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Geografia ·
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11 O horizonte da crítica radical O entusiasmo e o vigor da geografia analítica foram progressivamente perdendo o fôlego em face das múltiplas críticas e das dificuldades impostas sobretudo pelas considerações do caráter político do espaço feitas à geografia O progresso do início dos anos sessenta perdia seu impacto e as numerosas promessas contidas no discurso da Nova Geografia começavam a mostrar seus limites Estas críticas podem ser reunidas em dois grandes grupos as de caráter teóricometodológico e as que consideram o domínio prático e ideológico da Nova Geografia O primeiro grupo diz respeito à utilização de modelos econômicos de inspiração neoclássica ou neoliberal1 Estes modelos pressupõem um comportamento social perfeitamente racional isto é uma conduta que em geral busca a satisfação máxima de suas necessidades a partir de uma via analítica racional e objetiva A maioria destes modelos supõe também uma concorrência perfeita uma difusão igualitária da informação e um espaço isomórfico Aí também as críticas eram definitivas A ideia de uma geografia que deveria intervir na realidade capaz de dar respostas objetivas neutras e justas aos problemas sociais foi então firmemente contestada e a ação dos geógrafos nos planos de gestão do território foi interpretada como sendo tãosomente uma tentativa de preservar o status quo A preten O primeiro ponto da controvérsia é o da motivação racional Ao longo de toda a década de 60 a antropologia cultural e uma parte da sociologia consagraramse a pesquisas que punham em relevo a complexidade dos comportamentos sociais Esses estudos mostram que as atitudes sociais se reportam em geral ao contexto de cada comunidade estabelecendo valores e atitudes que têm pouca relação ou quase nenhuma com um comportamento estritamente racional e utilitário Em outros termos o indivíduo não pode ser comparado a um agente econômico perfeito e a análise racional das oportunidades deve passar pelo estudo de outros elementos igualmente determinantes na ação social Desta maneira a corrente da crítica radical tem a tendência a considerar o comportamento social como o resultado de um conjunto de elementos alguns gerais e determinantes outros particulares ou contingentes Os resultados são portanto bastante diferentes daqueles que podem ser antecipados por uma análise racional que se baseie tão somente na ideia de maximização das vantagens parte da realidade material para construir conceitos explicativos isto é opõese uma ciência idealista e ideológica a um verdadeiro conhecimento históricomaterialista Outra associação efetuada é aquela do positivismo como sendo a forma da ciência burguesa por excelência Esta forma da ciência é fundamentalmente um discurso de legitimação do exercício desigual do poder e do controle social Os modelos de desenvolviment O mesmo pode ser dito em relação à concorrência Se teoricamente no sentido da modelização a concorrência pode ser considerada como perfeita isto é todos os agentes supostamente disporiam dos mesmos níveis de oportunidades e de independência para decidir na prática esta concorrência não existe A força dos grandes grupos econômicos os efeitos dos monopólios os favores políticos são elementos muito mais importantes a despeito de seu caráter contextual e particular para a localização e o desenvolvimento da atividade econômica do que a pretensa concorrência perfeita e geral cial uma ciência radical que procura explicar não somente o que está acontecendo mas também preserve uma mudança revolucionária Posicionandose simultaneamente contra a geografia tradicional e a geografia dita quantitativa os radicais pretendiam fundar uma nova ciência que devia estar de acordo com as bases de uma nova sociedade A ciência radical é pois o agente consciente da mudança política A informação da mesma forma não pode ser vista sob a perspectiva de uma pretendida equidade A informação figura entre os elementos que são controlados socialmente no jogo pelo poder e pelo prestígio social Por fim o espaço isomórfico dos modelos não se assemelha em nada à imagem da realidade de um espaço carregado de valores tradições hábitos etc Os obstáculos espaciais não são exclusivamente de natureza física ao contrário são majoritariamente da ordem da percepção social resultado de um complexo jogo de agentes diversos vados pela geografia analítica Tratavase portanto de um saber a serviço de uma transformação social e não mais de um saber visando manter as estruturas sociais As categorias de análise utilizadas eram igualmente formais e abstratas à diferença de que partiam de situações históricas concretas e não de premissas e pressupostos ideais Enfim tal corrente acredita estar fundada sobre o conhecimento da essência dos fatos e não das suas aparências Os princípios que sustentaram os modelos teóricos mais prestigiados da geografia moderna foram então vistos com desconfiança As condições de abstração teórica da Nova Geografia eram assim acusadas de se apoiarem em bases falsas Estas críticas não recomendavam no entanto um retorno à concepção dos fenômenos como individualidades Tratavase antes da exigência de um modelo que pudesse verdadeiramente levar em conta as condições existentes sem se deixar influenciar por realidades desejadas As ligações deste horizonte crítico com o materialismo histórico e dialético seja pela utilização direta de suas categorias analíticas seja pela valorização de um discurso político engajado na ciência são razões para que se examinem algumas características desta doutrina para melhor perceber o desenvolvimento da crítica radical na geografia O discurso científico do marxismo Esta crítica teóricometodológica acrescentava ainda que a sofisticação da descrição e das técnicas não estava de acordo com a simplicidade explicativa empregada pela Nova Geografia O conjunto dos instrumentos quantitativos seria apenas uma roupagem renovada das velhas questões da geografia clássica Para esta visão crítica a corrente teórica tentava fazer avançar a geografia somente pela consideração formal mantendo intocáveis os eixos explicativos da velha geografia Tratavase portanto segundo a opinião destes críticos radicais de uma falsa revolução Marx introduz a noção de uma razão histórica materialmente determinada em oposição à concepção do idealismo que definiu o real como um produto da razão absoluta Desta maneira o marxismo afirma que o sujeito do conhecimento historicamente determinado e contextualizado socialmente é capaz de ser apreendido pela ciência a partir das categorias essenciais que o envolvem a produção a reprodução o consumo a troca a propriedade o Estado o mercado e as classes sociais No plano teórico a ciência inspirada no marxismo busca as determinações atuantes sobre os elementos ou em outras palavras as regras do movimento geral do sistema social a lei da acumulação a lei da composição orgânica do capital a lei dos rendimentos decrescentes as leis da renda diferencial etc e através delas podem ser gerados modelos abstratos prospectivos A base do sistema materialistahistórico é dada pelas regras que determinam o tipo de relação de produção frente ao desenvolvimento das forças produtivas estes dois elementos são os termos fundamentais que definem um modo de produção e ao mesmo tempo constituem uma causa da transformação dialética Contudo exatamente como em A Comte a ciência para Marx se torna o único meio positivo de instituir a verdade e deve servir àqueles que querem agir na sociedade A denominação socialismo científico reivindicada pelo próprio Marx exprime aliás a diferença fundamental entre sua concepção racional lógica e metódica e as outras utopias socialistas que são apenas fruto da pura imaginação Em suma o modelo epistemológico do marxismo obedece sem dúvida aos princípios normativos advindos de uma racionalidade estrita e pretende intervir na realidade ungido da legitimidade conferida por seu método objetivo e geral No fim dos anos sessenta e durante toda a década de setenta o marxismo exerceu uma forte influência sobre as ciências sociais De fato esta influência se fez em dois níveis Dê um lado impôs uma retificação do trabalho acadêmico para enquadrálo em uma visão mais ampla e consciente do contexto político da ciência e da sociedade O marxismo foi assim o instrumento de discussões sobre a responsabilidade social dos pesquisadores e a apropriação do trabalho científico De outro lado a doutrina marxista deu a possibilidade às ciências sociais de desenvolverem modelos teóricos deterministas inteiramente concebidos na esfera do domínio social isto é independentes dos modelos das ciências naturais que até então eram os únicos a propor modelos verdadeiramente racionalistas e objetivos de ideológica A passagem para o moderno segundo Yves Lacoste não se reduz ao caráter teóricometodológico mas integra um novo elemento fundamental a natureza política inerente à reflexão espacial O argumento da utilidade ideológica é também utilizado por Lacoste para criticar a Nova Geografia que se apresenta ideologicamente como um discurso científico puro e neutro tecnocrático A crítica desta escola não ocupa no entanto um lugar de destaque na reflexão de Yves Lacoste pois a influência da corrente analítica no meio universitário francês foi bastante reduzida Assim o essencial da crítica de Lacoste diz respeito à escola francesa de geografia Vidal de la Blache foi um dos alvos favoritos da revista HÉRODOTE pois era acusado de haver imposto uma despolitização da geografia em nome de uma falsa cientificidade A escola vidaliana segundo Lacoste privilegiava os fatos imutáveis excluindo de sua análise as mudanças mais recentes e mais ainda as relações sociais e de produção A geografia regional vista pela escola vidaliana como a geografia por excelência tornase segundo Lacoste um obstáculo no sentido epistêmico de Bachelard O conceito de região limita a extensão da reflexão a uma única escala apagando o papel do capitalismo como a força fundamental da organização do espaço A crítica de Lacoste à geografia tradicional é neste sentido muito mais radical do que a da corrente analítica A geografia da escola francesa é acusada de ser um saber essencialmente ideológico e deveria por este motivo ser rejeitada em bloco Por que e para que serve a geografia Tal era a questão fundamental da geografia crítica na França A resposta gira em 286 torno de duplos termos aparência e essência ideologia e prática geografia dos professores e dos estadosmaiores De fato a partir dos anos setenta a preocupação com o viés político começa a se inscrever mais profundamente no campo de pesquisas geográfico após um relativo domínio da economia A geografia radical anglosaxã talvez pela aceitação quase irrestrita do marxismo valoriza num primeiro momento a questão econômica antes de verdadeiramente penetrar no terreno da análise política enquanto os geógrafos franceses talvez por influência do movimento de maio de 68 se lançam neste terreno desde o começo Assim em relação ao marxismo Lacoste mantém uma posição fortemente ambígua Ele afirma textualmente que a dimensão espacial nunca foi central na reflexão marxista clássica tendendo mesmo a desaparecer nos textos mais tardios de Marx Ele afirma também que a análise marxista na geografia corre o risco de supervalorizar a História ou a economia política A geografia perde assim sua capacidade explicativa quando apela para o marxismo podendo somente trabalhar com uma causalidade histórica e econômica Da mesma forma a incapacidade explicativa da geografia a obriga a recorrer ao instrumento marxista o que tende paradoxalmente a reforçar a conduta metodológica tradicional vidaliana Desta maneira ela não é mais capaz de questionar os bloqueios específicos do discurso geográfico tradicional mantendo silêncio sobre as questões políticasespaciais fundamentais Este comentário se dirigia especialmente ao grupo de geógrafos franceses capitaneados por Pierre Georges que embora fossem politicamente filiados ao marxismo não teriam obtido êxito em renovar metodologicamente a geografia tradicional segundo Lacoste Contudo a ambiguidade do discurso de Lacoste aparece na medida em que ele também apela para certas categorias e clivagens clássicas da análise marxista É o caso por exemplo do conceito de ideologia definido como falsa consciência que está na base da crítica de Lacoste à escola francesa de geografia 287 Inúmeros outros exemplos podem ser também encontrados em sua obra como por exemplo lutas sociais crise do sistema capitalista crise dialética do desenvolvimento histórico práxis libertária etc De fato parece que Lacoste sem se afastar completamente da grade de análise marxista tenta revalorizar a preocupação espacial Quando se refere ao imperialismo ou às táticas de guerrilhas ele destaca a importância da análise espacial como um elemento fundamental para a compreensão destes fatos Saber pensar e combater no espaço segundo os termos do próprio Lacoste corresponde ao que parece a reconhecer a veracidade das proposições marxistas Em suma se o marxismo está tradicionalmente ligado a uma perspectiva explicativa política e histórica a geografia deve por sua parte possuir seu próprio modelo de interpretação sem no entanto romper com o sistema explicativo do marxismo Uma das formas explicativas mais importantes da geografia segundo esta orientação é a geopolítica Segundo ele a disciplina geográfica constituiuse fundamentalmente em torno da temática geopolítica e durante todo o século XIX a orientação militar foi predominante como testemunham os engenheirosgeógrafos de Napoleão I A geopolítica já estava presente em Humboldt que tinha até mesmo escrito um tratado a este respeito da mesma forma que nas obras de Ratzel e Reclus O radicalismo francês tal qual a corrente analítica foi buscar no passado da geografia as raízes que pudessem corroborar seu ponto de vista atual A obra de Elisée Reclus foi reapropriada pelos geógrafos radicais como sendo um exemplo de ciência geográfica militante e consciente de seu papel social Numerosos artigos abordaram a obra porém muito mais a ação política de Reclus e a ele foram consagrados alguns livros 288 Desta forma uma vez mais a legitimidade foi buscada no passado mostrando que as tradições esquecidas são o símbolo da permanência de uma luta epistemológica A dinâmica renovada destes padrinhos nos faz sem dúvida alguma pensar na estrutura de todas as revoluções políticas que criam seus mártires e que em seu nome exigem reparação Aliás a crítica definitiva do pai fundador da geografia clássica Vidal de La Blache impunha sem dúvida a busca de uma paternidade alternativa Em seu pósfácio à edição de 1982 Lacoste reexamina suas posições críticas em relação a Vidal de la Blache Ele afirma que a supervalorização do autor do Tableau o fez esquecer que o mesmo homem havia escrito La France de lEst verdadeiro tratado de geopolítica De fato segundo esta nova versão de Lacoste o bloqueio do viés político na geografia foi obra nefasta dos historiadores e principalmente de Lucien Fèvre Este último após a morte de Vidal encerrou a pesquisa geográfica em seu quadro mais estreito constituindose no intérprete da metodologia vidaliana Seu objetivo era reservar as preocupações políticas e econômicas para a História que neste momento alargava seu campo de pesquisa Em resumo o esforço epistemológico de Lacoste repousa sobre uma relação estreita entre espaço e poder político através de elementos didáticos como a análise de mapas e a consideração dos fenômenos em diferentes escalas O valor de verdade segundo a proposição de Lacoste é função da interação entre a prática científica e a transformação social O capital A crítica da economia política e A ideologia alemã para daí retirar a matéria fundamental da pesquisa geográfica De um lado este procedimento conduziu a uma certa redefinição do vocabulário geográfico à luz do discurso marxista de outro induziu uma nova abordagem dos problemas tradicionais da geografia que devia seguir os cortes e o tratamento apresentados nos textos fundamentais do marxismo A geografia radical sob a influência direta do marxismo propôs um novo modelo de análise espacial que pretende ao mesmo tempo ser rigorosamente científico e revolucionário A construção desta nova geografia segue um caminho semelhante àquele da geografia quantitativa isto é em um primeiro momento singularizase ao lançar um olhar crítico sobre as correntes que a precederam e depois em um segundo momento estabelece as bases do que deve ser o verdadeiro conhecimento geográfico fundado sobre uma superioridade metodológica Para os geógrafos marxistas a combinação da perspectiva materialista e do método dialético permite o desenvolvimento de uma teoria nãoideológica isto é o materialismo dialético a base filosófica de uma ciência social verdadeiramente científica18 Novamente a geografia clássica é revista criticamente Segundo Rodolphe De Koninck o modelo descritivo inspirado por Vidal de La Blache supõe noções de harmonia de equilíbrio e de evolução estável que servem para dissolver toda explicação em uma espécie de naturalização dos processos sociais19 As críticas são também dirigidas contra a concepção de Hartsborne da geografia como sendo uma ciênciamétodo definida por um ponto de vista particular Este método segundo De Koninck era concebido pela maioria dos geógrafos como uma arte a arte da descrição e as monografias eram os objetos onde os geógrafos exerciam seus talentos artísticos literários Esta perspectiva empobrecedora teria se imposto como a dominante até o advento das críticas modernas nos anos sessenta Mesmo Jean Brunhes e Maximilien Sorre que estavam no entanto entre os mais objetivos geógrafos da escola francesa foram objeto de críticas severas que os acusavam de praticar um idealismo primário em oposição à superioridade da perspectiva marxista No mesmo sentido Damette e Schliebling consideram que foi esta tradição ateórica e empirista da geografia clássica que conseguiu impedir a difusão progressiva do marxismo na geografia no curso dos anos sessenta A geografia tradicional era assim vista como uma ciência reacionária que pretendia afirmar a natureza imutável das relações entre o homem e a Terra Ela as reduzia aos aspectos naturais mais primários tentando construir uma ordem ideal sem nenhuma relação com as condições históricas e materiais da sociedade Por este procedimento a geografia teria se afastado da busca de leis capazes de transcender o nível da pesquisa preliminar O simples estudo de casos ocupou um lugar central na pesquisa tradicional sem colocar jamais em dúvida o caráter reacionário e limitado deste tipo de saber Todos estes aspectos definem o saber geográfico tradicional no mesmo sentido em que Gramsci define a cultura tradicional em oposição à cultura orgânica Ainda segundo De Koninck a crítica moderna pela via da Nova Geografia investiu contra o tradicionalismo sem no entanto alcançar os pontos fundamentais o que teria contribuído para o seu envelhecimento precoce Ela pretendia ir além da descrição rumo a uma verdadeira explicação científica mas segundo estes geógrafos radicais caiu na mesma armadilha de um saber não suficientemente crítico que é objeto da manipulação pelo poder hegemônico O sucesso dos instrumentos quantitativos não foi acompanhado de uma explicação satisfatória e segundo a já célebre fórmula a geografia media parcialmente ou com parcialidade os fatos sociais Segundo Lévy Seria no mínimo prematuro pretender que a velha dama seja emancipada de repente da tradição e que se ponha a marchar com um só movimento O empirismo o naturalismo não estão mortos e as legiões de concursos continuam a encher e a esvaziar as sutis mas fossilizadas gavetas da explicação de mapa Em suma se a geografia tradicional assim como a geografia quantitativa sofriam dos mesmos males e limites a verdadeira revolução do conhecimento geográfico só poderia vir da corrente radical Quando a geografia começou a se observar com o mínimo de distanciamento percebeu que as fundações que legitimavam sua existência eram extremamente frágeis Este foi o ponto de partida de uma contínua crítica tão radical quanto nova O combate e a desafasagem entre a geografia dita tradicional e a modernidade são sempre enfatizados nos textos que apresentam a perspetiva radical Perguntase por exemplo se a geografia está pronta para intervir no mundo atual utilizando um instrumental clássico ultrapassado e tradicional A resposta é que a condição de realização de uma geografia científica moderna técnica e socialmente e ideologicamente justa é o recurso à utilização de categorias e conceitos inspirados diretamente no marxismo Segundo Lévy por exemplo a evolução da geografia clássica em direção à Nova Geografia se fez sem grandes rupturas A crise da geografia atual só será portanto superada quando uma nova delimitação das exigências de uma racionalidade moderna na abordagem científica da sociedade for elaborada que pretendiam ver na utilização do instrumental marxista o abandono da análise espacial foram chamados de espaciologistas Os argumentos que defendiam a pertinência da análise marxista para a geografia retornavam sempre à demonstração da dependência do espaço pois se julgava que o espaço recebia a cada momento sua significação concreta a partir dos elementos da produção de um grupo social dado Assim destacase a preocupação espacial na produção mercantil na divisão do trabalho nos preços da produção ou nas taxas de lucro sem no entanto retirar daí uma verdadeira teoriaespacial capaz de dar uma autonomia epistemológica à geografia De fato a geografia radical marxista trouxe uma verdadeira contribuição para a análise espacial acentuando problemas que tinham permanecido estranhos até então mas sem chegar a recolocar o objeto da geografia dentro de uma teoria de fato a crítica radical foi se voltando gradualmente para o tratamento de questões relativas à economia espacial e à geopolítica As novas perspectivas da análise marxista A partir dos anos oitenta a influência do marxismo na geografia principalmente anglosaxã apresentou novos aspectos e a crítica radical tomou outras direções Podemos identificar dois períodos principais neste percurso O primeiro toma o marxismo ipsis litteris e tende a ver uma predominância dos fatores econômicos na organização da vida social e do espaço A categoria modo de produção e as formas concretas que estão associadas a ela as formações sócioeconômicas foram frequentemente assimiladas às formas de organização espacial O agente que utiliza constitui organiza e transforma o território é a formação social Uma formação social só pode se constituir em relação a um território e há um processo histórico único de composição da Ele acrescenta em seguida que a menos que se dê provas de um antimarxismo dogmático reconhecerseá de bom grado a partir de então as contribuições fundamentais dos trabalhos de Marx e de Engels sobre um certo número de pontoschave Segundo uma conduta que nos parece ainda hoje bastante moderna eles produziram modelos suficientemente simples para serem enriquecidos corrigidos e criticados formação social e de seu território A geografia radical recorreu frequentemente a este conceito notadamente para redefinir a noção de região No capitalismo avançado no entanto segundo a análise clássica do marxismo haveria uma generalização das relações de produção tipicamente capitalista desencadeando uma perda de rugosidade do espaço que tenderia então a homogenizarse Como se trata de uma análise que confere a primazia aos fatores econômicos todas as diferenças possíveis do espaço físico se diluem na análise econômicosocial Esta última tornase a tal ponto predominante no processo explicativo que o próprio objeto da geografia o espaço tornase um elemento secundário As análises urbanas voltamse resolutamente para uma concepção que dá prioridade aos conflitos cidadecampo nos quais o urbano tem um papel dominante Este modelo não se aplica todavia muito bem à realidade de diversos países onde o controle do aparelho do Estado e das principais atividades econômicas é exercido por oligarquias rurais dentro de uma estrutura totalmente capitalista Além disso na teoria marxista clássica a predominância urbana resulta da hegemonia do capital industrial no processo de acumulação Contudo a partir dos anos setenta a hegemonia é antes exercida pelo capital financeiro que induz a uma nova dinâmica espacial com uma flexibilidade uma rapidez e uma mobilidade espacial desconhecidas da teoria marxista tradicional O período que se seguiu tentou ultrapassar estas insuficiências Compreendeuse que a teoria marxista clássica se aplicava ao desenvolvimento do capitalismo do século XIX A utilização do conceito de modo de produção aparece então como o meio que permitiria afastar todo idealismo da análise geográfica A geografia contribuiria para a compreensão das condições materiais da existência social e portanto da constituição de um modo de produção levando em consideração a divisão territorial do trabalho na Inglaterra tornando impossível a mesma análise cem anos depois dentro de contextos muito diferentes Problemas como a composição orgânica do capital e a renda diferencial alimentavam numerosas controvérsias sem que se chegasse a um consenso a propósito das novas formas do capitalismo Em segundo lugar os geógrafos sentiram que era absolutamente necessário acrescentar uma verdadeira dimensão espacial à análise marxista dimensão frequentemente esquecida em favor de uma explicação histórica ou econômica A influência de Henri Lefèbvre foi fundamental para a constituição desta transformação na análise geográfica marxista Ele distinguiu uma dimensão essencial da construção social da realidade a produção do espaço através de um novo modelo definido por uma análise fundada sobre a dinâmica própria à espacialidade Este modelo restituía ao espaço um papelchave na interpretação da sociedade Simultaneamente outros autores marxistas fizeram notar as diferenças entre o fenômeno considerados por Marx na escala de uma unidade de produção e os novos tempos em que a acumulação a maisvalia e o desenvolvimento das forças produtivas só podem ser apreendidos em escala mundial Para a geografia estas redefinições do campo de análise marxista introduziram numerosas mudanças A região por exemplo alguns anos antes declarada morta pelos geógrafos em sua forma tradicional ou simplesmente associada ao conceito de formação sócioeconômica reencontrou sua importância Finalmente o reconhecimento da função ideológica e estratégica inerente ao saber geográfico criaria uma nova prática social e epistemológica Tendo em conta estes três pontos o marxismo aparecia como o único campo teórico capaz de dar respostas satisfatórias às novas demandas científicas e sociais Em oposição à ciência nomotética que buscava leis de tendência reducionista e à geografia tradicional clássica sempre ligada ao estudo do único a geografia radical propõe uma rede analítica capaz de tecer uma verdadeira aproximação global Assim a nova modernidade da geografia inspirada pelo marxismo era apresentada como um terceiro termo que ultrapassaria as dualidades fundamentais da ciência na modernidade O idio gráfico contra o nomotético o hermenêutico contra o explicativo o literário contra o exato e graças ao conceito de desenvolvimento espacial desigual O abuso relativo do modelo centroperiferia foi criticado em razão da fetichização espacial que produziu os grupos sociais concretos ressurgiram nas análises para substituir as abstrações muito gerais centradas nos primeiros tempos nas classes sociais Enfim os geógrafos definiram o estudo do capitalismo como sendo uma análise da sociedade dentro de um espaço preciso tentando assim encontrar um lugar para a análise geográfica finalmente presente envenenado a liberdade contra a necessidade toda esta filosofia das ciências humanas envelheceu Outra importante mudança consistiu na relativização do peso do cientificismo na teoria marxista limitando a importância do rigor metodológico da referência às leis e do finalismo profético dos textos fundadores O importante deste modo não é mais chegar a observações gerais fundadas em leis que regulamentam a organização do espaço O fato fundamental que esta tendência acentua é a concepção pela qual o marxismo distingue os oprimidos dos opressores os dominados dos dominantes os trabalhadores dos proprietários e assim por diante Tratase aí de um humanismo moral centrado sobretudo na ideia de justiça e de direito A geografia desta concepção valoriza os temas próximos à cultura e à cidadania No quadro da análise marxista o espaço deve ser considerado como um produto social isto é ele só pode ser explicado recorrendo aos aspectos fundamentais que organizam a sociedade Para o marxismo estes aspectos são como vimos precedentemente as relações de produção e as forças produtivas que compõem o modo de produção A primeira questão que se impõe aos geógrafos que trabalham sob esta influência é saber se o espaço enquanto produto social possui uma verdadeira influência mais ainda se é um termo fundador do desenvolvimento da sociedade Por este aspecto o materialismo histórico e o humanismo moderno partem de uma mesma crítica a recusa da ciência positivista e podem sob alguns aspectos ser considerados como perspectivas complementares O materialismo histórico redesenhou a reflexividade de toda ação social e por conseguinte a importância de uma análise que leve em conta o valor e o antropocentrismo da vida social Ao mesmo tempo o humanismo se desembaraçou do idealismo e do subjetivismo que caracterizavam as primeiras análises e recolocou a importância da existência material no centro das interpretações Segundo Sayer por exemplo as possibilidades de diálogo entre estes dois pontos de vista já eram concedidas há muito tempo pela teoria crítica Habermas Giddens Para realizar este debate basta superar a subjetividade que confunde dois níveis de interpretação o social com o individual e afastar o excesso de cientificismo do materialismo histórico pois a explicação científica por princípio não se opõe à busca do sentido No mesmo sentido D Ley parte da fragmentação do saber considerada como característica da modernidade para identificar os signos de uma nova cooperação que anuncia novas direções para a pesquisa em geografia Os caminhos da arte e da arquitetura demonstram as possibilidades de uma nova integração do saber sob o impulso de um pensamento que ultrapassaria a fragmentação moderna É aí preciso notar que a nova integração proposta neste momento por Ley é apresentada como um exame rigoroso do método bem como o desenvolvimento de conceitos analíticos que transcendam as rígidas categorias estabelecidas nas abordagens mais estreitas e recentes A aceitação de um materialismo dialético supõe que o espaço tem um papel tão ativo quanto os outros elementos das esferas da produção e da reprodução social A geografia radical apela assim para o conceito de espaço social a fim de traduzir aí a ideia de dinâmica social inscrita em um espaço que é ao mesmo tempo reprodutor de desigualdades e a condição de sua superação o reflexo de uma ordem e um dos meios possíveis para transformar esta mesma ordem enfim o espaço faz parte da dialética social que o funda O que é no entanto fundamental para a geografia é o estatuto de independência ou de especificidade dos fenômenos espaciais em relação à análise da sociedade tal como é concebida no sistema marxista Em outros termos a questão é saber se a geografia pode existir como ciência do espaço com autonomia ou se ela deverá se curvar às determinações sociológicas e à causalidade histórica Esta questão suscitou grandes debates na geografia no fim dos anos setenta
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isomórfico Aí também as críticas eram definitivas A ideia de uma geografia que deveria intervir na realidade capaz de dar respostas objetivas neutras e justas aos problemas sociais foi então firmemente contestada e a ação dos geógrafos nos planos de gestão do território foi interpretada como sendo tãosomente uma tentativa de preservar o status quo A preten O primeiro ponto da controvérsia é o da motivação racional Ao longo de toda a década de 60 a antropologia cultural e uma parte da sociologia consagraramse a pesquisas que punham em relevo a complexidade dos comportamentos sociais Esses estudos mostram que as atitudes sociais se reportam em geral ao contexto de cada comunidade estabelecendo valores e atitudes que têm pouca relação ou quase nenhuma com um comportamento estritamente racional e utilitário Em outros termos o indivíduo não pode ser comparado a um agente econômico perfeito e a análise racional das oportunidades deve passar pelo estudo de outros elementos igualmente determinantes na ação social Desta maneira a corrente da crítica radical tem a tendência a considerar o comportamento social como o resultado de um conjunto de elementos alguns gerais e determinantes outros particulares ou contingentes Os resultados são portanto bastante diferentes daqueles que podem ser antecipados por uma análise racional que se baseie tão somente na ideia de maximização das vantagens parte da realidade material para construir conceitos explicativos isto é opõese uma ciência idealista e ideológica a um verdadeiro conhecimento históricomaterialista Outra associação efetuada é aquela do positivismo como sendo a forma da ciência burguesa por excelência Esta forma da ciência é fundamentalmente um discurso de legitimação do exercício desigual do poder e do controle social Os modelos de desenvolviment O mesmo pode ser dito em relação à concorrência Se teoricamente no sentido da modelização a concorrência pode ser considerada como perfeita isto é todos os agentes supostamente disporiam dos mesmos níveis de oportunidades e de independência para decidir na prática esta concorrência não existe A força dos grandes grupos econômicos os efeitos dos monopólios os favores políticos são elementos muito mais importantes a despeito de seu caráter contextual e particular para a localização e o desenvolvimento da atividade econômica do que a pretensa concorrência perfeita e geral cial uma ciência radical que procura explicar não somente o que está acontecendo mas também preserve uma mudança revolucionária Posicionandose simultaneamente contra a geografia tradicional e a geografia dita quantitativa os radicais pretendiam fundar uma nova ciência que devia estar de acordo com as bases de uma nova sociedade A ciência radical é pois o agente consciente da mudança política A informação da mesma forma não pode ser vista sob a perspectiva de uma pretendida equidade A informação figura entre os elementos que são controlados socialmente no jogo pelo poder e pelo 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bases falsas Estas críticas não recomendavam no entanto um retorno à concepção dos fenômenos como individualidades Tratavase antes da exigência de um modelo que pudesse verdadeiramente levar em conta as condições existentes sem se deixar influenciar por realidades desejadas As ligações deste horizonte crítico com o materialismo histórico e dialético seja pela utilização direta de suas categorias analíticas seja pela valorização de um discurso político engajado na ciência são razões para que se examinem algumas características desta doutrina para melhor perceber o desenvolvimento da crítica radical na geografia O discurso científico do marxismo Esta crítica teóricometodológica acrescentava ainda que a sofisticação da descrição e das técnicas não estava de acordo com a simplicidade explicativa empregada pela Nova Geografia O conjunto dos instrumentos quantitativos seria apenas uma roupagem renovada das velhas questões da geografia clássica Para esta visão crítica a corrente teórica tentava fazer avançar a geografia somente pela consideração formal mantendo intocáveis os eixos explicativos da velha geografia Tratavase portanto segundo a opinião destes críticos radicais de uma falsa revolução Marx introduz a noção de uma razão histórica materialmente determinada em oposição à concepção do idealismo que definiu o real como um produto da razão absoluta Desta maneira o marxismo afirma que o sujeito do conhecimento historicamente determinado e contextualizado socialmente é capaz de ser apreendido pela ciência a partir das categorias essenciais que o envolvem a produção a reprodução o consumo a troca a propriedade o Estado o mercado e as classes sociais No plano teórico a ciência inspirada no marxismo busca as determinações atuantes sobre os elementos ou em outras palavras as regras do movimento geral do sistema social a lei da acumulação a lei da composição orgânica do capital a lei dos rendimentos decrescentes as leis da renda diferencial etc e através delas podem ser gerados modelos abstratos prospectivos A base do sistema materialistahistórico é dada pelas regras que determinam o tipo de relação de produção frente ao desenvolvimento das forças produtivas estes dois elementos são os termos fundamentais que definem um modo de produção e ao mesmo tempo constituem uma causa da transformação dialética Contudo exatamente como em A Comte a ciência para Marx se torna o único meio positivo de instituir a verdade e deve servir àqueles que querem agir na sociedade A denominação socialismo científico reivindicada pelo próprio Marx exprime aliás a diferença fundamental entre sua concepção racional lógica e metódica e as outras utopias socialistas que são apenas fruto da pura imaginação Em suma o modelo epistemológico do marxismo obedece sem dúvida aos princípios normativos advindos de uma racionalidade estrita e pretende intervir na realidade ungido da legitimidade conferida por seu método objetivo e geral No fim dos anos sessenta e durante toda a década de setenta o marxismo exerceu uma forte influência sobre as ciências sociais De fato esta influência se fez em dois níveis Dê um lado impôs uma retificação do trabalho acadêmico para enquadrálo em uma visão mais ampla e consciente do contexto político da ciência e da sociedade O marxismo foi assim o instrumento de discussões sobre a responsabilidade social dos pesquisadores e a apropriação do trabalho científico De outro lado a doutrina marxista deu a possibilidade às ciências sociais de desenvolverem modelos teóricos deterministas inteiramente concebidos na esfera do domínio social isto é independentes dos modelos das ciências naturais que até então eram os únicos a propor modelos verdadeiramente racionalistas e objetivos de ideológica A passagem para o moderno segundo Yves Lacoste não se reduz ao caráter teóricometodológico mas integra um novo elemento fundamental a natureza política inerente à reflexão espacial O argumento da utilidade ideológica é também utilizado por Lacoste para criticar a Nova Geografia que se apresenta ideologicamente como um discurso científico puro e neutro tecnocrático A crítica desta escola não ocupa no entanto um lugar de destaque na reflexão de Yves Lacoste pois a influência da corrente analítica no meio universitário francês foi bastante reduzida Assim o essencial da crítica de Lacoste diz respeito à escola francesa de geografia Vidal de la Blache foi um dos alvos favoritos da revista HÉRODOTE pois era acusado de haver imposto uma despolitização da geografia em nome de uma falsa cientificidade A escola vidaliana segundo Lacoste privilegiava os fatos imutáveis excluindo de sua análise as mudanças mais recentes e mais ainda as relações sociais e de produção A geografia regional vista pela escola vidaliana como a geografia por excelência tornase segundo Lacoste um obstáculo no sentido epistêmico de Bachelard O conceito de região limita a extensão da reflexão a uma única escala apagando o papel do capitalismo como a força fundamental da organização do espaço A crítica de Lacoste à geografia tradicional é neste sentido muito mais radical do que a da corrente analítica A geografia da escola francesa é acusada de ser um saber essencialmente ideológico e deveria por este motivo ser rejeitada em bloco Por que e para que serve a geografia Tal era a questão fundamental da geografia crítica na França A resposta gira em 286 torno de duplos termos aparência e essência ideologia e prática geografia dos professores e dos estadosmaiores De fato a partir dos anos setenta a preocupação com o viés político começa a se inscrever mais profundamente no campo de pesquisas geográfico após um relativo domínio da economia A geografia radical anglosaxã talvez pela aceitação quase irrestrita do marxismo valoriza num primeiro momento a questão econômica antes de verdadeiramente penetrar no terreno da análise política enquanto os geógrafos franceses talvez por influência do movimento de maio de 68 se lançam neste terreno desde o começo Assim em relação ao marxismo Lacoste mantém uma posição fortemente ambígua Ele afirma textualmente que a dimensão espacial nunca foi central na reflexão marxista clássica tendendo mesmo a desaparecer nos textos mais tardios de Marx Ele afirma também que a análise marxista na geografia corre o risco de supervalorizar a História ou a economia política A geografia perde assim sua capacidade explicativa quando apela para o marxismo podendo somente trabalhar com uma causalidade histórica e econômica Da mesma forma a incapacidade explicativa da geografia a obriga a recorrer ao instrumento marxista o que tende paradoxalmente a reforçar a conduta metodológica tradicional vidaliana Desta maneira ela não é mais capaz de questionar os bloqueios específicos do discurso geográfico tradicional mantendo silêncio sobre as questões políticasespaciais fundamentais Este comentário se dirigia especialmente ao grupo de geógrafos franceses capitaneados por Pierre Georges que embora fossem politicamente filiados ao marxismo não teriam obtido êxito em renovar metodologicamente a geografia tradicional segundo Lacoste Contudo a ambiguidade do discurso de Lacoste aparece na medida em que ele também apela para certas categorias e clivagens clássicas da análise marxista É o caso por exemplo do conceito de ideologia definido como falsa consciência que está na base da crítica de Lacoste à escola francesa de geografia 287 Inúmeros outros exemplos podem ser também encontrados em sua obra como por exemplo lutas sociais crise do sistema capitalista crise dialética do desenvolvimento histórico práxis libertária etc De fato parece que Lacoste sem se afastar completamente da grade de análise marxista tenta revalorizar a preocupação espacial Quando se refere ao imperialismo ou às táticas de guerrilhas ele destaca a importância da análise espacial como um elemento fundamental para a compreensão destes fatos Saber pensar e combater no espaço segundo os termos do próprio Lacoste corresponde ao que parece a reconhecer a veracidade das proposições marxistas Em suma se o marxismo está tradicionalmente ligado a uma perspectiva explicativa política e histórica a geografia deve por sua parte possuir seu próprio modelo de interpretação sem no entanto romper com o sistema explicativo do marxismo Uma das formas explicativas mais importantes da geografia segundo esta orientação é a geopolítica Segundo ele a disciplina geográfica constituiuse fundamentalmente em torno da temática geopolítica e durante todo o século XIX a orientação militar foi predominante como testemunham os engenheirosgeógrafos de Napoleão I A geopolítica já estava presente em Humboldt que tinha até mesmo escrito um tratado a este respeito da mesma forma que nas obras de Ratzel e Reclus O radicalismo francês tal qual a corrente analítica foi buscar no passado da geografia as raízes que pudessem corroborar seu ponto de vista atual A obra de Elisée Reclus foi reapropriada pelos geógrafos radicais como sendo um exemplo de ciência geográfica militante e consciente de seu papel social Numerosos artigos abordaram a obra porém muito mais a ação política de Reclus e a ele foram consagrados alguns livros 288 Desta forma uma vez mais a legitimidade foi buscada no passado mostrando que as tradições esquecidas são o símbolo da permanência de uma luta epistemológica A dinâmica renovada destes padrinhos nos faz sem dúvida alguma pensar na estrutura de todas as revoluções políticas que criam seus mártires e que em seu nome exigem reparação Aliás a crítica definitiva do pai fundador da geografia clássica Vidal de La Blache impunha sem dúvida a busca de uma paternidade alternativa Em seu pósfácio à edição de 1982 Lacoste reexamina suas posições críticas em relação a Vidal de la Blache Ele afirma que a supervalorização do autor do Tableau o fez esquecer que o mesmo homem havia escrito La France de lEst verdadeiro tratado de geopolítica De fato segundo esta nova versão de Lacoste o bloqueio do viés político na geografia foi obra nefasta dos historiadores e principalmente de Lucien Fèvre Este último após a morte de Vidal encerrou a pesquisa geográfica em seu quadro mais estreito constituindose no intérprete da metodologia vidaliana Seu objetivo era reservar as preocupações políticas e econômicas para a História que neste momento alargava seu campo de pesquisa Em resumo o esforço epistemológico de Lacoste repousa sobre uma relação estreita entre espaço e poder político através de elementos didáticos como a análise de mapas e a consideração dos fenômenos em diferentes escalas O valor de verdade segundo a proposição de Lacoste é função da interação entre a prática científica e a transformação social O capital A crítica da economia política e A ideologia alemã para daí retirar a matéria fundamental da pesquisa geográfica De um lado este procedimento conduziu a uma certa redefinição do vocabulário geográfico à luz do discurso marxista de outro induziu uma nova abordagem dos problemas tradicionais da geografia que devia seguir os cortes e o tratamento apresentados nos textos fundamentais do marxismo A geografia radical sob a influência direta do marxismo propôs um novo modelo de análise espacial que pretende ao mesmo tempo ser rigorosamente científico e revolucionário A construção desta nova geografia segue um caminho semelhante àquele da geografia quantitativa isto é em um primeiro momento singularizase ao lançar um olhar crítico sobre as correntes que a precederam e depois em um segundo momento estabelece as bases do que deve ser o verdadeiro conhecimento geográfico fundado sobre uma superioridade metodológica Para os geógrafos marxistas a combinação da perspectiva materialista e do método dialético permite o desenvolvimento de uma teoria nãoideológica isto é o materialismo dialético a base filosófica de uma ciência social verdadeiramente científica18 Novamente a geografia clássica é revista criticamente Segundo Rodolphe De Koninck o modelo descritivo inspirado por Vidal de La Blache supõe noções de harmonia de equilíbrio e de evolução estável que servem para dissolver toda explicação em uma espécie de naturalização dos processos sociais19 As críticas são também dirigidas contra a concepção de Hartsborne da geografia como sendo uma ciênciamétodo definida por um ponto de vista particular Este método segundo De Koninck era concebido pela maioria dos geógrafos como uma arte a arte da descrição e as monografias eram os objetos onde os geógrafos exerciam seus talentos artísticos literários Esta perspectiva empobrecedora teria se imposto como a dominante até o advento das críticas modernas nos anos sessenta Mesmo Jean Brunhes e Maximilien Sorre que estavam no entanto entre os mais objetivos geógrafos da escola francesa foram objeto de críticas severas que os acusavam de praticar um idealismo primário em oposição à superioridade da perspectiva marxista No mesmo sentido Damette e Schliebling consideram que foi esta tradição ateórica e empirista da geografia clássica que conseguiu impedir a difusão progressiva do marxismo na geografia no curso dos anos sessenta A geografia tradicional era assim vista como uma ciência reacionária que pretendia afirmar a natureza imutável das relações entre o homem e a Terra Ela as reduzia aos aspectos naturais mais primários tentando construir uma ordem ideal sem nenhuma relação com as condições históricas e materiais da sociedade Por este procedimento a geografia teria se afastado da busca de leis capazes de transcender o nível da pesquisa preliminar O simples estudo de casos ocupou um lugar central na pesquisa tradicional sem colocar jamais em dúvida o caráter reacionário e limitado deste tipo de saber Todos estes aspectos definem o saber geográfico tradicional no mesmo sentido em que Gramsci define a cultura tradicional em oposição à cultura orgânica Ainda segundo De Koninck a crítica moderna pela via da Nova Geografia investiu contra o tradicionalismo sem no entanto alcançar os pontos fundamentais o que teria contribuído para o seu envelhecimento precoce Ela pretendia ir além da descrição rumo a uma verdadeira explicação científica mas segundo estes geógrafos radicais caiu na mesma armadilha de um saber não suficientemente crítico que é objeto da manipulação pelo poder hegemônico O sucesso dos instrumentos quantitativos não foi acompanhado de uma explicação satisfatória e segundo a já célebre fórmula a geografia media parcialmente ou com parcialidade os fatos sociais Segundo Lévy Seria no mínimo prematuro pretender que a velha dama seja emancipada de repente da tradição e que se ponha a marchar com um só movimento O empirismo o naturalismo não estão mortos e as legiões de concursos continuam a encher e a esvaziar as sutis mas fossilizadas gavetas da explicação de mapa Em suma se a geografia tradicional assim como a geografia quantitativa sofriam dos mesmos males e limites a verdadeira revolução do conhecimento geográfico só poderia vir da corrente radical Quando a geografia começou a se observar com o mínimo de distanciamento percebeu que as fundações que legitimavam sua existência eram extremamente frágeis Este foi o ponto de partida de uma contínua crítica tão radical quanto nova O combate e a desafasagem entre a geografia dita tradicional e a modernidade são sempre enfatizados nos textos que apresentam a perspetiva radical Perguntase por exemplo se a geografia está pronta para intervir no mundo atual utilizando um instrumental clássico ultrapassado e tradicional A resposta é que a condição de realização de uma geografia científica moderna técnica e socialmente e ideologicamente justa é o recurso à utilização de categorias e conceitos inspirados diretamente no marxismo Segundo Lévy por exemplo a evolução da geografia clássica em direção à Nova Geografia se fez sem grandes rupturas A crise da geografia atual só será portanto superada quando uma nova delimitação das exigências de uma racionalidade moderna na abordagem científica da sociedade for elaborada que pretendiam ver na utilização do instrumental marxista o abandono da análise espacial foram chamados de espaciologistas Os argumentos que defendiam a pertinência da análise marxista para a geografia retornavam sempre à demonstração da dependência do espaço pois se julgava que o espaço recebia a cada momento sua significação concreta a partir dos elementos da produção de um grupo social dado Assim destacase a preocupação espacial na produção mercantil na divisão do trabalho nos preços da produção ou nas taxas de lucro sem no entanto retirar daí uma verdadeira teoriaespacial capaz de dar uma autonomia epistemológica à geografia De fato a geografia radical marxista trouxe uma verdadeira contribuição para a análise espacial acentuando problemas que tinham permanecido estranhos até então mas sem chegar a recolocar o objeto da geografia dentro de uma teoria de fato a crítica radical foi se voltando gradualmente para o tratamento de questões relativas à economia espacial e à geopolítica As novas perspectivas da análise marxista A partir dos anos oitenta a influência do marxismo na geografia principalmente anglosaxã apresentou novos aspectos e a crítica radical tomou outras direções Podemos identificar dois períodos principais neste percurso O primeiro toma o marxismo ipsis litteris e tende a ver uma predominância dos fatores econômicos na organização da vida social e do espaço A categoria modo de produção e as formas concretas que estão associadas a ela as formações sócioeconômicas foram frequentemente assimiladas às formas de organização espacial O agente que utiliza constitui organiza e transforma o território é a formação social Uma formação social só pode se constituir em relação a um território e há um processo histórico único de composição da Ele acrescenta em seguida que a menos que se dê provas de um antimarxismo dogmático reconhecerseá de bom grado a partir de então as contribuições fundamentais dos trabalhos de Marx e de Engels sobre um certo número de pontoschave Segundo uma conduta que nos parece ainda hoje bastante moderna eles produziram modelos suficientemente simples para serem enriquecidos corrigidos e criticados formação social e de seu território A geografia radical recorreu frequentemente a este conceito notadamente para redefinir a noção de região No capitalismo avançado no entanto segundo a análise clássica do marxismo haveria uma generalização das relações de produção tipicamente capitalista desencadeando uma perda de rugosidade do espaço que tenderia então a homogenizarse Como se trata de uma análise que confere a primazia aos fatores econômicos todas as diferenças possíveis do espaço físico se diluem na análise econômicosocial Esta última tornase a tal ponto predominante no processo explicativo que o próprio objeto da geografia o espaço tornase um elemento secundário As análises urbanas voltamse resolutamente para uma concepção que dá prioridade aos conflitos cidadecampo nos quais o urbano tem um papel dominante Este modelo não se aplica todavia muito bem à realidade de diversos países onde o controle do aparelho do Estado e das principais atividades econômicas é exercido por oligarquias rurais dentro de uma estrutura totalmente capitalista Além disso na teoria marxista clássica a predominância urbana resulta da hegemonia do capital industrial no processo de acumulação Contudo a partir dos anos setenta a hegemonia é antes exercida pelo capital financeiro que induz a uma nova dinâmica espacial com uma flexibilidade uma rapidez e uma mobilidade espacial desconhecidas da teoria marxista tradicional O período que se seguiu tentou ultrapassar estas insuficiências Compreendeuse que a teoria marxista clássica se aplicava ao desenvolvimento do capitalismo do século XIX A utilização do conceito de modo de produção aparece então como o meio que permitiria afastar todo idealismo da análise geográfica A geografia contribuiria para a compreensão das condições materiais da existência social e portanto da constituição de um modo de produção levando em consideração a divisão territorial do trabalho na Inglaterra tornando impossível a mesma análise cem anos depois dentro de contextos muito diferentes Problemas como a composição orgânica do capital e a renda diferencial alimentavam numerosas controvérsias sem que se chegasse a um consenso a propósito das novas formas do capitalismo Em segundo lugar os geógrafos sentiram que era absolutamente necessário acrescentar uma verdadeira dimensão espacial à análise marxista dimensão frequentemente esquecida em favor de uma explicação histórica ou econômica A influência de Henri Lefèbvre foi fundamental para a constituição desta transformação na análise geográfica marxista Ele distinguiu uma dimensão essencial da construção social da realidade a produção do espaço através de um novo modelo definido por uma análise fundada sobre a dinâmica própria à espacialidade Este modelo restituía ao espaço um papelchave na interpretação da sociedade Simultaneamente outros autores marxistas fizeram notar as diferenças entre o fenômeno considerados por Marx na escala de uma unidade de produção e os novos tempos em que a acumulação a maisvalia e o desenvolvimento das forças produtivas só podem ser apreendidos em escala mundial Para a geografia estas redefinições do campo de análise marxista introduziram numerosas mudanças A região por exemplo alguns anos antes declarada morta pelos geógrafos em sua forma tradicional ou simplesmente associada ao conceito de formação sócioeconômica reencontrou sua importância Finalmente o reconhecimento da função ideológica e estratégica inerente ao saber geográfico criaria uma nova prática social e epistemológica Tendo em conta estes três pontos o marxismo aparecia como o único campo teórico capaz de dar respostas satisfatórias às novas demandas científicas e sociais Em oposição à ciência nomotética que buscava leis de tendência reducionista e à geografia tradicional clássica sempre ligada ao estudo do único a geografia radical propõe uma rede analítica capaz de tecer uma verdadeira aproximação global Assim a nova modernidade da geografia inspirada pelo marxismo era apresentada como um terceiro termo que ultrapassaria as dualidades fundamentais da ciência na modernidade O idio gráfico contra o nomotético o hermenêutico contra o explicativo o literário contra o exato e graças ao conceito de desenvolvimento espacial desigual O abuso relativo do modelo centroperiferia foi criticado em razão da fetichização espacial que produziu os grupos sociais concretos ressurgiram nas análises para substituir as abstrações muito gerais centradas nos primeiros tempos nas classes sociais Enfim os geógrafos definiram o estudo do capitalismo como sendo uma análise da sociedade dentro de um espaço preciso tentando assim encontrar um lugar para a análise geográfica finalmente presente envenenado a liberdade contra a necessidade toda esta filosofia das ciências humanas envelheceu Outra importante mudança consistiu na relativização do peso do cientificismo na teoria marxista limitando a importância do rigor metodológico da referência às leis e do finalismo profético dos textos fundadores O importante deste modo não é mais chegar a observações gerais fundadas em leis que regulamentam a organização do espaço O fato fundamental que esta tendência acentua é a concepção pela qual o marxismo distingue os oprimidos dos opressores os dominados dos dominantes os trabalhadores dos proprietários e assim por diante Tratase aí de um humanismo moral centrado sobretudo na ideia de justiça e de direito A geografia desta concepção valoriza os temas próximos à cultura e à cidadania No quadro da análise marxista o espaço deve ser considerado como um produto social isto é ele só pode ser explicado recorrendo aos aspectos fundamentais que organizam a sociedade Para o marxismo estes aspectos são como vimos precedentemente as relações de produção e as forças produtivas que compõem o modo de produção A primeira questão que se impõe aos geógrafos que trabalham sob esta influência é saber se o espaço enquanto produto social possui uma verdadeira influência mais ainda se é um termo fundador do desenvolvimento da sociedade Por este aspecto o materialismo histórico e o humanismo moderno partem de uma mesma crítica a recusa da ciência positivista e podem sob alguns aspectos ser considerados como perspectivas complementares O materialismo histórico redesenhou a reflexividade de toda ação social e por conseguinte a importância de uma análise que leve em conta o valor e o antropocentrismo da vida social Ao mesmo tempo o humanismo se desembaraçou do idealismo e do subjetivismo que caracterizavam as primeiras análises e recolocou a importância da existência material no centro das interpretações Segundo Sayer por exemplo as possibilidades de diálogo entre estes dois pontos de vista já eram concedidas há muito tempo pela teoria crítica Habermas Giddens Para realizar este debate basta superar a subjetividade que confunde dois níveis de interpretação o social com o individual e afastar o excesso de cientificismo do materialismo histórico pois a explicação científica por princípio não se opõe à busca do sentido No mesmo sentido D Ley parte da fragmentação do saber considerada como característica da modernidade para identificar os signos de uma nova cooperação que anuncia novas direções para a pesquisa em geografia Os caminhos da arte e da arquitetura demonstram as possibilidades de uma nova integração do saber sob o impulso de um pensamento que ultrapassaria a fragmentação moderna É aí preciso notar que a nova integração proposta neste momento por Ley é apresentada como um exame rigoroso do método bem como o desenvolvimento de conceitos analíticos que transcendam as rígidas categorias estabelecidas nas abordagens mais estreitas e recentes A aceitação de um materialismo dialético supõe que o espaço tem um papel tão ativo quanto os outros elementos das esferas da produção e da reprodução social A geografia radical apela assim para o conceito de espaço social a fim de traduzir aí a ideia de dinâmica social inscrita em um espaço que é ao mesmo tempo reprodutor de desigualdades e a condição de sua superação o reflexo de uma ordem e um dos meios possíveis para transformar esta mesma ordem enfim o espaço faz parte da dialética social que o funda O que é no entanto fundamental para a geografia é o estatuto de independência ou de especificidade dos fenômenos espaciais em relação à análise da sociedade tal como é concebida no sistema marxista Em outros termos a questão é saber se a geografia pode existir como ciência do espaço com autonomia ou se ela deverá se curvar às determinações sociológicas e à causalidade histórica Esta questão suscitou grandes debates na geografia no fim dos anos setenta