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Roteiro para elaboração dos seminários Educação Ambiental e Sustentabilidade Professor Dr Luciano de Oliveira Fonte httpswwwamazoncombrPedagogiaTerraMoacirGadottidp8585663448 SEMINÁRIO AVALIATIVO Pedagogia da terra Texto base GADOTTI Moacir Pedagogia da terra e cultura de sustentabilidade Revista lusófona de educação n 6 p 1529 2005 PASSOS 1º Leitura integral do artigo de GADOTTI 2005 o qual será disponibilizado no grupo do whatsApp da disciplina 2º A partir da divisão dos 5 gruposduplastrios e do sorteio dos tópicos desenvolvidos por GADOTTI 2005 reler de modo reflexivo a parte que ficou responsável registrar considerações pessoais e interlocuções com outros textos eou experiências pessoais 3º Retirar em torno de aproximadamente 6 citações chave do texto referenciálas e pensar em argumentos sobre cada citação Esses argumentos podem ser com exemplos da experiência pessoal eou profissional pequenos vídeos música interlocução com outros autoresobras etc 4º Preparar uma apresentação slides com essas citações e ilustrações referenciadas para apresentar à turma nas próximas aulas Cada grupo apresentará durante às aulas o tópico que ficou responsável Datas prováveis para as apresentações 2103 2803 0404 1104 2 últimos grupos Observações Gerais Os grupos deverão disponibilizar as apresentações para a turma O professor será o mediador dos seminários bem como auxiliará em todo o processo de preparação e apresentação dos seminários Pedagogia da Terra e Cultura de Sustentabilidade Moacir Gadotti O presente artigo pretende ser um desafio à reflexão sobre os grandes problemas que se colocam aos seres humanos nas sociedades actuais As reflexões que se fazem têm sobretudo um carácter antropológico e ético Antropológico porque se trata de promover uma nova concepção de homem que inserido no Cosmos se questione sobre o sentido da vida que por sua vez não está separado do sentido do Planeta ético porque os novos princípios reguladores da actividade humana terão de se basear num novo paradigma que tenha a Terra como fundamento e centro A mudança de paradigma terá por certo implicações na Educação A Pedagogia da Terra ou Ecopedagogia entendida como movimento pedagógico como abordagem curricular e como movimento social e político representa um projecto alternativo global que tem por finalidades por um lado promover a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida quotidiana e por outro a promoção de um novo modelo de civilização sustentável do ponto de vista ecológico A educação para a cidadania planetária implica uma revisão dos nossos currículos uma reorientação de nossa visão de mundo da educação como espaço de inserção do indivíduo não numa comunidade local mas numa comunidade que é local e global ao mesmo tempo Uma cidadania planetária é por essência uma cidadania integral portanto uma cidadania activa e plena o que implica também a existência de uma democracia planetária Pela primeira vez na história da humanidade não por efeito de armas nucleares mas pelo descontrole da produção podemos destruir toda a vida do planeta¹ É a essa possibilidade que podemos chamar de era do exterminismo Passamos do modo de produção para o modo de destruição teremos que viver daqui para a frente confrontados com o desafio permanente de reconstruir o planeta Temos talvez pouco mais de 50 anos para decidir se queremos ou não destruir o planeta Os paradigmas clássicos que orientaram até agora a produção e a reprodução da existência no planeta colocaram em risco não apenas a vida do ser humano mas todas as formas de vida existentes na Terra Alertas vêm sendo dados há décadas por cientistas e filósofos desde os anos 60 Precisamos de um novo paradigma que tenha a Terra como fundamento Professor Titular da Universidade de São Paulo USP DiretorGeral do Instituto Paulo Freire São Paulo Moacir Gadotti Revista Lusófona de Educação 16 Por outro lado vivemos numa próspera era da informação em tempo real da globalização da economia mas para poucos da realidade virtual da Internet da quebra de fronteiras entre nações do ensino a distância dos escritórios virtuais da robótica e dos sistemas de produção automatizados do entretenimento Vive mos o ciberespaço da formação continuada As novas tecnologias da informação e da comunicação marcaram todo o século XX Marx sustentava que a mudança nos meios de produção transformava o modo de produção e as relações de produção Isso aconteceu com a invenção da escrita do alfabeto da imprensa da televisão e hoje vem acontecendo com a Internet O desenvolvimento espetacular da in formação quer no que diz respeito às fontes quer à capacidade de difusão está gerando uma verdadeira revolução que afeta não apenas a produção e o trabalho mas principalmente a educação e a formação O cenário está dado globalização provocada pelo avanço da revolução tecno lógica caracterizada pela internacionalização da produção e pela expansão dos flu xos financeiros regionalização caracterizada pela formação de blocos econômicos fragmentação que divide globalizadores e globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os que morrem pelo consumo excessivo de alimentos rivalida des regionais confrontos políticos étnicos e confessionais terrorismo O termo sustentabilidade pode não ser muito apropriado para o que preten demos colocar a seguir Estamos tentando dar a esse conceito um novo significado De fato é um termo sustentável que associado ao desenvolvimento sofreu um grande desgaste Enquanto para alguns é apenas um rótulo para outros ele tor nouse a própria expressão do absurdo lógico desenvolvimento e sustentabilidade seriam logicamente incompatíveis Para nós é mais do que um qualificativo do desenvolvimento Vai além da preservação dos recursos naturais e da viabilidade de um desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente Ele implica um equilíbrio do ser humano consigo mesmo e com o planeta mais ainda com o universo A sustentabilidade que defendemos referese ao próprio sentido do que somos de onde viemos e para onde vamos como seres do sentido e doadores de sentido a tudo o que nos cerca Esse tema deverá dominar os debates educativos das próximas décadas O que estamos estudando nas escolas Não estaremos construindo uma ciência e uma cultura que servem para a degradação do planeta e dos seres humanos A categoria sustentabilidade deve ser associada à planetaridade A Terra como um novo paradigma Complexidade holismo transdisciplinaridade aparecem como ca tegorias associadas ao tema da planetaridade Que implicações tem essa visão de mundo sobre a educação O tema remete a uma cidadania planetária à civilização planetária à consciência planetária Uma cultura da sustentabilidade é também por isso uma cultura da planetaridade isto é uma cultura que parte do princípio que a Terra é constituída por uma só comunidade de humanos os terráqueos e que são cidadãos de uma única nação 1 Sociedade sustentável Pretendemos a seguir lançar o debate a respeito de uma Pedagogia da Terra que compreenda a ecopedagogia e a educação sustentável Esse debate já teve início com o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável utilizado pela primeira vez pela ONU em 1979 indicando que o desenvolvimento poderia ser um processo integral que deveria incluir as dimensões culturais éticas políticas sociais ambientais e não somente as dimensões econômicas Esse conceito foi disseminado mundialmente pelos relatórios do Worldwatch Institute na década de 80 e particularmente pelo relatório Nosso Futuro Comum produzido pela Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987 Muitas foram as críticas feitas a esse conceito muitas vezes pelo seu uso reducionista e posteriormente sua trivialização apesar de aparecer como politicamente correto e moralmente nobre Há outras expressões que têm uma base conceptual comum e se complementam tais como desenvolvimento humano desenvolvimento humano sustentável e transformação produtiva com eqüidade A expressão desenvolvimento humano tem a vantagem de situar o ser humano no centro do desenvolvimento O conceito de desenvolvimento humano cujos eixos centrais são eqüidade e participação é um conceito ainda em evolução e se opõe à concepção neoliberal de desenvolvimento Concebe a sociedade desenvolvida como uma sociedade equitativa que por sua vez deve esta a ser alcançada através da participação das pessoas Como o conceito de desenvolvimento sustentável o conceito de desenvolvimento humano é muito amplo e por vezes ainda vago As Nações Unidas nos últimos anos passaram a usar a expressão desenvolvimento humano como indicador de qualidade de vida fundado em índices de saúde longevidade maturidade psicológica educação ambiente limpo espírito comunitário e lazer criativo que são também os indicadores de uma sociedade sustentável isto é uma sociedade capaz de satisfazer as necessidades das gerações de hoje sem comprometer a capacidade e as oportunidades das gerações futuras As críticas ao conceito de desenvolvimento sustentável e à própria idéia de sustentabilidade vêm do fato de que o ambientalismo trata separadamente as questões sociais e as questões ambientais O movimento conservacionista surgiu como uma tentativa elitista dos países ricos no sentido de reservar grandes áreas naturais preservadas para o seu lazer e contemplação A Amazônia por exemplo não era uma preocupação com a sustentabilidade do planeta mas com a continuidade do seus privilégios em contraste com as necessidades da maioria da população Diante dessas críticas o sucesso da luta ecológica hoje depende muito da capacidade dos ecologistas convencerem a maioria da população a população mais pobre de que se trata não apenas de limpar os rios despoluir o ar reflorestar os campos devastados para vivermos num planeta melhor num futuro distante Moacir Gadotti Revista Lusófona de Educação 18 Tratase de dar uma solução simultaneamente aos problemas ambientais e aos problemas sociais Os problemas de que trata a ecologia não afetam apenas o meio ambiente Afetam o ser mais complexo da natureza que é o ser humano O conceito de desenvolvimento não é um conceito neutro Ele tem um con texto bem preciso dentro de uma ideologia do progresso que supõe uma concep ção de história de economia de sociedade e do próprio ser humano O conceito foi utilizado numa visão colonizadora durante muitos anos em que os países do globo foram divididos entre desenvolvidos em desenvolvimento e subdesen volvidos remetendose sempre a um padrão de industrialização e de consumo Ele supõe que todas as sociedades devam orientarse por uma única via de acesso ao bemestar e à felicidade a serem alcançados apenas pela acumulação de bens materiais Metas de desenvolvimento foram impostas pelas políticas econômicas neocolonialistas dos países chamados desenvolvidos em muitos casos com enorme aumento da miséria da violência e do desemprego Junto com esse modelo econômico com seus ajustes por vezes criminosos foram transplantados valores éticos e ideais políticos que levaram a desestruturação de povos e nações Não é de se estranhar portanto que muitos tenham reservas quando se fala em desen volvimento sustentável O desenvolvimentismo levou a uma agonia do planeta Temos hoje consciência de uma iminente catástrofe se não traduzirmos essa cons ciência em atos para retirar do desenvolvimento essa visão predatória concebêlo de forma mais antropológica e menos economicista e salvar a Terra Parece claro que entre sustentabilidade e capitalismo existe uma incompatibili dade de princípios Essa é uma contradição de base que está inclusive no centro de todos os debates da Carta da Terra e que pode inviabilizála Tentase conciliar dois termos inconciliáveis Não são inconciliáveis em si metafisicamente São inconciliá veis no atual contexto da globalização capitalista O conceito de desenvolvimento sustentável é impensável e inaplicável neste contexto O fracasso da Agenda 21 o demonstra Nesse contexto o desenvolvimento sustentável é tão inconciliável quanto a transformação produtiva com eqüidade defendida pela CEPAL Como pode existir um crescimento com eqüidade um crescimento sustentável numa economia regida pelo lucro pela acumulação ilimitada pela exploração do traba lho e não pelas necessidades das pessoas Levado às suas últimas conseqüências a utopia ou projeto do desenvolvimento sustentável coloca em questão não só o crescimento econômico ilimitado e predador da natureza mas o modo de produ ção capitalista Ele só tem sentido numa economia solidária numa economia regida pela compaixão e não pelo lucro Os graves problemas sócioambientais e as críticas ao modelo de desenvolvi mento foram gerando na sociedade maior consciência ecológica nas últimas déca das Embora essa consciência não tenha ainda provocado mudanças significativas no modelo econômico e nos rumos das políticas governamentais algumas experi ências concretas apontam para uma crescente sociedade sustentável em marcha como o demonstrou a Conferência de Assentamentos Humanos Habitat II organizada pelas Nações Unidas em Istambul na Turquia em 1997 Nessa Conferência foram apresentadas experiências concretas de combate à crise urbana como violência desemprego falta de habitação de transporte de saneamento que vem degradando o meio ambiente e a qualidade de vida Essas experiências apontam para o nascimento de uma cidade sustentável Políticas de sustentabilidade econômica e social aos poucos vêm surgindo constituindose em verdadeira esperança de que podemos em tempo enfrentar nossos desafios globais 2 Educação sustentável A sensação de pertencimento ao universo não se inicia na idade adulta e nem por um ato de razão Desde a infância sentimonos ligados com algo que é muito maior do que nós Desde crianças nos sentimos profundamente ligados ao universo e nos colocamos diante dele num misto de espanto e de respeito E durante toda vida buscamos respostas ao que somos de onde viemos para onde vamos enfim qual o sentido da nossa existência É uma busca incessante e que jamais termina A educação pode ter um papel nesse processo se colocar questões filosóficas fundamentais mas também se souber trabalhar ao lado do conhecimento essa nossa capacidade de nos encantar com o universo Hoje tomamos consciência de que o sentido das nossas vidas não está separado do sentido do próprio planeta Diante da degradação das nossas vidas no planeta chegamos a uma verdadeira encruzilhada entre um caminho Tecnozóico que coloca toda a fé na capacidade da tecnologia de nos tirar da crise sem mudar nosso estilo de vida poluidor e consumista e um caminho Ecozóico fundado numa nova relação saudável com o planeta reconhecendo que somos parte do mundo natural vivendo em harmonia com o universo caracterizado pelas atuais preocupações ecológicas Temos que fazer escolhas Elas definirão o futuro que teremos Não me parece realmente que sejam caminhos totalmente opostos Tecnologia e humanismo não se contrapõem Mas é claro houve excessos no nosso estilo de vida poluidor e consumista e que não é fruto da técnica mas do modelo econômico Este é que tem que ser posto em causa E esse é um dos papéis da educação sustentável ou ecológica O desenvolvimento sustentável visto de forma crítica tem um componente educativo formidável a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação É aqui que entra em cena a Pedagogia da Terra a ecopedagogia Ela é uma pedagogia para a promoção da aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana como dizem Francisco Gutiérrez e Cruz Prado² em seu livro Ecopedagogia e cidadania planetária Encontramos o sentido ao caminhar vivenciando o contexto e o pro cesso de abrir novos caminhos não apenas observando o caminho É por isso uma pedagogia democrática e solidária A pesquisa de Francisco Gutiérrez e Cruz Prado sobre a ecopedagogia originouse na preocupação com o sentido da vida cotidiana A formação está ligada ao espaçotempo no qual se realizam concretamente as relações entre o ser humano e o meio ambiente Elas se dão sobretudo no nível da sensibilidade muito mais do que no nível da consciência Elas se dão portanto muito mais no nível da subconsciência não as percebemos e muitas vezes não sabemos como elas acontecem É preciso uma ecoformação para tornálas conscientes E a ecoformação necessita de uma ecopedagogia Como destaca Gaston Pineau em seu livro De lair essai sur lécoformation³ uma série de referenciais se associam para isso a inspiração bachelardiana os estudos do imaginário a abordagem da transversalidade da transdisciplinaridade e da interculturalidade o construtivismo e a pedagogia da alternância Precisamos de uma ecopedagogia e uma ecoformação hoje precisamos de uma Pedagogia da Terra justamente porque sem essa pedagogia para a reeducação do homemmulher principalmente do homem ocidental prisioneiro de uma cultura cristã predatória não poderemos mais falar da Terra como um lar como uma toca para o bichohomem como fala Paulo Freire Sem uma educação sustentável a Terra continuará apenas sendo considerada como espaço de nosso sustento e de domínio técnicotecnológico objeto de nossas pesquisas ensaios e algumas vezes de nossa contemplação Mas não será o espaço de vida o espaço do aconchego de cuidado⁴ Não aprendemos a amar a Terra lendo livros sobre isso nem livros de ecologia integral A experiência própria é o que conta Plantar e seguir o crescimento de uma árvore ou de uma plantinha caminhando pelas ruas da cidade ou aventurandose numa floresta sentindo o cantar dos pássaros nas manhãs ensolaradas ou não observando como o vento move as plantas sentindo a areia quente de nossas praias olhando para as estrelas numa noite escura Há muitas formas de encantamento e de emoção frente às maravilhas que a natureza nos reserva É claro existe a poluição a degradação ambiental para nos lembrar de que podemos destruir essa maravilha e para formar nossa consciência ecológica e nos mover à ação Acariciar uma planta contemplar com ternura um pôr de sol cheirar o perfume de uma folha de pitanga de goiaba de laranjeira ou de um cipreste de um eucalipto são múltiplas formas de viver em relação permanente com esse planeta generoso e compartilhar a vida com todos os que o habitam ou o compõem A vida tem sentido mas ele só existe em relação Como diz o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade Sou um homem dissolvido na natureza Estou florescendo em todos os ipês Isso Drummond só poderia dizer aqui na Terra Se estivesse em outro planeta do sistema solar ele não diria o mesmo Só a Terra é amigável com o ser humano Os outros planetas são francamente hostis a ele embora tenham sido originados Pedagogia da Terra e Cultura da Sustentabilidade Revista Lusófona de Educação 21 na mesma poeira cósmica Existirão outros planetas fora do sistema solar que abri gam a vida talvez a vida inteligente Se levarmos em conta que a matéria da qual se originou o universo é a mesma é muito provável Mas por ora só temos um que é francamente nosso amigo Temos que aprender a amálo Como se traduz na educação o princípio da sustentabilidade Ele se traduz por perguntas como até que ponto há sentido no que fazemos Até que ponto nossas ações contribuem para a qualidade de vida dos povos e para a sua felicidade A sustentatibilidade é um princípio reorientador da educação e principalmente dos currículos objetivos e métodos É no contexto da evolução da própria ecologia que surge e ainda engatinha o que chamamos de ecopedagogia inicialmente chamada de pedagogia do desen volvimento sustentável e que hoje ultrapassou esse sentido A ecopedagogia está em desenvolvimento seja como um movimento pedagógico seja como abordagem curricular Como a ecologia a ecopedagogia também pode ser entendida como um movi mento social e político Como todo movimento novo em processo em evolução ele é complexo e pode tomar diferentes direções até contraditórias Ele pode ser entendido diferentemente como o são as expressões desenvolvimento sustentá vel e meio ambiente Existe uma visão capitalista do desenvolvimento susten tável e do meio ambiente que por ser antiecológica deve ser considerada como uma armadilha como vem sustentando Leonardo Boff A ecopedagogia também implica uma reorientação dos currículos para que incorporem certos princípios defendidos por ela Estes princípios deveriam por exemplo orientar a concepção dos conteúdos e a elaboração dos livros didáticos Jean Piaget nos ensinou que os currículos devem contemplar o que é significativo para o aluno Sabemos que isso é correto mas incompleto Os conteúdos curri culares têm que ser significativos para o aluno e só serão significativos para ele se esses conteúdos forem significativos também para a saúde do planeta para o contexto mais amplo Colocada neste sentido a ecopedagogia não é uma pedagogia a mais ao lado de outras pedagogias Ela só tem sentido como projeto alternativo global onde a preocupação não está apenas na preservação da natureza Ecologia Natural ou no impacto das sociedades humanas sobre os ambientes naturais Ecologia Social mas num novo modelo de civilização sustentável do ponto de vista ecológico Ecologia Integral que implica uma mudança nas estruturas econômicas sociais e culturais Ela está ligada portanto a um projeto utópico mudar as relações humanas sociais e ambientais que temos hoje Aqui está o sentido profundo da ecopedagogia ou de uma Pedagogia da Terra como a chamamos A ecopedagogia não se opõe à educação ambiental Ao contrário para a eco pedagogia a educação ambiental é um pressuposto A ecopedagogia incorpora a e oferece estratégias propostas e meios para a sua realização concreta Foi justamente durante a realização do Fórum Global 92 no qual se discutiu muito a educação ambiental que se percebeu a importância de uma pedagogia do desenvolvimento sustentável ou de uma ecopedagogia Hoje porém a ecopedagogia tornouse um movimento e uma perspectiva da educação maior do que uma pedagogia do desenvolvimento sustentável Ela está mais para a educação sustentável para uma ecoeducação que é mais ampla do que a educação ambiental A educação sustentável não se preocupa apenas com uma relação saudável com o meio ambiente mas com o sentido mais profundo do que fazemos com a nossa existência a partir da vida cotidiana 3 Consciência planetária cidadania planetária civilização planetária A globalização impulsionada sobretudo pela tecnologia parece determinar cada vez mais nossas vidas As decisões sobre o que nos acontece no diaadia parecem nos escapar por serem tomadas muito distante de nós comprometendo nosso papel de sujeitos da história Mas não é bem assim Como fenômeno e como processo a globalização tornouse irreversível mas não esse tipo de globalização o globalismo ao qual estamos submetidos hoje a globalização capitalista Seus efeitos mais imediatos são o desemprego o aprofundamento das diferenças entre os poucos que têm muito e os muitos que têm pouco a perda de poder e autonomia de muitos Estados e Nações Há pois que distinguir os países que hoje comandam a globalização os globalizadores países ricos dos países que sofrem a globalização os países globalizados pobres Dentro deste complexo fenômeno podemos distinguir também a globalização econômica realizada pelas transnacionais da globalização da cidadania Ambas se utilizam da mesma base tecnológica mas com lógicas opostas A primeira submetendo Estados e Nações é comandada pelo interesse capitalista a segunda globalização é a realizada através da organização da Sociedade Civil A Sociedade Civil globalizada é a resposta que a Sociedade Civil como um todo e as ONGs estão dando hoje à globalização capitalista Neste sentido o Fórum Global 92 se constituiu num evento dos mais significativos do final de século XX deu grande impulso à globalização da cidadania Hoje o debate em torno da Carta da Terra está se constituindo num fator importante de construção desta cidadania planetária Qualquer pedagogia pensada fora da globalização e do movimento ecológico tem hoje sérios problemas de contextualização Estrangeiro eu não vou ser Cidadão do mundo eu sou diz uma das letras de música cantada pelo cantor brasileiro Milton Nascimento Se as crianças de nossas escolas entendessem em profundidade o significado das palavras desta canção estariam iniciando uma verdadeira revolução pedagógica e curricular Como posso sentirme estrangeiro em qualquer território se pertenço a um único território Pedagogia da Terra e Cultura da Sustentabilidade Revista Lusófona de Educação 23 a Terra Não há na Terra lugar estrangeiro para terráqueos Se sou cidadão do mundo não podem existir para mim fronteiras As diferenças culturais geográfi cas raciais e outras enfraquecem diante do meu sentimento de pertencimento à Humanidade A noção de cidadania planetária mundial sustentase na visão unificadora do planeta e de uma sociedade mundial Ela se manifesta em diferentes expressões nossa humanidade comum unidade na diversidade nosso futuro comum nossa pátria comum cidadania planetária Cidadania Planetária é uma expres são adotada para expressar um conjunto de princípios valores atitudes e compor tamentos que demonstra uma nova percepção da Terra como uma única comunida de Freqüentemente associada ao desenvolvimento sustentável ela é muito mais ampla do que essa relação com a economia Tratase de um ponto de referência ético indissociável da civilização planetária e da ecologia A Terra é Gaia um su perorganismo vivo e em evolução o que for feito a ela repercutirá em todos os seus filhos Cultura da sustentabilidade supõe uma pedagogia da sustentabilidade que dê conta da grande tarefa de formar para a cidadania planetária Esse é um processo já em marcha A educação para a cidadania planetária está começando através de numerosas experiências que embora muitas delas sejam locais elas nos apontam para uma educação para nos sentirmos membros para além da Terra para viver uma cidadania cósmica Os desafios são enormes tanto para os educadores quanto para os responsáveis pelos sistemas educacionais Mas já existem certos sinais na própria sociedade que apontam para uma crescente busca não só por temas espiritualistas e de autoajuda mas por um conhecimento científico mais profundo do universo Educar para a cidadania planetária implica muito mais do que uma filosofia educacional do que o enunciado de seus princípios A educação para a cidadania planetária implica uma revisão dos nossos currículos uma reorientação de nossa visão de mundo da educação como espaço de inserção do indivíduo não numa comunidade local mas numa comunidade que é local e global ao mesmo tempo Educar então não seria como dizia Émile Durkheim a transmissão da cultura de uma geração para outra mas a grande viagem de cada indivíduo no seu universo interior e no universo que o cerca O tipo de globalização de hoje está muito mais ligado ao fenômeno da mundia lização do mercado que é um tipo de mundialização e mesmo esta mundialização fundada no mercado pode ser vista como uma globalização cooperativa ou como uma globalização competitiva sem solidariedade Entre o estatismo absolutista e a mão invisível do mercado pode existir e existe uma nova economia de mercado há mercados e mercados onde predomina a cooperação e a solidariedade e não a competitividade selvagem uma economia solidária a verdadeira economia da sustentabilidade Por tudo isso precisamos construir uma outra globalização5 uma globalização fundada no princípio da solidariedade A globalização em si não é problemática pois representa um processo de avanço sem precedentes na história da humanidade O que é problemático é a globalização competitiva onde os interesses do mercado se sobrepõem aos interesses humanos onde os interesses dos povos se subordinam aos interesses corporativos das grandes empresas transnacionais Assim podemos distinguir uma globalização competitiva de uma possível globalização cooperativa e solidária que em outros momentos chamamos de processo de planetarização A primeira está subordinada apenas às leis do mercado e a segunda subordinase aos valores éticos e à espiritualidade humana Para essa segunda globalização é que a Carta da Terra como um código de ética universal deveria dar uma contribuição importante não apenas através da proclamação que os Estados podem fazer mas sobretudo pelo impacto que seus princípios poderão ter na vida cotidiana do cidadão planetário Como se situa o movimento ecológico diante desse tema É importante notar como o fez Alícia Bárcena no prefácio do livro de Francisco Gutiérrez que a formação de uma cidadania ambiental é um componente estratégico do processo de construção da democracia Para ela a cidadania ambiental é verdadeiramente planetária pois no movimento ecológico o local e o global se interligam A derrubada da floresta amazônica não é apenas um fato local é um atentado contra a cidadania planetária O ecologismo tem muitos e reconhecidos méritos na colocação do tema da planetaridade Foi pioneiro na extensão do conceito de cidadania no contexto da globalização e também na prática de uma cidadania global de tal modo que hoje cidadania global e ecologismo fazem parte do mesmo campo de ação social do mesmo campo de aspirações e sensibilidades Porém a cidadania planetária não pode ser apenas ambiental já que existem agências de caráter global com políticas ambientais que sustentam a globalização capitalista Uma coisa é ser cidadão da Terra e outra é ser capitalista da terra A construção de uma cidadania planetária tem ainda um longo caminho a percorrer no interior da globalização capitalista A cidadania planetária deverá ter como foco a superação da desigualdade a eliminação das sangrentas diferenças econômicas e a integração da diversidade cultural da humanidade Não se pode falar em cidadania planetária ou global sem uma efetiva cidadania na esfera local e nacional Uma cidadania planetária é por essência uma cidadania integral portanto uma cidadania ativa e plena não apenas nos direitos sociais políticos culturais e institucionais mas também econômicofinanceiros Ela implica também na existência de uma democracia planetária Portanto ao contrário do que sustentam os neoliberais estamos muito longe de uma efetiva cidadania planetária Ela ainda permanece como projeto humano inalcançável se for limitada apenas ao desenvolvimento tecnológico Ela precisa fazer parte do próprio projeto da humanidade como um todo Ela não será uma mera consequência ou um subproduto da tecnologia ou da globalização econômica 4 Movimento pela ecopedagogia Essa travessia de milênio caracterizase por um enorme avanço tecnológico e também por uma enorme imaturidade política enquanto a Internet nos coloca no centro da Era da Informação o governo do humano continua muito pobre gerando misérias e deterioração Podemos destruir toda a vida do planeta 500 empresas transnacionais controlam 25 da atividade econômica mundial e 80 das inovações tecnológicas A globalização econômica capitalista enfraqueceu os Estados Nacionais impondo limites para a sua autonomia subordinandoos à lógica econômica das transnacionais Gigantescas dívidas externas governam países e impedem a implantação de políticas sociais eqüalizadoras As empresas transnacionais trabalham para 10 da população mundial que se situa nos países mais ricos gerando uma tremenda exclusão Esse é o cenário da travessia um cenário ainda mais problemático pela falta de alternativas Os paradigmas clássicos estão esgotando suas possibilidades de responder adequadamente a esse novo contexto Não conseguem explicar essa travessia muito menos passar por ela Há uma crise de inteligibilidade diante da qual muitos falsos profetas e charlatães oferecem soluções mágicas Uma nova espiritualidade surge muito bem aproveitada pelas mercoreligiões A resposta dada pelo estatismo burócratico e autoritário é tão ineficiente quanto o neoliberalismo do deusmercado O neoliberalismo propõe mais poder para as transnacionais e os estatistas propõem mais poder para o Estado reforçando as suas estruturas No meio de tudo isso está o cidadão comum que não é nem empresário nem Estado A resposta parece estar além destes dois modelos clássicos mas certamente não numa suposta terceira via que deseja apenas dar sobreviva ao capitalismo sofisticando a dominação política a exploração econômica e provocando enorme exclusão social A resposta parece vir hoje do fortalecimento do controle do cidadão frente ao Estado e ao Mercado a Sociedade Civil fortalecendo sua capacidade de governarse e controlar o desenvolvimento Aqui entra o papel importante da educação da formação para a cidadania ativa Podemos dizer que há uma comunidade sustentável que vive em harmonia com o seu meio ambiente não causando danos a outras comunidades nem para a comunidade de hoje e nem para a de amanhã E isso não pode constituirse apenas num compromisso ecológico mas éticopolítico alimentado por uma pedagogia isto é por uma ciência da educação e uma prática social definida Nesse sentido a ecopedagogia inserida nesse movimento sóciohistórico formando cidadãos capazes de escolherem os indicadores de qualidade do seu futuro se constitui numa pedagogia inteiramente nova e intensamente democrática O Movimento pela Ecopedagogia ganhou impulso sobretudo a partir do Primeiro Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação organizado pelo Instituto Paulo Freire com o apoio do Conselho da Terra e da UNESCO Moacir Gadotti Revista Lusófona de Educação 26 de 23 a 26 de agosto de 1999 em São Paulo e do I Fórum Internacional sobre Ecopedagogia realizado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto Portugal de 24 a 26 de março de 2000 Desses encontros surgiram os princípios orientadores desse movimento contidos numa Carta da Ecopedagogia Eis alguns deles 1 O planeta como uma única comunidade 2 A Terra como mãe organismo vivo e em evolução 3 Uma nova consciência que sabe o que é sustentável apropriado e faz sentido para a nossa existência 4 A ternura para com essa casa Nosso endereço é a Terra 5 A justiça sóciocósmica a Terra é um grande pobre o maior de todos os pobres 6 Uma pedagogia biófila que promove a vida envolverse comunicarse com partilhar problematizar relacionarse entusiasmarse 7 Uma concepção do conhecimento que admite só ser integral quando com partilhado 8 O caminhar com sentido vida cotidiana 9 Uma racionalidade intuitiva e comunicativa afetiva não instrumental 10 Novas atitudes reeducar o olhar o coração 11 Cultura da sustentabilidade ecoformação Ampliar nosso ponto de vista As pedagogias clássicas eram antropocêntricas A ecopedagogia parte de uma consciência planetária gêneros espécies reinos educação formal informal e não formal Ampliamos o nosso ponto de vista Do homem para o planeta acima de gêneros espécies e reinos De uma visão antropocêntrica para uma consciência planetária para uma prática de cidadania planetária e para uma nova referência ética e social a civilização planetária Não se pode dizer que a ecopedagogia represente já uma tendência concreta e notável na prática da educação contemporânea Se ela já tivesse suas categorias definidas e elaboradas ela estaria totalmente equivocada pois uma perspectiva pe dagógica não pode nascer de um discurso elaborado por especialistas Ao contrá rio o discurso pedagógico elaborado é que nasce de uma prática concreta testada e comprovada A ecopedagogia está ainda em formação e formulação como teoria da educação Ela se está manifestando em muitas práticas educativas que o Movi mento pela ecopedagogia liderado pelo Instituto Paulo Freire tenta congregar O Movimento pela Ecopedagogia surgido no seio da iniciativa da Carta da Terra está dando apoio ao processo de sua discussão indicando justamente uma metodologia apropriada que não seja a metodologia da simples proclamação go vernamental de uma declaração formal mas a tradução de um processo vivido e da participação crítica da demanda como diz Francisco Gutiérrez A Carta da Terra deve ser entendida sobretudo como um movimento ético global para se chegar a um código de ética planetário sustentando um núcleo de princípios e valores que fazem frente à injustiça social e à falta de eqüidade reinante no planeta Cinco pilares sustentam esse núcleo a direitos humanos b democracia e participação c eqüidade d proteção das minorias e resolução pacífica dos conflitos Esses pilares são cimentados por uma visão de mundo solidária e respeitosa da diferença consciência planetária O intercâmbio planetário que ocorre hoje em função da expansão das oportunidades de acesso à comunicação notadamente através da Internet deverá facilitar o diálogo inter e transcultural e o desenvolvimento desta nova ética planetária A campanha da Carta da Terra agrega um novo valor e oferece um novo impulso a esse movimento pela ética na política na economia na educação etc Ela se tornará realmente forte e talvez decisiva no momento em que representar um projeto de futuro um contraprojse to global e local ao projeto políticopedagógico social e econômico neoliberal que não só é intrinsecamente insustentável como também essencialmente injusto e desumano 5 A Terra como paradigma Gaia igual a vida Muitos entendem que é ilegítimo considerar a Terra como um organismo vivo Esta qualidade a Terra não teria Enxergamos a vida apenas pela percepção que temos da nossa e da vida dos animais e das plantas É verdade não temos o distanciamento que têm no espaço os astronautas mas podemos ter o mesmo distanciamento dos astronautas no tempo muito mais dilatado que o nosso próprio tempo de vida A hipótese Gaia que concebe a Terra como um superorganismo complexo vivo e em evolução encontra respaldo na sua história bilionária A primeira célula apareceu há 4 bilhões de anos De lá para cá o processo evolucionário da vida não cessou de se complexificar formando ecossistemas interdependentes dentro do macrossistema Terra que por sua vez é um microsistema se comparado com o macrosssistema Universo Só conseguimos entender a Terra como um ser vivo nos distanciando dela no tempo e no espaço A visão que os astronautas tiveram de longe transformou muito a eles e a nós mesmos que não vivemos diretamente essa experiência fantástica Não só ela foi vista como uma bola azul no meio da escuridão do universo mas foi percebida como uma só unidade Portanto interferiu também na visão que temos de nós mesmos como uma única comunidade Leonardo Boff como um sistema vivo Fritjop Capra Essa visão mexeu portanto com a nossa consciência com o paradigma que nos orientava até então Com a consciência planetária nasceu nossa consciência de cidadania planetária É verdade o paradigma da razão instrumental nos conduziu à violência e à negação de valores humanos fundamentais como a intuição a emoção a sensibili Moacir Gadotti Revista Lusófona de Educação 28 dade Somos humanos porque sentimos percebemos amamos sonhamos Mas há também um perigo ou uma armadilha nesse novo paradigma ele pode nos levar à contemplação da natureza e até à mistificação da realidade a uma espiritualidade canalizada por uma religiosidade baseada na passividade Em vez da solidariedade e da luta pela justiça estaríamos esperando por um mundo melhor sem trabalho sem esforço sem conquista sem sacrifícios Novos valores humanos que não levam em conta a complexidade e a contradição inerente a todos os seres objetos e pro cessos destrói a possibilidade de uma mudança qualitativa em direção de um novo e necessário projeto civilizatório Para nos dimensionar como membros de um imenso cosmos para assumirmos novos valores baseados na solidariedade na afe tividade na transcendência e na espiritualidade para superar a lógica da competi tividade e da acumulação capitalista devemos trilhar um caminho difícil Nenhuma mudança é pacífica Mas ela não se tornará realidade orando rezando pelo nosso puro desejo de mudar o mundo Como nos ensinou Paulo Freire mudar o mundo é urgente difícil e necessário Mas para mudar o mundo é preciso conhecer ler o mundo entender o mundo também cientificamente não apenas emocionalmente e sobretudo intervir nele organizadamente O racionalismo deve ser condenado sem condenarmos o uso da razão A lógica racionalista nos levou a saquear a natureza nos levou à morte em nome do pro gresso Mas a razão também nos levou à descoberta da planetaridade A poética e emocionante afirmação dos astronautas de que a Terra era azul foi possível depois de milhares de anos de domínio racional das leis da própria natureza Devemos condenar a racionalização sem condenar a racionalidade Ao chegar à Lua pela primeira vez o astronauta Louis Amstrong afirmou um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade Isso foi possível através de um descomunal esforço humano coletivo que levou em conta todo o conhecimento técnico científico e tecnológico acumulado até então pela humanidade Isso não é nada desprezível Se hoje formamos redes de redes no emaranhado da comuni cação planetária pela Internet isso foi possível graças ao uso tanto da imaginação da intuição da emoção quanto da razão pelo gigantesco e sofrido esforço hu mano para descobrir como podemos viver melhor neste planeta como podemos interagir com ele O fizemos de forma equivocada é verdade Nos consideramos superiores pela nossa racionalidade e exploramos a natureza sem cuidado sem respeito por ela Não nos relacionamos com a Terra e com a vida com emoção com afeto com sensibilidade Nesse campo estamos apenas engatinhando Mas estamos aprendendo Estamos assistindo ao nascimento do cidadão planetário Ainda não consegui mos imaginar todas as conseqüências desse evento singular No momento senti mos percebemos nos emocionamos com esse fato mas não conseguimos adequar nossas mentes e nossas formas de vida a esse acontecimento espetacular na histó ria da humanidade Percebemos como Edgar Morin que é necessário tudo ecolo gizar e assim ensaiamos a vida nesse nosso planeta cujos habitantes descobriram a planetaridade O que podemos fazer desde já Podemos nos interrogar profundamente sobre os paradigmas que nos orientaram até hoje e ensaiar a vivência de um novo paradigma que é a Terra vista como uma única comunidade E continuar caminhando juntos para que possamos chegar lá ainda em tempo Correspondência Instituto Paulo Freire Rua Cerro Corá 550 Conj 22 2o andar CEP 05061100 São Paulo SP Brasil Email gadottipaulofreireorg Notas ¹ Este artigo é resultado de diversos debates em encontros e congressos e particularmente na Conferência Continental das Américas em Dezembro de 1998 em Cuiabá MT e durante o Primeiro Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação organizado pelo Instituto Paulo Freire com o apoio do Conselho da Terra e da UNESCO de 23 a 26 de Agosto de 1999 em São Paulo e do I Fórum Internacional sobre Ecopedagogia realizado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto Portugal de 24 a 26 de Março de 2000 O autor vem acompanhando esse tema desde 1992 quando representou a ICEA Internacional Community Education Association na Rio92 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento chamada de Cúpula da Terra que elaborou e aprovou a Agenda 21 No Fórum Global92 na mesma época coordenou ao lado de Moema Viezer Fábio Cascino Nilo Diniz e Marcos Sorrentino a Jornada Internacional de Educação Ambiental que elaborou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global Este texto retoma idéias tratadas no livro Pedagogia da Terra publicado pela Editora Petrópolis de São Paulo 2000 ² Farancisco Gutierrez Cruz Prado Ecopedagogia e Cidadania Planetária São Paulo IPFCortez 1998 ³ Gaston Pineau Delair Essai sur lecoformation Paris Païdeia 1992 ⁴ Leonardo Boff Saber cuidar Petrópolis Vozes 1999 ⁵ Milton Santos Por uma outra globalização do pensamento único à consciência universal São Paulo Record 2000
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Texto de pré-visualização
Roteiro para elaboração dos seminários Educação Ambiental e Sustentabilidade Professor Dr Luciano de Oliveira Fonte httpswwwamazoncombrPedagogiaTerraMoacirGadottidp8585663448 SEMINÁRIO AVALIATIVO Pedagogia da terra Texto base GADOTTI Moacir Pedagogia da terra e cultura de sustentabilidade Revista lusófona de educação n 6 p 1529 2005 PASSOS 1º Leitura integral do artigo de GADOTTI 2005 o qual será disponibilizado no grupo do whatsApp da disciplina 2º A partir da divisão dos 5 gruposduplastrios e do sorteio dos tópicos desenvolvidos por GADOTTI 2005 reler de modo reflexivo a parte que ficou responsável registrar considerações pessoais e interlocuções com outros textos eou experiências pessoais 3º Retirar em torno de aproximadamente 6 citações chave do texto referenciálas e pensar em argumentos sobre cada citação Esses argumentos podem ser com exemplos da experiência pessoal eou profissional pequenos vídeos música interlocução com outros autoresobras etc 4º Preparar uma apresentação slides com essas citações e ilustrações referenciadas para apresentar à turma nas próximas aulas Cada grupo apresentará durante às aulas o tópico que ficou responsável Datas prováveis para as apresentações 2103 2803 0404 1104 2 últimos grupos Observações Gerais Os grupos deverão disponibilizar as apresentações para a turma O professor será o mediador dos seminários bem como auxiliará em todo o processo de preparação e apresentação dos seminários Pedagogia da Terra e Cultura de Sustentabilidade Moacir Gadotti O presente artigo pretende ser um desafio à reflexão sobre os grandes problemas que se colocam aos seres humanos nas sociedades actuais As reflexões que se fazem têm sobretudo um carácter antropológico e ético Antropológico porque se trata de promover uma nova concepção de homem que inserido no Cosmos se questione sobre o sentido da vida que por sua vez não está separado do sentido do Planeta ético porque os novos princípios reguladores da actividade humana terão de se basear num novo paradigma que tenha a Terra como fundamento e centro A mudança de paradigma terá por certo implicações na Educação A Pedagogia da Terra ou Ecopedagogia entendida como movimento pedagógico como abordagem curricular e como movimento social e político representa um projecto alternativo global que tem por finalidades por um lado promover a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida quotidiana e por outro a promoção de um novo modelo de civilização sustentável do ponto de vista ecológico A educação para a cidadania planetária implica uma revisão dos nossos currículos uma reorientação de nossa visão de mundo da educação como espaço de inserção do indivíduo não numa comunidade local mas numa comunidade que é local e global ao mesmo tempo Uma cidadania planetária é por essência uma cidadania integral portanto uma cidadania activa e plena o que implica também a existência de uma democracia planetária Pela primeira vez na história da humanidade não por efeito de armas nucleares mas pelo descontrole da produção podemos destruir toda a vida do planeta¹ É a essa possibilidade que podemos chamar de era do exterminismo Passamos do modo de produção para o modo de destruição teremos que viver daqui para a frente confrontados com o desafio permanente de reconstruir o planeta Temos talvez pouco mais de 50 anos para decidir se queremos ou não destruir o planeta Os paradigmas clássicos que orientaram até agora a produção e a reprodução da existência no planeta colocaram em risco não apenas a vida do ser humano mas todas as formas de vida existentes na Terra Alertas vêm sendo dados há décadas por cientistas e filósofos desde os anos 60 Precisamos de um novo paradigma que tenha a Terra como fundamento Professor Titular da Universidade de São Paulo USP DiretorGeral do Instituto Paulo Freire São Paulo Moacir Gadotti Revista Lusófona de Educação 16 Por outro lado vivemos numa próspera era da informação em tempo real da globalização da economia mas para poucos da realidade virtual da Internet da quebra de fronteiras entre nações do ensino a distância dos escritórios virtuais da robótica e dos sistemas de produção automatizados do entretenimento Vive mos o ciberespaço da formação continuada As novas tecnologias da informação e da comunicação marcaram todo o século XX Marx sustentava que a mudança nos meios de produção transformava o modo de produção e as relações de produção Isso aconteceu com a invenção da escrita do alfabeto da imprensa da televisão e hoje vem acontecendo com a Internet O desenvolvimento espetacular da in formação quer no que diz respeito às fontes quer à capacidade de difusão está gerando uma verdadeira revolução que afeta não apenas a produção e o trabalho mas principalmente a educação e a formação O cenário está dado globalização provocada pelo avanço da revolução tecno lógica caracterizada pela internacionalização da produção e pela expansão dos flu xos financeiros regionalização caracterizada pela formação de blocos econômicos fragmentação que divide globalizadores e globalizados centro e periferia os que morrem de fome e os que morrem pelo consumo excessivo de alimentos rivalida des regionais confrontos políticos étnicos e confessionais terrorismo O termo sustentabilidade pode não ser muito apropriado para o que preten demos colocar a seguir Estamos tentando dar a esse conceito um novo significado De fato é um termo sustentável que associado ao desenvolvimento sofreu um grande desgaste Enquanto para alguns é apenas um rótulo para outros ele tor nouse a própria expressão do absurdo lógico desenvolvimento e sustentabilidade seriam logicamente incompatíveis Para nós é mais do que um qualificativo do desenvolvimento Vai além da preservação dos recursos naturais e da viabilidade de um desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente Ele implica um equilíbrio do ser humano consigo mesmo e com o planeta mais ainda com o universo A sustentabilidade que defendemos referese ao próprio sentido do que somos de onde viemos e para onde vamos como seres do sentido e doadores de sentido a tudo o que nos cerca Esse tema deverá dominar os debates educativos das próximas décadas O que estamos estudando nas escolas Não estaremos construindo uma ciência e uma cultura que servem para a degradação do planeta e dos seres humanos A categoria sustentabilidade deve ser associada à planetaridade A Terra como um novo paradigma Complexidade holismo transdisciplinaridade aparecem como ca tegorias associadas ao tema da planetaridade Que implicações tem essa visão de mundo sobre a educação O tema remete a uma cidadania planetária à civilização planetária à consciência planetária Uma cultura da sustentabilidade é também por isso uma cultura da planetaridade isto é uma cultura que parte do princípio que a Terra é constituída por uma só comunidade de humanos os terráqueos e que são cidadãos de uma única nação 1 Sociedade sustentável Pretendemos a seguir lançar o debate a respeito de uma Pedagogia da Terra que compreenda a ecopedagogia e a educação sustentável Esse debate já teve início com o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável utilizado pela primeira vez pela ONU em 1979 indicando que o desenvolvimento poderia ser um processo integral que deveria incluir as dimensões culturais éticas políticas sociais ambientais e não somente as dimensões econômicas Esse conceito foi disseminado mundialmente pelos relatórios do Worldwatch Institute na década de 80 e particularmente pelo relatório Nosso Futuro Comum produzido pela Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987 Muitas foram as críticas feitas a esse conceito muitas vezes pelo seu uso reducionista e posteriormente sua trivialização apesar de aparecer como politicamente correto e moralmente nobre Há outras expressões que têm uma base conceptual comum e se complementam tais como desenvolvimento humano desenvolvimento humano sustentável e transformação produtiva com eqüidade A expressão desenvolvimento humano tem a vantagem de situar o ser humano no centro do desenvolvimento O conceito de desenvolvimento humano cujos eixos centrais são eqüidade e participação é um conceito ainda em evolução e se opõe à concepção neoliberal de desenvolvimento Concebe a sociedade desenvolvida como uma sociedade equitativa que por sua vez deve esta a ser alcançada através da participação das pessoas Como o conceito de desenvolvimento sustentável o conceito de desenvolvimento humano é muito amplo e por vezes ainda vago As Nações Unidas nos últimos anos passaram a usar a expressão desenvolvimento humano como indicador de qualidade de vida fundado em índices de saúde longevidade maturidade psicológica educação ambiente limpo espírito comunitário e lazer criativo que são também os indicadores de uma sociedade sustentável isto é uma sociedade capaz de satisfazer as necessidades das gerações de hoje sem comprometer a capacidade e as oportunidades das gerações futuras As críticas ao conceito de desenvolvimento sustentável e à própria idéia de sustentabilidade vêm do fato de que o ambientalismo trata separadamente as questões sociais e as questões ambientais O movimento conservacionista surgiu como uma tentativa elitista dos países ricos no sentido de reservar grandes áreas naturais preservadas para o seu lazer e contemplação A Amazônia por exemplo não era uma preocupação com a sustentabilidade do planeta mas com a continuidade do seus privilégios em contraste com as necessidades da maioria da população Diante dessas críticas o sucesso da luta ecológica hoje depende muito da capacidade dos ecologistas convencerem a maioria da população a população mais pobre de que se trata não apenas de limpar os rios despoluir o ar reflorestar os campos devastados para vivermos num planeta melhor num futuro distante Moacir Gadotti Revista Lusófona de Educação 18 Tratase de dar uma solução simultaneamente aos problemas ambientais e aos problemas sociais Os problemas de que trata a ecologia não afetam apenas o meio ambiente Afetam o ser mais complexo da natureza que é o ser humano O conceito de desenvolvimento não é um conceito neutro Ele tem um con texto bem preciso dentro de uma ideologia do progresso que supõe uma concep ção de história de economia de sociedade e do próprio ser humano O conceito foi utilizado numa visão colonizadora durante muitos anos em que os países do globo foram divididos entre desenvolvidos em desenvolvimento e subdesen volvidos remetendose sempre a um padrão de industrialização e de consumo Ele supõe que todas as sociedades devam orientarse por uma única via de acesso ao bemestar e à felicidade a serem alcançados apenas pela acumulação de bens materiais Metas de desenvolvimento foram impostas pelas políticas econômicas neocolonialistas dos países chamados desenvolvidos em muitos casos com enorme aumento da miséria da violência e do desemprego Junto com esse modelo econômico com seus ajustes por vezes criminosos foram transplantados valores éticos e ideais políticos que levaram a desestruturação de povos e nações Não é de se estranhar portanto que muitos tenham reservas quando se fala em desen volvimento sustentável O desenvolvimentismo levou a uma agonia do planeta Temos hoje consciência de uma iminente catástrofe se não traduzirmos essa cons ciência em atos para retirar do desenvolvimento essa visão predatória concebêlo de forma mais antropológica e menos economicista e salvar a Terra Parece claro que entre sustentabilidade e capitalismo existe uma incompatibili dade de princípios Essa é uma contradição de base que está inclusive no centro de todos os debates da Carta da Terra e que pode inviabilizála Tentase conciliar dois termos inconciliáveis Não são inconciliáveis em si metafisicamente São inconciliá veis no atual contexto da globalização capitalista O conceito de desenvolvimento sustentável é impensável e inaplicável neste contexto O fracasso da Agenda 21 o demonstra Nesse contexto o desenvolvimento sustentável é tão inconciliável quanto a transformação produtiva com eqüidade defendida pela CEPAL Como pode existir um crescimento com eqüidade um crescimento sustentável numa economia regida pelo lucro pela acumulação ilimitada pela exploração do traba lho e não pelas necessidades das pessoas Levado às suas últimas conseqüências a utopia ou projeto do desenvolvimento sustentável coloca em questão não só o crescimento econômico ilimitado e predador da natureza mas o modo de produ ção capitalista Ele só tem sentido numa economia solidária numa economia regida pela compaixão e não pelo lucro Os graves problemas sócioambientais e as críticas ao modelo de desenvolvi mento foram gerando na sociedade maior consciência ecológica nas últimas déca das Embora essa consciência não tenha ainda provocado mudanças significativas no modelo econômico e nos rumos das políticas governamentais algumas experi ências concretas apontam para uma crescente sociedade sustentável em marcha como o demonstrou a Conferência de Assentamentos Humanos Habitat II organizada pelas Nações Unidas em Istambul na Turquia em 1997 Nessa Conferência foram apresentadas experiências concretas de combate à crise urbana como violência desemprego falta de habitação de transporte de saneamento que vem degradando o meio ambiente e a qualidade de vida Essas experiências apontam para o nascimento de uma cidade sustentável Políticas de sustentabilidade econômica e social aos poucos vêm surgindo constituindose em verdadeira esperança de que podemos em tempo enfrentar nossos desafios globais 2 Educação sustentável A sensação de pertencimento ao universo não se inicia na idade adulta e nem por um ato de razão Desde a infância sentimonos ligados com algo que é muito maior do que nós Desde crianças nos sentimos profundamente ligados ao universo e nos colocamos diante dele num misto de espanto e de respeito E durante toda vida buscamos respostas ao que somos de onde viemos para onde vamos enfim qual o sentido da nossa existência É uma busca incessante e que jamais termina A educação pode ter um papel nesse processo se colocar questões filosóficas fundamentais mas também se souber trabalhar ao lado do conhecimento essa nossa capacidade de nos encantar com o universo Hoje tomamos consciência de que o sentido das nossas vidas não está separado do sentido do próprio planeta Diante da degradação das nossas vidas no planeta chegamos a uma verdadeira encruzilhada entre um caminho Tecnozóico que coloca toda a fé na capacidade da tecnologia de nos tirar da crise sem mudar nosso estilo de vida poluidor e consumista e um caminho Ecozóico fundado numa nova relação saudável com o planeta reconhecendo que somos parte do mundo natural vivendo em harmonia com o universo caracterizado pelas atuais preocupações ecológicas Temos que fazer escolhas Elas definirão o futuro que teremos Não me parece realmente que sejam caminhos totalmente opostos Tecnologia e humanismo não se contrapõem Mas é claro houve excessos no nosso estilo de vida poluidor e consumista e que não é fruto da técnica mas do modelo econômico Este é que tem que ser posto em causa E esse é um dos papéis da educação sustentável ou ecológica O desenvolvimento sustentável visto de forma crítica tem um componente educativo formidável a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação É aqui que entra em cena a Pedagogia da Terra a ecopedagogia Ela é uma pedagogia para a promoção da aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana como dizem Francisco Gutiérrez e Cruz Prado² em seu livro Ecopedagogia e cidadania planetária Encontramos o sentido ao caminhar vivenciando o contexto e o pro cesso de abrir novos caminhos não apenas observando o caminho É por isso uma pedagogia democrática e solidária A pesquisa de Francisco Gutiérrez e Cruz Prado sobre a ecopedagogia originouse na preocupação com o sentido da vida cotidiana A formação está ligada ao espaçotempo no qual se realizam concretamente as relações entre o ser humano e o meio ambiente Elas se dão sobretudo no nível da sensibilidade muito mais do que no nível da consciência Elas se dão portanto muito mais no nível da subconsciência não as percebemos e muitas vezes não sabemos como elas acontecem É preciso uma ecoformação para tornálas conscientes E a ecoformação necessita de uma ecopedagogia Como destaca Gaston Pineau em seu livro De lair essai sur lécoformation³ uma série de referenciais se associam para isso a inspiração bachelardiana os estudos do imaginário a abordagem da transversalidade da transdisciplinaridade e da interculturalidade o construtivismo e a pedagogia da alternância Precisamos de uma ecopedagogia e uma ecoformação hoje precisamos de uma Pedagogia da Terra justamente porque sem essa pedagogia para a reeducação do homemmulher principalmente do homem ocidental prisioneiro de uma cultura cristã predatória não poderemos mais falar da Terra como um lar como uma toca para o bichohomem como fala Paulo Freire Sem uma educação sustentável a Terra continuará apenas sendo considerada como espaço de nosso sustento e de domínio técnicotecnológico objeto de nossas pesquisas ensaios e algumas vezes de nossa contemplação Mas não será o espaço de vida o espaço do aconchego de cuidado⁴ Não aprendemos a amar a Terra lendo livros sobre isso nem livros de ecologia integral A experiência própria é o que conta Plantar e seguir o crescimento de uma árvore ou de uma plantinha caminhando pelas ruas da cidade ou aventurandose numa floresta sentindo o cantar dos pássaros nas manhãs ensolaradas ou não observando como o vento move as plantas sentindo a areia quente de nossas praias olhando para as estrelas numa noite escura Há muitas formas de encantamento e de emoção frente às maravilhas que a natureza nos reserva É claro existe a poluição a degradação ambiental para nos lembrar de que podemos destruir essa maravilha e para formar nossa consciência ecológica e nos mover à ação Acariciar uma planta contemplar com ternura um pôr de sol cheirar o perfume de uma folha de pitanga de goiaba de laranjeira ou de um cipreste de um eucalipto são múltiplas formas de viver em relação permanente com esse planeta generoso e compartilhar a vida com todos os que o habitam ou o compõem A vida tem sentido mas ele só existe em relação Como diz o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade Sou um homem dissolvido na natureza Estou florescendo em todos os ipês Isso Drummond só poderia dizer aqui na Terra Se estivesse em outro planeta do sistema solar ele não diria o mesmo Só a Terra é amigável com o ser humano Os outros planetas são francamente hostis a ele embora tenham sido originados Pedagogia da Terra e Cultura da Sustentabilidade Revista Lusófona de Educação 21 na mesma poeira cósmica Existirão outros planetas fora do sistema solar que abri gam a vida talvez a vida inteligente Se levarmos em conta que a matéria da qual se originou o universo é a mesma é muito provável Mas por ora só temos um que é francamente nosso amigo Temos que aprender a amálo Como se traduz na educação o princípio da sustentabilidade Ele se traduz por perguntas como até que ponto há sentido no que fazemos Até que ponto nossas ações contribuem para a qualidade de vida dos povos e para a sua felicidade A sustentatibilidade é um princípio reorientador da educação e principalmente dos currículos objetivos e métodos É no contexto da evolução da própria ecologia que surge e ainda engatinha o que chamamos de ecopedagogia inicialmente chamada de pedagogia do desen volvimento sustentável e que hoje ultrapassou esse sentido A ecopedagogia está em desenvolvimento seja como um movimento pedagógico seja como abordagem curricular Como a ecologia a ecopedagogia também pode ser entendida como um movi mento social e político Como todo movimento novo em processo em evolução ele é complexo e pode tomar diferentes direções até contraditórias Ele pode ser entendido diferentemente como o são as expressões desenvolvimento sustentá vel e meio ambiente Existe uma visão capitalista do desenvolvimento susten tável e do meio ambiente que por ser antiecológica deve ser considerada como uma armadilha como vem sustentando Leonardo Boff A ecopedagogia também implica uma reorientação dos currículos para que incorporem certos princípios defendidos por ela Estes princípios deveriam por exemplo orientar a concepção dos conteúdos e a elaboração dos livros didáticos Jean Piaget nos ensinou que os currículos devem contemplar o que é significativo para o aluno Sabemos que isso é correto mas incompleto Os conteúdos curri culares têm que ser significativos para o aluno e só serão significativos para ele se esses conteúdos forem significativos também para a saúde do planeta para o contexto mais amplo Colocada neste sentido a ecopedagogia não é uma pedagogia a mais ao lado de outras pedagogias Ela só tem sentido como projeto alternativo global onde a preocupação não está apenas na preservação da natureza Ecologia Natural ou no impacto das sociedades humanas sobre os ambientes naturais Ecologia Social mas num novo modelo de civilização sustentável do ponto de vista ecológico Ecologia Integral que implica uma mudança nas estruturas econômicas sociais e culturais Ela está ligada portanto a um projeto utópico mudar as relações humanas sociais e ambientais que temos hoje Aqui está o sentido profundo da ecopedagogia ou de uma Pedagogia da Terra como a chamamos A ecopedagogia não se opõe à educação ambiental Ao contrário para a eco pedagogia a educação ambiental é um pressuposto A ecopedagogia incorpora a e oferece estratégias propostas e meios para a sua realização concreta Foi justamente durante a realização do Fórum Global 92 no qual se discutiu muito a educação ambiental que se percebeu a importância de uma pedagogia do desenvolvimento sustentável ou de uma ecopedagogia Hoje porém a ecopedagogia tornouse um movimento e uma perspectiva da educação maior do que uma pedagogia do desenvolvimento sustentável Ela está mais para a educação sustentável para uma ecoeducação que é mais ampla do que a educação ambiental A educação sustentável não se preocupa apenas com uma relação saudável com o meio ambiente mas com o sentido mais profundo do que fazemos com a nossa existência a partir da vida cotidiana 3 Consciência planetária cidadania planetária civilização planetária A globalização impulsionada sobretudo pela tecnologia parece determinar cada vez mais nossas vidas As decisões sobre o que nos acontece no diaadia parecem nos escapar por serem tomadas muito distante de nós comprometendo nosso papel de sujeitos da história Mas não é bem assim Como fenômeno e como processo a globalização tornouse irreversível mas não esse tipo de globalização o globalismo ao qual estamos submetidos hoje a globalização capitalista Seus efeitos mais imediatos são o desemprego o aprofundamento das diferenças entre os poucos que têm muito e os muitos que têm pouco a perda de poder e autonomia de muitos Estados e Nações Há pois que distinguir os países que hoje comandam a globalização os globalizadores países ricos dos países que sofrem a globalização os países globalizados pobres Dentro deste complexo fenômeno podemos distinguir também a globalização econômica realizada pelas transnacionais da globalização da cidadania Ambas se utilizam da mesma base tecnológica mas com lógicas opostas A primeira submetendo Estados e Nações é comandada pelo interesse capitalista a segunda globalização é a realizada através da organização da Sociedade Civil A Sociedade Civil globalizada é a resposta que a Sociedade Civil como um todo e as ONGs estão dando hoje à globalização capitalista Neste sentido o Fórum Global 92 se constituiu num evento dos mais significativos do final de século XX deu grande impulso à globalização da cidadania Hoje o debate em torno da Carta da Terra está se constituindo num fator importante de construção desta cidadania planetária Qualquer pedagogia pensada fora da globalização e do movimento ecológico tem hoje sérios problemas de contextualização Estrangeiro eu não vou ser Cidadão do mundo eu sou diz uma das letras de música cantada pelo cantor brasileiro Milton Nascimento Se as crianças de nossas escolas entendessem em profundidade o significado das palavras desta canção estariam iniciando uma verdadeira revolução pedagógica e curricular Como posso sentirme estrangeiro em qualquer território se pertenço a um único território Pedagogia da Terra e Cultura da Sustentabilidade Revista Lusófona de Educação 23 a Terra Não há na Terra lugar estrangeiro para terráqueos Se sou cidadão do mundo não podem existir para mim fronteiras As diferenças culturais geográfi cas raciais e outras enfraquecem diante do meu sentimento de pertencimento à Humanidade A noção de cidadania planetária mundial sustentase na visão unificadora do planeta e de uma sociedade mundial Ela se manifesta em diferentes expressões nossa humanidade comum unidade na diversidade nosso futuro comum nossa pátria comum cidadania planetária Cidadania Planetária é uma expres são adotada para expressar um conjunto de princípios valores atitudes e compor tamentos que demonstra uma nova percepção da Terra como uma única comunida de Freqüentemente associada ao desenvolvimento sustentável ela é muito mais ampla do que essa relação com a economia Tratase de um ponto de referência ético indissociável da civilização planetária e da ecologia A Terra é Gaia um su perorganismo vivo e em evolução o que for feito a ela repercutirá em todos os seus filhos Cultura da sustentabilidade supõe uma pedagogia da sustentabilidade que dê conta da grande tarefa de formar para a cidadania planetária Esse é um processo já em marcha A educação para a cidadania planetária está começando através de numerosas experiências que embora muitas delas sejam locais elas nos apontam para uma educação para nos sentirmos membros para além da Terra para viver uma cidadania cósmica Os desafios são enormes tanto para os educadores quanto para os responsáveis pelos sistemas educacionais Mas já existem certos sinais na própria sociedade que apontam para uma crescente busca não só por temas espiritualistas e de autoajuda mas por um conhecimento científico mais profundo do universo Educar para a cidadania planetária implica muito mais do que uma filosofia educacional do que o enunciado de seus princípios A educação para a cidadania planetária implica uma revisão dos nossos currículos uma reorientação de nossa visão de mundo da educação como espaço de inserção do indivíduo não numa comunidade local mas numa comunidade que é local e global ao mesmo tempo Educar então não seria como dizia Émile Durkheim a transmissão da cultura de uma geração para outra mas a grande viagem de cada indivíduo no seu universo interior e no universo que o cerca O tipo de globalização de hoje está muito mais ligado ao fenômeno da mundia lização do mercado que é um tipo de mundialização e mesmo esta mundialização fundada no mercado pode ser vista como uma globalização cooperativa ou como uma globalização competitiva sem solidariedade Entre o estatismo absolutista e a mão invisível do mercado pode existir e existe uma nova economia de mercado há mercados e mercados onde predomina a cooperação e a solidariedade e não a competitividade selvagem uma economia solidária a verdadeira economia da sustentabilidade Por tudo isso precisamos construir uma outra globalização5 uma globalização fundada no princípio da solidariedade A globalização em si não é problemática pois representa um processo de avanço sem precedentes na história da humanidade O que é problemático é a globalização competitiva onde os interesses do mercado se sobrepõem aos interesses humanos onde os interesses dos povos se subordinam aos interesses corporativos das grandes empresas transnacionais Assim podemos distinguir uma globalização competitiva de uma possível globalização cooperativa e solidária que em outros momentos chamamos de processo de planetarização A primeira está subordinada apenas às leis do mercado e a segunda subordinase aos valores éticos e à espiritualidade humana Para essa segunda globalização é que a Carta da Terra como um código de ética universal deveria dar uma contribuição importante não apenas através da proclamação que os Estados podem fazer mas sobretudo pelo impacto que seus princípios poderão ter na vida cotidiana do cidadão planetário Como se situa o movimento ecológico diante desse tema É importante notar como o fez Alícia Bárcena no prefácio do livro de Francisco Gutiérrez que a formação de uma cidadania ambiental é um componente estratégico do processo de construção da democracia Para ela a cidadania ambiental é verdadeiramente planetária pois no movimento ecológico o local e o global se interligam A derrubada da floresta amazônica não é apenas um fato local é um atentado contra a cidadania planetária O ecologismo tem muitos e reconhecidos méritos na colocação do tema da planetaridade Foi pioneiro na extensão do conceito de cidadania no contexto da globalização e também na prática de uma cidadania global de tal modo que hoje cidadania global e ecologismo fazem parte do mesmo campo de ação social do mesmo campo de aspirações e sensibilidades Porém a cidadania planetária não pode ser apenas ambiental já que existem agências de caráter global com políticas ambientais que sustentam a globalização capitalista Uma coisa é ser cidadão da Terra e outra é ser capitalista da terra A construção de uma cidadania planetária tem ainda um longo caminho a percorrer no interior da globalização capitalista A cidadania planetária deverá ter como foco a superação da desigualdade a eliminação das sangrentas diferenças econômicas e a integração da diversidade cultural da humanidade Não se pode falar em cidadania planetária ou global sem uma efetiva cidadania na esfera local e nacional Uma cidadania planetária é por essência uma cidadania integral portanto uma cidadania ativa e plena não apenas nos direitos sociais políticos culturais e institucionais mas também econômicofinanceiros Ela implica também na existência de uma democracia planetária Portanto ao contrário do que sustentam os neoliberais estamos muito longe de uma efetiva cidadania planetária Ela ainda permanece como projeto humano inalcançável se for limitada apenas ao desenvolvimento tecnológico Ela precisa fazer parte do próprio projeto da humanidade como um todo Ela não será uma mera consequência ou um subproduto da tecnologia ou da globalização econômica 4 Movimento pela ecopedagogia Essa travessia de milênio caracterizase por um enorme avanço tecnológico e também por uma enorme imaturidade política enquanto a Internet nos coloca no centro da Era da Informação o governo do humano continua muito pobre gerando misérias e deterioração Podemos destruir toda a vida do planeta 500 empresas transnacionais controlam 25 da atividade econômica mundial e 80 das inovações tecnológicas A globalização econômica capitalista enfraqueceu os Estados Nacionais impondo limites para a sua autonomia subordinandoos à lógica econômica das transnacionais Gigantescas dívidas externas governam países e impedem a implantação de políticas sociais eqüalizadoras As empresas transnacionais trabalham para 10 da população mundial que se situa nos países mais ricos gerando uma tremenda exclusão Esse é o cenário da travessia um cenário ainda mais problemático pela falta de alternativas Os paradigmas clássicos estão esgotando suas possibilidades de responder adequadamente a esse novo contexto Não conseguem explicar essa travessia muito menos passar por ela Há uma crise de inteligibilidade diante da qual muitos falsos profetas e charlatães oferecem soluções mágicas Uma nova espiritualidade surge muito bem aproveitada pelas mercoreligiões A resposta dada pelo estatismo burócratico e autoritário é tão ineficiente quanto o neoliberalismo do deusmercado O neoliberalismo propõe mais poder para as transnacionais e os estatistas propõem mais poder para o Estado reforçando as suas estruturas No meio de tudo isso está o cidadão comum que não é nem empresário nem Estado A resposta parece estar além destes dois modelos clássicos mas certamente não numa suposta terceira via que deseja apenas dar sobreviva ao capitalismo sofisticando a dominação política a exploração econômica e provocando enorme exclusão social A resposta parece vir hoje do fortalecimento do controle do cidadão frente ao Estado e ao Mercado a Sociedade Civil fortalecendo sua capacidade de governarse e controlar o desenvolvimento Aqui entra o papel importante da educação da formação para a cidadania ativa Podemos dizer que há uma comunidade sustentável que vive em harmonia com o seu meio ambiente não causando danos a outras comunidades nem para a comunidade de hoje e nem para a de amanhã E isso não pode constituirse apenas num compromisso ecológico mas éticopolítico alimentado por uma pedagogia isto é por uma ciência da educação e uma prática social definida Nesse sentido a ecopedagogia inserida nesse movimento sóciohistórico formando cidadãos capazes de escolherem os indicadores de qualidade do seu futuro se constitui numa pedagogia inteiramente nova e intensamente democrática O Movimento pela Ecopedagogia ganhou impulso sobretudo a partir do Primeiro Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação organizado pelo Instituto Paulo Freire com o apoio do Conselho da Terra e da UNESCO Moacir Gadotti Revista Lusófona de Educação 26 de 23 a 26 de agosto de 1999 em São Paulo e do I Fórum Internacional sobre Ecopedagogia realizado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto Portugal de 24 a 26 de março de 2000 Desses encontros surgiram os princípios orientadores desse movimento contidos numa Carta da Ecopedagogia Eis alguns deles 1 O planeta como uma única comunidade 2 A Terra como mãe organismo vivo e em evolução 3 Uma nova consciência que sabe o que é sustentável apropriado e faz sentido para a nossa existência 4 A ternura para com essa casa Nosso endereço é a Terra 5 A justiça sóciocósmica a Terra é um grande pobre o maior de todos os pobres 6 Uma pedagogia biófila que promove a vida envolverse comunicarse com partilhar problematizar relacionarse entusiasmarse 7 Uma concepção do conhecimento que admite só ser integral quando com partilhado 8 O caminhar com sentido vida cotidiana 9 Uma racionalidade intuitiva e comunicativa afetiva não instrumental 10 Novas atitudes reeducar o olhar o coração 11 Cultura da sustentabilidade ecoformação Ampliar nosso ponto de vista As pedagogias clássicas eram antropocêntricas A ecopedagogia parte de uma consciência planetária gêneros espécies reinos educação formal informal e não formal Ampliamos o nosso ponto de vista Do homem para o planeta acima de gêneros espécies e reinos De uma visão antropocêntrica para uma consciência planetária para uma prática de cidadania planetária e para uma nova referência ética e social a civilização planetária Não se pode dizer que a ecopedagogia represente já uma tendência concreta e notável na prática da educação contemporânea Se ela já tivesse suas categorias definidas e elaboradas ela estaria totalmente equivocada pois uma perspectiva pe dagógica não pode nascer de um discurso elaborado por especialistas Ao contrá rio o discurso pedagógico elaborado é que nasce de uma prática concreta testada e comprovada A ecopedagogia está ainda em formação e formulação como teoria da educação Ela se está manifestando em muitas práticas educativas que o Movi mento pela ecopedagogia liderado pelo Instituto Paulo Freire tenta congregar O Movimento pela Ecopedagogia surgido no seio da iniciativa da Carta da Terra está dando apoio ao processo de sua discussão indicando justamente uma metodologia apropriada que não seja a metodologia da simples proclamação go vernamental de uma declaração formal mas a tradução de um processo vivido e da participação crítica da demanda como diz Francisco Gutiérrez A Carta da Terra deve ser entendida sobretudo como um movimento ético global para se chegar a um código de ética planetário sustentando um núcleo de princípios e valores que fazem frente à injustiça social e à falta de eqüidade reinante no planeta Cinco pilares sustentam esse núcleo a direitos humanos b democracia e participação c eqüidade d proteção das minorias e resolução pacífica dos conflitos Esses pilares são cimentados por uma visão de mundo solidária e respeitosa da diferença consciência planetária O intercâmbio planetário que ocorre hoje em função da expansão das oportunidades de acesso à comunicação notadamente através da Internet deverá facilitar o diálogo inter e transcultural e o desenvolvimento desta nova ética planetária A campanha da Carta da Terra agrega um novo valor e oferece um novo impulso a esse movimento pela ética na política na economia na educação etc Ela se tornará realmente forte e talvez decisiva no momento em que representar um projeto de futuro um contraprojse to global e local ao projeto políticopedagógico social e econômico neoliberal que não só é intrinsecamente insustentável como também essencialmente injusto e desumano 5 A Terra como paradigma Gaia igual a vida Muitos entendem que é ilegítimo considerar a Terra como um organismo vivo Esta qualidade a Terra não teria Enxergamos a vida apenas pela percepção que temos da nossa e da vida dos animais e das plantas É verdade não temos o distanciamento que têm no espaço os astronautas mas podemos ter o mesmo distanciamento dos astronautas no tempo muito mais dilatado que o nosso próprio tempo de vida A hipótese Gaia que concebe a Terra como um superorganismo complexo vivo e em evolução encontra respaldo na sua história bilionária A primeira célula apareceu há 4 bilhões de anos De lá para cá o processo evolucionário da vida não cessou de se complexificar formando ecossistemas interdependentes dentro do macrossistema Terra que por sua vez é um microsistema se comparado com o macrosssistema Universo Só conseguimos entender a Terra como um ser vivo nos distanciando dela no tempo e no espaço A visão que os astronautas tiveram de longe transformou muito a eles e a nós mesmos que não vivemos diretamente essa experiência fantástica Não só ela foi vista como uma bola azul no meio da escuridão do universo mas foi percebida como uma só unidade Portanto interferiu também na visão que temos de nós mesmos como uma única comunidade Leonardo Boff como um sistema vivo Fritjop Capra Essa visão mexeu portanto com a nossa consciência com o paradigma que nos orientava até então Com a consciência planetária nasceu nossa consciência de cidadania planetária É verdade o paradigma da razão instrumental nos conduziu à violência e à negação de valores humanos fundamentais como a intuição a emoção a sensibili Moacir Gadotti Revista Lusófona de Educação 28 dade Somos humanos porque sentimos percebemos amamos sonhamos Mas há também um perigo ou uma armadilha nesse novo paradigma ele pode nos levar à contemplação da natureza e até à mistificação da realidade a uma espiritualidade canalizada por uma religiosidade baseada na passividade Em vez da solidariedade e da luta pela justiça estaríamos esperando por um mundo melhor sem trabalho sem esforço sem conquista sem sacrifícios Novos valores humanos que não levam em conta a complexidade e a contradição inerente a todos os seres objetos e pro cessos destrói a possibilidade de uma mudança qualitativa em direção de um novo e necessário projeto civilizatório Para nos dimensionar como membros de um imenso cosmos para assumirmos novos valores baseados na solidariedade na afe tividade na transcendência e na espiritualidade para superar a lógica da competi tividade e da acumulação capitalista devemos trilhar um caminho difícil Nenhuma mudança é pacífica Mas ela não se tornará realidade orando rezando pelo nosso puro desejo de mudar o mundo Como nos ensinou Paulo Freire mudar o mundo é urgente difícil e necessário Mas para mudar o mundo é preciso conhecer ler o mundo entender o mundo também cientificamente não apenas emocionalmente e sobretudo intervir nele organizadamente O racionalismo deve ser condenado sem condenarmos o uso da razão A lógica racionalista nos levou a saquear a natureza nos levou à morte em nome do pro gresso Mas a razão também nos levou à descoberta da planetaridade A poética e emocionante afirmação dos astronautas de que a Terra era azul foi possível depois de milhares de anos de domínio racional das leis da própria natureza Devemos condenar a racionalização sem condenar a racionalidade Ao chegar à Lua pela primeira vez o astronauta Louis Amstrong afirmou um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade Isso foi possível através de um descomunal esforço humano coletivo que levou em conta todo o conhecimento técnico científico e tecnológico acumulado até então pela humanidade Isso não é nada desprezível Se hoje formamos redes de redes no emaranhado da comuni cação planetária pela Internet isso foi possível graças ao uso tanto da imaginação da intuição da emoção quanto da razão pelo gigantesco e sofrido esforço hu mano para descobrir como podemos viver melhor neste planeta como podemos interagir com ele O fizemos de forma equivocada é verdade Nos consideramos superiores pela nossa racionalidade e exploramos a natureza sem cuidado sem respeito por ela Não nos relacionamos com a Terra e com a vida com emoção com afeto com sensibilidade Nesse campo estamos apenas engatinhando Mas estamos aprendendo Estamos assistindo ao nascimento do cidadão planetário Ainda não consegui mos imaginar todas as conseqüências desse evento singular No momento senti mos percebemos nos emocionamos com esse fato mas não conseguimos adequar nossas mentes e nossas formas de vida a esse acontecimento espetacular na histó ria da humanidade Percebemos como Edgar Morin que é necessário tudo ecolo gizar e assim ensaiamos a vida nesse nosso planeta cujos habitantes descobriram a planetaridade O que podemos fazer desde já Podemos nos interrogar profundamente sobre os paradigmas que nos orientaram até hoje e ensaiar a vivência de um novo paradigma que é a Terra vista como uma única comunidade E continuar caminhando juntos para que possamos chegar lá ainda em tempo Correspondência Instituto Paulo Freire Rua Cerro Corá 550 Conj 22 2o andar CEP 05061100 São Paulo SP Brasil Email gadottipaulofreireorg Notas ¹ Este artigo é resultado de diversos debates em encontros e congressos e particularmente na Conferência Continental das Américas em Dezembro de 1998 em Cuiabá MT e durante o Primeiro Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação organizado pelo Instituto Paulo Freire com o apoio do Conselho da Terra e da UNESCO de 23 a 26 de Agosto de 1999 em São Paulo e do I Fórum Internacional sobre Ecopedagogia realizado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto Portugal de 24 a 26 de Março de 2000 O autor vem acompanhando esse tema desde 1992 quando representou a ICEA Internacional Community Education Association na Rio92 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento chamada de Cúpula da Terra que elaborou e aprovou a Agenda 21 No Fórum Global92 na mesma época coordenou ao lado de Moema Viezer Fábio Cascino Nilo Diniz e Marcos Sorrentino a Jornada Internacional de Educação Ambiental que elaborou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global Este texto retoma idéias tratadas no livro Pedagogia da Terra publicado pela Editora Petrópolis de São Paulo 2000 ² Farancisco Gutierrez Cruz Prado Ecopedagogia e Cidadania Planetária São Paulo IPFCortez 1998 ³ Gaston Pineau Delair Essai sur lecoformation Paris Païdeia 1992 ⁴ Leonardo Boff Saber cuidar Petrópolis Vozes 1999 ⁵ Milton Santos Por uma outra globalização do pensamento único à consciência universal São Paulo Record 2000