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ROTEIRO PARA ENTREGA DE TRABALHO MONOGRÁFICO Adaptado do professor Carlos Vinicius Veneziani dos Santos Texto dissertativo de 7 a 10 páginas incluindo referências bibliográficas Antes de começar o trabalho lembrese destas recomendações a Leia e releia os textos que serão objeto de sua análise b Leia e releia o texto da corrente crítica que você considera pertinente para abordar esse objeto c Ao realizar leituras e releituras certifiquese de que o texto foi explorado em tudo o que ele poderia oferecer Procure palavras em dicionários de português e conceitos em dicionários especializados Procure informações sobre datas locais pessoas e experiências que estejam presentes no texto Essas informações não precisam necessariamente estar presentes na sua dissertação mas são importantes para fortalecer sua compreensão do que está lendo Por outro lado caso alguma informação dessa etapa seja relevante para seu trabalho você pode esclarecer o seu leitor a respeito por meio de uma nota de rodapé ou de um parágrafo adicional explicativo d Se o texto faz evidente e incontornável diálogo com acontecimento histórico universo cultural pouco conhecido ou outro texto literário ou não essas referências precisam ser acessadas para a compreensão do que é lido e Escolha um recorte para sua dissertação Lembrese de que há um limite de páginas e você não precisa nem pode falar de todos os aspectos do texto literário Faça uma opção de abordagem adequada para a extensão de texto permitida f Nesta etapa do curso não será cobrada originalidade de sua ideia de investigação Mas procure não imitar ou copiar artigos dissertações e teses que estão online Você pode fazer uma pesquisa prévia para saber o que já foi desenvolvido em relação ao texto escolhido para análise e incluíla na sua dissertação mas não se esqueça de que plágio é crime e é terminantemente proibido Se a ideia não for sua cite o autor Se o texto não for seu cite o autor Estrutura possível para o trabalho O texto dissertativoargumentativo poderá ser dividido da seguinte forma a introdução b desenvolvimento apresentação de dados articulação dos dados argumentação e respostas a possíveis objeções digressão argumentativa c e conclusão considerações finais sobre a proposta de análise e sobre o valor da obra Você não precisa necessariamente nomear cada parte do trabalho dessa forma mas considere essa lógica na redação final do que será apresentado Adiante segue uma tabela baseada nessa estrutura com breves indicações acerca de cada item considerado Por fim lembrese de formatar seu trabalho adequadamente e indicar as referências conforme a ABNTNBR 60232018 CONTEÚDO FORMATO E INTECIONALIDADE DICAS OBRIGATÓRIO PARÁGRAFOS Introdução Aspectos introdutórios do texto Deve possibilitar que o leitor acesse as fontes Última parte a escrever Sim 2 a 3 Dados da obra escolhida Autor obra ou parte da obra e informações contextuais gerais também tradutor edição ano de lançamento movimento repercussão Sim 1 Tema escolhido com recorte proposto e ideia a ser defendida Recorte o mais específico possível reduzindo variáveis apenas o que será desenvolvido no trabalho eliminar ideias que não são aproveitadas depois Sim ½ ou 1 Corrente teórica utilizada Apresentar o referencial teórico sem detalhamento Citar ramificação da corrente teórica se relevante Sim ½ ou 1 Desenvolvimento Construção da argumentação Deve tentar convencer o leitor da viabilidade da interpretação apresentada Primeira parte a escrever e parte mais importante Deve ser reescrita e revisada Sim De 9 a 17 Paráfrase curta Argumento narrativo ou estrutura de sentido do texto Recontar o texto de outra maneira respeitando sua lógica interna Sim 1 Contexto histórico Breve contextualização do cenário narrativo e da obra em si Articular com o mérito histórico do texto sem biografismo Sim 1 ou 2 Elementos teóricos da corrente escolhida Explicação sucinta dos princípios teóricos a partir de determinados autores Retomada da apresentação da corrente escolhida focando agora nos autores a serem utilizados e sua vinculação a essa corrente Sim 1 ou 2 Desenvolvimento de elementos teóricos Explicação mais ampla dos parâmetros selecionados para análise Selecionar só os parâmetros efetivamente aplicados Articular com o item anterior Sim 1 ou 2 Análise de trechos Seleção de trechos literários importantes e aplicação dos elementos teóricos Observar normas científicas de citação e referência Não citar trechos sem comentários e articulálos ao argumento Evidenciar o que se quer ao citar um trecho Mostrar as relações entre o trecho citado e o princípio de análise aplicado Sim 4 ou 5 Articulação dos argumentos A partir das afirmações produzidas sobre o texto produção de ideias que apoiam o argumento central Juntar as evidências conquistadas para fortalecer a interpretação global Sim 1 ou 2 Resposta a objeções Contraargumentos a ideias contrárias possíveis ou já redigidas Citar a ideia antagônica com respeito utilizando as normas científicas Não 1 Digressão Assunto desenvolvido a partir de outro mencionado no texto Utilizar apenas em caso de relevância para o espírito do argumento Deve ser ilustrativa e breve Não 1 Informações adicionais Esclarecimentos importantes para compreensão da leitura Condensar em notas de rodapé ou pequenos parágrafos apenas se imprescindíveis Não 1 Conclusão Síntese da argumentação produzida Deve trazer à memória recente do leitor de forma reduzida aquilo que já foi desenvolvido Ideal redigir junto com a introdução As propostas da introdução devem ser recuperadas na conclusão Sim 1 a 2 Argumentos recuperados Articulação do que já foi produzido com a ideia central do trabalho Aproveitar todas as reflexões construídas sem refazêlas analiticamente Sim 1 a 2 Considerações finais Apontamentos sobre a relevância do trabalho produzido o ganho teórico com a corrente utilizada a necessidade de outras pesquisas Ampliar as conclusões para relacionálas ao estado da pesquisa atual sobre o tema Não 1 TOTAL 12 a 22 1 Introdução A literatura enquanto expressão estética e social tem o poder de revelar as contradições históricas econômicas e culturais de uma sociedade funcionando como instrumento de denúncia e reflexão Partindo dessa perspectiva o presente trabalho tem como objetivo desenvolver uma análise comparativa das obras Gaibéus 1939 de Alves Redol e Terra Morta 1949 de Castro Soromenho com foco na representação das desigualdades sociais das relações de trabalho e das dinâmicas de exploração que incidem sobre as classes subalternas especialmente o campesinato nos contextos de Portugal sob o regime salazarista e de Angola sob domínio colonial português Ambas as obras apesar de situadas em espaços geográficos distintos e sob formas específicas de opressão o Estado Novo português e o sistema colonial convergem na construção de narrativas que evidenciam a marginalização dos trabalhadores rurais Tais sujeitos atravessados por processos históricos de subalternização carregam as marcas da exploração da resistência e da busca pela sobrevivência em meio a estruturas sociais profundamente excludentes e desiguais Em Gaibéus Alves Redol inaugura o neorrealismo português adotando uma estética que alia compromisso social e rigor literário A obra lança luz sobre a realidade dos trabalhadores rurais da região do Ribatejo revelando com detalhes as precárias condições de vida os vínculos de dependência com os grandes proprietários e a ausência de qualquer proteção social Mais do que uma simples narrativa Gaibéus assume a função de documento social tornandose uma voz que rompe com o silenciamento imposto à classe camponesa portuguesa Por sua vez Terra Morta de Castro Soromenho inserese na tradição do realismo colonial angolano abordando de maneira contundente as relações de dominação impostas pelo sistema colonial português A obra denuncia não apenas a exploração econômica mas também os mecanismos de violência simbólica cultural e física que sustentavam a colonização Os camponeses angolanos são retratados como sujeitos historicamente destituídos de direitos sujeitos a um modelo de produção que expropria suas terras sua cultura e sua autonomia A análise proposta parte do eixo temático que relaciona a terra o trabalho e a resistência como elementos estruturantes das duas obras O campesinato em ambos os romances emerge como coletivo social invisibilizado cujas trajetórias são atravessadas pela exploração pela opressão e simultaneamente pela força que advém da coletividade e da luta cotidiana pela dignidade Para a construção deste percurso analítico serão mobilizados os aportes teóricos presentes na obra Relações de trabalho em Terras do Sem Fim Gaibéus e Terra Morta Universos que se tocam de Lisiane Pinto dos Santos 2008 que oferece uma leitura comparativa sobre a representação do trabalho nas três literaturas brasileira portuguesa e angolana Somase ainda a perspectiva crítica de Frantz Fanon em Os condenados da terra 1961 cujas reflexões sobre colonialismo subalternidade e violência contribuem de forma decisiva para compreender os processos de desumanização retratados em Terra Morta Por fim será considerado o artigo de Márcia Elizabeti Machado de Lima 2015 que articula a dimensão estética e política do neorrealismo em Gaibéus destacando como a linguagem poética se converte em instrumento de denúncia e engajamento social Dessa forma este trabalho se propõe a demonstrar como a literatura ao representar as experiências do campesinato em contextos de opressão se torna uma ferramenta de resistência preservação da memória social e denúncia das estruturas que perpetuam a exclusão e a desigualdade O recorte analítico prioriza portanto as representações da terra como espaço de luta do trabalho como prática exaustiva e da resistência como potência dos sujeitos historicamente subalternizados 2 Desenvolvimento 2 1 Contextualização Histórica Social e Literária das Obras A produção literária especialmente aquela que surge como resposta às tensões sociais e econômicas não se desenvolve de forma dissociada do seu tempo histórico Tanto Gaibéus de Alves Redol quanto Terra Morta de Castro Soromenho são fruto de contextos profundamente marcados por estruturas de opressão e marginalização que delineiam as relações sociais em Portugal e Angola na primeira metade do século XX Em Portugal o Estado Novo regime autoritário instaurado por António de Oliveira Salazar consolidouse a partir de 1933 fundamentado no nacionalismo na repressão política na censura e na manutenção das desigualdades sociais especialmente no meio rural A concentração fundiária e o modelo agrário tradicionalista mantinham o campesinato em condições de trabalho precárias sem acesso a direitos básicos perpetuando dinâmicas de servidão moderna Nesse cenário o neorrealismo português surge como movimento literário e artístico que assume o compromisso ético e estético de denunciar as condições de vida das classes populares alinhandose a uma visão humanista e transformadora da literatura Por outro lado Terra Morta se insere no contexto do colonialismo português em Angola onde as relações de trabalho eram pautadas pela exploração extrema pela expropriação de terras e pela desumanização sistemática dos povos colonizados Segundo Fanon 1961 a lógica colonial não se limita à dominação econômica mas também opera na destruição das referências culturais na imposição de valores da metrópole e na violência física e simbólica Essa realidade é visceralmente representada por Castro Soromenho que embora pertencente à elite colonial rompe com a visão eurocêntrica ao retratar com contundência os efeitos do colonialismo sobre os sujeitos africanos Ambas as obras portanto não apenas refletem seus contextos sociopolíticos mas também se colocam como instrumentos de denúncia capazes de provocar reflexão e mobilizar o leitor para as questões da justiça social 22 Fundamentação Crítica Literatura Trabalho e Colonialismo A análise das relações de trabalho presentes em Gaibéus e Terra Morta não pode ser dissociada dos fundamentos teóricos que sustentam a compreensão das dinâmicas de exploração A partir da leitura de Karl Marx 1867 compreendese que o trabalho no modo de produção capitalista e nas formações sociais précapitalistas e coloniais configurase como elemento central na produção da riqueza e ao mesmo tempo como locus da alienação e da opressão Em Os Condenados da Terra Fanon 1961 amplia essa reflexão ao demonstrar que no espaço colonial a exploração econômica se articula de forma inseparável à opressão cultural e racial O colono não apenas explora a força de trabalho do colonizado mas também destrói suas estruturas simbólicas impondo um modelo de mundo que legitima sua própria dominação Complementarmente Lisiane Pinto dos Santos 2008 ao desenvolver uma análise comparativa entre Terras do Sem Fim Gaibéus e Terra Morta evidencia que apesar das diferenças geográficas e culturais a lógica da exploração do trabalho mantém traços estruturantes comuns precarização exclusão e reprodução das desigualdades sociais Assim o campo teórico que sustenta este trabalho permite compreender a literatura como espaço de resistência em que os sujeitos subalternizados são não apenas representados mas também convocados à cena social enquanto agentes históricos 23 Análise da Obra Gaibéus A Realidade dos Trabalhadores no Ribatejo Publicado em 1939 Gaibéus inaugura o ciclo neorrealista na literatura portuguesa A obra narra a vida dos trabalhadores rurais que se deslocam sazonalmente para as lezírias do Ribatejo onde são contratados para a ceifa do arroz em condições degradantes O termo gaibéus designa justamente esses trabalhadores temporários que vivem sob a ameaça constante da fome da doença e da violência simbólica imposta pelos grandes latifundiários O romance constrói por meio de uma linguagem profundamente poética uma denúncia contundente sobre as condições de vida do campesinato português Como observa Lima 2015 o texto de Redol não sacrifica a beleza estética mas a coloca a serviço do engajamento social conferindo dignidade aos sujeitos que retrata Os personagens são coletivizados não há foco em trajetórias individuais o que evidencia uma estratégia estética que busca representar o trabalhador como parte de uma classe não como exceção Nesse sentido Redol rompe com a tradição literária anterior centrada na individualização dos sujeitos e prioriza a construção de um discurso social no qual a terra aparece como espaço de exploração mas também de resistência O espaço narrativo é delimitado pela opressão jornadas exaustivas péssimas condições de habitação alimentação insuficiente e ausência total de direitos trabalhistas No entanto mesmo diante desse cenário emergem elementos de resistência seja na solidariedade entre os trabalhadores seja na recusa simbólica às condições impostas 24 Análise da Obra Terra Morta Colonialismo Violência e Resistência Em Terra Morta publicado em 1949 Castro Soromenho oferece uma das mais potentes representações da realidade colonial angolana A obra expõe a estrutura social profundamente desigual em que o poder econômico e político é monopolizado pelos colonizadores enquanto os povos africanos são relegados à condição de sujeitos subalternizados explorados e desumanizados O romance constrói um retrato multifacetado da sociedade colonial no qual o campesinato angolano surge como classe explorada submetida ao trabalho forçado à violência institucionalizada e à expropriação das terras ancestrais Como bem demonstra Fanon 1961 o colonialismo não se limita a dominar economicamente mas reorganiza todo o tecido social destruindo as referências culturais do colonizado e impondo uma visão de mundo europeia A terra em Terra Morta é tanto símbolo de pertencimento quanto de expropriação A narrativa revela como a retirada das terras dos nativos não é apenas um ato econômico mas também um ato de apagamento cultural e simbólico que transforma o campesinato angolano em estrangeiro dentro de seu próprio território Apesar da dureza das condições impostas a obra também evidencia as formas de resistência que se expressam tanto no plano material por meio de fugas sabotagens e pequenos atos de insurgência quanto no plano simbólico pela preservação de práticas culturais e pela manutenção dos laços comunitários 25 Análise Comparativa Convergências e Divergências Ao estabelecer um diálogo entre Gaibéus e Terra Morta observase que ambas as obras compartilham uma mesma matriz crítica a denúncia das condições de exploração que incidem sobre o campesinato Contudo as especificidades de cada contexto conferem particularidades à forma como a opressão é representada Em Gaibéus a opressão decorre das relações internas à sociedade portuguesa estruturada sobre o latifúndio a concentração de terras e a ausência de direitos trabalhistas O trabalhador é livre apenas formalmente uma vez que sua subsistência depende de contratos sazonais que o mantêm em condição de extrema vulnerabilidade Por sua vez Terra Morta amplia essa lógica ao inserir o fator colonial que agrega à exploração econômica uma dimensão racial e cultural O colonizado não é apenas explorado como força de trabalho ele é antes de tudo desumanizado privado de sua história de sua cultura e de sua subjetividade Ambas as narrativas convergem ao apresentar a terra como elemento central na dinâmica da opressão e da resistência Ela é simultaneamente espaço de trabalho de exploração de memória e de pertencimento A resistência por sua vez se manifesta tanto na solidariedade coletiva quanto na preservação da dignidade ainda que sob condições extremas de violência e precariedade A análise comparativa das obras Gaibéus de Alves Redol e Terra Morta de Castro Soromenho permite compreender de forma contundente como a literatura se constitui como instrumento de denúncia social resistência e reflexão sobre as estruturas de opressão que atravessam distintos contextos históricos culturais e geográficos Ambas as narrativas cada qual inserida em sua realidade Portugal sob o regime salazarista e Angola sob o domínio colonial português expõem de forma crítica e sensível as condições de vida do campesinato grupo social historicamente marcado pela exploração pela marginalização e pela invisibilidade social Ao longo desta análise tornouse evidente que apesar das especificidades contextuais que distinguem os trabalhadores rurais portugueses dos camponeses angolanos ambos partilham uma condição estrutural de subalternização No caso de Gaibéus a opressão está ancorada no modelo agrário português baseado na concentração fundiária na precarização do trabalho rural e na perpetuação de relações quase servilistas ainda que travestidas sob a formalidade do trabalho livre Já em Terra Morta a exploração adquire contornos ainda mais violentos uma vez que se articula diretamente com as dinâmicas do colonialismo que não apenas expropria economicamente mas também destrói identidades culturais e impõe uma lógica de dominação racial e civilizatória Ambas as obras reforçam de maneira inequívoca a centralidade da terra como elemento simbólico e material A terra aparece como espaço de disputa de sofrimento e paradoxalmente de resistência É ela que alimenta que sustenta que define a relação dos sujeitos com sua própria existência mas é também dela que eles são constantemente destituídos seja pela lógica latifundiária em Portugal seja pela colonialidade em Angola A literatura nesse sentido cumpre um papel social de extrema relevância na medida em que dá voz a sujeitos historicamente silenciados Ao retratar a vida dos trabalhadores rurais Alves Redol e Castro Soromenho não apenas registram um tempo histórico mas também denunciam as estruturas que sustentam a desigualdade social Além disso ambos os autores operam um deslocamento do olhar obrigam o leitor muitas vezes pertencente aos estratos sociais privilegiados a confrontar as realidades que sustentam sua própria posição na hierarquia social O aporte teórico de Frantz Fanon foi fundamental para aprofundar a compreensão da lógica colonial retratada em Terra Morta especialmente no que diz respeito à violência estrutural simbólica e material que constitui o colonialismo Da mesma forma as reflexões de Karl Marx sobre trabalho e alienação foram essenciais para decifrar as dinâmicas econômicas que atravessam ambas as obras evidenciando que a exploração do trabalho não é um acidente histórico mas um elemento constitutivo das sociedades capitalistas e coloniais A análise também permitiu compreender que a resistência embora muitas vezes silenciosa e cotidiana está presente nas duas obras Ela se manifesta na solidariedade entre os trabalhadores na preservação dos vínculos culturais na recusa simbólica à desumanização e sobretudo na capacidade de manter a dignidade mesmo sob condições extremas de opressão Por fim esta investigação reafirma a potência da literatura como espaço de memória de denúncia e de resistência Ler Gaibéus e Terra Morta hoje é portanto um exercício não apenas de compreensão histórica mas também de reflexão crítica sobre as permanências e transformações das desigualdades sociais das estruturas de exploração do trabalho e das violências que embora ressignificadas continuam a atravessar sociedades contemporâneas Assim os textos literários analisados não pertencem apenas ao passado mas dialogam com o presente convocandonos a pensar sobre as diversas formas de colonialidade de opressão e também de resistência que ainda marcam o mundo atual Referências bibliográficas FANON Frantz Os condenados da terra Tradução de Sérgio Ferreira Lisboa Ulisseia 1965 LIMA Márcia Elizabeti Machado de Gaibéus de Alves Redol o engajamento forjado pela beleza da linguagem poética Revista Athena v 8 n 1 p 92105 2015 Disponível em httpswwwrevistasunematbrindexphpathena Acesso em 10 jun 2025 MARX Karl O capital crítica da economia política Livro I Tradução de Regis Barbosa e Flávio R Kothe São Paulo Boitempo 2017 REDOL Alves Gaibéus Lisboa Edições Cosmos 1939 SANTOS Lisiane Pinto dos Relações de trabalho em Terras do Sem Fim Gaibéus e Terra Morta universos que se tocam 2008 247 f Tese Doutorado em Letras Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 SOROMENHO Castro Terra morta Lisboa Edições EuropaAmérica 1949

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de um parágrafo adicional explicativo d Se o texto faz evidente e incontornável diálogo com acontecimento histórico universo cultural pouco conhecido ou outro texto literário ou não essas referências precisam ser acessadas para a compreensão do que é lido e Escolha um recorte para sua dissertação Lembrese de que há um limite de páginas e você não precisa nem pode falar de todos os aspectos do texto literário Faça uma opção de abordagem adequada para a extensão de texto permitida f Nesta etapa do curso não será cobrada originalidade de sua ideia de investigação Mas procure não imitar ou copiar artigos dissertações e teses que estão online Você pode fazer uma pesquisa prévia para saber o que já foi desenvolvido em relação ao texto escolhido para análise e incluíla na sua dissertação mas não se esqueça de que plágio é crime e é terminantemente proibido Se a ideia não for sua cite o autor Se o texto não for seu cite o autor Estrutura possível para o trabalho O texto dissertativoargumentativo poderá ser dividido da seguinte forma a introdução b desenvolvimento apresentação de dados articulação dos dados argumentação e respostas a possíveis objeções digressão argumentativa c e conclusão considerações finais sobre a proposta de análise e sobre o valor da obra Você não precisa necessariamente nomear cada parte do trabalho dessa forma mas considere essa lógica na redação final do que será apresentado Adiante segue uma tabela baseada nessa estrutura com breves indicações acerca de cada item considerado Por fim lembrese de formatar seu trabalho adequadamente e indicar as referências conforme a ABNTNBR 60232018 CONTEÚDO FORMATO E INTECIONALIDADE DICAS OBRIGATÓRIO PARÁGRAFOS Introdução Aspectos introdutórios do texto Deve possibilitar que o leitor acesse as fontes Última parte a escrever Sim 2 a 3 Dados da obra escolhida Autor obra ou parte da obra e informações contextuais gerais também tradutor edição ano de lançamento movimento repercussão Sim 1 Tema escolhido com recorte proposto e ideia a ser defendida Recorte o mais específico possível reduzindo variáveis apenas o que será desenvolvido no trabalho eliminar ideias que não são aproveitadas depois Sim ½ ou 1 Corrente teórica utilizada Apresentar o referencial teórico sem detalhamento Citar ramificação da corrente teórica se relevante Sim ½ ou 1 Desenvolvimento Construção da argumentação Deve tentar convencer o leitor da viabilidade da interpretação apresentada Primeira parte a escrever e parte mais importante Deve ser reescrita e revisada Sim De 9 a 17 Paráfrase curta Argumento narrativo ou estrutura de sentido do texto Recontar o texto de outra maneira respeitando sua lógica interna Sim 1 Contexto histórico Breve contextualização do cenário narrativo e da obra em si Articular com o mérito histórico do texto sem biografismo Sim 1 ou 2 Elementos teóricos da corrente escolhida Explicação sucinta dos princípios teóricos a partir de determinados autores Retomada da apresentação da corrente escolhida focando agora nos autores a serem utilizados e sua vinculação a essa corrente Sim 1 ou 2 Desenvolvimento de elementos teóricos Explicação mais ampla dos parâmetros selecionados para análise Selecionar só os parâmetros efetivamente aplicados Articular com o item anterior Sim 1 ou 2 Análise de trechos Seleção de trechos literários importantes e aplicação dos elementos teóricos Observar normas científicas de citação e referência Não citar trechos sem comentários e articulálos ao argumento Evidenciar o que se quer ao citar um trecho Mostrar as relações entre o trecho citado e o princípio de análise aplicado Sim 4 ou 5 Articulação dos argumentos A partir das afirmações produzidas sobre o texto produção de ideias que apoiam o argumento central Juntar as evidências conquistadas para fortalecer a interpretação global Sim 1 ou 2 Resposta a objeções Contraargumentos a ideias contrárias possíveis ou já redigidas Citar a ideia antagônica com respeito utilizando as normas científicas Não 1 Digressão Assunto desenvolvido a partir de outro mencionado no texto Utilizar apenas em caso de relevância para o espírito do argumento Deve ser ilustrativa e breve Não 1 Informações adicionais Esclarecimentos importantes para compreensão da leitura Condensar em notas de rodapé ou pequenos parágrafos apenas se imprescindíveis Não 1 Conclusão Síntese da argumentação produzida Deve trazer à memória recente do leitor de forma reduzida aquilo que já foi desenvolvido Ideal redigir junto com a introdução As propostas da introdução devem ser recuperadas na conclusão Sim 1 a 2 Argumentos recuperados Articulação do que já foi produzido com a ideia central do trabalho Aproveitar todas as reflexões construídas sem refazêlas analiticamente Sim 1 a 2 Considerações finais Apontamentos sobre a relevância do trabalho produzido o ganho teórico com a corrente utilizada a necessidade de outras pesquisas Ampliar as conclusões para relacionálas ao estado da pesquisa atual sobre o tema Não 1 TOTAL 12 a 22 1 Introdução A literatura enquanto expressão estética e social tem o poder de revelar as contradições históricas econômicas e culturais de uma sociedade funcionando como instrumento de denúncia e reflexão Partindo dessa perspectiva o presente trabalho tem como objetivo desenvolver uma análise comparativa das obras Gaibéus 1939 de Alves Redol e Terra Morta 1949 de Castro Soromenho com foco na representação das desigualdades sociais das relações de trabalho e das dinâmicas de exploração que incidem sobre as classes subalternas especialmente o campesinato nos contextos de Portugal sob o regime salazarista e de Angola sob domínio colonial português Ambas as obras apesar de situadas em espaços geográficos distintos e sob formas específicas de opressão o Estado Novo português e o sistema colonial convergem na construção de narrativas que evidenciam a marginalização dos trabalhadores rurais Tais sujeitos atravessados por processos históricos de subalternização carregam as marcas da exploração da resistência e da busca pela sobrevivência em meio a estruturas sociais profundamente excludentes e desiguais Em Gaibéus Alves Redol inaugura o neorrealismo português adotando uma estética que alia compromisso social e rigor literário A obra lança luz sobre a realidade dos trabalhadores rurais da região do Ribatejo revelando com detalhes as precárias condições de vida os vínculos de dependência com os grandes proprietários e a ausência de qualquer proteção social Mais do que uma simples narrativa Gaibéus assume a função de documento social tornandose uma voz que rompe com o silenciamento imposto à classe camponesa portuguesa Por sua vez Terra Morta de Castro Soromenho inserese na tradição do realismo colonial angolano abordando de maneira contundente as relações de dominação impostas pelo sistema colonial português A obra denuncia não apenas a exploração econômica mas também os mecanismos de violência simbólica cultural e física que sustentavam a colonização Os camponeses angolanos são retratados como sujeitos historicamente destituídos de direitos sujeitos a um modelo de produção que expropria suas terras sua cultura e sua autonomia A análise proposta parte do eixo temático que relaciona a terra o trabalho e a resistência como elementos estruturantes das duas obras O campesinato em ambos os romances emerge como coletivo social invisibilizado cujas trajetórias são atravessadas pela exploração pela opressão e simultaneamente pela força que advém da coletividade e da luta cotidiana pela dignidade Para a construção deste percurso analítico serão mobilizados os aportes teóricos presentes na obra Relações de trabalho em Terras do Sem Fim Gaibéus e Terra Morta Universos que se tocam de Lisiane Pinto dos Santos 2008 que oferece uma leitura comparativa sobre a representação do trabalho nas três literaturas brasileira portuguesa e angolana Somase ainda a perspectiva crítica de Frantz Fanon em Os condenados da terra 1961 cujas reflexões sobre colonialismo subalternidade e violência contribuem de forma decisiva para compreender os processos de desumanização retratados em Terra Morta Por fim será considerado o artigo de Márcia Elizabeti Machado de Lima 2015 que articula a dimensão estética e política do neorrealismo em Gaibéus destacando como a linguagem poética se converte em instrumento de denúncia e engajamento social Dessa forma este trabalho se propõe a demonstrar como a literatura ao representar as experiências do campesinato em contextos de opressão se torna uma ferramenta de resistência preservação da memória social e denúncia das estruturas que perpetuam a exclusão e a desigualdade O recorte analítico prioriza portanto as representações da terra como espaço de luta do trabalho como prática exaustiva e da resistência como potência dos sujeitos historicamente subalternizados 2 Desenvolvimento 2 1 Contextualização Histórica Social e Literária das Obras A produção literária especialmente aquela que surge como resposta às tensões sociais e econômicas não se desenvolve de forma dissociada do seu tempo histórico Tanto Gaibéus de Alves Redol quanto Terra Morta de Castro Soromenho são fruto de contextos profundamente marcados por estruturas de opressão e marginalização que delineiam as relações sociais em Portugal e Angola na primeira metade do século XX Em Portugal o Estado Novo regime autoritário instaurado por António de Oliveira Salazar consolidouse a partir de 1933 fundamentado no nacionalismo na repressão política na censura e na manutenção das desigualdades sociais especialmente no meio rural A concentração fundiária e o modelo agrário tradicionalista mantinham o campesinato em condições de trabalho precárias sem acesso a direitos básicos perpetuando dinâmicas de servidão moderna Nesse cenário o neorrealismo português surge como movimento literário e artístico que assume o compromisso ético e estético de denunciar as condições de vida das classes populares alinhandose a uma visão humanista e transformadora da literatura Por outro lado Terra Morta se insere no contexto do colonialismo português em Angola onde as relações de trabalho eram pautadas pela exploração extrema pela expropriação de terras e pela desumanização sistemática dos povos colonizados Segundo Fanon 1961 a lógica colonial não se limita à dominação econômica mas também opera na destruição das referências culturais na imposição de valores da metrópole e na violência física e simbólica Essa realidade é visceralmente representada por Castro Soromenho que embora pertencente à elite colonial rompe com a visão eurocêntrica ao retratar com contundência os efeitos do colonialismo sobre os sujeitos africanos Ambas as obras portanto não apenas refletem seus contextos sociopolíticos mas também se colocam como instrumentos de denúncia capazes de provocar reflexão e mobilizar o leitor para as questões da justiça social 22 Fundamentação Crítica Literatura Trabalho e Colonialismo A análise das relações de trabalho presentes em Gaibéus e Terra Morta não pode ser dissociada dos fundamentos teóricos que sustentam a compreensão das dinâmicas de exploração A partir da leitura de Karl Marx 1867 compreendese que o trabalho no modo de produção capitalista e nas formações sociais précapitalistas e coloniais configurase como elemento central na produção da riqueza e ao mesmo tempo como locus da alienação e da opressão Em Os Condenados da Terra Fanon 1961 amplia essa reflexão ao demonstrar que no espaço colonial a exploração econômica se articula de forma inseparável à opressão cultural e racial O colono não apenas explora a força de trabalho do colonizado mas também destrói suas estruturas simbólicas impondo um modelo de mundo que legitima sua própria dominação Complementarmente Lisiane Pinto dos Santos 2008 ao desenvolver uma análise comparativa entre Terras do Sem Fim Gaibéus e Terra Morta evidencia que apesar das diferenças geográficas e culturais a lógica da exploração do trabalho mantém traços estruturantes comuns precarização exclusão e reprodução das desigualdades sociais Assim o campo teórico que sustenta este trabalho permite compreender a literatura como espaço de resistência em que os sujeitos subalternizados são não apenas representados mas também convocados à cena social enquanto agentes históricos 23 Análise da Obra Gaibéus A Realidade dos Trabalhadores no Ribatejo Publicado em 1939 Gaibéus inaugura o ciclo neorrealista na literatura portuguesa A obra narra a vida dos trabalhadores rurais que se deslocam sazonalmente para as lezírias do Ribatejo onde são contratados para a ceifa do arroz em condições degradantes O termo gaibéus designa justamente esses trabalhadores temporários que vivem sob a ameaça constante da fome da doença e da violência simbólica imposta pelos grandes latifundiários O romance constrói por meio de uma linguagem profundamente poética uma denúncia contundente sobre as condições de vida do campesinato português Como observa Lima 2015 o texto de Redol não sacrifica a beleza estética mas a coloca a serviço do engajamento social conferindo dignidade aos sujeitos que retrata Os personagens são coletivizados não há foco em trajetórias individuais o que evidencia uma estratégia estética que busca representar o trabalhador como parte de uma classe não como exceção Nesse sentido Redol rompe com a tradição literária anterior centrada na individualização dos sujeitos e prioriza a construção de um discurso social no qual a terra aparece como espaço de exploração mas também de resistência O espaço narrativo é delimitado pela opressão jornadas exaustivas péssimas condições de habitação alimentação insuficiente e ausência total de direitos trabalhistas No entanto mesmo diante desse cenário emergem elementos de resistência seja na solidariedade entre os trabalhadores seja na recusa simbólica às condições impostas 24 Análise da Obra Terra Morta Colonialismo Violência e Resistência Em Terra Morta publicado em 1949 Castro Soromenho oferece uma das mais potentes representações da realidade colonial angolana A obra expõe a estrutura social profundamente desigual em que o poder econômico e político é monopolizado pelos colonizadores enquanto os povos africanos são relegados à condição de sujeitos subalternizados explorados e desumanizados O romance constrói um retrato multifacetado da sociedade colonial no qual o campesinato angolano surge como classe explorada submetida ao trabalho forçado à violência institucionalizada e à expropriação das terras ancestrais Como bem demonstra Fanon 1961 o colonialismo não se limita a dominar economicamente mas reorganiza todo o tecido social destruindo as referências culturais do colonizado e impondo uma visão de mundo europeia A terra em Terra Morta é tanto símbolo de pertencimento quanto de expropriação A narrativa revela como a retirada das terras dos nativos não é apenas um ato econômico mas também um ato de apagamento cultural e simbólico que transforma o campesinato angolano em estrangeiro dentro de seu próprio território Apesar da dureza das condições impostas a obra também evidencia as formas de resistência que se expressam tanto no plano material por meio de fugas sabotagens e pequenos atos de insurgência quanto no plano simbólico pela preservação de práticas culturais e pela manutenção dos laços comunitários 25 Análise Comparativa Convergências e Divergências Ao estabelecer um diálogo entre Gaibéus e Terra Morta observase que ambas as obras compartilham uma mesma matriz crítica a denúncia das condições de exploração que incidem sobre o campesinato Contudo as especificidades de cada contexto conferem particularidades à forma como a opressão é representada Em Gaibéus a opressão decorre das relações internas à sociedade portuguesa estruturada sobre o latifúndio a concentração de terras e a ausência de direitos trabalhistas O trabalhador é livre apenas formalmente uma vez que sua subsistência depende de contratos sazonais que o mantêm em condição de extrema vulnerabilidade Por sua vez Terra Morta amplia essa lógica ao inserir o fator colonial que agrega à exploração econômica uma dimensão racial e cultural O colonizado não é apenas explorado como força de trabalho ele é antes de tudo desumanizado privado de sua história de sua cultura e de sua subjetividade Ambas as narrativas convergem ao apresentar a terra como elemento central na dinâmica da opressão e da resistência Ela é simultaneamente espaço de trabalho de exploração de memória e de pertencimento A resistência por sua vez se manifesta tanto na solidariedade coletiva quanto na preservação da dignidade ainda que sob condições extremas de violência e precariedade A análise comparativa das obras Gaibéus de Alves Redol e Terra Morta de Castro Soromenho permite compreender de forma contundente como a literatura se constitui como instrumento de denúncia social resistência e reflexão sobre as estruturas de opressão que atravessam distintos contextos históricos culturais e geográficos Ambas as narrativas cada qual inserida em sua realidade Portugal sob o regime salazarista e Angola sob o domínio colonial português expõem de forma crítica e sensível as condições de vida do campesinato grupo social historicamente marcado pela exploração pela marginalização e pela invisibilidade social Ao longo desta análise tornouse evidente que apesar das especificidades contextuais que distinguem os trabalhadores rurais portugueses dos camponeses angolanos ambos partilham uma condição estrutural de subalternização No caso de Gaibéus a opressão está ancorada no modelo agrário português baseado na concentração fundiária na precarização do trabalho rural e na perpetuação de relações quase servilistas ainda que travestidas sob a formalidade do trabalho livre Já em Terra Morta a exploração adquire contornos ainda mais violentos uma vez que se articula diretamente com as dinâmicas do colonialismo que não apenas expropria economicamente mas também destrói identidades culturais e impõe uma lógica de dominação racial e civilizatória Ambas as obras reforçam de maneira inequívoca a centralidade da terra como elemento simbólico e material A terra aparece como espaço de disputa de sofrimento e paradoxalmente de resistência É ela que alimenta que sustenta que define a relação dos sujeitos com sua própria existência mas é também dela que eles são constantemente destituídos seja pela lógica latifundiária em Portugal seja pela colonialidade em Angola A literatura nesse sentido cumpre um papel social de extrema relevância na medida em que dá voz a sujeitos historicamente silenciados Ao retratar a vida dos trabalhadores rurais Alves Redol e Castro Soromenho não apenas registram um tempo histórico mas também denunciam as estruturas que sustentam a desigualdade social Além disso ambos os autores operam um deslocamento do olhar obrigam o leitor muitas vezes pertencente aos estratos sociais privilegiados a confrontar as realidades que sustentam sua própria posição na hierarquia social O aporte teórico de Frantz Fanon foi fundamental para aprofundar a compreensão da lógica colonial retratada em Terra Morta especialmente no que diz respeito à violência estrutural simbólica e material que constitui o colonialismo Da mesma forma as reflexões de Karl Marx sobre trabalho e alienação foram essenciais para decifrar as dinâmicas econômicas que atravessam ambas as obras evidenciando que a exploração do trabalho não é um acidente histórico mas um elemento constitutivo das sociedades capitalistas e coloniais A análise também permitiu compreender que a resistência embora muitas vezes silenciosa e cotidiana está presente nas duas obras Ela se manifesta na solidariedade entre os trabalhadores na preservação dos vínculos culturais na recusa simbólica à desumanização e sobretudo na capacidade de manter a dignidade mesmo sob condições extremas de opressão Por fim esta investigação reafirma a potência da literatura como espaço de memória de denúncia e de resistência Ler Gaibéus e Terra Morta hoje é portanto um exercício não apenas de compreensão histórica mas também de reflexão crítica sobre as permanências e transformações das desigualdades sociais das estruturas de exploração do trabalho e das violências que embora ressignificadas continuam a atravessar sociedades contemporâneas Assim os textos literários analisados não pertencem apenas ao passado mas dialogam com o presente convocandonos a pensar sobre as diversas formas de colonialidade de opressão e também de resistência que ainda marcam o mundo atual Referências bibliográficas FANON Frantz Os condenados da terra Tradução de Sérgio Ferreira Lisboa Ulisseia 1965 LIMA Márcia Elizabeti Machado de Gaibéus de Alves Redol o engajamento forjado pela beleza da linguagem poética Revista Athena v 8 n 1 p 92105 2015 Disponível em httpswwwrevistasunematbrindexphpathena Acesso em 10 jun 2025 MARX Karl O capital crítica da economia política Livro I Tradução de Regis Barbosa e Flávio R Kothe São Paulo Boitempo 2017 REDOL Alves Gaibéus Lisboa Edições Cosmos 1939 SANTOS Lisiane Pinto dos Relações de trabalho em Terras do Sem Fim Gaibéus e Terra Morta universos que se tocam 2008 247 f Tese Doutorado em Letras Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2008 SOROMENHO Castro Terra morta Lisboa Edições EuropaAmérica 1949

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