Resenha George Kennan e a Guerra Fria - Diplomacia e Contenção

2211 A montagem da Guerra Fria Leitura Munhoz Sidnei George Frost Kennan e a arquitetura da política externa dos EUA na gênese da Guerra Fria Diálogos v 22 n1 2018 p 2643 ENTREGA DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO MUNHOZ Sidnei J George Frost Kennan e a arquitetura da política externa dos EUA na gênese da Guerra Fria Diálogos v 22 n1 2018 p 2643 Em seu artigo o professor Sidnei J Munhoz nos fala sobre o papel desempenhado pelo diplomata George Frost Kennan durante o conflito político ideológico travado por Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS após a Segunda Guerra Mundial na qual as duas nações despontaram como grandes potências econômicas políticas e militares Nesse interim Kennan se destacou com elaboração de uma política externa dos Estados Unidos e uma posição de destaque e personalidade um tanto contraditório em seu posicionamento Dessa forma nos propomos a refletir sobre os principais argumentos do autor quanto a atuação de Kennan na diplomacia bem como a partir de seu pressuposto de que a União Soviética se apresentava como principal ameaça não pela questão militar mas pela sua capacidade de influência ideológica e com base nesse argumento formulou sua proposta do Plano de Contenção e posteriormente no Plano Marshall que contribuíram para outros desdobramentos na política norteamericana Assim faremos uma breve apresentação das principais ideias e discursos que permearam a carreira do diplomata e seus reflexos no cenário americano e soviético George Frost Kennan nasceu em 16 de fevereiro de 1904 em Milwaukee Wisconsin Aos 8 anos foi residir na Alemanha com sua madrasta período em que aprendeu alemão que lhe foi muito útil ao iniciar sua carreira diplomática Em sua família havia uma longa história de contato com o mundo russo o que acabou influenciando o jovem em sua formação e posterior discurso quanto ao mundo russo Kennan estudou na St Johns Military Academy e na sequência cursou História em Princeton onde se graduou em 1925 Em 1926 ingressou sua carreira passando por vários cargos diplomáticos ao longo de sua trajetória Após o final da Segunda Guerra Mundial de um lado se destaca o Estado Unidos como a maior potência vitoriosa detentores de tecnologia nuclear almejavam o posto de maior e única potência mundial E do outro lado a URSS embora abalada pelo recente conflito mundial surgia como a segunda grande potência global Nesse cenário as duas potências passaram a adotar estratégias de influência em respectivos países com vistas a manter sua hegemonia e controle através de cada uma de suas ideologias Inicialmente Munhoz dialoga com Bradley e nos expõe que na visão desse autor tanto os EUA quanto a União Soviética deram pouca importância as lutas por independência no Hemisfério Sul pois estavam mais focados em outros problemas relacionados a Europa Mas com a vitória comunista na China e o início da Guerra da Coréia aos ânimos começam a ficar mais acirrados entre as duas nações Do ponto de vista do autor essa perspectiva é relativa pois de 1947 a 1949 houve um movimento de intensificação do conflito que tenderam a mundialização e com o desenlace do movimento chinês e da Guerra da Coréia esse processo segundo o autor ganhou uma nova dimensão Dessa maneira Munhoz a partir de sua exposição vê que o conflito foi interpretado de maneiras distintas e para o autor o conflito estava cada vez mais se intensificando e não somente depois desses fatos citados acima mas esses fatores contribuíram para ampliar suas dimensões principalmente com relação a tentativa de influenciar as nações quanto as ideologias comunista e capitalista Com a intensificação do conflito a propaganda política de ambos os lados também se intensifica pois cada um interpretava o movimento do outro conforme seus valores e os traduzia as populações locais Assim observamos os discursos justificativos que se concentravam em ideologias essas vistas como um conjunto de princípios e valores que orientavam os comportamento e representações que justificavam uma ação ou mesmo um movimento de interferência em muitos países discursos de uma luta entre o bem e o mau a paz e a guerra camuflavam um conflito que tinham interesses muito mais amplos Posto isso vamos nos ater as principais ideias defendidas por Kennan Diante do contexto de crescentes desavenças entre EUA e URSS o diplomata propôs a chamada Doutrina de Contenção como objetivo de contar qualquer suposta ação de extensão da URSS Em fevereiro de 1946 o mesmo enviou uma mensagem conhecida como longo telegrama no qual analisa a condução da política externa soviética e vincula a ideologia comunista as políticas domésticas do Kremlin e orienta a uma estratégia de relacionamento entre os dois países Para o diplomata os EUA deveriam se colocar como uma liderança no mundo democrático e auxiliar outras nações a superar seus problemas de ordem democrática Também orientava que os EUA deveriam evitar um confronto direto com a União Soviética Dentro dessa reflexão Munhoz nos traz a concepção de Stephanson esse nos afirma que Kennan possuía uma ótica sobre a questão da ideologia na URSS distinta das duas posições antagônicas então existentes nos EUA MUNHOZ 2018 pág 10 De um lado o diplomata defendia que tudo o que acontecia na URSS era em razão da ideologia presente e de outra afirmava que a ideologia era mera fachada para atingir outros objetivos Percebemos nessa fala uma discordância de opinião do próprio diplomata que ainda oscilou outras vezes em falas registradas por terceiros Ainda dentro da discussão sobre ideologia Kennan entendia que essa não era tudo pois era produto das necessidades do sistema comunista vigente na União Soviética mas como no pontua o autor não poderia ser constituído de forma mecânica que fazia parte da preservação do poder autoritário e dos quais boa parte do mundo não concordava para isso foram desenvolvidos dentro do regime soviético aparatos de segurança para a manutenção do mesmo Desse modo com a publicação de seus escritos em um periódico da época usando o pseudônimo de Mr X o que lhe gerou críticas novamente Stephanson defende que a visão sobre o conflito entre os dois países para Kennan não se reduzia a uma questão ideológica Mas o criador da Doutrina da Contenção via na ideologia o único aspecto positivo do regime que para ele significava crueldade e sofrimento dos que estivessem sob o domínio desse regime Assim construiu uma terceira alternativa que oscilava entre um campo e outro por isso da diferença entre suas falas Já em outro escrito Kennan discorre sobre as características do poder soviético bem como da interpretação do Kremlin sobre o sistema capitalista e do poder soviético o diplomata defendia que deveria haver uma contenção duradoura e vigilante a expansão da URSS e essa nação não estava em busca de paz e sim numa estratégia de pressão com o objetivo de desacreditar e reduzir o poder global norteamericana Sua ótica se diferenciava de outros estrategistas americanos ao reafirmar que a principal ameaça não era militar mas sim ideológica pela sua capacidade de sedução Dentro dessa perspectiva ele propunha que os EUA deveriam propor a união das principais correntes ideológicas e comandar as democracias rumo a um futuro promissor E por esse viés o regime soviético se enfraqueceria diante de suas próprias contradições Observamos a partir de nossa visão que Kennan queria combater uma ideologia propondo outra ideologia que enfraquecesse ou mesmo apagasse a influência da ideologia comunista entre os países simpatizantes ou possíveis aderentes desse regime Por conseguinte se prevê uma ação imperialista norte americana forte e capaz de influenciar e interferir em outras nações algumas ainda em desenvolvimento e que influenciou muitas estratégias de dominação política naquele período que encontra resquícios imperialistas e justificativas de dominação até nossos dias atuais Entre os anos de 1946 e 1947 Kennan conquistou respeito e espaço na equipe de governo dos EUA e assim foi criado uma equipe para produzir uma análise da política global e solicitado a Kennan um plano destinado a recuperação da Europa e em 1947 foi apresentado o Plano Marshall como um programa de ajuda econômica aos países da Europa Ocidental Nesse contexto Munhoz nos traz a tese de Michael Hogan no qual esse alega que o principal objetivo do Plano Marshall era criar uma nova ordem internacional através da expansão do modelo econômico e das instituições e valores norte americanos e o plano apesar de apresentar alguns percalços foi considerado um sucesso Posteriormente o diplomata começou a ficar descontente e fazer críticas da forma como a sua doutrina da contenção estava sendo implementada com uma visão distorcida de sua essência Pois a corrida armamentista tinha se intensificado Também fez críticas a criação da OTAN e outros envolvimentos dos EUA em outros conflitos O que culminou em seu afastamento e marginalização no governo Portanto concluímos ressaltando a imagem emblemática de Kennan responsável pela formulação de projetos expansionistas e imperialistas da política americana bem como a interpretação que diversos intelectuais fizeram a seu respeito principalmente quanto a concepção de que tinha sobre o regime soviético e sua ideologia trabalhando numa dinâmica de evitar um conflito direto e armamentista Tornase essencial fazermos novas releituras do conflito entre EUA e União Soviética das ideologias predominantes naquele contexto Da qual podemos fazer uma ponte com as ideologias insurgentes de extrema direita no Brasil munidos de aspectos religiosos e fanatismo e que tem influenciado milhares de pessoas bem como ao novos formatos imperialistas e exploratórios no qual alguns desses se camuflam em discursos democráticos de desenvolvimento progresso e globalização e assim percebemos a importância e influência que as diversas ideologias ainda exercem em nosso cotidiano e ditam os processos e trajetórias históricas econômicas políticas e sociais de uma nação