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A identidade cultural na pósmodernidade 4ª edição Stuart Hall Tradução Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro DPA editora 3 As culturas nacionais como comunidades imaginadas Tendo descrito as mudanças conceptuais pelas quais os conceitos de sujeito e identidade da modernidade tardia e da pósmodernidade emergiram me voltarei agora para a questão de como este sujeito fragmentado é colocado em termos de suas identidades culturais A identidade cultural particular com a qual estou preocupado é a identidade nacional embora outros aspectos estejam aí implicados O que está acontecendo à identidade cultural na modernidade tardia Especificamente como as identidades culturais nacionais estão sendo afetadas ou deslocadas pelo processo de globalização No mundo moderno as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural Ao nos definirmos algumas vezes dizemos que somos ingleses ou galeses ou indianos ou jamaicanos Obviamente ao fazer isso estamos falando de forma metafórica Essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes Entretanto nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial 47 A identidade cultural na pósmodernidade filósofo conservador Roger Scruton argumenta que A condição de homem sic exige que o indivíduo embora exista e aja como um ser autônomo faça isso somente porque ele pode primeiramente identificar a si mesmo como algo mais amplo como um membro de uma sociedade grupo classe estado ou nação de algum arranjo ao qual ele pode até não dar um nome mas que ele reconhece instintivamente como seu lar Scruton 1986 p 156 Ernest Gellner a partir de uma posição mais liberal também acredita que sem um sentimento de identificação nacional o sujeito moderno experimentaria um profundo sentimento de perda subjetiva A ideia de um homem sic sem uma nação parece impor uma grande tensão à imaginação moderna Um homem deve ter uma nacionalidade assim como deve ter um nariz e duas orelhas Tudo isso parece óbvio embora sinto não seja verdade Mas que isso viesse a parecer tão obviamente verdadeiro é de fato um aspecto talvez o mais central do problema do nacionalismo Ter uma nação não é um atributo inerente da humanidade mas aparece agora como tal Gellner 1983 p 6 O argumento que estarei considerando aqui é que na verdade as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos mas são formadas e transformadas no interior da representação Nós só sabemos o que significa ser 48 inglês devido ao modo como a inglêsidade Englishness veio a ser representada como um conjunto de significados pela cultura nacional inglesa Seguese que a nação não é apenas uma entidade política mas algo que produz sentidos um sistema de representação cultural As pessoas não são apenas cidadãosãs legais de uma nação elas participam da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacionalUma nação é uma comunidade simbólica e é isso que explica seu poder para gerar um sentimento de identidade e lealdade Schwarz 1986 p106 As culturas nacionais são uma forma distintivamente moderna A lealdade e a identificação que numa era prémoderna ou em sociedades mais tradicionais eram dadas à tribo ao povo à religião e à região foram transferidas gradualmente nas sociedades ocidentais à cultura nacional As diferenças regionais e étnicas foram gradualmente sendo colocadas de forma subordinada sob aquilo que Gellner chama de teto político do estadonação que se tornou assim uma fonte poderosa de significados para as identidades culturais modernas A formação de uma cultura nacional contribuiu para criar padrões de alfabetização universais generalizou uma única língua vernacular como o meio dominante de comunicação em toda a nação criou uma cultura homogênea e manteve instituições culturais nacionais como por exemplo um sistema educacional nacional Dessa e de outras formas a cultura nacional se tornou uma característicachave da industrialização e um dispositivo da modernidade Não obstante há outros aspectos de uma cultura nacional que a empurram numa direção diferente trazendo à tona o que Homi Bhabha chama de a ambivalência particular que assombra a ideia da nação Bhabha 1990 p 1 Algumas dessas ambigüidades são exploradas no capítulo 4 Na próxima seção discutirei como uma cultura nacional funciona como um sistema de representação Na seção seguinte discutirei se as identidades nacionais são realmente tão unificadas e tão homogêneas como representam ser Apenas quando essas duas questões tiverem sido respondidas é que poderemos considerar adequadamente o argumento de que as identidades nacionais foram uma vez centradas coerentes e inteiras mas que estão sendo agora deslocadas pelos processos de globalização Narrando a nação uma comunidade imaginada As culturas nacionais são compostas não apenas de instituições culturais mas também de símbolos e representaçõesUma cultura nacional é um discurso um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos veja Penguin Dictionary of Sociology verbete discourse As culturas nacionais ao produzir sentidos sobre a nação sentidos com os quais podemos nos identificar constroem identidades Esses sentidos estão contidos nas histórias que são contadas sobre a nação memórias que conectam seu presente com seu passado e imagens que dela são construídas Como argumentou Benedict Anderson 1983 a identidade nacional é uma comunidade imaginada Anderson argumenta que as diferenças entre as nações residem nas formas diferentes pelas quais elas são imaginadas Ou como disse aquele grande patriota britânico Enoch Powell a vida das nações da mesma forma que a dos homens é vivida em grande parte na imaginação Powell 1969 p 245 Mas como é imaginada a nação moderna Que estratégias representacionais são acionadas para construir nosso senso comum sobre o pertencimento ou sobre a identidade nacional Quais são as representações digamos de Inglaterra que dominam as identificações e definem as identidades do povo inglês As nações observou Homi Bhabha tais como as narrativas perdem suas origens nos mitos do tempo e efetuam plenamente seus horizontes apenas nos olhos da mente Bhabha 1990 p1Como é contada a narrativa da cultura nacional Dos muitos aspectos que uma resposta abrangente à questão incluiria selecionei cinco elementos principais Em primeiro lugar há a narrativa da nação tal como é contada e recontada nas histórias e nas literaturas nacionais na mídia e na cultura popular Essas fornecem uma série de estórias imagens panoramas cenários eventos históricos símbolos e rituais nacionais que simbolizam ou representam as experiências partilhadas as perdas os triunfos e os desastres que dão sentido à nação Como membros de tal comunidade imaginada nos vemos no olho de nossa mente como compartilhando dessa narrativa Ela dá significado e importância à nossa monótona existência conectando nossas vidas cotidianas com um destino nacional que preexiste a nós e continua existindo após nossa morte Desde a imagem de uma verde e agradável terra inglesa com seu doce e tranquilo interior com seus chalés de treliças e jardins campestres a ilha coroada de Shakespeare até às cerimônias públicas o discurso da inglesidade representa o que a Inglaterra é dá sentido à identidade de ser inglês e fixa a Inglaterra como um foco de identificação nos corações ingleses e anglófilos Como observa Bill Schwarz Essas coisas formam a trama que nos prende invisivelmente ao passado Do mesmo modo que o nacionalismo inglês é negado assim também o é sua turbulenta e contestada história O que ganhamos ao invés disso é uma ênfase na tradição e na herança acima de tudo na continuidade de forma que nossa cultura política presente é vista como o florescimento de uma longa e orgânica evolução Schwarz 1986 p 155 Em segundo lugar há ênfase nas origens na continuidade na tradição e na intemporalidade A identidade nacional é representada como primordial está lá na verdadeira natureza das coisas algumas vezes adormecida mas sempre pronta para ser acordada de sua longa persistente e misteriosa sonolência para reassumir sua inquebrantável existência Gellner 1983 p 48 Os elementos essenciais do caráter nacional permanecem imutáveis apesar de todas as vicissitudes da história Está lá desde o nascimento unificado e contínuo imutável ao longo de todas as mudanças eterno A sra Thatcher observou na época da Guerra das Malvinas que havia algumas pessoas que pensavam que nós não poderíamos mais fazer as grandes coisas que uma vez havíamos feito que a GrãBretanha não era mais a nação que tinha construído um Império e dominado um quarto do mundo Bem eles estavam errados A GrãBretanha não mudou citado em Barnett 1982 p 63 Uma terceira estratégia discursiva é constituída por aquilo que Hobsbawm e Ranger chamam de invenção da tradição Tradições que parecem ou alegam ser antigas são muitas vezes de origem bastante recente e algumas vezes inventadas Tradição inventada significa um conjunto de práticas de natureza ritual ou simbólica que buscam inculcar certos valores e normas de comportamentos através da repetição a qual automaticamente implica continuidade com um passado histórico adequado Por exemplo nada parece ser mais antigo e vinculado ao passado imemorial do que a pompa que rodeia a monarquia britânica e suas manifestações cerimoniais públicas No entanto na sua forma moderna ela é o produto do final do século XIX e XX Hobsbawm e Ranger 1983 p1 Um quarto exemplo de narrativa da cultura nacional é a do mito fundacional uma estória que localiza a origem da nação do povo e de seu caráter nacional num passado tão distante que eles se perdem nas brumas do tempo não do tempo real mas de um tempo mítico Traduções inventadas tornam as confusões e os desastres da história inteligíveis transformando a desordem em comunidade por exemplo a Blitz ou a evacuação durante a II Grande Guerra e desastres em triunfos por exemplo Dunquerque Mitos de origem também ajudam povos desprivilegiados a conceberem e expressarem seu ressentimento e sua satisfação em termos inteligíveis Hobsbawm e Ranger 1983 p l Eles fornecem uma narrativa através da qual uma história alternativa ou uma contranarrativa que precede às rupturas da colonização pode ser construída por exemplo o rastafarianismo para os pobres despossuídos de Kingston Jamaica ver Hall 1985 Novas nações são então fundadas sobre esses mitos Digo mitos porque como foi o caso com muitas nações africanas que emigraram depois da descolonização o que precedeu à colonização não foi uma única nação um único povo mas muitas culturas e sociedades tribais diferentes A identidade nacional é também muitas vezes simbolicamente baseada na ideia de um povo ou folk puro original Mas nas realidades do desenvolvimento nacional é raro esse povo folk primordial que persiste ou que exerce o poder Como acidamente observa Gellner Quando os ruritanos vestiram os trajes do povo e rumaram para as montanhas compondo poemas nos clareões das florestas eles não sonhavam em se tornarem um dia também poderosos burocratas embaixadores e ministros 1983 p 61 O discurso da cultura nacional não é assim tão moderno como aparenta ser Ele constrói identidades que são colocadas de modo ambíguo entre o passado e o futuro Ele se equilibra entre a tentação por retornar a glórias passadas e o impulso por avançar ainda mais em direção à modernidade As culturas nacionais são tentadas algumas vezes a se voltar para o passado a recuar defensivamente para aquele tempo perdido quando a nação era grande são tentadas a restaurar as identidades passadas Este constituiu o elemento regressivo anacrônico da história da cultura nacional Mas frequentemente esse mesmo retorno ao passado oculta uma luta para mobilizar as pessoas para que purifiquem suas fileiras para que expulsam os outros que ameaçam sua identidade e para que se preparem para uma nova marcha para a frente Durante os anos oitenta a retórica do thatcherismo utilizou algumas vezes os dois aspectos daquilo que Tom Nairn chama de face de Janus do nacionalismo Nairn 1977 olhar para trás para as glórias do passado imperial e para os valores vitorianos e ao mesmo tempo empreender uma espécie de modernização em preparação para um novo estágio da competição capitalista global Alguma coisa do mesmo tipo pode estar ocorrendo na Europa Oriental As áreas que se separaram da antiga União Soviética reafirmam suas identidades étnicas essenciais e reivindicam uma nacionalidade sustentada por estórias algumas vezes extremamente duvidosas de origens míticas de ortodoxia religiosa e de pureza racial Contudo elas podem também estar usando a nação como uma forma através da qual possam competir com outras nações étnicas e poder assim entrar no rico clube do Ocidente Como tão agudamente observou Immanuel Wallerstein os nacionalismos do mundo moderno são a expressão ambígua de um desejo por assimilação no universal e simultaneamente por adesão ao particular à reinvenção das diferenças Na verdade tratase de um universalismo através do particularismo e de um particularismo através do universalismo Wallerstein 1984 pp 1667 Desconstruindo a cultura nacional identidade e diferença A seção anterior discutiu como uma cultura nacional atua como uma fonte de significados culturais um foco de identificação e um sistema de representação Esta seção voltase agora para a questão de saber se as culturas nacionais e as identidades nacionais que elas constroem são realmente unificadas Em seu famoso ensaio sobre o tema Ernest Renan disse que três coisas constituem o princípio espiritual da unidade de uma nação a posse em comum de um rico legado de memórias o desejo de viver em conjunto e a vontade de perpetuar de uma forma indivisível a herança que se recebeu Renan 1990 p 19 Devemos ter em mente esses três conceitos ressonantes daquilo que constitui uma cultura nacional como uma comunidade imaginada as memórias do passado o desejo por viver em conjunto a perpetuação da herança Timothy Brennan nos faz lembrar que a palavra nação referese tanto ao moderno estadonação quanto a algo mais antigo e nebuloso a natio uma comunidade local um domicílio uma condição de pertencimento Brennan 1990 p 45 As identidades nacionais representam precisamente o resultado da reunião dessas duas metades da equação nacional oferecendo tanto a condição de membro do estadonação político quanto uma identificação com a cultura nacional tornar a cultura e a esfera política congruentes e fazer com que culturas razoavelmente homogêneas tenham cada uma seu próprio teto político Gellner 1983 p 43 Gellner identifica 58 claramente esse impulso por unificação existente nas culturas nacionais a cultura é agora o meio partilhado necessário o sangue vital ou talvez antes a atmosfera partilhada mínima apenas no interior da qual os membros de uma sociedade podem respirar e sobreviver e produzir Para uma dada sociedade ela tem que ser uma atmosfera na qual podem todos respirar falar e produzir ela tem que ser assim a mesma cultura Gellner 1983 pp 378 Para dizer de forma simples não importa quão diferentes seus membros possam ser em termos de classe gênero ou raça uma cultura nacional busca unificálos numa identidade cultural para representálos todos como pertencendo à mesma e grande família nacional Mas seria a identidade nacional uma identidade unificadora desse tipo uma identidade que anula e subordina a diferença cultural Essa ideia está sujeita à dúvida por várias razões Uma cultura nacional nunca foi um simples ponto de lealdade união e identificação simbólica Ela é também uma estrutura de poder cultural Consideremos os seguintes pontos A maioria das nações consiste de culturas separadas que só foram unificadas por um longo processo de conquista violenta isto é pela supressão forçada da diferença cultural O povo britânico é constituído por uma série desse tipo de conquistas 59 céltica romana saxônica viking e normanda Ao longo de toda a Europa essa história se repete ad nauseam Cada conquista subjulgou povos conquistados e suas culturas costumes línguas e tradições e tentou impor uma hegemonia cultural mais unificada Como observou Ernest Renan esses começos violentos que se colocam nas origens das nações modernas têm primeiro que ser esquecidos antes que se comece a forjar a lealdade com uma identidade nacional mais unificada mais homogênea Assim a cultura britânica não consiste de uma parceria igual entre as culturas componentes do Reino Unido mas da hegemonia efetiva da cultura inglesa localizada no sul que se representa a si própria como a cultura britânica essencial por cima das culturas escocesas galesas e irlandesas e na verdade por cima de outras culturas regionais Matthew Arnold que tentou fixar o caráter essencial do povo inglês a partir de sua literatura afirmou ao considerar os celtas que esses nacionalismos provinciais tiveram que ser absorvidos ao nível do político e aceitos como contribuindo culturalmente para a cultura inglesa Dodd 1986 p 12 Em segundo lugar as nações são sempre compostas de diferentes classes sociais e diferentes grupos étnicos e de gênero O 60 nacionalismo britânico moderno foi o produto de um esforço muito coordenado no alto período imperial e no período vitoriano tardio para unificar as classes ao longo de divisões sociais ao provêlas com um ponto alternativo de identificação pertencimento comum à família da nação Podese desenvolver o mesmo argumento a respeito do gênero As identidades nacionais são fortemente genericificadas Os significados e os valores da inglesidade englishness têm fortes associações masculinas As mulheres exercem um papel secundário como guardiãs do lar e do clã e como mães dos filhos homens da nação Em terceiro lugar as nações ocidentais modernas foram também os centros de impérios ou de esferas neoimperiais de influência exercendo uma hegemonia cultural sobre as culturas dos colonizados Alguns historiadores argumentam atualmente que foi nesse processo de comparação entre as virtudes da inglesidade Englishness e os traços negativos de outras culturas que muitas das características distintivas das identidades inglesas foram primeiro definidas veja C Hall 1992 Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas deveríamos pensálas como constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou identidade Elas são atravessadas por profundas divisões e diferenças internas sendo unificadas apenas através do exercício de diferentes formas de poder cultural Entretanto como nas fantasias do eu inteiro de que fala a psicanálise lacaniana as identidades nacionais continuam a ser representadas como unificadas Uma forma de unificálas tem sido a de representálas como a expressão da cultura subjacente de um único povo A etnia é o termo que utilizamos para nos referirmos às características culturais língua religião costume tradições sentimento de lugar que são partilhadas por um povo É tentador portanto tentar usar a etnia dessa forma fundacional Mas essa crença acaba no mundo moderno por ser um mito A Europa Ocidental não tem qualquer nação que seja composta de apenas um único povo uma única cultura ou etnia As nações modernas são todas híbridos culturais diferença genética o último refúgio das ideologias racistas não pode ser usada para distinguir um povo do outro A raça é uma categoria discursiva e não uma categoria biológica Isto é ela é a categoria organizadora daquelas formas de falar daqueles sistemas de representação e práticas sociais discursos que utilizam um conjunto frouxo frequentemente pouco específico de diferenças em termos de características físicas cor da pele textura do cabelo características físicas e corporais etc como marcas simbólicas a fim de diferenciar socialmente um grupo de outro Naturalmente o caráter não científico do termo raça não afeta o modo como a lógica racial e os quadros de referência raciais são articulados e acionados assim como não anula suas consequências Donald e Rattansi 1992 p1 Nos últimos anos as noções biológicas sobre raça entendida como constituída de espécies distintas noções que subjaziam a formas extremas da ideologia e do discurso nacionalista em períodos anteriores o eugenismo vitoriano as teorias europeias sobre raça o fascismo têm sido substituídas por definições culturais as quais possibilitam que a raça desempenhe um papel importante nos discursos sobre nação e identidade nacional Paul Gilroy tem analisado as ligações entre de um lado o racismo cultural e a ideia de raça e de outro as ideias de nação nacionalismo e pertencimento nacional Enfrentamos de forma crescente um racismo que evita ser reconhecido como tal porque é capaz de alinhar raça com nacionalidade patriotismo e nacionalismo Um racismo que tomou uma distância necessária das grosseiras ideias de inferioridade e superioridade biológica busca agora apresentar uma definição imaginária da nação como uma comunidade cultural unificada Ele constrói e defende uma imagem de cultura nacional homogénea na sua branquidade embora precária e eternamente vulnerável ao ataque dos inimigos internos e externos Este é um racismo que responde à turbulência social e política da crise e à administração da crise através da restauração da grandeza nacional na imaginação Sua construção onírica de nossa ilha coroada como eticamente purificada propicia um especial conforto contra as devastações do declínio nacional Gilroy 1992 p87 Este breve exame solapa a ideia da nação como uma identidade cultural unificada As identidades nacionais não subordinam todas as outras formas de diferença e não estão livres do jogo de poder de divisões e contradições internas de lealdades e de diferenças sobrepostas Assim quando vamos discutir se as identidades nacionais estão sendo deslocadas devemos ter em mente a forma pela qual as culturas nacionais contribuem para costurar as diferenças numa única identidade Título A Identidade Cultural na pósmodernidade Stuart Hall Título Original The question of cultural identity in S Hall D Held e T McGrew Modernity and its futures Politic PressOpen University Press1992 Equipe de produção Bruno Cruz Paulo Hamilton Rodrigo Murtinho Tradução Tomaz Tadeu da Silva Guacira Lopes Louro Capa Rodrigo Murtinho Catalogação na fonte do Departamento Nacional do Livro H179i Hall Stuart A identidade cultural na pósmodernidade Stuart Hall tradução Tomaz Tadeu da Silva Guacira Lopes Louro 4 ed Rio de Janeiro DPA 2000 104p 12x18cm ISBN 8586584932 Tradução de The question of cultural identity 1 Identidade social 2 Etnologia I Título CDD306
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na verdadeira natureza das coisas algumas vezes adormecida mas sempre pronta para ser acordada de sua longa persistente e misteriosa sonolência para reassumir sua inquebrantável existência Gellner 1983 p 48 Os elementos essenciais do caráter nacional permanecem imutáveis apesar de todas as vicissitudes da história Está lá desde o nascimento unificado e contínuo imutável ao longo de todas as mudanças eterno A sra Thatcher observou na época da Guerra das Malvinas que havia algumas pessoas que pensavam que nós não poderíamos mais fazer as grandes coisas que uma vez havíamos feito que a GrãBretanha não era mais a nação que tinha construído um Império e dominado um quarto do mundo Bem eles estavam errados A GrãBretanha não mudou citado em Barnett 1982 p 63 Uma terceira estratégia discursiva é constituída por aquilo que Hobsbawm e Ranger chamam de invenção da tradição Tradições que parecem ou alegam ser antigas são muitas vezes de origem bastante recente e algumas vezes inventadas Tradição inventada significa um conjunto de práticas de natureza ritual ou simbólica que buscam inculcar certos valores e normas de comportamentos através da repetição a qual automaticamente implica continuidade com um passado histórico adequado Por exemplo nada parece ser mais antigo e vinculado ao passado imemorial do que a pompa que rodeia a monarquia britânica e suas manifestações cerimoniais públicas No entanto na sua forma moderna ela é o produto do final do século XIX e XX Hobsbawm e Ranger 1983 p1 Um quarto exemplo de narrativa da cultura nacional é a do mito fundacional uma estória que localiza a origem da nação do povo e de seu caráter nacional num passado tão distante que eles se perdem nas brumas do tempo não do tempo real mas de um tempo mítico Traduções inventadas tornam as confusões e os desastres da história inteligíveis transformando a desordem em comunidade por exemplo a Blitz ou a evacuação durante a II Grande Guerra e desastres em triunfos por exemplo Dunquerque Mitos de origem também ajudam povos desprivilegiados a conceberem e expressarem seu ressentimento e sua satisfação em termos inteligíveis Hobsbawm e Ranger 1983 p l Eles fornecem uma narrativa através da qual uma história alternativa ou uma contranarrativa que precede às rupturas da colonização pode ser construída por exemplo o rastafarianismo para os pobres despossuídos de Kingston Jamaica ver Hall 1985 Novas nações são então fundadas sobre esses mitos Digo mitos porque como foi o caso com muitas nações africanas que emigraram depois da descolonização o que precedeu à colonização não foi uma única nação um único povo mas muitas culturas e sociedades tribais diferentes A identidade nacional é também muitas vezes simbolicamente baseada na ideia de um povo ou folk puro original Mas nas realidades do desenvolvimento nacional é raro esse povo folk primordial que persiste ou que exerce o poder Como acidamente observa Gellner Quando os ruritanos vestiram os trajes do povo e rumaram para as montanhas compondo poemas nos clareões das florestas eles não sonhavam em se tornarem um dia também poderosos burocratas embaixadores e ministros 1983 p 61 O discurso da cultura nacional não é assim tão moderno como aparenta ser Ele constrói identidades que são colocadas de modo ambíguo entre o passado e o futuro Ele se equilibra entre a tentação por retornar a glórias passadas e o impulso por avançar ainda mais em direção à modernidade As culturas nacionais são tentadas algumas vezes a se voltar para o passado a recuar defensivamente para aquele tempo perdido quando a nação era grande são tentadas a restaurar as identidades passadas Este constituiu o elemento regressivo anacrônico da história da cultura nacional Mas frequentemente esse mesmo retorno ao passado oculta uma luta para mobilizar as pessoas para que purifiquem suas fileiras para que expulsam os outros que ameaçam sua identidade e para que se preparem para uma nova marcha para a frente Durante os anos oitenta a retórica do thatcherismo utilizou algumas vezes os dois aspectos daquilo que Tom Nairn chama de face de Janus do nacionalismo Nairn 1977 olhar para trás para as glórias do passado imperial e para os valores vitorianos e ao mesmo tempo empreender uma espécie de modernização em preparação para um novo estágio da competição capitalista global Alguma coisa do mesmo tipo pode estar ocorrendo na Europa Oriental As áreas que se separaram da antiga União Soviética reafirmam suas identidades étnicas essenciais e reivindicam uma nacionalidade sustentada por estórias algumas vezes extremamente duvidosas de origens míticas de ortodoxia religiosa e de pureza racial Contudo elas podem também estar usando a nação como uma forma através da qual possam competir com outras nações étnicas e poder assim entrar no rico clube do Ocidente Como tão agudamente observou Immanuel Wallerstein os nacionalismos do mundo moderno são a expressão ambígua de um desejo por assimilação no universal e simultaneamente por adesão ao particular à reinvenção das diferenças Na verdade tratase de um universalismo através do particularismo e de um particularismo através do universalismo Wallerstein 1984 pp 1667 Desconstruindo a cultura nacional identidade e diferença A seção anterior discutiu como uma cultura nacional atua como uma fonte de significados culturais um foco de identificação e um sistema de representação Esta seção voltase agora para a questão de saber se as culturas nacionais e as identidades nacionais que elas constroem são realmente unificadas Em seu famoso ensaio sobre o tema Ernest Renan disse que três coisas constituem o princípio espiritual da unidade de uma nação a posse em comum de um rico legado de memórias o desejo de viver em conjunto e a vontade de perpetuar de uma forma indivisível a herança que se recebeu Renan 1990 p 19 Devemos ter em mente esses três conceitos ressonantes daquilo que constitui uma cultura nacional como uma comunidade imaginada as memórias do passado o desejo por viver em conjunto a perpetuação da herança Timothy Brennan nos faz lembrar que a palavra nação referese tanto ao moderno estadonação quanto a algo mais antigo e nebuloso a natio uma comunidade local um domicílio uma condição de pertencimento Brennan 1990 p 45 As identidades nacionais representam precisamente o resultado da reunião dessas duas metades da equação nacional oferecendo tanto a condição de membro do estadonação político quanto uma identificação com a cultura nacional tornar a cultura e a esfera política congruentes e fazer com que culturas razoavelmente homogêneas tenham cada uma seu próprio teto político Gellner 1983 p 43 Gellner identifica 58 claramente esse impulso por unificação existente nas culturas nacionais a cultura é agora o meio partilhado necessário o sangue vital ou talvez antes a atmosfera partilhada mínima apenas no interior da qual os membros de uma sociedade podem respirar e sobreviver e produzir Para uma dada sociedade ela tem que ser uma atmosfera na qual podem todos respirar falar e produzir ela tem que ser assim a mesma cultura Gellner 1983 pp 378 Para dizer de forma simples não importa quão diferentes seus membros possam ser em termos de classe gênero ou raça uma cultura nacional busca unificálos numa identidade cultural para representálos todos como pertencendo à mesma e grande família nacional Mas seria a identidade nacional uma identidade unificadora desse tipo uma identidade que anula e subordina a diferença cultural Essa ideia está sujeita à dúvida por várias razões Uma cultura nacional nunca foi um simples ponto de lealdade união e identificação simbólica Ela é também uma estrutura de poder cultural Consideremos os seguintes pontos A maioria das nações consiste de culturas separadas que só foram unificadas por um longo processo de conquista violenta isto é pela supressão forçada da diferença cultural O povo britânico é constituído por uma série desse tipo de conquistas 59 céltica romana saxônica viking e normanda Ao longo de toda a Europa essa história se repete ad nauseam Cada conquista subjulgou povos conquistados e suas culturas costumes línguas e tradições e tentou impor uma hegemonia cultural mais unificada Como observou Ernest Renan esses começos violentos que se colocam nas origens das nações modernas têm primeiro que ser esquecidos antes que se comece a forjar a lealdade com uma identidade nacional mais unificada mais homogênea Assim a cultura britânica não consiste de uma parceria igual entre as culturas componentes do Reino Unido mas da hegemonia efetiva da cultura inglesa localizada no sul que se representa a si própria como a cultura britânica essencial por cima das culturas escocesas galesas e irlandesas e na verdade por cima de outras culturas regionais Matthew Arnold que tentou fixar o caráter essencial do povo inglês a partir de sua literatura afirmou ao considerar os celtas que esses nacionalismos provinciais tiveram que ser absorvidos ao nível do político e aceitos como contribuindo culturalmente para a cultura inglesa Dodd 1986 p 12 Em segundo lugar as nações são sempre compostas de diferentes classes sociais e diferentes grupos étnicos e de gênero O 60 nacionalismo britânico moderno foi o produto de um esforço muito coordenado no alto período imperial e no período vitoriano tardio para unificar as classes ao longo de divisões sociais ao provêlas com um ponto alternativo de identificação pertencimento comum à família da nação Podese desenvolver o mesmo argumento a respeito do gênero As identidades nacionais são fortemente genericificadas Os significados e os valores da inglesidade englishness têm fortes associações masculinas As mulheres exercem um papel secundário como guardiãs do lar e do clã e como mães dos filhos homens da nação Em terceiro lugar as nações ocidentais modernas foram também os centros de impérios ou de esferas neoimperiais de influência exercendo uma hegemonia cultural sobre as culturas dos colonizados Alguns historiadores argumentam atualmente que foi nesse processo de comparação entre as virtudes da inglesidade Englishness e os traços negativos de outras culturas que muitas das características distintivas das identidades inglesas foram primeiro definidas veja C Hall 1992 Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas deveríamos pensálas como constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou identidade Elas são atravessadas por profundas divisões e diferenças internas sendo unificadas apenas através do exercício de diferentes formas de poder cultural Entretanto como nas fantasias do eu inteiro de que fala a psicanálise lacaniana as identidades nacionais continuam a ser representadas como unificadas Uma forma de unificálas tem sido a de representálas como a expressão da cultura subjacente de um único povo A etnia é o termo que utilizamos para nos referirmos às características culturais língua religião costume tradições sentimento de lugar que são partilhadas por um povo É tentador portanto tentar usar a etnia dessa forma fundacional Mas essa crença acaba no mundo moderno por ser um mito A Europa Ocidental não tem qualquer nação que seja composta de apenas um único povo uma única cultura ou etnia As nações modernas são todas híbridos culturais diferença genética o último refúgio das ideologias racistas não pode ser usada para distinguir um povo do outro A raça é uma categoria discursiva e não uma categoria biológica Isto é ela é a categoria organizadora daquelas formas de falar daqueles sistemas de representação e práticas sociais discursos que utilizam um conjunto frouxo frequentemente pouco específico de diferenças em termos de características físicas cor da pele textura do cabelo características físicas e corporais etc como marcas simbólicas a fim de diferenciar socialmente um grupo de outro Naturalmente o caráter não científico do termo raça não afeta o modo como a lógica racial e os quadros de referência raciais são articulados e acionados assim como não anula suas consequências Donald e Rattansi 1992 p1 Nos últimos anos as noções biológicas sobre raça entendida como constituída de espécies distintas noções que subjaziam a formas extremas da ideologia e do discurso nacionalista em períodos anteriores o eugenismo vitoriano as teorias europeias sobre raça o fascismo têm sido substituídas por definições culturais as quais possibilitam que a raça desempenhe um papel importante nos discursos sobre nação e identidade nacional Paul Gilroy tem analisado as ligações entre de um lado o racismo cultural e a ideia de raça e de outro as ideias de nação nacionalismo e pertencimento nacional Enfrentamos de forma crescente um racismo que evita ser reconhecido como tal porque é capaz de alinhar raça com nacionalidade patriotismo e nacionalismo Um racismo que tomou uma distância necessária das grosseiras ideias de inferioridade e superioridade biológica busca agora apresentar uma definição imaginária da nação como uma comunidade cultural unificada Ele constrói e defende uma imagem de cultura nacional homogénea na sua branquidade embora precária e eternamente vulnerável ao ataque dos inimigos internos e externos Este é um racismo que responde à turbulência social e política da crise e à administração da crise através da restauração da grandeza nacional na imaginação Sua construção onírica de nossa ilha coroada como eticamente purificada propicia um especial conforto contra as devastações do declínio nacional Gilroy 1992 p87 Este breve exame solapa a ideia da nação como uma identidade cultural unificada As identidades nacionais não subordinam todas as outras formas de diferença e não estão livres do jogo de poder de divisões e contradições internas de lealdades e de diferenças sobrepostas Assim quando vamos discutir se as identidades nacionais estão sendo deslocadas devemos ter em mente a forma pela qual as culturas nacionais contribuem para costurar as diferenças numa única identidade Título A Identidade Cultural na pósmodernidade Stuart Hall Título Original The question of cultural identity in S Hall D Held e T McGrew Modernity and its futures Politic PressOpen University Press1992 Equipe de produção Bruno Cruz Paulo Hamilton Rodrigo Murtinho Tradução Tomaz Tadeu da Silva Guacira Lopes Louro Capa Rodrigo Murtinho Catalogação na fonte do Departamento Nacional do Livro H179i Hall Stuart A identidade cultural na pósmodernidade Stuart Hall tradução Tomaz Tadeu da Silva Guacira Lopes Louro 4 ed Rio de Janeiro DPA 2000 104p 12x18cm ISBN 8586584932 Tradução de The question of cultural identity 1 Identidade social 2 Etnologia I Título CDD306