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Economia ·

Economia Industrial

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Nota Este material foi desenvolvido pelo prof Roland Veras Saldanha Jr e representa uma primeira versão de material a ser transformado em livro didático Reservamse os direitos autorais sobre o mesmo mas comentários e sugestões são bem vindas no email rsaldanhaactiomercatoriacombr Cap 3 Concorrência Perfeita e Análise de Bem Estar 2 Introdução Iniciase neste capítulo a discussão das estruturas de mercado que se prestam como referência aos argumentos desenvolvidos na OI De partida é fundamental evitar qualquer expectativa de encontrar firmas ou indústrias reais que se ajustem perfeitamente a qualquer um destes referenciais ideais Na prática devese entender estas estruturas como modelos estilizados e que precisarão ser adaptados ou combinados caso a caso para refletir adequadamente a situação analisada O uso destes referenciais teóricos entretanto costuma trazer importantes esclarecimentos na análise de problemas concretos e específicos o que justifica a insistência em seu estudo São instrumentos singelos é verdade mas sua utilização não implicará em raciocínios simplistas ou inúteis desde que se tenha bom domínio sobre suas funções e limitações Na Economia Industrial os bons resultados dependerão da maestria no uso de ferramentas como estas em esforço similar ao que se precisa fazer para apertar parafusos de tamanhos e formatos muito diferentes com poucas opções de chaves de fenda Neste capítulo ocupase da análise da concorrência perfeita provavelmente a mais abstrata e rara dentre as quatro estruturas de mercado a serem discutidas nesta parte do livro Associase esta estrutura de mercado ao pólo em que os agentes econômicos envolvidos dispõem de pouco ou nenhum poder de interferir nos resultados de mercado No pólo oposto ao da concorrência perfeita encontramse os monopólios e monopsônios a serem discutidos no Capítulo 4 3 nos quais se costuma esperar agentes com capacidade efetiva para alterar os preços ou quantidades observadas no ambiente em que atuam A lógica econômica de operação em monopólios merecerá atenção também por oportunidade da análise das políticas de regulação cuja discussão se realiza na última parte deste livro As situações de mercado mais frequentemente encontradas na realidade empírica entretanto costumam guardar mais proximidade com as estruturas dos oligopólios e da concorrência monopolística Tais estruturas serão avaliadas nos capítulos 6 e 7 respectivamente reservandose o capítulo 5 para uma apresentação sucinta de elementos básicos da Teoria dos Jogos que são importantes tanto para a análise dos problemas estratégicos entre oligopolistas como para a discussão de outras condutas estratégicas a serem tratadas na segunda parte do manual Na avaliação das diferentes estruturas de mercado uma forte superposição aos argumentos microeconômicos tradicionais é incontornável Não obstante o enfoque aqui adotado procurará explorar com rigor as hipóteses e o contraponto empírico destes referenciais teóricos tentando mapear os limites dentro dos quais cada uma das estruturas típicas pode servir como base segura para os objetivos da OI O modelo de concorrência perfeita está baseado em diversas características interessantes do ponto de vista didático dele sendo extraídos elementos que facilitarão a comparação com as outras estruturas de mercado no que concerne à eficiência na utilização de recursos e à análise de bem estar Assim após uma apresentação dos pilares lógicos e principais resultados do modelo concorrencial as bases da análise econômica de bem estar sob equilíbrio parcial são discutidas 31 Concorrência Perfeita Caracterização e Hipóteses 4 Se fosse necessário definir a concorrência perfeita através de um único atributo teórico a escolha mais adequada certamente recairia sobre a falta de poder dos agentes neste ambiente competitivo para alterar os resultados de mercado De fato em mercados perfeitamente competitivos esperase que todos os ofertantes e demandantes sejam tomadores de preços price takers de forma que nenhum deles se sinta capaz sozinho ou em combinação com outros de alterar os preços determinados nos mercados A maior parte dos consumidores já passou pela experiência de ser um tomador de preços bastando lembrar da última vez em que foi a um grande supermercado ou magazine para fazer suas compras Naquela oportunidade a sensação de impotência para negociar ou reduzir os preços das mercadorias se traduziu na simplicidade das escolhas que o consumidor precisou fazer quanto adquirir de cada um dos itens em sua lista de compras Os preços estavam ali prédefinidos nas etiquetas e nada lícito que o demandante fizesse poderia alterálos Feliz ou infelizmente esta estória muda bastante quando se observa que na grande maioria das situações práticas encontramse agentes ofertantes ou demandantes dotados de capacidade de alterar as soluções de mercado Os casos práticos de concorrência perfeita se existem são extremamente raros Não obstante ainda que exista sempre que o poder para interferir nas soluções de mercado for baixo o modelo de concorrência perfeita será útil na tentativa de destrinchar logicamente a situação envolvida Junto à hipótese de preços dados uma segunda suposição importante para a caracterização de um ambiente perfeitamente competitivo está na ausência de barreiras à entrada e saída do mercado No capítulo sobre monopólios uma seção será dedicada exclusivamente à análise da contestabilidade dos mercados mas intuitivamente esta segunda hipótese aponta para as dificuldades em se beneficiar com lucros econômicos positivos por muito tempo se não houver obstáculos significativos à entrada de outros agentes no mercado Se inexistirem barreiras importantes ao ingresso em determinado mercado qualquer tentativa de abusar do poder de mercado alterando preços ou quantidades em proveito próprio tenderá a ser dissipada pelo ingresso de novos ofertantes ou 5 demandantes Uma alta contestabilidade dos mercados aparece logicamente como fator que reforça a impotência dos agentes em ambientes concorrenciais na manipulação dos resultados da livre operação dos mercados No arcabouço ideal da Microeconomia a hipótese de ausência de problemas informacionais ou da informação perfeita é sempre utilizada Neste contexto por informação perfeita é de se entender que todos os agentes participantes do mercado conhecem os preços e a qualidade dos produtos ali transacionados A suposição de informação perfeita tem bases tão frágeis quanto a proposição de que os seres humanos são oniscientes mas para muitas aplicações teóricas as vantagens de se abstrair dos problemas de incerteza trazem uma relação benefíciocusto bastante favorável Não se pode esquecer que os modelos teóricos sempre representam simplificações da realidade para a qual apontam Fosse necessária a total identificação dos modelos e hipóteses teóricas com o mundo real para a aceitação destas explicações o único modelo aceitável seria a própria realidade que se pretende explicar num óbvio contra senso O uso de suposições como a da informação perfeita certamente impede que muitos aspectos interessantes sejam considerados mas estas simplificações serão justificáveis e úteis caso o fenômeno analisado não dependa intrinsecamente daquilo que se abstraiu assim como ocorre no modelo de concorrência perfeita A quarta hipótese usual nas apresentações do modelo competitivo é a da ausência de externalidades Como o próprio nome indica as externalidades estão associadas a alguma forma de efeito externo neste caso externo às escolhas dos agentes econômicos Externalidades são os efeitos das ações de um agente econômico sobre os demais podendo ser positivas ou negativas Ocorre uma externalidade positiva por exemplo quando a escolha de um agente em criar abelhas que se justifica com o objetivo individual de produzir mel e outros produtos apícolas acaba por beneficiar o vizinho que cultiva laranjas A polinização mais efetiva nos laranjais tende a fazer com que a atividade do citricultor apresente maior produtividade ou menores custos em função das ações de outro agente A existência de externalidades positivas ou negativas tem 6 implicações sobre a eficiência na utilização dos recursos e gera impactos sobre a análise de bem estar Para evitar estas complicações a suposição de ausência de externalidades aparece com freqüência nas apresentações preliminares do modelo competitivo Ainda neste capítulo depois de discutidas as relações entre concorrência perfeita eficiência no uso dos recursos e bemestar o problema das externalidades será formalmente retomado Para fazer um contraponto a outras estruturas de mercado típicas é interessante destacar uma suposição relativa à qualidade dos produtos transacionados em ambientes perfeitamente competitivos Por hipótese os produtos ofertados pelas diferentes firmas nos mercados competitivos serão considerados homogêneos vale dizer perfeitamente substituíveis entre si Colocadas à disposição dos consumidores quantidades iguais de produtos produzidos pelos diferentes ofertantes pela hipótese de homogeneidade estes se mostrarão indiferentes em relação à origem dos produtos Outra suposição bastante comum em modelos de concorrência perfeita é a da divisibilidade dos produtos ofertados Pela hipótese de divisibilidade entendese que os produtos podem ser comercializados em quaisquer quantidades inteiros ou fracionados Tratase de uma suposição que elimina algumas dificuldades analíticas que se poderia encontrar em mercados nos quais são comuns vendas discretas como no comércio de pianos Quem compraria 15 pianos Uma outra forma de contornar esta dificuldade e que dispensaria a referida hipótese seria trabalhar com transações que ocorrem por intervalo de tempo já que não há nada de estranho com vendas de 15 pianosdia Como uma nota final e fazendo uma oportuna ligação com o final do capítulo anterior é interessante perceber que se pelo menos duas das hipóteses mais sensíveis apresentadas acima seriam desnecessárias caso se adotasse explicitamente a suposição de ausência de custos de transação De fato a hipótese de ausência de custos de transação é implicitamente usada na maior parte das apresentações tradicionais do modelo de concorrência perfeita embora não se costume enfatizála em função das dificuldades lógicas do modelo concorrencial que ela expõe como a indeterminação do tamanho e a 7 própria necessidade da existência das firmas De qualquer maneira a suposição de que os mercados possam ser usados sem quaisquer custos de transação eliminaria a necessidade da hipótese de informação perfeita já que a aquisição de informações é um dos custos mais importantes para a utilização dos mercados assim como seria desnecessária a hipótese de ausência de externalidades pois seguindo o argumento de Coase 1960 na ausência de custos de transação todas as externalidades seriam automaticamente internalizadas nos mercados Um quadro resumo das hipóteses subjacentes ao modelo de concorrência perfeita é apresentado abaixo Eventualmente o leitor sinta a falta de uma previsão a respeito do número de ofertantes e demandantes envolvidos no mercado já que faz parte do imaginário econômico a idéia de que para que haja concorrência perfeita seja necessária uma grande quantidade de agentes pequenos atomizados Tratase entretanto de hipótese desnecessária tecnicamente e sem fundamento lógico Ainda que o aumento na quantidade de agentes envolvidos pelo lado da oferta ou da demanda tenda a reduzir o poder para que se interfira nos preços esta preocupação é desnecessária quando já se supôs que nenhum agente é capaz de interferir nos resultados de mercado Adicionalmente mesmo que um mercado seja caracterizado pela existência de poucos e grandes ofertantes ou demandantes a estrutura de concorrência perfeita pode ser adequada para explicar seus comportamentos quando as barreiras à entrada e saída forem suficientemente baixas Modelo de Concorrência Perfeita Quadro Resumo das Hipóteses Básicas Hipóteses 1 Comportamento price taker 2 Ausência de Barreiras à Entrada e Saída 3a Informação Perfeita 3 Ausência de Custos de Transação 3b Ausência de externalidades 4 Produtos Homogêneos 5 Produtos Divisíveis 311 Concorréncia Perfeita Esta apresentagao do modelo de concorréncia perfeita enfatizara as decisdes de oferta das firmas sem tecer maiores consideragdes sobre o lado da demanda Entendese entretanto que as firmas serao tomadoras de precos tanto quanto ofertantes de produtos quanto como demandantes de insumos e fatores de produgao Neste contexto serao analisadas as decisdes de oferta para firmas uniproduto no curto e no longo prazo embora os resultados apresentados sejam imediatamente extensiveis ao caso de firmas multiproduto No intuito de simplificar ao maximo a apresentagao desconsideramse os problemas de conflitos de interesses entre agentes e principais discutidos no capitulo anterior o que corresponde a imaginar que os responsaveis pelas decisdes na firma escolham e ajam como se fossem seus proprietarios De forma rigorosa o proprietario de uma firma deve estar preocupado com a maximizagao do valor presente dos fluxos econémicos nela gerados Isto significa que a totalidade dos fluxos atuais e futuros necessarios ou decorrentes da atividade empresarial precisaria ser levada em conta por ocasiao das decis6es de produgao realizadas Representando por Rq as receitas totais esperadas para O periodo t por C4 0s custos econémicos realizados em t para a obtengao de tais receitas e tomando uma taxa de juros constante e igual ar por periodo o problema da firma seria o de escolher as quantidades a produzir em cada periodo que maximizassem o valor presente da firma VP dado pela expressao 31 31 VPRqyCyqy IAG RG Gla Re Gr Gi 4 lr 1r 1r 8 9 Formalmente dada uma taxa de juros r o problema de escolha seria o da maximização do VP com a escolha das quantidades 1 2 T q q q 32 0 1 0 max 1 T T t t t t t q q q t R q C q VP r O programa de otimização esboçado em 32 pode e costuma ficar bastante complexo à medida que nele se introduzem os fluxos associados a investimentos depreciação e ganhos ou perdas esperadas de capital Não obstante as dificuldades adicionais que esta metodologia traz é com base em raciocínios similares a este que costumam ser calculados os valores das empresas na realidade especialmente quando se pretende estimar seu preço para aquisição ou venda Deixando claro que o objetivo da firma é a maximização de seu valor presente no argumento a seguir empregase uma metodologia bastante mais singela reduzindo os problemas de escolha a apenas um período Via de regra esta última simplificação aparecerá como uma aproximação empiricamente razoável e adequada do ponto de vista didático para explicar as escolhas de produção das firmas Na prática entretanto haverá inúmeras situações em que esta suposição de comportamento de maximização dos lucros será inadequada merecendo aperfeiçoamentos conforme o caso A Decisão de Oferta no CurtoPrazo Fixado o objetivo da firma na maximização dos lucros do período a lógica proposta para explicar a decisão de produção no curtoprazo passa a ser trivial Imaginase que no curtoprazo a única variável de escolha para a firma é a quantidade a ser produzida q Escolhendo a quantidade a ser produzida a firma tanto determina a sua receita total RTq como os seus custos totais de produção 10 no período CTq Subtraindose das receitas totais os custos de produção encontrase o lucro da firma no período q RT q CT q π Admitese que existe alguma quantidade q para a qual o lucro seja máximo Para evitar desdobramentos formais supõese ainda que esta quantidade seja única vale dizer que o máximo seja global Desta maneira podese perceber no gráfico 31 que o lucro máximo ocorre quando a inclinação de uma reta tangente à função lucro tenha inclinação nula ou seja quando 0 d q dq π Gráfico 31 Para qualquer quantidade diferente de q como mostra gráfico o lucro poderia ser aumentado pela alteração na quantidade produzida Tome por exemplo o ponto q0 em que a reta tangente à função lucro tem inclinação positiva Se uma firma estiver produzindo a quantidade q0 será possível aumentar o lucro aumentando a quantidade produzida de forma que em q0 o lucro não é máximo De forma análoga em q1 existe a possibilidade de elevar o lucro reduzindo a quantidade produzida algo que acontecerá sempre que a inclinação da função lucro no ponto considerado for negativa No raciocínio marginalista o que se faz é checar para cada quantidade de produção factível o que aconteceria com o lucro em decorrência de uma pequena variação na quantidade produzida Esta informação é encontrada pela q π 0q q 1q 11 quantificação da mudança observada dos lucros quando são realizadas pequenas alterações positiva ou negativas nas quantidades produzidas Geometricamente a variação marginal nos lucros corresponde à inclinação da reta que tangencia a função lucro no ponto considerado De forma intuitiva uma outra linha de argumentação poderia ser apresentada comparando as variações nas receitas totais e nos custos totais à medida que se altera marginalmente a quantidade de produção Denominando por receitas marginais RMg estas mudanças nas receitas e lembrando da definição de custos marginais CMg apenas três situações poderiam ser observadas dRT q dCT q RMg CMg dq dq Se as receitas marginais forem maiores que os custos marginais quando se produz determinada quantidade como ocorre em q0 no gráfico 31 os lucros poderiam ser ampliados com o aumento na quantidade produzida Na situação contrária quando os custos marginais forem maiores do que as receitas marginais vide q1 no gráfico seria possível aumentar os lucros reduzindo a produção Apenas quando a produção de uma quantidade maior gerar receitas e custos adicionais iguais o lucro será máximo Somente nesta última situação alterar a quantidade produzida não traz qualquer vantagem para a firma e o lucro será máximo como ilustra o ponto q Algebricamente o programa de otimização sob análise aparece em 33 33 max q q RT q CT q π A solução para este problema ocorre pela escolha da quantidade produzida compatível com 0 d q dq π Derivando 33 em relação a q e forçando a condição de lucro máximo obtémse 12 0 d q dRT q dCT q dq dq dq π ou rearranjado os termos 34 RMg q CMg q A expressão 34 estabelece a condição para a maximização dos lucros de forma bastante geral De fato a mesma condição 34 será usada para explicar a decisão de oferta dos monopolistas dos oligopolistas e das firmas em concorrência monopolística já que a maximização dos lucros permanecerá como objetivo a ser perseguido independentemente da estrutura de mercado considerada As soluções específicas encontradas pela aplicação da regra geral em 34 tenderão a mostrar diferenças conforme as firmas detenham ou não poder para afetar os preços e quantidades de mercado bem como em função das barreiras à entrada e saída observadas nas distintas situações No caso de firmas que atuam em ambiente perfeitamente competitivo a condição expressa pela igualdade entre receita marginal e custo marginal pode ser simplificada caso se relembre o fato de que nesta estrutura de mercado os agentes são tomadores de preços Sendo os preços determinados no mercado independentemente das escolhas de qualquer firma individual percebese que para a firma as receitas marginais são prédeterminadas e iguais ao preço vigente no mercado RMg p Imagine a título de ilustração que o produto da firma tenha um preço unitário de mercado 1 p 10 e que ela esteja ofertando a este preço 1 q 8000 unidades por mês Com estes valores suas receitas totais seriam iguais a 1 1 1 10 8000 80000 RT q p q mês Considere agora que a firma aumente sua produção em 1 passando a ofertar 8080 unidadesmês com receitas de vendas iguais a 80800 Notase que as receitas totais variaram em 80800 80000 800 RT em decorrência de uma mudança de 8000 8080 80 q unidades na quantidade produzida Tomando a razão 13 1 800 10 80 RT p q percebese que a variação nas receitas totais será igual ao preço de mercado Esta relação será sempre a mesma desde que o preço de mercado não mude qualquer seja a mudança na quantidade ofertada de forma que para a concorrência perfeita a condição básica para a maximização do lucro apresentada em 34 pode ser reescrita da seguinte forma 35 p CMg q Numa primeira abordagem portanto percebese que para maximizar seus lucros uma firma sob concorrência perfeita precisa ofertar as quantidades que façam com que os seus custos marginais de produção sejam iguais aos preços de mercado Para se obter uma relação mais segura e geral entretanto será necessário avaliar a relação entre os preços de mercado os custos totais médios e os custos variáveis médios de produção da firma No raciocínio usado para a obtenção de 35 os custos inevitáveis são desconsiderados já que por definição aumentar ou reduzir a quantidade produzida não traz qualquer mudança sobre custos fixos Este será um problema importante pois quando os preços de mercado forem menores do que os custos totais médios de produção o uso mecânico da regra posta em 35 poderá gerar soluções em que a firma terá lucros econômicos negativos prejuízos Enquanto os preços de mercado forem superiores aos custos variáveis médios de produção pode ser conveniente à firma suportar prejuízos econômicos temporariamente desde que haja a perspectiva de elevação dos preços ou da redução dos custos no futuro Caso os preços de mercado sejam menores do que os custos variáveis médios de produção a melhor decisão seria o fechamento da firma que deixaria de produzir de forma a minimizar seus prejuízos No lado esquerdo da Figura 31 encontramse esboçadas as curvas de custos no curtoprazo para uma firma individual i que ajudam a esclarecer estas questões Para simplificar a apresentação supôsse que todos os custos fixos são inevitáveis de forma que a curva de custos variáveis médios CVMe pode ser 14 identificada à curva dos custos evitáveis médios Para este raciocínio é crucial saber encontrar no gráfico o lucro econômico da firma para as diferentes quantidades produzidas Suponha que o preço de mercado seja igual a p1 de forma que a maximização dos lucros indique como ótima a produção de iqCP unidades por período Neste nível de produção as receitas totais são dadas por 1 p qiCP o que corresponde à área do retângulo que se inicia na origem com altura 1p e tem base igual a iqCP Os custos totais para se produzir a quantidade iqCP também podem ser medidos pela área de um retângulo cuja altura é dada pelos CTMe para a produção deste montante de produtos e a base é novamente igual a iqCP lembrese que CTMe q CT Ora ao preço p1 constatase que a firma obtém um lucro econômico positivo no curto prazo dado pela diferença entre as receitas e custos totais conforme mostra a área hachurada no gráfico Quando o preço for igual a p0 na Figura 31 a quantidade produzida compatível com o lucro máximo será dada por iqLP e como se constata com facilidade a firma estará recebendo por unidade exatamente o seu custo total médio de produção ou seja perceberá um lucro econômico nulo Esta situação aparentemente desoladora é na verdade aquela que se espera prevalecer no equilíbrio de longo prazo em ambientes perfeitamente concorrenciais Longe de ser um mau resultado um lucro econômico igual a zero traduz a idéia de que todos os recursos empregados nas operações da firma estão sendo remunerados da melhor maneira possível tomando por referência as maiores remunerações que eles receberiam caso fossem alocados fora da firma Tema já discutido no Capítulo 2 o cálculo dos lucros pela dedução dos custos econômicos implica um critério extremamente rigoroso para a avaliação dos resultados obtidos pela firma sendo anormais ou extraordinários os lucros econômicos positivos e normais os lucros econômicos nulos Os dois preços críticos a serem considerados no gráfico são desta forma p0 e pE pois a preços menores do que p0 a firma passará a ter lucros econômicos 15 negativos e abaixo de pE deixar de produzir será uma alternativa mais interessante do que produzir qualquer quantidade positiva A situação em que o preço é igual aos custos variáveis médios mínimos estabelece o ponto de entrada da firma no mercado A curva de custos marginais cruza a curva de custos variáveis médios exatamente no ponto em que estes são mínimos de forma que produzir quantidades positivas a preços menores do que pE seria um contrasenso já que os prejuízos percebidos pela firma diminuiriam se ela simplesmente cessasse a produção O preço de entrada pE desta forma também é conhecido como preço de fechamento e a curva de oferta da firma no curtoprazo é definida pela regra 36 p CMg q se E p p com q 0 se E p p Figura 31 Ainda que o preço de mercado seja maior do que pE a firma permanecerá tendo prejuízo econômico enquanto o preço que recebe por unidade vendida for menor do que os custos totais médios de produção O custo total médio mínimo é encontrado no cruzamento das curvas de custo marginal e custo total médio o p p q Q iqE nqiE LP iq CMg CTMe CVMe S CP Q p1 p0 pE Firma Mercado 0 πCP CP iq iCP nq D Q 16 que na Figura 31 ocorre quando a produção é igual a iqLP Podese indagar por que uma firma estaria disposta a produzir a preços inferiores a p0 já que estaria sofrendo prejuízos econômicos De fato esta opção seria ilógica se os preços fossem permanecer inferiores aos custos médios por muito tempo mas em se tratando de uma situação transitória ou caso a firma espere conseguir reduzir seus custos de produção no futuro seria razoável manter a firma aberta e produzindo quantidades positivas no curtoprazo É por este motivo que na caracterização da curva de oferta de curtoprazo para a firma individual a regra p CMg q é admissível para preços menores do que os custos totais médios desde que os custos variáveis médios estejam sendo cobertos No longoprazo como se verá mais adiante esta peculiaridade deixa de ser importante já que neste horizonte de planejamento mais dilatado todos os custos são variáveis e desta forma o ponto de entrada e o de custo total médio mínimo coincidem Do lado direito do Figura 31 encontramse as curvas de oferta e demanda de mercado para o produto comercializado pela firma i A curva de oferta de mercado S QCP inclui as quantidades ofertadas pela totalidade das firmas aos diferentes preços Supôsse na construção desta curva de oferta de curto prazo a existência de n firmas com estruturas de custos idênticas à da firma i Neste caso fica fácil entender por que abaixo de pE a oferta de mercado é nula havendo uma quantidade ofertada igual a iE nq assim que ao preço pE as n firmas entram no mercado Observase ainda que para a curva de demanda QD o equilíbrio de mercado indicado no gráfico está determinando preços iguais a p0 o que implica que cada uma das n firmas esteja auferindo um lucro econômico positivo A situação de firmas em concorrência perfeita percebendo lucros extraordinários contradiz outra imagem do imaginário econômico pela qual apenas lucros econômicos nulos ou normais seriam factíveis nesta estrutura de mercado No curtoprazo não há nada de anormal com firmas perfeitamente competitivas ganhando lucros econômicos positivos O que não se pode esperar é que na ausência de barreiras à entrada e saída estes lucros extraordinários continuem a ser observados por muito tempo 17 A Mão Invisível em Ação Equilíbrios de Curtoprazo e de LongoPrazo O processo pelo qual os lucros econômicos positivos ou negativos em concorrência perfeita são dissipados leva a um quadro distinto do que se estava analisando conforme exibido na Figura 32 Do lado direito desta figura encontramse as curvas de oferta e demanda de mercado para o longo prazo chamando a atenção o fato de a oferta no longo prazo ser perfeitamente horizontal no nível de preços p0 Por trás deste formato da curva de oferta de longo prazo há duas pressuposições que merecem explicitação i o fato de p0 ser igual aos custos totais médios de produção e ii a ausência de economias ou deseconomias de escala Efetivamente só haverá equilíbrio de longo prazo em mercados perfeitamente concorrenciais quando os lucros percebidos pelas empresas que nele atuam também denominadas firmas incumbentes forem iguais a zero Enquanto houver lucros econômicos positivos a entrada de novas firmas permanecerá ocorrendo e se as incumbentes estiverem tendo prejuízos elas sairão do mercado de forma que o preço de entrada ou de fechamento no longo prazo será igual ao custo médio mínimo como se pode observar do lado esquerdo da Figura 32 Como se está supondo que todas as firmas neste mercado têm estruturas de custo idênticas a ausência de economias ou deseconomias de escala impõe uma escala de produção eficiente com a produção de iqLP unidades por firma A quantidade total ofertada no mercado será então igual ao número de firmas que ali ficarão produzindo nLP multiplicado por iqLP De forma mais geral seria interessante considerar a possibilidade de ocorrência de economias ou deseconomias de escala externas às firmas eventualmente por razão da presença de algum insumo com disponibilidade fixa cuja intensificação no uso ou aumento da demanda causasse alterações nos preços dos inputs Neste caso a 18 curva de oferta de longo prazo poderia ter inclinação positiva deseconomias externas ou negativa economias externas mas o fim processo de entrada ou saída de novas firmas permaneceria determinado pela ausência de oportunidades de obtenção de lucros econômicos anormais Figura 32 Na Figura 33 ilustrase uma curva de oferta perfeitamente competitiva de longo prazo com inclinação positiva Conforme desenhada a curva foi obtida pela diferenciação dos ofertantes em dois grupos os do tipo I e os do tipo II A existência de algum fator de produção fixo como por exemplo terras de alta fertilidade permite aos ofertantes do tipo I produzir a custos médios relativamente menores do que os produtores do tipo II que utilizam terras menos férteis Por simplicidade supôsse que as curvas de custos marginais para os dois tipos de produtores fossem iguais Assim ao preço p1 somente ofertantes do tipo I estariam no mercado ofertando em conjunto a quantidade n1q1 Estes produtores permanecerão sozinhos no mercado até que os preços se elevem a p2 quando passará a ser factível a entrada dos ofertantes do tipo II A este preço maior a p p q Q iqCP LP iq CMg CTMe CVMe S QLP LP LP n qi p0 Firma Mercado 19 oferta conjunta será igual a 1 2 2 n n q e ninguém mais desejará entrar no mercado já que as terras mais férteis estão todas ocupadas e os lucros econômicos dos produtores que ocupam terras menos férteis é igual a zero Aos preços p1 entretanto observase que os produtores do tipo I estarão recebendo por unidade vendida valores substancialmente maiores do que os seus custos médios de produção Como poderiam produtores competitivos auferir lucros econômicos positivos no longo prazo Figura 33 Não podem e os produtores do tipo I na Figura 33 não estão obtendo lucros anormais Reaparece aqui a importância do uso da noção econômica de custos ou dos custos de oportunidade De fato observase que os produtores do tipo I ingressam primeiro no mercado porque têm custos médios menores do que os produtores do tipo II Mas quando estão produzindo a quantidade q2 estes produtores conseguiriam alugar ou arrendar suas terras férteis a outros produtores por um valor máximo igual a estas receitas adicionais anormais que recebem por p p q Q CMg CMe1 S QLP 1 2 2 n n q p2 p1 Firma Mercado CMe2 1 1 n q 1 2 n q Renda Econômica 1q 2 q 20 usarem terras mais férteis exibido pela área em destaque no gráfico da esquerda Este valor não é um lucro econômico derivado da produção mas uma renda que cabe àqueles que são proprietários dos recursos limitados como são as terras de alta fertilidade Reiterase assim que no longo prazo as firmas em um mercado perfeitamente competitivo percebem lucros econômicos nulos ou normais Situações como a ilustrada na Figura 33 para os produtores do tipo I não aparecem como exceções desde que a noção econômica de custos seja usada A Curva de Demanda Residual No início do capítulo colocouse como suposição central no modelo de concorrência perfeita o fato dos agentes serem tomadores de preços Esta hipótese foi usada para encontrar a oferta ótima das firmas e traduz bem o espírito do modelo concorrencial mas mesmo dentro de uma estrutura de mercado teórica e ideal ela não é rigorosamente verdadeira Podese mostrar que até uma firma competitiva se defronta com uma curva de demanda negativamente inclinada e portanto tem alguma capacidade para alterar os preços de mercado Ocorre que este poder em mercados competitivos é bastante pequeno de forma que a idéia de que os preços seja dados ou de que demanda individual seja horizontal para firmas perfeitamente concorrenciais permanece sendo uma boa aproximação Dois conceitos serão discutidos para que se consiga esclarecer estes pontos o de elasticidade e o de curva de demanda residual As elasticidades são usadas em Economia como indicadores de sensibilidade Elas medem a variação percentual no valor de uma variável trazida por mudanças percentuais em outra A priori é possível encontrar a elasticidade para qualquer par de variáveis quantitativas mesmo que não sejam econômicas Por exemplo a elasticidade horas de estudo da nota obtida no curso de OI mediria a sensibilidade da variável nota a mudanças na quantidade de tempo de estudo dedicado à matéria Na prática estas notas podem estar 21 numa escala de 0 a 10 mas há professores que usam critérios diferentes como avaliações de 0 a 5 ou de 0 a 100 Da mesma forma o tempo de estudo pode ser medido em dias horas ou minutos e para cada opção de unidades de medida se obteria uma medida de sensibilidade diferente É por isto que no cálculo das elasticidades preferese trabalhar com variações percentuais nos valores das variáveis envolvidas O uso de mudanças em percentagem elimina problemas com as unidades de mensuração permitindo comparações mais abrangentes e de fácil interpretação A fórmula para a elasticidade tempo de estudo t da nota g poderia ser expressa da seguinte forma t g g g t g t t g t Ε Como fica evidente da fórmula acima o valor da elasticidade depende não apenas das mudanças absolutas das variáveis envolvidas t e g mas também dos valores com relação aos quais se calculam as variações percentuais t e g O tempo de estudo e a nota a serem substituídos por t e g no cálculo de Ε t g são os anteriores à mudança ou aqueles observados depois que o tempo de estudo foi alterado Este problema será importante sempre que se estiver calculando as elasticidades com base em mudanças discretas grandes já que nestes casos os valores iniciais e finais das variáveis envolvidas podem ser muito diferentes Elasticidades calculadas usando mudanças discretas nas variáveis são denominadas elasticidades no arco e neste caso não há uma regra única para a escolha dos valores escolhidos para aferir a variação percentual podendo ser os iniciais os finais ou eventualmente uma média de ambos Se as variações envolvidas no cálculo das elasticidades forem suficientemente pequenas entretanto esta dificuldade não existe Elasticidades aferidas com base em mudanças marginais são denominadas elasticidades no ponto e como as mudanças tendem a ser pequenas entre a situação inicial e a final os valores 22 iniciais serão adequados para a aferição da elasticidade Para o exemplo das notas e tempo de estudo a elasticidade no ponto seria 0 lim t g t g t dg t t g dt g ε Uma aplicação do conceito mais próxima aos usos práticos na OI seria o cálculo da elasticidade preço da quantidade demandada de um produto aqui apresentada na forma marginal elasticidade no ponto O que esta elasticidade quantifica é a sensibilidade da quantidade demandada em determinado mercado derivada de alterações no preço do produto sempre em termos percentuais Como em resposta a uma elevação redução de preços esperase que a quantidade demandada de determinado produto em um mercado se reduza eleve o sinal desta elasticidade é sempre negativo Se uma alteração dos preços de 1 causar uma mudança em sentido oposto da quantidade demandada de 2 o valor da elasticidade preço da demanda será igual a 2 2 1 ε p QD Os valores de ε p QD estão compreendidos em um intervalo entre e 0 de maneira que a fórmula da elasticidade preço da demanda seria 37 D D D p Q Q p p Q ε com 0 ε p QD Em termos absolutos as elasticidades preço da demanda tendem a ser maiores quanto mais substitutos houver para o produto em consideração já que o primeiro caminho usado pelos demandantes para se proteger de uma elevação nos preços de um produto é a substituição por outros produtos cujos preços não tenham se elevado É por este motivo que se costuma usar o exemplo do sal de cozinha para ilustrar o caso de um bem com demanda preço inelástica pois diante de uma elevação no preço do sal os consumidores encontram poucas alternativas 23 de substituição reduzindo pouco a quantidade demandada1 Pelo mesma razão têmse como regra geral que à medida que o tempo passa mais fácil é para os demandantes encontrar substitutos para os produtos que tradicionalmente adquirem pelo que as elasticidades preço costumam ser maiores em valor absoluto no longo prazo do que no curto prazo Qualquer regra geral relativa às elasticidades deve ser percebida com cautela O objetivo de se usar estas medidas de sensibilidade não é o de explicar a realidade dos mercados mas apenas organizar ou resumir informações econômicas de forma simples e objetiva Neste sentido é interessante notar que para os bens duráveis como uma geladeira ou um automóvel por exemplo o comportamento das elasticidades preço no curto e no longo prazo é exatamente o oposto do preconizado pela regra geral acima No curto prazo uma elevação no preço da geladeira induz o demandante substituir o refrigerador novo por aquele que já possui ou seja a prolongar a vida da geladeira usada Este comportamento que eleva a elasticidade preço da demanda por geladeiras no curtoprazo entretanto não pode ser mantido indefinidamente já que a depreciação da geladeira velha forçará no longo prazo à aquisição de uma nova mesmo a preços mais elevados Assim as elasticidades preço da demanda por bens duráveis tendem a ser maiores no curto prazo do que são no longo prazo Outro aspecto interessante com relação à elasticidade preço da demanda é que um mesmo produto pode e costuma exibir valores diferentes para este indicador à medida que os preços e quantidades variam No gráfico 32 exibese uma curva de demanda de mercado linear aqui representada por QD a bp É imediato perceber que qualquer variação em p leva a uma mudança na quantidade demandada QD igual a b p Desta maneira observase que dQD b dp uma constante negativa que pode ser substituída em 37 obtendose 1 As elasticidades preço da demanda também tendem a ser maiores em valores absolutos quando os dispêndios com os produtos a que se refere representarem uma proporção significativa dos gastos do demandante O sal também é um bom exemplo desta regularidade já que além de ter poucos substitutos usualmente não representa uma fração importante dos dispêndios dos consumidores 24 38 D D p Q p b Q ε Na mesma curva de demanda para um produto encontramse elasticidades preço da demanda distintas a depender do ponto em que elas são calculadas Um primeiro ponto interessante nesta curva é aquele para o qual a elasticidadepreço é unitária 1 D D p Q p b Q ε que pode ser localizado nesta curva de demanda linear ao preço QD p b e à quantidade QD bp No ponto de elasticidade unitária uma elevação de 1 no preço do produto faz com que a quantidade demandada caia em exatos 1 Notese que para preços superiores a QD p b a elasticidade preço da demanda assumirá valores entre 1 ε pQD e a preços inferiores aos da elasticidade unitária 0 1 ε pQD Gráfico 32 Não deve causar estranhamento o fato da elasticidade preço da demanda aumentar em valores absolutos quando o preço do bem sobe Isto ocorre porque QD a bp p 0 1 ε pQD 1 ε pQD 1 ε pQD 1 b α QD b bp 25 os preços mais altos funcionam como incentivos para que os demandantes encontrem substitutos e pelo fato da redução no poder de compra dos demandantes trazida pela elevação dos preços normalmente force uma redução nas quantidades demandadas A apresentação da noção de curva de demanda residual propicia um interessante uso do conceito de elasticidade Imagine que existam n firmas em determinado mercado no qual se comercializa um produto perfeitamente homogêneo Por simplicidade supõese que todas elas têm estruturas de custos exatamente iguais e procurase encontrar a curva de demanda exclusiva de uma destas firmas digamos a firma i O raciocínio é ilustrado no gráfico 33 em que se superpõem a curva de oferta de mercado das outras n1 firmas e a curva de demanda de mercado Sem a oferta da firma i o preço que equilibraria este mercado seria p1 A este preço a demanda residual da firma i seria igual a 0 conforme se observa no gráfico da direita Para preços inferiores a p1 entretanto observase que as quantidades demandadas no mercado são maiores do que a oferta das outras firmas e as diferentes combinações entre preços e excesso de demanda de mercado abaixo de p1 constituem a curva de demanda residual da firma i Gráfico 33 A fórmula para calcular a demanda residual da firma i é apresentada a seguir p p S o Q D Q R iq P1 P0 0 QD p 0 0 0 R D S i o q p Q p Q p 0 S Qo p 39 9pOpQp para OpQp gip0 para O p Q pv Derivandose 39 em relagao a p e multiplicandose ambos os lados por Pe qi chegase a uma expressao para a elasticidade prego da demanda individual da firma i oe 44 p dO pdQ p dpq dp q ap q Os dois termos do lado direito da expressao acima podem ser transformados em elasticidades bastando para tanto multiplicar e dividir o primeiro por 0 e o segundo por Q oe 22 O pdQ p dO p QO dQ p Q dp Oq dp Qq dp OP 4g apg S Representando a elasticidade preo da demanda de mercado por a D elasticidade preco da oferta das outras firmas por e notando que Gen e qj O que n1 chegase a uma expressao mais sintética e de facil interpretagao qi 310 e eneé n1 Por 310 percebese que a elasticidade preo da demanda individual da firma i depende i da elasticidade prego da demanda de mercado ii do numero de firmas incumbentes n e da elasticidade prego da oferta das outras firmas 26 27 Fazendo a suposição extremamente conservadora2 de que a oferta das outras firmas seja totalmente preço inelástica 0 S εo algumas simulações apresentadas na Tabela 31 revelam que mesmo para produtos com baixa elasticidade preço da demanda digamos 2 ε a elasticidade preço da demanda residual para um firma específica assume valores bastante altos ainda que o número de firmas seja pequeno com 16 iε R para n8 e 32 iε R caso hajam 16 firmas Para se ter uma idéia com 16 iε R se a firma elevasse seus preços em 1 perceberia uma redução na quantidade demandada de 16 o que torna esta opção de interferência nos preços pouco atrativa eR i 2 8 16 64 128 512 1 2 8 16 64 128 512 2 4 16 32 128 256 1024 4 8 32 64 256 512 2048 8 16 64 128 512 1024 4096 16 32 128 256 1024 2048 8192 32 64 256 512 2048 4096 16384 64 128 512 1024 4096 8192 32768 Elasticidade Preço da Demanda de Mercado e Número de Firmas n Tabela 31 Eficiência e BemEstar A alusão a mercados perfeitamente competitivos traz imediatamente à mente dos economistas as imagens da maximização do bemestar social e do uso eficiente de recursos Estas associações são pertinentes desde que se conheça com rigor os limites do instrumental teórico disponível na análise econômica de bemestar já que é relativamente fácil cometer equívocos de interpretação nesta 2 Esta suposição de completa inelasticidade preço da oferta indica que elevações no preço do produto não trazem qualquer alteração na quantidade ofertada pelas outras firmas o que dificilmente ocorre na prática continuação da nota de rodapé 28 área em que as vertentes positiva e normativa do pensamento econômico se encontram Quantificar e fazer proposições sobre o bemestar de uma sociedade é mesmo tarefa delicada O primeiro ponto a se notar é que as medidas de bemestar são obtidas a partir de um determinado referencial teórico usado para explicar como são resolvidos os problemas econômicos aquilo que se costuma denominar por Economia Positiva É com base nestas explicações sobre a operação dos mercados e comportamento dos agentes econômicos que se estruturam as proposições de Economia Normativa vale dizer as recomendações técnicas ou de política econômica voltadas à satisfação de determinados objetivos sociais Dizer que os indivíduos responsáveis pelas decisões das firmas escolhem de forma a maximizar o valor presente da empresa ou os lucros do período é propor uma lógica teórica de operação para o sistema econômico uma explicação de natureza positiva voltada a esclarecer quais são os problemas econômicos e como são resolvidos Proposições como estas têm natureza positiva porque seu objetivo é tentar encontrar uma lógica científica para os comportamentos observados na realidade sem a intenção imediata de interferir sobre o fenômeno estudado Algo bastante diverso ocorre quando se propõe ações específicas para alterar ou conformar a realidade que se observa Nos argumentos de natureza normativa há uma pretensão de controle e a fixação de objetivos práticos a serem atingidos o que transforma o cientista isento em um agente que sugere aperfeiçoamentos ou mudanças cuja implementação ele considera adequada Ao se defender um conjunto de objetivos ou ações econômicas em detrimento de outras realizase uma escolha diante de possibilidades alternativas e a isenção científica abre espaço para uma opção valorativa Os problemas e valores envolvidos na análise de bem estar dependerão das situações concretas consideradas Não obstante dispõese de uma metodologia relativamente padronizada e simples para a estruturação lógica de problemas de bem estar relacionados ao funcionamento dos mercados que passa agora a ser Como a elasticidade preço da oferta é positiva num contexto mais realista as estimativas da elasticidade preço da demanda residual para a firma i seriam ainda maiores em termos absolutos 29 discutida Tratase da análise de bem estar sob equilíbrio parcial cujos antecedentes remontam a Dupuit3 18041866 Para este autor a curva de demanda mostraria os preços máximos que os consumidores estariam dispostos a pagar para adquirir as diferentes quantidades de um bem ou serviço Supondo que os preços máximos que os consumidores voluntariamente pagariam para adquirir determinada quantidade de uma mercadoria guardem uma relação direta com o bem estar por ela propiciado Dupuit associou a área compreendida abaixo da curva de demanda à utilidade total que os consumidores atribuem ao consumo ou uso desta mercadoria Alfred Marshall 18421924 aperfeiçoou e disseminou os insights de Dupuit A partir de Marshall os conceitos de excedente dos consumidores e seu análogo o excedente dos produtores popularizamse como medidas de bem estar associadas ao uso de determinado mercado Baseados em curvas de oferta e demanda para mercados específicos estes indicadores de bem estar se enquadram na análise de equilíbrio parcial pois não pretendem avaliar o bem estar da sociedade como um todo mas apenas aquele relacionado aos agentes participantes de determinado mercado Max Corden 1974 associa a análise de equilíbrio parcial ao estudo de uma ou poucas peças de um grande quebra cabeças numa metáfora esclarecedora O fenômeno econômico é único quer se tente analisálo de perto identificando as peças isoladamente quer se escolha estudálo em sua inteireza como um sistema organizado e complexo do quebra cabeças completo Aproximandose de cada peça problemas e situações imperceptíveis para quem está em posição distante contemplando toda a figura passam a ser visíveis Na análise de equilíbrio parcial destacase um ou poucos mercados para estudálos detalhadamente mas este ganho cognitivo tem como contrapartida a perda de informações sobre as relações entre o mercado destacado e o resto do sistema econômico As análises de equilíbrio parcial serão desta forma sempre imperfeitas ou como o próprio nome diz parciais Justificamse entretanto já que a tentativa de estudar todos os mercados 3 Conhecido como um engenheiroeconomista Dupuit foi um francês que ofereceu notáveis contribuições à teoria econômica especialmente no que concerne à relação entre a curva de demanda e a continuação da nota de rodapé 30 simultaneamente uma empreitada típica da análise de equilíbrio geral exige um esforço de abstração e traz uma complexidade analítica que dificulta sobremaneira a obtenção de resultados práticos aplicáveis Por este motivo o nobel Gary Becker 1973 qualifica a análise de equilíbrio parcial como uma análise de equilíbrio geral aplicada A grande vantagem do uso dos conceitos de excedente dos consumidores e dos produtores está exatamente na facilidade do seu uso ou de aplicabilidade A partir de estimativas confiáveis das curvas de oferta e demanda envolvidas é possível extrair um indicador do grau de bem estar associado ao uso do mercado em consideração É preciso sempre ter em mente entretanto que nesta análise desconsideramse ao menos em primeiro contato as relações entre o que ocorre neste mercado e nos demais de forma que a medida de bem estar obtida será parcial e incompleta Ainda numa avaliação preliminar deste instrumental uma outra questão a ser notada decorre de seu caráter estático ou de estática comparativa Os processos e ajustes observados nos mercados podem levar um tempo considerável para se estabilizarem ou seja as mudanças entre posições de equilíbrio não precisam ou costumam ser instantâneas Este fato é importante quando se entende que nas análises de bem estar sob equilíbrio parcial comparamse apenas situações que pressupõem estabilidade ou equilíbrio estático Ora enquanto tais situações de equilíbrio estático não forem efetivamente atingidas os valores dos excedentes dos agentes econômicos estarão se alterando assim como estarão as medidas de bem estar neles baseadas Tratase de um problema de fundo ainda não solucionado pelo corpo teórico da Economia atual e que revela a fragilidade dos conhecimentos disponíveis sobre a dinâmica dos processos econômicos Se ainda não se dispõe de respostas adequadas para estas questões ter consciência dos limites da análise estática empregada é um bom começo para evitar equívocos de avaliação ou a superestimativa do poder deste instrumental utilidade marginal dos consumidores 31 A forma mais intuitiva e direta para apresentar os conceitos de excedente dos consumidores e produtores é gráfica Ao preço 0 p 10 unidades monetárias e à quantidade 0 Q 100 mil unidades por mês o mercado perfeitamente concorrencial representado no Gráfico 34 está em equilíbrio vale dizer a este preço não há nenhum agente insatisfeito com as quantidades que demanda ou oferta desta mercadoria Pela observação da curva de demanda notase entretanto que haveria consumidores dispostos a pagar mais do que 10 por unidade do bem ou serviço Mais precisamente no gráfico analisado o preço máximo que alguém estaria disposto a pagar para ter uma unidade desta mercadoria seria igual a 20 o intercepto da curva de demanda com o eixo em que se medem os preços Como todos os consumidores estão pagando exatamente 10 por unidade adquirida podese dizer que os consumidores neste mercado percebem uma vantagem um ganho definido pela diferença entre o valor máximo que estariam dispostos a pagar e o que realmente pagam À diferença entre o valor máximo que os demandantes em conjunto estariam dispostos a pagar por determinada quantidade de uma mercadoria e o valor que efetivamente pagam denominase excedente dos consumidores EC Supondo que todos os demandantes pagam exatamente o mesmo preço pelos produtos adquiridos o EC pode ser quantificado pela área compreendida abaixo da curva de demanda e acima da linha de preços o que no Gráfico 34 equivale à área do triângulo retângulo com base b 0 Q 100 mil e altura h 20 pMax 0 p 10 10 unidades monetárias Como a área de um triângulo é igual a 2 b h o valor do EC no caso analisado seria de 10010 500 2 milmês Para os produtores entendendo que nas curvas de oferta encontramse os preços mínimos que eles estariam dispostos a receber para ofertar as diferentes quantidades de um produto definese o excedente dos produtores EP como a diferença entre o valor mínimo que os ofertantes em conjunto estariam dispostos a receber por determinada quantidade de uma mercadoria e o 32 valor que efetivamente recebem O triângulo que mede o EP no Gráfico 34 tem base igual a 0 Q 100 mil e uma altura igual a 0 p 10 6 E p 4 pelo que seu valor é igual a 1004 200 2 milmês Gráfico 34 Nesta análise entendese que a soma do EC ao EP é igual ao valor do bem estar dos agentes demandantes e ofertantes que participam deste mercado pelo que a utilidade ou felicidade destes agentes teria um valor igual a ECEP 700 milmês Não cabe aqui a realização de uma prova formal a respeito deste resultado facilmente encontrada em bons manuais de Microeconomia É de se notar entretanto que para tomar o valor dos excedentes como indicador do bem estar dos agentes participantes em determinado mercado assumese que 1 equivale a 1 utilidade ou felicidade para todo e qualquer indivíduo neste mercado Tratase de uma suposição bastante forte já que admitir que 1 a mais de renda representa a mesma utilidade adicional para um indivíduo bastante abastado que para um assalariado de baixa renda é pouco plausível Esta EC EP S Q D Q p Q 0 Q 100 0 p 10 6 E p 20 pMax 33 hipótese de utilidade marginal da renda constante não obstante permanece sendo efetivamente usada quando se calcula o bem estar dos envolvidos em determinado mercado com o auxílio dos conceitos de EC e EP4 Chamase novamente a atenção para o fato de o Gráfico 34 representar um mercado perfeitamente competitivo em que todos os agentes são tomadores de preços e inexistem barreiras à entradasaída Nesta situação admitindo que as curvas de oferta e de demanda ali expostas são representações adequadas dos problemas enfrentados pelos ofertantes e demandantes podese observar que em qualquer combinação factível entre preço e quantidade diferente da que equilibra este mercado o bem estar dos agentes envolvidos será reduzido Posto de outra forma em equilíbrio o mercado competitivo determina uma situação de bem estar máximo já que a soma dos EC e EP será sempre menor do que 700 milmês se os preços ou quantidades forem diferentes daqueles determinados na intersecção das curvas de oferta e demanda 4 É fato que se pode realizar ajustes posteriores para dar mais peso às unidades monetárias de excedente em função do nível de renda de cada agente separadamente mas persistiremos com a hipótese de utilidade marginal da renda constante por ora de forma a evitar complicações didaticamente desnecessárias 34 Gráfico 35 No Gráfico 35 esboçamse os efeitos de uma política de preços mínimos voltada a estimular a produção neste mercado A equipe responsável pela política industrial neste país resolve estabelecer um preço mínimo 1 p 15 para o produto em questão tomando as medidas administrativas necessárias para coibir qualquer tentativa de venda deste produto abaixo do piso fixado Qual o impacto desta medida sobre o bem estar dos indivíduos atuantes neste mercado5 Observase que com os preços mais elevados a quantidade demandada cai para 50 mil de unidadesmês de forma que o novo valor do EC passa a ser a área do triângulo A cuja base mede 1 0 5 p p e altura é igual a 1 50 QD Sendo a 5 Para o leitor interessado as funções oferta e demanda de mercado usadas nos gráficos 34 e 35 têm as seguintes especificações 200 10 150 25 D S Q p Q p E A S Q D Q p Q 0 Q 100 0 p 10 6 E p 20 pMax 1 p 15 C D 1 50 QD 1 225 S Q B 2 p 84 35 área do triângulo A igual a 550 125 2 milmês constatase que o preço mínimo reduziu o EC de 500 para 125 milmês uma perda de bem estar mensal para os demandantes equivalente a 375 mil A perda de excedente sofrida pelos consumidores pode ser percebida graficamente pela soma das áreas do retângulo B e do triângulo C cada qual merecendo justificativa própria O retângulo B tem base 1 50 QD e altura igual a 1 0 5 p p e sua área 250 milmês quantifica a transferência de excedente dos consumidores para os produtores decorrente da política Já o triângulo C com base 0 1 100 50 50 Q Q milmês e altura 1 0 5 p p aparece como uma perda de EC associada à redução no consumo da mercadoria em função da elevação artificial de seu preço Aos preços maiores alguns demandantes preferirão deixar de adquirir a mercadoria substituindoa por outra ou simplesmente poupando seus recursos Esta mudança de escolhas causada pela interferência no livre funcionamento do mercado é denominada perda de eficiência ou perda pesomorto deadweight loss para os consumidores e seu valor aqui é igual a 625 milmês O EP também foi alterado pois os ofertantes passaram a vender uma quantidade menor de unidades por mês em contrapartida recebendo um preço unitário maior Podese calcular o novo valor do EP achando a área do trapézio de área B D cuja base maior B mede 1 15 6 9 E p p com base menor b dada por 1 2 15 84 66 p p e altura h igual a 1 50 QD Lembrando que a área do trapézio é dada por 9 66 50 390 2 2 B b h milmês observase que os produtores obtiveram um aumento no EP igual a 190 milmês Este valor também poderia ser obtido pela soma da área B ao EP anterior à política de preços mínimos com a subtração da área do triângulo D Já se sabe que B representa uma transferência de renda mensal dos consumidores para os produtores igual a 250 mil faltando apenas perceber que o triângulo D com base 0 1 100 50 50 Q Q e altura igual a 0 2 10 84 16 p p implica uma perda 36 de EP igual a 40 milmês Ora a soma dos ganhos de 250 mil com as perdas peso morto dos produtores de 40 mil leva à variação no EP igual a 210 milmês Os efeitos da política de preços mínimos discutida aparecem resumidos na Tabela 32 Sempre que se tomar por referência o equilíbrio em mercados competitivos ideais qualquer solução diferente da encontrada na intersecção entre as curvas de oferta e demanda trará perdas de eficiência e de bem estar social ao menos enquanto se supuser que a utilidade marginal da renda é constante e igual para todos os agentes econômicos No exemplo considerado a política de preço mínimo fez com que a soma dos excedentes diminuísse em 165 milmês que podem ser encontrados adicionando as áreas dos triângulos de perda peso morto C e D BemEstar milmês Sem a Política I Com a Política II Variação I II EC 500 125 375 EP 200 410 210 ECEP 700 535 165 Perda de Eficiência 165 165 Tabela 32 As perdas peso morto decorrem de distorções nas decisões que os ofertantes e demandantes fariam caso o mercado fosse perfeitamente concorrencial Pode se desta forma intuir que este tipo de perda ocorrerá sempre que não se verificar a solução perfeitamente competitiva o que leva aos interessantes temas das falhas de mercado e da intervenção pública no sistema econômico O equilíbrio que seria determinado em mercados perfeitamente competitivos ideais serve como referencial teórico para o que os economistas costumam denominar de solução de primeiro melhor ou first best solution Neste contexto hipotético o bem estar econômicomedido pela soma dos excedentes dos consumidores e produtores seria máximo sendo impossível melhorar a situação de um agente econômico qualquer sem piorar a de outro o que caracteriza uma situação de ótimo de Pareto 37 Se todos os mercados fossem concorrenciais e perfeitos nada haveria a ser feito para melhorar o bem estar social como definido acima Políticas públicas como as de preço mínimo impostos e qualquer forma de intervenção estatal no domínio econômico seriam desnecessárias e em última instância inúteis Em um mundo ideal como este talvez fosse desnecessário um curso de Economia Industrial e se ele existisse provavelmente teria a natureza de uma discussão filosófica e puramente abstrata já que todos os problemas práticos estariam sendo automaticamente resolvidos nos mercados Mas o mundo em que vivemos não é assim os mercados têm falhas e as soluções de primeiro melhor são extremamente raras se é que existem A preocupação dos economistas com as falhas de mercado não é nova já havendo certo consenso que os mercados não resolvem bem os problemas de alocação social ótima de recursos quando há 1 Presença de Externalidades 2 Problemas Informacionais 3 Poder de Mercado 4 Bens públicos 5 Problemas de Distribuição de Renda Como visto no início deste capítulo as externalidades decorrem dos efeitos das ações de um agente econômico sobre os demais Na maior parte dos modelos econômicos supõese que os agentes tomadores de decisão desconsideram os efeitos de suas ações sobre os demais indivíduos numa postura egoística e autointeressada com interessantes desdobramentos práticos Uma maneira simples de ilustrar este tópico é distinguir entre os custos privados e sociais de produção digamos de tecidos Considere uma situação em que um grupo de empresários do setor têxtil resolve construir um complexo industrial na periferia de uma cidade por coincidência próximo de uma clínica médica Supondo que o mercado de tecelagem seja competitivo após o início das operações as firmas estarão produzindo de forma a maximizar seus lucros observando a regra pCMg conforme ilustrado pela curva P CMg no gráfico Para uma curva de demanda dada o equilíbrio neste mercado seria encontrado no Gráfico 36 ao preço p0 e à 38 quantidade Q0 A produção destas firmas entretanto causa ruídos altos o suficiente para dificultar a auscultação dos pacientes e os exames clínicos em geral pelo que há custos para terceiros que não são considerados pelas tecelagens Imagine por um momento que os médicos proprietários da clínica fossem também os donos das empresas de tecido Nesta situação eles levariam em consideração como custos produtivos da fabricação de tecidos as perdas de receitas ou aumentos de custos em suas atividades médicas e as curvas de custos apropriadas estariam representadas por S CMg que levaria a um equilíbrio no mercado ao preço 1p e à quantidade 1 Q Gráfico 36 Evidentemente se os médicos fossem os proprietários das tecelagens não haveria externalidades já que os efeitos da produção de tecidos sobre as atividades médicas seriam naturalmente levadas em consideração e o ótimo de Pareto seria atingido com a produção menor e os preços mais altos Quando as P CMg D Q p Q 0 Q 0p S CMg 1 Q 1p 39 diferentes atividades são administradas por agentes diferentes entretanto observase uma solução em que o bem estar da sociedade não é maximizado A correção deste problema poderia se dar pelo próprio uso de mercados caso não fosse muito caro fazêlo Afinal de quem é o direito sobre o silêncio ambiental dos médicos dos donos de tecelagem ou de nenhum deles Se os médicos fossem proprietários de direitos ao silêncio poderiam vendêlos aos fabricantes por um preço que compensasse suas perdas com o barulho Da mesma forma se fossem os donos das tecelagens os proprietários dos direitos ao silêncio encontrariam médicos dispostos a adquirílos por valores iguais ou menores dos prejuízos que vêm sofrendo de uma forma ou de outra solucionando o problema das externalidades O grande obstáculo para a ocorrência destas transações de mercado está na dificuldade em estabelecer direitos de propriedade sobre o silêncio Podese imaginar que negociações alternativas envolvendo a possível construção de isolamentos acústicos nas fábricas ou na clínica ou a própria mudança das instalações que eliminassem as externalidades mas quem arcaria com os custos À proporção em que os custos de transação aumentam trocas mutuamente benéficas podem deixar de ser viáveis o que implica a manutenção das ineficiências ou alternativamente dá motivo para que se crie uma tecnologia alternativa para resolver os problemas não solucionados bem pelo uso dos mercados Esta linha de raciocínio deve muito à teoria dos custos de transação de Ronald Coase apresentada nos capítulos anteriores De fato se não houver custos de transação esperase que os mercados forcem automaticamente a internalização de todas as externalidades o que levaria à solução socialmente ótima Como estes custos para o uso dos mercados existem e não são desprezíveis alguns economistas entendem que se justifica a ação estatal no sentido de mitigar os efeitos das falhas de mercado sobre o bem estar Uma lei do silêncio ou regras administrativas que limitem a um nível aceitável de decibéis os ruídos em determinadas regiões urbanas por exemplo elimina a necessidade de longas e onerosas negociações e se bem delineadas aproximam o equilíbrio de mercado da situação ótima 40 Raciocínios similares podem ser feitos para todas as outras falhas de mercado mas haverá ainda oportunidades específicas nos capítulos subseqüentes para tratar dos problemas associados a bens públicos ausência ou assimetria de informações poder de mercado e distribuição de renda Na medida em que estes tópicos forem tratados remissões e complementações aos fundamentos da análise de bem estar aqui lançados serão realizadas PalavrasChave Estrutura de Mercado Concorrência Perfeita Poder de Mercado Externalidade Homogeneidade de produto Informação Perfeita Maximização do valor presente Maximização dos lucros Receita Marginal Custo Marginal Ponto de entrada ou fechamento Renda econômica Elasticidade Demanda residual Economia positiva Economia normativa Análise de bem estar Equilíbrio parcial Equilíbrio geral Excedente dos consumidores Excedente dos produtores 41 Perda peso morto Equilíbrio Estático Solução de primeiro melhor Ótimo de Pareto Eficiência Custo Marginal Social Custo Marginal Privado Exercícios Sugeridos 1 Quais as principais hipóteses teóricas usadas para caracterizar a estrutura de Concorrência perfeita 2 Já que situações práticas de concorrência perfeita parecem ser raras por que motivo este modelo abstrato e ideal permanece sendo usado na Economia Industrial 3 No gráfico 31 encontrouse uma quantidade ótima supondo 1 que existia um ponto de lucro máximo e 2 que este máximo era global Conforme desenhada aquela função lucro assemelhavase à forma de um sino Refaça aquele gráfico de forma que a função lucro se pareça com dois sinos com alturas diferentes Identifique os pontos que satisfazem a condição de igualdade entre receita marginal e custo marginal neste novo gráfico e discuta a importância das suposições 1 e 2 4 Para uma firma em concorrência perfeita qual a importância dos custos inevitáveis para definir o ponto de entrada ou fechamento Sua resposta é a mesmo caso se esteja falando do de um longo prazo ou de curto prazo Por quê 5 Desenhando as curvas de custo marginal total médio e custo marginal variável médio para uma firma competitiva ilustre uma situação em que esta firma aufere lucros econômicos positivos no curto prazo Isto não é 42 contraditório com a hipótese de ausência de barreiras á entradasaída Explique 6 Na ausência de economias ou deseconomias de escala externas a renda econômica de firmas competitivas não pode ser positiva É Falso verdadeiro ou incerto Por quê 7 Explique o que são e para que servem as elasticidades em Economia Supondo uma curva de demanda linear mostre que mesmo mercadorias que apresentam poucos substitutos e representam uma fração pequena dos gastos totais dos demandantes pode exibir elasticidadespreço da demanda bastante elevadas 8 Suponha que a demanda de mercado por certo produto seja representada por QD 100 p Neste Mercado existem 50 firmas idênticas cada qual com custos marginais iguais a q Encontre a curva de demanda residual para uma destas firmas 9 Ao preço que equilibra o mercado descrito na questão anterior supondo apenas 49 firmas incumbentes quais são as elasticidades preço da demanda de mercado e da demanda residual para a 50ª firma considere que a elasticidade preço da oferta das outras firmas seja igual a 0 10 Suponha que o mercado de maças possa ser descrito pela seguintes equações Demanda P20q Oferta Pq4 Onde p é o preço em unidades monetárias de cada caixa de maças e q é um número de caixas da fruta em milhares de unidades 43 a se este mercado for perfeitamente competitivo que preço e quantidade serão observados b Qual o valor dos excedentes dos consumidores e produtores neste mercado 11 As autoridades públicas após terem conhecimento dos benefícios que o consumo de maças traz à saúde dos consumidores entendem que seria interessante estimular o consumo deste produto em sociedade Para tanto contratam você para realizar uma análise do impacto sobre o bem estar das seguintes alternativas a a imposição de um preço máximo p8 para garantir o acesso de mais consumidores a este produto b a concessão de um subsídio de 4 por mil caixas produzidas c Calcule e mostre graficamente a variação dos excedentes dos consumidores e produtores para as duas alternativas consideradas Qual delas se alguma mereceria seu apoio Leituras Sugeridas