·
Geografia ·
Geografia
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
1
Atividades de Teoria e Método em Geografia: Reflexão e Perspectivas
Geografia
UFPB
63
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Atualizada até Março de 2017)
Geografia
UFPB
68
Perfil do Relevo da Paraíba
Geografia
UFPB
18
Cambissolos-Origem-Caracteristicas-Nomenclatura-e-Classificacao
Geografia
UFPB
11
Cambissolos-Origem-Caracteristicas-Classificacao-e-Tipos-de-Solos
Geografia
UFPB
600
Base Nacional Comum Curricular: Estrutura e Fundamentos da Educação Básica
Geografia
UFPB
129
Horizonte Logico-Formal na Geografia Moderna - Correntes do Pensamento e Positivismo Logico
Geografia
UFPB
68
Introdução à Geografia: Geografia e Ideologia - Nelson Werneck Sodré
Geografia
UFPB
30
Críticas à Geografia Analítica: Limites e Controvérsias
Geografia
UFPB
8
Cambissolos-Origem-Caracteristicas-Nomenclatura-e-Classificacao
Geografia
UFPB
Preview text
Assim se explica a influência tardia do positivismo lógico Este movimento tinha começado verdadeiramente no início do séc XX a partir de uma ampla discussão nos círculos filosóficos Contudo foi apenas por volta da metade do séc XX que o positivismo lógico estendeu sua influência sobre as outras disciplinas Esta orientação também conhecida como filosofia analítica estabeleceuse primeiro sobre os domínios da matemática e da física e em seguida às outras ciências à psicologia sociologia biologia e economia Na geografia este movimento é geralmente conhecido sob o nome de Nova Geografia ou Geografia Quantitativa A quantificação é efetivamente um de seus aspectos mais familiares Contudo essa corrente corresponde a uma orientação muito mais complexa do que a simples matemática to deve ser expressa pela identidade do signo e jamais por um signo de identidade As primeiras críticas deste gênero de raciocínio aparecem no entanto na obra de Moore que denuncia a falsa identidade entre um objeto e a sensação desse objeto como um todo fenomenal Segundo Moore a atitude idealista é contraditória pois ela afirma ao mesmo tempo que o objeto e sua sensação são distintos e que eles não o são A abstração da lógica hegeliana situada na base deste raciocínio é vista por Moore como sendo ilegítima Efetivamente segundo Hegel o entendimento pensa os dois termos de uma relação como unidades em oposição uma em relação à outra e é a razão que os unifica dialeticamente O ser e o nada por exemplo devem ser vistos enquanto dois momentos inseparáveis de um devir unificado e não como quer o entendimento como dois polos irreduzíveis da realidade A possível exterioridade de uma relação cognitiva e a definição de um objeto de conhecimento sem o recurso a um universo espiritual em comunhão com o objeto são as duas diferenças fundamentais entre esta nova forma de realismo e o neohegelianismo Neste realismo a afirmação de um sujeito do conhecimento independente do objeto abre a possibilidade de uma experiência sintética que permite a utilização de um modelo matemático para o conhecimento O recurso utilizado por Moore em seu percurso crítico consistia na análise das proposições do discurso dos neohegelianos A Bertrand Russell cabe o mérito de ter aperfeiçoado este procedimento e de ter feito dele um método Após a crítica das posições neohegelianas Russell nos conta que a etapa seguinte foi a revelar as verdadeiras significações do discurso científico por intermédio da lógica Este 10 O horizonte lógicoformal na geografia moderna Durante o período do entreguerras as correntes do pensamento científico se desenvolveram de forma bastante segmentada geograficamente Esta segmentação é talvez devida ao espírito pouco cosmopolita de uma época que conheceu grandes tensões nacionais grandes crises econômicas e grandes fraturas ideológicas As dificuldades de diálogo e de comunicação são aparentemente as causas da dispersão geográfica das escolas e círculos organizados nesta época Os círculos de Viena de Praga a escola de Frankfurt de Cambridge entre outras marcaram definitivamente a identidade científica desses anos Paradoxalmente foram estas mesmas dificuldades e as perseguições que precederam à Segunda Guerra que plantaram as sementes de um novo cosmopolitismo Com efeito nesta época uma verdadeira diáspora de pensadores esteve na base das múltiplas trocas entre as escolas que tinham permanecido até então voltadas para si mesmas procedimento analítico associado ao método lógico funda o movimento da filosofia analítica A proposição de base de Bertrand Russell é a de substituir na lógica tradicional de Aristóteles a relação entre sujeito e predicado por uma função que une duas variáveis Esta nova forma de lógica recebeu a denominação de moderna pois tem como pressupostos ser mais objetiva geral e precisa do que a lógica tradicional Segundo Russell as proposições atômicas isto é as formas mais simples de proposições e os quantificadores quantificador universal para todo x e quantificador existencial há pelo menos um x constituem a base das proposições que estruturam todo pensamento É necessário distinguir a busca de rigor lógico pela linguagem da procura de uma precisão metodológica a partir da definição de conceitos e categorias como era o caso na conduta de Hartshorne e de Sauer A filosofia analítica não se caracteriza pela busca de conceitos gerais para estruturar a reflexão Esta filosofia concebe a linguagem como sendo o fundamento do pensamento lógico Desta maneira a linguagem revela por sua estrutura o valor de verdade e é ao mesmo tempo o meio de reflexão e a garantia de legitimidade desta última A associação entre estrutura da linguagem e verdade é deduzida da tese do paralelismo lógicofísico Segundo esta tese há uma correspondência entre linguagem e realidade ou seja a estrutura da linguagem é a mesma do mundo A variedade e a forma do real figuram na variedade e na forma da linguagem e as estruturas que podem ser conhecidas são sempre lógicas A partir daí deduzse que o conhecimento consiste na figuração lógica dos fatos Assim segundo Russell o problema epistemológico de se conhecer as coisas como elas são e as garantias que podemos ter a respeito da verdade desse conhecimento se remete da fato a determinar como falar logicamente das coisas O conhecimento científico estabelece assim as relações e os graus de significação entre os fatos seguindo as regras da lógica moderna Para a filosofia analítica somente a linguagem matemática pode ser legítima como instrumento de conhecimento pois só ela sabe restringir sua importância aos limites impostos pela lógica Esta linguagem é a garantia de uma relação lógica com a realidade e define o campo possível do conhecimento segundo a última e mais conhecida das proposições do Tractatus logicophilosophicus Aquilo do qual não se pode falar é preciso calar A consequência imediata desta corrente foi a valorização das ciências matemáticas como o novo paradigma metodológico As outras disciplinas deveriam buscar no modelo da matemática sua coerência rigor e objetividade A outra consequência importante é a universalização dos procedimentos para a ciência e a unificação do método que se referem sempre aos princípios lógicos os quais são o fundamento da matemática Segundo Wittgenstein existem três tipos de proposições que correspondem aos três modelos do conhecimento O primeiro é composto de proposições dotadas de sentido elas vêm de um saber empírico e demandam uma prova experimental para serem aceitas mais tarde estas proposições serão chamadas verificáveis O segundo modelo concerne às proposições vazias de sentido deduzidas de uma concepção formal onde o valor de verdade dos enunciados analíticos está inscrito em sua forma lógica Finalmente o terceiro tipo corresponde às proposições destituídas de sentido sustentadas por uma metafísica Essas últimas proposições se caracterizam por uma impossibilidade de avaliação de seu valor de verdade pois não possuem significação ao nível lógico Na terceira e na quarta seção do Tractatus Wittgenstein nos apresenta dois outros aspectos importantes da filosofia analítica Em primeiro lugar o conhecimento do mundo é feito a partir da construção de quadros de fatos Esses quadros nos indicam uma forma lógica e estável dos objetos sem no entanto reproduzir suas propriedades materiais Em segundo lugar existe uma correspondência biunívoca entre os fatos destes quadros e a realidade correspondência expressa pela relação lógica Desta maneira chegase ao conhecimento pela construção de modelos lógicos que restituem o comportamento dos fatos no mundo real Os modelos lógicos foram utilizados na ciência notadamente em razão do prestígio da física quântica que obteve resultados a partir de uma conduta matemática não proveniente de dados experimentais Um exemplo é o do cálculo matricial desenvolvido em 1843 por Cayley e que continuou sem aplicações práticas até a emergência da nova física quântica no início deste século O outro aspecto importante da física analítica é a noção de sistemas substituindo a noção de objeto Nesta perspectiva as moléculas são consideradas como sistemas de átomos estes últimos são eles mesmos sistemas compostos de um núcleo e de elétrons os núcleos são também sistemas de outras partículas e assim sucessivamente A concepção sistêmica foi adaptada para as outras ciências nos anos trinta primeiro na biologia e em seguida na economia Ela apresenta a vantagem de ligar os fenômenos às suas estruturas e de poder simultaneamente vêlos em diversos níveis graças à utilização de subsistemas Assim a teoria geral dos sistemas foi um modelo poderoso entre todas as ciências inclusive para a geografia O discurso analítico funda uma geografia moderna A visão sistêmica a utilização de modelos e a submissão à lógica matemática penetraram fortemente nas ciências naturais e sociais a partir dos anos cinquenta É neste contexto que se faz a passagem de uma geografia clássica para uma geografia dita moderna Aliás os novos adeptos deste modelo sempre subli nharam o caráter de ruptura de revolução desta passagem do clássico ao moderno Uma das primeiras manifestações de desta nova maneira de conceber a geografia como vimos precedentemente se encontra no artigo de Schaefer de 1953 A crítica que ele faz a propósito da geografia anteriormente estabelecida foi desenvolvida e chegou ao que hoje se conhece como revolução quantitativa De fato a revolução metodológica na geografia tinha começado muito mais cedo nos anos trinta através da obra de Christaller sobre os lugares centrais O contexto da época no entanto limitou a difusão deste trabalho que passou quase despercebido O principal objetivo de Christaller era demonstrar que a distribuição e o tamanho das cidades no sul da Alemanha não eram aleatórios Segundo sua concepção estes fenômenos estavam ligados entre si e mantinham uma certa regularidade em sua expressão Assim os mercados de produtos e de serviços de tamanhos diferentes estão articulados de maneira a formar uma rede urbana funcional regular e hierarquizada A partir destas proposições Christaller estava em condições de construir um modelo coerente da dispersão espacial destas cidades Pelo alcance geral de tais proposições este modelo podia ser também aplicado a outras regiões e assim era possível pela corelação lógica resgatar uma explicação geral dos fenômenos ligados à estrutura e ao tamanho de uma rede urbana Segundo Claval o desenvolvimento de uma metodologia analítica na geografia deve muito à economia espacial e foi efetivamente por intermédio de Löscher um economista que a obra de Christaller se fez conhecer A partir dos anos cinquenta sob inspiração do trabalho de Christaller outros modelos foram aplicados à geografia tais como os de von Thünen Weber e Reilly Pesquisadores pioneiros como E Ullman e W Isard começavam a formar grupos de geógrafos que se interessavam por estes novos parâmetros A abordagem por modelização rapidamente estendeu seu campo de estudos aos problemas intraurbanos aos transportes aos sistemas regionais e à cartografia temática Sua verdadeira difusão no entanto data do início dos anos sessenta e a primeira obra de síntese em geografia humana só foi publicada em 1965 A estrutura do movimento da Nova Geografia Nosso interesse fundamental não é escrever uma história factual desta corrente A análise proposta aqui tem como objeto unicamente a dinâmica de transformação das orientações metodológicas Apoiarnosemos sobretudo no discurso daqueles que estiveram na origem desta transformação e na forma pela qual este discurso afetou a perspectiva geral da geografia A influência da teoria analítica sobre os geógrafos engajados nesta corrente de pensamento é um dos elementoschave para compreender esta dinâmica A posse deste novo método a ruptura que ele ocasionou em relação à geografia clássica e a convicção de ter encontrado a conduta verdadeiramente científica para a geografia são algumas das consequências mais importantes da associação entre a geografia e a teoria analítica A hipótese reiterada é a de que a estrutura da revolução quantitativa na geografia é análoga ao próprio movimento da modernidade Em outros termos a dinâmica pela qual este movimento se impõe na geografia se reporta à dinâmica da modernidade ao mito do novo tal como o descrevemos anteriormente Os elementos que compõem nossa análise são portanto bem definidos e limitados Primeiro procuraremos mostrar que estes geógrafos engajados ao novo paradigma buscaram uma identidade própria em relação à geografia anterior A refutação das tradições geográficas serviu portanto como um primeiro elemento de justificação e de imposição do novo Em segundo lugar sublinharemos o caráter de ruptura vivido por esta Nova Geografia em relação à outra dita clássica Finalmente o terceiro ponto procura o sentido da releitura da história da geografia efetuada por esta nova corrente Nesta releitura é possível observar que a Nova Geografia sublinha a filiação da ciência à uma posição racionalista e portanto que ela busca negar qualquer outra tradição e valorizar exclusivamente as que poderiam se aproximar do procedimento racionalista A análise guiada por estes três pontos encontra uma estrutura semelhante em todos os textos desta época que examinaremos É tal estrutura que apresentaremos agora Uma refutação fundamental as tradições O que há em comum entre os textos que difundem a Nova Geografia é o fato de que todos eles começam invariavelmente pela crítica do projeto dito clássico ou tradicional da geografia W Bunge I Burton D Harvey e P Haggett por exemplo estão todos de acordo em reconhecer que a dita singularidade dos fatos geográficos é incompatível com a visão científica moderna A concepção de fenômenos únicos segundo eles impede qualquer esforço em direção à explicação teórica A geografia tal como é concebida classicamente estaria portanto condenada a ser apenas uma tediosa descrição de acontecimentos sem poder jamais ligálos através de uma relação geral e teórica A realidade é efetivamente única e todas as coisas são diferentes desde que as olhemos em seus mínimos detalhes A perspectiva científica no entanto compensa a perda do detalhe pela generalização A diferença fundamental entre o único e o individual segundo Bunge por exemplo consiste no fato de que o individual é capaz de ser apreendido dentro de uma perspectiva geral ou por uma construção teórica sem no entanto perder suas especificidades Bunge critica firmemente a concepção adotada por Hartshorne segundo a qual a unicidade e a generalidade são qualidades intrínsecas aos fatos O ponto de vista de Bunge é de que se as interrelações entre os fenômenos geográficos aparecem de forma caótica isto se deve unicamente à falta de um método científico O problema é antes de tudo um problema de método e não um problema intrínseco ao fato geográfico contrariamente ao que Hartshorne segundo Bunge queria demonstrar No mesmo sentido Burton afirma que em um mundo sem teorias todos os fenômenos são únicos Se a geografia deseja verdadeiramente ser considerada como uma ciência deve recorrer à observação das regularidades em seu campo de conhecimentos As regularidades são segundo Burton o primeiro passo para se estabelecer teorias e estas últimas fundam a condição necessária do saber científico moderno A resistência da comunidade geográfica frente à ciência moderna é interpretada por ele como estando ligada à tradição possibilista Na medida em que o possibilismo afirma o livre arbítrio e a impossibilidade de se prever cientificamente os fenômenos contraria diretamente os fundamentos da ciência moderna Quando Haggett evoca as tradições excepcionalistas em geografia faz apelo também à identificação entre a ideia de unidade fenomenal e a geografia regional tradicionalista Aliás desde o início de seu texto ele marca sua discordância em relação à escola francesa de geografia dizendo que sua abordagem se afasta sensivelmente da conduta tradicional da geografia humana Brunhes 1925 Vidal de La Blache 1922 preocupada em colocar questões de natureza biográfica sobre os fenômenos observados e acrescenta que quando nos interessamos pelo único não podemos mais do que contemplar sua unicidade Onde a situação atual pouco satisfatória as pesquisas sistemáticas gerais e a geografia regional fundada sobre a ideia de unicidade dificilmente colaboram A geografia teórica uma revolução O estabelecimento de uma geografia verdadeiramente científica e teórica deve preencher certas condições Segundo Bunge a clareza a simplicidade a generalidade e a exatidão são as condições mais importantes Essas qualidades decorrem diretamente do método O uso de uma linguagem matemática nos impõe segundo Bunge uma estrutura lógica que é a única capaz de produzir uma transparência e uma objetividade necessária a todo trabalho científico Na medida em que a utilização desta linguagem e desta lógica só aparece com a geografia teórica só ela pode pretender fundar a ciência geográfica moderna Burton concebe a revolução quantitativa como o momentochave que transformou a natureza do conhecimento geográfico Esta revolução significou a construção de um verdadeiro campo teórico de investigação A partir da lógica e da matemática a geografia pode desenvolver métodos de verificação e de previsão e esta possibilidade transforma a natureza profunda da geografia Sempre segundo Burton o caminho a cumprir para se tornar uma disciplina científica passa pelo desenvolvimento de teorias e modelos em todos os ramos da investigação geográfica A obra de Harvey The Explanation in Geography foi sem dúvida alguma uma referência fundamental para o desenvolvimento da teoria analítica na geografia Estando a revolução concluída o objetivo geral de Harvey era o de apreciar neste processo as tendências gerais da ciência e suas aplicações na geografia 261 a verificação e a concepção das teorias são frequentemente tiradas da física da química e da biologia A filiação racionalista do pensamento de Harvey aparece também claramente no fato de que ele justifica seus pontos de vista sobre a importância da lógica matemática referindose frequentemente à obra de Russell e de Carnap O sentido da explicação científica os tipos de teoria as formas da linguagem são portanto diretamente inspirados pela corrente da teoria analítica que dá corpo àquilo que é conhecido como positivismo lógico ou neopositivismo A estrutura do livro de Harvey apresenta um procedimento similar ao dos outros exemplos citados precedentemente A geografia anterior é julgada insuficiente ou inapta a responder às questões colocadas pelos tempos modernos A tradição dos estudos geográficos é também vista como um obstáculo ao advento de uma geografia objetiva e positiva Os campos tradicionais na pesquisa geográfica singularizam e afastam o discurso geográfico das outras disciplinas Estes campos são portanto a causa principal do atraso relativo da geografia e qualquer vontade de mantêlos afasta um pouco mais a geografia do domínio das disciplinas científicas Harvey também está em total desacordo com Hartshorne a respeito da especificidade da geografia pois os limites da geografia são os mesmos que os das outras ciências A concepção de Hartshorne inspirada de Windelband Dilthey e Rickert que procuravam distinguir as ciências nomotéticas das ciências idiográficas parece a Harvey inaceitável para uma ciência que quer repousar sobre fundamentos metodológicos sólidos Da mesma forma a aceitação das teses kantianas que vêm sendo usadas muito mais como suporte para a tradição da pesquisa em particular isto é pelo método idiográfico contra o desafio de uma nova geração que trabalha em um estilo mais nomotético 262 gem de uma perspectiva clássica para uma perspectiva moderna A geografia moderna deve responder ao desafio dos novos tempos através da construção de novas perspectivas técnicas e justificações Temos sido obrigados a insistir sobre a complexidade de dos sistemas axiomáticos sobre construção de modelos teóricos sobre a linguagem matemática entre outras coisas Esta abordagem não tem sido provavelmente do gosto de muitos geógrafos acostumados às abordagens mais tradicionais para desvendar os mistérios que os cercam Sem dúvida isto pode horrorizálos que procuram compreender examinando detalhadamente mapas peregrinando pensativos e atentos por ruas e campos revendo dados sepultados em arquivos poeirentos remexendo reportagens de velhos jornais escavando com sondas pedológicas e mergulhando em cavernas calárias observando e esperando formar sua própria experiência perceptiva treinandose a apreciar O caráter revolucionário da geografia analítica se manifesta assim pelo esforço em expulsar qualquer traço tradicional do campo de pesquisas geográficas o que traduz bem a vontade de ruptura em relação à tradição Por intermédio de novas técnicas e perspectivas a geografia abre caminho para o reconhecimento e o prestígio dos novos tempos O moderno movimento na direção de uma universalidade metodológica pode ser visto como uma tentativa de ser mais explícito no estabelecimento de leis frequentemente reprimidas nos esboços explicativos que os geógrafos costumam oferecer 263 A revolução reescreve a história da geografia determinismo ratzeliano se apresenta sob relações ingênuas Grosseiras tentativas sistemáticas de explicação foram feitas por deterministas mas nos anos 20 elas estavam em desgraça um mártir da nova ciência uma espécie de Galileu da New Geography A geografia moderna sob a influência desta corrente teórica produz então uma nova síntese Nesta versão a análise espacial constituiu o objeto fundamental da geografia e o método sistêmico é aquele com que se pode explicar cientificamente os fenômenos em suma a concepção sistêmica deve ser o instrumento da nova cosmovisão geográfica A ideia geral de sistema é inspirada nas concepções da termodinâmica sobretudo no segundo princípio conhecido pelo nome de CarnotClauduis que define a noção de entropia Esta noção corresponde à probabilidade de mudança dentro de um sistema em função de seu grau de organização A variação entre estes dois elementos obedece à seguinte regra quanto maior o valor da entropia maior o grau de desorganização do sistema isomorfismo Desta maneira os baixos níveis de entropia correspondem aos altos níveis de ordem interna em um sistema A estas duas noções fundamentais se associa aquela da informação Ela pode ser definida como sendo o valor estatístico da incerteza provável A informação é então o contrário da entropia e por isso é conhecida também como negentropia De fato a participação dos cientistas na planificação era cada vez mais requisitada Os anos 5060 foram efetivamente marcados por esta participação que passava também por contatos interdisciplinares mais estreitos A geografia por intermédio da visão sistêmica aproximouse sobretudo da economia espacial Alguns modelos inspirados na concepção neoclássica incluindo a hipótese de um comportamento racional e da maximização de lucros e oportunidades foram retomados nas pesquisas geográficas Contudo a cooperação interdisciplinar limitavase aos domínios científicos engajados nas mesmas vias de transformações metodológicas como a sociologia formalista a psicologia behaviorista e a economia de inspiração neoclássica inspiração que os geógrafos participaram dos trabalhos práticos de planificação A concepção sistêmica renovou portanto completamente a análise geográfica A região não é mais vista como uma unidade territorial ela é concebida como uma classe espacial que faz parte de um sistema hierarquizado Como propunha Schaefer a geografia abandona a noção de lugar pela concepção de espaço Desta maneira a singularidade pode ser substituída pela generalização O exemplo da região é eloquente mas em todos os domínios da geografia mudanças significativas foram efetuadas para se trabalhar de acordo com as novas perspectivas teóricas e técnicas Na mesma época uma outra corrente nascia nas ciências sociais o estruturalismo Esta corrente desenvolveuse primeiro no domínio da linguística mas rapidamente começou a exercer uma influência fundamental sobre outras ciências sociais A geografia aparentemente não foi sensível a esta tendência A razão fundamental da preferência da geografia pela teoria geral dos sistemas em detrimento do estruturalismo é devida segundo Dosse a filiação da primeira às ciências da natureza enquanto que o estruturalismo nasceu no quadro das ciências humanas Esta ausência é tanto mais surpreendente que podemos medir a que ponto o estruturalismo privilegiou as noções de relações em termos de espaços em detrimento de uma análise em termos de gênese A diacronia foi substituída pela sincronia Esta escolha explicase talvez pela preocupação de rigor positivo e pela tradição de um modelo hipotéticodedutivo que caracterizam as ciências da natureza Talvez seja preciso também ver aí o traço da tradição temática do objeto homemmeio advinda da geografia clássica e que conseguiu perdurar para além da revolução que pretendia tudo renovar De toda forma a adoção do modelo sistêmico podia finalmente fazer a geografia passar de uma posição analítica retrospectiva para uma aproximação prospectiva pois se trata de um modelo nascido do racionalismo positivista Os elementos recorrentes desta orientação metodológica são mutatis mutandis os mesmos para todas as correntes afiliadas ao racionalismo Tratase de um modelo de ciência que reclama para si a objetividade e a precisão por intermédio de um método científico rigoroso e o recurso a este método significa também a perspectiva de respostas e verificações positivas isto é afirmativas e gerais que permitiriam ao mesmo tempo reforçar o prestígio da disciplina e convidála a agir no campo direto da sociedade A Nova Geografia e a modernidade O que retorna mais frequentemente no discurso dos autores ligados a esta corrente da Nova Geografia é sem dúvida a evocaç momentos de grandes convulsões sociais as revoluções científicas são seguidas de períodos de estabelecimento da nova ordem Podese portanto considerar que a simples denúncia de um comportamento tradicional defasado e antiquado foi a base da eclosão da Nova Geografia e que após esta eclosão tal corrente procurou estabelecer ao longo dos anos 60 e 70 sua legitimidade avançando os resultados obtidos Estes resultados foram justamente o alvo da maior parte das críticas dirigidas contra este modelo As hesitações e contestações não podiam mais ser interpretadas como simplesmente a reação tradicionalista e os limites do novo método começaram a se tornar objeto de debates Alguns anos mais tarde os geógrafos que tiveram o papel de portavozes deste movimento no início tornaramse eles mesmos seus críticos Desta maneira a metade da década de setenta viu o poder inexorável da revolução quantitativa sucumbir ao peso de outros horizontes críticos de outras revoluções De qualquer forma a discussão entre antigos e modernos na geografia claramente exposta durante a revolução quantitativa deixou marcas fundamentais A partir deste movimento o debate epist fundamento da discussão científica moderna que se fez a passagem de uma geografia clássica para uma geografia moderna David Harvey nota também esta mudança de perspectiva afirmando que o metodólogo está de agora em diante mais comprometido com a lógica da justificação do que com a ligação filosófica de suas crenças em relação à natureza da geografia A lógica da justificação científica é no entanto a que está mais sujeita a controvérsias e os anos ulteriores expressarão através das diversas orientações da pesquisa geográfica seus pontos de vista contraditórios
Send your question to AI and receive an answer instantly
Recommended for you
1
Atividades de Teoria e Método em Geografia: Reflexão e Perspectivas
Geografia
UFPB
63
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Atualizada até Março de 2017)
Geografia
UFPB
68
Perfil do Relevo da Paraíba
Geografia
UFPB
18
Cambissolos-Origem-Caracteristicas-Nomenclatura-e-Classificacao
Geografia
UFPB
11
Cambissolos-Origem-Caracteristicas-Classificacao-e-Tipos-de-Solos
Geografia
UFPB
600
Base Nacional Comum Curricular: Estrutura e Fundamentos da Educação Básica
Geografia
UFPB
129
Horizonte Logico-Formal na Geografia Moderna - Correntes do Pensamento e Positivismo Logico
Geografia
UFPB
68
Introdução à Geografia: Geografia e Ideologia - Nelson Werneck Sodré
Geografia
UFPB
30
Críticas à Geografia Analítica: Limites e Controvérsias
Geografia
UFPB
8
Cambissolos-Origem-Caracteristicas-Nomenclatura-e-Classificacao
Geografia
UFPB
Preview text
Assim se explica a influência tardia do positivismo lógico Este movimento tinha começado verdadeiramente no início do séc XX a partir de uma ampla discussão nos círculos filosóficos Contudo foi apenas por volta da metade do séc XX que o positivismo lógico estendeu sua influência sobre as outras disciplinas Esta orientação também conhecida como filosofia analítica estabeleceuse primeiro sobre os domínios da matemática e da física e em seguida às outras ciências à psicologia sociologia biologia e economia Na geografia este movimento é geralmente conhecido sob o nome de Nova Geografia ou Geografia Quantitativa A quantificação é efetivamente um de seus aspectos mais familiares Contudo essa corrente corresponde a uma orientação muito mais complexa do que a simples matemática to deve ser expressa pela identidade do signo e jamais por um signo de identidade As primeiras críticas deste gênero de raciocínio aparecem no entanto na obra de Moore que denuncia a falsa identidade entre um objeto e a sensação desse objeto como um todo fenomenal Segundo Moore a atitude idealista é contraditória pois ela afirma ao mesmo tempo que o objeto e sua sensação são distintos e que eles não o são A abstração da lógica hegeliana situada na base deste raciocínio é vista por Moore como sendo ilegítima Efetivamente segundo Hegel o entendimento pensa os dois termos de uma relação como unidades em oposição uma em relação à outra e é a razão que os unifica dialeticamente O ser e o nada por exemplo devem ser vistos enquanto dois momentos inseparáveis de um devir unificado e não como quer o entendimento como dois polos irreduzíveis da realidade A possível exterioridade de uma relação cognitiva e a definição de um objeto de conhecimento sem o recurso a um universo espiritual em comunhão com o objeto são as duas diferenças fundamentais entre esta nova forma de realismo e o neohegelianismo Neste realismo a afirmação de um sujeito do conhecimento independente do objeto abre a possibilidade de uma experiência sintética que permite a utilização de um modelo matemático para o conhecimento O recurso utilizado por Moore em seu percurso crítico consistia na análise das proposições do discurso dos neohegelianos A Bertrand Russell cabe o mérito de ter aperfeiçoado este procedimento e de ter feito dele um método Após a crítica das posições neohegelianas Russell nos conta que a etapa seguinte foi a revelar as verdadeiras significações do discurso científico por intermédio da lógica Este 10 O horizonte lógicoformal na geografia moderna Durante o período do entreguerras as correntes do pensamento científico se desenvolveram de forma bastante segmentada geograficamente Esta segmentação é talvez devida ao espírito pouco cosmopolita de uma época que conheceu grandes tensões nacionais grandes crises econômicas e grandes fraturas ideológicas As dificuldades de diálogo e de comunicação são aparentemente as causas da dispersão geográfica das escolas e círculos organizados nesta época Os círculos de Viena de Praga a escola de Frankfurt de Cambridge entre outras marcaram definitivamente a identidade científica desses anos Paradoxalmente foram estas mesmas dificuldades e as perseguições que precederam à Segunda Guerra que plantaram as sementes de um novo cosmopolitismo Com efeito nesta época uma verdadeira diáspora de pensadores esteve na base das múltiplas trocas entre as escolas que tinham permanecido até então voltadas para si mesmas procedimento analítico associado ao método lógico funda o movimento da filosofia analítica A proposição de base de Bertrand Russell é a de substituir na lógica tradicional de Aristóteles a relação entre sujeito e predicado por uma função que une duas variáveis Esta nova forma de lógica recebeu a denominação de moderna pois tem como pressupostos ser mais objetiva geral e precisa do que a lógica tradicional Segundo Russell as proposições atômicas isto é as formas mais simples de proposições e os quantificadores quantificador universal para todo x e quantificador existencial há pelo menos um x constituem a base das proposições que estruturam todo pensamento É necessário distinguir a busca de rigor lógico pela linguagem da procura de uma precisão metodológica a partir da definição de conceitos e categorias como era o caso na conduta de Hartshorne e de Sauer A filosofia analítica não se caracteriza pela busca de conceitos gerais para estruturar a reflexão Esta filosofia concebe a linguagem como sendo o fundamento do pensamento lógico Desta maneira a linguagem revela por sua estrutura o valor de verdade e é ao mesmo tempo o meio de reflexão e a garantia de legitimidade desta última A associação entre estrutura da linguagem e verdade é deduzida da tese do paralelismo lógicofísico Segundo esta tese há uma correspondência entre linguagem e realidade ou seja a estrutura da linguagem é a mesma do mundo A variedade e a forma do real figuram na variedade e na forma da linguagem e as estruturas que podem ser conhecidas são sempre lógicas A partir daí deduzse que o conhecimento consiste na figuração lógica dos fatos Assim segundo Russell o problema epistemológico de se conhecer as coisas como elas são e as garantias que podemos ter a respeito da verdade desse conhecimento se remete da fato a determinar como falar logicamente das coisas O conhecimento científico estabelece assim as relações e os graus de significação entre os fatos seguindo as regras da lógica moderna Para a filosofia analítica somente a linguagem matemática pode ser legítima como instrumento de conhecimento pois só ela sabe restringir sua importância aos limites impostos pela lógica Esta linguagem é a garantia de uma relação lógica com a realidade e define o campo possível do conhecimento segundo a última e mais conhecida das proposições do Tractatus logicophilosophicus Aquilo do qual não se pode falar é preciso calar A consequência imediata desta corrente foi a valorização das ciências matemáticas como o novo paradigma metodológico As outras disciplinas deveriam buscar no modelo da matemática sua coerência rigor e objetividade A outra consequência importante é a universalização dos procedimentos para a ciência e a unificação do método que se referem sempre aos princípios lógicos os quais são o fundamento da matemática Segundo Wittgenstein existem três tipos de proposições que correspondem aos três modelos do conhecimento O primeiro é composto de proposições dotadas de sentido elas vêm de um saber empírico e demandam uma prova experimental para serem aceitas mais tarde estas proposições serão chamadas verificáveis O segundo modelo concerne às proposições vazias de sentido deduzidas de uma concepção formal onde o valor de verdade dos enunciados analíticos está inscrito em sua forma lógica Finalmente o terceiro tipo corresponde às proposições destituídas de sentido sustentadas por uma metafísica Essas últimas proposições se caracterizam por uma impossibilidade de avaliação de seu valor de verdade pois não possuem significação ao nível lógico Na terceira e na quarta seção do Tractatus Wittgenstein nos apresenta dois outros aspectos importantes da filosofia analítica Em primeiro lugar o conhecimento do mundo é feito a partir da construção de quadros de fatos Esses quadros nos indicam uma forma lógica e estável dos objetos sem no entanto reproduzir suas propriedades materiais Em segundo lugar existe uma correspondência biunívoca entre os fatos destes quadros e a realidade correspondência expressa pela relação lógica Desta maneira chegase ao conhecimento pela construção de modelos lógicos que restituem o comportamento dos fatos no mundo real Os modelos lógicos foram utilizados na ciência notadamente em razão do prestígio da física quântica que obteve resultados a partir de uma conduta matemática não proveniente de dados experimentais Um exemplo é o do cálculo matricial desenvolvido em 1843 por Cayley e que continuou sem aplicações práticas até a emergência da nova física quântica no início deste século O outro aspecto importante da física analítica é a noção de sistemas substituindo a noção de objeto Nesta perspectiva as moléculas são consideradas como sistemas de átomos estes últimos são eles mesmos sistemas compostos de um núcleo e de elétrons os núcleos são também sistemas de outras partículas e assim sucessivamente A concepção sistêmica foi adaptada para as outras ciências nos anos trinta primeiro na biologia e em seguida na economia Ela apresenta a vantagem de ligar os fenômenos às suas estruturas e de poder simultaneamente vêlos em diversos níveis graças à utilização de subsistemas Assim a teoria geral dos sistemas foi um modelo poderoso entre todas as ciências inclusive para a geografia O discurso analítico funda uma geografia moderna A visão sistêmica a utilização de modelos e a submissão à lógica matemática penetraram fortemente nas ciências naturais e sociais a partir dos anos cinquenta É neste contexto que se faz a passagem de uma geografia clássica para uma geografia dita moderna Aliás os novos adeptos deste modelo sempre subli nharam o caráter de ruptura de revolução desta passagem do clássico ao moderno Uma das primeiras manifestações de desta nova maneira de conceber a geografia como vimos precedentemente se encontra no artigo de Schaefer de 1953 A crítica que ele faz a propósito da geografia anteriormente estabelecida foi desenvolvida e chegou ao que hoje se conhece como revolução quantitativa De fato a revolução metodológica na geografia tinha começado muito mais cedo nos anos trinta através da obra de Christaller sobre os lugares centrais O contexto da época no entanto limitou a difusão deste trabalho que passou quase despercebido O principal objetivo de Christaller era demonstrar que a distribuição e o tamanho das cidades no sul da Alemanha não eram aleatórios Segundo sua concepção estes fenômenos estavam ligados entre si e mantinham uma certa regularidade em sua expressão Assim os mercados de produtos e de serviços de tamanhos diferentes estão articulados de maneira a formar uma rede urbana funcional regular e hierarquizada A partir destas proposições Christaller estava em condições de construir um modelo coerente da dispersão espacial destas cidades Pelo alcance geral de tais proposições este modelo podia ser também aplicado a outras regiões e assim era possível pela corelação lógica resgatar uma explicação geral dos fenômenos ligados à estrutura e ao tamanho de uma rede urbana Segundo Claval o desenvolvimento de uma metodologia analítica na geografia deve muito à economia espacial e foi efetivamente por intermédio de Löscher um economista que a obra de Christaller se fez conhecer A partir dos anos cinquenta sob inspiração do trabalho de Christaller outros modelos foram aplicados à geografia tais como os de von Thünen Weber e Reilly Pesquisadores pioneiros como E Ullman e W Isard começavam a formar grupos de geógrafos que se interessavam por estes novos parâmetros A abordagem por modelização rapidamente estendeu seu campo de estudos aos problemas intraurbanos aos transportes aos sistemas regionais e à cartografia temática Sua verdadeira difusão no entanto data do início dos anos sessenta e a primeira obra de síntese em geografia humana só foi publicada em 1965 A estrutura do movimento da Nova Geografia Nosso interesse fundamental não é escrever uma história factual desta corrente A análise proposta aqui tem como objeto unicamente a dinâmica de transformação das orientações metodológicas Apoiarnosemos sobretudo no discurso daqueles que estiveram na origem desta transformação e na forma pela qual este discurso afetou a perspectiva geral da geografia A influência da teoria analítica sobre os geógrafos engajados nesta corrente de pensamento é um dos elementoschave para compreender esta dinâmica A posse deste novo método a ruptura que ele ocasionou em relação à geografia clássica e a convicção de ter encontrado a conduta verdadeiramente científica para a geografia são algumas das consequências mais importantes da associação entre a geografia e a teoria analítica A hipótese reiterada é a de que a estrutura da revolução quantitativa na geografia é análoga ao próprio movimento da modernidade Em outros termos a dinâmica pela qual este movimento se impõe na geografia se reporta à dinâmica da modernidade ao mito do novo tal como o descrevemos anteriormente Os elementos que compõem nossa análise são portanto bem definidos e limitados Primeiro procuraremos mostrar que estes geógrafos engajados ao novo paradigma buscaram uma identidade própria em relação à geografia anterior A refutação das tradições geográficas serviu portanto como um primeiro elemento de justificação e de imposição do novo Em segundo lugar sublinharemos o caráter de ruptura vivido por esta Nova Geografia em relação à outra dita clássica Finalmente o terceiro ponto procura o sentido da releitura da história da geografia efetuada por esta nova corrente Nesta releitura é possível observar que a Nova Geografia sublinha a filiação da ciência à uma posição racionalista e portanto que ela busca negar qualquer outra tradição e valorizar exclusivamente as que poderiam se aproximar do procedimento racionalista A análise guiada por estes três pontos encontra uma estrutura semelhante em todos os textos desta época que examinaremos É tal estrutura que apresentaremos agora Uma refutação fundamental as tradições O que há em comum entre os textos que difundem a Nova Geografia é o fato de que todos eles começam invariavelmente pela crítica do projeto dito clássico ou tradicional da geografia W Bunge I Burton D Harvey e P Haggett por exemplo estão todos de acordo em reconhecer que a dita singularidade dos fatos geográficos é incompatível com a visão científica moderna A concepção de fenômenos únicos segundo eles impede qualquer esforço em direção à explicação teórica A geografia tal como é concebida classicamente estaria portanto condenada a ser apenas uma tediosa descrição de acontecimentos sem poder jamais ligálos através de uma relação geral e teórica A realidade é efetivamente única e todas as coisas são diferentes desde que as olhemos em seus mínimos detalhes A perspectiva científica no entanto compensa a perda do detalhe pela generalização A diferença fundamental entre o único e o individual segundo Bunge por exemplo consiste no fato de que o individual é capaz de ser apreendido dentro de uma perspectiva geral ou por uma construção teórica sem no entanto perder suas especificidades Bunge critica firmemente a concepção adotada por Hartshorne segundo a qual a unicidade e a generalidade são qualidades intrínsecas aos fatos O ponto de vista de Bunge é de que se as interrelações entre os fenômenos geográficos aparecem de forma caótica isto se deve unicamente à falta de um método científico O problema é antes de tudo um problema de método e não um problema intrínseco ao fato geográfico contrariamente ao que Hartshorne segundo Bunge queria demonstrar No mesmo sentido Burton afirma que em um mundo sem teorias todos os fenômenos são únicos Se a geografia deseja verdadeiramente ser considerada como uma ciência deve recorrer à observação das regularidades em seu campo de conhecimentos As regularidades são segundo Burton o primeiro passo para se estabelecer teorias e estas últimas fundam a condição necessária do saber científico moderno A resistência da comunidade geográfica frente à ciência moderna é interpretada por ele como estando ligada à tradição possibilista Na medida em que o possibilismo afirma o livre arbítrio e a impossibilidade de se prever cientificamente os fenômenos contraria diretamente os fundamentos da ciência moderna Quando Haggett evoca as tradições excepcionalistas em geografia faz apelo também à identificação entre a ideia de unidade fenomenal e a geografia regional tradicionalista Aliás desde o início de seu texto ele marca sua discordância em relação à escola francesa de geografia dizendo que sua abordagem se afasta sensivelmente da conduta tradicional da geografia humana Brunhes 1925 Vidal de La Blache 1922 preocupada em colocar questões de natureza biográfica sobre os fenômenos observados e acrescenta que quando nos interessamos pelo único não podemos mais do que contemplar sua unicidade Onde a situação atual pouco satisfatória as pesquisas sistemáticas gerais e a geografia regional fundada sobre a ideia de unicidade dificilmente colaboram A geografia teórica uma revolução O estabelecimento de uma geografia verdadeiramente científica e teórica deve preencher certas condições Segundo Bunge a clareza a simplicidade a generalidade e a exatidão são as condições mais importantes Essas qualidades decorrem diretamente do método O uso de uma linguagem matemática nos impõe segundo Bunge uma estrutura lógica que é a única capaz de produzir uma transparência e uma objetividade necessária a todo trabalho científico Na medida em que a utilização desta linguagem e desta lógica só aparece com a geografia teórica só ela pode pretender fundar a ciência geográfica moderna Burton concebe a revolução quantitativa como o momentochave que transformou a natureza do conhecimento geográfico Esta revolução significou a construção de um verdadeiro campo teórico de investigação A partir da lógica e da matemática a geografia pode desenvolver métodos de verificação e de previsão e esta possibilidade transforma a natureza profunda da geografia Sempre segundo Burton o caminho a cumprir para se tornar uma disciplina científica passa pelo desenvolvimento de teorias e modelos em todos os ramos da investigação geográfica A obra de Harvey The Explanation in Geography foi sem dúvida alguma uma referência fundamental para o desenvolvimento da teoria analítica na geografia Estando a revolução concluída o objetivo geral de Harvey era o de apreciar neste processo as tendências gerais da ciência e suas aplicações na geografia 261 a verificação e a concepção das teorias são frequentemente tiradas da física da química e da biologia A filiação racionalista do pensamento de Harvey aparece também claramente no fato de que ele justifica seus pontos de vista sobre a importância da lógica matemática referindose frequentemente à obra de Russell e de Carnap O sentido da explicação científica os tipos de teoria as formas da linguagem são portanto diretamente inspirados pela corrente da teoria analítica que dá corpo àquilo que é conhecido como positivismo lógico ou neopositivismo A estrutura do livro de Harvey apresenta um procedimento similar ao dos outros exemplos citados precedentemente A geografia anterior é julgada insuficiente ou inapta a responder às questões colocadas pelos tempos modernos A tradição dos estudos geográficos é também vista como um obstáculo ao advento de uma geografia objetiva e positiva Os campos tradicionais na pesquisa geográfica singularizam e afastam o discurso geográfico das outras disciplinas Estes campos são portanto a causa principal do atraso relativo da geografia e qualquer vontade de mantêlos afasta um pouco mais a geografia do domínio das disciplinas científicas Harvey também está em total desacordo com Hartshorne a respeito da especificidade da geografia pois os limites da geografia são os mesmos que os das outras ciências A concepção de Hartshorne inspirada de Windelband Dilthey e Rickert que procuravam distinguir as ciências nomotéticas das ciências idiográficas parece a Harvey inaceitável para uma ciência que quer repousar sobre fundamentos metodológicos sólidos Da mesma forma a aceitação das teses kantianas que vêm sendo usadas muito mais como suporte para a tradição da pesquisa em particular isto é pelo método idiográfico contra o desafio de uma nova geração que trabalha em um estilo mais nomotético 262 gem de uma perspectiva clássica para uma perspectiva moderna A geografia moderna deve responder ao desafio dos novos tempos através da construção de novas perspectivas técnicas e justificações Temos sido obrigados a insistir sobre a complexidade de dos sistemas axiomáticos sobre construção de modelos teóricos sobre a linguagem matemática entre outras coisas Esta abordagem não tem sido provavelmente do gosto de muitos geógrafos acostumados às abordagens mais tradicionais para desvendar os mistérios que os cercam Sem dúvida isto pode horrorizálos que procuram compreender examinando detalhadamente mapas peregrinando pensativos e atentos por ruas e campos revendo dados sepultados em arquivos poeirentos remexendo reportagens de velhos jornais escavando com sondas pedológicas e mergulhando em cavernas calárias observando e esperando formar sua própria experiência perceptiva treinandose a apreciar O caráter revolucionário da geografia analítica se manifesta assim pelo esforço em expulsar qualquer traço tradicional do campo de pesquisas geográficas o que traduz bem a vontade de ruptura em relação à tradição Por intermédio de novas técnicas e perspectivas a geografia abre caminho para o reconhecimento e o prestígio dos novos tempos O moderno movimento na direção de uma universalidade metodológica pode ser visto como uma tentativa de ser mais explícito no estabelecimento de leis frequentemente reprimidas nos esboços explicativos que os geógrafos costumam oferecer 263 A revolução reescreve a história da geografia determinismo ratzeliano se apresenta sob relações ingênuas Grosseiras tentativas sistemáticas de explicação foram feitas por deterministas mas nos anos 20 elas estavam em desgraça um mártir da nova ciência uma espécie de Galileu da New Geography A geografia moderna sob a influência desta corrente teórica produz então uma nova síntese Nesta versão a análise espacial constituiu o objeto fundamental da geografia e o método sistêmico é aquele com que se pode explicar cientificamente os fenômenos em suma a concepção sistêmica deve ser o instrumento da nova cosmovisão geográfica A ideia geral de sistema é inspirada nas concepções da termodinâmica sobretudo no segundo princípio conhecido pelo nome de CarnotClauduis que define a noção de entropia Esta noção corresponde à probabilidade de mudança dentro de um sistema em função de seu grau de organização A variação entre estes dois elementos obedece à seguinte regra quanto maior o valor da entropia maior o grau de desorganização do sistema isomorfismo Desta maneira os baixos níveis de entropia correspondem aos altos níveis de ordem interna em um sistema A estas duas noções fundamentais se associa aquela da informação Ela pode ser definida como sendo o valor estatístico da incerteza provável A informação é então o contrário da entropia e por isso é conhecida também como negentropia De fato a participação dos cientistas na planificação era cada vez mais requisitada Os anos 5060 foram efetivamente marcados por esta participação que passava também por contatos interdisciplinares mais estreitos A geografia por intermédio da visão sistêmica aproximouse sobretudo da economia espacial Alguns modelos inspirados na concepção neoclássica incluindo a hipótese de um comportamento racional e da maximização de lucros e oportunidades foram retomados nas pesquisas geográficas Contudo a cooperação interdisciplinar limitavase aos domínios científicos engajados nas mesmas vias de transformações metodológicas como a sociologia formalista a psicologia behaviorista e a economia de inspiração neoclássica inspiração que os geógrafos participaram dos trabalhos práticos de planificação A concepção sistêmica renovou portanto completamente a análise geográfica A região não é mais vista como uma unidade territorial ela é concebida como uma classe espacial que faz parte de um sistema hierarquizado Como propunha Schaefer a geografia abandona a noção de lugar pela concepção de espaço Desta maneira a singularidade pode ser substituída pela generalização O exemplo da região é eloquente mas em todos os domínios da geografia mudanças significativas foram efetuadas para se trabalhar de acordo com as novas perspectivas teóricas e técnicas Na mesma época uma outra corrente nascia nas ciências sociais o estruturalismo Esta corrente desenvolveuse primeiro no domínio da linguística mas rapidamente começou a exercer uma influência fundamental sobre outras ciências sociais A geografia aparentemente não foi sensível a esta tendência A razão fundamental da preferência da geografia pela teoria geral dos sistemas em detrimento do estruturalismo é devida segundo Dosse a filiação da primeira às ciências da natureza enquanto que o estruturalismo nasceu no quadro das ciências humanas Esta ausência é tanto mais surpreendente que podemos medir a que ponto o estruturalismo privilegiou as noções de relações em termos de espaços em detrimento de uma análise em termos de gênese A diacronia foi substituída pela sincronia Esta escolha explicase talvez pela preocupação de rigor positivo e pela tradição de um modelo hipotéticodedutivo que caracterizam as ciências da natureza Talvez seja preciso também ver aí o traço da tradição temática do objeto homemmeio advinda da geografia clássica e que conseguiu perdurar para além da revolução que pretendia tudo renovar De toda forma a adoção do modelo sistêmico podia finalmente fazer a geografia passar de uma posição analítica retrospectiva para uma aproximação prospectiva pois se trata de um modelo nascido do racionalismo positivista Os elementos recorrentes desta orientação metodológica são mutatis mutandis os mesmos para todas as correntes afiliadas ao racionalismo Tratase de um modelo de ciência que reclama para si a objetividade e a precisão por intermédio de um método científico rigoroso e o recurso a este método significa também a perspectiva de respostas e verificações positivas isto é afirmativas e gerais que permitiriam ao mesmo tempo reforçar o prestígio da disciplina e convidála a agir no campo direto da sociedade A Nova Geografia e a modernidade O que retorna mais frequentemente no discurso dos autores ligados a esta corrente da Nova Geografia é sem dúvida a evocaç momentos de grandes convulsões sociais as revoluções científicas são seguidas de períodos de estabelecimento da nova ordem Podese portanto considerar que a simples denúncia de um comportamento tradicional defasado e antiquado foi a base da eclosão da Nova Geografia e que após esta eclosão tal corrente procurou estabelecer ao longo dos anos 60 e 70 sua legitimidade avançando os resultados obtidos Estes resultados foram justamente o alvo da maior parte das críticas dirigidas contra este modelo As hesitações e contestações não podiam mais ser interpretadas como simplesmente a reação tradicionalista e os limites do novo método começaram a se tornar objeto de debates Alguns anos mais tarde os geógrafos que tiveram o papel de portavozes deste movimento no início tornaramse eles mesmos seus críticos Desta maneira a metade da década de setenta viu o poder inexorável da revolução quantitativa sucumbir ao peso de outros horizontes críticos de outras revoluções De qualquer forma a discussão entre antigos e modernos na geografia claramente exposta durante a revolução quantitativa deixou marcas fundamentais A partir deste movimento o debate epist fundamento da discussão científica moderna que se fez a passagem de uma geografia clássica para uma geografia moderna David Harvey nota também esta mudança de perspectiva afirmando que o metodólogo está de agora em diante mais comprometido com a lógica da justificação do que com a ligação filosófica de suas crenças em relação à natureza da geografia A lógica da justificação científica é no entanto a que está mais sujeita a controvérsias e os anos ulteriores expressarão através das diversas orientações da pesquisa geográfica seus pontos de vista contraditórios