História dos Movimentos Sociais

Questão 1 5 pontos Compare os textos abaixo e disserte sobre as relações entre Estado e classe trabalhadora em períodos democráticos e ditaduras Discurso do presidente João Goulart no Comício das Reformas no dia 13 de março de 1964 Devo agradecer às organizações sindicais promotoras desta grande manifestação devo agradecer ao povo brasileiro por esta demonstração extraordinária a que assistimos emocionados aqui nesta cidade do Rio de Janeiro Quero agradecer também aos sindicatos que de todos os estados mobilizaram os seus associados dirigindo a minha saudação a todos os patrícios neste instante mobilizados em todos os recantos do país e ouvindo o povo através do rádio ou da televisão Polícia está de prontidão e o Exército de sobreaviso Jornal do Brasil 01051968 p 4 Todo o efetivo policial da Secretaria de Segurança Polícia Militar Delegacias Distritais e DOPS ficará de prontidão a partir das 6 horas de hoje a fim de reprimir qualquer perturbação da ordem pública durante as comemorações do Dia do Trabalhador O Exército entrou em regime de sobreaviso às 16 horas de ontem por causa das comemorações do Dia do Trabalhador que serão realizadas no Campo de São Cristóvão As tropas permanecerão nos quartéis Questão 2 5 pontos Caracterize os movimentos sociais de trabalhadores rurais no período da experiência democrática 19451964 e da ditadura militar 19641988 HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Questão 1 Compare os textos abaixo e discorra sobre as relações entre Estado e classe trabalhadora em períodos democráticos e ditaduras RESPOSTA A comparação entre os dois trechos evidencia uma profunda transformação na relação entre o Estado e a classe trabalhadora quando se transita de um regime democrático para uma ditadura No comício das reformas de 1964 o então presidente João Goulart expressa reconhecimento e apoio aos sindicatos e trabalhadores destacando sua mobilização e papel ativo nas transformações sociais Goulart representa um momento em que o Estado buscava se aproximar das demandas populares propondo reformas de base como a agrária educacional e fiscal que atendiam aos interesses da classe trabalhadora Além disso segundo Weffort 1991 esse período democrático pós1945 se caracterizou por uma crescente participação política das massas com o fortalecimento dos sindicatos e da representação dos trabalhadores Nesse cenário o Estado aparecia como possível mediador e até mesmo agente de reformas sociais Em contraste o trecho do Jornal do Brasil de 1968 retrata a postura repressiva do Estado durante a ditadura militar 19641985 As comemorações do Dia do Trabalhador deixam de ser uma celebração da classe operária para se tornarem motivo de vigilância e repressão A atuação da polícia e do Exército prontificados para reprimir qualquer manifestação ilustra a criminalização dos movimentos sociais e a tentativa de neutralização da classe trabalhadora como sujeito político Nesse sentido ainda como afirma Fausto 2012 o regime militar tentou despolitizar o operariado controlando os sindicatos através do Estado e eliminando a possibilidade de organização autônoma A repressão aos movimentos de trabalhadores associada à censura e à perseguição de lideranças foi marca registrada do período autoritário Portanto enquanto o período democrático promovia diálogo e certa abertura às demandas trabalhistas a ditadura militar se caracterizou por uma ruptura nesse vínculo substituindo o diálogo pela repressão e o controle REFERÊNCIAS FAUSTO Boris História do Brasil São Paulo EdUSP 2012 WEFFORT Francisco C O populismo na política brasileira Rio de Janeiro Paz e Terra 1991 Questão 2 Caracterize os movimentos sociais de trabalhadores rurais no período da experiência democrática 19451964 e da ditadura militar 19641988 RESPOSTA Durante o período democrático 19451964 os movimentos sociais de trabalhadores rurais ganharam força especialmente com o apoio das Ligas Camponesas e de setores progressistas da Igreja Católica Esses movimentos lutavam principalmente pela reforma agrária melhores condições de trabalho e acesso à terra As Ligas Camponesas surgidas em Pernambuco foram um dos exemplos mais emblemáticos da organização de trabalhadores rurais com grande influência de líderes como Francisco Julião Assim de acordo com Andrade 1980 as Ligas Camponesas representaram a primeira tentativa de organização nacional dos trabalhadores rurais no Brasil com um discurso claramente politizado e combativo Esse período foi marcado por uma crescente mobilização no campo com greves marchas e ocupações de terra Com a instauração da ditadura militar em 1964 esses movimentos foram duramente reprimidos As Ligas foram desmanteladas muitos líderes foram presos mortos ou exilados e qualquer tipo de organização rural autônoma passou a ser vista como subversiva O Estado militar implantou um rígido controle sobre os sindicatos rurais através do Ministério do Trabalho criando sindicatos oficiais que serviam mais ao controle do que à luta pelos direitos dos trabalhadores Além disso segundo Stédile 1993 a repressão do regime militar paralisou os movimentos rurais por mais de uma década impedindo qualquer avanço real nas lutas pela reforma agrária Somente a partir do final dos anos 1970 com a abertura política novos movimentos como o MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra surgiram para retomar as lutas camponesas Portanto os movimentos sociais de trabalhadores rurais no Brasil passaram por profundas transformações entre os períodos democrático e ditatorial Se de um lado entre 1945 e 1964 a mobilização no campo foi marcada por crescente organização e reivindicações legítimas por justiça social e reforma agrária de outro o regime militar instaurado em 1964 promoveu a repressão e o silenciamento dessas lutas criminalizando lideranças e dissolvendo as formas autônomas de organização rural Essa ruptura impediu avanços significativos na pauta agrária e atrasou conquistas históricas dos trabalhadores do campo No entanto a resistência persistiu e nas décadas seguintes daria origem a novos movimentos sociais como o MST que retomariam a luta por terra e dignidade no campo brasileiro REFERÊNCIAS ANDRADE Manuel Correia de As Ligas Camponesas São Paulo Ática 1980 STÉDILE João Pedro A questão agrária no Brasil São Paulo Editora Expressão Popular 1993