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Psicologia ·
Metodologia da Pesquisa
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Maria da Glória Bordini Vera Teixeira de Aguiar LITERATURA A FORMAÇÃO DO LEITOR ALTERNATIVAS METODOLÓGICAS MERCADO ABERTO Capa Leonardo Menna Barreto Gomes Composição Jorge Cortezi Revisão Rosane Gava Supervisão Sissa Jacoby Editor Roque Jacoby Copyright de Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini 1988 Impressão Gráfica Editora Pallotti A2821 Aguiar Vera Teixeira de Literatura a formação do leitor alternativas metodológicas Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini Porto Alegre Mercado Aberto 1988 176 p Série Novas Perspectivas 27 1 Análise Literatura Ensino de 1º e 2º Grau 2 Literatura Análise Ensino de 1º e 2º Grau 3 Ensino de 1º e 2º Grau Análise Literatura I Bordini Maria da Glória II Série Novas Perspectivas 27 III Título CDU 3733500182 8237335001 O Bibliotecária responsável Rosemarie Bianchessi dos Santos CRB10797 Todos os direitos reservados a Editora Mercado Aberto Ltda Rua Santo Antonio 282 fone 0512 218595 21 8601 Cx Postal 1432 90220 Porto Alegre RS São Paulo Rua Cardeal Arcoverde 2934 Bairro Pinheiros Fone 011 814 8916 814 9997 05408 São Paulo SP ISBN 8528000605 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 5 1 FORMAÇÃO DO LEITOR 9 11 Fundação social da leitura 9 12 Leitura e não leitura numa sociedade desigual 10 13 Leitura da literatura 13 14 Papel da escola na formação literária 15 2 INTERESSES DE LEITURA E SELEÇÃO DE TEXTOS 21 Determinação dos interesses literários e prazer do texto 18 22 Escolha dos textos 28 3 NECESSIDADE DE METODOLOGIA 32 31 Ensino tradicional de literatura a prática e os currículos 32 32 Necessidade da metodologia de abordagem textual 36 4 MÉTODO CIENTÍFICO 44 41 Fundamentação teórica 44 42 Objetivos e critérios de avaliação 47 43 Etapas de desenvolvimento técnicas 49 44 Exemplos de unidades de ensino 52 441 Currículo por atividades 52 442 Currículo por áreas 55 443 Currículo por disciplinas 58 5 MÉTODO CRIATIVO 62 51 Fundamentação teórica 62 52 Objetivos e critérios de avaliação 65 53 Etapas de desenvolvimento técnicas 67 54 Exemplos de unidades de ensino 72 541 Currículo por atividades 72 542 Currículo por áreas 75 543 Currículo por disciplinas 78 6 MÉTODO RECEPCIONAL 81 61 Fundamentação teórica 81 62 Objetivos e critérios de avaliação 85 63 Etapas de desenvolvimento técnicas 86 64 Exemplos de unidades de ensino 91 641 Currículo por atividades 91 642 Currículo por áreas 96 643 Currículo por disciplinas 99 7 MÉTODO COMUNICACIONAL 103 71 Fundamentação teórica 103 72 Objetivos e critérios de avaliação 107 73 Etapas de desenvolvimento técnicas 108 74 Exemplos de unidades de ensino 118 741 Currículo por atividades 118 742 Currículo por áreas 121 743 Currículo por disciplinas 126 8 MÉTODO SEMIOLÓGICO 132 81 Fundamentação teórica 132 82 Objetivos e critérios de avaliação 136 83 Etapas de desenvolvimento técnicas 137 84 Exemplos de unidades de ensino 142 841 Currículo por atividades 142 842 Currículo por áreas 145 843 Currículo por disciplinas 148 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 152 BIBLIOGRAFIA 156 APÊNDICE Obras recomendadas para trabalho escolar 159 Currículo por atividades 159 Currículo por áreas 165 Currículo por disciplinas 170 APRESENTAÇÃO Este livro é resultado de um trabalho de pesquisa das condições e problemas do ensino de literatura no Rio Grande do Sul iniciado em 1983 pelo Centro de Pesquisas Literárias da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul CPLPUCRS Concebida de modo a dar conta da realidade das salas de aula e ao mesmo tempo trazer destas as contribuições práticas que pudessem alicerçar a investigação universitária de alternativas metodológicas nessa área essa pesquisa se desenvolveu em dois planos paralelos De um lado entrevistou 240 alunos e 80 professores de escolas públicas e particulares de 1º e 2º graus de Porto Alegre RS sobre como se procedia o ensino de literatura em classe Desse levantamento que contou com o suporte financeiro principal do INEPMEC e com recursos parciais do Programa de Desenvolvimento de Metodologias Aplicáveis ao EnsinoAprendizagem para o Ensino Superior da SDESES u MEC produziuse um relatório intitulado Diagnóstico da situação do ensino de literatura no 10º e 2º graus em escolas de Porto Alegre RS apresentado ao INEPMEC em 1985 As conclusões básicas dessa enquete constatavam um desinteresse crescente pela literatura entre os alunos conforme avançasse o grau de escolaridade e um considerável despreparo entre os professores quanto à abordagem da obra literária nos vários currículos escolares De outro lado no mesmo ano com o apoio financeiro do Programa de Integração UniversidadeEscola de 1º Grau da SDESES U MEC encetouse outra pesquisa de caráter teóricoprático com uma equipe de professores de 1º e 2º graus que buscou a partir das situações problemáticas gradativamente manifestadas no diagnóstico elaborar algumas propostas que apresentassem alternativas para o ensino básico Fundamentada na prática efetiva dos pesquisadores em sala de aula e no estudo das teorias da linguagem e da literatura realizado como parte das tarefas de pósgraduação dessa equipe tal pesquisa chamouse Metodologias alternativas para o ensino de literatura no 1o grau e abrangiu duas etapas a criativa e a experimental À proporção que a pesquisadiagnóstico se completou tornouse possível levar em conta nas propostas em elaboração os dados sobre os setores deficitários da atuação docente e sobre preferências e comporta metodológicas em teste revelaram que 294 sujeitos passaram a se interes Noronha Elisa Averbuh Tesseler May Maria Celeste Arruda Nezia Hele permitem leituras significativas o fato é que as classes dominantes dão enfase ao livro como veículo do saber que lhes convém Nesse sentido é importante que as classes menos favorecidas tenham acesso à cultura letrada sob pena de se manterem as diferenças sociais Isso quer dizer que ao se valorizar todas as expressões culturais dominadas não se está pretendendo limitar as classes populares ao conhecimento já adquirido no grupo O que se propõe é abrirlhes o leque de opções de modo a atuar efetivamente na vida social e não apenas como massa de manobra uma vez que elas passam a ser capazes de jogar com as mesmas armas Decorre daí a necessidade nas sociedades democráticas da implementação da alfabetização por ser este o instrumento de apropriação da cultura dominante É sintomático que exatamente nessa tarefa a nossa escola tenha se mostrado tão ineficaz deixando transparecer mesmo a contragosto seu caráter de aparelho ideológico do Estado burguês Tanto a ausência de escolaridade quanto a evasão precoce que hoje ainda se observam a níveis preocupantes se devem ao modo de ser do sistema de organização escolar programado para atender apenas as necessidades das classes media e alta Vejamse itens como horário períodos de férias exigência de assiduidade uniforme material didático etc que ficam aquém das possibilidades das camadas proletárias ou campesinas Para Michael Apple todos esses itens dizem respeito ao currículo oculto que juntamente com o currículo expresso constituemse no modo como instituições de preservação e distribuição cultural como as escolas produzem e reproduzem formas de consciência que permitem a manutenção do controle social sem que os grupos dominantes tenham de recorrer a mecanismos declarados de dominação 198212 Acrescentese ao quadro exposto o fato de que os valores defendidos por essa escola através de seus administradores e professores oriundos da classe média pouco concernem às classes baixas que não se vêem nela representadas seja nos conteúdos curriculares seja na estrutura funcional Da colisão dos valores do corpo docente que apontam para a ascensão social com os do corpo discente que se limitam à necessidade de sobrevivência decorrem os problemas crônicos de disciplina as dificuldades de aproveitamento e o conseqüente afastamento do aluno da escola O analfabeto o não leitor entendido como aquele que aprendeu a ler e deixa de fazêlo e o leitor deficiente cujo nível de compreensão é precário são subprodutos desse modelo escolar Os estímulos que o processo de ensino a eles oferece em relação às classes trabalhadoras pecam pela falta de identidade cultural Os textos dos livros didáticos e outros livros nada têm a ver com as suas aspirações suas necessidades e interesses imediatos e com sua realidade Dessa perspectiva terseia que circunscrever os problemas de leitura a um segmento determinado da sociedade No entanto sabese que esses fenômenos ocorrem também em outros escalões sociais com a mesma intensidade As causas porém são diversas Não se trata de cisão entre textos e valores representados ou entre escola e projetos culturais Nesse caso a desvalorização da leitura se relaciona ao fato de que talvez esta como atividade intelectual não proporcione acumulação de capital Essa situação se vincula à própria constituição do regime capitalista que marginaliza o intelectual único agente que não gera lucro com os objetos que produz O trabalho intelectual só é reconhecido quando reforça os aparatos de dominação daqueles que detêm o capital Mesmo nos casos em que as obras contestam o sistema pode suceder que este as transforme em mercadorias anulando seu efeito Por isso o leitor de classes elevadas mesmo imbuído da importância da leitura nos bancos escolares acaba por abandonála gradativamente à medida que em sua vida cotidiana voltase para atividades que promovem ganhos Numa sociedade desigual os problemas de leitura se diversificam conforme as características de classe As soluções possíveis se orientam para o pluralismo cultural ou seja a oferta de textos vários que deem conta das diferentes representações sociais Se as classes trabalhadoras também tiverem acesso à alfabetização serão elas não apenas consumidoras passivas mas produtoras de novos textos que se acrescentarão aos que circulam na sociedade e atenderão a seus interesses De qualquer modo todos os segmentos sociais a despeito de suas divergências internas podem ser mobilizados para a leitura quando encontram nas obras o momento catártico que identifica o leitor com o conteúdo expresso Uma das necessidades fundamentais do homem é dar sentido ao mundo e a si mesmo e o livro seja informativo ou ficcional permanece como veículo primordial para esse diálogo igualmente universal através porém de uma reprodução esmerada do concreto e particular Merquior 197278 A linguagem literária extrai dos processos históricopolíticosociais nela representados uma visão típica da existência humana O que importa não é apenas o fato sobre o qual se escreve mas as formas de o homem pensar e sentir esse fato que o identificam com outros homens de tempos e lugares diversos A obra literária pode ser entendida como uma tomada de consciência do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor Assim não é um mero reflexo na mente que se traduz em palavras mas o resultado de uma interação ao mesmo tempo receptiva e criadora Essa interação se processa através da mediação da linguagem verbal escrita ou falada O texto produzido graças a essa natureza verbal permite o estabelecimento de trocas comunicativas dentro dos grupos sociais pondo em circulação esse sentido humano A literatura como uma das formas de comunicação participa assim do âmbito maior da cultura ou seja da produção significante relacionandose com outros objetos culturais Entretanto possui características que a diferenciam desses A mais evidente é o uso não utilitário da linguagem No circuito de comunicação o texto literário não se refere diretamente ao contexto não precisa apontar para o objeto real de que ele é signo possuindo portanto uma autonomia de significação Por exemplo uma história infantil ou um romance criam suas próprias regras comunicativas estabelecendo um pacto entre autor e leitor em que a presença do contexto é dispensável Ao ler o texto o leitor entra nesse jogo pondo de lado a sua realidade momentânea e passa a viver imaginativamente todas as vicissitudes das personagens da ficção Dessa forma aceita o mundo criado como um mundo possível para si Essa capacidade do texto literário de independer de referentes reais de forma direta devese à coerência interna dos elementos de que se compõe de modo a tornar autosuficiente o todo assim estruturado A obra se efetiva muito mais pela composição de seus elementos estruturais do que pela relação denotativa com o contexto Esse traço justifica a descoberta da significação mesmo em obras que explicitamente rompem com a realidade concreta e histórica como as de ficção científica de horror e de realismo mágico A estrutura da obra literária decorre das linhas de força estabelecidas entre seus componentes e funções Essa estrutura porém não é um todo uniforme uma vez que nela se alteram continuidades e descontinuidades determinadas pelo próprio limite das frases e períodos linguísticos Constróise na obra literária um mundo possível no qual os objetos e processos nem sempre aparecem totalmente delineados Esse mundo portanto envolve lacunas que são automaticamente preenchidas pelo leitor de acordo com sua experiência Isso explica por que se pode representar toda uma vida numa novela de cem páginas sem que se perca a ilusão de realidade dos eventos narrados A obra apresenta uma série de indicações em potência que o sujeito atualiza no ato da leitura Em contraposição o texto não literário contém indicadores muito mais rígidos e presos ao contexto de comunicação não deixando margem à livre movimentação do leitor A informação que oferece é imediata e restritiva valendo apenas para uma situação definida Por isso podese dizer que o texto literário é plurissignificativo permitindo leituras diversas justamente por seus aspectos em aberto A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor o que não ocorre em outros textos Daí provém o próprio prazer da leitura uma vez que ela mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor sem obrigálo a manterse nas amarras do cotidiano Paradoxalmente por apresentar um mundo esquemático e pouco determinado a obra literária acaba por fornecer ao leitor um universo muito mais carregado de informações porque o leva a participar ativamente da construção dessas com isso forçandoo a reexaminar a sua própria visão da realidade concreta A atividade do leitor de literatura se exprime pela reconstrução a partir da linguagem de todo o universo simbólico que as palavras encerram e pela concretização desse universo com base nas vivências pessoais do sujeito A literatura desse modo se torna uma reserva de vida paralela onde o leitor encontra o que não pode ou não sabe experimentar na realidade É por essa característica que tem sido acusada ao longo dos tempos de alienante escapista e corruptora mas é também graças a ela que a obra literária captura o seu leitor e o prende a si mesmo por ampliar suas fronteiras existenciais sem oferecer os riscos da aventura real Noronha Elisa Averbuh Tesseler May Maria Celeste Arruda Nezia Hele Para aprender a ler o texto verbal escrito não basta conhecer as letras que assinalam os fonemas nem adianta saber que os fonemas só fazem sentido quando reunidos em palavras ou frases Não é suficiente também descobrir ou compreender as regras do código chamado gramatical que juntam fonemas em palavras ou palavra em frases Essas habilidades são apenas operações de base para a leitura e na vida prática são dominadas por processos mentais de associação e memória a partir da motivação do indivíduo ágrafo quando ingressa na escola em busca do domínio da escrita A leitura pressupõe a participação ativa do leitor na constituição dos sentidos lingüísticos Embora as palavras sejam explicadas no dicionário nunca exprimem um único significado quando integram uma frase de um texto determinado A tarefa de leitura consiste em escolher o significado mais apropriado para as palavras num conjunto limitado Vilém Flusser pesquisando a etimologia do verbo ler observa que vêm do latim legere que significa o gesto de catar picar grãos como galinhas o executam O que por certo impõe a questão do critério que rege tal escolha de grãos amontoado De modo que ler significa escolha aleatória de elementos tirados um por um do seu contexto os elementos do tipo letra ou cifra não passam de casos específicos do ato genérico de leitura 198527 A seleção dos significados se opera por força de um contexto que os justifica Esse contexto é o da experiência humana que confere valor a um sinal que em princípio é vazio e só passa a portar significado por um ato de convenção eminentemente social Convencionase que algo é significante quando corresponde a um valor previamente estabelecido O conjunto de valores convencionados é chamado cultura e por isso mesmo perfeitamente legível porque criado pelos homens A formação escolar do leitor passa pelo crivo da cultura em que este se enquadra Se a escola não efetua o vínculo entre a cultura em que ou de classe e o texto a ser lido o aluno não se reconhece na obra porque a realidade representada não lhe diz respeito Mesmo diante de qualquer texto que a escola lhe proponha como meio de acesso a conhecimentos que ele não possui no seu ambiente cultural há a necessidade de que as informações textuais possam ser referidas a um background cujas raízes estejam nesse ambiente Portanto a preparação para o ato de ler não é apenas visualmotora mas requer uma contínua expansão das demarcações culturais da criança e do jovem Diante da leitura outra exigência se impõe em termos de aprendizagem Os sentidos não se esgotam no plano meramente conceitual A fruição plena do texto literário se dá na concretização estética das significações A medida que o sujeito lê uma obra literária vai construindo imagens que se interligam e se completam e também se modificam apoiado nas pistas verbais fornecidas pelo escritor e nos conteúdos de sua consciência não só intelectuais mas também emocionais e volitivos que sua experiência vital determinou A educação do leitor de literatura não pode ser em vista da polissemia que é própria do discurso literário impositiva e meramente formal Como os sentidos literários são múltiplos o ensino não pode destacar um conjunto deles como meta a ser alcançada pelos alunos Por outro lado informar a esses de técnicas ou períodos literários não resultará em alargamento dos limites culturais que orientam as práticas significativas deles senão num estágio bem mais adiantado de sua formação Antes de formalizar o estudo dos textos por essas vias é preciso vivenciar muitas obras para que estas venham a preencher os esquemas conceituais O 1º grau deve dar ênfase à constituição de um acervo de leituras o mais vasto possível exploradas em sua significação cultural contudo sem a preocupação de classificações a partir de qualquer critério Será no 2º grau que a sistematização teórica do conhecimento literário poderá ser introduzida desde que mesmo então seja fundada na leitura prévia de textos Para que a escola possa produzir um ensino eficaz da leitura da obra literária deve cumprir certos requisitos como dispor de uma biblioteca bem aparelhada na área da literatura com bibliotecários que promovam o livro literário professores leitores com boa fundamentação teórica e metodológica programas de ensino que valorizem a literatura e sobretudo uma interação democrática e simétrica entre aluno e professor Se isso não ocorrer valem as palavras de Ezequiel Theodoro da Silva os objetos de leitura principalmente o livro passam por um processo de obscurecimento intencional Mais especificamente as circunstâncias que deveriam promover o livro ou um tipo de livro o revelador tornamse cada vez mais drásticas fazendo com que o acesso fique cada vez mais difícil Ausentar o estímulo livro do mundo vivido pelas pessoas significa retirar a possibilidade delas executarem uma resposta ler o livro isto é movimentarem a consciência para o objeto 198363 2 INTERESSES DE LEITURA E SELEÇÃO DE TEXTOS 21 Determinação dos interesses literários e o prazer do texto Considerando a natureza da literatura podese afirmar que se o professor está comprometido com uma proposta transformadora da educação ele encontra no material literário o recurso mais favorável à consecução de seus objetivos Neste caso vale a pena investir na formação do leitor o que significa incentiválo ao hábito de modo a multiplicar a experiência literária O papel da escola é decisivo neste processo e as pesquisas têm mostrado que em toda a parte os estudantes são sem dúvida leitores mais assíduos mas uma vez terminados os estudos eles também se expõem ao perigo de se tornarem não leitores Barker Escarpit 1975122 Para que se assegure a continuidade do comportamento positivo em relação ao livro é preciso que o hábito não seja apenas como um padrão rotineiro de resposta automaticamente provocado e realizado A busca frequente da literatura precisa surgir de uma atitude consciente da disposição de enfrentar o desafio que o texto oferece como nova alternativa existencial O primeiro passo para a formação do hábito de leitura é a oferta de livros próximos à realidade do leitor que levantem questões significativas para ele A literatura brasileira e a literatura infantojuvenil nacionais vêm preencher estes quesitos ao fornecerem textos diante dos quais o aluno facilmente se situa pela linguagem pelo ambiente pelos caracteres dos personagens pelos problemas colocados A familiaridade do leitor com a obra gera predisposição para a leitura e o consequente desencadeamento do ato de ler A ampliação do conhecimento que daí decorre permitelhe com preender melhor o presente e seu papel como sujeito histórico O acesso aos mais variados textos informativos e literários proporciona assim a tessitura de um universo de informações sobre a humanidade e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os outros homens A socialização do indivíduo se faz para além dos contatos pessoais também através da leitura quando ele se defronta com produções significantes provenien tes de outros indivíduos por meio do código comum da linguagem es crita No diálogo que então se estabelece o sujeito obrigase a descobrir sentidos e tomar posições o que o abre para o outro 12 Leitura e não leitura numa sociedade desigual Uma sociedade de classes em que interesses divergentes se entre chocam com a predominância de alguns deles sobre os demais privi legia sobremaneira o texto escrito como objeto de leitura A escrita historicamente representa uma conquista sobre a memória instrumen to predominante nas sociedades ágrafas A acumulação do conhecimen to através da palavra escrita tem sido apropriada pelas classes que detêm o poder dentro de uma sociedade Como o documento escrito é mais eficiente para a fixação e conservação das idéias leva vantagem sobre a memória coletiva alijando das decisões do grupo aqueles que não são capazes de decifrálo de grupos Os interesses de leitura preenchem as necessidades do leitor através de enredos sensacionalistas histórias vividas por gangues personagens diabólicos histórias sentimentais 5ª fase Os anos de maturidade ou desenvolvimento da esfera literoestética de leitura 14 a 17 anos Descobrindo o mundo interior e o mundo dos valores o adolescente parte para a hierarquização dos conceitos e a organização de seu universo Aventuras de conteúdo intelectual viagens romances históricos e biográficos histórias de amor literatura engajada e temas relacionados com os interesses vocacionais vão ajudálo a orientarse e estruturarse como adulto O interesse pela leitura varia em qualidade de acordo com a escolaridade do aluno Neste sentido podese também delinear cinco níveis de leitura 1º Préleitura Durante a préescola e o período preparatório para a alfabetização a criança desenvolve capacidades e habilidades que a tornarão apta à aprendizagem da leitura a construção dos símbolos o desenvolvimento da linguagem oral e da percepção permite o estabelecimento de relações entre as imagens e as palavras Os interesses voltamse nesta fase para histórias curtas e rimas em livros com muitas gravuras e pouco texto escrito que permitem a descoberta do sentido muito mais através da linguagem visual que da verbal 2º Leitura compreensiva É o período correspondente ao momento da alfabetização 1ª e 2ª séries em que a criança começa a decifrar o código escrito e faz uma leitura silábica e de palavras A motivação para ler é muito grande e a escolha recai sobre textos semelhantes aos da etapa anterior agora decodificados pelo novo leitor 3º Leitura interpretativa Da 3ª à 5ª série o aluno evolui da simples compreensão imediata à interpretação das idéias do texto adquirindo fluência no ato de ler A aquisição de conceitos de espaço tempo e causa bem como o desenvolvimento das capacidades de classificar ordenar e enumerar dados permitem que o estudante se adentre mais nos textos e exija leituras mais complexas 4º Iniciação à leitura crítica Em torno da 6a e 7a séries o estudante atinge o estágio de desenvolvimento que Piaget denomina das operações intelectuais abstratas da formação da personalidade e da inserção afetiva e intelectual na sociedade dos adultos cf 1973624 A capacidade de discernimento do real e a maior experiência de leitura favorecem o exercício de habilidades críticas permitindo ao leitor não só interpretar os dados fornecidos pelo texto como também posicionarse diante deles iniciandose nos juízos de valor As preferências por livros de aventuras em que os problemas são resolvidos por grupos de jovens vêm preencher as necessidades do leitor de iniciarse no questionamento da realidade ampliando sua dimensão social 5º Leitura crítica É o período que abrange a 8a série e o 2º grau quando o aluno elabora seus juizos de valor e desenvolve a percepção dos conteúdos estéticos Sensível aos problemas sociais o jovem interrogase sobre suas possibilidades de atuação na comunidade adulta A busca da identidade individual e social e o maior exercício da leitura têm como dividendo uma postura crítica diante dos textos através da comparação de idéias da conclusão da tomada de posições Livros que abordam problemas sociais e psicológicos interessam ao aluno deste nível possibilitandolhe a reflexão e a opção por comportamentos que descobre como mais justos e mais autênticos Como a idade e a escolaridade o sexo também é fator determinante dos interesses de leitura Fatores biológicos e principalmente culturais determinam diferenças de comportamento entre os sexos Uma dessas diferenças diz respeito à atitude diante da leitura Os homens escolhem os temas mais arrojados aventuras viagens ficção científica enquanto as mulheres se voltam para as histórias de amor romances vida familiar crianças Tais tendências estão intimamente relacionadas aos fatores culturais Na verdade a sociedade cria estereótipos de comportamento para o homem e para a mulher e esses dirigem suas atitudes e interesses Portanto suas preferências literárias correspondem aos padrões sociais o sexo masculino envolvese em atividades agressivas de luta pelo sucesso e pela sobrevivência enquanto ao sexo feminino são atribuídas atitudes mais passivas voltadas para o trabalho doméstico a educação dos filhos e tarefas afins As preferências de leitura correspondem à necessidade de cada sexo cumprir o papel social que lhe é confiado Questionados sobre suas preferências literárias em pesquisa realizada em Porto Alegre RS os estudantes confirmam este perfil cf Aguiar 19793446 Os meninos revelam maior comprometimento com o real e atração por histórias que se passam em tempos e lugares distantes enquanto as meninas escolhem os elementos de fantasia próximos no tempo e no espaço Essas tendências revelam um melhor aparalhamento para se movimentar na sociedade e uma percepção mais ampla de mundo no sexo masculino restando ao sexo feminino reações escapistas dentro de um espaço limitado Os interesses variam ainda de acordo com o nível sócioeconômico do público leitor observandose o sucesso dos textos em que predominam os ingredientes mágicos entre os estudantes menos favorecidos e a busca de leitura engajada entre os privilegiados cf Aguiar 19794760 A leitura vem satisfazer em cada grupo um tipo de necessidade social para os primeiros supre carências e aponta para um mundo melhor para os últimos serve de instrumento de apropriação do real de forma a favorecer a adaptação social e a promoção Em pesquisa de interesses de leitura conduzida pelo Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS com dados colhidos em 1983 e analisados em 1984 cf Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1985 365383 abrangendo 330 alunos observase que em termos de comportamentos gerais no 1º grau em todas as séries os alunos dão preferência à música como forma de lazer Quando lêem escolhem livros salvo na 6a série que elege revistas e em casos de narrativas preferem as lineares Da 1ª à 7ª série os alunos demonstram gostar mais de histórias em quadrinhos do que de literatura sendo esta apenas citada na 8a série Na 1ª série o gênero literário preferido é o poema Os assuntos literários prediletos são os superheróis o humor e os contos de fadas O tempo narrativo de preferência é o presente e o espaço deve ser um local existente o Brasil e montanhas Quanto às personagens da narrativa preferem as jovens sendo que o tipo predileto é o herói seguido de fantasmas robôs e pessoas fadas e anões Em relação aos poemas as crianças preferem os que têm rimas e aliterações com estrofes curtas de teor narrativo e informativo com jogos de grafia e de sons Na 2ª série os alunos são indiferentes quanto ao gênero literário preferido Os assuntos literários mais procurados são superheróis e animais Preferem uma narrativa com muita ação situada no presente em espaço que exista na realidade dando relevo ao urbano A faixa etária das personagens é a infância sendo que os tipos de personagens preferidos são o estudante o herói robôs e pessoas grandes homens pessoas e animais monstros fantasmas e pessoas comuns Quanto aos poemas os alunos preferemnos com estrofes curtas e sem refrões Agradam particularmente os poemas de teor narrativo e informativo com jogos de sons idéias e jogos gráficos Na 3ª série os alunos se mostram indiferentes quanto ao gênero literário Os assuntos literários constantes são animais superheróis e aventuras Eles também manifestam indiferença quanto à ordenação composicional da narrativa e quanto ao tempo nela representado O espaço preferido é o Brasil Estes alunos apreciam personagens crianças e seus tipos favoritos são os heróis e as pessoas comuns Em relação à poesia não indicam preferência quanto à composição mas elegem como prediletos os poemas de teor informativo em que haja jogos de sons e de idéias Na 4ª série há indiferença quanto a gêneros literários e demonstrase apreciação dos seguintes assuntos literários aventuras animais horror ficção esportiva e superheróis Os alunos preferem uma narrativa situada no presente que se passe no Brasil no campo na cidade no espaço sideral no mar em terra nas montanhas na selva em locais variados pois mas existentes Eles não se importam com a faixa etária das personagens mas preferem heróis pessoas comuns animais pessoas e animais robôs e pessoas Quanto à poesia só demonstram preferir os poemas narrativos de teor informativo com jogos gráficos e de idéias Na 5ª série o gênero literário favorito é o poema Dáse preferência aos seguintes assuntos literários aventuras humor animais lendas espionagem horror policial e ficção esportiva Os alunos querem narrativas com muita ação que se passem no presente ou no passado remoto e no futuro O espaço representado pode ser a selva o mar o espaço sideral a cidade o deserto a montanha o Brasil a terra firme devendo ser existente e distante Não há preferência quanto à faixa etária das personagens mas os tipos favorecidos são as pessoas comuns pessoas e animais monstros fantasmas e vilões Quanto aos poemas apreciam ritmos e não demonstram predileção quanto à composição estrófica Leem poemas líricos e narrativos de teor informativo e reflexivo com jogos de idéias de sons e das formas gráficas Na 6ª série os alunos não se mostram particularmente interessados em um gênero literário em especial Os assuntos literários são o humor o horror o amor e as aventuras As narrativas podem acontecer no futuro ou então no presente ou no passado remoto O espaço pode ser o mar o campo o espaço sideral a terra firme a selva a cidade em locais variados portanto existentes mas distantes A faixa etária predileta quanto às personagens é a juventude dandose ênfase a pessoas comuns robôs e pessoas fantasmas e heróis Com relação aos poemas os elementos que chamam a atenção são a rima e os jogos das formas gráficas Preferem poesia lírica e narrativa com assuntos de teor emotivo informativo e por último reflexivo Os alunos de 7ª série são indiferentes quanto ao gênero literário que lêem Os assuntos literários que lhes interessam são aventuras humor e amor Eles preferem narrativas no futuro situadas em terra firme no mar no campo no estrangeiro no Brasil em locais variados existentes mas distantes Também gostam de personagens jovens mostrandose inclinados para tipos como pessoas comuns sábios e cientistas estudantes e grandes homens Em relação à poesia não destacam qualquer elemento sonoro mas preferem as estrofes sem refrões sendo assuntos prediletos os de teor informativo seguidos dos de caráter reflexivo e emotivo O gênero de eleição é o lírico Os alunos da 8ª série são indiferentes quanto a gêneros literários Os assuntos literários preferidos são ficção esportiva aventuras amor humor e policial Quanto ao tempo representado na narrativa pode ser o presente o futuro ou o passado remoto As preferências espaciais são por locais muito variados existentes antes distantes que próximos na seguinte ordem mar terra firme Brasil estrangeiro cidade campo selva montanha e espaço sideral Os alunos se mostram indiferentes quanto à faixa etária das personagens desde que sejam pessoas comuns estudantes sábios e cientistas ou grandes homens Com referência à poesia queremna lírica de ritmos fixos estrofes curtas e com jogos de sons Os assuntos poéticos podem ser de teor informativo ou emotivo e reflexivo Quanto aos alunos do 2º grau todas as séries preferem a música a qualquer outra atividade de lazer leem revistas e jornais mas não livros e quanto ao texto literário quando o lêem chegam a ele por iniciativa própria e dão prioridade à narrativa linear Na 1ª série o gênero literário é indiferente os assuntos prediletos são o policial a aventura o amor e a espionagem O tempo narrativo é o presente e o futuro e o espaço é a cidade locais distantes mas existentes variados o mar o estrangeiro o campo a terra firme a montanha e a selva Quanto às personagens a preferência é por pessoas comuns estudantes e grandes homens Com respeito aos poemas os jovens pedem textos líricos rimados de teor emotivo e depois informativo e reflexivo que joguem com ideias Na 2ª série os alunos não se pronunciam significativamente sobre gêneros literários de preferência Os assuntos literários mais populares são o humor o policial a ficção científica a ficção esportiva a ficção psicológica e a aventura O tempo narrativo é o presente e o passado e o espaço inclui locais variados existentes e distantes o estrangeiro o mar a terra e o Brasil Quanto às personagens da narrativa privilegiam as pessoas comuns e estudantes Com relação aos poemas lêem os líricos antes de teor reflexivo mas também os de cunho emotivo e informativo mas não indicam preferências quanto à composição Os alunos da 3ª série preferem como gênero o conto Os assuntos literários eleitos são o humor e a aventura a ficção científica o policial e a ficção esportiva O tempo narrativo é o presente e o espaço abrange locais existentes a terra a cidade a montanha o campo o estrangeiro Quanto às personagens da narrativa a escolha é por pessoas comuns estudantes e grandes homens Com referência aos poemas salientam a lírica sob forma rimada contendo jogos de idéias e com assuntos de teor emotivo informativo e reflexivo nesta ordem Todos esses dados configuram o tipo de público existente a partir do qual podese refletir sobre as práticas de leitura possíveis Convém lembrar porém que as pesquisas sobre interesses contribuem para a elaboração de um perfil de leitor em determinado contexto históricosocial Para tal fazse mister o registro do entrecruzamento das atitudes fundadas nos fatores citados acima e em tantos outros como por exemplo as experiências anteriores de leitura do sujeito Podese chegar então ao conhecimento dos códigos estéticos e ideológicos de que o mesmo se vale no ato de leitura A partir daí o professor vai sustentar seu trabalho em objetivos mais ambiciosos não apenas satisfazer os interesses imediatos do públieo oferecendolhe leituras repetitivas e redundantes que venham tão somente atender ao gosto mas aguçarlhe a curiosidade para textos que representam a realidade de forma cada vez mais abrangente e profunda Para oferecer ao aluno condições de ampliar seu universo cultural o professor de literatura conta com meios eficientes a natureza do material de leitura e a complexidade das formas de abordálo Partindo das preferências do leitor o trabalho deve orientarse de maneira dinâmica do próximo para o distante no tempo e no espaço Isto significa optar primeiramente por textos conhecidos de autores atuais familiares pela temática apresentada pelos personagens delineados pelos problemas levantados pelas soluções propostas pela forma como se estruturam pela linguagem de que se valem A seguir gradativamente vãose propondo novas obras menos conhecidas de autores contemporâneos eou do passado que introduzam inovações em alguns dos aspectos citados Estes procedimentos inusitados para o leitor rompem sua acomodação e exigem uma postura de aceitação ou descrédito fundada na reflexão crítica o que promove a expansão de suas vivências culturais e existenciais A ampliação do processo vai atingir além do material escolhido as atividades sugeridas Começando pelas mais simples e costumeiras que requerem comportamentos previsíveis buscamse alternativas de trabalho mais exigentes em que o estudante participe do planejamento e de todas as etapas de consecução O estudo de literatura transformase em um pacto entre professor e aluno em que ambos dividem responsabilidades e méritos Dessa forma as estratégias de ensino adotadas não cobrem simplesmente os interesses do estudante que via de regra funciona como elemento passivo recebendo materiais prontos e ordens a serem obedecidas Instigado à ação ele se compromete com o projeto de ensino de literatura exigindo maiores oportunidades de se firmar como sujeito participante de seu grupo Este alinhamento do aluno em toda a dinâmica do processo literário concretizase na medida do prazer que o trabalho provoca As atividades lúdicas vão ao encontro dos interesses da criança e do jovem que têm no jogo o exercício simbólico das práticas sociais e dos sentimentos humanos Suscitadas a partir dos textos estas atividades são expedientes importantes na formação e na continuidade do gosto pela leitura Quebrandose o sentido de obrigatoriedade a leitura perde o ranço de disciplina escolar para se converter em ato espontâneo e estimulante desencadeador de momentos aprazíveis Se os textos devem agradar ao leitor as atividades de exploração dos mesmos estão comprometidas com o fortalecimento desta reciprocidade e não com o seu esvaziamento Quando o ato de ler se configura preferencialmente como atendimento aos interesses do leitor desencadeia o processo de identificação do sujeito com os elementos da realidade representada motivando o prazer da leitura Por outro lado quando a ruptura é incisiva instaurase o diálogo e o conseqüente questionamento das propostas inovadoras da obra lida alargandose o horizonte cultural do leitor O dividendo final é novamente o prazer da leitura agora como apropriação de um mundo inesperado O ato de ler é portanto duplamente gratificante No contato com o conhecido fornece a facilidade da acomodação a possibilidade de o sujeito encontrarse no texto Na experiência com o desconhecido surge a descoberta de modos alternativos de ser e de viver A tensão entre esses dois pólos patrocina a forma mais agradável e efetiva de leitura A literatura pode suscitar prazer porque tem seu fim em si mesma isto é funciona como um jogo em torno da linguagem das idéias e das formas sem estar subordinada a um objectivo prático imediato Essa concepção do fato literário remonta à estética idealista do séc XVIII mais precisamente a Immanuel Kant que define a literatura e a arte em geral como um modo de representação que por si mesmo é final embora sem fim no entanto propicia a cultura dos poderesdamente para a comunicação social 1980245 Essa teoria chega valorizada ao séc XX que continua prestigiando o fenômeno estético pela sua capacidade de provocar prazer Pela gratuidade daí advinda a literatura aproximase das atividades lúdicas em geral também elas com a finalidade única de emocionar e divertir o sujeito sem oferecerlhe vantagens materiais Gratuito e sem obrigatoriedade o jogo não é entretanto um ato incontrolado mas estruturado a partir de regras às quais o indivíduo deve se submeter O jogador ingressa no jogo graciosamente sem imposições com liberdade Depois de entrar ele passa necessariamente a obedecer às regras criadas pelo próprio jogo cumprindoas como a um pacto estabelecido entre os jogadores Também a literatura tem esse mesmo caráter uma vez que ao elaborar sua obra o autor institui normas e regras de composição fornecendo indicadores de leitura aos quais o leitor segue num acordo tácito com o criador Ler é imergir num universo imaginário gratuito mas organizado carregado de pistas às quais o leitor vai assumir o compromisso de seguir se quiser levar sua leitura isto é seu jogo literário a termo Embora desinteressado e sem vinculação direta com o real o jogo tem uma função significante isto é tem um sentido gerado por aquilo que está sendo disputado O alvo a ser atingido não responde contudo a uma necessidade imediata da vida prática mas mesmo assim confere um sentido à ação Johan Huizinga define as características do jogo como uma atividade que se processa dentro de certos limites temporais e espaciais segundo uma determinada ordem e um dado número de regras livremente aceitas e fora da esfera da necessidade ou da utilidade material O ambiente em que ele se desenrola é de arrebatamento e entusiasmo e tornase sagrado ou festivo de acordo com a circunstância A ação é acompanhada por um sentimento de exaltação e tensão e seguida por um estado de alegria e de distensão 1980147 A definição de Huizinga vale da mesma forma para a literatura e a arte em geral que participam dessa área não lucrativa onde se inserem as atividades prazerosas e lúdicas excluídas do programa de vida de uma sociedade voltada para o ganho Averbuck 198666 A obra literária como o jogo simula os conflitos do mundo de forma global buscando a restauração do equilíbrio através de uma proposta alternativa para a existência Essa função mimética é acentuada quando se relacionam texto e estruturas extratextuais pois uma obra artística sendo um modelo determinado do mundo uma mensagem na linguagem da arte não existe pura e simplesmente fora dessa linguagem assim como fora de todas as outras linguagens das comunicações sociais Lotman 1978101 Walter Benjamin acrescenta à característica de imitação do jogo a capacidade de formação de hábitos considerando que sua essência não é um fazer como se mas um fazer sempre de novo transformação da experiência mais comovente em hábito 198475 Para ele todo hábito entra na vida como jogo que por mobilizar emoções e inspirar prazer exige repetição contínua e renovada Por essas vias chegase por certo ao hábito da leitura literária que permite a multiplicação do prazer através da experiência sempre recomeçada de viver os sentidos do mundo em cada texto percorrido 22 Escolha dos textos Alguns princípios básicos norteiam o ensino de literatura o atendimento aos interesses do leitor a provocação de novos interesses que lhe agucem o senso crítico e a preservação do caráter lúdico do jogo literário Levando em conta esses aspectos o professor está recuperando para o aluno as funções básicas de toda a arte captar o real e repassálo criticamente sintetizandoo de modo inovador através das infinitas possibilidades de arranjo dos signos O resultado final será um comportamento permanente de leitura em que o texto se apresenta como um desafio a ser vencido em inúmeras atividades participativas Sua apreensão redundará em situações gratificantes que vão garantir a continuidade do processo de fruição da leitura O maior obstáculo com que o professor se defronta para alcançar esses alvos está no conhecimento amplo e seguro do acervo de títulos de literatura infantojuvenil e para adultos com que poderá trabalhar em sala de aula Qualquer modalidade de ensino depende antes de tudo do domínio que se tem do objeto a ser ensinado Quando se trata de literatura a experiência de leitura e o senso crítico do professor não podem ser substituídos pelo aparato metodológico por mais aperfeiçoado e atualizado que este seja Uma aula de literatura bem planejada parte não da metodiz ação das atividades mas do próprio conteúdo dos textos a serem estudados Assim sendo o professor precisa ter uma leitura prévia e comprensiva dos mesmos se deseja proporcionar a seus alunos vias eficazes de fruição e conhecimento das obras e da história literária A leitura do professor pois é prérequisito da leitura do aluno mas isto não quer dizer que a interpretação do aluno deva ser atrelada à do professor É evidente que os sentidos que esse deu ao texto influenciarão as atividades propostas para explorálo mas se o aluno através do trabalho textual atinge outros sentidos e consegue comproválos pelas evidências à sua disposição não cabe ao professor questionar a leitura que realizou Dizer que a compreensão e a interpretação orientam o planejamento das experiências da leitura não significa porém que estas se acumulem desordenadamente pois a falta de sistema além de dificultar as operações de pensamento no processo de aprendizagem pode tornar o estudo completamente caótico de modo que o aluno não consiga efetuar as sínteses conceituais que a consecução do conhecimento exige A metodologia de ensino dessa formá é outro prérequisito hierarquicamente colocado em segundo lugar mas de igual maneira indispensável Por outro lado qualquer metodologia do ensino não se opera num vácuo teórico Tanto a leitura seletiva do professor quanto o método que ele adota após decidir sobre os textos que deverá trabalhar são orientados na sua essência por uma concepção que ele faz do literário Esta lhe oferece os critérios para apreciar as obras e para abordálas com os alunos segundo um ou outro método que faça emergir o conceito de literatura subjacente a todo o processo Se a seleção de textos e a escolha de métodos de abordagem textual é interdependente e mutuamente sustentada por uma noção comum de literatura a conseqüência é que o professor precisa conhecer algumas teorias literárias que lhe definam os limites do seu campo de trabalho Uma teoria literária é um modo de investigação científica que se exerce pela observação e análise de um corpus hipoteticamente delimitado como literário Segundo Souza seu objeto é a literatura stricto sensu ou seja determinadas composições verbais em que a linguagem se apresenta elaborada de maneira especial e nas quais se dá a constituição de universos imaginários ou ficcionais Num nível ainda mais elaborado de exigências metodológicas devese dizer enfim que o objeto da teoria da literaturo é constituído pela literariedade isto é o modo especial de elaboração da linguagem inerente às composições literárias caracterizado por um desvio em relação às ocorrências mais ordinárias da linguagem 198647 As teorias literárias investigam seu objeto a partir de diferentes perspectivas sobre o que é literário ou não como se pode observar na afirmação de Souza que restringe o conceito a dois constituintes fundamentais Outros analistas das teorias literárias definiram seu objeto por caminhos diversos ora desconsiderando ora privilegiando o modo de elaboração linguística ora exaltando ora pondo em cheque a idéia de universo imaginário As possibilidades de enfoque nos estudos literários são portanto múltiplas e a exigência que se pode fazer a uma teoria é que estabeleça claramente o que para ela é a literatura e que a investigue com rigor científico a partir dessa definição hipotética O professor egresso de um curso de Letras ou de Magistério nem sempre faz idéia de que sua tarefa de ensino de literatura não é inocente mas vem direta ou indiretamente impregnada de noções que acabam por funcionarem como critérios para a crítica e a avaliação das obras bem como para a organização dos processos de leitura e interpretação ao nível do aluno Para poder discriminar qual o texto de melhor ou pior qualidade literária assim como para optar por um ou outro método de compreensão e interpretação de uma obra específica o professor precisa conscientizar seus pressupostos teóricos no que as teorias literárias podem auxilialo As mais correntes concepções do literário podem ser agrupadas em duas classes principais as que valorizam o discurso linguístico e suas representações ideais como a estilística a fenomenologia o formalismo russo o estruturalismo e a semiologia e as que valorizam a equivalência entre o universo criado e o universo real como a teoria de Aristóteles a sociologia literária e a estética da recepção Frequentemente teóricos de um ou outro lado ultrapassam essas fronteiras mas a partir delas podemse traçar algumas diretrizes que facilitem ao professor a tomada de decisões nessa área prioritária do ensino de literatura Para Aristóteles em sua Poética 1966 69 a obra de arte literária é mímese uma imitação verbal não do que é mas do que pode ser cujas partes integrantes formam um todo do qual nada pode ser retirado ou acrescentado e onde tudo é necessário e verossímil ou seja cada elemento tem uma explicação lógica aceitável do ponto de vista interior da obra A fim de ajuizar um texto segundo Aristóteles é preciso verificar se tudo que nele aparece tem ligação com o todo se não há elementos desnecessários ou que estão soltos sem desenvolvimento ou justificativa Em última análise interessa a coerência interna Para os seguidores de Aristóteles o conceito de mímese se torna ambíguo e uns privilegiam a idéia de que a literatura deve corresponder ao universo real imitandoo de forma melhor do que ele é e outros a idéia de que o importante é o universo fictício que pode representar o mundo real ou o mundo possível desde que coerentemente construído pelas palavras Uma das teorias modernas relacionadas com a ênfase no poder da linguagem de criar universos é o estruturalismo que se ocupa com a questão de literariedade entendendo a obra literária como uma estrutura de signos verbais em relação harmônica ou contraditória uns com os outros produzida por procedimentos de composição que tornam esse sistema de signos autônomo em relação à realidade exterior Segundo Jakobson o objeto da ciência da literatura não é a literatura mas a literariedade isto é o que faz de uma obra dada uma obra literária 197315 O estruturalismo evolui para a semiologia ampliando os estudos literários a outras linguagens não verbais e preocupandose em como elas geram significados e comunicação dentro da sociedade O ajuizamento da obra literária na ótica estruturalista e semiológica se realiza pela descrição do sistema dos signos descobrindo as relações entre eles e os significados que delas decorrem Como signos se consideram não só as palavras mas suas representações tais como personagens lugares épocas ações emoções símbolos idéias etc O estruturalismo se detém sobre a articulação lógica entre as partes da estrutura textual enquanto a semiologia salienta a relação entre estruturas dos signos e estrutura da realidade São procedimentos descritivos e analíticos não valorativos mas de todo modo acabam por discutir os valores ideológicos da sociedade que os sistemas de signos traduzem A sociologia da literatura conceitua o texto literário como reflexo de uma sociedade histórica apresentando a essência dos fenômenos que nela ocorrem de modo concreto A produção literária para Lukács 1965 289 é a tradução particular de uma verdade universal comum a toda humanidade A literatura não copia os fatos singulares da História mas procura neles o que é representativo para todos os homens e cria um novo fato que veicule essa essência Linha teórica também comprometida com o social é a semiologia de Bakhtin que permite a correlação entre os conflitos sociais e a estrutura literária pela análise da dimensão ideológica do signo linguístico A avaliação do texto no esquadro sociológico exige o conhecimento prévio da história da sociedade em que ele foi produzido e se efetua pelo cotejo entre os fatos reais e os fatos fictícios A obra é válida quando apreende a essência por trás da história conscientizando o leitor do que é o ser humano resgatandoo das distorções ideológicas que o reificam e alienam A teoria da estética da recepção desenvolve seus estudos em torno da reflexão sobre as relações entre narradortextoleitor Vé a obra como um objeto verbal esquemático a ser preenchido pela atividade de leitura que se realiza sempre a partir de um horizonte de expectativas Roche define este como soma de comportamentos conhecimentos e idéias préconcebidas com que se depara uma obra no momento de sua aparição e segundo a qual é medida 1980 10 Por esse caminho a teoria tenta fechar o círculo entre a abordagem estrutural e a sociológica A obra literária é avaliada a partir da teoria recepcional através da descrição de componentes internos e dos espaços vazios a serem preenchidos pelo leitor Fazse então o confronto entre o texto e suas diversas realizações na leitura e explicamse estas recorrendose às expectativas dos diferentes leitores ou grupos de leitores em sociedades históricas definidas A obra é tanto mais valiosa quanto mais emancipatória ou seja quanto mais propõe ao leitor desafios que as expectativas deste não previam As teorias literárias como se vé possibilitam variadas visões do objeto de ensino do professor a literatura Por meio delas a seleção dos textos pode ser realizada segundo a ótica que melhor se adaptar às necessidades dos alunos e do projeto de educação pelo qual o professor opta De igual modo elas proporcionam procedimentos de trabalho com o texto literário coerentes com a concepção de literatura do professor e os princípios que norteiam sua atividade docente 31 32 3 NECESSIDADE DE METODOLOGIA 31 Ensino tradicional de literatura a prática e os currículos A situação crítica do ensino de literatura tem sido suficientemente apontada e discutida em pesquisas seminários cursos encontros de professores e no debate público em geral Nessas ocasiões verificase que o ponto nevrálgico da questão reside nas deficiências de domínio da leitura Talvez a causa mais evidente desses fracassos esteja na dificuldade de acesso às fontes de informação por parte dos professores Contudo a formação recebida nos cursos de Letras e nos de 2o grau com terminalidade em Magistério bem ou mal propicia uma bagagem de conteúdos relacionados à literatura que deveria sustentar um ensino mais eficiente Da mesma forma o professor em exercício conta com vasta bibliografia para alimentar seus conhecimentos nessa área Isso tudo entretanto parece não resolver a crise pois ainda que eventualmente de posse de todas as referências necessárias o professor vêse desorientado quanto ao modo de organizar experiências e elas atinentes em sala de aula Pesquisa realizada em Porto Alegre concluída em 1984 pelo Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS para o INEPMEC consultou 98 professores desses graus de ensino sobre suas atitudes em relação ao ensino de literatura Através das respostas levantadas foi possível traçar o perfil comportamental do professor de 1o e 2o graus no que tange a material literário utilizado e práticas docentes cf Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1985 357364 Os modos de atuação do professor revelados demonstram que quanto ao material literário sua tendência é adotar e recomendar o livro didático usando livros de literatura esporadicamente como complemento ao livrotexto Quando não o adota em geral o substitui por folhas avulsas que contém fragmentos de textos acompanhados de exercícios Uma leitura descompromissada livre e estimulante da imaginação e da criatividade ou do senso crítico não é portanto enfatizada A cada leitura correspondem atividades de responder exercícios gramaticais e de redação sem qualquer relação com o caráter artístico de um texto literário ou de interpretação com itens programados e direcionados para uma compreensão literal e primária Quanto aos objetivos os professores se atêm à natureza do hábito de ler preocupandose com formar o hábito da leitura e desenvolver o potencial criativo e crítico dos alunos procurando ao mesmo tempo atender aos interesses dos mesmos Entretanto a presença maciça do livro didático e a ausência da obra literária na íntegra tornam tais metas inexeqüíveis Os professores apesar de visarem a formação do hábito da leitura e o desenvolvimento do espírito crítico não oferecem atividades nem utilizam recursos que permitam a expansão dos conhecimentos das habilidades intelectuais a criatividade ou a tomada de posição embora arrolem esses tópicos em seus critérios de aproveitamento escolar O debate a livre discussão e atividades que extrapolam o âmbito da sala de aula são esquecidos As fórmulas mais carentes de criatividade e mais tradicionalmente empregadas como aulas expositivas e exercícios escritos e orais de interpretação são praticadas pela maioria o que também promove a falta de incentivo e de motivação para a leitura dos alunos Outra situação observada é a de que esses professores querem incentivar posturas críticas e participantes na realidade social mas valemse de atividades repetitivas com alta carga de obrigatoriedade satisfazendose com frequência com a simples leitura dos textos solicitados revelada através de discussões redações dissertativas ou fichas de leitura Em especial para préadolescentes cuja descoberta da complexidade da vida está em efervescência dificilmente tais atitudes podem surtir efeitos positivos em termos de gosto pela leitura O quadro se agrava com o uso dominante do livro didático uma vez que esse sabidamente oferece apenas fragmentos de textos literários e os aborda do ponto de vista gramatical acima de tudo Se os métodos de ensino como ficou comprovado encerram pouca margem para a imaginação e a criatividade e não acolhem práticas familiares ou desafiadoras aos alunos é possível deduzirse que o problema reside mais neles do que na bagagem cultural prévia daqueles que freqüentam a escola Percebeuse também que os professores cônscioos de sua responsabilidade de educadores para a leitura contraditoriamente não aliam os 33 34 interesses vitais de seus educandos com os métodos de trabalho literário Atêmse a técnicas já consagradas e a recursos convencionais de mais fácil acesso e operacionalização Isso possibilitou a inferência de que há uma lacuna entre précondições de leitura e modos de atuação da escola a qual permanece em aberto No que tange à adequação dos textos selecionados pelo professor e os processos de abordagem textual como requisitos básicos para o ensino eficaz de literatura na escola foi constatado que a seleção dos livros a serem lidos pela criança e o jovem centrase na literatura modal erudita seja destinada à infância ou à juventude Viuse igualmente que o volume dessa seleção é pequeno uma vez que suplementa ou complementa o livro didático Um dado animador é que a preferência recai sobre autores da modernidade ou contemporâneos e que se busca a regionalização das obras o que aproxima o livro escolhido de seu leitor incipiente Por outro lado os métodos de abordagem textual parecem nem sequer entrar no âmbito das preocupações do professor Comprovouse que ainda se recorre a fórmulas prontas voltadas para a gramática para a redação e para a interpretação reprodutiva não levando em conta nem as précondições do aluno nem a natureza do próprio texto a ser trabalhado Entre os critérios referentes às estratégias de ensino nenhum professor ao adotar o livro didático revelou preocupação com a orientação de teoria literária dos exercícios ou técnicas de abordagem dos textos o que também não transparece nas respostas relacionadas com os procedimentos didáticos O esvaziamento do ensino de literatura se accentua portanto não só pelo pequeno domínio do conhecimento literário do professor mas também pela falta de uma proposta metodológica que o embase Outra pesquisa do Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS realizada nas diretrizes dos Estados da União e concluída em 1985 revela um dado alarmante apenas o Rio Grande do Sul e mesmo assim num currículo por ora em testagem define uma linha metodológica clara o método científico Tendo em vista que essas diretrizes norteiam o processo ensinoaprendizagem determinando planejamentos educacionais e prestações de contas correlativas podese inferir que a atuação do professor em sala de aula peca pela falta de orientação metódica o que explicaria boa parte dos problemas dos alunos na área A análise da situação de leitura nas diretrizes oficiais Aguiar 198333 permite algumas considerações sobre os fins da educação e o tipo de homem que o ensino público pretende formar As reflexões teóricas sobre a importância e a concepção de leitura apontam para uma dimensão crítica do ato de ler como possibilidade de crescimento individual Contudo a preocupação moralizante evidencia tendência a prender o sujeito aos padrões estabelecidos pela sociedade em vez de estimulálo ao questionamento e à reelaboração dos valores Os tipos de textos sugeridos para uso da rede oficial de ensino reforçam a voz do adulto e atendem aos objetivos de uma educação que se propõe moldar os jovens segundo os modelos dominantes através de a adaptações que empobrecem o conteúdo das obras e desviam suas finalidades originais b criação de textos pelos planejadores dos currículos cuja linguagem mostra pobreza vocabular excesso de diminutivos e precariedade de rimas Não retrata a fala infantil mas aquela que os mais velhos esperam da criança Os temas procuram despertar sentimentos de submissão como a supervalorização da escola a idolatria à família e à Pátria Alguns são de tal forma repetitivos que dão a idéia de estagnação no tempo e conseqüentemente impossibilidade de crescer como Dia da Árvore Dia da Criança Minhas Férias c orientação para que os professores reformulem os textos elaborados pelos alunos anulando o valor da expressão infantil em relação ao da adulta As sugestões metodológicas ainda podem ser questionadas quanto ao modo como tratam o texto e as atividades propostas O texto literário é neles pretexto para o estudo da gramática e se desencadeia as ações não é vinculado à experiência de vida do aluno o que afeta seu poder de mobilização para o ato de ler As sugestões de trabalho são pouco originais todas propõem os mesmos tipos de atividades e exercícios que se fecham nos limites da escola sem intercâmbio com a comunidade o que torna as aulas estantes e desvinculadas do real Tal situação se accentua pelo desprestígio em que se encontra o livro nesses documentos Há falta de articulação entre os objetivos educacionais definidos e as práticas sugeridas Não se oferecem livros embora se queira desenvolver o gosto pela leitura Raríssimas são as recomendações de leitura o que significa que essas diretrizes enfatizam processos vazios fechados em si mesmos em detrimento do conteúdo que lhes deveria servir de suporte formado por um repertório de obras adequadas à realidade social do estudante e a seus interesses O que se depreende é que tais propostas de educação repetem o modelo de estrutura social que as alimenta na medida em que não proporcionam ao aluno os meios de participar do debate e de atuar de forma dinâmica em seu grupo As orientações curriculares ainda inalteradas que salientam a função da escola como reforço ideológico de um Estado autoritário 35 34 encerram um elemento crucial para a análise da situação do ensino de literatura que na prática já foi diagnosticada como deficitária É a visão formalista da experiência escolar como algo que deve ser ordenado mas cujo conteúdo precisa ser controlado a distância entre os postulados pedagógicos e o seu preenchimento concreto O discurso oficial é comumente referendado dentro da sala de aula por atitudes apassivadoras que explicam a inércia observada 32 Necessidade da metodologia de abordagem textual O modelo de aula de literatura atualmente em vigor na escola brasileira poderia ser descrito como uma sequência de atividades mais ou menos estáticas ditadas inclusive pelo próprio livro didático apresentação de um texto explicação do vocabulário exercícios de interpretação exercícios gramaticais e composição Tentativas de integração dos conteúdos literários por vezes se fazem com a área de Artes Plásticas ou Música resumidas entretanto ao preenchimento do tempo útil do aluno sem maiores vinculações com o que antes fora proposto A repetição continuada das mesmas tarefas não representa uma organicidade sistêmica do trabalho educacional Uma vez que não há um projeto que as vincule entre si através de objetivos comuns o que se observa é a fragmentação dos conhecimentos a redundância excessiva de tópicos a dispersão do processo de aprendizagem num círculo vicioso em que os mesmos conteúdos são permanentemente ensinados e nunca aprendidos Esse modelo típico de aula de literatura tem raízes na tradição escolar brasileira que remontam à pedagogia jesuítica Nas escolas coloniais e depois do Reinado mantidas pela Companhia de Jesus a literatura só ingressava como exemplo retórico de execução primorosa da língua portuguesa na Metrópole quando ao mesmo tempo trazia normas de moralidade cristã e fidelidade às autoridades constituídas Muito embora freqüentemente os textos tivessem qualidade literária estavam a serviço não de si mesmos mas de uma educação cristã dos coloniais Wilson Martins afirma que quaisquer que sejam os métodos especificamente pedagógicos do ensino jesuítico não há como negar que era mentalmente conservador reacionário com relação às orientações reformistas da época e anticientífico estruturalmente estava condenado por antecipação antes a imobilizar do que a promover o desenvolvimento intelectual do Brasil 197722 Essa tradição histórica explica o tratamento dado à literatura que Marisa Lajolo denuncia observando que em situações escolares o texto costuma virar pretexto ser intermediário de aprendizagens outras que não ele mesmo E no entanto texto nenhum nasceu para ser objeto de estudo de dissecação de análise Salvo raras e modernas exceções por exemplo os textos produzidos de encomenda e sob medida para alguns livros escolares um texto costuma ser produto do trabalho individual de seu autor e encontra sua função na leitura individual de um leitor 198653 A dimensão intimista do ato de leitura esbarra com a necessidade de uma educação de massas em que o livro não é posse de cada aluno e a reunião de muitos sujeitos num mesmo espaço obriga à comunicação interpessoal transformando a leitura numa atividade coletiva que ela não é em essência A distância entre a relação leitor pessoallivro e leitor grupallivro certamente desfigura as características do ato de ler o que a escola acentua ainda mais quando pulveriza a leitura tanto no que se refere ao material literário quanto aos modos de abordagem textual A ênfase que se atribui atualmente à produção moderna é sem dúvida nenhuma positiva Contudo essa opção apresenta riscos quando se examinam os textos selecionados que advêm da imprensa crônicas reportagens artigos de jornais e revistas e de obras literárias consideradas em capítulos estrofes fragmentos etc O recorte do material de leitura bastante comum desintegrando o original é uma solução muito fácil e popularizada no ensino de massas pois permite a reprodução pouco onerosa mas atenta ao direito do aluno de conhecer a obra no seu todo Dois aspectos daí decorrem que são passíveis de objeção Em primeiro lugar o trabalho exclusivo com o texto moderno impede a visão da historicidade da literatura esvaziando formas registros lingüísticos e sistemas de idéias de sua relação com o passado O ideal seria o cotejo de obras de diferentes épocas para acompanhar a evolução e mudanças de perspectiva que de certo modo também integram o significado do texto atual Em segundo lugar a utilização predominante de excertos em folhas mimeografadas ou coletados no livro didático desvirtua o universo de sentidos das obras produzindo no imaginário do alunoleitor um caos de representações desarticuladas que nem de longe correspondem ou insinuam a proposta de cada original e acabam por fazer da noção de literatura assim construída uma colcha de retalhos em que nada tem a ver com nada Ou melhor tudo tem a ver com as intenções nem sempre louváveis daquele que seleciona os textos e os recor 37 Os modos de tratamento deste material literário convergem todos paradoxalmente para a entronização do texto aliás do fragmento considerado como repositório de idéias fixas verdadeiras e indiscutíveis Essa noção de texto perfeito origina certas atitudes inflexíveis do professor que valendose de sua maior maturidade de leitura impõe interpretações tidas como as melhores e portanto incapazes de serem modificadas ou contestadas pelos alunos A socialização do texto provém de uma postura histórica de valorização da palavra escrita nas civilizações ocidentais especialmente no campo da literatura em que já antes da escrita a fala do narrador ou do poeta conservava a memória da coletividade e indagava o desconhecido revestindose de uma função ao mesmo tempo mágica e prática Os narradores e poetas primitivos já relatavam para o seu público os feitos de seus heróis a origem de suas instituições sua agricultura e seu relacionamento com o divino A criação da imprensa com Gutemberg cristalizou esse prestígio social da fala literária enquanto a destituiá de seu caráter de experiência coletiva A escola encontrou no texto impresso a possibilidade de circulação ampla da ciência e da arte a razão de sua existência Investida do papel de transmissora do conhecimento seleciona como material de apoio para o ensino os textos consagrados pelas instâncias sociais que determinam a vida cultural excluindo em geral a produção popular e a intervenção do alunado na constituição do sentido textual uma vez que esse está pronto e traduz a verdade A noção de textomodelo implica a imposição de normas lingüísticas estéticas e ideológicas que devem ser assimiladas pelo aluno sem discussão já que está diante de uma autoridade publicamente reconhecida a criação literária A norma estética dominante na seleção e uso da literatura pela escola é a do realismo Mesmo em fragmento a média de textos em trânsito nas salas de aula é extraída de autores do séc XIX ou dos vários neorealismos posteriores como o do romance de 30 e seus seguidores contemporâneos na literatura para adultos e na infantojuvenil que lida com histórias do cotidiano sejam urbanas ou regionalistas O lado aventuresco emocional e fantástico da estética romântica e seus pósteros é muito menos encontrável sendo que a estética clássica deixou de ser até mencionada A norma lingüística a que a utilização da literatura na escola visa é a do padrão culto Se essa atitude se ampara na tradição escolar colonial hoje se torna problemática em virtude de que mesmo as obras contemporâneas de cunho realista introduzem coloquialismos e dialetos diversificados por força da exigência de representarem fielmente os vários meios sociais Mesmo nesses casos aceitamse com maior boa vontade aquelas estruturas e vocabulário admitidos pelo falar culto Embora a literatura faça parte das instituições culturais que constituem a línguapadrão devese lembrar que é nela que esta mesma variante se modifica com maior rapidez A escola entretanto sempre detém esse curso de modificação escolhendo obras menos avançadas em seu discurso Daí a razão da literatura ser tão nacionalmente trabalhada como exemplo de regras gramaticais Nesse caso o que se aprende não é o conhecimento do texto literário mas o da gramática sendo a literatura mero instrumento de exemplificação A par de exercícios gramaticais são apresentados ao aluno questionários e temas para redação que representam as normas ideológicas que o texto ou seu recorte defendem muitas vezes porque descontextualizados Essas normas se traduzem em geral em comportamentos exemplares dos heróis na literatura infantojuvenil e na literatura para adultos pautados por valores falsificados Umberto Eco e Marisa Bonazzi arrolam uma série de tópicos falseados que analisaram em livros didáticos italianos como os pobres o trabalho o herói e a pátria a escola as raças e povos a família a ausência de Deus a educação cívica os menores que trabalham a história nacional a língua a ciência e a técnica o dinheiro a caridade e a previdência social Essa análise mostra que esses problemas são apresentados de uma maneira falsa grotesca risível Que através deles a criança é educada para uma realidade inexistente Que quando os problemas e a resposta a eles fornecida dizem respeito à vida real são colocados e resolvidos de forma a educar um pequeno escravo preparado para aceitar o abuso o sofrimento a injustiça e para ficar satisfeito com isto Enfim os livros de leitura contam mentiras educam os jovens para uma falsa realidade enchem sua cabeça com lugares comuns com coisas chãs com atitudes não críticas E o que é pior cumprem este trabalho de mistificação servindose dos mais reles clichês da pedagogia repressiva do século passado por preguiça ou incapacidade dos seus compiladores 1980 16 Osman Lins diante dos textos brasileiros reafirma essas conclusões declarando que neles pode refletirse todo o perfil de um país 1977149 Para ele professores e autores de compêndios didáticos fogem portanto ao seu papel natural de mediadores Tornamse no nosso processo cultural ao invés de fatores de ligação uns verdadeiros tropeços A culpa não é somente deles Eles se associam a toda uma corte de homens distraídos trêfegos rapaces inseridos num quadro social propício à aventura aos empreendimentos levianos à irresponsabilidade social para não dizer ao engodo 1977 149 39 Todo o texto entretanto independente do seu grau de realização artística seja ele consagrado ou não pode ser objeto de aulas de literatura desde que seja visto na sua totalidade e que o professor esteja atento para o conjunto de normas que nele se configuram sendo capaz de discriminálas criticamente em contraste com os padrões estéticos e ideológicos de seu tempo Através de uma experiência de leitura acumulada e de posse de estratégias de ensino polemizantes pode promover um trabalho criativo de sentido coletivo encorajando os alunos a comentarem os textos do ponto de vista temático e formal e a cotejarem esses aspectos em obras de variada procedência histórica e geográfica sem submeteremse a eles como verdades definitivas O exame do que se faz e se pensa sobre o ensino da literatura hoje permite traçar algumas linhas de demarcação fundamental para uma proposta alternativa que cumpra esse papel de criatividade e inovação Percebese em primeiro lugar uma nítida preocupação com um modelo de leitura conformado pelas exigências do texto sem muito espaço para a interferência interpretativa ou recriadora do leitor Essas exigências porém têm um caráter mais extrínseco do que intrínseco Partem de fora do texto embora pareçam dele provir É o que ocorre com a ênfase observada em exercícios formalistas voltados para a identificação de elementos textuais mas sem chegar a investigar a funcionalidade destes suas interrelações e seu diálogo com o leitor como se a literatura fosse uma coisa separada dos homens uma espécie de máquina cujas peças apenas devem ser desmontadas para serem conhecidas Essa coisificação parece decorrer da insistência numa postura conservadora que entende literatura como exercício talentoso da língua e vê a esta como um sistema de regras a serem memorizadas e aplicadas Verificamse portanto de um lado professores maciçamente acomodados ante o problema da leitura refazendo práticas consagradas pela tradição cultural a leitura gramatical do texto a explicação do texto pelo modelo francês que se limita a redizer o que a obra já diz o ensino pela informação sobre e não pela experiência de enquanto uma minoria dá impulso a posturas mais abertas buscando restituir ao aluno as possibilidades de que ele estabeleça o seu próprio vínculo com a matéria ficcional pesquisando sobretudo na prática soluções para vencer problemas já crônicos como a indiferença o desânimo e a falta de familiaridade com a cultura letrada Tentando unificar essa dispersão a tarefa de uma metodologia voltada para o ensino da literatura está em a partir dessa realidade cheia de contradições pensar a obra e o leitor e com base nessa interação propor meios de ação que coordenem esforços solidarizem a participação nestes e considerem o principal interessado no processo o aluno e suas necessidades enquanto leitor numa sociedade em transformação O problema nessa perspectiva se delimita na órbita da metodologia de ensino Uma vez que o professor possui metas bastante definidas quanto à necessidade de incremento do gosto pela literatura o que lhe faltaria seriam os meios para alcançálas Esses meios derivariam de uma sistematização dos procedimentos didáticos em torno de uma idéiafim quanto à educação literária do aluno ou seja da adoção de um método de ensino cujos pressupostos filosóficos se coadunassem com a concepção de alunoleitor que o professor cultiva É escusado salientar portanto a necessidade de uma metodologia que sirva de suporte para a prática escolar Essa proporcionará resultados produtivos para o aluno na medida em que delimite para si mesma uma finalidade para o ato de aprender Nesse sentido todas as etapas do processo ensinoaprendizagem estariam voltadas para os fins últimos da educação Esse princípio norteador das experiências educativas seria a espinha dorsal de um método o qual se resume em um conjunto de atividades com um nexo sistemático entre si Esse nexo seria dado pela intenção fundamental que é buscada pelas agências educativas Numa sociedade pluralista é no entrechoque de idéias e valores que se aperfeiçoam as instituições sociais Na área educacional lugar privilegiado de aprimoramento da cidadania e da personalidade é onde a maior diversidade deveria ocorrer Nela não se deveriam limitar as possibilidades de livre determinação quanto ao que faz sentido para a comunidade escolar no convívio com os livros e outros artefatos culturais Em especial quando se trata com a literatura modelo simulado de tudo o que diz respeito ao homem e suas aspirações não se pode conceber a uniformidade de posições nem quanto a conteúdos nem quanto a métodos de trabalho A metodologia precisa acolher também em seus domínios a divergência de posturas ideológicas e a relatividade de soluções ante as instituições rapidamente mutáveis da sociedade contemporânea Cumpre que se metodize o ensino mas não apenas numa direção perseguindo um ideal absoluto de homem como tem sido a norma Com a utilização de um método adequado a cada espécie de alvo filosófico que a escola se proponha atingir garantindose decisões sólidas entre professores e alunos quanto ao que importa ensinar e aprender a circunstância histórica e social seria atendida superandose o imobilismo dos modelos idealistas tradicionais e no que concerne à literatura as atividades de leitura receberiam a ordenação e a referencialidade de que carecem para serem aceitas pelo alunado A adoção de um método de ensino para a literatura depende sobretudo do posicionamento do professor quanto ao aluno que tem à frente Se o leitor que a escola quer formar é aquele que assimila os 41 sentidos acriticamente só para acumular sensações ou informações que de nada lhe servem na vida concreta ou é aquele que não consegue se quer apreender esses sentidos por força de barreiras linguísticas e sócio culturais não há razão para procurarse a sistematização das atividades uma vez que tais leitores são produzidos in absentia de qualquer méto do Se o modelo almejado é o do leitor crítico capaz de discriminar in tenções e assumir atitudes ante o texto com independência a primeira providência é sondar as necessidades dos estudantes O distanciamento entre expectativas de professores e alunos gera dispersão de esforços mesmo entre os bemintencionados os que pro pugnam por uma educação igualitária e transformadora Detectadas as précondições e interesses do grupo bem como as possibilidades de lei tura oferecidas pelo meio ambiente é neste momento que a escolha e a introdução de um método pedagógico se fazem necessárias a fim de nortear todo o trabalho de classe ou extraclasse em direção aos fins que essa sondagem demonstrou serem importantes para aquele conjunto espe cífico de alunos na sua circunstância fins esses que poderão transfor marse durante o trabalho na medida em que a classe se conscientize de novas necessidades ou de novas exigências que venha a enfrentar A partir de cada método dentro de sua especificidade o profes sor pode organizar a situação de aprendizagem conforme as aspirações do grupo e as peculiaridades do conteúdo a ser trabalhado sem forçar nenhum dos dois pólos e sem renunciar à sua função de orientador do processo educativo A pluralidade de métodos limita o autoritarismo do sistema educacional por não depender de alvos preestabelcidos e imutá veis e pressupõe uma atuação docente flexível pois não permite a repe tição rotineira de atividades ou o cumprimento passivo de um programa inalterável Por outro lado aderir a um método não representa uma camisa deforça para o ensinoaprendizagem como a idéia de sistematização poderia conotar desde que esse método estruture os procedimentos di dáticos sempre a partir de expectativas efetivas e apenas assinale rotas para que tais expectativas sejam atendidas e ampliadas Alguns dos métodos a seguir delineados já circulam nos meios educacionais tais como os que visam a desenvolver o potencial criativo ou de investigação científica dos alunos Outros derivamse de teorias da literatura e da linguagem e se dirigem especificamente ao trabalho com as propriedades literárias dos textos Cada um deles preocupase em defi nir traços característicos de acordo com a teoria que o alicerça bem como possui metas explícitas e bem diferenciadas Não se pode negar entretan to que todos advêm de um posicionamento ideológico e filosófico co mum que diz respeito à visão última de educação que neles está implícita A concepção de educação que defendem está ligada à noção de transformação sóciocultural que só se viabiliza através de um ensino eminentemente voltado para a realidade do aluno e que deseja alcançar como dividend final uma postura crítica ante o mundo e a práxis so cial Toda a atividade de literatura deve em consequência dessas premis sas resultar num fazer transformador numa leitura em que o aluno des cobre sentidos e reelabora aquilo que ele é e o que pode ser 42 43 4 Análise das possíveis reações do destinatário 6 Modos de apresentação 7 Prazo para realização do projeto Elaboração do material Em pequenos grupos os alunos criam através de diferentes lin guagens alternativas para encaminharem sua reivindicação obedecendo a todos os requisitos de seu projeto Suponhase que as alternativas sejam discurso cartazes painéis passeatas malhaçãodojudas panto mima Apresentadas as alternativas a turma examina a eficácia de cada uma delas descartando as menos factíveis e escolhendo as que puder levar a efeito com os recursos materiais e humanos disponíveis Nas aulas seguintes cada alternativa terá seus passos e materiais preparados Finalmente elas serão escalonadas segundo seu teor de for ça persuasiva e realizadas pela turma Divulgação do trabalho As diferentes mensagens elaboradas pelo grande grupo são apre sentadas na ordem preestabelecida a colegas de outras turmas a pro fessores funcionários administradores e eventualmente à comunidade na dependência da extensão do tema das reivindicações 80 6 MÉTODO RECEPCIONAL 61 Fundamentação teórica O método recepcional é estranho à escola brasileira em que a preocupação com o ponto de vista do leitor não é parte da tradição Via de regra os estudos literários nela tem se dedicado à exploração de tex tos e de sua contextualização espaçotemporal num eixo positivista O relativismo de interpretação e portanto de leitura não é tópico de con sideração no âmbito acadêmico o que se explica pela tendência ao autoritarismo da própria cultura brasileira que endossa seus expoentes temerosa de expôlos à crítica O método recepcional não se submete a essa tradição dominante uma vez que sua base teórica defende a idéia do relativismo histórico e cultural já que está fundamentalmente convicta da mutabilidade dos objetos bem como da obra literária dentro do processo histórico Fok kema Kunne Ibisch 1977 138 Se o historicismo positivista en tende os fenômenos literários como determinados pelos fatos sociais numa relação de origem unilateral em que a obra é sempre consequên cia e nunca causa o conceito de historicidade da teoria recepcional é o de relação de sistemas de eventos comparados num aquieagora espe cífico a obra é um cruzamento de apreensões que se fizeram e se fa zem dela nos vários contextos históricos em que ela ocorreu e no que agora é estudada Nesse sentido discutese o próprio conceito de literatura como um sistema de sentido fechado e definitivo que ela indubitavelmente é enquanto simples objeto escrito anexandoselhe a dimensão da sua lei tura como parte inerente a tal sistema o que resulta na abertura desse para relações com o mundo histórico extratexto A recepção é concebida pelos teóricos alemães da Escola de Constança como uma concretização pertinente à estrutura da obra tan to no momento da sua produção como no da sua leitura que pode ser estudada esteticamente o que dá ensejo à denominação da teoria de esté tica da recepção A noção de concretização é derivada dos trabalhos do polonês Roman Ingarden na década de 30 e do tcheco Felix Vodička na década de 40 Para Ingarden o exame do modo de ser da obra literá ria descobre que ela é uma estrutura linguísticoimaginária permeada de pontos de indeterminação e de esquemas potenciais de impressões sen soriais os quais no ato de criação ou da leitura são preenchidos e atua lizados transformando o que era trabalho artístico do criador em obje to estético do leitor cf Ingarden 1973 Para Vodička a obra é um sig no estético dirigido ao leitor o que exige a reconstituição histórica da sensibilidade do público para entenderse como ela se concretiza A con cretização nesse caso seria operada por meio de avaliações que o lei tor atribui à obrasigno em sua consciência a partir de determinada nor ma estética vigente Por isso as concretizações de um texto se modifica riam constantemente segundo a sociedade avaliasse naquele momento a obra e seus temas e procedimentos estruturais cf Vodička 1978 299 300 As idéias de Ingarden e Vodička são reformuladas por teóricos posteriores que entendem o processo de concretização como interação do leitor com o texto em que este atua como pauta e tudo o que não diz ou silencia cria vazios que forçam aquele a interferir criadoramente no texto a dialogar com ele de igual para igual num ato de comunica ção legítimo A maior e mais óbvia diferença entre a leitura e todas for mas de interação social é o fato de que com a leitura não há a situação faceaface O leitor contudo nunca pode saber do texto o quão precisas são suas apreensões sobre ele Não há quadro de referên cias que governe a relação textoleitor ao contrário Os códigos que poderiam reger tal interação são fragmentados no texto e primeiro pre cisam ser reagrupados ou na maioria dos casos reestruturados antes que se possa estabelecer qualquer quadro de referências Iser 1980 166 O quadro de referências que permite a comunicação entre dois parceiros sociais é constituído pelas indicações e perguntas que cada falante faz a seu interlocutor para assegurarse de que está controlando a fluência comunicativa Com a obra e o leitor isso não é possível uma vez que a obra fornece pistas a serem seguidas pelo leitor mas deixa muitos espaços em branco em que o leitor não encontra orientação e precisa mobilizar seu imaginário para continuar o contato A atitude de interação tem como précondição o fato de que tex to e leitor estão mergulhados em horizontes históricos muitas vezes dis tintos e desfasados que precisam fundirse para que a comunicação ocorra São estes os quadros de referências antes aludidos a que Hans Robert Jauss chama de horizontes de expectativas os quais incluem todas as convenções estéticoideológicas que possibilitam a produção recepção de um texto cf 1971 747 Regina Zilberman arroIa as seguintes ordens de convenção constitutivas do horizonte de expectati vas através do qual o autorleitor concebem e interpretam a obra social pois o individuo ocupa uma posição na hierarquia da sociedade intelectual porque ele detém uma visão de mundo compati vel na maior parte das vezes com seu lugar no espectro social mas que atinge após completar o ciclo de sua educação formal ideológica correspondente aos valores circulantes no meio de que se imbuí e dos quais não consegue fugir linguística pois emprega um certo padrão expressivo mais ou menos coincidente com a norma gramatical privilegiada o que decorre tanto de sua educação como do espaço social em que transita literário proveniente das leituras que fez de suas preferências e da oferta artística que a tradição a atualidade e os meios de comuni cação incluindose aí a própria escola lhe concedem 1982 103 Acrescentemse aos fatores acima os de ordem afetiva que pro vocam adesões ou rejeições dos demais e terseá idéia da complexi dade e importância da noção de horizonte dentro da estética da recep ção No ato de produçãorecepção a fusão de horizontes de expectati vas se dá obrigatoriamente uma vez que as expectativas do autor se traduzem no texto e as do leitor são a ele transferidas O texto se torna o campo em que os dois horizontes podem identificarse ou estranhar se Daí poderse tomar a relação entre expectativas do leitor e a obra em si como parâmetro para a avaliação estética da literatura Segundo Jauss se chamamos distância estética a diferença entre as expectativas e a forma concreta de uma obra nova que pode iniciar uma modifica ção de horizonte rechaçando experiências familiares ou acentuando outras latentes esta se materializa na variedade das reações do público e dos juízes da crítica êxito espontâneo desprezo provocação aprova ção esporádica compreensão cada vez mais crescente ou tardia etc 1971 77 Portanto a valorização das obras se dá na medida em que em termos temáticos e formais elas produzem alteração ou expansão do horizonte de expectativas do leitor por oporemse às convenções conhecidas e aceitas por esse Uma obra é perene enquanto consegue 82 83 continuar contribuindo para o alargamento dos horizontes de expectativas de sucessivas épocas A atitude receptiva se inicia com uma aproximação entre texto e leitor em que toda a historicidade de ambos vem à tona As possibilidades de diálogo com a obra dependem então do grau de identificação ou de distanciamento do leitor em relação a ela no que tange às convenções sociais e culturais a que está vinculado e à consciência que delas possui Se a obra corrobora o sistema de valores e normas do leitor o horizonte de expectativas desse permanece inalterado e sua posição psicológica é de conforto Não admira que a literatura de massas préfabricada para satisfazer a concepção que o leitor tem do mundo dentro de uma certa classe social alcance altos níveis de aceitabilidade Por outro lado obras literárias que desafiam a compreensão por se afastarem do que é esperado e admissível pelo leitor frequentemente o repelem ao exigirem um esforço de interação demasiado conflitivo com seu sistema de referências vitais Todavia a obra emancipatória perdura mais no tempo do que a conformadora devendo haver uma justificativa para o investimento de energias psíquicas na comunicação que estabelece com o sujeito Diante de um texto que se distancia de seu horizonte de expectativas o leitor além de responder aos desafios por mera curiosidade ante o novo precisa adotar uma postura de disponibilidade permitindo à obra que atue sobre seu esquema de expectativas através das estratégias textuais intencionadas para a veiculação de novas convenções O reconhecimento dos procedimentos textuais que atraem o leitor a um pacto com a obra difícil se dá por uma tomada de consciência da distância entre a própria visão de mundo e a da obra que pode ser facilitada pela análise de sua composição estética ou ideológica Esse momento requer certa formação do leitor que o familiarize com as normas de produção dessa espécie de obra Ele precisa conhecer o gênero para perceber as inovações do texto individual as formas e temas de obras famosas anteriores para captar as diferenças de tratamento e a oposição entre uso poético ou prático da linguagem para entender sua repercussão sobre as representações do mundo que eles induzem A capacidade de análise aí implicada se complementa com a de comparação que para além dos limites dos textos também deve abranger as pressuposições históricas e culturais Extratierárias pois as mesmas conduzem a certos tipos de compreensão e valoração O processo de recepção se completa quando o leitor lendo comparado a obra emancipatória ou conformadora com a tradição e os elementos de sua cultura e seu tempo a inclui ou não como componente de seu horizonte de expectativas mantendoo como era ou preparandoo para novas leituras de mesma ordem para novas experiências de ruptura com os esquemas estabelecidos Quanto mais leituras o indivíduo acumula maior a propensão para a modificação de seus horizontes porque a excessiva confirmação de suas expectativas produz monotonia que a obra difícil pode quebrar A ênfase na atitude receptiva emancipada promove a contínua reformulação das exigências do leitor quanto à literatura bem como quanto aos valores que orientam sua experiência do mundo Assim sendo a atividade de leitura fundada nos pressupostos teóricos da estética de recepção deve enfatizar a chamada obra difícil uma vez que nela reside o poder de transformação de esquemas ideológicos passíveis de crítica O caráter iluminista dessa teoria que no fundo pretende investir a literatura de arte de uma forma revolucionária capaz de afetar a História insiste na qualificação dos leitores pela interação ativa com os textos e a sociedade 62 Objetivos e critérios de avaliação A aplicação da estética recepcional à pedagogia da literatura prevê a transferência dos pressupostos teóricos já citados à prática escolar da leitura Assim como se reflete sobre o fenômeno literário sob a ótica do leitor como elemento atuante do processo o método recepcional de ensino fundase na atitude participativa do aluno em contato com os diferentes textos Partindo do horizonte de expectativas do grupo em termos de interesses literários determinados por suas vivências anteriores o professor provoca situações que propiciem o questionamento desse horizonte Tal atitude implicaria um distanciamento do estudante uma vez que revisa criticamente seu próprio comportamento redundando na ruptura do horizonte de expectativas e seu conseqüente alargamento Com o ajustamento a essa nova situação o passo seguinte é a oferta pelo professor de diferentes leituras que por se oporem às experiências anteriores problematizam o aluno incitandoo a refletir e instaurando a mudança através de um processo contínuo Como o sujeito é entendido como um ser social sua transformação implica a alteração do comportamento de todo o grupo atingindo a escola e a comunidade O sucesso do método recepcional no ensino de literatura é assegurado na medida em que seus objetivos com relação ao aluno sejam alcançados a saber 1 Efetuar leituras compreensivas e críticas 2 Ser receptivo a novos textos e a leituras de outrem 3 Questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural 4 Transformar os próprios horizontes de expectativas bem como os do professor da escola da comunidade familiar e social O método recepcional de ensino de literatura enfatiza a comparação entre o familiar e o novo entre o próximo e o distante no tempo e no espaço Por conseguinte são sempre cotejados textos que pertencem ao arsenal de leitura do grupo com outros textos documentos de outras épocas regiões e classes sociais em diferentes níveis de estilo e abordando temáticas variadas O processo de trabalho apóiase no debate constante em todas as suas formas oral e escrito consigo mesmo com os colegas com o professor e com os membros da comunidade A materialização desse constante fazer presentificase na produção de textos pelo estudante os quais passam a tomar parte do acervo a ser questionado Desenvolvemse assim as noções de herança e participação históricocultural O método é portanto eminentemente social ao pensar o sujeito em constante interação com os demais através do debate e ao atentar para a atuação do aluno como sujeito da História Os critérios de avaliação a serem empregados pelo professor tendo em mira os princípios que dirigem o método recepcional abrangem a dinâmica do processo e cada leitura do aluno No desenvolver dos trabalhos esse deve evidenciar capacidade de comparar e contrastar todas as atividades realizadas questionando sua própria atuação e a de seu grupo A resposta final deve ser uma leitura mais exigente que a inicial em termos estéticos e ideológicos 63 Etapas de desenvolvimento técnicas A literatura não se esgota no texto Completase no ato de leitura e o pressupõe prefigurandoo em si através de indícios do comportamento a ser assumido pelo leitor Esse porém pode submeterse ou não a tais pistas de leitura entrando em diálogo com o texto e fazendoo corresponder a seu arsenal de conhecimentos e de interesses O processo de recepção textual portanto implica a participação ativa e criativa daquele que lê sem com isso sufocarse a autonomia da obra Diferentes tipos de textos e de leitores interagem de modos imensamente variados O sujeito ao defrontarse com o texto traz consigo toda sua bagagem de experiências linguísticas e sociais que deve mobilizar a partir das provocações e lacunas que a obra lhe propõe Por sua vez essa representa uma determinada organização de sentidos efetuada através de procedimentos de composição que restringem as possibilidades de interpretação aos recortes linguísticos formais ou ideológicos nele executados Nessa medida por ser uma estrutura organizada de sentidos possíveis permite ao leitor uma interação direcionada na qual ele reconhece os significados que lhe são familiares ou enfrenta os desconhecidos mas com indicações que o auxiliam a aceitar ou pelo menos criticar o novo e ao mesmo tempo situar a esse em relação ao que já aceita ou passa a rejeitar O processo de recepção se inicia antes do contato do leitor com o texto O leitor possui um horizonte que o limita mas que pode transformarse continuamente abrindose Esse horizonte é o do mundo de sua vida com tudo que o povoa vivências pessoais culturais sóciohistóricas e normas filosóficas religiosas estéticas jurídicas ideológicas que orientam ou explicam tais vivências Munido dessas referências o sujeito busca inserir o texto que se lhe apresenta no esquema de seu horizonte de valores Por sua vez o texto pode confirmar ou perturbar esse horizonte em termos das expectativas do leitor que o recebe e julga por tudo o que já conhece e aceita O texto quanto mais se distancia do que o leitor espera dele por hábito mais altera os limites desse horizonte de expectativas ampliandoos Isso ocorre porque novas possibilidades de viver e de se expressar foram aceitas e acrescentadas às possibilidades de experiência do sujeito Se a obra se distancia tanto do que é familiar que se torna irreconhecível não se dá a aceitação e o horizonte permanece imóvel Depende portanto da criação ou da natureza do texto a sua integração ou não ao universo vivencial do leitor Quanto mais ele corrobora as normas circulantes na sociedade do leitor menos causa estranheza e se torna também imperceptível o que mantém o horizonte igualmente inalterado É por isso que o papel do texto no processo receptivo é fundamental Sua construção precisa incluir espaços em que a criatividade do leitor possa atuar e seja estimulada a fazêlo Nesse sentido o texto não pode fornecer uma imagem totalmente acabada do universo temático pois se o fizer barra o ingresso do leitor em si mesmo ou tiraniza de tal modo o seu receptor que não lhe deixa lugar para a interpretação Deve predispôlo pois a modificar seu horizonte trabalhando os temas contestadores com alto teor de verossimilhança e coerência Por outro lado essa tarefa de ruptura do texto não se viabiliza se não houver uma contrapartida no sujeito ou seja se ele não se dispõe a ter seu universo estável abalado de alguma forma e não percebe nesse alargamento a realização de algo desejado ou intuido A transformação do horizonte de expectativas no caso de um estudante alvo primeiro do método recepcional de ensino de literatura depende pois da operacionalização de alguns conceitos básicos receptividade disponibilidade de aceitação do novo do diferente do inusitado concretização atualização das potencialidades do texto em termos de vivência imaginativa ruptura ação ocasionada pelo distanciamento crítico de seu próprio horizonte cultural diante das propostas novas que a obra suscita questionamento revisão de usos necessidades interesses idéias comportamentos assimilação percepção e adoção de novos sentidos integrados ao universo vivencial do indivíduo O planejamento de unidades de ensino através do método recepcional deverá prever os esquemas conceituais antes discutidos Na sala de aula o primeiro passo do professor seria o de efetuar a determinação do horizonte de expectativas da classe a fim de prever estratégias de ruptura e transformação do mesmo Esse horizonte de expectativas conterá os valores prezados pelos alunos em termos de crenças modismos estilos de vida preferências quanto a trabalho e lazer preconceitos de ordem moral ou social e interesses específicos da área de leitura As características desse horizonte podem ser constatadas pelo exame das obras anteriormente lidas através de técnicas variadas tais como observação direta do comportamento pelas reações espontâneas a leituras realizadas ou através da expressão dos próprios alunos em debates discussões respostas a entrevistas e questionários papel em jogos dramatizações e outras manifestações quanto a sua experiência das obras O professor poderá ainda examinar as movimentações de títulos através de fichas da biblioteca ou das leituras espontâneas ou de comentários sobre obras em situações informais escolhas de livros em biblioteca de classe e salas de leitura histórias cuja narração é repetidamente solicitada pelas crianças poesias utilizadas em jogos e brincadeiras etc Uma vez detectadas as aspirações valores e familiaridades dos alunos com respeito à literatura a etapa seguinte consiste no atendimento do horizonte de expectativas ou seja proporcionar à classe experiências com os textos literários que satisfaçam as suas necessidades em dois sentidos Primeiro quanto ao objeto uma vez que os textos escolhidos para o trabalho em sala de aula serão aqueles que correspondem ao esperado Segundo quanto às estratégias de ensino que deverão ser organizadas a partir de procedimentos conhecidos dos alunos e de seu agrado Quanto ao material literário o professor proporá textos cujos temas eou composição sejam muito procurados ou na própria literatura ou em outros meios de expressão como televisão quadrinhos folclore espetáculos etc Na segunda alternativa o professor precisa perceber os elementos temáticos ou estruturais que atraem a atenção e o prazer de seus alunos buscando similares para os mesmos nas obras literárias de que dispõe Por exemplo se a classe aprecia espetáculos de humor pela televisão o livro a ser sugerido deve conter ou histórias humorísticas ou recursos de construção que provoquem o riso Se filmes de ficção musical estão fazendo sucesso os livros a serem trabalhados podem conter passagens em que a música jovem apareça tematizada Sobre as atividades podese propor técnicas em que a turma já evidenciou domínio e satisfação É o caso de trabalhos em grupo posteriormente apresentados ao grande grupo debates brinquedos de roda jogos competitivos excursões Evidentemente a atividade não deve ser repetitiva e sim aproveitar a forma familiar variando os passos ou finalidades A próxima etapa é a de ruptura do horizonte de expectativas pela introdução de textos e atividades de leitura que abalem as certezas e costumes dos alunos seja em termos de literatura ou de vivência cultural Essa introdução deve dar continuidade à etapa anterior através do oferecimento de textos que se assemelhem aos anteriores em um aspecto apenas o tema o tratamento a estrutura ou a linguagem Entretanto os demais recursos compositivos devem ser radicalmente diferentes de modo a que o aluno ao mesmo tempo perceba estar ingressando num campo desconhecido mas também não se sinta inseguro demais e rejeite a experiência Por exemplo se na etapa precedente o humor foi privilegiado através de cartoons de jornais depois recriados pelos alunos neste momento o novo texto cou atividade conterá um elemento humorístico mas não sob forma de cartum e sim de crônica e sobre outro tema Outra possibilidade diz respeito aos temas ampliando ou reduzindolhes a abrangência ou mantendoos e mudando o tratamento Um assunto do cotidiano pode ser transformado num de alcance social mais amplo sem perder o teor humorístico O mesmo tema antes abordado comicamente pode ser visto a sério e assim por diante O importante é que os textos dessa etapa apresentem maiores exigências aos alunos seja por discutirem a realidade desautorizando as versões socialmente vigentes seja por utilizarem técnicas compositivas mais complexas Nessa medida podemse ler parábolas como a Revolução dos bichos de G Orwel desde que antes se tenham discutido as fábulas de La Fontaine por exemplo Ou passar da Viagem à aurora do mundo de Erico Verissimo para a Máquina do tempo de Wells As experiências de leitura nesta etapa também precisam manter um vínculo com as da etapa anterior que seja garantido pelo material literário mas divergem quanto às estratégias de trabalho adotadas Estas não serão repetitivas ou desgastadas pelo uso apelando não só para o espírito crítico dos alunos mas exigindo deles participação no planejamento das mesmas A proposta deve representar sempre um desafio por caminhos não percorridos anteriormente pela turma Por exemplo se a classe jamais entrevistou pessoasfonte sobre uma obra literária essa seria uma técnica provocativa Todavia se o procedimento já foi utilizado pelos alunos não será agora empregado A seguir ocorrerá a etapa de questionamento do horizonte de expectativas decorrência da comparação entre as duas anteriores Sobre o material literário já trabalhado a classe exerce sua análise decidindo quais textos através de seus temas e construção exigiram um nível mais alto de reflexão e diante da descoberta de seus sentidos possíveis trouxeram um grau maior de satisfação Supõese portanto que os textos de melhor realização artística tendem a ser vistos como difíceis num primeiro momento e devidamente decifrados a provocar a admiração do leitor Executada a análise comparativa das experiências de leitura a classe debaterá sobre seu próprio comportamento em relação aos textos lidos detectando os desafios enfrentados processos de superação dos obstáculos textuais tais como pesquisas empreendidas para a compreensão de técnicas de composição ou de sentidos Desse trabalho de autoexame surgirão perspectivas sobre aspectos que ainda oferecem dificuldades definições de preferência quanto à temática e outros elementos da literatura assim como transposições das situações narrativas ou líricas para a órbita da vida real dos jovens leitores Este é o momento de os alunos verificarem que conhecimentos escolares ou vivências pessoais em qualquer nível do religioso ao político proporcionaram a eles facilidade de entendimento do texto eou abriramlhes caminhos para atacar os problemas encontrados As técnicas para a consecução desses intentos voltamse para toda a forma de discussão participativa seja em pequeno ou grande grupo modos de registro de constatações do fichário ao diário pessoal ou coletivo implicando a constante retomada dos textos literários ou não utilizados nas etapas anteriores e durante o questionamento em geral Resultante dessa reflexão sobre as relações entre leitura e vida é a última etapa do processo a ampliação do horizonte de expectativas Tendo percebido que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar mas ao modo como veem seu mundo os alunos nessa fase tomam consciência das alterações e aquisições obtidas através da experiência com a literatura Cotejando seu horizonte inicial de expectativas com os interesses atuais verificam que suas exigências tornaramse maiores bem como sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi aumentada Essa tomada de consciência é uma atitude individual e grupal dos próprios alunos Devese salientar que sua verbalização acontece por iniciativa dos mesmos sem intervenção direta do professor O papel do mestre neste momento é o de provocar seus alunos e criar condições para que eles avaliem o que foi alcançado e o que resta a fazer Conscientes de suas novas possibilidades de manejo da literatura partem para a busca de novos textos que atendam a suas expectativas ampliadas em termos de temas e composição mais complexos Desse estágio em diante reiniciase todo o processo do método com a ressalva de que a etapa inicial já conta com a participação dos estudantes e portanto proporciona uma carga de motivação bem mais elevada Significa dizer que o final desta etapa é o início de uma nova aplicação do método que evolui em espiral sempre permitindo aos alunos uma postura mais consciente com relação à literatura e à vida Alguns requisitos são básicos porém para que o aluno atinja tal estágio de atuação O primeiro aspecto referese à quantidade e à qualidade de informações que o sujeito recebe o que exige do professor que esteja preparado para selecionar textos referentes à realidade do aluno e ao mesmo tempo capazes de romper com ela O segundo aponta para a importância do desenvolvimento da capacidade de refletir sobre a literatura e os fatores estruturais de seu material por parte dos alunos Dessa forma com o aprimoramento da leitura numa percepção estética e ideológica mais aguada e com a visão crítica sobre sua atuação e a de seu grupo o aluno tornase agente de aprendizagem determinando ele mesmo a continuidade do processo num constante enriquecimento cultural e social ETAPAS DO MÉTODO RECEPCIONAL 1 Determinação do horizonte de expectativas 2 Atendimento do horizonte de expectativas 3 Ruptura do horizonte de expectativas 4 Questionamento do horizonte de expectativas 5 Ampliação do horizonte de expectativas 64 Exemplos de unidades de ensino 641 CURRÍCULO POR ATIVIDADES Conteúdo Contos de fadas Material GRIMM Jacob Wilhelm Joãozinho e Mariazinha Porto Alegre Kuarup 1985 AYALA Walmir A bruxa malvada que virou borboleta Porto Alegre Mercado Aberto 1983 NUNES Lygia Bojunga Os colegas Rio de Janeiro José Olympio 1978 ROCHA Ruth Procurando firme Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 BAUM Frank L O mágico de Oz Rio de Janeiro Edições de Ouro 1969 Objetivo Proporcionar à criança experiências que lhe permitam distinguir diferentes formas de organização dos contos de fadas tradicionais e modernos Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor observa os comportamentos espontâneos da turma em seus contatos com livros na biblioteca acompanha a retirada de textos das estantes ou os empréstimos circula entre grupos de leitores e verifica os títulos que estão sendo lidos fica atento a comentários dos alunos quando escolhem textos ou os recomendam aos colegas ouve opiniões emitidas durante a leitura das obras Através desse processo percebe que os interesses dos alunos se voltam principalmente para o conto de fadas Lendo os livros mais comentados ou escolhidos descobre que a maioria das crianças opta por histórias em que aparecem personagens fantásticos tais como fadas anões duendes gigantes etc que convivem com personagens humanos e animais falantes Preferem histórias em que o herói é posto à prova e combate um adversário aterrorizante vencendoo por meios mágicos ou pela astúcia Sua vitória é entendida como solução para um problema essencialmente humano de adaptação à realidade Atendimento do horizonte de expectativas A partir dos interesses demonstrados pelas crianças o professor organiza uma exposição de contos de fadas tradicionais na sala de aula utilizando todos os recursos usuais em exposições de livros estantes cartazes de anúncio faixas indicativas catálogo mimeografado quando se tratar de alunos já alfabetizados Os estudantes são convidados a uma visita orientada em que o professor faz as vezes de guia mostrando e comentando os livros expostos Na oportunidade as crianças manuseiam os livros identificam os já conhecidos atentam para os títulos e ilustrações lêem fragmentos das obras No final da visita o professor pede que o grupo eleja o livro de que mais gostou para ser trabalhado em aula Hipoteticamente o livro escolhido é Joãozinho e Mariazinha dos irmãos Grimm No encontro seguinte o professor lê o texto eleito de forma expressiva propiciando a participação dos alunos que comentam o fato narrado e as ilustrações e adiantam o desenvolvimento do enredo O professor pode provocar a participação através de perguntas enquanto lê mostrando as ilustrações eou fazendo pausas que permitam a interpretação das crianças Convém criarse uma atmosfera de igualdade entre o que lê e os que ouvem de modo a gerar o envolvimento emocional que suscita o prazer necessário ao atendimento do interesse manifestado Caso as crianças assim o desejem a atividade com o texto pode prolongarse em outros encontros sob outra forma de trabalho que apreciem Uma sugestão possível é a de dramatizar o texto desde que esse tipo de procedimento já tenha sido utilizado anteriormente e seja do agrado da turma O planejamento de dramatização dependerá das experiências anteriores Por exemplo alguns alunos se oferecem como voluntários para assumir o papel das personagens Os demais preferem apenas assistir Todos juntos decidem a disposição do espaço em que as cenas irão ocorrer fazendo de conta que vêem os cenários e sua mudança Os atores voluntários decoram sua falas com a ajuda dos colegas que decidem junto com o professor a marcação dos movimentos no espaço fingido O encontro seguinte é destinado à representação Para essa ocasião a sala é arrumada dividindose a platéia em que ficarão as cadeiras dos assistentes e um espaço livre para o palco imaginário com os objetos que os alunos tiverem escolhido como representação do cenário No momento combinado iniciase a representação desempenhando cada um a função que lhe coube de ator ou espectador Ruptura do horizonte de expectativas O professor noutro encontro promove um debate sobre a peça em que se discutam questões relativas ao conteúdo da história representada o comportamento de João e Maria em casa e na floresta as intenções e ações da bruxa as soluções encontradas pelos heróis O debate pode continuar com a manifestação das crianças sobre suas impressões diante das situações narrativas como se sentiram durante as cenas em que João e Maria estavam perdidos na floresta o que fariam no lugar deles com a bruxa que sentimentos essa lhes despertou o que mais os impressionou na história Supondose que os episódios mais comentados tenham sido aqueles que se referem ao conflito crianças X bruxa e que a personagem mais empolgante tenha sido a bruxa o professor sugere a leitura de outra história de fadas em que a bruxa tenha papel relevante A bruxa malvada que virou borboleta Se se tratar de crianças pequenas o professor lê expressivamente o texto buscando a participação dos ouvintes como na etapa anterior Se as crianças forem maiores pode iniciar a leitura em aula e interrompêla quando os heróis enganam a mãe de Poti e entram na floresta deixando o restante para leitura extraclasse É combinado um prazo para que os alunos leiam o qual permita o uso dos exemplares de cuja existência o professor devese certificar antes na biblioteca escolar Lida a história o professor sugere a montagem de uma salaambiente convidando os alunos a desenvolverem esta técnica de trabalho 1 Definem quantos espaços existem no texto 2 Descrevem cada espaço e arrolam os elementos que o identificam 3 Dividem a sala entre os espaços caracterizados rio floresta gruta subterrânea etc 4 Juntam ou elaboram os elementos que foram escolhidos como caracterizadores tais como espelho significando água galhos secos e papel verde recortado em forma de folhas papel pardo pintado e amassado formando uma gruta etc 5 Listam as personagens e suas características físicas 6 Elaboram bonecos de papelcartão em tamanho grande com base de apoio tendo pelo menos um desenho caracterizador da personagem representada as penas de Poti o chapéu do Saci etc 7 Colocam cada personagem no seu ambiente inicial Montada a sala o professor indaga o que os alunos desejam fazer com ela se querem mostrála a outras pessoas ou preferem brincar com as personagens dentro dela Seja como for o uso da sala implicará que os alunos recontam a história na ordem que lhes aprouver carregando os bonecos das personagens ou achando outra solução para o deslocamento desses aos diferentes espaços Questionamento do horizonte de expectativas Desmontada a salaambiente o professor sugere uma nova atividade à classe o Jogo do igualdiferente A turma é dividida em dois grupos ficando o primeiro responsável pela história de João e Maria e o segundo pela da bruxa malvada Dentro do grupo cada aluno simboliza um elemento da sua história Por exemplo em Joãozinho e Mariazinha um aluno é a casa da bruxa outro é a floresta outro é o rio outros são as personagens etc O mesmo acontecerá com o outro grupo Armase então uma moldura de espelho no meio da sala com tiras largas de papel O jogo consiste em que cada elemento de uma história se defronte no espelho com o seu correspondente na outra história como João e Poti Maria e Saci as duas bruxas as duas florestas os dois rios etc Os reflexos dialogam entre si falando no que têm em comum e de diferente Quando uma dupla esgota o assunto outra a substitui na frente do espelho Os elementos que não têm correspondente monologam sozinhos ante o marco do espelho dizendo o que são Terminada a brincadeira o professor convida as crianças a fazerem de conta que as duas histórias são dois espelhos em que os alunos podem se olhar O professor sugere que a turma convide aqueles elementos das histórias representados pela mesma criança da atividade anterior que mais a impressionaram para virem ao outro lado do espelho Provoca um debate coletivo com cada um desses elementos em que a turma do lado de cá do espelho compara as suas vivências com as do elemento refletido que repete as suas experiências na história Ampliação do horizonte de expectativas Para o encontro subseqüente os alunos ficam encarregados de trazer de casa um espelho Em aula o professor propõe que cada um se olhe no seu espelho e pense no que está vendo e no que o espelho não mostra de si mesmo respondendo à pergunta Como eu sou por fora e por dentro Eles podem guardar as respostas para si ou manifestálas como quiserem desenhando escrevendo se for o caso de crianças bem alfabetizadas falando etc A seguir o professor pede que escondam os espelhos e lembra que o espelho pode não ser apenas o objeto concreto que os refletiu mas que cada um pode se ver em outros objetos ou pessoas Pede exemplos desses objetos entre os quais surgirá o livro porque já foi anteriormente usado com esse fim O passo seguinte é procurar livros que sejam espelhos para os alunos O professor traz para a sala de aula textos cuja estrutura mantenha relação com o conto de fadas mas que modifiquem os sentidos antes trabalhados Por exemplo Os colegas Procurando firme e O mágico de Oz Mostrando os livros ele faz uma descrição sucinta do assunto de cada um e os entrega às crianças para leitura em pequenos círculos em caso de crianças analfabetas pode convidar um aluno mais adiantado para ler o texto aos menores Os livros circulam entre os grupos de leitura sendo discutidos enquanto proporcionam um espelho para os leitores A seguir escolhese o texto que melhor reflete toda a turma para ser o seu espelho A atividade tem prosseguimento a partir desse texto 642 CURRÍCULO POR ÁREAS Conteúdo Histórias policiais e literatura social Material MARINHO SILVA João Carlos O gênio do crime Rio de Janeiro Ediouro sd MARIGNY Carlos de Lando das ruas 8 ed São Paulo Brasiliense 1986 CAPARELLI Sérgio Quebraquebra 2 ed Porto Alegre L PM 1982 QUINTELA Ary Cão vivo leão morto 3 ed Belo Horizonte Comunicacão 1980 REY Marcos Bemvindos ao Rio São Paulo Ática 1986 Objetivo Proporcionar à criança contato com textos que representem problemas sociais relacionados com a marginalidade no Brasil Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor traz para a sala de aula uma quantidade grande de jornais da semana e os distribui entre os alunos Propõe uma sessão de leitura livre em que cada um pode escolher o jornal e a matéria que deseja ler Enquanto os estudantes lêem o professor circula entre eles observando os assuntos escolhidos para leitura bem como os comentários e as reações dos leitores durante o desenvolvimento da atividade Terminada a leitura o professor promove um debate informal sobre os temas lidos e suas implicações Desse debate extraise o assunto que apaixonou a classe inteira e que será motivo das próximas aulas de literatura Supondose que o noticiário policial tenha atraído maior número de leitores e de opiniões contrastantes o professor sugere que os alunos levantem das notícias lidas os elementos que mais os tocaram Poderão aparecer as figuras envolvidas nos episódios policiais os crimes propriamente ditos a atuação dos investigadores as motivações as características dos locais dos crimes o papel da Justiça os estereótipos do marginal e da polícia etc Atendimento do horizonte de expectativas Para atender aos interesses dos alunos por histórias de crime o professor propõe a leitura em horário extraclasse do livro O gênio do crime A partir da capa da obra tece comentários sobre a trama e as personagens centrais despertando a curiosidade dos alunos sem revelar as pistas e a solução do mistério Numa data previamente combinada com a turma efetuase uma atividade de interrogatório assim desenvolvido a turma se divide em dois grandes grupos ficando o primeiro encarregado de ler a história e preparar questões inusitadas para o segundo grupo responder Esse lê também a história e prevê as perguntas e possíveis respostas que lhe caberá dar O interrogatório pode ser desenvolvido como simples questionário ou como jogo competitivo em que o grupo vencedor será o mais hábil em resolver a sua tarefa deixando o outro em situação difícil É importante que os alunos decidam a forma e o teor do interrogatório a fim de que se sintam participantes ativos na análise do texto e se divirtam com o trabalho Ruptura do horizonte de expectativas Como a atividade de interrogatório revelará um conjunto de elementos textuais que atraíram os leitores com evidente predominância esse será o meio de efetuar a transição para uma literatura de ordem mais exigente Por exemplo percebeuse que quanto a O gênio do crime as questões giraram em torno da figura do heróicriança e das soluções que encontrou para o problema com que se defrontou Em face disso o professor propõe a leitura de Lando das ruas onde o herói também é criança e vive uma experiência traumática semelhante à de Bolão Tal leitura é feita em casa Num prazo marcado segundo orientação do professor a turma se divide em quatro grupos cada um encarregado de contar por escrito a história de uma das cenas das personagens centrais ou seja Lando Boibava Márcio Façanha e Cabeça de Passarinho A vida de cada personagem deverá ser narrada de forma a servir posteriormente de roteiro para uma história em quadrinhos a ser elaborada pelos colegas dos outros grupos Assim sendo deve conter todos os indicadores de espaço sequência de ações tempo e caracterização das personagens bem como falas Cada história incluirá as ações que pertencem à personagem no livro permitindose que na vida de uma apareçam ações da vida de outras desde que essas sejam comuns Concluída a tarefa cada grupo lê em voz alta o seu texto e o restante da turma avalia se a história corresponde à do livro Aprovadas as versões essas são trocadas entre os grupos que as quadrinizam Portanto um grupo vai transformar em quadrinhos a história elaborada por outro grupo obedecendo todas as indicações do texto desse Em tiras largas de papel pardo os integrantes do grupo dividem a história nas ações que a compõem uma para cada quadro Desenham os quadros com pincel atômico e neles as personagens agindo e revelando os traços que as caracterizam Por fim executam o cenário de cada ação e colocam as falas de cada personagem nos balões de praxe Ao final da atividade as tiras são pregadas com fita colante na parede da sala de aula e a turma comenta a sua propriedade em relação ao texto original de Carlos de Marigny Questionamento do horizonte de expectativas Na etapa seguinte do trabalho o professor relembra a atividade inicial de exame do noticiário policial e indaga dos alunos se não gostariam de aprender a fazer uma reportagem como aquelas apoiandose em entrevistas com os heróis das histórias lidas Para isso é elaborado um roteiro de entrevista pelos alunos contendo as perguntas que lhes interesssem Podem estas por exemplo abordar os seguintes tópicos 1 O que o herói passou 2 Quais as condições pessoais com que contava para resolver a situação 3 Como resolveu seus problemas 4 Com que ajuda contou para resolver seu problema 5 Como se sentiu diante de seu agressor 6 O que sentiu quando enfrentou a situação difícil e depois que a resolveu De posse do roteiro organizado os alunos dividemse em dois grupos e cada um entrevista a personagem central de um dos livros consultando o texto e anotando as passagens que respondem às perguntas Com base nessa entrevista cada grupo valendose de alguma das reportagens policiais lidas como modelo escreve a sua reportagem tendo como foco a participação do herói no crime X Essa reportagem será mimeografada pelos alunos e distribuída à classe toda Como atividade culminante se fará um comentário coletivo sobre as duas reportagens que serão lidas pela turma inteira Esse comentário deverá incidir sobre as diferenças entre a situação dos dois heróis observandose as desvantagens e vantagens de um em relação ao outro Ampliação do horizonte de expectativas A discussão anterior possivelmente levou à constatação de que a diferença básica entre os problemas e comportamentos dos heróis das duas histórias está relacionada à posição social de ambos De posse desses dados o professor prepara para a aula seguinte dois cartazes cada um com uma dessas questões 1 Como a sociedade determina o comportamento das pessoas 2 Que outros problemas sociais afetam o comportamento das pessoas Os cartazes são afixados na parede para serem lidos pelos alunos Diante da estranheza desses em face do estímulo o professor os incentiva a relacionar as questões propostas com todo o conteúdo desenvolvido nas aulas anteriores de literatura e com outros livros que tratem de assunto de cunho social A discussão permitirá que os alunos eou o professor indiquem novos textos a serem lidos tais como Quebraquebra Cão vivo leão morto e Bemvindos ao Rio É estipulado um prazo para a leitura dos livros indicados No dia marcado os leitores de cada um dos textos defendem como numa plataforma política as dimensões sociais do livro que leram aconselhandoo aos colegas para o trabalho em classe Seguese a eleição por via direta e maioria simples do título que será estudado dali por diante retomandose todas as etapas do método em questão 643 CURRÍCULO POR DISCIPLINAS Conteúdo Poesia lírica amorosa Material MORAES Vinícius de Antologia poética São Paulo Círculo do Livro 1986 CRUZ E SOUZA Poemas completos Rio de Janeiro Ediouro sd CAMÕES Luís de Lírica São Paulo Cultrix 1963 GOLDSTEIN Norma Versos sons e ritmos São Paulo Ática 1985 PIGNATARI Décio Comunicação poética 3 ed São Paulo Moraes 1981 Objetivo Proporcionar aos alunos experiências de leitura de poemas líricos de diferentes períodos literários explorando a relação somsentido Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor tendo surpreendido leituras e conversas clandestinas sobre relações amorosas na sua classe conta aos alunos como as informações sobre a vida amorosa circulavam às escondidas no seu tempo de adolescente através de questionários secretos Traz um exemplar dessa época e entregao aos alunos para que o leiam Pergunta como a turma costuma trocar esse tipo de informação e diante das respostas sugere a elaboração de um questionário semelhante mas atualizado que seria respondido anonimamente por todos os alunos As questões podem ser da seguinte ordem 1 O que é para você um amigo verdadeiro 2 Como foi seu primeiro encontro 3 Qual a música que lhe traz mais recordações 4 Que pensa do amor 5 Qual seu tipo de ideal 6 O que você mais detesta num homem mulher 7 Qual a palavra que lhe traz de sentido provocados pelo comportamento verificado Os resultados do trabalho de cada grupo são apresentados de acordo com a técnica de painel Esse painel é constituído por um representante de cada grupo que fala por tempo limitado sobre as conclusões de seus colegas A platéia após as apresentações debate com os painelistas concordando ou não com as interpretações dos grupos e tentando perceber qual dos dois autores trabalha mais eficazmente com o elemento escolhido na representação do tema amoroso Essa atividade permite que os estudantes avaliem os recursos estéticos dos dois autores na área da sonoridade sem incidir num exercício formalista porque recuperam o sentido através dos procedimentos linguísticos No encontro seguinte o professor propõe um debate coletivo sobre o tema abordado nas aulas anteriores ou seja o amor segundo a opinião dos alunos expressa no questionário e segundo os poemas de Vinícius de Moraes e dos poetas românticos parnasianos e simbolistas em especial Cruz e Souza Nesse debate é salientada a necessidade de os participantes exporem sua posição pessoal quanto a todo esse material significativo Ampliação do horizonte de expectativas Do debate anterior pode ter surgido a necessidade de dar prosseguimento ao assunto Por exemplo a turma pode sentirse insatisfeita com o conteúdo informativo sobre a experiência amorosa a que chegou no debate O professor propõe em vista disso que se busque uma definição de amor mais abrangente Sugere a lírica amorosa de Camões Os alunos consultam a obra na biblioteca da escola ou da comunidade e selecionam os poemas que melhor definem o sentimento amoroso Esses poemas são trazidos para a sala de aula e distribuídos entre os grupos anteriores Cada grupo fica responsável pela gravação de um número igual de poemas em fitas cassetes O professor sugere que além da leitura expressiva com fundo sonoro os alunos utilizem recursos variados para marcar o ritmo e a melodia dos poemas tais como bater em copos de vidro sacudir ou percutir saquinhos ou de pedras bater palmas lápis ou réguas assobiar tamborilar em caixa de fósforos ou outro objeto de percussão soprar em pente estalar os dedos etc Após a gravação dos poemas num encontro posterior todos se reúnem para ouvir os resultados do trabalho manifestando sua opinião sobre os mesmos e atentando para o sentido que os poemas expressam com o fundo sonoro criado O poema que receber maior número de opiniões favoráveis dará sequência à retomada do método 34 Hans Robert Jauss A HISTÓRIA DA LITERATURA COMO PROVOCAÇÃO À TEORIA LITERÁRIA editora ática 35 HANS ROBERT JAUSS A HISTÓRIA DA LITERATURA COMO PROVOCAÇÃO À TEORIA LITERÁRIA Tradução Sérgio Tellaroli editora ática 7 MÉTODO COMUNICACIONAL 71 Fundamentação teórica A moderna preocupação com as questões relacionadas com a linguagem tem originado uma ênfase característica aos aspectos linguísticos das manifestações humanas em geral Afinal a linguagem é uma constituição da cultura mas no conjunto dos fenômenos culturais funciona como sua substrutura Jakobson 1969a 123 Adquirindo foros de modelo de organização dos relacionamentos do homem com o mundo a linguagem tem sido um dos objetos de estudo mais constante e minucioso neste século Dela têm se ocupado não só linguistas mas também filósofos e antropólogos Essa tendência à valorização da linguagem também se refletiu no sistema educacional brasileiro por ocasião da Reforma de 1971 O ensino de língua e literatura foi então direcionado para as formas mais amplas e genéricas da Comunicação e Expressão Entretanto o que se observou foi uma assimilação apenas aparente das proposições da linguística contemporânea com a utilização dos esquemas do ato comunicativo em toda sorte de livros didáticos Não se aproveitaram portanto as efetivas contribuições das investigações linguísticas e semiológicas para o ensino que continuou a se fazer pelas vias gramaticais tradicionais O método comunicacional pretende resgatar o sentido amplo do entendimento da linguagem como molde e descrição do fazer e do pensar humanos deixando em aberto a discussão do lugar prioritário que lhe tem sido conferido como forma de conhecimento e de praxis Importam mais aqui aqueles aspectos das teorias linguísticas que explicam as trocas comunicativas e dão conta da natureza do fenômeno literário Essas trocas sejam verbais ou não funcionam como um Série Temas volume 36 Estudos literários Título original Literaturgeschichte als Provokation der Literaturwissenschaft Universitätsverlag Konstanz GmbH Konstanz 1967 TEXTO EDITOR Fernando Paixão ASSISTENCIA EDITORIAL Mário Vilela ARTE EDIÇÃO DE ARTE MIOLO Divina Rocha Corte CAPA Ettore Bottini INDICAÇÃO EDITORIAL Duda Machado ISBN 85 08 04631 6 1994 Todos os direitos reservados Editora Ática SA Rua Barão de Iguape 110 CEP 01507900 Tel PABX 2789322 Caixa Postal 8656 End Telegráfico Bomlivro Fax 011 2774146 São Paulo SP Sumário I 5 II 9 III 15 IV 18 V 22 VI 24 VII 27 VIII 31 IX 35 X 41 XI 46 XII 50 Notas 58 Anexo Os horizontes do ler 71 I A história da literatura vem em nossa época se fazendo cada vez mais malafamada e aliás não de forma imerecida1 Nos últimos 150 anos a história dessa venerável disciplina tem inequivocamente trilhado o caminho da decadência constante Todos os seus feitos culminantes datam do século XIX À época de Gervinus e Scherer de De Sanctis e Lanson escrever a história de uma literatura nacional era considerado o apogeu da carreira de um filólogo Os patriarcas da história da literatura tinham como meta suprema apresentar por intermédio da história das obras literárias a idéia da individualidade nacional a caminho de si mesma Hoje essa aspiração suprema constitui já uma lembrança distante Em nossa vida intelectual contemporânea a história da literatura em sua forma tradicional vive tãosomente uma existência nada mais que miserável tendo se preservado apenas na qualidade de uma exigência caduca do regulamento dos exames oficiais Como matéria obrigatória do currículo do ensino secundário ela já quase desapareceu na Alemanha No mais histórias da literatura podem ainda ser encontradas quando muito nas estantes de livros da burguesia instruída burguesia esta que na falta de um dicionário de literatura mais apropriado as consulta principalmente para solucionar charadas literárias2 Nos cursos oferecidos nas universidades a história da literatura está visivelmente desaparecendo Há tempos já não constitui segredo algum afirmar que os filólogos de minha geração orgulhamse de ter substituído os tradicionais painéis globais ou de época de sua literatura nacional por cursos voltados para um enfoque sistemático ou centrados em problemas históricos específicos A produção científica oferece um quadro semelhante as empreitadas coletivas na forma de manuais enciclopédias e volumes interpretativos estes constituindo o ramo mais recente das assim chamadas sínteses de livraria desalojaram as histórias da literatura tidas por pretensiosas e pouco sérias Significativamente tais coletâneas pseudohistóricas raramente resultam da iniciativa de estudiosos mas devemse em geral à idéia de algum editor empreendedor Já a pesquisa levada a sério por sua vez encontra registro em monografias de revistas especializadas pautandose pelo critério mais rigoroso dos métodos científicoliterários da estilística da retórica da filologia textual da semântica da poética e da história das palavras dos motivos e dos gêneros Por certo também as revistas atuais especializadas em filologia encontramse ainda em grande medida repletas de ensaios que se contentam com uma abordagem históricoliterária Seus autores porém vêemse expostos a uma dupla crítica Da ótica das disciplinas vizinhas os problemas que levantam são aberta ou veladamente qualificados de pseudoproblemas e seus resultados desdenhados como um saber puramente antigo Tampouco a crítica oriunda da teoria literária revelase mais complacente em seu juízo Tal crítica tem a objetar à história clássica da literatura que ela apenas se pretende uma forma da escrita da história mas na verdade movese numa esfera exterior à dimensão histórica e ao fazêlo falha igualmente na fundamentação do juízo estético que seu objeto a literatura enquanto uma forma de arte demanda Primeiramente cumpre esclarecer essa crítica A história da literatura em sua forma mais habitual costuma esquivarse do perigo de uma enumeração meramente cronológica dos fatos ordenando seu material segundo tendências gerais gêneros e outras categorias para então sob tais rubricas abordar as obras individualmente em sequência cronológica A biografia dos autores e a apreciação do conjunto de sua obra surgem aí em passagens alea tórias e digressivas à maneira de um elefante branco Ou então o historiador da literatura ordena seu material de forma unilinear seguindo a cronologia dos grandes autores e apreciandoos conforme o esquema de vida e obra os autores menores ficam aí a ver navios são inseridos nos intervalos entre os grandes e o próprio desenvolvimento dos gêneros vêse assim inevitavelmente fracionado Esta última modalidade de história da literatura corresponde sobretudo ao cânone dos autores da Antigüidade clássica já a primeira encontrase com maior frequência nas literaturas modernas que se defrontam com a dificuldade crescente à medida que se aproximam do presente de ter de fazer uma seleção dentre uma série de autores e obras cujo conjunto mal se consegue dividir Contudo uma descrição da literatura que segue um cânone em geral preestabelecido e simplesmente enfileira vida e obra dos escritores em sequência cronológica não constitui como já observou Gervinus história alguma mal chega a ser o esqueleto de uma história Do mesmo modo nenhum historiador tomaria por histórica uma apresentação da literatura segundo seus gêneros que registrando mudanças de uma obra para a outra persiga as formas autônomas do desenvolvimento da lírica do drama e do romance e emoldure o todo inexplicado com uma observação de caráter geral amiúde tomada emprestada à história sobre o Zeitgeist e as tendências políticas do período Por outro lado não é apenas raro mas francamente malvisto que um historiador da literatura profira vereditos qualitativos acerca de obras de épocas passadas Muito pelo contrário o historiador costuma antes apoiarse no ideal de objetividade da historiografia à qual cabe apenas descrever como as coisas efetivamente aconteceram Sua abstinência estética fundase em boas razões Afinal a qualidade e a categoria de uma obra literária não resultam nem das condições históricas ou biográficas de seu nascimento nem tãosomente de seu posicionamento no contexto sucessório do desenvolvimento de um gênero mas sim dos critérios da recepção do efeito pro Em razão da já consagrada tradução de Wirkungsgeschichte por história do efeito o substantivo Wirkung efeito eficácia atuação ação foi aqui invariavelmente traduzido por efeito Contexto sucessório traduz aqui e nas demais passagens do texto em que o autor emprega o termo Folgeverhältnis cuja tradução literal seria relação de sucessão NT duzido pela obra e de sua fama junto à posteridade critérios estes de mais difícil apreensão Ademais se comprometido com o ideal da objetividade o historiador da literatura limitase à apresentação de um passado acabado deixando ao crítico competente o juízo acerca da literatura do presente inacabado e apegandose ao cânone seguro das obrasprimas permanecerá ele o mais das vezes em sua distância histórica uma ou duas gerações atrasado em relação ao estágio mais recente do desenvolvimento da literatura Na melhor das hipóteses participará pois como leitor passivo da discussão presente sobre os fenômenos literários contemporâneos tornandose assim na construção de seu juízo um parasita de uma crítica que em segredo ele desdenha como nãocientífica Que papel resta hoje portanto a um estudo histórico da literatura que para recorrer a uma definição clássica do interesse na história a de Friedrich Schiller tem tão pouco a ensinar ao observador pensante que não oferece ao homem prático nenhum modelo a ser imitado nem nenhum esclarecimento ao filósofo e que ademais não logra prometer ao leitor nada que se assemelhe a uma fonte do mais nobre entretenimento II As citações não constituem apenas um apelo a uma autoridade com o propósito único de sancionar determinado passo no curso da reflexão científica Elas podem também retomar uma questão antiga visando demonstrar que uma resposta já tornada clássica não mais se revela satisfatória que essa própria resposta fezse novamente histórica demandando de nós uma renovação da pergunta e de sua solução A resposta de Schiller à pergunta colocada em sua aula inaugural na universidade de Jena de 26 de maio de 1789 Was heißt und zu welchem Ende studiert man Universalgeschichte O que significa e com que propósito estudase história universal não é apenas representativa do modo de compreender a história do idealismo alemão mas igualmente elucidativa no que se refere a um olhar retrospectivo e crítico voltado para a história de nossa disciplina E isso porque aquela resposta nos mostra com que expectativa a história da literatura do século XIX competindo com a historiografia geral buscou desincumbirse da tarefa legada pela filosofia idealista da história Ao mesmo tempo ela nos permite perceber por que razão o ideal do conhecimento da escola histórica tinha necessariamente de conduzir a uma crise trazendo consigo o declínio da história da literatura Gervinus pode nos servir aqui de testemunha principal Dele é não somente a primeira exposição científica de uma Geschichte der poetischen Nationalliteratur der Deutschen História 10 da literatura nacional poética dos alemães 18351842 como também o primeiro e único tratado de teoria da história de autoria de um filólogo⁶ Partindo da idéia central do Über die Aufgabe des Geschichtsschreibers Sobre a tarefa do historiador 1821 de Wilhelm von Humboldt seu Grundzüge der Historik Fundamentos da teoria da história constrói uma teoria na qual Gervinus em outra parte embasou também a grande tarefa da escritura de uma história da beletrística Para ele o historiador da literatura somente se torna um historiador de fato quando investigando seu objeto encontra aquela idéia fundamental que atravessa a própria série de acontecimentos que ele tomou por assunto neles manifestandose e conectandoos aos acontecimentos do mundo⁷ Essa idéia fundamental que para Schiller traduzse ainda no princípio teleológico geral que nos permite compreender o desenvolvimento da história universal da humanidade figura já em Humboldt em manifestações isoladas da idéia da individualidade nacional⁸ Quando então Gervinus se apropria dessa maneira ideal de explicar a história ele imperceptivelmente coloca a idéia histórica de Humboldt⁹ a serviço da ideologia nacional Assim uma história da literatura nacional alemã teria de mostrar de que forma a direção sensata na qual os gregos haviam colocado a humanidade direção esta para a qual em função de sua peculiaridade os alemães sempre tenderam foi conscientemente retomada por estes¹⁰ A idéia universal da filosofia esclarecida da história desagregase na multiplicidade da história das individualidades nacionais afunilandose por fim no mito literário segundo o qual precisamente os alemães estariam qualificados para ser os verdadeiros sucessores dos gregos e isso em função daquela idéia que somente os alemães revelavamse aptos a concretizar em toda a sua pureza¹¹ Esse processo tornado visível a partir do exemplo de Gervinus não constitui um fenômeno típico apenas da história do espírito Geistesgeschichte no século XIX Uma vez tendo a escola histórica desacreditado o modelo teleológico da filosofia idealista da história daí resultou também uma implicação metodológica tanto para a história da literatura quanto para toda a historiografia Censurandose como ahistórica a solução da filo 11 sofia da história de se compreender a marcha dos acontecimentos a partir de uma meta de um apogeu ideal da história mundial¹² como se podia então entender e apresentar o nexo da história que jamais se revela em sua totalidade Conforme demonstrou H G Gadamer o ideal da história universal transformouse assim num embaraço para a investigação histórica¹³ O historiador escreveu Gervinus pode somente pretender apresentar séries acabadas de acontecimentos uma vez que desconhecendo as cenas finais não lhe é possível julgar¹⁴ Histórias nacionais somente podiam ser consideradas séries acabadas de acontecimentos na medida em que culminam politicamente na concretização da unificação nacional ou literariamente no apogeu de um modelo clássico nacional Contudo seu desenvolvimento posterior a essa cena final tinha inegavelmente de trazer de volta o velho dilema Assim em última instância Gervinus só fez da necessidade uma virtude ao em notável concordância com o famoso diagnóstico de Hegel acerca do fim da arte desprezar a literatura de seu próprio período pósclássico como se se tratasse de mera manifestação decadente e aconselhar os talentos agora desprovidos de uma meta a de preferência ocuparemse do mundo real e do Estado¹⁵ Livre porém do dilema envolvendo a conclusão e o avanço da história o historiador do historicismo parecia estar quando se limitava à abordagem de épocas as quais podia abarcar com os olhos até a cena final e descrever em sua plenitude própria sem considerar o que delas resultou Assim a história como painel de época prometia atender plenamente até ao ideal metodológico da escola histórica Desde então quando o desenvolvimento da individualidade nacional não mais lhe basta como fio condutor a história da literatura alinhava umas às outras principalmente épocas acabadas A regra fundamental da escritura histórica segundo a qual o historiador deve anularse ante seu objeto permitindo que ele se apresente com total objetividade¹⁶ deixavase aplicar melhor através desse enfoque por épocas como todos significativos apartados e isolados uns dos outros Se a total objetividade demanda que o historiador abstraia do ponto de vista de seu presente então o valor e o significado de uma época pas sada hào também de ser cognoscíveis independentemente do curso posterior da história As célebres palavras de Ranke de 1854 conferem a esse postulado uma fundamentação teológica Eu porém afirmo todas as épocas apresentamse imediatas a Deus e seu valor não repousa naquilo que delas resulta mas em sua existência nelas próprias17 Essa nova resposta à pergunta acerca de como compreender o conceito de progresso na história destina ao historiador a tarefa de uma nova teodicéia na medida em que contempla e apresenta cada época como algo válido em si ele está justificando Deus perante a filosofia progressista da história que vê as épocas como meros estágios para a geração seguinte pressupondo assim uma primazia da última e portanto uma injustiça divina18 Entretanto a solução de Ranke para o problema legado pela filosofia da história foi obtida à custa de um corte no fio que liga o passado ao presente isto é a época como ela efetivamente foi àquilo que dela resultou Afastandose da filosofia da história do Iluminismo o historicismo abandonou não apenas o modelo teleológico da história universal como também o princípio metodológico que acima de tudo segundo Schiller marca o historiador universal e seu proceder vincular o passado ao presente19 um conhecimento imprescindível apenas supostamente especulativo o qual a escola histórica não podia impunemente desconsiderar20 como o demonstra aliás o ulterior desenvolvimento no campo da historiografia literária A obra da história literária do século XIX apoiouse na convicção de que a idéia da individualidade nacional seria a parte invisível de todo fato21 e de que essa idéia tornaria representável a forma da história22 também a partir de uma seqüência de obras literárias Havendo desaparecido tal convicção tinha de perderse também o fio dos acontecimentos fazendose inevitável que a literatura passada e a presente se apartassem uma da outra em esferas separadas do juízo23 bem como que a escolha determinação e valoração dos fatos literários se tornassem problemáticas A guinada rumo ao positivismo foi determinada primordialmente por essa crise A historiografia literária positivista acreditava estar fazendo da necessidade uma virtude ao tomar emprestados os métodos das ciências exatas O resultado é bastante conhecido a aplicação do princípio da explicação puramente causal à história da literatura trouxe à luz fatores apenas aparentemente determinantes fez crescer em escala hipertrófica a pesquisa das fontes e diluiu a peculiaridade específica da obra literária num feixe de influências multiplicáveis a gosto O protesto não tardou a chegar A história do espírito apoderouse da literatura contrapôs à explicação histórica causal uma estética da criação irracional e buscou o nexo da poesia na recorrência de idéias e motivos supratemporais24 Na Alemanha ela se deixou envolver na preparação e fundamentação da ciência literária nacionalista do nacionalsocialismo Depois da guerra substituíramna novos métodos os quais levaram a cabo o processo de desideologização sem no entanto reassumir a tarefa clássica da história literária A apresentação da literatura em sua história e em sua relação com a história geral estava fora da área de interesse da nova história das idéias e dos conceitos bem como da investigação da tradição que floresceu na esteira da Escola de Warburg A primeira almeja secretamente uma renovação da história da filosofia conforme esta se reflete na literatura25 a última neutraliza a práxis vital da história na medida em que busca o ponto crucial do saber na origem ou na continuidade supratemporal da tradição e não na atualidade e singularidade de um fenômeno literário26 O conhecimento daquilo que persiste em meio à mudança constante desobriganos do esforço da compreensão histórica Na obra monumental de Ernst Robert Curtius que propiciou trabalho a uma legião de epígonos pesquisadores da tópica a continuidade da herança da Antigüidade alçada à condição de idéia suprema figura sob a forma da tensão historicamente não mediada imanente à tradição literária entre criação e imitação poesia elevada e mera literatura Um classicismo atemporal das obrasprimas elevase acima daquilo que Curtius chama a irrompível cadeia tradicional da mediocridade27 deixando a história atrás de si como terra incognita Aqui e nos demais contextos em que aparece a palavra poesia foi usada para traduzir o substantivo alemão Dichtung Empregase portanto não no sentido restrito de obra em verso mas no de obra literária de uma forma geral NT Vencese aí em tão pouca medida o abismo entre a contemplação histórica e a contemplação estética da literatura quanto na teoria literária de Benedetto Croce com sua separação ad absurdum entre poesia e nãopoesia O antagonismo entre a poesia pura e a literatura vinculada especificamente a uma época somente pôde ser superado quando a estética na qual se assenta foi colocada em questão e se reconheceu que a oposição entre criação e imitação caracteriza apenas a literatura do período humanista da arte não mais sendo capaz de abranger os fenômenos da literatura moderna ou mesmo da medieval Da orientação definida pela escola positivista e pela idealista destacaramse a sociologia da literatura e o método imanentista aprofundando ainda mais o abismo entre poesia e história Tal se revela com a máxima nitidez nas teorias literárias antagônicas da escola marxista e da formalista escolas estas que constituirão o ponto central de meu panorama crítico da préhistória da ciência literária atual III Comum a essas duas escolas é a renúncia ao empirismo cego do positivismo bem como à metafísica estética da história do espírito Por caminhos opostos ambas tentaram resolver o problema de como compreender a sucessão histórica das obras literárias como o nexo da literatura e ambas mergulharam por fim numa aporia cuja solução teria exigido que se estabelecesse uma nova relação entre a contemplação histórica e a contemplação estética A teoria literária marxista entendeu ser sua tarefa demonstrar o nexo da literatura em seu espelhamento da realidade social Desnecessário seria determonos aqui nos resultados ingênuos obtidos pela historiografia literária praticada pelo marxismo vulgar que jamais se cansou de fazer derivar diretamente de alguns fatores econômicos e constelações de classes da infraestrutura a multiplicidade dos fenômenos literários Um nível mais elevado a teoria literária marxista alcançou nos momentos em que tentou definir a função da literatura enquanto elemento constitutivo da sociedade Se a determinação social do homem é sua natureza então há de resultar também dos atos passados de autotestemunho literário um quadro completo das contradições que a humanidade viveu ao longo da história A poesia movese em direção a um ouvir É por essa razão que nela se gesta a sociedade à qual ela se dirige o estilo é sua lei e pelo conhecimento do estilo podese decifrar também o destinatário da poesia Werner Krauss de cuja obra Literaturgeschichte als geschichtlicher Auftrag cito28 discutiu essa ampla tese em monografias sobre a literatura do Iluminismo29 mas não a desenvolveu transformandoa numa história da literatura que baseada em premissas tão pouco ortodoxas teria podido dar uma nova direção à história literária marxista Uma vez que esta última decerto também por razões políticas apegase a uma delimitação nacional da história da literatura ela segue sempre trilhando velhos caminhos sem se colocar de maneira nova o problema da relação entre literatura e sociedade relação esta que constitui um processo Tratase entretanto de um problema que ainda que o substrato antiquado da unificação políticonacional fosse substituído pelo modelo histórico mais geral do caminho rumo à sociedade sem classes não estaria mais bem solucionado Em toda a gama das formas que assume apenas muito precariamente a literatura admite ser remontada a fatores do processo econômico pois a mudança estrutural dáse com muito maior lentidão na infraestrutura do que na superestrutura e o número de determinantes verificáveis é muito menor na primeira do que na última Somente uma porção reduzida da produção literária é permeável aos acontecimentos da realidade histórica e nem todos os gêneros possuem força testemunhal no tocante à lembrança dos motivos constitutivos da sociedade Ademais quando uma obra importante parece conferir uma nova direção ao processo literário ela permanece circundada por uma produção que amiúde a vista é incapaz de abranger produção esta composta de obras que correspondem a uma tendência já ultrapassada do gosto mas cujo efeito sobre a sociedade não se deve ter em menor conta do que a novidade freqüentemente incompreendida contida naquela obra importante a qual no entanto é a única que pesa na sucessão homogênea da progressão histórica Contudo a heterogeneidade do simultâneo não constitui a única dificuldade não superada pela historiografia literária marxista Esta vendose constrangida a medir o grau de importância de uma obra literária em função de sua força testemunhal relativamente ao processo social e sendo incapaz de extrair daí quaisquer categorias estéticas próprias permaneceu de um modo geral e sem o admitir presa a uma estética classicista30 Isso se revela não apenas nos apriorismos da crítica literária de Georg Lukács mas ainda em maior grau na construção de cânones comum a todas as escolas marxistas e obrigatória até pouco tempo atrás O conceito de arte clássica tomado emprestado a Hegel e absolutizado resultou em que toda a literatura moderna que não se deixava apreender segundo o princípio da identidade entre forma e conteúdo teve de ser desqualificada como arte degenerada da burguesia decadente Apenas mais recentemente parece ter começado a gestarse uma tendência contrária De início seus defensores não puderam apoiarse em outra autoridade que não a do próprio Stálin ao analogamente à afirmação deste último acerca da lingüística postular também para a literatura a independência entre a superestrutura e a base econômica O debate com o realismo socialista conduziu durante o período do degelo a uma crítica à teoria do reflexo abrindo a perspectiva da fundação de uma teoria da arte apropriada às formas da arte moderna uma teoria que teria obrigatoriamente de trazer consigo a ruptura com a estética clássica da representação Há que se aguardar o resultado de tais iniciativas as quais buscam solucionar a questão acerca da função social da literatura tendo em vista agora também a contribuição específica de suas formas e meios artísticos31 Contudo o problema da história literária assim formulado não constitui uma descoberta da ciência literária marxista Já há quarenta anos ele se colocou também para a escola formalista por ela combatida à época em que essa escola viuse condenada ao silêncio e banida para a diáspora pelos outrora detentores do poder IV Os primeiros passos dos formalistas que na condição de membros da Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética Opoiaz começaram a evidenciarse com publicações programáticas a partir de 1916 deramse sob o signo de uma rigorosa ênfase no caráter artístico da literatura A teoria do método formalista32 alcou novamente a literatura à condição de um objeto autônomo de investigação na medida em que desvinculou a obra literária de todas as condicionantes históricas e à maneira da nova linguística estrutural definiu em termos puramente funcionais a sua realização específica como a soma de todos os procedimentos artísticos nela empregados33 A tradicional separação entre poesia e literatura tornase assim sem efeito O caráter artístico da literatura deve ser verificado única e exclusivamente a partir da oposição entre linguagem poética e linguagem prática A língua em sua função prática passa então a representar na qualidade de série nãoliterária todas as demais condicionantes históricas e sociais da obra literária esta é descrita e definida como obra de arte precisamente em sua singularidade própria écart poétique e não portanto em sua relação funcional com a série nãoliterária A diferenciação entre linguagem poética e linguagem prática conduziu ao conceito de percepção artística conceito este que rompe completamente o vínculo entre litera 19 tura e vida A arte tornase pois o meio para a destruição pelo estranhamento do automatismo da percepção cotidiana Decorre daí que a recepção da arte não pode mais consistir na fruição ingênua do belo mas demanda que se lhe distinga a forma e se lhe conheça o procedimento Assim o processo de percepção da arte surge como um fim em si mesmo tendo a perceptibilidade da forma como seu marco distintivo e o desvelamento do procedimento como o princípio para uma teoria que renunciando conscientemente ao conhecimento histórico transformou a crítica de arte num método racional e ao fazêlo produziu feitos de qualidade científica duradoura Entretanto não se pode ignorar um outro feito da escola formalista A historicidade da literatura inicialmente negada reapareceu ao longo da construção do método formalista colocandoo diante de um problema que o obrigou a repensar os princípios da diacronia O literário na literatura não é determinado apenas sincronicamente pela oposição entre as linguagens poética e prática mas o é também diacronicamente por sua oposição àquilo que lhe é predeterminado pelo gênero e à forma que o precede na série literária Na formulação de Vítor Chklovski se a obra de arte é percebida em contraposição ao pano de fundo oferecido por outras obras de arte e mediante associação com estas34 a interpretação deve levar em conta também a sua relação com outras formas existentes anteriormente a ela Com isso a escola formalista começou a buscar seu próprio caminho de volta rumo à história Essa sua nova proposta distinguiase da velha história da literatura pelo fato de abandonar a concepção básica desta última de um processo linear e continuado e por contrapôr assim ao conceito clássico da tradição um princípio dinâmico de evolução literária O prisma da continuidade perdia pois sua velha primazia no conhecimento histórico A análise da evolução literária desnuda na história da literatura a autogeração dialética de novas formas35 ela descreve o fluxo supostamente pacífico e gradual da tradição como um processo que encerra rupturas revoltas de novas escolas e conflitos entre gêneros concorrentes O espírito objetivo das épocas homogê neas é repudiado como especulação metafísica Segundo Vítor Chklovski e Iúri Tynianov em toda época existem simultaneamente várias escolas literárias e uma delas representa o ápice canonizado da literatura a canonização de uma forma literária conduz à sua automatização provocando na camada inferior a construção de novas formas as quais conquistam o lugar das antigas adquirem a dimensão de um fenômeno de massa e por fim são elas próprias compelidas de volta à periferia36 Com essa proposta que paradoxalmente volta o princípio da evolução literária contra o sentido orgânicoteleológico do conceito clássico de evolução a escola formalista aproximouse bastante de uma nova compreensão histórica da literatura no domínio do surgimento da canonização e da decadência dos gêneros Ela nos ensinou a ver de uma maneira nova a obra de arte em sua história isto é na transformação dos sistemas de gêneros e formas literárias abrindo caminho assim para uma descoberta da qual também a linguística se apropriou a descoberta de que a pura sincronia é ilusória porque nas palavras de Roman Jakobson e Iúri Tynianov todo sistema apresentase necessariamente como uma evolução e esta por sua vez carrega forçosamente um caráter sistemático37 Contudo compreender a obra de arte em sua história ou seja no interior da história da literatura definida como uma sucessão de sistemas38 ainda não é o mesmo que contemplála na história isto é no horizonte histórico de seu nascimento função social e efeito histórico O histórico na literatura não se esgota na sucessão de sistemas estéticoformais assim como o da língua o desenvolvimento da literatura não pode ser determinado apenas de forma imanente através de sua relação própria entre diacronia e sincronia mas há de ser definido também em função de sua relação com o processo geral da história39 Se dessa perspectiva voltarmos novamente o nosso olhar para o dilema comum à teoria literária formalista e à marxista resultará daí uma conclusão que nenhuma delas tirou Se por um lado se pode compreender a evolução literária a partir da sucessão histórica de sistemas e por outro a história geral a partir do encadeamento dinâmico de situações sociais não haverá de ser possível também colocarse a série literária e a nãoliterária numa conexão que abranja a relação entre literatura e história sem com isso obrigarse a primeira a abandonando seu caráter artístico encaixarse numa função meramente mimética ou ilustrativa V No âmbito da questão aí colocada eu vejo o desafio da ciência literária na retomada do problema da história da literatura deixado em aberto pela disputa entre o método marxista e o formalista Minha tentativa de superar o abismo entre literatura e história entre o conhecimento histórico e o estético pode pois principiar do ponto em que ambas aquelas escolas pararam Seus métodos compreendem o fato literário encerrado no círculo fechado de uma estética da produção e da representação Com isso ambas privam a literatura de uma dimensão que é componente imprescindível tanto de seu caráter estético quanto de sua função social a dimensão de sua recepção e de seu efeito Leitores ouvintes espectadores o fator público em suma desempenha naquelas duas teorias literárias um papel extremamente limitado A escola marxista não trata o leitor quando dele se ocupa diferentemente do modo com que ela trata o autor buscalhe a posição social ou procura reconhecêlo na estratificação de uma dada sociedade A escola formalista precisa dele apenas como o sujeito da percepção como alguém que seguindo as indicações do texto tem a seu cargo distinguir a forma ou desvendar o procedimento Pretende pois ver o leitor dotado da compreensão teórica do filólogo o qual conhecedor dos meios artísticos é capaz de refletir sobre eles do mesmo modo como inversamente a escola marxista iguala a experiência espontânea do leitor ao interesse científico do materialismo histórico que deseja desven dar na obra literária as relações entre a superestrutura e a base Contudo e como afirmou Walther Bulst texto algum jamais foi escrito para ser lido e interpretado filologicamente por filólogos40 ou acrescento eu historicamente por historiadores Ambos os métodos o formalista e o marxista ignoram o leitor em seu papel genuíno imprescindível tanto para o conhecimento estético quanto para o histórico o papel do destinatário a quem primordialmente a obra literária visa Considerandose que tanto em seu caráter artístico quanto em sua historicidade a obra literária é condicionada primordialmente pela relação dialógica entre literatura e leitor relação esta que pode ser entendida tanto como aquela da comunicação informação com o receptor quanto como uma relação de pergunta e resposta41 há de ser possível no âmbito de uma história da literatura embasar nessa mesma relação o nexo entre as obras literárias E isso porque a relação entre literatura e leitor possui implicações tanto estéticas quanto históricas A implicação estética reside no fato de já a recepção primária de uma obra pelo leitor encerrar uma avaliação de seu valor estético pela comparação com outras obras já lidas42 A implicação histórica manifestase na possibilidade de numa cadeia de recepções a compreensão dos primeiros leitores ter continuidade e enriquecerse de geração em geração decidindo assim o próprio significado histórico de uma obra e tornando visível sua qualidade estética Se pois se contempla a literatura na dimensão de sua recepção e de seu efeito então a oposição entre seu aspecto estético e seu aspecto histórico vêse constantemente mediada e reatado o fio que liga o fenômeno passado à experiência presente da poesia fio este que o historicismo rompera Com base nessa premissa cumpre agora responder à pergunta acerca de como se poderia hoje fundamentar metodologicamente e reescrever a história da literatura O esboço que se segue foi dividido em sete teses VIXII cada uma das quais será por mim discutida separadamente VI Uma renovação da história da literatura demanda que se ponham abaixo os preconceitos do objetivismo histórico e que se fundamentem as estéticas tradicionais da produção e da representação numa estética da recepção e do efeito A historicidade da literatura não repousa numa conexão de fatos literários estabelecida post festum mas no experienciar dinâmico da obra literária por parte de seus leitores Essa mesma relação dialógica constitui o pressuposto também da história da literatura E isso porque antes de ser capaz de compreender e classificar uma obra o historiador da literatura tem sempre de novamente fazerse ele próprio leitor Em outras palavras ele tem de ser capaz de fundamentar seu próprio juízo tomando em conta sua posição presente na série histórica dos leitores O postulado que em sua crítica à ideologia dominante da objetividade R G Collingwood estabeleceu para a historiografia history is nothing but the reenactment of past thought in the historians mind43 aplicase em ainda maior medida à história da literatura A concepção positivista da história como descrição objetiva de uma seqüência de acontecimentos num passado já morto falha tanto no que se refere ao caráter artístico da literatura quanto no que respeita à sua historicidade especí fica A obra literária não é um objeto que exista por si só oferecendo a cada observador em cada época um mesmo aspecto44 Não se trata de um monumento a revelar monologicamente seu Ser atemporal Ela é antes como uma partitura voltada para a ressonância sempre renovada da leitura libertando o texto da matéria das palavras e conferindolhe existência atual parole qui doit en même temps quelle lui parle créer un interlocuteur capable de lentendre45 É esse caráter dialógico da obra literária que explica por que razão o saber filológico pode apenas consistir na continuada confrontação com o texto não devendo congelarse num saber acerca de fatos46 O saber filológico permanece sempre vinculado à interpretação e esta precisa ter por meta paralelamente ao conhecimento de seu objeto refletir e descrever a consumação desse conhecimento como momento de uma nova compreensão A história da literatura é um processo de recepção e produção estética que se realiza na atualização dos textos literários por parte do leitor que os recebe do escritor que se faz novamente produtor e do crítico que sobre eles reflete A soma crescente a perder de vista de fatos literários conforme os registram as histórias da literatura convencionais é um mero resíduo desse processo nada mais que passado coletado e classificado por isso mesmo não constituindo história alguma mas pseudohistória Aquele que toma já por uma parcela da história da literatura uma tal série de fatos literários está confundindo o caráter de acontecimento de uma obra de arte com o de um fato histórico Como acontecimento literário o Perceval de Chrétien de Troyes não é histórico no sentido em que o é por exemplo a Terceira Cruzada contemporânea à obra47 Não se trata de uma action que em função de uma série de premissas e motivações imperiosas da intenção reconstruível de um ato histórico e de suas conseqüências inevitáveis e incidentais se possa explicar como evento decisivo O contexto histórico no qual uma obra literária aparece não constitui uma seqüência factual de acontecimentos forçosamente existentes independentemente de um observador O Perceval tornase acontecimento literário unicamente para seu leitor que lê essa obra derradeira de Chrétien tendo na lembrança as obras anteriores do autor percebelhe a singularidade em comparação com essas e outras obras já conhecidas e adquire assim um novo parâmetro para a avaliação de obras futuras Diferentemente do acontecimento político o literário não possui conseqüências imperiosas que seguem existindo por si sós e das quais nenhuma geração posterior poderá mais escapar Ele só logra seguir produzindo seu efeito na medida em que sua recepção se estenda pelas gerações futuras ou seja por elas retomada na medida pois em que haja leitores que novamente se apropriem da obra passada ou autores que desejem imitála sobrepujála ou refutála A literatura como acontecimento cumprese primordialmente no horizonte de expectativa dos leitores críticos e autores seus contemporâneos e pósteros ao experienciar a obra Da objetivação ou não desse horizonte de expectativa dependerá pois a possibilidade de compreender e apresentar a história da literatura em sua historicidade própria melhores lembranças 8 Como foi seu primeiro amor 9 Você já sofreu de amor 10 Qual a sensação de seu primeiro beijo e assim por diante Escrito o questionário num caderno de folhas grandes com uma pergunta em cada folha e todas as linhas numeradas esse circula entre os alunos que devem responder sempre no mesmo número e com absoluta sinceridade Quando todos tiverem respondido ao questionário esse é lido em voz alta por alguns dos alunos pergunta a pergunta O conjunto de informações sobre a vida amorosa da turma é comentado espontaneamente por aqueles que estiverem interessados definindose assim os temas que provocam maior envolvimento junto à maioria dos alunos quanto à questão do amor Atendimento do horizonte de expectativas O conjunto de interesses amorosos detectados pelos procedimentos anteriores sugere como tema a fugacidade do amor a beleza do ser amado o temor da traição a sensualidade e o desejo de sinceridade Para atender tais preferências o professor traz para a sala de aula um disco Vinícius e Toquinho de Vinícius de Moraes Tocao e pede que os alunos extraiam as letras das canções que mais lhes agradam Do disco são feitas tantas audições quantas sejam necessárias para que todos transcrevam suas letras preferidas No encontro seguinte o professor traz mimeografados os poemas na sua versão em livro v Bibliografia Propõe uma comparação entre o texto do livro aquele que foi copiado pelo aluno e ambos em relação à canção do disco Essa comparação atentará para a disposição dos versos seus limites a composição das estrofes e a sensação que o texto escrito e musicado despertaram no ouvinte leitor Esse exercício comparativo será efetuado oralmente em grande grupo e de forma coletiva tendo todos oportunidade de expressar sua opiniões descobertas e sentimentos Ruptura do horizonte de expectativas Diante dos resultados alcançados na etapa anterior o professor sugere a leitura de textos poéticos de outros autores mais distantes no tempo mas que tratam também de temas amorosos Lê exemplos de poemas de poetas românticos como Castro Alves Álvares de Azevedo Gonçalves Dias Fagundes Varela poetas parnasianos como Olavo Bilac Raimundo Correia Machado de Assis ou poetas simbolistas como Cruz e Souza Alphonsus de Guimaraens e outros Os alunos ouvem os poemas manifestandose com relação ao modo como são feitos os versos e quanto à sonoridade dos mesmos com base na experiência anterior Entre esses poetas mais antigos o grupo escolhe um para ser trabalhado em aula Supondose que a escolha tenha recaído sobre Cruz e Souza cabe aos alunos providenciar uma antologia dos poemas amorosos daquele autor através de pesquisa na biblioteca escolar Essa antologia será convertida no material literário a ser usado para análise em classe Os alunos podem apresentála graficamente e a reproduzirem conforme o desejarem por mimeógrafo xerox manuscrito etc Cada integrante da classe deve possuir a sua Noutro encontro o professor solicita que cada estudante leia a sua antologia escolha dela o poema que mais o toca buscando descobrir a sonoridade dos versos Poderá se quiser tamborilar segundo a cadência rítmica ou cantarolar de acordo com as entonações melódicas do poema A tarefa seguinte será a de descobrir a composição fônica e rítmica dos poemas Para isso deverá o aluno pesquisar em livros de versificação tais como o de Norma Goldstein ou de Décio Pignatari Sempre que tiver dúvidas fará a pergunta em voz alta para que o professor a resolva e os outros colegas possam se beneficiar da informação Efetuada essa análise o professor propõe que cada um crie um poema utilizandose dos recursos sonoros percebidos no seu texto e mesmo aproveitando versos desse Os poemas inventados são postos em circulação na sala de aula e os colegas anotam os versos que mais lhes chamam a atenção junto com o nome de seu autor Cada aluno retoma o seu poema e o coteja então com o original de Cruz e Souza que lhe serviu de base anotando as mudanças de sentido ocorridas Essas anotações são entregues ao professor de modo que esse possa verificar a aprendizagem da descrição dos elementos sonoros do poema e a reinterpretação do aluno Questionamento do horizonte de expectativas Em outro encontro o professor solicita que a turma se divida em grupos espontâneos Lembrando a atividade anterior pede que cada grupo escolha um elemento sonoro ou rítmico dentre os já pesquisados que considere importante na composição dos poemas já examinados em classe Esse elemento pode ser rima metro acento aliteração assonância anáfora paralelismo pausa etc Os integrantes do grupo selecionam um poema de Vinícius de Moraes e outro de Cruz e Souza e analisam o comportamento do componente sonoro eou rítmico em ambos prestando atenção às similaridades e diferenças Discutem a seguir os efeitos PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM ENSINO Ampla associação entre Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso Universidade de Cuiabá WILL ROBSON SOARES DE SOUZA LITERATURA E REPRESENTAÇÕES DO FEMININO A CONTÍSTICA DE MARINA COLASANTI NA PROMOÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO ANTIMACHISTA E ANTISSEXISTA ATRAVÉS DO LETRAMENTO LITERÁRIO Cuiabá 2024 PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM ENSINO Ampla associação entre Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso Universidade de Cuiabá WILL ROBSON SOARES DE SOUZA LITERATURA E REPRESENTAÇÕES DO FEMININO A CONTÍSTICA DE MARINA COLASANTI NA PROMOÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO ANTIMACHISTA E ANTISSEXISTA ATRAVÉS DO LETRAMENTO LITERÁRIO Linha Ensino de Linguagens e seus Códigos Projeto de Pesquisa apresentado ao Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Ensino PPGEn nível mestrado do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia de Mato Grosso em associação ampla com a Universidade de Cuiabá como atividade da disciplina de Seminário de Pesquisa I Orientador Prof Dr Epaminondas de Matos Magalhães Cuiabá 2024 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA TÍTULO Literatura e representações do feminino a contística de Marina Colasanti na promoção de uma educação antimachista e antissexista através do letramento literário LINHA DE PESQUISA Ensino de Linguagens e seus Códigos DESENHO DA PESQUISA Este estudo tem como objetivo investigar a contribuição do letramento literário antimachista e antissexista utilizando a contística de Marina Colasanti presente na obra Contos de Amor Rasgados 1986 como ferramenta de análise e reflexão Tratase de uma pesquisaação a ser realizada com alunos do 7º semestre do curso de Bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso Campus Universitário de Pontes e Lacerda A metodologia empregada consistirá em uma pesquisaação realizando a análise crítica de contos selecionados da autora Marina Colasanti presentes na obra Contos de Amor Rasgados 1986 explorando como suas narrativas podem ser utilizadas para fomentar discussões de gênero e promover um ensino e educação mais igualitária no ensino superior mais especificamente no curso de bacharelado em direito através do letramento literário Além disso será investigado o potencial emancipatório da literatura quando aliada às práticas de ensino buscando compreender como o letramento literário pode contribuir para a formação de indivíduos mais conscientes e engajados na luta pela igualdade de gênero RESUMO A literatura desempenha funções cruciais na formação do indivíduo e na sociedade como um todo uma vez que possibilita ao leitor entrar em contato com as mais diversas culturas linguagens identidades e perspectivas Nesse sentido as obras literárias tornamse também responsáveis pela construção preservação ou modificação da identidade cultural incluindo a desconstrução de comportamentos disfuncionais como o machismo e o sexismo Para que padrões de comportamentos prejudiciais sejam quebrados o letramento literário se destina à formação de leitores de forma que estes sejam capazes através da leitura construir um pensamento cada vez mais crítico e autônomo aprendendo a questionar analisar e interpretar os textos de forma independente e por consequência também questionar e modificar os padrões sociais existentes Este projeto de pesquisa investiga a utilização da literatura no ensino com foco na leitura e discussão de contos de Marina Colasanti presentes na obra Contos de Amor Rasgados 1986 como ferramenta para a promoção de uma educação antimachista e antissexista Ao utilizar os contos da autora o estudo visa fomentar debates e reflexões sobre a visão do feminino e as construções sociais de gênero A base teórica do projeto é sustentada pelas teorias de letramento literário e pedagogia crítica destacando as contribuições de renomados estudiosos como Bordini e Aguiar 1988 Candido 1972 1988 2004 Paulo Freire 1997 2005 Roland Barthes 1998 Safiotti 1987 1995 2004 Todorov 2009 Zilberman 1989 dentre outros A metodologia adotada é a pesquisaação conforme proposta por Michel Thiollent 2011 que garante uma abordagem participativa e reflexiva Esta metodologia permite a intervenção direta no contexto educativo suscitando mudanças práticas e efetivas O objetivo geral é desenvolver habilidades de leitura crítica e reflexão sobre questões de gênero contribuindo para a formação de cidadãos conscientes e engajados Esperase ainda que a utilização da literatura no contexto acadêmico especialmente no curso de Bacharelado em Direito promova um ambiente educacional mais igualitário e inclusivo desafiando estereótipos de gênero e incentivando a construção de uma sociedade mais justa Os resultados esperados ainda vão de encontro com o desenvolvimento de uma maior sensibilidade crítica entre os acadêmicos e a implementação de práticas de ensino que valorizem o ensino crítico a literatura a igualdade e o respeito Por fim ao integrar a literatura de Marina Colasanti com uma abordagem pedagógica crítica buscase não apenas enriquecer o processo educativo mas também contribuir para a transformação social promovendo uma educação que desafie preconceitos e estereótipos de gênero Ao final do estudo serão compartilhadas as descobertas e propostas com a comunidade acadêmica e educacional visando fomentar a implementação de práticas de letramento literário antimachista e antissexista em diferentes contextos de ensino PalavrasChave Literatura Marina Colasanti Educação Antimachista e Antissexista Letramento Literário 1 INTRODUÇÃO A literatura tem papel fundamental na formação do indivíduo sejam pelas funções social formativa e psicológica mas para além disso é nela que podem estar alojadas as representações simbólicas que versam sobre os efeitos causados pelas experiências vivenciadas tanto no plano material ou simbólico de nossa existência Analisar a influência da literatura nos processos formativos da personalidade de cada indivíduo requer investigação detalhada sobre a ideia de função Candido 1972 menciona que a idéia de função provoca não apenas uma certa inclinação para o lado do valor mas para o lado da pessoa no caso o escritor que produz a obra e o leitor coletivamente o público que recebe o seu impacto Se de um lado existe a possibilidade de projetar nossas experiências na literatura de outro lado pode existir também a probabilidade de que esta molde nossa interpretação sobre o mundo e nosso comportamento diante dele Bordini e Aguiar 1988 p 14 descrevem que a obra literária pode ser entendida como uma tomada de consciência do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor Na contemporaneidade e até mesmo em locais de viés educacional como a universidade a literatura tem sido posta de lado dando espaço à atividades que nos afastam cada vez mais da leitura e compreensão do simbólico através dela Nesta seara denotado o visível afastamento da academia dos textos literários também acabamos por inviabilizar a possibilidade do reconhecimento do Outro através da palavra escrita Bordini e Aguiar 1998 em seus estudos nos apresentam o conceito de Letramento Literário como processo de apropriação da literatura enquanto linguagem Segundo as autoras o letramento literário vai além da simples decodificação de palavras englobando a habilidade de interpretar criticar e modificar a realidade através dos textos literários Esse tipo de letramento incentiva uma leitura profunda e significativa que contribui para a formação de leitores críticos e reflexivos que por consequência conseguem materializar as mudanças de concepção de mundo em sua própria realidade Neste ponto o que se compreende é que emerge a necessidade de uma educação que não apenas reconheça mas que ativamente combata as desigualdades e as violências existentes a exemplo da violência de gênero o machismo e o sexismo conceitos de análise neste estudo A realização de uma educação antimachista e antissexista se torna imperiosa dado que comportamentos de violência de gênero ainda se encontram fortemente inseridos em nossa sociedade o ensino enquanto instrumento de transformação social tem o potencial de contribuir significativamente para a desconstrução dessas desigualdades Analisar e debater inclusive na universidade a representação da mulher na literatura e estimular o acesso a obras que retratem sua existência é forte iniciativa de transformação social como método de se evitar a perpetuação de estruturas machistas e sexistas Todos os livros favorecem a descoberta de sentidos mas são os literários que o fazem de modo mais abrangente BORDINI AGUIAR 1998 p 13 Deste modo utilizar a literatura para promoção da reflexão sobre as convenções nas quais estamos inseridos é garantir a possibilidade de ruptura com modelos que estimulam a violência e a segregação Ademais a literatura como instrumento de identificação das representações de gênero seus estereótipos ou mesmo dogmatismos permitirá uma reflexão aprofundada sobre como as normas de gênero são socialmente construídas e perpetuadas A partir dessa análise esperamos que se torne possível desconstruir as questões que limitam as possibilidades das pessoas com base em seu sexo ou gênero Além disso ao realizar uma análise criteriosa de obras literárias que abordam a condição feminina pode fomentar um olhar crítico nos leitores mesmo naqueles que se deparam com essas obras de maneira despretensiosa A problemática reside neste caso no fato de que a leitura de obras literárias não recebe a devida atenção e além disso não encontra um terreno propício para sua introdução e discussão É essencial que essas obras sejam valorizadas e integradas de forma significativa no contexto educacional e cultural para que possam cumprir seu papel transformador na sociedade O problema totalmente novo colocado para todos é inventar as condições e abordagens de uma política de leiturização que responda às necessidades individuais e sociais de nosso tempo da mesma maneira que a política de alfabetização satisfez as exigências dos últimos cem anos FOUCAMBERT 1994 p 33 Os textos literários podem ser uma ferramenta poderosa na formação de indivíduos críticos e reflexivos capazes de questionar e transformar a realidade ao seu redor Investigar a utilização da literatura como método de ensino e promoção da educação antimachista e antissexista possibilitará a realização de debates e reflexões sobre identidade feminilidade e as construções sociais de gênero Esse processo desafia estereótipos e promove a igualdade incentivando uma compreensão mais profunda e inclusiva das questões de gênero Sendo assim ao utilizar as obras literárias como método de transformação social destacamos Marina Colasanti uma autora proeminente da literatura brasileira Através de suas obras Colasanti tem apresentado noções sobre o feminino e explicitado diversos tipos de violências cometidas contra a mulher e abordado a luta e a libertação de estereótipos sociais Consequentemente seus contos tornarão neste estudo instrumentos valiosos para a reflexão sobre as discussões em torno das temáticas de gênero e feminilidade Marina Colasanti é conhecida por suas narrativas que frequentemente abordam questões de gênero e a condição feminina oferecendo um rico material para análise e debate Na obra Contos de Amor Rasgados 1986 mais especificamente nos contos utilizados neste estudo A honra passada a limpo O leite da mulher amada Para que ninguém a quisesse Sem que fosse tempo de migração e Uma questão de educação encontramos inúmeras nuances de representação do feminino que tendem a despertar as mais variadas interpretações e reflexões fomentando discussões de gênero O foco desta pesquisa está na aplicação prática da literatura no contexto educacional utilizando os contos citados para a realização de letramento literário e a promoção de discussões sobre gênero Através dessa abordagem buscase não apenas enriquecer o conhecimento literário dos alunos mas também incentivar uma compreensão crítica e reflexiva sobre as construções sociais de gênero e a condição feminina A literatura exerce um papel crucial na formação das identidades e na construção das representações sociais Dentro desse contexto a obra de Marina Colasanti se destaca pela sua capacidade de desafiar estereótipos de gênero e promover uma visão crítica das normas sociais A contística de Colasanti com suas narrativas ricas e personagens multifacetadas oferece uma janela para discussões fundamentais sobre igualdade de gênero machismo e sexismo Neste trabalho propomos uma análise da contribuição da obra de Marina Colasanti para uma educação antimachista e antissexista Exploraremos como suas histórias podem ser utilizadas como ferramentas pedagógicas para desconstruir estereótipos promover a reflexão crítica e inspirar o empoderamento feminino Por meio de uma leitura atenta de suas narrativas destacaremos os elementos que tornam sua literatura uma aliada poderosa na formação de uma sociedade mais justa e igualitária O estudo da linguagem e dos símbolos contidos em alguns contos de Marina Colasanti na obra Contos de Amor Rasgados 1986 será realizado junto a discentes do curso de Direito da Universidade Estadual do Estado de Mato Grosso UNEMAT Campus de Pontes e Lacerda e em conjunto com outras teorias que versam sobre identidade estudo de gênero feminismo ensino e educação realizaremos uma análise do psiquismo feminino através da forma em que se dá a linguagem simbolismo representações do papel social da mulher e as atribuições arbitrariamente conferidas à feminilidade Empregar tal literatura mesmo no ensino superior para realização do letramento literário através da discussão sobre gênero e suas representações estereótipos ou mesmo dogmatismos permitirá ponderar sobre como as normas de gênero são construídas socialmente e como são perpetuadas e se a partir deste ponto pode ser possível desconstruir as questões que limitam as possibilidades das pessoas diante de tais padrões Ademais será realizando a devida análise sobre o letramento literário antimachista e antissexista utilizando contos que versam sobre a condição feminina que analisaremos se é possível produzir um olhar crítico nos leitores e se com isso podemos tomar compreensão mais clara do significado de justiça social Candido 2004 p 182 corrobora com os propósitos dos contos de Marina Colasanti quando versa sobre a possibilidade de realizar uma transformação social quando estimulada a prática reflexiva e análise crítica da realidade Entendo aqui por humanização o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais como o exercício da reflexão a aquisição do saber a boa disposição para com o próximo o afinamento das emoções a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepção da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A Literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante Em resumo o estudo explorará o potencial da literatura como ferramenta educativa nas discussões de gênero para combater o machismo e o sexismo utilizando os contos de Marina Colasanti como base para discussões e reflexões críticas no contexto acadêmico Através dessa abordagem esperase contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes e engajados na luta por uma sociedade mais justa e igualitária assim como proporcionar uma base sólida para a continuidade de sua aplicação no ensino permitindo uma análise aprofundada dos resultados obtidos 2 JUSTIFICATIVA A literatura enquanto forma de arte e expressão cultural pode ser um valioso na formação de uma consciência crítica Este projeto propõe a realização de oficinas de letramento literário orientadas pela leitura e discussão de contos de Marina Colasanti em sala de aula do ensino superior com o objetivo de avaliar o impacto dessa prática na promoção de uma educação mais igualitária e reflexão sobre as noções de justiça As motivações que levaram à escolha deste tema incluem a percepção da importância de uma abordagem crítica e reflexiva na educação a relevância dos contos de Marina Colasanti para discutir questões de gênero e a crença no poder transformador do letramento literário O objeto de análise deste estudo será o impacto do letramento literário produzido pela leitura e discussão dos contos de Marina Colasanti na formação de uma consciência crítica entre os discentes e na promoção de valores antimachistas e antissexistas A realização desta pesquisa também é justificada pela relevância social e educacional de promover uma educação antimachista e antissexista no contexto acadêmico Em uma sociedade onde o machismo e o sexismo ainda são problemas persistentes a educação desempenha um papel crucial na formação de indivíduos críticos e conscientes capazes de desafiar e transformar essas estruturas opressivas Este projeto ao utilizar a literatura como ferramenta pedagógica busca não apenas formar leitores competentes mas também cidadãos comprometidos com a justiça social e a igualdade de gênero A relevância social do problema a ser investigado está na necessidade urgente de combater as desigualdades de gênero que permeiam diversas esferas da vida cotidiana incluindo a educação Através da leitura e análise crítica dos contos de Marina Colasanti que frequentemente abordam questões relacionadas ao feminino e aos estereótipos de gênero os alunos poderão desenvolver uma compreensão mais profunda e reflexiva sobre essas temáticas Isso contribui para a desconstrução de preconceitos e a promoção de uma cultura de respeito e igualdade Uma das principais fontes de dados sobre violência no Brasil é o Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública FBSP Segundo o relatório publicado em 2023 foram registrados 1463 casos de feminicídio no Brasil uma média de 1 caso a cada 6 horas A pesquisa apontou que 18 estados apresentaram uma taxa de feminicídio acima da média nacional de 14 mortes para cada 100 mil mulheres Segundo as estatísticas fornecidas pelo documento o número de denúncias de violência contra a mulher é 16 maior que o de 2022 com mais de 266 mil registros de lesão corporal dolosa em contexto de violência doméstica Sobre os autores da violência a pesquisa apontou que 73 dos crimes foram cometido por um parceiro ou exparceiro íntimo da vítima e que 107 das vítimas foram assassinadas por familiares Da mesma forma dados do Ministério da Mulher 2023 da Família e dos Direitos Humanos MMFDH através da Central de Atendimento à Mulher Ligue 180 serviço de assistência e atendimento à mulher em situação de violência que oferece orientação e encaminhamento para serviços de proteção recebeu mais de 5686 mil ligações uma média de 1558 chamadas diárias em 2023 indicando um aumento de 258 em relação ao ano anterior As informações encontradas na pasta ainda mostram que em janeiro deste ano 2024 a Central de Atendimento à Mulher já recebeu 48560 ligações telefônicas sendo destas 810 via WhatsApp o que já totaliza 10852 denúncias As denúncias incluem violência física psicológica sexual moral e patrimonial O cenário retratado nos mostra que o ciclo da violência contra o feminino direcionado mais especificamente à figura da mulher permanece sendo uma triste realidade social Apesar de o Brasil ter implementado diversas políticas públicas e leis como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio a efetividade dessas medidas também depende da conscientização social e de uma análise crítica adequada Realizando o letramento literário antimachista e antissexista com alunos do curso de direto pretendese que seja possível fomentar que o fazer justiça seja algo pertinente e coerente com as demandas atuais e as premissas da Constituição de 1988 que possibilitou pela primeira vez a igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres no Brasil como exposto no Art 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil I construir uma sociedade livre justa e solidária II garantir o desenvolvimento nacional III erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais IV promover o bem de todos sem preconceitos de origem raça sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminação Neste interim o estudo pode trazer contribuições significativas tanto em termos práticos quanto teóricos Na prática esperase que a implementação de um Letramento Literário que contemple a leitura e discussão de contos de Marina Colasanti no espaço acadêmico para que se possa efetivamente promover valores antimachistas e antissexistas entre os estudantes Teoricamente a pesquisa se preocupa com formulações existentes sobre o papel da literatura na educação crítica e discussões de gênero e com a criação de novas perspectivas sobre como os textos literários podem ser utilizados para desafiar e desconstruir violências de gênero e estereótipos Sobre as máculas realizadas pelos estereótipos temos o estereótipo funciona como uma máscara Os homens devem vestir a máscara do macho da mesma forma que as mulheres devem vestir a máscara de submissas O uso das máscaras significa a repressão de todos os desejos que caminharem em outra direção Não obstante a sociedade atinge alto grau de êxito neste processo repressivo que modela homens e mulheres para relações assimétricas desiguais de dominador e dominada SAFFIOTI 1987 p40 No que diz respeito ao estágio de desenvolvimento dos conhecimentos sobre o tema há uma base sólida de literatura que explora a relação entre educação e igualdade de gênero bem como o papel da literatura na formação crítica dos indivíduos No entanto ainda há uma necessidade de estudos que investiguem especificamente o impacto de autores como Marina Colasanti na educação antimachista e antissexista Este projeto portanto visa preencher essa lacuna contribuindo com dados empíricos e análises teóricas incentivando futuras práticas de ensino que não mais contemplem a dominação masculina e a subordinação feminina A possibilidade de sugerir modificações no âmbito da realidade proposta pelo tema é uma das principais motivações deste projeto Ao demonstrar o impacto positivo da literatura na promoção de uma educação mais igualitária este estudo pode incentivar a adoção de práticas similares em outros contextos educacionais Além disso exsurge o dever de fomentar debates críticos sobre gênero através da literatura no ensino superior especialmente no Direito responsável por operar normativas que regem o comportamento social O desejo por este estudo se deu a partir da observação de que na contemporaneidade e até mesmo em locais como a universidade a literatura tem sido posta de lado dando espaço à comportamentos que nos afastam cada vez mais da leitura e compreensão do simbólico através dela Nesta seara também acabamos por inviabilizar a possibilidade do reconhecimento do Outro através da palavra escrita O perigo que hoje ronda a Literatura não está portanto na escassez de bons poetas ou ficcionistas no esgotamento da produção ou criação poética mas na forma como a literatura tem sido oferecida aos jovens desde a escola primária até a faculdade o perigo está no fato de que por uma estranha inversão o estudante não entra em contato com a literatura mediante a leitura de textos literários propriamente ditos mas com alguma forma de crítica de teoria ou de história literária TODOROV 2009 p10 Analisar mesmo na universidade a representação da mulher na literatura e estimular o acesso a obras que retratem sua existência e experiências pode ser forte iniciativa de transformação social como forma de se evitar a perpetuação de estruturas machistas e sexistas A escrita literária tem uma importância fundamental na maneira como as pessoas se reconhecem e como as ideias são construídas na sociedade Nesse sentido alcança destaque a produção literária de Marina Colasanti por sua capacidade de questionar padrões de comportamento entre homens e mulheres e incentivar uma reflexão sobre as regras estabelecidas pela sociedade As histórias criadas por Colasanti com suas tramas complexas e personagens multifacetados abrem caminho para debates importantes sobre equidade de gênero patriarcado e preconceito de gênero Transformações sociais só acontecem a partir do momento em que reflexões individuais são incentivadas Sobre isso cabe resultar que o ensino e a educação são atos intrinsecamente políticos que se orientam pela prática e pela conscientização dos direitos Freire apresenta O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo Requer sua ação transformadora sobre a realidade Demanda uma busca constante Implica em invenção e em reinvenção Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer pelo qual se reconhece conhecendo e ao reconhecerse assim percebe como de seu conhecer e os condicionamentos a que está submetido seu ato FREIRE 1977 p 27 É através da ampliação de políticas educacionais que valorizem a diversidade e a igualdade que incidiremos na formação de profissionais atentos as mais variadas singularidades assim como na percepção do ser como sujeito de deveres mas principalmente de direitos É válido salientar que o machismo e o sexismo incidem no aumento dos índices de violência contra a mulher especialmente no ambiente doméstico causando impactos incalculáveis na integridade física moral e psicológica de suas vítimas Por isso profissionais de variadas áreas precisam ser motivados a pensar alternativas para proteger as vítimas desse tipo de violência além criar políticas públicas e estratégias que as amparem Vale ressaltar que crianças e adolescentes que testemunham ou sofrem esse tipo de violência têm maior propensão a replicar essas ações no futuro permitindo a continuidade do ciclo de violência Como evidenciado por Cardia 1997 p 32 Elas sofrem os efeitos psicológicos e sociais dessas agressões absorvendo como modelos de comportamento os atos violentos e padrões de gênero enraizados na sociedade Assim ao abordar a violência doméstica estamos lidando com um tema que impacta a sociedade e ceifa a vida de inúmeras mulheres a cada ano As instituições de ensino neste ponto passam a desempenhar um papel essencial como um local de diálogo e reflexão permitindo aos alunos compreender as mudanças necessárias para prevenir futuros casos de violência doméstica SAFFIOTI 1987 O silêncio só perpetua a violência permitindo que ações destrutivas sejam tomadas impunemente Portanto é urgente que as instituições de ensino integrem a educação para igualdade de gênero em seu currículo combatendo o patriarcado o sexismo e o machismo que resultam nesse silenciamento Para tanto é preciso uma educação humanizada que acolha e dê voz às mulheres O ensino aliado à sociedade tem o poder de transformar atitudes e mudar cenários tanto em âmbito local como nacional A pedagogia da diversidade pode ser vista como forte instrumento para a emancipação desafiando as práticas tradicionais e estimulando novas abordagens Em suma este projeto de pesquisa é justificado pela sua relevância social e educacional pelas contribuições práticas e teóricas que pode trazer pelo estágio atual de desenvolvimento dos conhecimentos sobre o tema e pela possibilidade de sugerir modificações significativas na realidade educacional Tendo como corpus os contos de Marina Colasanti o projeto visa promover um ensino e uma educação crítica e reflexiva que contribua para a desconstrução de estereótipos de gênero e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária 3 PROBLEMA O presente projeto de pesquisa busca investigar o potencial da literatura e dos contos de Marina Colasanti como proposta de Letramento Literário para promover uma educação antimachista e antissexista no ambiente acadêmico A questão central desta pesquisa é Como a utilização da literatura tendo como corpus os contos de Marina Colasanti pode contribuir para o letramento literário na desconstrução de estereótipos de gênero e promoção de uma educação mais igualitária e inclusiva no contexto universitário com realização junto aos acadêmicos do 7º semestre do Curso de Bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso Essa pergunta direciona a investigação para compreender como as narrativas literárias podem influenciar a percepção dos estudantes em relação às questões de gênero bem como avaliar a eficácia dessa abordagem na promoção de valores de igualdade e respeito no ensino superior 4 OBJETIVOS 41 GERAL Investigar como a literatura especialmente através da contística de Marina Colasanti pode ser empregada como instrumento na realização de letramento literário para promover uma educação antimachista e antissexista no ambiente acadêmico e na formação de leitores críticos 42 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Analisar a representação de questões de identidade e gênero nos contos de Marina Colasanti Investigar o impacto do letramento literário através da leitura e discussão dos contos de Marina Colasanti na percepção dos estudantes sobre estereótipos de gênero e promoção de justiça social e Identificar possíveis desafios e limitações na aplicação prática da literatura como método de letramento literário na discussão de gênero e promoção de uma educação antimachista e antissexista 5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A literatura pode assumir várias formas porém o que não se questiona é seu poder de transformação Chamarei de literatura da maneira mais ampla possível todas as criações de toque poético ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade em todos os tipos de cultura desde o que chamamos folclore lenda chiste até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações Candido 1988 p 18 O texto literário abarca uma série de simbolismos tanto para quem o escreve quanto para quem o lê É esse efeito simbólico que permite a liberdade dos envolvidos em tomar para si conhecimentos que outrora não faziam parte de seu horizonte de saber e com ele se direcionar à novos caminhos de maneira consciente Neste aspecto A literatura assume muitos saberes Se por não sei que excesso de socialismo ou de barbárie todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino exceto uma é a disciplina literária que devia ser salva pois todas as ciências estão presentes no monumento literário É nesse sentido que se pode dizer que a literatura quaisquer que sejam as escolas em nome das quais ela se declara é absolutamente categoricamente realista ela é a realidade isto é o próprio fulgor do real Entretanto e nisso verdadeiramente enciclopédica a literatura faz girar os saberes não fixa não fetichiza nenhum deles ela lhes dá um lugar indireto e esse indireto é precioso BARTHES 1998 p 18 Se a literatura é capaz abrir novos horizontes de conhecimento para os envolvidos em seu texto seja pela escrita ou pela leitura O letramento literário desempenha função crucial no desenvolvimento cognitivo emocional e social dos indivíduos Ele vai além da simples decodificação de palavras e frases promovendo uma compreensão mais profunda e crítica dos textos literários Neste sentido pensar o feminino como uma construção social é oportunizar a reflexão sobre como historicamente se moldaram as representações sociais do ser mulher A identidade social da mulher assim como a do homem e construída através da atribuição de distintos papeis que a sociedade espera ver cumpridos pelas diferentes categorias de sexo A sociedade delimita com bastante precisão os campos em que pode operar a mulher da mesma forma como escolhe os terrenos em que pode atuar o homem SAFFIOTI 1997 p 8 É neste panorama que Beauvoir 1967 p 21 conceitua a passividade que caracterizará essencialmente a mulher feminina é um traço que se desenvolve nela desde os primeiros anos Mas é um erro pretender que se trata de um dado biológico na verdade é um destino que lhe é imposto por seus educadores e pela sociedade A imensa possibilidade do menino está em que sua maneira de existir para outrem encorajao a porse para si Êle faz o aprendizado de sua existência como livre movimento para o mundo O que aqui se apresenta são caracterizações repressivas que desde o nascimento de uma mulher demarcam seu território existencial e condicionam seu comportamento Os estereótipos têm realmente a força do molde Quem não entrar na fôrma corre o risco de ser marginalizado das relações consideradas normais O conceito de normal é socialmente construído pelo costume SAFFIOTI 1987 p 39 Na literatura a invisibilidade e o sofrimento feminino se moldam às possibilidades linguísticas e através de símbolos e códigos encontram espaço para se apressar através da escrita Bordini e Aguiar 1993 p 15 discorrem A literatura desse modo se torna uma reserva de vida paralela onde o leitor encontra o que não pode ou não sabe experimentar na realidade E por essa característica que tem sido acusada ao longo dos tempos de alienante escapista e corruptora mas é também graças a ela que a obra literária captura o seu leitor e o prende a si mesmo por ampliar suas fronteiras existenciais sem oferecer os riscos da aventura real Um dos métodos mais eficazes para reflexão crítica e para a mudança da realidade é o Letramento Literário Bordini e Aguiar 1993 ao discutirem a formação do leitor destacam a importância do desse letramento na formação de leitores críticos e reflexivos capazes de questionar as normas sociais e compreender diferentes perspectivas As autoras destacam a literatura na construção de sentidos e na abertura do ser individual para o ser social A ampliação do conhecimento que daí decorre permitelhe compreender melhor o presente e seu papel como sujeito histórico O acesso aos mais variados textos informativos e literários proporciona assim a tessitura de um universo de informações sobre a humanidade e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os outros homens A socialização do indivíduo se faz para além dos contatos pessoais também através da leitura quando ele se defronta com produções significantes provenientes de outros indivíduos por meio do código comum da linguagem escrita No diálogo que então se estabelece o sujeito obrigase a descobrir sentidos e tomar posições o que o abre para o outro BORDINI AGUIAR 1993 p 10 Gagliard 2014 em diversos trabalhos aborda a relação entre literatura e educação argumentando que a literatura pode ser uma ferramenta poderosa para explorar e problematizar questões sociais incluindo as relações de gênero Vejamos O que a literatura ensina não se pode descrever como mera transferência de conhecimento Não se trata de um conteúdo mensurável e sim de uma vivência potencialmente depuradora da atenção da percepção da consciência da reflexão e dos afetos Mais próxima portanto de uma experiência transformadora do que de uma disciplina propriamente dita a literatura ela mesma é que ensina GAGLIARD 2014 p 341 Para este projeto serão consultados principalmente os trabalhos de Marina Colasanti tanto suas obras literárias quanto suas reflexões sobre questões de gênero a fim de compreender como sua escrita pode contribuir para os objetivos propostos O que se almeja é ponderar sobre o feminino como uma construção social pois este ato permite oportunizar a reflexão sobre como historicamente se moldaram as representações sociais do ser mulher É neste panorama que BEVOUIR 1967 p 21 conceitua a passividade que caracterizará essencialmente a mulher feminina é um traço que se desenvolve nela desde os primeiros anos Mas é um erro pretender que se trata de um dado biológico na verdade é um destino que lhe é imposto por seus educadores e pela sociedade A imensa possibilidade do menino está em que sua maneira de existir para outrem encorajao a porse para si Êle faz o aprendizado de sua existência como livre movimento para o mundo Embora existam imagens positivas associadas ao feminino e a mulher estereótipos e características negativas dadas pelo homem que se utiliza da masculinidade como ferramenta de poder resultam na identificação da figura feminina como submissa e alienada Sua percepção da mulher durante seus anos de formação é influenciada por sua mãe que está confinada principalmente em seu espaço doméstico o que lhe causa intelecto e capacidade limitados BULFINCH 2006 O que aqui se apresenta são caracterizações repressivas que desde o nascimento de uma mulher demarcam seu território existencial e condicionam seu comportamento Os estereótipos têm realmente a força do molde Quem não entrar na fôrma corre o risco de ser marginalizado das relações consideradas normais O conceito de normal é socialmente construído pelo costume SAFFIOTI 1987 p 39 Diante disso a realização de estudos e análise de obras de autoria feminina ou de conteúdo feminista é a garantia de quebrar o silêncio construído diante das violências de gênero e romper com as ações instintivas da afirmação masculina ao subjugar a feminilidade Na literatura a invisibilidade e o sofrimento feminino se moldam às possibilidades linguísticas e através de símbolos e códigos encontram espaço para se apressar através da escrita Bordini e Aguiar 1993 p 15 discorrem A literatura desse modo se torna uma reserva de vida paralela onde o leitor encontra o que não pode ou não sabe experimentar na realidade E por essa característica que tem sido acusada ao longo dos tempos de alienante escapista e corruptora mas é também graças a ela que a obra literária captura o seu leitor e o prende a si mesmo por ampliar suas fronteiras existenciais sem oferecer os riscos da aventura real As representações femininas evoluíram significativamente ao longo do tempo As primeiras narrativas sobre mulheres são frequentemente encontradas nos contos de fadas refletindo as visões da sociedade sobre o papel feminino Nessas histórias iniciais as imagens das mulheres são frequentemente caprichosas e dependentes sugerindo uma forma de opressão Elas são retratadas de maneira passiva em contraste com as figuras masculinas implicando que as mulheres devem ser submissas e abnegadas desempenhando os papéis de esposas e mães Os papéis de gênero têm evoluído embora de forma lenta Especialmente após a virada do pósmodernismo as mulheres têm conquistado maior espaço e liberdade de escolha Segundo Safiotti 2004 Gênero é um conceito por demais palatável porque é excessivamente geral ahistórico apolítico e pretensamente neutro O patriarcado ou ordem patriarcal de gênero ao contrário como vem explícito em seu nome só se aplica a uma fase histórica não tendo a pretensão da generalidade nem da neutralidade e deixando propositadamente explícito o vetor da dominaçãoexploração SAFFIOTI 2004 p 139 Na literatura a fase feminista iniciada no início do século XX foi marcada pela emergência e consolidação de vozes femininas que desafiaram as normas patriarcais e buscaram expressar as experiências lutas e perspectivas das mulheres Este momento comtemplou mulheres que passaram a questionar seus papéis estritamente domésticos e maternais sendo que essa quebra tradicionalista permitiu mais oportunidades ao retrata a autodescoberta feminina e a busca por identidade O conceito de identidade segundo Lacan é complexo e multifacetado envolvendo a interação entre o Imaginário o Simbólico e o Real bem como a dinâmica do desejo e da falta A identidade não é uma entidade fixa mas uma construção contínua e dinâmica mediada pela linguagem e pelas relações sociais Na perspectiva lacaniana da Psicanálise a identidade de um sujeito é profundamente conectada ao corpo e aos seus impulsos e afetos sendo inseparável desses aspectos Ainda em Lacan o conceito de Outro com O maiúsculo é central O Outro representa a linguagem a cultura e as normas sociais que moldam a identidade do sujeito Enquanto o sexo é definido com base na anatomia humana e na aparência fisiológica que diferenciam homens e mulheres o gênero apela para os estudos comportamentais que fornecem uma compreensão mais complexa das identidades e papéis atribuídos incluindo as funções sociais as imagens de gênero são culturalmente determinadas o que explica como as identidades de gênero são inventadas e produzidas em diferentes culturas SAFFIOTI 1995 p 32 postula O gênero constitui uma verdadeira gramática sexual normatizando condutas masculinas e femininas Concretamente na vida cotidiana são os homens nesta ordem social androcêntrica os que fixam os limites da atuação das mulheres e determinam as regras do jogo pela sua disputa Até mesmo as relações mulher mulher são normatizadas pela falocracia E a violência faz parte integrante da normatização pois constitui importante componente do controle social Nestes termos a violência masculina contra a mulher inscrevese nas vísceras da sociedade com supremacia masculina Disto resulta uma maior facilidade de sua naturalização outro processo violento porque manieta a vítima e dissemina a legitimação social pela violência Portanto pensar a violência contra as mulheres é também pensar em uma crise na ordem de gênero onde os homens começam a sentir uma perda de poder e veem a necessidade de renegociar sua masculinidade Em outras palavras a violência contra a mulher é uma forma de posicionar o gênero mais fraco dentro de uma hierarquia onde a masculinidade está associada a normas como autoridade prestígio racionalidade força e bravura enquanto a feminilidade está associada à passividade irracionalidade fraqueza e subordinação A instrução representa uma base crucial na edificação de uma sociedade mais justa e equitativa Em meio à realidade atual em que o sexismo ainda se faz presente em diversos âmbitos da vida as instituições de ensino têm um papel fundamental na disseminação de princípios que questionem e desconstruam tais padrões prejudiciais Tornar efetiva uma educação que combata o sexismo é essencial para preparar as próximas gerações a conviverem em um ambiente pautado pelo respeito mútuo e pela igualdade de oportunidades A abordagem da pesquisaação conforme proposta por Michel Thiollent apresentase como um modelo eficiente para atingir esse propósito incentivando a participação ativa de todos os integrantes da comunidade escolar em um processo colaborativo de identificação de desafios implementação de soluções e avaliação constante Borges 1977 Um currículo que leve em consideração a diversidade de gênero é fundamental para combater atitudes machistas e sexistas na educação As estratégias de ensino precisam ser revistas para garantir uma representação justa de todos os gêneros substituindo conteúdos que reforçam estereótipos por aqueles que promovem a igualdade Além disso a inclusão de estudos sobre gênero e feminismos no currículo abordando a reflexão sobre o feminino suas conquistas em diferentes áreas enriquece o aprendizado dos alunos e amplia sua visão sobre as questões de gênero Educadores qualificados desempenham um papel crucial na promoção de uma educação que combata o machismo É importante fornecer alternativas de ensino que abordem temas como igualdade de gênero feminismo e métodos de ensino inclusivos Dessa maneira não apenas ampliase o conhecimento dos educadores sobre o assunto como também os prepara para enfrentar situações de discriminação e machismo no ambiente educacional Engajar os estudantes em iniciativas que incentivem a equidade de gênero é uma maneira eficaz de promover um ambiente de respeito e diversidade Atividades que abordem temas como sexismo e equidade de gênero são extremamente proveitosos para proporcionar aos alunos uma visão social mais abrangente e crítica Ao abordar temas como a autonomia feminina a diversidade de experiências e a quebra de estereótipos de gênero a obra de Colasanti se torna um recurso valioso para educadores comprometidos com a construção de uma educação que valorize a igualdade e a justiça social BULFINCH 2006 6 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO Com direcionamento de todo o exposto utilizaremos o modelo de sequência sistematizado Bordini Aguiar 1988 sendo utilizado o Método Recepcional Para Carmo 2019 Essa proposta explora a leitura da obra literária por meio de atividades de sondagem e ampliação dos horizontes de expectativa dos participativos O método apresentado consiste em cinco etapas que visam a formação de um leitor mais autônomo crítico e construtor do próprio caminho de interpretação Assim de acordo com Brasil 2006 se a meta é que o aluno desenvolva habilidades para criar e interpretar textos não se pode considerar como base de ensino a letra a sílaba a palavra ou a frase isolada pois quando retiradas de seu contexto essas unidades contribuem pouco para a competência discursiva que é o ponto chave do aprendizado O foco deve estar na capacidade de compreender e produzir significados em situações reais de comunicação onde o sentido é construído de maneira integrada e contextualizada A missão de uma metodologia dedicada para o ensino da literatura reside em partindo de uma realidade marcada por diversas contradições analisar a relação entre a obra literária e o leitor Com base nesse diálogo é essencial desenvolver estratégias que integrem esforços promovam a participação ativa dos envolvidos e considerem o papel central do aluno levando em conta suas necessidades enquanto leitor em uma sociedade em transformação O objetivo é criar um ambiente educacional que não apenas reconheça essas mudanças mas também se adapte a elas garantindo que o processo de leitura e interpretação seja significativo e relevante para o desenvolvimento crítico do estudante Bordini Aguiar 1988 Nos tópicos a seguir o trabalho abordará conceitos centrais da Estética da Recepção e da Teoria Literária além de explorar a formação do leitor e a função social da leitura literária Primeiramente será explicado o conceito de Horizonte de Expectativas conforme desenvolvido por Hans Robert Jauss destacando sua importância no Método Recepcional Em seguida será discutida a formação do leitor e a função social da leitura literária com base nas obras de Maria Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar enfatizando o papel da leitura na construção crítica do indivíduo Por fim o Método Recepcional será detalhado incluindo suas etapas principais conforme descrito por Bordini e Aguiar evidenciando como esse método pode ser aplicado de forma eficaz no ensino da literatura 61 Estética da Recepção e Teoria Literária A Estética da Recepção desenvolvida por Hans Robert Jauss 1994 revolucionou a teoria literária ao colocar o leitor no centro do processo interpretativo Diferente das abordagens tradicionais que priorizavam o autor ou a estrutura da obra a Estética da Recepção propõe que o significado de um texto literário é construído na interação entre o leitor e a obra Um conceito fundamental nesse contexto é o de Horizonte de Expectativas que Jauss define como o conjunto de pressupostos e experiências que o leitor traz para a leitura de uma obra Nascimento e Manzoni 2022 explicam que o conceito de Horizonte de Expectativas referese ao conjunto de pressupostos experiências e conhecimentos que o leitor traz consigo ao interpretar um texto literário Esse horizonte é moldado por fatores culturais sociais e históricos influenciando a maneira como o leitor compreende e reage à obra Ao alterar o horizonte de expectativas dos estudantes o método enriquece sua interpretação individual e impacta o comportamento e as percepções de outros leitores ao seu redor promovendo uma leitura literária mais profunda e emancipatória em contraste com a literatura de massa Miranda 2007 ao analisar a estética da recepção vislumbra que A proposta da Estética da Recepção surge portanto com a preocupação central de encontrar um método para a história da literatura e da arte capaz de abordála tanto em sua relação com o contexto geral da história quanto em sua historicidade específica i e tanto em relação à sociedade quanto na dinâmica interna de superação transgressão e instauração de novos códigos estéticos Como teoria conciliadora das pesquisas marxistas e formalistas a teoria proposta pela Escola de Constança buscava não só resgatar a perspectiva histórica como incluir em seu método uma fundamentação do juízo estético que o objeto demanda A Estética da Recepção surge como uma das abordagens teóricas mais inovadoras para compreender o fenômeno da leitura partindo da premissa de que ler é uma prática interpretativa moldada por sujeitos inseridos em contextos sociais e históricos específicos Ao reconhecer que os leitores não são figuras passivas mas agentes históricos que interagem com o texto a partir de sua posição no espaço e no tempo essa teoria busca explorar como a leitura é influenciada e transformada por essas interações Silveira Moura 2007 Dessa forma Jauss 1994 explica que de modo geral a relação funcional entre literatura e sociedade tem sido tradicionalmente apresentada pela sociologia da literatura dentro dos limites restritos de um método que de forma bastante superficial substituiu o antigo princípio da imitatio naturae por uma nova definição Segundo essa abordagem a literatura passou a ser vista como uma representação de uma realidade já estabelecida o que por sua vez levou à elevação de um conceito estilístico particular ligado a uma época específica como a principal categoria literária Ao adotar a perspectiva do leitor a Estética da Recepção propõe que a historicidade das obras literárias é garantida a partir do olhar do receptor Quando um leitor se depara com obras de diferentes períodos históricos e as consome ele participa ativamente de sua constante atualização Esse processo de renovação contínua revela o papel fundamental do leitor na construção do significado da obra em oposição à ideia de que as obras literárias possuem uma natureza atemporal Gomes 2009 A abordagem tradicional da história da literatura que se concentra apenas em um cânone fixo ou na descrição cronológica da vida e obra de alguns autores falha em capturar a verdadeira historicidade das obras literárias Essa perspectiva tende a ignorar o aspecto estético da criação literária uma vez que a qualidade e o valor de uma obra não são simplesmente determinados pelas condições históricas ou biográficas em que ela surgiu O verdadeiro critério que define a importância de uma obra literária reside na forma como ela é recebida pelo público no impacto que causa e na sua capacidade de manter relevância ao longo do tempo visto que é na recepção e no efeito que a obra provoca que encontramos a chave para entender sua contribuição duradoura à literatura Jauss 1994 Assim a verdadeira relevância de uma obra literária não reside apenas em sua construção interna mas também na forma como ela é recebida e interpretada pelo público Morais e Fernandes 2012 argumentam que O estudo do texto passa a ser a descoberta e as utilizações das estruturas verbais pelas quais o autor da obra a concebe conferindolhe um caráter literal que em suma o diferencia da linguagem comum pois a força do pensamento formalista consiste em encarar a obra apenas de um ponto de vista linguístico e estrutural tornando o ato da criação artística o resultado de uma experiência empírica mas de valor transcendental e não social Embora o formalismo enfatize a análise das estruturas linguísticas e textuais de uma obra dissociandoa de seu contexto social e histórico é essencial considerar que o verdadeiro impacto e a importância de uma obra literária se revelam na forma como ela é recebida ao longo do tempo O horizonte de expectativas conforme discutido por Jauss 1994 nos lembra que os leitores abordam a obra com expectativas moldadas por normas culturais experiências anteriores e o contexto histórico Assim a relevância duradoura de uma obra não se limita a sua estrutura interna mas se constrói na interação dinâmica entre o texto e os leitores Logo a objetivação do horizonte de expectativas é possível mesmo em obras historicamente menos definidas pois a predisposição do público pode ser inferida através de três fatores principais as normas e convenções conhecidas do gênero literário a relação implícita com outras obras do mesmo contexto históricoliterário e a comparação entre ficção e realidade ou entre a função poética e a prática da linguagem No contexto do Método Recepcional essa estruturação do horizonte de expectativas orienta a interação crítica e a compreensão da literatura em relação à vida real possibilitando o desenvolvimento de uma interpretação mais rica e contextualizada Jauss 1994 62 A Formação do Leitor e a Função Social da Leitura Literária segundo Maria Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar A mediação da leitura literária tem sido cada vez mais associada a atividades voltadas para o lazer o prazer estético e a apreciação pessoal Essas abordagens substituem o uso tradicional do texto literário que anteriormente servia como principal instrumento para o ensino da língua portuguesa propondo assim uma nova função para a literatura dentro do ambiente escolar Nessa perspectiva a literatura ganha um espaço diferenciado na escola onde é valorizada não apenas por seu conteúdo linguístico mas também por sua capacidade de promover o desenvolvimento emocional e cultural dos estudantes criando um ambiente de aprendizagem mais aberto e sensível às múltiplas formas de expressão literária Mota 2015 Bordini e Aguiar 1988 defendem que a formação do leitor literário é um processo complexo e gradual que vai além da simples decodificação de palavras Para formar leitores competentes e críticos é necessário haver uma educação literária que valorize tanto a compreensão estética quanto a interpretação crítica dos textos o que inclui o desenvolvimento da sensibilidade para as nuances do texto literário a capacidade de estabelecer conexões entre diferentes obras e contextos e a habilidade de refletir sobre as múltiplas camadas de significados presentes na literatura Segundo as autoras É através da linguagem que o homem se reconhece como humano pois pode se comunicar com os outros homens e trocar experiências Existe porém uma condição prévia para a manifestação da linguagem é preciso haver um grupo humano no qual o sujeito se confronte com o conjunto e se perceba como indivíduo E portanto na convivencia social que nascem as linguagens conforme as necessidades de intercâmbio Bordini Aguiar 1988 A literatura assume um papel de auxiliar no ensino da língua servindo como um recurso valioso para fortalecer as habilidades de leitura e escrita dos alunos onde por meio de atividades de interpretação análise textual e outras estratégias pedagógicas os textos literários são utilizados para aprimorar a compreensão leitora e a expressão escrita Assim a literatura contribui de maneira significativa para o desenvolvimento das competências linguísticas funcionando como uma ferramenta didática que enriquece o vocabulário e estimula o pensamento crítico Cosson 2011 Todavia Bordini e Aguiar 1988 defendem que Para que a escola possa produzir um ensino eficaz da leitura da obra literária deve cumprir certos requisitos como dispor de uma biblioteca bem aparelhada na área da literatura com bibliotecários que promovam o livro literário professores leitores com boa fundamentação teórica e metodológica programas de ensino que valorizem a literatura e sobretudo uma interação democrática e simétrica entre alunado e professor A leitura contribui para a transformação das esferas pessoal e social pois quando o indivíduo se engaja com diferentes textos e narrativas ele não só reafirma suas próprias convicções e compreensões mas também se abre para a possibilidade de mudança Bordini e Aguiar 1988 expõem nesse sentido que O grupo social não é simplesmente um todo homogéneo Nele habitam vontades saberes e posicionamentos diversificados mas convergentes que geram as possibilidades de relações internas e com outros grupos Através das trocas linguísticas o indivíduo se certifica de seu conhecimento do mundo e dos outros homens assim como de si mesmo ao mesmo tempo em que participa das transformações em todas essas esferas A leitura permite que as pessoas se engajem em diálogos internos e externos refletindo sobre suas próprias vivências e comparandoas com as experiências retratadas nos textos o que facilita a construção de uma identidade social mais robusta e empática pois o leitor aprende a ver o mundo sob diferentes óticas reconhecendo e respeitando a diversidade de pensamentos e culturas que coexistem em uma sociedade Uma sociedade de classes em que interesses divergentes se entre chocam com a predominância de alguns deles sobre os demais privilegia sobremaneira o texto escrito como objeto de leitura A escrita historicamente representa uma conquista sobre a memória instrumento predominante nas sociedades ágrafas A acumulação do conhecimento através da palavra escrita tem sido apropriada pelas classes que detém o poder dentro de uma sociedade Como o documento escrito é mais eficiente para a fixação e conservação das ideias leva vantagem sobre a memória coletiva alijando das decisões do grupo aqueles que não são capazes de decifrálo Bordini Aguiar 1988 As classes dominantes ao controlar a produção e a circulação do conhecimento escrito mantêm sua posição de privilégio e exclusão dificultando a ascensão de grupos marginalizados que não têm acesso às mesmas oportunidades educacionais Assim a alfabetização portanto não é apenas uma questão técnica mas também uma ferramenta de poder que pode tanto reforçar a desigualdade quanto ser usada para promover a inclusão social O acesso equitativo à leitura e à escrita é necessário para democratizar o conhecimento permitindo que todas as camadas da sociedade participem ativamente do processo de construção e transformação social e não apenas as elites que historicamente se apropriaram desse recurso 63 Método Recepcional e suas Etapas segundo Maria Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar O Método Recepcional conforme discutido por Maria Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar é uma abordagem que busca compreender como os leitores interagem com o texto literário considerando as suas experiências e contextos As autoras descrevem várias etapas que serão detalhadas a seguir A primeira etapa é a préleitura onde nessa o foco está na preparação do leitor para a experiência de leitura o que envolve a ativação de conhecimentos prévios e expectativas em relação ao texto Os leitores precisam refletir sobre o que já sabem e sobre as suas experiências pessoais que podem influenciar sua compreensão da obra As autoras mencionam enquanto exemplos a discussões em grupo a análise do título da capa e do contexto em que a obra foi escrita além de sugestões de temas que podem ser explorados durante a leitura O primeiro passo para a formação do hábito de leitura é a oferta de livros próximos à realidade do leitor que levantem questões significativas para ele A literatura brasileira e a literatura infantojuvenil nacionais vem preencher estes quesitos ao fornecerem textos diante dos quais o aluno facilmente se situa pela linguagem pelo ambiente pelos caracteres das personagens pelos problemas colocados A familiaridade do leitor com a obra gera predisposição para a leitura e o consequente desencadeamento do ato de ler Bordini Aguiar 1988 Posteriormente a segunda etapa é a leitura o momento em que o leitor tem contato direto com o texto As autoras enfatizam que essa etapa deve ser uma experiência ativa onde o leitor se envolve emocional e intelectualmente com a obra Durante essa o indivíduo faz conexões interpreta e questiona o que está sendo lido permitindo uma compreensão mais profunda sendo importante que os leitores desenvolvam um olhar crítico e reflitam sobre suas implicações e significados Em seguida na fase pósleitura devese refletir sobre a experiência da leitura e discutir as interpretações que emergiram durante o processo o que pode incluir atividades como debates escrita de resenhas ou criação de projetos que permitam aos leitores expressar suas reflexões As autoras sugerem que essa etapa é indispensável para a consolidação do conhecimento ao permitir ao leitor articular suas ideias e compartilhar suas percepções com os outros Tendo percebido que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar mas ao modo como veem seu mundo os alunos nessa fase tomam consciência das alterações e aquisições obtidas através da experiência com a literatura Cotejando seu horizonte inicial de expectativas com os interesses atuais verificam que suas exigências tornaramse maiores bem como sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi aumentada Bordini Aguiar 1988 Por fim é vislumbrado sobre a releitura Tratase de revisitar o texto à luz das novas compreensões adquiridas durante as etapas anteriores A releitura permite que o leitor aprofunde sua interpretação e descubra camadas de significado que podem ter passado despercebidas em uma primeira leitura A obra é válida quando apreende a essência por trás da história conscientizando o leitor do que é o ser humano resgatandoo das distorções ideológicas que o reificam e alienam Bordini Aguiar 1988 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Adotouse como critério de inclusão estudantes devidamente matriculados no 7º semestre do Curso de Bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso Campus de Pontes e Lacerda MT que aceitarem participar voluntariamente do estudo e que possuem disponibilidade para participar das oficinas CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Serão considerados como critérios de exclusão dos participantes não pertencer a turma escolhida não ter a idade entre 20 e 50 anos não aceitar participar voluntariamente não ter disponibilidade para participar das oficinas RISCOS Realizar uma pesquisaação com estudantes do curso de bacharelado em Direito sobre letramento literário antimachista e antissexista pode ser uma iniciativa poderosa e transformadora No entanto como em qualquer pesquisaação há riscos e desafios que precisam ser cuidadosamente considerados e gerenciados Considerase como Riscos Potenciais 1 Resistência e Conflitos alguns estudantes podem resistir às ideias de letramento literário antimachista e antissexista devido a crenças pessoais culturais ou ideológicas Isso pode gerar conflitos e tensões durante as atividades 2 Desconforto Emocional discussões sobre machismo e sexismo podem ser emocionalmente carregadas e desconfortáveis para alguns participantes especialmente aqueles que tenham experiências pessoais relacionadas a esses temas 3 Falta de Engajamento alguns estudantes podem não se engajar plenamente nas atividades devido à falta de interesse ou compreensão da importância do tema 4 Preconceitos e Estereótipos podem emergir durante as discussões o que pode reforçar atitudes discriminatórias em vez de desconstruílas 5 Impacto na Dinâmica de Grupo discussões sobre temas sensíveis podem afetar a dinâmica de grupo criando divisões ou alianças baseadas em crenças e atitudes Pensando nisso como forma de mitigar tais possibilidades serão previstas algumas estratégias de resolução como 1 Promoção de um ambiente de respeito e diálogo aberto onde todas as opiniões sejam ouvidas e discutidas de forma construtiva Ademais utilizando de minha formação em psicologia poderão ser adotadas técnicas de mediação para resolver conflitos e garantir que o debate seja produtivo 2 Suporte emocional e psicológico aos participantes com possível encaminhamento à serviços de aconselhamento disponíveis na rede de apoio de Pontes e Lacerda MT 3 Tornar as atividades relevantes e significativas para os estudantes conectandoas com suas experiências e interesses Serão utilizados métodos participativos e interativos para aumentar o engajamento 4 Facilitação das discussões de forma sensível e informada desafiando preconceitos e estereótipos de maneira respeitosa e educativa 5 Elucidação sobre o ambiente ser de confiança antes de abordar os temas mais sensíveis uma vez que será garantida a confidencialidade e previsto o consentimento informado dos participantes quanto à questões éticas garantindo que a confidencialidade dos dados coletados e de possíveis relatos de experiências traumáticas caso expostas ao grupo Por fim os participantes em potencial terão plena liberdade em recusarse a participar ou retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa sem penalização alguma conforme Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466 de 12 de Dezembro de 2012 BENEFÍCIOS O letramento literário antimachista e antissexista pode trazer inúmeros benefícios para os discentes do curso de Bacharelado em Direito especialmente no que tange ao desenvolvimento de habilidades analíticas e reflexivas que são essenciais para a prática jurídica permitindolhes abordar questões legais com uma perspectiva crítica e informada Ademais os estudantes poderão compreender de forma mais aprofunda e abrangente as experiências humanas o que pode ser aplicado na interpretação e aplicação das leis tornando se mais sensíveis e receptivos às questões de justiça social o que é crucial para a prática de um Direito mais humanizado e inclusivo Não obstante esperase que com o letramento literário antimachista e antissexista através da utilização dos contos selecionados possamos aumentar a consciência dos estudantes sobre as questões de gênero e diversidade para a promoção da igualdade e da justiça social que contribua para desconstrução de estereótipos de gênero e promovendo uma visão igualitária entre eles Esperase ainda que sejam criadas habilidades analíticas e reflexivas essenciais para a formação de cidadãos críticos e conscientes e que a discussão dos contos aumente a consciência dos leitores sobre as questões de gênero e diversidade além de contribuir para a formação de uma sociedade mais justa inclusiva e respeitosa onde todos os indivíduos independentemente de seu gênero se sintam valorizado e pertencentes Por fim ao compartilhar os resultados com o corpo docente esperase incentivar a continuidade da utilização da literatura e do letramento literário no ambiente acadêmico 7 CRONOGRAMA MESETAPAS 2024 Jan a Fev 2024 Mar a Maio 2024 Jun a Jul 2024 Ago 2024 Set a Dez 2025 Jan 2025 Fev 2025 Mar a Mai 2025 Jun a Jul 2025 Ago 2025 Set a Dez Escolha do tema X Levantamento bibliográfico X Elaboração do projeto X Apresentação do Projeto Seminário I X Submissão ao Comitê de ética X Revisão da Literatura X Coleta de dados X X Análise dos dados X X Organização do roteiropartes Publicação de artigo Relatório Final Comitê de Etica Exame de Qualificação Redação do trabalho Revisão e redação final Defesa 8 RESULTADOS ESPERADOS Os desfechos primário e secundário desta pesquisa são fundamentais para compreender o impacto e as contribuições potenciais no campo da educação O desfecho primário visa evidenciar o impacto positivo da utilização da literatura especialmente dos contos de Marina Colasanti como ferramenta de ensino na promoção de uma educação antimachista e antissexista no ambiente acadêmico Por meio da análise das percepções dos estudantes sobre estereótipos de gênero esperase identificar como a reflexão crítica proporcionada pela leitura das obras literárias selecionadas contribui para o desenvolvimento de uma consciência mais igualitária e inclusiva O desfecho secundário busca ampliar o entendimento teórico no campo da educação oferecendo insights sobre a eficácia das práticas pedagógicas baseadas na literatura na desconstrução de estereótipos de gênero e na promoção da igualdade de gênero no ensino superior Esses resultados podem subsidiar a elaboração de diretrizes e políticas educacionais voltadas para a promoção de uma cultura acadêmica mais inclusiva e igualitária Além disso objetivase que contribuições desta pesquisa para a ciência da educação são significativas Ao oferecer uma abordagem inovadora e eficaz para enfrentar questões de discriminação de gênero no ambiente acadêmico este estudo pode contribuir para a construção de um corpo crescente de evidências empíricas sobre os benefícios da integração da literatura na promoção de uma educação mais igualitária e inclusiva Esses insights têm o potencial de informar práticas educacionais capacitar educadores e gestores educacionais e orientar formuladores de políticas na elaboração de estratégias mais eficazes para promover uma cultura acadêmica baseada em valores de igualdade e respeito Diante das análises e intervenções a serem realizadas as hipóteses quanto aos resultados se moldam no sentido de que as obras de Marina Colasanti a partir de suas representações do feminino podem contribuir para formação identitária dos alunos do ensino superior especialmente no que tange ruptura de comportamentos machistas e sexistas Os resultados esperados reforçam a ideia de que a literatura não é apenas uma fonte de prazer estético mas também um poderoso instrumento de transformação social e educativa Ao trabalhar com as obras de Marina Colasanti esperase contribuir significativamente para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária onde a educação desempenha um papel central na promoção da igualdade de gênero e no combate ao machismo e ao sexismo 9 REFERÊNCIAS BARTHES Roland A aula aula inaugural da cadeira de semiologia literária do Colégio de França pronunciada dia 7 de janeiro de 1977 Tradução Leyla PerroneMoisés São Paulo Editora Cultrix 2004 12ª Ed 89p BEAUVOIR Simone de O segundo sexo a experiência vivida Trad Sérgio Milliet 2 ed São Paulo Difusão Europeia do Livro 1967 BORDINI Maria da Gloria AGUIAR Vera Teixeira Literatura a formação do leitor alternativas metodológicas Porto Alegre Mercado Aberto 1988 BORGES Luciana O erotismo como ruptura na ficção brasileira de autoria feminina Florianópolis Mulheres 2013 BOSI Alfredo org O conto brasileiro contemporâneo São Paulo Cultrix 1977 BRASIL Anuário Brasileiro De Segurança Pública São Paulo Fórum Brasileiro de Segurança Pública ano 17 2023 ISSN 19837364 Disponível em httpspublicacoesforumsegurancaorgbrhandle123456789229 BRASIL Constituição 1988 Constituição da República Federativa do Brasil Brasília DF Senado Federal Centro Gráfico 1988 BRASIL Lei n 11340 de 07082006 Lex Coletânea de Legislação e Jurisprudência edição federal Brasília 2006 BRASIL Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos MMFDH 2022 Relatório Anual de Atendimentos do Ligue 180 e Dados de Violência contra a Mulher Brasília MMFDH Disponível em httpswwwgovbrmulheresptbrligue180 BORDINI Maria da Glória DE AGUIAR Vera Teixeira Literatura a formação do leitor alternativas metodológicas Mercado Aberto 1988 BULFINCH Thomas O livro de ouro da mitologia histórias de deuses e heróis Tradução de David Jardim Rio de Janeiro Ediouro 2006 CANDIDO Antonio A literatura e a formação do homem Ciência e cultura São Paulo v 24 n 9 p 8039 set 1972 CANDIDO Antonio O direito à literatura In Vários escritos Rio de Janeiro Duas Cidades 2004 p 176180 CANDIDO Antonio O direito à literatura São Paulo Editora Pers pectiva 1998 CARDIA Nancy A Violência Urbana e a Escola Contemporaneidade e Educação Ano II no 02 Setembro de 1997 CARMO Anaximandro Alessandro Lelis A formação do leitor literário pelo método recepcional Editora Criação 2019 COLASANTI Marina 1987 Contos de amor rasgados Rio de Janeiro Nova Fronteira COLASANTI Marina Contos de amor rasgados Rio de Janeiro Rocco 1986 COSSON Rildo A prática do letramento literário em sala São Paulo Mercado das Letras 2011 FREIRE Paulo Extensão ou comunicação 3 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1977 93 p FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessários à Prática Educativa 34 ed São Paulo Paz e Terra 2005 GOMES Mariana Andrade Experiência estética e estética da recepção Cadernos do IL n 39 p 3745 2009 MIRANDA Mariana Lage Objeto ambíguo arte e estética na experiência cotidianasegundo H R Jauss Dissertação de Mestrado Universidade Federal de MinasGerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Belo Horizonte 2007 MOITA Maria da conceição Percursos de formação e de transformação In NÓVOA António org Vidas de Professores Portugal Porto editora 1995 2ª ed MORAIS Julierme FERNANDES Renan Hans Robert Jauss e os postulados da estética da recepção Possíveis aplicações no Campo da pesquisa histórica com teatro e cinema Revista Sapiência v 1 n 2 p 97114 2012 MOTA Rildo José Cosson A prática da leitura literária na escola mediação ou ensino Nuances estudos sobre Educação v 26 n 3 p 161173 2015 NASCIMENTO Cristiane Aparecida Silva MANZONI Jair Lopes Junior Rosa Maria Desenvolvimento do repertório leitor e ampliação do horizonte de expectativas mediada pelo gênero poema V Jornada de Literatura e Educação p 229 2022 SAFFIOTI Heleieth Gênero Patriarcado Violência São Paulo Fundação Perseu Abramo 2004 SAFFIOTI Heleieth O poder do macho São Paulo Moderna 1987 SAFFIOTI Heleith ALMEIDA Suely Souza de Violência de gênero Poder e Impotência Rio de Janeiro Revinter 1995 SILVEIRA Fabrício José Nascimento da MOURA Maria Aparecida A estética da recepção e as práticas de leitura do bibliotecárioindexador Perspectivas em Ciência da Informação v 12 p 123135 2007 SOUZA Ana Maria Martins de A Mediação Como Princípio Educacional Senac São Paulo 2004 THIOLLENT Michel Metodologia da pesquisaação São Paulo Cortez 2011 TODOROV Tzvetan 1939 A literatura em perigo tradução Caio Meira Rio de Janeiro DIFEL 2009 ZILBERMAN Regina Estética da recepção e história da literatura São Paulo Ática 1989
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Maria da Glória Bordini Vera Teixeira de Aguiar LITERATURA A FORMAÇÃO DO LEITOR ALTERNATIVAS METODOLÓGICAS MERCADO ABERTO Capa Leonardo Menna Barreto Gomes Composição Jorge Cortezi Revisão Rosane Gava Supervisão Sissa Jacoby Editor Roque Jacoby Copyright de Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini 1988 Impressão Gráfica Editora Pallotti A2821 Aguiar Vera Teixeira de Literatura a formação do leitor alternativas metodológicas Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini Porto Alegre Mercado Aberto 1988 176 p Série Novas Perspectivas 27 1 Análise Literatura Ensino de 1º e 2º Grau 2 Literatura Análise Ensino de 1º e 2º Grau 3 Ensino de 1º e 2º Grau Análise Literatura I Bordini Maria da Glória II Série Novas Perspectivas 27 III Título CDU 3733500182 8237335001 O Bibliotecária responsável Rosemarie Bianchessi dos Santos CRB10797 Todos os direitos reservados a Editora Mercado Aberto Ltda Rua Santo Antonio 282 fone 0512 218595 21 8601 Cx Postal 1432 90220 Porto Alegre RS São Paulo Rua Cardeal Arcoverde 2934 Bairro Pinheiros Fone 011 814 8916 814 9997 05408 São Paulo SP ISBN 8528000605 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 5 1 FORMAÇÃO DO LEITOR 9 11 Fundação social da leitura 9 12 Leitura e não leitura numa sociedade desigual 10 13 Leitura da literatura 13 14 Papel da escola na formação literária 15 2 INTERESSES DE LEITURA E SELEÇÃO DE TEXTOS 21 Determinação dos interesses literários e prazer do texto 18 22 Escolha dos textos 28 3 NECESSIDADE DE METODOLOGIA 32 31 Ensino tradicional de literatura a prática e os currículos 32 32 Necessidade da metodologia de abordagem textual 36 4 MÉTODO CIENTÍFICO 44 41 Fundamentação teórica 44 42 Objetivos e critérios de avaliação 47 43 Etapas de desenvolvimento técnicas 49 44 Exemplos de unidades de ensino 52 441 Currículo por atividades 52 442 Currículo por áreas 55 443 Currículo por disciplinas 58 5 MÉTODO CRIATIVO 62 51 Fundamentação teórica 62 52 Objetivos e critérios de avaliação 65 53 Etapas de desenvolvimento técnicas 67 54 Exemplos de unidades de ensino 72 541 Currículo por atividades 72 542 Currículo por áreas 75 543 Currículo por disciplinas 78 6 MÉTODO RECEPCIONAL 81 61 Fundamentação teórica 81 62 Objetivos e critérios de avaliação 85 63 Etapas de desenvolvimento técnicas 86 64 Exemplos de unidades de ensino 91 641 Currículo por atividades 91 642 Currículo por áreas 96 643 Currículo por disciplinas 99 7 MÉTODO COMUNICACIONAL 103 71 Fundamentação teórica 103 72 Objetivos e critérios de avaliação 107 73 Etapas de desenvolvimento técnicas 108 74 Exemplos de unidades de ensino 118 741 Currículo por atividades 118 742 Currículo por áreas 121 743 Currículo por disciplinas 126 8 MÉTODO SEMIOLÓGICO 132 81 Fundamentação teórica 132 82 Objetivos e critérios de avaliação 136 83 Etapas de desenvolvimento técnicas 137 84 Exemplos de unidades de ensino 142 841 Currículo por atividades 142 842 Currículo por áreas 145 843 Currículo por disciplinas 148 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 152 BIBLIOGRAFIA 156 APÊNDICE Obras recomendadas para trabalho escolar 159 Currículo por atividades 159 Currículo por áreas 165 Currículo por disciplinas 170 APRESENTAÇÃO Este livro é resultado de um trabalho de pesquisa das condições e problemas do ensino de literatura no Rio Grande do Sul iniciado em 1983 pelo Centro de Pesquisas Literárias da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul CPLPUCRS Concebida de modo a dar conta da realidade das salas de aula e ao mesmo tempo trazer destas as contribuições práticas que pudessem alicerçar a investigação universitária de alternativas metodológicas nessa área essa pesquisa se desenvolveu em dois planos paralelos De um lado entrevistou 240 alunos e 80 professores de escolas públicas e particulares de 1º e 2º graus de Porto Alegre RS sobre como se procedia o ensino de literatura em classe Desse levantamento que contou com o suporte financeiro principal do INEPMEC e com recursos parciais do Programa de Desenvolvimento de Metodologias Aplicáveis ao EnsinoAprendizagem para o Ensino Superior da SDESES u MEC produziuse um relatório intitulado Diagnóstico da situação do ensino de literatura no 10º e 2º graus em escolas de Porto Alegre RS apresentado ao INEPMEC em 1985 As conclusões básicas dessa enquete constatavam um desinteresse crescente pela literatura entre os alunos conforme avançasse o grau de escolaridade e um considerável despreparo entre os professores quanto à abordagem da obra literária nos vários currículos escolares De outro lado no mesmo ano com o apoio financeiro do Programa de Integração UniversidadeEscola de 1º Grau da SDESES U MEC encetouse outra pesquisa de caráter teóricoprático com uma equipe de professores de 1º e 2º graus que buscou a partir das situações problemáticas gradativamente manifestadas no diagnóstico elaborar algumas propostas que apresentassem alternativas para o ensino básico Fundamentada na prática efetiva dos pesquisadores em sala de aula e no estudo das teorias da linguagem e da literatura realizado como parte das tarefas de pósgraduação dessa equipe tal pesquisa chamouse Metodologias alternativas para o ensino de literatura no 1o grau e abrangiu duas etapas a criativa e a experimental À proporção que a pesquisadiagnóstico se completou tornouse possível levar em conta nas propostas em elaboração os dados sobre os setores deficitários da atuação docente e sobre preferências e comporta metodológicas em teste revelaram que 294 sujeitos passaram a se interes Noronha Elisa Averbuh Tesseler May Maria Celeste Arruda Nezia Hele permitem leituras significativas o fato é que as classes dominantes dão enfase ao livro como veículo do saber que lhes convém Nesse sentido é importante que as classes menos favorecidas tenham acesso à cultura letrada sob pena de se manterem as diferenças sociais Isso quer dizer que ao se valorizar todas as expressões culturais dominadas não se está pretendendo limitar as classes populares ao conhecimento já adquirido no grupo O que se propõe é abrirlhes o leque de opções de modo a atuar efetivamente na vida social e não apenas como massa de manobra uma vez que elas passam a ser capazes de jogar com as mesmas armas Decorre daí a necessidade nas sociedades democráticas da implementação da alfabetização por ser este o instrumento de apropriação da cultura dominante É sintomático que exatamente nessa tarefa a nossa escola tenha se mostrado tão ineficaz deixando transparecer mesmo a contragosto seu caráter de aparelho ideológico do Estado burguês Tanto a ausência de escolaridade quanto a evasão precoce que hoje ainda se observam a níveis preocupantes se devem ao modo de ser do sistema de organização escolar programado para atender apenas as necessidades das classes media e alta Vejamse itens como horário períodos de férias exigência de assiduidade uniforme material didático etc que ficam aquém das possibilidades das camadas proletárias ou campesinas Para Michael Apple todos esses itens dizem respeito ao currículo oculto que juntamente com o currículo expresso constituemse no modo como instituições de preservação e distribuição cultural como as escolas produzem e reproduzem formas de consciência que permitem a manutenção do controle social sem que os grupos dominantes tenham de recorrer a mecanismos declarados de dominação 198212 Acrescentese ao quadro exposto o fato de que os valores defendidos por essa escola através de seus administradores e professores oriundos da classe média pouco concernem às classes baixas que não se vêem nela representadas seja nos conteúdos curriculares seja na estrutura funcional Da colisão dos valores do corpo docente que apontam para a ascensão social com os do corpo discente que se limitam à necessidade de sobrevivência decorrem os problemas crônicos de disciplina as dificuldades de aproveitamento e o conseqüente afastamento do aluno da escola O analfabeto o não leitor entendido como aquele que aprendeu a ler e deixa de fazêlo e o leitor deficiente cujo nível de compreensão é precário são subprodutos desse modelo escolar Os estímulos que o processo de ensino a eles oferece em relação às classes trabalhadoras pecam pela falta de identidade cultural Os textos dos livros didáticos e outros livros nada têm a ver com as suas aspirações suas necessidades e interesses imediatos e com sua realidade Dessa perspectiva terseia que circunscrever os problemas de leitura a um segmento determinado da sociedade No entanto sabese que esses fenômenos ocorrem também em outros escalões sociais com a mesma intensidade As causas porém são diversas Não se trata de cisão entre textos e valores representados ou entre escola e projetos culturais Nesse caso a desvalorização da leitura se relaciona ao fato de que talvez esta como atividade intelectual não proporcione acumulação de capital Essa situação se vincula à própria constituição do regime capitalista que marginaliza o intelectual único agente que não gera lucro com os objetos que produz O trabalho intelectual só é reconhecido quando reforça os aparatos de dominação daqueles que detêm o capital Mesmo nos casos em que as obras contestam o sistema pode suceder que este as transforme em mercadorias anulando seu efeito Por isso o leitor de classes elevadas mesmo imbuído da importância da leitura nos bancos escolares acaba por abandonála gradativamente à medida que em sua vida cotidiana voltase para atividades que promovem ganhos Numa sociedade desigual os problemas de leitura se diversificam conforme as características de classe As soluções possíveis se orientam para o pluralismo cultural ou seja a oferta de textos vários que deem conta das diferentes representações sociais Se as classes trabalhadoras também tiverem acesso à alfabetização serão elas não apenas consumidoras passivas mas produtoras de novos textos que se acrescentarão aos que circulam na sociedade e atenderão a seus interesses De qualquer modo todos os segmentos sociais a despeito de suas divergências internas podem ser mobilizados para a leitura quando encontram nas obras o momento catártico que identifica o leitor com o conteúdo expresso Uma das necessidades fundamentais do homem é dar sentido ao mundo e a si mesmo e o livro seja informativo ou ficcional permanece como veículo primordial para esse diálogo igualmente universal através porém de uma reprodução esmerada do concreto e particular Merquior 197278 A linguagem literária extrai dos processos históricopolíticosociais nela representados uma visão típica da existência humana O que importa não é apenas o fato sobre o qual se escreve mas as formas de o homem pensar e sentir esse fato que o identificam com outros homens de tempos e lugares diversos A obra literária pode ser entendida como uma tomada de consciência do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor Assim não é um mero reflexo na mente que se traduz em palavras mas o resultado de uma interação ao mesmo tempo receptiva e criadora Essa interação se processa através da mediação da linguagem verbal escrita ou falada O texto produzido graças a essa natureza verbal permite o estabelecimento de trocas comunicativas dentro dos grupos sociais pondo em circulação esse sentido humano A literatura como uma das formas de comunicação participa assim do âmbito maior da cultura ou seja da produção significante relacionandose com outros objetos culturais Entretanto possui características que a diferenciam desses A mais evidente é o uso não utilitário da linguagem No circuito de comunicação o texto literário não se refere diretamente ao contexto não precisa apontar para o objeto real de que ele é signo possuindo portanto uma autonomia de significação Por exemplo uma história infantil ou um romance criam suas próprias regras comunicativas estabelecendo um pacto entre autor e leitor em que a presença do contexto é dispensável Ao ler o texto o leitor entra nesse jogo pondo de lado a sua realidade momentânea e passa a viver imaginativamente todas as vicissitudes das personagens da ficção Dessa forma aceita o mundo criado como um mundo possível para si Essa capacidade do texto literário de independer de referentes reais de forma direta devese à coerência interna dos elementos de que se compõe de modo a tornar autosuficiente o todo assim estruturado A obra se efetiva muito mais pela composição de seus elementos estruturais do que pela relação denotativa com o contexto Esse traço justifica a descoberta da significação mesmo em obras que explicitamente rompem com a realidade concreta e histórica como as de ficção científica de horror e de realismo mágico A estrutura da obra literária decorre das linhas de força estabelecidas entre seus componentes e funções Essa estrutura porém não é um todo uniforme uma vez que nela se alteram continuidades e descontinuidades determinadas pelo próprio limite das frases e períodos linguísticos Constróise na obra literária um mundo possível no qual os objetos e processos nem sempre aparecem totalmente delineados Esse mundo portanto envolve lacunas que são automaticamente preenchidas pelo leitor de acordo com sua experiência Isso explica por que se pode representar toda uma vida numa novela de cem páginas sem que se perca a ilusão de realidade dos eventos narrados A obra apresenta uma série de indicações em potência que o sujeito atualiza no ato da leitura Em contraposição o texto não literário contém indicadores muito mais rígidos e presos ao contexto de comunicação não deixando margem à livre movimentação do leitor A informação que oferece é imediata e restritiva valendo apenas para uma situação definida Por isso podese dizer que o texto literário é plurissignificativo permitindo leituras diversas justamente por seus aspectos em aberto A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor o que não ocorre em outros textos Daí provém o próprio prazer da leitura uma vez que ela mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor sem obrigálo a manterse nas amarras do cotidiano Paradoxalmente por apresentar um mundo esquemático e pouco determinado a obra literária acaba por fornecer ao leitor um universo muito mais carregado de informações porque o leva a participar ativamente da construção dessas com isso forçandoo a reexaminar a sua própria visão da realidade concreta A atividade do leitor de literatura se exprime pela reconstrução a partir da linguagem de todo o universo simbólico que as palavras encerram e pela concretização desse universo com base nas vivências pessoais do sujeito A literatura desse modo se torna uma reserva de vida paralela onde o leitor encontra o que não pode ou não sabe experimentar na realidade É por essa característica que tem sido acusada ao longo dos tempos de alienante escapista e corruptora mas é também graças a ela que a obra literária captura o seu leitor e o prende a si mesmo por ampliar suas fronteiras existenciais sem oferecer os riscos da aventura real Noronha Elisa Averbuh Tesseler May Maria Celeste Arruda Nezia Hele Para aprender a ler o texto verbal escrito não basta conhecer as letras que assinalam os fonemas nem adianta saber que os fonemas só fazem sentido quando reunidos em palavras ou frases Não é suficiente também descobrir ou compreender as regras do código chamado gramatical que juntam fonemas em palavras ou palavra em frases Essas habilidades são apenas operações de base para a leitura e na vida prática são dominadas por processos mentais de associação e memória a partir da motivação do indivíduo ágrafo quando ingressa na escola em busca do domínio da escrita A leitura pressupõe a participação ativa do leitor na constituição dos sentidos lingüísticos Embora as palavras sejam explicadas no dicionário nunca exprimem um único significado quando integram uma frase de um texto determinado A tarefa de leitura consiste em escolher o significado mais apropriado para as palavras num conjunto limitado Vilém Flusser pesquisando a etimologia do verbo ler observa que vêm do latim legere que significa o gesto de catar picar grãos como galinhas o executam O que por certo impõe a questão do critério que rege tal escolha de grãos amontoado De modo que ler significa escolha aleatória de elementos tirados um por um do seu contexto os elementos do tipo letra ou cifra não passam de casos específicos do ato genérico de leitura 198527 A seleção dos significados se opera por força de um contexto que os justifica Esse contexto é o da experiência humana que confere valor a um sinal que em princípio é vazio e só passa a portar significado por um ato de convenção eminentemente social Convencionase que algo é significante quando corresponde a um valor previamente estabelecido O conjunto de valores convencionados é chamado cultura e por isso mesmo perfeitamente legível porque criado pelos homens A formação escolar do leitor passa pelo crivo da cultura em que este se enquadra Se a escola não efetua o vínculo entre a cultura em que ou de classe e o texto a ser lido o aluno não se reconhece na obra porque a realidade representada não lhe diz respeito Mesmo diante de qualquer texto que a escola lhe proponha como meio de acesso a conhecimentos que ele não possui no seu ambiente cultural há a necessidade de que as informações textuais possam ser referidas a um background cujas raízes estejam nesse ambiente Portanto a preparação para o ato de ler não é apenas visualmotora mas requer uma contínua expansão das demarcações culturais da criança e do jovem Diante da leitura outra exigência se impõe em termos de aprendizagem Os sentidos não se esgotam no plano meramente conceitual A fruição plena do texto literário se dá na concretização estética das significações A medida que o sujeito lê uma obra literária vai construindo imagens que se interligam e se completam e também se modificam apoiado nas pistas verbais fornecidas pelo escritor e nos conteúdos de sua consciência não só intelectuais mas também emocionais e volitivos que sua experiência vital determinou A educação do leitor de literatura não pode ser em vista da polissemia que é própria do discurso literário impositiva e meramente formal Como os sentidos literários são múltiplos o ensino não pode destacar um conjunto deles como meta a ser alcançada pelos alunos Por outro lado informar a esses de técnicas ou períodos literários não resultará em alargamento dos limites culturais que orientam as práticas significativas deles senão num estágio bem mais adiantado de sua formação Antes de formalizar o estudo dos textos por essas vias é preciso vivenciar muitas obras para que estas venham a preencher os esquemas conceituais O 1º grau deve dar ênfase à constituição de um acervo de leituras o mais vasto possível exploradas em sua significação cultural contudo sem a preocupação de classificações a partir de qualquer critério Será no 2º grau que a sistematização teórica do conhecimento literário poderá ser introduzida desde que mesmo então seja fundada na leitura prévia de textos Para que a escola possa produzir um ensino eficaz da leitura da obra literária deve cumprir certos requisitos como dispor de uma biblioteca bem aparelhada na área da literatura com bibliotecários que promovam o livro literário professores leitores com boa fundamentação teórica e metodológica programas de ensino que valorizem a literatura e sobretudo uma interação democrática e simétrica entre aluno e professor Se isso não ocorrer valem as palavras de Ezequiel Theodoro da Silva os objetos de leitura principalmente o livro passam por um processo de obscurecimento intencional Mais especificamente as circunstâncias que deveriam promover o livro ou um tipo de livro o revelador tornamse cada vez mais drásticas fazendo com que o acesso fique cada vez mais difícil Ausentar o estímulo livro do mundo vivido pelas pessoas significa retirar a possibilidade delas executarem uma resposta ler o livro isto é movimentarem a consciência para o objeto 198363 2 INTERESSES DE LEITURA E SELEÇÃO DE TEXTOS 21 Determinação dos interesses literários e o prazer do texto Considerando a natureza da literatura podese afirmar que se o professor está comprometido com uma proposta transformadora da educação ele encontra no material literário o recurso mais favorável à consecução de seus objetivos Neste caso vale a pena investir na formação do leitor o que significa incentiválo ao hábito de modo a multiplicar a experiência literária O papel da escola é decisivo neste processo e as pesquisas têm mostrado que em toda a parte os estudantes são sem dúvida leitores mais assíduos mas uma vez terminados os estudos eles também se expõem ao perigo de se tornarem não leitores Barker Escarpit 1975122 Para que se assegure a continuidade do comportamento positivo em relação ao livro é preciso que o hábito não seja apenas como um padrão rotineiro de resposta automaticamente provocado e realizado A busca frequente da literatura precisa surgir de uma atitude consciente da disposição de enfrentar o desafio que o texto oferece como nova alternativa existencial O primeiro passo para a formação do hábito de leitura é a oferta de livros próximos à realidade do leitor que levantem questões significativas para ele A literatura brasileira e a literatura infantojuvenil nacionais vêm preencher estes quesitos ao fornecerem textos diante dos quais o aluno facilmente se situa pela linguagem pelo ambiente pelos caracteres dos personagens pelos problemas colocados A familiaridade do leitor com a obra gera predisposição para a leitura e o consequente desencadeamento do ato de ler A ampliação do conhecimento que daí decorre permitelhe com preender melhor o presente e seu papel como sujeito histórico O acesso aos mais variados textos informativos e literários proporciona assim a tessitura de um universo de informações sobre a humanidade e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os outros homens A socialização do indivíduo se faz para além dos contatos pessoais também através da leitura quando ele se defronta com produções significantes provenien tes de outros indivíduos por meio do código comum da linguagem es crita No diálogo que então se estabelece o sujeito obrigase a descobrir sentidos e tomar posições o que o abre para o outro 12 Leitura e não leitura numa sociedade desigual Uma sociedade de classes em que interesses divergentes se entre chocam com a predominância de alguns deles sobre os demais privi legia sobremaneira o texto escrito como objeto de leitura A escrita historicamente representa uma conquista sobre a memória instrumen to predominante nas sociedades ágrafas A acumulação do conhecimen to através da palavra escrita tem sido apropriada pelas classes que detêm o poder dentro de uma sociedade Como o documento escrito é mais eficiente para a fixação e conservação das idéias leva vantagem sobre a memória coletiva alijando das decisões do grupo aqueles que não são capazes de decifrálo de grupos Os interesses de leitura preenchem as necessidades do leitor através de enredos sensacionalistas histórias vividas por gangues personagens diabólicos histórias sentimentais 5ª fase Os anos de maturidade ou desenvolvimento da esfera literoestética de leitura 14 a 17 anos Descobrindo o mundo interior e o mundo dos valores o adolescente parte para a hierarquização dos conceitos e a organização de seu universo Aventuras de conteúdo intelectual viagens romances históricos e biográficos histórias de amor literatura engajada e temas relacionados com os interesses vocacionais vão ajudálo a orientarse e estruturarse como adulto O interesse pela leitura varia em qualidade de acordo com a escolaridade do aluno Neste sentido podese também delinear cinco níveis de leitura 1º Préleitura Durante a préescola e o período preparatório para a alfabetização a criança desenvolve capacidades e habilidades que a tornarão apta à aprendizagem da leitura a construção dos símbolos o desenvolvimento da linguagem oral e da percepção permite o estabelecimento de relações entre as imagens e as palavras Os interesses voltamse nesta fase para histórias curtas e rimas em livros com muitas gravuras e pouco texto escrito que permitem a descoberta do sentido muito mais através da linguagem visual que da verbal 2º Leitura compreensiva É o período correspondente ao momento da alfabetização 1ª e 2ª séries em que a criança começa a decifrar o código escrito e faz uma leitura silábica e de palavras A motivação para ler é muito grande e a escolha recai sobre textos semelhantes aos da etapa anterior agora decodificados pelo novo leitor 3º Leitura interpretativa Da 3ª à 5ª série o aluno evolui da simples compreensão imediata à interpretação das idéias do texto adquirindo fluência no ato de ler A aquisição de conceitos de espaço tempo e causa bem como o desenvolvimento das capacidades de classificar ordenar e enumerar dados permitem que o estudante se adentre mais nos textos e exija leituras mais complexas 4º Iniciação à leitura crítica Em torno da 6a e 7a séries o estudante atinge o estágio de desenvolvimento que Piaget denomina das operações intelectuais abstratas da formação da personalidade e da inserção afetiva e intelectual na sociedade dos adultos cf 1973624 A capacidade de discernimento do real e a maior experiência de leitura favorecem o exercício de habilidades críticas permitindo ao leitor não só interpretar os dados fornecidos pelo texto como também posicionarse diante deles iniciandose nos juízos de valor As preferências por livros de aventuras em que os problemas são resolvidos por grupos de jovens vêm preencher as necessidades do leitor de iniciarse no questionamento da realidade ampliando sua dimensão social 5º Leitura crítica É o período que abrange a 8a série e o 2º grau quando o aluno elabora seus juizos de valor e desenvolve a percepção dos conteúdos estéticos Sensível aos problemas sociais o jovem interrogase sobre suas possibilidades de atuação na comunidade adulta A busca da identidade individual e social e o maior exercício da leitura têm como dividendo uma postura crítica diante dos textos através da comparação de idéias da conclusão da tomada de posições Livros que abordam problemas sociais e psicológicos interessam ao aluno deste nível possibilitandolhe a reflexão e a opção por comportamentos que descobre como mais justos e mais autênticos Como a idade e a escolaridade o sexo também é fator determinante dos interesses de leitura Fatores biológicos e principalmente culturais determinam diferenças de comportamento entre os sexos Uma dessas diferenças diz respeito à atitude diante da leitura Os homens escolhem os temas mais arrojados aventuras viagens ficção científica enquanto as mulheres se voltam para as histórias de amor romances vida familiar crianças Tais tendências estão intimamente relacionadas aos fatores culturais Na verdade a sociedade cria estereótipos de comportamento para o homem e para a mulher e esses dirigem suas atitudes e interesses Portanto suas preferências literárias correspondem aos padrões sociais o sexo masculino envolvese em atividades agressivas de luta pelo sucesso e pela sobrevivência enquanto ao sexo feminino são atribuídas atitudes mais passivas voltadas para o trabalho doméstico a educação dos filhos e tarefas afins As preferências de leitura correspondem à necessidade de cada sexo cumprir o papel social que lhe é confiado Questionados sobre suas preferências literárias em pesquisa realizada em Porto Alegre RS os estudantes confirmam este perfil cf Aguiar 19793446 Os meninos revelam maior comprometimento com o real e atração por histórias que se passam em tempos e lugares distantes enquanto as meninas escolhem os elementos de fantasia próximos no tempo e no espaço Essas tendências revelam um melhor aparalhamento para se movimentar na sociedade e uma percepção mais ampla de mundo no sexo masculino restando ao sexo feminino reações escapistas dentro de um espaço limitado Os interesses variam ainda de acordo com o nível sócioeconômico do público leitor observandose o sucesso dos textos em que predominam os ingredientes mágicos entre os estudantes menos favorecidos e a busca de leitura engajada entre os privilegiados cf Aguiar 19794760 A leitura vem satisfazer em cada grupo um tipo de necessidade social para os primeiros supre carências e aponta para um mundo melhor para os últimos serve de instrumento de apropriação do real de forma a favorecer a adaptação social e a promoção Em pesquisa de interesses de leitura conduzida pelo Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS com dados colhidos em 1983 e analisados em 1984 cf Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1985 365383 abrangendo 330 alunos observase que em termos de comportamentos gerais no 1º grau em todas as séries os alunos dão preferência à música como forma de lazer Quando lêem escolhem livros salvo na 6a série que elege revistas e em casos de narrativas preferem as lineares Da 1ª à 7ª série os alunos demonstram gostar mais de histórias em quadrinhos do que de literatura sendo esta apenas citada na 8a série Na 1ª série o gênero literário preferido é o poema Os assuntos literários prediletos são os superheróis o humor e os contos de fadas O tempo narrativo de preferência é o presente e o espaço deve ser um local existente o Brasil e montanhas Quanto às personagens da narrativa preferem as jovens sendo que o tipo predileto é o herói seguido de fantasmas robôs e pessoas fadas e anões Em relação aos poemas as crianças preferem os que têm rimas e aliterações com estrofes curtas de teor narrativo e informativo com jogos de grafia e de sons Na 2ª série os alunos são indiferentes quanto ao gênero literário preferido Os assuntos literários mais procurados são superheróis e animais Preferem uma narrativa com muita ação situada no presente em espaço que exista na realidade dando relevo ao urbano A faixa etária das personagens é a infância sendo que os tipos de personagens preferidos são o estudante o herói robôs e pessoas grandes homens pessoas e animais monstros fantasmas e pessoas comuns Quanto aos poemas os alunos preferemnos com estrofes curtas e sem refrões Agradam particularmente os poemas de teor narrativo e informativo com jogos de sons idéias e jogos gráficos Na 3ª série os alunos se mostram indiferentes quanto ao gênero literário Os assuntos literários constantes são animais superheróis e aventuras Eles também manifestam indiferença quanto à ordenação composicional da narrativa e quanto ao tempo nela representado O espaço preferido é o Brasil Estes alunos apreciam personagens crianças e seus tipos favoritos são os heróis e as pessoas comuns Em relação à poesia não indicam preferência quanto à composição mas elegem como prediletos os poemas de teor informativo em que haja jogos de sons e de idéias Na 4ª série há indiferença quanto a gêneros literários e demonstrase apreciação dos seguintes assuntos literários aventuras animais horror ficção esportiva e superheróis Os alunos preferem uma narrativa situada no presente que se passe no Brasil no campo na cidade no espaço sideral no mar em terra nas montanhas na selva em locais variados pois mas existentes Eles não se importam com a faixa etária das personagens mas preferem heróis pessoas comuns animais pessoas e animais robôs e pessoas Quanto à poesia só demonstram preferir os poemas narrativos de teor informativo com jogos gráficos e de idéias Na 5ª série o gênero literário favorito é o poema Dáse preferência aos seguintes assuntos literários aventuras humor animais lendas espionagem horror policial e ficção esportiva Os alunos querem narrativas com muita ação que se passem no presente ou no passado remoto e no futuro O espaço representado pode ser a selva o mar o espaço sideral a cidade o deserto a montanha o Brasil a terra firme devendo ser existente e distante Não há preferência quanto à faixa etária das personagens mas os tipos favorecidos são as pessoas comuns pessoas e animais monstros fantasmas e vilões Quanto aos poemas apreciam ritmos e não demonstram predileção quanto à composição estrófica Leem poemas líricos e narrativos de teor informativo e reflexivo com jogos de idéias de sons e das formas gráficas Na 6ª série os alunos não se mostram particularmente interessados em um gênero literário em especial Os assuntos literários são o humor o horror o amor e as aventuras As narrativas podem acontecer no futuro ou então no presente ou no passado remoto O espaço pode ser o mar o campo o espaço sideral a terra firme a selva a cidade em locais variados portanto existentes mas distantes A faixa etária predileta quanto às personagens é a juventude dandose ênfase a pessoas comuns robôs e pessoas fantasmas e heróis Com relação aos poemas os elementos que chamam a atenção são a rima e os jogos das formas gráficas Preferem poesia lírica e narrativa com assuntos de teor emotivo informativo e por último reflexivo Os alunos de 7ª série são indiferentes quanto ao gênero literário que lêem Os assuntos literários que lhes interessam são aventuras humor e amor Eles preferem narrativas no futuro situadas em terra firme no mar no campo no estrangeiro no Brasil em locais variados existentes mas distantes Também gostam de personagens jovens mostrandose inclinados para tipos como pessoas comuns sábios e cientistas estudantes e grandes homens Em relação à poesia não destacam qualquer elemento sonoro mas preferem as estrofes sem refrões sendo assuntos prediletos os de teor informativo seguidos dos de caráter reflexivo e emotivo O gênero de eleição é o lírico Os alunos da 8ª série são indiferentes quanto a gêneros literários Os assuntos literários preferidos são ficção esportiva aventuras amor humor e policial Quanto ao tempo representado na narrativa pode ser o presente o futuro ou o passado remoto As preferências espaciais são por locais muito variados existentes antes distantes que próximos na seguinte ordem mar terra firme Brasil estrangeiro cidade campo selva montanha e espaço sideral Os alunos se mostram indiferentes quanto à faixa etária das personagens desde que sejam pessoas comuns estudantes sábios e cientistas ou grandes homens Com referência à poesia queremna lírica de ritmos fixos estrofes curtas e com jogos de sons Os assuntos poéticos podem ser de teor informativo ou emotivo e reflexivo Quanto aos alunos do 2º grau todas as séries preferem a música a qualquer outra atividade de lazer leem revistas e jornais mas não livros e quanto ao texto literário quando o lêem chegam a ele por iniciativa própria e dão prioridade à narrativa linear Na 1ª série o gênero literário é indiferente os assuntos prediletos são o policial a aventura o amor e a espionagem O tempo narrativo é o presente e o futuro e o espaço é a cidade locais distantes mas existentes variados o mar o estrangeiro o campo a terra firme a montanha e a selva Quanto às personagens a preferência é por pessoas comuns estudantes e grandes homens Com respeito aos poemas os jovens pedem textos líricos rimados de teor emotivo e depois informativo e reflexivo que joguem com ideias Na 2ª série os alunos não se pronunciam significativamente sobre gêneros literários de preferência Os assuntos literários mais populares são o humor o policial a ficção científica a ficção esportiva a ficção psicológica e a aventura O tempo narrativo é o presente e o passado e o espaço inclui locais variados existentes e distantes o estrangeiro o mar a terra e o Brasil Quanto às personagens da narrativa privilegiam as pessoas comuns e estudantes Com relação aos poemas lêem os líricos antes de teor reflexivo mas também os de cunho emotivo e informativo mas não indicam preferências quanto à composição Os alunos da 3ª série preferem como gênero o conto Os assuntos literários eleitos são o humor e a aventura a ficção científica o policial e a ficção esportiva O tempo narrativo é o presente e o espaço abrange locais existentes a terra a cidade a montanha o campo o estrangeiro Quanto às personagens da narrativa a escolha é por pessoas comuns estudantes e grandes homens Com referência aos poemas salientam a lírica sob forma rimada contendo jogos de idéias e com assuntos de teor emotivo informativo e reflexivo nesta ordem Todos esses dados configuram o tipo de público existente a partir do qual podese refletir sobre as práticas de leitura possíveis Convém lembrar porém que as pesquisas sobre interesses contribuem para a elaboração de um perfil de leitor em determinado contexto históricosocial Para tal fazse mister o registro do entrecruzamento das atitudes fundadas nos fatores citados acima e em tantos outros como por exemplo as experiências anteriores de leitura do sujeito Podese chegar então ao conhecimento dos códigos estéticos e ideológicos de que o mesmo se vale no ato de leitura A partir daí o professor vai sustentar seu trabalho em objetivos mais ambiciosos não apenas satisfazer os interesses imediatos do públieo oferecendolhe leituras repetitivas e redundantes que venham tão somente atender ao gosto mas aguçarlhe a curiosidade para textos que representam a realidade de forma cada vez mais abrangente e profunda Para oferecer ao aluno condições de ampliar seu universo cultural o professor de literatura conta com meios eficientes a natureza do material de leitura e a complexidade das formas de abordálo Partindo das preferências do leitor o trabalho deve orientarse de maneira dinâmica do próximo para o distante no tempo e no espaço Isto significa optar primeiramente por textos conhecidos de autores atuais familiares pela temática apresentada pelos personagens delineados pelos problemas levantados pelas soluções propostas pela forma como se estruturam pela linguagem de que se valem A seguir gradativamente vãose propondo novas obras menos conhecidas de autores contemporâneos eou do passado que introduzam inovações em alguns dos aspectos citados Estes procedimentos inusitados para o leitor rompem sua acomodação e exigem uma postura de aceitação ou descrédito fundada na reflexão crítica o que promove a expansão de suas vivências culturais e existenciais A ampliação do processo vai atingir além do material escolhido as atividades sugeridas Começando pelas mais simples e costumeiras que requerem comportamentos previsíveis buscamse alternativas de trabalho mais exigentes em que o estudante participe do planejamento e de todas as etapas de consecução O estudo de literatura transformase em um pacto entre professor e aluno em que ambos dividem responsabilidades e méritos Dessa forma as estratégias de ensino adotadas não cobrem simplesmente os interesses do estudante que via de regra funciona como elemento passivo recebendo materiais prontos e ordens a serem obedecidas Instigado à ação ele se compromete com o projeto de ensino de literatura exigindo maiores oportunidades de se firmar como sujeito participante de seu grupo Este alinhamento do aluno em toda a dinâmica do processo literário concretizase na medida do prazer que o trabalho provoca As atividades lúdicas vão ao encontro dos interesses da criança e do jovem que têm no jogo o exercício simbólico das práticas sociais e dos sentimentos humanos Suscitadas a partir dos textos estas atividades são expedientes importantes na formação e na continuidade do gosto pela leitura Quebrandose o sentido de obrigatoriedade a leitura perde o ranço de disciplina escolar para se converter em ato espontâneo e estimulante desencadeador de momentos aprazíveis Se os textos devem agradar ao leitor as atividades de exploração dos mesmos estão comprometidas com o fortalecimento desta reciprocidade e não com o seu esvaziamento Quando o ato de ler se configura preferencialmente como atendimento aos interesses do leitor desencadeia o processo de identificação do sujeito com os elementos da realidade representada motivando o prazer da leitura Por outro lado quando a ruptura é incisiva instaurase o diálogo e o conseqüente questionamento das propostas inovadoras da obra lida alargandose o horizonte cultural do leitor O dividendo final é novamente o prazer da leitura agora como apropriação de um mundo inesperado O ato de ler é portanto duplamente gratificante No contato com o conhecido fornece a facilidade da acomodação a possibilidade de o sujeito encontrarse no texto Na experiência com o desconhecido surge a descoberta de modos alternativos de ser e de viver A tensão entre esses dois pólos patrocina a forma mais agradável e efetiva de leitura A literatura pode suscitar prazer porque tem seu fim em si mesma isto é funciona como um jogo em torno da linguagem das idéias e das formas sem estar subordinada a um objectivo prático imediato Essa concepção do fato literário remonta à estética idealista do séc XVIII mais precisamente a Immanuel Kant que define a literatura e a arte em geral como um modo de representação que por si mesmo é final embora sem fim no entanto propicia a cultura dos poderesdamente para a comunicação social 1980245 Essa teoria chega valorizada ao séc XX que continua prestigiando o fenômeno estético pela sua capacidade de provocar prazer Pela gratuidade daí advinda a literatura aproximase das atividades lúdicas em geral também elas com a finalidade única de emocionar e divertir o sujeito sem oferecerlhe vantagens materiais Gratuito e sem obrigatoriedade o jogo não é entretanto um ato incontrolado mas estruturado a partir de regras às quais o indivíduo deve se submeter O jogador ingressa no jogo graciosamente sem imposições com liberdade Depois de entrar ele passa necessariamente a obedecer às regras criadas pelo próprio jogo cumprindoas como a um pacto estabelecido entre os jogadores Também a literatura tem esse mesmo caráter uma vez que ao elaborar sua obra o autor institui normas e regras de composição fornecendo indicadores de leitura aos quais o leitor segue num acordo tácito com o criador Ler é imergir num universo imaginário gratuito mas organizado carregado de pistas às quais o leitor vai assumir o compromisso de seguir se quiser levar sua leitura isto é seu jogo literário a termo Embora desinteressado e sem vinculação direta com o real o jogo tem uma função significante isto é tem um sentido gerado por aquilo que está sendo disputado O alvo a ser atingido não responde contudo a uma necessidade imediata da vida prática mas mesmo assim confere um sentido à ação Johan Huizinga define as características do jogo como uma atividade que se processa dentro de certos limites temporais e espaciais segundo uma determinada ordem e um dado número de regras livremente aceitas e fora da esfera da necessidade ou da utilidade material O ambiente em que ele se desenrola é de arrebatamento e entusiasmo e tornase sagrado ou festivo de acordo com a circunstância A ação é acompanhada por um sentimento de exaltação e tensão e seguida por um estado de alegria e de distensão 1980147 A definição de Huizinga vale da mesma forma para a literatura e a arte em geral que participam dessa área não lucrativa onde se inserem as atividades prazerosas e lúdicas excluídas do programa de vida de uma sociedade voltada para o ganho Averbuck 198666 A obra literária como o jogo simula os conflitos do mundo de forma global buscando a restauração do equilíbrio através de uma proposta alternativa para a existência Essa função mimética é acentuada quando se relacionam texto e estruturas extratextuais pois uma obra artística sendo um modelo determinado do mundo uma mensagem na linguagem da arte não existe pura e simplesmente fora dessa linguagem assim como fora de todas as outras linguagens das comunicações sociais Lotman 1978101 Walter Benjamin acrescenta à característica de imitação do jogo a capacidade de formação de hábitos considerando que sua essência não é um fazer como se mas um fazer sempre de novo transformação da experiência mais comovente em hábito 198475 Para ele todo hábito entra na vida como jogo que por mobilizar emoções e inspirar prazer exige repetição contínua e renovada Por essas vias chegase por certo ao hábito da leitura literária que permite a multiplicação do prazer através da experiência sempre recomeçada de viver os sentidos do mundo em cada texto percorrido 22 Escolha dos textos Alguns princípios básicos norteiam o ensino de literatura o atendimento aos interesses do leitor a provocação de novos interesses que lhe agucem o senso crítico e a preservação do caráter lúdico do jogo literário Levando em conta esses aspectos o professor está recuperando para o aluno as funções básicas de toda a arte captar o real e repassálo criticamente sintetizandoo de modo inovador através das infinitas possibilidades de arranjo dos signos O resultado final será um comportamento permanente de leitura em que o texto se apresenta como um desafio a ser vencido em inúmeras atividades participativas Sua apreensão redundará em situações gratificantes que vão garantir a continuidade do processo de fruição da leitura O maior obstáculo com que o professor se defronta para alcançar esses alvos está no conhecimento amplo e seguro do acervo de títulos de literatura infantojuvenil e para adultos com que poderá trabalhar em sala de aula Qualquer modalidade de ensino depende antes de tudo do domínio que se tem do objeto a ser ensinado Quando se trata de literatura a experiência de leitura e o senso crítico do professor não podem ser substituídos pelo aparato metodológico por mais aperfeiçoado e atualizado que este seja Uma aula de literatura bem planejada parte não da metodiz ação das atividades mas do próprio conteúdo dos textos a serem estudados Assim sendo o professor precisa ter uma leitura prévia e comprensiva dos mesmos se deseja proporcionar a seus alunos vias eficazes de fruição e conhecimento das obras e da história literária A leitura do professor pois é prérequisito da leitura do aluno mas isto não quer dizer que a interpretação do aluno deva ser atrelada à do professor É evidente que os sentidos que esse deu ao texto influenciarão as atividades propostas para explorálo mas se o aluno através do trabalho textual atinge outros sentidos e consegue comproválos pelas evidências à sua disposição não cabe ao professor questionar a leitura que realizou Dizer que a compreensão e a interpretação orientam o planejamento das experiências da leitura não significa porém que estas se acumulem desordenadamente pois a falta de sistema além de dificultar as operações de pensamento no processo de aprendizagem pode tornar o estudo completamente caótico de modo que o aluno não consiga efetuar as sínteses conceituais que a consecução do conhecimento exige A metodologia de ensino dessa formá é outro prérequisito hierarquicamente colocado em segundo lugar mas de igual maneira indispensável Por outro lado qualquer metodologia do ensino não se opera num vácuo teórico Tanto a leitura seletiva do professor quanto o método que ele adota após decidir sobre os textos que deverá trabalhar são orientados na sua essência por uma concepção que ele faz do literário Esta lhe oferece os critérios para apreciar as obras e para abordálas com os alunos segundo um ou outro método que faça emergir o conceito de literatura subjacente a todo o processo Se a seleção de textos e a escolha de métodos de abordagem textual é interdependente e mutuamente sustentada por uma noção comum de literatura a conseqüência é que o professor precisa conhecer algumas teorias literárias que lhe definam os limites do seu campo de trabalho Uma teoria literária é um modo de investigação científica que se exerce pela observação e análise de um corpus hipoteticamente delimitado como literário Segundo Souza seu objeto é a literatura stricto sensu ou seja determinadas composições verbais em que a linguagem se apresenta elaborada de maneira especial e nas quais se dá a constituição de universos imaginários ou ficcionais Num nível ainda mais elaborado de exigências metodológicas devese dizer enfim que o objeto da teoria da literaturo é constituído pela literariedade isto é o modo especial de elaboração da linguagem inerente às composições literárias caracterizado por um desvio em relação às ocorrências mais ordinárias da linguagem 198647 As teorias literárias investigam seu objeto a partir de diferentes perspectivas sobre o que é literário ou não como se pode observar na afirmação de Souza que restringe o conceito a dois constituintes fundamentais Outros analistas das teorias literárias definiram seu objeto por caminhos diversos ora desconsiderando ora privilegiando o modo de elaboração linguística ora exaltando ora pondo em cheque a idéia de universo imaginário As possibilidades de enfoque nos estudos literários são portanto múltiplas e a exigência que se pode fazer a uma teoria é que estabeleça claramente o que para ela é a literatura e que a investigue com rigor científico a partir dessa definição hipotética O professor egresso de um curso de Letras ou de Magistério nem sempre faz idéia de que sua tarefa de ensino de literatura não é inocente mas vem direta ou indiretamente impregnada de noções que acabam por funcionarem como critérios para a crítica e a avaliação das obras bem como para a organização dos processos de leitura e interpretação ao nível do aluno Para poder discriminar qual o texto de melhor ou pior qualidade literária assim como para optar por um ou outro método de compreensão e interpretação de uma obra específica o professor precisa conscientizar seus pressupostos teóricos no que as teorias literárias podem auxilialo As mais correntes concepções do literário podem ser agrupadas em duas classes principais as que valorizam o discurso linguístico e suas representações ideais como a estilística a fenomenologia o formalismo russo o estruturalismo e a semiologia e as que valorizam a equivalência entre o universo criado e o universo real como a teoria de Aristóteles a sociologia literária e a estética da recepção Frequentemente teóricos de um ou outro lado ultrapassam essas fronteiras mas a partir delas podemse traçar algumas diretrizes que facilitem ao professor a tomada de decisões nessa área prioritária do ensino de literatura Para Aristóteles em sua Poética 1966 69 a obra de arte literária é mímese uma imitação verbal não do que é mas do que pode ser cujas partes integrantes formam um todo do qual nada pode ser retirado ou acrescentado e onde tudo é necessário e verossímil ou seja cada elemento tem uma explicação lógica aceitável do ponto de vista interior da obra A fim de ajuizar um texto segundo Aristóteles é preciso verificar se tudo que nele aparece tem ligação com o todo se não há elementos desnecessários ou que estão soltos sem desenvolvimento ou justificativa Em última análise interessa a coerência interna Para os seguidores de Aristóteles o conceito de mímese se torna ambíguo e uns privilegiam a idéia de que a literatura deve corresponder ao universo real imitandoo de forma melhor do que ele é e outros a idéia de que o importante é o universo fictício que pode representar o mundo real ou o mundo possível desde que coerentemente construído pelas palavras Uma das teorias modernas relacionadas com a ênfase no poder da linguagem de criar universos é o estruturalismo que se ocupa com a questão de literariedade entendendo a obra literária como uma estrutura de signos verbais em relação harmônica ou contraditória uns com os outros produzida por procedimentos de composição que tornam esse sistema de signos autônomo em relação à realidade exterior Segundo Jakobson o objeto da ciência da literatura não é a literatura mas a literariedade isto é o que faz de uma obra dada uma obra literária 197315 O estruturalismo evolui para a semiologia ampliando os estudos literários a outras linguagens não verbais e preocupandose em como elas geram significados e comunicação dentro da sociedade O ajuizamento da obra literária na ótica estruturalista e semiológica se realiza pela descrição do sistema dos signos descobrindo as relações entre eles e os significados que delas decorrem Como signos se consideram não só as palavras mas suas representações tais como personagens lugares épocas ações emoções símbolos idéias etc O estruturalismo se detém sobre a articulação lógica entre as partes da estrutura textual enquanto a semiologia salienta a relação entre estruturas dos signos e estrutura da realidade São procedimentos descritivos e analíticos não valorativos mas de todo modo acabam por discutir os valores ideológicos da sociedade que os sistemas de signos traduzem A sociologia da literatura conceitua o texto literário como reflexo de uma sociedade histórica apresentando a essência dos fenômenos que nela ocorrem de modo concreto A produção literária para Lukács 1965 289 é a tradução particular de uma verdade universal comum a toda humanidade A literatura não copia os fatos singulares da História mas procura neles o que é representativo para todos os homens e cria um novo fato que veicule essa essência Linha teórica também comprometida com o social é a semiologia de Bakhtin que permite a correlação entre os conflitos sociais e a estrutura literária pela análise da dimensão ideológica do signo linguístico A avaliação do texto no esquadro sociológico exige o conhecimento prévio da história da sociedade em que ele foi produzido e se efetua pelo cotejo entre os fatos reais e os fatos fictícios A obra é válida quando apreende a essência por trás da história conscientizando o leitor do que é o ser humano resgatandoo das distorções ideológicas que o reificam e alienam A teoria da estética da recepção desenvolve seus estudos em torno da reflexão sobre as relações entre narradortextoleitor Vé a obra como um objeto verbal esquemático a ser preenchido pela atividade de leitura que se realiza sempre a partir de um horizonte de expectativas Roche define este como soma de comportamentos conhecimentos e idéias préconcebidas com que se depara uma obra no momento de sua aparição e segundo a qual é medida 1980 10 Por esse caminho a teoria tenta fechar o círculo entre a abordagem estrutural e a sociológica A obra literária é avaliada a partir da teoria recepcional através da descrição de componentes internos e dos espaços vazios a serem preenchidos pelo leitor Fazse então o confronto entre o texto e suas diversas realizações na leitura e explicamse estas recorrendose às expectativas dos diferentes leitores ou grupos de leitores em sociedades históricas definidas A obra é tanto mais valiosa quanto mais emancipatória ou seja quanto mais propõe ao leitor desafios que as expectativas deste não previam As teorias literárias como se vé possibilitam variadas visões do objeto de ensino do professor a literatura Por meio delas a seleção dos textos pode ser realizada segundo a ótica que melhor se adaptar às necessidades dos alunos e do projeto de educação pelo qual o professor opta De igual modo elas proporcionam procedimentos de trabalho com o texto literário coerentes com a concepção de literatura do professor e os princípios que norteiam sua atividade docente 31 32 3 NECESSIDADE DE METODOLOGIA 31 Ensino tradicional de literatura a prática e os currículos A situação crítica do ensino de literatura tem sido suficientemente apontada e discutida em pesquisas seminários cursos encontros de professores e no debate público em geral Nessas ocasiões verificase que o ponto nevrálgico da questão reside nas deficiências de domínio da leitura Talvez a causa mais evidente desses fracassos esteja na dificuldade de acesso às fontes de informação por parte dos professores Contudo a formação recebida nos cursos de Letras e nos de 2o grau com terminalidade em Magistério bem ou mal propicia uma bagagem de conteúdos relacionados à literatura que deveria sustentar um ensino mais eficiente Da mesma forma o professor em exercício conta com vasta bibliografia para alimentar seus conhecimentos nessa área Isso tudo entretanto parece não resolver a crise pois ainda que eventualmente de posse de todas as referências necessárias o professor vêse desorientado quanto ao modo de organizar experiências e elas atinentes em sala de aula Pesquisa realizada em Porto Alegre concluída em 1984 pelo Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS para o INEPMEC consultou 98 professores desses graus de ensino sobre suas atitudes em relação ao ensino de literatura Através das respostas levantadas foi possível traçar o perfil comportamental do professor de 1o e 2o graus no que tange a material literário utilizado e práticas docentes cf Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1985 357364 Os modos de atuação do professor revelados demonstram que quanto ao material literário sua tendência é adotar e recomendar o livro didático usando livros de literatura esporadicamente como complemento ao livrotexto Quando não o adota em geral o substitui por folhas avulsas que contém fragmentos de textos acompanhados de exercícios Uma leitura descompromissada livre e estimulante da imaginação e da criatividade ou do senso crítico não é portanto enfatizada A cada leitura correspondem atividades de responder exercícios gramaticais e de redação sem qualquer relação com o caráter artístico de um texto literário ou de interpretação com itens programados e direcionados para uma compreensão literal e primária Quanto aos objetivos os professores se atêm à natureza do hábito de ler preocupandose com formar o hábito da leitura e desenvolver o potencial criativo e crítico dos alunos procurando ao mesmo tempo atender aos interesses dos mesmos Entretanto a presença maciça do livro didático e a ausência da obra literária na íntegra tornam tais metas inexeqüíveis Os professores apesar de visarem a formação do hábito da leitura e o desenvolvimento do espírito crítico não oferecem atividades nem utilizam recursos que permitam a expansão dos conhecimentos das habilidades intelectuais a criatividade ou a tomada de posição embora arrolem esses tópicos em seus critérios de aproveitamento escolar O debate a livre discussão e atividades que extrapolam o âmbito da sala de aula são esquecidos As fórmulas mais carentes de criatividade e mais tradicionalmente empregadas como aulas expositivas e exercícios escritos e orais de interpretação são praticadas pela maioria o que também promove a falta de incentivo e de motivação para a leitura dos alunos Outra situação observada é a de que esses professores querem incentivar posturas críticas e participantes na realidade social mas valemse de atividades repetitivas com alta carga de obrigatoriedade satisfazendose com frequência com a simples leitura dos textos solicitados revelada através de discussões redações dissertativas ou fichas de leitura Em especial para préadolescentes cuja descoberta da complexidade da vida está em efervescência dificilmente tais atitudes podem surtir efeitos positivos em termos de gosto pela leitura O quadro se agrava com o uso dominante do livro didático uma vez que esse sabidamente oferece apenas fragmentos de textos literários e os aborda do ponto de vista gramatical acima de tudo Se os métodos de ensino como ficou comprovado encerram pouca margem para a imaginação e a criatividade e não acolhem práticas familiares ou desafiadoras aos alunos é possível deduzirse que o problema reside mais neles do que na bagagem cultural prévia daqueles que freqüentam a escola Percebeuse também que os professores cônscioos de sua responsabilidade de educadores para a leitura contraditoriamente não aliam os 33 34 interesses vitais de seus educandos com os métodos de trabalho literário Atêmse a técnicas já consagradas e a recursos convencionais de mais fácil acesso e operacionalização Isso possibilitou a inferência de que há uma lacuna entre précondições de leitura e modos de atuação da escola a qual permanece em aberto No que tange à adequação dos textos selecionados pelo professor e os processos de abordagem textual como requisitos básicos para o ensino eficaz de literatura na escola foi constatado que a seleção dos livros a serem lidos pela criança e o jovem centrase na literatura modal erudita seja destinada à infância ou à juventude Viuse igualmente que o volume dessa seleção é pequeno uma vez que suplementa ou complementa o livro didático Um dado animador é que a preferência recai sobre autores da modernidade ou contemporâneos e que se busca a regionalização das obras o que aproxima o livro escolhido de seu leitor incipiente Por outro lado os métodos de abordagem textual parecem nem sequer entrar no âmbito das preocupações do professor Comprovouse que ainda se recorre a fórmulas prontas voltadas para a gramática para a redação e para a interpretação reprodutiva não levando em conta nem as précondições do aluno nem a natureza do próprio texto a ser trabalhado Entre os critérios referentes às estratégias de ensino nenhum professor ao adotar o livro didático revelou preocupação com a orientação de teoria literária dos exercícios ou técnicas de abordagem dos textos o que também não transparece nas respostas relacionadas com os procedimentos didáticos O esvaziamento do ensino de literatura se accentua portanto não só pelo pequeno domínio do conhecimento literário do professor mas também pela falta de uma proposta metodológica que o embase Outra pesquisa do Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS realizada nas diretrizes dos Estados da União e concluída em 1985 revela um dado alarmante apenas o Rio Grande do Sul e mesmo assim num currículo por ora em testagem define uma linha metodológica clara o método científico Tendo em vista que essas diretrizes norteiam o processo ensinoaprendizagem determinando planejamentos educacionais e prestações de contas correlativas podese inferir que a atuação do professor em sala de aula peca pela falta de orientação metódica o que explicaria boa parte dos problemas dos alunos na área A análise da situação de leitura nas diretrizes oficiais Aguiar 198333 permite algumas considerações sobre os fins da educação e o tipo de homem que o ensino público pretende formar As reflexões teóricas sobre a importância e a concepção de leitura apontam para uma dimensão crítica do ato de ler como possibilidade de crescimento individual Contudo a preocupação moralizante evidencia tendência a prender o sujeito aos padrões estabelecidos pela sociedade em vez de estimulálo ao questionamento e à reelaboração dos valores Os tipos de textos sugeridos para uso da rede oficial de ensino reforçam a voz do adulto e atendem aos objetivos de uma educação que se propõe moldar os jovens segundo os modelos dominantes através de a adaptações que empobrecem o conteúdo das obras e desviam suas finalidades originais b criação de textos pelos planejadores dos currículos cuja linguagem mostra pobreza vocabular excesso de diminutivos e precariedade de rimas Não retrata a fala infantil mas aquela que os mais velhos esperam da criança Os temas procuram despertar sentimentos de submissão como a supervalorização da escola a idolatria à família e à Pátria Alguns são de tal forma repetitivos que dão a idéia de estagnação no tempo e conseqüentemente impossibilidade de crescer como Dia da Árvore Dia da Criança Minhas Férias c orientação para que os professores reformulem os textos elaborados pelos alunos anulando o valor da expressão infantil em relação ao da adulta As sugestões metodológicas ainda podem ser questionadas quanto ao modo como tratam o texto e as atividades propostas O texto literário é neles pretexto para o estudo da gramática e se desencadeia as ações não é vinculado à experiência de vida do aluno o que afeta seu poder de mobilização para o ato de ler As sugestões de trabalho são pouco originais todas propõem os mesmos tipos de atividades e exercícios que se fecham nos limites da escola sem intercâmbio com a comunidade o que torna as aulas estantes e desvinculadas do real Tal situação se accentua pelo desprestígio em que se encontra o livro nesses documentos Há falta de articulação entre os objetivos educacionais definidos e as práticas sugeridas Não se oferecem livros embora se queira desenvolver o gosto pela leitura Raríssimas são as recomendações de leitura o que significa que essas diretrizes enfatizam processos vazios fechados em si mesmos em detrimento do conteúdo que lhes deveria servir de suporte formado por um repertório de obras adequadas à realidade social do estudante e a seus interesses O que se depreende é que tais propostas de educação repetem o modelo de estrutura social que as alimenta na medida em que não proporcionam ao aluno os meios de participar do debate e de atuar de forma dinâmica em seu grupo As orientações curriculares ainda inalteradas que salientam a função da escola como reforço ideológico de um Estado autoritário 35 34 encerram um elemento crucial para a análise da situação do ensino de literatura que na prática já foi diagnosticada como deficitária É a visão formalista da experiência escolar como algo que deve ser ordenado mas cujo conteúdo precisa ser controlado a distância entre os postulados pedagógicos e o seu preenchimento concreto O discurso oficial é comumente referendado dentro da sala de aula por atitudes apassivadoras que explicam a inércia observada 32 Necessidade da metodologia de abordagem textual O modelo de aula de literatura atualmente em vigor na escola brasileira poderia ser descrito como uma sequência de atividades mais ou menos estáticas ditadas inclusive pelo próprio livro didático apresentação de um texto explicação do vocabulário exercícios de interpretação exercícios gramaticais e composição Tentativas de integração dos conteúdos literários por vezes se fazem com a área de Artes Plásticas ou Música resumidas entretanto ao preenchimento do tempo útil do aluno sem maiores vinculações com o que antes fora proposto A repetição continuada das mesmas tarefas não representa uma organicidade sistêmica do trabalho educacional Uma vez que não há um projeto que as vincule entre si através de objetivos comuns o que se observa é a fragmentação dos conhecimentos a redundância excessiva de tópicos a dispersão do processo de aprendizagem num círculo vicioso em que os mesmos conteúdos são permanentemente ensinados e nunca aprendidos Esse modelo típico de aula de literatura tem raízes na tradição escolar brasileira que remontam à pedagogia jesuítica Nas escolas coloniais e depois do Reinado mantidas pela Companhia de Jesus a literatura só ingressava como exemplo retórico de execução primorosa da língua portuguesa na Metrópole quando ao mesmo tempo trazia normas de moralidade cristã e fidelidade às autoridades constituídas Muito embora freqüentemente os textos tivessem qualidade literária estavam a serviço não de si mesmos mas de uma educação cristã dos coloniais Wilson Martins afirma que quaisquer que sejam os métodos especificamente pedagógicos do ensino jesuítico não há como negar que era mentalmente conservador reacionário com relação às orientações reformistas da época e anticientífico estruturalmente estava condenado por antecipação antes a imobilizar do que a promover o desenvolvimento intelectual do Brasil 197722 Essa tradição histórica explica o tratamento dado à literatura que Marisa Lajolo denuncia observando que em situações escolares o texto costuma virar pretexto ser intermediário de aprendizagens outras que não ele mesmo E no entanto texto nenhum nasceu para ser objeto de estudo de dissecação de análise Salvo raras e modernas exceções por exemplo os textos produzidos de encomenda e sob medida para alguns livros escolares um texto costuma ser produto do trabalho individual de seu autor e encontra sua função na leitura individual de um leitor 198653 A dimensão intimista do ato de leitura esbarra com a necessidade de uma educação de massas em que o livro não é posse de cada aluno e a reunião de muitos sujeitos num mesmo espaço obriga à comunicação interpessoal transformando a leitura numa atividade coletiva que ela não é em essência A distância entre a relação leitor pessoallivro e leitor grupallivro certamente desfigura as características do ato de ler o que a escola acentua ainda mais quando pulveriza a leitura tanto no que se refere ao material literário quanto aos modos de abordagem textual A ênfase que se atribui atualmente à produção moderna é sem dúvida nenhuma positiva Contudo essa opção apresenta riscos quando se examinam os textos selecionados que advêm da imprensa crônicas reportagens artigos de jornais e revistas e de obras literárias consideradas em capítulos estrofes fragmentos etc O recorte do material de leitura bastante comum desintegrando o original é uma solução muito fácil e popularizada no ensino de massas pois permite a reprodução pouco onerosa mas atenta ao direito do aluno de conhecer a obra no seu todo Dois aspectos daí decorrem que são passíveis de objeção Em primeiro lugar o trabalho exclusivo com o texto moderno impede a visão da historicidade da literatura esvaziando formas registros lingüísticos e sistemas de idéias de sua relação com o passado O ideal seria o cotejo de obras de diferentes épocas para acompanhar a evolução e mudanças de perspectiva que de certo modo também integram o significado do texto atual Em segundo lugar a utilização predominante de excertos em folhas mimeografadas ou coletados no livro didático desvirtua o universo de sentidos das obras produzindo no imaginário do alunoleitor um caos de representações desarticuladas que nem de longe correspondem ou insinuam a proposta de cada original e acabam por fazer da noção de literatura assim construída uma colcha de retalhos em que nada tem a ver com nada Ou melhor tudo tem a ver com as intenções nem sempre louváveis daquele que seleciona os textos e os recor 37 Os modos de tratamento deste material literário convergem todos paradoxalmente para a entronização do texto aliás do fragmento considerado como repositório de idéias fixas verdadeiras e indiscutíveis Essa noção de texto perfeito origina certas atitudes inflexíveis do professor que valendose de sua maior maturidade de leitura impõe interpretações tidas como as melhores e portanto incapazes de serem modificadas ou contestadas pelos alunos A socialização do texto provém de uma postura histórica de valorização da palavra escrita nas civilizações ocidentais especialmente no campo da literatura em que já antes da escrita a fala do narrador ou do poeta conservava a memória da coletividade e indagava o desconhecido revestindose de uma função ao mesmo tempo mágica e prática Os narradores e poetas primitivos já relatavam para o seu público os feitos de seus heróis a origem de suas instituições sua agricultura e seu relacionamento com o divino A criação da imprensa com Gutemberg cristalizou esse prestígio social da fala literária enquanto a destituiá de seu caráter de experiência coletiva A escola encontrou no texto impresso a possibilidade de circulação ampla da ciência e da arte a razão de sua existência Investida do papel de transmissora do conhecimento seleciona como material de apoio para o ensino os textos consagrados pelas instâncias sociais que determinam a vida cultural excluindo em geral a produção popular e a intervenção do alunado na constituição do sentido textual uma vez que esse está pronto e traduz a verdade A noção de textomodelo implica a imposição de normas lingüísticas estéticas e ideológicas que devem ser assimiladas pelo aluno sem discussão já que está diante de uma autoridade publicamente reconhecida a criação literária A norma estética dominante na seleção e uso da literatura pela escola é a do realismo Mesmo em fragmento a média de textos em trânsito nas salas de aula é extraída de autores do séc XIX ou dos vários neorealismos posteriores como o do romance de 30 e seus seguidores contemporâneos na literatura para adultos e na infantojuvenil que lida com histórias do cotidiano sejam urbanas ou regionalistas O lado aventuresco emocional e fantástico da estética romântica e seus pósteros é muito menos encontrável sendo que a estética clássica deixou de ser até mencionada A norma lingüística a que a utilização da literatura na escola visa é a do padrão culto Se essa atitude se ampara na tradição escolar colonial hoje se torna problemática em virtude de que mesmo as obras contemporâneas de cunho realista introduzem coloquialismos e dialetos diversificados por força da exigência de representarem fielmente os vários meios sociais Mesmo nesses casos aceitamse com maior boa vontade aquelas estruturas e vocabulário admitidos pelo falar culto Embora a literatura faça parte das instituições culturais que constituem a línguapadrão devese lembrar que é nela que esta mesma variante se modifica com maior rapidez A escola entretanto sempre detém esse curso de modificação escolhendo obras menos avançadas em seu discurso Daí a razão da literatura ser tão nacionalmente trabalhada como exemplo de regras gramaticais Nesse caso o que se aprende não é o conhecimento do texto literário mas o da gramática sendo a literatura mero instrumento de exemplificação A par de exercícios gramaticais são apresentados ao aluno questionários e temas para redação que representam as normas ideológicas que o texto ou seu recorte defendem muitas vezes porque descontextualizados Essas normas se traduzem em geral em comportamentos exemplares dos heróis na literatura infantojuvenil e na literatura para adultos pautados por valores falsificados Umberto Eco e Marisa Bonazzi arrolam uma série de tópicos falseados que analisaram em livros didáticos italianos como os pobres o trabalho o herói e a pátria a escola as raças e povos a família a ausência de Deus a educação cívica os menores que trabalham a história nacional a língua a ciência e a técnica o dinheiro a caridade e a previdência social Essa análise mostra que esses problemas são apresentados de uma maneira falsa grotesca risível Que através deles a criança é educada para uma realidade inexistente Que quando os problemas e a resposta a eles fornecida dizem respeito à vida real são colocados e resolvidos de forma a educar um pequeno escravo preparado para aceitar o abuso o sofrimento a injustiça e para ficar satisfeito com isto Enfim os livros de leitura contam mentiras educam os jovens para uma falsa realidade enchem sua cabeça com lugares comuns com coisas chãs com atitudes não críticas E o que é pior cumprem este trabalho de mistificação servindose dos mais reles clichês da pedagogia repressiva do século passado por preguiça ou incapacidade dos seus compiladores 1980 16 Osman Lins diante dos textos brasileiros reafirma essas conclusões declarando que neles pode refletirse todo o perfil de um país 1977149 Para ele professores e autores de compêndios didáticos fogem portanto ao seu papel natural de mediadores Tornamse no nosso processo cultural ao invés de fatores de ligação uns verdadeiros tropeços A culpa não é somente deles Eles se associam a toda uma corte de homens distraídos trêfegos rapaces inseridos num quadro social propício à aventura aos empreendimentos levianos à irresponsabilidade social para não dizer ao engodo 1977 149 39 Todo o texto entretanto independente do seu grau de realização artística seja ele consagrado ou não pode ser objeto de aulas de literatura desde que seja visto na sua totalidade e que o professor esteja atento para o conjunto de normas que nele se configuram sendo capaz de discriminálas criticamente em contraste com os padrões estéticos e ideológicos de seu tempo Através de uma experiência de leitura acumulada e de posse de estratégias de ensino polemizantes pode promover um trabalho criativo de sentido coletivo encorajando os alunos a comentarem os textos do ponto de vista temático e formal e a cotejarem esses aspectos em obras de variada procedência histórica e geográfica sem submeteremse a eles como verdades definitivas O exame do que se faz e se pensa sobre o ensino da literatura hoje permite traçar algumas linhas de demarcação fundamental para uma proposta alternativa que cumpra esse papel de criatividade e inovação Percebese em primeiro lugar uma nítida preocupação com um modelo de leitura conformado pelas exigências do texto sem muito espaço para a interferência interpretativa ou recriadora do leitor Essas exigências porém têm um caráter mais extrínseco do que intrínseco Partem de fora do texto embora pareçam dele provir É o que ocorre com a ênfase observada em exercícios formalistas voltados para a identificação de elementos textuais mas sem chegar a investigar a funcionalidade destes suas interrelações e seu diálogo com o leitor como se a literatura fosse uma coisa separada dos homens uma espécie de máquina cujas peças apenas devem ser desmontadas para serem conhecidas Essa coisificação parece decorrer da insistência numa postura conservadora que entende literatura como exercício talentoso da língua e vê a esta como um sistema de regras a serem memorizadas e aplicadas Verificamse portanto de um lado professores maciçamente acomodados ante o problema da leitura refazendo práticas consagradas pela tradição cultural a leitura gramatical do texto a explicação do texto pelo modelo francês que se limita a redizer o que a obra já diz o ensino pela informação sobre e não pela experiência de enquanto uma minoria dá impulso a posturas mais abertas buscando restituir ao aluno as possibilidades de que ele estabeleça o seu próprio vínculo com a matéria ficcional pesquisando sobretudo na prática soluções para vencer problemas já crônicos como a indiferença o desânimo e a falta de familiaridade com a cultura letrada Tentando unificar essa dispersão a tarefa de uma metodologia voltada para o ensino da literatura está em a partir dessa realidade cheia de contradições pensar a obra e o leitor e com base nessa interação propor meios de ação que coordenem esforços solidarizem a participação nestes e considerem o principal interessado no processo o aluno e suas necessidades enquanto leitor numa sociedade em transformação O problema nessa perspectiva se delimita na órbita da metodologia de ensino Uma vez que o professor possui metas bastante definidas quanto à necessidade de incremento do gosto pela literatura o que lhe faltaria seriam os meios para alcançálas Esses meios derivariam de uma sistematização dos procedimentos didáticos em torno de uma idéiafim quanto à educação literária do aluno ou seja da adoção de um método de ensino cujos pressupostos filosóficos se coadunassem com a concepção de alunoleitor que o professor cultiva É escusado salientar portanto a necessidade de uma metodologia que sirva de suporte para a prática escolar Essa proporcionará resultados produtivos para o aluno na medida em que delimite para si mesma uma finalidade para o ato de aprender Nesse sentido todas as etapas do processo ensinoaprendizagem estariam voltadas para os fins últimos da educação Esse princípio norteador das experiências educativas seria a espinha dorsal de um método o qual se resume em um conjunto de atividades com um nexo sistemático entre si Esse nexo seria dado pela intenção fundamental que é buscada pelas agências educativas Numa sociedade pluralista é no entrechoque de idéias e valores que se aperfeiçoam as instituições sociais Na área educacional lugar privilegiado de aprimoramento da cidadania e da personalidade é onde a maior diversidade deveria ocorrer Nela não se deveriam limitar as possibilidades de livre determinação quanto ao que faz sentido para a comunidade escolar no convívio com os livros e outros artefatos culturais Em especial quando se trata com a literatura modelo simulado de tudo o que diz respeito ao homem e suas aspirações não se pode conceber a uniformidade de posições nem quanto a conteúdos nem quanto a métodos de trabalho A metodologia precisa acolher também em seus domínios a divergência de posturas ideológicas e a relatividade de soluções ante as instituições rapidamente mutáveis da sociedade contemporânea Cumpre que se metodize o ensino mas não apenas numa direção perseguindo um ideal absoluto de homem como tem sido a norma Com a utilização de um método adequado a cada espécie de alvo filosófico que a escola se proponha atingir garantindose decisões sólidas entre professores e alunos quanto ao que importa ensinar e aprender a circunstância histórica e social seria atendida superandose o imobilismo dos modelos idealistas tradicionais e no que concerne à literatura as atividades de leitura receberiam a ordenação e a referencialidade de que carecem para serem aceitas pelo alunado A adoção de um método de ensino para a literatura depende sobretudo do posicionamento do professor quanto ao aluno que tem à frente Se o leitor que a escola quer formar é aquele que assimila os 41 sentidos acriticamente só para acumular sensações ou informações que de nada lhe servem na vida concreta ou é aquele que não consegue se quer apreender esses sentidos por força de barreiras linguísticas e sócio culturais não há razão para procurarse a sistematização das atividades uma vez que tais leitores são produzidos in absentia de qualquer méto do Se o modelo almejado é o do leitor crítico capaz de discriminar in tenções e assumir atitudes ante o texto com independência a primeira providência é sondar as necessidades dos estudantes O distanciamento entre expectativas de professores e alunos gera dispersão de esforços mesmo entre os bemintencionados os que pro pugnam por uma educação igualitária e transformadora Detectadas as précondições e interesses do grupo bem como as possibilidades de lei tura oferecidas pelo meio ambiente é neste momento que a escolha e a introdução de um método pedagógico se fazem necessárias a fim de nortear todo o trabalho de classe ou extraclasse em direção aos fins que essa sondagem demonstrou serem importantes para aquele conjunto espe cífico de alunos na sua circunstância fins esses que poderão transfor marse durante o trabalho na medida em que a classe se conscientize de novas necessidades ou de novas exigências que venha a enfrentar A partir de cada método dentro de sua especificidade o profes sor pode organizar a situação de aprendizagem conforme as aspirações do grupo e as peculiaridades do conteúdo a ser trabalhado sem forçar nenhum dos dois pólos e sem renunciar à sua função de orientador do processo educativo A pluralidade de métodos limita o autoritarismo do sistema educacional por não depender de alvos preestabelcidos e imutá veis e pressupõe uma atuação docente flexível pois não permite a repe tição rotineira de atividades ou o cumprimento passivo de um programa inalterável Por outro lado aderir a um método não representa uma camisa deforça para o ensinoaprendizagem como a idéia de sistematização poderia conotar desde que esse método estruture os procedimentos di dáticos sempre a partir de expectativas efetivas e apenas assinale rotas para que tais expectativas sejam atendidas e ampliadas Alguns dos métodos a seguir delineados já circulam nos meios educacionais tais como os que visam a desenvolver o potencial criativo ou de investigação científica dos alunos Outros derivamse de teorias da literatura e da linguagem e se dirigem especificamente ao trabalho com as propriedades literárias dos textos Cada um deles preocupase em defi nir traços característicos de acordo com a teoria que o alicerça bem como possui metas explícitas e bem diferenciadas Não se pode negar entretan to que todos advêm de um posicionamento ideológico e filosófico co mum que diz respeito à visão última de educação que neles está implícita A concepção de educação que defendem está ligada à noção de transformação sóciocultural que só se viabiliza através de um ensino eminentemente voltado para a realidade do aluno e que deseja alcançar como dividend final uma postura crítica ante o mundo e a práxis so cial Toda a atividade de literatura deve em consequência dessas premis sas resultar num fazer transformador numa leitura em que o aluno des cobre sentidos e reelabora aquilo que ele é e o que pode ser 42 43 4 Análise das possíveis reações do destinatário 6 Modos de apresentação 7 Prazo para realização do projeto Elaboração do material Em pequenos grupos os alunos criam através de diferentes lin guagens alternativas para encaminharem sua reivindicação obedecendo a todos os requisitos de seu projeto Suponhase que as alternativas sejam discurso cartazes painéis passeatas malhaçãodojudas panto mima Apresentadas as alternativas a turma examina a eficácia de cada uma delas descartando as menos factíveis e escolhendo as que puder levar a efeito com os recursos materiais e humanos disponíveis Nas aulas seguintes cada alternativa terá seus passos e materiais preparados Finalmente elas serão escalonadas segundo seu teor de for ça persuasiva e realizadas pela turma Divulgação do trabalho As diferentes mensagens elaboradas pelo grande grupo são apre sentadas na ordem preestabelecida a colegas de outras turmas a pro fessores funcionários administradores e eventualmente à comunidade na dependência da extensão do tema das reivindicações 80 6 MÉTODO RECEPCIONAL 61 Fundamentação teórica O método recepcional é estranho à escola brasileira em que a preocupação com o ponto de vista do leitor não é parte da tradição Via de regra os estudos literários nela tem se dedicado à exploração de tex tos e de sua contextualização espaçotemporal num eixo positivista O relativismo de interpretação e portanto de leitura não é tópico de con sideração no âmbito acadêmico o que se explica pela tendência ao autoritarismo da própria cultura brasileira que endossa seus expoentes temerosa de expôlos à crítica O método recepcional não se submete a essa tradição dominante uma vez que sua base teórica defende a idéia do relativismo histórico e cultural já que está fundamentalmente convicta da mutabilidade dos objetos bem como da obra literária dentro do processo histórico Fok kema Kunne Ibisch 1977 138 Se o historicismo positivista en tende os fenômenos literários como determinados pelos fatos sociais numa relação de origem unilateral em que a obra é sempre consequên cia e nunca causa o conceito de historicidade da teoria recepcional é o de relação de sistemas de eventos comparados num aquieagora espe cífico a obra é um cruzamento de apreensões que se fizeram e se fa zem dela nos vários contextos históricos em que ela ocorreu e no que agora é estudada Nesse sentido discutese o próprio conceito de literatura como um sistema de sentido fechado e definitivo que ela indubitavelmente é enquanto simples objeto escrito anexandoselhe a dimensão da sua lei tura como parte inerente a tal sistema o que resulta na abertura desse para relações com o mundo histórico extratexto A recepção é concebida pelos teóricos alemães da Escola de Constança como uma concretização pertinente à estrutura da obra tan to no momento da sua produção como no da sua leitura que pode ser estudada esteticamente o que dá ensejo à denominação da teoria de esté tica da recepção A noção de concretização é derivada dos trabalhos do polonês Roman Ingarden na década de 30 e do tcheco Felix Vodička na década de 40 Para Ingarden o exame do modo de ser da obra literá ria descobre que ela é uma estrutura linguísticoimaginária permeada de pontos de indeterminação e de esquemas potenciais de impressões sen soriais os quais no ato de criação ou da leitura são preenchidos e atua lizados transformando o que era trabalho artístico do criador em obje to estético do leitor cf Ingarden 1973 Para Vodička a obra é um sig no estético dirigido ao leitor o que exige a reconstituição histórica da sensibilidade do público para entenderse como ela se concretiza A con cretização nesse caso seria operada por meio de avaliações que o lei tor atribui à obrasigno em sua consciência a partir de determinada nor ma estética vigente Por isso as concretizações de um texto se modifica riam constantemente segundo a sociedade avaliasse naquele momento a obra e seus temas e procedimentos estruturais cf Vodička 1978 299 300 As idéias de Ingarden e Vodička são reformuladas por teóricos posteriores que entendem o processo de concretização como interação do leitor com o texto em que este atua como pauta e tudo o que não diz ou silencia cria vazios que forçam aquele a interferir criadoramente no texto a dialogar com ele de igual para igual num ato de comunica ção legítimo A maior e mais óbvia diferença entre a leitura e todas for mas de interação social é o fato de que com a leitura não há a situação faceaface O leitor contudo nunca pode saber do texto o quão precisas são suas apreensões sobre ele Não há quadro de referên cias que governe a relação textoleitor ao contrário Os códigos que poderiam reger tal interação são fragmentados no texto e primeiro pre cisam ser reagrupados ou na maioria dos casos reestruturados antes que se possa estabelecer qualquer quadro de referências Iser 1980 166 O quadro de referências que permite a comunicação entre dois parceiros sociais é constituído pelas indicações e perguntas que cada falante faz a seu interlocutor para assegurarse de que está controlando a fluência comunicativa Com a obra e o leitor isso não é possível uma vez que a obra fornece pistas a serem seguidas pelo leitor mas deixa muitos espaços em branco em que o leitor não encontra orientação e precisa mobilizar seu imaginário para continuar o contato A atitude de interação tem como précondição o fato de que tex to e leitor estão mergulhados em horizontes históricos muitas vezes dis tintos e desfasados que precisam fundirse para que a comunicação ocorra São estes os quadros de referências antes aludidos a que Hans Robert Jauss chama de horizontes de expectativas os quais incluem todas as convenções estéticoideológicas que possibilitam a produção recepção de um texto cf 1971 747 Regina Zilberman arroIa as seguintes ordens de convenção constitutivas do horizonte de expectati vas através do qual o autorleitor concebem e interpretam a obra social pois o individuo ocupa uma posição na hierarquia da sociedade intelectual porque ele detém uma visão de mundo compati vel na maior parte das vezes com seu lugar no espectro social mas que atinge após completar o ciclo de sua educação formal ideológica correspondente aos valores circulantes no meio de que se imbuí e dos quais não consegue fugir linguística pois emprega um certo padrão expressivo mais ou menos coincidente com a norma gramatical privilegiada o que decorre tanto de sua educação como do espaço social em que transita literário proveniente das leituras que fez de suas preferências e da oferta artística que a tradição a atualidade e os meios de comuni cação incluindose aí a própria escola lhe concedem 1982 103 Acrescentemse aos fatores acima os de ordem afetiva que pro vocam adesões ou rejeições dos demais e terseá idéia da complexi dade e importância da noção de horizonte dentro da estética da recep ção No ato de produçãorecepção a fusão de horizontes de expectati vas se dá obrigatoriamente uma vez que as expectativas do autor se traduzem no texto e as do leitor são a ele transferidas O texto se torna o campo em que os dois horizontes podem identificarse ou estranhar se Daí poderse tomar a relação entre expectativas do leitor e a obra em si como parâmetro para a avaliação estética da literatura Segundo Jauss se chamamos distância estética a diferença entre as expectativas e a forma concreta de uma obra nova que pode iniciar uma modifica ção de horizonte rechaçando experiências familiares ou acentuando outras latentes esta se materializa na variedade das reações do público e dos juízes da crítica êxito espontâneo desprezo provocação aprova ção esporádica compreensão cada vez mais crescente ou tardia etc 1971 77 Portanto a valorização das obras se dá na medida em que em termos temáticos e formais elas produzem alteração ou expansão do horizonte de expectativas do leitor por oporemse às convenções conhecidas e aceitas por esse Uma obra é perene enquanto consegue 82 83 continuar contribuindo para o alargamento dos horizontes de expectativas de sucessivas épocas A atitude receptiva se inicia com uma aproximação entre texto e leitor em que toda a historicidade de ambos vem à tona As possibilidades de diálogo com a obra dependem então do grau de identificação ou de distanciamento do leitor em relação a ela no que tange às convenções sociais e culturais a que está vinculado e à consciência que delas possui Se a obra corrobora o sistema de valores e normas do leitor o horizonte de expectativas desse permanece inalterado e sua posição psicológica é de conforto Não admira que a literatura de massas préfabricada para satisfazer a concepção que o leitor tem do mundo dentro de uma certa classe social alcance altos níveis de aceitabilidade Por outro lado obras literárias que desafiam a compreensão por se afastarem do que é esperado e admissível pelo leitor frequentemente o repelem ao exigirem um esforço de interação demasiado conflitivo com seu sistema de referências vitais Todavia a obra emancipatória perdura mais no tempo do que a conformadora devendo haver uma justificativa para o investimento de energias psíquicas na comunicação que estabelece com o sujeito Diante de um texto que se distancia de seu horizonte de expectativas o leitor além de responder aos desafios por mera curiosidade ante o novo precisa adotar uma postura de disponibilidade permitindo à obra que atue sobre seu esquema de expectativas através das estratégias textuais intencionadas para a veiculação de novas convenções O reconhecimento dos procedimentos textuais que atraem o leitor a um pacto com a obra difícil se dá por uma tomada de consciência da distância entre a própria visão de mundo e a da obra que pode ser facilitada pela análise de sua composição estética ou ideológica Esse momento requer certa formação do leitor que o familiarize com as normas de produção dessa espécie de obra Ele precisa conhecer o gênero para perceber as inovações do texto individual as formas e temas de obras famosas anteriores para captar as diferenças de tratamento e a oposição entre uso poético ou prático da linguagem para entender sua repercussão sobre as representações do mundo que eles induzem A capacidade de análise aí implicada se complementa com a de comparação que para além dos limites dos textos também deve abranger as pressuposições históricas e culturais Extratierárias pois as mesmas conduzem a certos tipos de compreensão e valoração O processo de recepção se completa quando o leitor lendo comparado a obra emancipatória ou conformadora com a tradição e os elementos de sua cultura e seu tempo a inclui ou não como componente de seu horizonte de expectativas mantendoo como era ou preparandoo para novas leituras de mesma ordem para novas experiências de ruptura com os esquemas estabelecidos Quanto mais leituras o indivíduo acumula maior a propensão para a modificação de seus horizontes porque a excessiva confirmação de suas expectativas produz monotonia que a obra difícil pode quebrar A ênfase na atitude receptiva emancipada promove a contínua reformulação das exigências do leitor quanto à literatura bem como quanto aos valores que orientam sua experiência do mundo Assim sendo a atividade de leitura fundada nos pressupostos teóricos da estética de recepção deve enfatizar a chamada obra difícil uma vez que nela reside o poder de transformação de esquemas ideológicos passíveis de crítica O caráter iluminista dessa teoria que no fundo pretende investir a literatura de arte de uma forma revolucionária capaz de afetar a História insiste na qualificação dos leitores pela interação ativa com os textos e a sociedade 62 Objetivos e critérios de avaliação A aplicação da estética recepcional à pedagogia da literatura prevê a transferência dos pressupostos teóricos já citados à prática escolar da leitura Assim como se reflete sobre o fenômeno literário sob a ótica do leitor como elemento atuante do processo o método recepcional de ensino fundase na atitude participativa do aluno em contato com os diferentes textos Partindo do horizonte de expectativas do grupo em termos de interesses literários determinados por suas vivências anteriores o professor provoca situações que propiciem o questionamento desse horizonte Tal atitude implicaria um distanciamento do estudante uma vez que revisa criticamente seu próprio comportamento redundando na ruptura do horizonte de expectativas e seu conseqüente alargamento Com o ajustamento a essa nova situação o passo seguinte é a oferta pelo professor de diferentes leituras que por se oporem às experiências anteriores problematizam o aluno incitandoo a refletir e instaurando a mudança através de um processo contínuo Como o sujeito é entendido como um ser social sua transformação implica a alteração do comportamento de todo o grupo atingindo a escola e a comunidade O sucesso do método recepcional no ensino de literatura é assegurado na medida em que seus objetivos com relação ao aluno sejam alcançados a saber 1 Efetuar leituras compreensivas e críticas 2 Ser receptivo a novos textos e a leituras de outrem 3 Questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural 4 Transformar os próprios horizontes de expectativas bem como os do professor da escola da comunidade familiar e social O método recepcional de ensino de literatura enfatiza a comparação entre o familiar e o novo entre o próximo e o distante no tempo e no espaço Por conseguinte são sempre cotejados textos que pertencem ao arsenal de leitura do grupo com outros textos documentos de outras épocas regiões e classes sociais em diferentes níveis de estilo e abordando temáticas variadas O processo de trabalho apóiase no debate constante em todas as suas formas oral e escrito consigo mesmo com os colegas com o professor e com os membros da comunidade A materialização desse constante fazer presentificase na produção de textos pelo estudante os quais passam a tomar parte do acervo a ser questionado Desenvolvemse assim as noções de herança e participação históricocultural O método é portanto eminentemente social ao pensar o sujeito em constante interação com os demais através do debate e ao atentar para a atuação do aluno como sujeito da História Os critérios de avaliação a serem empregados pelo professor tendo em mira os princípios que dirigem o método recepcional abrangem a dinâmica do processo e cada leitura do aluno No desenvolver dos trabalhos esse deve evidenciar capacidade de comparar e contrastar todas as atividades realizadas questionando sua própria atuação e a de seu grupo A resposta final deve ser uma leitura mais exigente que a inicial em termos estéticos e ideológicos 63 Etapas de desenvolvimento técnicas A literatura não se esgota no texto Completase no ato de leitura e o pressupõe prefigurandoo em si através de indícios do comportamento a ser assumido pelo leitor Esse porém pode submeterse ou não a tais pistas de leitura entrando em diálogo com o texto e fazendoo corresponder a seu arsenal de conhecimentos e de interesses O processo de recepção textual portanto implica a participação ativa e criativa daquele que lê sem com isso sufocarse a autonomia da obra Diferentes tipos de textos e de leitores interagem de modos imensamente variados O sujeito ao defrontarse com o texto traz consigo toda sua bagagem de experiências linguísticas e sociais que deve mobilizar a partir das provocações e lacunas que a obra lhe propõe Por sua vez essa representa uma determinada organização de sentidos efetuada através de procedimentos de composição que restringem as possibilidades de interpretação aos recortes linguísticos formais ou ideológicos nele executados Nessa medida por ser uma estrutura organizada de sentidos possíveis permite ao leitor uma interação direcionada na qual ele reconhece os significados que lhe são familiares ou enfrenta os desconhecidos mas com indicações que o auxiliam a aceitar ou pelo menos criticar o novo e ao mesmo tempo situar a esse em relação ao que já aceita ou passa a rejeitar O processo de recepção se inicia antes do contato do leitor com o texto O leitor possui um horizonte que o limita mas que pode transformarse continuamente abrindose Esse horizonte é o do mundo de sua vida com tudo que o povoa vivências pessoais culturais sóciohistóricas e normas filosóficas religiosas estéticas jurídicas ideológicas que orientam ou explicam tais vivências Munido dessas referências o sujeito busca inserir o texto que se lhe apresenta no esquema de seu horizonte de valores Por sua vez o texto pode confirmar ou perturbar esse horizonte em termos das expectativas do leitor que o recebe e julga por tudo o que já conhece e aceita O texto quanto mais se distancia do que o leitor espera dele por hábito mais altera os limites desse horizonte de expectativas ampliandoos Isso ocorre porque novas possibilidades de viver e de se expressar foram aceitas e acrescentadas às possibilidades de experiência do sujeito Se a obra se distancia tanto do que é familiar que se torna irreconhecível não se dá a aceitação e o horizonte permanece imóvel Depende portanto da criação ou da natureza do texto a sua integração ou não ao universo vivencial do leitor Quanto mais ele corrobora as normas circulantes na sociedade do leitor menos causa estranheza e se torna também imperceptível o que mantém o horizonte igualmente inalterado É por isso que o papel do texto no processo receptivo é fundamental Sua construção precisa incluir espaços em que a criatividade do leitor possa atuar e seja estimulada a fazêlo Nesse sentido o texto não pode fornecer uma imagem totalmente acabada do universo temático pois se o fizer barra o ingresso do leitor em si mesmo ou tiraniza de tal modo o seu receptor que não lhe deixa lugar para a interpretação Deve predispôlo pois a modificar seu horizonte trabalhando os temas contestadores com alto teor de verossimilhança e coerência Por outro lado essa tarefa de ruptura do texto não se viabiliza se não houver uma contrapartida no sujeito ou seja se ele não se dispõe a ter seu universo estável abalado de alguma forma e não percebe nesse alargamento a realização de algo desejado ou intuido A transformação do horizonte de expectativas no caso de um estudante alvo primeiro do método recepcional de ensino de literatura depende pois da operacionalização de alguns conceitos básicos receptividade disponibilidade de aceitação do novo do diferente do inusitado concretização atualização das potencialidades do texto em termos de vivência imaginativa ruptura ação ocasionada pelo distanciamento crítico de seu próprio horizonte cultural diante das propostas novas que a obra suscita questionamento revisão de usos necessidades interesses idéias comportamentos assimilação percepção e adoção de novos sentidos integrados ao universo vivencial do indivíduo O planejamento de unidades de ensino através do método recepcional deverá prever os esquemas conceituais antes discutidos Na sala de aula o primeiro passo do professor seria o de efetuar a determinação do horizonte de expectativas da classe a fim de prever estratégias de ruptura e transformação do mesmo Esse horizonte de expectativas conterá os valores prezados pelos alunos em termos de crenças modismos estilos de vida preferências quanto a trabalho e lazer preconceitos de ordem moral ou social e interesses específicos da área de leitura As características desse horizonte podem ser constatadas pelo exame das obras anteriormente lidas através de técnicas variadas tais como observação direta do comportamento pelas reações espontâneas a leituras realizadas ou através da expressão dos próprios alunos em debates discussões respostas a entrevistas e questionários papel em jogos dramatizações e outras manifestações quanto a sua experiência das obras O professor poderá ainda examinar as movimentações de títulos através de fichas da biblioteca ou das leituras espontâneas ou de comentários sobre obras em situações informais escolhas de livros em biblioteca de classe e salas de leitura histórias cuja narração é repetidamente solicitada pelas crianças poesias utilizadas em jogos e brincadeiras etc Uma vez detectadas as aspirações valores e familiaridades dos alunos com respeito à literatura a etapa seguinte consiste no atendimento do horizonte de expectativas ou seja proporcionar à classe experiências com os textos literários que satisfaçam as suas necessidades em dois sentidos Primeiro quanto ao objeto uma vez que os textos escolhidos para o trabalho em sala de aula serão aqueles que correspondem ao esperado Segundo quanto às estratégias de ensino que deverão ser organizadas a partir de procedimentos conhecidos dos alunos e de seu agrado Quanto ao material literário o professor proporá textos cujos temas eou composição sejam muito procurados ou na própria literatura ou em outros meios de expressão como televisão quadrinhos folclore espetáculos etc Na segunda alternativa o professor precisa perceber os elementos temáticos ou estruturais que atraem a atenção e o prazer de seus alunos buscando similares para os mesmos nas obras literárias de que dispõe Por exemplo se a classe aprecia espetáculos de humor pela televisão o livro a ser sugerido deve conter ou histórias humorísticas ou recursos de construção que provoquem o riso Se filmes de ficção musical estão fazendo sucesso os livros a serem trabalhados podem conter passagens em que a música jovem apareça tematizada Sobre as atividades podese propor técnicas em que a turma já evidenciou domínio e satisfação É o caso de trabalhos em grupo posteriormente apresentados ao grande grupo debates brinquedos de roda jogos competitivos excursões Evidentemente a atividade não deve ser repetitiva e sim aproveitar a forma familiar variando os passos ou finalidades A próxima etapa é a de ruptura do horizonte de expectativas pela introdução de textos e atividades de leitura que abalem as certezas e costumes dos alunos seja em termos de literatura ou de vivência cultural Essa introdução deve dar continuidade à etapa anterior através do oferecimento de textos que se assemelhem aos anteriores em um aspecto apenas o tema o tratamento a estrutura ou a linguagem Entretanto os demais recursos compositivos devem ser radicalmente diferentes de modo a que o aluno ao mesmo tempo perceba estar ingressando num campo desconhecido mas também não se sinta inseguro demais e rejeite a experiência Por exemplo se na etapa precedente o humor foi privilegiado através de cartoons de jornais depois recriados pelos alunos neste momento o novo texto cou atividade conterá um elemento humorístico mas não sob forma de cartum e sim de crônica e sobre outro tema Outra possibilidade diz respeito aos temas ampliando ou reduzindolhes a abrangência ou mantendoos e mudando o tratamento Um assunto do cotidiano pode ser transformado num de alcance social mais amplo sem perder o teor humorístico O mesmo tema antes abordado comicamente pode ser visto a sério e assim por diante O importante é que os textos dessa etapa apresentem maiores exigências aos alunos seja por discutirem a realidade desautorizando as versões socialmente vigentes seja por utilizarem técnicas compositivas mais complexas Nessa medida podemse ler parábolas como a Revolução dos bichos de G Orwel desde que antes se tenham discutido as fábulas de La Fontaine por exemplo Ou passar da Viagem à aurora do mundo de Erico Verissimo para a Máquina do tempo de Wells As experiências de leitura nesta etapa também precisam manter um vínculo com as da etapa anterior que seja garantido pelo material literário mas divergem quanto às estratégias de trabalho adotadas Estas não serão repetitivas ou desgastadas pelo uso apelando não só para o espírito crítico dos alunos mas exigindo deles participação no planejamento das mesmas A proposta deve representar sempre um desafio por caminhos não percorridos anteriormente pela turma Por exemplo se a classe jamais entrevistou pessoasfonte sobre uma obra literária essa seria uma técnica provocativa Todavia se o procedimento já foi utilizado pelos alunos não será agora empregado A seguir ocorrerá a etapa de questionamento do horizonte de expectativas decorrência da comparação entre as duas anteriores Sobre o material literário já trabalhado a classe exerce sua análise decidindo quais textos através de seus temas e construção exigiram um nível mais alto de reflexão e diante da descoberta de seus sentidos possíveis trouxeram um grau maior de satisfação Supõese portanto que os textos de melhor realização artística tendem a ser vistos como difíceis num primeiro momento e devidamente decifrados a provocar a admiração do leitor Executada a análise comparativa das experiências de leitura a classe debaterá sobre seu próprio comportamento em relação aos textos lidos detectando os desafios enfrentados processos de superação dos obstáculos textuais tais como pesquisas empreendidas para a compreensão de técnicas de composição ou de sentidos Desse trabalho de autoexame surgirão perspectivas sobre aspectos que ainda oferecem dificuldades definições de preferência quanto à temática e outros elementos da literatura assim como transposições das situações narrativas ou líricas para a órbita da vida real dos jovens leitores Este é o momento de os alunos verificarem que conhecimentos escolares ou vivências pessoais em qualquer nível do religioso ao político proporcionaram a eles facilidade de entendimento do texto eou abriramlhes caminhos para atacar os problemas encontrados As técnicas para a consecução desses intentos voltamse para toda a forma de discussão participativa seja em pequeno ou grande grupo modos de registro de constatações do fichário ao diário pessoal ou coletivo implicando a constante retomada dos textos literários ou não utilizados nas etapas anteriores e durante o questionamento em geral Resultante dessa reflexão sobre as relações entre leitura e vida é a última etapa do processo a ampliação do horizonte de expectativas Tendo percebido que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar mas ao modo como veem seu mundo os alunos nessa fase tomam consciência das alterações e aquisições obtidas através da experiência com a literatura Cotejando seu horizonte inicial de expectativas com os interesses atuais verificam que suas exigências tornaramse maiores bem como sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi aumentada Essa tomada de consciência é uma atitude individual e grupal dos próprios alunos Devese salientar que sua verbalização acontece por iniciativa dos mesmos sem intervenção direta do professor O papel do mestre neste momento é o de provocar seus alunos e criar condições para que eles avaliem o que foi alcançado e o que resta a fazer Conscientes de suas novas possibilidades de manejo da literatura partem para a busca de novos textos que atendam a suas expectativas ampliadas em termos de temas e composição mais complexos Desse estágio em diante reiniciase todo o processo do método com a ressalva de que a etapa inicial já conta com a participação dos estudantes e portanto proporciona uma carga de motivação bem mais elevada Significa dizer que o final desta etapa é o início de uma nova aplicação do método que evolui em espiral sempre permitindo aos alunos uma postura mais consciente com relação à literatura e à vida Alguns requisitos são básicos porém para que o aluno atinja tal estágio de atuação O primeiro aspecto referese à quantidade e à qualidade de informações que o sujeito recebe o que exige do professor que esteja preparado para selecionar textos referentes à realidade do aluno e ao mesmo tempo capazes de romper com ela O segundo aponta para a importância do desenvolvimento da capacidade de refletir sobre a literatura e os fatores estruturais de seu material por parte dos alunos Dessa forma com o aprimoramento da leitura numa percepção estética e ideológica mais aguada e com a visão crítica sobre sua atuação e a de seu grupo o aluno tornase agente de aprendizagem determinando ele mesmo a continuidade do processo num constante enriquecimento cultural e social ETAPAS DO MÉTODO RECEPCIONAL 1 Determinação do horizonte de expectativas 2 Atendimento do horizonte de expectativas 3 Ruptura do horizonte de expectativas 4 Questionamento do horizonte de expectativas 5 Ampliação do horizonte de expectativas 64 Exemplos de unidades de ensino 641 CURRÍCULO POR ATIVIDADES Conteúdo Contos de fadas Material GRIMM Jacob Wilhelm Joãozinho e Mariazinha Porto Alegre Kuarup 1985 AYALA Walmir A bruxa malvada que virou borboleta Porto Alegre Mercado Aberto 1983 NUNES Lygia Bojunga Os colegas Rio de Janeiro José Olympio 1978 ROCHA Ruth Procurando firme Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 BAUM Frank L O mágico de Oz Rio de Janeiro Edições de Ouro 1969 Objetivo Proporcionar à criança experiências que lhe permitam distinguir diferentes formas de organização dos contos de fadas tradicionais e modernos Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor observa os comportamentos espontâneos da turma em seus contatos com livros na biblioteca acompanha a retirada de textos das estantes ou os empréstimos circula entre grupos de leitores e verifica os títulos que estão sendo lidos fica atento a comentários dos alunos quando escolhem textos ou os recomendam aos colegas ouve opiniões emitidas durante a leitura das obras Através desse processo percebe que os interesses dos alunos se voltam principalmente para o conto de fadas Lendo os livros mais comentados ou escolhidos descobre que a maioria das crianças opta por histórias em que aparecem personagens fantásticos tais como fadas anões duendes gigantes etc que convivem com personagens humanos e animais falantes Preferem histórias em que o herói é posto à prova e combate um adversário aterrorizante vencendoo por meios mágicos ou pela astúcia Sua vitória é entendida como solução para um problema essencialmente humano de adaptação à realidade Atendimento do horizonte de expectativas A partir dos interesses demonstrados pelas crianças o professor organiza uma exposição de contos de fadas tradicionais na sala de aula utilizando todos os recursos usuais em exposições de livros estantes cartazes de anúncio faixas indicativas catálogo mimeografado quando se tratar de alunos já alfabetizados Os estudantes são convidados a uma visita orientada em que o professor faz as vezes de guia mostrando e comentando os livros expostos Na oportunidade as crianças manuseiam os livros identificam os já conhecidos atentam para os títulos e ilustrações lêem fragmentos das obras No final da visita o professor pede que o grupo eleja o livro de que mais gostou para ser trabalhado em aula Hipoteticamente o livro escolhido é Joãozinho e Mariazinha dos irmãos Grimm No encontro seguinte o professor lê o texto eleito de forma expressiva propiciando a participação dos alunos que comentam o fato narrado e as ilustrações e adiantam o desenvolvimento do enredo O professor pode provocar a participação através de perguntas enquanto lê mostrando as ilustrações eou fazendo pausas que permitam a interpretação das crianças Convém criarse uma atmosfera de igualdade entre o que lê e os que ouvem de modo a gerar o envolvimento emocional que suscita o prazer necessário ao atendimento do interesse manifestado Caso as crianças assim o desejem a atividade com o texto pode prolongarse em outros encontros sob outra forma de trabalho que apreciem Uma sugestão possível é a de dramatizar o texto desde que esse tipo de procedimento já tenha sido utilizado anteriormente e seja do agrado da turma O planejamento de dramatização dependerá das experiências anteriores Por exemplo alguns alunos se oferecem como voluntários para assumir o papel das personagens Os demais preferem apenas assistir Todos juntos decidem a disposição do espaço em que as cenas irão ocorrer fazendo de conta que vêem os cenários e sua mudança Os atores voluntários decoram sua falas com a ajuda dos colegas que decidem junto com o professor a marcação dos movimentos no espaço fingido O encontro seguinte é destinado à representação Para essa ocasião a sala é arrumada dividindose a platéia em que ficarão as cadeiras dos assistentes e um espaço livre para o palco imaginário com os objetos que os alunos tiverem escolhido como representação do cenário No momento combinado iniciase a representação desempenhando cada um a função que lhe coube de ator ou espectador Ruptura do horizonte de expectativas O professor noutro encontro promove um debate sobre a peça em que se discutam questões relativas ao conteúdo da história representada o comportamento de João e Maria em casa e na floresta as intenções e ações da bruxa as soluções encontradas pelos heróis O debate pode continuar com a manifestação das crianças sobre suas impressões diante das situações narrativas como se sentiram durante as cenas em que João e Maria estavam perdidos na floresta o que fariam no lugar deles com a bruxa que sentimentos essa lhes despertou o que mais os impressionou na história Supondose que os episódios mais comentados tenham sido aqueles que se referem ao conflito crianças X bruxa e que a personagem mais empolgante tenha sido a bruxa o professor sugere a leitura de outra história de fadas em que a bruxa tenha papel relevante A bruxa malvada que virou borboleta Se se tratar de crianças pequenas o professor lê expressivamente o texto buscando a participação dos ouvintes como na etapa anterior Se as crianças forem maiores pode iniciar a leitura em aula e interrompêla quando os heróis enganam a mãe de Poti e entram na floresta deixando o restante para leitura extraclasse É combinado um prazo para que os alunos leiam o qual permita o uso dos exemplares de cuja existência o professor devese certificar antes na biblioteca escolar Lida a história o professor sugere a montagem de uma salaambiente convidando os alunos a desenvolverem esta técnica de trabalho 1 Definem quantos espaços existem no texto 2 Descrevem cada espaço e arrolam os elementos que o identificam 3 Dividem a sala entre os espaços caracterizados rio floresta gruta subterrânea etc 4 Juntam ou elaboram os elementos que foram escolhidos como caracterizadores tais como espelho significando água galhos secos e papel verde recortado em forma de folhas papel pardo pintado e amassado formando uma gruta etc 5 Listam as personagens e suas características físicas 6 Elaboram bonecos de papelcartão em tamanho grande com base de apoio tendo pelo menos um desenho caracterizador da personagem representada as penas de Poti o chapéu do Saci etc 7 Colocam cada personagem no seu ambiente inicial Montada a sala o professor indaga o que os alunos desejam fazer com ela se querem mostrála a outras pessoas ou preferem brincar com as personagens dentro dela Seja como for o uso da sala implicará que os alunos recontam a história na ordem que lhes aprouver carregando os bonecos das personagens ou achando outra solução para o deslocamento desses aos diferentes espaços Questionamento do horizonte de expectativas Desmontada a salaambiente o professor sugere uma nova atividade à classe o Jogo do igualdiferente A turma é dividida em dois grupos ficando o primeiro responsável pela história de João e Maria e o segundo pela da bruxa malvada Dentro do grupo cada aluno simboliza um elemento da sua história Por exemplo em Joãozinho e Mariazinha um aluno é a casa da bruxa outro é a floresta outro é o rio outros são as personagens etc O mesmo acontecerá com o outro grupo Armase então uma moldura de espelho no meio da sala com tiras largas de papel O jogo consiste em que cada elemento de uma história se defronte no espelho com o seu correspondente na outra história como João e Poti Maria e Saci as duas bruxas as duas florestas os dois rios etc Os reflexos dialogam entre si falando no que têm em comum e de diferente Quando uma dupla esgota o assunto outra a substitui na frente do espelho Os elementos que não têm correspondente monologam sozinhos ante o marco do espelho dizendo o que são Terminada a brincadeira o professor convida as crianças a fazerem de conta que as duas histórias são dois espelhos em que os alunos podem se olhar O professor sugere que a turma convide aqueles elementos das histórias representados pela mesma criança da atividade anterior que mais a impressionaram para virem ao outro lado do espelho Provoca um debate coletivo com cada um desses elementos em que a turma do lado de cá do espelho compara as suas vivências com as do elemento refletido que repete as suas experiências na história Ampliação do horizonte de expectativas Para o encontro subseqüente os alunos ficam encarregados de trazer de casa um espelho Em aula o professor propõe que cada um se olhe no seu espelho e pense no que está vendo e no que o espelho não mostra de si mesmo respondendo à pergunta Como eu sou por fora e por dentro Eles podem guardar as respostas para si ou manifestálas como quiserem desenhando escrevendo se for o caso de crianças bem alfabetizadas falando etc A seguir o professor pede que escondam os espelhos e lembra que o espelho pode não ser apenas o objeto concreto que os refletiu mas que cada um pode se ver em outros objetos ou pessoas Pede exemplos desses objetos entre os quais surgirá o livro porque já foi anteriormente usado com esse fim O passo seguinte é procurar livros que sejam espelhos para os alunos O professor traz para a sala de aula textos cuja estrutura mantenha relação com o conto de fadas mas que modifiquem os sentidos antes trabalhados Por exemplo Os colegas Procurando firme e O mágico de Oz Mostrando os livros ele faz uma descrição sucinta do assunto de cada um e os entrega às crianças para leitura em pequenos círculos em caso de crianças analfabetas pode convidar um aluno mais adiantado para ler o texto aos menores Os livros circulam entre os grupos de leitura sendo discutidos enquanto proporcionam um espelho para os leitores A seguir escolhese o texto que melhor reflete toda a turma para ser o seu espelho A atividade tem prosseguimento a partir desse texto 642 CURRÍCULO POR ÁREAS Conteúdo Histórias policiais e literatura social Material MARINHO SILVA João Carlos O gênio do crime Rio de Janeiro Ediouro sd MARIGNY Carlos de Lando das ruas 8 ed São Paulo Brasiliense 1986 CAPARELLI Sérgio Quebraquebra 2 ed Porto Alegre L PM 1982 QUINTELA Ary Cão vivo leão morto 3 ed Belo Horizonte Comunicacão 1980 REY Marcos Bemvindos ao Rio São Paulo Ática 1986 Objetivo Proporcionar à criança contato com textos que representem problemas sociais relacionados com a marginalidade no Brasil Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor traz para a sala de aula uma quantidade grande de jornais da semana e os distribui entre os alunos Propõe uma sessão de leitura livre em que cada um pode escolher o jornal e a matéria que deseja ler Enquanto os estudantes lêem o professor circula entre eles observando os assuntos escolhidos para leitura bem como os comentários e as reações dos leitores durante o desenvolvimento da atividade Terminada a leitura o professor promove um debate informal sobre os temas lidos e suas implicações Desse debate extraise o assunto que apaixonou a classe inteira e que será motivo das próximas aulas de literatura Supondose que o noticiário policial tenha atraído maior número de leitores e de opiniões contrastantes o professor sugere que os alunos levantem das notícias lidas os elementos que mais os tocaram Poderão aparecer as figuras envolvidas nos episódios policiais os crimes propriamente ditos a atuação dos investigadores as motivações as características dos locais dos crimes o papel da Justiça os estereótipos do marginal e da polícia etc Atendimento do horizonte de expectativas Para atender aos interesses dos alunos por histórias de crime o professor propõe a leitura em horário extraclasse do livro O gênio do crime A partir da capa da obra tece comentários sobre a trama e as personagens centrais despertando a curiosidade dos alunos sem revelar as pistas e a solução do mistério Numa data previamente combinada com a turma efetuase uma atividade de interrogatório assim desenvolvido a turma se divide em dois grandes grupos ficando o primeiro encarregado de ler a história e preparar questões inusitadas para o segundo grupo responder Esse lê também a história e prevê as perguntas e possíveis respostas que lhe caberá dar O interrogatório pode ser desenvolvido como simples questionário ou como jogo competitivo em que o grupo vencedor será o mais hábil em resolver a sua tarefa deixando o outro em situação difícil É importante que os alunos decidam a forma e o teor do interrogatório a fim de que se sintam participantes ativos na análise do texto e se divirtam com o trabalho Ruptura do horizonte de expectativas Como a atividade de interrogatório revelará um conjunto de elementos textuais que atraíram os leitores com evidente predominância esse será o meio de efetuar a transição para uma literatura de ordem mais exigente Por exemplo percebeuse que quanto a O gênio do crime as questões giraram em torno da figura do heróicriança e das soluções que encontrou para o problema com que se defrontou Em face disso o professor propõe a leitura de Lando das ruas onde o herói também é criança e vive uma experiência traumática semelhante à de Bolão Tal leitura é feita em casa Num prazo marcado segundo orientação do professor a turma se divide em quatro grupos cada um encarregado de contar por escrito a história de uma das cenas das personagens centrais ou seja Lando Boibava Márcio Façanha e Cabeça de Passarinho A vida de cada personagem deverá ser narrada de forma a servir posteriormente de roteiro para uma história em quadrinhos a ser elaborada pelos colegas dos outros grupos Assim sendo deve conter todos os indicadores de espaço sequência de ações tempo e caracterização das personagens bem como falas Cada história incluirá as ações que pertencem à personagem no livro permitindose que na vida de uma apareçam ações da vida de outras desde que essas sejam comuns Concluída a tarefa cada grupo lê em voz alta o seu texto e o restante da turma avalia se a história corresponde à do livro Aprovadas as versões essas são trocadas entre os grupos que as quadrinizam Portanto um grupo vai transformar em quadrinhos a história elaborada por outro grupo obedecendo todas as indicações do texto desse Em tiras largas de papel pardo os integrantes do grupo dividem a história nas ações que a compõem uma para cada quadro Desenham os quadros com pincel atômico e neles as personagens agindo e revelando os traços que as caracterizam Por fim executam o cenário de cada ação e colocam as falas de cada personagem nos balões de praxe Ao final da atividade as tiras são pregadas com fita colante na parede da sala de aula e a turma comenta a sua propriedade em relação ao texto original de Carlos de Marigny Questionamento do horizonte de expectativas Na etapa seguinte do trabalho o professor relembra a atividade inicial de exame do noticiário policial e indaga dos alunos se não gostariam de aprender a fazer uma reportagem como aquelas apoiandose em entrevistas com os heróis das histórias lidas Para isso é elaborado um roteiro de entrevista pelos alunos contendo as perguntas que lhes interesssem Podem estas por exemplo abordar os seguintes tópicos 1 O que o herói passou 2 Quais as condições pessoais com que contava para resolver a situação 3 Como resolveu seus problemas 4 Com que ajuda contou para resolver seu problema 5 Como se sentiu diante de seu agressor 6 O que sentiu quando enfrentou a situação difícil e depois que a resolveu De posse do roteiro organizado os alunos dividemse em dois grupos e cada um entrevista a personagem central de um dos livros consultando o texto e anotando as passagens que respondem às perguntas Com base nessa entrevista cada grupo valendose de alguma das reportagens policiais lidas como modelo escreve a sua reportagem tendo como foco a participação do herói no crime X Essa reportagem será mimeografada pelos alunos e distribuída à classe toda Como atividade culminante se fará um comentário coletivo sobre as duas reportagens que serão lidas pela turma inteira Esse comentário deverá incidir sobre as diferenças entre a situação dos dois heróis observandose as desvantagens e vantagens de um em relação ao outro Ampliação do horizonte de expectativas A discussão anterior possivelmente levou à constatação de que a diferença básica entre os problemas e comportamentos dos heróis das duas histórias está relacionada à posição social de ambos De posse desses dados o professor prepara para a aula seguinte dois cartazes cada um com uma dessas questões 1 Como a sociedade determina o comportamento das pessoas 2 Que outros problemas sociais afetam o comportamento das pessoas Os cartazes são afixados na parede para serem lidos pelos alunos Diante da estranheza desses em face do estímulo o professor os incentiva a relacionar as questões propostas com todo o conteúdo desenvolvido nas aulas anteriores de literatura e com outros livros que tratem de assunto de cunho social A discussão permitirá que os alunos eou o professor indiquem novos textos a serem lidos tais como Quebraquebra Cão vivo leão morto e Bemvindos ao Rio É estipulado um prazo para a leitura dos livros indicados No dia marcado os leitores de cada um dos textos defendem como numa plataforma política as dimensões sociais do livro que leram aconselhandoo aos colegas para o trabalho em classe Seguese a eleição por via direta e maioria simples do título que será estudado dali por diante retomandose todas as etapas do método em questão 643 CURRÍCULO POR DISCIPLINAS Conteúdo Poesia lírica amorosa Material MORAES Vinícius de Antologia poética São Paulo Círculo do Livro 1986 CRUZ E SOUZA Poemas completos Rio de Janeiro Ediouro sd CAMÕES Luís de Lírica São Paulo Cultrix 1963 GOLDSTEIN Norma Versos sons e ritmos São Paulo Ática 1985 PIGNATARI Décio Comunicação poética 3 ed São Paulo Moraes 1981 Objetivo Proporcionar aos alunos experiências de leitura de poemas líricos de diferentes períodos literários explorando a relação somsentido Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor tendo surpreendido leituras e conversas clandestinas sobre relações amorosas na sua classe conta aos alunos como as informações sobre a vida amorosa circulavam às escondidas no seu tempo de adolescente através de questionários secretos Traz um exemplar dessa época e entregao aos alunos para que o leiam Pergunta como a turma costuma trocar esse tipo de informação e diante das respostas sugere a elaboração de um questionário semelhante mas atualizado que seria respondido anonimamente por todos os alunos As questões podem ser da seguinte ordem 1 O que é para você um amigo verdadeiro 2 Como foi seu primeiro encontro 3 Qual a música que lhe traz mais recordações 4 Que pensa do amor 5 Qual seu tipo de ideal 6 O que você mais detesta num homem mulher 7 Qual a palavra que lhe traz de sentido provocados pelo comportamento verificado Os resultados do trabalho de cada grupo são apresentados de acordo com a técnica de painel Esse painel é constituído por um representante de cada grupo que fala por tempo limitado sobre as conclusões de seus colegas A platéia após as apresentações debate com os painelistas concordando ou não com as interpretações dos grupos e tentando perceber qual dos dois autores trabalha mais eficazmente com o elemento escolhido na representação do tema amoroso Essa atividade permite que os estudantes avaliem os recursos estéticos dos dois autores na área da sonoridade sem incidir num exercício formalista porque recuperam o sentido através dos procedimentos linguísticos No encontro seguinte o professor propõe um debate coletivo sobre o tema abordado nas aulas anteriores ou seja o amor segundo a opinião dos alunos expressa no questionário e segundo os poemas de Vinícius de Moraes e dos poetas românticos parnasianos e simbolistas em especial Cruz e Souza Nesse debate é salientada a necessidade de os participantes exporem sua posição pessoal quanto a todo esse material significativo Ampliação do horizonte de expectativas Do debate anterior pode ter surgido a necessidade de dar prosseguimento ao assunto Por exemplo a turma pode sentirse insatisfeita com o conteúdo informativo sobre a experiência amorosa a que chegou no debate O professor propõe em vista disso que se busque uma definição de amor mais abrangente Sugere a lírica amorosa de Camões Os alunos consultam a obra na biblioteca da escola ou da comunidade e selecionam os poemas que melhor definem o sentimento amoroso Esses poemas são trazidos para a sala de aula e distribuídos entre os grupos anteriores Cada grupo fica responsável pela gravação de um número igual de poemas em fitas cassetes O professor sugere que além da leitura expressiva com fundo sonoro os alunos utilizem recursos variados para marcar o ritmo e a melodia dos poemas tais como bater em copos de vidro sacudir ou percutir saquinhos ou de pedras bater palmas lápis ou réguas assobiar tamborilar em caixa de fósforos ou outro objeto de percussão soprar em pente estalar os dedos etc Após a gravação dos poemas num encontro posterior todos se reúnem para ouvir os resultados do trabalho manifestando sua opinião sobre os mesmos e atentando para o sentido que os poemas expressam com o fundo sonoro criado O poema que receber maior número de opiniões favoráveis dará sequência à retomada do método 34 Hans Robert Jauss A HISTÓRIA DA LITERATURA COMO PROVOCAÇÃO À TEORIA LITERÁRIA editora ática 35 HANS ROBERT JAUSS A HISTÓRIA DA LITERATURA COMO PROVOCAÇÃO À TEORIA LITERÁRIA Tradução Sérgio Tellaroli editora ática 7 MÉTODO COMUNICACIONAL 71 Fundamentação teórica A moderna preocupação com as questões relacionadas com a linguagem tem originado uma ênfase característica aos aspectos linguísticos das manifestações humanas em geral Afinal a linguagem é uma constituição da cultura mas no conjunto dos fenômenos culturais funciona como sua substrutura Jakobson 1969a 123 Adquirindo foros de modelo de organização dos relacionamentos do homem com o mundo a linguagem tem sido um dos objetos de estudo mais constante e minucioso neste século Dela têm se ocupado não só linguistas mas também filósofos e antropólogos Essa tendência à valorização da linguagem também se refletiu no sistema educacional brasileiro por ocasião da Reforma de 1971 O ensino de língua e literatura foi então direcionado para as formas mais amplas e genéricas da Comunicação e Expressão Entretanto o que se observou foi uma assimilação apenas aparente das proposições da linguística contemporânea com a utilização dos esquemas do ato comunicativo em toda sorte de livros didáticos Não se aproveitaram portanto as efetivas contribuições das investigações linguísticas e semiológicas para o ensino que continuou a se fazer pelas vias gramaticais tradicionais O método comunicacional pretende resgatar o sentido amplo do entendimento da linguagem como molde e descrição do fazer e do pensar humanos deixando em aberto a discussão do lugar prioritário que lhe tem sido conferido como forma de conhecimento e de praxis Importam mais aqui aqueles aspectos das teorias linguísticas que explicam as trocas comunicativas e dão conta da natureza do fenômeno literário Essas trocas sejam verbais ou não funcionam como um Série Temas volume 36 Estudos literários Título original Literaturgeschichte als Provokation der Literaturwissenschaft Universitätsverlag Konstanz GmbH Konstanz 1967 TEXTO EDITOR Fernando Paixão ASSISTENCIA EDITORIAL Mário Vilela ARTE EDIÇÃO DE ARTE MIOLO Divina Rocha Corte CAPA Ettore Bottini INDICAÇÃO EDITORIAL Duda Machado ISBN 85 08 04631 6 1994 Todos os direitos reservados Editora Ática SA Rua Barão de Iguape 110 CEP 01507900 Tel PABX 2789322 Caixa Postal 8656 End Telegráfico Bomlivro Fax 011 2774146 São Paulo SP Sumário I 5 II 9 III 15 IV 18 V 22 VI 24 VII 27 VIII 31 IX 35 X 41 XI 46 XII 50 Notas 58 Anexo Os horizontes do ler 71 I A história da literatura vem em nossa época se fazendo cada vez mais malafamada e aliás não de forma imerecida1 Nos últimos 150 anos a história dessa venerável disciplina tem inequivocamente trilhado o caminho da decadência constante Todos os seus feitos culminantes datam do século XIX À época de Gervinus e Scherer de De Sanctis e Lanson escrever a história de uma literatura nacional era considerado o apogeu da carreira de um filólogo Os patriarcas da história da literatura tinham como meta suprema apresentar por intermédio da história das obras literárias a idéia da individualidade nacional a caminho de si mesma Hoje essa aspiração suprema constitui já uma lembrança distante Em nossa vida intelectual contemporânea a história da literatura em sua forma tradicional vive tãosomente uma existência nada mais que miserável tendo se preservado apenas na qualidade de uma exigência caduca do regulamento dos exames oficiais Como matéria obrigatória do currículo do ensino secundário ela já quase desapareceu na Alemanha No mais histórias da literatura podem ainda ser encontradas quando muito nas estantes de livros da burguesia instruída burguesia esta que na falta de um dicionário de literatura mais apropriado as consulta principalmente para solucionar charadas literárias2 Nos cursos oferecidos nas universidades a história da literatura está visivelmente desaparecendo Há tempos já não constitui segredo algum afirmar que os filólogos de minha geração orgulhamse de ter substituído os tradicionais painéis globais ou de época de sua literatura nacional por cursos voltados para um enfoque sistemático ou centrados em problemas históricos específicos A produção científica oferece um quadro semelhante as empreitadas coletivas na forma de manuais enciclopédias e volumes interpretativos estes constituindo o ramo mais recente das assim chamadas sínteses de livraria desalojaram as histórias da literatura tidas por pretensiosas e pouco sérias Significativamente tais coletâneas pseudohistóricas raramente resultam da iniciativa de estudiosos mas devemse em geral à idéia de algum editor empreendedor Já a pesquisa levada a sério por sua vez encontra registro em monografias de revistas especializadas pautandose pelo critério mais rigoroso dos métodos científicoliterários da estilística da retórica da filologia textual da semântica da poética e da história das palavras dos motivos e dos gêneros Por certo também as revistas atuais especializadas em filologia encontramse ainda em grande medida repletas de ensaios que se contentam com uma abordagem históricoliterária Seus autores porém vêemse expostos a uma dupla crítica Da ótica das disciplinas vizinhas os problemas que levantam são aberta ou veladamente qualificados de pseudoproblemas e seus resultados desdenhados como um saber puramente antigo Tampouco a crítica oriunda da teoria literária revelase mais complacente em seu juízo Tal crítica tem a objetar à história clássica da literatura que ela apenas se pretende uma forma da escrita da história mas na verdade movese numa esfera exterior à dimensão histórica e ao fazêlo falha igualmente na fundamentação do juízo estético que seu objeto a literatura enquanto uma forma de arte demanda Primeiramente cumpre esclarecer essa crítica A história da literatura em sua forma mais habitual costuma esquivarse do perigo de uma enumeração meramente cronológica dos fatos ordenando seu material segundo tendências gerais gêneros e outras categorias para então sob tais rubricas abordar as obras individualmente em sequência cronológica A biografia dos autores e a apreciação do conjunto de sua obra surgem aí em passagens alea tórias e digressivas à maneira de um elefante branco Ou então o historiador da literatura ordena seu material de forma unilinear seguindo a cronologia dos grandes autores e apreciandoos conforme o esquema de vida e obra os autores menores ficam aí a ver navios são inseridos nos intervalos entre os grandes e o próprio desenvolvimento dos gêneros vêse assim inevitavelmente fracionado Esta última modalidade de história da literatura corresponde sobretudo ao cânone dos autores da Antigüidade clássica já a primeira encontrase com maior frequência nas literaturas modernas que se defrontam com a dificuldade crescente à medida que se aproximam do presente de ter de fazer uma seleção dentre uma série de autores e obras cujo conjunto mal se consegue dividir Contudo uma descrição da literatura que segue um cânone em geral preestabelecido e simplesmente enfileira vida e obra dos escritores em sequência cronológica não constitui como já observou Gervinus história alguma mal chega a ser o esqueleto de uma história Do mesmo modo nenhum historiador tomaria por histórica uma apresentação da literatura segundo seus gêneros que registrando mudanças de uma obra para a outra persiga as formas autônomas do desenvolvimento da lírica do drama e do romance e emoldure o todo inexplicado com uma observação de caráter geral amiúde tomada emprestada à história sobre o Zeitgeist e as tendências políticas do período Por outro lado não é apenas raro mas francamente malvisto que um historiador da literatura profira vereditos qualitativos acerca de obras de épocas passadas Muito pelo contrário o historiador costuma antes apoiarse no ideal de objetividade da historiografia à qual cabe apenas descrever como as coisas efetivamente aconteceram Sua abstinência estética fundase em boas razões Afinal a qualidade e a categoria de uma obra literária não resultam nem das condições históricas ou biográficas de seu nascimento nem tãosomente de seu posicionamento no contexto sucessório do desenvolvimento de um gênero mas sim dos critérios da recepção do efeito pro Em razão da já consagrada tradução de Wirkungsgeschichte por história do efeito o substantivo Wirkung efeito eficácia atuação ação foi aqui invariavelmente traduzido por efeito Contexto sucessório traduz aqui e nas demais passagens do texto em que o autor emprega o termo Folgeverhältnis cuja tradução literal seria relação de sucessão NT duzido pela obra e de sua fama junto à posteridade critérios estes de mais difícil apreensão Ademais se comprometido com o ideal da objetividade o historiador da literatura limitase à apresentação de um passado acabado deixando ao crítico competente o juízo acerca da literatura do presente inacabado e apegandose ao cânone seguro das obrasprimas permanecerá ele o mais das vezes em sua distância histórica uma ou duas gerações atrasado em relação ao estágio mais recente do desenvolvimento da literatura Na melhor das hipóteses participará pois como leitor passivo da discussão presente sobre os fenômenos literários contemporâneos tornandose assim na construção de seu juízo um parasita de uma crítica que em segredo ele desdenha como nãocientífica Que papel resta hoje portanto a um estudo histórico da literatura que para recorrer a uma definição clássica do interesse na história a de Friedrich Schiller tem tão pouco a ensinar ao observador pensante que não oferece ao homem prático nenhum modelo a ser imitado nem nenhum esclarecimento ao filósofo e que ademais não logra prometer ao leitor nada que se assemelhe a uma fonte do mais nobre entretenimento II As citações não constituem apenas um apelo a uma autoridade com o propósito único de sancionar determinado passo no curso da reflexão científica Elas podem também retomar uma questão antiga visando demonstrar que uma resposta já tornada clássica não mais se revela satisfatória que essa própria resposta fezse novamente histórica demandando de nós uma renovação da pergunta e de sua solução A resposta de Schiller à pergunta colocada em sua aula inaugural na universidade de Jena de 26 de maio de 1789 Was heißt und zu welchem Ende studiert man Universalgeschichte O que significa e com que propósito estudase história universal não é apenas representativa do modo de compreender a história do idealismo alemão mas igualmente elucidativa no que se refere a um olhar retrospectivo e crítico voltado para a história de nossa disciplina E isso porque aquela resposta nos mostra com que expectativa a história da literatura do século XIX competindo com a historiografia geral buscou desincumbirse da tarefa legada pela filosofia idealista da história Ao mesmo tempo ela nos permite perceber por que razão o ideal do conhecimento da escola histórica tinha necessariamente de conduzir a uma crise trazendo consigo o declínio da história da literatura Gervinus pode nos servir aqui de testemunha principal Dele é não somente a primeira exposição científica de uma Geschichte der poetischen Nationalliteratur der Deutschen História 10 da literatura nacional poética dos alemães 18351842 como também o primeiro e único tratado de teoria da história de autoria de um filólogo⁶ Partindo da idéia central do Über die Aufgabe des Geschichtsschreibers Sobre a tarefa do historiador 1821 de Wilhelm von Humboldt seu Grundzüge der Historik Fundamentos da teoria da história constrói uma teoria na qual Gervinus em outra parte embasou também a grande tarefa da escritura de uma história da beletrística Para ele o historiador da literatura somente se torna um historiador de fato quando investigando seu objeto encontra aquela idéia fundamental que atravessa a própria série de acontecimentos que ele tomou por assunto neles manifestandose e conectandoos aos acontecimentos do mundo⁷ Essa idéia fundamental que para Schiller traduzse ainda no princípio teleológico geral que nos permite compreender o desenvolvimento da história universal da humanidade figura já em Humboldt em manifestações isoladas da idéia da individualidade nacional⁸ Quando então Gervinus se apropria dessa maneira ideal de explicar a história ele imperceptivelmente coloca a idéia histórica de Humboldt⁹ a serviço da ideologia nacional Assim uma história da literatura nacional alemã teria de mostrar de que forma a direção sensata na qual os gregos haviam colocado a humanidade direção esta para a qual em função de sua peculiaridade os alemães sempre tenderam foi conscientemente retomada por estes¹⁰ A idéia universal da filosofia esclarecida da história desagregase na multiplicidade da história das individualidades nacionais afunilandose por fim no mito literário segundo o qual precisamente os alemães estariam qualificados para ser os verdadeiros sucessores dos gregos e isso em função daquela idéia que somente os alemães revelavamse aptos a concretizar em toda a sua pureza¹¹ Esse processo tornado visível a partir do exemplo de Gervinus não constitui um fenômeno típico apenas da história do espírito Geistesgeschichte no século XIX Uma vez tendo a escola histórica desacreditado o modelo teleológico da filosofia idealista da história daí resultou também uma implicação metodológica tanto para a história da literatura quanto para toda a historiografia Censurandose como ahistórica a solução da filo 11 sofia da história de se compreender a marcha dos acontecimentos a partir de uma meta de um apogeu ideal da história mundial¹² como se podia então entender e apresentar o nexo da história que jamais se revela em sua totalidade Conforme demonstrou H G Gadamer o ideal da história universal transformouse assim num embaraço para a investigação histórica¹³ O historiador escreveu Gervinus pode somente pretender apresentar séries acabadas de acontecimentos uma vez que desconhecendo as cenas finais não lhe é possível julgar¹⁴ Histórias nacionais somente podiam ser consideradas séries acabadas de acontecimentos na medida em que culminam politicamente na concretização da unificação nacional ou literariamente no apogeu de um modelo clássico nacional Contudo seu desenvolvimento posterior a essa cena final tinha inegavelmente de trazer de volta o velho dilema Assim em última instância Gervinus só fez da necessidade uma virtude ao em notável concordância com o famoso diagnóstico de Hegel acerca do fim da arte desprezar a literatura de seu próprio período pósclássico como se se tratasse de mera manifestação decadente e aconselhar os talentos agora desprovidos de uma meta a de preferência ocuparemse do mundo real e do Estado¹⁵ Livre porém do dilema envolvendo a conclusão e o avanço da história o historiador do historicismo parecia estar quando se limitava à abordagem de épocas as quais podia abarcar com os olhos até a cena final e descrever em sua plenitude própria sem considerar o que delas resultou Assim a história como painel de época prometia atender plenamente até ao ideal metodológico da escola histórica Desde então quando o desenvolvimento da individualidade nacional não mais lhe basta como fio condutor a história da literatura alinhava umas às outras principalmente épocas acabadas A regra fundamental da escritura histórica segundo a qual o historiador deve anularse ante seu objeto permitindo que ele se apresente com total objetividade¹⁶ deixavase aplicar melhor através desse enfoque por épocas como todos significativos apartados e isolados uns dos outros Se a total objetividade demanda que o historiador abstraia do ponto de vista de seu presente então o valor e o significado de uma época pas sada hào também de ser cognoscíveis independentemente do curso posterior da história As célebres palavras de Ranke de 1854 conferem a esse postulado uma fundamentação teológica Eu porém afirmo todas as épocas apresentamse imediatas a Deus e seu valor não repousa naquilo que delas resulta mas em sua existência nelas próprias17 Essa nova resposta à pergunta acerca de como compreender o conceito de progresso na história destina ao historiador a tarefa de uma nova teodicéia na medida em que contempla e apresenta cada época como algo válido em si ele está justificando Deus perante a filosofia progressista da história que vê as épocas como meros estágios para a geração seguinte pressupondo assim uma primazia da última e portanto uma injustiça divina18 Entretanto a solução de Ranke para o problema legado pela filosofia da história foi obtida à custa de um corte no fio que liga o passado ao presente isto é a época como ela efetivamente foi àquilo que dela resultou Afastandose da filosofia da história do Iluminismo o historicismo abandonou não apenas o modelo teleológico da história universal como também o princípio metodológico que acima de tudo segundo Schiller marca o historiador universal e seu proceder vincular o passado ao presente19 um conhecimento imprescindível apenas supostamente especulativo o qual a escola histórica não podia impunemente desconsiderar20 como o demonstra aliás o ulterior desenvolvimento no campo da historiografia literária A obra da história literária do século XIX apoiouse na convicção de que a idéia da individualidade nacional seria a parte invisível de todo fato21 e de que essa idéia tornaria representável a forma da história22 também a partir de uma seqüência de obras literárias Havendo desaparecido tal convicção tinha de perderse também o fio dos acontecimentos fazendose inevitável que a literatura passada e a presente se apartassem uma da outra em esferas separadas do juízo23 bem como que a escolha determinação e valoração dos fatos literários se tornassem problemáticas A guinada rumo ao positivismo foi determinada primordialmente por essa crise A historiografia literária positivista acreditava estar fazendo da necessidade uma virtude ao tomar emprestados os métodos das ciências exatas O resultado é bastante conhecido a aplicação do princípio da explicação puramente causal à história da literatura trouxe à luz fatores apenas aparentemente determinantes fez crescer em escala hipertrófica a pesquisa das fontes e diluiu a peculiaridade específica da obra literária num feixe de influências multiplicáveis a gosto O protesto não tardou a chegar A história do espírito apoderouse da literatura contrapôs à explicação histórica causal uma estética da criação irracional e buscou o nexo da poesia na recorrência de idéias e motivos supratemporais24 Na Alemanha ela se deixou envolver na preparação e fundamentação da ciência literária nacionalista do nacionalsocialismo Depois da guerra substituíramna novos métodos os quais levaram a cabo o processo de desideologização sem no entanto reassumir a tarefa clássica da história literária A apresentação da literatura em sua história e em sua relação com a história geral estava fora da área de interesse da nova história das idéias e dos conceitos bem como da investigação da tradição que floresceu na esteira da Escola de Warburg A primeira almeja secretamente uma renovação da história da filosofia conforme esta se reflete na literatura25 a última neutraliza a práxis vital da história na medida em que busca o ponto crucial do saber na origem ou na continuidade supratemporal da tradição e não na atualidade e singularidade de um fenômeno literário26 O conhecimento daquilo que persiste em meio à mudança constante desobriganos do esforço da compreensão histórica Na obra monumental de Ernst Robert Curtius que propiciou trabalho a uma legião de epígonos pesquisadores da tópica a continuidade da herança da Antigüidade alçada à condição de idéia suprema figura sob a forma da tensão historicamente não mediada imanente à tradição literária entre criação e imitação poesia elevada e mera literatura Um classicismo atemporal das obrasprimas elevase acima daquilo que Curtius chama a irrompível cadeia tradicional da mediocridade27 deixando a história atrás de si como terra incognita Aqui e nos demais contextos em que aparece a palavra poesia foi usada para traduzir o substantivo alemão Dichtung Empregase portanto não no sentido restrito de obra em verso mas no de obra literária de uma forma geral NT Vencese aí em tão pouca medida o abismo entre a contemplação histórica e a contemplação estética da literatura quanto na teoria literária de Benedetto Croce com sua separação ad absurdum entre poesia e nãopoesia O antagonismo entre a poesia pura e a literatura vinculada especificamente a uma época somente pôde ser superado quando a estética na qual se assenta foi colocada em questão e se reconheceu que a oposição entre criação e imitação caracteriza apenas a literatura do período humanista da arte não mais sendo capaz de abranger os fenômenos da literatura moderna ou mesmo da medieval Da orientação definida pela escola positivista e pela idealista destacaramse a sociologia da literatura e o método imanentista aprofundando ainda mais o abismo entre poesia e história Tal se revela com a máxima nitidez nas teorias literárias antagônicas da escola marxista e da formalista escolas estas que constituirão o ponto central de meu panorama crítico da préhistória da ciência literária atual III Comum a essas duas escolas é a renúncia ao empirismo cego do positivismo bem como à metafísica estética da história do espírito Por caminhos opostos ambas tentaram resolver o problema de como compreender a sucessão histórica das obras literárias como o nexo da literatura e ambas mergulharam por fim numa aporia cuja solução teria exigido que se estabelecesse uma nova relação entre a contemplação histórica e a contemplação estética A teoria literária marxista entendeu ser sua tarefa demonstrar o nexo da literatura em seu espelhamento da realidade social Desnecessário seria determonos aqui nos resultados ingênuos obtidos pela historiografia literária praticada pelo marxismo vulgar que jamais se cansou de fazer derivar diretamente de alguns fatores econômicos e constelações de classes da infraestrutura a multiplicidade dos fenômenos literários Um nível mais elevado a teoria literária marxista alcançou nos momentos em que tentou definir a função da literatura enquanto elemento constitutivo da sociedade Se a determinação social do homem é sua natureza então há de resultar também dos atos passados de autotestemunho literário um quadro completo das contradições que a humanidade viveu ao longo da história A poesia movese em direção a um ouvir É por essa razão que nela se gesta a sociedade à qual ela se dirige o estilo é sua lei e pelo conhecimento do estilo podese decifrar também o destinatário da poesia Werner Krauss de cuja obra Literaturgeschichte als geschichtlicher Auftrag cito28 discutiu essa ampla tese em monografias sobre a literatura do Iluminismo29 mas não a desenvolveu transformandoa numa história da literatura que baseada em premissas tão pouco ortodoxas teria podido dar uma nova direção à história literária marxista Uma vez que esta última decerto também por razões políticas apegase a uma delimitação nacional da história da literatura ela segue sempre trilhando velhos caminhos sem se colocar de maneira nova o problema da relação entre literatura e sociedade relação esta que constitui um processo Tratase entretanto de um problema que ainda que o substrato antiquado da unificação políticonacional fosse substituído pelo modelo histórico mais geral do caminho rumo à sociedade sem classes não estaria mais bem solucionado Em toda a gama das formas que assume apenas muito precariamente a literatura admite ser remontada a fatores do processo econômico pois a mudança estrutural dáse com muito maior lentidão na infraestrutura do que na superestrutura e o número de determinantes verificáveis é muito menor na primeira do que na última Somente uma porção reduzida da produção literária é permeável aos acontecimentos da realidade histórica e nem todos os gêneros possuem força testemunhal no tocante à lembrança dos motivos constitutivos da sociedade Ademais quando uma obra importante parece conferir uma nova direção ao processo literário ela permanece circundada por uma produção que amiúde a vista é incapaz de abranger produção esta composta de obras que correspondem a uma tendência já ultrapassada do gosto mas cujo efeito sobre a sociedade não se deve ter em menor conta do que a novidade freqüentemente incompreendida contida naquela obra importante a qual no entanto é a única que pesa na sucessão homogênea da progressão histórica Contudo a heterogeneidade do simultâneo não constitui a única dificuldade não superada pela historiografia literária marxista Esta vendose constrangida a medir o grau de importância de uma obra literária em função de sua força testemunhal relativamente ao processo social e sendo incapaz de extrair daí quaisquer categorias estéticas próprias permaneceu de um modo geral e sem o admitir presa a uma estética classicista30 Isso se revela não apenas nos apriorismos da crítica literária de Georg Lukács mas ainda em maior grau na construção de cânones comum a todas as escolas marxistas e obrigatória até pouco tempo atrás O conceito de arte clássica tomado emprestado a Hegel e absolutizado resultou em que toda a literatura moderna que não se deixava apreender segundo o princípio da identidade entre forma e conteúdo teve de ser desqualificada como arte degenerada da burguesia decadente Apenas mais recentemente parece ter começado a gestarse uma tendência contrária De início seus defensores não puderam apoiarse em outra autoridade que não a do próprio Stálin ao analogamente à afirmação deste último acerca da lingüística postular também para a literatura a independência entre a superestrutura e a base econômica O debate com o realismo socialista conduziu durante o período do degelo a uma crítica à teoria do reflexo abrindo a perspectiva da fundação de uma teoria da arte apropriada às formas da arte moderna uma teoria que teria obrigatoriamente de trazer consigo a ruptura com a estética clássica da representação Há que se aguardar o resultado de tais iniciativas as quais buscam solucionar a questão acerca da função social da literatura tendo em vista agora também a contribuição específica de suas formas e meios artísticos31 Contudo o problema da história literária assim formulado não constitui uma descoberta da ciência literária marxista Já há quarenta anos ele se colocou também para a escola formalista por ela combatida à época em que essa escola viuse condenada ao silêncio e banida para a diáspora pelos outrora detentores do poder IV Os primeiros passos dos formalistas que na condição de membros da Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética Opoiaz começaram a evidenciarse com publicações programáticas a partir de 1916 deramse sob o signo de uma rigorosa ênfase no caráter artístico da literatura A teoria do método formalista32 alcou novamente a literatura à condição de um objeto autônomo de investigação na medida em que desvinculou a obra literária de todas as condicionantes históricas e à maneira da nova linguística estrutural definiu em termos puramente funcionais a sua realização específica como a soma de todos os procedimentos artísticos nela empregados33 A tradicional separação entre poesia e literatura tornase assim sem efeito O caráter artístico da literatura deve ser verificado única e exclusivamente a partir da oposição entre linguagem poética e linguagem prática A língua em sua função prática passa então a representar na qualidade de série nãoliterária todas as demais condicionantes históricas e sociais da obra literária esta é descrita e definida como obra de arte precisamente em sua singularidade própria écart poétique e não portanto em sua relação funcional com a série nãoliterária A diferenciação entre linguagem poética e linguagem prática conduziu ao conceito de percepção artística conceito este que rompe completamente o vínculo entre litera 19 tura e vida A arte tornase pois o meio para a destruição pelo estranhamento do automatismo da percepção cotidiana Decorre daí que a recepção da arte não pode mais consistir na fruição ingênua do belo mas demanda que se lhe distinga a forma e se lhe conheça o procedimento Assim o processo de percepção da arte surge como um fim em si mesmo tendo a perceptibilidade da forma como seu marco distintivo e o desvelamento do procedimento como o princípio para uma teoria que renunciando conscientemente ao conhecimento histórico transformou a crítica de arte num método racional e ao fazêlo produziu feitos de qualidade científica duradoura Entretanto não se pode ignorar um outro feito da escola formalista A historicidade da literatura inicialmente negada reapareceu ao longo da construção do método formalista colocandoo diante de um problema que o obrigou a repensar os princípios da diacronia O literário na literatura não é determinado apenas sincronicamente pela oposição entre as linguagens poética e prática mas o é também diacronicamente por sua oposição àquilo que lhe é predeterminado pelo gênero e à forma que o precede na série literária Na formulação de Vítor Chklovski se a obra de arte é percebida em contraposição ao pano de fundo oferecido por outras obras de arte e mediante associação com estas34 a interpretação deve levar em conta também a sua relação com outras formas existentes anteriormente a ela Com isso a escola formalista começou a buscar seu próprio caminho de volta rumo à história Essa sua nova proposta distinguiase da velha história da literatura pelo fato de abandonar a concepção básica desta última de um processo linear e continuado e por contrapôr assim ao conceito clássico da tradição um princípio dinâmico de evolução literária O prisma da continuidade perdia pois sua velha primazia no conhecimento histórico A análise da evolução literária desnuda na história da literatura a autogeração dialética de novas formas35 ela descreve o fluxo supostamente pacífico e gradual da tradição como um processo que encerra rupturas revoltas de novas escolas e conflitos entre gêneros concorrentes O espírito objetivo das épocas homogê neas é repudiado como especulação metafísica Segundo Vítor Chklovski e Iúri Tynianov em toda época existem simultaneamente várias escolas literárias e uma delas representa o ápice canonizado da literatura a canonização de uma forma literária conduz à sua automatização provocando na camada inferior a construção de novas formas as quais conquistam o lugar das antigas adquirem a dimensão de um fenômeno de massa e por fim são elas próprias compelidas de volta à periferia36 Com essa proposta que paradoxalmente volta o princípio da evolução literária contra o sentido orgânicoteleológico do conceito clássico de evolução a escola formalista aproximouse bastante de uma nova compreensão histórica da literatura no domínio do surgimento da canonização e da decadência dos gêneros Ela nos ensinou a ver de uma maneira nova a obra de arte em sua história isto é na transformação dos sistemas de gêneros e formas literárias abrindo caminho assim para uma descoberta da qual também a linguística se apropriou a descoberta de que a pura sincronia é ilusória porque nas palavras de Roman Jakobson e Iúri Tynianov todo sistema apresentase necessariamente como uma evolução e esta por sua vez carrega forçosamente um caráter sistemático37 Contudo compreender a obra de arte em sua história ou seja no interior da história da literatura definida como uma sucessão de sistemas38 ainda não é o mesmo que contemplála na história isto é no horizonte histórico de seu nascimento função social e efeito histórico O histórico na literatura não se esgota na sucessão de sistemas estéticoformais assim como o da língua o desenvolvimento da literatura não pode ser determinado apenas de forma imanente através de sua relação própria entre diacronia e sincronia mas há de ser definido também em função de sua relação com o processo geral da história39 Se dessa perspectiva voltarmos novamente o nosso olhar para o dilema comum à teoria literária formalista e à marxista resultará daí uma conclusão que nenhuma delas tirou Se por um lado se pode compreender a evolução literária a partir da sucessão histórica de sistemas e por outro a história geral a partir do encadeamento dinâmico de situações sociais não haverá de ser possível também colocarse a série literária e a nãoliterária numa conexão que abranja a relação entre literatura e história sem com isso obrigarse a primeira a abandonando seu caráter artístico encaixarse numa função meramente mimética ou ilustrativa V No âmbito da questão aí colocada eu vejo o desafio da ciência literária na retomada do problema da história da literatura deixado em aberto pela disputa entre o método marxista e o formalista Minha tentativa de superar o abismo entre literatura e história entre o conhecimento histórico e o estético pode pois principiar do ponto em que ambas aquelas escolas pararam Seus métodos compreendem o fato literário encerrado no círculo fechado de uma estética da produção e da representação Com isso ambas privam a literatura de uma dimensão que é componente imprescindível tanto de seu caráter estético quanto de sua função social a dimensão de sua recepção e de seu efeito Leitores ouvintes espectadores o fator público em suma desempenha naquelas duas teorias literárias um papel extremamente limitado A escola marxista não trata o leitor quando dele se ocupa diferentemente do modo com que ela trata o autor buscalhe a posição social ou procura reconhecêlo na estratificação de uma dada sociedade A escola formalista precisa dele apenas como o sujeito da percepção como alguém que seguindo as indicações do texto tem a seu cargo distinguir a forma ou desvendar o procedimento Pretende pois ver o leitor dotado da compreensão teórica do filólogo o qual conhecedor dos meios artísticos é capaz de refletir sobre eles do mesmo modo como inversamente a escola marxista iguala a experiência espontânea do leitor ao interesse científico do materialismo histórico que deseja desven dar na obra literária as relações entre a superestrutura e a base Contudo e como afirmou Walther Bulst texto algum jamais foi escrito para ser lido e interpretado filologicamente por filólogos40 ou acrescento eu historicamente por historiadores Ambos os métodos o formalista e o marxista ignoram o leitor em seu papel genuíno imprescindível tanto para o conhecimento estético quanto para o histórico o papel do destinatário a quem primordialmente a obra literária visa Considerandose que tanto em seu caráter artístico quanto em sua historicidade a obra literária é condicionada primordialmente pela relação dialógica entre literatura e leitor relação esta que pode ser entendida tanto como aquela da comunicação informação com o receptor quanto como uma relação de pergunta e resposta41 há de ser possível no âmbito de uma história da literatura embasar nessa mesma relação o nexo entre as obras literárias E isso porque a relação entre literatura e leitor possui implicações tanto estéticas quanto históricas A implicação estética reside no fato de já a recepção primária de uma obra pelo leitor encerrar uma avaliação de seu valor estético pela comparação com outras obras já lidas42 A implicação histórica manifestase na possibilidade de numa cadeia de recepções a compreensão dos primeiros leitores ter continuidade e enriquecerse de geração em geração decidindo assim o próprio significado histórico de uma obra e tornando visível sua qualidade estética Se pois se contempla a literatura na dimensão de sua recepção e de seu efeito então a oposição entre seu aspecto estético e seu aspecto histórico vêse constantemente mediada e reatado o fio que liga o fenômeno passado à experiência presente da poesia fio este que o historicismo rompera Com base nessa premissa cumpre agora responder à pergunta acerca de como se poderia hoje fundamentar metodologicamente e reescrever a história da literatura O esboço que se segue foi dividido em sete teses VIXII cada uma das quais será por mim discutida separadamente VI Uma renovação da história da literatura demanda que se ponham abaixo os preconceitos do objetivismo histórico e que se fundamentem as estéticas tradicionais da produção e da representação numa estética da recepção e do efeito A historicidade da literatura não repousa numa conexão de fatos literários estabelecida post festum mas no experienciar dinâmico da obra literária por parte de seus leitores Essa mesma relação dialógica constitui o pressuposto também da história da literatura E isso porque antes de ser capaz de compreender e classificar uma obra o historiador da literatura tem sempre de novamente fazerse ele próprio leitor Em outras palavras ele tem de ser capaz de fundamentar seu próprio juízo tomando em conta sua posição presente na série histórica dos leitores O postulado que em sua crítica à ideologia dominante da objetividade R G Collingwood estabeleceu para a historiografia history is nothing but the reenactment of past thought in the historians mind43 aplicase em ainda maior medida à história da literatura A concepção positivista da história como descrição objetiva de uma seqüência de acontecimentos num passado já morto falha tanto no que se refere ao caráter artístico da literatura quanto no que respeita à sua historicidade especí fica A obra literária não é um objeto que exista por si só oferecendo a cada observador em cada época um mesmo aspecto44 Não se trata de um monumento a revelar monologicamente seu Ser atemporal Ela é antes como uma partitura voltada para a ressonância sempre renovada da leitura libertando o texto da matéria das palavras e conferindolhe existência atual parole qui doit en même temps quelle lui parle créer un interlocuteur capable de lentendre45 É esse caráter dialógico da obra literária que explica por que razão o saber filológico pode apenas consistir na continuada confrontação com o texto não devendo congelarse num saber acerca de fatos46 O saber filológico permanece sempre vinculado à interpretação e esta precisa ter por meta paralelamente ao conhecimento de seu objeto refletir e descrever a consumação desse conhecimento como momento de uma nova compreensão A história da literatura é um processo de recepção e produção estética que se realiza na atualização dos textos literários por parte do leitor que os recebe do escritor que se faz novamente produtor e do crítico que sobre eles reflete A soma crescente a perder de vista de fatos literários conforme os registram as histórias da literatura convencionais é um mero resíduo desse processo nada mais que passado coletado e classificado por isso mesmo não constituindo história alguma mas pseudohistória Aquele que toma já por uma parcela da história da literatura uma tal série de fatos literários está confundindo o caráter de acontecimento de uma obra de arte com o de um fato histórico Como acontecimento literário o Perceval de Chrétien de Troyes não é histórico no sentido em que o é por exemplo a Terceira Cruzada contemporânea à obra47 Não se trata de uma action que em função de uma série de premissas e motivações imperiosas da intenção reconstruível de um ato histórico e de suas conseqüências inevitáveis e incidentais se possa explicar como evento decisivo O contexto histórico no qual uma obra literária aparece não constitui uma seqüência factual de acontecimentos forçosamente existentes independentemente de um observador O Perceval tornase acontecimento literário unicamente para seu leitor que lê essa obra derradeira de Chrétien tendo na lembrança as obras anteriores do autor percebelhe a singularidade em comparação com essas e outras obras já conhecidas e adquire assim um novo parâmetro para a avaliação de obras futuras Diferentemente do acontecimento político o literário não possui conseqüências imperiosas que seguem existindo por si sós e das quais nenhuma geração posterior poderá mais escapar Ele só logra seguir produzindo seu efeito na medida em que sua recepção se estenda pelas gerações futuras ou seja por elas retomada na medida pois em que haja leitores que novamente se apropriem da obra passada ou autores que desejem imitála sobrepujála ou refutála A literatura como acontecimento cumprese primordialmente no horizonte de expectativa dos leitores críticos e autores seus contemporâneos e pósteros ao experienciar a obra Da objetivação ou não desse horizonte de expectativa dependerá pois a possibilidade de compreender e apresentar a história da literatura em sua historicidade própria melhores lembranças 8 Como foi seu primeiro amor 9 Você já sofreu de amor 10 Qual a sensação de seu primeiro beijo e assim por diante Escrito o questionário num caderno de folhas grandes com uma pergunta em cada folha e todas as linhas numeradas esse circula entre os alunos que devem responder sempre no mesmo número e com absoluta sinceridade Quando todos tiverem respondido ao questionário esse é lido em voz alta por alguns dos alunos pergunta a pergunta O conjunto de informações sobre a vida amorosa da turma é comentado espontaneamente por aqueles que estiverem interessados definindose assim os temas que provocam maior envolvimento junto à maioria dos alunos quanto à questão do amor Atendimento do horizonte de expectativas O conjunto de interesses amorosos detectados pelos procedimentos anteriores sugere como tema a fugacidade do amor a beleza do ser amado o temor da traição a sensualidade e o desejo de sinceridade Para atender tais preferências o professor traz para a sala de aula um disco Vinícius e Toquinho de Vinícius de Moraes Tocao e pede que os alunos extraiam as letras das canções que mais lhes agradam Do disco são feitas tantas audições quantas sejam necessárias para que todos transcrevam suas letras preferidas No encontro seguinte o professor traz mimeografados os poemas na sua versão em livro v Bibliografia Propõe uma comparação entre o texto do livro aquele que foi copiado pelo aluno e ambos em relação à canção do disco Essa comparação atentará para a disposição dos versos seus limites a composição das estrofes e a sensação que o texto escrito e musicado despertaram no ouvinte leitor Esse exercício comparativo será efetuado oralmente em grande grupo e de forma coletiva tendo todos oportunidade de expressar sua opiniões descobertas e sentimentos Ruptura do horizonte de expectativas Diante dos resultados alcançados na etapa anterior o professor sugere a leitura de textos poéticos de outros autores mais distantes no tempo mas que tratam também de temas amorosos Lê exemplos de poemas de poetas românticos como Castro Alves Álvares de Azevedo Gonçalves Dias Fagundes Varela poetas parnasianos como Olavo Bilac Raimundo Correia Machado de Assis ou poetas simbolistas como Cruz e Souza Alphonsus de Guimaraens e outros Os alunos ouvem os poemas manifestandose com relação ao modo como são feitos os versos e quanto à sonoridade dos mesmos com base na experiência anterior Entre esses poetas mais antigos o grupo escolhe um para ser trabalhado em aula Supondose que a escolha tenha recaído sobre Cruz e Souza cabe aos alunos providenciar uma antologia dos poemas amorosos daquele autor através de pesquisa na biblioteca escolar Essa antologia será convertida no material literário a ser usado para análise em classe Os alunos podem apresentála graficamente e a reproduzirem conforme o desejarem por mimeógrafo xerox manuscrito etc Cada integrante da classe deve possuir a sua Noutro encontro o professor solicita que cada estudante leia a sua antologia escolha dela o poema que mais o toca buscando descobrir a sonoridade dos versos Poderá se quiser tamborilar segundo a cadência rítmica ou cantarolar de acordo com as entonações melódicas do poema A tarefa seguinte será a de descobrir a composição fônica e rítmica dos poemas Para isso deverá o aluno pesquisar em livros de versificação tais como o de Norma Goldstein ou de Décio Pignatari Sempre que tiver dúvidas fará a pergunta em voz alta para que o professor a resolva e os outros colegas possam se beneficiar da informação Efetuada essa análise o professor propõe que cada um crie um poema utilizandose dos recursos sonoros percebidos no seu texto e mesmo aproveitando versos desse Os poemas inventados são postos em circulação na sala de aula e os colegas anotam os versos que mais lhes chamam a atenção junto com o nome de seu autor Cada aluno retoma o seu poema e o coteja então com o original de Cruz e Souza que lhe serviu de base anotando as mudanças de sentido ocorridas Essas anotações são entregues ao professor de modo que esse possa verificar a aprendizagem da descrição dos elementos sonoros do poema e a reinterpretação do aluno Questionamento do horizonte de expectativas Em outro encontro o professor solicita que a turma se divida em grupos espontâneos Lembrando a atividade anterior pede que cada grupo escolha um elemento sonoro ou rítmico dentre os já pesquisados que considere importante na composição dos poemas já examinados em classe Esse elemento pode ser rima metro acento aliteração assonância anáfora paralelismo pausa etc Os integrantes do grupo selecionam um poema de Vinícius de Moraes e outro de Cruz e Souza e analisam o comportamento do componente sonoro eou rítmico em ambos prestando atenção às similaridades e diferenças Discutem a seguir os efeitos PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM ENSINO Ampla associação entre Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso Universidade de Cuiabá WILL ROBSON SOARES DE SOUZA LITERATURA E REPRESENTAÇÕES DO FEMININO A CONTÍSTICA DE MARINA COLASANTI NA PROMOÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO ANTIMACHISTA E ANTISSEXISTA ATRAVÉS DO LETRAMENTO LITERÁRIO Cuiabá 2024 PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM ENSINO Ampla associação entre Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso Universidade de Cuiabá WILL ROBSON SOARES DE SOUZA LITERATURA E REPRESENTAÇÕES DO FEMININO A CONTÍSTICA DE MARINA COLASANTI NA PROMOÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO ANTIMACHISTA E ANTISSEXISTA ATRAVÉS DO LETRAMENTO LITERÁRIO Linha Ensino de Linguagens e seus Códigos Projeto de Pesquisa apresentado ao Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Ensino PPGEn nível mestrado do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia de Mato Grosso em associação ampla com a Universidade de Cuiabá como atividade da disciplina de Seminário de Pesquisa I Orientador Prof Dr Epaminondas de Matos Magalhães Cuiabá 2024 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA TÍTULO Literatura e representações do feminino a contística de Marina Colasanti na promoção de uma educação antimachista e antissexista através do letramento literário LINHA DE PESQUISA Ensino de Linguagens e seus Códigos DESENHO DA PESQUISA Este estudo tem como objetivo investigar a contribuição do letramento literário antimachista e antissexista utilizando a contística de Marina Colasanti presente na obra Contos de Amor Rasgados 1986 como ferramenta de análise e reflexão Tratase de uma pesquisaação a ser realizada com alunos do 7º semestre do curso de Bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso Campus Universitário de Pontes e Lacerda A metodologia empregada consistirá em uma pesquisaação realizando a análise crítica de contos selecionados da autora Marina Colasanti presentes na obra Contos de Amor Rasgados 1986 explorando como suas narrativas podem ser utilizadas para fomentar discussões de gênero e promover um ensino e educação mais igualitária no ensino superior mais especificamente no curso de bacharelado em direito através do letramento literário Além disso será investigado o potencial emancipatório da literatura quando aliada às práticas de ensino buscando compreender como o letramento literário pode contribuir para a formação de indivíduos mais conscientes e engajados na luta pela igualdade de gênero RESUMO A literatura desempenha funções cruciais na formação do indivíduo e na sociedade como um todo uma vez que possibilita ao leitor entrar em contato com as mais diversas culturas linguagens identidades e perspectivas Nesse sentido as obras literárias tornamse também responsáveis pela construção preservação ou modificação da identidade cultural incluindo a desconstrução de comportamentos disfuncionais como o machismo e o sexismo Para que padrões de comportamentos prejudiciais sejam quebrados o letramento literário se destina à formação de leitores de forma que estes sejam capazes através da leitura construir um pensamento cada vez mais crítico e autônomo aprendendo a questionar analisar e interpretar os textos de forma independente e por consequência também questionar e modificar os padrões sociais existentes Este projeto de pesquisa investiga a utilização da literatura no ensino com foco na leitura e discussão de contos de Marina Colasanti presentes na obra Contos de Amor Rasgados 1986 como ferramenta para a promoção de uma educação antimachista e antissexista Ao utilizar os contos da autora o estudo visa fomentar debates e reflexões sobre a visão do feminino e as construções sociais de gênero A base teórica do projeto é sustentada pelas teorias de letramento literário e pedagogia crítica destacando as contribuições de renomados estudiosos como Bordini e Aguiar 1988 Candido 1972 1988 2004 Paulo Freire 1997 2005 Roland Barthes 1998 Safiotti 1987 1995 2004 Todorov 2009 Zilberman 1989 dentre outros A metodologia adotada é a pesquisaação conforme proposta por Michel Thiollent 2011 que garante uma abordagem participativa e reflexiva Esta metodologia permite a intervenção direta no contexto educativo suscitando mudanças práticas e efetivas O objetivo geral é desenvolver habilidades de leitura crítica e reflexão sobre questões de gênero contribuindo para a formação de cidadãos conscientes e engajados Esperase ainda que a utilização da literatura no contexto acadêmico especialmente no curso de Bacharelado em Direito promova um ambiente educacional mais igualitário e inclusivo desafiando estereótipos de gênero e incentivando a construção de uma sociedade mais justa Os resultados esperados ainda vão de encontro com o desenvolvimento de uma maior sensibilidade crítica entre os acadêmicos e a implementação de práticas de ensino que valorizem o ensino crítico a literatura a igualdade e o respeito Por fim ao integrar a literatura de Marina Colasanti com uma abordagem pedagógica crítica buscase não apenas enriquecer o processo educativo mas também contribuir para a transformação social promovendo uma educação que desafie preconceitos e estereótipos de gênero Ao final do estudo serão compartilhadas as descobertas e propostas com a comunidade acadêmica e educacional visando fomentar a implementação de práticas de letramento literário antimachista e antissexista em diferentes contextos de ensino PalavrasChave Literatura Marina Colasanti Educação Antimachista e Antissexista Letramento Literário 1 INTRODUÇÃO A literatura tem papel fundamental na formação do indivíduo sejam pelas funções social formativa e psicológica mas para além disso é nela que podem estar alojadas as representações simbólicas que versam sobre os efeitos causados pelas experiências vivenciadas tanto no plano material ou simbólico de nossa existência Analisar a influência da literatura nos processos formativos da personalidade de cada indivíduo requer investigação detalhada sobre a ideia de função Candido 1972 menciona que a idéia de função provoca não apenas uma certa inclinação para o lado do valor mas para o lado da pessoa no caso o escritor que produz a obra e o leitor coletivamente o público que recebe o seu impacto Se de um lado existe a possibilidade de projetar nossas experiências na literatura de outro lado pode existir também a probabilidade de que esta molde nossa interpretação sobre o mundo e nosso comportamento diante dele Bordini e Aguiar 1988 p 14 descrevem que a obra literária pode ser entendida como uma tomada de consciência do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor Na contemporaneidade e até mesmo em locais de viés educacional como a universidade a literatura tem sido posta de lado dando espaço à atividades que nos afastam cada vez mais da leitura e compreensão do simbólico através dela Nesta seara denotado o visível afastamento da academia dos textos literários também acabamos por inviabilizar a possibilidade do reconhecimento do Outro através da palavra escrita Bordini e Aguiar 1998 em seus estudos nos apresentam o conceito de Letramento Literário como processo de apropriação da literatura enquanto linguagem Segundo as autoras o letramento literário vai além da simples decodificação de palavras englobando a habilidade de interpretar criticar e modificar a realidade através dos textos literários Esse tipo de letramento incentiva uma leitura profunda e significativa que contribui para a formação de leitores críticos e reflexivos que por consequência conseguem materializar as mudanças de concepção de mundo em sua própria realidade Neste ponto o que se compreende é que emerge a necessidade de uma educação que não apenas reconheça mas que ativamente combata as desigualdades e as violências existentes a exemplo da violência de gênero o machismo e o sexismo conceitos de análise neste estudo A realização de uma educação antimachista e antissexista se torna imperiosa dado que comportamentos de violência de gênero ainda se encontram fortemente inseridos em nossa sociedade o ensino enquanto instrumento de transformação social tem o potencial de contribuir significativamente para a desconstrução dessas desigualdades Analisar e debater inclusive na universidade a representação da mulher na literatura e estimular o acesso a obras que retratem sua existência é forte iniciativa de transformação social como método de se evitar a perpetuação de estruturas machistas e sexistas Todos os livros favorecem a descoberta de sentidos mas são os literários que o fazem de modo mais abrangente BORDINI AGUIAR 1998 p 13 Deste modo utilizar a literatura para promoção da reflexão sobre as convenções nas quais estamos inseridos é garantir a possibilidade de ruptura com modelos que estimulam a violência e a segregação Ademais a literatura como instrumento de identificação das representações de gênero seus estereótipos ou mesmo dogmatismos permitirá uma reflexão aprofundada sobre como as normas de gênero são socialmente construídas e perpetuadas A partir dessa análise esperamos que se torne possível desconstruir as questões que limitam as possibilidades das pessoas com base em seu sexo ou gênero Além disso ao realizar uma análise criteriosa de obras literárias que abordam a condição feminina pode fomentar um olhar crítico nos leitores mesmo naqueles que se deparam com essas obras de maneira despretensiosa A problemática reside neste caso no fato de que a leitura de obras literárias não recebe a devida atenção e além disso não encontra um terreno propício para sua introdução e discussão É essencial que essas obras sejam valorizadas e integradas de forma significativa no contexto educacional e cultural para que possam cumprir seu papel transformador na sociedade O problema totalmente novo colocado para todos é inventar as condições e abordagens de uma política de leiturização que responda às necessidades individuais e sociais de nosso tempo da mesma maneira que a política de alfabetização satisfez as exigências dos últimos cem anos FOUCAMBERT 1994 p 33 Os textos literários podem ser uma ferramenta poderosa na formação de indivíduos críticos e reflexivos capazes de questionar e transformar a realidade ao seu redor Investigar a utilização da literatura como método de ensino e promoção da educação antimachista e antissexista possibilitará a realização de debates e reflexões sobre identidade feminilidade e as construções sociais de gênero Esse processo desafia estereótipos e promove a igualdade incentivando uma compreensão mais profunda e inclusiva das questões de gênero Sendo assim ao utilizar as obras literárias como método de transformação social destacamos Marina Colasanti uma autora proeminente da literatura brasileira Através de suas obras Colasanti tem apresentado noções sobre o feminino e explicitado diversos tipos de violências cometidas contra a mulher e abordado a luta e a libertação de estereótipos sociais Consequentemente seus contos tornarão neste estudo instrumentos valiosos para a reflexão sobre as discussões em torno das temáticas de gênero e feminilidade Marina Colasanti é conhecida por suas narrativas que frequentemente abordam questões de gênero e a condição feminina oferecendo um rico material para análise e debate Na obra Contos de Amor Rasgados 1986 mais especificamente nos contos utilizados neste estudo A honra passada a limpo O leite da mulher amada Para que ninguém a quisesse Sem que fosse tempo de migração e Uma questão de educação encontramos inúmeras nuances de representação do feminino que tendem a despertar as mais variadas interpretações e reflexões fomentando discussões de gênero O foco desta pesquisa está na aplicação prática da literatura no contexto educacional utilizando os contos citados para a realização de letramento literário e a promoção de discussões sobre gênero Através dessa abordagem buscase não apenas enriquecer o conhecimento literário dos alunos mas também incentivar uma compreensão crítica e reflexiva sobre as construções sociais de gênero e a condição feminina A literatura exerce um papel crucial na formação das identidades e na construção das representações sociais Dentro desse contexto a obra de Marina Colasanti se destaca pela sua capacidade de desafiar estereótipos de gênero e promover uma visão crítica das normas sociais A contística de Colasanti com suas narrativas ricas e personagens multifacetadas oferece uma janela para discussões fundamentais sobre igualdade de gênero machismo e sexismo Neste trabalho propomos uma análise da contribuição da obra de Marina Colasanti para uma educação antimachista e antissexista Exploraremos como suas histórias podem ser utilizadas como ferramentas pedagógicas para desconstruir estereótipos promover a reflexão crítica e inspirar o empoderamento feminino Por meio de uma leitura atenta de suas narrativas destacaremos os elementos que tornam sua literatura uma aliada poderosa na formação de uma sociedade mais justa e igualitária O estudo da linguagem e dos símbolos contidos em alguns contos de Marina Colasanti na obra Contos de Amor Rasgados 1986 será realizado junto a discentes do curso de Direito da Universidade Estadual do Estado de Mato Grosso UNEMAT Campus de Pontes e Lacerda e em conjunto com outras teorias que versam sobre identidade estudo de gênero feminismo ensino e educação realizaremos uma análise do psiquismo feminino através da forma em que se dá a linguagem simbolismo representações do papel social da mulher e as atribuições arbitrariamente conferidas à feminilidade Empregar tal literatura mesmo no ensino superior para realização do letramento literário através da discussão sobre gênero e suas representações estereótipos ou mesmo dogmatismos permitirá ponderar sobre como as normas de gênero são construídas socialmente e como são perpetuadas e se a partir deste ponto pode ser possível desconstruir as questões que limitam as possibilidades das pessoas diante de tais padrões Ademais será realizando a devida análise sobre o letramento literário antimachista e antissexista utilizando contos que versam sobre a condição feminina que analisaremos se é possível produzir um olhar crítico nos leitores e se com isso podemos tomar compreensão mais clara do significado de justiça social Candido 2004 p 182 corrobora com os propósitos dos contos de Marina Colasanti quando versa sobre a possibilidade de realizar uma transformação social quando estimulada a prática reflexiva e análise crítica da realidade Entendo aqui por humanização o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais como o exercício da reflexão a aquisição do saber a boa disposição para com o próximo o afinamento das emoções a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepção da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A Literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante Em resumo o estudo explorará o potencial da literatura como ferramenta educativa nas discussões de gênero para combater o machismo e o sexismo utilizando os contos de Marina Colasanti como base para discussões e reflexões críticas no contexto acadêmico Através dessa abordagem esperase contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes e engajados na luta por uma sociedade mais justa e igualitária assim como proporcionar uma base sólida para a continuidade de sua aplicação no ensino permitindo uma análise aprofundada dos resultados obtidos 2 JUSTIFICATIVA A literatura enquanto forma de arte e expressão cultural pode ser um valioso na formação de uma consciência crítica Este projeto propõe a realização de oficinas de letramento literário orientadas pela leitura e discussão de contos de Marina Colasanti em sala de aula do ensino superior com o objetivo de avaliar o impacto dessa prática na promoção de uma educação mais igualitária e reflexão sobre as noções de justiça As motivações que levaram à escolha deste tema incluem a percepção da importância de uma abordagem crítica e reflexiva na educação a relevância dos contos de Marina Colasanti para discutir questões de gênero e a crença no poder transformador do letramento literário O objeto de análise deste estudo será o impacto do letramento literário produzido pela leitura e discussão dos contos de Marina Colasanti na formação de uma consciência crítica entre os discentes e na promoção de valores antimachistas e antissexistas A realização desta pesquisa também é justificada pela relevância social e educacional de promover uma educação antimachista e antissexista no contexto acadêmico Em uma sociedade onde o machismo e o sexismo ainda são problemas persistentes a educação desempenha um papel crucial na formação de indivíduos críticos e conscientes capazes de desafiar e transformar essas estruturas opressivas Este projeto ao utilizar a literatura como ferramenta pedagógica busca não apenas formar leitores competentes mas também cidadãos comprometidos com a justiça social e a igualdade de gênero A relevância social do problema a ser investigado está na necessidade urgente de combater as desigualdades de gênero que permeiam diversas esferas da vida cotidiana incluindo a educação Através da leitura e análise crítica dos contos de Marina Colasanti que frequentemente abordam questões relacionadas ao feminino e aos estereótipos de gênero os alunos poderão desenvolver uma compreensão mais profunda e reflexiva sobre essas temáticas Isso contribui para a desconstrução de preconceitos e a promoção de uma cultura de respeito e igualdade Uma das principais fontes de dados sobre violência no Brasil é o Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública FBSP Segundo o relatório publicado em 2023 foram registrados 1463 casos de feminicídio no Brasil uma média de 1 caso a cada 6 horas A pesquisa apontou que 18 estados apresentaram uma taxa de feminicídio acima da média nacional de 14 mortes para cada 100 mil mulheres Segundo as estatísticas fornecidas pelo documento o número de denúncias de violência contra a mulher é 16 maior que o de 2022 com mais de 266 mil registros de lesão corporal dolosa em contexto de violência doméstica Sobre os autores da violência a pesquisa apontou que 73 dos crimes foram cometido por um parceiro ou exparceiro íntimo da vítima e que 107 das vítimas foram assassinadas por familiares Da mesma forma dados do Ministério da Mulher 2023 da Família e dos Direitos Humanos MMFDH através da Central de Atendimento à Mulher Ligue 180 serviço de assistência e atendimento à mulher em situação de violência que oferece orientação e encaminhamento para serviços de proteção recebeu mais de 5686 mil ligações uma média de 1558 chamadas diárias em 2023 indicando um aumento de 258 em relação ao ano anterior As informações encontradas na pasta ainda mostram que em janeiro deste ano 2024 a Central de Atendimento à Mulher já recebeu 48560 ligações telefônicas sendo destas 810 via WhatsApp o que já totaliza 10852 denúncias As denúncias incluem violência física psicológica sexual moral e patrimonial O cenário retratado nos mostra que o ciclo da violência contra o feminino direcionado mais especificamente à figura da mulher permanece sendo uma triste realidade social Apesar de o Brasil ter implementado diversas políticas públicas e leis como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio a efetividade dessas medidas também depende da conscientização social e de uma análise crítica adequada Realizando o letramento literário antimachista e antissexista com alunos do curso de direto pretendese que seja possível fomentar que o fazer justiça seja algo pertinente e coerente com as demandas atuais e as premissas da Constituição de 1988 que possibilitou pela primeira vez a igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres no Brasil como exposto no Art 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil I construir uma sociedade livre justa e solidária II garantir o desenvolvimento nacional III erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais IV promover o bem de todos sem preconceitos de origem raça sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminação Neste interim o estudo pode trazer contribuições significativas tanto em termos práticos quanto teóricos Na prática esperase que a implementação de um Letramento Literário que contemple a leitura e discussão de contos de Marina Colasanti no espaço acadêmico para que se possa efetivamente promover valores antimachistas e antissexistas entre os estudantes Teoricamente a pesquisa se preocupa com formulações existentes sobre o papel da literatura na educação crítica e discussões de gênero e com a criação de novas perspectivas sobre como os textos literários podem ser utilizados para desafiar e desconstruir violências de gênero e estereótipos Sobre as máculas realizadas pelos estereótipos temos o estereótipo funciona como uma máscara Os homens devem vestir a máscara do macho da mesma forma que as mulheres devem vestir a máscara de submissas O uso das máscaras significa a repressão de todos os desejos que caminharem em outra direção Não obstante a sociedade atinge alto grau de êxito neste processo repressivo que modela homens e mulheres para relações assimétricas desiguais de dominador e dominada SAFFIOTI 1987 p40 No que diz respeito ao estágio de desenvolvimento dos conhecimentos sobre o tema há uma base sólida de literatura que explora a relação entre educação e igualdade de gênero bem como o papel da literatura na formação crítica dos indivíduos No entanto ainda há uma necessidade de estudos que investiguem especificamente o impacto de autores como Marina Colasanti na educação antimachista e antissexista Este projeto portanto visa preencher essa lacuna contribuindo com dados empíricos e análises teóricas incentivando futuras práticas de ensino que não mais contemplem a dominação masculina e a subordinação feminina A possibilidade de sugerir modificações no âmbito da realidade proposta pelo tema é uma das principais motivações deste projeto Ao demonstrar o impacto positivo da literatura na promoção de uma educação mais igualitária este estudo pode incentivar a adoção de práticas similares em outros contextos educacionais Além disso exsurge o dever de fomentar debates críticos sobre gênero através da literatura no ensino superior especialmente no Direito responsável por operar normativas que regem o comportamento social O desejo por este estudo se deu a partir da observação de que na contemporaneidade e até mesmo em locais como a universidade a literatura tem sido posta de lado dando espaço à comportamentos que nos afastam cada vez mais da leitura e compreensão do simbólico através dela Nesta seara também acabamos por inviabilizar a possibilidade do reconhecimento do Outro através da palavra escrita O perigo que hoje ronda a Literatura não está portanto na escassez de bons poetas ou ficcionistas no esgotamento da produção ou criação poética mas na forma como a literatura tem sido oferecida aos jovens desde a escola primária até a faculdade o perigo está no fato de que por uma estranha inversão o estudante não entra em contato com a literatura mediante a leitura de textos literários propriamente ditos mas com alguma forma de crítica de teoria ou de história literária TODOROV 2009 p10 Analisar mesmo na universidade a representação da mulher na literatura e estimular o acesso a obras que retratem sua existência e experiências pode ser forte iniciativa de transformação social como forma de se evitar a perpetuação de estruturas machistas e sexistas A escrita literária tem uma importância fundamental na maneira como as pessoas se reconhecem e como as ideias são construídas na sociedade Nesse sentido alcança destaque a produção literária de Marina Colasanti por sua capacidade de questionar padrões de comportamento entre homens e mulheres e incentivar uma reflexão sobre as regras estabelecidas pela sociedade As histórias criadas por Colasanti com suas tramas complexas e personagens multifacetados abrem caminho para debates importantes sobre equidade de gênero patriarcado e preconceito de gênero Transformações sociais só acontecem a partir do momento em que reflexões individuais são incentivadas Sobre isso cabe resultar que o ensino e a educação são atos intrinsecamente políticos que se orientam pela prática e pela conscientização dos direitos Freire apresenta O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo Requer sua ação transformadora sobre a realidade Demanda uma busca constante Implica em invenção e em reinvenção Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer pelo qual se reconhece conhecendo e ao reconhecerse assim percebe como de seu conhecer e os condicionamentos a que está submetido seu ato FREIRE 1977 p 27 É através da ampliação de políticas educacionais que valorizem a diversidade e a igualdade que incidiremos na formação de profissionais atentos as mais variadas singularidades assim como na percepção do ser como sujeito de deveres mas principalmente de direitos É válido salientar que o machismo e o sexismo incidem no aumento dos índices de violência contra a mulher especialmente no ambiente doméstico causando impactos incalculáveis na integridade física moral e psicológica de suas vítimas Por isso profissionais de variadas áreas precisam ser motivados a pensar alternativas para proteger as vítimas desse tipo de violência além criar políticas públicas e estratégias que as amparem Vale ressaltar que crianças e adolescentes que testemunham ou sofrem esse tipo de violência têm maior propensão a replicar essas ações no futuro permitindo a continuidade do ciclo de violência Como evidenciado por Cardia 1997 p 32 Elas sofrem os efeitos psicológicos e sociais dessas agressões absorvendo como modelos de comportamento os atos violentos e padrões de gênero enraizados na sociedade Assim ao abordar a violência doméstica estamos lidando com um tema que impacta a sociedade e ceifa a vida de inúmeras mulheres a cada ano As instituições de ensino neste ponto passam a desempenhar um papel essencial como um local de diálogo e reflexão permitindo aos alunos compreender as mudanças necessárias para prevenir futuros casos de violência doméstica SAFFIOTI 1987 O silêncio só perpetua a violência permitindo que ações destrutivas sejam tomadas impunemente Portanto é urgente que as instituições de ensino integrem a educação para igualdade de gênero em seu currículo combatendo o patriarcado o sexismo e o machismo que resultam nesse silenciamento Para tanto é preciso uma educação humanizada que acolha e dê voz às mulheres O ensino aliado à sociedade tem o poder de transformar atitudes e mudar cenários tanto em âmbito local como nacional A pedagogia da diversidade pode ser vista como forte instrumento para a emancipação desafiando as práticas tradicionais e estimulando novas abordagens Em suma este projeto de pesquisa é justificado pela sua relevância social e educacional pelas contribuições práticas e teóricas que pode trazer pelo estágio atual de desenvolvimento dos conhecimentos sobre o tema e pela possibilidade de sugerir modificações significativas na realidade educacional Tendo como corpus os contos de Marina Colasanti o projeto visa promover um ensino e uma educação crítica e reflexiva que contribua para a desconstrução de estereótipos de gênero e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária 3 PROBLEMA O presente projeto de pesquisa busca investigar o potencial da literatura e dos contos de Marina Colasanti como proposta de Letramento Literário para promover uma educação antimachista e antissexista no ambiente acadêmico A questão central desta pesquisa é Como a utilização da literatura tendo como corpus os contos de Marina Colasanti pode contribuir para o letramento literário na desconstrução de estereótipos de gênero e promoção de uma educação mais igualitária e inclusiva no contexto universitário com realização junto aos acadêmicos do 7º semestre do Curso de Bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso Essa pergunta direciona a investigação para compreender como as narrativas literárias podem influenciar a percepção dos estudantes em relação às questões de gênero bem como avaliar a eficácia dessa abordagem na promoção de valores de igualdade e respeito no ensino superior 4 OBJETIVOS 41 GERAL Investigar como a literatura especialmente através da contística de Marina Colasanti pode ser empregada como instrumento na realização de letramento literário para promover uma educação antimachista e antissexista no ambiente acadêmico e na formação de leitores críticos 42 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Analisar a representação de questões de identidade e gênero nos contos de Marina Colasanti Investigar o impacto do letramento literário através da leitura e discussão dos contos de Marina Colasanti na percepção dos estudantes sobre estereótipos de gênero e promoção de justiça social e Identificar possíveis desafios e limitações na aplicação prática da literatura como método de letramento literário na discussão de gênero e promoção de uma educação antimachista e antissexista 5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A literatura pode assumir várias formas porém o que não se questiona é seu poder de transformação Chamarei de literatura da maneira mais ampla possível todas as criações de toque poético ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade em todos os tipos de cultura desde o que chamamos folclore lenda chiste até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações Candido 1988 p 18 O texto literário abarca uma série de simbolismos tanto para quem o escreve quanto para quem o lê É esse efeito simbólico que permite a liberdade dos envolvidos em tomar para si conhecimentos que outrora não faziam parte de seu horizonte de saber e com ele se direcionar à novos caminhos de maneira consciente Neste aspecto A literatura assume muitos saberes Se por não sei que excesso de socialismo ou de barbárie todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino exceto uma é a disciplina literária que devia ser salva pois todas as ciências estão presentes no monumento literário É nesse sentido que se pode dizer que a literatura quaisquer que sejam as escolas em nome das quais ela se declara é absolutamente categoricamente realista ela é a realidade isto é o próprio fulgor do real Entretanto e nisso verdadeiramente enciclopédica a literatura faz girar os saberes não fixa não fetichiza nenhum deles ela lhes dá um lugar indireto e esse indireto é precioso BARTHES 1998 p 18 Se a literatura é capaz abrir novos horizontes de conhecimento para os envolvidos em seu texto seja pela escrita ou pela leitura O letramento literário desempenha função crucial no desenvolvimento cognitivo emocional e social dos indivíduos Ele vai além da simples decodificação de palavras e frases promovendo uma compreensão mais profunda e crítica dos textos literários Neste sentido pensar o feminino como uma construção social é oportunizar a reflexão sobre como historicamente se moldaram as representações sociais do ser mulher A identidade social da mulher assim como a do homem e construída através da atribuição de distintos papeis que a sociedade espera ver cumpridos pelas diferentes categorias de sexo A sociedade delimita com bastante precisão os campos em que pode operar a mulher da mesma forma como escolhe os terrenos em que pode atuar o homem SAFFIOTI 1997 p 8 É neste panorama que Beauvoir 1967 p 21 conceitua a passividade que caracterizará essencialmente a mulher feminina é um traço que se desenvolve nela desde os primeiros anos Mas é um erro pretender que se trata de um dado biológico na verdade é um destino que lhe é imposto por seus educadores e pela sociedade A imensa possibilidade do menino está em que sua maneira de existir para outrem encorajao a porse para si Êle faz o aprendizado de sua existência como livre movimento para o mundo O que aqui se apresenta são caracterizações repressivas que desde o nascimento de uma mulher demarcam seu território existencial e condicionam seu comportamento Os estereótipos têm realmente a força do molde Quem não entrar na fôrma corre o risco de ser marginalizado das relações consideradas normais O conceito de normal é socialmente construído pelo costume SAFFIOTI 1987 p 39 Na literatura a invisibilidade e o sofrimento feminino se moldam às possibilidades linguísticas e através de símbolos e códigos encontram espaço para se apressar através da escrita Bordini e Aguiar 1993 p 15 discorrem A literatura desse modo se torna uma reserva de vida paralela onde o leitor encontra o que não pode ou não sabe experimentar na realidade E por essa característica que tem sido acusada ao longo dos tempos de alienante escapista e corruptora mas é também graças a ela que a obra literária captura o seu leitor e o prende a si mesmo por ampliar suas fronteiras existenciais sem oferecer os riscos da aventura real Um dos métodos mais eficazes para reflexão crítica e para a mudança da realidade é o Letramento Literário Bordini e Aguiar 1993 ao discutirem a formação do leitor destacam a importância do desse letramento na formação de leitores críticos e reflexivos capazes de questionar as normas sociais e compreender diferentes perspectivas As autoras destacam a literatura na construção de sentidos e na abertura do ser individual para o ser social A ampliação do conhecimento que daí decorre permitelhe compreender melhor o presente e seu papel como sujeito histórico O acesso aos mais variados textos informativos e literários proporciona assim a tessitura de um universo de informações sobre a humanidade e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os outros homens A socialização do indivíduo se faz para além dos contatos pessoais também através da leitura quando ele se defronta com produções significantes provenientes de outros indivíduos por meio do código comum da linguagem escrita No diálogo que então se estabelece o sujeito obrigase a descobrir sentidos e tomar posições o que o abre para o outro BORDINI AGUIAR 1993 p 10 Gagliard 2014 em diversos trabalhos aborda a relação entre literatura e educação argumentando que a literatura pode ser uma ferramenta poderosa para explorar e problematizar questões sociais incluindo as relações de gênero Vejamos O que a literatura ensina não se pode descrever como mera transferência de conhecimento Não se trata de um conteúdo mensurável e sim de uma vivência potencialmente depuradora da atenção da percepção da consciência da reflexão e dos afetos Mais próxima portanto de uma experiência transformadora do que de uma disciplina propriamente dita a literatura ela mesma é que ensina GAGLIARD 2014 p 341 Para este projeto serão consultados principalmente os trabalhos de Marina Colasanti tanto suas obras literárias quanto suas reflexões sobre questões de gênero a fim de compreender como sua escrita pode contribuir para os objetivos propostos O que se almeja é ponderar sobre o feminino como uma construção social pois este ato permite oportunizar a reflexão sobre como historicamente se moldaram as representações sociais do ser mulher É neste panorama que BEVOUIR 1967 p 21 conceitua a passividade que caracterizará essencialmente a mulher feminina é um traço que se desenvolve nela desde os primeiros anos Mas é um erro pretender que se trata de um dado biológico na verdade é um destino que lhe é imposto por seus educadores e pela sociedade A imensa possibilidade do menino está em que sua maneira de existir para outrem encorajao a porse para si Êle faz o aprendizado de sua existência como livre movimento para o mundo Embora existam imagens positivas associadas ao feminino e a mulher estereótipos e características negativas dadas pelo homem que se utiliza da masculinidade como ferramenta de poder resultam na identificação da figura feminina como submissa e alienada Sua percepção da mulher durante seus anos de formação é influenciada por sua mãe que está confinada principalmente em seu espaço doméstico o que lhe causa intelecto e capacidade limitados BULFINCH 2006 O que aqui se apresenta são caracterizações repressivas que desde o nascimento de uma mulher demarcam seu território existencial e condicionam seu comportamento Os estereótipos têm realmente a força do molde Quem não entrar na fôrma corre o risco de ser marginalizado das relações consideradas normais O conceito de normal é socialmente construído pelo costume SAFFIOTI 1987 p 39 Diante disso a realização de estudos e análise de obras de autoria feminina ou de conteúdo feminista é a garantia de quebrar o silêncio construído diante das violências de gênero e romper com as ações instintivas da afirmação masculina ao subjugar a feminilidade Na literatura a invisibilidade e o sofrimento feminino se moldam às possibilidades linguísticas e através de símbolos e códigos encontram espaço para se apressar através da escrita Bordini e Aguiar 1993 p 15 discorrem A literatura desse modo se torna uma reserva de vida paralela onde o leitor encontra o que não pode ou não sabe experimentar na realidade E por essa característica que tem sido acusada ao longo dos tempos de alienante escapista e corruptora mas é também graças a ela que a obra literária captura o seu leitor e o prende a si mesmo por ampliar suas fronteiras existenciais sem oferecer os riscos da aventura real As representações femininas evoluíram significativamente ao longo do tempo As primeiras narrativas sobre mulheres são frequentemente encontradas nos contos de fadas refletindo as visões da sociedade sobre o papel feminino Nessas histórias iniciais as imagens das mulheres são frequentemente caprichosas e dependentes sugerindo uma forma de opressão Elas são retratadas de maneira passiva em contraste com as figuras masculinas implicando que as mulheres devem ser submissas e abnegadas desempenhando os papéis de esposas e mães Os papéis de gênero têm evoluído embora de forma lenta Especialmente após a virada do pósmodernismo as mulheres têm conquistado maior espaço e liberdade de escolha Segundo Safiotti 2004 Gênero é um conceito por demais palatável porque é excessivamente geral ahistórico apolítico e pretensamente neutro O patriarcado ou ordem patriarcal de gênero ao contrário como vem explícito em seu nome só se aplica a uma fase histórica não tendo a pretensão da generalidade nem da neutralidade e deixando propositadamente explícito o vetor da dominaçãoexploração SAFFIOTI 2004 p 139 Na literatura a fase feminista iniciada no início do século XX foi marcada pela emergência e consolidação de vozes femininas que desafiaram as normas patriarcais e buscaram expressar as experiências lutas e perspectivas das mulheres Este momento comtemplou mulheres que passaram a questionar seus papéis estritamente domésticos e maternais sendo que essa quebra tradicionalista permitiu mais oportunidades ao retrata a autodescoberta feminina e a busca por identidade O conceito de identidade segundo Lacan é complexo e multifacetado envolvendo a interação entre o Imaginário o Simbólico e o Real bem como a dinâmica do desejo e da falta A identidade não é uma entidade fixa mas uma construção contínua e dinâmica mediada pela linguagem e pelas relações sociais Na perspectiva lacaniana da Psicanálise a identidade de um sujeito é profundamente conectada ao corpo e aos seus impulsos e afetos sendo inseparável desses aspectos Ainda em Lacan o conceito de Outro com O maiúsculo é central O Outro representa a linguagem a cultura e as normas sociais que moldam a identidade do sujeito Enquanto o sexo é definido com base na anatomia humana e na aparência fisiológica que diferenciam homens e mulheres o gênero apela para os estudos comportamentais que fornecem uma compreensão mais complexa das identidades e papéis atribuídos incluindo as funções sociais as imagens de gênero são culturalmente determinadas o que explica como as identidades de gênero são inventadas e produzidas em diferentes culturas SAFFIOTI 1995 p 32 postula O gênero constitui uma verdadeira gramática sexual normatizando condutas masculinas e femininas Concretamente na vida cotidiana são os homens nesta ordem social androcêntrica os que fixam os limites da atuação das mulheres e determinam as regras do jogo pela sua disputa Até mesmo as relações mulher mulher são normatizadas pela falocracia E a violência faz parte integrante da normatização pois constitui importante componente do controle social Nestes termos a violência masculina contra a mulher inscrevese nas vísceras da sociedade com supremacia masculina Disto resulta uma maior facilidade de sua naturalização outro processo violento porque manieta a vítima e dissemina a legitimação social pela violência Portanto pensar a violência contra as mulheres é também pensar em uma crise na ordem de gênero onde os homens começam a sentir uma perda de poder e veem a necessidade de renegociar sua masculinidade Em outras palavras a violência contra a mulher é uma forma de posicionar o gênero mais fraco dentro de uma hierarquia onde a masculinidade está associada a normas como autoridade prestígio racionalidade força e bravura enquanto a feminilidade está associada à passividade irracionalidade fraqueza e subordinação A instrução representa uma base crucial na edificação de uma sociedade mais justa e equitativa Em meio à realidade atual em que o sexismo ainda se faz presente em diversos âmbitos da vida as instituições de ensino têm um papel fundamental na disseminação de princípios que questionem e desconstruam tais padrões prejudiciais Tornar efetiva uma educação que combata o sexismo é essencial para preparar as próximas gerações a conviverem em um ambiente pautado pelo respeito mútuo e pela igualdade de oportunidades A abordagem da pesquisaação conforme proposta por Michel Thiollent apresentase como um modelo eficiente para atingir esse propósito incentivando a participação ativa de todos os integrantes da comunidade escolar em um processo colaborativo de identificação de desafios implementação de soluções e avaliação constante Borges 1977 Um currículo que leve em consideração a diversidade de gênero é fundamental para combater atitudes machistas e sexistas na educação As estratégias de ensino precisam ser revistas para garantir uma representação justa de todos os gêneros substituindo conteúdos que reforçam estereótipos por aqueles que promovem a igualdade Além disso a inclusão de estudos sobre gênero e feminismos no currículo abordando a reflexão sobre o feminino suas conquistas em diferentes áreas enriquece o aprendizado dos alunos e amplia sua visão sobre as questões de gênero Educadores qualificados desempenham um papel crucial na promoção de uma educação que combata o machismo É importante fornecer alternativas de ensino que abordem temas como igualdade de gênero feminismo e métodos de ensino inclusivos Dessa maneira não apenas ampliase o conhecimento dos educadores sobre o assunto como também os prepara para enfrentar situações de discriminação e machismo no ambiente educacional Engajar os estudantes em iniciativas que incentivem a equidade de gênero é uma maneira eficaz de promover um ambiente de respeito e diversidade Atividades que abordem temas como sexismo e equidade de gênero são extremamente proveitosos para proporcionar aos alunos uma visão social mais abrangente e crítica Ao abordar temas como a autonomia feminina a diversidade de experiências e a quebra de estereótipos de gênero a obra de Colasanti se torna um recurso valioso para educadores comprometidos com a construção de uma educação que valorize a igualdade e a justiça social BULFINCH 2006 6 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO Com direcionamento de todo o exposto utilizaremos o modelo de sequência sistematizado Bordini Aguiar 1988 sendo utilizado o Método Recepcional Para Carmo 2019 Essa proposta explora a leitura da obra literária por meio de atividades de sondagem e ampliação dos horizontes de expectativa dos participativos O método apresentado consiste em cinco etapas que visam a formação de um leitor mais autônomo crítico e construtor do próprio caminho de interpretação Assim de acordo com Brasil 2006 se a meta é que o aluno desenvolva habilidades para criar e interpretar textos não se pode considerar como base de ensino a letra a sílaba a palavra ou a frase isolada pois quando retiradas de seu contexto essas unidades contribuem pouco para a competência discursiva que é o ponto chave do aprendizado O foco deve estar na capacidade de compreender e produzir significados em situações reais de comunicação onde o sentido é construído de maneira integrada e contextualizada A missão de uma metodologia dedicada para o ensino da literatura reside em partindo de uma realidade marcada por diversas contradições analisar a relação entre a obra literária e o leitor Com base nesse diálogo é essencial desenvolver estratégias que integrem esforços promovam a participação ativa dos envolvidos e considerem o papel central do aluno levando em conta suas necessidades enquanto leitor em uma sociedade em transformação O objetivo é criar um ambiente educacional que não apenas reconheça essas mudanças mas também se adapte a elas garantindo que o processo de leitura e interpretação seja significativo e relevante para o desenvolvimento crítico do estudante Bordini Aguiar 1988 Nos tópicos a seguir o trabalho abordará conceitos centrais da Estética da Recepção e da Teoria Literária além de explorar a formação do leitor e a função social da leitura literária Primeiramente será explicado o conceito de Horizonte de Expectativas conforme desenvolvido por Hans Robert Jauss destacando sua importância no Método Recepcional Em seguida será discutida a formação do leitor e a função social da leitura literária com base nas obras de Maria Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar enfatizando o papel da leitura na construção crítica do indivíduo Por fim o Método Recepcional será detalhado incluindo suas etapas principais conforme descrito por Bordini e Aguiar evidenciando como esse método pode ser aplicado de forma eficaz no ensino da literatura 61 Estética da Recepção e Teoria Literária A Estética da Recepção desenvolvida por Hans Robert Jauss 1994 revolucionou a teoria literária ao colocar o leitor no centro do processo interpretativo Diferente das abordagens tradicionais que priorizavam o autor ou a estrutura da obra a Estética da Recepção propõe que o significado de um texto literário é construído na interação entre o leitor e a obra Um conceito fundamental nesse contexto é o de Horizonte de Expectativas que Jauss define como o conjunto de pressupostos e experiências que o leitor traz para a leitura de uma obra Nascimento e Manzoni 2022 explicam que o conceito de Horizonte de Expectativas referese ao conjunto de pressupostos experiências e conhecimentos que o leitor traz consigo ao interpretar um texto literário Esse horizonte é moldado por fatores culturais sociais e históricos influenciando a maneira como o leitor compreende e reage à obra Ao alterar o horizonte de expectativas dos estudantes o método enriquece sua interpretação individual e impacta o comportamento e as percepções de outros leitores ao seu redor promovendo uma leitura literária mais profunda e emancipatória em contraste com a literatura de massa Miranda 2007 ao analisar a estética da recepção vislumbra que A proposta da Estética da Recepção surge portanto com a preocupação central de encontrar um método para a história da literatura e da arte capaz de abordála tanto em sua relação com o contexto geral da história quanto em sua historicidade específica i e tanto em relação à sociedade quanto na dinâmica interna de superação transgressão e instauração de novos códigos estéticos Como teoria conciliadora das pesquisas marxistas e formalistas a teoria proposta pela Escola de Constança buscava não só resgatar a perspectiva histórica como incluir em seu método uma fundamentação do juízo estético que o objeto demanda A Estética da Recepção surge como uma das abordagens teóricas mais inovadoras para compreender o fenômeno da leitura partindo da premissa de que ler é uma prática interpretativa moldada por sujeitos inseridos em contextos sociais e históricos específicos Ao reconhecer que os leitores não são figuras passivas mas agentes históricos que interagem com o texto a partir de sua posição no espaço e no tempo essa teoria busca explorar como a leitura é influenciada e transformada por essas interações Silveira Moura 2007 Dessa forma Jauss 1994 explica que de modo geral a relação funcional entre literatura e sociedade tem sido tradicionalmente apresentada pela sociologia da literatura dentro dos limites restritos de um método que de forma bastante superficial substituiu o antigo princípio da imitatio naturae por uma nova definição Segundo essa abordagem a literatura passou a ser vista como uma representação de uma realidade já estabelecida o que por sua vez levou à elevação de um conceito estilístico particular ligado a uma época específica como a principal categoria literária Ao adotar a perspectiva do leitor a Estética da Recepção propõe que a historicidade das obras literárias é garantida a partir do olhar do receptor Quando um leitor se depara com obras de diferentes períodos históricos e as consome ele participa ativamente de sua constante atualização Esse processo de renovação contínua revela o papel fundamental do leitor na construção do significado da obra em oposição à ideia de que as obras literárias possuem uma natureza atemporal Gomes 2009 A abordagem tradicional da história da literatura que se concentra apenas em um cânone fixo ou na descrição cronológica da vida e obra de alguns autores falha em capturar a verdadeira historicidade das obras literárias Essa perspectiva tende a ignorar o aspecto estético da criação literária uma vez que a qualidade e o valor de uma obra não são simplesmente determinados pelas condições históricas ou biográficas em que ela surgiu O verdadeiro critério que define a importância de uma obra literária reside na forma como ela é recebida pelo público no impacto que causa e na sua capacidade de manter relevância ao longo do tempo visto que é na recepção e no efeito que a obra provoca que encontramos a chave para entender sua contribuição duradoura à literatura Jauss 1994 Assim a verdadeira relevância de uma obra literária não reside apenas em sua construção interna mas também na forma como ela é recebida e interpretada pelo público Morais e Fernandes 2012 argumentam que O estudo do texto passa a ser a descoberta e as utilizações das estruturas verbais pelas quais o autor da obra a concebe conferindolhe um caráter literal que em suma o diferencia da linguagem comum pois a força do pensamento formalista consiste em encarar a obra apenas de um ponto de vista linguístico e estrutural tornando o ato da criação artística o resultado de uma experiência empírica mas de valor transcendental e não social Embora o formalismo enfatize a análise das estruturas linguísticas e textuais de uma obra dissociandoa de seu contexto social e histórico é essencial considerar que o verdadeiro impacto e a importância de uma obra literária se revelam na forma como ela é recebida ao longo do tempo O horizonte de expectativas conforme discutido por Jauss 1994 nos lembra que os leitores abordam a obra com expectativas moldadas por normas culturais experiências anteriores e o contexto histórico Assim a relevância duradoura de uma obra não se limita a sua estrutura interna mas se constrói na interação dinâmica entre o texto e os leitores Logo a objetivação do horizonte de expectativas é possível mesmo em obras historicamente menos definidas pois a predisposição do público pode ser inferida através de três fatores principais as normas e convenções conhecidas do gênero literário a relação implícita com outras obras do mesmo contexto históricoliterário e a comparação entre ficção e realidade ou entre a função poética e a prática da linguagem No contexto do Método Recepcional essa estruturação do horizonte de expectativas orienta a interação crítica e a compreensão da literatura em relação à vida real possibilitando o desenvolvimento de uma interpretação mais rica e contextualizada Jauss 1994 62 A Formação do Leitor e a Função Social da Leitura Literária segundo Maria Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar A mediação da leitura literária tem sido cada vez mais associada a atividades voltadas para o lazer o prazer estético e a apreciação pessoal Essas abordagens substituem o uso tradicional do texto literário que anteriormente servia como principal instrumento para o ensino da língua portuguesa propondo assim uma nova função para a literatura dentro do ambiente escolar Nessa perspectiva a literatura ganha um espaço diferenciado na escola onde é valorizada não apenas por seu conteúdo linguístico mas também por sua capacidade de promover o desenvolvimento emocional e cultural dos estudantes criando um ambiente de aprendizagem mais aberto e sensível às múltiplas formas de expressão literária Mota 2015 Bordini e Aguiar 1988 defendem que a formação do leitor literário é um processo complexo e gradual que vai além da simples decodificação de palavras Para formar leitores competentes e críticos é necessário haver uma educação literária que valorize tanto a compreensão estética quanto a interpretação crítica dos textos o que inclui o desenvolvimento da sensibilidade para as nuances do texto literário a capacidade de estabelecer conexões entre diferentes obras e contextos e a habilidade de refletir sobre as múltiplas camadas de significados presentes na literatura Segundo as autoras É através da linguagem que o homem se reconhece como humano pois pode se comunicar com os outros homens e trocar experiências Existe porém uma condição prévia para a manifestação da linguagem é preciso haver um grupo humano no qual o sujeito se confronte com o conjunto e se perceba como indivíduo E portanto na convivencia social que nascem as linguagens conforme as necessidades de intercâmbio Bordini Aguiar 1988 A literatura assume um papel de auxiliar no ensino da língua servindo como um recurso valioso para fortalecer as habilidades de leitura e escrita dos alunos onde por meio de atividades de interpretação análise textual e outras estratégias pedagógicas os textos literários são utilizados para aprimorar a compreensão leitora e a expressão escrita Assim a literatura contribui de maneira significativa para o desenvolvimento das competências linguísticas funcionando como uma ferramenta didática que enriquece o vocabulário e estimula o pensamento crítico Cosson 2011 Todavia Bordini e Aguiar 1988 defendem que Para que a escola possa produzir um ensino eficaz da leitura da obra literária deve cumprir certos requisitos como dispor de uma biblioteca bem aparelhada na área da literatura com bibliotecários que promovam o livro literário professores leitores com boa fundamentação teórica e metodológica programas de ensino que valorizem a literatura e sobretudo uma interação democrática e simétrica entre alunado e professor A leitura contribui para a transformação das esferas pessoal e social pois quando o indivíduo se engaja com diferentes textos e narrativas ele não só reafirma suas próprias convicções e compreensões mas também se abre para a possibilidade de mudança Bordini e Aguiar 1988 expõem nesse sentido que O grupo social não é simplesmente um todo homogéneo Nele habitam vontades saberes e posicionamentos diversificados mas convergentes que geram as possibilidades de relações internas e com outros grupos Através das trocas linguísticas o indivíduo se certifica de seu conhecimento do mundo e dos outros homens assim como de si mesmo ao mesmo tempo em que participa das transformações em todas essas esferas A leitura permite que as pessoas se engajem em diálogos internos e externos refletindo sobre suas próprias vivências e comparandoas com as experiências retratadas nos textos o que facilita a construção de uma identidade social mais robusta e empática pois o leitor aprende a ver o mundo sob diferentes óticas reconhecendo e respeitando a diversidade de pensamentos e culturas que coexistem em uma sociedade Uma sociedade de classes em que interesses divergentes se entre chocam com a predominância de alguns deles sobre os demais privilegia sobremaneira o texto escrito como objeto de leitura A escrita historicamente representa uma conquista sobre a memória instrumento predominante nas sociedades ágrafas A acumulação do conhecimento através da palavra escrita tem sido apropriada pelas classes que detém o poder dentro de uma sociedade Como o documento escrito é mais eficiente para a fixação e conservação das ideias leva vantagem sobre a memória coletiva alijando das decisões do grupo aqueles que não são capazes de decifrálo Bordini Aguiar 1988 As classes dominantes ao controlar a produção e a circulação do conhecimento escrito mantêm sua posição de privilégio e exclusão dificultando a ascensão de grupos marginalizados que não têm acesso às mesmas oportunidades educacionais Assim a alfabetização portanto não é apenas uma questão técnica mas também uma ferramenta de poder que pode tanto reforçar a desigualdade quanto ser usada para promover a inclusão social O acesso equitativo à leitura e à escrita é necessário para democratizar o conhecimento permitindo que todas as camadas da sociedade participem ativamente do processo de construção e transformação social e não apenas as elites que historicamente se apropriaram desse recurso 63 Método Recepcional e suas Etapas segundo Maria Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar O Método Recepcional conforme discutido por Maria Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar é uma abordagem que busca compreender como os leitores interagem com o texto literário considerando as suas experiências e contextos As autoras descrevem várias etapas que serão detalhadas a seguir A primeira etapa é a préleitura onde nessa o foco está na preparação do leitor para a experiência de leitura o que envolve a ativação de conhecimentos prévios e expectativas em relação ao texto Os leitores precisam refletir sobre o que já sabem e sobre as suas experiências pessoais que podem influenciar sua compreensão da obra As autoras mencionam enquanto exemplos a discussões em grupo a análise do título da capa e do contexto em que a obra foi escrita além de sugestões de temas que podem ser explorados durante a leitura O primeiro passo para a formação do hábito de leitura é a oferta de livros próximos à realidade do leitor que levantem questões significativas para ele A literatura brasileira e a literatura infantojuvenil nacionais vem preencher estes quesitos ao fornecerem textos diante dos quais o aluno facilmente se situa pela linguagem pelo ambiente pelos caracteres das personagens pelos problemas colocados A familiaridade do leitor com a obra gera predisposição para a leitura e o consequente desencadeamento do ato de ler Bordini Aguiar 1988 Posteriormente a segunda etapa é a leitura o momento em que o leitor tem contato direto com o texto As autoras enfatizam que essa etapa deve ser uma experiência ativa onde o leitor se envolve emocional e intelectualmente com a obra Durante essa o indivíduo faz conexões interpreta e questiona o que está sendo lido permitindo uma compreensão mais profunda sendo importante que os leitores desenvolvam um olhar crítico e reflitam sobre suas implicações e significados Em seguida na fase pósleitura devese refletir sobre a experiência da leitura e discutir as interpretações que emergiram durante o processo o que pode incluir atividades como debates escrita de resenhas ou criação de projetos que permitam aos leitores expressar suas reflexões As autoras sugerem que essa etapa é indispensável para a consolidação do conhecimento ao permitir ao leitor articular suas ideias e compartilhar suas percepções com os outros Tendo percebido que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar mas ao modo como veem seu mundo os alunos nessa fase tomam consciência das alterações e aquisições obtidas através da experiência com a literatura Cotejando seu horizonte inicial de expectativas com os interesses atuais verificam que suas exigências tornaramse maiores bem como sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi aumentada Bordini Aguiar 1988 Por fim é vislumbrado sobre a releitura Tratase de revisitar o texto à luz das novas compreensões adquiridas durante as etapas anteriores A releitura permite que o leitor aprofunde sua interpretação e descubra camadas de significado que podem ter passado despercebidas em uma primeira leitura A obra é válida quando apreende a essência por trás da história conscientizando o leitor do que é o ser humano resgatandoo das distorções ideológicas que o reificam e alienam Bordini Aguiar 1988 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Adotouse como critério de inclusão estudantes devidamente matriculados no 7º semestre do Curso de Bacharelado em Direito da Universidade do Estado de Mato Grosso Campus de Pontes e Lacerda MT que aceitarem participar voluntariamente do estudo e que possuem disponibilidade para participar das oficinas CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Serão considerados como critérios de exclusão dos participantes não pertencer a turma escolhida não ter a idade entre 20 e 50 anos não aceitar participar voluntariamente não ter disponibilidade para participar das oficinas RISCOS Realizar uma pesquisaação com estudantes do curso de bacharelado em Direito sobre letramento literário antimachista e antissexista pode ser uma iniciativa poderosa e transformadora No entanto como em qualquer pesquisaação há riscos e desafios que precisam ser cuidadosamente considerados e gerenciados Considerase como Riscos Potenciais 1 Resistência e Conflitos alguns estudantes podem resistir às ideias de letramento literário antimachista e antissexista devido a crenças pessoais culturais ou ideológicas Isso pode gerar conflitos e tensões durante as atividades 2 Desconforto Emocional discussões sobre machismo e sexismo podem ser emocionalmente carregadas e desconfortáveis para alguns participantes especialmente aqueles que tenham experiências pessoais relacionadas a esses temas 3 Falta de Engajamento alguns estudantes podem não se engajar plenamente nas atividades devido à falta de interesse ou compreensão da importância do tema 4 Preconceitos e Estereótipos podem emergir durante as discussões o que pode reforçar atitudes discriminatórias em vez de desconstruílas 5 Impacto na Dinâmica de Grupo discussões sobre temas sensíveis podem afetar a dinâmica de grupo criando divisões ou alianças baseadas em crenças e atitudes Pensando nisso como forma de mitigar tais possibilidades serão previstas algumas estratégias de resolução como 1 Promoção de um ambiente de respeito e diálogo aberto onde todas as opiniões sejam ouvidas e discutidas de forma construtiva Ademais utilizando de minha formação em psicologia poderão ser adotadas técnicas de mediação para resolver conflitos e garantir que o debate seja produtivo 2 Suporte emocional e psicológico aos participantes com possível encaminhamento à serviços de aconselhamento disponíveis na rede de apoio de Pontes e Lacerda MT 3 Tornar as atividades relevantes e significativas para os estudantes conectandoas com suas experiências e interesses Serão utilizados métodos participativos e interativos para aumentar o engajamento 4 Facilitação das discussões de forma sensível e informada desafiando preconceitos e estereótipos de maneira respeitosa e educativa 5 Elucidação sobre o ambiente ser de confiança antes de abordar os temas mais sensíveis uma vez que será garantida a confidencialidade e previsto o consentimento informado dos participantes quanto à questões éticas garantindo que a confidencialidade dos dados coletados e de possíveis relatos de experiências traumáticas caso expostas ao grupo Por fim os participantes em potencial terão plena liberdade em recusarse a participar ou retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa sem penalização alguma conforme Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466 de 12 de Dezembro de 2012 BENEFÍCIOS O letramento literário antimachista e antissexista pode trazer inúmeros benefícios para os discentes do curso de Bacharelado em Direito especialmente no que tange ao desenvolvimento de habilidades analíticas e reflexivas que são essenciais para a prática jurídica permitindolhes abordar questões legais com uma perspectiva crítica e informada Ademais os estudantes poderão compreender de forma mais aprofunda e abrangente as experiências humanas o que pode ser aplicado na interpretação e aplicação das leis tornando se mais sensíveis e receptivos às questões de justiça social o que é crucial para a prática de um Direito mais humanizado e inclusivo Não obstante esperase que com o letramento literário antimachista e antissexista através da utilização dos contos selecionados possamos aumentar a consciência dos estudantes sobre as questões de gênero e diversidade para a promoção da igualdade e da justiça social que contribua para desconstrução de estereótipos de gênero e promovendo uma visão igualitária entre eles Esperase ainda que sejam criadas habilidades analíticas e reflexivas essenciais para a formação de cidadãos críticos e conscientes e que a discussão dos contos aumente a consciência dos leitores sobre as questões de gênero e diversidade além de contribuir para a formação de uma sociedade mais justa inclusiva e respeitosa onde todos os indivíduos independentemente de seu gênero se sintam valorizado e pertencentes Por fim ao compartilhar os resultados com o corpo docente esperase incentivar a continuidade da utilização da literatura e do letramento literário no ambiente acadêmico 7 CRONOGRAMA MESETAPAS 2024 Jan a Fev 2024 Mar a Maio 2024 Jun a Jul 2024 Ago 2024 Set a Dez 2025 Jan 2025 Fev 2025 Mar a Mai 2025 Jun a Jul 2025 Ago 2025 Set a Dez Escolha do tema X Levantamento bibliográfico X Elaboração do projeto X Apresentação do Projeto Seminário I X Submissão ao Comitê de ética X Revisão da Literatura X Coleta de dados X X Análise dos dados X X Organização do roteiropartes Publicação de artigo Relatório Final Comitê de Etica Exame de Qualificação Redação do trabalho Revisão e redação final Defesa 8 RESULTADOS ESPERADOS Os desfechos primário e secundário desta pesquisa são fundamentais para compreender o impacto e as contribuições potenciais no campo da educação O desfecho primário visa evidenciar o impacto positivo da utilização da literatura especialmente dos contos de Marina Colasanti como ferramenta de ensino na promoção de uma educação antimachista e antissexista no ambiente acadêmico Por meio da análise das percepções dos estudantes sobre estereótipos de gênero esperase identificar como a reflexão crítica proporcionada pela leitura das obras literárias selecionadas contribui para o desenvolvimento de uma consciência mais igualitária e inclusiva O desfecho secundário busca ampliar o entendimento teórico no campo da educação oferecendo insights sobre a eficácia das práticas pedagógicas baseadas na literatura na desconstrução de estereótipos de gênero e na promoção da igualdade de gênero no ensino superior Esses resultados podem subsidiar a elaboração de diretrizes e políticas educacionais voltadas para a promoção de uma cultura acadêmica mais inclusiva e igualitária Além disso objetivase que contribuições desta pesquisa para a ciência da educação são significativas Ao oferecer uma abordagem inovadora e eficaz para enfrentar questões de discriminação de gênero no ambiente acadêmico este estudo pode contribuir para a construção de um corpo crescente de evidências empíricas sobre os benefícios da integração da literatura na promoção de uma educação mais igualitária e inclusiva Esses insights têm o potencial de informar práticas educacionais capacitar educadores e gestores educacionais e orientar formuladores de políticas na elaboração de estratégias mais eficazes para promover uma cultura acadêmica baseada em valores de igualdade e respeito Diante das análises e intervenções a serem realizadas as hipóteses quanto aos resultados se moldam no sentido de que as obras de Marina Colasanti a partir de suas representações do feminino podem contribuir para formação identitária dos alunos do ensino superior especialmente no que tange ruptura de comportamentos machistas e sexistas Os resultados esperados reforçam a ideia de que a literatura não é apenas uma fonte de prazer estético mas também um poderoso instrumento de transformação social e educativa Ao trabalhar com as obras de Marina Colasanti esperase contribuir significativamente para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária onde a educação desempenha um papel central na promoção da igualdade de gênero e no combate ao machismo e ao sexismo 9 REFERÊNCIAS BARTHES Roland A aula aula inaugural da cadeira de semiologia literária do Colégio de França pronunciada dia 7 de janeiro de 1977 Tradução Leyla PerroneMoisés São Paulo Editora Cultrix 2004 12ª Ed 89p BEAUVOIR Simone de O segundo sexo a experiência vivida Trad Sérgio Milliet 2 ed São Paulo Difusão Europeia do Livro 1967 BORDINI Maria da Gloria AGUIAR Vera Teixeira Literatura a formação do leitor alternativas metodológicas Porto Alegre Mercado Aberto 1988 BORGES Luciana O erotismo como ruptura na ficção brasileira de autoria feminina Florianópolis Mulheres 2013 BOSI Alfredo org O conto brasileiro contemporâneo São Paulo Cultrix 1977 BRASIL Anuário Brasileiro De Segurança Pública São Paulo Fórum Brasileiro de Segurança Pública ano 17 2023 ISSN 19837364 Disponível em httpspublicacoesforumsegurancaorgbrhandle123456789229 BRASIL Constituição 1988 Constituição da República Federativa do Brasil Brasília DF Senado Federal Centro Gráfico 1988 BRASIL Lei n 11340 de 07082006 Lex Coletânea de Legislação e Jurisprudência edição federal Brasília 2006 BRASIL Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos MMFDH 2022 Relatório Anual de Atendimentos do Ligue 180 e Dados de Violência contra a Mulher Brasília MMFDH Disponível em httpswwwgovbrmulheresptbrligue180 BORDINI Maria da Glória DE AGUIAR Vera Teixeira Literatura a formação do leitor alternativas metodológicas Mercado Aberto 1988 BULFINCH Thomas O livro de ouro da mitologia histórias de deuses e heróis Tradução de David Jardim Rio de Janeiro Ediouro 2006 CANDIDO Antonio A literatura e a formação do homem Ciência e cultura São Paulo v 24 n 9 p 8039 set 1972 CANDIDO Antonio O direito à literatura In Vários escritos Rio de Janeiro Duas Cidades 2004 p 176180 CANDIDO Antonio O direito à literatura São Paulo Editora Pers pectiva 1998 CARDIA Nancy A Violência Urbana e a Escola Contemporaneidade e Educação Ano II no 02 Setembro de 1997 CARMO Anaximandro Alessandro Lelis A formação do leitor literário pelo método recepcional Editora Criação 2019 COLASANTI Marina 1987 Contos de amor rasgados Rio de Janeiro Nova Fronteira COLASANTI Marina Contos de amor rasgados Rio de Janeiro Rocco 1986 COSSON Rildo A prática do letramento literário em sala São Paulo Mercado das Letras 2011 FREIRE Paulo Extensão ou comunicação 3 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1977 93 p FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes Necessários à Prática Educativa 34 ed São Paulo Paz e Terra 2005 GOMES Mariana Andrade Experiência estética e estética da recepção Cadernos do IL n 39 p 3745 2009 MIRANDA Mariana Lage Objeto ambíguo arte e estética na experiência cotidianasegundo H R Jauss Dissertação de Mestrado Universidade Federal de MinasGerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Belo Horizonte 2007 MOITA Maria da conceição Percursos de formação e de transformação In NÓVOA António org Vidas de Professores Portugal Porto editora 1995 2ª ed MORAIS Julierme FERNANDES Renan Hans Robert Jauss e os postulados da estética da recepção Possíveis aplicações no Campo da pesquisa histórica com teatro e cinema Revista Sapiência v 1 n 2 p 97114 2012 MOTA Rildo José Cosson A prática da leitura literária na escola mediação ou ensino Nuances estudos sobre Educação v 26 n 3 p 161173 2015 NASCIMENTO Cristiane Aparecida Silva MANZONI Jair Lopes Junior Rosa Maria Desenvolvimento do repertório leitor e ampliação do horizonte de expectativas mediada pelo gênero poema V Jornada de Literatura e Educação p 229 2022 SAFFIOTI Heleieth Gênero Patriarcado Violência São Paulo Fundação Perseu Abramo 2004 SAFFIOTI Heleieth O poder do macho São Paulo Moderna 1987 SAFFIOTI Heleith ALMEIDA Suely Souza de Violência de gênero Poder e Impotência Rio de Janeiro Revinter 1995 SILVEIRA Fabrício José Nascimento da MOURA Maria Aparecida A estética da recepção e as práticas de leitura do bibliotecárioindexador Perspectivas em Ciência da Informação v 12 p 123135 2007 SOUZA Ana Maria Martins de A Mediação Como Princípio Educacional Senac São Paulo 2004 THIOLLENT Michel Metodologia da pesquisaação São Paulo Cortez 2011 TODOROV Tzvetan 1939 A literatura em perigo tradução Caio Meira Rio de Janeiro DIFEL 2009 ZILBERMAN Regina Estética da recepção e história da literatura São Paulo Ática 1989