·

Medicina Veterinária ·

Parasitologia Veterinária

Send your question to AI and receive an answer instantly

Ask Question

Preview text

Medicina Veterinária UFRPE Recebido 22 de maio de 2017 Aceito 18 de agosto de 2018 DOI httpsdoiorg1026605medvetv12n12138 ISSN 18094678 Infecção natural por Platynosomum fastosum em felino doméstico no município de Alegre Espírito Santo e sucesso no tratamento com praziquantel Natural infection by Platynosomum fastosum in domestic feline in Alegre Espírito Santo Brazil and successful treatment with praziquantel Relato de CasoCase Report Nayara Camatta Campos1 Daniele Fassina de Siqueira2 Lívia Reisen Perin1 Luanna Castro Oliveira3 Diefrey Ribeiro Campos4 Isabella Vilhena Freire Martins5 1Médica veterinária autônoma LinharesES Espírito Santo Brasil ²Médica veterinária autônoma VitóriaES Brasil 3Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Campos dos GoytacazesRJ Brasil 4Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro SeropédicaRJ Brasil 5Universidade Federal do Espírito Santo AlegreES Brasil Autor para correspondênciaCorresponding author Email ncamattavetgmailcom Resumo Platynosomum sp é um trematódeo encontrado em áreas tropicais e subtropicais e acomete felinos domésticos sendo a principal via de transmissão a ingestão das lagartixas contendo as formas infectantes as metacercárias e parasitando fígado vesícula biliar e ductos biliares Na maioria dos animais infectados cursa com a forma assintomática porém a severidade da doença está associada com a carga o tempo e a resposta individual do animal parasitado O exame coproparasitológico é fundamental para possível diagnóstico pela visualização de ovos operculados O estudo tem como objetivo relatar um caso de um felino doméstico naturalmente infectado por Platynosomum fastosum no município de Alegre Espírito Santo A felina possuía acesso à rua com hábito de caçar e foi submetida a exame coproparasitológico para estudo epidemiológico de verminoses de gatos do município de AlegreES No exame foi encontrado ovos de P fastosum por meio da técnica parasitológica de centrífugoflutuação Não foram vistas alterações clínicas e no exame ultrassonográfico A partir disso foi tratada com praziquantel na dose de 20 mgkg continuado por 3 dias O exame coproparasitológico foi repetido uma semana e 10 meses após o tratamento obtendose resultados negativos evidenciando o sucesso da terapêutica Dessa forma os dados presentes nesse relato buscam atentar para casos de platinossomíases e introduzir os exames coproparasitológicos na rotina Palavraschave colangite parasitária platinosomíase gato Abstract Platynosomum sp is a trematode found in tropical and subtropical areas that affects domestic felines the main route of transmission being the ingestion of lizards containing the infective forms the metacercariae and parasitizing the liver gall bladder and bile ducts In most infected animals the disease is asymptomatic but the severity of the disease is associated with the burden time and individual response of the parasitized animal The coproparasitological examination is fundamental for possible diagnosis which is based on the visualization of the eggs The study aims to report a case of a domestic feline naturally infected by Platynosomum fastosum in the city of Alegre Espírito Santo The feline had access to the street with a habit of hunting and underwent a coproparasitological examination for the epidemiological study of cats in the city of AlegreES In the examination eggs of P fastosum were found by means of the centrifugalflotation parasitological technique No clinical changes or on ultrasound examination were seen Thereafter treatment was instituted with praziquantel at a dose of 20 mg kg for 3 days The coproparasitological examination was repeated one week and 10 months after the treatment obtaining negative results and evidencing the success of the therapy In this way the data present in this report seeks to draw attention to cases of platinosomiasis and to introduce routine coproparasitological exams Keywords parasitic cholangitis platinosomiasis cat Campos et al 2018 Infecção natural por Platynosomum fastosum em felino doméstico no município Medicina Veterinária UFRPE Recife v12 n1 janmar p1721 2018 18 Introdução A platinosomíase popularmente conhecida como envenenamento por lagartixa é uma doença parasitária das vias biliares comum em regiões tropicais e subtropicais Geralmente habita o fígado vesícula biliar ductos biliares e menos comumente o intestino delgado e pâncreas dos felinos domésticos Norsworthy 2011 Seu ciclo exige a presença de dois a três hospedeiros intermediários que podem ser isópodos e moluscos terrestres considerados os primeiros As lagartixas e sapos sendo os segundos hospedeiros intermediários A principal via de transmissão nos gatos é pela ingestão das lagartixas contendo as formas infectantes as metacercárias Newell et al 2001 Basu e Charles 2014 Pinto et al 2014 O estilo de vida do gato influencia na prevalência deste parasito sendo que em animais de vida livre a ocorrência é cerca de 15 a 85 em animais confinados é de 71 e nos semi confinados o valor é de 286 Salomão et al 2005 Fêmeas têm 95 mais probabilidade de se infectarem devido à necessidade que elas têm de caçar para alimentarem seus filhotes Foley 1994 RodriguezVivas et al 2004 O diagnóstico definitivo é realizado pela detecção de ovos castanhos e operculados nas fezes Foley 1994 A ultrassonografia pode ser utilizada no diagnóstico diferencial entre obstrução biliar e doença hepatobiliar podendose observar dilatação dos ductos biliares e distensão da vesícula biliar com bile ecogênica Também pode ser observado hepatomegalia e distensão da árvore biliar hepática Foley 1994 Tams 1994 Javinsky 2011 O praziquantel é o fármaco de escolha para o tratamento da platinosomíase Relatase dose de praziquantel de 10 a 20 mgkg por via subcutânea ou oral um comprimido ao dia de 3 a 5 dias consecutivos repetindo a mesma posologia após 12 semanas de intervalo pois os ovos do parasito podem estar presentes nas fezes até 9 semanas após o tratamento Zanutto et al 2012 Casos relatados de platinossomíase no Brasil são escassos principalmente pelos sinais inespecíficos da doença como icterícia anorexia letargia perda de peso vômito e desidratação desencadeando quadros de doença hepática como a colangiohepatite Soldan e Marques 2011 Dessa forma o diagnóstico é subestimado não sendo realizados exames coproparasitológicos de rotina e muitas vezes o parasito é encontrado como achado pósmorte como relatado por Gava et al 2015 no Espírito Santo em que um felino fêmea e adulta teve morte súbita encontrandose à necropsia o parasito no fígado com presença de colangiohepatite Devido à grande importância de se enfatizar a infecção pelo parasito de suas lesões nos felinos diagnóstico e tratamento o estudo teve como objetivo relatar um caso de platinosomíase felina no município de Alegre Espírito Santo com sucesso no tratamento Descrição do Caso Uma fêmea felina sem raça definida seis meses de idade foi adotada sem relato de vacinação ou vermifugação com acesso à rua e hábito de caçar O animal foi submetido ao exame coproparasitológico de rotina realizado no Laboratório de Parasitologia Animal do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Espírito Santo HOVET CCA UFES O exame coproparasitológico foi realizado utilizando a técnica de sedimentação em formalina éter Ritchie 1948 e a técnica de centrífugo flutuação Sloss et al 1999 Porém o mesmo somente foi positivo para infecção por P fastosum na técnica de centrífugoflutuação não demonstrando uma alta carga parasitária Após o diagnóstico o gato foi submetido a uma avaliação clínica na qual nenhuma alteração foi registrada Também foi realizado o exame ultrassonográfico que não demonstrou nenhuma alteração hepática ou de vesícula biliar O felino foi tratado segundo recomendado por Foley 1994 que preconizou a utilização de praziquantel na dose de 20 mgkg por 3 dias consecutivos e repetição da posologia após 12 semanas O tratamento foi realizado porém não houve repetição da dose após 12 semanas do primeiro tratamento Uma semana e 10 meses após o tratamento foram realizados novos exames coproparasitológicos utilizando as mesmas técnicas com a coleta de amostras por 3 dias seguidos não demonstrando nenhuma infecção parasitária por P fastosum póstratamento Discussão Durante o exame clínico do animal não se observou nenhuma alteração o que é compatível com encontrado por outros autores em que as manifestações clínicas associadas ao parasitismo Campos et al 2018 Infecção natural por Platynosomum fastosum em felino doméstico no município Medicina Veterinária UFRPE Recife v12 n1 janmar p1721 2018 19 por P fastosum variam conforme a severidade que está associada com a carga o tempo e a resposta individual do animal parasitado e o tempo de infecção Bielsa e Greiner 1985 Foley 1994 Salomão et al 2005 Felinos não domiciliados ou com acesso à rua possuem maior prevalência de infecção por P fastosum quando comparado com animais domiciliados que não possuem acesso à rua Salomão et al 2005 O animal em questão era semi domiciliado possuía acesso à rua e hábito de caçar A maior predisposição se dá sobretudo quando há histórico de ingestão de pequenos lagartos Foley 1994 Watson 2014 O gato possuía seis meses de idade Salomão et al 2005 descreveram que filhotes podem ser infectados a partir de presas fornecidas pela mãe Além disso fêmeas que caçam possuem 95 maior probabilidade de se infectarem possivelmente por terem que alimentar os filhotes Foley 1994 O diagnóstico foi realizado por meio do exame coproparasitológico sendo esta a forma de diagnóstico definitivo quando os ovos são encontrados Normalmente um pequeno número de ovos está presente nas fezes e a ovoposição dos parasitos é intermitente tornando esse método de diagnóstico pouco sensível o que pode resultar em falsos negativos Desta forma é recomendado o exame fecal seriado Os ovos podem ser encontrados na técnica de centrifugo flutuação porém mais recomendada por ser considerada a mais sensível é a de sedimentação em formalina éter Taylor e Perri 1977 Norsworthy 2011 Apesar de alguns autores afirmarem que a técnica de sedimentação em formalinaéter é a técnica de eleição para a platinossomíase por possui maior sensibilidade Norsworthy 2011 alguns trabalhos demonstraram que a técnica de centrífugoflutuação também pode detectar ovos desse trematódeo Rocha et al 2014 como observado no presente estudo O exame ultrassonográfico possibilita uma identificação precisa do fígado quanto ao tamanho hepático seja em estado normal ou alterado demonstrando melhor diferenciação dos limites dos órgãos Daniel et al 2012 Azevedo et al 2013 Montserin et al 2013 A infecção por P fastosum pode influenciar o aspecto da parede da vesícula biliar no exame ultrassonográfico de felinos aparentando uma hiperecogenicidade na vesícula que pode ser explicada pela inflamação causada pelo trematódeo Salomão et al 2005 Animais parasitados também podem apresentar hepatomegalia contornos hepáticos irregulares e parede vesicular aumentada Azevedo et al 2013 Essas alterações normalmente são observas em animais com infecções crônicas ou alta carga parasitária Salomão et al 2005 Soldan e Marques 2011 O exame ultrassonográfico do felino em questão não mostrou nenhuma alteração de vesícula biliar o único achado foi a vesícula bilobada o que é comum na espécie felina Este resultado é compatível com Salomão et al 2005 que afirmaram que alterações decorrentes da platinosomíase começam a aparecer no exame ultrassonográfico nos estágios avançados da doença O tratamento utilizado foi praziquantel fármaco de escolha para a platinosomíase Norsworthy 2011 Zanutto et al 2012 Foley 1994 e Norsworthy 2011 comentaram da utilização de 20 mgkg por três dias consecutivos via oral Os autores também sugeriram que se repita a posologia após 12 semanas de intervalo pois os ovos do parasito podem estar presentes nas fezes até 9 semanas após o tratamento devido à sobrevivência do trematódeo no sistema biliar ou retidos na árvore biliar A repetição da dose não foi realizada porém o exame do animal uma semana e 10 meses após o tratamento não mostrou nenhum parasitismo mesmo com o animal mantendo seus hábitos de caçar e tendo acesso à rua Neste caso o praziquantel foi efetivo na eliminação do parasitismo Como prevenção para animais que vivem em área endêmica preconizase a utilização de praziquantel na dose de 20 mgkg via oral a cada 3 meses sendo importante limitar o acesso do animal à rua e a hospedeiros intermediários assim como exames coproparasitológicos periódicos Norsworthy 2011 Zanutto et al 2012 No Brasil existem poucos estudos sobre a platinosomíase mesmo com o crescente número de casos em vários estados do País A ocorrência do P fastosum no município de Alegre Espírito Santo demonstra a necessidade de investigar a sua casuística e avaliar a importância da doença no estado do Espírito Santo Conclusão O tratamento com o praziquantel na dose de 20 mgkg durante 3 dias mostrase eficaz na eliminação do parasitismo por P fastosum Campos et al 2018 Infecção natural por Platynosomum fastosum em felino doméstico no município Medicina Veterinária UFRPE Recife v12 n1 janmar p1721 2018 20 Embora o caso relatado seja um achado de projeto de extensão e não um caso clínico é importante que médicos veterinários da região de Alegre Espírito Santo se atentem para casos de doenças hepáticas podendo ser a infecção por P fastosum diagnóstico diferencial Conflito de Interesse Os autores declaram não existir conflito de interesse Comitê de Ética O trabalho foi aprovado pelo comitê de ética na utilização de animais da Universidade Federal do Espírito Santo sob o número 0312013 Referências Azevedo FD Veiga CCP Scott F B Azevedo T R C Souza B G Vulcano L C Avaliação radiográfica e ultrassonográfica do fígado e da vesícula biliar em gatos domésticos Felis catus domesticus parasitados por Platynosomum illiciens Braun 1901 Kossak 1910 Revista Brasileira de Medicina Veterinária 352 283288 2013 Basu AK Charles RA A review of cat liver fluke Platynosomum fastosum Kossack 1910 Trematoda Dicrocoeliidae Veterinary Parasitology 200 12 17 2014 Bielsa LM Greiner EC Liver Fluke Platynosomum concinnum in cats Journal of the American Animal Hospital Association 21269274 1985 Daniel AGT Diaz RF Camignatto LO Kage NK Pellegrino A Cogliati B Polycystic Liver Disease Associate with Platynosomum fastosum Infection in Cat Brazilian Journal of Veterinary Pathology 53 137141 2012 Foley RH Platynosomum concinnum infection in cats Compendium on Continuing Education for the Practising Veterinarian 1610 12711277 1994 Gava MG Hiura E Lopes ADC Vieira FT Flecher MC Fonseca LA Soares FEF Giuberti TZ Leite FLG Lenz D Rassele AC Paz JS Alves A Braga FR Platynosomum fastosum in an asymptomatic cat in the state of Espírito Santo first report Revista de Patologia Tropical 444 496502 2015 Javinsky E Gastrointestinal parasites In Little S The cat clinical medicine and management Saint Louis Elsevier 2011 p 1424 Montserin SAS Munoz K Seebaransingh R Basu AK Clinical case Platynosomum fastosum Kossack 1910 infection in a cat first reported case in Trinidad and Tobago Revue de Médecine Vétérinaire 164 912 2013 Newell SM Graham JP Roberts GD Ginn PE Greiner EC Cardwell A Mauragis D Knutsen C Harrison JM Martin FG Quantitative hepatobiliary scintigraphy in normal cats and in cats with experimental cholangiohepatitis Veterinary Radiology Ultrasound 427076 2001 Norsworthy GD Flukes Liver biliary and pancreatic In Norsworthy GD Crystal MA Grace SF Tilley LP The feline patient Blackwell 2011 p193194 Pinto HA Mati VL De Melo AL New insights into the life cycle of Platynosomum Trematoda Dicrocoeliidae Parasitology Research 1137 27012707 2014 Ritchie LS An ether sedimentation technique for routine stool examination Bulletin of the United States Army Medical Department 8 326 1948 Rocha NO Portela RW Camargo SS Souza WR Carvalho GC Bahiense TC Comparison of two coproparasitological techniques for the detection of Platynosomum sp infection in cats Veterinary Parasitology 29 392395 2014 RodriguezVivas RI Williams JJ Quijano Novelo AG Bolio GM TorresAcosta JF Prevalence abundance and risk factors of liver fluke Platynosomum concinnum infection in cats in Mexico The Veterinary Record 154693 694 2004 Salomão M SouzaDantas LM MendesDe Almeida F Branco A S Bastos OPM Sterman F Labarthe N Ultrasonography in Hepatobiliary Evaluation of Domestic Cats Felis catus L 1758 Infected by Platynosomum Looss 1907 International Journal of Applied Research in Veterinary Medicine 3271279 2005 Sloss M W Zajac A M Kemp R L Parasitologia clínica veterinária São Paulo Manole 1999 p198 Campos et al 2018 Infecção natural por Platynosomum fastosum em felino doméstico no município Medicina Veterinária UFRPE Recife v12 n1 janmar p1721 2018 21 Soldan MH Marques SMT Platinosomose abordagem na clínica felina Revista da FZVA 1814667 2011 Tams TR Hepatobiliary parasites In Sherding RG The cat diseases and clinical management 2a ed Philadelphia Saunders 1994 p 607 Taylor D Perri SF Experimental infection of cats with the liver fluke Platynosomum concinnum American Journal of Veterinary Research 3815155 1977 Watson PJ Clinical manifestations of hepatobiliary disease In Nelson RW Couto CG Small animal internal medicine 2014 p 501511 Zanutto MS Almeida MAO Junquilho AB Silva MSA Silveira R X Fatal PL Uso do Endal Gatos no tratamento da platinossomíase felina A Hora Veterinária 185 1216 2012