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Brazilian Journal of Development ISSN 25258761 35797 Brazilian Journal of Development Curitiba v7 n4 p 3579735804 apr 2021 Trajetória da videoarte no Brasil Trajectory of video art in Brazil DOI1034117bjdv7n4170 Recebimento dos originais 07032021 Aceitação para publicação 07042021 Mariana Ribeiro da Silva Tavares PósDoutorado em ArtesCinema pelo PPGARTESUFMG UFMG Rua Chicago 554102 Bairro Sion Belo Horizonte MG Email Marianatavares167gmailcom RESUMO Este artigo percorre de forma breve as três primeiras gerações da videoarte no Brasil no século XX com destaque para a produção realizada em Minas Gerais e analisa a perda do status da videoarte enquanto forma de expressão autônoma e sua incorporação na contemporaneidade à formatos híbridos como as performances audiovisuais a arte generativa a webarte a visual music a vídeodança os videoclips bem como formas hegemônicas como o cinema e a televisão Palavraschave Videoarte gerações da videoarte videoarte mineira ABSTRACT This article briefly covers the first three generations of video art in Brazil in the twentieth century highlighting the production carried out in Minas Gerais and analyzes the loss of video art status as a form of autonomous artistic expression and its incorporation into contemporary hybrid formats such as audiovisual performances generative art webart visual music video dance video clips and also hegemonic forms like cinema and television Keywords Video art generations of video art Minas Gerais video art 1 DÉCADA DE 1960 INTRODUÇÃO DO SISTEMA PORTAPAK DA SONY Em 1967 uma novidade tecnológica impactou o mercado gerador de conteúdos audiovisuais no mundo inaugurando um novo capítulo na criação de imagens em movimento a introdução no mercado norteamericano do primeiro sistema Portapak da Sony composto por câmera e gravador de fita de vídeo Um sistema que poderia ser operado e transportado pela mesma pessoa e que mudou a relação entre cinegrafista e câmera reduzindo custos de pessoal para as empresas de conteúdo audiovisual Até a introdução da tecnologia do vídeo as imagens em movimento eras filmadas em película o filme tinha que passar por processo de revelação e copiagem para ser Brazilian Journal of Development ISSN 25258761 35798 Brazilian Journal of Development Curitiba v7 n4 p 3579735804 apr 2021 exibido na tela de cinema e também de telecinagem para transmissão pela TV Os custos das câmeras de filmar e das películas eram altos e o processo de filmagem e revelação era lento se comparado ao processo de trabalho em vídeo que prescindia de revelação no vídeo a fita magnética utilizada para o registro das imagens era a mesma fita de exibição do material bruto que poderia ser editado ou não numa ilha de edição equipamento criado para a montagem do material substituindo as antigas moviolas antes empregadas no processo de montagem de filmes em película Mais acessível financeiramente o Portapak democratizou o processo de registro de sons e imagens permitindo as gravações fora de estúdio eliminando as grandes equipes tendo ainda a possibilidade de visualização do material gravado em tempo real Adotado por profissionais da comunicação emissoras de televisão agências de publicidade e produtoras de vídeo cineastas e artistas plásticos a tecnologia resultou em novos métodos de trabalho impulsionando linguagens dentre elas a videoarte que teve sua gênese ainda nos anos de 1960 a partir de experiências como as do pioneiro Nam June Paik 1932 2006 sulcoreano radicado em Nova Iorque Considerado o pai da videoarte Paik realizou pesquisas com material eletrônico vídeo e música que resultaram em performances vídeos e instalações 2 DÉCADA DE 1970 PIONEIROS DA VIDEOARTE NO BRASIL No Brasil a geração dos pioneiros da videoarte na década de 1970 foi formada sobretudo por artistas plásticos que registraram seus gestos performáticos Seus vídeos de curta duração quase não apresentavam edição e capturavam o tempo real das performances Como nos lembra o pesquisador Arlindo Machado a primeira geração de criadores de vídeo era constituída de nomes em geral já consagrados no universo das artes plásticas ou em processo de consagração como foram os casos de Antônio Dias lvens Machado Letícia Parente Sônia Andrade Regina Silveira Julio Plaza Paulo Herkenhoff Regina Vater Fernando Cocchiarale Paulo Bruscky e tantos outros MACHADO 1997 Videoartista gravadora pesquisadora e professora Letícia Parente 1930 1991 foi pioneira da videoarte no Brasil e também transitou por outras formas de expressão Seu trabalho mais significativo em videoarte é Marca Registrada 1975 um vídeo de dez minutos que a mostra em super close costurando a expressão MADE IN BRASIL com agulha e linha na sola de seu pé O corpo passa a ser entendido como uma mercadoria e não mais como Brazilian Journal of Development ISSN 25258761 35799 Brazilian Journal of Development Curitiba v7 n4 p 3579735804 apr 2021 aspecto físico de um indivíduo Expõese o pertencimento a um país em um período violento de ditadura civilmilitar por meio de um gesto doloroso A pele é marcada ponto a ponto e produz uma sensação de angústia em quem observa a imagem ao longo do plano sequência elemento estético essencial em outros trabalhos da artista em vídeo priorizando o tempo da ação1 3 DÉCADA DE 1980 SEGUNDA GERAÇÃO DA VIDEOARTE NO BRASIL A segunda geração da videoarte no Brasil mais conhecida como geração do vídeo independente foi formada por universitários que vislumbraram uma possibilidade de trabalho na televisão a partir da redemocratização do país no início da década de 1980 Muitos se organizaram em coletivos que originaram as primeiras produtoras de vídeo brasileiras como Olhar Eletrônico e TVDO2 na cidade de São Paulo Anteve na cidade do Rio de Janeiro e TV Viva em Olinda A produtora Olhar Eletrônico foi criada em 1981 por Fernando Meirelles Marcelo Machado Paulo Morelli e Beto Salatini Marcelo Tas Renato Barbieri e Toniko Melo integraram o grupo logo depois Entre 1983 e 1987 realizaram programas para as emissoras de televisão TV Gazeta Manchete Cultura Globo e para a Abril Vídeo Dentre os trabalhos destacamse Garotos do Subúrbio Brasília SAM Varela no Congresso Do outro lado da sua casa e Tragédia SP sitevideobrasilorgbr Muitos dos trabalhos da produtora foram premiados em festivais nacionais de vídeo influenciando as gerações seguintes que viam nas imagens em movimento um horizonte de trabalho dada a acessibilidade do vídeo Na década de 1980 o formato tinha relação direta com a narrativa e a linguagem empregada nos conteúdos audiovisuais Os orçamentos elevados para a criação em película 16 ou 35mm com frequência inibiam a experimentação E a tecnologia do vídeo abria espaço para a experimentação estética no âmbito universitário cursos de comunicação e também nos novos coletivos que se formavam em torno das produtoras de vídeo Nos festivais de audiovisual do país havia uma clara diferenciação entre os trabalhos em película muitas vezes considerados de qualidade superior e os trabalhos em vídeo vistos com frequência como amadores pelos organizadores dos festivais e 1 LETÍCIA Parente In ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras São Paulo Itaú Cultural 2021 Disponível httpenciclopediaitauculturalorgbrpessoa216185leticiaparente Acesso em 05 de Fev 2021 Verbete da Enciclopédia ISBN 9788579790607 2 Criada em 1981 por Tadeu Jungle Walter Silveira Ney Marcondes e Paulo Priolli Brazilian Journal of Development ISSN 25258761 35800 Brazilian Journal of Development Curitiba v7 n4 p 3579735804 apr 2021 também pelos críticos Foram necessárias quase duas décadas até o advento da tecnologia digital na segunda metade da década de 1990 para que esse preconceito se dissipasse a partir da constatação de qualquer formato seria válido O importante seria a obra em si seu poder inventivo sua capacidade de transmitir sensaçõesemoções e sua coerência entre forma e conteúdo Entre as produtoras mais significativas criadas na cidade do Rio de Janeiro ainda na década de 1980 merece destaque a produtora Anteve de 1982 formada por Roberto Berliner Sandra Kogut e Cabeça Sandra Kogut e Roberto Berliner deram prosseguimento em suas carreiras no audiovisual trabalhando atualmente 2021 com longasmetragens ficcionais Na cidade de Olinda em Pernambuco a produtora TV Viva formada em 1983 por Cláudio Barroso Eduardo Homem Didier Bertrand dentre outros apresentou uma proposta diferenciada com uma programação de forte conteúdo popular e que foi veiculada de forma itinerante percorrendo bairros da periferia de Olinda e Recife A produtora foi pioneira no país em sua concepção alternativa de TV popular sitevideobrasilorgbr Podemos destacar como ponto comum entre as várias produtoras de vídeo que despontaram no país a diversidade e experimentação estética como marca das criações em grande parte realizadas no formato curtametragem Eram documentários experimentais videopoemas videoclipes trabalhos ficcionais e vinhetas de abertura para emissoras de televisão que evidenciaram o caráter híbrido e experimental manifestos em imagens distorcidas faux raccords assincronismo entre som e imagem ângulos de câmera pouco convencionais cortes rápidos e saturação de sons e imagens além da mistura de formatos VHS SVHS Câmera 8 e 16 milimetros Umatic e Betacam Apesar da redemocratização e fim da censura esses trabalhos iniciais em geral não abordavam questões relacionadas a realidade social do país salvo algumas exceções como o trabalho da TV Viva Nesta época foram organizados os primeiros festivais Videobrasil em São Paulo seguido pelo FórumBHZVídeo em Belo Horizonte que se transformaram em centros catalisadores para videastas de diversas regiões brasileiras e de outros países que vinham para os eventos como convidados ou selecionados para as mostras competitivas O principal festival dedicado exclusivamente à videoarte Videobrasil foi criado pela jornalista Solange Farkas em 1983 e teve sua primeira edição no Museu da Imagem e do Brazilian Journal of Development ISSN 25258761 35801 Brazilian Journal of Development Curitiba v7 n4 p 3579735804 apr 2021 Som na capital paulista O evento segue ativo agora denominado Bienal de Arte Contemporânea SescVideobrasil Criado em 1991 em Belo Horizonte o festival FórumBHZVídeo foi concebido pelos videomakers Lucas Bambozzi Rogério Velloso e Vannessa Tamietti pela produtora Vania Catani pela artista plástica Adriana Franca e pela roteirista e diretora Anna Flávia Dias Salles De caráter internacional o Fórum contou com três edições montadas em diversos espaços culturais da capital mineira nos anos de 1991 1993 e 1995 4 TERCEIRA GERAÇÃO DA VIDEOARTE E A PRODUÇÃO MINEIRA Em Minas Gerais despontou uma geração que num primeiro momento realizou na segunda metade década de 1980 experiências com os equipamentos das universidades para depois se organizar em produtoras além de trabalhar em emissoras de televisão como a Fundação Rede Minas Cultural e Educativa3 Éder Santos inicialmente na produtora Emvideo4 e depois em carreira solo foi o principal nome com trabalhos em videoarte videoinstalações e performances intermídia Suas criações foram exibidas e premiadas no Brasil e exterior Dentre as mais conhecidas destacamse Uakti 1987 Europa em cinco minutos 1987 Mentiras Humilhações 1988 Rito Expressão 1990 Essa coisa nervosa 1991 e Janaúba 1993 Outros realizadores também despontaram no estado como Fábio Carvalho O Mundo de Aron Feldman 1989 Lucas Bambozzi Love Stories 1992 Kiko Goifman Tereza 1992 Rodrigo Minelli Hard TeeVee1990 Rogério Velloso Cidade 1994 Chico de Paula Penélope 1993 Rodolfo Magalhães O Pirotécnico Zacarias 1991 Carlosmagno Rodrigues TargaStalker 2001 e Eduardo de Jesus Entre as mulheres pioneiras da videoarte em Minas Gerais destacamse Patricia Moran Maldito Popular Brasileiro Arnaldo Baptista 1990 Eliza Rezende Estranha Guerra Estranha 1991 Vanessa Tamietti O visto e o imaginado 1990 e Mariana Tavares Vocabulário 1993 Caminhos BH e Horizonte Subterrâneo 1997 Esses realizadores e realizadoras conformam a terceira geração de videastas do país No cenário nacional Sandra Kogut Parabolic People 1991 Rafael França O Profundo Silêncio das Coisas Mortas 1988 Lucila Meirelles Pivete 1987 Walter 3 Rogério Velloso Lucas Bambozzi Rodrigo Minelli Chico de Paula Marcos Barreto Bete Miranda e Mariana Tavares estão entre os videoartistas mineiros que trabalham na emissora de Televisão Educativa Rede Minas de TV Canal 9 UHF na década de 1990 4 Criada na década de 1980 por Éder Santos Marcelo Braga Marcus Nascimento e Bellini Andrade Brazilian Journal of Development ISSN 25258761 35802 Brazilian Journal of Development Curitiba v7 n4 p 3579735804 apr 2021 Silveira VT preparado ACJC 1986 Cao Guimarães The Eyeland1999 Carlos Nader Trovoada1994 seguiram realizando trabalhos no audiovisual nas décadas posteriores à exceção de Rafael França que teve sua carreira interrompida com sua morte precoce em 1991 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com as tecnologias digitais o diálogo da videoarte com outras formas de expressão artística foi potencializado A videoarte perdeu o status de expressão artística autônoma conquistado nas últimas três décadas do século XX para se fundir na contemporaneidade à outras linguagens como as artes visuais a dança o teatro e a música Na atualidade 2021 observamos a presença da videoarte em performances audiovisuais na arte generativa na webarte na visual music na vídeodança nos videoclips e também em formas hegemônicas como o cinema comerciais vinhetas e programas de televisão A mudança do principal festival de vídeo do país o VideoBrasil para Bienal de Arte Contemporânea5 atesta as transformações nesse campo e a perda do protagonismo da videoarte Nas palavras da diretora da Bienal Solange Farkas no site do evento ao abrirse a todas as linguagens artísticas em 2011 o Videobrasil volta a afirmar sua natureza permeável aos tempos um organismo vivo e em atualização constante Mais do que sacramentar uma periodicidade o termo Bienal reflete a percepção de que nossa prática investigativa e direções curatoriais nos aproximam do papel desempenhado por bienais internacionais como as de Sharjah Cuenca Havana e Dakar instituições que como o Videobrasil trabalham para desenhar um panorama mais diverso da produção global e constituir um circuito paralelo àquele centrado no eixo Europa Estados Unidos Nesse sentido o evento aproximase das bienais de arte internacionais respondendo à urgência do momento em dar visibilidade às minorias LGBTQI à produção das mulheres e dos povos originários A arte volta a ser política e inclusiva num mundo midiático e globalizado Neste contexto a videoarte no Brasil marca presença em variadas formas de expressão em detrimento do antigo status conquistado nas últimas três décadas do século 5 Bienal de Arte Contemporânea SescVideobrasil httpbienalsescvideobrasilorgbrapresentacaosobre Brazilian Journal of Development ISSN 25258761 35803 Brazilian Journal of Development Curitiba v7 n4 p 3579735804 apr 2021 passado A inventividade das três gerações da videoarte ecoa em novas gerações que trabalham com audiovisual música teatro dança e artes visuais em criações que atravessam inúmeros formatos distanciandose das categorizações do século passado Esses artistas lançam mão de softwares e criam novos instrumentos de trabalho ao mesmo tempo em que recorrem a formatos antigos como películas em super 8 fotografias em 35mm etc além de utilizarem o próprio corpo como ferramenta e suporte de criação O leque se amplia e os artistas não se definem pela criação em um único suporte artistas visuais designers performers webartistas e ativistas reinventam a arte como deve ser Brazilian Journal of Development ISSN 25258761 35804 Brazilian Journal of Development Curitiba v7 n4 p 3579735804 apr 2021 REFERÊNCIAS BAMBOZZI Lucas VELLOSO Rogério et al Catálogos do ForumBHZVídeo BH Folio 1991 e 1993 MACHADO Arlindo Uma Experiência Radical de Videoarte In COSTA Helouise Org Sem medo da vertigem Rafael França São Paulo Marca dÁgua 1997 pp 75 81 Org Made in Brasil três décadas do vídeo brasileiro São Paulo Itaú Cultural 2003 TAVARES Mariana GINO Maurício Pesquisas em Animação Cinema Poéticas Tecnológicas Belo Horizonte Ramalhete 2019 VIDEOARTE In ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras São Paulo Itaú Cultural 2019 Disponível em httpenciclopediaitauculturalorgbrtermo3854videoarte Acesso em 09 de Mai 2019 Verbete da Enciclopédia VIEIRA Ana Moraes Horizontes TransversaisArtes da Imagem e do Som em Minas Gerais 20002010 Dissertação de Mestrado Belo Horizonte Escola de Belas Artes UFMG 2012