·

Economia ·

Economia Industrial

Envie sua pergunta para a IA e receba a resposta na hora

Fazer Pergunta

Texto de pré-visualização

Introdução à Organização Industrial 2 Nota Este material foi desenvolvido pelo prof Roland Veras Saldanha Jr e representa uma primeira versão de material a ser transformado em livro didático Reservamse os direitos autorais sobre o mesmo mas comentários e sugestões são bem vindas no email rsaldanhaactiomercatoriacombr Cap 1 Origens Evolução e Escopo da Organização Industrial Hoje a Organização Industrial ou Economia Industrial pode ser genericamente definida como o campo da Economia preocupado com mercados que não podem ser analisados usando o modelo competitivo padrão de livrostexto Schmalansee Richard The New Palgraves A Dictionary of Economics 1988 Industrial Organization Não existe tal tema denominado organização industrial Os cursos ensinados sob este título tem por objetivo a compreensão da estrutura e comportamento das indústrias produtoras de bens e serviços de uma economia Estes cursos lidam com o tamanho e estrutura das firmas uma ou muitas concentradas ou não as causas sobretudo as economias de escala desta estrutura e tamanho os efeitos da concentração sobre a competição os efeitos da competição sobre os preços investimentos inovações e assim por diante Mas este é precisamente o conteúdo da teoria econômica teoria dos preços ou da alocação de recursos que tem recebido o infeliz nome de microeconomia Stigler G 1968 The Organization of Industry pg1 Introdução Uma compreensão lógica e útil a respeito do modo de operação das firmas e indústrias no mundo em que vivemos é o objetivo precípuo da Economia Industrial ou Organização Industrial OI Tratase de matéria que ganha corpo não apenas pela curiosidade e interesse teóricos que suscita mas primordialmente em função 3 da necessidade prática de obtenção de subsídios analíticos à formulação e avaliação das políticas públicas de fiscalização regulação e ordenação dos fenômenos de mercado Se não existissem estas demandas práticas específicas com efeito seria difícil imaginar que a Economia Industrial teria se desenvolvido aos contornos e feições atuais O interesse científico sobre o comportamento e o desempenho das firmas e indústrias tornouse mais efetivo a partir de meados do século XVIII com os avanços tecnológicos e as repercussões sociais que marcaram a primeira Revolução Industrial As invenções setecentistas das máquinas a vapor e dos teares automáticos antecipam um século XIX ebuliente em inovações tecnológicas entre as quais merecem destaque a energia elétrica os pneus de borracha o concreto o telégrafo a dinamite o telefone e dos motores a diesel Ocorrendo numa seqüência alucinante para os padrões técnicos da época tais inventos propiciaram e estimularam um forte movimento de urbanização e concentração das atividades econômicas exigindo o desenvolvimento de métodos de organização dos recursos compatíveis que em larga medida ainda deixam traços sobre as firmas e indústrias hoje observadas A própria Economia ganhará status científico a partir do século XVIII e na magnífica discussão sobre a Natureza e Causas da Riqueza das Nações 1776 por Adam Smith encontrase tanto uma sólida argumentação sobre a operação dos mercados quanto as sementes da moderna Teoria da Organização Industrial Se a experiência revelou certa ingenuidade na crença do pai da Economia a respeito da suficiência da mão invisível dos mercados na coordenação e organização das atividades econômicas os referenciais encontrados na Riqueza das Nações permanecem fundamentais na análise teórica e prática dos mercados e comportamento de seus participantes ver Box sobre Adam Smith Alfred Marshall tentando evitar argumentos de natureza políticofilosófica recorrentes nos trabalhos de Smith reservou em seus Princípios de Economia 1920 dilatado espaço à análise da Organização Industrial Com sua peculiar objetividade e pragmatismo Marshall tratou com maior detalhe as questões da eficiência produtiva das tecnologias da localização fabril e dos investimentos produtivos 4 antecipando importantes aspectos da base temática com a qual posteriormente se ocuparia a moderna Teoria da Firma e em especial a OI 5 Box 1 Adam Smith e a Riqueza das Nações Adam Smith nasceu na cidade de Kilkardi Escócia em 1723 Apesar de ser conhecido pelos economistas em função do seu mais famoso título Uma Investigação sobre as Origens e Causas da RIQUEZA DAS NAÇÕES publicado em 1776 o autor era Doutor em Direito e foi um importante filósofo de sua época destacandose A TEORIA DOS SENTIMENTOS MORAIS 1759 como obra que já lhe garantia fama quase duas décadas antes da publicação da Riqueza das Nações Smith é considerado o pai da Economia em função de sua capacidade sistematizadora combinando uma teoria sobre a natureza humana e sobre a história com toques de teologia natural e perspicazes observações sobre os fenômenos econômicos assim como aparentes na realidade fática para construir uma disciplina de estudo solidamente fundada e dotada de autonomia O sistema econômico de Smith incluía as atividades agrícolas de manufatura e comércio com trocas facilitadas pelo uso da moeda e produção baseada na divisão e especialização do trabalho Smith inaugurou o hoje denominado Período Clássico no pensamento econômico que persistirá até a morte de John Stuart Mill 18061873 emblemático pelo apego aos princípios da liberdade natural do laissez faire e da importância do crescimento como forma de melhoramento na condição de vida humana Três temas aparecem de forma marcante na sua principal obra i a divisão do trabalho ii a análise da alocação de recursos e dos preços de mercados e iii a natureza do crescimento econômico No cerne das preocupações smithianas estava o problema da relação entre os indivíduos e o Estado entendendo que a interferência dos governos sobre os negócios da sociedade aparecia contrária à liberdade natural aos homens e à vontade divina sem entretanto deixar de complementar estes argumentos filosóficos com sua percepção empírica da incompetência das burocracias públicas em substituir ou interferir nos interesses dos indivíduos Para Smith a mão invisível do mercado aparecia como processo de alocação de recursos sociais nitidamente superior como fica aparente do trecho a seguir Na realidade ele o indivíduo não pretende normalmente promover o bem público nem sabe até que ponto o está a fazer Ao preferir apoiar a empresa interna em vez da externa só está pensando na sua própria segurança e ao dirigir essa empresa de modo que a sua produção adquira o máximo valor só está pensando no seu próprio ganho e neste como em muitos outros casos está sendo guiado por uma mão invisível para atingir um fim que não fazia parte as suas intenções Ao tentar satisfazer o próprio interesse promove frequentemente de uma maneira mais eficaz o interesse da sociedade do que quando realmente o pretende fazer Nunca vi nada de bom feito por aqueles que se dedicaram ao comércio pelo bem público Riqueza das Nações Livro IV Cap II Com relação aos ganhos com a especialização e divisão do trabalho apenas factível em economias de mercado Smith é igualmente claro ao descrever o exemplo da fábrica de alfinetes Livro I CapI em que se destacam as três principais vantagens da divisão do trabalho i aumento na habilidade e rapidez de cada trabalhador ii economia de tempo e iii a invenção de novas máquinas ou tecnologias de produção Para além das vantagens dos mercados na alocação de recursos com o auxílio da mão invisível Smith destaca que as possibilidades de aperfeiçoamentos técnicos e melhor aproveitamento dos recursos à disposição de uma sociedade aparecem limitadas pela extensão do mercado Quando o mercado é muito reduzido ninguém encontra incentivo para se dedicar inteiramente a uma atividade uma vez que não terá a possibilidade de trocar toda aquela parte da produção do seu próprio trabalho que excede o seu consumo pelas parcelas da produção do trabalho de outros homens de que ele necessita Livro I Cap III Sempre com estilo lógico rigoroso mas orientado pelas observações empíricas sobre a operação do sistema econômico Smith efetivamente lança não apenas as bases da Ciência Econômica moderna como também da Organização Industrial É fato conforme se discutirá no Apêndice a este Capítulo que as contribuições de Smith de específica aplicação à OI mereceram inúmeros aperfeiçoamentos posteriores mas além de lançar as sementes num campo que veio a se mostrar bastante fértil a estrutura e a metodologia do raciocínio de Smith permanecem como referencial ainda exemplar nos estudos da Economia baseado em Ekelund Robert B Jr Hébert Robert F A History of Economic Theory and Method 3rd ed USA McGrawHill 1990 6 Devese notar entretanto que a Organização Industrial só ganha feições de disciplina relativamente autônoma e delimitada do ponto de vista científico no período posterior à II Grande Guerra Uma retrospectiva histórica que envolve nomes importantes como os de Chamberlin Ronald Coase Joe Bain Edward S Mason e John Nash merecerá atenção específica no Apêndice I deste Capítulo Ainda hoje a fixação de fronteiras para o objeto da Organização Industrial é tema que levanta alguma controvérsia O problema decorre de uma nítida superposição entre o objeto específico da OI e aquele mais amplo com o qual se preocupa a Teoria dos Preços ou conforme denominação mais comum a Microeconomia George S Stigler ver epígrafe a esta Introdução eminente economista da escola neoclássica negouse a reconhecer a Organização Industrial como um ramo autônomo da Economia percebendoa como uma simples aplicação da Teoria dos Preços ao entendimento das firmas e indústrias Stigler 1968 Em posição oposta autores como Schlamansee 1988 e Ferguson Ferguson 1994 entendem que a Economia Industrial e a Microeconomia não se confundem Segundo estes últimos autores enquanto a Economia Industrial estaria voltada aos aspectos dinâmicos associados ao aparecimento e desenvolvimento histórico das firmas e indústrias a Teoria dos Preços teria como foco analítico exclusivo as estruturas de mercado vistas sob perspectiva estática Tais disputas sobre a classificação da OI dentro do corpo da ciência econômica têm como pano de fundo um embate mais profundo envolvendo o questionamento da posição dominante da escola neoclássica hoje considerada o mainstream1 científico em Economia As abordagens alternativas representadas pelas escolas austríaca e institucionalista preferem entender restritivamente as preocupações dos economistas de mainstream que estariam limitadas à compreensão das firmas e indústrias num contexto de análise estrutural e estática propondo a denominação específica de Organização Industrial para os esforços da linha predominante Os austríacos e institucionalistas acham que a análise do desenvolvimento das firmas e indústrias por exibir uma perspectiva dinâmica e 7 histórica deveria ser denominada Economia Industrial não se confundindo à OI neoclássica ou aos estudos microeconômicos Há que se dar razão aos economistas preocupados com o desenvolvimento de uma teoria econômica que não se restrinja à análise de situações de equilíbrio estático em que a explicação para o comportamento das variáveis econômicas no decorrer do tempo cronológico é desconsiderada Mas as dificuldades em desenvolver um arcabouço teórico consistente que englobe as abordagens estática e dinâmica aos fenômenos econômicos não são exclusivas da Economia ou Organização Industrial representando verdadeiro imbróglio técnico que mal se iniciou a resolver Parece certo entretanto que a tentativa de conciliar as abordagens estática e dinâmica tem avançado mais pelo lado da tradição microeconômica do que nos enfoques alternativos Reconhecendo que os principais argumentos das escolas alternativas já foram pelo menos reconhecidos como pertinentes e em boa medida assimilados pela abordagem de mainstream adotase neste livro o referencial metodológico típico da tradição neoclássica Desta forma nas páginas subseqüentes Economia Industrial e Organização Industrial serão entendidos como termos sinônimos e usados de forma intercambiável Feitas estas considerações é possível definir a Economia Industrial ou Organização Industrial como sendo o estudo da lógica de operação e comportamento das firmas nas indústrias e mercados enfatizando as busca de implicações sobre o bemestar formulação implementação e avaliação de políticas públicas A seguir alguns conceitos fundamentais e exemplos de problemas que preocupam a OI são apresentados Passase então a uma breve discussão da metodologia de análise neoclássica para finalmente organizar os principais tópicos da OI a serem analisados neste manual 1 Mainstream inglês significa a corrente principal predominante 8 O Objetos da OI Referiuse até o momento às firmas indústrias e mercados sem maior detalhamento sobre estes conceitos essenciais à OI A terminologia empregada na OI não difere daquela encontrada na Microeconomia ou Teoria dos Preços e de forma geral na teoria econômica moderna Existem entretanto discrepâncias significativas entre o vocabulário econômico e aquele usado na vida cotidiana no linguajar comum Os mercados são o ambiente em que atuam as firmas quer como demandantes quer como ofertantes Ainda que nas aplicações práticas haja a necessidade de delimitar rigorosamente estes mercados em relação i aos produtos ou serviços envolvidos ii à sua dimensão geográfica e iii à dimensão temporal para um primeiro contato será conveniente empregar uma conceituação mais geral Assim os mercados podem ser entendidos como as interações entre agentes econômicos ofertantes e demandantes que visam realizar de forma voluntária trocas mutuamente benéficas Esta definição é suficientemente ampla para englobar tanto o mercado de sorvetes na região metropolitana do Rio de Janeiro quanto o mercado mundial de petróleo ou o famoso mercado de pulgas em Londres Os mercados específicos surgem existem e desaparecem de acordo com as necessidades e possibilidades percebidas pelos indivíduos em sociedade no decorrer do tempo São na verdade criações ou invenções humanas voltadas ao atendimento de determinadas finalidades e neste sentido tecnologias desenvolvidas pelos homens em sociedade Efetivamente basta a existência de dois indivíduos para se ter um mercado Quando dois ou mais indivíduos identificam a possibilidade de realizar trocas que interessem a ambos e conseguem operacionalizálas criam um mercado Parece claro que tais possibilidades de realização de trocas mutuamente benéficas se ampliam substancialmente quando o número de indivíduos e tipos de bens e serviços disponíveis aumentam Os limites e conformações de um mercado encontramse em parte na engenhosidade humana na produção destas mercadorias e 9 operacionalização das trocas em parte nas limitações que a natureza e as instituições sociais colocam aos agentes nelas envolvidos Uma parcela importante da Organização Industrial se ocupará da tentativa de sistematizar regularidades relativas às diferentes estruturas de mercado observadas no mundo real Nestes esforços pragmáticos não obstante referências teóricas ideais e bastante estilizadas permanecerão úteis Efetivamente os estudos em OI não perdem os referenciais das estruturas de concorrência perfeita e monopólio bastante exploradas pela Microeconomia mas costumam deslocar o foco prioritário de análise para as estruturas de concorrência monopolística e em especial dos oligopólios Neste manual uma firma ou empresa representará uma organização voltada à produção de bens ou serviços para a satisfação das necessidades ou vontades dos demandantes nos mercados Assim os argumentos aqui desenvolvidos aplicamse em tese a todo e qualquer esforço humano organizado formal ou informalmente para a produção de manufaturas produtos agrícolas insumos ou serviços dos mais diversos tipos Como se discutirá adiante firmas e mercados não são entidades vivas capazes de realizar escolhas ou ações Firma e mercado são conceitos melhor entendidos como tecnologias formas de organização de recursos e de interação social respectivamente que pouco significam quando dissociadas dos indivíduos que as criaram e utilizam cotidianamente As firmas e os agentes que as fazem operar atuam tanto como ofertantes quanto como demandantes nos mercados Para se comercializar refrigerantes carbonatados as colas por exemplo uma ampla gama de atividades está envolvida englobando a coleta e tratamento da água a produção de insumos básicos do xarope da bebida a manufatura e embalagem também necessárias atividades de distribuição propaganda e marketing Em tese todas estas atividades poderiam ser realizadas por uma única firma que se não tivesse rivais ou auxiliares representaria sozinha a indústria de refrigerantes carbonatados Este tipo de integração completa da produção entretanto é raro Um tópico fundamental na OI consiste da compreensão dos limites e tamanho das firmas 10 individuais o que implica entender os motivos pelos quais a integração completa e os monopólios são pouco usuais Normalmente existem várias firmas diferentes envolvidas no processo de produção de cada bem ou serviço quer enquanto fornecedores ou distribuidores quer como concorrentes Ao conjunto de firmas envolvidas proximamente na produção de um bem ou serviço denominase indústria Notese que esta acepção técnica do termo indústria não guarda relação com a noção vulgar de empresa que produz manufaturas ou bens processados industrialmente Na OI estudamse as indústrias manufatureiras agropecuárias extrativistas e de serviços Desta forma qualquer bem ou serviço independente de sua qualidade ou forma é produzido por um conjunto de firmas proximamente relacionadas concorrentes fornecedores distribuidores que se denomina tecnicamente indústria sendo excepcional a situação em que existe apenas uma firma na indústria A Metodologia Predominante A Economia desponta entre as ciências sociais pelo poder que tem mostrado na elaboração de explicações teóricas objetivas e úteis aos fenômenos que estuda Tratamse de teorias que procuram analisar os fenômenos econômicos segundo rígidos critérios metodológicos especialmente importante o cuidado na manutenção de um estrito rigor lógico na argumentação assim como o permanente contraste das idéias teóricas à realidade empírica na construção e aperfeiçoamento dos argumentos desenvolvidos Nos padrões da abordagem predominante a Economia pode ser definida como a ciência que estuda a maneira pela qual os indivíduos em uma sociedade particular resolvem seus problemas de alocação de meios escassos a fins alternativos ou em outros termos solucionam seus problemas econômicos A escassez de meios corresponde à limitação de recursos que se coloca aos indivíduos que coexistem em sociedade De forma genérica entendese por 11 recurso todo e qualquer fator de produção conhecido ou seja a totalidade das fontes capazes de produzir ou auxiliar na produção de bens e serviços destinados à satisfação de necessidades humanas Exemplos de recursos produtivos humanos são a força bruta de trabalho e as habilidades cognitiva e intelectual das pessoas Recursos não humanos seriam também em ilustração as máquinas e equipamentos os insumos produtivos materiais o estoque de conhecimento disponível nos livros e as tecnologias Para que exista um problema econômico é essencial que algum ou diversos destes fatores de produção apareçam finitos ou limitados no sentido de estarem disponíveis em quantidades menores do que as suficientes à satisfação simultânea de todos os desejos humanos manifestados na convivência social A multiplicidade de desejos ou finalidades a serem supridos a partir dos estoques limitados de recursos é outra característica fundamental de um problema econômico Não basta a escassez para que exista um problema que interesse à Economia é necessário também que se estabeleça uma situação em que seja preciso escolher entre mais de uma finalidade a ser satisfeita com os recursos limitados Os problemas econômicos consistem de escolhas de alocação de meios escassos a fins alternativos Parece evidente que parcela substancial das escolhas humanas pode ser analisada através das lentes da Economia Embora tipicamente econômicas as escolhas que envolvem trocas de recursos em mercados ou aquelas associadas às transações monetárias representam apenas uma pequena fração dos problemas econômicos que se colocam aos indivíduos Na verdade talvez o recurso mais escasso a um ser humano não seja financeiro ou passível de ser adquirido em mercados o tempo de vida O tempo humano este recurso sempre finito precisa ser dividido entre diversos usos entre eles trabalhar descansar consumir ir à igreja ou ir à escola A Economia dos modelos de escolha racional MER acredita que ao estudar este manual por exemplo o leitor indivíduo agente econômico esteja deixando de alocar seu tempo a outras finalidades possíveis realizando uma escolha que tem alguma razão de ser 12 Diante da vastidão de problemas potencialmente abertos à exploração da ciência econômica não é possível menosprezar a importância dos rígidos critérios metodológicos consolidados no bojo do mainstream acadêmico para a construção do edifício teórico da Economia Como se adiantou para que sejam amplamente aceitos e disseminados entre os economistas da corrente predominante os modelos e teorias desenvolvidos precisam se mostrar logicamente robustos e preferencialmente sujeitos à avaliação empírica das conclusões que ensejam A satisfação de ambos os referidos quesitos a seu turno costuma ser bastante facilitada pela formulação de raciocínios baseados na metodologia dos modelos de escolha racional Identificase um modelo de escolha racional MER através do respeito a dois axiomas fundamentais a saber o Axioma do Individualismo Metodológico AIM e o Axioma da Maximização da Utilidade AMU Lembrando que o termo axioma é usado para representar verdades que não se deseja questionar ou por em dúvida o AIM e o AMU representam os pilares metodológicos sobre os quais se estruturam argumentos de escolha racional A tentativa de fragilizar um argumento de escolha racional pelo ataque a seus axiomas básicos é inócua e representa mero desperdício de tempo e esforço Isto porque não existe a preocupação ou a possibilidade de comprovar a veracidade de axiomas eles são proposições lógicas cuja avaliação de conveniência não de validade apenas ocorre a posteriori quando argumentos lógicos completos que neles se estruturam são construídos e submetidos ao teste empírico e à comparação com explicações alternativas Para se ter uma idéia mais concreta a respeito do assunto recordese dos famosos axiomas euclidianos que garantem indiscutivelmente a existência do ponto e da reta Ambos os axiomas a partir dos quais Euclides desenvolveu sua geometria analítica não podem ter sua validade checada no plano empírico Com efeito o ponto ou a reta não são observáveis na realidade física existem apenas enquanto idéias neste caso simples e geniais que podem ter sua conveniência avaliada pela direta observação dos desenvolvimentos práticos e científicos que propiciaram 13 Com o AIM estabelecese uma restrição de método fundamental ao desenvolvimento de raciocínios econômicos Na argumentação dos MER apenas os indivíduos têm a capacidade de escolher ou agir O AIM fixa o indivíduo ser humano observável na realidade como unidade básica de análise em Economia Há aqui nítida separação entre as abordagens individualista e coletivista aos fenômenos econômicos Com efeito se apenas os indivíduos têm a faculdade de escolher não faria sentido propor em um MER que uma classe capitalista ou trabalhadora assim como um Estado pudesse ter capacidade de arbítrio e ação Ao excluir a possibilidade de que entes não humanos metafísicos escolham ou ajam a metodologia dos MER viabiliza o teste empírico dos raciocínios que desenvolve ao mesmo tempo em que dificulta bastante seu uso apenas ideológico com finalidades não científicas Depois de assimilado o AIM em sua importância e nas restrições que impõe à argumentação científica não há maiores problemas em fazer pequenas concessões lingüísticas por exemplo permitindose dizer que a firma escolhe quanto produzir ou em que local será instalada É óbvio que em um texto que assume explicitamente a adesão ao AIM a metáfora da escolha da firma ou do Estado serve apenas como uma forma sintética de expressar a idéia de que os indivíduos responsáveis pela decisão no âmbito da firma ou do Estado realizam determinadas escolhas Pelo AMU se quer garantir também sem quaisquer questionamentos a existência de alguma lógica para as escolhas individuais Este segundo axioma indica um ato de fé uma crença científica na possibilidade de se analisar os fenômenos econômicos através de argumentos lógicos É um erro comum se entender no AMU a imposição de uma racionalidade absoluta e única aos indivíduos como se fossem pessoas dotadas de impecável formação lógica e perfeito conhecimento das teorias sobre o funcionamento da sociedade e da natureza Este é um engano grosseiro pois o que se pretende com o AMU é credenciar os economistas a procurar alguma explicação lógica que em média seja compatível com as escolhas econômicas Um jogador de bilhar consegue participar de uma partida sem nunca ter lido um livro de Física mas a posição e 14 velocidade das bolas sobre a mesa a cada instante do tempo podem ser explicadas rigorosamente por um físico que observe a partida Da mesma forma os agentes indivíduos econômicos resolvendo seus problemas de escolha mesmo que não sejam economistas podem ser descritos cientificamente como se seguissem as teorias econômicas usadas para explicar seus comportamentos quando tomam suas decisões Conforme se percebe os axiomas dos MER são extremamente simples fixando o indivíduo como a entidade responsável pelas escolhas e supondo que estas escolhas ocorram segundo alguma lógica Provavelmente aliado a tal simplicidade encontrase o superior poder explicativo desta classe de modelos De fato esta opção metodológica obriga a manutenção de um estreito vínculo com a realidade das escolhas individuais observadas facilitando a realização de testes empíricos que permitam contrastar a teoria à prática O rigor lógico não raro expresso por expressões matemáticas garante que os argumentos sejam acessíveis a um grande conjunto de cientistas desde que dispostos a assimilar o vocabulário específico usado pelos economistas Ainda que este não seja um manual sobre metodologia das ciências os breves comentários apresentados sobre o assunto são importantes como um alerta e preparação às principais contribuições econômicas na esfera da OI a serem apresentadas posteriormente Mesmo que partindo de uma base metodológica bem definida são imensas as dificuldades antepostas a qualquer tentativa de tratamento científico de fenômenos sociais Na realidade não existem dois indivíduos ou problemas econômicos iguais e os experimentos rigorosamente controlados não podem ser realizados em Economia como se faria com maior facilidade na Física ou na Biologia Mas estas dificuldades específicas é que tem revelado as vantagens da metodologia dos MER não como modelos perfeitos mas como os que conseguem diante dos obstáculos existentes uma excelente relação entre custos e benefícios no intuito de explicar com o mínimo de subjetividade os fenômenos de escolha em sociedade 15 A Caixa de Ferramentas da OI O instrumental da Economia Industrial vem sendo construído aos poucos já se dispondo atualmente de um conjunto de ferramentas bastante potente para a organização e desenvolvimento das idéias sobre o funcionamento das firmas e indústrias Um panorama dos temas tratados pela OI aparece esquematizado no modelo de EstruturaCondutaDesempenho ECD idealizado por Edward S Mason na década de 1930 e posteriormente aperfeiçoado por diversos seguidores Explorando algumas das diferenças fundamentais entre a Microeconomia e a OI o esquema revela as preocupações específicas desta última com uma maior aproximação da teoria à realidade bem como com a contextualização histórica mais detalhada e apegada aos testes empíricos na formulação e avaliação dos argumentos econômicos De fato já em 1939 Mason deixa claros estes pontos ao propor a utilização de uma classificação das estruturas de mercado como passo necessário à compreensão das práticas empresariais e posterior avaliação pública do desempenho da indústria Mesmo se sabendo hoje que diferentemente do que imaginavam seus criadores o esquema ECD exibe baixo potencial na formulação de explicações e previsões confiáveis ele permanece sendo um interessante referencial didático na organização dos temas analisados em Economia Industrial A idéia neste esquema é classificar as diferentes estruturas de mercado tentando associálas a tipos de condutas empresariais observadas e por fim ao desempenho econômico das indústrias envolvidas Versões mais modernas desta abordagem incluem ainda as condições básicas de oferta e demanda no mercado e o papel das políticas públicas nos mercados analisados conforme se observa na Figura 11 16 Condições Básicas Demanda Elasticidade da demanda Substitutos Sazonalidade Taxa de Crescimento Localização Frequência dos Pedidos Método de Aquisição Oferta Tecnologia Matérias Primas Sindicatos Durabilidade do Produto Localização Economias de Escala Economias de Escopo Estrutura Número de Ofertantes e Demandantes Barreiras à EntradaSaída de novas Firmas Diferenciação de Produtos Integração Vertical Diversificação Conduta Propaganda Pesquisa e Desenvolvimento Apreçamento Investimentos em Plantas Táticas Legais Escolha de Produtos Conluio Fusões e Contratos Desempenho Preço Eficiência Produtiva Eficiência Alocativa Equidade Qualidade dos Produtos Progresso Tecnológico Lucros Políticas Públicas Regulação Antitruste Barreiras à Entrada Tributos e Subsídios Incentivos a Investimentostives Políticas Macroeconômicas Figura 11 Modelo EstruturaCondutaDesempenho Como pano de fundo à compreensão e descrição de um mercado aparecem imediatamente as condições básicas de oferta e demanda envolvidas Assim um 17 controle cuidadoso das tecnologias de produção potenciais economias de escala e escopo localização das plantas durabilidade do produto acesso a matérias primas e poder de organização dos trabalhadores bem como do arcabouço legal existente é útil na contextualização dos aspectos básicos que condicionam os ofertantes em determinado mercado Pela ótica da demanda a especificação dos produtos e substitutos próximos disponíveis elasticidadepreço a presença de sazonalidade ou cíclos nas compras a distribuição espacial ou geográfica dos consumidores a taxa de crescimento na demanda a freqüência das compras e os canais de distribuição típicos também surgem como potenciais definidores da estrutura conduta e desempenho observados na indústria A estrutura de mercado costuma ser caracterizada pelo número de ofertantes e demandantes nele envolvidos pelo grau de diferenciação entre os produtos considerados pelas barreiras que possam dificultar o ingresso de novos concorrentes pelas estruturas de custos típicas pelos padrões de integração vertical na produção e pela diversificação das linhas de produtos Controlando as diferenças nas estruturas de mercado imaginavase ser possível explicar a performance ou desempenho da indústria e não da firma analisada Este desempenho não pode ser aferido de forma unidimensional sendo atributos tradicionalmente usados para sua avaliação a eficiência na produção e alocação de recursos ausência de desperdícios e adequação em quantidade e qualidade às demandas sociais os padrões de preços e lucros observados os aperfeiçoamentos tecnológicos e até mesmo a equidade na distribuição dos resultados gerados no mercado específico este último atributo evidentemente de difícil avaliação objetiva Determinadas ainda que parcialmente pelas condições básicas e estrutura de mercado as condutas ou práticas mercadológicas completariam o núcleo básico do modelo ECD Falase aqui nas técnicas de determinação de preços nas estratégias de escolha de produtos e propaganda nos gastos com pesquisa e desenvolvimento nos acordos entre concorrentes acordos horizontais fusões e aquisições e entre agentes operando em diferentes elos da cadeia produtiva 18 integração e restrições verticais bem como em práticas propositalmente formuladas para fragilizar ou disciplinar concorrentes Finalmente completa o esquema ECD a consideração das políticas públicas que direta ou indiretamente interferem no livre funcionamento do mercado Entre elas podese destacar o impacto das políticas macroeconômicas de incentivos ao investimento educação ou emprego bem como dos impostos e subsídios e barreiras ao comércio internacional Especialmente afetas à OI as políticas públicas de defesa da concorrência de regulação de monopólios naturais e mesmo a política industrial parecem visar propositalmente à obtenção de ganhos de desempenho industrial considerados desejáveis socialmente Ainda que o tema da conveniência de Políticas Industriais esteja sujeito a profundas controvérsias é tarefa da OI iluminar a questão para com critérios científicos e quando possível permitir uma avaliação mais detalhada de sua conveniência e limites Apesar de útil para a organização de temas o esquema ECD mostrouse frágil em função da complexidade das relações entre as suas diferentes componentes Parece razoável supor que as condições estruturais de mercado condicionam as condutas empresariais que por sua vez condicionam o desempenho de uma indústria Ocorre que o desempenho industrial também pode interferir nas condutas e na reestruturação da indústria eventualmente afetando até as condições básicas e as políticas públicas Efetivamente as relações envolvidas entre os blocos não parecem ser unidirecionais e nem estáveis no decorrer do tempo ou entre diferentes indústrias o que limita sobremaneira o potencial explicativo e preditivo desta abordagem como já se havia adiantado Mesmo sendo uma área em que a aplicação da Economia exige adaptações casuísticas a moderna OI encontra amparo e não desconsidera os conhecimentos da Teoria dos Preços tradicional Há temas microeconômicos específicos que inclusive têm sido desenvolvidos com base nas necessidades e preocupações da OI representando componentes importantes da caixa de ferramentas do profissional de ambas as disciplinas Passemos então a uma breve apresentação destes desenvolvimentos teóricos específicos com particular ênfase em seus 19 usos na OI Teoria dos Custos de Transação Teoria dos Jogos e Teoria dos Mercados Contestáveis Na década de 1930 o nobel Ronald Coase colocou inicialmente uma proposição inusitada as firmas e os mercados podem ser vistos como modos alternativos de organização dos recursos econômicos Suas idéias permaneceram praticamente desconhecidas por mais de três décadas mas ganharam repercussão quando repropostas dentro do movimento de Análise Econômica do Direito sendo então rapidamente incorporadas ao instrumental da OI O argumento coasiano é simples partindo da idéia que quando aumentam os custos de transação as firmas se colocam como alternativas mais interessantes do que a utilização dos mercados na organização de recursos Os empresários por este raciocínio comparam os custos de produção dos insumos e serviços produtivos dentro da empresa aos custos da aquisição destes através dos mercados ou seja de terceiros Tratase da famosa decisão de fazer ou comprar que é afetada pela existência de custos de transação no uso da opção de mercado Os custos de transação são uma categoria abrangente podendo ser classificados em ambientais e humanos Os custos ambientais estão associados à incerteza contratual e à quantidade de firmas envolvidas nas negociações de mercado Para operações de mercado simples de resolução imediata como uma compra de cartuchos de impressão por uma empresa de consultoria o pagamento e a instalação dos cartuchos são suficientes para eliminar a maior parte das incertezas envolvidas sendo também fácil substituir o fornecedor ou o comprador caso aquele relacionamento de mercado seja por algum motivo frustrado já que há uma infinidade de demandantes e ofertantes envolvidos Quando se imagina um contrato de fornecimento de serviços de assistência técnica por um fabricante de microcomputadores entretanto as negociações e acertos envolvidos são bastante mais complexos De fato é comum nestas situações a necessidade de treinamento específico e contínuo dos técnicos prestadores de serviços também importante à fabricante dos aparelhos de informática a qualidade da assistência pósvenda atributo que diferencia os 20 produtos junto aos consumidores finais Como as partes devem agir se os modelos dos equipamentos forem renovados Há garantia de peças de reposição e da continuidade do contrato por um período de tempo e margens de lucro suficientes à recuperação dos investimentos específicos e inúteis para o conserto de máquinas de outras marcas Quais os critérios para garantir a qualidade dos serviços prestados Quanto tempo e recursos são necessários para capacitar um novo pessoal para prestar a assistência técnica Havendo grande incerteza e poucos agentes envolvidos as dificuldades contratuais aumentam significativamente dificultando tornando mais custosa a preparação redação e controle dos contratos Em diversas situações estes fatores ambientais justificam a opção pela prestação direta dos serviços de assistência pelo próprio fabricante que decidem por fazer em vez de comprar Os fatores humanos podem ser ainda mais importantes e em certa medida até justificam os ambientais Os seres humanos têm dificuldades para lidar com situações complexas e fazer previsões características referidas na literatura pela expressão racionalidade limitada Eventualmente estas limitações são o reverso da moeda em que se estampa a incerteza já referida anteriormente Outro fator que cria obstáculos ao uso dos mercados também tipicamente humano decorre da possibilidade de comportamentos oportunistas por parte de uma ou várias das partes contratantes na vigência dos contratos Imaginese que após todo o treinamento específico necessário para o conserto dos computadores altamente sofisticados de determinado fabricante este último decida encerrar suas atividades produtivas antes que os investimentos realizados pela empresa de assistência técnica tenham sido recuperados quem arcará com os prejuízos Certamente a racionalidade limitada e o oportunismo aparecem como obstáculos de difícil transposição em determinados relacionamentos de mercado mas que podem ser superados com a integração vertical dos agentes envolvidos De fato todos os recursos seriam controlados de forma centralizada e harmônica reduzindo as incertezas caso fizessem parte de uma única firma As incertezas e os problemas estratégicos entre os agentes econômicos para além dos problemas de custos de transação são úteis à racionalização de 21 diversos outros fenômenos na OI A Teoria dos Jogos é a parte da Economia que se ocupa de avaliar estas interações estratégicas tendo crescido substancialmente desde que Von Newmann e Morgenstern 1944 publicaram seu argumento sobre a teoria da utilidade esperada em interações estratégicas Os jogos cooperativos são usados modernamente para explicar a existência de conluios e cartéis e jogos não cooperativos de variadíssimas configurações aparecem como grande auxílio à compreensão de práticas de mercado lícitas e ilícitas observadas na realidade Os agentes econômicos têm mostrado grande engenhosidade na condução de seus negócios de mercado freqüentemente incorporando em suas táticas e estratégias as ações e reações esperadas de seus concorrentes e do próprio governo Ainda que estes jogos possam assumir alta complexidade e sofisticação a Teoria dos Jogos tem se revelado instrumento útil para a compreensão científica das condutas destes agentes fazendo hoje parte inseparável da moderna OI Como se poderá perceber no decorrer deste livro o estudo das barreiras à entrada e saída nos mercados parece contribuir muito à compreensão dos processos competitivos Efetivamente quando os obstáculos ao ingresso em determinado mercado neles incluídos os custos esperados de uma eventual reversão dos investimentos realizados são baixos dizse que este mercado é altamente contestável Diversos trabalhos mostram que a alta contestabilidade parece disciplinar as condutas das firmas que efetivamente participam do mercado posto que a tentativa de elevar preços ou reduzir as quantidades ofertadas pode ser rapidamente combatida pela entrada de novos concorrentes os concorrentes potenciais A Teoria dos Mercados Contestáveis que explica e detalha este argumento é outra componente básica da moderna OI sendo oportunamente retomada nos capítulos subseqüentes Finalmente algumas considerações a respeito das preocupações das escolas austríaca e institucional são devidas não apenas para insistir na importância dos temas por elas tratados como para reiterar o fato de que estas idéias críticas à respeito da OI neoclássica têm sido em boa medida incorporadas ao rol de problemas analisados pela moderna OI O cerne das divergências entre o 22 referencial de mainstream e estas escolas alternativas encontrase como já se adiantou na diferença de ênfases no tratamento dos processos dinâmicos observados nas diferentes indústrias Enquanto a visão neoclássica privilegia uma compreensão fundada nos sólidos embora ideais e abstratos conhecimentos da análise de equilíbrio estático as abordagens alternativas enfatizam os processos dinâmicos de concorrência Desconsiderando os processos de ajustamento no decorrer do tempo a perspectiva estática se concentra em situações em que seja razoável supor a manutenção do cenário de mercado relativamente estável como numa fotografia Efetivamente entre duas fotos que descrevem situações distintas de um mercado inúmeros e inusitados processos podem e costumam ocorrer algo que seria comparável ao enredo de um filme Explorar as possibilidades deste enredo esboçando um roteiro lógico e sistemático entre as diferentes fotografias seria a proposta dos autores alternativos da Economia Industrial sendo exemplo típico desta abordagem a descrição do processo de destruição criativa feita por Joseph Schumpeter que entendia necessária e até útil a concentração industrial que viabiliza a ocorrência de inovações e progresso técnico Uma estrutura oligopolista nesta visão apenas representaria um momento transitório de um processo cujos desenvolvimentos finais e conseqüências seriam de difícil previsão Na abordagem schumpeteriana encontramse entre outras contribuições importantes justificativas para os mecanismos legais de proteção à propriedade intelectual que garantindo temporariamente o monopólio sobre idéias e invenções traria potenciais benefícios à sociedade ainda que propiciando estruturas de mercado pouco concorrenciais Atualmente há pleno reconhecimento da importância dos aperfeiçoamentos propostos pelos economistas da linhagem austríaca e institucionalista Em que pesem as dificuldades analíticas associadas a estes anseios já que os modelos dinâmicos se revelam de formulação e avaliação empírica bastante mais complexas do que as exigidas nas análises estáticas os avanços na Teoria dos Jogos dinâmicos os aprofundamentos na análise das escolhas intertemporais e no estudo das fricções dinâmicas fatores que impedem a obtenção instantânea 23 de posições de equilíbrio estático têm permitido alguma aproximação entre os argumentos críticos e da posição dominante A análise da lógica econômica da proteção à propriedade intelectual da decisão de durabilidade dos produtos e dos problemas informacionais revelarão que paulatinamente as dissensões entre estática e dinâmica na OI tendem a ser superadas Organização do Livro As Estruturas A Firma e seus Custos Concorrência Perfeita Monopólios e Firmas Dominantes Oligopólios Cooperativos Oligopólios Não Cooperativos Concorrência Monopolística EstruturaCondutaDesepenho Uma Avaliação Empírica As Condutas Técnicas de Apreçamento Comportamentos Estratégicos Integração e Restrições Verticais Informação e Propaganda Patentes Mudança Tecnológica e Decisões de Durabilidade Teorias de Mercado As Políticas Públicas Antitruste Regulação Política Industrial Comércio Internacional Palavraschave Organização Industrial Economia Industrial 24 Firma Indústria mainstream escolas alternativas estática dinâmica mercado fator de produção modelos de escolha racional individualismo metodológico maximização da utilidade Modelo EstruturaCondutaDesempenho Custos de Transação Teria dos Jogos Mercados Contestáveis Exercícios Sugeridos 1 Diferencie os objetos da Economia Industrial e da Teoria da Firma Tradicional Como se relacionam estas duas disciplinas 2 Quais as diferenças entre Economia Industrial e Organização Industrial Por que e com que bases há autores que consideram ultrapassada esta distinção 3 Quais as dimensões básicas do mercado Se você fosse aplicar estas dimensões para delimitar o mercado de livros na cidade de São Paulo quais seriam os produtos e ofertantes envolvidos Explique 4 Defina Firma e Indústria diferenciandoas de acordo com os referenciais da Organização Industrial A General Motors é uma firma uma indústria ou ambas E a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 5 O que é Economia Que problemas econômicos são resolvidos envolvem firmas e indústrias 6 O que é um Modelo de Escolha Racional Quais seus axiomas básicos e que indicam 7 Qual a importância dos estudos empíricos para a Organização Industrial 8 Quais os principais blocos do Modelo EstruturaCondutaPerformance O que os defensores destes modelos pretendiam 9 Você consegue identificar algumas indústrias ou situações em que a conduta afeta a estrutura ou o desempenho Dê dois exemplos 10 Como você explicaria o fato da universidade ou faculdade em que você estuda contratar serviços de segurança e limpeza terceirizados Por que ela não terceiriza se não o faz também as atividades de ensino 25 11 A racionalidade limitada implica o comportamento oportunista 12 Por que se diz que a Microeconomia representou um desvio longo porém transitório dentro da Economia Industrial Desvio em relação a quê Ver o Apêndice A para esta resposta Leituras Sugeridas Friedman Buchanan Stigler Schlamansee Apêndice A A Construção da Economia Industrial De Adam Smith à década de 1970 Num interessante argumento Donald Hay e Derek Morris 1996 entendem que a teoria da firma tradicional ensinada em cursos de Microeconomia pode ser vista como uma espécie de longo desvio na história do estudo econômico do comportamento das firmas e indústrias Tratase de uma interpretação bastante verossímil quando contextualizada dentro dos desenvolvimentos teóricos ocorridos nos últimos séculos nesta área e que reforça duas outras idéias que ajudam a distinguir entre a Organização Industrial e a Teoria Microeconômica da Firma i boa parte dos aperfeiçoamentos observados na OI pode ser creditada às fragilidades do tratamento dado às firmas pela Microeconomia e ii diversas influências estranhas à Microeconomia ajudaram a moldar a OI conforme é modernamente conhecida Neste apêndice procurase sintetizar a raciocínio de Hay Morris aproveitando para destacar a importância dos principais autores e respectivas contribuições à Organização Industrial Limitase o escopo desta breve retrospectiva histórica ao período compreendido entre a publicação da Riqueza das Nações 1776 ver Box 11 e fins da década de 1960 Os modelos e teorias econômicas a respeito do comportamento das firmas e indústrias continuaram a se aperfeiçoar nas últimas três décadas mas não se nota neste período recente o 26 estabelecimento de um paradigma substancialmente diverso daquele observado no início da década de 1970 De qualquer forma nos Capítulos subseqüentes as atualizações na literatura merecerão nota e detalhamento à medida que os tópicos específicos envolvidos sejam tratados A teoria da firma encontrada na Riqueza das Nações aparece bastante simplificada quando comparada à conhecida atualmente De fato naquele tempo entendiase que o valor das mercadorias era determinado pelo trabalho nelas incorporado explicação que o próprio Smith reconhecia ser adequada apenas para economias pouco desenvolvidas mas que ele adotava com a finalidade de evitar as complicações associadas a uma teoria dos custos que levasse em conta os outros fatores de produção Baseado nestas hipóteses simplificadoras Smith trabalhava com a distinção entre preço de mercado e preço natural ou valor O preço natural em Smith era aquele associado ao valor do trabalho necessário para a produção de um bem ou serviço Tinhase apesar de precária uma teoria embrionária dos custos de produção e desta forma uma explicação lógica para a oferta das mercadorias A ênfase dada por Smith ao preço natural em sua análise estava diretamente associada à crença do autor nas forças da competição que faria com que discrepâncias entre os preços naturais e os preços de mercado fossem entendidas como raras e transitórias Desta maneira Smith interpretava que se um produto tivesse preços de mercado mais altos do que outro isto decorreria das diferenças nas quantidades de trabalho neles incorporadas Lucros altos neste sentido não eram vistos pelo pai da Economia como oriundos das diferenças entre os preços de mercado e natural mas pela existência de alguma dificuldade produtiva ou custo adicional que resultaria em preços naturais mais altos A idéia de lucros extraordinários ou anormais não parecia compatível com a operação dos mercados competitivos para Smith Embora na Riqueza das Nações exista a presunção de que a concorrência seja bastante intensa baseada na operação da mística mão invisível é de se notar que ali não se encontra um tratamento analítico mais rigoroso a respeito dos processos de competição faltando inclusive argumentos tecnicamente fundados na análise do lado da demanda 27 Este hiato na análise dos mercados inicia a ser superado com a contribuição de Stanley Jevons Teoria da Economia Política 1871 com o qual um tratamento mais formalizado dos custos e as sementes da análise da demanda baseada no conceito de utilidade são lançadas É nos trabalhos posteriores de Alfred Marshall Princípios de Economia 1890 e Indústria e Comércio 1919 entretanto em que Hay Morris encontram a contribuição individual mais notável na teoria econômica entre Smith e Keynes Marshall soterrou a idéia de que o valor das mercadorias fosse independente dos preços de mercado aproveitando as contribuições marginalistas de Jevons e defendendo de forma até hoje aceita a importância das curvas de oferta e demanda na determinação destes preços de mercado É comum se referir a estas duas curvas numa merecida homenagem como as lâminas da tesoura marshalliana que só operam perfeitamente sua função determinar os preços relativos no ponto em que se cruzam Passa a ser interessante neste momento fazer referência à Figura A11 na qual se nota uma divisão em dois quadrantes situandose Smith e Marshall na posição mediana De fato a leitura das obras destes autores revela uma ímpar combinação de argumentos teóricoformais com aspectos práticos orientados à experiência empírica Nas situações em que havia conflito entre as teoria propostas e realidade observada eles davam prioridade à última A partir de um eixo vertical imaginário passando por Smith e Marshall podem se localizar mais à esquerda autores cujas principais contribuições privilegiaram raciocínios lógicoformais aproximandose daquilo que hoje se ensina em cursos de Teoria dos Preços ou Microeconomia das firmas e indústrias Para o lado direito a seu turno a árvore da OI soltará ramos tipificáveis como empíricos menos preocupados com o rigor formal e ávidos por criar explicações para o comportamento das firmas e indústrias analisadas a partir delas próprias dos dados brutos e históricos disponíveis 28 Economia Industrial na Atualidade 1970 Lancaster Marris Nash Von Newmann 1940 Morgenstern Bain Coase Hotteling Chamberlin Mason Allen Sargent Florence 1920 Knight Sraffa Berle Means Marshall 1900 Clark Estudos de Caso Bertrand 1880 Edgeworth Jevons Escola Empírica 1840 Cournot 1760 Smith Teoria Dedutiva Teoria Empírica Figura A11 Histórico do Desenvolvimento da Organização Industrial baseado em Hay e Morris 199 No lado dedutivo além de Jevons 18351882 encontramse Cournot 1801 1877 Edgeworth 1845 1926 Bertrand 18221900 Clark 18471938 Frank Knight 18851972 Sraffa 1898 1983 Hotteling 18951973 Chamberlin 1899 1967 Ronald Coase 1910 Lancaster 1924 1999 Von Newmann Morgenstern e John Nash 1928 Há um claro e difícil reducionismo em escolher e situar autores de tanta importância relativamente a um único critério mas entendese que estes nomes compartilham de uma peculiar ênfase na construção de raciocínios abstratos e apenas remotamente direcionados à compreensão de situações práticas ou históricas específicas O vínculo necessário entre a teoria econômica e a realidade não desaparece nestes autores mas na medida em que se situam mais a oeste na figura constatase que aumenta o recurso à formulação de teorias mais gerais e matizadas pela necessária abstração lógica que tradicionalmente as acompanha É assim que aparece à direita de Jevons a figura de Francis Edgeworth Mathematical Psychics 1881 matemático e estatístico autodidata que com o auxílio do cálculo diferencial desenvolveu importantes contribuições na análise teórica da operação dos mercados competitivos e de oligopólios Prosseguindo 29 nesta linha John Bates Clark conhecido por criar o conceito de produtividade marginal e Frank Hyneman Knight Risk Uncertainty and Profit 1921 que procurou determinar as condições em que a concorrência perfeita não elimina os lucros extraordinários praticamente concluíram os desenvolvimentos lógicos do modelo de concorrência perfeita conforme hoje é conhecido Cronologicamente ainda antes de Jevons devese notar uma linha relativamente autônoma da Figura A1 que se inicia em Cournot Recherches 1838 e deságua no nobel John Nash representando os desenvolvimentos da Teoria dos Jogos Estes nomes aos quais se podem somar o do matemático francês Joseph Bertrand e da dupla Von Newmman Morgenstern VNM o primeiro doutor em matemática e química e o segundo um notável economista da tradição austríaca associamse à preocupação em tratar os problemas de interação estratégica entre os agentes econômicos atualmente considerados absolutamente centrais nos estudos de OI O fato de aparecerem bem à esquerda no esquema apresentado é digno de nota já que quando efetivamente ganha corpo após a II GG a Teoria dos Jogos se estrutura em modelos e conceitos extremamente abstratos A sofisticação formal nesta área não diminuirá muito pela adequação da Teoria dos Jogos aos casos concretos envolvendo oligopólios e problemas informacionais a partir da década de 1970 mas as novas questões enfrentadas passam a ter foco bastante mais dirigido a aspectos práticos e especificamente complexos conforme observados na vida empresarial Completase a descrição do lado direito do quadro notando que Sraffa Hotteling Chamberlin Coase e Lancaster encontramse em posições intermediárias no quadrante esquerdo tendendo a uma aproximação ao lado dos trabalhos empíricos Podese depreender deste movimento tentativas de corrigir o longo desvio teórico identificado por Hay Morris no desenvolvimento da OI Em 1926 Sraffa The Law of Returns under Competitive Conditions Economic Journal 36 levantou a hipótese de que na prática as firmas param de se expandir não em função da elevação de seus custos mas porque este crescimento exigiria uma redução inaceitável nos preços para que tomasse efeito Diferentemente do que se ensinava e até hoje se ensina nos livros de Microeconomia o que este 30 autor sugeria é que mesmo as firmas competitivas se defrontam com curvas de demanda negativamente inclinadas A idéia de curvas de demanda não horizontais perfeitamente preçoelásticas era usada para explicar as decisões de monopólio e na contraposição entre os modelos disponíveis e a constatação sraffiana podese encontrar a trilha posteriormente seguida por Chamberlin criador do modelo de concorrência monopolística Criado com base na percepção empírica de que nem o modelo de concorrência perfeita nem o de monopólio gerava boas explicações para as usuais situações em que as firmas competiam embora ofertassem produtos não idênticos o modelo de Chamberlin foi construído supondo que no curtoprazo estas firmas agem como se fossem monopolistas defrontandose com curvas de demanda negativamente inclinadas pela diferenciação de seus produtos mas no longo prazo em função da facilidade de entrada de outras firmas ou incorporação dos diferenciais desejados pelos consumidores nos produtos concorrentes uma solução tipicamente concorrencial seria obtida O modelo de localização espacial das firmas de Hotelling Stability in Competition Economic Journal 39 1929 e a nova abordagem à teoria do consumidor desenvolvida por Lancaster mostraramse bastante úteis à complementação das idéias da concorrência monopolística permitindo tratamento amplo a questões de diferenciação de produtos Finalmente na Teoria dos Custos de Transação engendrada por Ronald Coase e inicialmente formulada no artigo sobre A Natureza da Firma em 1937 observase uma radical mudança de perspectiva no estudo das firmas como organizações Nomes não referidos no esquema como o de Simon 1947 1957 e Hayek 1945 juntamse ao de Coase para fixar novos parâmetros à compreensão das firmas como alternativas institucionais ao uso dos mercados revelando a oportunidade e a possibilidade de abrir a caixa preta da firma neoclássica num trabalho que após a década de 1970 será destacado o papel de Oliver Williamson 1975 1985 Nos ramos empíricos históricoindutivos nenhum nome de destaque é reconhecido até meados da década de 1920 De fato podese identificar uma 31 escola empírica e numerosos estudos de caso até então formulados mas estes consistiam de descrições históricas sobre o surgimento e desenvolvimento de firmas e indústrias incluindo as vidas e biografias dos fundadores relatos do desenvolvimento de produtos e das estruturas organizacionais das firmas mas tudo isto feito sem maior rigor científico ou visando a elaboração de proposições de caráter geral Sargent Florence Logic of Industrial Organization 1933 e Allen G C British Industries and their Organization 1933 são considerados os primeiros autores a tentar alguma forma de sistematização destes trabalhos de natureza empírica ainda assim permanecendo bastante distantes de conseguir resultados teoricamente palpáveis Bearle Means The Modern Corporation and Private Property 1932 destacamse por seus esforços no sentido de estudar os aspectos institucionais de políticas públicas em associação ao comportamento dos preços e lucros observados nas indústrias podendo ser tidos como precursores do modelo de EstruturaCondutaDesempenho desenvolvido por Mason Price and Production Policies of Large Scale Enterprises American Economic Review Suppl 29 1939 e JS Bain Industrial Organization 1959 Este último autor já se aproximando de uma posição quase central na Figura A1 compartilha com William Baumol The Theory of Expansion of the Firm 1962 American Economic Review a parternidade do atualmente conhecido Modelo dos Mercados Contestáveis em que se exploram as relações entre as barreiras à entrada e saída nos mercados e o comportamentos das firmas Finalmente justa a posição atribuída a R Marris The Economic Theory of Managerial Capitalism 1964 que inicia pelo lado empírico trabalhos complementares aos de Ronald Coase ambos aparecendo como sementes para o que nos anos posteriores se denominará a Nova Teoria da Firma Uma nota conclusiva deve ser feita em relação às omissões de autores e obras no esquema aqui apresentado especialmente dos autores de linhagem austríaca e institucionalista Schumpeter BöhmBawerks Menger e outras personagens de primeiro escalão na formação do pensamento econômico moderno paulatinamente têm suas contribuições reconhecidas e incorporadas na moderna teoria da OI 32 embora não seja factível encaixálos de forma simples no quadro simplista acima oferecido As idéias destes autores não obstante reaparecerão oportunamente no decorrer deste manual quando se espera reduzir a injustiça que ora se comete