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objetivos A U L A Multiculturalismo na sala de aula 1 Meta da aula Analisar a importância do estudo da História indígena no Brasil7 Esperamos que após o estudo do conteúdo desta aula você seja capaz de identificar a importância do conhecimento da História Indígena no Brasil reconhecer a necessidade do estudo da História Indígena em sala de aula Prérequisitos Para o bom acompanhamento desta aula sugerimos que você releia a Aula 3 da disciplina Fundamentos da Educação 3 Volume 1 que apresenta um breve histórico do surgimento do multiculturalismo Além disso é importante rever a Aula 3 do Volume 1 de História na Educação 1 assim como as Aulas 11 e 12 do Volume 2 podem ser igualmente úteis para esta aula pois elas tratam dos conceitos de cultura memória e identidade 80 C E D E R J Metodologia do Ensino da História Multiculturalismo na sala de aula 1 INTRODUÇÃO Para os índios povos na infância não há história há só etnografia disse Varnhagen no século XIX A sugestão parece ter sido bem aceita na historiografia brasileira na qual os índios têm tido participação inexpressiva aparecem grosso modo como atores coadjuvantes agindo sempre em função dos interesses alheios Aliás não agiam apenas reagiam a estímulos externos sempre colocados pelos europeus ALMEIDA 2003 p 27 A primeira constatação que se precisa fazer é que os povos indígenas possuem história e que tradicionalmente seu estudo foi desconsiderado pelos historiadores o que repercutiu seriamente na abordagem da temática na escola Podese perceber que não há um estudo sistematizado da História indígena na maioria das propostas curriculares o que se traduz numa abordagem efêmera das comunidades indígenas no contexto da colonização Obviamente essa perspectiva precisa ser revista Se já podemos notar uma preocupação crescente da história com a temática indígena é hora desse conhecimento acumulado ser traduzido em saber histórico escolar com urgência especialmente se adotarmos uma abordagem multicultural Como já sabemos a questão indígena está intimamente relacionada à história do multiculturalismo desde sua origem na década de 1960 nos EUA Nesse sentido é impossível pensar a sala de aula multicultural sem incorporar no caso do Brasil a História indígena O BRASIL O MITO FUNDADOR A América não estava aqui à espera de Colombo assim como o Brasil não estava aqui à espera de Cabral Não são descobertas ou como se dizia no século XVI achamentos São invenções históricas e construções culturais CHAUÍ 2000 p 57 A perspectiva de que o Brasil foi criado instituído e inventado é fundamental para o ensino de uma História indígena crítica e multicultural na sala de aula pois foi nesse contexto que se desenvolveu uma visão específica dos indígenas Segundo Chauí no período de conquista e colonização da América e do Brasil surgiram os elementos essenciais do mito fundador Algumas características do processo contribuíram para isso C E D E R J 81 AULA 7 Em primeiro lugar a influência exercida pela visão paradisíaca das terras Três foram os signos propagados do paraíso a abundância e a boa qualidade das águas o clima ameno e o que mais particularmente nos interessa nesta aula a qualidade da gente descrita como bela ativa simples e inocente É interessante registrar que apesar dessa descrição a inferioridade dos homens da terra é defendida desde cedo pelos europeus Para eles a subordinação e o cativeiro dos índios são obras da Natureza pois aos superiores cabe mandar nos inferiores Todavia em função do estado selvagem os índios não podem ser tidos como sujeitos de direito e como tais são escravos naturais CHAUÍ 2000 p 64 Obviamente o indígena não aceitou pacificamente essa posição de inferioridade e submissão As revoltas fugas e outras formas de resistência se multiplicaram no processo de conquista e colonização Nesse contexto surgiu uma outra visão preconceituosa sobre os nativos a natural indisposição do índio para a lavoura para o trabalho A percepção dos indígenas como preguiçosos e vagabundos se contrapôs no processo de substituição da mãodeobra escrava indígena pela africana à natural vocação do negro para o trabalho A segunda característica identificada por Chauí é dada pela perspectiva de uma história teológica ou providencialista isto é da história como realização do plano de Deus ou da vontade divina CHAUÍ 2000 p 70 Nesse sentido a percepção predominante do colonizador é a de que o destino histórico das terras achadas já está definido por Deus O colonizador é apenas o agente de sua realização Inscrevese nesse processo de conquista e colonização uma visão profética do futuro Os atos de cristianizar e de civilizar são portanto a realização da vontade divina Percebese claramente que o europeu se colocou como povo eleito de Deus como referência o que significou a negação do valor de todas as culturas encontradas dentre as quais se inserem as indígenas O etnocentrismo justificado teologicamente repercutiu no processo de colonização dos séculos XVI e XVII na América mas não se limitou a ele Essa convicção missionária produziu um desdobramento na atualidade podemos identificála nas justificativas que sustentam a política externa norteamericana no Oriente Médio 82 C E D E R J Metodologia do Ensino da História Multiculturalismo na sala de aula 1 Por fim Chauí ressalta o papel da sagração do governante em função da teoria do direito divino dos reis A percepção do rei como eleito de Deus favoreceu o processo de centralização política e a própria sacralização da figura do monarca No contexto da colonização esse processo significou a impossibi lidade de perpetuação de outras formas de organização social que não estivessem legitimadas pelo Estado O questionamento das decisões do monarca além de ser ilegal era expressão de heresia As lideranças indígenas tanto as políticas quanto as religiosas foram esvaziadas com a colonização Crescentemente as comunidades indígenas foram sendo controladas pelo Estado graças principalmente à contribuição decisiva dos jesuítas Os indígenas tornaramse assim súditos de um rei inquestionável por ser sagrado que tinha por função ser pastor de seu rebanho pela graça de Deus Contextualizar e problematizar o processo de conquista e de colonização européia da América é decisivamente o primeiro passo para a desmistificação da visão do bom selvagem indolente que pesa até hoje sobre a população indígena do continente americano permitindo uma efetiva reflexão de sua história 1 Leia com atenção as palavras de Pero Vaz de Caminha na carta que escreve a ElRei D Manuel sobre o achamento do Brasil Andam todos tão dispostos tão bemfeitos e galantes com suas tinturas que parecem bem Pareceme gente de tal inocência que se homem os entendesse e eles a nós seriam logo cristãos porque eles segundo parece não têm nem entendem nenhuma crença porque certo essa gente é boa e de boa simplicidade E pois Nosso Senhor que lhes deu bons corpos e bons rostos como a bons homens por aqui nos trouxe creio que não foi sem causa CHAUÍ 2000 p 60 a A quem Caminha se refere quando utiliza a palavra homem no texto b Justifique a seguinte afirmativa a visão de Caminha dos indígenas pode ser entendida como manifestação etnocêntrica c Sublinhe o trecho que ressalta a visão missionária do colonizador ATIVIDADE C E D E R J 83 AULA 7 RESPOSTA COMENTADA Percebese que Caminha utiliza a palavra homem sempre para se referir aos portugueses dando a entender que a gente do lugar se distingue qualitativamente dos europeus O texto identifica claramente que o olhar de referência é a cultura do escritor que considera os indígenas sem crença mas garante que sua cristianização seria fácil pois são inocentes e bons É de se destacar que Caminha identifica o achamento português como realização de Deus que possui um propósito A carta de Caminha merece ser lida para aprofundar a questão do mito fundador e da visão européia do indígena Em outro trecho da carta que menciono para sua reflexão Caminha registrou que a salvação da gente era o maior fruto que da terra se podia tirar considerando a empreitada a principal semente que o rei deveria lançar naquele primeiro momento A Desconsideração da Identidade Sou Pataxó sou Xavante e Cariri Ianomâmi sou Tupi Guarani sou Carajá Sou Pancararu Carijó Tupinajé Potiguar sou Caeté Fulniô Tupinambá NÓBREGA 2005 É com esse refrão que Antônio Nóbrega e Wilson Freire ilustram na música Chegança a diversidade encontrada pelos portugueses na América Essa diversidade contudo pode ser apagada se utilizarmos a designação corriqueira de índios sem a devida reflexão Em primeiro lugar a nomenclatura identifica os habitantes da terra com as Índias que os primeiro navegadores acreditavam ter chegado no 84 C E D E R J Metodologia do Ensino da História Multiculturalismo na sala de aula 1 final do século XV Em segundo lugar a denominação destruiu nome cultura história e passado das populações précolombianas constituindo uma imagem homogênea monocultural Por fim a designação índio carrega em si as marcas do processo de colonização associandose a outros significados como selvagens preguiçosos incivilizados Heck e Prezia 1998 sugerem o uso preferencial do nome do grupo para designar a comunidade mas também essa opção não elimina a deturpação colonizadora e não está livre de preconceito Exige também uma reflexão Boa parte dos nomes correntes na atualidade para designar os povos indígenas no Brasil não são autodenominações Tratase de nomes atribuídos por outros povos freqüentemente inimigos que os reconheciam por nomes pejorativos ou nomes dados por sertanistas do antigo Serviço de Proteção aos Índios SPI ou da Fundação Nacional do Índio FUNAI segundo Ricardo 1995 Os Kayapó são bom exemplo dessa inadequação das designações Esse nome genérico foi dado pelos povos inimigos de língua tupi e quer dizer semelhantes a macacos Os Araweté são outro exemplo Foram assim denominados por um sertanista da FUNAI após os primeiro contatos em meados da década de 1970 contudo estudos antropológicos identificaram que eles se reconhecem como bïdé um pronome que quer dizer nós os seres humanos Mais absurdos são os nomes em português que derivaram de observações superficiais da coletividade como os CintaLarga e BeiçodePau A diversidade cultural das comunidades indígenas portanto não é contemplada pela designação índio assim como a sua denominação específica não traduz um dado de identidade já que predomina uma visão externa sobre o grupo A grande diversidade cultural pode ser comprovada pela pluralidade lingüística Hoje existem cerca de 200 povos indígenas que falam mais ou menos 180 línguas o que evidencia que alguns povos perderam suas línguas Segundo estimativas acreditase que no momento da chegada dos portugueses no território que hoje identificamos como do Brasil havia 1300 línguas indígenas Essa redução assombrosa da diversidade lingüística relaciona se em grande parte ao desaparecimento dos indígenas As campanhas de extermínio a escravização as epidemias a desarticulação dos C E D E R J 85 AULA 7 meios de subsistência e a aculturação são fatores justificadores desse desaparecimento progressivo física ou culturalmente desde 1500 Em 1758 o marquês de Pombal proibiu oficialmente a utilização das línguas indígenas forçando o uso da língua do colonizador em todo território colonial Segundo o Censo de 2000 a população indígena no Brasil é de 701462 IBGE 2005 As projeções estatísticas apresentam números muito diversos para o período da chegada dos europeus As estimativas oscilam entre 35 e 10 milhões Em que pese a gritante diferença das projeções é fato que houve um verdadeiro genocídio Contudo os dados existentes informam que há um processo de recuperação demográfica das populações indígenas a partir da década de 1970 quando os indígenas somavam cerca de 97 mil indivíduos apenas Retornando à música Chegança Antônio Nóbrega e Wilson Freire falando em nome do indígena que assiste à chegada do europeu dizem E assustado dei um pulo da rede pressenti a fome a sede eu pensei vão me acabar Me levantei De borduna já na mão Ai senti no coração o Brasil vai começar genocídio Crime contra a humanidade que promove a destruição total ou parcial de um grupo nacional étnico racial ou religioso 86 C E D E R J Metodologia do Ensino da História Multiculturalismo na sala de aula 1 2 A partir da observação do mapa a identifique um aspecto que rompe com a visão tradicional sobre os indígenas b justifique a concentração espacial dos indígenas nas regiões Norte e CentroOeste RESPOSTA COMENTADA O mapa evidencia que ainda hoje persiste uma diversidade de povos indígenas rompendo com a visão monocultural que herdamos da colonização Em contrapartida observase claramente que a colonização exterminou ou expulsou de maneira geral as comunidades litorâneas Por isso os povos indígenas sobreviventes estão predominantemente nas regiões de baixa densidade populacional do Brasil ATIVIDADE Tupiguarani Jê Aruak Karib Pano Tukano Charrua Outros grupos Povos indígenas do Brasil na época do descobrimento Fonte Arruda 1991 p 35 C E D E R J 87 AULA 7 QUANDO OS SELVAGENS ENSINAM Em anos recentes antropólogos e biólogos vêm sendo estimulados a pesquisar e relatar o conhecimento indígena do seu meio ambiente e a forma como o manejam e dominam Esse intento levouos a desenvolver ramos associados entre etnologia e a biologia aos quais se deu o nome de etnobotânica etnozoologia etc RIBEIRO 1995 p 197 Ribeiro em seu artigo A contribuição dos povos indígenas à cultura brasileira analisa uma das vertentes da imensa contribuição cultural que os indígenas nos legaram As principais plantas que alimentam a humanidade foram descobertas e domesticadas pelos ameríndios São exemplos a batata a mandioca o milho a batatadoce o tomate o amendoim o cacau o abacaxi o caju e o mamão Sabemos que inúmeras espécies vegetais coletadas e usadas pelos indígenas foram exploradas pelos europeus inclusive através da introdução de cultivo em larga escala como é o caso da borracha Os conhecimentos sobre a utilização de palmeiras amêndoas oleaginosas e plantas medicinais não foram igualmente negligenciados pelos dominadores As palmeiras como buriti açaí babaçu e pupunha por exemplo eram amplamente aproveitadas Extraíamse o fruto o palmito a castanha a fibra e a madeira A castanhadopará os pinhões e o caju por sua vez são exemplos de oleaginosas que desempenharam grande papel na alimentação indígena além disso continuam a influenciar a alimentação regional e são amplamente comercializadas na atualidade Cabe destacar entretanto o caso das plantas medicinais que são base de grande parte de remédios consumidos por nós Infelizmente os povos indígenas não receberam o reconhecimento e o respeito da população mundial pelo acúmulo desses saberes transmitidos ao logo do processo de colonização Alguns exemplos são ilustrativos a copaíba é utilizada para a produção de remédios cicatrizantes a quinina foi até a década de 1930 o único antimalárico disponível no mundo a coca a partir do isolamento da cocaína permitiu a produção de anestésicos locais 88 C E D E R J Metodologia do Ensino da História Multiculturalismo na sala de aula 1 curare utilizado como veneno nas flechas mata por paralisia é a base para a extração da dTubocararina utilizada nas cirurgias cardíacas Seria exaustivo progredirmos nessa relação de contribuições mas é importante acrescentar a esse rol a ervamate o guaraná o tabaco o algodão e a piaçava cujos produtos deles derivados se destacam na indústria e no comércio internacional Destacamse no saber etnozoológico as estratégias e técnicas de manejo visando à preservação Dentre elas merecem referência a organização em pequenos grupos populacionais dispersos que minimizavam o impacto da exploração humana a presença de áreas de nãoexploração como reservas naturais a mobilidade constante das roças e aldeias permitindo a recuperação do ambiente o controle da natalidade etc Os indígenas desenvolveram a tecnologia de navegação em canoas e pesqueiras Criavam em currais tartarugas e pescavam com arpão o pirarucu por exemplo Também desenvolveram técnicas de caça como o caçar na roça estratégia em que os animais eram atraídos para um local com alimentos onde eram caçados O conhecimento dos hábitos dos animais era fundamental para o sucesso da caça e constitui uma reserva de conhecimento inestimável de nossa fauna A queimada a coivara e a rotação de culturas foram as práticas mais desenvolvidas pelas comunidades indígenas agrícolas A técnica da queimada perdura até hoje no Brasil mas era utilizada pelos ameríndios em pequena escala Considerando que a agricultura era itinerante essa prática da queimada não produzia o desgaste do ambiente como na atualidade Não é possível nesta aula esgotarmos a questão das contribuições dos ameríndios para a cultura brasileira Teríamos ainda de falar nos mitos e lendas nas palavras que incorporamos ao português como jacaré cuia e samambaia e tratar do artesanato no qual se destacam a cerâmica a cestaria a tecelagem e a produção de adornos de corpo coivara Restos ou pilha de ramagens não atingidas pela queimada reunidas para serem novamente incineradas a fim de limpar o terreno e adubálo com as cinzas para instalar a lavoura C E D E R J 89 AULA 7 3 A partir da leitura deste seguimento da sua aula você pode refletir sobre o processo de aculturação promovido pela colonização de forma mais crítica Se é inegável que os dominadores impuseram aos ameríndios sua cultura esse encontro de culturas não se deu em mão única Nesse sentido podemos dizer que todo processo de aculturação é bilateral Explique RESPOSTA COMENTADA Sabemos que o encontro de culturas vivenciado na América não foi uma festa Sabemos também que as culturas ameríndias foram duramente penalizadas pela ação do colonizador Contudo esse processo de troca cultural não foi unilateral isto é os ameríndios também influenciaram a cultura do colonizador Essa percepção é fundamental para creditarmos aos indígenas a paternidade de uma parcela significativa da cultura brasileira ATIVIDADE CONCLUSÃO A presença da História indígena na sala de aula é fundamental para a constituição de uma sociedade na qual a diversidade é valorizada e respeitada Reconhecer a riqueza cultural dos indígenas e suas contribuições para a construção da chamada cultura brasileira é o primeiro passo para o repúdio à imagem do selvagem preguiçoso que a colonização nos deixou como herança A revisão da nossa relação com os povos indígenas não vai apagar a tragédia histórica do genocídio que marca a origem do Brasil mas pode promover a recusa à exclusão o reconhecimento efetivo para além da lei dos direitos dos povos indígenas Essa reflexão pode servir de subsídio para análise de situações contemporâneas que ainda insistem em propor a superioridade cultural de uns sobre os outros aos quais cabe a tarefa a missão de civilizar os inferiores 90 C E D E R J Metodologia do Ensino da História Multiculturalismo na sala de aula 1 ATIVIDADE FINAL Observe a tabela Estimativas numéricas da população indígena Paísregião Séc XVI Séc XVII Séc XVIII 1970 1992 América Latina 80000000 10000000 8000000 25000000 37735000 México 25200000 1075000 2470000 12000000 Rep Dominicana 100000 300 0 0 0 Brasil 3500000 250000 97000 355000 A análise das estimativas denuncia o genocídio promovido pelos europeus na América mas permite constatar que a resistência indígena produziu ao longo do tempo resultados também positivos Justifique RESPOSTA COMENTADA Observe como o declínio da população indígena foi acentuado no primeiro século de conquista e colonização Mesmo que os números não sejam precisos é inegável que houve índices exorbitantes de mortalidade indígena que configuram um genocídio Em que pese o desaparecimento de milhões de ameríndios e de alguns povos inteiros é importante ressaltar que os indígenas aculturados ou não resistiram O crescimento das populações indígenas é sinal de um movimento de recuperação e reconstrução da identidade dessas populações Fonte Heck Prezia 1998 p 19 É importante refletir sobre a visão colonizadora dos indígenas e do pagamento da identidade dos povos nativos assim como as informações sobre as contribuições culturais por nós herdadas são fundamentais para se traçar um painel cultural de nosso país R E S U M O C E D E R J 91 AULA 7 LEITURAS RECOMENDADAS HECK Egon PREZIA Benedito Povos indígenas terra é vida São Paulo Atual 1998 Leitura obrigatória já que apresenta um panorama sintético relativamente atual e acessível da temática BOFF Leonardo O casamento entre o céu e a terra contos dos povos indígenas do Brasil Rio de Janeiro Salamandra 2001 Além de compilar trinta contos tradicionalmente chamados mitos e lendas a obra apresenta uma segunda parte com informações bastante atualizadas sobre os indígenas SILVA Aracy Lopes GRUPIONI Luís Donisete Benzi Org A temática indígena na escola novos subsídios para professores de 1o e 2o graus Brasília MEC 1995 Obra essencial para quem deseja aprofundar seus conhecimentos sobre a temática para aplicação pedagógica CHAUÍ Marilena Brasil mito fundador e sociedade autoritária São Paulo Fundação Perseu AbramoCUT 2000 Notadamente deve ser lido o capítulo O Mito Fundador que aprofunda a questão abordada sinteticamente na aula SiteS RECOMENDADOS wwwamoakonoyacombr wwwcimiorgbr wwwfunaigovbr wwwibgegovbr wwwindioorgbr wwwsocioambientalorg wwwtrabalhoindigenistaorgbr INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula você terá acesso à discussão do multiculturalismo na sala de aula a partir da abordagem da História da África e do negro no Brasil
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aceita na historiografia brasileira na qual os índios têm tido participação inexpressiva aparecem grosso modo como atores coadjuvantes agindo sempre em função dos interesses alheios Aliás não agiam apenas reagiam a estímulos externos sempre colocados pelos europeus ALMEIDA 2003 p 27 A primeira constatação que se precisa fazer é que os povos indígenas possuem história e que tradicionalmente seu estudo foi desconsiderado pelos historiadores o que repercutiu seriamente na abordagem da temática na escola Podese perceber que não há um estudo sistematizado da História indígena na maioria das propostas curriculares o que se traduz numa abordagem efêmera das comunidades indígenas no contexto da colonização Obviamente essa perspectiva precisa ser revista Se já podemos notar uma preocupação crescente da história com a temática indígena é hora desse conhecimento acumulado ser traduzido em saber histórico escolar com urgência especialmente se adotarmos uma abordagem multicultural Como já sabemos a questão indígena está intimamente relacionada à história do multiculturalismo desde sua origem na década de 1960 nos EUA Nesse sentido é impossível pensar a sala de aula multicultural sem incorporar no caso do Brasil a História indígena O BRASIL O MITO FUNDADOR A América não estava aqui à espera de Colombo assim como o Brasil não estava aqui à espera de Cabral Não são descobertas ou como se dizia no século XVI achamentos São invenções históricas e construções culturais CHAUÍ 2000 p 57 A perspectiva de que o Brasil foi criado instituído e inventado é fundamental para o ensino de uma História indígena crítica e multicultural na sala de aula pois foi nesse contexto que se desenvolveu uma visão específica dos indígenas Segundo Chauí no período de conquista e colonização da América e do Brasil surgiram os elementos essenciais do mito fundador Algumas características do processo contribuíram para isso C E D E R J 81 AULA 7 Em primeiro lugar a influência exercida pela visão paradisíaca das terras Três foram os signos propagados do paraíso a abundância e a boa qualidade das águas o clima ameno e o que mais particularmente nos interessa nesta aula a qualidade da gente descrita como bela ativa simples e inocente É interessante registrar que apesar dessa descrição a inferioridade dos homens da terra é defendida desde cedo pelos europeus Para eles a subordinação e o cativeiro dos índios são obras da Natureza pois aos superiores cabe mandar nos inferiores Todavia em função do estado selvagem os índios não podem ser tidos como sujeitos de direito e como tais são escravos naturais CHAUÍ 2000 p 64 Obviamente o indígena não aceitou pacificamente essa posição de inferioridade e submissão As revoltas fugas e outras formas de resistência se multiplicaram no processo de conquista e colonização Nesse contexto surgiu uma outra visão preconceituosa sobre os nativos a natural indisposição do índio para a lavoura para o trabalho A percepção dos indígenas como preguiçosos e vagabundos se contrapôs no processo de substituição da mãodeobra escrava indígena pela africana à natural vocação do negro para o trabalho A segunda característica identificada por Chauí é dada pela perspectiva de uma história teológica ou providencialista isto é da história como realização do plano de Deus ou da vontade divina CHAUÍ 2000 p 70 Nesse sentido a percepção predominante do colonizador é a de que o destino histórico das terras achadas já está definido por Deus O colonizador é apenas o agente de sua realização Inscrevese nesse processo de conquista e colonização uma visão profética do futuro Os atos de cristianizar e de civilizar são portanto a realização da vontade divina Percebese claramente que o europeu se colocou como povo eleito de Deus como referência o que significou a negação do valor de todas as culturas encontradas dentre as quais se inserem as indígenas O etnocentrismo justificado teologicamente repercutiu no processo de colonização dos séculos XVI e XVII na América mas não se limitou a ele Essa convicção missionária produziu um desdobramento na atualidade podemos identificála nas justificativas que sustentam a política externa norteamericana no Oriente Médio 82 C E D E R J Metodologia do Ensino da História Multiculturalismo na sala de aula 1 Por fim Chauí ressalta o papel da sagração do governante em função da teoria do direito divino dos reis A percepção do rei como eleito de Deus favoreceu o processo de centralização política e a própria sacralização da figura do monarca No contexto da colonização esse processo significou a impossibi lidade de perpetuação de outras formas de organização social que não estivessem legitimadas pelo Estado O questionamento das decisões do monarca além de ser ilegal era expressão de heresia As lideranças indígenas tanto as políticas quanto as religiosas foram esvaziadas com a colonização Crescentemente as comunidades indígenas foram sendo controladas pelo Estado graças principalmente à contribuição decisiva dos jesuítas Os indígenas tornaramse assim súditos de um rei inquestionável por ser sagrado que tinha por função ser pastor de seu rebanho pela graça de Deus Contextualizar e problematizar o processo de conquista e de colonização européia da América é decisivamente o primeiro passo para a desmistificação da visão do bom selvagem indolente que pesa até hoje sobre a população indígena do continente americano permitindo uma efetiva reflexão de sua história 1 Leia com atenção as palavras de Pero Vaz de Caminha na carta que escreve a ElRei D Manuel sobre o achamento do Brasil Andam todos tão dispostos tão bemfeitos e galantes com suas tinturas que parecem bem Pareceme gente de tal inocência que se homem os entendesse e eles a nós seriam logo cristãos porque eles segundo parece não têm nem entendem nenhuma crença porque certo essa gente é boa e de boa simplicidade E pois Nosso Senhor que lhes deu bons corpos e bons rostos como a bons homens por aqui nos trouxe creio que não foi sem causa CHAUÍ 2000 p 60 a A 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de colonização associandose a outros significados como selvagens preguiçosos incivilizados Heck e Prezia 1998 sugerem o uso preferencial do nome do grupo para designar a comunidade mas também essa opção não elimina a deturpação colonizadora e não está livre de preconceito Exige também uma reflexão Boa parte dos nomes correntes na atualidade para designar os povos indígenas no Brasil não são autodenominações Tratase de nomes atribuídos por outros povos freqüentemente inimigos que os reconheciam por nomes pejorativos ou nomes dados por sertanistas do antigo Serviço de Proteção aos Índios SPI ou da Fundação Nacional do Índio FUNAI segundo Ricardo 1995 Os Kayapó são bom exemplo dessa inadequação das designações Esse nome genérico foi dado pelos povos inimigos de língua tupi e quer dizer semelhantes a macacos Os Araweté são outro exemplo Foram assim denominados por um sertanista da FUNAI após os primeiro contatos em meados da década de 1970 contudo estudos antropológicos identificaram que eles se reconhecem como bïdé um pronome que quer dizer nós os seres humanos Mais absurdos são os nomes em português que derivaram de observações superficiais da coletividade como os CintaLarga e BeiçodePau A diversidade cultural das comunidades indígenas portanto não é contemplada pela designação índio assim como a sua denominação específica não traduz um dado de identidade já que predomina uma visão externa sobre o grupo A grande diversidade cultural pode ser comprovada pela pluralidade lingüística Hoje existem cerca de 200 povos indígenas que falam mais ou menos 180 línguas o que evidencia que alguns povos perderam suas línguas Segundo estimativas acreditase que no momento da chegada dos portugueses no território que hoje identificamos como do Brasil havia 1300 línguas indígenas Essa redução assombrosa da diversidade lingüística relaciona se em grande parte ao desaparecimento dos indígenas As campanhas de extermínio a escravização as epidemias a desarticulação dos C E D E R J 85 AULA 7 meios de subsistência e a aculturação são fatores justificadores desse desaparecimento progressivo física ou culturalmente desde 1500 Em 1758 o marquês de Pombal proibiu oficialmente a utilização das línguas indígenas forçando o uso da língua do colonizador em todo território colonial Segundo o Censo de 2000 a população indígena no Brasil é de 701462 IBGE 2005 As projeções estatísticas apresentam números muito diversos para o período da chegada dos europeus As estimativas oscilam entre 35 e 10 milhões Em que pese a gritante diferença das projeções é fato que houve um verdadeiro genocídio Contudo os dados existentes informam que há um processo de recuperação demográfica das populações indígenas a partir da década de 1970 quando os indígenas somavam cerca de 97 mil indivíduos apenas Retornando à música Chegança Antônio Nóbrega e Wilson Freire falando em nome do indígena que assiste à chegada do europeu dizem E assustado dei um pulo da rede pressenti a fome a sede eu pensei vão me acabar Me levantei De borduna já na mão Ai senti no coração o Brasil vai começar genocídio Crime contra a humanidade que promove a destruição total ou parcial de um grupo nacional étnico racial ou religioso 86 C E D E R J Metodologia do Ensino da História Multiculturalismo na sala de aula 1 2 A partir da observação do mapa a identifique um aspecto que rompe com a visão tradicional sobre os indígenas b justifique a concentração espacial dos indígenas nas regiões Norte e CentroOeste RESPOSTA COMENTADA O mapa evidencia que ainda hoje persiste uma diversidade de povos indígenas rompendo com a visão monocultural que herdamos da colonização Em contrapartida observase claramente que a colonização exterminou ou expulsou de maneira geral as comunidades litorâneas Por isso os povos indígenas sobreviventes estão predominantemente nas regiões de baixa densidade populacional do Brasil ATIVIDADE Tupiguarani Jê Aruak Karib Pano Tukano Charrua Outros grupos Povos indígenas do Brasil na época do descobrimento Fonte Arruda 1991 p 35 C E D E R J 87 AULA 7 QUANDO OS SELVAGENS ENSINAM Em anos recentes antropólogos e biólogos vêm sendo estimulados a pesquisar e relatar o conhecimento indígena do seu meio ambiente e a forma como o manejam e dominam Esse intento levouos a desenvolver ramos associados entre etnologia e a biologia aos quais se deu o nome de etnobotânica etnozoologia etc RIBEIRO 1995 p 197 Ribeiro em seu artigo A contribuição dos povos indígenas à cultura brasileira analisa uma das vertentes da imensa contribuição cultural que os indígenas nos legaram As principais plantas que alimentam a humanidade foram descobertas e domesticadas pelos ameríndios São exemplos a batata a mandioca o milho a batatadoce o tomate o amendoim o cacau o abacaxi o caju e o mamão Sabemos que inúmeras espécies vegetais coletadas e usadas pelos indígenas foram exploradas pelos europeus inclusive através da introdução de cultivo em larga escala como é o caso da borracha Os conhecimentos sobre a utilização de palmeiras amêndoas oleaginosas e plantas medicinais não foram igualmente negligenciados pelos dominadores As palmeiras como buriti açaí babaçu e pupunha por exemplo eram amplamente aproveitadas Extraíamse o fruto o palmito a castanha a fibra e a madeira A castanhadopará os pinhões e o caju por sua vez são exemplos de oleaginosas que desempenharam grande papel na alimentação indígena além disso continuam a influenciar a alimentação regional e são amplamente comercializadas na atualidade Cabe destacar entretanto o caso das plantas medicinais que são base de grande parte de remédios consumidos por nós Infelizmente os povos indígenas não receberam o reconhecimento e o respeito da população mundial pelo acúmulo desses saberes transmitidos ao logo do processo de colonização Alguns exemplos são ilustrativos a copaíba é utilizada para a produção de remédios cicatrizantes a quinina foi até a década de 1930 o único antimalárico disponível no mundo a coca a partir do isolamento da cocaína permitiu a produção de anestésicos locais 88 C E D E R J Metodologia do Ensino da História Multiculturalismo na sala de aula 1 curare utilizado como veneno nas flechas mata por paralisia é a base para a extração da dTubocararina utilizada nas cirurgias cardíacas Seria exaustivo progredirmos nessa relação de contribuições mas é importante acrescentar a esse rol a ervamate o guaraná o tabaco o algodão e a piaçava cujos produtos deles derivados se destacam na indústria e no comércio internacional Destacamse no saber etnozoológico as estratégias e técnicas de manejo visando à preservação Dentre elas merecem referência a organização em pequenos grupos populacionais dispersos que minimizavam o impacto da exploração humana a presença de áreas de nãoexploração como reservas naturais a mobilidade constante das roças e aldeias permitindo a recuperação do ambiente o controle da natalidade etc Os indígenas desenvolveram a tecnologia de navegação em canoas e pesqueiras Criavam em currais tartarugas e pescavam com arpão o pirarucu por exemplo Também desenvolveram técnicas de caça como o caçar na roça estratégia em que os animais eram atraídos para um local com alimentos onde eram caçados O conhecimento dos hábitos dos animais era fundamental para o sucesso da caça e constitui uma reserva de conhecimento inestimável de nossa fauna A queimada a coivara e a rotação de culturas foram as práticas mais desenvolvidas pelas comunidades indígenas agrícolas A técnica da queimada perdura até hoje no Brasil mas era utilizada pelos ameríndios em pequena escala Considerando que a agricultura era itinerante essa prática da queimada não produzia o desgaste do ambiente como na atualidade Não é possível nesta aula esgotarmos a questão das contribuições dos ameríndios para a cultura brasileira Teríamos ainda de falar nos mitos e lendas nas palavras que incorporamos ao português como jacaré cuia e samambaia e tratar do artesanato no qual se destacam a cerâmica a cestaria a tecelagem e a produção de adornos de corpo coivara Restos ou pilha de ramagens não atingidas pela queimada reunidas para serem novamente incineradas a fim de limpar o terreno e adubálo com as cinzas para instalar a lavoura C E D E R J 89 AULA 7 3 A partir da leitura deste seguimento da sua aula você pode refletir sobre o processo de aculturação promovido pela colonização de forma mais crítica Se é inegável que os dominadores impuseram aos ameríndios sua cultura esse encontro de culturas não se deu em mão única Nesse sentido podemos dizer que todo processo de aculturação é bilateral Explique RESPOSTA COMENTADA Sabemos que o encontro de culturas vivenciado na América não foi uma festa Sabemos também que as culturas ameríndias foram duramente penalizadas pela ação do colonizador Contudo esse processo de troca cultural não foi unilateral isto é os ameríndios também influenciaram a cultura do colonizador Essa percepção é fundamental para creditarmos aos indígenas a paternidade de uma parcela significativa da cultura brasileira ATIVIDADE CONCLUSÃO A presença da História indígena na sala de aula é fundamental para a constituição de uma sociedade na qual a diversidade é valorizada e respeitada Reconhecer a riqueza cultural dos indígenas e suas contribuições para a construção da chamada cultura brasileira é o primeiro passo para o repúdio à imagem do selvagem preguiçoso que a colonização nos deixou como herança A revisão da nossa relação com os povos indígenas não vai apagar a tragédia histórica do genocídio que marca a origem do Brasil mas pode promover a recusa à exclusão o reconhecimento efetivo para além da lei dos direitos dos povos indígenas Essa reflexão pode servir de subsídio para análise de situações contemporâneas que ainda insistem em propor a superioridade cultural de uns sobre os outros aos quais cabe a tarefa a missão de civilizar os inferiores 90 C E D E R J Metodologia do Ensino da História Multiculturalismo na sala de aula 1 ATIVIDADE FINAL Observe a tabela Estimativas numéricas da população indígena Paísregião Séc XVI Séc XVII Séc XVIII 1970 1992 América Latina 80000000 10000000 8000000 25000000 37735000 México 25200000 1075000 2470000 12000000 Rep Dominicana 100000 300 0 0 0 Brasil 3500000 250000 97000 355000 A análise das estimativas denuncia o genocídio promovido pelos europeus na América mas permite constatar que a resistência indígena produziu ao longo do tempo resultados também positivos Justifique RESPOSTA COMENTADA Observe como o declínio da população indígena foi acentuado no primeiro século de conquista e colonização Mesmo que os números não sejam precisos é inegável que houve índices exorbitantes de mortalidade indígena que configuram um genocídio Em que pese o desaparecimento de milhões de ameríndios e de alguns povos inteiros é importante ressaltar que os indígenas aculturados ou não resistiram O crescimento das populações indígenas é sinal de um movimento de recuperação e reconstrução da identidade dessas populações Fonte Heck Prezia 1998 p 19 É importante refletir sobre a visão colonizadora dos indígenas e do pagamento da identidade dos povos nativos assim como as informações sobre as contribuições culturais por nós herdadas são fundamentais para se traçar um painel cultural de nosso país R E S U M O C E D E R J 91 AULA 7 LEITURAS RECOMENDADAS HECK Egon PREZIA Benedito Povos indígenas terra é vida São Paulo Atual 1998 Leitura obrigatória já que apresenta um panorama sintético relativamente atual e acessível da temática BOFF Leonardo O casamento entre o céu e a terra contos dos povos indígenas do Brasil Rio de Janeiro Salamandra 2001 Além de compilar trinta contos tradicionalmente chamados mitos e lendas a obra apresenta uma segunda parte com informações bastante atualizadas sobre os indígenas SILVA Aracy Lopes GRUPIONI Luís Donisete Benzi Org A temática indígena na escola novos subsídios para professores de 1o e 2o graus Brasília MEC 1995 Obra essencial para quem deseja aprofundar seus conhecimentos sobre a temática para aplicação pedagógica CHAUÍ Marilena Brasil mito fundador e sociedade autoritária São Paulo Fundação Perseu AbramoCUT 2000 Notadamente deve ser lido o capítulo O Mito Fundador que aprofunda a questão abordada sinteticamente na aula SiteS RECOMENDADOS wwwamoakonoyacombr wwwcimiorgbr wwwfunaigovbr wwwibgegovbr wwwindioorgbr wwwsocioambientalorg wwwtrabalhoindigenistaorgbr INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula você terá acesso à discussão do multiculturalismo na sala de aula a partir da abordagem da História da África e do negro no Brasil