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Química Orgânica 3
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Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 145 PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS COMO CI ÊNCIAS HUMANAS APLICADAS 1 Demétrio Delizoicov Departamento de Metodologia do Ensino UFSC Programa de PósGraduação em Educação Científica e Tecnológica UFSC Florianópolis SC Resumo Através de aspectos relacionados à área de ensino de ciências tais como existência de cursos e programas de pósgraduação de periódi cos especializados na publicação de resultados de pesquisas e de even tos científicos específicos constatase que esta constitui um campo so cial de produção de conhecimento A partir de dados contidos em tra balhos que têm como objeto de análise dissertações e teses em ensino de ciências defendidas no Brasil desde 1972 argumentase que o campo se organiza em coletivos de pensamento afinados com os das ciências humanas que investigam problemas relativos à dissemina ção sistematizada de conhecimentos científicos que é caracterizada como um processo complexo de interação entre três grandes círculos sócioculturais Problematizamse pontos desta dinâmica de pesquisa que estabelece comunicações intracoletivos e intercoletivos sendo es tas últimas constituídas por amplo espectro cuja variação vai desde uma sintonia bastante ajustada até praticamente uma ausência de res sonância Considerandose essa produção plural propostas são apre sentadas com a finalidade de se efetivar uma maior aproximação dos problemas investigados pelo campo com aqueles enfrentados pelo en sino de ciências nas escolas brasileiras 1 Texto preparado para subsidiar a apresentação no ciclo de Seminários Ensino de Ciências Pesquisa em Ensino de Ciências e Educação do IFUSP junho de 2003 Research in Science Teaching as Applied Human Science Recebido outubro de 2003 Aceito abril de 2004 146 Delizoicov D Palavraschave Teses e dissertações em ensino de ciências coletivos de pensamento impacto da pesquisa em ensino de ciências Abstract Through elements related to the field of science education such as the existence of postgraduate courses and programs specialized journals that publish research results and specific scientific events it was found that this is a social field for the production of knowledge Based on an analysis of dissertations and theses about science education de fended in Brazil since 1972 this paper argues that the field is organi zed in collectives of thinking in keeping with that of the human sci ences that investigate problems related to the systematized dis semination of scientific knowledge which is characterized as a complex process of interaction between three large socialcultural circles It analyses elements of this research dynamic that esta blish intracollective and intercollective communication The lat ter is constituted by a broad spectrum the variation of which runs from a welladjusted harmony to a practical absence of resonance Considering the plurality of production proposals are made to al low a greater approximation of the problems investigated by the field with those confronted by science teaching in Brazilian schools Keywords Theses and dissertations in science education collectives of thinking impact of research in science education I Introdução Apesar da aparente redundância do título pretendo problematizar a temá tica apontando aspectos que parecem estar latentes senão relativamente ausentes da discussão e reflexão sobre a pesquisa em ensino e do seu papel num país continental como é o caso do Brasil A pouca explicitação desta dimensão da pesquisa em ensino de ciências EC qual seja sua íntima relação com as ciências humanas aplicadas talvez possa estar vinculada à formação na graduação dos pesquisadores da área que com raras exceções originamse dos cursos de Física Biologia e Química e também possivelmente devido à gênese das pósgraduações em EC no Brasil Pioneiros e implantados no início da década de 70 do século passado os cursos de pósgraduação em ensino de física da UFGRS e da USP foram instituídos a partir de iniciativas dos respectivos Institutos de Física destas universidades O da UFGRS inclusive como uma linha do Programa de Pósgraduação em Física em Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 147 que a formação básica em termos de disciplinas obrigatórias era aquela destinada à formação dos pesquisadores nessa área Já o da USP foi implantado através de um programa criado em parceria pelo Instituto de Física e pela Faculdade de Educação ou seja instituiuse como um curso de pósgraduação independente tanto do progra ma da Física como do da Educação mas sempre com a coordenação acadêmica e administrativa do Instituto de Física Mais significativo ainda é que após trinta anos foi criado um GT próprio na CAPES para avaliar as pósgraduações em ensino de ciências PGEC desvincu landoas do GT Educação Durante o período anterior no entanto a área de PGEC cresceu com a implantação de cursos de PG em sua grande maioria como linhas de pesquisa vinculadas aos programas de PG em Educação tais como os da UNICAMP UFMG UFRN e o da UFSC até 2001 e na própria USP o da FEUSP além daquele criado no início dos anos 70 os quais sempre foram vinculados à área da Educação da CAPES Assim desde 2001 convivem programas de PGEC tanto vinculados ao GT Educação como ao recém criado GT EC Destacase porém que a solicitação de recursos financeiros para as pesquisa em EC no CNPq foi e continua sendo endereça da ao comitê de Educação que pertence à grande área das Ciências Humanas e Soci ais Aplicadas Estas constatações ainda que triviais sobre as relações entre pesqui sapesquisadores e instituições têm o mérito de chamar a atenção para o fato de que isto de certo modo é indicativo de concepções e encaminhamentos que têm seus reflexos no direcionamento das pesquisas em EC Por outro lado se a produção da área não se restringe às instituições que mantêm cursos de PGEC uma vez que há pesquisadores em EC vinculados a institui ções sem PG é muito razoável supor que as dissertações e teses ou seja uma parte da produção talvez a maior oriunda das instituições com PGEC representa de modo significativo a produção da área quer porque estas instituições são responsáveis pela formação de uma quantidade considerável dos mestres e doutores que realizam pes quisas em locais sem PG quer porque pesquisas originárias de dissertações e teses são constituintes de artigos publicados em revistas e congressos da área Acrescente se a isto o fato de haver trabalhos teses inclusive que têm como objeto de investiga ção as próprias dissertações e teses defendidas o que permite resgatar seus resultados e análises de modo a aprofundar a compreensão e caracterização da área Um exame destes trabalhos sobre dissertações e teses parece promissor se pretendemos ampliar o olhar para o próprio conteúdo problemas procedimentos de pesquisa referenciais teóricos das pesquisas com a finalidade de se debater a relação Ensino de Ciên cias Pesquisa em Ensino de Ciências e Educação tema deste ciclo de seminários Mas creio que não se pode fugir de algum tipo de contextualização temporal da área É o que procurarei fazer no próximo item 148 Delizoicov D II Cronologia2 e status da área Um desafio que ainda está para ser enfrentado é o do resgate histórico do ensino de ciências em particular o dos últimos 40 anos Não quero dizer com isto que haja total ausência de trabalhos sobre aspectos da história do EC pois como demons tram por exemplo os trabalhos de Pernambuco 1985 Krasilchik 1987 Lemgru ber 1999 2000 e MendesSobrinho 2002 há importantes produções nessa temáti ca Quero destacar entretanto a necessidade de um projeto mais amplo a ser efetiva do por uma equipe multidisciplinar constituída por pesquisadores da área de EC de história e de história da educação Talvez um projeto de pesquisa institucional envol vendo várias equipes de investigação seja uma boa iniciativa Enquanto isso não ocorre podemos lançar mão das referências disponíveis para apresentar ainda que sinteticamente uma cronologia referente à implantação da área de pesquisa em EC Barros 2002 ao realizar uma interessante retrospectiva sobre os 30 anos da pesquisa em Ensino de Física apresenta os vários momentos vividos pela área bem como a trajetória de sua organização e institucionalização analisando dentre outros aspectos o papel representado pelos encontros SNEFs EPEFs as pósgraduações e as revistas brasileiras onde os resultados de pesquisas são publica dos Após a retomada que faz do ensino de física e da pesquisa em ensino a autora apresenta nas conclusões uma síntese das características de algumas das pesquisas sobretudo as de caráter construtivista e propõe algumas sugestões relativas a temas que poderiam dar alguma contribuição para o sistema educacional brasileiro Destaco destas conclusões o seguinte A pesquisa em Ensino e Aprendizagem de Física é formada por uma comunidade eclética de físicos que utilizam metodologias ori undas da educação psicologia ciências sociais história e episte mologia psicanálise tecnologia da comunicação Os conteúdos e os contextos das pesquisas devem estar diretamente relaciona dos com a Física Barros 2002 paginação eletrônica Chamo a atenção para o fato de Barros 2002 explicitar que embora a pesquisa em EF seja feita por físicos os fundamentos teóricometodológicos que empregam na pesquisa têm origem nas Ciências Humanas e não na Física mesmo que os conteúdos desta estejam presentes e portanto de algum modo também as teorias e os procedimentos da Física mas não são estes ou só estes que instrumentalizam a pesquisa em EFEC segundo a autora Para uma cronologia que inclui além da área em EF as de pesquisa em ensino de Química e de Biologia apresento a retrospectiva a seguir 2 Cronologia adaptada do livro Ensino de Ciências Fundamentos e Métodos de Delizoi cov Angotti Pernambuco 2002 Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 149 II1 Eventos científicos da área Os Simpósios Nacionais de Ensino de Física SNEF vêm ocorrendo fre qüentemente desde 1970 Organizados pela Secretaria de Ensino da Sociedade Brasi leira de Física SBF foram realizados no período 19702003 quinze simpósios cujos resultados achamse publicados em atas Em 1986 organizouse o primeiro Encontro de Pesquisa em Ensino de Física EPEF tendo ocorrido até o ano de 2002 oito encontros também organizados pela SBF e com atas publicadas Se os SNEFs têm a característica de congregar centenas de professores de Física tanto do ensino médio como do superior para participar de cursos mesasredondas conferências e apresentação de trabalhos cuja temática é o ensino de Física nas escolas sobretudo nas de ensino médio os EPEFs têm promovido a disseminação e a discussão tópica dos resultados de pesquisas de grupos de pesquisadores em ensino de Física entre seus pares Relativamente ao ensino de Biologia desde 1984 e sob a Coordenação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo foram realizados sete En contros Perspectivas do Ensino de Biologia EPEB até 2000 Semelhantemente ao SNEF o EPEB tem congregado centenas de professores de Biologia dos três ní veis de ensino constituindose em momentos de reflexão e discussão dos profissio nais envolvidos com o ensino de sua ciência Os resultados dos EPEBs achamse também publicados em atas Por sua vez a Divisão de Ensino da Sociedade Brasileira de Química promove desde 1982 o Encontro Nacional de Ensino de Química ENEQ tendo sido realizados até 2000 nove ENEQs também com edição de atas De maneira semelhante essa área promove eventos de caráter regional intitulados Encontros de Debates sobre Ensino de Química EDEQs Já num desafio de interlocução mais integradora em 1997 criouse du rante a realização do 1o Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências ENPEC a Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências ABRA PEC que tem como uma das suas metas congregar pesquisadores em ensino e pro fessores das várias ciências Em 1999 realizouse o 2o ENPEC e em 2001 o 3o que de maneira semelhante ao primeiro porém com um número significativamente maior de participantes possibilitou a apresentação e discussão mais integrada dos resultados de pesquisas dos grupos que investigam problemas relativos ao ensino das várias áreas das ciências da natureza Igualmente os resultados dos ENPECs encontramse publicados em atas Por outro lado se esses eventos apresentam características que os ligam às especificidades do ensino das ciências há também outros de caráter mais amplo nos quais também são apresentados trabalhos relativos a esta área educacional dos quais destaco as Reuniões Anuais da Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Educação ANPEd e os Encontros Nacionais de Didática e Prática de 150 Delizoicov D Ensino ENDIPE todos com edição de atas Outros de caráter regional ou local tal como os Seminários Sul Brasileiro de Ensino de Ciências colaboram igualmente para disseminar a produção da área II2 Periódicos Além das atas publicadas por esses eventos como meios de disseminação da produção originária da pluralidade de encaminhamentos dos problemas que a área de ensino de ciências se propõe a enfrentar há uma quantidade crescente de revistas que divulgam em seus artigos os trabalhos referentes às pesquisas em ensino de ciências Citando neste momento apenas as nacionais que têm como meta divulgar artigos específicos temos Revista de Ensino de Física publicação da Sociedade Brasileira de Fí sica lançada em 1979 e que em 1992 passou a ser denominada de Revista Brasileira de Ensino de Física Caderno Catarinense de Ensino de Física publicação do Departamento de Física da UFSC lançada em 1984 e que em 2002 também teve alteração no títu lo passando a ser nomeada de Caderno Brasileiro de Ensino de Física Além dessas nos anos 90 surgiram as seguintes evidenciando o signifi cativo crescimento da área Investigação em Ensino de Ciências editada com o apoio do Instituto de Física da UFRGS Ciência e Educação publicação do Curso de PósGraduação em Educa ção para a Ciência UNESPBaurú Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências publicação do Centro de Ensino de Ciências e Matemática da UFMG Química Nova na Escola publicação da Sociedade Brasileira de Quími ca Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências publicação da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências II3 Produção da área em dissertações e teses Parte da produção de dissertações e teses dos programas da ordem de seis centenas até 1995 são referenciadas inclusive com a apresentação dos resumos no estudo Ensino de ciências no Brasil Catálogo analítico de teses e dissertações Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 151 publicado pela Faculdade de Educação da Unicamp bem como pela publicação En sino de Física no Brasil catálogo de dissertações e teses 1972 1992 e Ensino de Física no Brasil catálogo de dissertações e teses 1993 1995 publicação do Insti tuto de Física da USP Mais adiante será retomada uma análise da produção em PGEC Esses dados são indicativos de que de fato há uma comunidade de pes quisadores em ensino de ciências no Brasil que vem produzindo e divulgando seus resultados de pesquisa Franco e Sztajn 1998 argumentam que a área de Educação em Ciências3 que incluí as atividades de pesquisa constitui um campo social de pro dução de conhecimento Apoiandose em Bourdieu caracterizam este campo como um microcosmo social autônomo na medida em que é um espaço de relações objeti vas com lógicas e necessidades específicas irredutíveis àquelas que regem outros campos Com essa interpretação destacam que não obstante a origem dos grupos de pesquisa em ensino de ciências tenha sido em Departamentos ou Institutos de Ciências especialmente Física estes se caracterizam como um caso de diferencia ção a partir de outros campos científicos FRANCO SZTAJN 1998 grifo meu4 Em síntese podemos concluir que esse campo se associa à existência de pesquisa com características que podem ser demarcadas e que portanto não se trata de procurar definir o que é ou o que deveria ser pesquisa em ECEF uma vez que isto já está sóciohistoricamente dado Assim uma perspectiva simplesmente normativa para qualificar a pesquisa em EC além de desnecessária neste momento seria prati camente ineficaz uma vez que há uma construção que não pode ser facilmente des cartada desconsiderada ou alterada em nome de alguma normatização que não esteja em sintonia com o que já foi produzido Cabe no entanto tirar lições dessa traje 3 Os autores incluem também a área de Educação Matemática 4 Tendo como referência as grandes áreas do CNPq a pesquisa em EC seria mais consensual mente admitida como pertencendo ao contexto das Ciências Sociais Aplicadas uma vez que poderíamos associar estas pesquisas ao âmbito da Educação como de fato faz o Comitê Asses sor No entanto na tentativa de melhor caracterizar a área e considerandoa como um campo social de produção de conhecimento e ainda que há pesquisas que têm articulação dentre outros com referenciais teóricos modelos e procedimentos da História e da Filosofia da Ciên cia da Psicologia e da Comunicação BARROS 2000 consideradas como pertencentes à Ciências Humanas parece razoável caracterizar a pesquisa em EC como Ciências Humanas Aplicadas Esta designação híbrida estaria então reforçando a caracterização da área de EC como um campo social de produção de conhecimento autônomo cuja especificidade ao mes mo tempo em que contempla aspectos destas áreas se constitui como uma diferenciação a partir delas ao ter como foco de investigação processos educativos sobretudo os que ocorrem na escola 152 Delizoicov D tória de modo a prosseguir na caminhada que já iniciamos há cerca de três décadas realizando as necessárias correções de rumo E aqui corroborado pelos trabalhos de Barros 2002 e Franco e Sztajn 1998 enfatizo a necessidade de se conceber a pesquisa em EC como estando no contexto das ciências humanas aplica das Significa dentre outros aspectos considerar o impacto dos resultados de pesqui sa em EC no âmbito da educação escolar Em outros termos responder a questão Qual é o retorno em termos de usos e aplicações dos resultados de pes quisa em EC para alterações significativas das práticas educativas na escola III Os resultados de pesquisa em EC e as práticas educativas Cachapuz 2000 ao fazer um balanço crítico da pesquisa em EC5 em Portugal afirma apesar de substanciais progressos feitos nos últimos anos em Portugal no que respeita à IDC investigação em didática das ci ências as expectativas sobre o seu papel no que respeita a um me lhor conhecimento sobre o ensino e a aprendizagem das Ciências em particular no âmbito do ensino não superior estão longe de ter tido até hoje respostas plenamente satisfatórias E o fato da situação portuguesa não diferir grandemente da de outros paí ses só a torna mais interessante de analisar é da capacidade da IDC resolver com sucesso problemas surgidos no ensino e na aprendizagem das Ciências que depende em boa parte o seu esta tuto e a sua credibilidade educacional junto dos professores e co munidade de educadores p 206 Lá como cá como alhures podemos dizer que ainda é frágil portanto o vínculo pesquisa em EC e EC Tal situação preocupante pelo menos para mim tendo em vista os in vestimentos financeiros mesmo que parcos intelectuais e de tempo tem motiva do ainda que relativamente pouco discussões entre pesquisadores da área sobre o impacto das suas pesquisas Nos últimos EPEFs 2000 e 2002 mesas redondas fo ram organizadas com a finalidade de se abordar o tema da relação pesquisa em EC e EC6 Essencialmente tem sido destacado na maioria dos pronunciamentos a pers pectiva denunciada por Cachapuz Generalizações através de simples processo indu tivo no entanto podem levar a algum equívoco conforme argumentarei mais adiante 5 O termo usado pelo autor é investigação em didática das ciências e não pesquisa em EC 6 Ver por exemplo os trabalhos de Pietrocola 2002 e de Vaz et al 2002 Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 153 Para o exame desse problema três aspectos pelo menos precisam ser a nalisados o teor das pesquisas o uso dos resultados das pesquisas nos cursos de formação tanto en quanto subsídios para a atuação do docente formador de professores como conteúdo a ser incluído no currículo de formação o uso dos resultados em cursos de formação continuada de professores Embora minha finalidade neste artigo seja me pronunciar sobre o primei ro aspecto levando em conta sobretudo as dissertações e teses quero destacar que em relação à formação inicial de professores seria interessante a realização de uma pesquisalevantamento sobre o uso dos resultados de pesquisas pelos docentes por exemplo de Física Básica nos cursos de licenciatura Tenho como pressuposto que o professor formador desempenha papel exemplar para a atuação docente tanto ao adotar práticas consistentes com os resultados de pesquisa como ao manter práticas tradicionais de ensino Creio também que o possível anacronismo desses docentes relativos à produção em EC não se deve à simples rejeição ou preconceitos em rela ção à área ainda que eles existam Enfim penso que uma pesquisa tendo como foco o impacto da produção da área na atuação do docente formador forneceria elementos importantes e elucidativos da importância da pesquisa em EC A SBF através da Secretaria de Ensino poderia coordenar essa pesquisa Relativamente à formação continuada nos últimos anos tem havido múl tiplas iniciativas bem como alguma discussão sobre a temática Resta contudo ava liar o que elas têm significado em termos de modificação da prática docente e da incorporação pelos envolvidos no processo de formação dos resultados de pesquisa em EC eventualmente empregados Já sabemos no entanto que tais cursos quando não convenientemente articulados à organicidade do cotidiano escolar isto é plane jados juntamente com o professor e considerando as condições em que está atuando na escola têm pouca influência na implantação de novas práticas na perspectiva de almejadas mudanças Assim é preciso tratar com alguma parcimônia as críticas ao problema do débil retorno dos resultados da pesquisa em EC para a sala de aula Pri meiro porque o pesquisador está sujeito de alguma forma dependendo do seu enga jamento em processos de intervenção nas duas instâncias formadoras a um contexto sobre o qual não tem controle Segundo porque o impacto dos resultados de pesquisa em EC em práticas educativas no interior da escola ou de redes de ensino é bastante diferenciado não tendo um único padrão como referência ou seja que qualquer tipo de pesquisa possa estar mantendo essa distância7 O teor das pesquisas de algum modo no entanto tem relação com esse problema É o que abordarei na seqüência 7 Sobre esse ponto consultar por exemplo Pietrocola 2002 e publicação do INEP BRASIL 1994 Interdisciplinaridade no Município de São Paulo 154 Delizoicov D fazendo uso dos trabalhos que têm como foco as dissertações e teses no intuito de ampliar nosso olhar sobre a pesquisa em EC conforme anunciei Os catálogos produzidos pela USPIFUSP 1992 1996 e pela UNI CAMPFECEDOC 1998 têm permitido estudos sistemáticos uma vez que se cons tituem também como um banco das dissertações e teses além de apresentar dados sistematizados sobre elas tal como os seus resumos entre outros O CEDOC organiza os dados através dos seguintes descritores autor e orientador do trabalho grau aca dêmico instituição em que foi produzidodefendido ano da defesa área de conteúdo do currículo escolar Física Biologia Química Geociências Educação Ambiental dentre outras MEGID 2000 As publicações de Megid Neto 2000 1999a 1999b 1998 1990 que coordena o CEDOC Megid e Andrade 1999 de Pacheco e Megid 19931998 1999 Lemgruber 1999 2000 Pierson 1997 e Slongo 2003 podem ser referência sobre a produção da área ou do campo em dissertações e teses de EF e de EC além de oferecerem um panorama amplo dessas pesquisas Destaco destes trabalhos os seguintes dados sintetizados em Megid 2000 O período investigado compreende a produção entre 1972 e 1995 correspondendo a um total de 572 documentos sendo 498 disser tações 67 teses de doutorado e 7 teses de livredocência com cer ca da metade defendida em apenas três instituições acadêmicas 294 na USP 180 na UNICAMP e 54 na UFRJ As demais 28 instituições produtoras de trabalhos no campo de Ensino de Ciências contribuíram com um percentual inferior a 50 Lemgruber 2000 apresenta um detalhamento dos dados relativos a estas instituições Este cenário muito provavelmente pode estar se alterando conforme ob serva MEGID 2000 Nos anos 90 entretanto temos observado a consolidação de al guns programas na área UFSC e a criação de novos cursos UFRPE UNESPBauru A produção destes programas poderá modificar em parte o cenário de distribuição das pesqui sas pelo país ainda fortemente concentrada até 1995 nos Estados de São Paulo 570 Rio de Janeiro 163 e Rio Grande do Sul 131p 4 Os dados das demais unidades da federação podem ser encontrados em Lemgruber 2000 De fato esse levantamento não pôde computar por exemplo as mais de 20 teses de doutorado defendidas até o momento no programa de pósgraduação em Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 155 educação da UFSC que em 1994 implantou o curso de doutorado em Ensino de Ciências além de mais de meia centena de dissertações sobre EC após 19958 Relativamente aos conteúdos curriculares das 572 pesquisas 437 a bordam assuntos mais diretamente vinculados ao campo da Física 150 ao da Bio logia 122 ao da Química 70 ao da Saúde 67 ao da Educação Ambiental e 16 ao da Geociências Há ainda trabalhos que não privilegiam uma área em parti cular Quero destacar que se de um lado a maior concentração da pesquisa em EC está na área de ensino de Física fato compreensível devido ao seu pioneirismo por outro lado os dados demonstram que o campo não se reduz a ela Ainda mais de 50 desta produção é oriunda de programas e cursos de pósgraduação em Educação vinculados a Centros ou Faculdades de Educação distintamente dos dois históricos de EF USP e UFRGS que estão vinculados a Institutos de Física Quanto aos temas investigados nos 572 trabalhos tanto o CEDOC como Megid 2000 adotaram um critério de classificação a que denominaram foco temáti co que independentemente de terem sido abordados de forma privilegiada ou não foco principalfoco secundário identificamos uma predominância dos aspectos relacionados com os focos p 5 São os seguintes os focos temáticos identificados para o campo EC Para uma comparação indico também os relativos ao EF correspondentes a 250 traba lhos sendo 213 dissertações 32 teses de doutorado e 5 de livredocência 8 O curso de Mestrado em Educação da UFSC existe desde 1984 Em 1986 foi implantada a linha Educação e Ciência e em 1994 essa linha criou o doutorado em Ensino de Ciências Em 2002 foi criado o Programa de PósGraduação em Educação Científica e Tecnológica da UFSC a partir do desmembramento da linha Educação e Ciência do Programa de Pós Graduação em Educação Esse novo programa no entanto é uma iniciativa intercentros uma vez que sua coordenação é conjunta Centro de Ciências da Educação e Centro de Ciências Físicas e Matemáticas e conta com a colaboração institucional e de professores dos Centros Tecnológico e de Ciências Biológicas 156 Delizoicov D Também quanto a esse quadro mudanças podem estar ocorrendo devido à produção posterior ao ano de 1995 quer alterando os porcentuais dos focos cres cendo uns e diminuindo outros quer pelo surgimento de outros focos Por exemplo sabemos que a Formação de Professores tem tido bastante presença em congressos e publicações e que o foco temático Formação de Conceitos que representa 172 dos trabalhos na área de EF não foi detectado em trabalhos de outros conteúdos curricu lares até 1995Tem ocorrido entretanto nos últimos anos pesquisa sobre concepções alternativas das demais áreas Mais adiante retomarei a discussão dos focos temáticos considerando aspectos epistemológicos Quanto aos orientadores desses trabalhos Lemgruber 2000 que tem como referência os dados do CEDOC e portanto trata também do período 1972 1995 ao analisar a produção de dissertações e teses que têm apenas o ensino funda mental 362 e o médio 435 como foco em um total de 288 trabalhos localiza aqueles que foram responsáveis por quatro ou mais orientações A partir dos dados que ele apresenta temos uma síntese interessante 120 trabalhos cerca de 40 fo ram orientados por 17 orientadores sendo 9 da área de Física 8 da USP e 1 da UNI CAMP responsáveis por 80 orientações 667 3 da área de Pedagogia 2 da UFRJ e 1 da PUCRJ com 12 orientações 10 2 da área de Química 1 da UNI 9 A soma das porcentagens é maior do que 100 pois há trabalhos que são classificados em mais de um foco temático Foco temático EC EF 9 ConteúdoMétodo 650 608 Currículos e Programas 430 340 Características do Aluno 240 276 Recursos Didáticos 200 248 Características do Professor 180 120 Formação de Professores 170 172 História da Ciência menos de 10 96 Filosofia da Ciência menos de 10 92 Organização da Escola menos de 10 80 História do Ensino de Ciências menos de 10 32 Políticas Públicas menos de 10 20 Programa de Ensino não Escolar menos de 10 16 Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 157 CAMP e 1 da UFSC com 10 orientações 83 1 da área de Biologia USP com 9 orientações 75 e 1 da área de Letras UNICAMP com 7 orientações 5810 Como esperado há uma concentração de orientadores da área de Física no período analisado sendo que oito são dos cursos de pósgraduação do IFUSP e da FEUSP que assim é analisada por Lemgruber 2000 Podese perceber claramente que existe uma linha de pesquisa consolidada na parceria destas unidades acadêmicas destacando se alguns orientadores com um relevante número de teses e orien tações Diante de uma produção que tem na dispersão uma de suas principais características este fazer escola é digno de nota p 23 grifo meu Quero no entanto chamar a atenção para o fato de que mais de 15 des ses trabalhos foram orientados por pesquisadores que não pertencem a nenhuma das áreas das ciências da natureza Assim a área de EC pode ser caracterizada não só pelas metodologias oriundas das áreas das ciências humanas como destacou Barros 2002 mas também parcialmente pela própria orientação de pesquisadores originá rios dessas áreas e que orientam em cursos de pósgraduação em educação de outras instituições que não a USP e nem a UFRGS Além desses dados apontados por Lem gruber sabemos que a quantidade de orientadores de trabalhos em EC pertencentes à área das Ciências Humanas é maior do que a detectada até 1995 Do universo dos trabalhos que têm como objeto atingir os níveis funda mental e médio Lemgruber 2000 faz um estudo sobre os referenciais teóricos que os fundamentam atendose basicamente aos de caráter epistemológico e pedagógico Ao procurar semelhanças e diferenças o autor dá destaque a quatro conjuntos de trabalhos cujas características são detalhadamente estudadas em sua tese de doutora do LEMGRUBER 1999 que são o que ele denomina de construtivismos represen tado por 74 trabalhos os que têm Paulo Freire como referencial básico com 9 traba lhos analisados outros que se referenciam em Bachelard totalizando 6 trabalhos e aqueles que têm o tema Ciência Tecnologia e Sociedade CTS como foco sendo 7 trabalhos localizados A alta freqüência dos trabalhos designados por construtivismos relati vamente aos outros conjuntos é justificada da seguinte forma 10 Lemgruber 2000 observa que muito embora a produção no programa de pósgraduação da UFRGS e a conseqüente orientação sejam expressivas elas não estão incluídas pois a maioria dos trabalhos diz respeito ao ensino superior fora da amostra considerada pelo autor 158 Delizoicov D Inicialmente destaco um conjunto de categorias que designo pelo nome genérico de construtivismos Nele estão incluídos os traba lhos com os seguintes referenciais Piaget concepções espontâ neas mudança conceitual e Ausubel Há 74 teses e dissertações com pelo menos uma dessas categorias Geralmente quando um resumo explicita uma abordagem construtivista se refere a Piaget 40 referências Ausbel 4 mudança conceitual 7 ou concep ções espontâneas 3311 LEMGRUBER 2000 p 23 Notase que desses trabalhos de caráter construtivista cerca da metade acompanha uma das tendências de pesquisa concepções espontâneas e mudança conceitual que caracterizou a produção internacional quase hegemônica no final da década de 70 e na de 80 e início da de 90 do século passado Por outro lado Lemgruber chama a atenção para a praticamente pouca presença de referências a educadores detectada na amostra por ele investigada Quan do analisa o conjunto de trabalhos que tem Paulo Freire como referência comenta Sua importância aumenta na medida em que se nota uma quase ausência de educadores brasileiros ou estrangeiros nos resumos das teses e dissertações Para se ter uma idéia mais precisa ne nhum outro educador aparece mais de uma vez Dentre os brasi leiros apenas José Carlos Libâneo e Dermeval Saviani são expli citados LEMGRUBER 2000 p 26 São vários os motivos que podem justificar essa relativa ausência de refe rência a educadores nos trabalhos e portanto compreendêla não é nada trivial cor rendose o risco de interpretações simplistas quando não reducionistas No entanto podemos inferir que essa falta pode ser indicativa da pouca discussão e reflexão edu cacional contida na amostra dos trabalhos considerados que se limitam em sua maio ria aos problemas sobre a veiculação e apropriação de conceituação científica ou seja os problemas de ensino e aprendizagem o que não é pouca coisa quero enfati zar Mas é evidente que mesmo sem a explicitação da perspectiva educacional na qual este ensino e a aprendizagem investigados devem ocorrer alguma concepção de educação é implicitamente assumida pelo pesquisador que pode nem sempre estar 11 Um número de referências maior do que 74 é devido à presença de mais de uma referência em um mesmo trabalho Lemgruber 2000 observa que a categoria concepções espontâneas 33 referências inclui também outras encontradas tais como concepções alternativas con cepções prévias etc Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 159 sendo muito claramente percebida mas que permeia alguns dos pressupostos da sua investigação do problema Então mais do que procurar entender o porquê da ausência de explicita ção de alguma referência teórica a educadores creio que o desafio que deixo apenas lançado é entender o que esse problema significa e quais suas implicações para a pesquisa em EC sobretudo se tivermos como cenário as escolas e a educação pública no Brasil onde estuda a maioria da população que tem acesso às Instituições de Ensi no Quanto aos trabalhos sobre CTS Lemgruber 2000 destaca que Mais relevante do que o número de resumos que explicitam o en sino de CTS é o fato de ele aparecer concentrado nos últimos a nos da pesquisa mostrando uma tendência ascendente Será interessante atualizar o levantamento para ver se esta linha de pesquisa se consolida p 26 Podemos reconhecer que após 1995 as pesquisas cujos temas são rela cionados a CTS vêm crescendo e têm presença cada vez maior nos congressos da área Já em relação aos trabalhos que têm Bachelard como referência Lemgru ber 2000 afirma também em Bachelard educadores em ciências especialmente da Química vão buscar a noção de obstáculos epistemológicos e suas conseqüências para a educação p 24 Ainda que o universo pesquisado por Lemgruber não se esgote com essas tendências podendo conter outros conjuntos além destes detectados e que poderiam ser também aprofundados à semelhança desses quatro quero destacar do estudo realizado a explicitação de elementos comuns presentes nos trabalhos que compõem cada um dos conjuntos com o qual são identificados e categorizados Há um relativo compartilhar de alguns aspectos que se por um lado representam uma certa sintonia entre eles em um dado conjunto de trabalhos mesmo quando têm distintos objetos de pesquisa por outro permitem localizar a existência de diferenças entre eles Essa parece ser a tônica do trabalho de Pierson 1997 A autora tem co mo objeto as pesquisas cujo tema é o cotidiano tendo como questão central da investigação Que cotidiano tem participado do Ensino de Física A partir de um levantamento dos SNEFs de 1991 1993 e 1995 Pierson localiza 109 trabalhos que empregam o termo cotidiano o que lhe permite identifi car pelo menos dois conjuntos deles os que tomam o cotidiano enquanto elemento organizador do conteúdo a ser tratado e os que adotamno enquanto reservatório de 160 Delizoicov D concepções espontâneas12 Com isto seleciona as dissertações e teses representadas por estes conjuntos empregando o catálogo do IFUSP 1992 1996 cuja elaboração foi coordenada por Maria Regina Kawamura e Sonia Salem para aprofundar a análise em sua tese de doutorado Pierson 1997 faz um estudo bastante detalhado das semelhanças e dife renças entre os dois grupos Ao sintetizar a argumentação desenvolvida afirma ao tomarmos a utilização do cotidiano como objeto de nossa investigação defrontamonos com olhares diferentes sobre o alu no que leva a compreensões distintas sobre a física a ser ensina da sobre o próprio objetivo para o ensino dessa ciência p 240 A autora parece estar distinguindo os pressupostos educacionais que nor teiam as pesquisas oriundas dos conjuntos Por outro lado quanto aos pressupostos epistemológicos conclui Verificamos a existência de consensos entre as formas de aborda gem a preocupação com a participação efetiva do aluno no seu processo de construção do conhecimento a recusa nestes termos a um ensino meramente informativo e não formativo o reconhe cimento da necessidade de ocorrências de rupturas e a existência de continuidades neste processo de ensino que tem como conteú do um conhecimento que foi historicamente construído e que não se encontra na forma de verdades inquestionáveis PIERSON 1997 p 238 Levando em consideração os dados e as análises apresentadas nessas pesquisas sobre pesquisas em EC podemos esboçar uma síntese parcial sobre o teor das dissertações e teses em EC o que é muito bem caracterizado por Gamboa 1987 em um estudo similar sobre a produção dos programas de pósgraduação em educação nas instituições brasileiras Ele teve como universo de estudo a produção entre os anos 1971 1984 nas instituições do Estado de São Paulo totalizando 502 trabalhos dos quais selecionou 100 como amostra a ser analisada Dentre outras destaco a seguinte conclusão dos seus achados 12 Pierson 1997 está se referindo sobretudo ao GREF e a ABORDAGEM TEMÁTICA no primeiro conjunto de trabalhos que tem como parte de sua fundamentação as concepções do educador Paulo Freire Ao segundo conjunto a autora tem como referência os trabalhos desen volvidos com base sobretudo na perspectiva piagetiana adotada por pesquisadores em EFEC da FEUSP Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 161 Por um lado procuramos desvendar estruturas internas da pes quisa em educação mas procurando sem nos limitarmos a essa incursão ao interior das lógicas implícitas explicitar as condições históricas de sua produção surgimento e evolução Por trás de uma determinada abordagem está um interesse gnoseológico específico e a visão de mundo que o pesquisador consciente ou in conscientemente deixa mais ou menos transparecer no seu rela tório dissertação ou tese Nesse sentido cada abordagem me todológica da pesquisa está vinculada a um determinado inte resse de conhecimento Essa constatação sugere reflexões sobre a visão de mundo e nexo conhecimento e interesse que dão suporte a ação investigadora levando o pesquisador a clarificar suas postu ras a partir da própria abordagem metodológica GAMBOA 1987 p 208 e p 212 Será necessário obter um panorama das dissertações e teses defendidas após 1995 de modo a se realizar uma análise mais atualizada e localizar possíveis alterações no quadro esboçado Ainda que parcialmente o trabalho de Slongo 2003 pode dar alguma sinalização pelo menos no que se refere à área de conteúdo curricu lar de Biologia Assim são localizados mais 44 trabalhos defendidos sobre o ensino de Biologia EB no período 19962000 Temos então para o período 19722000 um total de 110 dissertações 19 teses de doutorado e uma de livre docência totalizando 130 trabalhos um vez que no período 19721995 tínhamos 86 Verificamos um cres cimento expressivo qual seja produziuse em 5 anos mais da metade do que a pes quisa em EB produziu nos 23 anos anteriores isto é 30 dos trabalhos foram defen didos nos último 5 anos A autora mantém os mesmos focos temáticos de Megid 2000 e localiza no período 1996 até 2000 História e Filosofia da Ciência 10 estudos Formação de professores 10 estudos Concepções espontâneas 7 estudos Representação de professores 6 estudos Currículo e programas 15 estudos13 Uma comparação ainda que parcial com alguns dados de EC do período 19721995 pode ser estabelecida Assim por exemplo os estudos centrados na histó ria e filosofia da ciência e na formação de professores parecem ter se consolidado 13 A quantidade é maior que 44 trabalhos porque uns foram classificados em mais de um foco 162 Delizoicov D apresentando inclusive um pequeno aumento quando se compara EB 19962000 com EC 19721995 na qual EB estava incluída Já o interesse pelo foco currículos e programas aparentemente parece ter diminuído uma vez que houve uma redução de 43 considerando EC de 19721995 para cerca de 30 em EB Por sua vez conforme esperado as pesquisas que enfocaram concepções espontâneas e sua par ceira mudança conceitual parecem ter tido um maior declínio relativo Lemgruber 2000 detectou na amostra investigada 33 dos trabalhos sobre concepções espon tâneas no período 19721995 enquanto temos menos da metade disso cerca de 15 do total dos trabalhos em EB no período 19972000 Há também o surgimento de pesquisas sobre representação dos professores com 13 dos trabalhos 19972000 enquanto no período anterior tínhamos um foco genérico denominado características dos professores com um total de 18 Realizar uma extrapolação através dessas comparações pode não ser a propriada para que possamos inferir possíveis alterações no quadro esboçado mas parece razoável ter como hipótese que a tendência delineada também possa ser detec tada caso o universo dos trabalhos analisados venha a ser ampliado incluindo EF EC EQ O deslocamento relativo de alguns dos focos temáticos investigados entre tanto realça a dimensão histórica do surgimento de temas além de certa adesão da comunidade de pesquisadores a alguns deles e um relativo declínio de outros temas pesquisados Este parece ser por exemplo o caso das pesquisas em concepções es pontâneas e sobre mudança conceitual O arrefecimento das pesquisas sobre as cha madas concepções espontâneas dos alunos pode estar relacionado à compreensão do coletivo de pesquisadores desse tema de que o seu levantamento tenha se exaurido considerando a quantidade e diversidade destas concepções pesquisadas nas mais diversas faixas etárias conforme podemos inferir do trabalho de Pfundt e Duit 1994 É possível porém que estejamos igualmente procurando novos caminhos para direcionar o que fazer com esta imensa quantidade de informações sobre as con cepções dos alunos quer do ponto de vista do seu melhor entendimento quer do seu emprego em situações de ensino Constituindo ou não uma espécie de erro epistemológico emprestando esta categoria de Bachelard para uma interpretação de situações como esta o fato é que a pesquisa em mudança conceitual que era a tônica durante a década de 80 e início de 90 do século passado e presente com freqüência relativamente alta nas pu blicações e congressos do campo tem tido presença cada vez mais rara Será preciso um estudo mais cuidadoso para melhor compreender isto No entanto não foram poucas as análises críticas14 feitas sobre a possibilidade de se conseguir algum tipo de mudança conceitual no sentido que foi atribuído por estas pesquisas É cedo contu 14 Ver por exemplo artigo de Mortimer 1996 Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 163 do para se pensar numa averiguação a respeito da possibilidade de um erro epistemo lógico Na seqüência farei algumas considerações de cunho epistemológico Mi nha intenção é buscar elementos com os quais possamos delinear e propor sugestões para possíveis encaminhamentos da pesquisa em EC IV Aspectos epistemológicos da produção em EC As análises realizadas pelos trabalhos põem em evidência que uma das características da produção é a de ser elaborada de forma compartilhada por pesqui sadores agregados em torno de alguns elementos Não se trata simplesmente de loca lizar a origem dessa característica pela forma como os pesquisadores se organizam isto é em grupos de pesquisa A partir de distintos enfoques teóricos e metodológi cos as observações das dissertações e teses de EC ou melhor dizendo das várias amostragens que compõem a totalidade da produção levantada e referenciada procu raram enfatizar as relações tanto de semelhanças como de diferenças existentes entre elas classificandoas segundo os critérios próprios adotados e diferentes de um tra balho para outro em conjuntos cuja origem não está em apenas um curso ou progra ma de pósgraduação ou seja não está propriamente vinculada a um grupo particular de pesquisadores localizado em alguma instituição ainda que a produção destes últi mos possa ser representativa de algum dos agrupamentos de dissertações e teses em EC apresentadas Quero chamar a atenção para esse caráter coletivo ou mais precisamente para a organização em vários coletivos da produção Em outros termos o campo social de produção de conhecimento em EC FRANCO e SZTAJN 1998 tem esta característica de poder se estruturar em torno de elementos comuns que se diferenci am mais ou menos relativamente uns dos outros parecendo se constituir em distin tos coletivos sociais de produção de conhecimento em EC Caso o modelo kuhniano pudesse ser utilizado para interpretar essa situação poderíamos dizer que esses gru pos estariam de algum modo compartilhando de distintos paradigmas No entanto não precisamos emprestar de Kuhn o seu modelo que a rigor seria uma compreensão para as ciências da natureza uma vez que são elas particularmente a Física que ele tem como objeto de análise e nem ter paradigmas como referência para uma análise que considere os aspectos epistemológicos da produção em EC15 Ao invés disso utilizarei como referência Ludwik Fleck 1986 a exem plo de Da Ros 2000 que em sua tese de doutorado adotao como autor fundamental 15 A esse respeito ver o artigo Kuhn e as Ciências Sociais de Jesus de Paula Assis 1993 em que o autor argumenta sobre a limitação do modelo de Kuhn e a nãopertinência do seu uso para a área das Ciências Sociais por exemplo 164 Delizoicov D para investigar a produção em dissertações e teses da área de Saúde Pública e de Slongo 2003 que está analisando as de ensino de Biologia Ainda pouco conhecido no Brasil Ludwik Fleck 18961961 médico polonês com uma vasta produção na área de microbiologia e imunologia tem sua produção epistemológica contemporânea à de Bachelard e à de Popper e como estes assume posição crítica em relação ao empirismo lógico Também são numerosos seus trabalhos sobre epistemologia sendo que em dois dos seus primeiros artigos FLECK 1927 1929 antecipa suas idéias que serão aprofundadas no livro publica do em alemão em 1935 que tem o sugestivo título traduzido a partir da versão em espanhol do livro Gênese e desenvolvimento de um fato científico FLECK 1986 Thomas Kuhn reconhece mesmo que em uma citação passageira no pre fácio do seu livro A estrutura das revoluções científicas a influência que Fleck teve sobre suas idéias Com a publicação da tradução em inglês do livro de Fleck em 1979 cuja apresentação é feita por Kuhn este epistemólogo polonês passa a ser me lhor conhecido na Europa No início dos anos 80 um congresso sobre suas posições epistemológicas e trabalhos é realizado originando a densa publicação Cognition and Fact COHEN SCHNELLE 1986 sobre os desdobramentos do uso das concepções de Fleck que passa então a ser considerado como pioneiro na abordagem construti vista e sociologicamente orientada sobre História e Filosofia da Ciência COHEN SCHNELLE 1986 Löwy 1994a Fleck nas considerações epistemológicas que faz argumenta sobre o pa pel dos distintos coletivos de pensamento FLECK1986 ao analisar a produção e disseminação de conhecimentos Ele caracteriza um coletivo de pensamento como constituído por um coletivo de indivíduos que é portador de um estilo de pensamento o qual podemos compreender sinteticamente como sendo caracterizado por conheci mentos e práticas compartilhadas Articulando dados históricos particularmente da área da medicina propõe uma epistemologia da ciência cuja característica principal é a da superação das perspectivas tanto racionalista como empirista Para ele o sujeito do conhecimento estabelece interações com o objeto do conhecimento através de relações que são mediatizadas pelo que ele denominou estilo de pensamento Ao longo de sua obra principal FLECK 1986 e dos outros dois artigos FLECK 1927 1929 ele vai construindo e exemplificando em várias circunstâncias da análise histórica apresentada o significado de estilo de pensamento16 Vários trabalhos tais como Cutolo 2001 Da Ros 2000 Delizoicov 2002 Delizoicov et al 2002 16 Talvez por isso não se encontrará propriamente uma definição precisa do termo estilo de pensamento mas uma caracterização bastante exemplificada do que faz um estilo de pensa mento Situação parecida encontramos em A estrutura das revoluções científicas KUHN 1975 com relação ao termo paradigma como muito bem analisado no conhecido trabalho de Margaret Masterman Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 165 mencionando apenas alguns desenvolvidos no Brasil que o usam como referência vêm aprofundando a compreensão do termo estilo de pensamento e o tem empregado como uma categoria analítica que se mostra particularmente profícua para análise epistemológica Destaco de Cutolo 2001 a seguinte caracterização para a categoria estilo de pensamento 1 modo de ver entender e conceber 2 processual dinâmico sujeito a mecanismos de regulação 3 determinado psicosóciohistóricoculturalmente 4 que leva a um corpo de conhecimentos e práticas 5 compartilhado por um coletivo com formação especifica p 55 grifo meu Fleck 1986 considera que a dinâmica da produção de conhecimentos ocorre através da instauração extensão e transformação de estilos de pensamentos representando papel destacado nesta dinâmica a interação inter e intracoletivos As sim na transformação de um estilo de pensamento e na implantação de um novo o papel da interação entre distintos coletivos é de fundamental importância na compre ensão de Fleck para o enfrentamento de problemas de investigação que têm determi nadas características quais sejam tenham se revelado como complicações FLECK198617 não resolvidas pelo estilo de pensamento que se ocupa do problema investigado ou porque o problema é complexo o suficiente de modo que um particu lar estilo de pensamento se revela limitado para enfrentar sua solução Já durante a extensão do estilo de pensamento a interação intracoletivo é responsável tanto pela efetiva adoção do estilo de pensamento como pela formação dos membros integrantes do coletivo que o compartilharão Essa parece ser a situação em que viveu e vive o campo de EC se consi derarmos os aspectos até aqui destacados sobre a cronologia e a produção em EC De fato Fleck tem pretensão de propor uma teoria do conhecimento que não se ocupe apenas da produção da ciência particularmente as ciências da natureza Ele afirma ao propor o seu modelo epistemológico que A fertilidade da teoria do pensamento coletivo se mostra precisa mente na possibilidade que nos proporciona para comparar e in 17 Qualquer semelhança desta dinâmica com a que propõe Kuhn 1975 na Estrutura das Revo luções Científicas não é mera coincidência Ver prefácio do livro de Kuhn uma referência en passant a Fleck e o artigo de Delizoicov et al 2002 onde uma comparação entre os dois é estabelecida 166 Delizoicov D vestigar de forma uniforme o pensar primitivo arcaico ingênuo também pode ser aplicado ao pensamento de um povo de uma classe ou de um grupo FLECK 1986 p 98 Mas se Fleck pode dar alguma contribuição para uma caracterização do campo EC é também para uma compreensão do próprio recorte que o campo realiza ao definir os seus objetos de investigação que ele pode contribuir Assim ao analisar o processo de disseminação de conhecimentos para um público de nãoespecialistas ele chama a atenção para a importância de se considerar a interação que ocorre entre distintos estilos de pensamento através da circulação intercoletiva de idéias18 FLECK 1986 Se a circulação intracoletiva de idéias é segundo ele responsável pela formação dos pares que compartilharão o estilo de pensamento quer dizer dos especialistas no caso de um determinado coletivo de pesquisadores que constituem o que ele denomina de um círculo esotérico é a circulação intercoletiva de idéias a responsável pela disseminação popularização e vulgarização dos estilos de pen samento para outros coletivos de nãoespecialistas que constituem para Fleck círcu los exotéricos relativamente a um determinado círculo esotérico Como não poderia deixar de ocorrer nesta circulação intercoletiva há simplificações no conhecimento disseminado conforme analisa o autor Destaca como já anunciei o papel que essa circulação de idéias represen ta enquanto um elemento que pode ter conseqüências na transformação de estilos É precisamente neste ponto que podemos relacionar essa dinâmica com o papel do pro fessor de ciências e da educação escolar Em outros termos o professor de ciências é um dos mediadores no processo educativo escolar da apropriação pelos alunos dos estilos de pensamentos produzidos pelos coletivos de cientistas Podemos então interpretar que ao se apropriar dos conhecimentos desses estilos o aluno estaria modificando o seu próprio estilo Obviamente quando o processo educativo for bem sucedido nesta tarefa de disseminação Na análise da difusão de conhecimentos entre distintos círculos é preciso chamar a atenção para a relatividade existente entre a consideração do que seja um círculo esotérico e um exotérico Não necessariamente um círculo exo é constituído por um coletivo de nãoespecialistas Pode ser que estejamos frente a uma situação que envolva duas especialidades Por exemplo a de pesquisadores em Física e a de investigadores em Psicologia ou daqueles e de licenciados em Física ou mesmo de pesquisadores em ensino de Física Assim só tem sentido em se falar em círculos exotéricos quando se está na presença de mais de um coletivo de pensamento sendo ambos esotéricos e relativamente exotéricos Em uma situação como esta argumenta Fleck que 18 A denominação circulação de idéias não é a mais adequada uma vez que segundo o próprio Fleck 1986 ocorre também a circulação ou disseminação de práticas Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 167 1 pode haver maior ou menor aproximação entre os estilos ocorrendo desde uma certa afinidade até a incongruência ou incompatibilidade FLECK 1986 entre os estilos considerados 2 que há círculos exotéricos constituídos por leigos formados diferen temente dos simplesmente leigos Situação típica por exemplo se considerarmos três coletivos o que faz pesquisa em Física Nuclear o dos professores de Física do Ensi no Médio círculo exotérico relativo ao anterior de leigos formados pois não fazem necessariamente pesquisa em Física Nuclear e o dos alunos do Ensino Básico círculo exotérico de leigos Em síntese o processo educativo escolar pode ser visto como um proces so sistemático de disseminação19 de conhecimentos produzidos por um círculo esoté rico constituído por coletivos de pensamentos científicos mediatizado por um círculo exotérico de leigos formados qual seja o dos coletivos de pensamento re presentados pelos professores de ciências através do qual pretendese formar um círculo exotérico mais externo e amplo de leigos que é composto por estilos de pen samento compartilhados pelos alunos Deste modo podemos interpretar que os problemas do campo de EC são localizados e formulados ao se ter algum aspecto desse processo como foco que seria o objeto de investigação da área Neste sentido os distintos coletivos de pensamento que caracterizam os pesquisadores em EC poderiam em uma primeira aproximação ser compreendidos como fazendo recortes privilegiados em relação aos distintos círculos envolvidos na disseminação Podemos ter algumas das seguintes alternativas para estes recortes relativos ao círculo esotérico coletivos de cientistas ao exotérico de leigos formados ao exotérico de leigos ou relativos a alguma forma complemen tar entre dois ou mesmo três destes círculos Não se trata de rotular simplesmente de problemas relativos a conteúdos curriculares ou a ensino ou a aprendizagem uma vez que no interior de cada um dos círculos há o caráter processual da constituição dos coletivos de pensamento através da circulação intracoletiva de conhecimentos e práticas Assim poderíamos interpretar os focos temáticos detectados por Megid 2000 como estando relacionados com aspectos envolvidos nos círculos e coletivos que compõem o processo de disseminação A partir dessa complexidade oriunda das mais diversas interações são identificados e formulados os problemas É na definição destes portanto que teríamos uma primeira separação entre os vários coletivos de pesquisadores em EC que se ocupam dos diferentes focos temáticos detectados Por 19 Obviamente a disseminação de conhecimentos científicos não se restringe à educação esco lar Há outros meios que contribuem e ao fazerem isto introduzem distintos níveis de simplifi cação e não raramente equívocos conceituais Tem crescido nos últimos anos a pesquisa em EC que têm como objeto de investigação os espaços informais de disseminação como por exemplo museus e revistas de divulgação científica 168 Delizoicov D sua vez nos procedimentos teóricometodológicos adotados para a solução dos mes mos estaria uma segunda diferenciação conforme argumentei a partir de inferências dos trabalhos de Pierson 1997 Megid 2000 Megid 1999a e Lemgruber 1999 2000 Gamboa 1987 Estes dois tipos de distinção entre coletivos estão relaciona dos com a maior ou menor comunicação intercoletiva isto é uma gradação que tem uma variação desde pouca ou nenhuma incongruência ou incompatibilidade entre estilos que permite uso mútuo dos resultados de pesquisa e citação nas respectivas produções em variados níveis de intensidade e freqüência até a de total incongruên cia a ponto de algumas vezes não haver reconhecimento de que algum trabalho seja pesquisa ou de que outro tenha alguma contribuição mais imediata para a melhoria do processo educativo que ocorre nas escolas brasileiras situações não muito raras com que em determinadas circunstâncias20 nos defrontamos V Considerações finais A pesquisa em EC no Brasil constitui de fato um campo social de pro dução de conhecimento caracterizandose como autônoma em relação a outros cam pos do saber mas mantendo interrelações em distintos níveis de aproximação com essas áreas Sua gênese pode ser compreendida como a instauração extensão e trans formação de estilos de pensamento compartilhados por coletivos constituídos por pesquisadores que ao se defrontarem com complicações relativas ao ensino de ciên cias por exemplo no início dos anos 6070 procuram subsidiar suas ações intera gindo com outros especialistas através de distintas formas e não somente com a in corporação destes nas equipes de trabalho Por exemplo estudo sistemático de publi cações de autores e pesquisadores que não pertencem à comunidade de físicos biólo gos ou químicos intercâmbio entre instituições que produzem conhecimento em outras áreas freqüência a eventos científicos que não os de Física Química e Biolo gia Ou seja é o que podemos caracterizar como circulação intercoletiva de idéias possibilitando a instauração de outros estilos de pensamento que acabam se distanci ando em termos de conhecimentos procedimentos de pesquisa e problemas investi gados daquele ao qual o pesquisador originalmente esteve ligado podendo ou não um mesmo pesquisador transitar entre os dois estilos na medida em que continua pelo menos durante um certo tempo produzindo na área de origem e em EC A ex tensão desse estilo nascente ocorre sobretudo através da implementação dos progra mas de pósgraduação em EC da formação de pesquisadores em instituições do exte rior da criação de periódicos especializados em trabalhos sobre EC e dos congressos 20 Estou me referindo às situações relacionadas à elaboração de parecer quer de trabalhos submetidos a julgamento para publicação em periódicos ou apresentação em congressos quer para solicitação de financiamento para pesquisa Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 169 da área Cabe destacar que esse processo é dinâmico e que comporta diferenciações ao se disseminar ou seja carrega consigo a necessidade de sua própria transforma ção Assim se nos anos 6070 um possível estilo de pensamento em EC começa a ser instaurado a partir das equipes coletivos que desenvolveram material didático para esse ensino projetos de ensino IBECC no seu processo de extensão ampliação dos elementos que compõem o coletivo de pensamento transformase na medida em que a perspectiva de se realizar pesquisa em EC é incorporada como meta Localizo aqui a primeira grande transformação ocorrida com o coletivo de pensamento que iniciou ao compartilhar conhecimentos e práticas relativas ao EC transformase em um cole tivo que passará a realizar também pesquisa em EC além de EC Por sua vez as pósgraduações publicações e congressos da área ao pos sibilitar a circulação intracoletiva de idéias qual seja problemas investigados referenciais da área procedimentos e resultados de pesquisa enfim conhecimentos e práticas compartilhados ou a ser partilhados por pesquisadores em formação estende e transforma o estilo em instauração Podemos dizer que hoje esse dinâmico e complexo processo cuja histó ria precisa ser convenientemente analisada tem como conseqüência a coexistência de mais de um estilo de pensamento compartilhado cada um deles por um coletivo de pensamento que se estrutura e se agrupa em função de variáveis das quais destaco formas de conceber e priorizar problemas de investigação referenciais teóricos e metodológicos adotados distintos níveis de vínculos entre pesquisapráticas educati vas que incluem uma gradação cujos limites estão na pesquisa altamente articulada com intervenção e na pesquisa sem intervenção alguma Podemos identificar estilos que mantêm maior ou menor aproximação e que promovem interações com maior ou menor intensidade por exemplo através da freqüência de referências mútuas tam bém em gradações que vão desde as constantemente presentes e recorrentes em de terminados grupos de trabalho até outras referências absolutamente ausentes nestes Um exame desse tipo pode auxiliar na identificação de estilos distantes ou mesmo incompatíveis até aqueles que se constituiriam em simples matizes FLECK 1986 tal o nível de aproximação Há então a existência de distintos níveis de circulação intercoletiva de conhecimentos e práticas entre os vários grupos que constituem o campo dos pesquisadores em EC Essa situação é portanto caracterizada por um pluralismo com origens históricas que não precisa necessariamente caminhar para o relativismo absoluto a menos que se assuma a posição feyerabendiana do vale tudo o que neste caso da pesquisa em EC particularmente não vejo como problemática desde que explicita mente assumida pela área Ao invés disso podemos ao reconhecer a historicidade da coexistência de distintos estilos de pensamento direcionando a pesquisa em EC cons truir critérios que de algum modo pairem acima de cada um dos estilos Parece claro que o já estabelecido de se garantir como de modo geral tem ocorrido a inclusão por parâmetros acadêmicos através da análise dos pares de trabalhos em anais de congressos e em artigos de revista que representam esta pluralidade precisa ser 170 Delizoicov D mantido e se necessário aperfeiçoado No entanto somente esse critério parece tam bém não ser suficiente se concebermos as pesquisas em EC como ciências humanas aplicadas Será preciso a observância de outros sobretudo para enfrentar o problema do relativo pouco impacto desses estudos sobre as práticas escolares Para abrir a discussão e procurar outros critérios estou propondo que façamos o exercício de incorporar em todas as nossas publicações um item onde haja uma discussão sobre possíveis impactos Quero dizer que sejam feitas considerações sobre por exemplo motivações pretensões implicações dos resultados das investigações nas práticas educativas mesmo nos casos em que não se consiga identificar claramente nem onde e nem quando esses resultados seriam implementados Correndo o risco de uso inadequado ou mesmo equivocado de argumen tar me apoiando em diretrizes fundamentais que estruturam o conhecimento produzi do pela Física ousarei utilizálas para a apresentação de uma síntese problematizado ra uma vez que este artigo inicialmente destinase a pesquisadores em EF A com pensação dessa ousadia está em poder chamar a atenção para aspectos que de outra forma talvez não fossem tão eficientemente comunicados Assim data venia a intenção de empregar essas diretrizes no meu discur so é destacar o conteúdo e não o argumento que analogicamente teria um papel cata lizador Assim podemos considerar que a pesquisa em EFEC trata de investigar fenômenos que ocorrem em um espaçotempo cuja característica fundamental é ter como propriedade a nãosimetria É obvio que neste caso o tempo e o espaço não são homogêneos e nem isotrópicos Isto sugere que não devemos procurar invarian tes universais21 São exceção os invariantes relativos aos princípios ontológicos co mo por exemplo a capacidade da espécie humana de se comunicar através de línguas aliás é por isto que esta espécie é designada de humana e que portanto qualquer homem pode vir a ter uma língua Mas uma particular não é um invariante universal mesmo as mais amplas e hegemonicamente empregadas em determinados períodos históricos O mesmo podemos dizer sobre cultura e história Neste sentido e para se entender melhor os problemas de pesquisa em ensino suas relações ensino e educação podemos perguntar O que significa pesquisa básicafundamental em ECEF Quais caracte rísticas precisa ter Qual o papel desempenhado pelos resultados de pesquisa em ECEF o riundos de espaçostempos distintos daqueles em que se localizam nossos alunos professores e escolas 21 Sobre a relação entre princípios de conservação homogeneidade temporal e isotropia do espaço ver Landau e Lifchitz sd Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 171 Com isso não estou endossando e nem fomentando qualquer tipo de xe nofobia acadêmica mas sim uma sintonia dos problemas investigados e seus resulta dos com as situações envolvidas nas escolas e educação do Brasil Ao propor isso não apóio também qualquer perspectiva que reduza a pesquisa a um mero pragma tismo ativista Nunca é demais lembrar o significado representado pelos projetos de ensino estrangeiros de um lado a consciência da inadequação de uma simples trans posição de outro teve influência no desafio de se elaborar projetos brasileiros que dentre outros desdobramentos propiciou uma transformação nos estilos de pen samento então presentes na medida em que começa a se incluir a dimensão da pes quisa nos coletivos que se articulavam em torno do ECEF Quais critérios oriundos das características do espaçotempo no qual os fenômenos ocorrem balizam a formulação dos problemas pesquisados ou a ser pes quisados em ECEF Destaco que apenas em 1970 tivemos a democratização do acesso ao en sino fundamental público período em que podemos localizar os primórdios da pes quisa em EFEC no Brasil como também nos países do hemisfério norte Mas dife rentemente do Brasil o acesso a esse nível de educação naqueles países já era garan tido haja vista o índice bastante baixo ou praticamente a inexistência de analfabetis mo que os caracterizam Em contrapartida mais de três décadas passadas e temos ainda no Brasil um analfabetismo da ordem de dezenas de milhões agora não mais devido a problemas de falta de escolas e vagas mas relacionados dentre outros fato res sócioeconômicos também ao processo de disseminação de conhecimento que ocorre nesses estabelecimentos de ensino que segundo a perspectiva de análise que adotei é a fonte de problemas de investigação do campo EC Ainda que tanto a edu cação escolar como o ensino nela promovido pudessem ser considerados como efeitos e não causa da situação em que nos encontramos22 penso que a pesquisa em EC enquanto ciências humanas aplicadas deve ter sólidos vínculos e compromissos com a superação dessa situação VI Referências bibliográficas ASSIS J P Kuhn e as ciências sociais Estudos Avançados v 7 n 19 p 133 164 1993 22 Ver por exemplo dados do INEP sobre analfabetismo repetição evasão escolar e desempe nho dos alunos do ensino fundamental em relação aos conhecimentos de Língua Portuguesa e Matemática Não creio que tenhamos que realizar uma pesquisa para confirmar que a respeito dos conhecimentos sobre ciências teríamos algo muito semelhante a isso se não pior 172 Delizoicov D BARROS S S Reflexões sobre 30 anos da pesquisa em ensino de Física In ENCONTRO DE PESQUISA DE ENSINO DE FÍSICA VIII 2002 Rio de Ja neiro Atas CDrom BRASIL Interdisciplinaridade no Município de São Paulo Série Inovações Edu cacionais Brasília INEP MEC 1994 CACHAPUZ A F Investigação em didáctica das ciências em Portugal um balanço crítico In PIMENTA S G Didática e formação de professores per cursos e perspectivas no Brasil e em Portugal São Paulo Cortez Editora 2000 COHEN R SCHNELLE T Cognition and Fact Dordercht Reidel 1986 CUTOLO L R A Estilo de pensamento em educação médica um estudo do currículo do curso de graduação em Medicina da UFSC 2001 Tese Doutorado Centro de Ciências da Educação UFSC Florianópolis DA ROS M A Estilos de pensamento em Saúde Pública um estudo da produ ção da FSPUSP e ENSPFIOCRUZ entre 1948 e 1994 a partir de epistemo logia de Ludwik Fleck 2000 Tese Doutorado Centro de Ciências da Educa ção UFSC Florianópolis DELIZOICOV D ANGOTTI J A PERNANBUCO M M Ensino de Ciên cias fundamentos e métodos São Paulo Editora Cortez 2002 DELIZOICOV D et al Sociogênese do conhecimento e pesquisa em ensino contribuições a partir do referencial fleckiano Caderno Brasileiro de Ensino de Física 19 n especial p 5269 2002 DELIZOICOV N C O movimento do sangue no corpo humano história e ensino 2002 Tese Doutorado Centro de Ciências da Educação UFSC Florianópolis FLECK L La Génesis y el Desarrollo de un Hecho Científico Madrid Alianza Editorial 1986 FLECK L On the Crisis of Reality 1929 In COHEN R S SCHNELLE T Cognition and Fact Materials on Ludwik Fleck Dordrecht D Reidel Publi shing Company 1986a Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 173 FLECK L Some specific features of the medical way of thinking 1927 In LÖWY I The Polish school of philosophy of medicine from Tytus Chalubinski to Ludwik Fleck Dordercht Reidel 1990 FRANCO C SZTAJAN P Educação em ciências e matemática identidade e implicações para políticas de formação continuada de professores In ENCON TRO DE PESQUISA DE ENSINO DE FÍSICA VI 1998 Florianópolis Atas CDrom GAMBOA S A S Epistemologia da pesquisa em Educação estruturas lógicas e tendências metodológicas 1987 Tese Doutorado Campinas São Paulo KRASILCHIK M A evolução no ensino das Ciências no período 19501985 In Ed O professor e o currículo de Ciências São Paulo EPU Edusp 1987 KUHN T A Estrutura das Revoluções Científicas São Paulo Perspectiva 1975 LANDAU L LIFCHITZ E Curso de Física Mecânica São Paulo Hemus sd LEMGRUBER M S A educação em Ciências Físicas e Biológicas a partir das teses e dissertações 1981 a 1995 uma história de sua história 1999 Tese Doutorado UFRJ Rio de Janeiro LEMGRUBER M S Um panorama da educação em ciências Educação em Foco v 5 n 1 p 1328 2000 Löwy I Fleck e a historiografia recente da pesquisa biomédica In PORTO CARRERO V Org Filosofia História e Sociologia das Ciências Rio de Janeiro Fiocruz 1994 p 233249 Löwy I Ludwik Fleck e a presente história das ciências In MANGUINHOS História Ciências Saúde Rio de Janeiro Fiocruz 1994 v I n 1 MEGID NETO J O ensino de Ciências no Brasil catálogo analítico de teses e dissertações 19721995 Campinas UNICAMPFECEDOC 1998 220 p MEGID NETO J ANDRADE E C P CABRAL M C O que se pesquisa sobre educação em ciências no Brasil um catálogo analítico de teses e disserta ções 19721995 In SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA XIII 1999 Brasília Atas Brasília UnBSBF 1999 174 Delizoicov D MEGID NETO J Sobre as pesquisas em ensino de Física nós podemos saber mas como socializar os conhecimentos elaborados nessas pesquisas In EN CONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA VII 2000 Florianópolis Atas CDrom MEGID NETO J O que sabemos sobre a pesquisa em ensino de Ciências no nível fundamental tendências de teses e dissertações defendidas entre 1972 e 1995 In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CI ÊNCIAS II 1999 Valinhos AtasValinhos ABRAPEC 1999b CDROM MEGID NETO J Tendências da pesquisa acadêmica sobre o ensino de Ciên cias no nível fundamental 1999a 365f Tese Doutorado em Educação Facul dade de Educação Universidade Estadual de Campinas Campinas MEGID NETO J Pesquisa em Ensino de Física do 2º grau no Brasil concep ção e tratamento de problemas em teses e dissertações 1990 Dissertação Mestrado Campinas MENDES SOBRINHO J A O ensino de ciências naturais na escola normal aspectos históricos Teresina EDUFI 2002 MORTIMER E F Construtivismo mudança conceitual e ensino de ciências para onde vamos Investigação em Ensino de Ciências v 1 p 20 39 1996 PACHECO D MEGID NETO J OLIVEIRA L Tempo de avaliação 20 anos de teses e dissertações sobre ensino de Física no Brasil In SIMPÓSIO NACIO NAL DE ENSINO DE FÍSICA LONDRINA X 1993 Atas p 182185 PACHECO D MEGID NETO J Propostas metodológicas para o ensino de Física apresentadas em teses e dissertações defendidas entre 1972 e 1995 no Bra sil In SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA XIII 1999 Brasília Caderno de Resumos e Programação p 102103 PACHECO D MEGID NETO J Propostas metodológicas para o ensino de Física apresentadas em teses e dissertações entre 1972 e 1995 no Brasil Relató rio de Projeto de Pesquisa FAEPUNICAMP Campinas Faculdade de Educação da UNICAMP 1998 mimeo PERNAMBUCO M M Uma retomada histórica do ensino de Ciências In SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA VI 1985 Niterói Atas p 116125 Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 175 PIETROCOLA M Visibilidade social e contactos com a área de Educação In ENCONTRO DE PESQUISA DE ENSINO DE FÍSICA VIII 2002 Águas de Lindóia Anais CDROM PFUNDT H DUIT R Bibliography students alternative frameworks and Science Education Kiel Institute for Science Education 1994 PIERSON A H C O cotidiano e a busca de sentido para o ensino de Física 1997 Tese Doutorado Faculdade de Educação USP São Paulo SEVERINO A J A Filosofia contemporânea no Brasil conhecimento política e educação Petrópolis Vozes 1997 SLONGO I I A produção acadêmica em ensino de Biologia um estudo a partir de dissertações e teses Relatório do exame de qualificação para doutorado Cen tro de Ciências da Educação UFSC Florianópolis 2003 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Instituto de Física Ensino de Física no Brasil catálogo analítico de dissertações e teses 19721992 São Paulo sn 1992 110 p UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Instituto de Física Ensino de Física no Brasil catálogo analítico de dissertações e teses 19931995 São Paulo sn 1996 VAZ A M et al Professores Pesquisadores e os Problemas da Escola In EN CONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA VII 2002 Águas de Lin dóia Anais CDROM PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS COMO CIÊNCIAS HUMANAS APLICADAS O texto escrito por Demétrio Delizoicov discute a pesquisa em ensino de ciências no Brasil destacando a falta de ênfase na relação entre pesquisa em ensino de cienências e ciências humanas aplicadas Ele menciona a formação predominantemente em Física Biologia e Química dos pesquisadores em EC e ressalta a criação de programas de pósgraduação em ensino de física na UFGRS e na USP nos anos 70 O autor destaca a recente desvinculação das pósgraduações em EC do Grupo de Trabalho GT Educação na CAPES e a importância de considerar a contextualização temporal da área Além disso enfatiza que as relações entre pesquisa pesquisadores e instituições influenciam os direcionamentos das pesquisas em EC e conclui mencionando a contribuição significativa das dissertações e teses das instituições com programas de pósgraduação em EC para a produção da área destacando a importância de examinar trabalhos sobre dissertações e teses para compreender a relação entre Ensino de Ciências Pesquisa em Ensino de Ciências e Educação É importante destacar que o texto aborda desafios no resgate histórico do ensino de ciências destacando a necessidade de um projeto multidisciplinar Apresenta também uma cronologia adaptada incluindo eventos científicos periódicos e produção em dissertações e teses além de destacar a diversidade na pesquisa em Ensino e Aprendizagem de Física ressaltando que embora feita por físicos utiliza fundamentos das Ciências Humanas O autor examina eventos e periódicos em ensino de Biologia e Química bem como a criação da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências ABRAPEC abordando a produção em dissertações e teses enfocando a concentração em Física com menção à possível mudança após os anos 90 Adicionalmente o estudo analisa focos temáticos na pesquisa em Ensino de Ciências destacando temas como conteúdométodo currículos e programas características do aluno recursos didáticos e outros indicando a possibilidade de mudanças nos últimos anos O texto aborda pesquisas em Educação em Ciências EC destacando dados sobre orientadores temáticas e referenciais teóricos Após 1995 pesquisas relacionadas a CTS cresceram mas a análise histórica revela mudanças nas ênfases temáticas Trabalhos em Educação em Biologia EB entre 1996 e 2000 evidenciam aumento na produção com focos em história e filosofia da ciência formação de professores e currículo Comparando com EC 19721995 há tendências consolidadas e declínios em algumas áreas como concepções espontâneas e mudança conceitual destacando a importância de considerar aspectos históricos e epistemológicos na pesquisa em EC O estudo além disso propõe análise atualizada para identificar mudanças e sugere reflexões sobre o direcionamento da pesquisa e destaca que a produção nessa área é caracterizada por ser elaborada de forma compartilhada por pesquisadores agregados em coletivos Esses coletivos não estão restritos a cursos ou programas de pósgraduação específicos mas são formados por pesquisadores de diversas origens A análise oferecida ao longo do texto se baseia em abordagens teóricas e metodológicas distintas buscando enfatizar as relações de semelhança e diferença entre os coletivos O autor exibe a organização coletiva da produção em EC sugerindo que o campo pode se estruturar em torno de distintos coletivos sociais de produção de conhecimento Em vez de aplicar o modelo kuhniano o texto propõe a utilização das ideias de Ludwik Fleck um médico polonês contemporâneo de Bachelard e Popper que desenvolveu uma abordagem construtivista e sociologicamente orientada sobre História e Filosofia da Ciência Fleck argumenta sobre a importância dos coletivos de pensamento na produção e disseminação de conhecimentos Ele introduz o conceito de estilo de pensamento como um conjunto de conhecimentos e práticas compartilhadas por um coletivo A dinâmica da produção de conhecimento para Fleck envolve a instauração extensão e transformação de estilos de pensamento com a interação entre distintos coletivos desempenhando um papel fundamental O texto destaca a aplicação do conceito de estilo de pensamento na análise da produção em EC Diversos pesquisadores como Cutolo e Da Ros têm explorado essa abordagem contribuindo para uma compreensão mais profunda desse conceito Fleck também aborda a circulação intercoletiva de ideias e práticas destacando o papel do professor de ciências na disseminação de conhecimentos para os alunos Ao final o texto relaciona as ideias de Fleck ao campo de EC sugerindo que a definição dos problemas nesse campo está vinculada ao foco em diferentes aspectos do processo de disseminação de conhecimentos Há uma distinção entre coletivos de pesquisadores com diferentes focos temáticos e outra relacionada à comunicação coletiva variando de uma maior congruência entre estilos de pensamento a uma total incongruência A análise dos trabalhos destaca a produção em Educação em Ciências EC como compartilhada por pesquisadores em coletivos não limitada a grupos específicos de pesquisa em instituições Esses coletivos apresentam relações de semelhanças e diferenças formando distintos grupos sociais de produção de conhecimento em EC Ao invés de adotar o modelo kuhniano o autor utiliza a abordagem de Ludwik Fleck para entender a produção em EC destacando a importância dos coletivos de pensamento e estilos de pensamento compartilhados Fleck argumenta que a dinâmica da produção de conhecimento envolve a instauração extensão e transformação de estilos de pensamento mediados por interações entre coletivos De forma geral a pesquisa em Educação em Ciências EC no Brasil é reconhecida como um campo social autônomo mantendo interrelações com outros campos do saber Sua origem é atribuída à instauração extensão e transformação de estilos de pensamento compartilhados por coletivos de pesquisadores Ao longo do tempo a pesquisa em EC evoluiu incorporando a pesquisa como meta e diversificandose em estilos de pensamento A existência de vários estilos coexistentes é caracterizada por um pluralismo histórico O autor por fim destaca a necessidade de critérios que transcendam os estilos propondo a inclusão do item possíveis impactos em publicações como um meio de avaliação mais abrangente Além disso ele enfatiza a importância de sintonizar os problemas investigados com as realidades das escolas e da educação brasileira considerando as características específicas do espaçotempo em que ocorrem os fenômenos estudados em EC
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Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 145 PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS COMO CI ÊNCIAS HUMANAS APLICADAS 1 Demétrio Delizoicov Departamento de Metodologia do Ensino UFSC Programa de PósGraduação em Educação Científica e Tecnológica UFSC Florianópolis SC Resumo Através de aspectos relacionados à área de ensino de ciências tais como existência de cursos e programas de pósgraduação de periódi cos especializados na publicação de resultados de pesquisas e de even tos científicos específicos constatase que esta constitui um campo so cial de produção de conhecimento A partir de dados contidos em tra balhos que têm como objeto de análise dissertações e teses em ensino de ciências defendidas no Brasil desde 1972 argumentase que o campo se organiza em coletivos de pensamento afinados com os das ciências humanas que investigam problemas relativos à dissemina ção sistematizada de conhecimentos científicos que é caracterizada como um processo complexo de interação entre três grandes círculos sócioculturais Problematizamse pontos desta dinâmica de pesquisa que estabelece comunicações intracoletivos e intercoletivos sendo es tas últimas constituídas por amplo espectro cuja variação vai desde uma sintonia bastante ajustada até praticamente uma ausência de res sonância Considerandose essa produção plural propostas são apre sentadas com a finalidade de se efetivar uma maior aproximação dos problemas investigados pelo campo com aqueles enfrentados pelo en sino de ciências nas escolas brasileiras 1 Texto preparado para subsidiar a apresentação no ciclo de Seminários Ensino de Ciências Pesquisa em Ensino de Ciências e Educação do IFUSP junho de 2003 Research in Science Teaching as Applied Human Science Recebido outubro de 2003 Aceito abril de 2004 146 Delizoicov D Palavraschave Teses e dissertações em ensino de ciências coletivos de pensamento impacto da pesquisa em ensino de ciências Abstract Through elements related to the field of science education such as the existence of postgraduate courses and programs specialized journals that publish research results and specific scientific events it was found that this is a social field for the production of knowledge Based on an analysis of dissertations and theses about science education de fended in Brazil since 1972 this paper argues that the field is organi zed in collectives of thinking in keeping with that of the human sci ences that investigate problems related to the systematized dis semination of scientific knowledge which is characterized as a complex process of interaction between three large socialcultural circles It analyses elements of this research dynamic that esta blish intracollective and intercollective communication The lat ter is constituted by a broad spectrum the variation of which runs from a welladjusted harmony to a practical absence of resonance Considering the plurality of production proposals are made to al low a greater approximation of the problems investigated by the field with those confronted by science teaching in Brazilian schools Keywords Theses and dissertations in science education collectives of thinking impact of research in science education I Introdução Apesar da aparente redundância do título pretendo problematizar a temá tica apontando aspectos que parecem estar latentes senão relativamente ausentes da discussão e reflexão sobre a pesquisa em ensino e do seu papel num país continental como é o caso do Brasil A pouca explicitação desta dimensão da pesquisa em ensino de ciências EC qual seja sua íntima relação com as ciências humanas aplicadas talvez possa estar vinculada à formação na graduação dos pesquisadores da área que com raras exceções originamse dos cursos de Física Biologia e Química e também possivelmente devido à gênese das pósgraduações em EC no Brasil Pioneiros e implantados no início da década de 70 do século passado os cursos de pósgraduação em ensino de física da UFGRS e da USP foram instituídos a partir de iniciativas dos respectivos Institutos de Física destas universidades O da UFGRS inclusive como uma linha do Programa de Pósgraduação em Física em Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 147 que a formação básica em termos de disciplinas obrigatórias era aquela destinada à formação dos pesquisadores nessa área Já o da USP foi implantado através de um programa criado em parceria pelo Instituto de Física e pela Faculdade de Educação ou seja instituiuse como um curso de pósgraduação independente tanto do progra ma da Física como do da Educação mas sempre com a coordenação acadêmica e administrativa do Instituto de Física Mais significativo ainda é que após trinta anos foi criado um GT próprio na CAPES para avaliar as pósgraduações em ensino de ciências PGEC desvincu landoas do GT Educação Durante o período anterior no entanto a área de PGEC cresceu com a implantação de cursos de PG em sua grande maioria como linhas de pesquisa vinculadas aos programas de PG em Educação tais como os da UNICAMP UFMG UFRN e o da UFSC até 2001 e na própria USP o da FEUSP além daquele criado no início dos anos 70 os quais sempre foram vinculados à área da Educação da CAPES Assim desde 2001 convivem programas de PGEC tanto vinculados ao GT Educação como ao recém criado GT EC Destacase porém que a solicitação de recursos financeiros para as pesquisa em EC no CNPq foi e continua sendo endereça da ao comitê de Educação que pertence à grande área das Ciências Humanas e Soci ais Aplicadas Estas constatações ainda que triviais sobre as relações entre pesqui sapesquisadores e instituições têm o mérito de chamar a atenção para o fato de que isto de certo modo é indicativo de concepções e encaminhamentos que têm seus reflexos no direcionamento das pesquisas em EC Por outro lado se a produção da área não se restringe às instituições que mantêm cursos de PGEC uma vez que há pesquisadores em EC vinculados a institui ções sem PG é muito razoável supor que as dissertações e teses ou seja uma parte da produção talvez a maior oriunda das instituições com PGEC representa de modo significativo a produção da área quer porque estas instituições são responsáveis pela formação de uma quantidade considerável dos mestres e doutores que realizam pes quisas em locais sem PG quer porque pesquisas originárias de dissertações e teses são constituintes de artigos publicados em revistas e congressos da área Acrescente se a isto o fato de haver trabalhos teses inclusive que têm como objeto de investiga ção as próprias dissertações e teses defendidas o que permite resgatar seus resultados e análises de modo a aprofundar a compreensão e caracterização da área Um exame destes trabalhos sobre dissertações e teses parece promissor se pretendemos ampliar o olhar para o próprio conteúdo problemas procedimentos de pesquisa referenciais teóricos das pesquisas com a finalidade de se debater a relação Ensino de Ciên cias Pesquisa em Ensino de Ciências e Educação tema deste ciclo de seminários Mas creio que não se pode fugir de algum tipo de contextualização temporal da área É o que procurarei fazer no próximo item 148 Delizoicov D II Cronologia2 e status da área Um desafio que ainda está para ser enfrentado é o do resgate histórico do ensino de ciências em particular o dos últimos 40 anos Não quero dizer com isto que haja total ausência de trabalhos sobre aspectos da história do EC pois como demons tram por exemplo os trabalhos de Pernambuco 1985 Krasilchik 1987 Lemgru ber 1999 2000 e MendesSobrinho 2002 há importantes produções nessa temáti ca Quero destacar entretanto a necessidade de um projeto mais amplo a ser efetiva do por uma equipe multidisciplinar constituída por pesquisadores da área de EC de história e de história da educação Talvez um projeto de pesquisa institucional envol vendo várias equipes de investigação seja uma boa iniciativa Enquanto isso não ocorre podemos lançar mão das referências disponíveis para apresentar ainda que sinteticamente uma cronologia referente à implantação da área de pesquisa em EC Barros 2002 ao realizar uma interessante retrospectiva sobre os 30 anos da pesquisa em Ensino de Física apresenta os vários momentos vividos pela área bem como a trajetória de sua organização e institucionalização analisando dentre outros aspectos o papel representado pelos encontros SNEFs EPEFs as pósgraduações e as revistas brasileiras onde os resultados de pesquisas são publica dos Após a retomada que faz do ensino de física e da pesquisa em ensino a autora apresenta nas conclusões uma síntese das características de algumas das pesquisas sobretudo as de caráter construtivista e propõe algumas sugestões relativas a temas que poderiam dar alguma contribuição para o sistema educacional brasileiro Destaco destas conclusões o seguinte A pesquisa em Ensino e Aprendizagem de Física é formada por uma comunidade eclética de físicos que utilizam metodologias ori undas da educação psicologia ciências sociais história e episte mologia psicanálise tecnologia da comunicação Os conteúdos e os contextos das pesquisas devem estar diretamente relaciona dos com a Física Barros 2002 paginação eletrônica Chamo a atenção para o fato de Barros 2002 explicitar que embora a pesquisa em EF seja feita por físicos os fundamentos teóricometodológicos que empregam na pesquisa têm origem nas Ciências Humanas e não na Física mesmo que os conteúdos desta estejam presentes e portanto de algum modo também as teorias e os procedimentos da Física mas não são estes ou só estes que instrumentalizam a pesquisa em EFEC segundo a autora Para uma cronologia que inclui além da área em EF as de pesquisa em ensino de Química e de Biologia apresento a retrospectiva a seguir 2 Cronologia adaptada do livro Ensino de Ciências Fundamentos e Métodos de Delizoi cov Angotti Pernambuco 2002 Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 149 II1 Eventos científicos da área Os Simpósios Nacionais de Ensino de Física SNEF vêm ocorrendo fre qüentemente desde 1970 Organizados pela Secretaria de Ensino da Sociedade Brasi leira de Física SBF foram realizados no período 19702003 quinze simpósios cujos resultados achamse publicados em atas Em 1986 organizouse o primeiro Encontro de Pesquisa em Ensino de Física EPEF tendo ocorrido até o ano de 2002 oito encontros também organizados pela SBF e com atas publicadas Se os SNEFs têm a característica de congregar centenas de professores de Física tanto do ensino médio como do superior para participar de cursos mesasredondas conferências e apresentação de trabalhos cuja temática é o ensino de Física nas escolas sobretudo nas de ensino médio os EPEFs têm promovido a disseminação e a discussão tópica dos resultados de pesquisas de grupos de pesquisadores em ensino de Física entre seus pares Relativamente ao ensino de Biologia desde 1984 e sob a Coordenação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo foram realizados sete En contros Perspectivas do Ensino de Biologia EPEB até 2000 Semelhantemente ao SNEF o EPEB tem congregado centenas de professores de Biologia dos três ní veis de ensino constituindose em momentos de reflexão e discussão dos profissio nais envolvidos com o ensino de sua ciência Os resultados dos EPEBs achamse também publicados em atas Por sua vez a Divisão de Ensino da Sociedade Brasileira de Química promove desde 1982 o Encontro Nacional de Ensino de Química ENEQ tendo sido realizados até 2000 nove ENEQs também com edição de atas De maneira semelhante essa área promove eventos de caráter regional intitulados Encontros de Debates sobre Ensino de Química EDEQs Já num desafio de interlocução mais integradora em 1997 criouse du rante a realização do 1o Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências ENPEC a Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências ABRA PEC que tem como uma das suas metas congregar pesquisadores em ensino e pro fessores das várias ciências Em 1999 realizouse o 2o ENPEC e em 2001 o 3o que de maneira semelhante ao primeiro porém com um número significativamente maior de participantes possibilitou a apresentação e discussão mais integrada dos resultados de pesquisas dos grupos que investigam problemas relativos ao ensino das várias áreas das ciências da natureza Igualmente os resultados dos ENPECs encontramse publicados em atas Por outro lado se esses eventos apresentam características que os ligam às especificidades do ensino das ciências há também outros de caráter mais amplo nos quais também são apresentados trabalhos relativos a esta área educacional dos quais destaco as Reuniões Anuais da Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Educação ANPEd e os Encontros Nacionais de Didática e Prática de 150 Delizoicov D Ensino ENDIPE todos com edição de atas Outros de caráter regional ou local tal como os Seminários Sul Brasileiro de Ensino de Ciências colaboram igualmente para disseminar a produção da área II2 Periódicos Além das atas publicadas por esses eventos como meios de disseminação da produção originária da pluralidade de encaminhamentos dos problemas que a área de ensino de ciências se propõe a enfrentar há uma quantidade crescente de revistas que divulgam em seus artigos os trabalhos referentes às pesquisas em ensino de ciências Citando neste momento apenas as nacionais que têm como meta divulgar artigos específicos temos Revista de Ensino de Física publicação da Sociedade Brasileira de Fí sica lançada em 1979 e que em 1992 passou a ser denominada de Revista Brasileira de Ensino de Física Caderno Catarinense de Ensino de Física publicação do Departamento de Física da UFSC lançada em 1984 e que em 2002 também teve alteração no títu lo passando a ser nomeada de Caderno Brasileiro de Ensino de Física Além dessas nos anos 90 surgiram as seguintes evidenciando o signifi cativo crescimento da área Investigação em Ensino de Ciências editada com o apoio do Instituto de Física da UFRGS Ciência e Educação publicação do Curso de PósGraduação em Educa ção para a Ciência UNESPBaurú Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências publicação do Centro de Ensino de Ciências e Matemática da UFMG Química Nova na Escola publicação da Sociedade Brasileira de Quími ca Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências publicação da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências II3 Produção da área em dissertações e teses Parte da produção de dissertações e teses dos programas da ordem de seis centenas até 1995 são referenciadas inclusive com a apresentação dos resumos no estudo Ensino de ciências no Brasil Catálogo analítico de teses e dissertações Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 151 publicado pela Faculdade de Educação da Unicamp bem como pela publicação En sino de Física no Brasil catálogo de dissertações e teses 1972 1992 e Ensino de Física no Brasil catálogo de dissertações e teses 1993 1995 publicação do Insti tuto de Física da USP Mais adiante será retomada uma análise da produção em PGEC Esses dados são indicativos de que de fato há uma comunidade de pes quisadores em ensino de ciências no Brasil que vem produzindo e divulgando seus resultados de pesquisa Franco e Sztajn 1998 argumentam que a área de Educação em Ciências3 que incluí as atividades de pesquisa constitui um campo social de pro dução de conhecimento Apoiandose em Bourdieu caracterizam este campo como um microcosmo social autônomo na medida em que é um espaço de relações objeti vas com lógicas e necessidades específicas irredutíveis àquelas que regem outros campos Com essa interpretação destacam que não obstante a origem dos grupos de pesquisa em ensino de ciências tenha sido em Departamentos ou Institutos de Ciências especialmente Física estes se caracterizam como um caso de diferencia ção a partir de outros campos científicos FRANCO SZTAJN 1998 grifo meu4 Em síntese podemos concluir que esse campo se associa à existência de pesquisa com características que podem ser demarcadas e que portanto não se trata de procurar definir o que é ou o que deveria ser pesquisa em ECEF uma vez que isto já está sóciohistoricamente dado Assim uma perspectiva simplesmente normativa para qualificar a pesquisa em EC além de desnecessária neste momento seria prati camente ineficaz uma vez que há uma construção que não pode ser facilmente des cartada desconsiderada ou alterada em nome de alguma normatização que não esteja em sintonia com o que já foi produzido Cabe no entanto tirar lições dessa traje 3 Os autores incluem também a área de Educação Matemática 4 Tendo como referência as grandes áreas do CNPq a pesquisa em EC seria mais consensual mente admitida como pertencendo ao contexto das Ciências Sociais Aplicadas uma vez que poderíamos associar estas pesquisas ao âmbito da Educação como de fato faz o Comitê Asses sor No entanto na tentativa de melhor caracterizar a área e considerandoa como um campo social de produção de conhecimento e ainda que há pesquisas que têm articulação dentre outros com referenciais teóricos modelos e procedimentos da História e da Filosofia da Ciên cia da Psicologia e da Comunicação BARROS 2000 consideradas como pertencentes à Ciências Humanas parece razoável caracterizar a pesquisa em EC como Ciências Humanas Aplicadas Esta designação híbrida estaria então reforçando a caracterização da área de EC como um campo social de produção de conhecimento autônomo cuja especificidade ao mes mo tempo em que contempla aspectos destas áreas se constitui como uma diferenciação a partir delas ao ter como foco de investigação processos educativos sobretudo os que ocorrem na escola 152 Delizoicov D tória de modo a prosseguir na caminhada que já iniciamos há cerca de três décadas realizando as necessárias correções de rumo E aqui corroborado pelos trabalhos de Barros 2002 e Franco e Sztajn 1998 enfatizo a necessidade de se conceber a pesquisa em EC como estando no contexto das ciências humanas aplica das Significa dentre outros aspectos considerar o impacto dos resultados de pesqui sa em EC no âmbito da educação escolar Em outros termos responder a questão Qual é o retorno em termos de usos e aplicações dos resultados de pes quisa em EC para alterações significativas das práticas educativas na escola III Os resultados de pesquisa em EC e as práticas educativas Cachapuz 2000 ao fazer um balanço crítico da pesquisa em EC5 em Portugal afirma apesar de substanciais progressos feitos nos últimos anos em Portugal no que respeita à IDC investigação em didática das ci ências as expectativas sobre o seu papel no que respeita a um me lhor conhecimento sobre o ensino e a aprendizagem das Ciências em particular no âmbito do ensino não superior estão longe de ter tido até hoje respostas plenamente satisfatórias E o fato da situação portuguesa não diferir grandemente da de outros paí ses só a torna mais interessante de analisar é da capacidade da IDC resolver com sucesso problemas surgidos no ensino e na aprendizagem das Ciências que depende em boa parte o seu esta tuto e a sua credibilidade educacional junto dos professores e co munidade de educadores p 206 Lá como cá como alhures podemos dizer que ainda é frágil portanto o vínculo pesquisa em EC e EC Tal situação preocupante pelo menos para mim tendo em vista os in vestimentos financeiros mesmo que parcos intelectuais e de tempo tem motiva do ainda que relativamente pouco discussões entre pesquisadores da área sobre o impacto das suas pesquisas Nos últimos EPEFs 2000 e 2002 mesas redondas fo ram organizadas com a finalidade de se abordar o tema da relação pesquisa em EC e EC6 Essencialmente tem sido destacado na maioria dos pronunciamentos a pers pectiva denunciada por Cachapuz Generalizações através de simples processo indu tivo no entanto podem levar a algum equívoco conforme argumentarei mais adiante 5 O termo usado pelo autor é investigação em didática das ciências e não pesquisa em EC 6 Ver por exemplo os trabalhos de Pietrocola 2002 e de Vaz et al 2002 Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 153 Para o exame desse problema três aspectos pelo menos precisam ser a nalisados o teor das pesquisas o uso dos resultados das pesquisas nos cursos de formação tanto en quanto subsídios para a atuação do docente formador de professores como conteúdo a ser incluído no currículo de formação o uso dos resultados em cursos de formação continuada de professores Embora minha finalidade neste artigo seja me pronunciar sobre o primei ro aspecto levando em conta sobretudo as dissertações e teses quero destacar que em relação à formação inicial de professores seria interessante a realização de uma pesquisalevantamento sobre o uso dos resultados de pesquisas pelos docentes por exemplo de Física Básica nos cursos de licenciatura Tenho como pressuposto que o professor formador desempenha papel exemplar para a atuação docente tanto ao adotar práticas consistentes com os resultados de pesquisa como ao manter práticas tradicionais de ensino Creio também que o possível anacronismo desses docentes relativos à produção em EC não se deve à simples rejeição ou preconceitos em rela ção à área ainda que eles existam Enfim penso que uma pesquisa tendo como foco o impacto da produção da área na atuação do docente formador forneceria elementos importantes e elucidativos da importância da pesquisa em EC A SBF através da Secretaria de Ensino poderia coordenar essa pesquisa Relativamente à formação continuada nos últimos anos tem havido múl tiplas iniciativas bem como alguma discussão sobre a temática Resta contudo ava liar o que elas têm significado em termos de modificação da prática docente e da incorporação pelos envolvidos no processo de formação dos resultados de pesquisa em EC eventualmente empregados Já sabemos no entanto que tais cursos quando não convenientemente articulados à organicidade do cotidiano escolar isto é plane jados juntamente com o professor e considerando as condições em que está atuando na escola têm pouca influência na implantação de novas práticas na perspectiva de almejadas mudanças Assim é preciso tratar com alguma parcimônia as críticas ao problema do débil retorno dos resultados da pesquisa em EC para a sala de aula Pri meiro porque o pesquisador está sujeito de alguma forma dependendo do seu enga jamento em processos de intervenção nas duas instâncias formadoras a um contexto sobre o qual não tem controle Segundo porque o impacto dos resultados de pesquisa em EC em práticas educativas no interior da escola ou de redes de ensino é bastante diferenciado não tendo um único padrão como referência ou seja que qualquer tipo de pesquisa possa estar mantendo essa distância7 O teor das pesquisas de algum modo no entanto tem relação com esse problema É o que abordarei na seqüência 7 Sobre esse ponto consultar por exemplo Pietrocola 2002 e publicação do INEP BRASIL 1994 Interdisciplinaridade no Município de São Paulo 154 Delizoicov D fazendo uso dos trabalhos que têm como foco as dissertações e teses no intuito de ampliar nosso olhar sobre a pesquisa em EC conforme anunciei Os catálogos produzidos pela USPIFUSP 1992 1996 e pela UNI CAMPFECEDOC 1998 têm permitido estudos sistemáticos uma vez que se cons tituem também como um banco das dissertações e teses além de apresentar dados sistematizados sobre elas tal como os seus resumos entre outros O CEDOC organiza os dados através dos seguintes descritores autor e orientador do trabalho grau aca dêmico instituição em que foi produzidodefendido ano da defesa área de conteúdo do currículo escolar Física Biologia Química Geociências Educação Ambiental dentre outras MEGID 2000 As publicações de Megid Neto 2000 1999a 1999b 1998 1990 que coordena o CEDOC Megid e Andrade 1999 de Pacheco e Megid 19931998 1999 Lemgruber 1999 2000 Pierson 1997 e Slongo 2003 podem ser referência sobre a produção da área ou do campo em dissertações e teses de EF e de EC além de oferecerem um panorama amplo dessas pesquisas Destaco destes trabalhos os seguintes dados sintetizados em Megid 2000 O período investigado compreende a produção entre 1972 e 1995 correspondendo a um total de 572 documentos sendo 498 disser tações 67 teses de doutorado e 7 teses de livredocência com cer ca da metade defendida em apenas três instituições acadêmicas 294 na USP 180 na UNICAMP e 54 na UFRJ As demais 28 instituições produtoras de trabalhos no campo de Ensino de Ciências contribuíram com um percentual inferior a 50 Lemgruber 2000 apresenta um detalhamento dos dados relativos a estas instituições Este cenário muito provavelmente pode estar se alterando conforme ob serva MEGID 2000 Nos anos 90 entretanto temos observado a consolidação de al guns programas na área UFSC e a criação de novos cursos UFRPE UNESPBauru A produção destes programas poderá modificar em parte o cenário de distribuição das pesqui sas pelo país ainda fortemente concentrada até 1995 nos Estados de São Paulo 570 Rio de Janeiro 163 e Rio Grande do Sul 131p 4 Os dados das demais unidades da federação podem ser encontrados em Lemgruber 2000 De fato esse levantamento não pôde computar por exemplo as mais de 20 teses de doutorado defendidas até o momento no programa de pósgraduação em Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 155 educação da UFSC que em 1994 implantou o curso de doutorado em Ensino de Ciências além de mais de meia centena de dissertações sobre EC após 19958 Relativamente aos conteúdos curriculares das 572 pesquisas 437 a bordam assuntos mais diretamente vinculados ao campo da Física 150 ao da Bio logia 122 ao da Química 70 ao da Saúde 67 ao da Educação Ambiental e 16 ao da Geociências Há ainda trabalhos que não privilegiam uma área em parti cular Quero destacar que se de um lado a maior concentração da pesquisa em EC está na área de ensino de Física fato compreensível devido ao seu pioneirismo por outro lado os dados demonstram que o campo não se reduz a ela Ainda mais de 50 desta produção é oriunda de programas e cursos de pósgraduação em Educação vinculados a Centros ou Faculdades de Educação distintamente dos dois históricos de EF USP e UFRGS que estão vinculados a Institutos de Física Quanto aos temas investigados nos 572 trabalhos tanto o CEDOC como Megid 2000 adotaram um critério de classificação a que denominaram foco temáti co que independentemente de terem sido abordados de forma privilegiada ou não foco principalfoco secundário identificamos uma predominância dos aspectos relacionados com os focos p 5 São os seguintes os focos temáticos identificados para o campo EC Para uma comparação indico também os relativos ao EF correspondentes a 250 traba lhos sendo 213 dissertações 32 teses de doutorado e 5 de livredocência 8 O curso de Mestrado em Educação da UFSC existe desde 1984 Em 1986 foi implantada a linha Educação e Ciência e em 1994 essa linha criou o doutorado em Ensino de Ciências Em 2002 foi criado o Programa de PósGraduação em Educação Científica e Tecnológica da UFSC a partir do desmembramento da linha Educação e Ciência do Programa de Pós Graduação em Educação Esse novo programa no entanto é uma iniciativa intercentros uma vez que sua coordenação é conjunta Centro de Ciências da Educação e Centro de Ciências Físicas e Matemáticas e conta com a colaboração institucional e de professores dos Centros Tecnológico e de Ciências Biológicas 156 Delizoicov D Também quanto a esse quadro mudanças podem estar ocorrendo devido à produção posterior ao ano de 1995 quer alterando os porcentuais dos focos cres cendo uns e diminuindo outros quer pelo surgimento de outros focos Por exemplo sabemos que a Formação de Professores tem tido bastante presença em congressos e publicações e que o foco temático Formação de Conceitos que representa 172 dos trabalhos na área de EF não foi detectado em trabalhos de outros conteúdos curricu lares até 1995Tem ocorrido entretanto nos últimos anos pesquisa sobre concepções alternativas das demais áreas Mais adiante retomarei a discussão dos focos temáticos considerando aspectos epistemológicos Quanto aos orientadores desses trabalhos Lemgruber 2000 que tem como referência os dados do CEDOC e portanto trata também do período 1972 1995 ao analisar a produção de dissertações e teses que têm apenas o ensino funda mental 362 e o médio 435 como foco em um total de 288 trabalhos localiza aqueles que foram responsáveis por quatro ou mais orientações A partir dos dados que ele apresenta temos uma síntese interessante 120 trabalhos cerca de 40 fo ram orientados por 17 orientadores sendo 9 da área de Física 8 da USP e 1 da UNI CAMP responsáveis por 80 orientações 667 3 da área de Pedagogia 2 da UFRJ e 1 da PUCRJ com 12 orientações 10 2 da área de Química 1 da UNI 9 A soma das porcentagens é maior do que 100 pois há trabalhos que são classificados em mais de um foco temático Foco temático EC EF 9 ConteúdoMétodo 650 608 Currículos e Programas 430 340 Características do Aluno 240 276 Recursos Didáticos 200 248 Características do Professor 180 120 Formação de Professores 170 172 História da Ciência menos de 10 96 Filosofia da Ciência menos de 10 92 Organização da Escola menos de 10 80 História do Ensino de Ciências menos de 10 32 Políticas Públicas menos de 10 20 Programa de Ensino não Escolar menos de 10 16 Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 157 CAMP e 1 da UFSC com 10 orientações 83 1 da área de Biologia USP com 9 orientações 75 e 1 da área de Letras UNICAMP com 7 orientações 5810 Como esperado há uma concentração de orientadores da área de Física no período analisado sendo que oito são dos cursos de pósgraduação do IFUSP e da FEUSP que assim é analisada por Lemgruber 2000 Podese perceber claramente que existe uma linha de pesquisa consolidada na parceria destas unidades acadêmicas destacando se alguns orientadores com um relevante número de teses e orien tações Diante de uma produção que tem na dispersão uma de suas principais características este fazer escola é digno de nota p 23 grifo meu Quero no entanto chamar a atenção para o fato de que mais de 15 des ses trabalhos foram orientados por pesquisadores que não pertencem a nenhuma das áreas das ciências da natureza Assim a área de EC pode ser caracterizada não só pelas metodologias oriundas das áreas das ciências humanas como destacou Barros 2002 mas também parcialmente pela própria orientação de pesquisadores originá rios dessas áreas e que orientam em cursos de pósgraduação em educação de outras instituições que não a USP e nem a UFRGS Além desses dados apontados por Lem gruber sabemos que a quantidade de orientadores de trabalhos em EC pertencentes à área das Ciências Humanas é maior do que a detectada até 1995 Do universo dos trabalhos que têm como objeto atingir os níveis funda mental e médio Lemgruber 2000 faz um estudo sobre os referenciais teóricos que os fundamentam atendose basicamente aos de caráter epistemológico e pedagógico Ao procurar semelhanças e diferenças o autor dá destaque a quatro conjuntos de trabalhos cujas características são detalhadamente estudadas em sua tese de doutora do LEMGRUBER 1999 que são o que ele denomina de construtivismos represen tado por 74 trabalhos os que têm Paulo Freire como referencial básico com 9 traba lhos analisados outros que se referenciam em Bachelard totalizando 6 trabalhos e aqueles que têm o tema Ciência Tecnologia e Sociedade CTS como foco sendo 7 trabalhos localizados A alta freqüência dos trabalhos designados por construtivismos relati vamente aos outros conjuntos é justificada da seguinte forma 10 Lemgruber 2000 observa que muito embora a produção no programa de pósgraduação da UFRGS e a conseqüente orientação sejam expressivas elas não estão incluídas pois a maioria dos trabalhos diz respeito ao ensino superior fora da amostra considerada pelo autor 158 Delizoicov D Inicialmente destaco um conjunto de categorias que designo pelo nome genérico de construtivismos Nele estão incluídos os traba lhos com os seguintes referenciais Piaget concepções espontâ neas mudança conceitual e Ausubel Há 74 teses e dissertações com pelo menos uma dessas categorias Geralmente quando um resumo explicita uma abordagem construtivista se refere a Piaget 40 referências Ausbel 4 mudança conceitual 7 ou concep ções espontâneas 3311 LEMGRUBER 2000 p 23 Notase que desses trabalhos de caráter construtivista cerca da metade acompanha uma das tendências de pesquisa concepções espontâneas e mudança conceitual que caracterizou a produção internacional quase hegemônica no final da década de 70 e na de 80 e início da de 90 do século passado Por outro lado Lemgruber chama a atenção para a praticamente pouca presença de referências a educadores detectada na amostra por ele investigada Quan do analisa o conjunto de trabalhos que tem Paulo Freire como referência comenta Sua importância aumenta na medida em que se nota uma quase ausência de educadores brasileiros ou estrangeiros nos resumos das teses e dissertações Para se ter uma idéia mais precisa ne nhum outro educador aparece mais de uma vez Dentre os brasi leiros apenas José Carlos Libâneo e Dermeval Saviani são expli citados LEMGRUBER 2000 p 26 São vários os motivos que podem justificar essa relativa ausência de refe rência a educadores nos trabalhos e portanto compreendêla não é nada trivial cor rendose o risco de interpretações simplistas quando não reducionistas No entanto podemos inferir que essa falta pode ser indicativa da pouca discussão e reflexão edu cacional contida na amostra dos trabalhos considerados que se limitam em sua maio ria aos problemas sobre a veiculação e apropriação de conceituação científica ou seja os problemas de ensino e aprendizagem o que não é pouca coisa quero enfati zar Mas é evidente que mesmo sem a explicitação da perspectiva educacional na qual este ensino e a aprendizagem investigados devem ocorrer alguma concepção de educação é implicitamente assumida pelo pesquisador que pode nem sempre estar 11 Um número de referências maior do que 74 é devido à presença de mais de uma referência em um mesmo trabalho Lemgruber 2000 observa que a categoria concepções espontâneas 33 referências inclui também outras encontradas tais como concepções alternativas con cepções prévias etc Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 159 sendo muito claramente percebida mas que permeia alguns dos pressupostos da sua investigação do problema Então mais do que procurar entender o porquê da ausência de explicita ção de alguma referência teórica a educadores creio que o desafio que deixo apenas lançado é entender o que esse problema significa e quais suas implicações para a pesquisa em EC sobretudo se tivermos como cenário as escolas e a educação pública no Brasil onde estuda a maioria da população que tem acesso às Instituições de Ensi no Quanto aos trabalhos sobre CTS Lemgruber 2000 destaca que Mais relevante do que o número de resumos que explicitam o en sino de CTS é o fato de ele aparecer concentrado nos últimos a nos da pesquisa mostrando uma tendência ascendente Será interessante atualizar o levantamento para ver se esta linha de pesquisa se consolida p 26 Podemos reconhecer que após 1995 as pesquisas cujos temas são rela cionados a CTS vêm crescendo e têm presença cada vez maior nos congressos da área Já em relação aos trabalhos que têm Bachelard como referência Lemgru ber 2000 afirma também em Bachelard educadores em ciências especialmente da Química vão buscar a noção de obstáculos epistemológicos e suas conseqüências para a educação p 24 Ainda que o universo pesquisado por Lemgruber não se esgote com essas tendências podendo conter outros conjuntos além destes detectados e que poderiam ser também aprofundados à semelhança desses quatro quero destacar do estudo realizado a explicitação de elementos comuns presentes nos trabalhos que compõem cada um dos conjuntos com o qual são identificados e categorizados Há um relativo compartilhar de alguns aspectos que se por um lado representam uma certa sintonia entre eles em um dado conjunto de trabalhos mesmo quando têm distintos objetos de pesquisa por outro permitem localizar a existência de diferenças entre eles Essa parece ser a tônica do trabalho de Pierson 1997 A autora tem co mo objeto as pesquisas cujo tema é o cotidiano tendo como questão central da investigação Que cotidiano tem participado do Ensino de Física A partir de um levantamento dos SNEFs de 1991 1993 e 1995 Pierson localiza 109 trabalhos que empregam o termo cotidiano o que lhe permite identifi car pelo menos dois conjuntos deles os que tomam o cotidiano enquanto elemento organizador do conteúdo a ser tratado e os que adotamno enquanto reservatório de 160 Delizoicov D concepções espontâneas12 Com isto seleciona as dissertações e teses representadas por estes conjuntos empregando o catálogo do IFUSP 1992 1996 cuja elaboração foi coordenada por Maria Regina Kawamura e Sonia Salem para aprofundar a análise em sua tese de doutorado Pierson 1997 faz um estudo bastante detalhado das semelhanças e dife renças entre os dois grupos Ao sintetizar a argumentação desenvolvida afirma ao tomarmos a utilização do cotidiano como objeto de nossa investigação defrontamonos com olhares diferentes sobre o alu no que leva a compreensões distintas sobre a física a ser ensina da sobre o próprio objetivo para o ensino dessa ciência p 240 A autora parece estar distinguindo os pressupostos educacionais que nor teiam as pesquisas oriundas dos conjuntos Por outro lado quanto aos pressupostos epistemológicos conclui Verificamos a existência de consensos entre as formas de aborda gem a preocupação com a participação efetiva do aluno no seu processo de construção do conhecimento a recusa nestes termos a um ensino meramente informativo e não formativo o reconhe cimento da necessidade de ocorrências de rupturas e a existência de continuidades neste processo de ensino que tem como conteú do um conhecimento que foi historicamente construído e que não se encontra na forma de verdades inquestionáveis PIERSON 1997 p 238 Levando em consideração os dados e as análises apresentadas nessas pesquisas sobre pesquisas em EC podemos esboçar uma síntese parcial sobre o teor das dissertações e teses em EC o que é muito bem caracterizado por Gamboa 1987 em um estudo similar sobre a produção dos programas de pósgraduação em educação nas instituições brasileiras Ele teve como universo de estudo a produção entre os anos 1971 1984 nas instituições do Estado de São Paulo totalizando 502 trabalhos dos quais selecionou 100 como amostra a ser analisada Dentre outras destaco a seguinte conclusão dos seus achados 12 Pierson 1997 está se referindo sobretudo ao GREF e a ABORDAGEM TEMÁTICA no primeiro conjunto de trabalhos que tem como parte de sua fundamentação as concepções do educador Paulo Freire Ao segundo conjunto a autora tem como referência os trabalhos desen volvidos com base sobretudo na perspectiva piagetiana adotada por pesquisadores em EFEC da FEUSP Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 161 Por um lado procuramos desvendar estruturas internas da pes quisa em educação mas procurando sem nos limitarmos a essa incursão ao interior das lógicas implícitas explicitar as condições históricas de sua produção surgimento e evolução Por trás de uma determinada abordagem está um interesse gnoseológico específico e a visão de mundo que o pesquisador consciente ou in conscientemente deixa mais ou menos transparecer no seu rela tório dissertação ou tese Nesse sentido cada abordagem me todológica da pesquisa está vinculada a um determinado inte resse de conhecimento Essa constatação sugere reflexões sobre a visão de mundo e nexo conhecimento e interesse que dão suporte a ação investigadora levando o pesquisador a clarificar suas postu ras a partir da própria abordagem metodológica GAMBOA 1987 p 208 e p 212 Será necessário obter um panorama das dissertações e teses defendidas após 1995 de modo a se realizar uma análise mais atualizada e localizar possíveis alterações no quadro esboçado Ainda que parcialmente o trabalho de Slongo 2003 pode dar alguma sinalização pelo menos no que se refere à área de conteúdo curricu lar de Biologia Assim são localizados mais 44 trabalhos defendidos sobre o ensino de Biologia EB no período 19962000 Temos então para o período 19722000 um total de 110 dissertações 19 teses de doutorado e uma de livre docência totalizando 130 trabalhos um vez que no período 19721995 tínhamos 86 Verificamos um cres cimento expressivo qual seja produziuse em 5 anos mais da metade do que a pes quisa em EB produziu nos 23 anos anteriores isto é 30 dos trabalhos foram defen didos nos último 5 anos A autora mantém os mesmos focos temáticos de Megid 2000 e localiza no período 1996 até 2000 História e Filosofia da Ciência 10 estudos Formação de professores 10 estudos Concepções espontâneas 7 estudos Representação de professores 6 estudos Currículo e programas 15 estudos13 Uma comparação ainda que parcial com alguns dados de EC do período 19721995 pode ser estabelecida Assim por exemplo os estudos centrados na histó ria e filosofia da ciência e na formação de professores parecem ter se consolidado 13 A quantidade é maior que 44 trabalhos porque uns foram classificados em mais de um foco 162 Delizoicov D apresentando inclusive um pequeno aumento quando se compara EB 19962000 com EC 19721995 na qual EB estava incluída Já o interesse pelo foco currículos e programas aparentemente parece ter diminuído uma vez que houve uma redução de 43 considerando EC de 19721995 para cerca de 30 em EB Por sua vez conforme esperado as pesquisas que enfocaram concepções espontâneas e sua par ceira mudança conceitual parecem ter tido um maior declínio relativo Lemgruber 2000 detectou na amostra investigada 33 dos trabalhos sobre concepções espon tâneas no período 19721995 enquanto temos menos da metade disso cerca de 15 do total dos trabalhos em EB no período 19972000 Há também o surgimento de pesquisas sobre representação dos professores com 13 dos trabalhos 19972000 enquanto no período anterior tínhamos um foco genérico denominado características dos professores com um total de 18 Realizar uma extrapolação através dessas comparações pode não ser a propriada para que possamos inferir possíveis alterações no quadro esboçado mas parece razoável ter como hipótese que a tendência delineada também possa ser detec tada caso o universo dos trabalhos analisados venha a ser ampliado incluindo EF EC EQ O deslocamento relativo de alguns dos focos temáticos investigados entre tanto realça a dimensão histórica do surgimento de temas além de certa adesão da comunidade de pesquisadores a alguns deles e um relativo declínio de outros temas pesquisados Este parece ser por exemplo o caso das pesquisas em concepções es pontâneas e sobre mudança conceitual O arrefecimento das pesquisas sobre as cha madas concepções espontâneas dos alunos pode estar relacionado à compreensão do coletivo de pesquisadores desse tema de que o seu levantamento tenha se exaurido considerando a quantidade e diversidade destas concepções pesquisadas nas mais diversas faixas etárias conforme podemos inferir do trabalho de Pfundt e Duit 1994 É possível porém que estejamos igualmente procurando novos caminhos para direcionar o que fazer com esta imensa quantidade de informações sobre as con cepções dos alunos quer do ponto de vista do seu melhor entendimento quer do seu emprego em situações de ensino Constituindo ou não uma espécie de erro epistemológico emprestando esta categoria de Bachelard para uma interpretação de situações como esta o fato é que a pesquisa em mudança conceitual que era a tônica durante a década de 80 e início de 90 do século passado e presente com freqüência relativamente alta nas pu blicações e congressos do campo tem tido presença cada vez mais rara Será preciso um estudo mais cuidadoso para melhor compreender isto No entanto não foram poucas as análises críticas14 feitas sobre a possibilidade de se conseguir algum tipo de mudança conceitual no sentido que foi atribuído por estas pesquisas É cedo contu 14 Ver por exemplo artigo de Mortimer 1996 Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 163 do para se pensar numa averiguação a respeito da possibilidade de um erro epistemo lógico Na seqüência farei algumas considerações de cunho epistemológico Mi nha intenção é buscar elementos com os quais possamos delinear e propor sugestões para possíveis encaminhamentos da pesquisa em EC IV Aspectos epistemológicos da produção em EC As análises realizadas pelos trabalhos põem em evidência que uma das características da produção é a de ser elaborada de forma compartilhada por pesqui sadores agregados em torno de alguns elementos Não se trata simplesmente de loca lizar a origem dessa característica pela forma como os pesquisadores se organizam isto é em grupos de pesquisa A partir de distintos enfoques teóricos e metodológi cos as observações das dissertações e teses de EC ou melhor dizendo das várias amostragens que compõem a totalidade da produção levantada e referenciada procu raram enfatizar as relações tanto de semelhanças como de diferenças existentes entre elas classificandoas segundo os critérios próprios adotados e diferentes de um tra balho para outro em conjuntos cuja origem não está em apenas um curso ou progra ma de pósgraduação ou seja não está propriamente vinculada a um grupo particular de pesquisadores localizado em alguma instituição ainda que a produção destes últi mos possa ser representativa de algum dos agrupamentos de dissertações e teses em EC apresentadas Quero chamar a atenção para esse caráter coletivo ou mais precisamente para a organização em vários coletivos da produção Em outros termos o campo social de produção de conhecimento em EC FRANCO e SZTAJN 1998 tem esta característica de poder se estruturar em torno de elementos comuns que se diferenci am mais ou menos relativamente uns dos outros parecendo se constituir em distin tos coletivos sociais de produção de conhecimento em EC Caso o modelo kuhniano pudesse ser utilizado para interpretar essa situação poderíamos dizer que esses gru pos estariam de algum modo compartilhando de distintos paradigmas No entanto não precisamos emprestar de Kuhn o seu modelo que a rigor seria uma compreensão para as ciências da natureza uma vez que são elas particularmente a Física que ele tem como objeto de análise e nem ter paradigmas como referência para uma análise que considere os aspectos epistemológicos da produção em EC15 Ao invés disso utilizarei como referência Ludwik Fleck 1986 a exem plo de Da Ros 2000 que em sua tese de doutorado adotao como autor fundamental 15 A esse respeito ver o artigo Kuhn e as Ciências Sociais de Jesus de Paula Assis 1993 em que o autor argumenta sobre a limitação do modelo de Kuhn e a nãopertinência do seu uso para a área das Ciências Sociais por exemplo 164 Delizoicov D para investigar a produção em dissertações e teses da área de Saúde Pública e de Slongo 2003 que está analisando as de ensino de Biologia Ainda pouco conhecido no Brasil Ludwik Fleck 18961961 médico polonês com uma vasta produção na área de microbiologia e imunologia tem sua produção epistemológica contemporânea à de Bachelard e à de Popper e como estes assume posição crítica em relação ao empirismo lógico Também são numerosos seus trabalhos sobre epistemologia sendo que em dois dos seus primeiros artigos FLECK 1927 1929 antecipa suas idéias que serão aprofundadas no livro publica do em alemão em 1935 que tem o sugestivo título traduzido a partir da versão em espanhol do livro Gênese e desenvolvimento de um fato científico FLECK 1986 Thomas Kuhn reconhece mesmo que em uma citação passageira no pre fácio do seu livro A estrutura das revoluções científicas a influência que Fleck teve sobre suas idéias Com a publicação da tradução em inglês do livro de Fleck em 1979 cuja apresentação é feita por Kuhn este epistemólogo polonês passa a ser me lhor conhecido na Europa No início dos anos 80 um congresso sobre suas posições epistemológicas e trabalhos é realizado originando a densa publicação Cognition and Fact COHEN SCHNELLE 1986 sobre os desdobramentos do uso das concepções de Fleck que passa então a ser considerado como pioneiro na abordagem construti vista e sociologicamente orientada sobre História e Filosofia da Ciência COHEN SCHNELLE 1986 Löwy 1994a Fleck nas considerações epistemológicas que faz argumenta sobre o pa pel dos distintos coletivos de pensamento FLECK1986 ao analisar a produção e disseminação de conhecimentos Ele caracteriza um coletivo de pensamento como constituído por um coletivo de indivíduos que é portador de um estilo de pensamento o qual podemos compreender sinteticamente como sendo caracterizado por conheci mentos e práticas compartilhadas Articulando dados históricos particularmente da área da medicina propõe uma epistemologia da ciência cuja característica principal é a da superação das perspectivas tanto racionalista como empirista Para ele o sujeito do conhecimento estabelece interações com o objeto do conhecimento através de relações que são mediatizadas pelo que ele denominou estilo de pensamento Ao longo de sua obra principal FLECK 1986 e dos outros dois artigos FLECK 1927 1929 ele vai construindo e exemplificando em várias circunstâncias da análise histórica apresentada o significado de estilo de pensamento16 Vários trabalhos tais como Cutolo 2001 Da Ros 2000 Delizoicov 2002 Delizoicov et al 2002 16 Talvez por isso não se encontrará propriamente uma definição precisa do termo estilo de pensamento mas uma caracterização bastante exemplificada do que faz um estilo de pensa mento Situação parecida encontramos em A estrutura das revoluções científicas KUHN 1975 com relação ao termo paradigma como muito bem analisado no conhecido trabalho de Margaret Masterman Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 165 mencionando apenas alguns desenvolvidos no Brasil que o usam como referência vêm aprofundando a compreensão do termo estilo de pensamento e o tem empregado como uma categoria analítica que se mostra particularmente profícua para análise epistemológica Destaco de Cutolo 2001 a seguinte caracterização para a categoria estilo de pensamento 1 modo de ver entender e conceber 2 processual dinâmico sujeito a mecanismos de regulação 3 determinado psicosóciohistóricoculturalmente 4 que leva a um corpo de conhecimentos e práticas 5 compartilhado por um coletivo com formação especifica p 55 grifo meu Fleck 1986 considera que a dinâmica da produção de conhecimentos ocorre através da instauração extensão e transformação de estilos de pensamentos representando papel destacado nesta dinâmica a interação inter e intracoletivos As sim na transformação de um estilo de pensamento e na implantação de um novo o papel da interação entre distintos coletivos é de fundamental importância na compre ensão de Fleck para o enfrentamento de problemas de investigação que têm determi nadas características quais sejam tenham se revelado como complicações FLECK198617 não resolvidas pelo estilo de pensamento que se ocupa do problema investigado ou porque o problema é complexo o suficiente de modo que um particu lar estilo de pensamento se revela limitado para enfrentar sua solução Já durante a extensão do estilo de pensamento a interação intracoletivo é responsável tanto pela efetiva adoção do estilo de pensamento como pela formação dos membros integrantes do coletivo que o compartilharão Essa parece ser a situação em que viveu e vive o campo de EC se consi derarmos os aspectos até aqui destacados sobre a cronologia e a produção em EC De fato Fleck tem pretensão de propor uma teoria do conhecimento que não se ocupe apenas da produção da ciência particularmente as ciências da natureza Ele afirma ao propor o seu modelo epistemológico que A fertilidade da teoria do pensamento coletivo se mostra precisa mente na possibilidade que nos proporciona para comparar e in 17 Qualquer semelhança desta dinâmica com a que propõe Kuhn 1975 na Estrutura das Revo luções Científicas não é mera coincidência Ver prefácio do livro de Kuhn uma referência en passant a Fleck e o artigo de Delizoicov et al 2002 onde uma comparação entre os dois é estabelecida 166 Delizoicov D vestigar de forma uniforme o pensar primitivo arcaico ingênuo também pode ser aplicado ao pensamento de um povo de uma classe ou de um grupo FLECK 1986 p 98 Mas se Fleck pode dar alguma contribuição para uma caracterização do campo EC é também para uma compreensão do próprio recorte que o campo realiza ao definir os seus objetos de investigação que ele pode contribuir Assim ao analisar o processo de disseminação de conhecimentos para um público de nãoespecialistas ele chama a atenção para a importância de se considerar a interação que ocorre entre distintos estilos de pensamento através da circulação intercoletiva de idéias18 FLECK 1986 Se a circulação intracoletiva de idéias é segundo ele responsável pela formação dos pares que compartilharão o estilo de pensamento quer dizer dos especialistas no caso de um determinado coletivo de pesquisadores que constituem o que ele denomina de um círculo esotérico é a circulação intercoletiva de idéias a responsável pela disseminação popularização e vulgarização dos estilos de pen samento para outros coletivos de nãoespecialistas que constituem para Fleck círcu los exotéricos relativamente a um determinado círculo esotérico Como não poderia deixar de ocorrer nesta circulação intercoletiva há simplificações no conhecimento disseminado conforme analisa o autor Destaca como já anunciei o papel que essa circulação de idéias represen ta enquanto um elemento que pode ter conseqüências na transformação de estilos É precisamente neste ponto que podemos relacionar essa dinâmica com o papel do pro fessor de ciências e da educação escolar Em outros termos o professor de ciências é um dos mediadores no processo educativo escolar da apropriação pelos alunos dos estilos de pensamentos produzidos pelos coletivos de cientistas Podemos então interpretar que ao se apropriar dos conhecimentos desses estilos o aluno estaria modificando o seu próprio estilo Obviamente quando o processo educativo for bem sucedido nesta tarefa de disseminação Na análise da difusão de conhecimentos entre distintos círculos é preciso chamar a atenção para a relatividade existente entre a consideração do que seja um círculo esotérico e um exotérico Não necessariamente um círculo exo é constituído por um coletivo de nãoespecialistas Pode ser que estejamos frente a uma situação que envolva duas especialidades Por exemplo a de pesquisadores em Física e a de investigadores em Psicologia ou daqueles e de licenciados em Física ou mesmo de pesquisadores em ensino de Física Assim só tem sentido em se falar em círculos exotéricos quando se está na presença de mais de um coletivo de pensamento sendo ambos esotéricos e relativamente exotéricos Em uma situação como esta argumenta Fleck que 18 A denominação circulação de idéias não é a mais adequada uma vez que segundo o próprio Fleck 1986 ocorre também a circulação ou disseminação de práticas Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 167 1 pode haver maior ou menor aproximação entre os estilos ocorrendo desde uma certa afinidade até a incongruência ou incompatibilidade FLECK 1986 entre os estilos considerados 2 que há círculos exotéricos constituídos por leigos formados diferen temente dos simplesmente leigos Situação típica por exemplo se considerarmos três coletivos o que faz pesquisa em Física Nuclear o dos professores de Física do Ensi no Médio círculo exotérico relativo ao anterior de leigos formados pois não fazem necessariamente pesquisa em Física Nuclear e o dos alunos do Ensino Básico círculo exotérico de leigos Em síntese o processo educativo escolar pode ser visto como um proces so sistemático de disseminação19 de conhecimentos produzidos por um círculo esoté rico constituído por coletivos de pensamentos científicos mediatizado por um círculo exotérico de leigos formados qual seja o dos coletivos de pensamento re presentados pelos professores de ciências através do qual pretendese formar um círculo exotérico mais externo e amplo de leigos que é composto por estilos de pen samento compartilhados pelos alunos Deste modo podemos interpretar que os problemas do campo de EC são localizados e formulados ao se ter algum aspecto desse processo como foco que seria o objeto de investigação da área Neste sentido os distintos coletivos de pensamento que caracterizam os pesquisadores em EC poderiam em uma primeira aproximação ser compreendidos como fazendo recortes privilegiados em relação aos distintos círculos envolvidos na disseminação Podemos ter algumas das seguintes alternativas para estes recortes relativos ao círculo esotérico coletivos de cientistas ao exotérico de leigos formados ao exotérico de leigos ou relativos a alguma forma complemen tar entre dois ou mesmo três destes círculos Não se trata de rotular simplesmente de problemas relativos a conteúdos curriculares ou a ensino ou a aprendizagem uma vez que no interior de cada um dos círculos há o caráter processual da constituição dos coletivos de pensamento através da circulação intracoletiva de conhecimentos e práticas Assim poderíamos interpretar os focos temáticos detectados por Megid 2000 como estando relacionados com aspectos envolvidos nos círculos e coletivos que compõem o processo de disseminação A partir dessa complexidade oriunda das mais diversas interações são identificados e formulados os problemas É na definição destes portanto que teríamos uma primeira separação entre os vários coletivos de pesquisadores em EC que se ocupam dos diferentes focos temáticos detectados Por 19 Obviamente a disseminação de conhecimentos científicos não se restringe à educação esco lar Há outros meios que contribuem e ao fazerem isto introduzem distintos níveis de simplifi cação e não raramente equívocos conceituais Tem crescido nos últimos anos a pesquisa em EC que têm como objeto de investigação os espaços informais de disseminação como por exemplo museus e revistas de divulgação científica 168 Delizoicov D sua vez nos procedimentos teóricometodológicos adotados para a solução dos mes mos estaria uma segunda diferenciação conforme argumentei a partir de inferências dos trabalhos de Pierson 1997 Megid 2000 Megid 1999a e Lemgruber 1999 2000 Gamboa 1987 Estes dois tipos de distinção entre coletivos estão relaciona dos com a maior ou menor comunicação intercoletiva isto é uma gradação que tem uma variação desde pouca ou nenhuma incongruência ou incompatibilidade entre estilos que permite uso mútuo dos resultados de pesquisa e citação nas respectivas produções em variados níveis de intensidade e freqüência até a de total incongruên cia a ponto de algumas vezes não haver reconhecimento de que algum trabalho seja pesquisa ou de que outro tenha alguma contribuição mais imediata para a melhoria do processo educativo que ocorre nas escolas brasileiras situações não muito raras com que em determinadas circunstâncias20 nos defrontamos V Considerações finais A pesquisa em EC no Brasil constitui de fato um campo social de pro dução de conhecimento caracterizandose como autônoma em relação a outros cam pos do saber mas mantendo interrelações em distintos níveis de aproximação com essas áreas Sua gênese pode ser compreendida como a instauração extensão e trans formação de estilos de pensamento compartilhados por coletivos constituídos por pesquisadores que ao se defrontarem com complicações relativas ao ensino de ciên cias por exemplo no início dos anos 6070 procuram subsidiar suas ações intera gindo com outros especialistas através de distintas formas e não somente com a in corporação destes nas equipes de trabalho Por exemplo estudo sistemático de publi cações de autores e pesquisadores que não pertencem à comunidade de físicos biólo gos ou químicos intercâmbio entre instituições que produzem conhecimento em outras áreas freqüência a eventos científicos que não os de Física Química e Biolo gia Ou seja é o que podemos caracterizar como circulação intercoletiva de idéias possibilitando a instauração de outros estilos de pensamento que acabam se distanci ando em termos de conhecimentos procedimentos de pesquisa e problemas investi gados daquele ao qual o pesquisador originalmente esteve ligado podendo ou não um mesmo pesquisador transitar entre os dois estilos na medida em que continua pelo menos durante um certo tempo produzindo na área de origem e em EC A ex tensão desse estilo nascente ocorre sobretudo através da implementação dos progra mas de pósgraduação em EC da formação de pesquisadores em instituições do exte rior da criação de periódicos especializados em trabalhos sobre EC e dos congressos 20 Estou me referindo às situações relacionadas à elaboração de parecer quer de trabalhos submetidos a julgamento para publicação em periódicos ou apresentação em congressos quer para solicitação de financiamento para pesquisa Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 169 da área Cabe destacar que esse processo é dinâmico e que comporta diferenciações ao se disseminar ou seja carrega consigo a necessidade de sua própria transforma ção Assim se nos anos 6070 um possível estilo de pensamento em EC começa a ser instaurado a partir das equipes coletivos que desenvolveram material didático para esse ensino projetos de ensino IBECC no seu processo de extensão ampliação dos elementos que compõem o coletivo de pensamento transformase na medida em que a perspectiva de se realizar pesquisa em EC é incorporada como meta Localizo aqui a primeira grande transformação ocorrida com o coletivo de pensamento que iniciou ao compartilhar conhecimentos e práticas relativas ao EC transformase em um cole tivo que passará a realizar também pesquisa em EC além de EC Por sua vez as pósgraduações publicações e congressos da área ao pos sibilitar a circulação intracoletiva de idéias qual seja problemas investigados referenciais da área procedimentos e resultados de pesquisa enfim conhecimentos e práticas compartilhados ou a ser partilhados por pesquisadores em formação estende e transforma o estilo em instauração Podemos dizer que hoje esse dinâmico e complexo processo cuja histó ria precisa ser convenientemente analisada tem como conseqüência a coexistência de mais de um estilo de pensamento compartilhado cada um deles por um coletivo de pensamento que se estrutura e se agrupa em função de variáveis das quais destaco formas de conceber e priorizar problemas de investigação referenciais teóricos e metodológicos adotados distintos níveis de vínculos entre pesquisapráticas educati vas que incluem uma gradação cujos limites estão na pesquisa altamente articulada com intervenção e na pesquisa sem intervenção alguma Podemos identificar estilos que mantêm maior ou menor aproximação e que promovem interações com maior ou menor intensidade por exemplo através da freqüência de referências mútuas tam bém em gradações que vão desde as constantemente presentes e recorrentes em de terminados grupos de trabalho até outras referências absolutamente ausentes nestes Um exame desse tipo pode auxiliar na identificação de estilos distantes ou mesmo incompatíveis até aqueles que se constituiriam em simples matizes FLECK 1986 tal o nível de aproximação Há então a existência de distintos níveis de circulação intercoletiva de conhecimentos e práticas entre os vários grupos que constituem o campo dos pesquisadores em EC Essa situação é portanto caracterizada por um pluralismo com origens históricas que não precisa necessariamente caminhar para o relativismo absoluto a menos que se assuma a posição feyerabendiana do vale tudo o que neste caso da pesquisa em EC particularmente não vejo como problemática desde que explicita mente assumida pela área Ao invés disso podemos ao reconhecer a historicidade da coexistência de distintos estilos de pensamento direcionando a pesquisa em EC cons truir critérios que de algum modo pairem acima de cada um dos estilos Parece claro que o já estabelecido de se garantir como de modo geral tem ocorrido a inclusão por parâmetros acadêmicos através da análise dos pares de trabalhos em anais de congressos e em artigos de revista que representam esta pluralidade precisa ser 170 Delizoicov D mantido e se necessário aperfeiçoado No entanto somente esse critério parece tam bém não ser suficiente se concebermos as pesquisas em EC como ciências humanas aplicadas Será preciso a observância de outros sobretudo para enfrentar o problema do relativo pouco impacto desses estudos sobre as práticas escolares Para abrir a discussão e procurar outros critérios estou propondo que façamos o exercício de incorporar em todas as nossas publicações um item onde haja uma discussão sobre possíveis impactos Quero dizer que sejam feitas considerações sobre por exemplo motivações pretensões implicações dos resultados das investigações nas práticas educativas mesmo nos casos em que não se consiga identificar claramente nem onde e nem quando esses resultados seriam implementados Correndo o risco de uso inadequado ou mesmo equivocado de argumen tar me apoiando em diretrizes fundamentais que estruturam o conhecimento produzi do pela Física ousarei utilizálas para a apresentação de uma síntese problematizado ra uma vez que este artigo inicialmente destinase a pesquisadores em EF A com pensação dessa ousadia está em poder chamar a atenção para aspectos que de outra forma talvez não fossem tão eficientemente comunicados Assim data venia a intenção de empregar essas diretrizes no meu discur so é destacar o conteúdo e não o argumento que analogicamente teria um papel cata lizador Assim podemos considerar que a pesquisa em EFEC trata de investigar fenômenos que ocorrem em um espaçotempo cuja característica fundamental é ter como propriedade a nãosimetria É obvio que neste caso o tempo e o espaço não são homogêneos e nem isotrópicos Isto sugere que não devemos procurar invarian tes universais21 São exceção os invariantes relativos aos princípios ontológicos co mo por exemplo a capacidade da espécie humana de se comunicar através de línguas aliás é por isto que esta espécie é designada de humana e que portanto qualquer homem pode vir a ter uma língua Mas uma particular não é um invariante universal mesmo as mais amplas e hegemonicamente empregadas em determinados períodos históricos O mesmo podemos dizer sobre cultura e história Neste sentido e para se entender melhor os problemas de pesquisa em ensino suas relações ensino e educação podemos perguntar O que significa pesquisa básicafundamental em ECEF Quais caracte rísticas precisa ter Qual o papel desempenhado pelos resultados de pesquisa em ECEF o riundos de espaçostempos distintos daqueles em que se localizam nossos alunos professores e escolas 21 Sobre a relação entre princípios de conservação homogeneidade temporal e isotropia do espaço ver Landau e Lifchitz sd Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 171 Com isso não estou endossando e nem fomentando qualquer tipo de xe nofobia acadêmica mas sim uma sintonia dos problemas investigados e seus resulta dos com as situações envolvidas nas escolas e educação do Brasil Ao propor isso não apóio também qualquer perspectiva que reduza a pesquisa a um mero pragma tismo ativista Nunca é demais lembrar o significado representado pelos projetos de ensino estrangeiros de um lado a consciência da inadequação de uma simples trans posição de outro teve influência no desafio de se elaborar projetos brasileiros que dentre outros desdobramentos propiciou uma transformação nos estilos de pen samento então presentes na medida em que começa a se incluir a dimensão da pes quisa nos coletivos que se articulavam em torno do ECEF Quais critérios oriundos das características do espaçotempo no qual os fenômenos ocorrem balizam a formulação dos problemas pesquisados ou a ser pes quisados em ECEF Destaco que apenas em 1970 tivemos a democratização do acesso ao en sino fundamental público período em que podemos localizar os primórdios da pes quisa em EFEC no Brasil como também nos países do hemisfério norte Mas dife rentemente do Brasil o acesso a esse nível de educação naqueles países já era garan tido haja vista o índice bastante baixo ou praticamente a inexistência de analfabetis mo que os caracterizam Em contrapartida mais de três décadas passadas e temos ainda no Brasil um analfabetismo da ordem de dezenas de milhões agora não mais devido a problemas de falta de escolas e vagas mas relacionados dentre outros fato res sócioeconômicos também ao processo de disseminação de conhecimento que ocorre nesses estabelecimentos de ensino que segundo a perspectiva de análise que adotei é a fonte de problemas de investigação do campo EC Ainda que tanto a edu cação escolar como o ensino nela promovido pudessem ser considerados como efeitos e não causa da situação em que nos encontramos22 penso que a pesquisa em EC enquanto ciências humanas aplicadas deve ter sólidos vínculos e compromissos com a superação dessa situação VI Referências bibliográficas ASSIS J P Kuhn e as ciências sociais Estudos Avançados v 7 n 19 p 133 164 1993 22 Ver por exemplo dados do INEP sobre analfabetismo repetição evasão escolar e desempe nho dos alunos do ensino fundamental em relação aos conhecimentos de Língua Portuguesa e Matemática Não creio que tenhamos que realizar uma pesquisa para confirmar que a respeito dos conhecimentos sobre ciências teríamos algo muito semelhante a isso se não pior 172 Delizoicov D BARROS S S Reflexões sobre 30 anos da pesquisa em ensino de Física In ENCONTRO DE PESQUISA DE ENSINO DE FÍSICA VIII 2002 Rio de Ja neiro Atas CDrom BRASIL Interdisciplinaridade no Município de São Paulo Série Inovações Edu cacionais Brasília INEP MEC 1994 CACHAPUZ A F Investigação em didáctica das ciências em Portugal um balanço crítico In PIMENTA S G Didática e formação de professores per cursos e perspectivas no Brasil e em Portugal São Paulo Cortez Editora 2000 COHEN R SCHNELLE T Cognition and Fact Dordercht Reidel 1986 CUTOLO L R A Estilo de pensamento em educação médica um estudo do currículo do curso de graduação em Medicina da UFSC 2001 Tese Doutorado Centro de Ciências da Educação UFSC Florianópolis DA ROS M A Estilos de pensamento em Saúde Pública um estudo da produ ção da FSPUSP e ENSPFIOCRUZ entre 1948 e 1994 a partir de epistemo logia de Ludwik Fleck 2000 Tese Doutorado Centro de Ciências da Educa ção UFSC Florianópolis DELIZOICOV D ANGOTTI J A PERNANBUCO M M Ensino de Ciên cias fundamentos e métodos São Paulo Editora Cortez 2002 DELIZOICOV D et al Sociogênese do conhecimento e pesquisa em ensino contribuições a partir do referencial fleckiano Caderno Brasileiro de Ensino de Física 19 n especial p 5269 2002 DELIZOICOV N C O movimento do sangue no corpo humano história e ensino 2002 Tese Doutorado Centro de Ciências da Educação UFSC Florianópolis FLECK L La Génesis y el Desarrollo de un Hecho Científico Madrid Alianza Editorial 1986 FLECK L On the Crisis of Reality 1929 In COHEN R S SCHNELLE T Cognition and Fact Materials on Ludwik Fleck Dordrecht D Reidel Publi shing Company 1986a Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 173 FLECK L Some specific features of the medical way of thinking 1927 In LÖWY I The Polish school of philosophy of medicine from Tytus Chalubinski to Ludwik Fleck Dordercht Reidel 1990 FRANCO C SZTAJAN P Educação em ciências e matemática identidade e implicações para políticas de formação continuada de professores In ENCON TRO DE PESQUISA DE ENSINO DE FÍSICA VI 1998 Florianópolis Atas CDrom GAMBOA S A S Epistemologia da pesquisa em Educação estruturas lógicas e tendências metodológicas 1987 Tese Doutorado Campinas São Paulo KRASILCHIK M A evolução no ensino das Ciências no período 19501985 In Ed O professor e o currículo de Ciências São Paulo EPU Edusp 1987 KUHN T A Estrutura das Revoluções Científicas São Paulo Perspectiva 1975 LANDAU L LIFCHITZ E Curso de Física Mecânica São Paulo Hemus sd LEMGRUBER M S A educação em Ciências Físicas e Biológicas a partir das teses e dissertações 1981 a 1995 uma história de sua história 1999 Tese Doutorado UFRJ Rio de Janeiro LEMGRUBER M S Um panorama da educação em ciências Educação em Foco v 5 n 1 p 1328 2000 Löwy I Fleck e a historiografia recente da pesquisa biomédica In PORTO CARRERO V Org Filosofia História e Sociologia das Ciências Rio de Janeiro Fiocruz 1994 p 233249 Löwy I Ludwik Fleck e a presente história das ciências In MANGUINHOS História Ciências Saúde Rio de Janeiro Fiocruz 1994 v I n 1 MEGID NETO J O ensino de Ciências no Brasil catálogo analítico de teses e dissertações 19721995 Campinas UNICAMPFECEDOC 1998 220 p MEGID NETO J ANDRADE E C P CABRAL M C O que se pesquisa sobre educação em ciências no Brasil um catálogo analítico de teses e disserta ções 19721995 In SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA XIII 1999 Brasília Atas Brasília UnBSBF 1999 174 Delizoicov D MEGID NETO J Sobre as pesquisas em ensino de Física nós podemos saber mas como socializar os conhecimentos elaborados nessas pesquisas In EN CONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA VII 2000 Florianópolis Atas CDrom MEGID NETO J O que sabemos sobre a pesquisa em ensino de Ciências no nível fundamental tendências de teses e dissertações defendidas entre 1972 e 1995 In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CI ÊNCIAS II 1999 Valinhos AtasValinhos ABRAPEC 1999b CDROM MEGID NETO J Tendências da pesquisa acadêmica sobre o ensino de Ciên cias no nível fundamental 1999a 365f Tese Doutorado em Educação Facul dade de Educação Universidade Estadual de Campinas Campinas MEGID NETO J Pesquisa em Ensino de Física do 2º grau no Brasil concep ção e tratamento de problemas em teses e dissertações 1990 Dissertação Mestrado Campinas MENDES SOBRINHO J A O ensino de ciências naturais na escola normal aspectos históricos Teresina EDUFI 2002 MORTIMER E F Construtivismo mudança conceitual e ensino de ciências para onde vamos Investigação em Ensino de Ciências v 1 p 20 39 1996 PACHECO D MEGID NETO J OLIVEIRA L Tempo de avaliação 20 anos de teses e dissertações sobre ensino de Física no Brasil In SIMPÓSIO NACIO NAL DE ENSINO DE FÍSICA LONDRINA X 1993 Atas p 182185 PACHECO D MEGID NETO J Propostas metodológicas para o ensino de Física apresentadas em teses e dissertações defendidas entre 1972 e 1995 no Bra sil In SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA XIII 1999 Brasília Caderno de Resumos e Programação p 102103 PACHECO D MEGID NETO J Propostas metodológicas para o ensino de Física apresentadas em teses e dissertações entre 1972 e 1995 no Brasil Relató rio de Projeto de Pesquisa FAEPUNICAMP Campinas Faculdade de Educação da UNICAMP 1998 mimeo PERNAMBUCO M M Uma retomada histórica do ensino de Ciências In SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA VI 1985 Niterói Atas p 116125 Cad Bras Ens Fís v 21 p 145175 ago 2004 175 PIETROCOLA M Visibilidade social e contactos com a área de Educação In ENCONTRO DE PESQUISA DE ENSINO DE FÍSICA VIII 2002 Águas de Lindóia Anais CDROM PFUNDT H DUIT R Bibliography students alternative frameworks and Science Education Kiel Institute for Science Education 1994 PIERSON A H C O cotidiano e a busca de sentido para o ensino de Física 1997 Tese Doutorado Faculdade de Educação USP São Paulo SEVERINO A J A Filosofia contemporânea no Brasil conhecimento política e educação Petrópolis Vozes 1997 SLONGO I I A produção acadêmica em ensino de Biologia um estudo a partir de dissertações e teses Relatório do exame de qualificação para doutorado Cen tro de Ciências da Educação UFSC Florianópolis 2003 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Instituto de Física Ensino de Física no Brasil catálogo analítico de dissertações e teses 19721992 São Paulo sn 1992 110 p UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Instituto de Física Ensino de Física no Brasil catálogo analítico de dissertações e teses 19931995 São Paulo sn 1996 VAZ A M et al Professores Pesquisadores e os Problemas da Escola In EN CONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA VII 2002 Águas de Lin dóia Anais CDROM PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS COMO CIÊNCIAS HUMANAS APLICADAS O texto escrito por Demétrio Delizoicov discute a pesquisa em ensino de ciências no Brasil destacando a falta de ênfase na relação entre pesquisa em ensino de cienências e ciências humanas aplicadas Ele menciona a formação predominantemente em Física Biologia e Química dos pesquisadores em EC e ressalta a criação de programas de pósgraduação em ensino de física na UFGRS e na USP nos anos 70 O autor destaca a recente desvinculação das pósgraduações em EC do Grupo de Trabalho GT Educação na CAPES e a importância de considerar a contextualização temporal da área Além disso enfatiza que as relações entre pesquisa pesquisadores e instituições influenciam os direcionamentos das pesquisas em EC e conclui mencionando a contribuição significativa das dissertações e teses das instituições com programas de pósgraduação em EC para a produção da área destacando a importância de examinar trabalhos sobre dissertações e teses para compreender a relação entre Ensino de Ciências Pesquisa em Ensino de Ciências e Educação É importante destacar que o texto aborda desafios no resgate histórico do ensino de ciências destacando a necessidade de um projeto multidisciplinar Apresenta também uma cronologia adaptada incluindo eventos científicos periódicos e produção em dissertações e teses além de destacar a diversidade na pesquisa em Ensino e Aprendizagem de Física ressaltando que embora feita por físicos utiliza fundamentos das Ciências Humanas O autor examina eventos e periódicos em ensino de Biologia e Química bem como a criação da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências ABRAPEC abordando a produção em dissertações e teses enfocando a concentração em Física com menção à possível mudança após os anos 90 Adicionalmente o estudo analisa focos temáticos na pesquisa em Ensino de Ciências destacando temas como conteúdométodo currículos e programas características do aluno recursos didáticos e outros indicando a possibilidade de mudanças nos últimos anos O texto aborda pesquisas em Educação em Ciências EC destacando dados sobre orientadores temáticas e referenciais teóricos Após 1995 pesquisas relacionadas a CTS cresceram mas a análise histórica revela mudanças nas ênfases temáticas Trabalhos em Educação em Biologia EB entre 1996 e 2000 evidenciam aumento na produção com focos em história e filosofia da ciência formação de professores e currículo Comparando com EC 19721995 há tendências consolidadas e declínios em algumas áreas como concepções espontâneas e mudança conceitual destacando a importância de considerar aspectos históricos e epistemológicos na pesquisa em EC O estudo além disso propõe análise atualizada para identificar mudanças e sugere reflexões sobre o direcionamento da pesquisa e destaca que a produção nessa área é caracterizada por ser elaborada de forma compartilhada por pesquisadores agregados em coletivos Esses coletivos não estão restritos a cursos ou programas de pósgraduação específicos mas são formados por pesquisadores de diversas origens A análise oferecida ao longo do texto se baseia em abordagens teóricas e metodológicas distintas buscando enfatizar as relações de semelhança e diferença entre os coletivos O autor exibe a organização coletiva da produção em EC sugerindo que o campo pode se estruturar em torno de distintos coletivos sociais de produção de conhecimento Em vez de aplicar o modelo kuhniano o texto propõe a utilização das ideias de Ludwik Fleck um médico polonês contemporâneo de Bachelard e Popper que desenvolveu uma abordagem construtivista e sociologicamente orientada sobre História e Filosofia da Ciência Fleck argumenta sobre a importância dos coletivos de pensamento na produção e disseminação de conhecimentos Ele introduz o conceito de estilo de pensamento como um conjunto de conhecimentos e práticas compartilhadas por um coletivo A dinâmica da produção de conhecimento para Fleck envolve a instauração extensão e transformação de estilos de pensamento com a interação entre distintos coletivos desempenhando um papel fundamental O texto destaca a aplicação do conceito de estilo de pensamento na análise da produção em EC Diversos pesquisadores como Cutolo e Da Ros têm explorado essa abordagem contribuindo para uma compreensão mais profunda desse conceito Fleck também aborda a circulação intercoletiva de ideias e práticas destacando o papel do professor de ciências na disseminação de conhecimentos para os alunos Ao final o texto relaciona as ideias de Fleck ao campo de EC sugerindo que a definição dos problemas nesse campo está vinculada ao foco em diferentes aspectos do processo de disseminação de conhecimentos Há uma distinção entre coletivos de pesquisadores com diferentes focos temáticos e outra relacionada à comunicação coletiva variando de uma maior congruência entre estilos de pensamento a uma total incongruência A análise dos trabalhos destaca a produção em Educação em Ciências EC como compartilhada por pesquisadores em coletivos não limitada a grupos específicos de pesquisa em instituições Esses coletivos apresentam relações de semelhanças e diferenças formando distintos grupos sociais de produção de conhecimento em EC Ao invés de adotar o modelo kuhniano o autor utiliza a abordagem de Ludwik Fleck para entender a produção em EC destacando a importância dos coletivos de pensamento e estilos de pensamento compartilhados Fleck argumenta que a dinâmica da produção de conhecimento envolve a instauração extensão e transformação de estilos de pensamento mediados por interações entre coletivos De forma geral a pesquisa em Educação em Ciências EC no Brasil é reconhecida como um campo social autônomo mantendo interrelações com outros campos do saber Sua origem é atribuída à instauração extensão e transformação de estilos de pensamento compartilhados por coletivos de pesquisadores Ao longo do tempo a pesquisa em EC evoluiu incorporando a pesquisa como meta e diversificandose em estilos de pensamento A existência de vários estilos coexistentes é caracterizada por um pluralismo histórico O autor por fim destaca a necessidade de critérios que transcendam os estilos propondo a inclusão do item possíveis impactos em publicações como um meio de avaliação mais abrangente Além disso ele enfatiza a importância de sintonizar os problemas investigados com as realidades das escolas e da educação brasileira considerando as características específicas do espaçotempo em que ocorrem os fenômenos estudados em EC