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ALÉM DO BEM E DO MAL Dos preconceitos dos filósofos Nessa obra de 1886 Nietzsche questiona a dicotomia bemmal na qual se baseia toda a moral tradicional relacionandoa à dicotomia verdadeirofalso em que está baseada a tradição do conhecimento e caracterizando ambas como preconceitos dos filósofos Esses conceitos que são tratados como objetivos e derivados da razão universal nada mais são do que fruto dos sentimentos e instintos humanos resultados da história da cultura e da educação Cabe então libertar o homem desses preconceitos e dos valores tradicionais e fazêlo redescobrir os valores afirmativos da vida que permitem o desenvolvimento do que há de mais nobre em sua natureza e possibilitam que cada um seja capaz de superar a si mesmo em direção ao homem do futuro 1 A vontade de verdade que ainda nos fará correr não poucos riscos a célebre veracidade que até agora todos os filósofos reverenciaram que questões essa vontade de verdade já não nos colocou Estranhas graves discutíveis questões Tratase de uma longa história mas não é como se apenas começasse Que surpresa se por fim nos tornamos desconfiados perdemos a paciência e impacientes nos afastamos Se com essa esfinge também nós aprendemos a questionar Quem realmente nos coloca questões O que em nós aspira realmente à verdade De fato por longo tempo nos detivemos ante a questão da origem dessa vontade até afinal parar completamente ante uma questão ainda mais fundamental Nós questionamos o valor dessa vontade Certo queremos a verdade mas por que não de preferência a inverdade Ou a incerteza Ou mesmo a insciência O problema do valor da verdade apresentouse à nossa frente ou fomos nós a nos apresentar diante dele Quem é Édipo no caso Quem é a Esfinge Ao que parece perguntas e dúvidas marcaram aqui um encontro E seria de acreditar que como afinal nos quer parecer o problema não tenha sido jamais colocado que tenha sido por nós pela primeira vez vislumbrado percebido arriscado Pois nisso há um risco como talvez não exista maior 2 Como poderia algo nascer do seu oposto Por exemplo a verdade do erro Ou a vontade de verdade da vontade de engano Ou a ação desinteressada do egoísmo Ou a pura e radiante contemplação do sábio da concupiscência Semelhante gênese é impossível quem com ela sonha é um tolo ou algo pior as coisas de valor mais elevado devem ter uma origem que seja outra própria não podem derivar desse fugaz enganador sedutor mesquinho mundo desse turbilhão de insânia e cobiça Devem vir do seio do ser do intransitório do deus oculto da coisa em si nisso e em nada mais deve estar sua causa Este modo de julgar constitui o típico preconceito pelo qual podem ser reconhecidos os metafísicos de todos os tempos tal espécie de valoração está por trás de todos os seus procedimentos lógicos é a partir desta sua crença que eles procuram alcançar seu saber alcançar algo que no fim é batizado solenemente de verdade A crença fundamental dos metafísicos é a crença nas oposições de valores Nem aos mais cuidadosos entre eles ocorreu duvidar aqui no limiar onde mais era necessário mesmo quando haviam jurado para si próprios de omnibus dubitandum de tudo duvidar Pois podese duvidar primeiro que existam absolutamente opostos segundo que as valorações e oposições de valor populares nas quais os metafísicos imprimiram seu selo sejam mais que avaliações de fachada perspectivas provisórias talvez inclusive vistas de um ângulo de baixo para cima talvez perspectivas de rã para usar uma expressão familiar aos pintores Com todo o valor que possa merecer o que é verdadeiro veraz desinteressado é possível que se deva atribuir à aparência à vontade de engano ao egoísmo e à cobiça um valor mais alto e mais fundamental para a vida É até mesmo possível que aquilo que constitui o valor dessas coisas boas e honradas consista exatamente no fato de serem insidiosamente aparentadas atadas unidas e talvez até essencialmente iguais a essas coisas ruins e aparentemente opostas Talvez Mas quem se mostra disposto a ocuparse de tais perigosos talvezes Para isto será preciso esperar o advento de uma nova espécie de filósofos que tenham gosto e pendor diversos contrários aos daqueles que até agora existiram filósofos do perigoso talvez a todo custo E falando com toda a seriedade eu vejo esses filósofos surgirem 3 Depois de por muito tempo ler nos gestos e nas entrelinhas dos filósofos disse a mim mesmo a maior parte do pensamento consciente deve ser incluída entre as atividades instintivas até mesmo o pensamento filosófico aqui se deve mudar o modo de ver como já se fez em relação à hereditariedade e às características inatas Assim como o ato de nascer não conta no processo e progresso geral da hereditariedade também estar consciente não se opõe de algum modo decisivo ao que é instintivo em sua maior parte o pensamento consciente de um filósofo é secretamente guiado e colocado em certas trilhas pelos seus instintos Por trás de toda lógica e de sua aparente soberania de movimentos existem valorações ou falando mais claramente exigências fisiológicas para a preservação de uma determinada espécie de vida Por exemplo que o determinado tenha mais valor que o indeterminado a aparência menos valor que a verdade tais avaliações poderiam não obstante a sua importância reguladora para nós ser apenas avaliações de fachada um determinado tipo de niaiserie tolice tal como pode ser necessário justamente para a preservação de seres como nós Supondo claro que não seja precisamente o homem a medida de todas as coisas 4 A falsidade de um juízo não chega a constituir para nós uma objeção contra ele é talvez nesse ponto que a nossa nova linguagem soa mais estranha A questão é em que medida ele promove ou conserva a vida conserva ou até mesmo cultiva a espécie e a nossa inclinação básica é afirmar que os juízos mais falsos entre os quais os juízos sintéticos a priori nos são os mais indispensáveis que sem permitir a vigência das ficções lógicas sem medir a realidade com o mundo puramente inventado do absoluto do igual a si mesmo o homem não poderia viver que renunciar aos juízos falsos equivale a renunciar à vida negar a vida Reconhecer a inverdade como condição de vida isto significa sem dúvida enfrentar de maneira perigosa os habituais sentimentos de valor e uma filosofia que se atreve a fazêlo se coloca apenas por isso além do bem e do mal 5 O que leva a considerar os filósofos com olhar meio desconfiado meio irônico não é o fato de continuamente percebermos como eles são inocentes a frequência e a facilidade com que se enganam e se perdem sua puerilidade e seus infantilismos em suma mas sim que não se mostrem suficientemente íntegros enquanto fazem um grande e virtuoso barulho tão logo é abordado mesmo que de leve o problema da veracidade Todos eles agem como se tivessem descoberto ou alcançado suas opiniões próprias pelo desenvolvimento autônomo de uma dialética fria pura divinamente imperturbável à diferença dos místicos de toda espécie que são mais honestos e toscos falam de inspiração quando no fundo é uma tese adotada de antemão uma ideia inesperada uma intuição em geral um desejo íntimo tornado abstrato e submetido a um crivo que eles defendem com razões que buscam posteriormente eles são todos advogados que não querem ser chamados assim e na maioria defensores manhosos de seus preconceitos que batizam de verdades estando muito longe de possuir a coragem da consciência que admite isso justamente isso para si mesma muito longe do bom gosto da coragem que dá a entender também isso seja para avisar um amigo ou inimigo seja por exuberância e para zombar de si mesma A rígida e virtuosa tartufice do velho Kant com a qual ele nos atrai às trilhas ocultas da dialética que encaminham ou melhor desencaminham a seu imperativo categórico esse espetáculo nos faz sorrir a nós de gosto exigente que achamos não pouca graça em observar os truques sutis dos moralistas e pregadores da moral Sem falar no hocus pocus de forma matemática com que Spinoza encouraçou e mascarou sua filosofia o amor à sua sabedoria tomando a palavra no sentido correto e justo a fim de intimidar antecipadamente o atacante que ousasse lançar os olhos à invencível donzela e Palas Atena quanta timidez e vulnerabilidade não revela essa mascarada de um doente recluso
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ALÉM DO BEM E DO MAL Dos preconceitos dos filósofos Nessa obra de 1886 Nietzsche questiona a dicotomia bemmal na qual se baseia toda a moral tradicional relacionandoa à dicotomia verdadeirofalso em que está baseada a tradição do conhecimento e caracterizando ambas como preconceitos dos filósofos Esses conceitos que são tratados como objetivos e derivados da razão universal nada mais são do que fruto dos sentimentos e instintos humanos resultados da história da cultura e da educação Cabe então libertar o homem desses preconceitos e dos valores tradicionais e fazêlo redescobrir os valores afirmativos da vida que permitem o desenvolvimento do que há de mais nobre em sua natureza e possibilitam que cada um seja capaz de superar a si mesmo em direção ao homem do futuro 1 A vontade de verdade que ainda nos fará correr não poucos riscos a célebre veracidade que até agora todos os filósofos reverenciaram que questões essa vontade de verdade já não nos colocou Estranhas graves discutíveis questões Tratase de uma longa história mas não é como se apenas começasse Que surpresa se por fim nos tornamos desconfiados perdemos a paciência e impacientes nos afastamos Se com essa esfinge também nós aprendemos a questionar Quem realmente nos coloca questões O que em nós aspira realmente à verdade De fato por longo tempo nos detivemos ante a questão da origem dessa vontade até afinal parar completamente ante uma questão ainda mais fundamental Nós questionamos o valor dessa vontade Certo queremos a verdade mas por que não de preferência a inverdade Ou a incerteza Ou mesmo a insciência O problema do valor da verdade apresentouse à nossa frente ou fomos nós a nos apresentar diante dele Quem é Édipo no caso Quem é a Esfinge Ao que parece perguntas e dúvidas marcaram aqui um encontro E seria de acreditar que como afinal nos quer parecer o problema não tenha sido jamais colocado que tenha sido por nós pela primeira vez vislumbrado percebido arriscado Pois nisso há um risco como talvez não exista maior 2 Como poderia algo nascer do seu oposto Por exemplo a verdade do erro Ou a vontade de verdade da vontade de engano Ou a ação desinteressada do egoísmo Ou a pura e radiante contemplação do sábio da concupiscência Semelhante gênese é impossível quem com ela sonha é um tolo ou algo pior as coisas de valor mais elevado devem ter uma origem que seja outra própria não podem derivar desse fugaz enganador sedutor mesquinho mundo desse turbilhão de insânia e cobiça Devem vir do seio do ser do intransitório do deus oculto da coisa em si nisso e em nada mais deve estar sua causa Este modo de julgar constitui o típico preconceito pelo qual podem ser reconhecidos os metafísicos de todos os tempos tal espécie de valoração está por trás de todos os seus procedimentos lógicos é a partir desta sua crença que eles procuram alcançar seu saber alcançar algo que no fim é batizado solenemente de verdade A crença fundamental dos metafísicos é a crença nas oposições de valores Nem aos mais cuidadosos entre eles ocorreu duvidar aqui no limiar onde mais era necessário mesmo quando haviam jurado para si próprios de omnibus dubitandum de tudo duvidar Pois podese duvidar primeiro que existam absolutamente opostos segundo que as valorações e oposições de valor populares nas quais os metafísicos imprimiram seu selo sejam mais que avaliações de fachada perspectivas provisórias talvez inclusive vistas de um ângulo de baixo para cima talvez perspectivas de rã para usar uma expressão familiar aos pintores Com todo o valor que possa merecer o que é verdadeiro veraz desinteressado é possível que se deva atribuir à aparência à vontade de engano ao egoísmo e à cobiça um valor mais alto e mais fundamental para a vida É até mesmo possível que aquilo que constitui o valor dessas coisas boas e honradas consista exatamente no fato de serem insidiosamente aparentadas atadas unidas e talvez até essencialmente iguais a essas coisas ruins e aparentemente opostas Talvez Mas quem se mostra disposto a ocuparse de tais perigosos talvezes Para isto será preciso esperar o advento de uma nova espécie de filósofos que tenham gosto e pendor diversos contrários aos daqueles que até agora existiram filósofos do perigoso talvez a todo custo E falando com toda a seriedade eu vejo esses filósofos surgirem 3 Depois de por muito tempo ler nos gestos e nas entrelinhas dos filósofos disse a mim mesmo a maior parte do pensamento consciente deve ser incluída entre as atividades instintivas até mesmo o pensamento filosófico aqui se deve mudar o modo de ver como já se fez em relação à hereditariedade e às características inatas Assim como o ato de nascer não conta no processo e progresso geral da hereditariedade também estar consciente não se opõe de algum modo decisivo ao que é instintivo em sua maior parte o pensamento consciente de um filósofo é secretamente guiado e colocado em certas trilhas pelos seus instintos Por trás de toda lógica e de sua aparente soberania de movimentos existem valorações ou falando mais claramente exigências fisiológicas para a preservação de uma determinada espécie de vida Por exemplo que o determinado tenha mais valor que o indeterminado a aparência menos valor que a verdade tais avaliações poderiam não obstante a sua importância reguladora para nós ser apenas avaliações de fachada um determinado tipo de niaiserie tolice tal como pode ser necessário justamente para a preservação de seres como nós Supondo claro que não seja precisamente o homem a medida de todas as coisas 4 A falsidade de um juízo não chega a constituir para nós uma objeção contra ele é talvez nesse ponto que a nossa nova linguagem soa mais estranha A questão é em que medida ele promove ou conserva a vida conserva ou até mesmo cultiva a espécie e a nossa inclinação básica é afirmar que os juízos mais falsos entre os quais os juízos sintéticos a priori nos são os mais indispensáveis que sem permitir a vigência das ficções lógicas sem medir a realidade com o mundo puramente inventado do absoluto do igual a si mesmo o homem não poderia viver que renunciar aos juízos falsos equivale a renunciar à vida negar a vida Reconhecer a inverdade como condição de vida isto significa sem dúvida enfrentar de maneira perigosa os habituais sentimentos de valor e uma filosofia que se atreve a fazêlo se coloca apenas por isso além do bem e do mal 5 O que leva a considerar os filósofos com olhar meio desconfiado meio irônico não é o fato de continuamente percebermos como eles são inocentes a frequência e a facilidade com que se enganam e se perdem sua puerilidade e seus infantilismos em suma mas sim que não se mostrem suficientemente íntegros enquanto fazem um grande e virtuoso barulho tão logo é abordado mesmo que de leve o problema da veracidade Todos eles agem como se tivessem descoberto ou alcançado suas opiniões próprias pelo desenvolvimento autônomo de uma dialética fria pura divinamente imperturbável à diferença dos místicos de toda espécie que são mais honestos e toscos falam de inspiração quando no fundo é uma tese adotada de antemão uma ideia inesperada uma intuição em geral um desejo íntimo tornado abstrato e submetido a um crivo que eles defendem com razões que buscam posteriormente eles são todos advogados que não querem ser chamados assim e na maioria defensores manhosos de seus preconceitos que batizam de verdades estando muito longe de possuir a coragem da consciência que admite isso justamente isso para si mesma muito longe do bom gosto da coragem que dá a entender também isso seja para avisar um amigo ou inimigo seja por exuberância e para zombar de si mesma A rígida e virtuosa tartufice do velho Kant com a qual ele nos atrai às trilhas ocultas da dialética que encaminham ou melhor desencaminham a seu imperativo categórico esse espetáculo nos faz sorrir a nós de gosto exigente que achamos não pouca graça em observar os truques sutis dos moralistas e pregadores da moral Sem falar no hocus pocus de forma matemática com que Spinoza encouraçou e mascarou sua filosofia o amor à sua sabedoria tomando a palavra no sentido correto e justo a fim de intimidar antecipadamente o atacante que ousasse lançar os olhos à invencível donzela e Palas Atena quanta timidez e vulnerabilidade não revela essa mascarada de um doente recluso