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Geomorfologia Geografia Frederico de Holanda Bastos Rubson Pinheiro Maia Abner Monteiro Nunes Cordeiro 1ª edição Fortaleza Ceará 2019 Computação Química Física Matemática Pedagogia Artes Plásticas Ciências Biológicas Geografia Educação Física História 9 12 3 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 1 14052019 130501 Copyright 2019 Todos os direitos reservados desta edição à UABUECE Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico por fotocópia e outros sem a prévia autori zação por escrito dos autores Presidente da República Jair Messias Bolsonaro Ministro da Educação Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub Presidente da CAPES Abilio Baeta Neves Diretor de Educação a Distância da CAPES Carlos Cezar Modernel Lenuzza Governador do Estado do Ceará Camilo Sobreira de Santana Reitor da Universidade Estadual do Ceará José Jackson Coelho Sampaio ViceReitor Hidelbrando dos Santos Soares PróReitora de Graduação Marcília Chagas Barreto Coordenador da SATE e UABUECE Francisco Fábio Castelo Branco Coordenadora Adjunta UABUECE Eloísa Maia Vidal Diretor do CEDUECE José Albio Moreira de Sales Coordenador da Licenciatura em Geografia Edilson Alves Pereira Jr Coordenadora de Tutoria e Docência em Geografia Denise Cristina Bomtempo Editor da EdUECE Erasmo Miessa Ruiz Coordenadora Editorial Rocylânia Isidio de Oliveira Projeto Gráfico e Capa Roberto Santos Diagramador Francisco Oliveira Revisora Fernanda Ribeiro Conselho Editorial Antônio Luciano Pontes Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes Emanuel Ângelo da Rocha Fragoso Francisco Horácio da Silva Frota Francisco Josênio Camelo Parente Gisafran Nazareno Mota Jucá José Ferreira Nunes Liduina Farias Almeida da Costa Lucili Grangeiro Cortez Luiz Cruz Lima Manfredo Ramos Marcelo Gurgel Carlos da Silva Marcony Silva Cunha Maria do Socorro Ferreira Osterne Maria Salete Bessa Jorge Silvia Maria NóbregaTherrien Conselho Consultivo Antônio Torres Montenegro UFPE Eliane P Zamith Brito FGV Homero Santiago USP Ieda Maria Alves USP Manuel Domingos Neto UFF Maria do Socorro Silva Aragão UFC Maria Lírida Callou de Araújo e Mendonça UNIFOR Pierre Salama Universidade de Paris VIII Romeu Gomes FIOCRUZ Túlio Batista Franco UFF Editora Filiada à Editora da Universidade Estadual do Ceará EdUECE Av Dr Silas Munguba 1700 Campus do Itaperi Reitoria Fortaleza Ceará CEP 60714903 Fone 85 31019893 Internet wwwuecebr Email edueceuecebr Secretaria de Apoio às Tecnologias Educacionais Fone 85 31019962 B327g Bastos Frederico de Holanda Geomorfologia Frederico de Holanda Bastos Rubson Pinheiro Maia Abner Monteiro Nunes Cordeiro Fortaleza EdUECE 2015 138 p il 200cm x 255cm Geografia Inclui bibliografia ISBN 9788578265274 1 Ciência geomorfológica 2 Relevo terrestre 3 Geografia física I Maia Rubson Pinheiro II Cordeiro Abner Monteiro Nunes CDD 5514 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Sistema de Bibliotecas Biblioteca Central Prof Antônio Martins Filho Lúcia Oliveira CRB3 304 Bibliotecário LivroGeografiaGeomorfologiaindd 2 14052019 130502 Sumário Apresentação 5 Capítulo 1 Introdução à ciência geomorfológica 7 1 Histórico e sistemas de referência em Geomorfologia 9 2 Divisões da Geomorfologia 21 3 Níveis de abordagem 22 4 Conceitos fundamentais 24 Capítulo 2 Geomorfologia estrutural 29 1 Noções sobre a estrutura interna da Terra e tectônica de placas 31 2 Grandes unidades estruturais da Terra 37 3 O tempo geológico 37 4 Considerações sobre a história geológica da Terra 39 41 A dança dos continentes 39 5 Rochas e Geomorfologia 45 51 Rochas magmáticas 45 52 Sedimentos e rochas sedimentares 49 53 Rochas metamórficas 51 6 Propriedades geomorfológicas das rochas 53 7 Relevos em bacias sedimentares 57 8 Relevos em estruturas falhadas e dobradas 62 81 Dobramentos 63 82 Falhamentos 65 Capítulo 3 Geomorfologia climática 79 1 O Quaternário variações climáticas e seus reflexos geomorfológicos 81 11 Transformações ambientais no Quaternário 83 2 Fatores exógenos em diferentes sistemas de erosão 87 Capítulo 4 Geomorfologia fluvial 97 Introdução 99 Capítulo 5 Geomorfologia cárstica 109 1 Considerações gerais 111 2 Carste no Nordeste Brasileiro 116 Capítulo 6 O relevo brasileiro propostas de classificação 121 Introdução 123 Sobre os autores138 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 3 14052019 130502 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 4 14052019 130502 Apresentação A geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo terrestre sob di versos pontos de vista Na geografia física essa disciplina constitui uma área de fundamental importância tendo em vista que assim como a paisagem principal objeto de estudo da geografia física os relevos demandam análises complexas para serem adequadamente compreendidos Nessa perspectiva é fundamental que seja analisado o papel dos fa tores endógenos internos e exógenos externos na elaboração dos relevos terrestres e de que forma tais componentes podem influenciar nas paisagens do Nordeste brasileiro Dessa forma o presente livro está organizado em 6 capítulos com in dicações de fontes bibliográficas e sites para consultas posteriores além de atividades voltadas para a fixação do conteúdo abordado em cada capítulo O capítulo 1 Introdução à ciência geomorfológica apresenta o histó rico da geomorfologia suas principais correntes e teorias evolutivas na ten tativa de interpretar as formas de relevo Além disso esse capítulo apresenta alguns conceitos fundamentais as divisões da geomorfologia e seus níveis de abordagem O capítulo 2 Geomorfologia estrutural apresenta uma breve revisão de importantes conceitos geológicos para a geomorfologia tais como os tipos de rochas e sua repercussão geomorfológica a coluna geológica do tempo a estrutura da Terra e a tectônica de placas Além disso são apresentados temas como a propriedade geomorfológica das rochas relevos em bacias sedimentares e em estruturas dobradas e falhadas O capítulo 3 Geomorfologia climática trata sobre os processos ex ternos na elaboração dos relevos que estão diretamente relacionados com os fatores climáticos de cada área Nessa perspectiva são apresentadas discussões sobre sistemas de erosão em diferentes tipos de clima além da importância das variações climáticas do Quaternário e sua repercussão na morfologia no presente O capítulo 4 Geomorfologia fluvial apresenta os principais conceitos associados aos processos e formas fluviais além de conceitos inerentes a estudos em bacias hidrográficas Nessa perspectiva citamse os tipos de pa drões de canais padrões de drenagem trabalhos erosivos dos rios principais formas fluviais e questões associadas ao escoamento No capítulo 5 Geomorfologia cárstica são apresentados os tipos de relevos associados à dissolução de rochas carbonáticas e afins Dessa forma LivroGeografiaGeomorfologiaindd 5 14052019 130502 são citados exemplos de formas exocársticas e endocársticas além dos prin cipais aspectos relacionados com o desenvolvimento desses tipos de relevos citando casos de sua ocorrêrncia no Nordeste brasileiro O capítulo 6 Relevo brasileiro encerra esse material apresentando al gumas propostas de classificação de relevo brasileiro além de importantes contribuições nos estudos geomorfológicos do país como é o caso do Pro jeto RADAMBRASIL Nessa perspectiva são apresentadas as propostas de Aroldo Azevedo Aziz AbSaber e Jurandir Ross na tentativa de classificar e compartimentar o relevo brasileiro A organização do presente material visa que o aluno tenha a possibilida de de poder interpretar diversas formas de relevo e dessa maneira entender melhor a configuração das paisagens naturais e culturais da Terra sob o ponto de vista geomorfológico Os autores LivroGeografiaGeomorfologiaindd 6 14052019 130502 1 Introdução à geomorfológica Capítulo LivroGeografiaGeomorfologiaindd 7 14052019 130502 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 8 14052019 130502 Geomorfologia 9 Objetivos Destacar as principais teorias que nortearam a Geomorfologia desde o iní cio do século XX quando a mesma instituiuse como uma disciplina aca dêmica possuindo objeto próprio Apresentar também nesse capítulo a divisão da geomorfologia seus níveis de abordagem e seus conceitos fundamentais Entender de forma sucinta o desenvolvimento global da ciência geomorfológica Definir um sistema referencial em função do qual possamse obter parâme tros para a interpretação crítica das diferentes posturas assumidas pelos geomorfólogos no correr do tempo 1 Histórico e sistemas de referência em geomorfologia As concepções filosóficas e religiosas vigentes durante as primeiras épocas da história influenciaram de modo marcante nas explicações para os fatos observados pelo homem Na Grécia antiga a Filosofia estimulava a busca pelo saber Segundo Tinkler 1985 apud MARQUES 2009 a curiosidade na tural levava a buscar explicações para situações como a permanência do fluxo de água num rio mesmo com a ausência de chuvas Os romanos em seguida agregaram conhecimentos práticos para os quais muito contribuiu o desenvolvimento de sua engenharia dando também importância ao estu do da natureza Adiante na Idade Média atos inquestionáveis de Deus eram evocados para explicar a origem e o funcionamento da natureza A igreja fazia emanar da religião a base do saber O avanço dos conhecimentos no âmbito das ciências da Terra em que se inclui a Geomorfologia deuse principalmente a partir de meados do século XIX Entretanto as raízes desse impulso são encontradas desde o período renascen tista quando foram resgatadas as obras gregas e romanas Contribuições como a do engenheiro e artista italiano Leonardo da Vinci 1452 1519 no final do século XV e do início do século XVI sobre os processos erosivos e a deposição fluvial não chegaram a intensificar o interesse por novas observações e ideias ROSS 2010 Somente a partir do final do século XVIII e do início do século XIX começaram a ser materializadas correntes de pensamento que buscavam encontrar respostas para a origem e a evolução da superfície terrestre LivroGeografiaGeomorfologiaindd 9 14052019 130502 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 10 O gênio da Renascença italiana Leonardo da Vinci ao encontrar em grandes altitudes nos montes Apeninos rochas com ocorrência de conchas percebeu que tais eventos guardavam semelhança com as conchas novas encontradas nos terrenos baixos de depósitos recentes Diante dessas cons tatações concluiu que o fato de se encontrar rochas com conchas em dife rentes altitudes e em diferentes inclinações indica um grande soerguimento de terras que antes certamente eram parte do fundo do mar No século XVIII destacaramse os trabalhos de James Hutton 1726 1797 e John Playfair 1748 1819 nos quais elaboraram e divulgaram impor tantes obras no sentido de explicar fenômenos relacionados à história natural da Terra James Hutton é considerado o precursor da Teoria do Atualismo por ser o primeiro a identificar a importância do conhecimento do presente para melhor compreender o passado As concepções de Hutton foram divulgadas por seus discípulos John Playfair e Charles Leyll 1797 1875 cuja máxima era O presente é a chave do passado Esse princípio estabeleceu as bases da pesquisa em Geologia bem como em Geomorfologia No início do século XIX constatavase certo embate entre duas corren tes de pensamento relativo à evolução dos relevos terrestres uma que acredi tava que os processos derivavam de eventos catastróficos rápidos o Princípio do Catastrofismo que perdurou até o final do século XVIII e outra que seguia os princípios propostos por James Hutton segundo o qual os eventos eram muito mais lentos e seguiam as leis da física do presente O avanço do conhecimento geomorfológico deriva de concepções geo lógicas de meados do século XIX Nessa época já se registraram os primeiros estudos geomorfológicos elaborados por Alexandre Surrel que em 1841 esta beleceu os princípios ou leis da morfologia fluvial erosão regressiva ou remon tante Jean Louis Agassiz morfologia glacial Jukes traçados dos rios Andrew Ramsay e Grove Karl Gil bert aplainamento elaborado pelos rios e John Wes ley Powell e Clarence Eduard Dutton ritmo de arraste de sedimentação No final do século XIX o norteamericano William Morris Davis Figura 11 apresentava estudos geomor fológicos fundamentados no positivismo evolucionista Tendo em vista seu pioneirismo em vários aspectos no que tange à interpretação dos relevos da Terra ele ficou conhecido como o Pai da Geomorfologia Já na Ale manha Albrecht e Walter Penck abordavam a geomor fologia apoiada na concepção integrada dos elementos que compõem a superfície terrestre Evidenciavase o surgimento de duas escolas geomorfológicas distintas Figura 11 Willian Morris Davis conhecido como o pai da geomorfologia Fonte httpsenwikipediaorgwiki WilliamMorrisDavis LivroGeografiaGeomorfologiaindd 10 14052019 130502 Geomorfologia 11 As diferenças culturais e políticas implicaram no desenvolvimento de duas grandes escolas de pensamento geomorfológico Uma angloamerica na incorporando trabalhos americanos ingleses e franceses fortemente in fluenciada pelo Ciclo Geográfico de Davis e outra germânica abrangendo Alemanha Polônia e Rússia que teve como fundamentação teórica inicial os trabalhos de Ferdinand von Richthofen 1833 1905 que tinha forte influência do naturalismo de Alexander von Humboldt O modelo teórico concebido por Davis 1899 na segunda metade do século XIX que procurava elucidar a geodinâmica da superfície terrestre constituiu o primeiro conjunto de concepções que podia descrever e explicar de modo coerente a gênese e a sequência evolutiva das formas de relevo existentes na superfície terrestre Na escola davisiana denominada Ciclo Geográfico Ideal a paisagem é o resultado da interrelação de três variáveis estrutura soma das variáveis endógenas processo soma das variáveis exó genas e tempo sentido cronológico SALGADO 2007 A concepção de Davis a respeito da evolução do relevo tem início com um rápido e generalizado soerguimento continental em relação ao nível de base geral ou seja aos oceanos Seguese um longo período com ausência de grandes atividades tectônicas embora o autor da teoria admita que pequenos eventos tendam a ocorrer Esse rápido soerguimento cria condições para que o relevo seja esculturado por processos erosivos uma vez que faz com que exis ta uma significativa diferença de gradiente entre os continentes e os oceanos Segundo Salgado 2007 esse processo de desgaste erosivo dos continentes desenvolvese em condições climáticas úmidas e a maior presença de água permite um desgaste mais acentuado do relevo e de suas rochas Após o soerguimento e em condições de quietude tectônica e de clima úmi do iniciase um processo lento e progressivo de desgaste erosivo dos continentes Esse processo caracterizase pelo rebaixamento vertical e contínuo das verten tes acontece ao longo do tempo ou seja requer milhões de anos para ocorrer e pode ser dividido em três fases juventude maturidade e senilidade Figura 12 Figura 12 Modelo proposto por William Morris Davis em 1899 Fonte Davis 1899 segundo Casseti 2005 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 11 14052019 130502 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 12 Portanto o modelo teórico proposto por Davis apresenta uma concep ção finalista em que todo o relevo tem começo meio e fim podendo entre tanto recomeçar com um processo de rejuvenescimento no qual o relevo pode retornar à juventude com um soerguimento de caráter tectônico A juventude compreende o início do processo denudacional logo após o rápido e generalizado soerguimento continental pela ação de forças inter nas Nessa fase inicial os cursos fluviais possuem alta energia em função da elevada diferença de gradiente entre os continentes e o nível de base geral A ação da água corrente a erosão normal atuando sobre o relevo inicial pro duziria sua dissecação e consequentemente a redução de sua topografia até criar uma nova superfície aplainada peneplano Figura 13 Um novo soerguimento daria lugar a um novo ciclo erosivo Figura 13 Rebaixamento do relevo de cima para baixo até atingir a peneplanização Fonte httpwwwfuncapeorgbrgeomorfologia Segundo Marques 2009 p 31 o modelo proposto por W M Davis trazia em seu bojo alguns pontos que originaram críticas entre eles desta camse o fato de o modelo ser concebido para áreas de clima temperado a necessidade de um rápido soerguimento do relevo seguido por um período muito longo de estabilidade tectônica e a colocação das condições de equilí brio como resultado a ser obtido no ciclo final Essa concepção foi fortemente debatida pela escola germânica que tinha uma forte relação climática e biogeográfica Ainda sob uma forte influ ência dos trabalhos de Davis destacamse os trabalhos do geógrafo francês Emmnuel de Martonne 1893 1955 e Henri Baulig 1877 1962 considera dos como os principais divulgadores do ciclo geográfico na Europa Surgiram deles também contribuições importantes que se incorporaram ao conheci mento geomorfológico tais como os estudos de Baulig sobre as implicações das variações do nível do mar eustatismo e os de Martonne em seus tra balhos em direção à Geomorfologia Climática em 1913 De Martonne tra balhando no Brasil publicou em 1940 uma contribuição clássica sobre as paisagens e os processos atuantes nos trópicos úmidos O modelo davisiano teve muitos seguidores no Brasil dentre os quais podemos destacar até praticamente o final da década de 1950 Aroldo de LivroGeografiaGeomorfologiaindd 12 14052019 130502 Geomorfologia 13 Azevedo Aziz Nacib AbSáber Fernando Marques de Almeida entre outros que de forma explícita ou não ao produzirem trabalhos geomorfológicos clas sificaram as terras baixas e aplanadas em peneplanos ou em peneplanícies e os planaltos em maturamente erodidos ou ainda em relevos rejuvenescidos com linguagem claramente davisiana ROSS 2010 No início da década de 1920 as pertinentes críticas do alemão Walther Penck ao ciclo geográfico de Davis acabaram criando a segunda teoria que marcou a evolução do pensamento geomorfológico W Penck em 1924 per cebeu que o entendimento das atuais formas de relevo da superfície terrestre são produtos do antagonismo das forças motoras dos processos endógenos e exógenos ou seja da ação das forças emanadas do interior da crosta ter restre de um lado e das forças impulsionadas através da atmosfera pela ação climática atual e do passado de outro lado As forças endógenas seguindo os princípios de W Penck revelamse de dois modos distintos através da estrutura da crosta terrestre Uma das revela ções é através do processo ativo comandado pela dinâmica da crosta terrestre os abalos sísmicos o vulcanismo os dobramentos os abaulamentos e os soer guimentos das plataformas e os falhamentos e as fraturas que têm explicações na teoria da tectônica de placas A segunda revelação se processa de modo imperceptível através da resistência ao desgaste que a litologia e seu arranjo estrutural oferecem à ação dos processos exógenos ou de erosão Para Walther Penck períodos com predomínio de forças exógenas pro duzem elevações e enrugamento do relevo quando ao contrário prevalecem as forças exógenas essas elevações tendem a ser rebaixadas e o modelado aplainado Penck ainda baseia sua teoria na existência de níveis de base lo cais uma vez que considera que não são somente os oceanos que se cons tituem como níveis de base para os processos erosivos A evolução do modelado de acordo Penck 1924 começa por um soerguimento tectônico de uma superfície quase plana Esse soerguimento possui uma área central e à medida que essa área ganha altitude a mesma se estende em direção às regiões periféricas fato que produz um relevo em forma de domo Quando esse soerguimento perde força a erosão mecânica eou a denudação química passam a ser predominantes e tendem a aplainar as porções mais periféricas do modelado e um novo soerguimento ocorre Quando esse novo processo tectônico perde força os processos erosivos criam duas superfícies de altitudes diferentes uma mais elevada próxima ao centro do domo e outra na região periférica Entre as duas ocorre um escarpamento que como um degrau no relevo constitui a testemunha de dois soerguimentos distintos Dessa forma a sucessão de períodos de soer guimento e quietude tectônica produz um relevo em forma de escadaria onde LivroGeografiaGeomorfologiaindd 13 14052019 130502 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 14 cada superfície e cada concavidade de vertente constituem um nível de base para o que está a montante SALGADO 2007 No processo de evolução do modelado em escadarias proposto por Pen ck as vertentes evoluem a princípio predominantemente por retração lateral para em seguida predominar o rebaixamento vertical onde os tipos de rochas a litologia e de clima são importantes mas não alteram significativamente o processo de evolução do modelado podendo apenas retardálo ou facilitálo De forma resumida Penck propunha que em caso de forte soergui mento da crosta terrestre observarseia uma forte incisão do talvegue em função do elevado gradiente o que implicaria na aceleração dos processos lineares Admitindose que o efeito denudacional não acompanhasse de ime diato a intensidade do entalhamento do talvegue terseia o desenvolvimento de vertentes convexas CASSETI 2005 Figura 14 Figura 14 Predomínio do entalhamento do talvegue em relação à denudação respon sável pelo desenvolvimento de vertentes convexas aumento do ângulo da vertente Fonte httpwwwfuncapeorgbrgeomorfologia Uma segunda situação apresentada por Penck é quando ocorre um soer guimento moderado da crosta com proporcional incisão do talvegue Nesse caso poderia ocorrer uma compensação equilibrada pelos processos denudacionais pro porcionando o desenvolvimento de vertentes retilíneas CASSETI 2005 Figura 15 Figura 15 Equilíbrio entre soerguimentodenudação com formação de vertentes retilíneas manutenção do ângulo da vertente Fonte httpwwwfuncapeorgbrgeomorfologia LivroGeografiaGeomorfologiaindd 14 14052019 130502 Geomorfologia 15 Por último se a ascensão crustal for pequena ocorre um fraco enta lhamento do talvegue e uma maior atividade denudacional o que propicia o desenvolvimento de vertentes côncavas CASSETI 2005 Figura 16 Figura 16 Predomínio do entalhamento do talvegue que implica na concavização da vertente redução do ângulo da vertente Fonte httpwwwfuncapeorgbrgeomorfologia Portanto enquanto W M Davis afirmava que o relevo evoluía de cima para baixo Figura 171 W Penck acreditava no recuo paralelo das verten tes ou desgaste lateral da vertente Figura 172 constituindose no modelo aceito para o entendimento da evolução morfológica 1 2 Figura 17 Esboço esquemático de teorias evolutivas dos relevos por backwearing e downwearing Fonte httpwwwfuncapeorgbrgeomorfologia Portanto W Penck foi um dos principais críticos do sistema de W M Davis sobretudo ao afirmar que o soerguimento e os processos erosivos eou denudacionais aconteciam ao mesmo tempo atribuindo desse modo a devida importância aos efeitos processuais Para Davis a denudação só teria início após o término do soerguimento enquanto que para Penck a denudação é concomitante ao soerguimento com intensidade diferenciada pela ação da tectônica A terceira teoria acerca da evolução do relevo foi o sistema proposto pelo sulafricano Lester Charles King em 1953 segundo o qual o clima possuía fundamental importância na gênese dos aplainamentos Segundo Casseti 2005 essa teoria procura restabelecer o conceito de estabilidade tectônica considerado por W M Davis 1899 mas admite tam bém o ajustamento por compensação isostática e considera o recuo paralelo das vertentes backwearing como forma de evolução morfológica de acordo com a proposta de W Penck 1924 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 15 14052019 130502 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 16 Nessa década Lester King utilizou os princípios adotados por Penck e publicou trabalhos sobre os aplainamentos Para King os aplainamentos ocorrem em regiões submetidas não só a condições de relativa calmaria tec tônica mas também a condições climáticas com tendência à aridez Essas condições climáticas são necessárias porque se caracterizam por uma fraca cobertura vegetal e por chuvas esporádicas porém com significativa capaci dade energética Portanto na sua teoria Lester King admite que o recuo paralelo das vertentes acontece a partir de determinado nível de base iniciado pelo nível de base geral correspondente ao oceano Figura 18 O processo de retra ção lateral Backwearing das vertentes tem por consequência o acúmulo de material detrítico na sua base Esse material detrítico se acumulará na forma de rampas suaves denominadas de pedimentos que se estendem da base das vertentes em direção aos leitos fluviais SALGADO 2007 Figura 18 Retração lateral conforme proposto por Lester Charles King em 1953 Fonte King 1953 segundo Valadão 1998 p42 Para Lester King a perpetuação das condições de aridez do clima favo recerá a coalescência desses pedimentos e a formação de uma ampla super fície aplainada denominada pediplano razão pela qual a referida teoria ficou conhecida como pediplanação Figura 19 Figura 19 Superfície aplainada entrecortada por maciços residuais que pode ser interpretada como um pediplano Fonte Abner Monteiro Nunes Cordeiro 2014 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 16 14052019 130502 Geomorfologia 17 Portanto enquanto Davis chamava as grandes extensões horizontaliza das na senilidade de peneplanos King as considerava como pediplanos como formas residuais denominadas inselbergs feições residuais que têm sua formação relacionada com processo de erosão seletiva Figura 110 Entretanto apesar da teoria da pediplanação ter sido originalmente relacionada a um clima úmido como as demais apresentadas partindo do princípio que foram produzidas nas regiões temperadas supõese que a ho rizontalização topográfica esteja vinculada a um clima seco assim como o desenvolvimento vertical do relevo encontrase relacionado a um clima úmido levando em conta a incisão vertical da drenagem Assim a desagregação me cânica seria a grande responsável pelo recuo paralelo das vertentes e seus detritos a partir da base em evolução estenderseiam em direção aos níveis de base produzindo entulhamento e consequente elevação do nível de base local CASSETI 2005 Figura 110 Inselberg localizado no município de Quixadá Ceará Brasil Foto Abner Monteiro Nunes Cordeiro 2014 Cabe destacar o fato de que o ciclo de evolução do relevo proposto por W M Davis deu grande impulso ao desenvolvimento de uma Geomorfologia Estrutural Até a metade do século XX essa teoria mantevese como forte referência para os estudos geomorfológicos Todavia o reconhecimento da existência e as implicações das glaciações quaternárias e um melhor enten dimento sobre o papel de diferentes climas no modelado do relevo fizeram surgir nessa época novas concepções reforçando a importância de uma Geomorfologia Climática MARQUES 2010 Portanto o recuo paralelo das vertentes os sistemas morfoclimáticos a formação de pediplanos os testemunhos de paleoclimas e a importância dos níveis de base locais são exemplos de novas questões que se incorporaram aos estudos geomorfológicos com a perspectiva climática LivroGeografiaGeomorfologiaindd 17 14052019 130503 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 18 Nesse sentido os tipos climáticos passaram a ser objeto de preocu pação no entendimento da dinâmica e da gênese do relevo definindose o modelado da superfície terrestre extremamente atrelado às grandes zonas cli máticas do globo Dentro dessa nova direção surgiram os domínios ou zonas morfoclimáticas do relevo terrestre ROSS 2010 A contribuição mais substancial para a sistematização da Geomorfolo gia Climática a qual postula que diferentes climas podem produzir diferentes processos e compartimentos de relevo a ele associados formando assim as regiões morfoclimáticas é devida a Jean Tricart e a André Cailleux que no decorrer da década de 1960 propuseram a divisão morfoclimática do globo em zonas frias zonas florestadas de latitudes médias zonas secas dos trópicos e das latitudes médias e zona intertropical Para Ross 2010 essa tentativa de estabelecer novos critérios de análise geomorfológica está diretamente preo cupada em valorizar os diferentes processos denudacionais dependentes dos climas atuantes no presente e sem desconsiderar os demais elementos de in terferência na dinâmica da paisagem como a cobertura vegetal Essa perspectiva climática da Geomorfologia tem suscitado inúmeras discussões Dentre elas podemos destacar a Teoria da Etchplanação do ale mão Julius Büdel 1957 Nas teorias de Davis 1899 e King 1953 as vari áveis estrutura e clima sob fundamentação cíclica condicionam as análises enquanto que o papel das alterações geoquímicas das rochas foi negligencia da particularmente pela Teoria da Pediplanação VITTE 2005 A Teoria da Etchplanação teve suas origens nas pesquisas desenvol vidas inicialmente pelo inglês E J Wayland 1933 em Uganda na África Para Wayland o escalonamento de superfícies aplainadas não poderia ser explicado pela teoria da peneplanação uma vez que coexistiam lado a lado na África Oriental superfícies de aplainamento de diferentes idades e com diferentes cotas e níveis de base Para ele as superfícies de aplainamento de cotas altimétricas mais baixas seriam formadas pela erosão parcial ou total de um espesso manto de alteração que recobriria uma superfície basal de intem perismo SANTOS SALGADO 2010 No entanto a Teoria da Etchplanação só ganharia corpo teórico com os trabalhos de Julius Büdel que em 1957 lançou suas bases conceituais SALGADO 2007 consolidando assim o papel do intemperismo na análise geomorfológica Sua concepção é que existe uma integração dialética entre a alteração geoquímica das rochas e a erosão superficial VITTE 2005 De acordo com J Büdel para que as superfícies de aplainamento sejam forma das é necessária a conjunção de dois fatores relativa quietude tectônica e existência de condições climáticas tropicais semiúmidas As condições cli máticas semiúmidas seriam necessárias à gênese dos aplainamentos pois LivroGeografiaGeomorfologiaindd 18 14052019 130503 Geomorfologia 19 somente com elas ocorre concomitantemente o intemperismo químico e a erosão mecânica O intemperismo químico seria responsável pela decompo sição das rochas criando assim material friável para a erosão mecânica car rear SANTOS SALGADO 2010 Para Büdel as regiões que não possuem essas condições climáticas estação úmida entre 6 a 9 meses mas que apresentam modelos aplainados não tiveram seus aplainamentos formados nas atuais condições climáticas ou seja no passado apresentaram condições paleoambientais semiúmidas Para Christofoletti 1980 J Büdel em 1963 introduziu dois conceitos importantes designados pelos termos de Geomorfologia Climática e Geomor fologia Climatogenética O primeiro termo assinala que os diferentes climas condicionando os processos erosivos propiciam o desenvolvimento de con juntos individualizados de formas de relevo Nessa perspectiva a Geomorfo logia Climática seria responsável pela análise desses processos e formas e de suas relações com o clima Já a Geomorfologia Climatogenética do relevo ressalta que o desenvolvimento do relevo obedece a estágios de evolução geomorfológica Essa evolução geomorfológica é derivada de diferentes situ ações paleoclimáticas clima existente em eras passadas e estruturais litoló gicas e não apenas produto clima atual VITTE 2005 Portanto de acordo com a Geomorfologia Climatogenética o conjunto das formas de relevo controladas climaticamente estão sendo sucessivamen te superimpostas umas às outras Nesse sentido para J Büdel a Geomor fologia Climática faz uma abordagem genérica enquanto a Geomorfologia Climatogenética é responsável pela análise histórica de áreas particulares CHRISTOFOLETTI 1980 Dentre as grandes teorias acerca da evolução da paisagem podemos desta car a Teoria do Equilíbrio Dinâmico de John Tilton Hack 1960 em que se recupera a contribuição de Grove Karl Gilbert 1880 de ajuste entre a força e a resistência Segundo essa teoria as paisagens passariam por longos períodos de denuda ção mantida por um ajuste entre o controle litológico e os processos superficiais O princípio básico dessa teoria é que o relevo é um sistema aberto que mantém constante troca de energia e matéria com os demais sistemas com ponentes do seu universo Essa teoria fundamentase na Teoria Geral dos Sistemas sendo portanto entendida pela funcionalidade na entrada de fluxo de energia no sistema que produz determinado trabalho CASSETI 2005 John T Hack considera o modelado como resultado da competição en tre a resistência do material superficial e a ação externa das forças de denu dação Portanto para Hack as formas de relevo e os depósitos superficiais possuem uma íntima relação com a estrutura litológica e os mecanismos de intemperização embora deixando transparecer maior valorização da primeira LivroGeografiaGeomorfologiaindd 19 14052019 130503 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 20 Para Hack a amplitude topográfica a distância vertical entre o topo da ver tente e o fundo do vale de um rio é aproximadamente igual dentro de determi nado tipo de rocha mas difere muito de uma litologia para outra Do mesmo modo os perfis das vertentes variam conforme o tipo litológico CHRISTOFO LETTI 1980 Figura 111 Figura 111 Equilíbrio dinâmico mantido nos diferentes panoramas topográficos de terminados pela resistência diferencial litológica que proporciona mesmo com decli ves fortes um volume de material correspondente Fonte httpwwwfuncapeorgbrgeomorfologia De acordo com Marques 2009 a aplicação conceitual do Equilíbrio Dinâmico ajustamento contínuo entre o comportamento do processo e as formas resultantes nos estudos morfoclimáticos não levaria necessaria mente também a uma homogeneidade de formas quando o relevo é sub metido a um mesmo clima As feições do modelado segundo o autor deixam de ser algo estático para serem também dinâmicas em suas tendências a um melhor ajuste em sintonia com o modo de atuação dos processos Segundo Christofoletti 1980 p 171 quando se procura investigar a evolução do modelado em amplas áreas tornase impossível seguir em de talhe o desenvolvimento de cada constituinte vertentes rios etc do sistema em consideração Por outro lado a escala dos fenômenos atuantes é tão va riada assim como é complexa e complicada a interrelação entre eles que o conhecimento só pode prosseguir através de considerações sobre as suas propriedades médias utilizandose de conceitos probabilísticos A Teoria Probabilística da Evolução do Modelado tratase de uma ten dência que floresceu no início da segunda metade do século XX tendo como principais representantes Luana Bergere Leopold e Walter Basil Langbein 1962 O fundamento básico dessa teoria está no conceito de entropia ener gia contida em um sistema um princípio definido por leis da termodinâmica o qual descreve tanto as formas de distribuição da energia em um determinado sistema quanto suas possíveis respostas a estas entradas de energia LivroGeografiaGeomorfologiaindd 20 14052019 130503 Geomorfologia 21 Nessa concepção a paisagem geomorfológica e sua evolução depen dem de diversos fatores representados em diferentes escalas de espaço e tempo Desse modo a existência de vários fatores influenciando a realização de um ou mais processos tenderia a gerar uma multiplicidade de resultados sendo alguns mais previsíveis do que outros MARQUES 2009 Essa teoria deu margem a diversas análises quantitativas dos fenômenos especialmente os fluviais o que tornoua mais conhecida como Teorética ou Quantitativa Para a Geomorfologia a abordagem quantitativa teve dois principais méritos o primeiro referese à quantificação propriamente dita das informa ções já que os modelos evolutivos até então conhecidos eram teóricos sem nenhuma base de dados adquiridos diretamente no local de ocorrência do fenômeno o segundo seria o uso da ferramenta estatística na análise dos da dos possibilitando questionamentos quanto à representatividade dos proces sos estudados Isto fez com que a partir de então tanto os levantamentos de campo quanto a definição da amplitude da amostragem se tornassem partes fundamentais da metodologia dos estudos de caso LEITE 2011 p 14 No Brasil esta abordagem metodológica em Geomorfologia foi am plamente difundida por Antônio Christofoletti a partir da década de 1970 É importante salientar ainda o papel da quantificação no desenvolvimento dos trabalhos de Robert Elmer Horton e de Arthur Newell Strahler em direção à morfometria que abriram novos horizontes para a Geomorfologia Para concluir essa breve abordagem histórica podese afirmar que a sistematização da Ciência Geomorfológica passou por grandes e importan tes transformações ao longo do tempo As teorias de evolução do relevo que surgiram desde o final do século XIX apesar de possuírem um corpo teórico e metodológico próprio refletiram tendências intrínsecas à Geomorfologia como também as tendências filosóficas e políticas de uma época Podese dizer também que cada uma das concepções teóricoconcei tuais descritas acima prestigiou mais um determinado aspecto de algum fe nômeno ou processo Cada uma delas ofereceu importantes contribuições e nenhuma pode ser considerada absoluta Todas de alguma forma estão pre sentes direta ou indiretamente nos trabalhos que são realizados na atualidade 2 Divisões da Geomorfologia Dependendo da abordagem predominante a geomorfologia pode ser dividida em duas grandes áreas a geomorfologia estrutural e a climática A geomorfologia estrutural tenta explicar as formas de relevo a partir de fatores endógenos internos Dessa forma são considerados os processos tec tônicos responsáveis pelas deformações na crosta terrestre além das proprie dades geomorfológicas das rochas que influenciam diretamente no modelado LivroGeografiaGeomorfologiaindd 21 14052019 130503 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 22 A geomorfologia climática tende a interpretar as formas de relevo a par tir das ações exógenas externas de intemperismo e de erosão que possuem estreita relação com o clima Dessa forma são considerados os diversos pro cessos externos tais como processos fluviais eólicos coluviais glaciais e térmicos Além dessas características a geomorfologia climática também analisa as diversas mudanças climáticas ocorridas ao longo do Quaternário e suas repercussões no relevo atual É importante destacar que o relevo desconhece essa divisão formal da ciência geomorfológica dessa forma podese afirmar que a geomorfologia estrutural e a climática se completam tendo em vista que ambas as aborda gens fornecem informações importantes na explicação das formas de relevo 3 Níveis de abordagem Toda e qualquer ciência apresenta níveis de abordagem de acordo com o seu objeto de estudo De acordo com AbSaber 1969 a geomorfologia apresenta os seguintes níveis de abordagem compartimentação morfológica estrutura superficial das paisagens e fisiologia da paisagem a Compartimentação morfológica A compartimentação morfológica é um campo que cuida do entendi mento da divisão ou da compartimentação topográfica regional assim como da caracterização e da descrição das formas de relevo em cada comparti mento estudado Um exemplo dessa abordagem pode ser observado na Fi gura 112 que apresenta uma proposta de divisão compartimentação das unidades morfoestruturais do estado do Ceará Essa análise é muito importante no processo de ocupação Nessa pers pectiva a geomorfologia fornece subsídios fundamentais nas estratégias de ordenamento territorial a partir das vocações naturais e do grau de vulnerabili dade das unidades geomorfológicas identificadas LivroGeografiaGeomorfologiaindd 22 14052019 130503 Geomorfologia 23 Figura 112 Exemplo de Compartimentação Domínios Morfoestruturais do Ceará Fonte SOUZA 1988 b Estrutura superficial das paisagens A estrutura superficial procura além das preocupações topográficas e morfológicas obter informações sistemáticas sobre a estrutura superficial das paisagens referentes a todos os compartimentos e formas de relevo identifica das Esse tipo de análise fornece um entendimento do histórico da evolução do relevo através dos processos paleoclimáticos e morfoclimáticos quater nários como pode ser observado nos depósitos correlativos e nas feições antigas e recentes de relevo c Fisiologia da paisagem A fisiologia das paisagens tem por objetivo compreender a ação dos processos morfodinâmicos e pedogenéticos atuais responsáveis pelo funcio LivroGeografiaGeomorfologiaindd 23 14052019 130503 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 24 namento das paisagens no presente Nessa perspectiva inseremse estudos sobre movimentos gravitacionais de massa processos fluviais pluviais tér micos glaciais eólicos Figura 113 o papel da cobertura vegetal e a ação antrópica como agente modificador dos relevos Figura 113 Transportes eólicos em campos de dunas no município de Barroquinha CE exemplo de campo de estudo da fisiologia das paisagens Foto Frederico de Holanda Bastos 2012 4 Conceitos fundamentais Os princípios e conceitos fundamentais aqui apresentados foram sistemati zados por Willian Thornbury 1960 e são fundamentais para uma compre ensão adequada dos aspectos geomorfológicos de qualquer área de estudo Tratamse de nove conceitos que abordam diversas áreas de conhecimento geral no âmbito da geomorfologia a Os mesmos processos e leis naturais que atuam hoje em dia atuaram atra vés de todo o tempo geológico embora não necessariamente apresentas sem sempre com a mesma intensidade do presente Esse é um grande princípio básico de geologia que é conhecido como o princípio do Atualismo ou Uniformitarismo o qual foi inicialmente proposto por Hutton em 1785 e posteriormente bastante divulgado por Playfair Tal princípio pode ser resumido com a frase o presente é a chave do passado LivroGeografiaGeomorfologiaindd 24 14052019 130504 Geomorfologia 25 Hoje sabemos que processos internos como eventos tectônicos ou processos externos como a ação do clima sofreram diversas mudanças quanto à sua intensidade Podese citar como exemplo o Brasil que hoje é tectonicamente calmo porém há cerca de 500 milhões de anos apresen tou eventos tectônicos similares ao que ocorre na cordilheira do Himalaia Da mesma forma regiões que hoje apresentam climas quentes e úmidos podem ter apresentado climas mais frios no passado b A estrutura geológica é um fator de controle na evolução da superfície da Terra e pode se refletir em diversas características do ambiente natural Para se compreender o relevo de uma determinada área é fundamen tal que se conheça os aspectos estruturais dessa área tanto com relação às possíveis deformações crustais como com relação aos tipos de rochas e suas propriedades geomorfológicas Cada tipo de rochas pode apresentar diferentes características quan to à ação do escoamento superficial quanto à desagregação mecânica e à decomposição química desta forma é fundamental que se compreenda que uma determinada variedade litológica poderá condicionar uma variedade ge omorfológica c Os processos morfodinâmicos deixam sua impressão distintiva sobre as formas do terreno e cada processo desenvolve o seu próprio conjunto ca racterístico de formas de relevo ou condições ambientais O termo processo se aplica aos numerosos agentes físicos e químicos pelos quais a superfície terrestre sofre modificações Alguns desses proces sos se originam no interior da Terra tais como os produtos do tectonismo e outros na parte externa tais como intemperismo e erosão Nessa perspecti va qualquer processo de atuação predominante interna ou externa vai ser responsável pela elaboração de um conjunto de formas de relevo específicas d À medida que os diferentes agentes erosivos atuam sobre a superfície ter restre produzse uma sequência de formas de relevo com características distintas nos sucessivos estágios de desenvolvimento Essa afirmação está diretamente amparada na ideia evolutiva de Davis em seu ciclo geográfico Porém cabe aqui destacar que devese aplicar com muita cautela as terminologias de juventude maturidade e velhice para cada caso sobretudo nos casos comparativos de relevos em áreas diferentes e Na evolução geomorfológica ou ambiental a complexidade é mais comum do que a simplicidade Não se deve adotar apenas um critério específico para se tentar explicar alguma forma de relevo pois tais formas sempre derivam de um complexo jogo de interações entre diversos fatores naturais que devem ser considerados LivroGeografiaGeomorfologiaindd 25 14052019 130504 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 26 f A maior parte dos relevos da Terra tem idade que não vai além do Pleisto ceno sendo exíguas as áreas anteriores ao Terciário Em determinadas paisagens da Terra podem ocorrer rochas do pré cambriano ou até mesmo do Fanerozoico porém as idades do relevo são muito mais recentes Ao longo do Quaternário a Terra passou por diversos es tágios de mudanças climáticas associadas com as glaciações Cada evento glacial era marcado por temperaturas baixas regressão marinha e predomínio de processos de intemperismo físico Já nos períodos interglaciais ocorria o contrário elevadas temperaturas transgressão marinha e processos intempé ricos químicos predominantes Nessa perspectiva podese afirmar que os relevos atuais foram sendo modelados ao longo dos processos geomórficos decorrentes dessas signifi cativas variações climáticas do Quaternário sendo portanto recentes g A interpretação completa das paisagens atuais é impossível sem uma apre ciação total das influencias múltiplas de mudanças naturais ocorridas du rante o Pleistoceno Durante as glaciações a superfície gelada no planeta era bem maior 26 milhões de km2 com efeitos climáticos e eustáticos globais Tais efeitos apresentam estreita relação com os relevos atuais h Para compreender a importância variada dos diferentes processos naturais que atuam sobre a superfície da Terra é necessária uma apreciação dos climas do mundo Para se compreender como os relevos atuais estão evoluindo é funda mental que se compreendam os aspectos climáticos de cada região estuda da Nessa perspectiva destacamse os parâmetros pluviométricos e térmicos Dessa forma além dos aspectos climáticos locais como pluviosidade e temperatura é importante que sejam analisados também os aspectos climá ticos em escala global tais como os sistemas de circulação atmosférica e a influência latitudinal i Embora que o interesse primário da geomorfologia seja pelas paisagens atuais sua utilidade alcança significativas extensões históricas O interesse da geomorfologia é a origem das paisagens atuais que na maioria dos casos apresentam formas que datam de épocas geológicas ante riores Dessa forma um geomorfólogo é obrigado a buscar um acesso históri co se pretende interpretar com propriedade a história geomorfológica de uma região A aplicação do princípio do Atualismo torna possível esta interpretação LivroGeografiaGeomorfologiaindd 26 14052019 130504 Geomorfologia 27 Síntese do Capítulo O capítulo introduz conceitos e apresenta as divisões da geomorfologia abor dando a evolução dos princípios fundamentais que explicam os fenômenos da natureza Para tanto são apresentadas as correntes de pensamento que mais se destacaram desde o século XVIII e os modelos que representaram as concepções daqueles que influenciaram no entendimento do pensamento geomorfológico desde os primeiros estudos até os dias de hoje A explicação dos fenômenos associados à história natural da Terra no sentido de melhor compreender o presente a partir da observação do passa do teve como destaque os estudos de James Hutton 1726 1797 de John Playfair 1748 1819 e de Charles Leyll 1797 1875 O século XIX registrou significativos avanços no conhecimento geomorfológico a exemplo dos prin cípios ou leis da morfologia fluvial de Alexandre Surrel os estudos defendidos por Jean Louis Agassiz Jukes Andrew Ramsay Grove Karl Gilbert e John Wesley Powell Clarence Eduard Dutton No final do século XIX o positivismo evolucionista geomorfológico passa a ser abordado de forma pioneira pelo norteamericano William Mo ris Davis sendo este conhecido como o pai da Geomorfologia No referido período duas escolas de pensamento geomorfológico se evidenciaram uma angloamericana fortemente influenciada pelo Ciclo Geográfico de Davis e outra germânica que teve como fundamentação teórica inicial os trabalhos de Ferdinand von Richthofen o qual tinha como inspiração o naturalismo de Alexander von Humboldt O século XX registrou como destaque a teoria que abordava a evolução do relevo desenvolvida pelo sulafricano Lester Charles King que apresentava como argumento a ideia de que o clima possuía fun damental importância na gênese dos aplainamentos Atividades de avaliação 1 Defina geomorfologia e descreva sua relação com a geografia física 2 Descreva a origem e a história da geomorfologia Depois definaa 3 Quais são as três principais teorias geomorfológicas 4 O que a geomorfologia busca estudar e interpretar 5 Qual a influência da geologia no desenvolvimento da geomorfologia LivroGeografiaGeomorfologiaindd 27 14052019 130504 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 28 6 Qual é o papel da estrutura geológica na definição do relevo terrestre 7 Quais são as principais fases do lento e progressivo desgaste dos conti nentes segundo o norteamericano William Morris Davis 1899 8 Quais são as feições residuais que têm sua formação relacionada com processo de erosão seletiva no semiárido nordestino 9 Qual é a diferença entre geomorfologia estrutural e geomorfologia climática 10 O que você entende por paleoclimas 11 No Brasil a Geomorfologia Quantitativa foi amplamente difundida Quem foiforam os principalis responsávelis pela difusão do saber geomorfo lógico no país 12 Qual é a diferença entre processos morfodinâmicos e pedogenéticos Leituras filmes e sites LEITE A F Análise Teóricofilosófica dos modelos de evolução da paisagem tendências passadas e atuais Revista Geográfica de América Central Costa Rica número especial EGAL 2011 VITTE A C Etchplanação dinâmica e episódica nos trópicos quentes e úmi dos Revista do Departamento de Geografia UNICAMP Campinas n 16 p 105118 2005 httpwwweadunimontesbrarquivoscadernosuaboferta2geografiaperio do3geomorfologiapdf httpwwweducadoresdiaadiaprgovbrarquivosFile2010artigostesesGE OGRAFIAMonografiasgeomorfologiapdf httpwwwfunapeorgbrgeomorfologiapdfintroducaogeomorfologiapdf Referências ABSÁBER A A Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas so bre o quaternário Geomorfologia São Paulo IgeogUSP 18 1969 CASSETI V Geomorfologia SI 2005 Disponível em httpwwwfunca peorgbrgeomorfologia Acesso em 27 de julho de 2015 CHRISTOFOLETTI A Geomorfologia 2 ed São Paulo Editora Blucher 1980 188p LEITE A F Análise Teóricofilosófica dos modelos de evolução da paisagem LivroGeografiaGeomorfologiaindd 28 14052019 130504 Geomorfologia 29 tendências passadas e atuais Revista Geográfica de América Central Costa Rica número especial EGAL 2011 MARQUES J S Ciência geomorfológica p 23 45 In CUNHA S B GUERRA A J T Geomorfologia uma atualização de bases e conceitos 9 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2009 474p ROSS J L S Geomorfologia ambiente e planejamento 8 ed São Paulo Contexto 2010 85p SALGADO A A R Superfícies de aplainamento antigos paradigmas revistos pela ótica dos novos conhecimentos geomorfológicos Revista Geografias Belo Horizonte n 3 v 1 p 64 78 2007 SANTOS J M dos SALGADO A A R Gênese da superfície erosiva em ambiente semiárido MilagresBA considerações preliminares Revista de Geografia Recife UFPE v especial p 236 247 VIII SINAGEO n1 2010 SOUZA M J N Contribuição ao estudo das unidades MorfoEstruturais do Estado do Ceará Revista de Geologia da UFC 1 73 91 junho1988 THORNBURY W D Principios de Geomorfología Ed Kapelusz Buenos Aires 1966 VALADÃO C R Evolução de longo termo do relevo do cráton do São Fran cisco denudação paleossuperfícies e movimentos crustais 1998 Tese Doutorado em SedimentologiaGeologia Instituto de Geociências Univer sidade Federal da Bahia Salvador 1998 VITTE A C Etchplanação dinâmica e episódica nos trópicos quentes e úmi dos Revista do Departamento de Geografia UNICAMP Campinas n 16 p 105 118 2005 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 29 14052019 130504 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 30 14052019 130504 Geomorfologia estrutural 2 Capítulo LivroGeografiaGeomorfologiaindd 31 14052019 130504 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 32 14052019 130504 Geomorfologia 33 Objetivos Entender a importância das grandes unidades estruturais emersas do glo bo terrestre Compreender a importância dos diversos eventos de aglutinação e de se paração continental durante a história geológica da Terra e sua repercus são no modelado terrestre Compreender o interesse da geomorfologia na composição mineralógica das rochas e nas suas propriedades geomorfológicas 1 Noções sobre a estrutura interna da Terra e tectônica de placas A superfície terrestre é composta pela interação entre a atmosfera camada representada pelas massas de ar hidrosfera composta pelas águas sen do mais expressiva nos oceanos biosfera representando os seres vivos e a litosfera camada rochosa da Terra situada na superfície A atmosfera a hidrosfera e a biosfera são as responsáveis pelos processos erosivos dos re levos terrestres A Terra é dividida basicamente em três camadas núcleo manto e cros ta ou litosfera Figura 21 Para a geomorfologia a crosta é a mais importante pois está localizada na parte superficial externa da Terra e serve de base para o desenvolvimento das formas de relevo Figura 21 Representação simplificada das camadas da Terra Fonte httpwwwestudokidscombrcamadasdaterra LivroGeografiaGeomorfologiaindd 33 14052019 130504 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 34 A litosfera é constituída pela crosta com média de 30km de espessura e pela litosfera mantelítica separadas pela descontinuidade de Mohorovicic ou Moho Figura 22 Abaixo da litosfera a astenosfera é a responsável pela movimentação das placas tectônicas pelos sismos pelos vulcões e pela for mação das cadeias de montanhas A astenosfera é ativada por movimentos convectivos responsáveis por deformações na litosfera Figura 22 A constituição da Litosfera Fonte httpssitesgooglecomsitecorreiamiguel25caracterC3ADsticasinternasdaterra A crosta terrestre pode se apresentar de forma continental ou oceâni ca A crosta continental representa os continentes e as margens continentais imersas sendo predominantemente constituídas por gnaisses e granitos e compreende a crosta superior 10 15 km de espessura com baixa densida de e com grande quantidade de pacotes sedimentares Nesse setor predomi nam as deformações rúpteis falhas A crosta inferior resulta da mistura de rochas graníticas e sedimentares e da intrusão proveniente do manto subjacente Tratase de um setor muito denso e que sofre deformações dúcteis dobramentos Já o fundo dos oce anos é formado por basaltos recobertos por sedimentos A crosta oceânica é mais fina 7 km que a continental A litosfera mantelítica encontrase abaixo da descontinuidade de Mo horovicic Sua parte superior é sólida composta por perioditos Próximo das dorsais essa camada inexiste Em contrapartida elas são bem espessas abaixo das crostas oceânicas e continentais antigas e estabilizadas A crosta e a litosfera mantelítica são integradas A litosfera é composta por uma dúzia de placas tectônicas com dife rentes composições Figura 23 Algumas são completamente continentais Iraniana outras são completamente oceânicas Nazca e algumas são con tinentais e oceânicas Sulamericana Os tipos de limites de placas dependem de seus deslocamentos relativos em função do tectonismo predominante LivroGeografiaGeomorfologiaindd 34 14052019 130505 Geomorfologia 35 Na Astenosfera camada líquida ou viscosa do manto superior ocor rem movimentos convectivos que são responsáveis pela movimentação das placas tectônicas localizadas logo acima na litosfera Os movimentos diver gentes são responsáveis pela separação das placas enquanto que os con vergentes aproximamnas Alguns setores da Astenosfera são muito mais quentes que outros e são conhecidos como Hot Spots Pontos Quentes Nesses locais a Aste nosfera tende a subir mais facilmente provocando as zonas de correntes de convecção que vão justificar a formação dos rifts e consequentemente da separação de continentes A subida do manto quente provoca um soerguimento da litosfera intu mescência térmica que estica as correntes de convecção provocando um afinamento crustal Esse processo é responsável pelo surgimento dos rifts que são zonas de alargamento da crosta terrestre Figura 24 Esse processo também pode ser responsável pela separação de crostas continentais e pela formação de crostas oceânicas DISTRIBUIÇÃO SUPERFICIAL DAS PLACAS LITOSFÉRICAS Figura 23 Distribuição das principais placas tectônicas litosféricas Fonte httpmeioambienteculturamixcomnaturezaprincipaisplacastectonicas LivroGeografiaGeomorfologiaindd 35 14052019 130505 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 36 Figura 24 Modelo esquemático de evolução de um rift e consequente separação de uma crosta continental e abertura de uma crosta oceânica Fonte httpsenwikipediaorgwikiGreatRiftValleymediaFileOceanbirthsvg Quando ocorre a convergência das correntes de convecção as placas se aproximam Uma das duas placas mergulha sob a outra num movimento de subducção Tendo em vista a menor densidade da crosta continental ela não entra em zona de subducção Nesse caso somente a litosfera mantelítica e a crosta oceânica podem entrar em subducção LivroGeografiaGeomorfologiaindd 36 14052019 130505 Geomorfologia 37 Uma característica comum a todas as zonas de subducção é a presença de uma fossa marinha com vulcanismo explosivo Também estão geralmente associados a processos orogenéticos com a formação de cadeias de monta nhas em curso O mergulho da placa que entra em subducção provoca a fusão do material rochoso que tende a ascender podendo gerar vulcanismo Uma subducção do tipo oceanooceano ex oeste do Pacífico corres ponde ao encontro de dois limites oceânicos de mesma densidade cujo plano de encontro é fortemente inclinado Figura 25 As fossas submarinas são muito profundas e o vulcanismo pode formar arcos insulares Figura 25 Esboço esquemático de uma subducção no encontro de duas crostas oceânicas Fonte httpw3ualgptjdiasINTROCEANB22FrontConverghtml A subducção oceanocontinente é mais simples e é também conhecida como do tipo andina Figura 26 No caso dos Andes a placa oceânica mer gulha sob a placa continental que se eleva ou se deforma Isso é responsável pela formação de grandes volumes de relevos LivroGeografiaGeomorfologiaindd 37 14052019 130506 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 38 Figura 26 Esboço esquemático de uma subducção no encontro de uma crosta oceânica e uma continental Fonte httpw3ualgptjdiasINTROCEANB22FrontConverghtml Quando duas crostas continentais se aglutinam como na Europa e no Himalaya nenhuma das duas placas afunda em direção ao manto Figura 27 Eles se quebram em uma sucessão de grandes lâminas da crosta sepa radas por fraturas Uma das duas placas gera um esboço de uma subducção como no exemplo da placa Indiana com relação à placa Asiática Uma das principais características do espessamento crustal associado com o encur tamento são a espessura da litosfera excede 100 150 km nas áreas das cadeias de montanhas Esse fenômeno é responsável pelo soerguimento dos maiores relevos da Terra como é o caso do Himalaya Figura 27 Esboço esquemático de uma colisão entre duas crostas continentais Fonte httpw3ualgptjdiasINTROCEANB22FrontConverghtml LivroGeografiaGeomorfologiaindd 38 14052019 130506 Geomorfologia 39 A obducção é um caso raro de convergência de placas onde uma por ção da litosfera oceânica recobre uma crosta continental Nesse caso podem ser encontrados restos de um antigo assoalho oceânico recobrindo o topo de um relevo continental Na Terra existe um equilíbrio isostásico que tratase de uma compen sação de pesos de massas de terra na crosta Tal compensação pode ser comparada ao efeito de um iceberg A isostasia pode provocar movimentos na crosta de forma a compensar acúmulo de massa isostasia negativa movi mento da crosta para baixo ou alívio de massa isostasia positiva movimento da crosta para cima 2 Grandes unidades estruturais da Terra De acordo com Penteado 1983 as grandes unidades estruturais emersas do globo terrestre são os escudos antigos as bacias sedimentares e as cadeias do bradas Em macroescala essas unidades constituem o arcabouço geológico so bre o qual se desenvolvem as formas de relevo terrestre em áreas continentais Os escudos antigos também chamados de crátons constituem a por ção mais rígida da plataforma continental formada por rochas cristalinas mui to antigas datadas do précambriano São porções da crosta que sofreram arqueamentos falhamentos e outras deformações sucessivas sendo várias vezes arrasadas e rejuvenescidas Seus aspectos topográficos atuais são bastante modestos tendo em vista o fato de ter sido sujeita a prolongados períodos erosivos responsáveis por significativos processos de aplainamento As bacias sedimentares são porções deprimidas dos escudos que fo ram entulhadas de sedimentos com algumas centenas ou milhares de metros de espessura e geralmente com estruturas horizontalizadas Apresentam uma grande representatividade espacial na superfície terrestre e são as áreas formadas por rochas sedimentares Os relevos formados nessas áreas são bem específicos com aspectos tabulares e subtabulares As cadeias dobradas constituem terrenos préexistentes que foram do brados por orogênese recente do Mesozoico ao Terciário geralmente as sociada a encontros de placas tectônicas Tratamse das topografias mais elevadas da Terra ocorrendo em áreas de subducção e de colisão como o exemplo dos Andes ou do Himalaia 3 O tempo geológico Tendo em vista que os eventos naturais da geologia e até mesmo da geomor fologia ocorrem na grande maioria das vezes em escala de tempo geológico podendo variar de milhões ou até mesmo bilhões de anos é fundamental que LivroGeografiaGeomorfologiaindd 39 14052019 130506 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 40 se compreendam as maneiras de dividir o tempo geológico da Terra desde a sua formação até o presente Tal divisão pode ser analisada na coluna geoló gica do tempo apresentada na Figura 28 que além dos intervalos de tempo apresenta também alguns dos principais eventos naturais ocorridos Figura 28 Coluna Geológica do Tempo Fonte httpeducacaouolcombrplanosdeaulamediobiologiatempogeologicohtm No intuito de organizar os intervalos de tempo geológico essa divisão foi estabelecida inicialmente a partir dos Éons que são os quatro maiores intervalos do mais antigo para o mais novo Hadeano Arqueano Proterozoi co e Fanerozoico É importante destacar que o Hadeano o Arqueano e o Proterozoico juntos constituem o que se conhece como o PréCambriano que começou há cerca de 45 bilhões de anos e terminou há cerca de 545 milhões de anos Já o Fanerozoico representa todo o período posterior ao PréCambriano ou seja de 545 milhões de anos até o presente abrangendo o Paleozoico o Mesozoico e Cenozoico Além dos Éons existem as Eras que são quatro PréCambriano Pale ozoico Mesozoico e Cenozoico Cabe aqui destacar que o PréCambriano além de ser o mais antigo também é o mais extenso apresentando uma du LivroGeografiaGeomorfologiaindd 40 14052019 130507 Geomorfologia 41 ração de cerca de 4 bilhões de anos e desta forma praticamente se confun dindo com a própria idade da Terra que é de 45 bilhões de anos As Eras são subdivididas em Períodos e estes divididos em Épocas Para que se possa ter uma perspectiva mais mensurável dos intervalos de tempo geológico a Figura 29 apresenta uma coluna do tempo geológico com uma comparação relativa ao intervalo de um dia em relação a toda a história da Terra Figura 29 Coluna Geológica do Tempo e sua comparação com o intervalo de 24 horas Fonte httpeducacaouolcombrplanosdeaulamediobiologiatempogeologicohtm 4 Considerações sobre a história geológica da Terra 41 A dança dos continentes A história geológica da Terra é marcada por vários eventos de aglutinação Fusão e separação Fissão dos continentes por influências de forças tec tônicas Tais eventos podem juntar uma parte dos continentes formando um megacontinente ex Gondwana ou juntar todos os continentes formando um supercontinente ex Pangea Nos processos de aglutinação ou de sepa ração de continentes as maiores deformações crustais são observadas nas margens dos continentes cujas características vão depender dos tipos de movimentos predominantes convergentes ou divergentes LivroGeografiaGeomorfologiaindd 41 14052019 130507 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 42 De acordo com Hasui 2012 os continentes e oceanos sofrem mu danças contínuas alterando suas configurações e modelando a superfície da Terra Oceanos se abrem formando dorsais subduções ocorrem consumin do placas oceânicas e continentes sujeitamse a magmatismo acresções fragmentações e aglutinações gerando cadeias montanhosas que sofrem erosão e originam as coberturas sedimentares Os processos envolvidos são variados e podese reconhecer uma sucessão geral que é sistematizada no que foi chamado Ciclo de Wilson Na tentativa de interpretar a evolução dos continentes o geólogo ca nadense John Tuzo Wilson 1966 Figura 210 sintetizou os processos de fragmentação de um continente e abertura de oceano de aglutinação de con tinentes e fechamento de oceanos estabelecendo parâmetros de duração de continentes e oceanos a partir de análises em diversas partes da Terra De acordo com o Ciclo de Wilson os oceanos duram no máximo 200 milhões de anos enquanto os continentes duram no máximo 500 milhões de anos Em intervalos de tempo maiores que esses os continentes e oceanos são fragmentados pela força do tectonismo Como a crosta oceânica é mais fina ela leva menos tempo para se fragmentar Vale salientar que as rochas mais antigas da Terra se localizam em crostas continentais Cada Ciclo de Wilson começou com uma massa continental agregan do todas as massas continentais existentes na superfície da Terra em algum momento da história o supercontinente Com a dinâmica global nele incidem processos sucessivos que o fragmentam separam e dispersam as porções continentais seguindose reaglutinação formação de cinturões orogênicos não colisionais e o resultado é um novo supercontinente Figura 211 A re petição dos ciclos de Wilson configura os ciclos de Supercontinentes e alguns são reconhecidos ao longo da evolução da Terra HA SUI 2012a Figura 211 Esquema das etapas do Ciclo de Wilson evoluindo do supercontinente 1 para o supercontinente 2 passando por processos de divergência convergência e de colapso orogênico Fonte Hasui 2012a Figura 210 John Tuzo Wilson em 1992 Um dos mais importantes nomes dos estudos da tectônica de placas Fonte httpsenwikipediaorg wikiJohn TuzoWilson LivroGeografiaGeomorfologiaindd 42 14052019 130508 Geomorfologia 43 Na história geológica da Terra diversos eventos de aglutinação e de separação continental ocorreram sendo que no último supercontinente foi o Pangea Porém antes desse outros ocorreram e tiveram importância fun damental na estruturação geológica da Terra Na tentativa de esclarecer a importância de tais eventos tectônicos para a América do Sul e especifica mente para Brasil serão apresentados os principais eventos associados à dança dos continentes Vale lembrar que no que tange à formação de um supercontinente a aglutinação não foi total existindo massas ainda em fase de aproximação inversamente a fragmentação também não é completa existindo massas continentais independentes que ainda irão separar continentes ao lado de continentes já individualizados Segundo Peulvast e Claudino Sales 2007 a estrutura geológica e os registros estruturais da Plataforma Sul Americana apresentam as marcas dos quatros episódios de aglutinação e de dispersão continentais que tiveram lu gar entre o PréCambriano e o Paleozoico ao curso dos quais as margens de antigos crátons se chocaram desapareceram ou se reconstituíram durante eventos de abertura eou fechamento oceânico A primeira aglutinação continental foi marcada por um processo de co lisão de várias massas continentais individuais cujo resultado foi a formação entre 22 Ga e 18 Ga do supercontinente Atlântida BRITO NEVES 1999 Por volta de 18 16 Ga processos de fissão dividiram o supercontinente Atlântida em vários fragmentos individuais O segundo processo de aglutinação continental ocorreu possivelmente entre 145 e 097 Ga entre o Paleoproterozoico e o Mesoproterozoico BRITO NEVES 1999 Para Peulvast e Claudino Sales 2007 essa aglutinação ocor reu ao longo de suturas desenvolvidas sobre uma extensão total da ordem de 20000 km representadas em todos os continentes atuais e seu resultado foi a formação do supercontinente Rodínia Entre 10 Ga e 750 Ma um novo Ciclo de Wilson dispersou essa massa continental BRITO NEVES 1999 O terceiro episódio de aglutinação continental ocorreu no Neoprotero zoico entre 880 e 550 Ma dando origem ao supercontinente Panotia forma do pela Laurásia e Gondwana BRITO NEVES 1999 Na América do Sul esse processo de colagem recebeu o nome de Orogênese Brasiliana Segundo Peulvast e Claudino Sales 2007 a Orogênese Brasiliana re presenta o mais importante de todos os eventos tectônicos na evolução geoló gica do Brasil De amplitude continental esse evento amalgamou o bloco con tinental Gondwana formado pelas massas continentais que hoje representam a África América do Sul Austrália e a Antártica Ao curso dessa orogênese esses crátons se afrontaram em uma colisão oblíqua do tipo himalaiana pro LivroGeografiaGeomorfologiaindd 43 14052019 130508 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 44 duzindo nos limites da colagem dentre outros um largo sistema de defor mações e de dobramentos conhecido pelo nome de Província Borborema ALMEIDA et al 1977 Desde sua definição por Almeida et al 1977 a Província Borborema tem se tornado conhecida como palco de intensa atuação do Ciclo Brasilia no último evento orogênico importante que a afetou Tal evento deu origem a um volumoso plutonismo granitoide e a extensas zonas de cisalhamento transcorrente que estão orientadas preferencialmente segundo direções SWNE na região setentrional da província e EW Figura 212 ao sul do Lineamento de Patos Atualmente a Província Borborema vem sendo entendida como um mosaico de porções de embasamento de microcontinentes e de faixas oro gênicas do Arqueano ao Neoproterozoico separadas por zonas de cisalha mento transcorrente e de empurrão HASUI 2012b Dessa forma sua evo lução pode abrigar um histórico de amalgamação de microplacas e terrenos faixas com características geológicas distintas nas quais prevalecem uma determinada rocha ou grupo de rochas particular consolidadas ao final do Ciclo Brasiliano sendo a extensa rede de cisalhamento a prova da grande mobilidade à qual a mesma foi submetida Sob essa ótica podese conside rar uma evolução bem mais dinâmica da Província incluindo a possibilidade de descontinuidade entre seus domínios CAMPELO 1999 Figura 212 Modelo de elevação digital e estruturas tectônicas Zonas de Cisalha mento da Província Borborema Notar que a direção preferencial da drenagem seta é paralela às principais direções das zonas de cisalhamento As zonas de cisalhamento estão representadas pelos traços em branco e o pontilhado representa o rifte Potiguar Fonte Maia 2012 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 44 14052019 130508 Geomorfologia 45 De acordo com Maia 2012 no Nordeste brasileiro grandes lineamen tos tectônicos de direção NE desenvolvidos desde o final do Ciclo Brasiliano são amplamente reconhecidos Esses lineamentos controlam o traçado me ândrico dos cursos dágua onde as direções preferenciais do escoamento expressamse como lineamentos NESW e EW conferindo a esses um nítido controle estrutural No Estado do Ceará os últimos atos da Orogênese Brasiliana tiveram lugar em torno de 532 Ma PEULVAST CLAUDINO SALES 2007 Esses episódios estavam ainda em curso quando processos de fissão vieram a frag mentar o supercontinente Panotia Na província Borborema os processos de extensão associados a es ses últimos estágios e a fissão do Panotia foram responsáveis pela forma ção de bacias intracratônicas e pela ocorrência de uma atividade vulcânica e plutônica intensa em razão do que se formaram rochas extrusivas e corpos graníticos diversos PEULVAST CLAUDINO SALES 2007 Assim após a Orogênese Brasiliana a Província Borborema parece ter sido submetida a um período de calma tectônica ALMEIDA et al 1977 o qual durou até o Mesozoico quando iniciaram os processos responsáveis pela dispersão do Pangea assim como pela formação do Oceano Atlântico pela individualização da América do Sul como um continente à parte e pela formação da margem continental do Ceará e do Nordeste em geral PEUL VAST CLAUDINO SALES 2007 Por volta de 230 Ma final do Paleozoico aconteceu a quarta e última aglutinação continental com a orogênese que deu origem ao supercontinente Pangeia Essa colagem não teve expressão no território cearense e no restan te do Nordeste brasileiro em razão do fato de que o Gondwana não se frag mentou ao curso da dispersão pósbrasiliana PEULVAST CLAUDINO SA LES 2007 No interior dos continentes os processos extensionais atuaram no sentido de originar as regiões rebaixadas permitindo o desenvolvimento de extensas bacias deposicionais sinéclises a exemplo das bacias do Parnaí ba Amazonas e Paraná SILVA 2008 Segundo Silva 2008 a mesma geodinâmica que formou o Pangeia veio a fragmentálo processo que consumiu aproximadamente 100 milhões de anos no Jurássico e no Cretáceo Nesse processo gerou interesse espe cial a separação de Brasil e África com a abertura do oceano Atlântico dan do origem a inúmeras bacias sedimentares costeiras portadoras de petróleo sais e outros recursos minerais Cabe lembrar que o Atlântico Norte começou a se abrir em torno de 200 Ma o Atlântico Equatorial em 140 Ma e o Atlântico Sul em 130 Ma A separa ção da América do Sul e da África deuse a partir do Cretáceo e se completou há cerca de 90 Ma HASUI 2012b Figura 213 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 45 14052019 130508 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 46 No que concerne à formação da geodiversidade do território brasileiro são destacadas três condições geológicas fundamentais margens ativas mar gens passivas e ambiente intraplaca Elas nos permitem compreender a intrin cada relação geométricoespacial das unidades geológicas que compõem o arcabouço geológico do território brasileiro que por conseguinte forneceu o embasamento teórico factual para a formulação dos critérios para a subdivisão dos geossistemas e das unidades geológicoambientais SILVA 2008 Figura 213 Separação dos continentes formados pela fragmentação do Pangea que começou no Triássico e prossegue até hoje com a formação de dorsais oceâni cas e expansão de oceanos Fonte Hasui 2012b Nos tempos atuais América do Sul e África estão se afastando alguns centímetros por ano Esse afastamento contínuo iniciado há cerca de 200 milhões de anos deu origem ao oceano Atlântico No outro lado do continente sulamericano contudo a partir do final do Cretáceo temse o choque da Pla ca de Nazca basáltica que afunda sobre a América do Sul dando origem a duas grandes feições geológicas a Cadeia Andina que se eleva a quase seis mil metros de altura e um intenso magmatismo plutonovulcânico decorrente da fusão de camadas internas da crosta devido ao grande calor gerado ao longo da zona de subducção da Placa de Nazca LivroGeografiaGeomorfologiaindd 46 14052019 130508 Geomorfologia 47 5 Rochas e Geomorfologia As rochas são os elementos passivos do relevo e sua resistência comanda a velocidade das ações erosivas A classificação tradicional das rochas divide as em três grupos de acordo com a sua gênese magmáticas sedimentares e metamórficas Na presente abordagem manteremos essa forma de divisão contudo procurando sempre fazer uma correlação com seus reflexos geo morfológicos A geomorfologia se interessa menos na origem das rochas do que na sua suscetibilidade destrutiva com relação às ações erosivas O estudo da compo sição mineralógica permite definir vários aspectos relativos à sua resistência Um mineral é um elemento ou um composto químico resultante de processos inorgânicos e de composição química geralmente definido e en contrado naturalmente na crosta terrestre Os minerais em geral são sólidos tendo somente a água e o mercúrio como exemplos dos que se apresentam no estado líquido sob condições normais de pressão e temperatura Podese destacar por ordem decrescente de resistência os seguintes minerais quartzo feldspato potássico muscovita plagioclásio sódico biotita plagioclásio cálcico feldspatoides anfibolitos piroxênios olivina calcita gip sita e o talco Para Pech 2005 todas as rochas são constituídas de minerais como os seres vivos são formados por células Porém diferente de uma célula a estrutura de um mineral é cristalina pois seus átomos se aglutinam através de composições geométricas chamadas de cristais que representam a organi zação ordenada da matéria As rochas podem ser definidas como agregados naturais formados de um ou mais minerais que constituem parte essencial da crosta terrestre e que são nitidamente individualizados As rochas ocorrem em extensões con sideráveis na crosta terrestre podendo na maioria das vezes ser represen tadas em mapas geológicos 51 Rochas magmáticas As rochas magmáticas provêm da consolidação do magma e são por isto de origem primária Dependendo do local da solidificação do magma essas rochas podem ser intrusivas ou extrusivas Sua diferenciação pode ser feita através de sua textura e de sua composição mineralógica A textura de uma rocha magmática intrusiva depende da velocidade do seu resfriamento Se ele é lento da ordem de 1 milhão de anos sua textura é granular com cristais visíveis a olho nu A textura microgranular se deve a um LivroGeografiaGeomorfologiaindd 47 14052019 130508 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 48 resfriamento muito rápido e os cristais são microscópicos As rochas vulcâni cas apresentam textura microlítica muitas vezes com aspecto vítreo No caso das rochas magmáticas intrusivas também chamadas de plu tônicas ou abissais o magma se consolida dentro da crosta terrestre a vários quilômetros de profundidade dependendo de sua origem Seu resfriamento permite que os cristais dos minerais possam se desenvolver formando uma textura aparente na qual os cristais podem ser bem visualizados Os exemplos mais comuns são os granitoides que se tratam de rochas resistentes que geralmente configuram sobressaltos topográficos como no caso de relevos residuais Figura 214 Dentre os exemplos de rochas intrusivas destacam se os granitos os gabros os sienitos os dioritos e os granodioritos Figura 214 Inselberg no sertão de Patos na Paraíba Tratase de um típico relevo residual justificado pela elevada resistência litológica do granitoide que o compõe Foto Frederico de Holanda Bastos 2012 De acordo com Pech 2005 dependendo de sua composição quando submetido à erosão os granitos podem formar material arenoso Os topos de áreas graníticas ao serem desgastados podem formar blocos grosseiros com aspectos ruiniformes denominados de tors Figura 215 O deslocamen to desse material de tamanhos decamétricos ou hectométricos podem gerar significativos caos de blocos Figura 216 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 48 14052019 130509 Geomorfologia 49 Figura 215 Tor forma ruiniforme esculpida sobre um afloramento granítico no muni cípio de Conceição na Paraíba Foto Frederico de Holanda Bastos 2012 Figura 216 Caos de blocos graníticos no maciço da Meruoca Ceará Foto Frederico de Holanda Bastos 2015 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 49 14052019 130510 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 50 No caso das rochas extrusivas também conhecidas como vulcânicas ou efusivas o magma extravasase na superfície e consolidase rapidamente graças à mudança brusca de temperatura permitindo que ele passe rapida mente do estado líquido para o sólido Esse processo rápido inviabiliza o de senvolvimento de cristais mais extressivos dando à rocha um aspecto escuro tendo como principal exemplo os basaltos No processo de resfriamento do basalto ele pode se contrair gerando formas colunares Figura 217 Figura 217 Basalto colunar no Monumento Natural Devils Postpile na Califórnia EUA Foto Frederico de Holanda Bastos 2014 As características do magma vão variar de acordo com a sua origem Podem ocorrer diversos casos de origem magmática como nas subducções nas colisões nos hotspots nos rits etc A forma mais comum elaborada num processo extrusivo é o vulcão que tratase de um relevo montanhoso localizado no entorno de cavidades eruptivas a partir da acumulação de material derivado de profundidades Suas formas variam de acordo com os produtos emitidos da dinâmica eruptiva e da sua evo lução superficial Um mesmo vulcão pode passar por várias fases magmáticas lavas fluidas explosões centros incandescentes lavas viscosas etc ao curso de sua história e da evolução de seu reservatório magmático PECH 2005 Em termos de formas associadas a vulcões podemse distinguir as for mas construídas e as formas de erosão Dentre as formas construídas pode se destacar o cone vulcânico um domo e uma caldeira Já com relação às formas elaboradas pela erosão destacamse o neck Figura 218 o dique as mesas basálticas e os atóis LivroGeografiaGeomorfologiaindd 50 14052019 130510 Geomorfologia 51 Figura 218 Neck localizado no município de Caucaia no Ceará cuja estrutura foi formada no evento eruptivo denominado Vulcanismo Messejana no Terciário Foto Frederico de Holanda Bastos 2014 52 Sedimentos e rochas sedimentares Os sedimentos resultam da acumulação de detritos provenientes da destrui ção de rochas e de relevos preexistentes Também existem sedimentos de origem biológica A superfície da litosfera apresenta a ação conjunta de dife rentes agentes de destruição tais como água ar e seres vivos Os produtos desse desgaste são transportados e depositados por diversos agentes tais como os rios a gravidade o gelo o vento e os mares Nos casos em que a deposição do material sedimentar é recente esse material encontrase inconsolidado como pode ser observado nos casos de material coluvial aluvial ou litorâneo Figura 219 Figura 219 Planície costeira formada de sedimentos arenosos inconsolidados com pondo os campos de dunas e a faixa de praia no município de Aquiraz Ceará Foto Frederico de Holanda Bastos 2010 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 51 14052019 130511 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 52 O tamanho dos sedimentos pode variar de acordo com o evento e o ambiente de sedimentação e sua análise é feita pela sedimentologia através de análises granulométricas Essa análise leva em consideração o tamanho dos detritos constituintes dos sedimentos tanto em material inco solidado como as areias como em material consolidado como o arenito A proporção do tamanho dos grãos deve ser feita a partir de análise laborato rial De maneira geral com relação à sua dimensão os sedimentos podem ser classificados do menor para o maior como argila silte areia grânulo cascalho seixo bloco e matacão Dependendo da área de deposição os sedimentos podem ser depo sitados em camadas sobrepostas subdivididas em estratos Os grandes ambientes de deposição formam as bacias sedimentares e cada extrato deposicional representa um depósito específico associado a um evento de deposição que pode ter ocorrido em ambientes continentais ou marinhos As principais bacias sedimentares do Nordeste brasileiro podem ser observadas na Figura 220 Quando os sedimentos come çam a se cimentar ocorre a diagêne se evento responsável pela formação de rochas sedimentares que ocorre a uma profundidade de dezenas de metros abaixo de outros sedimentos com temperaturas acima de 200º C A disposição de sequências de rochas sedimentares em uma bacia apresenta diversas informações so bre a sua história evolutiva Quando ocorre uma superposição regular e contínua de uma sequência sedi mentar ela é dita concordante Uma discordância angular ocorre quando uma camada repousa sobre várias outras diferentes justificando uma ruptura na sedimentação De acordo com Pech 2005 as rochas sedimentares são formadas de elementos químicos variados que permitem uma classificação de acor do com o seu material constituinte Figura 220 Principais bacias sedimentares do Nordeste brasileiro com ênfase para a bacia do Araripe Fonte ASSINE 2007 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 52 14052019 130511 Geomorfologia 53 Argilosos constituídos de detritos muito finos nos quais predominam mine rais argilosos Geralmente derivado de rochas tenras indicando uma baixa resistência mecânica Calcários constituídos por cimentos de carbonato de cálcio Sua resistência mecânica depende das propriedades da coesão e da cimentação Silicosas formadas de sílica são geralmente detríticas arenitos e areias A resistência mecânica também depende da cimentação Salinas denominadas de evaporitos pois se formam depois de evapora ção como no caso da gipsita São rochas frágeis muito plásticas Dentre os exemplos de rochas sedimentares podese destacar o areni to o argilito o conglomerado o folhelho e o calcário Dentre as propriedades geomorfológicas de algumas rochas sedimentares destacase a porosidade que tende a influenciar diretamente no escoamento superficial e na alimenta ção dos aquíferos Um bom exemplo de rochas porosas é o arenito Com relação ao calcário tratase de uma rocha bastante peculiar em termos geomorfológicos tendo em vista a sua capacidade de dissolução em ambientes úmidos formando uma classe de relevo bastante curiosa os rele vos cársticos 53 Rochas metamórficas O metamorfismo é a transformação mineralógica textural e ocasionalmente química de uma rocha qualquer sedimentar magmática ou mesmo meta mórfica Ele se realiza no inferior da litosfera assim que a rocha é colocada sob condições de temperatura e de pressão superiores àquelas no ato de sua gênese Os minerais de uma rocha metamórfica são dispostos em folhas separadas pelas clivagens Existem vários graus de metamorfização para formar rochas dessa na tureza Um metamorfismo pode variar tanto com relação à pressão como com relação à temperatura Em termos térmicos os processos metamórficos po dem variar de 300 a 900º C De acordo com Pech 2005 existem vários contextos de metamorfiza ção como o metamorfismo de contato e os de zonas de subducção e colisão No metamorfismo de contato as rochas magmáticas intrusivas transfor mam as rochas nas quais elas estão encaixadas através de um metamorfis mo de baixa pressão e de alta temperatura No caso de um batólito ocorrem ao seu redor as seguintes rochas gnaisses resistente chamado de gnaisses de contato próximo do granito rochas metamórficas próximas das rochas ini ciais e rochas encaixantes não metamórficas A metamorfização de zonas de subducção e de colisão corresponde às zonas de convergência de placas O magmatismo não é o principal fator de trans LivroGeografiaGeomorfologiaindd 53 14052019 130511 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 54 formação das rochas e sim as elevadas pressões O empilhamento e o aperto das camadas da crosta provocam o esmagamento e a metamorfização das ro chas A porção da litosfera ou da crosta que está acima é esmagada e sua base metamorfizada A parte que mergulha na litosfera tem seu topo metamorfizado Os fluxos de água intensificam a metamorfização No caso de uma subducção adicionase o efeito da subida do magma nos processos metamórficos Na formação das rochas metamórficas é importante identificar as ca racterísticas dos fluidos e das rochas préexistentes que foram alteradas pro tolitos Como exemplos podese citar o quartzito que tratase de um arenito metamorfizado o mármore que tratase de uma metamorfização de um cal cário e o ortognaisses que constitui a metamorfização de um granitoide Os extensos setores da crosta terrestre onde afloram rochas metamór ficas antigas são conhecidos como embasamento ou escudo O afloramento das rochas metamórficas demanda um prolongado trabalho da erosão e do tectonismo em particular do soerguimento isostático Dentre os vários exem plos de rochas metamórficas destacamse os gnaisses micaxistos quartzi tos mármores e migmatitos A morfologia de regiões constituídas por rochas metamórficas são suave mente monótonas A erosão diferencial forma cristas e vales paralelos à xistosida de Em termos de geomorfologia do Nordeste brasileiro podese afirmar que uma grande parte das depressões sertanejas superfícies de erosão é constituída por unidades geológicas predominantemente formadas por rochas metamórficas Mesmo com uma grande quantidade de exemplos de rochas frágeis como o micaxisto existem rochas metamórficas bastante resistentes como é o caso dos quartzitos que geralmente estão associados a relevos aguçados como as cristas Figura 221 Nessa perspectiva podese afirmar que existem maciços cristalinos sustentados por determinados tipos de rochas metamór ficas mais resistentes como é o caso do maci ço de Baturité no esta do do Ceará composto predominantemente por gnaisses migmatitos e quartzitos Figura 221 Visão aérea do Pico Alto o ponto mais elevado do maciço de Ba turité CE que tratase de uma crista sustentada pelo quartzito da Unidade Independência Paleoproterozoico Foto SEMACE 2007 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 54 14052019 130511 Geomorfologia 55 6 Propriedades geomorfológicas das rochas De acordo com Penteado 1983 o comportamento das rochas com relação ao intemperismo depende na natureza das litologias propriedades físicas e químicas sob a ação dos diferentes tipos de climas As propriedades geomorfológicas das rochas influenciam diretamente nas seguintes características a Escoamento superficial grau de coesão grau de permeabilidade e grau de plasticidade b Desagregação mecânica grau de macicez e tamanho dos grãos c Decomposição química grau de soludibilidade e grau de heterogeneidade Dessa forma seguem abaixo algumas considerações acerca das pro priedades geomorfológicas das rochas a Grau de coesão Tratase de uma propriedade diretamente associada com a velocidade da incisão linear e com o trabalho de desobstrução Nas rochas sedimentares o grau de coesão está associado à natureza do cimento que liga os constituintes Quanto mais coesos os agregados mais resistente será a rocha com relação ao escoamento Vale destacar que o cimento carbonáti co é mais solúvel do que o cimento silicoso Nas rochas cristalinas a coesão depende da maior ou da menor porosidade e do tamanho do grão b Grau de permeabilidade É um importante elemento do escoamento des de que o declive das camadas não influencia significativamente na topografia A permeabilidade depende dos poros da rocha das fissuras e do grau de soludibilidade A permeabilidade tende a diminuir o escoamento superficial enquanto que a impermeabilidade tende a aumentar Nessa perspectiva as áreas sedimentares tendem a apresentar uma rede de drenagem com poucos rios enquanto que no embasamento cristalino constatase um significativo adensamento da rede hídrica c Grau de plasticidade Facilita a incisão linear dos canais pois dificulta a infiltração aumentando o escoamento e acelerando a evolução das vertentes As rochas com material plástico tendem a suportar mais processos intempé ricos térmicos tais como a termoclastia tendo em vista que o seu coeficiente de dilatação limita a ocorrência de quebras na estrutura d Grau de macicez Se refere à ausência de planos de descontinuidade nas rochas tais como diaclases fissuras estratificação ou clivagens Rochas maciças são mais resistentes Os planos de descontinuidade favorecem a desagregação mecânica pois constituem zonas de acesso lento às águas Nessa perspectiva a desagregação mecânica contribui para a aceleração do ataque químico LivroGeografiaGeomorfologiaindd 55 14052019 130511 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 56 e Tamanho dos grãos Rochas de granulação fina resistem melhor à de composição do que rochas de grãos grossos Um exemplo seria o caso dos granitos pórfiros grãos arenosos que resistem menos que os aplitos grãos argilosos Cabe aqui destacar que a granulação dos granitos está diretamen te associada à velocidade de solidificação do magma No caso de solidifica ção rápida a granulação fica fina devido ao limitado crescimento dos cristais f Grau de soludibilidade Esta propriedade está associada à capacidade de reações químicas que os constituintes das rochas podem sofrer grãos e ci mento Rochas carbonáticas são bastante solúveis podendo constituir o de senvolvimento de cartes g Grau de heterogeneidade Corresponde à diversidade mineralógica das rochas Uma rocha homogênea é mais resistente que uma heterogênea pois essa última apresenta elementos de soludibilidade diferentes Nessa perspectiva o ataque aos elementos mais solúveis permite a desagregação dos outros elementos comprometendo a coesão da rocha Um quartzito é muito resistente pois possui basicamente um mineral quartzo e um cimen to silicoso No caso dos granitos a variação mineralógica justifica ataques intempéricos diferenciados e consequentemente a desagregação dos grãos granular A interpretação de um determinado relevo a partir unicamente das pro priedades geomorfológicas das rochas não atende plenamente pois devese considerar também a ação do clima tendo em vista que diferentes tipos de ro chas respondem de forma diferente em casos de condições climáticas distintas As regiões de clima quente e úmido propiciam a fixação de vegetação densa e uma grande disponibilidade de ácido úmico e de gás carbônico com adensada cobertura vegetacional Essas características aceleram os processos intempé ricos químicos nas rochas que é o que predomina em regiões intertropicais De maneira a ajudar no aprendizado seguem alguns exemplos de ro chas e seus aspectos geomorfológicos predominantes de acordo com Pen teado 1983 a Os granitoides Em função de serem mais ricas em sílica os granitoides são mais resistentes ao intemperismo químico Os granitos de granulação fina aplitos são mais resistentes Tratamse de rochas bastante sujeitas a esfo liações tendo em vista a forte presença de diaclases associadas a processos de alívios de pressão Devido à sua elevada resistência a maior parte dos granitoides conse gue manter ressaltos topográficos como maciços cristalinos ou residuais ou pequenos relevos residuais como inselbergs Figura 222 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 56 14052019 130511 Geomorfologia 57 Figura 222 Campo de Inselbergs de Quixadá CE litologicamente compostos por granodioritos que são exemplos de rochas intrusivas Foto SEMACE 2008 b Os quartzitos São rochas predominantemente quartzosas sendo muito re sistentes tendo em vista sua homogeneidade mineralógica Figura 223 o que limita a ação erosiva do escoamento superficial Sua composição silicosa justifica a sua baixa soludibilidade Tratamse de arenitos metamorfizados Em muitos ca sos apresentamse dobrados justificando a presença de feições aguçadas Figura 223 Pedra Furada cartãopostal de Jericoacoara CE Feição mantida pela enorme resistência dos quartzitos de idade Paleoproterozoica Foto ZEE do Litoral 2005 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 57 14052019 130512 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 58 c Os arenitos As características mais marcantes dos relevos são O nítido contraste entre formas tabulares e subtabulares com vales en caixados e escarpas Figura 224 Fraca densidade da rede de drenagem com rios longos e retilíneos Presença de feições ruiniformes bastante curiosas O arenito é altamente permeável devido à porosidade e à rede de dia clases o que reduz o escoamento superficial em função do aumento da in filtração Os processos físicos predominam nas encostas com solapamento das bases e desmoronamento das encostas o que justifica o fato de as ver tentes recuarem lateralmente sem perderem a verticalidade Figura 224 Grand Canyon Arizona EUA Erosão regressiva através da atuação do rio Colorado Feições típicas de estruturas areníticas Foto Frederico de Holanda Bastos 2014 d As argilas as margas e as xistos As propriedades dessas rochas expli cam o seu modelato Composição química homogênea à base de silicatos de alumínio Elementos pouco solúveis Alta impermeabilidade devido à falta de comunicação dos poros Grande plasticidade tornando a rocha pouco resistente a processos li neares porém muito resistente a processos termoclásticos A impermeabilidade justifica uma adensada rede de drenagem com uma evolução rápida das vertentes com formas suavemente onduladas LivroGeografiaGeomorfologiaindd 58 14052019 130513 Geomorfologia 59 e Calcários Tendo em vista a sua elevada soludibilidade sob condições de climas úmidos os calcários apresentam formas bastante específicas deno minadas de relevos cársticos O aspecto mais característico do carste é a ausência de rede de drena gem organizada e de erosão superficial desenvolvendose galerias internas Figura 225 com formas bizarras como estalactites estalagnites dolinas uvalas etc Figura 225 Caverna do Diabo em Eldorado Paulista SP Formas endocársticas desenvolvidas a partir da dissolução do calcário Foto Frederico de Holanda Bastos 2012 7 Relevos em bacias sedimentares Conforme já foi afirmado anteriormente as bacias sedimentares constituem áreas topograficamente deprimidas que recebem diversos ciclos de deposição sedimentar que se organizam em estratos e formam rochas sedimentares Ao longo do processo de sedimentação as camadas vão se depositan do umas sobre as outras em concordância ou discordância O resultado é um pacote de sedimentos em camadas empilhadas Esse tipo de estrutura pode comportar relevos simples como chapadas cuestas e depressões periféri cas dependendo do arranjo das camadas Os processos sedimentares podem ocorrer em ambientes marinhos lacustres e continentais Numa mesma bacia podem ocorrer os três tipos de sedimentação Se a sucessão de ciclos deposicionais ocorrer sem grandes perturbações tectônicas a estrutura resultante será a mais simples possível horizontal ou subhorizontal LivroGeografiaGeomorfologiaindd 59 14052019 130513 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 60 De acordo com Penteado 1983 no processo de formação de bacias sedimentares entra em jogo um importante elemento que é a isostasia a qual provoca movimentos como a subsidência dos sedimentos localizados na porção central da bacia e o soerguimento de suas bordas O soerguimento marginal contribui para acentuar a erosão e para voltar a entulhar a parte cen tral da bacia Nessa perspectiva podese afirmar que predominam estruturas horizontalizadas na parte central das bacias e estruturas inclinadas nas suas bordas Figura 226 Figura 226 Esboço esquemático da ação isostásica em grandes bacias sedimentares Fonte Elaborado pelos autores Dependendo da disposição das camadas em uma bacia sedimentar sua estrutura pode ser Concordante horizontal que apresenta camadas horizontais empilha das facilmente identificadas na parte central das bacias justificando formas tabulares como chapadas mesas ou mesetas Inclinada Que é constituída por camadas sobrepostas levemente inclina das numa direção constante geralmente associada às bordas da bacia As estruturas inclinadas formam relevos subtabulares dissimétricos cuestas Quando a inclinação de camadas ocorre em grandes áreas ela é chama da de estrutura de monoclinal Podem ocorrer estruturas inclinadas sem que necessariamente elas estejam nas bordas da bacia como no caso de um ar queamento dômico na parte central de uma bacia que acabaria provocando a inclinação das camadas Discordante ocorre quando se constata um contato oblíquo entre as cama das inferiores da bacia ou então no contato entre a camada inferior e o emba samento onde ela se depositou As bacias sedimentares podem apresentar o que se denomina relevos estruturais que são aquelas formas cujo topo está diretamente associado à estrutura Porém para que se desenvolvam esses tipos de relevos deve haver diferenciação de resistência entre as camadas sedimentares Caso as cama das sedimentares apresentem resistência semelhante não vão aparecer rele vos estruturais e sim uma série de cristas e vales como resultado da erosão LivroGeografiaGeomorfologiaindd 60 14052019 130513 Geomorfologia 61 De acordo com Penteado 1983 no caso de estruturas concordantes horizontais se as camadas apresentarem resistência diferenciada e a bacia for soerguida os rios iniciam o trabalho de entalhe formando inicialmente va les em V que progressivamente vão se alargando na medida em que os rios atingem camadas menos resistentes Ocorre um solapamento das bases das encostas com movimentos de massa e manutenção de seus declives escar pados porém com recuo lateral Nesse caso a tendência é que uma camada dura se mantenha no topo do relevo com superfície tabular sendo mantida por cornijas no topo das escarpas Os relevos que se formam nesse caso são as chapadas Figuras 227 e 228 mesas morros testemunhos vales em manjedouras anfiteatros e depressões periféricas Figura 227 Evolução do relevo da bacia do Araripe Ceará Pernambuco e Piauí de acordo com a interpretação de JeanPierre Peulvast e François Bètard Recuo la teral das encostas e manutenção do topo pela elevada resistência da Formação Exu Fonte Peulvast e Bètard 2015 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 61 14052019 130513 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 62 Figura 228 Visão aérea da chapada do Araripe no Ceará onde se pode observar o topo tabular do relevo e a depressão periférica no vale do Cariri com as cidades do Crato Juazeiro do Norte e Barbalha Foto JeanPierre Peulvast 2009 No caso de estruturas monoclinais os relevos vão depender de dois fa tores básicos das camadas de resistência diferente e da retomada da erosão para organizar a rede de drenagem Os relevos dissimétricos são as cuestas o costão os hogbacks e as cristas isoclinais PENTEADO 1983 As cuestas são relevos dissimétricos formados por uma camada supe rior resistente fracamente inclinada 30º sobreposta a uma camada inferior menos resistente configurando uma escarpa de um lado e um reverso suave mente inclinado no sentido do declive das camadas sedimentares Figura 229 As cuestas se desenvolvem por erosão diferencial e possuem os seguintes elementos topográficos Front apresentase como uma franja que só é interrompida pela formação de uma percée ou gap que se trata de um cânion formado por um rio conse quente que drena no sentido do caimento das camadas sedimentares O front é constituído pela cornija que é parte superior sustentada por rochas mais resistentes e pelo tálus que é a parte inclinada abaixo da cornija que indica o contato entre as camadas sobrepostas Depressão ortoclinal ou subsequente ocorre abaixo do tálus e constitui a vertente do vale subsequente que delimita a cuesta Essa depressão apresen LivroGeografiaGeomorfologiaindd 62 14052019 130514 Geomorfologia 63 ta uma vertente côncava no lado da escarpa e uma retilínea que pode indicar o reverso estrutural de outra cuesta Se o mergulho das camadas apresentarem o mesmo sentido do front da escarpa a forma é denominada de costão Reverso constitui o topo do relevo apresentando um declive suavemente inclinado no sentido do caimento das camadas Como sua topografia é direta mente associada às camadas ele é chamado de reverso estrutural A depressão que se desenvolve no sentido do caimento das camadas sedimentares pode ser chamada de depressão monoclinal Figura 229 Esboço de relevo de cuesta com a identificação dos seus principais elementos Fonte httpwwwfunapeorgbrgeomorfologia No caso de estruturas discordantes quando ocorre um escarpamento no contato entre uma camada sedimentar resistente e o embasamento cris talino ocorre um relevo chamado de glint De acordo com Foucault e Raoult 2010 o glint é um escarpamento contínuo definido por uma cobertura sedimentar rígida disposta de maneira discordante sobre rochas do embasamento cristalino Figura 230 Também conhecido como escarpamento aclinal LivroGeografiaGeomorfologiaindd 63 14052019 130514 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 64 Figura 230 Glint no Planalto da Ibiapaba CE Cornija de arenito da Formação SerraGrande mantendo a verticalização da escarpa discordantemente disposto so bre rochas do embasamento cristalino Foto Frederico de Holanda Bastos 2012 8 Relevos em estruturas falhadas e dobradas Nosso planeta está em constante transformação em função de sua dinâmica interna Isso se deve à transferência de matéria e de calor do manto superior para os níveis mais elevados da litosfera justificando sua deformação A ciência que trata especificamente com essas deformações é a Geo logia Estrutural que analisa tais fenômenos em diversas escalas desde aná lises microscópicas até dimensões continentais Uma das primeiras dúvidas científicas na geologia estrutural reside no fato de como bacias sedimentares que originalmente se depositam em pla nos horizontais apresentamse inclinadas ou deformadas Somente a partir da segunda metade do século XX é que se descobriu que tais deformações estavam associadas à movimentação das placas litos féricas e a outros fenômenos a elas vinculados Para um material geológico qualquer as principais condições físicas relacionadas a deformações são pressão e temperatura condições termodi nâmicas velocidade ou taxa de deformação e esforço aplicado à rocha Em função dessas variáveis as deformações poderão ser rúpteis falhamentos ou dúcteis dobramentos LivroGeografiaGeomorfologiaindd 64 14052019 130514 Geomorfologia 65 Tendo em vista que os fatores físicos mencionados variam de acordo com a profundidade na litosfera podese afirmar que eles atuam em dois domínios deformacionais os superficiais e os profundos Nesses diferentes domínios que não possuem um limite claro formamse estruturas igualmente distintas O domínio superficial se caracteriza por deformações predominantemen te rúpteis enquanto que nas grandes profundidades predominam os dúcteis Existem três tipos de tensões que as rochas podem sofrer por forças tec tônicas ou por influências de peso de rochas sobrejacentes a distensão ex tensão a compressão encurtamento e o cisalhamento torção Figura 231 Figura 231 Esboço representativo dos tipos de tensões geológicas Fonte httparochaquefezafotossinteseblogssapopt8259html As deformações que ocorrem nas rochas podem ser através de dobra mentos ou falhamentos Para entender o tipo de deformação é importante analisar as propriedades das rochas vendo se elas possuem um comporta mento rúptil ou dúctil 81 Dobramentos A estrutura dobrada é caracterizada por deformações em material rochoso plástico terminando em plissamento ou em pregueamento das camadas ge ológicas tendo como elemento fundamental a dobra As dobras são deformações dúcteis que afetam os corpos rochosos tanto em ambientes compressionais como extensionais Geralmente ocorrem asso ciados a cadeias de montanhas resultantes da interação das placas tectônicas Dependendo das dobras elas podem ser visíveis em imagens de saté lite fotos aéreas e até em escala local Sua formação se deve à existência de uma superfície anterior que pode ser o acamamento sedimentar ou a foliação metamórfica LivroGeografiaGeomorfologiaindd 65 14052019 130514 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 66 Os principais elementos de uma dobra são Figura 232 Anticlinais ondulações convexas para cima Sinclinais ondulações côncavas para cima Charneira é o ponto de curvatura máxima do anticlinal ou do sinclinal Plano axial a superfície ideal passando por charneiras sucessivas Flancos da dobra São as superfícies onduladas que ligam uma charneira anticlinal a uma charneira sinclinal Figura 232 Esboço representativo dos elementos de uma dobra Fonte httpwwwnetxplicacommanualvirtualexerciciosgeo11deformacoes11GEOdobras3htm Em termos geomorfológicos os tipos de relevos em estruturas dobra das dependem dos seguintes fatores Diversidade das condições litológicas que justificam erosão diferencial Condições tectônicas que justificam o tipo de dobramento Ação erosiva alterando a estrutura Uma característica comum aos relevos com estruturas dobradas é a presença de cristas e de vales alinhados e paralelos testemunhando a influ ência da deformação Os principais exemplos de relevos em estruturas dobra das são o relevo Jurássico o PréAlpino e o Apalacheano O relevo Jurássico é o tipo mais simples de relevo dobrado Tratase de uma sucessão regular de dobras simples pouco atacadas pela erosão Assim as formas ficam muito similares à estrutura onde anticlinal coincide LivroGeografiaGeomorfologiaindd 66 14052019 130515 Geomorfologia 67 com o setor elevado denominado de mont e o setor mais baixo coincide com o Sinclinal formando o val Essa nomenclatura teve origem na região dobrada do maciço de Jura na França No processo de evolução do relevo Jurássico pela erosão destacase o importante papel da rede de drenagem Inicialmente formamse rios nos flancos anticlinais denominados de ruz que gradativamente vão abrindo va les estreitos Essa erosão abre um cânion no topo do anticlinal denominado de cluse Daí a erosão acaba formando uma depressão no anticlinal denomi nada de combe onde se intensifica a dissecação da rede de drenagem até o ponto em que a topografia do anticlinal fica mais baixa que a do sinclinal Nesse caso temse a formação do relevo PréAlpino que se formou a partir da inversão do relevo pois as formas sinclinais passam a constituir o topo do relevo Figura 233 Figura 233 Evolução do relevo Jurássico até o PréAlpino quando ocorre a inver são do relevo Fonte Penteado 1983 A partir do momento em que a ação erosiva conseguir aplainar toda a estrutura dobrada e essa for posteriormente soerguida uma nova ação ero siva tende a formar uma nova dissecação com relevos caracterizados por sequências de cristas e de vales paralelos justificados apenas pela erosão diferencial independente do ponto da dobra sinclinal ou anticlinal Nesse caso tem o relevo Apalacheano cuja nomenclatura faz referência à região dos Apalaches nos EUA 82 Falhamentos As falhas resultam de deformações rúpteis nas rochas da crosta terrestre que provocam deslocamentos entre blocos As superfícies descontínuas formadas podem variar de alguns centímetros a dezenas e centenas de quilômetros O estudo das falhas é fundamental para o desenvolvimento de ativida des humanas tendo em vista os riscos associados à construção civil sobre tudo em áreas de falhas ativas LivroGeografiaGeomorfologiaindd 67 14052019 130515 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 68 Os relevos de falhas são em geral retilíneos e bem estruturados topo graficamente com escalonamentos e condicionamento de drenagem sendo facilmente reconhecíveis através de imagens orbitais Podem ocorrer falhas nos mais diversos ambientes tectônicos deformacionais compressivos dis tensivos e cisalhantes As falhas profundas podem atravessar toda a litosfera constituindo o limite entre placas tectônicas como é o caso da falha de San Andreas nos EUA e a falha de Anatólia na Turquia Essas falhas estão diretamente asso ciadas à ocorrência de terremotos Os elementos básicos de uma falha são Figura 234 Plano de falha que representa a superfície de fratura Teto Capa bloco que se sobrepõe ao plano de falha Muro Lapa bloco que se situa abaixo do plano de falha Rejeito movimento relativo entre os dois blocos da falha vertical ou horizontal Inclinação ângulo formado entre o plano de falha e o plano horizontal que o intercepta Direção orientação da linha de interseção do plano de falha com o plano horizontal Figura 234 Esboço representativo dos elementos de uma falha Fonte httpwwwnetxplicacommanualvirtualexerciciosgeo11deformacoes11GEOfalhas2htm A formação de falhas produz reflexos geomorfológicos com evidências diretas ou indiretas As primeiras são observadas na superfície como no des locamento de uma camada em relação à outra ou ainda nas estrias que se formam a partir do atrito ente os blocos Evidências de falhas também podem ser fornecidas indiretamente por métodos geofísicos critérios geomorfológicos fotografias aéreas imagens de satélite mapas geológicos e topográficos além dos padrões de drenagem treliça e retangular LivroGeografiaGeomorfologiaindd 68 14052019 130515 Geomorfologia 69 No processo de formação de uma falha ocorrem estrias produzidas pelo contato entre os blocos Nesse processo pode ocorrer a milonitização que constitui um trituramento do material rochoso que pode se cimentar com soluções ricas em sílica e formar uma rocha de granulação muito fina deno minada de milonito Se o falhamento for menos intenso formamse rochas parcialmente quebradas denominadas de brechas de atrito Associado com estruturas falhadas é comum a ocorrência de grabens blocos tectônicos rebaixados e horsts blocos tectônicos elevados que ge ralmente se destacam na topografia Figura 235 Quando sua ocorrência se dá de forma muito expressiva espacialmente temse uma superfície irregular em função do basculamento tectônico Analogicamente podemse comparar tais superfícies com os teclados de um piano Figura 235 Esboço representativo dos elementos de uma falha Fonte httpprofessoralexeinowatzkiwebnodecombrgeomorfologiaagentesendogenoseexogenos Dentre os critérios possíveis para identificação de falhas devese anali sar a ocorrência de determinados elementos na paisagem como Lagos na base da escarpa Cones aluviais na base da escarpa Terremotos frequentes falha ativa Escarpas alinhadas Vales suspensos Facetas trapezoidais e triangulares Ocorrência de minolitos LivroGeografiaGeomorfologiaindd 69 14052019 130515 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 70 A possibilidade de lagos na base da encosta se deve pela possibilidade de um bloco soerguido servir de barramento para um antigo curso fluvial for mando assim o lago Na mesma perspectiva tal soerguimento tende a intensificar a ação erosiva na escarpa a partir dos agentes lineares formando facetas erosivas que inicialmente possuem forma de trapézio e posteriormente ficam trian gulares Figura 236A Tal ação erosiva acaba deixando depósitos na base da escarpa com características típicas de diferenciação topográfica abrupta como no caso dos conesleques aluviais Figura 236B Figura 236 Esboço representativo dos elementos de uma falha Fonte httpsigepcprmgovbrglossariofigBlocoFalhaeFacetasgif As falhas podem ser classificadas a partir da disposição geométrica de seus elementos Dessa forma devem ser analisados os seguintes aspectos mergulho do plano de falha forma da superfície da falha movimento relativo entre os blocos e comportamento mecânico das rochas Os principais tipos de falhas são Normal Inversa e Transcorrente Fi gura 237 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 70 14052019 130515 Geomorfologia 71 Figura 237 Esboço representativo dos elementos de uma falha Fonte httpwwwmundoeducacaocomgeografiafalhageologicahtm A falha normal possui um ângulo formado em relação ao teto e ao muro Portanto nessa falha as camadas de um lado muro ficam elevadas enquan to que as camadas do outro teto ficam rebaixadas Esse tipo de falha está associada a deformações extensionais ex cadeias mesooceânicas e pode ter relação com a formação de bacias sedimentares A falha inversa ou de empurrão é uma falha inclinada com mergulhos de seu plano em geral inferior a 45º Nessa falha o teto sobe em relação ao muro Falhas desse tipo estão associadas a deformações compressionais e frequentemente apresentam escarpas de falhas As falhas transcorrentes ou de deslocamento direcional são em geral subverticais e apresentam deslocamentos horizontais entre os blocos Elas respondem pela organização e estruturação de muitos terrenos metamórficos antigos Quando estão associadas a limites de placas tectônicas recebem o nome de falhas transformantes O movimento dessas falhas pode ser de dois sentidos sinistral para a esquerda ou dextral para a direita Com relação à geomorfologia de áreas falhadas é importante consi derar dois casos as falhas que formam escarpas no terreno e as que não formam desníveis Algumas falhas podem simplesmente por em contato duas rochas de resistência diferente Nesse caso a escarpa se dará por erosão diferencial LivroGeografiaGeomorfologiaindd 71 14052019 130515 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 72 onde o plano da falha será exumado Nessa perspectiva a falha terá uma relação indireta com o relevo De acordo com Penteado 1983 no caso das falhas que formam es carpamentos a evolução erosiva pode fazer o relevo passar por vários es tágios Inicialmente a escarpa original cria um desnível e acelera a erosão Surgem ravinas e se dá início ao processo de recuo da escarpa As ravinas evoluem e formam facetas trapezoidais que depois passam a triangulares Nesse caso a escarpa ainda tem uma relação direta com o evento estrutural constituindo uma Escarpa de Falha A erosão reduz as facetas triangulares e faz recuar a escarpa para um nível bem além da antiga linha de falha gerando nesse caso uma Escarpa Herdada de Falha A erosão pode nivelar a topografia e no bloco anteriormente depri mido pode aflorar uma camada mais resistente Nesse caso ocorre uma inversão da topografia em função da erosão diferencial onde o bloco ante riormente baixo passa a ocupar uma posição mais elevada formando uma Escarpa de Linha de Falha A erosão pode gerar uma nova superfície aplainada a partir do desgas te do novo ressalto topográfico fazendo aflorar do lado da primeira escarpa um novo material resistente Uma nova retomada da erosão diferencial a partir do vale da linha de falha porá novamente em ressalto o plano de falha original justificando um Rejuvenescimento da Escarpa de Falha Esse esboço evolutivo dos relevos em estruturas falhadas segue a pro posição de Penteado 1983 conforme pode ser observado na figura 238 que apresenta incialmente a escarpa de falha no item A a escarpa herdada de falha no item B a escarpa de linha de falha no item C o aplainamento do terreno no item D e o rejuvenescimento da escarpa de falha no item E LivroGeografiaGeomorfologiaindd 72 14052019 130515 Geomorfologia 73 Figura 238 Esboço representativo da evolução de relevos associados a falhas que soerguem terrenos Fonte Penteado 1983 Síntese do Capítulo O capítulo trata de um ramo da geomorfologia que registra a relação entre o relevo e a composição geológica de acordo com suas influências regionais e seus tipos de feições locais Para tanto é feita uma introdução sobre a com posição da crosta terrestre atmosfera hidrosfera e biosfera e as camadas que compõem a estrutura interna da Terra crosta terrestre manto e núcleo apresentando a distribuição superficial e as estruturas tectônicas das placas litosféricas Na sequência são apresentados conceitos relacionados aos tipos de rochas sua repercussão geomorfológica e uma sistematização da história geológica da Terra A litosfera se constitui importante para a geomorfologia por estar loca lizada na parte superficial externa da Terra e servir de base para o desenvol vimento das formas de relevo A litosfera é constituída pela crosta e pela litos fera mantelítica que são integradas sendo que a última encontrase abaixo da descontinuidade de Mohorovicic A litosfera é composta por uma dúzia de LivroGeografiaGeomorfologiaindd 73 14052019 130515 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 74 placas tectônicas com diferentes composições as continentais Iraniana as oceânicas Nazca e as continentais e oceânicas Sulamericana Abaixo da litosfera a astenosfera é camada líquida ou viscosa do manto superior e é ativada por movimentos convectivos que provocam deformações na litosfera sendo a responsável pela movimentação das placas tectônicas pelos sismos pelos vulcões e pela formação das cadeias de montanhas Os movimentos divergentes promovem a separação das placas enquanto os convergentes as aproximam A subida do manto quente em alguns setores da astenosfera provoca um soerguimento da litosfera provocando zonas de alargamento da crosta terrestre rift e consequentemente a separação de uma crosta continental e a abertura de uma crosta oceânica Quando ocorre a convergência das corren tes de convecção as placas se aproximam Uma das duas placas mergulha sob a outra num movimento de subducção Uma subducção pode surgir a partir do encontro de duas crostas oceânicas do encontro de uma crosta oce ânica e uma continental e de uma colisão entre duas crostas continentais A obducção por sua vez trata de um caso raro de convergência de placas onde uma porção da litosfera oceânica recobre uma crosta continental Na Terra existe um equilíbrio isostásico que se trata de uma compensa ção de pesos de massas de terra na crosta Tal compensação pode ser com parada ao efeito de um iceberg As alterações na crosta terrestre e os eventos naturais ocorrem em escala de tempo geológico podendo variar de milhões ou até mesmo bilhões de anos sendo as eras geológicas classificadas em Arqueozoica Proterozoica Paleozoica Mesozoica e Cenozoica Como forma de permitir uma melhor compreensão do tempo geológico é apresentada uma comparação relativa das eras presentes em toda a história da Terra em relação ao intervalo de um dia 24 horas Em seguida o capítulo dis corre sobre a história geológica da Terra aprofundando conceitos sobre os tipos de rochas e as propriedades geomorfológicas das mesmas e os relevos res saltando que esta é marcada pelos eventos de aglutinação e de separação dos continentes por influências das forças tectônicas Por outro lado a geomorfologia também se interessa pela suscetibilidade destrutiva das rochas com relação às ações erosivas utilizandose dos estudos da composição mineralógica para de finir os aspectos relativos à sua resistência A classificação tradicional das rochas é composta por três grupos de acordo com a sua gênese magmáticas aquelas que se originam a partir da solidificação do magma sedimentares que se origi nam a partir do acúmulo de sedimentos que são partículas de rochas e meta mórficas que surgem a partir de outros tipos de rochas previamente existentes Ainda se reportando às rochas cabe ressaltar que as tensões internas da Terra podem gerar deformações nelas quais sejam de dobramentos caracteriza LivroGeografiaGeomorfologiaindd 74 14052019 130515 Geomorfologia 75 da por deformações em material rochoso plástico terminando em pregueamento das camadas geológicas ou falhamentos resultam de deformações rúpteis nas rochas da crosta terrestre que provocam deslocamentos entre blocos Atividades de avaliação 1 Ao considerar o tempo geológico presente em que era período e época estamos vivendo 2 Defina os sistemas endógenos 3 Defina isostasia e acomodação isostática e explique o conceito de equilí brio crustal 4 O que é um mineral Cite os minerais mais comuns da Terra 5 Caracterize os minerais félsicos e máficos Dê exemplos das texturas gra nular e afanítica 6 Qual é a diferença entre rochas intrusivas e extrusivas 7 O que é metamorfismo e como as rochas metamórficas são produzidas 8 O que você entende por falhamento e qual a sua relação com o relevo terrestre 9 Qual a relação entre limites de placas e atividade vulcânica e terremotos 10 Caracterize os três limites de placas e as ações associadas a cada tipo 11 Qual a importância da Orogênese Brasiliana no condicionamento do rele vo na Província Borborema Leituras filmes e sites httpwwweaduepbedubravaarquivoscursosgeografiageografiafisicaI GEOFISAULA12pdf BRITO NEVES B B América do Sul quatro fusões quatro fissões e o pro cesso acrescionário andino Revista Brasileira de Geociências v 29 n 3 p 379 392 1999 CLAUDINO SALES V PEULVAST JP Evolução morfoestrutural do relevo da margem continental do Estado do Ceará Nordeste do Brasil Caminhos de Geografia Vol 7 Nº 2 Uberlândia 2007 MAIA R P BEZERRA F H R Condicionamento estrutural do relevo no Nordeste setentrional brasileiro Mercator UFC Fortaleza v 13 n 1 p 127 141 2014 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 75 14052019 130516 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 76 Referências ABSÁBER A N Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas so bre o Quaternário Geomorfologia Nº18 IG USP São Paulo 1969 ALMEIDA F F M BRITO NEVES B B de HASUI Y FUCK R A Provín cias estruturais brasileiras Simp Geol Nordeste v 8 p363 391 Atas Campina GrandeSBG 1977 BIGARELLA J J BECKER R D PASSOS E Estrutura e Origem das Paisagens Tropicais e Subtropicais Ed UFSC V3 Florianópolis 2003 BRITO NEVES B B América do Sul quatro fusões quatro fissões e o pro cesso acrescionário andino Revista Brasileira de Geociências v 29 n 3 p 379 392 1999 CAMPELO R C Análise de terrenos na porção setentrional da Província Bor borema NE do Brasil integração de dados geológicos e gravimétricos Rio Grande do Norte UFRN 1999 140p Dissertação Mestrado em Geofísica Programa de PósGraduação em Geodinâmica e Geofísica Universidade Fe deral do Rio Grande do Norte Natal 1999 CHRISTOFOLETTI A Geomorfologia São Paulo Edgard Blücher 2ª edi ção 1980 CLAUDINO SALES V PEULVAST JP Evolução morfoestrutural do relevo da margem continental do Estado do Ceará Nordeste do Brasil Caminhos de Geografia Vol 7 Nº 2 Uberlândia 2007 FOUCAULT A RAOULT JF Dicctionaire de Géologie 7ª edition Dunod Paris 2010 GUERRA A T GUERRA A J T Novo Dicionário GeológicoGeomorfo lógico 3ª edição Editora Bertrand Brasil Rio de Janeiro 2003 HASUI Y Evolução dos continentes p 98108 HASUI Y CARNEIRO C Dal Ré ALMEIDA F F M de BARTORELLI A Orgs Geologia do Brasil São Paulo Beca 2012a 900p HASUI Y Sistema Orogênico Borborema p 254288 HASUI Y CARNEI RO C Dal Ré ALMEIDA F F M de BARTORELLI A Orgs Geologia do Brasil São Paulo Beca 2012b 900p MAIA R P Geomorfologia e neotectônica no vale do rio ApodiMossoróRGN Natal 2012 218p Tese Doutorado em Geodinâmica e Geofísica Programa de PósGraduação em Geodinâmica e Geofísica Universidade Federal do Rio Grande do Norte 2012 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 76 14052019 130516 Geomorfologia 77 PENTEADO M Fundamentos de Geomorfologia 3 Ed 2 tiragem Rio de Janeiro IBGE 1983 PEULVAST JP BÈTARD F A history of basin inversion scarp retreat and shallow denudation The Araripe basin as a keystone for understanding long term landscape evolution in NE Brazil Geomorphology 233 20 40 2015 PEULVAST JP CLAUDINO SALES V Carta morfoestrutural do Ceará e áreas adjacentes do Rio Grande do Norte e da Paraíba Nota explicativa In CPRM Atlas digital de geologia e recursos minerais do Ceará Mapas na escala 1500000 Serviço geológico do Brasil CD Rom 2003 SILVA C R da Ed Geodiversidade do Brasil conhecer o passado para entender o presente e prever o futuro Rio de Janeiro CPRM 2008 264p SOUZA M J N Contribuição ao estudo das unidades MorfoEstruturais do Estado do Ceará Revista de Geologia 1 73 91 junho1988 THORNBURY W D Principios de Geomorfología Ed Kapelusz Buenos Aires 1966 WINCANDER R MONROE J S KIRSTEN PETERS E Fundamentos de Geologia Cengage Learning São Paulo 2009 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 77 14052019 130516 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 78 14052019 130516 Capítulo Geomorfologia climática 3 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 79 14052019 130516 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 80 14052019 130516 Geomorfologia 81 Objetivos Entender a importância dos processos externos na elaboração das formas de relevo terrestre Compreender a importância dos diversos tipos de sistemas de erosão e sua repercussão geomorfológica de acordo com a condição climática Perceber a importância das variações climáticas do Quaternário na gênese dos relevos atuais Introdução A ciência geomorfológica se propõe explicar os relevos que por sua vez es tão associados a uma diversidade de fatores naturais No capítulo 2 pôdese analisar a influência dos aspectos estruturais nas formas de relevo Porém é fundamental que também sejam analisados os fatores exógenos de elabora ção dos relevos que estão diretamente associados com as condições climáti cas responsáveis pelos processos de intemperismo e de erosão Tais fatores são responsáveis pela esculturação dos relevos terrestres AbSaber 1975 destaca que o relevo atual deve ser sempre analisado como uma herança de prolongados processos erosivos que variaram ao longo do tempo geológico recente sobretudo no Quaternário Dessa forma o presente capítulo pretende apresentar temáticas relacio nadas às variações climáticas do Quaternário e de que maneira os agentes ex ternos conseguem esculpir as formas de relevo como conhecemos atualmente 1 O Quaternário variações climáticas e seus reflexos geomorfológicos De acordo com Nimer 1979 nenhum fenômeno da natureza pode ser compreendido quando encarado isoladamente Qualquer acontecimento natural pode ser convertido num contrassenso quando analisado fora das condições que o rodeiam ao contrário se considerado em ligação com os demais poderá ser compreendido e justificado O quadro geomorfológico por exemplo não pode ser justificado nem bem compreendido se conside rado isolado do seu meio atmosférico isto é do clima que o domina LivroGeografiaGeomorfologiaindd 81 14052019 130516 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 82 Christofoletti 1990 p 23 salienta a importância do clima na percepção das paisagens da seguinte maneira embora não seja um componente materia lizável e visível na superfície terrestre o clima é bastante perceptível e contribui significativamente para se sentir e perceber as paisagens Essa ideia é corro borada por Zanella 2007 ao afirmar que a análise das condições climáticas de uma região é importante pois o clima se reflete nos processos e nas formas ge omorfológicas bem como nos regimes dos rios na disponibilidade dos recursos hídricos formação dos solos e na distribuição da cobertura vegetal No entanto segundo Zanella 2007 para entender o que é clima é ne cessário compreender o que é tempo Apesar dos conceitos serem distintos estão interrelacionados pois os conceitos estudados pelo clima tais como radiação solar temperatura pressão circulação atmosférica umidade do ar nebulosidade e precipitação são também estudados pelo tempo A diferença entre os conceitos é que o tempo de um determinado lugar é algo momentâneo e que varia constantemente enquanto o clima é a suces são habitual dos tipos de tempo observados durante vários anos seguidos ZANELLA 2007 O clima de qualquer região é determinado em grande parte pela circu lação geral da atmosfera Essa resulta em última instância do aquecimento diferencial do globo pela radiação solar da distribuição assimétrica de ocea nos e continentes e também das características topográficas sobre os con tinentes Padrões de circulação gerados na atmosfera redistribuem calor e umidade por todo o globo No entanto essa redistribuição não é homogênea agindo algumas vezes no sentido de diminuir as variações regionais dos ele mentos climáticos tais como temperatura e precipitação as quais têm enor me influência nas atividades humanas MELLO FERREIRA 2005 A atmosfera terrestre é um dos domínios mais importantes da nature za pois sustenta a vida no planeta e garante o suprimento de água e calor necessários para a manutenção da biodiversidade nos diversos ambientes naturais Nessa esfera gasosa uma complexa combinação de elementos e fatores meteorológicos geográficos e astronômicos forma os mais variados tipos de clima do globo SANTANNA NETO NERY 2005 Podese considerar a atmosfera e os climas terrestres como resultado das forças que agem sobre o globo tanto provenientes do Sol através da energia solar quanto originadas no interior da Terra a partir da energia geo térmica Portanto os climas resultam entre outros fatores da combinação dessas duas grandes fontes energéticas Segundo SantAnna e Nery 2005 qualquer alteração ocorrida em uma dessas fontes primárias afeta profundamente os climas da Terra Além disso o homem cada vez mais interfere na superfície terrestre principalmente a partir da Revolução Industrial com a evolução das técnicas e do conhecimento LivroGeografiaGeomorfologiaindd 82 14052019 130516 Geomorfologia 83 científico tornandoo um dos principais agentes modificadores do ambiente natural Dessa forma o homem também é responsável pelas mudanças do clima se não em escala global pelo menos em escala local 11 Transformações ambientais no Quaternário Por todo o planeta a intensidade das variações climáticas ocorridas durante o Quaternário produziu efeitos nas taxas de intemperismo e de pedogênese nos regimes fluviais e nível dos oceanos e na distribuição ecológica dos seres vivos forçados a migrações e adaptações às condições mutáveis Dessas contínuas modificações nas condições ambientais resultaram transforma ções mundiais na paisagem MOURA 2009 Para Moura 2009 durante o Quaternário desenvolveuse muito do que hoje representa a superfície da Terra sendo especialmente interessante porque é também o período de surgimento do homem Mudanças ambientais significa tivas espaciais e temporais podem ser identificadas no curto intervalo de tempo envolvido nesse período representadas em um complexo mosaico de paisagens Pouco se conhece sobre o clima terrestre do PréCambriano ou seja dos acontecimentos desde a origem do planeta entre 4600 Ma até 570 Ma quando se inicia o Paleozoico Sabese apenas que a atmosfera primitiva formouse em consequência do esfriamento e da consolidação do planeta Segundo Santanna Neto e Nery 2005 a atmosfera passou a ser semelhante à atual apenas na era Paleozoica 570 250 Ma possibilitando enorme de senvolvimento da vida no planeta No entanto durante o período Quaternário de 18 Ma ao presente registros indicam que ocorreram pelo menos dezesseis glaciações com du ração média de 100000 anos intercaladas com épocas mais quentes os interglaciais com duração aproximada de 20000 anos SANTANNA NETO NERY 2005 Não foi possível até o momento encontrar evidências geológi cas de todas as glaciações pois muitas vezes uma glaciação se sobrepõe à outra tornando seu reconhecimento bastante difícil Entretanto cinco grandes glaciações foram detectadas no período Quaternário Tabela 1 Tabela 1 Glaciações Quaternárias Nome Período Europa EUA em Milhões de Anos Donau 1600 Günz Nebraskan 600 500 Mindel Kansan 480 440 Riss Illinoian 230 190 Würm Wisconsin 115 12 Fonte Santanna Neto Nery 2005 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 83 14052019 130516 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 84 De modo geral o período Quaternário foi subdividido em duas épocas Pleistoceno e Holoceno O Holoceno é a época mais recente do Quaternário e teve seu início no final da última grande glaciação Würm há cerca de 10000 anos Tratase do período em que se reconhece o aparecimento do homem moderno e o desenvolvimento das primeiras civilizações As grandes altera ções climáticas ocorridas nesse intervalo caracterizamse pelo início de uma fase interglacial em nosso planeta Essa fase dura até hoje e deve terminar em algum momento nos próximos 1000 anos Assim toda a história da hu manidade até a presente data aconteceu numa época mais quente também denominada interglacial SANTANNA NETO NERY 2005 As mudanças climáticas do Quaternário provocaram importantes altera ções na dinâmica da superfície terrestre Todas essas oscilações alteraram o ba lanço dos processos pedológicos e morfogenéticos uma vez que se refletiram na acentuação ou no recuo de adições transformações translocações e perdas de matéria e de energia nos sistemas NUNES VILAS BOAS SILVA 2012 Então concluise que para entender a evolução do modelado terrestre fazse necessário compreender as mudanças climáticas ao longo do Quater nário os períodos de glaciações e de interglaciação e como o homem vem interagindo em relação a esse fenômeno Sendo assim tornase necessário entender como os efeitos das glaciações e das interglaciações ocorridas ao longo do Quaternário repercutiram sobre a superfície da Terra como eles têm atuado sobre as rochas o relevo e quais as suas influências sobre as regiões que são afetadas e não são afetadas diretamente por elas Na Europa segundo Costa Júnior 2008 as quatro fases glaciais Günz Mindell Riss e Würm intercaladas por fases interglaciais promoveram deposi ções ou formas elaboradas pelo deslocamento de geleiras como as morainas depósitos de blocos e argilas carregados pelas geleiras originando patamares ao longo das vertentes No extremo sul da América do Sul ocorreu o desen volvimento de glaciais alpinos gelo nas partes elevadas os quais desciam as encostas criando vales em U decorrentes da erosão por fricção ou atrito Em função do equilíbrio isostático a concentração do gelo no continente provoca a subsidência que se reflete na crosta interna provocando a elevação de áreas periféricas e consequente deslocamento de massa Nos períodos interglaciais ao contrário o alívio de carga em decorrência da fusão do gelo produz o soer guimento da crosta interna e consequente abaixamento da periferia por com pensação isostática NUNES VILAS BOAS SILVA 2012 De acordo com Moura 2009 as superfícies e os sedimentos são in terpretados em relação a variações climáticas correlacionadas aos glaciais e aos interglaciais do hemisfério Norte Para o autor as superfícies de erosão estariam associadas a fases de clima seco com chuvas concentradas quan LivroGeografiaGeomorfologiaindd 84 14052019 130516 Geomorfologia 85 do ocorreria a produção de sedimentos correspondendo aos glaciais das re giões glaciadas enquanto os encaixamentos da drenagem por incisão fluvial que levariam ao escalonamento das superfícies de erosão estariam ligados a fases de clima úmido interglaciais Nessa perspectiva de forma geral podese afirmar que períodos inter glaciais propiciam um aumento da temperatura média global com degelo de parte das calotas polares e consequente transgressão marinha justificando climas mais úmidos com intemperismo químico predominante o que em ter mos geomorfológicos representa uma significativa alteração superficial das rochas com profundos regolitos vegetação florestal de significativo porte e dissecação dos relevos Por outro lado os períodos glaciais provocam uma diminuição das tem peraturas médias da Terra com aumento de gelo nas calotas polares e regres são marinha provocando uma predominância de climas mais áridos tendo como reflexo geomorfológico processos de intemperismo físico diminuição no porte da cobertura vegetal e significativas fases erosivas com tendências de aplainamento do relevo Figura 31 Figura 31 Representação das repercussões geomorfológicas a partir de variações climáticas entre fases úmidas interglaciais e fases semiáridas glaciais Fonte Bigarella Becker Passos 2003 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 85 14052019 130516 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 86 Portanto as oscilações climáticas holocênicas e pleistocênicas foram responsáveis pelas variações morfogenéticas associadas às diferentes for mas de intemperismo físico ou mecânico e químico com reflexos diretos na tipologia dos depósitos correlativos Na faixa intertropical o clima semiárido das fases glaciais produziu uma torrencialidade pluviométrica concentrada responsável pelo transporte e pela seleção granulométrica nos depósitos detríticos o que caracteriza o pedimen to Na fase interglacial o intemperismo químico aprofunda e reorganiza as drenagens amplia a zona de alteração e do coluvionamento inumando os detritos produzidos em condições pretéritas COSTA JÚNIOR 2008 Segundo Costa Júnior 2008 as mudanças climáticas se constituem em um dos mais importantes fatores da morfogênese em escala global e são determinantes na evolução pedológica e morfogenética das paisagens regio nais Associada a fatores e processos tectônicos e litológicos as mudanças climáticas produziram a atual configuração litorânea e prélitorânea do Brasil incluindo a origem a deposição e a evolução do Grupo Barreiras Considerando o dinamismo global constatase que uma série de fe nômenos exerce influência sobre a morfologia da superfície terrestre Nas regiões costeiras os movimentos entre as placas continentais e oceânicas determinam o tipo de costa e a sua orientação quanto à exposição às ondas e as correntes Por outro lado o clima mundial afeta o desenvolvimento dos organismos controla a erosão das superfícies e sobretudo é responsável pelas flutuações no nível do mar Logo as variações associadas ao gelo que se acumula nas regiões polares bem como aos enormes volumes de água provenientes da fusão desse gelo modificam a superfície produzindo mudan ças adicionais no nível relativo do mar em nível regional ou local Devido à constatação de que o período Quaternário apresenta alter nância de fenômenos glaciais e interglaciais acompanhado de importan tes flutuações do nível do mar o que ocasiona regressões e transgressões marinhas tornase fácil deduzir que as feições associadas aos ambientes costeiros como campos de dunas móveis e fixas restingas faixas de areias depositadas paralelamente ao litoral falésias deltas laguna depressão costeira penhascos e costões rochosos têm vida efêmera em função das constantes transformações O relevo não é como a rocha o solo a vegetação ou até mesmo a água que pode pegar Ele se constitui eminentemente de formas com ar ranjo geométrico as quais se mantêm em função do substrato rochoso que as sustentam e dos processos externos exógenos e internos endógenos que as geram ROSS 2010 Tal dinamismo esculpe permanentemente as paisagens das terras emersas e suas manifestações nos horizontes mais LivroGeografiaGeomorfologiaindd 86 14052019 130516 Geomorfologia 87 superficiais da litosfera são agrupadas sob a denominação de processos morfogenéticos em que ocorrem as muitas formas de relevos elaborados por processos quaternários continentais dentre os quais podese citar su perfícies de aplainamento encostas feições de erosão e as feições de acu mulação colúvios e os leques e terraços fluviais Portanto o Quaternário que representa menos de 1 do tempo Geo lógico é fundamental quando se discute a respeito do clima como um fator atenuante das dinâmicas geomorfológicas e sedimentológicas atuais agu çando o papel do clima como um excelente mecanismo no entendimento das mudanças físicas do ambiente Para Wang et al 2004 a ocorrência de períodos úmidos para o Nordes te brasileiro está diretamente ligada a um deslocamento da Zona de Conver gência Intertropical para o sul Deslocamento este da ordem de centenas de quilômetros abaixo da linha atual Nessa perspectiva os intermitentes perío dos úmidos interferiram na distribuição das florestas tropicais justificando sua expansão e abrindo corredores florestais entre a Amazônia e a Mata Atlântica Ainda segundo os referidos autores a semiaridez climática predominou na história geológica recente do Nordeste brasileiro onde dos últimos 210000 anos apenas 8 foram de períodos úmidos 2 Fatores exógenos em diferentes sistemas de erosão Conforme já foi apresentado anteriormente para se analisar qualquer relevo terrestre devese compreender uma diversidade de fatores de ordem estru tural de um lado e climática de outro Tais abordagens se complementam e fornecem uma interpretação completa acerca da explicação das formas de relevo de um determinado local Em termos climáticos AbSaber 1975 destaca que o relevo atual deve ser interpretado como uma herança de prolongados processos erosivos que variaram ao longo do tempo geológico recente Nessa perspectiva é funda mental que se compreenda quais são os processos morfogenéticos exógenos responsáveis pela esculturação dos relevos Para tanto é importante fazer uma apresentação de dois conceitos fun damentais intemperismo e erosão A erosão é toda ação capaz de desgastar a superfície da Terra através de transporte de material Já o intemperismo tratase de uma ação anterior à erosão Ele decompõe as rochas preparan doas para a intervenção dos processos erosivos Dessa forma o intemperismo prepara as rochas para serem transpor tadas pelos agentes erosivos que por sua vez transportarão esse material para outras áreas próximas ou distantes LivroGeografiaGeomorfologiaindd 87 14052019 130516 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 88 O intemperismo pode ser interpretado também como um conjunto de mo dificações de ordem física desagregação e química decomposição que as rochas sofrem ao aflorarem na superfície da Terra Os produtos do intemperis mo estão sujeitos a outros processos como erosão transporte e deposição A rocha depois de alterada recebe o nome de regolito ou manto de alteraçãointemperismo É na parte superior do regolito que se forma o solo podendo restar abaixo dele uma camada chamada de saprolito que constitui a rocha pouco alterada Os fatores que controlam a ação do intemperismo são na maioria dos casos diretamente condicionados pelos aspectos climáticos De forma mais indireta podese destacar o papel do relevo da fauna e da flora Em função dos mecanismos predominantes de atuação o intemperismo pode ser físico químico ou biológico O intemperismo físico representa os processos que causam a desagrega ção das rochas com separação dos grãos minerais e com a consequente frag mentação da rocha Dentre os exemplos desse tipo de intemperismo podese citar variação de pressão termoclastia crioclastia esfoliação esfereioidal etc Determinados tipos de rochas como as magmáticas intrusivas formamse a grandes profundidades na crosta No momento em que elas afloram na super fície podese afirmar que um grande volume de material rochoso que a recobria rochas encaixantes foi removido Nesse caso a rocha intrusiva sofre um alívio de pressão que justifica expansão de massa e consequente fragmentação De tal processo podem derivar formas bizarras como os tors Figura 32 Figura 32 Tors Feições ruiniformes formadas em granitoides no estado de Sergipe Foto Frederico de Holanda Bastos 2013 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 88 14052019 130516 Geomorfologia 89 Em regiões glaciais e periglaciais podem ocorrer processos físicos associados ao congelamento da água dentro de cavidades rochosas Nes se caso ocorre uma expansão de seu volume forçando a rocha e podendo fragmentála Esse processo recebe o nome de crioclastia ou gelivação Nas áreas de clima árido ou semiárido a variação diária da temperatura responde por um importante processo físico denominado termoclastia que corresponde à dilatação e à contração das rochas em função do calor do dia dilatação e do frio da noite contração Tal processo também é responsável pela fragmentação de material rochoso O intemperismo químico representa os processos intempéricos nos quais ocorre a decomposição das rochas em função de reações químicas entre a rocha e as soluções aquosas diversas Nesse processo destacase a ação da água Dentre as reações químicas podese destacar a dissolução a hidrólise e a oxidação Tendo em vista a necessidade de soluções aquosas para o desencade amento dos processos de intemperismo químico esse processo predomina em regiões de clima quente e úmido como no caso de determinadas regiões intertropicais da Terra Com essas condições climáticas observase uma sig nificativa alteração no manto superficial das rochas com solos profundos e com cobertura vegetal florestal O intemperismo biológico ocorre quan do a ação física ou química é desempenhada por organismos vivos ou pela matéria orgânica decomposta Dessa forma esse intemperismo é chamado de físicobiológico ou químicobio lógico Isso pode ser observado no exemplo de uma árvore que se desenvolve dentro na fratura de uma rocha forçando fisicamente em função da expansão de seu tronco e re agindo quimicamente através da umidade de suas raízes Figura 33 De acordo com AbSaber 1975 asso ciado ao termo erosão devese compreender também o vocábulo denudação que indi ca a remoção maciça de grande quantidade de rochas que recobriam parte da superfície terrestre Esse tipo de processo pode ser ob servado no caso de maciços graníticos que constituem sobressaltos topográficos atuais A constituição geológica desses maciços se formou a vários quilômetros de profundidade na crosta o que in Figura 33 Ação de uma pequena árvore provocando um intem perismo biológico sobre a rocha Foto Frederico de Holanda Bastos 2009 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 89 14052019 130517 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 90 dica que um significativo volume de material rochoso encaixante foi removido Logicamente que nessa interpretação devese levar em conta também os movimentos crustais positivos A prolongada ação da denudação pode redundar em aplainamentos regionais de grande extensão Dependendo do tipo de interpretação esses plainos de erosão têm recebido diferentes nomes tais como peneplanos pa leoplanos pediplanos etchplanos etc Baseado na ação dos agentes externos na elaboração de relevos che gouse à concepção de que existem formas de erosão formas de deposição e formas residuais Tomando como exemplo o estado do Ceará podese adotar tais terminologias para mencionar as depressões sertanejas como formas de erosão pois foram formadas a partir de prolongados eventos erosivos Os tabuleiros prélitorâneos podem ser interpretados como formas de deposição pois tratamse de depósitos correlativos provenientes da erosão que desgas tou os sertões Já as feições residuais poderiam ser interpretadas como os maciços residuais e os inselbergs que pontilham as paisagens sertanejas como sobressaltos topográficos O termo sistema de erosão ou sistema morfogenético se refere a um conjunto de processos erosivos interrelacionados que em função das condições climáticas zonais elaboram feições geomorfológicas específicas nas áreas em que atuam São processos combinados de erosão e de depo sição que resultam em relevos do tipo erosivo residual e deposicional Cada sistema de erosão apresenta características próprias e pode atingir áreas de grandes extensões podendo variar de milhares e milhões de quilômetros qua drados ABSABER 1975 O vocábulo morfoclimático associa o relevo com as características climáticas As forças climáticas relacionadas com erosão ou até mesmo com a pedogênese são denominadas de processos morfoclimáticos O conjunto de formas de relevo resultantes da ação de determinados processos morfocli máticos dentro do mesmo bloco continental são denominadas de domínios morfoclimáticos Cada domínio apresenta uma área nuclear e entre os di versos domínios existem áreas de transição que exibem características dos domínios adjacentes ABSÁBER 2003 Para se entender a importância dos processos morfoclimáticos é im portante saber que os processos externos no nosso planeta são de atuação linear e areolar Os lineares são aqueles processos associados à atuação dos talvegues rios e os areolares são processos de atuação em área que afetam regiões em toda sua extensão desde os interflúvios até os fundos de vales A ação combinada dos procesos areolares constitui o que se conhece como processos morfoclimáticos ABSABER 1975 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 90 14052019 130517 Geomorfologia 91 Em termos de subdivisão dos domínios morfoclimáticos da Terra Tricart e Cailleux 1965 propuseram uma classificação a partir de critérios climáticos e biogeográficos identificando as seguintes zonas zona fria zona florestal das latitudes médias zona árida e subárida de baixas e médias latitudes e zona florestal intertropical De acordo com AbSaber 1975 a Terra apresenta os seguintes sis temas de erosão capazes de justificar domínios morfoclimáticos o sistema das regiões frias e glaciais continentais e de altitude o sistema periglacial o sistema mediterrâneo o sistema tropical com florestas pluviais e com savanas ou cerrados o sistema semiárido frio ou quente e o sistema de sértico frio ou quente O sistema de erosão glacial ocorre nas áreas geladas da Terra que ocu pam uma área de cerca de 15 milhões de km2 Os glaciares são definidos como grandes acumulações naturais de gelo em zonas continentais Figura 34 Figura 34 Glaciar denominado Mer de glace localizado em Chamonix nos Al pes Franceses Foto Frederico de Holanda Bastos 2011 As condições ideais para a formação de glaciares tanto podem ocorrer nas latitudes mais elevadas como nas regiões mais elevadas Nas monta nhas o glaciar pode até estar numa zona equatorial ou mesmo tropical desde que a altitude seja suficiente para manter as temperaturas abaixo do limite de congelamento Os glaciares de montanhas são tipicamente compridos e estreitos pois ocupam anteriores vales de rios LivroGeografiaGeomorfologiaindd 91 14052019 130517 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 92 A movimentação dos glaciares tem grande capacidade de deposição sedimentar além de provocar um desgaste abrasivo no contato com as ro chas formando vales abertos em forma de U denominados vales glaciais As áreas de ocorrência de glaciares podem formar feições geomorfoló gicas bastante específicas como os drumlins as morainas o horn o esker till e os fiordes DERRUAU 2001 Os sistemas de erosão periglaciar representam aproximadamente 16 das terras emersas com os seus domínios nas altas latitudes e altas altitudes Mesmo sem poder contar com gelo durante o ano inteiro esse elemento é o principal agente atuante Os principais agentes erosivos vão ser provocados pela ação do congelamento e do degelo nos solos e rochas Em segundo plano fica a ação da água e do vento O domínio periglaciar é marcado pela existência do permafrost que tratase de uma camada de solo permanentemente congelado com uma pe quena parte que pode sofrer degelo no verão O sistema de erosão temperado pode ser influenciado por climas tem perados oceânicos e mediterrâneos No caso do oceânico a cobertura ve getal é densa devido às elevadas chuvas anuais com significativa proteção para os solos A água é o principal agente modelador e são comuns proces sos de movimentos gravitacionais de massa Os aspectos topográficos são marcados por cales encaixados No caso do clima mediterrâneo a vegetação é menos densa com ra vinamentos mais frequentes e demais processos de erosão de solos mais significativos Existe um tipo de relevo denominado de bad land que é muito comum em regiões mediterrâneas caracterizado por cristas estreitas e pro fundas em muita cobertura vegetal Os sistemas de erosão em regiões áridas ou semiáridas são marcados por baixíssimas precipitações anuais com fortes amplitudes térmicas Podem ocorrer com clima frio ou quente Devido à condição climática a vegetação é ausente ou de pequeno porte As amplitudes térmicas são responsáveis pela termoclastia Os princi pais agentes modeladores são o vento a desagregação mecânica e a torren cialidade de chuvas esporádicas No caso do Nordeste brasileiro constatase um setor central que re presenta quase a metade da região com condições climáticas semiáridas Tratase de um semiárido azonal para as baixas latitudes em que se encon tra Essa área é a região semiárida mais populosa da Terra e apresenta sé rios problemas socioeconômicos associados a essa condição climática Em termos geomorfológicos constatase uma nítida relação morfogenética do LivroGeografiaGeomorfologiaindd 92 14052019 130517 Geomorfologia 93 clima semiárido com as paisagens sertanejas nordestinas onde se encon tram vastas superfícies de aplainamento depressões sertanejas relevos residuais isolados inselbergs e relevos residuais de maiores dimensões maciços residuais Em termos de alteração superficial no Nordeste semiárido constatam se pequenos mantos de intemperismo com solos rasos chãos pedregosos e muitas ocorrências de afloramentos rochosos A vegetação representada pelas caatingas apresenta uma grande variedade florística com predomínio de extratos arbustivos com caráter caducifólio Os trabalhos geomorfológicos desenvolvidos no Brasil a partir da dé cada de 1950 tiveram uma forte influência das produções de Lester King e sua teoria da Pediplanação na tentativa de explicar a evolução dos relevos do Nordeste brasileiro Nessa perspectiva podese considerar as depressões sertanejas como pediplanos sertanejos Os sistemas de erosão tropicais são marcados por uma estação seca e uma chuvosa As paisagens estão associadas a coberturas de savanas e flo restas tropicais Os processos de intemperismo químico são predominantes nessas regiões As boas condições de umidade condicionam significativos mantos de alteração nas rochas com solos profundos e bastante oxidados As topogra fias de áreas cristalinas tendem a ser mamelonizadas com colinas convexas e com possibilidade de ocorrência de pãesdeaçúcar Os rios se destacam como agentes de muita importância tendo em vista o seu significativo volume hídrico e seu caráter perene Síntese do Capítulo O capítulo parte da premissa de que o quadro geomorfológico não pode ser percebido de forma dissociada do seu meio atmosférico isto é que a pai sagem depende do clima sucessão habitual de tempos que os influencia sendo o tempo um conceito momentâneo representado pela radiação solar temperatura pressão circulação atmosférica umidade do ar nebulosidade e precipitação do ar A ciência geomorfológica se propõe a explicar os relevos que por sua vez são intrinsecamente dependentes de múltiplos fatores naturais O capí tulo se centra na análise da influência das variações climáticas e dos fatores exógenos que afetam os aspectos estruturais do formato do relevo Tais abor dagens se complementam e fornecem uma interpretação completa acerca da explicação das formas de relevo de um determinado local LivroGeografiaGeomorfologiaindd 93 14052019 130517 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 94 Como fatores exógenos responsáveis pela esculturação dos relevos desta camse o processo de intemperismo ação anterior à erosão em que há a decom posição das rochas para a intervenção dos processos erosivos e a erosão toda ação capaz de desgastar a superfície da Terra através de transporte de material Para entender a evolução dos atuais relevos terrestres é importante compreender as mudanças climáticas ao longo do Quaternário e a interação do homem com fenômenos de alternâncias de períodos glaciais e interglaciais que vêm acompanhados das flutuações do nível do mar Os períodos interglaciais geram um aumento da temperatura média glo bal com deslocamento de parte das geleiras polares apresentando climas mais úmidos e com intenso intemperismo químico o que por sua vez provo ca a deposição de material das partes mais altas do relevo Os períodos glaciais geram um aumento de gelo nas calotas polares e diminuição das temperaturas médias da Terra tornando o clima mais árido provocando erosões e consequente aplainamento do relevo Entretanto vale ressaltar que apesar de o Quaternário representar menos de 1 do tempo Geológico ele se torna de fundamental relevância quando se discute a res peito do clima como um fator importante para a compreensão das transforma ções ambientais atuais Atividades de avaliação 1 A partir do que foi trabalhado no Capítulo 3 escreva o que você entende por períodos glaciais e interglaciais e que repercussão eles podem ter nos relevos atuais 2 Defina intemperismo e erosão 3 Defina regolito e saprolito 4 Explique o que você entende por sistema de erosão 5 O que são processos lineares e areolares 6 Explique de forma geral como ocorrem os processos exógenos nos siste mas de erosão a Glaciais e periglaciais b De regiões temperadas c De regiões áridas e semiáridas d De regiões intertropicais 7 Face ao que foi estudado no presente capítulo explique com suas pala vras como os fatores climáticos podem influenciar na geomorfologia do estado do Ceará e adjacências LivroGeografiaGeomorfologiaindd 94 14052019 130517 Geomorfologia 95 Leituras filmes e sites ABSABER A N Formas de Relevo Texto Básico São Paulo FUNBEC Edart 80p 1975 BIGARELLA J J BECKER R D PASSOS E Estrutura e Origem das Paisagens Tropicais e Subtropicais Ed UFSC V3 Florianópolis 2003 MOURA J R da S Geomorfologia do Quaternário In CUNHA S B GUERRA A J T Geomorfologia uma atualização de bases e conceitos 9 p 335 364 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2009 474p SANTANNA NETO J L NERY J T Variabilidade e mudanças climáticas no Brasil e seus impactos regionais In SOUZA Celia Regina de Gouveia SU GUIO Kenitiro OLIVEIRA Antonio Manoel dos Santos OLIVEIRA Paulo Edu ardo Eds Quaternário do Brasil Ribeirão Preto Holos Editora 2005 382p httpwwwfunapeorgbrgeomorfologiacap4indexphp httpwwwgeomarcoorgdownloadApostila2020Sistemas20de20 ErosC3A3opdf Referências ABSABER A N Formas de Relevo Texto Básico São Paulo FUNBEC Edart 80p 1975 ABSÁBER A N Os Domínios da Natureza no Brasil Potencialidades Pai sagísticas São Paulo Ateliê Editorial 2003 159p BIGARELLA J J BECKER R D PASSOS E Estrutura e Origem das Paisagens Tropicais e Subtropicais Ed UFSC V3 Florianópolis 2003 CHRISTOFOLETTI A A aplicação da abordagem em sistemas na geografia físi ca Revista Brasileira de Geografia Rio de Janeiro FIBGE v52 n 2 p 21 33 abrjun 1990 COSTA JÚNIOR M P Interações morfopedogenéticas nos sedimentos do Grupo Barreiras e nos leques aluviais Pleistocênicos no litoral norte do Estado da Bahia Município de Conde Salvador 2008 24f Tese Doutorado em Ge ologia Programa de PósGraduação da Universidade Federal da Bahia 2008 DERRUAU M Les Formes du Relief Terrestre Notions de Géomorpholo gie Armand Colin 8ª edition Paris 2001 MELLO Namir Giovanni da Silva FERREIRA Antonio Geraldo Principais sis temas atmosféricos atuantes sobre a região Nordeste do Brasil e a influência LivroGeografiaGeomorfologiaindd 95 14052019 130517 dos oceanos Pacíficos e Atlântico no clima da região Revista Brasileira de Climatologia V 01 n 01 p15 28 2005 MOURA J R da S Geomorfologia do Quaternário In CUNHA S B GUER RA A J T Geomorfologia uma atualização de bases e conceitos 9 p 335 364 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2009 474p NIMER E Climatologia do Brasil Rio de Janeiro 1979 422p NUNES F C VILAS BOAS G da S SILVA E F Mudanças climáticas e seus reflexos na paisagem do Quaternário primeiras reflexões Rio de Janeiro Embrapa Solos 2012 24p SANTANNA NETO J L NERY J T Variabilidade e mudanças climáticas no Brasil e seus impactos regionais In SOUZA Celia Regina de Gouveia SU GUIO Kenitiro OLIVEIRA Antonio Manoel dos Santos OLIVEIRA Paulo Edu ardo Eds Quaternário do Brasil Ribeirão Preto Holos Editora 2005 382p TRICART J CAILLEUX A Introduction a la géomorphologie climatique Paris SEDES 1965 WANG X AULER A S EDWARDS R L CHENG H CRISTALLI P S SMART P RICHARDS D A SHEN C Wet Periods in Northeastern Bra zil over the past 210 kyr linked to distant climate anomalies Nature v 432 p 740 743 2004 ZANELLA M E As características climáticas e os recursos hídricos do Ce ará p 169 188 In BORZACCHIELLO DA SILVA J CAVALCANTE T C DANTAS E W COrgs Ceará um novo olhar geográfico 2 ed Fortale za Edições Demócrito Rocha 2007 480 p LivroGeografiaGeomorfologiaindd 96 14052019 130517 Geomorfologia fluvial Capítulo 4 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 97 14052019 130517 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 98 14052019 130517 Geomorfologia 99 Objetivos Entender a importância dos processos fluviais na elaboração dos relevos terrestres Compreender quais são as principais formas de relevo associadas com o trabalho dos rios Perceber a importância das bacias hidrográficas como unidade de estudos ambientais e suas características principais Introdução A água corrente constitui o principal agente modelador do relevo terrestre Dessa forma a Geomorfologia Fluvial se dedica a estabelecer relações entre os processos de erosão e deposição resultantes do escoamento da água em canais fluviais e as formas de relevo dele derivadas A esse escoamento dá se o nome de vazão cujo volume depende de vários fatores como clima permeabilidade do embasamento topografia etc Esse conjunto de fatores define o regime hidrológico de uma bacia hidrográfica onde os canais princi pais e seus tributários estão inseridos Dessa forma os estudos de geomorfologia fluvial englobam a análise dos cursos de água que se detêm nos processos fluviais e nas formas re sultantes do escoamento das águas e das bacias hidrográficas que entre as suas principais características condicionam o regime hidrológico Essas características ligamse aos aspectos geológicos às formas de relevo aos processos geomorfológicos aos condicionantes hidrológicos e climáticos à biota e à ocupação do solo CUNHA 1998 Assim representa um setor de destaque na ciência geomorfológica e a partir da década de 70 os seus estudos foram intensificados com ênfase nos processos observados no ca nal fluvial envolvendo outras áreas do conhecimento como a Hidrologia a Pedologia e a Ecologia Na perspectiva hidrológica a bacia hidrográfica ou de drenagem é a área da superfície terrestre drenada por um rio principal e seus tributários Representa a área de captação natural da água da precipitação que faz con vergir o escoamento para um único ponto de saída o exutório Figura 41 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 99 14052019 130517 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 100 As águas fluviais deslocamse através dos talvegues que se tratam da linha que representa a máxima profundidade ao longo do leito e que o es culpem de diferentes formas Geomorfologicamente o termo rio aplicase a qualquer fluxo naturalmente canalizado mesmo que intermitente ou efêmero A bacia é delimitada pelos divisores de água que marcam o limite to pográfico da zona de abastecimento originada pela precipitação Percebese ainda na bacia hidrográfica a existência de diferentes elementos como nas cente ou cabeceira rio principal afluentes subafluentes foz ou desemboca dura cursos superior médio e inferior entre outros Figura 42 Figura 41 Bacia Hidrográfica Fonte httpwwwsemarhsegovbr Figura 42 Divisores de drenagem Fonte Press et al 2006 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 100 14052019 130518 Geomorfologia 101 Um sistema fluvial pode ser considerado como um sistema modelador da superfície terrestre o qual através de um sistema complexo de rede de dre nagem tem a capacidade de dissecar o relevo e assim de gerar novas su perfícies de aplainamento erodindo e transportando sedimentos É um termo designado para um sistema de canais fluviais de variados tamanhos os quais se conectam formando uma bacia de drenagem A bacia hidrográfica ou de drenagem é limitada por terrenos mais elevadas denominados de divisores de água Figura 42 que contribuem com o aporte de água e de sedimentos para o sistema fluvial principal e seus afluentes Tratase de um sistema aberto o qual funciona controlado por diversos fatores com relações interdependentes muito complexas e com diferentes escalas temporais e espaciais de atuação Esses fatores dependem da variação da descarga volume de água tipos de sedimentos transportados descarga sólida morfologia do canal variáveis re lativas à sua geometria morfologia do terreno gradiente topográfico e ao tipo de uso e cobertura da terra A conjunção destes fatores resulta na dinâmica dos processos fluviais erosãodeposição e transporte que de forma interligada às características internas da bacia hidrográfica sistema fluvial são modelados por fatores externos à bacia que atuam em escala regionalcontinental afetando a dinâmica de toda a região onde a bacia hidrográfica se desenvolve Estudos voltados para análise da dinâmica hidrogeomorfológica são impor tantes para o entendimento dos processos dinâmicos que resultam na modela gem do relevo terrestre Nesse aspecto um canal e sua rede de tributários podem ser compreendidos como um sistema aberto com entrada e saída de energia e de matéria a qual convertese através da rede de drenagem em um sistema mo delador da superfície terrestre removendo material sedimentar nutrientes água etc através das vertentes fluxos de água com uma saída o exutório Os fluxos podem ser pela superfície canalizados na forma de canais dispersos laminares em pequenos sulcos temporários ou gerando futuras ravinas e estágios iniciais de um novo canal incipiente assim como pela sub superfície infiltrados nas camadas rasas percolados nas rochas camadas mais profundas aquíferos Dependendo das características fisiográficas da bacia esses processos são mais intensos em zonas de alta energia morfolo gias denudacionais dominadas pelo controle estrutural tectônico ou com menor potencial energético em zonas de baixa energia morfologias agrada cionais controladas por sistemas fluviais aporte sedimentar acarretando em dinâmicas diferenciadas desses ambientes CARVALHO 2014 O transporte de sedimentos e de materiais solúveis que corresponde ao transporte fluvial de massa numa bacia de drenagem é o fator dominante no balanço hidrossedimentológico Os materiais transportados pelo sistema de drenagem podem ocorrer de diversas maneiras a saber 1 carga sedi LivroGeografiaGeomorfologiaindd 101 14052019 130518 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 102 mentar de fundo areias em forma de dunas deslocadas ao longo dos ca nais 2 por suspensão carga sedimentar suspensa no fluxo da água e3 por dissolução nutrientes dissolvidos na água Alterações naturais como clima e reajuste morfológico constante do canal além de ações antrópicas podem alterar o perfil dinâmico do estado de equilíbrio do sistema resultando na intensificação de processos erosivos e deposicionais assoreamento Isso promove modificações no fluxo ener gético de saída assim como novos aportes de matéria sedimentos Estas modificações exigem que o sistema promova adaptações e modificações em busca da retomada do perfil de equilíbrio dinâmico São processos como mu dança de canal avulsão gerando paleocanais lagos e terraços Pode ocor rer a colmatagem sedimentação de rios e lagos assoreamento processos erosivos entre outros a depender da escala espacial e temporal Os processos dinâmicos são dependentes das características físicas das bacias como morfologia fisiografia características da forma do relevo formato da bacia índice de forma alongada irregular circular dimensão área padrões de drenagem cobertura do solo meio natural e o tipo de uso variável antrópica CARVALHO 2014 Com relação à erosão fluvial ela é elaborada através dos processos de corrosão corrasão e cavitação A corrosão se refere a toda e qualquer reação química entre o material geológico e a água em curso A corrasão é o desgas te pelo atrito mecânico através do impacto das partículas transportadas pela água A evorsão é um tipo especial de corrasão originado pelo movimento turbilhonar sobre as rochas no fundo do leito que é responsável pela forma ção das marmitas Figura 43 A cavitação ocorre somente sob condições de velocidade elevada das águas onde as variações de pressão nas paredes do canal podem gerar fragmentações Figura 43 Marmitas formadas pela evorsão ao longo de um leito fluvial rochoso Maciço de Baturité na margem do rio Aracoiaba CE Foto Frederico de Holanda Bastos 2006 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 102 14052019 130518 Geomorfologia 103 A deposição de carga detrítica pelos rios ocorre quando ele perde a sua capacidade energética que pode ser causada pela redução do declive Dentre as várias formas de sedimentação fluvial destacamse os deltas e as planícies aluviais As planícies fluviais ou planícies de inundação também conhecidas como várzeas no Brasil constituem a forma mais comum de sedimentação fluvial for mando relevos planos nas áreas marginais dos rios onde se desenvolvem as matas ciliares recobrindo os neossolos flúvicos Tratamse de áreas muito impor tantes no semiárido brasileiro tendo em vista a maior disponibilidade hídrica Com relação ao regime os rios podem ser perenes quando drenam durante todo o ano intermitentes quando drenam apenas durante o período chuvoso e efêmeros que são aqueles que só drenam no momento da chuva sendo comuns em áreas de ambiente árido e semiárido como no caso dos flash floods e uedes O leito fluvial corresponde ao espaço ocupado pelo escoamento das águas Os leitos podem ser classificados como leito menor de vazante maior e maior excepcional Os terraços fluviais correspondem a antigas planícies de inundação que foram abandonadas Morfologicamente surgem como patamares aplainados de larguras variadas limitados por escarpas De acordo com Christofoletti 1980 o leito fluvial pode ser dividido em Figura 44 a Leito Vazante que está incluído no leito menor e é utilizado para o escoa mento das águas acompanhando o talvegue b Leito Menor bem delimitado encaixase entre as margens ou diques mar ginais c Leito Maior PeriódicoSazonal regularmente ocupado pelas cheias pelo menos uma vez ao ano d Leito Maior Excepcional tratase do setor onde ocorrem as cheias mais elevadas as enchentes com periodicidade indefinida Figura 44 Compartimentação de um leito fluvial Fonte httpwwwrcunespbrigceaplicadaeadinteracaointer11html LivroGeografiaGeomorfologiaindd 103 14052019 130518 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 104 A fisionomia que um rio exibe ao longo do seu perfil longitudinal pode ser retilínea anastomosada meândrica deltaica ramificada reticulada e irregu lar constituindo o chamado padrão dos canais CHRISTOFOLETTI 1980 Essa geometria dos canais é resultado da interação da descarga líquida da declividade do material sedimentar da largura e da profundidade do canal De acordo com Schumm 1977 uma bacia hidrográfica pode ser divi dida em setores segundo os processos que são desencadeados ao longo do canal Estes setores são caracterizados pela predominância e pela intensidade na atuação dos processos aluviais erosão transporte e deposição de materiais Esta visão simplificada nos ajuda a compreender a dinâmica de processos mais significativos dominantes em três zonas ou setores como zona 1 produção de sedimentos zona 2 transporte e zona 3 deposição As características e tendências das variáveis de ajuste do sistema em cada um reflete a ação conjugada e interligada dos processos operantes em cada uma dessas zonas Figura 45 Perfis longitudinal e transversal de um rio Fonte Press et al 2006 No que diz respeito à forma dos canais a drenagem de uma área pode ser fortemente influenciada por dois fatores climático e geológico Dessa conjunção originamse os diferentes padrões de drenagem na forma e na densidade Em climas áridos mas com uma estação curta de fortes chuvas são comuns os rios anastomosados O padrão da drenagem visto em fotos aéreas e mapas permite inferir também o tipo de rocha e de estruturas ge ológicas em muitos casos Assim dentro do princípio de causa e efeito as regiões com rochas impermeáveis apresentam drenagem densa com muitos LivroGeografiaGeomorfologiaindd 104 14052019 130519 Geomorfologia 105 riachos e córregos águas pluviais escoam por inúmeros pequenos vales e pelo contrário áreas com rochas e solos permeáveis apresentam drenagem dispersa e de baixa densidade Vales retilíneos isolados podem retratar estruturas de fraturas e de fa lhas nas quais as rochas são fraturadas e muitas vezes trituradas facilitando a penetração e a percolação da água da chuva Isso faz com que a alteração ocorra mais rapidamente em setores fraturados o que resulta na formação de formas erosionais retilíneas Existem vários padrões de drenagem sendo que a maior parte desses padrões é condicionada a fatores como permeabilidade topografia e regime hidrológico Dessa conjunção resultam os seguintes padrões de drenagem da área dendrítico paralelo retangular e radial Figura 46 Figura 46 Padrões de drenagem Fonte Press et al 2006 Atualmente com os diversos problemas ambientais advindos da ocupação desordenada dos canais a análise integrada da bacia hidrográfica tem tido gran de atenção por parte dos especialistas que através da aplicação do modelo de análise sistêmica têm contribuído para uma compressão mais holística acerca da dinâmica fluvial Estas pesquisas elencam a bacia hidrográfica como unidade de estudo a partir da possibilidade de considerar e de analisar o sistema fluvial como qualquer outro sistema físico ou histórico aberto ou seja que é suscetível à entrada e à saída de energia de forma que estas tendem a estar em equilíbrio Um sistema fluvial está caracterizado por apresentar uma estrutura in terna definida pelas suas variáveis de estado tais como a geologia litologia topografia condicionamento estrutural o clima pluviosidade temperaturas LivroGeografiaGeomorfologiaindd 105 14052019 130519 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 106 médias e a vegetação Estas variáveis de estado se relacionam e se modifi cam por processos climáticos e geológicos ou seja variáveis de transforma ção Essas variáveis são numerosas tais como erosão transporte sedimen tação intemperismo pedogênese oscilação de nível freático etc As variáveis de transformação ou processos mobilizamse pelas contribuições externas de energia e de matéria temperatura ventos chuvas etc De acordo com o escoamento fluvial as bacias de drenagem podem ser classificadas em Exorreicas quando a drenagem se organiza e deságua em um oceano Endorreicas quando a drenagem se dirige para uma depressão ou um mar continental Arreicas quando os rios se dissipam nas areias do deserto Criptorreicas quando a drenagem é subterrânea como nos relevos cársticos Síntese do Capítulo O capítulo aborda o estudo da geomorfologia fluvial e a análise dos efeitos isolados e conjuntos dos cursos de água e das bacias hidrográficas que se constituem como importantes agentes modeladores do relevo terrestre estabelecendo relações entre os processos de erosão e de deposição re sultantes do escoamento da água em canais fluviais vazão e as formas de relevo deles derivadas A bacia hidrográfica consiste na área da superfície terrestre drenada por um rio principal e por seus afluentes limitada por terrenos mais elevadas de nominados de divisores de água Ela contribui com o aporte de água e de se dimentos para o sistema fluvial principal e seus tributários Segundo Schumm 1977 uma bacia hidrográfica possui três zonas ou setores zona 1 de pro dução de sedimentos zona 2 de transporte e zona 3 de deposição Os rios por sua vez constituem os agentes mais importantes no trans porte dos materiais das áreas elevadas para as mais baixas e dos continentes para o mar e em termos geomorfológicos representam fluxos naturalmente canalizados Os rios podem ser perenes quando drenam durante todo o ano intermitentes quando drenam apenas durante o período chuvoso e efêmeros que só drenam no momento da chuva Na atualidade muitos problemas ambientais decorrem da ocupação de sordenada dos canais Em relação às formas dos canais a drenagem de uma área pode ser influenciada por dois fatores climático e geológico Entretanto os LivroGeografiaGeomorfologiaindd 106 14052019 130519 Geomorfologia 107 vários padrões podem ser condicionados a fatores como permeabilidade to pografia e regime hidrológico As drenagens que são condicionadas à geologia da área podem ser classificadas como dendrítico paralelo retangular e radial Atividades de avaliação 1 Com base no que foi discutido no capítulo 4 defina a geomorfologia fluvial b bacia hidrográfica citando seus principais componentes 2 Quais são os tipos de trabalho geomorfológico desempenhados pelos rios 3 Explique os tipos de erosão fluvial 4 Com relação às formas fluviais defina a Planície fluvial c Leque aluvial b Delta d Terraços fluviais 5 Explique os tipos de regimes que os rios podem ter de acordo com a con dição climática regional 6 Explique quais os tipos de padrões que os canais fluviais podem apresen tar citando exemplos e destacando que componentes naturais podem in fluenciar na sua constituição 7 Com relação à análise de bacias hidrográficas explique o que você enten de por padrão de drenagem citando exemplos 8 De acordo com o que foi analisado no presente capítulo explique como o clima semiárido influencia nos aspectos fluviais regionais Leituras filmes e sites ABSABER A N Formas de Relevo Texto Básico São Paulo CARVALHO R G As Bacias Hidrográficas Enquanto Unidades de Planejamento e Zone amento Ambiental no Brasil Caderno Prudentino de Geografia v Especial p 26 43 2014 CHRISTOFOLETTI A Geomorfologia 2 ed São Paulo Editora Blucher 1980 188p CUNHA S B da Geomorfologia fluvial In Guerra A J T Cunha S B orgs Geomorfologia uma atualização de bases e conceitos 3ª Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1998 p 211 252 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 107 14052019 130519 httpwwwebahcombrcontentABAAABOPAAIgeomorfologiafluvial httpportalcogerhcombr httpwww2anagovbrPaginasdefaultaspx Referências CARVALHO R G As Bacias Hidrográficas Enquanto Unidades de Planeja mento e Zoneamento Ambiental no Brasil Caderno Prudentino de Geogra fia v Especial p 26 43 2014 CHRISTOFOLETTI A Geomorfologia 2 ed São Paulo Editora Blucher 1980 188p CUNHA S B da Geomorfologia fluvial In Guerra A J T Cunha S B orgs Geomorfologia uma atualização de bases e conceitos 3ª Ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1998 p 211 252 PRESS F GROTZINGER J SIEVER R JORDAN T H Para Entender a Terra Tradução MENEGAT R coord 4a edição Porto Alegre Bookman 2006 SCHUMM S A The fluvial system Caldwell The Blackburn Press 1977 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 108 14052019 130519 Geomorfologia cárstica Capítulo 5 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 109 14052019 130519 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 110 14052019 130519 Geomorfologia 111 Objetivos Entender o que são relevos cársticos e quais são os prérequisitos básicos para que eles ocorram Compreender as terminologias associadas com carstes internos e externos Entender como se dá a ocorrência de relevos cársticos no Nordeste brasileiro 1 Considerações gerais Denominamse cársticas todas as feições erosionais elaboradas pelos proces sos de dissolução corrosão e abatimento que ocorrem em rochas solúveis DE WAELEET et al 2009 KLIMCHOUCK 2009 As formas cársticas destacam se por seu modelado ruiniforme KOHLER 1995 Estas estruturas incluem paredões enrugados e corroídos pelo intemperismo químico cavernas sumi douros dolinas e lajedos esculpidos principalmente em rochas carbonáticas CARVALHO JÚNIOR et al 2008 Nessas rochas os processos de dissolução química levam à erosão que por sua vez vai modelando o relevo de acordo com a intensidade do processo erosivo O relevo cárstico ocorre predominan temente em terrenos constituídos de rocha calcária mas também pode ocorrer em outros tipos de rochas carbonáticas como no mármore nas rochas dolomí ticas e em alguns casos até nas rochas cristalinas como o granito O processo de carstificação ou dissolução química se inicia pela com binação da água da chuva ou de rios superficiais com o dióxido de carbono CO2 proveniente da atmosfera ou do solo proveniente das raízes da vegeta ção e da matéria orgânica em decomposição O resultado é uma solução de ácido carbônico H2CO3 ou água ácida Figura 51 Figura 51 Formação de ácido carbônico a partir da interação entre água de dióxido de carbono LivroGeografiaGeomorfologiaindd 111 14052019 130519 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 112 Este tipo de paisagem ocorre principalmente em regiões com pluviosi dade elevada que garante um fluxo de água suficiente para dissolver grandes porções de rocha Também é importante a presença de vegetação para ga rantir que a água penetre no solo e não seja perdida para a atmosfera Regiões cársticas possuem poucas águas superficiais uma vez que a água da chuva é rapidamente absorvida pelo solo e se acumula na zona freática Ao passar pelas fissuras a água corrói o carbonato de cálcio CaCO3 ou outros sais constituin tes da rocha como sulfato de cálcio ou carbonato de magnésio No caso da calcita composta basicamente de carbonato de cálcio o resultante dessa rea ção é uma solução de bicarbonato de cálcio CaCO3 H2CO3 CaHCO32 Os sais removidos da rocha são carregados pela água em direção às camadas mais baixas Ao atingir a zona freática a água pode correr em rios subterrâneos abrindo cavidades na rocha principalmente por erosão quími ca mas também pode ocorrer erosão mecânica em zonas vadosas acima do lençol freático Os sais podem se sedimentar em camadas geológicas inferio res ou serem arrastados para fora através de nascentes ou de ressurgências Quando a água é absorvida pelo solo seu pH é ácido À medida que a água se infiltra na rocha e o carbonato de cálcio se dissolve o pH se torna cada vez mais básico Nos locais em que esse processo ocorre é comum a presença de água dura com alta quantidade de magnésio e cálcio O pH alcalino faz com que os sedimentos se precipitem rapidamente Isso favorece a formação de espeleotemas no interior das cavernas Figura 52 e também mantém as águas de regiões cársticas sempre límpidas Figura 52 Caverna em Bonito Mato Grosso do Sul Fonte caiobrazcombr LivroGeografiaGeomorfologiaindd 112 14052019 130520 Geomorfologia 113 Para que o fenômeno de dissolução das rochas também chamado de carstificação possa acontecer algumas condições são necessárias A mais im portante delas é a presença de rochas solúveis Entendese por rocha solúvel aquela que após sofrer intemperismo químico produz pouco resíduo insolúvel KARMANN 2000 As principais rochas carstificáveis são as rochas carbonáti cas constituídas principalmente de calcita ou dolomita Essas rochas ao sofrerem corrosão química dissociamse em íons Ca ou Mg e CO3 que podem se combinar em bicarbonatos ou permanecer dissolvidos na água em forma iônica Algumas rochas compostas de halita ou gipsita podem formar carstes apenas em terrenos semiáridos pois sua solubilidade em águas naturais é tão elevada que em ambientes muito úmidos elas são totalmente dissolvidas antes de conseguirem gerar relevos cársticos Rochas insolúveis como granitos não geram relevos cársticos em con dições normais pois ao sofrerem intemperismo químico geram resíduos in solúveis ou impermeáveis como a argila Embora o quartzo tenha baixa solu bilidade alguns quartzitos e arenitos conseguem desenvolver relevo cárstico se forem expostos à água por tempo suficiente Além da composição é fundamental que a rocha seja altamente per meável para que a solução rochosa possa alcançar estratos inferiores De finese permeabilidade como a capacidade da rocha de permitir que a água passe livremente A permeabilidade pode ser resultado de grande porosidade e também da presença de fendas fissuras ou rachaduras na rocha Embora a porosidade seja importante nem sempre isso é condição suficiente para uma boa permeabilidade Rochas com fraturas por outro lado podem ter uma grande permeabilidade ainda que a rocha em si não seja porosa Figura 53 A permeabilidade por fratura também é chamada de porosidade secundária Figura 53 Evolução de vales cársticos a partir da dissolução ao longo de fraturas Fonte Elaborado pelos autores LivroGeografiaGeomorfologiaindd 113 14052019 130520 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 114 Para a carstificação a permeabilidade por fraturas é mais importante que a porosidade primária uma vez que a ação da água ácida é muito mais intensa em locais onde ela possa se concentrar e agir sobre porções maiores de rocha As superfícies de estratificação fendas e fraturas permitem a criação de rotas preferenciais que direcionam a expansão de fendas Figura 54 que aos pou cos tornamse galerias ou grandes salões Em rochas que possuam apenas po rosidade primária a dissolução ocorre porém de maneira difusa sem que sejam criadas rotas de fluxo e os canais jamais chegam a se abrir significativamente Figura 54 Relevo cárstico desenvolvido a partir da dissolução em fraturas Fotos Rubson Pinheiro Maia Em relevos com inclinações moderadas o fluxo da água através das fendas é acelerado e isso torna mais eficiente a remoção de resíduos insolú veis bem como aumenta a eficiência da dissolução por permitir que a água ácida tenha contato com porções maiores de rocha durante seu percurso Relevos muito planos são menos favoráveis à formação de carstes porque a água não atinge um gradiente de velocidade muito alto A percolação lenta através do solo é pouco eficiente porque a água logo fica saturada e perde sua capacidade de corrosão antes de atingir as fendas Contudo se as fendas forem interconectadas de modo a facilitar a livre circulação hídrica isso pode acelerar o processo de carstificação LivroGeografiaGeomorfologiaindd 114 14052019 130520 Geomorfologia 115 Dentre os exemplos de formas exocársticas destacamse os lapiez as dolinas as uvalas o poljé e os cones cársticos Os lapiez ou lapiás correspondem a sulcos de erosão superficial nas rochas calcárias Podem ocorrer recobertos por solos ou a céu aberto A pro fundidade dos sulcos pode ser muito variável porém as cristas entre eles se apresentam muito agudas Figura 55 Lapiez formados em dolomitas no município de Barreiras no Ceará Foto Frederico de Holanda Bastos 2013 As dolinas são depressões arredondadas com contornos sinuosos O bordo das dolinas geralmente apresenta declives acentuados de rocha aflo rando O desenvolvimento das dolinas pode promover a coalescência delas formando as uvalas Os poljés correspondem a vastas superfícies planas cársticas rebaixa das que passam a ser recobertas por aluviões e rios Dessa forma são áreas muito utilizadas para agricultura Em alguns pontos esses rios podem desa parecer em áreas conhecidas como ponor ou sumidouro Os cones cársticos correspondem às protuberâncias cônicas que ca racterizam os cárstes nos trópicos úmidos destacandose em planícies Suas altitudes podem variar de alguns a centenas de metros Sua ocorrência mais ex pressiva é no sul da China e no Vietnã Dependendo do local de ocorrência tais formas podem receber outros nomes como hum mogote piton ou pepino hill LivroGeografiaGeomorfologiaindd 115 14052019 130521 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 116 Figura 56 Cones Cársticos localizados na China Fonte httpptfotopediacomitemsflickr29858370 No caso das formas endocársticas o principal exemplo é a caverna ou gruta Uma caverna pode ser definida como um leito natural subterrâneo e vazio podendo estenderse vertical e horizontalmente e apresentar vários níveis Elas são estudadas pela Espeleologia 2 Carste no Nordeste brasileiro Na região Nordeste do Brasil o desenvolvimento de morfologias cársticas é influenciado pelo fator climático em média com até oito meses de estiagem anual e baixos índices de umidade do ar que limitam os processos de morfo gênese química Essa característica não favorece no clima atual os proces sos de dissolução de carbonatos relacionados ao intemperismo químico Contudo esse fator de limitação não é suficiente para tornar a região desprovida de feições cársticas uma vez que em algumas áreas como a Bacia Potiguar situada nos estados do Rio Grande do Norte e do Ceará uma série de relevos cársticos é possível ser identificada Nesse caso a morfologia cárstica e os indicadores geológicos de climas passados como os depósitos de tufas calcáreas constituem importantes indicadores paleoclimáticos AU LERET et al 2005 BOGGIANI et al 2002 Esses indicadores podem fornecer dados importantes acerca da evolu ção das paisagens cársticas atualmente submetidas ao clima semiárido Se LivroGeografiaGeomorfologiaindd 116 14052019 130521 Geomorfologia 117 gundo a base de dados das cavidades naturais subterrâneas do Estado do Rio Grande do Norte gerenciada pelo núcleo do CECAV Centro de Estudos Pro teção e Manejo de Cavernas são registradas 563 cavidades sendo destas 469 cavernas 54 abrigos 36 abismos e 04 dolinas no Rio Grande do Norte Esse elevado potencial cavernícola faz do Rio Grande do Norte o séti mo no Brasil e o segundo no Nordeste com maior número de cavidades co nhecidas ficando atrás apenas da Bahia Dessas cavidades 915 ocorrem nos calcários da Formação Jandaíra na Bacia Potiguar CRUZ et al 2010 Tal contexto devese à extensa plataforma carbonática da Formação Jandaí ra que ocupa uma ampla superfície da bacia e constitui a maior exposição de rochas calcárias do Brasil Além das rochas carbonáticas da Bacia Potiguar a região Nordeste apresenta significativos relevos cársticos no estado da Bahia como na região da Chapa Diamantina e até mesmo em calcários précambrianos como no caso da gruta de Ubajara no Ceará Figura 57 Figura 57 Relevos cársticos de Ubajara no Ceará Calcários précambrianos do Grupo Ubajara Formação Frecheirinha Foto Frederico de Holanda Bastos 2010 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 117 14052019 130522 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 118 Síntese do Capítulo Carstes são feições formadas com forte participação dos processos quími cos que sofrem influência do clima do tectonismo da pureza das rochas e da vegetação O fenômeno da carstificação consiste na dissolução das rochas Para que a carstificação possa acontecer algumas condições são necessárias sendo a mais importante delas a presença de rochas solúveis Os tipos de carste variam em função do arranjo morfológico dos seus componentes Os que possuem formas exocársticas classificamse como dolinas depressões arredondadas com contornos sinuosos poljés vastas superfícies planas cársticas rebaixadas que passam a ser recobertas por alu viões e rios cones cársticos saliências cônicas que caracterizam os carstes nos trópicos úmidos destacandose em planícies lapiez ou lapiás sulcos de erosão superficial nas rochas calcárias e as uvulas formada pela coalescên cia das dolinas Atividades de avaliação 1 Defina o que você entende por relevo cárstico 2 Quais são as condições ideais para o pleno desenvolvimento de um mode lado cárstico 3 Dentre as diversas formas cársticas defina a Lapiés b Dolina c Uvala d Poljé e Caverna f Estactite g Estalagnite 4 Cite exemplos de relevos cársticos no Nordeste brasileiro 5 O estado do Ceará apresenta diversos setores com rochas calcárias po rém não são muito comuns as morfologias cársticas De acordo com o que foi estudado no presente capítulo explique a razão dessa afirmação LivroGeografiaGeomorfologiaindd 118 14052019 130522 Geomorfologia 119 Leituras filmes e sites AULER A S PILÓ L B SAADI A Ambientes cársticos In Souza C R G Suguio K Oliveira A M S Oliveira P E Org Quaternário do Brasil Ribeirão Preto Holos Editora v p 321 342 2005 CARVALHO JUNIOR O A BERBETBORN M MARTINS E D GUIMA RÃES R F GOMES R A T Ambientes Cársticos In Florenzano T G Org Geomorfologia Conceitos e Tecnologias Atuais 1ª ed São Paulo Oficina de Textos 2008 CHRISTOFOLETTI A Geomorfologia 2 ed São Paulo Editora Blucher 1980 188p Referências AULER A S PILÓ L B SAADI A Ambientes cársticos In Souza C R G Suguio K Oliveira A M S Oliveira P E Org Quaternário do Brasil Ribeirão Preto Holos Editora v p 321 342 2005 BOGGIANI P C COIMBRA A M GESICKI A L SIAL A N FERREIRA V P FLEXOR J M Tufas Calcárias na Serra da Bodoquema MS In Sco bbenhaus C Campos D A Queiroz E T BerbertBorn M L C Edits Sítios Geológicos e Peleobiológicos SIGEP V01 Congresso Brasileiro de Geologia 31 SBG Anais p 607 617 2002 CARVALHO JUNIOR O A BERBETBORN M MARTINS E D GUIMA RÃES R F GOMES R A T Ambientes Cársticos In Florenzano T G Org Geomorfologia Conceitos e Tecnologias Atuais 1ª ed São Paulo Oficina de Textos 2008 CECAV Relatório demonstrativo da situação atual das cavidades na turais subterrâneas Rio Grande do Norte Cecav Centro de Estudos Proteção e Manejo de Cavernas Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Brasília 2008 CHRISTOFOLETTI A Geomorfologia 2 ed São Paulo Editora Blucher 1980 188p CRUZ J B Levantamento Espeleológico Prospecção identificação e ca racterização de cavidades naturais subterrâneas no lajedo do Arapuá Felipe GuerraRN tendo como suporte as geotecnologias Monografia de Gradua ção Geografia UFRN 2008 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 119 14052019 130522 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 120 DE WAELE J D PLAN L AUDRA P Recent developments in surface and subsurface karst geomorphology An introduction Geomorphology 106 p 1 8 2009 KARMANN I Ciclo da Água Água subterrânea e sua ação geológica In TEI XEIRA Wilson et al Decifrando a Terra p 114 136 São Paulo Oficina de Textos 2000 KLIMCHOUCK A Morphogenesis of hypogenic caves Geomorphology Vol 106 Issues 12 p 100 117 2009 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 120 14052019 130522 Capítulo O relevo brasileiro propostas de classificação 6 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 121 14052019 130522 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 122 14052019 130522 Geomorfologia 123 Objetivos Compreender como as estruturas geológicas e a diversidade climática ob servada ao longo do território possibilitaram gerar uma vasta gama de formas de relevo que oferecem enorme desafio a uma adequada classificação Compreender o processo de classificação das formas de relevo no territó rio brasileiro Introdução As propostas de classificação do relevo brasileiro sempre apresentam difi culdades tendo em vista a complexidade inerente ao território de um país de dimensões continentais como o Brasil Segundo AbSáber 1970 o Brasil é um país de escala continental geologicamente formada por áreas de velhas plataformas ou setores de escudos expostos e por bacias sedimentares pale omesozoicas soerguidas a diferentes níveis altimétricos De acordo com Ross 1985 a grande variedade de estruturas geológi cas de diferentes litologias e idades juntamente com a diversidade climática atual e pretérita que se observa ao longo do território possibilitou gerar uma vasta gama de formas de relevo que oferecem enorme desafio a uma adequa da classificação Além disso o autor afirma que é quase impossível entender o relevo brasileiro sem que se tenha uma visão ampla do que ocorre em nível das estruturas que os sustentam bem como do que ocorreu ao longo do Ce nozoico quanto aos processos erosivos responsáveis pela sua esculturação Para se tentar compreender a compartimentação geomorfológica do Brasil é fundamental conhecer as estruturas que sustentam as formas De maneira generalista a América do Sul apresenta na sua borda ocidental a Cadeia Orogênica dos Andes MesozoicoCenozoico e nos setores centrais e orientais constatase a presença de antigas litologias que remontam ao PréCambriano ROSS 2003 estando em alguns setores recobertos por coberturas sedimentares Fanerozoicas ROSS 1985 Enquanto na cordilheira dos Andes os terrenos são muito elevados acima de 4000 m os setores do centro e do leste apresentam topografias mais modestas com predomínio de altitudes inferiores a 1000 m sendo mar cados por várias fases erosivas e deposicionais ROSS 2003 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 123 14052019 130522 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 124 Em macroescala geológica o território brasileiro é predominantemen te formado por estruturas geológicas antigas representadas pelas rochas do embasamento cristalino PréCambriano estruturas Mesozoicas e Paleozoi cas constituindo as grandes bacias sedimentares e as áreas de deposição recente Cenozoico Grande parte das litologias que sustentam o relevo brasileiro são ante riores à atual configuração do continente SulAmericano que passou a ter o seu formato depois da Orogênese Andina e da abertura do oceano Atlântico a partir do Mesozoico ROSS 2003 Estudos recentes acerca da história geológica do continente sulameri cano indicam que ele passou por quatro processos de aglutinação supercon tinental sendo três deles durante o PréCambriano e o último no Permiano formando o megacontinente Pangeia Após cada fase de aglutinamento crus tal ocorrem processos de quebramento continental e de dispersão rifte dos segmentos litosféricos descendentes A separação do megacontinente Pangea começou no Mesozoico e ainda está em andamento tendo em vista o vigente crescimento do oceano Atlântico Esses processos de aglutinação Fusão e de separação Fissão continental são os responsáveis pela forma e pela estrutura do atual continen te sulamericano PEULVAST CLAUDINO SALES 2007 Nessa perspectiva podese afirmar que as rochas mais antigas predomi nantemente metamorfizadas remontam ao primeiro megacontinente denomi nado de Atlântida BRITO NEVES 1999 Já a complexa distribuição de rochas intrusivas está associada com a orogênese brasiliana da penúltima aglutinação crustal do final do Proterozoico Neoproterozoico que formou o megacontinen te Panotia formado pela Laurásia e pela Gondwana BRITO NEVES 1999 Apesar de apresentar estruturas geológicas antigas é importante desta car que as formas de relevo são recentes pois estão associadas ao desgas te erosivo de climas atuais e subatuais Segundo Ross 1985 não se pode jamais confundir o que é idade e gênese das formas com idade e gênese das estruturas Se as estruturas e litologias são predominantemente antigas o mesmo não se pode dizer das formas do relevo que são muito mais recentes É fato que o relevo brasileiro teve suas formas esculpidas preferencialmente ao longo do Cenozoico De maneira geral podese afirmar que em macroescala o território brasileiro apresenta quatro grandes estruturas as plataformas ou crátons os cinturões orogênicos as grandes bacias sedimentares e as áreas de sedi mentação recente ROSS 2003 Figura 61 As plataformas ou crátons correspondem aos terrenos com estruturas mais antigas marcados por longas fases de erosão Do ponto de vista litoló LivroGeografiaGeomorfologiaindd 124 14052019 130522 Geomorfologia 125 gico predominam rochas metamórficas do PréCambriano médio e inferior e algumas ocorrências de rochas intrusivas do PréCambriano superior No território brasileiro de acordo com Ross 2003 existem três plataformas ou crátons plataforma das Guianas a Sul Amazônica e a do São Francisco A plataforma das Guianas se encontra na extremidade norte do país na fronteira com a Venezuela e com as Guianas composta por rochas ígneas e metamór ficas ao norte e por rochas metamórficas nas áreas mais rebaixadas ao sul Figura 61 As unidades estruturais do território brasileiro em macroescala Fonte ROSS 2003 A plataforma Sul Amazônica também é composta por rochas metamór ficas antigas ocorrendo frequentemente rochas intrusivas sendo mais baixa no norte e mais elevada no sul Na extremidade sul essa plataforma apresenta extensas coberturas sedimentares que correspondem à chapada dos Parecis A plataforma do São Francisco se estende do norte de Minas Gerais até o centro da Bahia Tratase de uma área cratônica de difícil delimitação pois se LivroGeografiaGeomorfologiaindd 125 14052019 130522 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 126 encontra parcialmente encoberta por sedimentações antigas e as extremida des confundem com os cinturões orogênicos que a margeiam ROSS 2003 Os cinturões orogênicos brasileiros correspondem a antigas cadeias orogênicas Neoproterozoicas que se encontram bastante arrasadas por pro longadas fases erosivas mas que ainda apresentam aspectos serranos em extensões razoáveis Em macroescala existem três o cinturão do Atlântico o de Brasília e o ParaguaiAraguaia O cinturão orogênico do Atlântico estendese desde o leste da região Nor deste até o sudeste do Rio Grande do Sul Tratase de uma faixa com grande variedade estrutural e litológica com rochas intrusivas e metamórficas Alguns aspectos estruturais como linhas de falhas condicionam relevos importantes como a serra da Mantiqueira e algumas estruturas como o quartzito podem estar associadas com picos aguçados como no caso da serra do Espinhaço O cinturão de Brasília estendese do sul do estado de Tocantins até o su deste de Minas Gerais sendo formado por rochas metamórficas Parte dessa es trutura se encontra arrasada por fases erosivas porém encontramse serras alon gadas e chapadas Serra da Canastra Chapada de Brasília e dos Veadeiros O cinturão orogênico do ParaguaiAraguaia estendese do norte de Goi ás e do Tocantins até o Mato Grosso reaparecendo na extremidade sul do Pantanal na serra da Bodoquena Predomina a ocorrência de rochas meta mórficas com baixo grau de metamorfismo Processos de deposição marinha e continental foram responsáveis pelo entulhamento das bacias sedimentares que são de idade Fanerozoica e apre sentam diversas litologias de onde se destacam arenitos conglomerados siltitos argilitos e calcários No Brasil existem três grandes bacias sedimentares a do Amazonas a do Parnaíba e a do Paraná Especificamente na bacia do Paraná ocorreu um vasto derramamento de basalto durante o Jurássico que se deposi tou sobre as camadas sedimentares em planos horizontais e estratificados As áreas de sedimentação recente que correspondem aos depósitos sedimentares Cenozoicos ocorrem ao longo dos principais leitos fluviais nas zonas litorâneas e prélitorâneas e no pantanal Tendo em vista a grande complexidade litológica associada com a di versidade climática pretérita e atual toda e qualquer proposta de classifica ção para o relevo brasileiro se apresenta como um grande desafio para profis sionais da área de geomorfologia Dependendo da abordagem pode haver diferentes classificações Ge omorfólogos de escolas da geomorfologia estrutural tendem a interpretar as formas de relevo de maneira diretamente relacionada com a estrutura geoló gica Nesses casos pode haver uma delimitação cartográfica baseada nas estruturas colocando em segundo plano os limites do modelado LivroGeografiaGeomorfologiaindd 126 14052019 130522 Geomorfologia 127 Geomorfólogos provenientes de escolas da geomorfologia climática tendem a analisar o relevo a partir dos mecanismos erosivos que estão as sociados com os parâmetros hidroclimáticos Nessa perspectiva percebese uma ênfase aos parâmetros climáticos e à cobertura vegetal de modo que a cartografia tende a se assemelhar bastante com um mapa fitogeográfico De acordo com Ross 1985 as primeiras propostas de classificação do relevo brasileiro datam do século XIX que refletiam as limitadas condições científicotecnológico que existiam na época Nessa perspectiva destacam se os trabalhos de Aires de Casal 1817 e de Alexander von Humboldt e Or ville Derby 1884 No início do século XX foram elaboradas novas propostas porém sem grandes resultados significativos No entanto somente com a classificação de Aroldo Azevedo na dé cada de 1940 é que se teve uma maior fundamentação no tratamento das unidades geomorfológicas pois nas classificações anteriores era comum a adoção de termos geológicos e de terminologias regionais Aroldo Azevedo em 1949 denominou as grandes unidades como planaltos e planícies valo rizando nomenclaturas geomorfológicas e empregando denominações geo lógicas apenas em segundo nível quando se fez uma maior especificação Aroldo Azevedo 1949 dividiu o relevo brasileiro em 4 planaltos Planalto das Guianas Planalto Central Planalto Atlântico e Planalto Meridional e 4 pla nícies Planície Amazônica Planície do Pantanal Planície do Pampa e Planície Costeira e teve como principal critério de delimitação a altimetria Figura 62 Figura 62 Mapa do relevo brasileiro de acordo com a classificação de Aroldo Azevedo Fonte httplucinhahbblogspotcombr201203aroldodeazevedoeclassificacaodohtml LivroGeografiaGeomorfologiaindd 127 14052019 130523 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 128 Conforme já foi afirmado apesar de apresentar estruturas geológicas bastante antigas as formas de relevo do Brasil são recentes Nessa perspecti va de análise destacamse as importantes contribuições de trabalhos de Aziz AbSáber das décadas de 1950 e 1960 acerca dos processos epirogenéticos e denudacionais pósCretácecos Segundo o referido autor o relevo brasilei ro passou por significativos processos erosivos ao longo do Quaternário que foram responsáveis pela atual configuração morfológica Tais processos de nudacionais tornamse bastante visíveis nas diversas depressões periféricas que margeiam as bacias sedimentares soerguidas ABSÁBER 1967 Após algumas tentativas de classificação do relevo brasileiro Aziz AbSaber propôs no final da década de 1960 uma classificação geomorfoló gica apoiada nos processos relacionados com o clima atual denominando as unidades de domínios morfoclimáticos Antes de apresentar as unidades propostas por Aziz AbSáber 1967 é importante definir o termo sistema de erosão ou sistema morfogenético que se refere a um conjunto de processos erosivos interrelacionados que em função das condições climáticas zonais elaboram feições geomorfológicas específicas nas áreas em que atuam São processos combinados de erosão e de deposição que resultam em relevos do tipo erosivo residual e deposicional Cada sistema de erosão apresenta características próprias e pode atingir áreas de grandes exten sões podendo variar de milhares e milhões de quilômetros quadrados O vocábulo morfoclimático associa o relevo com as características climáticas As forças climáticas relacionadas com erosão ou até mesmo com a pedogênese são denominadas de processos morfoclimáticos O conjunto de formas de relevo resultantes da ação de determinados processos morfocli máticos dentro do mesmo bloco continental são denominadas de domínios morfoclimáticos Cada domínio apresenta uma área nuclear e entre os di versos domínios existem áreas de transição que exibem características dos domínios adjacentes ABSÁBER 2003 O conceito de domínio morfoclimático foi introduzido no Brasil na dé cada de 1960 pelo geógrafo Aziz Nacib AbSáber JÁTOBA LINS 2008 Segundo AbSáber 2003 entendese por domínio morfoclimático e fitogeo gráfico um conjunto espacial de certa ordem de grandeza territorial em que haja um esquema coerente de feições de relevo tipos de solos formas de vegetação e condições hidroclimáticas No Brasil esses domínios foram esta belecidos por AbSáber a partir da conjugação de diversos fatores cobertura vegetal clima relevo e formações superficiais solos Tais domínios espaciais de feições paisagísticas e ecológicas integra das ocorrem em uma espécie de área principal de certa dimensão e arran jo em que as condições fisiográficas e biogeográficas formam um complexo LivroGeografiaGeomorfologiaindd 128 14052019 130523 Geomorfologia 129 relativamente homogêneo e extensivo A essa área mais típica e contínua aplicamos o nome de área core área nuclear ABSÁBER 2003 Para AbSáber 2003 entre o corpo nuclear de um domínio paisagístico e as áreas nucleares de outros domínios vizinhos totalmente diversos existe um interespaço de transição e de contato que afeta de modo mais sensível os componentes da vegetação os tipos e as formas de distribuição dos solos e até um certo ponto as próprias feições do relevo Ou seja entre os diversos domí nios existem faixas ou áreas de transição que exibem características dos diver sos domínios adjacentes Essas faixas de transição e de contato apresentam larguras variáveis e combinações subregionais distintas de fatos fisiográficos e ecológicos ou paisagens tampão exemplo mata dos cocais A proposta de classificação dos relevos brasileiros de AbSáber iden tificou seis domínios morfoclimáticos 1 Domínio dos Chapadões Tropicais a duas estações recobertos por cerrados 2 Domínio das Regiões Serranas Tropicais Úmidas ou dos Mares de Morro extensivamente florestados 3 Do mínio das Depressões Semiáridas pontilhadas de inselbergs dotadas de drenagem intermitente e recobertas por caatingas extensivas 4 Domínio de Planaltos Subtropicais recobertos por araucárias e pradarias de altitude 5 Domínio das Coxilhas Subtropicais UruguaioSulriograndense recobertas por pradarias mistas e 6 Domínio das Terras Baixas Equatoriais extensivamente florestadas da Amazônia brasileira Figura 63 Figura 63 Mapa com os domínios morfoclimáticos brasileiros de acordo com a clas sificação de Aziz Nacib AbSáber Fonte httpwwwcolegiowebcombrgeografiadominiosmorfoclimaticoshtml LivroGeografiaGeomorfologiaindd 129 14052019 130523 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 130 1 Domínio dos Chapadões Tropicais a duas estações recobertos por cerrados tratase de um domínio que ocupa uma área de cerca de 2 mi lhões de km2 sendo de natureza zonal Sua estrutura é composta de planaltos de estrutura complexa e sedimentares Desenvolvese numa área de clima tropical com chuvas de verão Das condições climáticas deriva uma rede de drenagem perene Os interflúvios são muito largos e espaçados entre si Percebese a ausência de processos de mamelonização A vegetação predo minante é o cerrado que se trata de uma modalidade de savana que geral mente reveste solos lixiviados Os solos são muito pobres em nutrientes em função da lixiviação e das propriedades mineralógicas O bioma apresenta um estrato arbóreo e um herbáceo Constatase uma série de problemas ambien tais nesse domínio tais como desmatamentos para atividades agropecuárias extensivas alteração da biodiversidade pelo assoreamento e contaminação por garimpo capoeirização das florestasgalerias 2 Domínio das Regiões Serranas Tropicais Úmidas ou dos Mares de Morro extensivamente florestados o domínio dos mares de morros assu me uma posição nitidamente azonal tendo em vista que se estende de norte a sul do Brasil por praticamente todo o litoral oriental Desenvolvese numa área de rochas cristalinas metamórficas e intrusivas com intensas precipitações pluviométricas anuais Constatase uma grande diversidade estrutural com falhas cisalhamentos e dobramentos que contribuem com a forte movimen tação topográfica Das condições climáticas desenvolvemse rios perenes e derivam significativos mantos de alteração das rochas com solos profundos recobertos pela mata atlântica perenifólia Sua área core se localiza na região Sudeste Constatase um extensivo processo de mamelonização e níveis de pedimentos embutidos Constatase a presença de pães de açúcar asso ciados com rochas mais resistentes Dentre os problemas ambientais desse domínio destacamse os desmatamentos da mata atlântica que deixaram menos de 10 da cobertura original Tais desmatamentos estão associados com atividades agrícolas pecuárias e expansões urbanas 3 Domínio das Depressões Semiáridas pontilhadas de inselbergs do tadas de drenagem intermitente e recobertas por caatingas extensivas esse domínio abrange uma área de cerca de 850000 km² imperando na re gião Nordeste onde domina o clima semiárido e a vegetação das caatingas Tratase de um domínio nitidamente azonal para as baixas latitudes em que se encontra As principais unidades geomorfológicas são as depressões sertane jas que são superfícies de erosão em rochas cristalinas e se apresentam sua vemente onduladas ou um pouco mais movimentadas e podem ser interrom pidas por campos de inselbergs cristas residuais maciços e alguns relevos relacionados com bacias sedimentares Do clima semiárido derivam baixos totais pluviométricos anuais variando de 400 900 mm e que se distribuem LivroGeografiaGeomorfologiaindd 130 14052019 130523 Geomorfologia 131 de forma irregular no tempo e no espaço A drenagem é intermitente sazonal com a presença de rios efêmeros Como predominam rochas do embasa mento cristalino constatase um limitado potencial hidrogeológico Constata se o predomínio de processos de intemperismo físico com limitada alteração no manto superficial das rochas justificando a presença de solos rasos com o predomínio de luvissolos e neossolos litólicos bastante associados com su perfícies pedregosas e afloramentos rochosos As paisagens desse domínio se apresentam bastante diferenciadas com a presença de ambientes de ex ceção mais úmidos regionalmente conhecidos como brejos de altitude e a própria caatinga se apresenta de forma heterogênea com padrões fisionômi cos e florísticos variados Com relação aos problemas ambientais constatam se significativos desmatamentos associados com atividades de pecuária e agricultura As técnicas agrícolas são bastante predatórias de onde se desta ca a brocagem e a queimada Das elevadas taxas de degradação ambiental de alguns setores resultam ambientes em franco processo de desertificação 4 Domínio de Planaltos Subtropicais recobertos por araucárias e prada rias de altitude esse domínio abrange cerca de 400000 km² apresentando clima subtopical Localizase nos setores de planalto da bacia do Paraná com alternâncias de arenitos e basaltos Sua topografia se assemelha ao mode lado das áreas tropicais úmidas O intemperismo químico ocorre com certa moderação justificando topografias planálticas com colinas discretamente tabuliformes Em função de sua posição latitudinal nas áreas mais elevadas podem ocorrer geadas ou até mesmo nevadas A cobertura vegetal é pre dominantemente formada pelas araucárias Dentre os principais problemas ambientais destacase o desmatamento das araucárias que serviram de ma tériaprima para a indústria madeireira 5 Domínio das Coxilhas Subtropicais UruguaioSulriograndense reco bertas por pradarias mistas esse é o menor domínio morfoclimático bra sileiro apresentando uma área de cerca de 80000 km² Um traço marcante desse domínio é a presença das coxilhas que são termos regionais para de signar colinas rasas ou elevações arredondadas Na área em questão são esculpidas predominantemente sobre rochas efusivas basaltos Tratamse de áreas sob condições de clima temperado úmido ou subúmido sujeitas a estiagens de fim de ano Dentre os problemas ambientais destacase a de gradação dos solos arenosos a partir da degradação da vegetação campestre pelo sobrepastoreio e pelos práticas agrícolas Nesses solos ocorrem vários processos erosivos pluviais como o surgimento de ravinas e até voçorocas 6 Domínio das terras baixas equatoriais extensivamente florestadas da Amazônia brasileira esse domínio engloba setores equatoriais e subequato riais abrangendo uma área de mais de 25 milhões de km² onde predominam LivroGeografiaGeomorfologiaindd 131 14052019 130523 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 132 condições de clima quente e úmido Como abrange uma grande área esse domínio incorpora terreno com rochas sedimentares da Bacia Amazônica e rochas do embasamento cristalino Podem ocorrer planícies de inundação labiríntica e meândrica tabuleiros de vertentes convexas morros baixos ma melonizados relevos residuais e vestígios de pedimentação e de pediplana ção Das condições climáticas derivam rios perenes que compõem a maior bacia hidrográfica do mundo que é a do Amazonas Dentre os problemas ambientais destacamse a poluição dos recursos hídricos durante as ativida des de garimpo os desmatamentos e as queimadas que possuem uma forte associação com a expansão da soja e das atividades pecuaristas É importante destacar que a classificação geomorfológica dos domí nios morfoclimáticos propostos por Aziz AbSáber apresenta uma forte relação com o clima e com a vegetação Isso gera um problema de cartografia geo morfológica pois o mapa dos domínios morfoclimáticos brasileiros é bastante similar ao mapa dos biomas brasileiros Durante a década de 1970 e o começo da década de 1980 foi elabo rado o projeto RADAMBRASIL ligado ao Ministério das Minas e Energia que teve o intuito de levantar diversas informações sobre os recursos naturais do território brasileiro através de equipes multidisciplinares que ficaram respon sáveis pelas folhas cartográficas ao milhonésimo Esse trabalho tinha o intuito de fazer uma radiografia do território nacional Inicialmente o Projeto RADAM seria adotado apenas para a região amazônica a partir da utilização de imagens de radar que na época se des tacavam como um recurso de alta tecnologia Porém esse projeto foi estendi do para todo o território nacional com o nome RADAMBRASIL mas infeliz mente algumas folhas não tiveram sua versão final publicada No âmbito geomorfológico o Projeto RADAMBRASIL apresentou signi ficativas contribuições que ampliaram os conhecimentos préexistentes e ser viram para confirmar algumas teorias genericamente propostas Nesse proje to cabe destacar o importante papel exercido pelo geógrafo Getúlio Vargas Barbosa que foi o mentor metodológico dos levantamentos geomorfológicos do RADAMBRASIL Infelizmente não foi elaborado nenhum mapa síntese em nível nacional com relação à geomorfologia brasileira De acordo com o projeto RADAMBRASIL o território brasileiro foi subdi vidido em 4 domínios morfoestruturais 1 Domínio dos depósitos quaternários inconsolidados 2 Domínio das bacias sedimentares e coberturas inconsoli dadas pliopleistocênicas 3 Domínio das faixas de dobramentos e coberturas metassedimentares associadas e 4 Domínio dos embasamentos em estilos complexos que subdivididos totalizam 18 subunidades LivroGeografiaGeomorfologiaindd 132 14052019 130523 Geomorfologia 133 1 Domínio dos depósitos quaternários inconsolidados esse domínio é repre sentado pelas áreas de deposição sedimentar recente tanto de origem continen tal como marinha e ocorre em áreas baixas como planícies costeiras planícies fluviais e algumas depressões como no caso do Pantanal e da ilha do Bananal 2 Domínio das bacias sedimentares e coberturas inconsolidadas plio pleistocênicas tratase de um domínio que abrange mais da metade do ter ritório brasileiro e corresponde às bacias sedimentares fanerozoicas e aos de pósitos terciários Esse domínio encontrase dividido em 1 Bacias e coberturas sedimentares litorâneas 2 Bacia sedimentar amazônica 3 Bacia sedimentar do TocantinsAraguiaia 4 Bacia sedimentar do MeioNorte 5 Coberturas sedi mentares da bacia do São Francisco 6 Bacias e coberturas sedimentares do Nordeste oriental e 7 Bacia e cobertura sedimentar do Paraná 3 Domínio das faixas de dobramentos e coberturas metassedimentares as sociadas corresponde a antigas áreas de dobramentos e se divide em 1 Faixas de dobramento do Brasil Central 2 Faixas de dobramento do Nordeste Ocidental 3 Faixas de dobramento do Nordeste Oriental 4 Faixas de dobramento do Sul Sudeste 5 Coberturas metassedimentares do EspinhaçoDiamantina e 6 Co berturas metassedimentares da bacia do São FranciscoTocantins 4 Domínio dos embasamentos em estilos complexos corresponde a tre chos com estruturas geológicas complexas e se divide em 1 Embasamento da Amazônia 2 Embasamento do Nordeste e 3 Embasamento do SulSudeste Apoiado nos trabalhos elaborados pelo Projeto RADAMBRASIL Juran dir Ross elaborou uma proposta de classificação do relevo brasileiro utilizan do critérios morfoesculturais de acordo com a concepção de Mescherikov 1968 Nessa abordagem as unidades morfoesculturais são resultantes de processos gerados por climas e paleoclimas que esculpiram formas de relevo em diferentes estruturas Assim tal unidade é distinguida pela forma de relevo predominante independente de sua idade ou de sua estrutura Na proposta geomorfológica de Jurandir Ross foram considerados três níveis taxonômicos diferentes No primeiro nível levouse em conta um crité rio eminentemente geomorfológico considerando três grandes unidades pla naltos depressões e planícies Como a gênese e a estrutura dos planaltos apresenta uma certa variedade o segundo táxon é utilizado para explicar o caráter estrutural dos planaltos 1 bacias sedimentares 2 intrusões e cober turas residuais de plataforma 3 Núcleos cristalinos arqueados e 4cinturões orogênicos O segundo táxon não foi adotado para as depressões e planícies tendo em vista que elas apresentam gênese comum relacionada à erosão e à deposição respectivamente O terceiro táxon define nominalmente cada uma das unidades morfoesculturais segundo uma terminologia regional LivroGeografiaGeomorfologiaindd 133 14052019 130523 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 134 Nessa proposta de classificação de Ross 1985 foram identificadas 28 unidades morfoesculturais que são Figura 64 Os planaltos Em bacias sedimentares Planalto da Amazônia Oriental Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná Em intrusões e coberturas residuais de plataforma Planaltos Residuais NorteAmazônicos Planaltos Residuais SulAmazônicos Planaltos e Chapadas dos Parecis Em núcleos cristalinos arqueados Planalto da Borborema Planalto Sulriograndense Em cinturões orogênicos Planaltos e Serras do Atlântico Leste Sudeste Planaltos e Serras de GoiásMinas Serras Residuais do Alto Paraguai As depressões Depressão da Amazônia Ocidental Depressão Marginal NorteAmazônica Depressão Marginal SulAmazônica Depressão do Araguaia Depressão Cuiabana Depressão do Alto ParaguaiGuaporé Depressão do Miranda Depressão Sertaneja e do São Francisco Depressão do Tocantins Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do Paraná Depressão Periférica Sulriograndense As planícies Planície do Rio Amazonas Planície do Rio Araguaia Planície e Pantanal do Rio Guaporé Planície e Pantanal do Rio Paraguai ou Matogrossense Planície da Lagoa dos Patos e Mirim Planície e Tabuleiros Litorâneos LivroGeografiaGeomorfologiaindd 134 14052019 130523 Geomorfologia 135 Recentemente aproximadamente no ano de 2010 começaram a ser publicados trabalhos e mapas acerca da geodiversidade brasileira Tal publica ção foi elaborada pela CPRM e aborda os aspectos geomorfológicos a partir de uma maior ênfase nos geológicos de cada um dos estados brasileiros Tal publicação utiliza o mapeamento geológico sobreposto à imagem SRTM com a projeção tridimensional do relevo Isso fornece importantes contribuições na interpretação morfoestrutural das unidades Além das informações destacadas esse trabalho também apresenta um quadrosíntese destacando aspectos rela cionados a limitações e potencialidades de cada domínio geológicoambiental Figura 64 Unidades do Relevo Brasileiro na proposta de classificação de Jurandir Ross Fonte Jurandyr L Sanches Ross 2003 LivroGeografiaGeomorfologiaindd 135 14052019 130524 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 136 Síntese do Capítulo Em virtude das dimensões continentais e das diferentes tipologias de vegeta ção clima solo dentre outros aspectos tornase muito difícil classificar o re levo brasileiro O capítulo se detém em apresentar três tipos de classificações com o intuito de facilitar a compreensão da diversidade dos relevos a partir da análise de alguns critérios Aroldo Azevedo 1949 dividiu o relevo brasileiro adotando como principal critério de delimitação a altimetria Na referida divisão denominou as grandes uni dades como planaltos e planícies sendo estes 4 planaltos Planalto das Guianas Planalto Central Planalto Atlântico e Planalto Meridional e 4 planícies Planície Amazônica Planície do Pantanal Planície do Pampa e Planície Costeira O geógrafo AbSáber propôs uma classificação dos relevos brasileiros a partir de seis domínios morfoclimáticos que conjugavam a cobertura vegetal clima relevo e formações superficiais solos domínio dos Chapadões Tro picais a duas estações recobertos por cerrados domínio das Regiões Ser ranas Tropicais Úmidas ou dos Mares de Morro extensivamente florestados domínio das Depressões Semiáridas domínio de Planaltos Subtropicais e domínio das Terras Baixas Equatoriais Por sua vez Ross 2003 defendeu que o território brasileiro apresenta qua tro grandes estruturas as plataformas ou crátons terrenos com estruturas mais antigas marcados por longas fases de erosão os cinturões orogênicos antigas cadeias orogênicas que se encontram bastante arrasadas por prolongadas fases erosivas mas que ainda apresentam aspectos serranos em extensões razoá veis as grandes bacias sedimentares e as áreas de sedimentação recente Atividades de avaliação 1 O que você entende por morfoestrutura e por morfoescultura 2 Qual é a diferença entre idade e gênese das estruturas e formas de relevo 3 Qual é a diferença entre a classificação do relevo brasileiro proposta por Aroldo Azevedo e por Aziz AbSáber 4 Qual é a principal característica do domínio das depressões interplanálticas semiáridas do Nordeste 5 Qual é a importância do projeto RADAMBRASIL para o planejamento do território brasileiro LivroGeografiaGeomorfologiaindd 136 14052019 130524 Geomorfologia 137 Leituras filmes e sites FRANCISCO W de C E Relevo brasileiro Brasil Escola Disponível em httpwwwbrasilescolacombrasilrelevobrasileirohtm ROSS J L S Relevo Brasileiro uma nova proposta de classificação Revista do Departamento de Geografia São Paulo 1985 p 21 33 httpgeografalandoblogspotcombr201302classificacaodorelevobrasileirohtml httpdocenteifrnedubrjordanacostadisciplinasgeografia284012mrele vobrasileiro httpwwwrevistasuspbrrdgarticleviewFile4709450815 httpswwwyoutubecomwatchvmsFlYBumqU Referências ABSÁBER A N Domínios morfoclimáticos e províncias fitogeográficas no Brasil Orientação São Paulo n 3 p 45 48 1967 Republicado em Grandes paisagens brasileiras São Paulo Eca 1970 e como parte do artigo Provín cias geológicas e domínios morfoclimáticos no Brasil Geomorfologia São Paulo n 20 p 1 26 1970 ABSÁBER A N Os Domínios da Natureza no Brasil Potencialidades Pai sagísticas São Paulo Ateliê Editorial 2003 159p BRITO NEVES B B América do Sul quatro fusões quatro fissões e o pro cesso acrescionário andino Revista Brasileira de Geociências v 29 n 3 p 379 392 1999 CLAUDINO SALES V PEULVAST JP Evolução morfoestrutural do relevo da margem continental do Estado do Ceará Nordeste do Brasil Caminhos de Geografia Vol 7 Nº 2 Uberlândia 2007 JATOBÁ L LINS R C Introdução à geomorfologia 5 ed Recife Bagaço 2008 244p ROSS J L S Relevo Brasileiro uma nova proposta de classificação Revista do Departamento de Geografia São Paulo 1985 p 21 33 ROSS J L S org Geografia do Brasil 4 ed São Paulo Editora da Uni versidade de São Paulo 2003 546p LivroGeografiaGeomorfologiaindd 137 14052019 130524 BASTOS F H MAIA R P CORDEIRO A M N 138 Sobre os autores Frederico de Holanda Bastos possui Doutorado em Geografia Física 2012 e Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente 2005 pela Universidade Federal do Ceará Especialização em Geoprocessamento Aplicado à Análi se Ambiental e Recursos Hídricos 2005 e Bacharelado e Licenciatura em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará 2000 e 2002 Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual do Ceará UECECE na área de geomorfologia Tem experiência na área de Geociências com ênfase em Geografia Física atuando principalmente nos seguintes temas análise geo ambiental geomorfologia geografia física planejamento e zoneamento am biental geoprocessamento e maciços cristalinos do Nordeste Rubson Pinheiro Maia É Mestre em Geografia Física com ênfase em Ge omorfologia UFC é Doutor em Geodinâmica e Geofísica UFRN Atua na área de Geomorfologia com ênfase em Morfotectônica de ambientes cárs ticos e fluviais Possui trabalhos nas áreas de morfotectônica de ambiente cárstico em sistemas fluviais em zonas de deformação e em maciços cris talinos Participou do projeto de Mapeamento GeológicoGeomorfológico da Folha SB24XDI MossoróRN financiado pela CPRM Serviço Geológico do Brasil e do projeto de mapeamentocaracterização do carste Porocars te na Bacia Potiguar financiado pela Petrobrás Integra o INCT Instituto Na cional de Ciência e Tecnologia na área de Estudos Tectônicos Atualmente é Professor de Geomorfologia da Universidade Federal do Ceará Abner Monteiro Nunes Cordeiro É bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará UECE Especialista em Geografia Educação Ambiental pela Universidade Estadual do Ceará UECE Mestre em Geografia UECE e Doutorando em Geografia UECE Atua na área de planejamento ambiental urbano com ênfase em estudos de planos diretores e na área de geografia física com destaque em estudos ambientais integrados Atualmente é professor da rede municipal de ensino de Maranguape no Ceará LivroGeografiaGeomorfologiaindd 138 14052019 130524