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101 Psicologia Teoria e Pesquisa JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 Contribuições das Teorias do Desenvolvimento Humano para a Concepção Contemporânea da Adolescência1 Sylvia Regina Carmo Magalhães Senna2 Maria Auxiliadora Dessen Universidade de Brasília RESUMO O interesse pelo estudo da adolescência vem aumentando sobretudo por seu impacto no desenvolvimento do indivíduo da família e da sociedade Tratar a adolescência simplesmente como um período de grandes mudanças não condiz com as atuais perspectivas teóricas da ciência do desenvolvimento Portanto este artigo visa contribuir para uma compreensão mais atualizada deste período do curso de vida caracterizado por intensa exploração e múltiplas oportunidades que variam em função dos diferentes contextos sociais e culturais Ênfase é dada à importância de se adotar um paradigma sistêmico para a compreensão da adolescência priorizando as interrelações dos recursos individuais e contextuais que promovem as trajetórias de desenvolvimento positivo Palavraschave desenvolvimento humano teorias adolescência psicologia positiva Contributions of Human Development Theories to a Contemporary Concept of Adolescence ABSTRACT The interest in studying adolescence is increasing especially because of its impact on the development of individuals families and society To treat adolescence simply as a period of great changes does not correspond to the current theoretical perspectives of human development sciences Therefore this article aims to contribute to a more updated understanding of this period in life characterized by intense exploration and multiple opportunities that vary according to the different social and cultural contexts Emphasis is given to the importance of adopting a systemic paradigm for the comprehension of adolescence prioritizing individual and contextual resources that promote positive development Key words human development theories adolescence positive psychology 1 As autoras agradecem ao grupo de estudos do Laboratório de Desen volvimento Familiar UnB 2 Endereço para SQS 209 bloco E apto 205 Asa Sul BrasíliaDF CEP 70272050 Fone 61 32420031 Email sylviasennahotmailcom As primeiras tentativas de descrever a adolescência datam do início do século XV embora esta fase tenha sido reconhecida como crucial ao desenvolvimento humano somente nos anos de 1890 Ariès 19781986 Porém foi particularmente no século XX que a adolescência se tornou um tema de crescente interesse na história da psicologia Naquele século marcado por grandes avanços teóricos nas ciências em geral advindos da adoção de modelos sistêmi cos para a compreensão de fenômenos do desenvolvimento este período passou a ser visto como um conjunto de fatores interrelacionados de ordem individual histórica e cultural Ao adotar uma visão relacional e contextual as pesquisas na área do desenvolvimento do adolescente começaram a es tabelecer relações específicas entre os aspectos do indivíduo e de seus contextos de desenvolvimento e a identificar de safios potencialidades e possibilidades de desenvolvimento das reais competências do adolescente Lerner Steinberg 2004 A ênfase maior na adolescência enquanto período decisivo do curso de vida passou a ser então deslocada para os fatores de mudança e plasticidade bem como para a diversidade social e cultural que podem ser mais pronun ciados neste período Recentemente sobretudo nas três últimas décadas as rápidas mudanças no mundo nas sociedades ocidentais e nas famílias vêm gerando novas preocupações e questionamentos entre estudiosos e leigos Por exemplo como compreender as influências mútuas entre os fatores individuais e as forças contextuais no curso do desenvolvimento individual e vice versa Brown 2005 Como promover relações entre o indivíduo e seu contexto que sejam mutuamente benéficas à saúde do jovem de sua família e de sua nação Lerner Overton 2008 Estudiosos da área se preocupam com as diversas pos sibilidades de trocas dinâmicas entre o adolescente e seus diferentes contextos de modo que ele possa seguir caminhos marcados por oportunidades de saúde e desenvolvimento positivo Lerner Overton 2008 Os estudos atuais buscam apresentar dados que sirvam de base para programas dirigidos aos adolescentes já que é nesta fase que um grande poten cial pode ser desenvolvido preparandoos para enfrentar melhor os desafios e atuar no mundo adulto Larson Wilson Mortimer 2002 Roth BrooksGuhn 2003 Smetana CampioneBarr Metzer 2006 Reconhecendo a adolescência como um período do curso de vida essencial ao desenvolvimento do indivíduo este artigo apresenta o percurso do estudo científico da adoles cência com base em duas fases sobrepostas da história das teorias do desenvolvimento humano propostas por Lerner e Steinberg 2004 2009 e reiteradas por Goosens 2006 102 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 SRCM Senna MA Dessen Na primeira seção serão apresentadas as fases históricas que caracterizaram o estudo científico da adolescência no século XX Considerando a importância das teorias do de senvolvimento elaboradas até os anos 70 para a compreen são e concepções atuais da adolescência foco deste artigo breve menção será feita às contribuições das diversas teorias clássicas Em seguida será apresentada uma visão mais in tegradora e contextualista do desenvolvimento destacando a abordagem do curso de vida e o modelo bioecológico do desenvolvimento humano A segunda seção trata dos avan ços nos estudos empíricos da adolescência no século XXI apontando as tendências da ciência e a emergência de uma nova fase caracterizada pela aplicação das teorias e por uma visão de adolescência saudável Ao buscar compreender a adolescência com base nas explicações teóricas que orientam suas concepções ao longo do tempo esperase contribuir para uma discussão atuali zada que não se restrinja às fronteiras e características do adolescente mas que considere as interrelações dos recursos individuais e contextuais que promovem as trajetórias de desenvolvimento positivo O Percurso do Estudo Científico da Adolescência no Século XX As teorias do desenvolvimento têm um papel bastante importante na história da psicologia do adolescente Ao longo do tempo teóricos dessa área se preocuparam com as mudan ças sistemáticas do comportamento enfocando a descrição dessas mudanças em um ou outro aspecto particular ex cognição emoção ou nas relações entre esses aspectos Tais teorias organizaram e deram significado e coerência aos fatos relativos à adolescência a princípio isolados e permitiram a dedução e testagem efetiva em trabalhos empíricos subse quentes Dubas Miller Petersen 2003 Goosens 2006 Na história do estudo científico da adolescência é pos sível identificar duas fases teóricas sobrepostas Goosens 2006 Lerner Steinberg 2004 Steinberg Lerner 2004 A primeira delas ocorreu do início do século XX até os anos de 1970 e é caracterizada pela realização de estudos descri tivos e nãoteóricos Na segunda fase que começa por volta dos anos de 1970 a ciência passa a ter seu foco na avaliação de modelos teóricos e hipóteses com vistas a justificar os processos de desenvolvimento humano influenciados por contextos amplos e diversificados Esse período se destacou pelo interesse crescente por modelos sistêmicos e estudos longitudinais e também pela plasticidade e diversidade dos processos no curso de vida No decorrer da história fica evidenciado que as principais teorias do desenvolvimento foram responsáveis por explicar o fenômeno da adolescência com base em duas questões principais a adolescência como uma fase distinta no desen volvimento e como um período caracterizado por crescentes e inevitáveis níveis de turbulência Tais questões organiza ram as teorias da adolescência sob princípios organísmicos ou contextualistas diferenciandoas em teorias biológicas psicanalíticas socioculturais e cognitivas Na sua maioria organísmicas estas teorias tinham como fundamento o mun do como um organismo vivo e o indivíduo como um agente ativo em seu próprio desenvolvimento sendo o resultado de suas propriedades e metas Goosens 2006 Primeira Fase A Descrição dos Processos de Desenvolvimento na Adolescência Na primeira fase do estudo científico da adolescência destacase a obra de G Stanley Hall intitulada Adolescência publicada em 1904 Com ênfase na teoria biológica baseada no desenvolvimento das espécies filogênese e na recapitu lação do desenvolvimento do indivíduo ontogênese Hall define a adolescência como um período de transição universal e inevitável considerandoa como um segundo nascimento Ele reconhece a influência da cultura ao mesmo tempo em que valoriza as diferenças individuais do adolescente e sua característica de plasticidade maleabilidade podendo ser considerado inovador e provocativo para sua época um precursor das teorias contextualistas contemporâneas Ar nett 1999 Um segundo grupo o das teorias baseadas nos pressupos tos da psicanálise de Sigmund Freud 18561939 não identi ficou a adolescência como fase distinta no desenvolvimento apesar de considerála crucial Esta perspectiva preconizou a pessoa como dotada de um reservatório de impulsos bio lógicos básicos identificando a emergência de determinado aspecto da sexualidade humana a cada fase distinta do ciclo vital Assim na adolescência ocorre a reativação na forma madura e genital de vários impulsos sexuais e agressivos experimentados pela criança nas fases iniciais do seu de senvolvimento oral anal e edípica A intelectualização é o mecanismo de defesa adotado pelo adolescente para lidar com a sua revolta emocional conduzindoo a mudar seus interesses das questões concretas do corpo para as questões mais abstratas isentas de emoção Logo os conflitos da pu berdade são considerados normais e até necessários ao seu funcionamento adaptativo na busca por um novo sentido de personalidade e papel social Com a teoria do desenvolvimento psicossocial Erik Erikson 19681976 integra a psicanálise ao campo da antro pologia cultural enfatizando a interação entre as dimensões intelectual sociocultural histórica e biológica Lopes de Oliveira 2006 Ao afirmar que o desenvolvimento é descrito por uma série de estágios previsíveis Erikson destaca a influ ência dos ambientes e o impacto da experiência social durante todo o curso de vida Sob esta perspectiva a cada estágio do desenvolvimento a pessoa se depara com um conflito central isto é uma crise normal e saudável a ser ultrapassada Em se tratando da adolescência essa crise se caracteriza pelo desen volvimento da identidade que está em constante mudança e que depende das experiências e informações adquiridas nas interações diárias do adolescente com outros Como conse quência adolescentes que recebem encorajamento e reforço apropriados para sua exploração pessoal tendem a emergir desse estágio com um sentido mais forte de si mesmo e um sentimento de independência e controle O terceiro grupo de teorias de desenvolvimento é reconhe cido por priorizar aspectos socioculturais da adolescência e 103 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 Desenvolvimento Humano e Adolescência preconizar que o comportamento do adolescente é moldado até certo ponto pelo ambiente social imediato pais e pares e pelo ambiente social amplo cultura Na busca por exa minar a universalidade da i déia de turbulência atribuída à adolescência antropólogos sociais e culturais com destaque para Margaret Mead relacionam a rebeldia da puberdade fase universal contra a autoridade dos pais ao idealismo do jovem dependendo do estilo de vida e da cultura na qual ele está inserido Mead 19281979 Ainda nesta primeira fase um quarto grupo de teorias da adolescência que tem como precursor Jean Piaget merece destaque ao privilegiar os processos cognitivos do desen volvimento e afirmar que os comportamentos adolescentes que geram preocupações aos adultos têm sua origem nas mudanças na sua forma de pensar característica do início desta fase Com o desenvolvimento do pensamento for mal por meio da assimilação e da acomodação de novas estruturas o adolescente revela uma maneira própria de compreender a sua realidade e constrói sistemas filosóficos éticos e políticos como tentativa de se adaptar e mudar o mundo Inhelder Piaget 19581976 Ao perceber que as soluções baseadas apenas no raciocínio lógico não são possíveis o adolescente adentra a idade adulta por meio da inserção na sociedade Apesar de as teorias clássicas descreverem as várias mu danças durante a adolescência tendo como foco diferentes aspectos do indivíduo sentimentos cognições e interações elas não foram suficientes para explicar o desenvolvimento nesta etapa do curso de vida Goosens 2006 Lerner Steinberg 2009 De acordo com estes autores estas teo rias se limitavam a apresentar dicotomias entre os aspectos maturacionais e genéticos e os aspectos exclusivamente contextuais herdado versus adquirido continuidade versus descontinuidade estabilidade versus mudança que repre sentavam o conhecimento da época Na medida em que as evidências empíricas foram sendo produzidas novos mo delos relacionais do desenvolvimento foram surgindo Tais modelos reconheciam o caráter fundamental e integrador das influências dos diferentes níveis de organização da ecologia do desenvolvimento humano gerando a necessidade de novos aportes integradores culminando assim na segunda fase dos estudos científicos Segunda Fase A Visão Contextualista do Desenvolvimento do Adolescente Esta fase dos estudos científicos sobre a adolescência teve início na década de 1970 à medida que as pesqui sas empíricas se tornavam desvinculadas dos modelos teóricos clássicos e que novos modelos e questões sobre desenvolvimento humano no curso de vida surgiam Estes modelos refletiam uma visão contextualista que enfatiza o indivíduo e o ambiente na sua dinâmica de relações bi direcionais bem como o papel do tempo e do espaço no desenvolvimento humano As interações pessoacontexto passam a ser vistas como um fenômeno do desenvolvi mento psicológico que implica considerar a a pessoa em constante desenvolvimento devido ao fluxo de contínuas mudanças nas relações que ela estabelece com o ambiente b o desenvolvimento humano caracterizado pelo grande potencial para mudança sistemática plasticidade em qualquer ponto no curso de vida e c o significado do desenvolvimento humano inserido no contexto socio histórico em que ele acontece Goosens 2006 Naquela época um grupo de estudiosos do desenvol vimento se reuniu com o apoio do Carolina Consortium on Human Development CCHD 1996 com o intuito de organizar uma síntese das diferentes disciplinas e teorias sociais psicológicas e biocomportamentais que servisse para orientar as pesquisas em diversos níveis da organi zação humana Seus participantes propuseram um modelo abrangente denominado ciência do desenvolvimento em que desenvolvimento referese a um fenômeno multiface tado composto pelo conjunto de processos de mudanças progressivas estruturais e organizacionais ocorridos nas interações entre pessoas e sistemas biológicos dentro de grupos sociais e ambientes no decorrer do tempo Cairns Elder Costello 1996 Magnusson Cairns 1996 Para compreender o funcionamento deste sistema fazse neces sário investigar os contextos as propriedades estruturais e funcionais da pessoa e do ambiente e como eles interagem e produzem constâncias e mudanças no desenvolvimento do indivíduo Dessen Costa Junior 2005 De acordo com esta visão cada indivíduo tem seu desen volvimento delineado por inúmeros fatores reciprocamente interativos que variam de acordo com o tempo o contexto e o processo e que a cada etapa desse processo novas pos sibilidades são geradas para a próxima Sifuentes Dessen Lopes de Oliveira 2007 Em outras palavras o desen volvimento ocorre por meio de forças internas e externas denominadas de coação que atuam de modo complementar e bidirecional no sentido de adaptar e manter o equilíbrio e a harmonia do sistema diante de situações novas ou adversas Gottlieb 1996 van Geert 2003 O desenvolvimento passou então a ser visto como epigenético e probabilístico na medida em que os fatores biológicos e contextuais foram considerados reciproca mente interativos gerando um grande desafio para a área Como compreender os múltiplos sistemas que influenciam o desenvolvimento individual desde os processos genéticos até os eventos culturais desde os eventos fisiológicos até as interações sociais Como estes sistemas se integram ao longo do tempo para produzir ou não saúde e funcionamento adap tativo Tais questionamentos exigiram o entrelaçamento e a integração de disciplinas de diversas áreas a fim de desvelar os complexos processos que levam os seres humanos a se desenvolverem dentro de uma dinâmica de forças existentes no mundo em constante transformação Neste sentido a perspectiva sistêmica foi fundamental para a compreensão das questões de investigação sobre o desenvolvimento humano tanto no que tange a relação mútua entre sistemas e entre os componentes de um siste ma como a sua evolução em padrões no tempo Dentre as orientações teóricas que representam essa perspectiva do desenvolvimento destacamos a teoria do curso de vida El der 1996 e a abordagem bioecológica de Bronfenbrenner 19791996 1999 104 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 SRCM Senna MA Dessen A Teoria do Curso de Vida A perspectiva do curso de vida é uma orientação teórica que propõe a identificação dos estágios de vida infância adolescência fase adulta e velhice nos seus aspectos tem porais contextuais e processuais como uma das formas de compreender as mudanças que ocorrem no desenvolvimento humano Nesta visão as mudanças históricas geográficas e ambientais nos padrões de vida modelam o conteúdo a forma e o processo do desenvolvimento do indivíduo na história e no mundo social em diversos níveis macro da sociedade e da ordem social das estruturas intermediárias comunidades e vizinhança e do mundo proximal escola e família Isto é os indivíduos adquirem significados pró prios do seu contexto histórico e das experiências de outros e como agentes ativos de mudança influenciam seu próprio desenvolvimento fazendo escolhas baseadas nessas experi ências disposições conhecimentos e crenças que afetam suas perspectivas expectativas e adaptações subsequentes Elder 1996 O conceito de curso de vida estabelece ainda uma in terdependência de trajetórias onde cada trajetória não está restrita a histórias individuais mas envolvida na dinâmica de caminhos múltiplos e interrelacionados formando uma matriz de relações sociais ao longo do tempo Assim cada geração pode tomar decisões e promover eventos no curso de vida das outras havendo uma interdependência entre vidas e também entre níveis como por exemplo entre trabalho e família casamento e parentalidade trabalho e lazer Elder 1996 Nesta direção a teoria do curso de vida postula a arti culação de conceitos do desenvolvimento ultrapassando modelos mais tradicionais lineares unidimensionais unidirecionais e unifuncionais de crescimento e maturação biológica do indivíduo Ao adotar uma visão holística essa teoria prescreve o desenvolvimento entre ganhos e perdas sendo que as potencialidades são expressas por meio da plasticidade intraindividual isto é do grau de maleabilidade presente nos indivíduos Assim as trajetórias observadas na mudança intraindividual variam no tempo e no espaço como consequência dessa plasticidade com o desenvolvimento exercendo um papel regulador que tanto facilita como impede oportunidades de mudança Elder Shanahan 2006 Esta visão contemporânea do desenvolvimento presente a partir da segunda fase dos estudos científicos da adoles cência contribuiu não somente para a compreensão da atual concepção de adolescência mas também para a adoção de metodologias mais apropriadas para responder questões desta fase do curso de vida Em consonância com a perspectiva do curso de vida ainda na década de 1970 Bronfenbrenner 19791996 apresentou um modelo para orientar as pesquisas em desenvolvimento humano denominado modelo ecológi co Este modelo foi revisado pelo próprio autor no final do século XX passando a ser denominado modelo bioecológico Bronfenbrenner 1999 Bronfenbrenner Morris 1998 Ele traçou portanto as diretrizes para o planejamento de pesquisas que consideram a interrelação dos fatores indivi duais contextuais e temporais na promoção dos processos de desenvolvimento humano O Modelo BioEcológico de Urie Bronfenbrenner O modelo ecológico apresentado por Urie Bronfenbren ner em 1979 em seu livro A ecologia do desenvolvimento humano revisado e complementado em 1999 postula que para compreender o desenvolvimento humano é preciso incorporar nas análises não somente o indivíduo e as suas ca pacidades perceptuais motoras ou cognitivas mas também as interações e os padrões relacionais que se estabelecem em diferentes contextos ao longo do tempo Isto significa anali sar as influências múltiplas dos diferentes ambientes diretos ou indiretos ao ser humano Bronfenbrenner 19791996 Compreender o desenvolvimento humano com base neste modelo implica identificar quatro elementos básicos interrelacionados e dinâmicos o processo P a pessoa P o contexto C e o tempo T Bronfenbrenner Morris 1998 Ao longo do desenvolvimento a pessoa P se en volve em processos P de interações recíprocas com outras pessoas objetos ou símbolos Essas interações podem variar de acordo com as características das pessoas dos contextos e do momento em que elas acontecem podendo produzir tanto competências como disfunções no desenvolvimento Bronfenbrenner Evans 2000 Neste modelo o adolescente como qualquer pessoa apresenta características próprias individuais psicológicas e biológicas além de uma forma própria de lidar com suas experiências de vida Ele é visto como um sujeito ativo produto e produtor do seu desenvolvimento Bronfenbrenner 1999 que ocorre na interação com o contexto C O con texto é definido por uma hierarquia de sistemas interdepen dentes micro meso exo e macrossistemas e é composto pelas atividades papéis e relações interpessoais presentes por exemplo nas suas famílias nos grupos de amigos na vizinhança na comunidade e nas instituições educacionais e de saúde sociais e políticas Na adolescência a família continua a ser considerada o principal microssistema do desenvolvimento pois nela acontecem as interações mais diretas e as experiências mais significativas para a pessoa Reconhecida na sua complexi dade a família é responsável por conduzir o adolescente à compreensão de conceitos e valores básicos ao engajamento na realização de tarefas e papéis sociais cada vez mais diversi ficados e complexos e ao desenvolvimento de competências sociais Durante a adolescência as interações no cotidiano da vida familiar isto é os processos proximais continuam particularmente importantes sobretudo no engajamento em práticas educativas e nos processos de comunicação tais como diálogos negociações e trocas de argumentos e de opiniões Entretanto o funcionamento interno do microssistema familiar ou seja o seu desenvolvimento bemestar e clima emocional recebe influências também de outros contextos em que os familiares vivem e crescem E à medida que o adolescente passa a participar de outros microssistemas e a formar e ampliar sua rede de relações interpessoais tornase evidente a formação de novas relações e influências inter dependentes entre a família o adolescente e os demais con textos de interações proximais mesossistema Além disso mesmo quando o adolescente não tem um papel diretamente ativo como por exemplo em decisões tomadas em contex 105 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 Desenvolvimento Humano e Adolescência tos sociais do trabalho dos pais por dirigentes da escola ou por agentes responsáveis pelo lazer e cultura parques jardins e bibliotecas ele indiretamente recebe influências provenientes destes ambientes exosistema Por outro lado decisões que são tomadas nas esferas macrossistêmicas tais como leis que regulam o sistema educacional e de saúde pública interferem em sua vida e na vida de sua família ao promoverem contextos mais ou menos favoráveis ao seu desenvolvimento Bronfenbrenner 19791996 Na adolescência podese reconhecer os efeitos diretos e indiretos gerados pelas mudanças e estabilidades sucessivas que ocorrem não somente nas características individuais mas sobretudo nas transformações históricoculturais so ciais políticas e econômicas atribuídas à época em que ela é vivida Bronfenbrenner 1999 Algumas dessas transições são esperadas ou normativas namoro entrada em novo ciclo escolar enquanto outras são imprevistas ou nãonormativas guerras mundiais queda do muro de Berlim atentado às Torres Gêmeas porém ambas devem ser vistas nos níveis do micro meso e macrotempo que compõem o cronossistema T Consequentemente as influências bidirecionais entre a pessoa e os contextos sistemas ideológicos de crenças e va lores sistemas governamentais e políticas públicas aspectos étnicos e religiosos família de origem e disponibilidade de recursos e oportunidades devem ser consideradas ao longo do tempo Bronfenbrenner 19791996 À parte as dificuldades na operacionalização integral do modelo em um único projeto de pesquisa sua adoção parcial em estudos sobre a adolescência tem sido especialmente útil O modelo auxilia a investigação da forma como os adoles centes estão situados em seus contextos específicos como esses contextos influenciam o curso do seu desenvolvimento e ao mesmo tempo como os adolescentes influenciam esses contextos direta ou indiretamente Estes conhecimentos têm permitido avanços no sentido de ultrapassar a visão inicial de adolescência como um período de turbulência e instabilidade para incorporar uma visão mais positiva do desenvolvimento do adolescente Tendências Atuais a Visão do Desenvolvimento Positivo Problemas interrelacionados referentes ao desenvol vimento econômico e tecnológico à qualidade ambiental à saúde e aos cuidados ao próximo à pobreza ao crime e à violência às drogas aos abusos ao sexo inseguro e ao fracasso escolar resultaram em efeitos desastrosos em todo o mundo Lerner Wertlieb Jacobs 2005 Assim a che gada do século XXI foi marcada por um contexto de rápidas mudanças que estimularam o interesse conjunto de pesquisa dores políticos e profissionais para a condução de pesquisas voltadas para questões sociais e para a aplicação e utilização dos resultados em direção ao progresso da sociedade Foi somente na última década que o foco científico no discurso coletivo orientado para a falta começou a ser paulatinamente substituído por uma mentalidade mais positiva associada ao desenvolvimento de recursos do in divíduo e do ecossistema Theokas et al 2005 Conforme afirmou Bronfenbrenner 19791996 ainda na década de 1970 a colaboração mútua entre produtores e consumidores do conhecimento científico entre teoria e prática tornase essencial para a legitimação da visão otimista do potencial para intervenções no curso de vida e para o fortalecimento da ideia do desenvolvimento positivo Lerner Fisher Weinberg 2000 Do ponto de vista do desenvolvimento positivo do jovem temse buscado ultrapassar uma visão negativa e deficitária que no século XX dominou os campos da ciência do desen volvimento da psicologia da sociologia da educação entre outros Esta nova perspectiva originouse não só dos modelos dinâmicos do comportamento e desenvolvimento humanos da compreensão da plasticidade e da importância das relações entre indivíduos e contextos ecológicos do mundo real mas também das intervenções feitas nas comunidades por meio de programas dirigidos aos jovens com comportamentos de risco Lerner Phelps Forman Powers 2009 Embasada na concordância de cientistas terapeutas e educadores a visão positiva preconiza que tanto os jovens são fontes de recursos e forças internas a serem desenvolvidos como todas as famílias escolas e comunidades têm nu trientes que alinhados podem promover o florescimento saudável desses jovens Benson 2003 Lerner et al 2009 Neste contexto além dos recursos e das mudanças pertinen tes aos jovens é preciso também identificar os recursos de suas famílias instituições e comunidades com a finalidade de fortalecer conexões entre eles Tais conexões dependem de um compromisso mútuo no qual o jovem tanto pode exercer um papel próativo no seu desenvolvimento como atuar em parceria com sua família e com a comunidade da mesma maneira que a sociedade pode oferecer suporte ao desenvolvimento dos seus cidadãos Lerner Wertlieb Jacobs 2005 Logo não se pode negligenciar os recursos provenien tes de diferentes ambientes já que eles exercem influência crescente e decisiva no período da adolescência Theokas Lerner 2006 Entretanto não são apenas as condições estabelecidas pelos contextos mas o tempo que o jovem despende com adultos cuidadores e com pares em ativida des que reforçam valores associados à saúde e ao bemestar comum que asseguram seu sucesso escolar e garantem o desenvolvimento de valores e comportamentos relativos à consciência social liderança solidariedade e valorização da diversidade Benson 2003 Roth BrooksGuhn 2003 Theokas et al 2005 Assim sendo a promoção do desenvolvimento positivo do jovem vai exigir primeiramente a identificação de seus recursos pessoais talentos energias e interesses construti vos e depois a elaboração de programas específicos de estimulação desses talentos De acordo com Lerner 2004 o sucesso desses programas depende de três fatores preponde rantes a uma relação positiva e sustentável com adultos b atividades dirigidas ao desenvolvimento de suas habilidades e c a participação do jovem em todas as decisões e vertentes do programa Em geral eles propõem ações efetivas com base por exemplo no desenvolvimento de características tais como os cinco Cs caráter cuidado confiança conexão e compaixão Lerner Almerigi Theokas Lerner 2006 Lerner et al 2000 e em ideologias de compromisso moral 106 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 SRCM Senna MA Dessen dever de cidadão e saúde do jovem e da sociedade Lerner Steinberg 2004 Theokas et al 2005 Não se pode negar entretanto o quanto nos tempos atuais os adolescentes se deparam com mais chances e com mais desafios do que os das gerações precedentes Muitas vezes diante dos desafios contemporâneos a adesão a es colhas negativas e destrutivas acaba por comprometer seu desenvolvimento saudável Porém a promoção do desen volvimento positivo não significa apenas a prevenção de comportamentos de risco tampouco significa que manter o adolescente livre de problemas é certificarse que ele esteja preparado ou engajado com seu próprio desenvolvimento e o desenvolvimento da sociedade Benson 2003 Theokas et al 2005 É preciso que ele seja acompanhado e estimulado além de reconhecido nas suas peculiaridades estabilidades e mudanças sistemáticas que ocorrem concomitantes às transições dos seus contextos Neste movimento emerge uma nova proposta de estudo denominada a ciência aplicada do desenvolvimento visando compartilhar conhecimentos científicos com a comunidade e propondo aprimoramentos nas chances de vida de crian ças adolescentes famílias e comunidades isto é nas suas trajetórias no curso de vida Lerner Wertlieb Jacobs 2005 Por meio da descrição e explicação dos processos normativos e da ênfase nos aspectos saudáveis esta ciência norteia intervenções no sentido de prevenir riscos e otimi zar sucessos ao invés de remediar problemas deficiências ou fraquezas dos indivíduos e dos contextos Lerner et al 2000 As ações propostas reforçam as diferenças interindi viduais diversidade de raça etnia classe social e gênero e intraindividuais como aquelas esperadas pelas transições da puberdade bem como a centralidade do contexto e das relações bidirecionais entre os diferentes níveis ecológicos do desenvolvimento Como a pesquisa em processos relacionais básicos de desenvolvimento e suas aplicações caminham na mesma di reção Lerner Wertlieb Jacobs 2005 as teorias científicas da atualidade devem a estudar o indivíduo e seus múltiplos contextos de modo integrativo relacional e temporal como prescreve as teorias contextualistas e o próprio Bronfenbren ner 19791996 e b adotar seus conceitos em programas de educação e intervenção e em políticas públicas dirigidas aos cidadãos Nesse continuum entre a geração e a aplicação do conhecimento atualmente são propostas pesquisas que envolvam contextos naturais ecologicamente válidos e a avaliação de intervenções e programas por meio da cons trução e do uso de delineamentos e instrumentos sensíveis ao desenvolvimento e aos contextos tal qual apontado pelos teóricos na segunda metade do século XX A ênfase dada aos aspectos relacionais à plasticidade e à diversidade à metodologia longitudinal e à aplicação das teo rias do desenvolvimento que foram cristalizados e integrados na segunda fase dos estudos científicos do desenvolvimento do adolescente vem se expandindo gradualmente tanto qualitativa como quantitativamente Lerner Steinberg 2009 No âmbito internacional podese observar um grande avanço nos trabalhos sobre a genética do comportamento que em muito tem ampliado a visão do desenvolvimento e contribuído para a compreensão da influência conjunta entre a biologia e o ambiente Plomin 2000 e entre os fatores biológicos e neuropsicológicos do desenvolvimento cerebral na adolescência Dahl Hariri 2005 Nesses estudos o desafio se traduz na integração de diversos conhecimentos a respeito de uma só pessoa no caso o adolescente sobre as mudanças biológicas na puberdade o desenvolvimento do cérebro as influências genéticas ritmos de sono saúde física transições sociais influências religiosas educacionais e culturais típicas desta fase Ultrapassar esse desafio conduzirá a uma compreen são melhor dos ajustamentos positivos na adolescência ao reconhecimento dos aspectos ditos normativos necessários ao desenvolvimento e a possibilidade de oferta de contextos de relações mais positivas sustentadoras e contínuas de proximidade e aceitação que dão a tônica da adolescência saudável Theokas et al 2005 Considerando os jovens como empreendedores vitais para o futuro tanto da ciência como da sociedade Lerner e Overton 2008 reforçam a necessidade de compreendêlos melhor fornecendolhes suporte e mais oportunidades de maximizarem suas chances de desenvolvimento saudável e positivo Afinal eles representam em qualquer ponto da história aqueles que vão assumir a liderança nas famílias comunidades e sociedades e manter e trazer progressos à vida humana p 252 Considerações Finais Apesar dos avanços na compreensão da adolescência ainda se pode identificar uma tendência a caracterizar este período apenas como um momento no curso de vida repleto de dificuldades conflitos alterações constantes de humor e comportamentos de risco Lerner 2004 Steinberg Morris 2001 Grande parte dos estudos na área enfatiza situações conflituosas tipicamente associadas a esta fase pautandose na ideia do modelo médico de diagnóstico e tratamento de problemas que tem foco na conduta do adolescente doente e não na visão do adolescente saudável Theokas et al 2005 A visão de uma adolescência única presente ainda hoje parece inapropriada e sobretudo limitada e ultrapassada Steinberg Morris 2001 Já não se pode mais admitir que a ideia tradicional de rebeldia tempestade e estresse seja típica universal ou mesmo inevitável nesta etapa do curso de vida Larson et al 2002 Considerar o adolescente com base em fatores particulares ou mesmo isolar aspectos ge néticos e ambientais pode impedir um diálogo amplo entre as diferentes áreas de pesquisa e dos pesquisadores com os profissionais e os políticos Brown 2005 Ademais abordar a adolescência como um período de mudança e transitoriedade no desenvolvimento ou mesmo um estado em si não condiz com os avanços nas perspectivas teóricas da ciência do desenvolvimento humano Brown 2005 Essas concepções distorcem a ideia de processo con tínuo do desenvolvimento humano conforme preconizam os estudos atuais Lopes de Oliveira 2006 Buscar os ante cedentes geradores das mudanças na adolescência significa tratála como um período de intensa exploração e de grandes e múltiplas oportunidades para muitos jovens futuros adultos Além disso a adolescência não é algo acabado que te nha um início e um fim bem definidos A delimitação deste 107 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 Desenvolvimento Humano e Adolescência período ultrapassa aspectos cronológicos e biológicos e esbarra em condições sociais culturais históricas e psico lógicas específicas Portanto ela precisa ser compreendida tendo como base a noção de que um mesmo resultado em desenvolvimento pode ser alcançado por diferentes meios e em contextos relativamente diferentes Investigar os me canismos subjacentes à competência do adolescente pode gerar uma compreensão mais acurada das características que emergem nesta fase Smetana et al 2006 O movimento da psicologia positiva traz uma contribui ção valiosa ao adotar como missão central a investigação de potencialidades e qualidades humanas tais como a re siliência o otimismo a esperança e a coragem entre outras habilidades interpessoais indicativas da vida saudável e o planejamento de intervenções que facilitem sua construção Percebido também no Brasil DellAglio Koller Yunes 2006 este movimento demonstra o interesse relativamente recente pelos estudos sobre a resiliência tema que reflete a tendência à valorização das forças pessoais e à promoção do bemestar e da satisfação na vida de todos Paludo Koller 2007 Yunes 2003 2006 Yunes 2003 sugere que aspectos de saúde que justificam a condição humana como a resiliência nas famílias formam um campo fértil nas linhas de pesquisa em desenvolvimento humano no país que deveriam ser mais estimuladas Para sedimentar as atuais concepções teóricas do de senvolvimento humano e da adolescência é preciso que no futuro todos os interessados em descrever explicar e promover o desenvolvimento positivo do jovem possam se debruçar sobre o adolescer e sobre as mudanças que estão ocorrendo nos contextos sociais nos quais o jovem vive É imprescindível um esforço para ultrapassar a fragmentação disciplinar e ao buscar uma integração de modelos concei tuais das ciências biológicas e sociais confirmar o diálogo interdisciplinar esperado na área promovendo processos conjuntos fundamentais à saúde e ao desenvolvimento do adolescente Conforme propõem Lerner e Overton 2008 a pesquisa empírica futura deve incluir estudos que respondam a uma questão desmembrada em cinco questionamentos inter relacionados Quais atributos De quais indivíduos Em relação à quais condições ecológicas E em que aspectos ontogenéticos familiares ou geracionais A complexidade exigida pelas ciências na atualidade refletida nesta ampla questão demonstra a necessidade da construção de projetos de pesquisa mais aprofundados e o uso de delineamentos que combinem dados quantitativos e qualitativos e que adotem instrumentos e técnicas de ava liação mais sensíveis para capturar as interrelações entre o adolescente e seu contexto Em parceria com profissionais e políticos pesquisadores devem dirigir os resultados de suas pesquisas empíricas para a elaboração de modelos de inter venção preventiva no curso do desenvolvimento Esperase assim aumentar cada vez mais a disseminação do conhecimento por meio da comunicação de massa de especialistas e da própria comunidade e estabelecer uma conexão maior entre a ciência e a sociedade Isto possibilitará que políticos e profissionais colaborem para o crescimento da ciência no curso de desenvolvimento Lerner Stein berg 2009 enquanto a ciência se coloca como instrumento para a sociedade civil Lerner et al 2000 A este respeito nós pesquisadores brasileiros temos uma longa trajetória a percorrer para a qual devemos aplicar os princípios do desenvolvimento positivo do jovem Referências Ariès P 1986 História social da criança e da família Rio de Janeiro Zahar Trabalho original publicado em 1978 Arnett J J 1999 Adolescent storm and stress reconsidered American Psychologist 5 317326 Benson P L 2003 Developmental assets and asset building communities Conceptual and empirical foundations In R M Lerner P L Benson Eds Developmental assets and assetbuilding communities Implications for research policy and practice pp 1943 Norwell MA Kluwer Academic Bronfenbrenner U 1996 A ecologia do desenvolvimento humano experimentos naturais e planejados M A Veríssimo Trad Porto Alegre Artes Médicas Trabalho original publicado em 1979 Bronfenbrenner U 1999 Environments in developmental perspective Theoretical and operational models In S L Friedman T D Wachs Eds Measuring environment across the life span Emerging methods and concepts pp 328 Washington DC American Psychological Association Bronfenbrenner U Evans G 2000 Developmental science in the 21st century Emerging questions theoretical models research and empirical 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proteção São Paulo Casa do Psicólogo Dessen M A Costa Junior A L Eds 2005 A ciência do desenvolvimento humano tendências atuais e perspectivas futuras Porto Alegre Artmed Dubas J S Miller K Petersen A 2003 The study of adolescence during the 20th century The History of the Family 3 375397 108 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 SRCM Senna MA Dessen Elder Jr G H 1996 Human lives in changing societies Life course and developmental insights In R B Cairns G H Elder Jr E J Costello Eds Developmental science pp 3162 New York Cambridge University Press Elder Jr G H Shanahan M J 2006 The life course and human development In R M Lerner Ed vol W Damon Ed Handbook of child psychology Vol 1 Theoretical models of human development 6a ed pp 665715 New York Wiley Erikson E 1976 Identidade juventude e crise 2a ed Rio de Janeiro Zahar Trabalho original publicado em 1968 Goosens L 2006 Adolescent development Putting Europe on the map In S Jackson L Goosens Eds Handbook of 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Oaks CA Sage Yunes M A M 2003 Psicologia positiva e resiliência o foco no indivíduo e na família Psicologia em Estudo 8 7584 Yunes M A M 2006 Psicologia positiva e resiliência o foco no indivíduo e na família In D D DellAglio S H Koller M A Yunes Eds Resiliência e psicologia positiva interfaces do risco à proteção pp 4568 São Paulo Casa do Psicólogo Recebido em 10122009 Primeira decisão editorial em 19082010 Versão final em 28062011 Aceito em 28062011 n
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101 Psicologia Teoria e Pesquisa JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 Contribuições das Teorias do Desenvolvimento Humano para a Concepção Contemporânea da Adolescência1 Sylvia Regina Carmo Magalhães Senna2 Maria Auxiliadora Dessen Universidade de Brasília RESUMO O interesse pelo estudo da adolescência vem aumentando sobretudo por seu impacto no desenvolvimento do indivíduo da família e da sociedade Tratar a adolescência simplesmente como um período de grandes mudanças não condiz com as atuais perspectivas teóricas da ciência do desenvolvimento Portanto este artigo visa contribuir para uma compreensão mais atualizada deste período do curso de vida caracterizado por intensa exploração e múltiplas oportunidades que variam em função dos diferentes contextos sociais e culturais Ênfase é dada à importância de se adotar um paradigma sistêmico para a compreensão da adolescência priorizando as interrelações dos recursos individuais e contextuais que promovem as trajetórias de desenvolvimento positivo Palavraschave desenvolvimento humano teorias adolescência psicologia positiva Contributions of Human Development Theories to a Contemporary Concept of Adolescence ABSTRACT The interest in studying adolescence is increasing especially because of its impact on the development of individuals families and society To treat adolescence simply as a period of great changes does not correspond to the current theoretical perspectives of human development sciences Therefore this article aims to contribute to a more updated understanding of this period in life characterized by intense exploration and multiple opportunities that vary according to the different social and cultural contexts Emphasis is given to the importance of adopting a systemic paradigm for the comprehension of adolescence prioritizing individual and contextual resources that promote positive development Key words human development theories adolescence positive psychology 1 As autoras agradecem ao grupo de estudos do Laboratório de Desen volvimento Familiar UnB 2 Endereço para SQS 209 bloco E apto 205 Asa Sul BrasíliaDF CEP 70272050 Fone 61 32420031 Email sylviasennahotmailcom As primeiras tentativas de descrever a adolescência datam do início do século XV embora esta fase tenha sido reconhecida como crucial ao desenvolvimento humano somente nos anos de 1890 Ariès 19781986 Porém foi particularmente no século XX que a adolescência se tornou um tema de crescente interesse na história da psicologia Naquele século marcado por grandes avanços teóricos nas ciências em geral advindos da adoção de modelos sistêmi cos para a compreensão de fenômenos do desenvolvimento este período passou a ser visto como um conjunto de fatores interrelacionados de ordem individual histórica e cultural Ao adotar uma visão relacional e contextual as pesquisas na área do desenvolvimento do adolescente começaram a es tabelecer relações específicas entre os aspectos do indivíduo e de seus contextos de desenvolvimento e a identificar de safios potencialidades e possibilidades de desenvolvimento das reais competências do adolescente Lerner Steinberg 2004 A ênfase maior na adolescência enquanto período decisivo do curso de vida passou a ser então deslocada para os fatores de mudança e plasticidade bem como para a diversidade social e cultural que podem ser mais pronun ciados neste período Recentemente sobretudo nas três últimas décadas as rápidas mudanças no mundo nas sociedades ocidentais e nas famílias vêm gerando novas preocupações e questionamentos entre estudiosos e leigos Por exemplo como compreender as influências mútuas entre os fatores individuais e as forças contextuais no curso do desenvolvimento individual e vice versa Brown 2005 Como promover relações entre o indivíduo e seu contexto que sejam mutuamente benéficas à saúde do jovem de sua família e de sua nação Lerner Overton 2008 Estudiosos da área se preocupam com as diversas pos sibilidades de trocas dinâmicas entre o adolescente e seus diferentes contextos de modo que ele possa seguir caminhos marcados por oportunidades de saúde e desenvolvimento positivo Lerner Overton 2008 Os estudos atuais buscam apresentar dados que sirvam de base para programas dirigidos aos adolescentes já que é nesta fase que um grande poten cial pode ser desenvolvido preparandoos para enfrentar melhor os desafios e atuar no mundo adulto Larson Wilson Mortimer 2002 Roth BrooksGuhn 2003 Smetana CampioneBarr Metzer 2006 Reconhecendo a adolescência como um período do curso de vida essencial ao desenvolvimento do indivíduo este artigo apresenta o percurso do estudo científico da adoles cência com base em duas fases sobrepostas da história das teorias do desenvolvimento humano propostas por Lerner e Steinberg 2004 2009 e reiteradas por Goosens 2006 102 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 SRCM Senna MA Dessen Na primeira seção serão apresentadas as fases históricas que caracterizaram o estudo científico da adolescência no século XX Considerando a importância das teorias do de senvolvimento elaboradas até os anos 70 para a compreen são e concepções atuais da adolescência foco deste artigo breve menção será feita às contribuições das diversas teorias clássicas Em seguida será apresentada uma visão mais in tegradora e contextualista do desenvolvimento destacando a abordagem do curso de vida e o modelo bioecológico do desenvolvimento humano A segunda seção trata dos avan ços nos estudos empíricos da adolescência no século XXI apontando as tendências da ciência e a emergência de uma nova fase caracterizada pela aplicação das teorias e por uma visão de adolescência saudável Ao buscar compreender a adolescência com base nas explicações teóricas que orientam suas concepções ao longo do tempo esperase contribuir para uma discussão atuali zada que não se restrinja às fronteiras e características do adolescente mas que considere as interrelações dos recursos individuais e contextuais que promovem as trajetórias de desenvolvimento positivo O Percurso do Estudo Científico da Adolescência no Século XX As teorias do desenvolvimento têm um papel bastante importante na história da psicologia do adolescente Ao longo do tempo teóricos dessa área se preocuparam com as mudan ças sistemáticas do comportamento enfocando a descrição dessas mudanças em um ou outro aspecto particular ex cognição emoção ou nas relações entre esses aspectos Tais teorias organizaram e deram significado e coerência aos fatos relativos à adolescência a princípio isolados e permitiram a dedução e testagem efetiva em trabalhos empíricos subse quentes Dubas Miller Petersen 2003 Goosens 2006 Na história do estudo científico da adolescência é pos sível identificar duas fases teóricas sobrepostas Goosens 2006 Lerner Steinberg 2004 Steinberg Lerner 2004 A primeira delas ocorreu do início do século XX até os anos de 1970 e é caracterizada pela realização de estudos descri tivos e nãoteóricos Na segunda fase que começa por volta dos anos de 1970 a ciência passa a ter seu foco na avaliação de modelos teóricos e hipóteses com vistas a justificar os processos de desenvolvimento humano influenciados por contextos amplos e diversificados Esse período se destacou pelo interesse crescente por modelos sistêmicos e estudos longitudinais e também pela plasticidade e diversidade dos processos no curso de vida No decorrer da história fica evidenciado que as principais teorias do desenvolvimento foram responsáveis por explicar o fenômeno da adolescência com base em duas questões principais a adolescência como uma fase distinta no desen volvimento e como um período caracterizado por crescentes e inevitáveis níveis de turbulência Tais questões organiza ram as teorias da adolescência sob princípios organísmicos ou contextualistas diferenciandoas em teorias biológicas psicanalíticas socioculturais e cognitivas Na sua maioria organísmicas estas teorias tinham como fundamento o mun do como um organismo vivo e o indivíduo como um agente ativo em seu próprio desenvolvimento sendo o resultado de suas propriedades e metas Goosens 2006 Primeira Fase A Descrição dos Processos de Desenvolvimento na Adolescência Na primeira fase do estudo científico da adolescência destacase a obra de G Stanley Hall intitulada Adolescência publicada em 1904 Com ênfase na teoria biológica baseada no desenvolvimento das espécies filogênese e na recapitu lação do desenvolvimento do indivíduo ontogênese Hall define a adolescência como um período de transição universal e inevitável considerandoa como um segundo nascimento Ele reconhece a influência da cultura ao mesmo tempo em que valoriza as diferenças individuais do adolescente e sua característica de plasticidade maleabilidade podendo ser considerado inovador e provocativo para sua época um precursor das teorias contextualistas contemporâneas Ar nett 1999 Um segundo grupo o das teorias baseadas nos pressupos tos da psicanálise de Sigmund Freud 18561939 não identi ficou a adolescência como fase distinta no desenvolvimento apesar de considerála crucial Esta perspectiva preconizou a pessoa como dotada de um reservatório de impulsos bio lógicos básicos identificando a emergência de determinado aspecto da sexualidade humana a cada fase distinta do ciclo vital Assim na adolescência ocorre a reativação na forma madura e genital de vários impulsos sexuais e agressivos experimentados pela criança nas fases iniciais do seu de senvolvimento oral anal e edípica A intelectualização é o mecanismo de defesa adotado pelo adolescente para lidar com a sua revolta emocional conduzindoo a mudar seus interesses das questões concretas do corpo para as questões mais abstratas isentas de emoção Logo os conflitos da pu berdade são considerados normais e até necessários ao seu funcionamento adaptativo na busca por um novo sentido de personalidade e papel social Com a teoria do desenvolvimento psicossocial Erik Erikson 19681976 integra a psicanálise ao campo da antro pologia cultural enfatizando a interação entre as dimensões intelectual sociocultural histórica e biológica Lopes de Oliveira 2006 Ao afirmar que o desenvolvimento é descrito por uma série de estágios previsíveis Erikson destaca a influ ência dos ambientes e o impacto da experiência social durante todo o curso de vida Sob esta perspectiva a cada estágio do desenvolvimento a pessoa se depara com um conflito central isto é uma crise normal e saudável a ser ultrapassada Em se tratando da adolescência essa crise se caracteriza pelo desen volvimento da identidade que está em constante mudança e que depende das experiências e informações adquiridas nas interações diárias do adolescente com outros Como conse quência adolescentes que recebem encorajamento e reforço apropriados para sua exploração pessoal tendem a emergir desse estágio com um sentido mais forte de si mesmo e um sentimento de independência e controle O terceiro grupo de teorias de desenvolvimento é reconhe cido por priorizar aspectos socioculturais da adolescência e 103 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 Desenvolvimento Humano e Adolescência preconizar que o comportamento do adolescente é moldado até certo ponto pelo ambiente social imediato pais e pares e pelo ambiente social amplo cultura Na busca por exa minar a universalidade da i déia de turbulência atribuída à adolescência antropólogos sociais e culturais com destaque para Margaret Mead relacionam a rebeldia da puberdade fase universal contra a autoridade dos pais ao idealismo do jovem dependendo do estilo de vida e da cultura na qual ele está inserido Mead 19281979 Ainda nesta primeira fase um quarto grupo de teorias da adolescência que tem como precursor Jean Piaget merece destaque ao privilegiar os processos cognitivos do desen volvimento e afirmar que os comportamentos adolescentes que geram preocupações aos adultos têm sua origem nas mudanças na sua forma de pensar característica do início desta fase Com o desenvolvimento do pensamento for mal por meio da assimilação e da acomodação de novas estruturas o adolescente revela uma maneira própria de compreender a sua realidade e constrói sistemas filosóficos éticos e políticos como tentativa de se adaptar e mudar o mundo Inhelder Piaget 19581976 Ao perceber que as soluções baseadas apenas no raciocínio lógico não são possíveis o adolescente adentra a idade adulta por meio da inserção na sociedade Apesar de as teorias clássicas descreverem as várias mu danças durante a adolescência tendo como foco diferentes aspectos do indivíduo sentimentos cognições e interações elas não foram suficientes para explicar o desenvolvimento nesta etapa do curso de vida Goosens 2006 Lerner Steinberg 2009 De acordo com estes autores estas teo rias se limitavam a apresentar dicotomias entre os aspectos maturacionais e genéticos e os aspectos exclusivamente contextuais herdado versus adquirido continuidade versus descontinuidade estabilidade versus mudança que repre sentavam o conhecimento da época Na medida em que as evidências empíricas foram sendo produzidas novos mo delos relacionais do desenvolvimento foram surgindo Tais modelos reconheciam o caráter fundamental e integrador das influências dos diferentes níveis de organização da ecologia do desenvolvimento humano gerando a necessidade de novos aportes integradores culminando assim na segunda fase dos estudos científicos Segunda Fase A Visão Contextualista do Desenvolvimento do Adolescente Esta fase dos estudos científicos sobre a adolescência teve início na década de 1970 à medida que as pesqui sas empíricas se tornavam desvinculadas dos modelos teóricos clássicos e que novos modelos e questões sobre desenvolvimento humano no curso de vida surgiam Estes modelos refletiam uma visão contextualista que enfatiza o indivíduo e o ambiente na sua dinâmica de relações bi direcionais bem como o papel do tempo e do espaço no desenvolvimento humano As interações pessoacontexto passam a ser vistas como um fenômeno do desenvolvi mento psicológico que implica considerar a a pessoa em constante desenvolvimento devido ao fluxo de contínuas mudanças nas relações que ela estabelece com o ambiente b o desenvolvimento humano caracterizado pelo grande potencial para mudança sistemática plasticidade em qualquer ponto no curso de vida e c o significado do desenvolvimento humano inserido no contexto socio histórico em que ele acontece Goosens 2006 Naquela época um grupo de estudiosos do desenvol vimento se reuniu com o apoio do Carolina Consortium on Human Development CCHD 1996 com o intuito de organizar uma síntese das diferentes disciplinas e teorias sociais psicológicas e biocomportamentais que servisse para orientar as pesquisas em diversos níveis da organi zação humana Seus participantes propuseram um modelo abrangente denominado ciência do desenvolvimento em que desenvolvimento referese a um fenômeno multiface tado composto pelo conjunto de processos de mudanças progressivas estruturais e organizacionais ocorridos nas interações entre pessoas e sistemas biológicos dentro de grupos sociais e ambientes no decorrer do tempo Cairns Elder Costello 1996 Magnusson Cairns 1996 Para compreender o funcionamento deste sistema fazse neces sário investigar os contextos as propriedades estruturais e funcionais da pessoa e do ambiente e como eles interagem e produzem constâncias e mudanças no desenvolvimento do indivíduo Dessen Costa Junior 2005 De acordo com esta visão cada indivíduo tem seu desen volvimento delineado por inúmeros fatores reciprocamente interativos que variam de acordo com o tempo o contexto e o processo e que a cada etapa desse processo novas pos sibilidades são geradas para a próxima Sifuentes Dessen Lopes de Oliveira 2007 Em outras palavras o desen volvimento ocorre por meio de forças internas e externas denominadas de coação que atuam de modo complementar e bidirecional no sentido de adaptar e manter o equilíbrio e a harmonia do sistema diante de situações novas ou adversas Gottlieb 1996 van Geert 2003 O desenvolvimento passou então a ser visto como epigenético e probabilístico na medida em que os fatores biológicos e contextuais foram considerados reciproca mente interativos gerando um grande desafio para a área Como compreender os múltiplos sistemas que influenciam o desenvolvimento individual desde os processos genéticos até os eventos culturais desde os eventos fisiológicos até as interações sociais Como estes sistemas se integram ao longo do tempo para produzir ou não saúde e funcionamento adap tativo Tais questionamentos exigiram o entrelaçamento e a integração de disciplinas de diversas áreas a fim de desvelar os complexos processos que levam os seres humanos a se desenvolverem dentro de uma dinâmica de forças existentes no mundo em constante transformação Neste sentido a perspectiva sistêmica foi fundamental para a compreensão das questões de investigação sobre o desenvolvimento humano tanto no que tange a relação mútua entre sistemas e entre os componentes de um siste ma como a sua evolução em padrões no tempo Dentre as orientações teóricas que representam essa perspectiva do desenvolvimento destacamos a teoria do curso de vida El der 1996 e a abordagem bioecológica de Bronfenbrenner 19791996 1999 104 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 SRCM Senna MA Dessen A Teoria do Curso de Vida A perspectiva do curso de vida é uma orientação teórica que propõe a identificação dos estágios de vida infância adolescência fase adulta e velhice nos seus aspectos tem porais contextuais e processuais como uma das formas de compreender as mudanças que ocorrem no desenvolvimento humano Nesta visão as mudanças históricas geográficas e ambientais nos padrões de vida modelam o conteúdo a forma e o processo do desenvolvimento do indivíduo na história e no mundo social em diversos níveis macro da sociedade e da ordem social das estruturas intermediárias comunidades e vizinhança e do mundo proximal escola e família Isto é os indivíduos adquirem significados pró prios do seu contexto histórico e das experiências de outros e como agentes ativos de mudança influenciam seu próprio desenvolvimento fazendo escolhas baseadas nessas experi ências disposições conhecimentos e crenças que afetam suas perspectivas expectativas e adaptações subsequentes Elder 1996 O conceito de curso de vida estabelece ainda uma in terdependência de trajetórias onde cada trajetória não está restrita a histórias individuais mas envolvida na dinâmica de caminhos múltiplos e interrelacionados formando uma matriz de relações sociais ao longo do tempo Assim cada geração pode tomar decisões e promover eventos no curso de vida das outras havendo uma interdependência entre vidas e também entre níveis como por exemplo entre trabalho e família casamento e parentalidade trabalho e lazer Elder 1996 Nesta direção a teoria do curso de vida postula a arti culação de conceitos do desenvolvimento ultrapassando modelos mais tradicionais lineares unidimensionais unidirecionais e unifuncionais de crescimento e maturação biológica do indivíduo Ao adotar uma visão holística essa teoria prescreve o desenvolvimento entre ganhos e perdas sendo que as potencialidades são expressas por meio da plasticidade intraindividual isto é do grau de maleabilidade presente nos indivíduos Assim as trajetórias observadas na mudança intraindividual variam no tempo e no espaço como consequência dessa plasticidade com o desenvolvimento exercendo um papel regulador que tanto facilita como impede oportunidades de mudança Elder Shanahan 2006 Esta visão contemporânea do desenvolvimento presente a partir da segunda fase dos estudos científicos da adoles cência contribuiu não somente para a compreensão da atual concepção de adolescência mas também para a adoção de metodologias mais apropriadas para responder questões desta fase do curso de vida Em consonância com a perspectiva do curso de vida ainda na década de 1970 Bronfenbrenner 19791996 apresentou um modelo para orientar as pesquisas em desenvolvimento humano denominado modelo ecológi co Este modelo foi revisado pelo próprio autor no final do século XX passando a ser denominado modelo bioecológico Bronfenbrenner 1999 Bronfenbrenner Morris 1998 Ele traçou portanto as diretrizes para o planejamento de pesquisas que consideram a interrelação dos fatores indivi duais contextuais e temporais na promoção dos processos de desenvolvimento humano O Modelo BioEcológico de Urie Bronfenbrenner O modelo ecológico apresentado por Urie Bronfenbren ner em 1979 em seu livro A ecologia do desenvolvimento humano revisado e complementado em 1999 postula que para compreender o desenvolvimento humano é preciso incorporar nas análises não somente o indivíduo e as suas ca pacidades perceptuais motoras ou cognitivas mas também as interações e os padrões relacionais que se estabelecem em diferentes contextos ao longo do tempo Isto significa anali sar as influências múltiplas dos diferentes ambientes diretos ou indiretos ao ser humano Bronfenbrenner 19791996 Compreender o desenvolvimento humano com base neste modelo implica identificar quatro elementos básicos interrelacionados e dinâmicos o processo P a pessoa P o contexto C e o tempo T Bronfenbrenner Morris 1998 Ao longo do desenvolvimento a pessoa P se en volve em processos P de interações recíprocas com outras pessoas objetos ou símbolos Essas interações podem variar de acordo com as características das pessoas dos contextos e do momento em que elas acontecem podendo produzir tanto competências como disfunções no desenvolvimento Bronfenbrenner Evans 2000 Neste modelo o adolescente como qualquer pessoa apresenta características próprias individuais psicológicas e biológicas além de uma forma própria de lidar com suas experiências de vida Ele é visto como um sujeito ativo produto e produtor do seu desenvolvimento Bronfenbrenner 1999 que ocorre na interação com o contexto C O con texto é definido por uma hierarquia de sistemas interdepen dentes micro meso exo e macrossistemas e é composto pelas atividades papéis e relações interpessoais presentes por exemplo nas suas famílias nos grupos de amigos na vizinhança na comunidade e nas instituições educacionais e de saúde sociais e políticas Na adolescência a família continua a ser considerada o principal microssistema do desenvolvimento pois nela acontecem as interações mais diretas e as experiências mais significativas para a pessoa Reconhecida na sua complexi dade a família é responsável por conduzir o adolescente à compreensão de conceitos e valores básicos ao engajamento na realização de tarefas e papéis sociais cada vez mais diversi ficados e complexos e ao desenvolvimento de competências sociais Durante a adolescência as interações no cotidiano da vida familiar isto é os processos proximais continuam particularmente importantes sobretudo no engajamento em práticas educativas e nos processos de comunicação tais como diálogos negociações e trocas de argumentos e de opiniões Entretanto o funcionamento interno do microssistema familiar ou seja o seu desenvolvimento bemestar e clima emocional recebe influências também de outros contextos em que os familiares vivem e crescem E à medida que o adolescente passa a participar de outros microssistemas e a formar e ampliar sua rede de relações interpessoais tornase evidente a formação de novas relações e influências inter dependentes entre a família o adolescente e os demais con textos de interações proximais mesossistema Além disso mesmo quando o adolescente não tem um papel diretamente ativo como por exemplo em decisões tomadas em contex 105 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 Desenvolvimento Humano e Adolescência tos sociais do trabalho dos pais por dirigentes da escola ou por agentes responsáveis pelo lazer e cultura parques jardins e bibliotecas ele indiretamente recebe influências provenientes destes ambientes exosistema Por outro lado decisões que são tomadas nas esferas macrossistêmicas tais como leis que regulam o sistema educacional e de saúde pública interferem em sua vida e na vida de sua família ao promoverem contextos mais ou menos favoráveis ao seu desenvolvimento Bronfenbrenner 19791996 Na adolescência podese reconhecer os efeitos diretos e indiretos gerados pelas mudanças e estabilidades sucessivas que ocorrem não somente nas características individuais mas sobretudo nas transformações históricoculturais so ciais políticas e econômicas atribuídas à época em que ela é vivida Bronfenbrenner 1999 Algumas dessas transições são esperadas ou normativas namoro entrada em novo ciclo escolar enquanto outras são imprevistas ou nãonormativas guerras mundiais queda do muro de Berlim atentado às Torres Gêmeas porém ambas devem ser vistas nos níveis do micro meso e macrotempo que compõem o cronossistema T Consequentemente as influências bidirecionais entre a pessoa e os contextos sistemas ideológicos de crenças e va lores sistemas governamentais e políticas públicas aspectos étnicos e religiosos família de origem e disponibilidade de recursos e oportunidades devem ser consideradas ao longo do tempo Bronfenbrenner 19791996 À parte as dificuldades na operacionalização integral do modelo em um único projeto de pesquisa sua adoção parcial em estudos sobre a adolescência tem sido especialmente útil O modelo auxilia a investigação da forma como os adoles centes estão situados em seus contextos específicos como esses contextos influenciam o curso do seu desenvolvimento e ao mesmo tempo como os adolescentes influenciam esses contextos direta ou indiretamente Estes conhecimentos têm permitido avanços no sentido de ultrapassar a visão inicial de adolescência como um período de turbulência e instabilidade para incorporar uma visão mais positiva do desenvolvimento do adolescente Tendências Atuais a Visão do Desenvolvimento Positivo Problemas interrelacionados referentes ao desenvol vimento econômico e tecnológico à qualidade ambiental à saúde e aos cuidados ao próximo à pobreza ao crime e à violência às drogas aos abusos ao sexo inseguro e ao fracasso escolar resultaram em efeitos desastrosos em todo o mundo Lerner Wertlieb Jacobs 2005 Assim a che gada do século XXI foi marcada por um contexto de rápidas mudanças que estimularam o interesse conjunto de pesquisa dores políticos e profissionais para a condução de pesquisas voltadas para questões sociais e para a aplicação e utilização dos resultados em direção ao progresso da sociedade Foi somente na última década que o foco científico no discurso coletivo orientado para a falta começou a ser paulatinamente substituído por uma mentalidade mais positiva associada ao desenvolvimento de recursos do in divíduo e do ecossistema Theokas et al 2005 Conforme afirmou Bronfenbrenner 19791996 ainda na década de 1970 a colaboração mútua entre produtores e consumidores do conhecimento científico entre teoria e prática tornase essencial para a legitimação da visão otimista do potencial para intervenções no curso de vida e para o fortalecimento da ideia do desenvolvimento positivo Lerner Fisher Weinberg 2000 Do ponto de vista do desenvolvimento positivo do jovem temse buscado ultrapassar uma visão negativa e deficitária que no século XX dominou os campos da ciência do desen volvimento da psicologia da sociologia da educação entre outros Esta nova perspectiva originouse não só dos modelos dinâmicos do comportamento e desenvolvimento humanos da compreensão da plasticidade e da importância das relações entre indivíduos e contextos ecológicos do mundo real mas também das intervenções feitas nas comunidades por meio de programas dirigidos aos jovens com comportamentos de risco Lerner Phelps Forman Powers 2009 Embasada na concordância de cientistas terapeutas e educadores a visão positiva preconiza que tanto os jovens são fontes de recursos e forças internas a serem desenvolvidos como todas as famílias escolas e comunidades têm nu trientes que alinhados podem promover o florescimento saudável desses jovens Benson 2003 Lerner et al 2009 Neste contexto além dos recursos e das mudanças pertinen tes aos jovens é preciso também identificar os recursos de suas famílias instituições e comunidades com a finalidade de fortalecer conexões entre eles Tais conexões dependem de um compromisso mútuo no qual o jovem tanto pode exercer um papel próativo no seu desenvolvimento como atuar em parceria com sua família e com a comunidade da mesma maneira que a sociedade pode oferecer suporte ao desenvolvimento dos seus cidadãos Lerner Wertlieb Jacobs 2005 Logo não se pode negligenciar os recursos provenien tes de diferentes ambientes já que eles exercem influência crescente e decisiva no período da adolescência Theokas Lerner 2006 Entretanto não são apenas as condições estabelecidas pelos contextos mas o tempo que o jovem despende com adultos cuidadores e com pares em ativida des que reforçam valores associados à saúde e ao bemestar comum que asseguram seu sucesso escolar e garantem o desenvolvimento de valores e comportamentos relativos à consciência social liderança solidariedade e valorização da diversidade Benson 2003 Roth BrooksGuhn 2003 Theokas et al 2005 Assim sendo a promoção do desenvolvimento positivo do jovem vai exigir primeiramente a identificação de seus recursos pessoais talentos energias e interesses construti vos e depois a elaboração de programas específicos de estimulação desses talentos De acordo com Lerner 2004 o sucesso desses programas depende de três fatores preponde rantes a uma relação positiva e sustentável com adultos b atividades dirigidas ao desenvolvimento de suas habilidades e c a participação do jovem em todas as decisões e vertentes do programa Em geral eles propõem ações efetivas com base por exemplo no desenvolvimento de características tais como os cinco Cs caráter cuidado confiança conexão e compaixão Lerner Almerigi Theokas Lerner 2006 Lerner et al 2000 e em ideologias de compromisso moral 106 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 SRCM Senna MA Dessen dever de cidadão e saúde do jovem e da sociedade Lerner Steinberg 2004 Theokas et al 2005 Não se pode negar entretanto o quanto nos tempos atuais os adolescentes se deparam com mais chances e com mais desafios do que os das gerações precedentes Muitas vezes diante dos desafios contemporâneos a adesão a es colhas negativas e destrutivas acaba por comprometer seu desenvolvimento saudável Porém a promoção do desen volvimento positivo não significa apenas a prevenção de comportamentos de risco tampouco significa que manter o adolescente livre de problemas é certificarse que ele esteja preparado ou engajado com seu próprio desenvolvimento e o desenvolvimento da sociedade Benson 2003 Theokas et al 2005 É preciso que ele seja acompanhado e estimulado além de reconhecido nas suas peculiaridades estabilidades e mudanças sistemáticas que ocorrem concomitantes às transições dos seus contextos Neste movimento emerge uma nova proposta de estudo denominada a ciência aplicada do desenvolvimento visando compartilhar conhecimentos científicos com a comunidade e propondo aprimoramentos nas chances de vida de crian ças adolescentes famílias e comunidades isto é nas suas trajetórias no curso de vida Lerner Wertlieb Jacobs 2005 Por meio da descrição e explicação dos processos normativos e da ênfase nos aspectos saudáveis esta ciência norteia intervenções no sentido de prevenir riscos e otimi zar sucessos ao invés de remediar problemas deficiências ou fraquezas dos indivíduos e dos contextos Lerner et al 2000 As ações propostas reforçam as diferenças interindi viduais diversidade de raça etnia classe social e gênero e intraindividuais como aquelas esperadas pelas transições da puberdade bem como a centralidade do contexto e das relações bidirecionais entre os diferentes níveis ecológicos do desenvolvimento Como a pesquisa em processos relacionais básicos de desenvolvimento e suas aplicações caminham na mesma di reção Lerner Wertlieb Jacobs 2005 as teorias científicas da atualidade devem a estudar o indivíduo e seus múltiplos contextos de modo integrativo relacional e temporal como prescreve as teorias contextualistas e o próprio Bronfenbren ner 19791996 e b adotar seus conceitos em programas de educação e intervenção e em políticas públicas dirigidas aos cidadãos Nesse continuum entre a geração e a aplicação do conhecimento atualmente são propostas pesquisas que envolvam contextos naturais ecologicamente válidos e a avaliação de intervenções e programas por meio da cons trução e do uso de delineamentos e instrumentos sensíveis ao desenvolvimento e aos contextos tal qual apontado pelos teóricos na segunda metade do século XX A ênfase dada aos aspectos relacionais à plasticidade e à diversidade à metodologia longitudinal e à aplicação das teo rias do desenvolvimento que foram cristalizados e integrados na segunda fase dos estudos científicos do desenvolvimento do adolescente vem se expandindo gradualmente tanto qualitativa como quantitativamente Lerner Steinberg 2009 No âmbito internacional podese observar um grande avanço nos trabalhos sobre a genética do comportamento que em muito tem ampliado a visão do desenvolvimento e contribuído para a compreensão da influência conjunta entre a biologia e o ambiente Plomin 2000 e entre os fatores biológicos e neuropsicológicos do desenvolvimento cerebral na adolescência Dahl Hariri 2005 Nesses estudos o desafio se traduz na integração de diversos conhecimentos a respeito de uma só pessoa no caso o adolescente sobre as mudanças biológicas na puberdade o desenvolvimento do cérebro as influências genéticas ritmos de sono saúde física transições sociais influências religiosas educacionais e culturais típicas desta fase Ultrapassar esse desafio conduzirá a uma compreen são melhor dos ajustamentos positivos na adolescência ao reconhecimento dos aspectos ditos normativos necessários ao desenvolvimento e a possibilidade de oferta de contextos de relações mais positivas sustentadoras e contínuas de proximidade e aceitação que dão a tônica da adolescência saudável Theokas et al 2005 Considerando os jovens como empreendedores vitais para o futuro tanto da ciência como da sociedade Lerner e Overton 2008 reforçam a necessidade de compreendêlos melhor fornecendolhes suporte e mais oportunidades de maximizarem suas chances de desenvolvimento saudável e positivo Afinal eles representam em qualquer ponto da história aqueles que vão assumir a liderança nas famílias comunidades e sociedades e manter e trazer progressos à vida humana p 252 Considerações Finais Apesar dos avanços na compreensão da adolescência ainda se pode identificar uma tendência a caracterizar este período apenas como um momento no curso de vida repleto de dificuldades conflitos alterações constantes de humor e comportamentos de risco Lerner 2004 Steinberg Morris 2001 Grande parte dos estudos na área enfatiza situações conflituosas tipicamente associadas a esta fase pautandose na ideia do modelo médico de diagnóstico e tratamento de problemas que tem foco na conduta do adolescente doente e não na visão do adolescente saudável Theokas et al 2005 A visão de uma adolescência única presente ainda hoje parece inapropriada e sobretudo limitada e ultrapassada Steinberg Morris 2001 Já não se pode mais admitir que a ideia tradicional de rebeldia tempestade e estresse seja típica universal ou mesmo inevitável nesta etapa do curso de vida Larson et al 2002 Considerar o adolescente com base em fatores particulares ou mesmo isolar aspectos ge néticos e ambientais pode impedir um diálogo amplo entre as diferentes áreas de pesquisa e dos pesquisadores com os profissionais e os políticos Brown 2005 Ademais abordar a adolescência como um período de mudança e transitoriedade no desenvolvimento ou mesmo um estado em si não condiz com os avanços nas perspectivas teóricas da ciência do desenvolvimento humano Brown 2005 Essas concepções distorcem a ideia de processo con tínuo do desenvolvimento humano conforme preconizam os estudos atuais Lopes de Oliveira 2006 Buscar os ante cedentes geradores das mudanças na adolescência significa tratála como um período de intensa exploração e de grandes e múltiplas oportunidades para muitos jovens futuros adultos Além disso a adolescência não é algo acabado que te nha um início e um fim bem definidos A delimitação deste 107 Psic Teor e Pesq Brasília JanMar 2012 Vol 28 n 1 pp 101108 Desenvolvimento Humano e Adolescência período ultrapassa aspectos cronológicos e biológicos e esbarra em condições sociais culturais históricas e psico lógicas específicas Portanto ela precisa ser compreendida tendo como base a noção de que um mesmo resultado em desenvolvimento pode ser alcançado por diferentes meios e em contextos relativamente diferentes Investigar os me canismos subjacentes à competência do adolescente pode gerar uma compreensão mais acurada das características que emergem nesta fase Smetana et al 2006 O movimento da psicologia positiva traz uma contribui ção valiosa ao adotar como missão central a investigação de potencialidades e qualidades humanas tais como a re siliência o otimismo a esperança e a coragem entre outras habilidades interpessoais indicativas da vida saudável e o planejamento de intervenções que facilitem sua construção Percebido também no Brasil DellAglio Koller Yunes 2006 este movimento demonstra o interesse relativamente recente pelos estudos sobre a resiliência tema que reflete a tendência à valorização das forças pessoais e à promoção do bemestar e da satisfação na vida de todos Paludo Koller 2007 Yunes 2003 2006 Yunes 2003 sugere que aspectos de saúde que justificam a condição humana como a resiliência nas famílias formam um campo fértil nas linhas de pesquisa em desenvolvimento humano no país que deveriam ser mais estimuladas Para sedimentar as atuais concepções teóricas do de senvolvimento humano e da adolescência é preciso que no futuro todos os interessados em descrever explicar e promover o desenvolvimento positivo do jovem possam se debruçar sobre o adolescer e sobre as mudanças que estão ocorrendo nos contextos sociais nos quais o jovem vive É imprescindível um esforço para ultrapassar a fragmentação disciplinar e ao buscar uma integração de modelos concei tuais das ciências biológicas e sociais confirmar o diálogo interdisciplinar esperado na área promovendo processos conjuntos fundamentais à saúde e ao desenvolvimento do adolescente Conforme propõem Lerner e Overton 2008 a pesquisa empírica futura deve incluir estudos que respondam a uma questão desmembrada em cinco questionamentos inter relacionados Quais atributos De quais indivíduos Em relação à quais condições ecológicas E em que aspectos ontogenéticos familiares ou geracionais A complexidade exigida pelas ciências na atualidade refletida nesta ampla questão demonstra a necessidade da construção de projetos de pesquisa mais aprofundados e o uso de delineamentos que combinem dados quantitativos e qualitativos e que adotem instrumentos e técnicas de ava liação mais sensíveis para capturar as interrelações entre o adolescente e seu contexto Em parceria com profissionais e políticos pesquisadores devem dirigir os resultados de suas pesquisas empíricas para a elaboração de modelos de inter venção preventiva no curso do desenvolvimento Esperase assim aumentar cada vez mais a disseminação do conhecimento por meio da comunicação de massa de especialistas e da própria comunidade e estabelecer uma conexão maior entre a ciência e a sociedade Isto possibilitará que políticos e profissionais colaborem para o crescimento da ciência no curso de desenvolvimento Lerner Stein berg 2009 enquanto a ciência se coloca como instrumento para a sociedade civil Lerner et al 2000 A este respeito nós pesquisadores brasileiros temos uma longa trajetória a percorrer para a qual devemos aplicar os princípios do desenvolvimento positivo do jovem Referências Ariès P 1986 História social da 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