC Arcesilau séc III aC Carnéades de Cirene séc II aC Ceticismo Acadêmicos Pirro acompanhou Alexandre o Grande conhecendo a cultura da Pérsia e da Índia Na Grécia fundou o ceticismo ou pirronismo escola filosófica que se utiliza da dúvida de forma radical Arcesilau e Carnéades tornaram a Academia de Platão uma escola do ceticismo O conhecimento Diógenes de Sinope séc IV aC Cinismo Tinha como base que a vida deveria seguir as leis naturais de modo que o homem livre seria aquele que de coisa alguma pudesse depender repudiando as convenções sociais Ética Cícero séc I dC Ecletismo Doutrina que seleciona princípios das várias teorias filosóficas para utilizá las na solução de problemas O ecletismo se utiliza da liberdade de conciliar teorias diversas até contraditórias Ética e Direito 6 Filosofia Pensadores diversos Gnosticismo Doutrina que integrava conhecimento místico cristianismo e filosofia grega com interpretações variadas O acesso ao conhecimento se dava somente para iniciados pois os gnósticos se organizavam em grupos fechados O conhecimentoa verdadea magia Plotino séc II dC Neoplatonismo Utilizavam a base teórica de Platão para produzir explicações sobre os mais variados temas sobre a origem do conhecimento e do mundo atingiu seu apogeu no século III da Era cristã Teve por retaguarda as cidades de Atenas e de Alexandria e por cenário principal a cidade de Roma Amônio Sacas séc II dC foi considerado o fundador mas foi Plotino seu discípulo quem formulou e divulgou o neoplatonismo em Roma cujo discípulo brilhante Porfírio também do séc II dC auxiliou nessa tarefa O conhecimentoa verdadea ética Quadro 1 Teorias filosóficas Helenismo Fonte Elaborado pelo autor Com base no panorama das teorias filosóficas do Helenismo vamos esclarecer melhor o desenvolvimento da filosofia desde o século III aC até o início da Idade Média no século V dC É importante lembrar que os grandes filósofos da era dourada da filosofia pertenciam ao mundo grego sob o paradigma da democracia Em Atenas as teorias desses filósofos eram frequentemente discutidas no contexto da ética aplicada à política Por exemplo ao examinarmos a ética de Aristóteles vemos que para ele o indivíduo que busca uma vida virtuosa deve exercêla no espaço político Daí vem o significado que Aristóteles atribuía ao termo aristocracia que denotava o governo dos virtuosos ou seja indivíduos de excelência moral capazes de estabelecer leis justas e consequentemente promover uma governança justa Devemos lembrar que na época de Aristóteles ocorreu a invasão macedônica liderada pelo imperador Felipe Após sua morte o império macedônico que havia conquistado as cidades gregas passou para seu filho Alexandre o Grande que foi discípulo de Aristóteles Foi neste ambiente imperial que a democracia grega chegou ao fim pois as leis passaram a ser impostas sem discussões ou debates argumentativos sendo determinadas apenas pela vontade do imperador Mesmo após a morte de Alexandre a democracia grega não se restabeleceu pois logo em seguida Roma assumiu o controle da região grega No entanto Alexandre deixou um legado significativo ao expandir não apenas o império macedônico mas também a disseminação da cultura grega nas regiões conquistadas Isso permitiu que as obras dos filósofos gregos fossem difundidas para além dos limites do mundo grego conhecido Assim a leitura e o estudo das obras filosóficas gregas se misturaram a novas interpretações dando origem a novas teorias filosóficas como as que apresentamos no Quadro 1 Esse período da história do pensamento ocidental é conhecido como Helenismo que se refere ao mundo helênico ou grego que se disseminou para outras culturas O mesmo fenômeno ocorreu com Roma que se tornou o novo império dominante no século II aC absorvendo a cultura grega e sendo profundamente influenciada pelo Helenismo especialmente em termos de filosofia e religião 7 Filosofia 12 Helenismo Gnosticismo e o Maniqueísmo Já sabemos que o período denominado helenismo se iniciou com a expansão do império macedônio a partir da empreitada de Alexandre o Grande no século III aC e que a semente helênica plantada nos povos conquistados permitiu à filosofia grega se fundir com as culturas desses povos Surgiram assim diversas interpretações diferenciadas do pensamento clássico grego como o surgimento de várias seitas entre elas o Gnosticismo que combinava elementos de mística oriental filosofia grega e até mesmo fé cristã em um amalgama rico em concepções pseudofilosóficas Um exemplo notável é a seita que teve origem na Pérsia na primeira metade do século III dC fundada por Manés 215276 que misturou doutrinas de Zoroastro com elementos do cristianismo criando uma doutrina que buscava a fusão de ambas as concepções Esta seita foi chamada de Maniqueísmo e adotou o conceito de dualismo coexistência de dois princípios oriundo da tradição filosófica de Platão como pressuposto para compreender a realidade O dualismo proposto pelo Maniqueísmo caracterizavase como um conjunto de crenças de fundo moral que explicava a constituição do mundo como uma eterna luta entre Bem e Mal O Maniqueísmo teve sua fonte primária no zoroastrismo persa de onde herdou não apenas a dualidade entre bem e mal mas também a concepção cosmológica Na cosmologia maniqueísta os astros desempenhavam um papel fundamental eles se inseriam na ordem estabelecida pelas substâncias em conflito das quais tudo emanava Assim a luta moral do indivíduo consistia em aderir ao bem e à luz em oposição ao mal e às trevas Citamos o Maniqueísmo porque ele será de extrema importância mais adiante quando analisarmos o pensamento de Santo Agostinho e compreendermos nosso estudo de caso Em resumo durante o helenismo diversas concepções filosóficas surgiram conforme explicado no quadro anterior incluindo interpretações pseudofilosóficas como a seita Maniqueísta Desde o século III aC até os primeiros séculos da Era Cristã essas correntes filosóficas buscaram sistematizar suas teorias formando um conjunto plural de interpretações filosóficas muitas delas voltadas para uma ética como sentido da vida Se por um lado na antiguidade clássica tínhamos Atenas do século IV aC como referência central do fazer filosófico nos primeiros séculos da Era Cristã foi Roma no século I dC que se tornou o centro de poder e atenção atraindo filósofos e outros intelectuais da época Foi nesse contexto que se configurou a realidade que possibilitou o surgimento da filosofia cristã nos primeiros séculos a qual se sistematizou ao longo do período medieval Ao longo deste tema destacamos que o pensamento de Platão e Aristóteles influenciou outros pensadores do fim da antiguidade na estruturação das teorias que marcaram os últimos séculos desse período antes do marco histórico que reformulou o calendário do Ocidente o nascimento de Cristo Esse período do fim da Idade Antiga foi rico em teorias filosóficas de base ética as quais exerceram profunda influência na sistematização da teologia cristã como o estoicismo e o gnosticismo Como último ponto observamos a compreensão dos principais filósofos cristãos 8 Filosofia Além da Sala de Aula Nesse conteúdo abordase como se estruturou o período do helenismo para o pensamento filosófico ocidental Não é por menos que ao tratar do helenismo e do início da filosofia cristã o texto em evidência se chama Todos os caminhos levarão a Roma Todos esses pontos são tratados por Ghiraldelli 2010 por isso faça a leitura da página 53 a 67 do livro A aventura da filosofia disponível na Minha Biblioteca Lembrese de que para iniciar a leitura do livro sinalizado é necessário fazer login no Ambiente Virtual de Aprendizagem e em seguida na Minha Biblioteca Título O helenismo e o início da filosofia cristã Páginas indicadas 53 a 67 Referência GHIRALDELLI JR P A aventura da filosofia de Parmênides a Nietzsche São Paulo Manole 2010 Tema 2 Santo Agostinho e o Platonismo Cristão O helenismo alcançou Roma transcendendo o mundo grego Em Roma a partir do século I dC havia uma diversidade de teorias filosóficas convivendo com diversas seitas que mesclavam filosofia e misticismo religioso como veremos ao discutir o gnosticismo O Império Romano tinha Roma como centro de um mundo cosmopolita mas isso não significava que todas as crenças e teorias filosóficas fossem valorizadas de igual forma Entre as seitas os cristãos foram violentamente perseguidos Aquele que foi crucificado com a inscrição em latim Iesus Nazarenus Rex Iudeorum Jesus Nazareno Rei dos Judeus apresentado pelos judeus como uma ameaça ao imperador continuava sendo um problema para Roma pois os cristãos acreditavam na ressurreição de Jesus Como essa seita se tornou a religião do Império Romano Da mesma forma que as contribuições da filosofia grega influenciaram os pensadores cristãos nos primeiros séculos de sua existência Objetivos de Aprendizagem Conhecer o neoplatonismo como base da filosofia cristã Entender as bases do pensamento de Santo Agostinho e sua influência para a filosofia cristã Compreender o pensamento de Santo Agostinho como fruto do período da Patrística Acesse aqui 9 Filosofia Conteúdo 21 O Cristianismo De Seita Judaica Perseguida à Construção das Bases Teológicas Neoplatônicas O século I dC marcou o surgimento de uma nova religião que teve um impacto profundo na civilização ocidental com o nascimento de Cristo De uma seita judaica em poucos séculos tornouse a religião oficial do Império Romano alterando radicalmente a cultura inclusive introduzindo um novo calendário o calendário gregoriano Esse nome foi dado porque em 1582 no final do século XVI o Papa Gregório XIII 15021585 promoveu um ajuste nas datas para corrigir uma pequena discrepância entre o calendário lunar e o solar levando em consideração os equinócios e as estações do ano Mas voltemos ao século I quando muitas pessoas aderiram ao cristianismo apesar das perseguições implacáveis do Império Romano que frequentemente levava os cristãos ao martírio com extrema violência Nos primeiros séculos do cristianismo havia uma busca por um entendimento mais profundo o qual encontraram no contato com a metafísica da filosofia neoplatônica Os textos dos evangelhos escritos no primeiro século refletiam concepções alinhadas com o escopo teórico da filosofia neoplatônica Em termos de exemplo podemos citar o Evangelho de João que se inicia com a expressão 1 No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus 2 Ele estava no princípio com Deus 3 Todas as coisas foram feitas por ele e sem ele nada do que foi feito se fez 4 Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens Essa passagem tem profundo significado quando investigamos a metafísica de Platão pois Verbo significa Palavra o Lógos grego do qual tudo procedeu a perfeição o Ser Assim do encontro da filosofia grega com o cristianismo emergiu uma nova área de conhecimento sistematizada entre os cristãos com muito valor Nos referimos aqui à Teologia 22 Bases da Patrística Como vimos os primeiros séculos da Era Cristã transformaram a Antiguidade em uma era marcada por uma nova modalidade de pensamento Os problemas que emergiram com o aparecimento de Jesus o Cristo orbitavam em torno de questões como Deus sua substância onipresença existência una e trina a perfeição divina e as relações entre o mundo espiritual e material entre outras questões teológicas Não se tratava mais apenas de discutir justiça beleza ou política pois essas questões passaram a fazer parte da teologia cristã Vários pensadores deixaram sua marca nos séculos iniciais da Era Cristã como Clemente de Alexandria 150215 dC Orígenes 185254 dC Tertuliano 160240 dC Ambrósio de Milão 340397 Jerônimo 347420 entre outros Esses pensadores nutriam a defesa da fé utilizando bases filosóficas por isso foram denominados de pensadores da patrística ou melhor dizendo foram considerados os pais do modo de pensar teológico do cristianismo também denominados padres da Igreja Nesse movimento patrístico destacase o pensamento filosóficoteológico de Santo Agostinho 10 Filosofia Agostinho cujo nome era Aurelius Agostinus 354430 deixou muitas obras mas vamos sintetizar os principais temas de seu pensamento e as contribuições que suas obras trouxeram para a sistematização da filosofia cristã Uma de suas obras que resume seu desenvolvimento intelectual é Confissões publicada entre 397 e 401 Nesta obra ele fundamenta questões essenciais como Deus felicidade e vida justa Agostinho narra seu amadurecimento intelectual começando com a leitura de Cícero filósofo romano e depois passando nove anos como seguidor dos maniqueístas uma seita do gnosticismo Em Confissões Agostinho relata seu abandono do maniqueísmo e sua adoção de uma postura cética influenciada pela filosofia dos Acadêmicos que duvidavam de tudo Para esses filósofos não havia possibilidade de existir uma verdade absoluta pois tudo era relativo Essa posição cética foi desafiada e superada por Agostinho após sua conversão ao cristianismo 23 O Contato Inicial de Agostinho com o Neoplatonismo Agostinho teve seu primeiro contato com o neoplatonismo através das influências do pensamento de Ambrósio que se tornou bispo de Milão em 374 À medida que Agostinho mergulhava nos discursos de Ambrósio ele começou a perceber o significado da transcendência presente na Sagrada Escritura interpretada de forma alegórica A ideia de substância espiritual que era nova para Agostinho trouxe uma nova interpretação para a afirmação bíblica de que o homem foi criado à imagem de Deus A tradição maniqueísta da qual Agostinho havia absorvido suas ideias sobre a criação do homem ensinava a eterna luta entre o bem e o mal e atribuía materialidade à existência de Deus ensinando que tudo iluminado tinha sua origem em Deus enquanto tudo que era de trevas vinha de Satanás Novamente Agostinho percebeu o quão limitado havia sido seu racionalismo e compreendeu que a chave para interpretar a Sagrada Escritura estava na compreensão da transcendência como uma descoberta da interioridade humana e não algo externo aos sentidos corporais Superando as concepções maniqueístas e o ceticismo o contato com Ambrósio permitiu a Agostinho conhecer as obras neoplatônicas de Plotino que exerceram profunda influência em sua visão de mundo Essa influência o ajudou a resolver uma série de questões como a natureza da verdade e sua acessibilidade o problema do mal a concepção da criação o significado do pecado entre outros 24 O Neoplatonismo de Plotino Agostinho entrou em contato com o pensamento de Plotino que não era simplesmente um seguidor de Platão mas sim um neoplatônico O neoplatonismo é uma vertente da filosofia ocidental que preserva as doutrinas centrais de Platão ao mesmo tempo em que as desenvolve de maneiras originais Entre essas ideias preservadas estão a transcendência absoluta do divino a imortalidade da alma e o ciclo de reencarnações a dualidade entre corpo e alma a superioridade da alma sobre o corpo e a distinção entre o mundo celestial e o terreno 11 Filosofia Confira no quadro a seguir as diferenças entre Platão e Plotino Platão Plotino O mundo das ideias é estático e imutável O Uno é dinâmico Dele emanam todas as coisas As ideias não procedem umas das outras A processão não é apenas um conceito intelectual mas real todos os seres da escala ontológica procederiam do Uno O Uno platônico é causa exemplar de todos os seres O Uno não é somente causa exemplar mas causa eficiente por emanação de todos os seres As relações entre o mundo inteligível e o mundo sensível são distantes no sentido de o mundo sensível parecer resultado de um capricho do Demiurgo daí a ideia apresentada no Mito da Caverna de que o mundo seria uma pálida sombra proveniente por imitação do mundo das ideias O mundo sensível é uma exigência da bondade efusiva do Uno portanto a relação é de necessidade entre ambos os níveis da realidade Quadro 2 Comparação entre Platão e Plotino Fonte Elaborado pelo autor Agostinho interpreta as ideias de Plotino para fundamentar as verdades de Fé com as quais havia tomado contato a partir dos sermões de Ambrósio Em síntese Agostinho atingiu finalmente as seguintes descobertas A verdade é possível Deus não é matéria tampouco a alma o é Os dogmas cristãos se iluminam ao contato com a Filosofia neoplatônica A fé se coloca em primazia à razão no entanto a razão auxilia na compreensão da fé A finalidade do homem é ser feliz e a felicidade consiste na contemplação da verdade que é Deus 25 A Doutrina da Iluminação Desde sua conversão ao cristianismo Agostinho descobriu que a verdade é alcançada por aquele que se entrega a ela e que sendo Deus a fonte da Verdade a adesão a Deus não é simplesmente um ato da razão que apenas especula mas sim um ato de fé Daí a expressão de Agostinho Creio para compreender compreendo para crer onde fica claro que a fé está em primeiro lugar embora a razão também tenha o papel de auxiliar na compreensão da fé A Teologia como atividade baseada na fé e que utiliza a razão para fundamentar as verdades de fé assume essa tarefa A verdade portanto é acessível a todo ser humano tendo sua fonte em Deus que é a causa e providência de todo o Bem Nesse sentido surge a questão do mal se Deus é a fonte de toda a realidade incluindo o mal que vemos pecado injustiça sofrimento seria Ele também o autor do mal Esta questão foi central na época de Agostinho e gerou muitas obras que combatiam o maniqueísmo cuja doutrina encontrava aceitação fácil ao sugerir uma batalha direta 12 Filosofia entre o bem e o mal No entanto Agostinho rejeitou essa ideia ao elaborar sua doutrina sobre o mal Em resumo o argumento de Agostinho se baseia na ideia de que Deus criou tudo por um Amor absoluto e pelo Bem Sua criação reflete vestígios do Criador de modo que todas as coisas contribuem de maneira hierárquica para estabelecer a ordem natural A ordem natural segundo Agostinho é a expressão do próprio amor de Deus denominada por ele de Ordo Amoris a ordem do amor Ao contemplarmos a natureza não percebemos mal algum pois tudo contribui para uma cadeia de bens interconectados através de necessidades No entanto o ser humano dotado de livre arbítrio possui a capacidade de escolher o mal ou seja fazer escolhas prejudiciais para si mesmo Como consequência desequilibra a realidade introduzindo o mal e o pecado na ordem natural Mas poderia haver algum mal a ser escolhido Não Toda escolha seria feita com base na busca por algum bem a ser alcançado Assim mesmo o pior dos seres humanos poderia fazer escolhas visando algum bem O problema residiria então em determinar se o bem almejado poderia ser genuinamente escolhido Não haveria um mal a ser escolhido mas sim a possibilidade de uma má escolha Qual seria o remédio para esses erros Segundo Agostinho se o pior dos seres humanos ama de maneira incorreta o remédio estaria em aprender a amar corretamente Assim aquele que ama incondicionalmente e sem buscar a própria gratificação no objeto amado seria quem acerta em amar Amar de forma desinteressada reconhecendo que aquele que é amado é um reflexo de Deus tratandoo como um fim em si mesmo e não como um meio para alcançar algum objetivo Amar da maneira como Jesus ensinou que se deveria amar A partir dessas ideias uma série de questões políticas éticas estéticas e outras foram refletidas resultando em um conjunto de obras harmoniosas e interconectadas O legado de Agostinho perdurará por muitos séculos consolidando a teologia católica e influenciando outros pensadores que se alinharam à sua visão teológica Ao longo deste tema destacamos que o mundo grecoromano fundamentado na filosofia helênica foi profundamente transformado pela Fé cristã É evidente que a teologia cristã não surgiu independentemente da contribuição da filosofia grega especialmente do neoplatonismo Os primeiros séculos do cristianismo marcaram o estabelecimento dos fundamentos dessa nova religião que originada do judaísmo transcendeu fronteiras ao se tornar universal a salvação proposta por Cristo era destinada a toda a humanidade Essa dimensão de fé a salvação poderia ter sido facilmente apagada da história se o cristianismo não tivesse sido adotado por intelectuais do Império Romano que o justificaram pela razão Esses pensadores proporcionaram ao cristianismo o discurso filosóficoteológico necessário para fundamentar seus dogmas a Unidade Trina de Deus a divindade de Jesus Cristo a identidade divina do Espírito Santo e a unidade do Pai Filho e Espírito Santo como uma única entidade divina 13 Filosofia Assim o credo cristão como recitado no Credo de Niceia 325 dC aparenta ser um ato de fé mas teologicamente fundamentado derivado da metafísica neoplatônica que fundamentou o pensamento de um dos mais influentes pensadores da Idade Média Santo Agostinho Com ele a filosofia cristã se tornou um edifício bem estruturado com uma base filosófica sólida Nos séculos seguintes à morte de Agostinho a unidade do Império Romano já não existia dando início à Idade Média com seus diversos reinos e modos de vida Nesse novo contexto a unidade não era mais garantida pelo poder temporal do imperador mas sim pela autoridade espiritual do papa e do clero eclesiástico Além da Sala de Aula O texto oferece um aprofundamento do pensamento de Santo Agostinho levandonos a compreender que para ele a verdade é interpretada de forma distinta da tradição greco romana Agostinho não considera a verdade como um produto da mente humana pelo contrário ele a identifica como sendo Deus que se revela ao ser humano e o ilumina Este artigo foi escolhido em função de o autor ser um reconhecido pesquisador do pensamento de Agostinho que nos conduz nesta reflexão Ele demonstra como Agostinho superou o pensamento grecoromano ao afirmar que se a Verdade é Deus então filosofar no sentido cristão é buscar a verdadeira felicidade pois a filosofia leva ao encontro com Deus Todos esses pontos são tratados por Costa 2014 por isso faça a leitura a página 131 a 140 do texto Philosophiae portus e arx philosophiae apropriação e superação agostiniana da tradição filosófica GregoRomana em relação à felicidade Título Philosophiae portus e arx philosophiae apropriação e superação agostiniana da tradição filosófica Grego Romana em relação à felicidade Páginas indicadas 131 a 140 Referência COSTA M R N Philosophiae portus e arx philosophiae apropriação e superação agostiniana da tradição filosófica Grego Romana em relação à felicidade TransFormAção Marília v 37 n 3 p 131142 SetDez 2014 Tema 3 O Desenvolvimento da Escolástica São Tomás de Aquino e o Aristotelismo Cristão O mundo oriental seguiu um caminho distinto da tradição ocidental Referimonos aqui à cultura árabe e ao contato que seus pensadores tiveram com a filosofia grega Enquanto os primeiros séculos da Era Cristã viram o contato platônico e neoplatônico que culminou na teologia de Santo Agostinho no século V foi apenas nos séculos XI Acesse aqui 14 Filosofia e XII que as obras de Aristóteles foram redescobertas pelos pensadores árabes Eles traduziram e difundiram a filosofia analítica proposta por Aristóteles Avicena 980 1037 médico político e filósofo harmonizou a doutrina de Maomé com a filosofia aristotélica influenciado por AlFarabi Por sua vez Averróis 11261198 também médico juiz e filósofo dedicouse profundamente às obras de Aristóteles tornando se um comentarista oficialmente reconhecido Suas obras exerceram grande influência sobre a Escola de Paris uma das principais universidades formadoras da intelectualidade da época A história revela que Maomé 571632 unificou as tribos beduínas sob a crença em um único Deus Alá o Grande Com esse poder os árabes governaram a Península Ibérica por séculos deixando um profundo impacto cultural Por exemplo Lisboa foi reconquistada pelos cristãos em 1147 Córdoba em 1236 e Granada em 1492 Desde o século VIII o mundo ocidental mantinha relações significativas com a cultura árabe resultando na consolidação de dois modelos de civilização distintos marcados por crenças costumes e idiomas divergentes Não é surpresa que São Tomás de Aquino 12251274 tenha entrado em contato com as traduções de Aristóteles promovidas pelos pensadores árabes Inicialmente havia resistência às obras de Aristóteles devido à tradição neoplatônica que era profundamente contrária a Aristóteles No entanto essa resistência foi dissipando se quando São Tomás de Aquino conciliou as teorias de Aristóteles com as verdades da fé cristã Ele escreveu uma obra que se tornou um compêndio do conhecimento de sua época a Suma teológica Summa Theologiae Essa obra que significa síntese da Teologia apresentava os principais ensinamentos da Igreja os dogmas a doutrina católica e todas as questões teológicas foram analisadas sob a ótica das obras de Aristóteles e de outros filósofos neoplatônicos Objetivos de Aprendizagem Conhecer as bases do movimento escolástico Identificar os elementos inerentes ao movimento escolástico e sua relação com o pensamento tomista Analisar o processo de cristianização do pensamento de Aristóteles Identificar o pensamento de São Tomás de Aquino como marco do aristotelismo cristão Conteúdo 31 A Filosofia de Aristóteles como Base do Pensamento Tomista Para uma compreensão mais adequada do pensamento de São Tomás de Aquino século XIII é importante considerar que o cristianismo já estava consolidado e que obras gregas estavam sendo traduzidas para o latim compiladas em mosteiros e guardadas em bibliotecas Ordens religiosas que tinham forte tradição de formação 15 Filosofia espiritual e intelectual formavam o clero garantindo o que poderíamos chamar de unidade educacional Esse conceito foi consolidado no século IX originando o termo escolástica cujo movimento se estendeu até o século XVI É na esteira da escolástica que surge o pensamento de São Tomás de Aquino cuja teologia se fundamentou no pensamento de Aristóteles Vale a pena lembrar que Aristóteles construiu sua abordagem a partir do conceito de Lógos Aristóteles compreendeu que o mundo é estruturado pelo Lógos ou seja pela Razão e que tudo pode ser explicado racionalmente Em Aristóteles encontramos a metafísica como um elemento constituinte do mundo físico Para clarificar consideremos um exemplo ao observarmos uma ponte que se estende por centenas de metros sobre um rio sua estrutura é evidentemente composta por aço concreto e outros materiais que lhe conferem sua materialidade mundo físico No entanto sem o cálculo matemático que precede sua construção aspecto metafísico toda essa materialidade seria inútil Assim o que não é físico a matemática fundamenta o que é físico a ponte mostrando que não podemos separar essas realidades exceto para fins de compreensão ao explicálas à luz da razão Com Aristóteles a metafísica que representa a realidade inteligível acessível apenas pela razão não se separa da física Portanto podemos concluir que a realidade material está intrinsicamente ligada à sua base metafísica Outro princípio fundamental no pensamento de Aristóteles é o movimento dos corpos Se o movimento de algo é causado por um fator externo então esse movimento é causado por um motor ou seja por uma causa que induz o movimento do objeto Ao investigarmos a causa de um determinado motor chegamos à conclusão de que ele também precisaria de outro para lhe causar movimento e assim sucessivamente Aristóteles concluiu que a realidade não poderia implicar uma sucessão infinita de motores o que implica a existência de um primeiro motor aquele que seria a causa do movimento de todos os outros Esse motor seria imóvel pois seria a causa primordial de todos os movimentos e ao mesmo tempo a causa de si mesmo não necessitando de um outro agente causador Daí a ideia do motor imóvel da causa não causada da potência primeira tratadas em sua obra A Metafísica Quando São Tomás de Aquino teve acesso a essas ideias assim como ocorreu com os pensadores árabes sua mente se iluminou ao descobrir nas ideias de Aristóteles as bases extremamente esclarecedoras para a teologia cristã O motor imóvel era identificado como Deus a causa não causada e a potência primeira de todas as potências necessárias para o funcionamento do mundo A metafísica sendo fruto da mente divina explicaria a materialidade do mundo como seu fundamento Dessa forma uma série de conceitos metafísicos emergiram como ferramentas para a compreensão da realidade mundana da natureza e da existência humana Ato Potência Essência Ser ente e outros tantos conceitos metafísicos se tornaram a base de explicação das questões teológicas do cristianismo Nessa linha de pensamento emergiu o pensamento de São Tomás de Aquino como um edifício sólido fundamentado em bases robustas que permitiram um tratamento 16 Filosofia analítico da religião cristã É importante lembrar que o método analítico utilizado por Aristóteles na filosofia parte do princípio de dividir uma questão em tantas partes quantas forem necessárias Ao conhecer detalhadamente cada uma dessas partes é possível compreender adequadamente o todo Esse método é essencial para fundamentar o conhecimento científico sendo aplicável a qualquer campo do saber que busque uma formulação científica precisa Ao contrário da dialética que se baseia no princípio da contradição e é expressa por meio de disputas argumentativas uma prática conhecida e cultivada por séculos a abordagem analítica de Aristóteles havia sido negligenciada até o ressurgimento de suas obras na cena intelectual No entanto o contexto no qual a análise analítica foi aplicada durante a escolástica medieval pouco se assemelha ao contexto original em que Aristóteles desenvolveu seu pensamento No século XIII as preocupações predominantes eram de natureza teológica Assim a mais alta forma de conhecimento era considerada a Teologia e qualquer método que contribuísse para fundamentar esse conhecimento era bemvindo entre os círculos intelectuais cristãos 32 A Existência de Deus Foi o método analítico de Aristóteles que permitiu à Tomás de Aquino elaborar as teses racionais para comprovar a existência de Deus e sintetizar o conhecimento que se tinha como suporte na época em que sua obra a Suma teológica foi escrita Em síntese as provas se fundamentavam nos seguintes princípios Podemos chegar à Deus pela razão A primeira via caminho seria a ideia do motor imóvel isto é Deus seria a causa primeira e portanto a causa que não foi causada por coisa alguma A segunda via demonstra racionalmente a causa eficiente das coisas em que é necessário se admitir uma causa eficiente primeira à qual todos dão o nome de Deus A terceira a ideia do ser necessário em que não seria possível proceder ao infinito nos seres necessários que teriam uma causa de sua necessidade por isso devese admitir um ser necessário como causador de todos os outros A quarta se relaciona aos graus do ser em que se conclui que haveria também um Ser que seria causa de todos os seres Por fim a quinta e última trata da ordem que está presente no universo que se refere ao princípio de ordenamento de todas as coisas por sua teleologia isto é pelo seu télos palavra grega que significa fim no sentido de finalidade Ora o mundo estaria organizado teleologicamente isto é tudo o que vemos cumpriria uma finalidade de sorte que o princípio fundamental do télos seria o causador de toda a teleologia de modo que a ordem universal não seria aleatória Boehner Gilson 2000 Eis portanto a existência de Deus demonstrada como arquiteto do princípio de ordem 17 Filosofia 33 A Criação e o Homem Como podemos perceber os conceitos relacionados à existência de Deus conforme abordados na teologia tomista permitem inferir questões fundamentais como a criação do mundo e do homem Conforme nos apresentam Boehner e Gilson 2000 p 460 Deus deu existência ao mundo por um ato livre de natureza espiritual e pressupõe que Deus conheça aquilo que quer criar Nesse sentido Deus primeiro criou a ideia como princípio da constituição da realidade a partir da qual as formas concretas emergiram Contudo a mente humana não teria como compreender como Deus procedeu com a criação pois em Deus segundo Tomás de Aquino em seu plano de criação universal não poderia ser explicado pelo modelo de planejamento que o ser humano possui Por exemplo a mente humana é capaz de planejar algo daí ela procura a matéria para dar corpo ao que foi planejado institui após o conjunto de atos que irão configurar o projeto tornandoo efetivo e por fim a coisa planejada se torna concretizada Em Deus não seria assim Sendo potência absoluta a razão em Deus conduzida por sua perfeição projetou a realidade como a conhecemos tendo por base as partes que se constituíram no tempo De sorte que a criação do homem obedeceria ao projeto e princípio de ordenação do mundo e das coisas sendo o homem um ser inteligente e consciente de sua dependência ao criador Assim o ser humano dotado de sua livre vontade pode se afastar da perfeição que é Deus Essa liberdade conforme argumentado por Santo Agostinho permite ao homem escolher se afastar da fonte do Bem tornandose deficiente em Bem por sua própria escolha Privarse do Bem por escolha própria implica contentarse com um bem limitado e egoísta Este é o significado do pecado no mundo e como ele distancia o homem de sua natureza original que é ser imagem e semelhança do Criador São muitas as questões que São Tomás de Aquino passou a analisar ao integrar o pensamento de Aristóteles à Teologia Assim a religião como objeto de investigação tornouse a análise dos modos como ela traduz o sagrado para os seres humanos e como ela responde adequadamente às questões de natureza física e metafísica conciliando os dogmas de fé a Sagrada Escritura a Tradição da Igreja e as verdades teológicas consolidadas ao longo dos séculos Essas linhas não esgotam o emaranhado de conceitos que poderiam ser investigados pois a Suma Teológica é extensa em suas explorações dos mais variados temas Contudo é importante destacar que o pensamento de Tomás de Aquino permitiu a construção de uma filosofia da religião baseada nas contribuições da filosofia cristã especialmente da escolástica que introduziu uma novidade significativa ao integrar o pensamento aristotélico ao escopo teológico cristão permanecendo influente até os dias de hoje São Tomás de Aquino pode ser considerado um arquiteto dessa perspectiva A partir de seu pensamento e concepção metafísica a religião cristã se tornou mais solidamente fundamentada no uso da racionalidade complementando a base estabelecida pela 18 Filosofia patrística Em resumo o método de pensamento tomista permitiu abordar o fenômeno religioso de maneira analítica proporcionando um tratamento racional às questões da fé cristã Isso resultou em uma fundação robusta contra as heresias conforme pretendido pelo movimento escolástico cujo objetivo era apresentar o conhecimento com bases teológicas sólidas Dessa forma todas as questões humanas poderiam ser respondidas e justificadas de maneira a serem apresentadas ao mundo Ao longo deste tema exploramos o período conhecido como Escolástica que teve início no século IX e alcançou seu ápice no século XIII com o pensamento de São Tomás de Aquino Esse período ocorreu durante a Idade Média quando os vários reinos estavam estabelecidos em seus respectivos poderes e a Igreja se tornou a unidade central do mundo cristão A defesa das verdades da fé e a perpetuação do conhecimento considerado verdadeiro foram os pilares da escolástica Nesse contexto a teologia de Santo Agostinho do século V deu lugar a uma nova abordagem teológica mais analítica influenciada pela sistematização das obras de Aristóteles como se vê na Suma Teológica de São Tomás de Aquino Não é à toa que o pensamento tomista representa uma nova forma de fundamentar as verdades da fé Na prática escolástica o conhecimento era visto como estático e as verdades filosoficamente fundamentadas eram consideradas abrangentes o suficiente para explicar todas as coisas A Suma Teológica oferece explicações para uma ampla gama de áreas do conhecimento humano daquela época No entanto essa crença na estabilidade do conhecimento foi questionada nos séculos subsequentes a Tomás de Aquino o que será tema do próximo tema abordado Além da Sala de Aula Temos neste conteúdo outras informações sobre o modo como Tomás de Aquino sistematizou suas ideias É perceptível um outro modo de escrita e de abordagem daí a necessidade de leitura para ter uma outra visão das mesmas questões aqui já abordadas Todos esses pontos são tratados por Ferreira et al 2021 por isso faça a leitura da página 67 a 72 do livro Filosofia da Religião disponível na Minha Biblioteca Lembrese de que para iniciar a leitura do livro sinalizado é necessário fazer login no Ambiente Virtual de Aprendizagem e em seguida na Minha Biblioteca Título A filosofia escolástica e a questão do diálogo fé e razão Páginas indicadas 67 a 72 Referência FERREIRA G B et al Filosofia da religião São Paulo Grupo A 2021 Acesse aqui 19 Filosofia 4 Teoria na Prática O Maniqueísmo está na cultura de hoje Neste momento imagine que você tenha entrado em contato com o conceito de maniqueísmo e descobriu que ele se baseia no dualismo ou seja é uma teoria gnóstica que sustenta a ideia de que o bem e o mal são princípios eternos em um conflito perpétuo No entanto vale a reflexão será que essa filosofia religiosa que foi extinta por volta do fim do primeiro milênio ainda exerce influência em nossa cultura Considere a seguinte situação Uma jovem que chamaremos de Camile do segundo ano do Ensino Médio Seu professor de filosofia distribuiu entre os 25 alunos de sua turma uma série de temas para estudo e apresentação O trabalho possuía um roteiro de apresentação a ser seguido com tópicos bem especificados O grupo de Camile é composto por quatro integrantes que se reuniram e decidiram dividir os temas exigidos pelo professor para a apresentação sorteando entre si os assuntos que cada um deverá pesquisar para compartilhar com o grupo visando uma excelente apresentação no dia marcado Camile foi sorteada para apresentar o seguinte tema Demonstre como podemos perceber e provar a influência do maniqueísmo em nossa cultura atual Ela se sentiu desafiada pelo tema pois sabia que o maniqueísmo foi uma filosofia religiosa da época de Santo Agostinho e considerou intrigante como essa influência poderia ser observada nos dias de hoje Diante desse contexto pare e reflita Como verificar se haveria alguma possibilidade de o maniqueísmo ainda existir em nossa realidade Se a resposta fosse positiva como provar que o maniqueísmo presente em nossa cultura teria traços assemelhados aos existentes no século V dC 5 Sala de Aula Nesta videoaula abordaremos os conceitos relacionados aos períodos do Helenismo correspondente ao fim da Idade Antiga à Patrística como período de defesa da fé cristã pela utilização da filosofia grega e à Escolástica como tentativa de consolidação das verdades de fé Para cada um desses períodos destacam se os pensadores que mais contribuíram para a filosofia cristã com especial ênfase em Santo Agostinho e São Tomás de Aquino figuras marcantes na história da filosofia cristã É crucial aprofundar nosso entendimento das bases do pensamento de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino para ajudar na resolução dos problemas cotidianos Esse conteúdo está disponível em seu Percurso de Aprendizagem no Ambiente Virtual Clique aqui para fazer login e acesse o Sala de Aula na sua disciplina Acesse aqui 20 Filosofia 6 Infográfico Neste infográfico sintetizamos os conceitos abordados nesta unidade É importante verificar as conexões entre pensadores conceitos e suas teorias assim como o percurso e a evolução do pensamento filosófico cristão O início desse percurso ocorre com a disseminação da cultura grega por Alexandre o Grande que introduziu novas correntes filosóficas Com o surgimento e a oficialização do cristianismo no Império Romano pensadores cristãos integraram elementos da filosofia grega em sua teologia Santo Agostinho utilizou o neoplatonismo enquanto São Tomás de Aquino incorporou a lógica de Aristóteles culminando no movimento escolástico Período do helenismo Expansão da cultura grega para outros povos por Alexandre o Grande Novas teorias filosóficas Ceticismo Epicurismo Estoicismo Cinismo Ecletismo Teorias gnósticas mescla de filosofia e crenças variadas O cristianismo de seita à religião do Império Romano Século I Jesus tornase o marco de uma nova crença religiosa iniciada como seita e tornada religião em 313 pelo Imperador Constantino que se converteu Os pensadores cristãos adotam algumas correntes da filosofia grega como base para a arquitetura da teologia cristã Santo Agostinho e o neoplatonismo Agostinho que frequentou a seita dos maniqueístas por nove anos se converte ao cristianismo Agostinho lê a filosofia neoplatônica de Plotino e a utiliza para fundamentar sua arquitetura teológica Agostinho elabora a teoria da iluminação e resolve o problema do mal combatendo o maniqueísmo São Tomás de Aquino e o pensamento de Aristóteles São Tomás de Aquino viveu no século XIII na plenitude do movimento escolástico Escolástica foi um movimento iniciado no século IX e tinha por objetivo garantir que as verdades de fé fossem perpetuadas e ensinadas São Tomás de Aquino tem contato com as teorias de Aristóteles que chegaram à Europa por meio das traduções vindas dos filósofos árabes Avicenas e Averróis São Tomás de Aquino construiu uma nova teologia fundada na razão analítica de Aristóteles sintetizada em sua obra Suma teológica Do Helenismo do Fim da Idade Antiga à Escolástica do Século XIII o percurso da filosofia cristã 21 Filosofia 7 Direto ao Ponto Ao longo deste percurso exploramos como o pensamento filosófico não se limitou à era de Platão e Aristóteles considerados os principais filósofos da antiguidade Pelo contrário novas teorias filosóficas surgiram com abordagens bastante distintas dos grandes sistemas filosóficos A partir do século III aC emergiram teorias cujo foco principal era ensinar a viver melhor Eram sistemas éticos como o Estoicismo o Epicurismo o Cinismo e o Ecletismo que ganharam destaque em um mundo transformado pelo império macedônico Com a expansão liderada por Alexandre o Grande a cultura grega foi difundida pelas terras conquistadas marcando o período conhecido como Helenismo Essa realidade mudou drasticamente após a morte de Alexandre e a conquista de suas terras por Roma Roma emergiu como o centro do mundo conhecido atraindo numerosos pensadores para a cidade Durante esse período os cristãos formavam uma seita religiosa que sofria perseguições pelo império No entanto essa situação mudou quando o imperador Constantino reconheceu o cristianismo como a religião oficial do Estado Nos primeiros séculos os pensadores cristãos já haviam entrado em contato com a filosofia grega mas foi a partir do reconhecimento de Constantino que a teologia cristã se fortaleceu No final do século IV surgiu aquele que se tornaria o maior pensador do cristianismo antigo Santo Agostinho Após sua passagem pela seita dos maniqueístas Agostinho converteuse ao cristianismo e desenvolveu uma teologia robusta Com o avançar dos séculos a Idade Média consolidouse e a Igreja tornouse o centro de unidade no mundo medieval No século IX surgiu um movimento que visava preservar e perpetuar a fé cristã através do ensino seguro e autorizado Esse movimento ficou conhecido como Escolástica A Escolástica gradualmente se tornou a principal defensora da fé cristã e das verdades religiosas No século XIII São Tomás de Aquino emergiu como uma figura central na consolidação desse movimento Influenciado pelas obras de Aristóteles que conheceu através de filósofos árabes Aquino adaptou as teorias aristotélicas à teologia cristã fundamentando uma nova abordagem teológica Para sua autorreflexão Identificou o que foi o Helenismo e quais teorias filosóficas gregas surgiram nesse período Conheceu como Santo Agostinho se utilizou da influência neoplatônica para elaborar a teologia cristã Entendeu como São Tomás de Aquino se utilizou do pensamento de Aristóteles para construir seu edifício teológico 22 Filosofia 8 Referências BOEHNER P GILSON E História da filosofia cristã desde as origens até Nicolau de Cusa 7 ed Rio de Janeiro VOZES 2000 COSTA M R N Philosophiae portus e arx philosophiae apropriação e superação agostiniana da tradição filosófica GregoRomana em relação à felicidade TransForm Ação Marília v 37 n 3 p 131142 SetDez 2014 Disponível em httpswwwscielo brjtransaynmCxVwcFJVHLSZLdvBVH5zlangpt Acesso em 28 maio 2024 FERREIRA G B et al Filosofia da religião São Paulo Grupo A 2021 GHIRALDELLI JR P A aventura da filosofia de Parmênides a Nietzsche São Paulo Manole 2010 MARCONDES D Iniciação à história da filosofia dos présocráticos à Wittgeinstein Rio de Janeiro Zahar 2009 23 Filosofia Filosofia Do Mito à Razão Bases da Filosofia Antiga Percurso de Aprendizagem Unidade 1 Desenvolvimento do material Adilson Pereira Copyright 2024 Afya Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico mecânico por fotocópia e outros sem a prévia autorização por escrito da Afya Do Mito à Razão Bases da Filosofia Antiga Para Início de Conversa 3 Pontos de Aprendizagem 4 Aprofundando os pontos 4 Tema 1 A Atitude Filosófica e a Origem da Filosofia O Mito e a Filosofia 5 Tema 2 Os Présocráticos a Cosmologia e a Ontologia 10 Tema 3 Sócrates e os Sofistas Platão e Aristóteles 15 Teoria na Prática 20 Sala de Aula20 Infográfico 21 Direto ao Ponto 21 Referências 22 1 Para Início de Conversa Boasvindas à disciplina Filosofia Será um prazer têloa por aqui Esperamos contribuir para o aprimoramento de seu aprendizado com qualidade de forma crítica e sobretudo respondendo às suas necessidades enquanto alunoa e profissional do mercado Neste percurso vamos desenvolver a perspectiva crítica do pensamento que nos auxilia a entender o que somos e o que fazemos de nossa vida de como o fazer filosófico emergiu a partir da cultura grega antiga Para isso abordaremos o modo mitológico que o homem antigo utilizava para explicar todas as coisas Em seguida compreenderemos como a razão humana amadureceu de modo que as explicações mitológicas foram lenta e paulatinamente sendo substituídas por explicações racionais sobre temas considerados fundamentais O primeiro tema filosófico emergiu da busca por se saber qual princípio seria a base de ordem de toda a realidade Esses filósofos do início da filosofia queriam saber o que sustentava o mundo caso os deuses não existissem e as descobertas foram revolucionárias para o exercício da racionalidade humana O segundo se despontou por querer explicar o que seria o homem entendido aqui como um ente universal e os modos que ele utiliza para administrar o poder em sua vida política Por fim veremos como essas questões foram exploradas pelos principais filósofos da Antiguidade aqueles de quem todo mundo já ouviu falar em algum momento da vida Sócrates Platão e Aristóteles 3 Filosofia 2 Pontos de Aprendizagem Durante a leitura do texto busque compreender que o fazer filosófico surgiu como uma necessidade da própria consciência humana em sua busca para encontrar respostas fundamentadas na racionalidade para as questões que a inquietavam Além disso perceba que o modo mais antigo que o ser humano utilizou para explicar tudo o que ocorria consigo e com o mundo foi o mito Compreenderemos o potencial de racionalidade que está presente na consciência humana e como ele foi aplicado às questões que eram justificadas pelas mitologias e como ele produziu por consequência uma ruptura com esse modo ancestral de pensar a realidade emergindo uma nova forma de explicar o mundo a filosofia Daí por diante os filósofos se tornaram especialistas no uso da racionalidade para a solução dos mais variados problemas humanos Por isso conheceremos alguns desses filósofos antigos e o quanto eles ainda podem nos ensinar Aprofundando os pontos Vamos ponderar que a mente se utiliza de ideias e que estas produzem o sentido do que compreendemos por realidade Pense agora que se estivesse habitando algum lugar do mundo mais de dois mil e quinhentos anos atrás sua mente com toda certeza explicaria o mundo e todas as coisas que ocorressem em sua vida a partir da existência dos deuses esses entes poderosos que teriam o comando da natureza e das forças que mexem com nossa vida Amor ódio vida morte noite dia seca enchentes tragédias guerra paz saúde doença enfim tudo estaria justificado pela crença nos deuses Por outro lado a possibilidade de explicar as coisas de modo estritamente racional seria bem difícil para o ser humano na Antiguidade afinal seria revolucionário furar a bolha mitológica na qual todos estavam envolvidos Contudo se a razão que está em você agora te deixa inquieto o suficiente para produzir explicações racionais para o mundo ela também estava presente no ser humano da Antiguidade Deixála despontar florescer revolucionou o modo de pensar dos antigos Por isso na filosofia antiga lembrese do processo que os filósofos présocráticos fizeram para produzir um novo modo de explicação da realidade assim como os filósofos sofistas e os conflitos que eles vivenciaram com Sócrates sobre o que seria a Verdade Na busca por justificar a verdade surgiram os primeiros sistemas filosóficos de Platão e Aristóteles Leia atentamente sobre eles e pense para você mesmo Com qual pensamento eu mais me alinho Platão Aristóteles Lembrese de que esse alinhamento pode dizer muito sobre você mesmo e a resposta àquela pergunta inicial sobre a filosofia se tornará mais clara à medida que avançar pelas contribuições desses filósofos 4 Filosofia Tema 1 A Atitude Filosófica e a Origem da Filosofia O Mito e a Filosofia Se você possui superstições crendices populares saiba que sua mente produz sentido para essas ideias e que elas estão baseadas em um modelo de consciência que chamamos de consciência mítica marcada pela imaginação pelo mínimo da lógica por intuições capaz de produzir histórias fantásticas até muito profundas em termos de decodificação simbólica e que têm por objetivo apaziguar nossos medos explicar o que a lógica não explica de imediato daí a crença de que pode haver um destino traçado e de que nada escapa à essa perspectiva mágica que governaria todas as coisas desde as forças naturais até a nossa própria existência Perceba que ao nos referirmos às crendices às histórias fantásticas também não podemos esquecer que existe no ser humano a possibilidade de produzir fé em um ou mais entes aceitando verdades que só fazem sentido na crença depositadas nesses entes E o que você faria se estivesse em um mundo em que essa modalidade de pensamento fosse a base das sociedades Foi nesse ambiente que emergiu uma forma de pensar que rompeu com o modelo mitológico Objetivos de Aprendizagem Identificar as bases instituintes do pensamento mitológico Conhecer as características dos modos mitológico e filosófico de pensar Analisar as diferenças entre racionalidade técnica e racionalidade filosófica Conteúdo 11 Como Tudo Começou A experiência de fazer filosofia é tão antiga mas continua atual A humanidade a conheceu muito tempo atrás Pense que o mundo oriental produziu na Antiguidade uma cultura rica em filosofia Índia China e Japão foram bons exemplos históricos Contudo nosso interesse está concentrado nas bases de nossa própria cultura denominada cultura ocidental cuja matriz em termos de construção de pensamento emergiu da filosofia grega e do direito romano Teríamos muitas páginas para elencar as diferenças entre a filosofia ocidental e a oriental mas nossa pretensão ao indicar a cultura oriental é apontar que existiram outros caminhos até mais antigos que aqueles produzidos pela filosofia grega Por isso uma questão se desponta como necessária afinal sendo a cultura grega a matriz mais importante para a compreensão do que é filosofia de onde devemos partir Se a filosofia procura investigar o próprio pensamento humano e o que ele produz em termos conceituais nos parece importante contextualizar o que foi o pensamento grego antigo e como ele produziu filosofia uma novidade que revolucionou para sempre a cultura ocidental 5 Filosofia 12 O Paradigma Mítico Grego e a Filosofia como Ruptura Paradigmática Para melhor compreendermos como a filosofia emergiu em meio a um mundo caracterizado pela perspectiva das mitologias vale a pena um pequeno exercício de imaginação Imaginemos as paisagens que eram comuns ao mundo antigo aldeias vilas diversas pequenas cidades e algumas grandes cidades maiores e centrais Nessas cidades maiores alguns tantos milhares de pessoas caminham em ruas amplas e em vielas com comércio de diversos produtos cavalos camelos escravos roupas simples para os pobres roupas mais sofisticadas para os ricos O cenário nos lembra a nós mesmos Assim era a realidade de um ser humano ele ou ela vivendo por volta do século VIII aC Cada uma dessas pessoas teria um idioma próprio à cultura estabelecida na faixa territorial que ocupavam Homens e mulheres possuíam variados modos de subsistência relacionavamse com outros grupos humanos mais próximos ou afastados A média de duração de uma vida poderia variar drasticamente pobres e trabalhadores viviam em torno de 30 a 35 anos já os nobres os ricos chegavam à velhice Enfim contemplaríamos uma pluralidade de culturas com variada produção de comidas bebidas arquiteturas etc Contudo há um detalhe que torna todas essas culturas muito parecidas Nos referimos aqui ao modo como explicavam as questões que marcavam a realidade humana A matriz das explicações independentemente do lugar em que a cultura estava estabelecida era o MITO de modo que as mitologias se tornaram o modelo mental de qualquer ser humano sobre a face da Terra para explicar as questões com as quais lidavam no dia a dia Por exemplo a fertilidade da terra a vida a morte a liderança a justiça e tantas outras questões possuíam como resposta única e exclusiva a atuação do poder de alguma entidade mitológica Se não houve boa colheita por causa da seca é porque havia entidades que exerciam algum poder invisível sobre as forças da natureza Nada ocorria por acaso Nenhuma questão conseguia escapar às explicações mitológicas Se a criança nasceu morta vontade dos deuses se ela nasceu muito doente e sobreviveu vontade dos deuses a graça e desgraça vontade dos deuses Eis portanto o modelo mental que imperava em todas as culturas Se nesse exercício de imaginação conseguimos pensar que todas as culturas produzidas pela humanidade por volta do século VIII aC eram governadas em termos de modo de pensar pelo paradigma mitológico há de se ter em mente que uma cultura que pudesse romper com essa forma de explicar a realidade traria consigo uma novidade para o contexto geral das culturas e povos É o que vamos descobrir analisando mais cuidadosamente a cultura grega antiga 13 Do Mito à Razão Nas culturas antigas o universo do Sagrado estava presente nas mais variadas histórias Deuses semideuses heróis demônios homens e mulheres animais tudo se 6 Filosofia relacionava produzindo múltiplas narrativas Essa é a perspectiva que temos para a compreensão da palavra mito do grego mythus que significa narração Havia nas culturas a prática de partilhar histórias repletas de simbologia que narravam as vitórias fracassos esperanças e tragédias de um povo A produção dessas histórias continha conteúdos provenientes da imaginação ricamente simbólicos e que produziam sentido para as questões humanas Contemplar o nascer do sol e o poente pode parecer para nossa realidade algo muito simples e natural mas em uma cultura marcada pelo paradigma mítico isso não poderia ser explicado por outra via senão a mitológica Por exemplo na cultura egípcia acreditavase que o Sol era o deus Rá deus supremo entre os deuses e que fazia todo dia seu percurso em um barco celeste mas ele e seu barco eram engolidos pela deusa Nut por isso a noite emergia A deusa Nut o paria novamente em um ciclo infindável 131 Produzir Outra Modalidade de Pensamento Rompendo com esse Modelo Mental Pensar de outra forma era relativamente impossível ao homem antigo Contudo alguns personagens romperam com essa bolha mitológica adotando certa desconfiança em relação às respostas formuladas pelos mitos Daí surgiu a capacidade de formular hipóteses e consequentemente testálas e validálas pelo exercício da racionalidade Atualmente sabemos do valor que os mitos possuem e que algumas ciências humanas os exploram em busca de aprofundar o conhecimento antropologia teologia psicologia e psicanálise são áreas de conhecimento que exploram a riqueza das mitologias Mas de onde emergiu essa possibilidade de ruptura com as explicações mitológicas no mundo antigo Partindose da análise da mitologia grega podese perceber a existência de elementos que já indicavam a pretensão humana de produzir sua própria autonomia em relação às explicações mitológicas A obra Odisseia escrita por volta do século VIII aC sob a forma de poemas por Homero foi amplamente traduzida em livros de vários idiomas transposta para o teatro e até recebeu adaptações para o cinema Em 1997 sob a direção de Andrey Konchalovsky a versão que chegou às telas de cinema apresenta uma cena das mais intrigantes Odisseu personagem principal Rei de Ítaca sagaz e extremamente racional saiu de sua terra para se somar a outros gregos na guerra de Tróia depois de 10 anos de guerra elaborou como estratégia um grandioso cavalo feito da madeira dos barcos e o colocou como presente para o Rei Príamo de Tróia A história é conhecida o cavalo de Tróia continha em seu interior soldados que na madrugada abriram os portões e fizeram a cidade cair Contudo no filme chama atenção uma cena em particular que aparece com o fim da guerra Odisseu se coloca diante do mar domínio de Poseidon e diz em alto som Viram deuses do mar e do céu eu conquistei Tróia Eu Odisseu um mortal de carne e osso sangue e mente Não preciso de vocês agora posso fazer qualquer coisa Obviamente a 7 Filosofia história que se desenrola é a tentativa de Odisseu de retornar à Ítaca utilizando todas as estratégias que sua mente poderia produzir e Poseidon deus do mar procurando de todo modo impedilo punindoo pela insolência Na própria narrativa mitológica já existia a tentativa humana de se desvencilhar dos domínios dos deuses do Olimpo Em termos simbólicos seria a Razão que investiga utilizase da lógica que calcula que elabora estratégias que inventa técnicas enfim a razão como atributo essencialmente humano que teria condições de superar as explicações mitológicas Enfim simbolicamente a razão como superação do mito já estaria proposta no poema de Homero 14 Características do Mito e da Razão Bem como vimos até o momento a razão foi se tornando mais vigorosa à medida que os séculos passaram Se as referências da mitologia grega do século VIII aC já apontavam o que essa criatura chamada homem seria capaz de fazer o que os séculos posteriores vão demonstrar é que essa capacidade de produção racional se tornou mais bem elaborada De sorte que a razão incentivada pela necessidade de resolver problemas práticos utilizandose da lógica para produzir técnicas e estratégias com a finalidade de solucionar problemas do cotidiano descobriuse também como racionalidade especulativa Com certeza as técnicas de fazer barcos exigiam esforços da racionalidade Como produzir cada peça como encaixálas resistência ao mar vento corrosão etc tanto quanto as técnicas de construção fabricação de artefatos de armas entre tantas outras coisas tudo isso envolvia exercício de racionalidade Contudo desenvolver a atividade racional como sistematizadora de especulações já seria um outro e significativo passo Mas o que é uma especulação racional Especular significa tentar compreender por meio da razão buscando o entendimento de maneira teórica De uma coisa há de se ter clareza se um barco deve flutuar ou se ele pode afundar exigese que ele seja submetido à prova sendo colocado no mar caso ele flutue ótimo pois a racionalidade aplicada estará aprovada caso afunde devese verificar o que a razão não considerou como possibilidade corrigir os erros e realizar uma nova prova No caso de uma racionalidade especulativa que se aplica a outras questões menos práticas ainda que sejam questões essenciais as respostas não são tão evidentes quanto no exemplo do barco A especulação é uma atividade racional e ela pode ser aplicada a objetos que não funcionam com a certeza de flutuação ou afundamento de um barco Por exemplo é justo pagar impostos Qual porcentagem é justa E se o indivíduo não conseguir pagar os impostos é justo perdoálo Todos devem pagar do mesmo jeito na mesma proporção Percebeu que a questão formulada não é tão simples de ser resolvida Ela merece ser tratada por uma racionalidade especulativa que vai analisála criteriosamente detalhadamente formulando teorias para que as questões sejam mais bem abordadas tratadas e resolvidas Foi esse o salto que a racionalidade produziu para 8 Filosofia si mesma indo além das questões de uma racionalidade técnica aplicada à solução de problemas práticos A racionalidade especulativa foi paulatinamente se especializando em questões humanas e essencialmente complexas Com certeza saber da técnica de fazer barcos é algo importante mas saber o que é justiça o que é moral e o que é o sentido da própria existência não nos parece menos importante até porque são questões com as quais lidamos cotidianamente sem que tenhamos o investimento racional que essas questões merecem Assim do mito à razão pode ser traduzido como o percurso feito em uma estrada de amadurecimento da consciência humana que se contentava com o universo simbólico mitológico e que aos poucos foi descobrindo o potencial da racionalidade primeiramente com o uso técnico da razão criando estratégias de guerra armas utensílios da cultura etc e de forma mais elaborada amadurecendo ao ponto de se tornar razão especulativa formuladora de teorias para lidar com os problemas humanos de extrema complexidade Ao longo deste tema percorremos um caminho que procurou demonstrar como a racionalidade se tornou autônoma em relação às explicações mitológicas Tratase de um processo histórico que perdurou centenas de anos mas chegou ao seu objetivo que foi o de elaborar explicações bem fundamentadas à luz da razão para as questões mais essenciais da existência humana Em outras palavras o modelo de pensamento mitológico tinha se tornado o único conhecimento possível de ser utilizado para explicar os problemas enfrentados pelos seres humanos no mundo antigo Descobrimos que o modo de pensar de forma racional ao privilegiar a lógica e o bom senso tornou possível fornecer um sentido mais claro e objetivo para fundamentar respostas mais coerentes aos problemas daquela época Nada disso se fez sem uma racionalidade especulativa que se diferenciava de uma racionalidade técnica de modo que investigar a justiça uma questão de natureza especulativa requeria recursos racionais muito mais complexos daqueles utilizados para se fazer um barco Eis portanto a descoberta da filosofia como essa atividade racional e especulativa que trata das questões mais essenciais da existência humana propiciando àquele que adota esse modo de pensar ser destacado frente aos demais ainda aprisionados ao paradigma mitológico Além da Sala de Aula Neste texto temos o papel dos mitos e a ruptura que a razão estabeleceu sobre as mitologias adotando um modo de pensar baseado na lógica e em argumentos fundamentados Todos esses pontos são tratados por Ghiraldelli Jr 2003 por isso faça a leitura da página 1 a 5 do livro Introdução à filosofia disponível na Minha Biblioteca 9 Filosofia Lembrese de que para iniciar a leitura do livro sinalizado é necessário fazer login no Ambiente Virtual de Aprendizagem e em seguida na Minha Biblioteca Título Introdução à filosofia Páginas indicadas 1 a 5 Referência GHIRALDELLI JR P Introdução à filosofia São Paulo Manole 2003 Tema 2 Os Présocráticos a Cosmologia e a Ontologia Temos as formas de conhecimento mitológico a racional técnica e a racional especulativa e dentre essas três formas de conhecimento o fazer filosófico se desenvolve somente pelo uso da razão especulativa Mas precisamos conhecer as origens antigas desse exercício filosófico que rompeu com o paradigma mitológico em nome de explicações racionais e lógicas para os problemas que os primeiros filósofos por volta do século VI aC apresentavam como os mais importantes Para isso abordaremos um pouco sobre esses pensadores os quais a história da filosofia irá chamar de filósofos présocráticos Vamos nos inteirar com a preocupação cosmológica que possuíam e as principais teorias que formularam Objetivos de Aprendizagem Conhecer como se deu a ruptura da razão em relação ao paradigma mitológico possibilitando o aparecimento da filosofia grega antiga Identificar as diferenças entre os modelos de compreensão da realidade o materialista e o metafísico Entender como as concepções materialista e metafísica podem ser utilizadas para classificar as teorias dos filósofos Conteúdo 21 Os Présocráticos a Cosmologia e a Ontologia O mundo antigo havia encontrado nas mitologias a justificativa para todos os fenômenos que ocorriam com os seres humanos O mito era o princípio de sustentação da realidade explicando a origem do mundo dos humanos da morte das guerras do amor etc Contudo em algumas cidades gregas localizadas na Ásia Menor na região conhecida como Jônia que foram fundadas por imigrantes gregos que haviam fugido no século V aC da invasão Dória explicações diferenciadas da mitologia começaram a emergir A região da Jônia abrigava uma série de cidades gregas sendo 12 as principais Éfeso Samos Mileto Colofão Mionto Lêbedo Priene Teos Clazômenes Quios Éritras e Fócia Acesse aqui 10 Filosofia Destacamos os nomes dessas cidades porque algumas se tornarão conhecidas por serem associadas aos nomes dos filósofos que nelas habitavam Mas por que pensar explicações diferentes da mitologia Bem um ponto de partida seria desconfiar de que talvez os deuses não existissem Se acaso isso fosse verdade poderia significar que o próprio universo seria dissolvido em um caos destrutivo Ou melhor se o divino não existir como todas as coisas permaneceriam em ordem A não ser que exista algum outro princípio com o poder de manter a ordem do universo impedindo o colapso da realidade E se tal princípio existisse que princípio seria esse Perceba que essas perguntas são de natureza racional e que portanto exigem respostas que a razão possa aceitar como suficientes e fundamentadas pela lógica Acreditamos que essas perguntas especulativas possibilitaram um novo modo de pensar a realidade e esse modo chamaremos de paradigma racional Ora como podemos verificar perguntar sobre a razão fundamental que manteria a natureza em ordem independentemente da existência ou não dos deuses exigiu respostas bem vigorosas do ponto de vista da razão de modo que pudessem ser reconhecidas como plausíveis e de bom senso Nesse sentido a produção intelectual que emergiu do século VI aC na Grécia Antiga apresentou vários pensadores que se colocaram a questionar sobre o que daria sustento ao mundo isto é o que o manteria em ordem diferenciandose das narrativas mitológicas até então únicas explicações para a realidade Para melhor compreensão esses pensadores foram classificados no decorrer da história do pensamento humano com a nomenclatura de présocráticos Ainda que seja uma nomenclatura discutível por questões que não nos ocuparemos aqui não podemos desconsiderar que eles ainda que habitassem cidades distintas e distantes compartilhavam a mesma perspectiva de investigação afinal buscavam pelo uso da razão descobrir qual o Arké princípio fundamental que manteria a realidade em ordem impedindoa de entrar em colapso Esse tipo de investigação pode ser denominado investigação cosmológica A palavra Kosmos significa mundo em ordem universo em ordem diferentemente de Kaos a desordem os abismos profundos e infinitos Para efeito de síntese do pensamento desses filósofos faremos um necessário esclarecimento Bem as respostas obtidas à pergunta Qual princípio manteria o universo em ordem podem ser classificadas de duas formas respostas que se baseiam em algum princípio material que seria responsável por manter a ordem de todas as coisas algum princípio não material isto é metafísico como veremos adiante Acerca dos pensadores que adotaram princípios materiais destacamos em primeiro plano Tales da cidade de Mileto por isso conhecido como Tales de Mileto 625 aC que formulou a teoria de que o que sustentava o mundo era a água À mente de alguém do século XXI pode parecer irrelevante essa teoria mas lembrese era o século VI 11 Filosofia aC e o raciocínio fazia sentido Afinal se observarmos cuidadosamente perceberemos que a água está em tudo de algum modo nuvens chuva rios mares o corpo humano e seus fluidos o ar o consumo da umidade para gerar o fogo O importante não é discutir essa questão com os modelos mentais que temos hoje mas compreender que se trata de uma explicação para além da mitologia esse sim é o grande contributo desses pensadores Outros filósofos desse período enveredaram pelo mesmo tipo de investigação chegando a conclusões diversas Por exemplo Anaxímenes 588524 aC também da cidade de Mileto compreendeu que o princípio ordenador da realidade seria o ar o ar é a substância originadora e a forma básica da matéria muda por condensação e rarefação Kirk Raven Schofield 1983 p 146 Já Heráclito de Éfeso 500450 aC entendeu que a sabedoria consiste em compreender o modo como o mundo funciona Kirk Raven Schofield 1983 p 210 para ele o elemento estruturante de toda a realidade era o fogo A alma compõese de fogo provém da umidade e nesta se converte em uma absorção total que é para ela a morte A almafogo está aparentada com o mundofogo Kirk Raven Schofield 1983 Distinguindose dessas conclusões Empédocles de Agrigento 495430 aC compreendeu que a ordenação do mundo dependia das relações entre água terra fogo e ar ou seja de interações entre os quatro elementos Por fim apresentamos Demócrito de Abedera 370 aC para quem o princípio ordenador da realidade seria algo material e tão microscópico que seria invisível ao qual Demócrito chamou de átomo A palavra átomo do grego significa basicamente sem divisão isto é a partícula material indivisível que passaria por todas as coisas lhes fornecendo ordem Bem como pudemos perceber as teorizações acerca de qual princípio natural e material teria condições de manter a ordem do universo foi produto de uma elaborada racionalidade aplicada por esses filósofos Veja que o termo filósofo emerge como identificação de homens que produziam argumentações profundas e bem fundamentadas no intuito de explicar racionalmente as questões que eram tratadas pela perspectiva das crenças daí o sentido atribuído à filosofia como amor amizade filo e sabedoria sófos Contudo a investigação acerca do princípio ordenador da realidade transpôs a ideia de que ele tivesse que ser obrigatoriamente algo material afinal a razão especulativa pôde enunciar a existência de princípios não materiais provando sua existência É o caso de Pitágoras de Samos 570 aC para quem a base de tudo seria a matemática isto é por trás da realidade material estaria presente como princípio ordenador os números algo que não poderia ser percebido pelos sentidos do corpo mas inteleccionado isto é pensado pela mente racional Pitágoras se distinguiu dos filósofos materialistas pois sua análise matemática sobre o funcionamento da realidade o colocou no rol do que podemos chamar de filósofos metafísicos 12 Filosofia A palavra metafísica é bem adequada ao sentido que queremos aqui pois ela é uma palavra grega que reúne dois vocábulos meta além e physis natureza A metafísica portanto trata dos conceitos que são apreendidos a partir do que ultrapassa a percepção sensível que temos da realidade ela procura o que está para além da realidade dada aquilo que só poderia ser descoberto pela racionalidade Foi o que Pitágoras descobriu ao procurar explicar as bases de funcionamento do mundo natural que seriam os números Pense bem o que é um número Nos referimos ao um ao dois mas nunca os vimos pois a única forma de nos referirmos a eles é por algum símbolo gráfico uma espécie de convenção simbólica criada pela linguagem humana De modo que se registrarmos a grafia 1 um é o mesmo que registrarmos I em algarismo romano temos a grafia do 1 ou I mas o que é o um senão uma abstração não material Eis portanto o sentido metafísico que subsistiria à ordem do universo e de todas as coisas Outros metafísicos também se destacaram como Anaximandro 546 aC cujo princípio organizador do mundo seria o indeterminado algo infinito e imortal em grego Apeiron ou ainda Parmênides de Eléa 530 aC que tomou como profunda reflexão o Ser compreendendo que só existe a possibilidade de existir qualquer coisa se o ser for subjacente à coisa existente Bem reflita um pouco para você aprender o idioma português inglês espanhol entre outros o primeiro verbo com o qual se toma contato é o ser É ele quem possibilita existência às coisas por ele as ações se realizam o mundo funciona Ora nessa simples reflexão já está indicada o poder que o ser teria como elemento subjacente à existência da própria realidade Nesse sentido a investigação proposta por Parmênides é de natureza ontológica isto é uma investigação que procura compreender o ser das coisas Para efeito desta exposição didática elencamos os filósofos présocráticos organizando os em dois grupos distintos os materialistas e os metafísicos Filósofo Base teórica Tales de Mileto materialismo Anaxímenes de Mileto materialismo Heráclito de Éfeso materialismo Empédocles de Agrigento materialismo Demócrito de Abdera materialismo Pitágoras de Samos metafísico Anaximandro de Mileto metafísico Parmênides de Eléa metafísico Quadro 1 Filósofos présocráticos Fonte Elaborado pelo autor 13 Filosofia Observe que no Quadro 1 há duas formas de pensar o mundo a posição materialista Água Ar Fogo Terra Átomo e a posição metafísica aquilo que pode ser pensado racionalmente mas que não tem materialidade como o indeterminado de Anaximandro a matemática de Pitágoras e o Ser de Parmênides Perceba que esses princípios são de ordem não material e querem explicar o Ser das coisas o que em Filosofia se chama de investigação ontológica já que ontologia significa discurso racional sobre o ser das coisas Toda a história do pensamento filosófico filosofia antiga filosofia medieval filosofia moderna e filosofia contemporânea será marcada por essa tensão Materialismo Metafísica que servirá de base para alinhar as teorias propostas pelos filósofos no decorrer dos séculos O aparecimento da filosofia como atividade que privilegiou o uso da razão para explicar a natureza das coisas não se deu sem esforço Afinal para o mundo grego antigo como era de se esperar para todas as culturas antigas a mitologia era a explicação que se podia ter para qualquer fenômeno Romper com esse modelo de pensamento não foi algo tão fácil como pode se pensar Assim os primeiros filósofos da Antiguidade grega séc VI aC começaram essa jornada a partir de cidades distintas daí o nome de a cidade ser atrelado ao nome do pensador como o filósofo Tales da cidade de Mileto e outros As teorias que eles elaboraram procurando descobrir qual princípio fundamentaria a natureza mantendoa em ordem caso os deuses não existissem foram diversas E essas teorias tiveram como âncora ora a concepção materialista ora a concepção metafísica Por fim vale a pena alertar que essas duas concepções estarão presentes em toda a história da filosofia até os dias de hoje Além da Sala de Aula Neste conteúdo tivemos o conhecimento sobre o início da filosofia grega antiga ampliando o espectro de alguns conceitos para perceber as contradições entre as teorias dos filósofos na busca que empreenderam para saber a verdade sobre o que manteria o mundo em ordem Todos esses pontos são tratados por Ghiraldelli Jr 2003 por isso faça a leitura da página 7 a 11 do livro Introdução à filosofia disponível na Minha Biblioteca Lembrese de que para iniciar a leitura do livro sinalizado é necessário fazer login no Ambiente Virtual de Aprendizagem e em seguida na Minha Biblioteca Título Os présocráticos a cosmologia e a ontologia Páginas indicadas 7 a 11 Referência GHIRALDELLI JR P Introdução à filosofia São Paulo Manole 2003 Acesse aqui 14 Filosofia Tema 3 Sócrates e os Sofistas Platão e Aristóteles Começamos analisando a possibilidade de produzir uma modalidade de pensamento que poderia explicar as questões mais essenciais para a humanidade utilizando como base a racionalidade Eis a descoberta da filosofia Vamos compreender como o processo de se fazer filosofia rompeu com as justificativas mitológicas inaugurando a busca por explicações acerca do princípio que manteria a natureza ordenada e como a filosofia antiga alterou seu rumo de investigação saindo das questões cosmológicas para as questões humanas Por isso dedicaremos algumas páginas para conhecer em síntese as bases do pensamento dos sofistas de Sócrates Platão e Aristóteles Aproveite para coletar conceitos essenciais Objetivos de Aprendizagem Conhecer as bases do pensamento sofista e do pensamento socrático Diferenciar pensamento retórico do pensamento maiêutico Conhecer os conceitos que estruturam a teoria do idealismo proposta por Platão Conhecer os conceitos que estruturam a teoria do realismo proposta por Aristóteles Conteúdo 31 Questões Filosóficas e Método Utilizado pelos Sofistas Aproximadamente dois séculos se passaram e as questões que emergiram no mundo grego antigo já não eram mais de natureza cosmológica Atenas havia perdido a guerra do Peloponeso e após o governo dos 30 tiranos reabilitouse tornandose o centro de atenção de filósofos especialistas em retórica que se autodenominavam sábios em grego sófos de onde deriva a palavra sofista Esses pensadores perceberam que as teorias dos filósofos présocráticos chegavam a conclusões muito distintas e conflitantes o que significava que a verdade seria relativa e não algo absoluto Por isso surgiu a tese sofista da impossibilidade da verdade Assim o objetivo perseguido por esses filósofos foi o aperfeiçoamento dos meios utilizados para a exposição das ideias visando à construção de uma verdade que poderia durar algum tempo até que surgisse um argumento forte o bastante para substituíla A retórica a arte de bem falar tornouse o modo de exposição das verdades e a ferramenta mais valorizada pelos sofistas Em síntese as questões filosóficas dos sofistas versavam sobre os problemas humanos as questões morais as questões políticas e a justiça das leis tendo como método a exposição retórica de modo a persuadir e convencer acerca de suas ideias Principais filósofos sofistas Protágoras nascido em Abdera em aproximadamente 481 aC Górgias De Leontinos na Sicília 483 aC380 aC 15 Filosofia 32 Sócrates Contexto Questões Filosóficas e Método No século IV aC os sofistas que foram para Atenas atuavam como tutores para as famílias aristocráticas ensinando retórica para seus alunos no espaço público da ágora A ágora era o local público onde ocorriam as assembleias a praça onde os cidadãos atenienses se reuniam para discutir as leis aprovando e desaprovando normas Observar como os argumentos eram apresentados defendidos e destruídos por contraposições numa espécie de luta de arena em que o mais arguto e habilidoso no uso das palavras conseguia a adesão da maioria e por conseguinte a aprovação de sua proposta era uma atividade educativa para os jovens atenienses Esse é o cenário frequentado pelos sofistas com seus alunos Contudo esse também é o cenário frequentado pelo cidadão Sócrates 469399 aC Na assembleia dos cidadãos Sócrates se confronta com os sofistas e nas disputas argumentativas tornase sempre vencedor A diferença é que método socrático se diferencia dos sofistas para Sócrates a Verdade existe seu método se chama maiêutica ou método da parteira Se a verdade existe ela estaria escondida em nós como posta sob os véus de nossa ignorância em função das vaidades e tantas outras percepções subjetivas que impediriam o indivíduo de obtêla A retórica sofista só produziria verdades aparentes e isso foi o que Sócrates criticou profundamente nos sofistas Essas disputas na ágora produziram problemas para Sócrates que foi denunciado por ser supostamente contra os deuses do Estado e por corromper a juventude Em seu julgamento ele próprio assumiu sua defesa utilizando a ironia como base na qual reconhecia que como bom cidadão aprendeu a obedecer às leis do Estado porque são justas e se portanto o Estado o condenava à morte como bom cidadão e cumpridor das leis deveria ele aceitar a morte por justiça Até hoje o julgamento de Sócrates é utilizado para se estabelecer a distinção entre justiça e lei ética e direito Por fim ele foi condenado à morte e teve de beber cicuta um veneno que paralisava o corpo até a parada cardiorrespiratória em 399 aC Sócrates nada escreveu Só conhecemos seu pensamento através das obras de Platão Apologia de Sócrates Críton Mênon República etc de Xenofonte Apologia de Sócrates e de Aristófanes Nuvens 33 Conhecendo o Pensamento de Platão 428 aC 348 aC O aprendizado com o qual Platão discípulo de Sócrates se nutriu permitiu dar continuidade à abordagem de seu mestre aperfeiçoandoa e ultrapassando em muito o que Sócrates produziu como filosofia Dentre essas obras que contam mais de 30 as mais conhecidas são Apologia de Sócrates Críton Mênon República O Banquete Fédon As leis entre outras Mas em que inovou Platão em relação ao mestre Sócrates Platão sistematizou a teoria do inatismo das ideias Ele desenvolveu uma teoria que procura explicar como podemos produzir o conhecimento mais verdadeiro possível 16 Filosofia diferenciado das opiniões imediatas A Doxa opinião seria um conhecimento repleto de erros proveniente da percepção sensível e imediata Devemos buscar por meio da filosofia a fonte do conhecimento que estaria além do mundo sensível o qual Platão denominou de mundo das ideias No mundo das ideias estariam as matrizes de todas as ideias possíveis e presentes no mundo terreno sintetizadas nas ideias do Bem do Belo do Justo e do Verdadeiro Ultrapassar o universo superficial das opiniões permite à consciência humana ascender a outro tipo de conhecimento o qual denominamos Episteme conhecimento validado pela razão Na realidade a descoberta do conhecimento Episteme se dá na interioridade humana em se privilegiar a alma ao invés do corpo e as percepções sensíveis 331 Mito da Caverna A partir dessas bases Platão sistematizou sua teoria do inatismo das ideias em um mito que está descrito no livro VII da obra A República Em síntese descreve uma realidade hipotética de um grupo de homens que desde o nascimento foram aprisionados ao fundo de uma caverna e que contemplam desde então as sombras que são projetadas no fundo da caverna Eles acreditam que as sombras são reais e que esse é o verdadeiro Narra ainda que um dos prisioneiros tem suas correntes rompidas e parte para escalar a caverna até que se depara com o mundo exterior de plena luz e que apesar da cegueira momentânea ele se adapta ao novo mundo enxergando com clareza o que é de fato o verdadeiro Depois disso ele retorna para libertar os demais amigos mas Platão alerta que ele será assassinado por seus amigos já que será muito difícil para eles aceitarem a ideia de que há uma verdade para além das sombras nas quais delinearam a própria existência 332 Esclarecendo o Mito da Caverna Os prisioneiros da caverna são prisioneiros das percepções sensíveis dos desejos do corpo do que é imediato das vaidades e do status social Ter as correntes rompidas é o despertar da razão para fazer filosofia Escalar a caverna é propriamente fazer filosofia mediante o método proposto por Platão a dialética isto é uma pergunta que necessita de resposta que é contraposta por uma nova pergunta e assim sucessivamente Ao fim obtémse um conhecimento aclarado pela verdade 34 Conhecendo o Pensamento de Aristóteles 384 aC322 aC Aristóteles nasceu na cidade de Estagira na Macedônia Órfão de pai aos 18 anos foi para Atenas ingressando na academia de Platão Foi nesta escola que amadureceu e consolidou sua vocação filosófica permanecendo lá por 20 anos Após a morte 17 Filosofia do mestre Platão em 347 aC deixou a Academia e foi para a Ásia Menor onde estudou ciências naturais Foi professor de Alexandre Magno entre 343 e 340 aC Suas obras mais conhecidas são Organon Metafísica 14 livros Física 8 livros Política 8 livros Ética a Nicômaco 10 livros Da alma 3 livros Da geração e da corrupção 2 livros e Poética Aristóteles superou a influência de seu mestre Platão e elaborou um sistema filosófico original tratando dos mais diversos aspectos do saber de seu tempo inclusive das ciências Criticou o idealismo de Platão fundando a filosofia chamada de realista de base materialista na qual postulava que o conhecimento é algo adquirido pela experiência não existindo nenhuma ideia inata no ser humano teoria da tábula rasa Suas principais temáticas foram A lógica Aristóteles foi o primeiro a fazer um estudo sistemático dos conceitos isto é das ideias procurando descobrir as propriedades que eles têm enquanto produzidos pela mente humana como podem ser unidos e separados divididos e definidos e como é possível extrair novos conceitos dos anteriormente conhecidos Para isso Aristóteles criou a lógica processo de raciocínio pelo qual de proposições premissas antecedentes se extrai um consequente conclusão A metafísica para explicar o ser Aristóteles se valeu de dois elementos indissociáveis a matéria e a forma Ex Pedro Matéria o corpo com suas características individuais alto magro moreno forma a alma que é substancialmente comum a toda a humanidade Aprofundandose no fenômeno do porquê da mudança nos seres e nas coisas Aristóteles formulou a teoria do ato e da potência que é uma aplicação das noções de matéria e forma em escala mais ampla Ato seria toda realidade que como a forma tem características determinadas finitas potência seria qualquer realidade que como a matéria tem propriedades indeterminadas Ex o mármore matéria está em potência para se tornar uma estátua forma Deus para Aristóteles seria a potência absoluta que não seria movimentada por coisa alguma isto é uma espécie de entidade com funcionalidade lógica para fazer o mundo ter o seu movimento explicado Aristóteles chama esse Deus de motor imóvel ou ainda causa não causada Alertamos que essa concepção de Deus em nada tem de relação com o Deus das tradições judaicocristã e islâmica A ética segundo Aristóteles afirma que o homem é um ser racional Consequentemente seu bem ou felicidade suprema eudaimonia deve consistir na atuação da razão E a perfeita atuação da razão está na contemplação O meio para se conseguir a felicidade é a virtude Por virtude Aristóteles entende o hábito de escolher o justo meio E quem o estabelece é o sábio A política segundo Aristóteles diz que a origem do Estado é natural Os homens unemse para formar a sociedade não em virtude de um pacto convenção mas instintivamente porque de outro modo não poderiam satisfazer todas as suas necessidades físicas e intelectuais O Estado surgiu para tornar possível não só a vida mas também a vida feliz Como muitos pensadores da Antiguidade Aristóteles também justifica a escravidão É evidente que alguns homens são por natureza livres e outros escravos Tanto quanto Platão Aristóteles foi um crítico da Democracia e em sua análise sobre as constituições que legitimam o poder ele compreende que a finalidade do Estado 18 Filosofia seria a de facilitar a consecução do bem comum e por isso divide as constituições possíveis em justas e injustas Constituições justas as que servem ao bem comum e não ao bem dos governantes São elas a monarquia governo de um só que cuida do bem de todos a aristocracia governo dos virtuosos que deve cuidar do bem de todos sem privilégios a república governo popular que cuida do bem de todos isto é das coisas públicas Constituições injustas são as que servem ao bem dos governantes e não ao bem comum São elas a tirania governo de um só de interesse próprio a oligarquia governo de poucos dos ricos pelo bem econômico pessoal a democracia governo do povo que suprimiria as diferenças sociais praticando injustiças Por fim seu pensamento é classificado como analítico e serviu de base para o progresso das ciências A partir do pensamento dos sofistas por volta do século IV aC as questões investigadas pela filosofia passaram a focar no homem e seu contexto sociopolítico isto é o fazer filosófico não mais se interessou pela busca do princípio fundamental que manteria a natureza em ordem alterando os rumos da filosofia Desta forma o centro das atenções passou a ser o próprio homem e o modo como ele poderia ter acesso à verdade sobre a moral e a política Para os sofistas a verdade poderia ser fabricada pela retórica e modificada ao sabor das necessidades dos sábios Mas para Sócrates a verdade não somente existia de fato mas era a busca que motivava qualquer um que quisesse se dedicar à filosofia Nessa abertura para tratar das questões humanas emergiram Platão com a teoria do idealismo e Aristóteles com a teoria do realismo Ambos se tornaram as referências primordiais da história da filosofia antiga contribuindo para uma série de discussões até os dias de hoje Além da Sala de Aula A partir do texto temos as bases do pensamento dos principais filósofos da Antiguidade grega ampliando a compreensão sobre os conceitos abordados por Sócrates Platão e Aristóteles Todos esses pontos são tratados por Ghiraldelli Jr 2010 por isso faça a leitura da página 27 a 52 do livro A aventura da filosofia de Parmênides a Nietzsche disponível na Minha Biblioteca Lembrese de que para iniciar a leitura do livro sinalizado é necessário fazer login no Ambiente Virtual de Aprendizagem e em seguida na Minha Biblioteca Título A aventura da Filosofia Páginas indicadas 27 a 52 Referência GHIRALDELLI JR P A aventura da filosofia de Parmênides a Nietzsche São Paulo Manole 2010 Acesse aqui 19 Filosofia 4 Teoria na Prática O Mito da Caverna de Platão como chave de leitura da realidade Neste momento conheceremos um caso a partir do Mito da Caverna de Platão em que procuramos demonstrar que os conceitos utilizados por ele ao distinguir as formas de conhecimento denominadas Doxa e Episteme podem nos servir de utilidade para solucionarmos muitas questões de ordem prática Em nosso estudo de caso temos o personagem X sem a identificação de sexo gênero cor de pele religião Nada o identifica senão o título de trabalhadora e consumidora Dentro de cinco dias será natal e X ainda não comprou os presentes X não se casou não tem filhos mas tem pai mãe e uma irmã No caminho para o trabalho sentadoa no banco do ônibus X vê as enormes telas iluminadas da cidade nas quais passam as mais diversas propagandas Volta seus olhos para a tela do celular e em sua rede social aparecem também as mais diversas propagandas Clica em um link que lhe direciona para comprar uns presentes que estavam bem mais caros por ser época do Natal O site prometia entrega em 24 horas Quando X ia clicar para a finalização da compra com seu cartão de crédito lhe veio uma ideia inquietante por que estou fazendo isso Já estou com tanta dívida por que aumentá la Mas minha família não merece É Natal todo mundo compra um presente O que vão pensar de mim Talvez minha família não me ame mais ou diminua seu amor por mim Diante desse contexto pare e pense Quais conceitos utilizados por Platão poderiam auxiliar na compreensão da situação de X Qual seria o comportamento que X poderia adotar se utilizasse o conceito de Episteme para solucionar a situação pela qual está passando Que consequências poderiam ocorrer com X caso se comportasse como o prisioneiro da caverna que teve suas correntes quebradas Por que X tem a tendência de reproduzir o comportamento consumista da sociedade da qual faz parte 5 Sala de Aula Abordaremos os conceitos sobre o que é filosofia compreendendo seu percurso histórico antigo iniciado com os présocráticos e chegando à Aristóteles Também falaremos sobre a filosofia como ruptura do pensamento mitológico bem como sobre as principais teorias destacando Platão e Aristóteles Por fim vamos refletir como alguns conceitos filosóficos podem auxiliar na compreensão de questões práticas do nosso cotidiano Esse conteúdo está disponível em seu Percurso de Aprendizagem no Ambiente Virtual Clique aqui para fazer login e acesse a Sala de Aula na sua disciplina Acesse aqui 20 Filosofia 6 Infográfico Mito e Razão Do mito à razão síntese da filosofia grega antiga Mito explicação que se utiliza de elementos da imaginação pleno de simbolismos que mesclam fatos e imaginação e explicam aspectos da natureza humana Razão Forma lógicoanalítica que se expressa sob a forma de pensamento coerente buscando provar por argumentos e fatos o que seria a realidade tanto das coisas concretas quanto das coisas abstratas Dos filósofos présocráticos à Sócrates Os présocráticos tinham por preocupação explicar qual seria o princípio ordenador de toda a realidade o que se trata de uma preocupação cosmológica Eles descobriram duas possibilidades de resposta a materialista e a metafísica Passados dois séculos a preocupação dos filósofos passou a ser as questões humanas moral e política surgiu então o pensamento sofista que privilegiava a retórica como meio de construir e destruir as verdades Sócrates apareceu em confronto ao pensamento dos sofistas Para Sócrates a verdade existe e se encontra no interior humano para obtêla devese aplicar o método maiêutico de modo que a verdade venha à luz Os dois primeiros sistemas filosóficos Platão e Aristóteles Platão fundador do Idealismo Sua teoria se baseava no inatismo das ideias e na necessidade de o indivíduo ultrapassar o conhecimento superficial das opiniões Doxa e com a utilização da filosofia como atividade racional chegar ao conhecimento pleno da verdade Episteme Aristóteles fundador do Realismo Sua teoria se baseava na teoria da tabula rasa para a qual o indivíduo nasce zerado de qualquer conhecimento e somente a experiência é que registraria na consciência o conhecimento da realidade Sistematizou a lógica e a ética além de contribuir com suas obras sobre os mais variados temas acerca do funcionamento da natureza Fonte Adaptado de Ghiraldelli Jr 2010 Direto ao Ponto Ao longo deste percurso abordamos conceitos complexos mas de forma simplificada Passamos pela descoberta do que é o filosofar e percebemos que com certeza não se parece em nada com a ideia atribuída erroneamente pelo senso comum de uma pessoa que está viajando Filosofia é uma atividade racional que exige esforço argumentativo e que promove uma revolução interior para quem a colocar em prática 21 Filosofia Além disso percebermos que a filosofia nasceu justamente da ruptura com uma outra forma de conhecimento o mito Os primeiros filósofos produziram investigações fundamentadas na razão e tinham por objetivo descobrir qual princípio ordenaria a natureza Afinal se os deuses não existissem como o mundo se manteria em ordem Foram várias as respostas achadas e todas elas contribuíram para o amadurecimento da razão no decorrer dos séculos de modo que as questões filosóficas foram modificando à medida que os problemas humanos e da sociedade também se modificavam Assim descobrimos os sofistas Sócrates Platão e Aristóteles Cada um deles contribuiu para a história do pensamento humano aperfeiçoando os modos de se fazer filosofia modos que estão presentes até os dias de hoje e que impulsionaram outros filósofos no decorrer dos séculos Para sua autorreflexão Percebeu a diferença entre razão técnica e razão especulativa Identificou os filósofos présocráticos de acordo com o princípio proposto Entendeu o que é materialismo e metafísica Percebeu como podemos aplicar o Mito da Caverna em nosso cotidiano para a solução de problemas práticos 8 Referências GHIRALDELLI JR P A aventura da filosofia de Parmênides a Nietzsche São Paulo Manole 2010 GHIRALDELLI JR P Introdução à filosofia São Paulo Manole 2003 KIRK G S RAVEN J E SCHOFIELD M Os filósofos présocráticos história crítica com seleção de textos 7 ed Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 1983 MATTAR J Introdução à filosofia São Paulo Pearson Prentice Hall 2010 REALE G História da filosofia antiga léxico índices bibliografia 5 ed São Paulo Loyola 1995 22 Filosofia A filosofia teve sua origem na Grécia Antiga a partir da ruptura com o pensamento mítico que interpretava o mundo com base em deus e narrativas simbólicas A partir do século VIII aC instaurase a primazia da razão filosófica que busca entender o mundo através da lógica da observação e da reflexão crítica Os primeiros filósofos chamados de présocráticos investigavam temas sobre a origem do universo cosmologia e sobre a essência do ser ontologia Geralmente eles se dividiam em duas correntes principais os materialistas que consideravam que tudo era explicado por princípios físicos como água ar fogo e átomos ou os metafísicos que defendiam a ideia de princípios não físicos e captáveis apenas pela razão como números infinito e o Ser Mais tarde vieram os sofistas professores de oratória que ensinavam que a verdade era relativa e que a persuasão era mais relevante do que o comprometimento a uma verdade absoluta Por além deles destacouse Sócrates que defendia a ideia de uma verdade objetiva e o autoconhecimento como o caminho para chegar a isso O método de Sócrates a maiêutica tinha como objetivo guiar o interlocutor durante o diálogo à descoberta de ideias que já estavam em sua consciência Ele foi condenado a morte por suas ideologias e faleceu em 399 aC Seu discípulo Platão desenvolveu uma teoria chamada de idealismo segundo a qual existe uma diferença entre o mundo sensível onde habitamos e que é sujeito a ilusões e o mundo das ideias onde se encontram as verdades eternas e perfeitas que são acessíveis apenas pela razão Platão acreditava que o verdadeiro conhecimento episteme pode ser alcançado somente pela razão e pela filosofia Aristóteles por sua vez que foi discípulo de Platão propôs um ponto de vista mais concreto e realista Para ele o conhecimento vem da experiência sensível e o ser humano nasce como uma tábula rasa Criou a lógica formal a teoria do ato e da potência e concebeu Deus como o motor imóvel causa de tudo mas não causado por nada Na ética Aristóteles dizia que a felicidade eudaimonia é consequência da virtude na política defendia o bem comum como o objetivo do Estado Com a deterioração da política grega a filosofia passou a se ocupar de questões éticas e existenciais dando início ao que chamamos de filosofia helenística Muitas escolas e correntes de pensamento foram criadas como o epicurismo que advoga pelo prazer moderado o estoicismo que prega a virtude e o autocontrole sobre as paixões e o ceticismo que duvida da possibilidade de chegarmos a uma verdade absoluta Outras correntes religiosasfilosóficas também surgiram como o gnosticismo e o maniqueísmo que misturam filosofia grega com elementos orientais e cristãos Com o advento do cristianismo a filosofia começa a dialogar com a fé iniciando o período da patrística Santo Agostinho foi um de seus principais protagonistas integrando a tradição filosófica grecoromana na filosofia cristã Agostinho baseavase no neoplatonismo e acreditava que a fé precederia a razão mas ambas são complementares Para Agostinho o mal não é uma criação de Deus mas sim a ausência do bem decorrente do mau uso do livrearbítrio do próprio homem Para ele o homem só conhece a verdade através da iluminação divina e a verdade que é Deus é o objetivo da vida Na Idade Média a filosofia cristã alcançou um novo estado de desenvolvimento com o advento da escolástica movimento filosófico que se dedicou ao empreendimento de unir fé com razão O principal ator foi São Tomás de Aquino que se esforçou por integrar a filosofia aristotélica ao pensamento teológico cristão Em sua obra Suma Teológica ele expôs cinco vias racionais para a prova da existência de Deus e a partir de sua obra sustentou que a obra de criação constitui uma ação de razão e de liberdade do Criador Para Aquino poderiase desenvolver a teologia como um sistema científico construído sobre a base da razão e da revelação Sua obra consolidou a teologia cristã tornandose um dos maiores exemplos da filosofia medieval e um legado duradouro no pensamento ocidental A filosofia teve sua origem na Grécia Antiga a partir da ruptura com o pensamento mítico que interpretava o mundo com base em deus e narrativas simbólicas A partir do século VIII aC instaurase a primazia da razão filosófica que busca entender o mundo através da lógica da observação e da reflexão crítica Os primeiros filósofos chamados de présocráticos investigavam temas sobre a origem do universo cosmologia e sobre a essência do ser ontologia Geralmente eles se dividiam em duas correntes principais os materialistas que consideravam que tudo era explicado por princípios físicos como água ar fogo e átomos ou os metafísicos que defendiam a ideia de princípios não físicos e captáveis apenas pela razão como números infinito e o Ser Mais tarde vieram os sofistas professores de oratória que ensinavam que a verdade era relativa e que a persuasão era mais relevante do que o comprometimento a uma verdade absoluta Por além deles destacouse Sócrates que defendia a ideia de uma verdade objetiva e o autoconhecimento como o caminho para chegar a isso O método de Sócrates a maiêutica tinha como objetivo guiar o interlocutor durante o diálogo à descoberta de ideias que já estavam em sua consciência Ele foi condenado a morte por suas ideologias e faleceu em 399 aC Seu discípulo Platão desenvolveu uma teoria chamada de idealismo segundo a qual existe uma diferença entre o mundo sensível onde habitamos e que é sujeito a ilusões e o mundo das ideias onde se encontram as verdades eternas e perfeitas que são acessíveis apenas pela razão Platão acreditava que o verdadeiro conhecimento episteme pode ser alcançado somente pela razão e pela filosofia Aristóteles por sua vez que foi discípulo de Platão propôs um ponto de vista mais concreto e realista Para ele o conhecimento vem da experiência sensível e o ser humano nasce como uma tábula rasa Criou a lógica formal a teoria do ato e da potência e concebeu Deus como o motor imóvel causa de tudo mas não causado por nada Na ética Aristóteles dizia que a felicidade eudaimonia é consequência da virtude na política defendia o bem comum como o objetivo do Estado Com a deterioração da política grega a filosofia passou a se ocupar de questões éticas e existenciais dando início ao que chamamos de filosofia helenística Muitas escolas e correntes de pensamento foram criadas como o epicurismo que advoga pelo prazer moderado o estoicismo que prega a virtude e o autocontrole sobre as paixões e o ceticismo que duvida da possibilidade de chegarmos a uma verdade absoluta Outras correntes religiosasfilosóficas também surgiram como o gnosticismo e o maniqueísmo que misturam filosofia grega com elementos orientais e cristãos Com o advento do cristianismo a filosofia começa a dialogar com a fé iniciando o período da patrística Santo Agostinho foi um de seus principais protagonistas integrando a tradição filosófica grecoromana na filosofia cristã Agostinho baseavase no neoplatonismo e acreditava que a fé precederia a razão mas ambas são complementares Para Agostinho o mal não é uma criação de Deus mas sim a ausência do bem decorrente do mau uso do livrearbítrio do próprio homem Para ele o homem só conhece a verdade através da iluminação divina e a verdade que é Deus é o objetivo da vida Na Idade Média a filosofia cristã alcançou um novo estado de desenvolvimento com o advento da escolástica movimento filosófico que se dedicou ao empreendimento de unir fé com razão O principal ator foi São Tomás de Aquino que se esforçou por integrar a filosofia aristotélica ao pensamento teológico cristão Em sua obra Suma Teológica ele expôs cinco vias racionais para a prova da existência de Deus e a partir de sua obra sustentou que a obra de criação constitui uma ação de razão e de liberdade do Criador Para Aquino poderiase desenvolver a teologia como um sistema científico construído sobre a base da razão e da revelação Sua obra consolidou a teologia cristã tornandose um dos maiores exemplos da filosofia medieval e um legado duradouro no pensamento ocidental