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Texto de pré-visualização
Flávio Limoncic Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino História do Oriente 2 Meta da aula Apresentar uma visão do processo histórico de construção do nacionalismo judaico sionismo e do nacionalismo palestino Objetivos Esperamos que ao final desta aula você seja capaz de 1 identificar conceitos básicos como nacionalismo judaico sionismo judaísmo nacionalismo palestino diferenças entre árabes e muçulmanos 2 reconhecer os fundamentos históricos dos nacionalismos judaico sionismo e palestino Prérequisitos Disciplina História e Sociologia principalmente as discussões sobre modernidade modernização e secularização Aula 1 de História do Oriente particularmente o conceito de orientalismo Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 3 INTRODUÇÃO Provavelmente você já leu nos jornais ou viu na televisão muitas notícias sobre ocupações militares mortes de civis bombas e atentados suicidas envolvendo israelenses e palestinos Talvez já tenha ouvido falar também em Yasser Arafat e na Autoridade Nacional Palestina no Hamas e nas Brigadas de AlAqsa assim como em Golda Meir Itzhak Rabin e Shimon Peres no Partido Likud e nos colonos israelenses da Cisjordânia No entanto notícias como essas pouco ajudam a compreender a complexidade do conflito que opõe palestinos a israelenses pois a mídia com muita frequência utiliza conceitos de forma pouco cuidadosa Não é incomum por exemplo que o conflito seja apresentado como opondo muçulmanos a judeus que os palestinos sejam retratados como terroristas e que os israelenses sejam associados ao imperialismo ocidental No entanto compreender o conflito entre israelenses e palestinos em toda a sua complexidade é fundamental para o bom entendimento do século XX e dos desafios do XXI pois nele estão presentes vários elementos e categorias da dinâmica política do período como Estado nação EstadoNação nacionalismo religião e fundamentalismo religioso Nele estão presentes também elementos de geopolítica e política internacional interesses econômicos e profundas divergências ideológicas Por tudo isso nesta e nas próximas três aulas você entrará em contato com um conjunto de reflexões e informações que esperamos contribua para que tenha uma melhor compreensão desse conflito e para que reflita também a respeito do trabalho do historiador que está prestes a abraçar História do Oriente 4 Esclarecendo alguns conceitos judeus israelenses árabes palestinos muçulmanos Para começar vamos diferenciar judeu de israelense Judeu é alguém que se identifica com a tradição judaica tanto em sua dimensão religiosa quanto cultural ao passo que israelense é o cidadão do Estado de Israel Há judeus que são cidadãos de diversos países do mundo como evidencia o quadro a seguir Por outro lado cerca de 25 dos cidadãos israelenses não são judeus São conhecidos como árabesisraelenses e em sua maioria são muçulmanos embora haja também entre eles cristãos de diferentes denominações País Judeus Estados Unidos 6 milhões França 500 mil Itália 30 mil Alemanha 120 mil Brasil 100 mil Turquia 25mil Figura 21 Número aproximado de judeus em alguns países Fonte Adaptado de httpwwwajcarchivesorgAJCDATAFilesAJYB721CVpdf http wwwpazagoraorgimpArtigocfmIdArtigo1215 pesquisados em 05 de outubro de 2010 Se nem todos os israelenses são judeus e nem todos os judeus são israelenses é importante também diferenciar árabes de palestinos e árabes de muçulmanos Os árabes formam o tronco étnicolinguístico mais importante de um vasto conjunto de países que se estende da África Ocidental à Península Arábica como mostra a Figura 22 Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 5 Figura 22 Países árabes Os palestinos formam um conjunto específico de árabes que se identificam à nação palestina como os egípcios os tunisianos e os argelinos identificamse às nações egípcia tunisiana e argelina No entanto enquanto egípcios tunisianos e argelinos possuem seu próprio Estado nacional Egito Tunísia e Argélia os palestinos não possuem Estado próprio aspirando a construílo na Palestina Ademais nem todos os árabes são muçulmanos Basta olharmos para os imigrantes sírios e libaneses que vieram para o Brasil e que nos trouxeram delícias como o quibe e a esfiha para nos darmos conta da pluralidade religiosa existente no mundo árabe tais imigrantes são em sua maioria cristãos Não menos importante nem todos os muçulmanos são árabes Na verdade os maiores países muçulmanos do mundo como a Indonésia o Paquistão e o Irã além de Afeganistão e Turquia não são árabes como evidencia o Figura 23 Então em uma definição geral o muçulmano é o crente na revelação feita por Alá ao profeta Maomé que tem no Corão o seu livro sagrado e pode pertencer a qualquer tronco étnicolinguístico História do Oriente 6 Figura 23 População muçulmana ao redor do mundo Fonte httpptwikipediaorgwikiIslC3A3oporpaC3ADs Portanto quando falamos em conflito entre israelenses e palestinos não estamos nos referindo a um conflito entre árabes e judeus tampouco entre muçulmanos e judeus Estamos nos referindo a um conflito específico entre o Estado de Israel e os palestinos que almejam ter o seu próprio Estado Atende ao Objetivo 1 1 Faça uma pesquisa em notícias de jornais eou revistas a respeito do conflito entre israelenses e palestinos Analise se as referências aos israelenses e aos palestinos são conceitualmente corretas ou se pelo contrário elas levam a confusões conceituais e portanto dificultam a compreensão a respeito do conflito Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 7 Resposta Comentada É possível que você tenha achado muitas formas diferenciadas de referências a israelenses e palestinos Os primeiros com frequência são chamados de judeus ao passo que os segundos também com frequência são denominados genericamente de árabes ou muçulmanos Por vezes em uma mesma matéria você poderá encontrar formas diferenciadas de denominar as partes em conflito Agora no entanto você tem mais clareza conceitual e portanto pode ter maior rigor crítico na leitura do seu jornal Israelenses e palestinos Você já sabe que os israelenses são os cidadãos de Israel que muitos judeus não são israelenses e que cerca de 25 dos israelenses não são judeus E no entanto o Estado de Israel definese como o EstadoNação dos judeus o que faz com que os cidadãos árabes de Israel tenham uma relação complexa com a identidade nacional do Estado do qual detêm os direitos de cidadania Na verdade muitos deles se identificam muito mais como palestinos do que como israelenses ainda que a maioria se identifique como árabeisraelense EstadoNação e Cidadania Hoje em dia o mundo está organizado em EstadosNação que se apresentam como a expressão política e territorial de uma nação específica Nem sempre foi assim O Império austrohúngaro por exemplo que deixou de existir História do Oriente 8 após a Primeira Guerra Mundial reunia povos de diversas línguas religiões e culturas diferentes Em seu território foram formados novos EstadosNação como a Polônia o Estado Nação dos poloneses a Áustria o EstadoNação dos austríacos e a Hungria o EstadoNação dos húngaros Se o EstadoNação quer ser a expressão política e territorial de uma nação resta definir o que se entende por nação Essa tarefa não é fácil pois há muitas definições possíveis Ainda assim essas definições podem ser divididas em dois grandes campos as essencialistas e as históricas As defini ções essencialistas afirmam que as nações sempre existiram ou que têm suas origens em tempos imemoriais e que seus membros compartilham características inerentes Assim por exemplo existiria algo intrínseco aos franceses que os torna ria franceses e os distinguiria dos alemães Tais visões são muito comuns entre movimentos e historiadores nacionalistas mas há também na academia defensores da visão de que as nações possuem algo de intrínseco etnicamente definido como Anthony Smith As visões históricas são aquelas que entendem as nações como construções da modernidade Entre estas destacamse as produzidas por Ernest Gellner que entende as nações como produtos da industrialização e urbanização e por Benedict Anderson que as entende como comunidades imaginadas Se você tiver vontade de se aprofundar nessa discussão aí vai uma recomendação bibliográfica BALAKRISHNAN Gopal Org Um mapa da questão nacional Contraponto 2000 É importante salientar que nessa e nas próximas aulas os nacionalismos palestino e judaico sionismo serão entendidos como construções históri cas Como você verá o sionismo surgiu em meio às grandes mudanças ocasionadas pela modernidade europeia ao passo que o nacionalismo palestino foi construído a partir da conjuntura de desmonte do Império otomano e de presença britânica e sionista na Palestina Por cidadania entendemos um conjunto de direitos e deveres juridicamente definidos que Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 9 Mas você pode estar se perguntando e com razão se há judeus em tantos países do mundo e neles se sentem plenamente integrados às suas identidades nacionais o que é afinal a nação judaica e por que deseja ela ter seu próprio EstadoNação E como pode o Estado de Israel definirse como o Estado dos judeus se há tantos judeus fora de Israel e tantos não judeus dentro de Israel Perguntas do mesmo tipo poderiam ser feitas em relação aos palestinos O que faz dos palestinos uma nação se até o século XIX não havia a ideia de uma nação palestina distinta da identidade árabe O que os distingue afinal dos outros árabes Se eles nunca tiveram jurisdição sobre o território em que vivem encontrandose hoje espalhados em diversos países árabes e possuindo estatutos regulam as relações de um indivíduo com o Estado Não se deve pois confundir cidadania e identidade nacional pois esta diz respeito a sentimentos e afetos não sendo portan to regulada por normas jurídicas Uma pessoa pode ser cidadã de um país e ao mesmo tempo sentirse membro de uma nação estranha àquele país Por exemplo um imigrante italiano naturalizado brasileiro é um cidadão do Brasil mas pode sentirse afetiva e emocionalmente membro da nação italiana Por outro lado uma pessoa pode também sentirse membro de uma nação mas não ser cidadão do Estado que se apresenta como o EstadoNação daquela nação Por exem plo um italiano que tenha migrado para o Brasil pode nunca ter se tornado cidadão brasileiro ainda que possa sentirse afetiva e emocionalmente mais ligado à nação brasileira do que à italiana Pode haver também pessoas que se identificam a nações que não possuem Estados como os próprios palesti nos ou os curdos que se espalham pelos territórios do Iraque Síria e Turquia e que como os palestinos também buscam construir o seu próprio EstadoNação História do Oriente 10 jurídicos diferenciados são refugiados no Líbano e na Síria cidadãos na Jordânia na Jerusalém Oriental anexada por Israel são residentes e na Cisjordânia ocupada por Israel vivem sob ocupação militar o que os une Confuso Sem dúvida Para que a confusão seja desfeita ou ao menos minorada é preciso que recorramos um pouco à história de israelenses e palestinos Para que não haja brigas logo de início vamos usar o critério neutro de ordem alfabética e começar pelos primeiros O nacionalismo judaico sionismo O Estado de Israel foi criado em 1948 portanto os israelenses só passaram a existir a partir de então mas o judaísmo é uma crença multimilenar cujo fundamento básico é a crença na existência de um deus único com o qual os judeus fizeram um pacto Por tal pacto os judeus deveriam se transformar em um povo de sacerdotes levando vidas exemplares segundo os mandamentos divinos e conduzindo a humanidade no caminho da redenção Em retribuição Deus teria dado aos judeus a Terra Prometida Diferentemente do cristianismo portanto o judaísmo não é uma religião que busca ativamente a conversão dos não judeus embora aceitea O não judeu se justo pode ser redimido permanecendo não judeu Ocorre que segundo a narrativa judaica os judeus não teriam estado à altura das rígidas exigências do pacto que celebraram com Deus cometendo dentre outros pecados idolatria revolta e soberba Por tal razão Deus os teria enviado ao exílio Neste eles deveriam continuar a estudar a lei de Moisés e a tentar respeitar as exigências do pacto na esperança de que Deus enviasse seu messias dando início ao retorno à Terra Prometida e à redenção messiânica Dadas as condições de dispersão geográfica nas quais o judaísmo se desenvolveu nos últimos 2000 anos sem um poder centralizado do qual emanassem a autoridade o direito a doutrina e Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 11 os dogmas como no catolicismo que tem o Vaticano como autoridade última acabaram por se produzir em seu seio diferentes liturgias e formas de expressão cultural De modo sintético três grandes grupos judaicos constituíramse os ashkenazim os sefaradim e os mizrahim Ashkenazim sefaradim mizrahim Ashkenaz em hebraico quer dizer Alemanha Os ashkenazim são os judeus oriundos da Europa Central e Oriental que em contato com católicos e ortodoxos de línguas germânicas ou eslavas cons truíram sua própria língua o ídiche alemão grafado em hebraico com influências eslavas e afastaramse em termos culturais litúrgicos e étnicos dos sefaradim e mizrahim Em breve nesta aula você vai entrar em contato com dois importantes sociólogos do século XIX de origem ashkenazi Karl Marx e Émile Durkheim Como Sefarad em hebraico quer dizer Espanha os judeus sefaradim são aqueles originários da Penínsu la Ibérica de onde foram expulsos em fins do século XV A partir de então espalharamse pela bacia do Mediterrâneo norte da África Itália Bálcãs Impé rio otomano e Holanda Tais judeus permaneceram ligados às suas raízes ibéricas e cultivaram ao longo dos séculos a língua ladina espanhol grafado em hebraico e com influências das línguas faladas pelos novos países de adoção como o árabe Os judeus que vieram para o Brasil com os holandeses no século XVII eram sefaradim assim como o filósofo Baruch Spinoza do qual você já deve ter ouvido falar Os mizrahim por fim são os judeus orientais oriundos do mundo árabe como Iraque e Yêmen da Pérsia atual Irã e Ásia Central fortemente influenciados pelas História do Oriente 12 De sua origem em fins do século XIX até a criação do Estado de Israel em 1948 o sionismo foi um fenômeno essencialmente ashkenazi Sionismo O sionismo entende o judaísmo não como uma religião ou como uma tradição cultural mas como uma nação Em outras palavras para o sionismo os judeus formam uma nação específica assim como os franceses alemães ou poloneses e como estes devem ter o seu próprio EstadoNação Como todos os movi mentos nacionais o sionismo teve de construir uma me mória nacional que o legitimasse perante os próprios judeus e os demais povos Tal memória foi relacionada à narrativa bíblica No entanto enquanto que para os judeus religiosos o fundamento da narrativa bíblica era a relação de um povo com seu deus para os sionistas era a relação de uma nação com sua terra Aos olhos dos sionistas portanto o Antigo Testamento assumia a função de uma grande saga nacional Muito embo ra ele fosse em sua origem um movimento de caráter culturas e línguas dessas regiões Dado que o Brasil teve uma imigração judaica basicamente formada por ashkenazim e em menor número sefaradim marro quinos os mizrahim são pouco conhecidos por aqui mas formam ao lado dos sefaradim a maior parte do contingente populacional do Estado de Israel nos dias de hoje Além destes grandes grupos existem diversos outros menores como os falashas da Etiópia os judeus da Caifeng na China os judeus da Montanha do Cáucaso e o judeus de Cochim na Índia Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 13 liberal Theodore Herzl seu fundador pensava em um Estado para os judeus nos moldes da monarquia constitucional austrohúngara logo diversas correntes ideológicas socialistas religiosos direitistas ani nharamse em seu seio e buscaram definir o desenho do futuro Estado Vamos estudar um pouco melhor como o sionismo operou essa mudança no entendimento do judaísmo Nas suas aulas da disciplina História e Sociologia você estudou como a modernidade foi interpretada por Weber Marx e Durkheim Você deve lembrar também que Marx e Durkheim eram de origem judaica eram judeus ashkenazim Deve lembrar por fim como a modernidade atingiu profundamente os judeus Com o advento da modernidade a separação entre Estado e confissão religiosa a formação dos modernos EstadoNação a industrialização a urbanização a crise das autoridades e comunidades tradicionais os judeus ashkenzim viramse diante do desafio de redefinir suas inserções no seio das sociedades em que viviam se até então se organizavam de forma bastante autônoma em meio a sociedades cristãs ainda que com frágeis bases de segurança jurídica e frequente insegurança física como deveriam reagir diante da abertura do mundo proporcionada pela modernidade Deveriam manterse fiéis ao seu modo de vida tradicional rejeitando os novos direitos deveres identidades e lealdades que se abriam no âmbito dos novos EstadosNação que se formavam ou incorporarse a esses EstadosNação ao preço de se afastarem de sua identidade religiosa e costumes tradicionais Mas a Modernidade não descortinou aos judeus ashkenazim apenas um mundo de novos direitos No Império russo além de imersos em profunda pobreza os judeus continuaram a sofrer uma série de restrições legais tornandose após o assassinato do czar Alexandre II em 1881 alvo de perseguições e matanças generalizadas conhecidas como pogroms História do Oriente 14 Figura 24 Crianças judias mortas no pogrom de Ekaterinoslav Rússia 1905 Fonte httpuploadwikimediaorgwikipediacommonsbb7Ekaterinoslav1905jpg Já no Império austrohúngaro a lealdade dos judeus com o imperador causoulhes a animosidade dos nacionalismos polonês servocroata e outros Por fim o pensamento racial do século XIX acabou por associar os judeus a uma raça específica e inferior a semita e o antissemitismo associado a diversos nacionalismos acabou por produzir constrangimentos e violências contra os judeus mesmo em países nos quais estes obtiveram direitos plenos de cidadania como a França e a Alemanha Em suma ao mesmo tempo em que abriu aos judeus as portas da incorporação e dos direitos a Modernidade construiu também novas formas de rejeição Se na Idade Média o judeu era o Outro por não ser cristão na Modernidade ele se transformou em Outro por ser considerado estrangeiro ou por não pertencer à raça nacional As respostas dos judeus ashkenazim ao advento da Modernidade foram múltiplas os que a sentiram como uma libertação da tradição abraçaram as novas identidades nacionais na Alemanha Áustria Hungria Inglaterra e França chegando muitos a se converter ao cristianismo ou aderiram aos grandes movimentos revolucionários da esquerda na Polônia e na Rússia os que sentiram a Modernidade como ameaça uma perda de referências e insegurança espiritual rejeitaram na e passando a ser conhecidos como ortodoxos encerraramse em suas casas de estudos em pequenas aldeias da Europa Oriental Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 15 Antissemitismo O antissemitismo é um fenômeno histórico multi facetado e bastante complexo A rigor tal termo só surgiu na década de 1870 no momento de construção de movimentos nacionalistas e racialistas característicos do final do século XIX europeu Somente mais tarde o termo assumiu a conotação de ódio aos judeus em todas as suas formas e através dos séculos incluindo a dimensão religiosa da culpa coletiva dos judeus pelo assassinato de Cristo que perpassou toda a Idade Média e a Idade Moderna De certo modo seria mais correto falar em antissemitismos do que em um único antissemitismo pois mesmo nos séculos XIX e XX em diferentes momentos e locais fatores dinásti cos nacionais nacionalestatais políticos e econômi cos combinaramse de formas diversas resultando em perseguições aos judeus Em comum a todas as manifes tações antissemitas ou antijudaicas prémodernas a dificuldade em lidar aceitar e compreender o Outro Figura 25 Muito embora Leon Trotsky seja o mais conhecido dos russos de origem judaica a participar da Revolução Russa diversos revolucionários tinham essa mesma origem Na foto Maxim Livtinov que se tornaria ministro das Relações Exteriores da União Soviética nos anos 1930 Fonte httpenwikipediaorgwikiMaximLitvinov História do Oriente 16 Houve também aqueles que buscaram articular modernidade e tradição como muitos judeus alemães que se definiram como alemães na esfera pública e judeus na esfera privada Parte expressiva dos judeus ashkenazim que viviam em condições econômicas adversas e que sofriam constrangimentos jurídicos no Império russo que incluía até a Primeira Guerra Mundial boa parte da Polônia emigrou rumo às Américas Brasil inclusive O sionismo foi mais uma das respostas dos ashkenazim à Modernidade defendendo a criação de um Estado Nação específico para os judeus na Palestina O sionismo pode ser entendido pois como uma redefinição moderna da identidade judaica Para utilizar a terminologia weberiana que você conhece bem ele expressa uma concepção secular do judaísmo Exatamente por isso quando foi politicamente sistematizado por Theodor Herzl diversos segmentos do judaísmo combateramno vigorosamente Entre fins do século XIX e a Segunda Guerra Mundial boa parte dos judeus ashkenazim queria emigrar para as Américas tornarse parte das nações europeias ou fazer a revolução social e construir o socialismo Para estes portanto a ideia de que os judeus formavam uma nação específica representava um entrave aos seus projetos assimilacionistas ou revolucionários Dentre os judeus ortodoxos a repulsa ao sionismo foi ainda mais intensa Para eles os judeus só poderiam voltar para a Terra Prometida pelas mãos de Deus ou seja com o advento da Era Messiânica Portanto o sionismo constituía uma afronta a Deus A Segunda Guerra Mundial e o extermínio dos judeus pelos nazistas durante a chamada Solução Final no entanto levaram a que a grande maioria dos judeus sobreviventes na Europa vendo naufragar o projeto de tornaremse plenamente alemães austríacos ou poloneses acabasse por aderir ao sionismo Os judeus ultraortodoxos foram em larga medida exterminados mas aqueles que sobreviveram continuaram e ainda o fazem nos dias de hoje em sua grande maioria a repudiar o sionismo Por fim os judeus que já viviam nos Estados Unidos e em outros países das Américas ou mesmo na Europa e que lá permaneceram acabaram por apoiar em sua grande maioria a ideia sionista ainda que tenham decidido permanecer em seus países de nascimento Theodor Herzl 18601904 É considerado o pai do sionismo político Nascido em Budapeste em uma família judaica assimilada à cultura alemã do Império austrohúngaro Herzl cobriu como jornalista o julgamento do capitão francês Alfred Dreyfus Em 1894 Dreyfus foi injustamente acusado e condenado por ter passado segredos militares franceses aos alemães Como resposta ao julgamento eivado de preconceito antissemita Herzl escreveu um livro chamado O Estado dos judeus e organizou os primeiros congressos sionistas Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 17 Solução Final Segundo a ideologia nazista os judeus forma vam uma raça inferior a semita que deveria ser exterminada sob risco de contaminar e dominar a raça superior a ariana Em 1942 a Conferência de Wannsee elaborou os contornos da Solução Final do problema judeu Ao fim da Segunda Guerra Mun dial cerca de 6 milhões de judeus haviam sido exter minados de diversas formas fuzilamentos coletivos fomes e doenças em guetos e campos de concentra ção trabalho escravo e câmaras de gás Fritz Haber O químico Fritz Haber 18681934 talvez expresse mais do que ninguém o fracasso do projeto assimilacionista dos judeus alemães do entre guerras Prêmio Nobel de química Haber contribuiu decisivamente para a montagem do complexo químico militar alemão durante a Primeira Guerra Mundial ocasião em que supervisionou a produção de gases utilizados contra tropas francesas e inglesas Apesar de todo o seu histórico nacionalista Haber teve de exilarse na Suíça após a chegada dos nazistas ao poder em 1933 vindo a falecer apenas um ano depois Se você tiver interesse em se aprofundar nesse tema fascinante aí vai uma dica de leitura STERN Fritz O mundo alemão de Einstein São Paulo Cia das Letras 2004 História do Oriente 18 Fonte httpptwikipediaorgwikiFritz Haber Se o sionismo surgiu diante dos desafios colocados aos judeus ashkenazim pela modernidade o nacionalismo palestino surgiu em resposta aos desafios colocados ao mundo árabe de modo geral e aos árabes da Palestina em particular pela crise do Império otomano e pelas presenças britânica e judaica em terras palestinas O nacionalismo palestino Ao longo dos séculos a Palestina foi dominada por diversos povos como os filisteus hebreus romanos persas até que no impulso conquistador dos árabes do século VII dC passou ao domínio destes A partir de então sua população tornouse majoritariamente árabe embora judeus e outros grupos menores como drusos continuassem a viver nela Entre os séculos XVI e a Primeira Guerra Mundial a Palestina esteve sob domínio do Império otomano que se estendia dos Bálcãs na Europa ao Iraque passando pelo norte da África como mostra a Figura 26 Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 19 Figura 26 Império otomano Fonte httpptwikipediaorgwikiFicheiroOttomanEmpireIn1683png Incorporando áreas tão extensas o Império otomano embora oficialmente muçulmano e liderado por turcos era composto por povos de diversas religiões e línguas As minorias religiosas como judeus e cristãos de diversas denominações eram administradas por um sistema chamado millet através do qual conduziam suas vidas civis e religiosas em troca de impostos Com os árabes os turcos otomanos tinham uma relação particularmente respeitosa dado que Maomé havia sido árabe e o Corão era escrito nessa língua Os árabes por seu lado aceitavam a liderança otomana pois o Império era muçulmano fé da imensa maioria dos árabes e expandira principalmente em direção à Europa a umma islâmica Millet Ao conquistar povos com línguas e religiões diferentes o Império otomano embora oficialmente muçulmano não buscou impor sua cultura língua e religião sobre os povos dominados Como era um império essencialmente tributário ou seja financiavase através da cobrança de impostos sobre seus súditos ele acabou por respeitar as culturas tradições e costumes locais desde que os impostos fossem regularmente pagos Os diferentes grupos religiosos tanto judeus quanto cristãos eram assim respeitados e através de seus respectivos millet gozavam de certa autonomia para regerem suas vidas internas Umma Termo árabe que exprime a ideia de comunidade de crentes A umma reúne todos os muçulmanos do mundo em uma única comunidade fundada na crença comum em Alá sem distinção de cor língua gênero ou outras quaisquer História do Oriente 20 No entanto desde meados do século XVIII a lealdade dos árabes ao Império otomano começou a erodir Neste século um movimento religioso do deserto da Península Arábica chamado wahabismo começou a criticar o Islã praticado pelo Império que reunia sunitas e xiitas assim como diversas práticas litúrgicas diferentes Em aliança com um poderoso clã do deserto os Saud o wahabismo sunita tornouse um movimento de natureza política defendendo a cisão entre os árabes e os otomanos Já no século XIX o Egito tornouse virtualmente independente do Império otomano mas encaminhou sua agenda política em sentido diferente do wahabismo da Península Arábica deu início a um processo de modernização econômica educacional e militar que tinha a Europa particularmente a França como modelo Ainda no século XIX o Despertar Árabe Nahdah propunha a construção de uma nova literatura em língua árabe Com sede em grandes cidades como Damasco Beirute e Bagdá o Despertar Árabe era liderado principalmente por intelectuais cristãos que buscavam cimentar uma identidade árabe para além de divisões de natureza religiosa Em suma ao longo dos séculos XVIII e XIX esboçaramse novas identidades árabes de cunho políticoreligioso secular e cultural que marcavam um distanciamento do mundo árabe em relação ao Império otomano Wahabismo Movimento religioso que surgiu no deserto arábico por volta da década de 1740 e que defendia uma volta à pureza do Islã em sua versão sunita dos tempos do Profeta Para os wahabitas os turcos otomanos haviam conspurcado o Islã que deveria ser novamente conduzido por um califado árabe Em aliança com a família Saud o wahabismo transformouse em uma poderosa força políticomilitar Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 21 Nos dias de hoje o wahabismo é a versão oficial do Islã da Arábia Saudita país que não faz distinção entre Estado e confissão religiosa Sunitas e xiitas A grande cisão entre sunitas e xiitas ocorreu em razão de questões sucessórias após a morte de Maomé Basicamente os sunitas afirmavam que o califa ou seja o líder da umma deveria ser reconhecido por sua capacidade de persuasão e de convencimento e por seu respeito à lei corânica Já os xiitas defendiam que o califa deveria necessariamente surgir da linhagem de Maomé A partir dessa cisão inicial sunitas e xiitas acabaram por gradualmente afastarse Muitos sunitas consideram os xiitas heréticos ou desertores ao passo que para os xiitas os sunitas usurparam o poder legítimo sobre a umma Por outro lado como minorias religiosas os xiitas tornaramse tradicionais críticos do poder defendendo a pureza islâmica contra a corrupção de líderes políticos e dinásticos sunitas Cerca de 80 dos muçulmanos nos dias de hoje são sunitas mas países como Líbano e Iraque possuem importantes populações xiitas ao passo que os muçulmanos iranianos são em sua maioria xiitas Esse distanciamento aprofundouse em princípios do século XX sobretudo durante a Primeira Guerra Mundial quando o Império otomano passou a reprimir com violência crescente grupos não turcos com especial ênfase os armênios e a buscar aumentar a centralização políticoadministrativa No conflito mundial os otomanos aliaramse à Alemanha e ao Império austrohúngaro e em tal conjuntura a Inglaterra fomentou uma Revolta Árabe contra o domínio otomano Armênios Os armênios são originários do Cáucaso tendo sido o primeiro povo a converterse ao cristianismo Embora nos dias de hoje exista um país chamado Armênia à época da Primeira Guerra Mundial uma expressiva quantidade de armênios vivia em territórios controlados pelo Império otomano Na ocasião o governo turco deu início a uma feroz repressão aos armênios que viviam no Império acusandoos de colaboracionismo com o inimigo russo Além de prisões e assassinatos milhões de armênios foram obrigados a longas penosas e frequentemente letais marchas rumo à atual Síria então uma província do Império Estimase que no total cerca de 15 milhão de armênios tenham morrido no que é considerado o primeiro grande genocídio do século XX O atual governo turco no entanto nega oficialmente a existência de um genocídio deliberado e credita as mortes de armênios às vicissitudes da Primeira Guerra Mundial História do Oriente 22 A Revolta Árabe no entanto não foi liderada pelos sauditas wahabitas pelos egípcios ou por nenhum outro importante centro político cultural ou econômico árabe como Damasco ou Beirute mas pelo xarife Hussein da família Hachemita que governava Meca e Medina Hussein era um chefe clânico tradicional e apelando aos valores do Islã propunhase a ser o novo califa Em troca do apoio na sua guerra contra os otomanos os ingleses prometeramlhe um reino árabe independente como mostra a Figura 27 Figura 27 Promessa dos britânicos ao xarife Hussein em 1915 A linha tracejada indica a região litorânea que os ingleses queriam excluir do reino árabe liderado por Hussein A parte escura indica as regiões do vilayet de Beirute que Hussein declara serem puramente árabes e que queria que fossem partes de seu reino No resto do território haveria consenso tudo deveria fazer parte do reino árabe No entanto os ingleses não fizeram acordos apenas com Hussein para redesenhar o mapa do mundo do Oriente Médio uma vez vencido o Império otomano Com os franceses assinaram em Meca e Medina Meca foi a cidade natal de Maomé Segundo a tradição islâmica em 622 Maomé teria realizado uma migração conhecida como hegira rumo à cidade de Medina onde se tornou líder da primeira umma Em Meca está situada a Caaba que embora tendo origem pagã acabou por se tornar o local mais sagrado do Islã As rezas dos muçulmanos ao redor do mundo são direcionadas à Meca e todo o crente do Islã se tiver condições para tal deve fazer pelo menos uma peregrinação à cidade em sua vida Nos dias de hoje as cidades fazem parte da Arábia Saudita Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 23 1916 os Acordos de SykesPicot que basicamente dividiam o mundo árabe em áreas de influências inglesa e francesa com influência também russa como mostra o mapa a seguir Figura 28 Acordos de SykesPicot A área branca deveria ficar sob proteção britânica francesa e inglesa A área preta deveria ser um enclave britânico A cinza uma área francesa a quadriculada um estado árabe sob proteção francesa e a listrada um estado árabe sob proteção britânica Não satisfeitos os britânicos fariam ainda uma terceira promessa envolvendo terras na região aos sionistas ofereceram a Declaração Balfour de novembro de 1917 pela qual afirmavam ver com bons olhos o estabelecimento de um Lar Nacional Judaico na Palestina sem no entanto definir o território de tal Lar Para tanto uma vez vencidos os otomanos e consolidada a presença britânica na Palestina seria dada aos judeus sionistas permissão para imigração rumo à região História do Oriente 24 Você pode imaginar a confusão formada por tantos compromissos diferentes Finda a Primeira Guerra Mundial e nos anos que se seguiram surgiram nas terras árabes resultantes do desmoronamento do Império otomano como resultado de inúmeros conflitos guerras civis e intensa diplomacia novos países independentes e áreas sob controle direto ou indireto de ingleses e franceses como mostra a Figura 29 Figura 29 Oriente Médio após a Primeira Guerra Mundial Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 25 Contra o desejo britânico a Arábia Saudita Saudi Arabia no mapa tornouse independente com apoio norteamericano sob a liderança da família Saud em aliança com os wahabitas A família hachemita com apoio britânico recebeu duas novas monarquias a Transjordânia atual Jordânia cujo nome oficial é Reino Hachemita da Jordânia e o Reino do Iraque cuja monarquia foi derrubada nos anos 1950 tornandose uma República A Síria e o Líbano tornaramse protetorados franceses ao passo que a Palestina tornou se Mandato Britânico O território do Mandato Britânico da Palestina ilustrado pela Figura 210 não foi definido a partir de nenhuma unidade administrativa prévia do Império otomano Ele abrangia áreas do vilayet otomano de Beiture do vilayet da Síria do sanjak de Jerusalém e áreas desérticas nas quais o Império otomano jamais conseguira consolidar sua jurisdição Figura 210 Mandato Britânico da Palestina Fonte httpptwikipediaorgwikiPalestina Embora a Declaração Balfour se aplicasse a todo o território do Mandato as reações dos árabes da Palestina à imigração de judeus da Europa Oriental acabaram levando a que as autoridades britânicas dividissem o Mandato em duas regiões a oeste do rio Jordão os judeus que se identificavam ao sionismo continuariam a ser admitidos ao passo que a leste sua entrada ficava vedada conforme a Figura 211 Nessa região que viria a ser o Reino Hachemita da Jordânia Mandato A figura jurídica do Mandato foi elaborada pela Liga das Nações criada após o fim da Primeira Guerra Mundial para garantir a segurança coletiva e era utilizada para dar sustentação legal à administração inglesa ou francesa de um território até então sob jurisdição alemã ou turca A Liga entendia que tais territórios ainda não eram capazes de se autoadministrar e portanto deveria haver um período de transição o Mandato até que eles reunissem as condições necessárias para a independência Tal era o caso da Palestina História do Oriente 26 em um primeiro momento chamouse Transjordânia um dos filhos do xarife Hussein Abdullah tornouse monarca Figura 211 Mandato Britânico após a separação da Transjordânia Fonte httpptwikipediaorgwikiMandatoBritC3A2nicodaPalestina Vilayet e sanjak O vilayet era uma unidade administrativa do Im pério otomano introduzida na década de 1860 como parte de tentativas de reformas modernizan tes O sanjak era uma subdivisão do vilayet Vilayet poderia ser traduzido por província ao passo que sanjak por distrito Na estrutura de poder do Império otomano o xarife Hussein por exemplo administrava um vilayet chamado Hejaz onde estavam localizadas Meca e Medina O Mandato Britânico na Palestina não foi o único local que os ingleses desenharam no mapa sem levar em conta realidades políticas prévias No Iraque por exemplo os ingleses reuniram três vilayet otomanos diferentes um curdo povo não árabe e dois árabes um de maioria sunita e outro de maioria xiita Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 27 Essas mudanças políticoterritoriais tiveram profundo impacto sobre as identidades das populações que lá viviam Se até princípios do século XX as identidades do mundo árabe eram definidas em largas tintas mundo árabe língua árabe civilização árabe ou restritas a lealdades locais chefes políticos clãs tribos a partir de então novas nações árabes foram sendo construídas libaneses sírios iraquianos etc articuladas a territórios nacionais específicos Mas uma nova nação árabe a Palestina também se constituía e sua característica funda mental era justamente a ausência de um território nacional próprio De fato a identidade nacional palestina foi fortemente construída a partir da ideia de perda em contraste com as demais nações árabes que se forjavam enquanto estas construíam governos próprios ainda que muitas vezes sob controle mais ou menos explícito estrangeiro os palestinos eram governados diretamente por autoridades estrangeiras enquanto estas viviam em suas terras tradicionais os palestinos viam suas terras serem compradas e colonizadas por imigrantes sionistas E o número de tais imigrantes só fez crescer a partir da Declaração Balfour da legislação norteamericana de restrição à imigração de 1924 e da ascensão do nazismo na Alemanha Se até 1914 cerca de 75 mil judeus ashkenazim haviam chegado à Palestina entre 1919 e 1929 mais 120 mil judeus o fizeram Nos anos 1930 mais de 250 mil judeus da Alemanha e Polônia sem profundas ligações ideológicas com o sionismo mas sem alternativas de fuga Adolph Hitler chega ao poder em 1933 também entraram na Palestina Como decorrência o Mandato Britânico na Palestina seria palco de crescentes manifestações antibritânicas e antissionistas em 1920 1921 1929 até a explosão da Grande Revolta de 1936 1939 que acabou resultando na proibição por parte dos ingleses da entrada de novos imigrantes judeus na Palestina História do Oriente 28 Atende ao Objetivo 2 2 Na Atividade 1 você analisou notícias de jornal a respeito do conflito entre israelenses e palestinos a partir de uma perspectiva conceitual Agora além de ter entrado em contato com um repertório de conceitos ainda mais amplo você também já conhece um maior conjunto de fatos de modo a compreender melhor os nacionalismos palestino e sionista Mohammed Amin alHusseini e Naser alDin alNashashibi Durante o período formativo do nacionalismo palestino representantes de duas famílias tradicio nais dominaram o cenário político o mufti cargo de natureza política e religiosa de Jerusalém Mohammed Amin alHusseini e Naser alDin alNashashibi O mufti de Jerusalém foi um violento opositor tanto dos britânicos quan to dos sionistas e teve grande destaque na Revolta Árabe de 19361939 Durante a Segunda Guerra chegou a aliarse aos nazistas tentando conquistar a simpatia destes pela causa de um estado árabe independente Naser alDin alNashashibi por seu lado aceitava maiores compromis sos com os britânicos e os sionistas mas na Revolta Árabe seguidores do mufti tentaram por várias vezes matálo obrigandoo a refugiarse na Jordânia A partir de então as visões do mufti prevaleceram e qualquer compromisso entre palestinos e sionistas tornouse inviável Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 29 Volte então aos jornais eou revistas e analise as matérias à luz desses seus novos conhecimentos Escreva um parágrafo de modo a registrar suas conclusões a respeito das formas através das quais a imprensa noticia o conflito em questão Resposta Comentada O resultado dessa atividade depende dos jornais eou revistas que você utilizar na sua pesquisa Há veículos de informação que embora não explicitamente organizam suas notícias de forma a favorecer um ou outro lado do conflito há os que assumem claramente posição e também aqueles que conseguem atingir maior grau de imparcialidade O fundamental a perceber é que se a imprensa é uma fonte importante para o historiador você como historiador em formação deve estar sempre atento para o fato de que ela como aliás qualquer fonte histórica é produzida com certa intencionalidade Em outras palavras a imprensa não é neutra como nenhuma fonte histórica e não está à espera de que um historiador desvende a verdade que nela se encerra História do Oriente 30 CONCLUSÃO O sionismo e o nacionalismo palestino surgiram em conjunturas históricas associadas às grandes mudanças sociais políticas culturais e econômicas associadas ao nascimento do mundo moderno O sionismo foi uma das respostas elaboradas pelos judeus ashkenazim ao complexo e contraditório processo de incorporaçãoexclusão dos judeus aos modernos Estados Nacionais europeus dos séculos XIX e XX ao passo que o nacionalismo palestino teve seu nascimento associado à crise do Império otomano e à divisão territorial e política do mundo árabe pelas potências vencedoras da Primeira Guerra em particular a Inglaterra e a França Por outro lado tal nacionalismo foi também uma das respostas elaboradas pelos árabes da Palestina à crescente imigração de judeus sionistas após a Declaração Balfour Portanto aqueles sionistas que dizem que nunca houve uma nação palestina e portanto a reivindicação nacional palestina é ilegítima não levam em conta o caráter histórico de todas as nações inclusive da sua própria Por outro lado ao afirmarem que o sionismo é uma invenção do imperialismo os nacionalistas palestinos não levam em conta o fato de que o sionismo é fruto dos desafios que a Modernidade impôs aos judeus e sobretudo que só tornouse hegemônico entre os próprios judeus ashkenazim após o extermínio nazista Atividade Final Atende aos Objetivos 1 e 2 Volte a alguma matéria pesquisada para a Atividade 1 e que contenha imprecisões conceituais e reescrevaa de forma conceitualmente precisa Proponha a algum conhecido que leia as duas matérias sem chamar a atenção para as diferenças Após a leitura verifique se ele foi capaz de detectar tais diferenças Caso positivo peça a ele que as explique Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 31 Resposta Comentada É possível que seu conhecido perceba as diferenças e saiba ou não explicálas ou ainda que sequer percebaas Se ele perceber e souber explicálas ponto para ele Se perceber e não souber empreste a ele seu material impresso Será muito útil para ele Agora se ele sequer perceber o que possivelmente vai acontecer você estará diante da situação discutida lá nas suas primeiras aulas da disciplina História e Sociologia o senso comum O senso comum implica uma compreensão parcial e superficial das dinâmicas sociais ao contrário da compreensão proporcionada pelas disciplinas da área de Humanas Para o seu conhecido talvez esse conhecimento do senso comum não seja um problema Mas para você um historiador em formação já deve estar claro que todo conhecimento deve ser fruto do uso rigoroso de conceitos e métodos RESUMO Nesta aula você entrou em contato com os conceitos de sionismo e nacionalismo palestino assim como com o processo histórico em que ambos se forjaram Viu também as diferenças entre as concepções essencialistas e históricas de nação e como os dois nacionalismos a partir de uma concepção histórica de nação produziram respostas a um amplo processo de mudanças associadas ao nascimento do mundo moderno História do Oriente 32 Informação para a próxima aula Na próxima aula você verá como a partir da criação do Estado de Israel o conflito entre israelenses e palestinos aprofundou se abarcando também conflitos entre Israel e diversos países árabes com destaque para o Egito a Jordânia a Síria e o Líbano Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 33 RBCS Vol 25 n 73 junho2010 Artigo recebido em agosto2009 Aprovado em maio2010 A SOCIOLOGIA ISRAeLeNSe e A CRISe DO CONSeNSO SIONIStA José Maurício Domingues A crise Em meados dos anos de 1990 shmuel Eisens tadt 1995 assinalava a desintegração do molde trabalhistasionista cujos elementos de nacionalis mo primordialista e revolucionário fundamentaram a construção ideológica de israel Este processo que se iniciara décadas antes abriu um vazio ideológico a que se somou um pluralismo crescente na socieda de israelense levando a um reforço das identidades étnicas entre os próprios judeus e ao aumento da influência da religião Associouse a isso ainda a emigração de um milhão de judeus da antiga União soviética com perspectivas bastante distintas das ondas de emigração anteriores Esta crise do sio nismo trabalhista tem um momento fundamental na chegada da direita o partido Likud ao poder em 1977 Baruch Kimmerling 2007a pp 13ss chegaria a conclusões semelhantes israel enfrenta a decomposição da hegemonia trabalhistasionista e com forte pluralidade social emergindo mergu lha em guerras culturais desprovida de um mode lo multicultural Em contrapartida mantêmse os arraigados códigos culturais do militarismo civil e de um judaísmo genérico bem como um Estado forte interna e externamente Por toda a sociedade israelense reverberam essas mudanças Fortes confrontos têm tido lugar e no vas identidades e problemas emergido com mui tos intelectuais e jornalistas assumindo ou sendo lhes atribuída muitas vezes equivocamente uma posição póssionista com flutuações em função das relações políticomilitares com a população pa Agradeço a Luis roniger e a Mario schnadzer o convite para uma estadia no instituto de Estudos Avançados da Universidade Hebraica de Jerusalém e ao primeiro pela leitura de versão anterior deste trabalho 10084AnpOCS73af4indd 143 72310 110119 Am 144 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 lestina Destacouse no debate intelectual sobre as origens e o destino de israel o revisionismo histó rico de Benny Morris e ilan Pappée que puseram em questão os momentos fundadores do Estado em 1948 e a limpeza étnica dos palestinos expulsos em massa o que estes chamam de alNakbah a ca tástrofe gerando o difícil problema dos refugiados e de seu desejo de retornar com Morris no entanto defendendo hoje a inevitabilidade das expulsões que deveriam afirma ter sido mais radicais sha pira e Penslar 2002 Cypel 2005 2006 Articu lando a resposta da direita alguns denunciam esse póssionismo como ameaça ao Estado judeu ante pondolhe a continuação da expansão territorial do país o apoio à religião o reforço da educação ju daica e a contínua glorificação do exército nacional Hazony 2000 outros no campo do trabalhismo tradicional afirmam não haver nada de novo nisso o póssionismo seria o tradicional antisionismo Avneri 2007 Com esse pano de fundo minha meta aqui é delinear aspectoschave da evolução da sociologia israelense a partir dos anos de 1980 Alguns de mandam uma agenda póssionista ram 1995 pp 205207 outros abraçam a crítica porém descar tam o termo por sua carga emocional e deficiências explicativas Kimmerling 2007a p 7 embora o argumento de que a Escola de sociologia de Jeru salém funcionalista e liderada por Eisenstadt ser viu à construção da nação e do Estado seja bastante generalizado Buscando enfrentar as questões que então emergem reforçando por outro lado a crise da ideologia sionista os sociólogos críticos vários marxistas outros weberianos trataram de vários te mas a integração forçada dos novos imigrantes o poder crescente e concentrado do aparato trabalhis ta as limitações da democracia a economia política e os problemas do corporativismo a desigualdade social e a construção de uma verdadeira elite de poder para quem a perspectiva socialista era mera ferramenta ideológica o caráter europeuoriental e exclusivista da ideologia sionista a concentração exclusiva no yishuv a sociedade judaica préEstado nas décadas de 18901940 e no Estado com a acei tação dos mitos que os cercavam a questão colonial na criação de israel e sua reiteração contemporânea a limpeza étnica dos palestinos e o expansionismo sionista a militarização da sociedade o status alta mente subordinado das mulheres Com seus estu dos críticos sobre as elites israelenses nos anos de 1970 e 1980 Yonathan shapiro 1984 teria sido uma inspiração para muitos desses novos autores nem todos eles anti ou póssionistas Agreguese a isso que segundo eles somente a partir da ascensão do Likud ao poder o establishment acadêmico se fez mais crítico ao perder suas conexões privilegiadas ver ram 1995 Kimmerling 1992a 2005 Apenas indiretamente será essa a nossa ques tão Mas não por acaso o período do que seria uma perspectiva integracionista e sionista na sociologia israelense espelha o que Bernstein 1978 chamou de consenso ortodoxo positivista e funcionalista na sociologia norteamericana Essas teorizações su punham um forte arcabouço normativointegrativo e o deslocamento da contingência e do conflito na vida social correspondendo à segunda fase da mo dernidade global em que o Estado cumpriu grande papel organizador Na fase seguinte a terceira atual ocorre um aumento da complexidade e da hetero geneidade social Domingues 2000 2003 2009 Foi na segunda fase que se construiu israel culmi nando o nacionalismo sionista Uma perspectiva integracionista e homogeneizante bem como o na cionalismo metodológico que exclui os palestinos da análise encaixavase bem com o giro moderni zador deslanchado pelo estatismo mamlachtuit1 diria Ben gurion o pai fundador de israel A sua crise corresponde àquela terceira fase em que as diferenças se expandem para além do controle do Estado o que se complica por ser israel um ponto de encontro e choque entre o ocidente e o mundo árabe e o judaico oriental com fronteiras mal defi nidas e questões étnicas e nacionais dramaticamen te pendentes e aparentemente sem solução2 Apenas uma resposta direta no campo aca dêmico parece ter confrontado aquela bateria de críticas segundo Moshe Lissak 1996 sociólogo muito representativo do período anterior o pós modernismo guiava essas análises cujos méritos às vezes reconhece para em seguida negálos os novos autores errariam ao descrever uma inexis tente sociologia próestablishment seus objetivos eram políticos não acadêmicos a luta contra o sionismo e a imputação de falta histórica irreversí 10084AnpOCS73af4indd 144 72310 110120 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 145 vel porquanto israel tivesse nascido em pecado Na verdade muitos inclusive ele mesmo teriam to mado argumentou a questão árabe como central em suas análises Lissak recusou validade à tese de que israel teria origem em um processo colonial o período pós1967 sendo diferente objetividade seria a meta o positivismo e o funcionalismo ins trumentos legítimos de conhecimento Ele termi nava com um comentário sobre a necessidade dos pais fundadores combinarem uma ciência livre de valores e de alta qualidade com seu caráter sionista insinuando que seus oponentes defendiam causas externas ao Estado de israel replicando gershon shafir 1996b criticou a fixação da escola antiga na bolha judaica e Michael shalev 1996 fez a apologia da economia política denunciando a in sinuação de que haveria em jogo interesses alheios a israel reconhecia porém que ataques demasia damente pessoais haviam sido desferidos pela hete rogênea sociologia crítica o que contribuíra para o empobrecimento do debate Ambos insistiram ademais no tema da colonização que discutiremos adiante As singularidades de israel bastante reais não podem ser reificadas e essencializadas inclusive por que implicam importantes temáticas sociológicas e apresentam conceitos que podem ser de grande va lia para teorizar a modernidade global e seus recor tes nacionais Veremos agora como Eisenstadt lidou com esses problemas e em seguida focalizaremos discussões acerca do nacionalismo e da democracia da colonização na Palestina e da problemática in definição de fronteiras na região eisenstadt e as transformações da sociedade israelense Exatamente durante os anos de 1980 Eisens tadt alterava sua concepção teórica afastandose bastante do funcionalismo enfatizava a ação das elites a cultura e a contingência da vida social Eisenstadt 1990 Alexander 1992 Além disso como veremos antecipava ou aceitava de forma menos radical e mais discreta parte das teses da sociologia crítica sem prejuízo de seus fortes vín culos ideológicos com o programa sionista básico e uma perspectiva liberaligualitarista bem como de alguns silêncios e idealizações importantes Eisenstadt 1985 pp 180 abre The transfor mation of Israeli society com uma discussão sobre a civilização judaica que estudou extensamente em outros trabalhos e que está na base de sua teoria das civilizações ver Domingues 2009 A civilização judaica emerge de uma revolução Axial em que se abriu um abismo entre a ordem transcendente e a mundana com a necessidade de realizaremse os imperativos da primeira na esfera da segunda Na época do segundo templo seus elementos desen volveramse plenamente desdobrandose no curso de sua inserção no ambiente mais amplo e a partir de suas relações com as civilizações cristã e islâmi ca se ele define estas duas em termos puramente religiosos evidenciando um dos problemas de sua teoria geral ao tratar da civilização judaica recusa essa abordagem e embora acentue seu componen te religioso assevera que os judeus são um povo uma nação Eisenstadt 1985 p 14 Não fora contudo possível desde a queda do segundo tem plo institucionalizar territorialmente a civilização judaica isso a levou a se desenvolver de forma he terogênea e descentrada mas com identidade forte e contínua Permanece sem justificativa a aplicação anacrônica aos judeus antigos e da idade média do conceito nunca definido de nação Mas vale notar o destaque que como bom aluno de Martin Buber Eisenstadt empresta à relação entre particularismo e universalismo no judaísmo nos quadros de uma competição com as outras religiões monoteístas os judeus estão durante todo esse período sob o domí nio de outros povos sobretudo na diáspora mas a ambivalência e amiúde animosidade é mútua e constante ameaçando identitariamente ambos os lados do conflito Para eles duas possibilidades se reiteram seu fechamento particularista num mun do que o Messias ainda não resgatou com a manu tenção de sua missão universal e aliança exclusiva com Deus ou a abertura dessa mensagem profética em sua ausência ou ao menos na de um poder polí tico que pusesse em prática as leis judaicas Eisenstadt 1985 pp 84ss sublinha o cará ter de movimento revolucionário e nacionalista do sionismo sem problematizar suas característi cas mas observando ali o ressurgimento da tensão 10084AnpOCS73af4indd 145 72310 110120 Am 146 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 entre particularismo e universalismo o sionismo rejeitou a emancipação assimilacionista que se entrevia embora com inúmeras dificuldades com a ilustração na Europa e reelaborou de modo to talista visando concretizálos criativamente os temas da civilização judaica Proporcionou gran de energia aos colonos em israel mantendo forte ambivalência em relação à diáspora A herança do parsonianismo cobra certo preço na seqüência do argumento impondo o sionismo como um arca bouço cuja institucionalização na Palestina deveria ser então investigada conquanto novos problemas evidentemente surgissem Apesar de reconhecer as razões dos árabes para rejeitar a presença maciça dos judeus a magnitude do conflito inevitável e mencionar as principais organizações judaicas para a colonização da Palestina Eisenstadt não se detém no crucial tema da terra e sua monopolização por parte das organizações sionistas paraestatais Ele assinala porém a cegueira ou o descaso dos líderes sionistas em relação aos árabes e mais ainda enfa tiza que desde sempre se apresentou no movimento sionista a perspectiva de colonização de toda a Pa lestina tendo como pano de fundo Eretz israel a terra de israel e não apenas o Estado de israel definido de variadas formas nas decisões internacio nais até 1948 ou mesmo 1967 isso guarda relação direta com o peso da religião na reconstrução do judaísmo pelo sionismo inclusive com um núcleo central das leis do Estado relativas especialmente à vida familiar sendo monopólio dos rabinos Idem pp 42 90 e 110115 Quando ele assinala a ques tão dos refugiados palestinos contentase com a versão hoje insustentável mas na época não ques tionada de que eles simplesmente fugiram aban donando suas possessões Idem pp 137139 o cume do elemento patriótico em seu ensaio é a celebração da guerra de independência de 1948 e do estabelecimento de israel além de sua visão totalmente positiva das Forças de Defesa israelenses FDi Idem pp 161162 e 182 o sionismo foi um grande sucesso a despeito de conflitos internos que quase levaram o yishuv à guerra civil em especial entre os trabalhistas e os revisionistas que incluíam tendências de extrema direita3 o centro hegemônico pioneiro e sua elite revolucionária acabaram por criar uma larga periferia A cultura trabalhistasionista fora capaz de incluir e assimilar sucessivas levas de imigração alyia melhor que outros países exceção feita cres centemente aos judeus orientais que já eram na realidade heterogêneos entre si e cuja relação com o sionismo era distante ou nula além de serem mais pobres e com menos acesso ao centro Essa falta de integração resultou numa questão étnica interna e na estereotipada divisão entre asquenazins e sefaradins ocidentais e orientais Idem pp 117 120 186ss e 294329 formulação na qual se dis cerne o problema mal resolvido da caracterização da nação judaica4 Pouco a pouco a burocratiza ção institucional crescentes desigualdades sociais já fortes mesmo no yishuv a oligarquização dos aparelhos partidários o clientelismo e a patrona gem impuseramse ainda que simultaneamente o liberalismo político e o império da lei tenham se consolidado Idem pp 234ss Embora sua análise da população árabeisrae lense e da população dos territórios conquistados em 1967 de fato ocupe pouquíssimas páginas Ei senstadt argumenta que aqueles obtiveram direitos civis e sociais reais se modernizavam e progrediam ao fim do governo militar que lhes fora imposto de 1948 a 1966 Uma nova identidade de minoria for mavase sem total integração e sem que a relação entre o caráter judaico do Estado e o funcionamen to da democracia fosse inteiramente equacionada Idem pp 331ss e 370380 Em compensação além de suspeita e cegueira ante seus problemas um forte paternalismo semicolonial delineou se E mais dramaticamente a partir da guerra de 1967 não só o expansionismo e a expropriação de terras dos árabes foram retomados tema que sur ge de repente na narrativa como também o que fora apenas uma sociedade de colonos que buscava construirse à parte dos anteriores habitantes da re gião contra o desejo dos britânicos de consolidá los como uma classe alta colonial tornouse de fato uma sociedade semicolonial com a exploração dos trabalhadores árabes dos territórios conquis tados em 1967 A ocupação desses territórios que passaram a ser denominados por seus nomes bíbli cos Judea e samaria deixara de ser temporária sem que à população palestina fosse concedida ci dadania Idem pp 152153 332333 374377 10084AnpOCS73af4indd 146 72310 110120 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 147 418419 e 5225335 se juntarmos a isto o papel que segundo ele a totalidade da Eretz israel cum pre freqüentemente no imaginário sionista e israe lense não se pode dizer que seu diagnóstico fosse tranqüilizador Poderíamos seguir adiante e nos determos em outros temas deste longo livro a decomposição do modelo trabalhistasionista e a deterioração do sistema político do império da lei e da civilidade mas em compensação a expansão do protesto ex traparlamentar somese a isso uma concepção de segurança cada vez mais dura além de central para a identidade coletiva e guerras cuja legitimidade se mostrou cada vez mais duvidosa com o exército as sumindo um comportamento em relação aos árabes que se a princípio era relativamente benigno foi se tornando brutal tudo isso resultando numa visão negativa de israel internacionalmente Ademais es gotouse a idéia de que a imigração completa para a Palestina levaria ao fim da diáspora com os Estados Unidos tornandose importante pólo do judaísmo isso tudo apontava para um conservadorismo di nâmico capaz de tratar de novos problemas sem contudo levar a uma mudança no núcleo cultural e institucional Idem pp 416417 e 4246 Foi por essas razões que Kimmerling 2007b afirmou que o próprio Eisenstadt deveria ser visto na fronteira entre o conservadorismo dinâmico e uma pers pectiva crítica Não é possível aqui a leitura detalhada de seu livro anterior Israeli society Eisensatdt 1967 foco de violentos ataques Eisenstadt assume ob viamente o sionismo trabalhando dentro da teoria da modernização e de um funcionalismo discreto sem dúvida apresenta uma visão bastante idílica do yishuv e da formação do Estado afirmando o descarte da opção colonial e apenas sobrevoando a questão da terra Ademais os fracassos na inte gração dos judeus orientais de múltiplas origens e mesmo sua situação de clara desigualdade seriam fruto sobretudo de seu tradicionalismo e auto segregação Contudo apontava a dominância dos asquenazins russos e poloneses sua transformação em elite dominante que concentrava poder sta tus e benefícios materiais bem como impulsionava orientações monolíticas Uma brecha abriase en tre ideologia e realidade levando à anomia social se a questão da imigração é tratada suavemente as questões interétnicas judaicas são abertamente re conhecidas especialmente a situação trágica dos árabes dominados militarmente sua cidadania era incompleta viamse segregados e discriminados com o desenvolvimento simultâneo do sionismo e do nacionalismo árabe ao que se somava uma situação internacional explosiva praticamente im pedindo o desenvolvimento de uma identidade co mum que poderia ser politicamente importante e uma contribuição para uma identidade israelense mais variada segundo ele vale lembrar a posição dos intelectuais teria se complicado em israel sua inclinação à crítica contrapunhase à idolatria do Estado que consolidara a nação o que gerou um déficit de significado espiritual A afirmação dos va lores dos pioneiros era por onde a crítica podia se expressar Eisenstadt 1967 p 388 Não seria essa uma autodescrição Enfim se algo de novo ocor reu em sua leitura ulterior da sociedade israelense foi certa acentuação do tom crítico pois chegou a apontar a queda da base revolucionária do sio nismo Kimmerling 2007b Mas isso era muito pouco muito tarde para as novas gerações e seus críticos Uma democracia étnica em Israel se a dominância dos judeus em israel é tama nha como se vê claramente em Eisenstadt como caracterizar sua democracia Foi para enfrentar esta questão que um dos primeiros autores a estudar os árabes em israel sammy smooha 1997 2002a 2002b e 2005 apresentou uma classificação de cinco tipos de democracia vinculadas a uma visão particular das questões étnicas e nacionais o primeiro seria a democracia liberalabstrata composta por indivíduos que desfrutam direitos iguais tendo suas qualidades específicas restritas à vida privada e não havendo qualquer direito cole tivo o Estado se manteria neutro sem recorrer a políticas de assimilação regendo o país com uma noção de patriotismo constitucional Esse tipo de democracia seria mera suposição teórica pois ja mais existira o segundo mais comum no mundo ocidental seria o tipo republicano liberaldemocrá 10084AnpOCS73af4indd 147 72310 110120 Am 148 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 tico que efetivamente implicou a realização do tipo teórico anterior com um Estadonação cívico em que vigoram direitos individuais mas não coleti vos Mas aqui o Estado não seria neutro optando pela homogeneização da sociedade em um quadro cultural específico e buscando políticas de assimila ção o terceiro tipo multicultural comportaria um Estado neutro alheio à assimilação a qual ocorreria de forma apenas mediana Manterseia a igualdade de direitos individuais introduzindo direitos cole tivos que não chegariam a ser legislados outra va riante mais complexa de democracia seria a de tipo consocional que incluiria um Estado binacional ou multinacional com respeito à igualdade de direitos individuais acompanhados contudo por direitos coletivos legislados o Estado evidenciaria neutra lidade ante os diversos grupos descartando políti cas de assimilação Uma engenharia mais compli cada preside a sua constituição política incluindo distribuição proporcional de recursos autonomia poder compartilhado possibilidade de veto com promissos e consensos7 o último caso é mais peculiar e demanda uma inovação conceitual a democracia étnica Ela é similar à democracia liberal republicana na medida em que o Estado se põe ao lado da maioria enquan to os outros tipos de Estado permanecem neutros nesse sentido Mas não é cívica pois nela os laços de sangue a linguagem e a cultura comuns se mes clam com a reivindicação de um território que se ria propriedade exclusiva da nação étnica o Estado promoveria a maioria cultural social econômica e politicamente tratando as minorias como cidadãos de segunda classe temidos por seus vínculos com inimigos excluindoas do núcleo de poder polí tico Entretanto são lhes concedidos direitos civis e políticos é lhes permitido desenvolverse para melhorar sua situação o que há de mais contestá vel na democracia étnica é obviamente a violação flagrante da igualdade Em geral esse tipo de demo cracia não sobrevive em sociedades profundamente divididas encaminhandose para a composição de uma democracia consocional8 Nos anos anteriores a 1967 israel seria o arquétipo desse tipo de de mocracia mantendose como um Estado judeu que mistura etnicidade e religião uma democracia de baixa qualidade que poderia estender direitos indi viduais e coletivos aos palestinos sem que entrasse em pauta o consocionalismo smooha rejeita o argumento sionista de que israel seria similar aos países ocidentais cuja demo cracia também teria base étnica o nacionalismo étnico do sionismo tem raízes na Europa oriental é intolerante e avesso a divisões calcandose em uma mistura de religião nacionalidade e Estado o que seria espelhado a esta altura pelo nacionalismo palestinoárabe Nos países ocidentais os traços ét nicos são secundários e graças ao caráter cívico de seus sistemas políticos as minorias não dão impor tância aos símbolos com os quais os árabes não po dem se identificar em israel tratase de um Esta do judeu para os judeus oficialmente sionista isso se expressa na Lei do retorno que em princípio confere cidadania imediata a qualquer judeu que retorne os rabinos no fim das contas decidindo quem pode recebêla Em contrapartida os ára bes israelenses são considerados um risco para a segurança o que implica sua exclusão do exército organização crucial na definição da identidade e cidadania israelenses discriminação permanente na vida cotidiana constante vigilância pelo servi ço secreto em uma situação formal e permanente mente declarada como de emergência com direi tos podendo ser suspensos a qualquer momento Para piorar o país não tem uma constituição Uma política de nãoassimilação de manutenção do status de maioria e minoria é inquestionável A integração dos árabes à democracia israelense segue porém se desenvolvendo embora o nacio nalismo palestino dentro do país também venha crescendo desde 1967 sem que isso leve à negação de israel em si mesmo que a idéia do caráter ju daico seja permanentemente questionada É possí vel imaginar crê smooha que a situação se desen volva rumo a uma democracia étnica melhorada mas a consolidação de uma variante mais dura não pode ser descartada o modelo de smooha foi muito questionado Asad ghanem Nadim rouhana e oren Yiftachel 1998 negam o caráter democrático da democra cia étnica o Estado de israel possuiria aspectos democráticos não uma estrutura democrática pois a desigualdade aniquilaria essa possibilidade para não mencionar a contínua judeização do 10084AnpOCS73af4indd 148 72310 110120 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 149 país e os bloqueios à mobilização dos árabes Et nocracia seria a melhor definição Não faria senti do considerar a situação de israel em termos apenas de suas fronteiras antes de 1967 pois essa unida de de análise já não existia o que se agravou pelo envolvimento contínuo das organizações sionistas externas na vida política do país Esses elementos impediram a definição clara de um demos com o conflito seguindo latente não obstante melhorias incrementais Na verdade há muito em comum entre smooha e seus críticos mas estes em virtude do esforço de israel não obstante as ambigüida des em minar o princípio da cidadania universal preferem enfatizar seus aspectos não democráticos conquanto o país não seja uma ditadura étnica como a sérvia seriam factíveis movimentos de democratização de israel e da Palestina como um todo chegandose eventualmente a um Estado bi nacional a exemplo do processo vivido na Estônia mas talvez pudesse ocorrer um recrudescimento de perspectivas nos moldes do que ocorreu em sri Lanka Yiftachel 2006 cap 1 Por seu turno ruth gavison 1999 busca es capar da formalidade do debate de natureza efeti vamente política israel seria uma nação coexten siva com sua religião cuja falta de base territorial teria levado a um esforço de justificação maior do que aquele realizado por outros nacionalismos algo ainda mais necessário na medida em que resolver esse problema implicava deslocamento e privações para outra população A autora propõe o raciocínio curioso de que os judeus não tinham direito à terra de sion mas sim de tentar estabelecerse nela ao passo que os palestinos que enxergavam a que essa tentativa levaria tinham o direito de impedir o as sentamento em seu território sem poder entretan to controlar a imigração judaica As ondas de imi gração e a emergência de uma comunidade judia que tinha como casa apenas a Palestina bem como o sucesso na construção do Estado e uma renascen ça cultural tornaram legítima a existência de israel sem negar os elementos conflituosos da situação gavison vislumbra reformas do Estado israelense em uma direção liberal shafir e Peled 1998 2002 argumentam po rém que os discursos democrático e etnoexclu sionista se sustentam apenas por serem mediados por um discurso republicano baseado nas virtudes cívicas originado no movimento trabalhista base da coesão social e que apela aos judeus israelenses sobretudo os homens em favor do projeto colo nial legitimando um regime de incorporação estratificado à cidadania o republicanismo vem declinando desde os anos de 1980 e paira no ar um discurso liberal sustentado pelos círculos domi nantes asquenazins cuja concretização é dificultada pelo peso do etnonacionalismo religioso militante de base popular Complicando a situação ghanem e rouhana ambos israelensepalestinos reconhe cem que os árabes vivem em israel um processo de democratização social e política em parte sob a influência do Partido Comunista conquanto o clã hamula ainda seja sua base social e a dominação das mulheres siga severa seus argumentos sugerem uma curiosa aceitação de aspectos da tradicional teo ria da modernização rouana e ghanem 1993 1999 ghanem 1998 Nesse sentido deparamonos com um dos te mas mais espinhosos referentes a israel capaz de mobilizar ódios intensos correndose o risco de ig norar certas sutilezas necessárias para um enquadra mento produtivo Qual seria de fato a relação entre etnicidade e nação Eisenstadt sempre tão sofisti cado simplesmente evitou a questão smooha por sua vez buscou uma definição mais adequada a esse respeito baseada na caracterização do que seria afi nal um grupo étnico Vale notar que sua discus são também levanta indagações acerca do concei to de república e sua relação com o nacionalismo Enfim podese se sugerir que a modernidade de manda alternativas individuais e coletivas capazes de construir identidades mais concretas para além do reencaixe proporcionado pela própria cidada nia com seu universalismo abstrato se em parte o nacionalismo cumpre esse papel sua variante que opera tal reencaixe mais concreto oscila de acordo com suas referências e conteúdos básicos Nada há de necessário em sua constituição ainda que me mória e tradições não sejam de fácil transformação e que haja a possibilidade de um cancelamento da reflexividade pela via do dogmatismo ver Do mingues 2002 caps 12 e 6 Esta possibilidade calcada no nacionalismo étnico europeuoriental e no primordialismo construído pelo sionismo não 10084AnpOCS73af4indd 149 72310 110120 Am 150 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 obstante seus óbvios elementos de plausibilidade necessários para que tal construção tenha êxito e por seus desdobramentos mais recentes enlaça os judeus israelenses talvez isso também se imponha de certa forma aos palestinos inspirados no sionis mo por meio de uma mobilização étnica crescente em direção ao islamismo ainda que localismo na cionalista e panarabismo componham também sua identidade ver Kimmerling e Migdal 2003 será possível que israel ultrapasse esse molde nacionalista étnico rumo a um modelo mais in clusivo ainda que por meio de uma evolução da democracia étnica A constituição de um nacio nalismo consocional ou mais cívico parece muito improvável ao menos no momento Em primeiro lugar por conta da importância da perspectiva sio nista para a construção da identidade básica dos judeus israelenses e como ideologia do Estado não obstante sua crise no plano utópico ainda mais quando a situação volta a ser considerada ameaça dora sem perspectivas de resolução pacífica Além disso constatamse não só os interesses na distribui ção de recursos que sistematicamente beneficiam os judeus em detrimento dos israelenses palestinos mas também a deterioração nos últimos anos da relação com as minorias druzas e beduínas Uma evolução benigna do nacionalismo dentro de israel certamente contribuiria no processo de paz mas se ria também muito facilitada por ela na medida em que os palestinos externa e internamente não fossem percebidos como ameaça ou ao menos na medida em que a percepção de supostas ameaças fosse diminuindo Mas essa evolução poderia deslo car interesses que a ela se ligam fortemente embora as forças neoliberais do país a pudessem contemplar com simpatia pois proporcionaria algum tipo de normalização internacional seja como for a pos sibilidade de um endurecimento pela direita e pela religião com elementos difusos de racismo não pode ser descartada mesmo porque atualmente é esta a possibilidade que comanda o país Nacionalismos étnicos radicalismos religiosos e a falta de uma concepção multicultural criam enormes barreiras Porém cabe indagar se no lon go prazo não seria possível ir além da obsessão com definições de identidades puras étnicas religiosas ou políticas aceitando suas diferenças e sobreposi ção qualquer que seja a solução estatal que venha a prevalecer no futuro Não é fácil a esta altura visua lizar dois Estados totalmente separados em espaço tão reduzido com tanto potencial de violência com questões cruciais que dependem de coordena ção mútua e com tantos valores sagrados atribuídos à terra por religiosos de diferentes linhas além de tendências demográficas que implicam o aumento do peso relativo dos árabes palestinos nos próximos vinte anos tampouco parece possível imaginar que neste momento um só Estado binacional fosse viável solução que teima em retornar ao menos retoricamente tanto quanto impulsiona resistên cias acerbas Khalid 2006 ghanem 2009 Morris 2009 Contudo uma efetiva dinâmica de abertu ra política para além de uma concepção formal de democracia podese esperar nos três espaços que compõem a região e se condicionam mutuamente o israelense o palestino e o israelensepalestino para que essas questões voltem a ser tematizadas e para que a influência crescente dos militares na esfera política seja controlada cf grinberg 2009 especialmente caps 2 e 11 Questionamse assim as fronteiras do país Mais geralmente impõese o problema metodoló gico de como incluir os palestinos de dentro e de fora para que se conceba israel para além do nacionalismo metodológico particularmente falho neste caso Vejamos as duas principais versões da teoria da colonização em israel shafir e Kimmer ling que trataram precisamente desses temas e da explosiva questão da terra assim como os desdo bramentos da discussão A sociologia da colonização Não obstante suas críticas ao funcionalismo e ao elitismo a teoria de shafir é moderada em suas conclusões os modelos coloniais estruturamse em torno do controle da terra e da exploração dos nati vos ou de mãodeobra forçada e importada Colô nias de povoamento pure settlement com mãode obra apenas de europeus brancos e deslocamento ou destruição da população nativa são outra possi bilidade A fronteira permanece em todos esses ca sos como problema e risco tão maior quanto mais 10084AnpOCS73af4indd 150 72310 110120 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 151 avançadas densas e fixadas as populações locais com a contrapartida da relativa densidade popula cional dos colonos e suas possibilidades concretas de ocupar a terra teses inspiradas na obra de turner no mito da fronteira livre e do individualismo nos Estados Unidos Em israel duas possibilidades se impuseram em uma situação de parcos recursos na turais densidade nativa razoável e inicialmente pou cos colonos a exploração das populações locais por fazendeiros judeus ou em um segundo momento o pagamento de melhores salários aos trabalhadores judeus da Europa oriental da segunda onda de imi gração Eles forçaram uma bifurcação do mercado de trabalho excluindo os árabes em nome da eco nomia judaica vale lembrar que a entrada no país de judeus yemenitas para trabalhar com o mesmo nível de subsistência dos árabes logo fracassou As fazendas coletivas kibbutz são o melhor exem plo da ideo logia coletivista de enobrecimento do trabalho a organização sionista internacional subsidiava trabalhadores convertidos em colonos garantindolhes terra que inicialmente tinha de ser comprada shafir 1996a pp 720ss shafir reconhece que o sionismo começou como um nacionalismo europeuoriental mas que sua ideo logia e a hegemonia do trabalhismo foram decor rentes das lutas no mercado de trabalho e da co lonização de povoamento separatista que levaria ao exclusivismo judaico 1996a p 89 Ciente da baixa densidade demográfica e desprovida de tendência ao expansionismo a liderança trabalhista evidenciava realismo político e disposição para estabelecer um compromisso com os árabes Era legítima a aspiração por um Estado nacional e talvez israel só pudesse ter surgido dessa forma o mercado fechado abriu todavia as portas para um exclusivismo expansionis ta mais amplo e formas extremas de nacionalismo territorial de conseqüências catastróficas shafir en fatiza que a moralidade do empreendimento sempre dependera do reconhecimento da necessidade de fa zer justiça à população árabe e mobilizando Weber demanda uma ética da responsabilidade capaz de dar conta das conseqüências nefastas da colonização shafir 1996a pp xixiv 1721 e 198220 Ao me nos retoricamente o autor parece ter endurecido sua visão da colonização em publicações subseqüentes cf shafir e Peled 2002 Anteriores às de shafir as teses de Kimmerling são mais radicais Em um livro fascinante mostra como se estabeleceu na Palestina uma sociedade de colonos em uma situação de muito baixa fronte ridade isto é poucas terras disponíveis para as sentamento ao contrário do que turner descreve em relação aos Estados Unidos o que levou a es tratégias coletivistas de ocupação antes que a um individualismo que tivesse um papel mais signifi cativo Kimmerling 1983 pp 18 e 144 Como Eisenstadt ele afirma que a ideologia sionista era calcada em elementos religiosos a terra de israel apresentada como a única escolha possível e que foram considerações dessa natureza e não econô micas que impulsionaram a colonização Mas ao contrário do que se divisava havia habitantes na região e a propriedade da terra embora confusa muitas vezes sobreposta ou incompreensível para os imigrantes pertencia aos árabes Idem 1983 pp 8ss 2007a p 6710 Kimmerling descreve uma atitude aberta e bemintencionada da maioria dos imigrantes sionis tas ante os árabes e um desejo geral de convivência pacífica Mas assinala também a astúcia de tratar a terra a ser comprada como mero bem econômico para em seguida transformála em patrimônio na cional os camponeses acabavam expulsos das ter ras e havia má vontade das lideranças árabes quanto à presença judaica maciça na região crescentemente compreensível para os sionistas mais argutos pen sassem eles em chegar a um acordo ou já vislum brassem um confronto inevitável e áspero no fim da linha No primeiro período da colonização a única opção era a compra de terras que não ultrapassou 7 do total Assim a presença física na terra ocu pada e a defesa militar eram também necessárias o que garantiu preponderância à esquerda Idem 1983 pp 11ss 7983 94 104 e 106ss A partir da guerra de 1948 a conquista e a expropriação unilateral converteramse no método principal de colonização concomitantemente à desarabização do território opção derivada da evolução dos pró prios conflitos implicando uma ampla limpeza étnica e a diáspora palestina Idem1983 cap 5 2008 p xiii Em 1967 a alternativa expansionista pratica mente descartada havia duas décadas apresentou 10084AnpOCS73af4indd 151 72310 110120 Am 152 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 se novamente levando à incorporação malgrado o enorme problema que gerava de grande população palestina Gush Emunim o movimento dos novos colonos crentesfiéis fezse cada vez mais in fluente bebendo nos elementos religiosos contidos na ideologia sionista e demandando com violên cia a ampliação das sempre indefinidas fronteiras de israel A margem ocidental do rio Jordão foi sendo ocupada em parte por política do governo em parte pela criação de fatos consumados pelo movimento que buscava substituir a imagem pio neira do kibbutzim expressão da colonização tra balhista por antonomásia Idem 1983 cap 6 e p 2234 também 2007a pp 110 123 e 231 isso levantou uma questão grave de legitimação exis tencial para a sociedade israelense quanto a seus direitos e os dos árabes sobre o território tema sempre sensível para o sionismo trabalhista Voltava à tona a questão mal resolvida das relações entre universalismo e particularismo na ideologia sionis ta tratada de forma pragmática pelo trabalhismo mas sem força política levando o Likud herdeiro do revisionismo a enveredar resolutamente para uma visão particularista do mundo Idem 1983 p 29 e cap 7 também 2007a pp 128129 Até então Kimmerling 1983 p 232 afirma o caráter democrático de israel ao menos para os judeus os árabes estando de fato submetidos a seu poder o que posteriormente aguça a crítica do autor so bretudo ao apontar o militarismo cívico israelense que fruto do interminável conflito gerava com o controle do território um regime de Herrenvolk vigilância controle e repressão em toda a Palesti na Uma obsessão com a segurança ramificavase cultural e cognitivamente tornandose onipresente Idem 1992b 200811 Ao passo que Eisenstadt enfatiza a questão cul tural para Kimmerling é a pulsão pela acumulação de território advinda da colonização portanto o poder conjugado à cultura que subjaz ao expan sionismo israelense shafir por sua vez dá priorida de aos mecanismos econômicos e suas derivações Mas no plano conceitual mais geral de que manei ra esses elementos se conjugariam e em que grau seriam reforçados em casos de conflitos como este entre coletividades importa aqui sublinhar que a tendência expansionista tem levado israel a chocar se com os árabes há um século tornandose talvez a última sociedade colonizadora do mundo os ter ritórios ocupados fundamentais para certas versões da identidade coletiva israelense encontramse em situação ambígua nem dentro nem fora do Estado se israel não os anexa formalmente há um profun do envolvimento cotidiano com a população sem pre a favor dos colonos judeus no que se refere à vigilância à repressão e à regulamentação da terra principalmente por meio das Forças de Defesa de israel FDi Kimmerling 2007a pp 3 8185 e 185 grinberg 2009 isso vem gestando o que Yaftachel 2006 pp 7883 chama de apartheid paulatino creeping apartheid em que a segregação vaza para dentro das fronteiras formais do país ver também Kim merling 2007a p 232 Assim o tema resvala no sentido de legitimar a capacidade repressiva esta tal em defender a nação de ameaças existenciais reiterar o sionismo e transformar os palestinos na figura do outro ameaçador da identidade nacio nal que deve portanto ser submetido grinberg 2009 A pseudosolução imediata para o confli to foi a construção de uma barreira muro para evitar os terríveis e desesperados ataques suicidas palestinos obviamente ela não resolve o proble ma de fundo e ao garantir a anexação de várias partes da margem ocidental na verdade agrava e dificulta uma possível solução futura legitimando fatos consumados pelos colonos e gerando enormes problemas para os palestinos separados de suas terras empregos e familiares submetidos a uma brutal vigilância militar e assassinatos sobretudo de civis humilhações e violência constantes bem como a expropriação de terras e água para não falar da trágica situação humanitária da Faixa de gaza Vale lembrar que o Likud fora contra a construção do muro porquanto possa limitar a expansão ter ritorial de israel que segue temporariamente no entanto pelos mais engenhosos meios de opressão continuada Palavras finais Não se trata de buscar uma conclusão para este artigo os textos analisados expõem diversas inter 10084AnpOCS73af4indd 152 72310 110121 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 153 pretações para a evolução da sociedade israelense bem como sugerem idéias e conceitos de amplitude global e até certo ponto falam por si É importante notar o quanto esses debates são densos politica mente e que a própria descrição das posições em questão remete à construção do Estado israelense e à posição dos sociólogos no processo gerando um inevitável ruído muitas disputas semânticas e nem sempre precisão Há muitos problemas em israel que são co muns a outros países Eisenstadt 1985 p 401 ainda que com características peculiares Ao lado da persistência de uma ideologia sionista assistimos a uma pluralização das identidades Ao lado da po larização política entre McDonnald versus Jihad tel Aviv versus Jerusalém consumo e acomodação versus religião e confronto aparecem a neolibera lização econômica e a globalização com a queda do sindicalismo corporativo e o crescimento da desi gualdade e da pobreza ram 2008 BenPora et al 2008 Esses giros modernizadores projetos e op ções que os diversos setores da sociedade israelense em suas vagas fronteiras estão construindo e reali zando hoje resultam de embates e escolhas especí ficas mas estão fortemente sobredeterminados pela permanência de um processo tardio de colonização Como vimos colonização e fronteiras democracia nacionalismo e etnicidade republicanismo e libera lismo pluralismo e homogeneidade universalismo e particularismo são questões que abarcam o cená rio dramático da Palestina contemporânea Não obstante a efetiva construção de um país avançado em muitas áreas resultado de poderosas energias ativadas pelo sionismo israel não se sai bem np re trato de seus sociólogos o qual certamente pioraria caso realizássemos uma análise mais detalhada do que ocorre hoje nos territórios ocupados ou supos tamente desocupados pois permanecem sob vio lenta vigilância militar A desorganização intencio nal da sociedade civil palestina e da Autoridade Nacional Palestina ANP por parte de israel por meio de prisões e ataques militares com a ANP por seu turno cada vez mais inclinada a monopoli zar os espaços políticos construindo uma força po licial em seu território bem como a emergência do islamismo radical sobretudo na Faixa de gaza e em outros campos de refugiados mas também na margem ocidental agrega mais um elemento ex plosivo e complicador ao cenário inicial do conflito Kimmerling e Migdal 2003 caps 911 se os árabes não sem boas razões mantiveram desde o início uma visão de somazero em relação ao conflito estabelecido visão que também foi aos poucos adotada pelos sionistas a esta altura parece não haver alternativa que não superar tal perspec tiva para que a paz seja alcançada Kimmerling 1983 pp 94 e 219 Kimmerling e Migdal 2003 caps 1011 Em que pese um horizonte tenso e nada auspicioso a solução do conflito está em aber to e depende de como as diversas coletividades em choque encontrarão ou não os meios para supe rar os impasses e a brutalidade que as envolvem Aqui vale retomar a frase indelével de sartre o que importa não é o que fizeram conosco mas o que fazemos com o que fizeram conosco Na Palestina ou alhures ninguém pode evitar fazer escolhas individual ou coletivamente as quais sempre in correm em custos Judeus e árabes encontramse entrelaçados em um trágico destino comum mas àqueles cabe hoje uma responsabilidade muito su perior na abertura do espaço político e na aceitação de compromissos assim como na adoção de uma concepção de mundo universalista em detrimento do particularismo que comanda a política exterior israelense mercê de seus enormes ganhos históricos à custa do poder desigual que detêm em relação aos árabes É improvável que o juízo final os venha a julgar Mas a história certamente o fará Notas Este conceito referese a um estatismo que subordi 1 naria as organizações sionistas anteriores ao Estado judeu no terreno militar e social mas também do ponto de vista de uma economia em que ele teria grande peso como de resto era bastante comum neste período internacionalmente Nesses debates a figura de Kimmerling é crucial se 2 cedo tratou em seu doutorado da relação territorial entre judeus e palestinos malgrado contanos re sistências era parte da Escola de Jerusalém ca racterização que difundiu somente depois passou a criticar o establishment acadêmico sem poupar muitos dos que propunham perspectivas alternativas Prova 10084AnpOCS73af4indd 153 72310 110121 Am 154 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 velmente o início em 1987 da primeira intifada e a resposta israelense a ela pesaram nessa radicalização e em sua definição explícita do conflito como intrín seco à vida social como em simmel e Coser sem pre juízo ao contrário do funcionalismo Kimmerling 1992a 2007a pp 710 2008 pp xiixvi Até então se definia defensor de uma ciência weberiana livre de valores sionista moderado quanto ao conflito árabe israelense e liberal economicamente Kimmerling 1985 p xviii os trabalhistas esposaram um sionismo prático fa 3 vorecendo a ocupação e a construção de instituições com uma relação ambígua entre abrangente e prag mática com o território os revisionistas apostavam na acumulação de poder em geral e na ocupação de toda a Palestina Desde o início militarizaramse o que apenas aos poucos ocorreu com o trabalhismo Ao falar da falta de sensibilidade das políticas origi 4 nais sobre imigração ele parece fazer certa autocrítica de sua perspectiva anterior fortemente funcionalista e assimilacionista ainda que bastante ciente das dife renças étnicas entre os judeus Eisenstadt 1954 Para uma visão ácida da questão étnica da discriminação e da exploração dos sefaradins ver shohat 1988 Valorizando os Estados Unidos como uma coloniza 5 ção de povoamento settler society à qual se asseme lharia muito israel inclusive no fervor ideológico dos pioneiros Eisenstadt 1992a depois a contrastou com a colonização ibérica das Américas Não apenas esquecia a situação do sul e dos negros norteameri canos como desconsiderava o genocídio a que foram submetidos os indígenas o que é instrutivo dos limi tes de sua análise Com um funcionalismo também mais flexível Horo 6 witz e Lissak 1989 enfrentaram os problemas da crise ideológica das demandas dos grupos cuja clivagem constituía a sociedade israelense da relação com os ára bes da dominância asquenazim dos imigrantes desfa vorecidos Com poucos recursos e baixa capacidade de regulação o centro teria se enfraquecido Apontaram ainda para o funcionamento de um conjunto dual de normas soberania nas fronteiras formais de israel controle nos territórios ocupados situação que ofere cia a base para um Estado binacional Em seus primeiros textos sobre o tema smooha fala 7 de democracia de Herrenvolk descartando essa clas sificação depois uma vez que ali não haveria de fato democracia devido ao poder absoluto de uma mi noria segundo ele para além das bordas de 1967 o estabelecimento da Autoridade Palestina em 1994 provava que israel não se encaixava nessa classifi cação smooha 1997 p 203 Curiosamente não aparecem em seus trabalhos sobre a democracia étni ca as questões interétnicas entre sefaradins e asquena zins tão importantes em análises anteriores pautadas por uma perspectiva pluralista smooha 1978 o conceito de democracia consocional referese 8 basicamente a duas ou mais comunidades em gran de medidas autogeridas que contudo compartilham um sistema político comum no âmbito federal com representação proporcional tese tão estreita cria limites para o argumento de sha 9 fir Mas caso contrário o autor se aproximaria muito dos argumentos de Horowitz e Lissak 1977 1978 que trataram o yishuv como uma realidade fechada que inicialmente se misturava com os palestinos dos quais por vários meios buscaram separarse os imigrantes judeus exceto aqueles que empregavam a barata mãodeobra local Embora Kimmerling faça uma crítica dura a Eisens 10 tadt a quem acusa de ideologização e mitologização 1992a 2007a pp 79 e 11 seus textos comparti lham várias das teses sociológicas do exprofessor que por seu turno não cita seus trabalhos sobre a coloni zação Para uma análise crítica da sociologia quanto à ques 11 tão militar ver Peri 1996 na direção oposta radicali zando a crítica ver grinberg 2009 Parte 4 BIBLIOGRAFIA ALEXANDEr Jeffrey A 1992 the fragility of progress an interpretation of the turn toward meaning in Eisenstadts later work Acta Socio logica 35 AVNEri shlomo 2007 PostZionism doesnt exist Haaretz 6 jul BENPorA guy et al 2008 Israel since 1980 Cambridge Cambridge University Press BErNstEiN richard 1978 The restructuring of social and political theory Philadelphia Uni versity of Pennsylvania Press CYPEL sylvain 2005 2006 Walled Israeli socie ty at an impasse Nova York the other Press DoMiNgUEs José Maurício 2000 2003 Criatividade e tendências mestras na teoria so ciológica contemporânea in Do 10084AnpOCS73af4indd 154 72310 110121 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 155 ocidente à modernidade intelectuais e mudança social rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 Interpretando a modernidade imaginário e instituições rio de Janeiro FgV 2009 Latin America in comparati ve perspective Theory Culture Society 26 EisENsAtDt shmuel N 1954 The absorption of immigration a comparative study based main ly on Jews in Palestine and the State of Israel Londres routledge Kegan Paul 1967 Israeli society background de velopment and problems Londres Weinlfeld Nicolson 1985 The transformation of Israe li society an essay in interpretation Londres Weinfeld Nicolson 1990 Modes of structural diffe rentiation elite structure and cultural vision in J C Alexander e P Colomy orgs Diffe rentiation theory and social change Nova York Columbia University Press 1992a introduction in M Buber On intersubjectivity and cultural creativity Chi cago the University of Chicago Press 1992b Culture religions and deve lopment in North American and Latin Ame rican civilizations International Social Science Journal 134 1995 Jewish civilization approa ches to problems of israeli society in s De she C 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routledge sHAFir gershon 1996a Land labor and the origins of IsraeliPalestinian conflict 18821914 Chicago University of Chicago Press 1996b israeli society a counter view Israel Studies 1 sHAFir gershon Pelev Yoav 1998 Citi zenship and stratification in an ethnic demo cracy Ethnic and Racial Studies 21 2002 Being Israeli the dynamics of multiple citizenship Cambridge Cambridge University Press sHALEV Michael 1996 time for theory critical notes on Lissak and sternheel Israel Studies 1 sHAPirA Anita Penslar Derek J orgs 2002 Israeli historical revisionism from left to right LondresPortland Frank Cass sHAPiro Yonathan 1984 Political sociology in israel a critical view in E Krausz org Politics and society in Israel studies of Israeli so ciety New Brunswick transaction vol 3 sHoHAt Ella 1988 sephardim in israel Zio nism from the standpoint of its Jewish victi ms Social Text 1920 1978 Israel pluralism and conflict Londres routledge Kegan Paul 1997 Ethnic democracy israel as an archetype Israel Studies 2 2002a types of democracy and modes of conflict management in ethnically divided societies Nations and Nationalism 8 2002b the model of ethnic demo cracy israel as a Jewish and democratic state Nations and Nationalism 8 2005 is israel Western in E Benrafael e i stern orgs Comparing mo dernities essays in hommage to Shmuel N Ei senstadt LeidenBoston Brill YiFtACHEL oren 2006 Ethnocracy land and identity politics in IsraelPalestine Philadelphia University of Pennsylvania Press 10084AnpOCS73af4indd 156 72310 110121 Am resUMOs aBsTraCTs resUMÉs 179 a sociologia israeleNse e a crise do coNseNso sioNista José Maurício Domingues Palavraschave Israel sionismo coloni zação democracia a sociedade israelense vem enfrentando uma crise do sionismo que esteve na base de sua constituição já há algumas déca das Uma consistente produção socioló gica que remonta ao trabalho de shmuel eisenstadt desdobrouse paralelamente a essa crise com ela interagindo de for ma crítica Isso se expressa nas discussões sobre o caráter da colonização judaica da palestina nas obras de Kimmerling e shafir bem como no debate sobre a de mocracia étnica proposto por smooha essas discussões são revistas aqui conec tandose com as análises sobre a socieda de israelense hoje a relação com os pa lestinos destacase em toda essa literatura e neste artigo uma vez que em grande medida ela sobredetermina o conjunto dos processos sociais que caracterizam a sociedade israelense israeli sociologY aNd tHe crisis oF tHe zioNist coNseNsUs José Maurício Domingues Keywords Israel Zionism colonization democracy The Israeli society has faced a crisis of the Zionism that has been the basis of their constitution for decades a consistent sociological production dating back to the work of shmuel eisenstadt has un folded in parallel with such crisis having interacted with it in a critical way This is expressed in discussions about the char acter of the Jewish colonization of Pal estine in the works of Kimmerling and shafir as well as in the debate over the ethnic democracy proposed by smoo ha These discussions are herein reviewed in connection with analyses of the Israeli society today The relationship with the Palestinians appears in both all the litera ture and this article since it largely over determines all the social processes that have characterized the Israeli society la sociologie israélieNNe et la crise dU coNseNsUs sioNiste José Maurício Domingues Motsclés Israël sionisme colonisation démocratie La société israélienne affronte une cri se du sionisme qui a été à la base de la constitution depuis déjà quelques dé cennies Une production sociologique consistante qui remonte au travail de shmuel eisenstadt sest déployée parallè lement à cette crise tout en interagissant avec elle de façon critique Cela sexpresse dans les discussions sur le caractère de la colonisation juive de la Palestine dans les travaux de Kimmerling et de shafir ainsi que dans le débat sur la démocratie eth nique proposée par smooha Cet article repense ces discussions en connexion avec les analyses sur la société israélienne daujourdhui Le rapport avec les palesti niens est mis en évidence dans toute cette littérature et dans cet article étant donné qu elle surdétermine en grande partie lensemble des processus sociaux qui ca ractérisent la société israélienne 10084AnpOCS73resenhasaf4indd 179 72310 110159 Am Esta é sua primeira avaliação à distância O objetivo é escrever um ensaio curto a partir do texto disponível na Aula 2 DOMINGUES José Maurício A sociologia israelense e a crise do consenso sionista Rev bras Ci Soc São Paulo v 25 n 73 June 2010 Disponível em httpswwwscielobrjrbcsocazKGZ8vZBSVtkJTrKgJqPw9Lformatpdflangpt acesso em 20 Ago 2023 httpdxdoiorg101590S010269092010000200009 Leia o texto com atenção e considerando os textos nos cadernos didáticos discuta como ele apresenta o conceito de sionismo e suas ambiguidades entre práticas colonialistas e propostas nacionalistas Atenção Seu trabalho deve ter de cinco a sete páginas capa e bibliografia não contam Como é um ensaio curto seja bastante objetivo e conciso mas assegurese que ele tem início meio e fim Pode usar fontes auxiliares mas elas devem ser corretamente citadas Aliás todas as citações devem ser feitas corretamente segundo as normas da ABNT Há um arquivo na plataforma na seção Materiais e Ferramentas que podem auxiliar vocês Em caso de dúvida consulte sua tutora Plágio significa zero neste trabalho Não basta dar a referência de citações literais paráfrases também precisam de referência correta A AD1 deve ser entregue até o dia 28 de agosto às 2359 hrs Depois deste horário trabalhos podem ser penalizados com perda de nota ou simplesmente rejeitados Seu arquivo deve ser em pdf É sua responsabilidade que o arquivo não esteja corrompido e que possa ser aberto pela tutora eou pela coordenadora da disciplina Coloque seu nome no título do arquivo ex JoseSilvaAD1202402orientepdf Boa sorte ENSAIO SOBRE O SIONISMO E SUAS AMBIGUIDADES ENTRE COLONIALISMO E NACIONALISMO Este ensaio tem como objetivo explorar a intricada e multifacetada relação entre o sionismo e a sociedade israelense utilizando como base o artigo de José Maurício Domingues intitulado A Sociologia Israelense e a Crise do Consenso Sionista publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais em junho de 2010 bem como o artigo A Questão Palestina e o Sionismo uma perspectiva crítica A análise proposta se concentra em discutir a apresentação do conceito de sionismo e suas ambiguidades especialmente no que tange às suas dimensões colonialistas e nacionalistas O sionismo emergiu no final do século XIX como um movimento que visava a renovação nacional do povo judeu buscando estabelecer um Estado judeu na Palestina Este movimento foi inicialmente formulado como uma resposta ao crescente antisemitismo que assolava a Europa na época e tinha como um de seus principais objetivos a criação de um refúgio seguro para os judeus A ideia central era proporcionar um lar nacional onde os judeus pudessem exercer sua autodeterminação e assegurar sua sobrevivência e prosperidade em um contexto de hostilidade e perseguição Entretanto o sionismo não se limitou a ser um projeto de autoafirmação nacional judaica Ele também carregava ambigüidades e contradições que se revelam quando se considera o impacto sobre a população palestina que já habitava a região da Palestina O conceito de sionismo embora essencialmente nacionalista envolve práticas e políticas que podem ser interpretadas como colonialistas A implementação do sionismo implicava em muitos aspectos a deslocação e marginalização dos palestinos nativos que foram afetados pela chegada massiva de imigrantes judeus e pela subsequente criação do Estado de Israel A ambiguidade fundamental do sionismo reside na tensão entre a aspiração à autodeterminação para o povo judeu e as implicações coloniais para a população palestina Enquanto o sionismo se apresentava como um movimento emancipatório para os judeus ele também gerava uma série de questões e conflitos em relação aos direitos e à situação dos palestinos A perspectiva sionista sobre a terra e a construção do Estado de Israel envolvia não apenas a realização de um ideal nacional mas também a transformação radical da paisagem sociocultural da região o que frequentemente se traduzia em práticas que podem ser vistas como coloniais Esse aspecto ambíguo do sionismo é central para entender as dinâmicas sociopolíticas que moldaram o Estado de Israel e continuam a influenciar a sociedade israelense até hoje O desafio de equilibrar as aspirações nacionalistas com as realidades e as consequências para a população local palestina permanece um tema central nas discussões sobre o sionismo e suas implicações Assim a análise crítica das práticas e ideologias sionistas permite uma compreensão mais profunda das complexidades envolvidas e dos impactos duradouros que moldaram e continuam a moldar a região O consenso sionista que havia servido como a pedra angular para a formação e consolidação do Estado de Israel desde sua criação começou a mostrar sinais de desintegração nas décadas de 1970 e 1980 Essa transformação significativa na dinâmica política e social israelense foi particularmente marcada pela ascensão do partido Likud ao poder sob a liderança de Menachem Begin O Likud com sua agenda política distinta trouxe à tona uma visão mais assertiva e nacionalista em oposição à abordagem mais conciliatória e pragmática que havia caracterizado as administrações anteriores A ascensão do Likud e a sua política nacionalista não apenas alteraram o curso da política israelense mas também tiveram um impacto profundo nas relações internas e nas dinâmicas sociais do país A postura do Likud em relação aos palestinos e suas políticas voltadas para uma maior afirmação da identidade judaica de Israel intensificaram as tensões internas e promoveram um ambiente de crescente pluralismo e conflito étnico Essa nova era política não só desafiou o consenso sionista tradicional mas também expôs e aprofundou as divisões existentes dentro da sociedade israelense Adicionalmente a imigração em massa de judeus da exUnião Soviética durante as décadas de 1990 e 2000 desempenhou um papel crucial no acirramento dessas divisões internas Este fluxo significativo de imigração trouxe consigo uma ampla gama de perspectivas culturais e sociais bem como uma diversidade de experiências que contrastavam com as de outros grupos estabelecidos na sociedade israelense A chegada desse grupo imigrante não apenas diversificou a população mas também acirrou as tensões entre diferentes segmentos da sociedade israelense O impacto dessa imigração sobre a sociedade foi multifacetado evidenciando e ampliando as divisões já existentes Esse processo de mudança e a intensificação das divisões sociais sublinham a necessidade urgente de uma reavaliação do consenso sionista que havia sustentado o Estado de Israel desde o seu nascimento O consenso que inicialmente proporcionou uma base relativamente estável para a coexistência e a construção do Estado revelouse inadequado para lidar com as complexidades e os desafios emergentes da sociedade israelense moderna As mudanças políticas e sociais junto com o impacto da imigração e as tensões internas crescentes indicam que o consenso sionista tradicional foi gradualmente desafiado e em muitos aspectos desmoronou diante das novas realidades que surgiram no final do século XX e início do século XXI A revisão crítica dos eventos de 1948 especialmente a expulsão dos palestinos durante a formação do Estado de Israel desempenhou um papel fundamental na crise do consenso sionista Este período crucial na história israelense marcado pela criação do novo Estado e pela deslocação forçada de palestinos de suas terras foi objeto de um exame aprofundado e contestado nas décadas subsequentes O movimento póssionista que emergiu como uma resposta crítica às narrativas fundadoras do Estado de Israel desafiou a visão tradicional da fundação do país e trouxe à tona questões prementes sobre justiça e os direitos dos palestinos O póssionismo questionou a legitimidade e a moralidade das ações realizadas durante a criação do Estado expondo as contradições e dilemas éticos envolvidos na história sionista Este movimento gerou intensas controvérsias tanto dentro de Israel quanto no cenário internacional Para alguns setores da sociedade israelense e para muitos defensores do projeto sionista o póssionismo foi visto como uma ameaça à integridade e à continuidade do Estado judeu desestabilizando as narrativas que haviam sustentado a legitimidade do Estado desde sua fundação Para outros entretanto o póssionismo representava uma expressão essencial de antissionismo crítico uma oportunidade para revisar e reavaliar as bases ideológicas do Estado de Israel e abordar as injustiças históricas cometidas contra os palestinos A evolução da sociologia israelense ao longo desse período também reflete essas tensões e mudanças A transição de uma abordagem predominantemente descritiva como a de Shmuel Eisenstadt para uma perspectiva mais crítica é um exemplo claro dessa transformação Enquanto Eisenstadt oferecia uma análise mais neutra e descritiva das estruturas e processos sociais israelenses a nova abordagem crítica trouxe à tona questões mais profundas e problemáticas como a militarização da sociedade a integração forçada de imigrantes e as limitações da democracia israelense Estes temas tornaramse centrais na análise sociológica contemporânea revelando a complexidade e as contradições intrínsecas dentro da sociedade israelense A análise crítica desses temas destaca uma crise de identidade e coesão dentro da sociedade israelense As tensões e contradições internas expostas pelas abordagens póssionistas e pela evolução da sociologia refletem uma sociedade em busca de uma nova compreensão e um novo consenso sobre suas fundações e seu futuro O exame das práticas e das ideologias sionistas especialmente à luz dos eventos de 1948 e das mudanças sociais subsequentes evidencia a necessidade urgente de uma reavaliação crítica das bases ideológicas que sustentam o Estado de Israel A militarização da sociedade israelense por exemplo não apenas reflete a constante ameaça externa enfrentada pelo país mas também tem implicações profundas para a vida cotidiana e a política interna A integração forçada de imigrantes muitas vezes feita sem o devido suporte para a adaptação cultural e social também contribuiu para a fragmentação social Além disso as limitações da democracia israelense que muitas vezes são apontadas como inadequadas para resolver as tensões internas e o conflito com os palestinos acentuam a necessidade de uma reflexão crítica sobre os princípios que sustentam o Estado Em conclusão a sociedade israelense está imersa em uma crise de identidade e coesão que reflete as complexidades e contradições internas do sionismo A revisão crítica das narrativas fundadoras e a análise das tensões atuais revelam a necessidade de uma reavaliação crítica das bases ideológicas do Estado de Israel O debate sobre o sionismo suas práticas colonialistas e suas propostas nacionalistas continua a ser um campo de intensa discussão e análise evidenciando a profundidade das ambigüidades que caracterizam este movimento e suas implicações para a sociedade israelense A militarização da sociedade israelense que é uma característica marcante do país não apenas é uma resposta à constante ameaça externa mas também possui implicações profundas e abrangentes para a vida cotidiana e para a política interna de Israel O contexto de segurança perene alimentado por conflitos regionais e ameaças de atores externos levou à institucionalização de uma mentalidade militar em vários aspectos da vida israelense Isso se reflete em aspectos como o serviço militar obrigatório a presença militar constante em áreas civis e a centralidade das questões de segurança no debate público e político Essa militarização não apenas molda as estruturas de poder e as políticas de defesa mas também influencia profundamente as normas culturais e sociais criando um ambiente em que o militarismo se torna uma parte intrínseca da identidade nacional e da vida cotidiana Além disso a integração forçada de imigrantes que ocorreu de forma acelerada e muitas vezes sem o devido suporte para a adaptação cultural e social exacerbou as divisões internas e a fragmentação social A chegada de grandes ondas de imigração especialmente a partir da exUnião Soviética nas décadas de 1990 e 2000 trouxe uma diversidade de perspectivas e culturas mas também desafiou a capacidade da sociedade israelense de integrar adequadamente esses novos grupos A falta de suporte adequado para a integração levou a tensões entre os novos imigrantes e as comunidades estabelecidas criando fraturas dentro da sociedade israelense e amplificando as divisões étnicas e culturais As limitações da democracia israelense também são um ponto crucial na análise das tensões internas A democracia israelense frequentemente criticada por sua incapacidade de lidar eficazmente com as complexas questões do conflito israelensepalestino e as tensões sociais internas enfrenta desafios significativos As instituições democráticas de Israel embora robustas em muitos aspectos têm lutado para abordar adequadamente as desigualdades e os conflitos internos muitas vezes exacerbando as tensões em vez de resolvêlas As críticas apontam que o sistema democrático de Israel com suas lacunas e deficiências muitas vezes falha em fornecer uma base sólida para uma coesão social duradoura e para uma resolução pacífica dos conflitos Em conclusão a sociedade israelense está mergulhada em uma crise de identidade e coesão que reflete as complexidades e contradições internas do sionismo A revisão crítica das narrativas fundadoras do Estado de Israel e a análise das tensões atuais revelam uma necessidade premente de reavaliar as bases ideológicas que sustentam o Estado O debate sobre o sionismo com suas práticas colonialistas e propostas nacionalistas continua a ser um campo de intensa discussão e análise As ambigüidades inerentes ao sionismo e suas implicações para a sociedade israelense são profundas e multifacetadas exigindo uma reflexão contínua sobre como esses elementos moldam a identidade nacional e a coesão social em Israel
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Texto de pré-visualização
Flávio Limoncic Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino História do Oriente 2 Meta da aula Apresentar uma visão do processo histórico de construção do nacionalismo judaico sionismo e do nacionalismo palestino Objetivos Esperamos que ao final desta aula você seja capaz de 1 identificar conceitos básicos como nacionalismo judaico sionismo judaísmo nacionalismo palestino diferenças entre árabes e muçulmanos 2 reconhecer os fundamentos históricos dos nacionalismos judaico sionismo e palestino Prérequisitos Disciplina História e Sociologia principalmente as discussões sobre modernidade modernização e secularização Aula 1 de História do Oriente particularmente o conceito de orientalismo Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 3 INTRODUÇÃO Provavelmente você já leu nos jornais ou viu na televisão muitas notícias sobre ocupações militares mortes de civis bombas e atentados suicidas envolvendo israelenses e palestinos Talvez já tenha ouvido falar também em Yasser Arafat e na Autoridade Nacional Palestina no Hamas e nas Brigadas de AlAqsa assim como em Golda Meir Itzhak Rabin e Shimon Peres no Partido Likud e nos colonos israelenses da Cisjordânia No entanto notícias como essas pouco ajudam a compreender a complexidade do conflito que opõe palestinos a israelenses pois a mídia com muita frequência utiliza conceitos de forma pouco cuidadosa Não é incomum por exemplo que o conflito seja apresentado como opondo muçulmanos a judeus que os palestinos sejam retratados como terroristas e que os israelenses sejam associados ao imperialismo ocidental No entanto compreender o conflito entre israelenses e palestinos em toda a sua complexidade é fundamental para o bom entendimento do século XX e dos desafios do XXI pois nele estão presentes vários elementos e categorias da dinâmica política do período como Estado nação EstadoNação nacionalismo religião e fundamentalismo religioso Nele estão presentes também elementos de geopolítica e política internacional interesses econômicos e profundas divergências ideológicas Por tudo isso nesta e nas próximas três aulas você entrará em contato com um conjunto de reflexões e informações que esperamos contribua para que tenha uma melhor compreensão desse conflito e para que reflita também a respeito do trabalho do historiador que está prestes a abraçar História do Oriente 4 Esclarecendo alguns conceitos judeus israelenses árabes palestinos muçulmanos Para começar vamos diferenciar judeu de israelense Judeu é alguém que se identifica com a tradição judaica tanto em sua dimensão religiosa quanto cultural ao passo que israelense é o cidadão do Estado de Israel Há judeus que são cidadãos de diversos países do mundo como evidencia o quadro a seguir Por outro lado cerca de 25 dos cidadãos israelenses não são judeus São conhecidos como árabesisraelenses e em sua maioria são muçulmanos embora haja também entre eles cristãos de diferentes denominações País Judeus Estados Unidos 6 milhões França 500 mil Itália 30 mil Alemanha 120 mil Brasil 100 mil Turquia 25mil Figura 21 Número aproximado de judeus em alguns países Fonte Adaptado de httpwwwajcarchivesorgAJCDATAFilesAJYB721CVpdf http wwwpazagoraorgimpArtigocfmIdArtigo1215 pesquisados em 05 de outubro de 2010 Se nem todos os israelenses são judeus e nem todos os judeus são israelenses é importante também diferenciar árabes de palestinos e árabes de muçulmanos Os árabes formam o tronco étnicolinguístico mais importante de um vasto conjunto de países que se estende da África Ocidental à Península Arábica como mostra a Figura 22 Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 5 Figura 22 Países árabes Os palestinos formam um conjunto específico de árabes que se identificam à nação palestina como os egípcios os tunisianos e os argelinos identificamse às nações egípcia tunisiana e argelina No entanto enquanto egípcios tunisianos e argelinos possuem seu próprio Estado nacional Egito Tunísia e Argélia os palestinos não possuem Estado próprio aspirando a construílo na Palestina Ademais nem todos os árabes são muçulmanos Basta olharmos para os imigrantes sírios e libaneses que vieram para o Brasil e que nos trouxeram delícias como o quibe e a esfiha para nos darmos conta da pluralidade religiosa existente no mundo árabe tais imigrantes são em sua maioria cristãos Não menos importante nem todos os muçulmanos são árabes Na verdade os maiores países muçulmanos do mundo como a Indonésia o Paquistão e o Irã além de Afeganistão e Turquia não são árabes como evidencia o Figura 23 Então em uma definição geral o muçulmano é o crente na revelação feita por Alá ao profeta Maomé que tem no Corão o seu livro sagrado e pode pertencer a qualquer tronco étnicolinguístico História do Oriente 6 Figura 23 População muçulmana ao redor do mundo Fonte httpptwikipediaorgwikiIslC3A3oporpaC3ADs Portanto quando falamos em conflito entre israelenses e palestinos não estamos nos referindo a um conflito entre árabes e judeus tampouco entre muçulmanos e judeus Estamos nos referindo a um conflito específico entre o Estado de Israel e os palestinos que almejam ter o seu próprio Estado Atende ao Objetivo 1 1 Faça uma pesquisa em notícias de jornais eou revistas a respeito do conflito entre israelenses e palestinos Analise se as referências aos israelenses e aos palestinos são conceitualmente corretas ou se pelo contrário elas levam a confusões conceituais e portanto dificultam a compreensão a respeito do conflito Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 7 Resposta Comentada É possível que você tenha achado muitas formas diferenciadas de referências a israelenses e palestinos Os primeiros com frequência são chamados de judeus ao passo que os segundos também com frequência são denominados genericamente de árabes ou muçulmanos Por vezes em uma mesma matéria você poderá encontrar formas diferenciadas de denominar as partes em conflito Agora no entanto você tem mais clareza conceitual e portanto pode ter maior rigor crítico na leitura do seu jornal Israelenses e palestinos Você já sabe que os israelenses são os cidadãos de Israel que muitos judeus não são israelenses e que cerca de 25 dos israelenses não são judeus E no entanto o Estado de Israel definese como o EstadoNação dos judeus o que faz com que os cidadãos árabes de Israel tenham uma relação complexa com a identidade nacional do Estado do qual detêm os direitos de cidadania Na verdade muitos deles se identificam muito mais como palestinos do que como israelenses ainda que a maioria se identifique como árabeisraelense EstadoNação e Cidadania Hoje em dia o mundo está organizado em EstadosNação que se apresentam como a expressão política e territorial de uma nação específica Nem sempre foi assim O Império austrohúngaro por exemplo que deixou de existir História do Oriente 8 após a Primeira Guerra Mundial reunia povos de diversas línguas religiões e culturas diferentes Em seu território foram formados novos EstadosNação como a Polônia o Estado Nação dos poloneses a Áustria o EstadoNação dos austríacos e a Hungria o EstadoNação dos húngaros Se o EstadoNação quer ser a expressão política e territorial de uma nação resta definir o que se entende por nação Essa tarefa não é fácil pois há muitas definições possíveis Ainda assim essas definições podem ser divididas em dois grandes campos as essencialistas e as históricas As defini ções essencialistas afirmam que as nações sempre existiram ou que têm suas origens em tempos imemoriais e que seus membros compartilham características inerentes Assim por exemplo existiria algo intrínseco aos franceses que os torna ria franceses e os distinguiria dos alemães Tais visões são muito comuns entre movimentos e historiadores nacionalistas mas há também na academia defensores da visão de que as nações possuem algo de intrínseco etnicamente definido como Anthony Smith As visões históricas são aquelas que entendem as nações como construções da modernidade Entre estas destacamse as produzidas por Ernest Gellner que entende as nações como produtos da industrialização e urbanização e por Benedict Anderson que as entende como comunidades imaginadas Se você tiver vontade de se aprofundar nessa discussão aí vai uma recomendação bibliográfica BALAKRISHNAN Gopal Org Um mapa da questão nacional Contraponto 2000 É importante salientar que nessa e nas próximas aulas os nacionalismos palestino e judaico sionismo serão entendidos como construções históri cas Como você verá o sionismo surgiu em meio às grandes mudanças ocasionadas pela modernidade europeia ao passo que o nacionalismo palestino foi construído a partir da conjuntura de desmonte do Império otomano e de presença britânica e sionista na Palestina Por cidadania entendemos um conjunto de direitos e deveres juridicamente definidos que Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 9 Mas você pode estar se perguntando e com razão se há judeus em tantos países do mundo e neles se sentem plenamente integrados às suas identidades nacionais o que é afinal a nação judaica e por que deseja ela ter seu próprio EstadoNação E como pode o Estado de Israel definirse como o Estado dos judeus se há tantos judeus fora de Israel e tantos não judeus dentro de Israel Perguntas do mesmo tipo poderiam ser feitas em relação aos palestinos O que faz dos palestinos uma nação se até o século XIX não havia a ideia de uma nação palestina distinta da identidade árabe O que os distingue afinal dos outros árabes Se eles nunca tiveram jurisdição sobre o território em que vivem encontrandose hoje espalhados em diversos países árabes e possuindo estatutos regulam as relações de um indivíduo com o Estado Não se deve pois confundir cidadania e identidade nacional pois esta diz respeito a sentimentos e afetos não sendo portan to regulada por normas jurídicas Uma pessoa pode ser cidadã de um país e ao mesmo tempo sentirse membro de uma nação estranha àquele país Por exemplo um imigrante italiano naturalizado brasileiro é um cidadão do Brasil mas pode sentirse afetiva e emocionalmente membro da nação italiana Por outro lado uma pessoa pode também sentirse membro de uma nação mas não ser cidadão do Estado que se apresenta como o EstadoNação daquela nação Por exem plo um italiano que tenha migrado para o Brasil pode nunca ter se tornado cidadão brasileiro ainda que possa sentirse afetiva e emocionalmente mais ligado à nação brasileira do que à italiana Pode haver também pessoas que se identificam a nações que não possuem Estados como os próprios palesti nos ou os curdos que se espalham pelos territórios do Iraque Síria e Turquia e que como os palestinos também buscam construir o seu próprio EstadoNação História do Oriente 10 jurídicos diferenciados são refugiados no Líbano e na Síria cidadãos na Jordânia na Jerusalém Oriental anexada por Israel são residentes e na Cisjordânia ocupada por Israel vivem sob ocupação militar o que os une Confuso Sem dúvida Para que a confusão seja desfeita ou ao menos minorada é preciso que recorramos um pouco à história de israelenses e palestinos Para que não haja brigas logo de início vamos usar o critério neutro de ordem alfabética e começar pelos primeiros O nacionalismo judaico sionismo O Estado de Israel foi criado em 1948 portanto os israelenses só passaram a existir a partir de então mas o judaísmo é uma crença multimilenar cujo fundamento básico é a crença na existência de um deus único com o qual os judeus fizeram um pacto Por tal pacto os judeus deveriam se transformar em um povo de sacerdotes levando vidas exemplares segundo os mandamentos divinos e conduzindo a humanidade no caminho da redenção Em retribuição Deus teria dado aos judeus a Terra Prometida Diferentemente do cristianismo portanto o judaísmo não é uma religião que busca ativamente a conversão dos não judeus embora aceitea O não judeu se justo pode ser redimido permanecendo não judeu Ocorre que segundo a narrativa judaica os judeus não teriam estado à altura das rígidas exigências do pacto que celebraram com Deus cometendo dentre outros pecados idolatria revolta e soberba Por tal razão Deus os teria enviado ao exílio Neste eles deveriam continuar a estudar a lei de Moisés e a tentar respeitar as exigências do pacto na esperança de que Deus enviasse seu messias dando início ao retorno à Terra Prometida e à redenção messiânica Dadas as condições de dispersão geográfica nas quais o judaísmo se desenvolveu nos últimos 2000 anos sem um poder centralizado do qual emanassem a autoridade o direito a doutrina e Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 11 os dogmas como no catolicismo que tem o Vaticano como autoridade última acabaram por se produzir em seu seio diferentes liturgias e formas de expressão cultural De modo sintético três grandes grupos judaicos constituíramse os ashkenazim os sefaradim e os mizrahim Ashkenazim sefaradim mizrahim Ashkenaz em hebraico quer dizer Alemanha Os ashkenazim são os judeus oriundos da Europa Central e Oriental que em contato com católicos e ortodoxos de línguas germânicas ou eslavas cons truíram sua própria língua o ídiche alemão grafado em hebraico com influências eslavas e afastaramse em termos culturais litúrgicos e étnicos dos sefaradim e mizrahim Em breve nesta aula você vai entrar em contato com dois importantes sociólogos do século XIX de origem ashkenazi Karl Marx e Émile Durkheim Como Sefarad em hebraico quer dizer Espanha os judeus sefaradim são aqueles originários da Penínsu la Ibérica de onde foram expulsos em fins do século XV A partir de então espalharamse pela bacia do Mediterrâneo norte da África Itália Bálcãs Impé rio otomano e Holanda Tais judeus permaneceram ligados às suas raízes ibéricas e cultivaram ao longo dos séculos a língua ladina espanhol grafado em hebraico e com influências das línguas faladas pelos novos países de adoção como o árabe Os judeus que vieram para o Brasil com os holandeses no século XVII eram sefaradim assim como o filósofo Baruch Spinoza do qual você já deve ter ouvido falar Os mizrahim por fim são os judeus orientais oriundos do mundo árabe como Iraque e Yêmen da Pérsia atual Irã e Ásia Central fortemente influenciados pelas História do Oriente 12 De sua origem em fins do século XIX até a criação do Estado de Israel em 1948 o sionismo foi um fenômeno essencialmente ashkenazi Sionismo O sionismo entende o judaísmo não como uma religião ou como uma tradição cultural mas como uma nação Em outras palavras para o sionismo os judeus formam uma nação específica assim como os franceses alemães ou poloneses e como estes devem ter o seu próprio EstadoNação Como todos os movi mentos nacionais o sionismo teve de construir uma me mória nacional que o legitimasse perante os próprios judeus e os demais povos Tal memória foi relacionada à narrativa bíblica No entanto enquanto que para os judeus religiosos o fundamento da narrativa bíblica era a relação de um povo com seu deus para os sionistas era a relação de uma nação com sua terra Aos olhos dos sionistas portanto o Antigo Testamento assumia a função de uma grande saga nacional Muito embo ra ele fosse em sua origem um movimento de caráter culturas e línguas dessas regiões Dado que o Brasil teve uma imigração judaica basicamente formada por ashkenazim e em menor número sefaradim marro quinos os mizrahim são pouco conhecidos por aqui mas formam ao lado dos sefaradim a maior parte do contingente populacional do Estado de Israel nos dias de hoje Além destes grandes grupos existem diversos outros menores como os falashas da Etiópia os judeus da Caifeng na China os judeus da Montanha do Cáucaso e o judeus de Cochim na Índia Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 13 liberal Theodore Herzl seu fundador pensava em um Estado para os judeus nos moldes da monarquia constitucional austrohúngara logo diversas correntes ideológicas socialistas religiosos direitistas ani nharamse em seu seio e buscaram definir o desenho do futuro Estado Vamos estudar um pouco melhor como o sionismo operou essa mudança no entendimento do judaísmo Nas suas aulas da disciplina História e Sociologia você estudou como a modernidade foi interpretada por Weber Marx e Durkheim Você deve lembrar também que Marx e Durkheim eram de origem judaica eram judeus ashkenazim Deve lembrar por fim como a modernidade atingiu profundamente os judeus Com o advento da modernidade a separação entre Estado e confissão religiosa a formação dos modernos EstadoNação a industrialização a urbanização a crise das autoridades e comunidades tradicionais os judeus ashkenzim viramse diante do desafio de redefinir suas inserções no seio das sociedades em que viviam se até então se organizavam de forma bastante autônoma em meio a sociedades cristãs ainda que com frágeis bases de segurança jurídica e frequente insegurança física como deveriam reagir diante da abertura do mundo proporcionada pela modernidade Deveriam manterse fiéis ao seu modo de vida tradicional rejeitando os novos direitos deveres identidades e lealdades que se abriam no âmbito dos novos EstadosNação que se formavam ou incorporarse a esses EstadosNação ao preço de se afastarem de sua identidade religiosa e costumes tradicionais Mas a Modernidade não descortinou aos judeus ashkenazim apenas um mundo de novos direitos No Império russo além de imersos em profunda pobreza os judeus continuaram a sofrer uma série de restrições legais tornandose após o assassinato do czar Alexandre II em 1881 alvo de perseguições e matanças generalizadas conhecidas como pogroms História do Oriente 14 Figura 24 Crianças judias mortas no pogrom de Ekaterinoslav Rússia 1905 Fonte httpuploadwikimediaorgwikipediacommonsbb7Ekaterinoslav1905jpg Já no Império austrohúngaro a lealdade dos judeus com o imperador causoulhes a animosidade dos nacionalismos polonês servocroata e outros Por fim o pensamento racial do século XIX acabou por associar os judeus a uma raça específica e inferior a semita e o antissemitismo associado a diversos nacionalismos acabou por produzir constrangimentos e violências contra os judeus mesmo em países nos quais estes obtiveram direitos plenos de cidadania como a França e a Alemanha Em suma ao mesmo tempo em que abriu aos judeus as portas da incorporação e dos direitos a Modernidade construiu também novas formas de rejeição Se na Idade Média o judeu era o Outro por não ser cristão na Modernidade ele se transformou em Outro por ser considerado estrangeiro ou por não pertencer à raça nacional As respostas dos judeus ashkenazim ao advento da Modernidade foram múltiplas os que a sentiram como uma libertação da tradição abraçaram as novas identidades nacionais na Alemanha Áustria Hungria Inglaterra e França chegando muitos a se converter ao cristianismo ou aderiram aos grandes movimentos revolucionários da esquerda na Polônia e na Rússia os que sentiram a Modernidade como ameaça uma perda de referências e insegurança espiritual rejeitaram na e passando a ser conhecidos como ortodoxos encerraramse em suas casas de estudos em pequenas aldeias da Europa Oriental Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 15 Antissemitismo O antissemitismo é um fenômeno histórico multi facetado e bastante complexo A rigor tal termo só surgiu na década de 1870 no momento de construção de movimentos nacionalistas e racialistas característicos do final do século XIX europeu Somente mais tarde o termo assumiu a conotação de ódio aos judeus em todas as suas formas e através dos séculos incluindo a dimensão religiosa da culpa coletiva dos judeus pelo assassinato de Cristo que perpassou toda a Idade Média e a Idade Moderna De certo modo seria mais correto falar em antissemitismos do que em um único antissemitismo pois mesmo nos séculos XIX e XX em diferentes momentos e locais fatores dinásti cos nacionais nacionalestatais políticos e econômi cos combinaramse de formas diversas resultando em perseguições aos judeus Em comum a todas as manifes tações antissemitas ou antijudaicas prémodernas a dificuldade em lidar aceitar e compreender o Outro Figura 25 Muito embora Leon Trotsky seja o mais conhecido dos russos de origem judaica a participar da Revolução Russa diversos revolucionários tinham essa mesma origem Na foto Maxim Livtinov que se tornaria ministro das Relações Exteriores da União Soviética nos anos 1930 Fonte httpenwikipediaorgwikiMaximLitvinov História do Oriente 16 Houve também aqueles que buscaram articular modernidade e tradição como muitos judeus alemães que se definiram como alemães na esfera pública e judeus na esfera privada Parte expressiva dos judeus ashkenazim que viviam em condições econômicas adversas e que sofriam constrangimentos jurídicos no Império russo que incluía até a Primeira Guerra Mundial boa parte da Polônia emigrou rumo às Américas Brasil inclusive O sionismo foi mais uma das respostas dos ashkenazim à Modernidade defendendo a criação de um Estado Nação específico para os judeus na Palestina O sionismo pode ser entendido pois como uma redefinição moderna da identidade judaica Para utilizar a terminologia weberiana que você conhece bem ele expressa uma concepção secular do judaísmo Exatamente por isso quando foi politicamente sistematizado por Theodor Herzl diversos segmentos do judaísmo combateramno vigorosamente Entre fins do século XIX e a Segunda Guerra Mundial boa parte dos judeus ashkenazim queria emigrar para as Américas tornarse parte das nações europeias ou fazer a revolução social e construir o socialismo Para estes portanto a ideia de que os judeus formavam uma nação específica representava um entrave aos seus projetos assimilacionistas ou revolucionários Dentre os judeus ortodoxos a repulsa ao sionismo foi ainda mais intensa Para eles os judeus só poderiam voltar para a Terra Prometida pelas mãos de Deus ou seja com o advento da Era Messiânica Portanto o sionismo constituía uma afronta a Deus A Segunda Guerra Mundial e o extermínio dos judeus pelos nazistas durante a chamada Solução Final no entanto levaram a que a grande maioria dos judeus sobreviventes na Europa vendo naufragar o projeto de tornaremse plenamente alemães austríacos ou poloneses acabasse por aderir ao sionismo Os judeus ultraortodoxos foram em larga medida exterminados mas aqueles que sobreviveram continuaram e ainda o fazem nos dias de hoje em sua grande maioria a repudiar o sionismo Por fim os judeus que já viviam nos Estados Unidos e em outros países das Américas ou mesmo na Europa e que lá permaneceram acabaram por apoiar em sua grande maioria a ideia sionista ainda que tenham decidido permanecer em seus países de nascimento Theodor Herzl 18601904 É considerado o pai do sionismo político Nascido em Budapeste em uma família judaica assimilada à cultura alemã do Império austrohúngaro Herzl cobriu como jornalista o julgamento do capitão francês Alfred Dreyfus Em 1894 Dreyfus foi injustamente acusado e condenado por ter passado segredos militares franceses aos alemães Como resposta ao julgamento eivado de preconceito antissemita Herzl escreveu um livro chamado O Estado dos judeus e organizou os primeiros congressos sionistas Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 17 Solução Final Segundo a ideologia nazista os judeus forma vam uma raça inferior a semita que deveria ser exterminada sob risco de contaminar e dominar a raça superior a ariana Em 1942 a Conferência de Wannsee elaborou os contornos da Solução Final do problema judeu Ao fim da Segunda Guerra Mun dial cerca de 6 milhões de judeus haviam sido exter minados de diversas formas fuzilamentos coletivos fomes e doenças em guetos e campos de concentra ção trabalho escravo e câmaras de gás Fritz Haber O químico Fritz Haber 18681934 talvez expresse mais do que ninguém o fracasso do projeto assimilacionista dos judeus alemães do entre guerras Prêmio Nobel de química Haber contribuiu decisivamente para a montagem do complexo químico militar alemão durante a Primeira Guerra Mundial ocasião em que supervisionou a produção de gases utilizados contra tropas francesas e inglesas Apesar de todo o seu histórico nacionalista Haber teve de exilarse na Suíça após a chegada dos nazistas ao poder em 1933 vindo a falecer apenas um ano depois Se você tiver interesse em se aprofundar nesse tema fascinante aí vai uma dica de leitura STERN Fritz O mundo alemão de Einstein São Paulo Cia das Letras 2004 História do Oriente 18 Fonte httpptwikipediaorgwikiFritz Haber Se o sionismo surgiu diante dos desafios colocados aos judeus ashkenazim pela modernidade o nacionalismo palestino surgiu em resposta aos desafios colocados ao mundo árabe de modo geral e aos árabes da Palestina em particular pela crise do Império otomano e pelas presenças britânica e judaica em terras palestinas O nacionalismo palestino Ao longo dos séculos a Palestina foi dominada por diversos povos como os filisteus hebreus romanos persas até que no impulso conquistador dos árabes do século VII dC passou ao domínio destes A partir de então sua população tornouse majoritariamente árabe embora judeus e outros grupos menores como drusos continuassem a viver nela Entre os séculos XVI e a Primeira Guerra Mundial a Palestina esteve sob domínio do Império otomano que se estendia dos Bálcãs na Europa ao Iraque passando pelo norte da África como mostra a Figura 26 Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 19 Figura 26 Império otomano Fonte httpptwikipediaorgwikiFicheiroOttomanEmpireIn1683png Incorporando áreas tão extensas o Império otomano embora oficialmente muçulmano e liderado por turcos era composto por povos de diversas religiões e línguas As minorias religiosas como judeus e cristãos de diversas denominações eram administradas por um sistema chamado millet através do qual conduziam suas vidas civis e religiosas em troca de impostos Com os árabes os turcos otomanos tinham uma relação particularmente respeitosa dado que Maomé havia sido árabe e o Corão era escrito nessa língua Os árabes por seu lado aceitavam a liderança otomana pois o Império era muçulmano fé da imensa maioria dos árabes e expandira principalmente em direção à Europa a umma islâmica Millet Ao conquistar povos com línguas e religiões diferentes o Império otomano embora oficialmente muçulmano não buscou impor sua cultura língua e religião sobre os povos dominados Como era um império essencialmente tributário ou seja financiavase através da cobrança de impostos sobre seus súditos ele acabou por respeitar as culturas tradições e costumes locais desde que os impostos fossem regularmente pagos Os diferentes grupos religiosos tanto judeus quanto cristãos eram assim respeitados e através de seus respectivos millet gozavam de certa autonomia para regerem suas vidas internas Umma Termo árabe que exprime a ideia de comunidade de crentes A umma reúne todos os muçulmanos do mundo em uma única comunidade fundada na crença comum em Alá sem distinção de cor língua gênero ou outras quaisquer História do Oriente 20 No entanto desde meados do século XVIII a lealdade dos árabes ao Império otomano começou a erodir Neste século um movimento religioso do deserto da Península Arábica chamado wahabismo começou a criticar o Islã praticado pelo Império que reunia sunitas e xiitas assim como diversas práticas litúrgicas diferentes Em aliança com um poderoso clã do deserto os Saud o wahabismo sunita tornouse um movimento de natureza política defendendo a cisão entre os árabes e os otomanos Já no século XIX o Egito tornouse virtualmente independente do Império otomano mas encaminhou sua agenda política em sentido diferente do wahabismo da Península Arábica deu início a um processo de modernização econômica educacional e militar que tinha a Europa particularmente a França como modelo Ainda no século XIX o Despertar Árabe Nahdah propunha a construção de uma nova literatura em língua árabe Com sede em grandes cidades como Damasco Beirute e Bagdá o Despertar Árabe era liderado principalmente por intelectuais cristãos que buscavam cimentar uma identidade árabe para além de divisões de natureza religiosa Em suma ao longo dos séculos XVIII e XIX esboçaramse novas identidades árabes de cunho políticoreligioso secular e cultural que marcavam um distanciamento do mundo árabe em relação ao Império otomano Wahabismo Movimento religioso que surgiu no deserto arábico por volta da década de 1740 e que defendia uma volta à pureza do Islã em sua versão sunita dos tempos do Profeta Para os wahabitas os turcos otomanos haviam conspurcado o Islã que deveria ser novamente conduzido por um califado árabe Em aliança com a família Saud o wahabismo transformouse em uma poderosa força políticomilitar Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 21 Nos dias de hoje o wahabismo é a versão oficial do Islã da Arábia Saudita país que não faz distinção entre Estado e confissão religiosa Sunitas e xiitas A grande cisão entre sunitas e xiitas ocorreu em razão de questões sucessórias após a morte de Maomé Basicamente os sunitas afirmavam que o califa ou seja o líder da umma deveria ser reconhecido por sua capacidade de persuasão e de convencimento e por seu respeito à lei corânica Já os xiitas defendiam que o califa deveria necessariamente surgir da linhagem de Maomé A partir dessa cisão inicial sunitas e xiitas acabaram por gradualmente afastarse Muitos sunitas consideram os xiitas heréticos ou desertores ao passo que para os xiitas os sunitas usurparam o poder legítimo sobre a umma Por outro lado como minorias religiosas os xiitas tornaramse tradicionais críticos do poder defendendo a pureza islâmica contra a corrupção de líderes políticos e dinásticos sunitas Cerca de 80 dos muçulmanos nos dias de hoje são sunitas mas países como Líbano e Iraque possuem importantes populações xiitas ao passo que os muçulmanos iranianos são em sua maioria xiitas Esse distanciamento aprofundouse em princípios do século XX sobretudo durante a Primeira Guerra Mundial quando o Império otomano passou a reprimir com violência crescente grupos não turcos com especial ênfase os armênios e a buscar aumentar a centralização políticoadministrativa No conflito mundial os otomanos aliaramse à Alemanha e ao Império austrohúngaro e em tal conjuntura a Inglaterra fomentou uma Revolta Árabe contra o domínio otomano Armênios Os armênios são originários do Cáucaso tendo sido o primeiro povo a converterse ao cristianismo Embora nos dias de hoje exista um país chamado Armênia à época da Primeira Guerra Mundial uma expressiva quantidade de armênios vivia em territórios controlados pelo Império otomano Na ocasião o governo turco deu início a uma feroz repressão aos armênios que viviam no Império acusandoos de colaboracionismo com o inimigo russo Além de prisões e assassinatos milhões de armênios foram obrigados a longas penosas e frequentemente letais marchas rumo à atual Síria então uma província do Império Estimase que no total cerca de 15 milhão de armênios tenham morrido no que é considerado o primeiro grande genocídio do século XX O atual governo turco no entanto nega oficialmente a existência de um genocídio deliberado e credita as mortes de armênios às vicissitudes da Primeira Guerra Mundial História do Oriente 22 A Revolta Árabe no entanto não foi liderada pelos sauditas wahabitas pelos egípcios ou por nenhum outro importante centro político cultural ou econômico árabe como Damasco ou Beirute mas pelo xarife Hussein da família Hachemita que governava Meca e Medina Hussein era um chefe clânico tradicional e apelando aos valores do Islã propunhase a ser o novo califa Em troca do apoio na sua guerra contra os otomanos os ingleses prometeramlhe um reino árabe independente como mostra a Figura 27 Figura 27 Promessa dos britânicos ao xarife Hussein em 1915 A linha tracejada indica a região litorânea que os ingleses queriam excluir do reino árabe liderado por Hussein A parte escura indica as regiões do vilayet de Beirute que Hussein declara serem puramente árabes e que queria que fossem partes de seu reino No resto do território haveria consenso tudo deveria fazer parte do reino árabe No entanto os ingleses não fizeram acordos apenas com Hussein para redesenhar o mapa do mundo do Oriente Médio uma vez vencido o Império otomano Com os franceses assinaram em Meca e Medina Meca foi a cidade natal de Maomé Segundo a tradição islâmica em 622 Maomé teria realizado uma migração conhecida como hegira rumo à cidade de Medina onde se tornou líder da primeira umma Em Meca está situada a Caaba que embora tendo origem pagã acabou por se tornar o local mais sagrado do Islã As rezas dos muçulmanos ao redor do mundo são direcionadas à Meca e todo o crente do Islã se tiver condições para tal deve fazer pelo menos uma peregrinação à cidade em sua vida Nos dias de hoje as cidades fazem parte da Arábia Saudita Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 23 1916 os Acordos de SykesPicot que basicamente dividiam o mundo árabe em áreas de influências inglesa e francesa com influência também russa como mostra o mapa a seguir Figura 28 Acordos de SykesPicot A área branca deveria ficar sob proteção britânica francesa e inglesa A área preta deveria ser um enclave britânico A cinza uma área francesa a quadriculada um estado árabe sob proteção francesa e a listrada um estado árabe sob proteção britânica Não satisfeitos os britânicos fariam ainda uma terceira promessa envolvendo terras na região aos sionistas ofereceram a Declaração Balfour de novembro de 1917 pela qual afirmavam ver com bons olhos o estabelecimento de um Lar Nacional Judaico na Palestina sem no entanto definir o território de tal Lar Para tanto uma vez vencidos os otomanos e consolidada a presença britânica na Palestina seria dada aos judeus sionistas permissão para imigração rumo à região História do Oriente 24 Você pode imaginar a confusão formada por tantos compromissos diferentes Finda a Primeira Guerra Mundial e nos anos que se seguiram surgiram nas terras árabes resultantes do desmoronamento do Império otomano como resultado de inúmeros conflitos guerras civis e intensa diplomacia novos países independentes e áreas sob controle direto ou indireto de ingleses e franceses como mostra a Figura 29 Figura 29 Oriente Médio após a Primeira Guerra Mundial Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 25 Contra o desejo britânico a Arábia Saudita Saudi Arabia no mapa tornouse independente com apoio norteamericano sob a liderança da família Saud em aliança com os wahabitas A família hachemita com apoio britânico recebeu duas novas monarquias a Transjordânia atual Jordânia cujo nome oficial é Reino Hachemita da Jordânia e o Reino do Iraque cuja monarquia foi derrubada nos anos 1950 tornandose uma República A Síria e o Líbano tornaramse protetorados franceses ao passo que a Palestina tornou se Mandato Britânico O território do Mandato Britânico da Palestina ilustrado pela Figura 210 não foi definido a partir de nenhuma unidade administrativa prévia do Império otomano Ele abrangia áreas do vilayet otomano de Beiture do vilayet da Síria do sanjak de Jerusalém e áreas desérticas nas quais o Império otomano jamais conseguira consolidar sua jurisdição Figura 210 Mandato Britânico da Palestina Fonte httpptwikipediaorgwikiPalestina Embora a Declaração Balfour se aplicasse a todo o território do Mandato as reações dos árabes da Palestina à imigração de judeus da Europa Oriental acabaram levando a que as autoridades britânicas dividissem o Mandato em duas regiões a oeste do rio Jordão os judeus que se identificavam ao sionismo continuariam a ser admitidos ao passo que a leste sua entrada ficava vedada conforme a Figura 211 Nessa região que viria a ser o Reino Hachemita da Jordânia Mandato A figura jurídica do Mandato foi elaborada pela Liga das Nações criada após o fim da Primeira Guerra Mundial para garantir a segurança coletiva e era utilizada para dar sustentação legal à administração inglesa ou francesa de um território até então sob jurisdição alemã ou turca A Liga entendia que tais territórios ainda não eram capazes de se autoadministrar e portanto deveria haver um período de transição o Mandato até que eles reunissem as condições necessárias para a independência Tal era o caso da Palestina História do Oriente 26 em um primeiro momento chamouse Transjordânia um dos filhos do xarife Hussein Abdullah tornouse monarca Figura 211 Mandato Britânico após a separação da Transjordânia Fonte httpptwikipediaorgwikiMandatoBritC3A2nicodaPalestina Vilayet e sanjak O vilayet era uma unidade administrativa do Im pério otomano introduzida na década de 1860 como parte de tentativas de reformas modernizan tes O sanjak era uma subdivisão do vilayet Vilayet poderia ser traduzido por província ao passo que sanjak por distrito Na estrutura de poder do Império otomano o xarife Hussein por exemplo administrava um vilayet chamado Hejaz onde estavam localizadas Meca e Medina O Mandato Britânico na Palestina não foi o único local que os ingleses desenharam no mapa sem levar em conta realidades políticas prévias No Iraque por exemplo os ingleses reuniram três vilayet otomanos diferentes um curdo povo não árabe e dois árabes um de maioria sunita e outro de maioria xiita Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 27 Essas mudanças políticoterritoriais tiveram profundo impacto sobre as identidades das populações que lá viviam Se até princípios do século XX as identidades do mundo árabe eram definidas em largas tintas mundo árabe língua árabe civilização árabe ou restritas a lealdades locais chefes políticos clãs tribos a partir de então novas nações árabes foram sendo construídas libaneses sírios iraquianos etc articuladas a territórios nacionais específicos Mas uma nova nação árabe a Palestina também se constituía e sua característica funda mental era justamente a ausência de um território nacional próprio De fato a identidade nacional palestina foi fortemente construída a partir da ideia de perda em contraste com as demais nações árabes que se forjavam enquanto estas construíam governos próprios ainda que muitas vezes sob controle mais ou menos explícito estrangeiro os palestinos eram governados diretamente por autoridades estrangeiras enquanto estas viviam em suas terras tradicionais os palestinos viam suas terras serem compradas e colonizadas por imigrantes sionistas E o número de tais imigrantes só fez crescer a partir da Declaração Balfour da legislação norteamericana de restrição à imigração de 1924 e da ascensão do nazismo na Alemanha Se até 1914 cerca de 75 mil judeus ashkenazim haviam chegado à Palestina entre 1919 e 1929 mais 120 mil judeus o fizeram Nos anos 1930 mais de 250 mil judeus da Alemanha e Polônia sem profundas ligações ideológicas com o sionismo mas sem alternativas de fuga Adolph Hitler chega ao poder em 1933 também entraram na Palestina Como decorrência o Mandato Britânico na Palestina seria palco de crescentes manifestações antibritânicas e antissionistas em 1920 1921 1929 até a explosão da Grande Revolta de 1936 1939 que acabou resultando na proibição por parte dos ingleses da entrada de novos imigrantes judeus na Palestina História do Oriente 28 Atende ao Objetivo 2 2 Na Atividade 1 você analisou notícias de jornal a respeito do conflito entre israelenses e palestinos a partir de uma perspectiva conceitual Agora além de ter entrado em contato com um repertório de conceitos ainda mais amplo você também já conhece um maior conjunto de fatos de modo a compreender melhor os nacionalismos palestino e sionista Mohammed Amin alHusseini e Naser alDin alNashashibi Durante o período formativo do nacionalismo palestino representantes de duas famílias tradicio nais dominaram o cenário político o mufti cargo de natureza política e religiosa de Jerusalém Mohammed Amin alHusseini e Naser alDin alNashashibi O mufti de Jerusalém foi um violento opositor tanto dos britânicos quan to dos sionistas e teve grande destaque na Revolta Árabe de 19361939 Durante a Segunda Guerra chegou a aliarse aos nazistas tentando conquistar a simpatia destes pela causa de um estado árabe independente Naser alDin alNashashibi por seu lado aceitava maiores compromis sos com os britânicos e os sionistas mas na Revolta Árabe seguidores do mufti tentaram por várias vezes matálo obrigandoo a refugiarse na Jordânia A partir de então as visões do mufti prevaleceram e qualquer compromisso entre palestinos e sionistas tornouse inviável Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 29 Volte então aos jornais eou revistas e analise as matérias à luz desses seus novos conhecimentos Escreva um parágrafo de modo a registrar suas conclusões a respeito das formas através das quais a imprensa noticia o conflito em questão Resposta Comentada O resultado dessa atividade depende dos jornais eou revistas que você utilizar na sua pesquisa Há veículos de informação que embora não explicitamente organizam suas notícias de forma a favorecer um ou outro lado do conflito há os que assumem claramente posição e também aqueles que conseguem atingir maior grau de imparcialidade O fundamental a perceber é que se a imprensa é uma fonte importante para o historiador você como historiador em formação deve estar sempre atento para o fato de que ela como aliás qualquer fonte histórica é produzida com certa intencionalidade Em outras palavras a imprensa não é neutra como nenhuma fonte histórica e não está à espera de que um historiador desvende a verdade que nela se encerra História do Oriente 30 CONCLUSÃO O sionismo e o nacionalismo palestino surgiram em conjunturas históricas associadas às grandes mudanças sociais políticas culturais e econômicas associadas ao nascimento do mundo moderno O sionismo foi uma das respostas elaboradas pelos judeus ashkenazim ao complexo e contraditório processo de incorporaçãoexclusão dos judeus aos modernos Estados Nacionais europeus dos séculos XIX e XX ao passo que o nacionalismo palestino teve seu nascimento associado à crise do Império otomano e à divisão territorial e política do mundo árabe pelas potências vencedoras da Primeira Guerra em particular a Inglaterra e a França Por outro lado tal nacionalismo foi também uma das respostas elaboradas pelos árabes da Palestina à crescente imigração de judeus sionistas após a Declaração Balfour Portanto aqueles sionistas que dizem que nunca houve uma nação palestina e portanto a reivindicação nacional palestina é ilegítima não levam em conta o caráter histórico de todas as nações inclusive da sua própria Por outro lado ao afirmarem que o sionismo é uma invenção do imperialismo os nacionalistas palestinos não levam em conta o fato de que o sionismo é fruto dos desafios que a Modernidade impôs aos judeus e sobretudo que só tornouse hegemônico entre os próprios judeus ashkenazim após o extermínio nazista Atividade Final Atende aos Objetivos 1 e 2 Volte a alguma matéria pesquisada para a Atividade 1 e que contenha imprecisões conceituais e reescrevaa de forma conceitualmente precisa Proponha a algum conhecido que leia as duas matérias sem chamar a atenção para as diferenças Após a leitura verifique se ele foi capaz de detectar tais diferenças Caso positivo peça a ele que as explique Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 31 Resposta Comentada É possível que seu conhecido perceba as diferenças e saiba ou não explicálas ou ainda que sequer percebaas Se ele perceber e souber explicálas ponto para ele Se perceber e não souber empreste a ele seu material impresso Será muito útil para ele Agora se ele sequer perceber o que possivelmente vai acontecer você estará diante da situação discutida lá nas suas primeiras aulas da disciplina História e Sociologia o senso comum O senso comum implica uma compreensão parcial e superficial das dinâmicas sociais ao contrário da compreensão proporcionada pelas disciplinas da área de Humanas Para o seu conhecido talvez esse conhecimento do senso comum não seja um problema Mas para você um historiador em formação já deve estar claro que todo conhecimento deve ser fruto do uso rigoroso de conceitos e métodos RESUMO Nesta aula você entrou em contato com os conceitos de sionismo e nacionalismo palestino assim como com o processo histórico em que ambos se forjaram Viu também as diferenças entre as concepções essencialistas e históricas de nação e como os dois nacionalismos a partir de uma concepção histórica de nação produziram respostas a um amplo processo de mudanças associadas ao nascimento do mundo moderno História do Oriente 32 Informação para a próxima aula Na próxima aula você verá como a partir da criação do Estado de Israel o conflito entre israelenses e palestinos aprofundou se abarcando também conflitos entre Israel e diversos países árabes com destaque para o Egito a Jordânia a Síria e o Líbano Aula 2 Os nacionalismos judaico sionismo e palestino 33 RBCS Vol 25 n 73 junho2010 Artigo recebido em agosto2009 Aprovado em maio2010 A SOCIOLOGIA ISRAeLeNSe e A CRISe DO CONSeNSO SIONIStA José Maurício Domingues A crise Em meados dos anos de 1990 shmuel Eisens tadt 1995 assinalava a desintegração do molde trabalhistasionista cujos elementos de nacionalis mo primordialista e revolucionário fundamentaram a construção ideológica de israel Este processo que se iniciara décadas antes abriu um vazio ideológico a que se somou um pluralismo crescente na socieda de israelense levando a um reforço das identidades étnicas entre os próprios judeus e ao aumento da influência da religião Associouse a isso ainda a emigração de um milhão de judeus da antiga União soviética com perspectivas bastante distintas das ondas de emigração anteriores Esta crise do sio nismo trabalhista tem um momento fundamental na chegada da direita o partido Likud ao poder em 1977 Baruch Kimmerling 2007a pp 13ss chegaria a conclusões semelhantes israel enfrenta a decomposição da hegemonia trabalhistasionista e com forte pluralidade social emergindo mergu lha em guerras culturais desprovida de um mode lo multicultural Em contrapartida mantêmse os arraigados códigos culturais do militarismo civil e de um judaísmo genérico bem como um Estado forte interna e externamente Por toda a sociedade israelense reverberam essas mudanças Fortes confrontos têm tido lugar e no vas identidades e problemas emergido com mui tos intelectuais e jornalistas assumindo ou sendo lhes atribuída muitas vezes equivocamente uma posição póssionista com flutuações em função das relações políticomilitares com a população pa Agradeço a Luis roniger e a Mario schnadzer o convite para uma estadia no instituto de Estudos Avançados da Universidade Hebraica de Jerusalém e ao primeiro pela leitura de versão anterior deste trabalho 10084AnpOCS73af4indd 143 72310 110119 Am 144 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 lestina Destacouse no debate intelectual sobre as origens e o destino de israel o revisionismo histó rico de Benny Morris e ilan Pappée que puseram em questão os momentos fundadores do Estado em 1948 e a limpeza étnica dos palestinos expulsos em massa o que estes chamam de alNakbah a ca tástrofe gerando o difícil problema dos refugiados e de seu desejo de retornar com Morris no entanto defendendo hoje a inevitabilidade das expulsões que deveriam afirma ter sido mais radicais sha pira e Penslar 2002 Cypel 2005 2006 Articu lando a resposta da direita alguns denunciam esse póssionismo como ameaça ao Estado judeu ante pondolhe a continuação da expansão territorial do país o apoio à religião o reforço da educação ju daica e a contínua glorificação do exército nacional Hazony 2000 outros no campo do trabalhismo tradicional afirmam não haver nada de novo nisso o póssionismo seria o tradicional antisionismo Avneri 2007 Com esse pano de fundo minha meta aqui é delinear aspectoschave da evolução da sociologia israelense a partir dos anos de 1980 Alguns de mandam uma agenda póssionista ram 1995 pp 205207 outros abraçam a crítica porém descar tam o termo por sua carga emocional e deficiências explicativas Kimmerling 2007a p 7 embora o argumento de que a Escola de sociologia de Jeru salém funcionalista e liderada por Eisenstadt ser viu à construção da nação e do Estado seja bastante generalizado Buscando enfrentar as questões que então emergem reforçando por outro lado a crise da ideologia sionista os sociólogos críticos vários marxistas outros weberianos trataram de vários te mas a integração forçada dos novos imigrantes o poder crescente e concentrado do aparato trabalhis ta as limitações da democracia a economia política e os problemas do corporativismo a desigualdade social e a construção de uma verdadeira elite de poder para quem a perspectiva socialista era mera ferramenta ideológica o caráter europeuoriental e exclusivista da ideologia sionista a concentração exclusiva no yishuv a sociedade judaica préEstado nas décadas de 18901940 e no Estado com a acei tação dos mitos que os cercavam a questão colonial na criação de israel e sua reiteração contemporânea a limpeza étnica dos palestinos e o expansionismo sionista a militarização da sociedade o status alta mente subordinado das mulheres Com seus estu dos críticos sobre as elites israelenses nos anos de 1970 e 1980 Yonathan shapiro 1984 teria sido uma inspiração para muitos desses novos autores nem todos eles anti ou póssionistas Agreguese a isso que segundo eles somente a partir da ascensão do Likud ao poder o establishment acadêmico se fez mais crítico ao perder suas conexões privilegiadas ver ram 1995 Kimmerling 1992a 2005 Apenas indiretamente será essa a nossa ques tão Mas não por acaso o período do que seria uma perspectiva integracionista e sionista na sociologia israelense espelha o que Bernstein 1978 chamou de consenso ortodoxo positivista e funcionalista na sociologia norteamericana Essas teorizações su punham um forte arcabouço normativointegrativo e o deslocamento da contingência e do conflito na vida social correspondendo à segunda fase da mo dernidade global em que o Estado cumpriu grande papel organizador Na fase seguinte a terceira atual ocorre um aumento da complexidade e da hetero geneidade social Domingues 2000 2003 2009 Foi na segunda fase que se construiu israel culmi nando o nacionalismo sionista Uma perspectiva integracionista e homogeneizante bem como o na cionalismo metodológico que exclui os palestinos da análise encaixavase bem com o giro moderni zador deslanchado pelo estatismo mamlachtuit1 diria Ben gurion o pai fundador de israel A sua crise corresponde àquela terceira fase em que as diferenças se expandem para além do controle do Estado o que se complica por ser israel um ponto de encontro e choque entre o ocidente e o mundo árabe e o judaico oriental com fronteiras mal defi nidas e questões étnicas e nacionais dramaticamen te pendentes e aparentemente sem solução2 Apenas uma resposta direta no campo aca dêmico parece ter confrontado aquela bateria de críticas segundo Moshe Lissak 1996 sociólogo muito representativo do período anterior o pós modernismo guiava essas análises cujos méritos às vezes reconhece para em seguida negálos os novos autores errariam ao descrever uma inexis tente sociologia próestablishment seus objetivos eram políticos não acadêmicos a luta contra o sionismo e a imputação de falta histórica irreversí 10084AnpOCS73af4indd 144 72310 110120 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 145 vel porquanto israel tivesse nascido em pecado Na verdade muitos inclusive ele mesmo teriam to mado argumentou a questão árabe como central em suas análises Lissak recusou validade à tese de que israel teria origem em um processo colonial o período pós1967 sendo diferente objetividade seria a meta o positivismo e o funcionalismo ins trumentos legítimos de conhecimento Ele termi nava com um comentário sobre a necessidade dos pais fundadores combinarem uma ciência livre de valores e de alta qualidade com seu caráter sionista insinuando que seus oponentes defendiam causas externas ao Estado de israel replicando gershon shafir 1996b criticou a fixação da escola antiga na bolha judaica e Michael shalev 1996 fez a apologia da economia política denunciando a in sinuação de que haveria em jogo interesses alheios a israel reconhecia porém que ataques demasia damente pessoais haviam sido desferidos pela hete rogênea sociologia crítica o que contribuíra para o empobrecimento do debate Ambos insistiram ademais no tema da colonização que discutiremos adiante As singularidades de israel bastante reais não podem ser reificadas e essencializadas inclusive por que implicam importantes temáticas sociológicas e apresentam conceitos que podem ser de grande va lia para teorizar a modernidade global e seus recor tes nacionais Veremos agora como Eisenstadt lidou com esses problemas e em seguida focalizaremos discussões acerca do nacionalismo e da democracia da colonização na Palestina e da problemática in definição de fronteiras na região eisenstadt e as transformações da sociedade israelense Exatamente durante os anos de 1980 Eisens tadt alterava sua concepção teórica afastandose bastante do funcionalismo enfatizava a ação das elites a cultura e a contingência da vida social Eisenstadt 1990 Alexander 1992 Além disso como veremos antecipava ou aceitava de forma menos radical e mais discreta parte das teses da sociologia crítica sem prejuízo de seus fortes vín culos ideológicos com o programa sionista básico e uma perspectiva liberaligualitarista bem como de alguns silêncios e idealizações importantes Eisenstadt 1985 pp 180 abre The transfor mation of Israeli society com uma discussão sobre a civilização judaica que estudou extensamente em outros trabalhos e que está na base de sua teoria das civilizações ver Domingues 2009 A civilização judaica emerge de uma revolução Axial em que se abriu um abismo entre a ordem transcendente e a mundana com a necessidade de realizaremse os imperativos da primeira na esfera da segunda Na época do segundo templo seus elementos desen volveramse plenamente desdobrandose no curso de sua inserção no ambiente mais amplo e a partir de suas relações com as civilizações cristã e islâmi ca se ele define estas duas em termos puramente religiosos evidenciando um dos problemas de sua teoria geral ao tratar da civilização judaica recusa essa abordagem e embora acentue seu componen te religioso assevera que os judeus são um povo uma nação Eisenstadt 1985 p 14 Não fora contudo possível desde a queda do segundo tem plo institucionalizar territorialmente a civilização judaica isso a levou a se desenvolver de forma he terogênea e descentrada mas com identidade forte e contínua Permanece sem justificativa a aplicação anacrônica aos judeus antigos e da idade média do conceito nunca definido de nação Mas vale notar o destaque que como bom aluno de Martin Buber Eisenstadt empresta à relação entre particularismo e universalismo no judaísmo nos quadros de uma competição com as outras religiões monoteístas os judeus estão durante todo esse período sob o domí nio de outros povos sobretudo na diáspora mas a ambivalência e amiúde animosidade é mútua e constante ameaçando identitariamente ambos os lados do conflito Para eles duas possibilidades se reiteram seu fechamento particularista num mun do que o Messias ainda não resgatou com a manu tenção de sua missão universal e aliança exclusiva com Deus ou a abertura dessa mensagem profética em sua ausência ou ao menos na de um poder polí tico que pusesse em prática as leis judaicas Eisenstadt 1985 pp 84ss sublinha o cará ter de movimento revolucionário e nacionalista do sionismo sem problematizar suas característi cas mas observando ali o ressurgimento da tensão 10084AnpOCS73af4indd 145 72310 110120 Am 146 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 entre particularismo e universalismo o sionismo rejeitou a emancipação assimilacionista que se entrevia embora com inúmeras dificuldades com a ilustração na Europa e reelaborou de modo to talista visando concretizálos criativamente os temas da civilização judaica Proporcionou gran de energia aos colonos em israel mantendo forte ambivalência em relação à diáspora A herança do parsonianismo cobra certo preço na seqüência do argumento impondo o sionismo como um arca bouço cuja institucionalização na Palestina deveria ser então investigada conquanto novos problemas evidentemente surgissem Apesar de reconhecer as razões dos árabes para rejeitar a presença maciça dos judeus a magnitude do conflito inevitável e mencionar as principais organizações judaicas para a colonização da Palestina Eisenstadt não se detém no crucial tema da terra e sua monopolização por parte das organizações sionistas paraestatais Ele assinala porém a cegueira ou o descaso dos líderes sionistas em relação aos árabes e mais ainda enfa tiza que desde sempre se apresentou no movimento sionista a perspectiva de colonização de toda a Pa lestina tendo como pano de fundo Eretz israel a terra de israel e não apenas o Estado de israel definido de variadas formas nas decisões internacio nais até 1948 ou mesmo 1967 isso guarda relação direta com o peso da religião na reconstrução do judaísmo pelo sionismo inclusive com um núcleo central das leis do Estado relativas especialmente à vida familiar sendo monopólio dos rabinos Idem pp 42 90 e 110115 Quando ele assinala a ques tão dos refugiados palestinos contentase com a versão hoje insustentável mas na época não ques tionada de que eles simplesmente fugiram aban donando suas possessões Idem pp 137139 o cume do elemento patriótico em seu ensaio é a celebração da guerra de independência de 1948 e do estabelecimento de israel além de sua visão totalmente positiva das Forças de Defesa israelenses FDi Idem pp 161162 e 182 o sionismo foi um grande sucesso a despeito de conflitos internos que quase levaram o yishuv à guerra civil em especial entre os trabalhistas e os revisionistas que incluíam tendências de extrema direita3 o centro hegemônico pioneiro e sua elite revolucionária acabaram por criar uma larga periferia A cultura trabalhistasionista fora capaz de incluir e assimilar sucessivas levas de imigração alyia melhor que outros países exceção feita cres centemente aos judeus orientais que já eram na realidade heterogêneos entre si e cuja relação com o sionismo era distante ou nula além de serem mais pobres e com menos acesso ao centro Essa falta de integração resultou numa questão étnica interna e na estereotipada divisão entre asquenazins e sefaradins ocidentais e orientais Idem pp 117 120 186ss e 294329 formulação na qual se dis cerne o problema mal resolvido da caracterização da nação judaica4 Pouco a pouco a burocratiza ção institucional crescentes desigualdades sociais já fortes mesmo no yishuv a oligarquização dos aparelhos partidários o clientelismo e a patrona gem impuseramse ainda que simultaneamente o liberalismo político e o império da lei tenham se consolidado Idem pp 234ss Embora sua análise da população árabeisrae lense e da população dos territórios conquistados em 1967 de fato ocupe pouquíssimas páginas Ei senstadt argumenta que aqueles obtiveram direitos civis e sociais reais se modernizavam e progrediam ao fim do governo militar que lhes fora imposto de 1948 a 1966 Uma nova identidade de minoria for mavase sem total integração e sem que a relação entre o caráter judaico do Estado e o funcionamen to da democracia fosse inteiramente equacionada Idem pp 331ss e 370380 Em compensação além de suspeita e cegueira ante seus problemas um forte paternalismo semicolonial delineou se E mais dramaticamente a partir da guerra de 1967 não só o expansionismo e a expropriação de terras dos árabes foram retomados tema que sur ge de repente na narrativa como também o que fora apenas uma sociedade de colonos que buscava construirse à parte dos anteriores habitantes da re gião contra o desejo dos britânicos de consolidá los como uma classe alta colonial tornouse de fato uma sociedade semicolonial com a exploração dos trabalhadores árabes dos territórios conquis tados em 1967 A ocupação desses territórios que passaram a ser denominados por seus nomes bíbli cos Judea e samaria deixara de ser temporária sem que à população palestina fosse concedida ci dadania Idem pp 152153 332333 374377 10084AnpOCS73af4indd 146 72310 110120 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 147 418419 e 5225335 se juntarmos a isto o papel que segundo ele a totalidade da Eretz israel cum pre freqüentemente no imaginário sionista e israe lense não se pode dizer que seu diagnóstico fosse tranqüilizador Poderíamos seguir adiante e nos determos em outros temas deste longo livro a decomposição do modelo trabalhistasionista e a deterioração do sistema político do império da lei e da civilidade mas em compensação a expansão do protesto ex traparlamentar somese a isso uma concepção de segurança cada vez mais dura além de central para a identidade coletiva e guerras cuja legitimidade se mostrou cada vez mais duvidosa com o exército as sumindo um comportamento em relação aos árabes que se a princípio era relativamente benigno foi se tornando brutal tudo isso resultando numa visão negativa de israel internacionalmente Ademais es gotouse a idéia de que a imigração completa para a Palestina levaria ao fim da diáspora com os Estados Unidos tornandose importante pólo do judaísmo isso tudo apontava para um conservadorismo di nâmico capaz de tratar de novos problemas sem contudo levar a uma mudança no núcleo cultural e institucional Idem pp 416417 e 4246 Foi por essas razões que Kimmerling 2007b afirmou que o próprio Eisenstadt deveria ser visto na fronteira entre o conservadorismo dinâmico e uma pers pectiva crítica Não é possível aqui a leitura detalhada de seu livro anterior Israeli society Eisensatdt 1967 foco de violentos ataques Eisenstadt assume ob viamente o sionismo trabalhando dentro da teoria da modernização e de um funcionalismo discreto sem dúvida apresenta uma visão bastante idílica do yishuv e da formação do Estado afirmando o descarte da opção colonial e apenas sobrevoando a questão da terra Ademais os fracassos na inte gração dos judeus orientais de múltiplas origens e mesmo sua situação de clara desigualdade seriam fruto sobretudo de seu tradicionalismo e auto segregação Contudo apontava a dominância dos asquenazins russos e poloneses sua transformação em elite dominante que concentrava poder sta tus e benefícios materiais bem como impulsionava orientações monolíticas Uma brecha abriase en tre ideologia e realidade levando à anomia social se a questão da imigração é tratada suavemente as questões interétnicas judaicas são abertamente re conhecidas especialmente a situação trágica dos árabes dominados militarmente sua cidadania era incompleta viamse segregados e discriminados com o desenvolvimento simultâneo do sionismo e do nacionalismo árabe ao que se somava uma situação internacional explosiva praticamente im pedindo o desenvolvimento de uma identidade co mum que poderia ser politicamente importante e uma contribuição para uma identidade israelense mais variada segundo ele vale lembrar a posição dos intelectuais teria se complicado em israel sua inclinação à crítica contrapunhase à idolatria do Estado que consolidara a nação o que gerou um déficit de significado espiritual A afirmação dos va lores dos pioneiros era por onde a crítica podia se expressar Eisenstadt 1967 p 388 Não seria essa uma autodescrição Enfim se algo de novo ocor reu em sua leitura ulterior da sociedade israelense foi certa acentuação do tom crítico pois chegou a apontar a queda da base revolucionária do sio nismo Kimmerling 2007b Mas isso era muito pouco muito tarde para as novas gerações e seus críticos Uma democracia étnica em Israel se a dominância dos judeus em israel é tama nha como se vê claramente em Eisenstadt como caracterizar sua democracia Foi para enfrentar esta questão que um dos primeiros autores a estudar os árabes em israel sammy smooha 1997 2002a 2002b e 2005 apresentou uma classificação de cinco tipos de democracia vinculadas a uma visão particular das questões étnicas e nacionais o primeiro seria a democracia liberalabstrata composta por indivíduos que desfrutam direitos iguais tendo suas qualidades específicas restritas à vida privada e não havendo qualquer direito cole tivo o Estado se manteria neutro sem recorrer a políticas de assimilação regendo o país com uma noção de patriotismo constitucional Esse tipo de democracia seria mera suposição teórica pois ja mais existira o segundo mais comum no mundo ocidental seria o tipo republicano liberaldemocrá 10084AnpOCS73af4indd 147 72310 110120 Am 148 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 tico que efetivamente implicou a realização do tipo teórico anterior com um Estadonação cívico em que vigoram direitos individuais mas não coleti vos Mas aqui o Estado não seria neutro optando pela homogeneização da sociedade em um quadro cultural específico e buscando políticas de assimila ção o terceiro tipo multicultural comportaria um Estado neutro alheio à assimilação a qual ocorreria de forma apenas mediana Manterseia a igualdade de direitos individuais introduzindo direitos cole tivos que não chegariam a ser legislados outra va riante mais complexa de democracia seria a de tipo consocional que incluiria um Estado binacional ou multinacional com respeito à igualdade de direitos individuais acompanhados contudo por direitos coletivos legislados o Estado evidenciaria neutra lidade ante os diversos grupos descartando políti cas de assimilação Uma engenharia mais compli cada preside a sua constituição política incluindo distribuição proporcional de recursos autonomia poder compartilhado possibilidade de veto com promissos e consensos7 o último caso é mais peculiar e demanda uma inovação conceitual a democracia étnica Ela é similar à democracia liberal republicana na medida em que o Estado se põe ao lado da maioria enquan to os outros tipos de Estado permanecem neutros nesse sentido Mas não é cívica pois nela os laços de sangue a linguagem e a cultura comuns se mes clam com a reivindicação de um território que se ria propriedade exclusiva da nação étnica o Estado promoveria a maioria cultural social econômica e politicamente tratando as minorias como cidadãos de segunda classe temidos por seus vínculos com inimigos excluindoas do núcleo de poder polí tico Entretanto são lhes concedidos direitos civis e políticos é lhes permitido desenvolverse para melhorar sua situação o que há de mais contestá vel na democracia étnica é obviamente a violação flagrante da igualdade Em geral esse tipo de demo cracia não sobrevive em sociedades profundamente divididas encaminhandose para a composição de uma democracia consocional8 Nos anos anteriores a 1967 israel seria o arquétipo desse tipo de de mocracia mantendose como um Estado judeu que mistura etnicidade e religião uma democracia de baixa qualidade que poderia estender direitos indi viduais e coletivos aos palestinos sem que entrasse em pauta o consocionalismo smooha rejeita o argumento sionista de que israel seria similar aos países ocidentais cuja demo cracia também teria base étnica o nacionalismo étnico do sionismo tem raízes na Europa oriental é intolerante e avesso a divisões calcandose em uma mistura de religião nacionalidade e Estado o que seria espelhado a esta altura pelo nacionalismo palestinoárabe Nos países ocidentais os traços ét nicos são secundários e graças ao caráter cívico de seus sistemas políticos as minorias não dão impor tância aos símbolos com os quais os árabes não po dem se identificar em israel tratase de um Esta do judeu para os judeus oficialmente sionista isso se expressa na Lei do retorno que em princípio confere cidadania imediata a qualquer judeu que retorne os rabinos no fim das contas decidindo quem pode recebêla Em contrapartida os ára bes israelenses são considerados um risco para a segurança o que implica sua exclusão do exército organização crucial na definição da identidade e cidadania israelenses discriminação permanente na vida cotidiana constante vigilância pelo servi ço secreto em uma situação formal e permanente mente declarada como de emergência com direi tos podendo ser suspensos a qualquer momento Para piorar o país não tem uma constituição Uma política de nãoassimilação de manutenção do status de maioria e minoria é inquestionável A integração dos árabes à democracia israelense segue porém se desenvolvendo embora o nacio nalismo palestino dentro do país também venha crescendo desde 1967 sem que isso leve à negação de israel em si mesmo que a idéia do caráter ju daico seja permanentemente questionada É possí vel imaginar crê smooha que a situação se desen volva rumo a uma democracia étnica melhorada mas a consolidação de uma variante mais dura não pode ser descartada o modelo de smooha foi muito questionado Asad ghanem Nadim rouhana e oren Yiftachel 1998 negam o caráter democrático da democra cia étnica o Estado de israel possuiria aspectos democráticos não uma estrutura democrática pois a desigualdade aniquilaria essa possibilidade para não mencionar a contínua judeização do 10084AnpOCS73af4indd 148 72310 110120 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 149 país e os bloqueios à mobilização dos árabes Et nocracia seria a melhor definição Não faria senti do considerar a situação de israel em termos apenas de suas fronteiras antes de 1967 pois essa unida de de análise já não existia o que se agravou pelo envolvimento contínuo das organizações sionistas externas na vida política do país Esses elementos impediram a definição clara de um demos com o conflito seguindo latente não obstante melhorias incrementais Na verdade há muito em comum entre smooha e seus críticos mas estes em virtude do esforço de israel não obstante as ambigüida des em minar o princípio da cidadania universal preferem enfatizar seus aspectos não democráticos conquanto o país não seja uma ditadura étnica como a sérvia seriam factíveis movimentos de democratização de israel e da Palestina como um todo chegandose eventualmente a um Estado bi nacional a exemplo do processo vivido na Estônia mas talvez pudesse ocorrer um recrudescimento de perspectivas nos moldes do que ocorreu em sri Lanka Yiftachel 2006 cap 1 Por seu turno ruth gavison 1999 busca es capar da formalidade do debate de natureza efeti vamente política israel seria uma nação coexten siva com sua religião cuja falta de base territorial teria levado a um esforço de justificação maior do que aquele realizado por outros nacionalismos algo ainda mais necessário na medida em que resolver esse problema implicava deslocamento e privações para outra população A autora propõe o raciocínio curioso de que os judeus não tinham direito à terra de sion mas sim de tentar estabelecerse nela ao passo que os palestinos que enxergavam a que essa tentativa levaria tinham o direito de impedir o as sentamento em seu território sem poder entretan to controlar a imigração judaica As ondas de imi gração e a emergência de uma comunidade judia que tinha como casa apenas a Palestina bem como o sucesso na construção do Estado e uma renascen ça cultural tornaram legítima a existência de israel sem negar os elementos conflituosos da situação gavison vislumbra reformas do Estado israelense em uma direção liberal shafir e Peled 1998 2002 argumentam po rém que os discursos democrático e etnoexclu sionista se sustentam apenas por serem mediados por um discurso republicano baseado nas virtudes cívicas originado no movimento trabalhista base da coesão social e que apela aos judeus israelenses sobretudo os homens em favor do projeto colo nial legitimando um regime de incorporação estratificado à cidadania o republicanismo vem declinando desde os anos de 1980 e paira no ar um discurso liberal sustentado pelos círculos domi nantes asquenazins cuja concretização é dificultada pelo peso do etnonacionalismo religioso militante de base popular Complicando a situação ghanem e rouhana ambos israelensepalestinos reconhe cem que os árabes vivem em israel um processo de democratização social e política em parte sob a influência do Partido Comunista conquanto o clã hamula ainda seja sua base social e a dominação das mulheres siga severa seus argumentos sugerem uma curiosa aceitação de aspectos da tradicional teo ria da modernização rouana e ghanem 1993 1999 ghanem 1998 Nesse sentido deparamonos com um dos te mas mais espinhosos referentes a israel capaz de mobilizar ódios intensos correndose o risco de ig norar certas sutilezas necessárias para um enquadra mento produtivo Qual seria de fato a relação entre etnicidade e nação Eisenstadt sempre tão sofisti cado simplesmente evitou a questão smooha por sua vez buscou uma definição mais adequada a esse respeito baseada na caracterização do que seria afi nal um grupo étnico Vale notar que sua discus são também levanta indagações acerca do concei to de república e sua relação com o nacionalismo Enfim podese se sugerir que a modernidade de manda alternativas individuais e coletivas capazes de construir identidades mais concretas para além do reencaixe proporcionado pela própria cidada nia com seu universalismo abstrato se em parte o nacionalismo cumpre esse papel sua variante que opera tal reencaixe mais concreto oscila de acordo com suas referências e conteúdos básicos Nada há de necessário em sua constituição ainda que me mória e tradições não sejam de fácil transformação e que haja a possibilidade de um cancelamento da reflexividade pela via do dogmatismo ver Do mingues 2002 caps 12 e 6 Esta possibilidade calcada no nacionalismo étnico europeuoriental e no primordialismo construído pelo sionismo não 10084AnpOCS73af4indd 149 72310 110120 Am 150 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 obstante seus óbvios elementos de plausibilidade necessários para que tal construção tenha êxito e por seus desdobramentos mais recentes enlaça os judeus israelenses talvez isso também se imponha de certa forma aos palestinos inspirados no sionis mo por meio de uma mobilização étnica crescente em direção ao islamismo ainda que localismo na cionalista e panarabismo componham também sua identidade ver Kimmerling e Migdal 2003 será possível que israel ultrapasse esse molde nacionalista étnico rumo a um modelo mais in clusivo ainda que por meio de uma evolução da democracia étnica A constituição de um nacio nalismo consocional ou mais cívico parece muito improvável ao menos no momento Em primeiro lugar por conta da importância da perspectiva sio nista para a construção da identidade básica dos judeus israelenses e como ideologia do Estado não obstante sua crise no plano utópico ainda mais quando a situação volta a ser considerada ameaça dora sem perspectivas de resolução pacífica Além disso constatamse não só os interesses na distribui ção de recursos que sistematicamente beneficiam os judeus em detrimento dos israelenses palestinos mas também a deterioração nos últimos anos da relação com as minorias druzas e beduínas Uma evolução benigna do nacionalismo dentro de israel certamente contribuiria no processo de paz mas se ria também muito facilitada por ela na medida em que os palestinos externa e internamente não fossem percebidos como ameaça ou ao menos na medida em que a percepção de supostas ameaças fosse diminuindo Mas essa evolução poderia deslo car interesses que a ela se ligam fortemente embora as forças neoliberais do país a pudessem contemplar com simpatia pois proporcionaria algum tipo de normalização internacional seja como for a pos sibilidade de um endurecimento pela direita e pela religião com elementos difusos de racismo não pode ser descartada mesmo porque atualmente é esta a possibilidade que comanda o país Nacionalismos étnicos radicalismos religiosos e a falta de uma concepção multicultural criam enormes barreiras Porém cabe indagar se no lon go prazo não seria possível ir além da obsessão com definições de identidades puras étnicas religiosas ou políticas aceitando suas diferenças e sobreposi ção qualquer que seja a solução estatal que venha a prevalecer no futuro Não é fácil a esta altura visua lizar dois Estados totalmente separados em espaço tão reduzido com tanto potencial de violência com questões cruciais que dependem de coordena ção mútua e com tantos valores sagrados atribuídos à terra por religiosos de diferentes linhas além de tendências demográficas que implicam o aumento do peso relativo dos árabes palestinos nos próximos vinte anos tampouco parece possível imaginar que neste momento um só Estado binacional fosse viável solução que teima em retornar ao menos retoricamente tanto quanto impulsiona resistên cias acerbas Khalid 2006 ghanem 2009 Morris 2009 Contudo uma efetiva dinâmica de abertu ra política para além de uma concepção formal de democracia podese esperar nos três espaços que compõem a região e se condicionam mutuamente o israelense o palestino e o israelensepalestino para que essas questões voltem a ser tematizadas e para que a influência crescente dos militares na esfera política seja controlada cf grinberg 2009 especialmente caps 2 e 11 Questionamse assim as fronteiras do país Mais geralmente impõese o problema metodoló gico de como incluir os palestinos de dentro e de fora para que se conceba israel para além do nacionalismo metodológico particularmente falho neste caso Vejamos as duas principais versões da teoria da colonização em israel shafir e Kimmer ling que trataram precisamente desses temas e da explosiva questão da terra assim como os desdo bramentos da discussão A sociologia da colonização Não obstante suas críticas ao funcionalismo e ao elitismo a teoria de shafir é moderada em suas conclusões os modelos coloniais estruturamse em torno do controle da terra e da exploração dos nati vos ou de mãodeobra forçada e importada Colô nias de povoamento pure settlement com mãode obra apenas de europeus brancos e deslocamento ou destruição da população nativa são outra possi bilidade A fronteira permanece em todos esses ca sos como problema e risco tão maior quanto mais 10084AnpOCS73af4indd 150 72310 110120 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 151 avançadas densas e fixadas as populações locais com a contrapartida da relativa densidade popula cional dos colonos e suas possibilidades concretas de ocupar a terra teses inspiradas na obra de turner no mito da fronteira livre e do individualismo nos Estados Unidos Em israel duas possibilidades se impuseram em uma situação de parcos recursos na turais densidade nativa razoável e inicialmente pou cos colonos a exploração das populações locais por fazendeiros judeus ou em um segundo momento o pagamento de melhores salários aos trabalhadores judeus da Europa oriental da segunda onda de imi gração Eles forçaram uma bifurcação do mercado de trabalho excluindo os árabes em nome da eco nomia judaica vale lembrar que a entrada no país de judeus yemenitas para trabalhar com o mesmo nível de subsistência dos árabes logo fracassou As fazendas coletivas kibbutz são o melhor exem plo da ideo logia coletivista de enobrecimento do trabalho a organização sionista internacional subsidiava trabalhadores convertidos em colonos garantindolhes terra que inicialmente tinha de ser comprada shafir 1996a pp 720ss shafir reconhece que o sionismo começou como um nacionalismo europeuoriental mas que sua ideo logia e a hegemonia do trabalhismo foram decor rentes das lutas no mercado de trabalho e da co lonização de povoamento separatista que levaria ao exclusivismo judaico 1996a p 89 Ciente da baixa densidade demográfica e desprovida de tendência ao expansionismo a liderança trabalhista evidenciava realismo político e disposição para estabelecer um compromisso com os árabes Era legítima a aspiração por um Estado nacional e talvez israel só pudesse ter surgido dessa forma o mercado fechado abriu todavia as portas para um exclusivismo expansionis ta mais amplo e formas extremas de nacionalismo territorial de conseqüências catastróficas shafir en fatiza que a moralidade do empreendimento sempre dependera do reconhecimento da necessidade de fa zer justiça à população árabe e mobilizando Weber demanda uma ética da responsabilidade capaz de dar conta das conseqüências nefastas da colonização shafir 1996a pp xixiv 1721 e 198220 Ao me nos retoricamente o autor parece ter endurecido sua visão da colonização em publicações subseqüentes cf shafir e Peled 2002 Anteriores às de shafir as teses de Kimmerling são mais radicais Em um livro fascinante mostra como se estabeleceu na Palestina uma sociedade de colonos em uma situação de muito baixa fronte ridade isto é poucas terras disponíveis para as sentamento ao contrário do que turner descreve em relação aos Estados Unidos o que levou a es tratégias coletivistas de ocupação antes que a um individualismo que tivesse um papel mais signifi cativo Kimmerling 1983 pp 18 e 144 Como Eisenstadt ele afirma que a ideologia sionista era calcada em elementos religiosos a terra de israel apresentada como a única escolha possível e que foram considerações dessa natureza e não econô micas que impulsionaram a colonização Mas ao contrário do que se divisava havia habitantes na região e a propriedade da terra embora confusa muitas vezes sobreposta ou incompreensível para os imigrantes pertencia aos árabes Idem 1983 pp 8ss 2007a p 6710 Kimmerling descreve uma atitude aberta e bemintencionada da maioria dos imigrantes sionis tas ante os árabes e um desejo geral de convivência pacífica Mas assinala também a astúcia de tratar a terra a ser comprada como mero bem econômico para em seguida transformála em patrimônio na cional os camponeses acabavam expulsos das ter ras e havia má vontade das lideranças árabes quanto à presença judaica maciça na região crescentemente compreensível para os sionistas mais argutos pen sassem eles em chegar a um acordo ou já vislum brassem um confronto inevitável e áspero no fim da linha No primeiro período da colonização a única opção era a compra de terras que não ultrapassou 7 do total Assim a presença física na terra ocu pada e a defesa militar eram também necessárias o que garantiu preponderância à esquerda Idem 1983 pp 11ss 7983 94 104 e 106ss A partir da guerra de 1948 a conquista e a expropriação unilateral converteramse no método principal de colonização concomitantemente à desarabização do território opção derivada da evolução dos pró prios conflitos implicando uma ampla limpeza étnica e a diáspora palestina Idem1983 cap 5 2008 p xiii Em 1967 a alternativa expansionista pratica mente descartada havia duas décadas apresentou 10084AnpOCS73af4indd 151 72310 110120 Am 152 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 se novamente levando à incorporação malgrado o enorme problema que gerava de grande população palestina Gush Emunim o movimento dos novos colonos crentesfiéis fezse cada vez mais in fluente bebendo nos elementos religiosos contidos na ideologia sionista e demandando com violên cia a ampliação das sempre indefinidas fronteiras de israel A margem ocidental do rio Jordão foi sendo ocupada em parte por política do governo em parte pela criação de fatos consumados pelo movimento que buscava substituir a imagem pio neira do kibbutzim expressão da colonização tra balhista por antonomásia Idem 1983 cap 6 e p 2234 também 2007a pp 110 123 e 231 isso levantou uma questão grave de legitimação exis tencial para a sociedade israelense quanto a seus direitos e os dos árabes sobre o território tema sempre sensível para o sionismo trabalhista Voltava à tona a questão mal resolvida das relações entre universalismo e particularismo na ideologia sionis ta tratada de forma pragmática pelo trabalhismo mas sem força política levando o Likud herdeiro do revisionismo a enveredar resolutamente para uma visão particularista do mundo Idem 1983 p 29 e cap 7 também 2007a pp 128129 Até então Kimmerling 1983 p 232 afirma o caráter democrático de israel ao menos para os judeus os árabes estando de fato submetidos a seu poder o que posteriormente aguça a crítica do autor so bretudo ao apontar o militarismo cívico israelense que fruto do interminável conflito gerava com o controle do território um regime de Herrenvolk vigilância controle e repressão em toda a Palesti na Uma obsessão com a segurança ramificavase cultural e cognitivamente tornandose onipresente Idem 1992b 200811 Ao passo que Eisenstadt enfatiza a questão cul tural para Kimmerling é a pulsão pela acumulação de território advinda da colonização portanto o poder conjugado à cultura que subjaz ao expan sionismo israelense shafir por sua vez dá priorida de aos mecanismos econômicos e suas derivações Mas no plano conceitual mais geral de que manei ra esses elementos se conjugariam e em que grau seriam reforçados em casos de conflitos como este entre coletividades importa aqui sublinhar que a tendência expansionista tem levado israel a chocar se com os árabes há um século tornandose talvez a última sociedade colonizadora do mundo os ter ritórios ocupados fundamentais para certas versões da identidade coletiva israelense encontramse em situação ambígua nem dentro nem fora do Estado se israel não os anexa formalmente há um profun do envolvimento cotidiano com a população sem pre a favor dos colonos judeus no que se refere à vigilância à repressão e à regulamentação da terra principalmente por meio das Forças de Defesa de israel FDi Kimmerling 2007a pp 3 8185 e 185 grinberg 2009 isso vem gestando o que Yaftachel 2006 pp 7883 chama de apartheid paulatino creeping apartheid em que a segregação vaza para dentro das fronteiras formais do país ver também Kim merling 2007a p 232 Assim o tema resvala no sentido de legitimar a capacidade repressiva esta tal em defender a nação de ameaças existenciais reiterar o sionismo e transformar os palestinos na figura do outro ameaçador da identidade nacio nal que deve portanto ser submetido grinberg 2009 A pseudosolução imediata para o confli to foi a construção de uma barreira muro para evitar os terríveis e desesperados ataques suicidas palestinos obviamente ela não resolve o proble ma de fundo e ao garantir a anexação de várias partes da margem ocidental na verdade agrava e dificulta uma possível solução futura legitimando fatos consumados pelos colonos e gerando enormes problemas para os palestinos separados de suas terras empregos e familiares submetidos a uma brutal vigilância militar e assassinatos sobretudo de civis humilhações e violência constantes bem como a expropriação de terras e água para não falar da trágica situação humanitária da Faixa de gaza Vale lembrar que o Likud fora contra a construção do muro porquanto possa limitar a expansão ter ritorial de israel que segue temporariamente no entanto pelos mais engenhosos meios de opressão continuada Palavras finais Não se trata de buscar uma conclusão para este artigo os textos analisados expõem diversas inter 10084AnpOCS73af4indd 152 72310 110121 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 153 pretações para a evolução da sociedade israelense bem como sugerem idéias e conceitos de amplitude global e até certo ponto falam por si É importante notar o quanto esses debates são densos politica mente e que a própria descrição das posições em questão remete à construção do Estado israelense e à posição dos sociólogos no processo gerando um inevitável ruído muitas disputas semânticas e nem sempre precisão Há muitos problemas em israel que são co muns a outros países Eisenstadt 1985 p 401 ainda que com características peculiares Ao lado da persistência de uma ideologia sionista assistimos a uma pluralização das identidades Ao lado da po larização política entre McDonnald versus Jihad tel Aviv versus Jerusalém consumo e acomodação versus religião e confronto aparecem a neolibera lização econômica e a globalização com a queda do sindicalismo corporativo e o crescimento da desi gualdade e da pobreza ram 2008 BenPora et al 2008 Esses giros modernizadores projetos e op ções que os diversos setores da sociedade israelense em suas vagas fronteiras estão construindo e reali zando hoje resultam de embates e escolhas especí ficas mas estão fortemente sobredeterminados pela permanência de um processo tardio de colonização Como vimos colonização e fronteiras democracia nacionalismo e etnicidade republicanismo e libera lismo pluralismo e homogeneidade universalismo e particularismo são questões que abarcam o cená rio dramático da Palestina contemporânea Não obstante a efetiva construção de um país avançado em muitas áreas resultado de poderosas energias ativadas pelo sionismo israel não se sai bem np re trato de seus sociólogos o qual certamente pioraria caso realizássemos uma análise mais detalhada do que ocorre hoje nos territórios ocupados ou supos tamente desocupados pois permanecem sob vio lenta vigilância militar A desorganização intencio nal da sociedade civil palestina e da Autoridade Nacional Palestina ANP por parte de israel por meio de prisões e ataques militares com a ANP por seu turno cada vez mais inclinada a monopoli zar os espaços políticos construindo uma força po licial em seu território bem como a emergência do islamismo radical sobretudo na Faixa de gaza e em outros campos de refugiados mas também na margem ocidental agrega mais um elemento ex plosivo e complicador ao cenário inicial do conflito Kimmerling e Migdal 2003 caps 911 se os árabes não sem boas razões mantiveram desde o início uma visão de somazero em relação ao conflito estabelecido visão que também foi aos poucos adotada pelos sionistas a esta altura parece não haver alternativa que não superar tal perspec tiva para que a paz seja alcançada Kimmerling 1983 pp 94 e 219 Kimmerling e Migdal 2003 caps 1011 Em que pese um horizonte tenso e nada auspicioso a solução do conflito está em aber to e depende de como as diversas coletividades em choque encontrarão ou não os meios para supe rar os impasses e a brutalidade que as envolvem Aqui vale retomar a frase indelével de sartre o que importa não é o que fizeram conosco mas o que fazemos com o que fizeram conosco Na Palestina ou alhures ninguém pode evitar fazer escolhas individual ou coletivamente as quais sempre in correm em custos Judeus e árabes encontramse entrelaçados em um trágico destino comum mas àqueles cabe hoje uma responsabilidade muito su perior na abertura do espaço político e na aceitação de compromissos assim como na adoção de uma concepção de mundo universalista em detrimento do particularismo que comanda a política exterior israelense mercê de seus enormes ganhos históricos à custa do poder desigual que detêm em relação aos árabes É improvável que o juízo final os venha a julgar Mas a história certamente o fará Notas Este conceito referese a um estatismo que subordi 1 naria as organizações sionistas anteriores ao Estado judeu no terreno militar e social mas também do ponto de vista de uma economia em que ele teria grande peso como de resto era bastante comum neste período internacionalmente Nesses debates a figura de Kimmerling é crucial se 2 cedo tratou em seu doutorado da relação territorial entre judeus e palestinos malgrado contanos re sistências era parte da Escola de Jerusalém ca racterização que difundiu somente depois passou a criticar o establishment acadêmico sem poupar muitos dos que propunham perspectivas alternativas Prova 10084AnpOCS73af4indd 153 72310 110121 Am 154 rEVistA BrAsiLEirA DE CiÊNCiAs soCiAis VoL 25 N 73 velmente o início em 1987 da primeira intifada e a resposta israelense a ela pesaram nessa radicalização e em sua definição explícita do conflito como intrín seco à vida social como em simmel e Coser sem pre juízo ao contrário do funcionalismo Kimmerling 1992a 2007a pp 710 2008 pp xiixvi Até então se definia defensor de uma ciência weberiana livre de valores sionista moderado quanto ao conflito árabe israelense e liberal economicamente Kimmerling 1985 p xviii os trabalhistas esposaram um sionismo prático fa 3 vorecendo a ocupação e a construção de instituições com uma relação ambígua entre abrangente e prag mática com o território os revisionistas apostavam na acumulação de poder em geral e na ocupação de toda a Palestina Desde o início militarizaramse o que apenas aos poucos ocorreu com o trabalhismo Ao falar da falta de sensibilidade das políticas origi 4 nais sobre imigração ele parece fazer certa autocrítica de sua perspectiva anterior fortemente funcionalista e assimilacionista ainda que bastante ciente das dife renças étnicas entre os judeus Eisenstadt 1954 Para uma visão ácida da questão étnica da discriminação e da exploração dos sefaradins ver shohat 1988 Valorizando os Estados Unidos como uma coloniza 5 ção de povoamento settler society à qual se asseme lharia muito israel inclusive no fervor ideológico dos pioneiros Eisenstadt 1992a depois a contrastou com a colonização ibérica das Américas Não apenas esquecia a situação do sul e dos negros norteameri canos como desconsiderava o genocídio a que foram submetidos os indígenas o que é instrutivo dos limi tes de sua análise Com um funcionalismo também mais flexível Horo 6 witz e Lissak 1989 enfrentaram os problemas da crise ideológica das demandas dos grupos cuja clivagem constituía a sociedade israelense da relação com os ára bes da dominância asquenazim dos imigrantes desfa vorecidos Com poucos recursos e baixa capacidade de regulação o centro teria se enfraquecido Apontaram ainda para o funcionamento de um conjunto dual de normas soberania nas fronteiras formais de israel controle nos territórios ocupados situação que ofere cia a base para um Estado binacional Em seus primeiros textos sobre o tema smooha fala 7 de democracia de Herrenvolk descartando essa clas sificação depois uma vez que ali não haveria de fato democracia devido ao poder absoluto de uma mi noria segundo ele para além das bordas de 1967 o estabelecimento da Autoridade Palestina em 1994 provava que israel não se encaixava nessa classifi cação smooha 1997 p 203 Curiosamente não aparecem em seus trabalhos sobre a democracia étni ca as questões interétnicas entre sefaradins e asquena zins tão importantes em análises anteriores pautadas por uma perspectiva pluralista smooha 1978 o conceito de democracia consocional referese 8 basicamente a duas ou mais comunidades em gran de medidas autogeridas que contudo compartilham um sistema político comum no âmbito federal com representação proporcional tese tão estreita cria limites para o argumento de sha 9 fir Mas caso contrário o autor se aproximaria muito dos argumentos de Horowitz e Lissak 1977 1978 que trataram o yishuv como uma realidade fechada que inicialmente se misturava com os palestinos dos quais por vários meios buscaram separarse os imigrantes judeus exceto aqueles que empregavam a barata mãodeobra local Embora Kimmerling faça uma crítica dura a Eisens 10 tadt a quem acusa de ideologização e mitologização 1992a 2007a pp 79 e 11 seus textos comparti lham várias das teses sociológicas do exprofessor que por seu turno não cita seus trabalhos sobre a coloni zação Para uma análise crítica da sociologia quanto à ques 11 tão militar ver Peri 1996 na direção oposta radicali zando a crítica ver grinberg 2009 Parte 4 BIBLIOGRAFIA ALEXANDEr Jeffrey A 1992 the fragility of progress an interpretation of the turn toward meaning in Eisenstadts later work Acta Socio logica 35 AVNEri shlomo 2007 PostZionism doesnt exist Haaretz 6 jul BENPorA guy et al 2008 Israel since 1980 Cambridge Cambridge University Press BErNstEiN richard 1978 The restructuring of social and political theory Philadelphia Uni versity of Pennsylvania Press CYPEL sylvain 2005 2006 Walled Israeli socie ty at an impasse Nova York the other Press DoMiNgUEs José Maurício 2000 2003 Criatividade e tendências mestras na teoria so ciológica contemporânea in Do 10084AnpOCS73af4indd 154 72310 110121 Am A soCioLogiA isrAELENsE E A CrisE Do CoNsENso sioNistA 155 ocidente à modernidade intelectuais e mudança social rio de Janeiro Civilização Brasileira 2002 Interpretando a modernidade imaginário e instituições rio de Janeiro FgV 2009 Latin America in comparati ve perspective Theory Culture Society 26 EisENsAtDt shmuel N 1954 The absorption of immigration a comparative study based main ly on Jews in Palestine and the State of Israel Londres routledge Kegan Paul 1967 Israeli society background de velopment and problems Londres Weinlfeld Nicolson 1985 The transformation of Israe li society an essay in interpretation Londres Weinfeld Nicolson 1990 Modes of structural diffe rentiation elite structure and cultural vision in J C Alexander e P Colomy orgs Diffe rentiation theory and social change Nova York Columbia University Press 1992a introduction in M Buber On intersubjectivity and cultural creativity Chi cago the University of Chicago Press 1992b Culture religions and deve lopment in North American and Latin Ame rican civilizations International Social Science Journal 134 1995 Jewish civilization approa ches to problems of israeli society in s De she C 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Israel Studies 2 2002a types of democracy and modes of conflict management in ethnically divided societies Nations and Nationalism 8 2002b the model of ethnic demo cracy israel as a Jewish and democratic state Nations and Nationalism 8 2005 is israel Western in E Benrafael e i stern orgs Comparing mo dernities essays in hommage to Shmuel N Ei senstadt LeidenBoston Brill YiFtACHEL oren 2006 Ethnocracy land and identity politics in IsraelPalestine Philadelphia University of Pennsylvania Press 10084AnpOCS73af4indd 156 72310 110121 Am resUMOs aBsTraCTs resUMÉs 179 a sociologia israeleNse e a crise do coNseNso sioNista José Maurício Domingues Palavraschave Israel sionismo coloni zação democracia a sociedade israelense vem enfrentando uma crise do sionismo que esteve na base de sua constituição já há algumas déca das Uma consistente produção socioló gica que remonta ao trabalho de shmuel eisenstadt desdobrouse paralelamente a essa crise com ela interagindo de for ma crítica Isso se expressa nas discussões sobre o caráter da colonização judaica da palestina nas obras de Kimmerling e shafir bem como no debate sobre a de mocracia étnica proposto por smooha essas discussões são revistas aqui conec tandose com as análises sobre a socieda de israelense hoje a relação com os pa lestinos destacase em toda essa literatura e neste artigo uma vez que em grande medida ela sobredetermina o conjunto dos processos sociais que caracterizam a sociedade israelense israeli sociologY aNd tHe crisis oF tHe zioNist coNseNsUs José Maurício Domingues Keywords Israel Zionism colonization democracy The Israeli society has faced a crisis of the Zionism that has been the basis of their constitution for decades a consistent sociological production dating back to the work of shmuel eisenstadt has un folded in parallel with such crisis having interacted with it in a critical way This is expressed in discussions about the char acter of the Jewish colonization of Pal estine in the works of Kimmerling and shafir as well as in the debate over the ethnic democracy proposed by smoo ha These discussions are herein reviewed in connection with analyses of the Israeli society today The relationship with the Palestinians appears in both all the litera ture and this article since it largely over determines all the social processes that have characterized the Israeli society la sociologie israélieNNe et la crise dU coNseNsUs sioNiste José Maurício Domingues Motsclés Israël sionisme colonisation démocratie La société israélienne affronte une cri se du sionisme qui a été à la base de la constitution depuis déjà quelques dé cennies Une production sociologique consistante qui remonte au travail de shmuel eisenstadt sest déployée parallè lement à cette crise tout en interagissant avec elle de façon critique Cela sexpresse dans les discussions sur le caractère de la colonisation juive de la Palestine dans les travaux de Kimmerling et de shafir ainsi que dans le débat sur la démocratie eth nique proposée par smooha Cet article repense ces discussions en connexion avec les analyses sur la société israélienne daujourdhui Le rapport avec les palesti niens est mis en évidence dans toute cette littérature et dans cet article étant donné qu elle surdétermine en grande partie lensemble des processus sociaux qui ca ractérisent la société israélienne 10084AnpOCS73resenhasaf4indd 179 72310 110159 Am Esta é sua primeira avaliação à distância O objetivo é escrever um ensaio curto a partir do texto disponível na Aula 2 DOMINGUES José Maurício A sociologia israelense e a crise do consenso sionista Rev bras Ci Soc São Paulo v 25 n 73 June 2010 Disponível em httpswwwscielobrjrbcsocazKGZ8vZBSVtkJTrKgJqPw9Lformatpdflangpt acesso em 20 Ago 2023 httpdxdoiorg101590S010269092010000200009 Leia o texto com atenção e considerando os textos nos cadernos didáticos discuta como ele apresenta o conceito de sionismo e suas ambiguidades entre práticas colonialistas e propostas nacionalistas Atenção Seu trabalho deve ter de cinco a sete páginas capa e bibliografia não contam Como é um ensaio curto seja bastante objetivo e conciso mas assegurese que ele tem início meio e fim Pode usar fontes auxiliares mas elas devem ser corretamente citadas Aliás todas as citações devem ser feitas corretamente segundo as normas da ABNT Há um arquivo na plataforma na seção Materiais e Ferramentas que podem auxiliar vocês Em caso de dúvida consulte sua tutora Plágio significa zero neste trabalho Não basta dar a referência de citações literais paráfrases também precisam de referência correta A AD1 deve ser entregue até o dia 28 de agosto às 2359 hrs Depois deste horário trabalhos podem ser penalizados com perda de nota ou simplesmente rejeitados Seu arquivo deve ser em pdf É sua responsabilidade que o arquivo não esteja corrompido e que possa ser aberto pela tutora eou pela coordenadora da disciplina Coloque seu nome no título do arquivo ex JoseSilvaAD1202402orientepdf Boa sorte ENSAIO SOBRE O SIONISMO E SUAS AMBIGUIDADES ENTRE COLONIALISMO E NACIONALISMO Este ensaio tem como objetivo explorar a intricada e multifacetada relação entre o sionismo e a sociedade israelense utilizando como base o artigo de José Maurício Domingues intitulado A Sociologia Israelense e a Crise do Consenso Sionista publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais em junho de 2010 bem como o artigo A Questão Palestina e o Sionismo uma perspectiva crítica A análise proposta se concentra em discutir a apresentação do conceito de sionismo e suas ambiguidades especialmente no que tange às suas dimensões colonialistas e nacionalistas O sionismo emergiu no final do século XIX como um movimento que visava a renovação nacional do povo judeu buscando estabelecer um Estado judeu na Palestina Este movimento foi inicialmente formulado como uma resposta ao crescente antisemitismo que assolava a Europa na época e tinha como um de seus principais objetivos a criação de um refúgio seguro para os judeus A ideia central era proporcionar um lar nacional onde os judeus pudessem exercer sua autodeterminação e assegurar sua sobrevivência e prosperidade em um contexto de hostilidade e perseguição Entretanto o sionismo não se limitou a ser um projeto de autoafirmação nacional judaica Ele também carregava ambigüidades e contradições que se revelam quando se considera o impacto sobre a população palestina que já habitava a região da Palestina O conceito de sionismo embora essencialmente nacionalista envolve práticas e políticas que podem ser interpretadas como colonialistas A implementação do sionismo implicava em muitos aspectos a deslocação e marginalização dos palestinos nativos que foram afetados pela chegada massiva de imigrantes judeus e pela subsequente criação do Estado de Israel A ambiguidade fundamental do sionismo reside na tensão entre a aspiração à autodeterminação para o povo judeu e as implicações coloniais para a população palestina Enquanto o sionismo se apresentava como um movimento emancipatório para os judeus ele também gerava uma série de questões e conflitos em relação aos direitos e à situação dos palestinos A perspectiva sionista sobre a terra e a construção do Estado de Israel envolvia não apenas a realização de um ideal nacional mas também a transformação radical da paisagem sociocultural da região o que frequentemente se traduzia em práticas que podem ser vistas como coloniais Esse aspecto ambíguo do sionismo é central para entender as dinâmicas sociopolíticas que moldaram o Estado de Israel e continuam a influenciar a sociedade israelense até hoje O desafio de equilibrar as aspirações nacionalistas com as realidades e as consequências para a população local palestina permanece um tema central nas discussões sobre o sionismo e suas implicações Assim a análise crítica das práticas e ideologias sionistas permite uma compreensão mais profunda das complexidades envolvidas e dos impactos duradouros que moldaram e continuam a moldar a região O consenso sionista que havia servido como a pedra angular para a formação e consolidação do Estado de Israel desde sua criação começou a mostrar sinais de desintegração nas décadas de 1970 e 1980 Essa transformação significativa na dinâmica política e social israelense foi particularmente marcada pela ascensão do partido Likud ao poder sob a liderança de Menachem Begin O Likud com sua agenda política distinta trouxe à tona uma visão mais assertiva e nacionalista em oposição à abordagem mais conciliatória e pragmática que havia caracterizado as administrações anteriores A ascensão do Likud e a sua política nacionalista não apenas alteraram o curso da política israelense mas também tiveram um impacto profundo nas relações internas e nas dinâmicas sociais do país A postura do Likud em relação aos palestinos e suas políticas voltadas para uma maior afirmação da identidade judaica de Israel intensificaram as tensões internas e promoveram um ambiente de crescente pluralismo e conflito étnico Essa nova era política não só desafiou o consenso sionista tradicional mas também expôs e aprofundou as divisões existentes dentro da sociedade israelense Adicionalmente a imigração em massa de judeus da exUnião Soviética durante as décadas de 1990 e 2000 desempenhou um papel crucial no acirramento dessas divisões internas Este fluxo significativo de imigração trouxe consigo uma ampla gama de perspectivas culturais e sociais bem como uma diversidade de experiências que contrastavam com as de outros grupos estabelecidos na sociedade israelense A chegada desse grupo imigrante não apenas diversificou a população mas também acirrou as tensões entre diferentes segmentos da sociedade israelense O impacto dessa imigração sobre a sociedade foi multifacetado evidenciando e ampliando as divisões já existentes Esse processo de mudança e a intensificação das divisões sociais sublinham a necessidade urgente de uma reavaliação do consenso sionista que havia sustentado o Estado de Israel desde o seu nascimento O consenso que inicialmente proporcionou uma base relativamente estável para a coexistência e a construção do Estado revelouse inadequado para lidar com as complexidades e os desafios emergentes da sociedade israelense moderna As mudanças políticas e sociais junto com o impacto da imigração e as tensões internas crescentes indicam que o consenso sionista tradicional foi gradualmente desafiado e em muitos aspectos desmoronou diante das novas realidades que surgiram no final do século XX e início do século XXI A revisão crítica dos eventos de 1948 especialmente a expulsão dos palestinos durante a formação do Estado de Israel desempenhou um papel fundamental na crise do consenso sionista Este período crucial na história israelense marcado pela criação do novo Estado e pela deslocação forçada de palestinos de suas terras foi objeto de um exame aprofundado e contestado nas décadas subsequentes O movimento póssionista que emergiu como uma resposta crítica às narrativas fundadoras do Estado de Israel desafiou a visão tradicional da fundação do país e trouxe à tona questões prementes sobre justiça e os direitos dos palestinos O póssionismo questionou a legitimidade e a moralidade das ações realizadas durante a criação do Estado expondo as contradições e dilemas éticos envolvidos na história sionista Este movimento gerou intensas controvérsias tanto dentro de Israel quanto no cenário internacional Para alguns setores da sociedade israelense e para muitos defensores do projeto sionista o póssionismo foi visto como uma ameaça à integridade e à continuidade do Estado judeu desestabilizando as narrativas que haviam sustentado a legitimidade do Estado desde sua fundação Para outros entretanto o póssionismo representava uma expressão essencial de antissionismo crítico uma oportunidade para revisar e reavaliar as bases ideológicas do Estado de Israel e abordar as injustiças históricas cometidas contra os palestinos A evolução da sociologia israelense ao longo desse período também reflete essas tensões e mudanças A transição de uma abordagem predominantemente descritiva como a de Shmuel Eisenstadt para uma perspectiva mais crítica é um exemplo claro dessa transformação Enquanto Eisenstadt oferecia uma análise mais neutra e descritiva das estruturas e processos sociais israelenses a nova abordagem crítica trouxe à tona questões mais profundas e problemáticas como a militarização da sociedade a integração forçada de imigrantes e as limitações da democracia israelense Estes temas tornaramse centrais na análise sociológica contemporânea revelando a complexidade e as contradições intrínsecas dentro da sociedade israelense A análise crítica desses temas destaca uma crise de identidade e coesão dentro da sociedade israelense As tensões e contradições internas expostas pelas abordagens póssionistas e pela evolução da sociologia refletem uma sociedade em busca de uma nova compreensão e um novo consenso sobre suas fundações e seu futuro O exame das práticas e das ideologias sionistas especialmente à luz dos eventos de 1948 e das mudanças sociais subsequentes evidencia a necessidade urgente de uma reavaliação crítica das bases ideológicas que sustentam o Estado de Israel A militarização da sociedade israelense por exemplo não apenas reflete a constante ameaça externa enfrentada pelo país mas também tem implicações profundas para a vida cotidiana e a política interna A integração forçada de imigrantes muitas vezes feita sem o devido suporte para a adaptação cultural e social também contribuiu para a fragmentação social Além disso as limitações da democracia israelense que muitas vezes são apontadas como inadequadas para resolver as tensões internas e o conflito com os palestinos acentuam a necessidade de uma reflexão crítica sobre os princípios que sustentam o Estado Em conclusão a sociedade israelense está imersa em uma crise de identidade e coesão que reflete as complexidades e contradições internas do sionismo A revisão crítica das narrativas fundadoras e a análise das tensões atuais revelam a necessidade de uma reavaliação crítica das bases ideológicas do Estado de Israel O debate sobre o sionismo suas práticas colonialistas e suas propostas nacionalistas continua a ser um campo de intensa discussão e análise evidenciando a profundidade das ambigüidades que caracterizam este movimento e suas implicações para a sociedade israelense A militarização da sociedade israelense que é uma característica marcante do país não apenas é uma resposta à constante ameaça externa mas também possui implicações profundas e abrangentes para a vida cotidiana e para a política interna de Israel O contexto de segurança perene alimentado por conflitos regionais e ameaças de atores externos levou à institucionalização de uma mentalidade militar em vários aspectos da vida israelense Isso se reflete em aspectos como o serviço militar obrigatório a presença militar constante em áreas civis e a centralidade das questões de segurança no debate público e político Essa militarização não apenas molda as estruturas de poder e as políticas de defesa mas também influencia profundamente as normas culturais e sociais criando um ambiente em que o militarismo se torna uma parte intrínseca da identidade nacional e da vida cotidiana Além disso a integração forçada de imigrantes que ocorreu de forma acelerada e muitas vezes sem o devido suporte para a adaptação cultural e social exacerbou as divisões internas e a fragmentação social A chegada de grandes ondas de imigração especialmente a partir da exUnião Soviética nas décadas de 1990 e 2000 trouxe uma diversidade de perspectivas e culturas mas também desafiou a capacidade da sociedade israelense de integrar adequadamente esses novos grupos A falta de suporte adequado para a integração levou a tensões entre os novos imigrantes e as comunidades estabelecidas criando fraturas dentro da sociedade israelense e amplificando as divisões étnicas e culturais As limitações da democracia israelense também são um ponto crucial na análise das tensões internas A democracia israelense frequentemente criticada por sua incapacidade de lidar eficazmente com as complexas questões do conflito israelensepalestino e as tensões sociais internas enfrenta desafios significativos As instituições democráticas de Israel embora robustas em muitos aspectos têm lutado para abordar adequadamente as desigualdades e os conflitos internos muitas vezes exacerbando as tensões em vez de resolvêlas As críticas apontam que o sistema democrático de Israel com suas lacunas e deficiências muitas vezes falha em fornecer uma base sólida para uma coesão social duradoura e para uma resolução pacífica dos conflitos Em conclusão a sociedade israelense está mergulhada em uma crise de identidade e coesão que reflete as complexidades e contradições internas do sionismo A revisão crítica das narrativas fundadoras do Estado de Israel e a análise das tensões atuais revelam uma necessidade premente de reavaliar as bases ideológicas que sustentam o Estado O debate sobre o sionismo com suas práticas colonialistas e propostas nacionalistas continua a ser um campo de intensa discussão e análise As ambigüidades inerentes ao sionismo e suas implicações para a sociedade israelense são profundas e multifacetadas exigindo uma reflexão contínua sobre como esses elementos moldam a identidade nacional e a coesão social em Israel