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objetivos Meta da aula Refletir sobre a aplicação dos conceitos de civilização e de cultura no ensino de História Esperamos que após o estudo do conteúdo desta aula você seja capaz de identificar os conceitos gerais de civilização e de cultura aplicados nas Ciências Humanas e em especial na História aplicar esses conceitos na prática pedagógica Civilização e cultura 2 2 A U L A Prérequisitos Para acompanhar melhor esta aula você deverá ter em mente o conteúdo da Aula 1 e os conceitos de cultura e identidade das Aulas 11 e 12 da disciplina História na Educação 1 História na Educação 2 Civilização e cultura 2 8 C E D E R J C E D E R J 9 AULA 2 Como você já deve ter observado em seu diaadia as palavras nem sempre possuem sentidos únicos Na teoria isso não é diferente E especialmente quando se trata de conceitos é fácil perceber que seus significados se alteram ao longo do tempo ou de acordo com a corrente de estudo à qual estão filiados Os conceitos de civilização e de cultura estão fortemente presentes na produção do conhecimento histórico Portanto não podem por conseqüência estar apartados do ensino dessa disciplina Vamos agora tratar da utilização desses conceitos no contexto prático da sala de aula atentando para a necessidade de os alunos construírem seus significados ao longo dos dois primeiros ciclos para consolidálos posteriormente CULTURA E CIVILIZAÇÃO Das eras Das mais antigas eras No mundo surgiu a criatura Diversa diferente de outras feras Pensante Sem duvidar do futuro adiante SÁ RODRIX GUARABYRA 2005 O homem a criatura pensante tem o poder de criar e transfor mar a partir da abstração do pensamento o que é dado naturalmente inato Diferindose dos demais seres as outras feras ele é capaz de constituir cultura é capaz de criar INTRODUÇÃO Figura 21 Detalhe de A criação do homem de Michelangelo 1510 Fonte Buonarotti 2005 História na Educação 2 Civilização e cultura 2 8 C E D E R J C E D E R J 9 AULA 2 A criação do homem faz parte dos painéis pintados por Michelangelo Buonarotti na famosa Capela Sistina do Vaticano Roma Observe que no contexto cristão o poder de criar é mistificado pela criação do homem como imagem e semelhança de Deus É exatamente a essa ação do homem sobre a Natureza que os conceitos de cultura e de civilização estão relacionados Se por um lado a idéia de cultura apresenta um significado mais amplo por outro a idéia de civilização retrata um conjunto específico da criação cultural do homem em coletividade Dessa forma podemos dizer que nossos ancestrais hominídeos já produziam cultura mas só podemos pensar em civilização alguns séculos antes de 3000 aC quando importantes transformações ocorreram em algumas sociedades da Mesopotâmia e do Egito Mas quais são as características fundamentais da cultura civilizada Em primeiro lugar o surgimento da organização espacial urbana a cidade Em segundo lugar associase o surgimento da cidade a uma organização política mais complexa do que a daquelas conhecidas até então pelos grupos nômades e sedentários o ESTADO Somamse a estes dois elementos caracterizadores outros fatores as primeiras formas de escrita e o trabalho especializado nas cidades Por volta de 4000 aC surgiu a primeira forma de escrita a escrita cuneiforme dos sumérios O domínio da escrita foi durante muitos séculos monopólio de poucos sendo controlado pelo Estado e por diferentes instituições religiosas Leitura e escrita eram portanto signos de poder e a restituição de tais saberes era uma forma de controle Assim a nãogeneralização do ensino da escrita contribuiu para a manutenção desses mecanismos de poder Signo de poder o saber ler e escrever foi justificativa para a nãogeneralização do ensino da escrita ESTADO É a organização políticoadministrativa que governa uma sociedade no território ocupado eou controlado por ela Figura 22 Placa de barro com escrita cuneiforme dos sumérios Fonte História 2005 História na Educação 2 Civilização e cultura 2 10 C E D E R J C E D E R J 11 AULA 2 O trabalho tornavase mais especializado principalmente nas cidades Entrelaçadas a essas modifi cações surgiram as diferenciações sociais nessas sociedades 1 Observe o esquema e leia atentamente as opções que o seguem CONCEITO NATURAL TRABALHO CULTURAL DEFINIÇÃO ATIVIDADE Quando a urbanização e a organização estatal se consolidaram três setores sociais básicos ficaram perceptíveis A imensa maioria da população dedicavase às atividades agropecuárias consumindo diretamente parte do que produzia e entregando o resto ao poder central Tal população não participava das decisões comuns Um grupo minoritário que se ocupava com atividades artesanais de troca administrativa e religiosas passava a ser mantido pela redistribuição dos excedentes extraídos das aldeias Embora ocupasse uma posição de privilégio esse grupo também não tinha poder de mando Um grupo ínfimo organizava o trabalho das comunidades pelas quais era sustentado e decidia por todos Este conjunto de mudanças foi contemporâneo simultâneo nos locais onde a forma de viver civilizada apareceu Podemos dizer que elas são características culturais complementares e que portanto surgiram ao mesmo tempo Não podemos destacar o aspecto mais importante pois elas são reciprocamente causa e conseqüência umas das outras É importante lembrar que estas transformações não atingiram a todas as sociedades existentes pois algumas não tiveram necessidade eou condições internas de mudar As que mudaram não viveram necessariamente esse processo na mesma época O conceito de civilização como elemento de superioridade cultural desenvolveuse a partir do século XIX em um momento em que se fazia necessário justifi car o domínio da cultura européia ocidental sobre diversas culturas Assim civilização ganhou o sentido de cultura melhor superior junto com a idéia do direito de civilizar o mundo à imagem e à semelhança dos europeus portanto com o ideal de criar um mundo culturalmente homogêneo ocidental História na Educação 2 Civilização e cultura 2 10 C E D E R J C E D E R J 11 AULA 2 a Ação transformadora do homem b Resultado da ação direta do homem c Existência independente da ação humana Complete os círculos do esquema com as letras correspondentes aos conceitos RESPOSTA COMENTADA A ação transformadora do homem trabalho altera a Natureza e produz o que chamamos de cultura quer material ou imaterial CULTURA E CIVILIZAÇÃO NO ENSINO DAS SÉRIES INICIAIS No contexto do ensino de História a diferença entre os conceitos de cultura e de civilização deve ser progressivamente trabalhada Para perceber a diversidade como o resultado do processo cultural o aluno precisa ter a dimensão dessa capacidade criativa do homem sem juízo de valor É necessário desmistificar o conceito de civilização dissociálo da idéia de superioridade sem abdicar da percepção da complexidade que essa criação social traz Os PCN propõem eixos temáticos como norteadores do ensino de História nas séries iniciais No primeiro ciclo o eixo é a História local e a História do cotidiano Os PCN priorizam para esse eixo alguns conteúdos a saber levantamento de diferenças e semelhanças individuais e sociais entre os componentes da turma identificação de transformações e permanências dos costumes das famílias dos alunos e nas instituições escolares levantamento de diferenças e semelhanças entre pessoas e os grupos sociais que convivem na coletividade identificação das transformações e permanências nas vi vências culturais da coletividade identificação do grupo indígena da região e estudo do seu modo de vida identificação de semelhanças e diferenças entre o modo de vida da localidade e da cultura indígena que ali predominou No segundo ciclo a História das Organizações Populacionais é o eixo temático proposto Também nesse período destacamos alguns conteúdos a serem priorizados levantamento de diferenças e semelhanças das ascendências e descendências entre os membros da comunidade local História na Educação 2 Civilização e cultura 2 12 C E D E R J C E D E R J 13 AULA 2 contextualização e identificação dos processos de deslocamento de população imigração e migração no passado e no presente identificação de diferentes tipos de organizações urbanas caracterização do espaço urbano local e sua relação com outras localidades urbanas e rurais Mas como trabalhar com os conceitos de cultura e de civilização nesses contextos A rápida observação dos eixos temáticos e dos conteúdos propostos pelos PCN já nos indica que o trabalho com o conceito de cultura no primeiro ciclo deve ser priorizado para permitir a introdução do conceito de civilização no segundo O PRIMEIRO CICLO O primeiro passo é buscar as informações entre os próprios alunos e envolvêlos com a pesquisa do tema proposto Tendo como ponto de partida o universo do aluno podemos trabalhar a comparação entre grupos sociais contemporâneos e de outras épocas As Histórias local e do cotidiano permitem a percepção das diversidades de forma lúdica Coleções sobre as histórias do cotidiano podem ser a base do estudo para o professor exemplo História da Vida Privada Existe hoje uma boa variedade de paradidáticos que abordam o cotidiano Veja nas leituras recomendadas alguns exemplos Assim é importante que se evidenciem nesse ciclo utilizando mais acentuadamente a linguagem visual as diferenças das residências das roupas da forma de educar da comida da cultura material que cerca as pessoas e das brincadeiras infantis Por exemplo observe as ilustrações que se seguem Figura 23 Caverna com pinturas rupestres Figura 24 Ocas indígenas História na Educação 2 Civilização e cultura 2 12 C E D E R J C E D E R J 13 AULA 2 As funções são semelhantes não Isto é o homem coletivamente deu um novo sentido à caverna ao apropriarse dela para abrigo mas ao longo do tempo continuou produzindo também outros tipos de habitações para sua proteção e bemestar Você conseguiu perceber que não existe valor cultural diferenciado entre os exemplos apresentados Tanto a caverna quanto o apartamento são produções culturais O julgamento de valor que podemos emitir sobre qualquer um desses abrigos é por si só uma produção cultural Observe que você já poderia estar abordando com as crianças questões relativas à percepção de tempo Cada habitação dessa nos remete a uma sociedade e a um tempo histórico específicos mas isso não quer dizer que não possa haver permanências e convivências no tempo Enquanto estamos em nossos apartamentos urbanos muitas famílias habitam casas rurais semelhantes às das Figuras 25 e 26 Você já deve ter percebido que os exemplos de cultura material são mais fáceis de serem trabalhados especialmente na idade escolar com a qual estamos tratando Mas não é impossível trabalharmos com a cultura imaterial Pense no gosto alimentar na moda e no padrão de beleza feminino São frutos abstratos da cultura mas são bem reais Só comer carne crua é hoje para nós inimaginável mas já foi uma refeição comemorada pelos nossos antepassados Hoje o padrão de mulher ocidental bonita pressupõe a magreza Retratos antigos de família podem facilmente evidenciar que no passado a maioria das mulheres tinham outro padrão de corpo Figura 25 Casa rural Figura 26 Conjunto habitacional História na Educação 2 Civilização e cultura 2 14 C E D E R J C E D E R J 15 AULA 2 Se utilizarmos imagens de outros locais e épocas essas diferenças do conceito de beleza se consolidam Observe as imagens que retratam a moda feminina ocidental nas décadas de 1920 1950 e 1960 A diferença é grande não E nós só estamos retratando a realidade ocidental Será que o resultado seria o mesmo se buscássemos para as mesmas épocas imagens da moda chinesa ou iraquiana Claro que não Partindo portanto do que o aluno conhece sua localidade seus amigos e seus familiares é possível agregarmos informações que contribuam para a compreensão do processo histórico a demarcação das permanências e mudanças e ainda o entendimento das noções de tempo e do conceito de cultura 2 Aproveite o exemplo do vestuário e pesquise imagens que demonstrem a transformação cultural ocorrendo em uma variação de tempo e de espaço Variando no tempo Indique quando Indique quando ATIVIDADE Figura 27 Moda feminina ocidental nas décadas de 1920 1950 e 1960 respectivamente História na Educação 2 Civilização e cultura 2 14 C E D E R J C E D E R J 15 AULA 2 Variando no espaço Indique onde Indique onde Na prática como você trabalharia essas imagens Você poderia utilizar esse tipo de atividade no contexto do primeiro ciclo Justifique essa afirmação RESPOSTA COMENTADA Imagine que você escolheu a imagem de um índio que habitou sua região e seu próprio retrato para caracterizar as mudanças no tempo O mesmo retrato seu poderia estar ao lado da imagem de um gaúcho dos pampas identificando mudanças que ocorrem de lugar para lugar numa mesma época É fácil perceber as mudanças Observe que a atividade além de propiciar a pesquisa e o desenvolvimento motor recorte e colagem permite a utilização da linguagem visual para registrar a informação numa fase de alfabetização em curso Podemos dizer que essa atividade é aplicável porque utiliza conceitos e percepções importantes para a História sem uma abordagem direta O SEGUNDO CICLO Embora não seja impossível trabalhar o conceito de civilização na proposta de eixo temático e conteúdos sugeridos pelos PCN para o primeiro ciclo vamos dar ênfase na sua abordagem no segundo ciclo História na Educação 2 Civilização e cultura 2 16 C E D E R J C E D E R J 17 AULA 2 Podemos começar destacando a importância das migrações e da urbanização na História Os homens sempre buscaram condições de sobrevivência melhores Isso está associado à longa tradição de migrações ao longo da sua História Identificar as demandas de qualidade de vida que incentivaram grupos a se deslocarem no espaço ao longo dos séculos é importante Se os primeiros hominídeos nômades caminhavam constantemente em busca de suprimentos alimentares ainda nos dias atuais milhares de seres humanos fogem da fome das guerras dos desastres naturais ou buscam melhores empregos para no fundo garantirem a mesma coisa a sobrevivência Todo processo de mobilização populacional portanto evidencia um momento histórico específico Podemos dizer que a própria História da ocupação dos continentes se faz mediante inúmeras e constantes ondas de migração de populações ainda não totalmente desvendadas A partir da África continente até o momento reconhecido como berço dos primeiros hominídeos vagas de migrações ocuparam a Ásia a Europa e a América Observe no mapa a seguir as rotas até hoje identificadas pelos estudos de fósseis Elas são ilustrativas dos primeiros processos de transferência de populações da história da Humanidade Figura 28 Mapa da ocupação dos continentes Floresta tropical Floresta oriental Deserto Mar negro Tundra Floresta conífera Mar do Japão Mar Cáspio História na Educação 2 Civilização e cultura 2 16 C E D E R J C E D E R J 17 AULA 2 Outro processo histórico importante foi o da urbanização pois implicou uma mudança radical na organização das sociedades sedentárias que produziram as cidades que hoje concentram grande parte da população mundial Viver em cidades exigiu uma série de outras mudanças tais como o desenvolvimento do comércio de gêneros alimentícios Além disso provocou também a especialização do trabalho pois quem vive na cidade desenvolve atividades distintas daqueles que vivem no campo Lembrese de que a cidade surgiu no contexto do fim da autonomia política das sociedades campesinas as quais passou a dominar A comparação entre a vida urbana e a rural é um primeiro passo possível para iniciar o trabalho Há sempre presente na vida rural um certo grau de autosuficiência inexistente na cidade A família campesina produz os bens necessários para a sua sobrevivência Quanto mais no tempo voltamos mais essa autonomia fica evidente Nesse ponto o trabalho é buscar entre os alunos as informações sobre necessidades básicas para que um coletivo de homens viva no contexto urbano Assim podem ser formuladas questões como O que se precisa ter Em que se pode trabalhar Você pode apontar como exemplo as catástrofes naturais que atingem os centros urbanos Elas demonstram claramente a desarticulação acentuada da vida cotidiana e conseqüentemente das condições de sobrevivência Recentemente a destruição ocorrida em Nova Orleans nos EUA apresentou ao mundo uma comunidade sem alimentos sem empregos sem abrigos e tomada pelo medo da violência causada pela tentativa de sobrevivência Uma segunda possibilidade é identificar os elementos caracte rizadores do espaço urbano A comparação de plantas estilizadas como as que encontramos em locais de informações turísticas de diferentes centros urbanos pode ser o meio de ação Nesse sentido sua prática fará com que os alunos reflitam sobre a ocupação do espaço de cidades de hoje eou cidades do passado O que todas elas têm em comum O que é priorizado nesses espaços Um terceiro ponto é abordar a diversidade de funções prioritárias que as cidades tiveram ao longo do tempo em diferentes lugares As cidadesporto as cidades centros comerciais as cidadesuniversitárias as cidades religiosas as cidadesgoverno etc História na Educação 2 Civilização e cultura 2 18 C E D E R J C E D E R J 19 AULA 2 3 Identifique os elementos constitutivos básicos do conceito de civilização RESPOSTA COMENTADA É fundamental destacar que a civilização como processo cultural se caracteriza pela organização das sociedades em cidades e por meio do Estado Essas premissas básicas se associam ao surgimento da escrita do trabalho especializado e da desigualdade social ATIVIDADE CONCLUSÃO A comparação entre realidades diversas propicia momentos de análise mais ricos e motivantes que são fundamentais para a apreensão dos conceitos de maneira natural para que em momentos posteriores o aluno possa fazer o registro de seus signifi cados por meio da linguagem escrita A percepção do signifi cado de cultura e de civilização sem os preconceitos que porventura foram incorporados aos seus sentidos no passado é fundamental Dessa forma você estará contribuindo para uma educação comprometida com a formação de indivíduos que saibam viver com a diversidade valorizandoa como resultado da criação das relações dos homens entre si e com a Natureza ATIVIDADE FINAL Leia o seguinte trecho extraído do verbete cultura extraído da Enciclopédia Mirador A diferença fundamental entre cultura e natura só se realiza com a participação direta do homem agindo sobre a natura enquanto esta existe independente da ação humana História na Educação 2 Civilização e cultura 2 18 C E D E R J C E D E R J 19 AULA 2 LEITURAS RECOMENDADAS CARDOSO Ciro Flamarion Santana Sociedades do antigo Oriente Próximo São Paulo Ática 1996 Descreve de forma resumida o processo de surgimento da civilização CUCHE Denys A noção de cultura nas ciências sociais Tradução de Viviane Ribeiro Bauru SP EDUSC 1999 Apresenta o desenvolvimento do conceito de cultura e de civilização na Antropologia e na Sociologia O esclarecimento do conceito de cultura e de civilização é aconselhável desde as séries iniciais As orientações didáticas os eixos temáticos e os conteúdos gerais propostos pelos PCN evidenciam a possibilidade de realização do trabalho com conceitos complexos na introdução ao ensino de História R E S U M O Justifique a afirmativa apresentando exemplos RESPOSTA COMENTADA A ação do trabalho humano é transformadora da Natureza resultando na cultura Assim a árvore trabalhada pelo homem vira papel mesa cadeira Uma quedadágua pode se tornar uma hidrelétrica O raio pode ser entendido como a manifestação da fúria de um deus O sol pode se transformar em divindade etc História na Educação 2 Civilização e cultura 2 20 C E D E R J Além dos fi lmes recomendados na Aula 11 da disciplina História na Educação 1 sugiro o documentário O nascimento da civilização das Edições Prado na Educação 1 sugiro o documentário Edições Prado MOMENTO PIPOCA AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD Disciplina Coordenador Alunao Matrícula Polo DISCENTE E TUTORA PRESENCIAL OBSERVE COM ATENÇÃO AS ORIENTAÇÕES ABAIXO Leia com cuidado e calma os enunciados abaixo Atenção responda de acordo com o que foi pedido Procure respeitar os espaços reservados para resposta Observe demais orientações de suaseu TP Este caderno de provas tem cinco 03 questões discursivas valendo ao todo 100 pontos Boa prova 1ª Questão Redija uma breve redação abordando I UMA diferenciação entre Cultura e Civilização com base nos materiais da nossa sala e II UM aspecto relacionado a estes conceitos que atualmente seja mobilizador e que possa introduzir o debate sobre Desigualdades em nossa sociedade entre discentes das séries iniciais do EF 25 p Nota História na Educação 2 PEDLIC UERJ José Roberto Idafẹ Tutora a Distância Vera Dias AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD 2ª Questão Apresente duas propostas DISTINTAS de atividade para estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental observando o legado cultural dos I Gregos e II dos Romanos Suas propostas devem identificar os Conceitos a serem ensinados o Tempo total e o das etapas durações a Metodologias e Materiais a serem utilizados e os Objetivos da atividade Obs DISSERTE sobre TODOS estes aspectos acima os relacionando às suas propostas e procurando justificar as estratégias e seleções feitas Cuidado NÃO responda se utilizando de tópicos extremamente sintéticos eou superficiais ATIVIDADE I 25 p AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD ATIVIDADE II 25 p AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD 3ª Questão A partir de aspectos e características históricas relacionados ao período medieval Comente exemplificando a partir dos materiais dispostos às aulas nº4 a seguinte afirmação Toda escravidão é um trabalho compulsório mas nem todo trabalho compulsório e uma escravidão 25 p objetivos Meta da aula Apresentação da história do mundo grecoromano na Antigüidade Clássica Esperamos que ao final desta aula você seja capaz de identificar a importância do estudo da Antigüidade Clássica para a Educação avaliar a contribuição dos gregos e dos romanos na construção das idéias sobre a educação no Ocidente permitir o aprimoramento cultural e o aperfeiçoamento do profissional da Educação no que tange aos temas da Antigüidade Clássica Antigüidade clássica Gregos e Romanos 3 A U L A História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 36 C E D E R J C E D E R J 37 AULA 3 Qual a contribuição mais importante da Antigüidade Clássica para a Educação Poderá você dileto aluno formular essa pergunta talvez intimamente suspeitando de que ela não sirva para nada Tentarei ao longo da presente aula apresentar argumentos e conteúdos que possam dirimir essa dúvida que recai sobre os estudos clássicos Porém acredito que sendo você um ser humano esclarecido logo perceberá o quanto gregos e romanos em suas práticas educacionais e principalmente nas formulações de suas idéias sobre o que é Educação foram os fundadores daquilo que atualmente entendemos por educação no mundo ocidental e em tempos globalizados em outras partes do mundo também Pois o ideário educacional ocidental se espalhou através da História Nosso objetivo principal será despertar em você o apreço pela contribuição de autores e escolas clássicas os baluartes do que hoje chamamos educar A cultura grecoromana revelou ao mundo uma verdade fundamental desde que bem ensinados qualquer um pode aprender qualquer coisa Essa verdade é um dos ideais que inspiram o ofício do educador e mesmo quando as práticas a contradizem tanto mais ela se torna indispensável Gregos e romanos na época denominada pelos historiadores Antigüidade Clássica foram muito diferentes do que nós somos hoje Então por que voltamos a eles Certamente não só por curiosidade erudita mas também para nos conhecermos melhor Por que fazem parte dos nossos currículos A resposta está na identidade que está contida na idéia dessa grande civilização chamada Ocidente Nós os ocidentais compartilhamos sejamos anglosaxões latinos ou germanos uma herança que anterior à formação da cristandade nos arrasta aos pensamentos às instituições às filosofias à política à democracia à arte dentre outros fatores das chamadas civilizações clássicas Nas próximas páginas entraremos em contato com esse passado presente nas ciências no esporte nas Olimpíadas na idéia de república e em uma ética na qual existe espaço para o indivíduo pensar por si mesmo de forma crítica e autônoma EDUCAÇÃO E SOCIEDADE NA GRÉCIA CLÁSSICA A cidade grega que mais vai nos interessar será Atenas pois nela aconteceram as principais inovações que fariam da Grécia o berço do Ocidente Atenas foi a cidadeestado pólis por excelência seu desenvolvimento histórico e sua cultura favoreceram o surgimento de INTRODUÇÃO História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 36 C E D E R J C E D E R J 37 AULA 3 várias atividades que colocaram em destaque o espírito de pertencer ao quadro dos cidadãos Os atenienses inventaram o conceito de cidadania que hoje para nós é tão importante Em Atenas a política foi instaurada como prática da comunidade dos cidadãos os que não pertenciam à aristocracia tradicional puderam passar a participar opinar ou pelo menos votar as decisões da assembléia dos cidadãos Por meio de reformas sociais um maior número de atenienses pôde ter acesso à dimensão política da cidade Essas inovações políticas conferiam mais importância ao cidadão A construção de um tipo de individualidade frente às crenças tradicionais e às submissões sociais foi fortalecida por meio de novas práticas culturais emergentes a Filosofia que buscava respostas e explicações na natureza humana a Pedagogia para demonstrar que todos desde que bem ensinados podiam aprender os novos procedimentos jurídicos que possibilitavam artesãos camponeses e comerciantes almejarem um valor social equivalente ao dos aristocratas É nesse contexto que veremos como o ser humano se afirmava enquanto indivíduo dotado de alguma autonomia e capaz de ser responsabilizado por seus atos perante a comunidade Como você pode perceber ainda nos dias atuais perseguimos esses ideais envolvidos na construção da cidadania pois assim como a Revolução Francesa o Renascimento e outros momentos históricos marcantes a Grécia Clássica também contribuiu para a formação do aprimoramento dos ideais que tentam tornar a humanidade mais esclarecida AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS POLÍTICAS E INTELECTUAIS NA GRÉCIA CLÁSSICA Você agora vai compreender como e o que aconteceu na Grécia para que ela seja tão importante para o nosso tempo e para nossos futuros alunos Entre os séculos VIII aC e o século V aC a Grécia em particular a cidade de Atenas passou por transformações políticas econômicas sociais e culturais que proporcionaram o nascimento do Ocidente No plano das instituições políticas ocorreu um progressivo questionamento sobre o poder da aristocracia que dona das terras tudo decidia por meio da lei oral e dos conselhos nos quais somente os nobres podiam comparecer No século V aC a situação havia mudado o que possibilitou a maior participação de comerciantes artesãos e camponeses História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 38 C E D E R J C E D E R J 39 AULA 3 nos processos decisórios que constituíram a democracia As leis passaram a ser escritas permitindo reflexões e menos injustiças pois antes os nobres tinham sempre razão Em Atenas foi constituída uma civilização que desenvolveu um sistema político com base em práticas democráticas e jurídicas que abrangiam o corpo dos cidadãos nobres comerciantes artesãos e camponeses ainda que excluíssem mulheres escravos e estrangeiros O que para você hoje pode parecer pouco na época era uma profunda transformação das idéias e das práticas de poder até então vigentes nas sociedades humanas A cultura grega do final do século VI antes de Cristo e do início do século V aC começou a ser permeada pela influência de SOFISTAS professores de oratória e retórica e de filósofos que questionando as verdades tradicionais da religião prepararam o advento da ciência oci dental buscando a verdade na Natureza e na própria sociedade Assim nasceram importantes áreas do saber ocidental Física Biologia Direito Pedagogia História Geografia dentre outras A sociedade ateniense constituiu no século V aC o regime democrático uma comunidade de homens livres O alargamento do corpo cívico ocorreu no campo político com as assembléias nas quais podiam estar presentes os cidadãos Além disso teve como grande impulsionador o acesso de um círculo maior de habitantes ao universo cultural da cidade A importância do uso da palavra como fonte de poder antes restrita aos nobres cedia espaço para a palavra que persuadia por seu caráter argumentativo de base filosófica científica através da discussão do debate da crítica nos quais havia espaço para a contradição e para o pensamento autônomo Por meio da atividade política o cidadão tomava consciência de sua inserção na cidade das regras do debate político da valorização do seu ofício e da eficácia do uso adequado da linguagem A vida cultural do povo grego nos legou uma herança que até os dias de hoje impressiona pela variedade e intensidade das suas realizações Teatro Poesia Religião Esportes Filosofia Ciência Arquitetura dentre outras Seus costumes transformaram o universo cultural da Antigüidade e permitiram ao ser humano o antropocentrismo isto é pela primeira vez na História o homem buscou explicações para seu destino por meio de negociação com deuses e tradições de uma forma desafiadora e insolente SOFISTAS Foram os primeiros grandes intelectuais da Grécia clássica precursores da pedagogia e mestres da retórica e da oratória Imprimiram ao saber autonomia individual desenvolvendo um grande senso crítico acerca das verdades tradicionais Colaboraram na intensa revolução de saberes ocorrida na Grécia História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 38 C E D E R J C E D E R J 39 AULA 3 Em Atenas durante a época anterior à época clássica as ativida des econômicas eram distinguidas de acordo com o valor social a elas atribuído O que você pode convir acontece também no nosso tempo Assim no cume da pirâmide social estavam os proprietários das terras aristocratas fundiários seguidos pelas demais formas de ocupação pro fissional que eram consideradas menos relevantes tais como o camponês o comerciante e o artesão Na medida em que os alicerces econômicos se transformavam muitas reivindicações ganharam espaço Artesãos e camponeses lutavam por melhores condições de vida supressão de dívi das injustas que podiam levar à escravidão e à partilha da propriedade da terra Os comerciantes por sua vez desejavam maior poder político condizente com seu crescente poder econômico e a maior presença da moeda nas relações de comércio frutos da expansão do comércio ate niense sobre o Mediterrâneo Essa situação levou à invenção da política como forma de dirimir os inúmeros conflitos surgidos Você percebe essas questões na história da nossa sociedade Na época clássica a integração de mais membros da comunidade ao quadro cívico resultou em uma igualdade de direitos que de certa maneira dentro de determinados limites possibilitou aos comerciantes artesãos e camponeses o acesso à cidadania e à participação na vida política Com isso as atividades econômicas foram equiparadas e ao lado do mundo econômico da terra puderam prosperar também o do comércio e o do artesanato impulsionados pela presença da moeda nas relações econômicas As técnicas do artesanato da eloqüência do comércio e da navegação passaram a ser homenageadas e valorizadas Atenas se transformou em um grande centro comercial e as artes de agir sobre os homens de influenciálos de impressionálos de persuadi los dessa forma conheceram um dos seus períodos mais férteis na história humana E hoje esse tema é importante Qual a sua opinião O mundo cultural ateniense tinha como seus espetáculos mais importantes os encontros públicos nos quais os cidadãos se reuniam para discutir assuntos políticos administrativos e jurídicos dentre outros Durante a passagem da Grécia Arcaica para a Clássica a habilidade oral que antes era prerrogativa dos poetas dos sacerdotes nobres e que era impregnada de um poder mágicoreligioso converteuse em uma habilidade técnica passível de ser ensinada e transmitida a quem quer que fosse capaz de aprendêla Nasciam a Pedagogia e a Filosofia ciências História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 40 C E D E R J C E D E R J 41 AULA 3 que buscavam as verdades do Homem no próprio mundo humano e não somente nas explicações religiosas A linguagem sofreu um processo de laicização isto é explicar e convencer usando argumentos racionais Novos saberes que expressavam propósitos racionais foram sendo organizados esses saberes tais como a Biologia a Física a História a Geografi a a Retórica a Oratória e principalmente a organização jurídica da comunidade na perspectiva da cidadania e da nova idéia política surgida a democracia Não se pode esquecer que todos esses progressos políticos culturais sociais fi losófi cos e científi cos estavam apoiados também em um grande número de escravos que davam suporte ao ócio que permitia aos gregos construírem a sua civilização 1 Agora que você pôde entrar em contato com as linhas gerais da civilização clássica grega proponho uma atividade que terá como ponto de partida um trecho da peça Antígona de autoria de Sófocles um dos maiores dramaturgos gregos clássicos A tradução é de Mário da Gama Kury Com base nesse texto componha uma redação de vinte linhas comentando como você apresentaria para seus alunos a importância da contribuição dos gregos para o mundo ocidental Vamos ao texto de Sófocles Há muitas maravilhas mas nenhuma é tão maravilhosa quanto o homem Ele atravessa ousado o mar grisalho Impulsionado pelo vento sul tempestuoso Soube aprender sozinho a usar a fala e o pensamento mais veloz que o vento e as leis que disciplinam as cidades ocorremlhe recursos para tudo e nada o surpreende sem amparo somente contra a morte clamará em vão por socorro embora saiba fugir até de males intratáveis Sutil de certo modo na inventiva além do que seria de esperar e na argúcia que o desvia às vezes para a maldade às vezes para o bem ATIVIDADE História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 40 C E D E R J C E D E R J 41 AULA 3 se é reverente às leis da sua terra e segue sempre os rumos da justiça jurada pelos deuses ele eleva à máxima grandeza a sua pátria Nem pátria tem aquele que ao contrário adere temerariamente ao mal ANTÍGONA de Sófocles In Trilogia Tebana pp 210 e 211 COMENTÁRIO Para responder a essa questão você deve ter em mente as principais idéias que demarcaram a originalidade da contribuição dos gregos ao nascimento da civilização ocidental Componha sua redação destacando os aspectos sociais e políticos da história grega abordados no item Educação e sociedade na Grécia Clássica que tornaram possível a Sófocles se expressar e valorizar as criações culturais dos gregos História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 42 C E D E R J C E D E R J 43 AULA 3 A SOCIEDADE ROMANA ANTIGA No mesmo tempo em que as cidadesestados gregas deixavam para trás o seu poderio comercial aparecia uma sociedade que assim como os gregos exerceu profundas influências no desenvolvimento da História do Ocidente Essa sociedade não só dominou a bacia do Mar Mediterrâneo como também expandiu seus domínios ao longo de mais de quinhentos anos por outras partes do mundo Todos os caminhos levam a Roma Essa foi a grande epígrafe que traduzia a importância política cultural e social que a República e depois o Império Romano tiveram na Europa no norte da África e no Oriente Próximo Se os gregos nos legaram através da sua cultura os fundamentos do olhar ocidental os romanos nos legaram suas realizações institucionais nos mais diversos campos nos quais até hoje estamos enredados sejam eles religiosos econômicos políticos sociais e culturais Acompanhando a história da evolução política de Roma você poderá perceber se a citação anterior é verdadeira e até que ponto ela o é Os dois períodos mais significativos da evolução política de Roma foram a República séculos V aC até I aC e o Império séculos I aC até V dC Porém antes mesmo do período republicano durante a fase monárquica de Roma séculos VIII aC até V aC a estrutura social romana já comportava aspectos relevantes para os posteriores desdobramentos que marcaram a originalidade das disputas travadas em Roma no que dizia respeito ao conceito de cidadania No decorrer dessa primeira fase monárquica vivendo da agricultura e do pastoreio Roma possuía quatro grupos sociais os patrícios nobres proprietários de terras os clientes indivíduos oriundos da plebe porém agregados politicamente aos patrícios os plebeus comerciantes camponeses artesãos e pequenos proprietários de terras os escravos que durante esse período eram majoritariamente plebeus endividados que acabavam por virar propriedade dos patrícios CONFLITOS SOCIAIS DA SOCIEDADE ROMANA CLÁSSICA A partir do final do século VI aC foi instituída a República dominada por patrícios A plebe se encontrava alijada de qualquer participação política nas chamadas magistraturas cargos que permitiam o controle político financeiro administrativo moral e História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 42 C E D E R J C E D E R J 43 AULA 3 jurídico da sociedade romana Papel relevante era exercido pelo Senado assembléia composta por membros das famílias dos patrícios que eram os responsáveis pela criação de leis A grande questão social e política do período republicano romano foi o conflito entre os patrícios e os plebeus Uma das principais reivindicações da plebe era a extinção da lei que permitia que plebeus fossem escravizados por causa de dívidas contraídas junto aos patrícios Além disso desejavam acesso aos cargos políticos o direito de casar com patrícios enfim toda uma série de medidas que visavam à criação de maior igualdade de direitos políticos econômicos sociais e culturais dentro da sociedade Esses conflitos de interesses foram ao longo do tempo produzindo conquistas sociais e políticas pois os patrícios não podiam abrir mão da ajuda dos plebeus na vida econômica e tampouco na defesa da cidade contra inimigos externos Assim ao longo do século V aC os plebeus conquistaram alguns direitos dentre os quais podemos destacar o direito de vetar leis que prejudicassem a plebe a formulação de leis escritas que estipulassem os direitos e deveres dos cidadãos romanos antes e isso você já viu no começo de nossa aula as leis eram orais e somente os patrícios podiam conhecêlas a criação da assembléia da plebe a liberdade de casamento entre patrícios e plebeus e o fim da escravidão por dívidas Após essa nova configuração social Roma estava pronta para seu passo seguinte a expansão territorial que nos séculos seguintes a transformaria em senhora do Ocidente A EXPANSÃO ROMANA Roma dominou militarmente toda a Península Itálica aumentando seu território aprimorando e desenvolvendo suas práticas comerciais e a partir do século III aC estava pronta para estender seus domínios para outras regiões Um dos marcos fundamentais da expansão romana foram as chamadas Guerras Púnicas travadas contra a cidade de Cartago cidade localizada no norte do continente africano Por mais de cem anos Roma e Cartago tiveram desavenças que culminaram com a destruição total desta última Durante esse período Roma estendeu seus domínios por todo Mediterrâneo Oriental Grécia e Ásia Menor A expansão romana transformou a sociedade com implicações políticas econômicas e culturais Roma tornouse o centro do mun História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 44 C E D E R J C E D E R J 45 AULA 3 do ocidental e para ela afluíam artigos dos mais variados fossem eles ouro prata trigo ferro ou escravos Os impostos cobrados em todo território eram pesados e enriqueceram ainda mais os dirigentes roma nos A escravidão antes um complemento da economia e da sociedade romana tornouse o sustentáculo da produção econômica Os escravos dedicavamse às mais diversas atividades e estavam por toda parte As cidades e entre elas principalmente a cidade de Roma tornaramse urbes e o mundo urbano romano foi inchado por plebeus que perdiam seus trabalhos em detrimento da mãodeobra escrava A plebe romana desocupada se multiplicava quanto mais rica e poderosa a sociedade dos patrícios se tornava O estado romano preocupado com o aumen to da violência criou a política do pão e do circo fornecendo pão e espetáculos com gladiadores para a plebe empobrecida Você assistiu ao filme Gladiador Porém não só os patrícios lucravam mas também comerciantes oriundos da plebe enriqueciam na República romana Os ricos viviam de forma luxuosa aumentando a distância social vigente entre os romanos Os plebeus que detinham poder econômico passaram a pressionar os patrícios lutando por novas reformas As disputas entre as classes sociais em Roma acabaram por permitir o surgimento de um exército profissional e assalariado que pendia ora para o lado da plebe rica ora para o lado dos patrícios Essas disputas foram deixadas de lado quando rebeliões de escravos e revoltas nas regiões dominadas por Roma que a essa altura do século I aC englobava toda bacia do Mar Mediterrâneo norte da África e Ásia Menor uniram patrícios e plebeus ricos na luta pela preservação da República romana e do modo de produção escravista no qual ela se baseava O Estado romano cada vez mais militarizado assistiu à ascensão de Júlio César ao poder Após a morte de César Otávio Augusto recebe do Senado o título de imperador e é finda a República nascendo o Império Romano ano 27 aC História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 44 C E D E R J C E D E R J 45 AULA 3 IMPÉRIO ROMANO Foi durante o chamado Alto Império séculos I e II dC que Roma viveu seu período de maior esplendor A tentativa de solucionar conflitos sociais fez com que a sociedade se dividisse não entre patrícios e ple beus mas sim de acordo com a riqueza de cada um A organização e a administração do Império proporcionaram à época de Augusto a Pax Romana A cultura romana foi difundida por todas as regiões domina das consolidando a contribuição cultural dos romanos para o Ocidente idioma costumes instituições urbanização Foi nessa época que surgiu e se expandiu o cristianismo religião perseguida pelo Estado romano mas que cada vez mais ganhava apoio dos menos favorecidos e se espalharia por todo Império até ser aceita pelo próprio Estado durante o período do Baixo Império séculos III IV e V dC Quanto mais se acentuava a decadência do Império mais o cristianismo baseado em princípios de igualdade ganhava corações e mentes O Baixo Império é identificado como o período de decadência de Roma Ameaças às fronteiras crise na vida urbana diminuição da vida econômica diminuição do número de escravos menor arrecadação de impostos gastos com a administração do estado e um exército cada vez menos fiel a Roma foram alguns dos fatores que fizeram ruir pouco a pouco a confiança dos romanos em seu papel de senhores do mundo ocidental Várias estratégias foram tentadas para impedir a desagregação do Império Entre elas a mais famosa foi a separação do Império em dois Figura 31 Mapa da expansão História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 46 C E D E R J C E D E R J 47 AULA 3 2 No capítulo Onde a vida pública era privada do livro História da vida privada Paul Veyne nos ensina O que um romano possui as honras são os cargos públicos geralmente anuais Os nobres romanos tinham um senso agudo de autoridade e da majestade do seu império mas o que chamamos de senso de estado ou serviço público eralhes desconhecido Distin guiam mal funções públicas e dignidade privada fi nanças públicas e bolsa pessoal A grandeza de Roma era propriedade coletiva da classe governante e do grupo senatorial dirigente p103 A partir desse trecho sobre os dirigentes romanos componha um texto de aproximadamente vinte linhas no qual você possa explicar a importância dos confl itos sociais entre patrícios e plebeus para o desenvolvimento da sociedade romana no seu aspecto político comentando a expressão pão e circo ATIVIDADE realizada por Teodósio em 395 da era cristã O Império Romano do Oriente acabou sobrevivendo por dez séculos porém o Império Romano do Ocidente encontrou seu término em 476 como você verá na aula so bre a Idade Média A vida urbana entrou em declínio e a face da Europa Ocidental começava a ser preparada para a Idade Média História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 46 C E D E R J C E D E R J 47 AULA 3 CONCLUSÃO Você pôde perceber ao longo de nossa aula as principais contri buições dos gregos e romanos da época clássica para a construção do Ocidente A marcante herança intelectual dos gregos clássicos expressa na cultura artística filosófica e científica A fundamental criação do conceito de cidadania e do de democracia Os romanos nos legaram importantes instituições políticas e administrativas Os conflitos sociais da sociedade romana e a gestão do Estado romano são lições que nos auxiliam a compreender o nosso tempo ATIVIDADE FINAL O mundo grecoromano nos legou importantes inovações e problemas que até hoje são bastante significativos Para que você possa se dar conta da presença dos temas da Antigüidade Clássica na atualidade proponho uma atividade dividida em dois momentos a Pesquise em jornais e revistas duas notícias que possam ser relacionadas com alguns dos temas estudados no texto de nossa aula Como exemplo pense em encontrar notícias ligadas ao avanço científico que podem ser relacionadas com as inovações intelectuais dos gregos clássicos ou notícias relacionadas à desigualdade social no Brasil que podem ser relacionadas com a sociedade romana clássica b Com base nas duas notícias escolhidas reflita sobre a importância e a atualidade da época clássica de seus feitos e de seus problemas que até hoje nos transmitem ensinamentos COMENTÁRIO Para essa questão não será preciso produzir um texto mas somente atentar e refletir para a vinculação existente entre nosso tempo e o passado clássico através das notícias atuais escolhidas e suas relações possíveis com a Antigüidade Clássica RESPOSTA COMENTADA Para responder a essa questão você deve tecer comentários sobre o conflito social romano retratado nas disputas entre patrícios e ple beus nas várias formas apresentadas tanto no período da República Romana como no período do Império Romano História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 48 C E D E R J Algumas das principais questões que constituíram a História do Mundo Greco Romano durante o período clássico estão relacionados à compreensão racional das potencialidades do homem Nesse sentido as inovações políticas e intelectuais dos gregos e as tentativas de solucionar confl itos sociais adotadas pelos romanos são exemplares Vários valores do mundo contemporâneo tais como Democracia Educação Direito Filosofi a são heranças da Antigüidade Clássica R E S U M O Tróia Tratase de uma produção grandiosa dirigida por Wolfgang Peterson em 2004 com belas e ilustrativas cenas sobre a vida na Grécia O Gladiador É um épico dirigido por Ridley Scott em 2000 Há cenas lindíssimas e uma réplica em tamanho natural do Coliseu Além de apresentar alguns confl itos políticos da Roma Imperial o fi lme retrata as lutas dos gladiadores e revela as impressionantes técnicas utilizadas no Coliseu que fi zeram da Gladiatura um dos mais fantásticos espetáculos da Antigüidade Tróia 2004 com belas e ilustrativas cenas sobre a vida na Grécia O e uma réplica em tamanho natural do Coliseu Além de apresentar alguns confl itos políticos da Roma Imperial o fi lme retrata as lutas dos gladiadores e revela as impressionantes técnicas utilizadas no Coliseu que fi zeram da Gladiatura um dos mais fantásticos espetáculos da Antigüidade MOMENTO PIPOCA SITES RECOMENDADOS Visite o site Mundo dos fi lósofos e você poderá se divertir e se informar bastante sobre a Grécia antiga e a Guerra de Tróia Na página você encontrará a história dessa guerra com muitos links interessantes sobre mitologia e cultura gregas httpwwwmundodosfi losofoscombrtroiahtmTop Visite também especifi camente para Roma o site Starnews Nele você encontrará muitas informações sobre a cultura romana além de notícias curiosas Você poderá até preparar uma deliciosa refeição seguindo a receita do site Lá você também poderá acessar dicas comentários de livros e fi lmes sobre a Roma Antiga httpwwwstarnews2001combrhistoriahtml objetivos Meta da aula Apresentar os conceitos de civilização e cultura Esperamos que após o estudo do conteúdo desta aula você seja capaz de diferenciar os significados de civilização e cultura reconhecer as situações mais adequadas para a utilização dos conceitos de civilização e cultura Civilização e cultura 1 A U L A História na Educação 2 Civilização e cultura 8 C E D E R J C E D E R J 9 AULA 1 Você está começando uma nova fase em seus estudos de História na Educação Nas próximas aulas entrará em contato com as características principais de cada um dos períodos que compõem a História do Ocidente É uma oportunidade importante de se familiarizar com as diversas culturas que participaram da formação da chamada civilização do Ocidente Quem foram os gregos Como funcionou a república romana Como viviam os camponeses na Idade Média O que foi o Renascimento Como os ibéricos descobriram e inventaram um novo mundo O que foi o Brasil colonial Essas e outras perguntas receberão respostas simples que nós formularemos juntos nesta viagem que você começa a fazer hoje e que eu espero não termine jamais E por quê Bem pense comigo uma coisa simples prosaica mesmo ensinar mais do que passar conteúdos e informações é apresentar possibilidades de compreensão do mundo Quando você ensina algo ao seu aluno mais do que este algo ele está aprendendo a lidar com uma novidade Ele é impelido a interagir mentalmente com elementos dos quais ignorava a existência ou a lógica A História é uma janela para o mundo Ela nos permite conhecer múltiplas formas de vida social e nos ajuda a identificar em nossos comportamentos atuais traços que são oriundos de outras épocas e outros lugares Com ela viajando por ela é mais fácil abrir os olhos para o desconhecido e sensibilizar a inteligência para a compreensão das diferenças que compõem a vivência social Viajar pela História pode tornálo mais tolerante e portanto mais capaz de compreender que o mundo é e sempre foi formado por uma quantidade muito grande de experiências sociais O homem ao longo da sua vasta caminhada constantemente enfrentou desafios Quase todos foram difíceis e exigiram criatividade e capacidade de adaptação Agora você tem a oportunidade mais uma vez de abrir a janela para o mundo das experiências históricas Com certeza por esta janela você fará contato com elementos que excitarão a sua mente tornandoo cada vez mais capaz de lidar com o seu grande desafio que é o de ensinar CIVILIZAÇÃO E CULTURA Você já teve a oportunidade de aprender como os historiadores pesquisam e criam o que nós chamamos historiografia Naquela oportunidade você aprendeu que a História é feita de documentos de memórias de lembranças de esquecimentos e de análises O que você INTRODUÇÃO História na Educação 2 Civilização e cultura 8 C E D E R J C E D E R J 9 AULA 1 terá a partir de agora é a chance de conhecer o resultado do trabalho dos historiadores Sim isso mesmo Porque quando falamos de História do Ocidente estamos nos referindo àquilo que foi escrito pelos historiadores E você aprendeu também que eles usam como ferramentas de trabalho conceitos Civilização e cultura são como conceitos dois importantes instrumentos de análise da História Você saberia dizer o que cada um significa Comece pelo dicionário Leia atentamente as definições abaixo No dicionário Aurélio eletrônico você pode ler as seguintes definições de civilização 1 Ato processo ou efeito de civilizarse 2 Estado ou condição do que se civilizou povos que se encontram num estado avançado de civilização 3 O conjunto de características próprias à vida social coletiva cultura 4 Processo pelo qual os elementos culturais concretos ou abstratos de uma sociedade conhecimentos técnicas bens e realizações materiais valores costumes gostos etc são coletiva eou individualmente elaborados desenvolvidos e aprimorados 5 Por extensão O estado de aprimoramento ou desenvolvimento social e cultural assim atingido 6 Por extensão Tipo de sociedade resultante de tal processo ou o conjunto de suas realizações em especial aquele marcado por certo grau de desenvolvimento tecnológico econômico e intelectual considerado geralmente segundo o modelo das sociedades ocidentais modernas caracterizadas por diferenciação social divisão do trabalho urbanização e concentração de poder político e econômico a civilização egípcia a civilização helênica Como você percebeu as definições do Aurélio apontam para dois sentidos básicos da palavra O primeiro gira em torno da idéia de civilizarse O segundo frisa a idéia de desenvolvimento Civilizarse é tornarse cível ou seja aquele que vive na cidade e compartilha de suas regras A palavra cidadania também é um desenvolvimento desse mesmo radical Portanto podemos concluir que civilizarse é uma maneira de História na Educação 2 Civilização e cultura 10 C E D E R J C E D E R J 11 AULA 1 participar da vida social das cidades observando as suas regras e desfrutando dos seus benefícios Você sabe que em um passado não muito distante a vida no campo era bem mais rústica do que na cidade A distância entre os homens o relativo isolamento dos seus habitantes e a falta de espaços de sociabilização faziam com que a vida social fosse mais rala Já nas cidades pela falta de espaço pela necessidade de encontros permanentes entre seus moradores a sociabilização era mais densa as pessoas se viam mais e trocavam informações constantemente Aquilo que chamamos hoje desenvolvimento de forma geral está ligado às cidades Se você parar e pensar na maneira como o mundo é visto atualmente vai perceber que as sociedades rurais e os países que não apresentam alto índice de urbanização são considerados nãodesenvolvidos Isso se deve ao fato de que nas sociedades rurais o isolamento parcial difi culta o acesso aos recursos tecnológicos e intelectuais que marcam o conceito de desenvolvimento A palavra civilização então indica sociedades que atingiram alto grau de sociabilização e de desenvolvimento No lado oposto a ela encontramse as sociedades rústicas denominadas primitivas por muitos de nós Nesta aula você aprenderá mais sobre esse contraste e como ele foi tecido ao longo dos séculos 1 Agora que você conhece algumas defi nições de civilização escolha e descreva duas realidades sociais do mundo contemporâneo que possam simbolizar a presença e a ausência de civilização Tente realizar esta atividade em quinze minutos COMENTÁRIO Se você escolheu e descreveu duas realidades sociais que se contrastam pela presença de hábitos e comportamentos ligados à vida urbana e à vida rural destacando aspectos de desenvolvimento que as difereciam entre si saiuse muito bem nesta atividade ATIVIDADE História na Educação 2 Civilização e cultura 10 C E D E R J C E D E R J 11 AULA 1 Vamos à palavra cultura No mesmo Aurélio encontramos as seguintes definições 1 Ato efeito ou modo de cultivar cultivo 2 Restritivo Cultivo agrícola 3 Atividade econômica dedicada à criação desenvolvimento e procriação de plantas ou animais ou à produção de certos derivados seus 4 Por extensão Os animais ou plantas assim criados 5 O conjunto de características humanas que não são inatas e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade Nas ciências humanas opõese por vezes à idéia de natureza ou de constituição biológica e está associada a uma capacidade de simbolização considerada própria da vida coletiva e que é a base das interações sociais 6 A parte ou o aspecto da vida coletiva relacionados à produção e transmissão de conhecimentos à criação intelectual e artística etc 7 O processo ou estado de desenvolvimento social de um grupo um povo uma nação que resulta do aprimoramento de seus valores instituições criações etc civilização progresso 8 Atividade e desenvolvimento intelectuais de um indivíduo saber ilustração instrução 9 Refinamento de hábitos modos ou gostos Vamos destacar também das definições do Aurélio os dois aspectos mais evidentes de cultura É bom começar pela acepção mais abandonada ultimamente Quando falamos de cultura raramente levamos em conta o trabalho na terra a agricultura Porém é importante partir daí pois este foi o sentido original da palavra Cultura da vinha cultura do trigo são apenas alguns dos exemplos que nos remetem à idéia de que tanto a vinha como o trigo desenvolvemse à medida que são cultivados Para que os brotos das plantas floresçam na terra é preciso cuidado limpeza adubação irrigação Cobertos de cuidados os espécimes florescem e enchem a terra com seus brotos e frutos Isso se chama cultura uma atividade primária do homem que requer observação e cuidado E é da terra cuidada e cultivada que se extraem os frutos que alimentam o homem na sua jornada de criação de outras culturas Assim podemos dizer que a nossa sobrevivência está intimamente ligada a um esforço de criação e reprodução História na Educação 2 Civilização e cultura 12 C E D E R J C E D E R J 13 AULA 1 Transforme a idéia de terra em indivíduo e você terá uma interessante compreensão sobre as pessoas bem informadas e com escolarização Elas são cultas porque foram cultivadas Receberam tratamento especial Foram alimentadas e estimuladas a pensar e a gerar frutos Você professor é um agricultor Cuida para que seus alunos cresçam e fl oresçam assim como o homem do campo se dedica ao crescimento das suas culturas agrícolas É desta analogia que vem a nossa insistente utilização do adjetivo culto para caracterizar pessoas bem informadas e instruídas E aqui já entramos na segunda acepção da palavra cultura Cultura deixa de referirse apenas a uma atividade de cuidado material da terra tornandoa mais produtiva e capaz de gerar frutos melhores para referirse também ao cultivo do espírito Por extensão cultura tornase o que de material e espiritual é produzido por um grupo social Assim nossos hábitos sociais as músicas as religiões as construções a língua etc formam a cultura de uma sociedade Como você leu na defi nição do Aurélio cultura é o conjunto de características humanas que não são inatas portanto não nasceram com o homem mas foram por ele criadas desenvolvidas e transformadas na própria comunicação social 2 Agora que você conhece algumas defi nições de cultura escolha e descreva duas realidades sociais que possam simbolizar cada uma das acepções aqui tratadas Tente realizar esta atividade em quinze minutos COMENTÁRIO Se você escolheu e descreveu duas realidades sociais que se distinguem pela presença da cultura como atividade voltada para a terra e como característica espiritual desenvolveu bem esta atividade Exemplos Uma cena de plantação e crianças na escola ATIVIDADE História na Educação 2 Civilização e cultura 12 C E D E R J C E D E R J 13 AULA 1 CIVILIZAÇÃO OU CULTURA Você já sabe distinguir civilização de cultura num grau primordial As definições do Aurélio e as explicações que as seguiram cumpriram a função de apresentar os sentidos mais usualmente aceitos das palavras em questão Agora você vai conhecer um pouco do debate sobre a utilização dessas palavras como conceitos historiográficos Como eu disse no começo desta aula os historiadores trabalham com conceitos são seus instrumentos de análise E os conceitos de civilização e cultura dividem as suas preferências que são forjadas em função de opções teóricas e metodológicas O substantivo civilização é uma criação do século XVIII mais precisamente do Iluminismo francês Você lembra o que é Iluminismo Vou ajudar Tratase de um movimento intelectual ocorrido em vários países da Europa principalmente na França que pregava o fim do dogmatismo religioso e a ascensão da razão como meio de curar os males sociais e filosóficos da época A razão é entendida como luz por isso o nome Iluminismo É uma metáfora que aposta na necessidade de lançar luz racionalizar no mundo Para os iluministas a civilização era um estágio superior de desenvolvimento As nações civilizadas estariam num estágio social intelectual tecnológico científico e político bem mais avançado que o daquelas que ainda não eram merecedoras de tal título A civilização é um padrão As nações do mundo nãocivilizado eram então consideradas inferiores e primitivas mas capazes de criar desenvolvimento interno que as levaria ao cume do processo civilizacional Elas teriam como modelos aquelas nações que já haviam experimentado progresso em todos os campos da cultura material e espiritual Assim a Europa civilizada erguiase como modelo para os povos primitivos que viviam na periferia do mundo O conceito de civilização para o historiador pressupõe ao menos três premissas A primeira está diretamente ligada ao movimento é preciso haver transformação para que um povo atinja a civilização A experiência histórica com as conseqüentes transformações que ela provoca acarreta uma série de mudanças que tendem para o melhor melhor no sentido de superior Um povo que povo não domina a técnica de fabricação de História na Educação 2 Civilização e cultura 14 C E D E R J C E D E R J 15 AULA 1 utensílios de metal encontrase num grau de desenvolvimento inferior quando comparado a um povo que domina essa técnica Isso nos leva à segunda premissa a civilização implica hierarquia Há nações superiores e outras inferiores Há aquelas que devem e podem dominar o mundo assim como há aquelas que devem ser dominadas para que possam aprender com as primeiras os segredos e os caminhos do desenvolvimento Esta premissa esteve na base de justificativa dos movimentos de colonização Na verdade a hierarquia definese em função do aprimoramento técnico e intelectual que as sociedades apresentam num dado momento da sua história A terceira premissa está relacionada a um olhar geral o conceito de civilização minimiza as diferenças Ele está mais preocupado em perceber o que há de comum entre os povos do que em salientar a importância de compreender as diferenças entre eles Veja este exemplo quando você abre um livro e encontra a expressão civilização européia ou civilização cristã o que você entende Provavelmente que se trata dos componentes comuns aos europeus ou aos cristãos Você sabe que a Europa é formada por muitos países mas sabe também que há elementos socioculturais que perpassam por todos estes povos Se eu digo que vou escrever uma página sobre a civilização cristã você não espera encontrar uma análise especificamente voltada para a Itália ou para a França pois há no globo terrestre muitos países que professam o cristianismo Portanto ao tratar da civilização cristã não estarei falando nada que seja específico a um povo estarei sim tratando dos elementos que são comuns aos povos que seguem o cristianismo independentemente de língua política ou território A civilização é um conceito que ultrapassa as diferenças entre os povos para tratar do que há em comum entre eles História na Educação 2 Civilização e cultura 14 C E D E R J C E D E R J 15 AULA 1 3 Esta atividade é bastante simples Você deve escrever uma frase que sintetize as três premissas do conceito de civilização Tente realizar esta atividade em dez minutos COMENTÁRIO Se você escreveu uma frase coerente que contenha as idéias de olhar geral desenvolvimento hierarquia e movimento a sua atividade foi bem feita ATIVIDADE A CRESCENTE IMPORTÂNCIA DO CONCEITO DE CULTURA Não há como negar a palavra cultura está em todas as bocas em todos os cantos em todos os textos contemporâneos Atualmente falar em cultura é um lugarcomum É quase uma palavra de apoio Mas em geral quando empregamos a palavra cultura estamos nos referindo às defi nições apresentadas nos dicionários Muitas vezes chegamos mesmo a usar a palavra cultura como um critério de distinção Fulano estudou no exterior fala muitas línguas é uma pessoa muito culta Cultura aqui aparece como bagagem e formação Ou ainda poderíamos dizer que ela assume uma de suas especifi cações que é a idéia de cultura intelectual Mas você já se perguntou que nome deve ser dado à maneira especial com a qual a sua avó faz aquele doce de goiaba Ela aprendeu com seus antepassados ou com as pessoas da comunidade onde cresceu Certamente ela não freqüentou uma escola para aprender os segredos da deliciosa iguaria E isso não é cultura Para os historiadores e outros cientistas sociais cultura é um conceito muito abrangente e que também apresenta algumas premissas História na Educação 2 Civilização e cultura 16 C E D E R J C E D E R J 17 AULA 1 Vamos começar pela mais geral Podese dizer que cultura é tudo aquilo que foi transformado pelo homem Pense num campo muito seco A vegetação perdeu a umidade faz um tremendo calor o sol queima forte as folhas já ressecadas das plantas Essas circunstâncias acabam provocando um incêndio Natureza ou cultura Natureza Não houve atuação do homem na situação em questão Agora pense que depois que o fogo começou e se alastrou pelo campo um homem recolhe um pedaço de madeira incandescente levao até a sua caverna e passa a utilizálo para iluminar o ambiente e para cozinhar os alimentos Natureza ou cultura Cultura O fogo foi manuseado com intenção pelo homem houve uma transformação A segunda premissa de cultura está relacionada ao particular é o conceito que dá atenção especial às diferenças à identidade particular dos grupos A cultura é um produto de determinada vivência social Assim num mesmo país você encontra vários grupos culturais distintos Pense no nosso mundo atual Há a cultura dos sambistas dos roqueiros dos fabricantes de cachaça mineiros dos seguidores do candomblé dos artesãos de palha do vale do Jequitinhonha e muitas outras Embora estes grupos façam parte de uma realidade nacional eles encontram em atividades e comportamentos particulares a senha de suas identidades A terceira premissa que vamos destacar no conceito de cultura é a nãohierarquização Uma cultura é uma cultura e basta Ela não precisa ser comparada ou confrontada com outras para merecer tal designação A conseqüência salutar desta premissa está no fato de que todas as manifestações culturais são legítimas em si e por isso podem informar sobre os grupos que as praticam além de dispensarem a idéia de desenvolvimento e de hierarquia Hoje em dia não é mais coerente dizer que a música clássica é superior às canções populares São manifestações culturais diferentes que cumprem funções próprias e independem uma da outra para se firmarem com importantes capazes de refletir o estilo de vida de seus criadores e seguidores História na Educação 2 Civilização e cultura 16 C E D E R J C E D E R J 17 AULA 1 4 Descreva uma manifestação cultural e explique de que forma ela refl ete as três premissas que você acabou de estudar COMENTÁRIO Você pode ter escolhido qualquer manifestação cultural desde que tenha conseguido detectar de que forma ela refl ete uma atividade humana uma especifi cação e independa de hierarquia para ser entendida como tal ATIVIDADE Civilização ou cultura Esta é uma pergunta que pode receber respostas confl itantes É preciso antes de tudo defi nir quais objetivos norteiam o trabalho de pesquisa e de ensino Se você pretende falar para os seus alunos da condição de trabalho no Império Romano é justo utilizarse do conceito de civilização pois você estará criando um panorama com aquilo que foi comum a todos os trabalhadores do império Mas se você pretende estudar e ensinar aos seus alunos a respeito dos grupos que primeiramente aceitaram e adotaram o cristianismo como religião você estará tratando de cultura pois pretende destacar uma determinada experiência social Você pode concluir pensando a respeito do seguinte é possível estudar culturas no interior das civilizações CONCLUSÃO O historiador trabalha com conceitos Eles são os seus instrumentos de análise Os conceitos de civilização e cultura abrem possibilidades diferentes para compreensão e explicação das experiências históricas O primeiro exige uma leitura mais abrangente enfatizando o que há de comum entre os grupos sociais O segundo possibilita a observação circunstanciada das experiências sociais destacando as diferenças História na Educação 2 Civilização e cultura 18 C E D E R J C E D E R J 19 AULA 1 ATIVIDADE FINAL 1 Para realizar esta tarefa você precisará pesquisar algumas imagens a Explique a seguinte frase é possível estudar culturas no interior das civilizações b Ilustre a sua explicação Coloque imagens para o que você está chamando civilização e para o que você está considerando cultura COMENTÁRIO Nesta atividade você deverá considerar a capacidade de o conceito de civilização absorver múltiplas manifestações culturais Se você formulou uma explicação levando em consideração a característica abrangente do conceito de civilização e ilustrou os dois conceitos com imagens que remetam ao geral civilização e ao particular cultura a sua resolução foi bem encaminhada História na Educação 2 Civilização e cultura 18 C E D E R J C E D E R J 19 AULA 1 Você aprendeu algumas faces de dois conceitos que são importantes para a operação histórica Esteja você estudando pesquisando ou lecionando vai acabar se deparando com os conceitos de civilização e cultura Agora você já sabe ao que cada um deles se refere Aprendeu que eles são aplicados em função das opções teóricas e metodológicas além de ter adquirido noções básicas de seus significados e origens R E S U M O INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula você estudará as várias possibilidades de lançar mão dos conceitos de civilização e cultura para lecionar e montar atividades em aula com os seus alunos 1 Espaços educativos e ensino de História 02 Abril SUMÁRIO SUMÁRIO PROPOSTA PEDAGÓGICA ESPAÇOS EDUCATIVOS E ENSINO DE HISTÓRIA 03 Helena Maria Marques Araújo PGM 1 OS SENTIDOS DO ENSINO DE HISTÓRIA 24 Texto Os sentidos do ensino de História Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro PGM 2 MEMÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA 36 Texto Memória e ensino de História Carmen Teresa Gabriel PGM 3 LUGARES DE MEMÓRIA 54 Texto Produção de Saberes nos lugares de memória Helena Maria Marques Araújo PGM 4 ESPAÇOS PÚBLICOS DE MEMÓRIA 61 Texto Sons de tambores na nossa memória o ensino de história africana e afrobrasileira Mônica Lima PGM 5 ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃOFORMAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES 76 Texto Para além de formar professores dialogar com as experiências vividas Elison Antonio Paim 2 PROPOSTA PEDAGÓGICA PROPOSTA PEDAGÓGICA ESPAÇOS EDUCATIVOS E ENSINO DE HISTÓRIA ESPAÇOS EDUCATIVOS E ENSINO DE HISTÓRIA O O SENTIDO SENTIDO DO DO ENSINO ENSINO DE DE H HISTÓRIA ISTÓRIA NA NA ESCOLA ESCOLA Helena Maria Marques Araújo 1 O ensino de História no Ensino Fundamental e também no Ensino Médio tem como objetivo fundamental proporcionar a nossosas alunosas as condições para que elesas consigam se identificar enquanto sujeitos históricos participando de um grupo social ao mesmo tempo único e diverso Talvez este seja o nosso maior desafio como professores ensinar primeiramente a pensar criticar propor Despertar em nossos estudantes o desejo de conhecer de participar ativamente da sociedade em que vivem de forma crítica reflexiva e transformadora Mais essencial do que ensinar conteúdos específicos que também são importantes o ensino de História na Educação Básica possui o sentido maior de construção do cidadão crítico que tenha a capacidade de participar ativamente da sociedade em que vive e de se indignar com os acontecimentos do cotidiano Um trabalho sobre o ensino de História deve estabelecer o encontro ou pelo menos a junção de três vertentes do conhecimento humano a ciência histórica o saber histórico escolar e as ciências da Educação Assim sendo o objetivo do ensino de História é compreender mudanças e permanências continuidades e descontinuidades para que o aluno aprenda a captar e valorizar a diversidade e participe de forma mais crítica da construção da História Faz parte então do procedimento histórico a preocupação com a construção a historicidade dos conceitos e a contextualização temporal Considero que um currículo adequado para o segmento do Primeiro Grau deve ser aquele que na 5 a série por exemplo antes de abordar especificamente os conteúdos ligados a esta ou aquela sociedade ou grupo humano possa privilegiar a construção de conceitos fundamentais para a compreensão da História ou seja é importante que o aluno domine alguns conceitoschave PACHECO 1995 p 49 3 Escola memória e espaços educativos nãoformais Na perspectiva dos Estudos Culturais segundo Tomaz Tadeu da Silva 1999 a cultura é pedagógica e a pedagogia é cultural Diversos programas de televisão mesmo que não tenham o objetivo explícito de ensinar educam Por outro lado toda a pedagogia está inserida num contexto histórico e cultural Todo conhecimento se constrói portanto num sistema de significados A escola não é o único lugar de conhecimento e portanto de transformação de subjetividades como nos afirma o autor Existem outros espaços de saber que também educam espaços não formais de educação como museus arquivos programas de televisão eou rádio educativos ou apenas de lazer filmes peças de teatro músicas espaços de exposições etc Os museus arquivos locais de exposições e outros lugares de memória possuem cultura própria ritos e códigos específicos Por outro lado as escolas apresentam universos particulares também com lógica própria Fazse necessária então a busca de caminhos para a construção de uma pedagogia de museus como nos afirma Marandino 2000 Esta autora nos alerta para a necessidade da construção de uma pedagogia de museus levando em consideração a especificidade pedagógica dos museus para otimizar as visitas escolares Não se trata segundo a autora de opor o museu à escola mas de definir as especificidades relacionadas ao lugar ao tempo e aos objetos no espaço do museu o que é essencial e deve ser incluído na formação de educadores numa didática de museu Nesse sentido poderíamos ampliar esse entendimento não só para museus como também para outros espaços educativos exposições arquivos públicos centros culturais arquitetura de ruas antigas monumentos etc Vários motivos levam os professores a buscar os espaços educativos nãoformais como lugares alternativos de aprendizagem Dentre tais objetivos estariam a apresentação interdisciplinar dos temas a interação com o cotidiano dos estudantes e por fim a possibilidade de ampliação cultural proporcionada pela visita Assim as visitas teriam o objetivo de fazer uma alfabetização científica do cidadão Para isso trabalhase com elementos de relevância social que informam os indivíduos e os conscientizam de problemas políticosociais 4 Nas últimas décadas a questão educacional passou a ser um dos alicerces dessa nova museologia Crescem pesquisas que analisam o processo de ensino ou divulgam o conhecimento nesses espaços na perspectiva dos estudos sobre transposição didática ou museográfica O incentivo à participação e à interatividade que acontece nos museus de ciência e técnica se estende aos museus como os de história arqueologia etnografia e ciências naturais através sobretudo do advento de novas tecnologias A base filosófica dessas mudanças reside na democratização do acesso ao saber que está depositado nos museus Em contrapartida a escola deve permitir a influência desses espaços educativos alternativos incentivando as visitas pedagógicas e as ações de parcerias Há esperança de que a escola possa imbuirse de uma nova função a de ser um lugar de análises críticas de atribuição de significado às informações e reconstrução do conhecimento para que possa preservar seu status e função de formadora de sujeitos sociais e na qual o professor garanta seu espaço de ação NOGARO 1999 p 29 Para os gregos antigos memória significava vidência e êxtase É com tal alegria e êxtase que esperamos que nossos alunos e alunas consigam perceber e apreender nossa memória através de vivências extramuros escolares A preservação da memória tornase fundamental na ampliação de vivências pedagógicas diferenciadas para nossos estudantes Espaços educativos nãoformais Como já foi dito anteriormente fazse necessário desvelar o horizonte universitário e pedagógico para a utilização dos espaços educativos alternativos Como exemplo de um espaço educativo não formal temos o Espaço da Ciência de Olinda em Pernambuco criado em 1994 que desenvolve capacitação de professores através de centros de referência criados em 21 escolas da rede pública Também há o MAST CNP que em 1997 estabeleceu um projeto denominado Formação continuada de professores de ciências e os espaços nãoformais de Educação para produzir material didático junto às escolas públicas municipais Desta forma em tais visitas pedagógicas seria oferecido aos nossos alunos e alunas diferentes 5 leituras da ciência e do mundo É essencial cada vez mais a parceria dos museus com as universidades secretarias municipais e estaduais para a realização de cursos de formação de professores em todos os níveis Além disso é muito importante a implantação de pesquisas nos museus e investigações sobre a relação museusespaços culturais e escola Esses estudos darão subsídios maiores aos programas educativos e culturais desenvolvidos nessas instituições Em última instância entender história é entender o tempo em movimento em múltiplos espaços Se entendemos que o ensino de História tem o sentido de formação da cidadania no Ensino Fundamental e Médio devemos ter o compromisso de proporcionar oportunidades para que osas alunosas transportem esse conhecimento aprendido para suas vidas cotidianas para que possam participar de forma mais consciente da construção de um mundo mais justo e solidário Contudo a busca da cidadania nos países da periferia esbarra na falta de cumprimento de direitos universais básicos embora muitas vezes suas populações tenham esses direitos consagrados em lei Além disso num mundo em constante transformação podem surgir novos direitos frutos de novas lutas e reivindicações E é exatamente esse movimento que caracteriza a cidadania CANDAU 2002 p 37 Temas que serão debatidos na série Espaços educativos e ensino de História que será apresentada no programa Salto para o FuturoTV Escola de 3 a 7 de abril de 2006 PGM 1 Os sentidos do ensino de História No primeiro programa da série vamos debater estes temas entre outros o papel da escola e a importância do ensino de História para a formação da cidadania o respeito pelo saber do educando o encontro entre saberes escolares e nãoescolares entre cultura erudita e popular a construção do conhecimento de forma dialógica participativa entre alunos e professores a favor de uma educação emancipatória as concepções teóricas no ensino de História e na Educação que permeiam tais opções educacionais alternativas metodológicas ao método tradicional PGM 2 Memória e ensino de História O segundo programa tem como proposta discutir o conceito de memória a relação memória tempo e História o tempo histórico e suas principais características sucessão duração e simultaneidade a 6 perpetuação dos povos através da memória ou do esquecimento o que se quer lembrar e o que se quer esquecer nas sociedades o jovem e a sociedade presentista a necessidade de se impor a ausência de memória nas sociedades contemporâneas mudanças e permanências nas sociedades PGM 3 Lugares de memória O terceiro programa vai enfocar estes temas lugares de memória a relação entre cultura e pedagogia na perspectiva dos Estudos Culturais a educação transformando subjetividades a escola não é o único lugar que educa os espaços educativos nãoformais especialmente os museus e exposições os lugares de memória e suas culturas próprias seus ritos e códigos específicos a democratização do acesso ao saber depositado nos museus a busca pela construção de uma pedagogia de museus os espaços educativos nãoformais como lugares alternativos de aprendizagem PGM 4 Espaços públicos de memória Neste quarto programa permanece a discussão sobre os espaços educativos não formais analisando estes temas entre outros a paisagem como algo socialmente transformado pelo tempo e depositária de diferentes temporalidades o espaço e o tempomundo fundidos na cidade a necessidade de o professor ensinar História fora dos muros da escola utilizando excursões pedagógicas pelas ruas de sua cidade por exemplo a análise das migalhas deixadas pelo tempo nas marcas da arquitetura monumentos transportes etc de uma cidade o processo de ensinoaprendizagem nesses espaços alternativos na perspectiva dos estudos sobre transposição didática ou museográfica PGM 5 Espaços educativos nãoformais e formação de professores O quinto programa vai abordar a importância de se incorporar nos estágios curriculares dos cursos de Licenciatura esses espaços educativos nãoformais a necessidade de se estreitar laços entre as práticas curriculares nos cursos de formação de professores e os lugares de preservação da memória a urgência de se estabelecer políticas públicas de formação de professores que se comprometam em reinventar a escola visando à construção de uma cidadania participativa e 7 democrática BIBLIOGRAFIA BETANCOURT Nilda de Barros e GISSI Jorge El taller integración de teoria y práctica Buenos Aires Argentina Editorial Humanitas 1987 BITTENCOURT Circe org O saber histórico na sala de aula São Paulo Contexto 1997 BOSI Ecléa Memória e Sociedade lembranças de velhos São Paulo TA Queiroz 1979 CANDAU Vera Maria Didática currículo e saberes escolares Rio de Janeiro DPA 2000 CANDAU Vera Maria Pluralismo cultural cotidiano escolar e formação de professores In CANDAU Vera Maria org Magistério construção cotidiana Petrópolis RJ Vozes 1997 org Reinventar a escola 2ª ed Petrópolis Vozes 2000 org Sociedade educação e culturas questões e propostas Petrópolis RJ Vozes 2002 CHERVEL André História das disciplinas escolares reflexões sobre um campo de pesquisas Teoria Educação n 2 1990 p182 DEMO Pedro Ironias da Educação Mudança e contos sobre mudança Rio de Janeiro DPA ed 2000 FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes necessários à prática educativa São Paulo Paz e Terra 1997 LE GOFF Jacques Calendário In Enciclopédia Einaundi Memória História v1 1990 MARANDINO Martha Museu e escola parceiros na Educação científica do cidadão In CANDAU Vera Maria org Reinventar a escola Petrópolis RJ Vozes 2000 MEDIANO Zélia D A formação em serviço de professores através de oficinas pedagógicas In CANDAU Vera Maria org Magistério construção cotidiana Petrópolis RJ Vozes 8 1997 MONTEIRO Ana Maria A prática de ensino e a produção de saberes na escola In SANTOS Lucíola Licínio de C P O processo de produção do conhecimento escolar e a didática In MOREIRA Antonio Flávio B Conhecimento Educacional e formação do professor São Paulo Papirus 1994 SILVA Tomaz Tadeu da Documentos de identidade uma introdução às teorias do currículo Belo Horizonte Autêntica 1999 VIEIRA Liszt Cidadania e globalização 2 a ed Rio de Janeiro Record 1998 Nota 1 Mestre em Educação PUCRio Professora Assistente de História do CAPUERJ e de Prática de Ensino de História do Departamento de História da UERJ Professora de História da rede particular de ensino Consultora desta série 9 PROGRAMA 1 PROGRAMA 1 OS SENTIDOS DO ENSINO DE HISTÓRIA Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro1 A constituição da história como disciplina escolar ao longo do século XIX no Ocidente implicou um processo de seleção cultural e didatização necessário para tornar ensináveis os saberes então selecionados para serem aprendidos pelas novas gerações As narrativas produzidas revelavam o espírito do povo a alma das nações e o germe da identidade nacional expressos como histórias nacionais que contribuíam para afirmar poderes instituídos Essa operação cultural e política de forte conteúdo simbólico nos possibilita compreender dimensões presentes no ensino de História enquanto espaçotempo no currículo escolar ainda privilegiado nas sociedades contemporâneas destinado à construção de significados necessários à leitura e à compreensão do mundo nacionalmente ou globalmente organizado Esses são alguns dos desafios do ensino de História 1 Tornar acessível aos alunos o conhecimento constituído sobre as sociedades e ações humanas do passado passado recomposto pelos historiadores a partir de documentos tomados como fontes 2 Possibilitar a leitura de textos e imagens a escrita de suas apropriaçõesaprendizagens a reconstrução de representações 3 Selecionar quais saberes quais narrativas quais poderes legitimar ou questionar Esse texto tem por objetivo discutir esses desafios e também as questões que se apresentam nos processos inerentes ao ensino de História e à sua pesquisa que envolve não apenas o domínio de saberes referentes ao passado mas também a compreensão da historicidade da vida social e do diálogo com os diferentes saberes que circulam e se difundem nas sociedades Este processo implica um trabalho que auxilie os alunos a atribuir sentido às ações humanas e aos atores sociais em perspectiva sincrônica e diacrônica e a aprofundar o pensamento crítico em face dos poderes instituídos através da análise e possível desmistificação de rituais atores imagens e processos de 10 participação atribuição e questionamento do poder nas sociedades 2 1 Renovação teórica no campo do currículo e do ensino o conceito de saber escolar Nas três últimas décadas do século XX os estudos e pesquisas voltados para as questões relativas ao currículo escolar voltaramse para a investigação das relações entre escola e cultura buscando melhor compreender o papel desempenhado pela escola na produção da memória coletiva das identidades sociais e da reprodução ou transformação das relações de poder Os saberes ensinados na maior parte do século XX não foram objeto de maior questionamento ou reflexão Eram definidos e apresentados nos currículos e programas como aqueles a ensinar oriundos de base científica e cultural ampla através de meios e procedimentos adequados escolhidos num receituário ou arsenal construído e fundamentado cientificamente nos conhecimentos oferecidos pela psicologia pela psicopedagogia e pela didática Esta perspectiva racionalista cientificista que contém críticas ao modelo espontaneísta e empirista até então dominante é por sua vez atualmente objeto de críticas que apontam a simplificação inerente à concepção que a fundamenta Pesquisas confirmam que o currículo é campo de criação simbólica e cultural permeado por conflitos e contradições de constituição complexa e híbrida com diferentes instâncias de realização currículo formal real oculto Moreira 1997 No campo da epistemologia discutemse a historicidade e a relatividade do conhecimento científico questionandose a idéia de que a ciência produz a única forma de conhecimento válido e verdadeiro reconhecendose a diversidade das formas de conhecimento com diferentes racionalidades e formas de validação No meio educacional os estudos reconhecem as características cada vez mais evidentes dos fenômenos práticos complexidade incerteza instabilidade singularidade e conflitos de valores Os diferentes sujeitos com visões de mundo e interesses diferenciados estabelecem relações entre si 11 com múltiplas possibilidades de apropriação e interpretação Essas novas perspectivas permitem avançar em relação a estudos e análises que ao não reconhecerem a especificidade da cultura escolar buscavam a melhoria do ensino através da maior aproximação com o conhecimento científico O ensino seria aperfeiçoado na medida em que mais semelhante coerente e atualizado fosse em relação à produção científica Essa orientação induzia por exemplo pesquisadores a identificar erros no ensino realizado nas escolas na medida em que sua atualização se faz mais lentamente e também porque um processo de síncrese é realizado com a utilização de contribuições de diferentes autores alguns deles com pressupostos teóricos distintos para configurar explicações ou exemplificações Ao ser radicalizada esta crítica levou muitos a considerar o saber escolar um saber de segunda classe inferior ao conhecimento científico porque resultante de simplificações necessárias para o ensino a crianças e adolescentes ou adultos em processo de aprendizagem 3 Não podemos negar que o diálogo com o conhecimento científico é absolutamente fundamental Mas é preciso compreender melhor como se dá a construção do saber escolar que envolve a interlocução com o conhecimento científico mas também com outros saberes que circulam no contexto cultural de referência Nesse sentido o conceito de saber escolar referenciado em pesquisadores do campo educacional da área do currículo e da história das disciplinas escolares oferece contribuição importante para a melhor compreensão dos processos educativos Entre os primeiros podemos citar na tradição francesa Forquin 1992 1993 1996 Moniot 1993 Develay 1994 1996 Allieu 1995 Lautier 1997 e no Brasil Santos 1990 Moreira 1997 Silva 1999 Lopes 1999 Monteiro 2002 2003 Na história das disciplinas escolares temos o trabalho de Chervel 1990 e na vertente inglesa temos os trabalhos de Goodson 1995 que utiliza uma abordagem sóciohistórica para análise da 12 construção curricular A perspectiva com a qual eu trabalho reconhece a especificidade epistemológica desta construção que tem na escola o locus por excelência escola que deixa de ser considerada apenas local de instrução e transmissão de saberes para ser compreendida como espaço educacional configurado e configurador de uma cultura escolar na qual se confrontam diferentes forças e interesses sociais econômicos políticos culturais Filiase mais diretamente aos autores franceses que estudam os processos de transposição didática Nesta perspectiva os saberes escolares antes inquestionáveis e universais passam a ser objeto de indagações que se voltam para aspectos relacionados à seleção cultural quais saberes motivos de opção implicações culturais e repercussões sociais e políticas das opções negações ocultamentos ênfases Mas não basta selecionar É preciso tornar os saberes possíveis de serem aprendidos Nesse sentido os estudos voltados para os processos de organização destes saberes investigam os processos de didatização buscando superar a perspectiva instrumental e técnica utilizando o conceito de transposição didática Chevallard 1991 Develay 1992 ou mediação didática Lopes 1999 para analisar os processos realizados para viabilizar aprendizagens Forquin 1992 Lopes 1997 4 Por último e não menos importante é preciso lembrar que o saber escolar em sua constituição passa por um processo de axiologização Develay 1992 ou seja ele é veículo de transmissão e formação de valores entre os estudantes A dimensão educativa portanto é estruturante deste saber não sob a forma de proselitismo mas através da seleção e didatização realizada saberes negados ou afirmados formas democráticas ou autoritárias de ensinar métodos baseados na repetição e memorização ou baseados no desenvolvimento do raciocínio e pensamento crítico Cabe indagar como essas questões se expressam na história escolar uma vez que a própria áreadisciplina História já traz em sua constituição a dimensão pedagógica 13 3 A História como saber escolar A possibilidade de utilização dos conceitos de saber escolar e de transposição didática no campo da História precisa ser discutida de forma a considerar problemas e características específicos aos processos de sua constituição que envolvem aspectos distintos daqueles relacionados à Matemática por exemplo É importante avaliar possibilidades e limites dos conceitos quando eles são transplantados do seu contexto de produção original e utilizados como instrumentos de inteligibilidade em diferentes campos disciplinares 5 Esse trabalho tem sido realizado por alguns autores franceses que pesquisam a didática da História e que têm procurado incorporar e avaliar a potencialidade teórica das proposições de Chevallard 6 Entre eles Moniot 1993 faz algumas ponderações importantes ao discutir e contextualizar a transposição didática no processo de elaboração da História em sua versão escolar Inicialmente ele concorda com Chevallard sobre a anterioridade do saber acadêmico em relação ao saber escolar ao lembrar que por exemplo na França a História dos historiadores precede a História escolar constituída num processo que se desenvolveu ao longo do século XIX Furet 1978 Mas por outro lado como o autor destaca a História escolar também fez a fortuna da História universitária havendo uma conivência entre uma e outra de forma que até hoje uma legitima a outra Não há dúvida de que no século XX a história escolar tem características próprias numa configuração com sua força instalada Se por um lado ela depende moralmente da história acadêmica ela produz para esta uma reverência e uma segurança pública pela cultura e pelos sentimentos que ela destila de fato há uma troca de legitimações reais entre duas entidades específicas Moniot 1993 p 26 7 No Brasil podemos dizer que um processo semelhante ocorreu A constituição de uma História do Brasil pautada em princípios definidos com base em metodologia científica se deu em meados do século XIX no contexto de uma instituição acadêmica que era o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Guimarães 1988 A elaboração da História Geral do Brasil em 1854 por Francisco Adolfo de Varnhagen constituiu a primeira versão que atendia aos princípios de uma História científica escrita a partir de documentos e que serviu de base para a elaboração de livros didáticos entre eles aquele intitulado Brasil em Lições de Joaquim Manuel de Macedo usado 14 durante décadas no Colégio Pedro II e que serviu de referência para a História do Brasil ensinada em todo o país Mattos 2000 8 Já a diferença entre o saber acadêmico e o saber escolar em História constitui para Moniot um segredo de polichinelo A História diferentemente das matemáticas que possuem uma definição acadêmica muito clara apresenta diferentes perspectivas de inteligibilidade História positivista dos Annales marxista e das análises macroeconômicas Nova História e de composições que se complementam freqüentemente a partir de diferentes formas de definição e de organização dos eixos de análise temática História política História social História econômica História cultural geopolítica História do Brasil História da América História da Europa História do Extremo Oriente etc cronológica Antigüidade Idade Média Idade Moderna Idade Contemporânea Tempo Presente etc espacial global nacional e regional Essa característica suscita de imediato uma questão de alguma complexidade qual História utilizar como referência acadêmica para se contrastar com o saber a ensinar Outra questão referese ao movimento que articula os saberes e que para Chevallard é prioritariamente descendente do saber acadêmico ao saber escolar Allieu 1995 p 152 ao discutir a transposição didática no âmbito da História questiona essa visão afirmando que a relação entre o saber ensinado e as noções científicas correspondentes produzidas na academia é mais ascendente do que descendente mais do que uma transposição nós preferimos falar de uma interpelação Citando Audigier Crémieu TutiauxGuillon 1994 p 6 ela complementa as ciências históricas são a referência para não dizer o falso Quem é responsável por essa atribuição de sentido na história escolar O professor de História que para isso não segue um modelo predefinido geral ou estrutural que oriente a transposição a história escolar é reinventada em cada aula no contexto de situações de ensino específicas onde interagem as características do professor e onde também são expressas as disposições oriundas de uma cultura profissional dos alunos e aquelas da instituição aí podendo ser considerada tanto a escola como o campo disciplinar características essas que criam um campo de onde emerge a disciplina escolar Esses atores estão imersos no mundo ou seja numa sociedade dada numa época dada em que as subjetividades expressam e configuram representações que por sua vez interferem 15 na definição das opções que orientam os sentidos atribuídos aos acontecimentos Allieu 1995 p 1534 Assim Allieu prefere falar em interpelação e não transposição porque para atribuir sentido ao que ensina o professor recorre ao saber acadêmico em suas diferentes escolas e matrizes teóricas para buscar subsídios que lhe permitam produzir versões coerentes com seus pontos de vista e que tenham uma base de legitimidade dentro do campo Aliás no saber escolar encontramos muito mais uma síncrese de diferentes matrizes teóricas do que filiações definidas a determinadas correntes 9 Além do mais lembra Moniot diferentemente da Matemática e da Biologia a História tem como principal aplicação ser comunicada divulgada questão essa que tem ressonância tanto na referência como na transposição A História é fonte de referência e está presente em várias dimensões e espaços da vida social atual as chamadas práticas sociais de referência Martinand 1986 Ela não é apenas um objeto um relato do passado dos homens ela é uma linguagem partilhada e uma prática Para tantos usos e finalidades contribui a história acadêmica ou as práticas sociais de referência ou a história escolar Ou todas contribuem Se estas finalidades não são explicitadas nos objetivos do seu ensino que muitas vezes apresentam formulações mais nobres e politicamente corretas elas estão presentes assim mesmo Elas permitem compreender então como a História escolar tem diferentes referências muito reais Para Moniot a história escolar não precisa buscar nenhuma prática social de referência ela própria no sentido de História vivida é a primeira dessas práticas sociais Mas além disso a História escolar dialoga com as visões os textos e as expressões históricas presentes em diferentes e específicas práticas sociais de referência a dos autores diretores e narrativas de filmes históricos documentários programas de televisão novelas ou peças teatrais na prática social de curadores de exposições museológicas artísticas científicas dos jornalistas e comentaristas políticos dos guias de atividades de turismo nas práticas e discursos das diferentes religiões nas práticas cotidianas dos diferentes grupos sociais entre eles o familiar e que servem de referência e dialogam com o saber acadêmico na constituição do saber escolar chegando à escola através dos diferentes meios de comunicação dos alunos dos professores e de seus pais 16 Além disso as dimensões axiológica e política têm uma importância significativa na constituição da História escolar que não pode ser desconsiderada Perspectivas diferentes implicam ênfases negações ocultamentos ou denúncias que têm profundas implicações na versão efetivamente ensinada Esse autor reconhece portanto a existência de uma história escolar que possui três principais referências e não apenas a História acadêmica a história acadêmica da qual ela toma problemas e inteligibilidades e de onde retira sua legitimidade um conjunto de valores que dá sentido à vida coletiva e que inspira a socialização pela escola ninguém ensina publicamente a História sem motivo não se contam as coisas simplesmente porque elas pertencem ao passado Mesmo aqueles que denunciam uma mitologia ou ideologia possuem outra proposta para a substituir a cultura que é transmitida pela História em três sentidos o que ela transmite faz parte do senso comum e da experiência geral das relações humanas com seu vocabulário e categorias o código semântico e referências sociais correntes ela é portadora de uma cultura política no sentido mais amplo e de uma cultura cultivada constituída a partir de uma freqüentação qualitativa de lugares do passado Moniot 1993 p 2433 Assim para Moniot a História escolar é uma enorme e polivalente lição de coisas sociais morais e intelectuais Ela pode insuflar tanto a conformidade como o distanciamento a continuidade e a reavaliação Terreno complexo para a definição de aprendizagens específicas 1993 p 35 Essas considerações baseadas no texto de Moniot 1993 e de Allieu 1995 oferecem uma perspectiva bastante interessante e fértil para a análise da história escolar No Brasil rompida a tradição da história oficial tradicional oriunda do século XIX e com uma acentuada vertente nacionalista e integracionista que ocultava ou negava as contradições sociais na busca de uma imagem pacifista e legitimadora de formas de dominação seculares vivemos nas três últimas 17 décadas do século XX um processo de renovação da pesquisa histórica extremamente rico que propiciou o rompimento de verdades estabelecidas e iluminou aspectos desconhecidos de nosso passado Essa renovação se comunicou ao ensino expressandose no movimento de reforma curricular que sacudiu e mobilizou professores dos diferentes estados e depois do país nos últimos quinze anos No contexto do processo de abertura política após vinte anos de ditadura militar as propostas para o ensino de História foram inicialmente muito marcadas por uma militância que de uma fase inicial de ataque aos aspectos reprodutivistas da escola passou a vêla e ao seu ensino como os instrumentos da transformação social senão da revolução Com isso o ensino assumiu uma perspectiva quase proselitista em que a denúncia das situações de exploração ocupava grande espaço nas aulas com o objetivo de conscientizar o cidadão através da superação de concepções de mundo ideologicamente configuradas ideologia considerada na concepção marxista de falsa consciência Muitas vezes esta postura gerou por parte dos professores atitudes voluntaristas e autoritárias voltadas para a afirmação de determinadas verdades e rejeição de saberes e práticas dos alunos vistos como expressão de alienação Sem perder a dimensão política e de formação da cidadania fundamental para o ensino de História e presente em qualquer ato educativo cabe considerar as reflexões de Moniot quanto à relação complexa e profunda do ensino de História com a cultura de forma ampla e com a memória coletiva Elas nos fazem perceber que a relação da educação realizada em espaços formais com aquela efetivada em espaços não formais que acontece de forma difusa independentemente da ação docente é uma possibilidade de diálogo fértil e enriquecedor para professores e alunos Acredito que estas considerações nos ajudam a melhor compreender tantas dificuldades vividas por alunos e professores no diaadia do seu trabalho Ao mesmo tempo abrem novas perspectivas para pensar com mais humildade alternativas para o nosso fazer e para que estejamos mais abertos para 18 ouvir os alunos e seus saberes para que juntos possamos avançar na superação do senso comum 10 Se o trabalho for realizado com abertura para ouvir o outro e desenvolvendo a razão crítica estaremos contribuindo para auxiliar nossos alunos a compreender a historicidade da vida social com os seus riscos e suas possibilidades Referências bibliográficas ALLIEU N De lHistoire des chercheurs à lHistoire scolaire In DEVELAY M Savoirs scolaires et didactique des disciplines une encyclopédie pour aujourdhui Paris ESF Editeur 1995 ANHORN C T G O saber histórico escolar entre o universal e o particular Dissertação de mestrado Programa de Pósgraduação em educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 1999 AUDIGIER F CREMIEUX C TUTIAUXGUILLON N La place des savoirs scientifiques dans les didactiques de lhistoire et de la geographie In Revue Française de Pedagogie nº 106 janvierfévriermars 1994 p 1123 BOUTIER J e JULIA D org Passados recompostos Campos e canteiros da História Rio de Janeiro Editora da UFRJEditora da FGV1998 CHERVEL A História das disciplinas escolares reflexões sobre um campo de pesquisa In Teoria Educação nº 2 Porto Alegre Pannonica Editora 1990 p 177229 CHEVALLARD Y La transposición didáctica Del saber sabio al saber enseñado Buenos Aires Aique Grupo Editor sd DEVELAY M De lApprentissage à lenseignement Pour une épistémologie scolaire Paris ESF Éditeur 1992 DEVELAY M Savoirs scolaires et didactique des disciplines une encyclopédie pour aujourdhui Paris ESF Editeur 1995 FORQUIN JeanClaude Saberes escolares imperativos didáticos e dinâmicas sociais In Teoria Educação nº 5 Porto Alegre Pannonica Editora 1992 p 2849 Escola e Cultura As bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar Porto Alegre Artes Médicas 1993 As abordagens sociológicas do currículo orientações teóricas e perspectivas de pesquisa In Educação e Realidade Currículo e política de identidade v 21 nº 1 Porto Alegre UFRGSFaculdade de Educação 1996 p 187198 19 FURET F O nascimento da História In FURET F A oficina da História Lisboa Gradiva sd GUIMARÃES M L S Nação e civilização nos trópicos O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional In Estudos Históricos 1 Caminhos da historiografia Rio de Janeiro FGV 1988 p 527 GOODSON I Tornandose uma matéria acadêmica padrões de explicação e evolução In Teoria Educação nº 2 Porto Alegre Pannonica Editora 1990 p 23054 Currículo teoria e história 2 ed Petrópolis RJ Vozes 1998 LAUTIER N Enseigner lHistoire au Lycée Formation des enseignants Professeurs des lycées Paris Armand Colin 1997 LE GOFF J História e memória Campinas Editora da Unicamp 1996 LOPES A R C Conhecimento escolar processos de seleção cultural e mediação didática In Educação Realidade 221 95112 janjun 1997 Conhecimento escolar ciência e cotidiano Rio de Janeiro Ed UERJ 1999 MARTINAND J L Connaître et transformer la matiére Berne Peter Lang 1986 MATTOS S R de O Brasil em Lições A história como disciplina escolar em Joaquim Manuel de Macedo Rio de Janeiro Access Editora 2000 Aprendizado do Brasil MONIOT H Didactique de LHistoire Paris Edition Nathan 1993 MONTEIRO A M História Inserção da História na área das Ciências Humanas In FUNDARSecretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro Ciclo de estudos 2004 Formação continuada para professores de escolas na busca do horário integral Rio de Janeiro Fundar 2004 A história ensinada algumas configurações do saber escolar In História e Ensino Vol 9 Revista do Laboratório de Ensino de História da Universidade Estadual de Londrina Londrina Editora da UEL 2003 p 936 Ensino de História entre saberes e práticas Tese de Doutorado Programa de Pósgraduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Rio de Janeiro agosto de 2002 Ensino de História das dificuldades e possibilidades de um fazer In DAVIES N org Para além dos conteúdos no ensino de História Niterói EDUFF 2000 MOREIRA A F B e SILVA T T orgs Currículo cultura e sociedade São Paulo Cortez 1994 Currículo utopia e pósmodernidade In Moreira A F B org 20 Currículo questões atuais Campinas Papirus 1997 Currículo questões atuais Campinas Papirus 1997 PROST A Douze leçons sur lhistoire Paris Éditions du Seuil 1996 Notas 1 Professora de Didática e Prática de Ensino de História e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Currículo do Programa de Pósgraduação da Faculdade de Educação da UFRJ Mestre em História pela UFF e Doutora em Educação pela PUCRio 2 Este texto é uma adaptação de artigo publicado com o título Ensino de História e História Cultural diálogos possíveis na obra SOIHETR e outras Culturas políticas Ensaios de história cultural história política e ensino de história Rio de Janeiro Mauad 2005 3 Não defendo aqui que todo ensino escolar é bem desenvolvido e imune a erros A crítica apoiada em autores que ignoram a especificidade da cultura e do saber escolar tem no entanto dificultado avanços para sua melhor realização 4 Por transposição didática Chevallard denomina o processo que transforma um saber acadêmico em saber a ensinar e este em saber ensinado Para analisar as diferenças entre os autores que operam com estes conceitos ver Monteiro 2002 e Monteiro 2003 5 Uma crítica à teoria da transposição didática conforme formulada por Chevallard com base no ensino da Matemática é feita por Caillot 1996 que discute se esta teoria é ela mesma transponível para outros campos disciplinares que não a Matemática Ele questiona fortemente o fato de Chevallard considerar o saber acadêmico científico como a única referência para o saber ensinado apoiandose na sociologia do currículo que tem mostrado a complexa rede de influências interesses e saberes que entram em jogo na sua formulação Para ele a teoria da transposição didática tem uma validade limitada ao campo da Matemática Caillot1996 p 223 6 Audigier 1988 Develay1992 TutiauxGuillon 1993 Audigier Crémieux Tutiaux Guillon 1994 Allieu 1995 Lautier 1997 são outros autores que juntamente com Moniot 1993 têm procurado incorporar e reelaborar as contribuições da teoria da transposição didática ao campo da História 7 Esta observação de Moniot vem ao encontro da perspectiva de Develay no que diz respeito aos fluxos simultaneamente ascendentes e descendentes entre o saber escolar e o acadêmico 8 Uma excelente análise desse processo é aquela feita por Guimarães em artigo intitulado Nação e civilização nos trópicos O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Projeto de uma História Nacional In Estudos Históricos 1 Caminhos da Historiografia Rio de Janeiro n1 1988 p527 9 Na primeira metade da década de 1990 observamos a realização de um conjunto de pesquisas que buscavam identificar as concepções de História presentes no seu ensino Discordo deste enfoque que supõe a identidade entre o saber acadêmico e o escolar e por causa disso identifica como problemas ou erros aspectos que são construções tipicamente escolares Uma nova abordagem que reconhece a especificidade da cultura escolar pode ser encontrada em Anhorn 1999 e Monteiro 2002 10 Acredito que a maior clareza sobre características do conhecimento histórico e da história escolar permitem que os professores possam superar visões 21 excessivamente otimistas e de certo modo ingênuas sobre as potencialidades do ensino de História para a transformação social e que deixam transparecer resquícios do historicismo 22 PROGRAMA 2 PROGRAMA 2 MEMÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA Carmen Teresa Gabriel 1 Um novo olhar sobre o passado e o futuro se elabora sob as pressões do presente vivido A partir do presente a visão do passado se altera e age sobre a visão e a produção do futuro Reis 1994 Como em toda discussão sobre um determinado tema existem diferentes portas de entrada para participar do debate em torno da relação que pode ser estabelecida entre Memória e ensino de História Essas entradas dependem do lugar do qual falamos dos nossos olhares dos nossos interesses das nossas escolhas políticas das utopias pelas quais lutamos É pois do lugar de professora de História tendo que muitas vezes na sala de aula agir na urgência e decidir na incerteza Perrenoud 2001 apostando ainda na potencialidade desta disciplina para pensar a possibilidade de mudança e na viabilidade da construção de um projeto de sociedade menos dogmático e mais justo que me proponho a entrar neste debate Optei começar este texto enunciando a questão que serviu de eixo em torno do qual desenvolvi minhas argumentações O que ensinamos nas aulas de História tem alguma relação com Memória Aparentemente simples e mesmo óbvia essa questão exige portanto algumas reflexões e posicionamentos prévios Reflexão em primeiro lugar sobre a própria razão de ser deste tipo de questionamento isto é sobre o próprio contexto histórico no qual essa questão é formulada que permite explicar a centralidade nas últimas duas décadas da temática da memória e sua relação com a história e conseqüentemente também com o seu ensino Esse esforço de contextualização é importante na medida em que nos leva a explicitar o que estamos chamando de memória e como percebemos sua articulação com essa área de conhecimento Em seguida tratase de pensar sobre o papel desempenhado pela memória no processo de construção dos saberes históricos escolares e na relação que os sujeitos envolvidos professoresas e alunosas estabelecem com esses saberes ensinados e aprendidos As breves considerações que se seguem são apenas um ponto de partida para futuras reflexões mais aprofundadas sem a menor 23 pretensão de serem exaustivas A memória na berlinda Aceleração da história Falase tanto de memória somente porque ela não existe mais Nora 1993 É nos momentos de ruptura da continuidade histórica que as alterações mais se voltam para a memória e a duração Duvignaud Apud DAléssio 1992 Memória e História são formas de visitar o passado que durante muito tempo no âmbito da trajetória de construção desta disciplina seja na sua versão acadêmica seja na versão escolar e em particular no que se refere à História Nacional tenderam a serem confundidas Essa confusão já estava presente no momento da própria emergência deste campo disciplinar no século XIX na medida em que a sua constituição pode ser explicada e justificada pela necessidade de elaboração de uma memória nacional que pudesse garantir e legitimar a consolidação dos Estados nacionais modernos Tratavase de inventar naquele presente um passado comum isto é de fazer esquecer e de fazer lembrar as experiências passadas que interessavam à construção dos projetos de sociedade estruturados em torno de cada um dos EstadosNação reconhecidos como tais no cenário político daquela época Com efeito o período que vai do século XIX até as primeiras décadas do século XX correspondeu ao apogeu da Históriamemória da História Nacional na qual memória nação e história eram percebidas através de uma relação de circularidade complementar uma simbiose em todos os níveis científicos pedagógico teórico e prático Nora 1993 Essa históriamemória a despeito das particularidades de cada contexto desempenhou um papel central na constituição do nacional e por conseguinte da construção do sentimento de pertencimento a essa marca identitária A história e o seu ensino se apresentavam dessa forma como guardiãs importantes da identidade nacional concebida até então como um elemento unificador e homogeneizador das diferenças regionais políticas sociais e culturais consideradas indispensáveis para a construção e manutenção dos EstadosNacionais modernos Até época relativamente recente não havia pois espaço para o questionamento ou problematização desta forma de significar esse tipo de relação 24 Como entender então as citações acima Em que momento e por que razão essas duas formas de se relacionar com o passado se distanciaram e tenderam a se opor de tal maneira que hoje alguns estudiosos chegam a afirmar não apenas o distanciamento mas o próprio desaparecimento de um desses pólos Expressões como apagamento da memória ou enfraquecimento da historicidade Jameson 1997 são comuns nos dias de hoje indicando uma mudança considerável na forma de conceber essa relação Essas novas formas de percepção de passado presente e futuro e da relação entre memória e história não podem ser naturalizadas Ao contrário elas foram sendo construídas historicamente Estudos tendem a mostrar que momentos de simbiose de autonomia e de refusão aparecem como fases neste processo de construção permanente da relação entre história e memória e refletem uma faceta do equacionamento buscado nos diferentes presentes entre os campos de experiência passado e os horizontes de expectativa futuro O processo de distanciamento entre memória e história se fez de forma gradativa A aceleração do ritmo das mudanças geradas a partir do advento da modernidade só fez acirrar este processo de distanciamento fazendoo chegar ao ponto convulsivo que marca esta passagem de século onde o esgarçamento dos fios das tramas que se tecem entre passado e futuro situanos em um presente que se apresenta como um mero simulacro no qual memórias e projetos tradição e utopia perdem o sentido Basta pensarmos na problemática das identidades tão em voga igualmente na atualidade para melhor compreendermos as implicações no nosso cotidiano dessa perda de sentido O ritmo desenfreado das transformações acarretou um intenso movimento de presentificação em detrimento tanto do passado como também do futuro De um lado estas mudanças incessantes e cada vez mais aceleradas passam a ameaçar a legitimidade da própria concepção monolítica estática e essencialista de identidade tal como estava na base da concepção de identidade nacional nos moldes descritos acima A concepção de identidade passa a ser vista como lealdades construídas em contextos específicos sendo pois considerada necessariamente como relacional dinâmica e processual Essa mudança de concepção coloca em xeque diferentes marcas identitárias de graus variados de generalização como por exemplo a que define o pertencimento da idéia de Nação moderna De outro lado essa aceleração do processo de mudanças obscurece igualmente o horizonte 25 de espera O fim da crença no progresso e na credibilidade das grandes narrativas que caracteriza também este final de século faz com que o presente não desempenhe mais o papel de mediador entre passado e futuro a certeza trazida pela idéia de um futuro de sentido predeterminado é substituída pela incerteza e a insegurança frente à imprecisão e ao descrédito da possibilidade de qualquer forma de utopia Todavia e de forma aparentemente paradoxal é esta insegurança que levaria também à necessidade de tudo reciclar em objeto memorial Com efeito essa mesma crise identítária que apesar de vivida de forma diferenciada nos diversos países configura a experiência coletiva nas sociedades industrializadas deste final de século e reafirma o apego aos traços aos vestígios à história e à memória tornandose responsável pela emergência de um verdadeiro culto da memória nas sociedades pósindustriais tradutor de uma vontade de se contrapor a esta crise através da reafirmação da necessidade de um enraizamento como bem analisa Rousso na citação abaixo Esta vontade de conservar de preservar de colocar no museu o passado concomitantemente à valorização atual da memória parece mais uma forma de resistência ao sentimento vivido da alteridade do tempo uma resposta à incerteza atual do presente e do futuro do que a vontade de estabelecer um laço dinâmico entre passado presente e futuro Rousso 1998 No campo político esta preocupação pode ser identificada com a implementação em diversos Estados industrializados de uma política pública da memória que pode ser percebida por exemplo pela extensão da noção de patrimônio ou pelas novas direções assumidas pelas políticas públicas de comemoração no sentido de rememorar juntos visando reunir a comunidade nacional Esta gestão pública do passado estaria senão de forma exclusiva fortemente guiada por esta vontade de superar o sentimento de desenraizamento de perda marca da nossa contemporaneidade Ela emerge pois de uma interrogação atual cada vez mais angustiada sobre a identidade coletiva Uma breve incursão na trajetória da construção da História Nacional nos oferece algumas chaves de leitura para a compreensão desse processo no qual Histórianação memória nacional e identidade nacional passam a serem vistas elas próprias como objetos de investigação para o historiador A história deixa de se confundir com a história da nação a memória nacional passa a ser apenas uma modalidade de memória entre outras tantas memórias coletivas 26 Por volta dos anos 30 do século passado no campo da historiografia em particular da historiografia francesa a nação deixa de ser o quadro unitário que encerraria a consciência da coletividade libertandose dessa forma de sua identificação nacional Memória História e Nação assumem uma autonomia em relação ao período precedente O objeto de investigação privilegiado pelos historiadores deixa de ser o passado glorioso da nação e centrase sobre a própria sociedade abrindo espaço para a emergência de outras memórias particulares e coletivas Este movimento de passagem da memória para a história obriga cada grupo a redefinir a sua identidade pela revitalização da sua própria história É como se ocorresse uma verdadeira implosão da história nacional da históriamemória dando origem a uma pluralidade de memórias particulares que reclamam a sua própria história Em síntese esta fase poderia ser resumida pela dilatação democratização descentralização e multiplicação da memória e se insere num contexto histórico específico marcado pelas crises do nosso presente Todavia se de um lado este momento é apresentado como um momento de agudização do processo de distanciamento de história e memória de outro é nele também que emerge a partir dos anos 80 a possibilidade do novo de uma nova síntese os lugares de memória cuja proposta é a re aproximação destes dois conceitos a partir de novas bases O conceito de lugares de memória cumpriria justamente esta função mediadora entre o mundo dos mortos e o mundo do vivos Eles nascem e vivem do sentimento de que não há mais memória espontânea defendem algo ameaçado e pertencem a dois domínios o da memória espontânea e o da memória alcançada pela história Nesta perspectiva os lugares de memória são restos rituais de uma sociedade sem rituais sinais de reconhecimento e de pertencimento de um grupo numa sociedade que só tende a conhecer indivíduos um vai e vem entre memória e história um jogo de memória e história Nora 1993 no qual esses usos sociais do passado são considerados diferentes mas nem por isso dicotômicos A memória como fonte eou objeto de pesquisa permanece um conceito central para o campo da História exigindo tomadas de posição frente a essas diferentes concepções A construção da história nacional e o seu ensino não podem deixar de enfrentar hoje as tensões entre memória e história Sem confundilas nem tampouco ignorálas surgem leituras plurais do passado nacional orientadas pelos interesses em disputa A memória não é mais monopólio de um grupo e sim um campo de lutas política e cultural onde lembrar e esquecer depende de quem 27 comemora e memoriza e dos interesses que estão em jogo no presente em que a relação com o passado é estabelecida Saberes históricos escolares entre o dever de memória e a reflexão crítica Se a disciplina história matéria de ensino ou domínio de pesquisa está particularmente exposta aos solavancos da história viva é porque ela coloca em questão a identidade coletiva e mais precisamente a identidade nacional ColliotThélène 1997 Em que medida essas mudanças na forma de apreensão da relação entre memória e história e suas implicações para pensar a questão das identidades podem influenciar o ensino de História A citação acima deixa transparecer que essas influências são inevitáveis e diretamente relacionadas à função social dessa disciplina Como já mencionado tanto a História produzida por pesquisa acadêmica como a História ensinada nas escolas de educação básica são vistas como portadoras de uma missão formadora pedagógica muito forte e estreitamente relacionada com a construção de identidades individual social e cultural dos cidadãos Atualmente entre os objetivos mais apontados para o estudo desta disciplina se encontram os de reconstruir memórias coletivas sejam elas nacionais ou de um grupo social e cultural mais restrito de formar cidadãos críticos e de explicar ou dar um sentido ao presente em que se vive Essa função políticocultural da disciplina de História é fundamental para entender a especificidade do saber histórico em termos da sua capacidade de absorção das diferentes tensões como por exemplo afirmação de verdades versus construção de sentidos explicação versus compreensão objetividade versus subjetividade universalismos versus relativismos ciência versus consciência etc Como professores de História enfrentamos no cotidiano das nossas aulas as implicações decorrentes dessas tensões inerentes à natureza do conhecimento histórico e que estão diretamente vinculadas à forma privilegiada de equacionarmos memória e projeto passado e futuro no processo de reelaboração didática Esse processo diz respeito tanto à seleção dos conteúdos históricos a serem ensinados das tramas a serem narradas quanto à escolha dos sujeitos envolvidos enfim das 28 memórias coletivas que servem de fonte para a história contada interpretada ensinada nas salas de aula desta disciplina Nesse sentido o que ensinamos hoje nas nossas aulas está fortemente imbricado com a questão das memórias coletivas incluindo a memória nacional sem no entanto se confundir com elas Que estratégias discursivas o ensino dessa disciplina mobiliza contribuindo para que nos tornemos brasileiros Que campos de experiência e que horizontes de expectativa interagem na narrativa histórica nacional da atualidade possibilitando entrever o significado de estar sendo brasileiro nas diferentes práticas discursivas dos alunos e professores Como articular no ensino da História do Brasil por exemplo a necessidade tanto de garantir a transmissão de uma memória nacional legitimada como a de desenvolver a reflexão crítica sobre essa mesma memória condição imprescindível para fazer emergir novas identidades e possibilidades de representação de brasilidade Ou dito de outro modo Como articular o ensino de uma forma de pensar historicamente e de uma memória já acumulada e consagrada pelas gerações precedentes Como reelaborar didaticamente capacidade crítica e necessidade de memória O que está em jogo aqui não é apenas a possibilidade de tornar o ensino de História do Brasil ensinável mas igualmente a necessidade de garantir a sua função formadora no plano cultural e político Apesar de o Estado Nacional não poder ser mais considerado como o principal e único fator dos destinos dos povos e de ser necessário reconhecer o enfraquecimento dos laços de lealdade a uma cultura nacional vista como homogênea e estável a possibilidade de um ensino de História totalmente liberado do esquema nacional ColliotThélène 1997 pareceme dificilmente concebível e muito menos desejável Diferentes presentes históricos constroem diferentes narrativas de História nacional e do povo brasileiro Em cada uma delas diferentes passados são lembrados e ou esquecidos e diferentes futuros são sonhados Caberá a cada professor de História selecionar os conteúdos a serem ensinados ingredientes de uma intriga possível acontecimentos sujeitos concepção de tempo conceitos etc de forma a permitir a emergência de uma diversidade de narrativas da brasilidade contribuindo para a construção de um Brasil mais plural e inclusivo O desafio é pois saber como usar essas armas da narratividade histórica a favor da inclusão das diferenças de posições de 29 perspectivas de identidades na interpretação histórica O desafio está posto o enfrentamento apenas começando Referências Bibliográficas COLLIOTTHÉLÉNE C Identité nationale et enseignement de lhistoire In Revue Internationale déducation Sèvres n13 mar1997 DALÉSSIO M M Memória leituras de M Halbwachs e P Nora In Revista Brasileira de História São Paulo Marco Zero vol13 n2526 set92ago93 JAMESON F Pósmodernismo a lógica cultural do capitalismo tardio São Paulo Ática 1997 NORA P Entre memória e história a problemática dos lugares In Projeto História São Paulo PUCSP Programa de PósGraduação em História dez 1993 PERRENOUD P Ensinar agir na urgência e decidir na incerteza Porto Alegre Artmed 2001 REIS J C Tempo História e Evasão Campinas Papirus1994 ROUSSO H Réflexions sur lémergence de la notion de mémoire In VERLHAC M Org Histoire et Memoire Genoble CNDP 1998 Nota 1 Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro Doutora em Educação PUCRJ 30 PROGRAMA 3 PROGRAMA 3 LUGARES DE MEMÓRIA Produção de saberes nos lugares de memória Produção de saberes nos lugares de memória Helena Maria Marques Araújo 1 Educar para cidadania Nos dias de hoje muito se tem discutido e comentado sobre educação Em reuniões de professores em escolas em universidades e em outros espaços sociais mídia jornais rodas de amigos etc são pensados e repensados caminhos para a educação brasileira Paralelamente impõese a importância de se educar para a cidadania Mas de que tipo de cidadania estamos falando E que tipo de educação desejamos para se chegar a essa cidadania Qual o papel da escola da universidade dos professores e dos espaços educativos nãoformais nessa educação para a cidadania A função primordial da educação é formar cidadãos capazes de gerir sua própria História função contrária aos interesses neoliberais Sendo assim acreditamos que a educação deva formar cidadãos autônomos capazes de atuar como leitores consumidores e agentes críticos no mundo Este texto pretende refletir sobre a produção de conhecimento nos espaços educativos nãoformais especialmente nos museus Pretendemos enfatizar a importância de se estreitar laços entre as práticas escolares e os lugares de preservação da memória Breve histórico sobre os museus Os museus podem ser considerados reflexos de concepções de ciência vigentes em determinados momentos históricos Marandino Museu e escola parceiros na Educação científica do cidadão In CANDAU org Reinventar a escola 2000 p 190 31 Os estudiosos dos museus afirmam que estes possuem um caráter educacional vinculado à sua própria origem logo desde o início se configuravam como espaços de pesquisa e ensino Nos séculos XV e XVI os Gabinetes de Curiosidades por exemplo não tinham preocupação científica ao expor os fragmentos da natureza Apresentavam um conhecimento enciclopédico Somente ao final do século XVIII o enciclopedismo acaba gerando uma preocupação educativa do museu A partir do século XIX os Gabinetes foram substituídos pelos museus científicos Estes refletiam a necessidade de ordenação do mundo natural e de organização das coleções O processo de mudança da relação do público com o museu foi bem devagar e até 1914 os museus não foram espaços democráticos ou em processo de democratização Somente no século XX se proliferaram museus que queriam divulgar as coleções com base em propósitos mais populares aumentando assim a popularização do saber dos museus especialmente na França Cabe lembrar que isto não atinge de forma uniforme todos os tipos de museu sem dúvida os museus de ciência e tecnologia tiveram um papel preponderante no estreitamento das relações museuescola Nas últimas décadas um dos alicerces da nova museologia é a questão educacional Os anos 80 serão marcantes na história dos museus de ciência do Brasil devido à preocupação e busca por uma função educativa Por exemplo poderíamos citar nesta linha o Museu do Instituto Butantã em São Paulo dentre outros Também nos anos 80 proliferaram os chamados museus vivos ou interativos Atualmente eles sofrem críticas no Brasil e no mundo inteiro Com certeza os museus e Centros de Ciência ainda têm muito a ensinar aos museus de História Porém sabemos que ao longo dos séculos e de forma lenta os museus de uma forma geral foram alcançando um maior público e se democratizando no acesso 32 Memória museu e escola Hoje a função da memória é o conhecimento do passado que se organiza Ordena o tempo localiza cronologicamente Na aurora da civilização grega ela era vidência e êxtase Bosi Memória e sociedade 1979 p 89 Como nos afirma no trecho acima Ecléa Bosi a função da memória hoje é o conhecimento do passado Porém conceituar memória é crucial complexo e nos levaria a um trabalho sem fim É importante então minimamente entendermos que um dos meios de se chegar aos problemas do tempo e da história é através do estudo da memória social E são os espaços ditos de memória onde se pretende preservar o passado para auxiliar a entender e participar do presente que nós iremos abordar neste texto Como já afirmamos na nossa proposta pedagógica na perspectiva dos Estudos Culturais segundo Tomaz Tadeu da Silva 1999 a cultura é pedagógica e a pedagogia é cultural Tal como a educação as outras instâncias culturais também são pedagógicas também têm uma pedagogia também ensinam alguma coisa Tanto a educação quanto a cultura em geral estão envolvidas em processos de transformação da identidade e da subjetividade SILVA 1999 p139 A escola é o espaço formal da construçãotransmissão do conhecimento existindo pois outros espaços de saber que também educam espaços nãoformais de educação que são os museus arquivos programas de televisão eou rádio educativos ou apenas de lazer filmes peças de teatro músicas espaços de exposições etc Todos esses lugares como os museus arquivos etc possuem cultura própria ou seja apresentam determinadas especificidades O museu é um espaço social particularmente diferente da escola Segundo Marandino 2000 são espaços marginais de educação daí esta autora nos afirmar a necessidade de se construir uma pedagogia museográfica ou seja uma pedagogia dos museus Estes são espaços fundamentais de educação nãoformal Cada vez mais aumentam as pesquisas que procuram entender os museus como espaços educativos Atualmente o público é o elemento central para a elaboração das exposições e programas culturais e educacionais oferecidos nos museus 33 Nesses espaços educativos nãoformais percebemos que os temas são oferecidos aos alunos de forma interdisciplinar podendo ampliar o universo cultural dos visitantes Nos últimos anos alguns pesquisadores estão se dedicando ao estudo das possibilidades e caminhos educacionais nos museus de ciência Tais estudos estão se estendendo aos museus de história antropologia e ciências afins Em todos eles percebemos a necessidade de se construir eou aprimorar uma pedagogia museográfica pautada e adaptada em conceitos de transposição didática ou de recontextualização Segundo Marandino alguns autores têm procurado diferenciar escolas e museus frisando as particularidades de cada um desses espaços educativos Essa autora apresenta um quadrosíntese 2000 p 202 baseado em algumas diferenças propostas por Allard et alii 1996 Fizemos uma nova diagramação para apresentar tal quadro Para entendêlo relacioneo quanto ao objeto na escola deve instruir e educar já nos museus deve recolher conservar expor e estudar cliente na escola ele é cativo e estável por outro lado no museu é livre e passageiro atividade fundada no livro e na palavra na escola já no museu fundada no objeto programa na escola é imposto pode fazer diferentes interpretações da lei mas deve ser fiel a ela no museu as exposições são próprias ou itinerantes e suas atividades pedagógicas dependem de sua coleção tempo na escola de um ano no museu de 1 a 2 horas Urge que cada vez mais a escola use esses espaços educativos alternativos através das visitas pedagógicas e das ações de parcerias É preciso que inovemos em nossas aulas que utilizemos outros espaços além daqueles da escola A aula reprodutiva reduz o aluno não permite a formação de sua autonomia já que apresenta modelos 34 prontos repetitivos e descolados de sua vivência real Aprender é construir e reconstruir o conhecimento elaborando e exercendo a autonomia de sujeito histórico Crianças e jovens devem ser partícipes ativos de sua sociedade gerando a transformação social e política da mesma Logo precisamos reinventar a escola comprometida com uma cidadania participativa e democrática ampliando e vencendo os seus próprios muros Como já vimos a escola e o museu têm diferentes propostas e são diferentes espaços educacionais A escola é o espaço privilegiado de aquisição do saber hegemônico É o lugar central como espaço de educação Já no espaço do museu se produz um saber próprio o saber museal Logo a relação dos sujeitos com a produção e aquisição do saber no museu também é diferente Daí a necessidade de serem criados modelos pedagógicos próprios Ainda segundo Marandino no Brasil existem diversos programas educacionais proporcionados pelos museus de ciência em parceria com as escolas e poderíamos agrupálos em Programas de atendimentos a visitas escolares por exemplo no Museu de Astronomia e Ciências Afins MASTCNPq Rio de Janeiro no Museu da Vida da FIOCRUZ Rio de Janeiro e na Estação Ciência da USP São Paulo Programas de Formação de Professores no Espaço Ciência de Olinda Pernambuco no Museu de Ciência e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul dentre outros Programas de Produção de Material para Empréstimo nos Museus de Zoologia de Anatomia Veterinária e de Oceanografia da USP etc Antes de finalizar não podemos deixar de abordar rapidamente já que teremos um outro texto que tratará especificamente desse tema a formação de professores Fazse necessário desvelar o horizonte universitário e pedagógico para a utilização dos espaços educativos alternativos Assim sendo entendemos ser necessário uma atenção especial à formação inicial dos professores 35 Devese aproveitar o preconizado pelas novas Diretrizes Curriculares para Formação de Professores particularmente a ampliação da carga horária das práticas de ensino e estágio para estabelecer a diversificação dos campos de estágio curricular incluindo os campos educativos não formais Conclusão Segundo Marandino 2000 não se trata de opor o museu à escola mas de definir as especificidades relacionadas ao lugar ao tempo e aos objetos no espaço do museu o que é essencial e que deve ser incluído na formação de educadores numa didática de museu Nesse sentido penso que poderíamos com as suas devidas proporções e particularidades ampliar esse entendimento não só para os museus como para outros espaços educativos nãoformais em geral como o de exposições arquivos públicos centros culturais etc Quando os professores procuram os museus querem e desejam encontrar um lugar alternativo à aprendizagem além de se depararem com temas apresentados de forma interdisciplinar Isto é fundamental para que possamos pensar que precisamos ampliar a parceria dos museus com as universidades secretarias municipais e estaduais para a realização de cursos de formação de professores em todos os níveis Além disso é muito importante a implantação de pesquisas nos museus e investigações sobre a relação museusespaços culturais e escola Esses estudos darão subsídios maiores aos programas educativos e culturais desenvolvidos nessas instituições para que se estabeleça uma parceria museuescola Para que isto aconteça há que se admitir e estudar previamente a existência de uma cultura escolar e de uma cultura museal Marandino afirma que se encontra em construção uma pedagogia museal que respeite as particularidades do museu e também considere as reflexões teóricas e práticas que se acumulam há muitos anos na escola Com certeza os museus de ciência e Centros de Ciência que estão com esse tipo de trabalho bem mais encaminhado terão muito a ensinar aos museus de História no plano da dimensão educacional 36 BIBLIOGRAFIA ALLARD M et alii La Visite au Musé In Réseau Canadá déc 1995jan 1996 BITTENCOURT Circe org O saber histórico na sala de aula São Paulo Contexto 1997 BOSI Ecléa Memória e Sociedade lembranças de velhos São Paulo T A Queiróz 1979 CANDAU Vera Maria Pluralismo cultural cotidiano escolar e formação de professores In CANDAU Vera Maria org Magistério construção cotidiana Petrópolis RJ Vozes 1997 org Reinventar a escola 2ª ed Petrópolis Vozes 2000 org Sociedade educação e culturas questões e propostas Petrópolis RJ Vozes 2002 DEMO Pedro Ironias da Educação Mudança e contos sobre mudança Rio de Janeiro DPA ed 2000 LE GOFF Jacques Calendário In Enciclopédia Einaundi Memória História v 1 1990 MARANDINO Martha Museu e escola parceiros na Educação científica do cidadão In CANDAU Vera Maria org Reinventar a escola Petrópolis Vozes 2000 SILVA Tomaz Tadeu da Documentos de identidade uma introdução às teorias do currículo Belo Horizonte Autêntica 1999 Nota 1 Mestre em Educação PUCRio Professora Assistente de História do CAPUERJ e de Prática de Ensino de História do Departamento de História da UERJ Professora de História da rede particular de ensino Consultora dessa série 37 PROGRAMA 4 PROGRAMA 4 ESPAÇOS PÚBLICOS DE MEMÓRIA Sons de tambores na nossa memória o ensino de história africana e afrobrasileira Mônica Lima 1 À volta da fogueira os mais velhos disseram vão então caçar nuvens que já fogem de nossos olhos Nós pedimos um guia armas munições e farnel para a longa jornada Mas eles sorriram terão de levar apenas estes sons de tambores na memória Caçadores de Nuvens do poeta angolano João Melo A aprovação da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que tornou obrigatório o ensino de História da África e da História dos africanos nas escolas de todo o país além de atender a uma antiga e justa reivindicação trouxe uma série de conseqüências para o ensino desta áreadisciplina em sua totalidade e para a formação dos profissionais que atuam no magistério em especial aqueles desta área específica a História As mudanças ocasionadas pela citada Lei ainda estão em processo E não influenciarão apenas os educadores Elas podem trazer resultados para o amplo grupo que pretendem atingir Crianças e adolescentes jovens e adultos entrarão em contato com o tema O alcance das transformações pode ser grande e muito positivo E elas poderão ser aceleradas ou adquirirem um ritmo mais lento conforme a capacidade de setores interessados intervirem no processo O impacto da medida merecerá certamente estudos aprofundados preferencialmente tendo como base dados vindos de diferentes partes do país com suas diversas experiências O ensinoaprendizagem destes conteúdos abre muitas perspectivas para o trabalho com espaços educativos nãoformais Museus centros culturais sítios históricos tombados ou não são lugares de memória e objetos de estudo e de sensibilização para a aprendizagem por excelência Os exemplos são os mais diversos se pensarmos em termos de Brasil igrejas casas de cultura terreiros espaços públicos de reunião e festejos também são locais para se aprender e ensinar a 38 história afrobrasileira E se pensarmos no nosso patrimônio imaterial este universo se amplia ainda mais histórias contos populares contos infantis de matriz africana eou afrobrasileira cantigas canções de festas religiosas populares assim como a Congada por exemplo podem tornarse um mote e o próprio objeto de estudo trazendo viva a africanidade da cultura brasileira Além destes de caráter mais geral estão presentes em diversas de nossas comunidades os mais velhos que podem relembrar e trazer para nossos alunos muito deste patrimônio em momentos de congraçamento e aprendizagem Só para lembrar não importa nossa origem familiar todos nós brasileiros carregamos áfricas dentro de nós Essas áfricas no plural pois são múltiplas são e foram permanentemente reinventadas aqui no Brasil mas revelam sua profunda origem a cada momento no vocabulário moleque quitanda cafuné cocada entre tantas palavras vale uma pesquisa nos costumes na expressão de fé na comida Todos estes aspectos convergem para a abertura de muitas possibilidades de trabalhar com o ensino de História em espaços nãoformais e em situações nãoformais Estes lugares e momentos certamente enriquecerão nossos estudos e a aprendizagem que com eles se viabiliza Estaremos lidando com uma matériaprima fascinante e delicada os diversos matizes da nossa formação cultural a memória dos nossos ancestrais e especialmente suas heranças tão longamente invisibilizadas Todo o cuidado será sempre pouco para não resvalarmos pelas trilhas aparentemente fáceis do maniqueísmo da simplificação e da folclorização Vamos pensar então na prevenção destes perigosos males que podem enfraquecer nossa percepção e nos distanciar dos nossos objetivos Alguns destes cuidados podem parecer óbvios mas muitas vezes o aparentemente óbvio merece ser revisto e revisitado para refletirmos sobre ele Vamos lá Os africanos e seus descendentes nascidos da diáspora no Novo Mundo as Américas incluindo o Brasil eram seres humanos dotados de personalidade desejos ímpetos valores Eram também 39 seres contraditórios dentro da sua humanidade Tinham seus interesses seu olhar sobre si mesmos e sobre os outros Tinham suas experiências de vida vinham muitas vezes de sociedades não igualitárias nem equânimes na África ou nasciam aqui em plena escravidão Não há como uniformizar atitudes condutas e posturas e idealizarmos um negro sempre ao lado da justiça e da solidariedade O que podemos e devemos ressaltar são os exemplos destes valores de humanidade presentes em muitos e injustamente negados e tornados invisíveis pela sociedade dominante durante tanto tempo Mas sugerimos veementemente evitar dividir o mundo em brancos maus e negros bons o que não ajuda a percebermos o caráter complexo dos grupos humanos A idéia é valorizar o positivo mas sem idealizar O nosso desconhecimento sobre a história e a cultura dos africanos e dos seus descendentes no Brasil e nas Américas pode fazer muitas vezes com que optemos por utilizar esquemas simplificados de explicação para um fenômeno tão multifacetado quanto a construção do racismo entre nós O racismo é um fenômeno que influiu e influi nas mentalidades num modo de agir e de ver o mundo E as diferentes sociedades interagiram com ele de diversas maneiras o Brasil não tem a mesma história de relações raciais que os Estados Unidos para usar um exemplo clássico No entanto durante muito tempo se defendeu a idéia de que aqui não havia discriminação e ainda que o que separava as pessoas era apenas sua condição social Hoje não só vemos pelos dados da demografia da pobreza brasileira que ela tem uma inequívoca marca de cor como sabemos que um olhar mais atento à História e à vida dos afrodescendentes no país revela a nossa convivência permanente com o preconceito e seus efeitos perversos Mas para podermos enxergar isso tivemos que ouvir relatos ver dados e entender como foi esta História Só assim pudemos desnaturalizar as desigualdades e ver a face hostil do nosso racismo envergonhado O que isto quer dizer Que devemos nos dedicar ao tema estudar ler nos informar sempre e mais Afinal o que está em jogo é bem mais que a nossa competência profissional é o nosso compromisso com um país mais justo e com um mundo melhor para todos e todas Nós nos acostumamos a ver as manifestações culturais de origem africana confinadas ao reduto do chamado folclore Este conceito de folclore que remete às tradições e práticas culturais populares não tem em si nenhum aspecto que o desqualifique mas o olhar que foi estabelecido sobre o que chamamos de manifestações folclóricas sim E sobretudo no mundo contemporâneo em que a modernidade está repleta de significados positivos o folclore e o popular se identificam não poucas 40 vezes com o atraso algo curioso exótico porém de menos valor Logo se não problematizarmos a inserção da cultura africana neste registro correremos o risco de não criar a identidade nem estimular o orgulho de a ela pertencermos Podemos desmistificar a idéia de folclore presente no senso comum e também mostrar o quão complexa e sofisticada é a nossa cultura negra brasileira Envolve saberes técnicas e toda uma elaboração mental para ser construída e se expressar E assim como nós está em permanente mudança e não é nada óbvia Além destes três cuidados básicos de caráter geral há outros dados sobre os quais devemos refletir e estar sempre atentos A África é um amplo continente em que vivem e viveram desde os princípios da humanidade afinal segundo pesquisas foi na região onde atualmente se localiza o Continente Africano que a humanidade surgiu grupos humanos diferentes com línguas costumes tradições crenças e maneiras de ser próprias construídas ao longo de sua História Referirse a o africano ou a africana como uma idéia no singular é um equívoco Podemos até utilizar estes termos quando tratarmos de processos históricos vividos por diversos nativos da África mas sempre sabendo que não se trata de um todo homogêneo e sim de uma idéia genérica que inclui alguns indivíduos em situações muito específicas Por exemplo podemos dizer o tráfico de escravos africanos ou seja estamos nos referindo à atividade econômica cujas mercadorias eram indivíduos nativos da África conhecido nos seus anos de declínio como o infame comércio Nestes tipos de caso vale dizer de um modo geral africanos ou negros africanos Mas devemos evitar atribuir a estas pessoas qualidades comuns como se fossem tipos característicos Um dos preconceitos mais comuns quanto aos africanos e afrodescendentes é com relação às suas práticas religiosas e um suposto caráter maligno contido nestas Este tipo de afirmação não resiste ao confronto com nenhum dado mais consistente de pesquisa sobre as religiões africanas e sobre a maioria das religiões afrobrasileiras Por exemplo não há a figura do diabo nas religiões da África tradicional nem de nenhum ser ou entidade que personifique todo o Mal As divindades africanas e suas derivadas no Brasil em geral se encolerizam se não forem cultuadas e consideradas e podem vingarse mas jamais agem para o mal de forma independente dos agentes humanos que a elas demandam O grande adversário das forças do Bem não existe não há este poder em nenhum ente do sagrado africano a não ser naquelas religiões influenciadas pelo 41 monoteísmo cristão ou pelo monoteísmo islâmico Não é certo considerar Elegbará Elegbá Exu como um demônio ou seu representante Exu é o mensageiro o embaixador dos pedidos humanos aos orixás e exige seu pagamento pelo serviço e se aborrece se não for atendido Mas não tem nenhuma maldade congênita como nenhuma outra divindade do panteão africano Como vimos toda a atenção é necessária e o exercício permanente que fazemos de ouvir pessoas e valorizar saberes não nos deve eximir de estarmos atentos às armadilhas do senso comum E no mais deixemonos encantar pela história africana e afrobrasileira porque como bem sabemos a aprendizagem se dá pela rota da sensibilidade e nada melhor que a via do afeto para rever preconceitos Esta é a perspectiva amorosa de trabalho que valorizamos que inclui respeito à diferença que convoca e se propõe à participação e que atua cooperativa e solidariamente BIBLIOGRAFIA BÂ Amadou Hampate Amkouell o menino fula São Paulo Palas AthenaCasa das Áfricas 2003 BELUCCI Beluce Introdução à História da África e da Cultura AfroBrasileira Rio de Janeiro CEAA UCAMCCBB 2003 CANEN Ana Relações raciais e currículo Reflexões a partir do multiculturalismo In Cadernos Pedagógicos PENESB n 3 Niterói Editora da UFF 2001 p6577 HERNANDEZ Leila Leite A África na sala de aula Visita à História Contemporânea São Paulo Selo Negro 2005 LIMA Mônica A África na sala de aula In Nossa História n 4 Rio de Janeiro Fundação Biblioteca Nacional 2004 p8487 LIMA Mônica Fazendo soar os tambores o ensino de História da África e dos africanos no Brasil In Cadernos Pedagógicos PENESB n 4 Niterói Editora da UFF 2004 p6577 MATTOS Hebe O ensino de História e a luta contra a discriminação racial no Brasil In ABREU Martha e SOHIET Rachel Ensino de História Conceitos temáticas e Metodologia Rio de Janeiro FAPERJCasa da Palavra 2003 p127136 OLIVA Anderson Ribeiro A História da África nos bancos escolares Representações e imprecisões da literatura didática In Estudos AfroAsiáticos Ano 25 nº 3 2003 p 421 461 OLIVER Roland A experiência africana Da PréHistória aos dias atuais Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1994 42 PANTOJA Selma org Entre Áfricas e Brasil Brasília Paralelo 15 2001 ROCHA Maria José orgs Rompendo silêncios História da África nos currículos da Educação Básica Brasília DP Comunicações 2004 PRIORE Mary del e VENÂNCIO Renato orgs Ancestrais uma introdução à história da África Atlântica Rio de Janeiro Campus 2004 SALLES Ricardo e SOARES Mariza Episódios de história afrobrasileira Rio de Janeiro DPAFASE 2005 SECAD Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade Ministério da Educação Educação antiracista caminhos abertos pela Lei Federal 1063903 Brasília MECSECAD 2005 Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas Brasília MECSECAD 2005 SILVA Alberto da Costa e A enxada e a lança A África antes dos portugueses Rio de Janeiro Nova Fronteira 1996 2ªed A manilha e o libambo A África e a escravidão de 1500 a 1700 Rio de Janeiro Nova FronteiraFundação Biblioteca Nacional 2002 SILVA Ana Célia da A discriminação do negro no livro didático Salvador Centro Editorial DidáticoCentro de Estudos AfroOrientais CEAO 1995 THORNTON J A África e os africanos na formação do mundo atlântico Rio de Janeiro CampusElsevier 2004 Nota 1 Professora de História do CAP UFRJ de História da África nos cursos de Pós Graduação do Programa de Estudos sobre o Negro na Sociedade Brasileira da Universidade Federal Fluminense PENESBUFF e do Centro de Estudos Afro Asiáticos da Universidade Cândido MendesUCAMRJ Doutoranda em História na Universidade Federal FluminenseUFF 43 PROGRAMA 5 PROGRAMA 5 ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃOFORMAIS E FORMAÇÃO DE ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃOFORMAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PROFESSORES Para além do formar professores dialogar com as experiências vividas Para além do formar professores dialogar com as experiências vividas Elison Antonio Paim 1 Acabaram almejando fazer do homem um produto objetivo negandolhe a historicidade e a capacidade de produção autônoma Manoel S Matos Pretendo aqui problematizar através de historicização como a racionalidade técnica instrumental formou e continua formando professores e professoras idealizados para um dado modelo pautado na hierarquização e na reprodução de conteúdos prontos deslocados das experiências vividas por eles e seus alunos Num segundo momento pautado em minha experiência como professor da Prática de Ensino de História e formação continuada de professores aponto algumas considerações procurando ir além da perspectiva de formação pensando que há um fazerse um construirse dos professores e professoras de forma relacional com outros sujeitos Parto do pressuposto de que nós acadêmicos precisamos deixar de olhar para ou sobre o professor e sim dialogarmos dentro das diferenças e especificidades de nossos saberes Com o avanço da modernidade capitalista sobretudo a partir da segunda metade do século XIX a ciência e a técnica passaram a agir em conjunto tentando controlar racionalizar medir comprovar avaliar as ações humanas Acabaram almejando fazer do homem um produto objetivo negandolhe a historicidade e a capacidade de produção autônoma gerando a racionalidade técnica instrumental A técnica associouse ao fazer e a ciência ao como fazer A técnica não se resume à invenção e ao uso de instrumentos caracterizase por uma intencionalidade ou seja há uma predeterminação na elaboração e usos da técnica justificável a partir da necessidade de aperfeiçoamento das ações humanas As artes de fazer as técnicas estão divididas em diferentes aspectos e princípios Por um lado estão voltadas para aqueles que explicam tudo pela técnica as chamadas ciências exatas e por outro para aqueles que relativizam determinados aspectos ou percebem que nem tudo é possível de ser 44 explicado tecnicamente que são as ciências humanas Num tempo em que já não era possível manterse assentada na idéia de um destino natural de uma leitura providencialista da realidade a educação como ciência foi se tornando cada vez mais dependente das condições sociais culturais políticas e econômicas vigentes Dessa forma ocorreu uma nítida divisão entre os produtores e os consumidores do conhecimento produzido Em muitos casos ocorreu a mecanização do pensamento a tentativa de negação do mundo das experiências vividas O conhecimento em geral e especialmente o conhecimento do professor foi sendo reduzido à técnica Houve grande preocupação com a objetividade do conhecimento produzido e assim foi separado do significado humano deixando de ser analisado questionado e negociado para se tornar administrado e dominado A racionalidade técnica instrumental impôs uma relação de subordinação dos níveis mais aplicados e próximos da prática aos níveis mais abstratos de produção do conhecimento ao mesmo tempo em que se acentuam as condições para o isolamento dos profissionais Esse modelo foi ressignificado no sistema educacional no qual a separação ocorre entre os técnicos administradores pesquisadores e os professores A racionalidade técnica instrumental promoveu uma autêntica divisão do trabalho GÓMEZ 1998 assentada numa espécie de naturalização de uma organização do trabalho docente tal como o modelo taylorista da organização do trabalho industrial CORREIA 1999 Ocorreu a subtração dos saberes dos atores e portanto dos poderes decorrentes do uso desses saberes os professores não passaram a ser bonecos de ventríloquo TARDIF 2002 aprofundando o fosso que separa os actores dos decisores NÓVOA 1992 Os professores ao ficarem submetidos às estruturas de racionalização de seu trabalho tendem a tornaremse cada vez mais dependentes do conhecimento especializado as técnicas de ensino A mesma hierarquização do conhecimento fezse presente entre os professores O professor universitário foi concebido como pesquisador construtor do conhecimento Quanto ao professor da escola fundamental e média definiuse que sua função é ensinar o conhecimento produzido na universidade Dessa forma os professores da escola desempenham um papel de consumidores não de criadores 45 Visando atender aos ditames da hierarquia da cientificidade e da racionalidade técnica instrumental os cursos de formação de professores foram sendo organizados para formar um professor ideal ou bom professor dentro de um modelo préconcebido com o desenvolvimento de determinadas competências para o exercício técnicoprofissional Esse tipo de formação pragmática simplificadora e prescritiva acaba sendo de abrangência restrita pois prepara o prático o tecnólogo isto é aquele que faz mas não conhece os fundamentos do fazer Então são definidas normas regras formas de fazer que serão transmitidas ao futuro professor A este futuro professor vai sendo ensinado o que deve fazer o que deve pensar o que deve evitar para adequar a situação educativa ao modelo proposto ESTEVE 1991 p118 Para atingir o perfil ideal de professor inicialmente deverá ocorrer a construção de um cabedal de conteúdos capaz de dotálos de recursos oriundos de um componente científicocultural para assegurar o conhecimento do conteúdo a ensinar e um componente psicopedagógico para aprender a atuar eficazmente na sala de aula MONTEIRO 2002 p 11 Além do componente científico cultural a formação inicial nestes moldes deverá dotar os futuros professores de um saberfazer prático que conduza ao desenvolvimento de esquemas de ação que adquiridos de forma racional e fundamentada permitam aos professores desenvolveremse e agirem em situações complexas de ensino Portanto a formação da racionalidade técnica está assentada no entendimento de que a escola é um campo de aplicação A formação utilizada para igualar as práticas e comportamentos para desvincular os aspectos profissionais dos políticos em que o professorprofissional da educação foi sendo transformado em um ser apolítico sem envolvimento sem participação sem poder de decisão e ainda sem instrumental científico apresentouse de maneira peculiar na formação dos professores de Estudos Sociais no Brasil durante as décadas de 1970 e 1980 Nesse período o professor foi submetido a um treinamento generalizante e superficial o que conduziria fatalmente a uma deformação e a um esvaziamento de seu instrumental científico de modo que não havia necessidade em fornecerlhe elementos que permitissem analisar e compreender a realidade que o cercava Ele também não precisava refletir e pensar deveria apenas aprender a transmitir FENELON 1994 O importante para ser um bom professor era dominar o como fazer e não o que fazer ou para que fazer As atividades do professor acabavam tornandose instrumentais de treinamento baseadas na 46 aquisição de competências e habilidades voltadas para a aplicação de teorias e técnicas Desde então os professores vinham sendo formados como um especialista que rigorosamente põe em prática as regras científicas eou pedagógicas PEREIRA 2002 ou ainda como tecnólogo do ensino VEIGA 2002 Formados para serem ensinantes para transmitir conteúdos programas áreas e disciplinas de ensino ARROYO 2000 Portanto o perfil de professor desejado para essa concepção era aquele que deveria dominar o saber disciplinar BOLÍVAR 2002 Ao realizar a adoção extremada dos princípios da racionalidade o sistema educacional foi possibilitando brechas para que os próprios professores ao resistirem a determinadas imposições desenvolvessem mecanismos que minaram as estruturas do modelo realizando assim atividades educativas em que alunos e professores tornamse produtores de conhecimento O que impede a racionalidade técnica de se concretizar plenamente é que as situações de ensino por um lado são incertas únicas variáveis complexas e portadoras de conflitos de valores na definição das metas e na seleção dos meios por outro lado não existe uma teoria científica única e objetiva que permita uma identificação unívoca de meios regras e técnicas a utilizar na prática uma vez identificado o problema e clarificadas as metas A perspectiva da racionalidade técnica é simplista ao conceber o professor apenas como um canal de transmissão de saberes produzidos por outros Isto porque nega a subjetividade e saberes dos professores e dos alunos como agentes no processo educativo e parece desconhecer a crise de paradigmas no campo do conhecimento científico nas últimas décadas A provisoriedade o questionamento das verdades o pluralismo metodológico os critérios de validação do conhecimento científico revelam que no mínimo é preciso perguntar que conhecimento estamos ensinando e queremos ensinar MONTEIRO 2002 p 13 Embora pareça distante e irreal nos dias de hoje essa perspectiva de formação de professores não está morta pelo contrário ressurge com muita força através de iniciativas governamentais como os PCN Diretrizes Curriculares e Propostas Curriculares que têm sido implantados em vários países inclusive no Brasil Essas mudanças vêm numa perspectiva de reforçar a separação entre os que pensam e os que fazem em que o professor idealizado é o que possui competências e habilidades Todas essas propostas vêm com algumas categorias comuns tais como habilidades competências 47 autonomia da escola e do professor voltarse para as realidades locais Dessa forma ao pensar a educação como uma questão de eficácia cabem determinadas funções ao professor como numa linha de produção industrial da qual deverá sair um bom produto isto é um aluno com determinados perfis Para se atingir este determinado produto o professor precisa possuir certas competências ao invés de saberes profissionais ocorrendo assim o deslocamento do olhar do trabalhador para o local de trabalho ficando este vulnerável à avaliação e controle de suas competências Se estas não se ajustam ao esperado facilmente poderá ser descartado Para a avaliação ou conferência do produto alunos foram criadas formas de controle de qualidade como as provas do ENEM para o ensino médio e o ENADE para os cursos de graduação Evidentemente concordandose com tudo que afirmam os autores sobre a perspectiva da racionalidade técnica estarseia pensando em robôs e não em pessoas Seria negada toda a capacidade humana que os professores têm de se colocarem em conflito e até mesmo em oposição à sua condição de técnicos repassadores de conteúdos Assim a própria racionalidade é criadora de possibilidades diferentes de formação de professores No diálogo direto com o filósofo Walter Benjamin e o historiador Eduard Thompson proponho pensarmos o Fazerse Professor ou Professora Tal tese se apresenta na perspectiva de se pensar a partir das ruínas articuladas intimamente às possibilidades de superação nunca de maneira determinista Assim a formação de professores descortinase como um imenso campo de possibilidades Ao trazer para o campo da formação de professores as categorias benjaminianas e thompsonianas experiência experiência vivida memória cultura narrativa escovar a história a contrapelo tempo saturado de agoras fazerse sujeito verificase que é possível no diálogo com as idéias já canonizadas da formação para a racionalidade técnica anteriormente apresentadas ir um pouco além e pensar outra formação Formação esta que firme a possibilidade do professor fazerse O Fazerse Professor é entendido como um processo ao longo de toda vida e não situado num dado momento ou lugar universidade Possibilitanos pensar a incompletude do ser humano e no seu eterno fazerse Neste sentido são fundamentais as contribuições expressas na obra A Formação da Classe Operária Inglesa de Thompson 1989 que nos mostra como essa classe 48 operária não nasceu pronta foi se construindo fazendose tornandose sujeito nascendo enquanto categoria histórica Na esteira desse pensamento de Thompson é que proponho pensarmos o fazerse profissional dos professores e professoras sem descartar outros aspectos da vida pois somos sujeitos inteiros não podemos separar o profissional do pessoal e viceversa Pensar o professor na totalidade do seu fazerse possibilita perceber as ambigüidades que vão se construindo nas relações estabelecidas nos diferentes espaços em que os professores relacionamse com outros sujeitos alunos pais diretores de escola Thompson ao trabalhar com o binômio dominaçãoresistência foi explicitando que ambas não aparecem como blocos monolíticos e opostos mas que dominação e resistência acontecem de forma entrecruzada ou seja são parte da mesma moeda e só acontecem quando interrelacionadas Benjamim por sua vez mostra que são ambivalentes e constituemse em cenários móveis a partir de um mesmo fio Então conhecendo as lutas as experiências do passado os sujeitos se instrumentalizam passam a ter esperança na mudança na utopia como algo que está se fazendo e não que virá de qualquer forma Deste modo as professoras e professores ao buscarem suas memórias e experiências vividas passam a ser sujeitos do processo sentemse produtores participantes Para ocorrer essa passagem do formar ao fazerse professora ou professor é necessário pensar o ato educacional como um campo de possibilidades com uma história que está aberta por se fazer e não como algo pronto fechado determinado no qual falam expõem e os alunos ouvem e repetem Assim ocorreriam diálogos entre diferentes saberes Para o diálogo entre diferentes saberes considero as condições socioeconômicas políticoculturais de cada grupo social onde a escola está inserida O trabalho pedagógico seria com as realidades e as especificidades locais regionais ou seja iniciarseia o trabalho com o que está mais próximo dos alunos e professores o que foi expresso por Paulo Freire em diversos livros seria o ponto de partida Portanto o local não estaria desvinculado do contexto global 49 Para se compreender o que efetivamente acontece na Escola fazse necessário perceber as marcas culturais da experiência do vivido do enraizamento para compreendermos o trabalho de um profissional a história mais ampla que precisa ser desvelada Marcas culturais nas quais os sujeitos atores e autores da cultura docente possam expressar o fazer e saber ser professor de forma a relacionálo com outros saberes e fazeres visualizando com mais nitidez as experiências vividas Ao trabalhar considerando os professores e professoras como sujeitos do processo de seu fazerse sou levado a dialogar com Benjamim sobre o que a modernidade capitalista fez com a experiência vivida Para ele até então Sabiase exatamente o significado da experiência ela sempre foi comunicada aos jovens De forma concisa com autoridade da velhice em provérbios de forma prolixa com a loquacidade em histórias muitas vezes com narrativas de países longínquos diante da lareira contadas a pais e netos Que foi feito de tudo isso Quem encontra ainda pessoas que saibam contar histórias como elas devem ser contadas Que moribundos dizem hoje palavras duráveis que possam ser transmitidas como um anel de geração a geração Quem é ajudado hoje por um objeto oportuno Quem tentará sequer lidar com a juventude invocando sua experiência BENJAMIN 1986 p 115 Em diálogo com Benjamin Jorge Larrosa também expõe uma série de aspectos referentes à experiência e de como a modernidade privou os sujeitos modernos de viverem experiências devido ao excesso de informações Para este autor as informações não deixam lugar para a experiência também o excesso de opinião seria impeditivo das experiências a falta de tempo é outro fator que impede os sujeitos de terem experiências e também de terem memória o excesso de trabalho é outro fator que impede a experiência Para o autor a experiência e o saber que dela deriva são o que nos permite apropriarnos de nossa própria vida As questões levantadas por Benjamim e Thompson são fundamentais para que possamos discutir a formação de professores junto com professores e suas experiências ou a falta delas levandose em consideração o que os professores pensam como vivem quais experiências têm para contar que metodologias desenvolvem que relações fazem entre teorias e práticas cotidianas enfim precisamos deixar de pensar a formação para ou sobre o professor para pensar na relação junto com os professores Não podemos esquecer que o fazerse dos professores e professoras se dá num processo relacional ou seja constróise na interação com os outros isto é com os professores universitários os colegas 50 de trabalho os alunos com os autores dos livros com a comunidade escolar ou ainda outros situados em diferentes espaços da produção de saberes na troca de experiências no diálogo constante é que ocorre a feitura profissional do professor Esse processo portanto dáse de maneira social e nunca individual e em sendo social não pode ser homogêneo Proponho pois pensar a experiência na sua dimensão de totalidade para além do científico e do racional pois como Benjamim defende é preciso escovar a história a contrapelo trazer para ela o insignificante o miúdo o relegado Tal encaminhamento remete a Sonia Kramer quando em diálogo com Benjamin aponta as contribuições do seu pensamento para falar em educação O professor teve sua experiência empobrecida seu conhecimento não é visto como verdade aurática e ele não é narrador por não ter uma experiência coletiva a contar Quem é ele Professor e alunos são cada vez mais impedidos de deixar rastros Tornaramse professor e alunos meras mercadorias Como operário na linha de montagem o jogador sempre começando o passante vagando na multidão professores e alunos estão também condenados ao eterno recomeço Há possibilidade do novo ou sua ação se reduz ao sempreigual Para se buscar a possibilidade de mudança precisase buscar me parece a relação que é construída por professores e alunos com o conhecimento produzido na prática social viva para que deixem de se deslocar como autômatos Como recuperar a capacidade de deixar rastros Ou seja de deixar marcas Ou ainda de ser autor Como ler em cada objeto a sua história 2002 p 58 Muitos têm pensado a formação de professores desconsiderando o que os professores pensam São discussões genéricas sobre um professor sem rosto sem nome sem identidade sem experiência falase do professor no masculino e genérico e não especificamente do João da Maria do Pedro Ao trabalhar com a idéia de rememoração Benjamin nos instiga a pensarmos como as memórias dos professores podem contribuir para o seu fazerse Possibilita que questionemos em que medida as memórias de formação escolar de suas vidas de sua construção como cidadãos como profissionais da educação podem contribuir para que a academia passe a conhecer e respeitar os professores e professoras E mais do que isto pensar em que medida os próprios professores e professoras podem se fortalecer respeitandose mais em contato vivo com suas próprias memórias e ensinando a academia a conhecêlos e respeitálos Neste sentido penso que para irmos além de dados modelos de formação de professores precisamos pensar este sujeito professor como um todo ou seja um sujeito com experiências vividas que precisam ser ouvidas e assim desenvolvermos outras práticas de formação que 51 possibilitem a ocupação de outros espaços para além da universidade e da escola como lugares de formação Cabem aqui alguns exemplos que podem contribuir para que os professores se façam ao desenvolver suas atividades educativas nos chamados espaços não formais de formação ao ocuparem museus casas de cultura centros de memória e tantos outros e desenvolverem outras práticas formativas que os possibilitem tornaremse sujeitos autores e atores de suas práticas deixando de ficar à mercê do conhecimento que outros produzem rompendo com a dicotomia produçãoreprodução ou produçãotransmissão Enquanto professor de Prática de Ensino de História venho incentivando que os professores em formação realizem seus estágios em diferentes espaços de produção cultural e guarda de memórias pois acredito que as relações entre os diferentes sujeitos considerandose as experiências vividas como ponto de partida possibilitarão a construção de novas práticas escolares Para encerrar e não concluir pontuo agora alguns exemplos de experiências que desenvolvi ao orientar os alunos do curso de História da UNOCHAPECÓ para que realizassem seus estágios em espaços não convencionais como numa empresa de transportes coletivos problematizando a história do transporte no município de ChapecóSC com grupos de mulheres agricultoras discutindo a historicidade do Movimento de Mulheres Agricultoras com grupo de mulheres da Pastoral da Criança enfocando o papel da mulher na política com grupos vinculados ao Movimento Sem Terra com uma comunidade de descendentes de italianos abordando imigração e colonização da Região Oeste Catarinense dentre muitos outros espaços não formais em que aconteceram aulas de História para além do espaço escolar Dessa forma a experiência foi indicando como os professores produzem conhecimento como são autores como se fazem nas relações que desenvolvem Assim entendo ser necessário pensarmos a formação considerando a possibilidade de diálogo com as experiências vividas e não mais termos modelos formatados do que deve ser um professor REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARROYO Miguel Ofício de Mestre imagens e autoimagens Petrópolis Vozes 2 a ed 2000 BENJAMIN Walter Experiência e Pobreza In Magia e Técnica Arte e Política 7ª ed São Paulo Brasiliense 1994 p 114119 Obras escolhidas vol 1 52 Sobre o conceito da História Obras escolhidas Magia e Técnica Arte e Política 7 a ed São Paulo Brasiliense 1994 O narrador In Magia e Técnica Arte e Política 7ª ed São Paulo Brasiliense 1994 p197221 Obras escolhidas vol 1 Infância em Berlim por volta de 1900In Rua de Mão única 5ª ed São Paulo Brasiliense 1995 p 73142 Obras escolhidas vol 2 BOLÍVAR Antonio org Profissão Professor o itinerário profissional e a construção da escola Bauru EDUSC 2002 CONTRERAS José A Autonomia de Professores São Paulo Cortez 2002 CORREIA José Alberto Os LugaresComuns na Formação de Professores Porto Portugal Edições ASA 1999 ESTEVE José Manuel Mudanças Sociais e Função Docente In NÓVOA Antonio org Profissão Professor Porto Portugal Porto 1991 p 93124 FENELON Déa Ribeiro A Questão de Estudos Sociais In ZAMBONI Ernesta coord A Prática do Ensino de História São Paulo Cortez Cadernos Cedes nº 10 1984 p1122 GALZERANI Maria Carolina Bovério Memória Histórias e Re Invenção Educacional uma tessitura coletiva na escola pública In MENEZES Maria Cristina org Educação Memória História possibilidades leituras Campinas Mercado de Letras 2004 p287 330 GARCIA Carlos Marcelo Formação de Professores para uma mudança Educativa Porto Portugal Porto Editor 1999 GIROUX Henry A Os Professores como Intelectuais rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem Porto Alegre ARTMED 1997 GÓMEZ Angel Pérez A Cultura Escolar na Sociedade Neoliberal Porto Alegre ARTMED 2001 O Pensamento Prático do Professor a formação do professor como profissional reflexivo In NÓVOA Antonio org Os Professores e a sua Formação LisboaPortugal Edições Don Quixote 1992 p 93114 KRAMER S Por entre as Pedras arma e sonho na escola São Paulo Ática 3 a ed 2002 KUENZER Acácia org Ensino Médio construindo uma proposta para os que vivem do trabalho São Paulo Cortez 2000 LARROSA Jorge Notas Sobre a Experiência e o Saber da Experiência In Revista Brasileira de Educação n 19 p 2028 1994 53 MATTOSO José A história regional e local In A escrita da história Lisboa Editorial Estampa 1988 p 169175 MONTEIRO Ana Maria Ferreira da Costa Ensino de História entre saberes e práticas 2002 Tese Doutorado em Educação Departamento de Educação PUC Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2002 NÓVOA Antonio org Vidas de Professores Porto Portugal Porto 1992 Formação de Professores e Trabalho Pedagógico Lisboa Portugal Educa 2002 PIMENTA Selma Garrido Apresentação à Edição Brasileira In CONTRERAS José A Autonomia de Professores São Paulo Cortez 2002 SACRISTÁN J Gimeno Consciência e Acção Sobre a Prática Como Libertação Profissional dos Professores In NÓVOA Antonio org Profissão Professor Porto Portugal Porto 1991 p 6192 SCHEIBE Leda Formação dos Profissionais da educação pós LDB vicissitudes e perspectivas In VEIGA Ilma Passos de Alencastro AMARAL Ana Lucia orgs Formação de Professores políticas e debates Campinas Papirus 2002 p 4763 TARDIF Maurice Saberes Docentes Formação Profissional Petrópolis Vozes 2002 TOSCHI Mirza Seabra Linguagens midiáticas em sala de aula e a formação de professores In ROSA Dalva E Gonçalves SOUZA Vanilton Camilo de Orgs Didática e Práticas de Ensino interfaces com diferentes saberes e lugares formativos Rio de Janeiro DPA 2002 p 265279 THOMPSON E P A Formação da Classe Operária Inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 3 volumes A Miséria da Teoria ou um planetário de erros Rio de Janeiro Zahar 1981 Costumes em Comum estudos sobre a cultura popular tradicional São Paulo Companhia das Letras 1998 VEIGA Ilma Passos Alencastro Professor tecnólogo do ensino ou agente social In VEIGA Ilma Passos Alencastro AMARAL Ana Lucia orgs Formação de Professores políticas e debates Campinas Papirus 2002 p6593 Nota 1 Professor de Prática de Ensino de História e coordenador do Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina CEOM ambos da Universidade Comunitária Regional de Chapecó UNOCHAPECÓ Graduado em História pela Universidade Federal de Santa Maria Mestre em História pela PUC de São Paulo e Doutor em Educação pela UNICAMP 54 objetivos Meta da aula Apresentar aspectos políticos econômicos e culturais da Idade Média Esperamos que após o estudo do conteúdo desta aula você seja capaz de reconhecer as estruturas econômicas políticas e culturais da Idade Média compreender as transformações ocorridas ao longo dos dez séculos da Idade Média identificar algumas especificidades da civilização medieval Idade média o nascimento do Ocidente 5 A U L A História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 60 C E D E R J C E D E R J 61 AULA 5 Idade Média Pare e pense o que vem à sua cabeça ao ler estas palavras Quais imagens atravessam a sua memória Castelos Catedrais Cavaleiros Reis e rainhas Pestes e doenças Fome e frio Monges e conventos Camponeses e místicos Creio que muitas destas imagens são convidadas pela sua memória quando você lê ou ouve as palavras Idade Média É bom que seja assim pois todas elas realmente fazem parte da História do Ocidente medieval E é por ela que nós vamos viajar nesta aula Antes de iniciarmos a viagem é bom que você saiba como esses dez séculos de história são comumente divididos pelos historiadores Alta Idade Média que se inicia com a queda do Império Romano e vai até o século VIII Idade Média Central vai do século IX ao XI Baixa Idade Média que se estende do século XII ao XV Há outras periodizações Alguns historiadores costumam dividir cada um dos períodos citados em outros levando em consideração aspectos específicos tais como economia religiosidade demografia política Para os nossos objetivos a divisão anterior é suficiente UM DIFÍCIL COMEÇO No ano 476 da nossa era o chefe germânico Odoacro tomou de assalto a capital do Império Romano destitui o jovem Rômulo Augusto e enviou a Constantinopla as insígnias imperiais Esta data marcou na cronologia histórica o fim do Império Romano do Ocidente e o nascimento da Idade Média A mesma data e o mesmo evento assinalaram o encerramento de uma fase da História e o início de outra a Idade Média nasceu dos escombros do Império Romano construiuse com os seus restos alimentouse de suas ruínas Durante muito tempo os homens da Idade Média e da Antigüidade romana viveram uma longa transição Já não eram romanos mas também ainda não eram medievais Não podemos pensar que uma data encerra um período histórico A queda do Império Romano já se desenhava no horizonte havia séculos O enfraquecimento das instituições políticas o recuo da justiça o empobrecimento geral a insubordinação de alguns setores do exército a ousadia dos BÁRBAROS o avanço do cristianismo e o esvaziamento das cidades são apenas alguns dos sintomas da decadência que se configurava de longa data diante dos olhos dos romanos E não podemos dizer que INTRODUÇÃO BÁRBAROS Os romanos consideravam bárbaros todos os povos que viviam fora de suas fronteiras e não falavam a sua língua o latim e não compartilhavam de seus princípios culturais e organizavamse social e politicamente de forma diferente Como toda civilização apresenta um forte componente de egocentricidade os bárbaros eram os outros e foram depreciados nos seus costumes O Império Romano foi ameaçado e depois invadido por várias nações que falavam línguas diferentes entre si mas os romanos chamaram a todos de bárbaros História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 60 C E D E R J C E D E R J 61 AULA 5 depois da queda em 476 o cenário de desamparo e caos tenha cedido espaço circunstâncias novas e tranqüilizadoras A Idade Média teve um começo difícil Uma era de medo e incertezas De guerras e doenças De ferro e fogo Odoacro o chefe bárbaro que invadiu a Cidade Eterna retirandolhe o título de capital do Império era apenas um dentre os chefes de inúmeras nações germânicas que tentavam fixar morada em alguma província do vasto e poderoso Império Romano E a maneira de conquistar uma parcela de terra no interior do Império era invadir Por isto este período ficou conhecido na História como invasão dos povos bárbaros Para ter uma fronteira forte e bem guarnecida era preciso conservar a economia estável pois a manutenção de um exército era cara Além disso a organização administrativa também deveria manterse em nível elevado uma vez que o deslocamento e o suporte das tropas exigiam muita logística Para evitar que as ordens fossem questionadas e as insatisfações dos soldados se manifestassem em forma de sublevação faziase necessária uma hierarquia rigorosa na qual a autoridade fosse exercida sem contestação Todavia essas condições apontadas como necessárias para a manutenção da inviolabilidade das fronteiras do Império não foram sustentadas No século V quando Odoacro conseguiu penetrar na Cidade Eterna o Império Romano já não podia ostentar a imagem de uma unidade inquebrantável Em seu vasto território diversas nações bárbaras haviam invadido e estabelecido domínio Algumas destas nações haviam inclusive sido convidadas a prestar serviços aos romanos ajudandoos na guerra contra outros povos que almejavam romper as fronteiras Viver no Império tornavase cada vez mais perigoso As instituições encarregadas de garantir a segurança dos cidadãos não eram mais capazes de cumprir suas funções Os magnatas autoridades romanas que possuíam terras nas províncias do Império tendiam a buscar abrigo no interior na medida em que as cidades eram os alvos preferidos dos invasores que pretendiam pilhar as riquezas acumuladas Na falta de instituições militares encarregadas de prover a segurança os grandes proprietários de terra que se interiorizavam trataram de formar os seus corpos militares o que deu início a um processo de privatização da segurança História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 62 C E D E R J C E D E R J 63 AULA 5 Além disso a vida no campo também não era fácil e segura Qualquer camponês estava sujeito a receber a visita indesejada e violenta de bárbaros e salteadores que se multiplicavam conforme a desordem crescia Muitos pequenos proprietários camponeses livres que não tinham meios para proteger as suas terras foram se colocando ao abrigo dos grandes senhores trocavam terras e liberdade pela segurança que as grandes propriedades podiam oferecer Dessa forma lentamente processouse uma mudança na condição da liberdade e da propriedade da terra Não adiantava ser livre e proprietário num ambiente extremamente hostil que a todo momento exigia novas e caras estratégias para garantir a vida Assim na falta de melhores opções a antiga liberdade foi sendo trocada por segurança o camponês livre migrava gradualmente para a condição de servo na qual dividia o seu tempo de trabalho entre as terras que cultivava para o próprio sustento e as terras que forneciam produtos ao senhor Mas não só os camponeses perdiam a liberdade Com o esvaziamento das cidades muitos profissionais deixavam seus antigos postos de trabalho uma vez que se viam ameaçados pela desordem e violência Tentando minimizar a sangria de profissionais que este movimento de fuga provocava foram formuladas leis rígidas de hereditariedade Por meio destas o filho do carpinteiro por exemplo deveria seguir a profissão paterna e assumir o seu posto de trabalho Note portanto que tais medidas ao mesmo tempo que tentavam manter a ordem e o funcionamento das cidades acabavam ferindo profundamente a liberdade Porém atenção o servo não era escravo Qual a diferença O escravo pertencia a um senhor Ele era coisificado ou seja era tratado como um objeto destituído de vontade e deveria submeterse a toda e qualquer decisão do seu senhor Não havia negociação entre eles Em contrapartida o servo medieval dependia de um senhor a ele estava submetido mas não lhe pertencia Antes o servo pertencia à terra Imagine por exemplo que um proprietário queira vender doar ou deixar de herança uma parte de suas terras Ele não o pode fazer sem os servos pois estes estão ligados diretamente à terra Não são meros objetos não podem ser tratados como mercadorias e separados das terras que os contêm A Idade Média podese dizer iniciouse com um empobrecimento geral produziase menos na terra as técnicas agrícolas não História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 62 C E D E R J C E D E R J 63 AULA 5 experimentavam nenhuma inovação a densidade demográfi ca caía e o comércio declinava acentuadamente pois se a produção diminuía pouco sobrava para vender A subsistência fi gurava no topo das preocupações E as estradas que no Império Romano eram seguras e bem pavimentadas tornavamse cada vez mais perigosas e acidentadas Transportar mercadorias era um grande risco Os caminhos estavam cheios de salteadores que buscavam sobreviver ou enriquecer assaltando caravanas de comerciantes e viajantes Seria um exagero dizer que no início da Idade Média o comércio paralisouse Mas é certo dizer que ele sofreu um nítido declínio Era uma época ensimesmada isto é voltada para dentro de si mesma As difi culdades eram muitas e as soluções giravam em torno do recolhimento O senhorio nome dado às grandes propriedades de terra comandado por um senhor despontava como a solução mais adequada Os pobres estão despojados as viúvas gemem e os órfãos são pisados a pés a tal ponto que muitos incluindo gente de bom nascimento e que recebeu educação superior se refugiam junto dos inimigos Para não perecer à perseguição pública vão procurar entre os Bárbaros a humanidade dos Romanos pois não podem suportar mais entre os Romanos a desumanidade dos Bárbaros SALVIANO apud LE GOFF 2002 p 36 1 O texto que você acabou de ler de autoria de Salviano que viveu as agonias da decadência do Império Romano refl ete a insegurança dos homens diante da crescente barbarização do mundo Explique de que forma este texto sintetiza a transição da Antigüidade para a Idade Média Você levará em média vinte minutos para resolver esta atividade RESPOSTA COMENTADA O texto de Salviano sintetiza essa transição na medida em que refl ete o desmoronamento da ordem imperial e o estabelecimento do caos provocado pelas invasões e pelo recuo das instituições encarregadas de manter a ordem e a justiça ATIVIDADE História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 64 C E D E R J C E D E R J 65 AULA 5 DOS REINOS BÁRBAROS AO SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO Você aprendeu até agora que alguns povos bárbaros penetravam o Império Romano e nele estabeleciam morada Mas de que forma Estariam eles acampando como faziam antes das invasões Que tipo de organização política adotavam Os povos germânicos que compunham grande parte dos chamados bárbaros não conheciam a cidade a escrita nem padrões políticos fixos Eles se organizavam em tribos que eram guiadas por chefes guerreiros Tiravam seu sustento da criação de animais e do butim de guerra que era dividido entre os combatentes O valor máximo atribuído aos homens livres era o de guerreiro Trabalhar a terra pastorear o gado erguer muros eram atividades desconhecidas ou negligenciadas Quando as conheciam deixavamnas aos escravos Em oposição no Império Romano as cidades representavam o centro da vida cívica e embora a elite também deixasse aos escravos e subalternos as atividades produtivas a sociedade romana conhecia a escrita e organizava as suas tradições e leis em corpus jurídicos além de ter uma organização política determinada por lei Você deve estar se perguntando como estas distintas tradições conviveram depois das invasões Vejamos Os bárbaros não queriam destruir o Império Romano queriam sim desfrutar daquele estilo de vida Embora resistissem culturalmente a adotar sem restrições os traços da civilização romana eles absorveram muitos de seus princípios Dentre eles devemos destacar os da organização jurídica e burocrática E foi da mescla de suas tradições com as apreendidas dos romanos que surgiram os reinos germânicos Alguns foram mais duradouros e fortes outros apenas efêmeros e fracos mas eles têm em comum o fato de marcarem o início da Idade Média Apesar da difícil convivência germânicos e romanos criaram paulatinamente pontos de fusão Os contatos acirravamse por contingência espacial os germanos se estabeleceram em regiões já ocupadas por romanos Lembrese dos representantes da elite que pressionados pelas novas circunstâncias impostas pelas invasões retiraramse para as grandes propriedades rurais Esta mesma elite receberá a vizinhança daqueles que foram um dia considerados invasores História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 64 C E D E R J C E D E R J 65 AULA 5 e que agora passavam a figurar como senhores os novos soberanos Tal proximidade impôs novas formas de convívio o acirramento de trocas e o compartilharmento de interesses Podemos dizer que foi no âmbito das elites que as primeiras barreiras entre romanos e bárbaros começaram a ruir dando lugar a uma ponte que os aproximou E todos passaram a viver sob uma nova realidade política os reinos bárbaros Os visigodos na Espanha os francos na França os lombardos na Itália são exemplos de povos que passaram de invasores a construtores de reinos Eles deram início a novas experiências políticas na Europa que marcariam profundamente a política do continente Porém muitas dificuldades ainda caracterizariam essa época conturbada A tradição germânica tendia a considerar o reino como uma propriedade do monarca e não como uma res publica ou seja coisa pública pertencente a todos Para obter mais poder e conseguir a adesão de novos guerreiros esses monarcas tendiam a distribuir terras a maior fonte de riquezas à época perdendo parte do seu patrimônio ou seja para obter poder distribuíam a fonte do seu poder Além disso quando morriam dividiam o reino entre seus filhos como se se tratasse de uma propriedade privada Com o tempo vários conflitos decorreram desta prática E a descentralização do poder foi se tornando a característica básica da política dos séculos VII e VIII Havia ainda o problema religioso Os germanos eram pagãos na época das invasões No decorrer do século V muitos se converteram ao cristianismo porém adotaram um cristianismo considerado herético o arianismo que fora condenado pelo papado Como a Igreja também crescia em poder e influência foi se chocar com os germanos arianos O único povo que se converteu diretamente ao cristianismo romano foi o dos francos Aliados do papa no século VIII esse povo se tornou o mais poderoso dentre todos sendo considerado o braço armado da Igreja Deste casamento nasceu um novo império No Natal de 800 Carlos Magno foi coroado e sagrado imperador pelo papa Leão III Veja que dissemos coroado e sagrado Ele recebeu a coroa das mãos de um papa que com o seu poder espiritual fez dele um imperador sacro Este ritual repetiuse inúmeras vezes ao longo da Idade Média representando uma proximidade entre política e religião que nem sempre foi vivida de forma pacífica e equilibrada História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 66 C E D E R J C E D E R J 67 AULA 5 O novo imperador assumiu então funções guerreiras e adminis trativas de suma importância O seu ímpeto conquistador que já havia sido demonstrado em vários episódios transformou a Europa no Império Sacro Germânico Vários reinos caíram sob a sua espada e foram anexados aos domínios carolíngios e papais Ampliar posses era fundamental pois a força da economia vinha da terra E administrála bem era urgente e necessário à medida que os recursos essenciais do Império eram extraídos dos seus vastos domínios fundiários Em uma época na qual escrita e leitura eram habilidades raras Carlos Magno criou escolas importantes Educou religiosos e leigos e criou um corpo de funcionários capacitados a gerir os complexos negócios imperiais Os saberes desenvolvidos nestes centros de estudo ecoaram a ponto de esse momento histórico ser chamado por alguns historiadores de Renascimento carolíngio O imperador deixou instruções claras de como deveriam ser administrados os seus domínios esforçandose por controlar suas posses e os rendimentos de seus bens móveis e imóveis A terra serviu aos carolíngios como recurso para alavancar os seus poderes sendo distribuída em troca da fidelidade e serviços Porém conforme eram distribuídas escapavam do controle central criando uma realidade de tal forma fragmentária que com o passar do tempo não seria mais possível pensar em unidade imperial no campo prático o que ficou demonstrado no século X com a nova onda de invasões sofrida pela Europa A incapacidade de conter as ondas de agressão provocadas pela chegada dos magiares e dos vikings expôs a fragilidade deste Império Durante esse episódio a defesa foi na realidade efetuada pelos vários senhores locais O poder ganhava uma dimensão local e ultrapassava as funções imperiais Era o começo do Feudalismo Antes de tratarmos especificamente do Feudalismo é importante destacar mais uma característica do poder imperial Foi graças a Carlos Magno que o papado tornouse um estado rico poderoso e detentor de terras Além de desempenhar com esmero e vitalidade as funções de imperador Carlos tomou para si a função de proteger a cristandade sentindose no direito de intervir diretamente nas questões religiosas Tal fato criou podemos dizer uma confusão dos domínios temporal e espiritual Depois da sagração os carolíngios se consideravam verdadeiros sacerdotes encarregados também da saúde espiritual do povo cristão Nesse sentido passavam a encarar bispos e padres como História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 66 C E D E R J C E D E R J 67 AULA 5 se fossem seus condes e vassalos Ordenavam executar ordens e assinar documentos relativos às questões especifi camente religiosas A partir do século XI esse comportamento se tornou um problema e deu origem a sérios e violentos confl itos entre o papado e o Império 2 Você acabou de estudar um processo histórico que levou a Europa a experimentar duas formas de governo Primeiro os reinos germânicos depois um império que pretendeu unifi car vários reinos sob uma única coroa Explique de que forma o papado participou deste processo de unifi cação Você empregará em média trinta minutos para realizar esta tarefa COMENTÁRIO Para desenvolver bem esta atividade você precisa destacar o caráter sacro que o papado imprime aos governantes carolíngios além de ressaltar que a contrapartida deste investimento sacro vem em forma de domínio territorial para o papado ATIVIDADE O FEUDALISMO Você já ouvir falar em Feudalismo Agora você vai compreender como a Idade Média construiu esta complexa experiência política social econômica jurídica e religiosa Parece um exagero apontar tantos setores da vida social como marcados pelo feudalismo mas você perceberá que ele esteve presente em vários aspectos da vida dos medievais Vou começar com uma afirmação e tentarei explicála nas próximas linhas Houve relações feudais durante toda a Idade Média mas não houve feudalismo em toda a Idade Média Por quê Bem relação feudal pressupõe a presença do feudo intermediando um contato um acordo enfi m uma relação E feudalismo indica um sistema sociopolítico regulado pelas relações feudais E o que é o feudo É algo que se empenha para selar uma relação Pode ser História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 68 C E D E R J C E D E R J 69 AULA 5 uma porção de terra mas não só Pode ser também uma ponte uma quantidade de dinheiro um cargo Por exemplo um determinado senhor tem dentro dos seus domínios uma ponte que cobre um rio Ela está numa rota de comércio importante O senhor pode dar a um vassalo a ponte como feudo possibilitando que ele ganhe dinheiro ao cobrar pedágio pela passagem da mesma Em troca o vassalo deve ao senhor obediência conselhos e apoio na guerra Está instaurada uma relação feudal que sempre supõe um senhor e um vassalo Um doa algo que possibilita ao outro sobreviver e servilo Essas relações foram comuns na Idade Média mas elas por si não fundam um sistema sociopolítico Lembra do início da aula quando estudamos a ruralização da sociedade depois das invasões bárbaras Muitos camponeses livres se colocaram sob os cuidados de grandes senhores Trocaram a liberdade e suas terras pela proteção que só os grandes proprietários poderiam oferecer Em troca além das terras eles davam parte da sua produção Esta é uma relação de tipo feudal embora não haja feudalismo Agora preste atenção no Império carolíngio as relações feudo vassálicas ocorriam freqüentemente mas não podemos afirmar que se tratasse de regime feudal ou feudalismo pois este se caracteriza pela fragmentação do poder o que não ocorre em regime imperial Antes de prosseguir é importante que você conheça um pouco da representação que os homens na Idade Média faziam do mundo social em que viviam Para eles a sociedade estava dividida em três ordens o gênero humano estava desde a sua origem dividido em três as gentes da oração os cultivadores e as gentes da guerra ALDABERON DE LEON apud GEOGES DUBY As três ordens ou o imaginário do feudalismo p 25 Para os pensadores medievais e talvez para a grande maioria dos que viveram este longo período da história os homens estavam divididos em três funções Uns tinham de guerrear e proteger os que trabalhavam e os que rezavam Outros tinham de rezar pelos que trabalhavam e por aqueles que lutavam Muitos ainda deveriam trabalhar para alimentar os que lutavam e os que rezavam Esse era o mundo perfeito equilibrado Esta representação deixa claro que os agentes sociais entendiamse como partes de um conjunto harmônico sustentado pelos laços de dependência laços estes que são realizados nas relações feudovassálicas História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 68 C E D E R J C E D E R J 69 AULA 5 Percebeu a diferença O Feudalismo ocorre quando além das relações acima explicadas o poder encontrase descentralizado e distribuído nessas mesmas relações Assim no Feudalismo um senhor além de possuir terras era também detentor do direito de administrar a justiça e de executar leis Ele passa a representar o poder supremo Podia haver um rei mas o senhor governava na sua propriedade assumindo poderes normalmente atribuídos ao Estado FEUDALISMO No sentido exato do termo vínculos feudovassálicos Conjunto de instituições que criam obrigações de obediência e de serviço por parte de um homem livre dito vassalo e obrigações de proteção e manutenção por parte do senhor para com o seu vassalo Em troca da sua fi delidade o vassalo recebia do seu senhor a posse hereditária de um feudo LE GOFF 2002 p 296 v 2 3 Leia atentamente a defi nição oferecida pelo historiador Jacques Le Goff e escreva que aspecto ele deixou de abordar para uma precisa e completa defi nição de Feudalismo Você levará em torno de trinta minutos para realizar esta atividade RESPOSTA COMENTADA Basta acrescentar o aspecto político Como você aprendeu o Feudalismo não é só a relação estabelecida entre homens livres Ele é um regime político que outorga ao senhor poderes normalmente atribuídos ao Estado ATIVIDADE História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 70 C E D E R J C E D E R J 71 AULA 5 O CÉU ESTRELADO DA NOITE MEDIEVAL Você já viu uma catedral gótica Observe a imagem a seguir Tratase de uma construção enorme muito alta bem iluminada por um complexo jogo de luz que consiste em filtrar o sol por múltiplos pedaços de vidros coloridos que formam imagens sacras A catedral ergueuse no horizonte medieval como símbolo de crescimento vigor e fé Elas começaram a ser construídas no século XI E é a partir desta data que vamos encontrar uma Idade Média efervescente Uma ampla gama de fatores interagiram na transformação da paisagem medieval A construção de novos e potentes edifícios foi apenas um dos sinais exteriores do desenvolvimento experimentado pela cristandade A fé também experimentou novos caminhos e novos rigores A universidade esta invenção medieval que perdura até os dias atuais surgiu nesse novo cenário que teve a cidade como palco de espetaculares transformações As cruzadas os místicos o desenvolvimento da agricultura o crescimento demográfico o aquecimento comercial foram fatos correlatos às catedrais Todos são filhos de uma mesma época e do mesmo vigor E tudo começa com a terra Você aprendeu que a terra foi a fonte mais importante de riqueza e de poder da Idade Média E aprendeu História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 70 C E D E R J C E D E R J 71 AULA 5 também que a baixa produtividade agrícola estava ligada à estagnação das técnicas Podemos acrescentar às questões técnicas que incluíam a exploração do solo e os instrumentos de cultivo um traço climático a Europa Ocidental tornouse mais seca e temperada entre os séculos VIII e XIII criando condições para um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis Quem veio primeiro o ovo ou a galinha Esta pergunta tantas vezes formulada no nosso cotidiano também faz parte do repertório de dúvidas dos historiadores Alguns fenômenos históricos não revelam facilmente a seqüência da sua formação E é assim com o crescimento demográfico na Idade Média O que ocorreu primeiro aumento populacional ou produção alimentar Não se sabe ao certo mas o fato é que os dois aumentos estão intimamente ligados E sabese também que a produção alimentar aumentou a qualidade de vida de todos criando uma população mais forte mais disposta a trabalhar e mais resistente às doenças E quanto mais forte essa população se tornava mais filhos ela era capaz de manter vivos e com saúde Então a população crescia e com ela a necessidade de novas terras para produzir alimentos As novas terras conquistadas eram terrenos abandonados incultos muitas vezes alagados e cobertos por densas matas que permaneceram durante séculos sem serventia pois não havia braços para trabalhálos nem bocas que necessitassem urgentemente de seus frutos À proporção que o povo crescia e se fortalecia faziase necessário a conquista de novos espaços para a produção Os trabalhadores entravam em ação e transformavam os espaços incultos em terrenos produtivos Para auxiliálos na árdua tarefa de abrir novos campos entrou em cena a utilização do cavalo e uma nova maneira de explorar as forças animais ao invés de atrelar o arado ao pescoço dos animais de tiro que explorava pouco as suas forças além de sufocálos passouse a atrelá los pelo peito o que aumentando a capacidade de carga e a resistência Assim cada vez mais os animais de tiro foram utilizados de forma adequada e contribuiram imensamente para o aumento da produção Somouse ainda a esse considerável avanço a nova maneira de dividir o campo Geralmente os terrenos devotados ao plantio eram divididos em dois Em uma metade plantavase enquanto a outra descansava A partir do século XI vulgarizouse a divisão dos terrenos em três partes prática que veio a se chamar agricultura trienal Uma parte História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 72 C E D E R J C E D E R J 73 AULA 5 descansava e duas produziam Essa nova abordagem do solo provocou um aumento em média de um terço na produção E tem mais Além da nova tração animal e da divisão do solo os camponeses passaram a plantar leguminosas favas feijões nas partes dos terrenos que descansavam pois elas ajudavam na recuperação do solo A conseqüência deste ato foi fantástica pois houve nitidamente uma alteração na dieta dos medievais Eles passaram a ingerir mais ferro o que fortalece principalmente as mulheres que necessitam desse mineral mais do que os homens porque menstruam e amamentam Mulheres mais fortes e saudáveis crianças mais fortes e saudáveis Ou seja muito do crescimento demográfico deste período deveuse diretamente a uma baixa de mortalidade tanto infantil quanto feminina A paz também exerceu um importante papel neste quadro de desenvolvimento Desde o século X as invasões pararam de atormentar destruir e assustar as populações A Igreja fez a sua parte Estabeleceu regras para a guerra e para as disputas que não poderiam mais ocorrer todos os dias mas deveriam seguir um calendário A este disciplinamento deuse o nome de Paz de Deus Vale lembrar que os conflitos na Idade Média central eram encontros entre cavaleiros Em geral eles não envolviam grandes exércitos e sim alguns combatentes A guerra no feudalismo tornouse uma atividade de guerreiros especializados E o objetivo não era matar o inimigo era capturálo e cobrar resgate de seus vassalos menos mortes Com o cessar das invasões e um certo controle sobre os combates as estradas tornaramse um pouco mais seguras e os comerciantes ousaram levar cada vez mais longe as suas mercadorias E com o crescimento da produção nos campos houve excedentes a comercializar Dessa maneira o comércio viveu um recrudescimento notável a partir do século XI As mercadorias chegavam de longe Novos produtos eram oferecidos nas feiras locais As moedas circulavam bastante pois deviam suprir a necessidade monetária das operações comerciais Os bancos principalmente italianos criaram mecanismos de troca eficientes estabelecendo o câmbio Os senhores que antigamente queriam receber os pagamentos em víveres porque não tinham onde gastar moedas começaram a dar preferência ao dinheiro Alguns camponeses livres e servos passaram a pagar tributos aos senhores em moeda liberando suas forças para novos empreendimentos História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 72 C E D E R J C E D E R J 73 AULA 5 As cidades São nelas que se ergueram as catedrais além das casas de pedra dos burgueses Elas cresceram rapidamente Eram entroncamentos de vastas redes comerciais Nelas reviveram as profissões que agora se organizavam em corporações e criavam novas regras de convívio escapando dos grilhões feudais Nas cidades respirase a liberdade dizia um ditado alemão O servo que nela permanecesse por um tempo e não fosse reclamado por seu senhor tornavase livre cidadão As cidades compraram dos senhores laicos e eclesiásticos o direito de autogestão E nelas nasceram as universidades que começaram como escolas paroquiais e ganharam novas dimensão e atribuição O intelectual é uma criação medieval uma criação da cidade especificamente Por mais que as universidades estivessem sob a tutela de um príncipe ou da Igreja elas reclamavam por liberdade de pensamento e de criação O título do docente era por ela e somente por ela expedido E para conquistálo era necessário como hoje submeterse às suas regras e bancas avaliadoras Outro fenômeno relacionado a essa etapa de desenvolvimento foram as cruzadas Elas representaram um movimento poderoso de fé e de necessidade de terra O crescimento demográfico não atingiu somente os camponeses Você já viu que muitas terras foram conquistadas dos pântanos e das florestas Mas a nobreza necessitava de mais Ela precisava de novas propriedades para seus filhos Considere o seguinte se um senhor feudal tivesse muitos filhos homens e dividisse as suas propriedades entre todos com o passar do tempo elas ficariam pequenas tornandose insuficientes para gerar riquezas E isso seria um problema não é verdade Como resolvêlo A solução foi estabelecer que as propriedades seriam herdadas pelos primogênitos E os outros Uns poderiam ingressar na carreira eclesiástica ou na magistratura que ainda era tímida nesta época Muitos porém foram criados no ambiente da cavalaria Queriam tornarse senhores São estes principalmente que se lançam nas cruzadas em busca de perdão e de terra A CRISE OUTONO DA IDADE MÉDIA OU PRIMAVERA DOS NOVOS TEMPOS Os séculos XIV e XV foram marcados por guerras fomes pestes insurreições desvalorizações monetárias e queda na produção A Idade Média caminhava para seu fim ostentando um quadro de penúria e História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 74 C E D E R J C E D E R J 75 AULA 5 degradação Deste quadro emergirá mais tarde a Idade Moderna inaugurada pelo brilho do Renascimento Vejamos o que ocorreu No período de expansão você aprendeu que a necessidade de terras cresceu e elas foram buscadas nos campos e nas florestas Grande parte das porções de terras conquistadas não eram muito férteis Depois de algumas colheitas elas começaram a produzir menos As florestas que foram derrubadas para dar lugar à plantação e também para gerar a energia que alimentou o crescimento recuaram em níveis alarmantes provocando desequilíbrios ecológicos Chuvas torrenciais e invernos prolongados afetavam as colheitas provocando a fome em várias regiões As populações estavam menos alimentadas e as guerras ceifavam a vida dos mais jovens e resistentes O comércio continuou a trilhar o caminho do lucro agitando as cidades e nutrindo de luxo aristocratas e burgueses mas já não encontrava a tranqüilidade de outrora Importantes casas bancárias florentinas vão à falência desestabilizando a economia européia Mas nada se comparou aos estragos provocados pela peste negra uma doença transmitida pela pulga do rato que devastou um terço da população européia Em poucos anos ela varreu do mapa milhares de indivíduos Não escolhia idade nem classe social A sua ferocidade deixou marcas profundas na sensibilidade medieval Segundo os cronistas da época ela causava tantas vítimas que os corpos empilhavamse nas portas das casas Os cemitérios não conseguiam abrigar tantos cadáveres os quais largados por toda parte deixavam um cheiro de podridão e morte no ar Não havia caixão para todos e tornouse comum colocar num mesmo féretro dois três corpos Os pais não tinham tempo de chorar seus filhos Todos tentavam escapar mas não sabiam para onde ir A peste é uma síntese da crise medieval Segundo as fontes e cronistas da época ela chegou à Europa em navios genoveses Mercadores da importante cidade de Gênova foram sitiados pelos tártaros num posto de comércio na Criméia mas resistiram ao cerco Como a peste abateu parte do exército tártaro antes da retirada os comandantes ordenaram que fossem lançados cadáveres contaminados por meio de enormes catapultas Os comerciantes voltaram para a sua cidade mas traziam consigo a contagiosa doença que encontrou uma população debilitada e ignorante em relação às suas formas de contágio Segundo alguns demógrafos o nível populacional da Europa só foi restabelecido no final do século XVI História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 74 C E D E R J C E D E R J 75 AULA 5 No campo religioso a situação também era bastante tensa A unidade cristã experimentava fortes golpes as heresias ganhavam corpo os poderes papais e imperiais entravam em confl ito pela supremacia e a população buscava saída para as suas angústias espirituais na heterodoxia Era a crise da cristandade e ao mesmo tempo o anúncio de uma nova era 4 Destaque dois aspectos da crise da Idade Média e compareos com o período de crescimento Você levará cerca de trinta minutos para realizar esta atividade RESPOSTA COMENTADA A sua resposta vai depender dos aspectos selecionados Você aprendeu por exemplo que no período de crise que antecede o fi m da Idade Média por causa da peste negra a população estava bastante diminuída Esta depressão demográfi ca signifi cou menos trabalhadores em atividade provocando fomes e esfriamento comercial No período de crescimento ocorreu exatamente o contrário a população crescia e com ela a produção Quanto mais se produzia mais o comércio se aquecia Este é um exemplo de como proceder para desenvolver a atividade ATIVIDADE CONCLUSÃO Você acabou de estudar alguns traços da civilização medieval Podese dizer que foi uma época marcada por avanços e recuos no campo da paz da produção das doenças e da política Uma época de muitos confl itos mas que teve a força de defi nir o que seria o Ocidente Hoje quando olhamos para o mapa da Europa deparamonos com vários países que estavam sendo gestados na Idade Média Quando pensamos no cristianismo e em sua enorme força podemos observar o seu crescimento e estabelecimento como religião soberana na Europa medieval História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 76 C E D E R J C E D E R J 77 AULA 5 As universidades nasceram de exigências e conflitos tipicamente medievais Importa aqui ressaltar que neste período chamado por muitos Idade das Trevas forjaram muitas das instituições que até hoje caracterizam a História do Ocidente ATIVIDADE FINAL Há hoje em vários setores da cultura uma vasta produção sobre o período medieval Nem sempre elas são fiés ao passado e nem sempre ajudam a melhor compreender esse período Mas reflete um dado essencial a percepção que se tem da Idade Média como matriz da civilização ocidental cristã Diante da crise atual dessa civilização cresce a necessidade de se voltar às origens de refazer o caminho de identificar os problemas Enfim de conhecer a Idade Média para conhecer melhor os séculos XXXXI FRANCO JÚNIOR 2001 p 155 Identifique na atualidade alguns objetos modas comportamentos que fazem referência à Idade Média e enumereos Depois escreva uma pequena redação explicando como as informações coletadas na sua pesquisa podem nos ajudar a compreender o mundo atual COMENTÁRIO Vai depender de suas escolhas Depois de coletar o material você levará em torno de trinta minutos para escrever a sua pequena redação História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 76 C E D E R J C E D E R J 77 AULA 5 O período compreendido entre o desmoronamento do Império Romano e o fi nal da Idade Média é um capítulo complexo da História do Ocidente Foi marcado pela oscilação entre centralização e descentralização do poder e pela variação no estatuto do trabalhador e sua relação com a terra O poder estava diretamente ligado à posse de terra os cavaleiros formavam uma elite especializada no mando e na guerra e a Igreja crescia auxiliada por imperadores Foi pontuada ainda por oscilações de fome e pela cruel decadência que se abateu depois de um período de prosperidade e exploração agressiva da Natureza R E S U M O Há muitos fi lmes produzidos sobre a Idade Média mas a maioria desviase de pontos importantes criando uma visão romanceada do período e dos fatos Vou indicar um chamado Excalibur que trata do círculo arturiano e dos cavaleiros da Távola Redonda É um belo fi lme além de ser bastante fi el às lendas medievais É uma produção inglesa de 1981 dirigida por John Boorman Há muitos fi lmes produzidos sobre a Idade Média mas a maioria desviase de pontos importantes criando uma visão romanceada do período e dos fatos Vou indicar um chamado dos cavaleiros da Távola Redonda É um belo fi lme além de ser bastante fi el às lendas medievais É uma produção inglesa de 1981 dirigida por John Boorman MOMENTO PIPOCA LEITURA RECOMENDADA Você deveria ler um livro chamado Guilherme o marechal O maior cavaleiro do mundo do historiador Georges Duby É uma obra clássica e de leitura muito agradável O autor conta a história de Guilherme um cavaleiro que vai obter muito sucesso e fama nos campos de batalha até se tornar um dos homens mais poderosos da Inglaterra À medida que o escritor conta a história da ascensão de Guilherme traça um quadro riquíssimo da cultura medieval envolvendo morte guerra e política O livro foi editado no Brasil pela Editora Graal SITE RECOMENDADO E recomendo também que você visite o site do professor Ricardo Costa da Universidade do Espírito Santo Lá você encontrará artigos sobre a Idade Média tradução de documentos de época e indicação de vários outros sites que tratam do período O endereço é wwwricardocostacom Divirtase AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD Disciplina Nota História na Educação 2 PEDLIC UERJ Coordenador José Roberto Idafẹ Tutora a Distância Vera Dias Alunao Matrícula Polo DISCENTE E TUTORA PRESENCIAL OBSERVE COM ATENÇÃO AS ORIENTAÇÕES ABAIXO Leia com cuidado e calma os enunciados abaixo Atenção responda de acordo com o que foi pedido Procure respeitar os espaços reservados para resposta Observe demais orientações de suaseu TP Este caderno de provas tem cinco 03 questões discursivas valendo ao todo 100 pontos Boa prova 1ª Questão Redija uma breve redação abordando I UMA diferenciação entre Cultura e Civilização com base nos materiais da nossa sala e II UM aspecto relacionado a estes conceitos que atualmente seja mobilizador e que possa introduzir o debate sobre Desigualdades em nossa sociedade entre discentes das séries iniciais do EF 25 p I Diferenciação entre Cultura e Civilização Os conceitos de cultura e civilização são fundamentais nas Ciências Humanas e apresentam distinções importantes Cultura referese ao conjunto de valores crenças costumes e manifestações materiais e imateriais que um grupo social desenvolve ao longo do tempo Ela é um elemento dinâmico passível de mudanças e adaptações e está presente em todas as sociedades independentemente do nível de organização política ou tecnológica Por outro lado a civilização é um estágio específico da organização social caracterizado pela complexidade política econômica e tecnológica O surgimento da escrita das cidades e do Estado são marcos fundamentais da civilização sendo que as primeiras civilizações surgiram entre 4000 aC e 3000 aC com os sumérios e egípcios Além disso o conceito de civilização foi historicamente usado para justificar a dominação de determinados grupos sobre outros sobretudo a partir do século XIX quando a cultura europeia foi imposta como modelo superior II Relação com a desigualdade social A desigualdade social pode ser analisada à luz dos conceitos de cultura e civilização A escrita por exemplo era um signo de poder nas civilizações antigas pois seu domínio era restrito a elites políticas e religiosas o que dificultava o acesso da população a esse conhecimento Esse fenômeno refletese no mundo contemporâneo onde a educação e o acesso à informação são fatores determinantes para a ascensão social No ensino de História essa discussão pode ser mobilizada ao abordar a permanência das desigualdades desde a Antiguidade até os dias atuais estimulando os alunos a compreenderem como fatores históricos contribuem para a exclusão social e econômica AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD 2ª Questão Apresente duas propostas DISTINTAS de atividade para estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental observando o legado cultural dos I Gregos e II dos Romanos Suas propostas devem identificar os Conceitos a serem ensinados o Tempo total e o das etapas durações a Metodologias e Materiais a serem utilizados e os Objetivos da atividade Obs DISSERTE sobre TODOS estes aspectos acima os relacionando às suas propostas e procurando justificar as estratégias e seleções feitas Cuidado NÃO responda se utilizando de tópicos extremamente sintéticos eou superficiais ATIVIDADE I 25 p Atividade I O Legado Cultural dos Gregos A Formação da Cidadania na Grécia Antiga Conceitos a serem ensinados O objetivo principal desta atividade é ensinar aos alunos como a cidadania foi desenvolvida na Grécia Antiga especialmente em Atenas e como os conceitos de democracia e participação política influenciaram a organização social no mundo ocidental Além disso a atividade permite discutir o conceito de exclusão social uma vez que apenas homens adultos e atenienses eram considerados cidadãos enquanto mulheres estrangeiros e escravos não tinham direitos políticos Tempo total e etapas da atividade A atividade será realizada em uma aula de 50 minutos organizada da seguinte forma 1 Introdução e contextualização histórica 15 min O professor começará a aula projetando imagens da Ágora ateniense e explicando o funcionamento da democracia na Grécia Antiga Será abordado como as leis eram debatidas e votadas na Eclésia a assembleia dos cidadãos 2 Encenação de um debate político na Ágora 25 min A turma será dividida em três grupos cidadãos homens adultos atenienses estrangeiros e mulheres Apenas os cidadãos poderão votar em leis fictícias criadas pelo professor como Aumentar os impostos para construir um novo templo ou Criar uma lei que permita aos estrangeiros participarem das decisões políticas Durante o debate os grupos que não podem votar poderão expressar sua insatisfação e argumentar 3 Discussão e comparação com a democracia atual 10 min Após a encenação o professor fará perguntas aos alunos como Todos puderam participar Quem foi excluído Como isso se compara com o sistema democrático atual Vocês acham que nosso sistema político ainda tem desigualdades Metodologia e materiais A metodologia será baseada na aprendizagem ativa permitindo que os alunos vivenciem os papéis sociais da Grécia Antiga Serão utilizados os seguintes materiais Imagens da Ágora de Atenas e exemplos de leis atenienses projetados no quadro Cartões identificando os papéis dos alunos cidadãos mulheres e estrangeiros Objetivos da atividade Entender o funcionamento da democracia ateniense Refletir sobre a cidadania e a participação política ao longo da História Comparar a exclusão política na Grécia Antiga com o mundo contemporâneo Desenvolver habilidades argumentativas e críticas Essa atividade aproxima os alunos do conceito de democracia de maneira prática e lúdica permitindo que eles compreendam tanto suas limitações quanto sua importância na História AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD ATIVIDADE II 25 p Atividade II O Legado Cultural dos Romanos O Direito Romano e a Sociedade Medieval Conceitos a serem ensinados O foco da atividade será o Direito Romano e sua influência na organização jurídica e social da Idade Média A transição das leis romanas para os sistemas feudais será explorada destacando os conceitos de propriedade servidão e hierarquia social Tempo total e etapas da atividade A atividade será realizada em duas aulas de 50 minutos 1ª Aula O Direito Romano e suas Influências 50 min 1 Exposição Teórica 20 min O professor apresentará a Lei das Doze Tábuas explicando sua importância para a organização romana e sua continuidade na Idade Média especialmente no feudalismo 2 Análise de Documentos 30 min Em grupos os alunos analisarão trechos simplificados da Lei das Doze Tábuas e contratos feudais comparando direitos e deveres dos cidadãos romanos e servos medievais 2ª Aula Simulação de um Tribunal Feudal 50 min 1 Preparação da Encenação 15 min Alunos assumirão papéis como juiz feudal senhor feudal servo acusado e advogados 2 Realização do Julgamento 30 min Baseados nas leis medievais os alunos simularão um julgamento em que um servo tenta contestar sua condição 3 Discussão e Reflexão 5 min O professor guiará um debate sobre justiça medieval x justiça atual e o papel das leis na manutenção das hierarquias sociais Metodologia e Materiais A metodologia será interativa com uso de textos históricos fichas de personagens e debates Objetivos da atividade Explicar a transição do Direito Romano para a Idade Média Desenvolver habilidades argumentativas e de interpretação histórica Compreender a relação entre leis poder e desigualdade social Essa abordagem permite que os alunos vivenciem o impacto das leis romanas na sociedade medieval de maneira prática e reflexiva AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD 3ª Questão A partir de aspectos e características históricas relacionados ao período medieval Comente exemplificando a partir dos materiais dispostos às aulas nº4 a seguinte afirmação Toda escravidão é um trabalho compulsório mas nem todo trabalho compulsório e uma escravidão 25 p A frase Toda escravidão é um trabalho compulsório mas nem todo trabalho compulsório é uma escravidão pode ser compreendida no contexto medieval a partir da distinção entre servidão e escravidão Na Idade Média a servidão substituiu progressivamente a escravidão como forma predominante de exploração do trabalho Diferentemente do escravo que era considerado propriedade do senhor e podia ser vendido ou trocado o servo era juridicamente vinculado à terra não podendo ser separado dela O servo devia parte de sua produção ao senhor feudal e estava obrigado a realizar determinadas tarefas mas em contrapartida tinha o direito de permanecer na terra e usufruir de parte da colheita Esse sistema conhecido como feudalismo surgiu como resposta à insegurança e instabilidade geradas pelo colapso do Império Romano Muitos camponeses livres optaram por tornarse servos em busca de proteção contra invasões e pilhagens Assim o trabalho compulsório era uma característica essencial do sistema feudal mas a condição do servo diferenciavase da escravidão por não envolver a posse direta sobre o indivíduo
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objetivos Meta da aula Refletir sobre a aplicação dos conceitos de civilização e de cultura no ensino de História Esperamos que após o estudo do conteúdo desta aula você seja capaz de identificar os conceitos gerais de civilização e de cultura aplicados nas Ciências Humanas e em especial na História aplicar esses conceitos na prática pedagógica Civilização e cultura 2 2 A U L A Prérequisitos Para acompanhar melhor esta aula você deverá ter em mente o conteúdo da Aula 1 e os conceitos de cultura e identidade das Aulas 11 e 12 da disciplina História na Educação 1 História na Educação 2 Civilização e cultura 2 8 C E D E R J C E D E R J 9 AULA 2 Como você já deve ter observado em seu diaadia as palavras nem sempre possuem sentidos únicos Na teoria isso não é diferente E especialmente quando se trata de conceitos é fácil perceber que seus significados se alteram ao longo do tempo ou de acordo com a corrente de estudo à qual estão filiados Os conceitos de civilização e de cultura estão fortemente presentes na produção do conhecimento histórico Portanto não podem por conseqüência estar apartados do ensino dessa disciplina Vamos agora tratar da utilização desses conceitos no contexto prático da sala de aula atentando para a necessidade de os alunos construírem seus significados ao longo dos dois primeiros ciclos para consolidálos posteriormente CULTURA E CIVILIZAÇÃO Das eras Das mais antigas eras No mundo surgiu a criatura Diversa diferente de outras feras Pensante Sem duvidar do futuro adiante SÁ RODRIX GUARABYRA 2005 O homem a criatura pensante tem o poder de criar e transfor mar a partir da abstração do pensamento o que é dado naturalmente inato Diferindose dos demais seres as outras feras ele é capaz de constituir cultura é capaz de criar INTRODUÇÃO Figura 21 Detalhe de A criação do homem de Michelangelo 1510 Fonte Buonarotti 2005 História na Educação 2 Civilização e cultura 2 8 C E D E R J C E D E R J 9 AULA 2 A criação do homem faz parte dos painéis pintados por Michelangelo Buonarotti na famosa Capela Sistina do Vaticano Roma Observe que no contexto cristão o poder de criar é mistificado pela criação do homem como imagem e semelhança de Deus É exatamente a essa ação do homem sobre a Natureza que os conceitos de cultura e de civilização estão relacionados Se por um lado a idéia de cultura apresenta um significado mais amplo por outro a idéia de civilização retrata um conjunto específico da criação cultural do homem em coletividade Dessa forma podemos dizer que nossos ancestrais hominídeos já produziam cultura mas só podemos pensar em civilização alguns séculos antes de 3000 aC quando importantes transformações ocorreram em algumas sociedades da Mesopotâmia e do Egito Mas quais são as características fundamentais da cultura civilizada Em primeiro lugar o surgimento da organização espacial urbana a cidade Em segundo lugar associase o surgimento da cidade a uma organização política mais complexa do que a daquelas conhecidas até então pelos grupos nômades e sedentários o ESTADO Somamse a estes dois elementos caracterizadores outros fatores as primeiras formas de escrita e o trabalho especializado nas cidades Por volta de 4000 aC surgiu a primeira forma de escrita a escrita cuneiforme dos sumérios O domínio da escrita foi durante muitos séculos monopólio de poucos sendo controlado pelo Estado e por diferentes instituições religiosas Leitura e escrita eram portanto signos de poder e a restituição de tais saberes era uma forma de controle Assim a nãogeneralização do ensino da escrita contribuiu para a manutenção desses mecanismos de poder Signo de poder o saber ler e escrever foi justificativa para a nãogeneralização do ensino da escrita ESTADO É a organização políticoadministrativa que governa uma sociedade no território ocupado eou controlado por ela Figura 22 Placa de barro com escrita cuneiforme dos sumérios Fonte História 2005 História na Educação 2 Civilização e cultura 2 10 C E D E R J C E D E R J 11 AULA 2 O trabalho tornavase mais especializado principalmente nas cidades Entrelaçadas a essas modifi cações surgiram as diferenciações sociais nessas sociedades 1 Observe o esquema e leia atentamente as opções que o seguem CONCEITO NATURAL TRABALHO CULTURAL DEFINIÇÃO ATIVIDADE Quando a urbanização e a organização estatal se consolidaram três setores sociais básicos ficaram perceptíveis A imensa maioria da população dedicavase às atividades agropecuárias consumindo diretamente parte do que produzia e entregando o resto ao poder central Tal população não participava das decisões comuns Um grupo minoritário que se ocupava com atividades artesanais de troca administrativa e religiosas passava a ser mantido pela redistribuição dos excedentes extraídos das aldeias Embora ocupasse uma posição de privilégio esse grupo também não tinha poder de mando Um grupo ínfimo organizava o trabalho das comunidades pelas quais era sustentado e decidia por todos Este conjunto de mudanças foi contemporâneo simultâneo nos locais onde a forma de viver civilizada apareceu Podemos dizer que elas são características culturais complementares e que portanto surgiram ao mesmo tempo Não podemos destacar o aspecto mais importante pois elas são reciprocamente causa e conseqüência umas das outras É importante lembrar que estas transformações não atingiram a todas as sociedades existentes pois algumas não tiveram necessidade eou condições internas de mudar As que mudaram não viveram necessariamente esse processo na mesma época O conceito de civilização como elemento de superioridade cultural desenvolveuse a partir do século XIX em um momento em que se fazia necessário justifi car o domínio da cultura européia ocidental sobre diversas culturas Assim civilização ganhou o sentido de cultura melhor superior junto com a idéia do direito de civilizar o mundo à imagem e à semelhança dos europeus portanto com o ideal de criar um mundo culturalmente homogêneo ocidental História na Educação 2 Civilização e cultura 2 10 C E D E R J C E D E R J 11 AULA 2 a Ação transformadora do homem b Resultado da ação direta do homem c Existência independente da ação humana Complete os círculos do esquema com as letras correspondentes aos conceitos RESPOSTA COMENTADA A ação transformadora do homem trabalho altera a Natureza e produz o que chamamos de cultura quer material ou imaterial CULTURA E CIVILIZAÇÃO NO ENSINO DAS SÉRIES INICIAIS No contexto do ensino de História a diferença entre os conceitos de cultura e de civilização deve ser progressivamente trabalhada Para perceber a diversidade como o resultado do processo cultural o aluno precisa ter a dimensão dessa capacidade criativa do homem sem juízo de valor É necessário desmistificar o conceito de civilização dissociálo da idéia de superioridade sem abdicar da percepção da complexidade que essa criação social traz Os PCN propõem eixos temáticos como norteadores do ensino de História nas séries iniciais No primeiro ciclo o eixo é a História local e a História do cotidiano Os PCN priorizam para esse eixo alguns conteúdos a saber levantamento de diferenças e semelhanças individuais e sociais entre os componentes da turma identificação de transformações e permanências dos costumes das famílias dos alunos e nas instituições escolares levantamento de diferenças e semelhanças entre pessoas e os grupos sociais que convivem na coletividade identificação das transformações e permanências nas vi vências culturais da coletividade identificação do grupo indígena da região e estudo do seu modo de vida identificação de semelhanças e diferenças entre o modo de vida da localidade e da cultura indígena que ali predominou No segundo ciclo a História das Organizações Populacionais é o eixo temático proposto Também nesse período destacamos alguns conteúdos a serem priorizados levantamento de diferenças e semelhanças das ascendências e descendências entre os membros da comunidade local História na Educação 2 Civilização e cultura 2 12 C E D E R J C E D E R J 13 AULA 2 contextualização e identificação dos processos de deslocamento de população imigração e migração no passado e no presente identificação de diferentes tipos de organizações urbanas caracterização do espaço urbano local e sua relação com outras localidades urbanas e rurais Mas como trabalhar com os conceitos de cultura e de civilização nesses contextos A rápida observação dos eixos temáticos e dos conteúdos propostos pelos PCN já nos indica que o trabalho com o conceito de cultura no primeiro ciclo deve ser priorizado para permitir a introdução do conceito de civilização no segundo O PRIMEIRO CICLO O primeiro passo é buscar as informações entre os próprios alunos e envolvêlos com a pesquisa do tema proposto Tendo como ponto de partida o universo do aluno podemos trabalhar a comparação entre grupos sociais contemporâneos e de outras épocas As Histórias local e do cotidiano permitem a percepção das diversidades de forma lúdica Coleções sobre as histórias do cotidiano podem ser a base do estudo para o professor exemplo História da Vida Privada Existe hoje uma boa variedade de paradidáticos que abordam o cotidiano Veja nas leituras recomendadas alguns exemplos Assim é importante que se evidenciem nesse ciclo utilizando mais acentuadamente a linguagem visual as diferenças das residências das roupas da forma de educar da comida da cultura material que cerca as pessoas e das brincadeiras infantis Por exemplo observe as ilustrações que se seguem Figura 23 Caverna com pinturas rupestres Figura 24 Ocas indígenas História na Educação 2 Civilização e cultura 2 12 C E D E R J C E D E R J 13 AULA 2 As funções são semelhantes não Isto é o homem coletivamente deu um novo sentido à caverna ao apropriarse dela para abrigo mas ao longo do tempo continuou produzindo também outros tipos de habitações para sua proteção e bemestar Você conseguiu perceber que não existe valor cultural diferenciado entre os exemplos apresentados Tanto a caverna quanto o apartamento são produções culturais O julgamento de valor que podemos emitir sobre qualquer um desses abrigos é por si só uma produção cultural Observe que você já poderia estar abordando com as crianças questões relativas à percepção de tempo Cada habitação dessa nos remete a uma sociedade e a um tempo histórico específicos mas isso não quer dizer que não possa haver permanências e convivências no tempo Enquanto estamos em nossos apartamentos urbanos muitas famílias habitam casas rurais semelhantes às das Figuras 25 e 26 Você já deve ter percebido que os exemplos de cultura material são mais fáceis de serem trabalhados especialmente na idade escolar com a qual estamos tratando Mas não é impossível trabalharmos com a cultura imaterial Pense no gosto alimentar na moda e no padrão de beleza feminino São frutos abstratos da cultura mas são bem reais Só comer carne crua é hoje para nós inimaginável mas já foi uma refeição comemorada pelos nossos antepassados Hoje o padrão de mulher ocidental bonita pressupõe a magreza Retratos antigos de família podem facilmente evidenciar que no passado a maioria das mulheres tinham outro padrão de corpo Figura 25 Casa rural Figura 26 Conjunto habitacional História na Educação 2 Civilização e cultura 2 14 C E D E R J C E D E R J 15 AULA 2 Se utilizarmos imagens de outros locais e épocas essas diferenças do conceito de beleza se consolidam Observe as imagens que retratam a moda feminina ocidental nas décadas de 1920 1950 e 1960 A diferença é grande não E nós só estamos retratando a realidade ocidental Será que o resultado seria o mesmo se buscássemos para as mesmas épocas imagens da moda chinesa ou iraquiana Claro que não Partindo portanto do que o aluno conhece sua localidade seus amigos e seus familiares é possível agregarmos informações que contribuam para a compreensão do processo histórico a demarcação das permanências e mudanças e ainda o entendimento das noções de tempo e do conceito de cultura 2 Aproveite o exemplo do vestuário e pesquise imagens que demonstrem a transformação cultural ocorrendo em uma variação de tempo e de espaço Variando no tempo Indique quando Indique quando ATIVIDADE Figura 27 Moda feminina ocidental nas décadas de 1920 1950 e 1960 respectivamente História na Educação 2 Civilização e cultura 2 14 C E D E R J C E D E R J 15 AULA 2 Variando no espaço Indique onde Indique onde Na prática como você trabalharia essas imagens Você poderia utilizar esse tipo de atividade no contexto do primeiro ciclo Justifique essa afirmação RESPOSTA COMENTADA Imagine que você escolheu a imagem de um índio que habitou sua região e seu próprio retrato para caracterizar as mudanças no tempo O mesmo retrato seu poderia estar ao lado da imagem de um gaúcho dos pampas identificando mudanças que ocorrem de lugar para lugar numa mesma época É fácil perceber as mudanças Observe que a atividade além de propiciar a pesquisa e o desenvolvimento motor recorte e colagem permite a utilização da linguagem visual para registrar a informação numa fase de alfabetização em curso Podemos dizer que essa atividade é aplicável porque utiliza conceitos e percepções importantes para a História sem uma abordagem direta O SEGUNDO CICLO Embora não seja impossível trabalhar o conceito de civilização na proposta de eixo temático e conteúdos sugeridos pelos PCN para o primeiro ciclo vamos dar ênfase na sua abordagem no segundo ciclo História na Educação 2 Civilização e cultura 2 16 C E D E R J C E D E R J 17 AULA 2 Podemos começar destacando a importância das migrações e da urbanização na História Os homens sempre buscaram condições de sobrevivência melhores Isso está associado à longa tradição de migrações ao longo da sua História Identificar as demandas de qualidade de vida que incentivaram grupos a se deslocarem no espaço ao longo dos séculos é importante Se os primeiros hominídeos nômades caminhavam constantemente em busca de suprimentos alimentares ainda nos dias atuais milhares de seres humanos fogem da fome das guerras dos desastres naturais ou buscam melhores empregos para no fundo garantirem a mesma coisa a sobrevivência Todo processo de mobilização populacional portanto evidencia um momento histórico específico Podemos dizer que a própria História da ocupação dos continentes se faz mediante inúmeras e constantes ondas de migração de populações ainda não totalmente desvendadas A partir da África continente até o momento reconhecido como berço dos primeiros hominídeos vagas de migrações ocuparam a Ásia a Europa e a América Observe no mapa a seguir as rotas até hoje identificadas pelos estudos de fósseis Elas são ilustrativas dos primeiros processos de transferência de populações da história da Humanidade Figura 28 Mapa da ocupação dos continentes Floresta tropical Floresta oriental Deserto Mar negro Tundra Floresta conífera Mar do Japão Mar Cáspio História na Educação 2 Civilização e cultura 2 16 C E D E R J C E D E R J 17 AULA 2 Outro processo histórico importante foi o da urbanização pois implicou uma mudança radical na organização das sociedades sedentárias que produziram as cidades que hoje concentram grande parte da população mundial Viver em cidades exigiu uma série de outras mudanças tais como o desenvolvimento do comércio de gêneros alimentícios Além disso provocou também a especialização do trabalho pois quem vive na cidade desenvolve atividades distintas daqueles que vivem no campo Lembrese de que a cidade surgiu no contexto do fim da autonomia política das sociedades campesinas as quais passou a dominar A comparação entre a vida urbana e a rural é um primeiro passo possível para iniciar o trabalho Há sempre presente na vida rural um certo grau de autosuficiência inexistente na cidade A família campesina produz os bens necessários para a sua sobrevivência Quanto mais no tempo voltamos mais essa autonomia fica evidente Nesse ponto o trabalho é buscar entre os alunos as informações sobre necessidades básicas para que um coletivo de homens viva no contexto urbano Assim podem ser formuladas questões como O que se precisa ter Em que se pode trabalhar Você pode apontar como exemplo as catástrofes naturais que atingem os centros urbanos Elas demonstram claramente a desarticulação acentuada da vida cotidiana e conseqüentemente das condições de sobrevivência Recentemente a destruição ocorrida em Nova Orleans nos EUA apresentou ao mundo uma comunidade sem alimentos sem empregos sem abrigos e tomada pelo medo da violência causada pela tentativa de sobrevivência Uma segunda possibilidade é identificar os elementos caracte rizadores do espaço urbano A comparação de plantas estilizadas como as que encontramos em locais de informações turísticas de diferentes centros urbanos pode ser o meio de ação Nesse sentido sua prática fará com que os alunos reflitam sobre a ocupação do espaço de cidades de hoje eou cidades do passado O que todas elas têm em comum O que é priorizado nesses espaços Um terceiro ponto é abordar a diversidade de funções prioritárias que as cidades tiveram ao longo do tempo em diferentes lugares As cidadesporto as cidades centros comerciais as cidadesuniversitárias as cidades religiosas as cidadesgoverno etc História na Educação 2 Civilização e cultura 2 18 C E D E R J C E D E R J 19 AULA 2 3 Identifique os elementos constitutivos básicos do conceito de civilização RESPOSTA COMENTADA É fundamental destacar que a civilização como processo cultural se caracteriza pela organização das sociedades em cidades e por meio do Estado Essas premissas básicas se associam ao surgimento da escrita do trabalho especializado e da desigualdade social ATIVIDADE CONCLUSÃO A comparação entre realidades diversas propicia momentos de análise mais ricos e motivantes que são fundamentais para a apreensão dos conceitos de maneira natural para que em momentos posteriores o aluno possa fazer o registro de seus signifi cados por meio da linguagem escrita A percepção do signifi cado de cultura e de civilização sem os preconceitos que porventura foram incorporados aos seus sentidos no passado é fundamental Dessa forma você estará contribuindo para uma educação comprometida com a formação de indivíduos que saibam viver com a diversidade valorizandoa como resultado da criação das relações dos homens entre si e com a Natureza ATIVIDADE FINAL Leia o seguinte trecho extraído do verbete cultura extraído da Enciclopédia Mirador A diferença fundamental entre cultura e natura só se realiza com a participação direta do homem agindo sobre a natura enquanto esta existe independente da ação humana História na Educação 2 Civilização e cultura 2 18 C E D E R J C E D E R J 19 AULA 2 LEITURAS RECOMENDADAS CARDOSO Ciro Flamarion Santana Sociedades do antigo Oriente Próximo São Paulo Ática 1996 Descreve de forma resumida o processo de surgimento da civilização CUCHE Denys A noção de cultura nas ciências sociais Tradução de Viviane Ribeiro Bauru SP EDUSC 1999 Apresenta o desenvolvimento do conceito de cultura e de civilização na Antropologia e na Sociologia O esclarecimento do conceito de cultura e de civilização é aconselhável desde as séries iniciais As orientações didáticas os eixos temáticos e os conteúdos gerais propostos pelos PCN evidenciam a possibilidade de realização do trabalho com conceitos complexos na introdução ao ensino de História R E S U M O Justifique a afirmativa apresentando exemplos RESPOSTA COMENTADA A ação do trabalho humano é transformadora da Natureza resultando na cultura Assim a árvore trabalhada pelo homem vira papel mesa cadeira Uma quedadágua pode se tornar uma hidrelétrica O raio pode ser entendido como a manifestação da fúria de um deus O sol pode se transformar em divindade etc História na Educação 2 Civilização e cultura 2 20 C E D E R J Além dos fi lmes recomendados na Aula 11 da disciplina História na Educação 1 sugiro o documentário O nascimento da civilização das Edições Prado na Educação 1 sugiro o documentário Edições Prado MOMENTO PIPOCA AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD Disciplina Coordenador Alunao Matrícula Polo DISCENTE E TUTORA PRESENCIAL OBSERVE COM ATENÇÃO AS ORIENTAÇÕES ABAIXO Leia com cuidado e calma os enunciados abaixo Atenção responda de acordo com o que foi pedido Procure respeitar os espaços reservados para resposta Observe demais orientações de suaseu TP Este caderno de provas tem cinco 03 questões discursivas valendo ao todo 100 pontos Boa prova 1ª Questão Redija uma breve redação abordando I UMA diferenciação entre Cultura e Civilização com base nos materiais da nossa sala e II UM aspecto relacionado a estes conceitos que atualmente seja mobilizador e que possa introduzir o debate sobre Desigualdades em nossa sociedade entre discentes das séries iniciais do EF 25 p Nota História na Educação 2 PEDLIC UERJ José Roberto Idafẹ Tutora a Distância Vera Dias AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD 2ª Questão Apresente duas propostas DISTINTAS de atividade para estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental observando o legado cultural dos I Gregos e II dos Romanos Suas propostas devem identificar os Conceitos a serem ensinados o Tempo total e o das etapas durações a Metodologias e Materiais a serem utilizados e os Objetivos da atividade Obs DISSERTE sobre TODOS estes aspectos acima os relacionando às suas propostas e procurando justificar as estratégias e seleções feitas Cuidado NÃO responda se utilizando de tópicos extremamente sintéticos eou superficiais ATIVIDADE I 25 p AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD ATIVIDADE II 25 p AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD 3ª Questão A partir de aspectos e características históricas relacionados ao período medieval Comente exemplificando a partir dos materiais dispostos às aulas nº4 a seguinte afirmação Toda escravidão é um trabalho compulsório mas nem todo trabalho compulsório e uma escravidão 25 p objetivos Meta da aula Apresentação da história do mundo grecoromano na Antigüidade Clássica Esperamos que ao final desta aula você seja capaz de identificar a importância do estudo da Antigüidade Clássica para a Educação avaliar a contribuição dos gregos e dos romanos na construção das idéias sobre a educação no Ocidente permitir o aprimoramento cultural e o aperfeiçoamento do profissional da Educação no que tange aos temas da Antigüidade Clássica Antigüidade clássica Gregos e Romanos 3 A U L A História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 36 C E D E R J C E D E R J 37 AULA 3 Qual a contribuição mais importante da Antigüidade Clássica para a Educação Poderá você dileto aluno formular essa pergunta talvez intimamente suspeitando de que ela não sirva para nada Tentarei ao longo da presente aula apresentar argumentos e conteúdos que possam dirimir essa dúvida que recai sobre os estudos clássicos Porém acredito que sendo você um ser humano esclarecido logo perceberá o quanto gregos e romanos em suas práticas educacionais e principalmente nas formulações de suas idéias sobre o que é Educação foram os fundadores daquilo que atualmente entendemos por educação no mundo ocidental e em tempos globalizados em outras partes do mundo também Pois o ideário educacional ocidental se espalhou através da História Nosso objetivo principal será despertar em você o apreço pela contribuição de autores e escolas clássicas os baluartes do que hoje chamamos educar A cultura grecoromana revelou ao mundo uma verdade fundamental desde que bem ensinados qualquer um pode aprender qualquer coisa Essa verdade é um dos ideais que inspiram o ofício do educador e mesmo quando as práticas a contradizem tanto mais ela se torna indispensável Gregos e romanos na época denominada pelos historiadores Antigüidade Clássica foram muito diferentes do que nós somos hoje Então por que voltamos a eles Certamente não só por curiosidade erudita mas também para nos conhecermos melhor Por que fazem parte dos nossos currículos A resposta está na identidade que está contida na idéia dessa grande civilização chamada Ocidente Nós os ocidentais compartilhamos sejamos anglosaxões latinos ou germanos uma herança que anterior à formação da cristandade nos arrasta aos pensamentos às instituições às filosofias à política à democracia à arte dentre outros fatores das chamadas civilizações clássicas Nas próximas páginas entraremos em contato com esse passado presente nas ciências no esporte nas Olimpíadas na idéia de república e em uma ética na qual existe espaço para o indivíduo pensar por si mesmo de forma crítica e autônoma EDUCAÇÃO E SOCIEDADE NA GRÉCIA CLÁSSICA A cidade grega que mais vai nos interessar será Atenas pois nela aconteceram as principais inovações que fariam da Grécia o berço do Ocidente Atenas foi a cidadeestado pólis por excelência seu desenvolvimento histórico e sua cultura favoreceram o surgimento de INTRODUÇÃO História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 36 C E D E R J C E D E R J 37 AULA 3 várias atividades que colocaram em destaque o espírito de pertencer ao quadro dos cidadãos Os atenienses inventaram o conceito de cidadania que hoje para nós é tão importante Em Atenas a política foi instaurada como prática da comunidade dos cidadãos os que não pertenciam à aristocracia tradicional puderam passar a participar opinar ou pelo menos votar as decisões da assembléia dos cidadãos Por meio de reformas sociais um maior número de atenienses pôde ter acesso à dimensão política da cidade Essas inovações políticas conferiam mais importância ao cidadão A construção de um tipo de individualidade frente às crenças tradicionais e às submissões sociais foi fortalecida por meio de novas práticas culturais emergentes a Filosofia que buscava respostas e explicações na natureza humana a Pedagogia para demonstrar que todos desde que bem ensinados podiam aprender os novos procedimentos jurídicos que possibilitavam artesãos camponeses e comerciantes almejarem um valor social equivalente ao dos aristocratas É nesse contexto que veremos como o ser humano se afirmava enquanto indivíduo dotado de alguma autonomia e capaz de ser responsabilizado por seus atos perante a comunidade Como você pode perceber ainda nos dias atuais perseguimos esses ideais envolvidos na construção da cidadania pois assim como a Revolução Francesa o Renascimento e outros momentos históricos marcantes a Grécia Clássica também contribuiu para a formação do aprimoramento dos ideais que tentam tornar a humanidade mais esclarecida AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS POLÍTICAS E INTELECTUAIS NA GRÉCIA CLÁSSICA Você agora vai compreender como e o que aconteceu na Grécia para que ela seja tão importante para o nosso tempo e para nossos futuros alunos Entre os séculos VIII aC e o século V aC a Grécia em particular a cidade de Atenas passou por transformações políticas econômicas sociais e culturais que proporcionaram o nascimento do Ocidente No plano das instituições políticas ocorreu um progressivo questionamento sobre o poder da aristocracia que dona das terras tudo decidia por meio da lei oral e dos conselhos nos quais somente os nobres podiam comparecer No século V aC a situação havia mudado o que possibilitou a maior participação de comerciantes artesãos e camponeses História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 38 C E D E R J C E D E R J 39 AULA 3 nos processos decisórios que constituíram a democracia As leis passaram a ser escritas permitindo reflexões e menos injustiças pois antes os nobres tinham sempre razão Em Atenas foi constituída uma civilização que desenvolveu um sistema político com base em práticas democráticas e jurídicas que abrangiam o corpo dos cidadãos nobres comerciantes artesãos e camponeses ainda que excluíssem mulheres escravos e estrangeiros O que para você hoje pode parecer pouco na época era uma profunda transformação das idéias e das práticas de poder até então vigentes nas sociedades humanas A cultura grega do final do século VI antes de Cristo e do início do século V aC começou a ser permeada pela influência de SOFISTAS professores de oratória e retórica e de filósofos que questionando as verdades tradicionais da religião prepararam o advento da ciência oci dental buscando a verdade na Natureza e na própria sociedade Assim nasceram importantes áreas do saber ocidental Física Biologia Direito Pedagogia História Geografia dentre outras A sociedade ateniense constituiu no século V aC o regime democrático uma comunidade de homens livres O alargamento do corpo cívico ocorreu no campo político com as assembléias nas quais podiam estar presentes os cidadãos Além disso teve como grande impulsionador o acesso de um círculo maior de habitantes ao universo cultural da cidade A importância do uso da palavra como fonte de poder antes restrita aos nobres cedia espaço para a palavra que persuadia por seu caráter argumentativo de base filosófica científica através da discussão do debate da crítica nos quais havia espaço para a contradição e para o pensamento autônomo Por meio da atividade política o cidadão tomava consciência de sua inserção na cidade das regras do debate político da valorização do seu ofício e da eficácia do uso adequado da linguagem A vida cultural do povo grego nos legou uma herança que até os dias de hoje impressiona pela variedade e intensidade das suas realizações Teatro Poesia Religião Esportes Filosofia Ciência Arquitetura dentre outras Seus costumes transformaram o universo cultural da Antigüidade e permitiram ao ser humano o antropocentrismo isto é pela primeira vez na História o homem buscou explicações para seu destino por meio de negociação com deuses e tradições de uma forma desafiadora e insolente SOFISTAS Foram os primeiros grandes intelectuais da Grécia clássica precursores da pedagogia e mestres da retórica e da oratória Imprimiram ao saber autonomia individual desenvolvendo um grande senso crítico acerca das verdades tradicionais Colaboraram na intensa revolução de saberes ocorrida na Grécia História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 38 C E D E R J C E D E R J 39 AULA 3 Em Atenas durante a época anterior à época clássica as ativida des econômicas eram distinguidas de acordo com o valor social a elas atribuído O que você pode convir acontece também no nosso tempo Assim no cume da pirâmide social estavam os proprietários das terras aristocratas fundiários seguidos pelas demais formas de ocupação pro fissional que eram consideradas menos relevantes tais como o camponês o comerciante e o artesão Na medida em que os alicerces econômicos se transformavam muitas reivindicações ganharam espaço Artesãos e camponeses lutavam por melhores condições de vida supressão de dívi das injustas que podiam levar à escravidão e à partilha da propriedade da terra Os comerciantes por sua vez desejavam maior poder político condizente com seu crescente poder econômico e a maior presença da moeda nas relações de comércio frutos da expansão do comércio ate niense sobre o Mediterrâneo Essa situação levou à invenção da política como forma de dirimir os inúmeros conflitos surgidos Você percebe essas questões na história da nossa sociedade Na época clássica a integração de mais membros da comunidade ao quadro cívico resultou em uma igualdade de direitos que de certa maneira dentro de determinados limites possibilitou aos comerciantes artesãos e camponeses o acesso à cidadania e à participação na vida política Com isso as atividades econômicas foram equiparadas e ao lado do mundo econômico da terra puderam prosperar também o do comércio e o do artesanato impulsionados pela presença da moeda nas relações econômicas As técnicas do artesanato da eloqüência do comércio e da navegação passaram a ser homenageadas e valorizadas Atenas se transformou em um grande centro comercial e as artes de agir sobre os homens de influenciálos de impressionálos de persuadi los dessa forma conheceram um dos seus períodos mais férteis na história humana E hoje esse tema é importante Qual a sua opinião O mundo cultural ateniense tinha como seus espetáculos mais importantes os encontros públicos nos quais os cidadãos se reuniam para discutir assuntos políticos administrativos e jurídicos dentre outros Durante a passagem da Grécia Arcaica para a Clássica a habilidade oral que antes era prerrogativa dos poetas dos sacerdotes nobres e que era impregnada de um poder mágicoreligioso converteuse em uma habilidade técnica passível de ser ensinada e transmitida a quem quer que fosse capaz de aprendêla Nasciam a Pedagogia e a Filosofia ciências História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 40 C E D E R J C E D E R J 41 AULA 3 que buscavam as verdades do Homem no próprio mundo humano e não somente nas explicações religiosas A linguagem sofreu um processo de laicização isto é explicar e convencer usando argumentos racionais Novos saberes que expressavam propósitos racionais foram sendo organizados esses saberes tais como a Biologia a Física a História a Geografi a a Retórica a Oratória e principalmente a organização jurídica da comunidade na perspectiva da cidadania e da nova idéia política surgida a democracia Não se pode esquecer que todos esses progressos políticos culturais sociais fi losófi cos e científi cos estavam apoiados também em um grande número de escravos que davam suporte ao ócio que permitia aos gregos construírem a sua civilização 1 Agora que você pôde entrar em contato com as linhas gerais da civilização clássica grega proponho uma atividade que terá como ponto de partida um trecho da peça Antígona de autoria de Sófocles um dos maiores dramaturgos gregos clássicos A tradução é de Mário da Gama Kury Com base nesse texto componha uma redação de vinte linhas comentando como você apresentaria para seus alunos a importância da contribuição dos gregos para o mundo ocidental Vamos ao texto de Sófocles Há muitas maravilhas mas nenhuma é tão maravilhosa quanto o homem Ele atravessa ousado o mar grisalho Impulsionado pelo vento sul tempestuoso Soube aprender sozinho a usar a fala e o pensamento mais veloz que o vento e as leis que disciplinam as cidades ocorremlhe recursos para tudo e nada o surpreende sem amparo somente contra a morte clamará em vão por socorro embora saiba fugir até de males intratáveis Sutil de certo modo na inventiva além do que seria de esperar e na argúcia que o desvia às vezes para a maldade às vezes para o bem ATIVIDADE História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 40 C E D E R J C E D E R J 41 AULA 3 se é reverente às leis da sua terra e segue sempre os rumos da justiça jurada pelos deuses ele eleva à máxima grandeza a sua pátria Nem pátria tem aquele que ao contrário adere temerariamente ao mal ANTÍGONA de Sófocles In Trilogia Tebana pp 210 e 211 COMENTÁRIO Para responder a essa questão você deve ter em mente as principais idéias que demarcaram a originalidade da contribuição dos gregos ao nascimento da civilização ocidental Componha sua redação destacando os aspectos sociais e políticos da história grega abordados no item Educação e sociedade na Grécia Clássica que tornaram possível a Sófocles se expressar e valorizar as criações culturais dos gregos História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 42 C E D E R J C E D E R J 43 AULA 3 A SOCIEDADE ROMANA ANTIGA No mesmo tempo em que as cidadesestados gregas deixavam para trás o seu poderio comercial aparecia uma sociedade que assim como os gregos exerceu profundas influências no desenvolvimento da História do Ocidente Essa sociedade não só dominou a bacia do Mar Mediterrâneo como também expandiu seus domínios ao longo de mais de quinhentos anos por outras partes do mundo Todos os caminhos levam a Roma Essa foi a grande epígrafe que traduzia a importância política cultural e social que a República e depois o Império Romano tiveram na Europa no norte da África e no Oriente Próximo Se os gregos nos legaram através da sua cultura os fundamentos do olhar ocidental os romanos nos legaram suas realizações institucionais nos mais diversos campos nos quais até hoje estamos enredados sejam eles religiosos econômicos políticos sociais e culturais Acompanhando a história da evolução política de Roma você poderá perceber se a citação anterior é verdadeira e até que ponto ela o é Os dois períodos mais significativos da evolução política de Roma foram a República séculos V aC até I aC e o Império séculos I aC até V dC Porém antes mesmo do período republicano durante a fase monárquica de Roma séculos VIII aC até V aC a estrutura social romana já comportava aspectos relevantes para os posteriores desdobramentos que marcaram a originalidade das disputas travadas em Roma no que dizia respeito ao conceito de cidadania No decorrer dessa primeira fase monárquica vivendo da agricultura e do pastoreio Roma possuía quatro grupos sociais os patrícios nobres proprietários de terras os clientes indivíduos oriundos da plebe porém agregados politicamente aos patrícios os plebeus comerciantes camponeses artesãos e pequenos proprietários de terras os escravos que durante esse período eram majoritariamente plebeus endividados que acabavam por virar propriedade dos patrícios CONFLITOS SOCIAIS DA SOCIEDADE ROMANA CLÁSSICA A partir do final do século VI aC foi instituída a República dominada por patrícios A plebe se encontrava alijada de qualquer participação política nas chamadas magistraturas cargos que permitiam o controle político financeiro administrativo moral e História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 42 C E D E R J C E D E R J 43 AULA 3 jurídico da sociedade romana Papel relevante era exercido pelo Senado assembléia composta por membros das famílias dos patrícios que eram os responsáveis pela criação de leis A grande questão social e política do período republicano romano foi o conflito entre os patrícios e os plebeus Uma das principais reivindicações da plebe era a extinção da lei que permitia que plebeus fossem escravizados por causa de dívidas contraídas junto aos patrícios Além disso desejavam acesso aos cargos políticos o direito de casar com patrícios enfim toda uma série de medidas que visavam à criação de maior igualdade de direitos políticos econômicos sociais e culturais dentro da sociedade Esses conflitos de interesses foram ao longo do tempo produzindo conquistas sociais e políticas pois os patrícios não podiam abrir mão da ajuda dos plebeus na vida econômica e tampouco na defesa da cidade contra inimigos externos Assim ao longo do século V aC os plebeus conquistaram alguns direitos dentre os quais podemos destacar o direito de vetar leis que prejudicassem a plebe a formulação de leis escritas que estipulassem os direitos e deveres dos cidadãos romanos antes e isso você já viu no começo de nossa aula as leis eram orais e somente os patrícios podiam conhecêlas a criação da assembléia da plebe a liberdade de casamento entre patrícios e plebeus e o fim da escravidão por dívidas Após essa nova configuração social Roma estava pronta para seu passo seguinte a expansão territorial que nos séculos seguintes a transformaria em senhora do Ocidente A EXPANSÃO ROMANA Roma dominou militarmente toda a Península Itálica aumentando seu território aprimorando e desenvolvendo suas práticas comerciais e a partir do século III aC estava pronta para estender seus domínios para outras regiões Um dos marcos fundamentais da expansão romana foram as chamadas Guerras Púnicas travadas contra a cidade de Cartago cidade localizada no norte do continente africano Por mais de cem anos Roma e Cartago tiveram desavenças que culminaram com a destruição total desta última Durante esse período Roma estendeu seus domínios por todo Mediterrâneo Oriental Grécia e Ásia Menor A expansão romana transformou a sociedade com implicações políticas econômicas e culturais Roma tornouse o centro do mun História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 44 C E D E R J C E D E R J 45 AULA 3 do ocidental e para ela afluíam artigos dos mais variados fossem eles ouro prata trigo ferro ou escravos Os impostos cobrados em todo território eram pesados e enriqueceram ainda mais os dirigentes roma nos A escravidão antes um complemento da economia e da sociedade romana tornouse o sustentáculo da produção econômica Os escravos dedicavamse às mais diversas atividades e estavam por toda parte As cidades e entre elas principalmente a cidade de Roma tornaramse urbes e o mundo urbano romano foi inchado por plebeus que perdiam seus trabalhos em detrimento da mãodeobra escrava A plebe romana desocupada se multiplicava quanto mais rica e poderosa a sociedade dos patrícios se tornava O estado romano preocupado com o aumen to da violência criou a política do pão e do circo fornecendo pão e espetáculos com gladiadores para a plebe empobrecida Você assistiu ao filme Gladiador Porém não só os patrícios lucravam mas também comerciantes oriundos da plebe enriqueciam na República romana Os ricos viviam de forma luxuosa aumentando a distância social vigente entre os romanos Os plebeus que detinham poder econômico passaram a pressionar os patrícios lutando por novas reformas As disputas entre as classes sociais em Roma acabaram por permitir o surgimento de um exército profissional e assalariado que pendia ora para o lado da plebe rica ora para o lado dos patrícios Essas disputas foram deixadas de lado quando rebeliões de escravos e revoltas nas regiões dominadas por Roma que a essa altura do século I aC englobava toda bacia do Mar Mediterrâneo norte da África e Ásia Menor uniram patrícios e plebeus ricos na luta pela preservação da República romana e do modo de produção escravista no qual ela se baseava O Estado romano cada vez mais militarizado assistiu à ascensão de Júlio César ao poder Após a morte de César Otávio Augusto recebe do Senado o título de imperador e é finda a República nascendo o Império Romano ano 27 aC História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 44 C E D E R J C E D E R J 45 AULA 3 IMPÉRIO ROMANO Foi durante o chamado Alto Império séculos I e II dC que Roma viveu seu período de maior esplendor A tentativa de solucionar conflitos sociais fez com que a sociedade se dividisse não entre patrícios e ple beus mas sim de acordo com a riqueza de cada um A organização e a administração do Império proporcionaram à época de Augusto a Pax Romana A cultura romana foi difundida por todas as regiões domina das consolidando a contribuição cultural dos romanos para o Ocidente idioma costumes instituições urbanização Foi nessa época que surgiu e se expandiu o cristianismo religião perseguida pelo Estado romano mas que cada vez mais ganhava apoio dos menos favorecidos e se espalharia por todo Império até ser aceita pelo próprio Estado durante o período do Baixo Império séculos III IV e V dC Quanto mais se acentuava a decadência do Império mais o cristianismo baseado em princípios de igualdade ganhava corações e mentes O Baixo Império é identificado como o período de decadência de Roma Ameaças às fronteiras crise na vida urbana diminuição da vida econômica diminuição do número de escravos menor arrecadação de impostos gastos com a administração do estado e um exército cada vez menos fiel a Roma foram alguns dos fatores que fizeram ruir pouco a pouco a confiança dos romanos em seu papel de senhores do mundo ocidental Várias estratégias foram tentadas para impedir a desagregação do Império Entre elas a mais famosa foi a separação do Império em dois Figura 31 Mapa da expansão História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 46 C E D E R J C E D E R J 47 AULA 3 2 No capítulo Onde a vida pública era privada do livro História da vida privada Paul Veyne nos ensina O que um romano possui as honras são os cargos públicos geralmente anuais Os nobres romanos tinham um senso agudo de autoridade e da majestade do seu império mas o que chamamos de senso de estado ou serviço público eralhes desconhecido Distin guiam mal funções públicas e dignidade privada fi nanças públicas e bolsa pessoal A grandeza de Roma era propriedade coletiva da classe governante e do grupo senatorial dirigente p103 A partir desse trecho sobre os dirigentes romanos componha um texto de aproximadamente vinte linhas no qual você possa explicar a importância dos confl itos sociais entre patrícios e plebeus para o desenvolvimento da sociedade romana no seu aspecto político comentando a expressão pão e circo ATIVIDADE realizada por Teodósio em 395 da era cristã O Império Romano do Oriente acabou sobrevivendo por dez séculos porém o Império Romano do Ocidente encontrou seu término em 476 como você verá na aula so bre a Idade Média A vida urbana entrou em declínio e a face da Europa Ocidental começava a ser preparada para a Idade Média História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 46 C E D E R J C E D E R J 47 AULA 3 CONCLUSÃO Você pôde perceber ao longo de nossa aula as principais contri buições dos gregos e romanos da época clássica para a construção do Ocidente A marcante herança intelectual dos gregos clássicos expressa na cultura artística filosófica e científica A fundamental criação do conceito de cidadania e do de democracia Os romanos nos legaram importantes instituições políticas e administrativas Os conflitos sociais da sociedade romana e a gestão do Estado romano são lições que nos auxiliam a compreender o nosso tempo ATIVIDADE FINAL O mundo grecoromano nos legou importantes inovações e problemas que até hoje são bastante significativos Para que você possa se dar conta da presença dos temas da Antigüidade Clássica na atualidade proponho uma atividade dividida em dois momentos a Pesquise em jornais e revistas duas notícias que possam ser relacionadas com alguns dos temas estudados no texto de nossa aula Como exemplo pense em encontrar notícias ligadas ao avanço científico que podem ser relacionadas com as inovações intelectuais dos gregos clássicos ou notícias relacionadas à desigualdade social no Brasil que podem ser relacionadas com a sociedade romana clássica b Com base nas duas notícias escolhidas reflita sobre a importância e a atualidade da época clássica de seus feitos e de seus problemas que até hoje nos transmitem ensinamentos COMENTÁRIO Para essa questão não será preciso produzir um texto mas somente atentar e refletir para a vinculação existente entre nosso tempo e o passado clássico através das notícias atuais escolhidas e suas relações possíveis com a Antigüidade Clássica RESPOSTA COMENTADA Para responder a essa questão você deve tecer comentários sobre o conflito social romano retratado nas disputas entre patrícios e ple beus nas várias formas apresentadas tanto no período da República Romana como no período do Império Romano História na Educação 2 Antigüidade clássica Gregos e Romanos 48 C E D E R J Algumas das principais questões que constituíram a História do Mundo Greco Romano durante o período clássico estão relacionados à compreensão racional das potencialidades do homem Nesse sentido as inovações políticas e intelectuais dos gregos e as tentativas de solucionar confl itos sociais adotadas pelos romanos são exemplares Vários valores do mundo contemporâneo tais como Democracia Educação Direito Filosofi a são heranças da Antigüidade Clássica R E S U M O Tróia Tratase de uma produção grandiosa dirigida por Wolfgang Peterson em 2004 com belas e ilustrativas cenas sobre a vida na Grécia O Gladiador É um épico dirigido por Ridley Scott em 2000 Há cenas lindíssimas e uma réplica em tamanho natural do Coliseu Além de apresentar alguns confl itos políticos da Roma Imperial o fi lme retrata as lutas dos gladiadores e revela as impressionantes técnicas utilizadas no Coliseu que fi zeram da Gladiatura um dos mais fantásticos espetáculos da Antigüidade Tróia 2004 com belas e ilustrativas cenas sobre a vida na Grécia O e uma réplica em tamanho natural do Coliseu Além de apresentar alguns confl itos políticos da Roma Imperial o fi lme retrata as lutas dos gladiadores e revela as impressionantes técnicas utilizadas no Coliseu que fi zeram da Gladiatura um dos mais fantásticos espetáculos da Antigüidade MOMENTO PIPOCA SITES RECOMENDADOS Visite o site Mundo dos fi lósofos e você poderá se divertir e se informar bastante sobre a Grécia antiga e a Guerra de Tróia Na página você encontrará a história dessa guerra com muitos links interessantes sobre mitologia e cultura gregas httpwwwmundodosfi losofoscombrtroiahtmTop Visite também especifi camente para Roma o site Starnews Nele você encontrará muitas informações sobre a cultura romana além de notícias curiosas Você poderá até preparar uma deliciosa refeição seguindo a receita do site Lá você também poderá acessar dicas comentários de livros e fi lmes sobre a Roma Antiga httpwwwstarnews2001combrhistoriahtml objetivos Meta da aula Apresentar os conceitos de civilização e cultura Esperamos que após o estudo do conteúdo desta aula você seja capaz de diferenciar os significados de civilização e cultura reconhecer as situações mais adequadas para a utilização dos conceitos de civilização e cultura Civilização e cultura 1 A U L A História na Educação 2 Civilização e cultura 8 C E D E R J C E D E R J 9 AULA 1 Você está começando uma nova fase em seus estudos de História na Educação Nas próximas aulas entrará em contato com as características principais de cada um dos períodos que compõem a História do Ocidente É uma oportunidade importante de se familiarizar com as diversas culturas que participaram da formação da chamada civilização do Ocidente Quem foram os gregos Como funcionou a república romana Como viviam os camponeses na Idade Média O que foi o Renascimento Como os ibéricos descobriram e inventaram um novo mundo O que foi o Brasil colonial Essas e outras perguntas receberão respostas simples que nós formularemos juntos nesta viagem que você começa a fazer hoje e que eu espero não termine jamais E por quê Bem pense comigo uma coisa simples prosaica mesmo ensinar mais do que passar conteúdos e informações é apresentar possibilidades de compreensão do mundo Quando você ensina algo ao seu aluno mais do que este algo ele está aprendendo a lidar com uma novidade Ele é impelido a interagir mentalmente com elementos dos quais ignorava a existência ou a lógica A História é uma janela para o mundo Ela nos permite conhecer múltiplas formas de vida social e nos ajuda a identificar em nossos comportamentos atuais traços que são oriundos de outras épocas e outros lugares Com ela viajando por ela é mais fácil abrir os olhos para o desconhecido e sensibilizar a inteligência para a compreensão das diferenças que compõem a vivência social Viajar pela História pode tornálo mais tolerante e portanto mais capaz de compreender que o mundo é e sempre foi formado por uma quantidade muito grande de experiências sociais O homem ao longo da sua vasta caminhada constantemente enfrentou desafios Quase todos foram difíceis e exigiram criatividade e capacidade de adaptação Agora você tem a oportunidade mais uma vez de abrir a janela para o mundo das experiências históricas Com certeza por esta janela você fará contato com elementos que excitarão a sua mente tornandoo cada vez mais capaz de lidar com o seu grande desafio que é o de ensinar CIVILIZAÇÃO E CULTURA Você já teve a oportunidade de aprender como os historiadores pesquisam e criam o que nós chamamos historiografia Naquela oportunidade você aprendeu que a História é feita de documentos de memórias de lembranças de esquecimentos e de análises O que você INTRODUÇÃO História na Educação 2 Civilização e cultura 8 C E D E R J C E D E R J 9 AULA 1 terá a partir de agora é a chance de conhecer o resultado do trabalho dos historiadores Sim isso mesmo Porque quando falamos de História do Ocidente estamos nos referindo àquilo que foi escrito pelos historiadores E você aprendeu também que eles usam como ferramentas de trabalho conceitos Civilização e cultura são como conceitos dois importantes instrumentos de análise da História Você saberia dizer o que cada um significa Comece pelo dicionário Leia atentamente as definições abaixo No dicionário Aurélio eletrônico você pode ler as seguintes definições de civilização 1 Ato processo ou efeito de civilizarse 2 Estado ou condição do que se civilizou povos que se encontram num estado avançado de civilização 3 O conjunto de características próprias à vida social coletiva cultura 4 Processo pelo qual os elementos culturais concretos ou abstratos de uma sociedade conhecimentos técnicas bens e realizações materiais valores costumes gostos etc são coletiva eou individualmente elaborados desenvolvidos e aprimorados 5 Por extensão O estado de aprimoramento ou desenvolvimento social e cultural assim atingido 6 Por extensão Tipo de sociedade resultante de tal processo ou o conjunto de suas realizações em especial aquele marcado por certo grau de desenvolvimento tecnológico econômico e intelectual considerado geralmente segundo o modelo das sociedades ocidentais modernas caracterizadas por diferenciação social divisão do trabalho urbanização e concentração de poder político e econômico a civilização egípcia a civilização helênica Como você percebeu as definições do Aurélio apontam para dois sentidos básicos da palavra O primeiro gira em torno da idéia de civilizarse O segundo frisa a idéia de desenvolvimento Civilizarse é tornarse cível ou seja aquele que vive na cidade e compartilha de suas regras A palavra cidadania também é um desenvolvimento desse mesmo radical Portanto podemos concluir que civilizarse é uma maneira de História na Educação 2 Civilização e cultura 10 C E D E R J C E D E R J 11 AULA 1 participar da vida social das cidades observando as suas regras e desfrutando dos seus benefícios Você sabe que em um passado não muito distante a vida no campo era bem mais rústica do que na cidade A distância entre os homens o relativo isolamento dos seus habitantes e a falta de espaços de sociabilização faziam com que a vida social fosse mais rala Já nas cidades pela falta de espaço pela necessidade de encontros permanentes entre seus moradores a sociabilização era mais densa as pessoas se viam mais e trocavam informações constantemente Aquilo que chamamos hoje desenvolvimento de forma geral está ligado às cidades Se você parar e pensar na maneira como o mundo é visto atualmente vai perceber que as sociedades rurais e os países que não apresentam alto índice de urbanização são considerados nãodesenvolvidos Isso se deve ao fato de que nas sociedades rurais o isolamento parcial difi culta o acesso aos recursos tecnológicos e intelectuais que marcam o conceito de desenvolvimento A palavra civilização então indica sociedades que atingiram alto grau de sociabilização e de desenvolvimento No lado oposto a ela encontramse as sociedades rústicas denominadas primitivas por muitos de nós Nesta aula você aprenderá mais sobre esse contraste e como ele foi tecido ao longo dos séculos 1 Agora que você conhece algumas defi nições de civilização escolha e descreva duas realidades sociais do mundo contemporâneo que possam simbolizar a presença e a ausência de civilização Tente realizar esta atividade em quinze minutos COMENTÁRIO Se você escolheu e descreveu duas realidades sociais que se contrastam pela presença de hábitos e comportamentos ligados à vida urbana e à vida rural destacando aspectos de desenvolvimento que as difereciam entre si saiuse muito bem nesta atividade ATIVIDADE História na Educação 2 Civilização e cultura 10 C E D E R J C E D E R J 11 AULA 1 Vamos à palavra cultura No mesmo Aurélio encontramos as seguintes definições 1 Ato efeito ou modo de cultivar cultivo 2 Restritivo Cultivo agrícola 3 Atividade econômica dedicada à criação desenvolvimento e procriação de plantas ou animais ou à produção de certos derivados seus 4 Por extensão Os animais ou plantas assim criados 5 O conjunto de características humanas que não são inatas e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade Nas ciências humanas opõese por vezes à idéia de natureza ou de constituição biológica e está associada a uma capacidade de simbolização considerada própria da vida coletiva e que é a base das interações sociais 6 A parte ou o aspecto da vida coletiva relacionados à produção e transmissão de conhecimentos à criação intelectual e artística etc 7 O processo ou estado de desenvolvimento social de um grupo um povo uma nação que resulta do aprimoramento de seus valores instituições criações etc civilização progresso 8 Atividade e desenvolvimento intelectuais de um indivíduo saber ilustração instrução 9 Refinamento de hábitos modos ou gostos Vamos destacar também das definições do Aurélio os dois aspectos mais evidentes de cultura É bom começar pela acepção mais abandonada ultimamente Quando falamos de cultura raramente levamos em conta o trabalho na terra a agricultura Porém é importante partir daí pois este foi o sentido original da palavra Cultura da vinha cultura do trigo são apenas alguns dos exemplos que nos remetem à idéia de que tanto a vinha como o trigo desenvolvemse à medida que são cultivados Para que os brotos das plantas floresçam na terra é preciso cuidado limpeza adubação irrigação Cobertos de cuidados os espécimes florescem e enchem a terra com seus brotos e frutos Isso se chama cultura uma atividade primária do homem que requer observação e cuidado E é da terra cuidada e cultivada que se extraem os frutos que alimentam o homem na sua jornada de criação de outras culturas Assim podemos dizer que a nossa sobrevivência está intimamente ligada a um esforço de criação e reprodução História na Educação 2 Civilização e cultura 12 C E D E R J C E D E R J 13 AULA 1 Transforme a idéia de terra em indivíduo e você terá uma interessante compreensão sobre as pessoas bem informadas e com escolarização Elas são cultas porque foram cultivadas Receberam tratamento especial Foram alimentadas e estimuladas a pensar e a gerar frutos Você professor é um agricultor Cuida para que seus alunos cresçam e fl oresçam assim como o homem do campo se dedica ao crescimento das suas culturas agrícolas É desta analogia que vem a nossa insistente utilização do adjetivo culto para caracterizar pessoas bem informadas e instruídas E aqui já entramos na segunda acepção da palavra cultura Cultura deixa de referirse apenas a uma atividade de cuidado material da terra tornandoa mais produtiva e capaz de gerar frutos melhores para referirse também ao cultivo do espírito Por extensão cultura tornase o que de material e espiritual é produzido por um grupo social Assim nossos hábitos sociais as músicas as religiões as construções a língua etc formam a cultura de uma sociedade Como você leu na defi nição do Aurélio cultura é o conjunto de características humanas que não são inatas portanto não nasceram com o homem mas foram por ele criadas desenvolvidas e transformadas na própria comunicação social 2 Agora que você conhece algumas defi nições de cultura escolha e descreva duas realidades sociais que possam simbolizar cada uma das acepções aqui tratadas Tente realizar esta atividade em quinze minutos COMENTÁRIO Se você escolheu e descreveu duas realidades sociais que se distinguem pela presença da cultura como atividade voltada para a terra e como característica espiritual desenvolveu bem esta atividade Exemplos Uma cena de plantação e crianças na escola ATIVIDADE História na Educação 2 Civilização e cultura 12 C E D E R J C E D E R J 13 AULA 1 CIVILIZAÇÃO OU CULTURA Você já sabe distinguir civilização de cultura num grau primordial As definições do Aurélio e as explicações que as seguiram cumpriram a função de apresentar os sentidos mais usualmente aceitos das palavras em questão Agora você vai conhecer um pouco do debate sobre a utilização dessas palavras como conceitos historiográficos Como eu disse no começo desta aula os historiadores trabalham com conceitos são seus instrumentos de análise E os conceitos de civilização e cultura dividem as suas preferências que são forjadas em função de opções teóricas e metodológicas O substantivo civilização é uma criação do século XVIII mais precisamente do Iluminismo francês Você lembra o que é Iluminismo Vou ajudar Tratase de um movimento intelectual ocorrido em vários países da Europa principalmente na França que pregava o fim do dogmatismo religioso e a ascensão da razão como meio de curar os males sociais e filosóficos da época A razão é entendida como luz por isso o nome Iluminismo É uma metáfora que aposta na necessidade de lançar luz racionalizar no mundo Para os iluministas a civilização era um estágio superior de desenvolvimento As nações civilizadas estariam num estágio social intelectual tecnológico científico e político bem mais avançado que o daquelas que ainda não eram merecedoras de tal título A civilização é um padrão As nações do mundo nãocivilizado eram então consideradas inferiores e primitivas mas capazes de criar desenvolvimento interno que as levaria ao cume do processo civilizacional Elas teriam como modelos aquelas nações que já haviam experimentado progresso em todos os campos da cultura material e espiritual Assim a Europa civilizada erguiase como modelo para os povos primitivos que viviam na periferia do mundo O conceito de civilização para o historiador pressupõe ao menos três premissas A primeira está diretamente ligada ao movimento é preciso haver transformação para que um povo atinja a civilização A experiência histórica com as conseqüentes transformações que ela provoca acarreta uma série de mudanças que tendem para o melhor melhor no sentido de superior Um povo que povo não domina a técnica de fabricação de História na Educação 2 Civilização e cultura 14 C E D E R J C E D E R J 15 AULA 1 utensílios de metal encontrase num grau de desenvolvimento inferior quando comparado a um povo que domina essa técnica Isso nos leva à segunda premissa a civilização implica hierarquia Há nações superiores e outras inferiores Há aquelas que devem e podem dominar o mundo assim como há aquelas que devem ser dominadas para que possam aprender com as primeiras os segredos e os caminhos do desenvolvimento Esta premissa esteve na base de justificativa dos movimentos de colonização Na verdade a hierarquia definese em função do aprimoramento técnico e intelectual que as sociedades apresentam num dado momento da sua história A terceira premissa está relacionada a um olhar geral o conceito de civilização minimiza as diferenças Ele está mais preocupado em perceber o que há de comum entre os povos do que em salientar a importância de compreender as diferenças entre eles Veja este exemplo quando você abre um livro e encontra a expressão civilização européia ou civilização cristã o que você entende Provavelmente que se trata dos componentes comuns aos europeus ou aos cristãos Você sabe que a Europa é formada por muitos países mas sabe também que há elementos socioculturais que perpassam por todos estes povos Se eu digo que vou escrever uma página sobre a civilização cristã você não espera encontrar uma análise especificamente voltada para a Itália ou para a França pois há no globo terrestre muitos países que professam o cristianismo Portanto ao tratar da civilização cristã não estarei falando nada que seja específico a um povo estarei sim tratando dos elementos que são comuns aos povos que seguem o cristianismo independentemente de língua política ou território A civilização é um conceito que ultrapassa as diferenças entre os povos para tratar do que há em comum entre eles História na Educação 2 Civilização e cultura 14 C E D E R J C E D E R J 15 AULA 1 3 Esta atividade é bastante simples Você deve escrever uma frase que sintetize as três premissas do conceito de civilização Tente realizar esta atividade em dez minutos COMENTÁRIO Se você escreveu uma frase coerente que contenha as idéias de olhar geral desenvolvimento hierarquia e movimento a sua atividade foi bem feita ATIVIDADE A CRESCENTE IMPORTÂNCIA DO CONCEITO DE CULTURA Não há como negar a palavra cultura está em todas as bocas em todos os cantos em todos os textos contemporâneos Atualmente falar em cultura é um lugarcomum É quase uma palavra de apoio Mas em geral quando empregamos a palavra cultura estamos nos referindo às defi nições apresentadas nos dicionários Muitas vezes chegamos mesmo a usar a palavra cultura como um critério de distinção Fulano estudou no exterior fala muitas línguas é uma pessoa muito culta Cultura aqui aparece como bagagem e formação Ou ainda poderíamos dizer que ela assume uma de suas especifi cações que é a idéia de cultura intelectual Mas você já se perguntou que nome deve ser dado à maneira especial com a qual a sua avó faz aquele doce de goiaba Ela aprendeu com seus antepassados ou com as pessoas da comunidade onde cresceu Certamente ela não freqüentou uma escola para aprender os segredos da deliciosa iguaria E isso não é cultura Para os historiadores e outros cientistas sociais cultura é um conceito muito abrangente e que também apresenta algumas premissas História na Educação 2 Civilização e cultura 16 C E D E R J C E D E R J 17 AULA 1 Vamos começar pela mais geral Podese dizer que cultura é tudo aquilo que foi transformado pelo homem Pense num campo muito seco A vegetação perdeu a umidade faz um tremendo calor o sol queima forte as folhas já ressecadas das plantas Essas circunstâncias acabam provocando um incêndio Natureza ou cultura Natureza Não houve atuação do homem na situação em questão Agora pense que depois que o fogo começou e se alastrou pelo campo um homem recolhe um pedaço de madeira incandescente levao até a sua caverna e passa a utilizálo para iluminar o ambiente e para cozinhar os alimentos Natureza ou cultura Cultura O fogo foi manuseado com intenção pelo homem houve uma transformação A segunda premissa de cultura está relacionada ao particular é o conceito que dá atenção especial às diferenças à identidade particular dos grupos A cultura é um produto de determinada vivência social Assim num mesmo país você encontra vários grupos culturais distintos Pense no nosso mundo atual Há a cultura dos sambistas dos roqueiros dos fabricantes de cachaça mineiros dos seguidores do candomblé dos artesãos de palha do vale do Jequitinhonha e muitas outras Embora estes grupos façam parte de uma realidade nacional eles encontram em atividades e comportamentos particulares a senha de suas identidades A terceira premissa que vamos destacar no conceito de cultura é a nãohierarquização Uma cultura é uma cultura e basta Ela não precisa ser comparada ou confrontada com outras para merecer tal designação A conseqüência salutar desta premissa está no fato de que todas as manifestações culturais são legítimas em si e por isso podem informar sobre os grupos que as praticam além de dispensarem a idéia de desenvolvimento e de hierarquia Hoje em dia não é mais coerente dizer que a música clássica é superior às canções populares São manifestações culturais diferentes que cumprem funções próprias e independem uma da outra para se firmarem com importantes capazes de refletir o estilo de vida de seus criadores e seguidores História na Educação 2 Civilização e cultura 16 C E D E R J C E D E R J 17 AULA 1 4 Descreva uma manifestação cultural e explique de que forma ela refl ete as três premissas que você acabou de estudar COMENTÁRIO Você pode ter escolhido qualquer manifestação cultural desde que tenha conseguido detectar de que forma ela refl ete uma atividade humana uma especifi cação e independa de hierarquia para ser entendida como tal ATIVIDADE Civilização ou cultura Esta é uma pergunta que pode receber respostas confl itantes É preciso antes de tudo defi nir quais objetivos norteiam o trabalho de pesquisa e de ensino Se você pretende falar para os seus alunos da condição de trabalho no Império Romano é justo utilizarse do conceito de civilização pois você estará criando um panorama com aquilo que foi comum a todos os trabalhadores do império Mas se você pretende estudar e ensinar aos seus alunos a respeito dos grupos que primeiramente aceitaram e adotaram o cristianismo como religião você estará tratando de cultura pois pretende destacar uma determinada experiência social Você pode concluir pensando a respeito do seguinte é possível estudar culturas no interior das civilizações CONCLUSÃO O historiador trabalha com conceitos Eles são os seus instrumentos de análise Os conceitos de civilização e cultura abrem possibilidades diferentes para compreensão e explicação das experiências históricas O primeiro exige uma leitura mais abrangente enfatizando o que há de comum entre os grupos sociais O segundo possibilita a observação circunstanciada das experiências sociais destacando as diferenças História na Educação 2 Civilização e cultura 18 C E D E R J C E D E R J 19 AULA 1 ATIVIDADE FINAL 1 Para realizar esta tarefa você precisará pesquisar algumas imagens a Explique a seguinte frase é possível estudar culturas no interior das civilizações b Ilustre a sua explicação Coloque imagens para o que você está chamando civilização e para o que você está considerando cultura COMENTÁRIO Nesta atividade você deverá considerar a capacidade de o conceito de civilização absorver múltiplas manifestações culturais Se você formulou uma explicação levando em consideração a característica abrangente do conceito de civilização e ilustrou os dois conceitos com imagens que remetam ao geral civilização e ao particular cultura a sua resolução foi bem encaminhada História na Educação 2 Civilização e cultura 18 C E D E R J C E D E R J 19 AULA 1 Você aprendeu algumas faces de dois conceitos que são importantes para a operação histórica Esteja você estudando pesquisando ou lecionando vai acabar se deparando com os conceitos de civilização e cultura Agora você já sabe ao que cada um deles se refere Aprendeu que eles são aplicados em função das opções teóricas e metodológicas além de ter adquirido noções básicas de seus significados e origens R E S U M O INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula você estudará as várias possibilidades de lançar mão dos conceitos de civilização e cultura para lecionar e montar atividades em aula com os seus alunos 1 Espaços educativos e ensino de História 02 Abril SUMÁRIO SUMÁRIO PROPOSTA PEDAGÓGICA ESPAÇOS EDUCATIVOS E ENSINO DE HISTÓRIA 03 Helena Maria Marques Araújo PGM 1 OS SENTIDOS DO ENSINO DE HISTÓRIA 24 Texto Os sentidos do ensino de História Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro PGM 2 MEMÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA 36 Texto Memória e ensino de História Carmen Teresa Gabriel PGM 3 LUGARES DE MEMÓRIA 54 Texto Produção de Saberes nos lugares de memória Helena Maria Marques Araújo PGM 4 ESPAÇOS PÚBLICOS DE MEMÓRIA 61 Texto Sons de tambores na nossa memória o ensino de história africana e afrobrasileira Mônica Lima PGM 5 ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃOFORMAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES 76 Texto Para além de formar professores dialogar com as experiências vividas Elison Antonio Paim 2 PROPOSTA PEDAGÓGICA PROPOSTA PEDAGÓGICA ESPAÇOS EDUCATIVOS E ENSINO DE HISTÓRIA ESPAÇOS EDUCATIVOS E ENSINO DE HISTÓRIA O O SENTIDO SENTIDO DO DO ENSINO ENSINO DE DE H HISTÓRIA ISTÓRIA NA NA ESCOLA ESCOLA Helena Maria Marques Araújo 1 O ensino de História no Ensino Fundamental e também no Ensino Médio tem como objetivo fundamental proporcionar a nossosas alunosas as condições para que elesas consigam se identificar enquanto sujeitos históricos participando de um grupo social ao mesmo tempo único e diverso Talvez este seja o nosso maior desafio como professores ensinar primeiramente a pensar criticar propor Despertar em nossos estudantes o desejo de conhecer de participar ativamente da sociedade em que vivem de forma crítica reflexiva e transformadora Mais essencial do que ensinar conteúdos específicos que também são importantes o ensino de História na Educação Básica possui o sentido maior de construção do cidadão crítico que tenha a capacidade de participar ativamente da sociedade em que vive e de se indignar com os acontecimentos do cotidiano Um trabalho sobre o ensino de História deve estabelecer o encontro ou pelo menos a junção de três vertentes do conhecimento humano a ciência histórica o saber histórico escolar e as ciências da Educação Assim sendo o objetivo do ensino de História é compreender mudanças e permanências continuidades e descontinuidades para que o aluno aprenda a captar e valorizar a diversidade e participe de forma mais crítica da construção da História Faz parte então do procedimento histórico a preocupação com a construção a historicidade dos conceitos e a contextualização temporal Considero que um currículo adequado para o segmento do Primeiro Grau deve ser aquele que na 5 a série por exemplo antes de abordar especificamente os conteúdos ligados a esta ou aquela sociedade ou grupo humano possa privilegiar a construção de conceitos fundamentais para a compreensão da História ou seja é importante que o aluno domine alguns conceitoschave PACHECO 1995 p 49 3 Escola memória e espaços educativos nãoformais Na perspectiva dos Estudos Culturais segundo Tomaz Tadeu da Silva 1999 a cultura é pedagógica e a pedagogia é cultural Diversos programas de televisão mesmo que não tenham o objetivo explícito de ensinar educam Por outro lado toda a pedagogia está inserida num contexto histórico e cultural Todo conhecimento se constrói portanto num sistema de significados A escola não é o único lugar de conhecimento e portanto de transformação de subjetividades como nos afirma o autor Existem outros espaços de saber que também educam espaços não formais de educação como museus arquivos programas de televisão eou rádio educativos ou apenas de lazer filmes peças de teatro músicas espaços de exposições etc Os museus arquivos locais de exposições e outros lugares de memória possuem cultura própria ritos e códigos específicos Por outro lado as escolas apresentam universos particulares também com lógica própria Fazse necessária então a busca de caminhos para a construção de uma pedagogia de museus como nos afirma Marandino 2000 Esta autora nos alerta para a necessidade da construção de uma pedagogia de museus levando em consideração a especificidade pedagógica dos museus para otimizar as visitas escolares Não se trata segundo a autora de opor o museu à escola mas de definir as especificidades relacionadas ao lugar ao tempo e aos objetos no espaço do museu o que é essencial e deve ser incluído na formação de educadores numa didática de museu Nesse sentido poderíamos ampliar esse entendimento não só para museus como também para outros espaços educativos exposições arquivos públicos centros culturais arquitetura de ruas antigas monumentos etc Vários motivos levam os professores a buscar os espaços educativos nãoformais como lugares alternativos de aprendizagem Dentre tais objetivos estariam a apresentação interdisciplinar dos temas a interação com o cotidiano dos estudantes e por fim a possibilidade de ampliação cultural proporcionada pela visita Assim as visitas teriam o objetivo de fazer uma alfabetização científica do cidadão Para isso trabalhase com elementos de relevância social que informam os indivíduos e os conscientizam de problemas políticosociais 4 Nas últimas décadas a questão educacional passou a ser um dos alicerces dessa nova museologia Crescem pesquisas que analisam o processo de ensino ou divulgam o conhecimento nesses espaços na perspectiva dos estudos sobre transposição didática ou museográfica O incentivo à participação e à interatividade que acontece nos museus de ciência e técnica se estende aos museus como os de história arqueologia etnografia e ciências naturais através sobretudo do advento de novas tecnologias A base filosófica dessas mudanças reside na democratização do acesso ao saber que está depositado nos museus Em contrapartida a escola deve permitir a influência desses espaços educativos alternativos incentivando as visitas pedagógicas e as ações de parcerias Há esperança de que a escola possa imbuirse de uma nova função a de ser um lugar de análises críticas de atribuição de significado às informações e reconstrução do conhecimento para que possa preservar seu status e função de formadora de sujeitos sociais e na qual o professor garanta seu espaço de ação NOGARO 1999 p 29 Para os gregos antigos memória significava vidência e êxtase É com tal alegria e êxtase que esperamos que nossos alunos e alunas consigam perceber e apreender nossa memória através de vivências extramuros escolares A preservação da memória tornase fundamental na ampliação de vivências pedagógicas diferenciadas para nossos estudantes Espaços educativos nãoformais Como já foi dito anteriormente fazse necessário desvelar o horizonte universitário e pedagógico para a utilização dos espaços educativos alternativos Como exemplo de um espaço educativo não formal temos o Espaço da Ciência de Olinda em Pernambuco criado em 1994 que desenvolve capacitação de professores através de centros de referência criados em 21 escolas da rede pública Também há o MAST CNP que em 1997 estabeleceu um projeto denominado Formação continuada de professores de ciências e os espaços nãoformais de Educação para produzir material didático junto às escolas públicas municipais Desta forma em tais visitas pedagógicas seria oferecido aos nossos alunos e alunas diferentes 5 leituras da ciência e do mundo É essencial cada vez mais a parceria dos museus com as universidades secretarias municipais e estaduais para a realização de cursos de formação de professores em todos os níveis Além disso é muito importante a implantação de pesquisas nos museus e investigações sobre a relação museusespaços culturais e escola Esses estudos darão subsídios maiores aos programas educativos e culturais desenvolvidos nessas instituições Em última instância entender história é entender o tempo em movimento em múltiplos espaços Se entendemos que o ensino de História tem o sentido de formação da cidadania no Ensino Fundamental e Médio devemos ter o compromisso de proporcionar oportunidades para que osas alunosas transportem esse conhecimento aprendido para suas vidas cotidianas para que possam participar de forma mais consciente da construção de um mundo mais justo e solidário Contudo a busca da cidadania nos países da periferia esbarra na falta de cumprimento de direitos universais básicos embora muitas vezes suas populações tenham esses direitos consagrados em lei Além disso num mundo em constante transformação podem surgir novos direitos frutos de novas lutas e reivindicações E é exatamente esse movimento que caracteriza a cidadania CANDAU 2002 p 37 Temas que serão debatidos na série Espaços educativos e ensino de História que será apresentada no programa Salto para o FuturoTV Escola de 3 a 7 de abril de 2006 PGM 1 Os sentidos do ensino de História No primeiro programa da série vamos debater estes temas entre outros o papel da escola e a importância do ensino de História para a formação da cidadania o respeito pelo saber do educando o encontro entre saberes escolares e nãoescolares entre cultura erudita e popular a construção do conhecimento de forma dialógica participativa entre alunos e professores a favor de uma educação emancipatória as concepções teóricas no ensino de História e na Educação que permeiam tais opções educacionais alternativas metodológicas ao método tradicional PGM 2 Memória e ensino de História O segundo programa tem como proposta discutir o conceito de memória a relação memória tempo e História o tempo histórico e suas principais características sucessão duração e simultaneidade a 6 perpetuação dos povos através da memória ou do esquecimento o que se quer lembrar e o que se quer esquecer nas sociedades o jovem e a sociedade presentista a necessidade de se impor a ausência de memória nas sociedades contemporâneas mudanças e permanências nas sociedades PGM 3 Lugares de memória O terceiro programa vai enfocar estes temas lugares de memória a relação entre cultura e pedagogia na perspectiva dos Estudos Culturais a educação transformando subjetividades a escola não é o único lugar que educa os espaços educativos nãoformais especialmente os museus e exposições os lugares de memória e suas culturas próprias seus ritos e códigos específicos a democratização do acesso ao saber depositado nos museus a busca pela construção de uma pedagogia de museus os espaços educativos nãoformais como lugares alternativos de aprendizagem PGM 4 Espaços públicos de memória Neste quarto programa permanece a discussão sobre os espaços educativos não formais analisando estes temas entre outros a paisagem como algo socialmente transformado pelo tempo e depositária de diferentes temporalidades o espaço e o tempomundo fundidos na cidade a necessidade de o professor ensinar História fora dos muros da escola utilizando excursões pedagógicas pelas ruas de sua cidade por exemplo a análise das migalhas deixadas pelo tempo nas marcas da arquitetura monumentos transportes etc de uma cidade o processo de ensinoaprendizagem nesses espaços alternativos na perspectiva dos estudos sobre transposição didática ou museográfica PGM 5 Espaços educativos nãoformais e formação de professores O quinto programa vai abordar a importância de se incorporar nos estágios curriculares dos cursos de Licenciatura esses espaços educativos nãoformais a necessidade de se estreitar laços entre as práticas curriculares nos cursos de formação de professores e os lugares de preservação da memória a urgência de se estabelecer políticas públicas de formação de professores que se comprometam em reinventar a escola visando à construção de uma cidadania participativa e 7 democrática BIBLIOGRAFIA BETANCOURT Nilda de Barros e GISSI Jorge El taller integración de teoria y práctica Buenos Aires Argentina Editorial Humanitas 1987 BITTENCOURT Circe org O saber histórico na sala de aula São Paulo Contexto 1997 BOSI Ecléa Memória e Sociedade lembranças de velhos São Paulo TA Queiroz 1979 CANDAU Vera Maria Didática currículo e saberes escolares Rio de Janeiro DPA 2000 CANDAU Vera Maria Pluralismo cultural cotidiano escolar e formação de professores In CANDAU Vera Maria org Magistério construção cotidiana Petrópolis RJ Vozes 1997 org Reinventar a escola 2ª ed Petrópolis Vozes 2000 org Sociedade educação e culturas questões e propostas Petrópolis RJ Vozes 2002 CHERVEL André História das disciplinas escolares reflexões sobre um campo de pesquisas Teoria Educação n 2 1990 p182 DEMO Pedro Ironias da Educação Mudança e contos sobre mudança Rio de Janeiro DPA ed 2000 FREIRE Paulo Pedagogia da Autonomia Saberes necessários à prática educativa São Paulo Paz e Terra 1997 LE GOFF Jacques Calendário In Enciclopédia Einaundi Memória História v1 1990 MARANDINO Martha Museu e escola parceiros na Educação científica do cidadão In CANDAU Vera Maria org Reinventar a escola Petrópolis RJ Vozes 2000 MEDIANO Zélia D A formação em serviço de professores através de oficinas pedagógicas In CANDAU Vera Maria org Magistério construção cotidiana Petrópolis RJ Vozes 8 1997 MONTEIRO Ana Maria A prática de ensino e a produção de saberes na escola In SANTOS Lucíola Licínio de C P O processo de produção do conhecimento escolar e a didática In MOREIRA Antonio Flávio B Conhecimento Educacional e formação do professor São Paulo Papirus 1994 SILVA Tomaz Tadeu da Documentos de identidade uma introdução às teorias do currículo Belo Horizonte Autêntica 1999 VIEIRA Liszt Cidadania e globalização 2 a ed Rio de Janeiro Record 1998 Nota 1 Mestre em Educação PUCRio Professora Assistente de História do CAPUERJ e de Prática de Ensino de História do Departamento de História da UERJ Professora de História da rede particular de ensino Consultora desta série 9 PROGRAMA 1 PROGRAMA 1 OS SENTIDOS DO ENSINO DE HISTÓRIA Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro1 A constituição da história como disciplina escolar ao longo do século XIX no Ocidente implicou um processo de seleção cultural e didatização necessário para tornar ensináveis os saberes então selecionados para serem aprendidos pelas novas gerações As narrativas produzidas revelavam o espírito do povo a alma das nações e o germe da identidade nacional expressos como histórias nacionais que contribuíam para afirmar poderes instituídos Essa operação cultural e política de forte conteúdo simbólico nos possibilita compreender dimensões presentes no ensino de História enquanto espaçotempo no currículo escolar ainda privilegiado nas sociedades contemporâneas destinado à construção de significados necessários à leitura e à compreensão do mundo nacionalmente ou globalmente organizado Esses são alguns dos desafios do ensino de História 1 Tornar acessível aos alunos o conhecimento constituído sobre as sociedades e ações humanas do passado passado recomposto pelos historiadores a partir de documentos tomados como fontes 2 Possibilitar a leitura de textos e imagens a escrita de suas apropriaçõesaprendizagens a reconstrução de representações 3 Selecionar quais saberes quais narrativas quais poderes legitimar ou questionar Esse texto tem por objetivo discutir esses desafios e também as questões que se apresentam nos processos inerentes ao ensino de História e à sua pesquisa que envolve não apenas o domínio de saberes referentes ao passado mas também a compreensão da historicidade da vida social e do diálogo com os diferentes saberes que circulam e se difundem nas sociedades Este processo implica um trabalho que auxilie os alunos a atribuir sentido às ações humanas e aos atores sociais em perspectiva sincrônica e diacrônica e a aprofundar o pensamento crítico em face dos poderes instituídos através da análise e possível desmistificação de rituais atores imagens e processos de 10 participação atribuição e questionamento do poder nas sociedades 2 1 Renovação teórica no campo do currículo e do ensino o conceito de saber escolar Nas três últimas décadas do século XX os estudos e pesquisas voltados para as questões relativas ao currículo escolar voltaramse para a investigação das relações entre escola e cultura buscando melhor compreender o papel desempenhado pela escola na produção da memória coletiva das identidades sociais e da reprodução ou transformação das relações de poder Os saberes ensinados na maior parte do século XX não foram objeto de maior questionamento ou reflexão Eram definidos e apresentados nos currículos e programas como aqueles a ensinar oriundos de base científica e cultural ampla através de meios e procedimentos adequados escolhidos num receituário ou arsenal construído e fundamentado cientificamente nos conhecimentos oferecidos pela psicologia pela psicopedagogia e pela didática Esta perspectiva racionalista cientificista que contém críticas ao modelo espontaneísta e empirista até então dominante é por sua vez atualmente objeto de críticas que apontam a simplificação inerente à concepção que a fundamenta Pesquisas confirmam que o currículo é campo de criação simbólica e cultural permeado por conflitos e contradições de constituição complexa e híbrida com diferentes instâncias de realização currículo formal real oculto Moreira 1997 No campo da epistemologia discutemse a historicidade e a relatividade do conhecimento científico questionandose a idéia de que a ciência produz a única forma de conhecimento válido e verdadeiro reconhecendose a diversidade das formas de conhecimento com diferentes racionalidades e formas de validação No meio educacional os estudos reconhecem as características cada vez mais evidentes dos fenômenos práticos complexidade incerteza instabilidade singularidade e conflitos de valores Os diferentes sujeitos com visões de mundo e interesses diferenciados estabelecem relações entre si 11 com múltiplas possibilidades de apropriação e interpretação Essas novas perspectivas permitem avançar em relação a estudos e análises que ao não reconhecerem a especificidade da cultura escolar buscavam a melhoria do ensino através da maior aproximação com o conhecimento científico O ensino seria aperfeiçoado na medida em que mais semelhante coerente e atualizado fosse em relação à produção científica Essa orientação induzia por exemplo pesquisadores a identificar erros no ensino realizado nas escolas na medida em que sua atualização se faz mais lentamente e também porque um processo de síncrese é realizado com a utilização de contribuições de diferentes autores alguns deles com pressupostos teóricos distintos para configurar explicações ou exemplificações Ao ser radicalizada esta crítica levou muitos a considerar o saber escolar um saber de segunda classe inferior ao conhecimento científico porque resultante de simplificações necessárias para o ensino a crianças e adolescentes ou adultos em processo de aprendizagem 3 Não podemos negar que o diálogo com o conhecimento científico é absolutamente fundamental Mas é preciso compreender melhor como se dá a construção do saber escolar que envolve a interlocução com o conhecimento científico mas também com outros saberes que circulam no contexto cultural de referência Nesse sentido o conceito de saber escolar referenciado em pesquisadores do campo educacional da área do currículo e da história das disciplinas escolares oferece contribuição importante para a melhor compreensão dos processos educativos Entre os primeiros podemos citar na tradição francesa Forquin 1992 1993 1996 Moniot 1993 Develay 1994 1996 Allieu 1995 Lautier 1997 e no Brasil Santos 1990 Moreira 1997 Silva 1999 Lopes 1999 Monteiro 2002 2003 Na história das disciplinas escolares temos o trabalho de Chervel 1990 e na vertente inglesa temos os trabalhos de Goodson 1995 que utiliza uma abordagem sóciohistórica para análise da 12 construção curricular A perspectiva com a qual eu trabalho reconhece a especificidade epistemológica desta construção que tem na escola o locus por excelência escola que deixa de ser considerada apenas local de instrução e transmissão de saberes para ser compreendida como espaço educacional configurado e configurador de uma cultura escolar na qual se confrontam diferentes forças e interesses sociais econômicos políticos culturais Filiase mais diretamente aos autores franceses que estudam os processos de transposição didática Nesta perspectiva os saberes escolares antes inquestionáveis e universais passam a ser objeto de indagações que se voltam para aspectos relacionados à seleção cultural quais saberes motivos de opção implicações culturais e repercussões sociais e políticas das opções negações ocultamentos ênfases Mas não basta selecionar É preciso tornar os saberes possíveis de serem aprendidos Nesse sentido os estudos voltados para os processos de organização destes saberes investigam os processos de didatização buscando superar a perspectiva instrumental e técnica utilizando o conceito de transposição didática Chevallard 1991 Develay 1992 ou mediação didática Lopes 1999 para analisar os processos realizados para viabilizar aprendizagens Forquin 1992 Lopes 1997 4 Por último e não menos importante é preciso lembrar que o saber escolar em sua constituição passa por um processo de axiologização Develay 1992 ou seja ele é veículo de transmissão e formação de valores entre os estudantes A dimensão educativa portanto é estruturante deste saber não sob a forma de proselitismo mas através da seleção e didatização realizada saberes negados ou afirmados formas democráticas ou autoritárias de ensinar métodos baseados na repetição e memorização ou baseados no desenvolvimento do raciocínio e pensamento crítico Cabe indagar como essas questões se expressam na história escolar uma vez que a própria áreadisciplina História já traz em sua constituição a dimensão pedagógica 13 3 A História como saber escolar A possibilidade de utilização dos conceitos de saber escolar e de transposição didática no campo da História precisa ser discutida de forma a considerar problemas e características específicos aos processos de sua constituição que envolvem aspectos distintos daqueles relacionados à Matemática por exemplo É importante avaliar possibilidades e limites dos conceitos quando eles são transplantados do seu contexto de produção original e utilizados como instrumentos de inteligibilidade em diferentes campos disciplinares 5 Esse trabalho tem sido realizado por alguns autores franceses que pesquisam a didática da História e que têm procurado incorporar e avaliar a potencialidade teórica das proposições de Chevallard 6 Entre eles Moniot 1993 faz algumas ponderações importantes ao discutir e contextualizar a transposição didática no processo de elaboração da História em sua versão escolar Inicialmente ele concorda com Chevallard sobre a anterioridade do saber acadêmico em relação ao saber escolar ao lembrar que por exemplo na França a História dos historiadores precede a História escolar constituída num processo que se desenvolveu ao longo do século XIX Furet 1978 Mas por outro lado como o autor destaca a História escolar também fez a fortuna da História universitária havendo uma conivência entre uma e outra de forma que até hoje uma legitima a outra Não há dúvida de que no século XX a história escolar tem características próprias numa configuração com sua força instalada Se por um lado ela depende moralmente da história acadêmica ela produz para esta uma reverência e uma segurança pública pela cultura e pelos sentimentos que ela destila de fato há uma troca de legitimações reais entre duas entidades específicas Moniot 1993 p 26 7 No Brasil podemos dizer que um processo semelhante ocorreu A constituição de uma História do Brasil pautada em princípios definidos com base em metodologia científica se deu em meados do século XIX no contexto de uma instituição acadêmica que era o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Guimarães 1988 A elaboração da História Geral do Brasil em 1854 por Francisco Adolfo de Varnhagen constituiu a primeira versão que atendia aos princípios de uma História científica escrita a partir de documentos e que serviu de base para a elaboração de livros didáticos entre eles aquele intitulado Brasil em Lições de Joaquim Manuel de Macedo usado 14 durante décadas no Colégio Pedro II e que serviu de referência para a História do Brasil ensinada em todo o país Mattos 2000 8 Já a diferença entre o saber acadêmico e o saber escolar em História constitui para Moniot um segredo de polichinelo A História diferentemente das matemáticas que possuem uma definição acadêmica muito clara apresenta diferentes perspectivas de inteligibilidade História positivista dos Annales marxista e das análises macroeconômicas Nova História e de composições que se complementam freqüentemente a partir de diferentes formas de definição e de organização dos eixos de análise temática História política História social História econômica História cultural geopolítica História do Brasil História da América História da Europa História do Extremo Oriente etc cronológica Antigüidade Idade Média Idade Moderna Idade Contemporânea Tempo Presente etc espacial global nacional e regional Essa característica suscita de imediato uma questão de alguma complexidade qual História utilizar como referência acadêmica para se contrastar com o saber a ensinar Outra questão referese ao movimento que articula os saberes e que para Chevallard é prioritariamente descendente do saber acadêmico ao saber escolar Allieu 1995 p 152 ao discutir a transposição didática no âmbito da História questiona essa visão afirmando que a relação entre o saber ensinado e as noções científicas correspondentes produzidas na academia é mais ascendente do que descendente mais do que uma transposição nós preferimos falar de uma interpelação Citando Audigier Crémieu TutiauxGuillon 1994 p 6 ela complementa as ciências históricas são a referência para não dizer o falso Quem é responsável por essa atribuição de sentido na história escolar O professor de História que para isso não segue um modelo predefinido geral ou estrutural que oriente a transposição a história escolar é reinventada em cada aula no contexto de situações de ensino específicas onde interagem as características do professor e onde também são expressas as disposições oriundas de uma cultura profissional dos alunos e aquelas da instituição aí podendo ser considerada tanto a escola como o campo disciplinar características essas que criam um campo de onde emerge a disciplina escolar Esses atores estão imersos no mundo ou seja numa sociedade dada numa época dada em que as subjetividades expressam e configuram representações que por sua vez interferem 15 na definição das opções que orientam os sentidos atribuídos aos acontecimentos Allieu 1995 p 1534 Assim Allieu prefere falar em interpelação e não transposição porque para atribuir sentido ao que ensina o professor recorre ao saber acadêmico em suas diferentes escolas e matrizes teóricas para buscar subsídios que lhe permitam produzir versões coerentes com seus pontos de vista e que tenham uma base de legitimidade dentro do campo Aliás no saber escolar encontramos muito mais uma síncrese de diferentes matrizes teóricas do que filiações definidas a determinadas correntes 9 Além do mais lembra Moniot diferentemente da Matemática e da Biologia a História tem como principal aplicação ser comunicada divulgada questão essa que tem ressonância tanto na referência como na transposição A História é fonte de referência e está presente em várias dimensões e espaços da vida social atual as chamadas práticas sociais de referência Martinand 1986 Ela não é apenas um objeto um relato do passado dos homens ela é uma linguagem partilhada e uma prática Para tantos usos e finalidades contribui a história acadêmica ou as práticas sociais de referência ou a história escolar Ou todas contribuem Se estas finalidades não são explicitadas nos objetivos do seu ensino que muitas vezes apresentam formulações mais nobres e politicamente corretas elas estão presentes assim mesmo Elas permitem compreender então como a História escolar tem diferentes referências muito reais Para Moniot a história escolar não precisa buscar nenhuma prática social de referência ela própria no sentido de História vivida é a primeira dessas práticas sociais Mas além disso a História escolar dialoga com as visões os textos e as expressões históricas presentes em diferentes e específicas práticas sociais de referência a dos autores diretores e narrativas de filmes históricos documentários programas de televisão novelas ou peças teatrais na prática social de curadores de exposições museológicas artísticas científicas dos jornalistas e comentaristas políticos dos guias de atividades de turismo nas práticas e discursos das diferentes religiões nas práticas cotidianas dos diferentes grupos sociais entre eles o familiar e que servem de referência e dialogam com o saber acadêmico na constituição do saber escolar chegando à escola através dos diferentes meios de comunicação dos alunos dos professores e de seus pais 16 Além disso as dimensões axiológica e política têm uma importância significativa na constituição da História escolar que não pode ser desconsiderada Perspectivas diferentes implicam ênfases negações ocultamentos ou denúncias que têm profundas implicações na versão efetivamente ensinada Esse autor reconhece portanto a existência de uma história escolar que possui três principais referências e não apenas a História acadêmica a história acadêmica da qual ela toma problemas e inteligibilidades e de onde retira sua legitimidade um conjunto de valores que dá sentido à vida coletiva e que inspira a socialização pela escola ninguém ensina publicamente a História sem motivo não se contam as coisas simplesmente porque elas pertencem ao passado Mesmo aqueles que denunciam uma mitologia ou ideologia possuem outra proposta para a substituir a cultura que é transmitida pela História em três sentidos o que ela transmite faz parte do senso comum e da experiência geral das relações humanas com seu vocabulário e categorias o código semântico e referências sociais correntes ela é portadora de uma cultura política no sentido mais amplo e de uma cultura cultivada constituída a partir de uma freqüentação qualitativa de lugares do passado Moniot 1993 p 2433 Assim para Moniot a História escolar é uma enorme e polivalente lição de coisas sociais morais e intelectuais Ela pode insuflar tanto a conformidade como o distanciamento a continuidade e a reavaliação Terreno complexo para a definição de aprendizagens específicas 1993 p 35 Essas considerações baseadas no texto de Moniot 1993 e de Allieu 1995 oferecem uma perspectiva bastante interessante e fértil para a análise da história escolar No Brasil rompida a tradição da história oficial tradicional oriunda do século XIX e com uma acentuada vertente nacionalista e integracionista que ocultava ou negava as contradições sociais na busca de uma imagem pacifista e legitimadora de formas de dominação seculares vivemos nas três últimas 17 décadas do século XX um processo de renovação da pesquisa histórica extremamente rico que propiciou o rompimento de verdades estabelecidas e iluminou aspectos desconhecidos de nosso passado Essa renovação se comunicou ao ensino expressandose no movimento de reforma curricular que sacudiu e mobilizou professores dos diferentes estados e depois do país nos últimos quinze anos No contexto do processo de abertura política após vinte anos de ditadura militar as propostas para o ensino de História foram inicialmente muito marcadas por uma militância que de uma fase inicial de ataque aos aspectos reprodutivistas da escola passou a vêla e ao seu ensino como os instrumentos da transformação social senão da revolução Com isso o ensino assumiu uma perspectiva quase proselitista em que a denúncia das situações de exploração ocupava grande espaço nas aulas com o objetivo de conscientizar o cidadão através da superação de concepções de mundo ideologicamente configuradas ideologia considerada na concepção marxista de falsa consciência Muitas vezes esta postura gerou por parte dos professores atitudes voluntaristas e autoritárias voltadas para a afirmação de determinadas verdades e rejeição de saberes e práticas dos alunos vistos como expressão de alienação Sem perder a dimensão política e de formação da cidadania fundamental para o ensino de História e presente em qualquer ato educativo cabe considerar as reflexões de Moniot quanto à relação complexa e profunda do ensino de História com a cultura de forma ampla e com a memória coletiva Elas nos fazem perceber que a relação da educação realizada em espaços formais com aquela efetivada em espaços não formais que acontece de forma difusa independentemente da ação docente é uma possibilidade de diálogo fértil e enriquecedor para professores e alunos Acredito que estas considerações nos ajudam a melhor compreender tantas dificuldades vividas por alunos e professores no diaadia do seu trabalho Ao mesmo tempo abrem novas perspectivas para pensar com mais humildade alternativas para o nosso fazer e para que estejamos mais abertos para 18 ouvir os alunos e seus saberes para que juntos possamos avançar na superação do senso comum 10 Se o trabalho for realizado com abertura para ouvir o outro e desenvolvendo a razão crítica estaremos contribuindo para auxiliar nossos alunos a compreender a historicidade da vida social com os seus riscos e suas possibilidades Referências bibliográficas ALLIEU N De lHistoire des chercheurs à lHistoire scolaire In DEVELAY M Savoirs scolaires et didactique des disciplines une encyclopédie pour aujourdhui Paris ESF Editeur 1995 ANHORN C T G O saber histórico escolar entre o universal e o particular Dissertação de mestrado Programa de Pósgraduação em educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 1999 AUDIGIER F CREMIEUX C TUTIAUXGUILLON N La place des savoirs scientifiques dans les didactiques de lhistoire et de la geographie In Revue Française de Pedagogie nº 106 janvierfévriermars 1994 p 1123 BOUTIER J e JULIA D org Passados recompostos Campos e canteiros da História Rio de Janeiro Editora da UFRJEditora da FGV1998 CHERVEL A História das disciplinas escolares reflexões sobre um campo de pesquisa In Teoria Educação nº 2 Porto Alegre Pannonica Editora 1990 p 177229 CHEVALLARD Y La transposición didáctica Del saber sabio al saber enseñado Buenos Aires Aique Grupo Editor sd DEVELAY M De lApprentissage à lenseignement Pour une épistémologie scolaire Paris ESF Éditeur 1992 DEVELAY M Savoirs scolaires et didactique des disciplines une encyclopédie pour aujourdhui Paris ESF Editeur 1995 FORQUIN JeanClaude Saberes escolares imperativos didáticos e dinâmicas sociais In Teoria Educação nº 5 Porto Alegre Pannonica Editora 1992 p 2849 Escola e Cultura As bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar Porto Alegre Artes Médicas 1993 As abordagens sociológicas do currículo orientações teóricas e perspectivas de pesquisa In Educação e Realidade Currículo e política de identidade v 21 nº 1 Porto Alegre UFRGSFaculdade de Educação 1996 p 187198 19 FURET F O nascimento da História In FURET F A oficina da História Lisboa Gradiva sd GUIMARÃES M L S Nação e civilização nos trópicos O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional In Estudos Históricos 1 Caminhos da historiografia Rio de Janeiro FGV 1988 p 527 GOODSON I Tornandose uma matéria acadêmica padrões de explicação e evolução In Teoria Educação nº 2 Porto Alegre Pannonica Editora 1990 p 23054 Currículo teoria e história 2 ed Petrópolis RJ Vozes 1998 LAUTIER N Enseigner lHistoire au Lycée Formation des enseignants Professeurs des lycées Paris Armand Colin 1997 LE GOFF J História e memória Campinas Editora da Unicamp 1996 LOPES A R C Conhecimento escolar processos de seleção cultural e mediação didática In Educação Realidade 221 95112 janjun 1997 Conhecimento escolar ciência e cotidiano Rio de Janeiro Ed UERJ 1999 MARTINAND J L Connaître et transformer la matiére Berne Peter Lang 1986 MATTOS S R de O Brasil em Lições A história como disciplina escolar em Joaquim Manuel de Macedo Rio de Janeiro Access Editora 2000 Aprendizado do Brasil MONIOT H Didactique de LHistoire Paris Edition Nathan 1993 MONTEIRO A M História Inserção da História na área das Ciências Humanas In FUNDARSecretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro Ciclo de estudos 2004 Formação continuada para professores de escolas na busca do horário integral Rio de Janeiro Fundar 2004 A história ensinada algumas configurações do saber escolar In História e Ensino Vol 9 Revista do Laboratório de Ensino de História da Universidade Estadual de Londrina Londrina Editora da UEL 2003 p 936 Ensino de História entre saberes e práticas Tese de Doutorado Programa de Pósgraduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Rio de Janeiro agosto de 2002 Ensino de História das dificuldades e possibilidades de um fazer In DAVIES N org Para além dos conteúdos no ensino de História Niterói EDUFF 2000 MOREIRA A F B e SILVA T T orgs Currículo cultura e sociedade São Paulo Cortez 1994 Currículo utopia e pósmodernidade In Moreira A F B org 20 Currículo questões atuais Campinas Papirus 1997 Currículo questões atuais Campinas Papirus 1997 PROST A Douze leçons sur lhistoire Paris Éditions du Seuil 1996 Notas 1 Professora de Didática e Prática de Ensino de História e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Currículo do Programa de Pósgraduação da Faculdade de Educação da UFRJ Mestre em História pela UFF e Doutora em Educação pela PUCRio 2 Este texto é uma adaptação de artigo publicado com o título Ensino de História e História Cultural diálogos possíveis na obra SOIHETR e outras Culturas políticas Ensaios de história cultural história política e ensino de história Rio de Janeiro Mauad 2005 3 Não defendo aqui que todo ensino escolar é bem desenvolvido e imune a erros A crítica apoiada em autores que ignoram a especificidade da cultura e do saber escolar tem no entanto dificultado avanços para sua melhor realização 4 Por transposição didática Chevallard denomina o processo que transforma um saber acadêmico em saber a ensinar e este em saber ensinado Para analisar as diferenças entre os autores que operam com estes conceitos ver Monteiro 2002 e Monteiro 2003 5 Uma crítica à teoria da transposição didática conforme formulada por Chevallard com base no ensino da Matemática é feita por Caillot 1996 que discute se esta teoria é ela mesma transponível para outros campos disciplinares que não a Matemática Ele questiona fortemente o fato de Chevallard considerar o saber acadêmico científico como a única referência para o saber ensinado apoiandose na sociologia do currículo que tem mostrado a complexa rede de influências interesses e saberes que entram em jogo na sua formulação Para ele a teoria da transposição didática tem uma validade limitada ao campo da Matemática Caillot1996 p 223 6 Audigier 1988 Develay1992 TutiauxGuillon 1993 Audigier Crémieux Tutiaux Guillon 1994 Allieu 1995 Lautier 1997 são outros autores que juntamente com Moniot 1993 têm procurado incorporar e reelaborar as contribuições da teoria da transposição didática ao campo da História 7 Esta observação de Moniot vem ao encontro da perspectiva de Develay no que diz respeito aos fluxos simultaneamente ascendentes e descendentes entre o saber escolar e o acadêmico 8 Uma excelente análise desse processo é aquela feita por Guimarães em artigo intitulado Nação e civilização nos trópicos O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Projeto de uma História Nacional In Estudos Históricos 1 Caminhos da Historiografia Rio de Janeiro n1 1988 p527 9 Na primeira metade da década de 1990 observamos a realização de um conjunto de pesquisas que buscavam identificar as concepções de História presentes no seu ensino Discordo deste enfoque que supõe a identidade entre o saber acadêmico e o escolar e por causa disso identifica como problemas ou erros aspectos que são construções tipicamente escolares Uma nova abordagem que reconhece a especificidade da cultura escolar pode ser encontrada em Anhorn 1999 e Monteiro 2002 10 Acredito que a maior clareza sobre características do conhecimento histórico e da história escolar permitem que os professores possam superar visões 21 excessivamente otimistas e de certo modo ingênuas sobre as potencialidades do ensino de História para a transformação social e que deixam transparecer resquícios do historicismo 22 PROGRAMA 2 PROGRAMA 2 MEMÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA Carmen Teresa Gabriel 1 Um novo olhar sobre o passado e o futuro se elabora sob as pressões do presente vivido A partir do presente a visão do passado se altera e age sobre a visão e a produção do futuro Reis 1994 Como em toda discussão sobre um determinado tema existem diferentes portas de entrada para participar do debate em torno da relação que pode ser estabelecida entre Memória e ensino de História Essas entradas dependem do lugar do qual falamos dos nossos olhares dos nossos interesses das nossas escolhas políticas das utopias pelas quais lutamos É pois do lugar de professora de História tendo que muitas vezes na sala de aula agir na urgência e decidir na incerteza Perrenoud 2001 apostando ainda na potencialidade desta disciplina para pensar a possibilidade de mudança e na viabilidade da construção de um projeto de sociedade menos dogmático e mais justo que me proponho a entrar neste debate Optei começar este texto enunciando a questão que serviu de eixo em torno do qual desenvolvi minhas argumentações O que ensinamos nas aulas de História tem alguma relação com Memória Aparentemente simples e mesmo óbvia essa questão exige portanto algumas reflexões e posicionamentos prévios Reflexão em primeiro lugar sobre a própria razão de ser deste tipo de questionamento isto é sobre o próprio contexto histórico no qual essa questão é formulada que permite explicar a centralidade nas últimas duas décadas da temática da memória e sua relação com a história e conseqüentemente também com o seu ensino Esse esforço de contextualização é importante na medida em que nos leva a explicitar o que estamos chamando de memória e como percebemos sua articulação com essa área de conhecimento Em seguida tratase de pensar sobre o papel desempenhado pela memória no processo de construção dos saberes históricos escolares e na relação que os sujeitos envolvidos professoresas e alunosas estabelecem com esses saberes ensinados e aprendidos As breves considerações que se seguem são apenas um ponto de partida para futuras reflexões mais aprofundadas sem a menor 23 pretensão de serem exaustivas A memória na berlinda Aceleração da história Falase tanto de memória somente porque ela não existe mais Nora 1993 É nos momentos de ruptura da continuidade histórica que as alterações mais se voltam para a memória e a duração Duvignaud Apud DAléssio 1992 Memória e História são formas de visitar o passado que durante muito tempo no âmbito da trajetória de construção desta disciplina seja na sua versão acadêmica seja na versão escolar e em particular no que se refere à História Nacional tenderam a serem confundidas Essa confusão já estava presente no momento da própria emergência deste campo disciplinar no século XIX na medida em que a sua constituição pode ser explicada e justificada pela necessidade de elaboração de uma memória nacional que pudesse garantir e legitimar a consolidação dos Estados nacionais modernos Tratavase de inventar naquele presente um passado comum isto é de fazer esquecer e de fazer lembrar as experiências passadas que interessavam à construção dos projetos de sociedade estruturados em torno de cada um dos EstadosNação reconhecidos como tais no cenário político daquela época Com efeito o período que vai do século XIX até as primeiras décadas do século XX correspondeu ao apogeu da Históriamemória da História Nacional na qual memória nação e história eram percebidas através de uma relação de circularidade complementar uma simbiose em todos os níveis científicos pedagógico teórico e prático Nora 1993 Essa históriamemória a despeito das particularidades de cada contexto desempenhou um papel central na constituição do nacional e por conseguinte da construção do sentimento de pertencimento a essa marca identitária A história e o seu ensino se apresentavam dessa forma como guardiãs importantes da identidade nacional concebida até então como um elemento unificador e homogeneizador das diferenças regionais políticas sociais e culturais consideradas indispensáveis para a construção e manutenção dos EstadosNacionais modernos Até época relativamente recente não havia pois espaço para o questionamento ou problematização desta forma de significar esse tipo de relação 24 Como entender então as citações acima Em que momento e por que razão essas duas formas de se relacionar com o passado se distanciaram e tenderam a se opor de tal maneira que hoje alguns estudiosos chegam a afirmar não apenas o distanciamento mas o próprio desaparecimento de um desses pólos Expressões como apagamento da memória ou enfraquecimento da historicidade Jameson 1997 são comuns nos dias de hoje indicando uma mudança considerável na forma de conceber essa relação Essas novas formas de percepção de passado presente e futuro e da relação entre memória e história não podem ser naturalizadas Ao contrário elas foram sendo construídas historicamente Estudos tendem a mostrar que momentos de simbiose de autonomia e de refusão aparecem como fases neste processo de construção permanente da relação entre história e memória e refletem uma faceta do equacionamento buscado nos diferentes presentes entre os campos de experiência passado e os horizontes de expectativa futuro O processo de distanciamento entre memória e história se fez de forma gradativa A aceleração do ritmo das mudanças geradas a partir do advento da modernidade só fez acirrar este processo de distanciamento fazendoo chegar ao ponto convulsivo que marca esta passagem de século onde o esgarçamento dos fios das tramas que se tecem entre passado e futuro situanos em um presente que se apresenta como um mero simulacro no qual memórias e projetos tradição e utopia perdem o sentido Basta pensarmos na problemática das identidades tão em voga igualmente na atualidade para melhor compreendermos as implicações no nosso cotidiano dessa perda de sentido O ritmo desenfreado das transformações acarretou um intenso movimento de presentificação em detrimento tanto do passado como também do futuro De um lado estas mudanças incessantes e cada vez mais aceleradas passam a ameaçar a legitimidade da própria concepção monolítica estática e essencialista de identidade tal como estava na base da concepção de identidade nacional nos moldes descritos acima A concepção de identidade passa a ser vista como lealdades construídas em contextos específicos sendo pois considerada necessariamente como relacional dinâmica e processual Essa mudança de concepção coloca em xeque diferentes marcas identitárias de graus variados de generalização como por exemplo a que define o pertencimento da idéia de Nação moderna De outro lado essa aceleração do processo de mudanças obscurece igualmente o horizonte 25 de espera O fim da crença no progresso e na credibilidade das grandes narrativas que caracteriza também este final de século faz com que o presente não desempenhe mais o papel de mediador entre passado e futuro a certeza trazida pela idéia de um futuro de sentido predeterminado é substituída pela incerteza e a insegurança frente à imprecisão e ao descrédito da possibilidade de qualquer forma de utopia Todavia e de forma aparentemente paradoxal é esta insegurança que levaria também à necessidade de tudo reciclar em objeto memorial Com efeito essa mesma crise identítária que apesar de vivida de forma diferenciada nos diversos países configura a experiência coletiva nas sociedades industrializadas deste final de século e reafirma o apego aos traços aos vestígios à história e à memória tornandose responsável pela emergência de um verdadeiro culto da memória nas sociedades pósindustriais tradutor de uma vontade de se contrapor a esta crise através da reafirmação da necessidade de um enraizamento como bem analisa Rousso na citação abaixo Esta vontade de conservar de preservar de colocar no museu o passado concomitantemente à valorização atual da memória parece mais uma forma de resistência ao sentimento vivido da alteridade do tempo uma resposta à incerteza atual do presente e do futuro do que a vontade de estabelecer um laço dinâmico entre passado presente e futuro Rousso 1998 No campo político esta preocupação pode ser identificada com a implementação em diversos Estados industrializados de uma política pública da memória que pode ser percebida por exemplo pela extensão da noção de patrimônio ou pelas novas direções assumidas pelas políticas públicas de comemoração no sentido de rememorar juntos visando reunir a comunidade nacional Esta gestão pública do passado estaria senão de forma exclusiva fortemente guiada por esta vontade de superar o sentimento de desenraizamento de perda marca da nossa contemporaneidade Ela emerge pois de uma interrogação atual cada vez mais angustiada sobre a identidade coletiva Uma breve incursão na trajetória da construção da História Nacional nos oferece algumas chaves de leitura para a compreensão desse processo no qual Histórianação memória nacional e identidade nacional passam a serem vistas elas próprias como objetos de investigação para o historiador A história deixa de se confundir com a história da nação a memória nacional passa a ser apenas uma modalidade de memória entre outras tantas memórias coletivas 26 Por volta dos anos 30 do século passado no campo da historiografia em particular da historiografia francesa a nação deixa de ser o quadro unitário que encerraria a consciência da coletividade libertandose dessa forma de sua identificação nacional Memória História e Nação assumem uma autonomia em relação ao período precedente O objeto de investigação privilegiado pelos historiadores deixa de ser o passado glorioso da nação e centrase sobre a própria sociedade abrindo espaço para a emergência de outras memórias particulares e coletivas Este movimento de passagem da memória para a história obriga cada grupo a redefinir a sua identidade pela revitalização da sua própria história É como se ocorresse uma verdadeira implosão da história nacional da históriamemória dando origem a uma pluralidade de memórias particulares que reclamam a sua própria história Em síntese esta fase poderia ser resumida pela dilatação democratização descentralização e multiplicação da memória e se insere num contexto histórico específico marcado pelas crises do nosso presente Todavia se de um lado este momento é apresentado como um momento de agudização do processo de distanciamento de história e memória de outro é nele também que emerge a partir dos anos 80 a possibilidade do novo de uma nova síntese os lugares de memória cuja proposta é a re aproximação destes dois conceitos a partir de novas bases O conceito de lugares de memória cumpriria justamente esta função mediadora entre o mundo dos mortos e o mundo do vivos Eles nascem e vivem do sentimento de que não há mais memória espontânea defendem algo ameaçado e pertencem a dois domínios o da memória espontânea e o da memória alcançada pela história Nesta perspectiva os lugares de memória são restos rituais de uma sociedade sem rituais sinais de reconhecimento e de pertencimento de um grupo numa sociedade que só tende a conhecer indivíduos um vai e vem entre memória e história um jogo de memória e história Nora 1993 no qual esses usos sociais do passado são considerados diferentes mas nem por isso dicotômicos A memória como fonte eou objeto de pesquisa permanece um conceito central para o campo da História exigindo tomadas de posição frente a essas diferentes concepções A construção da história nacional e o seu ensino não podem deixar de enfrentar hoje as tensões entre memória e história Sem confundilas nem tampouco ignorálas surgem leituras plurais do passado nacional orientadas pelos interesses em disputa A memória não é mais monopólio de um grupo e sim um campo de lutas política e cultural onde lembrar e esquecer depende de quem 27 comemora e memoriza e dos interesses que estão em jogo no presente em que a relação com o passado é estabelecida Saberes históricos escolares entre o dever de memória e a reflexão crítica Se a disciplina história matéria de ensino ou domínio de pesquisa está particularmente exposta aos solavancos da história viva é porque ela coloca em questão a identidade coletiva e mais precisamente a identidade nacional ColliotThélène 1997 Em que medida essas mudanças na forma de apreensão da relação entre memória e história e suas implicações para pensar a questão das identidades podem influenciar o ensino de História A citação acima deixa transparecer que essas influências são inevitáveis e diretamente relacionadas à função social dessa disciplina Como já mencionado tanto a História produzida por pesquisa acadêmica como a História ensinada nas escolas de educação básica são vistas como portadoras de uma missão formadora pedagógica muito forte e estreitamente relacionada com a construção de identidades individual social e cultural dos cidadãos Atualmente entre os objetivos mais apontados para o estudo desta disciplina se encontram os de reconstruir memórias coletivas sejam elas nacionais ou de um grupo social e cultural mais restrito de formar cidadãos críticos e de explicar ou dar um sentido ao presente em que se vive Essa função políticocultural da disciplina de História é fundamental para entender a especificidade do saber histórico em termos da sua capacidade de absorção das diferentes tensões como por exemplo afirmação de verdades versus construção de sentidos explicação versus compreensão objetividade versus subjetividade universalismos versus relativismos ciência versus consciência etc Como professores de História enfrentamos no cotidiano das nossas aulas as implicações decorrentes dessas tensões inerentes à natureza do conhecimento histórico e que estão diretamente vinculadas à forma privilegiada de equacionarmos memória e projeto passado e futuro no processo de reelaboração didática Esse processo diz respeito tanto à seleção dos conteúdos históricos a serem ensinados das tramas a serem narradas quanto à escolha dos sujeitos envolvidos enfim das 28 memórias coletivas que servem de fonte para a história contada interpretada ensinada nas salas de aula desta disciplina Nesse sentido o que ensinamos hoje nas nossas aulas está fortemente imbricado com a questão das memórias coletivas incluindo a memória nacional sem no entanto se confundir com elas Que estratégias discursivas o ensino dessa disciplina mobiliza contribuindo para que nos tornemos brasileiros Que campos de experiência e que horizontes de expectativa interagem na narrativa histórica nacional da atualidade possibilitando entrever o significado de estar sendo brasileiro nas diferentes práticas discursivas dos alunos e professores Como articular no ensino da História do Brasil por exemplo a necessidade tanto de garantir a transmissão de uma memória nacional legitimada como a de desenvolver a reflexão crítica sobre essa mesma memória condição imprescindível para fazer emergir novas identidades e possibilidades de representação de brasilidade Ou dito de outro modo Como articular o ensino de uma forma de pensar historicamente e de uma memória já acumulada e consagrada pelas gerações precedentes Como reelaborar didaticamente capacidade crítica e necessidade de memória O que está em jogo aqui não é apenas a possibilidade de tornar o ensino de História do Brasil ensinável mas igualmente a necessidade de garantir a sua função formadora no plano cultural e político Apesar de o Estado Nacional não poder ser mais considerado como o principal e único fator dos destinos dos povos e de ser necessário reconhecer o enfraquecimento dos laços de lealdade a uma cultura nacional vista como homogênea e estável a possibilidade de um ensino de História totalmente liberado do esquema nacional ColliotThélène 1997 pareceme dificilmente concebível e muito menos desejável Diferentes presentes históricos constroem diferentes narrativas de História nacional e do povo brasileiro Em cada uma delas diferentes passados são lembrados e ou esquecidos e diferentes futuros são sonhados Caberá a cada professor de História selecionar os conteúdos a serem ensinados ingredientes de uma intriga possível acontecimentos sujeitos concepção de tempo conceitos etc de forma a permitir a emergência de uma diversidade de narrativas da brasilidade contribuindo para a construção de um Brasil mais plural e inclusivo O desafio é pois saber como usar essas armas da narratividade histórica a favor da inclusão das diferenças de posições de 29 perspectivas de identidades na interpretação histórica O desafio está posto o enfrentamento apenas começando Referências Bibliográficas COLLIOTTHÉLÉNE C Identité nationale et enseignement de lhistoire In Revue Internationale déducation Sèvres n13 mar1997 DALÉSSIO M M Memória leituras de M Halbwachs e P Nora In Revista Brasileira de História São Paulo Marco Zero vol13 n2526 set92ago93 JAMESON F Pósmodernismo a lógica cultural do capitalismo tardio São Paulo Ática 1997 NORA P Entre memória e história a problemática dos lugares In Projeto História São Paulo PUCSP Programa de PósGraduação em História dez 1993 PERRENOUD P Ensinar agir na urgência e decidir na incerteza Porto Alegre Artmed 2001 REIS J C Tempo História e Evasão Campinas Papirus1994 ROUSSO H Réflexions sur lémergence de la notion de mémoire In VERLHAC M Org Histoire et Memoire Genoble CNDP 1998 Nota 1 Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro Doutora em Educação PUCRJ 30 PROGRAMA 3 PROGRAMA 3 LUGARES DE MEMÓRIA Produção de saberes nos lugares de memória Produção de saberes nos lugares de memória Helena Maria Marques Araújo 1 Educar para cidadania Nos dias de hoje muito se tem discutido e comentado sobre educação Em reuniões de professores em escolas em universidades e em outros espaços sociais mídia jornais rodas de amigos etc são pensados e repensados caminhos para a educação brasileira Paralelamente impõese a importância de se educar para a cidadania Mas de que tipo de cidadania estamos falando E que tipo de educação desejamos para se chegar a essa cidadania Qual o papel da escola da universidade dos professores e dos espaços educativos nãoformais nessa educação para a cidadania A função primordial da educação é formar cidadãos capazes de gerir sua própria História função contrária aos interesses neoliberais Sendo assim acreditamos que a educação deva formar cidadãos autônomos capazes de atuar como leitores consumidores e agentes críticos no mundo Este texto pretende refletir sobre a produção de conhecimento nos espaços educativos nãoformais especialmente nos museus Pretendemos enfatizar a importância de se estreitar laços entre as práticas escolares e os lugares de preservação da memória Breve histórico sobre os museus Os museus podem ser considerados reflexos de concepções de ciência vigentes em determinados momentos históricos Marandino Museu e escola parceiros na Educação científica do cidadão In CANDAU org Reinventar a escola 2000 p 190 31 Os estudiosos dos museus afirmam que estes possuem um caráter educacional vinculado à sua própria origem logo desde o início se configuravam como espaços de pesquisa e ensino Nos séculos XV e XVI os Gabinetes de Curiosidades por exemplo não tinham preocupação científica ao expor os fragmentos da natureza Apresentavam um conhecimento enciclopédico Somente ao final do século XVIII o enciclopedismo acaba gerando uma preocupação educativa do museu A partir do século XIX os Gabinetes foram substituídos pelos museus científicos Estes refletiam a necessidade de ordenação do mundo natural e de organização das coleções O processo de mudança da relação do público com o museu foi bem devagar e até 1914 os museus não foram espaços democráticos ou em processo de democratização Somente no século XX se proliferaram museus que queriam divulgar as coleções com base em propósitos mais populares aumentando assim a popularização do saber dos museus especialmente na França Cabe lembrar que isto não atinge de forma uniforme todos os tipos de museu sem dúvida os museus de ciência e tecnologia tiveram um papel preponderante no estreitamento das relações museuescola Nas últimas décadas um dos alicerces da nova museologia é a questão educacional Os anos 80 serão marcantes na história dos museus de ciência do Brasil devido à preocupação e busca por uma função educativa Por exemplo poderíamos citar nesta linha o Museu do Instituto Butantã em São Paulo dentre outros Também nos anos 80 proliferaram os chamados museus vivos ou interativos Atualmente eles sofrem críticas no Brasil e no mundo inteiro Com certeza os museus e Centros de Ciência ainda têm muito a ensinar aos museus de História Porém sabemos que ao longo dos séculos e de forma lenta os museus de uma forma geral foram alcançando um maior público e se democratizando no acesso 32 Memória museu e escola Hoje a função da memória é o conhecimento do passado que se organiza Ordena o tempo localiza cronologicamente Na aurora da civilização grega ela era vidência e êxtase Bosi Memória e sociedade 1979 p 89 Como nos afirma no trecho acima Ecléa Bosi a função da memória hoje é o conhecimento do passado Porém conceituar memória é crucial complexo e nos levaria a um trabalho sem fim É importante então minimamente entendermos que um dos meios de se chegar aos problemas do tempo e da história é através do estudo da memória social E são os espaços ditos de memória onde se pretende preservar o passado para auxiliar a entender e participar do presente que nós iremos abordar neste texto Como já afirmamos na nossa proposta pedagógica na perspectiva dos Estudos Culturais segundo Tomaz Tadeu da Silva 1999 a cultura é pedagógica e a pedagogia é cultural Tal como a educação as outras instâncias culturais também são pedagógicas também têm uma pedagogia também ensinam alguma coisa Tanto a educação quanto a cultura em geral estão envolvidas em processos de transformação da identidade e da subjetividade SILVA 1999 p139 A escola é o espaço formal da construçãotransmissão do conhecimento existindo pois outros espaços de saber que também educam espaços nãoformais de educação que são os museus arquivos programas de televisão eou rádio educativos ou apenas de lazer filmes peças de teatro músicas espaços de exposições etc Todos esses lugares como os museus arquivos etc possuem cultura própria ou seja apresentam determinadas especificidades O museu é um espaço social particularmente diferente da escola Segundo Marandino 2000 são espaços marginais de educação daí esta autora nos afirmar a necessidade de se construir uma pedagogia museográfica ou seja uma pedagogia dos museus Estes são espaços fundamentais de educação nãoformal Cada vez mais aumentam as pesquisas que procuram entender os museus como espaços educativos Atualmente o público é o elemento central para a elaboração das exposições e programas culturais e educacionais oferecidos nos museus 33 Nesses espaços educativos nãoformais percebemos que os temas são oferecidos aos alunos de forma interdisciplinar podendo ampliar o universo cultural dos visitantes Nos últimos anos alguns pesquisadores estão se dedicando ao estudo das possibilidades e caminhos educacionais nos museus de ciência Tais estudos estão se estendendo aos museus de história antropologia e ciências afins Em todos eles percebemos a necessidade de se construir eou aprimorar uma pedagogia museográfica pautada e adaptada em conceitos de transposição didática ou de recontextualização Segundo Marandino alguns autores têm procurado diferenciar escolas e museus frisando as particularidades de cada um desses espaços educativos Essa autora apresenta um quadrosíntese 2000 p 202 baseado em algumas diferenças propostas por Allard et alii 1996 Fizemos uma nova diagramação para apresentar tal quadro Para entendêlo relacioneo quanto ao objeto na escola deve instruir e educar já nos museus deve recolher conservar expor e estudar cliente na escola ele é cativo e estável por outro lado no museu é livre e passageiro atividade fundada no livro e na palavra na escola já no museu fundada no objeto programa na escola é imposto pode fazer diferentes interpretações da lei mas deve ser fiel a ela no museu as exposições são próprias ou itinerantes e suas atividades pedagógicas dependem de sua coleção tempo na escola de um ano no museu de 1 a 2 horas Urge que cada vez mais a escola use esses espaços educativos alternativos através das visitas pedagógicas e das ações de parcerias É preciso que inovemos em nossas aulas que utilizemos outros espaços além daqueles da escola A aula reprodutiva reduz o aluno não permite a formação de sua autonomia já que apresenta modelos 34 prontos repetitivos e descolados de sua vivência real Aprender é construir e reconstruir o conhecimento elaborando e exercendo a autonomia de sujeito histórico Crianças e jovens devem ser partícipes ativos de sua sociedade gerando a transformação social e política da mesma Logo precisamos reinventar a escola comprometida com uma cidadania participativa e democrática ampliando e vencendo os seus próprios muros Como já vimos a escola e o museu têm diferentes propostas e são diferentes espaços educacionais A escola é o espaço privilegiado de aquisição do saber hegemônico É o lugar central como espaço de educação Já no espaço do museu se produz um saber próprio o saber museal Logo a relação dos sujeitos com a produção e aquisição do saber no museu também é diferente Daí a necessidade de serem criados modelos pedagógicos próprios Ainda segundo Marandino no Brasil existem diversos programas educacionais proporcionados pelos museus de ciência em parceria com as escolas e poderíamos agrupálos em Programas de atendimentos a visitas escolares por exemplo no Museu de Astronomia e Ciências Afins MASTCNPq Rio de Janeiro no Museu da Vida da FIOCRUZ Rio de Janeiro e na Estação Ciência da USP São Paulo Programas de Formação de Professores no Espaço Ciência de Olinda Pernambuco no Museu de Ciência e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul dentre outros Programas de Produção de Material para Empréstimo nos Museus de Zoologia de Anatomia Veterinária e de Oceanografia da USP etc Antes de finalizar não podemos deixar de abordar rapidamente já que teremos um outro texto que tratará especificamente desse tema a formação de professores Fazse necessário desvelar o horizonte universitário e pedagógico para a utilização dos espaços educativos alternativos Assim sendo entendemos ser necessário uma atenção especial à formação inicial dos professores 35 Devese aproveitar o preconizado pelas novas Diretrizes Curriculares para Formação de Professores particularmente a ampliação da carga horária das práticas de ensino e estágio para estabelecer a diversificação dos campos de estágio curricular incluindo os campos educativos não formais Conclusão Segundo Marandino 2000 não se trata de opor o museu à escola mas de definir as especificidades relacionadas ao lugar ao tempo e aos objetos no espaço do museu o que é essencial e que deve ser incluído na formação de educadores numa didática de museu Nesse sentido penso que poderíamos com as suas devidas proporções e particularidades ampliar esse entendimento não só para os museus como para outros espaços educativos nãoformais em geral como o de exposições arquivos públicos centros culturais etc Quando os professores procuram os museus querem e desejam encontrar um lugar alternativo à aprendizagem além de se depararem com temas apresentados de forma interdisciplinar Isto é fundamental para que possamos pensar que precisamos ampliar a parceria dos museus com as universidades secretarias municipais e estaduais para a realização de cursos de formação de professores em todos os níveis Além disso é muito importante a implantação de pesquisas nos museus e investigações sobre a relação museusespaços culturais e escola Esses estudos darão subsídios maiores aos programas educativos e culturais desenvolvidos nessas instituições para que se estabeleça uma parceria museuescola Para que isto aconteça há que se admitir e estudar previamente a existência de uma cultura escolar e de uma cultura museal Marandino afirma que se encontra em construção uma pedagogia museal que respeite as particularidades do museu e também considere as reflexões teóricas e práticas que se acumulam há muitos anos na escola Com certeza os museus de ciência e Centros de Ciência que estão com esse tipo de trabalho bem mais encaminhado terão muito a ensinar aos museus de História no plano da dimensão educacional 36 BIBLIOGRAFIA ALLARD M et alii La Visite au Musé In Réseau Canadá déc 1995jan 1996 BITTENCOURT Circe org O saber histórico na sala de aula São Paulo Contexto 1997 BOSI Ecléa Memória e Sociedade lembranças de velhos São Paulo T A Queiróz 1979 CANDAU Vera Maria Pluralismo cultural cotidiano escolar e formação de professores In CANDAU Vera Maria org Magistério construção cotidiana Petrópolis RJ Vozes 1997 org Reinventar a escola 2ª ed Petrópolis Vozes 2000 org Sociedade educação e culturas questões e propostas Petrópolis RJ Vozes 2002 DEMO Pedro Ironias da Educação Mudança e contos sobre mudança Rio de Janeiro DPA ed 2000 LE GOFF Jacques Calendário In Enciclopédia Einaundi Memória História v 1 1990 MARANDINO Martha Museu e escola parceiros na Educação científica do cidadão In CANDAU Vera Maria org Reinventar a escola Petrópolis Vozes 2000 SILVA Tomaz Tadeu da Documentos de identidade uma introdução às teorias do currículo Belo Horizonte Autêntica 1999 Nota 1 Mestre em Educação PUCRio Professora Assistente de História do CAPUERJ e de Prática de Ensino de História do Departamento de História da UERJ Professora de História da rede particular de ensino Consultora dessa série 37 PROGRAMA 4 PROGRAMA 4 ESPAÇOS PÚBLICOS DE MEMÓRIA Sons de tambores na nossa memória o ensino de história africana e afrobrasileira Mônica Lima 1 À volta da fogueira os mais velhos disseram vão então caçar nuvens que já fogem de nossos olhos Nós pedimos um guia armas munições e farnel para a longa jornada Mas eles sorriram terão de levar apenas estes sons de tambores na memória Caçadores de Nuvens do poeta angolano João Melo A aprovação da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que tornou obrigatório o ensino de História da África e da História dos africanos nas escolas de todo o país além de atender a uma antiga e justa reivindicação trouxe uma série de conseqüências para o ensino desta áreadisciplina em sua totalidade e para a formação dos profissionais que atuam no magistério em especial aqueles desta área específica a História As mudanças ocasionadas pela citada Lei ainda estão em processo E não influenciarão apenas os educadores Elas podem trazer resultados para o amplo grupo que pretendem atingir Crianças e adolescentes jovens e adultos entrarão em contato com o tema O alcance das transformações pode ser grande e muito positivo E elas poderão ser aceleradas ou adquirirem um ritmo mais lento conforme a capacidade de setores interessados intervirem no processo O impacto da medida merecerá certamente estudos aprofundados preferencialmente tendo como base dados vindos de diferentes partes do país com suas diversas experiências O ensinoaprendizagem destes conteúdos abre muitas perspectivas para o trabalho com espaços educativos nãoformais Museus centros culturais sítios históricos tombados ou não são lugares de memória e objetos de estudo e de sensibilização para a aprendizagem por excelência Os exemplos são os mais diversos se pensarmos em termos de Brasil igrejas casas de cultura terreiros espaços públicos de reunião e festejos também são locais para se aprender e ensinar a 38 história afrobrasileira E se pensarmos no nosso patrimônio imaterial este universo se amplia ainda mais histórias contos populares contos infantis de matriz africana eou afrobrasileira cantigas canções de festas religiosas populares assim como a Congada por exemplo podem tornarse um mote e o próprio objeto de estudo trazendo viva a africanidade da cultura brasileira Além destes de caráter mais geral estão presentes em diversas de nossas comunidades os mais velhos que podem relembrar e trazer para nossos alunos muito deste patrimônio em momentos de congraçamento e aprendizagem Só para lembrar não importa nossa origem familiar todos nós brasileiros carregamos áfricas dentro de nós Essas áfricas no plural pois são múltiplas são e foram permanentemente reinventadas aqui no Brasil mas revelam sua profunda origem a cada momento no vocabulário moleque quitanda cafuné cocada entre tantas palavras vale uma pesquisa nos costumes na expressão de fé na comida Todos estes aspectos convergem para a abertura de muitas possibilidades de trabalhar com o ensino de História em espaços nãoformais e em situações nãoformais Estes lugares e momentos certamente enriquecerão nossos estudos e a aprendizagem que com eles se viabiliza Estaremos lidando com uma matériaprima fascinante e delicada os diversos matizes da nossa formação cultural a memória dos nossos ancestrais e especialmente suas heranças tão longamente invisibilizadas Todo o cuidado será sempre pouco para não resvalarmos pelas trilhas aparentemente fáceis do maniqueísmo da simplificação e da folclorização Vamos pensar então na prevenção destes perigosos males que podem enfraquecer nossa percepção e nos distanciar dos nossos objetivos Alguns destes cuidados podem parecer óbvios mas muitas vezes o aparentemente óbvio merece ser revisto e revisitado para refletirmos sobre ele Vamos lá Os africanos e seus descendentes nascidos da diáspora no Novo Mundo as Américas incluindo o Brasil eram seres humanos dotados de personalidade desejos ímpetos valores Eram também 39 seres contraditórios dentro da sua humanidade Tinham seus interesses seu olhar sobre si mesmos e sobre os outros Tinham suas experiências de vida vinham muitas vezes de sociedades não igualitárias nem equânimes na África ou nasciam aqui em plena escravidão Não há como uniformizar atitudes condutas e posturas e idealizarmos um negro sempre ao lado da justiça e da solidariedade O que podemos e devemos ressaltar são os exemplos destes valores de humanidade presentes em muitos e injustamente negados e tornados invisíveis pela sociedade dominante durante tanto tempo Mas sugerimos veementemente evitar dividir o mundo em brancos maus e negros bons o que não ajuda a percebermos o caráter complexo dos grupos humanos A idéia é valorizar o positivo mas sem idealizar O nosso desconhecimento sobre a história e a cultura dos africanos e dos seus descendentes no Brasil e nas Américas pode fazer muitas vezes com que optemos por utilizar esquemas simplificados de explicação para um fenômeno tão multifacetado quanto a construção do racismo entre nós O racismo é um fenômeno que influiu e influi nas mentalidades num modo de agir e de ver o mundo E as diferentes sociedades interagiram com ele de diversas maneiras o Brasil não tem a mesma história de relações raciais que os Estados Unidos para usar um exemplo clássico No entanto durante muito tempo se defendeu a idéia de que aqui não havia discriminação e ainda que o que separava as pessoas era apenas sua condição social Hoje não só vemos pelos dados da demografia da pobreza brasileira que ela tem uma inequívoca marca de cor como sabemos que um olhar mais atento à História e à vida dos afrodescendentes no país revela a nossa convivência permanente com o preconceito e seus efeitos perversos Mas para podermos enxergar isso tivemos que ouvir relatos ver dados e entender como foi esta História Só assim pudemos desnaturalizar as desigualdades e ver a face hostil do nosso racismo envergonhado O que isto quer dizer Que devemos nos dedicar ao tema estudar ler nos informar sempre e mais Afinal o que está em jogo é bem mais que a nossa competência profissional é o nosso compromisso com um país mais justo e com um mundo melhor para todos e todas Nós nos acostumamos a ver as manifestações culturais de origem africana confinadas ao reduto do chamado folclore Este conceito de folclore que remete às tradições e práticas culturais populares não tem em si nenhum aspecto que o desqualifique mas o olhar que foi estabelecido sobre o que chamamos de manifestações folclóricas sim E sobretudo no mundo contemporâneo em que a modernidade está repleta de significados positivos o folclore e o popular se identificam não poucas 40 vezes com o atraso algo curioso exótico porém de menos valor Logo se não problematizarmos a inserção da cultura africana neste registro correremos o risco de não criar a identidade nem estimular o orgulho de a ela pertencermos Podemos desmistificar a idéia de folclore presente no senso comum e também mostrar o quão complexa e sofisticada é a nossa cultura negra brasileira Envolve saberes técnicas e toda uma elaboração mental para ser construída e se expressar E assim como nós está em permanente mudança e não é nada óbvia Além destes três cuidados básicos de caráter geral há outros dados sobre os quais devemos refletir e estar sempre atentos A África é um amplo continente em que vivem e viveram desde os princípios da humanidade afinal segundo pesquisas foi na região onde atualmente se localiza o Continente Africano que a humanidade surgiu grupos humanos diferentes com línguas costumes tradições crenças e maneiras de ser próprias construídas ao longo de sua História Referirse a o africano ou a africana como uma idéia no singular é um equívoco Podemos até utilizar estes termos quando tratarmos de processos históricos vividos por diversos nativos da África mas sempre sabendo que não se trata de um todo homogêneo e sim de uma idéia genérica que inclui alguns indivíduos em situações muito específicas Por exemplo podemos dizer o tráfico de escravos africanos ou seja estamos nos referindo à atividade econômica cujas mercadorias eram indivíduos nativos da África conhecido nos seus anos de declínio como o infame comércio Nestes tipos de caso vale dizer de um modo geral africanos ou negros africanos Mas devemos evitar atribuir a estas pessoas qualidades comuns como se fossem tipos característicos Um dos preconceitos mais comuns quanto aos africanos e afrodescendentes é com relação às suas práticas religiosas e um suposto caráter maligno contido nestas Este tipo de afirmação não resiste ao confronto com nenhum dado mais consistente de pesquisa sobre as religiões africanas e sobre a maioria das religiões afrobrasileiras Por exemplo não há a figura do diabo nas religiões da África tradicional nem de nenhum ser ou entidade que personifique todo o Mal As divindades africanas e suas derivadas no Brasil em geral se encolerizam se não forem cultuadas e consideradas e podem vingarse mas jamais agem para o mal de forma independente dos agentes humanos que a elas demandam O grande adversário das forças do Bem não existe não há este poder em nenhum ente do sagrado africano a não ser naquelas religiões influenciadas pelo 41 monoteísmo cristão ou pelo monoteísmo islâmico Não é certo considerar Elegbará Elegbá Exu como um demônio ou seu representante Exu é o mensageiro o embaixador dos pedidos humanos aos orixás e exige seu pagamento pelo serviço e se aborrece se não for atendido Mas não tem nenhuma maldade congênita como nenhuma outra divindade do panteão africano Como vimos toda a atenção é necessária e o exercício permanente que fazemos de ouvir pessoas e valorizar saberes não nos deve eximir de estarmos atentos às armadilhas do senso comum E no mais deixemonos encantar pela história africana e afrobrasileira porque como bem sabemos a aprendizagem se dá pela rota da sensibilidade e nada melhor que a via do afeto para rever preconceitos Esta é a perspectiva amorosa de trabalho que valorizamos que inclui respeito à diferença que convoca e se propõe à participação e que atua cooperativa e solidariamente BIBLIOGRAFIA BÂ Amadou Hampate Amkouell o menino fula São Paulo Palas AthenaCasa das Áfricas 2003 BELUCCI Beluce Introdução à História da África e da Cultura AfroBrasileira Rio de Janeiro CEAA UCAMCCBB 2003 CANEN Ana Relações raciais e currículo Reflexões a partir do multiculturalismo In Cadernos Pedagógicos PENESB n 3 Niterói Editora da UFF 2001 p6577 HERNANDEZ Leila Leite A África na sala de aula Visita à História Contemporânea São Paulo Selo Negro 2005 LIMA Mônica A África na sala de aula In Nossa História n 4 Rio de Janeiro Fundação Biblioteca Nacional 2004 p8487 LIMA Mônica Fazendo soar os tambores o ensino de História da África e dos africanos no Brasil In Cadernos Pedagógicos PENESB n 4 Niterói Editora da UFF 2004 p6577 MATTOS Hebe O ensino de História e a luta contra a discriminação racial no Brasil In ABREU Martha e SOHIET Rachel Ensino de História Conceitos temáticas e Metodologia Rio de Janeiro FAPERJCasa da Palavra 2003 p127136 OLIVA Anderson Ribeiro A História da África nos bancos escolares Representações e imprecisões da literatura didática In Estudos AfroAsiáticos Ano 25 nº 3 2003 p 421 461 OLIVER Roland A experiência africana Da PréHistória aos dias atuais Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1994 42 PANTOJA Selma org Entre Áfricas e Brasil Brasília Paralelo 15 2001 ROCHA Maria José orgs Rompendo silêncios História da África nos currículos da Educação Básica Brasília DP Comunicações 2004 PRIORE Mary del e VENÂNCIO Renato orgs Ancestrais uma introdução à história da África Atlântica Rio de Janeiro Campus 2004 SALLES Ricardo e SOARES Mariza Episódios de história afrobrasileira Rio de Janeiro DPAFASE 2005 SECAD Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade Ministério da Educação Educação antiracista caminhos abertos pela Lei Federal 1063903 Brasília MECSECAD 2005 Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas Brasília MECSECAD 2005 SILVA Alberto da Costa e A enxada e a lança A África antes dos portugueses Rio de Janeiro Nova Fronteira 1996 2ªed A manilha e o libambo A África e a escravidão de 1500 a 1700 Rio de Janeiro Nova FronteiraFundação Biblioteca Nacional 2002 SILVA Ana Célia da A discriminação do negro no livro didático Salvador Centro Editorial DidáticoCentro de Estudos AfroOrientais CEAO 1995 THORNTON J A África e os africanos na formação do mundo atlântico Rio de Janeiro CampusElsevier 2004 Nota 1 Professora de História do CAP UFRJ de História da África nos cursos de Pós Graduação do Programa de Estudos sobre o Negro na Sociedade Brasileira da Universidade Federal Fluminense PENESBUFF e do Centro de Estudos Afro Asiáticos da Universidade Cândido MendesUCAMRJ Doutoranda em História na Universidade Federal FluminenseUFF 43 PROGRAMA 5 PROGRAMA 5 ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃOFORMAIS E FORMAÇÃO DE ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃOFORMAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PROFESSORES Para além do formar professores dialogar com as experiências vividas Para além do formar professores dialogar com as experiências vividas Elison Antonio Paim 1 Acabaram almejando fazer do homem um produto objetivo negandolhe a historicidade e a capacidade de produção autônoma Manoel S Matos Pretendo aqui problematizar através de historicização como a racionalidade técnica instrumental formou e continua formando professores e professoras idealizados para um dado modelo pautado na hierarquização e na reprodução de conteúdos prontos deslocados das experiências vividas por eles e seus alunos Num segundo momento pautado em minha experiência como professor da Prática de Ensino de História e formação continuada de professores aponto algumas considerações procurando ir além da perspectiva de formação pensando que há um fazerse um construirse dos professores e professoras de forma relacional com outros sujeitos Parto do pressuposto de que nós acadêmicos precisamos deixar de olhar para ou sobre o professor e sim dialogarmos dentro das diferenças e especificidades de nossos saberes Com o avanço da modernidade capitalista sobretudo a partir da segunda metade do século XIX a ciência e a técnica passaram a agir em conjunto tentando controlar racionalizar medir comprovar avaliar as ações humanas Acabaram almejando fazer do homem um produto objetivo negandolhe a historicidade e a capacidade de produção autônoma gerando a racionalidade técnica instrumental A técnica associouse ao fazer e a ciência ao como fazer A técnica não se resume à invenção e ao uso de instrumentos caracterizase por uma intencionalidade ou seja há uma predeterminação na elaboração e usos da técnica justificável a partir da necessidade de aperfeiçoamento das ações humanas As artes de fazer as técnicas estão divididas em diferentes aspectos e princípios Por um lado estão voltadas para aqueles que explicam tudo pela técnica as chamadas ciências exatas e por outro para aqueles que relativizam determinados aspectos ou percebem que nem tudo é possível de ser 44 explicado tecnicamente que são as ciências humanas Num tempo em que já não era possível manterse assentada na idéia de um destino natural de uma leitura providencialista da realidade a educação como ciência foi se tornando cada vez mais dependente das condições sociais culturais políticas e econômicas vigentes Dessa forma ocorreu uma nítida divisão entre os produtores e os consumidores do conhecimento produzido Em muitos casos ocorreu a mecanização do pensamento a tentativa de negação do mundo das experiências vividas O conhecimento em geral e especialmente o conhecimento do professor foi sendo reduzido à técnica Houve grande preocupação com a objetividade do conhecimento produzido e assim foi separado do significado humano deixando de ser analisado questionado e negociado para se tornar administrado e dominado A racionalidade técnica instrumental impôs uma relação de subordinação dos níveis mais aplicados e próximos da prática aos níveis mais abstratos de produção do conhecimento ao mesmo tempo em que se acentuam as condições para o isolamento dos profissionais Esse modelo foi ressignificado no sistema educacional no qual a separação ocorre entre os técnicos administradores pesquisadores e os professores A racionalidade técnica instrumental promoveu uma autêntica divisão do trabalho GÓMEZ 1998 assentada numa espécie de naturalização de uma organização do trabalho docente tal como o modelo taylorista da organização do trabalho industrial CORREIA 1999 Ocorreu a subtração dos saberes dos atores e portanto dos poderes decorrentes do uso desses saberes os professores não passaram a ser bonecos de ventríloquo TARDIF 2002 aprofundando o fosso que separa os actores dos decisores NÓVOA 1992 Os professores ao ficarem submetidos às estruturas de racionalização de seu trabalho tendem a tornaremse cada vez mais dependentes do conhecimento especializado as técnicas de ensino A mesma hierarquização do conhecimento fezse presente entre os professores O professor universitário foi concebido como pesquisador construtor do conhecimento Quanto ao professor da escola fundamental e média definiuse que sua função é ensinar o conhecimento produzido na universidade Dessa forma os professores da escola desempenham um papel de consumidores não de criadores 45 Visando atender aos ditames da hierarquia da cientificidade e da racionalidade técnica instrumental os cursos de formação de professores foram sendo organizados para formar um professor ideal ou bom professor dentro de um modelo préconcebido com o desenvolvimento de determinadas competências para o exercício técnicoprofissional Esse tipo de formação pragmática simplificadora e prescritiva acaba sendo de abrangência restrita pois prepara o prático o tecnólogo isto é aquele que faz mas não conhece os fundamentos do fazer Então são definidas normas regras formas de fazer que serão transmitidas ao futuro professor A este futuro professor vai sendo ensinado o que deve fazer o que deve pensar o que deve evitar para adequar a situação educativa ao modelo proposto ESTEVE 1991 p118 Para atingir o perfil ideal de professor inicialmente deverá ocorrer a construção de um cabedal de conteúdos capaz de dotálos de recursos oriundos de um componente científicocultural para assegurar o conhecimento do conteúdo a ensinar e um componente psicopedagógico para aprender a atuar eficazmente na sala de aula MONTEIRO 2002 p 11 Além do componente científico cultural a formação inicial nestes moldes deverá dotar os futuros professores de um saberfazer prático que conduza ao desenvolvimento de esquemas de ação que adquiridos de forma racional e fundamentada permitam aos professores desenvolveremse e agirem em situações complexas de ensino Portanto a formação da racionalidade técnica está assentada no entendimento de que a escola é um campo de aplicação A formação utilizada para igualar as práticas e comportamentos para desvincular os aspectos profissionais dos políticos em que o professorprofissional da educação foi sendo transformado em um ser apolítico sem envolvimento sem participação sem poder de decisão e ainda sem instrumental científico apresentouse de maneira peculiar na formação dos professores de Estudos Sociais no Brasil durante as décadas de 1970 e 1980 Nesse período o professor foi submetido a um treinamento generalizante e superficial o que conduziria fatalmente a uma deformação e a um esvaziamento de seu instrumental científico de modo que não havia necessidade em fornecerlhe elementos que permitissem analisar e compreender a realidade que o cercava Ele também não precisava refletir e pensar deveria apenas aprender a transmitir FENELON 1994 O importante para ser um bom professor era dominar o como fazer e não o que fazer ou para que fazer As atividades do professor acabavam tornandose instrumentais de treinamento baseadas na 46 aquisição de competências e habilidades voltadas para a aplicação de teorias e técnicas Desde então os professores vinham sendo formados como um especialista que rigorosamente põe em prática as regras científicas eou pedagógicas PEREIRA 2002 ou ainda como tecnólogo do ensino VEIGA 2002 Formados para serem ensinantes para transmitir conteúdos programas áreas e disciplinas de ensino ARROYO 2000 Portanto o perfil de professor desejado para essa concepção era aquele que deveria dominar o saber disciplinar BOLÍVAR 2002 Ao realizar a adoção extremada dos princípios da racionalidade o sistema educacional foi possibilitando brechas para que os próprios professores ao resistirem a determinadas imposições desenvolvessem mecanismos que minaram as estruturas do modelo realizando assim atividades educativas em que alunos e professores tornamse produtores de conhecimento O que impede a racionalidade técnica de se concretizar plenamente é que as situações de ensino por um lado são incertas únicas variáveis complexas e portadoras de conflitos de valores na definição das metas e na seleção dos meios por outro lado não existe uma teoria científica única e objetiva que permita uma identificação unívoca de meios regras e técnicas a utilizar na prática uma vez identificado o problema e clarificadas as metas A perspectiva da racionalidade técnica é simplista ao conceber o professor apenas como um canal de transmissão de saberes produzidos por outros Isto porque nega a subjetividade e saberes dos professores e dos alunos como agentes no processo educativo e parece desconhecer a crise de paradigmas no campo do conhecimento científico nas últimas décadas A provisoriedade o questionamento das verdades o pluralismo metodológico os critérios de validação do conhecimento científico revelam que no mínimo é preciso perguntar que conhecimento estamos ensinando e queremos ensinar MONTEIRO 2002 p 13 Embora pareça distante e irreal nos dias de hoje essa perspectiva de formação de professores não está morta pelo contrário ressurge com muita força através de iniciativas governamentais como os PCN Diretrizes Curriculares e Propostas Curriculares que têm sido implantados em vários países inclusive no Brasil Essas mudanças vêm numa perspectiva de reforçar a separação entre os que pensam e os que fazem em que o professor idealizado é o que possui competências e habilidades Todas essas propostas vêm com algumas categorias comuns tais como habilidades competências 47 autonomia da escola e do professor voltarse para as realidades locais Dessa forma ao pensar a educação como uma questão de eficácia cabem determinadas funções ao professor como numa linha de produção industrial da qual deverá sair um bom produto isto é um aluno com determinados perfis Para se atingir este determinado produto o professor precisa possuir certas competências ao invés de saberes profissionais ocorrendo assim o deslocamento do olhar do trabalhador para o local de trabalho ficando este vulnerável à avaliação e controle de suas competências Se estas não se ajustam ao esperado facilmente poderá ser descartado Para a avaliação ou conferência do produto alunos foram criadas formas de controle de qualidade como as provas do ENEM para o ensino médio e o ENADE para os cursos de graduação Evidentemente concordandose com tudo que afirmam os autores sobre a perspectiva da racionalidade técnica estarseia pensando em robôs e não em pessoas Seria negada toda a capacidade humana que os professores têm de se colocarem em conflito e até mesmo em oposição à sua condição de técnicos repassadores de conteúdos Assim a própria racionalidade é criadora de possibilidades diferentes de formação de professores No diálogo direto com o filósofo Walter Benjamin e o historiador Eduard Thompson proponho pensarmos o Fazerse Professor ou Professora Tal tese se apresenta na perspectiva de se pensar a partir das ruínas articuladas intimamente às possibilidades de superação nunca de maneira determinista Assim a formação de professores descortinase como um imenso campo de possibilidades Ao trazer para o campo da formação de professores as categorias benjaminianas e thompsonianas experiência experiência vivida memória cultura narrativa escovar a história a contrapelo tempo saturado de agoras fazerse sujeito verificase que é possível no diálogo com as idéias já canonizadas da formação para a racionalidade técnica anteriormente apresentadas ir um pouco além e pensar outra formação Formação esta que firme a possibilidade do professor fazerse O Fazerse Professor é entendido como um processo ao longo de toda vida e não situado num dado momento ou lugar universidade Possibilitanos pensar a incompletude do ser humano e no seu eterno fazerse Neste sentido são fundamentais as contribuições expressas na obra A Formação da Classe Operária Inglesa de Thompson 1989 que nos mostra como essa classe 48 operária não nasceu pronta foi se construindo fazendose tornandose sujeito nascendo enquanto categoria histórica Na esteira desse pensamento de Thompson é que proponho pensarmos o fazerse profissional dos professores e professoras sem descartar outros aspectos da vida pois somos sujeitos inteiros não podemos separar o profissional do pessoal e viceversa Pensar o professor na totalidade do seu fazerse possibilita perceber as ambigüidades que vão se construindo nas relações estabelecidas nos diferentes espaços em que os professores relacionamse com outros sujeitos alunos pais diretores de escola Thompson ao trabalhar com o binômio dominaçãoresistência foi explicitando que ambas não aparecem como blocos monolíticos e opostos mas que dominação e resistência acontecem de forma entrecruzada ou seja são parte da mesma moeda e só acontecem quando interrelacionadas Benjamim por sua vez mostra que são ambivalentes e constituemse em cenários móveis a partir de um mesmo fio Então conhecendo as lutas as experiências do passado os sujeitos se instrumentalizam passam a ter esperança na mudança na utopia como algo que está se fazendo e não que virá de qualquer forma Deste modo as professoras e professores ao buscarem suas memórias e experiências vividas passam a ser sujeitos do processo sentemse produtores participantes Para ocorrer essa passagem do formar ao fazerse professora ou professor é necessário pensar o ato educacional como um campo de possibilidades com uma história que está aberta por se fazer e não como algo pronto fechado determinado no qual falam expõem e os alunos ouvem e repetem Assim ocorreriam diálogos entre diferentes saberes Para o diálogo entre diferentes saberes considero as condições socioeconômicas políticoculturais de cada grupo social onde a escola está inserida O trabalho pedagógico seria com as realidades e as especificidades locais regionais ou seja iniciarseia o trabalho com o que está mais próximo dos alunos e professores o que foi expresso por Paulo Freire em diversos livros seria o ponto de partida Portanto o local não estaria desvinculado do contexto global 49 Para se compreender o que efetivamente acontece na Escola fazse necessário perceber as marcas culturais da experiência do vivido do enraizamento para compreendermos o trabalho de um profissional a história mais ampla que precisa ser desvelada Marcas culturais nas quais os sujeitos atores e autores da cultura docente possam expressar o fazer e saber ser professor de forma a relacionálo com outros saberes e fazeres visualizando com mais nitidez as experiências vividas Ao trabalhar considerando os professores e professoras como sujeitos do processo de seu fazerse sou levado a dialogar com Benjamim sobre o que a modernidade capitalista fez com a experiência vivida Para ele até então Sabiase exatamente o significado da experiência ela sempre foi comunicada aos jovens De forma concisa com autoridade da velhice em provérbios de forma prolixa com a loquacidade em histórias muitas vezes com narrativas de países longínquos diante da lareira contadas a pais e netos Que foi feito de tudo isso Quem encontra ainda pessoas que saibam contar histórias como elas devem ser contadas Que moribundos dizem hoje palavras duráveis que possam ser transmitidas como um anel de geração a geração Quem é ajudado hoje por um objeto oportuno Quem tentará sequer lidar com a juventude invocando sua experiência BENJAMIN 1986 p 115 Em diálogo com Benjamin Jorge Larrosa também expõe uma série de aspectos referentes à experiência e de como a modernidade privou os sujeitos modernos de viverem experiências devido ao excesso de informações Para este autor as informações não deixam lugar para a experiência também o excesso de opinião seria impeditivo das experiências a falta de tempo é outro fator que impede os sujeitos de terem experiências e também de terem memória o excesso de trabalho é outro fator que impede a experiência Para o autor a experiência e o saber que dela deriva são o que nos permite apropriarnos de nossa própria vida As questões levantadas por Benjamim e Thompson são fundamentais para que possamos discutir a formação de professores junto com professores e suas experiências ou a falta delas levandose em consideração o que os professores pensam como vivem quais experiências têm para contar que metodologias desenvolvem que relações fazem entre teorias e práticas cotidianas enfim precisamos deixar de pensar a formação para ou sobre o professor para pensar na relação junto com os professores Não podemos esquecer que o fazerse dos professores e professoras se dá num processo relacional ou seja constróise na interação com os outros isto é com os professores universitários os colegas 50 de trabalho os alunos com os autores dos livros com a comunidade escolar ou ainda outros situados em diferentes espaços da produção de saberes na troca de experiências no diálogo constante é que ocorre a feitura profissional do professor Esse processo portanto dáse de maneira social e nunca individual e em sendo social não pode ser homogêneo Proponho pois pensar a experiência na sua dimensão de totalidade para além do científico e do racional pois como Benjamim defende é preciso escovar a história a contrapelo trazer para ela o insignificante o miúdo o relegado Tal encaminhamento remete a Sonia Kramer quando em diálogo com Benjamin aponta as contribuições do seu pensamento para falar em educação O professor teve sua experiência empobrecida seu conhecimento não é visto como verdade aurática e ele não é narrador por não ter uma experiência coletiva a contar Quem é ele Professor e alunos são cada vez mais impedidos de deixar rastros Tornaramse professor e alunos meras mercadorias Como operário na linha de montagem o jogador sempre começando o passante vagando na multidão professores e alunos estão também condenados ao eterno recomeço Há possibilidade do novo ou sua ação se reduz ao sempreigual Para se buscar a possibilidade de mudança precisase buscar me parece a relação que é construída por professores e alunos com o conhecimento produzido na prática social viva para que deixem de se deslocar como autômatos Como recuperar a capacidade de deixar rastros Ou seja de deixar marcas Ou ainda de ser autor Como ler em cada objeto a sua história 2002 p 58 Muitos têm pensado a formação de professores desconsiderando o que os professores pensam São discussões genéricas sobre um professor sem rosto sem nome sem identidade sem experiência falase do professor no masculino e genérico e não especificamente do João da Maria do Pedro Ao trabalhar com a idéia de rememoração Benjamin nos instiga a pensarmos como as memórias dos professores podem contribuir para o seu fazerse Possibilita que questionemos em que medida as memórias de formação escolar de suas vidas de sua construção como cidadãos como profissionais da educação podem contribuir para que a academia passe a conhecer e respeitar os professores e professoras E mais do que isto pensar em que medida os próprios professores e professoras podem se fortalecer respeitandose mais em contato vivo com suas próprias memórias e ensinando a academia a conhecêlos e respeitálos Neste sentido penso que para irmos além de dados modelos de formação de professores precisamos pensar este sujeito professor como um todo ou seja um sujeito com experiências vividas que precisam ser ouvidas e assim desenvolvermos outras práticas de formação que 51 possibilitem a ocupação de outros espaços para além da universidade e da escola como lugares de formação Cabem aqui alguns exemplos que podem contribuir para que os professores se façam ao desenvolver suas atividades educativas nos chamados espaços não formais de formação ao ocuparem museus casas de cultura centros de memória e tantos outros e desenvolverem outras práticas formativas que os possibilitem tornaremse sujeitos autores e atores de suas práticas deixando de ficar à mercê do conhecimento que outros produzem rompendo com a dicotomia produçãoreprodução ou produçãotransmissão Enquanto professor de Prática de Ensino de História venho incentivando que os professores em formação realizem seus estágios em diferentes espaços de produção cultural e guarda de memórias pois acredito que as relações entre os diferentes sujeitos considerandose as experiências vividas como ponto de partida possibilitarão a construção de novas práticas escolares Para encerrar e não concluir pontuo agora alguns exemplos de experiências que desenvolvi ao orientar os alunos do curso de História da UNOCHAPECÓ para que realizassem seus estágios em espaços não convencionais como numa empresa de transportes coletivos problematizando a história do transporte no município de ChapecóSC com grupos de mulheres agricultoras discutindo a historicidade do Movimento de Mulheres Agricultoras com grupo de mulheres da Pastoral da Criança enfocando o papel da mulher na política com grupos vinculados ao Movimento Sem Terra com uma comunidade de descendentes de italianos abordando imigração e colonização da Região Oeste Catarinense dentre muitos outros espaços não formais em que aconteceram aulas de História para além do espaço escolar Dessa forma a experiência foi indicando como os professores produzem conhecimento como são autores como se fazem nas relações que desenvolvem Assim entendo ser necessário pensarmos a formação considerando a possibilidade de diálogo com as experiências vividas e não mais termos modelos formatados do que deve ser um professor REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARROYO Miguel Ofício de Mestre imagens e autoimagens Petrópolis Vozes 2 a ed 2000 BENJAMIN Walter Experiência e Pobreza In Magia e Técnica Arte e Política 7ª ed São Paulo Brasiliense 1994 p 114119 Obras escolhidas vol 1 52 Sobre o conceito da História Obras escolhidas Magia e Técnica Arte e Política 7 a ed São Paulo Brasiliense 1994 O narrador In Magia e Técnica Arte e Política 7ª ed São Paulo Brasiliense 1994 p197221 Obras escolhidas vol 1 Infância em Berlim por volta de 1900In Rua de Mão única 5ª ed São Paulo Brasiliense 1995 p 73142 Obras escolhidas vol 2 BOLÍVAR Antonio org Profissão Professor o itinerário profissional e a construção da escola Bauru EDUSC 2002 CONTRERAS José A Autonomia de Professores São Paulo Cortez 2002 CORREIA José Alberto Os LugaresComuns na Formação de Professores Porto Portugal Edições ASA 1999 ESTEVE José Manuel Mudanças Sociais e Função Docente In NÓVOA Antonio org Profissão Professor Porto Portugal Porto 1991 p 93124 FENELON Déa Ribeiro A Questão de Estudos Sociais In ZAMBONI Ernesta coord A Prática do Ensino de História São Paulo Cortez Cadernos Cedes nº 10 1984 p1122 GALZERANI Maria Carolina Bovério Memória Histórias e Re Invenção Educacional uma tessitura coletiva na escola pública In MENEZES Maria Cristina org Educação Memória História possibilidades leituras Campinas Mercado de Letras 2004 p287 330 GARCIA Carlos Marcelo Formação de Professores para uma mudança Educativa Porto Portugal Porto Editor 1999 GIROUX Henry A Os Professores como Intelectuais rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem Porto Alegre ARTMED 1997 GÓMEZ Angel Pérez A Cultura Escolar na Sociedade Neoliberal Porto Alegre ARTMED 2001 O Pensamento Prático do Professor a formação do professor como profissional reflexivo In NÓVOA Antonio org Os Professores e a sua Formação LisboaPortugal Edições Don Quixote 1992 p 93114 KRAMER S Por entre as Pedras arma e sonho na escola São Paulo Ática 3 a ed 2002 KUENZER Acácia org Ensino Médio construindo uma proposta para os que vivem do trabalho São Paulo Cortez 2000 LARROSA Jorge Notas Sobre a Experiência e o Saber da Experiência In Revista Brasileira de Educação n 19 p 2028 1994 53 MATTOSO José A história regional e local In A escrita da história Lisboa Editorial Estampa 1988 p 169175 MONTEIRO Ana Maria Ferreira da Costa Ensino de História entre saberes e práticas 2002 Tese Doutorado em Educação Departamento de Educação PUC Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2002 NÓVOA Antonio org Vidas de Professores Porto Portugal Porto 1992 Formação de Professores e Trabalho Pedagógico Lisboa Portugal Educa 2002 PIMENTA Selma Garrido Apresentação à Edição Brasileira In CONTRERAS José A Autonomia de Professores São Paulo Cortez 2002 SACRISTÁN J Gimeno Consciência e Acção Sobre a Prática Como Libertação Profissional dos Professores In NÓVOA Antonio org Profissão Professor Porto Portugal Porto 1991 p 6192 SCHEIBE Leda Formação dos Profissionais da educação pós LDB vicissitudes e perspectivas In VEIGA Ilma Passos de Alencastro AMARAL Ana Lucia orgs Formação de Professores políticas e debates Campinas Papirus 2002 p 4763 TARDIF Maurice Saberes Docentes Formação Profissional Petrópolis Vozes 2002 TOSCHI Mirza Seabra Linguagens midiáticas em sala de aula e a formação de professores In ROSA Dalva E Gonçalves SOUZA Vanilton Camilo de Orgs Didática e Práticas de Ensino interfaces com diferentes saberes e lugares formativos Rio de Janeiro DPA 2002 p 265279 THOMPSON E P A Formação da Classe Operária Inglesa Rio de Janeiro Paz e Terra 1987 3 volumes A Miséria da Teoria ou um planetário de erros Rio de Janeiro Zahar 1981 Costumes em Comum estudos sobre a cultura popular tradicional São Paulo Companhia das Letras 1998 VEIGA Ilma Passos Alencastro Professor tecnólogo do ensino ou agente social In VEIGA Ilma Passos Alencastro AMARAL Ana Lucia orgs Formação de Professores políticas e debates Campinas Papirus 2002 p6593 Nota 1 Professor de Prática de Ensino de História e coordenador do Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina CEOM ambos da Universidade Comunitária Regional de Chapecó UNOCHAPECÓ Graduado em História pela Universidade Federal de Santa Maria Mestre em História pela PUC de São Paulo e Doutor em Educação pela UNICAMP 54 objetivos Meta da aula Apresentar aspectos políticos econômicos e culturais da Idade Média Esperamos que após o estudo do conteúdo desta aula você seja capaz de reconhecer as estruturas econômicas políticas e culturais da Idade Média compreender as transformações ocorridas ao longo dos dez séculos da Idade Média identificar algumas especificidades da civilização medieval Idade média o nascimento do Ocidente 5 A U L A História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 60 C E D E R J C E D E R J 61 AULA 5 Idade Média Pare e pense o que vem à sua cabeça ao ler estas palavras Quais imagens atravessam a sua memória Castelos Catedrais Cavaleiros Reis e rainhas Pestes e doenças Fome e frio Monges e conventos Camponeses e místicos Creio que muitas destas imagens são convidadas pela sua memória quando você lê ou ouve as palavras Idade Média É bom que seja assim pois todas elas realmente fazem parte da História do Ocidente medieval E é por ela que nós vamos viajar nesta aula Antes de iniciarmos a viagem é bom que você saiba como esses dez séculos de história são comumente divididos pelos historiadores Alta Idade Média que se inicia com a queda do Império Romano e vai até o século VIII Idade Média Central vai do século IX ao XI Baixa Idade Média que se estende do século XII ao XV Há outras periodizações Alguns historiadores costumam dividir cada um dos períodos citados em outros levando em consideração aspectos específicos tais como economia religiosidade demografia política Para os nossos objetivos a divisão anterior é suficiente UM DIFÍCIL COMEÇO No ano 476 da nossa era o chefe germânico Odoacro tomou de assalto a capital do Império Romano destitui o jovem Rômulo Augusto e enviou a Constantinopla as insígnias imperiais Esta data marcou na cronologia histórica o fim do Império Romano do Ocidente e o nascimento da Idade Média A mesma data e o mesmo evento assinalaram o encerramento de uma fase da História e o início de outra a Idade Média nasceu dos escombros do Império Romano construiuse com os seus restos alimentouse de suas ruínas Durante muito tempo os homens da Idade Média e da Antigüidade romana viveram uma longa transição Já não eram romanos mas também ainda não eram medievais Não podemos pensar que uma data encerra um período histórico A queda do Império Romano já se desenhava no horizonte havia séculos O enfraquecimento das instituições políticas o recuo da justiça o empobrecimento geral a insubordinação de alguns setores do exército a ousadia dos BÁRBAROS o avanço do cristianismo e o esvaziamento das cidades são apenas alguns dos sintomas da decadência que se configurava de longa data diante dos olhos dos romanos E não podemos dizer que INTRODUÇÃO BÁRBAROS Os romanos consideravam bárbaros todos os povos que viviam fora de suas fronteiras e não falavam a sua língua o latim e não compartilhavam de seus princípios culturais e organizavamse social e politicamente de forma diferente Como toda civilização apresenta um forte componente de egocentricidade os bárbaros eram os outros e foram depreciados nos seus costumes O Império Romano foi ameaçado e depois invadido por várias nações que falavam línguas diferentes entre si mas os romanos chamaram a todos de bárbaros História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 60 C E D E R J C E D E R J 61 AULA 5 depois da queda em 476 o cenário de desamparo e caos tenha cedido espaço circunstâncias novas e tranqüilizadoras A Idade Média teve um começo difícil Uma era de medo e incertezas De guerras e doenças De ferro e fogo Odoacro o chefe bárbaro que invadiu a Cidade Eterna retirandolhe o título de capital do Império era apenas um dentre os chefes de inúmeras nações germânicas que tentavam fixar morada em alguma província do vasto e poderoso Império Romano E a maneira de conquistar uma parcela de terra no interior do Império era invadir Por isto este período ficou conhecido na História como invasão dos povos bárbaros Para ter uma fronteira forte e bem guarnecida era preciso conservar a economia estável pois a manutenção de um exército era cara Além disso a organização administrativa também deveria manterse em nível elevado uma vez que o deslocamento e o suporte das tropas exigiam muita logística Para evitar que as ordens fossem questionadas e as insatisfações dos soldados se manifestassem em forma de sublevação faziase necessária uma hierarquia rigorosa na qual a autoridade fosse exercida sem contestação Todavia essas condições apontadas como necessárias para a manutenção da inviolabilidade das fronteiras do Império não foram sustentadas No século V quando Odoacro conseguiu penetrar na Cidade Eterna o Império Romano já não podia ostentar a imagem de uma unidade inquebrantável Em seu vasto território diversas nações bárbaras haviam invadido e estabelecido domínio Algumas destas nações haviam inclusive sido convidadas a prestar serviços aos romanos ajudandoos na guerra contra outros povos que almejavam romper as fronteiras Viver no Império tornavase cada vez mais perigoso As instituições encarregadas de garantir a segurança dos cidadãos não eram mais capazes de cumprir suas funções Os magnatas autoridades romanas que possuíam terras nas províncias do Império tendiam a buscar abrigo no interior na medida em que as cidades eram os alvos preferidos dos invasores que pretendiam pilhar as riquezas acumuladas Na falta de instituições militares encarregadas de prover a segurança os grandes proprietários de terra que se interiorizavam trataram de formar os seus corpos militares o que deu início a um processo de privatização da segurança História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 62 C E D E R J C E D E R J 63 AULA 5 Além disso a vida no campo também não era fácil e segura Qualquer camponês estava sujeito a receber a visita indesejada e violenta de bárbaros e salteadores que se multiplicavam conforme a desordem crescia Muitos pequenos proprietários camponeses livres que não tinham meios para proteger as suas terras foram se colocando ao abrigo dos grandes senhores trocavam terras e liberdade pela segurança que as grandes propriedades podiam oferecer Dessa forma lentamente processouse uma mudança na condição da liberdade e da propriedade da terra Não adiantava ser livre e proprietário num ambiente extremamente hostil que a todo momento exigia novas e caras estratégias para garantir a vida Assim na falta de melhores opções a antiga liberdade foi sendo trocada por segurança o camponês livre migrava gradualmente para a condição de servo na qual dividia o seu tempo de trabalho entre as terras que cultivava para o próprio sustento e as terras que forneciam produtos ao senhor Mas não só os camponeses perdiam a liberdade Com o esvaziamento das cidades muitos profissionais deixavam seus antigos postos de trabalho uma vez que se viam ameaçados pela desordem e violência Tentando minimizar a sangria de profissionais que este movimento de fuga provocava foram formuladas leis rígidas de hereditariedade Por meio destas o filho do carpinteiro por exemplo deveria seguir a profissão paterna e assumir o seu posto de trabalho Note portanto que tais medidas ao mesmo tempo que tentavam manter a ordem e o funcionamento das cidades acabavam ferindo profundamente a liberdade Porém atenção o servo não era escravo Qual a diferença O escravo pertencia a um senhor Ele era coisificado ou seja era tratado como um objeto destituído de vontade e deveria submeterse a toda e qualquer decisão do seu senhor Não havia negociação entre eles Em contrapartida o servo medieval dependia de um senhor a ele estava submetido mas não lhe pertencia Antes o servo pertencia à terra Imagine por exemplo que um proprietário queira vender doar ou deixar de herança uma parte de suas terras Ele não o pode fazer sem os servos pois estes estão ligados diretamente à terra Não são meros objetos não podem ser tratados como mercadorias e separados das terras que os contêm A Idade Média podese dizer iniciouse com um empobrecimento geral produziase menos na terra as técnicas agrícolas não História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 62 C E D E R J C E D E R J 63 AULA 5 experimentavam nenhuma inovação a densidade demográfi ca caía e o comércio declinava acentuadamente pois se a produção diminuía pouco sobrava para vender A subsistência fi gurava no topo das preocupações E as estradas que no Império Romano eram seguras e bem pavimentadas tornavamse cada vez mais perigosas e acidentadas Transportar mercadorias era um grande risco Os caminhos estavam cheios de salteadores que buscavam sobreviver ou enriquecer assaltando caravanas de comerciantes e viajantes Seria um exagero dizer que no início da Idade Média o comércio paralisouse Mas é certo dizer que ele sofreu um nítido declínio Era uma época ensimesmada isto é voltada para dentro de si mesma As difi culdades eram muitas e as soluções giravam em torno do recolhimento O senhorio nome dado às grandes propriedades de terra comandado por um senhor despontava como a solução mais adequada Os pobres estão despojados as viúvas gemem e os órfãos são pisados a pés a tal ponto que muitos incluindo gente de bom nascimento e que recebeu educação superior se refugiam junto dos inimigos Para não perecer à perseguição pública vão procurar entre os Bárbaros a humanidade dos Romanos pois não podem suportar mais entre os Romanos a desumanidade dos Bárbaros SALVIANO apud LE GOFF 2002 p 36 1 O texto que você acabou de ler de autoria de Salviano que viveu as agonias da decadência do Império Romano refl ete a insegurança dos homens diante da crescente barbarização do mundo Explique de que forma este texto sintetiza a transição da Antigüidade para a Idade Média Você levará em média vinte minutos para resolver esta atividade RESPOSTA COMENTADA O texto de Salviano sintetiza essa transição na medida em que refl ete o desmoronamento da ordem imperial e o estabelecimento do caos provocado pelas invasões e pelo recuo das instituições encarregadas de manter a ordem e a justiça ATIVIDADE História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 64 C E D E R J C E D E R J 65 AULA 5 DOS REINOS BÁRBAROS AO SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO Você aprendeu até agora que alguns povos bárbaros penetravam o Império Romano e nele estabeleciam morada Mas de que forma Estariam eles acampando como faziam antes das invasões Que tipo de organização política adotavam Os povos germânicos que compunham grande parte dos chamados bárbaros não conheciam a cidade a escrita nem padrões políticos fixos Eles se organizavam em tribos que eram guiadas por chefes guerreiros Tiravam seu sustento da criação de animais e do butim de guerra que era dividido entre os combatentes O valor máximo atribuído aos homens livres era o de guerreiro Trabalhar a terra pastorear o gado erguer muros eram atividades desconhecidas ou negligenciadas Quando as conheciam deixavamnas aos escravos Em oposição no Império Romano as cidades representavam o centro da vida cívica e embora a elite também deixasse aos escravos e subalternos as atividades produtivas a sociedade romana conhecia a escrita e organizava as suas tradições e leis em corpus jurídicos além de ter uma organização política determinada por lei Você deve estar se perguntando como estas distintas tradições conviveram depois das invasões Vejamos Os bárbaros não queriam destruir o Império Romano queriam sim desfrutar daquele estilo de vida Embora resistissem culturalmente a adotar sem restrições os traços da civilização romana eles absorveram muitos de seus princípios Dentre eles devemos destacar os da organização jurídica e burocrática E foi da mescla de suas tradições com as apreendidas dos romanos que surgiram os reinos germânicos Alguns foram mais duradouros e fortes outros apenas efêmeros e fracos mas eles têm em comum o fato de marcarem o início da Idade Média Apesar da difícil convivência germânicos e romanos criaram paulatinamente pontos de fusão Os contatos acirravamse por contingência espacial os germanos se estabeleceram em regiões já ocupadas por romanos Lembrese dos representantes da elite que pressionados pelas novas circunstâncias impostas pelas invasões retiraramse para as grandes propriedades rurais Esta mesma elite receberá a vizinhança daqueles que foram um dia considerados invasores História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 64 C E D E R J C E D E R J 65 AULA 5 e que agora passavam a figurar como senhores os novos soberanos Tal proximidade impôs novas formas de convívio o acirramento de trocas e o compartilharmento de interesses Podemos dizer que foi no âmbito das elites que as primeiras barreiras entre romanos e bárbaros começaram a ruir dando lugar a uma ponte que os aproximou E todos passaram a viver sob uma nova realidade política os reinos bárbaros Os visigodos na Espanha os francos na França os lombardos na Itália são exemplos de povos que passaram de invasores a construtores de reinos Eles deram início a novas experiências políticas na Europa que marcariam profundamente a política do continente Porém muitas dificuldades ainda caracterizariam essa época conturbada A tradição germânica tendia a considerar o reino como uma propriedade do monarca e não como uma res publica ou seja coisa pública pertencente a todos Para obter mais poder e conseguir a adesão de novos guerreiros esses monarcas tendiam a distribuir terras a maior fonte de riquezas à época perdendo parte do seu patrimônio ou seja para obter poder distribuíam a fonte do seu poder Além disso quando morriam dividiam o reino entre seus filhos como se se tratasse de uma propriedade privada Com o tempo vários conflitos decorreram desta prática E a descentralização do poder foi se tornando a característica básica da política dos séculos VII e VIII Havia ainda o problema religioso Os germanos eram pagãos na época das invasões No decorrer do século V muitos se converteram ao cristianismo porém adotaram um cristianismo considerado herético o arianismo que fora condenado pelo papado Como a Igreja também crescia em poder e influência foi se chocar com os germanos arianos O único povo que se converteu diretamente ao cristianismo romano foi o dos francos Aliados do papa no século VIII esse povo se tornou o mais poderoso dentre todos sendo considerado o braço armado da Igreja Deste casamento nasceu um novo império No Natal de 800 Carlos Magno foi coroado e sagrado imperador pelo papa Leão III Veja que dissemos coroado e sagrado Ele recebeu a coroa das mãos de um papa que com o seu poder espiritual fez dele um imperador sacro Este ritual repetiuse inúmeras vezes ao longo da Idade Média representando uma proximidade entre política e religião que nem sempre foi vivida de forma pacífica e equilibrada História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 66 C E D E R J C E D E R J 67 AULA 5 O novo imperador assumiu então funções guerreiras e adminis trativas de suma importância O seu ímpeto conquistador que já havia sido demonstrado em vários episódios transformou a Europa no Império Sacro Germânico Vários reinos caíram sob a sua espada e foram anexados aos domínios carolíngios e papais Ampliar posses era fundamental pois a força da economia vinha da terra E administrála bem era urgente e necessário à medida que os recursos essenciais do Império eram extraídos dos seus vastos domínios fundiários Em uma época na qual escrita e leitura eram habilidades raras Carlos Magno criou escolas importantes Educou religiosos e leigos e criou um corpo de funcionários capacitados a gerir os complexos negócios imperiais Os saberes desenvolvidos nestes centros de estudo ecoaram a ponto de esse momento histórico ser chamado por alguns historiadores de Renascimento carolíngio O imperador deixou instruções claras de como deveriam ser administrados os seus domínios esforçandose por controlar suas posses e os rendimentos de seus bens móveis e imóveis A terra serviu aos carolíngios como recurso para alavancar os seus poderes sendo distribuída em troca da fidelidade e serviços Porém conforme eram distribuídas escapavam do controle central criando uma realidade de tal forma fragmentária que com o passar do tempo não seria mais possível pensar em unidade imperial no campo prático o que ficou demonstrado no século X com a nova onda de invasões sofrida pela Europa A incapacidade de conter as ondas de agressão provocadas pela chegada dos magiares e dos vikings expôs a fragilidade deste Império Durante esse episódio a defesa foi na realidade efetuada pelos vários senhores locais O poder ganhava uma dimensão local e ultrapassava as funções imperiais Era o começo do Feudalismo Antes de tratarmos especificamente do Feudalismo é importante destacar mais uma característica do poder imperial Foi graças a Carlos Magno que o papado tornouse um estado rico poderoso e detentor de terras Além de desempenhar com esmero e vitalidade as funções de imperador Carlos tomou para si a função de proteger a cristandade sentindose no direito de intervir diretamente nas questões religiosas Tal fato criou podemos dizer uma confusão dos domínios temporal e espiritual Depois da sagração os carolíngios se consideravam verdadeiros sacerdotes encarregados também da saúde espiritual do povo cristão Nesse sentido passavam a encarar bispos e padres como História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 66 C E D E R J C E D E R J 67 AULA 5 se fossem seus condes e vassalos Ordenavam executar ordens e assinar documentos relativos às questões especifi camente religiosas A partir do século XI esse comportamento se tornou um problema e deu origem a sérios e violentos confl itos entre o papado e o Império 2 Você acabou de estudar um processo histórico que levou a Europa a experimentar duas formas de governo Primeiro os reinos germânicos depois um império que pretendeu unifi car vários reinos sob uma única coroa Explique de que forma o papado participou deste processo de unifi cação Você empregará em média trinta minutos para realizar esta tarefa COMENTÁRIO Para desenvolver bem esta atividade você precisa destacar o caráter sacro que o papado imprime aos governantes carolíngios além de ressaltar que a contrapartida deste investimento sacro vem em forma de domínio territorial para o papado ATIVIDADE O FEUDALISMO Você já ouvir falar em Feudalismo Agora você vai compreender como a Idade Média construiu esta complexa experiência política social econômica jurídica e religiosa Parece um exagero apontar tantos setores da vida social como marcados pelo feudalismo mas você perceberá que ele esteve presente em vários aspectos da vida dos medievais Vou começar com uma afirmação e tentarei explicála nas próximas linhas Houve relações feudais durante toda a Idade Média mas não houve feudalismo em toda a Idade Média Por quê Bem relação feudal pressupõe a presença do feudo intermediando um contato um acordo enfi m uma relação E feudalismo indica um sistema sociopolítico regulado pelas relações feudais E o que é o feudo É algo que se empenha para selar uma relação Pode ser História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 68 C E D E R J C E D E R J 69 AULA 5 uma porção de terra mas não só Pode ser também uma ponte uma quantidade de dinheiro um cargo Por exemplo um determinado senhor tem dentro dos seus domínios uma ponte que cobre um rio Ela está numa rota de comércio importante O senhor pode dar a um vassalo a ponte como feudo possibilitando que ele ganhe dinheiro ao cobrar pedágio pela passagem da mesma Em troca o vassalo deve ao senhor obediência conselhos e apoio na guerra Está instaurada uma relação feudal que sempre supõe um senhor e um vassalo Um doa algo que possibilita ao outro sobreviver e servilo Essas relações foram comuns na Idade Média mas elas por si não fundam um sistema sociopolítico Lembra do início da aula quando estudamos a ruralização da sociedade depois das invasões bárbaras Muitos camponeses livres se colocaram sob os cuidados de grandes senhores Trocaram a liberdade e suas terras pela proteção que só os grandes proprietários poderiam oferecer Em troca além das terras eles davam parte da sua produção Esta é uma relação de tipo feudal embora não haja feudalismo Agora preste atenção no Império carolíngio as relações feudo vassálicas ocorriam freqüentemente mas não podemos afirmar que se tratasse de regime feudal ou feudalismo pois este se caracteriza pela fragmentação do poder o que não ocorre em regime imperial Antes de prosseguir é importante que você conheça um pouco da representação que os homens na Idade Média faziam do mundo social em que viviam Para eles a sociedade estava dividida em três ordens o gênero humano estava desde a sua origem dividido em três as gentes da oração os cultivadores e as gentes da guerra ALDABERON DE LEON apud GEOGES DUBY As três ordens ou o imaginário do feudalismo p 25 Para os pensadores medievais e talvez para a grande maioria dos que viveram este longo período da história os homens estavam divididos em três funções Uns tinham de guerrear e proteger os que trabalhavam e os que rezavam Outros tinham de rezar pelos que trabalhavam e por aqueles que lutavam Muitos ainda deveriam trabalhar para alimentar os que lutavam e os que rezavam Esse era o mundo perfeito equilibrado Esta representação deixa claro que os agentes sociais entendiamse como partes de um conjunto harmônico sustentado pelos laços de dependência laços estes que são realizados nas relações feudovassálicas História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 68 C E D E R J C E D E R J 69 AULA 5 Percebeu a diferença O Feudalismo ocorre quando além das relações acima explicadas o poder encontrase descentralizado e distribuído nessas mesmas relações Assim no Feudalismo um senhor além de possuir terras era também detentor do direito de administrar a justiça e de executar leis Ele passa a representar o poder supremo Podia haver um rei mas o senhor governava na sua propriedade assumindo poderes normalmente atribuídos ao Estado FEUDALISMO No sentido exato do termo vínculos feudovassálicos Conjunto de instituições que criam obrigações de obediência e de serviço por parte de um homem livre dito vassalo e obrigações de proteção e manutenção por parte do senhor para com o seu vassalo Em troca da sua fi delidade o vassalo recebia do seu senhor a posse hereditária de um feudo LE GOFF 2002 p 296 v 2 3 Leia atentamente a defi nição oferecida pelo historiador Jacques Le Goff e escreva que aspecto ele deixou de abordar para uma precisa e completa defi nição de Feudalismo Você levará em torno de trinta minutos para realizar esta atividade RESPOSTA COMENTADA Basta acrescentar o aspecto político Como você aprendeu o Feudalismo não é só a relação estabelecida entre homens livres Ele é um regime político que outorga ao senhor poderes normalmente atribuídos ao Estado ATIVIDADE História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 70 C E D E R J C E D E R J 71 AULA 5 O CÉU ESTRELADO DA NOITE MEDIEVAL Você já viu uma catedral gótica Observe a imagem a seguir Tratase de uma construção enorme muito alta bem iluminada por um complexo jogo de luz que consiste em filtrar o sol por múltiplos pedaços de vidros coloridos que formam imagens sacras A catedral ergueuse no horizonte medieval como símbolo de crescimento vigor e fé Elas começaram a ser construídas no século XI E é a partir desta data que vamos encontrar uma Idade Média efervescente Uma ampla gama de fatores interagiram na transformação da paisagem medieval A construção de novos e potentes edifícios foi apenas um dos sinais exteriores do desenvolvimento experimentado pela cristandade A fé também experimentou novos caminhos e novos rigores A universidade esta invenção medieval que perdura até os dias atuais surgiu nesse novo cenário que teve a cidade como palco de espetaculares transformações As cruzadas os místicos o desenvolvimento da agricultura o crescimento demográfico o aquecimento comercial foram fatos correlatos às catedrais Todos são filhos de uma mesma época e do mesmo vigor E tudo começa com a terra Você aprendeu que a terra foi a fonte mais importante de riqueza e de poder da Idade Média E aprendeu História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 70 C E D E R J C E D E R J 71 AULA 5 também que a baixa produtividade agrícola estava ligada à estagnação das técnicas Podemos acrescentar às questões técnicas que incluíam a exploração do solo e os instrumentos de cultivo um traço climático a Europa Ocidental tornouse mais seca e temperada entre os séculos VIII e XIII criando condições para um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis Quem veio primeiro o ovo ou a galinha Esta pergunta tantas vezes formulada no nosso cotidiano também faz parte do repertório de dúvidas dos historiadores Alguns fenômenos históricos não revelam facilmente a seqüência da sua formação E é assim com o crescimento demográfico na Idade Média O que ocorreu primeiro aumento populacional ou produção alimentar Não se sabe ao certo mas o fato é que os dois aumentos estão intimamente ligados E sabese também que a produção alimentar aumentou a qualidade de vida de todos criando uma população mais forte mais disposta a trabalhar e mais resistente às doenças E quanto mais forte essa população se tornava mais filhos ela era capaz de manter vivos e com saúde Então a população crescia e com ela a necessidade de novas terras para produzir alimentos As novas terras conquistadas eram terrenos abandonados incultos muitas vezes alagados e cobertos por densas matas que permaneceram durante séculos sem serventia pois não havia braços para trabalhálos nem bocas que necessitassem urgentemente de seus frutos À proporção que o povo crescia e se fortalecia faziase necessário a conquista de novos espaços para a produção Os trabalhadores entravam em ação e transformavam os espaços incultos em terrenos produtivos Para auxiliálos na árdua tarefa de abrir novos campos entrou em cena a utilização do cavalo e uma nova maneira de explorar as forças animais ao invés de atrelar o arado ao pescoço dos animais de tiro que explorava pouco as suas forças além de sufocálos passouse a atrelá los pelo peito o que aumentando a capacidade de carga e a resistência Assim cada vez mais os animais de tiro foram utilizados de forma adequada e contribuiram imensamente para o aumento da produção Somouse ainda a esse considerável avanço a nova maneira de dividir o campo Geralmente os terrenos devotados ao plantio eram divididos em dois Em uma metade plantavase enquanto a outra descansava A partir do século XI vulgarizouse a divisão dos terrenos em três partes prática que veio a se chamar agricultura trienal Uma parte História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 72 C E D E R J C E D E R J 73 AULA 5 descansava e duas produziam Essa nova abordagem do solo provocou um aumento em média de um terço na produção E tem mais Além da nova tração animal e da divisão do solo os camponeses passaram a plantar leguminosas favas feijões nas partes dos terrenos que descansavam pois elas ajudavam na recuperação do solo A conseqüência deste ato foi fantástica pois houve nitidamente uma alteração na dieta dos medievais Eles passaram a ingerir mais ferro o que fortalece principalmente as mulheres que necessitam desse mineral mais do que os homens porque menstruam e amamentam Mulheres mais fortes e saudáveis crianças mais fortes e saudáveis Ou seja muito do crescimento demográfico deste período deveuse diretamente a uma baixa de mortalidade tanto infantil quanto feminina A paz também exerceu um importante papel neste quadro de desenvolvimento Desde o século X as invasões pararam de atormentar destruir e assustar as populações A Igreja fez a sua parte Estabeleceu regras para a guerra e para as disputas que não poderiam mais ocorrer todos os dias mas deveriam seguir um calendário A este disciplinamento deuse o nome de Paz de Deus Vale lembrar que os conflitos na Idade Média central eram encontros entre cavaleiros Em geral eles não envolviam grandes exércitos e sim alguns combatentes A guerra no feudalismo tornouse uma atividade de guerreiros especializados E o objetivo não era matar o inimigo era capturálo e cobrar resgate de seus vassalos menos mortes Com o cessar das invasões e um certo controle sobre os combates as estradas tornaramse um pouco mais seguras e os comerciantes ousaram levar cada vez mais longe as suas mercadorias E com o crescimento da produção nos campos houve excedentes a comercializar Dessa maneira o comércio viveu um recrudescimento notável a partir do século XI As mercadorias chegavam de longe Novos produtos eram oferecidos nas feiras locais As moedas circulavam bastante pois deviam suprir a necessidade monetária das operações comerciais Os bancos principalmente italianos criaram mecanismos de troca eficientes estabelecendo o câmbio Os senhores que antigamente queriam receber os pagamentos em víveres porque não tinham onde gastar moedas começaram a dar preferência ao dinheiro Alguns camponeses livres e servos passaram a pagar tributos aos senhores em moeda liberando suas forças para novos empreendimentos História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 72 C E D E R J C E D E R J 73 AULA 5 As cidades São nelas que se ergueram as catedrais além das casas de pedra dos burgueses Elas cresceram rapidamente Eram entroncamentos de vastas redes comerciais Nelas reviveram as profissões que agora se organizavam em corporações e criavam novas regras de convívio escapando dos grilhões feudais Nas cidades respirase a liberdade dizia um ditado alemão O servo que nela permanecesse por um tempo e não fosse reclamado por seu senhor tornavase livre cidadão As cidades compraram dos senhores laicos e eclesiásticos o direito de autogestão E nelas nasceram as universidades que começaram como escolas paroquiais e ganharam novas dimensão e atribuição O intelectual é uma criação medieval uma criação da cidade especificamente Por mais que as universidades estivessem sob a tutela de um príncipe ou da Igreja elas reclamavam por liberdade de pensamento e de criação O título do docente era por ela e somente por ela expedido E para conquistálo era necessário como hoje submeterse às suas regras e bancas avaliadoras Outro fenômeno relacionado a essa etapa de desenvolvimento foram as cruzadas Elas representaram um movimento poderoso de fé e de necessidade de terra O crescimento demográfico não atingiu somente os camponeses Você já viu que muitas terras foram conquistadas dos pântanos e das florestas Mas a nobreza necessitava de mais Ela precisava de novas propriedades para seus filhos Considere o seguinte se um senhor feudal tivesse muitos filhos homens e dividisse as suas propriedades entre todos com o passar do tempo elas ficariam pequenas tornandose insuficientes para gerar riquezas E isso seria um problema não é verdade Como resolvêlo A solução foi estabelecer que as propriedades seriam herdadas pelos primogênitos E os outros Uns poderiam ingressar na carreira eclesiástica ou na magistratura que ainda era tímida nesta época Muitos porém foram criados no ambiente da cavalaria Queriam tornarse senhores São estes principalmente que se lançam nas cruzadas em busca de perdão e de terra A CRISE OUTONO DA IDADE MÉDIA OU PRIMAVERA DOS NOVOS TEMPOS Os séculos XIV e XV foram marcados por guerras fomes pestes insurreições desvalorizações monetárias e queda na produção A Idade Média caminhava para seu fim ostentando um quadro de penúria e História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 74 C E D E R J C E D E R J 75 AULA 5 degradação Deste quadro emergirá mais tarde a Idade Moderna inaugurada pelo brilho do Renascimento Vejamos o que ocorreu No período de expansão você aprendeu que a necessidade de terras cresceu e elas foram buscadas nos campos e nas florestas Grande parte das porções de terras conquistadas não eram muito férteis Depois de algumas colheitas elas começaram a produzir menos As florestas que foram derrubadas para dar lugar à plantação e também para gerar a energia que alimentou o crescimento recuaram em níveis alarmantes provocando desequilíbrios ecológicos Chuvas torrenciais e invernos prolongados afetavam as colheitas provocando a fome em várias regiões As populações estavam menos alimentadas e as guerras ceifavam a vida dos mais jovens e resistentes O comércio continuou a trilhar o caminho do lucro agitando as cidades e nutrindo de luxo aristocratas e burgueses mas já não encontrava a tranqüilidade de outrora Importantes casas bancárias florentinas vão à falência desestabilizando a economia européia Mas nada se comparou aos estragos provocados pela peste negra uma doença transmitida pela pulga do rato que devastou um terço da população européia Em poucos anos ela varreu do mapa milhares de indivíduos Não escolhia idade nem classe social A sua ferocidade deixou marcas profundas na sensibilidade medieval Segundo os cronistas da época ela causava tantas vítimas que os corpos empilhavamse nas portas das casas Os cemitérios não conseguiam abrigar tantos cadáveres os quais largados por toda parte deixavam um cheiro de podridão e morte no ar Não havia caixão para todos e tornouse comum colocar num mesmo féretro dois três corpos Os pais não tinham tempo de chorar seus filhos Todos tentavam escapar mas não sabiam para onde ir A peste é uma síntese da crise medieval Segundo as fontes e cronistas da época ela chegou à Europa em navios genoveses Mercadores da importante cidade de Gênova foram sitiados pelos tártaros num posto de comércio na Criméia mas resistiram ao cerco Como a peste abateu parte do exército tártaro antes da retirada os comandantes ordenaram que fossem lançados cadáveres contaminados por meio de enormes catapultas Os comerciantes voltaram para a sua cidade mas traziam consigo a contagiosa doença que encontrou uma população debilitada e ignorante em relação às suas formas de contágio Segundo alguns demógrafos o nível populacional da Europa só foi restabelecido no final do século XVI História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 74 C E D E R J C E D E R J 75 AULA 5 No campo religioso a situação também era bastante tensa A unidade cristã experimentava fortes golpes as heresias ganhavam corpo os poderes papais e imperiais entravam em confl ito pela supremacia e a população buscava saída para as suas angústias espirituais na heterodoxia Era a crise da cristandade e ao mesmo tempo o anúncio de uma nova era 4 Destaque dois aspectos da crise da Idade Média e compareos com o período de crescimento Você levará cerca de trinta minutos para realizar esta atividade RESPOSTA COMENTADA A sua resposta vai depender dos aspectos selecionados Você aprendeu por exemplo que no período de crise que antecede o fi m da Idade Média por causa da peste negra a população estava bastante diminuída Esta depressão demográfi ca signifi cou menos trabalhadores em atividade provocando fomes e esfriamento comercial No período de crescimento ocorreu exatamente o contrário a população crescia e com ela a produção Quanto mais se produzia mais o comércio se aquecia Este é um exemplo de como proceder para desenvolver a atividade ATIVIDADE CONCLUSÃO Você acabou de estudar alguns traços da civilização medieval Podese dizer que foi uma época marcada por avanços e recuos no campo da paz da produção das doenças e da política Uma época de muitos confl itos mas que teve a força de defi nir o que seria o Ocidente Hoje quando olhamos para o mapa da Europa deparamonos com vários países que estavam sendo gestados na Idade Média Quando pensamos no cristianismo e em sua enorme força podemos observar o seu crescimento e estabelecimento como religião soberana na Europa medieval História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 76 C E D E R J C E D E R J 77 AULA 5 As universidades nasceram de exigências e conflitos tipicamente medievais Importa aqui ressaltar que neste período chamado por muitos Idade das Trevas forjaram muitas das instituições que até hoje caracterizam a História do Ocidente ATIVIDADE FINAL Há hoje em vários setores da cultura uma vasta produção sobre o período medieval Nem sempre elas são fiés ao passado e nem sempre ajudam a melhor compreender esse período Mas reflete um dado essencial a percepção que se tem da Idade Média como matriz da civilização ocidental cristã Diante da crise atual dessa civilização cresce a necessidade de se voltar às origens de refazer o caminho de identificar os problemas Enfim de conhecer a Idade Média para conhecer melhor os séculos XXXXI FRANCO JÚNIOR 2001 p 155 Identifique na atualidade alguns objetos modas comportamentos que fazem referência à Idade Média e enumereos Depois escreva uma pequena redação explicando como as informações coletadas na sua pesquisa podem nos ajudar a compreender o mundo atual COMENTÁRIO Vai depender de suas escolhas Depois de coletar o material você levará em torno de trinta minutos para escrever a sua pequena redação História na Educação 2 Idade Média o nascimento do Ocidente 76 C E D E R J C E D E R J 77 AULA 5 O período compreendido entre o desmoronamento do Império Romano e o fi nal da Idade Média é um capítulo complexo da História do Ocidente Foi marcado pela oscilação entre centralização e descentralização do poder e pela variação no estatuto do trabalhador e sua relação com a terra O poder estava diretamente ligado à posse de terra os cavaleiros formavam uma elite especializada no mando e na guerra e a Igreja crescia auxiliada por imperadores Foi pontuada ainda por oscilações de fome e pela cruel decadência que se abateu depois de um período de prosperidade e exploração agressiva da Natureza R E S U M O Há muitos fi lmes produzidos sobre a Idade Média mas a maioria desviase de pontos importantes criando uma visão romanceada do período e dos fatos Vou indicar um chamado Excalibur que trata do círculo arturiano e dos cavaleiros da Távola Redonda É um belo fi lme além de ser bastante fi el às lendas medievais É uma produção inglesa de 1981 dirigida por John Boorman Há muitos fi lmes produzidos sobre a Idade Média mas a maioria desviase de pontos importantes criando uma visão romanceada do período e dos fatos Vou indicar um chamado dos cavaleiros da Távola Redonda É um belo fi lme além de ser bastante fi el às lendas medievais É uma produção inglesa de 1981 dirigida por John Boorman MOMENTO PIPOCA LEITURA RECOMENDADA Você deveria ler um livro chamado Guilherme o marechal O maior cavaleiro do mundo do historiador Georges Duby É uma obra clássica e de leitura muito agradável O autor conta a história de Guilherme um cavaleiro que vai obter muito sucesso e fama nos campos de batalha até se tornar um dos homens mais poderosos da Inglaterra À medida que o escritor conta a história da ascensão de Guilherme traça um quadro riquíssimo da cultura medieval envolvendo morte guerra e política O livro foi editado no Brasil pela Editora Graal SITE RECOMENDADO E recomendo também que você visite o site do professor Ricardo Costa da Universidade do Espírito Santo Lá você encontrará artigos sobre a Idade Média tradução de documentos de época e indicação de vários outros sites que tratam do período O endereço é wwwricardocostacom Divirtase AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD Disciplina Nota História na Educação 2 PEDLIC UERJ Coordenador José Roberto Idafẹ Tutora a Distância Vera Dias Alunao Matrícula Polo DISCENTE E TUTORA PRESENCIAL OBSERVE COM ATENÇÃO AS ORIENTAÇÕES ABAIXO Leia com cuidado e calma os enunciados abaixo Atenção responda de acordo com o que foi pedido Procure respeitar os espaços reservados para resposta Observe demais orientações de suaseu TP Este caderno de provas tem cinco 03 questões discursivas valendo ao todo 100 pontos Boa prova 1ª Questão Redija uma breve redação abordando I UMA diferenciação entre Cultura e Civilização com base nos materiais da nossa sala e II UM aspecto relacionado a estes conceitos que atualmente seja mobilizador e que possa introduzir o debate sobre Desigualdades em nossa sociedade entre discentes das séries iniciais do EF 25 p I Diferenciação entre Cultura e Civilização Os conceitos de cultura e civilização são fundamentais nas Ciências Humanas e apresentam distinções importantes Cultura referese ao conjunto de valores crenças costumes e manifestações materiais e imateriais que um grupo social desenvolve ao longo do tempo Ela é um elemento dinâmico passível de mudanças e adaptações e está presente em todas as sociedades independentemente do nível de organização política ou tecnológica Por outro lado a civilização é um estágio específico da organização social caracterizado pela complexidade política econômica e tecnológica O surgimento da escrita das cidades e do Estado são marcos fundamentais da civilização sendo que as primeiras civilizações surgiram entre 4000 aC e 3000 aC com os sumérios e egípcios Além disso o conceito de civilização foi historicamente usado para justificar a dominação de determinados grupos sobre outros sobretudo a partir do século XIX quando a cultura europeia foi imposta como modelo superior II Relação com a desigualdade social A desigualdade social pode ser analisada à luz dos conceitos de cultura e civilização A escrita por exemplo era um signo de poder nas civilizações antigas pois seu domínio era restrito a elites políticas e religiosas o que dificultava o acesso da população a esse conhecimento Esse fenômeno refletese no mundo contemporâneo onde a educação e o acesso à informação são fatores determinantes para a ascensão social No ensino de História essa discussão pode ser mobilizada ao abordar a permanência das desigualdades desde a Antiguidade até os dias atuais estimulando os alunos a compreenderem como fatores históricos contribuem para a exclusão social e econômica AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD 2ª Questão Apresente duas propostas DISTINTAS de atividade para estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental observando o legado cultural dos I Gregos e II dos Romanos Suas propostas devem identificar os Conceitos a serem ensinados o Tempo total e o das etapas durações a Metodologias e Materiais a serem utilizados e os Objetivos da atividade Obs DISSERTE sobre TODOS estes aspectos acima os relacionando às suas propostas e procurando justificar as estratégias e seleções feitas Cuidado NÃO responda se utilizando de tópicos extremamente sintéticos eou superficiais ATIVIDADE I 25 p Atividade I O Legado Cultural dos Gregos A Formação da Cidadania na Grécia Antiga Conceitos a serem ensinados O objetivo principal desta atividade é ensinar aos alunos como a cidadania foi desenvolvida na Grécia Antiga especialmente em Atenas e como os conceitos de democracia e participação política influenciaram a organização social no mundo ocidental Além disso a atividade permite discutir o conceito de exclusão social uma vez que apenas homens adultos e atenienses eram considerados cidadãos enquanto mulheres estrangeiros e escravos não tinham direitos políticos Tempo total e etapas da atividade A atividade será realizada em uma aula de 50 minutos organizada da seguinte forma 1 Introdução e contextualização histórica 15 min O professor começará a aula projetando imagens da Ágora ateniense e explicando o funcionamento da democracia na Grécia Antiga Será abordado como as leis eram debatidas e votadas na Eclésia a assembleia dos cidadãos 2 Encenação de um debate político na Ágora 25 min A turma será dividida em três grupos cidadãos homens adultos atenienses estrangeiros e mulheres Apenas os cidadãos poderão votar em leis fictícias criadas pelo professor como Aumentar os impostos para construir um novo templo ou Criar uma lei que permita aos estrangeiros participarem das decisões políticas Durante o debate os grupos que não podem votar poderão expressar sua insatisfação e argumentar 3 Discussão e comparação com a democracia atual 10 min Após a encenação o professor fará perguntas aos alunos como Todos puderam participar Quem foi excluído Como isso se compara com o sistema democrático atual Vocês acham que nosso sistema político ainda tem desigualdades Metodologia e materiais A metodologia será baseada na aprendizagem ativa permitindo que os alunos vivenciem os papéis sociais da Grécia Antiga Serão utilizados os seguintes materiais Imagens da Ágora de Atenas e exemplos de leis atenienses projetados no quadro Cartões identificando os papéis dos alunos cidadãos mulheres e estrangeiros Objetivos da atividade Entender o funcionamento da democracia ateniense Refletir sobre a cidadania e a participação política ao longo da História Comparar a exclusão política na Grécia Antiga com o mundo contemporâneo Desenvolver habilidades argumentativas e críticas Essa atividade aproxima os alunos do conceito de democracia de maneira prática e lúdica permitindo que eles compreendam tanto suas limitações quanto sua importância na História AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD ATIVIDADE II 25 p Atividade II O Legado Cultural dos Romanos O Direito Romano e a Sociedade Medieval Conceitos a serem ensinados O foco da atividade será o Direito Romano e sua influência na organização jurídica e social da Idade Média A transição das leis romanas para os sistemas feudais será explorada destacando os conceitos de propriedade servidão e hierarquia social Tempo total e etapas da atividade A atividade será realizada em duas aulas de 50 minutos 1ª Aula O Direito Romano e suas Influências 50 min 1 Exposição Teórica 20 min O professor apresentará a Lei das Doze Tábuas explicando sua importância para a organização romana e sua continuidade na Idade Média especialmente no feudalismo 2 Análise de Documentos 30 min Em grupos os alunos analisarão trechos simplificados da Lei das Doze Tábuas e contratos feudais comparando direitos e deveres dos cidadãos romanos e servos medievais 2ª Aula Simulação de um Tribunal Feudal 50 min 1 Preparação da Encenação 15 min Alunos assumirão papéis como juiz feudal senhor feudal servo acusado e advogados 2 Realização do Julgamento 30 min Baseados nas leis medievais os alunos simularão um julgamento em que um servo tenta contestar sua condição 3 Discussão e Reflexão 5 min O professor guiará um debate sobre justiça medieval x justiça atual e o papel das leis na manutenção das hierarquias sociais Metodologia e Materiais A metodologia será interativa com uso de textos históricos fichas de personagens e debates Objetivos da atividade Explicar a transição do Direito Romano para a Idade Média Desenvolver habilidades argumentativas e de interpretação histórica Compreender a relação entre leis poder e desigualdade social Essa abordagem permite que os alunos vivenciem o impacto das leis romanas na sociedade medieval de maneira prática e reflexiva AD120251 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA MODALIDADE EAD 3ª Questão A partir de aspectos e características históricas relacionados ao período medieval Comente exemplificando a partir dos materiais dispostos às aulas nº4 a seguinte afirmação Toda escravidão é um trabalho compulsório mas nem todo trabalho compulsório e uma escravidão 25 p A frase Toda escravidão é um trabalho compulsório mas nem todo trabalho compulsório é uma escravidão pode ser compreendida no contexto medieval a partir da distinção entre servidão e escravidão Na Idade Média a servidão substituiu progressivamente a escravidão como forma predominante de exploração do trabalho Diferentemente do escravo que era considerado propriedade do senhor e podia ser vendido ou trocado o servo era juridicamente vinculado à terra não podendo ser separado dela O servo devia parte de sua produção ao senhor feudal e estava obrigado a realizar determinadas tarefas mas em contrapartida tinha o direito de permanecer na terra e usufruir de parte da colheita Esse sistema conhecido como feudalismo surgiu como resposta à insegurança e instabilidade geradas pelo colapso do Império Romano Muitos camponeses livres optaram por tornarse servos em busca de proteção contra invasões e pilhagens Assim o trabalho compulsório era uma característica essencial do sistema feudal mas a condição do servo diferenciavase da escravidão por não envolver a posse direta sobre o indivíduo