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PONTO DE VISTA DO BECO AO BELO dez teses sobre o regionalismo na literatura Ligia Chiappini Introdução Essa introdução talvez fosse dispensável mas como as dez teses apresentadas a seguir foram escritas e lidas para um público de especialistas em literatura por ocasião do II Simpósio LusoAfroBrasileiro ocorrido na Universidade de Lisboa em abril de 1994 e como agora elas se dirigem a historiadores e cientistas sociais vale a pena historiar um pouco do percurso que me levou a pensálas explicando algumas intenções e alusões Há muitos anos trabalho com o regionalismo literário No início com escritores e obras da literatura gaúcha1 depois ampliando meu interesse para os vários regionalismos brasileiros2 mais recentemente no âmbito da literatura comparada confrontando essa tendência em diferentes literaturas da Europa e das Américas do romantismo aos nossos dias3 Um levantamento bibliográfico feito em 199293 e o contato com vários especialistas no assunto em diversas universidades européias confirmaram uma suspeita a de que o regionalismo que setores da crítica literária brasileira consideravam uma categoria ultrapassada continuava presente e até mesmo tinhase tornado tema de pesquisas muito atuais ganhando uma amplitude maior na intersecção dos estudos literários e artísticos históricos e etnológicos E de que naturalmente o incremento de tais estudos se devia em grande parte ao reaparecimento dos regionalismos como decorrência só aparentemente paradoxal da chamada globalização José Carlos Garbuglio professor de literatura brasileira na USP hoje aposentado escreveu certa vez que o regionalismo tinha fôlego de gato Pois o que minha pesquisa constatou é que isso não ocorre só no Brasil O regionalismo é um fenômeno universal como tendência literária ora mais ora menos atuante tanto como movimento ou seja como manifestação de grupos de escritores que programaticamente defendem sobretudo uma literatura que tenha por ambiente tema e tipos uma certa região rural 154 ESTUDOS HISTÓRICOS 199515 em oposição aos costumes valores e gosto dos citadinos sobretudo das grandes capi tais quanto na forma de obras que concretizem mais ou menos livremente tal programa mesmo que independentemente da adesão explícita de seus autores O estudioso da ficção regionalista e dos manifestos e polêmicas que a cercam também se sente contagiar pela persistência do objeto dedicando seu tempo a um tema fora de moda pesquisando autores fora de moda representantes de uma estética fora de moda Mas exatamente por isso porque não se deixou enganar pelo aparente simplismo dessa tendência hoje volta à moda meio sem querer só porque permanece intrigado pelas questões teóricas estéticas e éticas que o regionalismo não deixou de levantar ao longo de pelo menos um século e meio Mas remar contra a maré sempre traz um certo malestar E só recentemente eu percebi que esse malestar tinha muito a ver com uma divisão que o mesmo regionalismo provoca no pesquisador entre o desagrado ante a maior parte das obras dessa tendência porque estreitas esquemáticas pitorescas superficiais e condenadas ao beco que não sai do beco e se contenta com o beco no dizer de Mário de Andrade4 e a atração que exercem sobre ele principalmente aquelas que conseguem superar as dificuldades próprias do projeto regionalista e que como tal ganham o estatuto de obrasprimas são ou mais significativas esteticamente do que qualquer romance ou conto urbano com pretensão cosmopolita Esse malestar de certo modo gerou estas teses onde tento problematizar juízos críticos estereotipados que generalizam para a tendência como um todo as limitações estéticas e ideológicas da maior parte reconheço das obras que o regionalismo tem produzido Pois não dá para postular que tudo na tendência é tendencioso ou que tudo aí é caiporismo e con servadorismo As teses convidam a relativizar esse juízo fundadas no seguinte argumento se é verdade que o regionalismo como movimento e criação de obras serviu a políticas nacionalistas estreitas e totalitárias como à do Sangue e Solo de Hitler ou à da França Profunda de Vichy não é menos verdade que também tem nesses e em outros países contestado essas mesmas políticas e aproximado solidariamente o leitor da cidade do homem pobre do campo auxiliandonos a vencer preconceitos respeitar a diferença e alargar nossa sensibilidade ao descobrir a humanidade do outro de classe e de cultura Na mesma linha as teses levantam ainda um problema elementar mas crucial para pensar a questão em vez de explicar a obra regionalista bem realizada negando sua relação com o regionalismo para afirmar imediatamente sua universalidade seria preciso enfrentar pela análise trabalhosa de cada caso a questão de como se dá a superação dos limites da tendência de dentro dela mesma pela potencialização de suas possibilidades artísticas e éticas isto é como se resolve em cada caso o problema já enunciado claramente por George Sand em seus prefácios e reenunciado entre nós com clareza de mestre por Antônio Cândido há quase trinta anos criar uma linguagem que suprisse com verossimilhança a assimetria radical entre o escritor e o leitor citadino em relação ao personagem e ao tema rural e regional humanizando o leitor em vez de alienálo em relação ao homem rural representado Ou nos termos em que a escritora francesa enunciou esse problema em meados do século passado fazer um narrador ou um personagem falar como se à sua direita vivessem um parisiense e à sua esquerda um camponês5 Tanto no caso de George Sand quanto no de Antônio Cândido o que se enfatiza é a relação inextricável entre o ideológico e o estético Ou seja ambos evidenciam PONTO DE VISTA DO BECO AO BELO 155 que o único modo de não distanciar preconceituosamente o leitor do homem do campo que essa ficção quer reatar é estabelecer pela arte uma ponte amorosa que lhe permita sair dos seus guetos citadinos comunicandose com e aprendendo sobre outros tantos becos deste mundo Na verdade a história do regionalismo mostra que ele sempre surgiu e se desenvolveu em conflito com a modernização a industrialização e a urbanização Ele é portanto um fenômeno moderno e paradoxalmente urbano No Brasil não foi diferente Já tive ocasião de mostrar6 que a primeira geração modernista saudou a modernização endossando o gosto e os valores daqueles que lucravam com ela sem atentar para as dores desvalores e desgostos dos que com ela perdiam Daí inclusive o entusiasmo um tanto ingênuo da primeira hora que fez Guilherme de Almeida fazer do regionalismo o principal alvo a atacar em suas conferências pelo Brasil como defensor da cruzada nova por volta de 1925 Daí o ataque violento do próprio Mário de Andrade ao regionalismo como praga nacional juízo que ele iria relativizar na maturidade Uma das conclusões que se pode tirar dessa história do regionalismo brasileiro é que a transição difícil nos reajustes sucessivos da nossa economia aos avanços do capitalismo mundial se trama de modo específico e a literatura tende a recontar o processo ora como decadência ora como ascensão ora com pessimismo ora com otimismo dependendo de que lado está da modernização ou da ruína Quando consegue superar o otimismo autocentrado das elites ganhadoras ou o simples ressentimento das frações perdedoras expressando o modo como o pobre paga o pato em um e outro caso ela supera também os limites estreitos da ideologia para virar forma de conhecimento e vivência solitária dos diferentes problemas do homem pobre brasileiro7 São essas algumas das questões em jogo nas teses que apareceram assim como um esforço de síntese tentando deixar claro o que já ficou menos obscuro para mim depois de tantos encontros desencontros e reencontros com escritores obras e movimentos regionalistas Elas são o marco portanto de um ponto de chegada da pesquisa mas também um desafio e um ponto de partida pois o que se impõe daqui para a frente é estudar pelo menos alguns casos exemplares do presente e do passado do Brasil e do exterior que possam concorrer concretamente à demonstração dessas teses ainda um tanto hipotéticas enquanto não for feito esse novo trabalho que continua a exigir muito fôlego da crítica Teses 1 A obra literária regionalista tem sido definida como qualquer livro que intencionalmente ou não traduz peculiaridades locais8 definição que alguns tentam explicitar enumerando tais peculiaridades costumes crendices superstições modismo9 e vinculandoas a uma área do país regionalismo gaúcho regionalismo nordestino regionalismo paulista10 Tomado assim amplamente podese falar tanto de um regionalismo rural quanto de um regionalismo urbano No limite toda obra literária seria regionalista enquanto com maiores ou menores mediações de modo mais ou menos explícito ou mais ou menos mascarado expressa seu momento e lugar Historicamente porém a tendência a que se denominou regionalista em literatura vinculase a obras que expressam regiões rurais e nelas situam suas ações e personagens procurando expressar suas particularidades lingüísticas 2 Há quem vincule o regionalismo literário à tradição grecolatina do idílio e da pastoral Mas é em meados do século XIX com George Sand na França Walter Scott na Inglaterra e Berthold Auerbach na Alemanha que essa tradição é retomada na forma de romance regionalista que daí para a frente começa a viver da tensão entre o idílio romântico e a representação realista tentando progressivamente dar espaço ao homem pobre do campo cuja voz busca concretizar paradoxalmente pela letra num esforço de tornála audível ao leitor da cidade de onde surge e para a qual se destina essa literatura A tensão entre idílio e realismo correspondem outras constitutivas do regionalismo entre nação e região oralidade e letra campo e cidade estória romanesca e romance entre a visão nostálgica do passado e a denúncia das misérias do presente 3 Regionalismo na literatura como tema de estudo constitui um desafio teórico na medida em que defronta o estudioso com questões das mais candentes da teoria da crítica e da história literárias tais como os problemas do valor da relação entre arte e sociedade das relações da literatura com as ciências humanas das literaturas canônicas e nãocanônicas e das fronteiras movediças entre elas Estudar o regionalismo hoje nos leva a constatar seu caráter universal e moderno Surgindo como reação ao iluminismo e à centralização do Estadonação hoje se reatualiza como reação à chamada globalização Se para um pensamento nãodialético a chamada aldeia global suplantou definitivamente aaldeia e tudo o que dela fale e por ela se interesse a dialética nos faz considerar que a questão regional e a defesa das particularidades locais hoje se repõem com força quanto mais não seja como reação aos riscos de homogeneidade cultural à destruição da natureza e às dificuldades de vida e trabalho no planíso neoliberal Por isso o regionalismo literário hoje em muitos países inclusive aqui reaparece discutindo questões de identidade problemática e de ecologia 4 Com a modernização das técnicas agrícolas o êxodo rural o desenvolvimento das cidades e de uma literatura urbana o regionalismo tem sido visto como ultrapassado retrógrado localismo estreito e reacionário tanto do ponto de vista estético quanto do ideológico Essa crítica esquece no entanto que ele é um fenômeno eminentemente moderno e universal contraponto necessário da urbanização e da modernização do campo e da cidade sob o capitalismo Por isso continua a existir e a dar frutos como uma corrente temáticoformal contraditória onde têm lugar os reacionários e os progressistas os nostálgicos os xenófobos mas também os inconformados com a divisão injusta do mundo entre ricos e pobres Uma corrente que deu origem a grandes obras como as de Faulkner Verga Rulfo Carpentier Arguedas e Guimarães Rosa place nos Estados Unidos já foi superregionalismo no Brasil onde em breve será regionalismo cósmico o que é previsível dado o grande prestígio do crítico Davi Arrigucci Jr que acaba de utilizála também referindose a Guimarães Rosa num brilhante ensaio sobre Grande sertão veredas 6 É compreensível o esforço da crítica para excluir a tendência os grandes autores já que nela o número de obras literariamente menos expressivas talvez seja maior que em outras porque proporcional ao grau de dificuldade que a especificidade da empresa do regionalismo literário implica O argumento da crítica para assim fazer é que a qualidade literária de suas obras os elevaria do regional ao universal Mas frequentemente ela esquece que é o seu espaço históricogeográfico entrambado e vivendo pela consciência das personagens que permite concretizar o universal O problema não nos parece tanto distinguir os tipos de regionalismo mas distinguir como em qualquer tendência as obras boas das más esteticamente falando Nestas o efeito sobre os leitores será achatado como socio achados os espaço os dramas os caracteres a linguagem o pensamento e as idéias Naquelas necessariamente por menor que seja a região por mais provinciana que seja a vida nela haverá grandeza o espaço se alargará no mundo e o tempo finito na eternidade porque o beco se transfigurará no belo e o belo se exprimirá no beco 7 Só podemos sustentar que um Faulkner ou um Guimarães Rosa são regionalistas se entendermos que o regionalismo como toda tendência literária não é estático Evolui É histórico enquanto atravessa e é atravessado pela história Um escritor da literatura fantástica que escreva hoje como Poe ou como os romancistas do gótico certamente será tido como epígo no contemporâneo e démodé Da mesma forma um escritor regionalista que escreve hoje como George Sand ou como Verga O defeito não está em George Sand nem em Verga nem na tendência regionalista mas na falta de cultura de esforço e de desconfiômetro para superálos superando as dificuldades específicas da ficção regionalista que eles enfrentaram cada um a seu modo com os recursos de suas respectivas épocas 8 É importante distinguir o regionalismo como movimento político cultural e mesmo literário das obras que decorrem deste direta ou indiretamente Muitas vezes programa e obra mantém uma relação tensa quando não se contradizem abertamente exigindo uma análise das distintas mediações que relacionam a obra literária com a realidade natural e social O regionalismo lido como movimento período ou tendência fechada em si mesma num determinado período histórico em que surgiu ou alcançou maior prestígio é empobrecedor um ismo entre tantos O regionalismo lido como uma tendência mutável onde se enquadram aqueles escritores e obras que se esforçam por fazer falar o homem pobre das áreas rurais expressando uma região para além da geografia é uma tendência que tem suas dificuldades específicas a maior das quais é tornar verossímil a fala do outro de classe e de cultura para um público citadino e preconceituoso que somente por meio da arte poderá entender o diferente como eminentemente outro e ao mesmo tempo respeitálo como um mesmo homem humano 9 O defeito que muitas vezes a crítica aponta no escritor regionalista do pioneiro da cor local do descritivismo foi a seu tempo uma dura conquista Da mesma forma na pintura só depois de pintar com perfeição a figura o pintor pode aludir a ela por traços cores e luzes só depois de descrever como quem pinta uma paisagem o escritor pode indicála pela alusão conseguida seja por imagens seja pela sonoridade e ritmo seja pelo modo de ser e de falar das personagens Em qualquer dos casos o grande escritor regionalista é aquele que sabe nomear que sabe o nome exato das árvores flores pássaros rios e montanhas Mas a região descrita ou aludida não é apenas um lugar fisicamente localizável no mapa do país O mundo narrado não se localiza necessariamente em uma determinada região geograficamente reconhecível supondo muito mais um compromisso entre referência geográfica e geografia ficcional Tratase portanto de negar a visão ingênua da cópia ou reflexo fotográfico da região Mas ao mesmo tempo de reconhecer que embora ficcional o espaço regional criado literariamente aponta como portador de símbolos para um mundo históricosocial e uma região geográfica existentes Na obra regionalista a região existe como regionalidade e esta é o resultado da determinação como região ou província de um espaço ao mesmo tempo vivido e subjetivo a região rural internalizada à ficção momento estrutural do texto literário mais do que um espaço exterior a ele 10 Se o local e o provincial não são vistos como pura matéria mas como modo de formar como perspectiva sobre o mundo a dicotomia entre local e universal se torna falsa O importante é ver como o universal se realiza no particular superandose como abstração na concretude deste e permitindo a este superarse como concreto na generalidade daquele Desse modo as peculiaridades regionais alcançam uma existência que as transcende Assim espaço fechado e mundo ao mesmo tempo objetivos e subjetivos não necessitam perder sua amplitude simbólica A função da crítica diante de obras que se enquadram na tendência regionalista é por isso indagar da função que a regionalidade exerce nelas e perguntar como a arte da palavra faz com que através de um material que parece confinálas ao beco a que se referem algumas alcancem a dimensão mais geral da beleza e com ela a possibilidade de falar a leitores de outros becos de espaço e tempo permanecendo enquanto outras mesmo muitas que se querem imediatamente cosmopolitas urbanas e modernas se perdem para uma história permanente da leitura Notas 1 Especialmente em Regionalismo e modernismo o caso gaúcho São Paulo Ática 1978 e No entrelevo dos tempos literatura e história em João Simões Lopes Neto São Paulo Martins Fontes 1988 2 Ver especialmente o ensaio Velha praga Regionalismo literário org América Latina palavra literatura e cultura São Paulo Memorial da América LatinaEd da Unicamp 1994 v 2 3 Tratase de uma pesquisa em andamento que pretende desenvolver o ensaio acima reescrevendo a história do regionalismo brasileiro sob o horizonte da história de outros regionalismos europeus e americanos Estas teses pontuam algumas questões introdutórias a esse trabalho 4 Mário de Andrade Regionalismo em Diário Nacional São Paulo 14 fev 1928 5 Antônio Cândido A literatura e a formação do homem em Ciência e Cultura São Paulo n 24 24 set 1972 p 803 George Sand prefácio ao romance François le Champi 6 Ver texto citado na nota 2 7 Idem ibidem 8 A definição é de Lúcia Miguel Pereira em História da literatura brasileira prosa de ficção de 1870 a 1920 Rio de Janeiro José OlympioMEC 1973 p 179 9 Conforme Caio Porfírio Carneiro em Ficção regional brasileira Anais do I Encontro de Literatura Brasileira São Paulo Câmara do Livro 10 Sense of place é um termo que aparece em várias publicações sobre o assunto No livro de Nordstrom Lars Theodore Roethke William Stafford and Gary Snyder the ecological metaphor as transformed regionalism Uppsala University of Uppsala 1989 a expressão é atribuída a escritores novos que a utilizariam com o intuito explícito de diferenciarse dos velhos regionalistas do local color norteamericano Superregionalismo é uma expressão que Antônio Cândido no texto já citado utilizou para distinguir a obra de Guimarães Rosa como estando dentro e fora da nossa tradição regionalista Num artigo ainda inédito O mundo misturado romance e experiência em Guimarães Rosa Davi Arrigucci Jr preferiu utilizar o termo regionalismo cômico que Harry Levin emprega para designar a tendência de Joyce de lançar o leitor dos subúrbios de Dublin à órbita das sete esferas Há ainda quem utilize a expressão hiperregionalismo com a mesma acepção Esse esforço para desatacar do regionalismo a obra estritamente significaria é válido se considerarmos o quante o termo regionalismo está carregado de conotações que acentuam a visão preconceituosa da tendência mas a mudança de terminologia não resolve o problema apenas perpetua a insuficiência da reflexão sobre a sua especificidade como já ocorri no texto hoje clássico de Mary Rohrbacher The question of regionalism limitation and transcendecne em Philip Stevick The American short story 19001945 a critical history Temple University Twyne Publishers 1984 que desenvolve uma longa e confusa argumentação com base em critérios estruturais muito frágeis e discutíveis para excluir Faulkner Steinbeck e outros grandes autores norteamericanos do regionalismo literário Recebido para publicação em maio de 1995 Ligia Chiappini é professora titular de teoria literária e literatura comparada na USP
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confirmaram uma suspeita a de que o regionalismo que setores da crítica literária brasileira consideravam uma categoria ultrapassada continuava presente e até mesmo tinhase tornado tema de pesquisas muito atuais ganhando uma amplitude maior na intersecção dos estudos literários e artísticos históricos e etnológicos E de que naturalmente o incremento de tais estudos se devia em grande parte ao reaparecimento dos regionalismos como decorrência só aparentemente paradoxal da chamada globalização José Carlos Garbuglio professor de literatura brasileira na USP hoje aposentado escreveu certa vez que o regionalismo tinha fôlego de gato Pois o que minha pesquisa constatou é que isso não ocorre só no Brasil O regionalismo é um fenômeno universal como tendência literária ora mais ora menos atuante tanto como movimento ou seja como manifestação de grupos de escritores que programaticamente defendem sobretudo uma literatura que tenha por ambiente tema e tipos uma certa região rural 154 ESTUDOS 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das obras dessa tendência porque estreitas esquemáticas pitorescas superficiais e condenadas ao beco que não sai do beco e se contenta com o beco no dizer de Mário de Andrade4 e a atração que exercem sobre ele principalmente aquelas que conseguem superar as dificuldades próprias do projeto regionalista e que como tal ganham o estatuto de obrasprimas são ou mais significativas esteticamente do que qualquer romance ou conto urbano com pretensão cosmopolita Esse malestar de certo modo gerou estas teses onde tento problematizar juízos críticos estereotipados que generalizam para a tendência como um todo as limitações estéticas e ideológicas da maior parte reconheço das obras que o regionalismo tem produzido Pois não dá para postular que tudo na tendência é tendencioso ou que tudo aí é caiporismo e con servadorismo As teses convidam a relativizar esse juízo fundadas no seguinte argumento se é verdade que o regionalismo como movimento e criação de obras serviu a políticas nacionalistas estreitas e totalitárias como à do Sangue e Solo de Hitler ou à da França Profunda de Vichy não é menos verdade que também tem nesses e em outros países contestado essas mesmas políticas e aproximado solidariamente o leitor da cidade do homem pobre do campo auxiliandonos a vencer preconceitos respeitar a diferença e alargar nossa sensibilidade ao descobrir a humanidade do outro de classe e de cultura Na mesma linha as teses levantam ainda um problema elementar mas crucial para pensar a questão em vez de explicar a obra regionalista bem realizada negando sua relação com o regionalismo para afirmar imediatamente sua universalidade seria preciso enfrentar pela análise trabalhosa de cada caso a questão de como se dá a superação dos limites da tendência de dentro dela mesma pela potencialização de suas possibilidades artísticas e éticas isto é como se resolve em cada caso o problema já enunciado claramente por George Sand em seus prefácios e reenunciado entre nós com clareza de mestre por Antônio Cândido há quase trinta anos criar uma linguagem que suprisse com verossimilhança a assimetria radical entre o escritor e o leitor citadino em relação ao personagem e ao tema rural e regional humanizando o leitor em vez de alienálo em relação ao homem rural representado Ou nos termos em que a escritora francesa enunciou esse problema em meados do século passado fazer um narrador ou um personagem falar como se à sua direita vivessem um parisiense e à sua esquerda um camponês5 Tanto no caso de George Sand quanto no de Antônio Cândido o que se enfatiza é a relação inextricável entre o ideológico e o estético Ou seja ambos evidenciam PONTO DE VISTA DO BECO AO BELO 155 que o único modo de não distanciar preconceituosamente o leitor do homem do campo que essa ficção quer reatar é estabelecer pela arte uma ponte amorosa que lhe permita sair dos seus guetos citadinos comunicandose com e aprendendo sobre outros tantos becos deste mundo Na verdade a história do regionalismo mostra que ele sempre surgiu e se desenvolveu em conflito com a modernização a industrialização e a urbanização Ele é portanto um fenômeno moderno e paradoxalmente urbano No Brasil não foi diferente Já tive ocasião de mostrar6 que a primeira geração modernista saudou a modernização endossando o gosto e os valores daqueles que lucravam com ela sem atentar para as dores desvalores e desgostos dos que com ela perdiam Daí inclusive o entusiasmo um tanto ingênuo da primeira hora que fez Guilherme de Almeida fazer do regionalismo o principal alvo a atacar em suas conferências pelo Brasil como defensor da cruzada nova por volta de 1925 Daí o ataque violento do próprio Mário de Andrade ao regionalismo como praga nacional juízo que ele iria relativizar na maturidade Uma das conclusões que se pode tirar dessa história do regionalismo brasileiro é que a transição difícil nos reajustes sucessivos da nossa economia aos avanços do capitalismo mundial se trama de modo específico e a literatura tende a recontar o processo ora como decadência ora como ascensão ora com pessimismo ora com otimismo dependendo de que lado está da modernização ou da ruína Quando consegue superar o otimismo autocentrado das elites ganhadoras ou o simples ressentimento das frações perdedoras expressando o modo como o pobre paga o pato em um e outro caso ela supera também os limites estreitos da ideologia para virar forma de conhecimento e vivência solitária dos diferentes problemas do homem pobre brasileiro7 São essas algumas das questões em jogo nas teses que apareceram assim como um esforço de síntese tentando deixar claro o que já ficou menos obscuro para mim depois de tantos encontros desencontros e reencontros com escritores obras e movimentos regionalistas Elas são o marco portanto de um ponto de chegada da pesquisa mas também um desafio e um ponto de partida pois o que se impõe daqui para a frente é estudar pelo menos alguns casos exemplares do presente e do passado do Brasil e do exterior que possam concorrer concretamente à demonstração dessas teses ainda um tanto hipotéticas enquanto não for feito esse novo trabalho que continua a exigir muito fôlego da crítica Teses 1 A obra literária regionalista tem sido definida como qualquer livro que intencionalmente ou não traduz peculiaridades locais8 definição que alguns tentam explicitar enumerando tais peculiaridades costumes crendices superstições modismo9 e vinculandoas a uma área do país regionalismo gaúcho regionalismo nordestino regionalismo paulista10 Tomado assim amplamente podese falar tanto de um regionalismo rural quanto de um regionalismo urbano No limite toda obra literária seria regionalista enquanto com maiores ou menores mediações de modo mais ou menos explícito ou mais ou menos mascarado expressa seu momento e lugar Historicamente porém a tendência a que se denominou regionalista em literatura vinculase a obras que expressam regiões rurais e nelas situam suas ações e personagens procurando expressar suas particularidades 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crítica e da história literárias tais como os problemas do valor da relação entre arte e sociedade das relações da literatura com as ciências humanas das literaturas canônicas e nãocanônicas e das fronteiras movediças entre elas Estudar o regionalismo hoje nos leva a constatar seu caráter universal e moderno Surgindo como reação ao iluminismo e à centralização do Estadonação hoje se reatualiza como reação à chamada globalização Se para um pensamento nãodialético a chamada aldeia global suplantou definitivamente aaldeia e tudo o que dela fale e por ela se interesse a dialética nos faz considerar que a questão regional e a defesa das particularidades locais hoje se repõem com força quanto mais não seja como reação aos riscos de homogeneidade cultural à destruição da natureza e às dificuldades de vida e trabalho no planíso neoliberal Por isso o regionalismo literário hoje em muitos países inclusive aqui reaparece discutindo questões de identidade problemática e de ecologia 4 Com a modernização das técnicas agrícolas o êxodo rural o desenvolvimento das cidades e de uma literatura urbana o regionalismo tem sido visto como ultrapassado retrógrado localismo estreito e reacionário tanto do ponto de vista estético quanto do ideológico Essa crítica esquece no entanto que ele é um fenômeno eminentemente moderno e universal contraponto necessário da urbanização e da modernização do campo e da cidade sob o capitalismo Por isso continua a existir e a dar frutos como uma corrente temáticoformal contraditória onde têm lugar os reacionários e os progressistas os nostálgicos os xenófobos mas também os inconformados com a divisão injusta do mundo entre ricos e pobres Uma corrente que deu origem a grandes obras como as de Faulkner Verga Rulfo Carpentier Arguedas e Guimarães Rosa place nos Estados Unidos já foi superregionalismo no Brasil onde em breve será regionalismo cósmico o que é previsível dado o grande prestígio do crítico Davi Arrigucci Jr que acaba de utilizála também referindose a Guimarães Rosa num brilhante ensaio sobre Grande sertão veredas 6 É compreensível o esforço da crítica para excluir a tendência os grandes autores já que nela o número de obras literariamente menos expressivas talvez seja maior que em outras porque proporcional ao grau de dificuldade que a especificidade da empresa do regionalismo literário implica O argumento da crítica para assim fazer é que a qualidade literária de suas obras os elevaria do regional ao universal Mas frequentemente ela esquece que é o seu espaço históricogeográfico entrambado e vivendo pela consciência das personagens que permite concretizar o universal O problema não nos parece tanto distinguir os tipos de regionalismo mas distinguir como em qualquer tendência as obras boas das más esteticamente falando Nestas o efeito sobre os leitores será achatado como socio achados os espaço os dramas os caracteres a linguagem o pensamento e as idéias Naquelas necessariamente por menor que seja a região por mais provinciana que seja a vida nela haverá grandeza o espaço se alargará no mundo e o tempo finito na eternidade porque o beco se transfigurará no belo e o belo se exprimirá no beco 7 Só podemos sustentar que um Faulkner ou um Guimarães Rosa são regionalistas se entendermos que o regionalismo como toda tendência literária não é estático Evolui É histórico enquanto atravessa e é atravessado pela história Um escritor da literatura fantástica que escreva hoje como Poe ou como os romancistas do gótico certamente será tido como epígo no contemporâneo e démodé Da mesma forma um escritor regionalista que escreve hoje como George Sand ou como Verga O defeito não está em George Sand nem em Verga nem na tendência regionalista mas na falta de cultura de esforço e de desconfiômetro para superálos superando as dificuldades específicas da ficção regionalista que eles enfrentaram cada um a seu modo com os recursos de suas respectivas épocas 8 É importante distinguir o regionalismo como movimento político cultural e mesmo literário das obras que decorrem deste direta ou indiretamente Muitas vezes programa e obra mantém uma relação tensa quando não se contradizem abertamente exigindo uma análise das distintas mediações que relacionam a obra literária com a realidade natural e social O regionalismo lido como movimento período ou tendência fechada em si mesma num determinado período histórico em que surgiu ou alcançou maior prestígio é empobrecedor um ismo entre tantos O regionalismo lido como uma tendência mutável onde se enquadram aqueles escritores e obras que se esforçam por fazer falar o homem pobre das áreas rurais expressando uma região para além da geografia é uma tendência que tem suas dificuldades específicas a maior das quais é tornar verossímil a fala do outro de classe e de cultura para um público citadino e preconceituoso que somente por meio da arte poderá entender o diferente como eminentemente outro e ao mesmo tempo respeitálo como um mesmo homem humano 9 O defeito que muitas vezes a crítica aponta no escritor regionalista do pioneiro da cor local do descritivismo foi a seu tempo uma dura conquista Da mesma forma na pintura só depois de pintar com perfeição a figura o pintor pode aludir a ela por traços cores e luzes só depois de descrever como quem pinta uma paisagem o escritor pode indicála pela alusão conseguida seja por imagens seja pela sonoridade e ritmo seja pelo modo de ser e de falar das personagens Em qualquer dos casos o grande escritor regionalista é aquele que sabe nomear que sabe o nome exato das árvores flores pássaros rios e montanhas Mas a região descrita ou aludida não é apenas um lugar fisicamente localizável no mapa do país O mundo narrado não se localiza necessariamente em uma determinada região geograficamente reconhecível supondo muito mais um compromisso entre referência geográfica e geografia ficcional Tratase portanto de negar a visão ingênua da cópia ou reflexo fotográfico da região Mas ao mesmo tempo de reconhecer que embora ficcional o espaço regional criado literariamente aponta como portador de símbolos para um mundo históricosocial e uma região geográfica existentes Na obra regionalista a região existe como regionalidade e esta é o resultado da determinação como região ou província de um espaço ao mesmo tempo vivido e subjetivo a região rural internalizada à ficção momento estrutural do texto literário mais do que um espaço exterior a ele 10 Se o local e o provincial não são vistos como pura matéria mas como modo de formar como perspectiva sobre o mundo a dicotomia entre local e universal se torna falsa O importante é ver como o universal se realiza no particular superandose como abstração na concretude deste e permitindo a este superarse como concreto na generalidade daquele Desse modo as peculiaridades regionais alcançam uma existência que as transcende Assim espaço fechado e mundo ao mesmo tempo objetivos e subjetivos não necessitam perder sua amplitude simbólica A função da crítica diante de obras que se enquadram na tendência regionalista é por isso indagar da função que a regionalidade exerce nelas e perguntar como a arte da palavra faz com que através de um material que parece confinálas ao beco a que se referem algumas alcancem a dimensão mais geral da beleza e com ela a possibilidade de falar a leitores de outros becos de espaço e tempo permanecendo enquanto outras mesmo muitas que se querem imediatamente cosmopolitas urbanas e modernas se perdem para uma história permanente da leitura Notas 1 Especialmente em Regionalismo e modernismo o caso gaúcho São Paulo Ática 1978 e No entrelevo dos tempos literatura e história em João Simões Lopes Neto São Paulo Martins Fontes 1988 2 Ver especialmente o ensaio Velha praga Regionalismo literário org América Latina palavra literatura e cultura São Paulo Memorial da América LatinaEd da Unicamp 1994 v 2 3 Tratase de uma pesquisa em andamento que pretende desenvolver o ensaio acima reescrevendo a história do regionalismo brasileiro sob o horizonte da história de outros regionalismos europeus e americanos Estas teses pontuam algumas questões introdutórias a esse trabalho 4 Mário de Andrade Regionalismo em Diário Nacional São Paulo 14 fev 1928 5 Antônio Cândido A literatura e a formação do homem em Ciência e Cultura São Paulo n 24 24 set 1972 p 803 George Sand prefácio ao romance François le Champi 6 Ver texto citado na nota 2 7 Idem ibidem 8 A definição é de Lúcia Miguel Pereira em História da literatura brasileira prosa de ficção de 1870 a 1920 Rio de Janeiro José OlympioMEC 1973 p 179 9 Conforme Caio Porfírio Carneiro em Ficção regional brasileira Anais do I Encontro de Literatura Brasileira São Paulo Câmara do Livro 10 Sense of place é um termo que aparece em várias publicações sobre o assunto No livro de Nordstrom Lars Theodore Roethke William Stafford and Gary Snyder the ecological metaphor as transformed regionalism Uppsala University of Uppsala 1989 a expressão é atribuída a escritores novos que a utilizariam com o intuito explícito de diferenciarse dos velhos regionalistas do local color norteamericano Superregionalismo é uma expressão que Antônio Cândido no texto já citado utilizou para distinguir a obra de Guimarães Rosa como estando dentro e fora da nossa tradição regionalista Num artigo ainda inédito O mundo misturado romance e experiência em Guimarães Rosa Davi Arrigucci Jr preferiu utilizar o termo regionalismo cômico que Harry Levin emprega para designar a tendência de Joyce de lançar o leitor dos subúrbios de Dublin à órbita das sete esferas Há ainda quem utilize a expressão hiperregionalismo com a mesma acepção Esse esforço para desatacar do regionalismo a obra estritamente significaria é válido se considerarmos o quante o termo regionalismo está carregado de conotações que acentuam a visão preconceituosa da tendência mas a mudança de terminologia não resolve o problema apenas perpetua a insuficiência da reflexão sobre a sua especificidade como já ocorri no texto hoje clássico de Mary Rohrbacher The question of regionalism limitation and transcendecne em Philip Stevick The American short story 19001945 a critical history Temple University Twyne Publishers 1984 que desenvolve uma longa e confusa argumentação com base em critérios estruturais muito frágeis e discutíveis para excluir Faulkner Steinbeck e outros grandes autores norteamericanos do regionalismo literário Recebido para publicação em maio de 1995 Ligia Chiappini é professora titular de teoria literária e literatura comparada na USP